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CURSO DE BIOGÁS:

Fundamentos e aplicações

Conceitos básicos e
digestão anaeróbia

Aula
1
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Conceitos básicos e digestão anaeróbia

2º edição – Versão 1.0

Foz do Iguaçu, 2018.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
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Todos os direitos reservados.

Rodrigo Régis de Almeida Galvão


Diretor Presidente

Joao Firmino Neto


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Gerente do Núcleo de Educação

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Design Instrucional

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Felipe Souza Marques
Natalí Nunes dos Reis da Silva
Revisão técnica

Pedro Henrique Melchior Nunes da Horta


Revisão textual

Bruno Yoshio Terao


Fábio de Souza Rocha
Produção e Roteirização de Vídeos

Como citar este documento:

CIBIOGÁS. Conceitos básicos e digestão anaeróbia. Curso de Biogás: fundamentos e


aplicações do CIBiogás. Foz do Iguaçu, 2018.

Este documento faz parte de uma série de publicações que compõem o curso de Biogás: fundamentos e aplicações,
sendo essas publicações:
- Aula 1 - Conceitos básicos e digestão anaeróbia;
- Aula 2 - Características e aplicação do biogás;
- Aula 3 - Operação e manutenção de plantas de biogás, arranjos de viabilidade econômica e panorama do biogás.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
APRESENTAÇÃO

Seja bem-vindo ao nosso curso sobre produção e uso de biogás para

geração de energia elétrica, térmica e produção de biometano. Nosso objetivo é que

você entenda a origem do biogás, como ocorre sua produção pelo processo de

biodigestão, as etapas envolvidas na aplicação energética do biogás e a destinação

adequada ou aplicação do digestato para a fertilização do solo. Para isso, o curso foi

estruturado em três aulas, a saber:

i. Aula 1: Conceitos básicos e digestão anaeróbia;

ii. Aula 2: Características e aplicações do biogás e do digestato;

iii. Aula 3: Operação e manutenção de plantas de biogás, arranjos de

viabilidade econômica e panorama do biogás.

Assim, na primeira aula você terá acesso aos conteúdos sobre o processo

de produção e aproveitamento energético do biogás, as características dos

substratos, dados sobre potencial de produção de biogás, pré-tratamento do

substrato e tecnologias de digestão anaeróbia para tratamento e produção de

biogás. Na segunda aula, o foco do estudo estará voltado a apresentação das

principais características e aplicações do biogás, englobando aspectos sobre

tratamento, armazenamento e transporte do biogás. Por fim, na última aula (Aula

3) informações a respeito da operação, monitoramento e manutenção de plantas

de biogás serão repassadas. Além disso, na Aula 3 os temas arranjos tecnológicos,

modelos de negócio e viabilidade técnica, econômica e financeira, serão abordados.

Dessa forma, você terá uma visão geral sobre o biogás como uma fonte de

energia e poderá aplicar isso no planejamento e análise de projetos. Além disso, o

conhecimento que você irá adquirir possibilitará que você decida em quais temas

gostaria de se aprofundar e, assim, escolher quais serão os próximos cursos da

nossa plataforma a realizar.

Espero que esteja animado. Bons estudos e um ótimo trabalho.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Sumário

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 4

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 9

2. CONCEITOS GERAIS SOBRE O BIOGÁS .................................................................... 10

2.1 História do biogás.................................................................................................... 13


2.2 Processo de produção e aproveitamento energético do biogás .................... 16
3. DIGESTÃO ANAERÓBIA .............................................................................................. 19

3.1 Caracterização dos substratos e potencial de produção de biogás ................ 20


3.2 Processo de biodigestão anaeróbia ..................................................................... 23
3.3 Pré-tratamento do substrato ................................................................................. 25
3.3.1 Separação de sólidos e mistura do substrato .............................................. 25
3.3.2 Trituração do substrato ................................................................................... 27
3.3.3 Aquecimento do substrato ............................................................................. 27
3.4. Tecnologias de digestão anaeróbia para produção de biogás ........................ 29
3.4.1 Regime de alimentação ................................................................................... 29
3.4.2 Classificação dos biodigestores por tecnologias ......................................... 30
3.4.3 Classificação dos biodigestores por porte .................................................... 44
3.4.4 Eficiência das tecnologias na produção de biogás ...................................... 46
3.4.5 Aterros sanitários ............................................................................................. 49
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 52

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 53

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Lista de figuras

Figura 1 - Biodigestor modelo lagoa coberta – aplicado no tratamento de efluentes

da suinocultura no sul do Brasil ...................................................................................... 12

Figura 2 - Biodigestor modelo indiano – aplicado ao uso doméstico no nordeste do

Brasil .................................................................................................................................... 12

Figura 3 - Biodigestor de mistura completa – amplamente utilizado na Europa .... 13

Figura 4 - Cadeia de produção e uso do biogás ............................................................ 17

Figura 5 - Diagrama da cadeia produtiva de biogás ..................................................... 18

Figura 6 - Vantagens e desvantagens do processo anaeróbio em relação ao aeróbio

.............................................................................................................................................. 19

Figura 7 - Etapas da digestão anaeróbia ........................................................................ 24

Figura 8 - Conjunto de telas utilizadas para separação de sólidos grosseiros em

uma unidade de produção de suínos ............................................................................. 26

Figura 9 - Caixa de areia com deposição de sólidos fixos, para tratamento de

dejetos de suínos. .............................................................................................................. 26

Figura 10 - Relações entre temperatura e crescimento de micro-organismos de

diferentes classes térmicas .............................................................................................. 28

Figura 11 - Biodigestor modelo Indiano - vista frontal................................................. 31

Figura 12 - Biodigestor modelo indiano. ........................................................................ 31

Figura 13 - Vista superior de um biodigestor modelo chinês. .................................... 32

Figura 14 - Esquema de concepção de biodigestor modelo chinês. .......................... 33

Figura 15 - Biodigestor de lona coberta – BLC .............................................................. 34

Figura 16 - Desenho esquemático de um biodigestor de fluxo tubular .................... 34

Figura 17 - Biodigestor Plug-Flow (Fluxo tubular). ........................................................ 35

Figura 18 - Biodigestor de fluxo tubular - Bolsa de geomembrana. .......................... 36

Figura 19 - Esquema de funcionamento de biodigestor de fluxo ascendente - UASB

.............................................................................................................................................. 37

Figura 20 - Foto de um reator tipo UASB ....................................................................... 39

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 21 - Biodigestor em fase sólida e em batelada, com recirculação de inóculo.

.............................................................................................................................................. 40

Figura 22 - Exemplos de configurações especiais na fermentação a seco. .............. 40

Figura 23 - Biodigestor de mistura completa - resíduos animais e vegetais ............ 42

Figura 24 - Unidade de Demonstração Itaipu de biometano..................................... 43

Figura 25 - Biodigestor de mistura completa com agitação ........................................ 43

Figura 26 - Exemplos de biodigestores modernos adaptados para aplicações

domésticas (Biogás Home) ............................................................................................... 45

Figura 27 - Produção de biogás por quatro diferentes tipos de digestores

anaeróbios .......................................................................................................................... 48

Figura 28 – Esquema de aterro sanitário. ...................................................................... 50

Figura 29 - Foto de aterro sanitário ................................................................................ 50

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Lista de tabelas

Tabela 1 - Características de alguns substratos para produção de metano ............ 21

Tabela 2 - Capacidade de geração de biogás de reatores UASB e BCL para dejetos

de suínos. ............................................................................................................................ 23

Tabela 3 - Faixa termal e tempo de retenção típico na digestão anaeróbia. ........... 28

Tabela 4 - Classificação das técnicas de geração de biogás conforme diferentes

critérios ............................................................................................................................... 46

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
1. INTRODUÇÃO

Para iniciar a apresentação dos conteúdos neste curso, primeiramente

serão expostos os conceitos gerais, o contexto histórico e o processo de produção

e aproveitamento energético do biogás. Após a análise destes conteúdos, o estudo

estará focado na caracterização dos substratos, dados sobre potencial de produção

do biogás, processo de biodigestão anaeróbia e pré-tratamento do substrato.

Ademais, serão abordadas as tecnologias de digestão anaeróbia para produção de

biogás e o regime de alimentação dos biodigestores.

Estes conteúdos serão importantes para situá-los sobre o contexto do

biogás e sua relevância. Além disso, a partir das informações desta Aula 1, será

possível avançar no conteúdo e aprender efetivamente sobre a aplicação do biogás

para geração de energia e produção e uso de biometano.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
2. CONCEITOS GERAIS SOBRE O BIOGÁS

A digestão anaeróbia ou biodigestão de materiais orgânicos é um processo

fermentativo em que a matéria orgânica complexa é degradada a compostos mais

simples, sendo uma maneira eficiente de tratar quantidades consideráveis de

resíduos, e reduz o seu poder poluente.

Esse processo ocorre por meio da ação de diversos grupos de micro-

organismos, principalmente os que não necessitam de oxigênio para o seu

crescimento, conhecidos como micro-organismos anaeróbios, que interagem

simultaneamente até a formação dos produtos finais. O composto de gases

proveniente desse processo é chamado de biogás, sendo constituído

principalmente por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), contendo também

pequenas quantidades de hidrogênio (H2), amônia (NH3) e outros gases traço.

O processo de digestão anaeróbia é comum no meio ambiente, pois ocorre

naturalmente com toda matéria orgânica que entra em decomposição, tais como:

resíduos acumulados em lixões, aterros sanitários ou em lagoas de armazenamento

de efluentes. Nesses casos, a parte do resíduo ou efluente que está em contato com

o ar é digerida por micro-organismos aeróbios, e a parte que não está em contato

com o ar, por micro-organismos anaeróbios.

Definição:

Digestão anaeróbia: É um processo mediado pela ação microbiana, por meio da atividade
conjunta de vários grupos de células anaeróbias, em diferentes níveis tróficos, que convertem
matéria orgânica complexa em gases e lodo.

Digestão aeróbia: Realizada por organismos que necessitam de oxigênio para a conversão da
matéria orgânica (aeróbicos), tem como produtos o gás carbônico (CO2), água (H2O) e lodo.

Porém, com tecnologias adequadas, como os biodigestores, a biodigestão

anaeróbia pode ser utilizada para o tratamento de resíduos sólidos e líquidos, pois

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
há um processo de reciclagem e recuperação desses materiais, que acaba por

produzir, além do biogás, uma parte líquida digerida, conhecida como digestato.

Para fixar:

Em geral, a biodigestão consiste na conversão microbiológica de substratos orgânicos, através


de associações simbióticas entre diferentes grupos de micro-organismos que é realizado em
fases, e resulta como produto final gases e lodo, chamado também de biogás e digestato.

Essa bioestabilização da fração orgânica tem sido largamente estudada nas

últimas décadas e aplicada para o tratamento de resíduos de diversas origens, com

o intuito de desenvolver alternativas tecnológicas de aproveitamento energético e

de redução de impactos ambientais.

Dentre esses resíduos possíveis de serem tratados, pode-se citar o esgoto

urbano, resíduo orgânico urbano, dejetos da produção de animais e efluentes de

indústrias, tais como abatedouros de animais, fecularias, usinas de açúcar e etanol,

entre outros.

Além disso, como grande parte do biogás é composto por metano (CH4) isso

lhe confere características de alto poder calorífico, podendo ser utilizado como

fonte de energia para a geração de energia elétrica, térmica e na produção de

biometano e gás carbônico (CO2).

Para saber mais:

Cada biodigestor possui especificidades distintas, devendo ser utilizado para determinados
contextos e condições ambientais de acordo com a necessidade do projeto. Em nossas
próximas aulas, discutiremos mais sobre o assunto e, em outros cursos, aprofundaremos
nossos conhecimentos sobre a instalação, uso e manutenção de biodigestores.

Há atualmente uma gama muito grande de modelos de biodigestores, sendo

cada um adaptado a uma realidade e a uma necessidade de biogás. A Figura 1,

Figura 2 e Figura 3, trazem exemplos de alguns modelos de biodigestores.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 1 - Biodigestor modelo lagoa coberta – aplicado no tratamento de efluentes da
suinocultura no sul do Brasil

Fonte: Imagem aérea – CIBiogás (2017).

Figura 2 - Biodigestor modelo indiano – aplicado ao uso doméstico no nordeste do Brasil

Fonte: Portal Nova (2017).

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 3 - Biodigestor de mistura completa – amplamente utilizado na Europa

Fonte: Ecoindus (2015).

2.1 História do biogás

Em 1667, Thomas Shirley observou que a decomposição de matéria

orgânica nos pântanos gerava um gás, o qual inicialmente foi chamado de gás dos

pântanos ou fogo fátuo. No entanto, ele não tinha conhecimento de como ocorria

esta formação e de que gás se tratava. Após Shirley, quem estudou esse fenômeno

foi Alessandro Volta, em 1776. Este pesquisador foi quem realmente descobriu a

presença de metano no gás dos pântanos.

Já no século XIX, Ulysse Gayon, aluno de Louis Pasteur (cientista francês que

vislumbrou a possibilidade de utilizar biogás como combustível para aquecimento

e iluminação), realizou a fermentação anaeróbia de uma mistura de estrume e água,

a 35º C, conseguindo obter 100 litros de gás por m 3 de matéria. Em 1884, Louis

Pasteur, ao apresentar à Academia das Ciências as pesquisas e experiências do seu

aluno, considerou que essa fermentação poderia constituir uma fonte de

aquecimento e iluminação.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Entretanto, no ano de 1859, em Bombaim, na Índia, foi realizada a primeira

experiência de utilização direta de biogás, sendo construída a primeira instalação

operacional destinada a produzir gás combustível para um hospital de hansenianos

(CASTAÑÓN, 2002). Nessa mesma época, pesquisadores de diversos países, como

Alemanha e França, estabeleceram as bases teóricas e experimentais da

biodigestão anaeróbia.

Já em 1895, deu-se a primeira experiência europeia, com a utilização do

biogás para iluminação de algumas ruas da cidade de Exeter, na Inglaterra, a qual

seguiram outras experiências motivadas, principalmente, pelo entusiasmo inicial

que este processo atingiu.

Em 1910, Sohngen verificou que a fermentação de materiais orgânicos

produz compostos reduzidos, tais como hidrogênio, ácido acético e gás carbônico.

Demonstrou também que ocorre a redução de CO2 para a formação de metano.

Segundo Costa (2006), nesta época, este combustível não conseguiu

substituir os tradicionais, só voltando a ser utilizado na década de 40, impulsionado

pela crise energética provocada pela II Guerra Mundial. Durante e depois da Guerra,

alemães e italianos, entre os povos mais atingidos pela devastação dos conflitos,

desenvolveram técnicas para obter biogás de dejetos e restos de culturas.

Nas décadas de 50 e 60, a relativa abundância das fontes de energia

tradicionais, petróleo, gás natural, hídrica e carvão mineral principalmente,

desencorajaram a recuperação do biogás na maioria dos países desenvolvidos. No

entanto, na Índia e na China, com poucos recursos de capital e energia, o biogás

desempenhou um papel de certa importância, sobretudo em pequenos

aglomerados rurais.

Em 1939, o Instituto Indiano de Pesquisa Agrícola, em Kanpur, desenvolveu

a primeira usina de gás de esterco. Segundo Nogueira (1986), o sucesso obtido

animou os indianos a continuarem as pesquisas, criando, em 1950, o Gobar Gás

Institute.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Tais pesquisas resultaram em grande difusão da metodologia de

biodigestores como forma de tratar os dejetos de animais para a obtenção do

biogás e o aproveitamento do efluente líquido final com propriedades fertilizantes,

o digestato.

Esse trabalho pioneiro, realizado no Norte da Índia, permitiu a construção

de quase meio milhão de unidades de biodigestores no interior daquele país. A

utilização do biogás como fonte de energia motivou a China a adotar a tecnologia a

partir de 1958, onde, até 1972, já haviam sido instalados 7,2 milhões de

biodigestores na região do Rio Amarelo, que possui condições climáticas favoráveis

à produção de biogás.

A partir da crise energética dos anos 70, o gás metano dos digestores

anaeróbios voltou a despertar o interesse, tanto por países desenvolvidos como

países em desenvolvimento. No entanto, em nenhum país o uso desta tecnologia

alternativa foi tão acentuado, no sentido de quantidade de plantas, como na China

e Índia.

Para saber mais:

Há vários marcos na história que apresentam preocupações com o meio ambiente a nível
mundial, dentre eles: Estocolmo-72 (1972), Relatório Brundtland (1987), Protocolo de Kyoto
(1997), Rio+10 (2002) e Acordo de Paris (2015).

De acordo com Costa (2006), nos últimos anos o biogás não é mais encarado

apenas como um subproduto obtido a partir da decomposição anaeróbia, mas se

tornou alvo de intensas pesquisas que são impulsionadas pelo aquecimento da

economia nos últimos anos e pela elevação acentuada do preço dos combustíveis

fósseis, no intuito de criar novas formas de produção energética que possibilitem a

redução do uso dos recursos naturais não renováveis.

Em 1997, a Comissão Europeia publicou o Relatório Branco sobre Fontes

Renováveis de Energia (White Paper on Renewable Energy Sources) em que define a

produção de fontes renováveis de energia como prioritária. Este documento propôs

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
que pelo menos 12% do consumo energético da União Europeia (UE) fosse

constituído por fontes renováveis de energia até 2010.

Assim, a produção de biogás em plantas de larga escala cresceu muito nos

países da UE, principalmente na Alemanha, Áustria e Itália, chegando a 17.358

plantas em 2015, que, juntas, geraram 9,8 Mega Tonelada Equivalente de Petróleo

(Mtep) de biogás, que é aplicado, principalmente, na geração de energia elétrica e

calor.

Além disso, também vem crescendo a produção de biometano e injeção na

rede de gás natural nesses países, principalmente na Suécia e Alemanha. Porém,

vale ressaltar que, para alcançar esses resultados a maioria dos países da UE usam,

além de resíduos e efluentes, cultivos energéticos como substrato para a

biodigestão, como o milho.

Considerando a importância que a biodigestão tem, atualmente, no processo

de produção de biogás como uma fonte de energia, elaboramos esse curso com o

objetivo de abordar esse tema, como também de toda a cadeia produtiva, indo

desde os princípios da biodigestão, passando pelo uso do digestato e do biogás, até

o planejamento de projetos de biogás.

Para fixar:

Cultivos energéticos são plantas de crescimento rápido, com objetivo único: ser matéria prima
para a obtenção de energia de outras substâncias combustíveis, tais como cana-de-açúcar, milho
e girassol.

2.2 Processo de produção e aproveitamento energético do biogás

O processo de produção e aproveitamento energético de biogás envolve,

basicamente, as seguintes etapas: pré-tratamento do substrato; digestão anaeróbia

no biodigestor; armazenagem, tratamento e valorização do digestato; tratamento,

armazenamento e transporte de biogás; aplicação do biogás na geração de energia

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
elétrica e/ou calor; e, produção, armazenamento e transporte de biometano. Todos

esses processos podem ser observados na Figura 4.

Figura 4 - Cadeia de produção e uso do biogás

Fonte: Strippel et al. (2016).

Conforme a Figura 4, pode-se observar que as diferentes fontes de matéria-

prima (biomassa) são acumuladas em tanques ou vasos, sendo encaminhadas para

processos de lavagem e pré-tratamento (1- 4). A seguir a biomassa passa por filtros

para redução de possíveis odores e para sanitização (5 - 6) e é encaminhada para o

biodigestor (7). Observa-se o biogás produzido e armazenado no biodigestor e a

saída de segurança do biogás (8 e 10). O digestato (acumulado no biodigestor) é

comumente estocado (12) ou ainda tratado (13) por meio de separação, secagem

e/ou peletização para utilização em plantações na forma de biofertilizante. Já o

biogás gerado (9) pode ser distribuído e utilizado de diferentes formas: na geração

de energia elétrica, térmica e na produção de biometano (11) (STRIPPEL et al., 2016).

Por meio da Figura 5 é possível observar os processos de forma mais

simplificada.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 5 - Diagrama da cadeia produtiva de biogás

Fonte: Autoria própria.

Nas próximas aulas, todos esses processos serão explicados e,

adicionalmente, serão apresentados outros temas transversais ao setor de biogás

que são importantes para que você o entenda. Dentre os assuntos, estão os temas:

(1) operação; (2) monitoramento; (3) segurança; (4) manutenção de plantas de

biogás; (5) análise de viabilidade econômica de projetos; (6) estudos de casos

práticos; (7) a situação do setor de biogás no Brasil e no mundo; e, (8) perspectivas

de avanço do setor e das tecnologias.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
3. DIGESTÃO ANAERÓBIA

Antes de apresentar os conteúdos relacionados à digestão anaeróbia,

alguns termos técnicos mais adequados para o processo de biodigestão serão

disponibilizados, a saber:

• Os efluentes, resíduos ou qualquer tipo de matéria orgânica que entra no

biodigestor como matéria-prima de um processo de biodigestão, é chamado

de substrato. O termo substrato é mais adequado que biomassa, dejeto,

resíduo e esterco.

• A fração líquida resultante do processo de biodigestão é denominada

de digestato, podendo ou não ser utilizada como fertilizante, conforme sua

disponibilidade, composição e características. O termo digestato é mais

adequado que biofertilizante.

Além disso, você também deve entender quais são as vantagens e

desvantagens do processo de digestão anaeróbia em relação ao aeróbio, que são

apresentadas no desenho esquemático da Figura 6.

Figura 6 - Vantagens e desvantagens do processo anaeróbio em relação ao aeróbio

Vantagens Desvantagens
• Os micro-organismos anaeróbios
são sensíveis a fatores do meio, tais
• Baixa produção de sólidos: cerca
como temperatura e a alguns outros
de 5 a 10 vezes menos que nos
compostos;
processos aeróbicos;
• A partida do processo pode ser
• Baixo consumo de energia e
lenta na ausência de inóculo (lodo de
menos custo operacional;
semeadura adaptado);
• Baixa demanda de área;
• Pré-tratamento do substrato é
• Produção de metano com
usualmente necessário;
elevado teor calorífico;
• A bioquímica e a microbiologia da
• Tolerância a elevadas cargas
digestão anaeróbia são complexas;
orgânicas;
• Possibilidade de maus odores,
• Aplicabilidade em pequena e
porém controláveis;
grande escala.
• Baixa remoção de nitrogênio,
fósforo e patógenos.

Fonte: Adaptado de Chernicharo (2008).

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Para a produção de biogás por meio da digestão anaeróbia, o primeiro

passo é conhecer as características dos substratos que podem ser utilizados e

analisar as possibilidades de misturas e melhoria do potencial de produção de

biogás. O segundo passo é preparar esse substrato para que o processo ocorra com

mais eficiência dentro do biodigestor, o que chamamos de pré-tratamento do

substrato.

Com isso, o substrato é destinado ao biodigestor para que ocorra o

processo de digestão anaeróbia em si, podendo ser utilizadas diversas tecnologias

com diferentes características. Na sequência analisaremos os aspectos referentes a

essa temática.

A codigestão é um processo utilizado principalmente para melhorar os

rendimentos da digestão anaeróbica de resíduos orgânicos sólidos devido aos seus

inúmeros benefícios. Por exemplo, a diluição de compostos tóxicos, o aumento da

carga de matéria orgânica biodegradável, o melhor equilíbrio de nutrientes, o efeito

sinérgico de micro-organismos e o melhor rendimento de biogás.

Esse processo de mistura demanda um estudo mais aprofundado das

características, disponibilidade dos substratos e um pré-tratamento mais avançado.

Porém, é interessante para alcançar maior estabilidade na biodigestão, eficiência na

produção de biogás, controle da sazonalidade da disponibilidade de substratos, e

na melhoria das características do digestato.

Definição:

É possível utilizar apenas um tipo de substrato na biodigestão, o que se denomina de


monodigestão, ou misturar diferentes substratos, processo denominado de codigestão.

3.1 Caracterização dos substratos e potencial de produção de biogás

Como estudado, os substratos utilizados na biodigestão podem ser

provenientes de diversas atividades. Devido a isso, é importante conhecer os

20
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
substratos que serão utilizados, pois a sua composição irá influenciar a escolha do

biodigestor, manejo a ser adotado e também a eficiência do biodigestor na geração

de biogás.

Basicamente o que define o potencial de produção de biogás de um

substrato é a concentração de Sólidos Totais Voláteis (SV), parâmetro relacionado à

fração biodegradável do substrato, a matéria orgânica. Os Sólidos Totais (ST)

indicam a quantidade de matéria orgânica e mineral do substrato.

O potencial máximo de produção de metano de um substrato pode ser

dado em metros cúbicos de metano por quilo de sólidos voláteis (m3 CH4 kg.SV-1) ou

em metros cúbicos de metano por quilo de substrato (m3 CH4 kg.Substrato-1). Na Tabela

1 é possível verificar as características de alguns substratos e o potencial máximo

de produção de metano.

Tabela 1 - Características de alguns substratos para produção de metano

Substratos ST (%) SV/ST (%) m3 CH4.kgSV-1 m3 CH4.kg substrato-1

Palha de Trigo1 86 92 0,188 0,148


Milho - resíduos da
35 92 0,251 0,081
colheita1
Agricultura Resíduos da limpeza de
89 94 0,316 0,267
grãos1
Silo de milho (planta
33 96 0,306 0,097
verde)1
Dejetos de bovino de
leite (com restos de 8,5 85 0,193 0,014
ração)1
Pecuária Dejetos de bovino2 8-11 75 - 82 0,12 - ,3 0,012 – 0,018
Dejetos de suíno2 7 75 - 85 0,2 – 0,45 0,025 – 0,030
Esterco de galinhas2 32 63 - 80 0,15 – 0,27 0,042 – 0,054
Vinhaça de Cana¹ 3-5 75 - 85 0,376 0,006
Torta de filtro de Cana3 25 70 0,262 0,047
Polpa de Café3 20 93 0,244 0,045
Indústria
Polpa da laranja3 12-30 94,5 0,227 0,024
Glicerina1 100 99,5 0,425 0,423
Efluente de cervejaria2 5 85 0,340 0,0016

1
Fonte: http://www.lfl.bayern.de/iba/energie/049711/?sel_list=8%2Cb&strsearch=&pos=lef
2
Fonte: PROBIOGÁS, 2015.
3
Fonte: Handreichung Biogasnutzung, 2004.

21
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Efluente de fábrica de
4 88 0,295 0,0011
laticínios3
Efluente de
8 77 0,236 0,0014
abatedouro3
Resíduos municipais
30 - 40 50 - 60 0,270 – 0,390 0,041 – 0,094
(misturados) 4
Resíduos orgânicos
Resíduos 30 - 40 70 - 80 0,210 – 0,227 0,044 – 0,089
(separados) 5
Sólidos
Urbanos Restos de alimentos5 15 – 20 85 – 95 0,467 – 0,510 0,059 – 0,097

Resíduos da caixa de
25 – 45 90 – 95 0,650 – 0,780 0,146 – 0,333
gordura5

Lodo de esgoto
Tratamento 35- 38 97 - 98 0,531 – 1,350 0,336 – 0,980
flotado6
de esgoto
Esgoto7 - - - 0,00072 – 0,00112

É importante entender que esses parâmetros são gerados em laboratório,

onde o ambiente é controlado e monitorado, e podem variar muito conforme as

características da atividade produtiva e da região onde o substrato é produzido. Por

exemplo, na pecuária, que pode variar conforme a dieta dos animais e o modo de

limpeza das instalações.

Além disso, cada tecnologia de biodigestão suporta diferentes quantidades

de sólidos totais, o que demanda que alguns substratos sejam diluídos. Também é

necessário considerar que, ainda que o potencial máximo de produção de biogás

seja alto nas análises laboratoriais, na prática, a produção real será menor, pois

pode variar conforme o tipo de biodigestor, temperatura, manejo, pH, etc.

A capacidade de geração de biogás também dependerá da eficiência do

biodigestor, podendo variar de acordo com o tipo do digestor e a condição

operacional a qual ele é submetido. É necessário conhecer os parâmetros e assim

empregá-los de forma que o manejo seja adequado. A Tabela 2 apresenta como os

parâmetros, valores da qualidade de biogás e seu potencial de produção podem

variar conforme a tecnologia.

4
Fonte: Tekoa Engenharia e Consultoria LTDA (2011) por carga de BN Umwelt GmbH.
5
Fonte: PROBIOGÁS, 2015.
6
Fonte: KTBL, 2016.
7
Fonte: Metcalf & Eddy, 2003.

22
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Tabela 2 - Capacidade de geração de biogás de reatores UASB e BCL para dejetos de suínos

Geração de biogás Qualidade do biogás Potencial de produção

(m3d-1) H2S (ppm) CO2 (%) CH4 (%) (m3 biogás kg.SV-1) (m3 CH4 kg.SV-1)

UASB escala
0,69 189 25 74 1,56 1,15
piloto8
UASB9 0,83 124 21 76 1,43 1,09
BCL10 0,32 322 29 67 0,31 0,21
BCL11 0,21 536 34 62 0,33 0,20
UASB – Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente; BCL - Biodigestor do tipo Lagoa Coberta

Assim, os parâmetros que estão disponíveis nas publicações devem ser

utilizados apenas para as estimativas iniciais e estudos prévios de viabilidade.

Porém, para a elaboração do projeto técnico e planejamento da operação da planta,

é importante conhecer o substrato que será utilizado por meio de análises de

laboratório e testes em biodigestores em escala piloto.

3.2 Processo de biodigestão anaeróbia

O mecanismo de decomposição anaeróbia e, consequentemente, a

geração de biogás, desenvolve-se pela ação de um consórcio de micro-organismos

que agem de forma interdependente na conversão da matéria orgânica, bem como

na síntese de novas células bacterianas, assegurando energia e nutrientes

necessários para o seu próprio crescimento e reprodução.

O processo é complexo, tanto pelo número de reações bioquímicas, quanto

pela quantidade de micro-organismos envolvidos, dividindo-se em quatro

principais etapas: Hidrólise, Acidogênese, Acetogênese e Metanogênese. Um

esquema sobre esse processo pode ser visto na Figura 7.

8
Fonte: Costa e Kunz, 2007.
9
Fonte: Kunz, 2007.
10
Fonte: Kunz et. al, 2005.
11
Fonte: Vivan et. al, 2008.

23
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Para que os micro-organismos se reproduzam e cresçam, é necessário ter

um meio de cultura apropriado, sendo importante manter a uniformidade na

característica do substrato e das condições físico-químicas durante o processo de

biodigestão anaeróbia.
Figura 7 - Etapas da digestão anaeróbia

Fonte: Strapasson et al. (2014).

O substrato é o "alimento" para os micro-organismos poderem

metabolizar, e, assim, reproduzir novas células (anabolismo) e produzir energia

(catabolismo) para o seu crescimento. Ele deve conter vários elementos diferentes,

tais como: fonte de energia, receptores de elétrons, estrutura para a produção de

novas células, diferentes tipos de vitaminas e macro e micronutrientes (metais).

Em adição ao substrato, os micro-organismos requerem um ambiente

adequado para crescer e reproduzir. Os principais fatores abióticos que influenciam

a produção de biogás são: presença de oxigênio no ambiente; temperatura;

potencial de hidrogênio (pH); alcalinidade; sulfato; acidez; tamanho das partículas;

produção e consumo de ácidos orgânicos; e nutrientes.

24
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
3.3 Pré-tratamento do substrato

O substrato que será destinado ao biodigestor precisa passar por

processos de pré-tratamento na grande maioria dos casos. São processos que

permitem retirar partículas grandes ou inertes, triturar, aquecer, misturar, entre

outros.

3.3.1 Separação de sólidos e mistura do substrato

A separação sólido-líquida, envolvendo a digestão anaeróbia, é aplicada em

substratos com materiais grosseiros, cujo objetivo é remover as partículas sólidas

grosseiras em suspensão, impedindo a entrada de materiais inertes (sólidos fixos)

no biodigestor, de modo a evitar a obstrução e acúmulo no sistema, onde a fração

líquida tenha maior atuação dos micro-organismos.

Dependendo do modelo do biodigestor, não é recomendado que os

substratos sejam encaminhados sem passar pelo separador de sólidos,

principalmente quando são usados em biodigestores sem agitação, como por

exemplo biodigestor tipo lagoa coberta (denominado também de BCL).

Essa separação facilita a degradação e estabilização da matéria orgânica

nos processos posteriores, bem como diminui o Tempo de Retenção Hidráulica

(TRH) favorecendo a produção de biogás.

A separação de sólidos pode ser feita em diversos níveis, mas uma

separação de sólidos simples com peneiras ou telas (Figura 8) ou caixa de areia

(Figura 9) ajuda a remover os materiais inertes, evitando assoreamento nos

biodigestores, além de entupimentos de bombas e linhas de transmissão. A caixa

de homogeneização também auxilia na separação sólido-líquido, pois é responsável

por armazenar os substratos brutos utilizados no processo de alimentação do

sistema de tratamento, tendo por finalidade a agitação dos substratos, por meio de

bomba de recalque, e a decantação da areia e de sólidos pesados. Para melhorar a

eficiência da mistura aconselha-se atingir todos os pontos da caixa.

25
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
A agitação é importante por possibilitar que o substrato esteja

homogeneizado e uniforme quando for inserido no biodigestor, aumentando,

assim, a eficiência da biodigestão, pois facilita o contato dos micro-organismos com

o material que será degrado.

Figura 8 - Conjunto de telas utilizadas para separação de sólidos grosseiros em uma


unidade de produção de suínos

Fonte: CIBiogás (2016).

Figura 9 - Caixa de areia com deposição de sólidos fixos, para tratamento de dejetos de
suínos.

Fonte: CIBiogás (2016).

26
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
3.3.2 Trituração do substrato

O tratamento inicial do substrato difere em diferentes plantas, dependendo

da matéria-prima utilizada. Às vezes, uma ou mais etapas de pré-tratamento estão

envolvidas. Por exemplo, a utilização da trituração para aumentar a digestibilidade

dos resíduos que são difíceis de quebrar.

As culturas energéticas com altos teores de celulose, hemicelulose e lignina

(por exemplo, palha, grama, silagem, alimentos, resíduos vegetais em geral) são

degradadas lentamente na biodigestão, devido à sua estrutura complexa.

A fim de maximizar a taxa de digestão de materiais ricos em celulose, é

benéfico cortá-lo e/ou aplicar um processo de trituração para quebrar a estrutura

complexa da celulose e torná-la mais acessível para a digestão como uso do calor

ou tratamento químico.

Quanto menor a partícula, mais acessível estará o substrato para que os

micro-organismos realizem a biodigestão. Diminuir seu tamanho pode aumentar a

taxa de degradação e proporcionar um maior rendimento na produção de biogás

pois há mais contato superficial entre substrato e micro-organismos.

3.3.3 Aquecimento do substrato

Os processos anaeróbicos, como muitos outros sistemas biológicos, são

fortemente dependentes da temperatura, pois a velocidade de reação dos

processos biológicos depende da velocidade de crescimento dos micro-organismos

e, por sua vez, da temperatura do meio, conforme pode ser observado na Figura 10.

A temperatura é um dos fatores mais importantes na seleção das espécies,

não influenciando apenas na atividade metabólica da população de micro-

organismos, mas, também, no equilíbrio iônico e na solubilidade dos substratos.

Para a atividade microbiana, são, normalmente, consideradas 3 faixas

termais de temperatura: psicrófilo, mesófilo e termófilo. Dentro de cada faixa de

temperatura, existe um intervalo para o qual ocorre a máxima taxa de crescimento,

27
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
que é a determinação da temperatura ótima em cada uma das faixas de operação

(Tabela 3).
Figura 10 - Relações entre temperatura e crescimento de micro-organismos de diferentes
classes térmicas

Termófilos
Exemplo: Hipertermófilo Hipertermófilo
Geobacillus stearothermophillus Exemplo: Exemplo:
Mesófilos Pyrolobus fumarii
Taxa de crescimento

Thermococcus celer
Exemplo:
Escherichia coli

Psicrófilos
Exemplo:
Polaromonas vacuolata

Temperatura (°C)

Fonte: Madigan, M. et al. (2010).

Tabela 3 - Faixa termal e tempo de retenção típico na digestão anaeróbia.

Micro-organismo de acordo Mínimo Ótimo Máximo Tempo mínimo de


com a classe termal (°C) (°C) (°C) retenção
Psicrófilos 4-10 15-18 20-25 70-100 dias
Mesófilos 15-20 25-35 35-45 30-60 dias
Termófilos 25-45 50-60 75-80 15-20 dias
Fonte: Adaptado de Speece (1996).

Os micro-organismos produtores de gás metano (metanogênicos)

apresentam um crescimento máximo na faixa mesófila e na faixa termófila, mas, no

geral, são mais sensíveis às flutuações de temperatura do que outros micro-

organismos no processo. A escolha da temperatura de operação depende de

fatores econômicos e operacionais, assim prefere-se a utilização de temperaturas

mesófilas.

Em geral, o aumento da temperatura ambiente leva ao aumento da

velocidade de crescimento dos micro-organismos devido a aceleração do processo

de digestão, favorecendo a maior produção de biogás.

Contudo, é necessário tomar cuidado nessa abordagem pois, os micro-

organismos metabólicos possuem sua própria faixa ideal de temperatura, como

28
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
visto na Tabela 3. A variação da temperatura acima ou abaixo desse intervalo pode

acarretar a inibição dos micro-organismos.

O fator de temperatura e sua influência em outros parâmetros devem ser

aprofundados em um curso mais específico. Afinal, é a temperatura o principal fator

ambiental que controla o crescimento microbiano.

Atenção:

O calor faz com que os micro-organismos trabalhem mais rápido e se adaptem a


esse clima. Mais material é degradado em menor tempo e o volume do biodigestor
pode ser reduzido comparado com o mesmo material digerido em temperaturas
menores.
A alta temperatura pode aumentar a disponibilidade de certos compostos orgânicos
por causa da solubilidade aumentada, contudo, pode levar a formação de elementos
tóxicos mais rapidamente, havendo a liberação de grandes quantidades de ácidos
graxos voláteis (AGV) e amônia.

3.4. Tecnologias de digestão anaeróbia para produção de biogás

O biodigestor é um sistema ou tecnologia que proporciona condições

favoráveis para que a degradação da matéria orgânica seja realizada, por micro-

organismos em ambiente anaeróbio, tratando os resíduos, e, produzindo biogás e

digestato.

3.4.1 Regime de alimentação

As características do substrato definem o regime de alimentação de uma

planta de biogás, tendo, assim, impacto na escolha do tipo de tecnologia e na

produção de biogás. Essencialmente, a classificação conforme o regime segue os

seguintes tipos: contínuo, semicontínuo e em batelada.

• Contínuo: Neste sistema, a alimentação do digestor é ininterrupta, sendo a


vazão de entrada igual a vazão de saída. Esse tipo de fluxo é utilizado
principalmente para biodigestores que realizam o tratamento de esgoto
industrais e urbanos.

29
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
• Semicontínuo: A alimentação é feita apenas uma vez até completar o TRH,
posteriormente, são adicionadas novas cargas, onde o digestato é
descarregado regularmente na mesma quantidade de substrato inserido.
Este processo é mais usual em pequenas escalas, como em áreas rurais.
• Batelada: Conhecido também como descontínuo, esses reatores trabalham
com ciclos de alimentação, digestão e descarte. São alimentados uma única
vez até se findar a biodigestão. Após isso, são esvaziados e alimentados
novamente, iniciando um novo processo de fermentação. Esse regime é
utilizado quando a concentração de sólidos no substrato é mais elevada, por
exemplo: biodigestão de resíduos da avicultura ou de Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU).

3.4.2 Classificação dos biodigestores por tecnologias

Os biodigestores variam de acordo com sua complexidade e utilização. Os

modelos de biodigestores mais utilizados são: indiano, chinês, fluxo tubular, fluxo

ascendente e de mistura completa. A descrição detalhada de cada um destes

dispositivos está disponível a seguir.

Biodigestor modelo indiano

Normalmente, esses digestores são enterrados e verticais, possuem uma

campânula móvel como gasômetro, e uma parede central, que divide o tanque de

fermentação em duas câmaras, como mostra a Figura 11.

O gasômetro na parte superior do biodigestor, flutua conforme for a

produção e consumo do biogás, aumentando o volume deste de modo que se

desloca verticalmente e, portanto, mantendo a pressão no interior constante.

30
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 11 - Biodigestor modelo Indiano - vista frontal

Fonte: Strapasson et al. (2014).

A parede divisória faz com que o material circule por todo o interior da

câmara de fermentação. A Figura 12 apresenta a vista superior deste modelo de

biodigestor.
Figura 12 - Biodigestor modelo indiano

Fonte: CIBiogás (2016).

Nesse biodigestor, a temperatura de fermentação não varia muito, pois

como normalmente é construído enterrado no solo, sofre pouca variação de

temperatura, favorecendo a ação dos micro-organismos. Contudo, pelo fato do

biodigestor ser instalado no solo, é imprescindível todo o cuidado com infiltrações

no lençol freático.

31
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Demanda trabalho manual para alimentação e retirada do digestato, sendo

que o substrato deve ser bem diluído para evitar entupimentos no sistema de

entrada e facilitar a circulação do material no interior do biodigestor.

Este tipo de biodigestor é muito utilizado para aplicações domésticas por ser

de baixo custo de construção e operação, principalmente em pequenas

propriedades rurais. Contudo, a campânula costuma ter problemas de corrosão, se

utilizado material metálico.

Biodigestor modelo chinês

É formado por uma câmara cilíndrica em alvenaria, para fermentação, com

teto servindo para o armazenamento de parte do biogás produzido, ou seja, um

gasômetro impermeável e fixo como pode ser visto na Figura 13.


Figura 13 - Vista superior de um biodigestor modelo chinês

Fonte: Taller Biogas (2018).

Como neste tipo de digestores não há gasômetro, o biogás é armazenado

dentro do sistema, funcionando com base no princípio de prensa hidráulica, ou seja,

se houver aumento de pressão em seu interior devido ao acúmulo de biogás,

32
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
ocorrerão deslocamentos do efluente da câmara de fermentação para a caixa de

saída, e em sentido contrário se houver descompressão (Figura 14).


Figura 14 - Esquema de concepção de biodigestor modelo chinês

Fonte: Strapasson et al. (2014).

Devido à perda de uma parcela do gás formado na caixa de saída para a

atmosfera, o que faz reduzir parcialmente a pressão interna do gás, este tipo de

biodigestor não é utilizado para instalações de grande porte, demandando também,

trabalho para alimentação do substrato e retirada do digestato.

Também tem uma relação custo-benefício atrativa, e semelhante ao

modelo indiano, o substrato deverá ser fornecido continuamente, com baixas

concentração de sólidos totais para evitar entupimentos do sistema de entrada e

facilitar a circulação do material.

Biodigestor de fluxo tubular (plug flow) – Lagoa coberta

Neste modelo, também conhecido como lagoa coberta, canadense ou fluxo

pistão, o substrato tem entrada contínua em uma das extremidades, passando

através do biodigestor e sendo descarregado na outra extremidade.

É construído com geometria piramidal (Figura 15), escavado no solo e

impermeabilizado em alvenaria ou com material geossintético, normalmente PVC e

PEAD, com as aberturas para a entrada do substrato e saída do digestato.

33
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 15 - Biodigestor de lona coberta – BLC

Fonte: Torres et al. (2012).

A câmara é coberta por material geossintético flexível que infla conforme o

gás é produzido, servindo como reservatório do biogás, e podendo ser retirada e

limpa pelo fácil manuseio (Figura 16).

Contém uma grande área de exposição ao sol, o que contribui para

produção de biogás em regiões quentes (CASTANHO & ARRUDA, 2008), porém é

mais sensível às variações térmicas, sendo mais recomendável para regiões de

temperaturas constantes.

Figura 16 - Desenho esquemático de um biodigestor de fluxo tubular

Fonte: CIBiogás (2016).

34
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Segundo a PROBIOGÁS (2015), esse tipo de sistema deve operar com um

percentual de sólidos totais inferior a 5%. Entretanto, para um funcionamento

eficiente do sistema, é aconselhável, como boas práticas, utilizar um teor de sólidos

totais de no máximo 2% (CIBiogás, 2018).

A utilização destes biodigestores foi de grande interesse nos últimos anos

no Brasil, sendo, atualmente o modelo mais utilizado no país, devido à fácil

construção e pela evolução na tecnologia de geomembranas.

O mercado de créditos de carbono também contribui para a popularização

de sua utilização, devido a captura do biogás que seria emitido pelas lagoas

anaeróbias. Na Figura 17 é possível observar uma foto de um biodigestor de fluxo

tubular.
Figura 17 - Biodigestor Plug-Flow (Fluxo tubular)

Fonte: CIBiogás (2016).

Uma variação do modelo de fluxo tubular é o uso de bolsas de

geomembrana parcialmente enterradas e com cobertura que permita a entrada dos

raios solares e aquecimento natural, como na Figura 18.

Esse modelo é muito utilizado em escala doméstica em diversos países da

América Latina e Caribe, podendo ter custos menores que os modelos chinês e

indiano. Porém, demandam volume maior por exigirem um substrato com menor

quantidade de sólidos.

35
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 18 - Biodigestor de fluxo tubular - Bolsa de geomembrana

Fonte: RedBioLAC (2016).

Outra variação desse modelo de biodigestor é a lagoa coberta com mistura

mecânica, esse tipo de lagoa é uma adaptação dos reatores de mistura contínua e

apresenta maior eficiência na produção de biogás se comparada às lagoas clássicas

existentes, podendo operar com uma concentração de ST de 10 a 15% (PROBIOGÁS,

2015).

De acordo com o monitoramento e acompanhamento das Unidades de

Demonstração realizado pelo CIBiogás, recomenda-se que esse tipo de sistema

opere com uma concentração máxima de ST de 6%.

Para saber mais:

Os biodigestores para aplicações domésticas e em zonas mais carentes devem ter


características bem específicas para obterem um custo-benefício adequado à realidade
dessas regiões. Para mais dados sobre este assunto, você, aluno, poderá acessar as
informações disponibilizadas pela Red de Biodigestores para Latinoamérica y Caribe de 2016,
Oportunidades para el desarrollo de un sector sostenible de biodigestores de pequeña y
mediana escala en LAC.
Disponível em: http://redbiolac.org/2016/11/ya-esta-disponible-la-publicacion-sobre-
biodigestores-en-version-digital-descarguela-aqui/

36
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Reatores do tipo filme fixo - UASB

Dos reatores anaeróbios de filme fixo, o mais conhecido é o Upflow

Anaerobic Sludge Blanket ou Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente com Manta de

Lodo (UASB), que apresenta um alto desempenho na produção de biogás e

caracteriza-se pelo fluxo ascendente dos efluentes. Na Figura 19, é possível observar

a estrutura interna de um reator UASB.

Sua peculiaridade está no fluxo ascendente contínuo na câmara de digestão,

causado pela disposição da entrada da biomassa, que se dá na parte inferior da

câmara.

Ao se iniciar as operações, o perfil de sólidos no reator varia de muito denso

e com partículas granulares de elevada capacidade de sedimentação, próximas ao

fundo (leito de lodo), até um lodo mais disperso e leve, próximo ao topo do reator

(manta de lodo).
Figura 19 - Esquema de funcionamento de biodigestor de fluxo ascendente - UASB

Fonte: Campos (1999).

Como o biodigestor é vertical, a biomassa inserida passa primeiramente pelo

leito de lodo e manta de lodo, e como ambas possuem uma densidade de micro-

organismos muito elevada, há uma agilização no processo de digestão.

37
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Um dispositivo de separação de gases, sólidos e líquidos (separador trifásico)

evita que o fluxo ascendente dos gases que se formam nos processos de

estabilização carregue as partículas que se desgarram da manta de lodo, permitindo

que estas retornem à câmara de digestão, ao invés de serem arrastadas para fora

do sistema junto com o digestato.

Esse lodo gerado e armazenado no reator UASB deve ser retirado do fundo

do tanque de forma equilibrada para não comprometer a flora bacteriana. Ademais,

este modelo requer um maior controle na operação, pois a formação dos grânulos

não é um processo simples, havendo baixa velocidade do crescimento dos micro-

organismos metanogênicos, além de possuir uma construção estrutural mais

complexa (JUNQUEIRA, 2014).

Contudo, pode ou não ser adicionado um inóculo, uma vez que adicionado,

promove a diminuição do tempo necessário para a bioestabilização anaeróbia dos

resíduos, já que contribui para a melhora da densidade microbiana (PROSAB, 2003).

Definição:

O inóculo é composto que contém micro-organismos típicos da digestão anaeróbica anterior,


fornecendo ao novo substrato uma população adicional de micro-organismos já adaptados ao
substrato.
São retirados do interior de um biodigestor já em operação, fazendo com que acelere a
adaptação da nova biodigestão.

Uma limitação destes reatores se baseia-se no fato de não tolerarem altas

concentrações de sólidos na alimentação do sistema, necessitando uma boa

separação prévia sólido-líquida.

Na Figura 20, observa-se um biodigestor modular de fibra de vidro vertical

rígido, semienterrado no solo, uma adaptação dos reatores de fluxo ascendente

convencionais.

38
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 20 - Foto de um reator tipo UASB

Fonte: JIE (2016).

Biodigestores via seca

Biodigestores em fase sólida, ou via seca, são mais comuns em operação

por batelada, sendo alimentados com resíduos contendo entre 20 e 40% de ST,

sendo normalmente utilizados para substratos como fração orgânica dos RSU,

grama, restos de alimentos, entre outros.

A adição de água é dispensável nesse processo e a quantidade de sólidos

no biodigestor afeta o seu volume e o processo de tratamento. Porém, devido à

baixa concentração de água em sistemas de digestão em fase sólida, necessita-se

de biodigestores com menores volumes (comparados às outras tecnologias

estudadas nesse curso).

Em contrapartida, tem-se a necessidade de bombas para recirculação do

líquido proveniente de digestões anteriores, chamado de percolado ou lixiviado,

sendo recirculado sobre a fração sólida e assim, inoculando o substrato e

garantindo um nível de umidade no processo. Na Figura 21 observa-se o esquema

desse sistema.

39
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 21 - Biodigestor em fase sólida e em batelada, com recirculação de inóculo

Fonte: Adaptado de Kothari et al. (2014).

É possível regular a temperatura do processo e do líquido de percolação por

um sistema de aquecimento embutido no piso no interior do reator, e por um

permutador de calor que atua como reservatório para o líquido de percolação

(SEADI, 2008).

Porém, deve-se ressaltar que os reatores de via seca devem ser operados

com um regime intermitente de recirculação, pois a recirculação contínua pode

causar a diminuição na produção de metano acumulado pelo fato de contribuir para

a acidificação do meio, lixiviando alguns compostos em que as arqueas

metanogênicas não são capazes de metabolizar, inibindo-as (KUSH, 2013).

Figura 22 demonstra exemplos de três configurações de plantas com uso de

biodigestores de via seca.


Figura 22 - Exemplos de configurações especiais na fermentação a seco

Fonte: BMELV (2010).

40
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
O tempo de digestão da via seca é entre 2 a 4 semanas, dependendo do

tipo de substrato. A seguir algumas características são apresentadas.

● A produtividade de biogás é de 15 a 40% menor quando comparada com a


via úmida;
● Produzem quantidades mais baixas de metano, mesmo a taxas mais
elevadas de carga orgânicas;
● Suporta substratos com maior concentração de sólidos, além de maior
tamanho de partícula;
● Não é necessária grande diluição dos substratos;
● O biorreator precisa ser aberto para ser preenchido e/ou esvaziado;
● Alimentação do biorreator é descontínua.
Um exemplo é o uso desta rota por fermentação em bolsas de plástico, uma

adaptação da tecnologia de silagem. Nela, uma bolsa de plástico impermeável a

gases, deitada sobre uma placa aquecível de concreto, é alimentada com substrato

por meio de um equipamento de enchimento.

O biogás é capturado por uma tubulação de coleta e transportado até o

local de aproveitamento do gás. A umidificação do substrato se restringe à

percolação regular, até que o material a fermentar se encontre submerso.

Biodigestor de mistura contínua (CSTR)

Os reatores de mistura contínua, também conhecidos como Continuous

Flow Stirred Tank Reactor (CSTR), utilizam um alto nível tecnológico para geração de

biogás, controlando de maneira bastante confiável todo o processo de biodigestão

(temperatura, agitação, entre outros).

São muito utilizados na Europa, em países como a Alemanha, Áustria e

Dinamarca, para geração de biogás para codigestão de resíduos animais e vegetais

e semelhante ao UASB, pode ser ou não adicionado inóculo.

41
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Também chamado de modelo de mistura completa, o CSTR é constituído

de concreto reforçado, com sistema de aquecimento no interior e exterior das

paredes e no chão.

Possui também isolamento ao redor das paredes e debaixo do piso,

garantindo perda mínima de calor. É composto por um misturador, sistema de

trituração, controladores de temperatura, sistema de controle dos parâmetros

físicos, químicos e microbiológicos, todos no interior do biodigestor (Figura 23).


Figura 23 - Biodigestor de mistura completa - resíduos animais e vegetais
Válvula
Reagente 1 eletrônica de Indicador
controle de nível
Reagente 2

Saída do
biogás

Agitador

Fonte: Curso de Operacionalização de Biodigestores (2016).

A maioria dos sistemas são construídos com uma cobertura exterior e

interior. A cobertura exterior protege dos elementos da atmosfera e a interna

armazena o biogás.

A Figura 24 apresenta uma foto do uso deste tipo de biodigestor em uma

unidade de demonstração da Itaipu, instalada, operada e monitorada pelo CIBiogás.

42
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
De acordo com as experiências do CIBiogás, recomenda-se que esse tipo de sistema

opere com um teor de ST de no máximo 12%.


Figura 24 - Unidade de Demonstração Itaipu de biometano

Fonte: CIBiogás (2017).

A Figura 25 apresenta um biodigestor de mistura completa com agitação

mecânica com agitador de eixo longo com demais equipamento desse sistema.

Figura 25 - Biodigestor de mistura completa com agitação

Telhado
inflável Motor
Lona redutor
Gasômetro
impermeável

Saída Plataforma
Nível de enchimento

Coluna central
Soprador de Agitador
ar de apoio com hélice
central
Aquecimento da
tubulação
Isolamento

Fonte: BMELV (2010).

43
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
3.4.3 Classificação dos biodigestores por porte

Os intervalos que classificam os biodigestores entre pequeno, médio e

grande variam bastante dependendo da literatura utilizada.

Uma referência a se utilizar é a Lei Alemã de Energias Renováveis (EEG)

(2004), país líder nesse assunto nos últimos anos. Assim, a classificação por porte

sugerida está descrita a seguir.

Biodigestores de pequena, média e grande escala

São biodigestores construídos com foco no tratamento de efluentes em

atividades produtivas, podendo, também, ser instalados com foco específico na

produção de biogás, visando uso para energia elétrica, onde, em alguns casos, são

utilizados cultivos energéticos como substrato na biodigestão.

EXEMPLO

Na Europa, em busca de aumentar o uso de fontes renováveis de energia, alguns


países começaram a pagar mais pela energia elétrica gerada por essas fontes, o que é
chamado de subsídio. Isso viabilizou o cultivo de grãos para armazenamento
(silagem) e uso durante todo o inverno, inclusive no inverno rigoroso, para produção
de biogás. No Brasil e na América Latina, em geral, a grande quantidade de efluentes
e resíduos disponíveis para a biodigestão e a falta de subsídios, não incentivam os
cultivos energéticos para produção de biogás.

Por serem de pequena, média e grande escala, demandam um nível

tecnológico mínimo para manter a operação com pouca mão de obra e custos

reduzidos de manutenção. Porém, isso varia muito conforme a disponibilidade de

recursos, subsídios, substratos, clima, custo da mão de obra, entre outros fatores

que implicam no sistema de implantação do biodigestor e na garantia da eficiência

do processo e a viabilidade econômica do investimento.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Biodigestores domésticos

Os biodigestores domésticos são caracterizados por terem uma boa

relação entre custo de instalação, operação, manutenção e eficiência. Além disso,

são aplicados para pequenas vazões e regiões com poucos recursos financeiros.

Há centenas de anos os modelos indiano e o chinês, apresentados no

capítulo 2.4.2, vêm sendo utilizados em regiões carentes para o tratamento de

esgoto, resíduos de alimentos e efluentes de animais, para que haja produção de

biogás e digestato.

Porém, nas últimas décadas, seu uso cresceu em diversas regiões do

planeta, como Ásia, África, América Latina e Caribe, devido ao aumento da demanda

e difusão da tecnologia.

Modelos com maior nível tecnológico vêm sendo desenvolvidos para uso

doméstico nos últimos anos em busca de melhorar a sustentabilidade de regiões

urbanas (Figura 26). Porém, nitidamente, tem custos mais elevados e não são

acessíveis a todas as classes sociais, e por isso ainda é mais utilizável, nessa

categoria, os modelos indiano e o chinês.

Figura 26 - Exemplos de biodigestores modernos adaptados para aplicações domésticas


(Biogás Home)

Fonte: Homebiogas (Disponível em: <https://homebiogas.com>).

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
3.4.4 Eficiência das tecnologias na produção de biogás

A realização de um projeto de biogás está condicionada ao conhecimento

profundo e multidisciplinar de todos os aspectos relacionados ao substrato, à

tecnologia energética, legislação, administração, organização e logística.

Considerando que o mercado oferece uma variedade incrível de opções

técnicas, apresentaremos, brevemente, algumas tecnologias que estão atualmente

disponíveis no mercado e os princípios para a escolha do substrato e da tecnologia

a se usar.

Existem inúmeras combinações entre componentes e equipamentos para

utilização em uma planta de biogás, como também para a produção. As técnicas

típicas são apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4 - Classificação das técnicas de geração de biogás conforme diferentes critérios

Critério Tipo
Teor de matéria seca dos substratos - digestão úmida
- digestão seca
Regime de Alimentação - descontinua
- semicontínua
- contínua
N° de fases do processo - uma fase
- duas fases
Temperatura do processo - psicrofílico
- mesofílicos
- termofílico
Fonte: FNR (2010).

A consistência dos substratos depende do seu teor de matéria seca, o que

justifica a classificação básica da tecnologia de biogás em técnicas de digestão seca

e técnicas de digestão úmida. A digestão úmida se realiza com substratos

bombeáveis, já a seca faz uso de substratos empilháveis.

A diluição do substrato em água apresenta como vantagem a minimização

dos riscos de choque de carga orgânica e/ou de cargas tóxicas ao processo de

metanização, em função da diluição e solubilização da concentração desses

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
compostos no meio líquido, bem como a digestão mais rápida do substrato devido

a facilidade do contato dos micro-organismos com o material que será degrado.

Conforme definições estipuladas em publicação de apoio do Ministério do

Meio Ambiente da Alemanha, baseadas na Lei Alemã de Energias Renováveis (EEG)

de 2004, na entrada, um teor de matéria seca de no mínimo 30% (base em massa)

e uma carga orgânica volumétrica de no mínimo 3,5 kg matéria orgânica dia no

biodigestor. Na digestão úmida, o substrato líquido pode ter um teor de matéria

seca de até 12% (em massa).

Na Europa, a maioria das plantas de biogás agrícolas adotam a digestão

úmida, realizada nos típicos reservatórios circulares. A explicação detalhada dos

tipos de biodigestores já foi vista no item 2.4.2.

Na técnica de fluxo contínuo, o substrato é bombeado várias vezes ao dia

para o biodigestor, onde a mesma quantidade de substrato carregada no

biodigestor chega no reservatório de digestato por pressão ou retirada.

Já a alimentação semicontínua, uma carga de substrato não fermentado é

introduzida no biodigestor no mínimo uma vez a cada dia de funcionamento.

Comprovou-se que a alimentação em pequenas cargas várias vezes ao dia

oferece uma produção de gás uniforme e a utilização mais eficiente do espaço do

biodigestor.

Sobre o número de fases em que um processo pode ser conduzido,

caracteriza-se por bifásico quando as fases de hidrólise e metanização são

realizadas em reservatórios diferentes, como também em diferentes condições, tais

como, de pH e temperatura.

Como já explicado no item 2.3.3 desse material, os micro-organismos são

divididos em 3 categorias. Na prática, não há limites rígidos entre as diferentes

faixas de temperatura, mas as variações bruscas podem prejudicar o seu

desenvolvimento.

Contudo, os micro-organismos metanogênicos possuem a capacidade de

se adaptar a diferentes níveis de temperatura quando a sua variação é lenta e por

47
Curso de biogás: fundamentos e aplicações
isso a estabilidade do processo depende muito mais da constância da temperatura

do que do valor absoluto em si.

A eficiência tecnológica de um sistema de produção de biogás também está

relacionada ao bom aproveitamento do gás. Por exemplo, se o biogás é utilizado

para a geração de energia elétrica, deve-se operar o motor com potência instalada

para gerar o máximo possível, sem que haja a necessidade de queimar o biogás

excedente por meio de um queimador ou flare.

Na Figura 27 é apresentado um gráfico com a estimativa de produção de

biogás de um substrato genérico por quatro diferentes tipos de digestores

anaeróbios: lagoa coberta, mistura completa, filme fixo e fluxo em pistão. As colunas

representam o valor médio de produção e a linha preta no meio de cada coluna é a

barra de erros que representa os intervalos dos valores de produção obtidos.

Figura 27 - Produção de biogás por quatro diferentes tipos de digestores anaeróbios

Fonte: Adaptado de Cantrell et al. (2008).

A produção de biogás e metano a partir do substrato utilizado reflete a

eficiência de um sistema de produção. Normalmente, este parâmetro está

relacionado com a carga orgânica adicionada.

O modelo e o nível tecnológico do biodigestor a ser escolhido para geração

de biogás é uma decisão do responsável técnico e do proprietário ou usuário.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Contudo, é importante que se tenha ciência dos limites de cada tecnologia no que

diz respeito à geração de biogás.

Os biodigestores de fluxo tubular, por exemplo, têm como vantagem o seu

baixo custo. No entanto, não se pode esperar que estes reatores operem com a

mesma eficiência dos biodigestores de mistura completa com controle de

temperatura.

Portanto, a tecnologia instalada deve ser compatível com o substrato

utilizado (características e quantidade disponível), com a expectativa de produção,

com a demanda energética do local, com as características do meio (temperatura,

declividade do terreno, radiação solar, etc.) com a capacidade de tratamento do

efluente líquido e pela demanda por fertilizante.

3.4.5 Aterros sanitários

Os aterros sanitários (Figuras 28 e 29) são locais em que os resíduos sólidos

urbanos (RSU) são armazenados. Diferem dos lixões por terem impermeabilização

do solo, cobertura para redução de odores e captura dos gases produzidos.

Apesar de haver vários tipos de materiais além dos resíduos orgânicos, os

aterros produzem biogás por serem um ambiente anaeróbio.

O biogás de aterro possui uma menor concentração de metano (CH 4) em

relação ao biogás produzido em biodigestores, sendo composto,

aproximadamente, por 45% de CO2 (dióxido de carbono), 50% de CH4 (metano), e o

restante por 3% de N2 (nitrogênio), 1% de O2 (oxigênio) e 1% de outros gases (LEONE,

2003).

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Figura 28 – Esquema de aterro sanitário.

Fonte: ABIDES (2016).

Figura 29 - Foto de aterro sanitário

Fonte: Blog da Engenharia (2014).

Devido a presença de altas concentrações de componentes que demandam

um tratamento mais avançado e, assim, tornam o processo mais custoso, o biogás

gerado nesses locais é normalmente queimados em flares no próprio aterro.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
Os fatores que influenciam diretamente a produção de biogás aterros estão

relacionados ao tipo e quantidade de lixo depositado, à temperatura e ao índice de

pluviosidade no local, ao teor de umidade na massa de lixo, ao grau de compactação

do lixo, à forma construtiva do aterro, especialmente quanto à espessura e material

utilizado na cobertura do lixo, à idade do aterro e à pressão barométrica (CHESF,

1987).

Muitos especialistas não consideram os aterros como uma tecnologia

adequada para a produção do biogás e muitas vezes não tratam desse assunto

quando se fala de digestão anaeróbia.

A questão é que, a partir do momento em que o resíduo orgânico é

depositado em um aterro sanitário, o seu uso após o tratamento e como um

biofertilizante, torna-se impossível. Assim, esses resíduos passam a ocupar um

espaço sem poder ser reaproveitados.

Em países desenvolvidos, a separação dos resíduos orgânicos é mais efetiva

e estes são destinados ao processo de tratamento em biodigestores de mistura

completa ou via seca. Porém, em países em desenvolvimento, diversos fatores

dificultam a separação e destinação dos resíduos orgânicos das áreas urbanas para

a digestão anaeróbia, tornando o aterro sanitário uma opção mais barata e

acessível.

Assim, mesmo que os aterros não sejam a melhor solução para os RSU

devido as outras opções sustentáveis existentes, há muitos operando nos países em

desenvolvimento, e o uso energético do biogás produzido pode garantir sua

sustentabilidade financeira e evitar que o RSU seja destinado a lixões, causando

maior impacto ambiental.

Nas próximas aulas, veremos sobre as características, aplicação e tratamento

do biogás para uso energético. Além disso, aprenderemos sobre o digestato e suas

propriedades para aplicação no solo.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta aula foi possível iniciar o aprendizado sobre o processo de produção

e aproveitamento energético do biogás, analisando os conceitos gerais, contexto

histórico, caracterização dos substratos, dados sobre potencial de produção do

biogás, processo de biodigestão anaeróbia e pré-tratamento do substrato.

Na próxima aula, para darmos continuidade ao estudo, estudaremos sobre

as características do gás produzido na biodigestão, os tratamentos que o biogás

necessita para ser utilizado, como também do biometano, e as aplicações

energéticas de ambos os gases. Além disso, serão apresentadas informações sobre

o digestato e sua aplicação para fertilização do solo.

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Curso de biogás: fundamentos e aplicações
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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