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para
Viva
Ouvir e Contar
Roseli Bassi
Organizadora
História
para
Viva
Ouvir e Contar
Roseli Bassi
Organizadora
Roseli Bassi
www.historiaviva.org.br
Quem nunca sonhou em ter suas histórias transformadas em
contos infantis e receber a arte de uma criança inspirada em sua
história?
Este livro traz alguns dos contos escritos inspirados nas histó-
rias de idosos.
HISTÓRIA VIVA PARA OUVIR E CONTAR
Ficha catalográfica elaborada por Nain Biernaski
Bibliotecário CRB 9-1668
C321
Bassi, Roseli (Org.)
História viva para ouvir e contar / Roseli Bassi. – Curitiba: [s.n.], 2018.
68 p.: il.; 21x24 cm
ISBN 978-85-94142-22-1
Vários ilustradores
CDD 028.5
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Roseli Bassi
Organizadora
Curitiba - PR
2018
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192,
de 14/01/2010.
FICHA TÉCNICA
EDITORIAL Alexandre Zarske de Mello
Camila Fernandes de Salvo
Gabriele Ruppel
Jhary Artiolli
Lilian Ribeiro de Camargo
Vanessa Schreiner
COMITÊ EDITORIAL Alexandre Zarske de Mello
Camila Fernandes de Salvo
Gabriele Ruppel
Jhary Artiolli
Lilian Ribeiro de Camargo
Luiz Alberto Andrioli Silva
Vanessa Schreiner
ASSESSORIA EDITORIAL Lilian Ribeiro de Camargo
DIAGRAMAÇÃO Giuliano Ferraz
ILUSTRAÇÃO DA CAPA Anderson Xavier
DESENHOS Vários
EDIÇÃO DE TEXTO Camila Fernandes de Salvo
Jhary Artiolli
Vanessa Schreiner
REVISÃO Camila Fernandes de Salvo
Jhary Artiolli
Vanessa Schreiner
COMUNICAÇÃO Alexandre Zarske de Mello
Camila Fernandes de Salvo
Gabriele Ruppel
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Alexandre Zarske de Mello
Este livro é dedicado aos idosos que narram episódios
de sua biografia.
Embora haja muitos “era uma vez”, cada história contada neste
livro foi inspirada em histórias reais vividas uma única vez. São
relatos de pessoas idosas, que contam histórias de suas vidas
para serem encantadas e, depois, contadas a crianças. As
ilustrações são das próprias crianças que ouviram essas histórias.
Essa coletânea traz uma pequena parte desse imenso caldeirão de histórias
vivas que são ouvidas por muitas pessoas e encantadas em todo o Brasil.
E ra uma vez uma Rainha chamada Lourdes que vivia num lindo
castelo na Rua das Flores. Ela era uma rainha diferente. Não gostava de
ficar trancada no castelo. Todos os dias saía para um passeio. Adorava
caminhar pelas ruas do centro da cidade, ver vitrines, observar as cores
dos sapatos e roupas, as pessoas andando apressadas para concluírem
seus afazeres…
Em certa tarde, a Rainha saiu para tomar um lanche ali pertinho.
Disse que voltaria logo.
Só que as horas foram passando, passando e nada da Rainha
voltar…
Todos no castelo foram ficando preocupados. A princesa ligou para
todos os seus conhecidos, mas ninguém sabia da Rainha Lourdes…
Quanto mais a notícia do sumiço da Rainha se espalhava, mais o
desespero de seus familiares aumentava.
Quando já era noite, a rainha chegou ao castelo, alegre e
emocionada.
Para surpresa de todos, ela passara a tarde ouvindo o pianista
Arthur Moreira Lima, que estava se apresentando na rua, no caminho
de volta para o castelo.
Esqueceu as horas ouvindo belas músicas na companhia de
inúmeras pessoas.
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Assim era a rainha Lourdes. Gostava de estar onde todos estavam.
Adriana Kukla
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A BRUXA
E ra uma vez uma bruxa muito poderosa... Ela vivia em sua casa,
onde as plantas e os pássaros, a natureza, viviam em muita harmonia.
Sempre que voltava de seus passeios, corria para suas panelas, a
fim de criar poções com muito amor. Elas faziam com que todos que as
experimentassem se sentissem muito felizes. Ouviam pássaros cantar de
forma ainda mais melodiosa.
Certo dia, ela buscava entender por que, de repente, sentia-se
tão cansada. Foi andando até seu canteiro de grama e, no caminho,
encontrou uma flor. Essa flor lhe contou um segredo: que todas as
bruxas são importantes, mágicas e que onde elas tocam com amor
transformam tudo para o bem!
A bruxa voltou feliz para sua casa e, a partir desse dia, colocou
ainda mais amor em seu caldeirão!
Roseli Bassi
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Desenho de Laís, 11 anos
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COMO ERA A PÁSCOA
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ou, ainda, redondas, feitas de papelão e encapadas com papel seda
e com uma alça “costurada” à mão – e Mazilda não furava os dedos
não, apesar de ser a criança mais nova ali.
A palha que se coloca dentro da caixa também era feita por
eles, com papel seda. Eles faziam rolinhos e cortavam fininho, depois
soltavam; assim a palha ficava com uma mistura de cores. E assim
estava pronto o cesto de Páscoa, para que o coelhinho viesse colocar
os ovos de volta para todas as crianças.
De volta? Como assim? Ah, as crianças faziam uma parte do
trabalho do coelho, ou seja, preparavam todos os ovos, com a pintura
e o amendoim, junto com algumas batatas-doces pequenas que eles
colhiam no quintal. Então, o coelho vinha buscar tudo e, ao final, no
dia da Páscoa, trazia de volta para as crianças.
Mas sabe que elas só ficavam pensando por que ele não devolvia
as batatas também... será que ele comia todas?!
Rosana Meye
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E A GENTE VAI DESCOBRINDO COISAS...
Rosana Meyer
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Desenho de Cecilia, 13 anos
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CASO, SIM; CINTO, NÃO!
Roseli Bassi
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Desenho de Lucas, 18 anos
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BONECAS MARAVILHOSAS
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Desenho de Maria, 7 anos
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UMA BARRIGA E DOIS FRIOS!
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do casamento; e o segundo frio na mesma barriga estava prestes a
aparecer.
Eles entraram no avião, acomodaram-se em suas poltronas,
apertaram os cintos e logo o avião decolou. Então Zé se virou para
Maria e, com um olhar apaixonado, tirou de dentro do seu paletó uma
rosa vermelha e disse: “Eu te amo, Maria”. Ela deixou cair uma lágrima
emocionada, abraçou Zé e disse de volta: “Eu também te amo, meu
amor”. O clima de romance pairava no ar, quando, de repente, eles
começaram a ouvir gritos de outros passageiros da aeronave.
O avião, que faria escala em Porto Alegre e seguiria para a
Argentina, trazia vários passageiros desse país. Dentre eles, havia uma
mulher que, em desespero, gritava: “Mi marido, mi marido”. Todos os
outros passageiros tentavam entender o que ela estava dizendo, na
tentativa de ajudá-la. Foi então que Zé tomou a mão da mulher para
segurá-la e gritou para os outros: “Tem algum médico aqui? Por favor,
ajudem-nos”.
Neste momento, a comissária de bordo avisou aos passageiros
que seria necessário retornar ao aeroporto do Rio de Janeiro, pois o
marido dessa senhora precisava de atendimento com urgência. Zé e
Maria ficaram com muito medo dessa situação e, assim como as outras
pessoas, tiveram dores de barriga de tanto medo! Com isso, formou-se
uma fila na porta do banheiro.
Ao pousar, os bombeiros retiraram o homem do avião, e sua esposa
o acompanhou. Zé, Maria e os demais passageiros acomodaram-se
novamente, e Zé, aproveitando o clima mais calmo, olhou novamente
para Maria e disse: “Nunca esqueça que eu te amo!”. Maria chorou
muito... tanto de medo quanto de alegria. O avião tornou a decolar
e, algumas horas depois, pousou em segurança em Porto Alegra.
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Finalmente! Ao chegarem, Zé e Maria ficaram encantados com a
beleza da cidade e, em clima de lua de mel, chegaram ao hotel em
que se hospedariam nos primeiros dias ali. Nove meses depois, nasceu
o primeiro filho do casal, o qual eles chamaram de José Santos Dumont,
em homenagem à primeira viagem de avião deles.
Zé e Maria foram muito felizes durante sua vida em Porto Alegre.
Sempre que podiam, ajudavam ao próximo, sendo quem fosse a
pessoa. Zé ensinou ao filho desde pequeno que era muito importante
fazer o bem não importando a quem, em qualquer momento da vida.
Se você puder fazer o bem a alguém e se isso não interferir em sua vida
pessoal, faça com amor!
Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira
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PEPE: O PELÉ PERNAMBUCANO
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Chovia muito na final desse campeonato. Pepe chegou em casa
todo encharcado, e sua irmã foi imediatamente enrolá-lo em uma toalha
para secá-lo. A irmã de Pepe disse: “você é nosso Pelé pernambucano!
Precisa se cuidar!”. Mas não tinha chuva que desmontasse o sorriso do
rosto de Pepe, nem frio que tirasse o calor de dentro do seu coração.
Era muita alegria para um menino só!
Mas o tempo foi passando, e infelizmente Pepe ficou muito doente.
Ele já não encontrava mais em suas pernas a força que todos conheciam
bem. Você acha que Pepe desanimou? De jeito nenhum!
Pepe lembrou-se de tudo o que viveu até ser considerado um
bom jogador de futebol, todas as dificuldades, todas as alegrias, todo
o esforço... e se animou! Pegou sua bola de futebol, olhou para bem
fundo para ela e lembrou de todos os sonhos que guardava junto a
ela. Sentou-se em uma cadeira, deixou sua bola em cima da mesa
e começou a escrever sobre um desses sonhos, que era fazer desse
mundo o mundo de outras crianças. Pepe queria muito que outras
crianças, assim como ele em sua infância, pudessem ter a oportunidade
de aprender a jogar bola e criar sonhos em seus chutes ao gol, não
desistindo nunca, mesmo nas piores dificuldades. Depois de muito
trabalho, Pepe criou o “Projeto Vencer”, no qual ensinava mais de cem
crianças a jogar futebol. Ensinava futebol de salão, futebol de areia e
de quadra.
Mas o que Pepe ensinava todos os dias, antes mesmo de ensinar as
regras do futebol, é o quanto cada um de nós precisa ter determinação
na vida e sonhar sempre, independentemente das dificuldades que
possam surgir.
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Hoje o time do “Projeto Vencer” coleciona vários títulos, e todos os
alunos aprenderam não apenas a jogar bola, mas também a como
transformar sonhos em realidade.
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A VIAGEM DE LULU
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Pela manhã, todas as nuvens que iam descer até aquele lugar
estavam prontas. A nuvenzinha Lulu não cabia em si de contente, de
repente, soou um apito e todas entraram apressadamente no elevador
que ia até a Terra.
Ele comprimia tanto a todas, que elas se transformavam em chuva
e caíam em um montão de gotinhas que penetravam a Terra. Lulu teve
sorte, chegou num imenso campo verde, onde preciosos cachos de
uvas estavam sendo colhidos.
Muita gente chegava para uma grande festa. Carroças puxadas
por cavalos enfeitados, mulheres com vestidos longos e coloridos, e por
onde olhava havia vinho, pão, azeite, queijos, sopas frias, peixes fritos
e muita música e alegria! Lulu, fascinada, divertia-se pra valer vendo
tantas maravilhas.
De repente, trouxeram um tacho muito grande cheinho de uvas
para serem pisadas, e muitas moças bonitas subiram ali, rindo, brincando
e dançando.
Durante toda a noite aquela gente comeu, bebeu, brincou e
dançou. A nuvenzinha aproveitou a festa de montão, até chegar a
hora de retornar ao céu, onde continuaria a observar as tradições dos
humanos que vivem na Terra, agora se sentindo parte de toda essa
festa.
Jacqueline Pereira
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Desenho de Sara, 14 anos
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O PESCADOR DE HISTÓRIAS
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para casa sem que ninguém soubesse. Para ele, esse era o pagamento
por todo seu trabalho suado.
Com o passar dos anos, Brasilêncio continuou a alimentar as histórias
que ouvia, fazendo com que elas crescessem e ficassem cada vez mais
inacreditáveis. Até hoje ele as guarda em um aquário secreto no Lar
dos Idosos Recanto do Tarumã. Ele não costuma compartilhá-las com
ninguém, pois diz que “elas ficam tímidas na presença de estranhos”.
Por isso, Brasilêncio as guarda só para ele.
Só resta saber se esta última história não é mais uma história de
pescador!
Tássia Vidal Vieira
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SILVÉRIO, O HOMEM DAS FERRAMENTAS
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Hoje ele mora em Curitiba, numa outra casa e com muitas pessoas.
Visita sempre sua irmã que mora no 4º andar de um prédio.
Será que ele fala em ucraniano com a irmã? Ah! Não sei não!
Com certeza eles devem relembrar com muita alegria da vovó e das
palavras que aprenderam e rir muito, mantendo o brilho dos olhos
azuis!
Rosana Meyer
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O MENINO BOM DE BOLA
E ra uma vez... um menino chamado Paulo. E ele não era um
menino como os outros.
Paulo vivia se escondendo das pessoas, pois não gostava muito de
conversar. Era rebelde, mesmo sem ter motivos. Mas ele adorava jogar
bola. No futebol ele era bom!
Tão bom que, quando cresceu, ele se tornou técnico de um
time de futebol da cidade em que ele passou a morar depois de se
casar – Maringá. Paulo passou todo seu conhecimento aos jogadores,
principalmente sua sabedoria e organização.
Ele ensinou a todos que, se um jogador derruba ou bate em outro,
deve abraçá-lo e pedir desculpas. Isso porque demonstrar gentileza
e educação era fundamental para Paulo. Ele nunca brigava, sempre
elogiava.
Não demorou muito para seu time ganhar o primeiro lugar em
disciplina. Eles também ganharam outros títulos, inclusive jogando
contra os times da capital.
Com o passar do tempo, Paulo aprendeu que sua rebeldia com
relação à vida era como um jogo de futebol: existe sempre um grupo
de pessoas que sente raiva de tudo; no entanto, também existe um
grupo de pessoas felizes e bem-humoradas. E nós podemos escolher
de que lado queremos ficar.
Paulo, finalmente, escolheu entrar para o time das pessoas de
bem com a vida! E, assim, foi feliz para sempre...
Adriana Kukla
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Desenho de Luiza, 14 anos
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A CARRUAGEM ENCANTADA
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do vento dominical que acariciava seus rostos rosados e cheios de
esperança. Todas, menos Marisa.
Marisa era uma dessas moças, e já não tinha tanta esperança,
porque enquanto as meninas aprendiam a bordar e a cozinhar, ela
gostava de ler e de ouvir histórias. Seu imaginário era rico, mais rico do
que as riquezas do próprio Rei.
Sua mãe a incentivou a participar, mesmo sem esperança, porque
para uma mãe os sonhos sempre são possíveis.
No dia marcado, Jura saiu de seus aposentos e encontrou-se com o
mordomo, Jonas, que prontamente se dispôs a ouvir as queixas do rapaz
em relação às mulheres daquele reinado: “Jonas, elas não conhecem
nada além de cuidados com filhos e casa, disse Jura. Como vou viver
a vida ao lado de alguém que não conhece as paisagens e culturas
de outros mundos?”; ao que Jonas respondeu: “confia. Existem muitos
mistérios além do que acreditamos”.
Assim que embarcaram, as moças e os rapazes se sentaram. As
mais tímidas esperavam pela iniciativa dos rapazes.
A carruagem iniciou viagem, distanciando-se na estrada de terra e
pedras, ao som dos cascos dos cavalos reais.
Eis que acontece um solavanco forte da carruagem, ao deparar-se
com uma pedra enorme. A carruagem balançou de um lado para o
outro, fazendo todos caírem no chão. Muitas risadas foram ouvidas, o
que contribuiu para que os jovens ficassem mais relaxados e mostrassem
suas educadas atitudes, ajudando as moças a se levantarem.
Passado o susto e com as rodas da carruagem na estrada de novo,
Jura prontamente disse à passageira escolhida para se sentar ao seu
lado: existe algum familiar ou amigo seu nessa carruagem que você
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preferia que viajasse com você? Marisa respondeu: “não farei a viagem
com nenhum familiar, além disso, meus pensamentos também viajam
ao apreciar as paisagens coloridas pelas flores, árvores, montanhas e
pelas músicas dos pássaros e animais silvestres que encontraremos pelo
caminho. Estar nesta carruagem é por si só encantador e preenche
minha alma de alegria”.
Ahh! Jura não teve dúvidas, retirou sua máscara e beijou o rosto
daquela que viria a ser a sua princesa.
Em uma linda manhã de primavera, príncipe Jura e a princesa
Marisa se casaram. Tiveram dias encantadores, mas eis que um dia,
Marisa precisou embarcar numa outra carruagem, e até hoje o jovem
príncipe, agora Rei, conta episódios de suas histórias vivas a quem
queira ouvir.
Roseli Bassi
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O HORIZONTE NO TOPO DE UMA ÁRVORE
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Desenho de Stella Camilo Honorio da Silva, 9 anos
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O ENCANTADOR DE ANIMAIS
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Trabalhava o dia todo no sol quente, usando apenas um chapéu
de palha, velho, que servia como proteção. Mesmo assim, a comida
que recebia era muito pouca, apenas pão e algumas frutas já quase
podres.
Porém, João não se entristecia, pegava a sua sanfona, velha
companheira, e no final da tarde sentava-se no coreto da praça da
pequena cidade, e com seus dedos habilidosos, tirava dela um som
triste e harmonioso, que encantava as pessoas que por ali passavam.
Ah... João sempre ganhava uns bons trocados, que utilizava para
comprar comida e outras coisinhas que precisava.
João não se queixava da sua vida, mas, gostava mesmo era dos
bichos. Eles sim, considerava criaturas maravilhosas.
Passava a maior parte do seu tempo na companhia dos animais.
Conversava com eles e percebia que podiam entender o que dizia,
por isso não se sentia só.
Havia uma égua, que João chamava carinhosamente de Preta,
mas na verdade ela não era preta. Sua cor era um marrom escuro,
quase avermelhado. Preta e João eram inseparáveis.
Na hora de preparar a terra para o plantio, era com ela que João
gostava de trabalhar. Entretanto, o dono da fazenda, aquele homem
rude e perverso, que sempre tratava as pessoas no grito e os animais
no chicote, sempre ordenava que João batesse na égua Preta com
chicotadas, para que ela fizesse o trabalho mais rápido. Mas, não!
João não podia fazer isso com sua amiga! Então, ele disfarçadamente
cochichava alguma coisa no ouvido dela e, imediatamente, ela se
punha a trotar realizando todo o trabalho com perfeição, sem que
João precisasse desferir uma chicotada sequer.
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Os outros empregados da fazenda ficavam abismados, e diziam
que ele era um encantador de animais. João apenas sorria. Seus
companheiros não entendiam que ele usava somente a linguagem do
amor.
Os animais da fazenda, assim como Preta, trabalhavam duro
e quase não recebiam o que comer. Mas João pegava o pouco
dinheiro que recebia do patrão e o que ganhava com a sua sanfona e
comprava comida para ele e para seus amigos bichos. Principalmente
para a égua Preta, que não era preta.
Certa vez, ao se abaixar para colocar bananas no cocho para ela,
sentiu uma mordida em sua cabeça. Sabia pelo cheiro que havia sido
Preta que lhe roera o couro cabeludo.
Levantou-se, irritado, e perguntou-lhe porque havia feito aquilo.
Tamanha foi a sua surpresa quando ela lhe respondeu, com voz
suave: “Perdoe-me, João. Mas eu precisava colocar esse alfinete
mágico em sua cabeça. Com ele, você poderá ouvir a nossa voz. Assim,
poderemos nos comunicar mais facilmente. É um presente do anjo
guardião dos animais, por você ter sido sempre tão bondoso conosco”.
João ficou muito feliz! finalmente podia compreender o que os
bichos diziam e podia conversar com eles. Nunca mais sentiu-se sozinho.
Estava sempre batendo papo com as galinhas, os porcos, os cachorros,
os bois e, principalmente, com sua amiga Preta, que não era preta!
É... mas por causa disso, as pessoas começaram a achar que ele
estava maluco, e logo foram contar para o patrão, que o mandou
embora da fazenda na mesma hora. “Não quero doido trabalhando
para mim!, disse grosseiramente. “Cego eu ainda tolero, mas doido?
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Aí já é demais! Pegue as suas trouxas, e amanhã bem cedo não quero
mais vê-lo aqui!”.
João abaixou a cabeça e foi para o seu cantinho, que ficava na
baia perto de onde preta dormia. Começou a colocar as poucas coisas
que tinha em um saco, e a sanfona, é claro! Não poderia esquecer de
sua velha sanfona.
Vendo a tristeza de João, Preta se aproximou e perguntou-lhe o
que tinha acontecido. João não chorava, pois os seus olhos cegos eram
secos e não emitiam lágrimas. Mas a égua preta pôde sentir a tristeza
que havia no coração dele, enquanto ele lhe contava que precisaria
deixá-la para sempre.
Então, Preta chorou por ele. Assim como os outros animais, que
estavam ali por perto, e sabiam que iriam perder um grande amigo
e protetor. De repente, Preta ergueu a cabeça e disse: “Eu vou com
você! Não fico neste lugar sem você, de jeito nenhum!”. “Mas, Preta,
você não pode! ele vai pensar que eu roubei você!”, respondeu João.
“Que nada! Se sairmos agora mesmo, quando amanhecer, já
estaremos bem longe daqui. E ele nunca mais vai nos encontrar!”.
“Mas é noite, e eu não enxergo você, esqueceu?”, disse João, com a
voz embargada. “Mas eu enxergo, e muito bem!” disse Preta. “Vamos!
Pegue as suas coisas e suba no meu lombo. Deixe o resto comigo!”.
João pegou suas coisas, despediu-se dos seus amigos bichos, subiu
no lombo de Preta, que começou a se afastar da fazenda, devagarinho,
para não fazer barulho.
Quando tomou uma boa distância, começou a cavalgar mais
rápido... e mais...e mais... e se foram para bem longe dali. Naquela
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região, nunca mais se ouviu falar da égua Preta, que não era preta, e
do cego João... o encantador de animais!
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Tipografias utilizadas:
Century Gothic (corpo de texto)
Alegreya (captulares)
Allers (caracteres especiais)
Papel Offset 90 g/m²
Impresso na Cópia e Cia
Março de 2018
Itajaí - SC
Este é um livro de histórias vivas. Histórias inspiradas em episó-
dios da biografia de pessoas idosas. Essas pessoas são verdadei-
ras bibliotecas vivas e, aqui, têm suas memórias perpetuadas em
histórias contadas para crianças e jovens acolhidos em institui-
ções.