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Bem-Vindos A Everything Is Ok

<<As memórias são curtas, o importante é vivê-las>>

Capítulo I
Para Emilly Wilson Ann, a minha irmã

Agnes Witwell desaparece


Começo esta história com um suspense que nem vão acreditar.

Eu sou Agnes Witwell, tenho 44 anos e trabalho para o New York Times,
o jornal.
Eu desapareci por umas breves horas quando encontrei uma casa
assombrada.
Tudo era muito fixe na cidade Everything Is Ok, porém, as pessoas
sentiam-se assustadas e pensava-se que a cidade estava assombrada por um
monstro do mal, quer dizer, ninguém sabia porque é que o nome era tão
estranho, era óbvio que nada estava bem. Eu desde muito pequenina que
achava que a cidade em si, era assustadora, mas não fazia ideia do que
pudesse ser. Mas com 19 anos, eu e a minha querida amiga Emilly Wilson
Ann como tínhamos poderes as duas era mais fácil e mais ninguém se dava
connosco, porque, achavam-nos aberrações.
Emilly tal como eu tinha muitos poderes, tais como, a manipulação dos
sonhos, a manipulação mental, vidência, telecinesia e por último,
teletransportação. Eu, por minha vez, possuía a pirocinese, telepatia e a
chamada telecinesia semelhantemente a ela que consistia, mover coisas do
lugar com a mente. Fomos as duas em direção ao negrume da noite para
desvendarmos o mistério que a nossa cidade escondia.
Eu era fanática por livros e nessa altura, queria escrever um livro
sobre a minha cidade, os seus monstros e lendas, o meu pai, Anthony
Witwell ofereceu-me uma máquina de escrever no meu 19º aniversário e eu
queria muito usá-la, mas a minha mãe não acreditava no meu talento.
Nessa mesma noite, eu desejei de coração encontrar alguma coisa berrante
e assustadora em que estivesse explícito que aquilo tinha sido escrito por
mim.
Por isso, fui com Emilly à casa abandonada da rua Wise Children
Street a norte da minha casa na rua Glory Loser Street nº7 1440_702. Lá,
encontrámos muitos artefactos antigos, alguns assustadores e outros não
muito assustadores.
Emilly estava esfomeada e portanto, não foi de espantar, que, quando
demos de caras com um rolo de carne, umas batatas assadas super
apetitosas, gomas de todos os sabores existentes, taças com chocolates de
todos os tipos, batatas fritas, um melão acabado de cortar bem fresquinho,
sumos de morango com imenso gelo, um flan de caramelo, um prato cheio
de sopa quente e muito saborosa, e por último, gelados de chocolate com
panquecas ela se pusesse a comer. Eu acabei por me juntar à ceia de Emilly
mas, estava meia assustada. Sentei-me na cadeira velha ao lado da de
Emilly e comecei a comer um prato de sopa, em seguida, provei o rolo de
carne que não gostei pois eu optei por me tornar vegana há dois anos, comi
umas gominhas de ursinhos de açúcar, depois, comi um prato de batatas
assadas e experimentei um pouquinho de flan de caramelo.
Emilly, por sua vez, comeu tudo o que estava na mesa, eu fiquei muito
espantada, pensei que talvez, ela não tivesse sido alimentada pois, os pais
dela eram um pouco pobres.
Só não percebi o porquê de estar numa casa abandonada quase um
restaurante cheio de comidas mirabolantes, os meus colegas de escola
diziam-me sempre que essa casa estava cheia de partidas mortais e que já
tinham morrido ali várias pessoas, puxei o braço de Emilly que estava a
invocar mais comida com a sua telecinesia. Acabou por conseguir e comia
agora, um grande bolo de chocolate e nozes sozinha sem sequer respirar,
será que aquela casa tinha um feitiço de fazer as pessoas comer, comer e
comer até abarrotarem? Comecei a achar que isto era muito estranho.

Capítulo II
As memórias

Memórias... coisa estranha, por vezes achamos que nos lembramos de tudo,
suficientemente de tudo e sentimos que nada está como deveria estar.
Gosto de pensar assim, tenho a minha própria visão do mundo, muitos de
vocês sabem o que é que são as memórias, não sabem?
Pois, algumas não são fáceis de guardar... falo de memórias que nos fazem
o coração avergar, chorar, espremendo o seu sangue vermelho e por vezes,
preto, pois, são essas tão avassaladoras que nos deixam o sangue preto, eu
sei, isto parece cliché, mas até os clichés têm a sua verdade, e todos nós
sabemos que por detrás dos sorrisos, estamos tristes, estamos a mostrar
uma parte enganosa de nós, só para não nos expressarmos e isso está
errado.
As coisas que sentimos tornam-se memórias.
Parte-nos saber que tudo o que vivemos foram apenas imaginações ou
então sonhos mal sonhados.
Devo dizer-vos que a vida e as tristezas que temos, nunca são fáceis de
lidar, e eu gostava que vocês pensassem que isto é apenas temporário, essas
dores vão desvanecer, o desencanto, a importância excessiva que dão a uma
certa pessoa que já não é a mesma vai acabar por deixar de ser frequente,
os dias na escola vão ser mais solarengos, sem nuvens e sem chuva, apenas
com um raio de sol quentinho nos vossos corações, vai decerto acalmar e
vão sentir-se melhor, os estudos vão melhorar, as notas vão subir e todas as
memórias más vão desaparecer, só vão ficar com o gosto doce das
memórias boas e importantes, o resto, perdoem-me pela linguagem, “ que
se lixe”.
Somos felizes como somos e nunca, nunca temos de agradar a ninguém,
apenas aos nossos pais e familiares, que são os mais importantes.
Um dia, vão olhar para trás e rir-se-ão disso que sentiram e vão sentir
coisas muito mais saudáveis, vão ser corações brilhantes, cheios de paixões
também saudáveis, e verdades doces e incríveis, serão felizes como são e
nunca se podem esquecer de que as memórias são apenas isso, memórias,
deitemos as memórias más para trás das costas, e vamos continuar a lutar
para que sejamos livres, possamos expressar as emoções livremente, a vida
ser mais fácil e tudo se apaziguar, essa dor parar.
Agora, deixo-vos com a nossa aventura!

Capítulo III
A casa assombrada
Eu corri para a casa assombrada da rua Wise Children Street.
Quando eu lá cheguei, eu tentei que a porta se abrisse, mas ela
permanecia imóvel, eu não sabia o que se estava a passar. Tentei
falar para ela, cantar-lhe, mas nada aconteceu, fiquei à espera, à
espera, à espera até que adormeci. Quando acordei, eram umas 3
horas da manhã, eu fiquei tão irritada que comecei a dar xutos na
porcaria daquela porta:
- Por favor, sua porta, abre! ABRE!
Após uns segundos, aquela porta abriu-se, eu entrei, mas as
escadas desapareceram e estava lá um bilhete a dizer:
“Não são permitidas miúdas que fogem de cretinos, têm de sofrer
e entregar-se a eles.”
Eu pensei: ó boa, boa, extremamente impressionante, então sabem
que eu fujo dum cretino? Por acaso sabem o nome dele?
as vozes da casa assombrada falaram e pareciam crianças e de
alguma maneira, uma delas parecia o Finnie:
- Sim. - Agnes, ele é Michel Wilson, também nos tentou matar,
mas nós ficámos aqui sozinhos, aqui nesta escuridão, pairamos.
Nós sabemos que ele anda atrás de ti agora que matou a filha dele
que adorava a nossa comidinha, oh, ela era tão fofinha, o nome
dela era, Emilly Ann, não era?
Eu, anui, senti que estava a ficar louca, como era possível eu estar
a falar com pessoas que desconhecia e a pensar que um deles era
o meu confidente?
Um rapazinho ofereceu-me uma fatia de bolo de mármore e
pareceu sentar-se ao meu lado e falou, era Richie Silver Kennedy
um jovem de 17 anos que Michel tentou matar aos 12 anos:
- Agnes, nós sabemos que é difícil entenderes, mas, o teu amigo
está em apuros, mesmo muito em apuros, reais apuros. Precisas de
o encontrar, nós sabemos onde ele está, só que não podemos sair
daqui, terás de ser tu a procurá-lo, capisce?
Eu pus as minhas mãos na cabeça suada, estava tudo a andar à
roda e parecia que me doía a cabeça de tal maneira que eu só
queria ir para casa e dormir.
Emilly iria querer que eu o salvasse, que eu fosse feliz com ele,
que eu não chorasse mais agarrada à camisola dele nas noites
negras, ia querer que eu lutasse por ele.
Engoli um bocado do bolo, depois perguntei onde é que ele
estava:
- Onde é que ele está? onde está o meu amigo e confidente?
Uma jovem mulher que estava mesmo à beira do rapazinho deu-
me um pouco de sumo de morango e disse:
- Toma, vai ajudar-te a digerir melhor o bolo. - O que sabemos
sobre o teu amigo é que ele está naquela praia onde estavas, as
tuas visões estão certas, mas não todas... tens de olhar para o Mar
com muita atenção e imaginar o outro lado desse mar, o lado que
ninguém quer ver, o teu confidente está lá, naquele mar, no mar
que ninguém ousa mergulhar ou brincar com os patinhos de
borracha, ninguém quer lá entrar. Christine falou. - É tudo o que
te tenho a dizer. Acrescentou ela.
Eu bebi o sumo, dei mais uma dentada no bolo e depois disse:
- Mas como é que eu o encontro? vou simplesmente olhar para o
Mar e nada?
Ninguém falou:
- DIGAM-ME! OK, VOCÊS DISSERAM-ME QUE AS
MINHAS VISÕES ERAM ABSOLUTAMENTE REAIS, MAS
NÃO ME DISSERAM COMO LÁ CHEGO!
- Minha querida, nós não sabemos tudo, o que sabemos é que esse
homem está sedento de poder e pensa matar mais adolescentes e
crianças como nós, quando ele sabe que um de nós tem algum
dom ou poder como tu tens e a nossa querida Emily tinha, ele
parece uma cobra e estica a sua língua venenosa e captura-nos e
mata para nos sugar o poder e assim, ficar poderoso, não digo que
vás morrer, tu pelo menos não, tens muita mais força do que nós,
mais, tens uma coisa que nenhum de nós tinha: amor, amor para
dar e receber, amas o Finnie, queres estar com ele.
- Mas a Emily também tinha amor, ela beijou-me!
- Sim, mas ela era não tinha o teu poder. Tu, Agnes tens o poder
para lutar por alguém. Ao invés de seres uma cobra e de sugares o
poder dos outros, tu és uma querida lebre que quer lutar pela
segurança de toda a sua coelhada e amigos e família, tu, tens mais
um poder.
- Qual é? perguntei com os olhos muito arregalados e uma
lágrima no canto do olho.
- Empatia, pensas nos outros, amor, queres sempre protegê-los
mesmo que sejam uns broncos contigo e te façam sentir que não
és ninguém. És forte Agnes Witwell, muito forte e tens de usar
essa força para recuperares o teu confidente.
Comecei a perceber tudo, eu sofri de PTSD antes, e agora sabia
que eu tinha razão, o meu confidente e melhor amigo estava ainda
por aqui, só tinha de o encontrar.
Levantei-me da cadeira e perguntei:
- Vocês, nesta casa, têm alguma cama ou um quarto?
Eles todos perguntaram:
- Tu queres ficar aqui?
- Sim, porque não? Assim, vocês têm alguém para quem cozinhar,
alinham?
- SIM!!!!! IUPI! UMA AMIGA! VEM CONNOSCO, VAMOS
MOSTRAR-TE O TEU QUARTO!
Havia um armário bem grande de onde eles tiraram um vestido
com espartilhos, uma fita vermelha para me pentearem os meus
fios ruivos e me tornarem plausível e bonita.
Não sabia para que era aquilo tudo, mas, sentei-me na cadeira
enquanto eles me arrumavam e me maquilhavam.
Quando me fui ver ao espelho, parecia Enola Holmes, bem bonita,
mas ruiva, a fita que me puseram sobressaía nos meus cabelos
lindos e eu parecia uma princesa, fiquei a olhar para aquela
pessoa que estava à minha frente e eu pensava: Quem diria que eu
tinha sofrido de PTSD, eu estou tão bonita, eu sou bonita, muito
bonita, o meu confidente dizia-me sempre isso. Estou ansiosa por
encontrar-te, amigo! Eu vou salvar-te, mesmo que tínhamos
discutido, eu serei sempre a tua amiga.
Enquanto eu fantasiava coisas com o meu confidente e anjo da
guarda, os meus amigos da casa assombrada foram lá em baixo
para me irem buscar um livro, e quando voltaram, deram-me o tal
livro:
- Toma, minha querida, este foi o livro que Michel Wilson
escreveu há seis anos, quando tentou matar Richie, o rapazinho
que te deu o bolo há bocado, este livro contém coisas ocultas,
macabras, lê-o com atenção, pode estar aí toda a informação de
que precisas para encontrar o teu confidente. Tudo aí. Michel era
de alguma maneira como tu, adorava escrever livros, mas era
também diferente de ti, tu, queres escrever livros porque tens essa
paixão, ele, bem, ele quer que todos pensem que ele é um génio
da psicologia paranormal.
Falou Christine, uma mulher de 59 anos que tinha sido quase
assassinada, mas não por Michel, por um adolescente insano, ele
era seu filho, Jamie, também não se sabe onde está, está
desaparecido.
Eu não podia acreditar no que estava nas minhas mãos, com que
então, esse parvo também escreve livros?
- Então, tenho de o encontrar lendo isto? perguntei eu. - E como é
que eu sei que isto é real?
Richie falou:
- Porque, Agnes, eu fui a vítima dele há seis anos.
- Sim, mas tu sabes alguma coisa sobre Michel que eu não saiba?
- Sim, tudo que sei também está neste livro, nas bordas, eu
escrevia coisas que me aconteciam sempre que ia ao consultório
dele, o que via, o que sentia e o que imaginava, terás de o ler e
encontrar as tuas próprias respostas.
- Mas como? Como é que eu desvendo esse mistério? Tu ajudas-
me?
- Agnes, eu não consigo ajudar-te, mas tu consegues, lembra-te do
que te dissemos, e tu vais encontrar as respostas a todas as tuas
perguntas, nós vamos embora, vamos deixar-te ler em paz, vamos
fazer o jantar, o que te apetece comer?
- Hum... vocês sabem fazer tacos?
- Tacos? Nós adoramos tacos, quantos queres?
- Hum... Sei lá... talvez uma porção que chegue para todos nós.
- Oki, tenta concentrar-te.
E lá foram eles para a cozinha, eu deitei-me na cama de dossel
com um véu branco por cima dela e comecei a ler o livro:
- “Michel Wilson. Eu queria dizer-vos a todos vocês que ando
muito ocupado, não a matar pessoas como todos os jornalistas da
treta pensam, eu andei a tratar de pessoas dementes.
ok, isto era super estranho, eu só precisei de ler até ali para me
certificar que aquilo era lixo, tretas do pai de Emily, mas, algo
não batia certo, eu senti-me mal, uma dor no peito como se eu
fosse ter um ataque cardíaco, porém, eu continuei a ler:
- “Eu não sou nenhum cretino, eu ajudo, mas tem vindo aqui uma
criança e é com ele que eu andei ocupado. Richie Kennedy um
miúdo tímido, que afirma ver demónios no quarto dele durante a
noite, ele começou a tremer, tremer, tremer, quase parecia que
estava a ter um ataque de epilepsia então eu tentei agarrá-lo, mas
sabem o que aconteceu: ele desligou as luzes e fez-me ver coisas
do meu passado que eu não me queria lembrar, foi aí que eu
soube que ele era especial, era uma arma, era um menino especial.
Ele tinha o poder psíquico que eu queria ter desde muito novo:
Controlo mental, oh, ele era meu, tinha de lhe extrair o poder, era
demasiado valioso para não o fazer.
Notas de borda: Ele era tão assustador, ir lá à clínica dele era um
suplicio. Submetia-me a terapias de eletrochoque cerebral muito
fortes e doía-me muito a cabeça.
Eu tinha 9 anos quando comecei a ter visões e quando comecei a
ver muito para além do que outras pessoas viam... Ele achava-me
especial e de alguma forma queria matar-me.

Capítulo IV
Vou salvar o meu confidente
Richie, Flora e a nossa mãe adotiva estavam à minha espera na
sala de estar com um grande piano de cauda decorando-a.
Quando me sentei no sofá, Richie sentou-se à minha beira:
- Tens a certeza de que queres prosseguir com esta busca? É
perigoso.
- Farei qualquer coisa pelo Finnie, apesar de ele ter mudado de
personalidade e estar diferente eu vou salvá-lo. - Ele tem de saber
que é importante para mim.
Conseguia ver a sobrancelha de Richie a erguer-se espantado:
- Mas ele disse-te adeus, e tratou-te mal, muito mal, pelo que me
contaste, tu sofreste muito por ele. - AG, acho que deverias pensar
melhor.
- Ninguém quer saber dele, tenho de ser eu, eu amo-o e sempre o
amei, se tu dizes que ele está preso no Mighty Sea, que pelo que
vi, é sangue, tenho de o trazer de volta, ele não pode ficar preso,
porque de alguma forma eu não o quero mal, a sofrer, entendes?
- Hmmm. Ele fez, tentando me entender, a verdade é que nem a
mim mesma eu me entendia, porque é que eu ia salvar quem me
insultou, me tratou mal e me faz ficar ansiosa?
- Oh, não faças esse "hmm" eu sei o que estou a fazer, confia em
mim.
- Eu confio, só não confio nele, percebes?
- Huh! Não te preocupes, ele é.… complicado.
Vendo que eu estava a tremelicar, ele lançou uma confissão:
- Eu sinceramente acho que te amo, e não sei se te vais sentir bem
com ele aqui, sabes? Eu sinto que estás ansiosa, nervosa e bem sei
que isso, menina Agnes não é uma amizade verdadeira, talvez
tenhas de pensar melhor.
Eu estava a beber leite e ao ouvir o "amo-te" cuspi-o todo:
- O quê? Tu amas-me? Só passou um dia!
Ele levantou-se e foi ao balcão da cozinha buscar um guardanapo
e deu-mo:
- Toma, limpa a tua boca. Disse-me ele e sorria-me
- É, tu tens esse efeito nas pessoas. Disse-me ele sentando-se de
novo.
- Que efeito?
- O efeito de apaixonares as pessoas com o teu carisma, astúcia,
coragem, cor e és linda, além disso és um amorzinho, quando te vi
toda desenfreada à porta, pedi logo à nossa mãe adotiva para te
deixar entrar, até porque eu sabia que eras a cura.
- A cura?
- Sim, a cura, eu sei que tu és especial, e não é só por seres ruiva e
bonita, é porque tens habilidades, habilidades que te podem levar
muito longe.
- A pirocinese, a telecinesia e a telepatia? perguntei eu,
levantando a mão direita e desenhando um coração no ar com o
fogo.
- Sim! Tu tens força para lutar contra Michel e bem, tu conhece-lo
muito bem.
- Mas ele é muito mais poderoso que eu.
- Nah! tu és o super-herói que Everything is okay está a precisar.
- Rich, achas?
-Yup, és incrível!
Após, esta conversa, fui para o quarto, sentei-me no banco à
janela e coloquei no meu vinil, a música "Stay Away" da
Genevieve Hannelius.
Quando acabou a música, decidi pegar no disco de vinil dos The
Aubreys e pus a tocar " You'll have to wait". Meu deus, a voz do
Finn Wofhard era o meu estado de espírito, até que é interessante,
o meu cantor favorito tem o nome do meu amigo, Finnie, na
verdade é estranho, mas eu gosto, até foi Finnie que me
recomendou as músicas deles, do Finn e do Malcolm.
coloquei a música de novo, e depois outra vez, nunca me cansava
de a ouvir, é tão fixe e a letra é tão incrível.
Quando a música acabou pela quarta vez, eu coloquei o vinil dos
The New Kids On the Block- No More Games, era a gravação dos
remixes e pus a tocar: "Please dont go girl".
Parte das músicas que eu ouço foi Finnie que mas recomendou,
ele toca muito bem guitarra, e eu toco piano junto dele, mas nunca
chegamos a gravar nada, só nos divertíamos na garagem dele.
Era por isso que o ia salvar, queria me divertir com ele.
Na manhã seguinte, eu saí da casa assombrada e fui à praia,
sentei-me na areia e esperei com atenção, num lapso de segundos,
a água virou sangue e eu sem pensar, mergulhei lá para dentro.
Sabia que seria complicado, senti o sangue a entrar na minha
boca, a encharcar-me o cabelo e tudo o que restava de mim.
Encontrei Finnie, preso, num navio enorme, amarrado e estava
pálido de fome, e eu a pensar que de alguma forma, ele estaria a
ignorar-me completamente.
Nadei rápido e desamarrei-o, ele não me falou, estava
inconsciente.
Quando o tirei da água ensanguentada, deitei-o na areia e tentei
acordá-lo:
- FINNIE! FINNIE, ACORDA! FINNIE! Não tive remédio senão
dar-lhe um beijo, quero dizer, respiração boca-a-boca:
- Desculpa-me. Beijei-o naqueles lábios de baunilha, e ele
acordou todo desnorteado:
- Agnes? O que fazes aqui? Pensei que não virias.
- Sim, eu também pensei isso, mas eu tive de te vir salvar, és o
meu melhor amigo.
Ele deitou-se de barriga para baixo e agarrou-me a mão e disse:
- Agnes, sei que te magoei e desculpa, foram os meus amigos que
me disseram que eras uma maluca e que não deveria estar perto
de ti, na verdade, nunca lhes devia ter dado ouvidos, peço
desculpa.
- Não faz mal, também me portei mal.
- Não tu só defendeste as pessoas, eu fui um estúpido, peço
imensa desculpa.
- Eu realmente fiquei magoadíssima, e estava deveras chateada
contigo.
Após isto, ficámos os dois a olhar para as estrelas na praia, as
pessoas já tinham ido embora.
Capítulo VI
As estrelas finalmente alinharam-se
Ao ver as estrelas, Finnie confessou-me uma coisa:
- Eu realmente não estava à espera que me viesses salvar, mas,
obrigado. Agnes, tenho estado a adiar e a adiar esta confissão,
mas a verdade é que eu sim, sofri muito quando fui traído pela
Sasha mas foste tu que ficaste do meu lado e me fizeste entender
que eu não me tinha de fechar ao amor, que podia amar outra
pessoa. É por isso, que eu quero que sejas sincera comigo, ok?
- Sim. Disse eu, pondo os meus fios ruivos para trás das orelhas.
- Tu beijaste-me, há bocado?
- Hum... Sim? Eu estava a tremer, ele abraçou-me:
- A verdade é que eu não desgostei, porque eu amo-te.
- Porquê? Sempre que tu me dizias aquelas coisas não parecia que
me amavas. Larguei-o apreensiva.
- Isso foi porque... porque, eles me obrigaram a dizer isso,
acredita-me.
- Ok, mas prometes-me que não lhes vais dar ouvidos?
- Sim, prometo, desculpa.
- Pára de pedir desculpa, jesus! Ri-me eu.
Ficámos ali deitados na areia, e adormecemos.
De manhã, uma gaivota acordou-nos com o seu pio agudo:
- Oh, francamente, o que é que tu queres?
A gaivota voltou a piar:
- O que é?
- Argh, deve-nos estar a avisar que é de manhã. Eu soltei uma
gargalhada e ele também:
- Totó, ele não é um galo.
- Pois não, mas comporta-se como um, se calhar ele acha que é,
eu quando era pequenino achava que eu era um carro, um
Lamborghini.
- O quê?! Que loucura!
- Sim, é mesmo, a minha mãe dizia-me que eu era um bebé
humano, e não um carro mas eu achava sempre que eu era um
carro.
Eu comecei a rir-me e a gaivota voltou a piar:
- Talvez, ele queira comer.
Levantei-me e fui ao caixote do lixo e encontrei um saco de
batatas fritas e atirei à gaivota para ela comer:
A gaivota bicou, e comeu:
- Meu deus, tu és mesmo a perita dos animais. Disse Finnie com
um sorriso.
- Pois sou.
Voltei a deitar-me e a gaivota piou outra vez:
- O que foi?
A gaivota queria carinho, inclinei-me e acariciei-lhe a cabeça.
- Como é que é possível ele te deixar tocar nele?
- Se calhar, ele gosta que as pessoas lhe façam miminho, tenta tu.
Finnie tentou acariciar a gaivota mas ele deu-lhe uma bicada:
- Aiiii! Esta doeu.
- Yup, ele só quer os meus miminhos.
- Nunca vi uma gaivota a querer miminhos. Disse Finnie.
Ao longe, a gaivota viu uns gatos e voou dali para fora.
- ok, acho que ele já não quer miminhos, tchau sr. gaivota!
despedi-me eu.
Quando a praia começou a ficar cheia, eu e Finnie voltamos para
a casa assombrada.
A mãe adotiva abriu-nos a porta e Richie estava a ler BD's no sofá
com o vinil da sala de estar a tocar músicas country, eram aquelas
músicas que ele gostava de ouvir para ler.
- Ahoy! Gostaria de me apresentar, chamo-me Richard Kennedy,
mais conhecido por Richie e já te conheço, tu és o Finnie, certo?
- Uhm, sim, suponho que agora vives aqui, superestrela? O meu
confidente virou-se para mim.
- Yup, é uma longa história. Disse-lhe eu, sabia que ia demorar
zilhões de anos a contar-lhe o porquê de eu ter deixado a minha
casa, então, sentámo-nos todos à mesa e como Christine tinha
feito uma chaleira cheia de chá de limão e Flora tinha preparado
uma fornada de biscoitos de alfarroba e cacau bem quentinhos,
todos nós comemos com gosto e sentámo-nos no sofá, Richie
adormeceu, agora estava a ver um western, eu e Finnie estávamos
encostados enquanto eu lhe mostrava as minhas histórias, mas
também nos começámos a sentir cansados e aninhámo-nos como
uma ninhada de cãezinhos na maternidade.
Amanhã seria o dia da batalha contra Michel!
Veremos como nos saíamos.

Capítulo VII
Finnie, Agnes e Michel Wilson
Quando era hora de jantar, eu e o Finnie descemos, quando nós
descemos as escadas, a mãe adotiva interrogou-nos como uma
doida:
- Então, vocês desceram do mesmo quarto?
- Não! Nós, não o fizemos!
- Acho bem... Finnie, senta-te ao lado do Richie e Agnes sentas-te
à beira da Flora, dessa maneira vocês não se distraem um com o
outro.
Eu resfoleguei e depois disse:
- Isso é uma parvoíce! Quero dizer, não confia em nós? Você
quase que parece uma dona de casa velha, sem ofensa, mas já
somos crescidinhos e não precisamos das suas regras antigas para
nos manterem a salvo! Aliás, o Finnie e eu hoje vamos sair,
assuntos pessoais.
Eu sentei-me, a minha cara estava vermelha de tanto protestar, as
minhas orelhas estavam escarlates e toda eu estava mais aliviada,
sentia-me bem por irmos apanhar de uma vez por todas Michel e
o irmos matar.
*
Diz-se que quando queremos ajudar alguém, nós somos
mais maduros e responsáveis, é isso que eu quero provar, provar
que não sou inútil, provar que os meus pais não têm razão, que eu
sim, sou uma pessoa que sim, tem poderes, mas que os usa com
prudência e os usa para o bem. Era o que eu e o Finnie íamos
fazer, provar principalmente a nós mesmos de que somos capazes
de fazer o que sentimos e assim, subirmos um pouco a nossa
autoestima.
Já que eu não posso ir a um psicólogo normal e Finnie também
não porque ele tem um poder psíquico que muitas das pessoas não
têm, o poder do controlo da mente como Richie, só que Finnie usa
esse poder para mostrar às pessoas as boas memórias delas e só as
boas memórias.
O meu confidente costumava dizer que o “passado nunca
desaparece, fica e temos de aprender a lidar com ele.”
A minha maneira é chorar, a vossa pode ser diferente mas eu
tenho a certeza que o passado só fica com quem o quer, quem não
o quer ultrapassar, querem ficar sempre com ele porque de
alguma maneira, encontram refúgio no passado deles, encontram
as desculpas perfeitas para os seus erros no passado deles ou
então para afirmarem alguma coisa que não está a concordar com
aquilo que dizem e assim, conseguirem o que querem, serem
apaparicados e, não ir para a nova escola porque passaram mal
quando estavam na antiga e agora que se habituaram, querem lá
ficar e nunca ir embora porque de alguma maneira, o passado
ainda lá jaz, no subconsciente dessas pessoas, reflete-se no medo
delas, e é capaz de desmoronar-nos até que eventualmente, nós
quebrámos e de vez em quando fazemos coisas inesperadas,
como, matar-nos ou pior, magoar-nos tanto que depois ficamos
incapazes de nos mover, e o que é pior, nós, com o objetivo de
nos matar podemos acabar por não morrer e a sofrer horrores.
Por isso, é que eu não quero perder o meu confidente, ele
ensinou-me tudo o que vos disse, ele é e foi o meu herói, eu era
diferente até o conhecer, pensamos da mesma forma e isso ajuda
bastante.
é por isso, nunca desistam crianças! A esperança está sempre aí
convosco, só têm de a encontrar.
Agora, de volta ao meu trabalho, como eu estava a dizer, eu e o
Finnie íamos sair às 23:30 da noite para encontrarmos Michel e
começarmos um acordo, se ele não concordasse, teria de usar os
meus poderes e acreditem, eles não iam querer ver-me usá-los,
estou a falar dos vizinhos, das pessoas insuportáveis que me
impedem a mim e ao Finnie de ensaiar às tantas da noite, vêm
reclamar, nós temos de arranjar um estúdio nosso.
É claro que a mãe adotiva não achou grande espingarda:
- Nem pensem! Sair a essas horas, e posso perguntar para quê?
- Para apanharmos Michel... pode estar descansada.
- Ah, então perceberam a minha pergunta... que fofinhos, vocês já
percebem os adultos... Mas, queridos, porque é que têm de ir para
a rua à noite, é perigoso, e mais para vocês, vocês têm poderes.
Não querem companhia? Do Richie, talvez?
- NÃO! NÃO! NEM PENSAR! gritamos os dois ao mesmo
tempo.
Richie era insuportável, não parava de falar, então, não
queríamos a sua chata companhia, bem maçadora não é bem a
palavra, irritante talvez.
Ele era fixe e tal, mas deixa-nos doidos então, deixamo-lo para
Flora, para que ela o ature.
Isto também era um ensejo, para mim e para o Finnie, vocês
sabem, para estarmos juntos, mas em missão, mais excitante
assim!
Quando o relógio de pêndulo bateu a badalada das 22 horas da
noite, eu e o meu confidente, emalamos tudo e saímos.
Íamos a conversar:
- Então, 'tás preparada para a tua primeira vez como heroína?
- Sim, meio assustada, eu acho que vai correr mal. Eu sinto-o
aqui. Eu apontei para o meu coração.
Ele parou de andar, pegou na minha mão e disse calmamente:
- Nada vai correr mal porque estás comigo, se aquele filho da mãe
te quiser matar, a única coisa que tens de fazer é confiar em mim,
ok?
Eu estava a tremer:
- Mas e se ele te mata? E se te perco? O que faço sem ti?
- Ouve, não me vais perder, se chegarmos a perder esta batalha,
sairemos os dois como sempre e estaremos os dois juntos para o
resto da vida, nunca pensei dizer isto, mas eu amo-te Agnes.
Era bom demais para ser verdade, ele dissera-o!
Eu não podia ficar mais feliz.
Era uma felicidade e tanto porque nunca me tinha sentido assim
com ninguém, eu simplesmente, apetece-me arrumar tudo e voltar
para trás.
De alguma maneira, eu tenho medo, que, esta felicidade se torne
tristeza quando dermos de caras com Michel. Eu sou cobarde, eu
sei, mas também consigo ser corajosa, só tenho medo de o perder
agora que os dois sentimos o mesmo, ia ser muito mau se eu o
perdesse. Mas temos de livrar a cidade deste mal seja hoje, ou
seja, amanhã, preciso que as pessoas se sintam seguras, preciso
que homens corruptos parem de fazer tudo porque querem poder,
essa calamidade tem e vai acabar. Eu, Agnes, ia fazer todos os
possíveis para que isso acontecesse.
- Tu tens a certeza de que estás bem? ele perguntou,
aparentemente, ele sabia que eu estava encalhada nos meus
pensamentos.
Eu parei de andar, os meus olhos estavam ensopados de lágrimas,
estava cheia de medo e até os meus braços estavam tensos, toda
eu estava nervosa:
- Não, eu não estou bem... Eu sei que já te disse isto lá atrás, mas
eu sei que algo te pode acontecer, algo letal, eu não... Eu funguei
e ele abraçou-me:
- Olha para mim...
- Não...
- Agnes, superestrela, olha para mim.
- EU VOU PERDER-TE, EU SINTO-O!
- Não, não, não, vem cá! não vais perder-me. Olha para os meus
olhos e diz-me, tenho cara de quem vá morrer?
eu ri-me e disse:
- Tonto... Como podes dizer isso?
- Ao menos tenho sentido de humor, não te preocupes, ok, não te
preocupes, acho que felizmente ou infelizmente, ainda me vais ter
de aturar durante muito tempo... Nós dois, vamos ficar juntos!
- Só me fazes rir! disse-lhe eu, eu estava decidida a entregar para
deus a ideia de o ver morrer, eu não podia vê-lo morrer. Esta
minha vida tem sido uma roda-viva desde que o vi, oh, viram? eu
acabei de dizer o que John Leb canta no I Can't Fight This
Feeling.
Estou superinspirada.
Detesto dizer isto, mas Finnie foi o meu primeiro amigo depois de
7 anos a sofrer Bullying. Eu
encontrei-o e honestamente, eu já sofri o suficiente sem o meu
confidente 5 meses.
Eu escrevo tudo aquilo que ele me diz, porque ele diz sempre as
coisas certas, dá ótimos conselhos e é um bom amigo. Quando
for enterrada, quero ser enterrada à beira dele, ele é um lindo
amigo, agora, lindo namorado que me faz feliz, mais do que fui
em toda a minha vida, quando o encontrei, as minhas dores de
coração foram-se, tudo à minha volta se tornou mais calmo, o
meu coração deixou de se sentir congelado e todas as lágrimas
que vinham eram substituídas por gargalhadas, e eu não quero que
essas gargalhadas se vão embora, elas são genuínas, a única altura
em que eu me sinto uma menina original e não uma imitação
barata das outras gajas é quando estou com Finnie, ele faz-me
sentir que sou algo mais do que uma miúda histérica, dramática,
porque é o que eu sou. Ele faz-me sentir que de alguma maneira
ainda há esperança nestas nuvens cinzentas e que eu posso voar.
Naturalmente, eu sei, que algum dia vou perdê-lo, mas por favor,
Deus, não o leve esta noite, é só o que eu peço, se eu tenho de
jurar ficar com ele, eu juro!
Do nada, eu parei de andar pela décima quarta vez e agarrei numa
rocha pontiaguda e cortei a minha mão, Finnie assustou-se:
- Agnes! O que fazes?
Eu sorria-lhe e disse:
- Agora que já jurei, podes estar descansado, terás de aturar as
minhas histerias por muito tempo.
- Mas porque é que fizeste isso?
- Tinha de jurar com o meu próprio sangue, assim, Deus ouve-me.
- Quem te disse isso?
- O Richie... praticamente, ele disse que eu tinha de me sacrificar
para um livro se abrir... e também me disse que se eu jurar com
sangue, talvez, Deus me ouça e até faz sentido, porque assim ele
sabe que tu, juras, neste caso, que ficas comigo.
-Claro que tinha de ser esse fala-barato, Agnes, não podes fazer
isso, magoas-te assim.
Capítulo VII

A batalha
Quando chegamos à clínica de Michel, ele estava no seu gabinete
e eu abri a porta magicamente com a minha telecinesia e ele
assustou-se e deu um pulo:
- Quem é?
- Eu. disse eu estoicamente.
Ele virou-se, encarou-nos a mim e ao Finnie e disse com um
sorriso maquiavélico:
- Cá estão eles.... Olá, queridos, tenho, novidades para vocês...
quem é que quer morrer primeiro?
- Nós não! Quem vai morrer és tu. -
Sem ofensa, na verdade, quero mostrar-te um acordo.
- Olha, eu não tenho pressa, mas, se querem mostrar isso, têm de
se despachar porque estou prestes a matar-vos!
- Oh, não! Não temos medo de ti, já não! O acordo é o seguinte:
“Vais deixar todas as pessoas em paz e vais parar com a tua
estupidez de matar pessoas para obter poder, se não o fizeres,
ardes vivo!”
- Ah! Então queres matar-me com os teus poderes? A minha filha
não te tinha dito?
- Dito o quê? perguntei eu com um olhar ameaçador.
- Que não podes. Não podes matar pessoas com esse teu poder,
desculpa Agnes, mas quem pode usar todos os poderes sou eu!
- Peço imensa desculpa... Mas não mandas em mim, não sou
animal de ninguém, nem tenho trela, portanto, não mandas em
mim!
- Ela tem razão! Você não manda em ninguém seu sanguessuga!
- Finnie. Olha que bela surpresa, deste-te bem com aquele mar?
- Chega de conversar. -Vamos tratar disso.
- Oh, a mim não me parece! Vocês devem achar-se muito
espertos, mas essa esperteza está prestes a terminar! Num lapso de
segundos, ele transformou-se numa ratazana assassina gigantesca
com dentes a sair das orelhas, olhos sangrentos, dentes muito
afiados quase parecia um tigre dente-de-sabre. Eu e o Finnie
recuamos a medo e começamos a correr:
- O que era aquela coisa!
- Eu não sei, parecia-me uma ratazana mortífera, temos de fugir,
anda! Ele agarrou-me na mão direita e nós fugimos dali para fora.
Michel vinha a correr atrás de nós:
- Ah, têm medo? deviam ter previsto isto no vosso plano...
covardes!
Eu parei de correr e encarei-o com os meus cabelos ruivos a
esvoaçar como fogo, as minhas mãos estavam fechadas, tinha os
punhos cerrados e olhava para ele com completo desdém:
- Queres lutar? Bom, vamos ver quem é que ganha!
- Tu queres brincar? Gostas de palhaços?
- Quais palhaços? Eu já não me lembrava disso.
- Os que te vão comer!
- Não, de todo!
- De certeza Agnes? Tens a certeza de que eu não te vou comer?
- Eu sei, eu sei que me estás a tentar assustar, mas já não me
assustas mais! Eu provoquei um pequeno incêndio à volta dele e
gritava:
- JÁ GANHEI ESTA BATALHA! SE CONCORDARES,
POSSO PARAR ESTAS CHAMAS, MAS SE NÃO
CONCORDARES POSSO MULTIPLICÁ-LO, TU DECIDES!
JÁ ESTOU A FICAR SEM PACIÊNCIA, CONCORDAS OU
NÃO?
- Tu deves achar que umas chaminhas me assustam, não, isso é
para fracos. Agnes, eu tentei ajudar-te, tentei que te juntasses a
mim, mas tu, preferiste ficar com os falhados daquela casa
assombrada, como é que está o Richie? Falador, irritante na
mesma? Agnes, tu sabes muito bem que eu te estive a observar
desde que tu nasceste e se pensaste que ires para aquela casa te
salvou, estás enganada porque eu estive a observar-te como um
monstro, soube da tua tentativa de suicídio, se quiseres posso
matar-te... sem piedade!
Achavas que podias escapar às minhas mãos ou melhor,
mandíbulas? Ai, Agnes, eu sei muito bem que tu não és esperta,
és burra, e não passas de um verme para esta humanidade, sabes
bem que nada do que fizeres te vai subir a tua pouca autoestima,
sabes que nada do que tentares fazer, inclusive matares-me te vai
dar uma vida mais feliz, serás sempre quem tu és: Uma tonta, que
acha que poderá um dia vir a ser reconhecida, pelos seus livros,
pelas suas canções e nada, nada vai mudar, tu sabes bem disso
Agnes mas queres tentar esquecer porque te magoa. E ao matares-
me tu achas que vais deixar de te sentir magoada, desprovida,
parva, burra, tudo aquilo que fizeres Agnes vai-te deixar ainda
mais magoada, porque tu escolheste a escuridão, não importa o
que tu digas, o que faças serás sempre, sempre uma pessoa sem
futuro, sem nada!
Eu fiquei estranha por uns momentos e ele encarou-me com a sua
cara amedrontadora e cheia de ódio enquanto ia dizendo:
-Tenho andado ocupado, tão ocupado com coisas para o futuro, e
vocês serão os meus alvos, posso sugar-vos o vosso poder?
- Não me parece! Finnie agora! toda a clínica dele ardeu, ele
inclusive. Matamo-lo! tudo correu bem! Yeah!!!!!
Eu e o Finnie estávamos radiantes, super felizes. Quando
voltamos à casa assombrada, estavam todos à nossa espera:
- Então, vocês mataram o velho estúpido? perguntou Richie que
acabara de comer um gelado de chocolate e estava sujo na boca, o
que me fez rir.
Nós rimo-nos e perguntamos:
- Como é que tu conseguiste fazer essa proeza?
- Este tontinho só faz asneiras, hahaha. Riu-se Flora e abraçou-
me.
-Ahh... Bom sim matámo-lo! mas não foi fácil, pensávamos que
íamos morrer, mas, conseguimos!
- Vocês foram excecionais! disse Christine que também se estava
a rir.
- Ei, nós fizemos comida a mais, querem comer? devem estar
esfomeados! Perguntou Richie limpando-se
- Eu até que comia alguma coisinha! o que achas, Finnie?
- Acho uma ótima ideia! disse ele.
O que será que irá acontecer à cidade agora que nos livramos do
mal? Fiquem aí a ler, vai ser uma aventura...

Capítulo IX

A Celebração e a ascensão de Michel e a dimensão A

Fomos celebrar, mas havia algo que não estava bem, sentia uma
sensação no meu peito, Michel ainda andava por aqui, só não
sabia era como: nós matámo-lo, como é que ele andava por aí?
Mas eu ignorei e continuei a comer e a celebrar, ainda era cedo
demais. Quando estava no meu quarto, eu estava a ouvir " So
long" de Maya Hawke e do nada o meu rádio começou a distorcer
e eu tive uma visão: Michel estava mais vivo que nunca, e
planeava algo horrível:
-Muito bem, vocês bichinhos fofos, vão fazer aquilo que eu
disser, vão se infiltrar naquela casa assombrada da rua Wise
Children Street e vão me dizer tudo o que por lá se passa,
perceberam?
- Sim, mestre!
- Muito bem. Parecem mais eficientes do que todos os meus
lacaios sobrenaturais.
Aqueles animaizinhos pareciam peluches, só que vivos, eram
bichinhos muito fofos, tinham pelo rosa, alguns até eram da cor
do arco-íris. Eu achei aquilo fascinante, será que Michel tinha
entrado na dimensão A?
Para quem não sabe, a dimensão A é uma dimensão paralela onde
ele já me levou nos meus sonhos, era um mundo incrível, porém
continha uma grande sombra a norte e eu vi-a. A dimensão em si,
era maravilhosa, mas dava-me sempre arrepios. Se vamos lutar
nesse mundo, tenho de me preparar!
Quando eu estava a tomar banho, ouvi sussurros:
- Agnes... Agnes, vem cá! temos as respostas.
- Respostas para quê? perguntei eu enxugando o meu cabelo.
- Para ti. para ti, minha querida Agnes!
- Mãe?
- Sim, sou eu! Não tinhas saudades minhas?
Porém, o sussurro desapareceu.
Eu sequei-me, penteei-me e sai e dei de caras com Richie e com
Finnie:
- Que susto amor!
- Agnes... temos de te dizer uma coisa.
Fomos os três para o quarto de Finnie sem que Christine
soubesse, ela tinha ido ao supermercado comprar mais coisas para
cozinhar e arrumar a casa.
- O que me querias dizer? perguntei eu com as sobrancelhas
arqueadas.
- Vês isto?
- Sim, é a tua guitarra, o que é que isso tem?
- Eu sei que esta não é a minha guitarra... vê isto!
Ele tirou da guitarra uma chave, eu peguei na chave e ela
começou a cantar:
- Agnes, minha querida, o doutor Michel está aqui, o doutor
Michel está aqui! ele vai sugar-te o teu poder. A chave riu-se e
prosseguiu:
- Uh, uh,uh tudo isto vai ser destruído, tu, vais morrer, diz ao
palhacinho falante o que te disse, ele é teu médico, Agnes, Finnie
e oh meu deus, Richie! como é que estás? Salvei-te a tua alma!
quem foi teu amigo Richie?
Nós três estremecemos e eu gritei:
- Finnie, atira essa maldita chave pela janela, não a quero aqui a
atormentar-te!
- Mas Agnes, isto pode ser a nossa arma.
- Não me ouviste? Acabamos de ouvir Michel, ele está aí nessa
chave, livra-te dela!
- Agnes por favor, podemos pensar melhor?
- Dá cá isso!
Eu pulei para cima dele, tirei-lhe a chave e atirei-a pela janela:
- AGNES, O QUE É QUE FAZES NO QUARTO DO FINNIE?
Christine tinha chegado, eu sorri:
- Nada, estávamos a.… decidir o que fazer.
- Com o quê?
- Ok, Michel afinal está vivo e já está a planear coisas, temos de
agir antes que seja demasiado tarde!
- Querida, mesmo assim, não te quero no quarto dos rapazes...
Richie arruma a tua cómoda e por amor de deus, já viste o teu
armário? Está muito desarrumado!
- Mas mãe adotiva... - Não quero desculpas, Richie, vais arrumar
a tua parte do quarto! -
Finnie virou-se para mim e sussurrou:
- Ainda bem que ela não viu a minha cama!
Mas ele falou cedo demais:
- Finnie, tu, faz a tua cama, vou voltar daqui a meia hora e se este
quarto não estiver arrumado como deve ser, ficam os restos dos
dias a arrumar tudo! Perceberam?
Ninguém disse nada:
- Perguntei se vocês entenderam!
- Sim, mãe adotiva... Richie, Agnes, ajudam-me?
Porém, Christine pareceu ouvir uma coisa que não lhe agradou:
- O que é que eu ouvi?
- Hum... Nada!
- Ouvi que a Agnes vai ficar aqui? Não nem pensar, Agnes vai
ajudar a Flora a fazer a sobremesa! E vocês, rapazes, arrumem
este pandemónio! vamos, vamos, vamos!
Finnie segredou-me:
- Eu disse que isto não ia ser fácil. Eu ri-me, mas depois, a mãe
adotiva empurrou-me para fora do quarto.
- Boa sorte! ah! Eu já sei, já vou! Christine estava doida, ela
queria mesmo que eu saísse do quarto deles. Adiante, eu acho que
maneira dela lidar com isto tudo das relações é meio exagerada,
mas alguém tem de controlar-nos.
Fui para a cozinha e Flora estava a fazer uns brownies de
chocolate e eu tentei pôr lá a mão para tirar um, mas ela deu-me
uma palmada e disse:
- Não, são para o almoço!
- Mas eu só queria tirar um! Tu fizeste para aí uns 40!
Ela olhou-me e disse.
- Primeiro, a tua matemática está errada, são 15 não 40, eu acho
que fizeste uma hipérbole. Eu olhei-a muito confusa, não sabia o
que era aquilo:
- O que é isso?
- Hipérbole, um recurso expressivo que usamos para dramatizar e
exagerar coisas que na verdade são mínimas e tu, acabaste de
fazer uma!
- Mas, como é que eu usei uma hi-p-é-r-b-o-l-a se nem sequer sei
o que é?
- Não é hipérbola é hipérbole, sim, não sabes o que é, mas isso
acontece! Agora, vamos ao trabalho... pega nesta massa para
queques e começa a trabalhar.
- Ok! Tenho uma pergunta para te fazer. Posso?
- Claro, desde que não me distraias, estou aqui a cortar legumes
para pôr na sopa, mas diz.
- Bem, o Richie sempre foi assim tão desarrumado?
- Como assim?
- Bem, ele tem a sua parte do quarto toda desarrumada. Queria
saber se ele está bem.
- Agnes, ele está bem, ele é só desajeitado e desarrumado, por
aquilo que sei, ele está bem. Passa-me aí as cenouras, por favor.
- Tu estás sempre a trabalhar, é impressionante!
- Pois, bem, alguém tem de trabalhar para sustentar a família... E
tu, também vais começar a trabalhar amanhã! Ela tocou-me no
meu nariz sardento e sorriu-me.
- E o que é que eu vou fazer? perguntei eu a ela.
- Bem, já o estás a fazer, vais ajudar-me na cozinha enquanto os
rapazes arrumam o quarto porque a mãe adotiva disse-me que o
quarto deles está muito desarrumado, pensando bem, está quase
na hora do almoço, a mãe adotiva disse que se eles não acabarem
de arrumar o quarto até ao almoço, eles estão fritos, o que quer
dizer que, eles vão ficar a arrumar a casa toda e a casa é enorme,
eles estarão mesmo fritos, cozidos e assados, vamos ver como é
que eles se dão com isto tudo!
- E tu achas que o Finnie vai ter de arrumar a casa toda? perguntei
eu com um pouco de compaixão por Finnie.
- Eu não acho, eu sei! Mas não te preocupes, vais ter tempo de
sobra para estares com ele, não é pelo trabalho que o vosso amor
vai acabar.
- Tu achas?
Sim, mas aconselho-te vivamente a teres cuidado enquanto me
estás a ajudar.
- Porquê? Perguntei eu preocupada.
- Bem, tem vindo aqui um gatão enorme e tem-nos roubado
comida, não sei, fica de olho na comida.- Tem atenção!
- Ok, vou prestar atenção.
- Acho bem.... Olha, é quase meio-dia, os rapazes estão
encrencados! Riu-se, eu ri-me também.
- Aiiii!
- O que foi, cortaste-te? Perguntei-lhe eu preocupada.
- Sim, mas não foi nada... volta a trabalhar, eu já venho!
Mas, enquanto eu estava a pôr os queques nas forminhas eu ouvi
uma voz:
- Agnes... vem ter comigo!
Eu segui a voz e dei de caras com um gato preto, parecia Pluto, o
gato da personagem de Edgar Allan Poe, tinha também uma foice
branca no peito, era um pouco assustador. Eu aproximei-me mas
ele fugiu, então tive que ir lá fora e desapareci por umas breve
horas.
*

Capítulo X
Todas as coisas que são impossíveis de explicar

Eu gostava de vos dizer que eu hoje, especialmente hoje me sinto


incompleta, triste. Mas, vocês já sabem disso, mas, isto é
complicado para mim de repente, ter um cretino maluco à solta é
muito desconcertante e deixa-me ansiosa como quando um
adolescente vai para a sua nova escola pela primeira vez e tem o
pressentimento que tudo vai ficar fodido, desculpem a linguagem,
mas é verdade.
Quando acordei no dia seguinte senti a mesma coisa só que ao
invés de querer matar eu queria sair dali, de uma estúpida
maneira, eu já não me sentia bem lá... Sentia-me mal, ali queria
dizer que iria lutar contra Michel e ele estragou a minha
autoestima ao dizer-me todas aquelas coisas sobre mim que
honestamente, eu até que creio nelas mas toda a gente me diz que
não sou assim então, sinto-me perdida!
Era uma coisa que eu gostava de saber, o meu subconsciente diz-
me o que Michel diz, que sou apenas um verme para a
humanidade, que vou ser sempre uma estúpida que espera ser
reconhecida pelos livros dela, as suas músicas e nada acontecerá.
Sinto-me estupidamente mal como se tudo à minha volta já não
importasse, eu já não sou quem era mais, tudo é difícil e é para
toda a gente, mas para mim, tudo é triplamente difícil! Parece que
me estou a fazer de vítima, mas eu sou a vítima, nesta história
toda eu sou a vítima mas, claro, ninguém se importa, importam-se
com Michel que vai destruir tudo e todos mas não veem o que eu
estou a passar. Finnie parece mais distante, Richie ainda vai
falando comigo, mas ele não é meu namorado, Finnie é que é,
provavelmente ele deixou de amar-me e é isso que eu tenho
medo, que ele me deixe, não posso com esse sonho, penso sempre
que o Finnie me vai deixar porque de alguma forma eu sou
insegura, eu acho que deveria dizer-lhe o que estou a sentir, foi o
que ele me disse para fazer.
Vi, Finnie a acalmar Flora e ela estava encostada ao ombro dele,
eu não podia acreditar no que os meus olhos viam. Ele gosta dela?
Saí de lá num pranto e fui ter com Richie, quando ele me viu, ele
abraçou-me:
- Ei, Agnes, o que se passou? Ei, não chores.
- Eu não quero que o Finnie me deixe! Eu não posso mais!
- Não te preocupes, ele não te vai deixar sozinha, eu prometo.
- Mas ele estava com Flora, ela estava encostada ao ombro dele a
chorar como eu estou abraçada a ti.
- O que disseste? Ele está com quem?
- Com Flora! Oh não, Richie aonde vais? RICHIE!
- Ninguém me vai trair, fica aqui.
- Não, eu vou contigo!
- EU DISSE FICA AQUI!
Eu não tive remédio se não ficar ali, mas tive de o impedir:
- Com que então, estás com a minha namorada?
- Richie não é o que tu pensas meu!
- Oh é sim! Larga a minha namorada!
- Ok, ok, ok! Já larguei... Richie, a Flora anda muito
sobrecarregada e eu só a queria acalmar.
Aquilo era demais para mim, assim que o ouvi dizer aquilo bati-
lhe:
- Para! O que te está a dar?!
- Estou chateada e triste, porque eu amo-te e tu já não gostas de
mim!
- Eu também te amo, mas também tenho de ajudar outras pessoas,
não posso estar sempre pendente de ti!
- Porquê?! Eu estou sempre contigo! Porque é que me fazes isto!
PORQUÊ!?
- Não o faço por mal, mas tens de entender, a Flora estava mal
tipo, muito mal!
Eu achava que por ter estragado as coisas, ele já não queria saber
de mim. Por ser demasiado paranoica e anormal.
*
Quando Finnie desapareceu, eu fui obrigada a ir à escola durante
umas semanas e tinha um amigo que me parecia compreender
mas do nada, ele deixou de me falar e eu também não o podia
chatear pelo walkie-talkie ou pela cabine telefónica, tornava-me
invasiva e não queria nada que ele achasse que eu era uma tola à
procura de consolo.
*
Mas, tento lidar com isso, deve ser por isso que Finnie já não me
quer, porque sou diferente, maluca, demente ou parva, eu não sei
o que ele acha, eu só quero que ele me ame, eu não estou a ficar
melhor, pelo contrário, estou a ficar depressiva, vejo coisas que
não é suposto ver, eu sou Agnes, uma menina, bonita, com olhos
de boneca, ruiva como Ginny, deveria ser muito melhor do que
isto que sou, não concordam?
Eu acho que me contaram mentiras quando eu era pequena, mas,
agora aquela casa era minha.
Bem, eu queria que assim fosse, mas, nunca aconteceu.
Finnie estava sempre trancado no quarto, Richie idem e Flora
estava sempre a soluçar à porta de Richie nas noites frias, e
segredava: Posso entrar? Por favor?!
Eu ouvi-a a falar durante as minhas tentativas para adormecer, às
vezes eu até jurava que Michel a tinha apanhado e a tinha levado
consigo. À noite, Richie e Finnie gostavam muito de jogar
verdade ou consequência e Flora e eu costumávamos ficar à
escuta atrás da porta do quarto deles, mas nessa noite, eles
ficaram cada um na sua cama e novamente eu ouvia Flora a tentar
entrar:
- Richie! por favor abre a porta! RICHIE! NÃO! RICHIE!
Eu saí do meu quarto e dei de caras com Flora desmaiada no
chão:
- Oh, meu deus! Flora, consegues ouvir-me!? Richie! RICHIE!
FINNIE! VENHAM AQUI RÁPIDO!
Richie e Finnie abriram a porta e deram um grito.
- FLORA! EU DISSE-TE! ELA NÃO ESTÁ BEM! EU NÃO
ESTAVA A BRINCAR. Eu preparava-me para abrir a boca, mas
ele calou-me:
- E NÃO ME VENHAS COM ISSO DO "EU TAMBÉM", OK?
ISSO COMIGO NÃO FUNCIONA!
- EU NÃO SABIA! PODIAS TER-ME EXPLICADO! ESTÁ
TUDO ARRUINADO!!!! FINNIE, EU VOU SAIR DAQUI
XAU!
Porém, ele agarrou-me e gritou:
- TU VAIS AFOGAR-TE, VAIS MORRER! VAIS MORRER,
COMO ELE TE DISSE, COMO EU TE DISSE, COMO TODA
A GENTE TE DISSE! Mas nada era como eu estava a ver e a
ouvir, ele estava a olhar para mim, só isso:
- AGNES... ESTÁS BEM? AGNES.... Caramba!
Richie viu-me a levitar e perguntou:
- O que raio estou eu a ver? Finnie, tira-a do ar!
- Mas... não consigo!
- TIRA-A DA PORRA DO AR! AGORA! EU JÁ VI ISSO, NÃO
É SEGURO! TIRA-A DO AR! FINNIE, OUVE, ELA VAI
FICAR DOENTE SE NÃO A TIRARES DO AR! PORRA,
TIRA-A DO AR!
- Ok...
Ele trouxe-me outra vez ao chão e eu estava mesmo mal:
- Agnes! Consegues ouvir? caramba, Agnes! Richie tentou
acordar-me.
- Sai daí! Disse Finnie a Richie.
- Agnes... eu amo-te! - Agnes... eu amo-te! Eu... desculpa por não
te ter ouvido. Ele beijou-me e eu saí de transe e estava tão
assustada:
- Hey, está tudo bem... já acabou! 'Tou aqui! E vou estar sempre.
- NÃO! A TUA EXPRESSÃO HÁ BOCADO DISSE-ME O
CONTRÁRIO!
- Eu não quero que penses que estou com medo de ti... porque não
estou... Já sei que é ele a fazer-te isto... Agnes, odeio dizer-te isto,
mas tens de me mostrar aonde é que é a Dimensão A! A mim e ao
Richie! Nós vamos ajudar-te!
Eu já não sabia do que é que estavam a falar. Ouvimos um bater
de portas e soubemos que Christine tinha chegado.
Mas ela apanhou-nos todos juntos no meu quarto:
- AGNES!!!!! O QUE É QUE ESTÃO O RICHIE E O FINNIE A
FAZER EM CIMA DA TUA CAMA!
Eu levantei-me e a luz do meu quarto refletiu-se no meu cabelo, o
que fez Finnie dar-me um abraçinho. Christine passou-se:
- SAIAM DAQUI OS DOIS! E AGNES, DORME!
Porém, eu quis brincar com ela.
- Eu só conseguirei dormir se o Finnie estiver comigo, é que, mãe
adotiva, o Michel atormenta-me durante a noite e uma vez eu fui
parar à cozinha com a sensação dos pulsos cortados, ele faz-me
ver coisas que não quero e isso assusta-me! Por favor, deixe o
Finnie dormir aqui.
-Está bem.
-VIVA!
Com a vitória garantida, eu e o Finnie mandamos Richie lá para
fora e ficamos a conversar até adormecermos...
Será que vai acontecer alguma coisa no dia seguinte? Fiquem aí a
ler, vai ser um espanto!

Capítulo XI
Richie, Finnie, Eu,Flora e Allancat

Quando a noite se espalhou pelo meu quarto, nós dois sentimos


um arrepio de frio e tapámo-nos com o edredão e assim,
aquecemo-nos.
Finnie e eu conversávamos:
- Superestrela, tenho uma dúvida para tirar contigo.
- Qual? Disse eu deitando-me no peito dele, estava quente, era a
parte mais quentinha do corpo dele.
- Porque é que arriscaste a tua vida para me salvares depois de eu
te ter dito aquelas coisas horríveis? Quero dizer, não tinhas
porque o fazer.
Eu encostei-me na cama e ele fez o mesmo, ficámos com os
rostos muito perto um do outro:
- Eu já te disse: é porque eu te amo, és a única pessoa em quem eu
posso confiar e contar tudo o que sinto, mesmo que tenhas dito
tudo o que eu não queria ouvir. – És o meu herói, és a chuva que
rega as sementes que brotam do meu coração, és a calma que me
enche de doçura, és tudo o que eu vejo, sinto, ouço, és a história
do meu coração, entendes agora?
Ele estava a chorar, eu nunca o tinha visto assim:
- Ei... Ei, está tudo bem, eu só disse a verdade. Disse eu,
limpando-lhe as lágrimas com a manga da minha camisola.
- Pois, é isso que me faz chorar, eu te ter magoado sem saber, ter-
te deixado sozinha quase um ano... nunca me vou perdoar.
- Shsh, não tens culpa... Foram eles, eu sei que tu estás magoado
também, queres falar?
- Pode ser. - Agnes, eu fui manipulado contra ti e fiz-te sofrer este
tempo todo, eu fui uma merda, peço imensa desculpa.
- Não estou triste, só quero que saibas que estou aqui, ok?
- Sim, obrigado amor, desculpa mais uma vez.
De repente, aparece um gato, grande, preto e gordo e senta-se na
minha cama:
- Ora, ora, quem é que temos aqui?
- ups, olá Allancat, ‘tá tudo?
- Comigo está e convosco? Disse o gato exibindo os seus dentes
brancos. – Já vi que estão numa conversa importante mas, eu
venho aqui avisar-vos que amanhã começámos a praticar.
- Praticar para quê? Perguntou o meu confidente impressionado.
- Para vencerem o meu querido, diabólico irmão, a não ser que
achem que é facílimo vencê-lo... Disse o gato, ergueu a cauda
preta no ar e abriu a minha janela com a sua telecinesia e saltou lá
para fora:
- Tem cuidado!
- Oh eu tenho, adeus, até amanhã.
Finnie e eu deitámo-nos e ele disse:
- Isto é que foi estranho... quem é ele Agnes?
- Ele chama-se Edgar Allancat, é o irmão de Michel, é um
metamorfo...
- Quer dizer que se pode transformar?
- Yup, ele é um ser humano, mas está aqui transformado em gato
por causa de Michel, que segundo ele o pode rastrear.
- Ok, vamos dormir, já foi demasiada aventura por hoje.
- Concordo. Aninhei-me em Finnie e adormecemos.

Capítulo XI
Allancat, Finnie, Eu, Richie começámos a praticar
De manhã, Allancat saltou pela minha janela e chamou por nós
com um “miau” agudo.
Acordámos, vestimo-nos e fomos acordar Richie.
Quando entrámos no quarto de Richie e de Finnie, vi a cama de
Finnie desfeita e Richie a dormir, estava a roncar e estava
completamente nu:
- EI! OH RICH! RICH! Chamou-o Finnie
- O que é? Nossa senhora, eu estava a dormir. Reclamou ele.
- Acabou-se a soneca, meu amiguinho, chop-chop, acorda!
Disse Allancat com as patas no ar.
- Quem é essa bola de pelo, Agnes?
- Eu não sou uma bola de pelo, sou o teu professor.
- Ah... Já sei, vens-nos ajudar a praticar?
- Como é que ele sabe isso? Perguntou Allancat.
- Ele tem uma certa vidência. Expliquei eu.
- Ahh, ok. Então despacha-te.
Nós três descemos e Allancat foi em direção à cozinha e
apontou com a cauda preta para um pacote de leite e disse:
- Agnes, vai buscar-me uma malga, por favor.
Eu olhei-o incrédula afinal, ele era um humano, ele sabia mesmo
o que estava a fazer, assim, era burro da parte dele, não se mostrar
um gatinho inocente até porque a mãe adotiva poderia vir e depois
nós teríamos de explicar-lhe e isso não era muito bom porque
Michel iria localizar a nossa casa. Finnie e Richie estavam no
jardim, era a minha vez de praticar e aprimorar as minhas
habilidades para vencer esta luta! Devo dizer que estou muito
nervosa e um pouco hesitante, eu amo tanto Finnie e Richie, tenho
muito medo de os perder na batalha. Eu estava a pensar em
formar uma família com o Finnie e se ele morrer, o meu sonho de
ser feliz com ele vai por água abaixo. Sempre que ele me olha
com os seus olhos castanhos da cor da paz, eu caio por ele, 0s
seus beijos são meu amparo, os seus cachos encaracolados são a
minha guia numa noite fria e escura de inverno. Era tudo tão lindo
se Michel não existisse, mas infelizmente, ele existe, e vamos ter
de lutar para vencer esta batalha. O que temos a nosso favor é que
nós temos poderes, logo, é muito mais garantido o sucesso se nos
prepararmos bem. Allancat é uma grande pessoa ou gato é ambos
pessoal! Ele ajudou-me a controlar e a direcionar as minhas
chamas, não foi nada fácil porque sempre que me enganava, o
meu cérebro começava a doer gravemente, portanto, tivemos de ir
mais devagar para eu conseguir aos poucos. Eu gostava muito de
ter tudo feito sem trabalho, mas infelizmente, o mundo não é
assim, tudo se consegue com trabalho e dedicação e com
perseverança. Adoraria saber como se faz isso, se vocês souberem
digam-me! Ok, ok, ok, estava a brincar, de volta ao trabalho.
Como eu estava a dizer, eu sou uma pessoa muito ansiosa e
desesperada por ter as coisas feitas e por isso, não sei se vou
conseguir vencer esta batalha, mas Finnie, Allancat e Richie vão
lá estar, então conto com eles!
Às 18:30h, Allancat esperava-nos em cima da minha cama
avermelhada e claro, em forma de gato, estava a aguçar as unhas
quando nós entrámos:
- Oh, até que enfim vocês chegaram, estou aqui há mais de um
século! – Prepara-te Finnie, vamos voltar a testar as tuas aptidões
e depois iniciaremos o estudo de um novo poder: a transformação,
verás que eu sou um gato, certo?
- Sim. Quer dizer que me vou poder transformar no que eu quiser?
Fixe!
Allancat miou:
- Sim, sim, sim, mas tens de pôr trabalho nisso, agora vamos
tentar outra vez com o nosso amigo palhaço Coolie! Será que
consegues arranjar uma maneira de ele presenciar as suas
memórias traumáticas?
Finnie olhou-o com ar de súplica:
- Acho que sim... Mas não me assustes por favor... Ok? Mas logo
a seguir Allancat virou um palhaço e este cumprimentou-o com a
sua vozinha irritante:
- Olá Finnie!!!! O palhaço sorriu, com a maquilhagem assustadora
e com a boca a jorrar sangue dos lados. Finnie usou todas as suas
forças para entrar na mente do palhaço.
Mas ele parou porque já estava a ficar cansado, Allancat gritou:
- Finnie! concentra-te porra! Não o deixes entrar na tua mente e
avariar-te os pensamentos... Não podes baixar a tua guarda!
CONCENTRA-TE!
O palhaço sorriu:
- Finnie, queres um abraçinho do Coolie?
- ALLANCAT, PODES PARAR? Gritou Finnie. - POR FAVOR
PODES PARAR?!
- NÃO!!!! Mantém-te aí e não saias... Agnes, vai-me buscar a
água do Finnie para ele se recompor e despacha-te!
- Allancat, isto... o palhaço vem comer-me! Eu quero sair! deixa-
me!
- Não, Finnie tu sabes o que tens de fazer, fá-lo! FÁ-LO! Fá-lo
ver as as memórias dele!
- AU! Allan! Deixa-me sair! por favor... não posso mais!
- Finnie, tu sabes que estás aqui connosco, tira a venda!
Ele tirou a venda, mas viu-se num sítio completamente diferente,
viu que não estava eu nem Richie nem a porcaria do palhaço,
estava sozinho:
- Onde estão pessoal! pessoal! PESSOAL! Pessoal, isto não tem
piada. APAREÇAM, CARALHO!
Michel ecoou e vinha em forma de palhacinho amigável:
- Nada é divertido para ti, não é Finnie? E que tal comermos uma
caçarola os dois? Já seria divertido?
- Tu não és real. Não podes ser real!
- Sou tão real quanto o meu irmãozinho ingénuo, o que é que
vocês estão a treinar, posso saber?
- Não! Não podes saber nadinha!

Finnie recuou quando Michel se aproximou. Ele, tentou chamar por


mim, mas, como sempre não obteve resposta. Eu estava no mundo real,
Finnie estava na dimensão A e tentou escapar por um portal que o
levou de novo à horrível casa-cogumelo de Michel e gritou:
- AGNES! ALLAN, ONDE ESTÃO?! EU PRECISO DE VOCÊS!
TIREM-ME DAQUI!
Entretanto, no mundo real, eu, Allancat e Richie estávamos
desesperados:
- Onde é que ele está? para onde é que ele foi?
Michel ecoou de novo e entrou na sala de estar com os dentes do
palhaço muito afiados, possivelmente para comer Finnie mas quando
puxou uma cadeira para comer disse:
- Não tenhas medo de mim, Finnie! Nada te acontecerá se me disseres
o que estão a planear.... Vais dizer?
- Não!!!!

Quando Finnie voltou ao mundo real eu agarrei nele e chorei com


ele:
- Está tudo bem! Estou aqui. Não chores. ele não te atormentará
mais!
- Agnes... Ele é muito assustador... ele tentou tirar-me
informações dos treinos, de tudo o que estávamos a fazer! Por
favor podemos ir com o Richie e divertirmo-nos?
- Claro que sim, precisas de descansar. Olhei para Allancat e ele
assentiu com a cabeça felpuda.
- Acho que vocês podem ir, vou deixar-vos descansar, foi um
grande dia, aliás descansam dois dias e logo depois voltamos aos
treinos, tenho de fazer umas coisinhas.
- A SÉRIO? QUE BOM! VAMOS AGNES, DIVERSÃO CÁ
VAMOS NÓS!
Vê-lo assim tão vivaço fez-me perceber que estávamos tão presos
na batalha de Michel que nos esquecemos de pensar em nós e de
nos divertirmos. Vi o olhar nos olhos dele, ele estava assustado,
quebrado, muito desconcertado, vai fazer-lhe bem divertir-se um
pouco. Espero bem que Michel não lhe faça nada, ele é a única
coisa que eu tenho, pode parecer lamechas, mas eu já tenho 19
anos e sei que a uma certa idade, o amor torna-se ardente, como
fogo, uma sensação mais além do que sentíamos quando ainda
tínhamos 13 anos ou mais velhos um bocadinho. Sabem, tudo é
difícil neste mundo, o amor, a vida, conseguir o que queremos, e
por muito esforço que façamos às vezes parece que não chegamos
lá e isso faz com que deixemos de tentar, foi o que Finnie fez e
estava errado, por muito que o assuste, ele tem de tentar, tentar e
tentar até conseguir, isto pode parecer muito mandão da minha
parte mas vocês conhecem-me, não conhecem? Sabem que não
me dou por vencida e mesmo que quisesse desistir não podia,
porque o meu ego não me deixaria e eu não posso desistir, estou
aqui por uma razão, tenho de a encontrar e se não fizer as coisas
que me fazem ficar orgulhosa de mim como é que eu a vou
encontrar, é preciso trabalhar muito! Eu quero que o Finnie se
sinta seguro quando usar os poderes dele, mas também quero que
ele não desista. Será muito mais difícil amanhã, depois de amanhã
e se ele continuar a adiar vai ser pior, só quero que ele seja feliz,
ele faz-me feliz. Crianças, posso dar-vos um conselho? Boa, boa,
boa então o meu conselho é se têm um amigo que pensa desistir
de seja o que for, não o deixem desistir ou se vocês estão a pensar
em desistir, não o façam. Como o Finnie me disse e muito bem,
trabalhar paga e só pagará se trabalharem bem e arduamente
então, nunca desistam do que vos faz feliz e mais importante, o
que vos deixa lisos e seguros de vocês mesmos. Tudo isto se
vocês o fizerem, vai vos deixar ainda mais felizes do que podem
estar agora a ler o meu livro. Façam o que vos digo e sejam
felizes, esse é o meu conselho.

Eu devia ter adicionado ao capítulo II, em que eu falo das


memórias que me dei muito bem no primeiro dia de aulas, logo no
primeiro dia, mas sentia saudades do Finnie, senti mesmo.
Provavelmente se ele tivesse estado lá eu teria me soltado mais, e
falado mais com as pessoas mas, nada aconteceu. Esses sete anos
em que eu tive azar, eles já passaram, agora já tenho 19 anos e já
trabalho no York Times, um jornal bem popular nesta altura,
pretendo também lançar livros, muitos livros, o meu sonho é
apanhar Michel e suceder e depois formar uma família com o
Finnie e nunca mais voltar para casa, tenho o potencial para viver
sozinha, de repente apercebi-me que estou a acreditar mais em
mim.

Vou fazer o Finnie entender que está tudo ok se estiver com medo
e nervoso, mas também temos de enfrentar o destino, é difícil mas
tem que ser senão nunca crescíamos, era muito complicado se do
nada nós decidíssemos que não queríamos crescer e amadurecer o
mundo ia se tornar cada vez mais difícil.
Capítulo X
O beijo

Eu pergunto-vos: o que é um beijo? É aquele lugar que nos dá


conforto ou ansiedade? Ou é aquele que produz emoções
assoberbadas? Um beijo pode significar imensas coisas, como
ansiedade, amor tóxico

Capítulo XI

Capítulo XII
conselhos para a vida toda
Vou-vos ensinar uma coisa que aprendi há muitos anos. Era um
dia de chuva e eu estava à espera de uma resposta de um amigo
meu quando tinha apenas 15 anos, ainda não conhecia o Finnie,
esse meu amigo era estupidamente bom para mim, ajudou-me
quando eu mais precisava dele e eu ajudei-o quando ele mais
precisou, mas algo aconteceu, ele não me respondia às cartas, nem
quando lhe ligava pela cabine telefónica ele me atendia,
conclusão, eu soube que essa foi uma memória, algo que não
tinha vivido mesmo, um sonho, porque depois de 7 anos de
bullying, eu sempre tive a esperança de ter amigos e com sorte
que eles fiquem, mas este amigo não ficou, era demasiado bom
para ser verdade, era um sonho, um sonho muito longo, que
porém, poderá não ter começo nem ter fim mas que foi um grande
recomeço, foi algo de que nunca me esquecerei, algo parvo mas
no entanto, era algo valioso, algo para eu me recordar, algo para
eu chorar.

Passado muito tempo, ainda me lembro e choro como se isso


ainda tivesse sido ontem e na verdade, não me censuro, foi uma
amizade e tanto que logo depois me apercebi que tinha sido tudo
na minha cabeça, um sonho ainda não concretizado. Passava
horas a estudar na biblioteca nos meus três anos de secundário
porque não me sentia bem em lado nenhum, quando ia para casa,
simplesmente, chorava na minha cama e quando ia tomar banho,
desfazia-me em lágrimas. Com calma tudo se alivia, mas existem
memórias e memórias, que nós mesmo que façamos força para as
esquecer, elas ficam na nossa cabeça, e tudo fica confuso. No dia
15 de Novembro de 1997, eu tive a minha primeira competição de
natação, eu tinha apenas 17 anos, era a mais nova da equipa,
porém eu nadava lindamente de costas e era a mais rápida. Antes
de entrar na piscina, eu senti uma tristeza agridoce e uma raiva
enorme, o que depois me fez ganhar uma medalha, a minha
primeira medalha, a que eu esperei desde que tinha 15 anos,
quando entrei em pré-competição. Essa memória ficou por pouco
tempo, porque lá está, as memórias boas ficam por pouco tempo,
já as más memórias ficam o tempo todo a bater-nos no coração e
na cabeça. Eu ainda me consigo lembrar das tardes em que eu e o
meu amigo nos ríamos, ajudar-nos a nós mesmos, ajudar-nos a ser
nós mesmos para não ficarmos nervosos nas apresentações.
Eu lembro-me de quando me pregaram uma partida, eu achava
que um colega meu se ia despir e caí na terra, cheia de vergonha
porque não o queria ver nuo mas quando toda a gente se riu, esse
amigo estava lá e ajudou-me a levantar-me e até me sacudiu a
terra da roupa, lembro-me ainda da tarde em que eu corri à chuva
e ele me ter dito: Oh AG, que maluquice a tua!
isso faz-me pensar que ele estava a fingir, coisa que eu não gosto
nada, gosto que as pessoas sejam verdadeiras, verdadeiras com os
seus sentimentos.
Isso fazia-me chorar quando tudo estava perdido e eu não o
tinha comigo, o meu amigo. Mais tarde descobri que nada do que
eu supus era verdade, a verdade é que esse amigo tinha morrido
num incêndio, eu chorei por 2 anos, tranquei-me no quarto e
escrevi para aí duzentas mil histórias e depois nenhuma delas
ficou bem então, queimei-as, mas eu desejava não o ter feito,
porque elas faziam parte duma história real, uma história
impossível de ser contada, ou soletrada, ou gaguejada, o que
vocês quiserem. Essa história era parte do meu passado, presente
e até futuro, eu era uma menina boa, carismática e já me tinha
perdido tantas vezes no vazio que eu já não me lembro de mais
nada, era algo que me tinha de lembrar, mas como já disse, ainda
bem que essa memória já se foi para dar lugar a memórias boas
que me apareçam. Eu só espero que vocês, vocês que estão a ler o
meu livro se lembrem dum conselho meu e o levem convosco
para toda a vossa vida: alguém que não nos responde, nos liga ou
pergunta por ele/ela mesmo/a se estamos bem é alguém que pode
ter-nos feito bem no passado, mas que não vai estar presente no
presente ou então no futuro, foi alguém passageiro, voou com o
vento, eu sei que vocês podem ficar tristes, irritados ou até com
muita dor, mas saibam que mais cedo ou mais tarde, a verdade ia
acabar por aparecer e importa, o quanto pode doer, o quanto nos
possa levar a chorar baba e ranho quando vemos um filme
emocional, uma série em que o final seja repentino e por
coincidência a sua moral é igual ao que sentimos e nos põe tristes
ou então quando ouvimos uma música e a letra reflete-se mesmo
nas nossas emoções e nos fazem chorar. Eu aprendi que a dor é
boa, é algo que nos faz ser como somos e nos faz crescer, pode
não parecer, mas toda a nossa dor é para nos mostrar que não
somos robôs, brinquedos que não sentem nada, somos humanos, e
a dor é humana, é algo que não podemos controlar por mais que
tentamos.

Capítulo XVIII
corações destrambelhados e uma discussão logo de
manhãzinha
Devia dizer que está tudo ok mas de facto, está tudo menos ok.
Começou há 5 semanas, comecei a sentir-me com o coração
destrambelhado, e com sinais néon, com muita luta tentei de facto
perceber o que estava a acontecer na minha vida...
Estava descontrolada, eu não sabia o que me estava a acontecer
nem Finnie nem Richie, ninguém me entendia...
Mas um dia, eu quebrei essa barreira: mostrei-lhes que nada do
que eu sentia era normal e tentei pedir ajuda a Richie pois, Finnie
tinha-me abandonado, ele ficou chateado, se calhar um pouco
desiludido e deixou de me falar.
Richie estava no seu quarto a ler BD's com o vinil a tocar música
country baixinho, eu irrompi lavada em lágrimas e quando ele me
viu, largou os livros, aproximou-se de mim e preocupado
perguntou:
- O que se passa? o que sentes nesse coraçãozinho?
Assim que o ouvi a dizer aquilo, o meu corpo sentiu-se com
vontade de o abraçar e foi o que aconteceu:
- AG, o que tens? Estás acelerada, acalma-te.
- Eu... Eu funguei e solucei e ele sentou-me em cima da cama:
- Não precisas de estar assim... é o Keller?
- Sim... Ele está a ignorar-me e sempre que ficamos juntos num
sitio, eu sinto odio por parte dele... Rich, eu não aguento!
- Ele faz-te sentir isso?
- Sim, eu sinto-me muito triste, depois não me controlo, rio-me,
atiro-me ao chão e rio mais... e ninguém entende, nem tu!
- Toda a gente te entende, estamos todos aqui... desculpa se não
sabia o que fazer.
- Peço desculpa por te ter interrompido a leitura, sei que daqui a
pouco tens de ir dormir.
- Não faz mal, eu só quero que fiques bem... não gosto que te
sintas assim... eu estou aqui, ok?
- Não consigo parar de chorar quando ele me ignora e me faz
sentir que sou insignificante, antes ele adorava-me e eu não o
entendo!
- Esquece-o, tens-me a mim e eu devo dizer-te: nunca te vou
abandonar nem magoar-te, estás segura comigo.
Sem pensar, nem sequer pensar nas consequências nem nas coisas
diferentes que podiam acontecer, eu beijei Richie e ele devolveu-
me o beijo, senti um calor, dentro do meu coração, tão gelado há
um segundo.
Ao longe, ficámos a ouvir a mãe adotiva a ralhar com Finnie
porque este tinha deixado cair um prato ao chão:
- Viste?
- O quê?
- O Keller está em sarilhos...
- Disseste que o tinha de esquecer... eu gosto de ti...
Honestamente, nunca te pude dizer o quão me fascinas, só tens 18
anos e és tão maduro, mais do que eu e do que Finnie... Rich, tu
achas que algum dia ele vai entender que me magoou?
- Não penses nisso... ele não te merece... mas, ei, eu sim!
Eu ri-me e ele também, agarrou-me, pegou em mim ao colo e
beijámo-nos perto da janela com a luz da lua cheia, eu estava
feliz, ele também.
Eu estava de camisa de dormir mas num lapso de segundos deixei
de a ter vestida, ele estava de pijama, e nesse ato de amor, nós
ficamos a morrer de frio, então ele trancou a porta e deitámo-nos
na cama dele:
Enquanto ele me dava beijinhos nas costas e entre as minhas
pernas, eu abafava a felicidade, eu sentia-me como se estivesse
numa montanha russa, mas que nunca descia, ficava lá em cima,
admirando a vista de Paris, e sinceramente, eu estava a sentir-me
completamente num sonho, porém, tinha medo de que isso fosse
só um sonho, mas para comprovar belisquei-me e não, não estava
a sonhar, era real, Richie e eu estávamos... vocês sabem né?
Tudo me pareceu perfeito, adormecemos os dois e de manhã,
ouvimos a mãe adotiva à porta:
- Agnes! Richard! abram a porta.
- Foda-se...
- Oh, Richie... não se diz isso.
- Desculpa, esta mulher grita e eu fico incomodado.
- RICHARD!
-JÁ VAI!
Richie abriu a porta e a mãe adotiva viu-me e exclamou:
- O QUE FAZES TU AQUI? VOCÊS... O QUE SE PASSA
AQUI?
- Nada, estávamos a ser só irmãos fofos...
- Vai vestir-te, Richie por favor, espero que não me estejas a
mentir.
- Nah! Veio para avisar que o pequeno-almoço está pronto?
- Sim, e que eu vou sair, portem-se bem.
Eu tive a ousadia:
- Vai sair com o Shepard mãe?
- Agnes! Não, vou sair com amigas... agora, vocês vão vestir-se e
desçam.
Eu e Richie descemos a rir-nos:
- Rich, bom dia... tá tudo bem? Perguntou Flora, a lavar a loiça.
- Sim, tudo numa boa!
Finnie estava na cozinha e eu ignorei-o mas ele veio atrás de
mim:
- Ei, agora que te livraste de mim andas com o Richie?
- Não te importa. Alvitrei eu virando costas.
- Claro que importa! O que pensas tu, que podes andar com quem
quiseres?
- Sim, posso, não me vais impedir... sai da frente!
- Não! Tu vais ficar aqui e vais explicar o que fizeste esta noite...
– Ok! Eu e o Richie dormimos juntos! Não te importa isso, chega!
- Será que ele sabe que tu és louca?
- Desculpa? Zanguei-me com ele e bati-lhe.
- Sim, definitivamente pareces louca, às tantas os meus amigos
tinham razão... não passas de uma doida varrida.
- TU TINHAS DITO QUE NÃO ACREDITAVAS MAIS
NISSO! MENTISTE-ME! NÃO TE QUERO VER MAIS!
Richie e Flora ouviram a gritaria e Richie agarrou em mim antes
que eu me atirasse a Finnie:
- O QUE TE DEU? ACHEI QUE GOSTAVAS DE MIM...
AGORA ANDAS DE NOVO A CRITICAR-ME, EU SALVEI-
TE! EU FUI TUA AMIGA... ESTUPIDO!
- AG, calma, não vale a pena... dizia-me Richie enquanto me
segurava.
- SÓ TE DIGO ISTO: NUNCA MAIS TE ACREDITO, NUNCA!
- OK! VAI COM O TEU NAMORADINHO, MAS EU VOU
DIZER-TE UMA COISA: TUDO O QUE EU DISSE É
VERDADE, ÉS LOUCA E ELE VAI ACABAR POR
PERCEBER E DEIXAR-TE SOZINHA...
Agora foi a vez de Richie pôr um ponto final:
- OUVE LÁ, TU ACHAS QUE EU A VOU DEIXAR? TU ÉS
ESCROQUE, É O QUE TU ÉS! NÃO A CONHECES, NÃO
SABES QUE ELA SE SENTE SOZINHA E TRISTE, ELA É
LOUCA PARA TI, E SÓ PARA TI! DEIXA-A EM PAZ, E
VOU-TE PEDIR AMAVELMENTE PARA SAIRES DAQUI!
- REPETE ISSO! Gritou Finnie agarrando a roupa de Richie e
rasgando-lhe um colarinho da camisa.
- LARGUEM-SE! SOLTA-O RICHIE. Gritou Flora.
- NÃO! ESTE IMBECIL TEM DE APRENDER UMA COISA:
QUE PERTO DE MIM, NINGUÉM PODE TRATAR MAL A
AGNES, OUVISTE PARVO?
- Sim, sim, sim... UM DIA VAIS-TE CANSAR DELA...
- JÁ TE DISSE PARA PARARES! NÃO TE VOLTO A
AVISAR. Disse Richie com os olhos chamejantes de raiva.
- RAPAZES! PAREM! Gritei eu.
Richie largou Finnie e mandou-o sair de casa.
- Vai te embora e vai pensar no que fizeste!
- Ok, eu vou, só porque não aguento essa louca.
- CALA-TE! PÁRA COM ESSAS COISAS... O LOUCO AQUI
ÉS TU!
- OK!
Finnie correu dali para fora.
Richie entrou em casa, e eu estava na mesa a comer:
- Tá tudo bem agora, não te preocupes.
- Obrigada, Rich.
Allancat entrou na cozinha e disse:
- Ahoy! Tanta barulheira aqui porquê?
- Eles discutiram por minha causa... Disse eu mexendo os cereais.
- É verdade, o Finnie?
- Expulsei-o. Informou Richie, tirando o casaco.
- Woah! O que aconteceu?
- Aquele doido estava a dizer que a Agnes era louca e que eu ia
me cansar dela um dia, e eu irritei-me.
-Só isso? Mas aquela barulheira toda foi do quê?
- Eu gritei com ele, bati nele e zangámo-nos feio, foi só isso.
- Richie, sabes que nada se resolve à pancada... sabes, quando era
mais novo, eu e Michel lutávamos e uma vez, eu aprendi que isso
não me levaria a lado nenhum... claro que eu sei que gostas da
Agnes e a queres proteger e tens todo o direito de te zangares
quando tens razões para o fazer mas perdeste a razão toda quando
lhe bateste e ainda o expulsaste de casa... imagina que o mundo
todo fazia isso, estávamos um caos se fosse assim.
- Pois, tens razão, mas eu fiquei mesmo passado, tipo, ele não tem
consciência que a Agnes fica magoada ou pior até pode ter, mas
usa isso para a magoar e eu detesto isso... se tu me estás a dizer
que tenho de o deixar fazer-lhe isso, então lamento, mas não, não
o vou deixar magoá-la.
- Ninguém te está a dizer isso, não interpretes mal as minhas
palavras... só te estou a dizer que perdeste a razão toda quando te
descontrolaste assim, e eu pude ouvir tudo de lá de cima, por isso
tu descontrolaste-te e feio, percebes? E eu nem quero pensar no
que estão a dizer os vizinhos dos gritos que ouviram aqui...
Richie, tens de pensar que te tens de controlar e não podes fazer
isso que fizeste, para já, estás-lhe a dar a razão, que sim, tu és
louco, a Agnes é louca e isso não é verdade, só a defendeste, mas
isso não se resolve expulsando-o de casa... tu já devias saber isso,
a vida não se resolve às pancadas e eu sei que tu ages de acordo
com os teus princípios e valores mas nunca, nunca podes deixar
que isso te descontrole, senão perdes a razão que te resta, e
resumindo, perdes tudo e o Finnie fica a ganhar.
- E o que faço então?
- Controlas-te, e falas com ele calmamente, resolves isso duma
maneira mais civilizada.
- Mas isso não está no meu dicionário... quer dizer, ele é que caga
tudo e eu é que tenho de ouvir?
- Richie! Olha a linguagem, posso ser um gato, mas sou mais
velho que tu e imponho respeito.
- Pronto, está bem... mas por favor, vê o meu lado... são 9:30 da
manhã e eu já tenho de ouvir injustiças e sermões quando é ele
que os devia ouvir...
- Por amor de deus... ninguém te está a sermonear, estou a dar-te
conselhos, porque vos garanto, que se estivesse a mãe adotiva
seria muito pior...
- Sim, mas isso não invalida que eu tenha de ouvir o que ele devia
ouvir, que é um inútil e que só magoa as pessoas... eu achava que
estavas do meu lado.
- Eu estou do lado da razão e desta vez, tu não agiste bem.
- O que querias que eu fizesse?!
- Richie, isto vai tornar-se uma pescadinha de rabo na boca sem
necessidade nenhuma... estás a ser mal-educado e eu não estou a
gostar... entendo sinceramente que estejas chateado e frustrado
com o que aconteceu mas isso não te dá o direito de me falares
mal... eu só estou a ajudar e tu não me estás a ouvir.
- Eu ouço... eu ouço, mas tu não contiveste a Agnes esta noite por
causa dele, nem a ouviste a chorar, nem te partiu o coração vê-la
assim... ninguém estava para ela, eu era o único por isso creio que
não tens opinião nisto.
- Eu entendo isso... mas acho que não devias estar assim, ninguém
está a dizer que não tiveste razão...
- o quê?! Tu literalmente disseste: “ Eu estou do lado da razão, e
tu não agiste bem”! essas foram as tuas palavras!
- Richie! Vais complicar isto sem necessidade nenhuma...
- Não, não vou, porque esta conversa acabou!
Richie levantou-se da cadeira e Allancat transformou-se de novo
num humano:
- RICHIE, SENTA-TE JÁ!
- Não.
- Richie, mandei-te sentar-te.
- Okay, o que é que queres?
- Primeiro muda o tom, depois vais ouvir-me com atenção.
- Ok.
Capítulo XIX

Richie e Allancat e o lago dos apaixonados

Richie sentou-se de volta na cadeira e ouviu Allancat:


- Ora bem, para não me mal interpretares de novo, vou dizer-te
que foste muito bom para a Agnes e generoso... creio só que o que
devias ter feito era explicar isso ao Finnie, que ela se sentia mal e
que não gostava da forma como ele a tratava, não era expulsá-lo,
percebes?
Richie resfolegou e levantou-se:
- O que tu me estás a tentar dizer é novamente que o estupido do
Keller tem razão! E eu não vou ficar aqui a ouvir-te a defendê-lo,
o Keller mudou, e mudou para pior, não o defendas! Sei como
atuei e estou orgulhoso disso, vamos Agnes. Richie levou-me para
o jardim de mão dada e deu a conversa com Allancat por
terminada.
Estava eu sentada no banco e Richie estava ao meu lado chateado
e com uma expressão de raiva:
- Não entendo... ‘tão todos doidos? Quer dizer, eu defendi-te e
ainda me culpam!
- Fizeste bem, e obrigada por te teres arriscado por mim... não
sabia que o teu amor era verdadeiro até há bocado... és o meu
herói e amor... Não sei o que faria sem ti.
- Nem eu, miúda. Sorriu Richie e aproximando-se de mim,
colocou uma margarida no meu cabelo. – Fica-te uma pinta! Disse
ele olhando-me enternecido.
Eu ri-me e os meus olhos azuis foram de encontro aos seus olhos
verde-água, a sensação era de estranhar, eu nunca tinha tido uma
relação tão estável com ninguém, mas quando o olhei senti como
se estivesse a olhar para um espelho, foi nesse momento que me
dei conta de que eu e Richie fomos feitos um para o outro, e
adorei sentir amor depois de uma grande desilusão com Finnie.
Fiquei pensativa, olhei-o de volta, ele olhou e perguntou:
- ‘Tá tudo?
- Sim, mas, sinto-me estranha, tipo, às vezes sinto que o estou a
trair.
- Já disse que não estás a trair ninguém, estás a seguir a tua vida
porque ele te deixou para trás... Agnes, eu sei que possa ser
confuso, mas tudo o que te disse foi verdade, eu amo-te desde que
tu aqui chegaste, se não tivesses aparecido eu provavelmente
estaria na minha pior fase.
- Pior fase?
- Yup, a fase mais dolorosa da adolescência: não saber quem és
nem o que aqui fazes, eu entendo que estejas triste porque tudo o
que viveste foram puras desilusões, e bem, eu sei que tem sido
difícil para ti, mas tudo o que eu quero dizer é: esquece o Keller,
vive a vida a pleno e ama-me, eu amar-te-ei sempre, claro se me
deixares.
- Sabes que eu sempre te amarei, foste tu que estiveste do meu
lado e eu agradeço de coração...
- És tão fofinha. Disse ele acariciando os meus fios ruivos e pegou
na minha mão, pegou no carro do Finnie e levou-me a um lugar
especial.

Eram já quatro e meia da tarde e Richie e eu chegámos ao “sítio


especial”.
- Uau! Que lindo lago... como o conhecias?
- Adoro a tua cara de espantada. Disse ele, pegando na minha
mão.
- Bom, isto parece um sonho... sente o ar, é incrível! Disse eu
descalçando-me.
- uh-uh! Não é para aí... para aqui. Apontou ele para uma vista
incrível.
- Isto é tão fantástico... como é que tu sabias deste lugar?
- Era o meu lugar preferido quando tinha desavenças em casa, na
minha casa verdadeira... fugia sempre para aqui quando tinha
apenas 10 anos, adorava como o vento tamborilava nas árvores e
as fazia mexer, sentir o calor no verão, a sombra, a verdade é que
eu sempre soube deste lugar, para mim, é o melhor lugar de
“Everything Is Okay”.
- Isso é lindo...
- É pois. E ainda não viste o mais fixe. Ele pegou em mim ao colo
e mergulhámos no lago.
Eu estava a tremer de frio e ele perguntou:
- Tens frio?
- Não. És tão atencioso... amo-te.
Naquele lago encantado, eu tive o pressentimento mais lindo do
mundo: que eu e este adolescente maduro e cuidadoso íamos ser
pais, porém, eu sempre achei que Finnie fosse o pai do meu bebé,
mas eu não iria permitir que um pensamento como aquele arruíne
aquele momento tão lindo.
Richie e eu beijámo-nos com força e desassossego, beijámo-nos
até ficarmos sem ar, eu fiquei cheia de vontade de lhe fazer o
amor como nunca, senti um alívio extremo por estar com alguém
tão lindo e tão cuidadoso como o Richie.
Antes eu achava que era só uma paixoneta, agora sei que posso
contar com ele, e isso alivia-me.
Naquele lugar, eu senti uma sensação elétrica a passar por todo o
meu corpo, vi sinais néon, cristais a ajuntarem-se na minha
cabeça, purpurinas por todo o meu corpo, uma água de leite de
morango a cobrir o meu corpo todo, calma, ternura, experiências
intermináveis de satisfação, e amor, amor verdadeiro.
Richie e eu chegámos à casa assombrada por volta das sete horas
e a mãe adotiva ainda não tinha chegado:
- Então... como foi essa saída? Perguntou Allancat comendo patê
da tigela dele.
- Boa, foi muito boa e tens estado aqui sempre?
- Sim, a Flora está a preparar o jantar e o Finnie ainda não
voltou... mas duvido que volte.
- Boa, não o quero ver. Disse Richie subindo as escadas para se ir
vestir.
Allancat olhou para mim e miou:
- Agnes, aquele rapaz gosta muito de ti, vê-se que te ama.
- Sim, eu também o amo... sei que ele é incrível.
- Acho isso lindo. Disse Allancat, espreguiçando-se.

*
Eu fui para o meu quarto, pus o meu vinil a tocar “ Cellophane”
de FKA Twigs, foi uma música que Finnie me mostrou no 10ºano
quando perdi um amigo importante para mim.
Estava a ouvir a música, e comecei a chorar, Richie entrou no
quarto para me chamar para o jantar e sentou-se ao meu lado,
encostou-me ao seu pescoço e murmurou:
- Não devias estar a ouvir essa canção... vais ficar bem, eu
prometo.
- Quando? Tenho medo de sentir isto para sempre... promete-me
uma coisa.
- Tudo.
- Ficas comigo?
- Sim... sempre estarei... tens de te recompor para irmos jantar
senão o Allan e a Flora vão ficar preocupados.
- Tens razão... eu limpei as lágrimas às costas da minha mão,
desliguei o vinil, guardei o disco, dei um beijo a Richie e abri a
porta.
- Gosto de te ver assim...Disse ele enquanto descíamos.
- Assim como?
- A tentar ultrapassar uma dor tão forte... sempre soube que eras
forte.
- Tu também és... disse eu, tocando-lhe no nariz, ele sorriu.
O jantar já estava à mesa e Allancat estava em cima da cadeira da
mãe adotiva a dormitar, enquanto Flora via as notícias.
- Olhem! O Michel voltou a reabrir a clínica... estão a ouvir?
Disse a Flora vendo-nos a namorar acrescentou:
- Vocês são mesmo fofinhos... sabia que a mãe adotiva tinha
razão acerca do ship "Ragnes”.
- Flo, vamos comer... disse eu sorrindo.
- Como queiram... Flora serviu a Richie o seu guisado de frango
que ele tanto gostava e para mim tinha feito um refogado de
legumes com seitan, que eu adorava na airfryer.
- Yummy! Como sempre, este guisado está divinal!
- Ainda bem que gostas, decidi prepará-lo já que há muito tempo
que não comias e como vieram do lago, deduzi que estivessem
estafados de fome.
- E estávamos. Disse eu feliz.
- Bom, adoro que estejam juntos, agora que o Allan está a dormir,
acho que agiste bem Richie em expulsar o Finnie.
- Até que enfim! Alguém com cabeça. Exclamou Richie.
- E, Agnes querida, era para te dizer que não estás sozinha, eu
também estou aqui para te acompanhar.
- Obrigada, pessoal... esta tarde sentia-me tão perdida, tão triste,
mas vocês são a melhor família que eu podia pedir.
- Tu também és a melhor de todas... proponho um brinde, um
brinde ao nosso amor. Disse Richie, levantando-se.
- O que vais fazer?
- Vou roubar um pouco de champanhe à mãe, não será muito.
Informou Richie com cara de maroto.
- Não! Ela vai ficar uma fera se o fizeres. Disse Flora prevenindo-
nos.
- Só um pouco... Disse Richie, deitando nos copos um pouquinho
de champanhe.
Capítulo XX
O retorno de Finnie e as memórias do passado

Dizem que quando somos adultos conseguimos lidar com os


problemas melhor, bom, esse não é o meu caso.
Finnie acabou por voltar a casa e Allancat avisou-nos de que
necessitávamos do poder do Finnie para lutarmos e vencermos, eu
e Richie, questionámo-lo:
- Ouve lá, porque carga de água é que precisamos dele?
Perguntou Richie irritado.
- Richie, queres que o meu irmão vos devore? – É que quando
isso acontece, ele fica com as vossas peles e consegue dominar
tudo, quando isso acontece, este predador em que ele se tornou,
fica com a posse de tudo e ninguém consegue pará-lo. Allancat
fitou-nos fixamente com os seus olhões cor de lápis-lazúli bem
abertos explicando-nos a origem de Michel:
- Temos andado muito distraídos com os problemas sentimentais
e não nos preocupamos com o mais importante. Richie deu-me a
mão, ergueu o sobrolho e perguntou:
- De que estás a falar?
Allancat mirou a lua cheia com uma expressão misteriosa e ao
mesmo tempo preocupada:
- Do Andreas. O maior vilão deste mundo, eu sou Virgilius mas o
meu irmão é Andreas, não sei se conhecem as histórias das tribos
mas...
Richie interrompeu-o:
- Tipo os Shokopiwah?
- Como sabes isso?
- Stephen King. Respondeu ele, olhando-me apaixonado.
- Vocês já estão bem adiantados, e o importante é o que não
sabem, sim, Richie, os Shokopiwah realmente existiram e foram
povos tribais que derrotaram um monstro, por acaso sabes qual
foi?
- A coisa? Perguntou ele indeciso.
- Não, as luzes da morte... também é conhecido como “A Coisa”.-
A história é bem semelhante se virem bem, mas, vocês,
adolescentes, conseguirão derrotar uma criatura destas?
Richie ficou chateado e respondeu:
- huh, eu consigo... e não sei porque raio é que desdenhaste o
termo “adolescentes”, pois, te garanto que essa fera só irá rosnar
uma vez porque eu, Richard Silver Kennedy vou arrumá-la de
vez!
- Richie, eu tenho quase a certeza de que não consegues sozinho
nem só com a Agnes, vocês eram um trio.
- Pois, mas deixamos de o ser! Vamos ter de nos arranjar sem ele.
Escarniou Richie irritado.
- Vocês não sabem o que estão a enfrentar... digo-vos, isto é
muito grave, para o vosso bem, eu sugiro que o Finnie retorne.
Disse Allancat limpando as patas.
- O que tem ele que não temos nós? Perguntei eu, e acalmei
Richie.
- Minha filha, o meu irmão pode vencer-vos na vossa
inferioridade numérica, sabem o que é isso?
- Obvio! Disse Richie.
- Então, o que é? Perguntou Allancat.
- Basicamente é a quantidade de pessoas num grupo... acho.
- É exatamente isso... e suponho que já saibas onde quero chegar?
- Sim, quer dizer, que se formos três, podemos derrota-lo mas se
formos só dois, é complicado?
- Exato! Eu não estou a dizer que têm de voltar a ser amigos do
Finnie, só precisam dele para a batalha.
- Mas, Allan, só o vamos utilizar? Como uma ferramenta?
- Bom... ele utilizou-te a ti, por isso... disse Richie, o que não
gostei.
- Mas alguém te pediu opinião?! Gritei eu.
- Não, mas eu dou-a na mesma... ele usou-te! Gritou Richie
começando a ficar vermelho.
- Eu sei.
- Sabes, sabes, mas não parece! Já te esqueceste daquilo que tu
passaste? Pois, olha eu não.
- Cala-te! Disse eu, e levantei-me.
- Agnes, onde vais? ONDE VAIS!? Gritou ele, pois, eu não lhe
respondi.
Fui à cozinha, peguei nas chaves do carro e saí porta fora.
- AGNES! Filha da... Onde vais?!
Liguei o carro e arranquei.

*
Finnie, era-me muito importante, eu não o podia esquecer.
As coisas porque passei com ele, sei que eram devaneios, ele não
as sentia realmente, volta e meia, ele pedia-me desculpa.
Eu entendo que isto pareça uma atitude submissa a ele, mas não,
eu amei-o e não quero desavenças com ele nem quero que
fiquemos mal.
Sim, sou uma pessoa difícil e sei que por muito que ele me diga,
eu não o posso deixar.
Richie foi um doce, admito, mas Allancat assustou-me imenso
com aquilo que disse, e eu aprendi a perdoar as pessoas, o Richie
é que não perdoa.
*
Quando voltei a casa, Richie interrogou-me como um louco,
achava que eu estava a ser autodestrutiva, mas eu não lhe passei
cartão.
Bem, eu sou autodestrutiva e não tenho medo de o dizer, a
questão é que tudo para mim é uma bola de neve e só se resolve
se fugir dos problemas, não sei se me entendem.
Honestamente, já tentei de tudo, mas o meu cérebro diz sempre: “
Não vales a ponta de um charuto, resolve-te sozinha”
É um conflito da mente entre mim e entre o meu cérebro.
Penso demais e isso tende a complicar-me mais a vida, Michel
também teve influências nisso, ele desceu-me a autoestima dentro
e fora da minha cabeça, ouço sempre a voz dele dizendo-me
coisas más e a sussurrar-me que me vai matar, há vezes em que de
noite eu entrego-me a ele, na choradeira e no desengano, e nas
vezes em que a sua voz é avassaladora eu digo:
“ Ok, leva-me!” e a questão é essa, ele não me leva, ele só me
levará quando ele assim o decidir, ele ataca-te assim que tu menos
esperares e ele só é poderoso, pois ele conhece os teus medos,
angústias, tristezas, e problemas, sabe os teus pontos fracos e a
sua maneira de atacar é sempre mentalmente, gosta e diverte-se a
martirizar-nos com a ideia de que não valemos nada, e que somos
nada literalmente... Richie não sabe, mas Finnie mandou-me um
telegrama que eu escondi, eu sei, erro meu, mas eu acho melhor
assim.
No telegrama, ele dizia-me que estava muito arrependido e que
descobriu uma coisa ao ser internado na clinica de Michel, o
próprio Michel disse-lhe que mexeu com a minha cabeça e me fez
agir como uma “Louca” e por isso, ao relento, Finnie fugiu da
clínica e conseguiu escapar.
Pegou num papel, escrevinhou o que tinha descoberto e disse para
não contar ao Richie por enquanto, só Allancat é que sabe, pois,
ele encontrou-o na rua e falou com ele.
Finnie era um rapaz muito explorador, conhecia-o demasiado, e
sabia que o que quer que ele tenha descoberto é importante.
Nos nossos tempos de trio poderoso, era ele quem liderava as...
expedições do trio, Richie passava-se, mas Finnie era o mais
velho de nós os três eu tinha 20 anos e Finnie tinha 24 anos e
Richie só tinha 18 anos, por isso nem conduzir o carro ele podia.
Gostava de saber se após isto acabar se podemos ser uma família,
pois, eu daria tudo para que tudo volte ao normal.
Todos nós éramos uma família e isso sabia-se, os vizinhos
passavam e perguntavam sempre pelo rapaz alto de cachos, e eu
dizia que ele tinha ido numa viagem, e eles mostravam-se
inquietos, pois, adoravam Finnie, ele era um miúdo encantador,
uma vez ajudou o Sir Michael a regar as plantas do seu jardim.
À noitinha, Allancat chamou-me a mim e a Richie para falar
connosco:
- Muito bem, sei que andam ocupados com os sentimentos
adolescentes... mas se queremos vencer o meu diabólico irmão há
que deixar as desavenças de lado. – Richie, vais deixar o Finnie
voltar e Agnes dar-lhe-ás a tua ajuda, pode ser?
- Não concordo. Disse Richie resfolegando.
- Rich’.
- Eu não concordo! – Porque raio é que “eu” devo ceder à minha
decisão?
- Mas ninguém te disse para o expulsares... alvitrei eu, levando de
seguida um olhar irritado de Richie.
- Pois... SE EU NÃO O TIVESSE EXPULSADO... ELE
ESTARIA A VIOLAR-TE OU A FAZER SEI LÁ O QUÊ DE
TI... NÃO ÉS CAPAZ DE TE MANTER SEGURA, ENTÃO
MANTENHO-TE EU! ESTA CONVERSA É SEMPRE A
MESMA... TIPO, TU NÃO VÊS QUE ÉS INFELIZ COM ELE,
PORRA? AINDA TENTAS REFUGIAR-TE NAS
MEMÓRIAZINHAS DO PASSADO SABENDO QUE NESTE
MOMENTO ELE É UM ESCROQUE E QUE NÃO TE
MERECE! EU NÃO SEI AGNES, TENS CABEÇA NÃO
TENS? COMO É POSSIVEL QUE SÓ EU E A FLORA É QUE
VEMOS QUE ELE TE MALTRATA? NEM TU ALLANCAT,
GOSTAS É MUITO DELE E DE DEFENDÊ-LO!
VOLTO A REPETIR: O KELLER MUDOU PARA PIOR, NÃO
O DEFENDAM NEM TAMPOUCO O PERDOEM!
PRINCIPALMENTE PORQUE ELE TE MAGOOU E NÃO ME
INTERESSA QUE ELE ESTEJA ARREPENDIDO OU MINHA
AVÓ TORTA, NÃO VAI VOLTAR AQUI E A CONVERSA
ACABOU!
Richie levantou-se da mesa de um salto e eu fui atrás dele:
- Richie, espera! Ele continuou a andar e eu parei-o e gritei:
- EU DISSE ESPERA!
Ele agarrou em mim e gritou:
- TU POR ACASO ÉS BURRA? QUERES QUE UM... UM
ESTUPIDO VOLTE PARA AQUI, PORQUE, PORQUE
GOSTAS DE SOFRER?
- Richie... tentei eu mas ele cortou.
- OUVE, EU NÃO QUERO SABER SE O AMAS OU SE TENS
EMPATIA POR ELE, MAS ACONSELHO-TE VIVAMENTE A
NÃO TERES EMPATIA POR UM ESCROQUE COMO ELE,
AGNES, A EMPATIA TEM-SE POR QUEM NOS RESPEITA
NÃO POR ALGUEM QUE NOS FAZ CHORAR!
EU VI PORRA! EU VI-TE A DESMILINGUIRES-TE À
MINHA FRENTE, NÃO ESTAVAS BEM, CARALHO, TU
QUASE QUE TE MATAVAS HÁ DIAS POR CAUSA DELE,
ENTÃO?! ‘TÁS CEGA?!
- É TUDO VERDADE O QUE DIZES! MAS... MAS... MAS....
AH!
- MAS O QUÊ? AGNES! MAS O QUÊ?
- MAS TEMOS DE LUTAR CONTRA O MICHEL! E SOMOS
OS UNICOS!
- E?
- E QUE PRECISAMOS DELE!
- OH POR FAVOR, NÃO VAIS COMEÇAR A CHORAR... JÁ
CHEGA! CANSEI-ME, SAI DA MINHA VISTA!
- RICHIE! RICHIE! Chorei eu. – NÃO ME DEIXES! EU
SABIA! UM DIA ISTO IA ACONTECER...
Ele fechou a porta e quando ele se fechou, eu fechei-me na casa
de banho e gritei tão alto, que Flora e Allancat ouviram.
- Filha, Agnes? Miou ele, raspando a porta.
- Entra.
- O que se passou?
- Foi o Richie... deixou-me!
Allancat olhou-me e miou bem alto mirando a lua:
- Ouve, ele até tem razão, tu sofreste muito com o Finnie e foi ele
que te ajudou... entende, que para ele também é complicado.
- Mas tu é que defendeste o Finnie...
- Eu não o defendi, só queria que o vosso trio estivesse
completo... mas, talvez eu tenha uma ideia.
- Que ideia? Perguntei eu, lavando a cara.
- Talvez o Finnie não tenha de voltar... vai buscar o Richie,
preciso de falar convosco.
- Okidoki.

Richie, quando eu cheguei à cozinha, estava a beber um café e eu


disse calmamente:
- Vem.
Ele veio comigo e fomos para a sala de estar.
Allancat estava lá fora, olhando para o céu.

Capítulo XXI
A chegada de Stellar e a batalha final

Quando Allancat voltou para dentro, eu e Richie exclamamos:


- Já não era sem tempo... onde estavas?
- Estava a conversar com um amigo meu das galáxias.
- Huh! De onde? Riu-se Richie.
- Da galáxia Iraña.
Ouvimos um estrondo lá fora, e aterrou uma nave enorme com 7
seres estranhos, e um deles dirigiu-se a Allancat, como se fossem
manos de toda a vida:
- Olá parceiro! Estás em gato agora?
- Verdade é, meu amigo, verdade é.
- E quem são estas beldades? O ser acinzentado, chegou-se a mim
e Richie agarrou-me para me proteger.
- Não... Não é preciso agarrarem-se. – O querido Stellar é amigo.
- Chamas-te “Estelar”? perguntei eu interessada.
- Sim, deduzo que sejas a Agnes? – ouvi falar muito de ti neste
relento.
- Ah... uhm... de onde vieste?
- De Iraña, uma galáxia muito perto das estrelas.
- Oh Stellar, os teus pais, como andam? Perguntou Allancat.
- Oh, meu parceiro... Stellar pareceu entristecer. – receio que já
não vás a tempo.
- Pourquoi, o que aconteceu?
- Eles eram demasiado velhotes e morreram.
- Esperem lá! Os aliens também morrem? Perguntou Richie, com
a sua ousadia de sempre.
- Richie... ele pode não querer falar sobre isso. Adverti-o eu.
- Claro, meu amigo dorminhoco, é claro que morrem. Disse
Stellar.
- Como sabes que eu durmo muito?
- Tens ar disso, e eu vejo-te caído no chão à noite.
- O quê?! Tu espias-me?
- Richie, os alienígenas sabem de tudo... e o meu querido amigo
Stellar já vos conhece muito bem.
- Ah sim? Então de que comida é que eu mais gosto?
- O guisado de Frango que aquela jovem faz.
- Ela? Perguntou Richie apontando para mim.
- Não, a Flora. Esclareceu Stellar.
- Ah... olha, podes-me levar à lua? Perguntou Richie.
- Receio que não seja possível... agora, meu parceiro... conta-me o
que anda a fazer o teu irmão.
- Ah sim... anda para lá para dentro. – Vocês, vão dormir, amanhã
temos um longo dia pela frente.
- Ok... anda. Eu fui para o meu quarto e Richie foi para o dele.
Nas minhas tentativas para adormecer, ouvia Stellar e Allancat a
conversar. E quando pude pregar olho já eram sete e meia da
manhã.
Allancat estava à minha porta a miar e a raspar:
- Agnes! Está na hora, levanta-te!
-Oh, francamente! Ainda são sete e meia! Resmunguei eu,
cobrindo-me outra vez.
Stellar disse a Allancat:
- A tua sobrinha não dormiu a noite toda... deixa- a estar mais um
pouco, ainda temos tempo.
- Obrigada, Stellar! Disse eu feliz, voltando a deitar-me.
- Tens sorte em ter um parceiro como o Stellie. – Stellar, vamos
para a cozinha conversar. Allancat dirigiu-se a Stellar.

Capítulo XXII
A conversa de Stellar e de Allancat e o combate final

Stellar sentou-se na cadeira da mãe adotiva, servindo-se dum


champanhe de estrelas, com um trago amargo, que ele tanto
gostava e Allancat pulou para cima do balcão e trouxe uma
panqueca na boca, Stellar reparou:
- Meu grande amigo, o que é isso?
- Isto, meu querido ser das estrelas é a melhor sobremesa do
mundo inteiro... se provares, ficarás adicto! Disse Allancat
mastigando a panqueca com agrado.
-Aqui na terra, as comidas são estranhas... o que será que o teu
irmão come?
- Claro que ele devora as pessoas, a carne humana para ele é uma
iguaria... já no liceu, lembras-te?
- Ah... já não me lembrava disso... a Andreas era mesmo
estúpido... tentou comer a professora de matemática para ficar
com as aptidões dela e com a sabedoria dela... no fim, devorou
um psiquiatra e finalmente conseguiu ser psiquiatra com a jogada
mais cruel de sempre, a ictiofagia, o facto de ele devorar todas as
pessoas... era mundano... enfim, estavas a dizer que ele pretende
devorar a Agnes para dominar o mundo e abrir o portal da
dimensão A?
- Precisamente. – Stellar, eu não sei o que o meu irmão quer, mas
sei que ele não vai parar até conseguir o seu objetivo, matar a
Agnes é só 0 começo... aproxima-se uma grande guerra e foi por
isso que te invoquei, tu derrotaste-o há anos, peço-te que ajudes a
Agnes e o Richie, a batalha não será fácil...
- Pois... quanto a isso, eu sei que precisas de mim, mas meu
amigo, eu já estou velho, a minha força já não é a mesma...
- Sim, eu sei, mas quando eu te digo, que matar a Agnes é apenas
o começo eu não estou a brincar, avizinha-se um caos, o meu
irmão não é fácil, e tu venceste-o milhares de vezes, acredito que
o farás de novo.
- Aprecio a tua crença em mim, mas eu sou um alien velho, já não
sou jovem e tampouco adulto... tu já tens 50 anos, eu tenho 56
anos, quando derrotei o Andreas eu tinha menos de 18 anos... o
que me pedes é impossível e se eu te pudesse ajudar, eu ajudaria
mas já sou velho como tu, meu querido amigo... talvez, tenhas de
deixar o rapazinho de cachos voltar...
- Oh, não posso. – O Richie matar-me-ia.
- Ah e o que tem ele contra ele?
- É uma longa história, envolve problemas da adolescência que tu
eu desconhecemos, mas que agora são tão reais como respirar...
eles tiveram uma discussão e agora o Richie não o deixa voltar
para casa.
- Ah... ok. – Então, o que fazemos?
- Terás de lutar, Stellie eu confio em ti, falta confiares tu em ti.
- Achas possível?
- Só não é possível se não quiseres... tudo é possível se quiseres
que seja... ajuda os miúdos, por favor amigo.
- Ok... só porque és o meu melhor amigo e porque aqui entre nós,
eu gostei deles.
- Ao menos isso. – Anda, tenho de os acordar, já são dez horas, a
Agnes já devia estar a pé.
Richie estava a descer as escadas e Allancat perguntou:
- Só agora? E a Agnes?
- A Agnes ainda está a dormir, passei por lá e vi. – Eu tive um
pesadelo, por isso é que sai do quarto, o Michel matou um
psiquiatra?!
- Ah... um ataque de vidência? Disse Stellar.
- Como é que sabes?
- Sei que tens vidência... é bem comum em adolescentes assim
como tu.
- Como assim? Como eu? O que está ele a dizer?
- Ignora-o. – Não é para lhe dizer ainda. Allancat disse a Stellar
baixinho.
- Vou chamar a Agnes... já venho.
- Ok, vai.
Richie subiu as escadas, abriu a porta e deitou-se comigo e
segredou-me baixo no ouvido:
- AG, está na altura de acordar...
- Oh... tou tão bem aqui... deita-te Rich.
- Não me faças querer beijar-te até não aguentar.
Eu agarrei na cara dele e dei-lhe um beijo:
- Não é preciso seres tu... ah, que fofinho que és.
- Ainda por cima, estás linda esta manhã, olha esses olhos azuis
lindos, o teu cabelo desgrenhado, é lindo.
- Oh... está um susto!

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