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123 - A Aparência Enganosa Do Coração Humano
123 - A Aparência Enganosa Do Coração Humano
John Wesley
III. 'Aquele que confia em seu próprio coração é um tolo', porque quem que
fosse sábio iria confiar em alguém que ele sabe ser 'desesperadamente mau?'.
1. A maioria dos mais eminentes dos antigos pagãos nos deixou muitos
testemunhos disto. Foi, decerto, a opinião comum deles, a de que houve um tempo,
em que os homens, em geral, eram virtuosos e felizes; o que eles denominaram de
'idade do ouro'. E o relato disto foi espalhado através de quase todas as nações. Mas
igualmente se acreditou que essa época feliz tinha se expirado, muitos anos atrás: e
que os homens estão agora, no meio da 'idade do ferro'. Do início desta, diz o poeta -
2. Mas quantos mais sabem que os antigos pagãos são a presente geração de
cristãos! Quantos panegíricos nós agora lemos e ouvimos sobre a Dignidade da
Natureza Humana. Um eminente pregador, em um dos seus sermões, pregado e
publicado, alguns poucos anos atrás, não teve escrúpulos de afirmar, Primeiro, que os
homens em geral (se não todos os indivíduos) são muito sábios; Em Segundo Lugar,
que os homens, em geral, são muito virtuosos; e, em Terceiro, que eles são muito
felizes. E eu não conheço, ainda, alguém que tenha sido tão ousado, para contestar a
afirmação.
5. Mas, o que quer que os infiéis não batizados ou batizados possam dizer,
com respeito à inocência da humanidade, Ele que fez o homem, e que melhor conhece
o que Ele fez, dá uma consideração muito diferente dele. Ele nos informa que 'o
coração do homem', de toda humanidade, de todo o homem nascido no mundo, 'é
desesperadamente mau'; e que é 'enganoso acima de todas as coisas'. De modo que
podemos bem perguntar, 'Como nós podemos saber isto?'.
I
1. Para começar com isto: 'O coração do homem é desesperadamente mau'.
Em considerando isto, nós não precisamos nos referir a algum pecado, em particular;
(esses não são mais do que folhas, ou, quando muito, os frutos, que brotam daquela
árvore má); mas, antes, à raiz geral de tudo. Veja como isto foi primeiro plantado no
próprio céu, por Lúcifer, o filho da manhã'; -- até, então, sem dúvida, 'um dos
principais, se não, o principal arcanjo': 'Tu dizes, Eu ficarei no lado norte'. Veja a
vontade própria, a Primogênita de Satanás! 'Eu serei como o Altíssimo!'. Veja o
orgulho, o irmão gêmeo da vontade própria. Aqui estava a origem verdadeira do mal.
Daqui veio a inundação inesgotável de maldades sobre a terra. Quando Satanás, uma
vez, infiltrou sua própria obstinação e orgulho nos pais da humanidade, junto com
uma nova espécie de pecado, -- amor ao mundo; o amar a criatura, acima do Criador, -
- toda forma de maldade logo entrou de roldão; toda descrença e iniqüidade;
disparando em crimes de toda sorte; logo cobriram toda a face da terra, com toda
maneira de abominações. Seria uma tarefa infinita enumerar todas as monstruosidades
que se irromperam. Agora, todos os reservatórios do grande abismo foram abertos, e a
terra logo se tornou um campo de sangue: Vingança, crueldade, ambição, com todas
as sortes de injustiça; todas as espécies de ofensas, públicas ou privadas, propagaram-
se, por toda a terra. Injustiça, em suas mil formas; ódio; inveja; malícia; sede de
sangue, com todo o tipo de falsidade, cavalgaram triunfantes; até que o Criador,
olhando dos céus para a terra, não mais poderia suplicar, por uma raça incorrigível,
mas a varreria da face da terra. Mas quão poucos das gerações seguintes foram
melhorados, através desse julgamento severo! Eles que viveram, depois do dilúvio,
não pareceram ter sido uma partícula melhor do que aqueles que viveram antes deles;
provavelmente, antes que Noé fosse removido da terra, toda iniqüidade prevaleceu
como antes.
2. Mas não existe um Deus no mundo? Sem dúvida, que existe: E é 'Ele que
nos fez; não nós mesmos'. Ele nos fez gratuitamente, de sua própria misericórdia; já
que não merecíamos coisa alguma dele, antes que tivéssemos existido. Foi de sua
misericórdia que Ele nos fez, afinal; que Ele nos fez criaturas conscientes, racionais,
e, acima de tudo, suscetíveis de Deus. E é isto, e tão somente isto, que estabelece a
diferença essencial entre os homens e os animais. Mas, se Ele nos fez, e nos deu tudo
o que temos; se nós devemos tudo que somos e temos a Ele; então, certamente, Ele
tem direto sobre tudo que somos e temos, -- ao nosso amor e obediência. Em todas as
épocas e nações, os muitos que acreditaram em si mesmos, têm reconhecido serem
suas criaturas. Mas, alguns poucos anos atrás, eu soube que um homem confessou
francamente: 'Eu nunca pude entender que, porque Deus nos criou, isto deu a Ele
alguma propriedade de governo sobre nós; ou que, por que Ele nos criou, isto nos
colocou, debaixo da obrigação de submetermos a Ele a nossa obediência'. Eu penso
que o Dr. Hutcheson foi o primeiro homem que nunca teve qualquer dúvida disto; que
nunca duvidou, muito menos negou, que a criatura fosse obrigada a obedecer a seu
Criador. Se Satanás, alguma vez, cogitou esse pensamento (não que ele
provavelmente tenha feito), não seria de se admirar que ele pudesse rebelar-se contra
Deus, e fazer surgir uma guerra no céu. E conseqüentemente, os inimigos poderiam
se erguer contra Deus, no coração dos homens também; juntamente com todas as
ramificações da descrença, que aflui disto até hoje. Por esta razão, surgiria
naturalmente a negligência de toda obrigação que devemos a Ele como nosso Criador,
e todas as paixões e esperanças, que são diretamente opostas a toda tal obrigação.
5. Mas se este for o caso, como é que todos não estão conscientes disto? Por
que, quem poderia 'saber das coisas de um homem, como o espírito de um homem que
está nele?'. Como é, então, que tão poucos conhecem a si mesmos? Por esta razão
simples: porque o coração não é apenas 'desesperadamente mau', mas 'enganoso
acima de todas as coisas'. Tão enganoso, que nós podemos bem perguntar, Quem
pode conhecê-lo?'. Quem, de fato, a não ser Deus que o fez? Pela Sua assistência, nós
podemos, em Segundo Lugar, considerar isto, -- a aparência enganosa do coração
humano.
II
1. 'É enganoso, acima de todas as coisas'; ou seja, no mais alto grau, acima de
tudo que podemos conceber. Tão enganoso, que a generalidade de homens estão
continuamente enganando, tanto a si mesmos, quanto os outros. Quão estranhamente
eles enganam a si mesmo, não conhecendo seus próprios temperamentos, assim como,
caracteres; imaginando-se abundantemente melhores e mais sábios do que são! O
poeta antigo supõe que não exista exceção à esta regra, -- que nenhum homem está
disposto a conhecer seu próprio coração'. Nenhum, a não ser aqueles que foram
ensinados por Deus!
3. Esta é uma das formas da maldade muito perigosa que se adere à natureza
de cada homem, seguida dessas raízes férteis, -- vontade própria, orgulho, e
independência de Deus. Disto, brota toda espécie de vícios e perversidades; disto,
todo pecado contra Deus, nosso próximo e nós mesmos. Contra Deus, -- negligência
e desprezo para com Ele, ao Seu nome, Seu dia, Sua palavra, Suas ordenanças;
ateísmo de um lado, e idolatria do outro; em particular, o amor ao mundo, o desejo da
carne, o desejo dos olhos, o orgulho da vida, o amor ao dinheiro, o amor ao poder, o
amor ao ócio, o amor 'à honra que vem dos homens', o amar a criatura, mais que o
Criador, o amar o prazer, mais do que amar a Deus: -- Contra nosso próximo, --
ingratidão, vingança, ódio, inveja, malícia, falta de caridade.
Eu sei que minha alma tem poder para saber todas as coisas, ainda assim, ela é cega e
ignorante de tudo: Eu sei que sou um dos pequenos reis da natureza; ainda assim, a menor e
mais vil de todas as coisas como servo.
III
[Editado por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]