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Tom passou por debaixo das fitas policiais que bloqueavam o acesso à viela,

indo em direção a um grupo de policiais. Mesmo com a passagem bloqueada,


algumas pessoas ainda se amontoavam em frente ao local, curiosas, tentando
descobrir o que havia acontecido.
O beco era escuro, mesmo estando de dia, e quase parecia um corredor de
tão próximas que eram as casas. Chegando mais perto dos policiais, em um beco
sem saída, do lado de uma grande lixeira preta. Havia um corpo, coberto por um
pano leve, o pano estava manchado de sangue onde seria o rosto da vítima.
Depois de provar sua identidade a um dos policiais, deixaram-no passar, Tom
se abaixou rente ao corpo, e lentamente levantou o pano. Ele revelou um rosto de
uma jovem garota, que não devia ter mais do que seus vinte e poucos anos, ela
tinha o cabelo castanho amarrado por um prendedor e o rosto inteiro coberto de
sangue.
No meio de seu nariz, bem no centro do seu rosto, havia um furo, feito por
uma bala, e um pouco mais abaixo, outro furo atravessava sua bochecha, esse
segundo sendo mais profundo. O sangue já havia secado, e o cheiro da morte,
mesmo que de leve, já começava a pairar no ar.
A imagem abalou Tom, que logo voltou a tampar o rosto pálido daquela
mulher. Ele ainda passou algum tempo agachado, se recompondo dessa cena
horrível, ele nunca havia sido muito bom de lidar com a morte.
— Você ainda não aprendeu a lidar com a morte, não é? — uma voz feminina
falou de trás dele
— Se você sabe disso, podia parar de me colocar em casos que envolvam
assasinato. — Tom retrucou
— É mais fácil trabalhar com alguém que eu conheço. Você também sabe
disso. Além disso, você é bom nisso.
— Que seja.
Ele finalmente se levantou, virando-se para a mulher com quem conversava.
Ela tinha um olhar jovem, mesmo sendo claramente mais velha do que ele, ela tinha
um cabelo castanho bem volumoso e levemente ondulado. Era bem alta, mesmo
que provavelmente fosse por culpa do salto, e isso impunha uma grande presença.
— Você já sabe quem ela era? — Tom continuou
— Apenas o que havia na bolsa dela. Documentos, a provável renda dela, eu
já mandei o que podia para o escritório, por enquanto teremos que esperar.
— Então ela não foi assaltada?
— Aparentemente não, a bolsa estava intacta. Ela também tinha um relógio
no pulso, a única coisa que não encontramos foi o celular. Mas é possível que ela
apenas não estivesse andando com ele.
— Além da própria vítima, algo foi encontrado no local? — ele, dessa vez,
abriu um caderninho e começou a fazer algumas anotações
— Na verdade, sim, dentro daquela lixeira encontramos um par de sapatos
velhos, eles estavam manchados de sangue.
— Os sapatos estavam sujos de sangue? — ele levantou o rosto
— Sim.
— Posso vê-los?
— Hm, sim. Eu acho que eles ainda não foram levados como evidência.
Ela se afastou e foi conversando com os outros policiais na área, até que ela
saiu de vista andando por entre a viela. Enquanto não voltava, Tom continuou lendo
e relendo o que ele havia escrito, e fazendo algumas novas notas, com ideias que
ele tinha. Uma hora, ele colocou o lápis sobre a orelha, mania que pegou quando
era criança e imitava as pessoas dos filmes, mas que acabou realmente ajudando-o
a pensar melhor.
Logo que fez isso, ele se virou e rapidamente se agachou e novamente tirou
o pano de cima do corpo. Ele passou algum tempo olhando para ela, evitando olhar
o rosto, pois aquilo lhe dava mal estar. Subitamente ele se levantou, e se virou para
trás.
— Estava me procurando? — ela brincou
— É, estava. Eu tenho a impressão que consegui algo, Sarah, mas isso vai
ser inútil se eu tiver mais informações. Quando você vai ter mais informações sobre
ela?
— Estranho. — ela disse, curiosa
— O que?
— Você nunca me chama pelo nome.
— A gente pode resolver isso depois, tá? Dá pra focar, por favor?
— Ok ok, nem parece que eu sou a chefe aqui… — Tom ignorou ela
— Posso ver os sapatos?
— Ah, sim. Aqui. — ela entregou um um pote transparente para ele
Eles estavam bem desgastados, e havia bastante sangue, mas ainda era
possível reconhecê-los. “Edward Green”, ele pensou, um dos seus sonhos de
consumo, não tinha como confundir. Era um modelo de couro, marrom, e com as
solas pretas.
— Um sapato bem caro… — ele murmurou
— Bem, — ele continuou, devolvendo o pote para ela — Eu acho que a
causa da morte não foram os disparos.
Sarah entregou os sapatos a alguém e cruzou os braços, mostrando estar
atenta ao que ele falaria.
— Eu achei estranho os sapatos sujos, porque diferente dos filmes, sangue
não espirra para todos os lados. E seria muito difícil alcançar alguém segurando
uma arma de longa distância, como uma pistola, ou sei lá. Só pra confirmar, eu
decidi olhar novamente o corpo, e mesmo que esteja muito “apagado”, digamos
assim. Eu tenho quase certeza que uma corda foi colocada em volta do pescoço
dela, ou algo do tipo. No caso, os dois tiros teriam sido feitos- — ele foi cortado por
Sarah
— Com a vítima já morta, ou quase, no chão.
— Sim, e como o assassino estaria próximo da vítima, justificaria os sapatos
sujos.
— Eu imagino que seja agora que eu entre, não é?
— Sim, essa é apenas uma teoria que eu fiz com o que eu tenho agora. Mas
não tenho como fazer mais nada sem mais informações.
— Daqui a 3 dias a autópsia vai estar semi-completa, imagino que já seja o
suficiente para definir a causa da morte, e se ela realmente foi violentada antes de
morrer. Junto disso te enviarei dados completos da vítima. Eu já imagino a resposta,
mas você gostaria de algum agente para te acompanhar?
— Não, obrigado. Não lido muito bem com pessoas.
— Certo, eu já imaginei que seria assim. — ela disse, permitindo-se rir um
pouco — O caso já era seu antes mesmo de você chegar, eu cuidei dessa parte,
qualquer coisa, eu estarei a disposição.
— Tudo bem, obrigado.

Tom sentiu um arrepio quando passou pela mesma viela que havia vindo 5
dias atrás, mesmo que agora não tivesse mais nada lá. Ele tirou de um envelope
marrom um papel, confirmando mais uma vez o endereço para onde tinha que ir.
O atraso na autópsia também atrasou seus planos, fazendo com que ele só
voltasse a agir na quinta-feira. No tempo que ele esteve esperando a autópsia,
analisou o perfil da vítima algumas vezes, e algumas coisas o chamaram atenção.
Mas, como ele mesmo apontou em seu caderninho, nada que fizesse ela parecer
um alvo.
Ele chegou à porta do convento do qual ela fazia parte, que era a única coisa
aparentemente moderna do local, era uma porta de madeira maciça, e bem alta. Ele
bateu duas vezes com o batedor de porta cinza que estava pendurado, e, após
alguns instantes, a porta foi aberta por uma senhora com um grande sorriso.
— Boa tarde! — Tom começou
— Boa tarde. — ela retribuiu — Em que posso ajudar?
— Eu sou detetive da polícia de Londres. — ele disse, mostrando um
distintivo — E estou aqui para investigar sobre o caso de Sophie Evans.
— Ah… — a senhora perdeu o sorriso — Por favor, entre. — ela disse,
abrindo a porta enquanto forçava um sorriso
Quando entrou, a primeira coisa com que se deparou foi uma capela
pequena, com cerca de apenas 6 bancos. No centro, como é comum, uma grande
cruz, com Jesus pendurado. Naquele momento, Tom sentiu que Ele o estava
olhando, e rapidamente virou o olhar novamente para a senhora.
— Eu obtive a informação de que Sophie morava aqui, é verdade?
— Sim, é verdade. Quando ainda era criança, ela foi deixada aqui pelos pais
que não tinham condições de criá-la. Ela era muito amada por todas, e quando
completou 19 anos decidiu se tornar uma freira. Essa notícia deixou todas muito
felizes… — depois que percebeu algumas lágrimas caindo, a senhora enxugou-as e
mudou de assunto — Nós ainda não tivemos coragem de desfazer o quarto dela,
então ele ainda está intocado. Eu imagino que você se interesse em vê-lo, não?
— Seria de grande ajuda, obrigado.
Ela o guiou para uma porta à direita da capela, e depois de andar algum
tempo em um corredor, ela parou na frente de uma porta. Enquanto ela testava as
chaves do molho, Tom percebeu que na porta havia um número, 19.
— Você falou várias vezes das “outras”, mas você está sozinha aqui.
— Ah, isso é porque cada uma tem sua própria vida né. — a senhora deu
uma risadinha rouca — A nossa vida não se resume a esse convento, quero dizer, a
delas não. Eu já estou muito velha, prefiro passar meus dias aqui, tranquila. Esse
também eram os planos dela… — logo que ela terminou de falar, a porta se abriu —
Ah, era essa.
Ela estendeu a mão para que ele entrasse, o quarto não era muito grande,
havia uma cama de solteiro bagunçada e uma cômoda logo ao seu lado. Na parede
oposta à cama, havia um grande armário, mas nada incomum, até então.
— Ela tinha amigos? — ele perguntou, enquanto andava pelo quarto
— Durante a escola, sim, muitos. Mas depois que saiu e decidiu se tornar
freira, eu nunca mais vi ninguém aqui. A não ser que ela tivesse amigos fora, mas
eu não saberia dizer, ela não falava muito de sua vida fora daqui.
— Quando… encontramos ela. Ela estava sem seu celular, ela usava algum?
— Ela tinha, mas quase nunca levava ao sair de casa, talvez você encontre
ele aí em algum lugar.
— Você se incomoda se eu abrir esse armário?
Ela negou com a cabeça. Quando ele abriu, não viu nada de mais, algumas
maquiagens, uma bolsinha, dois cadernos. Nada que chamasse a atenção, tirando
por uma coisa, uma grande taça de vidro, muito ornamentada e, aparentemente,
muito cara.
— Isso foi um presente. — a senhora disse — Porém eu nunca soube de
quem.
— Entendo… — ele guardou novamente a taça no armário — Tenho apenas
mais uma pergunta. Eu sei que você disse que ela não falava muito da vida dela
fora do convento. Mas ela já lhe contou alguma coisa sobre o trabalho dela?
— Perdão, que trabalho? — a senhora perguntou, confusa
— Sophie trabalhava em um pub a apenas uma rua daqui.
— Eu não… sabia. Quer dizer, eu sabia que ela tinha algum trabalho, pois ela
fazia doações mensais para nós, doações essas que, inclusive, nos ajudaram
muitas vezes. Mas eu nunca soube de onde ela tirava esse dinheiro. Fico aliviada
de saber que não era nada ilícito, mesmo sabendo que ela nunca faria nada desse
tipo.
— Não se preocupe, pelos registros que nós temos, ela nunca fez nada de
ilícito. — ele disse, abrindo um sorriso caridoso — E não se preocupe, essa visita já
foi informativa o suficiente.
— Fico feliz em saber, espero que o culpado seja encontrado logo. Deixe que
eu te leve até a saída.
Depois de se despedir mais uma vez, Tom saiu do convento e voltou a andar
pela mesma viela. Novamente sentiu um arrepio ao passar pelo local onde tinha
visto aquele corpo, mas seguiu reto sem pensar muito sobre o assunto. Ele seguiu
caminhando por cerca de 15 minutos até chegar em frente ao pub, que era seu
próximo destino.
A frente dele era branca e muito bem arranjada, ele ficava em uma esquina e
a porta de entrada era bem na quina. Duas portas de madeira escura, com uma
clarabóia acima delas. Depois de bater algumas vezes foi recebido por uma
atendente um pouco impaciente, mas que logo o deixou entrar ao saber do que se
tratava.
O lugar era relativamente grande, havia muitas mesas espalhadas por um
grande salão. Bem no meio havia um balcão oval, com um armário cheio de uma
variedade quase infinita de bebidas. Logo que o viu, o gerente veio pessoalmente
conversar com ele.
— Boa tarde. Peço desculpas mas nós não abrimos ainda. — ele disse,
alternando o olhar bondoso com Tom e julgador com a funcionária que o deixou
entrar
— Eu que peço desculpas por não ter avisado antes que vinha, mas eu não
estou aqui para beber. — ele retirou o distintivo do bolso de sua camisa, mudando a
feição do homem — Estou investigando o caso de Sophie Evans.
— Sophie… Entendo. Por favor, sente-se. — ele disse, apontando para uma
mesa ao lado deles
— Meu nome é Tom.
— Muito prazer, meu nome é Josh.
— Então, Josh. Eu sei que você também não tem muito tempo, já que logo
estará na hora de você abrir o estabelecimento. Então serei bem direto em minhas
perguntas, tudo bem?
— Eu acho ótimo.
— Qual foi a última vez que ela esteve aqui?
— Foi em um sábado, ela não costumava trabalhar nos finais de semana,
mas nós tivemos um evento nesse dia, e consegui convencê-la a vir. Sinceramente,
eu fico me perguntando se, caso eu não tivesse feito ela trabalhar esse dia, algo
teria sido diferente.. — ele disse, abaixando a voz
— Bem, é isso que eu estou tentando descobrir. Se serve de algum consolo.
— É, talvez…
— Mas, continuando. Ela tinha intimidade com algum cliente da loja? — Tom
finalmente tirou o caderninho de seu bolso
— Eu sinto não saber responder essa pergunta, já que não fico aqui todos os
dias. Mas a Clary deve saber, ela era a amiga mais próxima de Sophie aqui.
Josh deu um grito, chamando a garota, que saiu rapidamente da cozinha e
veio devagar até a mesa. Era a mesma garota que havia atendido a porta para que
Tom entrasse. Ela era negra e tinha o cabelo curto bem cacheado, ela estava com o
uniforme de garçonete do pub.
— Sim?
— Sente-se aqui, por favor. — depois que ela o fez, ele continuou — Você
era a mais próxima de Sophie, gostaria que você ficasse aqui enquanto ele continua
com algumas perguntas, tudo bem?
— Ah, sim… — ela abaixou um pouco a cabeça
— Não se preocupe, isso não vai demorar muito. — Tom a reconfortou —
Agora, deixe-me repetir a pergunta. Você saberia me dizer se ela tinha alguma
intimidade com algum cliente da loja?
Ela pareceu pensar bastante antes de responder.
— Eu… só consigo pensar em duas pessoas. Ela não era de fazer amizade
com quase ninguém, eu mesmo demorei pra conseguir me tornar amiga dela.
— Você saberia me dizer quem são esses dois? — ele já preparou a caneta
— Eu não sei os nomes deles, mas sei com certeza a aparência. Eram dois
clientes recorrentes.
— Eu conheço alguém que faz retratos falados… Mas não sei se essa
pessoa poderia vir aqui agora. — Tom reclamou, olhando para baixo enquanto
pensava
— Eu posso tentar. — Josh disse — Não sou nenhum profissional, mas acho
que consigo fazer algo bom o suficiente.
— Eu acho que vale a tentativa. — Tom emprestou seu caderninho e sua
caneta para Josh — Pode começar.
— Certo! — ela exclamou — O primeiro era mais novo, eu diria que por volta
dos 20 anos, ele era mais gordinho então tinha um rosto bem redondo. Hm, cabelo
curto, bem curto mesmo, e castanho. Eu lembro que o nariz dele era bem pontudo,
isso me chamou atenção de cara. E ele usava roupas bem formais para quem
estava vindo a um pub.
— Ficou parecido? — Josh perguntou
— Sim, ficou ótimo.
— Ótimo, vamos para o próximo.
— O segundo eu me lembro melhor pois normalmente eu atendia ele. Ele era
mais velho que o primeiro, provavelmente com seus 30 ou 35 anos. Tinha um
cabelo mais longo, mas que não passava do ombro, e era loiro. Ele tinha um rosto
bem quadrado, o exato oposto do primeiro, seus olhos eram bem grandes e ele
tinha um nariz parecido com o primeiro, mas menos pontudo. Ele também era bem
forte, provavelmente fazia academia.
— Você diria que apenas esses dois seriam suspeitos? — Tom disse,
enquanto analisava os dois retratos
— Ela raramente conversava com alguém, e esses foram os únicos com
quem eu já vi ela tendo uma conversa mais casual.
— Com que frequência eles vêm para esse pub?
— O loiro vem apenas nos finais de semana. Já o outro é muito difícil de
saber, mas dificilmente ele vêm durante os finais de semana. Normalmente segunda
ou quinta feira são dias em que ele aparece. Mas até o momento, ele não veio
nenhuma vez essa semana.
— Bem, eu agradeço. Vocês foram de muita ajuda. Eu vou sair agora, e vou
deixar com vocês meu número. Gostaria de pedir apenas que, caso algum deles
venha para o estabelecimento nos próximos dias, que me chame. — ele arrancou
um pedaço de folha do seu caderninho com seu número anotado, e entregou Josh
— Tudo bem. E eu que agradeço, espero que sejamos capazes de ver o
culpado por esse crime atrás das grades o quanto antes.
— Eu espero o mesmo. — concordou Tom
— Deixe que eu te leve até a porta. — pediu Clary
— Obrigado pela ajuda. — Tom disse, já na porta do estabelecimento
— Eu que agradeço pelo seu trabalho. Avisaremos qualquer coisa.
Tom seguiu andando pela calçada, seguindo sem direção, enquanto pensava
sobre tudo que havia ouvido até agora. Depois de alguns minutos ele tirou o celular
do bolso e ligou para Sarah.
— Sarah?
— Sim, quem mais seria. — ela brincou
— Engraçada como sempre.
— Obrigada.
— Enfim, agora falando sério. Eu acho que esse caso será mais simples do
que imaginamos. Eu vou te mandar dois retratos falados que eu acabei de
conseguir dos meus dois suspeitos. Você teria como me conseguir todas as
informações sobre eles em até 2 dias?
— Hmm, 2 dias… Sim, acho que consigo. Mas tem algo em específico que
você queira saber?
— Sim, renda e se algum deles tem porte legal de armas.
— Certo. No sábado eu te enviarei por e-mail essas informações.
— Ok, obrigado.

Tom estava novamente em frente ao estabelecimento, o relógio marcava


19hrs de um sábado. Ele havia vindo depois de receber uma mensagem de Clary,
dizendo que o homem loiro que ela descreveu no outro dia, estava lá. E um pouco
antes também havia recebido as informações de Sarah, agora ele apenas precisava
de provas.
Ele entrou no estabelecimento, e rapidamente se dirigiu ao homem, e pediu
que o acompanhasse até outro local, Josh os guiou até a sala das câmeras, que
ficava no segundo andar, junto do depósito. Era a sala mais privada que eles teriam.
— Perdão por agir dessa forma, e sem nenhuma explicação. Deixe-me ir do
começo, eu sou Tom. Detetive a serviço da Polícia de Londres, e estou investigando
o caso do assassinato de Sophie Evans.
— Eu sou Richard. Prazer.
— Certo, Richard. Eu vou te fazer algumas perguntas rápidas,e depois você
vai estar liberado para voltar a curtir sua noite, tudo bem?
— Claro, ajudarei com o que puder. Fiquei chocado quando vi na TV o que
aconteceu com ela… Nós éramos muito próximos.
Tom na mesma hora pegou seu caderninho e mudou sua abordagem.
— Vocês eram bem próximos? Como exatamente, amizade?
— Sim, eu conheci ela aqui nesse bar mesmo. Conversamos algumas vezes,
mesmo que ela fosse bem fechada no início, mas acabamos virando amigos.
— Certo… Você sabe de algum lugar que ela gostava de passar o tempo?
— Até onde eu sei, ela não fazia muita coisa além do trabalho e do convento
onde ela morava. Eu lembro de apenas uma vez que ela me disse ter passeado por
um parque aqui próximo, mas não sei se era recorrente isso.
— Sabendo o que aconteceu com ela, você consegue imaginar algum
suspeito? Alguém que ela tenha comentado para você?
— Bem… Ela vez ou outra falava de alguns clientes, mas nada fora da rotina.
Mas se for algo que me chamou a atenção, provavelmente foi um cliente periódico
desse estabelecimento que aparentemente já havia até dado presentes tentando
conquistá-la. Mas eu nunca vi a cara dele, aparentemente ele não vinha aqui aos
finais de semana, que é quando eu costumo vir aqui.
— Você… reconhece esse rosto? — Tom mostrou uma foto do outro suspeito
— Hmm, eu acho que reconheço. Eu acho que lembro de ver ele umas duas
vez só, esse nariz dele me chamou atenção.
— Você sabe dizer a última vez que viu ele?
— Provavelmente sábado passado. Ele não parecia gostar de mim, me olhou
com uma cara feia a noite inteira.
— Certo. Muito obrigado, você tá liberado.
— Não, eu que agradeço. E boa sorte na sua investigação. — Richard disse,
prestes a sair da sala
— Ah, uma última coisa.
— Sim?
— Sabe o homem que nos trouxe aqui, o Josh, pode chamá-lo por favor.
— Claro, vou chamá-lo sim.
— Obrigado.
Depois que ele saiu, Tom fez umas últimas anotações, fechando o
caderninho. Ele colocou o lápis sobre a orelha, e se apoiou totalmente na cadeira,
olhando para o teto enquanto concluía sua teoria.
— Me chamou?
— Ah, sim. — Tom se assustou, arrumando sua postura — Quero aproveitar
que já estamos na sala adequada para isso. Poderia ver os registros das câmeras
do último sábado?
— Posso, só vai demorar um pouco para eu achar os arquivos.
— Tudo bem. Enquanto faz isso, vou fazer uma ligação aqui fora.
O andar estava em reforma, então tirando pela sala de câmeras, o resto era
uma bagunça. Com vários materiais de construção soltos em alguns cantos, além
do chão sem piso que estava todo empoeirado. Ele escolheu o canto melhor
iluminado e fez sua ligação.
— Sarah, eu acho que consegui.
— Você acha? Ou tem certeza?
— Eu terei certeza daqui a mais ou menos 15 minutos.
— Então porque me ligou agora?
— Eu queria saber em quanto tempo você consegue um mandato judicial
para eu entrar na casa de uma pessoa.
— De dois a três dias.
— Certo, acho que é um bom tempo. Tem como você me providenciar isso?
E dois agentes para irem comigo no mesmo dia.
— Sim, eu consigo. Mas você tem certeza disso? Se você errar, você terá
que lidar com o processo depois.
— Não se preocupe, eu não vou errar. Eu te falei antes, esse caso é mais
simples do que parece.
— Bem, vou confiar em você então.
— Tom! — Josh gritou de dentro da sala — Consegui!
— Como você ouviu, tenho que ir. — ele logo finalizou a ligação, e se dirigiu a
sala
— Então, — Josh começou explicando — nós temos 6 câmeras, e no último
sábado nós funcionamos das 17hrs às 01h. Então tem bastante coisa pra ver.
— Na verdade não vamos ver nem metade disso. Que horas Sophie chegou
para trabalhar aquele dia?
— Ela chegou… às 19h, se não me engano.
— Então coloque 10 minutos antes e procure esse cara. — Ele colocou a foto
do primeiro suspeito sobre a mesa
Eles passaram por todas as câmeras várias vezes, procurando em cada
canto da tela. Até que Sophie chegou, apenas depois de quase 30 minutos é que o
suspeito apareceu entrando no salão. É visto que ele se sentou numa mesa no lado
contrário ao qual ela estava atendendo naquele dia.
Ele conversou com algumas pessoas, mas aparentemente nenhuma
conversa longa. Até que ele viu Sophie atendendo o Richard, ele passa o resto do
tempo inteiro, até ela ir embora apenas encarando os dois. Ou só Richard, quando
ela saía de cena.
Quando deram 23:30 na filmagem é visto Sophie saindo do estabelecimento,
e menos de 5 minutos depois, ele também sai bem apressado. Não há nenhuma
câmera do lado de fora, então não se sabe o que aconteceu depois disso.
— Bem, essa era a prova que eu precisava.
— Você acha que é ele?
— Não só acho, como tenho certeza.
— Porque?
— Deixe-me te explicar.

Tom tocou a campainha da grande casa branca, depois de uma espera que
pareceu eterna, finalmente atenderam a porta. Um homem, o mesmo suspeito que
havia visto na câmera a poucos dias estava a frente dele, vestindo apenas um
roupão azul.
— Harry Scott? — Tom começou
— Sim, porque? — ele olhou os Tom e os dois policiais de pé a cabeça com
desprezo
— Nós somos da polícia. — ele levantou seu distintivo, e junto dele um
mandato — Temos permissão para entrar e interrogá-lo.
— Eu tenho a opção de recusar?
— Infelizmente não.
— A que devo essa visita?
— Nós estamos investigando o caso de Sophie Evans, por acaso conhece
ela?
— Sim, conheço. — ele disse, já mudando a forma com que falava — Mas
nunca fui muito próximo dela.
— Sim… sei. Bem, podemos entrar? Tenho muitas perguntas ainda.
— Ah, claro.
Ele terminou de abrir a porta, e ambos os 3 entraram, um atrás do outro, na
mansão. Era uma casa que parecia feita para visitas, móveis e decorações de luxo
estavam em toda sala, tudo parecia feito para impressionar qualquer um que
entrasse.
— Sentem-se. — Harry apontou para o sofá e duas poltronas bem no meio
da sala
Harry foi o primeiro a se sentar, em uma das poltronas e Tom logo em
seguida, na outra. E por fim, os dois agentes se sentaram no sofá, entre os dois.
Tom retirou seu caderninho do bolso, e pediu para que um dos agentes gravasse a
conversa.
— Bom, começando com uma pergunta simples. Qual foi a última vez que
você a viu?
— Hã… Não sei. Não me lembro.
— Você tem certeza?
— Sim. Quer dizer, talvez na última quinta-feira antes de ela morrer,
normalmente eu ia para lá nas quintas,
— Entendo. Mas sabe o que é estranho?
— O- o que? — sua face congelou em medo
— De acordo com as câmeras de segurança desse mesmo Pub, a última vez
que você esteve lá foi no sábado em que Sophie foi morta.
— E… é por isso que você está suspeitando de mim?
— Por mais algumas outras coisas também, gostaria de ouvir?
Harry não conseguiu responder, e Tom continuou.
— Eu acredito que você tenha cometido o ato logo após vê-la conversando
com outro homem de forma tão descontraída. Não sei o que passou na sua cabeça
neste momento, mas digamos que você tenha se sentido traído. Além disso, outras
coisas que provam a sua culpa são o fato de Sophie ter recebido um presente bem
estranho… e caro, de uma taça muito ornamentada. Acho difícil que outra pessoa
conseguisse comprar um presente dessa magnitude, e como podemos ver na sua
própria casa, você parece gostar de mostrar o dinheiro que tem. Ah, e claro, não
posso esquecer do sapato que você jogou no lixo do lado da vítima, um descuido e
tanto que praticamente selou sua cova. E claro, para finalizar, a vítima foi baleada
com uma arma de baixo calibre, mais especificamente 9mm curto, sendo assim uma
arma permitida pelo estado, contanto que você tenha uma permissão de tê-la. E, por
uma grande coincidência, seu pai tem uma. Isso foi o que eu descobri, e imagino
que seja o suficiente.
— E- eu… — Harry estava chorando, seu rosto havia travado e ele não
conseguia falar — Eu não fiz por querer. — ele gritou, chorando
— Eu estava bêbado… eu, eu. — ele soluçava muito enquanto falava — Eu
estava irritado, e a bebida não me ajudou, eu estourei e acabei…
— O resto você pode falar com o Juíz, eu já consegui as provas que eu
precisava. — Tom disse, se levantando — Mark, John, algemem ele e o levem para
a delegacia, por favor.
Harry não reagiu, estava chorando ainda quando foi levado até a viatura da
polícia. Tom saiu por último, fechando a porta da casa e andando sozinho pela
calçada em direção à sua casa. Já estava escuro e ele andava sozinho na calçada,
pensando nas suas últimas duas semanas.
Sophie era mais uma pessoa que havia entrado na sua vida dessa forma, e
que ele nunca mais a esqueceria. Era uma pena que ela tivesse ido tão cedo, pelo
menos, assim ele pensou, ele pôde ajudá-la também.

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