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Parece até bobo, uma adolescente ser fã de três crianças, mas eu sempre
pirava quando via elas na primeira página do jornal. Por causa delas e de suas
aventuras (que eram contadas nos jornais que meu pai trazia para casa), eu acabei
estudando jornalismo e hoje aqui estou, tentando entrar mais fundo na história
dessas jovens poderosas. Assim como eu cresci, elas também cresceram, e estão
com dizesseis anos de idade atualmente. Mesmo as meninas não morando mais
aqui, a pessoa mais importante dessa história toda mora e ele dificilmente é visto
fora de casa.
— Você falou com elas? Elas estão bem? — Ele mantinha sempre uma
calma na hora de falar.
— Acredito que estejam. Infelizmente ainda não conseguir falar com elas.
— Ótimas filhas?
— Sim... Todo mundo tem seu jeito de preencher o vazio no peito, o meu
foi criando vida.
Sem querer, acabo deixando escapar uma risada. Não imaginava que eu me
encontraria com uma espécie de "cientista maluco" em minha vida, parecia algo
tirado dos filmes de Frankenstein. Então, eu começo a citar algo que praticamente
ouvir milhares de vezes:
— O elemento X.
— Então, quando foi que tudo começou a dar errado? Parecia tudo tão
perfeito.
— Bem... — Por um momento, tentou evitar, mas Utônio logo abriu o jogo
comigo — Começou com simples pesadelos, mas logo, ela descobriu que era
lembranças. A inocência dela foi jogada fora em questões de dias. O que eu não
sabia, era que tudo isso acabaria com Florzinha quase matando o Macaco Louco.
Ele não conseguiu continuar. Eu não entendi se ele estava buscando algo
em sua memória, ou se era um assunto difícil. De qualquer modo, eu precisava
dar tempo para ele. Lembrei que havia algumas entrevistas em minha bolsa, que
digitalizei. Lógico, isso provaria que eu já sabia de alguns detalhes, mas estou
aqui para ouvir o lado dele da história, e não apenas fatos novos.
— Você quer saber sobre suas filhas, não quer? — Perguntei.
Ele acenou "sim" com a cabeça, e logo continuei. Eu retirei um dos vários
papéis em minha bolsa.
— Isso aqui foi quando entrevistei o namorado de sua filha. Ele estuda na
mesma escola de Docinho. Albert me falou sobre o dia que conheceu ela.
Bem
Bem... Me chame de Albert. Sou um dos vários filhos bastardos que o
antigo Prefeito De Townsville teve, apesar de hoje em dia isso já não significar
nada, já que ele mesmo renunciou. Aquele velhote era um incompetente em todos
os setores. Só ficava sentado enquanto se enchia de pickles. Ele apenas chorava
enquanto tudo pegava fogo, até que apareceu elas: Três garotinhas superpoderosas
que defendiam a cidade de todo o mal. Isso foi um alívio para o meu pai, que
poderia gastar parte do dinheiro em tudo, menos em segurança pública.
O velho tinha uma droga de telefone para ligar "pra" elas quando fosse
necessário.
Eu vivi com minha mãe toda minha vida, nunca precisei dele, só dela. Ela
que me sustentou e me matriculou nas escolas na qual estudei. O Ensino Médio
está se provando um verdadeiro desafio. Sou muito bom nos esportes, mas só
agora estou me preocupando verdadeiramente com meus estudos, e estou
correndo atrás de tudo que esqueci nos anos anteriores. Por sorte, encontrei uma
garota que precisava de umas aulas de defesa pessoal, em troca ela me ajudava
com algumas matérias.
Em uma dessas aulas, acabei saindo tarde na noite, e após me despedir dela,
fui em direção da minha casa. Lembro que era uma noite calma, poucos carros na
rua e algumas lojas ainda estavam abertas. Mas nada disso foi relevante naquele
dia quando uns caras me viram na rua. Eram três babacas do time de futebol
americano de uma escola rival, todos conversando no meio da calçada. Eu estava
com a jaqueta verde do meu time, mas naquele momento, achei que não iria ser
problema...
Os outros dois foram para cima de mim, e mesmo que eu fosse confiante
quando a questão era minhas habilidades de combate, naquele momento eu não
aguentei. Fui derrubado por eles, e logo, os três se juntaram para desferir chutes.
Coloquei ambos os braços para defender a cabeça, mas deixando o resto livre para
receber chutes. Por sorte, aquilo não durou muito tempo. Eu ouvi um deles
dizendo:
— Nossa... Eles acabaram com você — disse uma voz feminina, enquanto
escuto os passos dela se aproximando.
A garota se agachou para ver como eu estava, e foi assim que meus olhos
se cruzaram com os dela pela primeira vez: Verde, essa era a cor de seus olhos,
além da jaqueta que estava usando. Seu cabelo negro e curto, junto de sua marra,
fazia dela uma garota bem "casca-grossa".
Ela estendeu sua mão para mim. Aquela garota conseguiu me levantar com
bastante facilidade, mas naquele momento eu não havia percebido.
— Você deve ser o único que não me conhece lá então. Albert, não é?.
— Sim — confirmei.
Fiquei surpreso. Lógico que eu sabia quem ela era, mas nunca tinha visto
essa garota antes. Eu queria saber exatamente o motivo, então procurei algumas
perguntas para descobrir de forma indireta:
— Sim... Cara, ando faltando muito. Terei que correr se quiser passar. É
que... Sabe... Townsville parecia tão iluminado antes, mas cada dia que passa, fica
sem graça — Consigo perceber seus punhos sendo cerrados — Se eu puder fazer
algo minimamente bom, eu faço, saca?
— Sim... Mas tudo isso foi culpa do Professor. Ele nos ocultou da verdade,
e quando Florzinha descobriu...
— Quem?
— A de cabelo vermelho.
— Ahhhh.
— O que foi?
Naquele dia, eu quase nem dormir por causa das dores. Mas graças a
Docinho, tudo acabou dando certo no final.
"Que?" pensei "Como pode um pai pensar isso de sua própria filha?"
— Agora, você consegue me falar mais sobre o caso com o Macaco Louco?
— Mas antes... Não é possível que você saiba apenas sobre Docinho. Me
mostre como Florzinha esta.
— Como havia dito, não é possível que você saiba apenas sobre Docinho.
Acredito que você saiba mais, isso se não souber tudo. Antes de eu falar qualquer
coisa, quero saber o que você sabe, começando agora com a Florzinha.
Bem, dificilmente falo sobre minha relação com Florzinha para as pessoas,
mas agora quero desabafar. Sou muito feliz e estou cansada de não falar isso com
ninguém. Meu nome é Lúcia MaisGrana, prima de Princesa MaisGrana e vim
para Vincent após ganhar uma bolsa de estudos. Quando cheguei, decidi viver por
conta própria, para não precisar ouvir mais nada da minha família. Você
provavelmente já sabe dos problemas que minha prima teve com Florzinha,
Docinho e Lindinha no passado, e agora, a Princesa está lidando com os
problemas da família.
Quando cheguei aqui, logo umas colegas minhas falaram que havia alguém
querendo dividir o aluguel de um apartamento. Como eu estava tendo problemas
de "bancar" uma moradia, então lógico que aceitei. Viver sozinha sempre foi
impensável para mim, ter uma colega de quarto parecia ser uma ideia boa.
Demorou algumas semanas até que começou: Ela gritava a noite, por causa
de pesadelos horrendos. Em uma dessas noites foi quando essa história aconteceu.
Eu e ela nos sentamos no sofá, enquanto ela tomava uma xícara de chá. Era
sempre muito estranho ver ela abalada, já que poucas coisas deixam ela assim.
Florzinha era uma das garotas mais duronas que já conheci, e agora, estava
extremamente assustada.
Eu e Flor nos encaramos. Logo, ela ficou de pé. Alguém poderosa como ela
incapacitaria qualquer um, então abri a porta confiante: O homem era elegante,
utilizando um colete e uma calça social, enquanto estava com um buquê de flores
em mãos.
— Mas não teria como, não? Só o meu pai consegue recriar o Elemento X.
Florzinha segurou minha mão, apertando com força. Não conseguia ler sua
mente (lógico), mas ela estava bastante preocupada por causa dessas informações.
Parecia desorientada. E agora, foi lembrada de seu passado com as suas irmãs.
— O chá estava ótimo, senhorita MaisGrana — Ele olhou para trás, mas
Flor desviou o olhar — Tenham uma boa noite.
Eu me levantei. Queria dizer para ele ficar, talvez apenas pedir desculpas,
mas ele já havia saído. Achei grosseiro da parte da Florzinha, julgar uma pessoa
assim era errado. Eu me virei para ela, com a testa franzida.
— Sempre achei a reação dela exagerada. O fato é: Elas não foram criadas
instantaneamente. Não surgiram de um cadeirão magicamente. Havia um
laboratório, uma equipe enorme trabalhando no projeto, e ficamos meses.
— Laboratório?.
— Fato interessante, não é? — Dizia ele, enquanto gesticulava com as
mãos — O observatório do Macaco Louco no vulcão de Townsville foi um antigo
laboratório que eu e minha equipe usamos para criar as "garotinhas perfeitas". Eu
e minha equipe primeiramente criamos os corpos delas. Depois passamos meses
fazendo testes: Eletrocutamos, afogamos e etc... para forçar reações diversas no
corpo. Pena que o idiota do antigo Prefeito foi eleito, e ele não conseguiu
administrar nada. Acabou que ficamos sem verba e os cientistas se demitiram.
Mas isso era algo pessoal para mim, e então finalizei elas aqui em casa,
finalmente adicionando o Elemento X.
— Então... Além de mentir, você ocultou fatos para elas todo esse tempo?
Ele olhou diretamente para mim, com um olhar cansado, mas que
apresentava desdém.
Antes desse sucesso repentino, ela trabalhava como faxineira aqui no pet
shop. Lindinha simplesmente amava animais, e isso fez ela se dar muito bem com
a patroa.
— Já estou indo.
A voz dela era tão fofo que me assustava ela ter quase dezessete anos.
Logo quando Lindinha foi nos fundos atrás das chaves, eu ouvir os sinos da
porta batendo, sinalizando possíveis clientes.
— Boa noite. Estamos quase fechan...
Quando virei, me deparei com uma pistola apontada para o meu rosto.
Mesmo com os altos índices de criminalidade, essa é a primeira vez que sou
assaltada, e já foi em grande estilo, diga-se de passagem. Ambos usando moletom.
Só um estava com uma pistola, já o outro estava com um taco de basebol.
— Último aviso!.
— Isso não foi legal! — Disse ela, um segundo antes de ter pego ele pelo
colarinho e jogado em direção da janela de vidro, fazendo o bandido cair para fora
do pet shot de cara no rua.
— Uau — Eu disse. Mas logo, reparei na bagunça que ela havia feito,
bagunçando uma prateleira e destruindo uma Janela — Isso foi legal e tal... Mas
você com certeza será demitida.
Bem, acabou que isso nunca ocorreu, já que no dia seguinte vários
jornalistas vieram para o pet shot, buscando entrevistas com Lindinha. Após anos,
ela finalmente voltou a ter o foco de grandes jornais, por causa das imagens de
câmeras de segurança.
Aí, algumas semanas depois, vieram propostas para Lindinha ser modelo.
Ela veio até mim perguntar sobre, e eu apoiei totalmente caso ela quisesse ir
trabalhar para grandes revistas ao invés de um velho pet shop. Após aceitar, ela se
demitiu, mas ainda recebemos muitas doações dela. Essa garota é simplesmente
fantástica, e sinto saudade de sua presença em minha vida. Caso encontre ela, fale
para me visitar.
— Ainda não, seu fascista com complexo de Deus! Preciso de uma última
resposta: Por que? Por que você criou elas? E não vem com aquele papo de pai!
Mais um silêncio inquietante. Extremamente frio, e sempre de forma
cirúrgica me provocava, mesmo não aparentando fazer isso de propósito. Ele logo
me respondeu:
— E precisa de um motivo?
— Já não parou para pensar que você é simplesmente um ser humano ruim?
Você só se importa consigo mesmo, fez filhas para conceder seus desejos paternos
e quando o tiro saiu pela culatra, simplesmente deixou elas soltas pelo mundo,
confusas e sozinhas. Você deduziu que estavam com defeito, mas tudo isso é
culpa sua.
— Obrigado, capitã óbvia. Espero que tenha gostado e tenha uma boa noite.
Na mesma noite, peguei um navio cruzeiro para voltar para minha casa. Na
minha mão, todos os papéis que eu precisava para uma grande matéria, com
entrevistas interessantes de pessoas que acabei enganando para conseguir o que eu
queria. No final das contas, não sou muito diferente de Utônio.
Ouço um som familiar, som esse que sempre está presente nos voos delas,
toda vez que estavam em alta velocidade. Quando me virei, lá estavam: As três
reunidas, olhando para mim. Docinho aparentava ser a mais irritada com a
situação, enquanto Lindinha estava meio envergonhada e Florzinha com a testa
franzida.
— E conseguiu, PA-RA-BÉNS!.
Após pararem de discutir, uma deu as costas para outra, menos Lindinha,
que ficou entre as duas. Docinho logo diz:
— Droga. Talvez essa jornalista esteja fazendo o certo. Mostrar para todos
o que nós somos de verdade!
— Eu era muito fã de vocês três. "E mais uma vez... o dia foi salvo, graças
as meninas super poderosas" — Digo, com uma leve empolgação — Por isso
estou aqui, eu precisava saber tudo sobre vocês e compartilhar com o mundo,
mas... Acabei entrando em um poço muito sinistro.
— Mas... — Docinho ficou sem palavras — Não faz sentido. Não nos
conhecemos, não deve nada para nós!
Prólogo: O Narrador
O Professor Utônio está levando inúmeros baldes para dentro de seu porão,
na qual está seu laboratório ultra secreto. Baldes esses que estão cheios de
produtos químicos.
E o professor não está sozinho! Tem uma mulher com um belo tom de
marrom na pele e um cabelo neon azul claro. Ela bebia vinho em uma taça de
vidro, enquanto ficava indiferente aos esforços de Utônio.
— Vai ignorar elas assim como me ignorou? Belo pai de merda — Afirmou
a "Garotinha Perfeita" mais velha, enquanto bebia mais um gole de vinho. Já
adulta, Estrelinha finalmente visitou seu pai, preocupada com seu triste estado.
Fim