Você está na página 1de 3

ANÁLISE “ENCONTRO MARCADO” – FERNANDO SABINO

Integrantes: Bruno Machado Schünke; Carlos Mateus Tavares Stédile; Felipe das
Chagas Nedel; João Marcos Klahr Sommerfeld; Luiz Gustavo Nava Bertoldo;
Mariana Grzybowski Ferrazza; Pedro Zaboeski de Souza; Pyetra Golzer Tolfo;
Rafael Seco Pieniz
Turma: 221
Componente: Redação
Professora: Stefanie Tunes
Data: 26/10/2023

1. SÍNTESE DA OBRA E PERCEPÇÕES PESSOAIS

“Encontro marcado”, de 1956, primeiro romance publicado por Fernando Sabino,


narra a história da vida do escritor Eduardo Marciano, compreendendo desde a sua infância
até a decadência na profissão de escritor – se é que se pode considerá-lo um. Além do grande
contingente de personagens que de certa forma repercutem minimamente no desenvolvimento
e cotidiano do protagonista, o traço do texto que é mais digno de destaque é a efemeridade das
situações e pessoas descritas, a qual inevitavelmente remete ao problema central das
preocupações de Eduardo: a angústia e a incerteza generalizada relativas as suas relações
interpessoais e, principalmente, à vida como escritor – fracassado, por sinal.

Em um primeiro momento, a narrativa se volta à infância e juventude da personagem


principal. É apresentado, com certa riqueza na construção de detalhes e situações específicas
(que viriam a moldar o caráter do protagonista), sua vivência no ambiente escolar e, o que
impacta mais diretamente no desenrolar da história, a amizade mantida por Eduardo e outros
dois colegas: Hugo e Mauro. Os três jovens, empolgados com ideias liberais e revolucionárias
e pela leitura de grandes poetas, mantêm uma vida libertina, recheada por festas, “aventuras”
perigosas, bebida alcoólica e visitas a prostíbulos. Ainda que acadêmico de Direito e distinto
por sua capacidade intelectual e atlética – conquistando prêmios de escrita e natação -,
Eduardo se torna um estudante relapso e corrói a imagem de “garoto prodígio” formada em
torno de si.

É dentro desse contexto que a personagem conhece Antonieta, filha de deputado do


Rio de Janeiro e advinda de família distinta e rica. A despeito do contraste entre dois mundos
– o de um devasso cavaleiro do exército e escritor amador e o de uma jovem oriunda da elite
carioca -, os dois se casam e o protagonista, forçado a se mudar para o Rio de Janeiro, acaba
por ter de exercer um cargo burocrático sob a influência de seu sogro notável. O leitor da obra
não é forçado a ser atento para deduzir o fracasso desse matrimônio: Eduardo, opondo-se ao
comportamento visivelmente maduro da esposa, mantém alguns de seus hábitos da juventude
ao continuar frequentando bares e ingerindo bebida alcoólica excessivamente, de modo que a
dissolução da relação era inevitável. Somava-se a isso o caso extraconjugal mantido pela
personagem principal e pela prostituta Gerlane, última marca da decadência de Eduardo não
somente nas relações interpessoais – uma vez que se afastava da esposa e não mantinha mais
contato com amigos -, mas também como escritor, posto que nunca publicava o suposto
romance que escrevia.

Por fim, com o fim do casamento, o protagonista retorna a Minas Gerais e relembra do
encontro marcado décadas antes com amigos da escola, Mauro (antigo companheiro de
boemia) e Eugênio. Após o fracasso da reunião, Eduardo volta para o Rio e descobre que
Neusa, jovem com quem se relacionou sexualmente logo após o divórcio, estava grávida. Sua
amante, desprovida de recursos (e remorso), dirige-se a uma clínica clandestina de aborto e
realiza o procedimento – escondido de nosso protagonista, já totalmente desorientado.
Finalmente, este entrega seu cargo a Misael, última amizade estabelecida dentro da narrativa,
e parte em viagem sem rumo, símbolo último de seu insucesso, tanto como escritor quanto
como indivíduo social.

Exposto isso, agora subjetivamente falando, foi perceptível a relativa complexidade do


enredo e, portanto, a dificuldade em devidamente interpretar a obra. Aspecto mencionado
anteriormente, a grande quantidade de personagens, apesar de exercer um papel importante na
construção do protagonista e na facilitação do entendimento de suas relações, dificulta a
interpretação completa da narrativa, uma vez que abre porta para compreensões que possam
atribuir erroneamente importância a certos momentos. Ademais, outra particularidade digna
de ser mencionada é o enfoque psicológico do texto, que, além da simples descrição
cronológica de eventos, apresenta a percepção dos próprios personagens (quase somente
Eduardo) perante os eventos, o que confere maior credibilidade à obra e a diferencia de um
mero clichê.

2. PERTENCIMENTO À ESCOLA LITERÁRIA


“Encontro marcado”, por conta do contexto em que foi produzido e dos traços
particulares da escrita, configura-se como uma obra pertencente ao movimento pós-
modernista, também denominado “terceira geração modernista”. Essa escola – que não se
restringe à literatura, abrangendo áreas como a artística – é fundamentalmente caracterizada
por: intertextualidade, liberdade de forma e escrita, uso do humor e ironia, fragmentação
textual, questionamento do racionalismo, multiplicidade de estilos, exaltação do prazer e
ênfase no cotidiano. Levando em consideração os conteúdos trabalhados até então no Ensino
Médio, percebe-se a adoção de marcas semelhantes ao realismo, uma vez que valoriza
elementos do dia a dia e visivelmente se opõe a uma idealização exacerbada.

No âmbito prático, é possível confirmar o encaixe do texto de Fernando Sabino dentro


dessa escola simplesmente ao se analisar o desenvolvimento do enredo e, sobretudo, do
protagonista. Desde os primeiros capítulos, ao serem narradas a infância e a adolescência de
Eduardo, sem qualquer tipo de “censura” sobre os hábitos peculiares e moralmente
questionáveis da personagem, é visível a despreocupação em romantizar o cotidiano de uma
personagem que, por sinal, não seria devidamente destrinchada se suas atitudes e sentimentos
inadequados não fossem abordados. São consequências inevitáveis, portanto, a exaltação do
prazer (ao ser descrito o envolvimento do protagonista com prostitutas), e a relativização do
racionalismo, uma vez que é frequente a narração dos conflitos morais e éticos na consciência
de Eduardo.

Você também pode gostar