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PROCESSO DE TOMBAMENTO
QUADRO II-B – PROTEÇÃO
TEATRO GRANDE
OTELO
DATA DE ENCAMINHAMENTO AO
UBERLÂNDIA
IEPHA: 10/12/2018
Av. Anselmo Alves dos Santos, n° 600/
ENDEREÇO DA PREFEITURA
Bairro Santa Mônica - CEP 38.408-150
valqueirozlopes@gmail.com -
ENDEREÇO ELETRÔNICO DO SETOR
diretoriadememoria@uberlandia.mg.gov.br
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7
2. HISTÓRICO DO MUNICÍPIO E DO BEM CULTURAL .......................................... 9
2.1. HISTÓRICO DO MUNICÍPIO ............................................................................................................ 9
2.2. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO ........................................................................................... 13
2.3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO BEM NO MUNICÍPIO E HISTÓRICO DO BEM ........................... 13
2.4. REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS ................................................................................................... 24
3. CARTOGRAFIA DO MUNICÍPIO ............................................................................. 27
3.1. LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO ................................................................................................... 27
3.2. LOCALIZAÇÃO DO BEM CULTURAL ......................................................................................... 29
4. DESCRIÇÃO, ANÁLISE E DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA DO BEM ...... 31
4.1. TRANSFORMAÇÕES E INTERVENÇÕES .................................................................................... 40
5. DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO ...................................... 43
6. DESCRIÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO ............................................ 45
7. JUSTIFICATIVA DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO..................................... 47
8. DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO DO TOMBAMENTO .......... 49
9. DESCRIÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO DO TOMBAMENTO................ 51
10. JUSTIFICATIVA DO PERÍMETRO DE ENTORNO DO TOMBAMENTO .... 53
11. LEVANTAMENTO MÉTRICO DO BEM .............................................................. 55
12. PLANO DE GESTÃO DAS MEDIDAS DE SALVAGUARDA ............................ 65
12.1. IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS E AMEAÇAS AO BEM CULTURAL ....................................... 65
12.2. DIRETRIZES DE PRESERVAÇÃO DO BEM TOMBADO ............................................................ 66
12.3. DIRETRIZES DE PRESERVAÇÃO DA ÁREA DE ENTORNO .................................................... 69
13. REFERÊNCIA DOCUMENTAL E BIBLIOGRÁFICA ........................................ 71
14. RITO LEGAL ............................................................................................................. 73
14.1. PARECER DO CONSELHO SOBRE O TOMBAMENTO .............................................................. 73
14.2. TERMO DE ANUÊNCIA AO PROCESSO DE TOMBAMENTO PROVISÓRIO DO TEATRO
GRANDE OTELO............................................................................................................................................ 77
14.3. ATA DE APROVAÇÃO DO TOMBAMENTO PROVÍSÓRIO....................................................... 79
14.4. NOTIFICAÇÃO DE TOMBAMENTO ............................................................................................. 85
14.5. HOMOLOGAÇÃO DO TOMBAMENTO ........................................................................................ 87
15. FICHA TÉCNICA ...................................................................................................... 89
1. INTRODUÇÃO
Agradecimentos
Nossos agradecimentos a todos que com seu apoio, depoimentos e sugestões colaboraram para a elaboração do
trabalho e em especial à equipe de funcionários da Prefeitura Municipal de Uberlândia - MG.
A região onde hoje se situa o município de Uberlândia se estabeleceu no século XIX, em uma
faixa de terras compreendidas entre os Rios Grande e Paranaíba, enquanto rota de passagem
de bandeirantes, com destino às zonas mineradoras já estabelecidas na região Centro Oeste.
Conhecida como “Sertão da Farinha Podre” em referência aos alimentos à base de farinha de
mandioca enterrados pelos índios Caiapós - antigos habitantes locais, que eram encontrados
apodrecidos pelos bandeirantes que por lá passavam, a região permaneceu por várias décadas
como ponto de apoio aos núcleos migratórios regionais do Centro Oeste.
Inicialmente, o povoamento do chamado Triângulo Mineiro, se deu de forma irregular. Existia
desde 1740 uma importante atividade mineradora em um lugarejo conhecido como
Desemboque, próximo ao Rio Araguari, que atraía expressivo número de exploradores. Com a
escassez de metais nessa região, acelerou-se o declínio do povoado ali estabelecido,
deflagrando uma incipiente produção agrícola em diferentes arraiais próximos ao local.
Assim, alteraram-se as configurações geográficas da região, sendo constituídos vários outros
povoados e entre eles o arraial chamado de São Pedro de Uberabinha, do qual se originou
Uberlândia.
O arraial citado teve suas origens em fazendas criadas a partir da concessão de sesmarias pela
Coroa Portuguesa, e deu origem a atual cidade de Uberlândia. Entre os pioneiros que as
adquiriram, estava João Pereira da Rocha, natural de Alto Paraopeba, fundador da Fazenda
São Francisco, em 1821. Vários outros sesmeiros receberam terras para cultivo na região,
entretanto, somente com a chegada dos irmãos Carrijo, em 1827, o povoamento efetivo
culminaria em desenvolvimento de fato. Naturais de Santana do Jacaré, Estado de Minas
Gerais, foram para a região por insistência do mais velho dos quatro irmãos, Luiz Alves
Carrijo, entusiasmado com as notícias dos atos de bravura por parte do então Sargento-mor,
Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira.
Chegando à região, Luiz Alves Carrijo adquiriu terras na Freguesia de Campo Belo, hoje
Campina Grande, posteriormente permutadas pela Fazenda do Rio das Velhas, Freguesia de
Santo Antônio de Oberaba. Após a escolha definitiva do local para sua fixação, teve de
finalmente convencer os irmãos a se mudarem, tendo gastado para isso três longos anos já
que, naquela época, a região era considerada inóspita e selvagem.
1
TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central. Uberlândia: Uberlândia Gráfica, 1970, v.1. p.
30.
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A construção do prédio que hoje abriga o Teatro Grande Otelo integra um amplo processo de
urbanização do então bairro Vila Operária, ocorrido na década de 1960. Dentro deste
contexto, repleto de transformações, a Praça Nossa Senhora Aparecida impõe-se como obra
primordial, responsável pelo desenvolvimento de um ambiente sociocultural em um bairro até
então considerado periférico e exclusivamente residencial. A inauguração de uma praça
naquela localidade representou um fomento às relações sociais, na medida em que proveu os
espaços de sociabilidade e lazer onde era possível encontrar pessoas e realizar atividades antes
circunscritas ao centro da cidade. Os articulistas da época publicaram textos nos periódicos
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A praça (...) é das mais modernas e bonitas do Brasil. Tem a estética funcional,
perfeitas segundo os rigores da arte moderna aplicada à arquitetura. Uma fonte
sonora-luminosa, fogos artificiais, jardins suspensos, concha acústica, palco para
exibições teatrais e tudo mais.2
Como podemos perceber, a praça, projetada pelo arquiteto João Jorge Coury, além de ser um
elemento de estetização do espaço urbano, era também um local apropriado à realização de
eventos artísticos e culturais, fato que vem corroborar a hipótese de que o poder público
pretendia promover o desenvolvimento de novos hábitos culturais na população da vila,
considerando que uma cidade moderna e progressista precisava ter uma vida social
efervescente. Neste sentido, poderíamos dizer que a construção da praça, e do cinema numa
etapa posterior, simbolizou, entre outras coisas, a tentativa de vencer o caráter provinciano do
pequeno burgo através do incentivo ao comércio de entretenimento e da extensão das áreas
urbanizadas, e potencialmente culturais, para além dos limites centrais.
Foto 1. Processo de urbanização do Vila Operária. Sem data. Acervo Arquivo Público de Uberlândia
2 Jornal Correio de Uberlândia. Uberlândia, Terça / Quarta-feira, 30/31 de agosto de 1966, nº 10287. P. 1.
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Na época em que foi inaugurado o Cine Vera Cruz (primeiro nome do hoje Teatro Grande
Otelo), a imprensa foi enfática ao destacar a importância urbanística das diversas obras em
construção naquele bairro, dentre as quais se destacam: a Praça Nossa Senhora Aparecida e o
Ginásio Cristo Rei. Na noite de inauguração da praça, o vereador Calcir José Pereira proferiu
um extenso discurso no qual evocava a história da vila e de sua evolução através dos anos,
desde o pequeno núcleo inicial até às “extraordinárias” construções do presente. 3 O teor desta
declaração, e de muitas outras congêneres, é naturalmente exaltado e de certa forma
hiperbólico, pois, tratando-se de obras públicas, as autoridades políticas, sempre julgam
necessário exagerar a beleza e relevância de suas obras para transmitir uma aparência de
magnitude. Entretanto, cumpre mencionar estes discursos, para alertar sobre os aspectos
simbólicos subjacentes as obras em debate.
O projeto para o estabelecimento de um cinema na Vila Operária vinha sendo veiculado pela
imprensa escrita desde janeiro de 1966, portanto, nove meses antes de sua efetiva
inauguração. Durante todo este período que antecede o advento da casa cinematográfica, as
matérias jornalísticas versam, geralmente, sobre problemas relativos à segurança pública e a
aparência das vias e logradouros, ao mesmo tempo em que enaltecem os projetos de
edificações já iniciados. Em tais circunstâncias, o Cinema Vera Cruz surge como
empreendimento seminal, visto que poderia tornar-se, juntamente com outros
estabelecimentos, o polo aglutinador e dinamizador de futuras ações. Talvez por esta razão, a
obra tenha sido acompanhada com tanto interesse e assiduidade pela imprensa. Na edição do
dia 07 de janeiro de 1966, no Jornal Correio de Uberlândia, foi publicada a primeira nota
referente à construção do cinema. Neste texto, o colunista destaca o pioneirismo do
empreendimento, ao colocar que este, quando inaugurado, seria a primeira casa de espetáculos
a ser construída na periferia da cidade:
FILHO DE UBERLÂNDIA INSTALA CINEMA EM VILA OPERÁRIA
Segundo apurou nossa reportagem, está sendo construído em Vila Operária, Av.
João Pinheiro com Rua Monte Alegre, modelar casa de espetáculos
cinematográficos, que virá beneficiar grandemente o entretenimento daquela zona
urbana da cidade. Está na frente do movimento, entre outros, o Sr. José Gomes
Pereira, filho de Uberlândia, que não tem medido esforços para dar à cidade o
3 Ver: Jornal Correio de Uberlândia. Uberlândia. Sexta-feira / Sábado, 2/3 de setembro de 1966, nº 10289, p. 6,
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primeiro cinema em sua periferia. Apuramos também que este cinema deverá ser
inaugurado em março ou abril deste ano e contará com 700 poltronas estofadas. 4
O projeto e o cálculo da obra foram realizados pelo engenheiro civil Nelson Gonçalves Prado
(cart. Prof. 2165 D – 4ª região do CREA) e aprovado na Prefeitura em 07 de janeiro de 1966.
O terreno situado na Avenida João Pinheiro, nº 1789, tinha área de 463,50 m². O projeto
arquitetônico inicial previa uma edificação em dois pavimentos, cuja área construída total
seria de 523,50 m², sendo que o pavimento térreo ocuparia toda a área do terreno, enquanto
que o pavimento superior teria apenas 60m².
A fase de construção deste prédio foi exaustivamente documentada pelo Jornal Correio de
Uberlândia, que em suas seções culturais como “Trapézio” e “Divertimentos”, anunciou
sucessivas datas de inauguração, muitas vezes canceladas devido a problemas de ordem
técnica. Primeiramente, a inauguração estava prevista para julho, porém no dia 02 de agosto a
obra ainda não havia sido concluída e, sem maiores explicações, o evento foi adiado para o
dia 31 de agosto. Nesta ocasião, o jornal divulgou a provável data de início de atividade do
cinema na coluna “Pessoas & Firmas” de Evangelista Ferreira, onde também foi informado
um detalhe técnico específico da casa:
P&F
VERA CRUZ – Quase concluído o prédio do Cine Vera Cruz (Empresa Teatral Vera
Cruz LTDA) na Av. João Pinheiro, proximidades da Praça Nossa Senhora
Aparecida. O equipamento “Phillips” já está sendo montado e a nova casa,
primeira a ser construída no populoso Bairro Operário, será entregue nos próximos
dias à população citadina...5
Anúncios desse gênero foram publicados outras vezes e, quase sempre, primavam pelo tom
enfático do texto, no qual percebemos a preocupação em reiterar a extrema relevância e o
alcance social do projeto. Não obstante, parece evidente que tais ações não eram
simplesmente iniciativas abnegadas visando ao bem-estar da população da Vila Operária,
considerando que havia um comércio cinematográfico em pleno desenvolvimento e que,
diante da saturação do circuito na região central, os empresários buscavam novos campos para
expansão da atividade. Prova disso é que a concessão seria explorada por uma nova empresa,
a Empresa Teatral Vera Cruz Ltda., que ingressava no mercado como concorrente da firma já
4 Jornal Correio de Uberlândia. Uberlândia. Ano XXVIII, nº 10.143, 07 de janeiro de 1966. S/ autor, p.1.
5 Jornal Correio de Uberlândia, não XXIX, nº 10271, 2/3 de agosto de 1966. Coluna Pessoas & Firmas, p. 5
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atuante.
Em 31 de agosto, a inauguração foi novamente cancelada sob a alegação de que as 600
poltronas estofadas não foram entregues no tempo previsto. O colunista responsável pela
matéria aproveitou a ocasião para arrolar algumas características do estabelecimento que,
segundo consta, traria novidades no que diz respeito à acomodação e ao conforto do público
cinéfilo:
Será inaugurado no dia 20 de setembro próximo o moderníssimo Cine Vera Cruz,
localizado na Praça Nossa Senhora Aparecida, em Vila Operária, de propriedade
da Empresa Vera Cruz LTDA. Dirigida pelos Srs Ilídio de Oliveira, José Gomes e
Célio Ferreira da Silva. O novo cinema, de modernas instalações, tem 600 poltronas
estofadas (primeira classe) e mais duas galerias, sendo uma popular e outro estilo
(tribuna de honra para convidados e altas autoridades). É o único do Triângulo
Mineiro com tais características.6
Na mesma edição em que se publicou esta notícia, havia outro artigo anunciando o
cancelamento do evento de inauguração, fato que traduz a extrema confusão de datas que se
fez na época e que também pode ser um sinal do grande alvoroço causado pela iminência de
um acontecimento cultural de considerável importância para a cidade.
Cinemeiros .... sabem a nova? Que que isso meu Deus... não sabem mesmo? só uns
minutinhos, porque, porque, estão com pressa! A grande nova é ... a primeira e
grande programação do “Vera Cruz”. Vejam só se não é barra limpa mora!
Dia 08 de Outubro no Cine Vera Cruz “Duelo na Cidade Fantasma”, cabe a Robert
Tayor e Richard Widmark a honra de ser os primeiros astros a serem vistos na tela
do Vera
Dias 09 e 10 de Outubro no Vera: “Honra a um Homem mau” staring James
6 Jornal Correio de Uberlândia, ano XXIX, nº 10.287, 30/31 de agosto de 1966. S/ autor, manchete, p. 1.
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7 Jornal Correio de Uberlândia, ano XXIX, nº 10. .304, 29 de setembro de 1966. Seção Divertimentos, p. 2.
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Foto 2. Cine Vera Cruz. Sem Data. Acervo Arquivo Público de Uberlândia
Em princípio, o cinema deveria apresentar uma seção diária de segunda a sexta-feira e três
sessões aos sábados e domingos, sendo uma matinê às 13 horas e duas sessões noturnas às 19
horas e 21 horas. Porém, já no mês de estreia, as sessões de domingo foram suspensas, bem
como as matinês aos sábados. Como justificativa para esse ato, os proprietários alegaram
“motivos de ordem técnica”8, sem esclarecer de forma satisfatória esta atitude. Contudo,
considerando a novidade da empreitada, podemos supor que o motivo da suspensão tenha sido
a escassez de público naquelas sessões de final de semana, pois nesses dias os frequentadores
dessas casas certamente preferiam os cinemas badalados do centro.
Inicialmente, o Cine Vera Cruz manteve uma programação independente, projetando
exclusivamente filmes produzidos pela empresa Metro Goldwyn Meyer, com temas e gêneros
bastante diversificados. Porém, já em fevereiro de 1967, a casa perde autonomia no que se
refere à programação, pois em virtude da fusão entre a Empresa Teatral Vera Cruz e a Brasil
Central de Cinemas, a programação do Vera Cruz foi então vinculada à do Cine Avenida,
integrando uma espécie de circuito, em que um mesmo filme era exibido nos dois cinemas
simultaneamente. Essa transação comercial foi saudada como um movimento evolutivo no
campo do comércio cinematográfico, visto que o novo esquema de projeção simultânea
viabilizaria a atualização do Cine Vera Cruz no que diz respeito à programação. Isto é o que
podemos inferir dos comentários depreciativos publicados sobre este cinema quando do
8 Jornal Correio de Uberlândia, ano XXIX, nº 10315, 18 e 19 de outubro de 1966. Seção Divertimentos, p.2.
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Sejam quais forem as razões que levaram a este processo de fusão, o fato é que ele parece ter
sido vitorioso, pois em maio de 1967, os proprietários das duas empresas anunciaram a
aquisição de uma outra sala, o Cine Fátima, que se encontrava desativado há alguns meses e
que a partir de então passaria a integrar o circuito Avenida – Vera Cruz.
Ainda no ano de 1967, a direção da empresa recorreu a novas estratégias de marketing com o
objetivo de atrair clientela para as duas casas. No Vera Cruz foi introduzida a chamada Sessão
das Moças, uma sessão especial direcionada ao público feminino juvenil, na faixa etária de 14
a 18 anos. O evento acontecia todas as sextas-feiras e consistia de projeção gratuita de
películas voltadas para este público específico. Concomitantemente, a empresa tratou de
ampliar a dimensão dos anúncios publicados no jornal, os quais passaram a ser elaborados em
formato semelhante ao cartaz, no intuito de despertar o interesse do público pela película
anunciada.
9 Jornal Correio de Uberlândia, ano XXX, nº 10394, 5 e 6 de março de 1967. Seção Divertimentos, p. 2.
10 Ver: Jornal Correio de Uberlândia, ano XXX, Nº 10.516, 10, 11 de outubro de 1967. Seção Divertimentos.
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Foto 3. Projetor do Cine Vera Cruz que funcionava a Foto 4. Projetor do Cine Vera Cruz que funcionava a
base de carvão. 09/10/17. Autoria: Cláudia Fantini base de carvão. 09/10/17. Autoria: Cláudia Fantini
Tem sido freqüente a reclamação de que nossos cinemas não oferecem quase
nenhuma condição de serem freqüentados normalmente pelas famílias. E isso vem
sendo constatado pelos jornais. A algazarra, os gracejos e até mesmo a balbúrdia
fazem com que nossos cinemas sejam os últimos locais de entretenimento (...). Com
o advento da televisão a freqüência nos cinemas está cada vez mais reduzida e os
poucos que ainda vão às essas casas de espetáculo voltam decepcionadas para
casa...”11
Ainda que um dos proprietários do Vera Cruz, Alexandrino Alves do Santos, tenha contestado
essa crítica relativa ao problema da frequência, não se pode negar que parece ter havido um
arrefecimento da atividade no município, pois os jornais, que são os grandes veículos
divulgadores dos filmes e dos próprios espaços culturais, reduziram consideravelmente o
espaço dedicado à programação de cinema e, por vezes, observa-se uma descontinuidade no
registro dos filmes em exibição, o que pode ser visto com um gesto sintomático do
desinteresse dos periódicos relativamente a esta atividade.
Neste contexto, a pesquisa em jornais mostra-se pouco profícua do ponto de vista heurístico já
que traz pouca ou nenhuma informação relevante para um trabalho histórico sobre a criação e
manutenção de uma casa de espetáculos. Por esta razão, julgamos ser inútil apresentar listas
de programação que nada acrescentam à história construída do prédio, que inclusive não
sofreu transformações profundas neste período de 15 anos. Além disso, devemos ponderar que
em certos casos é impossível esclarecer alguns aspectos obscuros da história de um prédio
cujo uso manteve-se inalterado durante um longo tempo, visto que permanências e incógnitas
são inerentes à história da cidade de um modo geral, uma história que se constrói segundo um
itinerário nem sempre recuperável pelo historiador, e que somente se revela
11 Jornal Correio de Uberlândia, não XXXI, nº 10.639, 14/15 de maio de a968. Manchete, p. 1.
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A história particular do Teatro Grande Otelo é permeada por estas ausências e é, por assim
dizer, difícil construir um corpus documental que possibilite reconstituir a história que se faz
e se esfacela diariamente. Por este motivo, longo foi o tempo de esquecimento, até que novos
acontecimentos trouxessem à tona os fatos relacionados à fundação do prédio, permitindo que
as pessoas soubessem de sua existência e se conscientizassem de sua importância cultural.
Tais acontecimentos tiveram lugar em 1984, ano de criação da Secretaria Municipal de
Cultura. Com a implantação de uma nova gestão democrática, surgiu a preocupação em se
promover e incentivar os valores culturais próprios da região e, com isso, corporifica-se a
ideia de investimento na cultura local e na criação de projetos que possibilitassem o
desenvolvimento das potencialidades culturais aqui gestadas. Uma das ações empreendidas
com esse objetivo foi a criação do Teatro Grande Otelo, que tornar-se-ia possível mediante a
adaptação do antigo cinema, que se encontrava desativado desde 1977. A negociação entre a
Prefeitura Municipal e a Empresa de Cinemas São Paulo Minas (com sede em Ribeirão
Preto), resultou em desapropriação amigável orçada em CZ$2.500.000 (dois milhões e
quinhentos mil cruzados), a ser paga em três parcelas pelo município, então representado por
Zaire Rezende.
O projeto de reforma e adaptação da sala foi elaborado por Ricardo Pereira, então arquiteto da
Secretaria Municipal de Cultura, sendo que a coordenação da obra ficou a cargo de Haroldo
Gilbert Marinho Júnior, então engenheiro da Secretaria Municipal de Obras, que afirmou que
a reforma conferiu ao prédio as condições mínimas para o funcionamento de um teatro e que,
a partir de então, o palco estaria disponível para apresentações de peças teatrais, danças,
shows e exibição de filmes. As obras foram concluídas em 1985 e, dentre as intervenções
realizadas, podemos citar:
a reforma de 360 cadeiras, revestimento das paredes internas com isolantes
acústicos, palco com estrutura metálica, passarela para sustentação de
equipamentos operacionais, reforma de parcela da ventilação, execução de dois
camarins com instalações sanitária na lateral do prédio.”12
Em 30 de junho deste mesmo ano, o Teatro Vera Cruz foi inaugurado. Das solenidades
participaram o Coral da UFU e Iolanda de Lima Freitas, Secretária Municipal de Cultura na
Em 1993, as atenções voltaram-se mais uma vez para o teatro. Dessa vez, o motivo foi o
debate em torno da mudança de denominação. A ideia de alterar o nome do teatro adveio do
interesse demonstrado pelos políticos locais em homenagear o ator Grande Otelo, uma grande
personalidade das artes cênicas brasileiras, nascido em Uberlândia, mas que se mudou da
cidade ainda jovem, tornando-se nacionalmente conhecido por suas atuações nas chanchadas,
filmes humorísticos de notável apelo popular, nos quais contracenou com o célebre Oscarito e
outros grandes atores brasileiros. O projeto de alteração de nome foi aprovado na Câmara e a
casa passou a denominar-se Teatro Grande Otelo.
Para comemorar essa nova fase que nascia com a nova denominação, a Secretaria de Cultura
planejou uma série de eventos para o período compreendido entre os dias 12 e 15 de
novembro de 1993, quando também seria realizada a Festa em Louvor a Nossa Senhora do
Rosário e São Benedito ou Festa da Congada, uma das manifestações culturais mais
expressivas da cidade. Na programação, estava incluída a visita do próprio Grande Otelo, que,
no entanto, não compareceu devido a problemas de saúde. Pouco tempo depois, em 26 de
novembro de 1993, o ator veio a falecer na cidade de Paris, onde receberia homenagens.
Desde o início da década de 2000 o Teatro Grande Otelo encontra-se interditado devido a uma
série de problemas verificados em suas instalações.
ALVES, Luciana Villela. LEITE, Fábio Rodrigues Pereira. Teatro Grande Otelo: Memorial
de Projeto de Reforma. Arquivo Público Municipal. Agosto, 2001.
MARIANO, Flávia Gabriella Franco. Nos trilhos de uma urbanidade excludente: produção
do espaço em Uberlândia/MG.
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SANTOS, Tadeu Pereira dos. Entre Grande Otelo e Sebastião: tramas, representações e
memórias. 2016. 597 f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia, 2016.
SOUZA, Maria Núbia Alves Martins. CANDELOT, Vânia Lúcia Rende. Teatro Grande
Othelo: de Cine Vera Cruz à Teatro Grande Othelo. Projeto de Pesquisa : Desenvolvido
pelo Setor de Pesquisa do museu Municipal de Uberlândia da Secretaria Municipal de Cultura
da Prefeitura de Uberlândia. 2002.
MOREIRA, Eduardo. Teatro Grande Otelo em Uberlândia [Internet]. Site Grupo Galpão.
Disponível em < http://www.grupogalpao.com.br/blog/index.php/teatro-grande-otelo-em-
uberlandia/>. Acesso em 29 de setembro de 2017.
OLIVEIRA, Luis Humberto Garcia de. Pelos Trilhos do Wagão: o Teatro de Wagner
Salazar. 2013. 132 f. Dissertaçao (Mestrado em Artes) - Universidade Federal de Uberlândia,
2013.
Documentos:
Entrevistas:
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Carlos Guimarães Coelho (Produtor
Cultural e Jornalista) – 09/10/17
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Maria Aparecida Rocha Perfeito
(Funcionária pública, ex-coordenadora do Teatro Grande Otelo) – 09/10/17
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Susilene Ferreira de Oliveira (Atriz)
– 09/10/17
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Kátia Bizinotto Macedo Soares
(Atriz) – 09/10/17
Entrevista concedida à Marcella Valadares dos Santos por Maria Aparecida Rocha Perfeito,
gestora cultural.
3. CARTOGRAFIA DO MUNICÍPIO
Implantado nos alinhamentos do lote de esquina entre a Avenida João Pinheiro e a Rua Monte
Alegre, avistado pela Praça Nossa Senhora Aparecida, encontra-se o prédio de dois
pavimentos do Teatro Grande Otelo, antigo Cine Vera Cruz. Projetado pelo engenheiro
Nelson Gonçalves Prado e construído em 1966, a edificação não possui um estilo
arquitetônico definido, tendo algumas evidentes referências do estilo art déco.
Foto 6. Vista das principais fachadas do Teatro Grande Otelo, em terreno de esquina.
Uberlândia - MG
Marcella Valadares dos Santos, agosto/2017
A volumetria consiste em um bloco retangular único que ocupa quase que a totalidade do
terreno, possuindo ligeiro avanço na projeção do pavimento superior e uma marquise que
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EXERCÍCIO 2020
Rubrica:
PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA-MG
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O acesso principal é pela referia Avenida, que hoje se encontra fechado por uma alvenaria
improvisada, mas que dava acesso ao pequeno foyer do teatro, por meio de alguns degraus em
piso de granilite paginado com a inscrição "Cine Vera Cruz".
Foto 8. Piso em granilite com inscrição do antigo Foto 9. Vista do pequeno espaço destinado à bilheteria
nome do bem, Cine Vera Cruz. e seu guichê de vendas.
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Marcella Valadares dos Santos, agosto/2017 Marcella Valadares dos Santos, agosto/2017
Esse espaço de espera e convivência é apoiado por instalações em suas extremidades laterais:
do lado esquerdo, o sanitário masculino com bacias e mictórios; e do lado direito, um
pequeno espaço para um funcionário com guichê para a bilheteria e o sanitário feminino. Os
sanitários possuem acabamento cerâmico até meia altura com peças quadradas na cor branca,
e última fileira com barrado vermelho. A iluminação e a ventilação dos mesmos são
realizadas por pequenos vãos com esquadria metálica e vidro liso do tipo basculante, que não
são suficientes para proporcionar um ambiente salubre, segundo os parâmetros de ventilação e
iluminação atuais.
Também pelo foyer podem ser acessadas as salas técnicas e administrativas, através de uma
escada estreita de 60 centímetros de largura, com piso em plurigoma preto, sendo uma
circulação de acesso restrito e fechada por uma porta de madeira.
Em posição de destaque, como não poderia deixar de ser, tem-se centralizado no foyer os
acessos à sala de espetáculos. A capacidade da sala, quando ainda utilizada, chegava a uma
lotação de 600 pessoas bem acomodadas em poltronas de madeira com estofado revestido por
material vinílico na cor bege. A grande sala, de pé direito alto e sensação de amplitude,
possuía revestimento acústico de placas de fibra de cana-de-açúcar nas paredes, que foi
retirado. Existia ainda um forro acústico no salão com parte em forro de madeira. Ainda há no
local um barrado decorativo de madeira, instalado na porção inferior das paredes. O palco foi
demolido em uma empreitada para reforma do teatro e, atualmente, encontra-se em seu lugar
uma estrutura de concreto que seria a base para construção de um novo palco. Quando
existente, o palco possuía um pequeno urdume e uma passarela técnica de acesso às varas de
luz. Para se chegar à passarela técnica, existem duas escadas marinheiro, uma de cada lado da
boca de cena. Havia uma saída de emergência na lateral direita para a Rua Monte Alegre, que
foi fechada, assim como as demais portas, por alvenaria de blocos de concreto.
Em relação à sala de espetáculos, o teatro seguia o estilo de palco italiano, fechado em uma
caixa, onde os espectadores assistem à representação pela frente, chamada de boca de cena.
As coxias possuíam dimensões fartas, o que era considerado bom pelos artistas. A relação
visual de palco e plateia, no entanto, não era satisfatória. O palco ficava a 1,20m do nível de
piso da plateia, o que prejudicava a visibilidade nos assentos das primeiras fileiras. Além da
saída de emergência, a fachada lateral direita possuía uma outra porta de duas folhas de
madeira de correr ligando o palco ao exterior, na Rua Monte Alegre, passagem que servia
para carga e descarga do material cênico. Já na lateral esquerda, havia também a conexão por
um vão, porém feita para a coxia lateral, as instalações sanitárias e camarins.
Foto 14. Vista da sala de espetáculos em direção ao Foto 15. Lateral direita da sala de espetáculos, com
fundo desta, acima veem-se as aberturas de salas barrado decorativo na parede e escada marinheiro de
técnicas. acesso à passarela luminotécnica.
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O palco possuía piso tabuado de madeira e forro também em madeira. O piso em taco de
madeira assentado em formato de espinha de peixe, existente na plateia, foi retirado e hoje é
possível observar apenas as marcas do rejuntamento. Há uma pintura artística colorida como
um barrado lateral em toda a plateia, cuja data de execução não foi identificada. A cobertura
atual encontra-se totalmente danificada.
Seguindo pelo vão lateral esquerdo e pela coxia chega-se às instalações sanitárias, duas para
bacia e duas para banho, além do lavatório externo às cabines. Na parte posterior, a copa com
piso de granilite e paredes revestidas com cerâmica na cor branca. As áreas molhadas citadas
possuem laje em alvenaria. Na parede posterior da copa, há uma porta metálica com painéis
de vidro que dá acesso aos fundos do terreno, uma pequena circulação remanescente, que
segue até chegar à Rua Monte Alegre, onde há um pequeno portão. Ainda a partir das áreas
molhadas, seguindo-se são encontrados os camarins, masculino e feminino, com piso em
granilite que possuem mobiliário executado em alvenaria para guarda e apoio dos artistas, um
lavatório em cada, ar condicionado e espelhos.
Foto 20. Conjunto de cabines de bacias sanitárias e Foto 21. Esquadrias metálicas com vidro liso da copa
chuveiros. para a circulação de fundos.
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Continuando pela circulação, encontra-se uma porta que dá acesso ao espaço onde funcionava
a Galeria de Arte Ido Finotti. Essa sala possui também uma porta principal de acesso pela
Avenida João Pinheiro, com esquadrias metálicas e painéis de vidro liso. Uma janela também
foi instalada nessa parede no trecho curvo de recuo da porta.
Na parte interna, além da pequena porta de acesso à galeria, há também uma escada que leva
ao pavimento superior, onde se encontram as salas técnicas e administrativas. Na chegada, à
direita há um sanitário, e após, salas de uso administrativo, copa, e salas técnicas onde
ficavam os projetores cinematográficos. Os sanitários e a copa possuem revestimento
cerâmico nas paredes, até meia altura. Os antigos projetores hoje se encontram expostos na
Casa de Cultura de Uberlândia. Essa sala não é centralizada em planta com o palco, fato que
desencadeava inúmeras críticas. Atravessando-se essa área técnica, administrativa e restrita, é
possível descer pela outra extremidade, por uma outra pequena escada que chega no foyer ao
lado do sanitário feminino e da bilheteria.
A cobertura da edificação é dividida em duas porções: a maior, que contempla o foyer e seus
apoios, a plateia e o palco, com telhado de duas águas em telhas metálicas; e outra,
independente, que cobre a porção lateral onde ficam os camarins, sanitários e galeria. O
pavimento superior avança um pouco sobre a fachada, não fazendo o mesmo desenho do
pavimento térreo. Há dois recuos de paredes que dão movimento à fachada. Também foram
instalados quatro ventiladores do tipo industrial na fachada. A marquise frontal acompanha
toda a fachada da edificação para a Avenida João Pinheiro, tendo acabamento recurvado na
esquina, avançando um pouco para a fachada da Rua Monte Alegre. Na calçada externa, o
piso é em ladrilho hidráulico quadrado de dimensões 25x25cm, e a largura da calçada é de
aproximadamente dois metros em média. Na fachada principal aparecem quatro esquadrias do
pavimento superior, duas com requadros pintados na cor branca, e as outras duas, de mesma
proporção, porém sem requadros. As duas portas no térreo também possuem requadro com
pintura branca.
Apesar de ser um terreno de esquina, não há uma grande visibilidade do bem a partir das vias,
a não ser pela Praça Nossa Senhora Aparecida. O entorno é composto predominantemente por
edificações de até dois pavimentos, no entanto, na esquina oposta ao bem foi erguido um
prédio residencial com 16 pavimentos, que impacta bastante na paisagem. Fora este, não há
mais grandes intervenções de impacto no entorno.
Desde sua inauguração, o bem passou por algumas intervenções. Inicia-se pela construção do
anexo, sem data determinada, mas já presente nas fotos datadas de 1985. Na sequência
destaca-se a publicidade anexada à marquise, também existente em uma fotografia de 1985,
com as inscrições “Vera Cruz” na mesma. Essa publicidade não existe mais, até por não ser
mais essa a denominação do equipamento.
Foto 1. Imagem do Cine Vera Cruz pouco antes de sua inauguração. Fotografia veiculada no Jornal Primeira
Hora, em junho de 1985, em matéria anunciando a sua iminente inauguração.
Fonte: Arquivo da Casa de Cultura de Uberlândia.
Elaboração: Jornal Primeira Hora. 20 de Junho/1985.
Em 1996 há registro de outra reforma, dessa vez para manutenção e reparo de alguns danos,
que foi executada por funcionários do local e por sistema de mutirão dos artistas para pintura
Ouro documento encontrado de projeto de reforma é de 2001, que sabemos não ter sido
executado, mas relata que o estado, nesse momento da cobertura, era de quatro águas de
telhas de fibrocimento, no primeiro volume, e um telhado improvisado também em
fibrocimento no segundo.
Em 2002, após vistorias que indicaram a precariedade e insegurança da edificação, o teatro foi
interditado. Havia empenho de alguns atores para a execução de um novo projeto de reforma,
porém a obra não ocorreu e o edifício foi se degradando, já que se encontrava sem uso.
Foto 2. Fachada da edificação em 2001. Foto 3. Vista da fachada lateral do teatro em 2001.
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Fábio Leite e Luciana Villela, agosto/2001 Fábio Leite e Luciana Villela, agosto/2001
Coordenadas Geográficas:
P01 - 18°54'28.3"S, 48°16'20.0"O
P02 - 18°54'28.9"S, 48°16'20.4"O
P03 - 18°54'29.4"S, 48°16'19.5"O
P04 - 18°54'28.9"S, 48°16'20.4"O
ase: Plantas do Arquivo da Prefeitura e Google Maps. Elaboração: Marcella Valadares dos Santos. Data: Outubro de 2017. Escala Gráfica.
O perímetro de tombamento do edifício do Teatro Grande Otelo tem como objetivo garantir a
preservação da estrutura edificada, colocando as decisões relacionadas ao bem subordinadas
ao interesse público na preservação de sua memória.
O Teatro Grande Otelo, além de homenagear o grande artista uberlandense, faz parte do
imaginário coletivo como espaço artístico onde um grande desenvolvimento cultural ocorria,
e o gatilho para o acesso a essa memória é sua imagem, sua materialidade, suas paredes e sua
volumetria. Sua importância histórica e como espaço cultural é reconhecido e requerido pela
comunidade. O tombamento do Teatro Grande Otelo é um ato de respeito à memória local e
ao interesse público da população.
Coordenadas Geográficas:
P01 - 18°54'28.3"S, 48°16'20.0"O
P02 - 18°54'28.9"S, 48°16'20.4"O
P03 - 18°54'27.8"S, 48°16'14.8"O
P04 - 18°54'30.3"S, 48°16'17.1"O
P05 - 18°54'29.7"S, 48°16'17.9"O
P06 - 18°54'32.0"S, 48°16'19.8"O
P07 - 18°54'30.6"S, 48°16'21.7"O
Área do Perímetro de
Entorno de Tombamento – 18.931,20 m²
Base: Plantas do Arquivo da Prefeitura e Google Maps. Elaboração: Marcella Valadares dos Santos. Data: Outubro de 2017. Escala Gráfica.
O perímetro de entorno do tombamento do Teatro Grande Otelo definido pela poligonal P01-
P07, contempla a poligonal de tombamento, a Praça Nossa Senhora Aparecida, parte da
quadra em que se encontra o bem e algumas edificações da Rua Monte Alegre e da Avenida
João Pinheiro voltadas para a Praça Nossa Senhora Aparecida. A área total da poligonal é de
18.931,20 m².
Considerando a relação do bem tombado com a Praça Nossa Senhora Aparecida e tendo em
vista que esta fornece a ambiência aprazível e afastamento para contemplação do bem, torna-
se imprescindível que a mesma esteja contida dentro do perímetro de entorno do tombamento.
O edifício e a praça estão ligados não apenas pela história que se conflui uma com a outra,
mas por uma relação harmônica e funcional. O lazer e a cultura estão muito próximos em suas
atividades, e se complementam. No caso da praça, até mesmo algumas companhias de teatro,
como o Grupo Galpão, já fizeram uso de seu espaço para apresentações, de forma integrada
com o Teatro Grande Otelo. A preservação da praça é essencial para a manutenção da boa
ambiência e de um conjunto coerente de lazer e cultura nesse espaço.
Figura 1. Planta de Situação do Teatro Grande Otelo, numerado com (1). Escala Gráfica.
Fonte: Levantamentos do Arquivo Público da Prefeitura Municipal de Uberlândia e visita técnica.
Elaboração: Marcella Valadares. Outubro/2017.
Figura 2. Planta baixa do Pavimento térreo do Teatro Grande Otelo. Escala: 1:200.
Fonte: Levantamentos do Arquivo Público da Prefeitura Municipal de Uberlândia e visita técnica.
Elaboração: Marcella Valadares. Outubro/2017.
É também evidente e fato conhecido que a cultura e seus equipamentos não costumam ser
prioridades de investimento das agendas e políticas públicas, de onde decorrem o abandono
dos espaços públicos culturais e o enfraquecimento das cenas artísticas.
Através das questões expostas é possível compreender como o Teatro Grande Otelo se
encontra hoje em um estado extremamente precário de conservação, e dar-se conta da
situação de vulnerabilidade dessa edificação perante as tendências de crescimento e
verticalização da cidade. O processo de arruinamento dessa edificação não vem acontecendo
por outro motivo senão o abandono e a falta de interesse político na manutenção desse espaço
cultural.
O teatro, que recebeu seu último espetáculo em 2002, segue fechado e abandonado,
interditado devido ao seu precário estado estrutural. Em 2011, a cobertura do teatro cedeu em
forte vendaval, o que deixou a estrutura vulnerável às intempéries e, apesar de ter sido
instalada uma cobertura provisória para mitigar danos, esta se encontra com enormes falhas
na vedação, e os danos à estrutura e demais elementos construtivos só se agravam durante os
anos. A parede externa no alinhamento com a Rua Monte Alegre possui grande instabilidade
estrutural, ameaçando ruir.
As intervenções devem deixar a marca de seu tempo e ser diferenciada dos originais, a
fim de evitar falsificações ou inverdades históricas. No entanto, tais intervenções não
devem ser evidenciadas para que não se destaquem sobre as características autênticas da
edificação.
A edificação não poderá ser demolida ou ter sua área de piso ampliada, exceto mediante
documentação e justificativa conceitualmente consistente.
O projeto para a sala de espetáculos deve prever estudos de visibilidade que assegure
uma boa relação de altura e distâncias entre palco e assentos.
A relação do bem com a Praça Nossa Senhora Aparecida é o fator que conduz a delimitação
da área de entorno. Assim, para que a preservação da ambiência do bem em questão seja
efetiva, é necessário que dentro da área de entorno do bem sejam observadas as ações e as
restrições que se seguem.
Dentro do entorno, não devem ser erguidas construções que impeçam ou obstruam a
percepção volumétrica do bem, de modo que, para cada edificação nova, deve-se fazer
um estudo de impacto de visibilidade, contendo fotos e análise dos eventuais impactos
visuais.
Não poderá ser locado ponto de ônibus ou bancas de revistas em frente ao bem tombado.
Providenciar para que a fiação atual seja substituída por cabeamento subterrâneo.
Não deverá ser plantada árvore na calçada em frente ao bem. Na calçada da lateral, a
indicação da localização e da espécie das árvores deve ser feita no projeto de restauro, a
ser aprovado pelo COMPHAC, de modo a minimizar qualquer impacto visual no bem.
Manutenção da pavimentação das vias dentro do entorno, tanto de seu calçamento quanto
das faixas de sinalização já existentes. Estudar a possibilidade de utilização de travessias
do tipo “speed table” em volta da Praça Nossa Senhora Aparecida e na ligação com o
bem.
ALVES, Luciana Villela. LEITE, Fábio Rodrigues Pereira. Teatro Grande Otelo: Memorial
de Projeto de Reforma. Arquivo Público Municipal. Agosto, 2001.
MARIANO, Flávia Gabriella Franco. Nos trilhos de uma urbanidade excludente: produção
do espaço em Uberlândia/MG.
SANTOS, Tadeu Pereira dos. Entre Grande Otelo e Sebastião: tramas, representações e
memórias. 2016. 597 f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia, 2016.
SOUZA, Maria Núbia Alves Martins. CANDELOT, Vânia Lúcia Rende. Teatro Grande
Othelo: de Cine Vera Cruz à Teatro Grande Othelo. Projeto de Pesquisa : Desenvolvido
pelo Setor de Pesquisa do museu Municipal de Uberlândia da Secretaria Municipal de Cultura
da Prefeitura de Uberlândia. 2002.
MOREIRA, Eduardo. Teatro Grande Otelo em Uberlândia [Internet]. Site Grupo Galpão.
Disponível em < http://www.grupogalpao.com.br/blog/index.php/teatro-grande-otelo-em-
uberlandia/>. Acesso em 29 de setembro de 2017.
OLIVEIRA, Luis Humberto Garcia de. Pelos Trilhos do Wagão: o Teatro de Wagner
Salazar. 2013. 132 f. Dissertaçao (Mestrado em Artes) - Universidade Federal de Uberlândia,
2013.
Documentos:
Entrevistas:
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Carlos Guimarães Coelho (Produtor
Cultural e Jornalista) – 09/10/17
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Maria Aparecida Rocha Perfeito
(Funcionária pública, ex-coordenadora do Teatro Grande Otelo) – 09/10/17
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Susilene Ferreira de Oliveira (Atriz)
– 09/10/17
Entrevista concedida a Cláudia Regina Rossi Fantini por Kátia Bizinotto Macedo Soares
(Atriz) – 09/10/17
Entrevista concedida à Marcella Valadares dos Santos por Maria Aparecida Rocha Perfeito,
gestora cultural.
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Marcella Valadares dos Santos
Cláudia Regina Rossi Fantini
CAU: 122.185-0
Antropóloga – MGTM Ltda.
Arquiteta e Urbanista – MGTM Ltda.
Revisão do Trabalho
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Valéria Queiroz Cavalcante Lopes Thalita Asperti Travençolo
Diretoria de Memória e Patrimônio Histórico Diretoria de Memória e Patrimônio Histórico
Secretaria Municipal de Cultura Secretaria Municipal de Cultura
Elaboração do Trabalho
Marcella Valadares dos Santos | CAU: 122.185-0 Cláudia Regina Rossi Fantini
Arquiteta e Urbanista – MGTM Ltda. Antropóloga – MGTM Ltda.