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Homilia do Pe. Antonio Fonseca na missa de ingresso no discipulado.

Paróquia de São José, Arapiraca – AL, 19 de Abril de 2022


Oitava de Páscoa | Terça-feira
Leitura: At 2, 36-41
Salmo 32
Evangelho: Jo 20, 11-18
<< Maria! Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: Rabuni.>>

Caros discípulos, caras discípulas e meus irmãos todos da Comunidade Shalom, familiares,
amigos e todos que vieram para este momento importante para estes que hoje dão um sim para
começarem um caminho dando um primeiro passo. O discipulado é um caminho, só é discípulo
quem se coloca a caminho, e para caminhar precisamos sempre dar o primeiro passo confiando na
graça, na bondade do Senhor. É o próprio Senhor quem nos acompanha, nos atrai, nos sustenta e
nos incentiva. Estamos vivendo um tempo feliz, o tempo da páscoa, e hoje é oitava de páscoa.
Oitava de páscoa significa que o dia da páscoa se estende para que nós possamos celebrar a alegria
do grande acontecimento da vitória de Cristo, da nossa vitória sobre o pecado e a morte. E, é neste
momento de alegria pascal que a Comunidade Shalom tem igualmente alegria de receber, acolher e
quer se dispor a acompanhar estes discípulos neste caminho de seguimento do Senhor.
Nós podemos fazer uma reflexão dentro deste momento pascal a partir da palavra de Deus,
tomando algumas expressões das leituras que nós ouvimos, próprias do tempo pascal, este discurso
de São Pedro, depois os acontecimentos que se seguiram àquele primeiro dia, na verdade naquele
primeiro dia quando o Senhor ressuscitou e manifestou-se aos seus discípulos, em primeiro lugar à
Maria Madalena.
Nós temos alguns elementos muito importantes que podemos indicar como ponto central do
discipulado. Antes de tudo, a própria palavra discipulado não aparece nas leituras que nós ouvimos,
mas nós temos uma palavra que contém a palavra discípulo. É a palavra com a qual Maria
Madalena se dirige a Jesus: “Mestre!” É assim que Maria Madalena se dirige a Jesus quando ela é
chamada pelo nome. Mestre! Rabuni! Mestre! Na palavra mestre nós temos a palavra discipulado. É
verdade, não se trata de uma questão de palavra, ou seja, só existe mestre onde existem discípulos.
E, aqueles que se decidem chamar Jesus Cristo de Mestre ou de Senhor, como fez Maria Madalena,
já se decidiram pelo caminho do discipulado. E, é este o Mestre que deve conduzir a vida de vocês a
partir de agora. Jesus Cristo! Que usará como instrumento outras pessoas, a própria comunidade, os
apelos da sagrada escritura, da oração, do pastoreio, daqueles formadores que o Senhor escolhe para
conduzi-los neste discipulado, mas é preciso olhar sempre para Jesus Cristo como Mestre. E nós
temos também aquilo que o Senhor nos deu, aquilo que ele é, ele nos oferece um mestre interior que
é o Espírito Santo. Nenhuma formação exterior, nenhum esforço de formadores seria capaz de
conduzir ao discipulado se o coração não está aberto a este mestre interior que é o Espírito Santo.
Ou o Espírito Santo nos forma ou todos os esforços que aqueles fazem para ajudar em nossa
formação cairão por terra, porque a abertura ao Espírito Santo é fundamental para que nós sejamos
formados, ou seja, inseridos na vida de Deus, para que Jesus Cristo seja o nosso Mestre e conduza o
nosso modo de vida em todos os momentos. Então, os discípulos hoje precisam se dirigir a Jesus
como Maria, chamando-o: “Mestre!” Mas não somente como uma espécie de palavra como um
tratamento, mas não como um pronome de tratamento humano, mas como um jeito de viver. Jesus
Cristo como aquele que conduz a própria vida, as próprias escolhas, as grandes e as pequenas, em
todos os instantes. É muito importante que Jesus Cristo realmente seja o centro de nossa decisão e
nós possamos sempre perguntar: “E o que o Mestre acha disso?”, “O que Ele ensina?”, “O que Ele
diz?”, e assim, irmãos e irmãs, nós seremos conduzidos no caminho. O discípulo não é maior que
seu senhor, disse Jesus antes da sua paixão, e é por isso que nós olhamos para o Senhor para que Ele
seja o nosso modelo.
Estamos no tempo da páscoa, mas isso inclui aqueles acontecimentos anteriores à paixão,
quando Nosso Senhor disse: “Eu fiz isto para dar-vos o exemplo a fim de que possais fazer como eu
fiz.” Não se refere somente àquele gesto específico de lavar os pés, significa a vida inteira de Nosso
Senhor. Não existe discipulado sem que se conheça, se entre na vida de Cristo, se queira
acompanhá-lo, segui-lo, caminhar com Ele nesta vida. E, assim, não será só uma palavra, mas será
um jeito de viver tendo Jesus Cristo como mestre. Então, vocês hoje que se dispõe ao discipulado, e
acredito que todos os outros, entendem que o discipulado é um começo que não se encerra.
Imaginemos. Eu sei que tem um tempo de formação para passar para outras etapas de formação,
mas imagine se alguém chegasse na Comunidade Shalom e no dia do discipulado já ficasse na
expectativa do dia de deixar de ser discípulo. É quase assim: “Quando é que eu vou deixar de ser
discípulo?” Poderia acontecer que aqueles que já passaram por esta etapa de formação estejam
aliviados porque já não são mais discípulos, ou seja, talvez não precisem dar satisfações que se
devem dar no início aos formadores como vocês tiveram que fazer no tempo de postulantado e
assim por diante. A que serviria se começar a ser discípulo fosse uma coisa provisória? Não é assim!
Todos aqueles, mesmo os que já estão mais adiantados neste caminho, continuam sendo discípulos,
porque não há outra possibilidade de termos fé, de sermos realmente seguidores de Nosso Senhor
senão como discípulo e, de vez em quando, nós precisamos nos lembrar do que Jesus fez quando
São Pedro esqueceu disso. Como alguém poderia, -quem sabe aqueles que estão à frente, os
pastores, as pastoras-, esquecer como São Pedro esqueceu? Teve um dia que São Pedro quis ensinar
a Jesus, foi no dia que Jesus anunciou sua paixão. São Pedro disse: “Deus o defenda, isso nunca vai
te acontecer!”. Naquele momento Jesus disse assim: “Para trás de mim!”, depois disse “satanás”
para dizer que estava se colocando na frente como pedra de tropeço. Mas é este o significado do
discipulado. O discipulado não nos coloca na frente do Mestre, mas sempre atrás. Para trás! Toma o
teu lugar! Teu lugar de discípulo! Nós estaremos sempre como discípulos. Às vezes é o próprio
Senhor que se coloca um pouco atrás de nós e, como que para nos empurrar um pouquinho quando
nós estamos meio errados neste caminho. Ele se coloca às vezes no meio, às vezes atrás, mas é com
a intenção de nos ajudar a percorrer este caminho. É bom lembrarmos disso, com esta palavra
“Mestre” nós temos este significado de olharmos para Jesus Cristo e sermos seus discípulos.
Olhando os exemplos daqueles que já percorreram e, na verdade, estão percorrendo este caminho,
vocês que estão iniciando tenham no coração esse desejo imenso e intenso de acompanhar Nosso
Senhor.
Depois uma outra coisa, ainda do evangelho. Uma outra expressão importante, praticamente
uma palavra, porque na verdade é um nome. É que Nosso Senhor se dirige primeiro à Maria
Madalena dizendo: “Mulher, por que choras?”, como fizeram os anjos, porém com este modo de
falar a mulher ainda estava procurando entre os mortos Aquele que vive, mas depois Ele disse
assim: “Maria!” E, nesse momento que Ele diz “Maria!” há uma transformação de tudo. Foi assim
que vocês foram apresentados, ou melhor, que se apresentaram. Chamados um a um. Cada nome foi
pronunciado e cada um disse: “Eis-me aqui!” Esta é uma expressão fundamental de toda vocação. A
nossa vocação cristã não e uma vocação de grupo. Nós estamos dentro de uma comunidade, temos a
Igreja inteira que é uma comunidade, podemos ter uma paróquia que é uma comunidade, dentro da
paróquia uma comunidade e temos essa expressão da ação do Espírito Santo que é a Comunidade
Shalom. Nós somos uma comunidade, mas não somos uma massa anônima, não corresponde à
natureza da fé cristã o anonimato, como se nós fossemos todos iguais. O próprio Jesus usa a palavra
rebanho não para nos fazer sentir como se nossas diferenças fossem simplesmente anuladas. Não,
nós somos chamados pelo nome. Como é importante que cada um tenha sido chamado pelo nome, e
cada um tenha dito “eis-me aqui!”, porque a vocação, meus irmãos e irmãs, tem que ser um
chamado pessoal. Foi assim que Nosso Senhor tratou os seus discípulos, chamando-os pelo nome. A
sagrada escritura, especialmente para os doze, insiste em dizer o nome de cada um e alguns deles
até têm uma mudança de nome, como aconteceu de Simão para Pedro. É o nome que é importante.
O nome significando a própria pessoa. Então não é um grupo simplesmente. Nós individualmente
assumimos a fé da Igreja, individualmente entramos em uma comunidade, mas sobretudo
conservando a nossa personalidade, lembrem-se disso. Vocês não vieram aqui empurrados como
uma massa anônima, mas vieram porque quiseram e disseram “eis-me aqui”, e essa expressão que
acompanha sempre os ritos de introdução em formação, em votos e até quando se trata do
ministério ordenado, até nas ordenações tem que chamar pelo nome; o nome é importante, a
individualidade.
“Eu, livremente!” Como é importante essa pergunta sobre liberdade. “É de livre vontade que
vocês estão aqui?”, foi perguntado. “Sim!” Esta liberdade interior quando Jesus chamou Maria, ela
então o reconheceu. É importante que quando Nosso Senhor chamou o seu nome você tenha
reconhecido a voz do Pastor. “Eu conheço as minhas ovelhas, eu as chamo pelo nome e elas me
conhecem”, diz Jesus Cristo quando se apresenta como o Bom Pastor. Chama-nos pelo nome como
chamou Maria, e aquele chamado transforma a vida de Maria, podemos dizer a vida da Igreja. Aí
sim tem um encontro com a comunidade. Quando dizemos isso não é, de fato, para estimular
alguma atitude de individualismo, é o contrário disso. Observemos que primeiro você é chamado
pelo nome para depois ser enviado. Quando Nosso Senhor também chamou os apóstolos doze, o
evangelho de Marcos diz assim: “ Jesus chamou os que ele quis.” -Os que Ele quis, não os que
queriam-. Em alguns casos Nosso Senhor até disse: “Não, não é para me seguir. Fique aí mesmo.”
Em um caso em que um homem disse “eu quero ir contigo”, Jesus: “não, vai para a tua família e
anuncia na tua família o que aconteceu.” Então Jesus chama aqueles que Ele quer para ficar com
Ele e para serem enviados. Esta é a dinâmica de toda vocação e é importante que no discipulado
tenha especialmente este aspecto: permanecer com Ele. Não tenham muita ansiedade em serem
enviados, mas primeiro em estar com Jesus. Na dinâmica da vocação tem: para estarem com ele e,
para serem enviados; primeiro discípulos depois apóstolos. Mas, também, isso não deve acontecer
com se tivesse uma espécie de intervalo de tempo. Houve aquela pergunta que vocês responderam
da disponibilidade para viver na evangelização. Isso é importante, o anúncio de uma boa notícia.
“Vai dizer aos meus irmãos!” E que ternura, meus irmãos e minhas irmãs, Jesus trata aqueles
discípulos e, -nem foram tão bonzinhos assim-, nós sabemos o que eles tinham feito dois dias antes.
Sexta-feira, esses homens, até uns metidos a valentes como São Pedro, tinham abandonado Nosso
Senhor, e Nosso Senhor continua chamando-os irmãos.
Estamos no domingo, o dia do Senhor, o primeiro dia da semana, o mesmo dia que o Senhor
ressuscitou. “Vai dizer aos meus irmãos!”, foi assim que Nosso Senhor se dirigiu à Maria.
Anunciaram a boa notícia! É aqui que tem esse encontro do chamado pessoal e do chamado para a
comunidade. Nós somos chamados pelo nome, não para vivermos uma espécie de intimismo com
Nosso Senhor, mas nós, individualmente, chamados pelo nome para anunciar aos irmãos esta
notícia, essa evangelização, a boa notícia do reino de Deus. Como é importante considerarmos o
caminho do discipulado a partir disso, compreendendo esta dinâmica da vocação que, de algum
modo, está aqui na vocação de Maria Madalena. Maria Madalena está sendo chamada pelo Senhor.
“Maria!” é um chamado e ela quer tomar Jesus para si. Não fomos chamados para isso, para segurar
Jesus para nós, mas para levar Jesus para os outros, foi isso que Nosso Senhor fez. Não para que ela
agarrasse Nosso Senhor. Penso que nós também poderíamos ter essa atitude depois de todo o drama,
de toda a dor, de ver Jesus crucificado nós poderíamos nos encontrar com ele e dizer “vamos nos
apoderar dele, ele é nosso!”, “ele é meu, só meu!”. Jesus: “Não. Não me segures! Vá dizer aos meus
irmãos!” Então essa experiência da ressurreição que nos leva a partilhar com os outros aquilo que
nós experimentamos, a esperança que o Ressuscitado nos dá.
E, por fim, uma última palavra que aparece, agora na primeira leitura, nos Atos dos
apóstolos, São Pedro está no dia de Pentecostes fazendo um longo discurso e fazendo memória dos
acontecimentos até a ressurreição. Não é uma palavra, na verdade é uma pergunta: “Irmãos, que
devemos fazer?” Aqui está a atitude fundamental do discípulo. O discípulo sabe perguntar sempre
“o que eu devo fazer?” Eu recebo um anúncio, um kerigma e agora faço essa pergunta. Eles ficaram
com o coração aflito, ficaram movidos e comovidos pelas palavras de São Pedro e dirigiram esta
importante pergunta: “O que devemos fazer?” Pedro respondeu: “Convertei-vos!” Assim, discípulos
e discípulas do Senhor, nós não podemos nunca esquecer esta pergunta. Todos os dias de nossa vida
nos precisamos escutar a palavra de Deus e deixar que ela provoque em nós essa pergunta “o que eu
devo fazer?” Espero não me enganar no pouco que conheço da Comunidade Shalom, que é muito
pouco, mas conheço, parece, se eu estiver enganado vocês me corrijam, que é de obrigação de todo
membro da Comunidade Shalom fazer a leitura da palavra de Deus diária. Certo? Eu acho até que
isso deveria ser a obrigação de todo fiel católico, mas de qualquer modo faz parte das promessas da
vocação ouvir a palavra de Deus, escrever um pouco sobre o que leu; é uma leitura orante, não sei
se se chama exatamente assim, lectio divina. Usam até a palavra antiga, tradicional, lectio divina?
Pronto. Então fazer a lectio divina diária, mas se a lectio divina não termina com essa pergunta “o
que devemos fazer?”, ela pode ser um pouco de formalidade. Toda lectio divina tem que terminar
com a mesma pergunta: e agora o que eu devo fazer? Porque se supõe que esta lectio divina fez
algum questionamento ao meu coração, ou me confirmou, me deu alegria, despertou
reconhecimento, agradecimento. Aí eu termino e digo o que fazer senão louvar a Deus? Ou
provocou em mim contrição quando nós vemos e observamos “Senhor, o que é que eu tô fazendo?”
O que devo fazer? Eu devo olhar para minha vida e observar o que São Pedro respondeu:
“Convertei-vos!” A palavra de Deus entra em diálogo conosco a ponto de provocar em nós esse
desejo de saber “e agora o que fazer?”. Pensemos, irmãos e irmãs, se nós realmente levamos, com
uma certa radicalidade, a sério, a nossa própria vocação e, cada discípulo da Comunidade Shalom,
no início do dia, escute a palavra de Deus e se pergunte: o que esta palavra está me pedindo para
fazer hoje? E deixe essa palavra iluminando cada encontro, cada ação; e outras que você tem que
pronunciar, os desafios, as provocações, as tentações, as provações, os desaforos que você vai ter
que escutar, o mau humor do seu pastor que pode estar mal-humorado hoje. Então, tudo isso, o que
você vai fazer? Como responder a essas coisas concretas do seu dia a dia com a palavra de Deus?
Então é bom que vocês levem estas expressões, -já me alonguei um pouquinho-, mas fazer essas
reflexões a partir dessas quatro palavrinhas. Primeira, para vocês não esquecerem o fio da meada, é
MESTRE. Todo mestre tem discípulos; quem chama um de mestre é porque é DISCÍPULO. Depois
é MARIA. Você foi chamado pelo nome e, por fim, “O QUE DEVO FAZER?” Aí você pode fazer
esse caminho para lembrar com as palavras, se foram úteis, que o padre recordou das leituras nesta
entrada no discipulado. Mas poderia ser assim: Jesus chamando meu nome e eu respondendo:
Mestre, o que devo fazer? Veja, é fácil de decorar. O seu nome, - eu lembro de um, Rafael. Rafael!?
-Aí você toma um susto!- O que devo fazer? Pronto. Jesus chamando-o pelo nome, você o
chamando de Mestre e perguntando ao seu mestre o que deve fazer na sua vida, nas suas atitudes,
no seu caminho, na formação, nos momentos fáceis e nos difíceis e, assim, se vive o verdadeiro
discipulado. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!

Transcrito conforme áudio original da transmissão pelo YouTube.

Daniel Queiroz
Filho de Deus, Shalom, Casado,
Discípulo da Comunidade Aliança.

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