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COLONIZAÇÃO À DESCOLONIZAÇÃO
RESUMO
ABSTRACT
The relevance conquered by the English language in the world context has been
increasing over the last decades, being, nowadays, considered an international
language - LI or lingua franca - LF. In Brazil, despite the offer of English as a
discipline from the 6th year onwards in schools, mastery and fluency in the
language are still limited to a few. This article traces the trajectory of the English
language observing aspects related to the colonization process both in Brazil and in
the United States of America, as a reference in understanding the role played by
ethnocentrism, from a Eurocentric view of cultural changes that occurred mainly in
Latin American countries. It also demonstrates that, despite the end of colonization,
English-speaking countries’ culture still directly impacts the way the language is
taught and learned at school and in language courses in Brazil. In schools, the
change promoted by the BNCC in relation to foreign language teaching, specifically
English, brings the subject from the perspective of lingua franca-LF, partially
disconnecting it from countries where English is the first language, breaking with
established paradigms by the culture of these countries. Decolonization and
interculturality are concepts that permeate the proposal of teaching English as a
language for communication, respecting the particularities existing in each context.
INTRODUÇÃO
O status ocupado pela Língua Inglesa – LI tem sido objeto de estudo ao longo dos anos, seja
por questões geográficas, seu papel elitizante, ou as relações de ensino e aprendizagem da
língua e sua estrutura. Embora esteja em evidência na atualidade, a relevância da Língua Inglesa
enquanto língua dominante foi longamente desempenhada pela Língua Francesa, ora
considerada a língua da cultura e do prestígio. Contudo, ao longo dos anos esse prestígio foi,
paulatinamente, sendo substituído pela Língua Inglesa, a língua das publicações científicas, da
tecnologia, da economia e da política e das relações internacionais.
[É] a língua estrangeira mais estudada no mundo. Há uma série de fatos que contribuem para isso,
entre os quais podemos destacar os seguintes: (1) o inglês é falado por mais de um bilhão e meio de
pessoas; (2) o inglês é a língua usada em mais de 70% das publicações científicas; (3) o inglês é a
língua das organizações internacionais. A razão mais forte, no entanto, é o fato que o inglês não tem
fronteiras geográficas. Enquanto que o chinês, por exemplo também é falado por mais de um bilhão
de pessoas, a língua chinesa está restrita à China e alguns países vizinhos. O inglês, por outro lado,
é não só declaradamente a língua oficial de 62 países, mas é também a língua estrangeira mais falada
no mundo: para cada falante nativo há dois falantes não- nativos que a usam para comunicação. O
inglês é, provavelmente a única língua estrangeira que possui mais falantes não nativos do que
nativos.
Dados mais recentes apontam que a relação entre nativos e não-nativos já subiu de dois para
quatro falantes não-nativos para cada falante nativo. (MODIANO, 2009; SIQUEIRA, 2008).
Dada sua relevância no cenário mundial, a Língua Inglesa tem ocupado espaço nos cursos de
idiomas. No entanto, no Brasil, seu acesso é restrito a grupos específicos, uma vez que o custo
desses cursos funciona como limitador dado os altos valores cobrados.
Em matéria econômica, uma publicação27 traz em destaque, “empresas deixam de exigir inglês
no currículo para favorecer inclusão”, defendendo que a fluência em inglês pode se tornar um
“filtro embranquecedor” nos processos seletivos e que, por esta razão, empresas estão
abandonando a exigência. Não se trata de qualquer empresa, mas de nomes como Google,
Ambev e Itaú, demonstrando o reconhecimento da ausência de fluência no idioma para uma
grande maioria da população brasileira e, por consequência, admitindo o que todos já sabem: o
inglês ainda é para aqueles que dispõem dos recursos necessários para investir, fora da escola,
em cursos de idiomas.
Crystal (2010) afirma que uma língua se torna internacional ou global por uma única razão – o
poder das pessoas que a falam. Partindo desta afirmação se torna mais fácil compreender a
ascensão e alcance da Língua Inglesa, seja pelo poder bélico, seja pelo poder cultural exercido
ao longo dos anos através da música, cinema; ou econômico, através das transações comerciais.
A supremacia exercida pelos Estados Unidos da América pós Segunda Guerra tem influenciado
gerações, que ainda na atualidade, vislumbram o padrão americano como ideal para suas vidas.
DAS ORIGENS
Brasil e Estados Unidos convergem pela forma como foram colonizados, bem como pelo
tratamento destinado aos índios por seus colonizadores: os Europeus. Nos Estados Unidos,
dentre as muitas maneiras utilizadas para expulsar os índios de suas terras, uma delas era retirar
deles as fontes de subsistência, o alimento, de forma que migrassem para outros locais. Em um
dos trechos da carta do general Sherman para Buffalo Bill há a afirmação de que em 1862 havia
cerca de 9 milhões de bisões nas planícies entre o Missouri e as Montanhas Rochosas. Todos
desapareceram, mortos em troca de sua carne, de sua pele e de seus ossos. Nesse mesmo
período, havia cerca de 165 mil Pawnee, Sioux, Cheyenne, Kiowa e Apache, que dependiam
destes bisões para se alimentar. Eles também partiram e foram substituídos pelo dobro ou triplo
de homens e mulheres de raça branca, que fizeram uso da terra e puderam ser recenseados e
taxados e governados segundo as leis da natureza e da civilização. (CLASTRES, 1980).
27
Site UOL
A invasão das terras, a expulsão, escravidão e assassinato de indígenas foi uma prática utilizada
durante o processo de colonização, levando a quase extinção de muitos povos existentes tanto
nos Estados Unidos da América quanto no Brasil.
Mais de 500 anos depois da chegada do “homem branco” às Américas o que se observa é um
grupo restrito de indígenas que ainda luta por um espaço que, teoricamente, é seu por direito.
Por outro lado, a grande dificuldade dos governos locais de lidar com as questões do passado e
as emergentes de modo a garantir a estes povos a segurança em suas próprias terras.
O genocídio praticado na época da colonização ainda se faz presente no cotidiano das nações
indígenas, seja por armas ou pelas epidemias trazidas para um povo que não oferece imunidade
para elas.
Por outro lado, a necessidade de convivência com o homem branco para sua própria
sobrevivência tem levado à morte a cultura destes povos ao longo dos últimos 500 anos.
Se há a colonização como ponto comum entre as duas nações, o destino tomado por cada uma
delas diverge, apesar de ambas apresentarem a cultura Ocidental como referência. Colonizado
pela Inglaterra, os Estados Unidos se tornaram uma nação independente em 1776, ao passo que
o Brasil só se libertou de Portugal em 1822. No entanto, o grande divisor de águas entre os dois
países não se situa no fato de se tornarem independentes, mas na forma como se estruturaram e
se fortaleceram depois disso.
Os Estados Unidos se tornaram realmente uma “grande” nação após a Segunda Guerra Mundial,
quando se tornaram provedores de tecnologia e insumos para o Ocidente destruído pela guerra,
e para países em desenvolvimento como o Brasil. Como grande exportador, mais que insumos
chegaram a esses países, sua língua, seus costumes e modo de vida, paulatinamente, se tornaram
o sonho de consumo de muitos.
DO ETNOCENTRISMO
O conceito de etnocídio, formulado por etnólogos, especialmente o francês Robert Jaulin, teve
como referência as experiências com indígenas na América do Sul e consiste “na destruição
sistemática dos modos de vida e pensamento de povos diferentes daqueles que empreendem
essa destruição”. [...] O genocídio assassina os povos em seu corpo, o etnocídio os mata em seu
espírito (CLASTRES, 1980). Nos dois casos, trata-se sempre da morte, mas de uma morte
diferente: a supressão física e imediata não é a opressão cultural com efeitos longamente
adiados, segundo a capacidade de resistência da minoria oprimida. Vale lembrar, no entanto,
que a prática genocida e etnocida tem sido aplicada desde 1492, seja através da catequização
para o cristianismo, seja pela imposição na utilização de vestimentas ou pela influência exercida
sobre esses povos ou ainda pelo extermínio de populações inteiras.
DA CULTURA
O termo etnocídio remete ao ataque direto à cultura de um povo. Desde a antiguidade tem-se
buscado razões para o comportamento entre os povos, Confúcio já afirmava que “a natureza
dos homens é a mesma, são seus hábitos que os mantém separados.” O determinismo
geográfico, que considera o ambiente físico como condicionador da diversidade cultural ganhou
grande popularidade entre os geógrafos, no final do século XIX e início do século XX. A teoria
que atribui capacidades específicas inatas a “raças” ou a outros grupos humanos foi refutada,
de modo que as diferenças genéticas foram consideradas não determinantes das diferenças
culturais.
O termo cultura foi definido pela primeira vez por Edward Tylor. Para ele, “cultura é todo
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.” Tal definição
coincide com um período marcado pela publicação da Origens das Espécies de Charles Darwin,
sendo a antropologia dominada pela perspectiva do evolucionismo linear.
Havia nesse período a ideia de que a cultura se desenvolvia de maneira uniforme, esperava-se,
portanto, que cada sociedade percorresse as etapas das sociedades mais avançadas, de modo
que as sociedades pudessem ser classificadas hierarquicamente, sendo a cultura europeia o
padrão. Etnocentrismo e ciência marchavam então de mãos juntas.
Alfred Kroeber auxilia na ampliação do conceito de cultura ao afirmar que a cultura determina
o comportamento do homem, mais que sua herança genética. Além disso, o homem consegue
adaptar-se aos ambientes biológicos, sendo capaz de romper as barreiras das diferenças
ambientais e transformar toda a terra em seu habitat. Assim, ao contrário da ideia de que é
preciso transformar-se para adaptar-se ao meio, como ocorre com os demais seres vivos, o
homem é o único ser capaz de transformar o ambiente e não a si para se tornar parte do
ambiente. Para Levi Strauss, a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a
primeira regra, definindo-a como “um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da
mente humana.”
A presença do ensino de Língua Inglesa no Brasil não está conectada à ascensão dos Estados
Unidos como potência mundial, pois remota a um período mais distante de sua história. Quando
a França sob o comando de Napoleão Bonaparte invadiu Portugal entre 1807 e 1808, coube à
corte portuguesa transferir-se para o Brasil. A ascensão francesa impactou também nas questões
comerciais entre Europa e novo mundo, forçando o estreitamento de relações entre Brasil e
Inglaterra.
Diante da presença real e das necessidades geradas pelas mudanças comerciais e, consequente
necessidade da utilização do inglês, foi estabelecida a oferta, ainda que tímida, do inglês e
francês em escolas públicas a partir de1809. Na época, a língua de prestígio era o francês, sendo
essa a língua da cultura e do prestígio, a língua da elite.
Apesar da grande influência da Grã- Bretanha, a presença da Língua Inglesa no cenário nacional
só entrou em evidência após o término da Segunda Guerra Mundial e ascensão dos Estados
Unidos enquanto potência mundial. Ao se tornar exportadora de insumos e tecnologias para
Europa e países emergentes, o país passou a exercer uma grande influência de modo que
aprender o idioma se tornou mais que uma necessidade, tornou-se sinônimo de status. Viu-se,
então, a partir da década de 1970, a explosão na oferta de cursos de idiomas e a busca por
métodos eficientes de aprendizagem.
As políticas educacionais para rede pública, contudo, não seguiram na mesma via, revelando
um caminho inverso. Embora tenha sido criado em 1931, o Ministério da Educação só
promulgou a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB em 1961; a mais recente é
de 1996. As propostas estabelecidas para o ensino de Língua Inglesa no país apresentaram e
apresentam entraves relacionados ao estabelecimento de carga horária reduzida, formação
docente insuficiente, bem como a existência de um abismo na forma como a disciplina é
ofertada na rede pública e na privada.
Na atualidade o que pode ser observado é que os centros de idiomas oferecem a possibilidade
de comunicação e fluência em língua estrangeira enquanto a escola, especificamente a pública,
ainda busca o caminho para alcançar sucesso na aprendizagem de uma língua estrangeira. Um
imenso abismo que separa aqueles que têm a possibilidade de acesso ao conhecimento e aqueles
que ficam à margem.
Para Paulo Freire, ao escrever sobre a educação como forma de mudança, afirma que:
Uma sociedade justa dá oportunidade às massas para que tenham opções e não a opção que a elite
tem, mas a própria opção das massas. A consciência criadora e comunicativa é democrática.
(PAULO FREIRE, 2000 p. 52)
Outro aspecto tem permeado as discussões inerentes à oferta de língua estrangeira nas escolas,
pois há aqueles que justificam a escolha da língua espanhola, por ser o idioma falado na
América do Sul, outros defendem a inserção da língua de sinais como segunda língua e ainda,
os mais radicais, que defendem a total exclusão do ensino de Língua Inglesa do currículo. O
ponto principal desta discussão, todavia, reside em como pensar localmente em um mundo
totalmente globalizado. Como negar o acesso ao conhecimento de mundo e da atualidade? E
ainda mais relevante, como proteger a cultura dos povos em um momento de quase “idolatria”
à cultura do outro? Como sobreviver ao colonialismo ainda presente em nossa sociedade? Estas
são questões que precisam ser avaliadas e que interferem diretamente nos caminhos ditados
pelas políticas educacionais do país, basta ler a nova Base Nacional Curricular Comum para
compreendê-los.
Kanavillil Rajagopalan, ao relatar sua experiência com a língua inglesa, afirma que lhe foi
enfiada goela abaixo quando ainda criança, uma vez que a Índia ainda era uma colônia inglesa.
Mesmo após a independência, o inglês ainda é uma das três línguas ensinadas obrigatoriamente
na escola. Semelhantemente, na África do Sul, todo aluno precisa dominar a língua inglesa para
que possa ter acesso às series correspondentes ao ensino fundamental II aqui no Brasil. As
experiências acima ilustram uma forma de etnocídio, tendo em vista a necessidade de mudança
da forma de falar de um povo.
Outro fatore que contribuiu significativamente para a expansão do inglês está diretamente
ligado à globalização, como afirma Kumaravadivelu (2006, p. 131):
Um termo a que me refiro em relação a um contexto específico de comunicação: uma escolha feita
entre falantes de diferentes experiências culturais e de nacionalidades diversas. De uma maneira
geral, refiro-me àqueles do círculo em expansão devido à sua maior representatividade quando
comparado aos demais círculos. (JENKINS, 2007, p. 200)
Cook (1999), por sua vez, ao se referir ao ILF afirma ser uma língua que se adapta às
necessidades globais de seus usuários. Cogo (2015) define ILF como qualquer uso de inglês
entre falantes de línguas e bases língua culturais diferentes. Para Seidlhofer (2005) uma língua
franca pode ser definida como:
Um sistema linguístico adicional que serve como meio de comunicação entre falantes de diferentes
línguas maternas, ou uma língua pela qual diferentes comunidades de fala podem se comunicar entre
si, mas que não é a língua de nenhum deles, isto é, uma língua que não tem falantes nativos.
(SEIDLHOFER, 2005 p. 340)
A proposta delineada para o ensino de línguas estrangeiras traz no seu bojo a promoção do
ensino de língua inglesa como compulsório a partir do 6ª ano, deixando as demais línguas
apenas o papel secundário no currículo. A Base Nacional Comum Curricular é apresentada
como:
De acordo com a BNCC a língua inglesa não deve estar mais vinculada culturalmente aos países
do círculo interno, pertencente aos países dominantes, mas à orientação para o ensino de inglês
como Língua Franca. O impacto inicial da proposta desperta preocupação pela ausência de
corpo docente suficiente para a execução da proposta, associado ao fato da nova BNCC não
dialogar diretamente com os Parâmetros Curriculares quando propõe o desenvolvimento das
quatro habilidades28, divididos em três eixos, em detrimento da recomendação presente nos
PCN, que orientava priorização da leitura em detrimento das demais habilidades. El Kadri
(2010, p.22) afirma que
Conceber o inglês como língua franca traz implicações educacionais [muito relevantes], pois
provoca a descentralização do modelo do falante nativo, com repercussões para a escolha de
variedades a serem ensinadas, [reposiciona] o papel da cultura no ensino de língua e [relativiza]
aspectos de correção.
Como pode um documento abranger os usos criativo, híbrido e local do inglês em seu status de
Língua Franca se ele está organizado em temas, objetos de conhecimento, e habilidades linearmente
e hierarquicamente com exemplos de conteúdos fixados e estabelecidos? (DUBOC, 2019, p. 17)
Em termos práticos, os avanços delineados pela assunção do inglês como LF são relativizados
pela imposição de conteúdos programáticos determinados por série estudada. Desta forma, as
discussões em torno desta temática não se encerram na BNCC, mas demandam estudo e
reflexão sobre os caminhos a serem trilhados, levando em consideração do local para o global.
Ao considerar o processo de colonização realizado no Brasil e demais países que passaram pela
mesma experiência, é possível constatar as marcas deixadas, seja pelo genocídio ou pelo
etnocídio. Os registros históricos demostram claramente seus resultados.
Quando se trata do processo de ensino e aprendizagem de inglês como língua estrangeira – EFL
(English as a Foreign Language) as marcas desse processo de colonização parecem mais
profundas, uma vez que a busca pela reprodução da fala e costumes da língua como é falada
por ‘nativos’ se torna o objetivo a ser seguido. A produção e reprodução dos costumes e crenças
de países como Estados Unidos e Inglaterra aparece no material didático utilizado,
especificamente e principalmente, nos cursos de idiomas ofertados pelo Brasil. A presença do
professor ‘nativo’ também consta como atrativo para estes cursos.
28
Ler, escrever, ouvir e falar
Apesar do final da colonização na América latina, a diferença colonial continua através da elite. Esta
continuação é chamada colonialidade. (QUIJANO, 2000; MIGNOLO, 2000; GROSFOGUEL, 2007
apud RAJAGOPALAN, 2020)
É preciso reconhecer que esse processo de colonialidade ocorre, muitas vezes, de maneira
inconsciente, embora esteja enraizado através do culto à superioridade dos Estados Unidos,
como tem sido amplamente divulgado pela mídia, ao registrar a continência de um presidente
brasileiro à bandeira dos Estados Unidos em território nacional. Ou de maneira consciente
quando consideramos melhor a qualidade de vida daqueles que residem naqueles países.
Ao tratar desta temática, Rajagopalan pontua ações que possam interromper a colonialidade no
ensino e aprendizagem de inglês no Brasil. Para ele, se faz necessário:
• A desuniversalização do ensino de inglês no Brasil, esta, por sua vez, vai de encontro à
concepção de padronização tão utilizada em relação ao ensino de inglês;
• A promoção da consciência linguística (educação linguística) em vez de promover a
competência na língua;
• Consciência da língua, que promove uma percepção crítica da língua (Língua materna
e outras línguas) contextualizada, práticas sociais variadas, e a normatização de
abordagens como contextual, necessária, mas injusta;
Apesar da percepção de que a concepção sobre o papel da língua inglesa e seu processo de
ensino e aprendizagem tem mudado ao longo dos anos, bem como do seu papel enquanto língua
internacional, muitos continuarão buscando a proficiência (fluência e a precisão), seguindo o
padrão norte americano, britânico, canadense ou australiano, No entanto a discussão proposta
aqui busca a ruptura, mesmo que parcial, desse conceito.
1. Ressignificação dos motivos para se aprender inglês, que passariam a enfatizar a ideia de que
queremos nos comunicar com outros falantes não nativos de inglês ao redor do mundo;
2. Incorporação de outras variedades de inglês que não apenas a americana ou britânica;
3. Ampliação dos tópicos e temas trazidos para sala de aula, abrangendo temas sociais de alcance
global;
4. Conscientização sobre o papel das línguas nas sociedades e, especialmente, do inglês como
língua de comunicação internacional, que nos permite acessar informações e interagir com pessoas
ao redor do mundo;
5. Compreensão da expansão do inglês no mundo e sua vinculação com a [atual] globalização
econômica;
6. Desenvolvimento de maior criticidade com relação à associação do inglês a americanos ou
ingleses;
7. Possibilidade de [criarem]se outros procedimentos interpretativos e novos sentidos para o que
[se] lê, ouve, escreve e fala.
A vinculação existente entre a língua e seu país de origem, aliada à forte influência destes países
no contexto mundial são fatores relevantes para que se tenha buscado na proficiência em inglês
a capacidade de reproduzir o discurso do ‘nativo’, de modo que que quanto mais parecido,
melhor. A reprodução de atitudes, comemoração de datas festivas são considerados elementos
constantemente presentes, especialmente, em cursos de idiomas em todo Brasil. Tais conceitos
têm sido incorporados à nossa cultura de maneira natural e se tornado parte dela ao longo dos
anos.
Alguns fatores contribuíram diretamente para que o mundo se mantivesse interligado, sendo a
internet um dos principais propulsores da conexão entre as mais diversas culturas do mundo.
Esta abertura, por sua vez, demanda a consciência da existência de várias culturas e da
necessidade de uma conexão maior entre elas.
Sobre interculturalidade, Estermann (2010, p. 33) afirma que esta “descreve as relações
simétricas e horizontais entre duas ou mais culturas, a fim de se enriquecerem mutuamente e
contribuírem para uma maior plenitude humana.” Para Mendes, a interculturalidade refere-se
à “compreensão do que é possível, no emaranhado das diferenças e choques culturais que estão
em jogo no mundo contemporâneo”; ou ainda ao estabelecimento de “pontes, diálogos
inter/entre culturas individuais e coletivas, de modo que possamos conviver mais
respeitosamente, mais democraticamente.” (MENDES, 2012, p. 360)
Além da proposta apresentada pela BNCC, delineando uma tendência para um ensino
intercultural, Kramsch (1993) elenca alguns termos que levam à associação do ensino da língua,
levando em consideração o diálogo entre a cultura do aprendiz e futuro falante e a cultura da
língua aprendida.
Afirma a autora:
a. Ao invés vez de simples trocas, estabelecer uma esfera intercultural – diferente de transferências
mecânicas de informação entre culturas; isso inclui uma reflexão sobre a cultura nativa (C1) e a
cultura alvo (C2);
b. Desenvolver práticas pedagógicas onde o ensino de cultura acontece através do processo
interpessoal – substituir a apresentação/prescrição de fatos culturais e comportamentos pelo ensino
de um processo que se aplica ao entendimento do que significa ser estrangeiro, ou alteridade;
c. Ensinar cultura como diferença – não abordar culturas como características nacionais e como se
as identidades fossem estáticas e partissem de conceitos generalizantes e estereotipados, porque em
cada cultura há uma variedade de fatores relacionados à idade, gênero, origem regional, background
étnico e classe social;
d. Realizar o cruzamento de fronteiras disciplinares – isso implica encorajar os professores a refletir
e reler as práticas que abordam o ensino de cultura como um sistema fechado. No ensino de uma
língua internacional, o professor precisa cruzar fronteiras disciplinares, políticas e, acima de tudo,
ideológicas (KRAMSCH, 1993, p. 91-92).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIA
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3652.8.1.124-136. Disponível em:
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COOK, V. Going beyond the native speaker in language teaching. TESOL Quarterly, Vol.
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