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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS/GV


DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

ISABELLA CARVALHO ALVES

A CONFIANÇA INTERORGANIZACIONAL NO CONTEXTO DA


INOVAÇÃO ABERTA: UMA ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES
DOS GESTORES DE STARTUPS VALADARENSES

Governador Valadares
2023
ISABELLA CARVALHO ALVES

A CONFIANÇA INTERORGANIZACIONAL NO CONTEXTO DA


INOVAÇÃO ABERTA: UMA ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES
DOS GESTORES DE STARTUPS VALADARENSES

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Administração, do
Departamento de Administração, do
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Federal de Juiz de Fora
Campus Governador Valadares, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Administração.

Orientadora: Profª. Drª. Nádia Carvalho

Governador Valadares

2023
ISABELLA CARVALHO ALVES

A CONFIANÇA INTERORGANIZACIONAL NO CONTEXTO DA


INOVAÇÃO ABERTA: UMA ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES
DOS GESTORES DE STARTUPS VALADARENSES

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Administração, do
departamento de Administração, do
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Federal de Juiz de Fora
Campus Governador Valadares, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Administração

Aprovada em 16 de janeiro de 2024

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Dra. Nádia Carvalho - Orientadora


Universidade Federal de Juiz de Fora

________________________________________

Dra. Juliana Goulart Soares do Nascimento


Universidade Federal de Juiz de Fora

________________________________________

Dra. Nathalia Carvalho Moreira


Universidade Federal de Juiz de Fora
AGRADECIMENTOS

À Deus, expresso minha eterna gratidão por suas graças e bênçãos


generosamente derramadas sobre mim. Sem minha fé, nada disso seria possível.
Aos meus amados pais, principalmente minha mãe Simone, que sempre
enfatizaram a importância da educação, meu profundo agradecimento por seu apoio
constante em todos os momentos, sejam de alegria ou tristeza. São pessoas
maravilhosas que não apenas me incentivaram, mas também deram suporte a todos
os meus sonhos. Amo vocês imensamente!
Minha sincera gratidão se estende à minha família, cujo apoio ao longo desta
jornada e fé em mim foram fundamentais para o meu sucesso. Agradeço à minha
irmã, às minhas avós, tias, tios e primas pela presença constante e encorajamento.
Obrigado por serem uma fonte constante de amor e suporte.
À minha dedicada orientadora, a Professora Dra. Nádia Carvalho, expresso
meu profundo agradecimento pela compreensão, paciência e dedicação durante a
elaboração deste trabalho. Sua empatia e comprometimento a tornam uma
profissional excepcional. Agradeço pelo carinho, atenção e estímulo.
A minha amiga Victória Andrade que me proporcionou todo suporte e
encorajamento, dedicando seu precioso tempo e conhecimento para que fosse
possível concluir este trabalho.
Aos professores que me instruíram e compartilharam seus conhecimentos
com competência, e aos colegas que contribuíram ao longo da minha jornada
acadêmica, meu sincero reconhecimento.
Agradeço também aos colaboradores da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, que me guiaram e contribuíram
para o meu entendimento em inovação ao longo dos anos. Sua colaboração foi
fundamental para meu crescimento profissional e pessoal.
Por fim, agradeço imensamente pela oportunidade de estudar em uma
instituição de ensino superior pública e de qualidade. A Universidade Federal de Juiz
de Fora, Campus Governador Valadares, é um marco significativo em minha vida.
RESUMO

O presente trabalho aborda a relevância da confiança interorganizacional no


contexto da Inovação Aberta, considerando um cenário globalizado e altamente
competitivo. Com base na premissa de que empresas bem-sucedidas possuem
vantagens competitivas fundamentadas em inovação e colaboração, o estudo
objetiva compreender como gestores percebem a confiança como um fator crucial na
eficácia das colaborações em Inovação Aberta. A metodologia adotada é qualitativa
e exploratória, utilizando entrevistas semiestruturadas para obter insights
aprofundados sobre a compreensão da confiança, fatores essenciais para seu
desenvolvimento e desafios percebidos pelos gestores na dinâmica da Inovação
Aberta. A pesquisa busca não apenas explorar o estado atual da confiança, mas
também contribuir com insights valiosos para gestores e acadêmicos, promovendo o
avanço do entendimento sobre a interação entre confiança e Inovação Aberta.

Palavras-chave: Inovação aberta, Startups, Confiança, Colaboração.


ABSTRACT

This paper addresses the relevance of interorganizational trust in the context of Open
Innovation, considering a globalized and highly competitive scenario. Based on the
premise that successful companies have competitive advantages grounded in
innovation and collaboration, the study aims to understand how managers perceive
trust as a crucial factor in the effectiveness of collaborations in Open Innovation. The
adopted methodology is qualitative and exploratory, using semi-structured interviews
to gain in-depth insights into the understanding of trust, essential factors for its
development, and challenges perceived by managers in the dynamics of Open
Innovation. The research not only seeks to explore the current state of trust but also
aims to contribute valuable insights for managers and academics, promoting the
advancement of understanding the interaction between trust and Open Innovation.

Keywords: Open innovation, Startups, Trust, Collaboration.


LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Caracterização dos entrevistados
Tabela 2 - Categorias no processo de análise de dados
Tabela 3 - Elementos de confiança percebidos pelos entrevistados
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo de Inovação Aberta


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Background - histórico, experiências e conhecimentos prévio


CEO - Diretor executivo
CFO - Diretor Financeiro
CTO - Diretor de Tecnologia
Fit cultural - compatibilidade e alinhamento entre os valores
Know-How - Conhecimento prático
PME - Pequenas e Médias Empresas
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................
2 REFERENCIAL TEÓRICO...........................................................................................................
2.1 INOVAÇÃO...........................................................................................................................
2.2 INOVAÇÃO ABERTA...........................................................................................................
2.3 CONFIANÇA........................................................................................................................
3 METODOLOGIA..........................................................................................................................
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA.....................................................................................................
3.2 COLETA DOS DADOS.........................................................................................................
3.3 ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................................
4 RESULTADO DA PESQUISA......................................................................................................
4.1 CARACTERÍSTICAS DAS STARTUPS ENTREVISTADAS.................................................
4.2 PERCEPÇÃO DAS STARTUPS RELAÇÃO À COMPREENSÃO DE
CONFIANÇA NO CONTEXTO DA INOVAÇÃO ABERTA..........................................................
4.3 OS FATORES ESSENCIAIS PARA DESENVOLVER A CONFIANÇA NO
CONTEXTO DA INOVAÇÃO ABERTA......................................................................................
4.4 DESAFIOS PERCEBIDOS PELOS GESTORES NO QUE TANGE À
CONFIANÇA NO CONTEXTO DA INOVAÇÃO ABERTA..........................................................
5 DISCUSSÃO DO RESULTADO...................................................................................................
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................
APÊNDICE 1...................................................................................................................................
ROTEIRO SEMI ESTRUTURADO DE ENTREVISTA....................................................................

1 INTRODUÇÃO
13

1 INTRODUÇÃO

Em um cenário cada vez mais globalizado e em um mercado em constante


evolução e altamente competitivo, as empresas que buscam destaque devem
constantemente buscar alternativas que aprimorem sua gestão, atraiam novos
clientes e maximizem suas vendas. É necessário que essas empresas trabalhem
com elementos que verdadeiramente funcionem como diferenciais competitivos,
sendo a inovação um desses elementos (KULAK, 2023).
A necessidade de adaptação e incorporação da inovação como estratégia,
tornou-se ainda mais evidente com a crise desencadeada pela pandemia do
Coronavírus em 2020, que afetou diversos setores e mercados no Brasil e em todo o
mundo. Nesse contexto, a inovação assume um caráter estratégico, tornando-se
imprescindível para que as empresas assegurem a prosperidade contínua de seus
negócios (TALKE; HEIDENREICH, 2014).
Conforme definido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico, no Manual de Oslo, a inovação é a criação de um produto ou processo
novo ou aprimorado, que se diferencia de maneira significativa em relação às
práticas anteriores da empresa, e que é disponibilizado para usuários potenciais
(produto) ou implementado pela própria empresa (processo). Essa definição ressalta
que a inovação não se restringe ao campo tecnológico, abrangendo uma variedade
de aspectos dentro de uma organização (OCDE, 2005 p.46)
Sendo assim, a inovação pode ser considerada mais eficaz quando um
serviço ou produto não apenas introduz melhorias, mas também proporciona
satisfação ao cliente. Assim, é possível conceber a inovação como uma fonte
geradora de valor, desvinculando esse processo exclusivamente de elementos
tecnológicos. A implementação da inovação pode ocorrer na gestão empresarial,
incorporando, por exemplo, aspectos sociais.
Atualmente, empresas de diversos portes, incluindo grandes corporações,
micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), estão cada vez mais envolvidas no
mercado global. Essa participação vai além do simples intercâmbio comercial, inclui
parcerias estratégicas. O sucesso nesse cenário competitivo, exige que as empresas
possuam vantagens competitivas sólidas, as quais são baseadas em inovação e
colaboração entre as empresas (GUIMARÃES; AZAMBUJA, 2018).
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A estratégia de colaboração apresenta-se como uma eficaz abordagem para


as organizações que almejam aprimorar sua competitividade e fomentar a inovação.
Essa prática viabiliza a troca de informações e conhecimentos entre empresas,
facilitando a resolução eficaz de conflitos e estimulando a geração de ideias
inovadoras. A efetiva implementação da colaboração pode resultar em vantagens
tangíveis, como a redução de custos e o aprimoramento da eficiência operacional.
Ademais, essa estratégia surge como um impulsionador para o desenvolvimento da
inovação e da criatividade organizacional. No entanto, é importante considerar que
há uma clara necessidade de buscar oportunidades externas, e políticas podem
fomentar essa atividade, independentemente do porte da empresa (FISHER;
ZAYAS, 2012).
Nesse contexto, a abordagem de ecossistema destaca uma dinâmica
conhecida como colaboração, na qual concorrentes aceitam colaborar para obter
benefícios mútuos, mesmo mantendo uma relação competitiva entre si
(BENGTSSON; KOCK, 2000).
Essa abordagem colaborativa da inovação, é conhecida como "Inovação
Aberta", que vem se tornando cada vez mais proeminente no contexto empresarial
moderno. O conceito de inovação aberta, é definido por Chesbrough, que diz que as
ideias cruciais para o processo de inovação podem surgir tanto de dentro quanto de
fora da organização, e essas ideias têm a possibilidade de serem levadas ao
mercado (CHESBROUGH, 2003, 2006).
A Inovação Aberta é uma abordagem de crescente relevância na atualidade,
pois ressalta a importância de as empresas adotarem práticas colaborativas na
busca por inovações significativas, promovendo a integração de conhecimentos e
recursos externos. Essa abordagem é especialmente crucial para pequenas e
médias empresas (PMEs) por exemplo, que enfrentam desafios como limitações de
recursos internos, restrições geográficas e barreiras de entrada em novos mercados,
desta forma a inovação aberta pode impactar positivamente seu desempenho e
lucratividade (BAGGIO; GAVRONSKI; LIMA, 2019).
Para obter sucesso nas relações colaborativas no contexto de inovação
aberta, a necessidade de interagir de forma eficaz com o ambiente externo é
fundamental. A colaboração envolve a busca de benefícios mútuos por meio do
trabalho coletivo, implicando relações mais estreitas entre parceiros e empresas.
Quanto mais sólidas forem essas relações, mais eficientes e eficazes serão as
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atividades colaborativas desenvolvidas (PARUNG, BITITCI, 2008).


Conforme destacado por Chesbrough (2019), a inovação aberta proporciona a
redução de custos e tempo investidos, integrando informações e tecnologias
externas. A capacidade inovadora de uma empresa está intrinsecamente
relacionada à disposição para compartilhar conhecimento, utilizar recursos externos
e assumir os riscos associados a esse modelo. Entretanto, o processo de
desenvolvimento de uma cultura de inovação enfrenta desafios tanto internos quanto
externos à organização. Como salientam Candido e Vale (2018, p. 186), a adoção
do modelo de Inovação Aberta pelas organizações envolve o desafio de superar o
fator confiança para estabelecer parcerias.
Colares-Santos e Schiavi (2020) definem a confiança como uma crença na
habilidade, integridade e benevolência de uma outra pessoa ou organização. Isso
implica a convicção de que a outra parte é competente e capaz de cumprir suas
promessas (competência), é confiável e merece respeito (integridade), e agirá de
maneira responsável e ética (benevolência). Investir na construção de
relacionamentos confiáveis com os parceiros de inovação é essencial para promover
uma colaboração eficaz e garantir que as iniciativas inovadoras alcancem seu
potencial máximo.
Em primeiro lugar, a confiança é um elemento que permite que as partes
envolvidas compartilhem informações e conhecimentos de maneira aberta e
honesta. Em segundo lugar, a confiança é fundamental para assegurar que todas as
partes cumpram suas obrigações e compromissos, o que é vital para o
funcionamento eficaz das parcerias. Em terceiro lugar, a confiança desempenha um
papel importante na resolução de conflitos e disputas que possam surgir ao longo do
processo colaborativo (SCHMIDT; SCHREIBER, 2019).
Sendo assim a confiança interorganizacional emerge não só como um recurso
fundamental na inovação aberta, no que tange às relações colaborativas, mas
também emerge com um recurso crítico nessas colaborações, pois, a construção e a
manutenção dessa confiança são desafios complexos, que envolvem a coordenação
de expectativas e interações entre as partes colaboradoras. Essas considerações
ressaltam a complexidade e a importância das relações de confiança nas
colaborações interorganizacionais (BARCHI, GRECO, 2018).
Considerando a complexidade e importância das relações de confiança nas
colaborações interorganizacionais, conforme destacado por Barchi, Greco (2018),
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torna-se imperativo explorar a maneira pela qual os gestores percebem a confiança


no contexto dinâmico da inovação aberta. A confiança é essencial para a
colaboração interorganizacional, possibilitando o compartilhamento de informações
sensíveis, resolução de conflitos e incentivo à colaboração proativa. No cenário
específico da inovação aberta, a confiança assume papel ainda mais preponderante,
pois as organizações precisam compartilhar informações estratégicas e sensíveis,
bem como estar dispostas a assumir riscos e investir em parcerias inovadoras.
A compreensão dos gestores sobre a confiança na dinâmica da inovação
aberta emerge como um fator determinante para o sucesso dessas parcerias. A
pesquisa conduzida por Barchi e Greco (2018) examinou a percepção dos gestores
em empresas brasileiras envolvidas em parcerias de inovação aberta. Os resultados
revelaram que os gestores consideram a confiança como um elemento crucial para o
êxito da inovação aberta. Fatores identificados para a construção da confiança
incluíram o compartilhamento transparente de informações e conhecimentos, o
cumprimento de compromissos assumidos e a resolução construtiva de conflitos.
Esses resultados têm implicações significativas para organizações que
buscam prosperar na inovação aberta. A pesquisa destaca que gestores que
reconhecem a importância da confiança são mais propensos a investir na sua
construção com parceiros, contribuindo para o sucesso das parcerias de inovação
aberta. Recomenda-se, portanto, que as organizações desenvolvam
relacionamentos de longo prazo, compartilhem informações de maneira
transparente, cumpram compromissos assumidos e abordam conflitos de maneira
construtiva, reconhecendo que a construção da confiança é um processo contínuo
que requer esforço e dedicação mútuos (BARCHI; GRECO 2018)
Desta forma, este estudo busca contribuir para a compreensão do impacto da
confiança interorganizacional no contexto do processo de Inovação Aberta, tendo
como objetivo geral deste estudo analisar como os gestores observam a confiança e
seus elementos na dinâmica da Inovação Aberta e foram delineados os seguintes
objetivos específicos: Identificar os fatores que os gestores consideram essenciais
para desenvolver a confiança sob a ótica da Inovação Aberta e Compreender os
desafios percebidos pelos gestores no que tange à confiança no contexto da
Inovação Aberta.
Os objetivos específicos direcionam a pesquisa para uma análise abrangente e
aprofundada das percepções, fatores e desafios relacionados à confiança na
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dinâmica da Inovação Aberta, contribuindo assim para o entendimento mais amplo


desse fenômeno empresarial emergente.
A pesquisa se justifica uma vez que a compreensão dos mecanismos que
sustentam o sucesso dessas iniciativas, especialmente no que diz respeito à
confiança interorganizacional, ainda é limitada. Portanto, este estudo busca
preencher essa lacuna de conhecimento, fornecendo dados e insights que podem
beneficiar organizações de diversos setores que buscam impulsionar a inovação por
meio de parcerias estratégicas, destacando a importância da confiança como um
fator-chave para o sucesso.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 INOVAÇÃO

A inovação é um tema amplamente discutido e que pode ser definido de


diversas maneiras por diferentes autores. Segundo Schumpeter (1934), a inovação é
um processo de destruição criativa, ou seja, a introdução de algo novo que destrói
ou torna obsoleto algo anteriormente existente. Essa visão enfatiza que a inovação
não é apenas a introdução de algo novo, mas também implica na eliminação do
antigo. Por outro lado, a inovação é compreendida como a conversão de ideias em
soluções, indicando que, para se concretizar, a inovação deve transcender o
domínio do pensamento e gerar valor a partir desse processo (TIDD; BESSANT,
2015). Nesse contexto, a inovação se revela como um processo dinâmico, onde a
transformação de ideias em soluções ocorre tanto pela criação de algo
completamente novo quanto pela renovação e introdução de novidades em algo já
existente (SCHERER; ZAWISLAK, 2007).
Essa perspectiva aborda a inovação como um esforço colaborativo, que
envolve a combinação de conhecimentos e recursos provenientes de diversas
fontes. No mesmo sentido, o Manual de Oslo (OCDE, 2005) estabelece a definição
de inovação como a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, um processo inovador ou significativamente
aprimorado, ou um novo método de marketing, organizacional ou de gestão nas
práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.
Essa definição do Manual de Oslo destaca a importância crucial de implementar não
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apenas novas ideias e práticas, mas também ressalta que a inovação vai além da
geração de conceitos, enfatizando a necessidade de efetuar mudanças tangíveis e
melhorias substanciais.
Por fim, Tidd e Bessant (2008) destacam a importância de criar valor através
da aplicação de novas ideias em produtos, processos ou serviços. Essa visão
conclui e ressalta que a inovação deve gerar valor para a empresa e para a
sociedade, e não apenas ser uma novidade sem utilidade prática.
Com base nessas diferentes definições, é possível perceber que a inovação é
um processo complexo e multidimensional, que envolve a criação e implementação
de novas ideias e práticas para gerar valor para a empresa e para a sociedade.
Em vista disso utilizaremos como base a definição de Tidd e Bessant (2008), que
destaca a importância da criação de valor através da aplicação de novas ideias em
produtos, processos ou serviços.

2.2 INOVAÇÃO ABERTA

Partindo do conceito de inovação como um processo de criação de valor por


meio da implementação de novas ideias (TIDD; BESSANT, 2008), é válido explicitar
que as empresas adotam abordagens diversas para organizar seus processos de
inovação. Uma dessas abordagens é a inovação fechada que se concentra na
utilização exclusiva de recursos e tecnologias internos, limitando-se ao
conhecimento gerado internamente. Nesse tipo de filosofia, as empresas
acreditavam que para uma inovação ser bem-sucedida seria essencial ter controle
sobre ela, de modo que as organizações deveriam gerar suas próprias ideias, assim
como desenvolver, fabricar, comercializar, distribuir e prestar serviços por conta
própria (Chesbrough, 2003b).
Chesbrough (2003) diz que o modelo de inovação fechada que é
caracterizado pela condução interna de todo o processo de inovação dentro das
empresas, sem a participação de agentes externos, um modelo de inovação que era
possível apenas para as grandes empresas, munidas de recursos substanciais e
com compromissos de longo prazo em pesquisa e desenvolvimento (P&D), sendo
capazes de competir efetivamente no âmbito da inovação neste cenário.
Ainda na visão do autor, os concorrentes que almejam superar essas
corporações líderes neste cenário de inovação fechada, precisavam antecipar seus
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recursos e estabelecer seus próprios laboratórios de pesquisa, caso desejassem ter


alguma chance nesse ambiente altamente competitivo. Deste modo, as
organizações mantinham laboratórios internos de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) e conduziam suas atividades de maneira isolada, muitas vezes fora do
escrutínio do mercado, já que a P&D interna era considerada um ativo estratégico
crucial. A principal fonte de conhecimento era a própria organização e seus recursos
internos.
A captação dos melhores profissionais do campo do conhecimento era uma
prática comum neste modelo, com esses especialistas sendo contratados como
pesquisadores para impulsionar o laboratório de P&D das empresas inovadoras. A
expectativa era de que os investimentos nesses esforços resultam em lucros
garantidos, prevalecendo a ideia de que "a empresa deve gerar suas próprias ideias
e, em seguida, desenvolvê-las, construí-las, levá-las ao mercado, distribuí-las,
assisti-las, financiá-las e patrociná-las por si só". Esse modelo de inovação fechada
foi predominante em diversos setores industriais ao longo do século XX, mantendo-
se em vigor em algumas organizações até o final do século, quando começou a ser
desafiado por uma série de fatores (CHESBROUGH, 2003).
Em primeiro lugar, o aumento no número de programas de pós-graduação
resultou em uma força de trabalho de conhecimento cada vez mais qualificada. Em
segundo lugar, essa força de trabalho altamente qualificada demonstrou uma
mobilidade significativa no mercado. Em terceiro lugar, o surgimento de capital de
risco voltado para investimentos em pequenas empresas de alta tecnologia e em
empreendimentos especializados em pesquisa e desenvolvimento, trouxe uma
explosão de oportunidades para a produção e comercialização de pesquisas
(BALESTRIN; VERSCHOORE, 2008, p.144).
Esses fatores de mudança, juntamente com ciclos de vida de tecnologia cada
vez mais curtos, levaram ao surgimento de uma abordagem mais aberta para
atividades de inovação, e os processos de P&D passaram a incorporar elementos
externos à organização.
Por outro lado, tem-se a inovação aberta, que emerge como uma abordagem
diferente, que marca uma transformação significativa na virada do século XX para o
século XXI em relação à prática da inovação. Como visto, devido à rápida evolução
da tecnologia e do mercado, a busca constante por conhecimento e novas
tecnologias se tornou imperativa. Além disso, o controle sobre o conhecimento se
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tornou mais difícil, devido à mobilidade dos recursos humanos detentores desse
conhecimento, levando as empresas a adotarem a inovação aberta e a serem mais
receptivas ao ambiente externo (MARCOLIN, VEZZETTI, MONTAGNA, 2017).
A inovação aberta é caracterizada pela entrada e saída de fluxos de
conhecimento, acelerando a inovação interna e expandindo os mercados para uso
externo. Isso envolve a otimização de recursos internos e externos, com a busca de
ideias provenientes de ambas as fontes, para aprimorar ou desenvolver novos
produtos. Seguindo ainda a definição de Chesbrough (2003), no modelo de inovação
aberta, as empresas compartilham ideias internas e externas e o conhecimento
gerado internamente é disseminado para o exterior. Isso resulta em fronteiras
porosas entre a empresa e o ambiente externo, permitindo a livre circulação de
conhecimento. Esse ambiente cria oportunidades por meio da colaboração com
vários intervenientes, como parceiros, clientes ou fornecedores, cuja representação
pode ser vista na Figura 1. (CHESBROUGH, 2003; MARCOLIN, VEZZETTI,
MONTAGNA, 2017).

Figura 1 – Modelo de Inovação Aberta

Fonte: Adaptação do modelo de Chesbrough (2003)

Para entender melhor como acontece o processo de inovação aberta,


podemos resumi-lo em três processos principais: a entrada de conhecimento
(inovação aberta inbound), a saída de conhecimento (inovação aberta outbound) e a
cooperação entre a empresa e outras partes interessadas para criar valor conjunto
(coupled).
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No processo de entrada (inbound), a empresa busca adquirir novos


conhecimentos, tecnologias e recursos externos para utilizar em seu processo de
inovação, o que geralmente é feito para resolver problemas específicos e
complementar a expertise interna da empresa. Na saída de conhecimento
(outbound), a empresa aproveita seus conhecimentos e recursos internos para gerar
valor para outras empresas ou para a sociedade em geral, explorando novas
oportunidades de negócios e gerando receita. Por último, no processo de
cooperação (coupled) é quando as empresas unem os dois processos anteriores
para obter vantagens de ambos. Isso pode incluir parcerias estratégicas com outras
empresas, colaboração com fornecedores e clientes, envolvimento de comunidades
de usuários ou co-criação com consumidores. Ao envolver outras partes
interessadas, a empresa pode obter perspectivas diversas, acesso a recursos
complementares e habilidades adicionais. Essa colaboração pode levar ao
desenvolvimento de soluções inovadoras que atendam melhor às necessidades dos
clientes e criem valor para todas as partes envolvidas (SILVA, 2022).
A inovação aberta também pode ser orientada para diferentes áreas, como
tecnologia, mercado ou organização. A orientação para o mercado envolve
principalmente a participação dos clientes no processo de inovação e licenciamento
de conhecimento. A orientação para a organização implica mudanças
organizacionais, como novas práticas ou aquisições. Já a orientação para a
tecnologia busca aumentar os ativos tecnológicos, colaborando com parceiros
externos em P&D (AHN, MINSHALL, MORTARA, 2017)
Existem motivos variados que levam as empresas a optarem pela inovação
aberta, como a necessidade de atender aos clientes, adquirir novos conhecimentos,
reduzir o tempo de lançamento no mercado e compartilhar riscos.
Baggio, Gavronski e Lima (2019) destacam por exemplo, que PMEs que
adotam o modelo estratégico de inovação aberta, passam a obter melhores
resultados com o aproveitamento de tecnologias e conhecimentos desenvolvidos por
outras empresas, além do compartilhamento de recursos e parcerias por meio de
alianças estratégicas, tem-se o desenvolvimento mais eficiente de inovações e
captação de recursos a baixo custo, superando obstáculos como localização
geográfica, recursos internos limitados, e o acesso a novos mercados bem como o
aumento da lucratividade.
22

Dada a necessidade de interação com o ambiente externo na inovação


aberta, é crucial que as empresas estabeleçam boas parcerias com os parceiros
externos adequados, incluindo o governo, a indústria, a universidade, laboratórios
comerciais e outras partes interessadas. Essa relação de parceria desempenha um
papel fundamental no sucesso da inovação aberta (SIMÕES, MOREIRA, DIAS,
2020).
No entanto, ainda é possível identificar situações em ambientes
interorganizacionais, onde há relutância em compartilhar informações de forma
vertical. Em vista disso, começa-se a discutir sobre a confiança interorganizacional,
como um papel fundamental na garantia da segurança das organizações que
estabelecem parcerias colaborativas, isso porque a confiança desempenha um
papel crucial na sustentação de relacionamentos de longo prazo, uma vez que
proporciona a segurança de que a obtenção dos resultados positivos envolva todas
as partes envolvidas (AGARWAL; NARAYANA; 2020; SCHMIDT; SCHREIBER,
2019).

2.3 CONFIANÇA

Conforme Zaheer, Mcevily, Perrone destacaram, a confiança


interorganizacional pode ser definida como o grau de confiança depositado na
empresa parceira, ou seja, o quanto a organização confia que a empresa parceira
será capaz de cumprir com suas obrigações e atender às expectativas (ZAHEER,
MCEVILY, PERRONE, 1998). Seguindo a perspectiva de Gulati e Nickerson (2008),
a confiança interorganizacional diz respeito aos comportamentos previsíveis de uma
organização parceira, isto é, se o comportamento da empresa parceira é coerente
com seu propósito.
Sako (2006) define confiança como a crença de que uma parte não irá
prejudicar a outra, mesmo quando as partes têm a oportunidade de fazê-lo. A autora
define a confiança como um conceito multifacetado que pode ser dividido em três
dimensões: confiança cognitiva: a crença de que a outra parte é capaz de cumprir
suas obrigações, confiança afetiva: o sentimento de afeição e respeito pela outra
parte, e confiança comportamental: a expectativa de que a outra parte agirá de
forma honesta e confiável.
Colares-Santos e Schiavi (2020) também definem a confiança
interorganizacional como a expectativa de uma organização de que outra
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organização cumprirá suas obrigações e expectativas. Eles argumentam que a


confiança interorganizacional é um fator importante para o sucesso de
relacionamentos interorganizacionais, pois pode levar a uma série de benefícios,
como aumento da cooperação, redução de riscos e melhoria do desempenho.
Diversas pesquisas associaram essa confiança ao desempenho relacional,
isto é, resultados interorganizacionais positivos. O desempenho relacional positivo,
refere-se aos resultados alcançados por duas ou mais organizações que trabalham
juntas em um relacionamento de confiança interorganizacional, que pode ser medido
e avaliado por meio de uma variedade de indicadores como crescimento,
lucratividade, redução de custos, satisfação dos clientes, reputação da empresa e
inovação. A escolha desses indicadores para critérios de avaliação está diretamente
ligada aos objetivos específicos de cada relacionamento interorganizacional (BUTT;
SHAH; AHMAD, 2021; GULATI; NICKERSON, 2008; ZAHEER, 1998).
Logo, a confiança é dada como um elemento essencial na formação de
relacionamentos, sendo um fator-chave de sucesso em estratégias cooperativas. Em
contextos de relacionamentos interorganizacionais, como aqueles entre
compradores e fornecedores por exemplo, o processo é fortemente influenciado
pelas percepções e principalmente pela confiança que cada organização possui em
relação aos seus parceiros (DOLLINGER; GOLDEN; SAXTON, 1997; DONATI;
ZAPPALA; GONZÁLEZ-ROMÁ, 2020).
Nas últimas décadas, a confiança interorganizacional tem sido objeto de
estudo e pesquisa devido à sua influência positiva sobre o comportamento
cooperativo. Relações interorganizacionais baseadas em confiança são essenciais
para relacionamentos de longo prazo, dado que essas condições podem reduzir
custos e proporcionar resultados positivos aos envolvidos (SCHMIDT, SCHREIBER,
2019).
Colares Santos e Schiavi (2020) demonstraram que a confiança
interorganizacional é um fator importante para o sucesso de relacionamentos
interorganizacionais em empresas brasileiras de tecnologia. Os fatores mais
importantes que influenciam a confiança interorganizacional em empresas brasileiras
de tecnologia são: (1) Comportamento ético: As organizações que são percebidas
como éticas são mais propensas a serem confiáveis; (2) Competência: As
organizações que são percebidas como competentes são mais propensas a serem
confiáveis; (3) Relações pessoais: As relações pessoais entre os funcionários das
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organizações podem contribuir para a confiança; (4) Interação frequente: A interação


frequente entre as organizações pode contribuir para a confiança (COLARES-
SANTOS; SCHIAVI, 2020).
Outro estudo recente de Schmidt e Schreiber, (2019) mostra que a confiança
desempenha um papel fundamental nas colaborações entre o setor público e o setor
privado, isso porque os dois setores têm objetivos, valores e culturas diferentes, e
para que que a inovação aberta flua na forma de colaborações bem-sucedidas, a
confiança se torna um elemento indispensável por uma série de razões. Em primeiro
lugar, a confiança é essencial para que as partes envolvidas compartilhem
informações e conhecimentos. Em segundo lugar, a confiança é necessária para
que as partes envolvidas cumpram suas obrigações. Em terceiro lugar, a confiança
ajuda a resolver conflitos e disputas.
Para estabelecer e fortalecer a confiança em colaborações organizacionais, é
imperativo que as partes envolvidas sigam diretrizes específicas. Isso inclui a
definição de objetivos claros e compartilhados, garantindo uma comunicação eficaz,
demonstrando respeito pelas diferenças e mantendo uma disposição ativa para a
cooperação mútua. A construção da confiança é um processo gradual que requer
tempo e esforço contínuo, entretanto, é um componente essencial para o êxito das
colaborações entre organizações. (SCHMIDT; SCHREIBER, 2019).
Portanto, é possível perceber que a confiança desempenha um papel
fundamental no êxito de iniciativas de inovação aberta, haja vista que a abordagem
do modelo de inovação aberta se pauta pela intensa colaboração entre
organizações. Nesse contexto, a confiança emerge como um elemento crucial,
atuando como um intermediário que viabiliza o compartilhamento de informações e
conhecimentos sensíveis entre as organizações, a resolução eficaz de conflitos e a
promoção de colaborações proativas em um ambiente seguro (BAHEMIA;
ROEHRICH, 2023).
Com base nas diversas definições levantadas, é possível observar que a
confiança desempenha um papel crucial no contexto da inovação aberta,
especialmente no que concerne às relações interorganizacionais. Diante desse
panorama, optou-se por adotar como fundamento a definição apresentada por
Colares Santos e Schiavi (2020), que identificam os elementos primordiais que
exercem influência sobre a confiança interorganizacional, a saber: (1)
25

Comportamento ético; (2) Competência; (3) Relações pessoais; (4) Interação


frequente.

3 METODOLOGIA

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Para Gil, uma pesquisa é definida como um procedimento que é racional e


sistemático, tendo por objetivo responder aos problemas que são propostos. Desse
modo, diante do problema proposto que é entender como os gestores percebem a
confiança na dinâmica da inovação aberta, e, dessa forma, tendo por objetivo geral,
analisar como os gestores percebem a confiança e seus elementos na dinâmica da
inovação aberta, a presente pesquisa se classifica como qualitativa e exploratória
(GIL, 2002).
A pesquisa qualitativa visa proporcionar uma visão melhorada sobre o
problema em análise, seu uso é mais comum em situações em que há maiores
incertezas, por viabilizar certo aprofundamento no problema de pesquisa,
fornecendo maior compreensão (MALHOTRA, 2018). Não são utilizados os
processos estatísticos, nem almeja numerar ou medir os resultados, contudo procura
promover respostas às questões particulares, compreendendo a situação e as suas
características (LAKATOS; MARCONI, 2017).
A pesquisa observatória tem como propósito aprimorar a compreensão do
pesquisador sobre o tema, fornecendo um panorama abrangente que servirá como
fundamento para investigações mais detalhadas no futuro. Diferentemente da
pesquisa exploratória, a observatória não busca necessariamente enumerar ou
medir resultados, mas desempenha um papel crucial na identificação de variáveis
relevantes, na formulação de hipóteses preliminares e no delineamento de métodos
apropriados para estudos subsequentes (LAKATOS; MARCONI, 2017). A pesquisa
observatória, ao contrário da pesquisa qualitativa, não se restringe a abordagens
específicas, podendo incorporar métodos qualitativos ou quantitativos, conforme a
natureza do problema em análise. Seu principal objetivo é proporcionar insights e
percepções iniciais, muitas vezes sem a formulação de hipóteses específicas,
contribuindo para uma definição mais precisa do problema de pesquisa
(MALHOTRA, 2018).
26

Com relação à coleta de dados, optou-se pela técnica da entrevista


semiestruturada como método adequado para a obtenção de informações
qualitativas e aprofundadas. A escolha dessa abordagem está alinhada com a
natureza exploratória da pesquisa, buscando proporcionar uma compreensão mais
holística e contextualizada do problema em análise (GIL, 2002). Esta abordagem
metodológica permite uma interação mais dinâmica entre o pesquisador e o
participante, possibilitando a obtenção de dados detalhados sobre experiências,
percepções e opiniões relevantes para o escopo da pesquisa. Além disso, ao
contrário de métodos estritamente estruturados, a entrevista semiestruturada
proporciona a oportunidade de emergirem temas inesperados durante o processo,
enriquecendo a compreensão global do fenômeno em estudo (LAKATOS;
MARCONI, 2017).
Dessa forma, a escolha da entrevista semiestruturada reflete a intenção de
capturar a complexidade e a riqueza do objeto de pesquisa, garantindo uma
abordagem qualitativa que se alinha aos objetivos e à natureza exploratória do
estudo.

3.2 COLETA DOS DADOS

A seleção das empresas participantes neste estudo foi deliberadamente


direcionada para startups consolidadas do município de Governador Valadares -
MG, abrangendo diversos segmentos. Esta escolha estratégica baseou-se na
natureza dinâmica e inovadora das startups, as quais, por sua própria essência,
estão frequentemente na vanguarda da adoção de práticas de inovação aberta.
A escolha do município de Governador Valadares, foi baseada em sua
posição estratégica no Vale do Rio Doce, sua significativa importância econômica e
social na região, e sua atuação destacada na área de inovação. Atualmente, o
município abriga diversas iniciativas relacionadas direta e indiretamente à inovação,
as quais têm elevado sua visibilidade e contribuído para o fortalecimento do
ecossistema de inovação local. Conforme indicado por um estudo do Sistema
Mineiro de Inovação, Governador Valadares está classificado em sexto lugar no
contexto regional, sendo a cidade mineira com o maior número de empresas de
tecnologia e startups, além de ser a líder entre os municípios das regiões leste,
nordeste e norte do Estado (SIMI, 2023).
27

A diversidade de segmentos foi considerada essencial para proporcionar uma


perspectiva abrangente sobre como diferentes setores incorporam e respondem à
confiança no contexto de inovação aberta.
Conforme apontado pelo Mapeamento de Startups, uma iniciativa anual da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação
(SMDCTI), observou-se um crescimento no número de startups no município. No
ano de 2022, foram identificadas 28 startups, o que representa um aumento de 4 em
comparação ao ano anterior.
O município de Governador Valadares destaca-se como referência no cenário
regional e estadual devido à sua abordagem proativa na consolidação da política de
inovação. A promulgação de leis que estabelecem as bases do ecossistema local,
formuladas por uma equipe técnica especializada, posiciona a localidade como um
modelo a ser seguido. As legislações abrangem a criação de instituições gestoras da
política municipal de inovação, a formalização do Parque Científico e Tecnológico
Figueira do Rio Doce, incluindo a regulamentação de seus espaços, marcando-o
como o primeiro Parque do Leste de Minas Gerais, e a disponibilidade de um
coworking público. Além disso, as normativas contemplam aspectos relacionados à
concessão de benefícios fiscais e incentivos para startups e empresas de base
tecnológica, tanto as já estabelecidas quanto as que planejam se instalar na cidade.
Essas iniciativas consolidam Governador Valadares como uma referência em termos
de fomento à inovação e desenvolvimento tecnológico.
Ademais, o roteiro de entrevista foi cuidadosamente adaptado para se
adequar à realidade e complexidade específicas das startups, levando em
consideração os desafios e oportunidades inerentes a essas organizações em
estágio inicial.
A coleta de dados com os gestores ocorreu exclusivamente por meio do
Google Meet, durante os meses de novembro e dezembro de 2023. A média de
duração das entrevistas foi de 20 minutos, totalizando 98 minutos de gravação.
Posteriormente, as entrevistas gravadas foram transcritas. Para preservar a
identidade dos entrevistados, foram atribuídos códigos aos respondentes, conforme
apresentado na Tabela 1, que detalha a caracterização dos entrevistados e outras
informações.
28

Tabela 1 - Caracterização dos entrevistados

Fonte: Produzido pela autora

3.3 ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados coletados, provenientes de entrevistas realizadas com


gestores de diversas startups, foi conduzida através da metodologia de análise de
conteúdo, alinhando-se às diretrizes propostas por Silva e Fossá (2015). Este
método oferece uma abordagem robusta para extrair significados e padrões,
permitindo uma compreensão aprofundada das dinâmicas de inovação aberta nesse
contexto.
Cada entrevista foi registrada com o consentimento dos participantes e,
posteriormente, transcrita de maneira fiel à gravação. Esse procedimento assegurou
a fidedignidade dos dados coletados, possibilitando uma análise minuciosa.
A análise de conteúdo foi conduzida em três fases interconectadas,
começando pela pré-análise. Nesta etapa, o material foi organizado, e uma leitura
inicial das transcrições permitiu a identificação de categorias e códigos iniciais
(entrega, Know-How, valores, segurança, compromisso, sinergia, recomendação,
cooperação e etc) que posteriormente foram aglutinados por semelhança.
A exploração dessas categorias ocorreu em seguida, com uma análise
detalhada da relevância delas para os objetivos da pesquisa. Desta forma,
buscamos compreender a dinâmica específica da inovação aberta em startups,
destacando fatores críticos de sucesso e desafios enfrentados por essas
organizações em estágio inicial.
Na fase de interpretação, as categorias identificadas foram contextualizadas
em relação à confiança nas relações de inovação aberta. Surgiu uma distinção clara
entre fases que, sob a ótica da parceria a confiança não existia e precisava ser
construída, e fase em que a confiança existia e precisava ser mantida, sendo elas a
29

percepção da confiança antes da parceria e durante a parceria, conforme tabela 2.


Elementos de confiança foram analisados à luz de fatores externos, como posição
no mercado e relação com clientes, e fatores internos, incluindo metodologia de
trabalho, profissionalismo e cultura organizacional.

Tabela 2 - Categorias no processo de análise de dados

Fonte: Produzido pela autora

Em resumo, a identificação das categorias no processo de análise de


conteúdo foi meticulosa e seguiu uma abordagem sistemática. Após a transcrição
das entrevistas, realizou-se uma análise de palavras-chave, destacando os termos
mencionados pelos gestores das startups. Posteriormente, organizou-se as frases
onde essas palavras-chave eram empregadas, permitindo a formação de códigos
iniciais, tais como entrega, Know-How, valores, segurança, compromisso, sinergia,
recomendação, cooperação, entre outros. Estes códigos foram então aglutinados
por semelhança, resultando em cinco categorias gerais que encapsulam as nuances
das respostas.
Adicionalmente, ressalta-se a ênfase na distinção clara entre as fases em que
a confiança ainda não existia e precisava ser construída e aquelas em que a
confiança já existia e necessitava de manutenção, proporcionando insights distintos
sobre as percepções antes e durante as parcerias. A contextualização abrangente
dos elementos de confiança em relação a fatores externos e internos oferece uma
visão mais aprofundada das complexidades envolvidas nas relações de inovação
aberta em startups, contribuindo para uma compreensão robusta do tema.
30

4 RESULTADO DA PESQUISA

Nesta seção, apresentamos os resultados da pesquisa realizada, dividindo a


análise em duas partes distintas. Inicialmente, realizamos uma análise
individualizada das características dos respondentes para compreender o contexto
de cada setor abordado e após o posicionamento dos gestores em relação à
compreensão de confiança por parte dos gestores no contexto da Inovação Aberta.
Em seguida, os resultados são discutidos com base nos códigos e categorias
identificados durante o processo de análise, identificando os fatores que os gestores
consideram essenciais para desenvolver a confiança e os desafios percebidos pelos
gestores no que tange à confiança no contexto da Inovação Aberta.

4.1 CARACTERÍSTICAS DAS STARTUPS ENTREVISTADAS

Entrevista 1
A startup 1, originou-se em 2019, partindo da insatisfação dos seus sócios
fundadores com os tradicionais programas de premiação, como milhagens, que não
supriam suas necessidades, especialmente por serem originários do interior e
enfrentarem dificuldades para usufruir desses benefícios. Diante desse cenário,
surgiu a ideia de criar um programa de premiação mais acessível e relevante para o
cotidiano. Essa abordagem inovadora foi aplicada em uma empresa de material de
construção vinculada ao segmento de tintas, voltada para um público específico: os
pintores. Reconhecendo que os pintores valorizam benefícios práticos e próximos à
sua realidade, como TVs e latas de cerveja, em detrimento de prêmios distantes,
implementou-se um Modelo Mínimo Viável (MVP) em uma empresa de tintas
renomada. O diferencial da empresa está na inovação focada na diferenciação dos
métodos tradicionais de premiação, direcionando-se ao público de materiais de
construção e oferecendo prêmios mais rápidos. Em apenas uma semana, os clientes
podem resgatar vouchers, como o de vale gás, evidenciando o compromisso da
empresa em proporcionar benefícios imediatos aos clientes.

Entrevista 2
O segundo entrevistado, compartilhou que a origem da startup está enraizada
no campo tecnológico. Atualmente, a equipe é composta por três sócios: um CEO
31

(Diretor executivo), um CFO (Diretor Financeiro) e um CTO (Diretor de Tecnologia).


A ideia inicial surgiu por volta de 2016, quando os sócios desempenhavam funções
como consultores empresariais. Na época, o entrevistado também estava envolvido
em outras empreitadas, atuando como consultor empresarial na área de recursos
humanos. A inspiração para o negócio surgiu a partir da experiência do CEO, que,
durante sua atuação como consultor, conduzia pesquisas de clima organizacional de
maneira convencional, por meio de formulários. Ele percebeu a oportunidade de
automatizar esse processo, tornando-o mais eficiente e preciso, reduzindo a
necessidade de interação humana e permitindo que a máquina desempenhasse
uma parte substancial da tradução das pesquisas. Para implementar essa visão, o
CEO desenvolveu o projeto e contratou um desenvolvedor na época. Mais tarde, um
CTO juntou-se como sócio, consolidando a empresa como uma iniciativa nascida da
tecnologia.

Entrevista 3
A terceira startup entrevistada, foi concebida há aproximadamente nove
meses, apresentando-se como uma solução B2B destinada a empresas do setor de
energia solar. A ideia nasceu em meio a uma crise enfrentada pelo fundador, que
também é proprietário de uma empresa de energia solar. Diante dos desafios, surgiu
a percepção de que a terceirização do setor de engenharia poderia ser uma maneira
eficaz de reduzir custos. Inicialmente, o fundador terceirizou a engenharia, trazendo
um engenheiro como sócio para gerenciar essa área. Durante esse processo,
identificou-se uma oportunidade de automatizar todos os fluxos e processos,
resultando em maior agilidade e significativa redução nos custos fixos da empresa.
Observando o sucesso dentro de sua própria organização, surgiu a ideia de expandir
a solução para outras empresas do setor de energia solar.

Entrevista 4
A quarta startup entrevistada, surgiu da identificação de uma necessidade
pelos fundadores, que perceberam a carência de atenção por parte dos instrutores
nas academias e a dificuldade dos frequentadores em ter um acompanhamento
personalizado. Dessa observação, originou-se a ideia de criar um aplicativo que
oferecesse fichas de treino, vídeos demonstrativos de exercícios e outras
funcionalidades para facilitar o treinamento independente do instrutor. A empresa
32

cresceu ao adaptar-se à demanda causada pela pandemia, expandindo seu escopo


para permitir treinos em casa. Com o tempo, a empresa evoluiu para além do foco
inicial e desenvolveu outros aplicativos, abordando não apenas o aspecto físico, mas
também questões relacionadas à saúde e bem-estar, através de conteúdos e
notícias do segmento.

Entrevista 5
A startup em análise foi inicialmente concebida como uma extensão de um
escritório de advocacia, centrado no ramo empresarial. O fundador, ao longo de sua
prática advocatícia, identificou uma recorrência de demandas relacionadas à
falsificação de produtos, resultando na necessidade frequente de acionamento para
a exclusão de anúncios de falsificadores na internet. Diante dessa realidade,
percebeu-se uma oportunidade de mitigar essas demandas e viabilizar a proteção
futura dos direitos dos clientes por meio do registro de marca. A intensa demanda
por serviços de registro de marca levou a uma decisão estratégica de escalar essa
oferta. No entanto, a natureza do registro de marca não é exclusiva da advocacia, o
que levou à criação da empresa como uma alternativa independente. Essa decisão
permitiu contornar as limitações impostas pelas normas da Ordem dos Advogados
do Brasil - OAB, já que a oferta de serviços de registro de marca, quando associada
apenas a serviços jurídicos, fica sujeita a diversos limites regulatórios, como os
relacionados à publicidade.

4.2 PERCEPÇÃO DAS STARTUPS RELAÇÃO À COMPREENSÃO DE


CONFIANÇA NO CONTEXTO DA INOVAÇÃO ABERTA

Entrevista 1
Ao analisar a resposta obtida, fica evidente que a Inovação Aberta é vista
como uma oportunidade para a queima de etapas no ciclo de desenvolvimento. A
presença de parceiros com know-how prévio no mercado proporciona valiosas
contribuições que aceleram o processo de criação e aprimoramento de produtos.
Nesse sentido, a confiança emerge como um componente essencial, especialmente
quando se trata da troca de informações sigilosas, como o código do negócio.

Entrevista 2
33

A resposta obtida na entrevista 2, destaca a centralidade da confiança no


estabelecimento e manutenção de parcerias na Inovação Aberta. A percepção dos
entrevistados é de que a confiança é um elemento que se conquista e valida ao
longo do tempo, principalmente por meio da prestação de serviços. O histórico do
profissional ou empresa parceira é considerado um dos pilares fundamentais para a
confiabilidade da parceria na inovação aberta.

Entrevista 3
A percepção dos gestores entrevistados destaca a importância da confiança
no ambiente de startups, principalmente quando se trata da fase inicial do negócio. A
confiança é considerada uma base sólida, mesmo para startups em estágios iniciais,
e não é vista como um impedimento para a formação de parcerias bem-sucedidas.
Os gestores enfatizam que, ao resolver problemas específicos e colaborar em
soluções, a confiança é estabelecida de forma natural. A abertura em relação à
tecnologia e à transferência de know-how é percebida como uma prática comum
entre as startups. A exposição de métodos para solucionar problemas e a busca de
colaboração, mesmo com concorrentes no mesmo nicho, são consideradas
corriqueiras. A falta de confiança não é vista como um obstáculo significativo,
especialmente quando as startups estão focadas em resolver desafios específicos e
percebem benefícios mútuos na colaboração.

Entrevista 4
A startup enfatiza o receio em relação a inovação aberta, principalmente
devido ao seu segmento de bem-estar e saúde, e ressalta a importância de
selecionar instrutores e profissionais com cuidado, garantindo que o conteúdo
produzido seja embasado em teorias corretas e não prejudique a saúde física ou
mental dos usuários. A confiança nesse processo é essencial, uma vez que a
empresa não possui uma ferramenta interna para verificar a execução correta dos
exercícios. A pesquisa revela que, mesmo em um ambiente de Inovação Aberta,
onde a colaboração é valorizada, a construção e manutenção da confiança são
fundamentais, especialmente quando se lida com aspectos éticos e de saúde.

Entrevista 5
34

O entrevistado destaca a positividade associada ao registro de marca,


especialmente no contexto de parcerias e colaborações com outras startups e
órgãos governamentais. A relação de confiança é considerada fundamental nas
parcerias, embora o entrevistado destaque a importância de não ser ingênuo. A
confiança é considerada um elemento crucial para o sucesso da colaboração, e a
falta dela desde o início pode ser um sinal de alerta.

4.3 OS FATORES ESSENCIAIS PARA DESENVOLVER A CONFIANÇA NO


CONTEXTO DA INOVAÇÃO ABERTA

Entrevista 1
O entrevistado 1, destacou a importância de acordos e documentos que
garantem o sigilo e a transferência de tecnologia de maneira segura. Esses
mecanismos contratuais não apenas proporcionam respaldo jurídico, mas também
estabelecem a base para a construção de relações confiáveis entre as partes
envolvidas. A necessidade de proteger os interesses comerciais é inegável, e a
confiança é fortalecida pela transparência e comprometimento mútuo.
Contudo, a confiança na Inovação Aberta vai além dos aspectos contratuais.
O entrevistado ressalta a importância da sinergia entre os parceiros, que deve estar
alinhada com os objetivos e natureza do negócio. A seleção criteriosa de parceiros,
levando em consideração sua compreensão da tecnologia e alinhamento com a
proposta da startup, é fundamental para o sucesso da colaboração. A confiança,
portanto, não é apenas legalmente respaldada, mas também construída a partir da
afinidade e compatibilidade entre as partes.

Entrevista 2
O entrevistado identifica três principais fatores que influenciam a confiança
nas parcerias de Inovação Aberta. Primeiramente, os valores e princípios adotados
pela empresa parceira são analisados, pois refletem a ética e a abordagem nos
serviços prestados. Em segundo lugar, o tipo de cliente atendido pela empresa
parceira é considerado um indicador relevante para a confiabilidade da parceria.
Essa análise visa alinhar os objetivos e públicos atendidos, fortalecendo a sinergia
entre as partes. Outro fator destacado pelos entrevistados é o histórico do
profissional ou empresa parceira. O passado de sucesso e a experiência prévia são
35

vistos como indicativos sólidos de confiabilidade. Além disso, a confiança técnica


também é mencionada como um componente importante, relacionada ao
alinhamento de métodos e práticas utilizados na execução dos serviços.
A construção da confiança no início de uma parceria, conforme relatado, não
depende apenas de técnicas específicas ou ferramentas formais, mas sim de uma
pesquisa de mercado e da boca a boca. A identificação de potenciais parceiros
muitas vezes ocorre em eventos comuns, onde as relações são estabelecidas
informalmente.

Entrevista 3
Os gestores ressaltam a importância de conhecer o parceiro antes de
estabelecer uma colaboração mais profunda. A análise do background, área de
formação e experiências passadas são consideradas etapas iniciais essenciais. A
busca por indicações e feedback de outros envolvidos com o potencial parceiro é
uma prática adotada para garantir uma avaliação mais abrangente.
Quanto à avaliação de potenciais parceiros, a simplicidade é valorizada. A
pesquisa básica, focada nos resultados e no crescimento da empresa, é vista como
suficiente para tomar decisões informadas. Os gestores destacam que, mesmo em
empresas mais novas, a avaliação se baseia principalmente na entrega do esperado
e na capacidade do parceiro em cumprir com suas promessas.

Entrevista 4
No nicho específico da saúde e bem-estar, a seleção de profissionais
terceirizados é uma decisão delicada devido às implicações éticas. Ao reconhecer a
importância da expertise e da experiência, a startup equilibra a necessidade de
confiar no conhecimento prévio com a observação prática da entrega e execução. A
análise de elementos fundamentais, como a pontualidade na entrega e a
consistência na execução, é fundamental para manter a qualidade do serviço
prestado.

Entrevista 5
A necessidade de firmar compromissos contratuais é reconhecida como uma
prática sensata para evitar desavenças futuras. A segurança jurídica é valorizada,
36

mesmo quando a confiança é estabelecida, reforçando a importância de documentar


acordos para preservar os interesses das partes envolvidas.

4.4 DESAFIOS PERCEBIDOS PELOS GESTORES NO QUE TANGE À


CONFIANÇA NO CONTEXTO DA INOVAÇÃO ABERTA

Entrevista 1
O entrevistado 1 enfatizou, em sua análise sobre Inovação Aberta, a
preocupação central com a falta de segurança jurídica, especialmente nos casos em
que as parcerias não se desdobram conforme o esperado. Para ele, a incerteza
legal em torno das relações de colaboração é um desafio significativo que impacta a
tomada de decisões. Além disso, o entrevistado destacou um desafio prático
enfrentado por sua startup, relacionado ao comprometimento com prazos e
entregas. Esse caso específico exemplifica a complexidade de gerenciar
expectativas e garantir o alinhamento entre as partes envolvidas em uma
colaboração de Inovação Aberta, adicionando uma camada de desafio à
implementação eficaz dessa prática.

Entrevista 2
Os desafios apresentados pelos gestores são notáveis, especialmente no que
diz respeito ao "fit cultural" necessário para uma parceria bem-sucedida, ou seja, a
compatibilidade e alinhamento entre os valores. O processo de integração e
compreensão mútua entre a startup e o consultor parceiro é apontado como um
obstáculo significativo. A necessidade de alinhar os métodos de venda, entender a
proposta de valor e assimilar os fluxos de trabalho cria um desafio constante no
processo de implementação da Inovação Aberta.
Os gestores enfatizam a dificuldade em ajustar os próprios processos e
métodos aos do consultor parceiro, que muitas vezes já possui uma atuação
consolidada. A busca por um equilíbrio entre a promissora proposta de escala e a
necessidade de manter uma coesão cultural e operacional é identificada como uma
das principais tensões enfrentadas pelas startups.

Entrevista 3
37

O entrevistado 3 expressou uma perspectiva singular em relação aos desafios


associados à Inovação Aberta, argumentando que, em sua visão, não identifica
nenhum obstáculo significativo nessa prática comum no universo das startups. Para
ele, burocratizar ou dificultar a implementação da Inovação Aberta não se mostra
necessário, sugerindo uma abordagem mais simplificada e ágil. Essa perspectiva
destaca a variedade de opiniões dentro do contexto da Inovação Aberta, revelando a
diversidade de experiências e percepções entre os profissionais entrevistados.

Entrevista 4
A falta de dedicação exclusiva e o compartilhamento de atenção em
empresas terceirizadas são apontados como fatores que podem impactar
negativamente a compreensão total do projeto. A autonomia da equipe interna é
destacada como crucial, permitindo a criação de conteúdos alinhados com as
necessidades e valores da startup.

Entrevista 5
O entrevistado 5 entende e percebe o desafio ao lidar com parceiros
desconhecidos, porém destaca a importância de acreditar na sorte e, ao mesmo
tempo, implementar salvaguardas contratuais. A ideia é buscar uma combinação de
confiança e proteção legal, reconhecendo que nem sempre é possível conhecer
completamente um novo parceiro antes de estabelecer a colaboração.

5 DISCUSSÃO DO RESULTADO

No presente capítulo de discussão dos resultados, promove-se uma análise


aprofundada das informações obtidas por meio das entrevistas realizadas com
gestores de startups, visando evidenciar as características distintas de cada setor
abordado e a percepção desses profissionais acerca do conceito de confiança no
contexto da Inovação Aberta. A metodologia adotada contemplou uma abordagem
individualizada das startups entrevistadas, permitindo uma compreensão abrangente
das suas trajetórias, desde a sua origem até os desafios e sucessos enfrentados ao
longo do tempo, principalmente como cada startup lida diretamente com a
abordagem de inovação aberta.
38

Em relação às características das startups, identificamos que cada uma


possui uma trajetória única, desde a insatisfação com modelos tradicionais até
soluções tecnológicas emergentes. Cada história ressalta a diversidade de
abordagens e inovações no ambiente empreendedor.
Quanto à percepção dos gestores sobre confiança na Inovação Aberta,
observamos que existe uma valorização significativa desse componente. A
confiança é vista como crucial, especialmente no compartilhamento de informações
sensíveis e na construção de parcerias eficazes. A análise revela que a confiança
não é considerada um entrave, mesmo em startups em estágios iniciais, mas sim um
elemento que se desenvolve naturalmente ao resolver problemas e colaborar em
soluções.
Essa visão ressoa com a perspectiva de Schmidt e Schreiber (2019), que
destacam a importância da confiança em três dimensões essenciais para a Inovação
Aberta. Em primeiro lugar, a confiança é um elemento que permite que as partes
envolvidas compartilhem informações e conhecimentos de maneira aberta e
honesta. Em segundo lugar, a confiança é fundamental para assegurar que todas as
partes cumpram suas obrigações e compromissos, o que é vital para o
funcionamento eficaz das parcerias. Em terceiro lugar, a confiança desempenha um
papel importante na resolução de conflitos e disputas que possam surgir ao longo do
processo colaborativo. A interseção entre as percepções dos gestores entrevistados
e o embasamento teórico fortalece a compreensão da confiança como um alicerce
crucial no cenário da Inovação Aberta.
Ao discutir os fatores essenciais para desenvolver confiança na Inovação
Aberta, as entrevistas destacam a importância de acordos contratuais, alinhamento
de valores, transparência na comunicação, histórico do parceiro e confiança técnica.
Esses elementos se mostram essenciais para estabelecer uma base sólida e
duradoura nas parcerias de inovação.
Por outro lado, os desafios percebidos pelos gestores no contexto da
Inovação Aberta são diversos. Desde a preocupação com a falta de segurança
jurídica até a dificuldade em encontrar o "fit cultural" adequado, cada entrevista
apresenta obstáculos específicos enfrentados pelas startups.
"... fazer todo um processo de fit cultural né, desse consultor, até ele entender exatamente o
que a gente vende".
Entrevistado 2
39

Notavelmente, um dos gestores expressa uma perspectiva única, sugerindo


que a burocratização ou dificuldade na implementação da Inovação Aberta não se
mostra necessária, enfatizando uma abordagem mais simplificada e ágil.
Essa variedade de opiniões destaca a complexidade e diversidade de
experiências no universo das startups, evidenciando que, embora a confiança seja
crucial, os desafios enfrentados e as abordagens adotadas podem variar
significativamente. Diante disso, é possível relacionar com a ideia que Colares
Santos e Schiavi (2020) demonstraram sobre o que é a confiança
interorganizacional e como se demonstra um fator importante para o sucesso de
relacionamentos interorganizacionais em empresas brasileiras de tecnologia. Os
fatores mais importantes que influenciam a confiança interorganizacional em
empresas brasileiras de tecnologia são: (1) Comportamento ético: As organizações
que são percebidas como éticas são mais propensas a serem confiáveis; (2)
Competência: As organizações que são percebidas como competentes são mais
propensas a serem confiáveis; (3) Relações pessoais: As relações pessoais entre os
funcionários das organizações podem contribuir para a confiança; (4) Interação
frequente: A interação frequente entre as organizações pode contribuir para a
confiança (Colares-Santos; Schiavi, 2020). A análise desses resultados contribui
para uma compreensão mais abrangente das dinâmicas da Inovação Aberta,
ressaltando a importância da confiança, mas também reconhecendo os desafios
inerentes a essa prática.
Diante desse contexto, os insights obtidos indicam que a confiança foi
reconhecida como um fator significativo, sendo, em sua maioria, desenvolvida de
maneira orgânica à medida que as interações e relacionamentos se estabelecem e
evoluem. No entanto, buscou-se avaliar se a compreensão dos gestores sobre os
elementos fundamentais da confiança coincidia com aqueles apresentados por
Colares Santos e Schiavi (2020), que foram utilizados como referência. Nesse
sentido, observou-se que os gestores efetivamente identificaram os elementos
propostos pelos referidos autores como essenciais, conforme evidenciado na tabela
a seguir.
40

Tabela 3 - Elementos de confiança percebidos pelos entrevistados

Fonte: Produzido pela autora

Todas as startups participantes do estudo demonstraram reconhecimento dos


elementos essenciais da confiança, conforme delineado pelo referencial adotado. A
análise revelou uma notável consistência nas percepções dos gestores em relação
aos fatores cruciais para o desenvolvimento da confiança no contexto da Inovação
Aberta. No processo de elaboração da tabela, as considerações específicas de cada
startup foram integralmente incorporadas, destacando as nuances individuais e os
desafios exclusivos enfrentados por cada uma delas. Embora a tabela ofereça uma
visão geral dessas percepções, as considerações detalhadas nas entrevistas
proporcionam insights mais aprofundados sobre as experiências e reflexões das
startups em relação à confiança na prática da Inovação Aberta.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo oferece uma análise abrangente sobre a interação entre


confiança e Inovação Aberta no cenário das startups, apresentando insights sobre a
relevância desse elemento para o êxito das parcerias e colaborações entre essas
empresas emergentes. A diversidade de perspectivas e experiências exploradas ao
longo da pesquisa revela a complexidade inerente ao ambiente empreendedor, onde
a confiança emerge como um elo fundamental na construção e manutenção dessas
relações.
A confiança, conforme destacado pelos gestores entrevistados e respaldado
pela fundamentação teórica, é percebida como crucial, especialmente no
41

compartilhamento de informações sensíveis e na construção de parcerias eficazes.


As conclusões do estudo reforçam a visão de que a confiança não é meramente um
componente facilitador, mas sim um elemento que se desenvolve naturalmente ao
longo da resolução de problemas e na colaboração para encontrar soluções
inovadoras. As palavras de Schmidt e Schreiber (2019) ecoam na percepção dos
gestores, destacando a confiança como um alicerce em três dimensões essenciais
para a Inovação Aberta.
Entretanto, ao reconhecer a importância da confiança, é imperativo considerar
os desafios intrínsecos enfrentados pelas startups. Desde preocupações
relacionadas à segurança até a busca pelo "fit cultural" adequado, cada entrevista
revelou obstáculos específicos que destacam a diversidade de experiências no
universo das startups. Notavelmente, a sugestão de um gestor para uma abordagem
mais simplificada e ágil na implementação da Inovação Aberta enfatiza a variedade
de opiniões, ressaltando que, embora a confiança seja crucial, os desafios
enfrentados e as abordagens adotadas podem variar significativamente.
O ambiente tecnológico e inovador em que as startups estão imersas as
expõe a riscos significativos. No entanto, é fascinante observar que, mesmo diante
dessa incerteza, as startups demonstram disposição para assumir esses riscos. A
Inovação Aberta se configura não apenas como uma estratégia, mas como uma
filosofia que impulsiona o progresso, transformando desafios em oportunidades. A
disposição das startups em abraçar a Inovação Aberta como catalisadora do
desenvolvimento é uma manifestação clara de sua resiliência e visão estratégica,
características fundamentais no dinâmico ambiente empreendedor.
Em síntese, este estudo contribui não apenas para a compreensão da
interseção entre confiança e Inovação Aberta no contexto das startups, mas também
para a apreciação da complexidade e diversidade presentes nesse ecossistema. Ao
avançar no entendimento dos fatores que impulsionam a confiança e dos desafios
que permeiam as iniciativas de Inovação Aberta, espera-se que este trabalho
forneça uma contribuição para empreendedores, pesquisadores e demais
interessados nesse campo dinâmico. O caminho para a inovação é complexo, mas a
confiança, aliada à coragem de enfrentar desafios, emerge como a bússola que
orienta as startups rumo ao sucesso sustentável no cenário competitivo e em
constante evolução.
42

Este estudo fornece uma base para estudos futuros, oferecendo insights que
podem direcionar investigações mais aprofundadas. Uma área promissora de
pesquisa seria explorar o impacto direto dos níveis de confiança nas parcerias de
Inovação Aberta na performance e sustentabilidade das startups. Além disso, a
proposição e validação de modelos específicos de construção de confiança
adaptados ao contexto das startups representam uma trilha relevante para futuras
investigações.
Outras linhas sugeridas incluem estratégias para superar desafios comuns na
Inovação Aberta, à influência do ambiente tecnológico na confiança e análises
comparativas entre startups de setores distintos. Ademais, a exploração da
resiliência empresarial, evidenciada pela disposição das startups em enfrentar
riscos, pode oferecer insights valiosos sobre a interseção entre confiança, inovação
e superação de adversidades. Essas sugestões buscam ampliar e aprimorar o
entendimento sobre a dinâmica complexa da confiança nas startups em cenários
inovadores, fornecendo direcionamentos para futuras pesquisas e práticas no campo
da Inovação Aberta.
43

REFERÊNCIAS

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45

APÊNDICE 1
ROTEIRO SEMI ESTRUTURADO DE ENTREVISTA

Questão Introdutória:

1. A empresa nasceu de que forma? A inovação esteve como foco desde o


início?
2. O que o levou a atuar neste setor?

Questão Descritiva (Contextualização):

3. A empresa já desenvolveu inovações em parceria com outras empresas?


4. Já participou de processos de inovação aberta? Se sim, como foi a
experiência? Se não, por que? não houve oportunidade?

Questões Estruturais:

5. Como você avalia o processo de inovação quando se trata de parcerias?


6. E em relação à confiança, como você percebe a importância desse elemento
nas parcerias de inovação aberta?
7. Quais são, em sua opinião, os elementos-chave que compõem a confiança
nas parcerias de inovação aberta?
8. Que medidas ou estratégias sua organização adota para construir e manter a
confiança em parcerias de inovação aberta?
9. Como você avalia o sucesso de uma parceria de inovação aberta em termos
de confiança e resultados?

Questões Contrastantes:

10. E se a confiança não estiver presente em uma parceria de inovação aberta?


Como você lidaria com essa situação?
11. Pode compartilhar um exemplo em que a confiança desempenhou um papel
crítico em uma parceria de inovação aberta? Quais foram os resultados?
46

12. E se a confiança for quebrada em uma parceria de inovação aberta? Como a


empresa lidaria com essa situação?
13. Como sua organização aborda a gestão de riscos relacionados à confiança
em projetos de inovação aberta?

Questão de Saída:

14. Como você acredita que a confiança pode ser gerada e mantida em parcerias
de inovação aberta?
15. Poderia comentar brevemente sobre como aumentar a confiança nesse
contexto?

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