Você está na página 1de 150

As Irmãs

Autoria: David Agostinho


Uma história de amor começa sempre como
um conto de fadas, com um “Era uma vez…”, princesas,
fadas, príncipes e bruxas, mas esta história não vai ser
assim.

Nesta história vou contar-vos o amor que mais


marcou a minha vida… sim, esse amor era meu, e foi
um amor que me inspirou a tomar a decisão que hoje
não voltaria atrás. Este amor faz sem dúvida justiça ao
provérbio “Amar até à última consequência”, e estou
disposto a contar-vos esta história, mas com uma
pequena condição… quando o acabarem de ler,
reflitam no que leram e pensem na pessoa que mais
amam, depois façam esta pergunta a vocês mesmos…
Vale a pena?

Com este acordo feito vamos prosseguir com a


história, não garanto que seja a melhor história de
amor alguma vez vivida ou escrita, mas será algo que
vos fará pensar… ou não, já nem sei se as pessoas
pensam hoje em dia.
1º Parte

Tudo começa em Lisboa, eu tinha acabado o


12º ano e estava pronto para entrar na Universidade.
Tinha-me recentemente mudado para Lisboa, para ficar
mais perto da Universidade. Ainda não conhecia
ninguém da enorme capital portuguesa e estava
bastante impressionado. Eu tinha acabado de fazer 19
anos e ia tirar o curso de línguas, algo que sempre me
fora sugerido por colegas e familiares, que afirmavam
eu ter o talento necessário para publicar livros de
sucesso.

De qualquer forma, encontrava-me numa


cidade que não conhecia, por isso passei os últimos
dias de férias a explorar a cidade… aliás, vou criar aqui
um aparte;

As minhas férias até ao momento tinham sido


apenas mulheres, bares, discotecas, praia, mais
mulheres… Mas sejamos realistas, quando eu digo
mulheres falo em melhores amigas… e quando falo
bares e discotecas, falo em beber duplo whisky à meia-
noite a ver o filme “Eróticon: O País das Tetas”.

Feito este aparte, vamos prosseguir com a


história. Como disse, aproveitei os últimos dias de
férias para explorar a cidade de Lisboa, era uma cidade
linda. De noite a cidade ficava mais iluminada do que
propriamente ficava de dia, as pessoas pareciam passar
momentos de pura felicidade nesta cidade, conheci os
monumentos, as pessoas, o ambiente… enfim, tentei
conhecer tudo, ou quase tudo.
A 5 dias de começar o primeiro dia de aulas
passei por uma esquina de Lisboa, na esperança de ser
uma esquina de prostitutas… exato, eu procurava uma
diversão noturna, e que mal tem em explorar o
mercado fácil? De qualquer forma, em vez de me
deparar com mulheres banhadas em maquilhagem e
com calções de ganga curtos, com a banha em busca de
liberdade, encontrei um assalto.

Como já tinha bebido mais do que o suficiente


o meu primeiro pensamento foi: “Que deceção… nem
uma puta…”, mas rapidamente me apercebi do que
tinha de fazer… salvar a rapariga, e apesar da minha
descoordenação devido à bebida, corri em direção do
bandido, dei-lhe uma placagem e esmurrei-o no chão.

O ladrão mesmo assim conseguiu fugir, todo


ensanguentado. Por isso perguntei à rapariga se ela
estava bem, ela respondeu que sim, e que foi uma
sorte em eu ter aparecido. Antes que eu perguntasse
mais alguma coisa ela beija-me e dá-me o número dela.

“Espero que me ligues depressa, tenho sido


uma rapariga marota ultimamente…”

Eu fiquei espantado com o que acabara de


ouvir. Será que estava realmente na esquina certa? O
meu primeiro pensamento, se bem me lembro, foi algo
deste género:

“Olha-me esta vaca hein… puta que a pariu!”


Mas a verdade é que ela era uma rapariga
bastante atraente, e não se encontrava vestida como
uma prostituta.

E agora perguntam vocês: “Como é que ela é?”.


Ela era uma morena de cabelo encaracolado, tinha
cerca de um metro e setenta… tinha os olhos verdes, e
um sorriso maroto.

Voltei para casa com o sentimento de


felicidade pela boa ação… mandei-lhe uma mensagem
assim que cheguei, para combinar algo, para nos
conhecermos melhor… ela aceitou logo. Devo admitir
que só mandei mensagem tão cedo apenas por aquilo
que ela me disse…

Saímos então no dia seguinte… e nos outros


dias até acabar as férias. O que tivemos foi um
namoro… um pouco curto (explico mais à frente), mas
compensou… e ela era realmente uma rapariga marota.

Quanto à personalidade, pareceu ser uma


rapariga do tipo “Fanny”, ou seja, estava na fase da
vida loka, não ligando a preconceitos e tretas do
género. Estava concentrada em aproveitar o que lhe
rodeava.

Só um aparte. Foi ela que me tirou a


virgindade… dá para acreditar num puto de 19 anos ser
virgem hoje em dia? E digo mais… A primeira vez não é
tão boa experiência como muitos dizem… Sai tudo
errado. E agora que me lembro dela, acho que nunca
cheguei a mencionar o nome dela, chamava-se… não
me lembro do nome dela… acho que começava por J…
não importa eu devo lembrar-me e depois faço um
aparte.

Na manhã da véspera do primeiro dia de aulas,


a minha namorada (não sei se posso chamar de
namorada mas enfim) aparece de malas feitas e diz que
tem de partir. Eu naturalmente perguntei-lhe o porquê.
Ela responde:

“Desculpa só avisar agora fofo, acredita que


estes foram os melhores dias da minha vida, mas eu
não sou de Lisboa, sou de S. Pedro do Sul, norte do
país.”

Eu fiquei magoado e perguntei-lhe se ela queria


manter uma relação à distância. Ela disse que relações
à distância apenas adiavam o inevitável, portanto
deixei-a partir, e como lembrança, ela deixou-me o seu
perfume.

E assim foi… nunca mais a vi desde então… por


acaso é mentira, aquela puta era tão lisboeta como a
Amália foi fadista, dois dias depois vi ela com outro
rapaz, numa das fontes onde costumávamos
“namorar”. Mas avançando agora.

Chegou então o meu primeiro dia de aulas, o


qual tinha Latim, Língua Portuguesa e Literatura
Portuguesa… e veio mesmo a calhar, tinha dormido mal
nesse dia por causa da rapariga... que ainda não me
recordo do nome… Mas para minha surpresa as aulas
não eram aborrecidas. Os meus pais tinham razão… eu
gostava mesmo daquilo. Mas voltando um pouco atrás
no tempo.

Cheguei à Universidade, onde me deram uma


chave com o número do dormitório. Foi aí onde
conheci o meu colega de quarto, um tipo porreiro na
verdade, um pouco avariado mas até era suportável.
Chamava-se Armando* e tinha 20 anos, ou seja, andava
naquela escola há um ano. Era um rapaz moreno, um
pouco mais alto que eu, tinha os olhos escuros como
uma noite de nevoeiro, mas era bastante simpático e
divertido. Por acaso acho que ainda mantenho
contacto com ele… Armando se estiveres a ler isto, um
grande abraço companheiro.

Depois das aulas, eu e o Armando fomos


almoçar à cantina, mas a caminho de lá passou a
rapariga mais linda da escola… estão a ver aquele

* Mas qual é o tipo de pai e mãe que odeiam tanto um filho que lhe
chamam Armando? Não se compreende realmente.
momento em que fica tudo em câmara lenta e fica tudo
a olhar para ela, e ela decide soltar o cabelo e
continuar a andar pelo corredor com um sorriso? Nada
parecido.
Essa miúda olha para mim e pisca-me o olho,
eu sorrio e pisco o olho também, mas devido a não
estar a prestar atenção choquei contra uma outra
rapariga. Eu peço-lhe desculpa e ajudo ela a apanhar os
livros que deixou cair, sim… porque ocorreu aquele
estereótipo de chocar contra uma miúda e os livros
caírem para eu apanhá-los com ela.

“Não te vi a sério, para a próxima tenho mais


cuidado… como te chamas?”

“Não faz mal… eu sou a…”

Só um pequenino aparte. Finalmente me


lembrei do nome daquela cabra do assalto… chamava-
se Júlia. Bem me parecia que começava por J. Mas
vamos prosseguir com a história.

“Sou a…”

Só mais um aparte. A rapariga a que pisquei o


olho… ela tinha o cabelo loiro e uns lindos olhos azuis,
quase cor oceano… e mais não posso dizer porque não
a tinha visto bem na altura, mais à frente já descrevo
melhor. Retomando…

“Sou a…”

Só mesmo o último aparte… tenham calma este


aparte é só a brincar, agora é que é mesmo para
continuar. Retomando então a história…
“Sou a…”, mas antes que ela pudesse acabar
de dizer o nome, toca o telemóvel.

“O meu nome fica para outra altura, chocamo-


nos por ai”.

Ela pisca-me o olho e atende o telemóvel.


Vocês agora estão todos lixados comigo porque ainda
não sabem o nome… imagino só. Mas vejam bem, duas
miúdas num dia a piscarem-me o olho no primeiro dia…
não é para todos, contudo estava mais interessado na
loira, obviamente… se bem que esta também não era
má. Era ruiva, de cabelos encaracolados, olhos verdes
bastante dóceis, tinha aquela cara de que ainda era um
pouco ingénua demais para a Universidade… enfim,
uma rapariga que até gostaria de conhecer.

Chegámos então à cantina e logicamente


perguntei logo quem era a loira de olhos azúis.

“Quem? A Marta de Vasconcelos? Fora da tua


liga amigo. Desde que o Sr. Fantástico anda com ela,
esquece lá isso.”

Fiquei curioso acerca desse tal Sr. Fantástico.

“Quem é esse cabrão Armando?”

“Esse cabrão chama-se Afonso e é o gajo mais


popular da escola, e nem sequer anda cá. Ele anda com
a Marta de Vasconcelos há um ano. Ele compõe
músicas com a guitarra, escreve, faz teatro… é o Sr.
Fantástico.”

Eu pensei para comigo: “ Como é que ele


consegue?” O Armando responde à minha pergunta
logo de seguida.

“ Eu pessoalmente acho que o gajo anda com


ela pelas cunhas… sabes como são as famílias que têm
o apelido “de Vasconcelos”, mas ele só anda com ela
porque conseguiu conquistar o irmão primeiro, que é a
peça fundamental para ela andar com alguém. Chama-
se Rogério de Vasconcelos.”

“Mas conquistou o irmão como assim?”

“Tipo o irmão dela é maricas, e o Afonso fez o


trabalho de casa percebes? Ficou muito amigo do
irmão para chegar à Marta, mas esquece isso agora, e
não gostaste da ruiva?”

Não me interpretem mal, ela era bastante


atraente, mas a Marta de Vasconcelos chamava mais a
atenção dos meus olhos, sem dúvida nenhuma.

“Ela não é feia de todo… conheces?” –


Perguntei-lhe curioso.

“Népia meu, a gaja não era de cá o ano


passado, mas é bem gira puto, tens a certeza que não
estás interessado?”
“Acho que não meu. Se um dia a quiser
conhecer e gostar do que vou conhecer é na boa…”

A verdade é esta, eu sabia que tinha mais


hipóteses com esta rapariga ruiva do que tinha com a
Marta de Vasconcelos, mas porquê não tentar? Sempre
gostei de desafios. Mas para conseguir chegar à Marta,
tinha de conseguir a confiança do Rogério de
Vasconcelos… perguntei então se ele andava na escola.

“Não, ele já tem quê? Uns 25 anos talvez… Pelo


que sei acabou recentemente o curso de medicina lá no
Porto… Só agora é que regressou a Lisboa, há um ano
ou coisa que lhe valha.”

Despedi-me do Armando, já que não tinha


aulas da parte da tarde, e decidi ir dar um passeio…
Pelo menos era esse o plano, até que me lembrei que a
professora de Literatura Portuguesa tinha pedido aos
alunos que dessem uma olhada ao primeiro capítulo de
uma obra qualquer que não me recordo do nome. Fui
então à biblioteca procurar o livro, que já estava
requisitado… todas as cópias.

“E agora? Onde vou arranjar a merda do livro?”


– Foi o que pensei para comigo, mas a sorte estava do
meu lado, quando de repente me tocam nas costas…
Era aquela rapariga ruiva do corredor.
“Procuras o livro de Literatura Portuguesa não
é?” – Perguntou-me.“Se for, sempre podemos ler o
capítulo juntos, que dizes?”

Eu aproveitei a situação para me meter um


pouco com ela.

“Eu leio o capítulo contigo, mas tenho uma


condição… dás-me o teu nome, ainda acho que me
deves isso.”

“Quer dizer… tu é que precisas do livro e eu é


que tenho de ceder às tuas condições? Vai-te foder
moço.

“Estou a brincar, mas gostava mesmo de saber


o teu nome.”

Ela sorriu e disse: “ Está bem… O meu nome é


Cassandra. Cassandra Paiva! E o teu?”

Agora meus amigos, vocês pensam que vou


escrever aqui o meu nome, a verdade é que não. Quero
manter o meu anonimato.

“E eu a pensar que o meu nome era mau!


Vamos ler o capítulo num jardim aqui perto.” – Disse a
Cassandra. A verdade é que ela tem razão, o meu nome
não é nada de especial, pelo menos eu não acho.

Fomos então ao parque. Vocês estão à espera


que descreva um parque com muitos espaços verdes,
árvores, bancos feitos de tábuas de madeira e um lago?
Estão mais do que certos. Por acaso o parque era
bastante engraçadito, sentia mesmo o ar a purificar-me
os pulmões. E os pássaros a cantar? Era realmente um
paraíso escondido em Lisboa.

Lemos então o capítulo, que por acaso não era


mau, mas era um pouco chato… de qualquer forma
gostei da companhia da Cassandra, afinal aquela miúda
era mais porreira do que eu pensava… tinha o mesmo
sentido de humor que eu, ria-se das minhas piadas, era
gira, e depois era… única. Tudo em si, na sua maneira
de ser, contradizia a sua aparência.

“Sabes uma coisa? És muito fixe.


Surpreendeste pela positiva!” – Disse-lhe.

“E tu também. Mas agora a sério, és assim com


todas ou como é?”

“Normalmente sim. Mas se não gostas há quem


goste.”

“E gosto, e gosto… não fiques amuadinho.” –


Disse ela em tom de gozo.

Mas antes que pudesse dizer alguma coisa:

“ Bom, este dia foi divertido, e caso não tenhas


reparado, somos da mesma turma idiota do caralho.
Agora tenho de ir, o meu irmão Rogério vem buscar-
me. Vemo-nos por ai otário.”

Espera um segundo… Ela tem um irmão com o


mesmo nome do irmão da Marta? Era uma
coincidência muito grande, por isso decidi perguntar.

“Sim o meu nome é Cassandra Teixeira Paiva


de Vasconcelos. Mas não gosto do apelido de
Vasconcelos, acho que dá uma ideia errada do que sou,
não sou snobe sabes? Vá, até amanhã!”.

Nesse momento, descobri o meu passaporte


para chegar à Marta. Sei que estão todos a pensar que
a minha decisão é estúpida, e que devia tentar
conquistar a Cassandra, mas no fundo, e penso que
todos o sabem, a atração exterior ganha sempre à
atração interior… enfim, estava ali a minha hipótese.

Vamos agora avançar um pouco no tempo, a


primeira semana de aulas não tinha sido má de todo,
comecei a sentar-me ao lado da Cassandra de
Vasconcelos, fiz novos amigos…

Vou fazer agora um aparte. Quando falo de


amigos, falo em pessoas que começaram a tornar-se
chegadas, não são aqueles que se aproximam de ti com
interesse, esses eu vejo logo e mando-os ir passear. E
agora vou só dizer como são esses novos amigos de
que falo (são só três):
O Salomão: Um tipo que não sabe nada da vida,
fuma charros como um melro bebe água. Contudo é
um tipo que avalia as pessoas por aquilo que são e não
por aquilo que aparentam… isso foi o que me fez
aproximar dele, e também, para pouca surpresa minha,
conhecia toda a escola.

O Bartolomeu: Este era o player da zona*. Na


verdade era um grande cromo que pensava ter as
melhores técnicas de engate da história. Apesar disso
andava com uma miúda que já vou falar mais à frente.
Era um tipo cómico, que dava para animar o grupo.

Por fim… A Mafalda: A namorada do


Bartolomeu, uma rapariga simples mas com quem
podíamos ter conversas bastante profundas… era uma
rapariga com quem podíamos desabafar sem
preconceitos. Continuando com a história…

Fiz novos amigos, comecei a divertir-me com a


escrita (algo que nunca consegui fazer) … a Marta de
Vasconcelos, que infelizmente não era da minha turma
(andava um ano à minha frente), começou a falar
comigo, mais devido à irmã dela, a Cassandra. Agora
posso dizer com mais pormenor. A Marta era mais

* Para quem não sabe, um player é um tipo que quer “curtir” com todas as
raparigas do Continente.

baixa que eu, tinha um sorriso lindo, daqueles que faz


esconder as estrelas mais brilhantes, muito simpática e
divertida, sempre bem-disposta… praticamente
perfeita. Esta foi a minha primeira semana… mas algo
mais empolgante estaria por vir.

Tinha chegado o fim-de-semana, estava em


minha casa, onde finalmente pude ter uma refeição em
condições. A verdade é que já sentia falta de estar em
casa, os dormitórios são bastante desconfortáveis.

Recebo então um telefonema da Cassandra


para ir ter com ela ao parque onde estivemos pela
primeira vez juntos.

Eu vou ser honesto, eu estava preocupado, a


voz dela tinha mudado ao telefone, quase como se
estivesse a chorar.

Fui ter com ela ao parque, que curiosamente


ficava bem perto de casa. Devido a ser Setembro, o
tempo já não estava o melhor, estava com aspeto de
que iria chover a qualquer momento.

Assim que ela me vê, abraça-me em lágrimas,


quase que perdia o folgo com a força daquele abraço.

“Desculpa ter-te ligado, mas não sabia com


quem mais falar. O meu pai expulsou-me de casa, não
tenho onde viver…”
“Porque te expulsaram de casa?” – Perguntei
preocupado.

“Não foram eles que me expulsaram… Foi só o


meu pai. Eu não partilho as mesmas opiniões dele,
percebes? Simplesmente não compreendo a maneira
dele viver, quer dizer, ele é rico e tudo mais e nunca
ajuda quem precisa… e depois é demasiado snobe, eu
odeio isso!”- Disse ela, enquanto limpava as lágrimas
do rosto.

“Ouve, eu em relação ao teu pai, nada posso


fazer, mas posso ajudar com uma coisa… vem viver
comigo.”

“Eras capaz de fazer isso por mim? A sério?”

“Claro que sim oh atrasada, é para isso que


servem os amigos .”

“Olha se houver algum problema, eu ajudo a


pagar a renda não te preocupes, a minha irmã amanhã
vai dar-me algum dinheiro para ajudar a pagar contas,
por isso está descansado.”

Ela sorriu e abraçou-me. Passámos então o


resto do dia a conversar no parque, a conhecermo-nos
melhor e tudo mais… Perguntei-lhe durante a conversa
sobre a irmã dela.
“A minha irmã é uma rapariga simpática,
demasiado ingénua…”

Só um aparte. Aquela miúda podia ser tudo,


mas ingénua?! Não me lixem. Na escola onde eu ando
já ela tirou os mestrados todos.

“… E ainda pensa que os males do mundo


nunca lhe irão tocar por causa dos nossos pais. Mas
também arranjou um bom rapaz… o Afonso é um tipo
bastante certinho, tanto que o nosso irmão, o Rogério,
se apaixonou por ele…”

Admito que fiquei um bocado surpreendido


com a exclamação dela, mas deixei-a continuar.

“… mas pronto. A minha irmã é demasiado


inocente para a idade que tem, fala-me da tua família!”

Expliquei-lhe que a minha família fazia imensos


esforços para me manter naquela Universidade…
sempre acharam que tinha jeito para a escrita e tudo
mais, por isso tomaram a liberdade de me pagarem os
estudos.

“Parece ser uma boa família…”

A conversa continuou durante um tempo, até


que decidimos ir para casa. Para celebrar a chegada da
minha nova companheira de piso, fomos ao
Mc’Donalds buscar dois Happy Meals e abrimos uma
garrafa de vinho que tinha trazido da casa dos meus
pais, uma boa garrafa de Vinho do Porto.

Depois de jantarmos a melhor combinação da


história (Chesseburgers com Vinho do Porto), começou
uma conversa mais… íntima por assim dizer.

“Sabes… para um gajo que conheço há tão


pouco tempo, até que és um dos melhores rapazes que
conheci.”

“Ah! Ah! Ah! Tu também não és má, mas acho


que escondes alguma coisa… um lado teu mais…
rebelde.”

Ela riu-se… e sentou-se em cima de mim.


Começou a pôr a mão dela por dentro da minha
camisola, subindo pelo meu peito.

“Não estás nada longe da verdade, mas


também acredito que escondes esse lado.”

Ela aproximou os seus lábios dos meus e


beijou-me. Só para terem noção do quão romântico o
beijo foi, imaginem um quarto com a lareira acesa, que
põe a divisão da casa a meia-luz… como se vê nos
filmes por assim dizer. O estereótipo do beijo
romântico.

“Bem… parece que ambos temos esse lado


certo?” – Disse-lhe.
Ela riu-se e beijou-me de novo… Aproveitei e
deixei-me levar… E digo já, aquela é que devia de ter
sido a minha primeira vez, foi simplesmente perfeita.
Comecei por lhe tirar a camisola, enquanto ela me
mordia o pescoço, apertei-lhe suavemente as mamas
enquanto continuava a beija-la. A pele dela parecia
veludo, o que tornava toda a experiência ainda mais
excitante. Levei-a para o quarto, onde lhe tirei o resto
da roupa e a atirei para cima da cama.

“Olha que eu ainda sou inexperiente nestas


coisas.” – Disse-lhe.

“Não faz mal, eu ensino-te tudo.”

Foi uma experiência muito intensa, tão intensa


que até afetou o sono da vizinhança, contudo quando
chegou a manhã seguinte (manhã de Domingo) sentia-
me arrependido. Porque a verdade é que queria a
Marta, e não a Cassandra.

Acordei nessa manhã com a ressaca portista e


vi que a Cassandra não estava em casa… encontrei
então um recado preso no frigorífico por um magnet.

Um aparte. Vocês sabem que estão fodidos


para se livrarem duma rapariga quando ela começa a
deixar papelinhos nos frigoríficos… é mesmo verdade
não estou a gozar, continuando…
O recado era um pouco grande, quase parecia
uma despedida… ou a lista de compras de uma dona de
casa. Dizia o seguinte:

(O Vosso Nome)

Eu adorei a nossa noite de ontem, estou mesmo


a começar a gostar de ti… mas não quero pensar em
gajos e namoros por agora. Eu deixei este bilhete
porque tive de passar em minha casa. Aparentemente o
meu pai quer fazer alguma espécie de acordo comigo,
bom… a ver vamos. De qualquer forma eu não vou
aceitar o acordo… estou bem na tua casa, por isso não
te esqueças de abrir a porta à minha irmã… vou ter de
passar o dia fora por causa disto.

Com Amor,

Cassandra

Este recado valeu o meu sorriso. Guardei o


recado no bolso, tomei o pequeno-almoço e fui
arranjar-me, para receber a Marta de Vasconcelos. Eu
não vou mentir… eu estava nervoso, ainda por cima
depois da noite que tive com a Cassandra… Em parte
sentia-me mal em tentar agora fazer-me à Marta… mas
eu era puto… vocês sabem como as coisas são nestas
idades.

Demorou um tempo até ela chegar, mas


quando finalmente ouvi a campainha a tocar, um
arrepio atravessa o meu corpo. Enchi o meu peito de ar
e abri a porta à Marta.

Ela estava a usar um perfume bastante


intenso, com cheiro a amoras, e estava a usar um top
bem decotado vermelho e umas leggins pretas,
juntamente com uns calções de ganga curtos.

“Aqui tens o dinheiro… lamento esta situação


toda… És namorado da Cassandra? É que andar a piscar
olhos a outras meninas quando se é comprometido é
muito feio.”

“Fala a moralista, não é Sra. Fantástica? Ou vais


dizer que não piscas-te o olho? E eu não namoro com a
tua irmã.”

“O que eu faço ou deixo de fazer não é da tua


conta... quem sabe um dia poderá vir a ser, já que não
namoras com a minha irmã.”

Convenci-a a ficar mais um pouco, para testa-la


e tentar conhece-la um pouco melhor. Passámos horas
a falar… não interessa bem o quê. Até que a conversa
descarrilou...

“Sabes que para uma rapariga muito ingénua…


andas demasiado decotada.”
“Foi a minha irmã que disse isso foi? Ela não
sabe nada como sou, e tu também ainda não viste
nada.”

“Já que não mostras esse lado, mostro eu.”

Tentei beijar a Marta… mas ela rapidamente


me afastou:

“Ouve, eu admito que até era capaz de curtir


contigo, mas eu amo o Afonso, que é mais importante
que uma estupida curte, e acho que a minha irmã está
a começar a apaixonar-se por ti. Eu não vou acabar um
namoro de um ano por uma mera atração, percebeste?
Nem uma palavra disto à minha irmã. Vemo-nos na
escola.”

A Marta pega na mala e sai a correr da minha


casa. Realmente havia atração entre nós, mas eu sabia
que ela não iria largar o Afonso para ficar comigo, eu
também não o faria. Decidi então desistir… nem que
fosse temporariamente, mas ia fazê-lo. Pensei para
comigo que o melhor a fazer era começar uma relação
com a Cassandra, mas teria de conversar com ela
primeiro.

Era meio-dia, e achei melhor ligar ao Armando


para conversar… poderia também ter ligado à Mafalda,
mas tinha o pressentimento de ela ser uma boca de
trapos.
Liguei ao Armando para ele passar por minha
casa por volta das quatro horas da tarde. Ele
perguntou-me o que se passava.

“É uma longa história a sério… quando cá


estiveres eu conto.”

“OK meu, na boa. Mas estou preocupado


contigo chavalo, essa voz não é normal.”

As horas passaram, devagar é certo, mas


passaram. A cada segundo que passava, mais confuso
ficava, mas eventualmente lá a campainha tocou.
Contei ao Armando o que se tinha passado… tanto a
parte da Cassandra, como a parte da Marta.

“Que cena marada meu… pelos vistos gostaste


mesmo da ruiva. Quanto à Marta, não esperava que ela
se sentisse atraída por ti… quem diria, o que pensas
fazer?”

“Não sei meu, acho que é melhor desistir da


Marta e ficar com a Cassandra.”

“Acho que fazes bem puto, são ambas boas


mas vê lá no que te metes e não magoes ninguém com
esta história toda… mudando de assunto nem sabes a
novidade, comecei a andar com a Mafalda. Parece que
o Bartolomeu fez merda e enrolou-se com a Soraia da
tua turma…”
Eu nem queria acreditar, apesar de sempre ter
achado o Bartolomeu neste tipo de coisas um completo
idiota, sempre achei que fosse só garganta. Caso não
tenha contado, o Armando era o melhor amigo da
Mafalda… eventualmente tinha que acontecer certo?

“Agora tenho de ir, vou com a Mafalda ao


cinema, falamos depois pode ser? Fica bem.”

Só faltava então ter uma conversa com a


Cassandra, que não encontrava hora para chegar a
casa. Decidi então dar uma volta por Lisboa. A cidade
parecia triste, com o céu negro, como se estivesse
quase a chover. Sentei-me num banco que se
encontrava num pequeno jardim e comecei a pensar na
Marta de Vasconcelos… O meu caso estava cada vez
mais complicado. Dava por mim sempre a pensar que
entrava em casa e via a Marta, completamente nua na
minha cama, com os seus cabelos loiros compridos a
esconder os seios, com a roupa dela espalhada pelo
chão do meu quarto… e cá estou eu a divagar outra
vez.

Depois de ficar duas horas no parque com estes


pensamentos perversos fui para casa, a Cassandra
tinha acabado de chegar.

“Então, como correu a conversa?” – Perguntei.


“Como seria de esperar… desagradável. O
acordo era péssimo para não variar, mas amanhã falo
disso melhor contigo.”

Eu disse-lhe que precisávamos de conversar


sobre o que aconteceu entre nós no Sábado à noite. Ela
sorriu e respondeu.

“Ouve, o que aconteceu entre nós não precisa


de compromisso. O meu problema nas relações surge
quando elas se tornam mais sérias… o que quero dizer
com isto é que, no meu entender, não precisamos do
título de namorados… que dizes? Mantemos esta
proximidade mas sem compromisso.”

O acordo parecia-me bem, pensando bem até


correspondia ao que procurava, depois de toda esta
história com a Marta, contudo sabia que, mais tarde ou
mais cedo, a nossa relação ficaria séria. Aceitei então a
proposta, ela deu-me um beijo e disse:

“Só tenho uma condição… apesar de não ser


sério, nada de traições… por nenhuma das partes OK?”

Mais uma vez, o acordo parecia-me bem. Mas


estava receoso em relação a esta parte porque o corpo
nu da marta ainda me ocupava o pensamento. Mas a
verdade é que sentia algo pela Cassandra para além da
atração, por isso pensei “porque não?”.
Passaram-se então 3 meses, eram férias de
Natal e ainda namorava com a Cassandra. Consegui
resistir à tentação da Marta até aquela altura, e sentia-
me como um vencedor por isso.

Mas vamos lá fazer um breve resumo destes


ditos 3 meses.

A Mafalda decidiu ir morar com o Armando,


parecia que a relação deles estava a ir bastante bem,
quer dizer, tinham os seus contratempos às vezes, mas
nada de grave.

O Bartolomeu decidiu seguir o mesmo caminho


do Salomão… as brocas. Quer dizer, uma de vez em
quando ainda percebo… mas sempre? Aquilo que
aconteceu com a Soraia tinha sido algo apenas
passageiro e começou a afastar-se cada vez mais de
nós. Juntou-se a um grupo… invulgar, até para ele.
Pareciam daquele tipo de pessoa que odeia todas as
pessoas que são diferentes (raça, religião, orientação
sexual…). Estava com receio do que o Bartolomeu
pudesse fazer, mas a vida dele não é da minha conta,
pois não?

A Marta… bem a Marta ficava mais bonita a


cada dia que passava, sempre que passávamos um pelo
o outro fazíamos um olhar cúmplice, como se
estivéssemos a esconder algo. Felizmente a Cassandra
nunca reparou, mas a infelizmente atração continuava
lá.

Quanto a mim e à Cassandra… nós estávamos


bem. A nossa relação estava estável e parecia que nada
poderia abalar a nossa relação… mas claro que não é
bem assim. A Marta era a única que o poderia fazer.

Conheci também a personagem de que tanto o


Armando falou, o Rogério. Era um tipo bastante
simpático e muito altivo. Acho que criei uma boa
impressão nele, pelo menos não era rude e tratava-me
como um Vasconcelos.

E isto foi basicamente o meu primeiro período,


agora as férias é que foram algo completamente
diferente…

Chegou então a época Natalícia… época a qual


não pude celebrar com a minha família, pois
infelizmente tinham ido viajar… República Checa penso
eu. Engraçado, eles ganharam a viagem por terem
participado num concurso qualquer. Por isso o jantar
de Natal iria ser, possivelmente, só com a Cassandra.

Cheguei a casa na tarde de dia 20 de


Dezembro, depois de ter ido tomar um copo com a
Mafalda e com o Armando, quando vejo a Cassandra
sentada no sofá, com cara de quem tinha visto um
fantasma. Perguntei-lhe o que se passava.
“Recebi dois telefonemas hoje… dois
telefonemas que não esperava…”

Eu comecei a ficar assustado e perguntei-lhe


quem tinha ligado.

“Não sei se já te apercebeste, mas toda a


minha família tem nos apelidos “Belchior Teixeira de
Vasconcelos”, menos eu. Em vez disso, o meu nome
completo é Cassandra Paiva Teixeira de Vasconcelos.”

“Sim, agora que falas nisso… mas porquê?”

“Esta é a razão pelo meu pai não curtir muito


de mim. O Baltazar de Vasconcelos não é o meu pai
biológico. E hoje recebi um telefonema do meu pai
biológico. Ele quer, ao fim de tantos anos, ver-me.”

Já sei o que estão a pensar… mais um


estereótipo. Ou provavelmente já estavam a prever
este acontecimento. Isso pouco importa. Eu perguntei
à Cassandra o que ela queria fazer.

“Eu não sei se vou ter com ele, mas se for


gostava que fosses comigo, para ter força para o
enfrentar ao fim de tanto tempo.”

“Mas é claro que vou, mas tens a certeza que


queres ir?”
“Obrigado amor, e sim com o teu apoio vou. Ele
disse que era amanhã, às três horas da tarde, no
parque ao pé de casa.

“E outro telefonema?” – Perguntei.

“Era o Baltazar. Ele perguntou-me se eu e tu


gostaríamos de ir ao jantar de véspera de Natal deles.
Se quiseres podemos ir.”

Eu vou admitir, estava um pouco


desconfortável com a situação de jantar em casa dos
Vasconcelos, tanto que ia lá estar a Marta e
possivelmente o Afonso. Mesmo assim, e
estupidamente, aceitei o convite. Fiquei contudo
curioso pela Cassandra ter ficado com o nome Paiva em
vez de Belchior. Decidi perguntar-lhe.

“Não foi escolha minha amor, como deves


calcular, o primeiro dos irmãos Vasconcelos a nascer foi
o Rogério. O Rogério, por ser homossexual, não era
propriamente o que o Baltazar esperava, por isso ele
obrigou a minha mãe a ter outro filho, neste caso uma
filha. Uma filha que obedecesse aos requerimentos e
caprichos dos Vasconcelos, a Marta. A Marta sempre
foi a favorita, boa em tudo o que faz… mesmo assim ela
não é nenhuma santa… é certo que é ingénua mas não
é nada santa. Devido à personalidade cruel e injusta do
Baltazar, a minha mãe começou a afastar-se mais dele,
não resistindo aos encantos do meu verdadeiro pai, um
rapaz com que ela trabalhava, o Raúl… Paiva. A minha
mãe traiu o Baltazar com o meu pai, e como fruto dessa
traição nasci eu. O Baltazar perdoou a minha mãe mas
com uma condição, eu tinha de manter o apelido do
meu pai verdadeiro, para a minha mãe nunca esquecer
a vergonha daquela traição…”

Eu fiquei incrédulo com tanta história à volta


dos Vasconcelos… até pensei que era melhor não ir ao
jantar, contudo a Cassandra queria muito ir, via-se nos
olhos dela, por isso deixei as minhas incertezas de
parte.

O resto do dia 20 passou a correr. Estávamos


agora a pensar no reencontro entre a Cassandra e o
pai.

Eu não consegui dormir por pensar neste


assunto… fiquei a pensar em como se sentiria a
Cassandra naquele reencontro, se o caso fosse comigo,
as reações de ambos… enfim, estava a pensar como
seria o dia de amanhã.

O dia chegou, e a Cassandra estava bastante


nervosa, notava-se pela maneira dela agir. Arranjámo-
nos e almoçámos para ir de encontro ao pai da
Cassandra. O dia estava negro e um pouco chuvoso…
parecia que estava a adivinhar como seria o encontro
entre pai e filha. Mesmo assim lá estava ela… contra
todos os desafios do tempo e a sua própria moral, para
conhecer o pai de que há tantos anos ouvira falar, mas
nunca soubera nada.

No parque encontrava-se um homem… um


homem que o tempo se encarregou de mal tratar,
entre os seus 40 e 50 anos, contudo parecia um
homem que vivera a vida com tudo o que tinha, um
homem viajado, de costumes muito mistos… talvez
fosse apenas pressentimento meu, tanto que nunca
cheguei a conhecer muito bem este homem.

“Cassandra, és tu?” – Disse o homem, ainda um


pouco nervoso.

“Sim sou eu. O que quer de mim ao fim de


tantos anos?”

“O teu perdão filha…”

“Perdão de quê? Não tiveste culpa de nada. –


Disse Cassandra, correndo para abraçar o pai.

“Desculpa Cassandra… se não te importares


preferia falar contigo a sós. Isto se o rapaz também não
se importar.”

A Cassandra disse logo que não, mas eu achei


melhor eles falarem a sós. A Cassandra ao início não
gostou muito da ideia, mas eu disse-lhe:
“ Ouve amor, tu só me queres nesta conversa
para te dar força, mas tu já tens toda a força que
necessitas… tu és a própria força.”

Ela sorri e beija-me.

“Talvez tenhas razão amor. Desculpa fazer-te


vir até aqui.”

Eu disse-lhe que não fazia mal, mas agora para


onde iria eu? Devido à chuva decidi ir para casa… e
pensei em comprar um carro. Um carro faz imenso
jeito e também já tinha algum dinheiro junto… mas a
compra do carro fica para o dia de Natal.

Quando conseguia finalmente ver a minha casa,


choquei contra uma pessoa.

“Você está… Marta?! Que fazes aqui?” –


Perguntei-lhe, ainda incrédulo pelo facto de a ter
encontrado naquele momento.

“A merda do táxi enganou-se na rua e agora


tenho de ir a pé… foda-se só me sai é duques.”

Eu expliquei-lhe que a minha casa estava


mesmo ali e perguntei se ela não queria entrar até
acalmar a chuva.

“Não sei se é boa ideia…”

“Anda lá, sem segundas intenções a sério.”


Ela aceitou o convite que lhe fiz. Mesmo assim
sentia as dúvidas que ela ainda tinha acerca do meu
convite, decidi contudo ignorá-las, apesar de eu próprio
ter dúvidas.

Ficámos meia hora a conversar… eu sei que foi


pouco tempo mas já explico o porquê. Ao fim dessa
meia hora não consegui resistir mais à tentação. Ela
estava encharcada, com as gotas de água a escorrer-lhe
sobre o seu decote, a roupa cada vez mais curta devido
à água, que lhe realçava as mamas… e foi nesse
momento que todos os meus pensamentos perversos
em relação a esta personagem regressaram. Só
imaginava eu a despi-la, tirando-lhe a curta blusa,
botão a botão. Só me imaginava a beijá-la, morde-la,
apalpa-la… até que não resisti mais. Aproximei-me da
Marta, enquanto ela se ria de uma das minhas piadas e,
esquecendo por completo a Cassandra, tentei beijá-la…
E mais uma vez ela afasta-me, mas desta vez de uma
maneira mais esforçada.

“É melhor não fazermos isto…” – disse ela


como quase a faltar-lhe o folgo.

Ignorei e voltei a tentar, acabando ela ceder ao


beijo. Comecei a despi-la tal como imaginei, tirando-lhe
a blusa botão a botão, contemplando o peito dela.
Levei-a para o quarto e deitei-me em cima dela, com a
minha mão entre as suas pernas, mordendo-lhe o
pescoço.
“Isto é errado” – Disse ela sem folgo e voltando
a beijar-me.

Aquilo que realmente desejava estava


finalmente a acontecer. Senti-a o calor do corpo dela e
a excitação que por vezes me faltava com a Cassandra.
Como já deu para perceber, fiz sexo com ela, sexo de
uma forma animalesca e excitante.

Talvez tenha sido demasiado fraco, falhando


controlar os meus impulsos sexuais ao ver o decote da
Marta, traindo a Cassandra da pior maneira possível,
com a irmã.

Faziam-se seis horas da tarde, e a Cassandra


ainda não tinha regressado, tinha-me mandado uma
mensagem para o telemóvel a dizer que voltava tarde,
pois ia jantar com o pai, enquanto eu estava deitado
com a sua irmã, os dois agarrados, após duas horas de
puro sexo selvagem. Mas rapidamente a Marta estraga
o momento.

“Eu sinto-me um pouco culpada, sabes? Traí o


meu namorado e a minha própria irmã… isto nunca
deveria ter acontecido. Como pude ser tão fraca?!”

“O que já está, já está. Não nos estávamos a


sentir culpados quando isto aconteceu pois não? Mais
vale termos finalmente assumido isto, em vez de
estarmos a enganar as pessoas que nos amam por mais
tempo.”
“Talvez tenhas razão. Mas e se não passar
disto… de uma mera atração? Eu não quero estragar
mais de um ano de relação com uma pessoa impecável
como o Afonso, e tu deverias pensar o mesmo em
relação à Cassandra. Eu prefiro manter o que
aconteceu entre nós em segredo. Assim continuamos
as nossas vidas normalmente.” – Disse ela enquanto se
vestia.

Eu estava a começar a perceber que ela gostava


mesmo do Afonso, um rapaz que só iria conhecer no
jantar de Natal. Mesmo assim não desisti, não desta
vez.

“E isso quer dizer que vamos negar aquilo


sentimos um pelo outro? Vamos estar a enganar as
pessoas que nos amam porque, ao contrário deles, não
conseguimos admitir um ao outro?”

“JÁ CHEGA!” – Grita Marta. “Aquilo que


aconteceu entre nós foi um erro e nunca mais voltará a
acontecer percebes? Eu amo o Afonso percebes? Não
estou com ele à mais de um ano sem motivo. E espero
que fiques calado e não contes nada disto à Cassandra,
ou eu volto aqui e dou cabo de ti, estamos
entendidos?”

“Tu não o amas, aliás… até agora nunca amaste


ninguém, e agora que estás a sentir algo semelhante a
isso por mim estás a fugir, porque tu tens medo, tens
medo de que este sentimento te torne fraca.”

“CALA-TE!” – Disse dando-me um estalo. “TU


NÃO FAZES PUTA IDEIA DO QUE ESTÁS A DIZER. Eu
volto a repetir, eu AMO o Afonso. Se te chibas do que
aconteceu à minha irmã nem sabes o que te faço,
PERCEBESTE?

Eu disse que sim, não por opção minha, mas


por perceber que ela não queria deitar a relação com o
Afonso à lama. Decidi respeitar isso, mas
principalmente, decidi respeitar a minha relação com a
Cassandra.

Ela saiu da minha casa batendo com toda força


a porta de entrada. Tudo o que consegui dizer foi: “Tu
um dia dar-me-ás razão Marta”.

Para ser honesto eu não estava arrependido do


que acontecera há momentos atrás, estava sim muito
pensativo. Não conseguia deixar de imaginar o corpo
nu da Marta em cima do meu, os beijos dela e a
química que tivemos… como disse anteriormente, eu
era um puto, tudo o que queria saber era do exterior e
estava-me simplesmente a fuder para os sentimentos.

Apesar de ter prometido guardar segredo, tinha


de contar ao Armando, talvez ele me pudesse ajudar
em alguma coisa, e queria também gabar-me um
pouco. Liguei ao Armando, e convidei-o a passar lá por
casa no dia seguinte.

“Na boa meu… estás com uma voz estranha ao


telefone. Aconteceu alguma coisa?”

Eu disse que depois contava. Desliguei o


telefone e vi televisão até ao regresso da Cassandra.
Nada de jeito dava na televisão, apenas dava mortes,
feridos, corrupção… as coisas do costume, as notícias
do costume, com as pessoas do costume. Nem sequer
jantei, a verdade é que nem fome tinha, estava mais
ocupado a pensar no que tinha acontecido naquele dia
de 21 de Dezembro.

Finalmente, a Cassandra chegou a casa. Eu


perguntei-lhe como tinha corrido o dia.

“O dia foi brutal, ele é melhor pai do que


alguma vez o Baltazar será. E vê lá tu que me convidou
para ir morar com ele para o estrangeiro, imaginas?”

Ela contou ainda que o pai foi bastante


atencioso, e ficaram a conhecer os defeitos e
qualidades um do outro, eram de facto muito
parecidos. Ambos eram “rebeldes”, não gostavam de
pessoas snobes, teimosos e sempre bem-dispostos.

“E tu és o melhor namorado do mundo, foste


muito compreensivo hoje, és mesmo o amor da minha
vida.”
E agora sim senti os remorsos todos. Aquilo foi
literalmente uma facada no coração. Eu até era para
contar o que se tinha passado e quebrar a promessa
que fiz à Marta… mais uma vez… mas ela estava tão
feliz que não consegui. Finalmente estava a começar a
preocupar-me um pouco mais com sentimentos.

Mais uma vez não consegui dormir a noite. Os


remorsos eram tantos… e o pior é que, apesar dos
remorsos, estava sempre a pensar na Marta. Cada vez
mais percebia a grande merda que tinha feito naquele
dia, mesmo que tenha sido algo que mais tarde ou mais
cedo teria de acontecer. Com um pouco de esforço lá a
noite passou, mas os pesadelos pouco me deixaram
dormir, e pior estaria ainda por vir.

A manhã de dia 22, para mim, foi bastante


constrangedora. Sempre que a Cassandra me beijava
sentia o perfume da Marta e o seu morder no meu
pescoço e lábios.

A Cassandra não era parva, e sabia que algo se


passava, tanto que me decidiu perguntar.

“Não se passa nada amor. Ontem tive um dia


complicado só isso. Mas já está tudo bem.”

Ela sorriu e beijou-me.

“Gostava que me contasses o que se passa, não


gosto nada de te ver assim, espero que logo à noite,
com o tratamento que te vou dar, fiques mais
animado.”

E como vocês sabem, havia mesmo alguma


coisa, mas como é que ia explicar isso à Cassandra?
Imagino só: “Olha amor, sabes a tua irmã Marta? Comi-
a toda enquanto estavas com o teu pai”.

E para piorar as coisas, continuava a sentir


saudades da Marta, ou seja, do corpo dela, do calor
dela e do seu toque suave. Decidi estupidamente ligar-
lhe para falarmos sobre o que se passou, mais uma vez.

Ela demorou a atender e quando finalmente o


fez disse:

“O que queres?”

“Quero falar sobre o que aconteceu, e


esclarecer tudo de uma vez por todas. Não podemos
negar o que aconteceu Marta.”

“Ouve, já conversámos tudo o que havia para


conversar, pensas que esta merda me foi indiferente?
Népia não foi, mas foi um erro. Já vai ser difícil olhar-te
nos olhos quando estivermos a jantar no dia 25, não
tornes as cenas mais difíceis, por favor”.

“Se estás a dizer para não tornar as coisas mais


difíceis é porque tu sentes o mesmo que eu, apenas és
demasiado egoísta para o admitires.”
“DESAPARECE DA MINHA VIDA!”

Ela desliga-me o telefone na cara, e a única


coisa que conseguia pensar era:

“Só espero que não te arrependas disto”.

Pus-me também a pensar se esta história toda


foi realmente um erro como ela disse, ou se a vida me
estava apenas a pôr à prova, para ver se seguia o que
realmente queria ou simplesmente saía de cena.
Independentemente das opções, ficar com a Marta era
a mais difícil e ao mesmo tempo a mais apetecível.

A Cassandra vai ter comigo e pergunta se está


tudo bem. Eu tento disfarçar com um sorriso e
respondo que sim.

“Tu não andas bem estes últimos dias. Se não


queres falar sobre isso, por mim tudo bem, mas devias
de falar com alguém. Eu combinei com o meu pai ir ao
cinema, vejo-te mais logo”.

Ela beija-me e sorri com cara de preocupação.


De um certo modo apercebi-me de que aquela rapariga
era a “mulher perfeita”, mas naquela altura da minha
vida, procurava algo menos sério, e como mais tarde
me arrependi dessa decisão.
Mais tarde nesse dia, o Armando bate à porta
de minha casa e quando lhe abro a porta, ele abraça-
me.

“Estava super preocupado contigo puto… o que


se tem passado contigo?”

“Comigo? Tu é que me abraças feito maricas e


eu é que mereço preocupação? A Mafalda não está a
fazer um bom trabalho”.

“Pois, pois… agora a sério meu, que tens?”

Contei-lhe então o que tinha acontecido, não


vale a pena estar a escrever exatamente o que disse,
mas demorou algum tempo a explicar. Contei-lhe que
tinha dormido com a Marta, que sentia algo por ela e
pela Cassandra… enfim, tudo.

“Foda-se! Onde tu te foste meter puto. Ainda


por cima com as irmãs Vasconcelos. Se o Rogério
descobre estás fodido, se a Cassandra descobre estás
fodido, se o Afonso descobre…”

“Sim, sim estou fodido eu sei. Mas achas que


devo lutar pela Marta ou ficar com a Cassandra?”

Nesse momento, o Armando deu-me o melhor


conselho que alguém me poderia ter dado naquela
altura, aquele que eu deveria ter seguido:
“Nem com uma, nem com outra. Meu está na
hora de assumires responsabilidades. Trais-te a
Cassandra, fizeste a Marta trair o Afonso, não achas
que a brincadeira acabou? A Marta bem podes
esquecer, porque ela não larga o Afonso de certeza.
Quanto à Cassandra, deixa ela em paz, porque a vais
magoar com esta história, e não é pouco.”

“Mas…”

“Mas o caralho meu! Já não és aquele gajo que


conhecia, está na hora de assumires este caso e não
magoares mais ninguém. Quando resolveres este
problema, volta a falar comigo.”

Ele saiu da minha casa irritadíssimo comigo.


Tentei ligar-lhe mas ele não atendia o telemóvel.
Percebi mesmo que tinha metido a “pata na poça”, e
que estava na altura de esclarecer todas as pontas
soltas.

Não sabia o que fazer. Todas as minhas


certezas, aquelas de que a Marta era realmente a
pessoa com quem queria ficar, pareciam agora dúvidas
que eu não conseguia esclarecer. E ainda por cima, a
única pessoa que me poderia ajudar desaparecera da
minha vida de vez… o que deveria eu fazer?

Após ter pensado durante horas nas duas


irmãs, a decisão que tomei no momento foi de sair de
casa por um bocadinho, em busca de uma resposta no
fundo de uma garrafa. Mandei uma mensagem à
Cassandra a dizer que chegaria tarde a casa,
respondendo ela que não iria dormir a casa pois
combinou ficar em casa do pai esta noite. Caminhei em
direção a um bar perto do meu apartamento.

O bar parecia ser um pouco melancólico, e eu


estar lá de noite também não ajudava em muito a
reduzir essa melancolia. Bebi quatro cervejas e de nada
valeu, continuei com as mesmas dúvidas. Isto até um
rapaz se decidir sentar a meu lado no bar.

“Uma cervejinha Álvaro se faz favor.” – Disse.

Eu mantive-me calado, olhando para a garrafa


meio-vazia que tinha nas minhas mãos.

“Então e tu rapaz? Estás aqui na tua… quarta


cerveja porquê?” – Perguntou-me.

“Ouve, se tu és gay… meu, por mim é na boa


mas não estou interessado.” – Respondi.

“Népia meu não sou gay. Estou é a ver que não


estás muito bem… conta aí o que se passa.” – Voltou a
insistir.

“Porque estás tão interessado?”


“Meu… tu precisas de ajuda. Deixa-me ajudar
rapaz. Fala comigo porque às vezes os desconhecidos
até conseguem ajudar melhor que os conhecidos. Dá-
me uma hipótese.”

Eu estava mesmo mal e não sabia o que fazer


mais, por isso aceitei a ajuda daquele rapaz e contei-lhe
o que acontecera. Não citei nomes mas expliquei da
melhor maneira que consegui. Eu via lentamente a cara
do rapaz a mudar… como se não estivesse a acreditar
nesta história. Mal acabei de contar ele disse:

“Epá… realmente isto é mesmo uma história


complicada. Pelo que eu percebi tu amas uma, mas
sentes-te atraído pela outra… ainda por cima é irmã da
que amas. Acho que deves ficar com a miúda que
amas, a atração virá com o tempo. “

Ele tinha razão, realmente parecia mesmo a


melhor opção. Achei melhor voltar para casa, já com
uma resposta.

“Antes de ires, ficas aqui com o meu número,


qualquer coisa dá-me um toque.”

Aceitei ficar com o número e saí do bar. A ida


para casa já foi mais animada, estava convencido de
que iria ficar com a Cassandra e decidido a esquecer a
Marta. Pelo caminho lembrei-me de que não tinha
ficado com o nome do rapaz… nem no papel que ele
me tinha dado com o número estava lá o nome. Não
liguei muito a isso, mas se calhar se o tivesse feito, esta
aventura toda que se avizinha não teria acontecido.

Cheguei a casa e tive finalmente uma boa noite


de sono, algo que não tinha há algum tempo. Adormeci
a pensar na Cassandra e acordei a pensar na Cassandra.

Finalmente na manhã de 23 de Dezembro ela


chegou a casa.

“Amor, tás em casa?” – Pergunta ela.

Eu saí da cama e corri até ela, abraçando-a.

“Parece que não me vês há anos, o que se


passa?”

“Eu ontem apercebi-me do quão otário tenho


sido para contigo nestes últimos dias. E quero
compensar-te.”

Ela beija-me radiante. Aí percebi o quão


ausente estive naqueles últimos dias.

Passámos o dia juntos. Almoçámos e jantámos


fora. Passeámos no parque e namorámos um pouco,
algo que já não fazíamos há algum tempo… enfim.

Quando demos pelo tempo passado,


estávamos enrolados no sofá de casa, com a lareira
acesa e um cobertor.
“Amor podes contar-me o que aconteceu
contigo nos últimos dias? Estavas muito estranho.” –
Perguntou a Cassandra.

“Foi algo idiota, um erro que cometi, algo que


já está esquecido. Preferia não falar do assunto
novamente.”

Ela parou de sorrir e perguntou:

“Tu não me traíste pois não?”

Fiquei sem jeito. Não sabia muito bem o que


dizer, até que consegui apenas dizer:

“Disparate… achas?”

Ela ficou com uma cara de quem não pareceu


muito convencida, mas rapidamente mudou de
expressão e disse:

“Que estupidez… esquece esta pergunta, eu sei


que não serias capaz disso.”

Eu suspirei de alívio. Quer dizer, agora que


tinha deixado esse fardo para trás é que ela começa a
suspeitar? Não seria justo.

Dormi finalmente de consciência tranquila a


nível de amores. Infelizmente faltava a parte da
amizade ainda ser resolvida. Tinha perdido o meu
melhor amigo… mas agora que tinha tomado uma
decisão poderia finalmente falar com ele. Contudo só
no dia de Natal, a véspera era para a família da minha
amada, que naquele dia era a Cassandra… digo isto
porque, enfim, não sabemos o futuro.

Chegou finalmente o dia da prova de fogo. Dia


24 de Dezembro. Se conseguisse resistir à Marta e não
sentir nada, conseguia deixar este pesadelo todo para
trás.

Muitas vezes nesse dia cheguei a acobardar.


Repensei várias vezes se iria àquele jantar, mas sentia
que tinha algo a provar.

“Tens a certeza que queres ir?” – Perguntava-


me a Cassandra de vez em quando.

“Sim, temos de ir. Vamos mostrar aos


Vasconcelos o quão felizes somos sem eles.”

Esta foi a mentalidade que tive o dia todo, até


que chegou a grande hora. Apanhámos um táxi até à
casa de Baltazar. Estava pronto para enfrentar a Marta
e todo aquele erro…

Chegámos à porta da casa. Quer dizer, aquilo


não era uma casa qualquer… era como uma mansão.
Um jardim enorme e tudo muito arranjado, ao
particular estilo do rico. Quem nos abriu a porta foi
uma empregada da casa. Ela levou-nos até à anfitriã, a
mãe da Cassandra.
“Olá filha… ah o senhor deve ser o namorado
da minha filha… sou a Raquel de Vasconcelos”.

A Cassandra abraça a mãe. As saudades


apertavam, afinal, não se viam desde que o pai a tinha
expulsado de casa.

“ A tua irmã e o Afonso chegaram agora. Vai lá


ter com eles”.

A Cassandra agarra na minha mão e vai ter com


a irmã e com o Afonso.

“Malta, este é o meu namorado!” – Disse a


Cassandra.

Quando olhei para o Afonso, eu não quis


acreditar… era aquele rapaz que tinha conhecido no
bar.

“Espera… eu conheço-te. Tu és o rapaz do bar…


isso quer dizer que… tu traíste a tua namorada com a
minha própria namorada.” – Constatou Afonso.

Ele aproxima-se e dá-me um soco. Eu caio no


chão meio zonzo. Mas conseguia ver a falta de reação
da Marta e o corpo estático da Cassandra. Apesar da
dezena de socos que levei até o Baltazar nos separar,
tudo o que eu senti foi uma lágrima que a Cassandra
deixou cair.
As duas irmãs saem daquela casa. A Cassandra
pela porta da frente e a Marta pela porta de trás. O
Baltazar expulsa-nos de casa, a mim e ao Afonso.

O Afonso pega no carro e sai daquele lugar


enquanto eu enfrentava o dilema da minha vida… ou ia
ter com a Cassandra e tentar desculpar-me por tudo,
ou iria ter com a Marta, dando a vitória aos meus
desejos e impulsos?

Foi ai que rebentei. Não consegui controlar


mais o que sentia pela Marta e corri até ela.

Ela estava sentada a chorar numa árvore do


jardim da mansão. Eu fui ter com ela com um resquício
de esperança para que ela me respondesse:

“Marta, podemos…”

“SAÍ DAQUI!”

“É importante Marta, por fa…”

“SAÍ DAQUI! DESAPARECE DA MINHA VISTA. Tu


tens mesmo uma grande lata em vir cá ter comigo, mas
quem é que tu pensas que sou? Eu não tenho que ouvir
as tuas coisas. Vê se percebes que isto foi um ERRO, e
que tu és-me completamente indiferente… é que
realmente tu não…”

“CALA-TE DUMA VEZ! DEIXA-ME FALAR. Está na


hora de termos esta conversa de uma vez por todas.
Não queres falar azar o teu, mas vais ouvir o que tenho
para te dizer. Estamos entendidos.”

“… Tens 5 minutos.”

“Isto era inevitável Marta, isto que aconteceu


foi fruto de termos escondido aquilo que sentíamos um
pelo outro. Está na hora de sermos adultos e admitir.”

“Mas admitir o que? Não há nada para


admitirmos. Fizemos amor? Yah fizemos, mas isso não
significa nada.”

“Porque não lhe chamaste sexo? Chamaste-lhe


fazer amor…”

“Mas o que importa? Porque é que te importas


tanto com isto?”

“PORQUE EU TE AMO!”

“Tu… tu disseste a palavra…”

“Sim, eu disse que te amo. Era isto que queria


que ouvisses, agora a segunda parte desta história é
contigo. Tu amas-me ou não?”

Ela baixou a cabeça e manteve o silêncio.

“Vou só perguntar uma última vez… se não


responderes ou me disseres que não, eu viro as costas
e desapareço da tua vista de uma vez por todas, tal e
qual como desejas… tu também me amas ou não?”
Mais uma vez ela não responde, e eu não
consegui esconder mais a lágrima que estava por cair.

“Então nesse caso, vou desparecer como tu


tanto queres…”

Virei as costas e fui embora, mas nem 5 passos


tinha dado ela vira-me e beija-me.

“Eu também te amo.” – Disse ela a sorrir.

“Eu sei que amas.” – Disse-lhe devolvendo o


sorriso.

Ela volta a beijar-me, fechando assim a minha


noite de desastre numa noite de magia, mas como se
costuma dizer… toda a magia vem com um preço. E é
isso que vamos perceber já a seguir, porque esta
história… ainda mal começou!
2º Parte
Passaram-se 6 meses desde o incidente de dia
24 de Dezembro e há muito para contar para ser
honesto, comecemos pelo que aconteceu a todos nós.

O Armando e a Mafalda continuavam juntos,


mais felizes do que eu alguma vez esperaria ser.
Contudo só sabia de como as coisas estavam entre eles,
a partir da Mafalda, pois quando contei a minha
decisão ao Armando ele disse-me para nunca mais lhe
aparecer à frente… e se a Mafalda não tivesse
aparecido, eu teria ido ao hospital.

O Salomão e o Bartolomeu… também já não


me dava com eles, mas não por opção deles, mas sim
minha. Eles eram uma péssima companhia e traziam
más influências.

O Afonso… tornou-se curiosamente amigo do


Salomão e do Bartolomeu e perdeu tudo o que tinha
com as drogas. Deitou toda a sua vida para o lixo
depois daquela noite de Dezembro.

O Rogério arranjou um namorado e continuou


a sua vida despreocupada, contra tudo e todos. Eu na
verdade sempre admirei a sua coragem, mas ele era
mais um dos que me odiava pela decisão.

A Cassandra… bom, da Cassandra nunca mais


ouvira nada. Tanto quanto imagino ela deve ter ido
viver para casa do pai. Mas essa casa era onde? Ainda a
procurei até fim de Dezembro para lhe pedir desculpa,
mas nem na faculdade a encontro mais, pois tinha
mudado.

Mas vamos àquilo que realmente importa para


a história agora. Eu e Marta estávamos bem… durante
os primeiros 4 meses. Nos últimos 2 meses… sentia-me
vazio, como se algo me faltasse. Eu sabia o que era,
mas correr atrás de um prejuízo tão grande custar-me-
ia tudo o que construi. Mas mais tarde iria perceber
que o que tem de ser tem mesmo muita força.

Faltava uma semana para acabar o meu 1º ano


de Faculdade, depois entraria de férias de Verão.
Incrível como a Marta já tinha tudo planeado, íamos de
férias para a casa dos pais dela na Austrália. Para mim a
ideia era fantástica, mas por alguma razão que na
altura desconhecia, não queria ir. Tinha acabado as
aulas de segunda-feira e a contagem decrescente para
as férias tinha finalmente começado. Decidi não me
demorar muito e ir para casa, contudo pelo caminho
encontrei uma pessoa ao fundo da rua. Ela estava de
costas e tinha as mesmas características da Cassandra.
Tentei segui-la para ver onde ela iria, na esperança de
encontrar o sítio onde ela morava e pedir as desculpas
que andava a guardar durante 6 meses, mas quando
ela virou a esquina, tinha desaparecido como se não
passasse de uma simples recordação. Isto repetiu-se
até quinta-feira, sendo que neste ultimo dia decidi
passar por um bar antes de ir para casa.

Um pequeno aparte. Eu estava farto de aturar a


Marta. Tudo o que ela falava tinha qualquer coisa
relacionada com dinheiro e coisas superficiais. Tudo o
que tínhamos era atração, e não amor, como outrora
pensávamos.

Quando cheguei ao bar, ainda não estava a


escurecer e parecia uma autentica tarde de Verão, algo
que não acontecera nos últimos 3 dias dessa semana,
em que o céu se punha nublado como que avistando
pensamentos negativos. Pedi uma cerveja, na
esperança de apanhar um jogo de futebol, mas, para a
minha sorte, estava a dar noticias… e quando digo
minha sorte, não estou a ser sarcástico.

A notícia que estava a dar tinha o título de


“Líder Portuguesa Em Berlim”, titulo esse que me
chamara a atenção e me suscitou curiosidade. O meu
espanto, tal como se estivesse a olhar para um
fantasma, possuía todos os meus músculos faciais
quando vi a cara da líder portuguesa. Não era nada
mais, nada menos, que a Cassandra.
O único pensamento que passava pela minha
cabeça era: “Não pode ser”. A minha mão termia tanto
que eventualmente deixara cair a cerveja. O dono do
bar reclamava comigo mas eu nada ouvia, o tempo
tinha parado quando vi a cara dela naquele ecrã, a
minha ruiva de cabelos encaracolados e olhos verdes…
quando a notícia acabou eu sai do bar a correr. Queria
chegar a casa o mais rápido possível, não sabia bem
para quê, mas queria.

Quando cheguei a casa, a Marta estava à minha


espera:

“Porque demoraste tanto? Estava aqui à tua


espera para começarmos a fazer as malas, ou já te
esqueceste que a Austrália espera-nos?” – Perguntou-
me com um ar sarcástico.

“Ah… e ainda por cima estiveste a beber?


Fantástico. Agora namoro com um falhado. Ouve
amigo, para que precisas de álcool? Eu sou toda a
diversão que precisas…”

“Marta, deixa-me em paz está bem?”

“Ouve, eu começo a estar farta disto


sinceramente, começo a achar que foi um erro trocar o
Afonso por ti… o pobre coitado ainda deve ter alguma
esperança.”
“Eu também começo a achar que isto foi tudo
um erro.”

“Ai é? Devo relembrar-te quem traiu a


namoradinha santinha para ficar comigo? Tu não tens
moral para falar. E também… que raio é que a minha
irmã te poderia dar que eu não posso? Ou já te
esqueceste que eu sou fantástica.”

“Queres saber o que ela me poderia dar e tu


não dás? Amor. Tudo o que tu queres é superficial,
quase pareces uma barbie.”

“Meu querido, devo relembrar-te de quem fez


essa escolha, foste tu. A minha irmã era uma sonsa do
pior e…”

Eu não consegui aguentar mais e explodi.

“JÁ CHEGA! E TU O QUE ÉS? NÃO PASSAS DE


UMA OFERECIDA. Há dois meses que eu ando a pensar
na tua irmã de novo, aquela rapariga com quem eu
realmente devia ter ficado. Tu não vales nada, nem ao
calcanhar da Cassandra tu chegas. E sabes uma coisa?
Eu sei onde ela está, e eu vou ter com ela e dizer-lhe
tudo o que sinto.”

“E QUAL É A RESPOSTA QUE ESPERAS? Um


simples não ou um nunca na vida?”
“Eu espero um perdão. E agora deixa-me em
paz, tenho de ir a casa de um velho amigo resolver uns
assuntos.”

“Eu acho que sei o que vais fazer, e juro-te, se


tu saíres por essa porta, está tudo acabado entre nós
percebes? TUDO ACABADO.”

Eu já me encontrava junto da porta, contudo


não a conseguia abrir depois do que ela tinha dito:

“Tens razão Marta.” – Disse-lhe.

Dirigi-me a ela e beijei-a. Foi um beijo


prolongado até me afastar lentamente.

“Tens até ao final do dia para sair da minha


casa ou chamo a polícia. Eu vou atrás da tua irmã. Ah e
não te esqueças de levar as tuas coisas.”

“POR FAVOR NÃO ME DEIXES.” – Gritou a


Marta.

“É tarde demais para isso.” – Disse-lhe,


fechando a porta da casa.

Eu percebera agora o grande erro que tinha


cometido… mas iria ainda a tempo de o emendar? A
única coisa que tinha a certeza é que tinha que tentar.
Mas antes, tinha de ter a certeza de onde a Cassandra
morava, e só havia uma pessoa que me podia ajudar
com isso. Uma pessoa que a Cassandra se manteria em
contacto de certeza… o irmão.

Apanhei um táxi e fui à residência do Rogério


de Vasconcelos. Para ser sincero, tudo o que eu sabia
era a morada, que a Marta me falou uma vez.

A casa era um luxo, muito semelhante à casa


do pai Baltazar, com um jardim muito bem tratado e
um ambiente convidativo. Respirei fundo toquei à
campainha. Toquei uma e outra vez, e quando estava
prestes a desistir, o próprio Rogério me abre a porta.

Quando o Rogério se apercebe de quem sou faz


um momento… até que disse:

“Que pensas que fazes aqui? A Marta não está


cá.”

“Nós precisamos de conversar os dois… sobre a


Cassandra.”

O Rogério volta a fazer um momento de


silêncio até que finalmente responde:

“Tudo o que havia para dizer, devia de ter sido


dito à 6 meses atrás. Aliás…”

“Eu acabei com a Marta… deitei algo certo à


rua para falar-mos sobre a Cassandra… por favor, é
mesmo muito importante e pretendo ser breve.”
“… Entra lá.”

Eu entrei e ele disse-me para me sentar no sofá


da sala. Eu expliquei tudo o que tinha acontecido, na
ínfima esperança de fazer com que ele percebesse o
quão arrependido estava e que tudo o que queria era
voltar a vê-la.

“Hum… e porque me vens dizer tudo isto? Não


estou a ver o que é que eu tenho a ver com isso.”

“Eu duvido muito que ela nunca tenha falado


contigo este tempo todo. Preciso de saber a morada
dela… onde ela está percebes?”

O Rogério demorou um pouco a responder, até


que finalmente disse:

“O problema é que, apesar de eu ter falado


com ela várias vezes por troca de mails, ela nunca me
disse a morada, e ela demora sempre uma semana ou
duas a responder… mas talvez tenho algo que te possa
ajudar.”

O Rogério vai buscar o seu portátil e abre um


dos mails que tinha guardado.

“Alguma vez ela falou de mim num dos mails?”


– Perguntei curioso.

“Sim… mas deixou de o fazer à coisa de… 2


meses? Ela disse, no último mail em que foste
mencionado, que não podia continuar a pensar que
queria ser a bela daquele monstro.”

Eu não vou mentir, senti-me bastante


magoado, mas não podia mostrá-lo, porque a minha
dor ao ouvir aquilo era incomparável com a dor que ela
sentira durante todos aqueles meses.

O Rogério dá-me o portátil com mail já aberto,


pronto para eu ler. Não me lembro exatamente do que
o mail dizia, mas vou tentar reproduzi-lo aqui:

Querido Irmão,

Tenho cada vez mais saudades tuas, como


estão as coisas com o teu novo namoradinho, isso é
para durar?

Respondendo à tua pergunta… não ainda não o


esqueci mas tenho de o começar a fazer, aquele sacana
nem se deve lembrar de mim, deve estar neste
momento agarradinho à Marta. Mas esquecendo isso
estou a adorar Berlim.

Lembras-te daquele livro que falas-te para eu


ler? Encontrei-o na livraria “Seele des Buches” ao pé da
minha casa. Aquela livraria tem de tudo. Já te disse que
tenho saudades tuas? Sim provavelmente já ahahah.

Obrigado por todo apoio maninho, um beijo,

Cassandra <3
“Ela não me tinha esquecido por este tempo
todo… como puder ser tão…” – disse.

“Idiota? Egoísta? Insensível?”

“Obrigado Rogério, eu percebi a ideia… e acho


que tenho uma ideia para me encontrar com ela.
Quando chegar à Alemanha eu vou mandar-te um mail,
e tu vais recomendar-lhe um livro… ela irá à livraria e
eu vou encontra-la.”

“Até que não parece mal… mas que tal uma


ideia melhor, antes de fazeres isso, vê se ela está
registada na livraria. Se estiver, pede a morada. Se não
a derem ou ela não estiver registada… aí podes esperar,
mas é capaz de demorar.”

Eu a esta altura já não queria saber quanto


tempo levaria, eu tinha de estar com ela, vê-la nem que
fosse por uma última vez, e acima de tudo, pedir-lhe as
devidas desculpas. Contudo lembrei-me que a podia
assustar, por isso pedi ao Rogério para vir comigo.

“Estás louco? Meu querido, eu tenho um


casamento para preparar. Eu vou casar…”

“Nesse caso, felicidades. Mas acho que não


aguento a emoção em Berlim sozinho.”

“E se levares o Armando? Talvez ele queria ir, e


esta seria a vossa oportunidade de remendar as coisas,
e antes que perguntes como sei… a Marta falou disso
uma vez comigo.”

Eu agradeci ao Rogério, e só não fui falar logo


com o Armando porque já era tarde e tinha aulas no
dia seguinte. Quando abri a porta de casa já não havia
sinal da Marta, apenas um manuscrito em cima da
mesa a dizer “Espero que sofras”. Eu ri-me e fui dormir.
Comecei a pensar em como é que eu tinha optado pela
Marta em vez da cassandra, ou melhor, como pude ter
sido tão fraco ao ponto de ter traído a rapariga que
amava, por uma mera atração física.

Acordei no dia seguinte com um espirito


inabalável. As aulas, ao contrário do que esperava
passaram a correr.

Um aparte, vocês agora perguntam-se, então


mas como é que tu e o Armando se entendiam, já que
eram colegas de quarto? A verdade é que eu deixei de
dormir nos dormitórios para não haver conflitos.
Resumindo, evitávamos contacto desnecessário.

Mas como disse, as aulas passaram


rapidamente e em menos de nada, dei por mim de
férias, contudo não fui logo falar com o Armando, tinha
de ganhar coragem primeiro. Fui então ao meu bar
habitual para beber uma última cerveja antes de ir para
a Alemanha.
A minha mão tremia enquanto bebia aquela
cerveja. O bartender veio ter comigo e pergunta:

“Mas o que se passa contigo ultimamente?”

“Eu vou de viagem para a Alemanha, mas


primeiro tenho de convencer o meu Ex melhor amigo a
vir comigo… vou tentar conquistar a miúda dos meus
sonhos mais uma vez… não estou com esperança
Álvaro.”

“Deixa dar-te um conselho, se a tua amizade


com ele for verdadeira, vão arranjar maneira de se
entenderem… quanto á rapariga, pensei que tavas feliz
com a Marta, mas se achas que deves ir à Alemanha ter
com essa outra rapariga… é porque ela é especial.”

Com estas palavras ganhei a coragem que me


faltava, pousei e paguei a cerveja. Estava na altura de
falar com o Armando.

Dirigi-me a casa do Armando… um


apartamento simples e confortável. Respirei fundo e
bati à porta. Quem abre é o Armando:

“Mafalda… é para ti.”

“Não, por acaso é contigo que eu quero falar.”

“Tás a gozar só pode… desaparece daqui


masé.”
“Não enquanto não ouvires o que tenho para
dizer, é muito importante. Pelos velhos tempos.”

Ele tenta esconder o sorriso e manda-me


entrar.

“Pronto puto fala lá.”

“Eu antes de mais quero pedir-te desculpa pelo


idiota que fui. Aquilo que eu fiz à Cassandra não se faz
a ninguém. Infelizmente estive tão cego que só há dois
meses para cá é que percebi. E agora preciso mais de ti
do que nunca. Eu encontrei o sítio para onde a
Cassandra fugiu. Acabei hoje com a Marta para a
procurar.”

“Oh não… tu não vais magoar a Cassandra de


novo. Não faças isso.”

“Armando… ela está na Alemanha. Eu vou até


Berlim para pelo menos ter oportunidade de lhe pedir
desculpa. O acabar com a Marta aconteceu porque já
não fazia sentido estar com ela, quando o meu coração
pertence a outra mulher. E finalmente tive a coragem
de o fazer.”

“Sim, e porque viste ter comigo?”

“Quero que venhas comigo até a Alemanha.


Quero que voltemos a ser amigos. Até te pago o bilhete
se for preciso.”
“Tu és louco… eu não posso ir contigo até a
Alemanha. Esquece esse assunto e vai para casa dormir
que o teu mal é sono.”

“Sabes que eu vou amanhã para a Alemanha,


contigo ou sem ti.”

“Faz o que entenderes… a vida é tua.”

“Eu vou embora, obrigado por tudo… ah mas


não te esqueças, eu estou cá para tudo o que
precisares… continuas a ser o meu melhor amigo.”

Sai da casa do Armando um pouco triste, mas


esta viagem tinha que ser feita, mesmo que significasse
levar uma tampa dolorosa em Berlim, completamente
sozinho.

Quando cheguei a casa para dormir um pouco,


encontrei a Marta sentada no meu sofá com um
roupão.

“Amor por favor não vás… não me troque por


aquela sonsa.” – Disse-me beijando-me.

“Marta esquece. Eu já me decidi. Acabou, sai da


minha casa.”

“Talvez eu possa mudar a tua decisão.”


Automaticamente a seguir, ela despe o roupão,
ficando apenas em lingerie. Ela dirige-se até mim e
suspira ao meu ouvido:

“Vamos para o quarto”.

Ela volta a beijar-me, tentando direcionar-me


para o quarto. Mas eu estava decidido em mudar. E eu
não vos vou mentir, eu estava tentado. Possuir o corpo
dela uma última vez é algo tentador, mas eu não
conseguia. Eu empurrei-a ligeiramente e disse:

“Não, eu não vou fazer isto outra vez. Sai da


minha casa.”

“O que se passa? Ganhas-te moral foi?”

“Sim, e não vou perde-la de novo por uma


noite contigo. Eu estou mudado e vou mostrar isso à
tua irmã. Agora sai da minha casa já.”

Ela começa a chorar e vai à sala buscar o


roupão. Antes de sair da minha casa ela disse:

“Espero que morras infeliz com ela, como tanto


queres… ODEIO-TE.”

Não fiquei muito magoado com o que ela disse,


nem devia. Depois dela sair, fui direitinho para a cama,
pois o dia seguinte seria um longo dia. Mas como seria
de esperar, não dormi nada, fiquei a imaginar como iria
abordar a Cassandra. A meio da noite lembrei-me
inclusive de que nem malas eu tinha feito, ou melhor…
nem tinha sitio para onde ficar. Talvez pudesse ficar
num motel ou assim. Resumindo, acabei por fazer
direta por ter ficado a preparar as malas e a pensar no
que iria fazer.

Eram agora 6:30 da manhã e estava pronto


para sair. O táxi que chamara já estava à minha espera
para me levar ao aeroporto. Olhei uma última vez para
a minha casa. Parecia agora vazia, triste e sem vida.
Fechei a porta do apartamento, na ínfima esperança de
quando voltasse, a Cassandra estivesse a meu lado, a
sorrir.

Quando cheguei ao aeroporto fui surpreendido


quando encontrei o Armando à porta:

“Meu que fazes aqui?”

“Eu fui estupido. Estou aqui para irmos os dois


para Berlim. Não te ia deixar fazer uma loucura sem
mim puto.”

“O que te fez mudar de ideias?”

“O que tu me disseste fez sentido, e finalmente


te apercebeste do mal que fizeste e estás a tentar
remendá-lo, mesmo que implique deixar algo que
estava garantido. E isso é de valor.”
Eu abracei-o e fomos comprar os bilhetes para
Berlim. A fila para comprar o bilhete era interminável,
mas pior foi o tempo que demorou até ao avião chegar,
tanto que quando chegou, parecia mentira.

Passadas 4 horas o avião chegou, e chegámos


umas horas depois a Berlim, sem qualquer problema.
Cansado da viagem o Armando pergunta:

“Não achas melhor dormir um pouco antes de


procurar a Cassandra?”

“Sim… acerca disso… temos de procurar um


motel primeiro!”

“Motel? Mas qual motel, qual quê? Eu tenho


família em Berlim, vamos ter com eles e pedimos para
ficar uns tempos.”

“E é na boa? Eu não quero incomodar nada.”

“Achas? É na boa. Eu até já tinha perguntado


antes de vir para cá, é só ir ter com eles e está feito.
Ainda bem que não alugaste nada, para não gastar
dinheiro desnecessário.”

Por acaso, a ideia de ficarmos uns tempos na


casa dos familiares do Armando veio mesmo a calhar,
sendo eles locais, poderiam dizer-me onde se
encontrava a livraria, ou melhor ainda, saber quem ela
era e ajudarem-me a encontra-la.
Faço agora um pequeno aparte. A cidade de
Berlim não era tão bonita quanto pensava… era uma
cidade muito poluída e industrializada. Vamos dizer
que preferia Lisboa mil vezes. Todos os que lá viviam
pareciam estar de mau-humor e mal com a vida. É
verdade que a nível de mulheres havia verdadeiras
beldades, mas eu e o Armando não estávamos muito
focados nisso.

Eram agora 16:30 em Berlim, mais uma hora


que em Portugal. Infelizmente não se avistava qualquer
táxi, e aqueles que encontrávamos já estavam
ocupados por outros passageiros, tanto que só
chegámos à casa dos familiares do Armando umas duas
horas depois… a pé, ou seja, deu para conhecer a
cidade.

Quando chegámos à porta de casa dos


familiares do Aramando, nem força tínhamos para
bater à porta de casa… foi mesmo num último esforço
que o fizemos. À porta encontrava-se uma senhora já
com idade:

“Armando, és tu?” – disse a senhora.

“Sim tia, sou eu. Este é o amigo que te falei.”

“Ah sim… o corajoso que procura o amor da


vida dele em Berlim. Chamo-me Vanessa. Por favor
entrem.”
Nós entrámos e imediatamente vimos as
diferenças de uma cidade para outra, a nível da
decoração da casa. As paredes eram amarelas
berrantes e a casa tinha bastantes artigos musicais e de
canto.

“Você é artista?” – Perguntei.

“Não, na verdade a minha filha é que é a artista


da família. É uma apaixonada por piano. Mas deixemo-
nos de conversa fiada. Eu vou fazer algo para vocês
comerem. Depois o melhor é descansarem um pouco, a
viagem deve ter sido longa.”

“Enquanto o comer fica a fazer podes dizer-nos


onde é o quarto? Precisamos de dormir uma sesta
primeiro.” – Disse o Armando

A senhora sorri e leva-nos até ao quarto para


descansar um pouco. O quarto tinha o design de um
quarto de rapariga, contudo com vários pormenores
relacionados com a música e o canto. Supomos
obviamente que o quarto pertencia à filha da tia do
Armando.

Dormimos por umas horas até a senhora nos


ter acordado para jantar. Eram agora 21 horas e
estávamos a jantar feijoada. Ficámos 5 minutos em
silêncio até que a própria senhora quebra o silêncio:

“Então… como se chama a sortuda?”


“Cassandra! E ela não é nenhuma sortuda. Eu é
que sou o sortudo. Por acaso não a conhece pois não?”

Eu mostrei-lhe a foto que ainda tinha dela. Uma


foto que tirámos na véspera do jantar de dia 24 de
Dezembro.

“Não nunca a vi desculpa. Mas o Armando


disse-me que tinhas uma pista de onde ela poderia
estar. Talvez te possa ajudar com isso.”

“Sim, sim. É uma livraria que se chama… Seele


des Buches.”

“Hum… Ah! Já sei onde é. É só a livraria mais


popular de Berlim. O nome da livraria traduzido para
português significa <A Alma dos Livros>.”

“Fica muito longe daqui?”

“Não. Fica a dois quarteirões daqui. Mas como


pensas em encontrar a rapariga? Ela não vai lá estar
todos os dias não é?”

“Vou falar com o irmão dela para mandar um


mail a ela a dizer para ir comprar um livro à livraria e
confronto ela nessa altura.”

A senhora sorriu e disse:

“Boa sorte, mas não penses nisso agora. Vai


descansar, e tu a mesma coisa Armando.”
Fomos para o quarto para descansar um pouco.
Mas antes mandei o mail de sinal ao Rogério para falar
com a Cassandra, e com sorte não teria de ficar muito
mais tempo naquele país.

“Pronto, agora é esperar uma semana no


máximo e posso finalmente falar com ela.”

“Sabes uma coisa puto? É melhor não o


fazeres!” – Disse o Armando com um ar sério.

“Estás a gozar certo? Não vou acobardar


agora.”

“Não é isso puto. Não vás falar com ela já.


Deixa eu ver como estão as coisas primeiro, eu
descubro a morada dela e depois fazes surpresa. O
máximo que podes fazer é vê-la a uma distância segura
na livraria. E não era suposto perguntarmos pela
morada primeiro ao senhor da livraria?”

“E perder mais tempo e talvez arriscar o dono


da livraria chibar-se? Não. Mas tens razão quanto a não
falar com ela já… posso assusta-la. Obrigado
Armando!”

Depois disto fomos dormir, na esperança de


que o tempo passasse depressa para poder finalmente
pedir desculpas por tudo o que fiz de mal à Cassandra.
Infelizmente demorou 1 semana de puro tédio para
receber um mail do Rogério:
Meu querido amigo,

Espero que não tenhas perdido a esperança


ainda. Ela mandou-me ontem uma mensagem a dizer
que no dia seguinte iria à biblioteca. Espero que estejas
a ver isto de manhã porque ela disse que passaria lá à
tarde. Boa sorte.

Do teu amigo,
Rogério

Ao ler isto fui acordar rapidamente o Armando


para irmos até à maldita livraria.

“Se fosse por outras razões, eu juro que te


matava por me teres acordado puto.” – Disse o
Armando rabugento.

Um aparte. Eu e o Armando durante esta


semana, das duas uma, ou íamos à livraria na
esperança de a encontrar, ou estávamos no
computador à espera do mail do Rogério.

A senhora, que também acordou com a


barulheira que estava a fazer disse:

“Pelos vistos já recebeste a mensagem. Meu


querido que tenhas muita sorte, tu mereces tudo. E
Armando, vê se ele não comete nenhuma loucura.”

Por alguma razão, a bênção daquela senhora


deixava-me feliz. Ela foi uma querida desde o início,
tanto para mim como para o sobrinho. Ela naquele
curto espaço de tempo, da maneira que ela me tratou
desde início, era considerada parte da família para
mim.

Chamámos um táxi que nos levou diretamente


para a livraria. Eu estava nervoso, a tremer por tudo o
que era musculo. O Armando ainda me tentava
acalmar, mas a viagem, para além de parecer
interminável, deixava-me mais nervoso a cada metro.

Tínhamos finalmente chegado à maldita


livraria. Agora que me lembro da história começo a rir-
me porque eu e o Armando ficámos durante três horas
a fingir que procurávamos um livro. Até que a minha
musa de cabelo ruivo entra pela porta da livraria. O
Armando sai rapidamente pela porta das traseiras da
livraria, contudo a observar-me, a ver se conseguia
controlar o meu impulso de a beijar e tocar.

Eu observava-a à distância, escondendo a


minha cara entre um livro que pegara aleatoriamente
da livraria, e notava que os ares modernos da
Alemanha lhe tinham dado um ar mais adulto, um
pouco menos ingénuo. Ela parecia deixar de ser uma
miúda e passara a ser uma mulher. Ela parecia agora
elegante e delicada.

Ela pega num livro, supostamente o


recomendado pelo Rogério e paga o livro, saindo da
loja com o maior charme e elegância que já alguma vês
tinha visto numa mulher. Liguei ao Armando a dizer
que ela tinha acabado de sair da loja. Agora só tinha de
esperar um pouco… outra vez.

Basicamente metade do meu trabalho já estava


feito, agora era só aguardar pelo Armando fazer a parte
dele para a confrontar no dia seguinte, contudo o
Armando demorou mais do que eu estava à espera. O
que era previsto era eu regressar a casa da tia Vanessa
e o Armando chegar antes da hora de jantar, algo que
não aconteceu. O Armando volta depois da hora de
jantar e vai ter comigo:

“Olha puto é assim.” – Disse o Armando. “Ela


ainda sente algo por ti, mas já faltou mais para ela te
esquecer. Eu demorei mais porque o pai dela me
convidou para jantar e eu não quis ser desmancha-
prazeres. Tipo amanhã vais lá e chibas à miúda tudo o
que sentes por ela. A morada está aqui neste papel. Eu
disse que ia lá passar amanhã às 16 horas, ou seja, tu
vais lá passar às 16 horas.”

“O que é que eu faria senti mano.” – Disse-lhe


sorrindo.

“Vá, agora vamos dormir que este dia foi uma


aventura.”

Eu concordei e fui deitar-me, na esperança de


dormir umas horitas para conseguir enfrentar a
Cassandra, mas como já todos devem calcular, eu não
dormi… como sempre.

A minha cabeça estava a mil e tudo o que eu


conseguia pensar era na reação desta nova Cassandra
que desconhecia ao me ver. Será que iria abraçar-me,
dar-me um estalo ou beijar-me? A questão estaria em
breve respondida, mas para mim parecia uma
eternidade.

Quando o sol bateu na janela do quarto onde


supostamente devia estar a dormir saí para dar um
passeio pela cidade de Berlim. A cidade parecia agora
colorida comparada com o resto da semana.

Sentei-me um pouco no banco de um jardim


que encontrara pelo caminho, e era para ter
continuado o passeio, mas é tão raro encontrar um
espaço verde naquela cidade que não resisti.

Fiquei um tempo sentado naquele banco até


uma bela jovem loira de olhos esverdeados, de uma
alta elegância me aborda.

Um aparte. Ela falou inglês comigo, mas para


além de escrever o que ela disse, irei traduzir a
conversa.

Ela senta-se a meu lado e diz:

“Is this sit taken? (Este lugar está ocupado?).”


“You have already sat, so yes it is taken. (Você
já se sentou por isso, sim está ocupado.).” – Disse-lhe a
sorrir.

“Why are you sitting here all alone? (Porque é


que estás aqui sozinho?).”

“Because it‘s the first green space that I see in


this damn city. (Porque é o primeiro espaço verde que
vejo nesta maldita cidade.).”

“Ahahah! Maybe! But there is something else.


Everyone that comes to this park comes here to think.
(Ahahah talvez. Mas há mais qualquer coisa. Todas as
pessoas que vêm a este parque, vêm para pensar.).”

“Oh really? And let me guess, you want to


know what it is or you’re simply trying to flirt with me.
Let’s make a deal, I tell you what is happening if you tell
me what you want and your name. (Ai sim? E deixa-me
adivinhar, tu queres saber o que é, ou então estás só a
fazer-te a mim. Vamos fazer um acordo, eu digo-te o
que se passa, se tu me disseres o que queres de mim e
o teu nome.).”

“My name is Katrina, and I just want to know


what’s wrong. I recognize a sad face when I see one. (O
meu nome Katrina e eu só quero saber o que se passa.
Eu reconheço uma cara triste quando a vejo.).”
“Well Katrina, I was a fool. I trade the love of
my life because of a stupid physical attraction with her
sister. She discovered and flew away from me to
Germany. Now I travelled here to talk to her and at
least apologize. I left her sister, just to see this girl
again. You think I’m an asshole right? (Bom Katrina, eu
fui um palerma. Troquei o amor da minha vida por uma
mera atração pela irmã dela. Ela descobriu e fugiu de
mim para a Alemanha. Agora eu viajei até aqui para
falar com ela e pelo menos pedir desculpa. Eu deixei a
irmã dela para vir até aqui vê-la mais uma vez. Deves
achar que sou um otário não é?).”

“Yes, I think you’re a douche, but for the bright


side you are trying to fix things. My advice to you is to
keep calm and try to let her talk. You have a
complicated case in your hands, but if you go there and
make her understand how sorry you are, she will
forgive you. (Sim, acho que és um otário, mas pelo lado
positivo, estás a tentar remendar as coisas. O meu
conselho é que mantenhas a calma e a deixes falar.
Tens aqui um caso complicado, mas se a conseguires
fazer perceber que estás arrependido, ela vai perdoar-
te.).”

Eu levantei-me e agradeci pelo conselho que


ela me tinha dado. E antes que digam alguma coisa, sim
ela perguntou-me o nome, mas eu, como já disse
anteriormente, não vou escrever o meu nome aqui.
Cheguei a casa eram horas de almoçar, ou seja,
15 horas. Estava agora um pouco mais calmo, parecia
que aquela conversa me tinha dado confiança e que
poderia finalmente acreditar que iria correr tudo bem.

Durante o almoço a tia Vanessa perguntou:

“Então estás nervosinho? Vais ver que vai


correr tudo bem!”

“Obrigado tia Vanessa. Sim estou nervoso, mas


tenho que ter coragem para a enfrentar, ou então
nunca mais a enfrento. Se não for hoje, nunca mais
será.”

A senhora sorriu e disse:

“Mas eu não sou tua tia, meu querido.”

“Tem toda a razão, mas para mim é como se


você fosse família.”

Eu terminei o almoço e recebi a boa sorte do


Armando. Dirigi-me à tia Vanessa e abracei-a.

“Obrigado por tudo o que fez tia Vanessa.


Nunca a esquecerei e nunca conseguirei pagar tudo o
que a senhora fez por mim. Gosto muito de si.”

“Eu também meu querido, agora vai ter com


ela.” – Disse a velha senhora com uma lágrima no canto
do olho.
Eu despedi-me de ambos, com a convicção de
que voltaria àquela casa com boas notícias. Apanhei o
táxi até à morada que me tinha sido fornecida pelo
Armando. Respirei fundo e abri a porta do prédio, que
por sorte estava aberta. Até agora o destino tinha
jogado a meu favor, será que a rapariga dos meus
sonhos me iria finalmente perdoar, ou quem sabe,
voltar para mim?

O andar era o primeiro esquerdo, por isso não


precisei de subir muito. Este prédio parecia ser antigo,
contudo tinha uma decoração interior mais moderna
que muitos outros prédios que encontrara em Portugal.

Respirei fundo e bati à porta. Ela estava em


casa pois eu conseguia sentir o seu perfume e ouvir os
seus passos suaves. Ela aproximava-se lentamente da
porta, e a cada passo o batimento do meu coração
tornava-se mais pesado, e quando abriu a porta… a
cara dela era impagável. Ficou alguns momentos sem
dizer nada até que finalmente quebrou o silêncio:

“Tu… eu já devia ter calculado assim que vi o


Armando por cá.”

“Estás diferente… continuas a ser estonteante


claro, mas mudaste um pouco.”

“Tu pelos vistos estás na mesma… fartaste-te


da Marta foi? Ou foi ela que tratou disso por ti?”
“Eu deixei-a para vir ter contigo, para me dares
5 minutos para poder dizer o que tenho a dizer. Para
ver o teu sorriso uma última vez.”

Ela ficou sem jeito, mas mesmo assim manteve-


se fria:

“Tu estás completamente louco!”

“Sim pois estou. Por ti posso ser louco.”

“Mas estás parvo, sai já daqui ou chamo a


polícia.”

“Chama. Enquanto não dizer o que tenho a


dizer não saio daqui. E tu sabes que sou capaz disso.
Por favor Cassandra…”

Ela demora um pouco a reagir, mas finalmente


diz:

“Não sei o que queres de mim, não agora. Mas


eu sempre fui justa, não é agora que o vou deixar de
ser. Tens 5 minutos.”

Ela convida-me a entrar e ficamos sentados na


sala. O apartamento era pequeno mas acolhedor. Ela
senta-se no sofá juntamente comigo e olha-me nos
olhos, como se estivesse pronta a analisar o que ia a
dizer pelos meus olhos.
“O que queres então?” – Disse-me com ar
antipático.

“Quero pedir-te perdão…”

Mas antes que eu pudesse acabar a frase ela


contra-ataca:

“Pelo quê? Não estou a ver o que possa ser…


talvez por… me teres traído com a minha própria irmã?
Não, espera. Já sei! Por me teres dado o melhor dia da
minha vida e depois me trocares no dia a seguir pela
Marta.”

“Deixa-me acabar Cassandra, por favor! Eu


quero pedir perdão por tudo o que fiz. Eu sei que errei,
e fiz esta viagem toda na esperança de me perdoares.”

Mais uma vez ela vacilou, contudo respondeu:

“Não sei se perdoou. Tu magoaste-me de


verdade. Mas não consigo, esquece-me.”

Eu senti que tinha de mandar algo forte para


criar impacto:

“Vejo que ainda usas o anel que te dei.”

“A sério?” – Disse ela, tirando o anel do dedo.


“Nem sei porque está aqui, já o devia ter vendido. Mas
pelos vistos não vendeste o teu… claro que só o
trouxeste para ganhar uns pontos, mas falhaste.”
“Ai sim? Então porque é que ficaste nervosa?”

“Eu não fiquei nervosa. Pára com isso. Eu já te


disse que não te…”

Nem lhe deixei terminar a frase e disse:

“Eu amo-te. É pena ter percebido isso talvez


tarde demais. Mas eu sei que não me esqueceste. Tu
não estás a usar esse anel só porque sim. Diz-me a
verdade, tu não me esqueceste pois não?”

Ela hesitou mas ainda disse com um ar mais


sério e calmo:

“Isso não interessa agora…”

“Olha-me nos olhos e diz-me que me


esqueceste.”

Ela não conseguia dizê-lo por isso tentei


avançar com o beijo, mas quando já estávamos de
olhos fechados, prontos para tocar nos lábios um do
outro, uma chave ouve-se na porta.

Rapidamente voltámos ao normal, como se


nada tivesse acontecido. Pela porta entra um homem
alto e com ar intimidante:

“Olá querida. Quem é o senhor?” – Pergunta o


homem que, apesar de falar bem português, notava-se
um sotaque alemão.
“É só um amigo… amor. Ele já estava de saída.”

Foi aí que percebi que ela já tinha namorado,


que mais tarde viria a descobrir que era na verdade o
noivo. Decidi engolir em seco, e disfarçar a minha
desilusão, cumprimentando o homem.

“ Boa tarde, David Kraft. Muito prazer


senhor…” – Disse ele, apertando a minha mão com
força, como se me quisesse intimidar.

Eu respondi-lhe com o meu nome e tentei sair


apressadamente, evitando maior humilhação.

“O senhor por acaso não quer ficar para jantar?


Os hum… amigos… da minha noiva são sempre bem-
vindos a esta casa.”

Quando ouvi a palavra “noiva” até fiquei a ver a


dobrar. Respondi que estava mesmo de saída e que
tinha uma viagem para fazer no dia a seguir. Despedi-
me da Cassandra com dois beijos na face e voltei a
apertar a mão ao David.

Saí daquela casa desolado e completamente


destruído, a rapariga que eu amava estava
comprometida. Pelo lado positivo eu tinha confessado
o meu perdão e ela, pelo parecia, tinha aceitado. Voltei
a parar no parque para descansar um pouco e ficar a
sós, pelo menos era esse o meu plano, se no parque
não tivesse voltado a encontrar a Katrina.
“You look sad… the reunite didn’t end up well?
(Pareces triste, o reencontro não correu bem foi?).” –
Disse ela com ar preocupado.

“She’s engaged. She accepted my apologies


thought. (Ela está noiva, contudo aceitou o meu pedido
de desculpas.).”

“Damn, sorry to hear about that. But it’s not


the end of the world right? I mean, how did she react
when you said that you still care about her? (Bolas,
lamento ouvir isso. Mas não é o fim do mundo certo?
Como é que ela reagiu quando disseste que ainda
gostas dela?).”

“We almost kissed, but she belongs to another


man now. I was an idiot by leaving that amazing
woman for that bitch. But I can’t get her back now. I
have decided, I’m getting back to Portugal in two days!
(Nós quase nos beijámos, mas ela pertence a outro
homem agora. Eu fui um idiota por ter deixado esta
rapariga incrível para ficar com a outra cabra. Mas eu
não posso tê-la de volta agora. Está decidido, eu vou
voltar para Portugal daqui a 2 dias!).”

“I think it’s a stupid decision because you two


have almost kissed. (Eu estupida a decisão já que vocês
os dois quase se beijaram.).”

“Listen Katrina, I believe in fate. And fate just


told me to leave this business behind. (Ouve Katrina, eu
acredito no destino. E o destino acabou de me dizer
para deixar este assunto para trás.).

Ela sorriu, contudo o ar de preocupação


mantinha-se. Foi ai que ela fez-me um convite que
mudou a minha vida:

“I understand, but I’m going to prove to you


that you’re wrong. Tomorrow come to this park in the
morning. Let’s see what fate’s real message is. (Eu
percebo, mas eu vou provar-te que estás errado.
Amanhã vem aqui ao parque pela manhã. Vamos ver
qual é a verdadeira mensagem do destino.).”

Eu sorri e despedi-me da rapariga. Apesar de


ainda estar triste com toda esta situação, eu estava um
pouco mais descansado e intrigado com o que a Katrina
me acabara de dizer. Pelo caminho fui-me apercebendo
que a cidade, que outrora já parecia ser poluída e feia,
estava agora ainda mais horrível. As árvores pareciam
estar todas mortas, as estradas cobertas de carros. A
única coisa que parecia sobreviver a todo aquele horror
era o maldito parque. Continuava verde e florado.

Cheguei a casa da tia Vanessa completamente


de rastos. Eles perguntaram-me como correu com a
Cassandra e tudo o que consegui dizer foi:

“Ela está noiva. Armando, daqui a 2 dias


partimos para Portugal. O meu trabalho aqui está feito.
Agora preciso de estar sozinho.”
Eu fechei-me no quarto e nem sequer jantei.
Deitei-me na cama à espera do dia de amanhã, que
pela conversa da Katrina, ia mostrar-me a verdadeira
mensagem do destino, algo em que não acreditei
muito.

Acordei com pouca disposição, mas já tinha


prometido à Katrina que iria ao parque. O céu estava
mais nublado do que o habitual, parecia que ia chover
a qualquer momento, mesmo estando muito perto do
Verão.

Um aparte. O Verão daquele maldito ano


estava esquisito. Havia momentos de extremo calor e
momentos em que nos levava de volta para o Inverno.

O Armando acordou ao ouvir os meus passos:

“Vais onde puto? Só vamos bazar amanhã e


ainda é cedo para fazer as malas.”

“Vou dar uma volta, não venho muito tarde,


prometo.” – Disse-lhe.

“Tão cedo? Vê lá no que te metes puto. Depois


diz-me o que foste realmente fazer.”

“Como assim?”

“Achas que eu acredito na tanga do dar uma


volta. Depois falamos melhor, vai lá.”
Eu acenei com a cabeça e sai de casa, dirigindo-
me diretamente para o parque. Parecia que o céu ia
ficando, a cada passo dado por mim, mais nublado,
tanto que quando cheguei ao parque quase parecia
que estava nevoeiro. Olhei para todas as direções e
nem um sinal da Katrina, até que, ao longe, olhei para
uma figura que me era familiar, sentada num banco…
quando percebi quem era nem quis acreditar, era a
Cassandra.

Aproximei-me lentamente daquele banco,


nervoso e quase sem reação. Curiosamente ela estava
a usar óculos de sol, contudo era visível uma lagrima a
escorrer-lhe pelo rosto.

“Cassandra, és tu?” – Disse a medo.

“Tu… como me encontraste?”

“Eu venho cá às vezes, foi sorte. Porque


choras? Ou melhor porque tens os óculos de sol a tapar
esses lindos olhos?”

Eu tentei tirar-lhe os óculos de sol, contudo ela


desviou a minha mão, e ao faze-lo os óculos caíram no
chão, revelando o porquê de os estar a usar.

“Quem te fez isso à cara Cassandra? Foi o David


não foi? Eu mato aquele filho da puta…”

“Pára! Eu tropecei e fui contra a…”


“Não me vais dar a cantiga da maçaneta da
porta pois não?”

“Tipo mesmo que tenha sido ele, não tens nada


a ver com isso. “

“Ele bateu-te Cassandra, estás parva ou quê?


Vamos voltar para Portugal, não te posso deixar com
esse monstro. Ele não te merece e…”

“E o quê?”

“E eu amo-te.”

“Eu… eu não te amo de volta.”

“Nem tu estás a acreditar no que estás a dizer,


e eu vou provar-to.”

E aproximei-me dela para a beijar, coloquei os


seus cabelos ruivos atrás da orelha dela, vi os seus
lindos olhos verdes a fechar lentamente enquanto
aproximava os meus lábios do dela. E consegui
finalmente sentir os lábios dela novamente, não houve
qualquer interrupção ou qualquer resistência. Foi o
beijo perfeito no momento certo. Mas claro que esses
momentos nunca são para sempre.

Após uns segundos a Cassandra volta a cair em


si e empurra-me ligeiramente para trás.
“Isto não devia ter acontecido, eu vou casar
depois de amanhã”

“Depois de amanhã?” – Disse boquiaberto.


“Depois deste beijo? Admite que ainda não me
esqueceste e vamos voltar para Portugal para bem
longe deste monstro.”

“Não. Mete na cabeça que eu amo o David,


acabou aqui. Eu vou-me embora daqui.”

Eu agarrei-lhe no braço e disse: “ Diz-me aqui e


agora, que este beijo não significou nada para ti e eu
deixo-te em paz.”

“Ouve, há coisas que é melhor não se saber,


nem tu, nem eu, nem mais ninguém. Eu vou casar
depois de amanhã, é só isso que quero saber agora.”

Ela levantou-se e disse: “Espero que te corra


tudo bem com a vida e que consigas tudo o que
desejas, adeus.”

Quando pensava que a emoção tinha acabado


toda, pelo menos por aquele dia, a Katrina aparece:

“So she is the lucky one… interesting. (Então ela


é que é a sortuda… interessante.).” – Disse ela.

“You knew she would be here didn’t you? (Tu


sabias que ela ia estar aqui não era?).”
“Nope! The only thing I knew was that fate was
going to show you his true message, and like I said
people come to this park to think, so I figured that she
would might be here. Saying this what is fate’s real
message? (Não! A única coisa que eu sabia era que o
destino te ia mostrar a sua verdadeira mensagem e
como te disse, as pessoas vêm a este parque para
pensar, por isso calculei que ela fosse estar aqui. Dito
isto, qual era a mensagem?).”

“I’m going to get her back by stopping that


wedding. How many churches exist in this place? (Eu
vou conquistá-la ao parar aquele casamento. Quantas
igrejas existem por aqui?)

“Some, but like I said, fate was giving other


messages. A friend of mine knows her. They are
actually from the same class. I recognized her because I
have been with her once. My friend most likely goes to
the wedding so I’m going to ask him where the
wedding is. This is the power of fate my friend.
(Algumas, mas como eu disse, o destino estava a
mandar outras mensagens. Um amigo meu conhece-a.
Eles são da mesma turma e eu reconheci-a porque já
estive com ela. Ele vai quase de certeza ao casamento,
por isso pergunto ao meu amigo onde é. Este é o poder
do destino meu amigo.).”

Eu agradeci à Katrina por tudo o que fez. E


agora, depois daquele beijo, estava convencido de que
ia conseguir conquistar a rapariga dos meus sonhos
novamente.

“Katrina can I buy you a cup of coffee? I want to


know you better after everything you’ve done. (Katrina
posso pagar-te um café? Queria conhecer-te melhor
depois de tudo o que fizeste.).”

Ela sorriu e aceitou o convite. Procurámos o


café mais próximo e fomos para uma esplanada
conversar.

A saída estava a correr bem, isto até ter


perguntado sobre os estudos, ao qual ela respondeu
que os tinha abandonado porque estava farta de
estudar.

“I don’t get it. That seems a waste of time from


your part. (Eu não percebo, parece um perda de tempo
da tua parte.).”

“I left school because no one believed me and


my parents were evil, so I ran away and know I work to
sustain my lifestyle. (Eu abandonei a escola porque
ninguém acreditava em mim e os meus pais eram
cruéis. Por isso fugi de casa e comecei a trabalhar para
sustentar o meu estilo de vida.).”

Curioso, perguntei-lhe qual era o trabalho dela,


já que sempre que eu ia ao parque a encontrava.
“Unfortunately, I’m some sort of prostitute. I
mean, I select my clients and normally I don’t have sex
with them, I just escort them to classy places.
(Infelizmente sou mais ou menos uma prostituta. Tipo
eu seleciono os meus clientes e normalmente não faço
sexo com eles, costumo mais acompanha-los a sítios de
classe.).”

Eu fiquei estupefacto a olhar para ela que por


um momento verteu uma lágrima.

“I understand if you never want to see me


again. (Eu entendo se nunca mais me quiseres ver.).”

Eu sorri e limpei-lhe a lágrima que caia pelo


rosto. Senti-me triste pela vida que ela era obrigada a
levar por isso tomei uma decisão que até hoje ainda
não me arrependo:

“Come with me to Portugal. I give you a home


and give you all the support you need to get back on
track on your studies. (Vem comigo para Portugal. Ficas
em minha casa e eu dou-te todo o apoio para voltares
aos teus estudos.).”

Ela sorriu e disse:

“You’re so sweet but I can’t accept it. It feels


like I’m taking advantage of you. (És um querido, mas
não posso aceitar. Sinto que me estaria a aproveitar de
ti.).”
“No you’re not. I’m offering this. I don’t want
you in that life. Please come with me, you’re going to
love Portugal. (Não estás. Eu é que estou a oferecer, eu
não quero que sigas essa vida. Por favor vem comigo,
vais adorar Portugal.).”

“At least let me think. I give you the answer by


the end of the day. I promise. (Pelo menos deixa-me
pensar. Eu dou-te uma resposta até ao final do dia, eu
prometo.).”

Eu sorri e dei-lhe o tempo que ela me pedira. A


verdade é que eu não estava muito confiante que ela
fosse aceitar, afinal, eu era um mero desconhecido.
Despedi-me dela e deixei-a a pensar no assunto. Dei-
lhe o meu número de telemóvel para ela me dar a
resposta.

Decidi ir logo para casa, estes dias foram de


grande emoção e eu só queria descansar um pouco.

Quando cheguei a casa a tia Vanessa estava a


preparar o Almoço, enquanto o Armando se
encontrava a fazer as malas no quarto. Eu subi ao
quarto a correr e quando o Armando me vê diz:

“Então puto? Despacha-te a fazer as malas, as


minhas estão quase feitas.”

“Nós não vamos já. Mudança de planos.”


“O quê? Estás parvo? Primeiro dizes que queres
bazar, agora já queres ficar mais um tempo. O que é
que foste fazer hoje de manhã?”

“Eu fui até ao parque porque uma amiga minha


disse para ir lá ter…”

“Espera, espera. Amiga? Quer dizer, como a


Cassandra está noiva atiras-te logo a outra… está
bonito.”

“Não é nada disso. Ela disse que aquele parque


é o sítio onde as pessoas vão para refletir, e hoje fui a
esse parque, e quem é que eu encontrei lá?”

“A tua amiga.”

“Também, mas mais importante que isso,


encontrei a Cassandra. Ela vai casar depois de amanhã
e eu sei onde ela vai casar, vou parar aquele
casamento.”

“Estás louco só pode, esse é o plano mais louco


que já ouvi até agora… não faças isso.”

“Ele bate-lhe. Esse motivo é mais que


suficiente.”

“Não te deves meter nestas confusões, ela é


comprometida.”
“E então? Só por a baliza ter guarda-redes não
significa que não marque golo.”

“Pensa bem no que vais fazer…” – Disse o


Armando, abanando a cabeça

Naturalmente fiquei triste com a resposta do


Armando, mas rapidamente fomos interrompidos pela
tia Vanessa:

“Deixa ver se eu percebi… vais impedir o


casamento da rapariga, porque achas que ainda tens
hipóteses com ela? Mas já sabes o que vais dizer
sequer?”

Fiquei uns segundos a olhar para a cara da


velha senhora, até que disse:

“Não… mas amanhã começo a fazer um.”

“Acho muito bem, se precisares de ajuda é só


pedir.” – Disse a tia Vanessa, saindo do quarto com um
sorriso amável.

As horas foram passando enquanto pensava na


maneira com que ia impedir o casamento. Será que
fazia o cliché do “Parem este casamento!” ou fazia “Eu
oponho-me a esta união!”. Só parei de pensar nisto
quando recebi um telefonema da Katrina. Ela queria
encontrar-se comigo no parque para me dar uma
resposta.
Na altura em que recebi o telefonema já era de
noite e demorei meia hora a chegar ao parque.
Iluminada por um candeeiro do parque, lá estava ela,
parecia quase angelical, com os cabelos soltos e um ar
esperançoso, até os olhos brilhavam como estrelas
caídas do céu.

Sentei-me ao lado dela e perguntei:

“So… what is your decision? (Então… qual é a


tua decisão?).”

“I have a counter-offer. Do you want to hear it?


(Eu tenho uma contraproposta, queres ouvir?).”

Eu concordei em ouvir. Contudo já tinha ciente


que ela ia recusar a minha oferta.

“Okay… so here is the deal. I’m not going with


you to Portugal. However, I sold all of my things and
I’m going to live with a friend here in Germany. I’m
leaving prostitution and find a real job. But I’m not
done yet. If this thing with Cassandra doesn’t work, I
want you to live with me in Germany. You can have a
new beginning here with me. What do you say? (OK,
então é assim. Eu não vou para Portugal contigo,
contudo eu vendi as minhas coisas todas e vou viver
com uma amiga minha aqui na Alemanha. Vou deixar a
prostituição e procurar um trabalho a sério. Mas ainda
não terminei. Se as coisas com a Cassandra não
funcionarem, quero que venhas viver para aqui comigo.
Podes começar uma vida nova aqui. Que dizes?).”

Eu fiquei em silencio por algum tempo… não


sabia o que responder, até que finalmente consegui
proferir algumas palavras:

“Sorry darling but I have to refuse. Even if the


things with Cassandra fail, I’m going back to Portugal.
But don’t worry, someday we will meet each other
again. (Desculpa querida mas vou ter de recusar.
Mesmo que as coisas com a Cassandra não resultem,
eu volto para Portugal. Mas não te preocupes, um dia
voltaremos a ver-nos).”

Ela sorri e beija-me.

“I’m sorry didn’t meant to do that. Well here is


the address where the marriage is going to be. Good
luck. (Desculpa eu não queria ter feito isto. Bom, aqui
tens a morada do sítio do casamento. Boa sorte.).”

Ela pisca-me o olho e levanta-se. Eu fiquei sem


palavras depois do beijo, só conseguia mesmo olhar
para a morada que ela me tinha dado. Cheguei a casa e
entreguei o papel à tia Vanessa para ela me dizer onde
ficava.

Aparentemente era bastante perto da casa da


tia Vanessa, o que me aliviou um bocado. E por muito
que quisesse dar novidades, não sou sobre a Katrina,
como do sitio do casamento, estava muito cansado e
fui dormir.

Só falamos no dia seguinte de tarde, pois de


manhã decidi dar uma volta pela cidade, quando o
Armando me abordou:

“Então já tens a morada do casamento ou tens


uma namorada nova?”

“Não sejas parvo… a Katrina beijou-me, mas


não significou nada para mim. Estou focado na
Cassandra. E sim tenho a morada.”

“É… chama-me parvo. Enfim, eu queria falar


uma coisa contigo. Acho que tentares voltar a
conquistá-la, ao ponto de acabares um casamento.”

“Outra vez essa conversa Armando? Estás a


ouvir o que estás a dizer?”

“Estou. Pensa bem, queres acabar com uma


união pela tua felicidade?”

“Mas estás parvo? Ela é agredida por ele, não


há felicidade ali.”

“Então porque é que ela vai casar com ele na


mesma?”

“Porque tem medo Armando.”

“Tu estás louco. Afasta-te enquanto podes.”


“Estou louco de amor por ela.”

“E se ela disser que não puto? O que vai ser de


ti?”

“Vou ter de viver com isso, sempre é melhor do


que viver sem sequer ter tentado. E se fosse para me
destruir já tinha acontecido.”

“És um tolo se fores lá.”

“Que seja. Ela merece a minha tolice.”

O Armando sorriu e disse:

“Então não há nada que eu possa fazer. Se é ela


que te faz feliz então conquista-a.”

Eu reparei que ele ainda estava reticente ao


dizer-me aquilo. Ele estava mais preocupado com a
possibilidade de me magoar do que com as coisas boas
que iriam resultar se tal plano resultasse. Apenas
abracei-o e agradeci o apoio, ignorando a preocupação
dele.

O resto do dia não tem grande relevância para


a história, por isso vou saltar diretamente para o dia do
casamento.

Acordei bem cedo de manhã, apesar de no


bilhete com a morada indicar que era às 11 da manhã.
Eu estava nervoso, e andava às voltas no
quarto, acordando o Armando de sobressalto:

“Puto… são 8 horas da manhã! Vai dormir. De


certeza que ainda falta bué para começar o
casamento.”

“Só começa às 11 e não consigo dormir


Armando. É o tudo ou nada.”

“Fogo… com esse nervosinho todo não me


admira que ela prefira o gajo que lhe bate.” – Disse o
Armando a rir-se.

Eu nem liguei à piada dele, estava mais


concentrado a… tentar concentrar-me. Este processo
de “concentração”, durou meia hora até me ter
lembrado que o melhor era começar a arranjar-me,
mas infelizmente não tinha quaisquer fatos para usar.

“Armando tens algum fato que me


emprestes?” – Perguntei desesperado.

“Népia meu, achas? Pergunta á minha tia se


tem!”

Eu corri para o quarto da tia Vanessa para lhe


perguntar se tinha algum fato, mas a resposta foi a
mesma. Entrei em desespero, até que luz se fez na
minha cabeça e liguei à Katrina, que respondeu
afirmativamente ao meu pedido. Ela deu-me por
telefone, a morada da casa dela para me entregar o
fato.

Avisei o Armando e a tia que ia para o


casamento e para me desejarem sorte.

“Mas não era só às 11? E vais assim vestido?” –


Pergunta a tia Vanessa.

“Eu sei, mas a Katrina tem um fato que me vai


emprestar e aproveito vou diretamente para lá.”

“Está bem, mas antes de ires, deixa-me só ir


buscar uma coisa ao meu quarto.”

Assim que a tia Vanessa subiu, o Armando


disse:

“Então… finalmente chegou o primeiro grande


dia. Estás preparado?”

“Nunca estamos preparados para algo assim


Armando, mas estou o melhor possível.”

“Ainda vais a tempo de voltar atrás se assim o


entenderes…”

“Armando… outra vez essa conversa… eu já me


decidi. Eu vou parar aquele casamento e ponto final.”

Ele abraçou-me e desejou sorte, no preciso


momento em que a tia Vanessa voltava do quarto, com
uma caixa pequena na mão. Ela deu-me a caixa para a
mão, e quando a abri encontrei um anel de noivado.

“Este anel está na minha família há várias


gerações… considera isto como um presente da minha
parte. Não pares apenas o casamento, propõe a
rapariga em casamento, ou casa com ela logo ali.”

Eu verti uma lágrima e abracei a tia Vanessa


como agradecimento por tudo o que fez por mim.

Guardei a caixa com anel, abri a porta da casa e


disse: “Desejei-me sorte!”

Apanhei o táxi e dirigi-me até à morada dada


pela Katrina. Não aconteceu nada de extraordinário
durante a viagem, o dia estava bonito e ensolarado, ao
contrário do tempo que costuma estar na Alemanha.

O táxi deixou-me à porta da vivenda que a


Katrina me indicou por telefone. A vivenda era
bastante elegante e indicava um estilo de vida folgado.
Era uma vivenda branca com os estores das janelas
pretos e janelas enormes. Era bastante maior que a
casa da tia Vanessa, e tinha um pequeno quintal à
esquerda da casa. No portão, encontrava-se a Katrina,
com um sorriso, muito possivelmente por me ver.

“What would you do without me? (O que é que


farias sem mim?).” – Perguntou Katrina retoricamente.
Ela convidou-me a entrar e o interior da
vivenda refletia exatamente o que eu suspeitava
quando vi a vivenda exteriormente. Pela decoração de
objetos um pouco… “exóticos” tudo indicava um estilo
de vida folgado e luxuoso.

“This is my friend’s house. Has you can see I


have plenty of conditions here. (Esta é a casa da minha
amiga. Como podes ver tenho condições.).”

Eu só tinha era de concordar… quem me dera


ter aquela casa.

Ela conduziu-me até ao quarto e pediu-me para


esperar sentado na cama enquanto ela procurava no
guarda-roupa o fato.

Ela encontrou o fato e entregou-mo para a


mão. Era um fato preto, de gala. O fato perfeito para
esta ocasião.

“So... ready for the big day? (Então, pronto


para o grande dia?).” – Perguntou-me enquanto eu
vestia o fato.

“I have to. I think I’m going to ask her to marry


me. The only problem in all this is that I’m afraid of
receiving a no for an answer. (Tenho de estar. Eu acho
que a vou pedir em casamento. O único problema nisto
tudo é eu ter medo de receber um não como
resposta.).”
“Are you serious? You are a wonderful guy. If
she rejects you, she will be the dumbest girl on the
planet.

“I’m flattered. And you look at that? The suit


fits. How do I look?

“You look… meh!

“Now you’re just being mean.

“Nope… I just think that you look better


without your clothes on.

Ela tentou beijar-me, mas consegui afastá-la a


tempo dela cometer um erro.

“Sorry… but I love Cassandra. We can only be


friends. I apologize.

“No… I’m the one who should be apologizing.


You are about to stop a weeding for the girl of your
dreams and I’m here trying to kiss you… gosh I’m
retarded.

“It’s not your fault. We can’t choose the person


we like… Look let me make it up to you, its 10 am. You
will run late if you catch a cab, let me drive you there.

Eu aceitei a oferta. A viagem não era


propriamente curta, tanto que cheguei a casa da
Katrina às 9h30, quando tinha saído de casa da tia
Vanessa às 8h45.

A Katrina permaneceu em silêncio durante toda


a viagem, provavelmente envergonhada pelo episódio
que se sucedeu em casa dela. Mas o pior de tudo foi o
trânsito horrível que apanhámos até lá.

Só chegámos por volta das 11h45 e eu estava


em pânico. Ela pára o carro e dá-me um estalo.

“You’re annoying me. Keep calm dammit. Here


we are… a little late but that doesn’t matter.

“OK! Thanks for everything, you are truly


amazing.

“Wait…

Ela fez uns segundos de silêncio e disse:

“Nevermind! Go for it tiger.

Eu sorri e abracei-a. Sai do carro a correr e


arrombei a porta da igreja e gritei:

“Parem esta cerimónia.”

Os noivos e os convidados olham para trás


como que espantados pela minha atitude.

“ Vai-te a eles miúdo.” – Gritou o pai da


Cassandra da fila da frente. Aparentemente ele
reconheceu-me… ou simplesmente não gostava do
David.

“Eu oponho-me a este casamento, pois a


mulher que vai casar é a mulher da minha vida.”

O David olha-me com um olhar de raiva e vai


direito a mim:

“Que pensas que estás a fazer? Vai-te embora


antes que eu te magoe.”

Eu pego-lhe pelos ombros e dou-lhe uma


joelhada no sitio… “onde doí mais”. Continuei a andar
até ficar frente-a-frente com a Cassandra:

“Que raio vem a ser isto? Como é que


descobriste o sítio do casamento?”

“O que é que isso sequer interessa? Eu vim


parar este casamento porque és a mulher que eu amo,
e eu sei que tu ainda me amas…”

“Se me amasses assim tanto não fazias o que


fizeste.”

“Isso foi antes de eu perceber o erro que estava


a cometer… deixar-te fugir. Eu podia fazer um discurso
bonito a começar por <desde a primeira vez que te vi…
> mas estaria a mentir. Cassandra, eu viajei desde
Portugal até aqui para te puder ver mais uma vez e te
pedir desculpa, contudo o que eu mais queria era
voltar para ti.”

“Eu…”

Segurei-lhe na mão e pus-me de joelhos:

“Foste aquela que me fez sorrir nos momentos


em que estava triste e esquecer o mundo. És aquela
com quem eu quero estar para além do fim dos meus
dias, e por isso aproveito a cerimónia para te pedir em
casamento.”

Um aparte. A cara dos convidados era


impagável, mas a da Cassandra passava isso. Lembro-
me que quando olhei para a cara dela e vi o quão
“paralisada” estava, pensei mesmo que ela ia sair
daquele lugar a correr.

Peguei na caixa com anel de noivado lá dentro


e abri.

“Queres casar comigo? É só o resto da tua


vida.”

Ela ficou um tempo sem saber o que responder


até que disse:

“Eu não sei… e se tu me enganas outra vez? E


se isto for só uma coisa do momento? E se…”
“Cala-te duma vez filha. Tu não te calaste a
falar dele comigo durante estes 3 dias e agora estás a
fazer-te de fina? Aceita!” – Gritou o pai da Cassandra.

Ela olhou para mim durante algum tempo,


como se estivesse ainda na dúvida, até que sorriu e
disse:

“Sim, eu aceito!”

Eu levanto-me e beijo-a. O rapaz das alianças


veio ter comigo e entrega as duas alianças. Após
termos colocado as alianças um ao outro, o padre
disse:

“I now declare you, husband and wife. You can


kiss can kiss the bride… again. (Declaro-vos marido e
mulher. Pode beijar a noiva… novamente.).”

Eu volto a beijá-la, e nunca tinha estado tão


feliz como naquele momento. E neste momento, uma
história normal acabaria aqui… mas como eu cheguei a
dizer-vos, esta não é uma história normal.
3º Parte
Passaram-se dois meses desde o meu
casamento. Faltava agora um mês para retomarmos os
estudos, e a Cassandra foi autorizada a regressar à
minha faculdade, contudo nós não estávamos
autorizados a pensar em estudos, pois o Armando
seguiu o meu exemplo e pediu a Mafalda casamento, e
ela aceitou.

Era dia 15 de Agosto, mais propriamente, o dia


da despedida de solteiro do Armando, e no fundo
também seria a minha, contudo atrasada. Eu era o
padrinho, por isso estava encarregue de fazer os
convites e preparar a própria despedida de solteiro,
algo que deixava o Armando desconfortável.

Um aparte. O Armando não queria despedida


de solteiro sequer, quer dizer, queria… mas tinha medo
de não resistir às tentações. Ainda me lembro do que
ele me dizia: “Puto acho melhor não fazermos essa
cena… ainda faço algo impróprio e depois a Mafalda
fica fudida comigo.”.

Estava tudo pronto para irmos. Enquanto as


madames Cassandra e Mafalda iam escolher um
vestido de noiva, eu e o Armando íamos a um bar ao pé
do Cais do Sodré, seguindo-se um clube de strip,
também perto do Cais do Sodré.
Eram 17h da tarde quando saímos de casa, e
tínhamos pessoas para ir buscar, amigos próximos que
fizemos durante as férias: O André, o Tomás e Walter.

Um aparte. Finalmente tinha carro e nunca


mais iria precisar de chamar um táxi. Tirei a carta assim
que regressei da lua-de-mel na República Dominicana.
Comprei um Mazda Z3 que ainda dura nos dias de hoje.

Primeiro fomos buscar o André, que estava


atrasado como sempre. O André era um rapaz simples,
tinha o cabelo preto, com o típico penteado à Cristiano
Ronaldo e olhos castanhos. E quando digo simples,
quero dizer que se vestia de uma forma muito simples,
uma t-shirt e umas calças.

“Foda-se meu, este gajo está sempre atrasado,


será possível?” – Disse o Armando chateado.

Passaram-se 10 minutos até que o André saísse


de casa, acompanhado por uma loira, que seguiu um
caminho diferente, e entrasse no carro.

“Desculpem o atraso meus amores mas a


aquela menina é um furacão e andei à procura das
calças uns 5 minutos.”

“André… ambos sabemos que não a comeste, é


só a tua vizinha.”

“Mas…”
“Mas nada… e vê lá se não abusas na bebida.”

“Deve ser deve, estás a confundir-me com o


Walter só pode.”

Seguimos caminho em direção à casa do


Tomás.

“Ainda não acredito que vais casar amanhã


Armando. Ainda vais a tempo de voltar atrás e começar
o modo Vida Louca.” – Disse o André.

“E ser um triste como tu? Népia puto, prefiro


segurar algo verdadeiro, como aqui o nosso amigo.” –
Disse o Armando.

“Just saying… (Estou só a dizer…), acho que


estás a desperdiçar a tua juventude.”

“André, com isso preocupo-me eu. Agora cala-


te e deixa-o conduzir concentrado.”

Chegámos à porta de casa do Tomás, e lá


estava ele, contudo parecia um pouco chateado. Ele
entrou dentro do carro e disse:

“Antes que perguntem, eu digo já o que se


passa. A minha namorada traiu-me!”

“Então?” – Dissemos todos ao mesmo tempo.


“Então que estávamos a jogar Uno e aquela
cabra utilizou a <carta +4> quando ambos prometemos
não a usar.” – Disse ele a tentar disfarçar o sorriso.

“Este gajo é mesmo otário.” – Disse o André a


rir-se.

“Pois sou, e por muito estranho que pareça, só


eu, tu e o Walter mantivemos a nossa sanidade… este
paneleiro que está a conduzir casou-se há dois meses, e
esta florzinha, que até nem queria despedida de
solteiro, vai casar-se com esta idade.”

“Também estás a ser mauzinho Tomás! É


senhor florzinha se faz favor.” – Disse o André a rir-se.

“Sim, sim, que piada. Quem vos dera ter a


minha Cassandra, seus invejosos.”

“Aos malucos diz-se sempre que sim, por isso


sim, tens toda a razão. Não sou eu que tenho os
tomates numa mala de senhora.” – Disse o André.

“Só espero é que o Walter não esteja bêbado


novamente. Mas também duvido que esteja pior que
da última vez.” – Concluiu o Tomás.

O Tomás era um rapaz descontraído, contudo


preocupava-se sempre bastante com os amigos. Era
alto, de cabelo loiro do estilo surfista e era considerado
por todos a alma do grupo, pois animava todos nós.
Por último fomos buscar o Walter que, como já
devem ter percebido, era o que mais gostava de festas
do grupo. Tinha uma confiança indestrutível e não faço
a mínima ideia da cor dos olhos dele pois estava
sempre de óculos de sol.

Quando chegámos à porta de casa do Walter


reparámos que ele tinha uma câmara de filmar na mão.

“Então pessoal tudo bem? Façam-me só um


favor, não falem muito alto porque estou de ressaca de
ontem está bem?”

“Sim tudo bem, mas para que queres a


câmara?” – Perguntei.

“Para recordar estes momentos preciosos. Não


perderia o Armando ter uma tusa por causa duma
stripper por nada.”

Com os três convidados dentro do carro,


dirigimo-nos para o bar de strip, já que demorámos
mais tempo por causa do trânsito.

Só chegámos ao bar de strip por volta das 20h,


acho eu.

Sentámo-nos numa das mesas, e já havia uma


stripper a dançar no varão. O ambiente era bom, o jogo
de luzes vermelhas dava um toque de classe ao local. E
mais estranho ainda, estava cheio. Contudo não
ficámos muito tempo, assistimos a duas danças, e
pagámos uma dança privada a cada um. No fim
comprámos uma cerveja cada para fazer um brinde.

“Ao Armando… que vai passar a ser um caniche


sempre atrás da Mafalda.” – Disse o Walter, já um
pouco tocado das cervejas que bebemos no bar.

“Um brinde a isso, mas agora quero fazer um


brinde a sério. Um brinde a um grande amigo, que nos
acompanhou em todas as alturas, fossem elas boas ou
más. E que este casamento o faça muito feliz, porque
ele merece.” – Disse.

“Sim sim isso tudo é muito bonito… mas vamos


divertir-nos mais um pouco, ainda é bué cedo.” – Disse
o André.

“Onde queres ir?” – Perguntei-lhe.

“E que tal a uma discoteca que há aqui perto?”

O grupo acenou todo com a cabeça em sinal de


concordância, e para falar a serio, dançar um
bocadinho não me ia fazer mal nenhum, e muito
menos ao Armando, que estava muito reticente em
relação a tudo.

Conduzi até à discoteca que o André falava, e


parecia ser um bom ambiente. Comprámos umas
bebidas e dançamos um bocado, isto até eu ter torcido
o pé.

“Pessoal, vou pedir ali uma bebida para mim


que eu torci a merda do pé.”

E quando uma desgraça nunca vem só,


enquanto pedia a minha bebida, uma rapariga sentou-
se ao meu lado e pediu o mesmo que eu. Para maior
das minhas surpresas era a Marta.

Como sempre, ela estava de calções de ganga


justos, acompanhados por leggins e um top decotado,
capaz de seduzir um santo.

“Bonjour.” – Disse a Marta.

“Marta? Que estás a fazer aqui?”

“Eu vim cá para dançar, não te preocupes. Não


esperava encontrar-te por aqui.”

“E eu muito menos. Estás na mesma!”

“Obrigada acho eu, tu também pareces igual


querido. Sempre conseguiste conquistar a minha irmã
de volta?”

“Sim, e espero que não haja ressentimentos


entre nós.”
“Não, claro que não. Deixa-me pagar-te uma
bebida e tudo, para mostrar que não há quaisquer
ressentimentos.”

Eu aceitei. E a partir daqui não me lembro de


nada mais dessa noite. Acordei no dia seguinte no meu
apartamento e da Cassandra. Estava no meu quarto
deitado na cama, a perguntar-me o que tinha
acontecido, e quando olho para o lado, a Marta estava
nua, coberta apenas pelo lençol da cama desarrumada.

“Não, não, não… outra vez não. Merda, merda,


merda…”

Eu acordei a Marta e perguntei-lhe o que se


tinha passado:

“Bom dia para ti também amor. Nem sei como


ainda tens energia depois de ontem à noite.”

“O que é tu fizeste? Sua…”

“Sua quê? Puta? É isso que me vais chamar? Eu


não fiz nada querido, tu é que não resististe aos meus
encantos novamente. Mas não te lembras é?”

“Tu não me faças responder Marta, sabes


muito bem que não me lembro, não te faças de
desentendida.”

“Hum… não faz mal que eu vou relembrar-te de


tudo.”
“Cala-te por amor de Deus. E agora como vou
contar isto à Cassandra?”

“ Isso não é problema. Ela entrou em casa e


viu-nos, estavas a rir que nem um perdido.”

“JÁ CHEGA. Fui burro em pensar que vinhas em


paz. Nunca mais me apareças à frente, se pensas que
ao me separares da Cassandra me consegues de volta,
estás muito enganada.”

“Resultou contigo… porque não haveria de


resultar comigo?”

“Sai desta casa AGORA!”

“E saio com todo o gosto. Metes-me nojo.


NOJO!”

Ela saiu e bateu a porta com toda a força. Eu


liguei ao Armando o mais depressa que pude e disse-
lhe para vir ter a minha casa o mais rapidamente
possível.

10 minutos depois o Armando tocava à porta.

“Então puto, onde estiveste? Desapareceste


assim do nada ontem.”

“Eu fiz sexo com a Marta ontem à noite.”

“O quê? Outra vez meu? Eu já…”


“DEIXA-ME ACABAR! Eu não me lembro de
nada de ontem à noite. Eu acho que ela me drogou.”

“Espera, encontraste ela na discoteca? Tu sabes


que essa miúda não é de fiar e mesmo assim foste ter
com ela. Isso foi burrice.”

“Sim eu sei! Mas há pior. A Cassandra apanhou-


me com a Marta e não sei onde ela está.”

“Já viste em casa do teu sogro?”

Um aparte. O Raúl abandonou a Alemanha para


voltar a Lisboa, de modo a continuar próximo da filha,
por isso havia uma boa hipótese de ela lá estar.

Eu achei uma boa ideia e fui a casa do Raúl, em


busca de respostas.

Peguei no carro e conduzi até lá, contudo


quando bati à porta de casa do Raúl, o mesmo abre
com uma atitude que parecia nem saber nada. Ele
convidou-me a entrar e perguntou:

“Então amigo, o que o trás por cá?”

“Queria saber se sabe onde está a Cassandra.”

“Ela está em casa duma amiga, ela não disse


quem era. Mas porquê, passou-se alguma coisa?”

Eu expliquei o sucedido ao Raúl. O pobre


homem nem queria acreditar no que ouvia. Quando
acabei de contar tudo o que se tinha passado, ou que
achava que se tinha passado, naquela noite o Raúl
disse:

“Bem… a Marta até pode ser capaz de muita


coisa, mas de te drogar? É muito que processar. Tens
provas?”

“Pois… esse é o problema, eu não tenho nada.


Ninguém viu nada. Mas acredita em mim não
acredita?”

“Meu amigo… tu viajaste até a Alemanha para


reconquistar a minha filha, isto só porque viste a viste
na televisão e impediste o casamento dela. Já deste
mais que provas de que amas a minha filha, claro que
acredito em ti.”

Ele pegou no telemóvel e ligou à filha:

“Querida? É o pai. Preciso que me faças um


enorme favor. Ouve o que o teu marido tem para te
dizer. Prometo que ele consegue explicar a história
toda.”

Esperei ansiosamente para que o Raúl me


passasse o telefone, pois ele demorou um pouco a
convence-la, até que finalmente conseguiu, mas fez-me
o sinal para ser rápido.
“Amor, eu vou ser breve. Eu acho que fui
drogado pela tua irmã. Eu encontrei-a na discoteca e…?

“E o quê? Saltaste para cima, simples. Olha vou


ser muito clara, eu não acredito que a minha irmã
chegasse tão longe, e essa história está muito mal
contada. Mas vá, eu dou-te 3 dias para arranjares
provas do que estás a dizer. Até lá não me diriges a
palavra, estamos entendidos?”

Eu não podia discordar, a nossa relação estava


em jogo, por isso concordei com os termos dela. Agora
só faltava saber, onde iria arranjar tais provas?

“Amigo, vocês tiveram uma despedida de


solteiro, algum de vocês deve ter gravado alguma coisa,
ou então vai ao estabelecimento onde isso aconteceu e
pede a eles para te mostrarem as imagens.” – Disse o
Raúl.

De facto era uma excelente sugestão. De


certeza que as câmaras de segurança da discoteca
tinham captado o momento em que a Marta me tinha
drogado.

Liguei ao Armando e convidei-o a ir comigo de


novo à discoteca onde tudo se tinha passado. Como
ainda era muito cedo, a discoteca encontrava-se vazia,
apenas com um segurança na frente da porta.
Após explicar ao segurança as razões de
estarmos ali, ele entrou em contacto com o dono da
discoteca, que disponibilizou-se a falar connosco na
sala de vigilância.

“Façam favor de me acompanhar.” – Disse o


segurança.

Quando entrei na sala de vigilância juntamente


com o Armando, a primeira coisa que me passou pela
cabeça foi que era muito idêntica às salas de vigilância
que se via nos filmes, cheia de televisores e uma
escuridão quase natural.

“Boa tarde! Marco Esteves, dono da discoteca.


Já fui informado do vosso propósito e devo-lhes as mais
sinceras desculpas. Não tenho qualquer conhecimento
de como esta substância ilícita passou pela segurança.”
– Disse, com um tom assertivo perante o segurança.

“Não tem problema.”

“Mas diga-me, a que hora se sucedeu o ato?”

Um aparte. Para um dono de uma discoteca, o


senhor tinha uma linguagem excessivamente correta.

“A última coisa que me lembro foi de ter


torcido o pé e ficar a repousar junto do balcão. A que
horas terá sido isso Armando?”
“Epah… estás com sorte porque eu olhei para o
relógio nessa altura, eram mais ou menos 22h30.”

O dono da discoteca pede ao segurança das


câmaras de vigilância para selecionar a câmara do
balcão àquelas horas, contudo quando a câmara
mostrou a Marta, a mesma ficou sem sinal.

“Então foi esta a câmara que ficou sem sinal


temporariamente? Foi azar, lamento mas esta câmara
só voltou a funcionar esta manhã. É uma anomalia pela
qual eu sou completamente alheio.”

Eu entrei em desespero e perguntei se havia


qualquer outra câmara que captasse o balcão:

“Lamento informar, mas esta é a única câmara


que apanha esse ângulo em específico.”

Eu e o Armando agradecemos a disponibilidade


do dono da discoteca e saímos, eu sem esperança e o
Armando frustrado.

“ O que é que eu faço agora Armando? Vou


perder a Cassandra… outra vez.”

O Armando mostrava preocupação no rosto,


até se ter de algo:

“Espera lá! E se o Walter, na sua santa


embriaguez, filmou alguma coisa? Ele trouxe câmara de
filmar, lembraste? E o André também trouxe uma
câmara fotográfica. Talvez a salvação esteja nessas
imagens.”

O meu coração voltou a encher-se de


esperança, porém mínima, pois seria uma sorte se
essas imagens mostrassem a verdade. Ligámos ao
André e ao Walter para se encontrarem connosco em
minha casa com as câmaras.

Acabámos por chegar todos ao mesmo tempo a


minha casa. Convidei-os a entrar e expliquei-lhes o
sucedido.

“Meu… eu só gravei vídeos no bar de strip e na


rua. Desculpa!” – Disse o Walter.

“Então e tu André?” – Perguntei-lhe.

“Epah, eu tirei algumas fotos na discoteca, e


para tua sorte eu tirei umas quantas fotos tuas com
uma miúda no balcão.”

Eu liguei o computador e inseri-lhe o cartão de


memória da câmara do André. Ao todo existiam 170 e
tal fotos, salvo erro, só da discoteca.

A maior parte das fotografias, ou eram fotos de


grupo, ou fotos que o André tirou a si próprio, tirando
fotos tiradas a miúdas ao acaso.

Só depois de mais de metade das fotos vistas é


que o Armando me chamou à atenção:
“Espera! Volta atrás… sim, essa mesma.”

A foto era o Walter e o Tomás com uma loira


entre eles. A foto apanhava parte do balcão, parte essa
em que eu e a Marta aparecíamos.

“Faz zoom sob o balcão. Vês ali o bartender?


Ele está a pôr uma espécie de… pastilha… na tua
bebida.”

Eu olhei melhor e vi que o Armando tinha


razão. A foto que vinha a seguir só confirmava ainda
mais as minhas suspeitas. Esta foto tinha o André e o
Tomás e novamente apanhava aquela parte especifica
do balcão.

“O bartender está a apontar para o copo que


ele pôs a pastilha.” – Disse o André.

“Não, não… melhor ainda! Ela e o bartender


estão a ter contacto visual. Isto só mostra que já estava
combinado, mas como é que ela sabia que íamos estar
ali?” – Perguntei.

“Isso não importa nada. Se calhar seguiu-te ou


assim. Ela tem contactos com todo o mundo e deve ter
pedido ao bartender para te pôr a pastilha na bebida.”

Procurámos mais fotos incriminatórias mas não


encontrámos mais nenhuma, tirando aquelas em que
se notava que estava sob o efeito de algo forte.
Pusemos essas fotografias numa pen e liguei ao
Raúl a informar que tinha encontrado provas e para
ligar à Cassandra para ir ter a casa dele.

“Eu sabia que não estavas a mentir! Vou ligar


agora para a Cassie, até já miúdo.” – Disse o Raúl, antes
de desligar.

“Onde vais agora?” – Perguntou o André.

“Agora vou a casa do pai da Cassandra, ter com


eles os dois. A sério André, obrigado por tudo, acabaste
de salvar um casamento, se alguma vez houver uma
coisa que possa fazer por ti, avisa-me. Fico-te a dever
uma.”

“Por acaso à uma coisa que podes fazer…” –


Insinuou o André.

“Qualquer coisa, mas diz rápido!”

“Podes apresentar-me alguma amiga tua que


goste de relações… mais sérias? Mas que seja fogosa
claro.”

“Oh André… só tu! Por acaso, agora que penso


nisso… mas falo contigo sobre isso depois. Tenho de ir.
Mais uma vez obrigado.”

Abracei o André e conduzi com o Armando até


a casa do Raúl.
Eram agora 19h da tarde, só para terem a
noção do tempo que gastei dum lado para o outro para
arranjar as ditas provas, provas essas que valeram a
pena o tempo perdido. Estacionei o carro e corri para a
porta de casa do Raúl.

“Calma rapaz… ninguém vai morrer aqui.” –


Disse o Raúl, bastante mais calmo que eu.

“Desculpe Raúl, mas eu não consigo estar


calmo, empreste-me o seu portátil.”

Ele entrega-me o portátil para as mãos e eu


coloco a pen. A Cassandra olhava para mim, como na
expetativa de eu estar certo, contudo a tentar
aparentar que ainda estava aborrecida comigo. Eu
seleciono as fotografias e mostro as zonas de interesse.
Rapidamente a cara da Cassandra e do Raúl mudavam,
como que incrédulos perante o que eu estava a
mostrar.

“Vês amor? Eu tinha razão. Ela drogou-me!”

“Eu sempre acreditei em ti miúdo, mas


continua a ser incrível o que a Marta fez… nunca pensei
que chegasse tão longe”- Concluiu Raúl.

A Cassandra abraçou-me, em parte aliviada, e


por outra desiludida pela atitude da irmã:
“Desculpa ter duvidado de ti amor. Eu devia ter
suspeitado daquela cabra desde o inicio, então quando
o Afonso me perguntou se eu e tu estávamos juntos…
eu vi logo que havia algo mais por detrás.”

“Espera um minuto! O Afonso perguntou-te se


estávamos juntos? Disseste-lhe algo mais para além
disso?”

“Sim disse que vocês iam a um bar do… Cais do


Sodré… deve ter sido a partir do Afonso que ela te
encontrou.”

“Sim é possível, mas isso agora não interessa


nada. Vamos para casa amor.”

“Ainda não!” – Disse com uma voz assertiva e


um olhar frio. “Primeiro tenho de ir buscar umas coisas
a casa da minha amiga.”

“Mas tu levaste alguma coisa de casa? Queres


ajuda a levar as coisas?”

“Não me faças mais perguntas. Depois


falamos.”

“Ui… quando elas fazem esse olhar é melhor


matar o assunto. Vamos dar uma volta e beber
qualquer coisa, é melhor.” – Disse o Armando
preocupado.
“Sim, se calhar é melhor. Mas tem cuidado
amor. Amo-te!” – Disse-lhe antes de sair de casa do
Raúl.

Despedi-me dela e do Raúl e fui ao meu bar


habitual de Lisboa com o Armando.

Já no bar, conversava com o Armando sobre a


atitude estranha da Cassandra:

“Epah, se eu tivesse que dar um palpite diria


que ela não foi a casa de amiga nenhuma e foi mas é
ter com a irmã dela para um ajuste de contas.” – Disse
o Armando.

“Eu acredito na história da amiga.”

“Epah, das duas uma ou és muito burro ou


simplesmente não queres ver.”

“Armando não é nada disso, eu estou


preocupado com ela. E se lhe acontece alguma coisa?”

“É incrível…”

“É incrível o quê?”

“Como consegues ser a mulher da relação. Tem


calma puto, ela é mais destemida que tu, caramba.”

Eu aqui tinha de concordar com o Armando, eu


preocupava-me muito mais que ela, muito mais.
Saímos do bar umas horas depois. Levei o
Armando a casa e dirigi-me para a minha casa, na
esperança de que a Cassandra já tivesse chegado, e
para minha surpresa, ela já estava lá.

“Diz-me a verdade Cassandra, foste falar com a


Marta, não foste?”

“O que é que achas?”

“Então e como correu?”

Um aparte. Para melhor organização estrutural


da história vou contar o que se passou naquela
conversa como se estivesse presente.

A Cassandra saiu de casa do pai logo após eu e


o Armando sairmos. Ela apanhou um táxi e dirigiu-se a
casa da irmã. A cada passo que dava em direção à
porta, ela parecia cada vez mais irritada, e pela altura
que bateu à porta ela estava completamente cega de
raiva.

“Olha quem é ela? Então maninha precisas de


alguma coisa?” – Disse a Marta com um ar irritante.

A Cassandra olha-a com um olhar frio e dá-lhe


um estalo.

“Tu está calada ou levas mais que um estalo.”


“Ui… sim senhora. A gata ficou assanhada, foi?
Não tenho culpa de ele não ter resistido aos meus
encantos novamente. Zanga-te com ele, não comigo.”

“Eu sei que o drogaste. Como é que pudeste ser


tão cabra? Quer dizer, pelo menos a esse ponto.”

“Eu não sei do que estás a falar querida.”

“Ainda tens coragem de me mentir na cara. Eu


tenho mais do que provas. Eu tenho fotos que mostram
o bartender a pôr a pastilha na bebida e a fazer-te sinal
de qual era o copo. Mas qual fosse a tua intenção, tu
perdeste!”

“OK querida. Cartas para cima. Eu amo-o, e sou


capaz de tudo para o ter de volta, mesmo que seja
separar-vos à força. Tudo o que eu quero é meu, e ele
vai ser meu, mais cedo ou mais tarde.”

“Nesse caso… querida… vais ter de passar por


mim primeiro. E tu nem sonhas o que eu sou capaz de
fazer para proteger o que é meu.”

A Cassandra decide que já disse o suficiente e


vai-se embora, contudo ainda consegue ouvir à
distância a Marta a sussurrar:

“Queres guerra não queres maninha? Então é


guerra que vais ter.”
Ao ouvir a história da Cassandra fiquei
incrédulo, quase sem saber o que dizer. Como é que é
possível uma pessoa chegar tão longe, especialmente
por motivos tão egoístas.

“Mas vá paixão, não penses nisso agora que eu


estou carente e preciso ali de uns mimos no quarto que
só tu sabes dar.” – Disse a Cassandra a sorrir.

Ela levou-me para o quarto e fizemos amor


nessa noite. Só que desta vez foi especial, estávamos
mais cúmplices, com uma química muito mais intima
devido às adversidades que fomos ultrapassando. O
que interessa é que acordei no dia a seguir com um
espirito completamente diferente, contudo ainda
preocupado com o que a Marta poderia fazer a seguir.

Era a véspera do casamento do Armando e eu


tinha combinado com o rapaz dar uma volta para
descontrair e não pensar no dia seguinte, enquanto a
Cassandra foi fazer o mesmo com a Mafalda,
provavelmente para desabafar sobre o que a Marta fez.

Parecia que ia ser um dia normal como os


outros, mas estava longe de o ser. Chamem sexto
sentido, mas eu naquele dia tinha o pressentimento
que algo de mau iria acontecer, só não sabia o que
era… ainda. Já era tarde, e estava a jogar bilhar com o
Armando num clube de Lisboa.
“Estás com a pontaria desafinada puto. A
Cassandra trocou-te as voltas ontem à noite foi?” –
Disse o Armando a rir-se, preparando-se para dar uma
tacada.

“Tu é que devias de estar a falhar as tacadas,


meu caro amigo. Afinal, quem vai casar és tu, e não
eu.”

“Mas o facto de saber que vou casar amanhã,


ainda me põe mais concentrado.”

De repente o meu telemóvel toca.

“Puta! Falhei a tacada por causa do toque


irritante do teu telemóvel.”

“Não te desculpes com coisas tão simples.


Estou?”

De repente uma voz grave de homem se ouve:

“Temos a tua mulher e noiva do teu amigo,


tragam 100 mil euros até quarta-feira, ou os vossos
amores morrem. Amanhã volto a ligar para vos dizer o
local da transição. Venham sozinhos.”

O homem desliga o telefone, e eu permaneço


estático, sem qualquer reação.

“Meu o que se passa? Estás pálido!”


“Raptaram a Cassandra e a Mafalda… e só
temos até depois de amanhã para juntar 100 mil, ou
elas morrem.”

O desespero era visível na cara do Armando.


Ele não sabia mesmo o que fazer, e eu só tentava
manter a calma.

“Merda, merda, merda! Como foi uma coisa


destas acontecer? Onde vamos arranjar tanto dinheiro
agora? E se lhe acontece alguma coisa? E se…”

“CALA-TE!” – Disse-lhe, depois de lhe dar um


soco.

“Mas estás parvo? Era preciso isso?” – Disse o


Armando irritado.

“Era! É assim, acho que tenho a solução para


este problema, mas para isso preciso de falar com uma
pessoa. Mas mais ninguém pode saber disto, estamos
entendidos?”

“Claro meu, mas com quem é que vais falar?”

Só havia alguém com as condições financeiras


para me ajudar numa situação destas. Tive de ligar à
mãe da Cassandra e da Marta para pedir um
empréstimo.

Combinei com a senhora encontrar-se comigo


em minha casa para discutir o assunto, mas que não
podia falar a ninguém que se ia encontrar comigo e
tinha de vir sozinha.

Quando a senhora chegou, ela parecia-me


preocupada com o que lhe poderia contar. Pedi à
senhora para se sentar e manter a calma.

“Bom, passa-se o seguinte. A sua filha


Cassandra foi raptada e…”

“Ai meu Deus! Minha pobre filha, ela está


bem?”

“Como deve calcular não há modo de eu saber


isso. E preferia que não me interrompesse por favor.”

“Peço desculpa!” – Disse a senhora, ainda um


pouco nervosa.

“Não tem importância. Enfim, eu não lhe


estaria a contar isto se não precisasse da sua ajuda, daí
o máximo sigilo que exijo da sua parte. O resgate é de
100 mil euros a serem pagos até quarta-feira, ou seja,
depois de amanhã. Como deve calcular, eu não tenho
meios como reunir tanto dinheiro em tão pouco
tempo, por isso, e tratando-se da sua filha, pedia à
senhora para me financiar esse dinheiro, que irei
certamente pagar-lhe de volta e…”
“Não precisa de dizer mais, e muito menos dar-
me o dinheiro de volta. É da minha filha que estamos a
falar e irei certamente pagar o dinheiro pedido.”

Eu fiquei surpreendido de a senhora ter


aceitado de uma forma tão repentina o meu pedido.

“Mas tenho uma condição! Eu vou ter de o


acompanhar na transição.” – Concluiu a mãe da
Cassandra.

Eu expliquei-lhe que isso não era possível pois


só eu e o Armando é que podíamos ir, segundo as
ordens dos raptores.

“Isso é estranho… como é que os raptores


conhecem o seu amigo?”

“A noiva dele também foi raptada.”

Ela então disse-me para não me preocupar, que


ela tratava da questão financeira, e que amanhã tinha o
dinheiro pronto a ser entregue. Eu agradeci e despedi-
me da senhora, que antes de sair me disse:

“Definitivamente o amor que você tem pela


minha filha é realmente muito maior do que o que o
meu marido tem por mim.”

“Sabe… penso que o Raúl ainda lhe daria uma


hipótese.”
“Talvez… mas eu não quero pensar em nada
disso. Agradeço a sua preocupação. – Disse a velha
senhora antes de sair.

Tínhamos agora o dinheiro necessário para


pagar o maldito resgate, contudo ainda havia um
assunto que me incomodava.

“Meu, já temos o dinheiro para pagar o


resgate, o que te está a preocupar?” – Disse o
Armando.

“Há algo que não bate certo aqui… não sei o


que é, mas não bate certo.”

“Amigo, o teu problema neste momento é


sono, vamos mas é dormir. Bem precisamos!”

Eu segui o conselho do Armando e fui dormir,


ainda a pensar naquilo que não batia certo nesta
história. Para além disso, foi uma noite muito mal
dormida, contudo a noite lá passou.

E sinceramente não há muito para contar deste


dia, a mãe da Cassandra passou por nossa casa para
entregar a mala com os 100 mil euros e os raptores
ligaram. Já não me lembro da morada exata, mas sei
que nos íamos reunir num armazém abandonado
qualquer às 15 horas.
Sinceramente, o resto do dia não tem qualquer
importância, por isso vou saltar para o dia do encontro
com os raptores.

Chegou o “Dia D”. Eu e o Armando estávamos


muito nervosos pois nunca tínhamos lidado com uma
situação semelhante antes.

“Desculpa Armando.”

“Desculpa? Porquê?”

“A tua noiva foi arrastada para isto. Finalmente


percebi aquilo que não batia certo. O raptor ligou para
mim e não para ti, e supôs que estivesses comigo… ou
seja, eles fizeram isto por minha causa e por isso
lamento.”

“Essa ideia é no mínimo ridícula, se fosse assim


eles teriam era raptado só a Cassandra, e isso não
aconteceu, agora vamos andando para o ponto de
encontro para não chegarmos atrasados.”

Partimos de casa em direção ao local, prontos


para fazer a transação.

O ambiente estava tenso e nem uma palavra foi


pronunciada pelo caminho, apenas queríamos reaver
as mulheres das nossas vidas.

Quando chegámos ao armazém abandonado, o


portão estava entreaberto. Tinhamos entretanto
recebido uma chamada para bater três vezes no portão
para dar sinal de que eramos nós.

Nós fizemos o sinal, ao qual uma voz responde:

“Entrem rápido!”

Nós entrámos e mal o fizemos dois


encapuçados nos apontaram uma arma à cabeça.

“Sentem-se! A chefe está aqui daqui a pouco.”

Ao ser obrigado a sentar reparei que a Mafalda


e a Cassandra se encontravam atadas a uma cadeira
com a boca tapada. Eu tentei levantar-me para ir ter
com elas, indignado com o que se estava a passar.
Estando a perder o controlo da situação, os raptores
puseram-me inconsciente com o golpe que efetuaram
com a arma, e maior não podia ser a minha surpresa ao
acordar.

Quando abri os meus olhos, estava à minha


frente nada mais nada menos que a Marta, com um
sorriso que dava vontade de lhe esmurrar a cara.

“Então meu príncipe… dormiu bem?” – Disse


ela sinicamente.

Ao lado dela estava o Afonso, ao lado da


Cassandra e da Mafalda, com uma arma pronta a
disparar.
“Marta… eu não acredito que foste capaz de
fazer isto! O que queres de nós?”

“Deles? Nada! De ti? Isso já é uma pergunta


diferente. Eu quero que voltes para mim, e como eu
tenho tudo o que quero, também te vou ter.”

“Sabes tão bem como eu que isso não vai


acontecer.”

“Ai não? Vamos lá ver se a minha irmãzinha


está de acordo.”

“SE LHE TOCAS COM UM DEDO EU MATO-TE!”


– Disse, ao levantar-me de rompante, encostando-a à
parede.

“Ena… que viril. Isso é uma das coisas que sinto


falta, que sejas bruto comigo, como eu gosto.”

“Sua puta de merda!” – Disse-lhe.

“Sim amigo, mas quando estavas comigo


papavas e calavas… e admite lá, tens saudades deste
corpo deitado a teu lado. Enfim, eu tenho um acordo a
fazer contigo…”

“Eu não vou aceitar nada. LIBERTA A


CASSANDRA!”

“Vais aceitar pois, afinal, se aceitares eu não


tenho de as matar…”
“OK! O que queres de mim?”

“AH! Assim gosto mais. Sabes muito bem que


tudo o que eu quero é que a sonsa da minha irmã sofra
tanto como ela me fez sofrer a mim, por isso aqui vai a
minha proposta, eu liberto a Mafalda e a Cassandra, se
e só se, ficares comigo.”

“Tu és louca!” – Disse-lhe com um olhar de


odio.

“Espera, esse não era o nosso acordo. Tu


disseste que se te ajudasse ias ficar comigo.” – Gritou
Afonso.

“AH! É verdade querido, ouve uma mudança de


planos. Lamento imenso!”

“Tu disseste que ias destrui-los para nos


vingares, tu… mentiste-me.”

“Não querido… eu estou a vingar-nos. Eles


separados vão sofrer e não é pouco. A única coisa que
eu menti foi quando disse que ia ficar contigo, quer
dizer, já olhaste bem para ti? Neste momento não vales
nada, és um perdedor, e eu não ando com
perdedores.”

“Sua cabra, então e todas aquelas noites que


passámos e que disseste que me amavas?”
“Ahahahah! Foram noites divertidas, mas
nunca te amei.”

Nesse momento, e num ato de loucura e


desespero, Afonso aponta a arma na minha direção:

“Nesse caso, estou-me pouco lixando se estás


vivo ou não seu monte de merda!”

Tudo o que consegui fazer foi fechar os olhos, a


tremer tudo o que era musculo até ouvir o bang da
arma, e quando o ouvi, não senti nada, como se a bala
nunca me tivesse atravessado, por isso decidi abrir os
olhos, e quando os abri vi o corpo do Afonso estendido
no chão, inanimado e a esvaziar-se em sangue.

“Não voltas a ameaçar o meu futuro marido.”

Entretanto o som das sirenes da policia faziam-


se ouvir e, por consequência, Marta estava a começar a
ficar nervosa.

“Está na hora de tomares uma decisão, aceitas


o meu acordo ou não?”

“Eu… vou aceitar o teu acordo!” – Disse-lhe,


olhando para a Cassandra, que vertia uma lágrima.

“Mas… algo que vai ser impossível de acontecer


entre nós é amor. Eu nunca te vou amar, porque o meu
coração pertence a outra mulher, e com isso tu nunca
poderás ficar.
Lá fora os policias gritavam para sairmos do
armazém porque estávamos cercados.

“Tens razão… eu nunca te vou poder obrigar a


sentires o mesmo por mim… MAS SE EU NÃO POSSO
FICAR CONTIGO, ENTÃO NIGUÉM FICA!” – Disse a
Marta, apontando a arma à Cassandra.

Ao ver o que a Marta ia fazer, fui em direção


dela e lutamos pela arma, enquanto que o Armando
lutava com os dois encapuçados, até que de repente se
ouviu um disparo.

O meu corpo estava agora a ficar frio, e a


minha cabeça a começar a perder os sentidos… cai ao
chão, já com a visão a preto e branco desfocado, e a
última coisa que vi, foi a mulher da minha vida com
lágrimas nos olhos.

Esta é a ultima memória que eu tenho depois


do disparo… só voltei a ganhar consciência no hospital,
e quando acordei a minha felicidade não podia ser
maior. Um abraço forte da Cassandra e os sorrisos da
Mafalda e do Armando.

Perguntei-lhes o que tinha acontecido após o


disparo, e eles contaram que a Marta tinha sido presa,
juntamente com os dois encapuçados. Nunca tinha
sentido tanto alívio na minha vida.
Entretanto, e para acabar esta história de
amor, o médico entra na sala e esclarece que está tudo
bem comigo:

“Não tem nada com que se preocupar, exceto


com uma coisa, você não está registado neste hospital,
preciso do seu nome completo.”

“Não tem problema, o meu nome é…”

FIM

Você também pode gostar