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workshop para bottoms e subs I

Lapidando
minha persona erótica
por Inuchan
Sumário
613 4 Introdução

Quem é minha persona?

Responsabilidades

26 Criando vínculos

36 Não entre em ciladas

47 Indicações

49 Agradecimentos
Oi, sou a Inuchan
Bottom experiente e pet player fofinha mas também
educadora por formação, pós-graduada em linguagem
e identidade e com estudos de psicologia.
Se você está lendo esse manual, parabéns por ser uma
boa menina, bom menino ou bom menine e estar
investindo em se conhecer e se aperfeiçoar para extrair
o que há de melhor na sua experiência com o BDSM.
Obrigada por ter participado de um dos meus workshops
ou mentorias e/ou por dividir o conhecimento adquirido.
Espero que se divirta com a leitura!

Peço que em hipótese alguma use esse material comercialmente e


também não o publique ou use trechos sem os créditos.
Para deixar a leitura mais facilitada, optei por escrever o texto como uma conversa com vocês
e optei pelo artigo masculino, pensando no termo interlocutor, mas gostaria que todas as
pessoas não-binárias, todas as mulheres e todos os homens se sintam incluídes.

Introdução
“Amor é onde os desejos se encontram.”
O que é fantasia para você?
Fantasiar é imaginar o que “não é” mas é
também o lugar onde essas imaginações se
encontram e tomam forma viva e é por onde
vamos começar.
Todo jogo de BDSM é uma fantasia!
Depois de jogar, voltamos para as nossas
tarefas e outras tantas facetas da nossa
personalidade: somos afetos, amigos, familiares,
pais, mães, profissionais, tutores de pet.
E isso jamais quer dizer que essa fantasia não
foi real! Por alguns momentos e, se tivermos
sorte e habilidades, a fantasia se repetirá a
noite, no dia ou na semana seguinte, sempre
que desejarmos e sempre que esse desejo é
encontrado e totalmente latente e recíproco em
quem joga conosco.
Introdução
Brincamos de “servir”, de “não ter que decidir ou
responsabilizar” e por algumas horas co-
criamos um lugar onde somos somente para
nos entregar.
A troca de poderes é real, mas é também uma
fantasia, ao passo que nós mesmos nunca
seremos uma única coisa e apesar do acordo de
submissão, ainda nos responsabilizamos pelas
consequências das nossas escolhas.
Mas como vamos criar esse espaço, cena ou
cenário que chamamos de sub-scene?
Primeiro temos que nos criar e é pra isso que
serviu o workshop presencial e é para o que
serve esse material de apoio: te ajudar a
começar a lapidar sua persona erótica, que é
como vamos chamar você (sim, é você, apenas
uma forma diferente do você) quando está
jogando BDSM sozinho ou com alguém.
Que tal aprender a nos certificar que essa
experiência vai ser incrível, deliciosa e segura,
minimizando riscos e maximizando os prazeres?
Vamos lá?
Quem é a
minha persona?
Se o jogo é também uma coisa imaginada,
temos que saber o que estamos fantasiando,
é algo que o BDSM requer... um início.
A seguir algumas possibilidades e ideias,
considere as muitas variações a partir delas:

Escravo, servo e vassalo


Servimos rainhas ou reis.
Um escravo se imagina sem poder ou vontade
própria, completamente à mercê das vontades
bobas ou complexas da realeza, pode ser
destituído até mesmo da humanidade, se
tornando uma “posse”. Já o servo é mais
instruído e tem a confiança para receber
tarefas designadas, um nome, permissão para
algumas coisas, porém, está abaixo do vassalo,
que tem a confiança da pessoa dominante e
pode até treinar dominantes e submissos
iniciantes.
Quem é a minha persona?
Serviçais
Servimos nossos superiores ou chefes.
Nessa versão moderna do escravo, servo ou
vassalo, atendemos a porta, servimos comida,
suco, limpamos sapatos, estendemos roupas,
fazemos reparos e vestimos nossos uniformes
fofos impecavelmente. Maids ou aias,
mordomos, empregadas, garçonetes e garçons,
por exemplo, entram nessa categoria.

Adorador
Servimos deusas e deuses.
Fazemos oferendas, reverenciamos, lambemos
os pés, damos presentes, e o que é mimo que
na posição de servo ou vassalo evita a prisão
ou a garante a permanência no “castelo”, aqui
é uma obrigação constante e permanente para
evitar a tragédia de perder as dádivas divinas.
Quem é a minha persona?
Discípulos ou aprendizes
Servimos mestres e mentoras.
Esperamos que nos ensinem todos os
mistérios da dor e dos prazeres. Aguardamos
instruções e tentamos replicar exatamente o
que nos foi designado ou ensinado ou sermos
castigados. Pronomes de tratamento
normalmente serão usados.

Vítimas
Servimos nossos torturadores sádicos,
doutrinadores.
Suplicamos pelo fim da tortura, ainda que
nosso corpo mostre prazer intenso através da
dor. Antecipamos o momento que seremos
pegos e humilhados, sofremos com cada célula
do nosso corpo estar à mercê de monstros
cruéis. As tarefas tem que ser cumpridas com
perfeição ou então a punição será aplicada
severamente.
Quem é a minha persona?
Littles
Servimos um daddy (papai) ou uma mommy
(mamãe), titio ou titia.
Gostamos de cuidados que são de acordo
com nossa idade little (idade imaginária de
criança) e vão de nos dar papinha, colo,
ninar, trocar fraldinha à educar e ensinar, se
preciso colocando de castigo.

Bichinhos de estimação
Servimos nossos donos ou tutores.
São tudo que mais amamos, quem nos
alimenta, ensina comandos e mesmo o do tipo
gato que finge indiferença, é completamente
dependente e louco pelo seu dono ou tutor.
Caprichamos muito na nossa aparência!
Ah e lembre-se que tem bichinhos selvagens
domesticados (como raposas e lobos) e
também bichinhos da fazenda (cavalos,
vaquinhas, etc). Você vai precisar aprender a
latir ou miar.
Quem é a minha persona?
Bottoms
Servimos à um top.
Não necessariamente incorporamos
personagens ou enfatizamos os jogos de
poder, mas no momento da cena BDSM,
ofereceremos os nossos corpos para o top
aplicar o que tivermos acordado conosco,
cera, perfurações, chicotadas, o que for.

Brats
Servimos um “tamer” (quem doma, domestica).
Mais um tipo de comportamento do que uma
persona, estamos sempre provocando,
desafiando ou testando os limites. Fazemos
provocações, andamos no limiar dos acordos.
Por exemplo, quando dizem "não pode fazer tal
coisa" sempre insinuamos que vamos fazer ou
quaaaase fazemos. As vezes também
entendemos comandos "errado" ou
"literalmente" de propósito, pra irritar...hi hi hi.
Mas não somos mal-criados, só brincalhões.
Quem é a minha persona?
Agora que você já tem algumas ideias de
fantasias de submissão, lembre-se que para
desenvolver a sua persona erótica bem
elaborada, você tem que entender os seus
mecanismos de prazer.
Incorpore características próprias, use amuletos
que te ajudem a se conectar com sua persona,
uma lente de contato, uma coleira, um avental,
por exemplo. Vale misturar estilos mas você
precisa sempre manter a coerência!
Se pergunte: O que me faz mais feliz? Ser
humilhado, instruído? Receber tarefas,
punições? Como será a minha reação ao
receber uma punição ou ordem? Serei
obediente ou vou desafiar?
Pense se você gosta da dor como um estímulo
ou se prefere mais a parte mental, das
conversas e insinuações.
Pense como gostaria de se ver entregue e quais
ordens te excitam mais. Isso tudo é importante
para você se entender nesse papel.
Quem é a minha persona?
Quer ser maid? Tire fotos demonstrando como
você sabe manusear bem uma bandeja!
Pet player?
Observe o bio animal e incorpore seus trejeitos.
Siga outros subs na internet com os mesmos
gostos, inspire-se nas roupas e acessórios
típicos, pesquise, crie!
Faça um perfil recheado de fotos autorais na
posição que você se imagina no campo de
visão da pessoa dominante. Ajoelhe, abaixe,
coloque as mãos postas, simule lamber os pés
de alguém. Criar a imagem, decidir as cores, as
roupas, o nome, é muito gostoso e excitante!
Aproveite!
Se sozinho você consegue se divertir assim, a
pessoa dominante vai ficar morrendo de
vontade de entrar no seu jogo e integrar esse
cenário que você imaginou e executou tão bem!
Lembre-se que para a persona ser criada, ela
precisa começar a existir de alguma forma, nem
que seja nas roupas, acessórios e poses.
Responsabilidades
Agora que você já definiu um pouco melhor
como vai jogar, qual deve ser a sua
apresentação para o meio? Como deve se
portar e apresentar seus limites? Existe isso de
“não ter limite” que vemos tantos bottoms e
subs iniciantes se gabarem a respeito?
Nessa parte vamos lidar um pouco sobre essas
questões e ver as diretrizes de segurança para
uma boa prática BDSM.

TPW existe?
Chamamos de d/s o relacionamento entre
dominantes e submissos e 24/7 quando a
disponibilidade para o vínculo é contínua (7 dias
da semana, 24h por dia), mas também existem
siglas para a dinâmica de entrega.
Na TPW (total power exchange), a pessoa
submissa teria zero autonomia.
Responsabilidades
Você acha a TPW possível ou utópica?
Pense, quem vai lidar diretamente com as
consequências financeiras, mentais e físicas de
deixar escolhas serem tomadas por outrem?
Você ou a pessoa dominante?
Não tomar decisões é tomar a decisão de
delegar isso. Seja realista e responsável!
Pessoas experientes, dominantes e tops, correm
de quem não se conhece ou não sabe expressar
bem os seus limites.

Glossário:
TPE (Total Power Exchange) troca de poder
total
PPE (Partial Power Exchange) troca de poder
parcial
EPE (Erotic Power Exchange) troca de poder
somente durante as sessões, cenas ou jogos
Responsabilidades
Princípios ético-
pragmáticos
Outra coisa importantíssima é que o BDSM
sempre envolve riscos. Mesmo quando não há a
possibilidade de se machucar fisicamente, é um
espaço onde lidamos com a distorção da norma
social vigente e negociamos nossa sexualidade
e formas de expressá-la de forma muito
peculiar e isso também pode acarretar traumas
e machucados emocionais, problemas
profissionais por causa de pessoas
preconceituosas, e temos que ter consciência
disso quando nos colocamos disponíveis para
jogar.
Para minimizar o estigma e também o perigo de
se machucar, temos princípios ético-
pragmáticos que orientam as práticas de BDSM.
Responsabilidades
O mais importante e difundido é o SSC que
quer dizer são, seguro e consensual.
S - o primeiro “s” vem de seguro (com a saúde
física e mental sempre cuidada, nunca ferida)
S - o segundo "s" vem de são (com a cabeça no
lugar, sem entorpecentes em excesso, com
controle dos pensamentos e emoções)
C - vem de consensual (tudo combinado entre
as partes, respeitando limites e desejos de
todos)
Pense bem, se estamos falando de algo que
naturalmente envolve riscos, a chance de evitá-
los é bem maior se partimos de bases que visam
o máximo de segurança. Eu particularmente me
sinto cismada se o praticante fica “contando
vantagem” por não usar essa base SSC. Ela é a
minha de escolha, mesmo que nem sempre seja
possível segui-las de maneira ideal.
Responsabilidades
Mesmo entendendo a SSC como o ponto de
partida mais seguro, é importante que vocês
saibam que existem outros princípios ético-
pragmáticos, veja alguns outros:

RACK vem de Risk Aware Consensual Kink


(Tara/fetiche Consensual com Consciência
dos Riscos) e propõe que ambas as partes de
uma negociação estudaram as atividades
propostas, estão informados dos riscos
envolvidos e concordam em como lidar com os
riscos. Por exemplo, saber que a prática pode
deixar uma marca roxa ou algum tipo de lesão.

CNC (consensual não- consensual) para


falar de práticas que dispensaram
consentimento durante elas, através de um
acordo prévio e é importante em algumas
dinâmicas de troca de poder. É tipo um
consentimento previamente dado, como “posso
cuspir em você sempre que eu desejar, ok?”
Responsabilidades
PRICK é o acrônimo para Personal Responsibility
in Consensual Kink (Responsabilidade pessoal
em práticas consensuais) e clama pela
responsabilidade de ambas as partes sobre o
risco, como, por exemplo, a pessoa alérgica à
camarão informar isso antes de brincar de food
play, e, se quiser brincar, está ciente de que há
um risco, mesmo assim. Porém, algumas pessoas
mudam o "i" de "em" para "informed"
(informados) daí vira “Práticas consensuais com
riscos informados” e aqui temos um problema
semântico e as vezes até judicial: Se fizermos
algo que seja um crime (mutilar, abusar,
canibalizar) e você aceitar e assinar, a culpa
pelo crime é só sua ou de ambos? Curiosidade:
"prick" é "babaca" em inglês, coincidência
irônica intencional ou não?
Sempre desconfie de pessoas que insistem
muito em aceitar esse tipo de princípio como a
base para a prática.
Responsabilidades
Não exatamente uma base ou princípio ético-
pragmático, temos um termo usado para as
cenas que envolvem um risco maior de se
machucar que é o edgeplay.

"Edge" em inglês é limite, então, quando


falamos de edgeplay estamos falando de
brincadeiras no limite do risco ou do
consensual. São brincadeiras que envolvem
algum tipo de risco maior para os praticantes.
O tipo de jogo e a "sensibilidade" podem variar
de pessoa pra pessoa, por exemplo, pra alguém
que tem alguma doença respiratória como
asma, brincar de constringir a respiração
envolve um risco alto ou moderado, por mais
inocente que a brincadeira pareça.
É extremamente importante confiar em outrem,
e conhecer se mutuamente muito, muito bem.
Brincadeiras com risco de corte, asfixia são
classificadas como edgeplay, por exemplo.
Responsabilidades
Outras formas de
minimizar riscos
Usar safe words (palavras de segurança) ou
safe gestures (gestos de segurança) também é
importante para ambas as partes, pessoas
dominantes, D-type, e pessoas submissas, S-
type. Sempre que uma brincadeira atingir o
limite ou causar gatilhos emocionais, temos que
estar preparados para interrompê-la sem
hesitar. Praticantes responsáveis e amorosos
estão sempre dispostos a proteger uns aos
outros dessa forma.

O aftercare que são os cuidados pós-sessão


(hidratar, assistir um filminho, jantar ou tomar
banhos juntos ou até mesmo ficar quietinho no
mesmo ambiente com a pessoa, por exemplo)
podem garantir que a interação seja ainda mais
gostosa e emocionalmente segura.
Responsabilidades
Conversar sobre limites e as práticas, antes e
depois delas, pode ajudar imensamente à
garantir que as interações sejam muito mais
prazerosas e inesquecíveis.

Questionários de compatibilidade e
contratos podem ser uma excelente
ferramenta pré-sessão.
Os contratos por escrito não são obrigatórios,
mas pra algumas pessoas são parte do fetiche
e podem ajudar com os combinados.

Sempre fale os seus limites, novamente ressalto


que praticantes experientes e responsáveis
esperam que isso aconteça!
Nada de sair por aí tagarelado sobre não ter
limites e coisas assim.
Responsabilidades
Todos temos hard limits (limites rígidos) pra
coisas que não gostamos, que causam
sensações ruins ou ativam traumas e que não
devem jamais ser parte da sessão e soft limits
(limites flexíveis) que uma vez mencionados
certamente serão usados como punição ou
explorados como parte da dinâmica pelo D-
type, sabendo que não são coisas do seu
agrado.
Não vale mentir, a verdade é a garantia que as
experiências serão deliciosas para todas as
partes.

Existem disponíveis na internet manuais para


bottoms ou subs sobre as partes mais sensíveis
do corpo, que são inseguras para a prática,
como o de rope bunny (pessoa amarrada no
shibari, arte japonesa da amarração com
cordas) que deixarei em indicações como um
exemplo, ele traz descrições de cuidados físicos
a se tomar.
Responsabilidades
Algumas áreas do corpo devem ser evitadas
para não causar danos ou sequelas negativas
para a saúde, você encontra muitos exemplos
visuais nas páginas de conteúdo que também
deixei nas indicações.
Evite exageros, o corpo tem seu tempo para
recuperar e as responsabilidades das nossas
vidas não esperam que a gente se regenere
fisicamente de algo para seguirmos com a
nossa rotina de trabalho, estudo e afins.
Mesmo com todo o cuidado do mundo, não
estamos ilesos de sofrer pequenos acidentes, e
temos que ponderar sobre o que aconteceria se
nos acidentássemos e como nos afetariam se
temos reuniões de trabalho, provas ou cuidar de
uma criança, por exemplo, no dia seguinte.
Conheça onde ficam os seus nervos, que tipos
de câimbra é um alerta e sempre exponha se
teve sequelas de lesões ou se você tem
problemas de saúde que possam ser agravados
com determinadas práticas.
Responsabilidades
Isso vai garantir que o D-type, que deseja da
mesma forma uma sessão segura e gostosa,
tenha doces zero açúcar para bottoms ou subs
diabéticos ou que saiba interromper a prática
antes de um desmaio perigoso se seu sub ou
bottom tem uma queda de pressão.
Com esses cuidados em mente, a vida BDSM é
um eterno parque de diversão e de restauração
emocional e física.
Normalize cuidar do próprio corpo e da sua
saúde dentro do BDSM, isso é uma
responsabilidade sua, não do D-type, e como
bottoms ou subs, o fazemos comunicando
limites, observando como nos sentimos e
certificando que esses limites tem sido
respeitados. Pense assim, se nos habituamos a
fazer sexo seguro, usar preservativos e
contraceptivos, também nos habituamos a
praticar BDSM de uma forma saudável e
cuidadosa.
Responsabilidades
Alguns bottoms ou subs tem “medo” de expor
esses limites porque acham que serão
rejeitados, mas geralmente acontece o
contrário: demonstrar auto-conhecimento e
familiaridade com os pilares das boas
práticas te torna um parceiro potencial
muito mais desejado do que ficar por aí
agindo como se não se preocupasse
consigo mesmo e com sua segurança.

Agora veremos como começar a conhecer


pessoas e criar vínculos saudáveis com
potenciais parcerias no BDSM.
Criamdo vínculos
Espero que você tenha entendido que
praticantes experientes e responsáveis se
conhecem muito bem e não hesitam ao
comunicar seus limites.
Você vai precisar muito de ter isso em mente
quando começar a interagir, para filtrar melhor
com quem você quer se envolver e ter só boas
relações.
As experiências, mesmo quando ruins e
inevitáveis (as vezes esbarramos em novos
limites, experimentamos coisas que não
gostamos ou descobrimos incompatibilidades),
não são traumáticas ou tão ruins quando todas
as partes são sinceras e tem boa comunicação.
E uma boa comunicação é exatamente o que
vamos tratar agora.
Criando vínculos
Iniciando conversas
“Nossa que tesão. Essa bunda deve ser uma
delícia com meu pau enfiado nela.”
Pára tudo! Acho que eu nem preciso explicar
porque essa cantada é inadequada, né? Nada
de abordagens desse tipo, por favor.
O primeiro e mais importante ponto é esse
BDSM não é sexo, não é “querer transar”, pode
ou não haver sexo antes durante ou depois da
sessão mas porque as pessoas são praticantes
ou até mesmo exibicionistas (ficam postando
fotos explícitas) não querem dizer que querem
sexo com você.
Mesmo o BDSM sendo um estilo de vida
erotizado, as pessoas em seus perfis fetichistas
não estão disponíveis para qualquer um que o
esteja vendo aquelas fotos ou conteúdo.
As vezes querem achar parcerias, as vezes não,
as vezes querem conversar, as vezes não.
Criando vínculos
Imagina que você é apaixonado por morangos.
Tudo no seu quarto é estampado com
morangos, você como morango no café, no
almoço e na janta, tem tatuagem de morango,
enfim, fanatismo.
Daí você vai na feira e começa a pedir morango
pros outros e fica atormentando quem posta
outras fotos de morango falando “nosssssaaaa
que coincidência eu também amoooo morango,
vamos comer morango juntos na webcam
AGORA ou ir pra um lugar comer morango
juntos?”
Não é brincadeira, infelizmente tem uma porção
de gente que acha que deve abordar outra
pessoa assim, mas sobre um determinado
fetiche ao invés de morangos, rs.
Não deve. É ridículo fazer isso!
E prepare-se para ser atormentado em seu
perfil por muita gente assim...sem noção.
Criando vínculos
Você jamais deve perguntar coisas óbvias ou
falar sua posição pra começar uma conversa
(por exemplo, “Oi, você é domme?”, “Oi, você é
de tal lugar?” ,“Oi, eu sou sub, quero ser seu
escravo!”), na verdade, o mínimo que pode se
esperar de um ser humano, se estivermos numa
rede social, é que leia a sua biografia.
A primeira forma de demonstrar interesse nas
redes sociais é saber as informações que a
pessoa quis compartilhar com todos, isso
demonstra que você não está ali atraído
somente pela foto.
Essa regra de ouro também vale para contatos
durante festas (não deixe de ir nelas), não
chegue nas pessoas falando sobre seus
fetiches, sendo invasivo ou se comportando
como se elas automaticamente estivessem
interessadas em você.
Criando vínculos
Só pessoas desesperadas e solitárias se
comportam assim, e se você está desesperado
e solitário, boa coisa não é.
Uma forma legal de iniciar uma conversa é
primeiramente, antes de tuuuudo saber se a
pessoa está disponível para aquela conversa,
seja pessoalmente ou virtualmente.

Os eventos chamados Munches são perfeitos


porque foram pensados para as pessoas se
conhecerem e se apresentarem. São os
melhores ambientes para se inserir na
comunidade de forma mais segura e se fazer
disponível.
Neles os participantes se encontram em um bar
baunilha para falar sobre BDSM com o auxílio
de uma pessoa mais experiente que vai
conduzir as conversas.
Criando vínculos
Nas comunidades online (tem o link de
algumas delas nas indicações) você se torna
visto e interessante interagindo em grupos,
fóruns e postagens com comentários
embasados e educados. É uma estratégia muito
melhor de conhecer gente compatível e legal
do que sair por aí mandando mensagem
privadas para pessoas desconhecidas.
Você vai se surpreender com o tanto que a boa
comunicação é atraente! Fotos sensuais atraem
todo o tipo de pessoa, mas comentários
sinceros e inteligentes atraem a atenção de
pessoas que estão na mesma vibe que você e
consequentemente tem uma chance muito
maior de serem compatíveis.
Falando em compatibilidade, é muito fácil se
perder e entrar em relações tóxicas para ambos
se você tem uma experiência sensorial ou sexual
muito libertadora e gostosa.
Criando vínculos
Lembre-se de que a verdadeira
compatibilidade é:
1) Buscar o mesmo que você ou pelo menos
aberto ao que você procura
2) Deixar você confortável para ser você mesmo
3) Deixar você seguro quanto às intenções e
expectativas
4) Ter a fala e a atitude consistentes e
alinhadas
5) Saber lidar com frustrações e divergências
com delicadeza
6) Ter sua individualidade e prezar pelo
crescimento pessoal

Tudo bem se você só quer ser bottom e fazer as


práticas sem construir um jogo de poder pra
além das cenas porque não se sente preparado
para ou deseja estabelecer um vínculo
aprofundado e constante com alguém nesse
momento da sua vida.
Criando vínculos
Uma outra opção é ter somente play partners
(parceiros de jogo) que são pessoas com quem
você vai jogar ou fazer cenas mas sem
estabelecer os compromissos de exclusividade,
continuidade ou parceria de longo prazo que
uma d/s (relacionamento dominante e submisso)
geralmente implica.
Certifique-se de agir com responsabilidade
emocional e explicar isso para a pessoa de
quem se aproxima.

Criatividade é a alma do negócio


Empatia, disponibilidade emocional e
preparação são características essenciais em
qualquer conexão de qualidade, mas se você
está em um meio onde pessoas experientes e
parcerias em potencial são sempre assediados e
atormentadas por um bando de pessoas sem
noção, além de ter noção e um perfil atraente,
com uma persona erótica bem elaborada e fotos
autorais, você tem que ser criativo!
Criando vínculos
As pessoas dominantes que nos interessam são
pessoas interessantes e interessadas, versadas,
que conhecem vários assuntos variados ou tem
curiosidade para aprender coisas novas.
Duvido que você passará despercebido se
prestar atenção nos assuntos do interesse do D-
type e apresentar curiosidades que ainda não
sabia.
Demonstrar interesse sobre as coisas que a
pessoa mostra também é um diferencial porque
é um sinal que você se interessa pela conexão e
não só superficialmente, pela posição no BDSM
que essa pessoa ocupa.
“Seu nome fetichista é Bastet, deusa egípcia
representada com a cabeça de gato. Você tem
gatinhos de estimação também?”
“Que pingente lindo! Já te vi usar ele outras
vezes. Foi algum presente especial ou você gosta
desse tipo de design?”
Criando vínculos
Ninguém me perguntou o porquê de eu usar um
baphomé fofinho no meu perfil, devem todos
partir do pressuposto que é porque eu gosto de
metal ou porque eu sou satanista, mas a verdade
é que é uma forma de eu dizer que sempre me
senti a “ovelha negra” da família. Claro que eu ia
querer conversar com a pessoa que me
perguntasse isso! Entende?
E se você não for uma pessoa versada?
E se na hora de conversar você se sente travado
ou não consegue acompanhar assuntos?
Bem, estudar um pouquinho, informalmente,
sobre as coisas vai te ajudar a ser uma pessoa
mais interessante não só no BDSM e será
benéfico no seu crescimento pessoal.
Só ganhos!
Agora, vamos ver um pouco mais sobre os
comportamentos no BDSM.
Não entre em ciladas
As vezes as coisas são exatamente o que
aparentam ser, as vezes elas se apresentam
como são de verdade durante o processo e é
sempre bom saber quando cair fora ou quando
sequer entrar naquela cilada.
Usamos os termos red flag e green flag para
falar de situações e comportamentos que são
favoráveis e desfavoráveis. São como o sinal de
trânsito: red flags são sinais que indicam que
você precisa sair fora, parar; green flags são
sinais positivos, que indicam que é uma boa
conexão e que você deve seguir em frente!
A seguir veremos alguns exemplos.
Primeiro, atitudes que são comportamentos
bons e comportamentos ruins dentro do BDSM,
de forma mais geral, independente da posição
que a pessoa ocupa:
Não entre em ciladas
Green flags no BDSM
Se interessar em ouvir as pessoas e suas
diferentes vivências, sem se pautar por
estereótipos ou generalizações ou sua própria
experiência o tempo todo.

Demonstrar interesse no seu próprio bem estar e


no bem estar da pessoa e não só no fetiche.

Respeitar relações precedentes e encorajar a


responsabilidade afetiva, se portando sempre
com transparência.

Se mostrar disponível para negociar e ter elogios


sobre si vindos de diferentes pessoas do meio.

Frequentar a cena presencialmente e criar


espaços para interações saudáveis.
Não entre em ciladas
Red flags no BDSM
Descreditar o trabalho ou a experiência de
outrem, como se detivesse toda a "verdade".

Usar "rainha", "cadelinha" ou pronomes


possessivos "meu, minha" logo ao conversar pela
primeira vez com alguém.

Dizer o tempo todo que faz praticas extremas


que ignoram o SSC.

Agir como se sua posição (dom/domme ou sub)


definisse toda a dinâmica entre as pessoas, sem
se preocupar em construir um vínculo d/s.

Não falar sobre relacionamentos e expectativas,


adotando muito distanciamento emocional e
evitamento.

Ter vários desafetos e ressentimentos com


outrem.
Não entre em ciladas
Agora veremos comportamentos que devem soar
o sinal de “alerta de cilada” quando você estiver
se aproximando de uma pessoa dominante.
Caso note um ou vários comportamentos dessa
lista, se afaste e dê espaço na sua vida pra
relacionamentos d/s saudáveis e respeitosos.
Não se envolva com esse tipo de pessoa, me
agradeça depois.

Red flags em pessoas dominantes


É "dominante de todos": espera que qualquer
pessoa sub atenda imediatamente suas ordens e
tratem usando seu pronome de preferência. Já
conversamos sobre isso: a posição não define
nenhum tipo de vínculo automaticamente.
Vínculos devem ser conquistados.
Não entre em ciladas
Fala sobre "sub raiz" ou “sub de alma” e coloca
como uma questão de adequação, estudo ou
"verdade" as pessoas submissas aceitarem tudo
e qualquer coisa estabelecida pela pessoa
dominante. Não existe isso! Respeite-se sempre
e não se compare! Cada um é de um jeito!

Se gaba sobre não seguir o SSC ou outras bases


de segurança ou de não usar palavra de
segurança como se isso fizesse uma pessoa
dominante melhor. Não faz!

É relutante em aparecer publicamente ou não


comenta nada sobre subs anteriores. Tenta te
"isolar" do meio, da família e das amizades.
Vocês não conhecem ninguém em comum.
Invalida seus desejos, sentimentos e opiniões
como se isso fosse parte do jogo de dominação.
Não é.
Não entre em ciladas
Quer decidir e ter controle sobre coisas
inegociáveis pra você (seus "hard limits") sem
mesmo ouvir você.

Não se interessa por absolutamente nada da sua


vida, gostos e vivências. Só fala das práticas e
fantasias. Não se mostra e você não conhece
nada da vida baunilha dessa pessoa.

Se comporta como se suas opiniões ou vivências


fossem as únicas "certas" ou "reais" e como se a
única forma de viver o BDSM fosse aquela.

Se frequenta a cena, tem inimizades ou críticas


negativas vindas de diferentes pessoas e
restrições para frequentar lugares.
Não entre em ciladas
Red flags em pessoas submissas
Lista de comportamentos ruins que você deve
evitar a todo custo cometer:

Ser "sub de todos": esperar que qualquer pessoa


dominante queira te dar ordens, fazer práticas.
Usar pronomes de tratamento com todos.
Novamente, posições não definem vínculos,
vínculos devem ser conquistados.

Falar sempre sobre como "dominantes de


verdade" devem agir e não se interessar em
conhecer os limites do dominante ou as práticas
que ele gosta e não gosta.

Dizer que não tem limites, palavra de segurança


e não segue o SSC como se isso te fizesse uma
pessoa submissa melhor. Isso não existe!
Cada um é de um jeito e as pessoas devem sim
se preocupar com a segurança uma das outras.
Não entre em ciladas
Esconder tudo da vida baunilha, não querer
aparecer em público, ir em festas, nada. Se
comportar de maneira ciumenta e manipuladora
pra "isolar" o D-type das outras pessoas. Não ter
propositalmente nenhuma amizade em comum.

Despejar toda a responsabilidade sobre sua


saúde física, emocional e financeira na pessoa
dominante como se isso fosse parte do jogo de
submissão. Não é.

Só conversar sobre suas fantasias eróticas ou


práticas. Nunca sobre o que gostam ou fazem
pra além do BDSM. Não se interessar pela vida
do D-type. Sempre cortar os assuntos que não
são fetiches.

Dizer que a única forma de viver o BDSM é


aquela, somente sua opinião e vivência são
"certas".
Não entre em ciladas
Ter muita gente que você não gosta e vice versa,
estar sempre falando mal de alguém, saindo
rápido dos lugares ou não indo em vários.

Ser stalker, ficar vigiando a presença online da


pessoa dominante de falar de forma dramática e
ciumenta das interações do D-type com outras
pessoas. Ressaltando que sua vida inteira
depende única e diretamente da pessoa
dominante.
Não entre em ciladas
Sei que é muito difícil agradar todo mundo, e é
complexo ser diplomático e não ter
absolutamente nenhuma inimizade, não é sequer
um cenário real, mas se você tem lido o que
estou dividindo com vocês atentamente e estão
preocupados com sua apresentação para o
meio, investindo em se conhecer e aprender mais
sobre BDSM, as chances de você não ser bem
recebido é mínima.
O que temos que procurar é não ficar criando
conflito ou inimizades desnecessárias, temos que
prezar pelo que nos une, não o que nos separa.
Saber chegar e sair elegantemente de situações
que nos englobam. Não gosta dos
comportamentos ou de ambientes ou situações
que te machucam ou são cheias de red flags, se
afaste sem a necessidade de ficar apontando
dedos, falando mal daquela pessoa ou lugar pras
outras pessoas.
Responda sobre isso somente se te perguntarem.
Não entre em ciladas
Imagina se você é autodepreciativo e se julga
incapaz de ser um submisso ou bottom perfeito,
se auto humilhando o tempo todo? O D-type
nem vai querer se dar ao esforço de te
humilhar... Brincadeiras a parte, confie no seu
potencial! Você ter lido até aqui e aprendido
essas coisas já é um sinal que você tem muito
pra oferecer.
Obrigada por ficar até o finalzinho comigo.

Mas tenho que ressaltar que essa leitura é só o


trampolim! Tem um mundo inteiro de assuntos e
temas para você se aprofundar e na próxima
parte vou dividir algum desses lugares virtuais
onde você pode começar a explorar.
Indicações
BDSM test (teste BDSM):
https://bdsmtest.org/select-mode

FetLife (plataforma BDSM):


https://fetlife.com/

Aphrodisiac Poison (produtora de eventos em


BH)
https://www.instagram.com/aphrodisiac_poiso
n_/

Lótus Irish Pub (pub BDSM em BH)


https://www.instagram.com/lotus_irish_pub/

Inuchan (perfil de conteúdo)


https://www.instagram.com/inuchanbh3

Zero Baunilha (perfil de conteúdo)


https://www.instagram.com/zerobaunilha/
Indicações
Portal do Play (perfil de conteúdo)
https://www.instagram.com/portaldoplay/

Atadas BH (grupo de estudos de shibari)


https://www.instagram.com/atadasbh/

Guia de shibari para bottoms


https://theropebottomguide.com/the-rope-
bottom-guide/

Kink Academy (conteúdo educacional em inglês)


https://www.kinkacademy.com/

Chicotadas (podcast BDSM)


https://open.spotify.com/show/14RdKR2o1lImSP
35LQ5DLt
Agradecimentos
Tenho uma vida adulta inteira de práticas BDSM
mas jamais estaria aqui, dividindo o que aprendi
e estou sempre aprendendo, com vocês se não
fosse a comunidade BDSM de Belo Horizonte,
que me acolheu com tanto carinho desde o
primeiro momento que decidi colocar os meus
pés pra fora da minha concha.
Belo Horizonte é uma metrópole incrível, todo
adjetivo que colocasse aqui seria lugar comum,
pulsante, rica em cultura e diversidade,
moderna, visionária, mas existe esse meio
fetichista que é todo especial e é em cada
rostinho que eu conheci nele que estou
pensando enquanto escrevo esse
agradecimento.
Alguns mais apoiadores e mais presentes, outros
companhias de farra e momentos, outros
inspirações distantes ou próximas de mim.
Agradecimentos
Mas tem um rosto em especial, melhor, uma
gargalhada sádica, que é diretamente
responsável pela existência dessas páginas que
é a Lunna Queen (lunna_queen2 no Instagram).
Eu sou uma pessoa tímida e antissocial e não
creio que iria transformar minha presença virtual
de mentora em uma presença factual, em forma
de workshop e manuais, se não tivesse o apoio
dela. Obrigada, minha bela e gentil musa.
Também ao primeiro amor e namoradinho, o
Rafa, que despertou a pet player que havia em
mim carinhosamente apelidando meu combo de
pulo e abraço de “Ataque de São Bernardo”.
E em especial à você, que por ler esse guia, e
participar do workshop também tornou matéria
dessa jornada de fantasias compartilhadas...e
de amor ao BDSM.
inuchan@myyahoo.com
inuchanbh3

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