Você está na página 1de 9

A caverna

Por: yuri Morningstar


Ato 1: (Sala de segurança com luzes vermelhas piscando em alerta, falando bem alto,
enfermeiras e médico correndo.)

Voz no alto falante - Atenção: experimento tentando escapar!


Vivian - O que está acontecendo?
Enfermeiro - O experimento número Um está tentando fugir, depressa precisamos pegá-lo!
(Os enfermeiros capturaram o experimento número Um e colocaram na maca.)
(Um se debatendo tentando fugir, grita.)
Um - Me soltem, me soltem por favor, eu sei o que tem lá fora, eu preciso ir!
Doutor - Segurem ele, preciso sedá-lo!
Vivian - E agora? Ele é um experimento perdido!
Doutor - Não, ele não é!
Vivian - Mas ele vai se lembrar de como é lá fora…
Doutor - Não vai não, vou garantir que ele não se lembre de nada.
(Doutor puxa a cortina tampando a cena para o público, barulhos de choque com luzes piscando
até que se apaguem.)

Narração - Algum tempo depois…

Ato 2: (Quarto com camas e brinquedos que estimulam o cérebro, cada personagem está
deitado dormindo enquanto um médico coloca a mesa do café da manhã e sai pela porta.)

Voz robótica - (luzes acendem) Bom dia pessoal, o café da manhã já está disponível. (Todos
acordam e se espreguiçam.) Como de costume, levantem-se e arrumem suas camas, novos
objetos para interagir estão disponíveis para vocês.
(Quatro para e fica olhando para a cama enquanto todos os outros estão sentados comendo.)

Um - (Levantando a mão) Um.


Dois - (Levantando a mão) Dois.
Três - (Levantando a mão) Três.
(Todos olham para a onde deveria estar Quatro e em seguida olham para Quatro.)
Todos - Quatro?
Quatro - Vocês já perceberam que é a mesma coisa todo dia? Levantamos, arrumamos nossas
camas, tomamos o café da manhã, e ficamos o dia inteiro mexendo nos objetos que a voz deixa
pra gente.
Dois - Realmente é sempre a mesma coisa, não sei se gosto disso… (Um tosse e Três o imita.) Ah
não, já sei, eu realmente gosto disso.
(Todos fecham suas lancheiras e esvaziam a mesa)
Um - Não Quatro, não é sempre a mesma coisa. Temos sempre algo diferente pra fazer, por
exemplo, hoje temos esses objetos para interagir (Um pega a caixa e a coloca com raiva em cima
da mesa), não é mesmo que tivemos ontem.
(Dois e Três mexem na caixa.)
Três - Ontem tinha outro objeto que faz barulho, hoje é esse aqui (Três pega o instrumento
musical e faz barulho e em seguida, pega a caixinha de som e liga a música de sempre. Um retira a
caixa de cima da mesa)
Quatro - Mas nem tudo aqui é novo.
Um - Como não?
Quatro - Tem essa caixinha de som do Três, que toca a mesma música todo dia.
Um - Quatro? (Quatro se senta e a contagem recomeça só que dessa vez eu ordem decrescente.)
Quatro - (Levantando a mão) Quatro.
Três - (Levantando a mão) Três.
Dois - (Levantando a mão) Dois.
(Um se senta e fala irritado).
Um - (Levantando a mão) Um.
Três - Você vai comer isso?
Quatro - Vou sim.
Três - Ah, então tá!
Um - Agora chega disso, vamos todos comer e nos organizarmos, porque daqui a algumas horas a
fumaça vem pra pôr a gente pra dormir de novo.
Quatro - (Levantando) Essa é outra questão! (Todos suspiram reclamando.)
Um - O que?
Quatro - E essa fumaça...
Um - (Levanta com raiva) Chega Quatro, termine de comer logo!
(Um pega a caixa e distribui os objetos entre eles. Os experimentos brincam por um tempo, mas a
fumaça vem e os coloca pra dormir.)

Ato 3: (A porta se abre e uma enfermeira entra usando uma máscara de gás. Enquanto ela
recolhe as coisas do café da manhã, a voz fala com ela.)

Voz robótica - Rápido enfermeira Vivian, você só tem 15 minutos antes que eles acordem de novo.
Vivian - Eles já estão bem grandes né? Quando vocês vão soltar esses experimentos?
Voz robótica - Eles não estão prontos, todos nasceram e cresceram aqui, estão há muitos anos
seguindo a mesma rotina, quando o experimento estiver completo começaremos a introdução
deles no mundo real.
(Vivian continua colocando o almoço na mesa enquanto conversa com a voz.)
Vivian - Mas será que eles vão sobreviver ao mundo lá fora? Quer dizer, não que o mundo seja tão
perigoso, mas pra quem não sabe o que tem lá fora é perigoso. Como vão conseguir empregos?
Casa para morar? E como vão lidar com as coisas diferentes, como animais e a mudança do clima...
Voz robótica - Enfermeira, tudo isso será bem planejado, eles terão uma introdução para poderem
sobreviver, não vamos deixá-los abandonados. Agora termine com isso e saia, o efeito já está
passando.
Vivian - Ok, entendi, estou terminando aqui. (Vivian terminar de pôr a mesa do almoço que já
serve para o jantar e sai do quarto. Alguns segundos depois, o experimento Três acorda e vai até a
mesa.)
Três - Obaaa, temos comida nova! Acordem, venham ver! (Três cutuca a todos para acordar,
porém quando chega onde está Um, este segura a mão de Três.)
Um - Já acordei, Três.
(Três resmunga.)
Três - Seu chato!
Dois - Comida nova? Quantas comidas devem existir? Será que são muitas? Acho que não, deve
ter só essa que conhecemos.
Quatro - Ainda estou me perguntando porquê seguimos essa rotina todo dia desde que nascemos.
Três - É, realmente isso me confundiu.
Um - Cafés da manhã te confundem Três.
Três - É verdade. (Três pega duas marmitas na mão.) Às vezes doce, (levanta uma marmita) às
vezes salgado… (levanta a outra.)
Um - Agora chega dessa conversa.
(Todos continuam fazendo suas coisas, uns brincam com os objetos e outros comem. Número Dois
se junta a Um, mexendo nas caixas com objetos e de repente para e olha diretamente para a
plateia.)
Um - O que foi Dois?
Dois - Acho que... Nada não!
(Número Quatro se senta e fica olhando para a porta.)
Quatro - Por que ela está ali? Por que ela abre? Será que um dia vai sair alguém dali?
(Dois chega ao lado de Quatro.)
Dois - O que você está fazendo aí? (Quatro aponta para a porta.) Ah sim, a parede que se mexe,
você já percebeu que ela abre? O que será que tem atrás dela? Você já pensou em passar por ela?
Quatro - Será que devo? Será que é seguro?
Dois - Se você não testar, como vai saber? Vai atravesse.
(Dois abre a porta e aponta para fora com a cabeça. Quatro sai sem olhar pra trás. Dois fecha a
porta e comemora o feito, e então, se joga no chão. Um se assusta com o barulho e vai até Dois.)
Dois - Um!
Um - O que aconteceu?
(Três se levanta e vai até Dois e Um.)
Dois - O Quatro saiu pela parede!
Um - Como assim o Quatro saiu pela parede, pra onde ele foi?
(Um vai até a parede colocando as mãos nela.)
Dois - Não sei, (se posicionando atrás de Um) eu tentei impedi-lo de sair, mas ele me empurrou e
foi.
(Três passa por baixo das pernas dos dois e presta atenção na conversa.)
Um - Ele saiu pela parede? (Três sai de baixo das pernas deles.) Mas eu nem sabia que a parede
abria… (Um se posiciona no centro e todos começam a andar pelo cenário.) E se ele não volta? E
se não vier mais comida? E se voz não falar mais com a gente?
Dois - Nós temos que nos preparar para o pior, mas o pior já está acontecendo. (Um para no
centro, enquanto Dois e Três continuam andando e resmungando. Um grita fazendo eles
pararem.)
Um - Parem!
(cena congela, luz azul)

Ato 4: (Mundo lá fora, uma mulher sentada no banco lendo seu livro e comendo um pacote de
jujubas coloridas. Quatro coloca a mão tapando o Sol, pois não está acostumado com tanta
claridade. Ele vê Julia, e vai até ela. Ele se senta e a olha fixamente.)
Julia - Oi, tudo bem?
Quatro - Oi, o que é isso? (apontando para o livro logo em seguida olha para as jujubas.)
Julia - Isso são As Crônicas de Nárnia e eu sou a Julia. Aceita? (Oferecendo as jujubas).
(Quatro pega as jujubas e analisa um pouco, cheira e coloca um monte na boca.)
Quatro - Nárnia? (Com a boca cheia) O que exatamente é Nárnia?
Julia - É um livro escrito por Clive Staples Lewis.
Quatro - Livro? O que é um livro?
(Julia olha assustada para Quatro fechando o livro.)
Julia - Perdão? Não entendi.
Quatro - O que é um livro?
Julia - Um livro, ah, um livro! É a forma mais fácil de exercitar sua mente e viajar sem sair do lugar!
Quatro - Exercitar a mente? Viajar? O que é viajar?
Julia - Viajar é conhecer outros lugares, outras culturas, outras comidas… com os livros você pode
até conhecer coisas que não existem, como dragões, sereias e tudo que pode imaginar. Deixa eu
te mostrar aqui uma coisa. Aqui, coma mais jujuba!
(A luz azul diminui, mas Julia continua gesticulando, explicando as coisas para Quatro. A outra luz
volta pro cenário do quarto.)

Ato 5: (Volltando para o quarto de onde a cena permanece congelada.)


Um - Ok, mas e agora? Preciso pensar em algo, pensa vai, pensa, pensa… (batendo na própria
cabeça.)
(Dois revira as lancheiras com medo de aquilo ser sua última refeição, e Três pega seu instrumento
e o abraça. Alguns barulhos na porta os assustam e os três correm se encostando na parede em
posição de combate. Quatro entra correndo.)
Quatro - Gente, gente, gente! Vocês não vão acreditar!
(Todos gesticulam decepção e Um corre e fecha a porta. Logo em seguida, vai em direção a
Quatro.)
Um - Onde você foi Quatro? Está ficando louco?
Quatro - Eu estava lá fora e...
Um - Como assim lá fora, como você saiu? Quem disse pra você sair?
Quatro - O Dois me disse.
Doisv- Hummm, talvez eu tenha dito... epaa eu não disse nada, é mentira dele, Um!
Quatro - Tá, mas isso não vem ao caso, lá fora é tão lindo, tem tantas coisas…
Três - Tipo o que?
Quatro - Tem vários tipos de comida, com várias cores e…
Três - Com várias cores?
Quatro - Sim com várias cores, e tem um negócio chamado li....
Um - Para de encher a cabeça dele com essas coisas!
Quatro - Não estou enchendo só estou contando a verdade!
Um - Não existe uma verdade, só existe o aqui!

Quatro - Não Um, não fale isso! Você tem que ver lá fora, é…

Um - Já chega Quatro, nascemos aqui, vivemos aqui e nunca sairemos daqui, essa é a verdade, seja lá o que
você tenha visto lá fora, esqueça tudo isso!

Dois- E se tiver algo lá fora? Mas acho que é perigoso! E se não for perigoso e o Quatro estiver certo? Ou se
o Um estiver certo?...

Um - Tá vendo? Você bugou a cabeça do Dois!

(Três começa a tocar seu instrumento enquanto a discussão entre Quatro e Um continua.)

Quatro - Não, eu não buguei, eu só quero que vocês saibam como é lá fora.

Um - Pare com esse barulho infernal Três!

(Todos ficam em silêncio)

Um - Quatro, entenda, você não pode ir lá fora é perigoso!

Quatro - Se vocês não forem comigo eu vou sozinho de novo e não volto nunca mais!

(Três volta a tocar o instrumento.)

Um - Não, você não vai!

(Num ato de raiva, Um pega o instrumento da mão de Três e acerta a cabeça do Quatro.)

Três - Nãoo meu instrumento!


(Quatro cai no chão e uma poça de sangue surge. Dois abaixa e olha para Quatro.)

Dois - O que você fez Um?

Um - Eu não sei como isso aconteceu…

Dois - Ele está bem?

(Um abaixa e coloca a mão no sangue mostrando para Dois e Três vai até eles pra ver o que aconteceu.)

Dois - O que é isso?

Um - Eu não sei, nunca tinha visto antes.

(Fumaça começa a invadir o quarto.)

Dois - É vermelho…

Um - E tem muito. (Um começa a balançar Quatro.) Acorda Quatro, acorda!

A fumaça começa a fazer efeito deixando-os moles.

Dois - Um a fumaça veio mais cedo… (pronuncia o cedo bem enrolado pois a fumaça fez efeito.)

Um - Acho que tem algo errado. (Enrolado também.)

(Todos desmaiam, a porta se abre e a enfermeira Vivian entra.)

Vivian - Olha o que aconteceu, valeu a pena todo esse experimento? O que vocês ganharam com isso?
Vamos, respondam! Agora vocês ficam quietos, né? Mas que absurdo tudo isso, vocês são monstros!

(A fumaça é liberada com Vivian ainda na sala, botando a mesma para dormir. As lluzes se apagam.)

Ato final: (Quarto com camas e brinquedos que estimulam o cérebro, cada personagem está
deitado dormindo)

Voz robótica - (Luzes acendem.) Bom dia pessoal, o café da manhã já está disponível. (Todos acordam e se
espreguiçam.) Como de costume, levantem-se e arrumem suas camas, novos objetos para interagir estão
disponíveis para vocês. (Todos se sentam para comer.)

(A luz fica só na mesa perdendo o foco de Quatro, que ainda está acordando).

Um - (Levantando a mão) Um.

Dois - (Levantando a mão) Dois.

Três - (Levantando a mão) Três.

Vivian - (Sentada na cama sem entender nada) Quatro?

(Som "bunmm" e as luzes apagam)

(Atores se retiram do palco, luz de foco na professora Rita)


Prô Rita- O mito da caverna é acreditar apenas no que vemos e vivenciamos e não buscar mais. A caverna é
tudo o que nos mantém em um nível inferior de compreensão, a televisão, a internet e as redes sociais
proporcionam acesso a muita informação, porém, a maioria das pessoas ainda tem exposição limitada a
estas informações e não querem saber mais. Temos medo do novo e é isso que nos impede de explorar
mais, perdendo a oportunidade de descobrir e vivenciar algo além do nosso mundinho. Mas e aí, você vai
continuar dentro da caverna?

Você também pode gostar