MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Procuradoria da República no Município de Santarém/PA

RECOMENDAÇÃO/PRM/STM Nº 07, DE 09 DE OUTUBRO DE 2009.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da

República signatário, no exercício das atribuições que lhe são conferidas pelos
artigos 127, caput, e 129, incisos II, III e IX da Constituição da República; artigo 5º,
incisos I, II, alínea “d”, III, alíneas “a”, “d” e “e”, V, alínea “b”, e VI, e artigo 6º, incisos
VII, alínea “b”, XIV, alínea “g”, XIX e XX, todos da Lei Complementar nº 75/1993;
artigo 4º, inciso IV e artigo 23, ambos da Resolução 87/2006, do CSMPF, e demais
dispositivos pertinentes à espécie;

Considerando todas as incumbências atribuídas ao

Poder Público pelo artigo 225, § 1º, da Constituição da República, bem como pelo
artigo 255 da Constituição do Estado do Pará;

Considerando que as condutas e atividades

consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano causado (artigo
225, § 3º, da Constituição da República);

Considerando o disposto no artigo 225, § 4º, da

Constituição da República, segundo a qual a Floresta Amazônica é patrimônio
nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais;

Considerando os princípios e objetivos da Política Nacio-

nal e Estadual de Meio Ambiente, expressos na Constituição da República, na Cons-
tituição do Estado do Pará e nas Leis nº 6.938/81 e 5.887/95, respectivamente;

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Considerando os objetivos e diretrizes do Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, instituído pela Lei nº
9.985/2000;

Considerando o termos da Lei nº 11.516/2007, que

atribuiu ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio a
missão institucional de gerir, proteger, monitorar e fiscalizar as unidades de
conservação instituídas pela União;

Considerando o Decreto nº 98.704/1989, que criou a

Floresta Nacional de Saracá-Taquera, e o Decreto nº 84.018/1979, que criou a
Reserva Biológica do Rio Trombetas;

Considerando que a empresa Mineração Rio do Norte é

detentora de concessão de lavra no interior da Floresta Nacional de Saracá-
Taquera;

Considerando a Resolução Conama nº 237/1997, que

regulamenta o licenciamento ambiental estabelecido na Política Nacional do Meio
Ambiente;

Considerando a Resolução Conama nº 13/1990, que

estabelece:
a) que cabe ao órgão responsável por cada Unidade de
Conservação, juntamente com o órgão licenciador, definir as atividades que afetem
a biota da unidade; e
b) que nas áreas circundantes das Unidades de
Conservação (dez quilômetros) qualquer atividade que possa afetar a biota deverá
ser obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente e que tal
licenciamento só será concedido mediante autorização do responsável pela
administração da Unidade de Conservação;

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Considerando o disposto no artigo 67 da Lei nº 9.605/98,

que tipifica como crime ambiental a conduta do Administrador Público que
concede licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas
ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato
autorizativo do Poder Público;

Considerando o disposto no art. 19 da Resolução

CONAMA nº 237/1997, in verbis:

Art. 19 – O órgão ambiental competente, mediante decisão

motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de
controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença
expedida, quando ocorrer:
I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou
normas legais.
II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que
subsidiaram a expedição da licença.
III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Considerando o Procedimento Administrativo nº

1.23.002.000566/2009-16, instaurado na Procuradoria da República no Município de
Santarém/PA para apurar informação de que a Secretaria Estadual de Meio
Ambiente do Estado do Pará – SEMA expediu licenças de instalação e operação no
entorno da Flona Saracá-Taquera/Rebio Trombetas sem a autorização do Chefe
daquela Unidade de Conservação;

Considerando que no bojo daquele Procedimento

Administrativo restou demonstrado que as seguintes licenças/outorgas foram
expedidas ou encontram-se em processo de análise pela Secretaria Estadual de
meio Ambiente – SEMA:
1) Licença de Operação nº 1420/2008 (com pedido de
renovação em 06/02/2009), em favor da Mineração Rio do Norte, para extração de
areia fora de recursos hídricos;

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2) Outorga de direito de uso dos recursos hídricos nº

52/2009, em favor da Mineração Rio do Norte, para captação de água subterrânea;
3) Outorga de direito de uso dos recursos hídricos nº
62/2009, em favor da Mineração Rio do Norte, para captação de água subterrânea;
4) Pedido de Outorga de Uso de Água Subterrânea,
realizado pela Mineração Rio do Norte, Processo nº 2009/0000015652;
5) Licenças de Instalação e Operação nº 588/2009 e
2823/2009, em favor de Martop Construções Terraplenagem Ltda., para usina de
asfalto móvel.

Considerando os termos do ofício nº 153/09 – Unidade

Avançada/Trombetas, datado de 02/10/2009, enviado pelo Chefe Substituto da
Flona Saracá-Taquera/Rebio Trombetas, noticiando que a empresa Martop
Construções Terraplenagem Ltda. tem a previsão de entrar em operação de
produção do asfalto a partir da segunda semana de outubro/2009;

Considerando as informações prestadas pelo Chefe

Substituto da Flona Saracá-Taquera/Rebio Trombetas, no bojo do Procedimento
Administrativo acima mencionado (ofício nº 150/09 – Unidade Avançada/Trombetas,
de 30/09/2009), de que todas as licenças e outorgas emitidas pela Sema acima
arroladas não possuem a autorização do Chefe daquela Unidade de
Conservação, em contrariedade à Resolução Conama nº 13/1990;

Considerando o teor do ofício nº 108/2009 – Unidade

Avançada/Trombetas, de 02/07/2009, enviado pelo Chefe da Flona Saracá-Taquera/
Rebio Trombetas ao Secretário Estadual do Meio Ambiente – Sema, informando que
o empreendimento da empresa Martop Construções Terraplenagem Ltda. encontra-
se no entorno das duas Unidades de Conservação e solicitando que fosse
observada a Resolução Conama nº 13/1990;

Considerando o teor do OF.PRM/STM/GAB3/723/2009,

de 15/09/2009, enviado por esta Procuradoria da República no interesse do
Procedimento Administrativo anteriormente citado, requisitando ao Secretário

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Estadual de Meio Ambiente – SEMA informações sobre todos os empreendimentos

licenciados ou em via de licenciamento na área de influência da Flona Saracá-
Taquera/Rebio Trombetas;

Considerando o silêncio do Secretário de Estado de

Meio Ambiente do Pará – SEMA ante os ofícios nº 108/2009 – Unidade
Avançada/Trombetas, de 02/07/2009 (informação prestada pelo ofício nº 150/09),
enviado pelo Chefe da Flona Saracá-Taquera/Rebio Trombetas, e
OF.PRM/STM/GAB3/723/2009, de 15/09/2009, enviado por esta Procuradoria da
República;

Considerando o teor da Instrução Normativa do ICMBio

nº 05, de 02/09/2009, que estabeleceu o procedimento para análise dos pedidos e
concessão de autorização para o Licenciamento Ambiental de empreendimentos ou
atividades que afetem as unidades de conservação federais, suas zonas de
amortecimento ou áreas circundantes;

DECIDE RECOMENDAR

ao SECRETÁRIO DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE DO

PARÁ – SEMA que:

a) cancele imediatamente todas as licenças/outorgas

ambientais expedidas em favor dos empreendimentos ou atividades anteriormente
arrolados, os quais podem afetar a Floresta Nacional de Saracá-Taquera e a
Reserva Biológica do Rio Trombetas, necessitando de autorização do Chefe da
Unidade de Conservação;

b) cancele as demais licenças ambientais eventualmente

expedidas em favor de empreendimentos ou atividades que possam afetar a
Floresta Nacional de Saracá-Taquera e a Reserva Biológica do Rio Trombetas;

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c) remeta ao Chefe da Flona Saracá-Taquera/Rebio do

Rio Trombetas todos os requerimentos de licença ambiental realizados pelos
empreendimentos ou atividades que possam afetar as referidas Unidades de
Conservação, procedendo-se em conformidade com a Instrução Normativa do
ICMBio nº 05, de 02/09/2009;

Ante a urgência do caso, fixa-se o prazo de 10 (dez) dias

para o atendimento da presente recomendação. Requisita-se, desde logo, que,
dentro desse lapso temporal, seja enviado a este Órgão do Ministério Público
Federal informações sobre as providências tomadas, inclusive por fax e/ou meio
digital.

O Ministério Público Federal adverte, ainda, que a

presente recomendação dá ciência e constitui em mora o destinatário quanto às
providências solicitadas, podendo a omissão na adoção das medidas recomendadas
implicar o manejo de todas as medidas administrativas e ações judiciais cabíveis,
em sua máxima extensão, contra os que se mantiverem inertes e que poderão,
ainda, vir a ser responsabilizados por eventuais danos materiais e/ou morais
suportados pela Administração Pública.

Santarém/PA, 14 de outubro de 2009.

Marcel Brugnera Mesquita

Procurador da República

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