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Lapidando
minha persona erótica
por Inuchan
Sumário
613 4 Introdução
Responsabilidades
26 Criando vínculos
47 Indicações
49 Agradecimentos
Oi, sou a Inuchan
Bottom experiente e pet player fofinha mas também
educadora por formação, pós-graduada em linguagem
e identidade e com estudos de psicologia.
Se você está lendo esse manual, parabéns por ser uma
boa menina, bom menino ou bom menine e estar
investindo em se conhecer e se aperfeiçoar para extrair
o que há de melhor na sua experiência com o BDSM.
Obrigada por ter participado de um dos meus workshops
ou mentorias e/ou por dividir o conhecimento adquirido.
Espero que se divirta com a leitura!
Introdução
“Amor é onde os desejos se encontram.”
O que é fantasia para você?
Fantasiar é imaginar o que “não é” mas é
também o lugar onde essas imaginações se
encontram e tomam forma viva e é por onde
vamos começar.
Todo jogo de BDSM é uma fantasia!
Depois de jogar, voltamos para as nossas
tarefas e outras tantas facetas da nossa
personalidade: somos afetos, amigos, familiares,
pais, mães, profissionais, tutores de pet.
E isso jamais quer dizer que essa fantasia não
foi real! Por alguns momentos e, se tivermos
sorte e habilidades, a fantasia se repetirá a
noite, no dia ou na semana seguinte, sempre
que desejarmos e sempre que esse desejo é
encontrado e totalmente latente e recíproco em
quem joga conosco.
Introdução
Brincamos de “servir”, de “não ter que decidir ou
responsabilizar” e por algumas horas co-
criamos um lugar onde somos somente para
nos entregar.
A troca de poderes é real, mas é também uma
fantasia, ao passo que nós mesmos nunca
seremos uma única coisa e apesar do acordo de
submissão, ainda nos responsabilizamos pelas
consequências das nossas escolhas.
Mas como vamos criar esse espaço, cena ou
cenário que chamamos de sub-scene?
Primeiro temos que nos criar e é pra isso que
serviu o workshop presencial e é para o que
serve esse material de apoio: te ajudar a
começar a lapidar sua persona erótica, que é
como vamos chamar você (sim, é você, apenas
uma forma diferente do você) quando está
jogando BDSM sozinho ou com alguém.
Que tal aprender a nos certificar que essa
experiência vai ser incrível, deliciosa e segura,
minimizando riscos e maximizando os prazeres?
Vamos lá?
Quem é a
minha persona?
Se o jogo é também uma coisa imaginada,
temos que saber o que estamos fantasiando,
é algo que o BDSM requer... um início.
A seguir algumas possibilidades e ideias,
considere as muitas variações a partir delas:
Adorador
Servimos deusas e deuses.
Fazemos oferendas, reverenciamos, lambemos
os pés, damos presentes, e o que é mimo que
na posição de servo ou vassalo evita a prisão
ou a garante a permanência no “castelo”, aqui
é uma obrigação constante e permanente para
evitar a tragédia de perder as dádivas divinas.
Quem é a minha persona?
Discípulos ou aprendizes
Servimos mestres e mentoras.
Esperamos que nos ensinem todos os
mistérios da dor e dos prazeres. Aguardamos
instruções e tentamos replicar exatamente o
que nos foi designado ou ensinado ou sermos
castigados. Pronomes de tratamento
normalmente serão usados.
Vítimas
Servimos nossos torturadores sádicos,
doutrinadores.
Suplicamos pelo fim da tortura, ainda que
nosso corpo mostre prazer intenso através da
dor. Antecipamos o momento que seremos
pegos e humilhados, sofremos com cada célula
do nosso corpo estar à mercê de monstros
cruéis. As tarefas tem que ser cumpridas com
perfeição ou então a punição será aplicada
severamente.
Quem é a minha persona?
Littles
Servimos um daddy (papai) ou uma mommy
(mamãe), titio ou titia.
Gostamos de cuidados que são de acordo
com nossa idade little (idade imaginária de
criança) e vão de nos dar papinha, colo,
ninar, trocar fraldinha à educar e ensinar, se
preciso colocando de castigo.
Bichinhos de estimação
Servimos nossos donos ou tutores.
São tudo que mais amamos, quem nos
alimenta, ensina comandos e mesmo o do tipo
gato que finge indiferença, é completamente
dependente e louco pelo seu dono ou tutor.
Caprichamos muito na nossa aparência!
Ah e lembre-se que tem bichinhos selvagens
domesticados (como raposas e lobos) e
também bichinhos da fazenda (cavalos,
vaquinhas, etc). Você vai precisar aprender a
latir ou miar.
Quem é a minha persona?
Bottoms
Servimos à um top.
Não necessariamente incorporamos
personagens ou enfatizamos os jogos de
poder, mas no momento da cena BDSM,
ofereceremos os nossos corpos para o top
aplicar o que tivermos acordado conosco,
cera, perfurações, chicotadas, o que for.
Brats
Servimos um “tamer” (quem doma, domestica).
Mais um tipo de comportamento do que uma
persona, estamos sempre provocando,
desafiando ou testando os limites. Fazemos
provocações, andamos no limiar dos acordos.
Por exemplo, quando dizem "não pode fazer tal
coisa" sempre insinuamos que vamos fazer ou
quaaaase fazemos. As vezes também
entendemos comandos "errado" ou
"literalmente" de propósito, pra irritar...hi hi hi.
Mas não somos mal-criados, só brincalhões.
Quem é a minha persona?
Agora que você já tem algumas ideias de
fantasias de submissão, lembre-se que para
desenvolver a sua persona erótica bem
elaborada, você tem que entender os seus
mecanismos de prazer.
Incorpore características próprias, use amuletos
que te ajudem a se conectar com sua persona,
uma lente de contato, uma coleira, um avental,
por exemplo. Vale misturar estilos mas você
precisa sempre manter a coerência!
Se pergunte: O que me faz mais feliz? Ser
humilhado, instruído? Receber tarefas,
punições? Como será a minha reação ao
receber uma punição ou ordem? Serei
obediente ou vou desafiar?
Pense se você gosta da dor como um estímulo
ou se prefere mais a parte mental, das
conversas e insinuações.
Pense como gostaria de se ver entregue e quais
ordens te excitam mais. Isso tudo é importante
para você se entender nesse papel.
Quem é a minha persona?
Quer ser maid? Tire fotos demonstrando como
você sabe manusear bem uma bandeja!
Pet player?
Observe o bio animal e incorpore seus trejeitos.
Siga outros subs na internet com os mesmos
gostos, inspire-se nas roupas e acessórios
típicos, pesquise, crie!
Faça um perfil recheado de fotos autorais na
posição que você se imagina no campo de
visão da pessoa dominante. Ajoelhe, abaixe,
coloque as mãos postas, simule lamber os pés
de alguém. Criar a imagem, decidir as cores, as
roupas, o nome, é muito gostoso e excitante!
Aproveite!
Se sozinho você consegue se divertir assim, a
pessoa dominante vai ficar morrendo de
vontade de entrar no seu jogo e integrar esse
cenário que você imaginou e executou tão bem!
Lembre-se que para a persona ser criada, ela
precisa começar a existir de alguma forma, nem
que seja nas roupas, acessórios e poses.
Responsabilidades
Agora que você já definiu um pouco melhor
como vai jogar, qual deve ser a sua
apresentação para o meio? Como deve se
portar e apresentar seus limites? Existe isso de
“não ter limite” que vemos tantos bottoms e
subs iniciantes se gabarem a respeito?
Nessa parte vamos lidar um pouco sobre essas
questões e ver as diretrizes de segurança para
uma boa prática BDSM.
TPW existe?
Chamamos de d/s o relacionamento entre
dominantes e submissos e 24/7 quando a
disponibilidade para o vínculo é contínua (7 dias
da semana, 24h por dia), mas também existem
siglas para a dinâmica de entrega.
Na TPW (total power exchange), a pessoa
submissa teria zero autonomia.
Responsabilidades
Você acha a TPW possível ou utópica?
Pense, quem vai lidar diretamente com as
consequências financeiras, mentais e físicas de
deixar escolhas serem tomadas por outrem?
Você ou a pessoa dominante?
Não tomar decisões é tomar a decisão de
delegar isso. Seja realista e responsável!
Pessoas experientes, dominantes e tops, correm
de quem não se conhece ou não sabe expressar
bem os seus limites.
Glossário:
TPE (Total Power Exchange) troca de poder
total
PPE (Partial Power Exchange) troca de poder
parcial
EPE (Erotic Power Exchange) troca de poder
somente durante as sessões, cenas ou jogos
Responsabilidades
Princípios ético-
pragmáticos
Outra coisa importantíssima é que o BDSM
sempre envolve riscos. Mesmo quando não há a
possibilidade de se machucar fisicamente, é um
espaço onde lidamos com a distorção da norma
social vigente e negociamos nossa sexualidade
e formas de expressá-la de forma muito
peculiar e isso também pode acarretar traumas
e machucados emocionais, problemas
profissionais por causa de pessoas
preconceituosas, e temos que ter consciência
disso quando nos colocamos disponíveis para
jogar.
Para minimizar o estigma e também o perigo de
se machucar, temos princípios ético-
pragmáticos que orientam as práticas de BDSM.
Responsabilidades
O mais importante e difundido é o SSC que
quer dizer são, seguro e consensual.
S - o primeiro “s” vem de seguro (com a saúde
física e mental sempre cuidada, nunca ferida)
S - o segundo "s" vem de são (com a cabeça no
lugar, sem entorpecentes em excesso, com
controle dos pensamentos e emoções)
C - vem de consensual (tudo combinado entre
as partes, respeitando limites e desejos de
todos)
Pense bem, se estamos falando de algo que
naturalmente envolve riscos, a chance de evitá-
los é bem maior se partimos de bases que visam
o máximo de segurança. Eu particularmente me
sinto cismada se o praticante fica “contando
vantagem” por não usar essa base SSC. Ela é a
minha de escolha, mesmo que nem sempre seja
possível segui-las de maneira ideal.
Responsabilidades
Mesmo entendendo a SSC como o ponto de
partida mais seguro, é importante que vocês
saibam que existem outros princípios ético-
pragmáticos, veja alguns outros:
Questionários de compatibilidade e
contratos podem ser uma excelente
ferramenta pré-sessão.
Os contratos por escrito não são obrigatórios,
mas pra algumas pessoas são parte do fetiche
e podem ajudar com os combinados.