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ABOUT LOVE
Uma historia de
Samila Uckermann
Introdução – A fuga.
Era madrugada. O reino inteiro dormia, exceto uns poucos. Os poucos que não
dormiam tinham um tom de urgência.
Diogo: Tome isso. – Disse, tirando a própria capa. Anahí estava branca feito papel,
abraçada a mãe. – Vai ajudar a ocultá-la.
Anahí: É mesmo necessário? – Perguntou, enquanto Diogo passava a capa por seus
ombros.
Diogo: Se quiser proteger sua vida, é. – Disse, puxando o capuz por cima da cabeça dela
– Eu sei o que ouvi dentro do castelo. Paul se cansou. Mandará seus homens atrás de
você, a possuirá e matará em seguida. – A mãe de Anahí gemeu, desolada. Achava a
beleza da filha uma maldição.
Anahí: Mas para o reino de Alfonso, Diogo? Pro castelo dele? Ele próprio me matará se
souber a verdade. – Disse, angustiada.
Diogo: Dentro do castelo de Alfonso é o único lugar onde Paul não pode alcançá-la.
Estamos em guerra, e os homens dele mal conseguem passar da fronteira, quem dirá do
castelo. – Explicou – Mantenha seu segredo, e enquanto estiver sob os domínios de
Alfonso, estará salva.
Diogo: Vamos. – Anahí se agarrou a mãe – Não vai poder protegê-los aqui, Anahí.
Vamos.
Anahí abraçou a mãe, deixando que o soluço abafado em seu peito viesse. Sentiu
quando o pai a abraçou, despedindo-se. Não haveria retorno. Não havia certeza de
que ela sobreviveria. Diogo a levou pelas ruas, ambos sem fazer nenhum silencio.
Os dois se embrenharam nas arvores, pros lados da fronteira do território de
Alfonso, e havia um cavalo amarrado, nas sombras.
Diogo: Agora presta atenção. Quando chegares a fronteira de modo algum deixa-te ser
vista. – Disse, sério, após colocá-la no cavalo – Larga o cavalo a uma distancia e segue
a pé, fique escondida entre as arvores. Espere o anoitecer de amanhã, e não permita que
ninguém a veja. Quando for madrugada outra vez, um homem de nome Christian irá
buscá-la, e deverá seguir com ele. – Anahí assentiu – Boa sorte, Anahí. Eu realmente
espero que tu não morras.
Anahí agradeceu. Diogo sempre fora um bom amigo. Porém os dois pensaram ter
ouvido o barulho de algo entre as arvores, e ele fez ela sair a galope. Ela não
pararia até chegar perto da fronteira. Sua vida dependia disso.
Ian: Bom dia pra você também. – Disse, irônico – O mensageiro de Christopher está lá
embaixo.
Ian: Vai ser problema seu. Só vim passar o recado pois tens a péssima mania de demitir
todos os criados que lhe enviam recados. – Disse, debochado.
Ian: Não sou teu empregado nem teu inferior, Alfonso. Sonha com isso. – Disse,
virando as costas e saindo. Ter que lidar com Alfonso pela manhã era cansativo.
Alfonso deixou a cabeça cair pra trás, os olhos fechados, respirando fundo. Ser rei
não era um conto de fadas, muito menos quando se está em guerra. Ele precisava
do apoio de Christopher. Conseguira o de Ian recentemente, fato que fez o mesmo
se hospedar com a esposa, Katherine, em seu castelo. Mas a quantidade de homens
e armas que Christopher possuía seria o cheque mate nessa briga, e ele finalmente
teria sua vez com Paul... Mas ele queria ir logo a ação. Dezenas de homens já
haviam morrido em sua espada, mas nenhum deles era o que ele queria. A
burocracia o entediava. Por fim ele apanhou o terno na cama, vestindo-o, e saiu.
---*
Anahí havia cavalgado a noite toda, a galope. Não podia ser seguida, e quando o
dia nascesse já queria estar no lugar de espera. Amanhecera e ainda não
conseguira sair da floresta. Estava cansada, com sede, suas mãos ardiam pelas
correias do cavalo...
XXXX: Tem alguém ai? – Perguntou, a voz vindo de longe. Anahí parou o cavalo, os
olhos azuis assustados procurando por alguém.
Ela desceu do cavalo o mais silenciosamente que pode, então desatou a correr.
Após um tempo a sapatinha que usava começou a ceder, seus pés doíam em
contato com as pedras dentro do mato. Não olhou pra trás nenhum instante. Já era
mais de meio dia e ela achava que ia morrer. Não conseguiria. Tropeçara várias
vezes, caíra outras inúmeras, chovia... E finalmente ela viu: A cerca de homens
fortemente armados, bloqueando a passagem. Chegara a fronteira. Ela, cansada,
ofegando, se deixou cair sentada no chão molhado, encostada em uma arvore, e
esperou que seu destino a salvasse.
---*
Alfonso, antes de qualquer coisa, todos os dias, ia ver a filha. Suri tinha 4 anos.
Dulce fora envenenada no 7º mês de gestação, e seu ultimo desejo foi que Alfonso
salvasse a menina. E ele tentou. Ao entrar no quarto da pequena olhou, desgostoso,
pra cadeira de rodas que havia em um canto. Mas seguiu até a cama.
Alfonso: Bom dia, meu amor. – Disse, retirando o cabelo da menina do rosto – Como
foi sua noite?
Suri: Vou poder sair hoje? – Perguntou. Toda manhã a mesma pergunta... E a mesma
resposta.
Alfonso: Não, meu amor. Hoje ainda não. – Disse, e viu a carinha dela, triste – Logo. –
Prometeu.
Suri: Logo quando? – Insistiu. Alfonso sorriu. A menina tinha a tenacidade de Dulce.
Alfonso: Logo. – Resumiu – Agora tenho que ir, pessoas me esperam. Logo Nina virá
cuidar-te. – Suri se emburrou – Não faça este bico, é para o teu bem. Dá o beijo do teu
pai. – Pediu, oferecendo o rosto, e recebeu uma bitoquinha da menina.
Alfonso: 30 minutos. – Propôs. Ela aceitou, sorrindo. – Então durma. Fique bem, meu
anjo. – Disse, acariciando os cabelos dela. Em seguida se levantou e saiu.
O dia de Alfonso fora normal. Deu ordens, revisou papéis, encontrou pessoas...
Sem saber que havia uma plebéia morrendo na floresta, perto da fronteira. Anahí
tinha sede, fome, cansaço... Seus pés estavam feridos pela corrida, a roupa
molhada pela chuva que tomara. Ela apenas olhava o céu, esperando...
Esperando... E o dia se fez noite. Ela quis se levantar, esperar em alerta, mas não
teve forças.
Anahí: Sou eu. Estou aqui. – Respondeu, tentando se levantar. Seus pés doeram
horrivelmente.
Christian: Sou Christian. – Disse, após se aproximar. Havia uma pequena carroça ali
perto. Ela nem o vira chegar, vagando entre a consciência e a inconsciência – Deus, está
pior do que eu imaginei. – Lamentou.
Anahí: Não tive o melhor dos dias. Como conseguiste vir aqui? – Perguntou, os olhos
vendo a silhueta dele – E os guardas?
Christian: Vim descarregar o carvão do castelo, e buscar mais lenha. Faço isso todos os
dias, e é esse fato que a ajudará. Tudo bem, te apóia em mim. – Disse, se abaixando.
Christian: Machuca? – Anahí negou com o rosto – Cobrirei teu rosto com a manta, para
que não vejam ao passar. Se algo acontecer, balança isto. – Disse, entregando um galho
seco a ela. Anahí assentiu.
Assim ele cobriu o rosto dela. Anahí esperou que parassem Christian, que a
descobrissem, mas ele não parou de andar por um bom tempo. Ela até dormiu um
pouco. Foi quando, por fim, ele a descobriu. Ela percebeu que o peso da lenha em
cima de si havia sumido.
Christian: Graças aos céus, pensei que houvesse morrido. – Anahí sorriu, fraca – Venha.
– Christian a ajudou a descer da carroça, pondo-a de pé. Ela olhou em volta e viu muita
madeira armazenada, assim como uma pilha de carvão num canto. Havia uma fornalha.
As paredes eram altas, e tudo estava silencioso – Precisarei cuidar de ti antes de te
expor. Está muito mal. – Avaliou, vendo a fraqueza dela.
Mas Anahí mal ouvia. Seus ouvidos zuniam contra a verdade. Havia conseguido
chegar ao castelo. Estava a salvo... Pelo menos de Paul.
---*
Christian: Então lhe levarei até Nina, e ela lhe dará instruções. Me espere aqui, só um
instante. – Anahí assentiu com a cabeça.
Nina: Quem é você? – Perguntou, e Anahí tremeu, em choque. Seu rosto procurou
Christian, mas ele ainda não havia voltado. Ela se virou, respirando fundo.
Anahí: Sou Anahí. – Disse, tentando se acalmar – Christian me enviou. Para trabalhar.
Nina: Christian, sempre me enviando problemas que eu não posso resolver. – Disse,
suspirando. Ela avaliou Anahí de cima a baixo – Venha comigo. – Disse, virando as
costas e passando pelo portão pro pátio do castelo.
Anahí: Então vamos. – Disse, pondo a pilha de vestidos que Nina lhe dera na cama, que
estava forrada com lençóis simples, brancos. Só havia um travesseiro.
Nina: Pensei que não viesse mais. – Disse, revirando os olhos. – Pelo menos vestiste o
uniforme corretamente. Agora ouve. Para começar, apanhe os coadores e os panos da
cozinha, e os leve para a lavanderia, há um setor lá para este tipo de coisa. – Anahí
assentiu – Quando voltar, reponha tudo com peças limpas; encontrará tudo o que
precisar na dispensa. Depois encontrará instruções para seguir o trabalho. Entendido?
Anahí: Perfeitamente. – Assentiu. Nina saiu.
Cozinheira: Não tenha medo. – Disse, vendo a expressão pálida de Anahí – Ela é assim
mesmo, alguns dizem que tem o diabo no corpo. – Anahí riu de leve, ainda acanhada –
Sou Maria.
Maria: Ande, faça o que ela mandou. Aqui estão os coadores. – Disse, apanhando vários
pedaços de pano anteriormente brancos, mas com borras de café, e pondo em cima de
um balcão. – E aqui os panos. – Disse, em seguida catando vários panos de prato e
flanelas, juntando a pilha – Dá conta? – Anahí assentiu – Siga em frente pelo corredor
dos quartos dos empregados, depois vá pelo pátio dos fundos. Não terá dificuldade para
chegar até a lavanderia. – Anahí assentiu, apanhando a braçada de toalhas e saindo.
Na verdade ela teve dificuldade. Mas, por fim, chegou a área da lavanderia. Várias
mulheres estavam lá, nas poças, lavando roupas ou engomando-as. Anahí
procurou até encontrar o lugar onde deveria largar o que trazia em mãos. Depois
foram outros 500 pra encontrar a dispensa. Por fim tinha uma braçada de toalhas
e coadores limpos em mãos. Voltou a cozinha e começou a separá-los.
Maria: Depois poderá ajudar com o almoço, assim ela a deixará em paz. – Disse,
mexendo um tacho enorme, que estava no fogo.
Anahí: Obrigada por me ajudar. – Disse, grata, separando os coadores das toalhas.
Então...
Alfonso: Bom dia. – Disse, a voz grossa vindo detrás dela. Anahí empedrou.
Anahí abaixou a cabeça, encarando as toalhas na mesa. Alfonso só via o longo rabo
de cavalo, discreto, que caía por suas costas. Pelo uniforme era uma empregada.
Ele não estranhou; os empregados em geral baixavam a cabeça antes de falar com
ele.
Maria: Saiu daqui dizendo que iria cuidar da menina Suri, senhor. – Anahí continuava
imóvel.
Alfonso: Bem. – Disse, pensativo – Quando ela voltar mande que me procure. E sirva
mais um lugar a mesa; O mensageiro de Christopher está aqui.
Alfonso virou as costas e saiu. Anahí respirou em uma golfada violenta, se amparando
na mesa.
---*
Uma semana se passou. Anahí trabalhava feito uma condenada, fazia de tudo:
Limpeza, lavava roupas, cozinhava, limpava os quartos... Enfim, tudo. Mas por
final estava tão cansada que o pânico não conseguia atingi-la. Já começara a criar
uma rotina, e estava feliz com isso. Feliz porque já conhecia boa parte do castelo,
feliz porque não se batera mais com Alfonso... Depois do trabalho, quando ela já
estava se preparando pra dormir, Christian sempre a visitava. Se tornara um bom
amigo. Conversava com ela um pouco, a fazia rir, até lhe dera um livro de
presente. A respeitava. Mesmo vendo-a de camisola, pronta pra dormir, nunca lhe
dirigiu nenhum olhar desrespeitador. Ela estava satisfeita com isso.
Alfonso: Não. Não é seguro. Você fica dentro do castelo, como sempre. – Disse,
paciente – Não tens pra ti todas as tuas bonecas, teus brinquedos, tuas panelinhas, ursos
e tudo mais?
Alfonso: Tem mais alguma coisa que você deseje ter? Me diga o que é e o terá de
imediato. – Perguntou, acariciando o rosto da filha.
Alfonso: Se tiver, não hesite em me dizer, sim? Seja um pouco paciente, bebé, eu vou
resolver tudo isso e poderá sair. – Prometeu, e a menina assentiu.
Anahí estava trabalhando, quando Nina, aparentemente pra sacanear, lhe ordenou
que levasse uma tapeçaria enorme até a lavanderia, batesse o pó e a escovasse.
Anahí cambaleou pelos corredores, e obedeceu, limpando tudo, e voltando pra por
no lugar.
Anahí: Esse trambolho. – Murmurou, cambaleando pelo corredor com uma tapeçaria
enorme nos braços.
Nina: Deixe-me ver. – Anahí teve vontade de soltar a louca, e lembrar o quanto aquilo
era pesado. Nina olhou a ponta da tapeçaria e largou – Isso está imundo.
Anahí: Perdão?
Nina: Leve de volta e torne a limpá-la. Agora! – Ordenou. Anahí assentiu e deu as
costas, pra voltar pra lavanderia.
Mas no meio do caminho se bateu com algo estranho. Uma menina. Estava em
uma cadeira de rodas.
Suri: Oi. – Anahí ia apertar a mão da menina, mas se desequilibrou com o peso da
tapeçaria.
E Suri falou. Desabafou. Disse que estava triste, pois não havia quem ficasse com
ela. Anahí, querendo ajudar a menina, chamou-a pra ajudá-la com a tapeçaria,
assim poderiam conversar mais. Suri, encantada, ofereceu seu colo pra colocar a
tapeçaria, assim Anahí apenas empurrava a cadeira. Pena Suri não ter dito de
quem era filha. Pena maior ainda Anahí ter tirado a menina do castelo sem
permissão.
A atividade resultou prazerosa. O tapete já estava limpo, verdade seja dita, mas
como Anahí recebera ordens e não queria problemas, levou-o pra limpar
novamente. Encontrou um espaço de sombra, na area da lavanderia, arejado e
seco, abriu o tapete e pôs a menina sentada em cima. Lhe deu uma escovinha e
ficou com uma. As duas se poram a conversar e a trabalhar juntas. Era agradavel,
simples, leve. Fazia Anahí se sentir bem ver que a pequena estava tão radiante.
Enquanto isso, dentro do castelo...
Nina: Senhor. – Disse, branca feito papel, se aproximando. Alfonso e Ian tinham um
mapa em cima de uma mesa, e conversavam intensamente, desenhando rotas. Alfonso
ergueu o rosto, sério, os olhos verdes sondando a outra.
Nina gaguejava. Alfonso a iria matar, isso era certo. Dito e feito, enquanto ela foi
explicando o rosto dele foi se transformando, se tornando mais duro, até que ele
interrompeu.
Alfonso: Onde está minha filha, Srta. Dobrev? – Perguntou, a voz dura. Ian observava
os dois.
Nina: Eu não sei, senhor. – Admitiu, olhando o chão – Eu a deixei em seu quarto, em
sua cadeira e vim trazer a bandeja do café da manhã. Quando eu voltei a porta estava
aberta e ela já não estava. – Alfonso largou a pena que tinha na mão, e Nina estremeceu
– Eu já procurei em todas as dependências do castelo, senhor. Ela não está em nenhuma,
e não pode ter subido para as torres, então eu...
Alfonso: Pensei que fosse paga para que Suri fosse assistida. – Rosnou, atravessando a
sala. Ele abriu a porta, gritando o nome de alguém – Acredita em Deus, Srta. Dobrev? –
Perguntou, virando o rosto.
Alfonso: Pois ponha-se a rezar para que minha filha esteja bem. – Aconselhou, e a
ameaça por trás daquilo era evidente.
Alfonso: Por onde, Ian? – Perguntou, já ofegando de raiva – Correndo por ai,
brincando? Eu não creio.
O homem que Alfonso gritou chegou, e ele mandou que se reunissem os homens e
dessem uma batida atrás de Suri. Ele próprio saiu a procura da menina,
acompanhado por Ian.
Anahí: Eu creio que já esteja bom. Vai terminar por esfolar. – Disse, se deitando no
tapete. Suri riu, se deitando também.
Suri: Os do meu quarto são como estes. – Disse, passando a mão no tapete. Anahí
passou a mão no rosto, cansada, olhando as nuvens.
Anahí: Não. – Disse, ainda olhando as nuvens – Tua mãe deve gostar muito de ti.
Tapeçarias como estas são caras, sabes?
Suri: Não conheci a minha mãe. – Anahí virou o rosto, olhando-a. – Mas papai diz que
como uma princesa, eu vou superar isso.
Suri: Todos chamam. – Disse, cada vez mais confusa. Anahí riu.
Anahí: E tu és. – Disse, olhando a cadeira de rodas atrás da menina. Era injusto e triste
que Suri, tão pequena, não pudesse andar.
Suri: Papai diz que quando eu tiver idade, e quando ele já não estiver aqui, serei rainha.
– Comentou. Anahí parou, olhando pra cima.
Suri: Sou Suri Marie Herrera. – Anahí arregalou os olhos, quase sufocando – Sou filha
de Alfonso. O que foi, Annie?
Anahí: Não é possível. Tu estás morta. – Disse, passando a mão no rosto. Era o que
achava. A filha de Alfonso Herrera morrera com a mãe, era o que Paul dizia a todos do
reino. Não era possível que aquela menina... Mas Anahí olhou o vestido que usava. Os
tecidos eram finos, delicados. A cadeira de rodas, o cabelo...
Suri: Não estou, não. – Disse, se amparando nos bracinhos pra poder levantar. Custou
um pouco mas conseguiu – O que há? – Anahí nem conseguia respirar. Se aquela
menina realmente fosse a princesa...
Anahí: Eu estou morta. Morta. – Gemeu, o rosto em panico. – Porque não me disse
antes, Suri?
Anahí: Vão me matar. Preciso levar você de volta. Agora! – Disse, indo até a menina.
Ela apanhou a cadeira de rodas, pondo-a no lugar.
Anahí: Não tenho tempo, já devem ter dado por tua falta! Deus, o que eu fiz? –
Perguntou, se abaixando para poder apanhar a menina. Mas então...
---*
Suri estava aborrecida. Não deixou que Nina a cuidasse, tampouco. Estava se
divertindo. Foi quando Alfonso entrou na sala onde ela estava.
Alfonso: Meu anjo. – Disse, a voz cortada de preocupação, apanhando o rosto dela entre
as mãos – Estás ferida? Te machucaram? Estás bem?
Suri: Ai... Papai! – Ralhou, e Alfonso a olhou, ansioso – Estou aborrecida com o senhor.
– Disse, emburrada. Alfonso franziu o cenho.
Alfonso: Como?
Alfonso: LIMPANDO? – Perguntou, incrédulo – Quem foi o... O... – Ele não
encontrava palavras – Quem?
Anahí recobrou a consciência mas não conseguiu abrir os dois olhos. Um parecia
se negara abrir, e o outro doía. Todo seu corpo doía. Sua barriga principalmente.
Havia algo molhado em seu rosto... Depois ela viria a descobrir que era o próprio
sangue. Braços a mantinham de pé, mas suas pernas não. Ela tentou se amparar
nas pernas, cambaleando.
Ian: Alfonso, eu estava te procuran... Meu Deus. – Exclamou, ao ver o estado de Anahí.
Sob o olhar de Alfonso outro guarda ergueu a mão e esmurrou a barriga dela que frágil,
tossiu. Alfonso permaneceu quieto. – Parem com isso! Alfonso, que diabo significa
isso?!
Alfonso: Porque tirou a menina do castelo? – Perguntou, pela enésima vez. Anahí
soluçou em seu choro.
Anahí: Eu não sabia quem era, por Deus. – Disse, a voz cortada pelo choro. – Ela só me
pediu pra sair.
Alfonso: Ah sim, tu não sabia quem era? – Perguntou, descrente. Sob a ordem do olhar
dele Anahí apanhou mais uma vez, o murro agora atingindo-lhe o rosto – Eu tenho o dia
inteiro.
Ian: Alfonso, seja racional. Ela não fez dano à menina, pare com isso! É brutal! –
Intercedeu. Alfonso não se demoveu – Alfonso, se não parar de torturar essa mulher
sairei dessa sala agora, apanharei Katherine e me retirarei. – Alfonso o encarou – Não
vou compartir disso.
Alfonso teve que recuar perante a ameaça. Precisava de todo o apoio possível. Ian
não poderia ir embora e levar suas tropas. Seria desastroso.
Alfonso: Que seja. – Disse, sorrindo debochado. Então virou-se pros guardas que
mantinham Anahí de pé – Matem-na. – Ordenou, virando as costas pra sair.
Anahí ouviu a ordem, e não se opos. Sabia que não tinha chance, só sofreria mais.
Era uma pena, ela se saiu bem na primeira semana. Chegou a achar que poderia
construir uma vida. As mãos em seus braços a ergueram, arrastando-a. Então veio
um rugido furioso.
Ian: Como? NÃO! – Rugiu, furioso – Vai matar esta mulher só porque tirou a menina
de dentro do castelo?
Alfonso: Já fiz mais por menos, não seja dramático, por favor. – Disse, se virando, já
quase na porta.
Ian: Não me fiz claro? – Perguntou, os olhos se dilatando de raiva – Eu disse AGORA!
E pela falta de objeção de Alfonso largaram Anahí, saindo dali. Ela caiu no chão,
tossindo, largada. Ian se abaixou, levando dois dedos até o pescoço dela, pra sentir
sua pulsação. Anahí nem sabia quem era, mas já era grata.
Ian: Há alguém que possa cuidar de você? – Perguntou, vendo o estado deplorável dela.
Anahí: Eu... Não sei. Mas ficarei bem. – Disse, sem ter muita certeza – Obrigada.
Ian: Faça um favor a si mesma: Não te aproximes mais daquela criança. Eu não vou
estar sempre pra deter ele. – Aconselhou, se levantando. E ele saiu dali.
Anahí: Eu não sabia! Eu juro por Deus que não sabia, Christian! Ai! – Gemeu, quando
ele tentou erguê-la.
Anahí: Paul disse a todos que a menina morrera junto com Dulce María. Eu não sabia
nem que era viva. – Christian a olhou, penalizado.
Anahí: Eu não sei, quando acordei já estava aqui. Era Alfonso, Christian? – Perguntou,
e ele percebeu que ela tremia.
Christian: Era. – Disse, pesaroso. – Mas se acalme. Eu vou cuidar de você. – Disse,
apanhando-a nos braços.
Christian levou Anahí pros fundos da casa, atrás dos dormitórios. Lhe tirou o
vestido, deixando-a com as roupas debaixo e a colocou numa tina cheia d‟agua.
Trazia baldes com água limpa, ajudando-a a lavar-se. Depois de remover o sangue
do rosto ela conseguiu abrir os olhos, e, com certa dificuldade, a se lavar. Pediu a
ele que lhe jogasse água nos cabelos, e ele jogou. Ela respirou fundo, tentando se
acalmar. Graças a voz (Ela nem sabia quem era pra poder agradecer em suas
orações), estava viva. Após algum tempo a dor começou a ceder.
Anahí: Obrigada. – Disse, quando Christian banhou-a com o ultimo balde d‟água.
Christian: Está marcada, Anahí. Teu rosto. – Disse, vendo as marcas roxas começando a
aparecer – De qualquer forma acho melhor não apareceres na vista de Alfonso por
agora. Enquanto estiver machucada vai ficar no quarto, melhorar, e sumir da memória
dele, com a ajuda de Deus. – Disse e Anahí assentiu, se abraçando – Não posso te levar
vestida assim. – Analisou. A roupa debaixo dela, como a de todas as mulheres, era
branca, agora transparente e com manchas vermelhas, pelo sangue. – Buscarei uma capa
minha e te levarei ao quarto com ela, lá tu te vestes, sim? – Anahí assentiu.
Anahí mal conseguia se mover no dia seguinte. Todo seu corpo doía muito.
Christian a ajudou, indo visitá-la sempre que podia escapar, lhe ajudando com
tudo. Foi assim durante dias.
Christian: Eu tenho uma noiva. – Disse, enquanto esperava ela terminar o jantar, já a
noite. Anahí o encarou e ele sorriu pela expressão dela.
Anahí: Porque nunca me apresentou?
Christian: Porque... Ela ficou do outro lado da fronteira. – Explicou, olhando as mãos –
Nós nos conhecemos enquanto ainda havia paz, e eu consegui a permissão do pai dela,
consegui sua mão, a cortejava todos os dias... Então Paul matou Dulce, Alfonso ficou
possesso em seu ódio, e a guerra estourou.
Christian: Ficou, e eu não a vi desde então. Apenas uma vez, mas é muito arriscado. –
Explicou, dando de ombros. – Mas ela me espera. – Disse, animado – Diogo traz e leva
cartas minhas pra ela, e dela pra mim. As encontro periodicamente no oco que há
exatamente naquela arvore onde eu encontrei você caída. Bom, a guerra não vai durar
pra sempre, então poderei ir até lá e buscá-la.
Anahí percebeu naquele instante que vidas desmoronavam por todos os lados
graças a aquela guerra, e odiou mais Paul naquele momento. Se ele não tivesse
atacado Dulce nada disso haveria acontecido... Levou duas semanas até que todas
as marcas e as dores houvessem sumido, mas enfim Anahí estava pronta pra sair
novamente. Após vestir seu uniforme e arrumar os cabelos adequadamente, ela
saiu.
Anahí foi até a cozinha, receber as atividades do dia. Nina estava lá.
Anahí: Não. – Respondeu, com um toque de petulância na voz. Se Nina não houvesse
mandando-a limpar o condenado tapete já limpo, nada disto teria acontecido.
Anahí não respondeu. Foi pro seu trabalho. E durante uma semana ela se tornou
tão imperceptível, concentrada em não chamar a atenção para si mesma nem se
estivesse morrendo, quem nem o próprio Alfonso nem qualquer outra pessoa do
castelo deram por sua falta. Seu trabalho era feito e ela agradecia a Deus toda
noite, quando ia dormir, por ter conseguido passar despercebida mais um dia.
Porém...
Nina: Um pequeno acidente com açúcar e sal. – Disse, maldosa. Anahí tinha certeza de
que ela tinha algo a ver com isso – Outra cozinheira está em teu lugar, Nelly, porém é
nova e precisa de meu auxilio para conhecer as dependências.
Anahí: E...
Nina: E que vossa majestade não se sente bem hoje. Está indisposto. Tu farás sua janta e
levará até a torre. – Anahí arregalou os olhos – Ficará lá até que termine. Aproveite o
tempo lá, e cheque a cama, ou qualquer outra coisa que precise de reparo. Só volte
quando ele estiver satisfeito.
Anahí: Mas...
Nina: O tempo está passando. – Avisou, saindo. Anahí se amparou em uma mesa,
tentando respirar. Alfonso iria vê-la. Estava perdida.
Então saiu correndo. Correu pelos corredores do castelo, saindo desabalada pelos
jardins. Se bateu com Christian perto do portão. Quase o derrubou.
Christian: O que passa, mulher? – Perguntou, exasperado. Anahí estava branca, soava, e
os cabelos começavam a querer se soltar.
Christian: Danou-se tudo. Nina quer te entregar a ele. – Disse, pensando em uma saída.
Anahí: Como?
Christian: Ela não sabe se tu sabes cozinhar. Está apostando que, se Alfonso não
lembrar de teu rosto quando a vir, chame a atenção pro que você o apresentar para que
coma. Se for uma porcaria falhará imediatamente. Anahí, pela graça de Deus, nosso
senhor, tu sabes cozinhar, não sabes?
Christian: É claro que podes! E vai! Anda, vai pra cozinha, se te atrasares é mais um
motivo pra que a reclame! Vá! Boa sorte. – Disse, ao vê-la recuar – Mais depressa,
Anahí! – Disse, e ela acordou, em um choque de realidade.
Anahí saiu correndo novamente, de volta pra cozinha. Sorte. Ela tinha a breve
impressão que nem toda a sorte do mundo a salvaria disso.
---*
Anahí subiu pra torre como quem vai pra morte. A bandeja tremia em sua mão.
Ela própria checou toda a comida e o vinho, estava tudo em estado perfeito.
Houveram duas batidinhas na porta.
Anahí entrou, em silencio, e foi até a mesa que havia ali. Alfonso se sentou, ainda
concentrado em seus papeis, enquanto ela servia a entrada. Ele estava descalço,
usava calça, camisa branca e colete. Anahí rezou aos céus pra que ele mantivesse
sua atenção nos papéis até ela ir embora. Pra alivio dela ele comeu toda a entrada
lendo, e nem sequer a olhou quando ela trocou pelo prato principal. Anahí, após
servi-lo, se afastou. Foi até a cama king-size, procurando por um amassão, pedindo
por algo que a mantivesse ocupada, mas a cama estava intacta. Ela o olhou pelo
canto do olho e apanhou um travesseiro, afofando-o. Ele continuava concentrado.
Deus, por favor, que ele não olhe para mim...
Anahí: Perdão. – Disse, sem se tocar de que ainda estava agarrada ao travesseiro.
Alfonso olhou o travesseiro na mão dela e riu de leve, ficando com um sorriso de
canto no rosto. Ela estava simplesmente apavorada.
Alfonso: Escute. Sei que meu comportamento contigo foi resumidamente pavoroso, mas
não precisas ter tanto medo de mim. – Instruiu – Não lhe farei nada, te acalmas. – Anahí
estava começando a ter vertigens – Por Deus, eu tento te acalmar e tu ficas ainda mais
branca?
Alfonso: Apenas me responda algo. Não irei lhe fazer mal, lembre-se. O que passava
em tua cabeça ao levar minha filha para a lavanderia?
Anahí: Eu não tive a intenção de... Aborrecê-lo. – Disse, respirando aos poucos – A
menina parecia entediada, triste... Eu só tentei animá-la um pouco. Não sabia que era
tua filha.
Epa.
Anahí: Tenho pouco tempo no castelo, senhor. Ouvi falar da menina, mas não sabia sua
aparência física. Não prestei atenção no fato de estar na cadeira de rodas. Perdoe. –
Pediu, quieta.
Alfonso: Tudo bem, águas passadas. Não o faça novamente. – Anahí assentiu – Vais
rasgar o travesseiro.
Anahí: Ah. – Disse, como se tivesse tomado um choque. Ela afofou o travesseiro e o
colocou na cama.
Mas Alfonso se deu conta de algo. No primeiro dia estava possesso de ódio, e ela
estava lavada em sangue, logo ele nem olhou. Mas agora... Ela era
espetacularmente linda! Seu corpo parecia ter sido modelado, desenhado... Alfonso
não era depravado. Nunca quisera e repugnara toda e qualquer mulher depois de
Dulce, mesmo, como rei tendo direito sob qualquer mulher do reino. Ele deixou a
cabeça tombar levemente de lado, avaliando. O vestido lhe privava a visão, mas ela
era da altura certa, tinha as curvas delineadas, os seios fartos. Os cabelos pareciam
sedosos até a visão, aguçava o toque. Anahí largou o travesseiro no lugar e o
encarou. O rosto era delicado, os lábios finos, desenhados, a pele pálida, os olhos de
um azul meio acinzentado. Quando ela se virou ele voltou ao seu posto normal.
Alfonso: Qual o teu nome?
Anahí: Anahí. Anahí Giovanna, senhor. – Respondeu, tentando por tudo se acalmar.
Alfonso pensou consigo mesmo. É claro, não sabia o nome de todos do reino, era
gente demais, mas quando era apenas o príncipe herdeiro tivera acesso aos livros
do pai, onde havia o registro de todos os nomes. Os da letra A Alfonso se lembrava,
pois o admirara o quanto de crianças levava seu nome. Alguma espécie de
homenagem, devia ser. Mas não havia nenhuma Anahí.
Alfonso: Qual o teu sangue? – Perguntou, ainda intrigado. Anahí não entendeu a
pergunta.
Anahí: V-vermelho. – Disse, confusa, e olhou o braço, onde a veia estava por baixo –
Liquido. – Completou, completamente confusa.
Alfonso riu gostosamente com isso. Perguntando o sangue ele queria saber qual o
sobrenome dela, qual a família, e ela vinha com isso. Anahí se assustou mas sorriu.
Ele passou a mão no rosto, ainda sorrindo.
Anahí: S-senhor... – Alfonso se virou, olhando-a. Ele era forte, ela quase podia ver os
músculos debaixo do linho branco da camisa – Posso retirar a mesa?
Ele observou, afastado, ela recolher a louça na bandeja com movimentos rápidos,
porém leves, graciosos. Os cabelos, mesmo presos, balançavam a suas costas. Ele
imaginou como seriam soltos... Ela andava fluidamente, de um lado ao outro, até
que terminou.
Anahí: Com licença. Tenha uma boa noite. – Alfonso assentiu e ela se virou, saindo
dali. Ele ficou parado por um instante, olhando a porta. Largou os papeis em um canto
e, pensativo, foi pra cama, os pensamentos distantes, longe demais. Então o perfume
dela, preso ao travesseiro, o atraiu. Ele apanhou o travesseiro, amarrotado pelos apertos
dela e aspirou o perfume, olhando para a frente. Curioso.
Interessante.
---*
Anahí: O que...
Ela se sentou, assustada, e ele avançou para a cama. Anahí, sem ter pra onde
recuar, aguardou. Alfonso avançou pra cama em duas passadas, a mão apanhando
o rosto dela. Anahí ainda tinha aquele olhar assustado. Ele passou pra cima dela,
sentindo o corpo frágil recebendo seu peso e a beijou. Ela arfou, mas correspondeu
o beijo, os lábios frágeis sendo oprimidos pelos dele. As mãos dele buscaram os
seios dela por cima da camisola, encontrando-os, apalpando-os. Tinham o tamanho
que ele imaginara ao vê-la vestida. Ele ergueu a mão, trazendo-a ao rosto dela,
separando-se de seu beijo para encará-la. Ela sorriu atrevidamente pra ele, as
mãos buscando os botões da camisa que ele usava pra dormir, abrindo-a. Ele
apanhou a camisola dela, removendo-a ao mesmo tempo que ela tirava sua camisa.
Alfonso a abraçou novamente, se pondo entre as pernas dela, que as abriu,
acolhendo-o, enquanto o beijava, as mãos atrevidas percorrendo os músculos das
costas dele, apertando-os...
E ele acordou.
Alfonso olhou a escuridão do quarto, o cenho franzido. Era o travesseiro dela. Ele
o apanhou, sentindo o perfume leve, floral, mais uma vez. Em seguida se virou,
sentindo o próprio cheiro no outro travesseiro. Seu peito arfava. Ele não queria
pensar, não queria imaginar... Mas a possibilidade já se materializara em seus
sonhos. Ele até já imaginava qual era a sensação. E o principal: A idéia o
agradava.
---*
Anahí dormiu pesadamente aquela noite, cansada, mas Alfonso não voltou a
dormir, mesmo as acomodações dele sendo bem melhores que as dela. Ele pensou
muito durante aquela noite. O dia amanheceu e ele estava parado, a cabeça entre
dois travesseiros, entre o próprio perfume e o perfume dela, pensando no que era
certo, e no que queria fazer. Anahí acordou, se banhou, se vestiu e penteou, e foi
apanhar suas atividades. Tudo como o rotineiro. Mas...
Nina: Senhor?
Alfonso: A garota que me serviu ontem... – Interrompido.
Nina: Anahí, senhor. – Entregou, vitoriosa. Com certeza ele mandaria colocar Anahí
para fora.
Alfonso: Vá atrás dela. – Nina ia sorrir, vitoriosa, mas... – Eu quero que ela sirva o
almoço hoje.
Nina ficou quieta um instante. Essa atividade era sua. Ela processou por um
instante e Alfonso ergueu a sobrancelha, aguardando.
Anahí estava recolhendo roupas secas, colocando-as em uma cesta para levar para
engomarem, tranqüila. Logo choveria. O céu estava nublado, fechado, mas
ventava. Quando parasse de ventar choveria e ela queria já estar abrigada.
Nina: Você. – Chamou. Anahí deu um pulo, a cesta escapulindo de suas mãos. Ela se
apressou, apanhando-a antes que caísse no chão.
Nina: Não sei o que fizeste naquela torre ontem, mas deu certo. – Disse, amarga.
Anahí: Como?
Nina: Não te faça de sonsa. E não tenho tempo para isso, termina logo com isso e vai te
aprontar, vais servir o almoço hoje.
Anahí olhou Nina se afastando com uma careta no rosto. Aquela mulher de certo
tinha problemas. Ela só não sabia que Alfonso observava a cena, de longe,
pensativo. Viu ela apanhando suas camisas, já limpas e secas, dobrando-as e
pondo-as na cesta, que estava no chão. Ele pensou em se aproximar, porém ela era
mais bonita de se observar sem aquele olhar de pânico no rosto. Ficou ali por
minutos, observando. O vento levava e trazia os cabelos dela. Alfonso gostava dos
cabelos dela. Chegou a desejar que o vento desfizesse o delicado laço de fita preto
que os seguravam, para ver como seria os cachos livres ao vento, mas não
aconteceu. Anahí apanhou todas as suas roupas, dobrando-as e pondo-as na cesta.
Ela inclinou, checando as camisas e as calças dele no cesto e novamente a cabeça
dele tombou pro lado, admirando. A barriga dela, mesmo sobre o espartilho, era
incrivelmente reta. Era farta em todos os ângulos em que uma mulher poderia
querer ser.
Após checar tudo, ela apanhou a cesta e saiu caminhando, tranqüila, sumindo
dentro de uma porta. Ela deixou as roupas lá. Alfonso estava quase saindo,
voltando aos seus afazeres quando ela saiu, fechando a porta. O laço de fita estava
em sua mão. Ele aguçou a visão, mas ela já fazia o rabo de cavalo de novo.
Frustrado e instigado Alfonso viu ela sumir dentro do castelo novamente e deu as
costas, muito mais pensativo que antes.
Alfonso: Aguardar até quando? Ele não avança nem retrocede, é impossív... – Anahí
havia entrado na sala. Colocava as terrinas na mesa, em silencio. – Impossível. –
Completou.
Ian olhou de Alfonso pra Anahí, em seguida tomou um gole de sua própria bebida,
disfarçando um sorriso. Alfonso olhava Anahí como se nunca houvesse tido tempo
para reparar nos detalhes.
Ian: Você. – Disse, e Anahí ergueu os olhos. Alfonso não se lembrava que eram tão
claros. Só perdiam pros de Ian. – Quando terminar vá até a torre e avise a minha esposa
de que ela já pode descer.
Anahí terminou de pôr as terrinas no lugar e pediu licença, indo buscar Katherine.
Alguns instantes depois que ela saiu...
Ian: Você tem problemas? – Alfonso o olhou, despertando de seu transe – Primeiro
manda matá-la, e depois a devora com os olhos? – Ele riu consigo mesmo, bebendo
novamente.
Katherine era morena clara, os cabelos de um castanho médio, com cachos fartos.
Os olhos eram amendoados. Ela usava um vestido claro, branco com coral.
Ian: Tu. – Corrigiu, galante, beijando a mão dela. Alfonso se sentou de novo, revirando
os olhos. – Pensei que não virias mais.
Katherine: Perdão pela demora. – Disse, se sentando na cadeira que o marido puxava
pra ela. Alfonso assentiu.
Anahí serviu a todos. Katherine foi a que menos aceitou. Ian foi normal. Já
Alfonso... Ela parou ao lado dele, servindo-lhe o prato, mas ele olhava o braço dela,
não a quantidade do almoço. Um cacho dela, delicado, caiu por seu braço
enquanto ela o servia. Alfonso queria tocá-lo, ver se era tão macio quanto
aparentava. Alfonso olhou da pele branca dos braços dela, subindo pelo ombro,
passando pelo colo e chegando aos seios. Estavam mais perto do que nunca haviam
estado. Ele podia ver, pela abertura de cima, o inicio do decote. Anahí,
estranhando porque o prato estava quase cheio ele não a mandara parar o olhou, e
se arrepiou ao ver como ele a olhava. Ele viu a pele dela se eriçar, se arrepiando, e
ergueu os olhos até encontrar os dela. Houve um instante de silencio.
Alfonso: Basta. – Disse, sem nem ter olhado o prato, e ela se afastou. Alfonso viu ela se
afastar e viu que o rosto dela corou. Sorriu com isso, mas o sorriso morreu ao olhar pro
prato, com uma careta. Estava quase transbordando.
Anahí: É claro, o faça de novo, mais uma vez, não está bom, blábláblá. – Disse,
imitando Nina, que mandara ela refazer o cabelo de novo, alegando que estava
bagunçado, sem estar. – Está fora do lugar, tu não deverias... AI! – Disse, tomando um
senhor esbarrão com alguém.
Alfonso: Cuidado. – Disse, segurando-a pra não cair. – Falando só? – Perguntou,
divertido.
Anahí: Perdão, senhor. – Disse, já alerta pela presença dele – Apenas pensando alto.
Alfonso: Em todos os sentidos. Até quando estás com medo de mim. – Completou, e ela
corou violentamente – Principalmente quando tua pele se arrepia deste modo. Porque? –
Perguntou, meio intrigado, meio fascinado.
Anahí: T-tua voz. – Respondeu, ciente de que o sangue havia subido completamente pro
rosto.
Uma das mãos de Alfonso se ergueu, soltando o braço dela, indo em direção ao
rosto. Ele não havia tocado o rosto dela mas sua pele inflamava pela proximidade.
Ele foi se aproximando, tanto o rosto quanto a mão, enquanto os olhos estavam
fixos aos dela. Os dois lábios se tocaram minimamente e Anahí tremeu, mas a mão
forte de Alfonso em seu outro braço a forçou a ficar no lugar. Porém...
Ian: Alfonso? Maldito seja, onde está? – Perguntou, e pela voz já estava irritado.
Alfonso se afastou de Anahí, respirando fundo. Era claro que não podia fazer
aquilo. Não agora. Mas a decisão estava tomada.
Alfonso: À noite. – Foi só o que disse, encarando-a, e saiu, gritando em resposta para
Ian.
Anahí passou o dia, resumidamente, em pânico. Derrubou uma bandeja, o que fez
Nina gritar com ela, que nem ouviu. Seus nervos estavam a flor da pele. À noite,
quando foi liberada, foi direto pro banho.
Passou muito mais tempo lá que o normal, como se estivesse se escondendo. Depois
foi até a cozinha, tomar um copo de água e se acalmar. Alfonso deveria estar
dormindo a essa hora, pensou enquanto ia pro quarto. Ela estava ficando psicótica.
Anahí entrou no quarto e fechou a porta, segurando-a, indecisa. Por fim decidiu
trancá-la. Respirou fundo: estava segura agora. Se pôs a acender as velas do
quarto. Iria ler enquanto o sono não vinha. Quando se virou para acender a
ultima, o quarto já todo iluminado, foi que viu Alfonso lá dentro, encostado na
parede. Ela hiperventilou.
Alfonso: Sabias que eu viria, e ainda assim a trancou. – Observou, pensativo – Estás
com medo de mim?
Anahí: Não.
Anahí: Um pouco. – Admitiu, e ele sorriu. Seu coração tomou um choque ao vê-lo se
desamparar da parede, indo em direção a ela.
Os dois se encararam por um minuto. Anahí nem acreditava que ele estava ali.
Então algo passou pela cabeça dele.
Alfonso: Mas isso. – Ela viu a mão dele se erguer e tremeu, quieta em seu lugar. Mas
ele não tocou seu rosto; buscou seu cabelo. Anahí viu ele remover o laço que prendia o
cabelo, os cachos caindo soltos por suas costas.
Alfonso apanhou um punhado do cabelo dela, tocando os cachos. Eram tão macios
quanto ele pensou que era, sedosos, lisos. Ele trouxe o rosto até o cabelo dela,
aspirando seu perfume.
Alfonso aspirou o perfume dela como quem degusta um vinho. Então ergueu o
rosto, a encarando.
Alfonso: Não tenha medo. – Disse, vendo sua expressão assustada – Vai ser bom,
carinho. – Prometeu, levando os lábios até o rosto dela, que fechou os olhos, ainda
quieta.
Os lábios dele beijaram todo o rosto dela, até chegar na boca. Ele a olhou.
Continuava de olhos fechados, a mesma expressão inocente. Então ela sentiu os
lábios dele pressionando os seus, e se manteve quieta. Alfonso estranhou.
Alfonso: O que há? – Perguntou, beijando os lábios dela como quem busca permissão
pra algo, mas ela não o correspondia.
Alfonso: Não. – Na verdade ela não fizera nada, isso era o errado. – Ele a encarou.
Anahí: Perdoe. – Disse, corando mais ainda. Alfonso a encarou, esperando – Eu não...
Não sei o que fazer.
Ela era virgem. Mas isso era evidente demais. A inocência dela era completa e
absoluta, e ele estava prestes a roubá-la. Deus, não sabia nem como beijá-lo!
Alfonso: Eu não devia fazer isso. – Disse a si mesmo. Não tinha nada para oferecer a ela
ainda assim iria roubar sua pureza – Mas já é tarde. – Disse, e ela não sabia se ele falava
com ela ou consigo próprio.
Alfonso: Nada. – Disse, acariciando o rosto dela – Faça o que eu te disser pra fazer, e
tudo correrá bem, sim?
Anahí sentiu os lábios dele pressionando os seus novamente, mas dessa vez foi mais
úmido. Então ela sentiu a língua dele sondando seus lábios, entrando em sua boca.
Era estranho, mas não era tão mal. Ela, receosa e hesitante, pôs as mãos no peito
dele, nem rejeitando nem aceitando. Alfonso massageou a língua dela com a
própria, e ela achou que devia fazer o mesmo. Logo, de modo natural, os dois se
beijavam. Anahí não conseguia respirar direito assim, mas era bom. As mãos dele
apertaram a cintura dela, e ela sentiu o beijo se tornar mais esfomeado, mais
abrupto. Ela não conseguia acompanhar direito assim. Então as mãos dele subiram
pela barriga dela, e apanharam o feixe da camisola dela, abrindo-o.
Alfonso: Já disse: Calma. – Disse, mas a inocência dela causava ainda mais tesão nele.
Anahí: Me solta. – Pediu e ele soltou. Ela recuou um passo, segurando a camisola
aberta.
Alfonso: Eu disse pra me obedeceres, não? – Anahí assentiu. Alfonso foi até a cama
dela, sentando-se na borda, e bateu no próprio colo de leve – Vem, senta-te aqui.
Anahí, ainda segurando a camisola, caminhou hesitante até ele. Se sentou no colo
dele, mas de lado. Alfonso sorriu consigo mesmo e a encarou, vendo o rosto
confuso dela. Anahí nem percebeu como, mas ele a ergueu levemente, fazendo-a se
sentar de frente pra ele, com ele entre suas pernas.
Alfonso: Solte. – Disse, apanhando as mãos dela. Anahí não soltou – Confie em mim. –
Disse, vendo a expressão dela. - Não vou lhe fazer mal. – Insistiu. Anahí parecia um
animal indefeso, acuado – Me deixe vê-los. – Instruiu. Anahí o encarou por um instante,
incerta.
E ele conseguiu, após uns instantes, remover as mãos dela. Os seios brancos
ficaram expostos a ele, frente a seu rosto. Ele ergueu uma mão, tocando um seio
levemente, e Anahí estremeceu.
Alfonso: São preciosos. – Disse, em um murmúrio, e ela sentiu ele dar um beijinho em
seu colo. Se mantinha parada, os braços caídos do lado do corpo, esperando a próxima
ordem.
Então, abruptamente, ele abocanhou um dos seus seios. Ela arfou, surpresa, mas
não o afastou. Alfonso passou os lábios delicadamente em volta do mamilo dela e
em seguida a língua, de modo demorado, como se provasse. Primeiro um seio,
depois outro. Provava um e tinha o outro na mão. Anahí estava confusa. Aquilo
era... Diferente. Ele sentiu, aos poucos, os mamilos dela se tornarem túmidos, duas
perolas em suas mãos, e sorriu. Brincou com os seios dela demoradamente,
sabendo que ninguém poderia atrapalhá-los ou interrompê-los, até que a pele
branca começou a ganhar marcas vermelhas. Anahí permitiu, a respiração
acelerada, até que uma mão dele passou por sua coxa, apertando, e subiu pra
dentro de sua camisola. Ela estremeceu novamente, a mão segurando a dele. Ela já
era fraca, e estava debilitada, então é claro que ele estava vencendo.
Anahí: Não. – Disse, tentando afastar a mão dele. Alfonso suspirou, se controlando, e
ergueu o rosto pra ela. Os olhos verdes estavam intensos, dilatados.
Alfonso: Não tenha. Apenas relaxe, e deixa que eu faço o resto. Mas se me deter todo o
tempo passaremos a noite toda assim, carinho. – Disse, paciente. Se ela soubesse o
quanto a inocência dela o excitava, talvez o tivesse dado passe livre. Anahí assentiu.
Alfonso trouxe o rosto dela pra si, beijando-a novamente. As mãos subiram por
debaixo da camisola dela novamente, mas dessa vez, contrariando sua vontade, ela
deixou. As mãos dele apanharam o traseiro dela apertando com vontade, e ela
arfou dentre o beijo, surpresa. Alfonso levou a boca até o pescoço dela, devorando-
lhe a pele enquanto as mãos continuavam a apalpá-la.
Demorou uns minutos até que as mãos tímidas dela buscassem o colete dele. Anahí
não sabia como aquilo funcionava, ela só achava que uma vez que ele retirara sua
roupa, ela tinha o direito de retirar a dele também. Ela tirou o colete dele, e em
seguida desabotoou a camisa. Alfonso só largou as mãos dela pra ela poder
remover a peça. Uma vez tendo o peito dele desnudo Anahí achou que estavam em
pé de igualdade. Alfonso continuava beijando-a, mordendo-a, parecia faminto.
Anahí se sentia estranha. Algo se afogueava dentro dela.
Ela, tímida, vendo que ele a beijava, deu um beijinho tímido no ombro dele,
traçando os dedos pelos músculos definidos. Ela traçava os músculos dele, sentindo
seus carinhos, e era impossível ser mais inocente. Foi inocente até quando sentiu
algo desconfortável debaixo de si. Ela se remexeu, tentando desfazer aquilo, e
sentiu a mão de Alfonso apertando-a. Não entendeu. Então, do nada, Anahí se
inclinou pra frente, conseqüentemente forçando as intimidades dos dois. Ela
gemeu, tomada por uma sensação que não conhecia e que era muito boa, e Alfonso
arfou, parando no que fazia.
Alfonso a apanhou pela coxa, repetindo seu ato. Uma vez, duas, três... De modo
demorado, lento e intenso. Anahí gemeu de novo, deliciada.
Alfonso: É bom? – Perguntou, com um toque malicioso na voz. Anahí assentiu, corada.
Ela gostara, verdade seja dita.
Mas assim que ela dissera que era bom, ele a tirou de seu colo, pondo-a deitada na
cama, com a cabeça no travesseiro. Alfonso passou pra cima dela, se ajoelhando na
cama antes para abrir o cinto.
Anahí: O que há? – Perguntou, confusa. Alfonso, após se livrar do cinto, abriu as pernas
dela, se pondo entre elas – O que está fazendo? – Perguntou, assustada.
Alfonso: Vou fazer ficar melhor. – Prometeu, e antes que ela pudesse dizer algo a beijou
novamente.
Anahí gostava quando Alfonso a beijava. Era bom. Ela levou uns instantes pra se
adaptar com o peso dele em cima de seu corpo, mas gostou disso também. Tinha
uma mão no rosto dele, delicadamente, e a outra acariciando suas costas. Foi
surpresa quando a mão de Alfonso encontrou a intimidade dela, os dedos
sondando-a. Anahí se assustou, mas o beijo dele não permitiu que ela o afastasse.
Alfonso sorriu consigo mesmo ao sentir seus dedos úmidos. Mesmo sem saber o
que fazia, Anahí se excitara por ele.
Alfonso: Me dá tua mão. – Pediu, apanhando a mão dela que estava em seu rosto. Ela
sentiu ele enlaçar os dedos com os seus. Gostou do carinho mas não o entendeu.
Alfonso a beijou novamente por minutos, até que ela sentiu a intimidade dele
forçar a sua. Naquele momento ela entendeu o que ele ia fazer, e teve medo. Ele
sentiu ela se encolher debaixo dele, sem dizer nada, e teve pena.
Alfonso: Anahí, quieta! – Ordenou, prendendo os braços dela. Ela soluçou, agonizando
– Me escuta. Quanto mais você brigar, pior vai ser! Eu já vim até aqui, e não vou voltar,
então facilite pra nós dois. – Instruiu.
Alfonso: É só porque você está com medo, e nervosa. O pior já passou. Relaxe e vai
parar. Eu prometo.
Anahí não tinha opção. Ele a beijou novamente. Por mais que Anahí gostasse do
beijo dele, aquilo ainda doía. Ela respirou fundo, tentando se acalmar, como ele
dissera. Quando ele se moveu de novo ela apertou sua mão, esperando pela dor...
Mas ela não veio. Anahí abriu os olhos, olhando o teto, confusa. Ele continuou se
movendo, cada vez com mais força. Agora que já havia violado o instinto de
Alfonso, preso há quase 6 anos, estava livre. Logo ele a possuía agressivamente, o
corpo oprimindo-a, exigindo dela tudo o que era possível dar. Anahí estava
confusa. Estava sentindo dor. Mas aquilo não era bem dor. O que era aquilo? Ela
sentia o corpo todo convulsionando, sua respiração estava difícil, algo nela parecia
prestes a estralar. E a medida que ele investia nela com mais força, se tornava
melhor. Ela gemeu, afundando o rosto no ombro dele. Logo ela não tinha mais
controle, e Alfonso tampouco. A violara, e agora queria possuir tudo o que tinha
direito. O corpo dela se debatia sob as investidas dele, mas ela não reclamou mais.
Aquela dor era muito boa pra ela pedir que ele parasse. Então ele a beijava, e
ficava ainda melhor. Os gemidos dela vinham com naturalidade, assim como os
dele, ambos morrendo ali, entre os dois amantes.
Havia horas que, devido a brutalidade dele, voltava a ser dor, mas ela não se
queixou mais. Tempos depois algo pareceu se formar dentro dela, algo violento,
prestes a explodir... E o orgasmo dela veio com a mesma violência com a qual ele a
consumiu. Anahí deixou escapar um gritinho, e se deixou perder naquela sensação
nova. Alfonso se correu logo depois, se apertando a ela. As velas que sobraram já
estavam baixas, a luz do quarto era quebrada. O único som que houve por um
tempo foram os ofegos dos dois.
Alfonso: Dulce, o que estou fazendo, meu amor? – Perguntou, em um murmúrio. Mas
Dulce seguiu do mesmo modo, imortalizada em seu retrato. Alfonso pôs o porta retrato
no lugar e se deitou, apagando as velas.
Anahí quase chorou quando o apito soou nos corredores, avisando que era hora
dos empregados se levantarem. Estava tão cansada! Ela se esticou na cama vazia,
com a sensação de que seus ossos haviam sido substituídos por maria-mole. Foi pro
banho e quase dormiu debaixo d‟água.
Anahí: Nada que um café forte não resolva. – Comentou consigo própria, após se vestir.
Então parou em frente ao espelho e fez uma careta.
Aquilo sim seria um problema. O colo dela tinha marcas claras de boca, sem
contar nos seios. Ela puxou mais a aba do vestido pra cima, tapando maior parte
das marcas. Mas não havia como tapar o pescoço, que tinha pontos vermelhos e
roxos nas laterais. Ela apanhou o cabelo, solto, e jogou por sobre o pescoço.
Ocultava as marcas. Assim apanhou duas mechas grandes de cabelo, uma de cada
lado do rosto e prendeu em um mini rabo de cavalo no alto da cabeça.
Mas era só um penteado, o cabelo seguida solto na parte debaixo, não no rabo de
cavalo que era parte do uniforme. Como foi a única idéia que ela teve, saiu assim
mesmo, bocejando.
Nelly: Bom dia, menina. – Anahí assentiu, se sentando – Não está bem?
Nelly: Vou te fazer um café forte. – Disse, solidária. Nelly era a nova cozinheira. Uma
pessoa de idade avançada, e completamente adorável. Fizera amizade com Anahí logo a
inicio.
Nelly serviu o café e Anahí o bebeu de bom grado, sentindo a cafeína obrigando
seu corpo a despertar. É, café sempre ajudava.
Nina: Bom dia. – Disse, debochada – Onde crê que está, Anahí? Em uma festa, um
baile?
Nina: Vou lhe mostrar se não pode. – Disse, avançando pra Anahí.
Ian: É claro, não está mais aqui quem disse. Mas que está alegrinho, está. Não sei
porque isso me lembra aquela criada... Como era o nome...? – Disse, sínico. Alfonso riu
do deboche.
Alfonso: Cale a boca. – Disse, consertando colete. Os dois eram uma linda imagem a se
ver, andando pelo corredor, as camisas brancas, impecáveis, e os coletes negros por
cima. O reino de Ian era distante do de Alfonso, mas ele já conseguira se adaptar.
Alfonso: Que gritaria é essa? – Perguntou, com o cenho franzido. Ian parou, olhando
pro nada, e ouviu também. Vinha da cozinha.
Voltando a cozinha...
Anahí: NÃO SE OUSE A POR A MÃO EM MIM! – Disse, do outro lado da mesa,
acuada.
Nina: E TU ABAIXAS TEU TOM DE VOZ! NÃO ESTÁS EM TUA CASA! – Anahí
revirou os olhos – Prende o cabelo, agora, ou prendo eu!
Anahí: MEU DEUS, quantas vezes eu vou ter que dizer que não posso? – Perguntou,
exasperada.
Anahí seguiu o olhar dela. Na correria pra fugir das mãos da outra a aba do
vestido voltara pro lugar certo, revelando um pedaço da pele vermelha, marcada.
Anahí imediatamente puxou o tecido pra cima novamente, na defensiva.
Anahí: Me. Deixa. EM PAZ! – Exigiu, se irritando. Nunca achou que teria coragem de
enfrentar Nina, mas acabara de descobrir que tinha.
Nina partiu pra cima de Anahí de novo, que recuou bruscamente. Uma cadeira da
cozinha caiu com um estrondo. Havia a mesa grande entre as duas, e era o que
Anahí usava como escudo.
Nina: Ou tu prendes este cabelo como deve agora, ou podes ir embora. – Ordenou –
Volte de onde veio. É tua escolha.
Anahí: Pois não farei nenhum dos dois. – Disse, cruzando os braços, petulante. Anahí
estava diferente e ela própria percebia isso. Parecia mais forte, mais madura, mais
segura de si.
Nina: Como é?
Anahí: Não prenderei o cabelo, e tampouco irei embora. Tu não és a dona desse castelo,
é uma criada, como eu, logo não tens o direito de me pôr pra fora. – Disse, ainda de
braços cruzados.
Dessa vez Anahí levou a pior; Tropeçou na cadeira que derrubara e quase caiu.
Nina a apanhou pelo braço nessa fração de segundo. Anahí se desvencilhou da
cadeira, puxando o braço, mas o ato destapou um dos lados de seu pescoço. Ela viu
o choque da compreensão no rosto de Nina na hora e puxou o braço com tudo,
libertando-o, e pôs os cabelos no lugar.
Nina: Sua...
Alfonso: Eu posso saber que alvoroço é esse? – Perguntou, a voz baixa, tranqüila e
observadora, parado na porta da cozinha, com Ian ao seu lado.
Anahí: Não foi nada, senhor. – Disse, abaixando a cabeça. Ela apanhou a cadeira no
chão, pondo-a no lugar – Apenas um mal entendido.
Nina: Ela desrespeitou minha autoridade, senhor. – Anahí respirou fundo, virando o
rosto. Alfonso observou o ato – Tentou me agredir.
Anahí: É mentira! – Disse, incrédula. – Não obedeci sua ordem, isso é certo, mas em
hora alguma tentei agredi-la, pelo contrário!
Alfonso: Qual ordem foi lhe dada? – Perguntou, paciente. Ian olhava de um rosto pro
outro, com o riso preso no rosto.
Deus, por favor, que Alfonso não confirme a ordem! Ele a observou por um
instante, buscando entender, mas não conseguiu.
Alfonso: Muito bem. Nina, vá levar o café da Sra. Somerhalder no quarto, ela está
esperando. –Nina arregalou os olhos em choque – Anahí, me acompanhe.
Ian: E eu vou... – Alfonso e Anahí o olharam – Ele respirou fundo, o riso quase
escapando entre os lábios – Eu vou dar um passeio. – Disse, debochado, e deu as costas,
saindo. Estava rindo antes de sumir do corredor.
Mas Nina não se movera. Olhava de Anahí para Alfonso. Era impossível... Mas era
ele! Ele a estava defendendo porque fora com ele que ela fora para cama, fora ele
que a marcara! A injustiça era tão grande que ela mal podia respirar!
Alfonso: Que mal te deu? – Perguntou, olhando-a. Não seria admissível que Anahí
achasse que, por causa do que ocorrera entre os dois, possuía algum privilegio.
Anahí: Ah, isso. – Disse, e ele quase sorriu vendo-a corar de novo – É que ela me
mandou prender o cabelo.
Anahí: Porque se eu fizesse... – Ela não conseguiu continuar e Alfonso ergueu uma
sobrancelha, incentivando-a – Se eu tirasse o cabelo todos iriam ver. – Disse, acanhada.
Alfonso: Perdoe. – Disse, olhando a marca. – Não foi minha intenção marcá-la. – Anahí
assentiu, calada. – Foi só isso que a incomodou? – Perguntou, a proximidade dele
alterando-a.
Anahí, ainda corada, puxou o decote do vestido pro lugar certo, exibindo algumas
das manchas em seu colo. Havia até uma mordida. Ele tocou a pele dela, o olhar
sempre observador, e ela se arrepiou, involuntariamente.
Alfonso: Tudo bem. – Disse, soltando-a. Anahí ajeitou o vestido e colocou os cabelos
sobre o ombro novamente. Alfonso demorou um instante olhando um cacho chocolate
caído por cima do colo dela – Tem minha permissão para usar o cabelo assim.
Anahí: Obrigada.- Disse, aliviada – Com licença. – Alfonso assentiu e ela saiu,
fechando a porta atrás de si. Alfonso se sentou, pensativo. Parecia que tinha muito o que
aprender sobre ela.
Anahí trabalhou o dia todo. Mal tivera tempo de respirar. Nina, com ódio,
triplicara seu trabalho. Ela não vira mais Alfonso naquele dia. No final do dia nem
se dignou a ler, apagou as velas e se deitou na cama, se esticando. O perfume de
Alfonso ainda estava ali. Ela se virou de bruços, se cobrindo, e deixou relaxar.
Minutos depois, ela estava quase dormindo, ouviu o barulho da porta se abrindo e
fechando. Uma mão forte puxou seu braço, virando-a de barriga pra cima, e o peso
do corpo dele estava sob o dela. Hoje não houveram ensaios, já era familiar, e
mesmo no escuro ela reconhecia o corpo, o perfume... O beijo. Ela o abraçou,
abrindo as pernas para acolhê-lo acima de si.
Anahí: Não devias ter vindo. – Disse, a voz quebrada, quando ele se afastou, as mãos
tremulas de vontade desamarrando a camisola dele.
Alfonso: Eu sei. Tentei não vir. Não pude. – Disse, se deitando por cima do corpo agora
despido dela.
E Anahí o aceitou. Alfonso, já sabendo dela marcada, teve cuidado para não
machucar ou marcar ainda mais. Demorou bem menos que na noite anterior. Logo
ele a possuiu, e ela inclinou o corpo, languida, gemendo de modo abafado, e ele a
beijou, começando a se mover. Foi desconfortável a inicio mas logo os dois estavam
juntos, levados pela mesma sensação. No escuro, quase em silencio, era segredo. E
aparentemente todas as noites agora seriam assim.
Alfonso dormiu dessa vez. Anahí se chocou quando acordou na manhã seguinte e o
viu dormindo, profundamente, ao seu lado. Ela se levantou com cuidado, cobrindo-
o em seguida.
Anahí: Tem um rei dormindo na minha cama. – Murmurou consigo mesma, vendo
Alfonso adormecido – É uma vida confusa. – Disse, coçando o cabelo.
E ela saiu, indo pro banho. O trancou lá, só por segurança, mas não fez diferença,
ele ainda estava dormindo quando ela voltou. Não viu ela se vestir, nem cobri-lo
com mais um cobertor, protegendo-o do frio que fazia. Não percebeu quando ela
afrouxou o cinto e feixe de sua calça, lhe deixando mais confortável. Nem viu
quando houveram batidas na porta. Mas Anahí viu. Seu coração disparou,
olhando de Alfonso, seminu em sua cama, pra porta.
Anahí: Não! – Exclamou, segurando a porta. Então olhou Alfonso. Ele continuava
dormindo, como podia?
Anahí: Não estou vestida. – Disse, com a primeira coisa que veio a cabeça – Aguarde
um pouco.
Anahí: Deus ajude que ninguém entre aqui. – Disse, ajoelhada ao lado da cama,
passando a mão superficialmente no cabelo dele.
Ela se levantou e saiu, abrindo a porta só o suficiente pra sair. Christian ergueu a
sobrancelha.
Anahí: Apenas pensando alto. – Disse, se recompondo – Eu acho que Nina deveria
cuidar da própria vida. Alfonso já é suficientemente grande pra cuidar da dele. Enfim.
Christian: Soube também do desentendimento de vocês duas. Deu pra querer chamar a
atenção pra si agora? – Perguntou, debochado.
Anahí: É claro que não. Ela apenas me deixe viver em paz, e nem ouvirão falar o meu
nome. – Disse, mordida.
Christian: Tudo bem, não está mais aqui quem falou. – Disse, dando de ombros.
Aquilo bastou pra arruinar com o humor de Anahí. Alfonso iria ficar uma arara
quando soubesse, isso era certo.
Anahí: Eu não creio que tu estás brigando comigo por isso! – Disse, exasperada com a
injustiça.
Alfonso: E o que tu quer que eu faça, sorria? Estão todos falando de mim pelas costas,
logo vazará pra fora desse castelo e será o inferno! – Disse, irritado.
Anahí: Meu Deus, quantas vezes eu vou ter que repetir? Não fui eu! – Disse, incrédula.
Alfonso: E quer que eu acredite que ela descobriu sozinha, que adivinhou?
Anahí: Ela deve ter suposto quando tu não confirmou a ordem dela, ontem. – Disse,
cansada.
Alfonso: E porque ela espalharia isso? – Perguntou. Anahí passou a mão no rosto,
tentando se acalmar.
Anahí: Porque está com inveja, porque queria que fosse ela no meu lugar, só tu não vê?
– Perguntou, encarando-o. Estavam os dois em uma sala fechada, e ele apenas a acusava
– Não fui eu que disse nada, confie em mim.
Anahí: Eu não tenho mais nada a dizer. Com licença. – Disse, virando as costas.
Mas quando ela estava perto da porta a voz dele veio, cheia de autoridade.
Alfonso: Nem mais um passo, eu não terminei ainda. – Ordenou, e ela teve que ficar.
Ela olhou a porta, desejosa, e se virou para encará-lo.
Anahí: O que mais quer que eu diga, Alfonso? – Ela estava tão magoada que não
reparou que o chamara pelo nome. Mas era a primeira vez que ele ouvia seu nome pela
voz dela, e ele gostou. – Eu já disse quem foi, já disse que não fui eu, mas tu não
confias em mim, o que mais quer que eu faça?
Alfonso: Como posso confiar em alguém que eu conheço a menos de um mês? E que já
me deu razões suficientes pra duvidar, como levar minha filha sem consentimento de
dentro do castelo? – Anahí olhou o chão, respirando fundo, então o encarou.
Anahí: Menos de um mês não foi o suficiente para que confie em mim, mas foi o
suficiente para se por em minha cama duas vezes. – Disse, a voz morta.
Apenas seja forte,
Porque você sabe que eu estou aqui por você ♫
Alfonso: Isso deveria tornar-te especial? – Perguntou, debochado. Anahí riu consigo
mesma.
Anahí: Obviamente que não. – Disse, dando de ombros – Mas se soubesse que seria
assim o teria rejeitado, desde o primeiro dia. – Alfonso riu.
Anahí: E eu tenho. Você pode me violentar, se quiser, esse é o seu direito, como é o
meu não querer alguém que me acusa mesmo tendo a verdade em mãos. – Disse,
juntando as suas mãos – E agora, com sua licença. Eu ainda tenho muito o que fazer
antes que possa parar. Principalmente agora que minha superior está mordida comigo
por uma verdade que tu és incapaz de administrar. – Disse, virando as costas.
Alfonso: Anahí! – Rosnou, vendo ela lhe dar as costas pela segunda vez.
Anahí: Me deixa em paz! – Pediu, virando-se uma ultima vez para encará-lo. Os olhos
azuis traziam todo o peso da magoa.
Mas ela não parou dessa vez. Passou pela porta, fechando-a, e quando ouviu os
passos dele vindo, desatou a correr. Era só isso que ela sabia fazer, afinal: Fugir.
Mas estava magoada. Se lembrou do rosto dele, adormecido, esta manhã, então as
palavras duras a açoitaram de novo. Ela ouviu a porta se batendo atrás dela, mas
não olhou pra trás, apenas acelerou o passo. O vestido não ajudava.
ㅤ
Não há nada que você possa dizer,
Nada que você possa fazer ♫
Mas Anahí não parou. Só parou quando se bateu com alguém. Nina. Ela encarou a
outra, ofegante pela corrida.
Nina: Vou ter que repetir quantas vezes que não deves andar por ai assim? – Perguntou,
mas estranhou Anahí não responder. Os cabelos de Anahí haviam se soltado do pequeno
laço na corrida, e caído pelas costas. O pescoço marcado estava exposto, mas ela não
ligou. Alfonso parou na parede atrás da curva, observando.
Anahí: Odeio você. – Disse, e Nina ergueu uma sobrancelha – A odeio porque é uma
invejosa, despeitada.
Nina: Me respeita, garota. – Disse, admirada pela reação da outra.
Anahí: O que anda espalhando por ai, Nina? O que ganhas com isso? – Perguntou,
magoada. Seu peito doía, e ela não conseguia se desfazer daquilo. Queria chorar.
Nina: Não sei do que está falando. – Disse, sínica, mas sorria. Alfonso não podia ver o
sorriso.
Anahí: É claro que não. Ninguém sabe. – Disse, a voz mais mortificada ainda. – Não te
suporto, quero que isso fique claro.
E ela saiu de novo a passos rápidos, logo correndo outra vez. Mas estava muito
longe das dependências onde ficavam os quartos dos empregados. Ela, cansada de
correr, se confinou em uma sala, ofegando pela corrida e pela dor da decepção. O
silencio a cercou. Ela caminhou até um canto, se amparando em um armário de
louças, e pôs as mãos no rosto. Porque aquilo a incomodava tanto? Porque estava
machucando tanto? Várias pessoas já haviam desconfiado dela, acusado, mas
nunca doera tanto como agora. Então a porta se fechou atrás dela.
ㅤ
Porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos... ♫
Alfonso: Eu disse que não havia acabado. – Anahí respirou fundo, se virando para vê-lo
ali, subitamente perto. Ela teve que erguer o rosto para encará-lo – Te ousas a fugir de
mim outra vez e pagarás o preço pela insolência. – Avisou, encarando-a.
Alfonso ergueu a mão, tocando o rosto dela possessivamente. Ela não se moveu,
quieta.
Alfonso: Se ponha em meu lugar. Eu não conheço você, como posso confiar?
Anahí: Você nunca quis conhecer. – Disse, derrotada. – Me deixe ir, por favor.
Christian: Tenho noticias. – Disse, erguendo um papel na mão. Anahí se calou – Anahí,
Paul deu uma batida em tua antiga casa.
Anahí desmoronou, encostando a cabeça na parede. Sabia que isso iria acontecer,
mas isso não tornava o fato menos grave.
Christian: Paul mandou procurarem você, esperou que aparecesse, mas quando não
aconteceu ele mesmo foi procurá-la. Deu uma batida em tua casa e não a encontrou,
obviamente. – Anahí o encarou, esperando – Teu pai o enfrentou, Anahí.
Christian: Levaram ele preso. – Respondeu a pergunta muda dela. – Tua mãe continua
em casa, mas não se tem noticias de seu pai.
Anahí: Meu Deus. – Gemeu, pondo a mão no rosto – Eu... Eu tenho que voltar. Agora. –
Disse, desorientada.
Christian: Como?!
Anahí: Preciso voltar. – Disse, se antecipando pra porta. – Quando Paul me encontrar
deixará meu pai em paz.
Anahí brigou com Christian, tentando se soltar. Não conseguiu. Até que ele a
deteve, puxando-a pelos braços e empurrando pra longe da porta.
Christian: Escuta! Não vais a lugar algum, se saísse daqui o máximo que conseguiria era
morrer na fronteira, ou ser entregue a Alfonso! – Anahí estava em choque – Anahí, me
perdoe, mas Diogo me escreveu coisas que me fazem acreditar que teu pai já esteja
morto.
Anahí não disse nada nos minutos que se seguiram. Christian tentou mesmo
consolá-la, mas nada adiantava. Por fim ele teve de ir embora, voltar pro trabalho.
Anahí não se moveu por horas. Seu pai estava morto. Isso doía tanto! Até que a
porta do quarto se abriu. Alfonso hesitou, vendo tudo escuro. Ele apanhou uma
das velas do quarto e voltou no corredor, acendendo-a em uma das tochas que
havia ali. Distribuiu as chamas por todas as velas do quarto. Quando pôs a ultima
no suporte foi que veio ver ela.
Anahí: Não é tua culpa. – Disse, passando a mão no nariz. Mas soluçou de novo,
desolada.
Anahí: Meu pai... Está morto. – Desabafou, caindo no choro com mais força ainda.
Alfonso ergueu a sobrancelha.
Alfonso: Ah. – Disse, surpreso – Eu... Eu lamento. Ei, não fique assim. – Disse,
preocupado. – Venha. – Disse, esticando o braço. Como Anahí não se moveu ele a
apanhou pelo braço, trazendo-a pra si, e ela o abraçou, as lágrimas molhando sua
camisa. – Isso, chore. Deixa tua dor vir. – Disse, beijando-lhe o cabelo. Anahí apenas
soluçava – Ele estava doente? – Anahí assentiu. – Você precisa de permissão para ir vê-
lo? Acompanhar o velório, ou algo assim? Eu posso providenciar... – Ela o interrompeu,
negando com a cabeça.
A verdade é que Alfonso não queria que ela fosse. Não queria dar a licença, pois
não queria perdê-la de vista, tê-la fora de seu alcance. Mas daria ainda assim, o
que ela precisava.
Anahí: Meu pai... Nós não nos dávamos bem. – Mentiu – Minha família... Não me
aceitaria. Por isso vim para cá. Por isso nunca precisei sair. – Disse, a voz carregada de
agonia.
Anahí: Demais... – Disse, caindo no choro outra vez. Ele a acolheu em seu peito,
agoniado por fazê-la parar de chorar. Mas sabia que não havia como. Quando os
funerais de Dulce terminaram ele não teve condições de sair do quarto por semanas,
nem pra ver a filha.
Eu lutarei e defenderei... ♫
Alfonso: Vai ficar tudo bem. – Disse, tranqüilizando-a – Eu vou ficar aqui, com você.
Vai passar.
Mas Anahí não teve condição de responder. Ela chorou por horas a mais, a
verdade engasgada em sua garganta, uma dor que lhe atormentava. Ela
adormeceu amparada nele, abraçada. Ele, que ainda a ninava, sentiu a cabeça dela
tomar em seu ombro. Por um instante achou que tivesse desmaiado, mas estava
dormindo. Ele, cuidadosamente, se encostou na cabeceira da cama e a ajeitou
sobre seu peito. Ele puxou, lentamente, os cordões do vestido dela, liberando-a do
aperto do espartilho, mas não tentara nada. Passou a noite toda em claro, os lábios
no cabelo dela, os olhos fixados a sua frente. Queria poder fazer a dor dela passar.
Queria poder protegê-la dessa e de qualquer outra dor. Inferno, era tão frágil! Ele
só se dera conta disso após vê-la chorando. Debaixo do queixo empinado e do olhar
inocente era frágil. De que diabo adiantava ser rei se não podia proteger a quem
queria bem?
Anahí só despertou na manhã seguinte. Estranhou porque não estava sob a cama.
Estava sob algo que respirava, e haviam braços a sua volta, abraçando-a
confortavelmente. Alfonso viu os olhos dela, avermelhados e confusos, se situando,
e lhe acariciou o braço.
Anahí: Você ficou. – Disse, admirada, a voz rouca. Alfonso acariciou o rosto dela –
Passou a noite aqui e eu nem... – Ela passou a mão no rosto, olhando em volta – Perdoe.
Continue agüentando firme
Porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos ♫
Alfonso: Tranqüila. – Disse, confortando-a – Apenas tive que trancar a porta. Seu
amigo teve aqui duas vezes. Você nem acordou quando eu levantei, nem quando eu a
apanhei no colo. – Comentou, distraindo-a.
Anahí: Que horas são? Nina virá me buscar. – Disse, mas não desencostou a cabeça do
peito dele; Ali podia ouvir seu coração. O som era encantador.
Alfonso: Nina não está. Na verdade, ninguém está. – Disse, dando de ombros.
Anahí: Eu deveria ter ido? – Perguntou, ainda confusa pelo sono. Alfonso acariciou o
cabelo dela.
Alfonso: Não. Hoje tu não vais a lugar algum. Aliás, vai sair comigo, salvo engano. –
Ele viu Anahí franzindo o cenho – Vou te levar a um lugar onde eu ia quando era mais
novo. Lá poderemos ficar em paz. – Vá se banhar. Eu vou preparar... Uma cesta.
Alfonso: Se te fizer sorrir assim, vou. Não quero te ver triste. – Disse, tocando o queixo
dela. Anahí sorriu e ele selou os lábios com os dela, apenas por tocar. – Anda, vai.
Alfonso: Mando matar. – Disse, e ela ergueu uma sobrancelha. Ele riu – Ninguém nos
verá, confie.
Alfonso: Não consegue ouvir? – Perguntou, se virando pra olhá-la. Anahí parou um
instante, aguçando o ouvido. Era água correndo.
Os dois chegaram até o rio em poucos minutos. Havia uma parte onde era bem
rasinho, dava pra ver as pedras, mas no centro era fundo, e havia certa correnteza.
O dia estava frio. Alfonso os levou até uma parte seca, debaixo de uma arvore. Os
dois sentaram ali e nem comeram, largando a cesta de lado, apenas conversando.
Alfonso fez perguntas sobre o passado dela e ela respondeu exclusivamente com a
verdade, ocultando apenas o fato de onde passara o resto da vida. Depois foi a vez
dele falar. A conversa fluía levemente, os dois riam, era normal.
Alfonso: Na época da peste todos ficaram muito apreensivos. Eu devia ter 11 anos.
Meus pais me trancaram em um quarto fechado, e ninguém me visitava. – Disse,
franzindo o cenho – A inicio eu achei que tinha feito algo errado, mas era pra evitar que
alguém me tocasse e passasse a doença. Um pouco radical, é verdade, - Disse, dando de
ombros. Anahí riu, e ele não agüentou, rindo também – Mas depois ficou tudo certo.
Anahí: Eu não me lembro dessa época. Era pequena ainda. – Disse, pensativa. -
Descobrira que era 4 anos mais nova que Alfonso. – Mas me lembro de que minha mãe
vendia doces, e bolos... E ela sempre me deixava ficar com as panelas, os tachos e as
colheres. – Disse, e Alfonso sorriu – Não deboche, era uma delicia. Pena que dava dor
de barriga depois.
Alfonso: Eu não tive essas experiências que as crianças normais tem. Tipo brincar na
terra, ou lamber panelas. – Disse, sutilmente, e ela sorriu – Era tudo dentro dos
conformes, eu nasci dentro desse castelo e cresci ai. Precisava servir de exemplo.
Sempre foi uma porcaria. – Anahí riu, e ele assentiu – Não queres me dizer nem onde
moras? Eu posso ajudar tua família. – O sorriso de Anahí morreu – Não, não fique
triste. – Se antecipou, tocando o rosto dela – Eu só pensei que seria de ajuda com os
funerais, e eles saberem onde tu estás, e que estás bem.
Anahí não disse nada, pensativa. Na verdade sabiam. Seu pai morrera porque,
orgulhoso que sempre fora, passara na cara de Paul que Anahí estava no castelo de
Alfonso, sob os domínios dele; Ou seja, no único lugar onde Paul não poderia ir
buscá-la. Alfonso se antecipou, sentando mais perto dela, e apanhando seu rosto
entre as mãos.
ㅤ
Apenas seja forte,
Porque você sabe que eu estou aqui por você ♫
Alfonso: Esqueça. Não vamos mais tocar neste assunto. – Propôs, os olhos verdes
preocupados – Se te entristece já não me interessa.
Anahí o observou por um instante, erguendo a mão para levá-la até o rosto dele.
Queria tanto poder desabafar! Mas sabia qual seria seu destino se ele soubesse a
verdade. Doía saber que seria pelas próprias mãos dele. Então se calou. Ele se
aproximou para beijá-la, mas ela se levantou. Ele a olhou, confuso, e viu ela
puxando as amarras do vestido.
Anahí: Vamos tomar banho. – Disse, sorrindo, puxando as cordas do espartilho, que foi
afrouxando-o.
Alfonso: O que? Está frio! – Protestou, apontando pro rio. Anahí riu, debochando dele,
e uma vez que o vestido afrouxou ela o retirou, ficando de roupa debaixo.
Anahí: Tu és rei e estás com medo de água fria? – Brincou, se livrando do vestido.
Alfonso: Reis sentem frio. Ficam resfriados também. – Disse, debochado. Ela riu, se
afastando. – Não faça isso. – Insistiu.
Alfonso: Eu avisei. – Disse, vendo ela se abraçar, olhando o rio. – Ande, volte pra cá. –
Chamou.
Mas ela não atendeu. Apenas o olhou, sorrindo, e caminhou mais um tanto, logo
mergulhando de cabeça no rio. Alfonso teve um breve flash daquele lugar. Levara
Dulce ali, recém casados. Ela não quis se aproximar da água, pois tinha medo de
que houvessem bichos, e os dois tiveram que vir embora. Anahí emergiu, tirando
os cabelos molhados do rosto, e ele viu a pele dela um tom mais claro, pelo frio. Os
cabelos formavam uma cachoeira escura em seus ombros, boiando em volta, na
água. Ele sorriu, se levantando.
Anahí: Ande tu, venha. – Disse, oferecendo a mão. Ele negou com a cabeça, enquanto
se livrava da camisa, o peito forte ficando exposto ao vento.
Logo ele, só de cueca, mergulhava no rio também. A água alfinetou cada pedaço da
sua pele, e ele praguejou em pensamento, mergulhando pra tentar se aquecer
estimulando os músculos. Então, debaixo d‟água, viu as pernas dela, parada,
esperando. Ele avançou e abraçou ela pelas pernas, erguendo-a. Anahí gritou pelo
susto, mas riu quando ele emergiu, deixando-a no alto.
Alfonso: Ah, está frio. – Disse, debochado, e ela fez bico. – Vem. – Ele soltou ela por
um instante, fazendo-a descer, e a amparou antes que batesse no chão.
Anahí: Teu cabelo está gracioso. – Brincou, apanhando os cabelos molhados dele e
espetando. Alfonso fechou a cara com o deboche. Ela arregalou os olhos azuis, e ele
teve vontade de sorrir. Ela molhou a mão, passando no cabelo dele, deixando-o lambido
– Pronto. -Ele continuou olhando-a – Ah, pelo amor de Deus! – Pediu, empurrando-o
pelo ombro.
Anahí se soltou dele, mas a correnteza da água a fez tropicar pro lado, sendo
„levada‟. Ele não agüentou a cara dela com isso e riu. Ela ergueu a sobrancelha.
Alfonso: Cuidado. Venha cá. – Chamou, oferecendo a mão. Anahí, submersa até o colo,
pegou a mão dele, que a puxou de volta, abraçando-a – Acontece algo interessante com
roupa branca, uma vez molhada, te contaram?
Anahí: Não me força. – Disse, apanhando o rosto dele entre as mãos. Meio incerta ela se
aproximou, unindo os lábios dos dois delicadamente. Alfonso observou, com um sorriso
de canto no rosto. Como era possível que fosse tão inocente?
Alfonso: Não? – Perguntou, as mãos subindo pelas costas dela, sentindo o tecido mole
pela água. Ela negou com a cabeça.
Anahí: Faça amor comigo. – Pediu, tocando os lábios dele com o dedo, desenhando-o.
Ele ergueu a mão, apanhando o rosto dela, fazendo-a encará-lo. Deus, o que estava
sentindo por aquela estranha?
ㅤ
Quando ele buscou a boca dela, em seguida, tinha muito mais fome. Ela o abraçou
pelos ombros, pequena que era perto dele, se estreitando no corpo dele. Os seios
dela se comprimiram contra o peito dele, os mamilos já rígidos pelo frio e também
por vontade, e ele a sentiu. As mãos dele a apanharam pela cintura, apertando-a. A
mão dele buscou a pele das costas dela, que estremeceu pelo contato. Ele não pôde
desfrutar muito disso; Alfinetadas começaram a atingir suas costas. Ele se soltou
dela, e os dois olharam pra cima ao mesmo tempo: Estava chovendo.
Anahí: Nem fez tanto frio assim. – Brincou, acariciando os cabelos dele, que sorriu –
Alfonso, onde está meu short? – Perguntou, olhando-o.
Ele ergueu o rosto, a expressão de quem tinha vontade de rir, e olhou o rumo que a
correnteza do rio levava. A essa altura o short já deveria estar longe. Ela ergueu a
sobrancelha pra ele, que riu gostosamente.
Alfonso: Ei, não brigue. – Disse, beijando o bico dela – O que eu querias que eu
fizesse? Estava com as mãos ocupadas. – Alegou. Anahí corou com isso. – Melhor
assim. – Elogiou, beijando-a de leve.
Ela pôs o vestido e ele amarrou os cordões do espartilho, inchados de água. Foi
então que ele falou.
Alfonso: Terei que sair. – Disse, enquanto puxava os cordões com as duas mãos – É
aniversário de Ian. – Lembrou, e ela assentiu – Você pode vir, se quiser.
Alfonso: Eu avisei. – Disse, puxando os cordões do vestido dela, novamente, mas agora
desfazendo o trabalho já feito, os dois parados no corredor, na frente do quarto dela.
Anahí: Só preciso de uma toalha. – Disse, e ele revirou os olhos. Ela nunca dava o braço
a torcer.
Anahí: Passou. – Disse, sorrindo. Alfonso já estava trocado, e tinha um terno negro em
um dos braços. Ele sentou nos pés da cama. Tinha um livro com a capa azul escura,
grande, de aparência sofisticada, na mão.
Alfonso: Trouxe pra você. É o livro que eu falei. Achei que gostaria. – Disse,
oferecendo o livro. Ela apanhou, sorrindo, e o abriu, olhando o escrito da primeira folha.
– Fique aqui hoje. Descanse. – Disse, passando o braço pra dentro do terno. Ela
assentiu. – O que precisar...
Anahí: Eu sei onde fica a cozinha. – Brincou, erguendo os olhos pra ele. Ele hesitou por
um instante, depois riu.
Alfonso: Estou só sendo patético. – Disse, e ela riu – Fique bem, sim? Não quero saber
que chorou enquanto estive ausente. E eu vou saber. – Disse, em uma ameaça, e ela
arregalou os olhos, na defensiva – Melhor assim. – Disse, se levantando.
Anahí: Leve uma capa. A estrada deve estar fria. – Recomendou e ele sorriu com isso.
Ninguém tinha esse tipo de cuidado com ele há anos.
Alfonso: Levarei. Fique bem. – Ela assentiu e ele se abaixou, beijando-a levemente,
antes de sair.
ㅤ
E ela ficou, tentando não pensar. Estava fácil; ele estava em toda parte. O livro a
distraiu por horas, até que o cansaço venceu e ela dormiu.
---*
Anahí: Vou sobreviver. – Tentou brincar, sorrindo. Christian sorriu, então seus olhos
focalizaram algo. O livro, ao lado dela, na cama.
Christian: Como não? Esse livro é da biblioteca particular de Alfonso, ele não deixa que
ninguém os toque, porque fez isso? – Perguntou, exasperado. Anahí ainda segurava o
livro – Anda, me dá.
Anahí: Não! – Disse, descrente.
Christian: Eu vou tentar repor no lugar antes que ele dê falta, anda, me dá! – Insistiu. –
Alfonso a matará por esse livro, sabe disso? – Ele avançou pra tomar o livro dela.
Houve um instante de silencio no quarto. Christian olhou o livro luxuoso pro rosto
de Anahí.
Christian: Anahí...
Anahí: Me deixa em paz, Christian! – Disse, exasperada – Alfonso não vai me matar
por esse livro. – A certeza na voz dela quase a denunciou. Mas Christian não fez nada.
Apenas negou com a cabeça, saindo dali. Ela respirou fundo, afundando na cama.
Era noite. Madrugada, pra ser mais exata. A chuva açoitava as paredes, e fazia
frio. No quarto de Anahí as velas estavam pela metade. Alfonso estava deitado de
costas na cama, amparado na cabeceira, com ela deitada em cima de si, as costas
amparadas em seu peito forte. Os dois estavam cobertos da cintura pra baixo.
Alfonso tinha os seios de Anahí nas mãos, confortavelmente, como quem ampara,
ou mede, o dedão a acariciando ternamente. Uma aliança dourada, que não era
dela, brilhava no anular esquerdo dele, mas ela não se importava.
Anahí: Se eu pudesse tê-lo por ainda mais tempo, assim seria. – Disse, virando o rosto,
oferecendo-o para ser beijado. Alfonso sorriu e a beijou lentamente, de modo doce.
Então houveram batidas na porta.
Nina: Anahí?
Anahí: Eu estou deitada, qual o teu problema? – Perguntou, e Alfonso mordia a orelha
dela, distraindo-a.
Nina: Doce como sempre. Preciso de tua ajuda na cozinha. Anda, te levanta.
Anahí: Mas é madrugada! – Exclamou, e colocou a mão na boca pra não rir pelas
cócegas em seu pescoço. A barba dele, por fazer, as vezes pinicava.
Nina: Tu não trabalhaste na festa, é justo que vá ajudar. E não vou discutir. Porque esta
porta está trancada? – Perguntou, e houve o barulho da maçaneta sendo forçada.
Anahí: Porque estou dormindo. Tive licença para não trabalhar na festa, e tampouco me
levantarei agora. Amanhã, sim. Pelo amor de Deus, que horas são? – Perguntou,
incrédula. – Pare com isso! – Sussurrou, prendendo o riso. Alfonso a mordia.
Nina: Licença? Quem lhe deu licença? – Alfonso revirou os olhos e Anahí respirou
fundo.
Anahí: Alfonso me deu licença. – Disse, satisfeita. Ele sorriu ao ouvir seu nome na voz
dela e beijou sua orelha, enquanto as mãos apertavam os seios dela possessivamente.
Alfonso: É sempre tão irritante? – Perguntou, a voz quase imperceptível. Anahí revirou
os olhos, suspirando.
Nina: Que seja. Me procure amanhã, antes de qualquer coisa. – Disse, irritada.
Anahí sabia que uma tonelada de tarefas lhe seriam entregues, mas se deu por
satisfeita por ouvir os passos da outra se afastando.
Anahí: Ela vai me derrubar. – Disse, deixando o corpo amolecer em cima do dele.
Anahí: Deixa como está. – Disse, manhosa. – As vezes dá uma vontade de ti. –
Confessou.
Alfonso: Sinto isso o dia todo. Conto as horas para que todos vão dormir e eu possa vir
ficar contigo. – Disse, fungando o nariz dela.
Anahí: Porque eu? – Perguntou, a mão delicada passando pelos cabelos dele.
Alfonso: Eu não sei. – Disse, sincero – Eu nunca quis outra mulher, depois de Dulce.
Mas você... Havia algo diferente. – Disse, uma mão tirando o cabelo dela do rosto.
Anahí: Diferente?
Alfonso: Você era tão inocente! Dava pra ver em teus olhos, em teu modo de andar, de
falar. Tão pura! E ao mesmo tempo cheirava a pecado. – Ele sorriu – Era intrigante
demais, instigador demais. Feitiçaria, como venho a desconfiar. – Brincou, e ela riu –
Cigana maldita. – Terminou, mordendo a maçã do rosto dela.
Anahí: Feitiçaria, é claro. Eu devia ter imaginado. – Disse, rolando os olhos, e ele riu –
Eu me pergunto...
Alfonso: Se pergunta...?
Alfonso: Não faço idéia. – Admitiu, mas sorriu de canto – Mas temos todo o tempo do
mundo.
Ele se inclinou para beijá-la. Dessa vez o beijo se intensificou, se tornando intenso.
Ele desceu as mãos das costas dela para as coxas, fazendo-a acolhe-lo entre elas, e
provavelmente encaixando os quadris dos dois novamente. Ela, entendendo o que
ele queria, enlaçou a mão no cabelo dele, correspondendo ao beijo, os seios
esmagados contra o peito dele. Nada mais que foi dito a partir dali fez muito
sentido.
---*
Alfonso entrou no quarto de Anahí, como sempre.Só que pela primeira vez ela não
estava lá. Ele nem precisou acender as velas pra saber disso, a ausência dela se
notava no ar. Assim ele acendeu as velas e se sentou, pronto pra esperar. Porém
não demorou muito, uns vinte minutos depois ela entrou no quarto. Parecia
cansada. Não estava sendo fácil: Passava as noites em claro com Alfonso, e durante
o dia Nina a derrubava com tarefas, uma mais pesada que a outra. Ainda assim
seu rosto se iluminou ao vê-lo sentado ali.
Anahí: Me perdoe pela demora. – Disse, fechando a porta.
Alfonso: Uma vida. – Brincou, e ela ergueu a sobrancelha – Certo, cerca de meia hora.
Venha. – Ele ofereceu a mão, trazendo-a pra se sentar em seu colo. Assim que ela
sentou ele passou a mão pela cabeça dela, sumindo com o laço, deixando os cachos
livres pelas costas dela – Esse rostinho está cansado demais. – Disse, tirando o cabelo
do rosto dela.
Anahí: Nina se torna a cada dia mais inconformada. – Explicou, dando de ombros – Eu
dou conta. – Disse, e fungou em seguida.
Alfonso: Oh, nunca duvidei de teus poderes. – Brincou, e ela riu. – Bem melhor. –
Observou, vendo-a rir.
Anahí: Só te olho desse jeito quando estás errado. – Respondeu, mas o abraçava.
Alfonso a ninava no colo.
Alfonso: Que seja, peça. Meu reino será teu. – Ilustrou e ela arregalou os olhos,
fazendo-o rir.
Anahí: Não quero teu reino. – Disse, acariciando a gola da camisa dele – Só me beije.
Alfonso a encarou por um instante. Que preciosa era! Ele sorriu, acariciando o
cabelo dela, e inclinou o rosto, beijando-a. Doce, somo sempre. Anahí pôs as mãos
no rosto dele, acariciando-o ternamente. Após um tempo Alfonso apertou a cintura
dela sutilmente, e ela suspirou. Mas ao tentar colocar as pernas cansadas pra cima
da cama, seus pés bateram em algo. Desgostosa, ela se separou do beijo dele.
Alfonso: O que... Ah, claro! – Disse, seguindo o olhar dela. Era uma caixa grande,
branca, nos pés da cama. Anahí o encarou, a pergunta clara em seu olhar – Havia me
esquecido. Lhe trouxe um presente.
Anahí não gostou quando ele a tirou de seu colo, fazendo-a se levantar. Ele puxou a
caixa, pondo em seu colo. Anahí abriu a caixa fina. Havia um papel delicado
envolvendo algo. Alfonso olhava o rosto dela, deliciado com as reações.
Na realidade, fora. Ele conheceria o corpo de Anahí vendo-o de longe, mas vestidos
eram diferente. Havia a questão das dezenas de camadas de tecido, e o espartilho...
Ele não havia como se basear. O corpo de Anahí era completamente diferente do
de Dulce. Enquanto Dulce era mais baixa e robusta, Anahí era alta e farta. Ele viu
o olhar dela, impulsionando-o a explicar.
Alfonso: Por fim eu fiz vestirem os manequins com os vestidos, e apalpei. – Confessou,
e ela riu. – Foi algo interessante. – Continuou – Eu fechei os olhos e imaginei que eram
mulheres, e que eu deveria te achar. Quando minhas mãos te encontraram, eu soube o
tamanho. – Disse, satisfeito.
Alfonso: E tem sapatos. – Disse, apanhando duas botas de couro preto, salto, lustradas.
Alfonso: Eu sou um rei. Dou presentes a quem eu quiser. – Disse, e ela revirou os olhos.
Anahí: Por um segundo pensei que irias dizer que foi feitiçaria minha também. – Ela
colocou o vestido com cuidado em cima da cômoda, pulando no colo dele novamente –
Obrigado. – Disse, apanhando o rosto dele entre as mãos e enchendo-o de beijos.
Anahí esperou que ele a segurasse e intensificasse o beijo, mas ele não fez. Ela o
olhou por um instante, os dois perto demais, e ele negou com a cabeça. Ela franziu
o cenho.
Alfonso: Porque tu precisas. – Disse, pondo-a no seu lado na cama – Não contestes. –
Avisou, calando o protesto dela. Anahí se emburrou, dando as costas a ele.
O rosnado que Anahí emitiu em seguida fez Alfonso gargalhar gostosamente. Ela
arregalou os olhos, passando pra cima dele tapando-lhe a boca.
Anahí: Vais acordar o castelo todo! – Ralhou. Após alguns instantes ele fez um sinal, e
ela o soltou.
E Anahí dormiu em minutos, feito uma criança. Ele a aninhou em seus braços e
terminou por dormir também.
Na noite seguinte...
Nina: Anahí, você terminou de... – Ela parou na porta, vendo a outra. Anahí se virou, na
defensiva, sentindo o peso das camadas a mais de tecido adicionadas ao vestido – O que
significa isso?
Nina: Para onde você vai? Que vestido é esse? – Perguntou, pasma.
Nina: Ora, você deve ter dezenas desse, não é? Não minta pra mim, sua... – Ela parou
olhando a cama. Havia algo azul debaixo do travesseiro. Nina apanhou o livro antes que
Anahí pudesse contê-la – O roubou. – Disse, em um murmúrio.
Anahí: É claro que não roubei, não diga tolices.
Nina: Foi até o quarto dele e o roubou! Este livro é dele, eu já o vi! É de sua biblioteca
particular, ele não deixa ninguém tocá-los! E esse vestido... Ah, que maravilha.
Roubaste um dos vestidos de Dulce. – Disse, a glória cintilando em seu rosto. – Oh, isso
ele não vai perdoar.
---*
A cena na cozinha seria engraçada se não fosse dramática. Estavam Ian, Nina,
Anahí e dois seguranças, sendo que um a segurava por cada braço.
Anahí: Se não mandar me soltarem, Nina, eu vou te mostrar quem é a ladra. – Disse, se
debatendo. Nina riu.
Ian: Senhoras, se acalmem. – Disse, revirando os olhos. Os olhos de Ian eram tão claros
que pareciam duas pequenas piscinas. – Ela tentou agredir alguém?
Ian: Soltem-na. Agora. – Os guardas olharam pra Nina – Será que os guardas desse
castelo não entendem minhas ordens? Onde está Alfonso?
Ian: É, só que daqui até que ele chegue a maior autoridade aqui é minha, e eu estou
ordenando que soltem esta mulher. – Disse, sério. Os guardas, sem ter opção, soltaram.
Ian era um rei; Nina era uma criada. – E, permita-me dizer, seja qual for a ocasião, você
está encantadora. – Disse, debochado.
Alfonso: Que alvoroço é esse? – Perguntou, a voz vindo do corredor – Ian, sabia que
Katherine está na sala de leitura? – Perguntou, divertido. Ian riu - Quem está
encantadora?
A resposta foi muda. Alfonso parou no portal da cozinha, e olhou Anahí de cima a
baixo. O vestido lhe caíra como uma luva, estava tão linda! Realçava os olhos,
entrava em contraste com a pele clara. O cabelo estava solto, os cachos caindo por
cima dos ombros. Quando o olhar dele encontrou o dela os dois se encararam por
um longo instante, sem saber o que dizer.
Ian: Alfonso, testando, um, dois, três. – Disse, estralando os dedos na frente do rosto de
Alfonso.
Anahí: O diabo é que eu estava em meu quarto. – Disse, o rosto quente de raiva – E esta
criatura descontrolada entrou sem pedir permissão, e chamou dois guardas para me
arrastarem. – Disse, tirando o cabelo do rosto, impaciente. Alfonso observou o gesto,
interessado. Nunca a vira assim.
Anahí: Se tornar a me chamar de ladra vou te descer a mão na cara. – Avisou, e Ian riu
alto, divertido. Alfonso teve que se controlar pra não rir também.
Nina: Ah, não és ladra? Pois veja, senhor. – Disse, apanhando o livro – Este livro é de
sua biblioteca pessoal, e eu encontrei no quarto dela! Sem contar na prova óbvia: Ela
roubou um vestido da minha senhora, Dulce. Uma ladra, senhor. – Disse, em jubilo.
Anahí: Eu vou partir a boca dela. – Disse, pra si mesma, olhando a parede.
Nina: Imagino a dor que não deve causar ao senhor ver essa ladrazinha usando as vestes
da minha senhora. – Anahí virou o olhar pra ela.
Anahí: Dor? Você gosta de dor? Eu vou te mostrar a dor, Nina. – Disse, sorrindo
angelicalmente.
Alfonso: Certo, cuidado com os nervos. Ian, que diabo, pare de rir! – Ian havia se
amparado na parede, rindo gostosamente – Anahí, se acalme. – Anahí parou de se
debater.
Nina: Como eu disse, senhor, aqui está o livro. E ela ainda usa o vestido da minha
senhora. Ladra! – Anahí ergueu a sobrancelha, virando os olhos azuis pra ela. Ian ficava
cada vez mais vermelho.
Dessa vez houve um instante de silencio na cozinha, interrompido por Anahí, que
deixou a cabeça cair pra trás e gargalhou. O riso era falso, mas ela precisava fazer
aquilo. Ian, que tinha parado de rir, voltou a rir também.
Ian: Eu deveria ter vindo aqui antes. No meu castelo não é nem de longe divertido
assim. – Comentou, e Alfonso revirou os olhos.
Nina: Perdoe-me. Não tive a intenção. – Disse, como se cada palavra a envenenasse,
devolvendo o livro.
Anahí: Com licença. – Disse, em um murmúrio, e saiu dali.
Ian: Foi um prazer conhecer você. – Disse, dando tchau com a mão quando ela saiu.
Alfonso o fuzilou os olhos.
Alfonso: Estão dispensados. – Disse aos guardas, que se retiraram – Limpe isso. – Disse
a Nina, sobre o chão molhado e os cacos de vidro – E tu... Se não quiseres que eu vá até
Katherine e conte que está flertando com as minhas criadas, para de gracinha.
Ian: Porque, está com ciúme? – Perguntou, de braços cruzados, sorrindo abertamente.
Ele saiu dali. Foi atrás de Anahí. A alcançou na entrada do quarto. Ela colocou o
livro na cômoda, puxando o cordão do vestido com raiva. Alfonso trancou a porta.
Anahí: Era uma surpresa. – Disse, e ele percebeu que ela estava a beira de lágrimas.
Alfonso: Preparou uma surpresa pra mim? – Perguntou, sorrindo, e se aproximando. Ela
não deixou que ele a tocasse.
Anahí: Eu me matei hoje, o dia todo, pra terminar tudo rápido. – Disse, e uma lágrima
escorreu por seu rosto. Ela a secou – Quando você chegasse eu estaria toda arrumada,
seria uma surpresa. Mas ela estragou tudo, sempre estraga!
Alfonso: Ei, pare! – Disse, segurando os braços dela, impedindo-a de abrir o vestido.
Anahí o encarou. O rosto estava vermelho, os olhos lacrimejando. – Ainda é uma
surpresa. Estás linda.
Alfonso: Não. Você vai precisar. – Disse, virando-a de costas. Anahí franziu o cenho.
Anahí: Precisar? – Perguntou, confusa. O corpo dela balançou quando ele começou a
puxar o espartilho novamente.
Alfonso: Nós vamos jantar juntos. – Comunicou, puxando o espartilho.
---*
Alfonso: Prepare a quarta sala de jantar. Mande acenderem a lareira. Jantar para 02.
Nina: Mas o Sr. Ian me pediu para levar sua janta no quarto, para ele e Mrs. Katherine,
senhor. – Disse, confusa.
Alfonso: Eu não pretendia jantar com Ian. Sirva a mesa para 02. – Ele pensou por um
instante.
Nina: Devo perguntar qual o tipo de refeição, senhor? Informal? – Perguntou, dura.
Alfonso: Sofisticada. Como se Mrs. Katherine fosse minha convidada. É uma mulher,
mas é não é ela. – Disse, pensativo – Quero tudo impecável. Quanto a comida... Sirva
uma mesa farta, eu quero várias opções. – Diabo, ele nem sabia do que Anahí gostava –
Farto. – Se resumiu – Não esqueça a lareira, está frio.
Alfonso deu as costas e saiu, pouco se importando em olhar pro rosto de Nina. Se
olhasse veria o ódio nos olhos dela. Ele iria levar Anahí para jantar na quarta sala!
Era uma das maiores, das mais bonitas! Ele mandara acender a lareira! Isso era
tão injusto! Mas Alfonso não estava se preocupando com isso. Andava pensativo,
até que se bateu com Ian, na sala de estar. Ele ia passar direto pela porta, mas o
riso de Ian o fez parar. Ele olhou e o moreno ria, com um cacho de uvas verdes nas
mãos.
Ian: Ai está algo que eu não esperava de ti. – Disse, pondo uma uva na boca. Ainda
tinha o tom divertido.
Ian: Vai jantar com a criada. Deu o vestido a ela. – Disse, sorrindo, enquanto mastigava
a uva.
Alfonso: Deu para ouvir atrás das portas? – Perguntou, cruzando os braços.
Ian: Não. – Disse, arrancando uma uva do cacho – Mas alguns de nós tem boa audição.
– Disse, pondo a uva na boca – Espere até ver a esposa de Christopher. É espantador. –
Disse, pensativo – Mas este não é o foco. Mandou servir a mesa para ela.
Alfonso: Falando em criada... Você está elogios demais pro lado dela. – Disse,
mudando de assunto, franzindo o cenho.
Ian: Ora, sou um homem justo. Há anos não ponho os olhos em uma tão bonita. – Um
rosnado começou a nascer no peito de Alfonso – Sem contar no corpo, é tão farta que
me tira o fôlego. – Disse, arregalando os olhos e sorrindo.
Ian: Mas não se preocupe... – Disse, pondo a uva na boca – Ela não é Katherine. –
Disse, dando dois tapinhas nos ombros de Alfonso e saindo dali, ainda sorrindo.
Alfonso revirou os olhos e seguiu seu caminho. Parou no cofre. Haviam coisas
demais ali, mas ele queria algo pequeno. Algo que havia guardado fazia muito
tempo. Teve que remexer uns minutos até encontrar. Quando achou o que era,
uma caixinha de metal, retirou, fechando o cofre. Resolveu passar pela sala de
jantar para verificar.
Alfonso: Termine e retire-se. Mande que todos se retirem; Não quero ninguém perto
desta sala hoje. – Ordenou, dando as costas antes mesmo de ouvir a resposta dela.
Anahí deu as mãos a ele e os dois foram pelos corredores. Ela sempre olhando em
volta, até que ele mandou ela parar. Ao entrar na sala de jantar Anahí se
deslumbrou. Sempre que estivera ali era dia, e estava tudo bagunçado. Agora não.
A lareira estava acesa a fogo alto. A grande mesa estava forrada com uma toalha
de renda branca, farta em comida, com velas. A louça era fina, de porcelana, os
talheres de prata polida. Ela caminhou uns passos, olhando tudo, encantada. O
tapete parecia gostoso de tocar só por olhar. Um toca discos estava repousado em
um canto. Naquele momento, olhando o que ele tinha feito pra ela, Anahí se sentiu
especial. É claro que ela não sabia que, para Nina, servir cada um daqueles pratos,
acender cada uma daquelas velas, ou a lareira, ou todo o resto, foi como espetar
agulhas nos olhos. Não viu também Alfonso trancar a porta, atrás dela.
Alfonso: Tenho algo para ti. – Disse, puxando algo do bolso do colete.
Alfonso: Cala-te. – Disse, ofendido, e ela revirou os olhos. Ele estendeu a mão. Era uma
caixa de metal trançado, quadrada... Certo, eu não consigo descrever isso, assistam The
Vampire Diaries 1x03, é a caixinha onde Stefan dá o colar com Verbena pra Elena, fim
de papo sobre caixinhas. Ela abriu a tampa, encontrando um escapulário dourado. Ouro.
Era delicado, fino, pequeno. Anahí sorriu. Alfonso fechou a caixinha, guardando-a
novamente – Isso é meu. Digo, sempre foi meu, desde que era novo.
Anahí: É lindo. – Disse, olhando o escapulário. Ela não estava dizendo que era lindo
porque era de ouro maciço, mas sim pelo que significava.
Alfonso: Eu nunca quis dar a ninguém. – Nem a Dulce María. Mas ele não disse isso em
voz alta. – Mas quero que seja seu. Use-o, e eu estarei com você. Use-o, e estará
protegida. Use-o... E, além do próprio Deus, eu estarei por você. – Terminou, vendo ela
sorrir.
Alfonso: Achei que você gostaria de musica. – Comentou, trazendo ela pela sala. Ele
puxou a cadeira pra ela que sorriu pelo galanteio.
Anahí: Tem comida demais aqui. – Reparou, vendo a variedade de pratos que ele
exigiu.
Alfonso: Na verdade eu não sabia do que você gostava, e mandei que cozinhassem tudo
o que desse tempo. – Disse, fazendo a volta na mesa, se sentando frente a ela – Temos
conversas pendentes.
Anahí: Onde você vai? – Perguntou, confusa, ao vê-lo se levantar. Os dois estavam
conversando, cada um com sua taça de vinho, e ele levantou do nada.
Alfonso: Isso não está aqui para enfeite. – O tocador de disco era simplesmente enorme.
Já havia um disco que ele havia escolhido ali. Após colocar ele pôs a agulha em cima do
vinil, e após um breve arranhão a musica começou a soar. Alfonso caminhou até ela e
ofereceu a mão – Dança comigo?
Anahí aceitou a mão dele, se levantando. Ele a levou até o tapete, na frente da
lareira, e a pôs a sua frente, abraçando-a. Anahí sorriu, ouvindo a valsa começar a
soar lentamente pela sala.
Anahí: Você é o primeiro homem com quem eu danço. – Comentou, o corpo sendo
guiado pelo dele. Exceto o pai dela, mas esse não se considerava como „homem‟.
Alfonso riu.
Alfonso: Há alguma coisa em ti cuja eu não tenha sido o primeiro a fazer? – Perguntou,
divertido. Anahí revirou os olhos.
Anahí: Cala-te. – Disse, afundando o rosto no ombro dele, olhando as chamas na lareira
– Estão falando, Alfonso.
Alfonso: Eu sei. – Disse, beijando a orelha dela – Estão falando que eu tenho uma
amásia. O que falam de mim pouco importa, só não podem saber que é você.
Alfonso: Ela não teria nem metade da coragem. – Isso era verdade – Não sabendo o que
a aguarda se o fizer. Fique tranqüila.
A musica mudou um tom e os dois rodopiaram pela sala, ele sorriu pra ela.
Anahí: Gosto de estar assim. – Disse, se apertando mais a ele – É ousadia minha?
Alfonso: Não, pois gosto de sentir você assim. – Disse, aninhando-a em seu braço.
E ele gostava. Era quando sentia que tinha poder; Quando a tinha protegida em
seus braços. Tão pequena, tão frágil... Tão dele. Os dois dançaram por instantes,
até que o olhar de Alfonso caiu em algo. Em cima da lareira. O retrato de Dulce
María repousava lá, de frente pra ele. Aquele retrato nunca saia do seu quarto,
mas Nina teve um gosto imenso em deixar aquilo como sobremesa. Anahí
estranhou quando ele parou de dançar, se tornando imóvel.
Alfonso: Eu não estou me sentindo muito bem. – Disse, se afastando dela. Sentia
remorso agora. Aquele retrato, ali, representava o que ele estava fazendo com Dulce e
não era justo.
Alfonso: Eu creio que o jantar não me fez bem. – A valsa acabou, o som da agulha
soltando o vinil representando como a magia ali havia acabado – Importa-se se eu for
pro meu quarto, Anahí?
Anahí: É claro que não. Quer que eu lhe prepare algo? – Perguntou, ainda preocupada.
Alfonso: Não, obrigado. Eu creio que se eu me deitar vai ficar tudo bem. Me perdoe. –
Disse, angustiado.
Anahí: Não tenho pelo que perdoar, não foi intencional, não diga bobagens. Vá pro seu
quarto, eu retiro isso tudo. – Disse, realmente acreditando que ele não estava se sentindo
bem.
Alfonso: Deixe ai; outro empregado retirará. Vá dormir. Eu só vou demorar um instante
e vou também. – Disse, a voz entrecortado.
Anahí: Fique bem. – Alfonso assentiu e Anahí deu as costas, o olhar ainda preocupado,
e saiu dali.
Alfonso viu a porta bater e colocou as mãos na cabeça, olhando o retrato que
Anahí não reparou.
Alfonso: Dulce, o que está fazendo aqui? – Perguntou, angustiado. O retrato ainda o
encarava, repousando. Ele apanhou o porta retrato, observando a foto – Não... O que eu
estou fazendo com você, meu amor? – Perguntou, acariciando a foto.
Alfonso já não procurou Anahí. A principio ela pensou que ele realmente estivesse
mal, mas quando ele passou por ela, ignorando-a, soube que não o era. Não fez
nada, todavia. Não havia nada que pudesse fazer. Doía ficar longe dele, mas ela
sabia qual era seu lugar. Voltou ao seu trabalho, como sempre foi, e Nina,
deliciada porque conseguira seu intento, a deixara em paz. Mas Anahí ainda usava
o pequeno escapulário que ele pusera em seu pescoço. Usaria sempre. Alfonso, por
sua vez, sentia demais a falta dela, mas o remorso o corrompia. Era errado para
com Dulce María o que ele estava fazendo. Fazer um jantar de luxo e levar uma
criada como companhia, o que ele estava pensando? Seus pais, se vivos, o
matariam só por pensar nisso. E a pobre Dulce não o merecia.
Ian: Pelo amor de Deus, tu estás insuportável. - Disse, desistindo e afastando uma
planilha que os dois tinham a frente.
Ian: Pois vá nela tu com teus homens, e morra lá. - Disse, os olhos claros sérios - Sua
tolice não é um motivo pelo qual eu pretenda morrer, Alfonso.
Katherine: Entre. - Disse, parada na frente da janela. O vento brincava com os cachos
dela.
Anahí se pôs a trabalhar. A cama era enorme e precisava ser feita logo. Trabalhou
em silencio, estirando os lençóis, as cobertas, afofando os travesseiros... Enfim.
Katherine: Me diga algo que eu precisasse que você poderia me dar. - Disse, divertida
com a idéia. Anahí ergueu as sobrancelhas, considerando.
Anahí: Não... Sei. A senhora apenas parece triste. Pensei que quisesse algo. Perdão.
Katherine: Não, me perdoe tu. Fui grossa, você só quis ajudar. - Disse, saindo de perto
da janela. Usava um vestido cinza. Ela suspirou, olhando o quarto - Estou realmente
infeliz, mas não é nada que ninguém possa resolver.
Katherine: Implorei a Ian que não aceitasse o pedido de Alfonso. Essa guerra não é
nossa, não precisávamos estar aqui. Mas não sei, parece que o instinto da briga, da
batalha, correm junto com o sangue dele, e ele aceitou. - Ela se sentou em uma poltrona
- Agora todos os dias são dessa incerteza. Não sei se seremos atacados. Não sei quando
meu marido resolverá atacar. Não sei quando vou vê-lo sair pro campo de batalha, e não
sei se retornará. Essa instabilidade me incomoda.
Katherine: E o pior: Nós éramos felizes, Anahí. - Disse, o rosto com um tom de raiva -
No nosso reino não há uma fronteira tão fortemente guardada, não há homens sendo
treinados para morrer, não há famílias destroçadas. Lá há paz, há calma. Éramos felizes.
Fomos felizes desde o momento em que Ian me tirou para dançar no baile em que os
pais dele deram para escolher sua noiva. Esta guerra não é nossa! Eu não conheci Dulce
María, e eu não quero que meu marido se arrisque para vingar a morte dela! - Ela
suspirou novamente, o rosto delicado - A cada dia eu espero que isso tudo acabe, mas
por fim não quero que aconteça. Não vou suportar vê-lo sair para a batalha; embora
cada dia saiba que está se aproximando.
Katherine: Não. Como disse, o instinto da batalha está no sangue dele. Ele já sente
como se essa briga fosse a briga dele. - Ela parou, raciocinando - Pelo menos se
Madison me ouvisse! - Disse, contrariada. - Temos nos correspondido, mas eu entendo
ela.
Anahí: Madison?
Katherine: Uma velha amiga. Esposa de Christopher. Aliado que Alfonso precisa para
encerrar com isso. - Explicou - Eu entendo que ela não se sinta impulsionada a vir até
aqui, eu não viria, mas com o poder de armas que Christopher tem tudo isso se tornaria
mais fácil. Se Paul soubesse que Christopher estava vindo, capaz seria de ele recuar.
Anahí não conhecia Christopher, mas algo era certo: Já tinha medo dele. E em
parte, da esposa também. Anahí pensou em qual seria a reação de Katherine se
soubesse quem ela realmente era.
Anahí: Eu sinto muito. - Disse, sincera - Realmente espero que isto tudo termine logo, e
que termine bem. - Katherine sorriu de canto.
Katherine: Mas uma vez perdoe-me, fui rude. Você só queria ajudar. A oscilação não
me faz bem, perdoe. - Anahí assentiu.
Uma hora havia um rei em sua cama. Na outra, uma rainha lhe pedindo perdão. E
Anahí era uma plebéia do reino inimigo. A cada dia isso se tornava mais e mais
confuso.
Um mês depois...
Alfonso queria Anahí. Ele precisava dela. Parecia que a cada dia que passava
resistindo seu coração passava a tentar bombear palha no lugar do sangue, entre
as veias. Ele sentia a garganta seca, as mãos ansiavam. Passar por ela e ignorar era
como ingerir fogo. Parecia o inferno. Ele estava andando pro rio. Era o que sempre
fazia quando estava desnorteado: Ia até lá, se sentava e pensava até pôr as coisas
em ordem. Porém parou ao avistar o rio.
Anahí havia ido ali com o mesmo intento que ele. O vestido dela se achava dobrado
em um ponto seco, na terra. Ela boiava na agua, os olhos fechados, os braços
abertos, os cabelos boiando a sua volta. A correnteza não estava tão forte hoje pois
não ventava, logo ela apenas oscilava no mesmo ponto. Parecia um convite a ele.
Um convite quase irresistível. Alfonso se amparou em uma arvore, angustiado
entre o que era certo e o que queria fazer, observando-a. As mãos dela estavam
espalmadas na água, o corpo parecendo gritar pelas mãos dele. Alfonso olhou o
vestido dela no chão. Repousado delicadamente em cima do vestido estava o
escapulário. Ela o retirara certamente com medo de perdê-lo na água, mas vê-lo ali
mostrou a Alfonso que ela ainda o usava, que ainda se importava.
Anahí: O que faz aqui? - Perguntou, sobressaltada. Ele ergueu os olhos pra ela, tarde
demais pra vir na defensiva.
Os dois se encararam por minutos. A vontade era tanta que podia ser sentida no
ar. Nenhum dos dois disse nada. Alfonso sabia que se ela saísse da água com a
roupa molhada, grudada ao corpo, sua sanidade iria ao inferno. Mas ela não saiu.
Apenas o encarou, em uma pergunta muda. Porque? O que ela fizera de errado?
Por fim ele recuou, ainda encarando-a. Ela teve vontade de dizer: "Fique.", mas
não disse. As lembranças daquele lugar eram fortes e recentes demais pros dois. E
ele virou as costas, saindo.
Anahí terminou de servir o jantar. Alfonso cutucava a mesa com a faca. Parecia
estar tentando esfaqueá-la. Anahí pôs a ultima travessa na mesa, e Ian se
pronunciou.
Ian: Avise Mrs. Katherine de que o jantar está servido, por favor. - Disse, esparramado
em sua cadeira.
Alfonso: Deus, eu não posso nem pensar. - Ele largou a faca, colocando as mãos na
cabeça.
Ian: Ela passa bem a sua frente, todo o tempo, e você a rejeita. É mais imbecil do que
posso calcular. - Pensou consigo próprio.
Alfonso: Ian, eu tenho uma esposa. - Disse, as mãos dentro dos cabelos.
Ian: E ela está morta há 05 anos. - Disse, imediatamente - Com todo o respeito que me
cabe, a essa altura o corpo dela já se desfez.
Ian: Não uma criada; Uma mulher. Tente não ser idiota. - Impôs, parecendo entediado.
Ian: Eu sofreria tanto quanto fosse possível. Mas quando, anos depois, aparecesse outra
que me atraísse eu não iria para a cama com uma pintura, acredite. - Garantiu.
Katherine: Porque toda vez que eu entro na sala você está dizendo algo que me soa
indecente, querido? - Perguntou, sorrindo, ao entrar. Alfonso e Ian se levantaram.
Ian: Não foi por isso que você aceitou se casar comigo? - Perguntou, parecendo
confuso. Ela sorriu, apaixonada. A própria Anahí riu consigo mesma, baixinho. Alfonso
voltou a se sentar e Ian foi puxar a cadeira para a esposa se sentar. - Pode servir o jantar.
- Disse a Anahí.
Anahí serviu Katherine, que mais uma vez comeu muito pouco, Ian, e por ultimo
Alfonso. Ela não sabia como se aproximar; As refeições eram o inferno. Se
manteve o mais longe que pode, evitando tocá-lo ou entrar em seu campo de
visão... Mas ela não podia controlar o próprio perfume. Ele atingiu Alfonso como
uma lamina afiada, e ele olhou pra frente, martirizado.
Ian: Pode se retirar. - Disse, vendo que Alfonso não dava ordem alguma.
Anahí assentiu e saiu, sumindo pelo corredor. Alfonso nem olhou pra comida. Se
houvessem largatas em seu prato ele não teria visto. Olhava a toalha da mesa, a
expressão torturada, como se estivesse asfixiando. Levou dois minutos pra ele se
levantar em um rompante, dando as costas. Ian riu.
Ian: Boa sorte. - Disse, levando o garfo a boca. Katherine sorriu, sem entender, olhando
os dois.
---*
Alfonso foi direto ao quarto dela, mas ela não estava lá. Que diabo! Não podia
haver tempo pra se arrepender, ou voltar atrás. Ele andava a passos largos, quase
ofegando pela corrida. Foi quando parou na cozinha.
Alfonso não respondeu, pensando. Ela recebera dispensa e não estava no quarto...
Ele sabia onde ela estava.
Nina ergueu as sobrancelhas, e buscou algo preso na cintura de seu vestido. Era
um chaveiro com uma cópia de todas as chaves do castelo. Haviam mais de cem
chaves, mais de duzentas, Alfonso não sabia dizer. Ele saiu sem dar explicação. Só
parou quando chegou a frente da sala de banho dos funcionários. Havia barulho
de água lá dentro. Alfonso tentou abrir a porta, estava trancada. Levou minutos
até ele conseguir encontrar a chave certa dali. Ele já havia chamado por todos os
demônios que conhecia até lá. Abriu a porta com cuidado, fechando-a atrás de si.
Pensou por um instante, mas reconheceu o perfume dela. Era ela que estava ali.
Alfonso caminhou, ainda hesitante, pela sala, até um dos boxes. Era apenas um
quadrado de madeira, que ocultava o corpo da pessoa, no caso Anahí. Ela estava
de costas. Ele só via até o ombro dela.
Tinha os cabelos emaranhados em espuma. Alfonso sorriu ao vê-la sacudir a
cabeça, após puxar a cordinha que fazia cair água. Anahí se virou e se sobressaltou
ao vê-lo ali.
Anahí: Meu Deus. - Disse, pondo a mão no peito, respirando fundo pelo susto.
Os dois se encararam novamente, azul contra verde, sem nada dizer. Até que
Alfonso largou o molho de chaves (que caiu com um barulho estrondoso no chão),
indo até ela. Ele abriu a porta do box, apanhando-a nos braços e beijando-a
agressivamente. Anahí o aceitou, ofegante e feliz. Ele voltara pra ela. Na afobação
dois terminaram por puxar a cordinha. Um jato de água caiu na nuca de Alfonso,
fazendo Anahí rir. Ele sorriu e a beijou novamente. Daquele ponto até ele ter
perdido as roupas, que ficaram pelos cantos, foi muito rápido. Os dois não se
soltavam por nada, a respiração era difícil, a vontade guardada era muita. Sem
contar que o espaço era mínimo. Quando Alfonso, por fim, possuiu Anahí, os dois
pararam por um instante, apenas desfrutando a sensação. Porém, quando ele se
moveu...
Anahí: Ai. - Gemeu, franzindo o cenho - Não, pára! - Disse, espalmando as mãos no
peito dele. Alfonso a olhou, confuso.
Alfonso: O que há? - Perguntou, a voz quebrada. Como ela era louca de mandá-lo parar
agora?
Anahí: Eu não sei, eu... - O corpo dela parecia estar se adaptando, se adequando.
Anahí: Me dê um instante. - Pediu, confusa com o que sentia. Aquilo costumava ser
bom, qual era o problema?
Anahí: Eu acho que... - Ele a encarou. Ela estava corada, isso dispensava o resto da
frase.
Ele tentou novamente, e dessa vez ela não se queixou. Logo os dois se consumiam
ardorosamente, com todo o ímpeto que a saudade exigia. De vez em quando um
dos dois se batiam na cordinha, ganhando um jato de água pela cara ou pelas
costas, o que garantia os risos. Quando terminou Anahí abafou um grito no ombro
dele, que se deixou vir chamando pelo nome dela, as mãos apertando-a
saudosamente. O silencio reinou ali. Nenhum dos dois sabia o que fazer, ou o que
dizer. Então Anahí, ainda no colo dele, puxou a cordinha, fazendo a água cair sob
os dois de novo. Os dois riram.
Alfonso: É claro que não o fez. Eu só... Minha esposa... - Anahí esperou - Esquece isso.
- Disse, franzindo o cenho. Não queria falar de Dulce María.
Anahí: Senti saudade. - Disse, abraçando-o. Alfonso sorriu do jeito de menina dela,
retribuindo o abraço, enquanto beijava seu ombro. Fazia um frio cortante ali, tanto pelo
clima lá fora tanto porque os dois estavam molhados.
Alfonso: Vamos pro seu quarto? - Convidou, ainda beijando o ombro dela.
Anahí: É a primeira vez que você pede permissão. - Comentou e ele riu, dando de
ombros - Mas eu quero que você vá. - Disse, beijando a orelha dele, que sorriu.
Anahí: Porque alguém vai ter que usar as toalhas que eu trouxe para mim. - Disse,
apontando com a cabeça pro bolo de roupas molhados.
Anahí: Será potencialmente problemático. - Disse, se aproximando com uma toalha. Ele
estava dentro do box, com a porta fechada, escorado na porta. Os músculos dos braços,
naquela posição, se viam bem mais agressivos. Ela secou o rosto dele ternamente, o
toque da toalha sendo suave - Mas daremos um jeito. Eu posso ir buscar outra muda de
roupas. - Propôs.
Alfonso: Não. - Disse, imediatamente. Anahí o olhou - Ian ainda está a solta. Não quero
que você se bata com ele vestida assim. - Explicou, e Anahí riu.
Anahí: De qualquer forma, saia dai, vai se resfriar. - Disse, secando o cabelo dele, que
ficou todo arrepiado.
Anahí: Er... Eu dispenso. - Ele riu - Estou falando sério, vai se resfriar! - Ralhou.
Alfonso: Não posso sair por ai nu, nem enrolado em uma toalha! Eu sou um rei. - Disse,
debochado. Anahí revirou os olhos.
Alfonso viu, divertido, ela torcer suas roupas o Maximo que pôde, mas por fim
ainda estavam molhadas. Ela entregou a ele ficando com a camisa na mão, ainda
na tentativa de torcê-la mais. Por fim Alfonso saiu, com as roupas molhadas. Com
sorte ninguém os viu no corredor. Ao entrar no quarto dela ele largou o colete
molhado em um canto no chão, se livrando da camisa, mas ela havia recuado. Ele
não entendeu até vê-la bater a porta. Tentou abrir, estava trancada. A explicação
veio quando ele ouviu o barulho do pesado molho de chaves, vindo do lado de fora.
Anahí: Use as toalhas. Não faça barulho. Eu já volto. - E ele ouviu os passos dela se
afastando. Ela era louca?
Demorou minutos. Anahí não foi até o quarto dele; Foi até a lavanderia. Estava
tudo deserto por lá. Ela usou uma das chaves para abrir a porta. O diabo é que
estava tudo escuro. Levou minutos para ela conseguir achar um conjunto completo
de roupas para ele. Por fim fechou a porta, voltando. Um raio não cai duas vezes
no mesmo lugar: Ela se bateu com Nina no corredor. A outra olhou a muda de
roupas na mão dela, o molho de chave que Alfonso havia lhe tomado, e o cabelo de
Anahí, ainda molhado. Juntou as peças e soube o que havia acontecido. Anahí não
disse nada, apenas passou por ela no corredor, apressando o passo. Algo lhe dizia
que Nina era problema pequeno comparado a deixar Alfonso preso muito tempo.
Ela entrou no quarto, trancando a porta atrás de si. Ele estava enrolado em uma
toalha, e com outra em volta do pescoço. Ela riu.
Anahí: Trouxe roupas. E nem me bati com Mr. Ian. - Disse, se justificando.
Anahí: Por uma causa nobre. - Ainda tentou, mostrando a ele as roupas secas e limpas
em seu braço, enquanto largava a chave na cômoda.
Alfonso: O que acontece com quem desobedece um rei? - Perguntou, obvio. Anahí
esperou - Você vai ser punida. - Disse, a voz suave demais pra não ser perigosa -
Tranque a porta e venha.
Anahí estava apanhando de Alfonso. Ela nem acreditava nisso. Começara com
uma pergunta confusa.
Alfonso: Não faça perguntas, apenas me obedeça. – Ordenou, autoritário. O tom de voz
dele fez ela se arrepiar.
Anahí deu um passo hesitante, logo depois outro. Alfonso observava, o rosto
impassível, mas rindo absurdamente por dentro. Quando Anahí chegou ao alcance
dele ele bateu nela com a toalha que tinha na mão, ensopada. Alfonso aprendera,
em uma brincadeira de criança, que golpes de tecido molhado não deixavam
marca. Ótimo. Ele viu os olhos dela se abrirem em placas, surpresa, mas logo outro
golpe a atingiu. Ele a agarrou pelo braço, batendo nas laterais do corpo dela com a
toalha como quem bate em uma criança com um cinto. Aquilo não doía, apenas
causava um impacto ardido. E uma sensação que ela não sabia reconhecer, vinda
do fato e estar submissa, subjugada por ele. Na linguagem de hoje em dia ela sentiu
tesão por isso.
Anahí: Pare... – Disse, se esquivando. Os dois giravam pelo quarto, ela tentando se
soltar e se esquivar e ele golpeando-a e segurando-a. Os dois riam. – Em nome de Deus,
pare! - Pediu, sem fôlego.
Anahí foi arremessada na cama. Aquilo resultava divertido. Ambos sabiam que se
ele quisesse aquela cena podia ser real; A propósito, sob ordens dele, ela já levara a
maior surra de sua história até agora. Mas agora não. Agora o clima era leve,
gostoso. Anahí, ao perceber que na cama não tinha pra onde correr, tentou se
levantar em um rompante. Mas ele já estava lá. A apanhou pelos ombros,
arremessando-a de volta na cama, agora de barriga pra cima. Os cachos dela
dançaram a volta dela, e ele observou aquele ato, fascinado. Alfonso a prendeu
entre as pernas, e ela protestou, tentando se levantar. No impulso o estapeou. Os
dois pararam com o gesto dela. Os dois se encararam um instante, antes de
voltarem a falar. Era cômico.
Alfonso: Por mais que eu a castigue, você nunca aprende. Me bateu! – Exclamou,
admirado – Nunca aprende.
Alfonso: E te atreves a mentir para mim. Olhe só teu rosto! – Ele apanhou o rosto dela
com uma mão (a outra ainda segurava a toalha), erguendo-o. A pele dela estava quente
sob a mão dele. – Está em fogo. – Disse, em um murmúrio. Ela apenas o encarou.
Ofegava sem ter um porque exato. – Mas você vai aprender. – Ele largou o rosto dela,
que voltou a cair na cama – Eu vou te mostrar.
Alfonso largou a toalha. Ela viu ele apanhar sua camisola pelas duas abas, e antes
que protestasse o tecido se rasgou. Alfonso continuou destruindo a camisola dela
até que ela só ficou com o short. Foi quando ele parou, para observar o trabalho
feito. Era uma vez uma camisola. Ela tinha o rosto corado por sua nudez, os
cabelos que ele tanto amava largados ao seu redor, alguns cachos por seus ombros,
os seios fartos de presente aos olhos dele, assim como a barriga definida. O short
sobreviveu. Anahí, tomada pelo rubor, se tapou.
Alfonso: Como ousa? – Perguntou, forçadamente ultrajado. – Tire os braços. – Ela não
se moveu – Anahí, isso foi uma ordem. – Repetiu. – Agora.
Anahí: Não. – Respondeu, a voz tremula pela ousadia e pelo riso preso. Viu ele erguer a
sobrancelha, o verde dos olhos surpresos.
Alfonso: Vejo que não foi o suficiente. – Comentou, meio que falando consigo mesmo.
E a toalha, úmida e molhada, bateu no ombro e no braço de Anahí estremeceu, se
mantendo. Alfonso voltou a investir seus golpes contra ela. Era ardido, mas não
chegava a ser dor. Ela se esquivava, rindo e se debatia contra ele, tentando se
levantar, sair dali, os braços ainda tapando os seios. Anahí soltou os seios e passou
a lutar com ele pra tomar a toalha. Sua pele já estava vermelhinha, irritada, mas
aquilo não deixava de ser bom. Ela o empurrou deitado na cama, com ela por
cima. Alfonso podia lançá-la no inferno, mas deixou que ela o dominasse.
Anahí: Solte isso. – Disse, tentando soltar a toalha da mão dele. Alfonso ria do esforço
dela. – Ande, solte! – Anahí não percebia em cima de que estava sentada, e de que
estava quase nua. Ele apenas observava. Ela se abaixou e mordeu o punho dele, que no
susto largou a toalha, que caiu no chão.
Alfonso: Feiticeira amaldiçoada, agora até mordes? – Anahí riu, vitoriosa – Cigana. –
Acusou, mordendo o ombro dela, enquanto suas mãos desciam pela pele clara de suas
costas de modo pegado.
Anahí não viu como, mas estava por baixo. Ela imediatamente tentou se tapar, mas
ele já havia detido seus braços.
Alfonso: Não senhora. – Disse, afastando os braços dela – Não mais. – Disse, e parecia
estar falando consigo próprio.
Alfonso beijou o queixo dela suavemente antes de baixar o rosto de vez. Ele estava
faminto. Quando a boca dele alcançou os seios dela Anahí arfou, se arqueando,
pela intensidade. Parecia que o tempo que passara afastado dela piorara sua
brutalidade. Vendo ela se arquear ele a abraçou pelas costas, lhe mordendo os
seios, beijando. Anahí se amparou nos ombros dele, sentindo aquela sensação
estranha se apoderar dela outra vez. Mesmo concentrado nos seios dela ele
percebeu o gesto inconsciente dela de abrir-lhe as pernas, acolhendo-o. Era o corpo
pedindo de forma muda. Anahí nem viu que fez aquilo, ela nem percebeu.
Ela só percebeu que havia o acolhido dentro de suas pernas quando ele pressionou
a intimidade dos dois, a dele já ativa e viril, o que a fez gemer, surpresa. Alfonso
sorriu, enquanto se deliciava nos seios dela. Pareciam ter sido feitos só para seu
paladar, na medida e no formato certo. Anahí acariciou os cabelos dele, os olhos
fechados, deixando que ele se banqueteasse. Os seios de Anahí já estavam
vermelhos, sensíveis, os mamilos túmidos, quando ele a deixou. A boca desceu pela
barriga dela, parando um instante no umbigo. Anahí se sobressaltou ao ser beijada
ali. A sensação era estranha, e causava cócegas. Ele mordeu a barriga dela em
alguns pontos, sentindo a pele de pêssego se retrair ao toque de seus lábios. Mas
não havia o gosto que ele queria: O gosto dos lábios dela. Assim ele voltou a boca
dela, tomando-a em um beijo repentino. Que saudade! As línguas se encontraram e
se reconheceram imediatamente em um beijo ávido, apaixonado. Durou alguns
instantes, mas Anahí sentia que aquilo não consistia apenas em deixar que ele a
tocasse. Foi incerta que ela largou seus lábios e, hesitante, lhe beijou o rosto, perto
da orelha.Era pecado estar degradando aquela inocência, mas era excitante
demais, e ele arderia no inferno. Ele sentiu as mãos dela, incertas, pousadas nos
músculos de seus braços, de modo hesitante.
Alfonso: Você quer me tocar? – Perguntou, a voz rouca pelo esforço de não tocá-la.
Anahí assentiu, umedecendo os lábios – Faça-o.
Anahí: Não sei como. – Admitiu, se achando estúpida. Alfonso estremeceu com aquela
confissão. Era mesmo um depravado pra se excitar assim pela inocência de alguém.
Alfonso apanhou a mão dela, pondo-a em suas costas. Ela contornou os músculos
dele, guiada pelo próprio, até que se soltou. Gostava de sentir os relevos, a pele
firme. O acariciou por instante, até que suas mãos alcançaram o nó da toalha. Ele
a encarou, encorajando-a. Anahí pensou na hipótese e algo forte atravessou seu
corpo.
Anahí: Eu acho que há algo errado. – Alfonso franziu o cenho – Comigo. – Ele
continuou confuso – Toda vez que nós... – Ele esperou, tentando entender – Acontece
algo. Algo... Estranho. – Ela estava vermelho sangue.
Anahí: Quando estamos assim... Acontece algo... Algo com meu corpo. – Disse, e ele
assentiu, entusiasmando-a. – É algo que só acontece quando eu estou com você. Uma
parte do... Do meu corpo, fica estranha.
Alfonso: Que parte? – Perguntou, ainda boiando. Pelo rosto dela viu que ela não falaria.
– O que você define como estranho?
Anahí: Quente. – Alfonso sorriu ao entender o que era. Como era possível que houvesse
alguém tão inocente no mundo?
Alfonso: Creio que sei o que é. – Anahí esperou, envergonhada e ansiosa. Talvez
estivesse doente. Pode parecer patético, mas ela realmente não sabia porque aquilo
acontecia. Talvez estivesse doente. Porque ele estava com aquele sorriso no rosto? –
Quente. – Anahí assentiu – Molhado. – Ela ruborizou mais ainda. – Como... Isso? –
Perguntou, e Anahí não pôde reprimir, foi rápido demais. A mão dele desceu por sua
barriga, sumindo por dentro de seu short e encontrando a intimidade dela. – Como isso?
– Perguntou, em um murmúrio, os dedos explorando a intimidade dela, quente e
molhada como fora avisado. Anahí parecia ter perdido a capacidade de falar, então
apenas assentiu.
Alfonso levou um dedo ao interior dela, logo um segundo. Ela olhava pra frente, as
unhas cravadas no ombro dele. O interior dela se tornava cada vez mais úmido;
apesar do choque ela gostava daquilo. Ele mordiscou os lábios dela, deliciado por
sua inocência. Ele moveu os dedos e ela arfou, languida.
Alfonso: Isso vai acontecer com você toda vez que você tiver vontade de estar com
alguém. – Algo mordiscou Alfonso ao imaginar que outro homem poderia tocá-la.
Anahí: Então eu creio que quero muito estar com você agora. – Disse, em um
murmúrio, enquanto o encarava. Alfonso a olhou como se esperasse encontrar algo
dentro dos olhos dela. Ela apenas observou o verde intenso dos olhos dele, satisfeita por
estar ali, por ser a escolhida.
Depois daquela revelação nada mais foi dito. O ato se consumou minutos depois.
Alfonso a possuiu como se não fosse ter mais a oportunidade, de modo
desesperado, e ela entregou tudo o que podia. Quando terminou ele a abraçou,
trazendo-a pro seu peito, beijando-lhe a testa. O silencio reinou por instantes.
Anahí: Só... Só acontece quando estou perto de você. Quando me toca. Quando ouço
sua voz, quando fala comigo. – Admitiu.
Alfonso: Então vai acontecer muitas vezes mais. Eu vou fazer acontecer sempre que
puder. – Prometeu, mordendo a orelha dela.
Anahí: A propósito... Eu estava mesmo gostando das toalhadas. – Brincou e ele riu
gostosamente, fazendo-a sorrir.
Em seguida ele trouxe o rosto dela pra si com a mão, beijando-a docemente. Logo
dormiriam. E nada mais seria dito.
---*
Suri: Papai, eu sou princesa, não sou? – Essa pegou Alfonso desprevenido.
Suri: Pois então como princesa herdeira e futura rainha eu ordeno que Anahí passe a
tomar conta de meus afazeres. – Disse, solene.
Suri: Papai, não ria de mim! – Pediu, mas Alfonso ainda ria – E então?
Alfonso: Ai... – Ele pôs a mão em cima da barriga, ainda rindo – Eu vou pensar no
assunto. – Um sorriso iluminou o rosto de Suri – Eu disse pensar, Suri. – Disse, severo.
Suri: Entendo, claro. – Disse, satisfeita.
Alfonso: Vou descer. Seja uma boa menina com a Srta. Dobrev. – Ordenou, se
levantando.
Suri: Eu sempre sou. – Disse, ainda sorrindo. Alfonso sorriu e beijou a testa da filha,
saindo.
Alfonso terminou de descer as escadas rindo. Que diabo, mal tinha 05 anos e já
queria mandar nele! O sorriso de Alfonso se fechou ao se bater com Ian.
Alfonso: De Robert? Pensei que ele houvesse dado seu parecer final, que não viria. –
Disse, confuso.
Ian: Acontece... – Começou, circulando a aliança em seu dedo – Que Katherine mantém
contato com Madison. Há tempos vem tentando convencer Madison a induzir
Christopher a aceitar nossa proposta. Não me pergunte como isso, eu só soube ontem. –
Disse, tentando se resumir – Madison não quer Christopher no fogo cruzado, porém tem
um velho amigo... chamado Robert. – Disse, irônico.
Ian: Aparentemente foram criado juntos, ou cresceram juntos, não importa. O que
importa é que Madison foi até Robert e conversou particularmente com ele. Como diria
minha ama de leite, vocês brancos que se resolvam. – Disse, pensativo – Algo que ela
disse fez ele pelo menos considerar a proposta, é o que importa. Pelo que soube são
amigos íntimos. Me contaram que Christopher até confia em deixar Madison sair em
viagens de caça com Robert, na floresta. – Alfonso ergueu as sobrancelhas – Curioso é
que ninguém nunca viu nenhum dos dois voltar com qualquer caça. Mas o que eles
caçam não é problema nosso. O fato é: Robert baixou a guarda, então bendita seja
Madison.
Ian: Ainda nada. Não quer se envolver, e ponto. – Ele se levantou, indo até a mesa.
Haviam vários papeis espalhados. Ele olhou um deles fixamente, quase obsessivo – Eu
conheço Christopher. Ele só precisa ver a cara encardida de Paul e estará furioso pela
batalha.
Ian: Ora, é claro que não, porque brigaria? – Perguntou, se endireitando – Deixe que ela
continue a manter contato com Madison. Vai que um dia desses convence a própria a
jogar o marido no tabuleiro? Elas mulheres que se entendam. – Alfonso riu. – Falando
em mulheres...
Alfonso: E ele está. A propósito, eu estou com fome. Morrendo. – Ian riu - Com licença.
– E saiu da sala.
O dia passou nos conformes. Alfonso tomou seu café e voltou a discutir táticas de
ataque com Ian. O problema é que eles queriam que Paul atacasse: Quem ataca
perde força com isso. No fim da tarde eles pararam. Alfonso saiu caminhando,
pensando em tudo. Suri tentando dar uma de rainha pra cima dele. Katherine e
Madison... Não, Dulce jamais teria coragem de fazer o que Katherine fizera, tão
tímida que era. Seu pensamento não pode evitar constatar que Anahí o faria sem
pensar duas vezes. Ele passou a mão no cabelo, espantando aquilo, foi quando viu
Ian e Katherine, passeando de mãos dadas pelo jardim. Ian já ria. Alfonso
respirou fundo; Não havia mais como desviar.
Ian: Pelo que eu soube. – Sussurrou, ao passar por Alfonso – Ela está na lavanderia.
Por fim Ian seguiu seu caminho com a esposa, e Alfonso voltou a caminhar.
Andou... Andou... E quando percebeu estava na área da lavanderia. Já que estava
lá não custava nada, não é?
Ele estava prestes a desistir quando a encontrou. Estava em uma sala fechada com
pilhas de roupas, passando-as. Ele fechou a porta em silencio e a agarrou pela
cintura, afundando o rosto em seu pescoço. Anahí se sobressaltou mas sorriu.
Anahí: O que faz aqui? – Perguntou, divertida – Ei! – Alfonso havia mordido seu
ombro.
Anahí: Eu avisei para que tivesses cuidado. – Disse, preocupada – Me deixa ver. – Ela
apanhou a mão dele, vendo a pele vermelha, irritada – Espera aqui.
Alfonso: Não precisa, foi só um... – A porta bateu, deixando-o só – Ótimo. – Murmurou
sozinho.
Alfonso: Não há roupa demais aqui? – Perguntou, pondo o cabelo dela atrás da orelha
com a mão livre.
Anahí: Ontem a noite, quando vim aqui buscar roupas pra ti, Nina me viu na volta. –
Disse, deliciada com o carinho – Supôs a verdade, então está tentando me derrubar
novamente. – Disse, dando de ombros.
Anahí: Não! – Disse, cortando-o – Já falam demais sem que você saia por ai me
defendendo. Está bem como está, eu dou um jeito. – Ela trocou o lado do paninho,
pondo o lado mais frio na mão dele. Os ferros de antigamente eram grandes e pesados,
feitos de metal e preenchidos com carvão em brasa. Para manuseá-los a pessoa
precisava proteger a mão com um pano, e a todo tempo caiam cinzas na roupa, o que
prejudicava e muito. As mãos frágeis de Anahí estavam doloridas, mas ela não se
queixou.
Alfonso: Olha pra mim. – Disse, erguendo o rosto dela. A memória dele nunca parecia
fazer justiça, o azul dos olhos dela era cada vez mais misterioso – Eu quero que tuas
mãos, assim como teu corpo, sejam guardados para mim, não mutilados em uma taboa
de roupas. – Disse, tocando os lábios dela com o dedo. – É minha vontade. É lei.
Alfonso: Não preciso criar uma lei, é só dar uma ordem. – Disse, franzindo o cenho.
Anahí passou a mão no cenho dele, desfazendo-o.
Anahí: Eu estarei lá esperando por você, sempre que me procurar. Não é o suficiente? –
Perguntou, sorrindo de canto. – Tu vais me beijar. – Constatou, vendo o rosto dele. Ele
sorriu.
Alfonso nem viu. Anahí fez um movimento simples e um bolo de roupa caiu por
cima dele, seguido pelo peso dela, que sentou em seu colo. Ele piscou, afastando o
nariz do tecido, e ela abriu o vestido, tapando as pernas dele.
Nina: Não me ouviu chamar? – Perguntou, olhando Anahí – Porque está sentada? Acha
que aqui é tua casa?
Anahí: Acho que torci o tornozelo. – Mentiu, segurando o tornozelo. Nina ergueu a
sobrancelha.
Anahí: AI! – Gritou, se sobressaltando. Alfonso alcançara as coxas dela por debaixo do
vestido, e a beliscava. Ela ouviu o riso rouco dele em seu ouvido.
Nina: Está doendo? – Perguntou, satisfeita.
Nina: Enfim, não demore ai, você ainda tem mais trabalho depois disso. – Disse,
olhando em volta – Preciso de um jogo de toalhas. Acreditas que a peste, o demônio da
Suri conseguiu se sujar toda com o painel de tintas? – Perguntou, apanhando as toalhas.
Os braços de Alfonso se imobilizaram. – Eu ainda avisei, mas não me deu ouvidos.
Agora está com o cabelo seco de tinta óleo. Ah, se coubesse a mim...
Anahí: É só uma criança. – Disse, agora lutando pra manter Alfonso sentado. Parecia
que o outro tinha o ímpeto de se revelar.
Nina: Uma criança mimada porque não consegue andar. Lá é culpa minha que é
aleijada? – Um rosnado havia naquela sala, mas só chegava aos ouvidos de Anahí – Eu
já vou. Quanto mais tempo eu demoro, mais a tinta seca. Volte a passar a roupa. – E ela
saiu.
Anahí tropeçou quando Alfonso conseguiu se libertar. O rosnado dele ecoava pelo
quarto, estava branco feito giz. Ele retirou a ultima peça de roupa de cima de si e
avançou para a porta. Anahí entrou no meio.
Alfonso: Não me obrigue a te tirar a força, você sabe que eu posso! Saia! – Anahí se
agarrou a porta – É uma ordem, saia agora!
Ela passou a mão na fechadura, trancando a porta, e obedeceu, saindo. Ele puxou
a porta que não obedeceu, e percebeu o que ela fizera.
Alfonso: Não é hora para brincadeiras, me dê a chave. – Ordenou, avançando pra ela.
Alfonso a encarou, a fúria em seus olhos mais que evidente. Não queria descontar
seu ódio nela, mas aparentemente seria impossível.
Alfonso: Só vou ordenar mais uma vez. Me dê a chave. Ela continuou recuando.
Alfonso: Acha mesmo que eu não vou pegar? Porque você está defendendo ela?!
Alfonso: Como é? Ela chamou minha filha de demônio! Aleijada vai estar ela se
sobreviver ao que vai passar, anda, me dá a chave! – Ele avançava mais ainda.
Anahí: Eu sei que ela chamou, mas você não. Você não estava aqui, Alfonso! – Isso o
desarmou. – Não nos denuncie por sua raiva.
Alfonso: Eu tenho pena da alma dela quando eu puser minhas mãos nela. – Rosnou.
Anahí: Depois, por outro motivo. Esse não. – Ela o fez sentar novamente. Alfonso
ofegava.
Alfonso: Estou com raiva. – Rosnou, enquanto ela acariciava seu cabelo – Me distraia. –
Pediu, antes de amparar a cabeça na barriga dela.
Anahí: Já passou. Foram só comentários maldosos, ela gosta de fazer isso. – Disse,
acarinhando-o.
Anahí: Não vai não. Vai ficar aqui comigo, e se acalmar. – Disse, acariciando-o.
Alfonso: Suri nunca teve nem a oportunidade de... Tudo por causa daquele desgraçado.
– Murmurou. Anahí tinha os olhos fixos a frente. Ela tinha algo a dizer, mas se dissesse
ele não confiaria e ela não poderia tentar. Ah, sem contar que ele a mataria.
Alfonso ficou parado, sentindo o carinho dela por um bom tempo. Mas seu ódio
não passava. Ela sentiu quando ele apertou suas coxas pelas laterais, respirando
fundo.
---*
Alfonso: Anjo. – Disse, se sentando na cama da filha. Suri ergueu o rosto do livro de
colorir que tinha no colo – Você gosta da Srta. Dobrev?
Suri: Não. – Disse, curta e clara. Alfonso piscou, achando graça da espontaneidade.
Alfonso: Porque? Ela maltrata você? – Perguntou, como quem não quer nada.
Suri: Não, ela só é chata. Não tem graça ficar com ela. – Disse, se esticando na cama –
Mas se o senhor colocasse Anahí no lugar dela... – Interrompida.
Alfonso: Não comece. – A menina riu, sapeca – Alguma vez a Srta. Dobrev fez algo
que machucou você? Algum acidente... Algo assim? – Algo que levaria a cabeça dela
pra forca, por exemplo.
Alfonso: Tudo sim. Eu só precisava saber. Você já jantou? – A menina assentiu com a
cabeça – Não deveria ir dormir agora, então?
Alfonso: 05 minutos.
Alfonso: O que eu faço com você? – Perguntou, passando a mão no cabelo. A menina
riu – 10 minutos e eu venho ver você. – A menina assentiu.
Alfonso deu um beijinho na testa da filha e saiu. Ainda espumava de raiva, mas
Anahí o fizera prometer que não faria nada. Ele cumpria suas promessas. Ele não
torceria o pescoço de Nina, isso era cumprir sua promessa. Voltou em 10 minutos e
pôs Suri na cama, cobrindo-a do frio que fazia. A menina pediu pra que ele lesse,
pra atrair seu sono. Assim ele terminou na cama dela, sem sapatos, lendo um livro
grande e ilustrado. Quando a menina dormiu ele a abraçou forte, beijando-lhe os
cabelos. Nem que lhe custasse a vida, nunca nada de mal aconteceria a Suri. Por
fim a pôs entre as almofadas, guardou o livro e apagou as velas, saindo. É claro
que não foi pro próprio quarto.
Anahí: Até que enfim! – Disse, ao vê-lo entrar no quarto – Já estava prestes a ir atrás de
ti! – Disse, suspirando aliviada. Não havia sangue na roupa dele; Nina estava viva.
Alfonso: Fiquei um pouco com Suri. – Disse, abraçando-a – O que ia fazer, entrar na
sala, pedir licença a Ian e me trazer pelas orelhas? – Perguntou, divertido, erguendo-a
do chão. Anahí riu.
Anahí: Algo do tipo. – Disse, manhosa, aceitando a fungada que ele dava em seu
pescoço.
Alfonso trouxe o rosto dela pra si, beijando-a, e a levou até a cama. Os dois caíram
deitados lá, aos beijos e carinhos, e ela o acolheu dentre suas pernas, satisfeita. Na
manhã seguinte...
Alfonso: Srta. Dobrev. – Disse, aparecendo do nada. Nina quase derrubou a bandeja no
susto. Alfonso não de desculpou.
Alfonso: Tenho algo a falar com você... Sobre aquela criada. Anahí. – Disse, com a mão
as costas. Nina esperou. Havia algo estranho nos olhos de Alfonso, como se ele
reprimisse a vontade de atacar.
Nina: É justo, senhor. Todos temos nossas atividades. – Disse, tentando modelar o
ciúme na voz.
Alfonso: Justo. – Repetiu consigo próprio. Os olhos dele ainda tinham aquele brilho
violento, doentio, que não combinava com o rosto calmo – Pois muito bem. A partir de
hoje a Srta. Assumirá o trabalho dela.
Alfonso: O trabalho dela. Você o fará. Todo ele. – Repetiu, respirando fundo pra manter
as mãos nas costas.
Nina: Perdão, senhor, mas não há como me encarregar dos serviços sendo que dedico
meu tempo integral a menina Suri e... – Interrompida.
Alfonso: Suri não é mais responsabilidade sua. A propósito, eu quero você longe da
minha filha. – Disse, e o brilho em seus olhos se tornou mais doentio.
Alfonso: Apenas obedeça. Deixe o café de Suri aqui, e assuma as atividades de Anahí.
Agora. – E ele deu as costas, saindo, deixando-a espumando de raiva.
Ian: No corredor do segundo patamar. – Informou, lendo o folhetim, passando por ele
com uma caneca na mão, sem nem dar atenção. Alfonso fez uma careta, mas já que
servira... Ele foi atrás dela.
Anahí, como Ian dissera, estava lá. Tinha um balde perto dela e um esfregão nas
mãos, secava um lado do chão e esfregava com cera o outro lado, esfregando o
pano com a pontinha do pé. Alfonso parou por um instante, vendo o malabarismo.
Anahí: Me assustas-te. – Disse, pondo a mão no peito. – Estou limpando, o que mais?
Anahí: Economiza tempo. – Deu de ombros – Depois de encerar isso aqui ainda tenho
que lustrar a prataria isso antes do almoço então... – Interrompida.
Alfonso: Largue isso. – Disse, tomando o esfregão. – Maltrata suas mãos. – Disse,
desgostoso, beijando as mãos dela.
Anahí: Eu realmente tenho trabalho. Não me beije, podem nos ver! – Disse, olhando em
volta.
Anahí: Exibido.
Alfonso: Me escute, eu estive com Nina. – Ele viu ela abrir os olhos em placas –
Respire, ela está viva. Eu fui até justo. – Disse, orgulhoso. Ela ergueu a sobrancelha –
Não me olhe assim. Ela já teve seu castigo, e todos os membros estão no lugar. E você
não fará mais nada disso, não quero que minha mulher fique se desmontando por ai.
Era a primeira vez que ele chamava ela de minha mulher. Ela percebeu, ele não.
E ele levou ela. A principio ela não entendeu quando ele a fez apanhar a bandeja
na cozinha, mas ele só parou quando chegaram a porta de um quarto.
Alfonso: Eu... – Ele respirou fundo, hesitando, e a encarou. O verde de seus olhos
estava intenso, como se ele estivesse medo do que fazia, como se arriscasse algo valioso
– Lhe abrindo esta porta estou lhe confiando o que tenho de mais precioso na vida,
Anahí. Aliás, eu estou lhe confiando minha própria vida. Então eu imploro, não me
decepcione. Eu não o suportaria. – Pediu, em tom baixo. Aparentemente quem estava do
outro lado não devia ouvir.
O estouro foi instantâneo. Suri, se pudesse andar, teria saído pulando. Anahí quase
derrubou a bandeja. Alfonso sentiu o pânico repentino que tivera sumir com
aquela reação. Era como se duas velhas amigas se reencontrassem. Ele tentou dizer
que Anahí pegaria as instruções com Nina depois, mas Suri não parava de beijá-lo.
Anahí passou o resto do dia com a menina. Brincaram de boneca, chazinho,
coloriram livros, conversaram, fizeram penteados no cabelo (Sem querer Suri fez
um nó catastrófico no cabelo de Anahí, mas nada que se assuste). A noite a menina
dormiu antes que o pai fosse vê-la, de tão cansada.
Alfonso: Você. – Disse, em um sussurro, puxando Anahí pra si. Não tinha visto ela o
dia todo. Ela arregalou os olhos, sabendo que Suri estava atrás dela, podendo acordar –
Largue estes livros.
Alfonso sorriu ouvindo os passos dela se distanciando. Olhou a filha em seu sono
pesado e saiu, fechando a porta. Anahí ria enquanto corria, segurando os vestidos.
Havia um certo suspense naquilo, os corredores estavam desertos... E um braço
forte apanhou-a pela cintura, erguendo-a do chão, enquanto lhe mordia o ombro.
Anahí balançou as pernas no ar, rindo, e ele lhe pôs no chão.
Anahí: Olha que posso te surpreender. – Desafiou, prensando ele na parede. Alfonso riu
gostosamente. Ela olhou pros lados, verificando se vinha alguém, e apanhou o rosto
dele entre as mãos, beijando-o. O apanhou de surpresa. Ele gostou.
Alfonso: Basta. – Disse, a voz meio cortada, afastando o rosto. Anahí o olhou, confusa.
Alfonso nunca a afastava. – Eu tenho algo pra você. – Disse, a mão passando pelo
cabelo dela de modo insolente e soltando-o do rabo de cavalo.
Anahí não entendeu a principio. Ele apenas apanhou a mão dela e saíram
andando. Ela já não sabia onde estava quando ele parou em frente a uma porta
trancada. Após abri-la ele a levou pra dentro, fechando a porta. As velas já
estavam acesas.
Anahí: O que meu vestido está fazendo aqui? – Perguntou, apanhando seu vestido que
estava estirado na cama, o vestido que ele lhe dera.
Alfonso: É seu. – Disse, olhando em volta – Bom, é nosso. Eu pretendo estar aqui
quando você estiver, então... – Ele deu de ombros.
Anahí: Esse lugar é pra mim? – Perguntou, aparvalhada. Era como um sonho. Nem em
sua casa jamais pudera ter um quarto assim.
Alfonso: Sim. – Disse, se aproximando – Não mando que venha pra cá agora porque tu
virás com aquela história de que vão perceber e blábláblá. – Disse, fazendo uma careta,
e ela sorriu. – Mas venha aos poucos, com o tempo. É tudo seu.
Alfonso: Tem mais. – Disse, e Anahí cambaleou quando ele a fez andar. Havia uma
porta do lado do guarda roupa. Um banheiro. Nada extravagante, mas um banheiro
bonito. Havia até...
Anahí: Uma banheira! – Exclamou, fascinada. Alfonso a abraçou por trás, beijando-lhe
o rosto, deixando ela desfrutar do presente. – É minha também? – Ele assentiu, fazendo-
a sorrir. Ela se desvencilhou dele, indo até a banheira. Já estava cheia. Ela tocou a água,
morninha contrariando a chuva que caia – É porcelana. – Disse, mais pra si mesma.
Alfonso: Porque eu quero. – Disse, obvio – Porque você merece, porque esse quarto é
isolado do resto das dependências, o que nos dá privacidade... E porque eu quero. –
Disse, com uma careta. Ela não costumava ter que se justificar.
Alfonso observou ela por minutos, até que ela o encarou, se levantando. Ele viu,
com um sorriso satisfeito, ela começar a desamarrar o vestido, se despindo
enquanto o encarava. Quis avançar, mas pensando bem olhar seria melhor. O
vestido dela caiu aos seus pés e ela veio até ele, que não fez nada. Anahí se pôs a
desabotoar o colete dele, que apenas a olhava, quieto.
Depois do colete a camisa e o cinto, então o próprio corpete. Ela o abraçou,
estremecendo quando seus seios entraram em contato com a pele quente do peito
dele.
Anahí: Tome banho comigo. – Pediu, puxando-o pra dentro do banheiro. Ele foi,
sorrindo por dentro. Tão menina!
Alfonso: Tomar banho com você? – Perguntou, como se avaliasse, afastando os cabelos
dela do ombro e beijando-lhe a pele sutilmente.
Anahí: Faça amor comigo, Alfonso. – Pediu, a voz cortada em um murmúrio, e ele a
encarou.
Alfonso tomou a boca dela em seguida, sacudindo os braços pra se soltar da camisa
e do colete. Uma vez livre ele a apanhou no colo, aprofundando o beijo, enquanto
caminhava pra banheira. A água quente os envolveu quando ele a deitou na
banheira, mas ninguém ligou. Algum tempo depois havia acabado. Havia água no
chão. Haviam marcas brotando pelos corpos. Havia um desejo temporariamente
saciado. Alfonso estava deitado na banheira, com a cabeça encostada na borda, os
olhos fechados, descansando. Ela tinha a cabeça no peito dele, os cabelos
ensopados, olhando pra frente. Algo foi dito em silencio, um simples mover de
lábios que deveria ter sido notado, mas não foi.
---*
Alfonso havia dormido. Estava tão cansado... E seu corpo estava em erupção. Ele
despertou do sono e em seus reflexos bem treinados (até demais), apanhou os
pulsos dela, prendendo-a. Foi um gesto de um segundo, e ele entendeu. Seu corpo
estava unido ao dela. Os olhos de Anahí pareciam de um azul liquido enquanto ela
esperava pela aprovação dele. Alfonso afrouxou as mãos no punho dela, se
recuperando do susto. Seu corpo pulsava de vontade.
Anahí gemeu gostosamente. Não sabia fazê-lo direito, mas ele sim sabia. Alfonso
deslizou ela pra baixo de si. Ele já estava investindo furiosamente sob ela antes que
ela pudesse tomar fôlego. Parecia ainda mais furioso ao ter sido despertado. Ela
não conseguia respirar. Mais água da banheira foi pro chão enquanto os dois se
consumiam. Terminou tão rápido quanto começou. Alfonso estava caído de novo, o
rosto no ombro dela, e ela ofegava, olhando pra frente.
Alfonso: Não se desculpe nunca. – Disse, rouco, e ela sentiu um beijinho cansado em
seu ombro – Eu também não queria esperar.
Anahí: Vamos pra cama? – Perguntou, sentindo a água fria. Ouviu o riso dele, rouco,
perto de seu ouvido – Dormir, Alfonso.
Alfonso: Dormir, é claro. – Disse, se amparando pra tirar o peso de cima dela.
Anahí: Você está desmoronando de cansado, pelo amor de Deus. – Disse, vendo-o
puxar a toalha. Ele parou no meio do caminho, virando o rosto pra ela.
Anahí: Longe de mim, em nome de Deus. – Ela apanhou a toalha, secando o cabelo dele
– Está realmente frio.
Alfonso: Vamos pra cama. – Anahí ergueu a sobrancelha – Dormir. – Completou, com
um sorriso nada convincente no rosto.
Anahí: Dormir. – Repetiu e ele assentiu, solene – Queria eu acreditar. – Murmurou pra
si própria, e ele riu.
Alfonso se levantou, se enrolando na toalha e trouxe outra pra ela, que saiu da
água encolhida de frio. Eles foram pra cama. Mas se dormiram já é outra história,
que fica pra outra ocasião.
---*
Anahí estava, resumidamente, feliz. Amava Alfonso. Sabia que ele não o
correspondia e as vezes aquele sentimento a assustava, mas então a noite chegava e
lá estava ele, nos braços dela. Não estava sobrecarregada de trabalho; Sua tarefa
era cuidar de Suri em tempo integral. Ela e a menina já se amavam. Poucas
semanas se passaram e toda a insegurança de Alfonso desapareceu. Anahí não
faria mal a Suri, pelo contrário, a menina estava a cada dia mais feliz.
Suri: Annie... – Chamou, sentada em sua cama. Anahí estava catando as bonecas no
chão, e a olhou. Alfonso parou do lado de fora da porta. Era sempre fascinante observar
as duas – Se eu perguntar algo você me conta a verdade?
Suri: Você vai ser minha mãe? – Perguntou, e havia certa expectativa na voz dela.
Pegou Anahí de baixa guarda. Alfonso observava, imóvel. Viu ela largar a boneca em
uma cadeira, se aproximando da cama.
Anahí: Não, bebê. – Disse, se sentando perto da menina – Você já tem uma mãe.
Suri: É, mas eu nem nunca vi ela. Ela não gostava de mim? – Alfonso já estava de cara
fechada.
Anahí: Porque alguém foi cruel com ela. Mas ela sempre amou você. – Disse,
acariciando o rosto da menina.
Suri: Porque você não vira minha mãe? Aposto que meu pai gosta de você. – Disse,
travessa.
Anahí: Não repete isso. – Disse, e Alfonso sorriu ao ver o pré-panico no rosto dela –
Veja, não vou ser sua mãe. Você já tem uma, e deve amá-la assim como ela te amou.
Mas posso ser sua amiga. – Disse, sorrindo. – O que quer fazer agora?
Anahí: Fome? – Suri assentiu – Ainda está longe do jantar... – Ela pensou – Vou ver se
trago algo para você lanchar, sim? – Suri assentiu.
Alfonso saiu do caminho antes de Anahí saiu. Ela sentiu o perfume dele no ar, mas
não deu atenção. Foi para a cozinha. Lá preparou uma bandeja para Suri com
algumas frutas, suco, e sanduíches. Fazia um pouco mais de um mês que assumira
a menina, e só se encantava mais.
Anahí: Suri tem fome. – Disse, sem dar atenção. A tempos não deixava nina aborrece-
la.
Anahí: E ela está com fome, o que quer que eu faça? – Perguntou, revirando os olhos.
Nina: É por isso que ela quis você, porque tu fazes todas as vontades. Parece que isso
funciona, tu não trabalha mais, tens um cômodo teu... Só por fazer „vontades‟. – Disse,
maldosa.
Anahí: Era o certo. – Disse, sabendo que Dulce María não era um assunto do qual ele
gostava de falar.
Anahí se virou pra apanhar a bandeja pronta, então o cheiro do suco a apanhou.
Ela largou a bandeja, aquilo a causou repugnância.
Alfonso: Há algo errado? – Perguntou, confuso. Nina observava, também sem entender.
Anahí: Acho que isso está estragado. – Disse, cheirando o suco. Seu estomago se
revirou terrivelmente, mas ela sabia que não podia levar nada estragado até Suri – Não
sei, o cheiro...
Nina: Estragado? O suco? – Perguntou, incrédula.
Anahí não esteve bem por dias. A comida a enjoava, ela tinha mal estar. Achava
que era alguma gripe, algo assim, e por isso Alfonso não a estava tocando mais,
com medo de se contagiar. Ele apenas a observava. Observava demais.
Anahí: Acho que jantarei hoje. – Disse, achando que estava melhorando. Alfonso
caminhava com ela, as mãos nas costas, quieto. – O que tu tens?
Anahí: O que tem pra jantar? – Perguntou, curiosa, indo até a cozinheira, que respondeu
algo sobre carne. Ele não ouviu – Hum, o cheiro é bom. Estou com tanta fome! É
estranho. – Disse, devaneando.
Alfonso apenas encarou Nina, mas aquele olhar era o mesmo olhar que ele tinha
quando dava a ordem da execução de alguém. Não havia vida. Ela entendeu e
assentiu apenas uma vez.
Alfonso: Anahí, venha comigo um instante. – Chamou, saindo dali. Ela foi. Ele parou
no corredor – Lembra-se da viagem que lhe disse que faria?
Alfonso: Irei amanhã pela manhã. – Disse, e ela estranhava o comportamento dele.
Parecia desgostoso com algo. – Se não... Se não se sentir bem amanhã, fique em seus
aposentos. Avise, que outra pessoa cuidará de Suri enquanto você... Se recupera.
Anahí: Não se preocupe, eu estou melhorando. – Disse, tomando a instrução dele por
precaução.
Alfonso: Não irei ver-te hoje, preciso organizar papéis com Ian, para que amanhã cedo
esteja tudo pronto. – Anahí assentiu. Ele ergueu a mão, tocando a maxilar dela – Fique
bem.
Anahí: Estarei esperando você voltar. – Disse, ainda inocente. Ele assentiu uma só vez e
deu as costas, saindo dali. Ela não o viu mais.
Quando Anahí se sentou aquela noite, em frente a seu prato, estava faminta. Tanto
que não viu quem o preparou, nem como havia sido preparado. Uma pena. Comeu
até a ultima garfada, e nem percebeu o sorriso no olhar de Nina observando-a
comer. Quando terminou foi até Suri, verificando-a, e depois se retirou. Era
estranho estar naquele quarto enorme sem Alfonso. Tudo ali lembrava ele. Ela
parou por um instante pensando no tempo livre que em geral não tinha, e resolveu
tomar um banho demorado. Soltou os cabelos e foi pra banheira. Não estava se
sentindo muito bem. Acontece que naquela época os métodos abortivos não eram
como os de hoje em dia. Existiam, mas não tão sofisticadamente. Se tratava de uma
combinação de ervas que eram fatais ao feto. O jantar dela foi temperado com
essas ervas. Se a mulher não estivesse grávida, nada lhe aconteceria, ela nunca
saberia. Mas se ela estivesse...
Anahí: Ai. – Gemeu, desconfortável, algum tempo depois. Havia cochilado na água, e
acordara porque as dores pioraram. Ela se remexeu, sentindo pontadas agudas no ventre.
Foi então que abriu os olhos e viu. A espuma havia se desfeito com o tempo, e a água
limpa estava manchada gravemente de sangue. Ela se sentou, mas piorou a dor.
Anahí estava assustada. Estava morrendo, era isso? A dor era forte mas era
suportável, porém ela se sentia sangrar. Porque isso aconteceu justo quando
Alfonso não estava? Se ele estivesse, mesmo se não soubesse porque aquilo
acontecia, chamaria alguém. Ela tinha perdido a voz. Não eram suas regras, não
era assim que acontecia. Foi pensando em suas regras que um clique ocorreu em
sua cabeça. Suas regras não vinham há muito tempo, e agora isso... O olhar de
Alfonso, duro, e ele distante todo o tempo... Os enjôos, mal estar... O sangue a sua
frente. Estava grávida. Estivera, agora não mais. Seu bebê morrera porque o pai
ordenara. Anahí se recostou na banheira, se abraçando, desolada. Não era dor pela
dor do filho; ela não tivera tempo de amá-lo, de senti-lo seu. Era o vazio pelo que
poderia ter sido. Ela nunca cobraria nada dele, nem o pediria pra olhar o bebê
uma única vez, ou reconhecê-lo, mas ele não pensara nisso. A apunhalou, logo ele
que ela tanto confiava!
E ela se abandonou. Não pensou, não sentiu, não quis saber. Quando recobrou a
consciência já devia ser madrugada. A dor forte havia passado, agora só haviam
algumas fisgadas. Havia terminado. A água da banheira era irreconhecível,
parecia sangue puro. Ela puxou a tampa do ralo, deixando a água ir, e abriu a
torneira, se lavando. Parara de sangrar, mas algo estava morto nela. No rosto, no
olhar. Ela se lavou novamente e saiu dali. Seu andar estava dolorido. Se vestiu e foi
pra cama. Chorou. Em seguida, como não há dor existente que não possa ser
vencida pelo sono, e ela adormeceu.
---*
Anahí teve febre na manhã seguinte, efeito do aborto. Sua boca estava seca. Ela se
retorceu na cama, o rosto soado, se encolhendo, quando a voz a buscou.
Nina: Eu queria que ele estivesse aqui para vê-la assim, caída, derrotada. Gostaria de
ver o deslumbramento sobreviver a isso. – Disse, vitoriosa.
Anahí: Eu quero que ele vá para o diabo que o carregue. Você junto. – Disse, engolindo
em seco. Estava ardendo em febre.
Nina: O que você pensou? Que ele assumiria o filho bastardo? – Anahí rosnou, mas
estava fraca.
Anahí: Não fale do meu filho. – Ordenou, perdida na escuridão. Abrir os olhos lhe dava
dor de cabeça. – Saia daqui, saia agora! – Nina riu – Eu vou me recuperar, e você vai
pagar por isso. Eu juro por Deus, nosso senhor, que tu vais se arrepender de tê-lo feito,
Nina.
Nina: Criar o bastardinho, colocá-lo ao lado de Suri como seu irmão, como seu igual? –
Perguntou, debochada.
Anahí: Eu vou melhorar. – Ela riu de leve. Fazer aquilo foi como enfiar farpas de
madeira debaixo das unhas – E eu vou ser sua sombra. Se acha sua vida ruim, eu vou
transformá-la no inferno. Eu prometo. Me mate agora, enquanto o pode, Nina. Quando
eu me levantar você vai pagar.
Nina: Isso é uma ameaça, vossa alteza? – Perguntou, debochada, e riu em seguida.
Pelo som do riso se afastando, Nina havia ido. Mas Anahí não esqueceria. E o aviso
estava de pé.
Anahí levou dois dias de cama. Nina não lhe levou comida, e ela só conseguiu beber
água na madrugada do primeiro dia. Mas enfim estava bem. Fisicamente. Algo em
si havia se quebrado, se partido, ido embora junto com seu bebê. Um sentimento
desconhecido se apossou dela. Nina pagaria, e Alfonso... Ah, Alfonso, porque você
fez isso? Ela tomou banho e se vestiu, parando em frente ao espelho. Seus olhos
pareciam estar sem vida, ter perdido a cor. Tinha no rosto toda a maturidade que
uma mulher pode ter; envelhecera 10 anos em 2 dias. Nina pagaria, mas contra
Alfonso nada ela podia fazer. A não ser...
Anahí: Pois que fique com o que gosta. – Disse, consigo mesma. A ânsia da vingança
era o que a mantinha de pé.
Anahí: Bom dia. – Disse, de cara fechada, entrando na cozinha. Nina, uma das criadas e
a cozinheira pararam olhando Anahí. Parecia outra mulher. – Suri já acordou?
Nina: O que... O que está fazendo? – Perguntou, meio suspensa. O rosto de Anahí não
parecia o mesmo, não tinha mais aquela alegria fútil e irritante. Algo no olhar dela
assustava.
Nina: Eu não sei... Se você deve cuida-la. – Anahí parou, virando o rosto pra Nina.
Parecia algo mecânico.
Anahí: A única pessoa que me fará parar é quem me fez começar. Mande que ele venha
atrás de mim, se lhe apraz. – Disse, pondo a bandeja no lugar – Vou verificar se Suri
acordou.
Anahí ia saindo, mas se deteve. Ela se aproximou de Nina, os olhos azuis sendo
duas pedras de gelo, e sua voz era mais fria ainda quando falou.
Anahí: Você realmente deveria ter me matado quando teve chance. – Disse em tom
baixo, assim só Nina ouviu. E ela saiu.
Suri por fim estava acordada. Anahí voltou a cozinha e apanhou a bandeja do café,
levando pra menina. Não tinha raiva de Suri, a menina era inocente, não sabia do
que o pai havia feito. Nem saberia.
Suri: O que houve com você? – Perguntou, acanhada, largando o copo na bandeja.
Anahí: Estive doente. – Disse, sentada ali perto – Por isso não vim.
Suri: Me contaram que tu estavas doente. – Anahí assentiu, tentando esboçar um sorriso
– Mas seu cabelo... – Lamentou, vendo o cabelo curto, reto, liso, e com franja.
Anahí: É mais prático assim. – Mentiu – Termine seu café. Poderemos brincar depois.
Você não terminou os livros sozinha, terminou? – Perguntou, e Suri sorriu.
Suri: É claro que não. – Anahí tentou sorrir de novo. Falhou miseravelmente. – Você
está bem?
Não houve uma resposta. Anahí estava longe de estar bem. Ela tinha dor, ódio e
uma vingança violenta guardada dentro dela, isso não era bom. Mas cuidou de
Suri o dia inteiro, brincando, tentando ser amável. Por fim a menina dormiu, após
o jantar. Anahí retirou a bandeja e saiu, indo pra cozinha.
Nina:...Se ela enlouqueceu, não pense que assusta a mim. – Dizia, sentada a mesa,
quando Anahí entrou.
Anahí: Que bom que eu não assusto. – Disse, pondo a bandeja em uma das pias – Medo
não é bem o que eu quero de você.
Nina: Quem pensas que é para me confrontar assim? – Perguntou, exasperada. Anahí se
aproximou, sorrindo de canto. O sorriso estava mais morto que seu filho.
Anahí não dormiu bem aquela noite. Ela precisava confronta-lo. Não importa
quem ele era, ele não podia tê-lo feito! Na manhã seguinte se banhou. Pentear o
cabelo foi quase desnecessário, ela só fez por fazer. Se vestiu e parou olhando sua
imagem. Foi então que ouviu o barulho de cavalos do lado de fora da janela. Se
aproximou só por fazer, e viu a carruagem preta parada em frente a escadaria do
castelo.
---*
Alfonso: Anahí, o que... Seu cabelo... Seu... Meu Deus. – Ele não sabia direito o que
dizer.
Anahí: Oh, sim, meu cabelo. Está aqui, alteza. – Foi então que ele percebeu o que ela
tinha nas mãos: Em uma um lençol, na outra... Ah, meu Deus... – É todo seu. Sei que
lhe agrada. – Ela se aproximou, e colocou o cabelo cortado delicadamente nos pés da
cama dele. – A propósito... – Ela apanhou o lençol que se arrastava no chão e o abriu em
cima da cama dele. A mancha de sangue seco no tecido branco era grande. – Parabéns,
papai. – Disse, quase em um silvo.
Alfonso: Anahí... – Suspirou, passando a mão no rosto. É claro que tinha que ser a
opção mais difícil.
Anahí: Então envenenar meu filho foi um acidente? – Perguntou, falsamente curiosa.
Alfonso: Não. Mas tente entender, eu não podia assumir essa criança... – Interrompido.
Alfonso: Não altere a voz para mim. – Disse, e o comando em sua voz era claro. Era um
lembrete. Ele era rei. Ela não era ninguém.
Anahí: Eu cuidaria do meu filho, e eu nunca pediria nem que você dedicasse um olhar a
ele. Mas foi mais fácil para ti derrubá-lo, como a um inimigo seu, em um campo de
batalha. Sem nem saber seu nome, sem nunca olhar seu rosto. – Disse, quase em um
murmúrio.
Anahí: É claro que era. Não vou gastar meu tempo com você. – Disse, passando a mão
no cabelo. A franja se bagunçou, e ele sentiu falta dos cachos. – Eu pensei que você era
diferente. Depois de tê-lo conhecido, eu achei que você só era uma vitima pelo que
fizeram a Dulce María. Mas não. Você é como Paul, Alfonso. – Disse, com o olhar
duro.
Alfonso: Cala-te. Minha paciência acabou, assim como teu show, Anahí. – Disse, se
irritando.
Anahí: Não, você precisa ouvir. – Disse, pensativa – Chame seus guardas e mande me
matarem se quer me calar, você faz isso com tanta facilidade! – Disse, debochada – Paul
matou a Dulce María porque queria derrubá-lo, tinha um motivo por trás. Mas tu é pior.
Tu mataste teu próprio filho pra que todos não soubessem que você AMASIOU UMA
CRIADA! – Gritou, furiosa.
Alfonso: Tu não sabes o que diz. – Rosnou, furioso. Ele respirava em arfadas.
Anahí: Eu sei de algo. Eu tenho pena de Dulce María. Pena, realmente. – Os olhos de
Alfonso agora eram duas placas verdes, incrédulas. Ela ia mesmo confrontá-lo assim? –
Foi obrigada a se casar, a dividir uma cama e uma vida com um homem repugnante, e
morrer porque era sua esposa. Sim, porque se não o fosse, estaria viva. Vê? Quem se
aproxima de ti ou morre ou se machuca. Deve ser triste, não é?
A bofetada que atingiu o rosto dela fez a lateral do rosto queimar em dor, mas ela
riu. Alfonso se afastou, as mãos em punho como se estivesse se controlando, como
se seu instinto fosse o de mata-la, mas ele estivesse lutando contra ele.
Anahí: É claro, meu senhor. Antes preciso lhe devolver algo. – Ela retirou uma chave do
decote, e jogou-a na direção de Alfonso, que se esquivou – É a chave do quarto que o
senhor me deu. Eu não quero mais, dê a outra que esteja disposta. Lá está todo o resto
do que tu me deste. O vestido, o escapulário, os livros, enfim, tudo. Se procurar direito
poderá até encontrar a alma do teu filho, ficou perdida por lá também.
Anahí: Não estou. – Disse, agora falsamente controlada – Vê isso? – Ela abriu os braços
e Alfonso observou. O corpo continuava o mesmo, mas a mudança no rosto e no cabelo
eram lamentáveis – Foi tua obra. Conseguiu me destruir. Parabéns, majestade. Agora,
com sua licença...
Alfonso ainda estava atônito com aquele show quando ela parou, na porta, se
virando pra ele.
Anahí: Uma ultima coisa... – Disse, pensativa – Eu amei você. – A declaração de amor,
mesmo naquele tom de voz e naquela circunstancia teve o impacto que teria no normal
– Eu o amei como eu não achei que fosse capaz de amar alguém. Tu podes estar
incrédulo, se lhe apraz, mas eu daria minha vida por você. Eu o amei. – Finalmente duas
lágrimas caíram pelo rosto pálido dela, e ela as secou – Parabéns por ter destruído isso
também, vossa alteza. A única pessoa que realmente te amou o odeia agora. Parabéns. –
Disse, e se virou.
Alfonso viu ela se afastar, não correndo como a antiga Anahí faria. Andando,
calmamente, e sumir no corredor. Ele fechou a porta e olhou sua cama. Puxou o
lençol dela dali, não queria ter que ver aquilo, mas o cabelo ainda estava lá. Ele se
sentou, respirando fundo para espantar a raiva, e passando as mãos nas têmporas.
Ótimo.
---*
Dias se passaram. Anahí voltou ao seu quarto de empregada. Nina não tinha paz.
Alfonso tampouco. Mas Nina era porque Anahí não o dava; Alfonso era porque
sua mente não dava. Ele não a procurou, e ela tampouco. Quando ele entrava no
quarto para ver Suri ela simplesmente saia, ou então se afastava, os olhos
distantes. Ele ainda não se acostumara ao ver o cabelo dela picotado, mutilado
daquele jeito. Nos dias de hoje já seria anormal, naquela época pior ainda...
(Insisto, quem quiser ver exatamente o cabelo da Anahí, procure uma foto da
Mercedes de Camaleões, depois de ela cortar o dela). No começo ele teve receio de
ela tentar algo contra Suri. Não era a mesma Anahí cuja ele confiara a filha. Mas...
Suri: Papai diz que serei rainha. – Disse, sentada a sua cadeira, na frente do espelho.
Anahí, que dobrava uns lençóis, a olhou.
Suri: Só não entendo como. – Disse, tristinha, olhando as pernas imóveis. Alfonso
estava tão imóvel quanto as pernas dela, do lado de fora do quarto. Viu Anahí passar a
mão no cabelo curto outra vez (ela pegara essa mania), olhando a menina – Não posso
me pôr de pé, como governarei algo ou alguém?
Anahí: Tu serás uma rainha exemplar, disso estou certa. – Disse, se aproximando.
Anahí: Porque tu és linda. Preciosa. Inteligente. Quem liga pra pernas com uma pessoa
sendo tão especial? – Perguntou, tocando o nariz da menina. Suri sorriu.
Anahí: O que teu pai não deixou? – Perguntou, se abaixando frente a menina. Alfonso
não gostou do descaso com o qual ela falou dele.
Suri: Eu nunca me vi de pé. Estou sempre sentada, ou deitada. Pedi a ele para me pôr de
pé uma vez, mas ele disse que não podia, e saiu. – Anahí escutava, quieta.
Alfonso não queria assistir aquilo, mas continuou ali. Ver como Suri se privava era
como lastimar a si mesmo.
Mas ainda assim viu Anahí cuidadosamente apanhar a menina por debaixo dos
braços e colocá-la de pé em frente ao espelho, segurando-a por trás.
Anahí: Viu? – Perguntou, mantendo a menina de pé. Suri arrumava o vestido, sorrindo
pra própria imagem – Tu és linda. Será a rainha mais linda que qualquer reino possa ter.
– Anahí disse isso porque não conhecia Madison Uckermann. Ok, parei.
Anahí: Não consegue... Ei, não faça isso! – Pediu, vendo que o esforço era pra tentar
mover as pernas. Alfonso estava prestes a entrar no quarto quando ela intercedeu.
Anahí: Porque tu és diferente. Especial. – Disse, puxando a cadeira de volta. Ela pôs
Suri cuidadosamente lá. – Não te entristeças por isso. Não vale a pena. – Suri assentiu,
caidinha – Vamos falar de outro assunto! Quer dar um passeio?
Suri: Você diz lá fora? – Perguntou, admirada novamente. Anahí assentiu – Mas papai...
Mas Suri assentiu, radiante, e ele saiu dali antes que Anahí passasse com a menina.
Acompanhou o passeio de longe, as duas apenas deram umas voltas no jardim e
apanharam algumas flores. Depois desse dia ele teve novamente certeza de que
Anahí não causaria mal a Suri. Enquanto isso, Nina descobria o significado da
palavra inferno.
Anahí: Daqui a algum tempo piora. – Disse, sorrindo angelicalmente enquanto saía da
cozinha com a bandeja do café de Suri.
---*
Nina entrou em seu quarto, já de camisola. Sua pele ainda tinha marcas de unha
pela coceira que o pó-de-mico lhe causou. Maldita Anahí! Ela foi pra cama, se
deitando e se cobrindo. Tentou relaxar, e dormir. Então houveram várias
espetadas em seu corpo, suas pernas, seus braços. Algo parecia andar sob ela. Ela
puxou a coberta pra ver a cama coalhada de formigas. Centenas delas. Ela gritou,
tentando levantar, então os parafusos previamente folgados da cama cederam, e a
cama quebrou com um baque, levando ela e as formigas ao chão.
---*
Nina: O almoço está servido? – A cozinheira assentiu. Nina se sentou com cuidado no
seu lugar. As formigas eram venenosas, as picadas formaram feridas que doíam. Anahí
estava em seu lugar, revirando o suco com uma colher, como se esperasse algo. Nina
comeu umas 4 garfadas até que parou de mastigar aos poucos – Isso tem um gosto
estranho. – Anahí ergueu a sobrancelha, olhando o copo. O cabelo estava desgrenhado,
como sempre.
Criada: A mim parece normal. O que é isto no seu prato? – Perguntou, olhando de
longe. Algo parecia se mover.
Anahí: Oh. – Disse, com cara de nojo. Então riu e se levantou. Nina convulsionou mais
uma vez, então, tremula, olhou Anahí.
Anahí: Fácil. Quando chove faz lama. – Disse, explicando – Se você olhar debaixo de
pedras, ou troncos de arvores, acha centenas deles. Vem com um pouco de terra, mas
nada que não se possa lavar... Ou confundir com feijão. – Ela deu de ombros, rindo, e
tomou mais um gole do suco.
Anahí: Autsh. – Disse, fazendo uma careta – Ficar longe de você? Senão o que?
Anahí: Você teve a chance de me matar, e não matou. Teve a chance de me deixar em
paz, e não deixou. Assuma agora. – Disse, pondo o copo na pia – Escolheu a pessoa
errada pra lidar.
Anahí: Tenho tanto medo dele quanto de ti. Bom apetite. – Desejou, e saiu.
Alfonso: Ian, pelo amor de Deus! – Rosnou, passando a mão no rosto. Nina estava em
lágrimas – Se acalme. Foi só hoje?
Nina: Não. – Ela secou o rosto – Desde que... – Alfonso soube mesmo sem ela
conseguir completar – Há insetos na minha roupa, ela quebrou minha cama, e pôs
formigas, e... – Ela soluçou em seu choro. Ian gargalhou, a cabeça caindo para trás. – Eu
não sei mais o que fazer.
Ian: Devia ter começado tomando cuidado com o que faz. – Disse, debochado. Conhecia
a história e não concordava - Vermes na comida, é genial! – Exclamou, rindo.
Alfonso: Ian. – Disse, revirando os olhos – Tudo bem, se acalme, Srta. Dobrev. Eu vou
fazer ela parar. Vá até a cozinha, tome um copo de água...
Alfonso:...Tire o dia de folga. – Disse, cansado. Nina assentiu e pediu licença, saindo. –
Eu não acredito que ela está fazendo isso! – Disse, se amparando na mesa.
Ian: Nem eu. Eu não teria tido a idéia dos vermes, mas as formigas sim.
Ian: Eu gostaria que fossem percevejos em tua cama, Alfonso. Não chegaria a ser
justiça, mas ainda assim. – Disse, secando o olho.
Ian: Perto do que Nina fez a essa mulher, insetos não são nada. E se ela for como eu, só
vai piorar. – Comentou, mexendo na aliança. – Você vai mesmo precisar pará-la, ou
essa empregada vai acabar morrendo. Boa sorte. E não, eu não vou falar com ela no seu
lugar, e tu tampouco tem minha ajuda. É problema seu. – Disse, se levantando – A
propósito... Se ela me consultar pedindo idéias, eu tenho várias. – Disse, antes de rir
novamente, saindo.
Alfonso pensou o dia inteiro em como ir falar com ela. Tinha receio de se
aproximar dessa Anahí; ela o impulsionava a machucá-la, e ele não podia perder o
controle. Não com ela. Mas por fim veio a queixa da perna de uma cadeira
quebrada, o que levou Nina a torcer o pé, e ele teve que ir. Parou na porta do
antigo quarto dela e tentou abrir. Trancada. Ele bateu.
Alfonso: Anahí, abra. – Ordenou, batendo na porta. Anahí, que estava deitada lendo um
dos seus antigos livros, ergueu os olhos.
Anahí: Só um instante, senhor. – Ele revirou os olhos. Ela fechou o livro, pondo-o de
lado, e procurou seu hobbie. O vestiu e amarrou, ele ia até os tornozelos e tinha manga
cumprida. Quando ela abriu a porta ele viu o hobbie, e respirou fundo.
Anahí: Como preferir. – Disse, voltando pro quarto. Ela entrou e ouviu a porta se fechar
atrás dela – Posso ajudar em algo?
Anahí: Eu soube. – Disse, despreocupada – Quer que eu cuide dela? – Se ofereceu, com
um toque de deboche na voz.
Anahí: Interessante como nossas conversas ultimamente sempre tendem pro assunto
“morte”. – Comentou consigo mesma.
Alfonso: Ela fez cumprindo ordens minhas. Ataque a mim. – Anahí ergueu a
sobrancelha.
Alfonso: Você não pode estar assim por um bebê que você só percebeu que o tinha
quando o perdeu, por Deus. – Disse, exasperado.
Anahí: Não estou assim pelo bebê. Eu não cheguei a amá-lo, a dor da morte dele foi
mais frustração que dor em si. – Disse, e passou a mão no cabelo – Estou assim porque
confiava em você. O que está doendo é o que você me fez, não o bebê. Eu vou ter
filhos, senhor. Com o homem certo. Já tu... - Ela deixou a frase em aberto.
Anahí: Confiança é como um cristal. Uma vez quebrada não há volta. Eu te amava tanto
que teria ido embora com meu filho, só para não lhe ser infortúnio. Eu me esconderia
onde só tu pudesses me encontrar, assim ninguém saberia. Mas você o matou.
Alfonso: Anahí, por favor... – Pediu, se aproximando. Ela o encarou, o olhar distante.
Alfonso tocou o rosto dela com a mão, traçando sua maxilar com um dedo. Ela
continuou quieta – Carinho, sabe que eu nunca quis lhe fazer mal. Eu não quis fazer
isso, também. Por favor, tente entender, tente ver pelo meu ponto de vista. Eu nunca
machucaria você propositalmente. Se fiz o que fiz foi porque não tive escolha. Me
perdoe. – Disse, pondo o cabelo dela, lamentavelmente curto, atrás da orelha.
Anahí: Eu já olhei pelo seu lado. Eu entendo. Está perdoado. – Disse, ainda parada.
Alfonso: Então porque se porta assim? Se me entende porque me repele? Eu sinto sua
falta, meu anjo. – Disse, tocando o rosto dela com a outra mão. – Assim como sentes a
minha, ainda que o negues. Eu tenho me afastado para que tua raiva possa passar, mas
não melhora nunca, eu não sei como agir. – Disse, a mão abraçando-a pela cintura. Já
era natural.
Anahí: Eu o perdôo, mas não confio mais em ti. Por favor, tire as mãos de mim, senhor.
– Pediu, encarando-o. Ela viu a frustração faiscar no olhar dele.
Alfonso: Pelo amor de Deus, eu estou implorando, pare com isso. Volte a ser a minha
Anahí. Eu não me importo com a tua aparência. Se tu o queres assim... – Ele tocou o
cabelo dela, ansiando pelos cachos que estavam em seu quarto – Pra mim está tudo
bem. Mas volte a ser a minha Anahí.
Anahí: Ela está morta. O senhor a matou. Retire as mãos, por favor. – Insistiu, fria.
Alfonso: Não está morta. Está presa. Deixe-a voltar pra mim. – Pediu, e então ela
percebeu que podia sentir o perfume do hálito dele. Perto demais. Ele a encarou, como
se procurasse algo em seus olhos, e avançou para beijá-la. Seus lábios bateram no
cabelo dela, que havia saído dali. Ele respirou fundo. Estava tentando, Deus estava
vendo. – Anahí, depois de tudo o que vivemos, me repelir assim chega a ser hipocrisia.
– Disse, respirando fundo de novo.
Anahí: Aconteceu, mas não voltará a acontecer. Eu não vou permitir. Estou com nojo
das suas mãos, do seu toque. Me causa repulsa. Não acontecerá outra vez. – Ele não a
via, mas a voz dela era fria. – A não ser que me forces. Tem esse poder. Use-o, se
preferir.
Anahí: Senhor, se não se incomoda, eu tenho trabalho a fazer amanhã. – Ela caminhou
até a porta, abrindo-a – Então se não tiver mais nada a me dizer, ou nenhuma ordem a
dar, eu peço sua licença. – Disse, fria.
Alfonso se controlou até ali. Mas mandá-lo sair era ousadia demais, audácia
demais. Ele virou o rosto, vendo-a parada, segurando a porta.
Anahí: Louca? – Perguntou, quieta – Pois que seja. Porém, louca ou sã, tu não tocas
mais em mim. Saia, Alfonso. Minha resposta é não. – Ela apontou a porta aberta, em um
sinal claro de que o colocava pra fora. Ela ofegava de raiva.
Alfonso: Está mesmo me pondo pra fora? – Perguntou, com um brilho estranho nos
olhos.
Alfonso: Como se atreve? Quem pensa que é? – Ele se aproximou a passadas largas e
bateu a porta com força, a madeira tremendo – Pois eu vou lhe mostrar.
Ele a apanhou pelo braço com força, trazendo-a pra si, e a luta corporal começou.
Alfonso era violentamente mais forte que ela, mas ela estava possessa. Ele levou
umas duas bolachas antes de conseguir deter a mão dela. Sua outra mão buscou o
cabelo dela, ansiando puxá-lo, mas já quase não existia. Quando conseguiu agarrá-
lo seus dedos quase tocaram a raiz dos fios. Ele puxou-lhe os cabelos com uma
mão, enquanto prendia os braços com a outra, e ergueu o rosto dela. Os dois se
encararam raivosamente por um instante, e ela ainda se debatia. Quando ele
avançou ela desviou o rosto. Ele soltou a mão dela e puxou-lhe pelo queixo com
força.
E ele a beijou, a força, provando cada uma das palavras ditas. A boca de Anahí
recebeu, saudosa, o beijo dele. Mas a Anahí em si não o queria. Foi por isso que os
dentes dela se cravaram com toda a força nos lábios dele, que grunhiu, recuando.
Anahí: SAIA! – Disse, exaltada. Alfonso tocou a boca, e olhou o dedo ensangüentado. –
Não sou tua propriedade, acredite quando eu digo isso. – E ela quase jogou seu segredo
na cara dele.
Alfonso: Sim, tu és. Assim como tudo aqui, tu és. – Limite não foi algo ensinado a
Alfonso, lamentavelmente. Desde criança, quando ele queria uma coisa ele a tinha.
E ele avançou novamente. A luta corporal começou de novo. Se ele não estivesse de
camisa, levaria as marcas das unhas dela. Só que nessa ela perdeu o roupão. Ele se
afastou novamente, com o roupão dela em uma das mãos, sorrindo.
Anahí: Se não sai tu, saio eu. – Disse, e se virou. Tinha posto metade do corpo pra fora
do quarto quando a mão dele a puxou novamente, e a porta se bateu com um novo
baque.
Dessa vez não houve como lutar, ela cambaleou direto pros braços dele, que a
beijou, sufocando-a. As mãos dela estavam presas, ela só podia se debater. O gosto
do sangue dele foi pra boca dela, mas antes que ela pudesse tentar machucá-lo
novamente, foi arremessada contra a cama. Abriu os olhos e viu ele a sua frente.
Alfonso apanhou os pés dela, puxando-a pra si, abrindo suas pernas e se pondo
dentre elas. Dessa vez conseguiu deter as mãos dela rapidamente. Ele fez questão
de deixar todo seu peso cair sobre ela enquanto buscava seus lábios outra vez, mas
dessa vez só um selinho.
Alfonso: Isso foi só uma prova de que tu és sim, minha propriedade. Se eu quisesse
possuí-la agora, assim seria, e você se curvaria a minha vontade. – Disse, e ela rosnou,
raivosa – Mas a força não, carinho. Eu quero minha Anahí de volta, não só possuir teu
corpo, por mais que ele me atraia. – E, pra incredulidade dela, ele soltou suas mãos, se
levantando. – Eu errei, mas quero minha mulher de volta. A força não.
E ele saiu antes que ela pudesse responder qualquer coisa. Na verdade, não havia
nada mais a ser dito.
Você pensa que a situação ia melhorar? Não melhorou. Anahí não dormiu a noite
toda. Não, pode parecer cruel, mas ela não sentia tanto a morte do bebê. Você não
pode sofrer por algo que nunca quis, nunca planejou... Nunca teve. Ela apenas
lamentava, mas não chegava a ser dor em potencial. O que doía era a atitude dele.
Ela queria poder deixar seu cabelo crescer, subir as escadarias, entrar debaixo dos
lençóis dele, abraçá-lo e dizer que o amava, que o amou o tempo todo... Mas a dor
da traição não permitia. Ela não poderia. Sempre se achou segura por estar com
ele, mas no final foi ele que a atacou. Alfonso tampouco dormiu. Sentia o molde do
corpo dela ainda em suas mãos, o calor, o gosto do beijo... Mas que diabo! Ele
virou de lado, impaciente. No escuro viu a silhueta de Dulce no porta retrato. “Está
morta porque era sua mulher.”. E ele se virou de novo, colocando a cabeça debaixo
do travesseiro, esperando que finalmente amanhecesse.
Suri: Meu cabelo é curto como o seu. – Disse, acertando o cabelo de Anahí com as
mãozinhas. Estava sentada nos pés da cama, com travesseiros a suas costas, e Anahí
sentada no chão, com um grande espelho a sua frente. – Mas o seu é mais curto.
Anahí: Você não gosta? – Perguntou, sorrindo, vendo a menina procurando um jeito de
fazer seu cabelo parecer maior.
Suri: Eu gostava grande. – Suri apanhou uma boneca e, segurando-a pela cabeça, pôs o
cabelo na cabeça de Anahí, onde o cabelo acabava. A cor era diferente, mas a intenção
era clara – A gente pode tentar colar... – Pensou, em voz alta. Anahí riu gostosamente
com isso.
Alfonso parou do lado de fora da porta apenas para ouvir o som do riso dela.
Quando parou ele bateu na porta do quarto, e ouviu o: “Entra” da filha. Anahí se
levantou imediatamente do chão, se afastando, como sempre fazia. Alfonso se
aproximou de Suri, pondo-a sentada no lugar certo na cama, e sentando-se ao lado
dela.
Suri: O que é isso? – Perguntou, passando a mãozinha nas olheiras do pai. Anahí estava
ocupada arrumando a cômoda, dobrando roupas, de costas pra ele. Alfonso negou,
beijando a testa da menina de novo – Eu desisto. O cabelo da Annie some, seu rosto fica
preto, não quero mais brincar. – Disse, e se jogou, caindo de lado na cama, com a cara
no colchão. Nessa Anahí e Alfonso olharam. Anahí riu de leve e Alfonso fez uma
careta, puxando a menina sentada de novo.
Alfonso: Ei. – Suri tinha a cabeça pendurada, os cabelinhos caindo pela cara – Dormiu.
– Disse, entrando na brincadeira – Ei, princesa, acorde e brilhe. – Disse, mordendo o
ombro dela. A menina se encolheu, dando um gritinho.
Suri: Tá, acordei. – Disse, tirando o cabelo do rosto – Mas o cabelo da Annie não era
melhor grande? O senhor não acha, papai? - Houve um silencio pesado dentro do
quarto. Alfonso observou Anahí, de costas pra ele, por um instante antes de responder.
Alfonso: Sim, eu preferia como era antes. – Ele estava falando com ela.
Suri: Eu não disse, Annie? – Perguntou, inocente da situação. Anahí assentiu sem olhar.
Anahí: Suri, eu vou até a lavanderia buscar tuas roupas. – Disse, fechando a gaveta. –
Não me demoro, sim? – Suri assentiu. – Com licença, senhor. – Pediu, sem encará-lo.
Alfonso tampouco respondeu. Viu ela se afastar, sumindo logo pela porta. A
situação era insuportável, podia se ser sentida no ar. Por todos menos Suri, é claro.
Ele se segurou por um instante, mas...
Alfonso: Anjo, vai ficar bem se eu sair por um instante? – Suri assentiu.
Christian: Ei, com licença, você viu Ana... Sangue de Cristo tem poder. – Disse, quando
Anahí se virou.
Anahí: Creio que vi. – Disse, vendo a cara de choque dele. Será possível que os boatos
não chegaram a Christian?
Christian: Que diabo aconteceu com você? – Perguntou, olhando-a de cima a baixo –
Seu cabelo... Você cortou o cabelo? Porque?
Anahí: Coloquei pra lavar. – Disse, debochada – Você sumiu. – Comentou, dando pela
falta dele.
Christian: Fui mandado com o grupo pra alinhar as armaduras, daí passei um tempo
fora. Mas escute, eu tenho algo pra você. – Ele buscou o bolso da calça. Anahí esperou,
confusa. Ele tirou um envelope amassado de lá – Já está comigo há duas semanas, mas
não a encontrei.
Christian: Mulher, componha-se. – Disse, rindo da histeria dela. – Ele ainda disse que,
com certa cautela, pode até mandar uma resposta tua pra ela. Parece que Paul está
viajando, então as coisas estão mais calmas por lá. Bom, foi isso que Maite me disse.
Christian: Ande, vá. Preciso voltar ao trabalho. Se der passo em teu quarto antes de
dormir, pra conversar. Cuidado com essa carta, Anahí. – Alertou, sério, e ela assentiu.
Alfonso: Amiga. – Mediu, encarando o outro. A cena era realmente cômica. – Tudo
bem, pode ir.
Alfonso: Anahí? – Perguntou, sua raiva apagada como uma vela ao vento. Ela estava
feliz a minutos, porque agora chorava? Anahí se sobressaltou ao vê-lo ali, levando os
olhos azuis, momentaneamente desarmados, até ele.
Epa.
Anahí: Não! – Disse, recuando. Alfonso realmente não estava entendendo – Alfonso,
por favor, não. – Pediu, com a carta as costas. Ele hesitou. Pelo menos ela o chamara
pelo nome. Ele assentiu, recuando um passo, em sinal de paz.
Alfonso: Me diga o que foi. – Pediu, sem atacá-la. Anahí dobrou a carta e guardou no
decote. Ele observou levianamente o ato.
Anahí: Era uma carta... Da minha mãe. – Ela não mentiria pra ele ainda assim. – Eu...
Eu pedi para ir embora, para voltar pra casa.
Alfonso: Porque fez isso?! – Perguntou, exaltado. Anahí ergueu a sobrancelha, olhando-
o – Aliás, porque achou que eu permitiria? – Algo sobre ter Anahí longe de seu domínio
o esfaqueava.
Anahí: Não te preocupes, ela não me quer de volta em casa. – Alfonso respirou fundo,
virando o rosto por um momento pra se acalmar.
Alfonso: Por isso choravas. – Disse, agora que o susto passara, penalizado. Não gostava
de vê-la sofrendo.
Anahí: Eu disse que era bobagem. – Disse, olhando o chão – Eu... Eu preciso voltar a
trabalhar. Suri está só. – Disse, caminhando.
Mas ele não a beijou, nem tentou nada do tipo. Apenas a abraçou. Um abraço que
dava força, o mesmo abraço que ele deu a ela enquanto ela chorava pela morte do
pai. Anahí ia repeli-lo, mas não agüentou. Chorou. Se abraçou a ele e chorou. Esse
tipo de situação acontece na vida real: Você está magoada, machucada, mas o
único lugar que parece servir de conforto são os braços de quem a fez mal.
ㅤ
Continue agüentando firme!
Porque você sabe que nós conseguiremos, nós conseguiremos... ♫
Alfonso: Shhh... – Disse, alisando os cabelos dela, enquanto o outro braço a mantinha
firme em seu abraço – Vai passar. – Prometeu, meio que ninando-a. Sentiu o ombro de
sua camisa se molhar com as lágrimas dela.
Anahí: Porque você fez isso? – Perguntou, a voz tremula pelo choro e pelos soluços que
vinham. – Meu Deus, eu confiava em você!
Alfonso: Me perdoe. – Pediu, os olhos fechados, o nariz no cabelo dela, aspirando o
perfume que continuava o mesmo.
Anahí: Eu não consigo. Eu não confio mais em ti. Eu não posso. – Disse, aproveitando
os segundos que restavam nos braços dele.
Alfonso: Você sabe que eu não quero seu mal. Eu só me precipitei... Eu não soube
como agir. – O vento frio que bateu nos dois anteriormente teria feito o cabelo dela
dançar no ar. Agora, nada.
Anahí: Já basta. – Disse, e ele sentiu ela afastá-lo. O rosto dela estava molhado de novo
– Queres meu bem? – Alfonso esperou – Me deixa viver em paz, então. Esquece tudo. –
Pediu, e antes que ele pudesse responder havia saído a passos rápidos, secando o rosto.
Os braços dele sentiram falta do corpo dela, mas ele não a seguiu.
04 meses depois...
Anahí: Teu pai deve vir te ver. – Disse, acomodando Suri – Se precisar de algo, grite. –
Ela terminou de cobrir a menina – Tenha bons sonhos.
Suri: Teu cabelo está crescendo. – Disse, tocando o cabelo de Anahí. Só crescera uns
três, quatro dedos, mas era perceptível. A franja continuava lá. Anahí sorriu.
Anahí: Tu já disseste isso 05 vezes hoje. Durma, sapeca. – Disse, beijando-lhe a testa.
Anahí se bateu com Alfonso na saída. Acontecia com freqüência, mas os dois não
se falavam muito. Alfonso mudara nesses meses. As olheiras pareciam
permanentes, o rosto não tinha alegria. Ela o encarou por um instante e saiu,
deixando-o com a filha. Passou pela cozinha para tomar um copo de água.
Nina: Eu creio que já estou ficando melhor. – Contou a cozinheira, se equilibrando pra
se manter de pé. Anahí ergueu a sobrancelha.
Anahí: QUE NOTICIA BOA! – Disse, dando um tapa no ombro de Nina. No susto a
outra se desequilibrou e caiu, gritando enquanto segurava a perna novamente fraturada.
Anahí gargalhou, desistindo da água e indo pro seu quarto.
Ela ainda sorria enquanto entrava no quarto, mas seu sorriso terminou em um
esgar de choque. Havia alguém ali.
Anahí avaliou por um instante e fechou a porta. Quando se virou Ian estava
girando o livro dela na ponta do dedo. Anahí fez uma careta.
Ian: Se sente. – Pediu, apontando os pés da cama. Ela foi, hesitante – A propósito, não
gostei do teu corte de cabelo. Preferia o anterior.
Anahí: É o que a maioria diz. – Disse, dando de ombros. Ian sorriu de canto. – Alfonso
o mandou aqui?
Ian: Ele não manda em mim. – Disse, franzindo o cenho, e parando de girar o livro –
Não, ele nem sabe que está aqui. E eu prefiro que continue sem saber.
Anahí: Tudo bem, eu não estou entendo. – Disse, realmente confusa. Ian se sentou
direito, a encarando. Os olhos dele eram perturbadoramente claros.
Ian: Em primeiro lugar, eu não estou aqui para defender Alfonso. Sou contra o que ele
lhe fez. – Anahí esperou – Mas eu estou vendo-o definhar dia após dia. Quando você
passa vejo nos olhos dele a esperança de algum progresso, para logo voltar ao torpor. Se
algo acontecer a Alfonso eu perco essa guerra, Anahí. Eu não vim aqui para isso.
Ian: Não sou um cupido, não vim pedir isso. Mas você precisa entender o lado dele.
Precisa ver pelo ângulo que ele viu a situação. – Disse, e ela esperou – Anahí, nós, reis,
temos uma criação muito diversificada da tradicional. Quando eu tiver filhos não vou
cria-los do modo como eu fui criado. É errado e prepotente, mas somos criados para
sermos reis, não humanos.
Ian: Um homem normal é criado para honrar sua mulher e filhos. – Exemplificou.
Anahí: Um rei também, suponho. – Disse, irônica. Ian assentiu, sorrindo de canto.
Ian: Certamente. Só que nós fomos criados sob um ângulo diferente. Em minha
adolescência meu pai me disse inúmeras vezes que eu poderia amasiar quantas criadas
eu tivesse vontade, porém que minha esposa ou qualquer outra pessoa jamais deveriam
saber. Eu seria rei, logo, eu poderia passar por cima dos outros.
Ian: Do mesmo modo como Alfonso jamais olhou outra mulher a não ser Dulce María.
Nem após sua morte, 05 anos depois, ele manteve o celibato e nunca quis outra mulher.
Até que você apareceu. – Narrou, girando a aliança no dedo – E algo em você o
derrubou em sua convicção. Ele a tornou sua amante. Mas ainda assim, é importante
que isso fique claro, ainda que morta, até que ele despose outra mulher, Dulce María é a
esposa oficial. – Anahí o encarava, quieta – É uma basbaquice, mas é assim que
funciona. A cama dele está vazia, mas a esposa dele é ela.
Anahí: Não entendo onde quer chegar. – Disse, passando a mão no cabelo.
Ian: Quero chegar no ponto em que você não o entendeu. Alfonso estava feliz tendo a
você, até que aconteceu. – Anahí ergueu a sobrancelha – A criança que você carregava
no ventre era uma ameaça explicita. Se chegasse a conhecimento publico, e você sabe
que isso podia acontecer, Alfonso sofreria por ter tido um filho, com todo respeito,
bastardo. A descriminação, as criticas, até que perderia o trono. Perderia o trono em
meio a uma guerra. Você consegue adivinhar quem seria o primeiro a assumir o trono
dele?
Ian: Exatamente. Ele se viu diante dessa situação e não soube o que fazer. Não poderia
ir até você e dizer: “Querida, você não pode ter nosso bebê.”. Seria patético, e você não
aceitaria.
Ian: Acho que é um dom. – Disse, pensativo – O fato é, quando você apareceu grávida
ele se viu com uma bomba nas mãos. Nada sabia sobre isso, então tentou se recordar do
que lhe fora ensinado. Eu mesmo recebi ordens de que se um dia uma de minhas
amasias engravidasse, ou ameaçasse revelar a verdade, ela deveria ser morta. No caso
da gravidez, morta ela e a criança. Meu adorável pai cansou-se de repetir isso. Acho que
por tanto ele repetir até hoje o ventre de Katherine se nega a gerar um filho meu. –
Disse, fazendo uma careta.
Ian: E o que eu ganho mesmo mentindo para defende-lo? O assunto de vocês não é
problema meu. – Lembrou – Alfonso recebeu as mesmas instruções, e isso era o certo a
se fazer no caso dele. Pelo menos foi assim que fomos criados. Ele não soube o que
fazer e matar você seria o mesmo que suicídio. Então fez o que fez, em uma medida
desesperada. Se arrependeu amargamente, como se vê hoje, mas não havia outra
alternativa, Anahí.
Anahí: Ele deveria ter me matado, é isso o que quer dizer?
Ian: Sem hesitar ou pensar duas vezes. – Confirmou. – Essa criança era fruto da traição
dele a memória de Dulce María. Me perdoe pela franqueza, mas de um modo ou outro,
tu concordando ou não, ela não podia vir ao mundo. Não no meio de uma guerra, não
nessas circunstancias. Mas ele escolheu poupar a ti. Tua vida se manteve intacta.
Ian: É sobre tudo o que mais for. Alfonso fez o que achou ser certo em um momento de
desespero. Não o condene como está fazendo, é cruel. – Se resumiu.
Ian: Traiu mas ele não sabia que isso era errado, nenhum de nós sabe! Quando se tem
um reino em suas costas, muitos dos princípios são equivocados! – Rebateu – É isso o
que tu precisas entender: Todos tem a distinção de certo e errado. Para nós, reis, o que
Alfonso fez a ti está na lista do que é certo. A não ser porque ele a manteve viva.
Ian: Ele se arriscou poupando você, Anahí. Você poderia bem sair por ai gritando aos 4
ventos a verdade, e ele estaria condenado do mesmo modo. Mas ele poupou você; Ele
preferiu encarar as conseqüências do que tirar tua vida. Pense nisso.
Anahí parou, passando a mão no cabelo, e olhando pra frente. Se era assim... Não,
de jeito nenhum. Ela se virou pra olhar, mas Ian girava o livro no dedo
novamente.~
Ian: Quando uma criança está crescendo, seus pais lhe ensinam a não roubar, pois é
errado. – Exemplificou – Quando um rei está se formando, seu pai o ensina a matar as
amasias e os bastardos, porque é o certo. É difícil distinguir o certo do errado desse
modo. – Disse, olhando o livro girar – Eu acho que era isso que eu tinha a dizer.
Ian: Eu sou um rei, não um pombo correio. – Disse, franzindo o cenho, e Anahí riu –
Não estou pedindo que saia correndo porta afora e se atire nos braços dele. Seria
melodramático demais. – Disse, girando o livro – Mas pense no que eu te disse. Quando
você tem uma granada na mão não há muito tempo pra decidir o que fazer. Seu bebê era
uma granada. Se ele não agisse, logo, iria estourar na mão dele. – Disse, e parou o livro.
Ian: Eu também acho. – Disse, largando o livro – Mas se tu estás viva agora, foi porque
ele realmente gosta muito de ti. Do contrário estaria morta, fria, com teu filho ainda no
ventre, morto junto contigo. Pela piedade dele não está. – Disse, se levantando – Vou
deixá-la dormir. Pense no que eu te disse.
Anahí não viu Ian se afastar, mas ele parou na porta. Ela o olhou, meio aturdida.
Ian: Duas coisas. Primeiro uma pergunta. Aquela Nina... – Anahí ergueu as
sobrancelhas – Você já tentou a almofada de alfinetes dentro do sapato? – Perguntou,
curioso, e Anahí gargalhou.
Ian: É infalível. – Sugeriu, e ela agradeceu com a cabeça – Mais uma coisa... Se tu
disseres a ele que eu estive aqui, ou que te expliquei alguma dessas coisas, eu vou
negar. – Anahí revirou os olhos – Tenha uma boa noite. – E saiu, fechando a porta.
Anahí colocou as mãos nas têmporas, cerrando os olhos. Uma coisa era certa: Ian
lhe dera muito em que pensar.
#Flashback de Alfonso
Alfonso: Que diabo está acontecendo? Onde está o médico? – Perguntou, raivoso.
Alfonso: Vá, e traga-o! – Ordenou, e a criada saiu. Ele foi até a cama, apanhando a mão
de Dulce. Estava ficando fria. – Eu estou aqui, meu amor. – Disse, beijando a mão dela.
Alfonso: Não diga tolices, Dulce. Isso foi apenas... Apenas... É só um mal estar. –
Disse, alterado. Pobre Alfonso.
Dulce: Precisa me escutar. – Disse, e duas lágrimas caíram pelo canto dos olhos dela –
O médico...
Dulce: Quando ele chegar... Alfonso, o bebê... – Ela engasgava com as palavras. Os
olhos já estavam fechados, e ela soava. A barriga enorme parecia ser um pecado contra
algo tão frágil – Salve o bebê.
Dulce: Me prometa. – Ela respirou fundo, e com algo que parecia ser um esforço
estrondoso, abriu os olhos quase sem brilho para encará-lo – Me prometa que vai salvar
nosso filho. Prometa que vai cuidar dele. Prometa... Alfonso, prometa agora.
Alfonso: Não. – Disse, apavorado. – Anahí, não. – Disse, tocando o rosto dela. – Não,
outra vez não.
Anahí estava arrumando o quarto. Queria sair dali antes que ele acordasse. Mas
ele estava inquieto. Ela se apressou, deveria estar acordando. Mas ele estava
realmente inquieto. No sonho de Alfonso...
Alfonso: Anahí, pare com isso! Pare agora! – Ele apanhou o rosto dela, erguendo-a da
cama. Os olhos permaneceram mortos, e a cabeça dela pendeu para trás, os cachos
balançando no ar. – Você não é Dulce, não vai morrer como ela, acorde! ANAHÍ,
ACORDE! – Rugiu, apavorado. Então a barriga de Dulce, enorme, sumiu. Em
compensação uma mancha de sangue começou a brotar no lençol branco. – Não... Por
favor...
Anahí: Alfonso... – Chamou, tocando o ombro dele – Alfonso, acorde. – Ele continuou
em seu sono conturbado – Meu Deus. – Disse, estranhando. Ela queria que ele
acordasse. O retrato de Dulce repousava tranquilamente atrás dela. – Alfonso! Mas que
diabo, acorde! – Ela apanhou o rosto dele nas mãos, tentando acordá-lo.
Alfonso: Está viva. – Disse, em um murmúrio, tocando o rosto dela. A imagem dos
olhos morto de Anahí o assombrava.
Anahí: Estou. – Disse, confusa. – Solte meu pulso, está me machucando. – Alertou, sem
entender. Alfonso olhou o pulso dela. Sua mão estava fechada em torno dele como uma
algema. Ele não a soltou.
Alfonso: Meu Deus. – Ele se sentou, respirando fundo. Seu rosto estava molhado de
suor.
Anahí: Você está bem? – Oi, você vai quebrar meu pulso.
Anahí: Foi só um pesadelo. – Disse, hesitante, e ergueu a mão livre (que ainda tinha um
pulso bom), secando a testa dele.
Alfonso: Me abrace. – Pediu, angustiado. O pesadelo fora real demais.
Anahí: Foi só um pesadelo. - Disse, e ele ergueu o rosto do ombro dela. O retrato de
Dulce estava a sua frente. Ele franziu o cenho e virou o rosto. Não queria ver.
Alfonso: Parecia real. - Murmurou, mas sentia o coração dela batendo, comprimido
(esmagado) contra seu peito. Isso o acalmava.
Anahí: Bom. - Ele sentiu ela soltando seu cabelo, afastando-o - Se você está bem, eu
vou voltar a trabalhar.
Alfonso: Não! - Disse, e a prendeu de novo - Não fuja mais de mim. Eu não agüento
mais. - Disse, os olhos atormentados a encarando.
Anahí: Nós já falamos sobre isso. - Disse, tentando se desvencilhar dele. - Me solte.
Alfonso: Olhe nos meus olhos e diga que não me ama mais. - Pediu, olhando o rosto
dela. Anahí se deteve - Diga me encarando, diga que não me ama mais.
Anahí: Você nunca me amou, que diferença isso faz? - Perguntou, atordoada.
Anahí não soube o que dizer. Estava ai algo que ela não esperava. Ele poderia estar
mentindo, só para ela perdoá-lo... Ou podia ser verdade. O coração dele batia
descompassadamente sob sua mão, e os olhos pareciam sinceros. Ela não teve
tempo para pensar, ele se aproximou mais dela. Lentamente, como quem pede
permissão. Ela hesitou, e viu ele aproximando o rosto do seu. Como reprimir isso?
Os olhos dois se mantiveram juntos até que os lábios se tocaram. Alfonso selou-lhe
os lábios primeiro, logo outra vez... Na terceira ele se demorou, abrindo os lábios
dela, que estava imóvel. Ele a encarou uma ultima vez então tomou os lábios dela
de modo saudoso. Anahí arfou, já no inferno, e deu passagem a língua dele. O beijo
que se seguiu foi apaixonado, violento. Ele soltou as mãos dela, mas ela apanhou
seu rosto, trazendo-o para si, matando aquela saudade que a consumia.
Saudade: Uma palavra, sete letras e um sentimento que machuca mais do que se
pode suportar. Era isso que havia naquele quarto. Saudade. Alfonso parecia
alguém que tinha andado pelo deserto por muito tempo, procurando um oásis que
não encontrava. Ele estava cansado, sedento. Anahí? A confusão. Sua cabeça
girava, mas ela estava bloqueando os pensamentos agora. Não queria pensar,
queria sentir. Ela não viu, mas suas costas se recostaram suavemente na cama dele,
e ela estava deitada. A cama de Alfonso era a cama mais macia em que Anahí já
havia se deitado, parecia ser feita de nuvens... Que carregavam o perfume dele. O
beijo dos dois seguia, contrariando a necessidade de ar. Ele passou pra cima dela
sutilmente, sentindo o corpo frágil se adaptar ao seu de modo saudoso. As mãos de
Anahí desceram pelas costas dele, sentindo os músculos molhados de suor (Alfonso
transpirara durante o pesadelo, e ele dormira sem camisa). Ele mordiscou a boca
dela várias vezes, beijando-lhe o queixo em seguida, a maxilar, o pescoço... E
bateram na porta.
Alfonso: O que? – Perguntou, malcriado. Anahí riu de leve, e ele selou os lábios dela.
Criada: O café da manhã está servido, senhor. Senhor Ian mandou avisar-lhe que já está
a sua espera. – Disse a voz do outro lado da porta.
Alfonso: Ian. – Rosnou, olhando pro lado. Se praga pegasse, Ian a esta hora estaria em
apuros – Diga-o para começar sem mim. Vou me atrasar.
Anahí: Eu sinto sua falta, demais. – Disse, os dedos tocando a maxilar dele. – Mas eu
preciso de tempo, pra me situar. Me dê tempo. – Pediu, encarando-o.
Alfonso: Quanto tempo você precisar. – Disse, tirando o cabelo dela do rosto. – Eu vou
continuar aqui. Só não me reprima mais, como a um inimigo. Eu só quero seu bem. –
Anahí assentiu.
Então ela lhe deu um beijo, por mais incrível que possa parecer, na bochecha, e se
esquivou debaixo dele. Alfonso deixou ela sair. Observou ela se levantar, tirando os
amassados do vestido e arrumando o cabelo. Ela apanhou as toalhas dele, que
havia trocado, e saiu do quarto. Alfonso se afundou no travesseiro de novo, com as
mãos no rosto. Se ela precisa de tempo, vamos dar tempo a ela.
---*
Mas dois meses se passaram, e ela não voltou. Alfonso tampouco a procurou, não a
viu, nem com Suri. Ele não tinha paciência pra isso. Ou ela o queria, ou não
queria. Ele não iria rastejar mais. Porém o acaso ama pregar peças...
Empregado: Willow Creek. – Era uma das propriedades de Alfonso. Como uma das
extremidades do território. – Está sob mira de ataque. Pelo visto temos menos de 02
horas até que o confronto ocorra.
Empregado: Esse é o problema, o olheiro não conseguiu ver a divisa. – Alfonso franziu
o cenho, Ian arregalou os olhos – Mais de 500 pelo que pude ver, senhor.
Empregado: Não é o numero total, eu vim dar o alarme e ainda haviam homens em
marcha. – Disse, e dava para se ver o porque da afobação.
Ian: Não é uma batalha neutra. – Disse, olhando para frente – Alfonso, Willow Creek
estava com a divisa descoberta, discutimos isso ontem. Uma frente de batalha de 500
homens em um campo sem defesa, pelo amor de Deus. – Disse, apontando o óbvio. O
rosto de Alfonso se entalhou em pedra de uma hora pra outra.
Alfonso: Ele está vindo. – Concluiu, e Ian assentiu erguendo a sobrancelha –
Desgraçado. – Rosnou, se levantando, e saiu. Ian se levantou também. A urgência era
clara agora.
Ian: Soe o alarme, eu quero, por baixo, mil homens pro campo de batalha agora.
Cubram a guarda do castelo e esperem por mim e Alfonso lá fora. Vá! – Ordenou, antes
de sair da sala, também apressado.
Suri: O que é isso? – Perguntou, atordoada com o barulho. Anahí olhou a menina, e Suri
viu o pânico nos olhos dela – Annie, o que foi?
Anahí nem sabia o que estava fazendo. Os sinos continuavam tocando, e aquilo a
atormentava. Ela percorreu salas e salas, procurando por ele, e nada. Onde
estava? Ela parou no corredor do primeiro andar, revirando os olhos pra si
mesma, e desembestou para a escadaria que dava na torre de Alfonso. Seu pulmão
doía pelo esforço quando ela abriu as portas (novamente sem bater), encontrando-
o lá. Ele já estava com a armadura, e prendia algo de metal ao seu braço, como
uma proteção. Os dois pararam ao se verem.
Anahí: Não vá. – Pediu, rouca tanto pela caminhada, tanto pelo desespero.
Anahí: Alfonso, não vá. Não atenda o chamado, fique aqui. – Ele entendeu o medo dela.
Alfonso: Anahí... – Ele suspirou. Anahí viu a espada dele pousada nos pés da cama, e
isso lhe pareceu um mal sinal.
Anahí: Eu estou implorando. – Ela estava chorando – Eu faço o que você quiser. Pelo
amor de Deus, não vá.
Alfonso: Ei. – Disse, se aproximando dela. Ele se abaixou, apanhando-a pelos ombros –
Se acalme. – E ele a abraçou. Os sinos continuavam chamando. Anahí o abraçou, mas o
metal frio entre os dois servia como barreira.
Anahí: Não vê que ele está fazendo isso para atraí-lo? Ele quer você morto, Alfonso,
não vá. – Ele seguia calado.
Alfonso ergueu os olhos, e o retrato de Dulce, pousado em sua cabeceira, servia de
contraproposta. Paul matara Dulce. Alfonso esperou 05 anos por esse dia, por ter
sua oportunidade. Ele teve novamente um flash da morte de Dulce, dos olhos dela
sem vida em frente a ele, e Suri que jamais andaria...
Alfonso: Eu não posso. – Ele a soltou, e Anahí o olhou, desolada. O cabelo dela estava
maior, e já fazia alguns cachos. A franja se desfizera em uma camada curta do cabelo. –
Eu tenho uma conta a acertar.
Anahí: Você vai morrer por essa vingança. – Disse, desolada. Ela viu Alfonso terminar
de prender o acessório de metal no braço. Porque ele não estava ouvindo-a?!
Alfonso: Se tiver de ser assim... – Seria. Era a resposta clara: Ele estava disposto a
morrer.
Anahí não teve mais o que falar. Não conseguia. Ele apanhou algo que lembrava
um capacete, de metal, um escudo e a espada. Estava pronto. Os sinos pararam de
tocar. Ele parou, frente a ela, e aquilo era uma despedida.
Alfonso: Ainda que não acredite, eu realmente amo você. – Disse, olhando os olhos
lacrimejantes dela – Se eu não voltar... Não esqueça isso.
E ele beijou a testa dela demoradamente, saindo dali. Ainda precisava ver Suri.
Um desespero tomou conta de Anahí a ponto de sufocá-la. Ela encarou o retrato de
Dulce. Uma fúria desmedida justificou ela ter avançado pelo quarto, apanhando o
porta retrato e atirando-o com força na parede oposta. O som do vidro quebrando
foi o que veio antes dos soluços do choro assustado dela, que caiu sentada na
parede do outro lado. Ela não suportaria esperar... Não suportaria perde-lo.
Suri: Papai, o senhor viu a Annie? Ela saiu daqui meio... Que roupa é essa? –
Perguntou, se interrompendo. Alfonso se sentou perto dela na cama, e a menina bateu
no peito da armadura como quem bate em uma porta.
Alfonso: Eu vou ter que sair. – Disse, passando a mão no cabelo dela.
Alfonso: Enquanto... Enquanto eu estiver fora, prometa que vai ser uma boa menina.
Que vai se cuidar, e crescer... E ser feliz. Prometa isso pro seu pai.
Alfonso: Não esquece de uma coisa: Tanto o papai quanto a mamãe amam você demais,
sim? – Perguntou, e a menina assentiu, sem entender. Ele beijou a testa dela, respirando
fundo – Eu amo você.
Suri: Eu também amo você, papai. – Disse, tentando abraçá-lo. Mas seus braços eram
pequenos e a armadura o tornava ainda menos acessível.
Alfonso: Fique bem. – Disse, abraçando-a. Alfonso levou bem um minuto abraçado
com a filha, então, beijando-a novamente, saiu. Suri continuou sem entender. Não soube
que aquilo podia ser uma despedida.
Katherine: Tu não vais se despedir de mim, Ian, não! – Disse, se afastando dele.
Katherine: Não vá. Essa guerra não é sua, não é nossa. Não me deixe aqui sabendo que
você pode morrer lá fora, Ian, pelo amor de Deus! – E parece que Anahí não era a única
a suplicar – Essa guerra não é nossa, você não precisa ir!
Ian: É minha guerra agora. – Disse, e ela revirou os olhos, impaciente e em pânico,
passando as mãos no cabelo. – Não confia em mim?
Katherine: Não é o caso de confiar ou não, você vai morrer no campo de batalha,
lutando por uma causa que não lhe pertence!
Ian: E se eu realmente morrer como tu pensas, vai desperdiçar os últimos minutos que
tem comigo brigando? – Perguntou e ela o encarou.
Katherine encarou Ian por instantes, então, derrotada, o abraçou. Ele trouxe o
rosto dela para si, beijando-a apaixonadamente, e aquela era a despedida que ela
não queria ter. Os sinos voltaram a tocar, um ultimato. Ela se agarrou a ele, mas
ele se libertou.
Ian: Eu vou voltar. Confie. Eu amo você. – Ele selou os lábios com os dela e, após se
armar de capacete, escudo e espada, saiu. Ela olhou a porta aberta por minutos, até
desmoronar na poltrona novamente.
Katherine: Inferno. – Rosnou, amaldiçoando Alfonso pela hora em que ele mencionara
pedir o apoio de Ian para essa guerra.
Mas agora já era tarde. Bastava esperar para ver quem voltaria... Ou se voltaria.
Ian: Alfonso. – Chamou, ao montar em seu cavalo. Os soldados iam a pé, mas Ian e
Alfonso de cavalo, ambos negros. – Essa não é a batalha que havíamos planejado, e nós
estamos esperando por Robert e por Christopher, lembre-se disso.
Alfonso: O que quer que eu faça, entregue a coroa? – Perguntou, esperando o exercito
avançar a sua frente para poder passar (Os soldados abriam frente para a cavalaria).
Ian: Não. Mas se for uma armadilha, se ele não estiver lá, nós vamos fechar fronteira e
recuar.
Ian: Espero que esteja. Mas se não estiver e tu insistires, eu vou recuar com meus
homens e largá-lo lá sozinho. – Avisou, pondo o capacete também. Alfonso não
respondeu.
Esse era todo o problema da situação. Batalhas haviam, e várias, mas era como no
xadrez: Apenas os peões iam, os reis eram protegidos. Uma vez que Paul estivesse
dentre o exercito de ataque, Alfonso deveria sair do castelo e oferecer resistência.
Se ele não fizesse isso, perderia. Porém se Alfonso fosse derrubado em um campo
de batalha onde Paul nem estava... Seria uma catástrofe. Haviam 1.500 homens
reunidos ali. Ian queria que houvesse resistência de pelo menos 2 homens seus para
cada 1 de Paul. E em silencio todos seguiram.
Suri: Onde está meu pai? – A menina estava impaciente desde que Alfonso saíra –
Anahí, chame ele!
Mas Anahí não respondeu. Tanto ela quanto Katherine não diriam mais nada
aquela tarde. O silencio dominava o castelo. No quarto de Alfonso o retrato de
Dulce fora recolocado em seu lugar, a pobre não tinha culpa do final que tivera.
Como Anahí iria justificar a falta do vidro do porta retrato era o de mínimo agora.
Ela só rezava. Rezava para que nada acontecesse a ele, para que voltasse para ela...
E as horas passavam... Passavam... O campo de batalha era o caos. Alfonso já
sumira dentre os soldados, procurando por Paul... Matando quem passava ao seu
redor. Ian não descera do cavalo, procurava como Alfonso, mas com os olhos.
Ian: ARQUEIROS! – Rugiu, ainda olhando pro campo de batalha. Mais de 200 arcos se
montaram as suas costas, esperando as ordens – AGORA!
Ian: Ele não está aqui. Desgraçado. – Disse, fazendo o cavalo girar para olhar em volta.
Não havia sinal de Paul por ali, só soldados. Ian ergueu o braço e com um gesto deu a
ordem – RECUAR! RECUAR, AGORA!
Não queria, mas se sujou. Todos aqueles que não eram seus e que passaram por
seu caminho caíram. Até que ele chegou a Alfonso. Não havia como parar, ele
estava sendo atacado. O cavalo relinchou e a espada de Ian reluziu no ar, se
abatendo sobre todos os que se aproximava.
Ian: ALFONSO! – Dessa vez tinha certeza de que Alfonso ouvira – ELE NÃO ESTÁ
AQUI, O QUE ESTÁS FAZENDO? – Não houve resposta. – Ótimo. – Disse, descendo
do cavalo.
Desgraça pouca era realmente bobagem. Se um dia Paul tivera chance de ganhar
essa guerra era agora. Ian e Alfonso estavam expostos combatendo soldados! Não
podia ser melhor! Alfonso matava homens porque estava com raiva, e Ian matava
homens para tentar deter Alfonso. Quando não havia mais nenhum homem por
perto, ou no raio de alcance deles, Ian agarrou Alfonso pela armadura.
Ian: Tu tens sorte por eu ser piedoso e não tê-lo largado aqui. – Rosnou, raivoso –
Quando eu ordenei para recuar, se aplicava a ti também. Vamos sair daqui.
Alfonso não disse nada, apenas se virou para sair. Não haviam chegado ao cavalo
ainda quando alguém o atacou pela costas. A espada do atacante passou pelo feche
da armadura de Alfonso, acertando-o nas costas. Ele cambaleou, com um
grunhido, e Ian se virou. Ao ver a situação Ian tirou o próprio capacete e atirou na
direção do homem que atacara Alfonso, e foi até ele (que estava no chão), cravando
sua espada em seu peito. Ele puxou a espada de volta, gotejando sangue, e se virou.
Mas Alfonso já havia caído, e agora estava no chão, imóvel e com a espada cravada
na lateral das costas.
Todos estavam paralisados. Ian fez sinal para que vigiassem ao seu redor enquanto
se aproximava de Alfonso.
Ian: Alfonso, pode me ouvir? – Perguntou, olhando a espada. Por baixo uns 04 dedos da
lamina haviam perfurado a carne.
Alfonso: Não, fiquei surdo. – Respondeu, com a voz abafada pela grama.
Ian apanhou a espada e a puxou das costas de Alfonso, que gritou perante a dor.
Ian trouxe a espada até perto do rosto, medindo o trecho manchado de sangue.
Quatro dedos, como imaginara. Ele largou a espada de lado, voltando a Alfonso,
que ofegava no chão. Escorria sangue pela lateral da armadura.
Alfonso: Não, creio que terei de voltar pro castelo engatinhando. – Respondeu, e sua
voz era entrecortada. Houve um suspiro de alivio geral quando Alfonso se pôs a
levantar... Mas ao pôr o peso na perna esquerda (O lado do corte), cambaleou, rosnando.
Ian o amparou. – Adorável, não é? – Perguntou, e ainda ofegava.
Alfonso: O que é realmente reconfortante. – Alfonso não sabia o que estava mais forte
em seu corpo: O ódio ou a dor. O empregado com o cavalo chegou. Alfonso penou pra
conseguir subir, e uma vez lá se amparou no cavalo, ofegante.
Ian: Vocês. – Disse, se virando. – Recolham os mortos, devolvam as suas famílias para
que façam os funerais como se deve. Eu não quero nenhum sobrevivente do exercito de
Paul. Se encontrarem algum... – Pra bom entendedor meia ordem basta. Ian se virou
mas Alfonso já havia saído, se equilibrando pra segurar a rédea do cavalo com uma mão
só (erguer o braço do lado ferido era lancinante). – É o inferno... Alfonso! – Exclamou,
indo atrás.
Ian seguiu atrás de Alfonso. O cavalo dele estava logo ali. Ele montou com a maior
facilidade após prender a espada na bainha, e seguiu o outro. Um criado ajudou
Alfonso a descer no castelo, amparando-o até dentro de casa. Já era madrugada.
Ian: Você. – Disse, e uma criada assentiu – Vá até meu quarto e avise a Mrs. Katherine
que eu voltei. – Ordenou e a empregada saiu. – Eu quero uma equipe para revezar na
segurança do castelo, chamem homens que não tenham participado da batalha, eu não
quero ninguém dormindo na guarnição, e tampouco quero ser atacado enquanto durmo.
– Disse, irônico.
Anahí ouvira o alvoroço e viera correndo, mas parara na porta. Ian estava em
cima de seu cavalo... Mas o cavalo de Alfonso estava livre, olhando levianamente
para um canteiro de orquídeas que havia ali perto. Anahí hiperventilou. Demorou
instantes até Ian vê-la parada ali, branca feito a morte. Ao encontrar o olhar dele
ela avançou.
Anahí: Onde... Onde está? – Perguntou, olhando do cavalo de Alfonso pra Ian. Ian
desceu do próprio cavalo, revirando os olhos.
Ian: Mulher, se controle. – Disse, procurando graça – Está no quarto. – Anahí quase
desmaiou. – Vocês são tão precipitadas! – Disse, observando-a.
E ela não se importou ao se lançar nos braços do marido. Não se importou por se
chocar contra a armadura dele, nem por sujar o vestido luxuoso de sangue ou a
pele de fuligem. Ela apenas o beijou. Ele a amparou nos braços, correspondendo
seu beijo em uma frase que dizia: “Está tudo bem. Acabou.”. Anahí não esperou
para ver aquela cena romântica: Já estava correndo novamente. Destino? O
quarto de Alfonso.
Anahí entrou novamente sem bater. Alfonso, que acabara de largar a armadura
numa cadeira. Estava de calça e camisa sem botões. Os braços ainda protegidos
pelos acessórios de metal. Descalço. Os dois se encararam por um instante longo, e
ela correu na direção dele, lançando-se em seu pescoço, abraçando-o. Alfonso a
abraçou, mas não suportou o peso dos dois: Cambaleou, se amparando na cômoda
com a mão. Ela o soltou, olhando-o de cima abaixo.
Alfonso: Eu me machuquei... Um pouco. – Ele viu o pânico nos olhos dela – Nada com
que se preocupar.
Anahí: O que? Onde... – Ela parou ao puxá-lo de lado. Na lateral da camisa branca
havia uma mancha vermelha enorme, que descia pela cintura dele, sumindo na calça
preta. Ela ergueu a camisa pra se debater com o corte da espada. Anahí prendeu a
respiração.
Criada: Com licença, senhor. – Disse, parada a porta. Anahí e Alfonso olharam.
Alfonso sorriu, divertido, e assentiu para a criada sair. Uma vez que ela saiu Anahí
fechou a porta, parecendo ultrajada. Se desarmou após trancar a fechadura.
Alfonso engoliu o sorriso. Ela largou o kit em cima da cama e voltou até ele,
voltando a olhar o ferimento.
Alfonso: Vai parar. – Disse, erguendo a mão pra tocar o rosto dela.
Anahí: Vá pro banho. – Ordenou, rasgando o tecido da camisa dele. Alfonso deixou ela
destruir sua camisa, divertido. Uma vez de peito nu ela o encarou – Ande, vá! Eu vou
mandar prepararem algo para você comer. – Disse, e apanhou os braços dele, puxando
os protetores de metal. – Vá. Eu vou cuidar de você. – Disse, tocando o rosto dele.
Alfonso, depois de ter passado por tudo o que passou, ansiou pelo carinho dela... Mas
ela o despachou mancando pro banho.
A água queimou no corte dele, e no piso tinha a cor vermelho sangue. Demorou até
ele terminar. Lavou os cabelos, e quando saiu havia uma muda de roupa para ele
ali. Se secou e se vestiu. O ferimento ainda sangrava. Ele mancou de volta ao
quarto, onde Anahí o fez comer até dizer: “Chega!”. Agora ele estava de bruços na
cama, sem camisa, e ela limpava o ferimento dele cuidadosamente com um algodão
molhado.
Alfonso: O que houve com o retrato de Dulce? – Perguntou, vendo o porta retratos sem
vidro. Epa.
Anahí: Quando tu saíste eu fiquei ansiosa... – Ele esperou, ainda de bruços, e ela não
podia dizer a verdade – Eu comecei a mexer em tudo e terminei derrubando o porta
retratos. Perdão.
Alfonso: Tudo bem, eu mando buscarem uma moldura nova. – Disse, e respirou fundo,
acomodando o rosto no travesseiro. Agora lavado podia se ver um pequeno talho na
sobrancelha dele, mas aquilo melhoraria por si só. – Tu sabes o que está fazendo? –
Perguntou, por precaução, sentindo a fisgada fria da agulha atravessar sua pele.
Anahí: Sei, minha mãe me ensinou algo sobre algo. Você vai ficar bem. – Os olhos dela
estavam atentos a linha na pele dele, dando o primeiro ponto. – Como foi?
Alfonso: Ele não estava lá. – Disse, em um murmúrio frustrado. – Se esquiva como uma
enguia, porque não me enfrenta de vez, já que comprou a briga?
Anahí: Porque sabe que tu o matarias sem contar até vinte. – Disse, puxando a agulha
novamente. Alfonso já fora suturado outras vezes, mas nunca vira ninguém fazê-lo com
tanto cuidado, ou tanto carinho como ela. – É um covarde. E tu deverias se controlar, e
não se jogar desse modo toda vez que ele pregar uma peça. Ficou histérico. – Disse,
terminando o segundo ponto. – Me assustei. Tive medo de que não voltasse.
Alfonso: Eu estava exaltado... Mas não muda a verdade do que eu te disse. – Disse,
virando o rosto o máximo que podia para olhá-la. Anahí o encarou, hesitando por um
momento, mas seguiu.
Anahí: Suri esteve exaltada a tarde toda, e custou a dormir. – Disse, puxando um novo
ponto. O sangue começava a ceder ao curativo.
Alfonso: Não mude de assunto. – Disse, e ela empurrou o rosto dele de volta no
travesseiro. Ele não pôde evitar de rir.
Anahí se manteve calada o resto da sutura. Quando terminou de dar os pontos fez
um curativo em cima.
Anahí: Melhor assim. – Disse, recolhendo as coisas. – Você precisa descansar. – Ela
deu um beijinho nas costas dele, se levantando – Eu vou levar...
Nem terminou. A mão de Alfonso já estava no braço dela, detendo-a em seu lugar.
Os dois se encararam, e ele estava decidido.
Alfonso: Dessa vez não. – Disse, trazendo-a sentada de novo. E não havia como sair.
Alfonso: Não. – Disse, resolvido. Ainda a segurava. Dessa vez ela teve que rir. Ele
esperou.
Alfonso: Não o que você for pedir. E ainda é não. – Disse, concreto.
Anahí: Mas que diabo, me largue. – Disse, largando o que tinha no colo no chão pra
tentar se levantar a força.
Anahí: Enquanto não me soltar falo o que eu quiser. – Confrontou, ousada, tentando se
soltar. Alfonso ergueu as sobrancelhas.
Alfonso: Se tu vais falar o que quiser, eu faço o que quiser também. – Respondeu,
satisfeito.
E Anahí nem viu como. Em um minuto ela estava falando, e no outro estava no ar.
Alfonso a puxou para fazer cair deitada ao seu lado. Porém quando foi passar pra
cima dela a dor em sua cintura foi mais forte, fazendo-o grunhir e voltar ao seu
lugar com uma careta.
Alfonso: Não. – Disse, se acomodando – Só foi um aviso de que não é pra eu sair daqui.
Anahí: Eu vou mandar prepararem um chá pra sua dor. – Disse pra si mesma, indo pra
cima dele – Me deixe ver. Pode ter voltado a sangrar. – Disse, tentando virá-lo. Alfonso
franziu o cenho.
Alfonso: Tu és absurda. – Disse, e ela o olhou, confusa.
Alfonso a encarou por um instante, levando a mão até sua maxilar. Ele se
aproximou e não houve objeção: O beijo aconteceu. Ele trouxe ela pra si, pondo-a
deitada em seu colo e abraçando-a pelo ombro com um braço, enquanto o outro
segurava o rosto dela, permitindo que sua boca devorasse a dela. Nenhum dos dois
deu a mínima pro retrato de Dulce, logo ali atrás. Saudade, saudade, saudade,
saudade...
Anahí: Não. – Disse, escapando dos lábios dele. Alfonso respirou fundo.
Anahí: Eu o quero. – Disse, tocando a maxilar dele. Alfonso a encarou, o olhar entre
confusão e satisfação – Deus, como quero. – Ela selou os lábios com os dele.
Anahí: E então que você vai se machucar. Sabe que é verdade. Mal consegue se
levantar. – Disse, beijando o nariz dele.
Anahí: Hey! – Disse, tapando o rosto dele, que riu, mordendo a mão dela.
Alfonso: Eu estou com tanta saudade. – Lamentou, mordendo-a novamente. Anahí riu,
com cócegas.
Anahí: Eu também... – Ele a beijou, mordiscando seus lábios – Mas não vai ajudar se
seus pontos abrirem. – Alfonso suspirou, derrotado. Por mais que não reconhecesse, ela
tinha razão.
Alfonso: Aqui. – Confirmou – Eu não preciso de sexo pra me satisfazer. Fique comigo,
me dê sua companhia, seu perfume... Seu sorriso. – Ele tocou o queixo dela, sorrindo –
E tudo ficará bem.
Anahí: Me deixe sair. – Alfonso fechou a cara – Eu só vou levar as coisas e me trocar.
Eu volto.
Alfonso: Se não voltar, eu vou buscá-la. Só pra ressaltar. – Disse, soltando-a. Anahí riu,
e se levantou.
Alfonso viu ela catar tudo e sair. Ele respirou fundo, pensando no que havia visto e
feito hoje... Então a sensação dos lábios dela... Ele virou o rosto pro lado e Dulce
estava lá, imortalizada, com a mão próxima ao rosto, os cabelos revirados.
Alfonso: Me perdoe, meu amor. Eu não consegui. – Disse, olhando o retrato. Não
conseguira matar Paul. Não conseguira manter outra mulher longe de si.
Anahí: Vai dar 3 da manhã. Esse castelo deserto dá medo. – Disse, fechando a porta.
Alfonso riu gostosamente. Ela se amparou na porta, respirando fundo. Ele ainda ria
quando reparou nos trajes dela. O roupão tinha se aberto na corrida desesperada dela.
Por baixo ela usava um corpete e um short (a roupa intima daquela época). O rosto
estava branco pela corrida. Os cabelos haviam crescido uma matiz mais escura do que
costumavam ser (Cabelo atual da Anahí).
Alfonso: Veio correndo de lá debaixo até aqui? – Perguntou, puxando conversa para
poder observar.
Anahí: Só dos pés da escada. Entrei em pânico. – Admitiu. Então ela viu o olhar dele.
Seguindo-o... – Ei! – Ralhou, fechando o roupão.
Alfonso: Eu não fiz nada. – Ele viu ela dando um nó apertado no roupão, arrumando-o
de modo que não se via nada – Tire isso.
Anahí: Não, eu estou de roupa intima. – Disse, ultrajada. Ela ia subir na cama, mas ele
não deixou, levando o pé até onde ela ia subir. – O que?
Alfonso: Tire. – Ordenou. Ela ergueu a sobrancelha – Por... Por favor? – Tentou e ela
riu gostosamente, deixando a cabeça cair pra trás. Ele sorriu.
Anahí: Uma hora tu ordenas, outra tu pedes por favor... É contraditório. – Disse,
divertida.
Anahí: Não!
Alfonso: Eu estou sem camisa, qual o problema? – Impôs – Carinho, não há nada em
você que eu não tenha visto, se essa é a precaução. – Anahí ergueu a sobrancelha.
Anahí o encarou por instantes, ultrajada. Era impossível! Por fim ele ergueu a
sobrancelha, dando-lhe um ultimato, e ela revirou os olhos, desamarrando o
roupão. Ele sorriu. Ela deixou o roupão em uma poltrona do quarto e caminhou
até a cama, agora conseguindo subir.
Anahí: Está doendo? – Perguntou, passando por cima dele para olhar o curativo.
Continuava limpo. Alfonso brincou com o feche do corpete dela. – Alfonso!
Alfonso: Não resisti. – Disse, como uma criança pega no flagra – Não, não está doendo,
nada que eu não possa suportar. – Ele a apanhou nos braços, fazendo-a se deitar em seu
peito. – Seu cabelo está mais escuro. – Comentou, beijando-lhe o rosto.
Alfonso: Não, imagina. – Disse, debochado – Mas deixemos isso pra lá. Sei de algo
melhor...
Ele a beijou novamente. Aquilo durou bem meia hora. Ele alternava entre sua
boca, o rosto e o pescoço, às vezes ousando o decote do corpete. As velas se
gastaram enquanto os dois continuavam ali, entre carinhos.
Anahí: Não seria melhor parar agora? – Perguntou, com a voz meio cortada, os lábios
entreabertos, enquanto ele afastava a alça de seu corpete, distribuindo beijos chupados
aqui e lá.
Alfonso: Não gosta? – Perguntou, e a voz dele, rouca e baixa, fez ela se arrepiar.
Anahí: Ah... – Ela se encolheu, e ele beijou toda sua maxilar até o queixo de modo
demorado – Você prometeu. – Impôs, antes que ele a fizesse esquecer disso.
Alfonso: Me faça quebrar a promessa. – Ofereceu, e a mão dele que estava em sua
cintura desceu de modo pegado pelo quadril, até a coxa, que ele apertou com volúpia.
Alfonso: Não estou fazendo nada. – Disse, descendo a boca pelo colo dela, só passando
os lábios – Não vou fazer nada que você não queira.
Anahí: Eu não quero que você me toque. – Ofereceu, na hora, e ele sorriu.
Alfonso: É? – Perguntou, subindo a mão da coxa dela até os seios. Ele desviou
sutilmente do corpete, apanhando um dos seios dela, enchendo sua mão, e apertando-o.
Anahí não conseguiu conter um gemido abafado. Os dedos dele buscaram o mamilo
dela, descobrindo túmido, rígido. Ele o apertou entre os dedos - Mentirosa. - Acusou,
sorrindo, e mordeu os lábios dela.
Alfonso: Eu iria buscá-la. - Disse, antes de calá-la com mais um dos beijos que a
deixavam com a pulsação alterada. Enquanto a beijava Alfonso deixou a mão brincar
com o corpo dela, atiçando-a, provocando-a. Anahí emergiu do beijo, deixando os
lábios dela, e quase ofegava.
Alfonso: Eu conheço outra opção. - Disse, com a boca no ouvido dela. Ele beijou-lhe o
ouvido superficialmente e ela estremeceu. Os lábios dele estavam quentes, úmidos...
Alfonso a ergueu com os braços, fazendo-a se sentar em seu colo, com uma perna em
cada lado. Anahí cravou as unhas no braço dele ao se sentar bem em cima do membro
dele, a essa altura pronto pra qualquer coisa - Bem melhor do que a que você me
oferece. - Concluiu.
Anahí: Você vai se... HUM! - Gemeu, languida, quando ele a apanhou pelo traseiro com
as duas mãos, pressionando sua intimidade contra o membro dele ao mesmo tempo que
erguia o quadril contra ela - Você vai se machucar. - Lamentou, vendo a batalha
perdida. Alfonso se divertia mordiscando os seios dela por cima do corpete, como se a
idéia da roupa estar no caminho fosse desafio. Ele a puxou contra seu quadril de novo e
ela suspirou, enlaçando as mãos no pescoço dele, os dedos adentrando o cabelo
enquanto dava um beijo mordido na curva do pescoço dele.
Alfonso: Deixe que eu faça o que quero, e não vou me machucar. - Disse, erguendo o
rosto aos poucos - Eu quero você, carinho. Eu a quero tanto agora que nada vai me
machucar mais que sua rejeição.
Anahí o encarou por um instante, indecisa. Os olhos de Alfonso pareciam flamejar.
Ela suspirou, desistindo. Já estava no inferno mesmo. Ele suspirou, com urgência,
quando ela o beijou. As mãos dele agarraram o short dela como se quisessem
rasgá-lo... E rasgou. A mão dele procurou a intimidade dela, testando-a, e ele
sorriu ao ver que ela já estava mais que pronta pra ele. Anahí, deliciada no beijo
dele, só sentiu ele se remexer debaixo de si (afastando a calça), e as mãos dele a
buscaram.
Alfonso: Aqui. - Disse, puxando o quadril dela. Com um movimento sutil ele possuiu o
corpo dela. Anahí mordeu o ombro dele, contendo o grito que veio até sua boca -
Assim... - Disse, satisfeito. A voz dele já estava cortada.
Bom, havia um tanto de razão quando Alfonso disse que deixando-o fazer ele não
se machucaria. Naquela posição o ferimento dele nem era tocado, funcionava a
todos os efeitos. Ele ganhou ritmo aos poucos, guiando-a pela cintura. A pulsação
de Anahí estava tão forte que o coração dela ameaçava pular pra fora. Meu Deus!
Alfonso a beijava, a tocava, ela não conseguia respirar! Sua memória não lhe fazia
justiça, nunca fizera!
Anahí: Ah. - Gemeu, ainda apertando os braços dele. Sentia os músculos dele se
movendo, e isso era...
Alfonso: Hum? - Perguntou, mordendo o queixo dela. O quarto estava quase todo
escuro agora, pela ausência das velas. Anahí não conseguiu responder. Os corpos dos
dois se friccionavam agora quase com violência. - Diga o meu nome, carinho. Preciso
ouvir tua voz. - Pediu, passando os lábios pelo ombro dela.
Anahí: Alfonso. - Chamou, atendendo o pedido dele. As mãos dela adentraram o cabelo
dele enquanto ela distribuía vários chupões pelo pescoço dele, e algumas mordidas -
Alfonso... Ah, meu Deus. - Gemeu, e ele subiu uma das mãos por suas costas até
adentrar os cabelos. Ele ergueu o rosto dela, beijando-a.
Não demorou muito, tamanho desejo. Os dois se vieram quase juntos; Primeiro
ela, e ele após senti-la. O silencio reinou. Anahí estava desmontada no peito dele,
sentindo o coração dele tamborilar. Instantes depois a mão dele passou pelo cabelo
dela, acariciando-a.
Anahí: Seu corte... - Disse, cansada, tentando olhar o curativo. O que ela conseguiu ver
estava branco.
Alfonso: Eu estou no céu. - Brincou, beijando o cabelo dela. Ela ergueu os olhos,
encarando-o. O silencio durou por minutos, os dois se encarando.
Na manhã seguinte... Alfonso acordou aos poucos, e se virou. Pela primeira vez em
mais de 5 anos havia alguém na cama. O braço dele buscou o corpo frágil de
Anahí, abraçando-a. Ele abriu os olhos, vendo Anahí dormindo do seu lado, os
cabelos escuros caídos a sua volta. Ele apanhou um dos cachos, menos vivos do que
costumavam ser no dedo e enrolou, tentando modelá-los... Quando soltou voltou ao
normal. Ele revirou os olhos.
Ian: Alfonso, trate de acordar, eu quero saber se... – Ian entrou no quarto, e parou na
porta com a cena. Anahí e Alfonso abraçados, cobertos até a cintura, ela de espartilho,
dormindo – Curioso. – Disse, prestes a cair no riso.
Alfonso: A porta não estava trancada? – Ian ergueu a mão com um molho de chaves,
ainda admirando a cena – Ótimo. – Alfonso trouxe Anahí mais pra si, na defensiva.
Dormindo, ela acolheu o braço dele em sua cintura, a mão o segurando suavemente.
Ian: Quem diria, vossa alteza... – Disse, os olhos claros sondando o rosto de Alfonso –
Tu realmente te apaixonaste pela criada. – Concluiu, intrigado.
Alfonso: É assunto seu? – Perguntou, na defensiva, puxando ainda mais Anahí pra si.
Mais um pouco e desmontaria a pobre.
Ian: Mas é claro que não. – Disse, divertido – Com sua licença. – Disse, debochado, se
curvando. Alfonso revirou os olhos. Ian saiu, fechando a porta, e o riso dele foi audível
até dentro do quarto.
Ele olhou o rosto dela, que ainda dormia tranquilamente. Se lembrou da voz dela,
afogada, gemendo seu nome, há apenas algumas horas. Ele sorriu, afundando o
rosto no pescoço dela, beijando-a. Anahí despertou, se espreguiçando, manhosa, e
sorriu também.
Alfonso: Algo vai mal? – Perguntou, olhando pra janela, sem entender.
Anahí: Claro que vai mal, como eu vou sair daqui? – Perguntou, se sentando. Ela puxou
o lençol para se cobrir. Alfonso riu, deitando no travesseiro – Não ria! Eu deveria ter ido
embora assim que você dormisse, que diabo! – Disse, aflita.
Alfonso: Eu tenho roupas. Posso emprestar. – Brincou, dando um beijinho no ombro
dela. Então imaginou Anahí vestindo suas roupas e gargalhou gostosamente, voltando
ao travesseiro.
Alfonso: E a noite inteira. – Disse, e ela riu. Ele a puxou deitada novamente, mordendo-
lhe a orelha – Você se ofereceu para o trabalho.
Anahí: Aceitaria que outra o fizesse em meu lugar? – Perguntou, afastando o rosto do
dele, falsamente indignada. Ele sorriu vendo o jeito de menina dela novamente em seu
rosto. Ele prontamente montou uma expressão de inocente acusado pro rosto.
Anahí: Vá, se vou cuidar de ti, vá pro banho. – Disse, tentando por a cabeça em ordem –
Eu vou olhar teu curat... – Ele a beijou.
Alfonso: Apenas me ame. – Disse, passando a mão no rosto dela, tirando os cabelos –
Me ame e todo resto será relevante. – Concluiu.
Entendeu quando ele apanhou seu corpete pelo decote com uma mão, puxando-o, e
conseqüentemente rasgando-o. Alfonso se divertiu removendo aquela peça como
um cachorro se diverte ao encontrar um osso. Por fim ele, satisfeito, a beijou
novamente. Ela retribuiu o beijo, enlaçando as mãos no pescoço dele, entregando-
lhe o corpo e a alma. Logo não havia mais nada pra ser dito.
Dias depois...
Ian: Perdemos poucos homens. – Encerrou, largando o papel com a lista dos mortos na
batalha.
Alfonso: Ainda assim foi um desperdício, tanto de vida quanto de armas. – Anahí
colocou o copo de suco na mesa, na frente dele. Alfonso a encarou, exasperado. Ela o
fazia comer algo o tempo todo! Ela ergueu a sobrancelha, repreendendo-o, e ele bebeu,
derrotado. Ian disfarçou o riso com um tossido. Mas...
Katherine: Bom dia. – Disse, entrando na sala – Por favor, não se levantem. – Disse,
dispensando, quando Anahí se curvou e Ian e Alfonso iam levantar. – Ian... Há alguma
novidade sobre Paul? – Perguntou, levemente interessada.
Ian olhou. A caligrafia era fina, firme e delicada. Ele passou o trecho em que
Madison falava de outras coisas até o ponto em que Katherine indicou.
Ian: “Já chegou ao meu conhecimento a sujeira na batalha em Willow Creek. Lamento
que tenham se envolvido, e espero que todos estejam bem. Algo que não me agrada é
desonestidade. Se tu entras em uma briga, ganhe ou perca, mas saia de cabeça erguida.
Este ato não foi honesto. Logo... Estou enviando uma espécie de “presente”. Há algo
que eu aprendi ao longo dos anos: Introduza um pouco de anarquia, quebre a ordem
vigente e tudo se torna caos. Sabe qual a chave para o caos? Medo. Ódio também
funciona muito bem. E é exatamente disso que vocês precisam... Um pouco de caos. Do
lado dele, é claro. Soube há um tempo que Paul se enfureceu porque uma concubina
dele fugiu, provavelmente se infiltrando onde vocês estão. Isso já causa raiva, é um
começo. Somando com o que estou enviando será significativo. Enfim, aguardem por
noticias. Quando chegar até vocês, saberão que foi um presente meu. Esperando que
estejam bem, Madison Uckermann.” – Ian abaixou o papel. – O que ela quer dizer com
isso?
Alfonso: Uma concubina dele? Aqui? – Perguntou, incrédulo. Anahí estava branca feito
papel.
Anahí: Tu não estás bebendo. – Disse, tentando controlar o tremor nas mãos. Alfonso
revirou os olhos e tomou o resto do suco, encarando-a. Ela assentiu em aprovação, e ele
sorriu.
Ian: Isso é o de mínimo, o que ela quis dizer sobre “um presente”? – Perguntou,
intrigado.
Katherine: Era o que eu queria saber quando lhe perguntei se sabia algo. – Disse,
apanhando a carta de volta e dobrando-a.
Alfonso e Ian deram a ordem. Imediatamente o boato correu: Todos queriam
saber o que estava acontecendo do outro lado da fronteira. A noticia chegou mais
rápido do que esperavam.
Criado: A mãe de Paul faleceu, senhores. – Informou. Anahí quase gemeu. Com certeza
isso traria uma resposta; Paul não se casara, era apegado a mãe mais que a qualquer
outra coisa.
Katherine: Ela... Ela quebrou o pescoço da...? Meu Deus. – Disse, exasperada.
Alfonso: Como ela conseguiu adentrar o reino e o castelo dele assim? – Perguntou,
ainda em choque.
Ian: Dizem que ela é como o vento, pela noite. Incontrolável. Entrar no castelo deve ter
sido fácil. – Respondeu a pergunta de Alfonso.
Katherine: O que significaria que ela está por perto? – Perguntou, olhando a carta.
Anahí: O que significa que eles estão se envolvendo na briga. – Disse, concluindo o
raciocínio. Alfonso, Ian e Katherine a encararam.
Ian: Eu não havia pensado por esse modo. Alfonso, se Madison matou a mãe de Paul é
porque esteve com raiva, se esteve com raiva está tomando nosso partido. – Disse, se
animando.
Criado: Senhores, outro fato: O olheiro realmente viu Paul vindo, em Willow Creek. –
Alfonso e Ian olharam, confusos.
Criado: Não, senhor. Pelo que o olheiro diz ele vinha, com os arqueiros e a cavalaria,
então alguém intercedeu e disse algo que o fez retroceder. O olheiro acredita que a
informação de que sua alteza estava no campo de batalha vazou, e o fez recuar. –
Concluiu.
Alfonso: Estou com fome. – Disse, na mesma hora, erguendo o rosto. Anahí o encarou,
em um misto de incredulidade e graça na voz. Ele sempre dizia que estava com fome
quando queria que ela ficasse perto; Ela o alimentava.
Anahí: É claro que está. – Murmurou pra si própria, e ele sorriu – Eu já volto. – E saiu.
Alfonso: Anahí? – Que diabo, ele viera atrás?! – Anahí respirou fundo, se recompondo.
Ele apareceu no portal da cozinha – Passa algo? – Anahí negou com a cabeça, com
medo da voz traí-la – Porque saiu daquele modo?
Anahí: Por nada. Eu só pensei que estava sendo inútil ali, eu não faço parte disso. –
Disse, se resumindo. Pro pânico dela ele se aproximou, puxando-a pro seu abraço.
Alfonso: Não diga tolices, tu nunca és inútil. – Disse, beijando-lhe a testa – Está fria. –
Disse, estranhando.
Anahí: Não é nada, só uma tontura. – Mentiu. Então a voz de Ian veio do corredor.
Anahí: Eu vou pro meu quarto só um instante, sim? – Pediu, e ele pensou que era
porque ela realmente não estava se sentindo bem.
Não suportaria. Não suportaria que ele descobrisse, que ele a deixasse. Ela preferia
morrer do que sobreviver perante o desamor dele. Ela encararia a morte com um
sorriso no rosto. Deus, me ajude...
Alfonso foi ao encontro de Anahí pouco tempo depois. Ela havia tomado banho,
tentando esfriar os ânimos, e estava com a roupa debaixo. Ele entrou no quarto,
fechando a porta.
Alfonso: Anjo, se importa de voltar ao quarto que eu lhe dei? – Perguntou, beijando o
cabelo dela – Esse é pequeno demais, úmido demais... Você merece algo melhor.
Anahí: Não, não me importo. – Ela não se importava com nada agora.
Alfonso: Vamos sair daqui, então. – Disse, apanhando o roupão dela. Anahí ia protestar,
mas ele a calou com o olhar.
Os dois saíram dali de mãos dadas. Alfonso a levou pelos corredores, e com um
toque do acaso ninguém os viu. Ele retirou a chave do quarto do bolso, abrindo a
porta, e entrou com ela. A cama de casal, confortável, estava forrada com lençóis
limpos, ele mandara limpar e organizar tudo.
Alfonso: Tua chave. – Disse, pondo a chave em cima da cômoda. – Se deite um pouco,
vai ajudar. – Disse, abraçando-a por trás e dando-lhe um beijinho no ombro.
Anahí: Eu sei de algo que vai me ajudar. – Disse, se virando pra ele, abraçando-o – Faça
amor comigo, Alfonso. – Pediu, beijando-lhe o rosto.
Anahí: Quero que faça amor comigo. – Repetiu, e ele trouxe o rosto dela pra si,
encarando-a.
Alfonso: Não posso fazer isso, está doente, vai piorar. – Disse, acariciando o rosto dela.
Anahí: É claro que era. – Ela o beijou. Dentre os muitos dons de Alfonso, rejeitá-la não
se incluía.
Ele mordeu o queixo dela quando ela buscou seu cinto, abrindo-o sem nenhum
pudor.
Anahí sentiu as mãos dele apanhando sua cintura e erguendo-a, e logo ela estava
por baixo na cama. Ele empurrou os sapatos e as meias com os pés, de qualquer
jeito, e ela acolheu o peso dele sob si, lânguida. Não demorou mais de alguns
minutos e os dois se moviam juntos, mas Alfonso ainda estava hesitante, achando
realmente que ela estava doente.
Anahí: Amor. – Sussurrou, no ouvido dele. A voz dela estava quebrada, rouca pelo
desejo. Ela sentiu as mãos de Alfonso apertarem sua cintura, como que buscando
controle para manter aquele ritmo lento, apaziguado, ao ouvir a voz dela. – Assim não.
– Pediu, beijando-lhe a orelha.
Alfonso: Não faça... – Ele realmente estava usando cada fibra da sua resistência para
não atacá-la como tinha vontade.
Anahí: Por favor. – Disse, e ele sentiu ela enlaçar as pernas na cintura dele,
pressionando-o contra si – Isso não é o que você quer... – Induziu, traçando uma linha
pelas costas dele com a unha.
Alfonso: É o que eu posso fazer sem machucá-la. – Rebateu. Ela insistindo daquele
modo não ajudava em nada.
Anahí: Então eu quero que você me machuque. – Sussurrou, mordendo a orelha dele –
Eu estou pedindo por isso. Eu quero a dor. – Concluiu, passando os lábios entreabertos
de leve pela orelha dele.
Ela sentiu Alfonso morder seu ombro. Ele parecia estar buscando forças,
tentando... E falhou miseravelmente.
Anahí sentiu ele puxando-a mais pra si, fazendo-a quase deslizar na cama, e ele
investiu nela com brutalidade, como ela havia pedido, fazendo-a gritar a inicio.
Agora sim. O corpo de Anahí oscilava com as estocadas que recebia dela, e ela
tinha a cabeça inclinada para trás, os lábios entreabertos. Alfonso tinha o rosto no
pescoço dela, mordendo-o, chupando-o. Tinha o cenho franzido pela força que
usava. Anahí cravou as unhas nas costas dele, deliciada com tudo aquilo. Era mais
do que havia pedido, era mais do que ela precisava, era... Deus! Durou tempos. Ele
não perdeu o ritmo, não se cansou, e a cada segundo que passava para ela era
melhor. Até que...
Anahí: Me beije. – Arfou, sentindo seu corpo quase que convulsionar. Ele atendeu,
muito satisfeito, buscando os lábios dela.
Alguns instantes depois o gemido dela foi parar na boca dele, e Alfonso sentiu ela
se suavizar debaixo de si. A buscou por mais alguns minutos e foi sua vez, vindo-se
com o nome dela nos lábios. Os dois ficaram quietos por alguns minutos, ele
largado em cima dela e ela acariciando os cabelos dele ternamente, enquanto ouvia
a chuva caindo, batendo na janela fechada. Alfonso sentiu a mão dela procurar
delicadamente o curativo em suas costas, tocando-o superficialmente, mas o
curativo estava seco e limpo; Sem danos. Ele saiu de cima dela trazendo os dois
para debaixo do edredom depois de se livrar das calças, e a trouxe pro seu peito,
abraçando-a. Anahí o abraçou ternamente, deixando sua cabeça repousar em seu
ombro, aspirando teu perfume.
Alfonso: Eu não mereço você. – Disse, com os lábios no cabelo dela, acariciando seu
ombro.
Alfonso abaixou o rosto, encarando-a. Anahí se sentia bem quando ele a olhava
assim. Ele tirou o cabelo dela do rosto, acariciando-lhe a pele.
Alfonso: Eu estou amando você. – Disse, e viu um sorriso de canto nascer no rosto dela.
Anahí: Eu sempre te amei. – Respondeu, retribuindo seu olhar. Ele beijou o nariz dela,
que riu, e a apertou em seu abraço.
---*
Dias depois... Anahí acordou. Não estava chovendo, o que era raro. Ela se sentou,
tirando o cabelo do rosto, e olhou a camisola amarrotada... Mas inteira. O que era
mais raro ainda. Olhou pro lado e viu Alfonso dormindo pesadamente, sem
camisa, coberto de qualquer jeito. Se desvencilhar dele fora quase uma luta
corporal, mas ela conseguiu, pondo seu travesseiro nos braços dele em seu lugar. O
dia claro parecia um pressagio, um aviso, uma constatação... O medo violento que
ela sentia, sua angustia e seu receio não evitariam o mal que estava por vir. Talvez
esses fossem seus últimos dias com Alfonso.
Ela não desperdiçaria isso sendo fraca; agora isso não resolveria nada. Ela
trancaria seu medo em um compartimento escondido, onde ele não pudesse
atrapalhar. Foi pensando nisso que ela se levantou, se banhou e se arrumou. Saiu
do banheiro e estava se penteando quando a voz de Alfonso a reprovou.
Alfonso: Porque tens essa maldita mania de me deixar sozinho na cama? – Ele
sinceramente odiava isso.
Anahí: Porque tu ficas lindo dormindo. – Disse, sorrindo, passando a escova nas pontas
do cabelo – Eu não vou acordá-lo, e preciso trabalhar. Logo tu dormes e eu vou.
Alfonso: Vou rasgar esses travesseiros, então quero ver o que tu vais por em teu lugar. –
Disse, debochado, e ela riu. Ele gostou do som do riso dela – Venha aqui. – Chamou,
estendendo a mão.
Alfonso: Não. – Disse, se divertindo com os cachos dela – Só vou com Ian resolver algo
na cidade. Devo voltar ao entardecer.
Anahí: Estarei aqui. – Disse, aninhando as costas no peito dele, que deixou a escova de
lado, abraçando-a.
Alfonso: É claro que estará. – Disse, beijando-lhe a orelha de modo mordido, fazendo-a
sorrir, se encolhendo. Ele trouxe o rosto dela para si, beijando-a de modo apaixonado,
doce.
E ela se atrasou. Quando ele saiu, seguido por um Ian impaciente e cheio de
piadas, o sol já estava alto.
Anahí: Bom dia. – Disse, entrando na cozinha. Nina tomava café. Anahí preparou a
bandeja de Suri um pouco mais apressada, pelo horário, mas quando ia sair não perdeu a
oportunidade de passara mão descaradamente no copo de Nina, derrubando-o e
ensopando a outra de suco de laranja. Nina gritou, se levantando, mas já era tarde.
Anahí passou o dia tranquilamente. Como Alfonso não estava ela dedicou todo o
seu dia a Suri; a menina adorou ter a babá inteiramente de volta.
Desde o episodio em Willow Creek Anahí dividia seu tempo entre pai e filha,
alternando entre os dois. Na ausência de um ela podia ficar com a outra. Alfonso se
demorou o dia todo fora, até mais. Pretendia voltar ao anoitecer, mas já era tarde
quando conseguiu entrar no castelo. Ian nem o deu boa noite; A convivência
forçada não era boa amiga, foi pro seu quarto. Alfonso subiu até o andar do quarto
de Suri, a capa que usava sobre os ombros revoando em seus calcanhares, e abriu a
porta do quarto da menina cuidadosamente. Ela já dormia um sono tranqüilo. Ele
foi até ela, ajeitando seu cobertor e lhe beijando a testa. Em seguida saiu atrás de
Anahí. Não via a hora de poder tê-la em seus braços outra vez, pra poder esquecer
o dia cansativo que tivera. Mas ela não estava em seu quarto. Ele foi no antigo
quarto dela, mas também estava vazio.
Assim como eu, nós bebemos pra morrer, e nós bebemos esta noite ♫
ㅤ
Alfonso desgrudou os olhos com esforço da imagem dançante dela para observar
os que estavam ao redor. As mulheres olhavam Anahí com certo despeito no rosto,
até inveja, talvez. Entre os homens, sua grande maioria, alguns conversavam,
alheios, outros olhando-a, e os que cantavam, olhavam ela.
Havia cobiça no olhar de muitos, desejo, gana. Alfonso ficou mordido. Não se tinha
mais respeito, era isso?!
ㅤ
Longe de casa, elephant gun
Nós vamos derrubá-los, um por um ♫
ㅤ
Mas Anahí não via. Ela olhava o fogo, apenas a ele. Alheia a cobiça, a inveja...
Alheia a própria perfeição. Anahí olhava o fogo e esgotava seu corpo, tentando se
libertar da angustia que sentia por dentro. Parecia estar funcionando. Então, sem
se anunciar, como o vento, ela sentiu uma sensação familiar. Sensação de presença,
mais forte até que a própria sensação de estar sendo observada. Em um dos
rodopios ela o viu, parado, longe dali, oculto pela falta de luz e pela capa negra que
usava. Anahí perdeu o passo um instante, desarmada pela aparição dele; com sorte
ninguém viu. Ele viu o olhar dela sob si e sorriu, batendo palmas conforme a
musica, em um elogio silencioso a dança dela. Ela sorriu de volta, voltando a se
mover, mas agora o encarava, discretamente; estava dançando para ele. Ele a
observou, fascinado, o olhar aprovando o que via. E ela dançou ainda com mais
gosto, porque agora tinha pra quem dançar. Durou por mais um bom tempo.
Quando as chamas morreram, tempos depois, Anahí se preocupou por alguém vê-
lo na volta pro castelo... Mas ele havia sumido, tão subitamente como aparecera.
Nós vamos derrubá-lo, ele não foi encontrado, não está por aí ♫
ㅤ
Todos foram embora. As chamas, antes imperiosas, agora eram só cinzas e carvão.
Anahí olhou a grama, esgotada, e respirou fundo, sentindo o perfume da noite.
Caminhou em silencio até o celeiro. Estava alerta demais para ir se retirar, o
sangue ainda corria rapidamente por suas veias. Ao chegar lá, o celeiro estava
vazio e escuro. Ela passou pelos estábulos, indo pra trás do feno, onde sabia haver
uma bica, de onde os criados tiravam água para os cavalos. Ela apanhou da água,
lavando o rosto soado e molhando a nuca, afastando o calor. O frio em si estava
voltando, o céu nublado lá fora denunciava isso. Ela secou o rosto na manga da
blusa, caminhando de volta. Alguns cavalos dormiam, outros a observavam.
ㅤ
Anahí: Ei, garotão. – Disse, passando a mão na crina do cavalo de Alfonso, que se
destacava por ser o de maior porte e melhor cuidado. O cavalo, orgulhoso, não se
derreteu pelo carinho, mas era claro que estava gostando. Ela sorria quando uma voz a
apanhou, vindo bem detrás dela.
Anahí se arrepiou, involuntariamente, com a presença dele ali. Ela se virou e ele a
observava, os olhos verdes com um tom diferente, mais intensos. Pela falta de
resposta dela ele insistiu.
Anahí: Creio que não tenho explicação para isso. – Disse, dando de ombros.
Alfonso: Todos os homens ali estavam olhando você. – Continuou, vendo ela se afastar
– Que diabo de roupa é essa? – Anahí olhou pra baixo, vendo a roupa improvisada que
usava.
Alfonso: Estava calor, é claro. – Repetiu, irônico – Então você se desnuda e sai
dançando por ai. – Ele cruzou os braços. Ficava tão bonito quando estava emburrado!
Anahí: Não estava dançando por ai, estava dançando para você. – Corrigiu, e ele ficou
quieto, observando-a se aproximar, abraçando-o de lado. – Devo interpretar isso como
ciúmes, alteza? – Perguntou, antes de dar um beijinho no ombro dele, coberto pela capa.
Alfonso levou um longo instante observando-a, até responder.
Anahí: Eles olham assim para qualquer uma. – Tranqüilizou, beijando-lhe novamente.
Anahí: Nenhum deles nem sonha que eu sou tua mulher. – Rebateu, e viu a frustração
no rosto dele por não poder dizer nada. – Não seja ciumento. Olhar não machuca.
Alfonso: Deveria dar ordens para furar-lhe os olhos, um por um. – Disse, enfezado.
Anahí: Shhh, não diga isso. – Disse, tapando a boca dele com os dedos. Ele ergueu a
sobrancelha – Eles nem se lembram mais.
Alfonso: Sonharão com isto essa noite. – Rebateu. Pelo tom de voz dele era claro que
isso era uma ofensa grave.
Anahí: Não pode controlar os sonhos das pessoas, majestade. – Ela acariciou o rosto
dele, sorrindo.
Não foi um beijo calmo, o que surpreendeu Anahí. Estavam tendo uma conversa
civilizada e agora... Santo Deus!
Ele parecia estar tentando devorar sua boca. Ela arfou, se segurando nos braços
dele para não tropeçar, deliciada com tudo aquilo. Durou por instantes até que ele
mordeu seu lábio inferior, puxando-o.
Alfonso: Não se exponha assim para outra pessoa, não gostei do modo como me fez
sentir. – Disse, secando as gotas de água no rosto dela com os lábios, em beijos
chupados.
Anahí: Outra pessoa? – Perguntou, sorrindo, de olhos fechados. – Logo isso não o
inclui.
Alfonso: Obviamente não. – Ela riu. – Não. – Protestou, sentindo ela afastando suas
mãos, se libertando dele – Que está fazendo?
Anahí não respondeu. Ela deu um passo hesitante ao redor dele... E logo outro, e
outro, e rodopiou. Os protestos dele calaram ao vê-la dançar novamente. O olhar
de Anahí estava preso ao dele assim como estivera preso ao fogo, anteriormente.
Alfonso: Não vai resolver. – Disse, prendendo o sorriso. Ela sorriu, apanhando a mão
dele. Alfonso seguiu ela, que sorria pra ele, até largá-lo sentado em um monte de feno,
no fundo do estábulo – Ei!
Anahí: Até amanhã. – Ela soltou um beijinho pra ele e disparou correndo. Alfonso
piscou duas vezes, atônito, e disparou atrás dela.
Anahí ria. Ele sorriu vendo o esforço dela de correr, e balançou o rosto
negativamente, acelerando o passo. Quando ela ia alcançar a saída do celeiro um
braço forte dele passou por sua cintura, erguendo-a do chão, e ela deu um gritinho,
rindo. Alfonso sorria enquanto fechava a porta do celeiro, impedindo a fuga dela.
Ela se debateu no ar enquanto ele a levava de volta pros fundos, segurando-a
tranquilamente com apenas um braço.
Anahí: Eu tenho certeza de que há uma lei que me proteja contra isso. – Disse, ofegante
pelo riso. Alfonso parou e ela virou o rosto pro lado, encarando-o em uma indagação.
Alfonso: Uma lei contra mim? Sério? – Perguntou, debochado. Anahí suspirou,
derrotada, e ele voltou a andar, assim como ela voltou a se debater.
Anahí se agarrou a Alfonso quando ele tentou largá-la, e os dois riam naquela
breve luta corporal. Por fim ele a jogou no feno e ela se rendeu, rindo
gostosamente.
Anahí: Um bezerro. – Repetiu – Tudo bem, isso não foi galante, alteza. – Disse, se
sentando. – Vamos pra dentro, está tarde. – Chamou, pegando uma mão dela. Alfonso
ainda a observava com fascínio no olhar.
Alfonso: Não. – Ela o olhou, esperando – Tem uma coisa que eu tenho que fazer aqui,
antes de irmos.
Anahí: Tudo bem. – Disse, alheia. Verdade seja dita, depois do dia cansativo e tudo
mais, estava ficando com sono. Ela tocou a capa dele, que estava estendida debaixo
dela, sentindo o veludo luxuoso sob seus dedos. Olhou para ele, que continuava ali,
segurando sua mão e olhando-a, e franziu o cenho – O que está esperando? Vá. – Disse,
confusa. Alfonso sorriu, divertido – Qual a graça? – Perguntou, se enfezando.
Alfonso: Nenhuma. – Disse, apertando a mão dela. Ele subiu no monte de feno,
ajoelhando-se entre as pernas dela, e apanhou seu rosto, beijando-a novamente.
Anahí retribuiu, é claro. Não importa o que acontecesse, beijar Alfonso sempre
seria uma das melhores sensações que ela provaria. O hálito dele, o gosto dos
lábios, o contato das línguas... Ela só não entendia porque ele estava beijando-a, se
tinha que fazer alguma coisa. Clique.
Anahí: Ei. – Disse, desviando a boca da dele com algum esforço. Alfonso levou os
lábios pelo frontal do pescoço dela, chegando no colo. – Aqui? – Perguntou, receosa.
Alfonso: Tem coragem suficiente para dançar daquele modo em frente a todos, e lhe
falta coragem para isto? – Ele sentiu a pele do rosto dela esquentando em rubor, e sorriu
– Aqui, meu amor. – Disse, beijando-lhe o rosto. A bochecha dela estava quente como
se tivessem lhe dado uma bofetada.
Ainda receosa ela olhou em volta. Pelo menos ele tinha fechado a porta. Ele incitou
ela a se deitar, levando-a com seu próprio corpo. Anahí gostava disso. Desse modo
como ele a comandava, a controlava. A fazia sentir segura, protegida... A excitava.
Ele se deliciou na pele dela por instantes incansáveis, até que parou na blusa. Sem
paciência, puxou as duas abas com tudo, rasgando-a, mas o nó o deteve.
Alfonso: Que diabo...? – Murmurou, erguendo o rosto para olhar o nó. Anahí riu.
Alfonso desceu as mãos até o nó apertado, desfazendo-o quase com raiva. Por fim o
colo dela se desnudou e ele aproveitou, abocanhando-lhe um dos seios, fazendo-a arfar,
segurando-lhe os cabelos.
Verdade seja dita, ouvira falar sobre isso em sua adolescência, em uma conversa
entre amigos, em uma viagem que ganhara dos pais. Nunca tentara. A única
mulher que tivera em sua cama fora Dulce, e ele nunca nem pensara nisso, não o
tentaria, mas Anahí era diferente. Ele queria aquilo, queria o gosto dela, queria
ouvi-la gemer seu nome. Durou minutos, até que ele sentiu a respiração dela se
acelerar mais, o corpo ficando mais tenso, se contraindo em espasmos... E ele a
deixou. Anahí não teve tempo de falar, ela não conseguia apanhar o ar. Foi um
instante mínimo, apenas tempo suficiente para tirar o condenado cinto e se desviar
da calça. Os corpos dos dois se encaixaram com suavidade, e ele buscou a boca dela
antes de começar a se mover. Se um dia Anahí tivera perto de um colapso, fora
aquele. Os dois se amaram com brutalidade, quase violência, um desejo
desconhecido que não tinha explicação, mas parecia queimar.
Anahí: Ah. – Gemeu, cravando as unhas no ombro dele. Estava vindo outra vez, ela
podia sentir...
Alfonso: Tudo bem. – A voz dele estava baixa, rouca – Deixe vir... – Pediu, mordendo-
lhe os lábios.
E ela deixou. Com um gemido cansado, extasiado, ela deixou vir, sentindo o corpo
todo ficar como suspenso, anestesiado, os sentidos meio como dopados. Em seu
devaneio pôde ouvir o ultimo gemido dele antes que o corpo dele caísse sob o seu,
derrotado, satisfeito. Alfonso ofegou por instantes, desfrutando daquela sensação
maravilhosa, e em seguida se deitou ao lado dela, apanhando-a em seu braço. O
silencio reinou por longos minutos, enquanto ele beijava o cabelo dela,
acariciando-lhe as costas, e ela tentava voltar a pensar com coerência. Não eram
mais rei e criada, homem e mulher, nem nada disso... Eram amantes, apaixonados,
sem se importar. Só isso.
Alfonso: Tive ciúmes. – Admitiu, ainda acariciando-a, e ela ergueu o rosto do peito
dele, encontrando seus olhos com dificuldade na escuridão do celeiro – Medo de que
um daqueles que te olhavam te agradasse, por poder te dar a vida que eu não posso. Por
poder te assumir, criar uma casa, uma família. Por poder te dar paz. – Concluiu, em voz
baixa.
Alfonso: Eu amo você. – Disse, e viu ela sorrir. Ele beijou o nariz dela, que o apertou
em seu abraço, e foi só.
---*
Os dois ficaram quietos até que as primeiras gotas da chuva caíram. Era um aviso
que tinham que sair dali.
Alfonso: Não faço a mínima idéia de onde tenha ido parar meu cinto. – Disse, divertido
– Não tem luz aqui?
Anahí: Não! – Disse, segurando-o. Alfonso a olhou, vendo quase nada. – Não quero que
me veja.
Alfonso: Porque? – Perguntou, confuso. Silêncio como resposta. Ele abaixou o rosto,
encostando com o dela... E o rosto dela estava quente, como se ela estivesse muito
tempo no sol. – Está com vergonha de mim, carinho? – Perguntou, tirando o cabelo dela
do rosto. Ela seguiu calada – Não seja tola. – Ele mordeu-lhe o rosto – Foi bom, não
foi? – Anahí assentiu, mortificada. – Eu estou vendo você agora.
Alfonso: Estou, sim. – Ela pode ver os olhos dele quase ameaçadoramente no escuro, e
se encolheu. Ele riu, selando os lábios com os dela – Continuamos isso depois, pode ser
divertido. – Ele levou um tapa no escuro – Mas vai chover, precisamos ir.
Alfonso ajeitou a calça, fechando-a, e se levantou, tateando pelo cinto no chão. Ela
se sentou e deitou de novo. Ele se virou, tentando enxergar.
Alfonso: Então...?
Anahí: Me responda COMO eu vou sair? – Ele recebeu um bolo de pano nos peitos. O
apanhou, apalpando. Era a blusa dela.
Alfonso: Oh. – E ele teve um acesso de riso. As gargalhadas gostosas ecoavam pelo
celeiro, sobressaltando alguns cavalos.
Anahí: Eu estou rindo? Como vou voltar? Não posso ficar aqui assim, alguém pode
entrar! Alfonso! – Exclamou, vendo que ele não parava de rir.
Alfonso: Seria ótimo ver alguém me confrontar. – Disse, parecendo divertido com a
idéia. – Agora assim que eu achar meu cinto... – Ele levou uma cinturada leve no braço,
e ouviu o riso dela. – Virou graça me bater? – Perguntou, mas sorria, apanhando o cinto
e colocando-o no lugar.
Ela caminhou até a porta, sem ter a mínima idéia de onde ele estava. Quando abriu
as portas do celeiro, a luz que vinha de fora a iluminou. Ela se virou e ele estava
bem atrás dela, fazendo-a se sobressaltar. Ele sorria.
Alfonso: Está linda assim. – Disse, olhando-a de cima abaixo. A capa era grande pra
ela, arrastava no chão. Os cabelos soltos caiam sob o veludo, criando a pergunta de qual
dos dois seria mais suave.
Anahí sorriu e ele a abraçou pelo ombro, os dois saindo sob a garoa, caminhando
tranquilamente. Alguém os viu, mas isso já é história para outro dia.
---*
O chão era branco, alvo, incomum para os daquela época, que em geral eram de
madeira escura. Um sapato preto, lustrado, caminhou por ali. Era um quarto.
Tudo ali era claro, tudo muito refinado. A cama king size tinha vários travesseiros,
era acolchoada. O quarto em si era enorme, haviam vários espelhos, várias
poltronas, cômodas, uma saída pra um banheiro e uma pra um guarda-roupas. Na
cama havia uma mulher sentada. Usava um vestido luxuoso, vermelho vinho. Sua
pele era assustadoramente branca, e os cabelos tão escuros quanto podiam ser. Ela
penteava os cabelos levianamente, por fazer. O homem, cujos sapatos foram
citados primeiramente, se aproximou da cama.
Christopher: Eu não tenho uma negação razoável para isso. Você tem, vossa alteza? –
Brincou, erguendo a mão. Havia uma carta e um cartão em sua mão.
---*
No dia seguinte...
Anahí acordou... Dolorida, cansada e confusa. Parecia que todos os seus ossos
haviam se soltado das juntas, mas a dor era gostosa. Ela se virou, se
espreguiçando, e deu com o rosto no peito de Alfonso. Ela afundou o rosto no peito
dele, aspirando seu perfume, e ele suspirou, o braço forte abraçando-a,
esmagando-a contra seu peito. Ela riu.
Anahí: Não. – Disse, tentando se soltar. Quanto mais ela tentava, mais ele a apertava, o
músculo do braço rígido.
Alfonso: Hum... – Brincou, e sorriu com o gritinho que ela deu. Ele se virou, ficando
em cima dela, prendendo-a com seu peso – Bom dia.
Alfonso: Não precisa, não. – Dispensou, apertando-a mais contra si. Anahí arregalou os
olhos, apanhando ar.
Anahí: Não posso respirar. – Ela ouviu o riso rouco dele, que afrouxou o abraço –
Preciso ir.
Anahí: Não irei longe. – Disse, descendo as mãos pelo pescoço dele, e lhe acariciando
os ombros em seguida. Sentiu os músculos dele se resetarem ao seu toque.
Alfonso: Não irá a lugar algum. – Rebateu, e ela sentiu os lábios dele em seu colo,
passando só por passar.
Anahí: Não comece... – Os lábios dele se fecharam, nada sonolentos, sob um dos
mamilos dela, detendo-os de forma mordida – Alfonso! – Reprovou, mas ele viu a pele
dela se arrepiando. Ele abocanhou o seio dela, quase inteiro, mordendo-o de modo
faminto. Ela suspirou, momentaneamente sem fala.
Alfonso: Shhh. – Disse, puxando-a para baixo, modelando os corpos dos dois.
Anahí: Vou me atrasar. – Conseguiu dizer antes que ele a beijasse. Ela não
correspondeu. Tinha coisas demais para fazer, ao contrário dele. Ela abaixou o rosto,
ocultando o rosto no peito dele, se encolhendo para se esquivar dele.
Alfonso: Que está fazendo? – Perguntou, frustrado. Anahí riu do tom de voz dele, ainda
escondida.
Anahí: Não é não. Você nunca se cansa? – Perguntou, exasperada. Ele era forte. Se
conseguisse beijá-la, a resistência dela não duraria nada.
Alfonso: Você disse que me amava. – Lembrou, tentando tirá-la de debaixo de si. Podia
fazer isso com facilidade, mas Anahí era tão frágil! Ela suspirou. Chantagem já era
demais.
Anahí: E eu amo. – Respondeu, beijando o peito dele sem perceber o que fazia.
Anahí: Mais que tudo no mundo. – Murmurou. Ela estava perdendo a luta antes mesmo
de começar.
Alfonso: Então? – Perguntou, a voz tão doce que parecia embriagá-la, conseguindo
soltá-la de seu peito.
Christian: Isso é de Alfonso. – Disse, virando a capa – Eu o vi saindo com isso ontem,
juntamente com Ian. Como isso veio parar aqui?
Christian: E trouxe para cá? – Perguntou, debochado. Anahí tentou apanhar a capa, mas
ele desviou. Nisso um pouco de feno se soltou, caindo pelo ar. Christian olhou a capa.
Havia feno em vários pontos. – Você não voltou para cá ontem, conosco. Ficou sozinha
lá fora. – Ele olhou a capa novamente – Para onde foi, Anahí?
Anahí: A lugar algum. – Disse, mortificada. Uma coisa era as pessoas suporem; outra
era Christian descobrir.
Christian: Sim, elas são, por isso eu sempre ignorei. Sempre a defendi. Mas isso... – Ele
olhou a capa – Ele protege você. Ele lhe confiou Suri. Você tem um quarto novo,
afastado dos empregados... Há ouro em seu pescoço. – O escapulário que Alfonso lhe
dera pareceu pesar 5 quilos no pescoço dela agora – Ele lhe deu. Ninguém pode falar de
você, ou olhar para você, sem correr o risco de ser mandado para a morte por ele. –
Agora que os olhos dele estavam aguçados ele podia ver a pele do pescoço dela irritada,
vermelha. Os lábios inchados e algumas marcas fracas pelo colo e braços. - Você é a
amasia dele. – Concluiu.
Christian: Você nunca soube mentir direito. Me encare, olhe nos meus olhos e me diga
que não é. Me diga que nunca teve nada com ele. Diga que nunca se entregou a ele. –
Propôs.
Christian: Ele vai matá-la. – Rebateu. Doeu em Anahí como uma bofetada, porque era
verdade.
Anahí: Não vai. – A voz dela era só um fio. Ela queria acreditar naquilo... Mas não
acreditava.
Christian: Você realmente está cega a ponto de acreditar nisso ou é só para se desviar de
mim? – Perguntou, incrédulo – Se não vai porque você não vai até lá agora e conta a ele
a verdade. Suponho que você não contou, não é? – Anahí ficou calada – Vai matá-la,
maldito seja. – Disse, passando as mãos nos cabelos.
Anahí: Não o amaldiçoe. – Defendeu. Algo a mordia por ver alguém insultando
Alfonso. Christian a encarou, incrédulo – Eu estou mentindo, não ele. Amaldiçoe a
mim, se lhe apraz, mas ele não.
Christian: Está cega de amor, Deus a ajude. – Disse, e havia angustia nos olhos dele –
Anahí, Alfonso ama Dulce María. Ele sempre a amou, desde o dia em que a viu até
depois de sua morte. Ele declarou guerra pela morte dela. Ele já matou inocentes em
nome dela. Assim como matará você. Não o vê?
Anahí: Eu prefiro a morte em si do que ser obrigada a viver sem ele agora.- Admitiu,
agarrada a capa em perceber.
Christian: Afaste-se dele. Ponha fim nisso enquanto é tempo. – Propôs, e viu o choque
nos olhos dela. – Antes que seja tarde demais. Anahí, me ouça. Quando for tarde eu não
vou poder proteger você, não vou poder ajudar.
Anahí: Nem se eu quisesse, nem se eu pudesse... Ele não aceitaria. Ele me ama,
Christian. Ele me diz isso e há verdade em seus olhos. Acredite em mim.
Christian: Ainda que a ame ele é um rei, e você é uma mulher de Paul. – Jogou, e ela
franziu o cenho.
Anahí: Não sou uma mulher de Paul, nunca fui, você sabe disso! – Se defendeu.
Christian: Nasceu lá, viveu lá, fugiu de lá. O fato de que não foi para a cama com ele de
nada adiantará. – O rosto de Anahí estava vermelho, quente. – Suponhamos que seja
inteligente. Há alguém de Paul aqui dentro, e Ian tem sede pelo sangue dessa pessoa. O
amor de Alfonso vai defendê-la quando ele souber a verdade? Quando pensar que a
espiã é você?
Christian: Diga que não o ama! – Ele viu o choque transpassar o rosto dela só pela idéia
– Diga que não o ama mais. Diga que há outro. – Anahí levou um instante até
responder.
Christian: Seu destino será triste, e não há de demorar agora. Eu realmente sinto muito.
Você não merece o final que vai ter. – Disse, mortificado.
Anahí: Já basta.
Christian: Você é diferente do que eu pensava. É uma pena teu pai ter morrido por uma
causa tão pequena. – Disse, abrindo a porta. Ele saiu, batendo a porta com força.
O silencio reinou depois que Christian saiu. Anahí se sentou na cama, sentindo-se
meio aérea. “Ele vai matá-la.”. Isso ecoava em seus ouvidos, doía. Ela queria
chorar, sua alma chorava, estava em prantos, mas as lágrimas em sai não vinham.
Ela ficou lá por minutos, até que a porta se abriu. Alfonso já estava lá, banho
recém tomado, barba feita, roupas limpas.
Alfonso: Aqui está você. – Disse, fechando a porta – Anjo, você viu onde eu deixei... –
Ele parou, observado-a. Estava de cabeça baixa, havia algo estranho – Olhe para mim. –
Ordenou, preocupado. Anahí ergueu os olhos, encarando-o. Estavam vermelhos. Ela
estava pálida, parecia tremer. – O que houve com você? – Perguntou, se abaixando na
frente dela. Anahí não respondeu. Ele pegou o rosto dela na mão, e ela estava fria – O
que fizeram com você? Quem estava aqui? – Anahí negou com o rosto.
Alfonso: É por isso que está assim? – Ela não respondeu – Eu não vou deixar nada te
acontecer, você não precisa temer. Ei. – Ele segurou o rosto dela, mantendo seu olhar –
Nenhum mal no mundo a alcançará. Eu prometo. Ninguém vai te machucar. – Ela teve
vontade de perguntar “Ninguém inclui você?”, mas se manteve calada. – Você está
chorando. – As lagrimas finalmente resolveram vir – Não. Anahí, olhe para mim. Eu
amo você, isso não basta? – Perguntou, preocupado e angustiado – Não chore.
Anahí: Me abrace. – Pediu, entre seus soluços – Só me abrace. – Ele a trouxe pros seus
braços, abraçando-a de modo apertado. Anahí afundou o rosto no ombro dele, deixando
sua dor vir. Ele acariciou-lhe os cabelos, tentando acalmá-la.Ela apenas chorou. Não
havia nada a fazer agora, apenas esperar.
Dias depois...
Anahí estava decidida: Iria contar. Qualquer coisa devia ser melhor que aquela
angustia. O pai de Anahí não fora covarde; Morrera porque gritara a verdade aos
4 ventos. Anahí não tinha a metade da coragem do pai, mas ainda assim... Ela
caminhou de forma rápida até a sala, onde sabia que ele estava, entrando lá de
forma quase intempestiva. Ele estava parado num canto da sala, com um papel na
mão. Ao vê-la entrar ergueu os olhos verdes, inocentes da verdade, para encará-la.
Anahí: Precisamos conversar. – Disse, antes que ele pudesse interromper – Eu preciso
dizer algo. Não posso mais escon... – Ela parou, olhando.
Havia algo diferente nos olhos de Alfonso. Ele esperava ela falar, era verdade, mas
o verde dos olhos dele parecia ressaltado... Mais intenso. Estava transbordando
felicidade.
Alfonso: Eles estão vindo. – Disse, e sua voz quase tremia de ansiedade e excitação.
Anahí engoliu em seco.
Anahí: Q-qual deles? – Perguntou, sem querer saber bem a resposta. Se fosse Robert,
ainda podia haver esperança. Por favor, que seja Robert...
Alfonso: Christopher. – Disse, e um sorriso nasceu em seu rosto. Anahí quase desmaiou
– Robert também. Estão vindo os dois, e as esposas juntamente. – Uma viagem naquela
época era oficialmente importante quando a rainha era retirada do castelo, levada junto
– Sua idéia foi brilhante, brilhante! – Disse, caminhando até ela.
Alfonso: Você disse que queria me contar algo. – Disse, pondo-a no chão. Anahí
hesitou, encarando-o. Como seus olhos estavam lindos, pareciam duas esmeraldas
vivas...
Anahí: Não é nada. Só que eu amo você. – Ele franziu o cenho, sorrindo – Eu... Senti a
necessidade de dizer isso . Para que nunca esqueça. – Disse, acariciando o rosto dele.
---*
Era um dia frio. Era outono, o céu estava nublado e ventava muito. Faltava pouco
para o baile, e para a chegada dos tão esperados. Anahí caminhava no jardim com
Alfonso ao seu lado. Ela andara angustiada. Seu relacionamento com ele estava
perfeito, melhor que nunca antes, mas ela tivera um pesadelo dias atrás. Ela
andava sozinha, não havia nada a sua volta, só neblina... Como se ela estivesse
dentro da nuvem. Então uma voz clara disse a ela: “O céu cairá quando o inverno
chegar.”. O inverno estava quase chegando, faltavam poucos meses. Ela acordara
gritando, as lágrimas, mas Alfonso estava lá, deitado do lado dela. Ele a abraçou e
prometeu que estava tudo bem. Ela se acalmou, mas a „mensagem‟, ficou. Desde
então o inverno a apavorava.
Anahí: Preciso trabalhar. – Disse, se virando para ele – A noite nos vemos. – Ele sorriu.
Alfonso: O que vai fazer agora? – Perguntou. Ele estava aquecido, usando uma capa de
veludo pesado, mas ela usava apenas seu uniforme.
Anahí: Lenha. As da lareira do seu quarto deram cupim. – Disse, debochada. Alfonso
riu gostosamente. Não passava as noites em seu quarto: Só ia lá tomar banho, se trocar e
ir atrás dela. Logo a lareira não era acesa. Ele riu até ver ela ir até o toco de uma arvore,
apanhando o machado cravado ali.
Anahí: Já fiz isso antes. – Disse, apoiando o machado no chão. Era pesado.
Alfonso: Isso é trabalho de homem. – Impôs, e Anahí ergueu as sobrancelhas. Ela riu ao
vê-lo tirar a capa.
Alfonso: Sou homem. – Ele passou a capa pelos ombros dela, que revirou os olhos.
Alfonso: Fui homem antes de ser rei. – Respondeu, afivelando a capa. Estava quente e
tinha o perfume dele. – Eu odeio isso, sabe? – Perguntou, desabotoando o punho da
camisa.
Alfonso: Estereótipos. Porque eu sou rei, eu não posso fazer nada pesado. Porque uma
pessoa está doente, ou magra demais, ou gordas demais, ou baixas demais, se elas tem
dinheiro demais ou de menos, elas tem que andar com pessoas do mesmo estereótipos
que os dela. – Disse, segurando o machado, olhando-a. – Eu acredito que o que interessa
é quem são por dentro. Pessoas julgam sem conhecer, isso tira do sério.
Anahí: Você não julga as pessoas sem conhecer? – Perguntou, observando-o.
Alfonso: Não. – Disse, olhando em volta – Se perde muito por julgar as pessoas apenas
por fora.
Anahí: E se você conhecesse uma pessoa por dentro. – Começou, e ele esperou. Os dois
estavam pálidos pelo clima, mais brancos que o normal – Por dentro e parcialmente por
fora.
Anahí: É. Se você conhecesse alguém totalmente por dentro, e por fora faltasse um
detalhe... Um detalhe razoavelmente importante. – Alfonso esperou – Quando você
soubesse esse detalhe você julgaria a pessoa por dentro?
Alfonso: Se eu amo o interior dela... – Ele deu de ombros – Quão grave é o que eu não
sei?
Anahí: Muito. – Disse, se abraçando a capa dele. Alfonso passou a mão na cabeça, o
cabelo dele ficou bagunçado, bonitinho. Ela sorriu.
Anahí: Não sei. Seu discurso sobre „não julgar sem conhecer‟ me deu essa curiosidade.
Mas vamos lá, majestade.
Christian, que estava no castelo, observou, confuso, a cena. Viu Anahí parada, com
a capa de Alfonso, que ergueu o braço, olhando o machado. Anahí o olhou de
modo duvidoso e riu. Ele ergueu a sobrancelha pra ela e tomando impulso, desceu
o machado na madeira, que se rachou em duas. Não era o jeito exato de se fazer,
mas era lenha. Ele sorriu pra ela, vitorioso, equilibrando o machado na mão, e ela
bateu palmas, dando pulinhos.
Alfonso: Ham? Ham? – Disse, andando pra ela de braços abertos, sorrindo, todo
orgulhoso.
Christian viu Anahí pular no pescoço dele, beijando-o. Alfonso a segurou no ar,
retribuindo o beijo apaixonado. O vento sacudiu os dois, os cachos dela
ricocheteando ao vento, e Christian negou com a cabeça, suspirando, e saindo dali.
Ficava a questão: Ele seria capaz de perdoar?
---*
Como era esperado, o inverno veio. Em uma manhã fria e calada os primeiros
enviados de Christopher vieram, seguidos pelos de Robert. Era costume mandar
enviados, como mensageiros, o que avisava que a realeza estava a caminho. Anahí
estava angustiada ao máximo... Até que algo a atropelou.
Ian: Alfonso. – Alfonso ergueu o rosto da xícara de café. Anahí, que o servia, não deu
atenção – Nunca pensou em casar-se novamente? – Perguntou.
Alfonso: Não ofende. – Ele secou a boca com um guardanapo – Não, nunca o pensei.
Ian: Faz idéia de quanto nos ajudaria, não faz? – Perguntou, brincando com a mão de
Katherine.
Alfonso: Não consigo ver em que. – Anahí continuava uma estatua de sal, parada no
mesmo lugar.
Katherine: Não achei que o assunto viria a pauta, Alfonso é tão... Perdão. – Ela avaliou
as palavras – Nunca pensei que Alfonso sequer pensaria no assunto, logo não pensei ser
relevante.
Alfonso: Porque mais fácil? Se eu tivesse uma esposa ela iria ao campo de batalha, em
nome de Deus?
Ian: Já mandei se acalmar. – Alfonso revirou os olhos – Katherine tem razão, já tinha
dito antes e tu o sabes.
Ian: Alfonso, já os temos aqui para um baile civil. – Disse, se inclinando na mesa –
Emende esse convite para um baile de escolha. Mantenha-os aqui até o baile, escolha
uma princesa qualquer, mantenha-os aqui até o casamento! – Ian tinha aquele tom
excitado pré-briga na voz outra vez. – Anahí achava que ia vomitar. É claro que ele ia
negar, é claro que...
Alfonso: Posso lidar com isso. – Ela tinha certeza de que ia vomitar – Não preciso dar
uma resposta oficial agora, ou tenho?
Ian: Eu já tenho a resposta que precisava. – Ele sorria. Isto era péssimo.
Katherine: Está tudo bem? – Alfonso olhava o café na xícara, percebendo em que
enrolada ele estava se permitindo envolver. Sua vida amorosa estava perfeita. Anahí era
perfeita pra ele, tanto na cama quanto fora dele, e ele não tinha do que reclamar. Não
havia o que melhorar no que era perfeito.
Anahí saiu tranquilamente da sala. Katherine continuou seu café, tranqüila. Ian
estava empolgado demais para reparar em algo. Mas Alfonso ouviu. Ouviu os
passos dela se acelerando de modo familiar, até que ela estava correndo e então o
som estava distante demais para ser ouvido. Ótimo.
Alfonso terminou seu café e foi atrás de Anahí. Não encontrou em lugar algum.
Por fim procurou Suri, recordando que sempre que podia Anahí estava com a
menina. Ele ficou com a filha bem uma hora, brincando, conversando, até que não
suportou.
Alfonso: Anjo. – Chamou, beijando o cabelo da menina. Ela estava em seu colo,
colorindo um livrinho.
Suri: Hum? – Perguntou, dengosa.
Alfonso: Viste Anahí hoje? – Perguntou, apoiando o livrinho pra ela colorir.
Suri: Ela esteve logo antes do senhor chegar. Parecia triste. Estava meio branca. –
Observou. Alfonso olhou pra frente, respirando fundo.
Suri: Ela disse que ia tomar um ar, e depois ia na cozinha, e depois na lavanderia. –
Respondeu, balançando com a cabeça. Alfonso sorriu do jeitinho dela.
Alguns minutos depois ele saiu novamente. Se ela havia ido dar uma volta, ele não
tinha nem como adivinhar onde tinha ido; Anahí nunca saia do castelo. Então
passou a segunda opção e foi a cozinha, mas ela já havia passado por lá. A
encontrou na lavanderia, em um tanque de roupas, lavando o que lhe lembrava ser
um colete seu. A reconheceu pelo cabelo, não podia ver seu rosto de onde estava.
Alfonso: A procurei por toda a parte. – Comentou, se aproximando. Anahí virou o rosto,
na surpresa, para olhá-lo. Era verdade, estava pálida. – Onde estava?
Anahí: Não me senti bem, fui até o rio. – Disse, voltando a atenção pro que tinha nas
mãos. Alfonso suspirou consigo próprio. É claro, o rio.
Alfonso: O que há? – Perguntou, afastando o cabelo dela. Anahí meio que se retraiu ao
sentir seu toque. – Está me reprimindo. O que passa?
Alfonso: Tu sempre fostes péssima mentindo. – Disse, virando o rosto dela para si – É
por causa do que Ian disse? Não dê atenção, sabes como ele é. Fará de tudo pra ganhar
essa guerra, não importa o que.
Anahí: Não é nada, já disse. – Respondeu, tentando soltar o rosto. Não podia usar as
mãos que estavam molhadas.
Alfonso: Shhh. – Ele manteve o rosto dela, fazendo-a encará-lo. O toque de suas mãos
era quente. – Não fique assim.
Anahí: Alfonso, e se um dia eu quisesse partir? – Perguntou, agora sem desviar o rosto.
Foi a vez dele ficar sem resposta.
Alfonso: Eu não permitiria. Não há outro lugar para ti. – Respondeu, a voz sem
entonação.
Anahí: Um marido, filhos. – Pra isso ele não teve objeção. – Sabe que dentro dos muros
do castelo não há futuro para mim. Eu vou definhar aqui, tal como estou agora. E se eu
não quisesse isso? Se eu quisesse ir? – Levou quase um minuto até que ele respondesse.
Agora ele estava pálido.
Alfonso: Se tua felicidade dependesse disso, então eu a deixaria partir. Seria minha
morte vê-la se afastar, mas ainda assim eu viveria para desvanecer em ciúmes do
homem que tu escolhesses para pôr em meu lugar. – Respondeu, quieto.
Anahí: Se tivesse que escolher entre mim e a guerra? – Perguntou, e ele suspirou.
Alfonso: Anahí...
Anahí: E se eu pedisse para que tu fosses embora comigo? – Ele arregalou os olhos.
Alfonso: E largar tudo? – Ela assentiu – Sabes que é impossível, carinho. Não posso
simplesmente dar as costas a tudo e fugir.
Anahí: Poderia dar as costas a guerra, se quisesse. Poderia não se casar, poderia acabar
com isso e ficaríamos juntos e em paz.
Alfonso: Não me peça isso. – Pediu, encostando a testa na dela. Anahí tentou resistir ao
perfume dele. Fracassou.
Alfonso: É mais importante a cada vez que eu vejo Suri entrevada naquela cadeira.
Anahí: E a cada vez que vê olha sua cama e percebe que Dulce María não irá voltar. –
Completou. Alfonso a encarou. Ela nunca tocava no nome de Dulce.
Uma voz os interrompeu. A pessoa aparentemente freou ao ver a cena, sem reação.
Alfonso: Saia agora. – Ordenou, a voz alta e firme, como aviso do que aconteceria caso
a pessoa não saísse. O criado tropeçou perante a ameaça e logo havia sumido – Porque
está fazendo isso?
Anahí: Eu só quero viver em paz.
Anahí: Terminará por me matar, meu amor. – Disse, com o semblante triste, tocando os
lábios dele com o dedo – Acredite.
Alfonso: Não vou matá-la, eu te amo. – Impôs - Porque diz esse absurdo? – Mais uma
vez foram interrompidos – EU MANDEI SAIR! – Ordenou, ao sentir a presença de
alguém novamente.
Ian: Só que você não manda em mim. – Alfonso e Anahí se viraram para olhar –
Desculpem interromper a cena, estava realmente lindo e eu vou arder no mais profundo
inferno pela interrupção, mas é necessário.
Ian: Ele está aqui. – Disse, com aquela alegria feroz no rosto novamente.
Alfonso: Qual? Como? Quando? – Perguntou, sem se dar conta de que ainda segurava o
rosto de Anahí. Ela apenas olhava o ombro dele, quieta, querendo sumir.
Ian: Robert, trazendo a esposa. A cavalaria e a corte estão perto do castelo, mas a
carruagem com ele acabou de passar a fronteira, eu mesmo dei a autorização. –
Informou – Ande, se mova! Vocês terminam isso depois! – Disse, impaciente, dando as
costas e voltando a andar.
Alfonso soltou o rosto de Anahí. Ele caminhou uns passos, deixando-a para trás,
então parou, se virando para olhá-la.
Anahí: Vá. É o seu mundo te chamando. – Disse, a voz quase imperceptível. Ele ficou
calado por um bom tempo.
Alfonso: Eu fugiria com você, se pudesse. – Disse, encarando-a. Então ele deu as costas
e saiu, deixando-a ali.
---*
Anahí não saiu para a recepção. Se trancou com Suri e lá permaneceu. Ouviu o
alvoroço nos corredores mas não saiu. Apenas se retirou quando Suri já dormia
pesadamente. Os corredores já estavam vazios, desertos e silenciosos. Ela soltou o
cabelo, passando o dedo pela raiz para relaxar o couro cabeludo. Seu pensamento
estava longe. O que ela faria quando Alfonso fosse lhe procurar hoje?
Ele estava ocupado agora, com certeza, então como já havia acontecido ela se
aprontaria pra dormir e se deitaria. Então ele apareceria, no meio do escuro, sem
nenhum som para avisar e estaria debaixo de seus lençóis, o corpo forte oprimindo
o dela e não haveria mais nada. Era sempre assim. Foi nessa duvida que ela se
bateu em alguém. Foi como dar de cara um muro de concreto. Ela gemeu,
cambaleando, e uma mão a segurou. Era fria. Anahí ergueu o rosto e então não
tinha reação.
Um par de olhos anormalmente claros olhavam pra ela. Não claros como os de Ian,
eram topázio. Um topázio quase opaco, claro... Lindo. O dono dos olhos era pálido,
e tinha os cabelos cor de bronze, espetados.
Robert: Você está bem? – Perguntou, franzindo o cenho levemente. Anahí sabia que
devia dizer alguma coisa, mas era que... Pelo amor de Deus, como os olhos de uma
pessoa atingiam aquela cor?!
Pena foi que não deu tempo dela reagir. Alfonso vinha atrás de Robert. O moreno
viu Anahí parada, encarando o ruivo, que a segurava pelo braço. Ele ergueu uma
sobrancelha vendo o olhar quase embasbacado de Anahí. Não gostou.
Alfonso: Algum problema aqui? – Perguntou, mordido. Porque os cabelos dela estavam
soltos?
Alfonso: Anahí? – Chamou, severo. Uma vez com o olhar livre ela conseguiu se
recuperar. Cambaleou, se soltando, e respirou fundo.
Anahí: Perdão, foi minha culpa, eu estava distraída. Alteza. – Ela se curvou. Era
ÓBVIO que aquele era Robert.
Robert: Está tudo bem. Você se machucou? – A voz dele era... Jesus, Maria, José.
Anahí: Não, majestade. Perdão, mais uma vez. – Robert assentiu, tranqüilo. Alfonso
ainda observava. – Com licença. – E ela saiu.
Alfonso: Pode me dizer que diabo significou aquilo? – Perguntou, quase em um silvo,
trancando a porta.
Anahí: Do que está falando? – Perguntou, cansada.
Alfonso: O que pretende, variar de um rei para outro? – Anahí levou aquilo como uma
bolacha.
Alfonso: Tudo bem, perdoe. – Ele passou a mão no cabelo, respirando fundo. – Me
excedi. Mas porque ficou olhando-o?
Anahí: Você pode conviver com isso. – Lembrou as palavras dele, debochada – Uma
vez que tu tenhas uma vida eu terei uma também, Alfonso. Longe de ti.
Ele ficou paralisado, olhando-a. Mais pálido do que chegara. Anahí nem viu ele
avançando, então os olhos verdes estavam perto demais e as mãos dele
machucavam seus braços.
Alfonso: Olhe pra mim! – Rosnou. Anahí ergueu os olhos, encarando-o – Você é minha,
Anahí. Não vou perde-la em circunstancia alguma, para ninguém! Me fiz claro?
Alfonso: Nunca mais pense nisso. Não fale mais isso em voz alta. Você é minha. Só
minha. Entendeu?! – Ele sacudiu ela, que assentiu. Ele soltou os braços dela, abraçando-
a. Anahí se afundou no peito dele, sentindo o perfume familiar. Como era tolo! Ela seria
dele até o dia de sua morte, talvez até além. – Eu amo você. – Murmurou, com os lábios
no cabelo dela – Não esqueça.
Anahí: Eu também. Deus sabe, eu também. – Ela aspirou o perfume dele, saudosa.
Alfonso: Me beije. – Pediu, a voz rouca no ouvido dela. Anahí ergueu o rosto dele,
tomando-o entre suas mãos, e o beijou docemente.
Uma vez beijando-a a fúria de Alfonso pareceu se amansar. Ele a abraçou forte, a
boca devorando a dela... Então Anahí não viu o que, mas havia sido erguida no
chão. Flutuou no ar com uma rapidez anormal, erguida por ele. Então ela
percebeu que ele estava na defensiva... Quase atacando. Ele largou ela no chão, se
virando para a janela, então ela ouviu o som que o alertara: Flechas. Pelo barulho
centenas. Alfonso a empurrou sutilmente, fazendo-a se afastar da janela, e abriu a
mesma. Os dois viram uma nuvem de flechas riscando o céu escuro. Que diabo era
aquilo?
Anahí: Alfonso? – Chamou, repreensiva. Ele pediu um tempo com a mão, observando-a
cena do lado de fora no castelo.
Alfonso: Não é uma ofensiva, é um aviso. – Disse, e ele... Ele sorria? – Finalmente.
Anahí: O que está acontecendo? – Ela ouviu o som das flechas atingindo a terra, longe.
Foram todas atoa?
Anahí hiperventilou. Ele não viu. Ela recuou, apreensiva, pálida... E desmaiou.
Alfonso: An... Anahí? – Chamou, sobressaltado. Ele correu até ela, apanhando-a no
chão. A cabeça da loura desfaleceu para trás, os cachos se arrastando no chão – Agora
não, carinho. Acorde. – Chamou, agoniado.
Ian: Alfonso! – Ele abriu a porta – Deram o alerta de que... Assim já é impossível. – Ele
parou, olhando a cena, debochado – O que você fez?
Ian: Não seja lerdo, ponha ela na cama. – Alfonso carregou Anahí com facilidade,
pondo-a deitada com cuidado. – E vamos.
Ian: E vai fazer o que, velar o desmaio dela? – Não havia o que se fazer naquela época
sobre desmaios, apenas esperar – Vamos! – Uma segunda nuvem de flechas cortou o ar
pela janela aberta. Anunciava que a carruagem real estava próxima. A terceira
anunciava que havia chegado. Ian foi até a janela, observando – Robert já está lá. –
Informou – ALFONSO!
E ele apanhou Alfonso pela gola da camisa, arrastando para fora. Ele foi, deixando
o coração do lado de Anahí na cama. Anahí só acordou minutos depois. Nem
queria acordar. Era sua morte chegando, passando pelos muros. Ela se levantou,
se arrastando, e parou na janela.
O pátio estava movimentado, iluminado. Alfonso, Ian e Robert aguardavam em
seus postos, parados na escadaria. Após a corte toda uma carruagem maior e mais
luxuosa se aproximou da escadaria, puxada por cavalos negros. Um criado se
apressou, indo abrir a porta. De lá saiu um homem forte, pálido, de cabelos
escuros. O corpo estava coberto por uma capa, mas podia se ver de longe seu porte
físico. Os detalhes do rosto eram negligenciados pela escuridão e distancia. Anahí
estava tonta. A terceira (e ultima) nuvem de flechas foi disparada, cobrindo a luz
da lua por instantes e caindo ao relento. Anahí observou o criado abrir a outra
porta da carruagem. O homem, Christopher, ofereceu a mão a alguém. Uma
mulher. Ela apanhou a mão dele delicadamente, descendo da carruagem de modo
gracioso. O vestido que ela usava era de um negro que parecia aveludado,
apertado que doía só de olhar. Os cabelos, igualmente negros, caiam pelas costas.
Mas havia algo diferente nela. O tom da pele, talvez. Era tão branco que parecia
não ser natural. Parecia branco gesso. Ela olhou em volta, aparentemente
conhecendo o local e parecendo muito a vontade com a noite, e Anahí pôde jurar
que em um momento os olhos das duas se encontraram. De outro modo não teria
como saber que os olhos da outra eram assustadoramente negros, contrastando
com todo o resto. Por fim ela encarou o marido, sorrindo de canto, e os dois
caminharam uns passos, se aproximando. Ela parecia totalmente a vontade com
toda aquela cerimônia, a vontade por estar de mãos dadas com o marido. O nome
dela era Madison Uckermann.
Alfonso: Sejam bem vindos. – Recebeu, com um sorriso de jubilo no rosto. O vento
varreu a cena, levando os cabelos de Madison, mostrando o pescoço branco, exposto.
Anahí não ouviu o que Alfonso disse. Ela não podia ouvir dali. Ela só sabia de algo,
com tudo isso: Seu fim acabara de começar.
---*
Alfonso: Vim o mais depressa que pude. Estava preocupado. – Disse, abraçado a ela, na
cama.
Anahí: Foi apenas um mal estar. – Disse, erguendo o rosto para beijá-lo. Alfonso
retribuiu o beijo dela docemente, até que sentiu ela estreitando o corpo ao seu,
intensificando o beijo.
Alfonso: Porque você está esgotada. Quero que descanse. Venha. – Ele a acomodou em
seu abraço, e ela deitou a cabeça novamente em seu ombro, aspirando seu perfume –
Durma. Eu estou aqui. Vou cuidar de você.
Anahí: Eu sei que vai. – Disse, a voz rouca de sono, e sentiu os lábios dele em sua testa.
Nada mais foi dito. O próprio Alfonso dormiu antes que ela. Era claro, a
consciência dele estava tranqüila, ele estava em paz com a vida.
Ela ficou lá, aspirando o perfume dele e sentindo o tamborilar de seu coração
debaixo do peito. Por quanto tempo ainda teria aquilo?
---*
Anahí dormiu pesadamente... Assim que conseguiu dormir. Alfonso saiu na manhã
seguinte e avisou que cortaria o pescoço daquele que interrompesse o sono dela.
Assim foi. Tanto que ela se sobressaltou na hora em que acordou. Deu um pulo na
cama, se aprontando de qualquer jeito, mas Suri já havia tomado seu café.
Anahí: Eu dormi. – Disse, derrotada, e Suri sorriu – O que há? – A menina olhou – Está
triste, anjinho?
Suri: Hoje é meu aniversário. Eu acho. – Disse, franzindo a sobrancelha – Não tenho
certeza. Acho que esqueci. – Anahí ergueu as sobrancelhas.
Anahí: E... Oh. – Ela hesitou com o choque. Como assim era aniversário da princesa e
ela estava só? – Hey, meus parabéns! – Disse, apanhando a menina no colo e lhe dando
um beijo apertado. Suri sorriu. – O que quer fazer hoje?
Suri: Se for meu aniversário eu não posso sair. – Comentou, franzindo o cenho.
Anahí: Porque? Eu... Ah, é claro. Seu pai. – Ela respirou fundo e Suri assentiu – Deixa
comigo. – Disse, pondo a menina na cama.
Anahí: Eu sei como lidar com ele. – E piscou para a menina, saindo do quarto.
Anahí caminhou pelos corredores direto a sala de reunião. Isso era impossível, o
aniversário de Suri era tão desprezado que ela própria estava esquecendo a data!
Isso com 6 anos! Ela freou no corredor, ouvindo as vozes na sala. Não podia
entrar, mas precisava chamar Alfonso. Ela parou perto da porta aberta, tomando
coragem. Quando tomou impulso recuou. Um par de olhos negros a olhava. Anahí
encarou Madison por um instante, o coração doendo pela rapidez com que batia.
Como era possível alguém ter olhos tão negros? Madison, porém parecia tranqüila.
Suas feições eram calmas, e havia um meio sorriso no canto de sua boca. Ela
sustentou o olhar de Anahí por um longo instante, então virou o rosto pro lado do
marido, se inclinando sutilmente para dizer algo a ele.
Alfonso: E quer que eu dê permissão para fazer uma festa comemorando o dia em que a
mãe dela morreu? – Perguntou, debochado e irritado.
Anahí: Não, quero permissão para que ela comemore o dia em que ela sobreviveu! –
Rebateu, e em seguida respirou fundo. Bater de frente com Alfonso nunca funcionava. –
Suri não consegue andar. Não tem mãe. Ainda assim ela é adorável, ela sorri e ela é
amável, ela sobreviveu a tudo o que lhe ocorreu com o rostinho erguido. – Alfonso
estava impaciente – Por mais que lhe doa falar sobre isso, assim é. Crianças normais
tem uma festa e presentes no dia do seu aniversário. Crianças normais. Porque Suri, que
é tão especial, não pode ter?
Alfonso: Anahí...
Anahí: Não quero dar uma festa. Você nem precisa ir. – Insistiu – Me permita apenas
levar um bolo, alguns doces, essas coisas que crianças gostam. Comemorarei com ela
sem fazer algazarra alguma. Irei até a vila e trarei dois presentes, ou três, levarei tudo
pro quarto e estaremos de portas trancadas, apenas para que ela se sinta feliz. – Ele ficou
calado – Não a prive disso. Alfonso, por favor. – Pediu, entregando todos os
argumentos que tinha.
Ele ficou em silencio por um minuto. Ia contra todos os seus instintos qualquer tipo
de alegria no dia em que Dulce se fora. Mas por outro lado o que Anahí dizia era
verdade. Ele nem nunca visitara Suri no dia de seu aniversário.
Anahí: Obrigada. – Ele assentiu, quieto. Anahí podia sentir o peso da dor sob seus
ombros. Não seria um dia fácil.
Ela caminhou até a porta da sala onde estavam, fechando-a, sob o olhar dele.
Voltou e o abraçou pelos ombros, lhe beijando. Sentiu as mãos dele em sua cintura,
apertando-a durante o beijo, e lhe acariciou os cabelos. A verdade era que Alfonso
ainda era em demasiado jovem e já havia sofrido demais, ainda tendo uma guerra
sob as costas.
Anahí: Eu amo você. – Murmurou, nos lábios dele, e abriu os olhos pra se debater com
os olhos dele perto demais dos seus, em um mudo “eu também”.
Anahí o beijou mais uma vez, levemente, e deu as costas, saindo. Alfonso a
observou sumir pela porta, e passou a mão no rosto enquanto se perguntava:
Haveria alguma coisa que ela pedisse que ele seria capaz de negar?
Durante as horas que se seguiram nada se soube nem nada se ouviu sobre Anahí
ou Suri. Por um instante Alfonso teve receio de que Anahí fizesse realmente uma
festa, com musicas e risos, mas logo ele afastou essa hipótese da cabeça.
Confiava nela. Se ela dissera que não criaria tumultos, então ele acreditava.
Alfonso: Lugar nenhum, apenas tive um lapso. Perdão. – Disse, e suspirou em seguida.
Qualquer coisa que pudesse ter sido dita foi abafada pelo que ocorreu.
Katherine: Madison! – Disse, alegre, entrando na sala. Madison, que estava a um canto
conversando com o marido, virou o rosto. Em seguida sorriu: Uma fileira de dentes
brancos, alinhados, com aparência de serem afiados. O tipo de sorriso que ao mesmo
tempo é deslumbrante e assustador.
Madison: Kath. – Respondeu, fazendo a volta pela mesa até alcançar a outra, abraçando-
a delicadamente.
Acontecia que Katherine tivera um mal estar durante a manhã, então só vira os
outros agora, Madison inclusa. Depois de tanto se corresponderem era como se
fossem melhores amigas. Robert chegou logo em seguida.
Robert: Perdoem a demora, eu... Ora, Katherine. – Cumprimentou, com um gesto sutil
da cabeça, e Katherine sorriu.
Robert: Ficou no quarto... Ei! – Ele chamou um criado no corredor. O criado largou o
que tinha imediatamente e veio atender, de olhos baixos – Vá até meus aposentos, diga
a Kristen que Madison e Katherine estão aqui. – O criado assentiu e saiu.
Observar aquele grupo reunido era meio desconcertante. Parecia haver algo
suspenso no ar, algum mistério... Começando pelos olhos, cada um de uma cor
impactante: Madison e seu olhos cor de carvão, Robert com os seus da cor de
topázio e Ian com os olhos cor de água. O próprio olhar que trocavam parecia
haver algum segredo seguramente guardado. Seguia pelas posturas dos corpos,
todos muito eretos e flexíveis, terminando pela cor da pele. Principalmente a cor da
pele. No topo ficava Madison, tão branca que parecia impossível, parecia que ela
nunca havia se exposto ao sol, e não fosse ofensivo quase como alguém sem vida,
cujo sangue já não corava os tecidos. Logo depois vinha Robert, também branco,
porém não como Madison. Era outro que parecia nunca corar. Então vinha Ian,
que não ficava quase nada atrás de Robert. Era... Desconcertante. Christopher
desviou os olhos de Madison um instante, vendo Alfonso que observava a cena com
o olhar longe. Alfonso era o único desparelhado ali.
Christopher: Ian comentou que tu pensas em casar outra vez. – Puxou o assunto,
observando Alfonso, que o olhou. A beleza de Christopher era algo com que nem a
própria Madison conseguira se acostumar. O cabelo, os olhos, a maçã do rosto, os
lábios, a cor da pele, o físico, o porte, a voz... Chega, Samila.
Christopher: Sei que hoje não é dia para falar sobre isso, respeito seu luto e sua dor. –
Continuou – Apenas quero assinalar que tens meu total apoio. Já travas uma guerra pela
morte de Dulce, logo tens todo o direito de querer outra esposa. – Concluiu. Alfonso
assentiu, agradecendo, e Christopher encerrou o assunto voltando a olhar para Madison.
Kristen: Rob, mandou me chamar? – Perguntou, então sorriu. Kristen era mais baixa
que Madison e Robert, do tamanho de Katherine, pálida, com os cabelos da cor de
chocolate, caindo ate o meio das costas, e da mesma cor dos olhos.
Madison: Christopher. – Chamou, virando-se. Seu olhar encontrou ao dele e ela notou
que ele já observava. Sorriu para o marido, que retribuiu.
Christopher: Tudo bem. – Assentiu e Madison apanhou a aba do vestido pesado, saindo
dali com as outras mulheres. Ian piscou duas vezes, mas Robert já havia ido se sentar.
Ian: O que foi isso? – Perguntou, apontando pro corredor. – Ela chama seu nome e você
diz tudo bem?
Christopher: Ela queria minha permissão para sair. Caminhar no jardim. – Disse, se
recostando, tranqüilo.
Christopher: Porque eu conheço minha mulher. – Disse, obvio. Robert riu. – Vá até o
jardim, se lhe apraz. Ela está lá. Estava pedindo minha permissão.
Alfonso: Mas o tempo está frio, vai chover, está nublado. – Disse, ainda distraído. O dia
não estava sendo fácil para ele.
Christopher: Tão melhor. – Se resumiu. Logo outro assunto subiu a mesa, e aquele foi
abafado.
Alfonso não soube nada sobre Anahí o dia todo. As celebrações e missas pela morte
de Dulce levaram toda a tarde, e ele tampouco teve tempo. Toda cidade
comparecia, todos os anos. Suri não ia. Anahí também não foi.
Nina: O que significa isso? – Perguntou, entrando na cozinha que cheirava levemente a
açúcar e estava coberta de doces. Anahí confeitava um bolo enorme.
Anahí: O que parece ser? - Perguntou, fazendo um confeito bonitinho na lateral do bolo.
Nina: Alfonso vai matá-la. – Disse, satisfeita. Anahí revirou os olhos – E eu vou contar.
– Anahí suspirou.
Anahí: Será que tu não aprendestes ainda que não pode me contrariar? – Perguntou,
debochada.
Nina: Isso só porque és amasia dele. – Alfinetou. Anahí parou um instante, mas não se
conteve.
Anahí: Inveja porque ele escolheu a mim, não a ti. Inveja por ele quase não me deixar
trabalhar, por me dar presentes e um quarto enorme e confortável, enquanto tu continuas
com o teu de empregada. – Começou, lavando a alma – Inveja porque ele confia tanto
em mim que me confiou a filha. Inveja porque ele me deixa fazer tudo o que quero, na
hora que quero. – Continuou, então sorriu – Inveja, porque toda noite ele faz coisas
comigo... Coisas que nem nos teus melhores sonhos tu podes imaginar. – Disse,
descarada, sorrindo – E aqui entre nós, sei que tu já o imaginou.
Anahí: Ele é melhor. Melhor do que tudo o que fantasiaste. Tão melhor que me custa
respirar as vezes. – Anahí estava adorando provocar – E não, ele não se cansa. É a toda
hora, em todo lugar, de todos os modos possíveis. – Ela suspirou – Não que seja de tua
conta, é claro. Agora saia daqui que tenho muito o que fazer.
Nina: Eu vou estar aqui para rir quando teu conto-de-fadas terminar, Anahí. Eu vou rir
de você. – Anahí nem olhou para ela, mexendo um tacho – Que crês? Que ele vai
assumi-la, colocar uma coroa em tua cabeça e ter uma mão de filhos? – Ela riu – Pobre
de ti.
Anahí: Meu conto de fadas terá um final feliz. – Ela queria acreditar nisso – E sim, tu
estarás aqui para vê-lo. Agora saia, já disse.
Nina fuzilou Anahí por instantes, então saiu. Uma vez sozinha Anahí riu de leve,
balançando a cabeça, e voltou ao trabalho. Suri esperou. Sozinha, em silencio,
horas a fio. Porém, quando Anahí voltou, estava de mãos vazias.
Suri: Eu avisei que ele não deixaria. –Disse, sorrindo de canto – Ele não brigou contigo,
brigou? – Preocupou-se.
Anahí: Não se preocupe com isso. – Disse, se aproximando – Venha, vamos tomar um
banho. – Disse, descobrindo as pernas da menina e carregando-a.
Suri: Estás cheirando a açúcar. – Comentou, divertida, no colo de Anahí, que sorriu.
Anahí levou Suri para o banho. A menina não se entristeceu por não ter uma festa.
Se frustrou por um instante, mas logo estava brincando com as bolhas de espuma
na banheira. A capacidade de Suri se recuperar de uma desilusão era fascinante.
Anahí pediu licença por um instante, e correu. No corredor haviam vários
carrinhos, com toda a comida que ela havia preparado. Ela trouxe tudo para o
quarto, enchendo-o, e correu para buscar os pacotes. Não havia comprado um, ou
dois brinquedos, como dissera a Alfonso. Comprou vários, dezenas. Bonecas,
livrinhos, ursos de pelúcia, joguinhos, tudo. Arrumou o quarto todo e voltou pro
banheiro, terminando o banho da menina. A vestiu com uma camisolinha rosa,
fofa, e lhe penteou os cabelos. Quando voltou ao quarto os olhos de Suri se
arregalaram em choque.
Anahí: Parabéns pra você, nessa data querida... – Cantarolou, feliz. Suri ainda não tinha
palavras.
Fora todos os brinquedos haviam montes de comida ali. Comida que criança gosta:
Doces, guloseimas, tudo o que Anahí conseguiu preparar durante o dia, e três
bolos. Exagero, pois eram só elas duas, mas a menina merecia.
Anahí: Seu pai ama você, demais. Mesmo que não tenha tempo para demonstrar como
deve. – Disse, levando a menina para a cama. Alfonso, parado no corredor as
escondidas, escutava tudo com os olhos contraídos em dor.
Suri: As vezes eu não sei. Parece que ele me evita. Só vem na hora de acordar e na de
dormir. – Ela deu de ombros.
Anahí: Um homem mal fez algo muito feio com o seu pai. – Explicou, arrumando o
cabelo da menina – Muito, muito feio. Agora seu pai está magoado, ele quer revidar.
Não que seja certo revidar. – Ralhou, e Suri sorriu – Mas ele quer. Está demorando, por
isso ele não vem muito. – Suri assentiu – Sabe, foi ele que me mandou fazer isso tudo. –
Mentiu. Os olhinhos de Suri se arregalaram e Alfonso franziu o cenho. Ele não
mandara.
Dali pra frente a festa correu solta. O barulho das brincadeiras entre as duas e os
risos não passavam da porta do quarto. Alfonso saiu dali quando a conversa sobre
ele acabou. Parou em seu quarto e abriu a gaveta, apanhando a foto de Dulce a
muito colocada lá. Todo ano ele mantinha o luto, como agora, vestido de preto até
a alma, e a dor nunca passava. Ele se lembrou das pilhas de doces e presentes...
Como Suri podia duvidar de seu amor? Ele tinha sido um bom pai, não tinha? Ele
nem sabia dizer... Olhou a foto de Dulce novamente, e se lembrou da voz de Anahí,
mentindo, dizendo que ele tinha ordenado a pequena festa. O mérito era dela e ela
mentiu para fazer sua filha feliz... Para ajudá-lo.
Já era tarde. Anahí já tinha recolhido toda a festa, e já havia se recolhido. Suri
estava pronta pra dormir, debaixo de suas cobertas.
Alfonso: Não, meu anjo. Vim trazer um presente para você. – Disse, e Suri apanhou o
embrulho, desembalando-o. Era uma boneca enorme, linda, de porcelana. Foi a mais
cara que Alfonso encontrou. Seus cabelos eram louros, e o corpo de pano. – Eu gostaria
de ter comprado mais, mas Anahí trouxe tudo ao alcance. – Ele riu de leve.
Suri: Porque o senhor mandou trazer. – Lembrou, feliz – E essa é a minha preferida,
porque o senhor escolheu. – Disse, abraçando a boneca. Alfonso lhe acariciou o cabelo.
Alfonso: Me perdoe por ser ausente, Suri. Você merecia um pai melhor do que eu sou. –
Disse, olhando-a – Me perdoe por não fazer uma festa no seu aniversário, por não fazer
festas, é que eu... Eu... – Ele procurou palavras.
Suri: É que a mamãe morreu no dia do meu aniversário. – Disse, observando-o. Alfonso
precisou de um instante para voltar a falar. – Por isso eu não consigo andar.
Alfonso: É. – Confirmou – E eu ainda não sei lidar com tudo isso, mas você não tem
culpa, me perdoe.
Suri: Tudo bem, hoje o senhor veio. – Disse, alisando o braço dele. Alfonso observou a
mãozinha da menina no tecido preto de sua camisa – Eu espero o senhor aprender a
lidar. Ainda tenho muitos aniversários. Vai dar tempo.
Alfonso: Você é a melhor filha que alguém poderia ter, sabia? – Ele sorriu para ela.
Alfonso passou pro lado dela na cama, apanhando-a em seu colo e abraçando-a – Eu
amo você. – Disse, beijando-lhe a testa. Anahí, que vinha verificar a menina, temendo
que a quantidade de doces que a menina comeu lhe desse dor de barriga. Mas percebeu
que Alfonso estava lá e retrocedeu.
Suri: Também amo você, papai. – Disse, tentando abraçar Alfonso. Os bracinhos dela
eram demasiado curtos, mas a intenção era clara. Alfonso a abraçou forte, esmagando-a,
e a menina riu, alegre – Esse é o melhor aniversário de todos do mundo. – Comentou, e
ele sorriu, enchendo-a de beijos. Anahí sorriu e saiu dali. Aquele momento não era dela,
era deles dois.
Anahí ficou lendo em seu quarto por horas, esperando que Alfonso viesse. Por fim
concluiu que ele decidira dormir com Suri, era provável e justo, então fechou o
livro, foi ao banheiro e voltou, apagando as velas. O quarto estava quase todo no
breu quando ela ouviu a porta fechando. Não podia ver mais nada, não sobravam
velas. A situação podia ser assustadora: Estava escuro, frio, chovia lá fora... Mas
ela sentia a presença dele. Ficou imóvel, esperando, até que ele a abraçou, a boca
sedenta atacando sua pele, beijando e mordendo.
Anahí: Já não ia esperá-lo. – Disse, sorrindo, e ouviu o riso baixo dele, perto de sua
orelha. Era incrível, ele estava em plena depressão, mas bastava se aproximar dela que
era capaz de sorrir outra vez.
Alfonso ficou em silencio. A boca dele mordia o pescoço dela, o queixo, lábios,
rosto, as mãos sedentas passeando por seu corpo. Durou minutos onde só o que se
ouvia era o ofegar dos dois, então ele falou, rompendo o silencio.
Anahí: Enlouqueceu? – Perguntou, se segurando nos ombros dele para não tropeçar ou
cambalear. O rosto dela oscilava com os beijos dele. – Vão me reconhecer. Sou só uma
criada.
Anahí: Está louco... Ai! – Quase gritou, lânguida, oscilando para trás. Ele riu de novo.
Anahí sentiu as mãos dele descendo por sua barriga, apanhando-a pelas coxas, e ela
estava no colo dele.
Alfonso: Não estou louco, só amo você. – Se resumiu e passou com ela pra cima da
cama. Anahí riu com a simplicidade dele. – Que está fazendo? – Perguntou, quando ela
afastou suas mãos. Uma vez que ser rejeitado era frustrante, sem poder ver era
impossível.
Anahí: Shhh. – Ele sentiu um dedo em seus lábios. Ele percebeu que ela queria se soltar
e saiu de cima dela... Só pra rir quando ela passou pra cima de si, sentando-se em seu
colo. Ela puxou um travesseiro, pondo-o deitado com a cabeça em cima. Alfonso
esperou. – Quieto. Eu vou cuidar de você – Sussurrou, mordendo a orelha dele. Alfonso
não sabia, mas aquilo era uma tentativa de fazê-lo relaxar e esquecer o dia exaustivo que
tivera.
Não era do fetil de Alfonso obedecer, verdade seja dita, mas ele obedeceu. Ficou
quieto, esperando. Ela tirou a camisola e ele nem viu, aliás, ele não estava vendo
nada. Só quando ela apanhou as mãos dele, pondo-as em sua barriga, foi que ele
deu pela falta da peça.
As mãos de Alfonso fizeram sua festa aquela noite. Valendo-se do fato que ele não
enxergava, as mãos se fartaram nela. Anahí se inclinou, tomando os lábios dele em
um beijo sôfrego enquanto as mãos dele se divertiam passeando pelo corpo dela.
Primeiro pelos seios, sua atenção principal, brincando, apalpando como se nunca
tivesse visto. Depois as mãos desceram pelas costas dela, arranhando-a de modo
apertado, e Anahí arfou, o que o fez sorrir de canto, mordendo-lhe os lábios. O
ponto final do tour foi o traseiro dela, do qual ele judiou. Apalpava, apertava, e
logo teve a brilhante idéia de pressioná-la contra si. Nisso Anahí gemeu. Ele deixou
os lábios dela, já inchados, para deixá-la respirar, e desceu até seu pescoço,
provando-lhe a pele. Anahí puxou a camisa dele, as unhas marcando-o sem
intenção, estourando os botões, e uma vez livre pressionou os seios, túmidos pelas
mordidas, apertadas e beliscões que levara, no peito forte dele. Alfonso gostou da
sensação. Ela se moveu no peito dele, friccionando os dois, até que as peles
começaram a esquentar... E bastou.
Alfonso: Não quero mais brincar. - Disse, meio rouco, e ela se afastou para permitir que
ele se livrasse das roupas dos dois.
Alfonso desviou da própria calça, e o que foi feito do short de Anahí é mistério até
hoje. Os corpos dos dois se uniram em um movimento suave, natural. Enquanto
ela prendeu a respiração ele suspirou, satisfeito. Anahí se abaixou novamente,
beijando-o de modo mordido e se movendo devagar, permitindo seu corpo sentir o
dele antes que tudo se emaranhasse. Alfonso, como havia prometido, ficou quieto...
Até onde sua força de vontade permitiu.
Quando não pôde mais apertou o quadril dela, provavelmente deixando a marca, e
a puxou, começando a guiar os movimentos do seu jeito. Depois dali nada mais fez
muito sentido. Quando Anahí sentiu que estava por vir, afundou o rosto no ombro
dele, mordendo-o, e ele a sentiu. Depois de poucos minutos foi a vez dele, que a
apertou contra si, gemendo abafado e deixando a cabeça cair para trás. O silencio
comandou tudo depois disso. Após instantes ele acariciava as costas dela com a
ponta dos dedos e Anahí, o peito dele, ambos abraçados. Ele só quebrou o silencio
para dizer uma coisa.
Alfonso: Você irá ao baile. - Finalizou, e ela não encontrou argumentos. Ela iria.
Nina: Anahí, Suri se recusa a ir pro banho se você não for até lá, e antes que eu perca a
paciência... – Ela parou na porta aberta, olhando tudo. O vestido, delicado, estendido na
cama. As roupas, as luvas, a sapatilha preta, tão nova que parecia lustrada... A mascara.
– Eu não acredito nisso. Ele vai levá-la ao baile?!
Anahí: As coisas em que tu não crês e que são verdades poderiam compor um livro.
Anahí: Vou ver Suri. Vamos, saia daqui. – Nina a olhou, ainda incrédula – Não pense
que eu vou deixá-la aqui para quando voltar encontrar meu vestido em frangalhos. –
Disse, e esperou Nina sair. Ela trancou a porta – Se alguma coisa acontecer a esse
vestido direi a Alfonso que foi tu, e que Deus tenha piedade da tua alma perante a fúria
dele. – Avisou, se fazendo entender, e saiu.
Uma vez longe de Nina, Anahí riu gostosamente. Estava rindo quando chegou ao
quarto de Suri. A menina sorriu, satisfeita.
Anahí: O que houve, anjo? – Perguntou, se sentando.
Suri: Uma criada queria me levar pro banho. Eu disse que você era minha criada, e que
eu só ia com você. – Disse, orgulhosa, e Anahí sorriu.
Anahí: Fazemos assim. Te dou banho e te deixo prontinha, então outra criada trará seu
jantar, trato? - Ofereceu a mão.
Suri: Trato. – Disse, apertando a mão de Anahí, que riu, abraçando a menina.
Anahí banhou Suri, a aprontou e deixou a menina jantando. Depois foi pro próprio
quarto, tomando um banho bem perfumado e demorado. Em seguida escondeu o
vestido e as coisas e pediu a uma criada para enlaçar seu corpete. Quando
terminou Anahí mal conseguia respirar. Agradeceu e a criada saiu. Ela vestiu a
meia calça, e em seguida o vestido, apertando-o ainda mais, por cima do corpete.
Resultou lindo. O corpete tinha a aparência meio metálica, o decote em V, os seios
fartos realçados, e as camadas do vestido delicadamente pousadas. Encaixou os pés
nas sapatilhas que logo ficaram ocultadas pelo vestido. Soltou os cabelos e os
escovou até que os cachos pareciam lustrados, em um chocolate escuro perfeito
caindo pelo meio das costas. Calçou as luvas e por fim pôs a pequena mascara.
Estava pronta. Se olhou no espelho procurando imperfeições aqui e ali, mas não
encontrou. Foi até o banheiro, apanhando um vidro delicado de um perfume que
Alfonso lhe dera, pondo-o levemente no pescoço, no decote e atrás das orelhas. Foi
quando ouviu a voz dele.
Alfonso: Em nome de Deus, nosso senhor, se vê tão preciosa que devia ser pecado eu
ter que partilhá-la. – Disse, encantado.
Alfonso: Dulce odiava safiras e tudo mais que fosse azul. Isso não é dela, é seu,
comprei-as hoje, para você. – Ele se aproximou de novo – Vai usá-las, é uma ordem. –
Ressaltou.
Sem alternativa Anahí permitiu que ele colocasse a gargantilha. O toque frio da
prata se fechou sobre o pescoço dela, e logo as duas alfinetadas dos brincos nas
orelhas. Os brincos eram só as pedrinhas, mas por ser singelos eram preciosos.
Alfonso: Eu deveria trancá-la, para que apenas eu pudesse vê-la. – Anahí o empurrou de
leve, o que o fez rir. – Está linda, meu anjo.
Alfonso: Tudo bem. – Ele apanhou a capa que tinha deixado em cima da cama antes de
entrar – É minha. – Disse, pondo a capa em cima do ombro dela, amarrando em volta do
pescoço –Irá na carruagem comigo. Quando chegarmos lá eu desço e entro. Siga na
carruagem, desça nos fundos e me encontre no salão. Deixe a capa na carruagem. –
Orientou e ela assentiu, enquanto ele colocava o capuz em sua cabeça. Ele deu um
beijinho no nariz dela que sorriu, radiante.
E assim seria.
---*
Anahí fez como Alfonso orientou. Entrara no salão com sucesso. Era tão lindo!
Enorme, teto alto, bem iluminado, com musica, mesas com aperitivos, salão de
dança... Na extremidade norte havia uma escadaria que levava a uma plataforma
alta, com quatro tronos. Madison usava um vestido grafite, tomara que caia e
luxuoso, os cabelos em um penteado sofisticado. Kristen estava de verde musgo,
metálico, e Katherine de marrom-vinho. Robert conversava com Ian, Kristen com
Madison e Katherine. Alfonso e Christopher não estavam. Anahí olhou em volta,
deliciada. Passou um tempo caminhando entre as pessoas, observando. Um garçom
a serviu uma taça de champagne. Tinha um gosto engraçado. Quando a musica
começou, Anahí se afastou, animada, vendo os casais se formando, dançando a
valsa que tocava. Foi quando um homem de meia idade, se direcionou a ela.
Anahí: Obrigada.
Os dois caminharam até o meio do salão sob os olhares de todos. No meio do salão
ele a trouxe para sua frente, encarando-a. Os dois ergueram uma das mãos, quase
tocando-as, e girando no mesmo lugar Isso aqui, gente: http://migre.me/44zCY
Anahí: Quem era ele? – Perguntou, encarando Alfonso, enquanto se movia sutilmente
em torno dele.
Alfonso: Alguém que estava gritando pela morte. – Respondeu, tranqüilo, e ela sorriu.
Os dois trocaram as mãos, girando na direção oposta – Quem a ensinou a dançar? – Ele
viu o sorriso no olhar de Anahí morrer – Desculpe. Não precisa responder.
Alfonso: Não fique triste. Não hoje. – Pediu, apanhando-a pela cintura. Anahí sorriu,
assentindo, enquanto os dois valsavam. Nesse momento Ian e Katherine desceram pro
salão, se juntando a dança. – Eu estou miseravelmente com vontade de beijá-la. –
Admitiu, com uma careta frustrada. Anahí riu.
Anahí: Não se atreva. – Alertou e ele suspirou, fazendo-a rir. Os dois rodopiavam
sutilmente pelo salão, pareciam dois bonequinhos daqueles fofos que vem em caixa de
som.
Anahí: E tu? – Perguntou, observando-o. Ele girou e os cachos dela balançaram no ar,
batendo na mão dele, causando uma sensação gostosa.
Alfonso: Não respondi. - Disse, satisfeito, e ela riu de leve. - Todos estão olhando para
nós agora. E eu continuo querendo beijá-la. - Suspirou, frustrado. Anahí ficou
repentinamente alerta de que todas as atenções agora eram dela: Nada bom.
Mas não teve tempo de pensar. Alfonso a rodopiou, embolando-a em seu braço, a
ergueu do chão levemente, encarando-a, depois... Puta que o pariu. Ele fez isso
aqui, gente: (http://migre.me/44zE5) Muito obrigado. Quando ele a pôs de volta no
chão ela sorriu, momentaneamente desviada da preocupação. Como podia ser tão
único? A valsa acabou e Alfonso a soltou, encarando-a, e se curvou perante ela,
como todos os homens da pista faziam para suas damas. Anahí sorriu vendo
Alfonso se afastar, então se virou, sentindo sede. Mas algo a paralisou. Havia um
homem, há alguma distancia, batendo palmas levemente. Encarando-a. Paul.
Anahí recuou, apavorada, então um garçom passou por ela. Quando ela olhou
novamente ele já não estava lá.
Paul: Tenho a impressão de que está procurando por alguém. – Comentou, tranqüilo, de
braços cruzados frente a ela. Os olhos de Anahí entraram em choque. Estava mesmo ali,
em frente a ela, falando com ela. Ela ia morrer. Mas como tudo que está ruim pode
piorar...
As vezes a sorte gosta de pregar peças. Alfonso estava tão distraído que não viu
que Anahí conversava com um homem. Não viu quem era o homem.
Alfonso: Está se sentindo mal? – Perguntou, ainda mais preocupado. Alfonso zelava por
Anahí como a se próprio, talvez mais. – Há uma sala nos fundos, posso ficar com você
até que melhore. – Paul ergueu as sobrancelhas, ainda sorrindo.
Anahí: Não. Vamos... Vamos dançar. – Disse, apontando pra corte que se formava.
Alfonso a encarou, sondando-a. Havia algo errado. – Venha. – E ela puxou ele, fazendo-
o sair dali sem olhar pra trás. Por sorte.
Alfonso pegou a mão de Anahí, guiando-a. Eles passaram por toda a corte, se
posicionando a sua frente. Eram quarto casais: Robert e Kristen na ponta
esquerda, Anahí e Alfonso, Christopher e Madison, Ian e Katherine fechando na
ponta direita. A musica começou a tocar, assim como todos a dançar. Era uma
espécie de quadrilha, os movimentos de todos eram iguais, nada muito diferente.
De vez em quando os casais se trocavam. Quando Anahí foi parar nos braços de
Ian, este ria.
Anahí: Vai passar. – Respondeu, e graças aos céus nessa hora as damas da pista
giraram, rodopiando, o que evitou que Alfonso visse os olhos dela. O som das abas dos
vestidos rodopiando abafou o soluço seco que ela emitiu.
Anahí rodou incansavelmente. O que era pra ser a noite perfeita terminou sendo
seu pior pesadelo. Era madrugada. Ela não agüentava mais. Alfonso viu ela
encarando-o e pediu licença, se aproximando. Ele sorria. Que pena.
Anahí: Alfonso... Ele está aqui. – Disse, a voz falha em seu pânico.
Anahí: Paul. – A voz dela estava tão sofrida que era quase imperceptível. Quase. Ela viu
ele empedrar no momento em que ela proferiu o nome.
Alfonso: Como pode saber? – Perguntou, a fúria substituindo a alegria que estava no
rosto dele.
Anahí: Eu vi. Me bati com ele. – Ela respirou fundo – Está de preto, usa uma m-
mascara...
Anahí nem se moveu. Que Deus tivesse piedade dela. Alfonso subiu as escadarias a
passadas largas. Foi até o canto onde Ian, Christopher e Robert estavam e disse
algo rapidamente. Os olhares de alerta foram imediatos. Christopher perguntou
algo que Anahí interpretou como: “Tem certeza?”, e Alfonso confirmou.
Christopher se levantou, em seguida, e foi até Madison, apanhando-a sutilmente
pelo braço. Madison a olhou, indagadoramente, mas ele apenas negou com a
cabeça, tirando-a dali. Depois que as rainhas foram tiradas dali, Anahí viu
soldados entrando discretamente no salão. Anahí se abraçou, vendo todos se
dispersando, procurando. Passou-se bem uma hora. Ela queria ir pra casa. Queria
estar em sua cama, com Alfonso em seus braços, e saber que tudo estava bem. Saiu
caminhando, tentando se acalmar... Sem perceber que estava se afastando.
Terminou em um canto afastado, perto da saída, onde estavam as carruagens.
Paul: Ou você é realmente corajosa, ou realmente tola. – Comentou, a voz atrás dela, e
Anahí franziu o cenho.
Paul: Há um leque de coisas. Primeiramente eu quero que você volte para casa. Em
segundo plano, quero seu namoradinho morto.
Anahí: Voltarei para casa quando isso tudo acabar. – Disse, tranqüila. Não tinha mais
nada que perder mesmo – Alfonso não irá morrer. Não tão cedo, nem por tuas mãos.
Paul: Se vê que tu não é mais a menina tola que ia com a mamãe lavar roupas atrás de
meu castelo. – Observou, olhando-a.
Anahí: Você não me conhece. – Disse, quieta. – Vá embora. Retire suas tropas, acabe
essa guerra. Deixe Alfonso em paz. – Paul riu – Que inferno, você já matou a mulher
dele, já aleijou a filha, o que mais você quer?
Paul: Você não sabe da metade das estruturas dessa guerra. – Disse, divertido. Ele olhou
pro chão, sorrindo. Então uma mão estava no braço de Anahí, puxando-a – Mas ainda
assim voltará para casa esta noite.
Anahí: Já disse que voltarei para casa quanto terminar. Tire as mãos de mim! – Ela se
debateu, tentando se soltar.
Anahí: Tu não vais abrir a boca para gritar nada, pois é um verme. Sabe quem está aqui,
e sabe que morrerá se colocarem os olhos em ti. – Debochou, com um sorriso morto no
rosto. Então voltou a se debater – ME LARGUE! – Gritou, puxando o braço, mas ele a
arrastava. Ela olhou para trás; Seus gritos não alcançariam Alfonso. Estava perdida,
Paul a levaria.
Madison: Solte-a. – Ordenou, a voz branda, vindo de trás dos dois. O coração de Anahí
despencou do peito, atravessando o chão. Paul parou por um instante, virando o rosto
para Madison. A morena ergueu o rosto, encarando-o com um desprezo que chegava
gelar, os olhos negros feito carvão. Mas, ao contrário de Anahí, não havia medo em seu
rosto.
Paul: És bonita, mas não faz meu tipo. E mulheres não mandam em mim. – Debochou,
puxando o braço de Anahí novamente.
Madison: Se vê de longe que não sabes quem eu sou. – Comentou, mordendo o lábio.
Os cabelos caiam pelos ombros até a altura da cintura, negros, sedosos. O penteado
provavelmente se desfizera quando Christopher a levou dali as pressas. Ela passou a
mão nos cabelos, tirando-os do rosto. Paul respirou, cansado, e se virou. Anahí perdera
a voz.
Madison: Se fosse alguém inteligente saberia quem é meu marido. Mas é claro que
inteligência de você seria pedir demais. – Observou – Solte-a.
Paul: Cansei dessa brincadeira. – Suspirou – Ande, sua pequena vadia, vamos. –
Rosnou, puxando Anahí, que cambaleou. Madison ergueu as sobrancelhas.
Madison: Você beija sua mãe com essa boca? – Perguntou, e Paul se virou. Madison
tinha um sorriso autentico no rosto agora. Ela ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa
– Ops. Esqueci. Não beija mais. – Disse, e abriu um sorriso faiscante.
Paul: Quem é você? – Perguntou, agora irritado com Madison. Aquela mulher tinha
dedo na morte de sua mãe.
Madison: Madison Uckermann. – Disse, tranqüila – Eu vou dizer pela ultima vez: Solte-
a. Se não solta-la agora eu vou gritar, meu marido estará aqui em uma fração de
segundo e tu estarás morto antes de bater no chão.
Paul, desgostoso, encarou Anahí. Os olhos azuis estavam quase sem vida, de tanto
medo. Por fim ele a soltou. Anahí gemeu, segurando o braço. Paul passou por
Madison, encarando-a, e a outra manteve seu olhar, destemidamente. Paul não era
burro: Uma ofensiva com Christopher naquele momento era pedir para morrer.
Uma vez que ele saiu, o olhar de Madison voltou-se para Anahí.
Madison: O que ele queria com você? – Perguntou, os olhos sondando Anahí.
Madison: Aparentemente Paul quer realmente criar problemas com todas as mulheres de
Alfonso. – Comentou, ainda encarando Anahí.
Madison: Saiu por ali. Fugiu de mim. – Apontou. Christopher fez um sinal e uns 20
homens o acompanharam. Logo Anahí e Madison estavam sozinhas novamente.
Madison: É bom que tu não estejas mentindo para mim, Anahí. – Disse, e Anahí a
encarou – Se estiver mentindo e meu marido estiver defendendo a ti e a Alfonso
debaixo de uma mentira, é comigo que tu deverás se preocupar. – Avisou, em seguida
apanhando seu vestido e voltando para o salão, tranquilamente.
Anahí, uma vez sozinha, se amparou em uma parede, cobrindo o rosto com as
mãos. Quando esse pesadelo ia terminar?
---*
Era manhã e fazia frio. Anahí fora mandada pra casa. Tomara banho, se
desarrumara, mas por fim se embolou em um lençol, jogando-o pelos ombros, e
ficou olhando as nuvens pesadas de chuva no céu. Era inverno. Seu céu iria cair.
Recebera a prova viva disso. Os armários estavam abertos. Quando ela chegou,
desnorteada, abrira tudo como se procurasse algo. Em algumas gavetas haviam
roupas debaixo e os vestidos que ela usava para trabalhar. No guarda-roupas,
pendurados, estavam os inúmeros vestidos que Alfonso lhe dera, pendurados. O
ultimo era o da festa. Em cima da cômoda, a caixa com as jóias que ele lhe dera.
Ela se abraçava, segurando o lençol em volta de si, olhando tudo sem ver nada. Foi
quando a voz dele veio atrás dela.
Alfonso: Ei, carinho. – Disse, e ela se virou – Madison me disse que aquele desgraçado
estava tentando levá-la. Você está bem? – Perguntou, apanhando o rosto dela entre as
mãos.
Anahí: Eu não sei. Apareceu me puxando, disse que eu tinha de ir com ele, ir pra casa. –
Ela respirou fundo – Srta. Madison acredita que ele quer lhe tomar todas as mulheres
que você escolher para si. – O rosto de Alfonso se fechou com aquilo.
Alfonso: Eu não vou permitir. Você vai ficar bem. – Ele deu um beijo na testa dela.
Anahí: Você não vai ficar? – Perguntou, decepcionada. Queria ficar abraçada a ele até
que aquele pavor se esvaísse.
Alfonso: Não agora. O território entre a fronteira daqui e a de Paul é neutro, logo,
ambos tem passagem. Christopher acredita que não houve tempo para que ele tenha
passado sua fronteira ainda. – Explicou.
Anahí: Vão se embrenhar nas arvores atrás dele, Alfonso? – Perguntou, em um lamurio.
Alfonso: Christopher, Ian, Robert e eu. E metade de um exercito. Queremos alcançá-lo. Mas
assim que voltar virei procurá-la, e o castelo poderá cair, que não a deixarei. – Prometeu, e ela
sorriu.
Alfonso partiu minutos depois . Anahí por fim se vestiu, mas não teve condições de
sair. Apenas se jogou na cama e se abandonou. Alfonso só voltou horas depois.
Frustrado, furioso. Nada. E mais nada foi dito ou feito naquele dia. Aquela noite
Alfonso passou com Anahí, mas apenas a abraçou forte, como se seu abraço fosse
protegê-la de todos os males. Nenhum dos dois disse nada. Dias depois...
Alfonso: E então – Perguntou, sozinho com Ian, em uma sala. Ambos sentados.
Ian: Eles irão embora. Anunciarão a partida em breve. – Alfonso franziu o cenho.
Alfonso: O que há? Houve a ofensiva, Paul atacou Madison diretamente, e Christopher
vai embora? – Perguntou, indignado.
Ian: Christopher está realmente irado com isso, mas o ponto fraco dele é aquela mulher.
Madison não está nem um pouco amedrontada. Kristen está. Quer ir embora a qualquer
custo. Se Robert partir, Christopher levará Madison e voltaremos a estaca zero. – Ele
respirou fundo – Alfonso, só você pode impedir.
Alfonso parou, olhando pro chão. O único modo de impedir era aceitando um novo
casamento. Aceitando-o, os outros ficariam até o baile da escolha, depois até as
cerimônias do matrimonio. Tempo suficiente para demove-los. Ian esperou, calado.
Quando a voz de Alfonso se pronunciou, foi como uma lamina cortando o vento.
Alfonso: Tudo bem, eu aceito. – Ian ergueu as sobrancelhas – Peça para que mandem os
convites, traga as princesas. Escolherei uma, se é tão necessário. Me caso e ponho um
fim nisso. – Se resumiu, e Ian sorriu, toda a preocupação desaparecendo de seu rosto.
Ian: Eu sabia que tu tomarias a decisão certa. – Disse, sorrindo e dando dois tapinhas no
ombro de Alfonso, antes de sair. Foi direto fazer a noticia correr aos quatro ventos.
Alfonso ficou sozinho na sala, olhando o nada. Iria se casar. Ter uma nova esposa.
Uma nova rainha... Problema seria só explicar isso a Anahí.
Só que Alfonso não teve coragem de dizer a Anahí. Esteve com ela, a noite, e tentou
dizer. Mas ela, ao vê-lo tenso daquele modo, pensou que ainda era uma
conseqüência pela visita indesejada de Paul, e o beijou. Ele não a reprovou, e
terminaram na cama. Foi assim pelos dias que se seguiram. Ele sempre
empurrava, adiava... Nunca fora covarde, mas aquilo a magoaria, ele não sabia
como fazer. Porém o diabo pode ser sujo...
Anahí: They don‟t know how long it takes, waiting for a love like this... – Cantarolou,
entrando na cozinha – Everytime we… Tá me olhando porque, perdeu algo? –
Perguntou, erguendo a sobrancelha. Nina estourou de rir. Anahí esperou, aérea, mas
como a outra não parava de rir ela revirou os olhos, começando a desfazer a bandeja do
jantar de Suri.
Uma nota de sua autora: A energia elétrica nem sonhava em existir e Anahí já
estava cantando Glee Cast. É como Samila Uckermann vê isso
Nina: Como se sente agora, Anahí? – Perguntou, ofegante em seu riso. Anahí franziu o
cenho, respirando fundo.
Anahí: Perfeitamente bem. Você pode dizer de uma vez porque está rindo? Está
começando a me irritar. – Disse, suspirando. Ela tirou a louça da bandeja, colocando-a
na pia, e desmontou a bandeja. Nina se levantou, rindo, e se aproximou dela. Tinha um
papel na mão.
Nina: Entao... – Ela respirou fundo – Teu conto de fadas vai ter um final feliz, ham? –
Perguntou, pondo o papel na mesa, levando-o até a visão de Anahí. Anahí não olhou.
Anahí: Pelo amor de Deus, despeito criou graça e eu não sabia? – Perguntou,
suspirando.
Um folheto que anunciava um baile. O folheto dizia que Alfonso iria escolher uma
princesa. Que se casaria com ela. O chão de Anahí sumiu aos poucos, sua audição
era apenas um zumbido. Não era possível. Ele prometera que dissera aquilo só
para se livrar de Ian.
Anahí: Não é possível. – Murmurou, olhando o papel. Nina pipocou rindo novamente.
Nina: Creio, pela tua reação, que a escolhida não será tu, verdade? - Anahí continuou
parada.
Anahí: SUMA DA MINHA FRENTE! SUMA AGORA! - Gritou, fora de si, e Nina,
atordoada, saiu, segurando o corte fundo do braço. Anahí largou a faca que caiu no chão
– Ah, não. Isso não, Alfonso. – Rosnou, apanhando o papel na mão e saindo
desembalada pelo corredor.
Anahí: SUA ALTEZA! – Disse, possessa, abrindo as duas portas do quarto dele.
Alfonso, que saíra do banho, abotoava o punho da camisa.
Anahí: Alfonso, o que é isto? – Perguntou, mostrando o folheto a ele. Alfonso suspirou,
passando a mão no rosto. Ela o observou – Eu ainda tive esperanças de que tu o
negasse, MAS OLHE ISSO! – Disse, furiosa, largando o folheto no chão.
Anahí: Você me disse... Me prometeu que não se casaria. – Disse, e ofegava de raiva –
Prometeu olhando nos meus olhos. Eu nem acredito nisso.
Alfonso: É necessário. Tente entender, carinho. – Pediu, sem saber como falar.
Anahí: Eu entendo. – Disse, encarando-o, e ele esperou. Ela tirou uma chave do decote,
a chave do seu quarto, e atirou na direção dele, que se esquivou – Entendo
completamente. Obrigada por tudo. Me esqueça. Adeus. – Disse, e deu as costas,
batendo em retirada.
Alfonso: Nem mais um passo. – Rosnou, irritado. Alfonso bem tentava controlar seu
temperamento perto dela, mas algumas vezes era impossível! Tipo agora. Anahí
respirou fundo, se virando.
Anahí: Como o senhor preferir. Com licença. – E tentou sair de novo, mas...
Alfonso: O conselho estava todo indo embora, o que queria que eu fizesse?
Anahí: Não é da minha conta. Eu sou só uma criada. Meus sinceros votos de que seja
feliz com a princesa que escolher, senhor. – Disse, debochada.
Alfonso: Eu não vou brigar com você, você está com raiva. – Agora ele também estava
– Tome. – Ele catou a chave no chão – Vá para o seu quarto, e se acalme. Mais tarde
conversaremos. – Para surpresa dele Anahí gargalhou, a cabeça caindo para trás,
segurando a barriga. Era ironia. Alfonso odiava ironia. Ele deu as costas a ela, se
bloqueando da visão, tentando por tudo não se irritar mais...
Anahí: Que pensa, alteza? Que irá se casar, e quando tua esposa dormir tu irás escapar,
em silencio pela madrugada, me procurar e que eu te aceitarei?
Alfonso: Tu não tens escolha. – Lembrou, em voz baixa. Ela via os ofegos de raiva dele.
O peito forte subia e descia conforme ele respirava. Assustaria qualquer um. Mas não
agora, ela estava com ódio demais.
Anahí: Pois me deixa te dizer uma coisa, Alfonso. – Disse, e agora não havia ironia em
tua voz. Ela falava sério, em tom baixo – A partir de hoje tu não me tocas mais. Uma
vez sendo casado, esquece que um dia colocastes as mãos em mim. Aliás, guarde como
uma boa lembrança: Você tirou minha pureza. Mas não se equivoque, acabou aqui. Com
sua licença.
Anahí ia sair, quando a mão dele apanhou os dois lados da porta, batendo-os com
força. O som ecoou pela escadaria. Alguns andares abaixo, Madison, que
conversava com o marido e com Robert, ergueu os olhos delicadamente, sorrindo
de leve. Alfonso arfava atrás de Anahí (Que por sinal estava encurralada entre ele
e a porta). Ela podia sentir o hálito dele em seu ouvido. A mão dele a apanhou com
força pelo braço, virando-a para ele.
Alfonso: Não se equivoque tu ao pensar que pode me deixar. – Disse, também em tom
baixo, os olhos faiscando de raiva – Isso só termina quando eu disser que acabou,
Anahí. Me casarei com quem bem entender e tu estará em minha cama na hora em que
eu bem desejar, para satisfazer todas as minhas vontades.
Anahí: Isso é o que nós vamos ver. – Debochou, atrevida.
Ela só sentiu o peso da mão dele em seu rosto. Alfonso a esbofeteara. O rosto dela
se virou com a bofetada, os cabelos caindo por cima da pele que ardia
absurdamente. No andar debaixo Madison ergueu os olhos de novo, passando a
mão no próprio rosto, como se achasse graça de algo. ㅤ
Madison: Apenas me distrai. Perdoem. – Disse, mas ainda sorria, como se quisesse rir.
Robert a encarou por um instante, procurando algo que ele tivesse perdido, mas ela
negou com a cabeça.
Anahí: Me force. – Desafiou, os olhos fixados aos dele. Vou perguntar de novo: Perdeu
o juízo, mulher?
Só seja forte!
Porque você sabe, eu estou aqui por você, eu estou aqui por você ♫
Alfonso: Sabe que eu posso fazê-lo. Quantas vezes me der vontade. – Assinalou.
Anahí: Pois faça. Me obrigue. É o único modo de me ter em sua cama agora, querido. –
Disse, parecendo subitamente tranqüila. Apenas seus olhos e a cor pálida (exceto a
marca vermelho sangue da bofetada) de seu rosto denunciavam seu ódio. Alfonso sorriu
de canto, e ela esperou.
Alfonso: Posso forçá-la a inicio. Mas me rejeitar nunca foi uma capacidade sua, não é?
– Brincou, malévolo, e ela aguardou – Por fim estará se espreitando por mim, feito uma
gata.
Madison: Está em seu quarto, brigando com a amásia dele. – Disse, tranqüila, abraçada
ao marido, que lhe acariciava o braço.
Madison: Aparentemente ela descobriu que ele ia casar, e foi tomar satisfações. Eles
gritaram por um bom tempo, ele esbofeteou ela, os dois brigaram mais, e eu parei de
ouvir porque não é da minha conta. – Resumiu – A propósito... Tem alguém sangrando
gravemente aqui por perto. – Observou.
Katherine: Como pode saber? – Perguntou, atrás de Ian. Ian, Madison e Robert riram.
Madison: Alguns de nós tem a audição aguçada. – Disse, reservada. Robert riu.
Voltando a torre... Mesmo tentada pelo gosto dele, o ciúme por saber que teria que
partilhá-lo e o ódio porque isso seria pela vontade dele venceram. Ela o empurrou,
o esmurrou, até que devolveu na mesma moeda: O mordeu. O gosto do sangue dele
veio na boca dela, mas ele não se demoveu. Ela continuou. Tinha os dentes
cravados no lábio dele, que parecia nem se importar. Ele parou na tentativa, mas
não pela dor, pois não se afastou. Apenas a encarou, observando-a. Anahí queria
machucá-lo. Ela só parou instantes depois, os lábios cobertos de sangue, e ele
continuou observando-a. Ela o encarou por bem um minuto. O sangue descia pelo
queixo dele, pingando na camisa, mas ele nem estava ligando. Parecia procurar
algo nos olhos dela. Por fim ela se soltou dele, saindo correndo. Alfonso respirou
fundo, pensativo. Dor física era algo muito fútil. Se ele quisesse tê-la forçado, assim
o seria. Mas ele a amava demais para isso. Pena que ela não parecia entender.
---*
Os dias se passaram. Anahí fugiu de Alfonso como o diabo foge da cruz. Ele nunca
a via, só quando estava com Suri: Ele entrava e ela saia. Ela saíra do quarto que
ele lhe dera, deixando tudo lá; Só levava o escapulário porque esquecera de
devolver, força do habito. O dia do baile finalmente chegou. O reino todo parara
perante aquilo. A noite foi o mais luxuosa possível. Os homens em seus ternos
refinados, e as mulheres estonteantes, cada uma de seu modo.
Madison usava um vestido tomara que caia, apertado, ousado para aquela época,
pois deixava seu colo exposto, só vinha se abrir em saia balão da cintura para
baixo. Havia um colar enorme, com diversos diamantes cravados ali. Os cabelos,
soltos, penteados delicadamente caiam até a cintura, difundindo-se com o vestido.
Haviam diamantes em seu pescoço, em suas orelhas, em seu pulso... Christopher
parecia gostar de tê-la assim. Kristen, mais modesta, usava grafite, um vestido de
aparência delicada e fina, do jeitinho dela. Também levava seus diamantes, mas
eles eram tímidos como a dona. Katherine usava vermelho vinho, e seus diamantes
ficavam em meio termo: Mais extravagantes que os de Kristen, menos que os de
Madison. E Anahí nem acreditava que estava trabalhando. Toda a equipe do
castelo, todos os criados estavam ali, exceto os soldados que guardavam o castelo
onde Suri ficara. Esse baile era extremamente mais luxuoso que o outro. Anahí
agora tinha a convicção de que não queria estar ali. Devia ter se jogado de uma
escada, quebrado uma perna. Mas agora era tarde. Haviam dezenas de princesas
ali, de toda variedade: Loiras, ruivas, morenas, claras, escuras, altas, baixas,
magras, gordinhas... E a noite se arrastou. Anahí virou a cara ao ver Alfonso
dançando com varias delas, conversando, sorrindo. Que ódio! Por fim, ele se
pronunciou. Estava na plataforma alta, com os reis e rainhas sentados atrás dele.
Alfonso: Enfim. Essa noite eu vi mulheres de todos os tipos, cada uma encantadora de
sua forma, mas minha decisão era clara. – Disse, e Anahí acelerou o passo – Apenas
uma mulher pode ser minha esposa, porque apenas essa carrega minha felicidade. E, por
incrível que pareça, essa mulher está fugindo agora. – Madison virou o rosto, olhando –
Anahí, pare de correr. – Pediu.
Só seja forte!
Porque você sabe, eu estou aqui por você, estou aqui por você ♫
Ian engasgou com o vinho, cuspindo-o fora, engasgado entre tossido e riso. Anahí
empedrou em seu lugar. Jesus, Maria, José. Todos olhavam em volta, procurando.
Alfonso: Olhe para mim. – Pediu. Todos estavam confusos. Ian continuava tossindo, e
Madison tinha um riso preso, assim como o marido. Anahí se virou, o rosto pulsando
sangue, e ele sorriu ao ver os olhos incrédulos dela, desde longe – Em nome de Deus,
nosso senhor, eu amo você. Não poderia escolher outra mulher, pois meu coração
pertence a ti. Eu não me importo que seja uma criada, não tem importância, eu te amo, e
eu escolho você. – Um silencio esmagador se abateu sobre o salão. Alfonso estendeu a
mão na direção dela, chamando-a – Seja minha rainha. Case-se comigo, Anahí. – Pediu.
Ninguém parecia saber o que falar.
Alfonso: Não diga tolices, está linda. Sempre está. – Murmurou, beijando a testa dela.
Anahí lavou o rosto quinhentas vezes no banheiro. A água fria parecia ferver em
sua pele. Por fim ela desistiu, se olhando no espelho. Soltou os cabelos, passando os
dedos e soltando os cachos. Arrumou o vestido sentindo falta dos seus, trancados
em seu quarto, no castelo. Por fim saiu, pronta pra voltar pro lado dele. Se bateu
com Christian.
Anahí: Se eu estiver, que minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e
a outra também. – Respondeu, sorrindo. Era possível que ela estivesse feliz?!
Christian: As duas metades serão amor quando ele precisar catalogar tua família
também? – Perguntou, passando a mão no rosto.
Anahí: Minha família? – Christian suspirou.
Christian: Ele quer te fazer rainha, Anahí. Para ser rainha não vai bastar mentir dizendo
que não falas com a tua família. Ainda que não fale ele precisa conhecê-los, para
registro. Eles precisarão se expor perante a todos nas cerimônias do casamento. Assinar
documentos, e todo o protocolo. Então, o que vai fazer quando chegar a hora?
A felicidade de Anahí ia e voltava com uma velocidade que a incomodava. Ela não
sabia disso, não tinha como saber.
Anahí: Eu darei um jeito. Contornarei isso. – Christian suspirou – Suma daqui antes que
ele o veja. – Disse, se afastando. Quando olhou para trás, Christian já havia sumido.
Pena que ele não sabia o porque dela estar gelada. Mas vamos aguardar o que a
noite vai trazer.
Anahí afastou esse pensamento de sua cabeça durante o resto da noite. Nem podia
acreditar que ele estava lá, abraçando-a na frente de todos, que ele queria se casar
com ela! A felicidade era tanta que parecia poder se materializar. Por fim ela foi
embora com ele, em sua carruagem, os dois aos beijos e carinhos. Ao chegarem ao
castelo todos ainda estavam acordados demais, excitados demais com a reviravolta,
para dormirem. Prolongaram a festa na sala de jantar, com um bom vinho. Anahí
não viu sentido em se trocar agora; Alfonso a escolhera rainha do jeito que ela
estava. Ian ainda fazia piadas sobre as caras das princesas ao serem preteridas por
uma criada.
Christopher: Mas fico feliz por você. Muitos não sabem o quanto demora até encontrar
o amor. E nem sempre ele vem em cascas adequadas. – Comentou, tranqüilo.
Christopher: Te digo isso pois já havia escolhido outra princesa, antes de Madison.
Meus pais me pressionaram, era hora de assumir o trono, e eu escolhi. – Deu de ombros
– Então viajei com meu pai, para fazer uma sociedade com o pai dela. Quando eu a vi
soube que apenas ela serviria. – Ele sorriu pra a esposa – O que não muda o fato de que
eu estive perto de cometer um erro irreversível.
Christopher: Não. Ela não foi. – Disse, debochado consigo mesmo. Madison riu.
Christopher: No final eu nem me lembro qual era o nome da outra princesa. Pobre
coitada. – Ser escolhida e em seguida rejeitada por um rei era a ruína para uma princesa.
Ocorria muito raramente.
Ian: Como era o nome dela? – Perguntou, descarado. Seria como falar mal da pobre
coitada revelar seu nome.
Christopher: Madison. – Repreendeu, os olhos focados nos dela. Mas ela sorriu
docemente. Ian gargalhou.
Katherine: Você está bêbado? – Perguntou, sondando o rosto de Ian, que ria.
Alfonso: O mais rápido possível. – Respondeu, virando o rosto para encarar Anahí. Ela
nunca tinha visto esse tom de felicidade nos olhos dele.
Christopher: Então é bom começar logo. Há muito que se fazer. – Observou, tomando
um gole de seu vinho.
Alfonso: Eu sei. Amanhã mesmo mandarei enviados até as igrejas, a família dela, os
sacerdotes, e todo o resto. Com sorte em dois meses estaremos com tudo pronto. –
Disse, tranqüilo. Anahí empedrou. A família dela. – Tu podes começar a planejar teu
vestido amanhã mesmo. – Disse, feliz. Mas ela já não sorria. – Precisarei que me dê o
endereço de tua casa, carinho. – Disse, agora em particular – Sei que tu não fala com
eles e farei o máximo para que não tenha contato, mas precisarei de algumas
assinaturas, coisas de praxe. Mas não fique assim. – Disse, interpretando mal a
expressão dela – Deve se preocupar apenas em estar linda quando for me dizer sim. –
Anahí sorriu de canto.
Kristen: Se precisar de ajuda com alguma coisa, Anahí, não receie em me procurar. – Se
ofereceu, e Robert lhe beijou a têmpora, sorrindo.
Madison: Faz tempo que eu não penso em uma festa de casamento, mas me tem a
disposição também. – Katherine concordou. Anahí assentiu.
Anahí: Eu... Eu estou exausta. Vou me retirar. Me dêem licença. – Pediu, se levantando.
Todos assentiram e ela saiu.
Anahí bateu em retirada, correndo, até seu quarto. O que faria agora, meu Deus?
Ela estava tão feliz com aquele casamento, ela o queria tanto! Mas mais uma vez a
vida lhe passava a perna. Toda a felicidade foi substituída por tristeza quando ela
entendeu o que precisava fazer. Minutos depois a porta se abriu e Alfonso entrou.
Alfonso: Carinho, porque veio para este quarto? – Perguntou, fechando a porta. – Está
sentindo algo?
Anahí: Alfonso... Eu não posso me casar com você. – Disse, em voz baixa. Viu o rosto
dele se fechar, incrédulo – Minha resposta é não. – Concluiu.
Alfonso: Você tem noção do que eu terei que enfrentar por ter escolhido você? E você
me diz não? – Perguntou, exasperado – Há outro?
Anahí: Não! – Disse, na mesma hora – Nunca houve outro, nem vai haver. Eu amo
você. Só você.
E ela sabia que este era o único modo de fazê-lo aceitar a negativa: Machucando-o.
Estava matando-a por dentro, lenta e dolorosamente, mas ela precisava fazer.
Anahí: Medo de aceitar ser sua rainha e terminar como Dulce María terminou. – Jogou.
Um silencio pesado se sobrepôs ali. Ela pode ver a dor cruzando os olhos dele.
Alfonso: Anahí, eu vou morrer antes de permitir que algum mal lhe atinja. Eu prometo.
– Disse, a voz séria, encarando-a. Ele interpretou a dor nos olhos dela como medo, e
isso o machucou mais.
Anahí: Prometeu isso a Dulce também, não prometeu? – Ela queria chorar. Queria
morrer, queria sumir. Estava machucando-o, rasgando as feridas dele, podia ver. –
Entretanto não conseguiu protegê-la da morte. – Ela precisou se virar, dando-lhe as
costas.
Alfonso: Porque está fazendo isso comigo, Anahí? – Perguntou, e sua voz era baixa,
sem o tom energético da objeção. - Eu te ofereci o meu amor, minha confiança, minha
fidelidade, meu reino... Eu te ofereci minha vida. Porque está fazendo isso?
Anahí: Uma coisa é ser sua amasia, outra bem diferente é dar a cara ao mundo e assumir
que sou sua mulher. Sua esposa. Sua rainha. – A primeira lagrima desceu pelo rosto
dela. Como ela estava de costas, ele não viu – A ultima mulher que teve coragem de
fazer isso, a essa altura, já se decompôs em seu tumulo. Eu não tenho coragem. Me
perdoe. – O choro estava subindo. Ela secou o rosto, respirando fundo.
Alfonso: Sua resposta final é não? – Perguntou, parecendo tão abatido quanto podia
estar.
Anahí: Não. – Disse, se virando – Quando a guerra acabar... Quando isso tudo terminar,
se você ainda me quiser, eu vou ser sua até que meu tempo expire. Se voltar a me fazer
esse pedido, direi sim antes que termine de fazê-lo. Mas agora não posso. Eu amo você,
Alfonso. Mas não posso. – Disse, encarando-o – Eu sinto muito.
---*
A noticia de que Anahí havia se recusado a Alfonso se espalhou mais rápido que
areia no vento. Os dias que se seguiram passaram de modo lento, tortuoso, e não
havia um dia em que ela não chorasse por ele. Ela não o via. Quase ninguém,
exceto o conselho em si, o via. Era caótico.
Kristen: Sinceramente, nem sei o que dizer. Não esperava. – Anahí, que ia servir o chá
na torre, parou atrás da porta, quieta. Madison observou a porta brevemente, mas não
disse nada.
Katherine: Ian me disse que ele está abalado. Calado, sempre quieto. Só aparece quando
é necessário. Eu nem imagino como deve ser. E olhe que sou mulher. – Comentou.
Kristen: O fato é: Anahí o rejeitou e agora o nome dele virou motivo de piadas para
todo o reino, e para todos os reinos dos quais ele rejeitou as princesas. – Assinalou.
Madison: Eu o vi. – Comentou, parada a sombra da janela – Está pálido, abatido, cheio
de olheiras. A voz não tem vida. Enfim. – Anahí não agüentou mais ouvir; Entrou no
quarto.
Kristen: Se pudesse fazer algo para ajudá-lo, faria. Estou com pena. – Admitiu.
Madison: Se eu tivesse um coração, ele estaria em pedaços. – Observou, olhando algo
pela janela. Isso dispersou a atenção de Anahí.
A verdade é que Anahí também não estava nada bem. Não havia cor em seu rosto,
nem em seus olhos. Estava quase morta. Saber do sofrimento de Alfonso não
melhorara em nada. Naquele dia, quando anoiteceu, ela se pôs em prantos, como
sempre era. Não conseguia sustentar essa situação, era impossível! Ela olhou em
volta e cada pedaço do pequeno quarto trazia lembranças dele. Então ela saiu.
Desceu pelo gramado, sem ter um destino, os soluços oscilando seu peito. Até que
se bateu com alguém.
Christian: Anahí. – Disse, penalizado, e a abraçou. Ela afundou a cabeça no peito dele,
que precisou segurá-la para que não caísse, tão desesperado era seu choro – Tanto que
eu te avisei. – Lamentou.
Anahí: Eu o amo, Christian. – Disse, a voz cortada, abafada – Meu Deus, eu o amo.
Anahí: Alguém precisa acabar com a guerra. Se Paul morrer, a guerra acaba. – Um
soluço perdido escapou dela, que se afastava – Se alguém o matar, a guerra termina. –
Christian a olhava, confuso – Eu vou matá-lo. – Concluiu.
Christian: Matar? Tu vais matar Paul? – Perguntou, incrédulo – Anahí, onde está indo?
Anahí: Me oferecerei como bandeira de paz. – Disse, pensando alto – Ele quer me
possuir, antes de me matar. Quando o tiver em meus braços o matarei. – Disse, olhando
o chão – O matarei e voltarei para voltar para Alfonso, para lhe contar minha verdade, e
se ele ainda me quiser, com a ajuda de Deus, serei feliz. Eu o matarei por Alfonso. –
Concluiu, dando as costas.
Anahí disparou correndo, mas logo foi detida. Christian a agarrou pelo braço, e
logo ela se sacudiu, tentando se soltar, lutando violentamente.
Christian: Anahí... Mulher, está louca? Tu vai matar Paul? Agora? – Perguntou,
debochado – Para começar, como vai matá-lo?
Anahí: Do mesmo modo como entrei. – Rebateu – Christian, só vou pedir uma vez: Me
solte. – Disse, parando de se debater e encarando ele. A resolução estava pronta no olhar
dela.
Christian: É uma missão suicida, se fosse tão fácil o próprio Alfonso teria feito! Tente
raciocinar! – Apelou.
Anahí: Paul não quer levar Alfonso para cama, quer levar a mim. Essa é minha
vantagem. É meu ultimo aviso: Tire as mãos de mim. – Disse, séria.
Christian: Eu não vou permitir, é loucura, Anahí! – Disse, segurando os dois braços
dela.
Anahí: SOCORRO! – Gritou, sua voz ecoando pela grama, entrando os corredores do
castelo. Christian arregalou os olhos – ME LARGUE! ALGUÉM ME AJUDE,
SOCORRO!
Anahí: Ele está tentando me agarrar a força. – Disse, virando os olhos lacrimosos para o
guarda. Todos sabiam quem era Anahí: Era a mulher que havia rejeitado o rei. Se algo
acontecesse a ela a fúria de Alfonso podia ser cruel.
Anahí: Tirem ele de perto de mim. – Disse, com a expressão assustada. Resultou que os
dois guardas apanhando Christian, um por cada braço, e arrastando-o. Anahí se abraçou,
fingindo-se de machucada.
Anahí: Estou. Apenas... Tirem ele de perto de mim. – Pediu, com a voz quebrada.
Os guardas assentiram e rebocaram Christian dali. Ele observou Anahí o tempo
todo, enquanto caminhava, em um pedido mudo de que ela não fizesse aquilo. Ela,
por sua vez, apenas disse um: “Me perdoe.”, mudo, e deu as costas, sumindo
rapidamente por uma das portas do castelo. Ninguém a deteria.
Christian gritou por horas. Esbravejou, apanhou, gritou mais ainda. Exigia ver
Alfonso. Gritou até não poder gritar mais, então continuou gritando.
Guarda: Já o fiz, senhor. Ele continua gritando. Parece estar possuído. – Disse, quieto.
Alfonso: Não, tudo bem. – Disse, quieto. Até a voz de Alfonso mudara, estava mais
morta. – Eu vou ver o que é. Com licença. – E ele se levantou, saindo.
Guarda: É ele, senhor. – Apontou para Christian, que estava amarrado na cadeira.
Christian ergueu o rosto, inchado, com o nariz partido, e cuspiu um tantinho de sangue
que estava em sua boca.
Mas Alfonso já havia saído batido dali. Anahí era louca! Ele partiu direto para a
sala onde ficavam as armas. Se Anahí disse que ia matar Paul em seu nome,
precisaria se armar ali. Dito e feito, em um faqueiro, onde costumavam haver 48
adagas, haviam 47 e um bilhete. Christian entrou logo atrás e viu Alfonso lendo o
bilhete. Era curto, apressado, e estava amassado.
Dizia apenas poucas frases: "Vou matá-lo, Christian. Vou matá-lo em nome de
Alfonso. Isso tudo acaba hoje. Se eu não voltar... Conte a verdade a Alfonso e diga
que eu o amei mais que a minha vida. Anahí." Bastou para Alfonso sair correndo de
novo. Por favor, que não seja tarde...
Alfonso: Eu conheço meu reino como a palma da minha mão. E você provavelmente
estava correndo em voltas no escuro há um bom tempo. – Disse, a voz se aproximando
– Você perdeu o juízo?! – Perguntou, em um silvo.
Anahí: Me deixe ir. – Pediu, olhando o escuro – Me deixe acabar com isso, Alfonso.
Alfonso: Desça daí. – A mão dele agarrou o pulso dela, trazendo-a ao chão – Primeiro
não, eu não vou deixar. Segundo sou eu que vou matá-lo, não tu. Terceiro, vamos sair
daqui.
Anahí: Porque está me arrastando? – Perguntou, indignada. Anahí sentiu a mão dele
apanhando a adaga em seu decote, desarmando-a.
Alfonso: Porque isso aqui é terra de ninguém, carinho. Porque eu não estou enxergando
direito e porque podem nos atacar. Brigarei com você assim que pisarmos no castelo. –
Anahí sentiu-se ser erguida pela cintura, e estava em cima do cavalo.
Anahí: O cavalo...
Alfonso: Ele nos seguirá. – Disse, e ela sentiu ele montando no cavalo a sua frente –
Não caia. – Advertiu.
Então o cavalo saiu a galope. Anahí viu seu plano, sua resolução, tudo caindo por
água abaixo. Alfonso, por fim, sentiu ela se abraçando ao peito dele, o rosto de
afundando em suas costas, mas não disse nada. Passaram pela fronteira direto, só
parando ao pisar no castelo. Alfonso ordenou que Anahí não mexesse um músculo
de onde estava (Uma das salas de reunião), enquanto ele ia avisar a Christian e aos
outros que estava tudo bem. Foi nesses poucos minutos que a resolução veio a
Anahí: Ela encararia a morte. Tendo tido ele em seus braços novamente, sentido
sua pele, sua pulsação, seu perfume, ela soube que a vida não teria sentido longe
dele. Alfonso voltou em breve, já pronto para brigar com ela.
Alfonso: Eu nem sei por onde começar. – Disse, parado a porta. Uma vez na claridade
ela podia ver a incredulidade no olhar dele. – Você está louca? Iria tentar furar a
fronteira dele, invadir o castelo, matá-lo e voltar apenas com uma adaga na mão? O que
passa na sua cabeça? Aliás, porque acha que conseguiria?
Anahí: Porque eles iriam me deixar passar pela fronteira. – Disse, quieta. Sua voz não
tinha emoção, não tinha nada. – Eu caminharia pelas ruas e entraria no castelo com
facilidade. – Continuou. Alfonso a observava, confusa – O mataria pois ele me quer em
sua cama.
Alfonso: Que diabo está dizendo? – Perguntou, confuso – Ele tentou assediá-la no
baile? – Perguntou, o ódio subindo a boca.
Anahí: Não. Ele tentou me assediar antes de eu vir para cá. – Continuou, com aquele
tom de voz estranho, sem emoção – Aliás, este foi o motivo por eu ter vindo.
Anahí: Minha família sempre foi muito unida. – Disse, o olhar perdido – Éramos eu,
meu pai e minha mãe. Nós nos amávamos e sempre vivemos em paz. – Alfonso
continuou confuso, cada vez mais. A família dela não havia posto ela para fora? – Meus
pais me amavam mais que tudo no mundo. Quando a guerra estourou eu era uma
menina ainda. – Continuou – Porém com o passar do tempo eu cresci, virei uma
mulher... – Ela olhou o próprio corpo – E isso chamou a atenção de Paul. Atraiu os
olhos dele para mim.
Alfonso: Você tem noção de que o que está dizendo não faz o menor sentido? –
Perguntou, lentamente. Anahí sorriu de leve, sem alegria.
Anahí: Durante muito tempo ele me assediou. Me queria como sua amasia. Eu sempre
me neguei. Sonhava me casar pura, e me entregar apenas para o homem que eu amasse.
– Continuou – Meu pai me defendeu com unhas e dentes. Minha mãe tinha medo. Até
que um dia a paciência de Paul acabou. Ele decidiu que me levaria embora a força, me
possuiria e mataria em seguida. Então eu fugi. Vim para cá. – Alfonso estava calado.
Seus ouvidos não queriam ouvir aquilo – Era o único lugar onde ele não me alcançaria:
Em teu castelo, pois tu o mataria se conseguisse pôr os olhos nele. Ele não se atreveria a
vir até aqui, a passar a fronteira... Mas eu tive. Eu passei. Aqui estou.
Alfonso: Mentiu para mim todo este tempo? – Perguntou, em um silvo furioso. Não,
não era fúria, era ódio. E estava acabado para Anahí.
Anahí: Na verdade eu não menti em quase nada. Eu só não te disse de onde tinha vindo.
– Observou – Jurei para mim mesma que começaria uma vida nova aqui, livre, então
conheci você. – Ela sorriu – No dia em que você me viu chorando... Quando meu pai
morreu... Paul o matou. Procurou por mim por todo o reino, não encontrou, então
confrontou meu pai que passou a verdade na cara dele. – Ela riu de leve – Agora veja
só, eu estou me entregando a morte só por amor a você. Como isso é absurdo! – Disse,
quieta.
Alfonso: Eu-eu nem acredito nisso. Eu te dei o mundo, eu te confiei minha filha, eu te
amei e você mentiu para mim! – Disse, incrédulo, tremulo. Ele ofegava de ódio. –
Estava aqui a mando dele, para me fazer mal!
Anahí: Isso não. Isso nunca. – Disse, observando-o. Alfonso passou a mão no rosto,
ainda ofegando – Alfonso, se eu pretendesse lhe fazer algum mal, teria feito a inicio.
Perdi a conta de quantas vezes o tive adormecido, indefeso, em meus braços. Estive
sozinha com Suri inúmeras vezes. Eu os amo, não lhes faria mal.
Ela nem viu. Só sentiu duas mãos se fecharem em volta de seus braços. Não abriu
os olhos, não queria ver o olhar dele daquele jeito sob si. Só queria se lembrar do
olhar dele ao dizer que a amava.
Ian: Alfonso, que alvoroço é esse? O que está fazendo? – Perguntou, olhando a cena.
Robert entrou atrás – Você não pode prendê-la por tentar terminar a guerra, seja
racional.
Epa.
Anahí: Não! Não, isso não! – Ela abriu os olhos, erguendo o rosto – Menti, sim, mas menti para
salvar minha vida! Uma vez aqui não sai do castelo sozinha! Não sou a espiã, e nem faço idéia
de quem seja, Alfonso, eu ajudei vocês! – Lembrou, incrédula.
Ouvir a ordem fez Anahí se calar. Ian não se impôs. Anahí sentiu uma mão subir
por sua nuca: Iriam quebrar seu pescoço. Pelo menos seria rápido, pensou. Um
instante antes...
Ian: Prendam-na. Precisamos dela viva por enquanto. – Ordenou, e a mão deixou os
cabelos de Anahí, libertando sua nuca. Então ela foi levada.
Anahí não sabia quanto tempo havia se passado. Podiam ser dias, horas, minutos...
Ela perdeu a noção do tempo a partir de um ponto. Só havia dor. Estava presa,
amarrada, e cada pedaço do seu corpo estava doendo. Pela temperatura fria,
úmida, ela tinha certeza de que haviam levado ela para as masmorras. Estava em
pé, amarrada em uma pilastra de concreto pelos braços, cintura perna. Não
conseguia enxergar. Já haviam batido tanto nela, mas tanto, que ela se perguntava
como não havia morrido ainda. Sentia dor, sede, fome, cansaço, seus braços doíam,
seu corpo gritava para ser desamarrado dali. Havia sangue em seu rosto, em seus
braços, seu vestido, que já começava a ceder. Ela contava o tempo por respirações.
Respirava pela boca, pois o sangue seco obstruíra seu nariz. Então eles voltavam e
faziam perguntas. Ela não sabia responder, então apanhava novamente. Eles
achavam que sob dor ela diria a verdade. O inferno é que ela não sabia a verdade,
ela não era a espiã. Os momentos de paz eram quando havia silencio. Ela ficava
quieta, de olhos fechados, analisando cada aspecto da dor. Suri, por outro lado,
estava revoltada.
Suri: Papai... – Disse, com um sorriso angelical. Angelical demais – Eu NÃO vou
comer, eu NÃO vou brincar, eu NÃO vou tomar banho, eu NÃO vou tomar meus
remédios, - Alfonso revirou os olhos – Eu NÃO vou fazer NADA até Anahí voltar. E é
minha palavra final. – Disse, tranqüila. A menina trancava a boca sempre que tentavam
lhe dar de comer, ou os remédios, ou qualquer coisa. Mordera e arranhara uma criada
que tentara lhe dar banho. Passava o tempo de braços cruzados, olhando pra cima.
Alfonso: Pois tu não fará mais nada nunca então, ela não vai voltar. – Disse, sem
paciência, se levantando.
Suri: Eu te odeio. – Murmurou, olhando o pai com desprezo. Alfonso olhou a menina,
incrédulo. Era a primeira vez que ela dizia isso.
Alfonso: Como?
Suri: O odeio. – Repetiu, erguendo o rosto para ele – Apenas uma pessoa no mundo
gostou de mim de verdade, sem me tratar com pena ou por obrigação, apenas uma
pessoa me amou de verdade, mesmo eu sendo a aberração que sou, e o senhor a toma de
mim. Eu o odeio. – Disse, a voz carregada de magoa.
Alfonso: Suri, Anahí não foi a única pessoa que a amou, não diga tolices. – Pediu,
passando a mão no cabelo. Sabia lidar com tudo, mas sua filha dizendo que o odiava era
algo fora de seu alcance.
Suri: É mesmo? Quem mais? Mamãe? Tu? Pelo amor de Deus. – Ela virou o rosto.
Suri: Não era não. Ela nunca me disse, mas eu sempre vi o modo como ela ficava
quando o senhor se aproximava. Ela corava, ficava sem jeito, as vezes sorria, os olhos
brilhavam. – Alfonso não queria ouvir – A perguntei se ela queria ficar com o senhor e
ser minha mãe, mas ela disse que não podia, pois minha mãe havia morrido. Mas ela
queria ser minha amiga. E gostava do senhor. Todos que eu vejo te olharem tem medo,
ou respeito, mas te olhava e gostava do que via. Não do rei, mas da pessoa. Eu sou uma
criança e entendo isso, e tu que é rei não? – Não perca a paciência, Dulce morreu por
ela... – O que fez com ela, papai?
Enquanto isso, nas masmorras... Anahí havia apanhado novamente. Uma voz que
ela não conhecia fazia perguntas, e como ela não sabia responder, apanhava. Por
fim a deixaram. Anahí sentia um misto de dor e enjôo. Por ter os olhos fechados,
doloridos, não viu Alfonso observando, de longe, os braços cruzados, o rosto duro.
O rosto dela oscilou para frente, uma lagrima caindo pela pele machucada,
cansada. Ela não sabia o que era pior: A dor ou o enjôo. A dor era pior, mas ela
vomitou. Não viu, mas era sangue. Só o soube pelo gosto. Outra convulsão veio, e
ela pôs uma nova quantidade para fora, o sangue caindo pelo queixo, direto pro
chão, sujando-lhe o vestido. Na terceira convulsão uma mão fria tocou seu rosto,
erguendo-o sutilmente.
Robert: Respire. – Instruiu. Anahí virou o rosto. Não conseguia, o nariz estava entupido,
a única via que tinha era a boca, que estava cheia de sangue. – Ande, respire. – Instruiu.
Curioso, ele próprio parecia não respirar perto do sangue. Anahí sentiu a outra mão
fazendo meio que uma manobra em seu nariz, apertando-o, e o ar desceu pelo nariz.
Ardeu, mas ela respirou fundo. Tossiu, cuspindo mais sangue.
Alfonso não disse nada ao ver o rosto dela todo lastimado, todo partido,
machucado, ao ver Robert socorrendo-a para que não morresse engasgada com o
próprio sangue. Seu rosto só se tornou mais duro, como se ele próprio estivesse
sentindo dor. Algo dentro de Alfonso queria gritar contra aquilo, queria se rebelar,
queria impedir aquilo. Aquele sentimento lutava fortemente para vir a tona, para
tirar Anahí dali. Mas ele não permitia.
Anahí: Obrigado. – Disse, ofegando, rouca. Havia cabelo seco grudado em seu rosto.
Robert: Em nome de Deus, prefere morrer ao dizer o que sabe? – Perguntou, incrédulo.
Anahí: A questão é que não sei nada. – Falar custava. Os pulmões dela pareciam fora do
lugar.
Robert: Se não abrir a boca morrerá, tu o sabes. – Disse, observando a figura lastimada
a sua frente. Ele podia sentir o coração dela lutado, batendo descompassadamente, de
modo rápido demais, as vezes falhando.
Anahí: Não demorará. – Disse, quieta. Ela parecia ver isso com esperança.
Ela percebeu a presença dele se afastando, e com esforço, ergueu o rosto. Sua nuca
doía. Queria poder enxergar, queria poder vê-lo, mas ninguém veria Alfonso
chorar novamente. Ele tinha de ser forte. Quanta força era necessária para
conseguir deter o amor preso, e deixar que as coisas aconteçam como devem ser?
Alfonso deu as costas. Precisava sair dali, precisava ser rei. E ele deu as costas,
saindo das masmorras. Encontrou Robert parado no corredor, acompanhado de
Ian.
Robert: Dêem água a ela. – Ordenou, e um guarda entrou na masmorra. Não davam
água a ela há 3 dias.
Ian: Nada ainda? – Perguntou, e Robert negou. Alfonso seguia quieto. Todos ouviram
Anahí engasgar e tossir ao receber água. Alfonso continuou impassível.
Robert: O coração dela não vai agüentar muito tempo. Resolvam se vão deixá-la morrer
ou não. – Disse, olhando de Alfonso para Ian. Alfonso pensou no coração de Anahí
perdendo a batalha, no corpo dela frio, imóvel... Tão imóvel quanto Dulce, porém
machucada. Não o suportou e saiu dali, dando as costas. Não conseguiria administrar.
Alfonso: Shhh. – Pediu, e se abaixou, soltando os pés dela. Em seguida a cintura, logo
os braços. Ele a carregou e Anahí gritou de dor ao sentir as pernas se dobrarem. Logo
não as sentia. Ele puxou uma cadeira com o pé, pondo-a sentada com cuidado, e
apanhou seu rosto entre as mãos – Pode me ver? – Perguntou, quase desesperado. Anahí
fez um esforço hercúleo para abrir os olhos. Conseguiu abrir um mínimo e assentiu.
Anahí: Você não ia me matar? – Perguntou, vendo ele rasgando seu vestido, soltando as
amarras, deixando o peito dela livre pra respirar.
Alfonso: Eu ainda vou. Eu acho. Não me faça perguntas agora, eu estou confuso. –
Anahí ficou quieta – Onde dói?
Anahí: Onde não dói? – Perguntou, irônica consigo mesma. – Estou feliz que tenha
vindo.
Anahí: Se está aqui é porque ainda me ama. – Disse, meio lesa pela dor.
Alfonso: Você mentiu para mim. Não há perdão para isso. – Respondeu, molhando a
área dos olhos dela.
Anahí: Mesmo eu tendo mentido, você voltou. Vai me matar no final, mas se importa. –
Disse, e parecia satisfeita.
Anahí: Menti para você, mas não sou a espiã. Veja, estou morrendo sem nem reclamar.
– Alfonso molhou o pano de novo, levando aos olhos dela – Me tranqüiliza, porque
mesmo eu morrendo, você se importou.
Alfonso: A partir de agora ninguém, eu repito, NINGUÉM, tem autorização para bater
nela, nem atá-la. Ela não vai fugir. Deixem-na presa aqui. – Disse, limpando os olhos de
Anahí. Ela olhava ele agora, pelos olhos entreabertos – Se eu descobrir que alguém
encostou o dedo nela, eu juro por Deus, nosso senhor, a pessoa morre.
Ian: E vamos fazer o que com ela? Ela não fala, não há modo. – Ressaltou.
Anahí: Eu estou com sede. – Murmurou, quieta. Os outros saíram, dando as costas.
Apenas Madison ficou.
Alfonso: Você provavelmente vai morrer amanhã. – Disse, largando a água. – Não sei o
que eles vão fazer, mas no final não terá utilidade.
Anahí: Eu sei. Ainda assim você se importou. – Ela não viu nada, só quando ele a
carregou novamente, pondo-a em cima de algo. Era feno coberto. Ele a deitou, e ela
suspirou.
Alfonso: Eu ter vindo não significa nada, Anahí. Não deixei machucarem você por
consideração a memória de tudo o que vivemos. – Ressaltou – Mas não se equivoque.
Eu não confio em ti, eu não vou protegê-la quando chegar a hora. Eu estou com ódio de
você. – Murmurou, quieto.
Anahí queria responder, mas seu cansaço era tão grande que ela desmaiou em seu
sono. Machucada, magoada... Morrendo. Alfonso não sabia o que sentia. Ele
apenas tirou o resto da camisa, cobrindo o colo dela, e saiu dali. Vamos esperar
para ver o que Ian, Madison e Robert tinham a fazer.
Alfonso não pregou os olhos. Era o inferno, novamente. Em um instante ele pensou
ter a plena felicidade: Venceria a guerra, e depois seria livre para ser feliz com
Anahí. Mais feliz do que jamais fora. Então lhe puxaram o tapete, ele teria de
matar Anahí, Suri se negava a comer e dizia o odiar. Era caótico. Anahí, por sua
vez, pensou que sua única noite pelo menos passaria dormindo. Com sorte seus
sonhos seriam lembranças, lembranças dos dias felizes que tiveram ali. Mas o
“interrogador”, Anahí não sabia seu nome, voltou de madrugada, e tornou a fazer
as perguntas. Ela não soube responder, e apanhou novamente. Uma vez deitada ele
lhe dava pontapés na região do ventre, lhe esbofeteava, esmurrava-lhe o rosto,
puxava-lhe o cabelo. Ela não tinha força pra mais nada.
XXXX: Meu filho está no maldito campo de batalha e esta guerra não termina porque
você não abre a boca. – Rosnou, trazendo o rosto dela pelos cabelos.
Anahí: Eu juro em nome de Deus, eu não sei. – Disse, rouca. A cabeça dela foi
arremessada com força de volta ao chão, se batendo brutalmente na parede. Sangue
fresco brotou da raiz do cabelo dela, descendo pela parede. Anahí sentiu a visão
escurecendo. Estava morrendo? Ela não conseguia respirar direito. Alfonso, eu te amo.
Não conseguia se mover, o sangue desceu pelo seu rosto...
Alfonso: Não poderá alegar que eu não avisei. Aliás, não poderá alegar nada. – Disse, a
voz cortando o silencio. Anahí quase não ouvia, mas ouviu um barulho de osso
quebrando, depois de um baque no chão. Era o osso de uma coluna, na região da nuca.
Alfonso quebrou o pescoço do homem, que bateu no chão, morto. – Ei. – Disse, se
ajoelhando. Anahí estava mais lá que cá.
Anahí: Não sou... Não sou a espiã. Eu juro. Não sei... – A voz dela falhou – Não sei de
nada.
Anahí: Estou morrendo. – Disse, puxando ar. As vezes fugia a cabeça dela com quem
ela estava falando, ou o que, mas então lembrava – Não consigo segurar muito... Muito
mais. – A voz dela era baixa – Posso pedir algo?
Anahí: Fique comigo. – Pediu, ainda assim – Está tão frio. Eu estou com medo. Não
me... Não me deixe sozinha aqui. Por favor.
Alfonso a olhou, os olhos se inundando de novo. Não estava fazendo tanto frio,
nada mais que o normal. Ela sentiu ele se sentando ao lado dela, pondo sua cabeça
em seu colo, e quase sorriu. Sorriria se lembrasse como era. Alfonso tocou o
pescoço dela, ensangüentado, e suspirou. Estava febril. Ele apanhou a capa que
trouxera pra ela (O que o fez descer da torre a inicio), e a cobriu.
Alfonso: Posso pedir algo? – Novamente ele estava chorando e ninguém via. Dessa vez
ele não secou o rosto. Anahí assentiu uma vez só. – Não morra. – A voz dele falhou no
final, mas ela não notou.
Anahí: Vou tentar, porque você pediu. – Ela respirou fundo – Se eu não conseguir... Me
perdoe.
E ela dormiu. No primeiro impacto ele entrou em pânico, achando que ela não
tinha resistido, mas ela suspirou. A noite foi tortuosa. Ele não fechou os olhos nem
um segundo. A noite pareceu se arrastar, cada vez mais lentamente... Ele queria
que ela acordasse. Tê-la mole daquele jeito não lhe trazia um bom sentimento. Ele
só soube que amanheceu quando houve movimento do lado de fora. Logo entraram
Ian, Robert, Madison e Christopher, que não se aproximou. Ambos observaram a
cena.
Alfonso: O que vão fazer com ela? – Perguntou, meio que na defensiva.
Madison: Nós só queremos a verdade, Alfonso. A vida dela não me tem valor, fique
tranqüilo. – Disse, quieta. Ela passou pelo cadáver do guarda, olhando. – Ela está quase
morta. – Concluiu, olhando Anahí – Dará tempo? – Madison usava um vestido grafite, e
luvas que iam até o cotovelo.
Ian: Dará. – Ele se aproximou. Alfonso o encarou, os olhos sendo duas pedras – Eu só
vou colocá-la na cadeira.
Anahí: Eu consegui. – Disse, parecendo satisfeita, olhando para Alfonso. Ele assentiu
uma vez, sorrindo de canto. Ian puxou uma cadeira, sentando-se em frente a Anahí e
curvando-se para ela. Madison se aproximou, tirando uma das luvas. Anahí sentiu um
toque frio em seu pescoço, como o sopro de um congelador, e olhou, mas era uma mão
cinzenta. Ela olhou para Alfonso. Estava assustada.
Alfonso: O que estão fazendo? – Perguntou, confuso. Madison tocava Anahí, Ian
observava seu rosto e Robert esperava, um pouco afastado, de braços cruzados, olhando
o chão, como se ouvisse uma história.
Ian: Olhe para mim. – Disse, trazendo o rosto dela para si. A falta de resistência
denunciava a fraqueza dela. Anahí franziu o cenho. Havia algo estranho nos olhos de
Ian – Você vai continuar me encarando, e vai me dizer a verdade. – Anahí assentiu.
Alfonso olhou para Christopher, incrédulo, mas esse apenas dispensou com a cabeça. –
Como é o meu nome?
Anahí: Ian Joseph Somerhalder. – Respondeu, encarando-o. O que era aquilo nos olhos
dele?
Anahí: Anahí Giovanna Puente Portilla. – A voz dela ainda era rouca, mas ela encarava
Ian, e respondia fluidamente.
Anahí: Não. – Respondeu, encarando-o – Eu fugi para cá. – Robert continuava olhando
o chão, e Madison parecia alheia.
Ian: Você nos entregou em Willow Creek? – Perguntou, sério. Ainda a encarava.
Anahí: Eu não queria que Alfonso fosse, mas ele foi. Eu estava com medo, nervosa.
Quebrei o retrato de Dulce María, no quarto dele, pois se não fosse por ela, ele não iria.
– Alfonso ergueu a sobrancelha – Depois limpei tudo e escondi o retrato quebrado. Por
ultimo fui rezar, pedindo que ele voltasse. – Relatou.
Anahí: Não. – Negou, convicta – Nunca disse nada a ele sobre o que vi e ouvi aqui. Eu
nunca sai do castelo desde que cheguei. – Madison tirou a mão do pescoço de Anahí,
calçando a luva de novo.
Anahí: Eu amo tanto Alfonso que estou abdicando minha vida em silencio, por ele. Eu
não o prejudicaria. Eu até tentei matar Paul, só para que a guerra acabasse. Não sou a
espiã, não sei quem é. – Ian a encarou em silencio, por um instante.
Ian: O que quer dizer com isso? – Perguntou, calando o protesto de Alfonso.
Anahí: Há uma planta. Uma flor, para ser mais especifica. É o que foi servido a Dulce,
antes de sua morte. Pode devolver as pernas da menina. – Respondeu, quieta. Os olhos
de Ian pareciam dilatados.
Ian: E então?
Anahí: O que foi servido a Dulce foi um chá, fraco, apenas com o extrato da flor. Era o
que a faria dormir. Mas acredito que tirando o sumo do caule e o ministrando direito
remova o dano que fez a Suri.
Alfonso: Eu a matei mandando o médico lhe abrir a barriga para retirar Suri. Ela... Ela
me pediu. Eu achei que já estivesse morta, mas ela estava viva o tempo todo, sentiu
tudo. Meu Deus. – Ele pôs as mãos nos cabelos, completamente fora de si – Eu a matei.
Anahí: No jardim do castelo de Paul. Apenas lá. Ele as cultiva como em um deboche
pelo que fez. É uma flor simples, muito bonita, de pétalas brancas. É importante que se
arranque da raiz. – Comentou, distraída – O jardim dele é coberto delas, porque foram
graças a ela que ele conseguiu começar a guerra.
Ian: O que devo fazer ao ter a flor? – Anahí não notou que contando a verdade estava se
tornando dispensável.
Anahí: Despreze as pétalas. Se ela tomar as pétalas pode morrer. Extraia o sumo, como
um xarope, e o administre. Ela começará a sentir os impulsos. Não é certo, mas acredito
fielmente nisto. – Disse, quieta.
Christopher: Você vai arriscar nisso? – Perguntou, olhando Alfonso. Mas este ainda
estava muito aturdido. Eu matei Dulce María, eu matei Dulce María, eu matei Dulce
María...
Ian: Tem certeza de que isso não vai envenenar a menina? – Perguntou, os olhos fixados
nela.
Ian: Tudo o que você me disse é verdade, Anahí? – Perguntou, os olhos mais intensos
que nunca.
Ian: Ela disse a verdade. Não é ela, não sabe de nada, que inferno! – Robert apenas
assentiu como um “Eu sei tanto quanto você”. – O que vamos fazer com ela?
Madison: Deixe ela aqui. Tranquem a porta. Se não morrer, não terá estado de fugir. –
Instruiu. Ian ia protestar, mas Madison apontou sutilmente para o estado de Alfonso –
Depois. – Ian assentiu.
Ian apanhou Anahí no colo, e ela gemeu novamente. A deixou em sua cama
improvisada de palha. Todos saíram, Madison ficou novamente. Ela observou
Anahí caída, machucada, coberta de sangue.
Madison: Sinceramente. - Anahí a olhou - Você sabia que isso ia acontecer, que ia
morrer. Porque se deixou envolver por ele?
Anahí: Porque eu amei. - Ela estava rouca novamente - Desde o primeiro momento até o
ultimo. Cada gota de sangue que eu perdi aqui valeu a pena por que eu o amei. - Ela
respirou fundo - O amei desde que pus os olhos nele, e vou amá-lo até que ele feche os
meus olhos. - Madison assentiu.
Anahí: Eu não sinto quase nada. Meu pai sempre me disse que as coisas estão ruins
quando você não consegue sentir. - Contou, se lembrando do pai - Talvez o conselho
não precise me condenar.
Madison: Que final romântico, morrer de amor. - Comentou e Anahí sorriu e canto.
Madison deu as costas, saindo dali.
Anahí havia desmaiado novamente antes que fechassem a porta, tendo levado
Alfonso, completamente fora de si, transformado em dor. Haviam duas questões:
Se valia a pena arriscar por Suri, e se Anahí ainda estaria viva quando alguém
retornasse ali.
Era madrugada. Alfonso não saiu do quarto, não falou com ninguém. Havia
matado Dulce. Mas o que ele podia fazer? Achou que ela estava morta, Deus,
estava fria e sem pulsação! E ela pediu para salvar o bebê, ele tinha que obedecer!
Dera a ordem do parto forçado (vulgo cesariana), sem ter a mínima noção de que
ela sentiria todas as dores, todos os cortes, tudo. E ela o sentiu, sem poder se
expressar. O remorso o corroia em todos os seus poros, tirava sua paz. E havia
Anahí. E a guerra. Deus, que inferno! E se Suri morresse em uma tentativa dele
salvá-la? Enquanto isso, em outro quarto do castelo...
Christopher e Madison se aprontavam para dormir. Ele tinha o peito nu, estava de
calça, descalço, e coçava o cabelo distraidamente, lendo algo. Tinha mania de fazer
isso. Uma vez livre de todos os adereços, Madison parecia ter uma tonalidade meio
cinzenta. Enquanto as mulheres ainda usavam camisolas de algodão, Madison
usava seda pura, negra, tão pura que parecia flutuar. Enquanto as outras usavam
gola alta, mas a dela eram decotadas. Os cabelos caiam, lisos, até a cintura,
passando pelos braços pálidos, quando ela o abraçou pelas costas.
Christopher: Anjo. – Disse, simples, sentindo as mãos frias dela abraçando-o, tocando
os músculos da barriga delicadamente.
Christopher: Como?
Madison: Eu não tenho voz no conselho, mas tu sim, e teu voto é o que mais pesa. - Ela
beijou o ombro dele - Quero que quando chegue a hora, interceda por ela. Não permita
que a matem.
Madison: Porque eu entendo a razão. Entendo o amor. Porque eu o faria por você, sem
pensar duas vezes. - Ela beijou a orelha dele - Morreria por você, Christopher. - Ele se
virou, abraçando-a.
Christopher: Está tudo bem. Se é o que você quer, não a matarão. – Disse, abraçando-a
– Não permitirei. Você está sentimental. – Observou.
Madison: Apenas estou feliz pois o homem que eu amo é auto-suficiente. – Disse,
sorrindo, e o beijou. Havia uma promessa ali.
Alfonso: Eu fui vê-la. Está viva. – Disse, parado, olhando pro nada. Estava branco, e
cheio de olheiras.
Ian: Uma vez que ela já disse tudo o que sabe, não há porque se manter. Ela mentiu. –
Disse, e não havia nenhum traço de sua felicidade ali. Eram dois votos contra. Nada
bom.
Christopher: Ela será absolvida. – Disse, olhando o tampo da mesa. Parecia entediado.
Christopher: Madison rogou por ela. – Disse, tranqüilo – Anahí mentiu para sobreviver,
não nos traiu, e não oferece mal. Não há motivo para uma execução.
Ian: E os caprichos de tua mulher contam como voto agora? – Perguntou, debochado.
Robert: Alfonso. – Chamou, e Alfonso o olhou. Ele precisava votar. – Você deve ser
imparcial. – Lembrou.
Christopher: Não há como ser imparcial nesse caso. – Impôs. Se Alfonso votasse contra
Anahí Christopher teria que armar um motim para atender Madison. Se votasse a favor,
teria ganho.
Ian: Eu fui criado para não ter sentimentos. – Disse, sem parecer satisfeito com isso – E
para que todos sentimentos fossem sobrepostos pelo bem maior. Eu fui criado para ser
um rei.
Alfonso: Como ter força para ordenar a morte da mulher que você mais amou na vida? –
Perguntou, os olhos vagando. Christopher se recostou, satisfeito – Anahí é a mulher da
minha vida, não vou ordenar sua execução. Não sou forte o suficiente. Se isso me
desqualifica, então eu sou um péssimo rei. Esse é meu voto. Ela vive. – Disse, se
levantando.
Katherine: Ela está morta? - Perguntou, olhando o marido. Ian apenas a abraçou.
Alfonso: ANAHÍ! - Rugiu, sacudindo o corpo imóvel dela. Os olhos azuis, antigamente
cheios de alegria, estavam opacos, olhando o nada.
Alfonso: NÃO! – Rugiu, apanhando-a nos braços – Ei, acorde. Você prometeu.
Prometeu pra mim. Acorde. – Murmurou, se balançando com ela no colo. Anahí não se
moveu. Alfonso caiu no choro. Dessa vez não negou, ou ocultou. Ele apanhou o rosto
dela entre as mãos, buscando algo, mas não havia nada. Ele ergueu a mão, os dedos
trêmulos, e fechou os olhos dela, em seguida unindo as testas dos dois, soluçando em
seu choro. Deus, o que havia feito?
“Eu o amei desde o momento em que coloquei os olhos nele até o momento em que ele
fechar meus olhos.”
Alfonso: Que está fazendo? – Perguntou, a voz rouca pelo choro, confuso. Então,
parecendo encontrar o que procurava, Madison deu impulso contra o peito de Anahí
com a mão. Uma vez, duas, três...
Madison: Sopre ar para ela. – Ordenou, parando o movimento. Alfonso nem pestanejou:
Levou os lábios aos dela, lhe dando tudo o que seu pulmão tinha. Quando a deixou seus
lábios estavam cobertos de sangue, e Madison já impulsionava contra o peito de Anahí
de novo. Robert deixou a cabeça cair pro lado, como se aguardasse ouvir algo – De
novo. – Alfonso tomou ar e se abaixou de novo, unindo os lábios com os dela,
enchendo-lhe os pulmões.
Madison forçou a mão de novo. Porém, na segunda vez, Anahí tossiu. Robert
sorriu, tendo encontrado o som que procurava, pouco antes do tossido. Alfonso
olhou, meio suspenso. Christopher riu consigo mesmo. Madison investiu no peito
dela seguidamente e rapidamente agora, como se quisesse que os batimentos
cardíacos se acelerassem energeticamente. Pouco tempo depois Anahí tossiu de
novo, e abriu os olhos. Madison a largou, se afastando.
Alfonso: Você voltou. Graças a Deus. – Ele encostou a testa na dela de novo.
Alfonso: É claro que voltou. – Madison se levantou, dando privacidade aos dois.
Anahí: Eu prometi. – Disse, forçadamente orgulhosa. Alfonso riu, tremulo.
Madison: Eu não aceito perder. – Disse, simples. – Eu disse que ela vive, logo, ela vive.
Preciso me trocar. – Comentou, divertida, com seu vestido todo manchado de sangue.
Alfonso: É claro que você prometeu. Eu vou tirá-la daqui. – Disse, passando a mão por
baixo dos joelhos dela com cuidado.
Alfonso: Não vou mais não. – Anahí tentou rir, mas terminou tossindo – Cale a boca,
antes que eu mude de idéia. – Blefou e ela assentiu uma vez, fraca. Ela gemeu de dor
quando ele a carregou – Vai passar. – Prometeu, e ela assentiu. Ele desviou dos outros,
saindo dali apressadamente.
Anahí não soube para onde estava indo. Estava tonta, seu corpo doía. Havia
apanhado TANTO nos últimos dias! Todos os seus músculos pareciam
empedrados, e os ossos deslocados. Seu rosto... Deus, seu rosto! Estava tudo
dormente, inchado, os olhos inchados, a pele sensível, machucada. O auto estima
dela doeu e ela passou a língua nos dentes, conferindo-os. Quase sorriu ao senti-los
todos inteiros e no lugar. Ela ouviu Alfonso pedindo pelo medico dele (o médico
que atendia a realeza) e comida, então subiram escadas. Houve barulho de água
caindo. Ele a colocou sentada em um banquinho, e suas roupas foram rasgadas.
Todas elas. Uma vez nua, ele a colocou em uma banheira. Anahí gritou ao sentir a
água em seus cortes, ardendo, queimando.
Alfonso: Shhh. Vai passar logo, eu prometo. – Anahí gemeu, mas não disse nada.
Ele deu banho nela com cuidado. Precisou trocar a água varias vezes. Alguns
cortes recomeçavam a sangrar ao serem lavados. Ele trouxe água aos cabelos dela,
que gemeu novamente ao sentir a água em seu couro cabeludo. Pareciam haver
cortes em todos os cantos. O cabelo desgrudou do rosto, e aos poucos o banho fluiu.
Anahí se sentia um pouco melhor. Alfonso não. Podia ver os roxos enormes, a
boca, o nariz e a sobrancelha partidos.
Alfonso: Estou falando sério. Fiquei cego de fúria pela mentira, não consegui pensar.
Você sabe, sou uma anta. – Anahí sorriu.
Anahí: Eu sabia que esse dia aconteceria. Agora me sinto leve. Eu não tenho mais nada
para esconder, estou livre. – Disse, olhando a água – E no final eu nem morri.
Alfonso: Eu não seria capaz de matá-la. Apesar de tudo eu amo você. – Anahí sorriu,
olhando a água. Então...
Anahí: Me trouxe pro seu quarto? – Perguntou, olhando em volta. Era a sala de banho
da torre de Alfonso.
Anahí: Levei uma baita surra, estou moída. E tenho fome. – Alfonso sentiu, com uma
pancada de remorso, que ela não comia há dias.
Anahí: Porque?
Alfonso: Primeiro, porque pedi você em casamento. Depois, porque no conselho votei
contra sua execução. – Explicou, lavando o colo dela. Ele ignorou os seios, tão
delicados, com manchas roxas. Quando os lavou usou todo o cuidado para não
machucá-la.
Alfonso: Eu não sei. Ninguém em minha linhagem foi a julgamento. Talvez eu perca a
coroa. Talvez me exilem. Talvez até me matem, por ato indecoroso perante a coroa. –
Anahí franziu o cenho. – Consegue se erguer?
Anahí se afastou um pouco e ele a lavou com a esponja delicadamente por sua nuca
e as costas.
Anahí: Não quero que se prejudique por mim. – Apesar da dor que sentia, Anahí estava
estranhamente feliz por não ter mais o maldito segredo entre os dois. Porém ela também
reparara que os dois não eram mais um casal, como antes. Algo estava ausente ali.
Alfonso: Eu não me importo. – Disse, apanhando uma das pernas dela, lavando-a.
Alfonso lavou todo e cada pedaço do corpo dela, livrando-a do sangue e das
lembranças. Ele se reprimiu ao lavar-lhe a intimidade e os seios, como uma criança
que vê seu brinquedo favorito mas está proibido de brincar. Por fim a enxaguou. A
água ficou vermelha, e ele puxou o ralo.
Foi engraçado Alfonso escovando os dentes de Anahí. Ela ria as vezes, ele ralhava
com ela, e ria em seguida. Depois que ela estava totalmente limpa, o corpo, o cabelo
e os dentes, ele encheu a banheira com água quente e óleos perfumados, deixando-a
relaxar. Alfonso só saiu por um instante: Para buscar roupas para ela. Quando
voltou, a carregou para fora da banheira, secando-a e vestido-a. Em seguida foi
outro processo: Pentear-lhe os cabelos. Anahí tinha os cabelos longos, e estavam
embaraçados. Alfonso não tinha o menor jeito com isso, mas não desistiu até ver os
cachos úmidos cuidadosamente penteados. A surpresa dela foi quando ele a
colocou em sua cama, bem no meio, após afofar os travesseiros. Anahí suspirou,
satisfeita, ao ser acolhida na cama. O medico veio e a consultou, recomendando
alguns chás para dor. A medicina era muito obsoleta naquela época, não tinha
como diagnosticar nada direito. Depois que o medico se foi, Alfonso levou uma
bandeja enorme de comida a Anahí, que comeu, satisfeita. Depois lhe deu o
primeiro chá que o medico receitou. Era pra ser uma xícara, mas Alfonso levou
um copo enorme. Anahí estava empanturrada no final. Não sentia mais fome, ou
sede. Só doía quando ela se mexia. Ele se aproximou, puxando os cobertores pra
cima dela, e em seguida foi atiçar o fogo da lareira. Anahí estava quase dormindo
quando ele se virou para ela.
Alfonso: Se sentir alguma coisa, qualquer coisa, apenas olhe para mim. – Disse,
puxando uma cadeira.
Anahí: Não seja... – Ela bocejou – Tolo. Deite aqui, a cama é enorme. – Disse, cada vez
mais sonolenta.
Anahí: Não. Juro que não. – Alfonso a observou – Você devia ter me matado. Qualquer
um teria me matado. Ian, Robert, Christopher... Teriam me matado do modo mais
doloroso. Mas não tu. Eu menti para você, e você me deixou viver. Eu sou grata por
isso. – Ela estava quase dormindo – Eu o puxaria para cama, mas não tenho força. –
Disse, derrotada.
---*
Anahí dormiu. Muito. Alfonso não deixava ninguém nem olhar na direção dela,
logo era ele que lhe dava os chás, no tempo certo. Mas ela dormia segundos após
ser colocada de volta a cama.
Estava pálida, o que destacava as manchas roxas e os inchaços, e os cabelos
cacheados estavam soltos a sua volta, nos travesseiros brancos. Alfonso estava
agoniado.
Alfonso: Eu estou aqui. – Disse, segurando a mão dela, que o olhava, sonolenta. Ela
tivera convulsões durante a madrugada e chegou a tossir sangue, mas não vomitou. –
Qualquer coisa... – Interrompido.
Christopher: Pense nas surras que ela levou e deixe-a dormir. Antes adormecida que
morta. – Assinalou.
Madison: Porque acredite, você não ia querer que eu tivesse o sangue dela em meus
lábios. – Respondeu, se aproximando da cama, e Christopher riu gostosamente. Ela
tocou a veia do pescoço de Anahí, observando suas feições – Você a alimentou?
Madison: Só está fraca. – Disse, observando – E esse osso está quebrado, alguém não
devia ter tomado uma providencia? – Perguntou, apanhando o braço de Anahí
sutilmente. O pulso realmente estava em um ângulo estranho.
Alfonso: Defenderá?
Christopher: Acredito que Ian e Robert também. Você não fez nada, não merece ser
punido. – Disse, com as mãos nos bolsos – Eu não entrei nessa guerra para perder. –
Resumiu.
Alfonso: Você entrou? – Perguntou, admirado.
Alfonso: Obrigado. – Christopher assentiu. Nessa hora Madison voltou. Trazia algo
branco nas mãos.
Aparentemente Madison rasgara um espartilho seu, o que lhe dera bastante tecido,
e uma espátula de aço. Ela apanhou o pulso de Anahí, pondo a espátula cumprida
(ia da mão até perto do cotovelo) debaixo do braço dela. Anahí se remexeu quando
Madison sutilmente pressionou seu pulso, levando o osso torcido de volta ao lugar.
Em seguida atou todo o braço dela com o linho branco, imobilizando fortemente,
mantendo a espátula lá. Anahí havia voltado ao seu sono. No final ficou como
engessado, tudo perfeitinho, nem uma linha fora do lugar.
Madison: Eu preciso de apoio antes que as costelas dela comecem a se reagrupar fora do
lugar. – Disse, parecendo falar consigo mesma. – Christopher, me ajude?
Anahí: Estou olhando para você agora. – Disse, olhando Alfonso. Aquilo doía.
Alfonso: É pro seu bem. Me perdoe. – Disse, e ela respirou fundo, sentindo Christopher
deixar o corpo dela relaxar sob o travesseiro. A dor começou a ceder.
Madison: Isso não é permanente, mas se seguir assim não demora muito. – Observou.
Alfonso: Sua beleza é imutável. Segue linda. – Disse, beijando a mão dela - Nunca vou
cansar de pedir perdão.
Anahí: Quando eu melhorar, lhe esbofetearei sempre que você insistir em pedir. – Disse,
e ele sorriu – Não há o que perdoar.
Nesse instante bateram na porta. Alfonso deu autorização para entrar. Era uma
criada.
Alfonso: Ela entrou em greve de fome desde que sumiste. Aliás, em greve de tudo. Eu
sabia que isso ia acontecer. – Rosnou consigo mesmo – Ficará bem?
Anahí: Estarei dormindo antes que chegue ao quarto dela. – Prometeu, sorrindo. Ele
assentiu, urgente.
Alfonso: Mas que diabo, falei a você, não falei? - Perguntou, irritado.
Suri: Não vou comer e ponto. Papai, não insis... – A menina suspirou... E desmaiou de
novo.
Alfonso: Você é uma gracinha, Ian. – Disse, passando o algodão perto do nariz de Suri.
Aos poucos a menina despertou. Alfonso suspirou – Já não vê que não pode brigar
comigo?
Ian: A tenacidade dela um dia ainda vai ser útil. – Disse, observando-a.
Alfonso: Por suposto que para mim não é. – Rebateu, erguendo a sobrancelha.
Suri: Não preciso de remédios. E se fosse verdade o senhor teria me dito antes. – Impôs.
A menina piscou uma duas vezes e Ian riu novamente, vendo-a desmaiar.
Alfonso: Menina, ainda sou teu pai! – Lembrou, incrédulo. A criada entrou com a
bandeja, servindo-a na frente de Suri.
Suri: Dois meses. – Lembrou. Alfonso assentiu e ela se pôs a comer. Ele suspirou,
aliviado.
Enquanto isso, na torre mais alta... Anahí dormia o sono dos justos. A torre de
Alfonso era confortável, o clima era gostoso, fazia frio, pela chuva. Ela tinha
sonhos felizes. Em seu sonho, Alfonso segurava os braços dela, os dois rindo
gostosamente enquanto ele tentava fazê-la cortar lenha. Havia um sorriso de canto
no rosto dela. Nina não gostou desse sorriso.
Nina: Faz o que fez, é absolvida e ainda vem parar aqui, tratada assim. – Disse, em um
murmúrio para si própria – Não há justiça nisso. Eu vou te mostrar, “vossa alteza”.
E ela apanhou um travesseiro, afofando-o. Anahí não se moveu. Nem quando Nina
avançou sobre ela, levando o travesseiro em direção ao seu rosto, na intenção de
sufocá-la.
Alfonso: Srta. Dobrev. – Disse, a voz cortante, parado a porta, e Nina se sobressaltou,
virando-se – O que pensa estar fazendo?
Nina: Nada, senhor. – Respondeu, ainda tremula pelo susto – A porta estava aberta.
Entrei para ver se ela precisava de algo. – Alfonso a olhou por instantes, os olhos
insondáveis.
Nina: Sim, senhor. – Ela soltou o travesseiro na cama, dando uma ultima olhada em
Anahí, e saiu. Alfonso fechou a porta, suspirando. Teria que se dividir em 50 agora? Ele
se aproximou da cama, preocupado, mas Anahí dormia profundamente. Ele se sentou,
cansado, e respirou fundo.
Alfonso: Fora a teimosia, está. – Disse, tirando um cacho do rosto de Anahí – Ainda
sente sono?
Alfonso: Pro diabo com os problemas. A torre é minha e você fica aqui. – Dispensou, e
ela sorriu.
Alfonso: Eu quase te mato e você se preocupa comigo. – Disse, negando com a cabeça –
Eu estou bem. Volte a dormir.
Anahí: Se deite aqui e durma comigo. – Ela se esforçou e estendeu o braço bom, numa
tentativa falida de abraçá-lo. Alfonso apanhou o braço dela, repreendendo-a com o
olhar, e o pôs no lugar.
Anahí ia perguntar o que foi, mas ele empurrou os sapatos, se deitando do lado
dela, e a abraçou pelo ombro com cuidado, beijando-lhe a testa. Ela encostou a
cabeça no pescoço dele, desfrutando de seu perfume, e logo ambos dormiam.
Simples assim.
A recuperação de Anahí foi muito mais demorada e muito mais sofrida do que
Alfonso gostaria. O medico detectara realmente os ossos partidos.
Agora ela tinha o pulso engessado, e grandes tiras de atadura em volta das costas,
comprimindo-as no lugar. Mal conseguia respirar, coitada. Os roxos foram se
tornando azulados, que se tornaram amarelos, até que aos poucos sumiram. Mais
de um mês se passou. Suri agora tinha um caderninho onde marcava os dias até o
prazo final do pai. Alfonso revirou os olhos para isso. A menina, infelizmente,
herdara a tenacidade dele. Anahí já não sentia tanto sono, mas não havia muito
(lê-se nada) que pudesse fazer, então ficava olhando o dorsel da cama. Alfonso não
saia do lado dela. Deixara até a guerra de lado.
Anahí: Engraçado. – Disse, certa vez. Alfonso notou que ela respirava superficialmente,
pela boca, e desejou ter encontrado outro modo para curá-la do que as ataduras.
Anahí: Você sabe minha verdade agora. Toda ela. – Começou, mas parou para respirar.
Anahí: Na verdade, eu tinha certeza de que ia morrer. Assim que você soubesse. Nos
últimos dias, depois de ter lhe dito não, eu considerei se viver valia a pena sob aquelas
circunstâncias. – Ela parou para respirar novamente – Muitas vezes o tive em meus
braços com medo de que você descobrisse a verdade, e aquela fosse a ultima vez. – Ela
parou novamente, tomando um sopro de ar – E eu nem morri no final.
Alfonso: Não morreu nem morrerá. Pare de repetir isso. Logo se livrará do gesso e tudo
correrá bem. – Disse, e ela sorriu, olhando-o. Estava pálida, devido ao longo tempo sem
movimento e longe do sol.
Alfonso: Pelo amor de Deus, você está com febre? – Perguntou, exasperado, levando a
mão a testa dela, que riu – Se não parar de repetir isso vou lhe amordaçar. – Ela riu mais
ainda, parando pra tomar um grande gole de ar. Ele sorriu, se sentando de novo em seu
lugar, e o silencio reinou.
Alfonso: Então ele vai morrer. – Resumiu o obvio, beijando o cabelo dela, que sorriu.
Anahí: Ele matou meu pai, Alfonso. – Alfonso se lembrou do dia da morte do pai dela –
Minha mãe ainda está lá. – Ela respirou fundo – A qualquer hora, por puro capricho,
pode resolver matá-la. Não suportarei se acontecer.
Alfonso: Porque mantendo-a viva ele nutre a esperança de que você volte para buscá-la.
Ele está esperando por isso. – Anahí observou por esse ponto – Algo que notoriamente
também não vai acontecer. – Disse, vendo a expressão dela. Anahí sorriu.
Os dois ficaram em silencio por minutos. Até que Alfonso não agüentou.
Alfonso: Anahí. – Ela levou os olhos até ele – O que você disse sobre Suri. – Ela
esperou – Sobre a flor que me fez... Que eu pensei... – Ele hesitou.
Anahí: Sobre a flor que matou Dulce. – Completou, e ele a encarou, os olhos verdes
atordoados. Ele respirou fundo, e tentou assentir.
Alfonso: Eu nem consigo falar sobre isso. – Disse, se interrompendo, e olhou para
frente.
Alfonso: Eu dei a ordem. O medico... O medico abriu a barriga dela, com uma lamina.
Eu não me importei porque pensei que ela já estivesse morta, eu assisti tudo. E no final
ela estava lá, viva, sentindo tudo. Cada corte, todas as dores... – Ele hesitou, passando a
mão no rosto – Eu a matei.
Anahí: Você não tinha como saber. Fez o que ela mandou, fez o que achasse melhor. –
Ela apanhou a mão dele, enlaçando os dedos – Não se culpe por algo que não podia
evitar. Veja, ela terminaria morrendo sem poder tirar o feto morto de dentro de si. –
Mentira. Ela entraria em trabalho de parto induzido. A expulsão seria mais dificil, mas
ela sobreviveria. Mas Alfonso não sabia. Ele a encarou.
Alfonso: O que disse sobre a flor que incapacitou Suri. – Ela esperou – Aquilo pode
curá-la?
Alfonso: É só disso que eu preciso saber. – Encerrou, respirando fundo. Problema seria
só conseguir transpassar as barreiras do castelo de Paul.
---*
Robert: Problema não vai ser entrar lá, problema vai ser sair. – Dias haviam se passado.
Anahí dormia. Alfonso velava seu sono, como sempre. Os reis discutiam como ir buscar
a condenada flor.
Madison: Não sei porque vocês vêem isso como um problema. É surpreendentemente
simples. – Disse, parecendo entediada.
Robert: Nem todos nós temos o dom de nos embrenhar na escuridão. – Madison riu.
Anahí: Eu vou. – Disse, e Alfonso a olhou. Ele ergueu a sobrancelha e levou as mãos,
fechando os olhos dela.
Anahí: Me escute. Alfonso! – Todos esperaram e Alfonso, de mal gosto, tirou a mão –
Inventem uma mentira. Como se...
Alfonso: Não.
Anahí: Como se eu tivesse ido lá enviar algum recado. – Tentou. – Qualquer mentira.
Alfonso: Não.
Ian: Olha essa briga de galinha aqui para não quebrar meus ovos. – Interrompeu a
discussão. Madison ria gostosamente.
Madison: Eu adoro esse castelo. – Disse, divertida, e Christopher sorriu ao som da voz
dela.
Alfonso: Não. – Disse, entediado. Anahí rosnou – Quieta. – Ela fechou a cara para ele.
Madison: Vocês podem me deixar ir. Eu vou e volto ainda hoje. – Se ofereceu,
sorridente.
Madison: Já fiz isso antes. – Lembrou. Christopher virou o rosto, e o olhar dele a fez se
calar, mesmo a contragosto.
Anahí: E eu, simplesmente, vou fugir. – Rebateu e dessa vez Ian que gargalhou. – Já o
fiz uma vez, com sucesso. – Lembrou.
Ian: Eu amo ela. – Comentou. Alfonso ainda encarava Anahí, sem palavras.
Christopher: Está decidido então, ela vai. Porém, senhores, ladies... Em nome de Deus,
nosso senhor, não digam isso a ninguém. Se o espião souber Paul vai saber, e então eu
não garanto a volta dela. – Pediu, obvio, e todos assentiram.
Alfonso ainda reclamaria, e muito, mas no final perderia para a maioria: Anahí
iria. Era o único modo.
Demorou mais três semanas até termos algum progresso. Suri lembrava,
freqüentemente, que o pai só tinha mais uma semana em seu acordo. Foi a essa
altura que os médicos liberou Anahí das ataduras, recomendando-a apenas que
não fizesse movimentos bruscos na primeira semana. Ela arfou, sentindo-se arder,
e ele a olhou, preocupado. Anahí vestia um bustiê e a roupa debaixo, a barriga
branca agora exposta.
Alfonso: Mas porque? – O medico hesitou. Não havia explicação para essas coisas.
Madison: É apenas o sangue correndo solto pela pele. Já vai passar. – Disse, com um
livro na mão, parada do outro lado. Anahí e Alfonso a olharam – É só sangue,
acreditem. – Tranqüilizou, satisfeita, voltando ao livro. Os dois ainda a olhavam, meio
suspensos... DE ONDE ELA SURGIRA? Anahí olhou pra Alfonso e perguntou, muda:
Ela estava ali? Mas ele deu de ombros.
Medico: Bom, pode voltar as suas atividades normais. Sua mão, no entanto, demorará
mais algumas semanas. Repouse uns dias, fará bem.
Alfonso: Graças a Deus. – Agradeceu – Ei, não estique tanto. – Anahí o encarou,
incrédula. Ela se deitou novamente, se espreguiçando, obviamente desobedecendo, e ele
suspirou – Sempre teimosa.
Alfonso: Não tenho dormido bem. Remorso não é um sentimento fácil de lidar, e eu o
tenho de sobra. – Disse, e tocou o nariz dela – Mas estou feliz de que estejas se
recuperando.
Alfonso: Não. Apenas alguns... Muitos fatores. – Disse, os dedos brincando com a pele
da barriga dela, agora vermelhinha. Sangue.
Anahí: Quantas vezes eu vou ter que repetir... – Perguntou, suspirando, cansada.
Alfonso: Cada vez que eu puser os olhos em ti vou sentir remorso pelo que te fiz. Fui
um monstro, e você nem era culpada. – Disse, os olhos distantes – É essa história toda.
Reis não sentem. Agem com a razão, não com a emoção. Só não sentem. Se um dia eu
tiver um filho... Não farei isso com ele, mas a vida fará. É um fardo.
Anahí: Será um ótimo pai, como o é para Suri. – Disse, acariciando a olheira dele. O
carinho entre os dois era natural, acontecia mesmo sem ser planejado. Alfonso riu de si
próprio.
Alfonso: É claro, Suri a propósito está com uma greve de fome para começar na semana
que virá. – Lembrou, Anahí riu de leve – Quando você sumiu, ela disse que me odiava.
– Disse, e hesitou – Mais um ponto em que eu fracassei: Ser pai.
Anahí: Ela não o odeia, acredite, eu sei. Ela só devia estar com raiva. – Alfonso
assentiu, quieto. O silencio demorou um minuto inteiro para ser quebrado.
Alfonso: Você ainda me ama? – Perguntou, e ela ergueu os olhos, vendo os verde dos
olhos dele intenso, encarando-a.
Anahí levou um instante para responder. Ele ainda a encarava. Que espécie de
pergunta era aquela?
Anahí: Eu nunca deixei de te amar. – Respondeu, calma. Não sabia o que aquilo
significaria, o que ele queria ouvir, mas era a única verdade que tinha.
Anahí: Você salvou minha vida. De todas as maneiras em que eu podia ser salva. –
Alfonso sorriu, quieto.
Anahí o olhou por um bom tempo. Ele tinha o olhar perdido, distante. Ela não
gostava daquele olhar. Aprendera ao passar dos dias, que cada vez que ele ficava
assim, sua alma estava sofrendo, torturada. Alfonso nem viu o movimento dela, até
que ela se amparou em um cotovelo, se erguendo, o apanhou pelo rosto e o beijou.
Por um instante o gosto dela, seu perfume, o inebriou. Ele esqueceu o que o
atormentava. Fazia tanta falta! Sentiu a mão dela enlaçando seus cabelos,
carinhosamente, e suspirou, sua boca buscando a dela faminta, retribuindo o beijo.
Anahí estava feliz. Ele sabia a verdade, ela não morrera, e ao que parecia ele
também a amava. Com a outra mão ela puxou ele pra si, na verdade apenas
trazendo-o, fazendo-o se inclinar pro lado dela e pra cima dela. Seu corpo se
adequou ao dele, que sentiu, satisfeito, a estatura delicada acolhê-lo. As línguas dos
dois se encontravam carinhosamente, do mesmo modo como a mão dele acariciava
o rosto dela, e a dela, o acariciava os cabelos. Tudo era natural como respirar.
Mas...
Alfonso: Não. – Disse, emergindo do beijo após sentir que rumo estava tomando.
Alfonso: Não vou machucar você outra vez. – Justificou, mas selou os lábios com os
dela. Anahí veio notar agora que ele estava apoiado em cima dos braços, sem deixar seu
peso tocá-la. – Não vou pôr tudo a perder. – Disse, se lembrando de como a respiração
dela era impossível com as ataduras. Anahí sorriu, se inclinando novamente, tomando
seus lábios outra vez.
Alfonso se permitiu beijar. Estava tão exausto que quase dependia daquilo. Sua
maior vontade era se abandonar nos braços dela, e não voltar mais. A realidade o
chamou ao sentir a mão dela desabotoando seu colete. Ele se soltou de seu beijo
novamente, mas ela lhe beijou o queixo, em seguida o pomo-de-adão.
Anahí: Eu não morri. – Murmurou, empurrando o colete dele, enquanto o acolhia dentre
as pernas – Me faça sentir que continuo viva. –Pediu, mordendo o queixo dele. Alfonso
tinha os olhos fechados, o rosto sem expressão. Ele suspirou. – Não vai me passar nada.
Ele a encarou, parecendo em duvida. Ela, por sua vez, parecia decidida. Ele ergueu
o rosto, olhando para a porta. Estava destrancada. Ela viu isso.
Mas Anahí não teve tempo de dizer nada: Dessa vez ele a beijou. Com fome, com
saudade. Ela suspirou, satisfeita, desabotoando a camisa dele. Era mais demorado
por causa de uma das mãos, imobilizada, mas ela conseguia. Por fim conseguiu, e
ele se afastou um instante, se libertando das peças, e quando a abraçou novamente
estava de peito nu. As mãos dele, hesitantes quanto a sua costela, apanharam o
traseiro dela, apertando com vontade, o que a fez arfar. Tinha a mão boa nas
costas dele, as pontas das unhas descendo levemente pelos músculos, e a outra, que
não era lá de nenhuma utilidade, apenas pousada de lado, evitando atrapalhar. O
corpo de Alfonso reagiu ao dela imediatamente, quase como um interruptor. Era
sempre assim. Ela era o antídoto para todos os seus problemas, para toda a sua
amargura. Para toda a guerra, talvez. Ele deixou os lábios dela, já inchados,
buscando-lhe os ombros, surpreendendo-a ao morde-la, mordiscando, chupando.
Desceu por seu colo, deixando um rastro quente por onde sua boca passava, e uma
das mãos dele subiu até o colo dela, agarrando-lhe o bustiê e arrancando-lhe.
Anahí arfou quando ele lhe alcançou os seios, as mãos novamente lhe enlaçando os
cabelos, enquanto ele a devorava. Sentira sua falta mais do que podia expressar.
Queria que ele parasse de se segurar nos braços, queria sentir seu peso. Alfonso
sentiu a mão dela tentando empurrar a sua, afastá-la da cama, o que o faria cair
por cima dela, mas não permitiu. Sentiu ela arfar, frustrada, ainda tentando, então
lhe abocanhou um seio, mordendo-o, levando-o quase todo a boca. Ouviu o gemido
surpreso dela, momentaneamente desarmada, e sorriu. Mas logo ela se lembrou.
Anahí: Por favor. – Pediu, em um murmúrio. Queria sentir totalmente o calor dele sobre
si, não só aquele toque leve, sutil. Queria seu peso, a compressão... Mas não conseguia
fazer ele se soltar – Eu estou bem, eu juro. – Alfonso a encarou – Por favor. – Ele ficou
quieto por um instante. Então ela sentiu ele se soltando aos poucos, deixando o peso cair
sobre ela lentamente, e sorriu em agradecimento.
Alfonso: Eu não devia estar fazendo isso. – Se condenou, mordendo a maçã do rosto
dela – Me prometa que se eu a machucar... Não importa o modo, se você sentir dor, de
qualquer forma, vai me avisar na hora. – Anahí suspirou – Prometa agora ou juro que
saio daqui. – Ameaçou, sem saber se era capaz de cumprir. Anahí arregalou os olhos,
indignada, e ele ergueu as sobrancelhas.
Anahí: Eu prometo. – Ele sorriu, satisfeito, e baixou a boca sedenta para a pele dela
novamente. Anahí estava quente. Gostava quando ela ficava assim, submissa. Os pés
dela acariciavam a lateral da perna dele, instigando-o – Me faça mulher, Alfonso. –
Sussurrou, mordendo o ouvido dele em seguida.
Alfonso: Só metade. – Pediu, e ela suspirou, assentindo. Ele tirou metade do corpo de
cima dela (transferindo todo seu peso para a cama), e cobriu os dois, protegendo-os da
manhã fria, abraçando-a em seguida. – Obrigado. – Disse, com o rosto deitado no colo
dela. Estava tão cansado!
Alfonso dormiu antes que pudesse dizer algo. Dormiu o sono que o
sobrecarregava, o que estava preso. Dormiu como não dormia há semanas. Ela
velou pelo sono dele por vários minutos, sentindo a respiração dele em seu colo e o
modo inconsciente como ele a agarrava. Estava em paz. Pela primeira vez ela o
tinha em seus braços e não havia nenhuma mentira. Para alguns podia ser pouco,
mas para ela significava perfeição. Paz. Foi assim que ela adormeceu.
Anahí dormia com Alfonso, os dois muito confortáveis, descobertos até a cintura.
O braço de Alfonso cobria os seios dela, e ele tinha o rosto afundado em seu
pescoço, como se quisesse ficar ali por seu perfume. Ela o abraçava pelas costas
com o braço bom, o outro caído em seu lado, engessado.
Tinha o rosto virado pro dele, os lábios na testa dele, os cabelos esparramados a
sua volta. Nina sentiu um ódio tão violento dentro de si que mal podia respirar. Ela
fizera de tudo, e ainda assim terminava ali?! Onde estava a justiça?! Estava lá,
dormindo abraçada com ele, na cama real. A boca de Nina amargara. Porém...
Madison: Apenas vim tentar apanhar meu livro, esqueci quando... Essa porta já estava
aberta? – Perguntou, a voz se aproximando. Logo Madison entrou no quarto com
Katherine e Kristen. As três pararam.
Madison: Mas que diabo... Porque essa porta estava aberta? – Perguntou, aturdida.
Anahí e Alfonso seguiram dormindo quase descaradamente – O que você está fazendo
aqui?
Katherine: Eu devia mesmo chamar Ian para ver isso. – Disse, divertida. Kristen riu.
Nina: Eu bati e ninguém atendeu. Pensei que ela estava dormindo, e entrei, então... –
Ela suspirou, o coração martelando dolorosamente. O olhar de Madison estava
perigosamente pousado nela.
Kristen: Tome o maldito livro e vamos sair daqui. Se eles acordarem e nos virem aqui,
vou ser forçada a me jogar pela janela. – Disse, apanhando o livro na mesinha e o
entregando a Madison.
Katherine: Madison, vamos sair daqui! – Disse, ruborizada, mas Madison estava nem ai
pra Anahí e Alfonso, que tampouco davam a mínima para a cena.
Nina: Não fiz por mal, senhora. Confie. – Pediu, de cabeça baixa. Madison ergueu a
sobrancelha, e abaixou o rosto, olhando o livro.
Madison: Me permita ser clara. Não confunda o fato de eu não tocar fogo em você
enquanto você dorme com confiança. – Kristen, já no corredor, riu alto. – Saia daqui.
Madison: Tem algo nesta mulher que não me agrada. – Disse, os olhos observando Nina
sumir pelo corredor – Preciso conversar com Christopher sobre ela. Farei isso hoje.
Katherine: Fará queixa a Christopher contra ela por causa disso? – Perguntou, sabendo
que Christopher se viraria contra a pobre criada assim que Madison acusasse.
Madison: Tem algo nela que me irrita, me ofende. Como se algo em mim me alertasse
contra ela. – Disse, os olhos distantes – Sim, vou falar com ele, ainda hoje. Mas vamos
sair daqui, em nome de Deus. – Disse, e Katherine assentiu.
Após a porta ser fechada, o silencio reinou no quarto. Por mais incrível que
pareça, as duas pessoas que eram o foco da cena não faziam idéia de que eram.
Continuaram dormindo, o sono dos justos. Mas Nina havia comprado um
problema.
---*
Christopher: Maddy, não é assim. – Disse, divertido, e ela se jogou de costas na cama.
Madison: É possível que você não tenha ouvido o que eu falei? – Perguntou, olhando o
teto. Ouviu o riso dele e suspirou, fechando os olhos.
Christopher: Eu ouvi, meu coração, mas não posso simplesmente mandar prender ou
matar uma criada porque você não foi com a cara dela. – Explicou, coçando a
sobrancelha, enquanto terminava de se aprontar para dormir. Havia um papel em cima
da cômoda, em frente a ele.
Christopher: Eu acostumei você mal demais. - Disse, mas não era uma repreensão - É,
eu posso. – Disse, rolando os olhos.
Madison: E então...?
Christopher: Não estamos em casa, minha vida. – Disse, ela ouviu a voz dele perto, o
que a fez abrir os olhos.
Madison: Há algo de errado com aquela mulher, Christopher. Confie em mim. – Disse,
encarando-o. Christopher apanhou um dos pés dela na cama, afastando a seda escura da
camisola, e apertando-o, massageando-o.
Christopher: Só porque ela estava espiando? – Perguntou, massageando os pés dela com
as duas mãos. Ela suspirou, sentindo a massagem – Se for assim tu também estavas.
Madison: Eu não estava espiando! – Se defendeu, indignada, e ele riu – Eu fui buscar
meu livro, a porta estava aberta!
Madison: Prefiro fazer do que olhar. – Disse, atrevida, e ele sorriu, mordendo o pé dela.
Ela se sentou, ele ficando entre suas pernas na cama alta, e o abraçou pela cintura –
Mate-a, Christopher. – Pediu, encarando-o.
Christopher: Mad... – Ele suspirou. Ela mordeu sua barriga por sobre a camisa, o que o
fez sorrir.
Madison: Mate-a enquanto é tempo, enquanto ela não causou danos maiores. – Induziu,
puxando-o pela camisa.
Madison: Não, estou me distraindo. – Corrigiu, passando uma perna de cada lado de seu
corpo, se inclinando sobre ele. – Mate-a. – Insistiu, e sentiu a boca dele afastando a alça
de sua camisola, tragando o perfume dela antes de beijar-lhe a pele.
Christopher: Não.
Madison: Vai simplesmente ignorar o que estou alertando? – Perguntou, a voz calma
demais para não ser preocupante.
Christopher: É claro que não. Colocarei meus melhores homens para vigiá-la. Um passo
suspeito, e eu dou a morte dela de presente a você. – Ela sorriu consigo mesma, e ele
franziu o cenho, apertando os quadris dela ao sentir a força dos dentes dela em uma
mordida na dobra de seu pescoço, próximo a jugular – Satisfeita?
Madison: Ainda não. – Respondeu, subindo a boca até alcançar a dele, beijando-o
sedentamente.
Verdade, ela não estava satisfeita. Estava acostumada a ser atendida de primeira
ordem. Mas aquilo bastava. Se Nina desse qualquer passo em falso, Christopher a
atenderia. Madison trataria para ser esse passo em falso.
Quando Anahí e Alfonso despertaram, faltava pouco para amanhecer. Ela acordou
primeiro, e ficou ninando-o, acariciando-lhe o cabelo. O sono de Alfonso era tão
profundo, tão acumulado, que ele demorou quase duas horas mais para despertar.
Primeiro suspirou, voltando a realidade, depois ela sorriu quando ele a abraçou
mais forte, esquecendo-se das costelas dela.
Anahí: Não faço idéia. – Respondeu, tocando a pele dos olhos dele. As olheiras dele
quase haviam sumido completamente. Ele abriu os olhos ao toque dela – Acho que é
tarde. Ou cedo. – Ela franziu o cenho e ele sorriu, olhando-a – A chuva não me permite
pensar. Mas passou tempo. – Alfonso pensou por um instante e ergueu o rosto, tentando
focalizar o relógio de cabeceira no escuro. Por fim ele suspirou.
Anahí: Eu tenho a breve impressão de ter ouvido alguém chamando Jesus de doce, e
algo sobre alguém pegando fogo enquanto dormia. – Os dois ficaram em silencio por
um instante, e riram juntos – Certo, era sonho.
Alfonso: Vai ser ótimo olhá-la sem receber um ultimato em troca. – Respondeu,
aliviado, e Anahí riu. Alfonso ergueu o rosto, os lábios encontrando os dela no escuro,
beijando-a repetidas vezes, docemente. Ela tocou o rosto dele saudosamente, aceitando
seus beijos, até que notou que ele sorria. Ela beijou o nariz dele, o que o fez rir – Deus,
eu estou com fome. – Observou ela riu alto com a exasperação dele.
Anahí: Não vai haver nada na cozinha agora. – Avisou – Só se você me permitir descer.
- Propos.
Alfonso: Não. Não pretendia mesmo ir. Não vou sair daqui por tão pouco. – Disse,
voltando a deitar a cabeça no colo dela, que voltou a lhe acariciar o cabelo. Os dois
ficaram em silencio por minutos.
Alfonso: Você está com sono? – Perguntou, brincando com um cacho do cabelo dela,
que tinha próximo ao rosto.
Anahí: Tu o tens por nós dois. – Brincou, e ele sorriu – Durma, eu estou aqui.
Anahí: Eu olho para você. – Respondeu em um sussurro no ouvido dele, e ele não disse
nada.
Nada mais foi dito. Alfonso dormiu alguns minutos depois, e Anahí em seguida. O
dia seria longo, mas só aquilo bastava para enfrentar talvez uma guerra inteira.
Suri acordou com um toque suave em seu rosto. A menina suspirou, despertando.
Ainda de olhos fechados, não viu quem a despertava.
Alfonso: Eu estou bem aqui, Suri. – Disse, ainda com a sobrancelha erguida. Tinha os
braços nas costas.
Suri: Faltam quatro dia, ai meu Deus. – Anahí sorriu – ANNIE! – A menina deu
impulso nos braços, pulando no pescoço de Anahí, que riu. Alfonso se sobressaltou,
com um alerta de “as costelas!” nos lábios, mas Anahí já estava enchendo Suri de beijos
– Você voltou. – Disse, radiante de felicidade.
Anahí: Teu pai não disse que eu voltaria? – Perguntou, acariciando o cabelo da menina.
Alfonso: Eu creio que comentei. – Disse, fingindo-se de pensativo – Uma vez... Duas...
Três... Quatro... O ultimo mês inteiro. – Disse, cruzando os braços.
Anahí: Não os consegui ainda. Por isso viajarei novamente. Breve. – Respondeu,
tocando o nariz da pequena.
Suri: Do que estão falando? – Perguntou, confusa. Anahí negou com a cabeça – O que
houve com seu braço? – Alfonso observou, quieto.
Anahí: Despenquei de uma escada e dei de nariz no chão. – Disse, mostrando o pulso.
Suri riu.
Suri: Perdão. – Disse, prendendo o riso – Eu sempre te digo para não andar tão
depressa. Falei pra você. –Anahí deu de ombros – Vai ficar assim para sempre? –
Perguntou, pegando o gesso.
Anahí: Mesmo que não volte. – Continuou – Não pode parar de comer e ralhar com
todo mundo. Promete? – Suri assentiu.
Suri: Mas eu não estou doente nem nada, não preciso de remédios. – Contrapôs,
desgostosa.
Anahí passou toda a manhã com Suri. Lhe deu o café da manhã, lhe aprontou,
brincaram, riram. A manhã passou em um segundo. Quando deu meio-dia, Anahí
saiu, indo buscar o almoço de Suri. Fazia aquele dia. Chovia bastante. A menina
ficou sentada, satisfeita.
Alfonso: Anahí, eu... – Ele parou na porta do quarto – Onde está Anahí?
Suri: Foi buscar meu almoço. – Respondeu, simples. Alfonso respondeu e deu as costas.
– Papai! – Chamou, e ele se virou.
Alfonso: Sim?
Alfonso: Não?
Suri: Não, claro que não. Eu o amo. – Alfonso sorriu de canto – Eu só estava brava
porque pensei que o senhor não queria mais dividir Anahí comigo. – Explicou.
Suri: É. Pensei que quisesse prender ela só para você. Não é justo, convenha. – Alfonso
ergueu a sobrancelha, suspenso – Papai, não sou boba. Já vi o modo como ela te olha, e
o sorriso bobo que o senhor tem quando a observa. – Alfonso ergueu as sobrancelhas –
Já os vi até se beijando uma vez. – Alfonso engasgou, quase hiperventilando.
Alfonso: Como?!
Suri: Vocês pensavam que eu estava dormindo, e eu não estava. Achei bonitinho, se
quer saber. – Disse, tranqüila – Por isso pensei que tinha ficado com ela só para si. Mas
nunca o odiei. – Alfonso ainda se recuperava – Tudo bem se quiser ficar com ela. –
Acrescentou.
Alfonso: Tudo? – Perguntou, meio incrédulo. Se a mãe dele fosse viva, ele
provavelmente teria saído gritando por ela. Suri assentiu.
Suri: Me perdoe por ter sido grossa. – Pediu, acanhada. Ele sorriu.
Alfonso: Está tudo bem agora.- Disse, apanhando a menina no colo, e a beijando.
Anahí: Suri, eu não encontrei o... Perdão. – Disse, mas Alfonso assentiu para que
entrasse. Suri estava abraçada em seu peito – Interrompo?
Alfonso: Não. Suri só estava me contando de como desfrutou da imagem de nós dois
nos beijando, enquanto ela inconvenientemente fingia dormir. – Disse, debochado.
Anahí arregalou os olhos, quase derrubando a bandeja, mas Suri ria, sapeca.
Suri: Está tudo bem. – Disse, olhando Anahí. Alfonso ria do choque na cara de Anahí.
Anahí: Ande, saia daqui. – Ralhou, fazendo ele sair. - Me deixe aprontá-la.- Disse,
tomando Suri no braço.
Quando Anahí pôs Suri sentada em seu lugar, as pernas da menina, moles, ficaram
em um ângulo estranho, largado. Anahí encarou Alfonso enquanto arrumava as
pernas da menina no lugar. E não podia ter havido mensagem mais clara: Era ela
quem teria de resolver aquilo.
Anahí ficou com Alfonso e Suri até a menina terminar de comer. Por fim os dois
saíram. Ela pretendia ir apanhar roupas limpas, já estava cansada de só usar
camisola, e ele ia encontrar os outros. Foi quando entraram na sala. A conversa
estava acesa.
Robert: Pela noticia que corre, Paul vai se casar. – Anunciou. Todos viraram a cara para
olhá-lo.
Robert: Era uma vez uma princesa chamada Belinda. Ela foi escolhida em um baile, e
iria se casar, e ter lindos filhos. – Começou.
Christopher: Estou tremendo da raiz do cabelo até o dedo do pé. – Debochou – Eu não
entro em uma guerra para perder. O que me incomoda nisso tudo é que quanto mais
apoio ele tiver, mais gente vai morrer no final. Inocentes. Minha armada não vai parar
até conseguir a vitória, homens morrerão, famílias vão se desfazer, vidas vão acabar. É
isso o que me incomoda. – Ele deu um beijinho no ombro de Madison.
Ian: Para breve, é claro. O que nos leva de volta ao ponto de que um entre nós pretende
perfurar a fronteira. E que deve ser logo.
Alfonso: Anahí. – Interrompeu – Meu anjo. Porque você não volta para a cama? –
Perguntou, com um sorriso forçado. – Tome. – Ele tirou a chave da torre do bolso – Já a
encontro. – Anahí ia protestar – Vá. – Ordenou, e Anahí revirou os olhos, saindo.
Christopher: Retardar não vai resolver. – Disse, mas Alfonso já sabia disso.
Alfonso ficou ali mais meia hora. Depois foi para a torre, procurá-la. Estava
trancada. Estranho. Ele bateu na porta, chamou e nada. Voltou pela escadaria,
estranhando. Até que se deparou com algo no chão. A chave. Alguns degraus a
baixo havia um pedaço de tecido. Ele o apanhou. Era um pedaço do vestido de
Anahí, rasgado a força. Era um pedaço da bainha, o que induzia que se rasgara
enquanto ela fora arrastada.
---*
Christopher: Você sabe que isso é uma armadilha. – Ressaltou, vendo Alfonso montar
no cavalo. Nem a armadura colocara, apenas apanhara a espada.
Alfonso: Sei. Escutem. – Robert, Ian e Christopher observavam – Eu não posso deixá-la
lá. Não posso permitir que chegue as mãos dele. Eu... Eu não sou capaz. – Ele respirou
fundo – Se eu não voltar, cuidem de Suri. Cuidem para que Paul não tome conta do meu
reino. Honrem meu nome.
Robert: Boa sorte. – Alfonso assentiu e puxou as rédeas do cavalo, saindo a galope.
Alfonso atravessou a cidade como um raio. Todos saiam do caminho. Em sua
cabeça só havia algo: Paul havia pego Anahí. Sua Anahí. Ah, ele preferia morrer a
permitir isso. Ao chegar na fronteira alguns soldados se olharam, confusos, mas
Alfonso fez o cavalo saltar sobre a barreira, sumindo dentro das arvores.
Encontrá-la ali seria impossível. Ultrapassar a fronteira de Paul seria impossível;
Ele seria alvejado só ao ser visto. Cavalgou por minutos a fio, desviando de
arvores. Ao chegar em uma pequena clareira avistou algo caído no chão, mas não
teve tempo de identificar o que era: Algo pesado atingiu sua cabeça, na região da
nuca, causando uma dor insuportável e aguda, e ele caiu do cavalo. Quando
chegou ao chão já havia desmaiado.
Alfonso não sabia quanto tempo havia se passado. Ele despertou sabendo que tinha
algo urgente a fazer, mas não sabia o que era. O tempo estava tão frio, ventava
tanto! Havia o cheiro das arvores e da grama molhada. Algumas gotas caiam do
céu. Anahí! Ele abriu os olhos, olhando em volta. Sua cabeça doía barbaramente.
Ele olhou em volta, a clareira estava vazia, a não ser...
Alfonso: Anahí. – Murmurou, vendo que o vulto caído era ela. Ele procurou forças, mas
não achou. Se arrastou um instante, logo engatinhando em direção a ela. Mesmo
engatinhando as vezes ele tropeçava, caindo de novo. A alcançou e a apanhou no colo,
pegando seu rosto – Ei, acorde. – Chamou, tonto.
Paul: Ora, ora, ora. – Disse, se desencostando de uma arvore, se aproximando – O nobre
Alfonso, de uma linhagem unicamente de sangue puro, se curvando e se arrastando por
uma plebéia. – Disse, cruel. Alfonso tateou a bainha a procura da pistola, ou da espada,
mas nada – Não seja tolo.
Alfonso: Porque não a deixa em paz? – Perguntou, raivoso, puxando a Anahí ainda
desfalecida mais para si.
Alfonso: Não tenho nada para conversar com você. – Rosnou, raivoso. A presença de
Paul o enojava.
Paul: Percebi que tu estas mantendo essa guerra sob os pilares errados. Você precisa
entender, para então eu poder matá-lo. – Alfonso riu, debochado – Precisa entender o
que eu fiz, e porque eu o fiz. Precisa entender porque eu declarei guerra contra você
partindo do nada. Nós temos um assunto em comum, Alfonso. – Disse, e havia um
sentimento estranho em seus olhos. Parecia ódio, fúria.
Alfonso: Não... Pronuncie... – Alfonso estava possesso – Não diga o nome dela. Não se
ouse. Não você.
Alfonso: Culpa tua. Tudo foi culpa tua. – Disse, a boca amarga.
Paul: DULCE NÃO O AMAVA! NUNCA AMOU! – Rugiu, furioso, mas respirou
fundo – Ela era minha. Minha, Alfonso, MINHA!
Alfonso: Você enlouqueceu. – Disse, confuso com aquilo – Dulce era minha esposa.
Paul: Porque eu era jovem. – Rebateu – Ela tinha a mesma idade que eu, mas eu não
podia desposá-la porque não havia alcançado a maioridade. Então tu passaste na minha
frente. – Disse, com nojo – Eu estava apenas a esperava. Nós já namorávamos. Nos
amávamos. Então você surgiu, e a levou.
Paul: Ela nunca foi feliz ao teu lado! Nunca quis ir a lugar algum, quase nunca sorria,
porque não o amava! Não o procurava na cama, não sentia prazer com você, sentia nojo
do seu corpo, do seu toque, dos seus beijos! Ela me disse isso em palavras, seu grande
idiota! Se lamentou dezenas de vezes por saber que a noite você a procuraria
novamente, e ela não teria como se negar! – Continuou – Mas um caso comigo durante
todo o tempo. No fundo de teu castelo corre um rio, sabe, Alfonso? Ela disse a você que
tinha nojo daquele lugar. Mentira, ela o achava lindo, mas ela queria que tu acreditasse
que ela se enojava. Então nos encontrávamos ali. Perdi as contas de quantas vezes eu
lhe fiz amor naquele lugar, e você nem desconfiava.
Paul: Lembra-se dos passeios da tarde dela? Aqueles em que ela não o deixava ir? Ela ia
se encontrar comigo. – Disse, com um sorriso de canto – Passávamos a tarde juntos,
todas as tardes, todos os dias.
Alfonso: Dizendo que eu acredite nesse absurdo. Você a amava e a matou? – Perguntou,
debochado.
Paul: Nosso relacionamento ia muito bem. Eu havia planejado tudo: Iria roubá-la.
Então, maldição, ela estava GRÁVIDA! – Gritou, furioso. – Meu Deus do Céu, como
eu quis que aquele filho fosse meu! Eu rezei tanto! Mas não. – Ele respirou fundo – Ela
me garantiu que suas regras haviam vindo depois da ultima vez em que estive com ela.
O bastardo era seu. – Ele parou consigo mesmo. Alfonso parecia enjoado com aquilo.
Tudo se encaixava, mas ele se recusava a aceitar – Ela disse que não fugiria. Que não
lhe roubaria o filho que era seu. Então eu a envenenei. – Disse, os olhos distantes – Mas
não ela, ela nunca! Era pro bastardo morrer! Uma vez livre dele ela fugiria comigo!
Alfonso: Cale a boca. – Ordenou, nauseado.
Paul: Mas como sempre VOCÊ tinha que interferir! A MATOU E ACABOU COM
TUDO POR CAUSA DA MALDITA CRIANÇA! QUE SENTIDO ISSO FAZ? –
Perguntou, furioso. – VOCÊ A TOMOU DE MIM ATÉ MATÁ-LA!
Alfonso: Eu não tinha como saber. Eu pensei que ela estava morta, ela me implorou
para salvar a criança. – Ele falava consigo próprio. Cada vez que a dor do remorso o
atingia ele se cobria repetindo isso.
Paul: Estava viva, meu Deus, ESTAVA VIVA! – Havia dor no rosto de Paul – Quando
ela abortasse aquela aberração eu a levaria para longe. Abandonaria o trono, iria
embora. Mas você entra e a mata.
Paul: Pois que fique claro o motivo dessa guerra: Você tomou Dulce de mim. Se casou
com ela. Nós tínhamos um caso, debaixo do teu nariz. Ela engravidou de você, e eu
tentei matar a monstruosidade que habitava em seu ventre. Tu a mataste. – Disse, duro –
Eu amei Dulce María, Alfonso. Eu a amei tanto que nem posso explicar em palavras. A
amava em cada respiração. E acredite em mim, ela retribuía. Esse é o propósito desta
guerra: Você matou a mulher que e amava. Minha vida nunca mais teve sentido desde
que eu soube que ela estava morta. As cores sumiram, tudo o que vejo é cinza.
Alfonso: Saia daqui. – Anahí continuava mais pra lá que pra cá.
Paul: É por isso que eu não vou desistir. Por isso que eu posso morrer no processo. –
Ele respirou fundo – Eu quero matá-lo agora, mas não haveria glória nisso. Tu me
enfrentarás no campo de batalha. Lá sim. Posso morrer, mas é o único que posso fazer.
Minha vida não tem mais nenhum propósito, eu nunca mais consegui amar ninguém,
isso tudo por culpa sua. Porque você tomou a mulher que eu amava.
Paul: Vá até a beira o rio. Há uma pedra grande, antiga, com uma estrela arranhada nela.
Debaixo da pedra encontrará o diário dela, e sua gargantilha. Ela enterrou lá, quando
pensou estar só, depois de saber da gravidez. Está lá ainda. Se precisa de uma prova do
que estou dizendo, sabe onde encontrar. – Disse, com descaso - Tua arma e tua espada
estão na copa de uma arvore, na borda da clareira. Teu cavalo fugiu. – Disse, saindo dali
– No campo de batalha, quando chegar a hora, Alfonso. Mas agora você já sabe. Você
precisava saber. – Disse, olhando Alfonso sentado com a cabeça de Anahí no colo como
se fosse um animal, nojento, desprezível.
Paul saiu dali, indo na direção de seu reino. Logo se ouviu o relinchar de um
cavalo, e as patadas no chão, então havia sumido. Alfonso olhou Anahí em seu colo.
Desmaiada, desacordada, como ele queria estar. Ele se levantou, procurando nas
arvores, até que achou suas armas. Deu três tiros pro ar, e soube que logo a ajuda
viria. Voltou ao chão, a Anahí. Ela sempre lhe fora fiel. Sempre lhe amara.
Deus, como Dulce fora capaz?! Paul dissera coisas que ele nem tinha como saber, e
a verdade estava nos olhos dele. Dulce não o amava. O traíra o tempo todo.
Alfonso não sabia o que estava sentindo naquele momento. Ele colocou a cabeça de
Anahí no colo e se deitou na grama, afundado seu rosto ali, sem querer pensar,
sem querer existir.
Quando Anahí acordou, a ajuda ainda não tinha chegado. Ela gemeu, as mãos
tateando a terra, e Alfonso viu
Alfonso: Você conseguiu ver quem foi? – Perguntou, acariciando o cabelo dela, mas ela
negou.
Anahí: Não deu tempo, perdão. – Ele assentiu – Como você me encontrou? Como vim
parar aqui? – Perguntou, confusa.
Alfonso: Eu pensei que Paul havia seqüestrado você. – Dizer o nome do outro ardia
como fogo em sua garganta – Então vim atrás. A encontrei caída aqui, mas meu cavalo
fugiu. Pedi ajuda e esperei. – Mentiu.
Alfonso queria se abrir com ela, contar tudo o que tinha ouvido, mas não era
capaz. Algo dentro de si o sufocava, então ele mentiu.
Anahí: O que há com você? – Perguntou, encarando-o. Ele negou – Está frio. Seus
olhos... – Ela tocou no rosto abatido dele, vendo os olhos com a aparência morta.
A cavalaria logo chegou. Alfonso montou Anahí em um cavalo, sem dizer uma
palavra, e montou atrás dela, disparando de volta para casa. Só parou ao chegar
no castelo. Todos o esperavam do lado de fora.
Alfonso: Vá para dentro. – Disse e Anahí assentiu, pedindo licença, e saiu dali.
Christopher: Quando teu cavalo retornou supus que estavas morto. – Acrescentou.
Alfonso não dormiu aquela noite. As palavras de Paul latejavam em sua cabeça.
Dulce o havia traído. Não comeu nada, tampouco. Anahí o questionou até se
cansar... E nada. Ele apenas ficou em silencio. Tudo em que acreditara era
mentira, e agora ele não sabia em que acreditar. No dia seguinte levantou cedo,
antes dela, e simplesmente sumiu. Sem rumo, sem direção. Porém só havia um
lugar para onde ele poderia ir: O rio. Ele caminhou em volta dele, pensativo, se
lembrando das diversas ocasiões onde estivera ali com Anahí. Sorriu, distante, ao
lembrar do riso dela na água, de sua inocência... De seus gemidos, ao pé de deu
ouvido, enquanto ele lhe fazia amor ali. Ele não estaria em paz se não procurasse.
Olhou as pedras em volta do rio, destacando as grandes. Foi então que viu:
Grande, com musgo, e aparência antiga. Ele se aproximou, passando a mão sobre o
limo, afastando-o, e se revelou uma pequena estrela cravada, arranhada na pedra.
Encontrara.
Ele apanhou a pedra pela base, puxando-a. Seu coração doeu ao ver o diário dela e
a medalhinha que ela usava quando ele a conheceu ali. O diário já estava molhado,
empapado, logo ele não pôde salvar muito, apenas algumas passagens.
“...Paul é o homem mais carinhoso que já conheci. Ele me trata como se eu fosse uma
deusa, é sempre carinhoso, atencioso, e eu o amo. Ele entende tudo que estou passando,
trancafiada nesse maldito casamento, e prometeu que vai me ajudar. Vai abandonar o
trono e nós vamos fugir, para onde Alfonso não possa nos alcançar...”
“...Desde que Alfonso viajou. Eu nem acredito. Posso ter paz, mesmo a curto tempo.
Ontem Paul me fez amor na queda da cachoeira. Eu o amo tanto! Depois ficamos
deitados, abraçados, observando o rio correr. Este lugar é lindo, mas apenas quando
estou com ele. Disse a Alfonso que sinto nojo daqui, logo, ele não me traz aqui. Este
lugar é apenas meu e de Paul...”
“...Hoje Alfonso disse que me ama. Ele custou a dizer isso, sempre sem jeito, mas por
fim disse. Eu apenas sorri. Ele, como sempre, achou que era por timidez. Eu não o amo.
Não o amo e nunca vou amá-lo. No dia que morrer, terei a certeza de que o único
homem que amei foi Paul...”
“...Eu gostaria que ele parasse com isso. Hoje ele me deu mais jóias. Um conjunto com
diamantes. Eu nem olhei direito. Não me interessa, não usarei nada do que ele me der.
Não vejo a hora de Paul conseguir resolver tudo e me roubar daqui. Gostaria de ver a
cara de Alfonso quando ler tudo o que eu tenho para dizê-lo, em minha carta de
despedida, quando eu já estiver longe...”
“...Não. Meu Deus, por favor, que isso não esteja acontecendo...”
“...E tudo foi por água abaixo. Por mais que eu tenha nojo de Alfonso, não posso fugir
carregando esse bastardo. É filho dele, não meu. Quase não suportei ver a dor nos
olhos de Paul quando disse que não poderia fugir. Talvez quando eu der a luz a essa
maldita criança, possamos ir embora. Não amo este bebê como não amo o pai dele.
Tenho nojo dele pelo que está fazendo ao meu corpo, com a minha vida. Quando eu
achei que estava tudo dando certo, que eu iria ser livre, me vem isso...”
“...Hoje me joguei dentro do banheiro. Ouvi a história de uma mulher que perdeu o
bebê por causa de uma queda. Não tenho coragem de tomar as tais ervas, mas um
acidente seria perfeito. Cai três vezes, com toda a força: De barriga, de costas e
sentada, mas nada ocorreu. O ódio que tenho por essa criança só faz aumentar, junto
com a devoção de Alfonso a ela. Os odeio. Não quero que ele me toque, não quero que
me traga presentes, eu quero ir embora...”
“...Meu corpo está horrível. Minha barriga está enorme. Não consigo mais me
locomover direito. Não posso mais ir ao rio, me encontrar com Paul, como
antigamente. Primeiro porque Alfonso não sai da minha sobra, depois porque não
consigo andar quase nada sem sentir dor. Se bem que se eu tropeçasse, caisse em uma
das pedras do caminho até o rio, essa maldita criança desistisse de mim e morresse,
resolveria o problema...”
“...Paul disse que encontrou a solução. Ainda faltam 3 meses para o bebê nascer, três
insuportáveis meses, mas ele disse que encontrou a solução para me livrar dele. Não
me disse o que era, só me disse que na hora eu entenderia. Tive medo a principio, mas
confio nele...”
E foi tudo o que Alfonso conseguiu ler. Ele estava branco gesso quando puxou a
ultima folha que dava pra ler. No resto a tinta já havia se diluído pela água, mas só
isso bastava. Era a confissão dela, em próprio punho. Ela tinha nojo dele, enquanto
ele a adorara. Ele amassou o bolo de papel molhado, esmigalhando-o, eliminando o
testemunho de toda aquela imundice. Dulce María tivera o que pedira, afinal.
Tentara matar Suri, Deus, como era possível?! Ele jogou o bolo de papel molhado
na água e o viu afundar, sumindo na água. Se levantou e saiu dali, o rosto duro, a
medalhinha dela na mão. Ninguém jamais saberia o que havia escrito ali, as juras
de amor dela para Paul, o asco dela por ele e por Suri. Deus, ele travara uma
guerra por ela! Ninguém saberia, mas ele sabia. Aquelas palavras estavam
gravadas em seu cérebro e jamais sumiriam. Ele sabia, e era o suficiente.
Ainda era manhã quando Alfonso chegou no castelo. A dor dele se transformara
em raiva, uma raiva tão absoluta quanto ele nunca sentira antes na vida. Ele subiu
pro quarto em passadas largas, sem se lembrar de que havia deixado alguém lá.
Anahí se vestia quando ele entrou. Viu a feição do rosto dele, viu a raiva e a dor em
seu rosto. Viu que ele arfava. Como ela não estava podendo usar espartilhos, usava
uma bata com uma saia de cintura alta por cima. Ela estava terminando de fechar
a saia quando ele entrou.
Anahí: Alfonso? – Chamou, dando um passo hesitante em direção a ele. Ele ainda
arfava, como um animal acuado. – Aconteceu algo?
Alfonso: Aconteceu tudo. – Rosnou, ainda preso onde estava.
Alfonso não respondeu, apenas a observou. Os cabelos soltos, caindo até o meio da
cintura. A pele clara, os olhos de um azul lindo, preocupados. Os lábios cheios, a
curvatura delicada e farta do corpo...
Alfonso: Venha aqui. – Chamou. Anahí hesitou, mas caminhou em direção a ele –
Anahí, venha! – Ordenou, a voz autoritária e forte fazendo-a se arrepiar. Não passou
despercebido o fato de que ele ainda arfava.
Ela respirou fundo, recobrando os comandos, e foi até ele. Assim que entrou em
seu campo de alcance a mão dele a apanhou pelo braço, puxando-a com força,
lançando-a contra a porta, que se bateu com um baque. Anahí arregalou os olhos,
mas antes que pudesse protestar ele a beijou. Violentamente, agressivamente.
Anahí arfou, segurando-o pelos ombros. Pelo amor de Deus, o que fora aquilo? Ela
ouviu a mão dele trancando a porta, atrás de si, e em seguida puxando a saia dela
para cima, até suas mãos conseguiram alcançar sua coxa. As mãos dele agarraram
as coxas dela com brutalidade, apalpando, apertando. Ele deixou a boca dela para
descer a boca por seu pescoço, mordendo-o, chupando-o. Anahí estava aturdida.
Alfonso passou as mãos pelas coxas dela, subindo até que encontrou o traseiro, que
apertou com força e vontade contra si, diversas vezes. Depois a mão dele subiu,
sem ela sentir, até seu seio. Ele encheu a mão com um dos seios dela, sob a bata, e o
apertou com vigor, sentindo o mamilo já túmido. Ela reagira a ele mesmo sem
entender o porque. Quando ele a apertou Anahí gemeu, mas não foi dor. Gemeu
em deleite. Gostava dele assim. Seu corpo todo estava quente, e ela se estreitou
contra ele, sentindo o corpo forte comprimindo-a contra a madeira. Alfonso largou
ela por um instante para as duas mãos rasgarem a roupa dela. Tudo o que estava
ao alcance, as mãos dele agarraram e puxaram, levando pelo caminho. Ela passou
a mão pro colete dele, desabotoando-o as pressas enquanto ele se livrava dos
retalhos de sua roupa. Ele viu esse ato, o observou por um instante. Ela retirou o
colete e a camisa dele as pressas, arfando, enquanto as mãos dele brincavam,
perversas, pelo corpo dela. Ela ia apanhar o cinto dele quando ele apanhou seu
rosto pela maxilar, com uma mão, fazendo-a encará-lo. Os olhos de ambos estavam
dilatados.
Anahí: Que espécie de pergunta é essa? – Perguntou, confusa, respirando aos ofegos.
Alfonso: Quer transar comigo ou está fazendo isso porque eu estou forçando-a? –
Insistiu. Anahí riu consigo mesma da pergunta idiota. – Responda. – Ordenou.
Anahí: Eu creio que transar contigo é o que eu mais quero agora. – Respondeu, o rosto
corando em seguida. Ele pôde ver a verdade nos olhos dela.
Alfonso a apanhou no colo, e a levou até a cama. Lá ele a jogou, passando pra cima
dela. Quando ele desceu a boca por seu colo, abocanhando seus seios
agressivamente, uma Anahí que arfava buscou o cinto dele, desafivelando-o, e em
seguida abriu os botões da calça. Mesmo com a calça e a cueca por cima ela podia
sentir o quanto Alfonso estava... Alterado. Ela empurrou a calça dele como pôde,
mas parou para gemer quando a mão dele passou por suas coxas, invadindo sua
intimidade impiedosamente. Ela deixou escapar um “Ah!”, aturdida, o corpo se
arqueando debaixo do dele. Alfonso ainda a mordia, os seios dela já vermelhos,
três dedos em seu interior, movendo-se com força, girando, testando. Anahí
desistiu da calça dele e cravou as unhas em seu braço, languida. Parecia que sentir
o quanto ela estava molhada, pronta pra ele, apaziguava a alma de Alfonso. Ela o
queria. Alguns minutos depois ele sentiu a intimidade dela começando a se contrair
contra os dedos dele, e parou. Anahí gemeu, frustrada, se sentindo vazia, quando a
mão dele a abandonou.
Alfonso: Assim não. – Respondeu, a voz cortada, rouca, e ela viu ele terminar de se
livrar da calça.
Alfonso não hesitou em possuí-la logo em seguida. Com um golpe só, com força.
Anahí não conseguiu conter um grito sonoro que ecoou pelo quarto. Ele gostou de
ouvir. Apanhou as coxas dela, abrindo-as e acomodando-as como bem queria ao
redor de sua cintura, e pôs a se movimentar. Ele segurou uma mão na cabeceira da
cama, buscando ainda mais força para suas investidas. Anahí não conseguia
acreditar naquilo! Ele socava contra ela, sem cansar, sem perder o ritmo, um
grunhido escapando de seus lábios a cada vez. Anahí sentiu dor no inicio, não ia
mentir, mas logo foi tomada por um prazer que parecia incendiá-la. O corpo dela
se debatia, oscilava sobre a cama, a cada investida dele. Ela não conseguia segurar
os gemidos, até gritos, e eles vinham de forma natural. Alfonso captava cada um
dele. Os dois oscilaram pela cama em direção a cabeceira, que era onde a mão dele
buscava força. Anahí tinha certeza que se havia uma possibilidade de um corpo se
desmontar, ela seria a primeira. Mas não ligava. Ela não conseguia respirar, estava
tremula, mordia o ombro dele. Alfonso tinha os olhos abertos o tempo todo. O
cenho franzido, pelo esforço da força e da rapidez de suas investidas, os nervos
tensos pelo tesão, os sentidos alertas para cada reação ela. As mãos dela estavam
nas costas dele, as unhas cravadas fortemente na pele dele, quase perfurando-a. O
modo como ele colocara as coxas dele, em volta do seu quadril, permitia que o
contato dos dois fosse ainda mais intimo: Ela o sentia melhor e ele conseguia ir
ainda mais fundo. Ele a prendeu assim, sem permitir que ela o afastasse, ou
reprimisse. Como se ela quisesse. Algumas vezes ela tinha a tola impressão de que
ele chegava a tocar o seu útero. Mas não tinha tempo para pensar, não tinha tempo
para nada. Ela ia morrer. Todo o seu corpo estava pegando fogo, e aquele prazer
só fazia aumentar...
Ele tinha marcas dos arranhões dela por toda as costas, e marcas de mordidas pelo
ombro e pescoço. O prazer que sentia era tão violento que quase lhe roubava os
sentidos. Quase.
Anahí: Meu Deus. – Gemeu, tomando ar bruscamente. Alfonso pegou o rosto dela com
a mão livre, encarando-a. Viu que ela soava, tremula, os olhos dilatados de prazer. A
velocidade dele foi parando, foi se tornando mais lento, e ela gemeu, frustrada. Estava
tão bom! – Eu vou enlouquecer. – Choramingou. Alfonso investiu nela com força,
apanhando-a de surpresa, fazendo-a gritar, cravando ainda mais as unhas nele.
Anahí: Gosto. – Disse, e sorriu, atrevida. Ele sorriu de canto, mordendo o lábio inferior
dela. Investiu contra ela novamente, que grunhiu, o corpo oscilando novamente, o que
fez ela prender a respiração – Gosto de cada pedaço. – Confirmou. Alfonso a observou
por um instante.
Alfonso: Diga que me ama, Anahí. – Pediu, e ela não entendeu a urgência no olhar dele.
Anahí: Eu amo. – Disse, acariciando o rosto dele – O amo tanto que morreria por você,
sem pensar duas vezes. O amo mais que a minha vida, Alfonso. – Disse, encarando-o.
Alfonso investiu contra ela de novo, quase tomando o ar de seus pulmões. Uma vez,
outra...
Anahí: Eu amo você. – Repetiu – O amo, Alfonso. – A voz dela falhou no final.
Logo não conseguia mais falar nada. Voltaram ao ritmo inicial, e tudo o que ela
conseguia fazer era gemer. Quando estava prestes a terminar, ela conseguiu falar...
Anahí: Alfonso... – Chamou, se agarrando mais a ele. Estava vindo, ela sentia... Ele
também.
Alfonso: Eu sei. – Disse, satisfeito – Deixe vir. – Disse, tomando a boca dela em um
beijo sedento. Ambos soavam.
E ela deixou. O orgasmo dela foi tão forte, um misto tão poderoso entre dor e um
prazer absoluto que ela gritou. Ele deixou os lábios dela, satisfeito, apenas para
ouvir seu grito. A exasperação dela morreu aos pontos, e ele se agarrou a ela,
investindo ainda com mais força, se é que era possível. Estava quase, tão perto... E
ele não conseguia.
Anahí: Me deixe tentar algo. – Pediu, vendo o rosto angustiado dele. Aquilo estava
começando a doer. Tanto tesão, tanta vontade acumulada, e nada. Ele a encarou,
confuso, e viu ela empurrando-o.
Alfonso: Que está fazendo? – Perguntou, atordoado, vendo ela sair debaixo de si.
Anahí: Shhh. Feche os olhos. – Alfonso ergueu as sobrancelhas. Ela o deitou de barriga
para cima, sem tocá-lo – Confie em mim. – Pediu. Alfonso não queria, mas não sabia o
que fazer. Ele confiava nela. Fechou os olhos.
Alfonso: Anahí! – Chamou, exasperado, a voz cortada. – Saia! – Ordenou, e ela não
entendeu porque. Mas se ela saísse ele não conseguiria. Então ela não saiu.
Anahí ignorou o alerta dele. Ele procurou a força dos braços para puxá-la, mas
não encontrou. Ela brincava consigo própria, se desafiando até onde conseguia
levá-lo, descendo por sua garganta. Então com um gemido longo, algo com um
gosto azedo parou na garganta dela, em breves jatos. Muitas mulheres teriam nojo,
ou pudor, mas Anahí ficou feliz. Só teve cuidado para engolir, e não engasgar.
Satisfeita por tê-lo feito conseguir, por satisfazê-lo, ela deu um beijinho na barriga
dele, que ainda tinha os olhos fechados. Alfonso sorriu instantes depois, mas
quando ele ia olhá-la, ela lhe tapou os olhos.
Alfonso: O que?
Anahí: Não quero que me olhe. – Disse, envergonhada. Ele riu.
Alfonso: Mas eu gostei. – Disse, apanhando uma das mãos dela e mordendo-a – Gostei
demais. – Disse, tirando-lhe o cabelo do rosto. Ela estava vermelha. – Porque fez isso?
Anahí: Porque você não conseguia... Eu pensei que talvez se eu... Bom, no dia do
celeiro você... – Ele ia acompanhando o raciocínio dela, mesmo que ela não terminava o
que ia dizer.
Alfonso: Não teve nojo? – Perguntou, tocando a maçã do rosto dela, tentando espalhar o
sangue que se acumulara ali.
Alfonso: O bebê não quer brincar mais? – Perguntou, fazendo bico pra ela, mas rindo.
Anahí: Não ria de mim! – Exclamou, exasperada – Não quero. E nem faço mais... – Ele
ergueu a sobrancelha, esperando, mas ela não conseguiu terminar – Você sabe o que.
Não faço mais nada.
Alfonso: Não seja rebelde. – Disse, passando pra cima dela – Eu gosto de brincar com
você. – Disse, rindo em seguida pelo termo “brincar”.
Anahí: Não quero saber. Saia de cima de mim, Alteza. – Alfinetou, e Alfonso sorriu –
Não! – Disse, mas riu quando ele começou a mordiscá-la – Eu também gosto de brincar.
Mas não vou mais. – Impôs. Ele apanhou um seio dela nos lábios, passando-os por cima
das marcas roxas que começavam a brotar. Ela se arrepiou.
Alfonso: Eu acho que você vai. – Contrapôs, se sentando e puxando ela pro seu colo,
ajeitando as pernas dela em volta da sua cintura – Te marquei inteira. – Observou,
satisfeito, as manchas vermelhas e roxas aparecendo pelo corpo dela.
Anahí: Eu te perdôo. – Disse, passando as mãos nos cabelos dele. – Tu tens algum
compromisso hoje?
Suri: Ela disse que o senhor ia procurar. – Disse, tranqüila – Disse que ia buscar meu
remédio.
Alfonso ia correr atrás dela, quando passou pela porta da sala de armas. Por
instinto entrou ali. Abriu a gaveta das adagas pra gemer, passando a mão no rosto.
Faltava uma. No lugar havia um bilhete: “Confie.”
Ian: Sabíamos de que? – Perguntou, incrédulo. Eles seguiram Alfonso até a porta. O
cavalo dele já estava parado no gramado, esperando.
Alfonso: Anahí foi atrás de Paul. – Disse, antes de pular no cavalo e sumir dali. Tinha
de alcançá-la, tinha de impedir.
Um silencio profundo se fez entre eles. Anahí não avisou. Provavelmente sabia que
Alfonso não permitiria. A voz de Madison veio de traz de Christopher tranqüila,
observadora, como se ela houvesse estado ali todo o tempo.
Madison: Ele vai morrer tentando atravessar a fronteira, atrás dela. Você sabe. –
Comentou, olhando Alfonso sumir.
Alfonso nem podia acreditar. Se algo acontecesse a ela... Ele se lembrou do riso
dela hoje, em seus braços. Se lembrou dos gemidos, e da voz atordoada dizendo
que a amava. Se lembrou da malicia e da inocência. Ele rosnou consigo mesmo,
atiçando o cavalo.
Ao chegar na fronteira fez o cavalo saltar sobre a barreira, para não perder
tempo. Se embrenhou nas arvores em seguida. Ele não a perderia. Não ela, que o
amava. Após quase uma hora correndo, com Christopher em sua cola, ele a avisou.
Usava o vestido azul que ele lhe dera, o primeiro, e tinha o cabelo solto, caído as
costas.
Alfonso: ANAHÍ! – Rugiu, raivoso. Ela olhou para trás, sobressaltada, e seu cavalo se
pôs a correr mais ainda – Inferno.
Ele tentou alcançar ela por mais um bom tempo, mas as arvores não ajudavam. O
problema é que estava chegando perto da fronteira de Paul. Da morte dele.
Alfonso nem viu como. Em um instante estava correndo, a alto galope, no outro o
cavalo de Christopher havia passado na frente do seu e ele estava no chão. A
pancada foi dolorosa. Alfonso se levantou, pronto para ir atrás dela, mas
Christopher bloqueou sua visão.
Anahí: Só uma noite. – Disse, longe, em uma promessa. Alfonso a encarou, seu olhar
implorando para que ela não fosse. Ela murmurou um “Eu te amo”, mudo, e retomou
seu caminho, logo sumindo pela arvores.
Alfonso: Ela vai morrer nas mãos dele. – Disse, passando a mão no rosto.
Christopher: Não vai. – Intercedeu – Se você a detivesse agora, ela fugiria no meio da
noite. Você não ia poder prendê-la para sempre.
Christopher: Como você acha que a mãe de Paul morreu? Quebrando o pescoço
enquanto dormia? – Perguntou, óbvio.
Christopher: Os homens de Robert ainda não chegaram, e eu quero atacar com toda a
potencia. – Ele respirou fundo – Alfonso, se acalme. Ela vai voltar. – Prometeu –
Perdoe pelo tombo. – Disse, apontando o cavalo de Alfonso, que esperava – Vamos
voltar, não é seguro aqui.
Alfonso foi. Montou no cavalo e deu as costas, indo embora. Deixou seu coração lá,
esperando a volta dela, mas foi.
---*
Mary: Já vai! – Exclamou, tirando o avental, pondo-o na bancada. Era uma senhora,
magra, dos cabelos louro claro e os olhos azuis. Ao abrir a porta, o choque. – Senhor
Jesus. Anahí! – Exclamou, puxando a filha em um abraço. Anahí já chorava
abertamente.
Ela percebeu que tudo que precisara todo esse tempo fora disso: Sua mãe. Que lhe
abraçasse, lhe passasse conforto, alguém que não a machucaria, nem a faria mal.
Todo o peso de tudo que havia acontecido desde sua partida pareceu cair sobre
suas costas e Anahí se apertou mais a mãe, chorando desconsoladamente. Mary
fechou a porta, já também ás lagrimas, sem soltar o abraço de Anahí, como se
temesse que aquilo fosse um sonho.
Mary: Meu anjo, olhe só para você. – Disse, pegando o rosto de Anahí entre as mãos,
olhando-a – É uma mulher agora, minha bonequinha. – Disse, o rosto cansado coberto
pelas lagrimas. Anahí soluçou em seu choro, sorrindo.
Anahí: Senti tanto sua falta, mãe, precisei tanto de ti! – Disse, e abraçou a mãe
novamente.
Demorou bastante tempo para as duas se acalmarem. Por fim Mary passou um
café e tortinhas de chocolate para as duas.
Mary: Sente-se, vamos conversar. – Disse, ainda saudosa. Não desgrudava os olhos de
Anahí.
Anahí olhou o banco alto, e olhou para baixo. Estava dolorida dos pés até a cabeça.
Sentar já estava impossível depois da manhã inteira com Alfonso, e ela ainda teve
que cavalgar.
Mary: Não seja tola, esta é sua casa. Sente-se. – Disse, ainda sorrindo. Anahí olhou o
banco alto de madeira novamente.
Anahí: Tudo bem. – Disse, respirando fundo.
Anahí tentou sentar, mas o banco era alto. Sem alternativa bateu a mão na xícara
de café, derramando-a. Mary se virou imediatamente para apanhar um pano e
Anahí subiu no banco, com uma careta de dor.
Mary: Está tudo bem, meu anjo. – Disse, alvoroçada pela presença da filha, enquanto
limpava tudo – Sempre atrapalhada. – Disse, sorrindo consigo própria. Anahí ainda
tinha uma careta no rosto. Então Mary parou – O que está fazendo aqui, Anahí?
Anahí: Eu precisei... – Santo Deus, aquilo estava impossível! Ela quase podia ver
Alfonso rindo da cara dela agora – Preciso resolver algo aqui, mamãe. Mas antes
precisei vir vê-la. – Disse, tomando do café para ver se conseguia se distrair da dor. Não
podia ser um sofá? Uma almofada? Porque o banco, além de ser alto, tinha que ser de
madeira?
Anahí: Senti saudade de casa. – Mentira, é porque tinha um sofá, e ele era baixo.
Mary assentiu, e apanhou uma bandeja para pôr as coisas. Anahí passou na frente,
indo para a sala. O sofá com certeza seria melhor.
Anahí: Maldito seja, Alfonso. – Rosnou, consigo própria, e sentou devagar no sofá. Era
desagradável, mas bem melhor que o banco.
Mary: Aqui. – Disse, pondo a bandeja. Anahí pegou um bolinho. – Pode começar a
falar. – Disse, autoritária.
Anahí: Preciso falar com Paul. – Disse, de boca cheia. Mary engasgou.
Anahí: Não, eu... Mamãe. – Mary esperou – A senhora, por acaso, teria uma muda de
Oleandro aqui?
Mary: Meu amor, como você cresceu! Está mais bonita, mais madura. – Anahí sorriu.
A mãe de Anahí contemplava a filha até que chegou no decote do vestido. Haviam
marcas de mordidas, chupões, marcas de dedos, vermelhas e roxas, por toda a
parte. Ela olhou o vestido. Era de um tecido luxuoso, caro. Estranho.
Mary: Bebê, você se casou? – Perguntou, olhando-a. Anahí seguiu o olhar da mãe.
Epa.
Anahí: Al... O rei Alfonso, mamãe. – Disse, passando a mão no cabelo. Não fazia
sentido algum esconder.
Mary: Oh, meu anjo. – Ela estava penalizada – Ele forçou você? – Perguntou,
acariciando o rosto de Anahí.
Anahí: Ahn... Não. – Disse, e estava vermelha. A mãe dela a olhou, esperando – Eu
estou apaixonada, mamãe. – Admitiu.
Anahí: Ele me ama. Juro que ama. Ele que me deu esse vestido. – Disse, apontando pro
vestido – Ele me dá tudo o que eu quero. Ultimamente tenho dormido no quarto dele. –
A mãe de Anahí estava branca, cor de papel. – Ele me deu isso, veja. – Ela puxou o
escapulário de dentro do decote mostrando a mãe. A insígnia real estava cravada no
ouro.
Anahí: Ele sabe. – Interrompeu. A mãe dela ergueu as sobrancelhas – Ele me pediu em
casamento, mãe. – Disse, sorrindo – Então eu contei a verdade. – Mary parecia ter
engolido a voz – Ele não aceitou a inicio... – A voz dela abaixou, se lembrando dos dias
na masmorra, da dor e da certeza da morte iminente – Mas agora ele sabe.
Mary: Se ele a amasse não deixaria que você tivesse vindo até aqui! – Disse,
preocupada. Anahí sorriu.
Anahí: Ele não deixou. Eu fugi. – Explicou. – Preciso de algo. Algo que está no castelo
de Paul, tenho que ir até lá buscar. – Ela respirou fundo – Ele me prometeu que dentro
em breve virá levá-la daqui. Para ficar comigo. – Contou, e Mary sorriu da felicidade da
filha – Eu o amo tanto, mãe. – Disse, abaixando a cabeça.
Mary: O que quer que você tenha para fazer no castelo de Paul não vale a pena. –
Alertou – A esta altura ele já sabe que tu estas aqui. Fuja, Anahí.
Anahí: A filha de Alfonso sobreviveu, mamãe. – Contou, e Mary perdeu as palavras –
Ao contrario do que acreditamos, está viva. Eu preciso de uma muda fresca da flor, para
curá-la. É uma menina encantadora. Eu só volto quando tiver o que vim buscar. – Ela
respirou fundo – Preciso ir, mamãe. – Disse, grunhindo consigo mesma, ao se levantar.
Mary: Annie, por favor, não vá até lá. – Intercedeu, os olhos azuis tingidos de
preocupação.
Anahí: Voltarei em breve para buscá-la. Se cuide, fique bem, até que eu volte. – Disse,
abraçando a mãe novamente – Eu amo você, mamãe. – Murmurou.
Após a despedida Anahí saiu. Subir no cavalo foi outra tormenta. Da primeira vez
ela fez as pressas, só se lembrou da dor quando ela veio, mas agora não. Por fim
montou, e seguiu seu caminho. Várias pessoas na rua apontavam para ela,
cochichavam, mas ela já tinha seu destino certo.
O cavalo de Anahí passou pelos portões do castelo e ela respirou fundo. Coragem.
Ela parou em frente a escadaria principal, e desceu do cavalo.
Diogo: Anahí?! Pelo sangue de Cristo, o que você pensa que está fazendo aqui? –
Perguntou, escandalizado.
Anahí: Preciso falar com Paul. – Disse, os olhos empedrados no jardim a sua volta.
Haviam milhares das flores que ela precisava.
Anahí: Apenas mande avisar que estou aqui. – Disse, olhando as flores.
Foi com os olhos incrédulos que Diogo viu Anahí subir as escadarias e entrar no
castelo. Já anoitecia. Ela estava na janela onde mandaram ela aguardar. Não havia
nada na sala, apenas uma mesa e a lareira. Ela olhava pela janela, mas não tinha
como ver o castelo de Alfonso no horizonte. Ele estava longe, e ela estava só. Ela
baixou os olhos do horizonte até o jardim, novamente olhando as flores. Até que...
Paul: Minha pombinha. – Disse, a voz repentinamente próxima. Anahí respirou fundo e
se virou, vendo-o parado no portal da sala – Devo admitir que sua visita me deixou
intrigado.
Paul: Eu me pergunto... Que motivo traria você aqui. – Disse, se aproximando. Ele
sorria – Perdeu o juízo?
Anahí: Eu me ofereço. – Disse, lutando para manter a calma – Essa guerra já perdeu o
sentido. Estou aqui, me entrego em tuas mãos, mas desista disso. Sobreviva. – Paul riu
gostosamente, a cabeça pendendo um pouco para trás.
Anahí: Por mim tu morres. – Respondeu, sorrindo – Mas amo a Alfonso, e quero ele
fora do campo de batalha. É minha proposta.
Paul: Curioso... O que Alfonso te disse sobre o dia em que você foi raptada, Anahí? –
Ele viu a confusão riscar os olhos dela brevemente – Oh, ele não te disse que eu estava
lá, não é?
Anahí: Se ele não disse é porque não era relevante. – Disse, ainda neutra.
Paul: Não era relevante que Dulce María me amava? Que ela odiava Alfonso, e que
tinha nojo da aberração que ele plantou em seu ventre? – Anahí franziu o cenho – Não
era relevante o fato de que ela o traiu o tempo todo comigo? De que nós íamos fugir?
Tens certeza?
Anahí: Bom. – Ela respirou fundo – Isso tudo revela que Dulce María tinha um péssimo
gosto. Deplorável. Um homem como Alfonso não se troca, ela era tola se pretendeu
fazer isso. – Paul ergueu as sobrancelhas – Ele é bonito, rico, gentil, fiel, honesto,
carinhoso, atencioso, sem contar que é maravilhosamente bom de cama. – Alfinetou,
atrevida.
Paul: Você cresceu. – Observou, sorrindo. – É uma mulher agora, Anahí. – Completou,
observando-a.
Anahí: Ele me fez mulher. – Desafiou, de queixo erguido – Mas eu não sou o assunto
principal aqui. Lhe fiz uma proposta. – Paul tornou a rir. Anahí via o rosto de Alfonso
toda vez que piscava os olhos, era isso que a mantinha de pé.
Paul: Tu crês que vales a guerra, Anahí? Que eu iria desistir por ti? Pelo amor de Deus.
– Ele respirou fundo – A guerra não vai acabar, e tu não vais fugir novamente.
Paul: É muita audácia sua vir ao meu castelo, me confrontar, insultar a memória de
Dulce...
Anahí:... Não insultei, apenas assinalei que ela não tinha bom gosto. Ou que era burra,
escolha o que lhe apraz.
Paul: CALADA! – Ela havia conseguido irritado – Sim, isto é uma recusa. Não, você
não vai voltar. E veja só, você ter fugido só me fez bem. Melhorou consideravelmente.
– Anahí se aproximou de Paul, e ele sorriu. Ela estava próxima dele agora, podia sentir
seu hálito, os olhos próximos, e ele sorria, sondando-a.
Anahí: Estarei morta antes de permitir que tu me possuas. Não tendo Alfonso como meu
homem. – Disse, em um sussurro, encarando-o – Tenho nojo de ti.
Paul: Estará morta logo após que eu me satisfizer, minha pombinha. – Respondeu, a
mão se erguendo para tocar a maxilar dela – Há muito esperei por isso. Temos um
assunto pendente. – Lembrou, os olhos dos dois próximos demais, assim como os
lábios. Ela podia sentir a respiração dele, quente, em seu rosto.
Anahí: Soube que irá se casar. – Disse, estreitando mais a distancia entre os dois. Mais
um milímetro e os lábios se tocariam – Achaste um ser tão desprezível quanto tu,
afinal? – Perguntou, sorrindo. Ela não sabia de onde encontrara coragem, mas sentia
prazer naquilo.
Paul: Tua ousadia me fascina. – Disse, ainda sorrindo, tocando o queixo dela com o
polegar - Mas onde estão meus bons modos? – Perguntou, irônico, se afastando –
Venha, vou levá-la aos seus aposentos. – Chamou, mostrando-lhe a porta. Ela ergueu a
sobrancelha, sorriu, e foi. Seja o que Deus quiser.
Para surpresa de Anahí, ele a levou a um dos quartos de hospedes. Ela não havia
levado nada, logo, não tinha nada. Foi chamado por um mensageiro, algo sobre o
casamento. Anahí escapou na hora. Correu até o jardim, se lançando no canteiro
de flores, e colheu uma porção enorme com todo o cuidado, guardando-as em um
envelope grande. Quando voltou pro quarto, ele ainda não estava lá. Ela estava
tremula. Como iria sair dali? Largou o envelope em cima de uma cômoda, e
apanhou a adaga de prata que roubara, com as iniciais AH entalhadas no punho.
Olhou pela janela. A noite era cruel lá fora.
Paul: Por suposto que não. – Ela sentiu os cordões do vestido serem desamarrados, seu
corpo se balançando com as puxadas, e franziu o cenho.
Anahí: Tire as mãos de mim, Paul. – Alertou. Ele riu, e a virou de frente pra si. Não
conseguira se desfazer totalmente dos cordões; o vestido de Alfonso a protegeu.
Anahí: Veja. – As mãos dela subiram pelo peito dele. Seu estomago se rebelava
completamente contra isso – Você vai morrer. Aceitando minha proposta vive, e ainda
me leva como bônus.
Paul: E, eu aceitando, o que você pretende fazer com as flores que acabou de roubar do
meu jardim? – Perguntou, debochado. A mascara de Anahí quase caiu.
Anahí: Aquilo é para o caso de você não aceitar. – Disse, sorrindo. Cada pedaço do
corpo dela emanava sedução, mesmo ela estando a ponto de vomitar.
Paul carregou Anahí. Uma ânsia forte veio até ela, mas ela se conteve, mantendo o
olhar dele. Os dois desmontaram na cama, e ele já atacava o corpo dela, a boca
maculando as marcas deixadas por Alfonso. A mão dele puxou o decote do vestido,
na intenção de rasgá-lo, e Anahí permitiu. Queria ele distraído. Paul mordeu o
decote do espartilho dela, apanhando uma porção de seu seio na boca, como se
provasse. Meu Deus, por favor, que eu não vomite. Não agora. Anahí se moveu
cuidadosamente. A adaga estava em sua mão. Ela ergueu o braço, como se fosse
abraçá-lo, tomou o impulso para cravar a adaga e... Do nada a mão dele estava
segurando seu punho. Ele ria. A mão dele apertou o punho dela até que ela não
agüentou a dor e soltou a adaga, que ele apanhou e jogou longe, caindo no chão do
quarto.
Paul: Tão fácil assim, minha pombinha? – Perguntou, debochado. Agora Anahí estava
com medo. Muito medo. – Vamos ver até onde vai sua ousadia, uma vez desarmada.
E ele partiu pra cima dela outra vez. Agora ela estava perdida.
E pra desespero de Anahí ele tentou beijá-la. Ela trancou os lábios com toda a
força que tinha, forçando os dentes uns contra os outros, mas isso não parava os
lábios dele, que estavam sobre os seus. Anahí tinha nojo. Ela se lembrou do toque
de Alfonso e se resetou ainda mais, estapeando-o, arranhando-o. Ele baixou a boca
pro pescoço dela, deixando beijos pegados por onde passava. Uma ânsia de vomito
veio a garganta de Anahí, mas ela a deteve. Continuou resistindo. Não permitiria,
nem que morresse no intento. Seu desespero piorou quando sentiu suas pernas
descobertas (ele puxara o vestido para cima), e as mãos dele apanhando as pernas
dela. Ela trancou as pernas, empurrando-o, se debatendo, mas Paul parecia estar
se divertindo. Então, do nada, se lembrou da voz de Ian, distante, dizendo que um
golpe em um certo local machucava miseravelmente um homem, quase
imobilizando-o...
Paul: Puta! – Exclamou, momentaneamente paralisado, após receber uma joelhada entre
as pernas com toda a força que podia reunir. Ele se encolheu, cego pela dor, e ela
escorregou, ofegante. Mas ao se levantar ele a puxou de volta – Você não vai embora,
sua vadia. – Rosnou, puxando-a.
Mas Anahí estava de pé, e ele, caído, ainda retardado pela dor. Ela tentou se soltar
e ele puxou o vestido dela, rasgando-o, deixando o espartilho dela exposto. Anahí o
empurrou, desesperada, e não sabia como, mas conseguiu pegar o atiçador da
lareira do quarto. Queria tanto estar com a adaga agora! Ela tentou golpeá-lo com
o atiçador, mas não era afiado o suficiente e ele estava se recuperando.
Anahí então bateu nele com o pedaço de ferro, na cabeça, com toda a força que
tinha. Ela perdeu a conta de quantas vezes, até que ele caiu. Desesperada, e ainda
ofegante, com a roupa rasgada, Anahí apanhou o envelope e disparou correndo
porta a fora com toda a velocidade que conseguia atingir. Tropeçou nos degraus da
escadaria, nos últimos, caindo na grama, mas se levantou imediatamente. Por sorte
ainda não haviam retirado seu cavalo dali. Ela montou e saiu, ofegando, parecendo
um borrão. As pessoas paravam para olhar ela passando. Era como uma alarme.
Problema foi quando chegou a fronteira. Paul havia dado ordens para que ela não
passasse.
Anahí: Por favor. – Implorou, quase as lagrimas – Pelo amor de Deus, me deixem ir. –
Nenhum dos guardas se moveu.
Anahí: No reino de Alfonso há paz, mesmo em guerra. Não há fome, não há dor, há
respeito e compreensão. – Continuou – Fugi daqui para escapar de Paul, e ele me
acolheu. Soube da minha verdade, e ainda assim não me matou. – Os cochichos
aumentaram – Aqui está a prova. – Ela puxou o vestido – Paul tornou a me atacar hoje,
mas antes dele me rasgar as vestes esse vestido era lindo, e foi Alfonso quem me
presenteou com ele. Ele escuta as pessoas antes de matá-la, e nunca mata ninguém por
capricho. – Ela respirou fundo, se segurando no cavalo – Sim, senhores. Eu sou a
amásia dele, como correm os boatos. Tenho orgulho disso.
O alvoroço foi total. Anahí estava causando um motim mesmo sem saber.
Anahí: Alfonso não pretende matar NINGUÉM por ser daqui. Pelo contrário, ele vai
abrigá-los, assim que esta maldita guerra acabar. As famílias poderão se unir
novamente, essa fronteira já não vai existir. – Ela respirou fundo. Uma voz veio dentre a
multidão, questionando-a do porque voltara – Voltei porque precisava disso. – Ela
estendeu a mão, mostrando o envelope – São oleandros. A filha de Alfonso, a princesa
Suri, precisa disso para voltar a andar. – Respondeu, então se virou para os guardas
novamente – Então por favor. Por. Favor. Me deixem ir antes que Paul me alcance
novamente.
Porém os guardas foram impassíveis. Tinham ordens, e as cumpririam. Duas
lagrimas caíram pelo rosto de Anahí. Tudo isso e morreria na maldita fronteira.
Até que houve um alvoroço entre a multidão.
XXXX: Deixe que ela passe! – Exclamou uma voz de homem. Anahí não reconhecia.
Anahí: Eu só pedi uma noite. – Sussurrou, e ele se virou em um rompante. Ela estava lá,
toda rasgada, com alguns cortes pelos braços, mas inteira.
Alfonso: Ah, meu Deus. Obrigado. – Disse, arfando, e a puxou pro seu colo, abraçando-
a com toda a força. Ela caiu no choro. Uma vez em segurança, todo o pânico de tudo o
que ela passara caiu sobre seus ombros. Mas ela estava nos braços dele agora. Ele
percebeu os soluços do choro dela, e aquiesceu – Nunca mais, Anahí. Nunca mais. –
Disse, a voz cortada, embaçada. – Está tudo bem. Já passou.
Anahí ainda chorou por minutos. Estava apavorada. Mas estar nos braços dele a
confortava, e aos poucos ela se acalmou.
Anahí: Você é e sempre vai ser o único homem a tocar em mim. – Alfonso sorriu,
respirando fundo – É o único em minha alma, Alfonso. – Disse, beijando a testa dele.
Ele a abraçou pela cintura, amparando a cabeça em sua barriga - Bom, no meu corpo
também. – Sussurrou, brincando, e ele riu de leve.
Alfonso: Mas sua roupa... – Disse, vendo o estado do vestido dela. O espartilho quase
todo estava exposto.
Anahí: Ele tentou. – Admitiu, e Alfonso fechou a cara – Mas eu fugi. – Disse, sorrindo.
– Me sinto suja pelo toque dele. – Admitiu, e Alfonso a apanhou pelas coxas, trazendo-a
sentada pro seu colo. Ele puxou o vestido, terminando de rasgá-lo, deixando-a só de
roupa debaixo. Anahí o beijou sedentamente, apanhando seu rosto entre as mãos, e ele a
aceitou, puxando-a pela cintura. O beijo durou minutos, mas ela o freou – Não. –
Murmurou, e ele a encarou.
Anahí: Preciso usar isso antes que seque. – Disse, apanhando o envelope na cama, atrás
dele. O rosto de Alfonso empedrou.
Anahí: Passou da hora de alguém aqui começar a andar. – Sussurrou, antes de morder o
ouvido dele, e se levantou. Mas ele não teve resposta para aquilo. Finalmente.
Anahí: Toque fogo nisso. Em todas elas, e em cada uma. – Pediu, e ele assentiu,
pegando o bolo grande de pétalas brancas amassadas nas mãos, caminhando até a
lareira. Atiçou o fogo, e jogou as pétalas lá. O perfume que veio foi forte. Ele voltou até
Anahí, vendo que ela observava o caule da planta.
Alfonso: Acha que precisará dos 12? – Perguntou, e podia se ouvir a hesitação dele
sobre aquilo, enquanto andava com ela no corredor.
Anahí: Não sei ao certo a quantidade. Vou dar aos poucos, até que ela recupere os
movimentos totalmente, então eu paro. Não é uma ciência exata. – Disse, e ele parou na
porta do quarto de Suri, respirando fundo – Confie em mim.
Alfonso: Eu estou confiando. – Disse mas ainda parecia nervoso – Estou lhe confiando
o que tenho de mais precioso. – Ele respirou fundo novamente.
Anahí: Vai ficar tudo bem. – Garantiu, e selou os lábios com os dele, entrando no
quarto.
Suri despertou satisfeita, por ter o pai e Anahí ali. Sua satisfação foi embora assim
que ela viu o frasquinho. O sumo cheirava a planta, e era branco opaco, quase
cinza.
Suri: Não vou beber isso. – Disse, vendo Anahí apanhando uma colher.
Anahí: Sim, a senhorita vai. – Suri fez bico – Tu serás rainha, seja corajosa. -
Incentivou.
Suri: Eu nem estou doente. Para que é isto? – Alfonso permanecia calado, nos pés da
cama.
Anahí: Quando for o momento, tu saberás. – Anahí não queria criar falsas expectativas,
caso não desse certo.
Alfonso: Ouça ela, meu anjo. – Pediu, em voz baixa. Alfonso estava branco feito cal.
Anahí: No três. – Disse, e Suri olhou o remédio com uma careta – Um, dois, três!
Alfonso abaixou os olhos ao ver Suri abrir a boca e engolir o remédio. Anahí ainda
lhe deu mais duas colheres , três no total.
Suri: Minha boca está ardendo! – Exclamou, com uma careta. Alfonso olhou para
Anahí, preocupado.
Anahí: Está tudo bem, já acabou. – Ela tampou o frasco, deixando-o na cabeceira de
Suri. Ela apanhou um copo de água da cabeceira e deu a menina, que bebeu.
Suri: Annie, minha garganta está queimando. – Se queixou, atordoada. Sentia os lábios
ardendo, dormente, assim como toda a boca e a garganta. Ela tomou mais da água, mas
não ajudava.
Anahí: É pro seu bem, acredite. Se deite mais um pouco, logo tudo vai passar. –
Prometeu, ajeitando a menina na cama. Suri tinha uma caretinha desgostosa no rosto –
Vai passar. – Sussurrou, beijando a testa dela em seguida, e a menina sorriu de canto,
fechando os olhos.
Alfonso: E agora? – Perguntou, angustiado, em um sussurro.
Anahí: Agora nós esperamos. – Respondeu, e ele suspirou. Ela o abraçou e ele a apertou
forte contra o peito, aspirando seu perfume, enquanto observava a filha.
Só restava esperar.
Era noite. Suri adormecera pela manhã, logo após tomar o remédio, e não
acordara. Estava pálida, quieta, mal parecia respirar.
Alfonso: Ela tem a aparência de Dulce María. – Ele estava entrando em pânico. – Eu
vou chamar um médico. – Disse, se levantando em um rompante.
Anahí: Ei. – Ela o segurou pelo colete. Alfonso a olhou, atordoado – O medico resolveu
da ultima vez? – Alfonso não respondeu – Confie em mim.
Ian: Com licença. – Disse, batendo na porta. Anahí e Alfonso olharam. – Alfonso, o
jantar foi servido. Tu vens?
Anahí: Vai. – Rebateu, ao mesmo tempo. Ian ergueu a sobrancelha, esperando. Alfonso
a olhou, indignado – Sim, tu vais. Tua preocupação a deixará ainda mais tensa, vá e só
volte quando eu chamar. – Disse, empurrando-o.
Houve uma luta corporal rápida dentro do quarto. Ian era rápido, mas Alfonso se
esquivava. Até que Anahí se lançou, abraçando Alfonso com força, o que deu
tempo de Ian agarrá-lo pelo fundo da camisa.
E Ian rebocou Alfonso. Anahí olhou Suri, após fechar a porta. A menina estava
quase cinza. Apenas horas depois, já noite aberta, que houve resposta. Suri gemeu,
franzindo o cenho, e Anahí se adiantou.
Suri: Ai. – Choramingou, se encolhendo. Só que dessa vez ela se encolheu totalmente,
junto com as pernas – Você viu o que eu fiz? – Perguntou, chocada.
Anahí: Calma. Respire. – Suri soluçou, segurando as pernas. Era como se estivessem
lhe enfiando agulhas, dezenas delas.
Anahí se levantou, indo até os pés da cama. Apanhou um dos pés da menina com
cuidado, tentou dobrar-lhe a perna, mas ela gritou. Anahí respirou fundo. Ela se
pôs a massagear os pés da menina, que apenas choramingou, angustiada. Alfonso
estava atrás da porta, vendo tudo, observando tudo. Levou horas para Suri parar
de chorar. Mais horas para se acalmar. Já amanhecia quando, exausta,
adormeceu. Ele entrou no quarto e Anahí ergueu o rosto, assentindo. Ambos
estavam exaustos. Alfonso foi até ela, a apanhando no colo e beijando seu ombro
de leve.
Anahí: Não posso ter certeza, mas acho que ela ainda sentirá dor quando acordar. –
Ambos suspiraram – Sinto falta da tua cama agora. – Anahí estava realmente cansada.
Desde a fuga ela não dormia.
Alfonso: Durma um pouco. Estas quase desmontando. – Disse, tirando o cabelo do rosto
dela.
Anahí: Dormirei quando tu fores. Estou bem. – Disse, se aconchegando no peito dele,
suspirando.
Alfonso: Não gosto de vê-la sofrer assim. Minha função sempre foi impedir que toda e
qualquer dor alcançasse Suri. – Disse, vendo a filha dormir, o rostinho ainda molhado
das lagrimas.
Anahí: Não poderá fazê-lo para sempre. – Disse, aspirando o perfume dele – E pense
que logo ela estará correndo, para cima e para baixo. – Alfonso sorriu.
Alfonso: Teremos que trancar a porta do quarto. – Disse, divertido. Anahí o beliscou, o
que o fez rir.
Anahí: Hum... – Ela suspirou novamente, cansada - Seria abuso meu pedir que me
beijasse? – Perguntou, encolhida no peito dele, que sorriu, tocando-lhe a maçã do rosto.
Alfonso: Eu estava prestes a pedir. – Confessou, o que a fez sorrir. Alfonso abaixou o
rosto, tomando os lábios dela de modo delicado, doce.
O sentimento que havia entre os dois parecia se fortalecer mais a cada minuto.
Anahí se perguntava se aquele frenesi nunca passaria. Só de sentir os braços dele,
ou até mesmo seu perfume, ela se sentia segura, em paz, feliz. Ela o abraçou pelo
pescoço, tendo cuidado para não machucá-lo com o gesso, entregando-se de boa
vontade. Alfonso suspirou com a receptividade dela, satisfeito. Essa sim o queria, o
amava. Podia ver em seus olhos, em sua voz, no modo como ela se estreitava no
abraço dele, como se não quisesse mais vê-lo partir. Só que...
Suri: Nem no meu leito de morte vocês dois param com isso? – Perguntou, observando.
Anahí e Alfonso se separaram, sobressaltados, e ela sorriu.
Suri: Meu pé está formigando, só, eu acho. – Disse, respirando fundo, então se tocou.
Seu pé jamais formigara – Ei, olhe isso! – Disse, novamente chocada.
Suri: Mas está formigando! – Repetiu, como se Alfonso não tivesse captado a
mensagem direito.
Anahí: Tente mover. Sem expectativas, só por tentar. – Suri assentiu, e haviam três
pares de olhos nos pés dela: Um azul, um verde e um castanho esverdeado.
Suri franziu o cenho delicado, olhando os pés. Aos poucos o pé direito foi se
movendo, como de ela desse impulso tentando levantar a perna.
A menina conseguiu dobrar a perna quase até a metade então ofegou, cansada.
Anahí levou as mãos a perna dela, apanhando-a.
Anahí: Creio que com mais tempo... – Respondeu, no mesmo tom, equilibrando a perna
da menina com o gesso da mão – Suri, você... – Ela parou. A pequena caíra no sono
outra vez. – Deixe que durma. Vai ficar bem. – Alfonso assentiu, preocupado. Anahí
apanhou duas das varias almofadas da cama de Suri, e se levantou do colo dele – Venha
aqui.
Ela o puxou pro chão. Alfonso achou graça; Ela sempre o surpreendia. Se
ajoelhou, desabotoando o colete e os pulsos da camisa dele, e lhe tirou os sapatos.
Ele observou ela desamarrar seu cinto, divertido.
Alfonso: Posso tirar sua roupa também? – Propôs, e Anahí revirou os olhos.
Anahí: Não seja tolo. – Ela o empurrou, fazendo-o cair deitado, com a cabeça no
travesseiro. Ele riu. Ela empurrou as sapatilhas de qualquer jeito, e ia deitar, mas ele a
deteve – O que?
Alfonso: As costelas. – Lembrou, severo. Anahí revirou os olhos – Você não está em
condição de reclamar. Ainda estou pensando se devo enforcar você por ter fugido ou
não. – Disse, severo, e se sentou. Ela deu as costas, deixando ele afrouxar os cordões do
vestido e do espartilho, se era o que queria – Anahí...
Alfonso: Uma de minhas adagas sumiu. – Disse, e ela franziu o cenho. Isso era encrenca
– Quer explicar?
Anahí: Queria que eu fosse desarmada? – Perguntou, o corpo oscilando pelas puxadas
dele.
Alfonso: Não queria que você fosse. – Corrigiu. Houve um instante de silencio – Onde
está? – Anahí não respondeu. Estava perdida em algum lugar naquele quarto medonho.
Alfonso interpretou o silencio dela de modo errado – Anahí, você o atacou! – Disse,
exasperado.
Anahí: Dei na cabeça dele até que desmaiasse. Ele precisava aprender que o único que
pode me tocar és tu. – Disse, beijando-lhe sutilmente.Ele sorriu de canto com carinho
dela.
Alfonso: Venha. – Ele se deitou, puxando-a para o seu peito. Ele observou o modo
como ela se agarrou a ele, se acomodando. Gostava disso.
Suri: Ei. – Disse, cutucando o pai – Vocês dois. Pelo amor de Deus, acordem. – Disse,
impaciente.
Alfonso: Está sentindo al... – Os olhos sonolentos se abriram em placas – Anahí. –
Chamou, cutucando a outra. Anahí suspirou, abrindo os olhos novamente, depois
arregalando-os.
Alfonso: Você está vendo isso também? – Perguntou, olhando a filha, mas agarrado no
braço de Anahí.
Anahí: Deu certo. – Murmurou, maravilhada. – Alfonso, você vai quebrar meu gesso. –
Avisou, olhando a menina, mas se referindo ao braço que ele segurava. Ele a soltou.
Suri: Porque vocês estão sem roupa no meu quarto? – Perguntou, erguendo a
sobrancelha.
Anahí: Não é do que quero falar agora. – Disse, se sentando. O vestido frouxo não
aderiu ao seu corpo, quase levando-a de volta ao chão. Alfonso a amparou, por reflexo,
ainda olhando a filha. Estava branco. – Sente algo?
Suri: Na verdade, não. – Disse, o rosto ansioso, quase saltitando. – Eu acordei e vocês
estavam dormindo. Eu levantei, depois me lembrei que não podia levantar, ia gritar, mas
desisti. – Contou – Olhe isso! – Ela caminhou em direção a eles perfeitamente,
orgulhosa. Alfonso agarrou Anahí novamente. – Eu posso andar!
Houve um momento de silencio entre os três, até que Anahí (se libertando do
apertão que tomava), se levantou, abraçando a menina, que riu gostosamente,
comemorando. Alfonso continuou estático. Nem acreditava que aquele pesadelo
finalmente havia acabado. Suri o olhou, como se esperasse aprovação, mas ele não
conseguiu falar. Estendeu a mão para ela, que caminhou até ele, pegando-a, e a
abraçou forte. Anahí sorriu vendo a expressão dele sob o ombro da menina.
Alfonso: Meu bebê. – Murmurou, rouco. Suri se agarrara ao ombro do pai, quietinha –
Estou tão orgulhoso de você. – Completou, dando um beijinho no cabelo dela.
Alfonso olhou Anahí, que observava quieta, e disse um “Obrigado.”, sem som. Ela
apenas sorriu. Foi um longo, longo, dia. Suri descera para o almoço, se
comportando como uma perfeita dama, e conversou com as rainhas presentes
educadamente. Primeiro houve um momento de surpresa, admiração, depois a
comemoração, os parabéns, um champanhe foi aberto. Anahí ficou a beira,
primeiramente, atenta a Suri, mas Alfonso a surpreendeu, chamando-a. Depois do
almoço, Suri ficou irredutível. Queria andar o mundo em uma tarde, e foram
precisos Anahí e Alfonso para contê-la. A noite foi pior ainda. A menina não
queria dormir, por nada.
Anahí: ACABOU! – Disse, exasperada. Alfonso e Suri olharam. Anahí tentava por Suri
na cama há quase duas horas, mas Alfonso brincando com a menina não ajudava – Já
chega. Saia daqui. – Ordenou, apanhando-o pelo braço. Suri gargalhou gostosamente. –
Fora. – Ela o empurrou até a porta do quarto. Ele soltou um beijinho para a filha, que
retribuiu, e ela o empurrou porta a fora – Suma daqui. – E ia fechar a porta, mas ele
segurou seu braço.
Alfonso: Estarei lhe esperando.- Disse, em tom baixo, os olhos encarando os dela. Ele
sorria.
Anahí: Grande novidade. – Disse, revirando os olhos, e ele riu. Ela o empurrou e fechou
a porta. – Agora você, mocinha. – Disse, se virando. Suri pulou pra fora da cama, rindo,
e correu pro banheiro. Anahí suspirou.
Levou mais meia hora até ela conseguir pôr Suri para dormir. Por fim ela cobriu a
menina, sorrindo, apagou as velas e saiu. O cansaço a apanhou logo na porta. A
escadaria da torre parecia interminável, e ela considerou dormir ali. Por fim abriu
a porta da torre, vendo Alfonso sentado na cama, sem camisa, os cabelos curtos
molhados, banho recém tomado.
Alfonso: Você está despencando. – Lamentou, vendo as olheiras dela. Ele tentou contar
o tempo desde que Anahí havia dormido... Mas a lembrança dele se perdia no momento
em que ele voltou a torre, após ter encontrado os restos do diário de Dulce María, e a
encontrou lá. Ele quase a violentara, logo depois ela fugiu, passara Deus sabe lá o que
com Paul, voltara fugida, então perdera outra noite cuidando de Suri... Ele suspirou.
Anahí: Nada que um pouco de sono não resolva. – Disse, se aproximando, e ele a puxou
pro seu colo. – Você viu o sorriso dela? – Perguntou, cansada, mas sorrindo. Sentiu as
mãos dele começarem a puxar os cordões do vestido.
Alfonso: Esperei por esse momento minha vida inteira. – Disse, puxando o vestido solto
pelos ombros dela, deixando-a de espartilho. Logo estava puxando os cordões do
espartilho, removendo-o – Obrigado. – Disse, dando um beijinho no ombro dela ao
terminar. Ela sentiu o espartilho frouxo e se recostou nele, de olhos fechados, fungando-
lhe o pescoço. Alfonso deu um beijinho na maxilar dela.
Anahí: Você cheira a sabonete. – Comentou, fungando dele novamente, que riu.
Alfonso: Shh. – Ela assentiu, se acomodando no peito dele. Ficou lá, quieta, até que ele
a colocou de pé. Ela nem sentiu ele tirando o resto de sua roupa, então a água quente a
acolheu. Ela suspirou, se prendendo a realidade.
Anahí: Esse momento tinha que ser romântico. – Observou, sentindo as mãos dele
subindo por seu pescoço, massageando. Ele estava sentando na borda da banheira, de
bermuda.
Alfonso: Está sendo. – Disse, e ela deixou a cabeça cair quando ele apertou seus
ombros. As mãos dele eram fortes, e seus ombros estavam tensos, doloridos.
Anahí: Mentiroso. – Disse, soprando a espuma, e ele riu – Porque não entra na água
comigo?
Alfonso: Porque... – Os dedos dele traçaram o ombro dela, apertando a pele cansada, e
ela suspirou – Eu não tenho tanto controle assim. Porque se eu entrar na água vou
terminar fazendo o que não devo. Porque se eu fizer amor com você, você vai entrar em
coma. – Disse, beijando a testa dela, que riu. – Só quero que você descanse.
Alfonso: Não vai precisar nem me lembrar, eu prometo. – Ela riu do tom dele.
Alfonso a massageou até que ela desfaleceu, caindo no sono. Ele a ensaboou, a
banhou, e se desafiou a não acordá-la. A carregou com cuidado, secando-a
sutilmente, e a vestiu. A pegou no colo, levando-a para cama, e a deitou. Soltou o
cabelo dela, ajeitando o travesseiro, e a cobriu. Se secou, apagou as velas e se
deitou ao lado dela. Sorriu no escuro, porque assim que se deitou ela, adormecida,
o abraçou, deitando a cabeça no peito dele, se estreitando, abraçando-o. Ele amava
cada um desses atos. A abraçou, trazendo-a para si, e ela suspirou em seu sono.
E ela dormiu. O sono era profundo, merecido, cansado, o sono dos justos. Dormiu
a noite inteira. Ela não sabia, mas o dia seguinte seria longo.
---*
O dia estava frio. Todo o reino estava reunido em frente ao castelo. Um palco fora
montado em frente as escadarias. Haviam 8 tronos ali. Os primeiros a chegar
foram Robert e Kristen, seguidos por Ian e Katherine, logo por Alfonso, por
ultimo Christopher e Madison. Apenas um trono ficou vazio. A cada vez que
alguém chegava, todos se curvavam. Alfonso, sentado no trono do centro, tinha um
sorriso de canto no rosto. Todos aguardavam, sem fazer idéia do porque haviam
sido convocados ali. Até a guerra havia parado para esse anuncio; Apenas
permaneceram guardas nas fronteiras . Alfonso quis o máximo de pessoas
possíveis.
Suri: Estou nervosa. – Disse, passando a mão no vestido. Seu vestido era rosa, delicado,
e as luvas eram de renda branca. Ela estava pálida.
Anahí: Não vejo porque. Está linda. É a princesa. – Disse, dando de ombros. Suri sorriu.
Anahí usava seu vestido de criada, cinza e branco, e tinha os cabelos presos no
tradicional rabo de cavalo baixo. Ela puxou a aba do vestido de Suri, olhando as
sapatilhas brancas, delicadas – O sapato está machucando? – Perguntou, e Suri negou –
Sente algo?
Suri: Fora a vontade de sair correndo? – Perguntou, apertando as mãos, e Anahí sorriu,
beijando-lhe a testa.
Anahí: Vai ficar tudo bem. – Prometeu – Eu vou lá fora espiar pra você, certo? – Suri
assentiu, ansiosa.
Anahí sorriu, caminhando até a plataforma, pela lateral, espiando escondida pela
sombra do trono de Kristen. Ela arregalou os olhos. Havia gente até o horizonte,
de todos os lados, pessoas paradas, olhando. Ela tentou contar, mas não havia
como. Até a linha do horizonte, e além, haviam pessoas. Ela respirou fundo,
procurando se acalmar. O reino todo estava ali, era gente demais, não cabia no
alcance dos olhos. Ela olhou para Alfonso, mas ele olhava para frente. Anahí
observou. Era a primeira vez que via Alfonso usando a coroa. Ela sabia que, se
estivessem a sós, ela riria dele. A coroa dele era de prata, com algumas pedras que
ela não podia distinguir pela distancia, envolvendo a cabeça a partir da testa. Ela
olhou em volta. Todos os reis usavam coroas. Diferentes, é claro, mas todos
usavam. As rainhas também. As delas eram mais delicadas, cada uma a seu
formato. A de Madison tinha diamantes cravados, Anahí reconhecia pela cor e
pelo brilho. Se prendia na raiz dos cabelos negros, e era grande, bonita. Prendia a
visão. Todos estavam muito bem vestidos. Madison de preto, como sempre.
Katherine de vermelho e Kristen de azul turquesa. Os reis usavam ternos longos,
negros, tudo muito luxuoso. Até que Alfonso se levantou. Havia uma pequena caixa
preta no trono vazio ao lado dele. Anahí tropeçou de volta, correndo pra Suri.
Anahí: Er... Vai ficar tudo bem. – Disse, tentando conter o rosto.
Suri: Venha comigo. – Pediu, agarrando a mão dela. Anahí arregalou os olhos.
Anahí: Não posso, está louca? – Perguntou, exasperada. Mas a voz de Alfonso soou.
Silencio total se fez.
Anahí olhou em direção ao “palco”. Alfonso estava de pé, bem na frente, com as
mãos as costas, e todos observavam atentamente.
Alfonso: Creio que todos nós conheçamos as bases da guerra em que vivemos. –
Começou, sério. – Há seis anos minha... – A boca dele amargou – Minha esposa, Dulce
María, foi assassinada. Minha filha sobreviveu, porém jamais pôde andar. – Todos
esperavam. Todos conheciam aquela história, onde ele queria chegar? – Eu tentei de
tudo, desesperadamente, e me vi como um pai frustrado. Não consegui ajudá-la. – O
silencio reinou – Quando eu achei que tudo estava perdido, entretanto, um raio de luz
nos alcançou. – Ele sorriu consigo mesmo – Houveram controvérsias, problemas,
desentendimentos, mas não se pode tapar o sol com a mão. A luz chegou até mim, até
minha vida, até meu castelo... Até minha filha. – Ele sorriu novamente, e respirou fundo
– Então hoje eu os chamei aqui pois tenho considerações e apresentações a fazer.
Suri se agarrou ao braço bom de Anahí, que nem sabia o que fazer. Era demais
pedir a uma criança para encarar aquilo.
Alfonso: Em primeiro lugar, lamentavelmente com seis anos de atraso, eu quero lhes
apresentar vossa princesa. – Ele se virou e franziu o cenho vendo Suri agarrada em
Anahí. Anahí o explicou com um olhar e ele entendeu. Caminhou até a escadaria e
estendeu a mão pra Suri, que não conseguiu se mover. Anahí apanhou a mão dela,
levando-a até o pai. Suri pegou a mão de Alfonso, e respirou fundo, sorrindo. Um
murmúrio começava a nascer entre o povo. Alfonso caminhou com Suri até a beira do
palco, e um silencio violento se abateu – Esta é minha filha, Suri Marie Herrera, a
princesa herdeira de meu trono. – Encerrou, e sorriu para filha.
Alfonso: Por ultimo, mas não menos importante, eu quero lhes apresentar a luz. – Disse,
sorrindo. Ele se virou e viu Anahí com os olhos arregalados, já com um passo atrás pra
correr. Ele ergueu a sobrancelha pra ela – Minha noiva, futura esposa, e vossa futura
rainha: Anahí Giovanna. – Ele estendeu a mão para ela. Anahí estava branca – Anahí,
por favor. – Chamou. Anahí nem sentia as pernas, pra começar. Como aquilo havia
ocorrido?
Anahí apanhou a mão dele, e se viu ser levada até a frente do palco. Estava gelada.
Ele apanhou um anel delicado na caixa onde estivera a coroa. Havia um diamante
cravado nele. Ele apanhou a mão direita dela, sorrindo de canto.
Alfonso: Você me prometeu uma vez que quando a guerra acabasse, se eu te repetisse
esse pedido, você me diria sim. – Disse, e ela o encarou – Bom, nossa guerra acabou. –
Disse, dando ênfase ao “nossa” – Case-se comigo, Anahí. – Pediu.
Ela o encarou por um instante, tendo mil coisas pra falar e não dizendo nada.
Então apenas sorriu. Ele entendeu e a aliança fria deslizou pelo dedo dela. Alfonso
beijou a mão dela, em seguida se afastando, segurando-a na palma da mão.
Todos haviam comemorado o dia inteiro, com direito a muito vinho e champanhe.
Suri adormecera há uma hora, cansada. Uma criada a levou para cama.
Alfonso: Bom, com a licença de vocês. – Começou – Eu vou me retirar. Foi um longo
dia.
Ian: É claro. – Disse, vendo Anahí se levantar com Alfonso. Parecia achar graça em
algo.
Robert: Boa noite. – Disse, e uma mão fria apanhou Anahí pelo braço, afastando-a de
Alfonso. Não se soube qual foi o olhar mais indignado: O dele ou o dela.
Robert: Você disse que ia dormir. – Lembrou. Christopher riu gostosamente, pondo a
mão na barriga.
Anahí: Eu... – Ela hesitou. Falar diretamente com um rei era uma completa novidade. –
Eu vou com ele.
Madison: Vamos, não torne isso tão obsceno. – Disse, enquanto Christopher brincava
com sua mão.
Alfonso: Eu não estou entendendo a piada. – Disse, se irritando. Tentou apanhar Anahí,
mas Robert a tirou do alcance rapidamente.
Alfonso: E...?
Katherine: E... Que sendo sua noiva ela não pode estar em seus aposentos com você. –
Disse, como o marido, prendendo o riso – Não até ser sua esposa.
Madison: Como eu disse, não torne isso tão obsceno. – Disse, sorrindo.
Alfonso encarou Anahí, exasperado, mas ela piscou pra ele, muito timidamente.
Ele se despediu de todos e saiu. Uma hora depois Anahí estava em seu quarto, não
o de empregada, o outro, em seu banho. Ainda sentia o perfume dele, o calor de
sua pele... E ela se aprontou, pondo a camisola e um hobbie. Apagou as velas, e
saiu descalça, na ponta dos pés e rapidamente. Mas na curva do corredor...
Ian: Cuidado com a pressa. – Disse, parado, encostado na parede. Estava encostado
preguiçosamente na parede – Pode cair em um corredor escuro. – Ele riu levemente –
Evite acidentes, vá para o seu quarto, Anahí.
Ian: Nanana. Não no meu posto, nem no meu plantão. – Anahí suspirou – Farei um
favor, mandarei avisar a ele que você não vai. Viu? Eu sou um anjo.
Anahí: ARGH! – Disse, e Ian gargalhou. Ela correu. Colocou tanta força que suas
pernas doeram... Mas ele então, do nada, ele estava parado a sua frente, trancando o
corredor. Ela ofegou pela breve corrida, derrotada – Estou indo, estou indo. – Disse,
voltando pro quarto.
Ele não poderia ficar lá a noite toda; era um rei. Anahí esperou até a madrugada.
Ian foi embora... Mas deixou um guarda. Não tinha jeito de sair. Ela olhou pela
janela, mas era alto demais para pular. Alfonso quase matou a criada que foi lhe
mandar o recado de Ian. Desceu para ir buscá-la, chegou a dispensar o guarda,
mas Robert apareceu, e o levou. Por fim os dois dormiram, sozinhos e separados.
Era o inferno.
Anahí: Trouxeram. – Disse, lembrando-se das malas e malas com vestidos e todos os
tipos de roupa que chegaram para ela.
Anahí: Porque eu não sou rainha. – Disse, debochada – Usarei quando for, no verbo não
sou ainda. – Madison riu gostosamente.
Madison: Gosto da sua atitude. – Disse, se sentando. Então uma criada bateu na porta,
dizendo que “ela” havia chegado. Katherine mandou entrar.
Madison: A não ser que tu queiras virar rainha vestida em trapos, precisaremos de um
vestido de noiva. – Disse, divertida. A costureira entrou.
Aquilo distraiu Anahí por instantes. A costureira tinha modelos dos mais perfeitos
vestidos que ela já havia visto, e além. Anahí queria o vestido perfeito para quando
fosse se tornar mulher de Alfonso. Depois do que Dulce fizera, ele merecia o
melhor. Dias depois...
Anahí: E eu, que tu estas trabalhando em uma coroa. – Rebateu, o que o fez sorrir. Iam
perguntar quem os delatara... Mas a mini delatora passou correndo em frente aos dois,
rindo.
Anahí: Você não pode saber. – Rebateu, imediatamente. Alfonso franziu o cenho,
confuso – O noivo não pode saber do vestido antes do casamento. Dá azar.
Alfonso: Estou indo maravilhosamente bem, já que perguntas. Quero uma coroa
perfeita, para a rainha perfeita. – Disse, parando de andar e tomando o rosto dela entre
as mãos. Ela sorriu.
Anahí: Soube que tua audiência foi marcada para antes do casamento. – Disse,
preocupada.
Alfonso: Não se moleste com isso. Eu darei um jeito. – Disse, tocando o nariz dela.
Anahí fez um bico insatisfeito. Ele lhe deu um selinho – Não sabe como sinto tua falta.
– Disse, olhando os lábios dela.
Alfonso: Eu sei. No fundo, estão certos. Haveriam boatos, seria o inferno. – Ele selou os
lábios com os dela novamente, como se testasse o gosto – Mas está sendo impossível. –
Murmurou.
Anahí olhou por cima do ombro dele, procurando Suri, mas a menina havia
sumido. Ele sorriu vendo a expressão dela, que o beijou em seguida. Ele suspirou,
satisfeito pela iniciativa, tomando espaço entre os lábios dela e devorando-lhe a
boca. Ela arfou, languida, e ele a abraçou forte pelas costas, oprimindo o corpo
contra o dela, os lábios quase se machucando de saudade... Então um barulho os
interrompeu. Era... Algo estava cacarejando. Os dois abriram os olhos, ainda com
os lábios unidos, ambos confusos. Olharam pro lado a tempo de ver Suri passar
desembalada, correndo atrás de uma galinha. A galinha tinha uma vantagem
obvia, mas a menina tentava, perdendo tempo toda vez que se lançava para
agarrar o animal. Anahí riu alto.
Alfonso: Mas... Porque ela está fazendo isso? – Perguntou, aturdido. A galinha passou
quicando em frente a eles, e Suri atrás. Anahí ainda ria. – SURI! – A menina não deu
bola.
Anahí: Se levantará. – Ela beijou o queixo dele. – Soube que está reformando a torre. –
Disse, chamando a atenção dele antes que ele cortasse a alegria de Suri.
Alfonso: É necessário. Quando me mudei para lá estava aturdido demais para pensar em
algo, e então terminou uma torre... Masculina. – Explicou – Mas agora tenho uma
rainha. – Ela sorriu com a suposição.
Anahí: Não precisa mudar nada, se não quiser. Gosto dela do jeito que é. – Disse,
fungando do perfume dele.
Alfonso: Por enquanto só estou ampliando os armários. Não sou bom com arquitetura. –
Disse, franzindo o cenho – Tu estas livre para mudar qualquer coisa, é só dar a ordem. –
Disse, baixando o rosto para olhá-la – E se preferir outra torre, há uma suficientemente
grande na ala norte que nós podemos tentar adap... – Ela tocou os lábios dele com o
dedo, calando-o.
Anahí: Só faça o necessário. Quero ela do jeito que é. – Alfonso sorriu. Odiaria ter que
ter o trabalho de ir para a outra torre, embora jamais fosse admitir. Estava acostumado
com as coisas do jeito que estavam... O que o fez lembrar do pandemônio que foi sua
vida quando casou com Dulce; ela fez questão de mudar TUDO de lugar (Na antiga
torre, a qual ele deixou após sua morte) – Deixe as camisas sob a cadeira, a porta do
banheiro sempre encostada e a toalha molhada em cima da cama. – Ele riu de leve,
apaixonado. Ela sempre o repreendia por isso. – Não quero que você mude em nenhum
único aspecto. – Encerrou.
Anahí riu vendo Alfonso correr atrás de Suri. Ele alcançou a menina em poucas
passadas, carregando-a. A galinha se safou, sumindo de vista. Ele jogou Suri, que
ria gostosamente no ombro e foi na direção de Anahí, que correu, mas logo foi
alcançada. A apanhou pela cintura, erguendo-a do chão e mordendo-lhe o ombro,
o que a fez gritar. A felicidade parecia estar ali, no alcance das mãos.
Uma mudança clara se via em Anahí. Após Katherine ter sumido misteriosamente
com seus vestidos simples (Embora ela negasse participação) e Kristen ter dado
fim em todo o resto (Com um sorriso de anjo no rosto), ela se via vestida com
vestidos mais caros, mais bonitos, os cabelos se viam mais sedosos, as expressões
mais delicadas. Após algum tempo, a convivência com as outras rainhas se tornou
mais natural. Ela não se sentia mais uma criada entre a realeza; ela era a noiva do
rei.
Anahí: Suri dormiu? – Perguntou, e a criada assentiu. Anahí sorriu. Suri sempre dormia
depois do almoço, principalmente agora que passava a manhã inteira aprontando. Anahí
olhou a criada retirando a mesa, e a sala vazia. Era uma oportunidade – E Alfonso? –
Perguntou, mas...
Kristen: É por isso que eu disse. Se resultar pesado demais ela ficará corcunda com o
passar das horas. – Comentou, a voz vindo do corredor. Anahí suspirou, derrotada, e se
recostou na cadeira.
Madison: Você tem noção de quanto meu vestido pesava? – Perguntou, e se ouviu o riso
de Kristen – Se passaram quase 20 horas até que eu pudesse parar e descansar. – As
duas entraram na sala – Ai está você.
Anahí: Quanto seu vestido pesava? – Perguntou, franzindo o cenho. Dessa vez foi
Madison a rir.
Madison: Não queira saber. – Ela se sentou ao lado de Anahí – A saia do vestido tinha
25 camadas de tecido. – Anahí arregalou os olhos – Juro por Deus! Isso fora o corpete,
as luvas, o colar e por fim a coroa. Depois da primeira cerimônia eu estava com tudo
isso e ainda era manhã. – Ela suspirou – Quando por fim terminei, e tirei o vestido, foi
como se eu tivesse ganhado asas.
Kristen: 25 camadas. – Repetiu, olhando pra frente.
Madison: Cada passo que eu dava era um exercício para as pernas. Mas podem olhar as
fotos, foi o vestido mais lindo em que eu já coloquei os olhos. Fiz questão. – Ela sorriu.
– Aliás, foi o casamento perfeito. Me lembro de cada detalhe: A igreja, as flores, o
sorriso de Christopher... Mas enfim. – Ela ergueu o rosto – Aqui estamos.
Kristen: Pelo menos suas botas foram de couro. Soube da história de uma que se casou
com sapatilhas de mármore. – Entregou. Anahí até saiu de seus devaneios. Ela e
Madison viraram o rosto ao mesmo tempo, lentamente. Foi cômico. Dois pares de
olhos, um negro e um azul, completamente exasperados. Kristen se sentou – Estou
dizendo.
Madison: Estou me imaginando com meu vestido e sapatos de mármore. Está doendo só
de imaginar. – Disse, e Anahí riu.
Anahí: Ela não caiu? O sapato não quebrou? – Kristen negou - Como pode, gente?!
Essa conversa se prolongou por horas. Saíram das sapatilhas para o vestido de
Anahí, e os preparativos da festa... Assuntos de rotina. Até que resolveram ir
buscar Katherine, que dormia. Queriam a opinião dela.
Madison: Não por minha vontade. – Respondeu, parando atrás de Anahí – Vamos, não
dê atenção a isso. – Ela apanhou a mão de Kristen e passou, sumindo pelo corredor.
Anahí quase tinha esquecido de Nina; sua vida tinha mudado tanto... Entretanto isso não
mudava nada.
Anahí: Eu avisei que você estaria aqui para ver o final. – Disse, os olhos azuis quase
congelados na outra. Nina largou a esponja no chão e suspirou.
Anahí: Não. – Disse, erguendo as sobrancelhas – Você matou meu filho. – Lembrou.
Anahí: Cuidado com as palavras! – Ela não gostava de ouvir o nome de Alfonso na voz
de Nina – E se dirija a ele com a reverencia que ele merece, ele não é teu amigo ou algo
o tipo. – Rosnou. Cada segundo que passava a irritava mais – O sangue está em suas
mãos.
Nina: Ele deu a ordem. – Lembrou. Anahí ficou calada por um instante, os olhos
fuzilando a outra, até que em um movimento rápido chutou o balde com a água suja,
que virou, jogando água por todo corredor, sujando tudo. Nina apenas olhou o trabalho
todo acabado.
Anahí: Eu não me importo. – Disse, com um sorriso debochado. Então houveram risos
vindo do corredor – Acredite, só vai piorar. – Os risos se tornaram mais altos, até que a
voz de Katherine soou.
Anahí: Estou indo. – Disse, olhando Nina. Ela apanhou as abas do vestido, erguendo-as
para passar pela água – Limpe isso. – E deu as costas, sumindo.
Mas após aquilo, a irritação não passou. Ela não conseguia se manter focada na
conversa, estava irritadiça.
Katherine: Anahí, espere. – Disse, e a outra se virou – Bom, ele saiu. – Anahí achou
algo de errado no rosto de Katherine.
Anahí: Onde ele foi? – Perguntou, desconfiada. Alfonso não saia sem falar com ela.
Quando o viu, no café da manhã, ele não disse nada. O silencio reinou – Onde ele está?
Madison: A audiência dele é hoje, Anahí. A esta hora já está acontecendo. Ele não quis
dizer para não preocupá-la, perdoe. – Disse, quieta. Os olhos de Anahí se arregalaram
em placa. Como ela não percebera? Fora Alfonso, Christopher sumira, juntamente com
Ian e Robert, e ela não se tocou! – Escute, não fique nervosa.
Alfonso chegou horas depois. Estava exausto. Passara o dia com pessoas a sua volta
que dariam uma mão para tomar-lhe a coroa. Colocaram todos os fatos da guerra
em mesa, falaram sobre Dulce María, expuseram Suri... Questionaram
cansativamente o casamento de Alfonso com uma mulher que não tinha sangue
azul, e principalmente era naturalizada do reino cujo qual ele atacava. Só teve fim
quando Christopher pediu a palavra, expondo sua opinião, declarando seu apoio
na guerra e acrescentando meia dúzia de ameaças, que foram ironicamente
apoiadas por Ian e sutilmente confirmadas por Robert. No final não deu em nada.
Madison: Até que enfim. – Disse, se levantando e indo em direção ao marido quando
ele entrou na sala. Ela o abraçou, e ele beijou sua testa. – Senti sua falta. – Murmurou e
Christopher sorriu, selando-lhe os lábios.
Alfonso percorreu a sala com os olhos, procurando Anahí. Mas cada mulher da
sala foi até seu respectivo marido, e Anahí não estava ali.
Kristen: Digamos que você criou um problema. – Disse, vendo o olhar dele.
Madison: Deu por sua falta, queria sair a sua procura. – Ele assentiu – Eu avisei que isso
não iria dar certo.
Anahí: Eu realmente quero matar você agora. – Disse, ainda de olhos fechados. Ele não
conseguiu não sorrir.
Alfonso: Em vez disso me dê um abraço. Eu senti sua falta. – Disse, acariciando o rosto
dela. Ela abriu os olhos e viu a expressão dele.
Anahí: O que fizeram com você? – Perguntou, se sentando. Ela acariciou o cabelo dele,
vendo o cansaço em seus olhos.
Alfonso: Nada. Só estou cansado. – Ela o trouxe para perto, abraçando-o forte. Alfonso
deixou a cabeça repousar no ombro dela, aspirando seu perfume.
Alfonso: O que eu disse que aconteceria. Nada. – Ele se abraçou a ela, quase
esmagando-a. Anahí empurrou o terno dele, feliz por se ver livre do gesso, e o trouxe
para si. Ele terminou deitado em cima dela. Empurrou os sapatos de qualquer jeito,
sentindo o peso do mundo nas costas.
Dentro de pouco Alfonso estava dormindo. Anahí ninou o sono dele todo o tempo.
Meia hora depois Ian e Robert apareceram para buscá-lo, mas ela intercedeu.
Anahí: Por favor. Ele só está dormindo. – Os olhos de Ian observaram a cena, avaliando
– Só dessa vez. – Robert assentiu e apanhou Ian, que riu, saindo dali. Anahí beijou a
testa de Alfonso, que continuou dormindo. Nada mais foi dito ali.
Alfonso acordou no cair da noite. Avisou que não desceria para o jantar, e ela
entendeu. Chovia furiosamente lá fora. Após se aprontar para dormir, Anahí ficou
perto da janela, olhando a chuva cair. Quase não se via nada lá fora, o cheiro era
gostoso e o barulho era reconfortante. Ela caminhou até a porta, abrindo-a de
leve... Não havia ninguém lá fora. O que não mudava o fato de que Ian adorava
aparecer do nada, no escuro. Ela fechou a porta e, descalça, saiu na ponta dos pés.
Na curva do corredor não havia ninguém... E ela desatou a correr. Correu como se
estivesse salvando a vida, desembalada pelos corredores desertos, os pés mal
tocando o chão frio. Alfonso estava em seu quarto. Tinha tomado banho, se
preparava para dormir... Novamente. Ele abriu uma gaveta, e procurando uma
pasta terminou derrubando-a.
Anahí: Consegui. – Murmurou pra si mesma, passando a mão para trancar a porta. Ela
se virou, dando de costas na porta, e viu o olhar confuso dele.
Anahí: Fugi. Correndo. – Ela tirou o cabelo do rosto, e ele riu mais gostosamente ainda
– Eu tenho graça? – Perguntou, erguendo a sobrancelha.
Anahí: Eu não mereço. – Disse pra si, abrindo a porta. Quando tomou impulso para sair,
entretanto, a mão dele a puxou de volta, fechando a porta. Ela sorriu ao sentir a boca
dele em seu ombro, os beijos quase fazendo a pele arder. Ele trancou a porta e tirou a
chave da maçaneta, largando-a no chão.
Alfonso: Não conhecia esse teu lado caprichoso. – Murmurou, virando-a pra si, e viu o
sorriso travesso no rosto dela.
Uma coisa era certa: Ela não voltaria pro quarto aquela noite.
Ele se afastou com ela da porta, abraçando-a forte, a boca devorando a dela. A
resposta estava ali, era dela que precisava para esquecer aquele dia horroroso.
Anahí arfou, satisfeita, e ele sorriu, mordendo os lábios dela. Apenas quando ela
tombou sentada nos pés da cama dele, que se tocou de algo. Ele não entendeu
porque ela o afastou.
Alfonso: O que há? – Perguntou, confuso. Estava começando a ficar bom e ela o
afastava?
Anahí: Vão vir me buscar. – Disse, frustrada – Assim que derem minha falta. – Alfonso
olhou para a porta. A tranca não impediria Ian de armar um pandemônio, aos risos
ainda.
Anahí: Pra onde? – Perguntou, e ele se afastou um pouco dela, tentando manter o foco.
Demorou. – Pare de me tratar como se eu fosse outra pessoa. – Ralhou.
Anahí: Pare de pensar em mim como uma rainha. Com alguém da realeza. – Insistiu.
Alfonso: Mas você é alguém da realeza. – Brincou, apanhando o queixo dela com a mão
e selando-lhe os lábios.
Anahí: Eu sou sua mulher. – Corrigiu, e ele sorriu – Não me trate cheio de não-me-
toques, eu não vou aceitar. – Alfonso riu. Ela se jogou de costas na cama, tapando o
rosto com os braços – Ótimo. – Ela abriu os braços, deixando-os cair de lado. –
Continue rindo. Não vai demorar nada e Ian estará do outro lado da porta. – Mas
Alfonso apenas a observava, com um sorriso de canto – O que agora?
Alfonso: Tem uma mulher linda se espreitando na minha frente, em minha cama. É
indecente de tão tentador. – Ela sorriu com o elogio, então se sentou, puxando-o para si.
Anahí: Se não sairmos daqui vão me levar embora. – Lembrou. Alfonso se focou
novamente por um instante, então se soltou dela, sumindo dentro do closet. – Então? –
Perguntou, olhando na direção da porta.
Alfonso: Sei de um lugar. – Disse, a voz abafada dentro do closet – Mas vamos nos
molhar. – Avisou, saindo de lá. Ele já tinha uma capa sobre os ombros, e trazia uma
para ela. Anahí sorriu.
Ele vestiu a capa nela, puxando seu capuz, e em seguida lhe deu a mão, indo pra
porta. Os dois avançaram rapidamente pelo corredor da torre, descendo as
escadas em silencio. Após observarem o corredor principal, saíram em disparada,
porém na direção oposta a saída. Ela não questionou, apenas o seguiu; ele conhecia
o castelo melhor que ela. Vários corredores e escadarias depois os dois deram nos
fundos, no gramado perto da lavanderia. A chuva forte fustigou os dois, que
correram até que ele ouviu o riso dela, que o fez parar, sorrindo.
Alfonso: O que há? – Perguntou, a voz um pouco mais alta para ela ouvir. Ele não usava
capuz, os cabelos já estavam molhados, pingando.
Alfonso: Havia um... Umas pedras ali. – Ele apontou pra um lugar onde a água cobria. -
Eu não me dei conta que a chuva faria a correnteza subir. – Anahí olhou o lugar onde
ele apontava. A água corria solta – Perdoe.
Anahí: Há outro modo de atravessar? – Perguntou, e ele riu – Bom, ou nós nadamos, ou
vamos terminar aqui no chão. Eu não passei por tudo isso pra voltar pra casa tão cedo. –
Ele a olhava, meio fascinado.
Alfonso: Você realmente quer estar comigo. – Disse, ainda com aquele olhar estranho
sobre ela. Alfonso ignorou o fato de Dulce María se encontrar com Paul ali.
Rapidamente veio um flash em sua cabeça, de uma passagem do diário dela,
comentando o quanto era desprezível ter que conviver com ele, quem dirá ter que tê-lo
em sua cama. Mas Anahí sorriu, abraçando-se a ele, selando-lhe os lábios.
Anahí: Se eu não quisesse tanto não estaria nessa chuva. – Disse, passando a mão no
cabelo dele. A chuva açoitava os dois sem piedade. Alfonso a olhou por um instante, e
ela queria poder saber o que ele estava pensando.
Alfonso: Então nós vamos nadar. – Confirmou, apontando com a cabeça pro rio, e ela
sorriu, travessa.
Anahí se arrependeu da idéia na hora em que a água se fechou sobre sua cabeça.
Estava tão frio que ela mal conseguiu manter o ar dentro dos pulmões. A
correnteza quase a levou, mas a mão dele a agarrou pelo braço, trazendo-a de
volta.
Alfonso: Tudo bem? – Perguntou, a voz preocupada. A água batia no colo dela.
Pareciam facas atravessando seu corpo. A respiração dos dois formava pequenas nuvens
brancas a sua frente. Ela assentiu, soltando-se dele e tomando impulso novamente.
Logo os dois estavam nadando. Alfonso ficara pra trás propositalmente, para não
perder ela de vista. Os braços de Anahí pareciam se negar a se mover, os músculos
quase empedrados, ma ela nadou com toda a força que conseguiu. A correnteza
forte, tentando desviá-los do caminho, também não ajudou. Passaram-se minutos a
fio. Quando ela achou que não ia mais conseguir, seus braços se bateram em
pedras; Chegara. As mãos de Alfonso a apanharam por debaixo dos braços,
tirando-a da água. Ai foi que o barraco desabou: Se dentro da água o frio era
horrível, fora dela era excruciante. Ela ofegou, se arqueando, e ele a apanhou no
colo, pondo-se a andar, sumindo nas arvores do outro lado. Dentro de minutos ela
pediu para ir pro chão; andar a aqueceria.
Alfonso: Não falta muito. – Disse, apanhando a mão dela. Os dois voltaram a andar
rapidamente. As capas pesadas de água não ajudavam.
Alfonso: É claro que você não vai trazer a chave, alteza. – Disse, debochando de si
próprio, e se afastou, dando um pontapé na porta que se abriu.
A cabana era no meio do nada, só haviam arvores em volta, e estava fria, mas pelo
menos completamente seca. Ele a pôs pra dentro e fechou a porta, puxando uma
cadeira e pondo atrás da maçaneta, como tranca.
Anahí: Me dê sua capa. – Ela passou a mão nos ombros dele, tirando-lhe a capa
molhada. Só de não estar mais na chuva seus dentes pararam de ranger. Falando em
chuva, o barulho dessa no telhado era alto, quase ensurdecedor.
Alfonso conseguiu fogo poucos minutos depois. Achara um frasco com um liquido
de cheiro forte em algum lugar. Após jogá-lo na lenha da lareira, tacou fogo. Anahí
torcia as capas cuidadosamente, para não estragá-las, em um canto afastado. Após
acender a lareira ele apanhou uma das tochas presas na parede, acendendo-a na
lareira e espalhou o fogo pelo resto das tochas. Anahí olhou em volta. Não havia
muito ali: Uma mesa de madeira com 4 cadeiras (uma agora servia como tranca
para a porta), uma cama de casal num canto, um armário com objetos que Anahí
não identificou, e só. Uma cabana de caça, resumidamente. Ela apanhou duas
cadeiras, colocando do lado da lareira e colocou as capas nelas, deixando-as
aquecer. O calor logo aqueceu os dois. Alfonso foi até a cama, puxando um lençol
de proteção que haviam posto de cabeceira a cabeceira. Os lençóis eram brancos,
simples, e havia um cobertor grosso dobrado aos pés da cama.
Anahí voltou ao canto molhado e jogou os cabelos pro lado, torcendo-os. Alfonso
voltou até o armário, fuçando algo, e apanhou duas toalhas. Entregou uma a ela.
Anahí: Não está empoeirado nem nada. – Disse, olhando em volta, enquanto secava o
pescoço.
Alfonso: Tem um criado que vem aqui periodicamente. Troca a lenha, os forros, espanta
a poeira e evita que algo dê mofo, ou cupins. – Ele tirou a camisa molhada, e teve o
impulso de largá-la na cama. Anahí ergueu a sobrancelha e ele riu. Ela foi até ele e
tomou-lhe a camisa, o que o fez rir mais ainda. Ela levou a camisa dele até o „canto da
água‟ e a torceu, colocando-a perto do fogo.
Anahí: Eu deveria ter? – Perguntou, deixando que ele se banqueteasse em sua pele.
Alfonso: Houve uma época que você corava só por me olhar nos olhos. – Lembrou, e
ela riu. Ele a virou pra si, estreitando os corpos dos dois. Os seios dela se comprimiram
contra o peito dele, e o frio parecia ter sumido.
Anahí: Deus, como eu senti sua falta. – Disse, saudosa, tocando os lábios dele. Alfonso
sorriu de canto, observando-a.
Alfonso: Não sente mais? – Perguntou, os olhos sondando-a, e ela sorriu, se esticando
para beijá-lo.
Alfonso a tomou nos braços, retribuindo seu beijo. Anahí enfrentara a chuva, a
floresta e o rio só para estar nos braços dele, e isso o fascinara. Ele a ergueu do
chão, caminhando até a cama, onde a deitou, atravessada. A cama apesar de
simples era enorme. Ela mal havia deitado e ele já estava por cima dela, ela sorriu,
saudosa, o acolhendo dentre as pernas. Ele apanhou os pulsos dela, prendendo-os
do lado do corpo. Sentira falta do peso dele roubando-lhe o ar. Quando Alfonso
deixou os lábios dela, eles tinham a tonalidade vermelho sangue. Os beijos dele
desceram pela frontal do pescoço dela, mordiscando-a, provando-a. Anahí apenas
acariciava perna com a ponta do pé, uma vez que estava presa.
Alfonso: Senti falta de cada pedaço. – Murmurou, antes de morder a lateral do seio dela.
Ela gemeu, surpresa, quando ele abocanhou um seio seu, sugando-o na boca, como se
quisesse guardar o gosto. – Principalmente do som dos seus gemidos. – Assinalou, e ela
corou, se arrepiando. Ele viu e sorriu – Tão minha, Anahí. – Disse, antes de mergulhar o
rosto no colo dela, descendo até os seios como uma criança faminta. Anahí arfou,
languida, e os beijos dele continuaram. Depois de marcar a pele alva dos seios inteira
ele mordeu a barriga dela, torturando-a em seu umbigo, fazendo-a se encolher e rir.
Logo o corpo dela tinha marca de mordidas por toda a parte.
Mas havia desejo demais acumulado. Minutos depois ele se desfez do que sobrara
de roupa e a possuiu com um movimento brusco. Anahí cravou as unhas na mão
dele que prendia seu pulso, respirando fundo para conseguir aceitar a invasão. Ele
se deteve por um instante, o rosto afundado no pescoço dela, respirando por
arfadas, para desfrutar da sensação do corpo dela acolhendo-o novamente,
aceitando, se adequando. Anahí não teve certeza de como não desmontara aquela
noite. Ele pôs a se mover sobre ela furiosamente, incansavelmente, parecia que o
tempo tinha resultado nisso. Ela mal conseguia respirar. Tinha as unhas tão
cravadas na mão dele que quase o fazia sangrar. Os gemidos dela chegavam ao
ouvido dele como musica, e parecia servir de combustível. Cada vez mais forte,
cada vez mais fundo. Ele parecia ter perdido o controle; apenas sentia.
Anahí: Me solte. – Choramingou, e por um breve instante ele pensou tê-la machucado.
Mas eram apenas seus pulsos, presos do lado do rosto.
Alfonso a soltou e ela o abraçou pelas costas, as unhas logo deixando um traço
vermelho por ali e enlaçou as pernas na cintura dele. Ele apanhou os quadris dela
com as mãos, prendendo-a no lugar, e retomou seu ritmo. Anahí gemeu abafado no
ombro dele com isso. Meu Deus! O prazer chegava a se formar dor em alguns
pontos, mas ela não se importava. Ela o queria, cada pedaço, cada aspecto. As
costas dele logo estavam decoradas com marcas de unhas, cada vez mais
vermelhas. Então chegou o ponto em que o prazer se fez insuportável... E Anahí
abafou seu grito final no ombro dele. Após alguns instantes dele se agarrou a ela,
gemendo abafado, e o silencio reinou, só perdendo pro barulho da chuva. Os dois
ficaram quietos até que ela acariciar as costas dele, acarinhando. Ele se acomodou
no colo dela, quieto, até que ela sentiu a pele dele esfriar. Apesar das tochas e da
lareira ainda chovia lá fora.
Anahí: Venha. – Chamou, e ele foi com ela, ambos deitando-se direito na cama,
enquanto ela puxava o cobertor pra cima dos dois. Uma vez aquecidos ele a puxou pra
si, os dois ficando de conchinha.
Alfonso: Eu amo você. – Sussurrou, perto do ouvido dela, que sorriu, se aninhando nos
braços dele. Uma resposta não era necessária.
Os dois ficaram quietos por vários minutos; ela acariciando os braços dele e ele
beijando-lhe o ombro carinhosamente, até que caíram em um sono tranqüilo. Pro
inferno com o temporal, o rio frio, com Paul ou com a guerra. Nada importava ali.
Não se sabe ao certo quanto tempo se passou, mas ainda era madrugada, ainda
chovia e as chamas da lareira ainda ardiam a pleno vapor. Anahí e Alfonso ainda
estavam juntos... E completamente acordados. Ele estava recostado nos
travesseiros, e ela deitada em cima dele. Era a terceira vez que transavam desde
que chegaram ali. Mas dessa vez havia calma, carinho, sem afobação ou
agressividade. Ainda era ele que a guiava, como sempre, mas os movimentos eram
leves, tranqüilos, os beijos eram doces, lentos. Quando por fim acabou ela
continuou por cima dele, quieta, o cobertor tendo escorregado até as cinturas dos
dois, e ele acariciava as costas dela, após ter afastado o cabelo já seco. Alfonso
tinha o corpo gostosamente relaxado, mas seus olhos estavam fixos em algum
ponto da parede.
Alfonso: Há algo que eu não lhe contei. – Disse, sem precisar alterar a voz porque sua
boca estava do lado do ouvido dela. Anahí abriu os olhos azuis, o rosto deitado no peito
dele, olhando-o – No dia em que te apanharam no castelo... Que você acordou caída na
floresta da divisa. – Anahí assentiu – Bom... Eu menti sobre aquele dia. – Anahí franziu
o cenho – Quando eu cheguei você realmente já estava caída... – Disse, lembrando –
Mas algo me golpeou e eu cai. Quando despertei você continuava desmaiada... Mas
Paul estava lá. – Completou. Anahí ergueu o rosto, apoiando o queixo no peito dele para
olhá-lo.
Anahí: Porque escondeu isso? – Perguntou, tocando uma marca de unha mal
posicionada, que ficara na curva da maxilar, provavelmente da segunda transa.
Alfonso: Porque eu ainda não estava pronto para falar sobre o que ouvi. Ainda não
estou, mas não quero ter segredos com você. – Ela sorriu de canto e ele lhe beijou o
nariz.
Anahí: O que ele te disse? – Alfonso hesitou, e ela viu – Se não quiser falar disso eu
vou entender. Não me importa, não é da minha conta. – Então ela franziu o cenho – Mas
se foi algo sobre mim, é mentira. – Alegou, e ele até saiu das lembranças ruins, rindo de
leve.
Alfonso: Não, não foi sobre você. – Disse, ainda sorrindo de canto, acariciando o rosto
dela – Foi sobre... Foi sobre Dulce María. – Um breve silencio se instalou ali. – Anahí...
Dulce foi amante de Paul. O tempo todo. Desde antes de nosso casamento até o
momento de sua morte. Ela nunca me amou. – Começou, e ia continuar, explicar até que
ela entendesse, mas...
Anahí: Eu sabia. – Alfonso a encarou, erguendo a sobrancelha – Desde que fui buscar a
flor para Suri, desde meu encontro com Paul... Eu o confrontei e ele me contou.
Anahí: Porque nada que vá te machucar, ou te causar dano, é do meu interesse. Se você
não sabia, se aquilo não o havia alcançado, eu não diria. Morreria comigo. – Alfonso a
observava – Não valia a pena machucá-lo, não fazia sentido. Eu só quis protegê-lo.
Alfonso: O que ele te disse? – Perguntou, colocando o cabelo dela atrás da orelha.
Anahí: Não me lembro em palavras, foi uma noite horrorosa. – Os olhos dela se
desfocaram do olhar dele enquanto ela tentava lembrar – Ele me disse que a namorava,
porém não pediu sua mão, pois não era de maior. Que então você a tomou em
casamento, mas que ela ainda o amava, e que teve um caso com ele durante... Durante
todo o tempo. Que ele iria fugir com ela, largar o trono, quando ela engravidou. Por o
filho ser seu ela não podia fugir, então eles esperariam o bebê nascer... Mas ela jamais
pôde fugir.
Anahí: Que ela tinha mal gosto. – Respondeu, imediatamente. Disso ela lembrava.
Alfonso riu, surpreso.
Anahí: Que ela tinha mal gosto. E tinha. – Disse, indignada com o riso dele – Ele é
bonito, mas não chega aos teus pés em nada. – Ela lhe deu um selinho.
Um adendo de sua autora: Eu acho Paul Wesley uma TENTAÇÃO. Não é nenhum
Ian Somerhalder, mas... Enfim, isso não vem ao caso.
Anahí: Ah, não. Esqueça que eu disse isso. – Alfonso ainda a encarava, ultrajado –
Certo, escute. As mulheres tem como mania dividir os homens em categorias: Bonitos,
simpáticos e feios. – Alfonso parecia ter levado uma bolacha – Mas isso é pelo físico, e
não é tudo o que importa. Nós não procuramos saber o interior a principio, nós olhamos
um homem e pelo físico determinamos onde ele fica. Desculpe, amor. – Disse, beijando
o queixo dele.
Alfonso: Muito bem. Eu vou ignorar essa parte. – Ela riu de leve – Foi só isso que ele
lhe disse? – Ela assentiu – Bom, a mim teve mais uma coisa... Ele me disse onde
encontrar o diário de Dulce María. Em uma pedra, na beira do rio. Eles se encontravam
lá, o diário dela ficou lá. Eu o encontrei no dia em que você fugiu. Estava danificado,
molhado e desgastado, mas eu consegui ver algumas paginas. – Anahí esperou, mas ele
não encontrou palavras.
Alfonso: Mas eu quero dizer. Você é minha mulher, e eu quero que saiba tudo sobre
mim. – Ela sorriu – O diário dela... Bom, Dulce María me odiava. Ela realmente tinha
nojo de mim, sentia raiva o tempo todo por ter que conviver comigo. Dizia que meu
toque lhe causava náuseas, uma vez até ânsias. – Anahí ergueu as sobrancelhas – Ela
odiava tudo, minha voz, meu cheiro, meu toque, meu castelo, meu reino... Tudo que
tivesse relação comigo. Quando engravidou, passou a odiar a criança também, porque
era um pedaço meu. Praguejava Suri dia após dia, e após algum tempo passou a dizer
que a entregaria a Paul antes de fugir. Que deixaria que matassem, só por ter lhe
“deformado” o corpo.
Anahí: Isso é absurdo. – Disse, chocada. Ela pensou em Suri, agora curada, e nesse
momento dormindo, feliz, em seu quarto, no castelo.
Alfonso: Em seu leito de morte ela me implorou que salvasse o bebê. – Lembrou –
Suplicou. Ela não sabia o que tinha tomado, acho que a gravidez a estava matando. Me
implorou varias vezes. – Ele respirou fundo – Eu pensei que fosse por amor! Depois de
sua morte, por dias eu não pude olhar para Suri, eu a repugnava. Mas no final ela só
queria que eu salvasse o bebê para que Paul viesse e a matasse. Creio que ele nunca
tentou porque eu declarei guerra logo após a morte dela. – Encerrou.
Alfonso: Não ofende. – Disse, suspirando – É por isso que as vezes eu me paro e te
pergunto se você realmente quer estar comigo, se eu não a estaria forçando. No inicio
cheguei a pensar que uma mulher não poderia se aproximar de mim por livre vontade, e
que tu só estavas comigo, que só se submetia em minha cama porque eu a obrigava. –
Anahí esperou por um instante.
Alfonso: Longe de mim. – Ele beijou o bico que ela fez – Agora você sabe tudo. –
Anahí deitou o rosto no peito dele de novo. Passaram-se alguns instantes até ele falar
novamente – Já pensou que um dia podemos ter bebês?
Anahí: Penso sempre. – Disse, sorrindo – Bebês turrões como tu. – Brincou, e ele a
pegou pela cintura, pondo-a pra baixo, e a encheu de mordidas. Anahí gritou, rindo em
seguida pelas cócegas.
Alfonso: Não sou turrão. – Anahí fez um “aham” debochado, que fez ele mordê-la mais
ainda. Ela gritou novamente, se encolhendo debaixo dele – Você acha... Acha que o que
eu fiz antes nos prejudicou? – Perguntou, o rosto sério. Ela sabia do que ele estava
falando. Já pensara nisso.
Anahí: Não. Só não chegou o momento certo ainda. – Alfonso ergueu a sobrancelha –
Alfonso, eu conheço aquela erva. Ouvi minha mãe comentando sobre ela várias vezes.
Não causa dano. Não chegou o momento ainda – O rosto dele ficou menos tenso – O
que significa que nós temos que continuar tentando. – Sussurrou, atrevida. Ele ergueu as
sobrancelhas, sorrindo, e viu que ela sorria, travessa, mordendo o lábio.
Alfonso: Feiticeira. – Acusou, tomando-a no braço e ela riu, mas não durou muito
porque ele a beijou, fazendo-a suspirar, satisfeita. Ela o acolheu dentre as pernas, as
mãos passeando pelas costas (machucadas de unha) dele, enquanto os lábios se
consumiam.
Anahí: Nós podemos ficar aqui. – Disse, se aninhando a ele – Para sempre. Ficar
velhinhos juntos. – Disse, manhosa.
Alfonso: Nosso “para sempre” aqui não ia durar muito. Iríamos morrer de fome. –
Lembrou, e sorriu com a careta dela – Mas nós vamos ficar velhos juntos. – Prometeu,
beijando a orelha dele.
Anahí: Vão dar por nossa falta logo. – Comentou, franzindo o cenho.
Alfonso: Amor, já deram por nossa falta há horas. – Corrigiu e ela riu, se virando pra
ele, ficando deitada de barriga pra cima em seu peito. Ele tirou o cabelo dela do rosto,
acariciando-a.
Alfonso: Mesmo com nosso pequeno banho no rio? – Brincou, ela revirou os olhos.
Anahí: Principalmente por nosso banho no rio, é claro. – Ele riu, inclinando o rosto para
beijá-la. Ele a abraçou com força, expulsando o ar que ela tinha nos pulmões, o que a
fez rir dentro do beijo. Ele rolou com ela pela cama, pondo-a pra baixo, e a encheu de
beijos mordidos, fazendo-a gritar pelas cócegas.
Quando eles saíram, por fim, da cabana, já havia amanhecido. A chuva perdera
para o vento, e o tempo estava frio. Os dois caminharam tranquilamente pela
volta. Ao chegar no rio, com sorte, a correnteza havia baixado um pouco,
revelando o caminho de pedras. Eles tiveram que molhar os pés ao passar, mas
nada que incomodasse demais. Ao chegar no castelo...
Alfonso: Bom dia. – Disse, entrando na cozinha pela entrada dos funcionários. Tinha a
mão dada com Anahí. A cozinheira e Nina olharam, se curvando em seguida. A
expressão do rosto de Nina ficou, se era possível, ainda mais fechada. Ela observou as
roupas dos dois: Alfonso de capa, a camisa e a calça amassados, os cabelos arrepiados, e
Anahí com a capa fechada (para ocultar a camisola), os cachos soltos pelos ombros,
levemente aerados pelo vento. Ambos descalços. – Onde estão os outros?
Alfonso: Ótimo. – Disse, virando o rosto para olhar Anahí, que sorriu – Com licença. –
E saiu com ela.
Eles se despediram com um beijo no corredor do quarto dela, cada um tomando
seu rumo. Anahí, feliz e satisfeita, quase saltitante, entrou no quarto, tirou a capa e
foi direto para o banho. Parou em frente ao espelho após tirar a camisola, se
olhando: Seu corpo estava TODO marcado. Marcas de boca, de mão, de unha, de
tudo. Mas ela sorriu. Tomou um banho quente e demorado na banheira, e seus pés
doeram quando ela saiu; Havia corrido feito uma condenada pela floresta, as
pedras do rio, tudo... Descalça. Os pés tinham roxos e até uns cortes. Ela se
penteou, vestiu outra camisola e se deitou, feliz, em sua cama. Cansada. Exausta.
Morrendo. Mas ainda podia sentir o perfume dele na pele, e só isso lhe bastava.
Alfonso por sua vez tomou um banho normal, rápido, sorrindo as vezes ao se
lembrar de passagens da noite anterior. Ao sair do banho constatou que seus pés
também estavam em um estado deplorável, com direito a uma lasca de madeira
presa na pele, que ele retirou. Ele se vestiu, se penteou, e quando se sentou para
resolver como faria para se calçar... Se descobriu exausto. Riu consigo próprio,
passando as mãos nos olhos, e decidiu que poderia se atrasar um pouco pro café. A
pobre Anahí havia dormido apenas uma hora quando seu sono foi interrompido.
Katherine: Qual o problema com seus pés? – Perguntou, parada, aos pés da cama,
olhando os as solas dos pés de Anahí. Anahí gemeu, se encolhendo.
Anahí: Pelo amor de Deus. – Murmurou, cobrindo o rosto com os braços. Pelo menos
os braços não tinham marcas... Só os pulsos.
Anahí: Não é nada, gente. – Disse, suspirando e abrindo os olhos. Kristen e Katherine se
sentaram. Madison ficou de pé.
Madison: É, não foi nada, ela só fugiu para Deus sabe onde descalça. – Disse,
prendendo o riso.
Anahí: Mad, porque não se senta conosco? – Perguntou, observando. Madison estreitou
o olhar e Anahí sorriu, satisfeita.
Madison: Há uma diferença entre nós: EU sou casada. – Disse, fazendo as três rirem.
Katherine: A costureira está ai. Você esqueceu, mas tem prova do vestido hoje. Mas
pelo visto mandarei dispensarem ela por hoje. – Disse, observando as marcas no
pescoço e colo de Anahí – Nós não queremos um escândalo. – Assinalou, debochada.
Resultou que Anahí não conseguiu voltar a dormir. Se contentou em saber que
dormiria a noite. Porém ela não sabia o que a noite reservava. Estavam todos na
sala de estar, conversando antes do jantar, quando Christopher entrou na sala.
Estava mais pálido que o normal.
---*
Ian: Não pode ter sumido do nada para o nada. – Disse, mas já estava na defensiva.
Nada de bom viria do sumiço de Madison.
Christopher: Ela me pediu licença para voltar ao quarto antes do jantar, para descansar.
Ela sempre faz isso. Eu dei permissão. Ela foi. Há 3 horas. – Ele rosnou – Voltei para
chamá-la e a cama nem sequer fora desfeita. – Christopher tinha uma aparência doentia
– Eu já revirei o castelo inteiro. Ela não está.
Alfonso: Muito bem. As propriedades são enormes, ela pode estar em qualquer lugar. –
Disse, se levantando. Ele colocou o rosto no corredor, gritando por alguém – Ela deve
estar em algum lugar.
Um homem apareceu na porta e Alfonso deu a ordem para que se reunisse o maior
numero de homens possível e dessem uma batida na propriedade atrás de
Madison. Foi feito. Anahí pediu licença e foi aos tropeços até o quarto de Suri, mas
a menina se aprontava para jantar. Anahí lhe disse que jantaria no quarto hoje, e
que não era pra sair em hipótese alguma, gritando a plenos pulmões se precisasse
de algo. Quando ela voltou todos já estavam alvoroçados... E o pior, na sala de
armas. Katherine estava com Kristen em um canto, quietas. Alfonso e Ian mexiam
em algo em um armário, e Robert olhava papeis em cima de uma mesa. Anahí se
aproximou de Alfonso e assentiu, garantindo que Suri estava bem. Christopher era
o pior: Respirava aos ofegos, andando de um lado pro outro.
Robert: Nós não estamos prontos para uma ofensiva agora. Vamos vencer, mas a que
custo? – Disse, a voz baixa, olhando os papeis.
Anahí: Alfonso. – Disse, segurando a mão dele. A gaveta com as adagas dele, de prata
com “AH” cravadas no punho estava aberta. A adaga que ela havia perdido já havia sido
reposta – O que vai fazer? Vai atacar Paul? Hoje? – Perguntou, atordoada. Seu coração
latejava. Alfonso assentiu, os olhos focados em algo que ele mexia na gaveta – Mas
Robert disse que não estão prontos. – Disse, atordoada.
Ian: Se Madison realmente sumiu iremos ainda assim. – Disse, puxando uma espada de
dentro do armário. Não era a dele, mas Anahí tinha a breve impressão de que ele não
deixaria Katherine sem guarda – Somos família agora, Anahí.
Robert: Que nós vamos é um fato, mas temos que ter pelo menos uma rota. Sejam
racionais. – Disse, e todos sabiam que ele tinha razão.
Ian: Gostei disso. – Disse, pensativo – Rápido, pratico, simples de memorizar. – Disse,
debochado.
Alfonso: Realmente, adorável. – Alfonso não gostava de matar, seja qual fosse a
ocasião. Ele se virou para Anahí, retirando duas adagas do estojo na gaveta. O tom de
voz dele era só para ela – Deixarei você com Suri, e as outras. Fique com isso, esconda
como puder. Haverá guarda, mas se chegar a hora, se defenda. Não há nada bonito em
matar uma pessoa, Anahí, mas faça isso se for preciso. Me prometa. – Disse, olhando-a,
e ela assentiu. Ele entregou as adagas a ela, beijando sua testa em seguida. Então um
soldado entrou.
Soldado: Senhor. – Todos olharam – Terminamos a busca. Sua alteza não está em lugar
algum. – Christopher sorriu de canto, assentindo.
Christopher: Se ele tiver tocado nela... Eu vou retalhar o reino dele até que chova
sangue. – Disse, olhando o chão, ainda com aquele sorriso estranho – Se ele tiver tocado
nela, essa guerra acaba hoje. – Encerrou, saindo da sala, provavelmente para se armar.
Todos iam sair (Alfonso levando Anahí pelo braço para trancá-la), quando
ouviram um barulho. Um barulho forte, de coisa pesada caindo no chão. Todos se
imobilizaram imediatamente. Ian passou o corpo na frente do de Katherine,
protegendo-a. Alfonso imitou o gesto. Christopher franziu o cenho, voltando pelo
corredor.
Robert: Em nome de Deus, ninguém vai ver o que foi? – Perguntou, revirando os olhos.
Christopher passou a frente, avançando.
Madison: Estou perdendo alguma festa? – Perguntou, parecendo divertida, vendo todos
parados, e desamarrando uma capa que tinha nos ombros.
Christopher: Onde você estava? – Perguntou, em um silvo furioso, partindo pra cima
dela.
Madison arregalou os olhos e recuou. Ian passou a frente, junto com Alfonso,
contendo Christopher.
Christopher: Olhem como está vestida! – Madison tinha o cabelo preso em um coque
elegante, e usava um vestido tomara que caia, de veludo preto, fora luvas que iam até
depois do cotovelo. Estava linda, mas para aquela época era quase indecente. Tomara-
que-caia era moderno demais, ainda polemico na época, e os seios fartos dela formavam
um decote chamativo – Madison... – Ele respirou fundo – Onde você foi? – Rosnou.
Mas...
Anahí: Mãe? – Chamou, vendo o corpo caído nos pés de Madison. Era uma mulher,
obviamente, mas estava de costas, deitada no chão.
Alfonso: Mãe? – Repetiu, olhando Anahí. Mary havia se sentado quando ele olhou
novamente. Os traços, a semelhança, a cor dos olhos... Era evidente demais. – Mãe. –
Disse, erguendo as sobrancelhas. Então caiu na real – Perdoe-me. – Ele se abaixou,
ajudando a mãe de Anahí a se levantar. Madison sorriu, satisfeita.
Madison: Um presente de casamento. – Disse, obvia. Então se virou para olhar Anahí,
que abraçava a mãe. Anahí a encarou, os olhos mareados, pelo ombro de Mary – Em
nome dos Uckermann. – Disse, assentindo com a cabeça.
Christopher: Deus, não permita que eu mate ela. – Pediu, em um sussurro. Ian riu
gostosamente – Voltou até lá sozinha?
Madison: Querido, não faça perguntas estúpidas. Você conhece a resposta. – Disse,
piscando pra ele.
Madison: Ninguém que tenha sobrevivido para contar. – Disse, com um sorriso
encantador.
Kristen: Como deixaram você passar pelas fronteiras? – Perguntou, franzindo o cenho.
Madison: Como se eu tivesse permitido que alguém me visse. – Disse, divertida com a
idéia. Kristen e Katherine riram. Robert voltou, e Kristen a abraçou.
Anahí: Está tudo bem agora, mãe. – A voz de Anahí estava rouca – Veja. – Ela se
separou da mãe, revelando Alfonso atrás dela. Alfonso teve o breve impulso de correr,
mas o controlou. Estava nervoso e nem sabia porque. – Este é Alfonso. Agora meu
noivo. – Disse, sorrindo. Mary olhou Anahí, os olhos azuis observando-a, e logo após
Alfonso... Então ela se curvou em reverência.
Alfonso: Não, por favor. – Impediu, e ela o olhou – Estou encantado em conhecê-la. –
Disse, apanhando a mão dela e beijando-a. A mãe de Anahí parecia ter perdido a voz.
Madison: Adoro finais felizes. – Disse, sorrindo e cruzando os braços. A mãe de Anahí
se sobressaltou ao ouvir a voz dela
Christopher: Eu ainda não decidi seu final, não o comemore. – Disse, e ela suspirou.
Anahí: Está assustada? – Perguntou, só pra mãe ouvir, e ela negou educadamente com a
cabeça.
Madison: Ela está com medo de mim. – Observou, franzindo o cenho. – Tudo bem, ela
se assustou e não quis vir, eu não tinha tempo então a trouxe a força. Os meios
justificam os fins. – Assinalou.
Madison: Não houve tempo antes, mas... Eu sou a rainha Madison Uckermann. NY,
Estados Unidos. – Se apresentou – Este tentando me matar é meu marido, Christopher.
– Mary arregalou os olhos.
Ian: Ian Somerhalder. – Se apresentou – Mystic Falls, Virginia. Esta é minha esposa,
Katherine. – Disse, e Katherine assentiu.
Robert: Você está em Mystic Falls? – Perguntou, franzindo o cenho. Christopher ainda
fuzilava Madison.
Ian: Faz anos. – Disse franzindo o cenho, e virando o rosto – É o melhor ponto em toda
a Virginia. – Justificou.
Kristen: Sou a rainha Kristen, de Forks, Washington. – Disse, meio tímida. Robert
sorriu – Esse que resolveu discutir geografia no momento mais inoportuno é meu
marido, Robert Pattinson. – Robert e Ian riram.
Anahí: Está segura, mamãe. – Ressaltou. Mary parecia ainda mais branca.
Mary: Não me deu tempo de trazer nada. – Disse, preocupada. Madison a trouxera
apenas com a roupa do corpo.
Alfonso: Não se preocupe com isso. Tudo será providenciado. – Mary pareceu
empalidecer ainda mais com Alfonso se dirigindo diretamente a ela. Ele tocou o ombro
de Anahí, que o olhou – Vou mandar prepararem um quarto para ela, sim? – Anahí
assentiu. Ele lhe beijou a testa e saiu.
Mary: Então os boatos eram mesmo verdade. Vais casar com o rei. – Anahí sorriu,
radiante.
Anahí: Ela fugiu por mim. Para salvar minha mãe, e sou grata. – Falar com Christopher
naquele estado a deixava nervosa – A intenção foi boa. Quero rogar por ela.
Ian: Não se preocupe. – Disse, olhando-a – Ele é louco por aquela mulher. Dois gritos
depois estará nos braços dela. – Anahí sorriu.
Kristen: Bom, vamos deixar vocês a sós. Se precisar de qualquer coisa... – Anahí
assentiu. Todos saíram.
Anahí: Vou explicar tudo, mamãe. – Disse, abraçando a mãe de novo – Está tudo bem
agora.
Pelo menos dessa vez a história se desenrolou sem briga. Dessa vez.
Um pequeno flashback...
Haviam dois guardas, dois soldados, em frente a uma pequena casinha, perto da
copa da fronteira, próxima a algumas arvores. A noite era fria e ventava bastante,
mas os dois não se demoviam. Tinham ordens expressas: Paul acreditava que
Anahí voltaria para buscar a mãe. Quando ela voltasse, estariam prontos. A ordem
era matá-la sem perguntar, e levar o corpo para ele. Mas dias se passaram, e nada
aconteceu.
Guarda2: Creio que logo choverá. – Os dois olharam o céu nublado, observando,
então...
- Boa noite.
Os dois olharam. Do nada havia uma pessoa ali, parada como se houvesse estado o
tempo todo, coberta por um manto negro, com capuz. Só se via o queixo e os
lábios. A voz era feminina e a mulher sorria de canto. Podia bem ser um espectro.
Os guardas puxaram as espadas imediatamente, alarmados.
O vulto aquiesceu e duas mãos cobertas por luvas puxaram o capuz, revelando um
rosto tão branco que tinha uma matiz acinzentada. Os cabelos eram negros, presos
em um coque, mas não tão negros como os olhos. Era assustador. Assustador e
violentamente encantador.
Guarda2: Este local está vetado a civis. – Disse, e ela sorriu de canto.
Madison: Ótimo. Se eu avistar um, avisarei. – Disse, sorrindo. A pele dela parecia
glacê, sumindo pelo decote do vestido. Ela se aproximou, e um dos guardas olhou pro
outro, sorrindo descaradamente – Por favor, senhores. Eu só preciso fazer uma breve
visita. – Disse, a voz sedutora.
Guarda2: Ordens do rei. – Negou – Não lhe contaram que uma dama não deve andar só
a noite? Sozinha, desprotegida... Não é seguro. – O sorriso de Madison aumentou.
Ela aproximou o rosto do pescoço dele, que lamentavelmente não impediu. Seu
sussurro foi frio. O outro guarda, achando se tratar de uma tentativa de suborno,
apenas sorriu, animado.
Madison: E tu? Não lhe contaram uma história que afirma que a morte tem várias faces?
– Perguntou, com um sorriso – Uma delas é encantadoramente bonita, com a voz
incrivelmente doce e sedutora... Usando um manto negro. – Completou.
Mary se preparava para dormir quando o barulho veio. Algo como um grunhido,
um grito de homem, que se afogou, em seguida um segundo, um barulho de
espada, um baque forte, e a porta se abriu. Mary gritou, recuando. A mulher era
branca, totalmente branca, vestia negro e tinha sangue descendo de modo
abundante, começando pela boca, sujando todo o pescoço, descendo em fios pelo
colo.
Mary: Não. – Ofegou, apavorada. Madison franziu o cenho, como se o fato de ela estar
banhada de sangue não fosse relevante.
Madison: Não se preocupe. Não vou lhe machucar. – Ela fechou a porta, trancando-a –
Não vai demorar darem por sua falta, precisamos partir. – Disse, se aproximando. Mary
se afastou rapidamente. Madison apanhou um pano de prato, molhando-o na pia – Já
disse que não vou machucá-la, em nome de Deus! – Isso não muda o fato de que você
está com os lábios cobertos de sangue.
Mary: Não vou a lugar algum com você. – Disse, vendo Madison limpando-se do
sangue rapidamente. O pano de prato branco logo se tornou vermelho. Madison se
abaixou na pia, levando água a boca, e gargarejou... Quando cuspiu era sangue. Mary
recuou mais ainda
Madison: Agora me escute bem, pois não temos tempo. – Disse, se virando. Apesar de
agora estar limpa, a imagem permanecia.
Madison: Meu marido me acusa disso as vezes, já que menciona, mas não. – Ela
desamarrou a capa do pescoço, revelando o ombro pálido – Não vou lhe fazer mal,
estou aqui em nome de alguém que lhe quer bem demais, cujo nome é tabu. Agora
vamos. – Mas Mary apanhou uma faca em cima da mesa, apontando-a para Madison.
Mary: Não se aproxime. – A mão dela era tremula. Madison ergueu a sobrancelha,
incrédula, observando por um instante.
E ela sumiu. Mary olhou em volta, assustada... Então algo bateu em sua nuca e ela
caiu. Vagou entre a consciência várias vezes, esperando o momento que aquela
criatura dilacerasse sua garganta e drenasse seu sangue. Mas mãos frias a
apanharam e ela soube que estava em movimento pelo vento passando em seu
rosto. Só parou em uma sala clara, com o ambiente agradável, e ela foi deixada no
chão. Uma discussão começou, e ela despertou totalmente. Iria gritar, mas uma voz
doce e conhecida chamou. Uma só palavra: “Mamãe.”
Fim de flashback.
Madison estava em seu quarto. Assim que a fúria de Christopher passasse, ela
pensaria em sair com Robert em uma viagem de caça. Seria bom. Falando em
fúria de Christopher... A porta se trancou. Ela se levantou, virando-se, e o viu
parado.
Christopher: Você tem noção do que eu passei pensando que alguém tivesse lhe feito
algo? – Perguntou, a voz dura. Ela se aproximou dele, que não se demoveu.
Madison: Meu anjo, eu estou aqui. Bem aqui. – Ela tocou o peito dele, as mãos ainda
cobertas pelas luvas – Já acabou. Eu estou aqui.
Christopher: Está, mas poderia não estar. – Ele apanhou os pulsos dela, apertando-os –
Eu quase lancei uma ofensiva para ir atrás de você! Quase pus tudo a perder por tua
desobediência! – Ele realmente estava furioso. Os pulsos dela doíam barbaramente.
Madison: Christopher, calma. – Pediu, encarando-o – Meu amor, sou eu. – Ele ofegava,
raivoso. – Está me machucando.
Christopher: Você me prometeu... – Ela recuou, tentando se soltar, mas seus pulsos
estavam definitivamente presos. Ela sentia como se o osso fosse se romper a qualquer
momento – Me prometeu da ultima vez que não faria mais isso. Madison, eu acreditei
em você, e você mentiu. – Rosnou, entortando o pulso dela, que arfou.
Madison: Belinda mandaria matar a mãe dela. Tu sabes disso. Não corri risco algum, e
fiz o necessário. – Ela o encarava corajosamente, ignorando a dor lancinante dos pulsos.
– Eu nunca faria nada que apresentasse a possibilidade de me afastar de ti, Christopher.
Por favor.
Christopher: Me dê sua palavra de que não vai tornar a me desobedecer, não importa
qual for a ocasião. – Ordenou. Ela hesitou, e o aperto em seus pulsos piorou. Ela
grunhiu. Torcidos já estavam. – Você me deve obediência. Dê sua palavra agora,
Madison.
Madison: Não vou mais desobedecê-lo. – Disse, encarando-o – Tem minha palavra. Me
desculpe.
Christopher a encarou por instantes, então largou os pulsos dela, que gemeu baixo,
respirando fundo. Tentou mexe-los, mas não conseguiu fazer direito. Estavam
torcidos, doía. Ele observou e se afastou, ofegando. Não gostava de machucá-la.
Madison: O que? Não! – Christopher a olhou, viu ela ainda segurando os pulsos contra
a barriga, mas o rosto agoniado – Eu dei minha palavra, pedi desculpas, não vá! – Ele
sorriu de canto – Meu erro foi tão grande assim?
Christopher: Eu estou com raiva. Me assustei demais, me senti acuado. – Ela esperou –
Preciso me acalmar... Longe de você. – Ela gemeu – Se ficar aqui vou terminar por
machucá-la, - Ele apontou os pulsos dela – E não é minha intenção.
Madison: Prefiro que me machuque a passar a noite sem você. Está frio. Por favor. –
Pediu, completamente desarmada perante aquilo. Ele avaliou. – Por favor, Christopher.
Ele se aproximou e ela esperou. Tinha tentado ajudar, agora além de machucada
ficaria sem o marido? Onde morava a justiça nisso? Ele a encarou por instantes,
até que levantou a mão. Ela chegou a cogitar que ele fosse esbofeteá-la, mas ele
acariciou-lhe a maxilar.
Madison: Por favor. – Insistiu. Ele assentiu e ela sorriu, respirando fundo.
Christopher: Me deixe ver isso. – Ele se sentou nos pés da cama, apanhando os braços
dela com cuidado. Retirou as luvas delicadamente, avaliando-lhe os pulsos. Os roxos já
eram evidentes. – Inferno. – Murmurou, vendo o estrago.
Madison: Não é nada. – Ela se sentou ao lado dele, que a olhou. Em seguida ergueu a
mão, puxando os grampos do cabelo dela, soltando-os do coque, deixando-os cair lisos
pelas costas dela.
Madison: Já acabou. – Prometeu, os dedos pálidos passeando pelo rosto dele. Os pulsos
estavam rígidos, duros, doendo, mas ela tinha controle dos dedos.
Christopher: E essa roupa? – Questionou, rolando os olhos – Dividir até sua imagem,
vestida assim, com os outros, me incomodou. – Ele a pôs de pé, olhando o vestido justo.
Christopher a virou de costas e ela se deixou manusear como uma boneca de pano, logo
sentindo os puxões do espartilho. Dentro em pouco o vestido caiu no chão, deixando-a
com a roupa debaixo, também negra. Ele a virou pra si novamente, observando-a. Ainda
estava consternado, ela podia ver, apesar de que ele estava tentando se controlar.
Madison: Pedi um banho para mim, antes de você chegar. Está pronto. – Disse,
enquanto ele enrolava uma mecha do cabelo dela com o dedo. Os cabelos de Madison,
soltos, formavam uma cortina negra que ia até a curvatura da cintura, abaixo do umbigo.
Christopher: Tudo bem. – Ele a soltou, catando as luvas e apanhando o vestido do chão,
embolando-o. Ela viu ele se levantar e se afastar, jogando o vestido em um canto
separado. Ele se virou de volta e viu ela ainda ali, parada, olhando-o.
Christopher: Madison...
Madison: Há lugar para nós dois lá. – Ela ergueu as mãos, desabotoando o colete dele,
ignorando a dor forte nos pulsos. Ela retirou o colete dele, largando-o em um canto, e
repetiu o ato com a camisa. O peito forte e pálido de Christopher se revelou ao toque
dela, que o abraçou, beijando-lhe o queixo – Venha comigo. – Insistiu.
Ela deu um beijinho na orelha dele, passando os lábios por ali, e ele afundou o
rosto no ombro dela, respirando de modo pesado, o hálito quente arrepiando-a.
Logo as duas mãos dele subiram pelas costas dela, apertando-a contra ele, e ela
sorriu, enchendo o rosto do marido de beijos até alcançar-lhe a boca. Foi aos beijos
que os dois caminharam até o banheiro, onde a banheira esperava, cheia de água
quente. Ao contrário da primeira, a segunda etapa do castigo de Madison
demoraria mais. Começando na banheira, se estendendo para a cama logo depois.
Mas desse castigo ela não tinha do que se queixar.
---*
Anahí estava em seu quarto. Seus pés doíam terrivelmente. Assim que entrou se
livrou dos sapatos, gemendo e mancando para a cama. Se massageou, pensando na
mãe, que agora dormia, salva e segura, a poucos quartos de distancia. Fora
realmente constrangedor explicar como as marcas em sua pele não haviam
sumido, pelo contrario, haviam piorado. Anahí tinha roxos pela pele do pescoço,
sumindo pelo colo, mordidas, marcas de mão. Simplesmente constrangedor. Mas
no fim dera tudo certo. Ela se levantou, caminhando até o espelho, olhando sua
imagem refletida. Sua vida havia mudado tanto! Ela sorriu, testando os pés,
erguendo-os para olhar no espelho... Estava péssimo. Mas ela estava que não cabia
de felicidade. Então, subitamente, estava dançando. Há tempos não se sentia tão
bem a esse ponto, mas agora sim. Dançava pra si própria, rodopiando, segurando a
saia do vestido, sorrindo
Alfonso: O que é isto? – Perguntou, o olhar fascinado nela, parado a porta. Ela se virou,
sorrindo, e estendeu as mãos para ele, que foi até ela. Ele sentou nos pés da cama e ela
lhe beijou a testa, acariciando-lhe os cabelos.
Anahí: Quando eu era pequena, mais jovem, antes da guerra começar, eu tinha uma tia.
O marido dela era comerciante então ele viajava muito, e ela sempre com ele. Sempre
me trazia presentes lindos, e me contava histórias. – Contou. Ele observava, quieto –
Dentre essas ela me ensinou essa dança. Era de algum lugar no oriente, as mulheres
dançavam para os maridos, e tinha panos, eram lindos! Ela me deu vários, mas ficaram
todos em casa. Ainda assim sei dançar. – Explicou. – Não se dança com essas roupas
todas, elas se vestem diferente, bem menos. – Comentou.
Alfonso: É algo que eu quero ver. – Disse, um sorriso malicioso no rosto, imaginando.
Anahí: Verá logo. – Ela selou os lábios com os deles repetidas vezes. Ele apenas sentiu.
Alfonso: Parece que faz tanto tempo... – Suspirou, apertando a cintura dela sutilmente –
E foi ontem. – Ele riu de leve.
Alfonso: 5 minutos. – Negociou, e Ian assentiu, saindo. – Venha aqui. – Ele puxou ela
pro seu colo, de lado, enchendo-a de beijos. Anahí riu.
Anahí: Estou feliz. – Disse, acariciando o rosto dele, enquanto ele colocava as pernas
dela em cima da cama – Feliz, feliz, feliz! – Disse, distribuindo beijos mordidos nele,
que riu – Seus pés não doem? – Perguntou, sentindo os pés latejarem, mesmo livre das
sapatilhas. Alfonso gemeu derrotado, suspirando.
Anahí assentiu e, sabendo que tinham poucos minutos, o beijou. Um beijo doce,
apaixonado, calmo. Ele a apertou em seus braços, correspondendo seu beijo.
Durou os poucos minutos que tinham, menosprezando a necessidade de ar. Até que
ela selou os lábios dele, deixando o rosto ainda próximo.
Anahí: Não sei se já disse... – Ela uniu os lábios com os dele novamente, como se
provasse – Mas eu gosto quando você me beija. – Confessou. E era verdade, ela amava
os beijos dele, desde o primeiro. Ele sorriu. O modo como ela pensava as coisas era
fascinante. – É gostoso. – Admitiu, travessa.
Alfonso: É? – Perguntou, mordendo o lábio dela, que assentiu. Ele tomou os lábios dela
novamente, afundando a mão nos cachos dela, que suspirou, satisfeita. Dessa vez não
durou tanto, bateram na porta de novo – Inferno, Ian. – Rosnou.
Ian: Eu deixei o dobro do tempo. Vamos, saia daí. – Respondeu, a voz vindo do
corredor.
Alfonso: Mais 5 minutos. – Disse, beijando-a novamente. Ela riu, enlaçando as mãos no
pescoço dele.
Ian: Eu não sou a mamãe, Alfonso. – Disse, debochado. Não houve resposta. Ele deu
dois murros na porta, fazendo Anahí e Alfonso se sobressaltarem – OLHA ESSE
SILÊNCIO AQUI, HEIM?!
Alfonso: Ian... – Suspirou. Anahí jogou a cabeça pra trás, mas ria.
Ian: Vamos, não me obriguem a entrar e me macular vendo algo que não quero ver. –
Disse, debochado.
Ian: E as marcas em seu lindo decote apareceram por obra divina. – Debochou –
VAMOS, ALFONSO!
Terminou que Alfonso teve que ir embora. Anahí se presenteou com um banho de
banheira, quente e demorado, tentando relaxar os pés. O dia amanheceu sem mais.
No quarto dos Uckermann, Madison dormia sobre o peito do marido, quieta,
ambos cobertos até a cintura. Christopher já havia acordado, e acariciava os
cabelos dela, quieto, pensando. Até o dia anterior pensara não ter medo. Nunca o
sentira, nunca importara; medo era para os fracos. Então ele se fez fraco. Se fez
fraco diante da possibilidade de perdê-la, sentiu medo, angustia, pavor.
Encontrara sua fraqueza, talvez sua ruína: Madison.
Ele abaixou os olhos até uma das mãos dela, que estava sob sua barriga, e os pulsos
dela pareciam ter um bracelete quase negro, da largura da mão dele, contrastando
com a pele dela. Ele lhe beijou a testa demoradamente e ela sorriu de canto,
despertando.
Madison: Bom dia. – Murmurou, ainda com o rosto no peito dele, fungando de seu
cheiro.
Christopher: Bom dia, anjo. – Ela sorriu de canto, os olhos fechados – Mad, eu vou
chamar um médico hoje. – Disse, acariciando-a.
Madison: Quem está doente? – Ela franziu o cenho, sem abrir os olhos, confusa. Ele
gostava do modo como ela acordava, meio alheia.
Christopher: Seus pulsos. Causou dano. – Explicou. Ela abriu os olhos, olhando um
pulso, e gemeu.
Madison: Não... – Ela ergueu o braço e tentou dobrar o pulso. Ele observou o ato. Ela
não conseguiu, e arfou – Não estão quebrados.
Christopher: Mad...
Madison: Shhh. – Ela ia calá-lo com o dedo, mas doía. – Ficará tudo maravilhosamente
bem se você me fizer amor de novo. – Disse, manhosa, se estreitando sobre ele, que
sorriu.
Christopher: Eu te machuquei. Não vai dizer nada? – Perguntou, tirando o cabelo dela
do rosto. Cada pedaço dela o encantava.
Madison: Fazer uma cena desperdiçaria um tempo que nós podemos aproveitar muito
melhor. – Ele riu da simplicidade dela – Eu errei, eu paguei, é pratico. Não sinta
remorso. – Ela selou os lábios com os dele, que ria.
Christopher: Não torne a fazer. – Alertou, após passar os dedos sutilmente pelo rosto
dela, entrando nos cabelos e puxando-s de leve pela raiz, fazendo-a inclinar o rosto. O
olhar dele era sério.
Madison: Nunca mais. – Confirmou, e ele sorriu, satisfeito. Então os dois rolaram na
cama, ele passando para cima dela que imediatamente o acolheu dentre as pernas, tendo
sua boca assaltada pelo beijo faminto dele. Ela enlaçou os braços no pescoço dele,
sabendo que não teriam lá utilidade, sendo que doíam sem ela nem tentar mexer, e os
dois pulsos tinham marcas iguais. Aquele assunto estava encerrado.
Estava tudo ótimo, mas Madison não conseguia manejar os talheres (não conseguia
mover os pulsos pra nada), logo não desceu pro café e ele teve que alimentá-la na
boca.
Madison: Tenho, que você me deixe em paz! Não estou com fome! – Choramingou, e
ele levou um copo de suco aos lábios dela, que bebeu, sem ter alternativa – Christopher,
eu vou estourar, já chega! – Ralhou, e ele não agüentou: Riu. Então houveram batidas
na porta.
Madison: Espere. – Ele a olhou – Abra aquela gaveta. – Ela indicou com o rosto – Há
luvas ali. Apanhe as cinzas. – Obviamente para combinar com o vestido dela.
Madison: Meu amor, as luvas. – Ignorou. Christopher sorriu de canto, buscando as luvas
– Já vou, Kath!
Kristen: Você quer me dizer como conseguiu fazer aquilo? – Perguntou, exasperada.
Madison riu.
Madison: Não muito, quase nada. Isso não vai sumir? – Perguntou, atordoada – Rob, eu
já me machuquei inúmeras vezes, eu acreditei que isso teria desaparecido na noite
seguinte!
Robert: Antes não foi ele a machucá-la. – Disse, observando as marcas negras. Madison
ergueu a sobrancelha – Você o ama.
Madison: Ainda esperando o motivo pelo qual isso não some. – Disse lentamente.
Robert: Você o ama e ele lhe machucou. Por isso a mancha não some. – Ela olhou de
Robert pros pulsos.
Madison: Acredite, essa não é a primeira vez que ele deixa uma marca em mim. –
Disse, debochada.
Robert: Suponho que essa tenha sido a primeira que ele deixou com a intenção de
deixar. De machucar, causar dor. – Ela não teve resposta. Era verdade.
Madison: Já. – Completou, sem que ele precisasse terminar a pergunta, e ele assentiu,
soltando-lhe as mãos sutilmente. Ela apanhou as luvas, calçando-as. Os pulsos não
doíam mas pareciam relutantes em obedecer. Ela olhou Robert, esperando. Os olhos
dourados estavam pensativos, distantes.
Robert: Eu vou pesquisar. Alguém deve saber. – Disse, vendo ela se levantar, e ela
agradeceu com um sorriso de canto.
---*
O dia do casamento chegou. Anahí mal dormiu. Logo pela manhã criadas foram
ajudá-la. Prepararam um banho com pétalas de rosas, massagem, logo havia
alguém para cuidar dos cabelos... O vestido de noiva, pronto, impecável, estava em
um manequim. O castelo (o reino) estava um alvoroço. Porém o quarto dos
Uckermann estava quieto. Madison, recém saída do banho, olhava desolada os
pulsos. A criada acabara de sair, após amarrar o espartilho preto. Ela suspirou.
Tentara de tudo, e a droga da mancha não sumia. Ela se virou para a cama, o
vestido preto metálico, luxuoso, passado e engomado. Ao seu lado a caixa com a
coroa... E luvas. Ela não agüentava mais. Até que a porta se abriu e Robert entrou,
fechando-a.
Madison: Robert, que susto! – Ralhou, tendo recuado para se esconder, antes de ver
quem era. Estava seminua, só de roupa debaixo. Aquilo era motivo pra morte.
Robert: Esperei Christopher sair. – Disse, entregando uma garrafinha de metal a ela,
como aquelas que as pessoas usam para guardar whisky hoje em dia. Ela pegou,
confusa. – Beba isso.
Madison: O que... – Ela puxou a tampinha, aspirando o cheiro, então o encarou. Era
familiar. – De quem é?
Christopher: Mad, você viu onde eu deixei aquela pasta que eu trouxe ontem? –
Perguntou, a voz vindo do corredor, cada vez mais próximo da porta. Ela arregalou os
olhos, olhando pra si mesma, de roupa de baixo, e Robert parado ao seu lado. Aquilo
seria uma desgraça.
Robert: Até a ultima gota. – Ressaltou, e havia sumido. Só deu tempo de Madison
esconder a garrafinha debaixo do vestido na cama e Christopher entrou.
Madison: Não precisa. – Ela apanhou uma pasta largada na cabeceira da cama – Aqui
está. – Ele apanhou – Vá, eu vou terminar de me arrumar. Não permita que Ian
enlouqueça Alfonso. – Christopher riu, dando-lhe um selinho, e saiu.
Madison respirou fundo, se acalmando. Robert já havia sumido dali. Ela apanhou
a garrafinha, destampando-a, e virou nos lábios. O gosto era particularmente
familiar, mas ela não detectou. Com um suspiro tomou o resto em goladas... Até a
ultima gota. Quando terminou arfou, olhando os pulsos... E nada. Ela largou a
garrafinha, limpando os lábios, e voltou a se arrumar. Bastava aguardar.
Alfonso: SAIA DAQUI! – Rugiu, exasperado, e Ian gargalhou gostosamente.
Ian: Mas está uma coisa linda! – Disse, debochado, fazendo biquinho. Alfonso suspirou,
exasperado.
Alfonso: Se alguma pedra cair eu vou fazer você engolir todo o resto. – Avisou,
fechando o colarinho da camisa.
Christopher: Ian, não seja insuportável. – Ian riu. Christopher tomou a coroa de
Alfonso, se virando pro próprio – Você tem que ir.
Ian: Alfonso, vendo sua ansiedade, se eu não te conhecesse juraria que você era virgem.
– Disse, fazendo biquinho de novo. Com essa Christopher riu.
Anahí estava pronta. Os cachos estavam formosamente delineados, mas ela não
deixou que prendessem. Alfonso gostava deles soltos. O vestido resultou em um
lindo tomara-que-caia, com 20 camadas de saia (Acordo entre Madison e Kristen).
O véu longo, que ia até o chão, se arrastando, estava preso as raízes do cabelo.
Mary: Está na hora, bebê. – Disse, e Anahí se virou, os olhos ansiosos – Está parecendo
um anjo, Anahí. – Elogiou, e ela sorriu. Então uma criada veio confirmar a carruagem
que aguardava.
Cada casal de reis foi em uma carruagem, Alfonso sozinho na primeira e Anahí
com Suri na ultima. O reino em peso estava em frente a catedral. O tapete
vermelho parecia Hollywood em si. Após Alfonso entrar, parando para acenar
para alguns, e para umas poucas fotos, vieram Robert e Kristen. Pipocaram fotos
para os dois, que sorriram, antes de entrar. A próxima carruagem foi a de Ian e
Katherine. Ian, cheio de gracinhas, arrancou suspiros, logo sendo levado por
Katherine para dentro da catedral. Na ultima carruagem...
Christopher: Robert veio conversar comigo. – Ela o encarou. Ele sorriu e puxou o braço
do terno, em seguida desabotoou o punho da camisa, revelando o pulso. Estava cortado.
O corte era recente, fundo. Não sangrava mais, mas ela podia ver.
Christopher: Robert explica depois. Venha. – Ele desceu, oferecendo a mão a ela.
Ian: Se você desmaiar eu vou rir disso pelo resto da minha vida. – Comentou, a voz
vindo de trás de Alfonso. Ian, lamentavelmente, era o padrinho de Anahí.
A marcha ainda tocava. Anahí deu seus primeiros passos, então notou algo.
Alguém no meio da multidão. Paul. Quieto, observando tudo. Então ela abriu o
sorriso mais radiante que já havia aberto até então, quase um desafio. Ele sorriu
de canto e assentiu com a cabeça um vez. Ela sabia que ele não podia fazer nada, e
nem o fato de seu casamento estar acontecendo sob uma guerra ofuscou aquela
felicidade. Ela caminhou, tranqüila, e entrou na catedral. Ela olhou em volta, tudo
estava tão perfeito! Suri sorria, radiante, a sua frente. Anahí olhou pra frente,
aguçando os olhos... E seu olhar encontrou o de Alfonso. Ele tinha um sorriso
glorioso no rosto, o que fez ela sorrir também. Os instantes seguintes foram
torturantemente longos. Ela queria sair correndo ao encontro dele, mas seus
passos eram lentos. Por fim chegou até ele, ainda com o sorriso no rosto.
Alfonso: Você não tem idéia do quanto eu esperei por você. – Sussurrou, e ela sabia que
ele não estava falando apenas da igreja.
Anahí: Eu esperei a vida toda. – Respondeu, e o sorriso dele aumentou. Suri apanhou o
buque de Anahí, que deu a mão a Alfonso, ambos caminhando juntos os poucos passos
que faltavam até o altar.
---*
A cerimônia durou quase uma hora, e Anahí, de joelhos, ouviu atentamente cada
pedaço. Queria se lembrar de cada palavra. Por fim, o padre se voltou diretamente
a ela.
Padre: Anahí Giovanna. – Ela sorriu, esperando – Você aceita sua alteza, rei Alfonso
Herrera Rodriguez como seu legitimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo por todos os
dias da sua vida, até que a morte vos separe?
Anahí: Sim. – Disse, respirando fundo. Não queria chorar e estragar tudo. O padre se
voltou para Alfonso.
Padre: Alfonso Herrera Rodriguez. – Alfonso esperou - Você aceita Anahí Giovanna
como sua legitima esposa, prometendo amá-la e respeitá-la por todos os dias da sua
vida, até que a morte vos separe?
Alfonso: Além disso. – Respondeu, tranqüilo. Ela sorriu mais ainda – Sim.
Anahí: Alfonso, recebei esta aliança como prova do meu amor e da minha fidelidade. –
Disse, enquanto deslizava a aliança no dedo dele. Ele observava, com um sorriso de
canto. Após terminar ela o encarou, sussurrando um “Eu te amo.” sem som. Ele assentiu
uma vez sutilmente. Depois foi a vez dele.
Alfonso: Anahí, recebe esta aliança como prova do meu amor, e de minha fidelidade. –
Disse, pondo a aliança no dedo dela. Em seguida os olhos dos dois se encontraram –
Você me trouxe paz em uma vida de guerra. – Disse, antes de beijar a mão dela, em
cima da aliança. Os aplauso que vieram com isso foram ensurdecedores.
Padre: Pelo poder investido a mim pela santa amada igreja, eu vos declaro hoje marido e
mulher. – Disse, dando a benção sobre as alianças nas mãos dos dois. – O que Deus
uniu, o homem não separa. Pode beijar a noiva.
Os aplausos não pararam. Do lado de fora o povo comemorava aos gritos, confetes
eram jogados, a comoção era geral. Alfonso trouxe Anahí para si sutilmente pela
cintura, aproximando os rostos e lhe dando um beijo doce, leve.
Alfonso: Minha. – Sussurrou, como quem declara uma vitória, ainda nos lábios dela. Só
ela ouviu, e sorriu.
Anahí: Sua. – Confirmou, e ele sorriu, se afastando dela, ambos de mãos dada. E assim
seria.
Anahí e Alfonso sairam da igreja de mãos dadas. Choveu arroz. Ela riu, abaixando
a cabeça pra proteger os olhos e ele sorriu, acolhendo o rosto dela em seu peito. A
carruagem chegou, e ele ajudou ela a subir. As nuvens de fumaça das maquinas
fotográficas estavam alvoroçadas.
Ian: Porque eu não posso tacar arroz também? – Perguntou a Katherine, indignado,
observando.
Katherine: Porque não. – Disse, beliscando o braço dele disfarçadamente. Robert ria. –
Vamos. – Disse, suspirando. O dia mal havia começado e Ian parecia uma criança,
saltitando porque o natal chegou.
Alfonso: Está feliz? – Perguntou, o rosto relaxado como não ficava a muito tempo,
sorrindo pra ela. Anahí virou o olhar pra ele, buscando palavras pra dizer algo. Ele viu a
resposta nos olhos dela e seu sorriso aumentou ainda mais, antes que ele beijasse sua
testa. Os gritos em volta aumentaram violentamente.
Dali foram todos pro palácio do governo. Um palácio enorme, com uma sacada.
Somente Anahí, Alfonso, os reis e suas esposas entraram. Lá foi um tipo de
casamento civil. Eles repetiram os votos perante sacerdotes, assinaram vários
livros... Então Alfonso se voltou para ela, com uma caixa preta de veludo, olhando-
a. Ele abriu a caixa, revelando a coroa bonita, feminina, imponente, traçada em
prata com várias safiras incrustadas, alternando com diamantes. Ele se virou para
um dos sacerdotes, entregando a caixa. Anahí teve de um trecho de um livro,
assinar mais vários papéis, então Alfonso a afastou da mesa, levando-a para se
sentar em umas poltronas que haviam ali. Ian, Christopher e Robert assinavam o
livro agora, provavelmente como testemunhas.
Anahí: Bom trabalho. – Disse, encarando-o. Ela não conseguia parar de sorrir.
Alfonso: Vão combinar com seus olhos. Desenhei cada detalhe. – Ele beijou a mão dela
– Estava pensando... No dia em que nos conhecemos eu lhe perguntei qual era teu
sangue, e você me disse que era vermelho. – Ele parou um instante, rindo da
recordação, e ela abaixou a cabeça. Ele apontou para a mesa onde várias alternavam o
grande livro – Bom, ele está se tornando azul agora.
Anahí considerou, e ele sorriu da expressão dela. Mas ela não teve tempo de
responder, ele levou as mãos ao cabelo dela, soltando o véu sutilmente. Ela não
questionou, apenas tinha o cenho franzido. Ele libertou os cabelos dela,
acariciando os cachos com uma fascinação familiar, e se levantou. Ela ia se
levantar, mas ele fez sinal para que ela continuasse sentada.
Ela ficou, então todos se aproximaram. Suri sorria, incontrolável. Anahí sentiu o
aro frio da coroa se fixando nas raízes do seu cabelo, sentiu o peso dela, e uma voz
masculina veio de trás dela.
Sacerdote: A partir desse momento, por via do poder em mim investido, eu a declaro
Rainha Anahí Giovanna, Duquesa de Strathearn, Condessa de Mystic Falls, Baronesa de
Forks. – Disse, enquanto fixava a coroa nos cabelos dela.
Cada titulo fora presente de alguém: Strathearn era um dos principais condados
do reino de Christopher, e ele a fez duquesa. Ian escolhera Mystic Falls como seu
lar, e ele a fez condessa. O mesmo acontecia com Robert, nomeando-a baronesa.
Anahí ficou meio tonta, em um instante não era nada, no outro era tudo: Rainha,
duquesa, condessa e baronesa. A tontura passou quando Alfonso ofereceu a mão a
ela, que a pegou, se levantando. Todos se afastaram, em direção a saída, na sacada
do palácio.
Anahí: O que fazemos agora? – Perguntou, caminhando com ele em direção a sacada.
Alfonso: Agora... – Ele olhava para frente – Agora nós saímos na sacada, minha esposa
é nomeada rainha perante seus súditos, então eu me inclino para ela e a beijo
demonstrando para todos no alcance dos olhos o quanto eu a amo, e o quanto ela é
minha. – Resumiu. Anahí sorriu.
Alfonso: Sua alteza. – Brincou, como quem pede permissão, e ela sorriu. Em seguida
ele a beijou.
---*
Do palácio do governo foram para o salão de festas. A multidão seguiu todos até lá,
porém só os convidados entraram. Alfonso não largou a mão dela nem por um
instante. A decoração era bem mais luxuosa, e dessa vez havia um trono do lado de
Alfonso, seu par, o trono de sua rainha. Todos os reis (e suas rainhas) se sentaram,
como tradição, observando tudo. Anahí observava cada detalhe, encantada.
Alfonso apertou a mão dela, sutilmente, e ela sorriu, virando o rosto pra ele.
Anahí: Pelo contrário, está perfeito. – Disse, o sorriso radiante iluminando seu rosto
novamente – Só vai levar um minuto.
Alfonso: Que seja. – Disse, sem entender. Ele se levantou, apanhando a mão dela, e os
dois saíram sutilmente dali. Assim que sumiram pelos fundos da plataforma, ele alertou
– Não podemos demorar, carinho.
Ela andou apenas mais alguns passos, e ele continuava confuso. Ela conhecia
aquele lugar porque já trabalhara ali. Os dois terminaram no fim do corredor. A
iluminação não era boa, e ainda se ouvia as vozes vindo do salão principal. Ele a
observou, completamente perdido, e ela se lançou em seu pescoço, beijando-o.
Alfonso sorriu, abraçando-a pela cintura, ao entender o que ela queria. O beijo era
mais atrevido que o que deram na sacada do palácio do governo, e causaria criticas
se fosse visto, por isso ela pediu pra sair. A boca dele devorou a dela, que arfou,
feliz, inebriada por seu gosto... Então se fez uma sombra.
Anahí: Estamos indo... Que droga. – Murmurou, ainda nos lábios do marido, que riu.
Alfonso: Temos a vida livre dele agora. Começando hoje a noite. – Lembrou, beijando o
nariz dela, que assentiu, sorrindo – Está se saindo uma ótima rainha, alteza. – Brincou,
enquanto a levava de volta.
Anahí: Porque tantos broches? – Perguntou, tocando o peito dele, carinhosa. Alfonso
usava um smoking logo, preto, luxuoso, e em cima do peito esquerdo haviam broches
de prata presos, menos de 5, ela não contou. Ele riu.
Alfonso: Não são broches, são brasões. – Explicou e ela riu de leve. – Hoje ganhei mais
três. – Comentou, e ela o observou.
Anahí: Quem te deu? – Perguntou, curiosa. Dentre os presentes não haviam brasões,
pelo menos não dentre os que ela olhou.
Alfonso: Minha esposa. – Assinalou, e ela ergueu as sobrancelhas – Um de duque, um
de conde e um de barão. – Ela sorriu ao entender. Por ela ter um posto ele seria seu par,
não importa o que fosse.
Anahí: A partir de hoje a noite. – Disse, rolando os olhos. Ian mordeu o lábio inferior,
sorrindo, os olhos fixados nos dela.
Ian: É verdade. Mas tem algo curioso. – Anahí ergueu a sobrancelha – Gostaria de saber
como você vai lidar com o fato de que não só eu, mas que todo o reino, e além, sabem o
que você e o seu marido estarão fazendo naquela torre hoje à noite. – Anahí arregalou
os olhos e Ian gargalhou – Lide com isso agora.
Ian: Não há nada que você possa fazer, supere. – Disse, ainda rindo – Não vai desmaiar,
vai, alteza? – Perguntou, fascinado.
Madison: Você pode me explicar porque o pulso do meu marido está cortado? –
Perguntou, e Robert a fez rodopiar, antes de responder.
Robert: Bom, as marcas não sumiam porque quem te machucou foi aquele que você
amava, e ele teve a intenção de machucar. – Começou.
Madison: Esperando a parte onde eu entendo isso. – Disse, sendo inclinada para trás.
Robert: A cura era o sangue daquele que a machucou, aquele que você mais ama, dado
de boa vontade, como prova de seu arrependimento. – Explicou, e ela ergueu a
sobrancelha – Chega a ser pateticamente simples.
Madison: Como você descobriu isso? – Perguntou, achando graça. Os dois valsavam
elegantemente, uma beleza que chegava a não ser normal.
Robert: Eu não descobri. Apenas tentei. Não que Kristen pudesse me machucar ao
ponto de que eu pudesse testar. – Disse, franzindo o cenho. – Ian vai fazer Anahí ter
uma crise em poucos segundos. – Observou. Madison virou os olhos. Anahí estava
branca, e Ian ria. – Vou fazer a troca antes dê em uma catástrofe. – Madison assentiu.
Madison: Obrigada. – Agradeceu, grata, e Robert piscou, sorrindo torto antes de girá-la.
Anahí nem notou ao ser trocada de braços, então um par de olhos dourados a encarava e
ela estava com Robert. Madison pousou sutilmente nos braços de Ian, que ainda ria.
Robert: Não dê atenção ao que Ian diz, seja lá o que for. – Sugeriu, e Anahí assentiu –
Está linda hoje. – Anahí sorriu, sentindo a tensão se esvair.
Ian: É claro que eu vou. Um dia. Não hoje. – Madison revirou os olhos – Está divertido
demais para dispensar.
Só no ultimo instante ele permitiu que ela girasse de volta pra Christopher, que
devolveu Kristen a Robert, que passou Anahí para Alfonso, que por sua vez
devolveu Katherine a Ian. Os aplausos soaram, ensurdecedores.
Anahí: Ian. – Disse, como justificativa. Alfonso olhou, mas Ian não olhava os dois,
estava ocupado dando um beijo na testa da esposa.
Alfonso: Não dê atenção, o dia mal começou. – Sugeriu. Ela assentiu, abraçando-o.
Outra valsa começou a tocar. Dessa vez alguns dos convidados foram para a pista de
dança. – Ei, mocinha. – Chamou, e Suri, muito divertida, olhou. Ele ofereceu a mão a
ela que veio, saltitando alegremente.
A festa levou a tarde inteira e entrou a noite. A felicidade de Anahí e Alfonso podia
ser sentida no ar. Quando anoiteceu os reis desceram do palanque, indo falar com
alguns convidados. As rainhas ficaram sozinhas, conversando.
Anahí: Eu não agüento mais o peso desse vestido. – Disse, balançando as pernas
levemente. Katherine riu.
Criada: Alteza? – Anahí se virou, e a criada fez uma reverencia – Me pediram para
entregar. – Disse, passando uma caixinha prateada. Anahí apanhou.
Katherine: Outro presente? – Madison riu com a exasperação dela – Pelo amor de Deus,
já não mandei despachar direto pro castelo?
Kristen: Não seja antipática. – Criticou, olhando o marido, que ria em uma conversa
com alguns homens, no meio do salão. Vários súditos mandavam presentes a Anahí, sua
nova rainha, e ela recebia todos. O sorriso dela permaneceu enquanto desembrulhava a
caixa, pra morrer quando viu seu conteúdo.
Era uma tira de tecido rasgado. Azul metálico, longo. Uma tira do primeiro vestido
que Alfonso lhe dera. O vestido que Paul rasgara. Ela olhou o tecido por um
instante, respirando fundo em seguida.
Katherine: Essa foi nova. – Disse, observando – Que diabo é isso? – Perguntou,
incrédula. Kristen olhou também. – Um pano de prato? – Kristen riu gostosamente, mas
o olhar de Madison estava sério.
Madison: Ele está aqui, não está? – Anahí retribuiu o olhar. Madison voltou os olhos
pro salão, logo encontrando o marido, mas Anahí intercedeu.
Anahí: Mad, não! Por favor. – Madison a olhou, confusa – Ele só quer estragar meu
casamento. Eu não vou permitir. – Disse, guardando o tecido na caixinha – Por favor,
não avise a eles. – Madison avaliou por um instante. Se dissesse um “ai” a Christopher
sobre o assunto, o lindo casamento logo viraria um pandemônio.
Madison: Tudo bem. – Disse, se sentando – Mas isso não garante que eu não vá quebrar
o pescoço dele se ele passar na minha frente. – Acrescentou.
Anahí: Estou procurando meu marido. – Deu corda, e ele riu de leve, abraçando-a.
Alfonso: Acho que posso ajudar. – Disse, antes de lhe selar os lábios demoradamente. –
Algo vai mal? – Perguntou, acariciando o rosto dela.
E estava.
---*
Nada mais aconteceu, para alivio de Anahí. Durante a madrugada, enfim, pôde ir
embora. Se separou de Alfonso na entrada, ele foi resolver um problema rápido de
ultima hora e ela aproveitou para se trocar. Deixou a coroa nos pés da cama, mas
os cordões do vestido não cederam.
Madison: Eu trouxe a caixa. Kristen salvou o buque, e Katherine o véu... Que diabo
você está fazendo? – Perguntou, exasperada. Ela riu ao ver o esforço da outra. – Aqui. –
Disse, largando uma caixa grande, branca e pesada nos pés da cama. Ela arrancou a
coroa dos cabelos, deixando do lado da de Anahí, e foi ajudar.
Anahí: Pensei que havia perdido o véu. – Disse, satisfeita, vendo Katherine e Kristen
juntas dobrando o véu dela. – Pra que o buque?
Kristen: Oh. – Disse, dobrando o véu. Era tão grande que mesmo cada uma ficando de
um lado do quarto sobrava pano – Ninguém explicou. – Anahí esperou.
Katherine: É como uma tradição. – Explicou – O buque da rainha é salvo, junto com
todo o resto do vestido. Você os guarda até que sua primeira filha mulher chegue na
idade de se casar, então quando ela encontrar um noivo, você a presenteia.
Anahí: Minha filha vai ser obrigada a se casar com meu vestido? – Perguntou,
observando.
Madison: Pronto. – Disse, soltando Anahí. O vestido caiu ao chão. – Me ajudem com
isso antes que Alfonso volte. Ian já torrou a paciência dele hoje pela conta. – Disse, se
aproximando com o vestido.
Alfonso: Pensei que teria de ir buscá-la. – Brincou, se levantando. Ele deixou a coroa
dela em cima da mesa próxima da cama, do lado da dele, e se aproximou, oferecendo a
mão. Ela apanhou a mão dele, abraçando-o pela cintura – Está linda. – Murmurou,
passando o nariz pelo cabelo dela. Ela se arrepiou com a respiração dele em seu rosto,
com a voz tão próxima.
Anahí: O que há? – Perguntou, preocupada, e ele sorriu, beijando-lhe a testa. Ele se
afastou, apanhando uma champanhe deixada ali, com duas taças. Ele abriu, servindo, e
ela não entendeu nada.
Alfonso: Não fisicamente, carinho. – Disse, voltando com a taça – Me sinto mal por não
poder lhe dar a viagem de lua-de-mel que você merece. – Ela entendeu.
Anahí: Não sinto falta de uma lua-de-mel. Estamos juntos, olhe isso tudo. – Ela apontou
pro champanhe, e em seguida para a cama. Os lençóis foram trocados por lençóis do
linho mais luxuoso que Madison conseguiu encontrar, o que era algo, branco, os vários
travesseiros alinhados. Chovia forte lá fora, e a lareira estava acesa, tornando o clima
mais gostoso, apesar do frio. Ela caminhou até a cama, se sentando na beira, sorrindo ao
pensar que agora ela teria tudo aquilo todos os dias, sem fugir ou correr.
Alfonso: É pouco, mas em compensação tirarei o tempo que você quiser. Levantarei a
defensiva, a guerra vai parar enquanto estivermos em lua de mel. – Propôs, observando-
a. Ela ergueu as sobrancelhas delicadas, tomando mais do champanhe. Ele sorriu vendo
ela corar pela bebida.
Alfonso: Posso. Não por muito tempo, mas posso. – Confirmou – Já fiz. Na nossa lua de
mel ninguém vai nos incomodar, eu vou estar com você o tempo todo, e faremos o que
você quiser. – Ele hesitou, vendo ela beber outro gole. Abaixou o rosto, ocultando o
sorriso. Anahí sempre fora fraca com bebida – Quando isso tudo acabar, viajaremos
para onde você preferir.
Anahí: Parou pra pensar que nossos filhos vão ser concebidos aqui? – Perguntou, se
deitando de costas na cama. Alfonso coçou o cabelo, deliciado com a situação.
Alfonso: Aqui ou em qualquer outro cômodo. – Ele passou pra cima dela, que o
encarou, sorrindo – Mas pra deixar a coisa toda mais civilizada juraremos que foi aqui.
– Sussurrou e ela riu gostosamente.
Alfonso mergulhou dois dedos na própria taça, levando o champanhe até os lábios
dela, umedecendo-os. Em seguida a beijou. O gosto do champanhe junto com o
sabor dos lábios dela combinaram perfeitamente. Anahí o acolheu entre as pernas,
se estreitando em seu corpo...
Anahí: Não. – Murmurou, emergindo do beijo dele. Ela equilibrava o braço para não
derrubar a taça com o resto do champanhe, e ele a apanhou, tirando-a dali, salvando o
lençol branco.
Anahí riu de leve. Ele a fez se sentar, ainda agachado dentre as pernas dela. Ele
beijou-lhe o rosto, descendo por seu pescoço, então afastou a alça da camisola dela.
Ela estremeceu quando ele derrubou um pouco do seu champanhe no ombro dela,
logo levando a boca para secá-la. Ele soltou a outra alça da camisola, fazendo-a
cair na cintura dela. Ele olhou os seios dela por um instante, admirando o que
agora era seu, então o olhar dos dois se encontraram. Havia cumplicidade ali,
paixão. Ele a fez deitar novamente, e ela arfou quando o champanhe desceu por
seu colo, molhando seus seios e barriga. A boca dele quente, como contraste,
tornou a sensação ótima. Causava vertigens nela. Ele secou todo o champanhe
dela, ao mesmo tempo que dispensava a taça.
Ele respirou fundo, as duas mãos livres apanhando-a pela cintura, e tomou um dos
seios dela com a boca, brincando com o mamilo túmido pelo frio do champanhe e
pela excitação. Aquela lentidão, aquela meticulosidade, tiravam Anahí do sério.
Ela subiu as mãos pelas costas dele, por debaixo da camisa, as unhas lhe traçando
a pele, sentindo os músculos. Alfonso baixou a boca, mordendo a barriga dela,
fazendo-a se encolher e arfar.
Anahí: Amor... – Alfonso sorriu – Podemos deixar pra fazer isso com calma depois? –
Ele riu gostosamente. Estava bêbada com uma taça de champanhe!
A respiração de Alfonso era irregular, ele ofegava pelo esforço e pelo tesão,
querendo se satisfazer, e ao mesmo tempo sem querer que aquilo acabasse.
Tempos depois, quando a mente dela já estava nublada, longe, ele se sentou
bruscamente, trazendo-a junto. Ela gemeu com a mudança de posição, os cabelos
caindo livremente por seus ombros. Isso o deteve. A velha obsessão pelos cabelos
dela ainda existia. Ele passou a mão pelo rosto dela, em seguida os dedos
enlaçando-lhe os cachos, modelando-os. O ritmo dos dois se tornou brando nesse
momento. Ela o encarou, quieta, e ele retribuiu. Ele a fizera sua. Como desde a
primeira vez, mas agora para sempre. Ela tocou o rosto dele, a respiração
irregular, os dedos traçando os lábios dele. Ganhara mais do que pudera cobiçar
para toda a vida. Ela o beijou ternamente, ainda olhando-o, e ele sorriu. A trouxe
pra si, beijando-a, e voltando a se mover. Anahí enlaçou as pernas na cintura dele
cravando as unhas em suas costas. O ritmo dos dois se acelerou, até que atingiu um
ponto insuportável, e por mais que ela quisesse manter aquilo por mais tempo, seu
orgasmo veio, agressivo, roubando-lhe os sentidos, fazendo-a perder um breve
grito. Ele a manteve por mais alguns instantes, então a apertou contra o seu peito,
gemendo abafado, e se deixou cair de costas na cama, trazendo-a consigo. Anahí o
abraçou, acariciando-lhe o peito, e ele sorriu, cansado.
Alfonso: Posso viver com isso. – Ele suspirou – Não vai se arrepender? – Ela franziu o
cenho – Junto comigo você ganhou todos os meus problemas. Todo o reino. É muito
peso. – Avaliou.
Anahí: Eu nunca estive tão feliz em toda minha vida. – Ele a encarou, colocando o
cabelo dela atrás da orelha, o pequeno diamante cintilando ali. – Vamos envelhecer
juntos, alteza. – Ele riu.
Anahí: Posso viver com isso. – Repetiu as palavras dele, que sorriu, selando-lhe os
lábios demoradamente.
Mas o casamento levara o dia todo, e ambos estavam cansados física e
emocionalmente. Alfonso cobriu os dois, aninhando-a em seu abraço, e logo os dois
dormiram, exaustos.
---*
Madison: Podemos fazer disso nossa segunda lua de mel. – Esclareceu, sorrindo. Ele a
apanhou pelo corpete, puxando-a pra perto. Ela deixou a mão esquerda atravessar o
cabelo dele, a aliança dourada brilhando na mão branca. Ele afundou o rosto na barriga
dela, aspirando seu perfume e soprou uma mecha de cabelo ali perto, acompanhando-a –
Fazem muitos... Muitos anos desde a primeira. – Lembrou. Ele mordeu a barriga dela
sobre o tecido rígido do espartilho – Não que eu esteja me queixando de nada, longe de
mim. – Ela riu, com um toque de malicia.
Christopher: Eu acho uma idéia... Encantadora. – Ele a apanhou pela cintura, a lançando
na cama. Ela deu um gritinho, os cabelos formando uma mancha ao seu redor. Ele
passou por cima dela, beijando-a em seguida e ela o abraçou pelas costas, acariciando a
coxa dele com o pé.
Robert: O que há? – Perguntou, confuso, e olhou o corredor – AH, POIS MUITO BEM!
– Disse, e Kristen arregalou os olhos. Ian se separou de Katherine, ofegando, e os dois
olharam.
Robert: NÃO ME PERDOEM NÃO! – Disse, com uma diversão perversa no rosto –
Kristen, pode soltar, quantas vezes Ian nos interrompeu, achando até graça disso? –
Kristen envermelhou na mesma hora.
Ian: Crianças, o que estão fazendo fora da cama tão tarde? – Perguntou, divertido,
jogando o terno no lugar.
Robert: Porque eu estou sozinho quando era pra haver uma rebelião? – Perguntou,
indignado. Kristen o rebocava, puxando-o pela camisa.
Kristen: Kath, perdão. – Katherine piscou pra ela, sorrindo. Ian ria da indignação de
Robert. – Robert Thomas Pattinson! – Ralhou. Robert a olhou, exasperado, e assentiu.
Robert: Vai ter volta. – Avisou a um Ian que ria gostosamente, antes de ser levado pela
esposa.
Kristen só soltou Robert no quarto dos dois, após trancar a porta. Ele ria da
indignação dela enquanto guardava a coroa dos dois. Ela desistiu e parou frente a
penteadeira, removendo as jóias que usava.
Robert: Tudo bem, perdoe. – Disse, mas os olhos dourados estavam divertidos. Ela o
olhou pelo espelho e sorriu.
Kristen: Você vestido assim, e com esse cabelo engomado, está me lembrando
constantemente o dia do nosso casamento. – Ele sorriu.
Robert: Você estava tão nervosa que sua mão parecia gelo quando seu pai te entregou a
mim. – Lembrou, sorrindo.
Kristen: Eu estava com medo. Estava completamente apaixonada, mas ser rainha era
outra coisa. – Disse, fazendo uma careta, e ele riu – Com razão. – Alfinetou – Então,
nos nossos votos, você me encarou. – Disse, sorrindo de canto – Eu nem existia mais
naquele momento. Só me lembro dos seus olhos. – Ele sorriu, se levantando – Então
você disse: “Nenhuma quantia de tempo de tempo ao seu lado seria suficiente.” –
Lembrou, e ele a abraçou por trás.
Robert: “... Mas vamos começar com a eternidade.” – Murmurou, antes de dar um beijo
apertado. Ela sorriu, se aninhando nele – Eu me lembro de cada minuto daquele dia. E
sabe... Nós podiamos aproveitar esse clima...
Robert: ...Que está predominando nesse castelo, e tirarmos um tempo pra nós dois. – Ele
virou ela pra si, tocando seu rosto com o dedão, beijando-lhe a maxilar em seguida.
Kristen: Gosto disso. – Respondeu, antes de beijá-lo. Ele a abraçou forte, erguendo-a do
chão, sentindo o gosto doce de seus lábios.
Paul: Você pediu ao teu pai que me mandasse reforços imediatos? – Perguntou,
entrando no quarto.
Uma mulher estava sentada, penteando o cabelo, que era de um castanho claro,
longo e liso. Ela virou o rosto, e seus olhos eram de um verde insoso. Seu nome era
Belinda.
Belinda: Se eu não tive uma lua de mel, eles também não vão ter. – Explicou, simples.
Ela não tivera uma lua de mel. Ela não tivera o casamento dos seus sonhos porque isso
lhe fora roubado no ultimo momento. Agora era hora de pagar. Paul sorriu, fazendo a
volta pela cama, e ela se levantou. Ele tocou o rosto da esposa, ainda sorrindo.
Paul: Como eu não encontrei você antes? - Ela sorriu, dando de ombros – Não se
preocupe, eles não terão uma lua de mel. Ninguém terá. – Acrescentou e ela assentiu,
satisfeita.
---*
Os dias que se seguiram foram os mais felizes já vistos ali. Na verdade, ninguém
via ninguém; ninguém saía de seus quartos, nem pra comer. Os empregados se
revezavam para servir os quartos de café da manhã, almoço e janta, perfeitamente.
O reino todo estava feliz. A guerra parara, havia uma nova rainha, estava tudo
perfeito.
No dia seguinte a noite de núpcias, Alfonso acordou Anahí aos beijos, com uma
bandeja linda de café na cama. Não era necessário dizer que os dois nem saíram da
cama. Suri não entendia porque todo mundo havia sumido, mas toda vez que
perguntava a Mary (sua nova melhor amiga), o assunto era despistado, até que ela
deixou pra lá. Os dias se passavam com uma tranqüilidade gostosa, e ninguém se
ousava a passar pelos corredores durante a noite. Podia ser perturbador.
ㅤ
Você não está só, juntos permaneceremos
Eu estarei do seu lado, você sabe, eu segurarei sua mão... ♫
ㅤ
Anahí e Alfonso estavam no seu quarto. Haviam terminado de tomar café da
manhã. Ele estava deitado, de barriga pra cima, e ela amparada em um braço. Ela
tinha um morango na mão livre. Ele observou ela morder a fruta, e em seguida
oferecer a ele. Porém quando ele foi morder ela esquivou a mão, brincando. Ele
tentou mais duas vezes, e ela sorria, divertida, mastigando o que tinha na boca. Ele
parou um instante, observando-a, e partiu pra cima dela, que arregalou os olhos
azuis, dando um gritinho antes de ser jogada nos travesseiros. Ele roubou o
morango da mão dela, de propósito mordendo-lhe os dedos, e em seguida enchendo
o rosto dela, que ria gostosamente, de beijos mordidos.
Chovia forte lá fora. Era madrugada. Alfonso acordara com sede e com frio. Após
vestir uma calça, bebeu um copo de água, e colocou mais lenha na lareira. Não
ficou bom ainda, então ele acendeu as velas dos castiçais da parede e da mesa de
cabeceira. Por fim o clima ficou gostoso novamente. Ele tomou outro copo d‟agua,
e se virou pra cama, olhando. Anahí estava descoberta até a cintura, encolhida de
frio, agarrada ao travesseiro dele. Dormia profundamente, os cabelos caídos em
seu travesseiro. Haviam marcas por toda a sua pele, marcas de mordida, de mão,
de chupão, nas costas todas, na nuca. Ele sorriu se lembrando da disposição pra ele
sempre que ele a buscava, do sorriso que se transmitia nos olhos, o som do riso
feliz, os carinhos que lhe fazia para acordá-lo. Ele tocou a aliança nova em seu
dedo, a dela, e sorriu de canto. Toda vez que olhava pra ela, que ela o abraçava, ele
tinha certeza de que todo o sofrimento que passara havia valido a pena, porque o
tinha levado até ela. Ele voltou pra cama, cobrindo-a até os ombros, e assim que se
deitou ela o abraçou, se aconchegando nele, respirando fundo. Ele passou pra
debaixo da coberta e a abraçou pelo ombro, lhe beijando a testa. Ela suspirou,
abraçando-o, mas não acordou.
ㅤ
Então continue agüentando firme
Porque você sabe que conseguiremos, nós conseguiremos... ♫
ㅤ
Um mês se passou desde o casamento. Amanhecia. O frio era cortante. O reino
dormia, quando aconteceu. Um barulho de algo grande cortando o ar, então um
estrondo que parecia ter feito o chão tremer. Christopher dormia com Madison em
cima do se peito. Quando o barulho veio ele apenas abriu os olhos, mirando o teto.
Robert puxou Kristen pelo braço, afastando-a da janela, o cenho se franzindo.
Alfonso apertou Anahí nos braços, antes de se sentar, em alerta. Ian, que estava
aos carinhos com Katherine, ela de costas pra ele que dava beijinhos leves em seu
ombro, parou com o que fazia, os olhos claros prontamente aguçados. Era uma vez
a paz.
---*
O alvoroço vindo do lado de fora foi imediato. Os reis, muito contra vontade, se
vestiram as pressas. Ninguém sabia o que era, mas todos sabiam que não era
normal.
Alfonso: Eu só vou ver o que foi. Fique aqui, me espere. – Ordenou e Anahí assentiu
com a cabeça, enrolada num lençol, no meio da cama.
A cena seria cômica se não fosse trágica. Todos estavam descalços, despenteados,
mal vestidos (Christopher nem se dera ao trabalho de colocar o colete), e com as
caras amassadas. Quando chegaram a sala já havia um oficial lá, que explicou
rapidamente a situação.
Oficial: Ainda assim, alteza, é um campo aberto. Estão atacando por lá. Enquanto
brigam, a catapulta é puxada mais para perto. Meus soldados acreditam que o objetivo é
atingir o castelo. – Encerrou.
Ian: Vamos plantar arvores! – Disse, rindo, debochado.
Oficial: Não temos como saber. Atacaram por todos os lados, e havia o alvoroço com a
bola de fogo. Não temos um numero, mas preciso de reforços.
Oficial: Não senhor. Só civis. – Alfonso assentiu. – Mas eles tem ordem de alcançar o
castelo, estão tentando ultrapassar a fronteira com tudo.
Ian: É uma missão suicida. Ele sabe. Colocou os homens para morrer por puro capricho.
– Disse, passando a mão no cabelo. Estava tão bom antes disso!
Christopher: Pois muito bem. Envenene as flechas com querosene e toque fogo nelas
antes de devolvê-las. Soe o alarde e chame os meus homens. – Ordenou, e o oficial
assentiu – Prepare meu cavalo. – Disse, desgostoso, dando as costas. Bonito ia ser
explicar isso a Madison.
Anahí aguardava, como fora ordenado. Madison havia se vestido. Kristen saía do
banho. Katherine estava quase dormindo de novo. Os sinos tocaram, o barulho
estrondando por todo o castelo. Kristen suspirou, exaltada. Katherine abriu os
olhos, focando a parede. Anahí gemeu, passando a mão no rosto. Madison olhou
pro teto, um rosnado nascendo em seu peito. Maldito fosse.
Anahí: Você prometeu. – Disse, quieta, quando ele entrou no quarto. Alfonso suspirou.
Alfonso: Eu prometi... Mas ele está tentando tocar fogo no castelo, carinho. – Anahí
ergueu as sobrancelhas – Eu vou resolver isso rápido, eu prometo.
Anahí assistiu Alfonso se arrumar as pressas. Odiava vê-lo com aquela armadura.
Enquanto isso, no andar debaixo...
Christopher: Eu preciso ir. – Disse, se aproximando para beijá-la, mas ela se esquivou.
Ele franziu o cenho.
Madison: Entregue esse beijo a Paul. – Disse, cinza de raiva, e saiu porta a fora. Ele
sorriu, divertido.
Christopher: Mad...
Robert: Mas que diabo... O que vocês fizeram com isso? – Perguntou, exasperado,
vendo a bola de fogo rolando sem controle, e as pessoas correndo para sair do caminho.
Soldado: Tentamos rolá-la, para quebrar, senhor. Saiu de controle. – Robert rolou os
olhos.
Robert: Percebi. – Disse, incrédulo – Façam ela parar, ataquem com lanças até fixá-la
em um ponto e JOGUEM AGUA! – Disse, óbvio. O soldado assentiu e saiu correndo,
repetindo a ordem. Robert observou. Os gritos de Christopher eram ouvidos dali. Ele
aguçou os olhos, vendo pra onde a bola rolava – Não deixem ela alcançar... – A arvore
chegou na copa das arvores e Robert gemeu, suspirando em seguida - ...As arvores.
Ele saiu a galope atrás da bola, desviando o cavalo do rastro de fogo deixado.
Aquilo daria trabalho. Ian e Alfonso passavam como duas flechas pelo campo de
batalha, que parecia literalmente o inferno. Homens se matavam, haviam flechas
pegando fogo por tudo quanto era canto. Ao chegarem a catapulta, já preparavam
uma segunda bola de fogo (o que provavelmente tiraria Robert do sério).
Ian atropelou o primeiro soldado que tentou pará-lo, sem nem se dar ao trabalho.
Depois eram ele e Alfonso contra uns 30. Não foi fácil, e não havia nada bonito em
matar, principalmente sabendo que aqueles homens tinham uma família, uma
vida. Aquela situação era obvia: Fora colocada só para criar caos. Por fim eram
eles dois e a catapulta. Os dois usaram as espadas (cobertas de sangue) para cortar
as cordas que mantinham a catapulta em pé.
Ian: Em pensar no que eu podia estar fazendo em casa. – Rosnou, baixando a espada em
uma corda grossa, na intenção de torá-la. Alfonso teve vontade de chorar ouvindo
aquilo, pensando em Anahí em casa, esperando por ele.
Katherine: Não deixe que isso estrague sua lua de mel. Imprevistos acontecem. – Disse,
tranqüila.
Kristen: Em poucas horas ele estará aqui novamente. – Consolou – Não há motivo para
se...
A porta abriu com um estrondo, revelando uma Madison com uma aparência
doentia de tanta raiva do lado de fora. Ela tinha uma garrafa de whisky na mão, a
camisola de seda negra longa, os cabelos soltos.
Madison: BOM VER VOCÊS! – Disse, raivosa, fechando a porta com o pé.
Madison: Não estou irritada. Estou FURIOSA! – Disse, os olhos negros quase opacos –
Eu estava em lua de mel! – Disse, indignada. Anahí ergueu as sobrancelhas.
Madison: Quer? – Ofereceu a garrafa. As outras negaram. Ela deu de ombros, virando a
garrafa na boca.
Madison: Porque eu quero matar alguém e eu não posso. – Disse, se largando em uma
poltrona – Estou com o DEMÔNIO no corpo, apenas isso!
Madison: Como não? É claro que ela deve se irritar, não sei se vocês perceberam, EU
ESTOU IRRITADA! – Disse, sorrindo. Anahí riu da revolta de Madison. – Eu poderia
estar rolando na cama nos braços do meu marido, que tem braços lindos por sinal,
agora, MAS NÃO! Estou aqui, tentando me embebedar mesmo sabendo que não
funciona! – Disse, debochada.
Anahí: Não fica preocupada por ele estar lá? – Perguntou, receosa.
Madison: É isso? Anahí, pelo amor de Deus. Christopher está lá, não há risco para
nenhum deles. Estou FURIOSA pelas horas desperdiçadas, nada mais. Em relação a
isso fique tranqüila.
Alfonso: Está brava? – Anahí ficou quieta – Carinho, não foi porque eu quis, Deus viu
que não.
Anahí: Eu sei. Me irrita o fato de que Paul sempre arruma um modo de arruinar tudo o
que eu faço. – Disse, se virando pra ele.
Alfonso: Nossa lua de mel não está arruinada. Esqueça o dia de hoje. – Ela assentiu,
quieta. Ele a observou por um instante, até que uma lembrança veio em sua cabeça –
Dance pra mim. – Pediu. Ela ergueu o rosto.
Alfonso: Você me disse que sua tia havia lhe ensinado a dançar. – Lembrou – Na época
não podíamos, porque Ian faria o inferno, mas agora podemos. – Ele sorriu de canto –
Dance para mim. – Insistiu. Anahí respirou fundo, em seguida o encarando.
Ela não permitira que Paul estragasse sua lua de mel desse modo. Ela dançaria pra
ele.
Alfonso: Se te tranquiliza, não vai acontecer outra vez. Nós redobramos a guarnição, e
Christopher assegurou que se alguém tentar novamente, ele solta Madison. – Anahí riu
de leve.
Alfonso tomou o silencio ela como algo positivo. O copo estava meio cheio, pelo
menos ela não tinha dito não. Ela viu ele se levantar, indo até a porta e trancando-
a, tirando a chave da fechadura e pondo-a de lado. Ele se virou, encarando-a, meio
que sondando.
Ela sabia o apelo que os cabelos tinham sobre ele. Ela tornou a fazer, agora pro
outro lado, e girou pro outro lado da cama, voltando a encará-lo. Sorria.
Continuou balançando a cintura freneticamente pros lados, e subiu as mãos
lentamente pelas curvas do corpo, provocando-o, até que ficou com os braços pra
cima. Ela se pôs a girar, rebolando pros lados, lentamente. Só deixou de encará-lo
quando teve que dar a volta, os cachos se balançando pelos impulsos dela. Alfonso
nem percebera, mas estava quase de 4 na cama, na direção dela. Ofegava
brevemente, os olhos dilatados de vontade. Ela girou livremente, voltando pra
frente da cama, e abriu os braços na frente dele, jogando o cabelo pro lado,
encarando-o. O azul dos olhos dela parecia hipnotizá-lo. A cintura ainda se
movendo, ela subiu as mãos pela barriga, passando pelos seios e chegando nos
cabelos, retirando-os do rosto, destacando os olhos em cima dele. Ela riu de leve e
girou novamente, voltando pro ponto de onde começara. Alfonso se ajeitou na
cama, como se girasse em torno dela. Anahí apanhou a toalha desprezada no chão,
como um lenço, e a abriu, passando em torno dos ombros e girou umas três vezes.
Alfonso umedeceu os lábios ao ver ela se aproximar dele. Anahí passou a toalha
por trás do ombro dele, prendendo-o, e se aproximou dele, ficando entre suas
pernas. Anahí levou o colo até o rosto dele, deixando os seios em frente ao seu rosto
enquanto balançava os ombros. Alfonso olhou os seios dela, tentado a encerrar
aquilo, mas a encarou e sorriu. Ela o soltou, subindo na cama, dando as costas a
ele, jogando os quadris pros lados enquanto tirava o cabelo do rosto. Ele olhou o
movimento do traseiro dela e respirou fundo, mantendo o controle. Ela se virou
pra ele, voltando a encará-lo, e após puxar a saia pra cima, colocou o pé no peito
dele.
Alfonso pegou a perna dela sutilmente com uma mão, dando-lhe um beijinho no
pé, ergueu a sobrancelha, mordendo o lábio, quando ela se inclinou pra trás, até
onde dava, balançando os ombros.
Quando ela fez o percurso de volta, ficando em ereta novamente, empurrou o peito
dele com o pé, fazendo-o deitar com a cabeça no travesseiro. Ela passou por cima
dele, ficando com um pé de cada lado dele, olhando-o, e passou o pé desde o ombro
dele, descendo por seu peito, parando no cós da calça, beliscando-o. Quando ela
começou a se abaixar, jogando com os ombros, Alfonso se sentou. Ela parou,
deixando os seios na altura do rosto dele de novo, dando com os ombros. Alfonso
não ergueu o rosto dessa vez, e as mãos dele apanharam a cintura dela. Ainda
balançando o colo em frente a ele ela jogou o cabelo pro lado, os cachos caindo por
seu colo, entrando na visão dele. Por fim ela parou de dançar, apanhando o queixo
dele com uma mão, fazendo-o encará-la. Ambos ofegavam, os olhares carregados
de tesão acumulado.
Dessa vez não houve preliminares; Alfonso parecia furioso. Ele apenas matou a
vontade que ficara nos seios dela. Puxou o sutiã com uma mão só, como uma
criança que desembrulha um presente, e se banqueteou, mordendo, sugando,
sentindo. Os vermelhos já estavam acesos, os seios dela sensíveis, quando ele
rasgou a saia que ela usava, se desviando de sua calça, se afundando no corpo dela
em seguida. Ele parou um instante, perdendo um gemido abafado e ela arfou
audivelmente com a invasão, olhando o dorsel da cama, todo o ar dos pulmões
tendo sido expulsos.
Anahí: Tire isso. – Pediu, atordoada, puxando a camisa dele. Alfonso se ergueu um
instante, puxando a camisa de qualquer jeito, beijando-a na volta.
O grito de Anahí morreu na boca de Alfonso quando ele voltou a se mover contra
ela, tamanha a força. As costas dele não tinham mais espaço pra arranhões, mas
recebeu. Ela cravou as unhas na cintura dele, no ponto onde os músculos de
moviam com suas investidas, deixando a marca viva ali. Toda a irritação, toda a
preocupação, tudo se tornou pequeno diante aquilo. Ele estava ali, era seu marido,
sempre seria dela. Em um ponto Alfonso se sentou, trazendo-a pro seu colo.
Enquanto guiava os movimentos dele, durante um tempo ele ficou com os olhos
abertos, observando a expressão facial dela. Tinha os olhos fechados, o cenho
delicado franzido, mordia a parte inferior do lábio. Então, subitamente, franziu
mais o cenho, com força, os lábios se entreabrindo, a respiração suspensa por um
instante, as unhas apertando seu ombro, e um gemido alto escapou dela. Alfonso
sorriu, satisfeito por ter assistido aquele momento, e deu um beijinho no queixo
dela, que abraçou. Ele notou que ela tremia. Minutos depois foi a vez dele, que se
correu com o nome dela nos lábios. Ele rolou de lado, caindo de costas na cama
com ela em cima do seu peito, e ambos ficaram quietos. Ele arfava, de olhos
fechados. Anahí ofegava, as vezes perdendo pequenos gemidos baixos, meio
tremula ainda. Demorou minutos pra que ele falasse.
Alfonso: Sua tia ainda é viva? – Perguntou, rouco, acariciando as costas dela. Anahí
franziu o cenho com a pergunta.
Anahí: Eu acredito que sim. – Respondeu, amparando o rosto no peito dele de modo que
pudesse olhá-lo. Ele ainda tinha os olhos fechados – Porque?
Alfonso: Quero lhe enviar flores, com um cartão de agradecimento. – Disse, um sorriso
descarado nascendo em seu rosto, e ela riu – Com que idade ela te ensinou isso? –
Perguntou, olhando-a.
Anahí: Idade o suficiente. – Resumiu, e ele riu – Porque? Quer que eu já comece a
ensinar a Suri?
Alfonso parecia ter levado uma bolacha. Ele fechou a cara, erguendo a
sobrancelha pra ela, que riu alto.
Alfonso: Quero que você dance mais vezes. – Disse, tirando o cabelo dela de seu rosto.
Anahí: Eu sei fazer mais coisas. – Disse, travessa. Ele ergueu as sobrancelhas.
Anahí: Segredo. Na hora você descobre. – Provocou, e ele a apanhou pelos pulsos,
jogando-a na cama, e ela ria gostosamente, se encolhendo.
Alfonso: Fala pra mim. – Pediu e ela negou. Ele abaixou o rosto, mordendo a barriga
dela, que gritou – Fala, carinho. – Ela negou novamente – Eu vou te morder inteira se
você não falar. – Avisou. Ela negou novamente e levou outra mordida, na curva da
cintura, o que a fez se encolher.
Aquela brincadeira durou vários minutos e inúmeras mordidas. Por fim ele tomou
gosto pelas mordidas, e a brincadeira ficou séria, levando horas a frente. E no
final, ela não falou.
Um mês e meio porque tudo estava muito bom, tudo estava muito bem, e ninguém
queria terminar a lua de mel. Mas chegou a hora. Em resumo do ultimo mês, não
houve um novo ataque, mas houve muito sexo em compensação. Ninguém viu
ninguém durante esse tempo.
Alfonso: Quer que eu mande trazer seu café aqui hoje? – Perguntou, fechando o colete.
Anahí: Não. – Disse, se esticando pra se levantar. Digamos que se sentar não era a mais
fácil das missões. Ela estava de camisola, de linho branco, longa e sem mangas. – Quero
descer hoje. – Ele assentiu.
Alfonso: Carinho. – Disse, se aproximando – Não é porque nossa lua de mel acabou que
as coisas precisam mudar tanto. Eu sempre vou estar pra você na hora em que você
precisar, não importa o que. – Disse, acariciando o rosto dela em seguida.
Anahí: É... Mas não há como deter a guerra, há? – Perguntou, quieta. Ele suspirou, se
afastando, voltando aos botões do colete. Alfonso ainda tinha os cabelos úmidos, do
banho.
Alfonso: Não. É como tentar tapar o sol com uma toalha. Vai acabar logo, eu prometo.
– Ela assentiu, se amparando no lastre da cama – Há mais algo que você queira, algo
que eu possa fazer?
Anahí: Eu quero paz, Alfonso. – Ele abaixou a cabeça, olhando os botões que fechava –
Eu quero paz pra todos nós. Pra Suri. Pra você, pra mim. – Ela hesitou um instante – E
para a criança que está crescendo em meu ventre.
Alfonso estancou no lugar. Ela esperou pela reação dele, mas ele não conseguiu
apresentar uma. Apenas ergueu o olhar, os olhos de um verde estagnado,
encarando-a. Ah, meu Deus.
Alfonso: Grávida? – Anahí assentiu – Oh. – Ele meio que recuou, respirando fundo.
Anahí esperou, ansiosa. Então um sorriso nasceu no rosto dele. O sorriso mais lindo que
ela já havia presenciado. – Oh, meu Deus. – Ele quase correu até ela, abraçando-a.
Anahí sorriu, beijando-lhe a orelha, e ele a retirou do chão – Meu Deus, obrigado. –
Murmurou, apertando-a em seu abraço.
Anahí: Por um instante eu pensei que você não fosse gostar. – Disse, a voz rouca de
emoção, agarrada a ele.
Alfonso: Não gostar? – Perguntou, meio atônito. Alfonso ofegava como se tivesse feito
uma corrida a pouco, o sorriso bobo sempre no rosto. Ele a colocou no chão, apanhando
seu rosto nas mãos – Você não podia ter me feito mais feliz. Não podia. – Disse,
cobrindo o rosto dela de beijos. Anahí sorriu – Obrigado. – Murmurou, antes de beijá-
la.
A noticia correu como vento. Primeiro pelo castelo, então antes do meio dia todo o
reino já festejava.
Madison: Grávida. – Analisou, como se a idéia não lhe passasse pela cabeça. Anahí
segurava em uma cômoda, os braços abertos, enquanto uma criada laçava seu corpete. –
Como pode ter certeza?
Anahí: Eu não sei como. Eu só sei que não estou mais sozinha. É complicado explicar. –
Disse, olhando-as pelo espelho – Porque você me parece chocada, Mad?
Madison: Nada. Só estou surpresa. Não tinha pensado nisso antes. – Disse, dando de
ombros.
Anahí: Nunca lhe passou pela cabeça de que Christopher um dia vai precisar de um
herdeiro? Um sucessor? – Madison sorriu.
Madison: Você parece partir da estranha idéia de que eu vou deixá-lo morrer. – Disse,
divertida, se levantando. Anahí riu. – De qualquer forma, meus parabéns novamente.
Anahí: Onde estão as outras? – Perguntou, dando falta de Kristen e Katherine.
Alfonso: Ei, não aperte tanto isso. – Disse, entrando no quarto. Anahí revirou os olhos.
Alfonso: Apertando desse jeito ele não vai conseguir respirar. – Rebateu.
Anahí: Querido, não diga tolices. – A criada terminou de laçar o espartilho, indo
apanhar o vestido. Madison ainda ria.
Madison: Alfonso, com todo respeito, meus parabéns e tudo mais, mas volte para sala.
Já vamos descer. – Disse, empurrando Alfonso pra fora. Este encarou Anahí, que
assentiu. Madison fechou a porta – Quem vê pensa que é pai de primeira viagem.
Anahí: Eu acredito que Dulce não deixou Alfonso viver a gravidez dela. – Disse,
passando as pernas pra dentro do vestido – Sempre o reprimindo, afastando, como se a
gestação fosse uma doença, uma vergonha. – A criada subiu o vestido por ela, que o
passou pelos braços.
Madison: Porque diz isso? Você a conheceu? – Anahí ergueu as sobrancelhas, olhando
o chão, enquanto a criada puxava os cordões do vestido.
Anahí: Não. Intuição. – Mentiu – De qualquer forma, dessa vez ele vai acompanhar
todos os passos. Ele merece isso.
Criada: Pronto, senhora. – Disse, pondo as sapatilhas de Anahí em frente aos seus pés.
Anahí assentiu, liberando-a.
Anahí: Alfonso já sofreu muito. Mais do que justo, mais do que necessário. – Disse,
apanhando a escova na penteadeira, se pondo a escovar os cachos.
Madison: Imagino. Tudo com Dulce, e depois Suri sem poder andar... Perdoe, mas até
mesmo quando pensou que teria que matá-la. – Anahí assentiu.
Anahí: Não posso dizer como sei, Mad, mas Dulce foi uma mulher desprezível. Tanto
mulher quanto esposa. Alfonso não merecia. – Disse, e Madison assentiu – Acredite,
não é despeito. Então Paul. Argh. – Disse, largando a escova. Pensar no sofrimento de
Alfonso não era agradável – As vezes tenho vontade de matá-lo eu mesma. – Disse,
quieta.
Madison: Acredite, eu teria o feito há meses... Se Christopher não fosse torcer meu
pescoço caso eu o desobedeça de novo. – Disse, com uma careta, Anahí riu – Mas se um
dia eu me bater com ele... Por acidente, em um lugar que não seja um festa... Bom, você
terá pelo que me agradecer. – Disse, dando de ombros. Anahí sorriu.
Então vieram vozes do outro lado da porta, cada vez mais altas. Pareciam brigar,
ou pelo menos conversar, discutir algo. Anahí e Madison olharam a porta.
Kristen: Se fizermos um enxoval todo azul e for uma menina você vai encontrar um
problema em mim, Katherine. – Disse, a voz surpreendentemente ameaçadora. Madison
ergueu as sobrancelhas, divertida. – Porque azul?
Kristen: Três. – Houve uma pausa – Um rosa, um azul, e um misto. Com branco,
amarelo, e outras cores.
Madison: Vamos, antes que elas resolvam fazer um quarto enxoval. – Anahí assentiu, e
as duas saíram para a comemoração, rebocando Kristen e Katherine no corredor.
No final Anahí se envolveria no enxoval. Madison ajudaria mais nos modelos que
nas cores, mas ajudaria. E enquanto continuasse assim, tudo ficaria bem.
Anahí: Grandão. – Observou, sorrindo – Eu nunca vi ninguém com uma barriga tão
grande, tão rápido. Minha mãe diz que é porque ele é saudável. – Disse, satisfeita.
Alfonso: Então é melhor assim. – Disse, virando o rosto pra beijar a barriga dela – Eu
preciso ir. – Disse, desgostoso – Quer que eu mande trazer seu café aqui?
Anahí: Quero. – Disse, manhosa – Meus pés doem. – Ela fez bico, e ele beijou o bico
dela.
Alfonso: Mandarei trazerem uma compressa. Está tudo bem? – Ela assentiu, sorrindo –
Me sinto mal de deixá-la só.
Anahí: Só? Que bobagem sua. – Disse, com uma careta de deboche – Não te contaram?
Eu estou montando um enxoval pra dez bebês. – Alfonso riu. – Assim que saíres este
quarto estará um pandemônio, creia. – Alfonso sorriu, beijando-a levemente em
seguida, repetidas vezes.
Alfonso se levantou, indo pro banho. Anahí ficou, abraçada ao filho. Estava tão
feliz que nem podia calcular! Seu bebê era saudável, seu marido a amava... A vida
fora doce com ela. Ela relaxou, ouvindo a água caindo no chuveiro, então se
levantou, tirando a camisola (com dificuldade). Alfonso não viu quando ela entrou
no Box. Estava de olhos fechados, a água caindo em seu rosto, descendo livremente
por seu peito. Então ela o abraçou por trás, dando-lhe um beijinho no ombro.
Alfonso: Ei. – Disse, sorrindo, se virando pra ela – Vai acordá-lo com a água fria. –
Repreendeu.
Anahí: Continuará dormindo, não seja turrão. – Disse, abraçando-o. A barriga entre os
dois era um lindo empecilho, mas ele a acolheu, beijando-lhe a testa. – O que vai fazer
hoje?
Alfonso: Agüentar Ian. – Brincou. Ela riu, beijando-lhe o queixo. Na verdade Ian
descobrira dezenas de piadas sobre abstinência sexual, mas ele não diria isso a ela.
Anahí: Hum... – Disse, manhosa, se estreitando como podia – Sinto tanta falta. – Disse,
dando-lhe um beijinho na maxilar.
Alfonso: Deus sabe que eu também. – Murmurou, beijando o ombro dela. Os dois não
tinham mais relações até então. Nos dois primeiros meses tudo continuou normal. No
terceiro começou a dificultar, até que no quarto ela estava grande o suficiente pra que os
dois desistissem. Agora, no quinto, o bebê era grande e os seios dela doíam, pesados do
leite que se acumulava. – Nunca pensei que seria capaz de dividir uma cama com você
sem tocá-la. – Comentou, divertido.
Alfonso: Suri me pergunta se eu já sei todo santo dia. Não quer comprar bonecas de
presente se for um menino. – Comentou e Anahí sorriu. Ele se abaixou, beijando a
barriga dela carinhosamente. Ele fazia isso sempre que ela se trocava: Acariciava o
bebê, as vezes conversava, e lhe dava um beijinho. Ele encheu a barriga dela de
beijinhos carinhosos. No começo ela sorriu, mas depois a respiração dele quente em sua
pele... Ela apertou os ombros dele, respirando fundo. Alfonso olhou, confuso. Ela
sempre deixou ele beijar o bebê.
Anahí: Eu vou deixar você tomar banho. – Disse, acariciando-lhe o rosto. Alfonso
franziu o cenho, vendo ela se afastar, os cabelos molhados grudados nas costas, andando
com cuidado pra não escorregar.
Alfonso: Ei. – Ele a puxou de volta delicadamente, com firmeza mais cuidando pra ela
não se esbarrar em nada – O que foi? Se sente mal? – Porque ele sempre achava que ela
estava se sentindo mal?
Anahí: Não. – Tranqüilizou – Eu só sinto sua falta. Não podemos. – Lembrou, tristonha,
e ele entendeu. O corpo dela não estava muito normal com a gravidez: Uma hora ela
estava feliz, e então irritada, ou histérica, ou com fome, ou com sono demais... E as
vezes isso.
Alfonso: Shhh. – Disse, passando-a pro outro lado, de modo que a água só caía nas
costas dele – Incomoda, verdade? – Ela assentiu. Ele colou a testa na dela, raspando o
nariz dos dois, e ela prendeu a respiração quando sentiu uma das mãos dele
delicadamente em seu seio. Ele sabia que qualquer toque, qualquer apertão, por mínimo
que fosse, causaria dor nela. Ele não faria.
Anahí: Alfonso... – Tentou, sabendo quantas vezes eles tentaram e falharam, antes de
desistir, mas ele fez “Shhh” de novo. Isso quase a irritou. Ele passou o dedão em volta
do seio dela, sentindo-o mais pesado que o normal, acariciando-o carinhosamente. O
mamilo logo se enrijeceu na mão dele, que sorriu, desfazendo-o sutilmente com os
dedos. Anahí esperava, encostada na parede, quieta. Aquilo nunca parecera tão bom
antes.
Ele baixou o rosto, dando beijos chupados pelo colo dela, se detendo ao chegar aos
seios. Ali ele foi mais carinhoso, tocando-os com os lábios entre abertos, só por
tocar. Anahí suspirou, languida com o carinho. Ele subiu o rosto novamente,
tomando-lhe a boca em um beijo apaixonado. Ela apanhou o rosto dele entre as
mãos, usando do que tinha, beijando-o sedentamente, mas perdeu o passo quando
a mão dele encontrou sua intimidade. Ele não deixou o beijo se perder, e tampouco
a caricia que se iniciou. A mão dele brincava com a intimidade dela, percorrendo-
a, forçando-a e retrocedendo. O rosto de Anahí logo corou, ela adentrando as mãos
no cabelo dele, apanhando-os pela raiz. Ele se desfez do beijo pouco tempo depois,
sem dizer nada, beijando-lhe a maçã do rosto, onde o sangue se concentrara, e foi
com frustração que ela pensou que a brincadeira havia acabado.
Após beijar-lhe o rosto ele se agachou, se ajoelhando, e antes que ela pudesse
contestar, ele lhe alcançou a intimidade com a boca, logo após lhe dar um beijinho
na barriga e um na coxa. Anahí arfou, surpresa, mas ele não lhe deu tempo (tempo
nunca ajudava em nada). Apanhou uma das pernas dela, mordendo-lhe a coxa
sutilmente, e a fez colocar o pé em seu ombro, lhe dando acesso. A boca dele
buscou a intimidade dela famintamente, e Anahí franziu o cenho, o primeiro
gemido se perdendo de seus lábios. Os outros se seguiram naturalmente, até que a
respiração dela se suspendeu um por um instante, o cenho franzido, e seu gemido
final, o mais intenso entre os outros, veio. Ele sentiu o corpo dela se amolecer logo
depois que ela se veio, e pôs seu pé de volta no chão com cuidado, mantendo a
esposa de pé.
Anahí: Você é impossível. – Disse, abraçando-o pelo ombro. Ele sorriu, acolhendo-a.
Alfonso: Vamos, não seja teimosa. – Disse, se soltando dele. A cara que Anahí fez o fez
gargalhar, e ela o estapeou.
Os dois tomaram banho juntos, conversando. Ele ensaboou as costas dela, sentindo
os ombros dela tensos, massageando-os (Anahí sentia dores nas costas. Era sua
primeira vez, e o bebê era grande, pesado). Depois ela ensaboou as costas dele,
dando-lhe vários beijinhos, e os dois saíram do chuveiro juntos. Ele a ajudou a se
vestir e a voltar pra cama, acolchoando-a, e ela observou, satisfeita, ele se vestir.
Com um ultimo beijo nela (e outro no bebê), ele se foi. Ela fechou os olhos,
relaxando, mas 5 minutos depois...
Madison: Eu não agüento mais isso. – Disse, indo até os pés da cama de Anahí e se
jogando de cara na cama. Os cabelos ricochetearam frente, mostrando a pele
acinzentada dela, revelada pelo decote das costas do vestido negro.
Katherine: Achamos que não, pois seria bem estranho uma menina usando azul, assim
como um menino rosa, mas queremos sua opinião. – Completou. Kristen assentiu.
Madison: Eu acho que eu disse isso. Uma vez. – Disse, a voz abafada – Duas. Durante
os últimos cinco meses. – Completou.
Kristen: Não é “só um bebê”. É o príncipe herdeiro. – Assinalou.
Anahí: Suri é a princesa. Façam um enxoval pra ela. – Disse, sorridente. Pensando bem,
seria crueldade com a menina.
Katherine: Ela já tem um enxoval. – Disse, franzindo o cenho – Se bem que podemos
aproveitar o impulso. – Pensou. Madison ergueu o rosto da cama, uma careta incrédula
ali, e seu olhar se encontrou com o de Anahí, que não podia estar mais exasperada.
Mas no final das contas era assim todos os dias. Até a paz tem seus lados
controversos.
Dias depois...
Alfonso: Tem certeza que não quer que eu vá com você? – Perguntou, desgostoso, atrás
dela. Anahí usava um vestido claro, de um branco leitoso. O vestido dela era diferente,
só haviam duas camadas de pano, uma seda mais grossa e mais solta, que começavam
da caída dos seios. Ele veio por trás dela, tocando seus cabelos delicadamente, e
prendeu a coroa dela ali.
Anahí: Tenho. São só umas poucas compras. Eu estou bem. – Garantiu, vendo ele
ajeitar a coroa. Há muito tempo não a usava. – Ninguém vai me fazer nada. Madison
está comigo.
Alfonso: Me preocupo com o bebê. Ei, grandão. – Disse, se ajoelhando em frente a ela,
dando-lhe um beijinho na barriga – Seus pés estão bem? – Perguntou, atencioso.
Anahí: Bem melhor. – Tranqüilizou – Não vou me demorar. Não agüento mais ficar
aqui sem fazer nada tampouco. Estou ficando aborrecida. – Ele sorriu – Posso levar
Suri? – Alfonso a encarou – Quero dizer, ela não tem muita experiência fora do castelo,
um passeio normal seria bom. – Explicou. Alfonso sorriu.
Alfonso: Não precisa me pedir permissão. Ela é sua filha agora, também. – Disse,
dando-lhe um selinho – Ela vai adorar. – Observou. Anahí assentiu – Eu estive
pensando.
Anahí: Sobre...?
Alfonso: Sobre o bebê. Eu acho que é um menino. – Ela sorriu, e ele a abraçou de novo,
dando-lhe um beijinho na barriga.
Anahí: Porque?
Alfonso: Porque ele é maior do que Suri era. – Ela acariciou o cabelo dele, que deu um
beijinho em seu braço – Certo, eu não cheguei a ver ela na barriga sem o vestido por
cima, mas ele é maior. Então é um menino. – Concluiu.
Anahí: Você quer um menino? – Perguntou, e ele se ajeitou sobre os joelhos,
encostando o ouvido na barriga dela. Os dois ficaram em silencio por um instante, como
se ele fosse conseguir ouvir o filho.
Alfonso: Eu quero esse bebê. Não importa o que ele seja. – Respondeu, quieto, ainda
com o ouvido na barriga dela. Houveram batidinhas na porta, avisando que as outras
estavam prontas – Me prometa que não vai se esforçar. Não vai se cansar, não vai tomar
sol, não vai ficar muito em pé. E que se sentir qualquer coisa, o que quer que seja,
mandará me chamarem.
Anahí: Só se você me prometer que não ficará se preocupando com isso. – Ele sorriu,
dando outro beijinho na barriga dela – Tenho a impressão de que você dá mais beijos a
esse bebê que a mim. Não é justo. – Reclamou. Alfonso riu da manha dela. Ele se
levantou, se sentando ao lado dela e apanhou seu rosto entre as mãos.
Alfonso: Boba. – Ele selou os lábios com os dela – Boba. – Outra vez – Boba, boba,
boba. – Mais três selinhos. No final do ultimo selinho ele se demorou, os lábios
sentindo os dela, e Anahí suspirou, satisfeita, quando os lábios dele tomaram espaço
entre os seus, a língua dele provando a boca dela, indo de encontro a sua, acariciando-a.
Ela tocou o rosto dele sutilmente, correspondendo, e logo os dois se beijavam
apaixonadamente. Terminou como começou, de modo lento, carinhoso. – Melhor?
Os dois saíram do quarto instantes depois. Ele a apanhou no colo com cuidado
antes de descer as escadas. Ele nunca deixava ela descer ou subir sozinha, receava
que ela tropeçasse no vestido, ou sentisse uma tontura (o que acontecia com
freqüência), então a carregava. Ela não reclamava pela dor nas pernas e na coluna,
eram muitos degraus, e os degraus eram altos. Quando chegaram no térreo ele pôs
ela no chão com o mesmo cuidado. Os dois caminharam uns instantes, até que se
encontraram com os outros.
Anahí: Onde está Katherine? – Perguntou, dando falta. Se arrependeu na hora. Kristen
desfiou um rosário de queixas, sobre dezenas de coisas. Agora o problema era o
tamanho das roupinhas. O bebê não parava de crescer, e Katherine, estava querendo
mandar refazer tudo, só que em tamanho maior. Alfonso franziu o cenho, mas Anahí
dispensou com a cabeça.
Robert: O que há? – Perguntou, em tom baixo, voltando pra perto dela.
Madison: Há algo de estranho com esse bebê. – Disse, ainda olhando a barriga de
Anahí. Robert olhou, inclinando a cabeça pro lado, mas não encontrou o ponto.
Madison: É. – Disse, ainda concentrada – Eu não sei o que é. Algo anormal, diferente. –
Ela ergueu os olhos negros para encará-lo. Havia preocupação ali. – Algo errado. –
Concluiu.
Anahí: Está tudo bem? – Perguntou, estranhando. Madison a encarou e assentiu. Ambas
esperavam a carruagem parar na frente do castelo.
Alfonso: Ei. – Disse, descendo a escadaria. Ele tinha o manto dela nas mãos. Enquanto
o de Madison (que já o vestia) era negro, o de Anahí era da cor do vestido. Alfonso
passou o manto em volta do ombro dela, abotoando-o. – Tome cuidado. – Advertiu mais
uma vez, quando a carruagem parou. Alfonso ajudou ela a subir na carruagem. Madison
entrou sozinha. Ele fechou a porta e passou a frente, pra falar com o cocheiro. Sua voz
era ameaçadora – Dê um único tombo ou sacudida nessa carruagem, e eu vou mandá-lo
a forca. – Avisou – E não corra.
Ian: Sabe... Você precisa parar com isso. – Disse, enquanto Alfonso observava a
carruagem se afastar.
Anahí: De todas as pessoas que eu pensei que Alfonso fosse pôr para me vigiar, você foi
uma das ultimas que eu imaginei. – Respondeu, achando graça.
Madison: Não. – Corrigiu – Não digo apenas agora. Na gravidez, em um sentido geral.
– Anahí abaixou a cabeça, olhando a barriga, e a abraçou, inconscientemente.
Anahí: Ah. Bom, meu bebê é grandão. – Disse, lembrando de como Alfonso chamava o
filho – Fora isso é tudo normal. Eu tenho sono, enjôo com tudo, as vezes desmaio.
Minha coluna dói, meus pés incham com facilidade, meus seios estão doloridos pelo
leite... Nada demais. Porque? – Perguntou, insinuando – Por um acaso...
Madison: Não. Não vai crescer uma melancia na minha barriga tão cedo, acredite. –
Anahí riu, divertida – Curiosidade, apenas. – Ela parou por um instante – Você não
sente nenhuma dor... Dor na cabeça, ou no peito, nada assim?
Madison: A noticia de que estamos vindo pra cá deve ter vazado. – Disse, tranqüila –
Sem contar que Katherine, Kristen e Suri já devem ter passado. Não é nada demais.
E foi verdade. Alguns instantes depois o cocheiro abriu a porta. Soldados haviam
dado as mãos, fazendo uma corrente, como um corredor largo, afastando os
súditos. A imprensa também estava ali. Madison saiu da carruagem
elegantemente, ajeitando a capa nos ombros, mas Anahí teve dificuldade. Tinha
medo de tomar um esbarrão, qualquer coisa que machucasse o bebê. Alfonso teria
concordado.
Madison: Retardando? Quem? – Brincou, e Anahí sorriu – Vamos, está frio aqui. –
Disse, quando a carruagem saiu.
Anahí assentiu e elas caminharam um passo, mas o alvoroço se fez mais alto.
Todos queriam ver a barriga de Anahí, ninguém havia visto a gestação dela ainda.
Haviam fotos, e as pessoas se espremiam. Anahí parou por um instante para
acenar delicadamente para todos, o que causou uma onda de gritos, e Madison
sorriu, sem acenar para ninguém, mas sendo simpática. Por fim elas entraram na
loja, e a segurança barrou a entrada.
Mais tarde, naquele dia, fotos de Anahí e Madison juntas, assim como as que
foram tiradas de Suri, Katherine e Kristen anteriormente, estariam circulando nos
folhetins, em destaque, mesmo sendo preto e branco. E longe dali, alguém se daria
ao trabalho de ler a noticia. Paul observou o sorriso radiante de Suri, de mãos
dadas com Kristen e Katherine, a pequena coroa nos cabelos, mas sua atenção foi
chamada para outra coisa.
FLASHBACK
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Anahí lavava roupas. Ela, a mãe, e várias outras mulheres, na beira do rio. Usava os
vestidos que as mulheres usavam para lavar roupas, sem espartilho, só uma camada de
um tecido fino, que facilitava com o calor. Ele se deleitou vendo os seios fartos
decalcados no vestido fino, as coxas delineadas expostas (Anahí estava agachada, logo
suas pernas estavam de fora), os cabelos presos de qualquer jeito em um coque. Era
uma das mulheres mais lindas que já havia posto os olhos, Deus havia sido generoso
com seu corpo. Enquanto ele observava ela conversava com a mãe, então algo a fez rir,
um riso gostoso, sincero. O que ela tinha de bonita tinha de inocente. Paul riu consigo
mesmo, negando com a cabeça, então parou de perder tempo observando e voltou pro
castelo, já pensando em outra coisa.
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FIM DE FLASHBACK
Paul: Aberração. – Condenou, olhando o ventre dela, antigamente rígido, agora enorme.
O folhetim dizia que ela estava chegando aos 6 meses, mas a barriga dela já tinha o
tamanho de 9. Ele largou o folhetim, com nojo, passando a mão no cabelo – Onde
aquele desgraçado está? – Rosnou.
Aconteceu horas depois. Anahí chegou das compras e foi descansar (ordens de
Alfonso). Só que não tinha sono, então ficou sentada na cama, encostada nas
almofadas, pensando. Quando chegara ali estava fugindo, marcada para morrer.
Agora as pessoas gritavam por ela, se aglomeravam só para vê-la, nem que fosse
por um instante. Era um mundo confuso. Foi em seus devaneios que Suri entrou
no quarto, quietinha.
Anahí: Não estou com sono, teu pai que me prendeu aqui. – Brincou, e Suri sorriu.
Alfonso vinha tendo graça ultimamente – O que é isso?
Suri: Uma boneca. – Disse, olhando o embrulho – É minha. Nem é nova, mas é a minha
preferida.
Suri: Porque eu quero dar ela. Pro bebê. – Anahí ergueu as sobrancelhas – Quero dizer,
eu gosto muito dela, então o bebê também deve gostar. – Anahí sorriu.
Anahí: Deixe isso. Vem aqui. – Disse, estendendo o braço. Suri fechou a porta, largando
a boneca nos pés da cama e foi até Anahí, se sentando ao lado dela. Anahí a abraçou
pelo ombro, beijando-lhe o cabelo – Não precisa se desfazer das coisas que gosta. –
Disse, ajeitando o cabelo da menina.
Anahí: Exatamente. São irmãos, vão poder brincar juntos. Tenho certeza de que teu pai
vai encher esse castelo de coisas mesmo. – Suri riu, parecendo apoiar a iniciativa do pai.
Suri: Bom, ele me deixa comprar tudo o que eu sugiro. – Anahí revirou os olhos. Suri
olhou a barriga dela, intrigada – Está tão grande. Não dói?
Anahí: Você é a segunda pessoa que me pergunta isso hoje. – Disse, afagando-lhe os
cabelos. – Não, não dói. Só é... Pesado. As vezes ele chuta. – Comentou. Suri pareceu
indignada.
Anahí: Porque ele está crescendo, e não tem muito espaço. Os chutes não doem, ele é
pequenininho, eu só me assusto. – Suri pareceu pensar – Bom, um dia eu estava
abraçada com teu pai, o bebê chutou, e ele sentiu. Perdeu a voz por 3 horas, coitado. –
Comentou, pensativa. Suri riu gostosamente. – Ei, me dê sua mão. – Disse, pegando a
mãozinha da menina.
Alfonso havia subido pra ver Anahí, e forçá-la a comer algo. Parou ao ouvir a voz
da esposa. Ele entreabriu a porta, observando, e viu Suri dar a mão a Anahí, que a
levou até sua barriga. Parecia procurar um ponto, querer mostrar algo. Suri ficou
calada por um instante, então seu rostinho se iluminou, como se tivesse sido
sacudida.
Suri: Ei, faz de novo! – Pediu ao irmão, olhando a barriga dela. Anahí sorriu. Mais uma
pra lista dos que falavam com o bebê.
Alfonso sorria, parado na porta. Não quis interromper. Estava quieto, aquele
sorriso bobo no rosto. Havia um nó em sua garganta, como se ele pudesse ter uma
crise de choro ou explodir de emoção, de felicidade, talvez. Viu Suri se frustrar por
não receber outro „cutucão‟, então saiu dali, para não ser pego e interromper o
momento.
Anahí: Acho que ele dormiu. Não vai te chutar mais. – Disse, vendo a frustração da
menina.
Suri: Vamos lá, papai disse que não se deve ter preguiça. – Ralhou, e Anahí riu. O chute
não veio. – Ai, desisto.
Anahí: Não fique chateada. Ele é pequeno, cansa ele cada chute desses. Depois que ele
nascer, poderá brincar com ele o quanto quiser. – Prometeu.
Suri: Você não se cansa de ficar aqui o tempo todo? – Perguntou, parecendo aborrecida.
Elas desceram da torre em silencio, indo pros fundos, pro jardim. Caminhavam
lentamente, sentindo o ar frio.
Anahí: Sabe que não precisa sentir ciúmes, não sabe? Do bebê? – Suri a olhou –
Ninguém vai tomar teu lugar.
Suri: Sei disso. Só quero que ele nasça logo, já demorou demais. – Disse, aborrecida –
Eu não posso comprar brinquedos se não sei se é menino ou menina. – Reclamou.
Anahí: Ele tem seu tempo. – Disse, acariciando a barriga – Compre todos os brinquedos
que quiser. Depois, se não servir, damos utilidade.
Anahí não chegou a ouvir a resposta de Suri. Algo atingiu sua cabeça e ela apagou
antes de bater no chão.
Anahí acordou não sabia onde, nem quanto tempo depois. Era uma cabana de
madeira, suja, empoeirada. Ouvia a voz de Suri gritando com alguém. Havia algo
afiado contra sua barriga. Ela respirou fundo, os olhos se arregalando ao perceber
que era uma espada. Estava sentada em um banco de madeira, seus braços
estavam amarrados. Um homem alto, louro, forte, apontava a espada contra a
barriga dela. Ela entrou em pânico.
Anahí: Não... – Ela tomou ar – Não, não, não, não, não, não, não, não, não, eu imploro!
– Cuspiu as palavras, desesperada – Não faça isso, por favor.
XXXX: Eu tenho que fazer. – Rosnou, a espada ainda em posição. Ele tomou impulso
com a espada, a lâmina afiada prestes a rasgar a barriga dela.
Anahí: Não, por favor. – Ela estava quase chorando – Foi Paul, não foi? – O homem a
encarou. Seus olhos eram absurdamente azuis. – Escute. Ele quer a mim. Me dê tempo.
Anahí: É, tempo. – Disse, tentando pensar – Alguns dias. Até eu ter o meu bebê. – Uma
lágrima caiu dos olhos dela. Queria que ele tirasse aquela espada dali. – Eu... Eu posso
forçar. – Ela franziu o cenho.
O homem parou por um instante, suspenso. Suri tentava roer as cordas, tentava se
soltar, se debatia. Por fim ele suspirou, largando a espada, que caiu no chão, e deu
as costas a ela. Anahí suspirou. Ele colocou as mãos nos olhos, e parecia ofegar.
Anahí: Você não quer fazer isso. – Percebeu, vendo-o. Agora, longe do pânico inicial,
ela percebia que ele era jovem. Devia ter uns 18 anos, 20 no máximo. Ele grunhiu
abafado. Estava chorando? – Tudo bem. Como é seu nome?
Matt: Matt, sua alteza. Matt Donovan. – Disse, se virando. Jovem demais.
Anahí: Porque está aqui, Matt? Seja qual for o trato que fez, Paul não o honrará. –
Disse, tentando pacificar. Suri continuava tentando roer as cordas.
Matt: Eu não fiz nenhum trato. – Ele respirou fundo, se acalmando – Paul matou toda a
minha família. Meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos. Ele quis Vicki. Era minha
irmã. Ela soube de ti, de que tinhas fugido e ele não desistira, então não relutou, se
entregou a ele. Mas o desgraçado a matou em seguida. – Grunhiu. – Só me sobrou
Caroline. Minha esposa.
Matt: Não. Está escondida, perto daqui. Está grávida, também. – Ele sorriu de canto –
Paul prendeu a mim, mas eu consegui escondê-la antes de ser preso. – Ele respirou
fundo – Me deu ordem para que eu a capturasse, e transpassasse sua barriga com a
espada. Queria que eu deixasse o corpo aqui, ainda com a espada, para que Alfonso
encontrasse. Mas eu não consigo. – Ele rosnou consigo novamente.
Anahí: Onde exatamente... É aqui? – Perguntou, olhando em volta. Não havia nada na
cabana, só uma lareira apagada, e muita poeira.
Anahí: Porque não se senta? – Perguntou. Tudo que ela podia fazer era acalmá-lo. Matt
observou, então puxou uma cadeira e se sentou. – Me conte sobre Caroline.
Matt: Bom, Caroline é branquinha, tem os cabelos loiros, pouco abaixo dos ombros,
lisos... Isso a irrita, pois ela gostaria de tê-los cacheados. – Ele sorriu – Ela é ciumenta,
insegura, indecisa, mas é a mulher mais linda que eu já vi. – Anahí sorriu – Ela é
romântica, é ótima dona de casa, meio meticulosa, muito carinhosa. Eu costumava levar
um lírio para ela toda noite, quando voltava pra casa. É a flor que ela mais gosta. – Ele
respirou fundo – Isso, é claro, antes de eu ter que escondê-la no mato. – Disse,
desgostoso.
Anahí: Matt. – Ela tentou se inclinar pra ele, mas as cordas a mantiveram - Matt, você
sabe quem eu sou. – Ele assentiu – Sabe quem ela é. – Apontou com a cabeça para Suri,
que lutava com as cordas – E sabe que se nós fizer algo, Alfonso irá até o inferno atrás
de ti, e o matará da forma mais dolorosa que encontrar.
Anahí: Me liberte. Venha comigo para o castelo. – Matt riu consigo mesmo, em
deboche, se levantando – Escute! Eu vou rogar perante a Alfonso, ele vai acolhê-lo, a tu
e a Caroline.
Anahí: Não vai. Alfonso não é assim. Suri, pare de morder isso. – Ordenou. A menina a
olhou, surpresa, com um pedaço de corda preso na boca – Ele me escutará. Não
permitirei que o machuque. Me leve de volta para casa. É sua única esperança. –
Ponderou.
Anahí: Porque você não precisa estragar sua vida assim. Você é jovem. Tem uma vida
pela frente. Se me matar, Alfonso não vai demorar a encontrá-lo. Acredite em mim,
você não quer enfrentar a fúria dele. – Explicou. – Me leve pra casa, Matt. – Insistiu.
---*
Alfonso: Todos irão buscar. – Alfonso tinha o rosto branco feito gesso, as expressões
fechadas, o rosto sem vida. O dia morria, o céu nublado, dando a tudo um tom de cinza
– Todos, sem exceções. – Anunciou. Havia gente ao perder de vista na frente do castelo,
murmurando, atordoados. Tanto soldados quanto civis. A rainha sumira, a princesa
também.
Ian: Alfonso, não podemos colocar mulheres e crianças no meio disso. – Lembrou.
Alfonso nem sequer virou o rosto.
Alfonso: Matem todos que cruzarem o caminho. – Ordenou – Eu sou rei. São meus
súditos. Me devem obediência e respeito. Essa é a minha ordem, e ela vai ser cumprida.
Encontrem a minha mulher. – Disse, por fim. Não havia como contestar.
Ian: Escute. Não precisamos envolver civis nisso, mandaremos soldados, deixe as
mulheres em casa com as crianças. – Intercedeu, logo interrompido.
Alfonso: Eu não vou perdê-la, Ian. Eu não posso. – Disse, se resumindo. A palavra dele
era lei. Então ouve um alvoroço na multidão. Alfonso, que estava de costas, nem se
virou. Coitado do que ousasse tentar se amotinar agora.
Suri: Estou bem. Só com dor nos dentes. – Alfonso franziu o cenho – Longa história.
Alfonso: O que houve? Você está bem? – Perguntou, apanhando o rosto dela nas mãos.
Anahí assentiu, respirando fundo.
Anahí: Paul mandou me seqüestrar. Ordenou que cravassem uma espada na... Na minha
barriga, e me largassem morta, para que tu encontrasse o corpo. – Descreveu. Os olhos
de Alfonso se arregalaram em descrença. Ian rosnou. Robert observava, indignado – Eu
estava caminhando no jardim, com Suri, e levei uma pancada na cabeça. Acordei em
uma cabana, no meio do nada.
Alfonso: Este homem a encontrou? – Perguntou, apontando com a cabeça para Matt.
Suri e Anahí: NÃO! – Exclamaram, ao mesmo tempo. Anahí tentou se pôr na frente,
mas Alfonso a manteve. Suri conseguiu escapar, abraçando Matt. Os soldados ficaram
sem saber o que fazer.
Suri: Vai lá agora, bonitão, me mate pra alcançar ele. – Disse, raivosa. Ian ergueu as
sobrancelhas, achando graça.
Alfonso: Anahí, o que está fazendo? – Perguntou, atordoado. Ele entregou ela
cuidadosamente aos guardas, que a mantiveram presa pelos braço.
Anahí: Ele salvou minha vida! Devia ter me matado, mas me poupou! – Disse,
exasperada – Alfonso, estou implorando, não o mate! – Suri continuava agarrada a Matt,
o peito estufado como em uma afronta, se pondo entre ele e os soldados. Esse, coitado,
estava branco, gelado, tremia. Só conseguia pensar em Caroline, sozinha. Quando ela
soubesse de sua morte...
Alfonso: Ele a raptou! – Rosnou, raivoso. Anahí se debateu, mas estava presta –
Matem-o! – Repetiu a ordem.
Suri: Vão ter que me matar. – Desafiou o pai. Houve um instante de silencio.
Suri: Me dê as mãos. Não solte por nada. – Ordenou, enlaçando os dedos com os de
Matt. Ele apertou a mão dela. Era errado usar uma criança como escudo, mas não podia
morrer agora. Então o que ninguém esperava aconteceu: Ela gritou – EU CONTINUO
ESPERANDO POR AQUELE QUE VAI TER CORAGEM DE PASSAR POR CIMA
DE UMA ORDEM MINHA!
Anahí: Mad! Mad, me ajude! – Implorou, desesperada. Madison adoraria ajudar, mas
Christopher quebraria seu pescoço se ela interferisse.
Um dos soldados tentou soltar a mão de Suri. A menina desceu a boca no braço
desarmado do soldado, mordendo-o com toda a força que encontrou. O sangue
desceu, pingando no chão. O soldado recuou, atordoado. Não podia se defender,
ela era a princesa.
Suri: Eu já perdi a minha faz tempo. – Rebateu. Anahí ainda tentava se soltar.
Anahí: Alfonso, ele poderia ter me matado, e não fez nada! Me trouxe de volta, sem
nenhum arranhão, e me devolveu para você. Seja racional.
Madison: Mas parece ser capaz de condenar. – Comentou, amparada em Ian. O caos
estava armado.
Anahí: Você não sabe porque ele teve se fazer isso. Alfonso, por favor. – Pediu, se
debatendo.
Alfonso parou por um instante, observando a esposa. Ele respirou fundo, e olhou o
alvoroço que eram Suri e os soldados, tudo para proteger o maldito homem. Por
fim suspirou.
Suri: Eu tenho sua palavra? – Perguntou, descendo do colo de Matt, o queixo inundado
de sangue, que descia manchando seu vestido. Madison sorriu de canto, observando. –
Perante todo o reino. – Ela elevou a voz para que todos ouvisse. O silencio era opressor
– Meu pai, eu tenho sua palavra de que não matará esse homem antes que ele tenha um
julgamento justo?
Alfonso: Tem minha palavra. – Disse, e todos ouviram. Anahí suspirou, duas lágrimas
caíram por seu rosto – Prendam-no. – Ordenou, então olhou a esposa – Soltem-a.
Anahí tropicou, mas não foi pros braços do marido. Ela desceu até o ponto onde
Matt estava sendo algemado.
Anahí: Você poupou minha vida. – Agradeceu. – Alfonso só está com raiva. Não tema,
nada lhe acontecerá. – Matt a encarou – Ele não vai matá-lo, e como prova de minha
gratidão conseguirei asilo para tu e para Caroline, a salvo, aqui no reino. – Matt
soluçou, caindo no choro, então se ajoelhou. Estava algemado, as mãos nas costas –
Shhh. Ficará tudo bem. Eu prometo.
Matt: Obrigado. Muito obrigado. – Então ele abaixou o rosto e beijou os pés dela.
Alfonso observou a cena, quieto.
Ian: O poder da realeza está começando a dominar o sangue dela. – Comentou com
Madison, que assentiu, divertida.
Anahí: Se levante. – Disse, e Matt se levantou – Ficará tudo bem. Tu tens minha
gratidão.
Alfonso: Levem-no. – Ordenou. Matt foi levado – Suri. – A menina o encarou. – Você
está de castigo até que o sol fique negro. Não vai sair do quarto, não vai ver ninguém. –
Disse, os olhos parados na filha – Suma da minha vista. – Suri passou por ele, muito
digna, subindo as escadarias. – E tu. – Ele se virou para Anahí – Ficará deitada, em
repouso, daqui até que o bebê nasça. Fui claro? – Anahí assentiu. – Suma daqui.
Anahí: Não me mande sumir. – Ela o abraçou, beijando-lhe o queixo – Vou precisar de
ajuda, pra tomar banho, me alimentar... E eu não quero ficar só. Venha comigo. – Pediu,
acariciando o rosto dele, enquanto o encarava.
Alfonso: Voltem todos para suas casas. O problema foi resolvido. – Ordenou.
Alfonso: Porque eu não consigo te dizer não? – Perguntou, o rosto fechado, mas
acariciando a maçã do rosto dela. – Vamos, venha para dentro.
Christopher: Podemos resolver isso logo? – Perguntou, olhando a mesa – Ainda temos
que fazer a ronda, e eu quero voltar antes que essa chuva caia, e antes do anoitecer. –
Disse, quieto.
Anahí: Perdoem o atraso. – Disse, entrando na sala. Usava um vestido azul água,
segurando o tecido das pernas.
Anahí: Eu sou a testemunha. Eu vivi o fato que vai ser julgado, logo, eu tenho que estar
aqui. – Ian puxou uma cadeira pra ela, que se sentou com cuidado. – Obrigada, Ian. –
Ele assentiu com a sobrancelha. Anahí suspirou. Não se sentia bem desde a madrugada,
não dormira nada.
Christopher: Muito bem. Diga o que tem a dizer, Anahí. – Disse, se virando.
Anahí: Matt me raptou, sim. – Alfonso fez uma careta debochada – Mas não teve
coragem de me matar.
Anahí: Porque estava preso! – Ela respirou fundo – Paul matou toda sua família, os pais,
a irmã, todos, e ele estava preso. Só conseguiu sair porque recebeu a ordem de me
matar. – Contou. Anahí estava meio tonta. – Tem uma esposa, Caroline, que está em
uma cabana no mato, grávida, foi a única que ele conseguiu salvar. Alfonso, por favor. –
Alfonso a observava, impassível – Estou rogando por ele. Se o matar, a esposa dele
morrerá de inanição, junto com o bebê, esperando por seu retorno. É crueldade demais,
principalmente por quem poupou minha vida e a de Suri.
Ian: Não vai dizer nada? – Perguntou, achando graça do silencio de Madison. Esta tinha
uma aparente preocupação no rosto, uma angustia, e olhava a barriga de Anahí
fixamente.
Anahí: Estou implorando. Não o matem. – Pediu, respirando fundo – Peço que dêem
asilo a ele e a esposa. – Christopher ergueu a sobrancelha. Ai já era demais – Eu coloco
minha mão no fogo de que ele não criará problema. Ele é jovem, só quer ter o filho dele
em paz. Por favor.
Robert: Ele não lhe fez mal algum? – Anahí negou – Então não há necessidade de matar
o homem.
Ian: Então temos algo em comum. – Brincou, pondo-a de pé novamente. Ele riu, saindo
dali, e ela foi atrás.
Anahí não tinha boas lembranças das masmorras. Na ultima vez em que estivera
ali, passara pelos piores dias se sua vida. Ao abrirem a porta ela entrou na frente.
Matt estava sentado no monte de feno onde ela passara sua ultima noite ali, ainda
algemado com as mãos nas costas. Ele ergueu o rosto, assustado, quando todos
entraram. Anahí se aproximou, e ele se levantou, tropeçando. Estava ficando fraco.
Matt: Não sei explicar, alteza. Só sei chegar lá. – Ele respirou fundo, ansioso – A
senhora conseguiu perdão para ela? – Anahí sorriu – Podem me algemar mais, me
amarrar, eu os levo até ela, não vou tentar fugir, eu prometo. – Os olhos do rapaz se
encheram d‟água. Iria morrer, mas pelo menos Caroline seria acolhida.
Anahí: Shhh. Nós vamos lá, buscá-la, mas tu não vais algemado. Está livre, Matt. –
Disse, com um sorriso. Matt olhou dela pra Alfonso, ofegando pela surpresa, meio
assustado. Deus, era quase um adolescente!
Anahí: Quero dizer que vamos acolhê-los, a tu e a tua esposa, em segurança. Imagino
que não tenham nada. – Disse, pensativa. Alfonso observava a esposa – Bom, de
imediato os traremos para o castelo. Quantos meses Caroline tem?
Anahí: Então meus vestidos antigos lhe servirão. Ficarão um pouco folgados,
provavelmente, meu bebê é grande, mas podemos ajustar. A ti, providenciaremos
vestes. Ficarão no castelo e trabalharás aqui até que possa construir tua própria casa. É
um presente, como forma de nossa gratidão. – Disse, sorrindo.
Matt não teve reação por um instante, então se ajoelhou perante a ela, chorando.
No sobressalto Anahí abraçou a barriga e Alfonso avançou um passo, mas não era
nada. Ele tentou beijar-lhe os pés novamente, em forma de agradecimento, mas ela
não deixou.
Anahí: Não faça isso. Eu é que lhe sou grata. – Ele a encarou, os olhos azuis mareados –
Agora se levante. Precisa se alimentar, e precisa ir buscar tua Caroline.
Matt: Obrigado, alteza. Muito obrigado. – Ele, ainda ajoelhado, beijou as mãos dela.
Alfonso: Soltem-no. – Ordenou, e um guarda foi até Matt, livrando-o das algemas –
Meus soldados o acompanharão até onde tua esposa está. Se tentar fugir, ou coisa do
tipo, eles tem ordens para matá-lo na hora. Me fiz claro?
Matt: Completamente, vossa majestade. – Disse, se levantando.
Alfonso: E tu. – Anahí o olhou – Venha. Não devias ter saído do quarto. – Disse,
oferecendo a mão a ela. – Eu já estou saindo. Não vou me demorar. – Anahí assentiu –
Venha, vou lhe levar para o quarto. – Ele a apanhou no colo e ela não reclamou.
Não se sentia bem. Não o diria, senão ele não iria. Era só um mal estar. Ele a
deixou deitada, e foi. Ela se acomodou, fechando os olhos, e tentou descansar por
meia hora. O desconforto não passava.
Madison: Viemos fazer companhia. – Disse, entrando no quarto – Está tudo bem?
Anahí: Na verdade, não. – Admitiu. Madison aguçou o olhar – Só um mal estar, logo
vai... Ai! – Gemeu, se encolhendo, a mão alcançando a barriga.
Anahí: Eu acho que estou sangrando. – Disse, se sentando. – Chamem a minha mãe! –
Disse, assustada, então Madison havia sumido. Instantes depois apareceu com Mary. –
Mamãe! – Exclamou, assustada. A mãe dela se aproximou, apanhando sua mão –
Mamãe, está doendo! – Choramingou – Eu estou sangrando. – A mãe de Anahí tocou o
ventre dela, abaixo do umbigo, tateando com os dedos, como se medisse algo. Então
franziu o cenho.
Mary: Não é sangue, bebê. – Disse, confusa – Sua bolsa estourou. – Avisou.
Isso seria normal se ela não estivesse perto de entrar no sétimo mês. Seu bebê
nasceria prematuro. Shh... Nada bom.
O problema foi que Alfonso, turrão, resolveu acompanhar Matt até a floresta. Por
falta do que fazer, todos foram junto, logo ninguém achou ele pra dar a noticia. No
castelo haviam três parteiras e dois médicos. Anahí estava assustada. As
contrações iam e vinham. Ela sempre soube que haveria a dor, havia se preparado
psicologicamente pra ela, era natural, mas não agora! Era muito cedo! Todos se
preparavam para o parto, as rainhas saíram pra não encher o ambiente, todas
angustiadas. Mas a pior era Madison. Essa estava indócil. Andava de um lado pro
outro, passava a mão nos cabelos, parecia angustiada.
Katherine: Você está me deixando mais aflita do que eu já estou. – Avisou, vendo
Madison.
Madison: Está errado... Está errado... Onde está Robert?! – Disse, angustiada.
Madison: Isso é assunto entre você e ele. – Dispensou, voltando a andar em círculos.
Levou horas. Anahí não fazia idéia de onde diabos Alfonso estava. Era cômico que
o reino todo soubesse que o príncipe ia nascer, menos o rei. Estava nervosa, com
medo, com dor. Depois de tudo, Deus não podia permitir que nada acontecesse
com seu bebê. A livraram de seu vestido, tornando a estar de camisola. Haviam
toalhas brancas, limpas, e água morna, sempre sendo trocada, esperando pelo
bebê. Então, quando as contrações pareciam não ceder, Mary, que estava com as
parteiras, veio pro lado de Anahí.
Mary: Bebê, me dê sua mão. – Disse, se sentando ao lado de Anahí. Anahí deu a mão a
mãe. Já soava, tremula. – Agora eu preciso que você seja forte.
Mary: Vai acabar. – Prometeu – Preste atenção. Agora concentre toda a sua força, tudo
o que você puder, e faça força pra baixo. – Anahí gemeu. Temera esse momento. –
Ajude o seu bebê a nascer. – Anahí assentiu e respirou fundo.
Ela gritou no momento em que fez força. A dor era simplesmente horrível, parecia
não haver espaço dentro dela, ela não conseguia respirar, e ainda assim ela tinha
que continuar. Fechou os olhos, lembrou de Alfonso despertando o bebê hoje pela
manhã, assim que acordou. Lembrou-se dele chamando-o de “grandão”. Então
respirou fundo outra vez, apertando a mão da mãe, e voltou a fazer força pra
baixo, mais que antes, sufocando o grito, até ter que parar, aos ofegos – Não
conseguia fazer força ao mesmo tempo. Pelo visto seria isso, não parecia ter como
piorar. Enquanto isso, longe dali.
Matt: Há tempo. – Disse, tranqüilo, caminhando a frente do cavalo dela, levando-o pela
cela. Ela segurava a barriga, sentada de lado. Reparou que ele parecia bem, tinha vestes
novas e não parecia ter medo, então ficou quieta, apesar da histeria interior.
Ian: E graças ao azedume de Alfonso eu ganhei uma inesquecível viagem até um buraco
no meio do mato. Não vejo como agradecer. – Disse, debochado. Alfonso continuava de
bico.
Christopher: Horas da minha vida que eu nunca mais vou ter de volta. – Comentou,
quando eles atravessaram a copa das arvores, se aproximando da fronteira. Robert
franziu o cenho.
Ian: Vai ter bolo aqui hoje? – Perguntou, ainda debochado, vendo o alvoroço em que o
reino parecia estar.
Christopher: Porque a está acusando? – Defendeu, incrédulo. Não era possível que
Madison houvesse armado aquilo tudo. As pessoas corriam pelas ruas, alvoroçadas, em
direção ao castelo.
Robert: Não. – Desprezou – Ela está me chamando. Está apavorada. – Ele reergueu o os
olhos, vendo três rostos incrédulos o encarando. – Se me derem licença... – Ele açoitou
o cavalo, passando pela fronteira e sumindo rapidamente em direção ao castelo.
Alfonso: Você não acha meio estranho? Eles dois? – Perguntou, virando o rosto pra
Christopher, que ergueu a sobrancelha – Quero dizer, tem essa loucura toda, e você
deixa ela viajar sozinha com ele.
Christopher: No começo achava. Mas ele conhecia ela antes de mim, já era assim
quando eu a conheci, inclusive as viagens. Fui uma vez pra ver como era, mas fiquei
entediado. – Alfonso e Ian olhavam – Pelo que eu sei se conhecem a anos... Desde
crianças, cresceram juntos, ou coisa assim. – Ele deu de ombros – Me parece
inofensivo. Não posso proibi-la de ter um amigo.
Ian: Se você diz... – Eles haviam chegado a fronteira – Ei. – Um dos soldados se virou,
então todos se curvaram em reverencia – Eu perdi alguma coisa? – Perguntou,
apontando a desordem.
Soldado: Já fazem horas agora, senhor. – Confirmou – Já deve estar para nascer. Todos
estão esperando em frente ao castelo.
Ian: Eu acho que me perdi com os cálculos... Ela não está com 7 meses? – Perguntou,
meio incrédulo.
Alfonso: Vão ser 7 semana que vem. – Murmurou – Que inferno aconteceu aqui na
minha ausência?
Soldado: Nada, senhor. Tudo estava tranqüilo. Pouco depois que o senhor saiu, os
criados vieram procurá-lo, para avisar. Alguns entraram nas arvores, mas não
conseguiram mais achá-lo. Voltaram com medo de se baterem, desarmados, com algum
dos homens de Paul. – Informou.
Alfonso nem respondeu. O cavalo relinchou e ele havia saído a galope. Robert
dissera que Madison estava apavorada. O que podia ter acontecido?! Enquanto
isso, no castelo... Anahí gritou, mais alto que das ultimas vezes, e caiu de costas nos
travesseiros, ofegando. Um choro de bebê chegou aos seus ouvidos e ela sorriu,
duas lágrimas caindo pelo canto dos olhos. Madison olhou pra cima, ouvindo o
som, mas seu rosto ficou ainda mais assustado, se é que podia.
Mary: É um menino. – Avisou, e Anahí riu de leve, abrindo os olhos. Um dos médicos
segurava o bebê, todo ensangüentado, e ele chorava, as mãozinhas em punhos,
parecendo indignado.
Alfonso mal havia passado os portões, aos ofegos, quando os sinos soaram. Não era
a guerra dessa vez, só badalaram o sino três vezes. Ele parou, sem reação, olhando
a torre.
Ian: Meus parabéns, papai. – Disse, assim que conseguiu alcançá-lo. Christopher
também tinha um sorriso satisfeito no rosto. Todos aguardaram, o silencio parecendo
opressor. O sino soou novamente... Duas vezes. Todos gritaram em comemoração.
Alfonso: É um menino. – Disse, meio abobado – Meu filho. – Ele não tinha reação nem
de descer do cavalo – Meu filho nasceu. – Murmurou, um sorriso enorme nascendo no
rosto, os olhos cheios d‟água.
Nada mais que ele dissesse pôde ser ouvido, pois todo o reino ali presente gritou
junto: “Vida longa ao príncipe!”, repetidas vezes. Robert alcançou Madison já sem
entender, dentro do castelo.
Robert: No meio do mato, por capricho de Alfonso. Mas vê, não havia motivo pra se
preocupar. – Disse, sorrindo. Ele olhou Katherine e Kristen abraçadas, saltitando na sala
ao lado – É hora de comemorar.
Madison: Não seja estúpido! – Rosnou – Tente escutar! – Disse, mais branca que o
normal. Robert deixou a cabeça cair pro lado, escutando... Escutando... Então franziu o
cenho, confuso. Em geral um parto real tinha um acompanhante, dois médicos e três
parteiras.
Robert: Madison... Quantas pessoas tem naquela torre? – Perguntou, mas ela negou com
o rosto, calada.
Na torre... O bebê já havia sido limpo, e já iam entregar ele a Anahí... Mas ela
estava inquieta. Até que arfou, agarrando o travesseiro, os olhos em choque. A dor
havia voltado, forte, impiedosa.
---*
Alfonso: Porque eu não posso vê-la? – Perguntou, indignado, quando a sogra o parou na
escadaria da torre. Ela descera em busca de mais toalhas. Ele não estava gostando da
expressão dela. Piorou quando Anahí gritou de dor, o som machucando-o quase
fisicamente – Porque ela está gritando?
Mary: São gêmeos, Alfonso. – Respondeu, e ele parou como se tivesse levado uma
bofetada. Ian, que passava no corredor abaixo, ouviu. A alegria sumiu do rosto dele no
momento. – Eu preciso ir. – Ela terminou de descer. Alfonso ficou parado, uma estatua
viva, os olhos no chão. Anahí gritou outra vez.
Ian: Venha. – Chamou, subindo até onde ele estava, tirando-o dali.
Acontece que gêmeos naquela época não era bom pra ninguém. Nunca terminava
bem. Em geral a própria mãe morria durante o parto; não tinha forças o suficiente
para a segunda expulsão, e o bebê morria com ela. Quando, por algum milagre, ela
conseguia dar a luz aos dois, estavam prematuros demais, e em geral não
vingavam. No caso de Anahí principalmente, tão prematuros que eram. A noticia
caiu como uma desgraça, e então toda a comemoração se transformou em uma
corrente de preces. Anahí não podia morrer. Não houveram tempos mais sombrios
naquele reino como na época após a morte de Dulce Maria, também no parto.
Alfonso não merecia. Os minutos se passaram, se convertendo em horas, e todos
estavam sentados na mesa da sala principal, em silencio. Alfonso tinha o olhar
distante, o rosto condoído, como se pudesse sentir a dor dela.
Madison: Não está dando certo. – Murmurou pra Robert. Ele ficou quieto. A verdade
era que Madison nunca se permitiu ter uma amiga, uma verdadeira amiga, ela nunca
quis ninguém tão perto. Anahí fazia ela se sentir a vontade, se sentir bem. E agora sua
única amiga estava morrendo, enquanto ela esperava, impotente.
Robert: Se ela conseguisse pelo menos... – Ele se interrompeu. O tom dos dois era tão
baixo que ninguém havia percebido a conversa ali.
Madison: Ela não está conseguindo. Tente escutar. – Disse, passando a mão no rosto.
Os dois ficaram quietos. Então, por um instante, o coração de Anahí, que batia
freneticamente, perdeu o compasso, parando por um instante, logo voltando. Falharia a
qualquer momento.
Na torre estava difícil. Anahí não tinha mais forças, e a dor não cedia, não acabava
nunca. O rosto dela já estava molhado pelo suor e pela lagrimas. Ela estava pálida,
branca, já havia perdido sangue demais, tremia. Não conseguia fazer aquilo. Não
viu Madison entrar, até que ela se sentou ao seu lado, apanhando sua mão.
Madison: Tente se acalmar. Está perto de acabar. – Ela olhou os médicos, desafiando
alguém a desmenti-la.
Anahí: Eu não agüento mais. Dói muito. – Ela soluçou, perdida – Não tenho força. –
Declarou, impotente. Madison respirou fundo, parecendo ter levado um choque.
Madison: Ei, ei, ei, ei. – Disse, aprumando Anahí, que caíra, cansada. O bebê estava
atravessado, e ela não conseguia mais fazer força – Eu não vou aceitar uma desistência.
– Avisou.
Madison: Respire fundo. – Anahí obedeceu – Juntas, tudo bem? – Anahí negou,
sabendo que não conseguiria. – Tira essa mão daqui! – Rosnou, e a parteira tirou a mão
da barriga de Anahí, assustada.
Madison: Com as duas mãos juntas você não tem um oitavo da força que uma mão só
minha tem, acredite. – Dispensou, voltando a olhar Anahí
Madison: Alfonso está lá embaixo. – Anahí a encarou – Está aflito, angustiado, perdeu a
voz. E a cada segundo que passa, esse bebê se perde mais dele. – Anahí soluçou, se
sentindo incapaz. Sabia disso. Seu bebê não tinha oxigênio, e ela, fraca, não podia fazer
nada. – Nós vamos tentar. Eu não vou deixar você morrer. Respire fundo. – Anahí
assentiu, engolindo o choro. Mas a dor chegara em um ponto insuportável! – No três. –
Anahí assentiu novamente – Um. Dois.
O grito seguinte de Anahí foi mais alto que os anteriores. Uma das mãos de
Madison comprimia a barriga dela, empurrando o bebê, e a outra segurava a mão
dela. Ao contrário da parteira, que parecia desajeitada com as duas mãos, a mão
de Madison não saiu do lugar, e Anahí sentia a força quase lhe roubando o ar. Ela
apertou a mão da outra, que retribuiu, incentivando, e após respirar fundo, fez
toda a força que conseguiu. Quanto mais força ela fazia, mais a força da mão de
Madison em sua barriga aumentava.
Madison: Não! - Proibiu, quando viu que ela ia parar - Não se atreva! Aperte minha
mão.
Anahí: Não dá mais. - Grunhiu, ainda forçando, mas apertou mais a mão da outra.
Médico: Isso. Continue. - Incentivou. Madison quase soltou um: "Cale essa boca!", mas
não precisava de um barraco agora.
Madison: Respire. - Ordenou, retirando a força da mão. Anahí caiu, sob os travesseiros,
ofegando, e duas lagrimas transbordaram de seus olhos. - Isso. - Ela tomou o ar pela
boca, arfando. - Vai ficar tudo bem.
Médico: Está coroando. - Avisou, com um sorriso. Tivera a certeza de que esse bebê
morreria, por falta de oxigênio, mas de algum modo estava funcionando.
Madison: A propósito... Não, você não vai morrer. - Disse, com um sorriso de canto, se
levantando.
O sino tocou novamente... Apenas uma vez. O reino saiu de suas preces para uma
comemoração furiosa. Duas lágrimas grossas caíram dos olhos de Alfonso, que
tinha a cabeça baixa, indo direto pro chão, enquanto ele suspirava. Os outros
haviam se levantado, comemorando, mas ele não tinha reação. Amanhecera tendo
uma filha... Agora tinha três. Era uma menina, sua princesinha. Ele foi
interrompido de seus devaneios por Ian, que o agarrou a força pela roupa, dando-
lhe um caloroso abraço de parabéns, então ele estava rindo. Na torre... O trabalho
de parto terminara, enfim. Anahí fora levada pro banho pela mãe, junto com uma
parteira, os médicos trabalhavam nos bebês, e criados trocavam os jogos de cama.
Haviam colocado várias toalhas e lençóis debaixo dos quadris de Anahí, mas sua
hemorragia fora tanta que o sangue por pouco não alcançou o colchão. Por fim
estava tudo limpo, e ela foi trazida de volta pra cama. Suspirou, cansada, deixando
o corpo se relaxar sob os lençóis frios. Foi quando Alfonso chegou.
Alfonso: Ei. – Disse, preocupado, indo até a cama. Ela sorriu de canto pra ele. Estava
pálida, os olhos quebrados, os lábios brancos, mas tentou retribuir o sorriso.
Anahí: Você já os viu? – Perguntou, rouca. Alfonso se sentou ao lado dela, passando
um braço por seu ombro.
Alfonso: Não. Os médicos ainda não os deixaram. – Ele beijou a testa dela
demoradamente – O que houve?
Anahí: Eu não sei. Nada em especial, eu só estava aqui, como você me deixou, e
aconteceu. – Disse, dando de ombros – Por um instante pensei que não ia conseguir. –
Murmurou.
Alfonso: Não diga tolices. – Repreendeu. Ela sorriu de canto. As parteiras haviam ido
embora, levadas por Mary, e os médicos não estavam ali.
Anahí: Devemos muito a Madison. Mais do que poderemos pagar um dia. – Ele passou
a mão no cabelo dela, ninando-a.
Anahí: Fraca. Cansada. Sinto como se fosse desmaiar e dormir por dias... Mas não vou
dormir. Quero vê-los. – O sorriso fraco apareceu de novo – Sinto sede. Minha garganta
parece uma lixa. – Se queixou.
Alfonso se levantou imediatamente, metendo a cabeça no corredor e dando um
grito, pedindo por água fresca. Anahí ia rir, mas tossiu. Logo uma criada apareceu
com uma bandeja com uma grande jarra de água e copos. Ele a serviu. Foi difícil a
inicio, a garganta dela ardia, mas tamanha era a sede que ela engoliu sem
pestanejar. Tomou três copos até se declarar satisfeita. Ele dispensou a bandeja e
voltou a posição inicial.
Alfonso: Grandão. – Lembrou, e ela sorriu. – Durma. Poderá vê-los quando acordar. –
Disse, atencioso. Ela negou veemente.
Quase uma hora depois os médicos vieram. A menina vestia rosa, e o menino azul,
ambos envolvidos em mantas grossas, que os aqueciam. Na falta de uma
incubadora era assim que funcionava: As vias aéreas eram desobstruídas como se
podia, os bebês eram aquecidos, protegidos, e se rezava para que vingassem .
Anahí sorriu ao pensar que os enxovais não foram em vão. Entregaram o menino
nos braços dela, e a menina, tão pequena que parecia poder quebrar, nos dele.
Ambos tinham os cabelos escuros como os do pai, e ambos tinham os olhos
fechados. Anahí tinha um sorriso enorme, radiante, contrastando com o rosto sem
cor, enquanto olhava o filho. Alfonso passou o dedo no rostinho da filha, a pele tão
fina que ele podia ver a sombra de algumas veias atrás, e ele podia jurar que a
menina se aconchegou mais a ele. Ele ergueu o rosto, e viu Anahí observando
aquele sorriso lindo ainda no rosto. Sorriu também, levando o rosto até o dela,
selando-lhe os lábios.
Anahí: Tão pequena. – Observou, olhando a filha. A menina era menor que o menino,
ambos prematuros – Gostaria de tê-los guardado por mais tempo. Sinto que a
fragilidade deles é minha culpa.
Alfonso: Shhh. Não é culpa de ninguém, Deus quis assim. Está tudo bem agora. – Anahí
assentiu, voltando a olhar pro filho, imóvel em seus braços.
Médico: Como eu disse, são bebês muito fracos. Prematuros demais. As perspectivas
não são boas. É preciso que estejam preparados. – Ele hesitou – A menina em especial.
Ela provavelmente não vencerá a noite. O menino não está muito longe disso.
Robert: Agora me diga algo que eu já não saiba. – Disse, parado atrás do medico como
se tivesse estado ali o tempo todo. O medico se virou com o susto. Robert tinha a cara
fechada, os olhos dourados duros. – O recado foi dado, receite seus remédios e pode ir.
– Disse, a voz autoritária. O médico ficou branco feito cal ao se ver encurralado entre
Madison e Robert. Era apavorante.
Robert: Pelo menos não agora. – Disse, a voz severa – Ele tem razão, o coração da
menina mal tamborila, e já falha constantemente. Não tem força. Nenhum dos dois tem.
– Madison suspirou de novo, deixando a cabeça cair para trás – Precisamos nos
apressar.
Ela assentiu, tirando o cabelo do rosto, e os dois sumiram pelo corredor. Bastava
ver no que isso ia dar.
Robert: Agora. – Disse, fechando a garrafinha. Fora a mesma que ele dera a ela no dia
do casamento de Anahí e Alfonso. Ela segurava um lenço em volta do pulso. Assim que
fechou a garrafa, ele imitou o ato, mas não envolveu o pulso, só o limpou. O corte fundo
já havia cicatrizado. Os dois concordaram que a mistura seria mais eficiente, mais forte
que apenas um dos dois – Sabe o que fazer. Metade pra cada um, a menina primeiro.
Seja rápida.
Alfonso: Não vou deixá-la sozinha. – Respondeu, em tom baixo, apontando pra Anahí.
Robert: Ela nem vai notar. Não acordará tão cedo. Vamos! – Era desespero na voz de
Robert? Alfonso balançou a cabeça. Estava vendo coisas. Ele sorriu, tirando o braço do
ombro de Anahí, que ficou, inalterada, a bela adormecida em forma humana.
Assim que Alfonso saiu, Madison estava no quarto. Caminhou até Anahí
cautelosamente, os olhos sondando, e ergueu a sobrancelha. Anahí continuou
dormindo. Ela se voltou pro berço. Franziu o cenho. Sua experiência com bebês
era inexistente. Ela apanhou o bebê de rosa sutilmente nos braços, a menina nem
notou. De perto sua fraqueza dava dó. Madison apanhou a garrafinha,
dispensando a tampa. Levou até os lábios da menina, incerta. Pro seu desespero, a
menina franziu o cenho, caindo no choro. Ela arregalou os olhos, e com um sopro
do vento, estava fora do quarto, no corredor.
Madison: Shhh, shhh, neném bonitinho, shhh! – Disse, tensa. A menina já estava fraca,
chorar só ia acelerar o processo – Shhh, mentira, sh... – A bebê parou quando a garrafa
pairou perto de seu rosto – É isso? – Perguntou, incrédula. Levou a garrafa com mais
cuidado até a boca da menina, que aceitou, começando a beber com a força que tinha –
Fome. – Suspirou – Podia ser mais óbvio, Madison? – Perguntou, debochada. A verdade
é que o “suprimento” dos médicos não era nada agradável, não matava a fome, e Anahí
não teve condições de amamentar. O bebê tinha fome. – Isso. Beba. – Disse, satisfeita.
Madison: A menina se assustou com o frio do metal nos lábios. Nada demais. – Disse,
entregando a garrafinha a ele.
Robert: Tem noção do que foi convencer Alfonso de que não tinha ouvido o choro? –
Perguntou, exasperado.
Madison: Da próxima vez levarei uma mamadeira. – Debochou – Robert, eu fiz. Eles
beberam. Não vão morrer, e o sangue estará fora do organismo dele antes que o sol
morra amanhã. Eles crescerão, serão lindas criancinhas saudáveis, humanos, vivos e
fortes. Agora eu vou dormir. – Disse, um sorriso ameaçador aparecendo no rosto.
Robert riu. Madison deu as costas, sumindo pelo corredor.
Alfonso velou o sono de Anahí até que o dia raiou. Terminou adormecendo, a
cabeça próxima a dela. Despertou sobressaltado, mas Anahí acariciava-lhe o rosto.
Alfonso: Perdoe. – Disse, rouco. Ela sorriu.
Anahí: Dormiu de sapatos. Quantas vezes vou ter que ralhar? – Perguntou, carinhosa.
Alfonso: Me distrai. Eu a acordei? – Anahí negou, e ele lhe beijou a testa. Um chorinho
fraco os alcançou, e ambos olharam – Parece que acordei alguém. – Disse, sorrindo.
Alfonso se levantou, apanhando os filhos no braço. Os dois acomodaram os filhos na
cama, entre os dois, observando. – Rosalie. – Disse, tocando o rosto da menina, que se
acalmara.
Alfonso: Rosalie Dianna e Chord Inácio. – Corrigiu, fazendo-a rir. Rosalie se balançou,
o a mãozinha fechada em punho esfregando o olho – Acho que ela tem fome. –
Observou.
Anahí tomou impulso pra se sentar, e Alfonso a ajudou. Ele a entregou Rose, que
se pôs a mamar assim que a mãe lhe ofereceu o seio. Anahí fez uma careta,
sorrindo. A sensação era estranha, mas gostosa. Era bom sentir aquele vinculo
formado. Era mãe. Alfonso apanhou Chord, e o menino, pouco incomodado com a
situação, se aconchegou ao calor do pai. Nada poderia estragar aquele momento.
Dias depois...
Anahí: Você é impossível! Não pode deixá-la presa! – Disse, exasperada. Anahí usava
uma camisola solta, branca. Alfonso calçava os sapatos.
Alfonso: Tanto posso que estou deixando. – Disse, cansado. Tinham essa discussão todo
dia – Suri me desobedeceu, e deve ser punida. – Ele trocou o pé, apanhando o sapato no
chão – E não se exalte assim, não vai lhe fazer bem.
Anahí: Punida até quando? – Ele não respondeu – Alfonso! Al... Amor, me escute. – Ele
riu de leve da tentativa dela de ser dócil – Ela já foi privada de tudo por tanto tempo.
Alfonso: Amor... – Ele se virou pra ela – Não. – Disse, achando graça. Anahí perdeu a
paciência.
Anahí: Vou mandar que arrombem a porta. – Avisou, em um rosnado. Ele ergueu as
sobrancelhas.
Alfonso: Será tua ordem contra a minha. Eu acho que sei qual eles vão obedecer. –
Disse, indo até ela e lhe dando um selinho.
Anahí: Eu mesma vou arrombar a porta. – Alfonso parou e virou o rosto pra ela,
sorrindo.
Alfonso: Adoraria vê-la tentar. – Disse, fazendo biquinho. Antes que ela respondesse,
ele acrescentou – Madison não irá ajudar. Christopher a proibiu de se envolver em
nossos problemas pessoais. – Anahí suspirou, derrotada.
Anahí: Deixe apenas que ela veja os bebês. – Intercedeu, sabendo que era inútil.
Alfonso: Não vou mais discutir isso. – Abafou, beijando a testa de Anahí. Houveram
batidinhas na porta do quarto – Entre. – A porta se abriu, e Madison entrou.
Alfonso: Papai já vai, meus amores. – Disse, baixando o rosto no berço dos bebês. O
berço era de metal e ouro trançado, um quadrado acolchoado, com uma cortina fina de
renda (agora aberta) por cima. Era grande, espaçoso. Os bebês o olharam – Ambos
abriram os olhos dias depois do nascimento. Eram de um azul claro, perturbador,
exatamente como os da mãe. Contrastava com os cabelos escuros e a pele clara.
Encantadores. – Dá o beijo. – Ele deu um beijo estralado em cada um. Rosalie riu de
leve, sapeca.
Anahí: Alfonso é o problema! – Disse, irritada. Então suspirou – No episódio com Matt,
ele colocou Suri de castigo, no quarto. O castigo duraria até que o sol ficasse negro.
Madison: Eu não acho que vá ficar. – Disse, franzindo o cenho – Mal tem sol aqui, pra
começo de conversa.
Anahí: Esse é o ponto. O problema é que Suri o desafiou diante de todo o reino, e
Alfonso é orgulhoso, quer que ela pague. Mas isso tudo já faz tanto tempo... Ela nem
viu os irmãos ainda. Argh. – Disse, se sentando – Onde estão as outras? – Perguntou,
tentando se acalmar.
Madison: Vindo. – Disse, indo até o berço dos bebês. Ela os observou brevemente,
então apanhou o bracinho de Rosalie, puxando a manga do macacão, descobrindo o
bracinho. Ela levou o nariz até o pulso da menina, sentindo o cheiro... Estava limpo.
Rosalie riu com o frio do toque de Madison, duas covinhas aparecendo em seu rosto.
Ela sorriu, puxando o braço do macacão pro lugar, e repetiu o movimento com Chord.
O menino a observou, com uma dignidade que chegava a ser engraçada. Lembrava
Alfonso, quando estava desconfiado.
Madison: Apenas olhando. – Disse, se virando – São bebês fortes. – Disse, caminhando
até a cama.
Anahí: Eu sei. – Disse, sorrindo pros bebês – No dia em que nasceram eram tão fracos,
tão pequenos... Cheguei a ter medo. – Ela balançou o rosto, afastando a possibilidade –
Mas aqui estão, meus pequenos milagres. – Disse, afagando o rosto de Chord. O menino
sorriu pra mãe.
Madison: Nada. – Disse, sorrindo – Fico feliz que estejam fortes. – Anahí assentiu.
Madison: Bom, Anahí. As mulheres da minha... Da minha família, não podem ter filhos.
Eu fui um acidente. Um milagre.
Madison: Sério. Vem da família de meu pai... Bom, ele encontrou uma mulher, minha
mãe, e ela teve a mim. Apenas a mim. Morreu no parto. Não conheci ninguém da
família dela, mas todas as mulheres da família de meu pai são inférteis. Como disse,
mulheres como eu não foram criadas pra ser mães. – Disse, dando de ombros.
Madison: Pessoas como eu... Bom, não podemos ter filhos. – Disse, dando de ombros –
Mas adoramos tentar. – Disse, e piscou. Anahí riu.
No corredor de baixo...
Kristen: Que seja então. – Abriu mão, e Katherine assentiu. Então se bateram com Matt.
Ele vinha trabalhando no castelo, e estava na parte interna repondo a lenha das lareiras
dos quartos. – Olá. – Disse, simpática. Matt pousou o carrinho que empurrava.
Matt: Altezas. – Disse, se curvando.
Kristen: Como vai sua esposa? – Perguntou, as mãos as costas. Matt sorriu.
Matt: Muito bem, majestade. Estamos aqui no castelo, mas não demorará para que eu
consiga nossa própria casa. – Disse, sorrindo. Katherine observava com um sorriso de
canto no rosto.
Kristen: Tudo bem. Se ela precisar de algo, com a gravidez, por favor, não hesite em
pedir ajuda. – Ofereceu.
Matt: Obrigado, alteza. – Disse, grato. - Com licença. – Ele apanhou o carrinho e sumiu
pelo corredor. Katherine observava, sorrindo. Kristen ergueu a sobrancelha pra ela em
uma pergunta muda.
Katherine: Os olhos dele são tão azuis! – Disse, jogando a cabeça pra trás – Eu
adoraria... – Interrompida.
Ian: O olhos de quem são azuis, Katherine? – Perguntou, subitamente atrás dela,
olhando-a. Kristen se sobressaltou, Katherine não. Ela se virou pro marido, sorrindo.
Katherine: Quem mais? – Perguntou, passando o dedo na região abaixo dos olhos dele.
Os olhos de Ian eram os mais claros que qualquer um ali já havia visto. Ele ergueu a
sobrancelha e ela sorriu, enlaçando os braços no pescoço, beijando-o em seguida. Ele
sorriu dentre o beijo, abraçando-a pela cintura. Kristen tinha uma careta no rosto, como
se tivesse sido esbofeteada do nada.
Kristen: Eu não mereço. – Disse, saindo dali. Ian e Katherine riram de leve, mas ele se
afundou mais no beijo dela, e nada mais foi dito.
Um mês depois...
Anahí dançava para Alfonso. Dessa vez ela encomendara uma roupa pra isso. Era
de um azul escuro, quase preto. Um sutiã, com algo bordado em prata, e algumas
pecinhas que faziam um barulho agradável, como pequenas moedas presas no
decote, várias delas. A barriga lisa descoberta, uma saia preta e um cinto grande,
com mais das moedinhas, todas em prata, caindo pela saia, fazendo o barulhinho.
Ela tinha o rosto maquiado, os olhos azuis ressaltados. Começara de modo simples.
Ele chegara, tomara banho e fora ficar com os bebês, e ela foi se banhar também.
Sexo não era um assunto nem que viesse a sua cabeça no momento. Ela se demorou
mais no banho, mas ele esperou, inacreditavelmente para irem dormir. Estava
sentado em frente ao berço, velando o sono dos filhos, quando o perfume fresco
avisou que ela havia saído do banho. Ele se virou, e ao invés de camisola, ela usava
um dos roupões dele, branco, grande demais pra ela (com a intenção de ocultar a
roupa por baixo). Havia uma correntezinha prata nos cabelos dela, atravessando
sua testa e sumindo por debaixo dos cachos.
Alfonso: O que é isso? – Perguntou, observando a maquiagem no rosto dela. Ele fechou
a rendinha do berço dos bebês, se levantando, indo em direção a cama. Se sentou,
observando-a.
Anahí: O médico esteve aqui hoje. – Alfonso esperou – Bom, eu estou oficialmente de
alta. – Disse, um sorriso nascendo em seu rosto. Algo violento correu no sangue de
Alfonso ao pensar na possibilidade. Faziam tantos meses...
Anahí: Absoluta. – Ela abriu o roupão, deixando-o cair no chão, revelando sua quase
nudez por baixo, o sutiã e a saia. Alfonso não sorriu. Estava subitamente sério. – Eu
achei que você fosse gostar. – Disse, sorrindo pra ele. O olhar dele percorreu o corpo
dela de cima pra baixo, por fim encontrando os olhos. Os dois se encararam por
instantes, então ela começou a dançar.
Agora ele estava no centro da cama, enquanto ela rodopiava pelo quarto, os
quadris se movendo de um modo impossível. O cabelo dele estava arrepiado (Ela
já havia estado perto dele, a mão adentrando seu cabelo e puxando-o levemente).
Ele apenas observava, quieto, como um animal que espera pra dar o bote. Ela
parou em frente a ele, jogando com a cintura, indo e vindo, os olhos sem deixá-lo
nunca, sorrindo de canto, e se pôs a girar. No ponto em que ela teve de lhe dar as
costas ela jogou a cabeça pra trás, os cabelos formando uma cascata de cachos em
suas costas. Ela parou de se mover, de costas pra ele, que umedeceu os lábios. Ela
jogou a cintura pra um lado, as moedinhas do cinto fazendo um barulho que
sugava a audição dele, então começou a rebolar pros lados devagar. Ergueu os
braços, mantendo-os acima da cabeça, com os pulsos em cruz, e ele observou os
quadris dela indo e vindo... Indo e vindo... Então ela abriu os braços, jogando os
cabelos com força pro lado, então voltando a girar, as moedinhas se balançando
freneticamente enquanto ela voltava a ficar de frente pra ele. Ela avançou pra ele,
balançando o decote em sua direção, os olhos encarando-o. As mãos dele se
curvaram em garra, de vontade.
Alfonso: Venha aqui. – Chamou, rouco, avançando pra ela. Então ela recuou.
Alfonso: Eu não agüento mais, carinho. – Disse, pensando que ela dissera “não” porque
queria dançar mais. – Venha aqui. – Chamou, a voz causando um arrepio na espinha
dela. Apostara alto naquilo. Uma parte menos nobre de si ordenava que ela atendesse ao
chamado dele.
Anahí: Eu vou. – Ela sorriu pra ele, que sorriu de canto – Se você libertar Suri. – Os
olhos dele encontraram o dela, em choque.
Alfonso: Conversamos sobre Suri depois. – Murmurou, mordendo a maxilar dela, que
arfou ao sentir o hálito quente dele em sua pele.
Anahí: Não. – Quando foi que ela fechou os olhos? Parecia tão impossível abri-los
agora... As mãos de Alfonso subiram pelas costas nuas dela, quentes, fazendo-a se
arrepiar. Ele estreitou o espaço entre os dois e ela pôde senti-lo, duro feito pedra,
mesmo sob a calça. Aquilo quase a fez perder o prumo – Me dê a chave.
Anahí: Não, Alfonso. – Disse, se desvencilhando dele – Não vou me deitar com você
até que me dê a chave. – Disse, recuando de costas novamente.
Alfonso: Eu digo que você vai. – Rebateu. Anahí negou com a cabeça. Ele percebeu o
que ela ia fazer um segundo antes dela fazê-lo: Ela correu, sumindo em direção ao
banheiro. Ele se bateu com ela antes que ela trancasse a porta. Anahí sabia que se ele
colocasse a mão nela, estaria tudo perdido. Ele empurrou a porta, e ela manteve do outro
lado, a mão puxando a tranca com força. Ela suspirou quando conseguiu trancar a porta.
– Abra a porta, Anahí.
Anahí: Não. – Algo no interior dela gritava: “Sim!”. Sim, deixe que ele entre, deixe que
ele a possua, que a devore! Mas aquela era a única arma que ela tinha, lamentavelmente.
Ela se afastou da porta, indo até a pia, onde molhou a nuca com água fria.
Alfonso: Eu vou arrombar a porta. Juro por Deus. – Avisou, forçando a fechadura.
O estouro da porta sendo arrombada ecoou pela torre. Anahí, que puxava a tiara
dos cabelos se virou, vendo o marido parado na porta, ofegando. Ela teve o reflexo
de recuar, soltando a tiara no chão, mas se bateu na pia. Rosalie acordou com o
barulho, caindo em um choro assustado, mas Alfonso avançou pelo banheiro,
apanhando-a pela cintura com violência. Os lábios dele machucaram os dela
quando a ele a beijou, apanhando-a pelas coxas e colocando em cima da pia. Anahí
arranhou a nuca dele, que abriu suas pernas, se pondo entre elas. Ela enlaçou as
pernas na cintura dele, puxando-o de encontro a ela, e gemeu alto quando as
intimidades dos dois se encontraram, mesmo sob as roupas. Ele arfou, a boca
descendo pelo pescoço dela, que mordeu o ombro dele com vontade. O choro de
Chord se juntou ao de Rosalie, o que a chamou a realidade.
Anahí: Vai me forçar? – Perguntou, soltando-o. Alfonso ofegou, parecendo ter
dificuldade pra falar.
Anahí: Em meu estado normal eu digo não. Não se não me der a chave. – Disse, arfando
– O que fizer a partir daí fica por responsabilidade sua. – Alfonso parou por um
instante, uma das moedinhas da saia dela em sua mão, então a largou, se afastando.
Ele voltou ao quarto, e o choro dos bebês parou dentro em pouco. Um silencio
violento se apossou do quarto. Anahí tomou banho novamente, a porta
escancarada provocando-o, mas ele não reagiu. Ela se vestiu e foi pra cama. Ele
não disse nada, nem tampouco a abraçou. Ela também não fez nada pra mudar
isso. Desafio lançado, que vença o melhor.
Dias se passavam...
Anahí: Aqui. – Disse, entregando três camisolas a criada. - Há uma marcação... Aqui. –
Ela mostrou – Quero-as para hoje.
Anahí: Aumente esse decote, também. Pode ir. – A criada saiu. Ela se virou pra Kristen
– Porque eu preciso mostrar a Alfonso que eu também sei brincar. – Respondeu.
Alfonso: Deus. – Chamou, sem emitir som, olhando pra cima. Anahí se agarrou a ele de
um modo impossível, e se aquietou. Só que era tarde, o sono dele havia ido, agora ele
podia sentir cada pedaço do corpo dela, quente, junto ao seu. O perfume o inebriava. Ele
trincou os dentes e se obrigou a ficar imóvel. Anahí, com a cabeça no peito dele, podia
ouvir a respiração contida quase as arfadas, e sorriu de canto consigo própria.
Alfonso não dormiu aquela noite. Seu corpo parecia irritado, revoltado com a
ofensa iminente. Quando o sol raiou ele se soltou dela, com cuidado para não
acordá-la, e se levantou. Como fazia todos os dias, foi até o berço dos bebês, o que o
fez sorrir.
Chord tinha um dos bracinhos de Rosalie preso nas mãozinhas, ambos dormindo.
Alfonso soltou os bebês com cuidado, dando um beijinho em cada um, e foi pro
banho. A água fria o alfinetou impiedosamente. Se Anahí pensava que iria vencer
tão fácil, estava...
Anahí: Bom dia. – Disse, meio rouca, entrando no banheiro. Ele estreitou os olhos ao
ver a camisola “melhorada”, mas virou a cara pra cima, deixando a água do chuveiro
esfriá-la.
Alfonso: Acordou cedo. – Disse, sacudindo o cabelo, jogando água pros lados. Anahí
estava na bancada da pia, escovando os dentes. Ela deu de ombros.
Anahí: Não dormi bem. – Alfonso quase riu de si próprio – E a cama ficou fria quando
você saiu.
Alfonso: Falando em dormir... Chord e Rosalie dormiram a noite inteira dessa vez. –
Comentou, achando graça.
Anahí: Não há um histórico. – Brincou. Era certo, todas as noites, um dos dois acordar
chorando.
O silencio durou enquanto ela escovava os dentes, exceto pelo som da água caindo
no chão. Alfonso não sentiu ela entrando no box, até que ela o abraçou pelas
costas, de camisola mesmo, o rosto tocando a pele molhada.
Anahí: Gosto de como você acorda. A pele morna, macia. – Ela lhe deu um beijinho no
ombro.
Alfonso: Brincadeira tem limite, Anahí. – Rosnou – Assim como meu controle.
Anahí não disse nada. Distribuiu pequenos beijinhos pelas ombros dele, se
demorando nas dobras dos músculos fortes. Após alguns minutos Alfonso se
esquivou dela, que o deteve com as mãos. Ele apanhou as mãos dela, retirando-as
de seu peito, mas ela resistiu.
Ela nem viu, apenas sentiu o puxão forte em seu braço. Seus pés escorregaram no
piso, mas ele não a deixou cair, empurrando-a até que ficasse prensada na parede,
de frente pra ele. Viu o susto nos olhos dela com a surpresa.
Alfonso: Eu não sou o tipo de homem com que se deve brincar, Anahí, a essa altura
você já devia ter percebido isso. – Rosnou, raivoso.
Anahí: E tu devia ter percebido que eu não desisto quando quero alguma coisa. –
Rebateu.
Alfonso: Insista o quanto quiser. – Desafiou. Ele se aproximou dela, a boca ficando a
centímetros da dela. Ela fechou os olhos, sentindo o hálito dele em sua boca, achando
que ele iria beijá-la, mas... – Você. Vai. Perder. – Concluiu, falando pausadamente, e
em seguida se afastou dela. Anahí precisou de um instante pra se recompor.
Anahí: Seu capricho por manter Suri presa é maior que o desejo que tem por mim? –
Perguntou, em voz baixa.
Anahí não respondeu. Apenas o fuzilou com os olhos, saindo do box em seguida.
Alfonso sorriu de canto, voltando pro seu banho, sabendo que não sairia da água
fria tão cedo.
- IMPOSSIVEL!
- Só pra não me dar a porcaria da chave! Suri está presa há dois meses, é absurdo...
- Mas não, ela faz questão de amamentar na minha frente, então ela dorme com
aqueles... Pedaços de pano, sempre em cima de mim, é irracional que...
- Ele sai do banho quase sem roupa, e as gotas d‟agua descem pelo peito dele, nos
músculos... Bom, eu sou humana, e ele não pode pensar que...
Ian: CHEGA! – Disse, se levantando. Robert riu – Eu não agüento isso! Está me
fazendo imaginar sua mulher se esfregando em mim de camisola, e acredite em Deus,
você NÃO QUER que eu pense nisso. – Avisou, exasperado. Robert riu mais ainda.
Robert: Porque... Porque você não faz as pazes com ela? – Perguntou, achando graça.
Robert: Está com Madison e Kristen. Pare de gritar. Onde está Christopher?
Ian: Alfonso... Faça as pazes com Anahí, ou meu sexto sentido me avisa que ALGUÉM
VAI SE MACHUCAR AQUI. – Robert colocou a mão na barriga, a cabeça caindo pra
trás.
Alfonso: Eu não vou perder. – Esse era o defeito de ser rei: Havia paciência e
resistência para batalhas, por mais dolorosas que fossem.
Ian: Eu vou perder. Vou perder a paciência com você. – Ele se levantou – Eu vou atrás
da minha esposa, com licença. – E saiu.
Robert: Ian, deixe Katherine em paz.- Disse, com a cabeça pro corredor. Ouviu um
“CUIDE DA SUA VIDA!” em resposta. – Tudo bem. – Disse, divertido.
Alfonso: Não vou perder. – Decidiu, dando um pequeno murro na mesa, e se levantou,
saindo.
No dia seguinte...
Katherine: Gosto desse clima. – Disse, respirando fundo – Essa calma. Faz parecer que
a guerra foi soterrada.
Madison: E o pior cego é aquele que não quer ver. – Disse, com a mãos nas costas.
Aquela calma toda, toda aquela paz... Era a calmaria que vinha antes da tempestade.
Madison: Digamos que eu já vivi o suficiente pra conhecer um pouco sobre muita coisa.
– Comentou, quieta.
Madison: De certa forma, sim. É saudável pra vocês acreditar nos 25. – Disse, divertida.
Kristen: Tudo bem. Estamos em 1864. Quando você parou de contar? – Instigou.
Madison: Porque não faz essa pergunta a Robert, Kristen? – Perguntou, e Kristen
suspirou. Robert não responderia – Como vai, Alfonso? – Perguntou, ainda olhando pra
frente.
Alfonso: Bem, obrigado. – Disse, atrás dela. Todas se viraram. – Senhoras, vocês
podem tomar conta dos bebês por um instante, por favor?
Madison: Estarão seguros. – Disse, tranqüila, e Alfonso agradeceu com a cabeça. Estava
em cima de seu cavalo, observando-as.
Alfonso: Posso falar com você? – Perguntou, observando a esposa, que o olhou por um
instante, e assentiu. Ela olhou os bebês uma ultima vez, apenas por costume, e foi até
ele.
Anahí: Porque me trouxe aqui? – Alfonso não respondeu. Amarrou o cavalo perto
d‟agua, e ajudou a descer. O animal nem fez caso, se aproximou do rio, bebericando a
água quase gelada, pela ventania que fizera na noite anterior.
Alfonso: Você também não ajuda. Dançando daquele modo na minha frente pra
depois... – Ele suspirou. Ela ergueu a sobrancelha com a acusação – Não é o objetivo. O
que passou, passou.
Anahí: Então porque não solta Suri? – Pressionou. Alfonso hesitou por um instante,
então se sentou em uma pedra seca, perto de uma arvore. Ela observou, e se sentou na
frente dele.
Alfonso: Precisa entender. Suri nunca ergueu a voz para mim, então me desafiou aos
gritos perante todo o reino. Ela é uma criança. – Disse, cruzando as mãos – Se eu não
mostrar a ela agora que o que ela fez foi errado, que mesmo ela sendo a herdeira do
trono deve respeito a mim como pai e como rei, as coisas vão fugir do meu controle, e
eu não posso permitir isso. – Ele suspirou – Dói em mim deixá-la presa, mas eu seria
incapaz de lhe erguer a mão, e é o único modo que eu vejo de puni-la.
Anahí: Não crê que já foi tempo demais? – Perguntou, apanhando as mãos dele entre as
suas – Já faz mais de dois meses. Você nem permitiu que ela visse os irmãos, e você se
lembra o quanto ela estava ansiosa por eles.
Alfonso: Eu vou me resolver com Suri. – Prometeu, e ela esperou – Logo. Mas não sei
agir sob pressão.
Anahí: Me prometa que não a manterá presa por muito mais tempo. – Pediu.
Alfonso: Prometo que vou tentar resolver isso com o melhor de mim. Mas não vim aqui
falar apenas de Suri. – Ele tocou o rosto dela – Nós mal nos casamos, e já estamos
brigados. Você me irrita tanto que as vezes tenho vontade de estrangulá-la, como pode?-
Perguntou, acariciando a maçã do rosto dela, que riu.
Anahí: Parecia que você não me queria. Me tornei irritada. Passou. – Disse, beijando a
mão dele. Alfonso se aproximou, beijando a testa dela demoradamente. O coração de
Anahí disparou ao sentir os lábios dele em sua pele.
Anahí: Só quando Suri estiver livre. – Sussurrou, e ele sorriu. Ainda jogando, afinal.
Alfonso: Que seja. – Ele deu de ombros. Ela sentiu as mãos dele lhe apanhando por
debaixo do braço, puxando-o pra ele – Me deixe pelo menos te abraçar. – Disse,
apanhando-a nos braços, e ela retribuiu o abraço, saudosa de seu perfume.
Anahí: Na verdade, não. Ficaria aqui por horas a fio. – Alfonso sorriu, acariciando o
rosto dela. Os dois estavam meio deitados, largados, ele encostado em uma arvore e ela
em cima dele, o vestido esparramado a sua volta. – Mas não vai demorar, e será a hora
de amamentar dois bebês. – Disse, tocando o nariz dele. Alfonso sorriu mais ainda. –
Podemos ficar mais uma hora, no máximo, mas então teremos que voltar apressados.
Chord se irrita quando não o alimento a tempo. Faz birra. – Alfonso riu, lembrando do
filho.
Alfonso: Vamos. Podemos passear um pouco antes de voltar, já que temos tempo. –
Disse, se levantando – Eu tinha em mente vários lugares pra irmos, antes de entrarmos
em conflito, é claro. – Anahí sorriu, apanhando a mão dele, e se levantou.
Dessa vez ela montou com uma perna em cada lado do cavalo, que parecia
entediado por esperar, e ele montou atrás dela, apanhando as rédeas do cavalo.
Alfonso a levou a um campo afastado do castelo, mas ainda nas propriedades, onde
cresciam girassóis. Não eram muitos, nem muito grandes, porque o sol não
aparecia muito, mas as cores deixaram ela encantada. Anoitecia. Os dois voltavam
brincando, rindo, e Alfonso acelerou o cavalo, fazendo-a gritar com ele, assustada,
lhe causando um riso gostoso. Porém o ritmo do cavalo friccionou o corpo dos dois
de um modo não muito convencional; ela estava quase pulando no colo dele.
Acumulou o desejo preso por meses, os dias de provocação, a tarde de carinhos
que, querendo ou não, deixou os dois acesos, e agora isso. Ela ficou quieta, e ele viu
a mão dela agarrar a crina do cavalo, e sorriu consigo mesmo, instigando o animal,
fazendo-o correr mais, aumentando a fricção do corpo dos dois.
Ele observou cada reação dela. Anahí agüentou firme o quanto pode, mas por fim
gemeu, derrotada. Aquilo bastou pra ele. Ela não saberia dizer como, mas ele
puxou ela pela cintura, com uma mão só, mantendo a rédea com a outra mão e a
vez girar, ficando de frente pra ele. Anahí se agarrou no tronco do marido,
cravando as unhas nos ombros dele. Alfonso manteve uma das mãos nas costas
dela e afundou rosto em se ombro, sentindo ela literalmente cavalgar em seu colo.
Ela virou o rosto pra ele, a pele afogueada, e o beijou, sufocando qualquer som que
pudesse emitir. Alfonso devorou a boca dela, tamanho era o tesão que tinha,
apertando-a mais pra si com a mão. O cavalo, animado com a corrida repentina,
não precisou de ordem pra manter seu ritmo, independente do que estivesse
acontecendo em suas costas. Era melhor do que Alfonso tinha cogitado, mas ainda
não era o que ele queria.
Alfonso: Me desculpe. – Sussurrou nos lábios dela, e ela sentiu o cavalo ser parado
subitamente.
Anahí teria caído com o relincho e com o solavanco, mas ele a manteve em seu
peito. Pulou pra fora do cavalo, caindo imediatamente no chão. Anahí não sabia
onde estava. Sabia que havia grama no chão, não havia luz vindo de nenhum lugar,
e haviam plantas altas em volta. Estava no meio do nada. Não importava. Havia
perdido. Sabia disso. Queria perder. Alfonso não esperou reação, tomando a boca
dela, e suas mãos desceram, apanhando o decote do vestido, pronto pra rasgar...
Anahí: NÃO! – Ele parou, arfando, sem nem acreditar – Não vou ter com o que voltar. –
Explicou, e ele sorriu.
Ele a puxou sentada, envolvendo-a com os braços como se fosse abraçá-la, mas
puxando o zíper do vestido dela pra baixo. Anahí não estava usando espartilho. O
vestido era de um azul metálico, solto, e ela usava um sutiã, quase como os de hoje
em dia. O sutiã porque era pratico, sendo que ela amamentava com freqüência, e o
espartilho porque o medico recomendou não sufocá-la tão cedo. É claro que isso
facilitou a vida de Alfonso de modo inimaginável. Ele só puxou o zíper, afrouxando
o vestido, que como bem solto, quase deslizou pra fora do corpo da esposa.
Ele sorriu quando largou o vestido dispensado no chão: Anahí o abraçou,
beijando-lhe novamente. Tinha tanta sede quanto ele. Não foram necessárias
preliminares ali, só o calor do corpo, o perfume e o tempo acumulado serviam de
sobra. Ele retirou o sutiã dela (sem rasgar nada, se comportando muito bem), se
dando a vista de presente. Anahí se contorceu ao sentir o hálito quente dele em
seus seios, em beijinhos mínimos e demorados. Em algum lugar em sua mente
nublada ele se lembrava dela comentando sobre um desconforto para amamentar,
uma breve dor, principalmente por serem dois. Ele não a machucaria. Baixou o
rosto, o nariz brincando com a barriga dela, e mordeu a dobra da cintura dela em
cheio, fazendo-a se inclinar pra cima. As mãos dela buscaram o cinto dele,
tremulas, se desviando do fecho, e ele deixou, provando da pele dela enquanto
esperava. Ela abriu a calça dele, empurrando-a com os pés, e ele subiu o rosto de
novo, mordendo-lhe o pescoço, a maxilar, chupando, marcando.
Anahí: Tire isso. – Disse, angustiada com os botões refinados do colete dele. Queria
sentir o calor dele sob si, os músculos se contraindo quando ele a possuísse, não isso.
Ela já havia aberto metade do colete, e ele apanhou o resto com a mão, estourando os
botões. Ela riu. Ele puxou a camisa pela gola, retirando-a pela cabeça mesmo,
estourando alguns botões, e voltou a abraçá-la.
Foi muito fácil a partir dali. Fácil como respirar. Se desviar das roupas só levou
um segundo. Anahí grunhiu abafado quando ele a possuiu, mordendo seu ombro
em seguida pra abafar o grito. Alfonso amparou a cabeça no ombro dela,
respirando aos ofegos, as mãos do lado de seu corpo, no chão, tomando força a
cada movimento. Tinha tanto tempo! Sua memória não fazia justiça ao corpo dela,
nem de longe. Anahí deixou as mãos nas costas dele, sentindo os músculos se
contraindo e relaxando, contraindo e relaxando, cada vez com mais força, até que
ela cravou as unhas ali, deixando uma trilha vermelha por onde passou. Nenhum
dos dois soube dizer quanto tempo durou. Por fim ela não conseguiu conter o grito,
que veio livremente, e minutos depois foi a vez dele de gemer o nome dela. Depois,
silencio, interrompido apenas por ofegos. Anahí tremia.
Alfonso: Eu te amo. – Murmurou, beijando o rosto dela. Anahí sorriu, lhe dando um
beijinho carinhoso, quieta.
Ela também o amava. Do modo mais absoluto que uma pessoa pudesse amar outra.
Mas isso não mudava o fato de que ela havia perdido.
Anahí entrou no castelo apressada, fazendo pouco caso de Alfonso que ria dela. Ela
estava composta, ao contrário dele, que tinha a roupa toda amassada, a camisa
com botões estourados, o colete em frangalhos, o cabelo espetado. Ela deu língua a
ele, ignorando-o, e correu quando viu ele partir atrás dela. O caso é que havia se
atrasado pra dar de mamar aos bebês; a essa altura Chord já deveria estar
fazendo um escândalo. Ela dispensou a criada que cuidava dos bebês na torre e
apanhou o filho no colo. Rosalie estava irritadinha, com fome, mas Chord era
birrento. Ele passou pro banho enquanto ela alimentava o menino. Se vestiu com
um sorriso no rosto, observando-a. Ela acariciava o cabelo do menino de leve,
enquanto ele mamava, mimando-o.
Alfonso: Vais descer? – Perguntou, fechando o punho da camisa. Tinha o cabelo
molhado, já penteado.
Anahí: Não, estou cansada. Ainda vou amamentar Rose, e preciso de um banho. –
Respondeu – Se importa se eu jantar aqui em cima hoje?
Alfonso: Claro que não. Mando trazerem aqui. – Ele se aproximou dela, beijando-lhe a
testa – Sabe que só vou porque vão questionar minha ausência.
Anahí: Então sugiro que vá antes que Ian apareça a porta. – Alfonso fez uma careta, e
ela sorriu. Ele lhe beijou a testa novamente e saiu.
Alfonso: Ei. – Disse, em tom baixo, se virando pra ela. Anahí o olhou. Ele tocou o rosto
dela, acariciando carinhosamente – Porque tão triste, meu anjo? – Ela sorriu de canto.
Anahí: Não é nada. – Disse, beijando a mão dele. Alfonso a observou por minutos,
acariciando o rosto dela ternamente, e ela não disse nada, apenas manteve o olhar dele.
Deus, o amava em cada pedaço!
Então ele abaixou os olhos, e ela sentiu a mão dele abrindo a sua, em seguida
depositando a chave de metal fria na palma, e fechando os dedos dela em cima.
Alfonso: Não. – Disse, pondo o cabelo dela atrás da orelha – Estou fazendo isso porque
nada que eu faça e te entristeça tanto pode ser certo. – Ele tocou o nariz dela com o
dedo. Anahí abriu um sorriso lindo, e ele sorriu – Bem melhor assim.
Anahí: Obrigada, obrigada, obrigada. – Disse, pulando no colo dele, enchendo-o de
beijos. Alfonso riu da espontaneidade dela – Eu vou conversar com ela, ela não vai
fazer de novo, eu prometo. – Disse, lotando o rosto dele de beijos.
Alfonso: Eu... – Interrompido por um selinho. Ele riu de novo. – Eu sei. – Ela riu,
abraçando-o – Mas posso pedir uma coisa?
Alfonso: Deixa pra ir lá falar com ela amanhã, quando amanhecer. – Disse, apanhando a
chave da mão de Anahí. Ela viu ele pôr a chave na mesa de cabeceira – Eu tenho
saudades demais pra ser capaz de deixar você sair daqui agora. – Disse, fungando no
ombro dela. Anahí sorriu.
Anahí: Tudo bem. – Disse, dando-lhe um selinho demorado – Sei de algo que ajuda a
matar o tempo e a saudade. – Sussurrou, mordendo o nariz dele. Alfonso sorriu.
Alfonso: O que? – Perguntou, dando corda. Mas Anahí não respondeu; ela mostrou.
Inclinou o rosto, tomando os lábios dele em um beijo. Alfonso não prolongou a
conversa, retribuindo o beijo e cercando-a com os braços, em um abraço forte.
Assim é melhor.
Ian: Uma flor por teus pensamentos. – Disse, alcançando Madison em um corredor. Ela
sorriu.
Madison: Estou entediada. – Disse, dando de ombros – Cada um tem o que fazer, e
agora Christopher está preso a guerra, quer lançar uma ofensiva o mais cedo possível...
Enfim.
Ian: Chega a ser pecado. – Disse, virando-se frente a ela, trancando o corredor. Madison
ergueu a sobrancelha – Deixar de lado uma mulher bonita como tu, seja qual for a razão.
– Ele ergueu a mão, tocando a maxilar dela. Estava fria, como sempre.
Madison: Ian... Tens noção de que perderias a mão se Christopher visse isso? –
Perguntou, se aproximando dele. Ela fez menção de passar por ele, mas parou ao seu
lado, virando o rosto, de modo que seu hálito batia no rosto dele. Ian manteve o olhar a
frente, sorrindo de canto – Ou o que faria se soubesse o modo como andas me
assediando ultimamente?
Ian: O que ele faria sabendo que tens correspondido? – Perguntou, dando corda.
Madison: Terias coragem, Ian? – Perguntou, parecendo intrigada, virando o rosto pra
ele. – Tu és casado.
Ian: E minha esposa confia em ti como amiga. – Rebateu. Madison sorriu. – Não me
desafie, Madison. Amo Katherine, mas não sou conhecido por ter limites.
Ele apanhou o braço dela, que foi arremessada contra a parede. O principal: Ele a
beijou. Pior ainda: Ela correspondeu. Não era Christopher; não tinha seu calor,
seu cheiro, seu gosto... Mas isso não era ruim. Os lábios de Madison estavam frios,
como se ela tivesse estado com gelo na boca por muito tempo; ele gostou disso.
Suspirou, se afundando no beijo dela, as mãos subindo por suas costas, moldando o
corpo de manequim no seu. Ela enlaçou as mãos nos cabelos dele, enlaçando os
dedos nos cabelos macios, sentindo o corpo rígido pressionando-a. O perfume de
Ian a instigava, fazia ela querer mais. Ele apanhou a maxilar dela com uma mão,
prendendo seu rosto, e mordeu os lábios dela, não com força, só por fazer, antes
voltar a devorar sua boca. Aquilo durou minutos, até que...
Alfonso: Viu Ian? – Perguntou, a voz de longe. Os dois se separaram, os rostos ainda
juntos, os lábios entreabertos, ofegando, se encarando... Esperando.
Anahí: Eu vou subir, vou ver os bebês. – Avisou, a voz ecoando pelo corredor.
Madison: Guarde isso como recordação. – Sussurrou nos lábios dele, que sorriu. – Me
solte. – Ian afrouxou as mãos, então com um sopro do vento, ela havia sumido. Ele riu,
passando a mão no cabelo, limpando o lábio em seguida.
Na torre...
Nina: Contos de fada nem sempre tem finais felizes, Anahí. – Disse, enquanto tirava a
tampa de um dos frascos. Ela o substituiu por um bico de mamadeira.
Em outro corredor...
Anahí: É claro. – Ela sorriu e abraçou a outra. Madison sorriu, apertando o abraço –
Aconteceu alguma coisa? – Perguntou, ainda abraçada com a outra.
Madison: Não. Eu só precisava disso. – Disse, se demorando no abraço mais um
instante – Na verdade, Christopher precisa disso. – Ela se separou, baixando o rosto
brevemente. O perfume que possuía era o de Anahí agora – Enfim. Obrigada. – Ela deu
as costas e sumiu.
Anahí estava distraída, pensando em tudo. Sua vida estava perfeita. Amava
Alfonso, e ele retribuía. Seus bebês eram saudáveis. Suri estava livre novamente.
Apenas a sombra da guerra que estava por vir a assustava, mas todos dispensavam
essa hipótese; com Christopher ninguém se machucaria. Ela abriu a porta do
quarto, e seus olhos se arregalaram. Nos pés da cama havia um frasco/mamadeira
com um conteúdo branco, que Anahí reconhecia bem.
O pior: Do outro lado do quarto, Nina tinha Chord no colo, e tinha outro
frasco/mamadeira daqueles, que oferecia a menina.
Nina: Um grito e eu viro tudo na boca dele. – Avisou. Anahí estava com as mãos
estendidas, imobilizada.
Anahí: Por favor. – Implorou – Eu faço o que você quiser. Por favor.
Nina: A rainha implorando? – Chord se retorcia no colo de Nina. Queria a mãe. – Essas
crianças nem eram pra ter nascido. Eu só deixei você entrar aqui porque Paul não queria
lhe perder de vista. Mas é claro que você ia reverter tudo.
Anahí: Paul? Que tem Paul a ver com isso? Nina, me dê Chord, por favor. – Disse,
avançando. Nina abriu a boca do menino a força, levando a garrafa.
Nina: Nem mais um passo. – Anahí se imobilizou, e ela afastou a garrafa – Sim, Paul.
Eu dei o aviso sobre Willow Creek, estraguei tudo, coloquei a culpa em você, mas você
tinha que se safar.
Anahí: Você é a espiã. – Murmurou, ainda paralisada. Queria gritar. Um grito seu, e
Madison ouviria.
Nina: Desde a época de Dulce María. – Disse, revirando os olhos – Era eu a levar os
bilhetes de um pro outro, desde sempre. Mas você foi um calo. Primeiro enlouqueceu,
aprontando o diabo comigo, então eu terminei como faxineira e tu rainha! Como pode?!
– Perguntou, parecendo meio louca.
Anahí: Pobre de ti, Alfonso vai matá-la. – Murmurou – Me dá meu filho, Nina.
Nina: Se não o que? – Desafiou – Porque você não morreu no maldito parto? Porque
essas malditas crianças vingaram? Não faz sentido! – Rosnou. Chord choramingou.
Podia ver a mãe, e ela o olhava, aflita. Porque Anahí não o carregava? – Mas tudo bem.
Vamos alimentar os bebês.
Ela levou a garrafa até a boca de Chord. Anahí sentiu um ódio violento ao ver o
menino fazer uma careta, virando o rostinho. Parecia que estava vendo tudo
vermelho. Nunca fora uma pessoa violenta, mas não tinha escolha: Partiu pra cima
de Nina. Com um murro derrubou a garrafa. Nina largou Chord só de ruindade.
Anahí se lançou pra alcançar o menino, mas Nina a interceptou e o bebê caiu no
chão. De repente Nina e Anahí estavam saindo no tapa, nos murros literalmente.
Mas, era uma pena, no mesmo instante havia outra briga acontecendo...
Madison: Pensei ter ouvido alguém me chamar. – Disse, tentando ouvir. Não havia mais
nada.
Christopher: Não estamos em casa. Isso é uma guerra, esqueceu? – Madison virou o
rosto, novamente raivosa.
Christopher: Estou fazendo o que posso, mas não posso estar em dois lugares ao mesmo
tempo, meu Deus! – Disse, raivoso. Ambos arfavam – Se eu não me engano, estou em
sua cama todas as noites. – Disse, maldoso.
Christopher: Enlouqueceu. – Disse, erguendo o rosto pra ela. Os olhos dele estavam
perigosamente dilatados.
Christopher: Eu amo. É por isso que vou sair daqui; pra não fazer nada de que eu me
arrependa, e que eu não possa reparar depois. – Ele recuou um passo.
Madison: Vá. Volte para sua guerra. Pelo menos ela tu podes coordenar. – Christopher
parou por um instante, ofegando, então ela foi arremessada com força na cama, batendo
a cabeça na cabeceira de madeira. Ela gemeu, pondo a mão em um ponto debaixo do
couro cabeludo, caída de qualquer jeito na cama.
Madison: Suma daqui. – Rosnou, com a mão ainda dentre os cabelos. Ele deu as costas
e ela se deixou cair na cama, respirando fundo. Que diabo estava acontecendo com seu
casamento?
No jardim...
Katherine: Estou sim, receosa. Ansiosa. – Ela respirou fundo – Pode se dizer apavorada.
Katherine: O garoto, Matt. – Lembrou. Kristen assentiu – Me deitei com ele. – Kristen
arregalou os olhos – Quatro vezes. – Perguntou, e Kristen parecia paralisada.
Katherine: Os olhos dele são tão azuis! – Repetiu, passando a mão no cabelo – É
delicioso, posso garantir. – Ela piscou – Mas pode entender o que Ian fará se descobrir o
que eu fiz? – Perguntou, respirando fundo.
Parece que era a época de grandes casamentos ruírem. Enquanto isso, na torre, a
porrada comia solta.
Por fim Anahí perdeu. Estava no chão, e Nina conseguiu se erguer, dando dois
chutes nela: Um na altura do útero e um nos seios, já altamente doloridos pelo
ciclo pesado de amamentação. A dor venceu e Anahí arqueou no chão, sem força.
Abriu a boca e cuspiu sangue. Nina quis ficar e terminar, mas temeu que Madison
estivesse vindo: Fugiu. Anahí se arrastou pelo chão até onde o filho chorava. Por
sorte não caíra de cabeça.
Anahí: Chord... Chord. Shhh. – Ela tinha uma das mãos no ventre, e tocou o rostinho do
filho com o outro. O menino a encarou, os olhinhos azuis confusos, cheios d‟agua –
Olha pra mamãe. – Ela estava rouca – Já acabou. – O menino foi parando de chorar, se
acalmando – Isso. Mamãe ta aqui. Mamãe tá aqui, meu príncipe. – Disse, e tocou o
nariz do menino com o dedo. Chord sorriu com a brincadeira, o rostinho molhado pelas
lagrimas – Papai já vem. – Ela sabia que não tinha força pra levantar. – Ele já vem.
Mas sentia dor demais: Desmaiou. Chord não fez escândalo, ele já vira Rosalie
dormir, então não estranhou que a mãe dormisse. Segurou o dedo dela, quietinho.
Demorou em média meia hora, então Alfonso entrou no quarto.
Alfonso: Carinho, o almoço está servido, estamos esperando por voc... ANAHÍ! –
Gritou, alarmado. Ele foi até ela, apanhando seu rosto. Havia sangue em sua boca. O
dedo alcançou a veia do pescoço dela, e ele suspirou aliviado ao sentir a pulsação forte
do sangue. Chord olhava o pai quieto – O que houve? – Perguntou, apanhando o filho.
Anahí desmaiara com Chord no colo? Isso não explicava o sangue.
Alfonso olhou o menino, examinando. Achou um roxo no quadril dele (Onde havia
batido no chão), e mais nada. Rosalie dormia. Ele foi até o chão, apanhando a
esposa no colo, e se sentou com ela na cama.
Alfonso: Anahí. Anahí, acorde. Ei. – Ele tocou o rosto dela, erguendo-o. Os cachos dela
caíam pelo braço dele, caindo no colchão – Anahí! – Ele a sacudiu de leve. Após alguns
minutos ela abriu os olhos, confusa, e gemeu. – O que houve?
Anahí: Ela queria matar... – Ela tossiu – Matar Chord. – Alfonso rosnou – O veneno... O
veneno da flor. – Balbuciou, olhando-o. Alfonso olhou pra cama e viu a outra
“mamadeira” ali. – Ela é a espiã.
Alfonso: Shh. Descanse. Pode ficar só um instante? – Anahí assentiu. Ele a pôs na cama
com cuidado – Vou trancar a porta. Eu já volto. Descanse. – Ela havia fechado os olhos
antes que ele saísse.
Ian: Vocês duas. – Disse, e Katherine e Kristen olharam – Vão pro meu quarto.
Busquem Suri e Mary. Fiquem juntas, tranquem a porta até que eu volte. Vou dar uma
batida pelo castelo. – As duas assentiram e saíram.
Ian saiu em seguida. Revistou o castelo inteiro, e nada. Claro que não. Então um
pensamento petulante passou por sua cabeça: Todos saíram, e iriam demorar.
Katherine estava trancada. Christopher estava longe. Madison estava sozinha. Ela
sorriu de canto. “Recordação”, ela dissera. Vamos ver.
Madison tomara banho, prendera o cabelo em uma poupa frouxa, vestira um short
e um sutiã (Ela tinha que admitir que os sutiãs de amamentação de Anahí eram
bem melhores que espartilhos. Copiou o modelo, o melhorou e mandou fazer pra
si, resultando em um sutiã meia taça dos dias de hoje), e um roupão de renda por
cima, tudo preto. Não podia permitir isso acontecer. Seu casamento nunca tivera
uma crise. Ela ia se acalmar, ia esperar Christopher chegar, ia...
Madison: Ian? – Perguntou, incrédula, vendo ele parado a porta. Estivera tão aturdida
que não o ouvira chegar.
Madison: Onde está Katherine? – Perguntou, achando graça. Ela deu as costas,
procurando algo mais composto para vestir. Um dos roupões de Christopher, talvez.
Ian: Onde está Christopher? Oh, espere. Eu sei. – O braço dele passou pela cintura dela,
o hálito quente em sua nuca – Um pecado deixá-la aqui, desse jeito.
Madison: Eu não vou fazer isso, Ian. – Disse, olhando pra frente. – Um beijo é uma
coisa, sexo é outra. Me solte.
Ian: Não? – Perguntou, fungando atrás da orelha dela – Diga que a idéia não é tentadora.
Madison: Eu não. – Ela se afastou dele, se virando. Jogou o rosto pro lado, afastando as
mechas soltas – Christopher me é fiel. Sempre foi. Não vou me deitar com você na
cama dele. – Recusou. Ian sorriu.
Ian: Isso é medo, Madison? – Ela ergueu a sobrancelha – Está recuando? – Madison se
aproximou dele, sorrindo, de modo que sua boca se aproximasse da orelha dele.
Ian: Então eu não sei o que estamos discutindo. – Respondeu, no mesmo tom. Ele a
encarou por um instante, beijando-a novamente em seguida. Ela suspirou, relutante, mas
retribuiu. Então o riso de Christopher riscou sua mente. O tom da voz dele, o gosto
suave que não era o que ela tinha na boca agora, a tonalidade que os olhos dele
tomavam quando lhe fazia amor... E ela o empurrou.
Madison: Olhe nos meus olhos. – Ian sorriu, gostando do jogo, e a encarou. O que os
olhos dela tinham de negros, os dele tinham de claros. – Não. – Ian se jogou sentado nos
pés da cama – Ian, saia daqui.
Ian: Se lembrou dele quando me beijou. – Instigou. Madison grunhiu, dando as costas –
Se lembrou do toque dele, perante o meu. – Continuou – Você me quer, mas a
lembrança dele está aqui. – Sorriu – Madison, eu não estou pedindo que se divorcie. É
só sexo. Não significa nada.
Madison: Levante-se daí! – Rosnou, se virando. Ter Ian na cama de Christopher era
absurdo. Ian riu, se levantando – As lembranças dele pouco te importam.
Ian: Verdade. – Ele se aproximou. Ergueu a mão como se fosse tocar o rosto dela, mas
os dedos adentraram o cabelo. Ela trincou os dentes perante a dor quando ele encontrou
o ponto em que a madeira atingira sua cabeça, quando Christopher a jogou na cama. –
Oh. Essa lembrança também é agradável?
Ian: Me faça sair. – Rebateu. Ela não teve reação e ele a tomou em um beijo, agressivo
dessa vez. Ela empurrou o peito dele, tentando se afastar, mas a vontade era maior.
Queria se vingar. Pelo descaso, pela guerra, pela agressão. Por fim ele a soltou,
apanhando-a pelo braço.
Madison: O que está fazendo? – Perguntou, vendo ele levá-la em direção ao quarto.
Ian não respondeu. Os dois avançaram pelo corredor em silencio, até o antigo
quarto de Anahí. Ao fechar a porta os dois se agarraram novamente, se beijando
sedentamente. Ian procurou o fecho do roupão dela, mas não achou. Ela achou o
colete dele, passando a mão sutilmente... Arrancando os botões. Ian se abaixou,
apanhando-a no colo, e ela enlaçou braços e pernas nele. Os dois tombaram na
cama, ambos arfando, e ela estourou a camisa dele. Madison o empurrou,
passando pra cima dele, segurando seus braços do lado do rosto, enchendo-o de
beijos mordidos. O som do riso de Christopher ecoou na cabeça dela novamente,
de modo nítido. Ela abaixou o rosto, mordendo a orelha dele, e ele ouviu seu
sussurro.
Madison: Você é um demônio, Ian. – Sussurrou – Mas quando eu digo não a uma coisa,
é não.
E ela estava fora da cama, de pé no meio do quarto. Ian riu, respirando fundo, e se
amparou no braço.
Madison: Não, é um aviso. Nem mais um beijo. – Avisou – Eu sou dele. Se convença
disso e poupe esforços. – E ela saiu.
Na torre...
Alfonso ajudou Anahí a tomar banho. Ela saiu do banho e vestiu um short. Alfonso
rosnou alto ao ver as marcas roxas em Anahí. A da barriga era quase preta, os
seios dela estavam vermelho escuro. Ela insistiu em amamentar, de modo como ele
não teve como contestar. Quando Rosalie abocanhou o seio da mãe, inocente,
Anahí gemeu de modo breve, suspirando em seguida.
Alfonso: Não precisa fazer isso. – Anahí negou com a cabeça – Está te machucando,
carinho.
Anahí: Vai passar. Traga Chord. – Chamou, apoiada nos travesseiros. Alfonso apanhou
o filho no berço. Tivera medo de algum machucado grave, mas o menino estava bem, só
com o roxo. Deus abençoe a hora em que ele resolveu colocar aquele tapete no quarto.
Ela arfou quando foi a vez de amamentar o filho. Seus seios doíam demais. Mas
por fim o pequeno Chord dormiu, cansado, e foi parar em seu berço, junto com a
irmã. Alfonso fechou a rede do berço, voltando-se para a esposa. Ele fez ela se
deitar, e ela obedeceu. Alfonso se pôs a massagear a barriga dela lentamente,
primeiro pelas beiradas do roxo, depois se adentrando. Em qualquer situação tê-la
ali, os seios a sua vista, a pele ao seu toque, o excitaria. Mas não agora.
Ela estava machucada. Sentia dor. Fora machucada salvando o filho dos dois.
Depois de tempos massageando a barriga dela, ele tentou o mesmo com os seios,
buscando aliviar a tensão, mas ela não agüentou a dor.
Anahí: Não é nada. – Disse, deixando ele sentá-la e passar a camisa por seus braços –
Eu me curo rápido.
Anahí: Há. Você pode ser meu marido, apagar as luzes, se deitar ao meu lado e me
abraçar forte. – Ela sorriu – Chord está bem. É o que importa.
Alfonso não teve resposta. Obedeceu. Uma vez deitado, no escuro, a virou de costas
pra ele e a abraçou com cuidado, de conchinha, lhe dando um beijo no ombro.
Depois disso nada foi dito. Quando Christopher entrou em seu quarto, já noite
daquele dia, havia um cheiro estranho. Era tecido queimando. Ele foi até a lareira
acesa, apanhando uma espátula, e cutucou o bolo em chamas. Eram roupas dela.
Madison: Meu amor. – Murmurou pra si mesma, se lançando na direção dele. Ela o
abraçou. Christopher não entendeu, mas retribuiu. Ela usava a mesma roupa que usou
com Ian, só que essa era toda branca: O sutiã, o short e o roupão de renda.
Madison: Me perdoe. – Murmurou, agarrada a ele. Ela tinha os cabelos meio presos por
um palito.
Christopher: Pelo que? Ei. – Ele apanhou o rosto dela nas mãos, encarando-a – O que
foi?
Christopher: Eu amo você. – Respondeu, sorrindo – Venha aqui. – Ele se sentou, pondo
ela em seu colo – Anjo, eu sei que você não está acostumada a isso. A não ser o seu
castelo, a não ser o centro das atenções. Eu sei. Eu te mimei assim. – Ele acariciou o
rosto dela. – Mas isso é provisório. Eu vou acabar com essa guerra, e nós vamos voltar
pra casa. – Ela sorriu – Todos os meus pensamentos são seus, Madison. Não quero que
briguemos.
Madison: Fui infantil. Por um momento pensei que... Pensei que pudesse viver sem
você. Mas descobri que tenho força pra tudo, menos pra isso. – Ela tocou os lábios dele
– Não vamos mais brigar. Eu entendo o seu lado. Eu vou esperar. – Ele sorriu. Ela o
encarou, os olhos negros insondáveis – Faça amor comigo, Christopher. – Ele ergueu as
sobrancelhas, surpreso.
Christopher: Eu acabei de chegar da rua. Montei a cavalo a tarde inteira. Você não me
quer assim. Está limpinha. – Ele beijou o ombro dela, aspirando o perfume do banho
recém-tomado – Cheirosa. Merece mais que isso. – Ele beijou o nariz dela – Vou tomar
um banho, e conversamos sobre o assunto novamente. – Prometeu, e ela sorriu. – Não
me demoro. Não se mova. – Ela fingiu ser uma estatua, e o marido riu, sumindo na
porta do banheiro.
Uma vez sozinha ela suspirou. Amava aquele homem com cada célula que possuía.
Aceitar os flertes de Ian tudo bem, era engraçado, mas beijá-lo fora uma estupidez
total. Ela ouviu o chuveiro se abrindo e olhou a lareira. O fogo já havia consumido
inteiramente a roupa que ela usara aquela tarde, e o cheiro já se fora. Ela apagaria
a lembrança daquilo assim como o fogo apagou a prova material. Mas ela
precisava de mais. Precisava que ele a possuísse, seu direito natural, que a
marcasse, porque ela era definitivamente só dele. Ela ouviu o chuveiro se fechar e
se levantou, ansiando. Christopher saiu do banheiro em seguida, de roupão, os
cabelos úmidos, e parou para observá-la. A lingerie branca mal se destacava na
pele pálida dela, a barriga rígida, os seios fartos, a renda branca quase jogando
com o olhar dele. Ele sorriu com a visão. Ela estendeu a mão pra ele, chamando-o,
e ele sorriu, indo até ele.
Christopher: Quando sai daqui você estava querendo me matar. Porque a mudança? –
Perguntou, se aproximando.
Madison: Porque matá-lo seria o mesmo que matar a mim mesma. – Respondeu,
simples, e ele passou as mãos delicadamente nos ombros dela. O roupão de renda
deslizou e caiu levemente pro chão.
Ela o encarou e pegou as mãos dele, levando até o feche do sutiã. Christopher o
abriu, desprezando a peça. Ela se deitou na cama, abrindo os braços, olhando-o.
Christopher ficou de pé por um instante, sorrindo, observando, então passou pra
cima dela. No momento em que teve o corpo do marido sobre o seu, ela o beijou,
agarrando-o. Christopher sentiu a sede dela e a retribuiu. Ela puxou o nó do
roupão, desnudando o marido e jogando a peça que caiu do outro lado do quarto.
Christopher tomou um dos seios dela na boca, mordendo, chupando, uma das
mãos brincando, e ela sorriu consigo mesma, sentindo o corpo se contrair. A boca
dele desceu por sua barriga, lambendo, mordendo, e ele ouviu o primeiro arfar
dela. Apanhou o short dela com as duas mãos, retirando-o, mas quando ia passar
pra cima da esposa ela o fez se sentar, montando em seu colo, sem unir os dois. Ela
se sentou sob a coxa dele, evitando de qualquer modo a invasão, e Christopher
mordeu o colo dela, logo alcançando seu pescoço. Ela se impulsionou contra a coxa
do marido, e as mãos dele agarraram imediatamente os quadris dela. Ele
tencionou o músculo da coxa, comandando o ato dela, e Madison agarrou o ombro
dele, respirando fundo. Durou por minutos, até que...
Madison: Olhe para mim. – Pediu, rouca, e ele ergueu o rosto dos seios dela, os lábios
meio vermelhos, encarando-a. Ela desmontou da perna dele, se sentando direito em seu
colo, e os dois se encararam enquanto ela deixava ele deslizar pra dentro de si
lentamente. Por fim os dois estavam juntos, ainda se encarando. Mas ela não conseguiu
sustentar por muito tempo; seus olhos se fecharam e ela abaixou a cabeça, gemendo
baixo. Podia senti-lo inteiro dentro de si, parado, pulsando. Ele sorriu, pondo o cabelo
dela atrás da orelha, tomando sua boca e a segurou pela cintura novamente, começando
a se mover.
Christopher: Não os prenda. – Disse, rouco, no ouvido dela. Ela ergueu o rosto,
encarando-o, meio tremula – Eu gosto de ouvi-los. – Disse, antes de morder o lábio
inferior dela.
Parecendo querer arrancá-los dela, ele fez ela enlaçar as pernas em sua cintura,
ganhando ainda mais força em suas investidas. Madison quase gritou, e ele sorriu
de canto, mordiscando o pescoço dela. Durou por mais algum tempo, até que ele se
separou dela, mudando a posição: Ele ainda estava sentado, mas fez ela sentar de
costas pra ele. Ela sentiu os braços dele envolvendo sua cintura, prendendo-a no
lugar. Ele voltou a invadi-la, agora por trás, e Madison conteve a respiração,
relaxando... Até que, por fim, ele encostou a cabeça em suas costas. Ela cravou as
unhas nas mãos dele, que começou a se mover lentamente... A inicio. Logo haviam
retomado a força de sempre, e ela não teria sido capaz de conter os gemidos, nem
se quisesse. Se fosse uma opção pra ela, pensaria que estava morrendo. Seu corpo
parecia estar pegando fogo, inflamando. Após algum tempo a respiração dela se
tornou mais acelerada... E ele parou tudo, se tornando imóvel.
Christopher: Shh. – Disse, beijando o ouvido dela – Não tão depressa, anjo. - Ela gemeu
aturdida, sentindo a sensação que estivera tão perto se afastando cada vez mais.
Madison: Por favor. – Pediu, com a voz entrecortada. Os cabelos dela, agora soltos,
cobriam o ombro e o braço dele, caindo no colchão.
Christopher: Não. – Negou, e ela sorriu com o toque de maldade na voz dele – Calma. –
Brincou.
Madison: Porque você adora fazer isso comigo? – Perguntou, frustrada, presa na grade
dos braços dele.
Christopher: Eu não entendi o motivo disso... Mas foi muito bom. – Ela puxou os
cabelos dele de novo, fazendo-o rir gostosamente.
Madison: Me promete uma coisa? – Perguntou, olhando-o. Ele assentiu – Não me deixa,
não. – Pediu. Ele franziu o cenho.
Christopher: Quem você matou dessa vez? – Perguntou, mas ela negou com a cabeça –
Eu prometo.
Madison: Me grite, me prenda, me bata se for necessário. Eu posso suportar tudo isso.
Mas não viver sem você. – Disse, acariciando o rosto dele.
Christopher: Isso tudo é uma crise hormonal, ou você tá aprontando pra mim? –
Brincou. Ela revirou os olhos.
Christopher: Não importa o que você fez ou vai fazer. Eu não vou te deixar. Eu te amo.
– Disse, próximo ao ouvido dela. Ela sorriu. Ele selou os lábios com os dela novamente
e ela se abraçou ao marido, se aninhando no peito dele pra dormir.
Ali era seu lugar. Ali estava segura. E agora ela sabia: Isso não ia mudar nunca.
---*
Kristen: Não, por favor, só me diz uma coisa. – Disse, aos sussurros – Não entra na
minha cabeça. O menino, Matt, ele é apaixonado pela esposa, ficou feliz em pensar que
íamos dar abrigo a ela antes de matá-lo! – Katherine parou de andar se virando pra
Kristen – Como você... Como conseguiu?
Katherine: Ele é apaixonado pela esposa. E eu sou apaixonada por Ian. Daria a vida por
ele sem pensar duas vezes. Mas chega um momento na vida, Kristen, onde você
consegue separar amor de sexo, tornando um independente do outro. – Explicou – E,
respondendo a tua pergunta, a mulher dele está grávida. Uma bola. Ele não tinha sexo
há meses. É quase um garoto, os hormônios explodindo. Eu sou rainha, isso já serve
como afrodisíaco. No começo ele ficou confuso, mas foi ridiculamente fácil. – Ela
revirou os olhos – Mas não faço mais isso, se quer saber.
Katherine: Não. Foi um erro. E eu quero contar pra Ian. – Ela viu os olhos de Kristen se
arregalarem perante o perigo – Não com quem foi, mas o que fiz. Quero contar a ele.
Katherine: Este é o problema: Ian não se magoa. – Ela virou o rosto pra Kristen – Ele se
vinga.
Ian: Perdão... Ora, veja só. – Um sorriso se abriu no rosto dele. Madison revirou os
olhos.
Madison: Corri. E você não faz idéia de como foi bom, Ian. Chego a me arrepiar só de
lembrar. – Provocou, caminhando.
Ian: Pensou em mim enquanto ele te tocava? – Madison parou de andar, respirando
fundo. Se o matasse, iam dar pela falta do corpo em pouco tempo, e no final Christopher
saberia que foi ela.
Ian: Perdão. Não foi a intenção, eu juro. – Ele falava sério. Ela sondou os olhos dele e
viu a sinceridade ali, o que provavelmente evitou um homicídio.
Madison: Não, eu não pensei em você. Não que você vá entender, mas quando você está
nos braços de Christopher, suas funções normais são quase que desativadas. Você não
pensa, você só sente. – Provocou – E as vezes ouve. – Acrescentou, se lembrando do
timbre rouco da voz dele em seu ouvido, na noite passada.
Madison: Deus me ajude, mas eu digo. – Disse, séria – Não vou ser tratada como uma
desfrutável, ou como uma qualquer, Ian. Eu sou e sempre fui fiel ao meu marido. –
Completou.
Ian: Tudo bem, tudo bem, não precisa se irritar. Não podemos ser amigos pelo menos? –
Perguntou, e Madison ergueu a sobrancelha – Éramos amigos antes de começarmos
com isso.
Madison: Que eu me lembre, o único amigo homem que eu sempre tive foi Robert. –
Alfinetou, voltando a andar, e Ian sorriu.
Ian: É uma história interessante. O que você faz nessas „viagens de caça‟, Madison? –
Perguntou, fazendo graça.
Madison: Algo que você com certeza não quer que eu faça com você. – Ela abriu um
sorriso enorme... E perigoso, mesmo a distancia. Ian riu gostosamente.
Então prontamente eram amigos outra vez. Ter resolvido essa história manteve o
humor de Ian até que Katherine o chamou no quarto, antes do jantar, dizendo que
precisava contar algo. Ele deixou ela contar. O humor dele foi parar no inferno.
Ian: Você fez o que? – Perguntou, em um silvo, os olhos claros tão dilatados de ódio
que mal se via a parte clara. – Quem foi o condenado? – Rosnou.
Ian: QUEM? – Rugiu, virando a mesa em que ela estava próxima , fazendo vários
objetos voarem longe. Ele arfava.
Robert: Ian. – Kristen engasgou com o vinho. – Ele vai matar ela! – Disse, alarmado, se
levantando.
Robert: Madison, agora! – Ela havia sumido. Robert tinha os olhos arregalados. – Ele
vai matar ela. – Murmurou de novo, saindo da sala apressadamente, no rastro de
Madison.
De volta ao quarto...
Katherine: Não vou dizer quem, Ian, a culpa foi minha. – Disse, de cabeça baixa,
tremendo. Já tinha se arrependido de ter começado a falar. Ele a apanhou pelos ombros,
fazendo-a encará-lo.
Katherine: Isso importa? – Perguntou, a dor terrível em seus ombros dando a impressão
de que iriam se partir.
Ian: Eu deixei de ser homem para você, Katherine? – Perguntou em um silvo. Estava
fora de si – Em qualquer aspecto, eu deixei que lhe faltasse algo? Amor, atenção,
carinho, sexo, o que for? RESPONDA!
Katherine: Não. – Disse, erguendo os olhos lacrimosos pra ele – Eu não sei porque fiz,
aconteceu. Me arrependi logo após ter feito.
Madison: Ian, abra a porta. – Disse, forçando a fechadura. Ele ignorou – Se não abrir eu
vou arrombar, abra a porta, você não está sendo racional. – Ele não deu atenção ainda
assim.
Ian: Um erro é cometido uma vez, e pra isso existe perdão. Mas quatro? QUATRO? –
Ela se encolheu – NINGUÉM ME AVISOU QUE EU ESTAVA TOMANDO UMA
VAGABUNDA POR ESPOSA QUANDO ME CASEI CONTIGO! EU TE DEI
MINHA VIDA, MEU AMOR, MINHA FIDELIDADE, MEU REINO, EU TE DEI
TUDO, KATHERINE, TUDO! - Ela soluçou nos braços dele. Era tudo verdade – EU
TE AMEI E VOCÊ JOGOU ISSO FORA POR NADA! – Nem o barulho da porta
sendo estourada por um pontapé de Madison o sobressaltou.
Madison: Ian, solte-a. Me ouça, solte ela. – Disse, passando pelos escombros da mesa.
Katherine: Você vai quebrar meu ombro. – Murmurou, apavorada. Ele a olhou por
instantes, arfando de ódio.
Madison: Robert, tire-a daqui. – Disse, saltando sob a mesa, se pondo entre Katherine e
Ian. Robert observava na porta – Leve-a para Kristen.
Ian: Saia de perto de mim antes que eu me arrependa de não ter te matado. – Rosnou –
Estou com nojo de você, Katherine. Suma da minha vista, estou avisando. – Madison
pôs uma mão no peito dele, fazendo-o recuar.
Robert levou Katherine, e Madison fechou a porta quebrada, se encostando nela.
Ian estava de costas pra ela, mas ainda arfava de raiva. Problema seria conseguir
acalmá-lo agora.
Madison: Eu não tenho medo de você, a mim você não pode machucar. – Disse,
avançando em direção a ele – Tente se acalmar.
Madison: Ian, isso não é hipocrisia sua? – Ele a encarou, exasperado – Teria feito o
mesmo se eu tivesse permitido.
Ian: Eu... – Ele riu de leve – Não sei se você percebeu, mas eu não insisti mais. Eu senti
um remorso tão grande depois que você foi embora, que eu... Pensei que fosse
enlouquecer. – Ele respirou fundo – Sabe o que eu fiz? Eu sai. Comprei uma jóia pra
ela. Uma jóia pra compensar por eu ter pensado em traí-la. Mas não, olhe só o que ela
fez.
Ian: Não tinha como. – Ele se sentou nos pés da cama. Madison foi até o meio do
quarto, apanhando a mesa de madeira pesada com a ponta dos dedos e reerguendo-a,
pondo-a de pé. Ian não viu. Olhava o chão. – Eu sempre fui caprichoso, era assim que
minha mãe dizia. Fui atrás de você porque era o que eu não podia ter. Se eu tivesse
logrado, seria apenas uma vez, e estaria queimando de remorso logo depois. – Ele a
olhou – Mas ela tecnicamente manteve um caso com outro homem debaixo do meu
nariz.
Madison: Agora eu sei tudo. Não, eu não vou te dizer. Seria sangue inocente derramado
atoa. – Ele suspirou. – O que vai fazer? – Divorcio era algo sério naquela época.
Ian: Eu não sei. Preferia a guerra agora do que ter que lidar com isso. – Ele parou,
olhando pra frente – Sabe, eu tenho um irmão. Quase mesma idade. Eu não queria me
casar, nem nada disso, eu gostava de viver. – Ele respirou fundo – Então os pais de
Katherine fizeram uma visita ao meu reino. Trouxeram a filha. Me encantou assim que
eu a vi.
Madison: Não seja dramático. – Tentou brincar.
Ian: Não estou sendo; ela era. – Ele sorriu – Meu irmão se encantou por ela também. Ela
jogava com nós dois. Me lembro bem do dia em que decidi que ela seria minha. – Os
olhos dele estavam distantes – Estávamos caminhando no jardim, ela a nossa frente, eu
e meu irmão fascinados observando, como sempre. Então ela tropeçou. Nós dois nos
lançamos logo, claro, para impedir a queda, mas ela se recuperou só, e sorriu pra nós
dois. Me lembro do que disse em palavras. – Ele sorriu – Ela sorriu de canto, os olhos
nos sondando, e disse: “Os dois irmãos Somerhalder, vindo ao meu resgate... Qual devo
escolher?” – Citou. Madison se ajoelhou em frente a ele, ouvindo – Naquela noite disse
ao meu pai que eu a queria.
Ian: Não fala comigo até hoje. Eu era o mais velho, tinha de me casar, meu pai achou
uma benção meu repentino interesse, e Katherine pareceu deliciada. Eu não dei a
mínima pra ele. – Disse, revirando os olhos – Foi o atrevimento dela que me atraiu. E
veja onde me trouxe. – Ele amparou os cotovelos nos joelhos, e levou as mãos a cabeça,
os dedos adentrando o cabelo.
Ian: Mais do que posso calcular. – Disse, a voz abafada – Do contrário já a teria matado.
O divórcio seria piedade. Quero fazer isso... Mas não consigo. Não posso perdê-la.
Era penoso ver Ian sofrer assim. Vê-lo sem uma piada nos lábios, ou um sorriso no
rosto. Parecia errado. Madison acariciou o cabelo dele ternamente, e ele não se
moveu. Ela o abraçou, pondo a cabeça em sua nuca, confortando-o. Ele ficou
quieto a principio, mas depois aceitou o abraço sempre frio, retribuindo-o.
Madison: Tire um tempo pra pensar, pra colocar os pensamentos em ordem. Eu vou
manter ela longe da sua vista pelo tempo que precisar, até que tome uma decisão. –
Murmurou, acariciando o cabelo dele.
Ian: Obrigado. – Disse, quieto. Christopher e Robert apareceram a porta, pra ver se ela
precisava de ajuda, mas pararam. Ela avisou com os olhos que a tempestade havia
passado, e os dois assentiram, saindo dali.
Por hora havia passado, mas toda tempestade deixa danos. Basta esperar pra ver
no que isso vai dar.
---*
Semanas depois... Ian não voltou a olhar nos olhos de Katherine. Não jantava com
os outros, e não a buscava. Madison, como prometido, se encarregou de impedir de
que ela fosse até ele. Chord e Rosalie cresciam a pleno vapor, saudáveis, e Anahí
era feliz em todos os sentidos. Menos por um: A guerra parecia cada vez mais
próxima. O estado de humor de Madison, cada vez mais calada, avisava que não
demoraria muito.
Madison: Comentarão essa guerra por anos. Escreverão livros e contarão histórias sobre
ela. – Disse, observando o treinamento dos soldados. Anahí, Kristen e Katherine
estavam com ela, na torre de Anahí. – Os nomes dos guerreiros que lutaram nela
permanecerão pela eternidade. – Disse, contemplando. Haviam soldados treinando ao
perder de vista.
Madison: Não. Veja como ele se diverte. – Disse, deixando a cabeça cair pro lado,
sorrindo carinhosamente, observando. Christopher tinha as mãos as costas, calado,
olhando tudo – No fundo ele anseia que o momento chegue.
Madison: Anseia pela vitória. Pela glória. O nome de Christopher sempre esteve dentre
os grandes, e essa guerra ganhou proporções que o agradam. – Disse, dando de ombros.
Rosalie deu um gritinho no carrinho, e Madison virou o rosto, sorrindo – O que há? –
Perguntou, sorrindo. A menina riu. Madison foi até o carrinho, apanhando-a no colo.
Anahí não deu atenção. Olhava Alfonso. A amizade entre Rosalie e Madison era
curiosa, porém cresceu de modo natural, aos poucos. As duas se conheceram e se
amaram. A parte curiosa é que Madison não gostava de crianças. Parecia que não
conseguira manter Rose longe.
Anahí: Ganhou proporções? – Repetiu, e Rosalie apertou o nariz de Madison, que riu.
Madison: Cresceu. – Explicou – Como com fermento. Você não sente? Começou por
uma vingança idiota, então cresceu, cresceu... E estamos com uma granada, prestes a
explodir. – Ela arregalou os olhos pra Rosalie, brincando – Não sejam tolas em pensar
que Paul não está se preparando, todo esse tempo. Se armando, conseguindo aliados.
Uma granada. – Repetiu.
Anahí: Sem “kabum”, Rosalie. – Ralhou, mas prestava atenção nos soldados.
Madison: Não sejam tolas. Quando chegar o momento, eles atacarão, nós venceremos. –
Disse, pondo Rosalie no berço – Se Paul atacar antes, estaremos prontos, e venceremos.
Simples.
Só que ocorreu dias depois. Ian não dormira. Katherine conseguira até ele, e ele
quase lhe quebrou o pescoço. Ela estava deitada sozinha em seu quarto, ele no de
hospedes. Robert tinha Kristen nos braços, ambos dormindo. Christopher e
Madison dormiam de conchinha, ele com o rosto afundado no ombro dela, ambos
com os dedos enlaçados. Alfonso dormia com a cabeça no colo de Anahí, que o
abraçava pelos ombros, os cabelos caídos a sua volta. Devo acrescentar que
nenhum dos casais estavam de roupa.
Então houve um barulho ensurdecedor. Ainda amanhecia, o seu cinzento, e o sino
caiu, quase em câmera lenta, o objeto enlouquecedoramente grande quebrando os
tijolos da construção, caindo no vazio, batendo no chão com um baque absurdo.
Rosalie e Chord desataram a chorar, assustados. Alfonso já havia pulado da cama.
Christopher idem. Madison olhava pra frente. Kristen gemeu quando Robert saiu
da cama. Ian, que tinha a vantagem de já estar vestido, passou pra fora do quarto
correndo.
Christopher: Por onde eles invadiram? Porque vocês não detiveram? – Perguntou,
exasperado.
Christopher: Eu vou entregar ela a Madison e não vou ter pena, juro por Deus. - Disse,
respirando fundo.
Então alguém atingiu o soldado por trás, a espada transpassando sua armadura. O
homem estava morto antes de bater no chão. O atacante partiu de espada na
direção de Christopher, que esquivou, e Ian passou por cima do soldado morto,
quebrando o pescoço do atacante, que caiu no chão. Outro soldado chegou atrás
deles.
Alfonso: Eles estão aqui dentro? – Sibilou, vendo os dois corpos no chão. O soldado
assentiu, ofegando. – Como?!
Christopher: Depois, Alfonso. – Ele se virou pro soldado – Eu quero todos os homens
armados pra batalha na formação treinada agora. Tirem esses vermes de dentro do
castelo.
Ian: Agora. – Silvou. O soldado saiu correndo. Já haviam gritos de briga dentro do
castelo, pelos corredores. Todos saíram correndo, sem dizer nada, para se armar.
Uma vez que anunciada, a guerra emanava no ar. As tropas de Christopher foram
as primeiras a entrar em combate, seguida pela da de Ian. Os reis se preparavam.
Porém, cada um em seu clima.
Madison: Traga a vitória pra mim. – Disse, fechando a armadura dele por trás.
Christopher sorriu. Ela usava um hobbie preto.
Madison: E não demore. – Ela mordeu a orelha dele, que riu, puxando-a pro seu braço,
beijando-a. Madison espalmou as mãos no peito dele, as unhas causando um curioso
barulho de pedra contra metal ao se bater na armadura dele. O beijo foi interrompido
porque duas pessoas, aos berros, dois soldados, se bateram na porta. Christopher rosnou,
irritado.
Christopher: Me concede cinco segundos? – Perguntou, nos lábios dela. Madison puxou
a espada dele, de prata afiada, pesada, com um puxão rápido, oferecendo-o.
Madison: Vá. Termine isso. Volte pra mim. – Disse, se aproximando com o protetor de
braços de Christopher, de metal. Ele estendeu o braço e ela o encaixou – Eu saberei
recompensar sua volta. – Prometeu.
Christopher: Essa guerra não vai durar 5 minutos. – Brincou, beijando-a novamente, e
ela riu.
Porém, nem em todos os quartos havia tanta harmonia. Em uns havia angustia...
Robert: Não saia daqui. Nós resolvemos que será mais seguro se cada rainha estiver em
um ponto do castelo; a porta será guardada por soldados. – Ele fechou a armadura –
Qualquer coisa, o que for, grite.
Robert: Shh. Vai acabar. Mais próximo do que você pensa. – Ele beijou o nariz dela,
silenciando-a. Ela não poderia detê-lo, não tinha jeito.
Katherine: Ian. Ian, me escute... Não pode ir a guerra brigado comigo. Ian, eu não vou
suportar. – As lágrimas caíram no rosto dela e ele virou o rosto.
Ian: Pois esse será teu castigo. Como visto não sou homem suficiente pra deixar você. –
Disse, desgostoso – Então tu ficarás aqui, presa, sem saber se morri ou não. Não é
metade do que mereces, mas é o que acontecerá. – Ele ergueu as sobrancelhas – Será até
um castigo justo a ti se eu morrer brigado contigo. Não que eu vá permitir que alguém
me mate por algo tão pequeno. – Murmurou pra si próprio.
Katherine: Eu imploro, Ian, por favor... – Disse, passando a mão nos cabelos.
Ian: Tenha um bom dia, Katherine. – Disse, debochado, apanhando a espada e saindo.
Ela se largou na cama, caindo em um choro apavorado.
E então o medo...
Alfonso: Ei, ei, ei. – Disse, indo até Anahí. Já estava completamente armado – Carinho,
shh. – Anahí tremia, encolhida – Não é nada. Vai passar.
Anahí: Eles estão aqui dentro. – Murmurou, a voz tremula – Eles vão te machucar.
Alfonso: É claro que não vão, ei! – Disse, tranqüilizando-a. Não tinha tempo agora –
Me dê alguns pares de horas, então eu vou voltar, e tudo terá terminado.
Anahí: E se ele te... Alfonso, e se você morrer? – Perguntou, branca de pavor. Ele
sorriu.
Alfonso: Eu não vou, acredite. Não vou a lugar algum sem você. – O barulho de uma
nuvem de flechas que se seguiu não acalmou Anahí – Eu preciso ir. Voltarei antes do
que imaginas. Vou matá-lo, Anahí. – Havia alegria nos olhos de Alfonso. Como podia?
– Hoje tudo acaba.
Ela o beijou, os lábios frios de medo, mas não durou muito. Ele teve de ir. Anahí se
pôs a rodar pelo quarto. Rosalie e Chord estavam inquietos. Ela apanhou o
primeiro vestido que achou, branco e roxo, e o vestiu. Por favor, Alfonso, por
favor, volte... Em outro quarto... Ninguém dissera a Suri o que estava ocorrendo.
Só que ela não podia sair. A menina não contestou. Então houve um barulho de
briga do lado de fora, e a porta foi estourada. Um homem alto, de olhos verdes,
parou no portal, olhando-a.
Suri: Quem é você? – Perguntou, recuando por instinto – Meu pai não quer que
ninguém entre aqui, saia!
Paul: Aberração. Eu estava certo em vir a você primeiro. – Murmurou, cheio de nojo.
Ele se aproximou e Suri recuou mais ainda, os olhos inocentes arregalados – Seus
olhos... Lembram os olhos dela. Como se atreve?!
Suri: Os olhos dela quem? – Haviam homens caídos na porta. Havia sangue. Suri estava
com medo – PAPAI! – Chamou, vendo o estranho se aproximar.
Paul: Ah, teu pai está longe. Mas não tão longe quanto tua mãe. Você a matou. –
Acusou.
Suri: Mentira. – Ela havia começado a chorar. Estava com medo.
Paul: Ela te odiava. Tinha nojo de ti. Não a quis em nenhum momento. – Disse, e Suri
soluçou. A menina ainda usava camisola, descalça, os cabelos soltos – Sua mãe me
amava, e você estragou tudo. Você a matou. – Disse, agora próximo demais.
Suri: Mentiroso! Minha mãe amava meu pai, assim como minha mãe Anahí ama! – Ou
pelo menos essa era a história que lhe contaram. Paul riu.
Paul: Anahí? Sua mãe? – Perguntou, se divertindo com o pavor nítido da menina.
Suri: Sim. Anahí é minha mãe. – Disse, secando o rosto com o punho – E eu tenho dois
irmãos. Chord e Rosalie. E você não é bem vindo!
Paul: Aberração. Eu prometi a sua mãe, a sua verdadeira mãe, que faria isso. Demorei,
mas vou cumprir minha promessa. – Então a mão de Paul agarrou o pescoço de Suri,
estrangulando-a. A menina arregalando os olhos, tossiu, agarrando a mão que a
asfixiava. – Eu estou cumprindo, minha Dulce. Estou matando o monstro. – Disse, mais
pra si próprio, apertando a mão. Suri estava ficando branca, o rosto molhado pelas
lagrimas, sem conseguir respirar. Mais um pouco e...
Madison: Eu não faria isso se fosse você. – Disse, a voz cortando o quarto como um
punhal. Paul soltou Suri, por reflexo, que caiu, segurando o pescoço, tossindo.
Madison estava parada na porta, vestida com um vestido negro luxuoso, os cabelos
caindo, negros, até a cintura, os olhos parecendo um poço preto, opaco, sem fim, a
pele branca feito papel. Paul se virou, reconhecendo-a.
Madison: Suri, vá para debaixo da cama. Só saia quando eu mandar. – Ordenou, sem
deixar de encarar Paul. Suri rolou pra debaixo da cama imediatamente, ainda tossindo.
Madison deu um passo pra dentro do quarto – Eu tenho um problema pra resolver. –
Completou. Paul se virou pra ela, preparado.
Madison sumiu, como um borrão no ar, mas no segundo em que ia apanhar Paul
(Quebrando-lhe o pescoço) ele desviou. Ela se viu de cara com a parede. Se virou
pra ele, o cenho franzido.
Madison: Não pode ser. – Murmurou, olhando-o. – Você não pode estar aqui. Não foi
convidado a entrar. – Especulou, os olhos negros insondáveis. Paul riu.
Paul: Não, eu não sou uma anormalidade. Sou normal. Apenas tenho bons reflexos. – Se
aquilo foi só reflexo, Alfonso teria problemas – Os únicos monstros que vivem aqui,
que eu saiba, são você e o seu amiguinho, Robert.
Paul: Mas falando em aberração... Ai está você. E o que você é. – Ele a olhou, com nojo
– O que você faz. Na floresta. Com Robert. Ah, eu vi. – Ela ergueu a sobrancelha – Tive
ânsias.
Madison: Pior só gente que entra no quarto de crianças, inocentes e indefesas, atacando-
as para compensar o fato que é um completo fracassado. Há beleza no que sou, pessoas
já se ajoelharam perante a mim por isso, mas você... – O deboche era claro - Se sabe o
que eu sou, sabe o que vou fazer com você, e ainda assim está parado na minha frente,
falando. – Ela deixou a cabeça cair pro lado.
Paul: Não tenho medo de você. – Disse, sorrindo. O sorriso dela em retorno foi
deslumbrante.
Madison: Não sabe o que eu já vi. Não sabe o que já fiz. Não sabe o que sou capaz de
fazer. – Sussurrou – Eu vou lhe ensinar sobre medo.
E ela partiu pra cima dele, um rosnado alto subindo por seu peito. Suri, que via
por debaixo da cama, viu a cauda do vestido de Madison sumir do chão, como se
ela tivesse pulado, e o par de botas sumir logo depois. Em seguida estampidos,
baques, o barulho de pano rasgando. Os dois eram apenas um borrão preto
rodopiando pelo quarto, se batendo em coisas, quebrando-as, e então a mão do
homem apanhou o bracinho dela, puxando-a com força pra fora da cama.
Madison: Tire as mãos dela. – Grunhiu, e Suri viu o que fora o barulho do pano: Ele
puxara o tecido do vestido dela, para derrubá-la. Ela tinha reflexos impecáveis e evitou
a queda, mas agora as camadas de renda grafite aparecendo, o vestido destruído. –
AGORA!
Paul: Como queira. – Mas ele não largou Suri; Ele a jogou. A testa da menina bateu
com toda a força no chão e ela gritou, soluçando em seu choro. Madison já havia saído
na mão com Paul novamente.
Ela era forte, rápida, mas ainda era mulher. Ainda assim conseguiu apanhá-lo pela
gola da camisa, erguendo-o e lançando-o no chão. O barulho foi estrondoso. As
mãos buscaram o pescoço dele, mas ele a puxou, lançando-a no chão ao seu lado, e
ela rolou, logo recuperando o equilíbrio. Se Christopher visse o modo como Paul
chutou Madison em seguida, fazendo-a cambalear pra trás, Paul não viveria pra
mais uma respiração. Apesar do pontapé que recebera ela partiu pra cima dele, e
conseguiu cravar os dentes na curva do pescoço dele. Paul grunhiu, logo gritando,
tentando empurrá-la. Caiu de joelhos. Madison não engoliu uma gota do sangue,
mas destruiu tudo que seus dentes puderam alcançar. Porém outro cheiro a
alcançou antes que ela pudesse terminar. Sangue novo, limpo... Em grande
quantidade. Madison ergueu o rosto (O queixo banhado em sangue, assim como os
lábios) e viu Suri caída, a testa lavada em sangue.
Paul rastejou pra longe de Madison, aproveitando a distração dela, segurando o
pescoço que doía horrivelmente.
Madison entrou em batalha consigo própria: Suri estava morrendo e Paul estava
fugindo. Matá-lo ou salvá-la? Suri gemeu, fraca, e Madison assentiu. Não cabia a
ela a morte de Paul, lamentavelmente. Ela deu as costas, deixando o verme rastejar
pra fora, e foi até a menina. Rasgou um pedaço do vestido destruído e limpou a
testa de Suri com cuidado. O sangue fluía por debaixo do cabelo da menina.
Madison: Ei. – Disse, apanhando outro pedaço de pano, pondo-o em cima do corte. Suri
gemeu com a pressão – Consegue me ver?
Madison: Eu sei. – Disse, sentindo o tecido se molhar sob seus dedos – Respire fundo.
Não deixe que o sono a leve. – Suri assentiu – Inferno. – Rosnou consigo própria,
frustrada.
Só que, ao deixar Paul fugir, Madison estava preocupada demais pra notar que
não o ferira o suficiente para aleijá-lo; ele ainda andava. E tinha vários outros
alvos ainda dentro do castelo.
---*
Anahí rodava de um lado pro outro, na torre, como Alfonso ordenara. Rosalie e
Chord não dormiram mais. Ela podia ouvir tudo, as flechas cortando o ar, gritos,
barulho de metal contra metal, bombas, cavalos relinchando, e o cheiro no ar
indicava que alguém tocara fogo em algo. Estava inquieta. Não se aproximava da
janela. Olhara uma vez, procurando Alfonso... Mas a cena quase a fez desmaiar.
Haviam pessoas se matando até o horizonte.
Anahí: Tudo bem... Tudo bem... Tudo bem... – Repetia, como um mantra, andando em
círculos – Tudo bem... Tudo JESUS CRISTO! – Exclamou, pondo a mão na boca pra
conter o grito.
Anahí precisou de um segundo para digerir. Madison estava toda rasgada. Haviam
arranhões de um cinza escuro em seus braços, mas o pior... Sua boca, seu queixo,
seu pescoço, o colo... Lavados em sangue.
Madison: Não é meu. – Disse, vendo o olhar da outra – Paul mandou lembranças.
Anahí: Paul?! – Anahí se moveu, inconscientemente, pra mais perto do berço dos filhos
– Você o viu? Ele... SURI! – Exclamou, ao ver o que Madison tinha nos braços. A testa
da menina estava lavada em sangue. Anahí arregalou os olhos – É... É dela? –
Perguntou, olhando a boca de Madison.
Madison: Pare de gritar e não diga tolices. Não gosto de crianças, mas não as ataco.
Devem ter um gosto horroroso. – Disse, indo até a cama de Anahí. Depositou Suri lá –
Paul estava tentando enforcá-la. Eu não sei de quem foi a idéia estúpida de manter todos
separados, mas sei que não foi de Christopher, então estou resolvendo. – Disse, puxando
o vestido rasgado – Que oportuno. – Disse, debochando de si mesma. – Não teria um
vestido, por acaso?
Anahí: Suri está bem? – Perguntou, atordoada, recuando para o guarda roupas.
Madison: Melhor que nós duas. Agora só dorme. – Anahí pegou qualquer vestido,
oferecendo. Era rosa. Madison ergueu a sobrancelha – Anahí, pelo amor de Deus. –
Anahí a olhou – Não tem nada escuro?
Anahí jogou o vestido rosa e branco num canto, e apanhou outro, preto e grafite.
Madison agradeceu, rasgando o resto do que vestia, apanhando o outro. O vestido
leve de Anahí ajudaria, pensou ela, fechando o broche prata abaixo dos seios.
Anahí estava pálida.
Anahí: Fico imaginando Alfonso lá fora... No meio disso. E eu não posso fazer nada. –
Murmurou.
Madison: Pode cuidar de Suri. – Anahí suspirou. Madison olhou em volta – Use isso. –
Ela apanhou o arco e flecha pesado, parado no canto, desprezado por Alfonso.
Madison: Não tem problema. Só se certifique de que Christopher não está no meio, e
divirta-se. – Disse, indo até a janela. Ela carregava o arco pesado com facilidade. Sua
expressão se fechou. – Venha aqui.
Anahí foi. Não entendeu muito bem o que Madison queria quando armou o arco e
o colocou em sua mão, abraçando-a por trás, segurando-a, como alguém que
segura as mãos de uma pessoa, ensinando-a a tocar bateria. Ela puxou a flecha no
seu limite, os olhos negros observadores.
Madison: Já disse, seja a flecha. – Repetiu – Vou buscar Kristen. Se Suri acordar
dizendo alguma coisa sobre eu ter dado algo de beber a ela, ou algo que Paul tenha dito
de anormal, negue. – Instruiu – Diga que foi fruto da cabeça dela. E tranque essa porta.
– Disse, saindo.
Anahí tentou com o arco, mas ser a flecha não era tão simples quanto aparentava.
Por fim desistiu, apanhando uma tina com água e toalhas limpas, limpando a testa
de Suri. Ela procurou com cuidado sob os cabelos da menina, mas não havia corte
algum. Agora, depois de limpa, podia perfeitamente estar dormindo. Ela largou a
água suja no banheiro e voltou pra janela, procurando o marido. Não durou
muito...
Nina: Com licença, sua alteza. – Disse, encostada na parede da porta, sorrindo. Anahí se
virou, no reflexo. De imediato ela viu o problema: Enquanto ela estava na janela, Nina
estava perto da porta... Perto demais do berço.
Anahí agiu por instinto: O arco ainda estava em sua mão. A pontaria foi razoável,
mas a força nem tanta, e Nina apanhou a flecha com a mão, jogando-a pro lado.
Anahí lançou mão de outra, e Nina desviou, ainda se aproximando, sorrindo.
Nina: Não sabe como eu esperei por esse dia. – Disse, com um sorriso ameaçador.
Então, no alvoroço, uma das flechas acertou. Abaixo do ombro, acima do seio.
Nina arfou, com uma careta, e Anahí partiu pra mão. Primeiro acertou ela com o
arco pesado, mas Nina reagiu, e defendeu. Nos minutos que se vieram a luta foi
equilibrada, apesar de que uma das duas estava ferida. Anahí bateu, mas também
levou, porém fez algo pensado, sem mostrar suas intenções: Levou a briga pra
longe do berço. Se Nina fosse tocar em um de seus filhos, seria depois de matá-la.
Mas ao pensar em Nina pondo as mãos em Chord, os olhos inocentes do menino
sem entender, ou em Rosalie, tão delicada, tão frágil, em pensar nela machucando-
os, uma fúria assassina tomou conta de Anahí. Ela podia sentir o gosto do ódio na
boca, e Nina foi parar no chão. Com um rosnado a puxou junto, mas as mãos de
Anahí pareciam vespas, só se via a sombra, e se sentia. Então Anahí se lembrou de
uma conversa distante, em dias tranqüilos, longe dali...
ㅤ
Madison: Quebrar o pescoço de uma pessoa é ridiculamente fácil. – Explicou, se
postando atrás de Katherine, que ergueu as sobrancelhas – Apanhe a cabeça da outra
pessoa com as duas mãos. – Começou, postando as mãos abertas na cabeça de
Katherine, com as palmas em cima da orelha da outra – Tome impulso, balançando a
cabeça pro lado... – Ela balançou a cabeça de Katherine pra direita, tomando impulso,
e Katherine ergueu os olhos – Depois puxe com tudo pro outro lado. Vai ouvir um
estalo, coisa muito simples, e acabou.
Ela achou graça no dia, mas agora... Anahí nunca se imaginou matando alguém.
Então ela se lembrou de como Nina deixara Chord cair propositalmente no chão,
no choro assustado do menino, na marca roxa que apareceu. Nina tinha força,
esmurrando-a, arranhando-a, toda a força de vontade para derrubá-la. Se ela não
matasse Nina, Nina a mataria. Chord e Rosalie seriam os próximos, quem sabe até
Suri, ainda desmaiada na cama. A fúria chegou ao seu ápice.
Anahí se levantou, o ódio se abrandando como uma onda que se quebra, o pânico
vindo depois. Matara uma pessoa. Com suas mãos. Sentira o estalo do pescoço se
quebrando em seus dedos. Ela estava tremendo. Se sentou nos pés da cama,
tirando o cabelo do rosto, e já estava chorando.
Madison: Para de reclamar, até parece que eu vou jogá-la no campo de batalha. – Disse,
a voz vindo da escadaria. A porta se abriu – Pron... Ops. – Disse, olhando a cena.
Kristen se paralisou, olhando a cena. Anahí chorava nos pés da cama, agarrada aos
cabelos, e Nina estava caída no outro canto, uma mancha de sangue no colo, a boca e o
nariz partidos... Morta. Então Madison estava em frente a Anahí, apanhando seu rosto –
Olhe para mim. – Disse, a voz séria. Anahí quase convulsionava, tremendo, as lagrimas
caindo por seu rosto – Está machucada?
Anahí: Não. – Disse, respirando fundo – Meu Deus, eu matei uma pessoa. – Disse, e
Madison a olhou. Kristen checava os bebês.
Madison: É só choque. – Constatou. – Kristen, abra mais essa janela pra mim. – Pediu.
Kristen correu, abrindo a janela – Pegue um copo d‟agua pra ela.
Kristen pegou da água da cabeceira da cama, levando o copo até Anahí, que ainda
tremia. Madison ergueu Nina pelo vestido e simplesmente a lançou da janela da
torre. Não ficou pra olhar o corpo da outra se estatelar no chão, apenas fechou a
janela.
Madison: Se acalme. Eu matei uma pessoa quando tinha a metade da tua idade. – Anahí
e Kristen franziram os cenhos, em uma careta. Isso era pra confortar? – Cuide dela, eu
vou buscar Mary.
Anahí respirou fundo, assentindo. Fizera o que fora necessário. Seus filhos
estavam seguros agora. Ela era uma rainha, não uma covarde. Esse problema
estava resolvido... Mas o castelo estava longe de se declarar seguro novamente.
Anahí caminhava sozinha pelo castelo. Madison sumira; Aparentemente Katherine
não estava em lugar algum. Suri acordou, inocente de tudo o que passara, e Anahí
descera ao quarto da menina, lhe apanhando roupas. Aparentemente a algazarra
tinha sido levada para fora do castelo. Ela estava voltando pra a torre quando o
encontrou.
Anahí: Andas muito mal informado. – Disse, pondo o vestido de Suri no braço. – Se
ninguém te avisou, eu sou rainha. E dentre poucas horas serei rainha do teu reino,
também, embora tu não estarás mas aqui para ver-me subir ao trono. – Debochou.
Paul: Ou, o que é mais provável, estará viúva, amarrada e amordaçada, observando
enquanto eu quebro os ossos das suas crias. – O sorriso de Anahí se fechou, e o dele se
abriu – Um por um, na sua frente. Para que ouça os gritos, e por fim veja os corpos.
Anahí: Eu sugiro que tenha cuidado, Paul. Alfonso se aborrecerá se eu resultar fazendo
o trabalho que é dele. – Rosnou.
Paul: Não tem mais medo de mim, pombinha? – Debochou, se aproximando mais ainda.
Anahí: Hum... Espero que ela goste de se decepcionar, então. – Paul agora estava
perigosamente perto de Anahí.
Paul: Porque? Tu vais me matar, Anahí? Tu? – Debochou – Ah, não. Não creio. No
começo tinhas utilidade, era bonita. Podia ter sido minha amasia. Mas agora... – Ele a
olhou de cima abaixo – Está estragada. Uma fruta podre, das que dá nojo olhar. – As
mãos dele apanharam o rosto dela, pela lateral... Do mesmo modo que Anahí havia pego
o rosto de Nina, minutos atrás. – Pronta para ser descartada. – Completou.
Mas Anahí não o encarava. Estava prestes a morrer, mas não o encarava. Olhava
algo atrás dele. Quando Paul tomou impulso para quebrar-lhe o pescoço, no
entanto, ela lhe abriu um sorriso radiante, o que o retardou por um instante,
deixando-o confuso. Ele iria matá-la e ela estava sorrindo para ele. Enlouquecera?
Ele se retardou um instante... Mas um instante era tudo o que era preciso.
A lança que ela atirou cruzou o ar mais rápido e com mais força que uma flecha,
acertando-lhe o ombro por trás. Paul soltou Anahí, cambaleando e caindo de
joelhos, e esta limpou as roupas, se afastando dele. Não achara que essa história de
ser isca daria certo, mas a adrenalina resultou deliciosa. Paul arrancou a lança das
costas com um grunhido, arfando, e virou o rosto.
Paul: Você é teimosa. – Arfou, olhando Madison.
Madison: Sou. E você vai morrer. – Disse, abrindo aquele sorriso ameaçador de novo.
Ela sumiu em um borrão, e então estava em cima dele, os braços dele presos pelo pulso
ao lado do rosto – Alfonso realmente vai se aborrecer... Mas é irresistível. – Comentou,
e tomou impulso para trás, os dentes já expostos. Iria mordê-lo outra vez, Paul sabia, e
dessa vez não o deixaria com vida. Mas no momento em que ela iria dar o bote...
Paul: Vocês não encontraram a mulher de Ian, não foi? – Ofegou, e Madison parou,
praguejando internamente de vontade, a língua passando levemente por um canino –
Katherine, o nome, não é?
Madison virou o rosto para Anahí, em uma pergunta muda. O triunfo de Anahí
sumiu de seu rosto, e ela negou. Não, não havia sinal de Katherine.
Paul: Estava chorando, a coitadinha, tão nervosa... Apavorada. Andando de um lado pro
outro. – Instigou. Ele não viu como, mas Madison estava de pé, e ele junto. Ela o ergueu
pelo pescoço, prensando-o na parede.
Madison: Faça valer mais alguns minutos de sua vida. Onde você a deixou? – Rosnou.
Paul: Me mate. – Provou. Madison rosnou de vontade – Mas seja rápida, se ainda
pretende procurá-la. Do jeito que eu a deixei sangrando... Tsk tsk. – Ele ergueu as mãos,
e havia sangue fresco ali. Fresco demais para o ferimento do pescoço dele, que já havia
estancado. – Se eu fosse você, nem me daria ao trabalho. – Comentou.
Anahí: Ah, meu Deus. – Gemeu, subitamente apavorada. Viu Madison aproximar o
rosto da mão ensangüentada de Paul... Farejando. Então os olhos da morena se abriram
em choque, e ela o lançou com força contra a parede.
Paul: O tempo está passando. – Debochou. Ele abaixou a mão. O sangue de Katherine
gotejou.
Madison: Eu devia mesmo matá-lo. Devia matá-lo agora. – Disse, mais furiosa do que
já estivera.
Anahí: Mad, Katherine. – Lembrou. Madison rosnou mais uma vez e arremessou Paul,
que deslizou alguns metros no chão. Por sorte veio um soldado, todo ensangüentado da
batalha, pelo corredor.
Soldado: Ele está aqui. ELE ESTÁ AQUI! DÊÊM O ALERTA! EU O ENCONTREI! –
Gritou, vendo Paul, que ria gostosamente, se levantando.
Madison: Cale essa maldita boca. – Rosnou. – Escute. Sabe onde Robert está?
Paul: Não vai dar tempo. – Cantarolou. Madison se virou pra ele, possessa, mas Anahí
segurou seu braço.
Madison: Porque fora Christopher, é o único que vai atender meu chamado. E ele é mais
rápido: Eu preciso que ele encontre Ian imediatamente. – Disse, tirando o cabelo do
rosto. Não fazia idéia de pra onde ir, por onde começar. Porque Katherine saíra sozinha
do maldito quarto?
Anahí: Não pode... Não pode sentir o cheiro? Como sentiu na mão dele? – Paul riu
novamente.
Paul: Poder ela até poderia. Mas tem gente demais sangrando aqui dentro, não há como
distinguir assim, há, aberração? – Perguntou, debochado. Madison estava começando a
tremer de ódio.
Madison: Se Katherine morrer... Paul, eu vou descer ao inferno para fazer você pagar.
Acredite. – Prometeu – Venha. – Disse, puxando o braço de Anahí, e as duas saíram
dali correndo.
Mas o castelo era muito grande, haviam cômodos demais pra gente de menos
procurando. E o principal: O tempo está contra nós. Contra Katherine.
---*
Uma vez expulso do lado de fora, o caos reinava fora do castelo. Gritos, tiros,
flechas, metal se chocando, corpos caindo, cavalos relinchando, canhões, e mais
gritos até o perder de vista. Apenas 3 pessoas pareciam estar tranqüilas:
Christopher, Ian e Robert, em seus cavalos, cada um em seu canto. Alfonso estava,
resumidamente, furioso. Onde aquele desgraçado estava? Christopher estava em
seu cavalo, observando e ordenando seu exercito, quando outro cavalo se
aproximou. Era Ian, rindo, pra variar.
Christopher: Isso anima você? – Perguntou, virando o rosto. Ao contrário dos outros,
Christopher não usava capacete. Ian tirou o seu, sacudindo o cabelo distraidamente,
ainda sorrindo.
Ian: A você não? – Perguntou, como se o fato da armadura dele estar coberta em sangue
fosse trivial. Foi então que o cavalo de Robert surgiu, trotando, se aproximando dele –
Robert, que surpresa! – Disse, como se recepcionasse alguém em uma festa. Christopher
riu, balançando a cabeça, mas Robert estava sério.
Christopher: Que cara é essa? Deslocou um músculo? – Ian gargalhou com essa, mas
ainda assim Robert não riu.
Ian deu meia volta com o cavalo, dando as costas a guerra, e sumiu em direção ao
castelo. Christopher observou, os olhos preocupados, mas não podia acompanhar
ele e Robert: Alfonso estava exclusivamente atrás de Paul, e alguém tinha que
comandar as tropas. Paul já saíra do castelo. Cuidaria de Madison assim que a
guerra estivesse controlada, e Anahí seria a próxima. Agora cantava vitória do
lado de fora, matando todos que cruzavam seu caminho. Logo uma pilha de corpos
estava ao seu redor. Foi então que...
Christopher viu as pessoas parando de lutar para observar algo, se afastando pra
dar espaço, logo um circulo se formando, e ergueu a sobrancelha, aguçando o
olhar. Sorriu de canto, um rosnado ansioso saindo de seu peito, e se aproximou,
não para intervir, mas para assistir o duelo que começaria ali. A espada de Alfonso
cortou o ar no momento em que Christopher parou para observar. Uma coisa era
certa: Aquilo terminaria ali.
---*
Christopher: Ah, pelo amor de Deus, vocês querem calar a boca? – Perguntou,
exasperado. Os soldados o olharam – Eu estou tentando assistir isso aqui. Agradecido. –
Disse, debochado.
Anahí, Robert, Ian e Madison saíram em uma expedição de busca pelo castelo, mas
divididos. Até que Anahí notou o silencio anormal.
Anahí: Não está calmo demais? – Perguntou, caminhando com Madison. Essa invadia
todas as portas que passava pela frente, sondando, procurando.
Anahí: Eu tenho... Alfonso, ah meu Deus. – Disse, angustiada – Eu tenho que ir vê-lo.
Madison: Para roubar seu foco? Acredite, você não quer isso. – Disse, então parou,
franzindo o cenho.
Madison: Shhh. – Disse, erguendo a mão. Anahí se calou, confusa. Madison farejou
alguma coisa no ar, mas havia um barulho também. Algo baixo, interrompido...
Engasgos.
---*
Robert: Ela não está pra lá. Porque vocês estão aqui? – Perguntou, se aproximando. Ian
viu as caras delas duas, e avançou batido pelo corredor, parando logo em seguida, o
rosto sem emoções.
Ian: Katherine. – Sussurrou, vendo a esposa engasgar em sua frente, uma poça de
sangue em volta do pescoço cortado.
Alfonso: Levante-se. – Rosnou, o rosto duro – Eu não vou permitir que uma pedra retire
minha glória.
Christopher: Verme. Eu deveria lhe dar um motivo para achar graça. – Cuspiu, e se
abaixou, apanhando a espada de Alfonso onde ficara, indo até o outro, que ofegava no
chão – Pode se levantar?
Alfonso: Acho que sim. – Rosnou, a mão agarrando a coxa. Paul fizera propositalmente,
para deixá-lo mancando. O riso do outro foi claro enquanto Christopher ajudava
Alfonso a se levantar, então ele se virou pro castelo, abrindo os braços.
Paul: FOI POR ISSO QUE VOCÊ FUGIU?! – Perguntou, uma das mãos apontando
para Alfonso caído – FOI POR ISSO QUE VOCÊ ME DEIXOU?! – A pergunta era
claramente a Anahí. E ela ouviu.
Alfonso: Você fala demais. – Rosnou se levantando – E nunca mais se dirija a minha
mulher. – Encerrou, antes de avançar pra Paul novamente, recomeçando tudo.
Ian: Katherine. – Ele se ajoelhou ao lado dela, tocando o rosto da esposa, que o olhou,
duas lágrimas caindo pelos cantos dos olhos. Ela mal respirava, e engasgava muito.
Ian: Eu estou aqui. – Disse, os olhos atordoados, tirando o cabelo do rosto dela.
Katherine: Ian. – Repetiu. Ela engasgou novamente, vendo o olhar atordoado dele –
Estou – Ele franziu o cenho – Estou grávida. – Engasgou, e o choque do
reconhecimento riscou os olhos dele.
Ian: Alguém faça alguma coisa, pelo amor de Deus. – Disse, olhando o corte dela.
Perdera sangue demais – Não deixem que ela morra, eu imploro.
Robert: Saia daqui. Leve Anahí. – Ian fechou a cara em protesto. Anahí estava
estagnada desde o grito de Paul. – Ian, vá. – Disse, urgente. Katherine não tinha mais
que minutos.
Ian: Escute. – Katherine o olhou, o rosto pálido, engasgando novamente – Eu amo você.
Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Disse, secando a lágrima que caiu dos olhos dela.
Ian se levantou e Anahí o levou dali. Ele estava tão abatido que não conseguiu
dizer nada, ela tampouco. Ele só conseguia implorar. Deus, por favor, por favor.
Leve a mim, mas ela não. Por favor. Bastava saber se Deus ouviria.
Algum tempo depois Robert apareceu na sala. Ian estava irredutível, mas Robert
se conteve em dizer que Madison estava com Katherine, que ela ia sobreviver.
Ian: Robert, é minha mulher, eu vou vê-la. – Disse, os olhos azuis ameaçando o outro a
contestá-lo.
Robert: Ian, estamos em guerra. – Ian respirou fundo – Esse silencio não lhe indica
nada? Vai acabar e precisaremos conter as demandas, não podemos deixar Christopher
sozinho com isso, quando você voltar Katherine estará aqui! No quarto de Anahí, pra
ser mais exato. – Deu de ombros. Anahí, empedrada, olhou pra ele.
Robert: Está dormindo. Estará aqui quando voltar. Vamos. – E empurrou Ian. Quase na
porta Robert se virou, vendo Anahí branca como uma estatua de cera – E tu... Fique
calma. Não faça nenhuma bobagem. Volte pro quarto, lá é seguro. Vai terminar.
Anahí: Não deixe... Não deixe que ele se machuque. – Disse, com a voz quebrada.
Robert assentiu e ela deu as costas, saindo.
Anahí vagou a esmo até chegar na torre. Queria sair do castelo. Queria ir até o
local do duelo, e gritar até que Paul deixasse Alfonso. Queria se pôr entre os dois.
Queria proteger Alfonso. Ao entrar na torre, sua atenção foi desviada. Katherine
estava deitada ao lado de Suri, branca feito a morte, o colo sujo de sangue... Mas
respirava. Madison por sua vez estava amparada perto da janela, parecendo
exausta, o olhar distante.
Madison: Não deixe essa porta aberta. – Disse, e Anahí olhou a porta por onde entrou.
Madison ainda encarava o nada – Eu não preciso de mais ninguém morrendo.
Anahí: Você está bem? – Perguntou, se aproximando. Kristen saiu do banheiro com
uma tina de água limpa e uma toalha, e se sentou ao lado de Katherine, limpando o
sangue do pescoço da outra. No lugar do corte havia uma linha rosa escura, em relevo...
Porém nada que jorrasse sangue. Madison virou o rosto.
Anahí: Você está bem? – Repetiu. Madison sorriu de canto. Ela sempre aparentava ser
tão forte que ninguém, exceção a Christopher, e algumas vezes Robert, realmente se
importava com o que ela estava sentindo. Essa era a diferença em Anahí; Anahí sentia.
E se importava.
Não demorou nada e Suri realmente acordou. Anahí dispensou poucas palavras,
ajudou a menina a se banhar e se vestir, e voltaram ao silencio e sempre. Anahí se
amparou no berço, olhando os filhos. Rosalie dormia, mas Chord encarou a mãe,
observador. Ela sorriu pra ele, acariciando o rostinho do menino. Enquanto Chord
estava em paz, seu pai lutava bravamente. Madison não deixou Anahí se
aproximar da janela porque a luta estava diante dos olhos, na escadaria do castelo.
A perna de Alfonso doía horrivelmente. Ele podia sentir o sangue escorrendo, se
esvaindo, mas não tropeçou nem por um momento. Sua espada e a de Paul
cruzaram o ar, se chocando violentamente várias vezes. Christopher observava
tudo, neutro. Até que, ninguém viu como, Paul tentou atingir a cabeça de Alfonso
com a espada, mas esse desviou, se abaixando, e cravou a espada na barriga do
outro. O metal duro transpassou a barriga de Paul, saindo pelas costas, e esse
ofegou, perdendo a espada. Um silencio pesado tomou conta da cena enquanto o
sangue jorrava do cabo da espada para as mãos de Alfonso, que se manteve,
encarando o outro, ofegando de ódio.
Alfonso: Por Suri. – Rosnou, e arrancou a espada fora, voltando a golpeá-la em seguida.
Paul cambaleou – Pela minha paz. – Assinalou, puxando a espada de novo. Dessa vez
Paul caiu deitado, e Alfonso deu um passo até estar em cima dele. Ergueu a espada
novamente, ainda encarando o outro – Por Anahí. – Completou, e afundou a espada no
peito de Paul, bem em cima do coração. – Paul ofegou de modo tortuoso mais duas
vezes... E não respirou mais. – Dulce María espera por você no inferno, verme.
Mais dois segundos de silencio, então a gritaria explodiu. Explodiu com uma força
que sobressaltou quem estava no castelo, feriu os ouvidos. Alfonso recuou, olhando
o corpo de Paul no chão com nojo, agora sim permitindo cambalear sob a perna
ferida. Esperara tanto por esse momento... Ele se lembrou de Suri privada na
cadeira de rodas, de Anahí chorando pela morte do pai, se lembrou de sua
impotência perante a isso, e o gosto da vitória em sua boca foi doce. Então...
Anahí: ALFONSO! – Gritou, parada na escadaria atrás dele. Todos os rostos se viraram
para ver. Era como se fosse o anjo da paz, descendo a terra para terminar a guerra.
Anahí: Eu tive tanto medo, tanto medo. – Murmurou em seu choro, agarrada ao ombro
dele.
Alfonso: Acabou agora. Eu disse que ia acabar. – Brincou, beijando a orelha dela – Eu
amo você.
Anahí virou o rosto, tomando os lábios dele em um beijo sem sequer avisar. Ele
sorriu, acolhendo-a em seus braços, retribuindo. Todos olhavam, sem ter como se
desviar. Mas era bonito de se ver.
Christopher: Essa foi uma guerra estranha. – Pensou, tranqüilo. Ian pensou por um
instante e assentiu.
Anahí se apertou mais a Alfonso, não querendo deixá-lo nunca... Mas ele
cambaleou. O peso dos dois foi demais pra ele e Anahí se afastou, confusa. As vezes
Alfonso a carregava em um só braço, o peso dela não o incomodava.
Anahí: O que... – O olhar dela parou no ponto onde o corte se destacava na perna dele –
Ah, meu Deus.
Anahí: Está ferido?! – Ela recuou, puxando ele até que pode ver o corte fundo. Se ouviu
o riso de Christopher com a cara de Alfonso.
Anahí: Cale a boca. – Disse, mas o abraçou. Alfonso riu. – Venha, vou cuidar de você. –
Disse, apanhando a mão dele. Mas Alfonso não foi.
Christopher: É, mas temos que limpar a bagunça. – Disse, olhando em volta. Todos os
soldados, aliados e inimigos derrotados esperavam por novas ordens.
Assim Anahí rebocou Alfonso de volta pro castelo, Christopher, Ian e Robert
ordenaram os soldados... E ninguém sentiu pela morte de Paul. A guerra teve o
final justo, aquele que todos esperavam e que ninguém lamentava. E foi só.
---*
Alfonso: Vá... Vá ver os bebês. – Aconselhou – Eu vou terminar isso já já. – Anahí ia
contestar – Shit. – Alertou, e ela sorriu.
Anahí: Vou providenciar algo de comer. – Disse, saindo do box. O vestido luxuoso
estava arruinado, todo amassado, manchado de sangue, agora molhado.
Anahí: Shit. – Imitou, dando as costas a ele e saindo dali. Ele riu.
Kristen: Sente algo? – Perguntou, preocupada. Katherine negou – Kath... Madison disse
que... – Katherine esperou – Que você disse que estava gravida. – Katherine sorriu de
canto.
Katherine: E eu estou. – As mãos dela, pálidas, tocaram o ventre por cima do vestido
cobre, carinhosamente. Então ela viu a expressão de Kristen – O bebê é do Ian, Kristen.
– Dispensou.
Kristen: Como pode saber? – Perguntou, tirando a resposta da boca de Ian, que estava
atrás da porta. Este ficou quieto, os olhos duros na parede.
Katherine: Só estive com outro 4 vezes, então não mais. Minhas regras vieram 3 vezes
depois da ultima vez. E depois disso eu me deitei com Ian mais vezes do que posso
contar, mais de uma vez por noite. O bebê é dele. – Disse, carinhosamente. Tanto Ian
quanto Kristen sorriram. – Acha que ele vai me perdoar? – Mas antes que Kristen
respondesse...
Anahí: Vi. – Disse, desgostosa – Vai custar a sarar. – Alfonso ergueu a sobrancelha –
Creio que amanhã não conseguirá se pôr de pé.
Alfonso: Não estou falando disso. – Anahí franziu o cenho, erguendo o rosto para
encará-lo – Você viu o momento em que... Viu quando ele me derrubou? – Pensou,
relembrando a cena. Não queria que Anahí tivesse visto ele cair, nem muito menos rolar
pelo chão, se esquivando dos golpes que recebia. Parecia covardia.
Anahí: Ele conseguiu te derrubar? – Alfonso ficou quieto. Anahí gemeu, frustrada –
Não, não vi. Não vi nada, pra falar a verdade. Só consegui fugir de Madison no final.
Ela parecia cansada... E eu sai correndo. – Deu de ombros. Alfonso sorriu. – Agora não,
Rose. – Suspirou, voltando a atenção pra sutura. Rosalie dava pequenos gritinhos. Fazia
isso sempre que Alfonso não lhe dava atenção – Vai acordar Chord. – Comentou em
voz baixa, puxando a linha delicadamente no ultimo ponto.
Alfonso: Foi no momento em que ele saiu aos berros perguntando se era „por isso‟ que
você o tinha deixado. – Continuou – „Isso‟ era eu, que não havia conseguido me
levantar ainda.
Anahí: Pergunta estúpida. – Disse, franzindo o cenho – Não há outro homem pra mim.
E não se preocupe com isso, foi só uma queda. Todos nós caímos. Eu cai na descida da
escada, fugindo de Madison. – Alfonso riu, e ela lhe selou os lábios – Você venceu.
Trouxe a paz de volta. E mesmo que tivesse perdido, ou caído 10 vezes, eu ainda estaria
explodindo de orgulho. Não seja tolo, sim? – Ela selou os lábios dele de novo, que
sorriu.
Alfonso: Deixo de ser se tu me beijares de novo. – Disse, descarado, e ela riu, beijando-
o novamente.
Anahí: Eu beijo, beijo, beijo... – Disse, cobrindo-o de beijos – Hoje te darei todos os
carinhos do mundo. – Disse, dando beijo apertados na maxilar dela.
Alfonso: Que ótimo. – Disse, mordendo a orelha dela, e Anahí arregalou os olhos,
empurrando-o.
Anahí: Nem sonhe com isso. – Disse, catando os objetos de primeiro socorro e se
levantando. Ele riu, se recostando nos travesseiros.
Alfonso: Ei, volte aqui. Nós estamos apenas conversando. – Disse, na defensiva.
Anahí: Conheço esse teu tipo de conversa. E a resposta é não. Não há maneira. – Disse,
guardando o kit de primeiros socorros.
Alfonso: Mas eu queria... – Brincou, e ela o lançou um olhar que o fez se calar e rir em
seguida. Ele sabia que com aquele corte, mesmo sendo mais abaixo da coxa, perto do
joelho, ele não iria a lugar algum. – Ei. Me dê Rose antes que ela acorde Chord. – Anahí
avaliou, então assentiu. Foi até o berço, apanhou Rosalie e checou Chord. O menino
dormia. Ela entregou Rosalie a Alfonso. O rosto da menina se alegrou ao ver o pai.
Anahí: Vou pro banho. Se você ousar tentar se levantar dessa cama, eu vou cometer um
crime. – Alfonso arregalou os olhos, falsamente assustado, e ela deu as costas.
Alfonso brincou com Rosalie por minutos a fio. A menina não falava ainda, apenas
umas palavras desconexas, mas era a alegria do pai. Ela brincou com ele, as
mãozinhas apanhando um punhado de seu cabelo. Alfonso tinha problemas toda
vez que isso acontecia. Mas a solução era pratica: Ele fazia cara de choro pra ela e
a menina o soltava, os olhinhos atentos. Ele riu em seguida, beijando-a.
Alfonso: Você... – Ele deu um beijo apertado nela – É... – Outro – O amor... – Outro –
De minha vida. – Completou, beijando a barriga da menina, que riu gostosamente –
Sim, você é. E você está com sono. – Disse, vendo a carinha de sono dela. Rosalie
imitou o pai, olhando-o, e ele riu – Amor da minha vida. – Repetiu, beijando-lhe a testa.
Anahí: Se ela é o amor da sua vida, o que resta pra mim? – Perguntou, saindo do banho,
e Alfonso sorriu.
Alfonso: Sobra bastante. Põe ela no berço? – Pediu e Anahí assentiu, apanhando a filha,
que tinha o rostinho sonolento. Ela a levou até o berço, acomodando-a, e dessa vez Rose
não reclamou. – Venha aqui. – Anahí ergueu a sobrancelha – Anahí. – Repreendeu.
Anahí: Você é impossível. – Disse, e ele sorriu vendo ela ir até a porta, trancando-a, e
até os castiçais, apagando as velas, de modo que só sobrou a luz da lareira. O clima era
gostoso. A chuva que caíra parecia que viera para lavar todo o terror da guerra. Ele
sentiu ela ir pra debaixo dos lençóis, pra perto dele, e sorriu – Como está sua perna?
Alfonso: Colada com o resto do corpo. – Dispensou, e ela não conseguiu não rir –
Escuta, você pode me beijar? – Perguntou, e ela gargalhou da espontaneidade dele. – Se
é só o que eu posso pedir, peço logo assim. – Se queixou.
Anahí: Sabe que se eu deixar você fazer algo, vai se machucar. Está todo ralado. – Os
braços e o peito de Alfonso tinham alguns curativos brancos, nada demais, só ralado
mesmo. Ele estava de peito nu e com uma bermuda solta, branca, pra não pressionar o
machucado.
Anahí: Hum, enfezadinho. – Disse, apanhando o rosto dele nas mãos, selando-lhe os
lábios. Alfonso suspirou e ela o encarou, confusa.
Alfonso: Assim, Anahí. – Disse, apanhando o rosto dela com as duas mãos, trazendo-os
pra si.
Alfonso: Anahí. – Repreendeu. Ele tentou mover a perna, mas desistiu perante a dor. –
Eu não consigo, carinho. – Disse, frustrado.
Anahí: Me toque, Alfonso. – Pediu, apanhando a mão dele, que estava na cama. Ela
trouxe a mão do marido até o próprio colo, fazendo os dedos dele a acariciarem.
Alfonso a encarou, ainda quieto, com um olhar e um sorriso de puro deslumbramento.
Ele ergueu o rosto, levando-o ao pé do ouvido dela, o hálito quente dele naquela região
arrepiando-a.
Alfonso: Quer que eu a toque? – Sussurrou, a mão que ela colocara em seu colo
sumindo por dentro da camisola dela.
Anahí: Muito. – Respondeu, sentindo a boca subitamente seca. – Quero que me toque.
Quero que me beije. – Complementou, aspirando do perfume dele. Instigava ela.
Anahí: Porque você é meu marido. – Disse, selando os lábios com os dele – Meu
homem. – Ela repetiu o ato, mordiscando-o agora – E porque só você pode.
Alfonso não disse mais nada, apenas a beijou. O incomodava que ela mantivesse
todo o peso nos braços, sem tocá-lo. Ele tentou forçar os braços dela, puxá-los,
várias vezes, mas ela não cedeu. Anahí, vendo que ele não ia desistir, apanhou a
mão dele que tentava forçar seu cotovelo e trouxe até seu seio, enchendo a mão
dele. Isso distraiu Alfonso completamente. O corpo de Anahí parecia ter sido feito
exatamente ao molde de suas mãos... E ele se aproveitou disso. Usou de tudo o que
podia, afinal fora ela que pedira para que ele a tocasse. As mãos dele deixaram os
seios dela vermelhos, sensíveis, a barriga com marcas de unha, nas costas os
vergões por onde ele a apertou até chegar ao traseiro dela, que ele apanhou com as
duas mãos, apertando com gana. Anahí não conseguia respirar direito. Ele não
deixou os lábios dela um segundo, seu corpo tremia, era difícil se manter sob os
braços trêmulos agora... Até que a mão dele desviou das roupas dela, encontrando
sua intimidade. Anahí gemeu alto, caindo das mãos, se amparando nos cotovelos, e
ele deixou os lábios dela, que afundou o rosto em seu ombro, sem ver o sorriso que
ele tinha no rosto. Os dedos dele brincavam com ela, instigavam, e ela ia
enlouquecer. Pior, ela ia permitir. O ultimo fio da razão dela foi sua voz, e ela bem
tentou.
Anahí: Alfonso. – Chamou, e ouviu um “hum?” perverso dele em seu ouvido, enquanto
ele distraia a boca em seu ombro. Estava adorando aquilo, o desgraçado – Chega.
Alfonso: Não ouvi. – Disse, sorrindo maliciosamente, ameaçando invadir a intimidade
dela com os dedos e retrocedendo na ultima hora. Anahí teve uma vertigem com isso,
ainda amparada nos cotovelos para não tocá-lo.
Anahí: Pare com isso. – Disse, mordendo o ombro dele. Sabia que se ele tentasse algo
agora, ela não teria resistência suficiente, e aquele corte... – Pare agora.
Alfonso: Mas você pediu para que eu te tocasse. – Lembrou, e mordeu a orelha dela,
deixando um chupão ali atrás – Não pediu? – A voz dele estava excitando-a mais ainda.
Anahí: Agora estou pedindo que pare. – Porque ela não tinha força pra sair dali? – Eu
pedi, mas... – Ela arfou – Mas já chega. – A voz dela estava tão tremula que não levou
nada da ordem que ela pretendera enviar.
Alfonso: Ainda não. Quase. – Ele ainda sorria. Anahí grunhiu, ele não sabia se de raiva
ou de prazer. – Shhh... – Tranqüilizou, mas seus dedos na intimidade dela se tornaram
mais intensos, mais ágeis.
Ela não conseguiu responder. Alguns instantes depois ela gemeu, mais alto ainda, e
quase perdeu o controle do corpo. Alfonso parou com tudo o que fazia só pra
desfrutar da reação dela. Queria poder ver seu rosto, o tom corado que tomava
toda vez que ela chegava ao orgasmo, mas o rosto dela estava caído em seu ombro.
Ele levou a mão até o queixo dela, erguendo o rosto, e ela estava de olhos fechados,
a respiração forte... A maçã do rosto vermelha. Ele sorriu. Então percebeu o
quanto ela tremia, tentando se manter nos cotovelos, e segurou os braços dela, lhe
dando tempo. Após instantes ela abriu os olhos, encarando-o, e viu que ele ria.
Teve vontade de lhe descer a mão na cara, mas ao invés disso o beijou. Alfonso
recebeu como surpresa. Ela deixou seus lábios, beijando-lhe o queixo, o pomo-de-
adão, o peito, a barriga (se desviando de dois curativos)... E chegou na bermuda. E
ela nem hesitou. Alfonso fechou os olhos, sentindo os lábios dela abrangerem seu
membro, deixando o corpo relaxar... Depois do dia que tivera, isso era o paraíso. O
primeiro gemido dele veio curto, mas serviu como estimulante para ela, que não
descansou até que ele ficasse no mesmo ponto em que ela estivera. Alfonso arfava,
a barriga se contraindo o tempo todo, os músculos se destacando ali, e ele chamava
por ela. No fim ele gemeu alto, agarrando o lençol, e Anahí o deixou, sorrindo ao se
deitar ao lado dele, que ainda arfava. Após alguns instantes ele virou o rosto para
ela, encarando-o, e ela sorriu. Ele riu consigo mesmo um instante, e ela acariciou o
rosto dele, que beijou sua mão.
Alfonso: E eu que só pedi um beijo. – Comentou, divertido, e ela empurrou o rosto dele.
Ele bocejou em seguida. – Me abrace. – Pediu, quieto, e Anahí foi mais pra perto dele,
abraçando-o pelos ombros, oferecendo-lhe seu colo.
Anahí: Cuidado. – Alertou quando ele se virou, se agarrando a ela. Alfonso sentiu os
pontos da coxa se esticarem e foi com mais calma, até que a perna estava estirada
seguramente de novo. Ele afundou o rosto no pescoço dela, suspirando – Durma. –
Disse, lhe acariciando os cabelos.
Christopher: Finalmente. – Disse, entrando no quarto. Ele já não usava a armadura, mas
havia sangue seco e sujeira em seu pescoço e em seus braços. O quarto estava vazio.
Estranho, Kristen dissera que Madison estaria ali. – Mad? – Sem resposta.
Ele avançou pelo quarto, cansado, chamando por ela. Nada. Estranho. Já era
tarde, Madison não sairia assim em um dia normal, quem dirá hoje. Apenas
quando passou na porta do banheiro que viu: Dois pés pálidos, cobertos por renda
preta. Ele se apressou até o banheiro e viu a esposa caída de qualquer jeito no
chão, usando roupa debaixo e o hobbie de renda, os cabelos esparramados a sua
volta... Desfalecida. Ele olhou em volta, procurando um atacante, mas não havia
ninguém. Olhou pra ela, os olhos em um desespero mudo, mas não havia sangue.
Que diabo acontecera ali?
Madison: Me diga que eu não cai. – Pediu, a voz quebrada. Ele sorriu.
Christopher: Você não caiu. – Atendeu, e ela riu – O que há? – Perguntou, e ela abriu os
olhos, encarando-o.
Madison: Perdoe. Gente demais morrendo nesse castelo hoje. Paul tentou decepar a
cabeça de Katherine. – Ela suspirou. Estava realmente exausta – Mas tudo vai bem. Só
preciso descansar. E tu, - Ela reparou no estado do marido – Precisa de um banho.
Christopher: Preciso. – Disse, puxando a camisa suja pela gola. – Você vai ficar bem?
Madison: Vou sair. – Ele a repreendeu com o olhar imediatamente – Não vou longe.
Tome um banho demorado, lave os cabelos, - Ela passou os dedos carinhosamente nos
cabelos dele, cobertos de poeira e fuligem – E quando terminar estarei aqui.
Christopher: Tome cuidado. – Disse, se levantando. Madison se levantou também,
abotoando o hobbie, a renda ocultando muito pouco. Ele se aproximou para beijá-la,
mas ela recuou, os lábios parecendo secos, os olhos que davam a aparência de arder. Ela
olhou os lábios dele por um momento, então, parecendo se refrear, colocou dois dedos
ali. Ele a encarou, confuso.
Madison: Não é uma boa idéia. Quando eu voltar, com certeza. – Christopher sorriu, e
assentiu. Ela se afastou dele, respirando fundo – Eu já volto. – E deu as costas, saindo.
Ele sacudiu o cabelo, sumindo no banheiro.
No quarto de Katherine...
Ian: Você me disse que está grávida. – Disse, e Katherine assentiu – É meu?
Katherine: É claro que é. – Disse, se sentando direito. Ian se sentou ao lado dela,
olhando pra frente.
Ian: Porque, Katherine? Porque fez isso? – Ela ficou quieta – Ele era bonito? –
Perguntou, tentando entender. Bom, Madison era bonita.
Katherine: Não. É claro que não. Nunca tive homem melhor que tu. – Disse, e ele
assentiu – Era apenas diferente. Eu não sei porque fiz aquilo, eu não pensei, eu cogitei a
idéia e quando eu dei por mim eu... Argh. – Gemeu. Os olhos dele voaram pra ela,
varrendo seu rosto.
Katherine: Sinto. Me sinto uma idiota porque cometi um capricho e agora meu marido
está me deixando. Não é ótimo? – Disse, virando o rosto pra ocultar as lágrimas dele.
Ian observou um instante, calado.
Ian: Nosso filho. – Repetiu, sorrindo. Ela o encarou, ansiosa – Gosto disso.
Os dois se encararam por um instante, até que ele trouxe o rosto dela pra si,
beijando-a. Katherine podia ter morrido de felicidade ali mesmo. Ian não ia deixá-
la. A guerra acabara, ele não corria mais risco. Teriam um filho. Suspirou, se
abraçando ao marido, que a acolheu em seus braços, e tudo estava bem. Ian jamais
saberia nada sobre Matt, e os Donovan tampouco voltariam a se aproximar da
realeza. Eles seriam felizes, e só. Saindo dali... Kristen andava pelos corredores.
Não encontrara Robert no quarto, procurava por ele. Até que tombou com
alguém.
Kristen: Ai! – Disse, tendo a impressão de ter se chocado com um muro de pedra. Ela
olhou e viu Madison recuando, os olhos abertos em choque – Ei, você acordou! – Disse,
sorrindo. Madison assentiu, sorrindo também – Fiquei preocupada. – Madison pôs a
mão no rosto, em cima da boca, como quem tapa a boca por ter se assustado... Mas
nesse caso segurando os lábios juntos e tampando a respiração – Você está bem?
Madison: Estou. – Disse, por trás da mão. Ela ainda se afastava – Porque está aqui
sozinha?
Kristen: Procurando Robert. – Disse, dando de ombros. – Fiz algo errado? – Perguntou,
estranhando o olhar de Madison. Essa riu de leve.
Madison: Não, claro que não. Você é só humana. – Dispensou, e Kristen sorriu –
Escute, eu preciso ir, preciso... – A voz abafada pela mão sendo interrompida por
alguém.
Kristen: Rob, finalmente! – Disse, vendo o marido se aproximar. Ele viu a expressão de
Madison e sutilmente se pôs em frente a esposa, sorrindo. Madison revirou os olhos.
Robert: Vamos? – Chamou, e Kristen assentiu. Ele a levou pelo corredor, e parou ao
lado de Madison – Escolha interessante de roupas. – Murmurou, e ela sorriu, debochada
– Vai ficar bem?
Madison: Perfeitamente. Só preciso sair daqui, agora. Chega de civis passando na minha
frente hoje. – Robert riu.
Robert abraçou Kristen pelo ombro, levando-a. Chegando ao quarto ele foi pro
banho, e quando saiu ela estava sentada em frente ao espelho, escovando o cabelo.
Kristen: Estou feliz por irmos para casa. – Disse, largando a escova. Robert secava o
cabelo.
Kristen: Eu gosto, mas sinto saudade de casa. – Disse, se aproximando – E nosso filho
não pode nascer no reino dos outros. – Disse, dando de ombros. Robert ergueu a
sobrancelha pra ela, que sorriu, radiante – Então eu sugiro que nossa partida não tarde
muito.
Robert: Ah, meu Deus. – Murmurou, indo pra ela, e Kristen gritou, rindo, quando ele a
ergueu no ar, enchendo-lhe de beijos – Meu Deus, Kristen! – Disse, vermelho de
euforia. Ele a baixou até sua altura, beijando-a em seguida.
A guerra foi contida. Madison ficou bem. O corpo de Paul ficou trancado em uma
sala durante a noite, ainda com a espada de Alfonso cravada em seu peito. No dia
seguinte uma pira enorme fora erguida na praça principal da cidade, e o corpo de
Paul estava lá. Era uma cerimônia, o fim da guerra, o novo rei reclamando seu
direito. Problema é que Alfonso não conseguia se levantar.
Ian: Ele precisa andar pela praça até a pira, e então acender. – Apresentou o problema.
Antes que alguém dissesse algo houve o barulho de madeira se quebrando. Todos
viram Madison atravessando o quarto com uma tora de madeira na mão,
quadrada, quebrada na altura do cotovelo. Uma muleta.
Madison: Ampare isso debaixo do cotovelo. Bastará para alguns passos, ele só precisa
andar da carruagem até o centro da praça. – Disse, fazendo pouco caso.
---*
A praça estava lotada. Soldados abriram espaço quando as carruagens reais
chegaram. Alfonso e Anahí chegaram por ultimo.
Anahí: Eles precisam mesmo estar aqui? – Perguntou, apontando para Chord e Rosalie,
ambos de branco, usando coroas de prata, singelas.
Alfonso: É o regulamento. Não me agrada também. Mas eles não vão ver muito. –
Disse, acariciando o rosto do filho. - Me preocupo mais com Suri. - Disse, desgostoso.
Madison: Quieta. – Disse, segurando Anahí, que ia ajudar Alfonso, quando ele apanhou
a muleta de novo.
Madison: Porque ele precisa fazer isso sozinho. Ele é o rei. – Disse, serena, a enorme
coroa de diamantes contrastando com seu cabelo e vestido.
Anahí não gostou, mas pode entender. Sem dizer nada os reis voltaram para as
carruagens, dando as costas ao fogo arrasador. As pessoas ficariam ali,
comemorando o dia inteiro, mas não eles. Por fim Alfonso se aproximou, e Anahí
sorriu pra ele. Ele beijou a testa dela, abraçando-a, enquanto a carruagem
chegara.
Meses depois...
Anahí: Ah, Mad. – Disse, abraçando a outra. Já tinha passado minutos abraçada a
Kristen e Katherine. Madison estava fria, como sempre, mas sorria. – Sentirei sua falta.
Madison: Você pode ir nos conhecer, duquesa. – Brincou – Também sentirei sua falta. –
Ela viu o olhar de Anahí – E sim, eu tenho certeza, eu não posso ter filhos. Não, não
estou nem um pouco arrasada com isso, nem Christopher. Desista. – Anahí riu. –
Prometa levar a pequena para me ver, ou ela não se lembrará de mim.
Madison: Eu tenho uma casa também. Um castelo magnífico. Quando você for nos
visitar, - Insistiu – Verá. – Christopher a chamou. A carruagem esperava. – Eu preciso
ir. Não direi adeus. – Assinalou.
Anahí: Não é um adeus. – Disse, apertando as mãos da outra – Faça boa viagem. –
Madison agradeceu.
Madison: Obrigado. Até mais, pequena Rose. – Disse, dando tchauzinho pra menina.
Rosalie, toda fofa, retribuiu.
Madison desceu as escadarias, tranqüila em seu vestido negro, mas no final Anahí
não agüentou.
Anahí: Mad! – Chamou, correndo até a outra. Madison olhou, sem entender – Só... Por
favor, só me diga uma coisa. – Madison esperou – Como você consegue sair de dia? –
Perguntou, exasperada, e Madison gargalhou. Christopher sorriu com o som, esperando
na carruagem.
Madison: Bom, eu não me lembro do sol ter saído desde que eu cheguei aqui. Curioso,
não é? – Perguntou, piscando pra Anahí.
Anahí: O sol... Você... – Ela não conseguiu terminar. Madison riu de novo.
Madison: O sol não. Não dou pra tanto. – Disse, com uma careta – Mas as nuvens... A
neve... São fenômenos curiosos, não são? – Perguntou, divertida – Até mas, Anahí. –
Disse, dando as costas.
Alfonso: Sabe... Se alguém um dia soubesse do teu dom. – Começou, mas parou quando
ela deixou os cachos passarem pelo rosto dele, aspirando o perfume – Tu ficarias
conhecida na eternidade como a rainha que enfeitiçava com o corpo. – Anahí riu – Não
que eu pretenda dividir isso com alguém, é claro. – Dispensou.
Anahí: Dividir? – Perguntou, atrevida. Ela, que estava ajoelhada, deixou o corpo cair
pra trás, deitando as costas na cama, os lábios entreabertos, os cabelos em um
redemoinho a sua volta, e oscilou o ventre em direção a ele, logo recolhendo-o de volta.
Alfonso deixou a mão pairar no ventre dela, caindo pesadamente ali. Anahí parou de se
mover, ofegando, olhando pra cima.
Alfonso: Ninguém nunca vai saber. É só meu. – Disse, possessivo. Ele passou pra cima
dela, que riu, desdobrando as pernas de debaixo dele. – Tu te sai atrevida demais. Me
lembro bem de como eras quando chegou aqui. – Anahí franziu o cenho, ainda ofegando
– “Mais alguma coisa, alteza?” – Repetiu, e Anahí arregalou os olhos.
Anahí: Posso ajudar, alteza? – Repetiu, o tom inocente tingindo seus olhos. Alfonso
ergueu as sobrancelhas – Sim, senhor. Com licença, majestade. – Ela fez bico,
empurrando-o de cima de si, mas ele a puxou de novo, fazendo-a cair. Ela ria
gostosamente enquanto ele a mordia. Alfonso tinha o peito nu, e usava uma calça preta.
Anahí: Se lembra da primeira vez em que estive aqui? – Perguntou, em tom baixo,
enlaçando as mãos nos cabelos dele.
Alfonso: Estava com medo de mim. – Lembrou, descendo a boca pelo decote dos seios
dela – Apavorada. Pensava que eu ia te matar.
Anahí: Nunca imaginei que pudesse chegar a ser tão feliz. – Disse, e ele ergueu o rosto
para encará-la. Os olhos de ambos estavam dilatados – Sou tão feliz que parece não
caber em mim. Se alguém me dissesse que terminaria aqui, como tua mulher, eu riria. O
que tu, rei, ia ver em mim? – Perguntou, mordendo o queixo dele em seguida.
Alfonso: O que eu, homem, podia não querer em ti? – Sussurrou os lábios dele.
Anahí: No final das contas, você me matou. – Alfonso ergueu os olhos, encarando-a –
Me mata. Todas as noites. As vezes durante o dia. – Um sorriso delicioso se abriu no
rosto dele – Nas minhas provas de roupa. Durante o meu banho. Até quando estou
dormindo. O tempo inteiro. – Disse, atrevida, com um biquinho.
Anahí: E eu gosto. Cada dia mais. – Disse, libertina. As mãos dele apanharam os
quadris dela, puxando-a direito para debaixo de si.
Alfonso: Então permita-me, - Começou, descendo a boca pelo rosto dela, até que pairou
perto de seu ouvido – Pois bem agora eu me ponho louco de vontade de fazê-la morrer.
– Anahí suspirou de antecipação. Então veio um sussurro. – Eu amo você. – Ele ergueu
o rosto, vendo-a sorrir pra ele, e ela disse um “eu te amo”, sem emitir som nenhum. Ele
sorriu, se abaixando, tomando os lábios dela em um beijo apaixonado. Nem o primeiro
nem o ultimo, apenas mais um dos infinitos que eles ainda trocariam.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤ FIM