* Por Ariadne Niero da Silveira
Agrimensores especializados da Grande Florianópolis (SC)
contam com uma missão na região de Alfredo Wagner, a 111
quilômetros da Capital. Capitaneados pelo engenheiro civil e
pesquisador, Altair Wagner, eles estão em busca de vestígios
da Colônia Militar Santa Tereza, instalada naquela região em
meados de 1854.
O local era o ponto de fiscalização que dividia as províncias de
Santa Catarina e São Paulo, um lugar de grande movimentação
entre Brasil e Argentina, segundo o pesquisador, ex-prefeito de
Chapecó e ex-presidente da Celesc. “Há um mês fizemos novas
medições no local, com triangulação em direção a Bom Retiro
(SC). Mas ainda faltam as coordenadas do local. Tudo indica
que estamos no caminho certo”, diz.
Ele acredita estar perto de encontrar vestígios da Vila Militar
após uma grande descoberta histórica. No ano passado, Wagner,
acompanhado de quatro amigos apaixonados por história e
arqueologia, encontrou a localização exata e o que restou de um
marco assentado há mais de 210 anos no cume do Morro
Trombudo, na Serra catarinense, que teria servido para
demarcar a divisa entre as capitanias de Santa Catarina e São
Paulo.
“A localização exata foi baseada em mapas, relatos e medições
de topógrafos encontramos o local, depois de muito tempo de
Diário da descoberta : Anotações de Altair Wagner após o achado histórico
“Encontrado o “marco” colocado no ponto culminante do Morro do
Trombudo a 1.306 metros, em 12 de abril de 1971, marcando a divisa da
Província de Santa Catarina com a de São Paulo. Dia 24 de outubro de
2007 achamos o local. Portanto, há 216 anos, sete meses e 12 dias
após o assentamento. O marco de Andrade, como era de se esperar,
havia deteriorado após esse longo tempo e também pela ação de
queimadas.
Após encontrar o ponto culminante do Morro do Trombudo começamos
a limpeza da área, cerca de 15 a 20 centímetro de profundidades,com
trabalho de campo”, relata ele que há mais de 20 anos atua
como arqueólogo amador na região.
O marco, colocado no ponto culminante do morro, definia SC
para Leste e SP para Oeste. Construído com pau de Andrade,
vestígios de carvão foram encontrados no local devido à ação
do tempo. “Foi uma satisfação sem tamanho encontrar o marco
que dividia a província. Passados 217 anos encontramos
vestígios de carvão no local”, conta. Em abril deste ano um novo
marco geodésico foi inaugurado no local para que a história
não seja esquecida, segundo Wagner.
O marco está instalado a 4,875 Km de distância, em linha reta,
do museu de arqueologia de Lomba Alta, com as coordenadas:
Latitude 27º 45’55’’ e Longitude 47º 25’24’’. Para se chegar até
o local exato é preciso enfrentar 1 hora e meia de subida no
Morro do Trombudo.
Para ganhar status de ponto turístico duas estátuas serão
colocadas no ponto exato do marco: dos líderes das províncias,
capitão Antônio Marques Arzão (SP), e capitão João da Silveira
(SC). “Precisamos chamar a atenção do ponto para atrair jovens
até o pico do morro. Cerca de 95% da população catarinense
não sabe que já fomos vizinhos da Província de São Paulo”,
destaca Altair que deverá lançar no próximo ano um livro sobre a
geologia e arqueologia da região.
terra preta e raízes de samambaia. Iniciamos o trabalho em um perímetro
externo com cerca de 2 metros do ponto em que supomos encontrar o
referido marco.
Com a retirada da terra preta ficou à vista um piso de argila cinza bem
compacto. Estávamos chegando na área central. A expectativa era grande
nesse momento de alegria visualizamos um retângulo de terra preta
contornando com argila cinza. Era o que angustiados, esperávamos.
Vibramos e rezamos.
Partimos para a retirada de maneira cuidadosa do conteúdo daquele
buraco escavado há 216 anos. O contorno do buraco onde foi assentado
o marco é de argila avermelhada”.
Histórico
A província de Santa Catarina foi criada em agosto de 1738. Em
1728 foi aberta a primeira ligação do Litoral com o Planalto pelo
Vale do Rio Araranguá, pela Serra da Rocinha, traçado este muito
difícil e íngreme e denominado estrada do Morro dos Conventos.
Até então a província não conseguia um bom acesso a serra.
No ano de 1786 foi aberto um picadão no Vale do Rio Tubarão,
subindo a serra do Rio do Rastro, mesmo percurso da atual
rodovia SC-439, totalmente estrada asfaltada e iluminada de
grande interesse comercial e turístico.
Um ano após, por ordem do Vice-Rei de Portugal, Dom Luis de
Vasconcelos de Souza ao governador da província de Santa
Catarina, José Pereira Pinto, foi iniciada a abertura de uma
estrada ligando São José a Lages.
O governador da província de SC encarregou o alferes Antônio
José da Costa para que fosse cumprida a missão. Costa partiu
Local do antigo marco
Grupo de pesquisadores
Alfredo Wagner
As primeiras tentativas de colonização de Alfredo Wagner foram feitas
por 19 soldados, nas proximidades do Morro do Trombudo. A empreitada,
porém, não teve êxito devido à neve abundante e às chuvas que por três
anos assolaram a região. Augusto Lima, em 1893, estabeleceu-se na
barra dos rios Adaga e Caeté, acompanhado de alguns colonos. O local
passou a se chamar Barracão – o primeiro nome de Alfredo Wagner. O
nome atual é uma homenagem a um dos homens que mais trabalhou pela
emancipação político-administrativa do município, desmembrado de Bom
Retiro.
de São José dia 11 de janeiro de 1787, com 12 homens armados,
12 escravos e sete mulas cargueiras. O alferes chegou a Lages
somente em 9 de agosto de 1787, levando sete meses para
concluir o trajeto.
Com o traçado do caminho começou a construção da estrada.
Grande parte dela estava em área da Província de São Paulo
(102,3 quilômetros). Após quatro meses da inauguração foi
tomada a iniciativa de que fosse colocado o marco divisório entre
as províncias.
O local do marco historio está definido a 1.306 metros acima do
nível do mar, ponto culminante do Morro do Trombudo. O marco
foi assentado pelo alferes Antônio Marques Arzão, representando
a Província de São Paulo e pelo Capitão João da Costa da Silveira,
representando a província de Santa Catarina.
Novo marco
Engº Altair Wagner
Bom Retiro
Os campos de Bom Retiro foram descobertos por volta de 1787, quando
o alferes Antônio Marques D’Arzão foi incumbido pelo governo de Desterro
(hoje Florianópolis) de abrir uma estrada ligando o litoral e o planalto,
partindo de São José e chegando até Lages. As obras foram concluídas
em 1790. O nome Bom Retiro foi dado pelo próprio D’Arzão, que considerava
a região “um lugar calmo, um bom retiro”. D’Arzão mandou seus escravos
construírem um quartel e uma estrada de 06km de extensão na localidade,
mas o local foi abandonado e só muito tempo depois a estrada foi reaberta.
Bom Retiro foi elevado à categoria de município em 04 de outubro de
1922, durante o governo de Hercílio Luz.