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FRANCA
2016
1
JULIANA TITO ROSA FERREIRA
FRANCA
2016
2
Catalogação na fonte – Biblioteca Central da Universidade de Franca
CDU – 801.82
Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um
preconceito.
Albert Einstein
4
AGRADECIMENTO
6
ABSTRACT
FERREIRA, Juliana Tito Rosa. Brazilian women: the textual trajectory and
entextualization of two sports T-shirts during the 2014 World Cup. 2016. 121f.
Dissertation (Masters in Linguistics) – Universidade de Franca, Franca.
Reflexive Modernity (GIDDENS, 1991) provides us the shift of focus from the center to
the margin and enables discussions about gender, race, sexuality and other set of
themes erased in Modernity. The plurality of subjects appears in this social subject
insertion and among them Brazilian women stand out, who, during the World Cup have
been portrayed as two objects of consumption in two medias. As the sponsor of the
event and when launching its T-shirts, Adidas emphasizes the discursive and
performative construction of a Brazilian woman built as a tourist attraction to be known.
This caused some controversy which led to protests that have spread on the Internet.
Within this context, this paper aims to describe the Brazilian textual trajectories of two
consumption objects (T-shirts for the 2014 World Cup); to analyze three
entextualizations about the consumption objects cited in the textual trajectory and to
investigate entextualizations about Brazilian women who appear in the selected texts.
For this purpose, the current research is based on a virtual ethnography (HINE, 2005)
and was based on the conception of language as performative speech acts proposed
by Austin ([1962] 1990), in rereading that Derrida ([1972] 1988) about performative
speech acts on gender and sexuality studies suggested by Queer Theory (BLONDE,
2008, 2010; Butler, 2003). It also relies on the textual trajectory definition
(BLOMMAERT, 2001; GUIMARÃES, 2014) and on the entextualizations assumptions
by Bauman and Briggs (1999), Blommaert (2011) and Melo and Moita Lopes (2015).
The data generation instrument are tree texts found on digital/online media and the T-
shirts. The analysis construct is based on indexical clues proposed by Wortham
(2011). The results indicate that the textual trajectory of the consumption objects is
extensive because it travels through newspapers websites, blogs, variety websites,
magazines and pages specifically developed for the World Cup, among others. The
entextualizations are diverse, no one is in favor of launching the T-shirts objectifying
women. Some blame Adidas, others the women themselves. Furthermore, we note the
construction of crossbred Brazilian women seen only on sexual optics, based on the
Queer Theory bias, as well as the intersection between gender (female), nationality
(Brazilian) and race (dark-skinned to black).
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 -- CAMISETAS PARA COPA DO MUNDO 2014 RETIRADAS DO GOOGLE IMAGENS ... 17
FIGURA 2 – CAMISETAS LANÇADAS PARA A COPA DO MUNDO 2014 ................................. 48
FIGURA 3 - PRINT DA PÁGINA DE PESQUISA NO GOOGLE EM 05/07/2015 .......................... 49
FIGURA 4 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO ................. 51
FIGURA 5 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO SITE DE VARIEDADES UOL .............................. 51
FIGURA 6 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO BLOG MULHERES CONTRA O FEMINISMO .......... 52
FIGURA 7 - CAMISETA VERDE ADIDAS ............................................................................ 55
FIGURA 8 - CAMISETA AMARELA ADIDAS ........................................................................ 57
FIGURA 9 - TRAJETÓRIA TEXTUAL NO JORNAL O GLOBO .................................................. 59
FIGURA 10 – TRAJETÓRIA TEXTUAL NO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO ....................... 60
FIGURA 11 - SUGESTÃO DO GOVERNO PARA ALTERAÇÃO DAS CAMISETAS ......................... 71
FIGURA 12 - CAMISETA VERDE ENTEXTUALIZADA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO . 72
FIGURA 13 - CAMISETA VERDE ENTEXTUALIZADA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO . 73
FIGURA 14 - ENTEXTUALIZAÇÃO DA CAMISETA AMARELA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO
PAULO.................................................................................................................. 74
FIGURA 15 - ENTEXTUALIZAÇÃO DA CAMISETA AMARELA FEITA PELO JORNAL O ESTADO DE
SÃO PAULO .......................................................................................................... 75
FIGURA 16 - ENTEXTUALIZAÇÃO DAS CAMISETAS PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO. 76
FIGURA 17 - CAMISETA VERDE ENTEXTUALIZADA PELO UOL ............................................ 77
FIGURA 18 - CAMISETA AMARELA ENTEXTUALIZADA PELO UOL ........................................ 78
FIGURA 19 - CAMISETAS ENTEXTUALIZADAS PELO SITE DE VARIEDADES UOL .................... 79
FIGURA 20 - ENTEXTUALIZAÇÃO DA CAMISETA VERDE PELO SITE DE VARIEDADES UOL ...... 80
FIGURA 21 - CAMISETA AMARELA ENTEXTUALIZADA PELO SITE DE VARIEDADES UOL .......... 80
FIGURA 22 - CAMISETAS ADIDAS ENTEXTUALIZADAS PELO SITE DE VARIEDADES UOL ........ 81
FIGURA 23 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO BLOG MULHERES CONTRA O FEMINISMO:
ORGULHOSAS E FELIZES DE SERMOS MULHERES....................................................... 82
8
LISTA DE TABELAS
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................12
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................41
3.1 A INTERNET COMO ESPAÇO HÍBRIDO E LUGAR DE PESQUISA.........41
3.2 CONCEITOS DE TRAJETÓRIA TEXTUAL E ENTEXTUALIZAÇÃO.........44
3.3 CONTEXTO DE PESQUISA.......................................................................46
3.4 CRITÉRIOS E GERAÇÃO DE DADOS.......................................................48
3.5 CATEGORIAS DE ANÁLISE.......................................................................52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................100
ANEXOS..................................................................................................................104
11
INTRODUÇÃO
1
Utilizamos a letra x em algumas palavras para caracterizar a fluidez de gênero, pretendemos com
isso nos referir além das categorias masculino e feminino, como também transexuais, travestis, gays,
lésbicas, enfim, inúmeras categorias que não se enquadram mais no padrão binário.
12
[...] em vista da volatilidade e instabilidade intrínsecas de todas ou
quase todas as identidades, é a capacidade de “ir às compras” no
supermercado das identidades, o grau de liberdade genuína ou
supostamente genuína de selecionar a própria identidade e de mantê-
la enquanto desejado, que se torna o verdadeiro caminho para a
realização das fantasias de identidade. Com essa capacidade, somos
livres para fazer e desfazer identidades à vontade. Ou assim parece.
(BAUMAN, 2001, p.107).
14
ações humanas em suas dimensões sociais e discursivas constitutivas”. Para tal,
tornam-se importantes as contribuições de outras áreas do conhecimento.
Nesse contexto de Modernidade Reflexiva (GIDDENS, 1991), acrescentamos
a pluridiversidade2 (MOITA LOPES, 2004) e trazemos para o centro desta
investigação as mulheres brasileiras, que em tempos de Copa do Mundo 2014, foram
retratadas como atrativos turísticos pela Adidas, patrocinadora oficial do evento. Ela
lançou duas camisetas polêmicas (ver figura 1, p.17) que mostram, através da
ambiguidade, a mulher brasileira como alguém disponível para o sexo. De acordo com
Bauman (2008), vivemos em uma sociedade de consumo, onde até mesmo as
pessoas são transformadas em mercadorias. Há um desejo de compra que precisa
ser satisfeito, estamos cercados de objetos, pessoas, sentimentos, para consumir.
Apesar de terem sido retiradas de circulação devido à repercussão negativa, as
camisetas foram criadas para serem compradas, consumidas pelas pessoas, por isso
as chamamos de objetos de consumo.
Como sabemos, a Copa do Mundo é um campeonato internacional de futebol
que acontece de quatro em quatro anos, no qual o país sede atrai públicos de
diferentes países; os olhares midiáticos voltam-se mais atentamente para o local que
sedia o evento. Nesse momento, juntamente com a ebulição dos protestos, emergiram
assuntos diversos, tais como questões sobre preconceitos, direitos de igualdade e
cotas para mulheres no Senado. Entretanto, mesmo com protestos e manifestações,
a Copa do Mundo foi realizada.
No Brasil, milhões de pessoas comemoram a seleção do país para sediar o
evento em 2014. Contudo, em 2013, deparamo-nos com uma série de protestos e
manifestações contra a corrupção, o custo da copa, a falta de saúde, segurança etc.
Nesse momento, juntamente com a ebulição dos protestos, emergiram assuntos
diversos, tais como questões sobre preconceitos, direitos de igualdade e cotas para
mulheres no senado, cura gay, racismo entre outros.
O momento era crítico, principalmente tendo em vista as manifestações que
aconteciam no Brasil entre 2013/2014. Um grupo de estudantes começou um
movimento contra o aumento da passagem de ônibus e milhares de pessoas aderiram
e foram às ruas gritar pelos seus direitos, que já não se restringiam apenas às
2
Entendemos aqui pluridiversidade (MOITA LOPES, 2004) como a coexistência de várias pessoas
diferentes, sem categorização, sem rótulos e sem preconceitos.
15
passagens de ônibus, mas à educação, à saúde, contra a corrupção, etc. O
movimento recebeu o nome de “Vem pra rua”.
Dentro deste contexto, algumas pessoas também se manifestavam contra o
acontecimento da Copa do Mundo. As justificativas eram muitas: os custos das
construções de estádios, o superfaturamento de obras, ausência de investimentos em
saúde, educação, transportes e outras áreas básicas. Por outro lado, outros eram a
favor do evento e diziam que para a saúde é necessário a formação de mais médicos;
para a educação, a qualificação de professores, enfim, argumentos favoráveis e
contrários circularam na mídia tradicional, alternativa e nas redes sociais por alguns
dias.
Como em muitos eventos de abrangências mundiais, como Copas e
Olimpíadas, algumas patrocinadoras lançam produtos específicos para o evento. A
Adidas, patrocinadora oficial da Copa do Mundo no Brasil 2014, lançou duas
camisetas que enfatizaram a construção discursiva de mulheres brasileiras como um
atrativo turístico que também deve ser conhecido. As camisetas trouxeram à tona toda
uma construção discursiva e performativa, estereotipada sobre a mulher brasileira.
Esses discursos não são isolados, ouvimos nos noticiários que mulheres brasileiras
são abusadas sexualmente. A publicidade reforça a imagem da mulher que se vende
por dinheiro ou abre mão de seus valores morais por um cartão de crédito sem limites,
trocando sua integridade por sapatos, bolsas, joias etc. Vemos nas mídias diversas a
veiculação de discursos que dizem que a mulher brasileira tem um certo “borogodó”,
algo de quente, tropical, sedutor, que mostra o corpo curvilíneo para atrair atenção, o
desejo, afinal, no senso comum, já se diz que tudo que é bonito deve ser mostrado.
Na página a seguir, a figura 1 mostra as camisetas lançadas pela Adidas na
ocasião:
16
Figura 1 -- camisetas para Copa do Mundo 2014 retiradas do Google imagens
18
Balestrin (2013, p.92) busca “[...] articular gênero e brasilidade a partir da análise de
cenas fílmicas protagonizadas por mulheres”. Contudo, não encontramos pesquisa,
pelo viés das Teorias Queer, cuja ênfase seria a intersecção entre gênero e
nacionalidade com foco nas questões de linguagem como performance. Sendo assim,
este trabalho pretende contribuir para os estudos de práticas identitárias,
especificamente linguagem e gênero, que trazem investigações cujo centro é a
mulher, e no caso dessa pesquisa, as mulheres brasileiras.
Para isso, além dos atos de fala performativos propostos por Austin
([1962]1990) e Derrida ([1972]1988), esta investigação também se embasa nos
estudos sobre gênero e sexualidade propostos pelas Teorias Queer (LOURO, 2008,
2010; BUTLER, 2003), na proposta de trajetória textual de (BLOMMAERT, 2005) e de
entextualizações (BAUMAN e BRIGGS, 1990), (BLOMMAERT, 2008) e (MELO e
MOITA LOPES, 2015).
Nossos instrumentos de geração de dados são dois objetos de consumo
lançados pela Adidas e os três textos encontrados ao longo de sua trajetória textual.
As categorias de análise são as pistas indexicais propostas por Wortham (2001):
referência, predicação, citação, índices avaliativos e descritores metapragmáticos;
utilizamos para análise das imagens as categorias propostas por Kress e Van
Leeuwenn ([1996] 2006).
Esses objetos de consumo tiveram uma longa trajetória textual e se
entextualizaram em diferentes sites. Para selecioná-los estabelecemos alguns
critérios:
Sites em Língua Portuguesa brasileira, porque as entextualizações
podem apontar para os discursos brasileiros sobre os textos em análise.
10 primeiras páginas do Google, porque contemplavam o período
analisado de 24 de fevereiro de 2014 a 6 de março do mesmo ano.
O primeiro jornal que mostra as camisetas tal como aparece no site da
Adidas, O Estado de São Paulo.
Um site de variedades com algo de diferente dos outros sites, UOL, que
faz uma enquete sobre a retirada das camisetas de circulação, obtendo
5003 votos, sendo 67,44% favoráveis à retirada.
Um blog cuja audiência é feminina: Mulheres contra o feminismo:
orgulhosas e felizes de sermos mulheres.
19
Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. O primeiro, Linguagem
como performance, aborda a linguagem vista através dos atos de fala performativos
propostos por Austin ([1962]1990) e a releitura que Derrida ([1972]1988) fez de tais
atos de fala. Além desses, trazemos contribuições de alguns autores para essa teoria,
tais como Pennycook (2007) e Bauman e Briggs (1990). O segundo capítulo, Gênero
e Nacionalidade pelo viés das Teorias Queer, mostra como se constituíram as Teorias
Queer, quais seus pilares e o que ela questiona, trazendo suas principais teóricas, tais
como Butler (2003), Louro (2008), Preciado (2014), etc. Além disso, mostramos como
acontece a construção de mulher brasileira através da intersecção entre gênero
(mulher) e nacionalidade (brasileira).
No terceiro capítulo, Percurso metodológico, introduzimos conceitos teóricos-
metodológicos, ou seja, reflexões sobre o contexto da internet, conceitos sobre
trajetória textual e entextualização e explicação detalhada de como essa pesquisa foi
realizada. Apresentamos, também, noção de pistas indexicais tais como propostas por
Wortham (2001) que serão utilizadas para a realização das análises das
entextualizações. E, ainda, categorias propostas por Kress e Van Leeuwen
([1996]2006) para a análise das imagens. Os capítulos de análise se dividem em dois.
No quarto capítulo, As camisetas e sua trajetória textual, fazemos a análise das
camisetas e abordamos a trajetória textual dos objetos de consumo nessa pesquisa.
No quinto, As entextualizações dos objetos de consumo, analisamos quatro
entextualizações em contextos online. Por fim, encontra-se as Considerações finais,
Referências Bibliográficas e os Anexos. A seguir, iniciamos as reflexões teóricas que
embasam esta pesquisa.
20
1 LINGUAGEM COMO PERFORMANCE
21
Onde está a fronteira? Há uma em alguma parte? Você pode colocar
esta mesma questão nos quatro cantos do horizonte. Não há fronteira.
O campo está livre para quem quiser se instalar. O lugar é do primeiro
que chegar. Boa sorte ao primeiro que encontrar alguma coisa
(AUSTIN, 1958, p.134).
22
Deve existir um procedimento convencionalmente aceito, que
apresente um determinado efeito convencional e que inclua o
proferimento de certas palavras, por certas pessoas e em certas
circunstâncias: e além disso, que as pessoas e circunstâncias
particulares, em cada caso, devem ser adequadas ao procedimento
específico invocado[...]. (AUSTIN, [1962]1990, p.31)
[...] de acordo com Austin, para uma afirmação ter força performativa
(em outras palavras, para que possa realizar o que nomeia), ela deve:
(1) ser enunciada pela pessoa designada para fazê-lo e num contexto
apropriado; (2) observar determinadas convenções; e (3) levar em
conta a (s) intenção (intenções) do enunciador. [...].
Ao refletir sobre sua própria teoria de atos de fala, o próprio Austin ([1962] 1990)
desconsidera toda a dicotomia entre constatativo e performativo. Para o autor, todos
os atos de fala tornam-se performativos, ou seja, quando se enuncia, uma ação é
realizada. Entretanto, o autor reconsidera a linguagem na ficção, para ele a estiolação
ainda não é considerada um ato de fala performativo, noção que posteriormente será
refeita por Derrida ([1972]1988) conforme veremos no próximo tópico.
Para Austin ([1962]1990) o ato de fala performativo é composto de três partes:
locucionária, ilocucionária e perlocucionária.
23
Ato de fala ilocucionário
De acordo com Austin ([1962] 1990, p.89), ato de fala ilocucionário é “[...] a
realização de um ato de dizer algo [...]”. Conforme Ottoni (2002, p.128), este é o “ato
de realização, através de um enunciado”. Com base nos dois autores,
compreendemos o ato de fala em questão como a ação que acontece diante do
enunciado de promessa, por exemplo, durante um casamento: eu prometo ser fiel,
amar-te e respeitar-te, na alegria...
24
1.1.1 Releituras da teoria dos atos de fala performativos
Observamos, segundo Salih (2012), que, para Derrida, assim como para
Austin, todos os atos de fala são performativos, ou seja, ao enunciarmos, uma ação é
realizada. Esta segunda contribuição se refere também à reapropriação, reiteração e
re-citação, ou seja, somos construídos através dos discursos de outras pessoas e nos
apropriamos de falas, inicialmente não proferidas por nós, mas que, no momento da
nossa enunciação, são colocadas por nós mesmxs em nossas falas e consideramo-
la como próprias. A reapropriação, a reiteração e a re-citação são, para o estudioso,
inerentes aos signos.
25
Outra contribuição trazida por Derrida ([1972]1988) é o questionamento de uma
intenção prévia ao discurso. Para ele, a interação somente acontece na presença do
outro, o script pode ser quebrado, e, então, não haveria uma intenção fora da
linguagem. Por exemplo, em uma situação de fim de relacionamento, a pessoa pode
preparar toda a fala para terminá-lo com x parceirx, dependendo dx parceirx, pode
ocorrer um recuo e não seguir com o objetivo de terminar. Mais especificamente, a
pessoa que receberá a notícia do término do namoro, pode dizer que está com dor de
cabeça devido a problemas no trabalho. A outra pode silenciar e não dar continuidade
ao objetivo proposto, ou pode simplesmente prosseguir com seu objetivo, ou ainda
acontecerem inúmeras possibilidades imprevisíveis, tais como uma notícia de morte,
um pedido de perdão.
Na releitura dos atos de fala austinianos, Derrida ([1972]1988) contribui ao dizer
que o performativo é interiorizado pela iterabilidade e citacionalidade:
5
Citação retirada do site http://revistacult.uol.com.br/home/2013/11/o-percurso-da-performatividade/
26
redes sociais, etc. Sendo assim, estão relacionadas ao efeito e à força, uma
propriedade repetível que ganha re-significações de acordo com o contexto. Por outro
lado, Derrida também nos fala que essa repetição de atos de fala pode falhar e são
construídos outros sentidos para além do performativo, ou seja, para a
performatividade.
Considerando esta investigação, podemos, através da perspectiva derridiana,
compreender que os atos de fala performativos sobre a hipersexualidade das
mulheres brasileiras, construídas por uma sexualidade exacerbada, consideradas
como objetos sexuais, sedutoras, são repetidos e reforçados pela iterabilidade. A
repetição de tais atos de fala performativos ao longo do tempo pode se tornar uma
verdade, uma essência, uma substância.
Além de Derrida, mencionamos aqui as contribuições de Bauman e Briggs
(1990). Para eles, Austin ([1962]1990) trouxe-nos a linguagem como fator social. Eles
concordam com os níveis de atos de falas propostos pelo filósofo da linguagem
(locucionário, ilocucionário e perlocucionário), porém, conforme vimos, porém, para
os estudiosos, há uma certa dificuldade em mostrar o dinamismo neles existente.
Buscando sanar isso, estes autores propõem olhar para a performance dinâmica, não
somente pelo viés dos atos de fala performativos, mas também em relações
estabelecidas com a questão da performatividade, da performance e do performer,
implicadas em relações sociais e de poder.
De acordo com os estudiosos, Austin trabalhava com o ato de enunciar, ou
seja, com a força deste ato e não com o efeito por ele produzido. Sendo assim, focava-
se mais no performativo do que nos sujeitos sociais. Para o filósofo da linguagem, o
ato de enunciar ganha mais ênfase do que as performances que são construídas e
encenadas através destes atos. De acordo com Bauman e Briggs (1990), a vida social
é um processo de performance, assim, ao falarmos, uma performance discursiva é
realizada. Para eles, faz-se necessário contextualizar as performances e, antes de
pensarmos em dicotomias, devemos refletir sobre pluralidade, característica do
contemporâneo. As diferenças não são mais tidas como binárias, elas são múltiplas.
Nesta perspectiva, os autores citados trazem os atos de fala para as questões
identitárias. Eles afirmam que para se estudar a performance é necessário que ela
esteja inserida em um texto e situada em um contexto.
27
Abordar a linguagem como ação remete-nos também a Pennycook (2007),
pois, para o autor, a linguagem “[...] produz as condições que ela descreve” (p.66)6 ou
seja, a linguagem constrói os sujeitos sociais, os corpos, o mundo, e é responsável
pela nossa reinvenção e do outro. Para ele, “[...] o que une performances juntas não
é uma competência que se encontra dentro de cada indivíduo, mas uma grande
variedade de forças sociais, culturais e discursivas”. (p.60)7. É esse emaranhado de
variedades que proporcionam as construções, sedimentações de práticas sociais e a
reinvenção de nós mesmxs e de outrxs. Para Pennycook (2007), vivemos em um
contexto em que não existem barreiras para as línguas, ou seja, é um contexto
translingual, em que pedaços de línguas viajam e se recontextualizam em outros
contextos. Dentro desses, a performance é mantida pelo social e expressa pelas
forças orais, culturais.
Ao pensarmos nas camisetas da Adidas, com base na perspectiva da
linguagem como performance, ao serem lançados, tais objetos de consumo com
textos que constroem mulheres brasileiras como hipersexualizadas e atrativo turístico,
realizam ações sobre corpos de tais mulheres e sobre o país. Observamos, então,
que os atos de fala são corpóreos como nos diz Pinto (2007) e produzem efeitos.
Assim, a linguagem não é apenas descrição, ela age e produz efeitos, nas palavras
de Butler (1997, p.8) “[...]nós fazemos coisas com a linguagem, produzimos efeitos
pela linguagem e nós fazemos coisas para a linguagem, mas a linguagem é também
a coisa que fazemos”.
Neste sentido, há a repetição ao longo dos anos desses discursos que deslizam
e constroem verdades. A intersecção entre gênero (mulher) e nacionalidade
(brasileira) aponta para discursos de sexualidade exacerbada, construídos sobre
esses corpos concebidos como singulares. Estas construções discursivas sobre as
mulheres brasileiras são normatizadas pela linguagem como performance. Veremos,
no próximo capítulo, tais construções normativas, que estabelecem normas para as
ações dos sujeitos.
As Teorias Queer vão além dessas dicotomias homem vs. mulher, masculino
vs. feminino, e questionam as práticas sociais que causam sofrimento a determinados
corpos. Essa teoria é recente, de acordo com Louro (2008, p.39),
De acordo com Miskolci (2007), foi De Laurents (1991) quem utilizou pela
primeira vez o termo Teorias Queer, a fim de nomear estudos sociológicos sobre a
minoria de gênero, mas, para Oliveira et al (2009), foi Butler quem fez emergir as
questões queer:
Na citação, observamos que vai além o ato de romper com a estrutura de poder
binária em que o primeiro exerce poder sobre o segundo. Com base na autora,
podemos dizer que há modos alternativos de encenar performances de gênero, raça,
nacionalidade, classe, que não se enquadram dentro dos padrões binários da
sociedade contemporânea. Assim, as Teorias Queer têm o objetivo de questionar
práticas sociais que causam sofrimento. Nas palavras de Louro (2008, p.38), “[...]
queer significa colocar-se contra a normalização – venha ela de onde vier”.
As Teorias Queer trazem, portanto, “[...] a ideia de que o sujeito não é uma
entidade preexistente, essencial, e que nossas identidades podem ser reconstruídas
sob formas que desafiem e subvertam as estruturas de poder existentes. [...]” (SALIH,
2012, p.23). Não há como enxergar sob um único ponto de vista as questões que
envolvem gênero, por exemplo, sem estabelecer intersecções com raça, classe social,
31
etnias, sexo, etc. Butler (2003, p.20) afirma que “[...] se tornou impossível separar a
noção de “gênero” das interseções políticas e culturais em que invariavelmente ela é
produzida e mantida. ”
Essa perspectiva é compartilhada por Barnard (2004), que propõe que raça,
gênero e sexualidade devam ser estudas juntas, pois ao privilegiar-se um dos traços
performativos, concomitantemente, excluem-se os outros. Como exemplo da
necessidade de se estudarem os traços citados, Melo e Moita Lopes (2013, p.246),
embasados em Barnard (2004), afirmam que:
Uma das teóricas que discutem gênero na perspectiva das Teorias Queer é
Judith Butler, que é considerada queer, não por escolha pessoal, mas porque, de
acordo com Salih (2012, p.11) “ao ler os textos de Butler, notamos que fazer perguntas
é seu estilo preferido, mas apenas muito raramente ela lhes dá respostas [...]” e
questionar é o objetivo das Teorias Queer. Butler contesta e questiona discursos que
trazem sofrimentos para corpos excluídos e considerados abjetos na Modernidade.
As discussões sobre gênero trazidas por Butler (2003) acontecem com base
também nos estudos de Beauvoir (1949), que diz: “A gente não nasce mulher, torna-
se mulher”, ou seja, ser mulher é uma construção, um processo. Podemos observar
essa construção em ações dos outros sobre nós; quando pequenas, nos diziam como
sentar, nos portar, nos vestir e agir. Se olharmos o gênero pela história feminina,
veremos que havia cursos de etiquetas para as mulheres serem de forma x, para
32
serem boas donas de casa, etc. Desta forma, conforme Butler (2003, p.20), as
performances discursivas de gênero são construídas, aprendidas e assimiladas, são
múltiplas, “se alguém é mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é”.
Neste sentido, trabalhamos na perspectiva de que o gênero é aprendido, construído,
não hereditário e interseccionado.
De acordo com Salih (2012, p.91), para Butler, “[...] as identidades de gênero
são construídas e constituídas pela linguagem, o que significa que não há identidade
de gênero que preceda a linguagem. [...]”. Como dito pela autora, o eu não existe fora
da linguagem, a construção de identidade ocorre na e pela linguagem. É através da
linguagem que o mundo ganha existência, portanto, é também através dos atos de
fala performativos (AUSTIN, [1962] 1990), da citacionalidade e iterabilidade
(DERRIDA, [1972]1988), que se constroem as definições de gênero que se tornam
essência.
Um exemplo disto são os discursos do senso comum que constroem os corpos
de mulheres como acessíveis e disponíveis. Tais discursos são repetidos pela
iterabilidade e citacionalidade, que, com o passar dos séculos, se constroem como
verdades. Verdades que trazem efeitos nos corpos, tais como a violência física, verbal
e psicológica direcionadas às mulheres.
Ainda para o senso comum, Cortella (2015)8 afirma que desde muito tempo as
mulheres são construídas como propriedades pertencentes a alguém. O autor cita o
mandamento não cobiçar a mulher do próximo, e diz que em sua origem hebraica,
deveria ser traduzido por não cobiçar o boi, a terra e a mulher do próximo. Sendo
assim, estaria relacionado a não invejar os bens do outro, portanto, não é um
mandamento de fidelidade, mas sim de propriedade e que pode ser compreendido
como um registro que já colocava a mulher em posição de pertencer ao homem e em
situação de inferioridade.
Na perspectiva de que gênero é uma construção, Butler (2003, p.24) diz que
ele é culturalmente construído, ou seja, uma construção discursiva, histórica,
performativa e cultural, “[...] não há razão para supor que gêneros também devam
permanecer em número de dois. ” Louro (2010, p.204) propõe olharmos para as
declarações é um menino, ou é uma menina, como “[...] a nomeação de um corpo
recém-nascido ou prestes a nascer como desencadeadora de uma espécie de viagem
8
Café filosófico exibido em 19/07/2015 às 22h: https://www.youtube.com/watch?v=eE9J4oHop0E
33
que se desenvolve ao longo de toda a existência do sujeito. ” A autora afirma que está
pressuposto que essa viagem siga uma sequência obrigatória, a qual sinaliza uma
coerência entre sexo (macho ou fêmea), gênero (masculino ou feminino) e
sexualidade (desejo pelo sexo oposto). Sendo assim, para Louro (2010, p.205):
Embasados em Salih (2012, p.125), podemos dizer que gênero tem sua
construção iniciada quando se diz a uma mãe gravida, “é uma menina!”. Não temos
aqui um enunciado apenas, mas sim um ato de fala performativo que inicia o processo
de construção de uma menina. Segundo a autora: “[...] um processo baseado em
diferenças percebidas e impostas entre homens e mulheres, diferenças que estão
longe de ser “naturais”. [...]”.
Por exemplo, quando uma mãe está grávida ela começa a construção binária
performativa: se for menina receberá o nome tal, se for menino, o tal, se for do sexo
feminino o quarto será rosa, roxo ou em cores que culturalmente e historicamente
foram construídas para meninas; se for do sexo masculino, o quarto será azul, verde,
ou em cores que culturalmente e historicamente foram construídas para meninos.
Mas, a cor preta jamais será usada na decoração do quarto dx bebê, nem roupinhas
pretas x bebê ocidental usará, porque no senso comum, a cor preta não é para recém-
nascidos. Estes são exemplos de atos de fala performativos sobre meninos e
meninas, no contexto histórico social atual, que são repetidos pela mídia, família,
escolas, igrejas etc., e que podem construir uma verdade cultural e histórica que
marca os corpos e gera efeito sobre eles.
Para Pinto (2007, p.4), gênero é “ [...] um efeito de atos de fala, cuja violência
está em se apresentarem como reais, naturais, produzindo uma estrutura sempre
binária e hierarquizada. [...]”. Neste sentido, em nossas práticas sociais há uma
fórmula pré-estabelecida e esperada para a encenação de performances discursivas
de gêneros. Essa fórmula, padrão, estipulada e padronizada, causa sofrimento para
corpos que não se enquadram nesse padrão binário, já que os atos de fala
performativos produzem efeitos nos corpos. As transgêneros, por exemplo, não se
34
enquadram neste binário, consequentemente, vemos tais corpos serem ilegitimados
quando os nomes sociais destas pessoas não são aceitos, quando muitas vezes, elxs
são humilhados em sala de aula, hospitais, repartições públicas, por seus corpos não
corresponderem aos documentados em um RG, por exemplo.
Neste sentido, é através dos efeitos reproduzidos sobre os corpos que a
possibilidade de encenar diversas performances discursivas de gênero se restringe
ao ato de encenar apenas duas, masculina e feminina, as quais são construídas e
aprendidas como aceitáveis pela sociedade.
Para Preciado9 (2014), o momento que vivemos é transformador: “a situação
em que estamos e onde construímos o gênero e a normalidade são a guerra total no
interior do corpo e frente a isso, a revolução é constante”. Sendo assim, para a autora,
“ a guerra não será depois e a revolução não será amanhã, e sim a guerra é hoje e a
revolução é agora”. A autora concorda com Butler ao afirmar que o corpo também é
um ato de fala, e até mesmo o desejo é uma construção:
Para a autora, tal como o gênero, a noção de desejo também é uma construção
aprendida, repetida e que vai sendo sedimentada aos poucos pela repetição, sendo
estabelecida de tal maneira que fomenta e ensina o padrão de desejo heterossexual,
ao ponto de ser necessário desaprender os desejos construídos como próprios, uma
árdua tarefa, para que se possa encenar performances identitárias múltiplas.
Para Butler (2003), culturalmente, o padrão que ocupa o centro é composto
pelos gêneros inteligíveis. Estes são constituídos quando sexo, gênero, prática sexual
e desejo mantendo relações de coerência entre si. Ou seja,
9
Entrevista publicada no blog: http://ggemis.blogspot.com.br/2014/10/beatriz-preciado-esquerda-e-
tao.html
35
[...] gênero só pode denotar uma unidade de experiências, de sexo,
gênero e desejo, quando se entende que o sexo, em algum sentido,
exige um gênero – sendo o gênero uma designação psíquica e/ ou
cultural do eu – e um desejo – sendo o desejo heterossexual e,
portanto, diferenciando-se mediante a uma relação de oposição ao
outro gênero que ele deseja. [...] (BUTLER, 2003, p.45).
37
estudavam as mulatas para saber se eram ou não estéreis, tais como as mulas
(cruzamento entre égua e jumento) que originaram sua designação. Para a autora
(p.45), havia uma cultura de que “[...] tanto o negro como a negra precisam branquear
para aproximar-se do polo idealizado”.
Concordamos com Schucman (2014) quando afirmamos que a raça é uma
construção social, histórica, discursiva e performativa, e sua definição muda de acordo
com a história. Assim, atualmente, ser uma mulher, negra, heterornomativa, de classe
média, não é o mesmo que ser a mesma mulher na década de 80. O conceito de raça,
segundo Barnard (2004), Sullivan (2003) e Wilchins (2004) é maleável e se transforma
ao longo do tempo.
Schucman (2014) nos mostra que negros que iam dos Estados Unidos para a
África do Sul, na época da política do Apartheid, devido às relações de poder, eram
considerados brancos. Consideramos também a pesquisa de Melo e Moita Lopes
(2015) que nos conta sobre um garoto homoerótico negro, que ao atingir uma classe
social mais elevada se torna moreno. É neste sentido, tendo a raça como uma
construção discursiva e performativa em território brasileiro, que dizemos que as
mulheres brasileiras, tal qual a representada na camiseta da Adidas, são consideradas
mulheres de pele morena à escura.
O termo brasileiro é um gentílico, adjetivo pátrio, que surgiu com a
comercialização do pau-brasil. Entretanto, de acordo com Balestrin (2011), é um termo
focado e trabalhado no período da ditadura, que ganhou ênfase com a ideia de nação.
É então que temos o estereótipo construído de mulata que ganhou evidência durante
o período de ditadura, sendo construída com brasileira, pois havia o interesse do
governo em promover o turismo sexual no país, atraindo, assim, estrangeiros.
Corrêa (1996, p.48) nos diz que:
38
Tais corpos eram retratados pelo pintor Di Cavalcanti e também trazidos pelas
ações de Sargenteli10, que se auto definia como “mulatólogo”, que através de um
programa de televisão com grande divulgação na década de 70, escolhia a melhor e
mais bela dançarina. Sargenteli viajava o mundo com suas mulatas, e reproduzia toda
essa construção discursiva e performativa de mulher sensual, sedutora,
hipersexualizada, com pouca roupa, disponível e como um ponto turístico que deveria
ser visitado:
40
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
11
Conferência ministrada por Blommaert, em 2014, no Congresso Internacional de Linguística Aplicada
promovido pela AILA, em Brisbane – Austrália.
41
De acordo com Castells (2003, p.8), “a internet é o meio de comunicação que
permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento
escolhido, em escala global. [...]”. Em outras palavras, a conexão entre pessoas e a
trajetória de informações mundiais, como vemos em tempos de Modernidade
Reflexiva (GIDDENS, 1990), é acessível com a criação da internet, especificamente,
da Web 2.0.
Para Moita Lopes (2010, p.394), a Web 2.0 proporciona “[...] um mundo no qual
não há muita diferença entre o público e o privado”. Para o autor (p.399), “o mundo da
Web 1.0 pode ser entendido como aquele no qual a tela do computador era um lugar
de consumo a ser consumido pelo usuário. [...]”. Diferentemente da Web 2.0, que, nas
palavras do autor (ibid., p.399) “opera-se sob uma outra lógica: a da participação, a
da colaboração, a da inteligência coletiva e a da possibilidade de intensificação das
relações sociais nas wikis, espaços de afinidades, fanfictions, etc”.
Neste sentido, a Web 1.0 divide nitidamente o usuário, aquele que consome,
do produtor, aquele que faz; já na Web 2.0 não existe mais a separação entre
consumidor e produtor. Para Reilly (2005 apud Moita Lopes, 2010, p.400) “A Web 2.0
não é uma tecnologia, mas uma atitude”.
Assim, consideramos a web como um espaço híbrido, um espaço em que
encontramos tudo: corpos para consumir, redes sociais, salas de bate papo, jornais,
canais de TV, de vídeo, blogs, etc. Nestes espaços as pessoas interagem por meio
de textos e linguagens diversas, essas interações fluem mais intensamente devido ao
anonimato:
As dimensões das discussões na Web 2.0 são diferentes das face a face, pois
o anonimato cria uma ilusão de proteção, fazendo com que o sujeito se expresse mais
profundamente em temas considerados tabus. Este anonimato, pode, por exemplo,
estar escondido em um perfil falso. Utilizo o termo ilusão de proteção, pois através do
anonimato, o sujeito acredita que o outro não sabe quem ele é, portanto, não o
agrediria fisicamente, mas a proteção não acontece, pois o sujeito sofre toda uma
42
retaliação se aquele pensamento for diferente do esperado. Então, é agredido
verbalmente no mundo online. Um exemplo de agressões está nos ataques verbais
sofridos por mulheres negras que vêm se destacando na mídia tradicional como o
caso da jornalista Maju, das atrizes Cris Viana, Sheron de Menezes e Taís Araújo. Ao
mesmo tempo em que temos coletivos discutindo, nas redes sociais, políticas de
valorização e inclusão para mulheres negras, deparamo-nos com garotos de
programas, gays ou não, que vendem seus corpos, campanhas para defender o
salário digno de algumas profissões, dicas de saúde e beleza, questionamentos do
que é ser negro/a no país, etc. Baseados em Bauman (2001), podemos dizer que
temos aqui exemplos do híbrido.
Além disso, a Web 2.0, em tempos de Modernidade Liquida (BAUMAN,2001),
é um espaço para transgressão, para questionamentos, tais como corpos abjetos que
começam a se expor, mas de maneira a apontar seus posicionamentos e preservar
sua identidade real. Também estamos em um contexto fluido e de mobilidade, os quais
fazem emergir diferentes trajetórias textuais, como no caso de nossa pesquisa, as
camisetas percorreram diferentes sites, sendo entextualizadas através de diversos
pontos de vista. Nesse sentido, este espaço onde os textos viajam com mais facilidade
e rapidez é também um espaço para se fazer pesquisa.
De acordo com Buzato (2007, p.50), as TICs incorporadas ao cotidiano
proporcionaram novas formas de relações sociais, portanto, necessita-se de formas
mais adequadas para a análise das interações sociais. Para o autor, os contextos são
“[...] heterogêneos, dinâmicos e porosos [...]” e apenas reconhecer isso não é
suficiente, ele se posiciona a favor de uma revisão conceitual e metodológica.
Segundo Pieniz (2007), pensar sobre ambientes de pesquisa virtual faz-se
fundamental, uma vez que há novas formas de interações sociais através da internet.
A etnografia virtual é uma saída para pesquisadores contemporâneos, a autora julga
necessário ter em mente as formas de coleta para assegurar boas condições de
trabalho. Para Hine (2005) a etnografia pode ser aplicada ao contexto online, pois
esse é definido como um contexto cultural. Ou seja, a etnografia virtual é a
metodologia de pesquisa tal como a pesquisa etnográfica – que se baseia na
observação; levantamento de hipótese, análises sob o ponto de vista do pesquisador,
etc. - porém em ambiente virtual. Nesse sentido, a etnografia virtual pode ser utilizada
como ferramenta exploratória de blogs, redes sociais, entre outros espaços online.
43
Sendo assim, nossa pesquisa é de cunho etnográfico virtual, porque estamos
em contexto online e retiramos nossos dados da Internet. O processo se iniciou em
novembro de 2014 e se estendeu até agosto de 2015, incluindo pesquisas sobre
trajetória textual e entextualização das camisetas, conceitos que veremos a seguir.
44
Segundo Blommaert (2005, p.57), a noção de contexto vai além dos eventos
comunicativos. O contexto deve ser observado de maneira local e translocal, como
algo em movimento, “[...] os contextos não são características de textos isolados, mas
de economias mais amplas de comunicação e textualização”. Falar de contextos
implica em muitos outros fatores, tais como conhecimento de mundo e acessibilidade
ao conhecimento, vai além do texto, questionando até mesmo as noções de poder.
Complementando a questão, Melo e Moita Lopes (2015, p.60), embasados em
Blommaert (2008; 2010), compreendem que na trajetória textual:
45
descontextualizado”. Guimarães (2014, p.72) afirma que “[...] textos devem ser
compreendidos como seguindo trajetórias através de sucessivas entextualizações”.
Nas palavras de Melo e Moita Lopes (2015, p.61), embasados em Bauman e
Briggs (1990), a entextualização é a “[...] capacidade reflexiva do discurso de ser
compartilhado em diferentes sistemas de significação e o enquadramento do texto que
carrega suas marcas para outros espaços”.
Blommaert (2005) afirma que entextualização é o processo de retirar um texto,
ou um pedaço dele, do contexto e colocá-lo em outro contexto, ou seja, materializá-
lo. Nas palavras do autor (2005, p.515) “[...] discursos retirados de seu ambiente de
interação e transmitidos em conjunto com novas sugestões de contexto”.De acordo
com o autor, (p.47), a entextualização é um processo no qual:
46
Em 1970, de acordo com Barsa (1998), a competição foi transmitida ao vivo pela
televisão, mas apenas na Copa de 1974 que o ao vivo passou a ser em cores. Em
1986, na Copa do Mundo no México, foi apresentado pela primeira vez o recurso “Tira-
Teima”, um software que possibilita pausas durante o jogo.12 Mas, foi em 1994,
(BARSA, 1998, p.477), que o evento alcançou sua audiência recorde, “[...] 33 milhões
de espectadores assistiram aos 52 jogos, enquanto 3,5 milhões de torcedores
compareceram aos estádios. [...]”.
Sendo assim, a divulgação do evento atinge escala mundial. O que acontece
no período de preparação e durante a Copa do Mundo torna-se notícia também de
abrangência internacional, como foi o caso das manifestações. Um ano antes da Copa
do Mundo 2014, ou seja, junho de 2013, começaram manifestações de brasileirxs
contra o aumento da passagem de ônibus porém, as manifestações tomaram
proporções inimagináveis, e o motivo deixou de ser singular e tornou-se plural.
Diversas pessoas, das mais diferentes idades, encontraram-se nas ruas através do
movimento Vem pra rua para lutar pelos direitos do povo brasileiro, direito à saúde,
educação, etc. Vários manifestantes eram contrários ao país sediar o evento Copa do
Mundo devido ao gasto superfaturado nas preparações do evento, dentre eles, o mais
noticiado foi o gasto nas construções e reformas de estádios.
O país mudou seu cenário político, social e econômico. Os protestos não
pararam quando a Copa se iniciou, os gritos ofensivos ao governo aconteciam no
decorrer dos jogos do Brasil e as manifestações permearam o cenário da Copa do
Mundo no Brasil 2014.
Como mencionado na introdução, é de praxe a criação de camisetas em
homenagem ao país que sedia o evento. Assim, há um grupo que analisa e monta o
objeto de consumo que será lançado, embasado em pesquisas e questionamentos
sobre o lugar que sedia o evento. No caso da Copa de 2014, as camisetas foram
lançadas com o suposto título de homenagem às mulheres brasileiras. As camisetas
eram uma verde e outra amarela, sinalizando as cores predominantes da bandeira do
Brasil, país sede do evento:
12
Informações retiradas do site: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/06/tecnologia-de-
transmissao-de-tv-evolui-junto-com-copas-veja-video.html
47
Figura 2 – Camisetas lançadas para a Copa do Mundo 2014
48
apareceram aproximadamente 600.000 resultados e as imagens dos objetos de
consumo:
Nossas pesquisas são realizadas apenas nos sites em que o texto está em
Língua Portuguesa Brasileira, porque as entextualizações podem apontar
para os Discursos brasileiros sobre os textos em análise.
No texto deve haver a entextualização de pelo menos um dos objetos de
consumo, ou seja, deve aparecer uma das imagens das camisetas em
algum momento no decorrer do texto, pois é a trajetória desses objetos que
nos interessa.
49
Selecionamos as dez primeiras páginas do Google, pois proporcionam uma
visão geral da viagem do texto através de um recorte, com início em 24 de
fevereiro de 2014 e término em 06 de março do mesmo ano.
Não nos é possível analisar todos os textos que aparecem nesse recorte
escolhido, ele mostra a trajetória textual, então, após observar os textos que
entextualizaram os objetos de consumo, estipulamos outros critérios que
proporcionassem a seleção de algumas entextualizações para nossa análise.
Optamos pelo:
Sendo assim, com base nos critérios citados, os textos que geraram nossos
dados para a entextualização são os dois objetos de consumo, os três textos em que
as camisetas foram entextualizadas: o jornal, o site de variedades e o blog.
No Jornal o Estado de São Paulo, a matéria que proporcionou nossos dados
foi: Camisas da Adidas tem duplo sentido e provocam revolta no governo, conforme
observamos na imagem a seguir:
50
Figura 4 - Entextualização feita pelo jornal O Estado de São Paulo
51
Figura 6 - Entextualização feita pelo blog Mulheres contra o feminismo
Para analisar tais entextualizações e também fazer uma leitura desses objetos
de consumo embasamo-nos em algumas categorias de análise que apresentamos a
seguir.
52
Quanto à citação, acontece quando traz o discurso de outro e o coloca em sua
própria fala, de acordo com Melo e Moita Lopes (2015, p.62) está sempre “[...]
relacionada à citação da fala do outro para recriar um momento de interação”.
Já os índices avaliativos são marcadores, conectivos, conjunções, que
sinalizam um determinado modo de falar, nas palavras de Melo e Moita Lopes (2015,
p.62) são “[...] itens lexicais, construções gramaticais, sotaque etc. que caracterizam
socialmente grupos sociais ou sujeitos sociais”.
Por fim, os descritores metapragmáticos mostram que tipo de ação está no
texto, os verbos discentes que são expressos, para Melo e Moita Lopes (2015, p.63)
são “[...] verbos ‘de dizer’ usados pelo narrador para se referir ou predicar o que é
contado na história”.
Já para as análises das imagens, utilizamos a proposta de Kress and Leuman
([1996]2006). De acordo com os autores, durante o século XX, a linguagem não verbal
começou a interagir com outros recursos semióticos, de maneira que é comum
encontrarmos diferentes textos multimodais. A escolha desses diversos recursos
semióticos que compõem os textos mencionados acontece tal qual a escolha de
índices linguísticos. Sendo assim, a escolha de imagens e ou palavras é carregada
de significações. Os autores também afirmam que a leitura desses textos multimodais
deveriam ser aprendidas na escola.
Kress e Van Leeuwen ([1996]2006) sugerem que como a linguagem verbal, as
imagens proporcionam a representação do mundo social, das identidades, servindo
também como mensagem. Não há uma estratégia única e singular capaz de analisar
cada elemento que proporcionará o discurso que dali emerge, mas sim um conjunto
de estratégias e elementos, ou seja, um todo é capaz de distinguir os discursos que
ali borbulham.
Para isso faz-se necessário observar o todo, os autores propõem separar as
imagens em alguns planos, observar o que está saltando da imagem, considerado
como primeiro plano. O que vem em um nível atrás, segundo plano, são as imagens
com mais de dois planos. Em outras palavras, observamos as dimensões que estão
presentes na imagem. Outro fator relevante são as cores e as combinações destas
dimensões presentes nas imagens, que sinalizam mais um traço a ser analisado.
53
De acordo com os pesquisadores, fora da escola, as imagens estão presentes
no cotidiano das crianças e adolescentes através de revistas, jornais, sites, jogos
eletrônicos, filmes, enfim, uma série de mídias que compõem o mundo pós-moderno.
Atualmente, a linguagem visual e os textos multimodais têm ganhado mais
destaque na vida social, os textos escritos, por muito tempo considerados tradicionais,
hoje, dão espaço a textos multimodais, apresentando mais de uma modalidade
semiótica em sua composição. Com efeito, percebemos a dinamicidade do mundo em
que vivemos, a sociedade pós-moderna tem diferentes maneiras de explicar e dialogar
com ele.
Através dessas categorias analisaremos nosso corpus. Nos próximos
capítulos, mostraremos a trajetória textual dos objetos de consumo, faremos uma
leitura das camisetas e analisaremos as três entextualizações.
54
4 AS CAMISETAS E SUA TRAJETÓRIA TEXTUAL
55
As curvas, os seios, a cintura fina, as mangas curtas, indicam ser uma camiseta
direcionada para o público feminino, o modelo conhecido por baby look, que é justo.
As cores são o verde, que ocupa a maior parte do produto, azul anil e amarelo,
sinalizando as cores da bandeira brasileira e, consequentemente, representando o
Brasil, país sede da Copa do Mundo 2014.
A referência I (eu) em azul anil está em primeiro plano, bem como a figura que
é ambígua, representando ao mesmo tempo um coração e/ou uma bunda com biquíni
fio dental, indicando, assim, um equilíbrio entre o índice linguístico e a imagem, ou
seja, que ambos têm a mesma importância no texto. O mesmo não ocorre com a
referência Brazil, que está em segundo plano e entre os seios da imagem.
De acordo com Bechara (2009), a figura de linguagem ambiguidade é um
recurso que proporciona mais de um sentido, ou seja, sentidos diversos em uma
mesma mensagem. Desta forma, a figura ambígua pode ser lida de duas maneiras,
como a imagem de um coração amarelo que indexa o verbo to love, que significa
amar, emergindo o sentido de que eu amo Brasil, ou o coração amarelo sinaliza uma
bunda invertida, bem definida, vestida por um biquíni fio dental verde, mostrando uma
mulher de costas cuja cintura é bem fina, implicando em outro sentido, no de que eu
amo a bunda brasileira. Os textos observados na camiseta indicam que ao acionar
gênero (mulher) com nacionalidade (brasileira), representado pelas cores na
camiseta, acionam-se as construções discursivas e performativas do corpo da mulher
brasileira, no sentido sexual.
Outra ocorrência que nos chamou atenção, é o fato da camiseta se destinar às
mulheres, justificada pelo manequim feminino em que a camiseta é exposta. Tal gesto
sinaliza que a camiseta e a mulher brasileira são desejadas também por mulheres ou
objetos de consumo de mulheres.
Já na outra camiseta (ver figura 8, p.57) as linhas retas, as mangas mais
compridas e o ato de fala lookin’ to score (‘fazer gols’) mostram que a camiseta pode
ser um produto para um público masculino, justificado pelo manequim em que se
encontra. Quanto às cores, o amarelo nos remete ao Brasil e sinaliza descontração,
alegria, sol e verão. O país também é sinalizado tanto pelo verde das matas como
pelo azul claro do céu. Já o vermelho pode se referir ao desejo, à paixão, ao fogo que
aparece tanto no início como no fim da imagem e se mescla ao laranja enfatizando o
calor, o verão, a diversão e a liberdade.
56
Figura 8 - Camiseta amarela Adidas
Conforme Silva (2014) sugere, viajar sempre foi o destino dos textos, eles
percorrem trajetos diferentes, mídias diversas, etc. Mostramos, a seguir, a trajetória
textual dos objetos de consumo, de 24 de fevereiro de 2014 a 06 de março do mesmo
ano, para isso criamos algumas linhas do tempo, com data, hora e veículo, que
facilitam nosso olhar sobre a trajetória; após, apresentamos as mudanças mais
significativas nos títulos dos textos que compõem a trajetória textual.
A primeira linha do tempo é do dia 24 de fevereiro de 2014:
24/2/14____12h__________16h________20h38_________22h52______22h52___
O Globo Gazeta O Estado de Cidade Jornal
online São Paulo Marketing O Popular
58
Observamos que a trajetória textual das camisetas inicia-se às 12h do dia 24
de fevereiro e finaliza-se, neste dia, às 22h52. As camisetas viajam por canais de
comunicação jornalísticos (O Globo, Gazeta Online, Estado de São Paulo e o jornal O
Popular) e um site específico sobre marketing (Cidade Marketing). Percebemos
também, que no início da trajetória, no Globo, ao meio dia do dia 24 de fevereiro de
2014 é mostrada a imagem de uma das camisetas, a verde, em tecido e dobrada,
conforme a figura 9:
Com o título Camiseta vendida nos EUA usa apelo sexual vinculado à Copa no
Brasil, neste jornal, a camiseta aparece empilhada, provavelmente em uma prateleira
de uma loja. A foto utilizada por esse jornal recebeu uma edição que proporcionou um
zoom, que corta a parte de cima dessa imagem polêmica e direciona, assim, o olhar
do leitor para a bunda ali estampada.
A seguir, no mesmo dia, às 16h, a trajetória textual das camisetas segue para
gazetaonline com o título: Camiseta vendida nos Estados Unidos usa apelo sexual
vinculado à Copa no Brasil, é possível identificar que o título é idêntico ao veiculado
no jornal O Globo. A imagem, nesse site, é a mesma do jornal O Globo, porém sem o
zoom, mas ainda é a camiseta verde, de tecido, empilhada em uma loja.
59
Já no jornal O Estado de São Paulo, as camisetas são veiculadas no mesmo
dia 24, às 20h38min. Contudo, identificamos mudanças tanto na manchete da
reportagem quanto nas próprias camisetas como mostra a imagem a seguir:
60
É nesta figura, neste momento, que encontramos, a imagem como apresentada
no site da Adidas, a imagem que circulou e causou polêmica a ponto de a
multinacional esportiva tomar a decisão de deletar o lançamento dessas camisetas e
todas as informações sobre esse lançamento, por isso, não conseguimos acessá-la,
mas o print do Estadão retrata e comprova que as camisetas foram veiculadas pelo
site da patrocinadora (ver figura 10).
A trajetória textual desses objetos de consumo segue, ainda no mesmo dia 24,
e na mesma hora 22h52min, para dois sites diferentes. No sistema de busca do
Google, apesar de acontecerem no mesmo dia, hora e minuto, as camisetas
aparecem primeiro no o site cidade marketing pelo título: Camisetas têm duplo sentido
e provocam revolta no governo brasileiro. Novamente é observado um efeito do
lançamento (provocam, revolta, governo). Além disso, aqui é sinalizada a
ambiguidade de sentido da camiseta (duplo sentido).
No mesmo dia e horário, o último percurso dos objetos de consumo em análise
é observado no site do jornal O Popular: Embratur critica camisetas da Adidas vendida
com apelo sexual. Aqui observamos uma outra alteração no título que inclui, na
manchete da reportagem, o órgão responsável pelo Turismo nacional. O efeito de tal
lançamento dos produtos que constroem as mulheres brasileiras como
hipersexualizadas, disponíveis para serem conhecidas como outros pontos turísticos
é criticado e pode ser observado pelas pistas indexicais (crítica, Embratur, apelo
sexual).
O 25 de fevereiro foi o ápice da trajetória textual dos objetos de consumo
percorreram 36 sites diferentes, dentre eles, jornais, blogs, revistas, sites de
variedades. No dia 26, o movimento do texto na web 2.0 diminui, e ele transita em
apenas 05 sites, depois encontramos marcas dessa trajetória nos dias 28 de fevereiro,
03,05 e 06 de março.
Não teríamos tempo nem espaço para analisar cada espaço que os objetos de
consumo percorreram, portanto, decidimos olhar os títulos das entextualizações e
destacar aqui em nossa análise, quais os momentos que ocorreram mudanças
significativas e que novas pistas indexicais sinalizam a alteração.
Mostramos a seguir a linha do tempo do dia 25 de fevereiro de 2014:
61
25/02/2015 09h13 _____09h14_____ 09h31_____ 12h06_____ 12h15__
Uol site de Blog Em.com Lance net R7
Variedades Diário do Economia Copa 2014 Esportes
Nordeste
22h39 _____s/h16_________s/h_________s/h________s/h_________s/h____
Pragmatis- Estádio Jornalismo Correio Diário Blog I (Love)
mo Político Vip SBT Lageano Pernam- Beach style
buco
__s/h___
Informe
Pernambuco
16
Sem hora identificada
62
O site de variedades aponta a trajetória textual das camisetas como o Estadão,
com uma tarja e diversas opções em que o internauta clica e escolhe a imagem que
aparecerá, a primeira é a camiseta verde; a segunda, a camiseta amarela; a terceira,
o print da página da Adidas em que as camisetas também estavam sendo
comercializadas; a quarta é um zoom na camiseta verde; a quinta é um zoom na
camiseta amarela e a última são as duas camisetas, uma ao lado da outra, primeiro a
amarela e depois a verde. Outro fator diferencial nesse site de variedades é uma
pesquisa que pergunta ao internauta: “você acha que a venda das camisetas deve ser
interrompida?”. Dentre os 5003 votos que constam na pesquisa, 67% afirmam que sim
e 33% afirmam que não.
No dia 25 de fevereiro de 2014, às 12h06 min, no portal de notícias da Copa,
Lance net – Copa 2014, a trajetória textual aparece com o título: Em meio à polêmica
com camisas da Copa, Dilma ataca turismo sexual. Até então, no decorrer da
trajetória, ainda não havia aparecido nos títulos as pistas indexicais Dilma e turismo
sexual, percebemos que a trajetória começa a mudar.
A trajetória textual segue, às 12h15min, para o Site de variedades R7, que
decide manter no título a pista indexical turismo sexual: Camisetas polêmicas são
acusadas de incentivar turismo sexual. Percebemos que somente depois de oito sites,
a pista indexical Dilma é repetida, no Brasil Post, um canal associado à Abril, às
15h41min, Dilma condena Adidas por camisetas com referências sexuais no Brasil e
na Copa de 2014, o verbo condenar no presente do indicativo proporciona uma
certeza.
Os objetos de consumo continuam percorrendo a trajetória textual, ainda no dia
25 de fevereiro, às 15h53min, na Revista Portal Fórum, veiculada pelo site de
variedades Ig, com o título: Adidas lança material da Copa com conotação machista,
neste trecho da trajetória textual percebemos um posicionamento que caracteriza os
objetos de consumo como machistas. Quando o leitor observa o termo machista,
outras construções discursivas são acionadas, diferentes das até então ditas.
Às 16h13min deste mesmo dia, em uma página específica para Copa, no portal
Terra, chamada de Terra na Copa, as camisetas aparecem com o título: Adidas
explica e diz que não venderá mais camisetas sexistas. Nesse trecho da trajetória
textual, algumas construções discursivas sobre sexismo são abordadas, tais como a
63
segregação sexual que exclui um grupo, no caso das camisetas, as mulheres, e
acionam o poder de outros sobre tais corpos.
Às 17h50 min, na revista Carta Capital, a referência de lugar (Brasil) aparece
no título interseccionada ao turismo sexual, o que proporciona uma amplitude para
estes objetos de consumo: Adidas retira das lojas camisetas que relacionam o Brasil
ao turismo sexual. Alguns minutos depois, às 17h57min, o Portal Jovem Pan,
veiculado pela UOL, sinaliza um arrependimento da multinacional esportiva através
do título: Adidas pede desculpas por camisetas com conteúdo sexual.
A última entextualização do dia 25, com hora, foi às 18h43, pelo Catraca Livre.
Na página de Cidadania houve a troca da pista indexical Adidas por patrocinadora da
Copa do Mundo: Patrocinadora da Copa do Mundo faz camiseta com duplo sentido e
causa polêmica. A troca destas pistas indexicais proporciona uma leitura que carrega
maiores responsabilidades para a Adidas. Ainda no dia 25, sem hora identificada, por
isso colocamo-la por último, ela foi feita por um blog, I (love) beach style com título
voltado ao seu público: Polêmica fashion: Adidas na Copa do Mundo, além disso, a
trajetória vem acompanhada da #chateada. Ou seja, a questão polêmica das
camisetas vai para o universo da moda e apagam-se sentidos de sexualidade.
Ainda no mês de fevereiro, a trajetória textual percorre mais cinco sites, quatro
no dia 26 e um no dia 28 conforme veremos na linha do tempo a seguir:
64
Neste mesmo dia, a trajetória textual passou pelo blog Mulheres contra o
feminismo: orgulhosas e felizes de serem mulheres, no qual havia o artigo de título:
Carnaval-Copa do mundo: Mulher brasileira é prostituta, Brasil é terra de bundas e as
camisetas da Adidas. Este artigo de opinião, apesar de também ser contrário às
criações das camisetas, segue na contramão de outros encontrados, pois ele culpa a
mulher brasileira por tais construções discursivas e performativas, a exemplo das
explícitas nas camisetas.
Em março, a trajetória segue para mais três lugares, nos dias 03, 05 e 06,
também sem hora identificada, conforme vemos a seguir:
03/03/2014_______05/03/2014______06/03/2014
Blog da Blog a cortesã PSTU
Regina moderna
65
segundo não é foco de nossas análises, mas no anexo 2 (p.114) apresentamos
superficialmente uma tabela com a trajetória textual internacional de tais objetos.
Percebemos, então, principalmente comparando o ponto inicial da trajetória textual
estudada, com o final da mesma, que, conforme o texto viaja, como diz Blommaert
(2005) novos sentidos emergem. De acordo com Blommaert (2005) e Fabrício (2013),
percebemos que em ambientes online não existem fronteiras, há um espaço híbrido
onde textos viajam transglobalmente, tal como vimos na viagem dos objetos de
consumo, representada nesse capítulo. Observando as mudanças apenas nos títulos
dos artigos e reportagens encontrados, é possível perceber que as TICs possibilitam
a viagem rápida dos textos.
Pelos títulos observados ao longo da trajetória textual, vemos que nos primeiros
percursos as reportagens contam o fato do lançamento das camisetas, e
posteriormente são apresentados outros títulos que sinalizam os efeitos dos atos de
fala performáticos e corpóreos em vários veículos. No dia 26 de fevereiro de 2014,
temos como ápice desse efeito, a retirada o das camisetas de circulação.
No auge da trajetória textual, as pistas indexicais sinalizam que as camisetas
foram associadas à exploração sexual, turismo sexual, machismo, sexismo, etc. Isso
indica que ao percorrer sites diversos, a questão da mulher brasileira construída como
disponível foi criticada não apenas pelo governo, mas pela própria mídia. Neste
sentido, tais camisetas apontam para a repetição de atos de fala performativos que
constroem a mulher brasileira miscigenada, uma única mulher hipersexualizada, a
qual não lhe é atribuído a encenação de performances diversas, que não sejam
sexuais. Tal construção é feita através da intersecção apontada pelas Teorias Queer,
onde estudos recentes (MISKOLCI, 2007, BARNARD, 2004, SEDGWICK, 2007)
mostram como categorias interdependentes, necessitam ser estudas juntas, tais como
gênero e nacionalidade nas mulheres brasileiras, representadas nessas camisetas,
que percorreram a longa trajetória textual estudada e nas três entextualizações que
veremos a seguir, no próximo capítulo.
66
5 AS ENTEXTUALIZAÇÕES DOS OBJETOS DE CONSUMO E SOBRE AS
MULHERES BRASILEIRAS
67
de duplo sentido e fala), percebemos que provavelmente houve um equívoco na
digitação que deixou a frase incompleta. A referência de lugar (no site), a predicação
(US$22 (R$ 51,50) e o verbo no presente do indicativo (custa) expressam uma certeza
e passam também, tal qual o valor expresso na anterior, a sensação de uma realidade,
algo que está acontecendo e é passível de compra.
O site de variedades UOL também traz os valores das camisetas:
Uma camiseta de cor verde mostra a frase “Eu amo o Brasil”. Mas o
que seria um coração tem na verdade o formato de um bumbum de
biquíni. A outra camiseta, amarela, mostra: “lookin’to socorre”, o que
poderia ser traduzido como “buscando fazer gols”, mas que também
pode ser uma alusão a “pegar garotas”. As camisetas custam de U$22
a U$25 (de R$50 a R$60)
68
O blog faz novamente uso de citação (Isso não. Somos o império brasileiro agora na
moda com a Copa aqui no nosso quintal), juntamente com as referências (patrulha,
ufanismo), as predicações (politicamente correta, das emoções) e, ligados pelo
descritor metapragmático (bradou), sugerem que muitxs acreditam que está tudo bem.
Além disso, ao utilizar a pista linguística (moda) o blog sinaliza que as camisetas são
objetos de consumo, tal como as roupas, acessórios que compõem as tendências da
moda.
70
construções discursivas apontam para além da entextualização dos objetos de
consumo, indicam as entextualizações sobre mulher brasileira.
A entextualização dos objetos de consumo aparece de maneira distinta entre
os dois veículos analisados. No jornal O Estado de São Paulo, além das
entextualizações das camisetas, há um painel interativo que o internauta pode clicar
na imagem e ela se ampliar, modificando a legenda de acordo com a imagem. A
primeira imagem é a sugestão de novas versões das camisetas propostas pelo
governo:
71
representada naquele corpo, optaram por trocar o corpo. Outra mudança perceptível
é o “Brazil”, que sai do fundo da imagem e vem para primeiro plano, sinalizando o que
é mais importante na Copa. Essas novas versões aparecem com a legenda:
Camiseta polêmica coloca imagens que são vistas com duplo sentido
e possuem conotação sexual (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)
72
indicativo, o que sinaliza uma certeza sobre o que está desenhado na camiseta. Além
disso, reforçam as opiniões sobre as como as camisetas são vistas.
Após, mostrar as sugestões de camisetas organizadas pelo governo federal e
a camiseta verde, o veículo de comunicação em questão apresenta, como terceira
imagem, ainda a camiseta verde, porém com zoom na estampa:
73
Figura 14 - Entextualização da camiseta amarela pelo jornal O Estado de São Paulo
74
Figura 15 - Entextualização da camiseta amarela feita pelo jornal O Estado de São Paulo
75
Figura 16 - Entextualização das camisetas pelo jornal O Estado de São Paulo
76
Figura 17 - Camiseta verde entextualizada pelo UOL
77
Figura 18 - Camiseta amarela entextualizada pelo UOL
78
Figura 19 - Camisetas entextualizadas pelo site de variedades UOL
79
Figura 20 - Entextualização da camiseta verde pelo site de variedades UOL
80
A legenda dessa imagem também é a mesma da imagem da camiseta amarela
inteira, ou seja, parece-nos que a repetição de atos de fala performativos é uma
característica do site tanto quanto o foco na polêmica.
Já a sexta e última imagem no site de variedades UOL são as duas camisetas:
81
pelo governo. Além disso, a posição das camisetas nos textos é diferente, o jornal traz
as camisetas no meio da matéria e o site de variedades traz no início.
A polêmica do lançamento que traz a camiseta como conotação sexual e a
polêmica da exploração sexual são observadas nos dois veículos. Além disso, no
Blog Mulheres contra o feminismo: orgulhosas e felizes de sermos mulheres,
observamos que ele traz apenas uma imagem das camisetas e aborda, através da
ironia, a polêmica do lançamento:
Figura 23 - Entextualização feita pelo Blog Mulheres contra o feminismo: orgulhosas e felizes de sermos mulheres
O blog não traz uma legenda para as camisetas, como visto nas duas outras
mídias, mas elas vêm antecipadas por um parágrafo que as contextualiza:
83
As referências (tarde, Secretaria, nota, confecção, ilustrações, cores, símbolos)
e as predicações (de Direitos Humanos, da Presidência, de repúdio, de camisetas, de
cunho sexual, do Brasil) entrelaçadas aos verbos (publicou, associado), indicam a
contrariedade do órgão público em relação ao lançamento das camisetas. O site de
variedades UOL traz a nota na íntegra ao final da matéria, sem se posicionar de
maneira contrária, o que mostra que o site endossa o posicionamento emitido pela
secretaria.
Outra entextualização das camisetas como polêmicas é identificada no trecho
a seguir:
85
Uma camiseta apresenta a frase, que pode ser traduzida por “em
busca de gols”. Mas também é uma expressão que significa “pegar
garotas” de uma maneira sexual. A imagem de uma moça de biquíni
não deixa dúvidas da dupla intenção. Ela está à venda no site da
Adidas nos Estados Unidos por (US$ 25) (R$58,50) e parece fazer
parte de uma nova linha. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)
86
O blog chama atenção através do negrito às referências (bunda, mulher,
atrativos) e às predicações (feminina, brasileira, no exterior, grandes, nacionais, no
mercado, de turismo internacional, prostituta, vulgar, fácil) que indexam sentidos
direcionados à construção de sexualidade exacerbada, fruto da intersecção entre
gênero (mulher) e nacionalidade (brasileira). Ainda com ênfase, escrito em negrito, o
blog afirma através das referências (todos, procura, obra) junto com as predicações
(rápida, na internet), com os índices avaliativos, advérbios de negação (não), de
tempo (pouco tempo) e o verbo no presente do indicativo (constrói), que a construção
de mulher brasileira fácil, acessível, vulgar, prostituta vem sendo repetida no
transcorrer da emancipação cultural.
Ele faz uma comparação binária entre o turista que vai para o exterior e o turista
que vem do exterior. Quando utiliza a referência (alguém) o verbo (viaja) e a referência
de lugar (para o exterior), a característica é composta pelas atitudes (para ver a
natureza, fazer compras, provar novos pratos), todavia, para a referência (turista), a
predicação (estrangeiro), o verbo (sabe) e a referência de lugar (Brasil), as
características se alteram para: é terra de bundas, sexo com certa facilidade, futebol,
carnaval, praias, turismo sexual e mais bundas. Isso sinaliza, para o blog, mais uma
vez, que o olhar sobre a mulher brasileira é singular, ela é vista conforme expresso no
título, como prostituta.
O Jornal o Estado de São Paulo traz, através da citação de Flávio Dino,
presidente da Embratur, a construção negativa da mulher brasileira e também a
construção de mulher brasileira como objeto de consumo:
Ao trazer outra citação sobre o lançamento dos objetos de consumo, isso indica
que a linha editorial do jornal adota pensamentos bastante parecidos com o do
governo. As referências (governo, linha, turismo), aliadas às predicações (brasileiro,
de produtos, sexual), juntamente com o verbo no presente do indicativo (discorda),
apontam a posição do governo em relação aos produtos, porém, ao abordar o tema
turismo sexual, a pessoa da conjugação verbal muda para a primeira pessoa do plural,
87
incluindo assim o seu posicionamento e até mesmo o do leitor (nós), o índice
avaliativo, advérbio de negação (não), junto com o verbo (aceitaremos) proporciona a
rejeição de tal ato. A citação ainda indexa sentidos de que o sexo durante o evento é
permitido, desde que não seja comercializado, ou seja, a mulher como objeto de
consumo, e o presidente ainda se posiciona de maneira a culpar a Adidas, expondo
que a empresa se denigre ao abordar a temática das camisetas.
O site de variedades UOL, traz a mulher brasileira como acolhedora através de
uma citação de Flavio Dino dada ao jornal O Globo:
Esse post passa longe de querer comandar a vida sexual alheia. Ele
tem como objetivo questionar esta hipersexualidade pregada por
feministas que querem se comportar como o cafa que elas dizem odiar
amparadas na muleta da liberdade (como se vivessem no Oriente
Médio rsrsrs), na total falta de responsabilidade aliadas a lógica e
principalmente o resto nada prazeroso disso tudo: a fama do Brasil de
terra do turismo sexual e a fama de prostituta da mulher brasileira
mundo afora que atinge qualquer mulher brasileira.
(BLOG, 2014)
89
A referência (Carnaval), o verbo no presente do indicativo (vem) e o índice
avaliativo (aí) nos remete ao título, que alia os dois eventos com repercussão mundial.
As referências (cultura, valores) e os pronomes possessivos (nossas, nossos)
demarcam a quem pertence as referências, as predicações (relativizado,
estereotipados ao extremo) apontam para características construídas sobre tais
referências. A referência (toneladas) e as predicações (de bundas, de fora) aliadas ao
verbo no gerúndio (rebolando), mostram que tal ato acontece continuamente. O verbo
(apreciarem) no futuro do subjuntivo indica uma possibilidade e o índice avaliativo
(para todos) representa uma finalidade.
O blog segue listando referências (Globeleza, Globo, programa, Chacrinha,
Faustão, Caldeirão do Hulk, Pânico) que, de acordo com o blog, são espaços na
televisão em que as bundas aparecem rebolando, tais como nas referências (cartões
postais, bundão) e nas predicações (da mulata). Percebemos que o blog utiliza desde
exemplos antigos, como Chacrinha, até programas atuais. Ou seja, retoma desde os
espaços antigos onde a exposição do corpo da brasileira era e é alvo.
As referências (baile, bundas, chão, som) e as predicações (funk, tá-tá-tá-tum-
tum) aliadas à referência (funkeiras), ao verbo (louvado) e à predicação (seu
feminismo) indexam sentidos que generalizam as funkeiras como quem quer mostrar
a bunda, e para tal, de acordo com o blog, faz-se necessário ser feminista. A referência
(país) vem acompanhada da predicação (das bundas) e as referências (Brasil, terra)
são seguidas das predicações (de mulheres no cio, de extrema facilidade no assunto
sexo), além disso, o final deste parágrafo é resumido pelas referências (tudo isso,
APOIO) e a predicação (das femininas) e o uso de caixa alta, além de dar ênfase,
representa gritos na internet. Tais representações culminam com as construções
discursivas e performativas cristalizadas sobre as mulheres brasileiras expressas em
nossa dissertação.
Para sustentar seu argumento que culpa as feministas por tais construções, o
blog utiliza a citação (meu corpo, minhas regras fortes e modernas). O blog termina o
parágrafo com o verbo (vejamos), que proporciona a interligação entre os parágrafos
e sugere que nos mostrará exemplos sobre tais considerações.
Além disso, o blog mostra uma visão tradicional de intensificação do incentivo
ao sexo com as mulheres brasileiras em determinadas épocas:
90
Em épocas de carnaval podemos ver em aeroportos e outros lugares
cheios de turistas propagandas como: “Nesse carnaval o Brasil estará
distribuindo X milhões de camisinhas gratuitamente. Com a AIDS não
se brinca”. E este é o mesmo tipo de propaganda que vai ser feito
durante as Olimpíadas pois como disse nossa presidente “Vamos
trazer uma escola de samba e arrasar na abertura”. Ou seja, mais
bundas. Nessas horas ninguém fala nada. (BLOG, 2014)
91
Se alguém for em algum salão de beleza feminino no exterior ou no
Brasil vai saber que o que mais acontece é ter mulher brasileira
alimentando o turismo sexual de um modo bem feminista. “Faço
o que quero com meu corpo e peguei muitos gringos ontem na balada,
etc.”, “Adoro ter marido GRINGO ou somente quero me casar com
GRINGO, etc.” Mulher brasileira que vai viajar no exterior adora pegar-
dar-distribuir para estrangeiros para contar para as amigas depois.
Uma parte da mulher brasileira “feminista, forte e moderna” hoje
faz turismo sexual. Do outro lado temos o turista sexual que tem na
mente aquela fantasia da brasileira fácil, do carnaval, das bundas e
nestas horas um alimenta o outro. (BLOG, 2014)
92
Ah, mas a culpa é do machismo? Sério. Tentem em um salão de
beleza feminino falar de mulher para mulher e condenar estas
mulheres acima como piriguetes, falsas conservadores e prostitutas
que jogam nossa imagem nos bailes funks. Questionem o carnaval.
Tentem dizer que para todas elas mostrarem mais sobre o lado bom
do Brasil ao invés de estereótipos para estrangeiro ver. Se você for
homem como pai, marido, namorado, irmão tente falar com uma
destas criaturas para maneirar na sua “brasilidade” bundalizada. Elas
irão taxar você de machista rsrsrsrs. Entenderam? Nós também não.
(BLOG, 2014)
93
Em resumo, possuímos os turistas sexuais de verdade, possuímos a
falsa brasilidade de que temos que amar samba, axé, funk, carnaval
pois pra ufanistas isto é ser brasileiro ou brasileira (povo alegre que
todos gostam mas ninguém respeita) e por outro lado temos todo um
aparato construído por relativistas morais e feministas que abusam da
falta de responsabilidade, invertem valores, usam de coletivismo
barato, propaganda feminista e vitimismo aliados a impunidade.
(BLOG, 2014)
O índice avaliativo (em resumo) sinaliza que o blog sintetizará tudo o que foi
dito até o presente momento. O verbo (possuirmos) conjugado na primeira pessoa do
plural indica que todos nós, brasileirxs, compactuamos com a referência (turistas) e
as predicações (sexuais, de verdade). A seguir, o blog repete o verbo (possuímos)
porém mudam-se as referências e predicações (falsa brasilidade), indicando que, para
o blog, valorizamos uma cultura de massa.
A locução verbal (temos que amar) na primeira pessoa do plural enfatiza o que
deve ser adorado na cultura brasileira, que para o blog é representado através das
referências (samba, axé, funk, carnaval). O índice avaliativo (pois) seguido das
referências (ufanistas, brasileiro, brasileira, povo, ninguém) e da predicação (alegre)
entrelaçadas aos verbos (é, ser, gostam, respeita) sinalizam que, para o blog, há uma
construção sobre como encenar performances da nacionalidade brasileira, porém tais
ações, de acordo com o blog, não são respeitadas em contextos mais amplos.
O índice avaliativo (por outro lado) indica que o blog apontará outros
posicionamentos, porém, tais posicionamentos não são tão contrários como indica o
índice avaliativo, pois estes “novos” posicionamentos culpam, mais uma vez, as
referências (relativistas, feministas) juntamente com a predicação (morais). Tais
culpas são indexadas pelos verbos (abusam, invertem, usam), pelas referências (falta,
valores, propaganda, vitimismo, impunidade) e pelas predicações (de
responsabilidade, de coletivismo barato, feminista). Portanto, as atitudes contrárias ao
Blog, mais uma vez, são sinalizadas como se fossem feministas.
O Blog repete atos de fala performativos sobre as mulheres brasileiras e o país:
Sem hipocrisia. Um país que faz de tudo para colocar a bunda das
mulheres no topo da hierarquia dos valores nacionais com apoio de
feministas que vandalizam a nossa cultura e nossos valores sociais e
familiares, um lugar que prega a falsa brasilidade do samba, carnaval,
agora querer ser moralista e fingir não saber a causa do problema?
Vamos acordar, meninas e ver que o problema parte de uma parte do
povo brasileiro e da parcela tanto masculina como feminina. E as
94
feministas apoiam isso com relativismo moral e falta de
responsabilidade pelos próprios atos. (BLOG, 2014)
95
Percebemos também, que tanto o site de variedades UOL quanto o jornal O
Estado de São Paulo, entextualizaram os objetos de consumo de forma semelhante,
indexaram sentidos dos protestos do governo e se posicionaram contra as polêmicas,
tanto do lançamento quanto da exploração sexual, além de culparem a Adidas por
esse lançamento. Por outro lado, no blog, não observamos o foco na Adidas, mas sim
na mulher que está presente na camiseta e gerou polêmica, o blog culpa a mídia, o
governo, as mulheres brasileiras, os homens, as feministas, etc., por toda a
construção de mulher brasileira entextualizada como objetos de consumo, para serem
consumidas.
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
97
de fala performativos são repetidos pela Adidas ao lançar as camisetas que compõem
o corpus desta pesquisa.
Apesar de as mulheres brasileiras serem construídas como efeitos de atos de
fala performativos repetidos sobre seus corpos, que a constroem sob uma ótica
sexual, percebemos uma polêmica em torno do lançamento desses objetos de
consumo, o que nos indica uma leve mudança na tentativa de amenizar esses
discursos. Sabemos que desde o governo do Fernando Henrique Cardoso há uma
tentativa de combater o turismo sexual, porém ainda nos deparamos com a repetição
de atos de fala performativos sobre a mulher brasileira que viajam em diversas mídias,
principalmente no espaço hibrido da internet.
A trajetória textual desses objetos de consumo mostra, através de sua
amplitude, que não existem barreiras no mundo online/virtual e que mesmo com a
tentativa da Adidas em apagar o lançamento das camisetas, esses objetos de
consumo viajaram inúmeros sites, tomando uma proporção até mesmo internacional.
Observamos essa extensão da trajetória textual estudada e percebemos que só o fato
dos objetos de consumo serem descritos e propagados como ofensivos em muitos
sites, já nos aponta uma multiplicidade de opiniões que indexam sentidos sobre a
racialização erotizada desses corpos. Além disso, o que trouxemos, com o auxílio
das Teorias Queer, é que a intersecção entre gênero, nacionalidade e raça aciona
essas construções discursivas e performativas que, através da citacionalidade e da
iterabilidade, apontam para a encenação de performances sexuais das mulheres
brasileiras. Também através das Teorias Queer questionamos essas normas que
causam sofrimentos para muitos corpos, nesta pesquisa, especificamente às
mulheres brasileiras.
As entextualizações das camisetas apontam para os objetos de consumo, para
as polêmicas - tanto do lançamento quanto da exploração sexual - e também para as
construções discursivas sobre as mulheres brasileiras. Tanto o lançamento das
camisetas, quanto a trajetória textual e a entextualização desses objetos de consumo,
trazem à tona a construção de mulher brasileira fácil, acessível, disponível, boa de
cama, sensual, sedutora, e todas as outras características ligadas à sexualidade
dessa mulher. Estas construções discursivas e performativas sobre tais corpos estão
sendo repetidas por muitxs, mas já são questionadas por outros, como é o caso de
nossa pesquisa, que se embasa nos estudos contemporâneos de gênero (LOURO,
98
2008, 2010; BUTLER, 2003), nos atos de fala performativos (AUSTIN ([1962]1990) e
na repetição destes atos (DERRIDA ([1972]1988). Trouxemos para o centro desta
pesquisa a mulher brasileira, iniciamos alguns questionamentos sobre as normas que
excluem tais corpos e pretendemos, em trabalhos futuros, darmos continuidade
nesses estudos que têm a finalidade de construir um mundo melhor.
99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
100
_______ Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução
de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
SALIH, S. Judith Butler e a Teoria Queer. Tradução Guacira Lopes Louro. Belo
Horizonte: Autêntica, 2012.
WILCHINS, R. Queer theory, gender theory: An Instant Primer. Los Angeles: Alyson
books, 2004.
103
ANEXO 1
Tabela de trajetória textual
104
varieda- a Copa com redacao/2014/02/25/adidas-
des conotação sexual lanca-camisetas-sobre-a-copa-
e causa polêmica com-conotacao-sexual-e-causa-
polemica.htm
25/02/ 9h.14 Blog – Conotação http://blogs.diariodonordeste.co
2014 min. Diário do sexual em m.br/diarionacopa/copa-do-
Nordeste camisas da mundo-de-2014/conotacao-
– Diário Adidas para a sexual-em-camisas-da-adidas-
na Copa Copa é alvo de para-a-copa-e-alvo-de-criticas-
críticas do do-governo-brasileiro/
governo brasileiro
25/02/ 11h.31 Em.com Embratur pede http://www.em.com.br/app/notici
2014 min. – Econo- que Adidas retire a/economia/2014/02/25/internas
mia do mercado _economia,501812/embratur-
camisas da Copa pede-que-adidas-retire-do-
com apelo sexual mercado-camisas-da-copa-com-
apelo-sexual.shtml
25/02/ 12h.06 Lance net Em meio a http://www.lancenet.com.br/cop
2014 min. – Copa polêmica com a-do-mundo/polemica-camisas-
2014 camisas da Copa-Dilma-
Copa, Dilma turismo_0_1091290900.html
ataca turismo
sexual
25/02/ 12h.15 Site de Camisetas http://esportes.r7.com/futebol/co
2015 min. varieda- polêmicas são pa-do-mundo-2014/camisetas-
des:R7 acusadas de polemicas-sao-acusadas-de-
Esportes- incentivar turismo incentivar-turismo-sexual-
Estadão sexual 25022014
conteú-
dos
25/02/ 12h.19 Gazeta Adidas lança http://www.gazetaesportiva.net/
2014 min. esportiva camisetas noticia/2014/02/futebol/adidas-
referentes à lanca-camisetas-referentes-a-
105
Copa do Mundo copa-do-mundo-com-
com conotação conotacao-sexual.html
sexual
25/02/ 12h.44 Portal de Camisas da Copa http://www.portaldenoticia.com/c
2014 min. notícia – do Mundo com amisas-da-copa-mundo-com-
veiculado conotação sexual conotacao-sexual-e-repudiada-
por R7 é repudiada pelo pelo-governo/
governo
25/02/ 13h.9 Revista Adidas usa apelo http://brasileiros.com.br/2014/02
2014 min. Brasilei- sexual em /adidas-usa-sexismo-para-
ros camisetas sobre vender-camisetas-sobre-copa/
a Copa
25/02/ 13h.42 BT- Blog Adidas lança http://blogs.ne10.uol.com.br/torc
2014 min. do camisa polêmica edor/2014/02/25/adidas-lanca-
torcedor - para a Copa de camisa-polemica-para-copa-
veiculado 2014 2014/
pela Uol
25/02/ 13h.52 Jornal Adidas lança http://jornalggn.com.br/blog/tam
2014 min. GGN camisas da Copa ara-baranov/adidas-lanca-
e irrita governo camisas-da-copa-e-irrita-
governo
25/02/ 13h.54 Tribuna Adidas lança http://www.tribunahoje.com/noti
2014 min. hoje – camisas da Copa cia/95148/esporte/2014/02/25/a
esporte – com conotação didas-lanca-camisas-da-copa-
veiculado sexual, e governo com-conotaco-sexual-e-
por R7 repudia governo-repudia.html
25/02/ 14h.14 Ig – Adidas lança http://economia.ig.com.br/empre
2014 min. Economi- camiseta da sas/2014-02-25/adidas-lanca-
a/ Empre- Copa no Brasil camiseta-da-copa-no-brasil-
sas com conotação com-conotacao-sexual-e-gera-
sexual e gera polemica.html
polêmica
106
25/02/ 14h.32 Paraná Adidas cancela http://www.parana-
2014 min. online vendas de online.com.br/editoria/esportes/
camisas com news/726985/?noticia=ADIDAS
conotação sexual +CANCELA+VENDA+DE+CAMI
SAS+COM+CONOTACAO+SE
XUAL
25/02/ 15h.41 Brasil Dilma condena http://www.brasilpost.com.br/20
2014 min. Post – Adidas por 14/02/25/dilma-adidas-
Associa- camisetas com camiseta_n_4854297.html
do a Abril referências
sexuais ao Brasil
na Copa de 2014
25/02/ 15h.53 Revista Adidas lança http://www.revistaforum.com.br/
2014 min. Portal material da Copa blog/2014/02/adidas-lanca-
fórum – com conotação material-da-copa-com-
Veicula- machista conotacao-sexual/
da pelo Ig
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da exploração
sexual
112
ANEXO 2
Trecho da trajetória textual internacional
114
ANEXO 3
Texto publicado pelo jornal O Estado de São Paulo
115
116
Anexo 4
Texto publicado pelo site de variedades
117
118
Anexo 5
Texto publicado pelo blog Mulheres contra o feminismo
119
120
121