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O feitio de daime é, naturalmente, o trabalho mais importante para o Centro e para

os filiados, onde se deve ter consciência da participação geral; trata-se de uma


obra onde é exigido muito esforço físico e espiritual e que demanda união, limpeza
e clareza mental para que se possa produzir o melhor fruto que será comungado nas
nossas futuras sessões. Analisaremos apenas questões básicas que são observadas no
nosso Centro em conformidade com os Centros da linhagem do Alto Santo.

O jagube, apenas sendo utilizada sua espécie “ourinhos” é cortado no terceiro dia
depois da lua nova. Bem entendido, contando-se o dia da lua como sendo o primeiro.
Se for de todo difícil a poda geral e o transporte até o local do feitio nesse dia,
deve-se proceder ao menos ao corte da base. O jagube deve ser cortado em pedaços de
25 centímetros, com corte reto, evitando-se pontas. Durante a colheita e bateção
deve-se evitar pisar no jagube. A raspação do jagube só é admitida para se tirarem
fungos, terra ou elementos estranhos, com estiletes de madeira ou escovas de roupa.
A lavagem de folhas só é admitida para se tirarem barro ou sujeiras, sendo
desnecessária quando a folha é relativamente limpa.

Nós usamos os caldeirões nº 60, com capacidade para 130 litros. Nessa medida, em
cada panela cabem 30 quilos de jagube para 7 de folha (proporção deixada pelo
Mestre; folha “caboclinha preta” - a variedade acreana da chacrona).

Cada duas panelas novas completam-se com 60 litros de água pura natural, onde se
tiram 30 litros de cozimento de primeiro grau em cada uma. Em uma terceira panela
nova, juntam-se os 60 litros de cozimento obtidos previamente e apuram-se
aproximadamente 20 litros de daime de primeiro grau. Essa é a matemática básica.

No Alto Santo só se faz o daime de primeiro grau, o clássico deixado pelo Mestre
Irineu, jogando-se fora o conteúdo das panelas após a apuração descrita acima.

Quando se está montando a panela, pode-se optar pelo começo/fim com jagube ou com
folha (instrução do Sr. Louredo), sendo importante que, com o que se começou se
termine. Desta forma, são sempre sete camadas alternando-se o material. Começou com
bagaço de jagube, folha, pó de jagube, folha, pó de jagube, folha, bagaço de
jagube. Começou com folha, pó de jagube, folha, pó de jagube, folha, bagaço de
jagube, folha.

Quanto à participação das mulheres, esta é limitada à colheita e limpeza de folhas


(quando não estiverem em dias de regra), preparação de alimentos e serviços de
limpeza em geral, com uso de saias compridas e camisetas com manga, sendo vedada a
aproximação em recintos de bateção e fornalha. Não existem trabalhos nos recintos
de fornalha com participação feminina.

Aos homens é vedado o uso de bermudas e camisetas sem manga e a todos é exigido o
cumprimento da dieta sexual três dias antes, e claro, durante todo o feitio.

A alimentação deve ser leve, de preferência macaxeira cozida sem sal e chá de capim
cidreira; deve-se manter silêncio a não ser em assuntos que envolvam o trabalho.

A bateção do jagube é manual (vide instruções do Mestre no relato de João Rodrigues


Facundes), em marretas de madeira cilíndricas e o cozimento é a lenha (preferindo-
se madeira boa ou de lei, que dá pressão). Até isso o Mestre estabeleceu, premiando
o bálsamo como a madeira por excelência para se cozinhar o daime. O canto na
bateção, se houver, deve ser coordenado por algum membro destacado para esta função
- sendo preferível a audição de gravações de hinários bem ritimados, para que,
naturalmente, haja mais concentração e fôlego para o batedor.

O Mestre dizia que, em até 3 dias da feitura do daime ele ainda não estava pronto,
ou ainda estava se fazendo.
São Paulo, 18 de dezembro de 2012

Fonte: http://www.mestreirineu.org/FDC/artigos.html

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