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Direitos autorais © 2022 Gisa Souza

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Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é
coincidência e não é intencional por parte do autor.

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sem a permissão expressa por escrito da editora.
Sinopse

Ele não era um bad boy por acaso.


Ele não era arrogante por acaso.
Ele não era um machista por acaso.
Ele não era sombrio por acaso.

Samuel guardava todos seus sentimentos à sete chaves, deixando


espaço apenas para o ódio da população feminina, que para ele eram
maliciosas, traidoras e que não mereciam seu respeito e afeto.

O jovem acreditava que uma mulher só servia para o prazer, mas foi
em uma nova escola, que ele descobriu que às vezes o amor vem
mascarado de prazer, porque como diz as filosófas Simone e Simaria
"Quando o Mel é bom a Abelha sempre volta".
Dedicatória

Dedico a toda abelha que volta pelo mel.


Capítulo único

"[...] Você fez de um jeito gostoso


O teu cheiro ficou em meu corpo
E em minha boca o teu gosto
O gosto do mel[...]

Simone&Simaria

[...]

Retirei os sapatos o mais rápido que eu podia, estava animado


em mostrar para mamãe meu desenho, que havia sido votado como
o melhor da classe. A mochila foi jogada em um canto qualquer da
sala e eu subi as escadas, pulando os degraus.
Queria fazer uma surpresa para ela, mamãe sempre adorou
minhas surpresas e sei que ficaria orgulhosa de ver que um dos
meus desenhos foi reconhecido. Eu sabia que naquele momento ela
estava em seu estúdio, fazendo uma pintura incrível.
— SURPRESA MAMÃE!! — Saltei para dentro do ateliê eufórico.
Acho que foi eu a ter a surpresa e devo dizer que não foi uma
surpresa muito agradável, ou algo correto para um menino de sete
anos presenciar. Minha mamãe estava no meio de um casal, o trio
entre lençóis, nus e sujos de tinta.
Olhei para o tripé do quadro, onde havia a pintura do casal, em
uma pose sensual e ela não pintava aquele tipo de coisa — minha
mamãe sempre pintava coisas bonitas e felizes. O trio me encarou
espantado e ao ver o homem, meu coração se apertou.
— Mano... — murmurei baixinho, pois aquele à minha frente era
meu irmão mais velho, filho da primeira esposa do meu falecido pai.
— Sami, meu filho... — ela pegou os lençóis para se cobrir e
caminhar na minha direção.
Dei passos para trás, até que pudesse ficar fora do ateliê, então
corri descendo às escadas rapidamente, ouvindo as vozes da mamãe
e do meu irmão me chamando. Tudo que eu queria era fugir, fugir de
tudo e de todos, se tivesse um botão pra desver aquilo, já teria
apertado.
Minha fuga não durou muito, porque o tio do mercadinho disse
minha localização e a mamãe apareceu logo em seguida, me
arrastando aos berros para casa. Ela deu um sermão, dizendo que eu
devia bater antes de entrar e que estaria de castigo por fugir.
Muito engraçado, estava no sexo à três com meu irmão e cheia
de razão veio com lição de moral!
A mulher que eu conhecia como minha mãe, perfeita, pura, doce,
o exemplo de mulher a ser seguido, simplesmente desapareceu. Aí
vocês pensam: ela era uma mulher adulta, livre e independente, tinha
o direito de transar com quem quisesse.
Eu poderia até voltar a palavra atrás, se ela não tivesse feito
aquilo na nossa casa, no lugar que meu pai criou com as próprias
mãos, para que ela criasse sua arte — se não tivesse feito no mesmo
teto que meu pai faleceu quando teve infarto, se não tivesse
respeitado o luto que ainda beirava ao terceiro mês.
Ter direito é uma coisa, mas desrespeitar o ambiente onde
habitava uma criança era totalmente diferente, e pior, tudo isso com
meu irmão, aquele que prometeu que seria o melhor irmão do mundo
quando o pai morreu. Depois daquele dia minha visão sobre família,
amor verdadeiro, respeito e moral, ficaram totalmente distorcidos.
No dia que o quadro foi exibido em uma grande galeria de Seul,
vi ela sendo ovacionada, mudando, sendo outra pessoa, mas sua
nova ‘eu’ também mudou as pessoas ao seu redor, inclusive eu, que
deixou toda inocência e ingenuidade no passado, assim como minha
moralidade.
Fodam-se todos!

[...]

ONZE ANOS DEPOIS

Escola de Ensino Médio Dr. Hélio


03:00 PM
Aila Mitsui

— Vai nessa!! — Fui empurrada por uma amiga da onça, então


subi em cima de uma das mesas do refeitório, assim chamando
atenção do povo.
De repente começou a tocar Redfoo New Thang, fazendo todos
os alunos olharem para mim, então na maior cara de pau, comecei a
dançar no ritmo da música, chocando a todos. Alguns batiam palmas,
outros filmavam, enquanto outros pareciam estátuas.
De repente meus colegas de mesa também começaram a
dançar, seguindo os mesmos passos da coreografia. Parecia uma
mistura de pop e funk, porque tinha muita bunda no negócio.
Os meninos me ajudaram a descer da mesa, então continuei
dançando no meio do refeitório, até a música parar e todos gritaram
eufóricos com a loucura. Logo surgiu um monitor, que fez todo mundo
se acalmar e eu corri pro meu lugar.
— Caralh* isso foi muito foda!! — Jaque bateu palmas animada.
— Ideia de gênio, Vinni! — apontou para a mente por trás da loucura.
— Vamos dar crédito a nossa musa, que iniciou — apontou para
mim, que tentava arrumar o uniforme, porque a qualquer momento o
Yuri iria aparecer.
— Eu fui obrigada a isso!! — Falei olhando para os lados.
— Eu só acho que deveríamos ser contratados pela Anita. — Ela
suspirou esperançosa.
— Quem dera. — Ele também fez o mesmo, mas eu estava mais
preocupada com outra pessoa.
Mal havia pensado e ele brotou da terra — abriu bruscamente as
portas do refeitório e sua expressão não era nada amigável. Quando
seus olhos se direcionaram a mim, arregalei os meus e de fininho fui
me esgueirando.
— AILA!! — Seus passos intensificaram e ele parecia bravo.
Corri pelo outro lado, ouvindo os berros do meu irmão, que
estava pronto para fazer sopa de mim, caso me pegasse, o que não
seria difícil, já que meus um e cinquenta e sete era bem óbvio que
não iria longe.
Ele estava fumando uma quenga e não era para menos, porque
fui proibida de me expor daquele jeito no refeitório e pela sua reação,
ficou sabendo bem rápido.
Yuri T'Challa era meu irmão mais velho, mais velho entre aspas,
porque só tinha uma hora de diferença, pois éramos gêmeos,
gêmeos fraternos.
Vamos aos fatos para ninguém se perder... nossos nomes são
assim, porque nosso pai é africano da gema, como se diz, e minha
mãe é descendente japonesa e nasceu no Brasil, bem simples. Os
dois se conheceram na faculdade e foi a amor à primeira vista, coisa
que eu tenho minhas dúvidas. Eu e o Yuri somos tão diferentes, que
eu nasci com cara de japonês e ele negro, misturados com sangue
brasileiro, bem simples.
Apesar das diferenças, sempre fomos muito ligados e óbvio que
todo irmão briga, mas Yuri era o tipo de cara certinho, moralista, que
não mija fora do vaso. Eu fazia o tipo de rebelde sem causa, como
dizia minha mãe, "nasceu do avesso".
Yuri estava bravo, porque eu iria dançar de "forma sensual", nas
palavras dele, para todo mundo ver e aquilo não era atitude de uma
moça de família. Ele era muito sério, o que atraía as meninas do
colégio, pois Yuri parecia um príncipe.
Eita pleura, onde eu me escondo?
Corri pelos corredores em busca de algum lugar que eu pudesse
me esconder do meu irmão, que estava com o capeta nos couros.
Nessa corrida maluca não vi que um moleque vinha na minha direção
e ao olhar pra trás, bati direto em alguém.
— Ai CARALH*!! — Caí de bunda no chão, então com a mão na
testa, tentei me levantar.
— Olha por onde anda, garota! — O moleque esbravejou, porém
eu estava mais preocupada com o que meu irmão faria comigo do
que com as ofensas de alguém.
— AILA!!! — Ouvi a voz do Yuri de longe e vendo que estava
sendo embarreirada, emburaquei no primeiro lugar que encontrei, no
caso o quartinho do material de limpeza.
Abri a porta e nem quis saber, não queria testemunhas da minha
fuga, então puxei o sujeito para dentro comigo, tampando a boca
dele. Pela basculante da porta vi a silhueta de Yuri, olhando para os
lados e tive que prender a respiração.
Logo vi ele sumir das minhas vistas, fazendo com que respirasse
aliviada, porém eu sabia que meu couro iria comer em casa.
Entretanto, o que me surpreendeu foi o camarada que eu
praticamente sequestrei; ele tirou com brutalidade minha mão.
— Ficou maluca? — Esbravejou, então pude olhá-lo
corretamente.
— Uau, tu é gato, hein! — Soltei aquela pérola linda.
Não era uma mentira, o sujeito com cara de mau era bonito e
gostoso também, alto, muito alto, talvez da mesma altura que o Yuri,
pele alva, cabelo escuro caindo na testa e uma expressão de quem
faz maldade sem remorso. Olhei descaradamente para ele, que
arqueou uma sobrancelha, porque se homem pode, por que eu não?
— Resolva seus problemas sozinha e não meta os outros no
meio... — resmungou, mas o ignorei.
— Você é novo aqui? Nunca te vi. — Falei.
— Qual o seu problema? — Ele me encarou chocado com a
facilidade que eu tinha de ignorá-lo.
— Eu tenho tantos, mas no momento estou tentando fugir do
meu irmão gêmeo. — Respondi simplista. — Cara, você é bonito
assim de nascença, ou foi fabricado em laboratório? — Ele franziu o
cenho. — Uma pena não fazer meu tipo, porque senão eu te pegaria!
— O rosto dele se tornou um misto de confusão e revolta.
— Como é?
— Sabe, caras maus só são incríveis na cama nas fanfics, mas
na vida real?! Nossa, são horríveis! Mas não fique ofendido, "não é
preconceito, é só uma dúvida". — Disse batendo no ombro dele,
então me virei para ver se a barra estava limpa, mas tomei um susto,
quando fui puxada e minhas costas bateram contra a parede do
pequeno quartinho. — O que está fazendo? — Arregalei os olhos.
— Te mostrando como se f*de de verdade. — Pisquei ao sentir o
hálito com cheiro de menta dele.
Soltei um gritinho fino quando ele atacou meu pescoço, dando
um beijo cálido num local que era bem sensível para mim. Até tentei
empurrá-lo, mas seus dedos longos começaram a subir pelas minhas
pernas, alcançando a calcinha. Não vou mentir dizendo que aquela
violação não estava me causando um frio na boca do estômago,
principalmente por estar em uma situação perigosa, como por
exemplo ser pega.
Os dedos gelados dele adentraram minha calcinha, fazendo com
que eu perdesse o ar, mordendo o lábio para conter os gemidos.
— Não adianta segurar, eles virão de qualquer jeito. — Ele
sussurrou no meu ouvido e tentei lhe beijar, mas o sujeito se
esquivou.
Seus dedos faziam movimentos circulares na minha intimidade,
que pulsava de tanto tesão e devo dizer que nenhum outro teve esse
feito. Estava em total entrega pra aquele garoto desconhecido, que
não perdoou ao adentrar os dedos na minha intimidade.
Acabei soltando um gemido alto, mas o que eu queria mesmo era
ser calada com a boca beijável dele, a qual o mesmo passava a
língua de forma erótica. Não contive a excitação e rebolei nos seus
dedos, em busca de alívio, que só viria quando chegasse no meu
orgasmo.
Arqueei as costas na parede quando meu corpo passou a
convulsionar do tamanho do orgasmo que me atingiu e só não fui ao
chão, porque os braços dele me ampararam. Ouvi uma risada
debochada de sua parte, mas aquele sujeito iria pagar e seria na
mesma moeda.
— Agora quem é o ruim de cama? Essa não é nem metade do
que sou capaz de fazer — disse com uma voz grave e tomada pelo
espírito do despeito, o empurrei, que me encarou debochado.
— Ah é? Você me paga! — Puxei o sujeito pela gola do uniforme
e usei toda força para empurrá-lo contra a porta.
Aproveitei a sua surpresa e lasquei um beijo naquela boca,
roubando um senhor beijo, mas minha alegria não foi longe, pois o
sujeito me empurrou, rejeitando o beijo. Acreditei que aquele seria o
momento que ele iria dar o fora, mas aconteceu o contrário. Fui
puxada pela cintura, recebendo um beijo desentupidor de pia —
tendo a língua sorvida pela língua dele, me levando ao mundo das
maravilhas, porque o cara sabia beijar. Precisei ficar na ponta dos
pés para alcançá-lo, porém eu tinha outras intenções.
Queria treinar meu desempenho na fina arte do boquete, então
larguei daquela boca gostosa e fui provar outra coisa. Encarando
seus olhos, que não piscaram uma única vez, fui descendo
lentamente, até que pudesse alcançar o cinto da sua calça. Na
verdade eu queria saber se o peru de natal era bom e mordi a língua
por duvidar.
O cara tinha uma anaconda ali dentro das calças e quando ergui
os olhos na direção dele, o mesmo ergueu uma sobrancelha, me
desafiando a prosseguir e eu não era covarde para não aceitar um
desafio.
Peguei a base daquela coisa e lentamente fui massageando,
mas pelo visto o moleque estava com pressa e enfiou aquilo dentro
da minha boca. De início quase engasguei, mas como disse antes,
queria treinar minha fina arte de fazer boquete. Ele estrangulou um
gemido, quando o sorvi, indo fundo e sugando a cabecinha da sua
anaconda de estimação. Finalmente percebi que estava funcionando
e continuei os movimentos, até senti-lo inchar e logo engoli seu
néctar.
A cabeça dele estava encostada na porta, os lábios entreabertos
e estava ofegante, enquanto eu passava a manga do blazer nos
lábios. Ele me encarou e lhe lancei um sorriso ladino, fazendo-o me
erguer pelos cotovelos, tomando meus lábios para si, enquanto
apertava minha bunda.
— Você tem muita carne aqui! — apertou minha bunda com
força.
— Eu tenho muita carne em vários lugares, cabe a você se quer
aproveitar. — Respondi maliciosa, então mais uma vez fui
encurralada e erguida, colocando as pernas ao redor dele.
— Não me teste! — Com uma mão agarrou minha nuca,
enquanto me segurava com a outra.
Selei seu pescoço, então sem aviso prévio, ele adentrou seu
p*nis em mim e faltou ar ao sentir aquela coisa, porque era grande e
grossa. Gememos quase que ao mesmo tempo, ritmando com os
movimentos de sobe e desce. Joguei a cabeça para trás, sentindo
seu membro tocar meu centro, que estava dando indício que logo
viria um novo orgasmo. Recebi um tapa estalado na coxa,
aumentando o tesão.
— Oh, eu vou gozar... — murmurei, enquanto ele ia mais fundo.
— Vai, vai gostosa... — mordeu o lábio. — Me apertando desse
jeito vai me fazer... — cravei as unhas nos ombros dele, liberando
todo meu prazer, porém ele se retirou de dentro de mim, gozando no
chão.
Todo cuidado é pouco!

Nos mantemos naquela posição por um tempo, ofegantes e


agarrados um ao outro. Jamais imaginei que faria sexo com um
desconhecido, dentro de um quartinho da limpeza, me levando a
acreditar em Yuri por dizer que eu tinha os parafusos soltos.

[...]

Olhei de relance para o novato, seu nome era Samuel Rousseau,


um sobrenome francês para alguém que parecia asiático. Seus olhos
estavam fixos na lousa, mas eu tinha certeza que ele sabia que era
observado pela mulherada da classe. Nunca imaginaria que o sujeito
desconhecido que eu transei era o novato da minha classe e quando
o mesmo pousou seus olhos frios em mim, percebi seu desdém.
Oxi, como se eu fosse me apaixonar!
Vai sonhando!
O cara entrou na escola para lacrar, todas as meninas beijavam o
chão que ele pisava só por migalhas da sua atenção. Algumas até
conseguiram ter o prazer de ir para cama com ele, MAS cometeram a
gafe de se apaixonarem.
Eu sabia o tempo todo que Samuel não era o tipo de cara que
você deva se apaixonar e nem me arrisquei a saber mais sobre ele,
só para não correr o risco. Yuri foi logo avisando pra eu não me iludir
e nem cair nos braços do novato, porém eu já havia feito coisa pior.
Samuel não tinha apenas fama de ser bom de cama e muito
bonito, ele também era um bad boy degenerado, não cumpria regra,
tinha tatuagens pelo corpo, fumava nas imediações da escola e
nunca vimos a mãe dele se apresentar para livrá-lo de alguma
encrenca. Algumas vezes nos esbarramos pelos corredores, mas o
que existiu entre nós era página virada, no caso apenas uma transa
casual, que mesmo que tenha sido incrível, fora a única.
Em um desses dias que a aula era vaga, a galera preferiu não
sair de sala, ou seja, aquilo significava farra, com música alta e
enérgica. Júlio César brotou da terra com uma caixa de som e claro
que nosso ídolo favorito seria o primeiro na playlist. Juice do Redfoo
começou a tocar e meus ombros já se moviam sozinhos, então a mão
do Vinni me ajudou a subir na mesa e por sorte o Yuri não era da
mesma sala.
As batidas tocavam frenéticas, enquanto eu e outras meninas
seguiam na coreografia icônica da música que era acompanhada ao
piano. As meninas em cima das mesas e os garotos no chão,
mostrando todo talento na dança e na zoeira.
No fim da música foi aquela algazarra, até que meus olhos se
fixaram na porta e tomei um susto, ao ver o diretor Medeiros,
acompanhado com Samuel, que parecia estar atrasado, como
sempre. A nossa festinha acabou mais cedo do que o planejado e a
turma estava duplamente de castigo.
Segui com os olhos quando Samuel sentou na sua carteira, com
uma expressão nada amigável, nenhuma novidade, mas percebi que
ele tinha um corte na boca e uma marca roxa no pescoço, a qual ele
tentava esconder com a gola da camisa. Era estranho vê-lo esconder
aquilo, porque Samuel era um cara que não tinha vergonha de
mostrar que estava transando, então na minha cabeça aquilo parecia
um hematoma.
De repente sua cabeça virou na minha direção, assustada por ter
sido pega no flagra, olhei para o outro lado. Claro que haviam muitos
questionamentos na minha cabeça sobre aquele cara de porta, mas
me reservei para não parecer uma das muitas stalkers dele.
Geralmente esses caras metidos a bad boy tinham problemas em
casa, por isso o comportamento de vagabundo.
— Dá o fora daí, que eu quero sentar. — Virei rapidamente a
cabeça ao ouvir aquela voz, que tentava expulsar Vinni do seu lugar
ao meu lado na mesa compartilhada.
— Como é? — O outro rebateu, mas a expressão de Samuel não
era nada amigável.
— Quer sair pianinho, ou prefere aos berros? — Samuel
questionou, fazendo Vinni engolir em seco, porque bem sabíamos
que o cara de porta não era flor que se cheirasse.
Totalmente derrotado, Vinni pegou suas coisas e ficou de pé,
para depois me encarar com uma carinha de cão sem dono. Lhe
encarei com pena e saindo como um derrotado, meu amigo me
abandonou com aquele leão, leão perigoso, lindo, safado e muito
gostoso.
Fiquei ereta olhando para frente, fingindo ser a boa moça que eu
não era, porque querendo ou não, aquela aproximação era
desconfortável. Batuquei os dedos na mesa, desejando que aquela
aula acabasse logo.
— Você sempre se expõe, assim? — Ouvi aquela voz ao meu
lado e nunca imaginei aquilo acontecendo. — Por isso que os caras
falam mal de você nos corredores. — Franzi o cenho, então pus um
sorriso ladino no rosto.
— Os meninos falam mal de mim, porque não dão conta do
recado — virei a cabeça e nossos rostos estavam próximos, mas
mantive minha pose.
— Eu dei! — Sorriu debochado.
— Não posso te dar cem por cento de precisão, porque só foi
uma vez e ainda em um quartinho da limpeza, então... — dei de
ombros, até que meu corpo ficou tenso quando senti uma mão fria
subindo pela minha coxa. — O que pensa que está fazendo? —
Questionei, mas estava quase arfando pelos dedos de Samuel indo
até minha calcinha.
— Então terei que te dar mais provas. — Passou a língua nos
lábios e o cretino sabia que aquilo era muito sexy.

Maldito gostoso!
— No final da aula me encontre atrás do ginásio. — Alisou minha
intimidade pela calcinha, fazendo eu fechar as pernas, prendendo
sua mão.
— E se eu não quiser?! — Afrontei, até que levei um beliscão na
intimidade, que me fez abrir as pernas. — Ora seu...
— Dessa vez vou te foder de várias formas! — Sussurrou aquilo
no meu ouvido, causando arrepios, enquanto continuava me
estimulando.
O safado sabia o que estava fazendo e era muito bom nisso, mas
foi minha culpa, que estava gostando daquilo, como uma vadia
barata. Cravei as unhas na mesa, me contorcendo com aquela
masturbação pública e unindo todas minhas forças para não gemer.
Ele adentrou dois dedos na minha intimidade, que o sugou como
se já o conhecesse. Foi o estopim, porque apertei os olhos quando fui
arrebatada por um orgasmo, então Samuel tirou os dedos de lá e os
chupou, pois estavam melados com meu gozo.
— Docinha e pronta para o consumo! — Sorriu pequeno.
SAFADO!!!
Village Santeu
Belo Horizonte – MG
18:00 Hrs
Samuel Rousseau

Com um sorriso ladino no rosto, abri a porta de casa,


lembrando da minha brincadeirinha com aquela mestiça gostosa da
escola no ginásio. Aquela garota sabia como deixar um cara louco e
não vou mentir que fiquei viciado nela.
Perdi as contas de quantas garotas já tinha transado, todas
com características físicas e mentais semelhantes, mas Mitsui, Mitsui
era diferente, em todos os sentidos e era engraçado eu parar pra
pensar nela, porque de todas que já transei, ela era a única que
levava nossas brincadeiras a sério, sem demonstrar paixão.
Por mais que eu fosse escroto, as garotas continuavam indo
atrás de mim como parasitas, mas aquela mestiça tinha amor próprio
e isso me instigava. Jurei para mim mesmo que seria a última vez,
mas no momento que ela me lançou aquele sorriso travesso, dizendo
que foi divertido, mas tinha que ir, desejei tê-la novamente e
novamente.
Fechei a porta atrás de mim, voltando a minha realidade,
aquela que mesmo eu tentando escapar, nunca conseguia. Pus os
tênis na entrada, seguindo até a escada, para meu único refúgio.
A casa estava silenciosa, claro, faziam muitos anos que o
ambiente não era preenchido pela risada escandalosa do meu pai e
mesmo assim, sempre que chegava em casa, podia vê-lo na sua
velha poltrona, rindo de algo que nunca fazia sentido, mas terminava
sendo engraçado por conta da sua risada.
Mesmo depois de anos, ainda me lembrava daquilo, do seu
rosto, bigode engraçado e risada, nunca deixei de espera-lo chegar
em casa, me pondo no colo e contando suas histórias. Meu pai nunca
voltaria, sabia disso e o odiava, porque por culpa dele eu estava
naquele inferno.
Sacudi a cabeça para espantar aqueles pensamentos, então
subi as escadas, mas não demorou para que sentisse aquele cheiro
preenchendo todo andar de cima — um substituto do aroma de flores
que aquela casa já teve. Apressei o passo para chegar o quanto
antes no meu quarto e ficar trancado ali até o outro dia.
— Sami — parei de girar a maçaneta ao ouvir aquela voz
aveludada, que enganava a todos os homens que já lhe encararam.
— Por que chegou tarde hoje? Sabe que não pode desviar o caminho
para casa. — Respirei fundo, apertando com força a maçaneta da
porta.
— O ônibus demorou. — Respondi seco, então senti seu
aroma de flores, misturado com o odor repugnante da maconha e
fechando os olhos, só desejei que ela fosse embora.
— Olhe pra mim quando eu estiver falando! — Usou de
autoritarismo e como um boneco sem vida, virei o corpo, encarando a
mulher à minha frente.
Para alguns homens, aquela era a melhor visão que poderia
se ver, rosto perfeito, corpo perfeito e sedutora de alto escalão. Minha
mãe fazia até o homem mais honesto cair aos seus pés, chamada
por todos de Afrodite, uma deusa.
O que as pessoas viam e o que eu via, eram duas pessoas
completamente diferentes, pois enquanto todos endeusavam aquela
mulher, eu a via como um monstro, meu bicho papão. Sua casca
bonita só guardava o ser humano podre que era, onde eu era seu
prisioneiro eterno, pois todos os seus homens se iam, mas eu
permanecia.
— Não pode mentir para sua mamãe, bebê! — Negou com o
dedo, de unhas pintadas de vermelho.
Naquele dia ela estava com suas costumeiras lingeries, um
vestido curto, rosa transparente, que mostrava a calcinha fio dental e
os bicos dos seios fartos, assim como as pernas brancas e bonitas.
Qualquer filho ficaria orgulhoso de ter uma mãe daquelas, mas eu só
me sentia enojado.
— O que quer que eu diga? — Falei em um tom seco e sem
emoção.
— A verdade!
— Falei a verdade, aceite se quiser! — Virei para abrir a porta,
mas ela segurou meu pulso, então tive que virar.
— Já falei para não mentir pra sua mãe! — Me olhou séria e
aquele olhar me causava arrepios. — Com quem você estava,
Samuel? — Engoli em seco, pois eu bem sabia o que minhas
mentiras me custavam.
— Não estava com ninguém! — Persisti na mentira, mas ela
me puxou para sentir o cheiro no meu pescoço e fechei os olhos.
— Quem era a vadia que estava com você? — Virou para me
olhar nos olhos, que para muitos homens eram uma perdição, mas
para mim significava medo. — Quantas vezes eu tenho que te
lembrar, você pertence a mamãe e somente a mamãe, então se
desobedecer novamente, irá sofrer as consequências, porque a
mamãe não gosta de machucar meu bebê, mas o bebê está sendo
muito levado. — Sussurrou aquilo no meu ouvido, passando as unhas
compridas no meu pescoço, causando calafrios. — Agora vá tirar o
cheiro dessa vadia do seu corpo e depois vá ao meu quarto — selou
meu pescoço. — Não ouse me desobedecer! — se afastou, lançando
um sorriso inocente e depois deu as costas, caminhando
graciosamente para seu quarto.
Entrei rapidamente no meu quarto e escorregando na porta,
abracei meus joelhos, pois naquele momento tudo que eu queria era
escapar daquela armadilha, mas parecia algo impossível. Odiava
aquela mulher, aquela vida imunda e me odiava acima de tudo.
Levantei do chão, caminhando lentamente para o banheiro,
tirar o cheiro do corpo da Mitsui, dos seus toques delicados, da
sensação de apego que nunca senti por nenhuma garota. No
chuveiro, a água ajudou a limpar minhas lágrimas e me senti um
cãozinho indefeso.
Me lembro a primeira vez que fugi de casa, porque não
aguentava mais, tinha medo de acordar amarrado em uma mesa, nos
jogos doentios da minha própria mãe. Essa fuga não durou vinte
quatro horas, ela era amante do inspetor de polícia e eu voltei para
casa algemado.
Nas janelas do meu quarto havia barras de segurança, meu
celular estava grampeado, não podia confiar em um homem qualquer
da cidade, muito menos nos policiais e se tentasse fugir, era certo
que não iria longe. Com um tempo simplesmente desisti de tentar, me
permiti ser seu prisioneiro, nas garras daquela que um dia chamei de
mãe.
De banho tomado, vesti apenas uma calça moletom, como
sempre era instruído e segui para o meu calvário, só porque transei
com a Mitsui. Abri a porta do quarto dela, que já me aguardava,
sentada na ponta da cama, com as pernas cruzadas.
— Meu bebê lindo!! — Abriu os braços, então caminhei até ela,
me ajoelhando aos seus pés, como um submisso. — Sabe que a
mamãe te ama, né? — Assenti com a cabeça. — Ficaremos juntos
pra sempre e ninguém ficará entre nós! — Ergui os olhos para ela,
que tinha aquele sorriso doentio no rosto. — Você é minha obra mais
perfeita, mas foi um menino muito mau e partiu o coração da sua
mamãe, então terei que puni-lo. — Curvei minha cabeça e ela
acariciou. — Deite-se na cama, Samuel! — Falou firme e como um
boneco sem vida, me pus de pé, dando a volta no móvel e deitando
na mesma de peito para cima. — Eu sei que é meu menino obediente
— permaneci naquela posição, sem dizer uma palavra, sem fugir,
sem poder chorar.
Logo o peso de seu corpo estava sobre o meu, que
estremeceu ao sentir o calor do inferno daquela mulher. Ela se
curvou, selando nossos lábios, mas eu não retribuí o beijo, nunca o
fazia, por isso ela percorria meu corpo com os lábios.
Naquele momento eu não era mais o Samuel que a escola
conhecia, macho alfa, pegador, bad boy. Era apenas o pequeno
Samuel, indefeso, covarde e que vivia nas garras de uma bruxa. Era
naquele momento que ela me fazia seu, indo contra minhas vontades
para o seu bel prazer.

[...]

Caminhei pelos corredores da escola, apenas uma alça da


mochila no ombro, substituí os tênis por um par de botas pretas,
arrastando os pés, sem nenhuma vontade de estar ali. Ergui a gola
da camisa, escondendo as marcas deixadas por "ela", minha maior
vergonha. Me arrastei até a sala de aula, não queria olhar para os
lados, não queria olhar pra frente, só queria seguir meu caminho sem
ser interrompido.
Assim que cheguei na porta da sala, a primeira pessoa que dei
de cara foi com ela. Mitsui conversava animada com seus amigos, ela
ria alto, mostrando todos os dentes da boca e eu tinha que admitir
que ela era linda sorrindo. E por um tempo fiquei parado na porta,
apenas olhando-a, que parecia radiante naquele dia.
Aquela pingo de gente era a pessoa mais incrível que eu
conhecia e eu não sabia porquê, também não sabia o motivo de estar
lhe admirando, já que para ela eu era apenas uma diversão. Foi aí
que percebi, que estava deixando outra mulher me usar, me prender
em suas armadilhas. Naquele momento me enchi de raiva, pois foi
por culpa de cair no seu charme, que fui punido, que mais uma vez
havia sido humilhado como homem e enjaulado, porque era fraco e
covarde demais para lutar.
Então de repente Mitsui virou na minha direção, tirando o
sorriso do rosto para me encarar. Franzi o cenho, desviando de seus
olhos, indo para minha mesa, que era encostada na parede, assim
entrelaçando os dedos. Podia sentir seu olhar sobre mim, mas me
mantive encarando a lousa, porque eu bem sabia que se olhasse
para ela mais uma vez, cairia na sua armadilha.
As horas pareceram séculos, tirei minha alma do corpo só para
não dormir naquela aula, assim como fazia em casa, se auto
desligando, apenas para não sentir que pertencia a algo. Foram
tantos anos em prática, que me tornei especialista, assim não poderia
me preocupar com o mundo.
O sinal tocou anunciando a hora do almoço, mas eu não me
movi do lugar e percebi que Mitsui levantou com seus amigos, mas
estava com os olhos em mim, como se quisesse falar alguma coisa.
Lhe ignorei novamente, pois aquela era minha forma de evitar que eu
caísse nas garras de uma mulher esperta e maliciosa.
Permaneci inerte e algumas garotas vinham falar comigo, mas
minha expressão demonstrava que não queria conversar com
ninguém. De repente foi a vez dela de ficar frente a frente comigo,
mas assim como fiz com as outras, evitei lhe encarar.
Eu conhecia o lado mais selvagem de Mitsui, como conhecia,
aquele rosto de anjo e aparência inofensiva escondia a verdadeira,
aquela que parecia até a aprendiz da minha mãe. Ela soltou um
suspiro e a vi colocando a mão dentro do bolso da calça.
— Você deixou isso cair no ginásio — ela retirou algo do bolso
e pôs na mesa. — Talvez seja importante. — Olhei para o objeto,
então arregalei os olhos, pois eram as placas militares do meu pai. —
De nada! — Ergui a cabeça e Mitsui me deu as costas, saindo da
sala.
Olhei novamente para as plaquinhas, eram as únicas coisas
que tinha do pai, pois tudo havia sido jogado fora pela minha mãe,
restando apenas aquelas plaquinhas e uma foto dele comigo no colo,
os quais furtei. Eu não conseguia acreditar que fui tão idiota em
perder aquilo no meio de uma transa.
Então pensei em Mitsui, que achou e mesmo eu sendo um
imbecil, ela me devolveu, sem fazer perguntas e questionamentos por
estar agindo daquela forma. Pus as plaquinhas no pescoço,
escondendo dentro da camisa e me senti mal, por tratar Mitsui
daquela forma tão fria.
Talvez ela só estivesse se divertindo comigo, porque eu lhe
dava uma boa foda, mas ela não parecia disposta a me ferir e seu
comportamento já mostrava suas intenções. Eu queria acreditar que
era só sexo casual, mas algo dentro de mim queria muito mais que
isso.
Finalmente saí da sala, estava disposto a agradecer por Mitsui
achar as plaquinhas do meu pai, mesmo isso indo contra tudo que eu
acreditava. Alcancei o refeitório e olhando por cima das cabeças,
busquei aquela baixinha. Dei o primeiro passo na direção dela, mas
parei quando um cara colocou o braço ao redor do pescoço da
mesma. O sujeito era de outra turma e ao vê-lo com tamanha
intimidade, fiquei furioso, por pensar que talvez Mitsui fosse diferente.
— VÊ SE ME ERRA, KAIO!! — Estava quase saindo do
refeitório ao ouvir aquela voz e ao me virar, vi Mitsui furiosa com o
cara. — JÁ DISSE PRA NÃO ME TOCAR!! — Ela gritava, chamando
atenção de todos.
— Engraçado, você passou o rodo em geral e está pagando
de santa pra cima de mim? — O sujeito debochou, me fazendo franzir
o cenho e dar um passo à frente.
— Hey Kaio, respeita minha irmã!! — T'Challa apareceu,
ficando à frente dela.
— Não se mete, seu preto imundo!! — O cara apontou para o
outro.
Eu até podia ser chamado de vagabundo, que não respeitava
ninguém, mas havia um limite para mim e não gostei muito de ouvir
aquela frase racista. Olhei para Mitsui, que arregalou os olhos ao
ouvir aquilo, então afastou o irmão.
— Do que chamou meu irmão, seu escroto? — Avançou na
direção do cara. — Repete essa merda que falou, pra ver se tem
coragem! — Eu já tinha ouvido falar no temperamento da menor, que
defendia o irmão com unhas e dentes.
— Eu chamei ele de pre-... — antes do sujeito abrir a boca,
levou um chute certeiro entre as pernas, se curvando para frente com
a dor.
— CHAMA MEU IRMÃO DE PRETO IMUNDO AGORA, SEU
ESCROTO!! — A baixinha era brava, eu tinha que admitir, mas
aquele cara não iria deixar barato.
Ele ficou ereto novamente, levantando o punho, pronto para
bater nela, o que não me deixou parado, então caminhei até eles.
Seus amigos ao me verem, recuaram, mas o sujeitinho não viu e
ousou erguer a mão para bater na Mitsui.
Eu tinha todos os meus defeitos, era escroto, rude,
considerava a mulher apenas como um objeto sexual, mas nunca
chegaria à baixeza de levantar a mão para bater em uma. Assim que
o braço dele estava descendo para machucar a Mitsui, agarrei-lhe,
impedindo.
— YA!! — Ele berrou e ela arregalou os olhos ao me ver, então
o sujeito se virou.
— Se ousar levantar a mão pra bater nela, eu corto sua mão!
— Arregalou os olhos com minhas palavras, então o soltando, ele
saiu com seus amiguinhos.
— Você está bem? — Virei para Mitsui, que coçou o braço.
— Sim... obrigado por me ajudar, porque posso ser muitas
coisas, mas não sou ingrata. — Respondeu firme e me perguntei
porque cheguei a comparar ela com minha mãe.
Depois disso ficou aquele clima estranho, eu não sabia o que
responder diante do seu agradecimento e ficamos apenas nos
encarando. O clima se foi quando aquele seu amigo lhe chamou para
almoçar, me deixando ali parado. Dei as costas, saindo do refeitório,
pois eu sabia que não era bem vindo, então segui para o jardim da
escola, sentando em um dos bancos. O local estava vazio, então tirei
um cigarro do bolso, pois ele era meu único amigo naquele mundo.
— Quer morrer, cara de porta? — O cigarro foi tomado dos
meus dedos e franzi o cenho ao ver Mitsui ali. — Sabia que fumar faz
mal à saúde? — Pôs as mãos na cintura e seria fofo, se ela não
tivesse sido intrometida.
— Isso não é da sua conta! — Tentei pegar o cigarro de sua
mão, mas ela pôs dentro do decote. — Isso por acaso é uma
insinuação? Porque hoje não estou afim. — Falei cruzando os
braços.
— Se eu quisesse transar com você, nem saberia o que te
atingiu... nem sei o que estou fazendo aqui.
— Então vá embora!
— Sim, eu deveria, mas não posso.
— Por favor, Mitsui, nosso lance foi intenso, mas não faço o
tipo que quer ter um relacionamento.
— Eu sei e também não tenho interesse. — Ergui uma
sobrancelha. — Sou o tipo de garota transparente, Samuel! Se um
dia for ter um namorado, ele tem que também ser uma pessoa em
que eu possa enxergar, porque eu não gosto de enigmas e você —
apontou para mim — você é alguém que tem muros muito altos, que
ninguém consegue alcançar. — Lhe encarei um pouco confuso.
Ela está me dando um fora?
— Eu sei que assim como as outras garotas, sou apenas sua
diversão, então não precisa se preocupar comigo estar apaixonada,
porque eu sei meu lugar e ele nunca estará no seu coração. — Ouvi
tudo aquilo sentindo meu estômago revirar, porque algo dentro de
mim queria significar alguma coisa pra ela. — Acho que era isso que
eu queria dizer — me encarou lançando aquele sorriso mínimo, me
fazendo lembrar o quanto ela era linda sorrindo e que eu queria que
sorrisse apenas para mim. — Se cuida, Samuel! — Deu as costas
para sair.
— O que eu significo pra você? — Me pus de pé, fazendo-a
parar. — O que sou pra você? — Mitsui virou para me encarar.
— Por que está me perguntando isso? — Franziu o cenho,
então dei um passo em sua direção.
— Não significo nada pra você? — Desci àquele nível, de me
preocupar com o que uma garota miúda pensava de mim.
— Hum, Samuel... — sorriu pequeno. — Você foi a melhor
transa que eu já tive e talvez nunca tenha algo igual.
— Só isso? — Questionei incrédulo.
— Significaria muito mais do que possa imaginar, se quisesse,
mas esse não é o caso — deu de ombros.
— Pra ser uma marionete em suas mãos? — Indaguei
sarcástico.
— Pra ser feliz de verdade! — Suas palavras eram tão firmes e
serenas, que aquilo me tentou.
Quando menos esperei, estava com os lábios grudados nos
dela, segurando firme sua cintura, para que nunca fugisse de mim,
mesmo sabendo que o faria quando soubesse o monstro que eu era.
Na ponta dos pés, Mitsui acariciou minha nuca, gemendo baixinho.
Nunca permiti que uma garota me beijasse antes, pois para
mim era um grau de intimidade grande demais, porém com Mitsui era
diferente, porque eu estava viciado nos lábios dela. A necessidade
que sentia em ter o que todos tinham, mas que nunca pude ter,
crescia a cada vez que estava em seus braços, me consumindo
ainda mais.
Nos afastamos por falta de ar, porém permanecemos com as
testas juntas, enquanto nossas respirações se misturavam. Ela abriu
os olhos e sem explicação senti meu coração acelerar.
— Eu não posso fazer isso! — Murmurei, lembrando o que
aconteceria comigo.
— Eu sei... — sussurrou.
— Mas não consigo ficar longe! — Ela acariciou minha
bochecha, me fazendo fechar os olhos.
— Então não fique! — Abri os olhos pra lhe encarar.
— Se eu te ferir?
— Será inevitável! — Respirei fundo, então lhe abracei forte,
inalando seu cheiro de frutas cítricas e sentenciando meu inferno,
porque eu estava apaixonado.

[...]

Desci as escadas, com a alça da mochila em um ombro,


arrumando a gola do uniforme, que naquela manhã ousou me irritar.
Ouvi risadas vindas da cozinha, então me apressei para sair o mais
rápido que podia.
— Sami?! — Travei na porta ao ouvir aquela voz. — Onde
pensa que vai? — Respirei fundo.
— Escola — respondi sem emoção.
— Sem tomar café?
— Estou sem fome. — Tentei cortar o assunto e ir embora
logo.
— Acha mesmo que vou deixar que vá pra escola sem comer?
Ande, vamos tomar café! — A contragosto, girei nos calcanhares,
caminhando até a sala de janta, onde havia um homem robusto, sem
camisa, já comendo.
Ela sentou ao lado do homem, que quase a comeu viva com
os olhos, enquanto a mesma me obrigava a sentar de frente. Mal
toquei no café, desejando cair fora dali o mais rápido possível.
Respirei aliviado, quando ela saiu da mesa para atender um
telefonema, pois assim que deu as costas, praticamente corri pra fora
de casa. Por mim, iria embora daquele lugar infernal e nunca mais
voltava, mas era capaz dela me achar, pois sempre achava.
Caminhei em passos lentos para a escola, pensando em tudo
que estava acontecendo e em como conseguiria seguir mentindo
para minha mãe. Pelos enormes corredores da escola, cobri meu
rosto com a máscara do Samuel fodão, com intuito de ninguém
descobrir que eu era um fracassado.
— Hey cara de porta!! — Virei, dando de cara com aquele
sorriso de menina sapeca.
Às vezes eu não entendia qual foi o motivo de me ver
apaixonado por aquele projeto de gente, talvez a forma como me
deixava louco na hora do sexo, ou foi aquele sorriso de menina
travessa. Sorri mínimo, já que não tinha o hábito de fazê-lo.
— Já que estamos namorando, quando vai começar a me
chamar de mô? — Falei em tom de brincadeira e ela revirou os olhos.
— Vai sonhando que eu te chamaria de mô! — Respondeu,
então passei o braço ao redor do seu pescoço.
— Você é uma menina muito má, merece ser castigada! —
Sussurrei com um sorriso malicioso e a vi sorrir de lado.
— Ah é? — Assenti. — Espero que dê conta desse castigo,
porque eu adoro ser castigada. — Respondeu mordendo o lábio.
— Ora sua...
— Vão pro motel, seus tarados! — Fomos interrompidos por
Vinni e Jaque.
— Mimi, Samuel, estávamos combinando de irmos naquela
sorveteria que abriu esses dias, querem ir também depois da aula?
— Jaque falou eufórica, mas meu sorriso desmanchou, pois eu
estava proibido de sair.
— Samuel?! — Despertei dos devaneios pela voz de Mimi. —
Você vai? — Me encarou com expectativa.
Sim, eu queria muito ir, nunca tive amigos para fazer esse tipo
de coisa, como tomar sorvete, assistir um filme no cinema, ou só zoar
pela cidade. Os amigos de Mitsui me acolheram em sua turma, mas
eu nunca saía com eles, com uma desculpa esfarrapada atrás da
outra.
— Cara, você nunca sai com a gente... tem vergonha? — Vinni
perguntou e lá no fundo me senti na necessidade de deixar de ser
covarde e me rebelar.

— Vai ser divertido, cara de porta! — Mimi socou de leve meu


ombro.
Que saber, foda-se tudo!!
— Claro que eu vou! — Respondi convicto, fazendo eles
comemorarem.
Aceitar aquele convite, foi como uma sentença de morte,
porque minha mãe nunca deixaria passar minha desobediência em
não chegar em casa na hora. Todo o dia fiquei me martirizando com
aquilo, em uma mistura de medo e vontade de me rebelar.
Nem percebi que as aulas haviam acabado e só notei quando
Mimi me puxou pela mão e com um sorriso pequeno para ela, dei os
passos para minha condenação. Ninguém ali sabia o risco que eu
corria, mas seria errado expor minha vergonha. Sacudi a cabeça para
espantar aquilo e me permiti um momento de diversão, diversão de
verdade, coisa que nunca tive.
Ri de piadas toscas do Vinni, discuti qual jogo de vídeo game
era mais legal com Jaque e tive o sorvete roubado por Mimi. A noite
aproximou-se e esqueci todo medo, apenas para sentir um pouquinho
de felicidade, mesmo que fosse pequena. Só que ela não durou
tanto, pois uma viatura parou de frente a nós, saindo de dentro meus
captores.
— Samuel, vamos pra casa! — O sargento Medeiros disse
com sua voz autoritária e meus amigos franziram o cenho confusos.
— Por que a polícia está atrás de você, Samuel? — Mitsui
questionou me encarando.
— Sua mãe está preocupada, porque não foi pra casa.
— Me entendo com minha mãe depois, não estou cometendo
nenhum crime, apenas vim tomar sorvete com meus amigos da
escola. — Respondi confiante, mas eu bem sabia o que viria a
seguir.
— Venha conosco agora, Samuel! — Ele deu um passo na
minha direção, mas Mimi se pôs de pé.
— Alto lá!! — Ela ficou na frente. — Não pode obrigar ele a
nada, isso é abuso policial! — O homem encarou a pequena, que mal
sabia que a polícia era corrupta quando o assunto era minha mãe.
— Saia da frente, mocinha! — Mandou, mas ela não pareceu
se intimidar.
— Me obrigue!
Não Mimi, não lute por mim, porque não mereço!!
De repente ele a afastou com brutalidade, me fazendo ficar de
pé, pronto para revidar, mas foi em vão, porque o parceiro do
sargento apontou a arma para meus amigos. Qualquer movimento ali
seria um risco, porque eu sabia que eles fariam qualquer coisa por
aquela bruxa doente.
Fui arrastado à força pelo braço, enquanto via Jaque
levantando Mimi do chão, que por sua vez me encarava preocupada.
Ele me algemou por reagir e sem nenhum cuidado me jogou dentro
da viatura, cantando pneu para longe do único motivo da minha
felicidade.
Tudo que eu fizesse, que fosse contra o que ela queria, minha
vida se tornaria um inferno, mas do que já era e percebi que só a
morte me livraria daquele sofrimento. A viatura parou de frente nossa
casa e os vizinhos me encararam ao me verem algemado, porque
para todos ali eu era um delinquente, que decepcionava a própria
mãe.
Fui jogado aos pés dela, que estava sentada na poltrona da
sala, com as pernas cruzadas, segurando aquele maldito chicote.
Ergui a cabeça, encarando seus olhos negros, que expressava que
meu castigo seria inesquecível.
Encarei a carteira de Samuel, havia se passado uma semana
que não aparecia na escola, tentei lhe contactar diversas vezes, mas
sem sucesso. Ele simplesmente desapareceu do mapa e eu sequer
sabia do seu endereço.
Quando tentei falar com o diretor, o homem apenas disse para
que eu ficasse longe de Samuel, sem nenhuma explicação plausível.
O negócio era que a vida do cara de porta era um mistério, ninguém
sabia dele, como se sua popularidade fosse fantasma.
Realmente eu queria saber o que ele estava fazendo, o que
lhe aconteceu, se estava bem, mas tudo que tinha era completo
silêncio. Tinha prometido pra mim mesma que nunca me envolveria
com caras complicados, mas já sabem, Samuel é Samuel.
— Com licença, professor?! — Saí dos devaneios ao ser
cutucada por Jaque, que apontou para a porta.
Parada de frente a porta, uma jovem, de postura rígida,
usando um uniforme militar, era seguida pelo diretor, que parecia
aturdido com a presença daquela garota tão imponente e seu olhar
lembrava muito o de alguém. Todos na sala fixaram sua atenção nela,
que também era bastante bonita.
— Essa é a sala do Samuel? — A garota perguntou séria, me
fazendo franzir o cenho e o professor se erguer rapidamente.
— Se-Samuel?? — O homem gaguejou e vi o diretor atrás
dela fazendo gestos para que ele negasse. — Na-não... — a garota
militar juntou as sobrancelhas bem feitas, não satisfeita com a
resposta, então me pus de pé, arrastando a cadeira.
— Ele estuda aqui sim!! — Confirmei chamando atenção da
garota, que me olhou curiosa.
— Quem é você?
— Ela não é ninguém.... vamos conversar na minha sala,
senhorita... — o diretor me interrompeu e aquilo não foi nada legal.
— EI!!! — Esbravejei. — Quem não é ninguém é sua
vovozinha!! — Todos arregalaram os olhos, mas a garota
permaneceu com seu olhar curioso. — Me chamo Aila Mitsui, mas
todo mundo me chama de Mimi e o Samuel estudava aqui, mas ele
não aparece há uma semana. Você sabe dele? — Respondi ansiosa
com a resposta daquela moça, que encheu o peito.
— Você é o quê dele? — Naquele momento a vergonha se
apossou de mim, porque minha relação com Samuel era um tanto...
complicada.
— Somos amigos — respondi sem muita convicção. — Estou
preocupada. — Passei a mão no braço.
— Sinceramente pensei que iria encontrá-lo aqui, mas pelo
visto a bruxa está o mantendo em casa. — Ela disse olhando ao
redor e depois me encarou. — Acho que tenho que fazer uma
visitinha a minha madrasta. — Sorriu a contragosto, então deu as
costas saindo.

Madrasta? Então Samuel tem uma irmã?

Várias perguntas rondavam minha cabeça e somente aquela


mulher poderia respondê-las, então corri para fora da sala, ignorando
os protestos do professor. Aquela garota poderia ser a pessoa a
desvendar os mistérios que era a vida de Samuel.
— Senhorita!! — Chamei, fazendo ela e o diretor virarem.
— Mitsui, volte para a sala! Não acha que causou muitos
problemas, hoje? — o diretor esbravejou.
— Me leve com você! — Encarei a garota. — Por favor, me
leve com você! Preciso saber como o Samuel está com meus
próprios olhos, mesmo que ele não queira mais me ver. — Ela
suspirou.
— Mitsui, certo? — Assenti. — Me chamo Samara Rousseau,
irmã mais velho do Samuel! — Pisquei surpresa ao ouvir aquilo. — O
que sabe sobre meu irmão?
— Não muito, mas ele não podia sair com os amigos e era
escoltado pela polícia caso saísse — ela franziu o cenho. — A última
vez que nos vimos, estávamos em uma sorveteria e dois policiais o
levaram algemado, como se fosse um bandido. — Vi Samara cerrar
os punhos e travar o maxilar.
— Senhorita, Samuel era um garoto rebelde e... — o diretor
falou, mas acabou recebendo um olhar matador dela.
— Se ousar ligar pra ela, eu não vou hesitar em atirar em
você! — Arregalei os olhos e encarei o diretor que ficou pálido com a
ameaça. — Vamos Aila Mitsui! — Samara começou a caminhar para
fora da escola, então corri para lhe alcançar. — Aquela mulher é uma
víbora! — Lhe encarei confusa quando entramos no seu carro.
— Está falando da mãe do Samuel? — Questionei.
— Ela conseguiu destruir o casamento dos meus pais,
engravidando do Samuel e agora está tentando controlar a vida dele,
como faz com todos. — Balançou a cabeça enquanto dirigia.
— Samuel nunca falou de você — respondi, recebendo um
olhar frio dela. — Na verdade ele não falava muito... — mexi no
dedos das mãos.
— A mãe dele nunca permitiu que nos aproximássemos, mas
recentemente descobri que Cristiano fazia pequenas visitas a nossa
não tão querida madrasta. — Respondeu desgostosa. — Cretino
safado!! O pai deve estar se revirando no túmulo por isso.
— Você é militar, como seu pai? — Ela assentiu com orgulho.
— E por que resolveu voltar?
— Pra salvar meu irmão!
Fizemos todo o caminho em silêncio, ela parecia concentrada
nos próprios pensamentos, assim como eu, que não parava de
pensar em outra coisa que não fosse naquela vida estranha de
Samuel. Pelo pouco que havia entendido, ele era prisioneiro da
própria mãe, que parecia ser uma louca.
Fiquei imaginando a infância difícil de Samuel, sem o pai e o
contato com os irmãos mais velhos, principalmente Samara, que
parecia estar realmente preocupada com ele. Meu coração meio que
se apertou com a possibilidade de ele estar machucado e se
estivesse, não responderia por mim.
A estrada até a casa dele parecia eterna, mas depois de vinte
minutos, o carro parou de frente a uma casa rústica, com jardim e
cerca branca, um típico lar de família. Samara saltou do automóvel e
fiz o mesmo, lhe seguindo.
Vi alguns vizinhos curiosos olhando em nossa direção e fiquei
bem atrás dela, que caminhava em passos pesados, como se
estivesse indo para a guerra. Ela bateu com força na porta e imaginei
que a derrubaria com um soco.
Não demorou para que a porta se abrisse, revelando a mulher
mais bonita que eu já tinha visto na terra, ela era alta, longos cabelos
negros, corpo curvilíneo, escondido em um robe de cetim vermelho. A
pele da mulher era tão branca e uniforme, que eu parecia escura na
frente dela.
— Samara?! — A mulher olhou a outra dos pés à cabeça com
desdém e vi faíscas vindo de ambas.
— Cadê o Samuel? — A mais jovem foi direta.
— Está doente e não pode receber visitas... — ela cruzou os
braços, mas foi empurrada pela mais nova que invadiu a casa. —
Não pode entrar aqui!! Vou chamar a polícia!!
— Pode chamar, eu sou a lei, vadia!! — Samara caminhou
direto para a escadaria, então aproveitei para entrar na casa também,
reparando no quanto era assustadoramente organizada.
— Quem é você? — Finalmente a mulher que não era nada
intimidadora (*sintam o sarcasmo) me percebeu.
— Ela é namorada do Sami!! — Samara me pegou de
surpresa com aquela afirmação, fazendo a mãe de Samuel me
encarar enojada. — Vamos logo, Mitsui! — Entre ficar ali e
acompanhar Samara, optei em ser corajosa e rapidamente subi as
escadas, ouvindo os gritos histéricos da outra.
Assim que alcançamos o segundo andar, Samara começou a
abrir as portas da casa, procurando o quarto do mais novo, até que
ao abrir a última, seus olhos se arregalaram. Caminhei até ela para
ver o que tanto a deixou chocada e descobri que a humanidade era
cruel.
Pus a mão na boca ao ver aquela cena, Samuel sentado na
cama, de costas para a porta, olhando fixamente para uma janela.
Ele estava muito magro, a pele alva exposta, estando vestido apenas
com uma calça moletom.
O cabelo liso cobria um pouco o rosto, mas dava para ver o
vazio de seus olhos, como se fosse apenas uma casca, mas aquilo
não era o que nos deixou chocadas. As costas de Samuel estavam
cheias de marcas vermelhas e cicatrizes, como se ele tivesse sido
brutalmente chicoteado.
Era uma cena horrenda, os pulsos dele haviam marcas roxas,
talvez fora amarrado e ele parecia com um cadáver. Lágrimas
escorreram pelo meu rosto e me recusei a acreditar que o Samuel
que eu conhecia, fodão, rígido e até safado, era o mesmo à minha
frente.
— Samuel?! — Passei na frente de Samara, entrando no
quarto, então lentamente ele virou a cabeça.
— Mimi? — Seus lábios que um dia foram vermelhos, estavam
pálidos. — O que faz aqui? — A voz estava fraca, como se não
bebesse água há muito tempo.
Não segurei o choro e corri até ele, caindo de joelhos,
abraçando suas pernas em um choro descontrolado e o coração
batendo freneticamente. Vê-lo assim só aumentava minha dor e
naquele momento descobri um sentimento novo... descobri o amor.
Su Hee gritava com a mãe de Samuel e as duas praticamente
saíram no tapa, enquanto eu ainda estava no chão, chorando feito
uma criança, pois nunca imaginei o inferno que ele passava e ainda
tinha que fingir que tudo estava bem.
De repente senti sua mão alisar minha cabeça, então ergui os
olhos e ele soltou um suspiro, parecia cansado, os olhos fundos
mostravam isso. Samuel segurou meu rosto com as duas mãos e
limpou minhas lágrimas, então ele pendeu para frente, desmaiando
em cima de mim.
— Samuel!!! — Gritei desesperada. — SAMARA,
SOCORRO!!!
A irmã dele correu ao nosso encontro e rapidamente sacou o
celular, ligando para o número da emergência, que não tardou para
mandar uma ambulância. A mãe dele tentou acompanhá-lo, mas
Samara não permitiu, lhe acusando de ser a causadora daquilo.
Enquanto os paramédicos carregavam Samuel na maca até a
ambulância, segurei sua mão e em alguns segundos, ele abriu os
olhos, apertando um pouco meus dedos e me lançando um sorriso
fraco, até perder a consciência outra vez. Por não fazer parte da
família, não pude lhe acompanhar e também visitar, porque ele fora
levado para o hospital militar.

[...]

Todos bebiam animados, rindo e conversando alto, até mesmo


Yuri estava se soltando, pois havíamos acabado de sair da cerimônia
de formatura do terceiro ano. Meus amigos se juntaram em um
restaurante de carne para tomarem suas primeiras doses de álcool.
Eu ainda não havia tocado no meu copo, olhando para a porta
de entrada do restaurante e o pensamento longe. Lembrando da
última vez que vi Samuel, sendo carregado em uma maca.
Desde aquele dia não tive mais notícias, os dias se tornaram
semanas e as semanas meses, ao ponto de nos formarmos e eu
nunca mais vê-lo. Eu me sentia estranha, logo que era a happy vírus
da turma e naquele momento estava na deprê.
Tanto tempo tentando nunca sofrer por nenhum garoto, porque
simplesmente não valia a pena, mas Samuel fez um rebuliço na
minha vida, que eu não conseguia acreditar. Me olhava no espelho e
não via mais a mesma Aila Mitsui, era outra pessoa, que não me
agradava muito.
De repente a porta do restaurante se abriu, revelando um cara
alto, usando uma jaqueta de couro e jeans, com um gorro cobrindo-
lhe a cabeça e assim que ele ergueu a cabeça, me pus de pé
rapidamente, com os olhos arregalados.

Samuel???

Ele me encarou diretamente e sorriu, causando um misto de


sensações nunca antes sentidas e não vou mentir que tive vontade
de chorar ao vê-lo ali, bem e ainda mais lindo. Ele deu um passo na
minha direção e eu fiz o mesmo, chamando atenção dos meus
amigos.
— Samuel?? Você está vivo? — Vinni foi o primeiro a se
pronunciar, mas parecia que só existia nós dois.
— Não poderia morrer sem ver minha garota! — Olhou nos
meus olhos, esbanjando aquele sorriso malicioso.
— E desde quando você tem uma garota nesse meio? —
Debochei o alfinetando. — É você, Jaque? — Virei para ela, que
negou com a cabeça. — Errou de caminho, camarada! — Apontei
para ele, que se aproximou, me puxando pela cintura, colando
nossos corpos.
— Que menina má, merece castigo! — Sorriu ladino, me
causando arrepios.
— Pelo amor de Deus, não coma minha irmã aqui! — Viramos
a cabeça na direção do Yuri, que estava pra lá de bêbado, pois são
ele jamais diria aquilo.
— Yuri T'Challa!!! — Arregalei os olhos, mas o mesmo deitou a
cabeça na mesa.
— Posso me aproveitar dele? — Jaque apontou maldosa.
— Nem pensar! — Ela riu. — E você... — virei para Samuel. —
Onde esteve? Sabia que fiquei preocupada? Não se fica ausente
dessa maneira.... avise sua irmã militar e intimidadora, que vai ter
volta e... — fui calada com um beijo, que fez borboletas voarem no
meu estômago.
Aquele beijo era uma sensação única, como se fosse o
primeiro beijo, pois ele estava carregado de sentimentos, sentimentos
verdadeiros. Pus as mãos no peito dele, o qual me segurava
firmemente pela cintura, e eu estava na ponta dos pés devido à
altura.
Nos separamos do beijo, então o cara de porta me puxou pela
mão, saindo do restaurante, assim dando de cara com uma
motocicleta. Samuel me entregou um capacete e subi na garupa,
agarrando-lhe na cintura.
Aquela foi uma noite que eu jamais esqueceria, foi tão mágica,
que até parecia mentira, ou algo da minha imaginação fértil. Ele me
levou para dançar, ver as estrelas, assistir a um filme e no final da
noite parou a moto em frente a uma casa que lembrava aquelas de
doramas.
— Que lugar é esse, hein cara de porta? — questionei quando
ele abriu a portinhola que dava acesso ao jardim da casa.
Ela parecia casinha de boneca, telhado triangular marrom,
janelas dos lados, estava pintada de rosa bebê e um lindo jardim.
Caminhei seguindo Samuel — estava um pouco confusa por estar ali,
então ele abriu a porta da casa.
— Vem! — Sorriu me dando passagem.
Abri a boca maravilhada com a casinha, pois era muito fofa,
com uma sala que dividia espaço com a cozinha, que era toda no
inox. Havia um corredor e pude ver quatro portas, então tirei os
sapatos e entrei na casa.
— De quem é? — Olhei ao redor.
— Nossa! — Virei para encarar Samuel, que por sua vez
estava com os braços cruzados sobre o peito e um sorriso.
— Como? — Fiz uma careta de confusão e limpei os ouvidos
com o mindinho, para ter certeza que não estavam cheios de cera.
— Meu pai deixou essa casa pra mim quando estivesse mais
velho e fosse casar... — respondeu descruzando os braços. — Minha
mãe nunca soube e Samara que me disse.
— Sua mãe... — toquei em um assunto delicado.
— Ela não foi presa, porque tem influência, mas a justiça
enviou uma ordem de restrição, ela tem que manter vinte metros de
distância de mim. — Deu de ombros, então não quis me alongar no
assunto e olhei novamente ao redor.
— Deixa ver se eu entendi... você tem uma casa e está me
propondo...
— Ainda não! — Lhe encarei. — Você tem que terminar a
faculdade e eu... — de repente o sorriso dele se desfez, então me
toquei que aquela noite era uma despedida.
— Samuel... — me aproximei.
— O juiz acredita que minha mãe continuará me perseguindo,
então propôs que eu... — respirou fundo.
— Que você, o quê, Samuel?
— Que eu me alistasse. — Olhou nos meus olhos, que deu um
passo para trás.
Eu não podia acreditar naquilo, Samuel era jovem demais para
ir ao exército, apesar que no Brasil os garotos faziam isso aos dezoito
e ele já tinha dezoito anos. Não queria que ele fosse ainda, não
queria perdê-lo, mal nos conhecíamos.
Houve aquele silêncio insuportável, apenas nos encaramos
como se as palavras tivessem fugido, ele permaneceu me encarando,
sem dar um passo e eu em completo choque. Naquele momento
descobri como as mulheres se sentiam quando seus namorados iam
servir, doía muito.
— Eu sei que não devo, mas quero pedir para me esperar...
não é justo pedir isso, você é linda e qualquer homem cairia de
quatro, mas eu... — Samuel abaixou a cabeça, então em um impulso,
corri lhe abraçando na cintura.
Afundei o rosto em seu peito, gravando na memória seu
cheiro, calor e corpo, porque sim, eu o esperaria até vinte anos. Meu
abraço foi correspondido e ouvi um choro baixinho dele, que se
misturou ao meu.
As lágrimas deram lugar a beijos salgados, então meu corpo
foi erguido do chão e sendo carregada como uma noiva, Samuel me
levou pelo corredor até uma das portas. Era um quarto de casal, que
não fiz questão de saber os detalhes, porque naquele momento meus
olhos, corpo e pensamentos estavam voltados apenas para uma
pessoa.
Naquela noite nossos corpos se uniram, sua boca tomou a
minha, sugando e mordendo em um ósculo erótico. Samuel me
deitou sobre a cama, apressado em me despir por completo, então
roupas voaram pelo quarto, sobrando apenas dois jovens nus,
aproveitando o último momento juntos.
Fui coberta de beijos, que desceram pela barriga até minha
intimidade e agarrando os lençóis, meus olhos se reviraram com
tamanho prazer. Nunca havíamos feito aquilo, eram sempre transas
casuais nas dependências da escola.
Sua língua pincelava minha intimidade, me solvendo com
avidez, fazendo com que soltasse gemidos abafados, mas o safado
queria me ver gritar em desespero.
Desespero, era essa a palavra correta pra mim, estava
desesperada para senti-lo, queria muito mais. Agarrei seus cabelos, o
impulsionando a prosseguir, pois estava chegando ao meu limite,
mas ele parou, me fazendo resmungar em desaprovação.
— Quero que goze somente no meu p*u! — Me encarou
malicioso.
— Você é mau!! — Fiz bico, então Samuel subiu em cima do
meu corpo, tomando meus lábios com avidez.
Não demorou para que ele se encaixasse no meu interior,
resultando em um gemido alto vindo de mim, que cravou as unhas
em suas costas desnudas. Seu quadril se movia em um ritmo lento e
torturante, fazendo com que atingisse meu centro.
Minhas costas se arquearam na cama, quando fui arrebatada
por um orgasmo, que parecia não ter fim e eu nem queria. Então o
empurrei para o lado, ficando montada em seu p*nis, que crescia
dentro de mim.
Samuel sorriu agarrando meus cabelos, para novamente tomar
meus lábios, então comecei a rebolar, o instigando.
Quando menos esperei, já o cavalgava loucamente, jogando a
cabeça para trás, enquanto o mesmo apertava meus seios, que
ficaram rijos com seus toques. Samuel agarrou meus quadris,
aumentando o ritmo de sobe e desce.
Nossos gemidos se misturavam, enquanto a cama balançava,
batendo contra a parede, tornando-se pequena para nossa safadeza.
Samuel então me apertou contra si, soltando um palavrão, quando
finalmente chegou no seu ápice.
Caí sobre o peito dele totalmente exausta, os cabelos
grudados no rosto e testa, mostrando o quanto estava satisfeita, mas
aí me veio à memória o motivo daquilo. Suspirei triste, porque eu
queria meu cara de porta safado perto de mim, mas as coisas nunca
são do jeito que queremos.
— Está muito quieta, geralmente quando fazemos sexo, você
diz alguma frase maluca e vai embora. — Samuel quebrou o silêncio,
passando a mão nas minhas costas.
— Eu te amo!

[...]
Universidade de Federal de BH
03:00 PM
Belo Horizonte – Minas Gerais

— AINDA ESTÁ FALANDO, SUA QUENGA NOJENTA!! —


Avancei contra aquele projeto de cipó, mas Fanny me segurou.
— Te acalma, Mimi! — A morena tentava me acalmar, mas eu
estava queimando uma quenga, porque uma nojenta do clube de
fotografia da universidade, andou espalhando que eu estava
transando com o time de futebol.
— ME SOLTA, FANNY!! VOU QUEBRAR A CARA
PLASTIFICADA DELA! — Tentei me soltar dela, que era bem forte
para alguém pequena.
Todo mundo parou o que estava fazendo, quando saí da aula
furiosa e fui direto naquela vadia, lhe puxando os cabelos e lhe
arrastando pelo campus. Desde Samuel, nunca namorei ninguém,
nem sequer saí e olha que propostas não faltaram.
O problema era que o cara de porta ainda morava no meu
coração e já haviam se passados dois anos e meio que ele estava
servindo no exército. Foram poucas as vezes que recebi seu
telefonema e graças a uma missão sei lá onde, nem pude visitá-lo.
Nenhum homem era capaz de preencher o que somente
Samuel podia, então praticamente vivi em celibato, esperando seu
retorno, que nunca aconteceu. Por sempre ter urubus na minha cola,
os caras achavam que eu era fácil, mas comigo o buraco era mais
embaixo.
Eu sabia como eram os caras, tratavam as garotas bonitas
como objeto de brincar, nunca assumiam relacionamentos sérios e no
fim das contas éramos chamadas de vadias. Claro que não deixei
barato aquela afronta e fui com tudo pra cima daquela ridícula.
— TÁ PENSANDO O QUÊ, HEIN SUA HORROROSA? QUE
NÃO POSSO TE QUEBRAR FEITO PALITO DE DENTE? — Ainda
tentava avançar contra a garota, que teve um tufo de cabelo
arrancado e estava com a boca sangrando.
— Horrorosa é você e seu bando de vadias de pele suja!! —
Ela esbravejou, me fazendo arregalar os olhos.
— Do que ela chamou a gente? — Fanny me soltou e vi ela
ficar vermelha. — Mas essa quenga vai ter... — a morena se meteu
na minha frente, arregaçando as mangas da blusa.
— O que está acontecendo aqui? — De repente uma voz
grave nos chamou atenção.
Meus olhos se ergueram e se arregalaram ao ver quem estava
bem diante de mim, usando um uniforme militar e com uma postura
séria. Não sabia como reagir, entrei em choque e ele me encarou
sério, como se esperasse uma reação minha.

Samuel??

— Estou esperando! — Concluiu olhando para mim.


— Essa garota desqualificada bateu em mim, oficial! —
Arregalei os olhos em direção da ridícula, incrédula com aquilo.
— E você nem imagina o motivo, não é? — Samuel olhou para
a garota e se o conhecesse bem, diria que estava sendo irônico, além
de estar lindo naquela roupa militar.
— Eu... — o olhar afiado dele deixou a garota sem fala, tirando
que as outras só faltaram comê-lo com os olhos.
— Antes de ofender a noiva de um oficial, pense muito antes.
— Ela arregalou os olhos, me encarando incrédula, mas até eu
estava chocada. — Vamos pra casa, querida? — Pisquei por um
tempo ainda meio confusa, então Samuel esticou a mão. — Ainda vai
querer casar comigo e morar naquela casa? — Pus a mão na boca,
porque ele realmente prometeu o que disse, que voltaria pra mim.
Com lágrimas nos olhos, corri até ele, que me amparou nos
braços, tomando meus lábios para si e nem nos importamos se
estávamos em público, pois vários fatores nos manteve separados,
mas isso não nos impediu de persistir, porque como diz as filósofas
Simone e Simaria "Quando o mel é bom, a abelha sempre volta".

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