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Olá, caro leitor

Vou contar um pouco de uma história que mudou minha vida pra vocês, espero que
gostem já que é o primeiro minilivro que eu escrevo, obrigado por ler. (vou me basear
em alguns livros pra eu ter alguma ideia de como vou contar isso pra vocês)

Prologo

Bom, na época eu era um garoto no final do ensino fundamental 2, nono ano se não
me engano. Naquele tempo a minha família, mais especificamente minha mãe e meu
avô ficavam no meu pé porque queriam que eu realmente me empenhasse nos
estudos e virasse um médico ou fosse pro bendito exército rs, sinceramente eu odiava
isso, nunca gostei do fato deles pegarem no meu pé pra eu correr atrás de um objetivo
que não era meu, não queria fazer faculdade ou seguir essas profissões, mas eu não
tinha voz para negar. Bom, olhando do ponto de vista financeiro, errados eles não
estavam, são profissões boas e estáveis. E querendo ou não o mundo é assim. Ninguém
liga pro que você quer ou deseja, só ligam que rende mais financeiramente.
Então assim eu segui na minha jornada estudantil, na época eu raramente saia de casa.
Eu gastava todo meu tempo livre jogando pra me distrair da minha realidade, minha
mente é ansiosa e jogar me acalmava um pouco e me fazia ficar feliz por breves
momentos, apesar da dor que morava em meu peito. Eu não fazia ideia de como as
como as coisas iam ser diferentes a partir de um único ponto de ignição... conhecê-la
mudou minha vida, eu não sabia como lidar com aquilo, com aqueles sentimentos
avassaladores, aquelas emoções a flor da pele. Eu acabei me envolvendo...

E foi assim que ela entrou no meu coração, de repente minha vida toda mudou, uma
história que parecia sair de um clichê estranho, uma história boa e confusa.
Sinceramente me sinto confuso até hoje... Será que teríamos sido eternos juntos seu
amadurecesse mais rápido? Será que eu teria seguido com essa história se eu soubesse
como ela ia terminar? Às vezes me sinto grato pelo que tivemos, as vezes me lembro
da dor que me casou, as vezes tenho saudades de como éramos.
A única certeza que eu tenho é que minha vida nunca mais será a mesma depois dela.
1

Enquanto estou aqui paralisado e jogado no chão desse quintal, completamente


vidrado olhando as belas estrelas que pairavam no céu noturno, me pareceu notável
como somos insignificantes em relação ao universo.

Somos pequenos em relação ao cosmo, somos pequenos até relação a nossa própria
cidade e logo penso que a nossa vida nem deve importar tanto assim.
A minha vida pra ser mais específico, não me importo com ela tanto assim ao ponto de
achar que vale a pena permanecer nessa breve existência. Penso muito na morte, em
como mais de 50 mil pessoas morrem todos os dias e simplesmente nada é afetado
pela morte deles. Por que uma existência tão mínima merece ser vivida?
Bom depois do dia de ontem eu acho que minha morte está bem próxima. Eu e a
minha mãe tivemos uma discussão e ela parou de falar comigo, e eu acho não vamos
nos falar tão cedo, entramos numa discussão sobre como eu deveria me tornar o que
ela quer que eu seja e as coisas não terminaram bem, ela deve estar querendo me
matar.
Bom apesar disso e meu breve desejo suicida, eu estava bem tranquilo aproveitando o
breve momento pacífico que estava tendo em meu quintal. Porém infelizmente foi
interrompido por uma notificação em meu celular, uma simples notificação foi mais
que o suficiente pra tirar minha. Me xinguei brevemente por ter esquecido de botar o
celular no silencioso e me senti obrigado a olhar a notificação. Era uma mensagem de
Cassius um amigo que conheço a um pouco mais de 1 ano, o cara mais excêntrico e
alienado que eu conheço.
“Aslan, vamos fazer um rolê amanhã no shopping, tamo a fim de ir naquele labirinto
assombrado que abriu recentemente, está a fim de ir?”
“oi, quero ir sim, que horas a gente se encontra?”, respondo esperando que seja uma
conversa breve para voltar para a minha solidão.
“às 15h a gente se encontra na frente do shopping, a gente se vê lá!”, após ler a
mensagem rapidamente eu desligo a tela do celular e sem nem mesmo notar eu acabo
pegando no sono e durmo o resto da noite.
2
Acordei no dia seguinte, olho para o celular e já são 14:20. Tenho que me arrumar
rapidamente pra ir pro rolê, nossa como me sinto destruído por dormir aqui no chão,
uma vontade enorme de nem levantar quase me fez desistir de ir. Porém eu topei ir e
não gosto de desmarcar em cima da hora, calmamente me levantei e tomei um banho
rápido, - qual roupa escolher? – acabei pegando uma roupa qualquer, afinal não ligo
pra minha aparência tanto assim. Me vesti de uma blusa desbotada cinza e um short
qualquer quadriculado, logo fiquei pronto e segui para o local de encontro.
Chegando no local vejo o grupo de sempre Cassius, Sam. – Sam é um rapaz alto de
cabelo amarelo, ele é simpático e um amigo leal. – Olhando mais um pouco notei que
tinha mais alguém entre eles, uma mulher, uma linda mulher – ela é alta de cabelos
negros, cabelo cacheado, olhos de um castanho escuro que me hipnotizaram, um
corpo violão e uma roupa simples e bela- estava longe ser uma mulher padrão de capa
de revista, mas a beleza dela era tão singular e especial, era a mulher mais linda que já
tive o prazer de avistar.
Me aproximei do grupo e rapidamente me a apresentaram pra mim, eu era o único no
grupo que não há conhecia, o nome dela era Alice e é a namorada de Cassius.
Continuamos o caminho e fomos ao labirinto, enquanto íamos para o nosso destino eu
permaneci em silencio, apenas ouvindo eles conversarem entre si, não estava muito a
fim de conversar, e bom, chegamos. A Entrada era escura e tinha um clima bem frio,
logo fomos abordados pelo recepcionista que cobrou 15$ a cada um, assim que
entramos notei que Cassius e os outros estavam indo na frente enquanto Alice pedia
pra Cassius ir com ela – pois estava com medo – ele há ignorou e seguiu em frente.
“Aslan, eu vou com você”, Alice afirmou sem nem me perguntar nada antes, meio
incrédulo, apenas aceitei e entrei com ela no labirinto. A temperatura esfriava a cada
metro que andávamos seguindo pelo labirinto, de repente um barulho que parecia ser
de uma corrente começou a ecoar, um passo de cada vez e o barulho só se repetia, a
cada passo o som da corrente parecia cada vez mais próximo, quando eu olho mais a
frente encontro os rapazes de frente há uma escada, estavam os 3 esperando a gente
chegar pra subir todos de uma vez.
“então quem vai primeiro?” perguntei a eles e logo Sam foi na frente liderando o
grupo, após subir alguns degraus o som da corrente foi tão alto e próximo que assustou
a todos, Alice que estava andando atrás de mim começou a me segurar cada vez mais
forte – ela parecia estar morrendo de medo -. Paramos por alguns poucos segundos e
voltamos a subir.

Chegando no 1º andar já não enxergávamos mais nada, a iluminação que antes era
pouca, agora estava praticamente nula, exceto por alguns pontos onde tinham
resquícios de luz. Andamos devagar, tocando nas paredes paras nos guiar pelo
labirinto, Alice continuava segurando em minha camisa, e os nossos 3 companheiros
ainda prosseguiam na frente. O som da corrente parou, já não se escutava mais nada e
de repente uma luz se acende, saia luz debaixo de uma das paredes – como nos filmes,
aquelas portas escondidas- todos estávamos nervosos e apreensivos, eu vou em
direção a parede falsa e tento abri-la de alguma forma e Alice me interrompe.
“Aslan cadê todo mundo?” Alice diz sussurrando em meu ouvido
“Cassius! Sam! Onde vocês estão?” eu grito em voz alta

Após alguns segundos esperando uma resposta, enfim notamos que estamos sozinhos,
- aonde eles foram? Eles estavam perto da gente agora mesmo – penso comigo
mesmo, eles devem ter seguido pelo labirinto sem a gente ou acabaram se perdendo.
“parece que somos só nos dois por enquanto, vou tentar abrir a porta de novo” falo
pra em um tom de voz calmo apesar do meu nervosismo. Voltando a minha atenção
para a porta, eu noto que tem um botão pequeno próximo ao chão, decido apertá-lo e
logo quando meu dedo encosta no botão a porta começa a se abrir lentamente,
quando a porta finalmente se abre por completo e meus olhos finalmente se
acostumam com a luz do corredor que se abriu, eu olho e consigo avistar uma silhueta
mais a fundo, parecia um homem alto, com algum tipo de fantasia sinistra, rosto
desfigurado, manchas de sangue pela roupa, pele cinza, uma calça desbotada e
rasgada, uma regata branca e suja. E ele ficou ali parado me olhando, ele tinha um
facão em suas mãos e por algum motivo ele não saia do lugar. Eu parado por alguns
instantes e noto que Alice não está mais me segurando – cadê ela? – penso confuso,
pois ela estava bem do meu lado a poucos segundos atrás.
“Te cortaré en pedazos hombrecito” grita o homem que até agora estava imóvel, ele
começa a correr em minha direção e um barulho alto como de uma explosão ecoa pelo
labirinto, o barulho é tão alto que chegar a doer meus ouvidos. Eu começo a correr
pelo labirinto, enquanto esse maluco corre atras de mim, “te cortaré entero” ele grita
novamente só que dessa vez eu já sinto sua voz bem perto dos meus ouvidos, ele está
atrás de mim, muito próximo. Por incrível que pareça correr por um labirinto escuro
não é uma tarefa muito simples, eu corro enquanto me bato pelas paredes, eu corro
enquanto ouço ele gritar diversas vezes a mesma frase “te cortaré entero”, eu corro e
não encontro ninguém.
Quando eu começo a sentir a fadiga de tanto correr, eu me sinto obrigado a parar,
mesmo com medo eu olho pra trás e não consigo ver nada, mas parece que ele não
está mais atrás de mim, eu fecho os olhos pra respirar um pouco e de repente alguém
aparece se esbarrando comigo e eu caio no chão sem tempo de reação, está muito
escuro pra ver alguma coisa, não dá pra saber o que esbarrou em mim, eu paro caído
no chão e tento ouvir algo porém nenhum som é emitido.

“quem está a-?” antes que eu terminasse de falar, eu sou interrompido por duas mãos
que me agarram e me puxam para um abraço apertado. “sou eu” responde uma voz
feminina, que eu logo reconheço, é Alice, e ela está tremendo.
“você está bem?” perguntei pra ela, e ela não respondeu, me levantei do chão e ajudei
ela a levantar. Ficamos por alguns segundos quietos para ela se acalmar e depois fui
seguindo em frente enquanto ela me segurava, dessa vez mais forte e mais firme.
Fomos andando e nos deparamos com uma sala iluminada, tinha leds azuis nas
paredes e algumas luzes espalhadas pelo chão, toda a coloração das paredes e do teto
tinha um tom preto que incomodava o olhar, a sala era espaçosa e muito silenciosa,
havia uma porta na ponta da sala que parecia ser a saída.
“CORRE” um grito ecoa pelo corredor de onde saímos, rapidamente olho para o
corredor e vejo sair de lá os meus dois amigos acompanhados de um monstro com
aparência de um lobisomem preto e cheio de cortes pelo corpo. Logo saímos em
correria em direção a porta, “POW” um barulho forte ecoa pela sala e ao mesmo
tempo a porta se abre.
“finalmente” todos falam aliviados ao sair do labirinto, Alice se afasta do nosso grupo e
sai andando completamente irritada por ter sido abandonada pelo Cassius no labirinto,
Cassius foi correndo atrás dela e chamando seu nome, assim que ele a alcança os dois
começam uma discussão que todos em volta conseguem ouvir.
“Me deixa em paz!” grita Alice enfurecida e com lágrimas nos olhos. “Você me deixou
sozinha lá dentro, o que você quer vindo atrás de mim!?”

“Deixa eu conversar com você, eu não sabia que você ia ter tanto, foi divertido!”
Cassius fala com um olhar inocente e um sorriso idiota no rosto.
“Divertida porra nenhuma, sai!” Alice fala tirando a mão de Cassius do braço dela.
Os dois continuaram discutindo e se afastando, eu e Sam fomos andando
pacificamente na direção deles, esperando os nervos dos dois se acalmarem. Pelo
caminho até eu fico imaginando o quanto daquilo era real, eles não pareciam ser
simplesmente pessoas fantasiadas, eu realmente pensei que fosse morrer. – Foi
bizarro-.
Depois da ‘breve’ discussão os dois se sentaram na Praça de alimentação- a Praça de
alimentação era como qualquer outra normal, mesas espalhadas pelo local e algumas
barracas de lanche em volta-, indo para me juntar a eles eu sinto que estou sendo
observado, eu olho em volta e não encontro nada para me preocupar, então chuto que
foi apenas a minha imaginação.

Ao sentarmos todos juntos parecia que eles tinham feito as pazes, passamos o resto do
dia papeando assuntos sem importância e logo fomos para casa.
3
Alguns meses se passaram, estou de volta a minha rotina padrão, da escola pra casa,
de casa pra escola, sempre o mesmo dia, sempre o mesmo tédio, sempre olhando para
o céu esperando que algo mais interessante fosse acontecer nos meus dias longos e
sem nenhuma cor evidente e sinceramente já estava ficando sem esperanças. Nunca
mais tinha falado com ninguém além dos colegas de escola sobre as atividades. E em
casa o meu único e verdadeiro Hobbie era jogar.
“VRUM” meu celular vibra com uma notificação, ao olhar me sinto surpreso, era um
número desconhecido e eu não tinha dado meu número a ninguém. Ao olhar a foto
vejo que uma mulher e logo me lembro quem é, vagamente minha memória a fábrica
em meio as minhas lembranças, era Alice.
“oi, tudo bem com você? Peguei seu número com o Sam.” Dizia a mensagem.
“Estou bem e você? Você é a Alice né? Como vai?” respondi e logo entramos em uma
longa e leve conversa, ela me contou que tinha terminado seu relacionamento com
Cassius, sinceramente não fiquei nada surpreso com a notícia porque ele foi bem
babaca naquele dia e assim permanecemos a conversar por horas até ela caiu no sono.
Era um sentimento diferente, senti que conversar com ela era confortável, era bom no
sentido mais autêntico da palavra, da forma mais sincera.

Passei a noite a pensar na conversa que tivemos, conversamos sobre coisas bestas,
‘qual pão você gosta de comer?’ e ‘você gosta mais de água gelada ou natural?’. A
conversa apenas fluía como se fosse a coisa mais simples do mundo e um sentimento
confortante vinha em meu peito.

“Toc toc” alguém está batendo na porta do meu quarto, -droga porque nunca me
deixam em paz? – ouço a pessoa que bateu na porta entrar antes que respondesse
algo, quando olho em direção da porta pra ver quem era, lá estava ela, a queridíssima
da minha mãe Hera, com um carão que não tem mais tamanho, -aposto ela vai
reclamar de alguma coisa, que saco-, minha mãe é uma na casa dos 30 anos, uma
mulher de estatura média, ela faz academia então tem um corpo meio definido, tem
cabelos lisos e loiros, olhos castanho escuro iguais aos meus.
“Aslan! cadê seus livros? Você passou o dia todo sem fazer nada! eu não vi você
estudando hoje! Não vai conseguir nada da vida desse jeito! Vai virar um vagabundo
qualquer!” ela estava gritando, quase cuspindo fogo pela boca, pelo jeito algum bicho a
mordeu.
“eu não vou estudar agora mãe, já estudei no colégio.” Falei da forma mais calma
possível na esperança de ser deixado em paz, porém não funcionou.

“VÁ ESTUDAR!” ela gritou e começou a falar vários desaforos sobre como sou
preguiçoso e não alcançar nada na vida, é o mesmo papo repetido de sempre, é a
mesma coisa toda vez que ela decide pega no meu pé ela vem falar desaforos. Eu só
ignoro na maioria das vezes, afinal fica prestando atenção nisso me deixaria maluco.
Quando ela finalmente se cansou e saiu do quarto eu senti uma voz no meu ouvido
dizendo que ela tinha razão, uma voz grossa e roca, que veio junto a um leve arrepio.
Olho a minha volta, mas estou sozinho no quarto, - que porra é essa? -, sinto que não
estou tão sozinho assim como pensava. Por algum motivo o meu corpo se sente
cansado e ao cair de vez na cama eu apago.

Acordo apenas no outro dia, não sei o que aconteceu e sinto que tive um sonho terrível
enquanto estava dormindo, mas eu já não consigo me lembrar. O sentimento de que
não estou sozinho continua a me conturbar, eu tento entender que sentimento é esse
e tudo que me vem à mente é uma imagem negra e verde, com uma forma
completamente distorcida, não sei o que é isso. Mas eu estou sem tempo pra pensar
muito nisso agora. Me levanto e começo mais um dia a dia que ocorreu como de
costume.
Num piscar de olhos, alguns dias se passaram, o tempo passou tão rápido que meus
olhos nem perceberam, meus dias estavam infinitamente mais coloridos, apenas
conversar com ela já me trazia uma sensação boa de felicidade, era leve, era intenso,
era calmaria, era confortável, era diferente de tudo que eu já tinha sentido. Os
‘discursos felizes’ da minha mãe já não me incomodavam tanto ao ponto de estragar
meu humor.

-Eu acho que estou apaixonado por Alice- estou mesmo me apaixonando pela ex do
meu amigo, acho que ele não vai gostar nada se descobrir que tem algo entre nós.
Decidi mandar mensagens pro Cassius, pra saber como ele está e bom, sem resposta,
ele não fala comigo desde o dia do labirinto, - por quê? –

Só se passaram alguns dias, desde a primeira mensagem de Alice, e eu já sei tudo


sobre ela, eu sei seus gostos, seus medos, seus jeitos, suas manias, seus sonhos. Eu já a
conhecia mais do que a mim mesmo. Ficar pensando nela, se tornou minha passa
tempo favorito quando não estava trocando mensagens com a mesma, eu estava me
viciando como uma droga, não conseguia parar, não conseguia pensar em outra coisa,
apenas a Alice, ela enfeitiçou meus pensamentos e eu amo isso.
De repente um frio na barriga, um sentimento ruim toma conta de mim – Que porra é
essa? – esse frio toma conta de mim, meus pés tremem, meu corpo congela, não
consigo me mexer, sinto medo, uma sensação de que eu vou estragar algo importante,
minhas lágrimas começam a cair, meu sussurro por socorro não sai da minha boca. De
repente estou caído no chão do meu quarto, quarto esse que é pequeno e não tinha
muito espaço, e eu estava no chão todo torto, meu corpo não me obedecia, a sensação
de ser observado cai sobre mim novamente, dessa vez mais forte, dessa vez mais
presente, dessa vez não consigo fugir, dessa vez estou indefeso. Minha respiração fica
sufocada, não consigo respirar, eu acho que vou desmaiar, - que porra está
acontecendo comigo? – aos poucos vou perdendo a consciência, aos poucos meus
olhos vão se fechando, logo não sinto mais nada, nem mesmo minha respiração. Agora
não enxergo mais, meus olhos não se abrem, não consigo respirar, mas isso nem está
me incomodando, como se eu não precisasse respirar e eu perco a consciência.
Eu acordo no chão do quarto com a notificação de mensagens, não sei quanto tempo
se passou, não sei o que aconteceu, isso nunca aconteceu antes.
Eram mensagens de Alice, ela estava me chamando pra ir à Praça mais tarde, eu aceito
de imediato, essa é a primeira vez que vamos nos ver depois que começamos a
conversar, estou nervoso, estou ansioso com o coração acelerado, o frio continua em
me pairando, mas ele está sem forças.
Estou a caminho da Praça, me sinto num filme adolescente que contam sobre o
primeiro amor, me sinto um bobo apaixonado e droga, esse sentimento é muito bom.
“você sabe que isso não vai dar certo né?” um gato preto fala comigo, seus olhos são
verdes e sua pele parece a de um gato bem cuidado, ele aparece deitado no meu
ombro, com uma voz suave e doce, pelo tamanho ele parece ser um filhote. Por algum
motivo eu não me sinto surpreso com esse gato e muito menos espantado, ele me
parece ser estranhamente familiar, a presença dele me vem como algo natural, como
se eu já o conhecesse.
“como assim não vai dar certo?”
O gato rosnei-a e olha para mim fixamente.
“não se faça de inocente, você não é bom, você é um ser desprezível. Mesmo que
fiquem juntos nesse momento, alguma hora ela vai notar o que você é e vai embora!” a
voz dele está calma apesar do olhar de desprezo em seus olhos. “você não merece ela,
você não merece ser feliz, você não merece nada”.
Eu finjo que não o ouço enquanto dou passos largos pela calçada, a voz dele fica
ecoando em minha mente e seus olhos parecerem penetrar minha alma. As palavras
dele me incomodam, me acertam como flechas disparadas contra meu coração.
O gato foi para o chão e caminhou ao meu lado me seguindo pelo longo caminho até a
Praça, de repente me bateu uma curiosidade e decidi quebrar o silêncio.
“ei, gato, quem é você?” na hora que fiz a pergunta, ele parou e olhou para mim com
uma cara de confuso, como se não tivesse entendido a pergunta.

“como assim você não sabe quem eu sou? Não se lembra?” ele dá uma risada
demorada, uma risada quase maligna.
Então ele direciona seu olhar para mim novamente.
“Interessante, meu caro amigo, tenho uma charada pra você” ele pula em cima de um
banco e diz “eu posso estar em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum,
quanto mais houver de mim, menos você verá. Quem sou eu?”
“talvez, escurid- “fui interrompido por uma forte sensação de medo que não me deixou
completar a palavra.

“pode me chamar de Morfeu” diz o gato enquanto desaparece perante meus olhos.
Assim que ele desaparece a sensação de medo deixa o meu corpo, logo volto a minha
rota ao Praça com um coração confuso sem entender o que está rolando. Mas isso não
importa, o importante é ver ela.
E lá estava ela em pé de frente a Praça, com uma blusa ciganinha preta florida, um
short jeans azul, seus cabelos cacheados estavam soltos e definidos, usando um all star
branco nos pés.
“Alice!” grito o nome dela para chamar sua atenção, logo ela vem em minha direção e
me dá um abraço caloroso e longo.
“oi, Aslan, você demorou!” ela fala com uma cara de brava, como se estivesse fazendo
manha.

“Foi mal, cheguei o mais rápido que pude, não vou me atrasar de novo prometo!”
achei melhor não falar sobre o Morfeu, ela acharia que estou maluco por ter
conversado com um gato. “seu rosto fica fofo quando você fica brava”.
Nesse momento passa um homem de uma certa idade, usando uma blusa de cor
escura e uma calça jeans. “Vocês são um casal?” ele pergunta e nós ficamos tímidos
pra responder.
“somos sim” respondi ao homem, ele acenou e continuou a andar.
Entramos no parque logo depois meio envergonhados, e começamos a brincar dizendo
que somos um casal um para um outro. Foi um momento muito divertido e leve.
E então nos sentamos no banco da praça para conversar, Alice começou a falar sobre
ela e sol começou a refletir em seus olhos castanhos, nesse momento me senti
completamente hipnotizado, seus olhos eram belos e me encantavam, eu não
conseguia mover meus olhos do rosto dela. – Eu a amo – se eu tinha alguma dúvida ela
não existe mais, o meu coração está acelerando como se eu estivesse correndo uma
maratona.
A conversa foi demorada e passou tão rápido que quando finalmente notamos já
estava anoitecendo, ela me contou de alguns traumas do passado e conversamos sobre
relacionamentos que tivemos.
Depois que terminamos a conversa, ela me acompanhou até uma parte do meu
caminho e me abraçou novamente. Nesse momento eu tive uma ideia.
“eu não vou embora agora, eu quero um beijo, vou embora só quando você me beijar”
disse a ela enquanto olhava em seus olhos perfeitos.
“é sério?” ela responde com timidez.
“sim é sério, eu quero um beijo seu” assim que eu termino de dizer isso ela me dá um
selinho e vai embora.

Ao caminhar até em casa eu me sentia o homem mais feliz do mundo, eu não


conseguia parar de sorrir, a felicidade dominava o meu corpo.
“Parece que alguém está feliz” Morfeu aparece em meu ombro, falando num tom
irônico.
“Estou sim, não vem me incomodar agora.” Esse gato já está me irritando. “Por que
você fica me seguindo?”.
Morfeu sobe em minha cabeça e se deita, eu não sinto nenhum peso sobre minha
cabeça, seu eu não estivesse vendo-o eu nem notaria sua presença. Eu não tinha
notado antes, mas eu olhar pra minha sombra refletida no chão eu noto que Morfeu
não possui sombra.
“vai me ignorar?” tento segurá-lo para tirá-lo da minha cabeça, mas eu não consigo, a
minha mão simplesmente passa por ele como se eu estivesse tentando segurar o
vento. E ele some novamente, como se nunca tivesse estado ali. Eu já não me sinto
mais feliz, aquele gato maldito suga minha felicidade toda vez que aparece.
O resto do caminho foi tranquilo, cheguei em casa e fui direto pra cama, eu me sentia
cansado.
4
Acordei e estou debaixo da cama, não sei como parei aqui, acordei atrasado. Que se
dane, não vou pro colégio hoje. Me levanto e vou pra sala tomar café, minha sala é
simples, uma mesa redonda de tamanho médio de madeira, 5 cadeiras em volta de
madeira, dois quadros japoneses que samurais que minha avó pintou, e um armário de
madeira junto a parede. Vou pegar o café e vejo um bilhete em cima da mesa então
pego para ler.
- Filho, estou saindo para viajar a trabalho, ficarei um tempo fora talvez 1 ou 2 meses,
deixei comida no armário e alguns potes na geladeira, eu sei que você consegue se
virar sozinho, também enviei um dinheiro pra você no pix caso precise algo, estude
bastante e se cuide, eu te amo. -
Bom, eu vou ficar sem reclamações por um momento - um descanso -, mandei uma
mensagem de ‘Bom dia’ para Alice, mas ela não respondeu, provavelmente estava em
aula, aproveitei pra jogar um pouco e assistir alguns filmes já que estava de bobeira.

Meu celular vibra, Alice estava mandando mensagens e estava claramente assustada.
“Aslan, eu estava sendo seguida por um doido, eu tentei correr e ele veio atrás de mim,
eu não consigo parar de tremer, ME AJUDA!”
“Eu estou indo, me fala onde você tá que eu chego ai agora!” Alice me manda a
localização dela em tempo real e o status ‘online’ desapareceu.
“ALICE”, “EI”, “ACONTECEU ALGUMA COISA?”, -DROGA! que merda, cadê ela? -
Sai de casa dirigindo a moto o mais rápido que posso, estou com medo de que algo
possa ter acontecido, sai de casa com a roupa que estava no corpo, não parei para
fazer nada e muito menos respeitei a sinalização da rua, apenas segui indo sem
paradas pra onde ela estava, -por favor esteja bem– pensei comigo mesmo.
Cheguei, o local parece um mercadinho de bairro meio velho, a tinta da parede azul
está quase totalmente desbotada. Ligo para Alice enquanto entro no mercado, -onde
você tá? -, ela não atende e nem ouço o celular dela tocar, vasculho pelo mercado e
não encontro nada além do caixa que está sentado assistindo algum desenho e dos
produtos que estão à venda, ando e direção ao caixa e pergunto com um tom de vez
levemente alterado:
“Ei, você viu essa garota hoje? Ela deve ter passado por aqui tem pouco tempo!”
mostro a foto dela para ele.
“não a vi não” ele responde rapidamente, sem nem prestar atenção na imagem que eu
havia mostrado e logo volta a assistir seu desenho.
Contínuo procurando pela loja na esperança de ter perdido algo, -nada, não tem nada
aqui -, saio do mercado e olho em volta, não sinal dela em lugar nenhum.
“QUE MERDA!” grito com toda a força dos meus pulmões, eu preciso me acalmar, não
vou achar nada procurando nervoso desse jeito, respiro por alguns segundos para me
acalmar, olho para localização e vejo que continua batendo no mercado, -o celular dela
tem que estar aqui - então eu volto até o caixa.
“Amigo, alguém perdeu o celular aqui recentemente?” pergunto a ele num tom mais
calmo dessa vez.
“Sim, uma garota estava andando com pressa e acabou deixando cair.” Ele mostra o
celular e continua a falar. “Esse celular é bem caro né, se ela não aparecer logo eu vou
vender e ganhar alguns trocados, deve ser fácil vender ali na feira.”
Eu pego o celular da mão dele e olho a imagem da tela de bloqueio, “É o celular dela!
Você viu pra que lado ela foi?”.
“Eu acho que ela foi para lá” ele falou meio nervoso e apontou em direção ao norte.
“Obrigado!” coloquei o celular no bolso e subi na moto, arranquei e fui em direção
norte numa velocidade razoável para conseguir ver os arredores, por sorte depois de
alguns minutos eu avisto um homem entrando num teatro abandonado, parece
suspeito então vou atrás dele, desço da moto e vou em direção a mesma porta por
onde ele entrou, parece que ele trancou a porta, não consigo abri-la.
O teatro é bem grande e está todo velho, não vejo motivos para ela ter corrido para cá,
mas eu quero pelo menos olhar pra ter certeza, uma inquietante sensação de perigo e
medo está no meu coração. Olho em volta e só vejo madeiras quebradas do letreiro do
teatro e dos entalhes de enfeites e uma parede mofada, mas encima tem uma janela,
parece que dá pra entrar por lá, a parede é um pouco lisa, mas acho que consigo subir
usando os pedaços de madeira quebrados, eu vou tentar.
A madeira range assim que encosto nela, parece que vai cair a qualquer momento, a
parede não é muito alta, em poucos instantes eu alcanço a janela, “Você não vai
conseguir protegê-la” ouço a voz de Morfeu como se ele estivesse ao meu lado, mas
não consigo vê-lo com meus olhos.

Quando eu coloco a minha mão na janela eu ouço um barulho, ‘crack’ a madeira que
eu apoiava os meus pés caem, felizmente isso não foi um problema, me puxo com
minhas mãos entro pela janela, não dá pra voltar por aqui, mas eu acho que não vai ser
necessário.

Me encontro numa sala vazia, não tem nada além de teias de aranhas e madeiras
podres, “AHHHH” ouço um grito feminino, - Alice? É você? -, saiu da sala e corro pelos
corredores, a madeira do piso parece nem aguentar meu peso direito, vou
desesperadamente em direção ao grito até que ouço outra voz “CALA A BOCA” uma
voz masculina grita com um tom furioso, acho que estou próximo então começo a
andar devagar, encontro uma escada e ao descer eu vejo o salão do teatro, está tudo
caindo aos pedaços, a sujeira é tanta que até irrita o meu nariz.
No meio do salão iluminados por algumas faixas de luz estava ela, Alice e mais dois
homens, um deles estava armado com uma faca, e outro estava com uma corda em
mãos. Ela estava caída e não estava consciente.
Isso me irrita, essa situação me irrita, quem esses caras pensam que são para mexer
com ela? “Machuque eles” Morfeu aparece apontando um pedaço de madeira que
está próximo aos homens, tomado pela raiva eu corro em direção a pedaço de
madeira, os homens percebem o barulho e olham para trás, “QUEM É VOCÊ?” um
deles grita e outro avança em minha direção, ele me alcança antes que chegue a me
armar e tenta me acertar com a faca, eu mal consigo desviar, ele me corta um pouco na
barriga, uma ferida superficial mas longa e acerto um soco forte no rosto dele, ele cai
no chão e deixa a faca cair.
O outro homem também está vindo em minha direção, ele é mais lento que o outro, eu
consigo pegar a faca no chão e um instinto forte começa a tomar conta de mim, “mate-
os, eles não merecem viver, acabe com eles agora, eles tentaram Machuca-la, corte
eles” Morfeu fala novamente em meus ouvidos, dessa vez eu consigo senti-lo ao meu
redor, o tamanho dele é maior que o meu, ele está em pé andando ao meu redor, a cor
dos seus olhos estão mais vibrantes, hipnóticos.
Eu não consigo me controlar, eu os odeio por terem atacado Alice. O segundo homem
me alcança, mas seus movimentos não parecem ser de alguém que está acostumado a
lutar, é lento, eu faço um corte no braço dele e chuto-o para longe. O primeiro que
tinha caído agora está se levantando e vindo na minha direção, a adrenalina já tomou
conta do meu corpo, era melhor ele ter ficado no chão, eu aponto a faca na direção do
rosto dele, ele fica com medo ao observar meus olhos, ele começa a tremer, isso me
faz sentir muito bem, seus olhos de medo me fazem sentir prazer, eu quero matá-lo.
Meu corpo se sente paralisado, eu sinto Alice perto de mim, -quando foi que ela se
levantou? – ela me abraça por alguns segundos e logo desmaia novamente, eu seguro
ela pra não cair no chão, a cabeça dela tá machucada, tem um pequeno corte na testa,
ela deve ter batido a cabeça.
Meus instintos, minha raiva, tudo sumiu como se fosse apenas um pesadelo. “VÃO
EMBORA DAQUI!” grito aos homens que correm em direção a saída. Eu pego Alice no
colo e a levo para fora do teatro, chamo um taxi e vamos pro hospital mais próximo, o
telefone de Alice começa a tocar, está escrito ‘mãe’ como nome do contato então
descido atender.
“Filha, você finalmente atendeu, eu estava preocupada, você estava demorando de
chega em casa e não avisou nada.”

“oi, sou um enfermeiro, ela está no Hospital FPL, pelo jeito ela caiu e bateu a cabeça, a
senhora pode vir aqui para levá-la para casa?” eu minto para a mãe, eu acho melhor
fingir que nada aconteceu e torcer para ela não lembrar.
“o que? Ela está bem? Eu estou indo ai agora!” assim que ela termina de falar eu
desligo o celular e deixo na recepção para entregarem a ela.
Saio do hospital e mando uma mensagem pra Alice perguntando se ela está bem, pego
um taxi para o teatro, peguei a faca que acabei deixando do lado de fora do teatro e
minha moto que estava estacionada na frente, passou em um rio pra largar a faca e vou
para casa descansar.
“Morfeu, você está me ouvindo ne? Eu sei que tá, o que você quer de mim? Por que eu
me sinto tão mal na sua presença? Por que você não vai embora?” eu sinto uma agonia
em meu peito – eu ia matar aqueles caras se Alice não me abraçasse -.
Morfeu não apareceu, esse maldito tá me ignorando, como eu odeio esse gato.
‘vrum’ meu celular vibra, chegou uma mensagem.
“Eu estou bem, eu não lembro o que aconteceu, eu acabei de sair do hospital e estou
indo para casa com a minha mãe, me disseram que alguém me trouxe nos braços e
disse que eu tinha caído e batido a cabeça, mas eu não lembro direito, eu lembro que
tinha um cara me seguindo depois que sai do colégio, mas não sei o que aconteceu
depois.” Era Alice respondendo minha mensagem, fico feliz que ela já esteja indo para
casa e bem.
“Que bom que você está bem, você sumiu então fiquei preocupado, até sai pra te
procurar, mas não consegui te encontrar, descansa quando chegar em casa, amanhã a
gente conversa, melhoras tá?” Minha cabeça tá me matando, eu não quero conversar
agora, só quero sumir.
“Obrigado, eu acabei de chegar em casa, estou muito cansada eu vou direto pra cama
rs, bjs”
Minha cabeça tá girando, parece que um trator passou por cima de mim, o corte está
sangrando ainda, eu tinha até esquecido dele, a adrenalina finalmente tá saindo do
meu corpo, é melhor eu limpar isso pelo menos, parece que não vai ficar cicatriz foi
bem superficial, vou tomar um banho logo já aproveito pra limpar essa ferida.
A água parece entrar na minha pele, cada gota deixa o meu corpo mais pesado, eu não
consigo tirar aquele sentimento de prazer ao ver o medo nos olhos daquele homem ao
olhar pra mim, eu não devia sentir prazer nenhum com isso, é errado.

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