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O conde
procurou esquivar-se, mas Tyrus insistia.
- Senhor Tyrus, eu tenho muito que fazer. Devo terminar os preparativos do enterro
de Izabella...
- É uma tarefa maçante, eu sei. Mas o senhor, sem dúvida, deseja saber quem é o
responsável pela morte dela?
- Isto também. O senhor que seja breve – Com um gesto, Richmond indicou uma
cadeira para Tyrus e inclinou-se sobre os papéis sobre a escrivaninha.
- É tudo muito simples, eu quero saber sobre o dia do senhor na véspera do crime.
Diversas pessoas me falaram que o senhor e Milady haviam tido uma conversa mais
ríspida...
- Eu acredito que isto é um assunto particular.
- Não mais. Duque Thayll acredita que outro Duque está envolvido na morte de
Izabella. Eu sei por quê.
- Outro Duque? Aqui? Sem que eu soubesse?
- Exato.
- Mas por quê?
- Um pequeno motivo. Coisa de nada. Mas quanto mais rápido eu esclarecer tudo,
mais rápido ele deixará o freehold. Não deseja isto?
- Certamente... – Richmond parou no meio da sentença, ciente de que estava falando
demais.
- Então, falando francamente, que adianta o senhor esconder isto de mim? Já
conversei com todos convidados e criados. Todos eles comentaram uma ou outra coisa, é
como funciona essas coisas.
- Coisas que eu esperava que permanecessem comigo. E com Izabella.
- Permaneceriam. Talvez assim que tudo acabar, o senhor possa conversar com eles
sobre isto. Mas agora, Lady Izabella morreu. Ontem! Então ontem é algo que não mais
pertence ao mundo privado.
- Certo. Bem, qual é a pergunta?
- O seu dia e o de Lady Izabella. Ontem.
- Ela foi ao meu quarto, aonde eu escrevia um poema. Ela conversou comigo sobre
a festa. Nada mais. À noite, fui dormir logo cedo. Nada mais.
- Nada mais. Nada aconteceu.Sem dúvida?
- Não. Foi algo rotineiro.
- Certo. Espero que o senhor não se sinta ofendido – Richmond fez um gesto de
despreocupação com os ombros – Afinal, não foi para isto, e nada mais, que o senhor me
chamou?
- Claro, que outro motivo seria?
- Nenhum. Nenhum. –Tyrus se levantou e apontou para o bloco de papel que
Richmond escrevia antes dele chegar. Folhas pequenas e lilás – O senhor está escrevendo
um poema para o enterro?
- Isto mesmo. Eu estou fazendo um último poema para Izabella. O senhor sabe que
ela gostava de se chamar de Erato ?
- Não, não sabia.
- Se o senhor quiser – Ele apontou para dois grandes livros - esses são livros sobre a
minha família e sobre a família dela. O com o símbolo de nerinas é o dela. Com o símbolo
de uma teia, minha família. – Tyrus examinou atentamente o símbolo do livro da família de
Richmond. – Parece meio “assustador”, mas minha família sempre foi de poetas. Diziam
que tecíamos os versos e assim modificávamos a realidade.
- Estranho. O senhor é um poeta, mas não vi nenhum poema do senhor ainda.
- Eu não costumo guardá-los. Mas, Izabella os guardava nos nossos livros. Eu já os
retirei. – Ele apontou para outra pilha de papéis lilás em uma mesa ao lado – Vou guardá-
los comigo. Ela tem outros guardados no quarto, assim que o senhor me permitir eu os
pegarei.
- Lilás... Eu vi muito desses blocos de papel no quarto de Lady Izabella...
- Sim. Eram os papéis personalizados dela. Mandava-os fazer todos os meses. Ela só
escrevia neles e eu só escrevia os poemas neles para ela. - Ele rasgou uma pequena tira de
um. – Veja, como se parece e tem a mesma cor e texturas das nerinas que ela tanto gostava.
- Eu entendo.
- Mais alguma coisa?
- Sim. A pequena Malice pensava que Lady Izabella estava grávida.
- O quê??
- Existe alguma razão para isto? O senhor e Izabella tinham um filho?
- Bem. Não sei de onde ela tirou esta ideia. Izabella não podia ter filhos. Ela
explicou o motivo de pensar nisso?
- Gostaria de saber...
- Certamente é o seu trabalho, não? Algo mais?
- Não, eu posso levar os livros para ler em outro lugar?
- Certamente. – Tyrus se levantou e pegou o grosso volume da família de Richmond
– E, posso perguntar: o que acontece com as folhas secas aqui?
- Creio que são queimadas. O senhor podia perguntar para Marlon? Não é algo que
eu fique vigiando. E então, peça para ele vir aqui.
- Ah, obrigado. – Tyrus fez um gesto e saiu. Do lado de fora Fleubemach ouvia tudo
com o ouvido encostado na porta.
- Sabia que você gostava de escutar por detrás de portas – Fleubemach comentou
enquanto olhava uma pétala de flor. Os dois estavam sentados diante de uma pilha de
pétalas de flor e outros lixos.
- Era um caso importante. Eu precisava saber se Richmond estava chamando quem
eu achava que ele estaria chamando – Tyrus respondeu casualmente enquanto jogava uma
pétala para o lado.
- E quem seria?
- Pequena Malice
- E por quê?
- Ora, controle-se. Ele é o patrão dela. Deve ser algo sobre a casa...
- E não sobre o assassinato.
- Não. Na verdade ele perguntava sobre a gravidez de Lady Izabella.
- Mas o senhor disse que ela estava grávida.
- Certo. Eu disse. Ela não estava. Mas ele perguntava sobre outra estória de um filho
deles.
- Que outra estória?
- Uma que Lady Saphire nos contou.
- Mas...
- Lindo não? Agora trate de colocar esse nariz de raposa seu para trabalhar
Fleubemach balançou a cabeça e examinou outra pétala de flor. Tyrus abriu o livro
que havia carregado do escritório de Richmond.
Tyrus passara a hora seguinte lendo. Depois conversava novamente com a Boggan,
arrumadeira que ele encontrara no quarto de Izabella. Agora enfiava uma pinça na
fechadura da porta de Richmond. Fleubemach vigiava.
- Demore o quanto quiser!
- Certo. – Tyrus abriu a porta, entrou, olhou para cima e saiu. – Como eu pensava.
Vamos embora.
- Ah, isso era tão mais divertido quando um duque nos ajudava...
- E agora?
- Vamos. Ali está Miss Malice. Talvez ela tenha algo importante para contar-nos.
Eles se aproximaram. A jovem estava sentada, olhando pela janela.
- Vejo que a senhorita está bem melhor hoje.
- Sim. Mas o que o senhor quer?
- Apenas perguntar-lhe sobre o assunto que Richmond queria conversar com a
senhorita.
- Ora! Eu entendo. O senhor sabia. Então foi o senhor! Deve-me esta! Ele ficou
berrando comigo por horas!
- E sobre o que era?
- Não sei se eu devo contar...
- Ora, vamos. Se me contar, eu deixo meu amigo aqui, Fleubemach com a senhorita.
- E-Eu?
- Ora – Ela sorriu – O que o senhor quer saber?
- Sobre o que?
- Ele queria saber sobre a gravidez de Lady Izabella. Como eu descobri isto. Ele
achava que eu olhava os papéis dela! Que atrevimento!!
- Não. Eu sei que não fazia isto. Calma. Diga-me? Você contou isto para qualquer
outra pessoa?
- N-Não...
- Nem, para Lady Saphire?
- Oh, sim para ela. Mas ela sabe de tudo, não? E depois ela é a única outra sidhe
aqui. Era assim mesmo antes de Lady Izabella morrer.
- Vocês conversavam muito então?
- Eu e Lady Izabella? Não...
- Lady Saphire?
- Oh, sim.
- Para ninguém mais?
- Não.
- Diga-me senhorita – o rosto de Tyrus tornou-se mais sério – Aonde eu posso
encontrar isto no quarto de Lady Izabella? – E mostrou o livro de Richmond.
- Ora...
- Por favor. Eu sou velho e cansado. Se tiver de procurar por todo lugar vou ter de
levar Fleubemach comigo.
- Ora, eu estou adorando ser uma mercadoria!
- Está no armário dela. Terceira gaveta.
- Obrigado. Agora se divirta com Fleubemach!
- Eu quero ficar – Fleubemach protestou, Mas Malice colocou a mão sobre os
ombros dele e sorrindo disse:
- Tarde demais...
Acentis bebia do vinho, junto com Thayll e Richmond. Os três ainda conversavam
sobre Lady Saphire.
- No final foi uma questão de sorte, hein, Tyrus? - Acentis provocou...
- Bom, certamente foi. Qualquer um poderia procurar no lixo pelos papéis. Mas
veja, com Lady Saphire, tudo se encaixa e explica. Ela se vangloriou sobre usar o tesouro
no quarto de Richmond à vontade. Nada mais natural que ela também soubesse como entrar
no quarto à vontade. As chaves do quarto de Lady Izabella ficam lá. Ela passou a noite
sozinha, depois de ter visto os dois irem para o quarto de Izabella. Ela sabia que horas a
comitiva saia e sabia, sem dúvida, que Izabella deveria estar dormindo. Ela sabia, era a
única que poderia, sobre o filho de Richmond e Izabella. Ela que sempre fora movida por
uma rivalidade com Izabella. Ela sabia onde ambos estiveram durante a noite e ouvira
boatos o suficiente naquele dia para concluir que suspeitávamos de uma farsa de Richmond.
O senhor fala muito apaixonadamente e muito alto, Acentis. Não tenho dúvida que muitos
souberam que acreditava na culpa de Richmond...
- Eu sabia disto... –Richmond comentou casualmente enquanto escrevia em um
papel.
- E o senhor me deixou fazer este papel de tolo.
- O senhor certamente pediu por isto, insinuando que alguém me chamaria para
fazer alguma farsa. E depois, eu estava atrás da jovem Malice, que certamente ouvira tais
boatos também. Continuando, Lady Saphire ouviu sobre a gravidez de Lady Izabella e
concluiu rapidamente do que se tratava. Ela sabia que Izabella, após anos sendo reprimida e
humilhada, uma mulher acostumada a ser o centro das atenções, quando conseguisse
alguma vantagem, agiria de forma impiedosa. Ela tinha de fazer algo e descobrir o que
ocorreria com ela para que se defendesse. Foi no quarto de Izabella, pegou a chave e abriu a
gaveta enquanto Izabella dormia. Pelo tamanho da chave eu duvido que Izabella dormia
com aquilo pendurado no pescoço.
- Não, ela guardava debaixo de um dos vasos de nerinas.
- O que Lady Saphire sabia, da mesma forma que o senhor, espionando-a.
- Mas aquela noite, enquanto estive lá, ela guardou em outro lugar. Para que eu não
pegasse. Eu estava atrasado, tive de sair e ela guardou-os entre os vasos novamente falando
“O que adiantava eu saber aonde ela as havia escondido agora, se durante a noite, ela
colocara em outro lugar...”.
- Mas de manhã elas já estavam lá. Lady Saphire as achou, sem saber sobre nada
que ocorrera durante a noite. Abriu a gaveta e achou os papéis. Leu um por um. Quando viu
o poema, ficou furiosa, mas era suportável. Quando viu o oath...Viu que perdera. Ai
calmamente foi até a cama de Izabella e a matou. Rasgou os papéis e saiu do quarto. À
tarde, depois de ouvir sobre quem nós, em teoria, suspeitávamos deixou a chave no canteiro
procurando incriminar Richmond, que havia passado a noite lá. Pronto, sem os papéis
ninguém culparia Saphire, já que a rivalidade de ambas podia parecer eterna, mas não
mortal...
- Porém, tem duas coisas que não são explicadas. A proteção e a gaveta arranhada. –
Thayll saiu de seu silêncio.
- O senhor deve considerar: um homem passional não faria nada a noite inteira
sabendo que os papéis sobre o filho estavam ali tão próximos?
- Richmond tentou arrombar a gaveta... – Thayll olhou para ele e franziu o cenho.
- Sim. Eu tentei. Mas eu nunca fui bom nisto...
- E a proteção?
- O senhor se lembra da boggan reclamando de uma sujeira sobre a porta do quarto
de Lady Izabella? Sobre a porta do quarto de Richmond tem a mesma marca, um círculo
com teias dentro. O símbolo da família de Richmond. Se o senhor ler o livro sobre eles vai
encontrar a história de um selo de grande poder que aumenta o nível de proteção criada
pelos membros da família de Richmond. Em outras palavras, os sovereign são mais
potentes. Mas apenas os membros da família podem usar, Lady Izabella e Lorde Richmond
são membros da família. O senhor pode ver este mesmo selo, que Izabella usou no oath de
Richmond, sem ele saber, para deixar o Oath mais forte. O senhor pode ver que ela usou
um Geas sobre ele. Ele jamais escreveria uma única palavra na vida inteira se quebrasse o
oath. Saphire de certa forma libertou-o.
- Espero que não. Se o senhor respeitasse a sua esposa –Thayll se voltou para
Richmond – E a intimidade de ambos, para não falar no casamento, Saphire jamais poderia
se interpor entre a vida e morte de minha prima Além do mais, como, sabendo dos papéis
não nos contou?
- Eu não sabia até Tyrus me contar tudo esta tarde. Além disso, eu só sabia que os
papéis do meu filho estavam lá. Ela guardava os poemas em outro lugar, eu não havia
contado aquilo para ninguém e não sabia da estória de gravidez. Não havia porque suspeitar
de Saphire. Além disso, ouvira Fabian dizer que ela estava com ele à noite. Mas creio que
não passava de uma história.
- Exato. O idiota foi manipulado por Saphire. Egos grandes.... – Tyrus movimentou
a mão para cima, enquanto Fleubemach discretamente fazia um gesto sobre as orelhas...
Lady Saphire saiu andando do Freehold. Estava cansada, pois não conseguia dormir
bem por meses e cada vez mais perdia os laços dela com o dreaming. Em cada freehold que
entrava ouvia uma versão de “A morte de Erato” escrita por Richmond. Com fome de
glamour e cheia de ódio ela se encolheu e continuou andando em frente.
Alguns dias depois de escrever a primeira parte escrevi a solução para o mistério. Achei
uma porcaria. Era tudo muito óbvio e faltava a “pista” casual que ajudaria o detetive a criar
a solução final. Enquanto pensava na solução para este problema, decidi detalhar melhor as
flores que aparecem na história e então decidi usar uma solução que ao menos é tão
artificial quanto são as pistas em histórias de detetive. Refiz a primeira parte no que era
necessário e reescrevi a solução. Não me lembro da primeira versão. Não alterei o
criminoso.
A história continuou teatral demais, não consigo achar o detetive interessante, mas a
experiência valeu. Serviu para que eu não me dedicasse ao gênero, o que é relevante.
Quando adolescente, a primeira vez que tentei escrever algo foi uma história derivada da
Agatha Christie. Nunca passei dos primeiros capítulos: não possuía conhecimento do trivial
variado o suficiente para criar vários personagens e situações, ambientava a história no
estrangeiro sem conhecer o local, em um passado sem conhecer como funcionava a
investigação e creio que a motivação maior era querer ler outras histórias de detetive ao
invés de escrever uma.
Ainda gosto do gênero, ainda escrevo historias do gênero e esse fanfic serviu para
comprovar que era capaz.