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Resumo: O presente artigo intenciona refletir acerca do status de língua franca global que
a língua inglesa ocupa na contemporaneidade. No bojo dessa reflexão, proponho, à luz da
linguística aplicada, conceber a língua inglesa como uma ferramenta de comunicação
global, usada por diferentes povos e culturas e por isso mesmo, aponto a necessidade de
repensá-la, bem como o desenvolvimento de pedagogias críticas que operem no sentido
de desestrangeirizar e descolonizar esse idioma, com vistas a favorecer a formação de
aprendizes críticos, autônomos e preparados para lidar com a diversidade linguística e
demandas contemporâneas, as quais são consolidadas através da língua inglesa, exigindo
desse modo, a comunicação, quer oral, ou escrita, através de uma língua desatrelada de
suas origens, sobretudo, as coloniais e imperiais, mas uma língua que possibilite a
comunicação entre culturas, que permite a manutenção das identidades dos falantes em
situações comunicativas.
Palavras-chaves: língua inglesa. Língua franca global. Descolonização. Desestrangeirização.
Abstract: The present paper intends to reflect upon the global lingua franca status which
the English language occupies in the contemporaneity. In the midst of this reflection, I
propose, under the applied linguistics light, to conceive the English language as a global
communication tool, used by different people and cultures, and because of this, I point
out the need of rethinking it, as well as the development of critical pedagogies which
operate to ‘deforeignize’ and decolonize this language, in order to make possible the
education of critical and autonomous learners, ready to deal with the linguistic diversity
and contemporary demands, the ones which are consolidated through the English
language, requiring, in this way, the communication, both oral and written, through a
language uncoupled of its origins, mainly, the colonial and imperial ones, but a language
that makes possible the communication among cultures, that allows the maintenance of
speaker´s identities in communicative situations.
Keywords: English language. Gobal lingua franca. Decolonization. Deforeignization.
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Introdução
Vivemos uma era marcada pela instabilidade, pela celeridade das informações,
encontro e confronto de povos. Tempos de globalização e reconhecimento das
diversidades, do melting pot. Cenário notadamente delineado por crises econômicas,
políticas, morais e estreitamento de barreiras. Um momento de descontrole, em que a
monetarização sobrepõe valores humanistas. Era da Internet, do Facebook, do Youtube,
do Twiter, do Skype e outras redes de informações. Emerge, nesse cenário, uma língua de
contato entre povos, capaz de possibilitar a preservação das identidades de quem dela
faz uso. Essa língua que conseguiu ‘viajar’ pelo mundo, alcançar muitas nações, passa por
um processo de reformulação da sua própria identidade, que de língua nacional, tornou-
se colonial, imperial (LE BRETON, 2005) e já alcança o status de língua fraca global, ao
desatrelar-se das suas raízes territoriais e culturais, o que também proponho refletir nas
próximas linhas.
O desenfreado processo de desterritorialização da língua Inglesa, delineado por
Crystal (2006), como um dos fatores que fez com que esse idioma se tornasse a língua
global dos tempos atuais, parece também ter provocado, conforme destacou Ventura
(1989), há quase três décadas, uma epidemia que contamina cerca de 750 milhões de
pessoas no mundo todo, incluindo-se aí, dentre outros especialistas, historiadores,
sociólogos, antropólogos, cientistas, médicos e estudantes, cujos interesses em busca de
conhecimento fazem um percurso que inevitavelmente passa pela língua inglesa. Uma
língua sem donos, ou, melhor, de todo mundo. E desse modo, a língua inglesa, prossegue
penetrando diversas culturas, para atender a interesses globais, antes colonialistas.
Essa difusão planetária da língua Inglesa resultou, não apenas no Brasil, mas no
mundo, um montante de pesquisas, sobretudo na área da Linguística Aplicada (LA), em
particular, buscando uma compreensão sobre a questão do imperialismo linguístico da
língua Inglesa. Tais estudos, em certa medida, tem posto luz sob as consequências da
presença desse idioma global no cenário mundial, suas implicações políticas, econômicas,
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categoria humana que não se veja afetada pela universalidade da difusão da língua
inglesa, não escapando nem mesmo as organizações terroristas (LE BRETON, 2005). Nessa
mesma linha de pensamento, ao falar sobre os perigos de uma língua global, Crystal
(2003) argumenta que essa cultivará uma elite de classe linguística monolíngue e levanta
a possibilidade de a presença de uma língua global tornar as pessoas preguiçosas para
aprender outras línguas.
Na visão de Seidlhofer (2005), o inglês funciona como uma língua franca global,
tendo em vista estar sendo moldado mais por falantes não nativos do que por nativos. Já
Crystal (2003) entende que uma língua pode ser considerada global quando desenvolve
um papel especial reconhecido em cada país. A língua inglesa, que ora assume esse
status, coloca-se também como umas das alternativas de comunicação entre povos. Não
sem razão é que 1/5 da população mundial fala esse idioma com algum grau de
competência e outros 1/5 estão se apressando para aprendê-lo. Isso é justificável tendo
vista que a língua inglesa tem sido a língua dos esportes, dos filmes, da diplomacia, da
ciência, do mundo acadêmico, dos desenhos, da publicidade, dos congressos e dos
negócios. Por isso, como bem destaca Rajagopalan (2003), já não se discute mais essa
assustadora hegemonia da língua inglesa no mundo atual. Nessa perspectiva, Ventura
(1998) chama atenção para o fato de esse idioma estar presente em muitos jargões
profissionais, como na publicidade e na informática, em 80% dos trabalhos científicos e
em mais de 10.000 jornais no mundo todo. Obviamente que esse fato não se deu por
mero acaso, a penetração da língua inglesa em diversas esferas da vida social deu-se por
conta do desempenho político, econômico, científico e militar dos povos falantes dessa
língua.
Desatrelada das suas origens, a língua inglesa viajou pelo mundo, fez milhares de
adeptos, e prossegue conquistando outros milhares para usá-la em situações
comunicativas entre culturas, não mais exigindo de um falante qualquer o abandono das
identidades, do eu, para fazer-se um outro estrangeiro, colonial e imperial, como sempre
fazem as abordagens do inglês como língua estrangeira (ILE), quando posicionam os
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aprendizes como estranhos, estrangeiros, alguém distante da língua, que exalta a cultura
estrangeira e luta para obter aceitação da comunidade alvo (GRADDOL, 2006). E nesse
sentido é que acredito poder resolver o grave problema ideológico levantado por
Phillipson (2014), mencionado anteriormente, ao colocar a língua inglesa como a grande
vilã nesse cenário de ideologia linguística, quando na verdade são as abordagens que
podem favorecer o empreendimento de difusão de uma língua em favor do império.
Contrárias a posicionamentos que corroborem o imperialismo, muitas pessoas, em
diversas partes do mundo, já não ensinam/aprendem mais a língua inglesa em
reconhecimento ao poder hegemônico dos falantes nativos. Pois, na contemporaneidade
emerge um novo modelo de inglês, não mais estrangeiro - inglês como língua estrangeira
(ILE) ou o inglês como segunda língua (ESL). O inglês como língua estrangeira (ILE) parece
estar cedendo espaço a um modelo mais adequado para as realidades globais.
Parece que esse novo modelo coloca-se a serviço de diferentes povos, atende a
interesses de quem dele faz uso, possibilitando a comunicação entre culturas. Assim, a
língua franca global contemporânea traz consigo um caráter cosmopolita; uma língua que
não pertence a ninguém em particular, cada vez mais projetada como uma ‘lingua
nullius’, uma língua de ninguém, que serve a todos igualmente (PHILLIPSON, 2014), já que
a conveniência de se ter uma língua franca disponível para servir às relações e
necessidades humanas globais tem sido apreciada por milhares de pessoas. (CRYSTAL,
2003, p. 30). E por isso, há algum tempo, já não faz mais sentido falar exclusivamente em
acentos1 Norte-Americanos e Britânicos como modelos únicos a serem seguidos, cujas
culturas são colocadas como detentoras exclusivas da língua inglesa. Tal sensação de
perda de propriedade, obviamente, gera desconforto para aqueles que acreditam ter a
língua inglesa como propriedade exclusiva, sobretudo os Britânicos, os quais sentem, por
direito histórico, que a língua inglesa lhes pertence (CRYSTAL, 2003). É nesse sentido
também que é preciso atuação profissional crítica, para retirar aspectos coloniais que
1 Não só acentos, mas também das variedades emergentes do inglês no mundo, como o Portenglish, o
Franglais, o Dunglish, o Japlish, o Chinglish.
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poder imperial. Brutalmente, é a partir do século XVI que a Inglaterra inicia a colonização
enquanto empreendimento. No entanto, até o final do mesmo século, muitos problemas
emergiram resultando no fracasso do domínio imperial. Desse período em diante, a
monarquia Tudor assume o controle de uma nova política agressiva de colonização,
cunhada de ‘o principal legado da Irlanda elisabetana tardia para a colonização inglesa no
novo mundo’ (WOOD, 2014, p. 69).
Esse empreendimento de colonização intencionava aumentar a supremacia
comercial da Inglaterra, bem como possibilitar o aumento da riqueza dos ingleses,
criando relações de dependência. No bojo dessa prática, a língua opera como um dos
mecanismos para a consolidação de objetivos de dominação e expansão de poder. Parece
que a imposição da língua do império contribuía com a invalidação das dos grupos
subordinados e, assim, provocava-se agressão ao outro, ao manipular e controlar as
atividades sociais. Por isso, infelizmente, é verdade que a língua inglesa teve uma história
de imposição, frequentemente competindo com outras línguas (CANAGARAJAH, 1999),
porque todas as línguas são confrontadas, ao longo dos seus desenvolvimentos
sóciohistóricos, por questões de poder em nível intra e internacionais (GUILHERME,
2007). No entanto, é preciso reações para que o ensino da língua inglesa não permaneça
mais sendo conduzido em perspectivas coloniais, que, assim, opera no sentido de apagar
a identidade do aprendiz, fomentando o desenvolvimento de uma outra, quando, na
verdade, ele deve e pode mantê-la, sem problemas. Nesse âmbito, a cultura exerce papel
crucial para que se compreenda as forças do processo de colonização através da língua
inglesa. Mais adiante retratarei como aspectos culturais corroboram o processo de
colonização.
À luz da Teoria Educacional Crítica, intenciono, com essa reflexão, alertar acerca
de mecanismos de opressão e dominação que são reproduzidos no processo de
escolarização, sobretudo no ensino e na aprendizagem da língua inglesa, tendo em vista
que muitos professores ainda deixam fluir em seus discursos aspectos coloniais. A
respeito disso, Graddol (2006) é enfático ao dizer que o modelo de inglês como língua
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estrangeira (ILE) tem tendência a destacar a cultura e a sociedade dos falantes nativos,
com base em metodologias que enfatizam a emulação de comportamentos dos falantes
nativos. Tal prática corrobora o desenvolvimento de atitudes ‘colonizantes’. Por isso, a
temática colonialismo e a sua relação com a língua inglesa precisa ser compreendida para
consequentemente tornar o educador linguístico consciente da presença de ideologias
ainda hoje, já que algumas ideologias do ensino da língua inglesa, na
contemporaneidade, tem suas raízes nas construções culturais do colonialismo
(PENNYCOOK, 1998).
Nessa linha de pensamento é que Pennycook (1998) diz que o inglês é produto do
colonialismo. Por conta disso, parece que o ensino e a aprendizagem da língua inglesa
sempre estiveram quase que exclusivamente cercados de elementos que pudessem ecoar
e manter em evidencia as culturas hegemônicas. Obviamente que práticas nesse sentido,
fundamentada numa ‘Pedagogia da Assimilação’ (SCHEYERL, 2012), acabavam por
desprivilegiar o falante não nativo, silenciando a sua cultura e todas as outras questões
relacionadas a quem aprendia uma língua estrangeira.
Para corroborar essas práticas, não sem razão é que associações, centros e
organizações, financiadas por governos, instalavam-se em países, onde permanecem até
hoje, visando à manutenção e à divulgação da cultura e dos povos de cultura
hegemônicas. Como exemplo disso, no Brasil, temos a Associação Cultural Brasil Estados
Unidos (ACBEU)2 e a Cultura Inglesa3, ambas com missões centradas na manutenção e
propagação das culturas anglófonas. Tais iniciativas, em certa medida, acabam por
fomentar sentimentos e atitudes de exaltação em relação à cultura e à língua estrangeira
em detrimento da língua e cultura local.
As atitudes e práticas mencionadas na seção anterior encontram guarida também
em muitos materiais didáticos. Neles os discursos desempenham papel central para a
consolidação e disseminação de ideologias, sobretudo aquelas assentadas nas culturas
europeia e norte americana, as quais quase sempre são exibidas com exclusividade e,
como resultado, acabam fomentando desigualdades culturais entre o inglês falado nesses
territórios e outras línguasculturas.
Nessa perspectiva é que em muitas salas de aula de língua inglesa, professores,
quando questionados pelos seus alunos qual acento seguir, sempre tendiam a sinalizar os
norte americanos ou britânicos. Assim, seguia-se uma linha que desconsiderava e
desprestigiava qualquer outro acento. Tomava-se, desse modo, como paradigma dois
acentos apenas. Consequentemente, tais iniciativas geravam frustração, medo e
desestímulo, quando os discentes não conseguiam alcançar a meta de falar ‘igualzinho a
um americano’, por exemplo. Por isso que Rajagopalan (2003) argumenta que muitos
alunos se sentiam diminuídos em suas autoestimas, na sala de aula de LE, por causa de
práticas e posturas que corroboravam a supremacia das culturas hegemônicas.
Como parece haver uma atitude exagerada de exaltação, de quase adoração pelas
culturas dominantes de língua inglesa, conforme nos revela Moita Lopes (1996), esse
autor chama de “colonizadoras” as atitudes de glorificação de uma cultura estrangeira e
chega a chamá-la de embasbacamento, ecoando a visão de Motta et al (2001), os quais
chamam de “admiração desmedida” as mesmas atitudes em relação aos países
considerados de Primeiro Mundo, especialmente os Estados Unidos e os países
europeus4. Por isso é que valores como eficiência, competitividade, bom senso, controle
4 Santos. M. (2000, p. 20) acredita que a humanidade passa por um estágio de evolução negativa cuja raiz
está relacionada com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que caracterizam ações
hegemônicas.
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emocional e racional são propagados pela indústria cultural, fazendo com que os povos
do Terceiro Mundo não acreditem que têm essas características, e os de Primeiro Mundo,
etnocentricamente, acreditem que apenas eles possuem (cf. BASTOS, 2005, p.35). E o que
se nota, é uma admiração exacerbada e uma evidente emulação, fazendo dos países de
Primeiro Mundo nossos modelos de competência e eficiência na tecnologia,
administração, na moda, música, apontando claramente para uma suposta alienação e
um autodescrédito quase umbilical. A respeito disso, Moita Lopes (1996a, p. 49) coloca
que:
[...] é desnecessário acrescentar ainda a penetração e o status da
língua inglesa, no caso brasileiro, em todos os setores da vida
nacional, confirmando a referida alienação. Este processo de
identificação com o “outro”, o colonizador, ou melhor, com a sua
superioridade, vai levar o colonizado à imitação do colonizador
em todos os níveis.
5 Apesar de ter sérias reservas em relação ao ensino das culturas hegemônicas de língua inglesa, acredito
que não se deve ignorar a língua do imperialista, mas saber fazer uso dela em benefício próprio (cf. MOITA
LOPES, 1996, p. 59).
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Esses parâmetros pensados por Kumaravadivelu (2005; 2012) trazem em seu bojo
um chamado para posicionamentos e atitudes em relação ao ensino e à aprendizagem da
língua inglesa. E em se tratando de atitudes Rajagopalan (2005) chama atenção para o
fato de termos de desenvolver formas eficazes para o enfrentamento desafiador de
resistência às consequências da expansão da língua inglesa no mundo.
Implicita a essa reflexão, que não se esgota aqui, está o chamado para a
necessidade de adoção de uma nova postura profissional; uma postura que compreenda
a língua inglesa não mais como colonial, mas como língua global, de contato entre povos,
sem traços do colonialismo, nem mesmo um mínimo de resquício. É fato que o
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colonialismo deixou sua marca na língua inglesa, operando no sentido de, através dela,
distribuir e legitimizar o capital cultural das culturas hegemônicas. Embora hoje já
possamos argumentar que o inglês é uma língua sem donos, sem tutelas, de ninguém
especificamente, mas de todos, ainda é corrente práticas pedagógicas acríticas, que
flagrantemente legitimam os modos de ser, agir e falar de povos das culturas
hegemônicas. Na materialização dessas práticas, existe uma relação de dominador-
dominado. O dominador exerce poder sobre o dominado, que, sem opção, é afetado
ideologicamente. Ao ter tal atitude, sem questionar, um aluno pode ter um
comportamento que desvalorize o seu país, o seu povo, a sua língua.
Alinhado a esse pensamento, Kumaravadivelu (2006), ao argumentar sobre a
globalização cultural, faz menção ao termo “macdonaldização”, cunhado por Ritzer
(1993), para se referir aos processos socioculturais de consumo de comida rápida, que
dão forma aos padrões culturais dos Estados Unidos e alastram-se pelo mundo afora.
Nessa linha de raciocínio, esse autor tece comentários que apontam para a
supervalorização da cultura norte-americana, o individualismo e o consumismo, que são
adotados por jovens que usam calças Levi´s e tênis Nike, bonés de baseball da Texaco,
moletons do Chicago Bulls e comem nas redes McDonald´s e Pizza Hut, ressaltando que
essa homogeneização cultural é facilitada por indústrias de comunicação global,
controladas quase que completamente por interesses norte-americanos. Por isso,
concordo que “a aderência dos discursos de colonialismo ao inglês reproduz não apenas
aqueles discursos do colonialismo, mas também relações materiais do colonialismo”.
(PENNYCOOK, 1998, p. 200).
Para reagir a tais práticas, Bastos (2005) diz que o ensino de LE deve ser
conduzido criticamente, baseado na história de cada povo, inclusive no nativo e no
relativismo cultural, que considera que todos os povos e países têm a sua própria história
e valor, inexistindo países ou povos melhores ou piores do que outros. Essa autora
ressalta ainda que o estudo da origem dos povos e como eles se perpetuam pode
contribuir para uma necessária mudança de atitude. No caso específico da LE, deve-se
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mostrar para os aprendizes que o inglês é uma língua sem pátria e de muitas nações, que
pertence ao mundo, e que devemos nos orgulhar de sermos brasileiros falantes de inglês,
e que valorizamos a cultura brasileira. A despeito disso, Kramsch e Sullivan (1996), ao
falar sobre a pedagogia apropriada para o ensino de línguas, chamam atenção para um
pensar global, mas um ensino local, que contemple determinada comunidade. Logo, faz-
se necessário que esse quadro aconteça com frequência nas salas de aula de LI, levando-
se em consideração a língua inglesa como língua franca (ILF) e todas as implicações
políticas e pedagógicas que tal condição acarreta.
O reconhecimento do ensino/aprendizagem da língua inglesa como ato político
possibilita, dentre outras coisas, elaboração de pedagogias apropriadas para tal feito.
Condição sine qua non para que uma pedagogia apropriada para o ensino do inglês como
língua franca global aconteça é pensar tanto na descolonização, como já argumentado
aqui, quanto na desestrangeirização da língua inglesa. A pedagogia a qual faço referência
é aquela capaz de possibilitar o empoderamento do aprendiz, o desenvolvimento de
competências sociocomunicativas, partindo de realidades locais, para o estabelecimento
da comunicação e consequentemente fazê-lo sentir gradualmente que a língua alvo, não
mais estrangeira, lhe pertence também.
Uma língua se desestrangeiriza quando nos é familiar, já não pertence apenas ao
outro, mas a mim também, que dela faço uso. Desmistifico, com isso, uma série de
questões, elimino o medo e a distância supostamente existente entre mim e ela, e
próximo dela, consigo beneficiar-me dessa relação. Na intimidade emergida daí, sinto
uma tranquilidade tão intensa que torno-me, assim, um falante local, de uma língua
global, que naturaliza cada som, cada palavra, cada sentença produzida.
E para que a descolonização da língua inglesa aconteça é preciso, em primeira
instancia, compreender o seu caráter de língua franca global, para, então, dentre outras
coisas, reagir a padrões linguísticos rígidos da pronúncia nativa que ainda são propagados
exageradamente em sala de aula de LE. No âmago dessa compreensão, um dos pontos
mais relevantes a ser considerado é a inteligibilidade da comunicação entre os falantes do
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ILF. Quanto a isso, Jenkins (2007) coloca que a suposta falta de inteligibilidade dos
falantes não nativos do inglês tem sido usada para justificar atitudes negativas em relação
a certos acentos. A despeito disso, Graddol (2006) coloca que a inteligibilidade é o que há
de mais importante no ILF, em vez da precisão expressa pelos falantes nativos. Nesse
sentido, Jenkins (2000, apud SEIDLHOFER, 2005), em seus estudos, coletou dados que
apontaram que ser capaz de pronunciar sons em inglês, que são considerados difíceis
pelos falantes não nativos, tal como o th /ð/, não é necessário para a inteligibilidade
internacional no ILF. Essa autora ressalta que não importa a que círculo pertence um
falante e que, na perspectiva do ILF, todos precisam fazer ajustes às suas variedades de
inglês local em benefício dos interlocutores:
O que Jenkins (2009) postula aqui coloca em evidência uma das mais fortes
características do ILF, que é o fato de ter flexibilidade, independente de um grau
considerável de normas estabelecidas pelos seus usuários nativos (SEIDLHOFER, 2005). O
que há de mais importante é a efetivação da comunicação e, nesse sentido, o ILF
configura-se como língua mais viável, pela sua flexibilidade, já que possibilita a um falante
qualquer comunicação com elementos inerentes à sua própria língua e cultura. Isso, por
sua vez, nos remete a uma reflexão levantada por Graddol (2006), ao dizer que o
aprendizado do acento nativo é uma das ideias mais antiquadas sobre o ensino de inglês,
mas que ainda tem espaço nas salas de aula de LE.
Nesse contexto em defesa de uma pedagogia pela descolonização e
desestrangeirização da língua inglesa, é oportuno o chamado de Kumaravadivelu, para a
uma tomada de consciência de interesse coletivo nesse sentido. Acredito que só assim
será possível a abertura para a adoção de políticas afirmativas para a inclusão de
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Aprender línguas hoje tem sido um referencial para profissionais das mais diversas
áreas. A demanda para a aprendizagem de LE, sobretudo da língua inglesa, tem
possibilitado a milhares de pessoas participar de muitas ações na contemporaneidade. A
dinâmica social contemporânea tem suscitado o conhecimento dessa língua que
possibilita contato entre culturas mundiais. Aprender essa língua e dominá-la para
engajar-se em discussões contemporâneas deixou de ser diferencial para ser necessidade
profissional, acadêmica e social cotidiana; por ser uma língua global que localmente
manifesta-se em diversas esferas sociais. Por isso que o engajamento nesse processo de
aprender a língua inglesa precisa ser mediado por pedagogias que tomem a língua inglesa
como uma língua franca global, mas sempre partindo de uma perspectiva local, em favor
dos falantes de outras línguas, cujo número ultrapassa os nativos, considerando as
idiossincrasias, as peculiaridades locais, para, assim, empoderar aprendizes no sentido de
possibilitar reações contra práticas colonialistas e imperialistas.
Conscientes de determinadas investidas imperiais e coloniais, educadores
linguísticos precisam fortalecer os objetivos do ensino de uma língua com status de
global, como a língua inglesa, para desvencilhar-se do imperialismo linguístico. Assim é
que Graddol (2006) sinaliza a existência de um novo modelo de inglês, o qual não está
sendo mais aprendido como língua estrangeira, ao tempo em que se reconhece o poder
hegemônico dos falantes nativos da língua inglesa. O objetivo do ensino da língua inglesa
não deve ser o de atender aos interesses do império. Nesse sentido é que assumindo
posição contrária a esse cenário onde ocorrem práticas homogeneizantes, é que
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