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Poesia com elos

19ª edição
Pamela Facco
Poesia com elos

Até mais tarde

Dezembro chegou, mais um ano se foi e eu não farei


um fechamento padrão.
Não só porque padrões não são muito a minha cara
mas também porque eu aceito os meus processos e
as falhas do mundo.
Não é só porque é verão que eu me obrigarei a estar
feliz, não é porque os ânimos todos se inflamam
para receber a novidade de 2022 que eu entrarei em
estado de gozo por osmose junto a essa gente que
não se encaixa em nenhum grau comigo.
Às vezes as coisas simplesmente não acontecem
como a gente imagina, planeja nem gostaria e essa
frustração não pode ser tão impactante a ponto de
nos impedir de desejar nem de viver novas coisas.
Sejamos vigilantes com nossas melancolias para
não colocarmos holofotes demais nos nossos breus.
As tristezas virão e irão embora ciclicamente,
como um pêndulo de cristal que se oscila entre a
direita e a esquerda bem na palma de nossa mão.
Compreender o tempo, a vida e suas tramas, é bem
diferente de estagnar no limbo.
Na dúvida, imagine a vida como sendo o pedalar em
cima de uma bicicleta, mantenha-se em movimento
até entender o sistema e aperfeiçoar a sua técnica.
Vá de um lugar ao outro, gire o mundo que suas
pernas te levarem, mas tudo bem se você não estiver
afim de ir hoje. Faça um chá, coloque alguma série
boba e simplesmente não vá, mas perceba que ficar
estático onde te engessa, entristece ou abafa seu
brilho não pode ser uma boa solução a longo prazo.
Não é porque é Dezembro, nem porque será ano novo,
nem porque em Fevereiro terá carnaval que a gente
precisa estampar um ar de alegria as nossas maneiras.
Devemos seguir somente o nosso próprio calendário
astral e se hoje foi lhe fechada uma porta bem na sua
cara, não há feriado que deveria te obrigar a rir em
canto algum.
Esse entendimento me leva a minha última reflexão
sobre as falhas dos nossos amores e ao espaço de
protagonista que nos é de direito em nossas relações.
Não aceite ser coadjuvante de relação alguma, não se
sujeite, não se adeque nem implore por afeto.
As pessoas que amamos são imperfeitas e irão nos
decepcionar vez ou outra.
Até mesmo aquelas que juramos que seriam incapazes,
pois sempre foram o nosso lugar mais seguro, um pix
absoluto e o nosso melhor espaço, até essas irão
falhar feio conosco.
Não vou te enganar e jogar uma energia boa forçada
nessa situação desastrosa.
Não há saída e nem tudo tem solução.
Não é toda conversa que alinha e não é qualquer
abraço que cura.

A vida é movimento,
não deixe água parada



às vezes se manter
distante de uma
construção tóxica
seja o seu modo de se
opor a ela

Tem coisas que nos marcarão para sempre e faz parte
deixar arder, chorar um pouco e compreender que
simplesmente não temos controle de todos os pedaços
da nossa vida em cem por cento do tempo, porque somos
também o coletivo e para além de nós tudo é incerto.
As vezes é sim, tudo questão do outro, culpa do outro
e bagagem do outro.
Tome um ar.
Observe a situação de fora, tente não se emocionar
com o desenrolar do drama e tire suas conclusões em
terceira pessoa.
A emoção treme o peito e as lágrimas embaçam a visão.
Movimente-se em prol da dissolução do nó se achar
necessário, mas também se anistie quando perceber já
ter feito de um tudo para remendar a situação e ainda
assim perceber que ela não se sustentou e rompeu.
Há rompimentos em todas as relações e nem tudo é
permanente.
Nem todas as relações e nem todas rupturas.
Não se afobe, não se atropele e nem puxe toda respon-
sabilidade para si.
Entenda que o outro tem angústias, aflições, traumas e
diferente de você, talvez nunca tenha feito análise,
nunca tenha olhado para si com franqueza e nunca tenha
desatado os nós antigos afim de conseguir viver de
maneira coerente, equilibrada e sem ferir os outros.
Não é certo você se culpar, não é certo você tentar
resolver pelos dois e também não é certo você sofrer
por um longo período por algo que não está sob seu
controle.
Deixe seu afeto se afastar se ele não estiver corres-
pondendo as suas investidas de maneira equilibrada,
se refaça sozinho e realoque aquela relação num novo
espaço.
Um espaço que não te machuque.
A vida é movimento, não deixe água parada.
Seja amável com todos, entregue o seu melhor sempre,
mas não se minimize nem se sujeite a estar presente
em um espaço que não te recebe com alegria.
Você é feixe de luz, você é único, você é raro, você
é alegria e amor.
Acima de tudo você é gigante, reclame pelo seu espaço,
ocupe todas as quinas.
Não se encolha para caber num cômodo entre portas
fechadas que te exige calada, opaca e séria.
Você não precisa estar junto sempre para provar que
ama profundamente, às vezes se manter distante de uma
construção tóxica seja o seu modo de se opor a ela.
Às vezes não é possível dizer tudo, às vezes o outro
não está pronto para ouvir tudo.
Nesses casos, não se gaste, não se desgaste.
Tome um ar e volte depois.
Essa revista contará com dois ensaios, o primeiro
apresentado será o último ensaio coletivo feito esse
ano. Foi um ensaio divertidíssimo onde os partici-
pantes entregaram muito às composições desde a sua
elaboração. Agradeço um monte a cada um desses peda-
cinhos desse nosso quebra-cabeças.
Fizemos duas releituras de obras famosas, em uma
delas recriamos a pintura “O Dilúvio”, foi feita
em 1592 pelo pintor Holandês Cornelis Corneliszoon
van Haarlem e a outra foi a obra Les Demoiselles
d’Avignon, de 1907 de Pablo Picasso.
Espero que apreciem nossas construções tanto quanto
nós.
O segundo ensaio que trarei na composição dessa
revista será uma brincadeira de autorretrato que
fiz com uma grande amiga. Infinitamente prazeiroso
também.

Boas festas meus elos queridos, que a arte viva em


nós em 2022.
Releituras
Ensaio 2
Profunda gratidão à todos Elos da minha poesia.
Junho de 2020

Poesia com elos


19ª edição
Pamela Facco

Dezembro de 2021

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