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JULIANA TITO ROSA FERREIRA

MULHERES BRASILEIRAS: A TRAJETÓRIA TEXTUAL E AS


ENTEXTUALIZAÇÕES DE DUAS CAMISETAS ESPORTIVAS EM
TEMPOS DE COPA DO MUNDO 2014

FRANCA
2016
1
JULIANA TITO ROSA FERREIRA

MULHERES BRASILEIRAS: A TRAJETÓRIA TEXTUAL E AS


ENTEXTUALIZAÇÕES DE DUAS CAMISETAS ESPORTIVAS EM
TEMPOS DE COPA DO MUNDO 2014

Dissertação apresentada à Universidade


de Franca, como exigência parcial para a
obtenção do título de Mestre em
Linguística.

Orientadora: Profa. Dra. Glenda Cristina


Valim de Melo

FRANCA
2016
2
Catalogação na fonte – Biblioteca Central da Universidade de Franca

Ferreira, Juliana Tito Rosa


F469m Mulheres brasileiras: a trajetória textual e as entextualizações de duas
camisetas esportivas em tempo de Copa do Mundo 2014 / Juliana Tito Rosa
Ferreira; orientadora: Glenda Cristina Valim de Melo. – 2016
121 f.: 30 cm.

Dissertação de Mestrado – Universidade de Franca


Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestre em Lingüística

1. Linguística – Entextualização. 2. Mulheres brasileiras. 3. Teorias


Queer. 4. Trajetória textual. I. Universidade de Franca. II. Título.

CDU – 801.82
Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um
preconceito.
Albert Einstein

4
AGRADECIMENTO

Manifesto meus agradecimentos a todos que contribuíram para a realização


desta pesquisa.
À Capes, pela bolsa de mestrado, sem a qual o presente trabalho não existiria.
À Dra. Naiá Sadi Câmara, primeira orientadora desse processo, que me
incentivou a prestar a prova do mestrado e entendeu minha necessidade de troca
teórica.
À minha orientadora Dra. Glenda Cristina Valim de Melo, que me encantou com
sua linha teórica, sempre disposta a me auxiliar na trajetória acadêmica, me
incentivando, com muita ética e dedicação.
À Dra. Joana Plaza Pinto, que teceu excelentes contribuições no Selinfran e na
qualificação, além de aceitar prontamente participar da banca de defesa desse
mestrado, e meu obrigada se estende às suas pesquisas, com temas atuais e
inovadores.
À Dra. Marília Giselda Rodrigues, que me despertou o interesse em A.D, e
acompanha minha pesquisa desde o início, quando aceitou compor uma primeira
banca no final do primeiro ano e está até agora ao final, na defesa, sempre com
excelentes contribuições.
À coordenação o e aos professores do mestrado, que nos acolheram e nos
mostraram através do exemplo, o amor à Linguística.
Aos meus familiares, em especial aos meus pais, Ávila e Eliane, e ao meu irmão
de coração, Leo, que me apoiaram em todas as horas, com muito amor, café, sorvete
e chocolate! E também aos meus avós, Luiz e Dirce, que me ouviram e
desconstruíram algumas de suas crenças.
Ao meu noivo, Marcos Cardona, meu companheiro de congressos e da vida,
sempre me apoiando emocionalmente, fez este processo ser mais leve e prazeroso.
Às minhas amigas e amigos, que entenderam minhas ausências em festas de
aniversário, casamentos, chás de bebê, churrascos, etc.
Aos meus amigos do mestrado, com os quais dividi as mesmas angústias.
E, por fim, ao essencial, a Deus, essa energia universal que move todas as
partículas.
5
RESUMO

FERREIRA, Juliana Tito Rosa. Mulheres Brasileiras: a trajetória textual e as


entextualizações de duas camisetas esportivas em tempos de Copa do Mundo
de 2014. 2016. 121f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade de
Franca, Franca.

A Modernidade Reflexiva (GIDDENS, 1991) nos proporciona a mudança de foco do


centro para as margens, possibilitando debates sobre gênero, raça, sexualidade e
outras temáticas apagadas na Modernidade. É nesse contexto de inserção do sujeito
social, no pensamento contemporâneo, que a pluralidade dos sujeitos aparece. Dentre
eles, destacamos as mulheres brasileiras, que no decorrer da Copa do Mundo de
2014, foram retratadas em dois objetos de consumo. A Adidas, patrocinadora do
evento citado, ao lançar camisetas enfatiza a construção discursiva e performativa de
mulher brasileira construída como atrativo turístico a ser conhecido, o que provocou a
polêmica e gerou protestos que se espalharam na internet. Com base nesse contexto,
nossos objetivos são descrever a trajetória textual brasileira dos dois objetos de
consumo (camisetas para a Copa do Mundo de 2014); analisar três entextualizações
dos objetos de consumo citados na trajetória textual estudada e analisar as
entextualizações sobre as mulheres brasileiras presentes nos textos selecionados.
Para isso, esta pesquisa é de cunho etnográfico virtual (HINE, 2005) e se embasa na
concepção de linguagem como atos de fala performativos proposta por Austin
([1962]1990), na releitura que Derrida ([1972]1988) fez de tais atos de fala
performativos, nos estudos de gênero e sexualidade sugeridos pelas Teorias Queer
(LOURO, 2008, 2010; BUTLER, 2003), no conceito de trajetória textual
(BLOMMAERT, 2001; GUIMARÃES, 2014) e nas entextualizações propostas por
Bauman e Briggs (1999), Blommaert (2011) e Melo e Moita Lopes (2015). O
instrumento de geração de dados são três textos encontrados nas mídias digitais/on-
line e as camisetas. O constructo de análise se embasa nas pistas indexicais
propostas por Wortham (2001). Os resultados sinalizam que a trajetória textual dos
objetos de consumo é extensa; eles viajam por sites de jornais, blogs, sites de
variedades, revistas, páginas específicas para a Copa, etc., as entextualizações são
diversas, ninguém é favorável ao lançamento das camisetas. Alguns culpam a Adidas,
outros a própria mulher. Percebemos também que ao acionarmos gênero (mulher),
nacionalidade (brasileira) e raça (pele escura à negra) temos a construção de
mulheres brasileiras mestiças vistas apenas sob a ótica sexual.

Palavras-chave: Mulheres brasileiras; Teorias Queer; trajetória textual;


entextualização.

6
ABSTRACT

FERREIRA, Juliana Tito Rosa. Brazilian women: the textual trajectory and
entextualization of two sports T-shirts during the 2014 World Cup. 2016. 121f.
Dissertation (Masters in Linguistics) – Universidade de Franca, Franca.

Reflexive Modernity (GIDDENS, 1991) provides us the shift of focus from the center to
the margin and enables discussions about gender, race, sexuality and other set of
themes erased in Modernity. The plurality of subjects appears in this social subject
insertion and among them Brazilian women stand out, who, during the World Cup have
been portrayed as two objects of consumption in two medias. As the sponsor of the
event and when launching its T-shirts, Adidas emphasizes the discursive and
performative construction of a Brazilian woman built as a tourist attraction to be known.
This caused some controversy which led to protests that have spread on the Internet.
Within this context, this paper aims to describe the Brazilian textual trajectories of two
consumption objects (T-shirts for the 2014 World Cup); to analyze three
entextualizations about the consumption objects cited in the textual trajectory and to
investigate entextualizations about Brazilian women who appear in the selected texts.
For this purpose, the current research is based on a virtual ethnography (HINE, 2005)
and was based on the conception of language as performative speech acts proposed
by Austin ([1962] 1990), in rereading that Derrida ([1972] 1988) about performative
speech acts on gender and sexuality studies suggested by Queer Theory (BLONDE,
2008, 2010; Butler, 2003). It also relies on the textual trajectory definition
(BLOMMAERT, 2001; GUIMARÃES, 2014) and on the entextualizations assumptions
by Bauman and Briggs (1999), Blommaert (2011) and Melo and Moita Lopes (2015).
The data generation instrument are tree texts found on digital/online media and the T-
shirts. The analysis construct is based on indexical clues proposed by Wortham
(2011). The results indicate that the textual trajectory of the consumption objects is
extensive because it travels through newspapers websites, blogs, variety websites,
magazines and pages specifically developed for the World Cup, among others. The
entextualizations are diverse, no one is in favor of launching the T-shirts objectifying
women. Some blame Adidas, others the women themselves. Furthermore, we note the
construction of crossbred Brazilian women seen only on sexual optics, based on the
Queer Theory bias, as well as the intersection between gender (female), nationality
(Brazilian) and race (dark-skinned to black).

Key-word: Brazilian women; Queer Theory; textual trajectory; entextualization.

7
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 -- CAMISETAS PARA COPA DO MUNDO 2014 RETIRADAS DO GOOGLE IMAGENS ... 17
FIGURA 2 – CAMISETAS LANÇADAS PARA A COPA DO MUNDO 2014 ................................. 48
FIGURA 3 - PRINT DA PÁGINA DE PESQUISA NO GOOGLE EM 05/07/2015 .......................... 49
FIGURA 4 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO ................. 51
FIGURA 5 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO SITE DE VARIEDADES UOL .............................. 51
FIGURA 6 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO BLOG MULHERES CONTRA O FEMINISMO .......... 52
FIGURA 7 - CAMISETA VERDE ADIDAS ............................................................................ 55
FIGURA 8 - CAMISETA AMARELA ADIDAS ........................................................................ 57
FIGURA 9 - TRAJETÓRIA TEXTUAL NO JORNAL O GLOBO .................................................. 59
FIGURA 10 – TRAJETÓRIA TEXTUAL NO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO ....................... 60
FIGURA 11 - SUGESTÃO DO GOVERNO PARA ALTERAÇÃO DAS CAMISETAS ......................... 71
FIGURA 12 - CAMISETA VERDE ENTEXTUALIZADA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO . 72
FIGURA 13 - CAMISETA VERDE ENTEXTUALIZADA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO . 73
FIGURA 14 - ENTEXTUALIZAÇÃO DA CAMISETA AMARELA PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO
PAULO.................................................................................................................. 74
FIGURA 15 - ENTEXTUALIZAÇÃO DA CAMISETA AMARELA FEITA PELO JORNAL O ESTADO DE
SÃO PAULO .......................................................................................................... 75
FIGURA 16 - ENTEXTUALIZAÇÃO DAS CAMISETAS PELO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO. 76
FIGURA 17 - CAMISETA VERDE ENTEXTUALIZADA PELO UOL ............................................ 77
FIGURA 18 - CAMISETA AMARELA ENTEXTUALIZADA PELO UOL ........................................ 78
FIGURA 19 - CAMISETAS ENTEXTUALIZADAS PELO SITE DE VARIEDADES UOL .................... 79
FIGURA 20 - ENTEXTUALIZAÇÃO DA CAMISETA VERDE PELO SITE DE VARIEDADES UOL ...... 80
FIGURA 21 - CAMISETA AMARELA ENTEXTUALIZADA PELO SITE DE VARIEDADES UOL .......... 80
FIGURA 22 - CAMISETAS ADIDAS ENTEXTUALIZADAS PELO SITE DE VARIEDADES UOL ........ 81
FIGURA 23 - ENTEXTUALIZAÇÃO FEITA PELO BLOG MULHERES CONTRA O FEMINISMO:
ORGULHOSAS E FELIZES DE SERMOS MULHERES....................................................... 82

8
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – A TRAJETÓRIA TEXTUAL DOS OBJETOS DE CONSUMO EM SITES BRASILEIROS 104


TABELA 2 – A TRAJETÓRIA TEXTUAL DAS CAMISETAS EM SITES INTERNACIONAIS.............113

9
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................12

1. LINGUAGEM COMO PERFORMANCE......................................................21


1.1 OS ATOS DE FALA ......................................................................................21
1.1.1 Releituras da teoria dos atos de fala performativos......................................25

2. MULHERES BRASILEIRAS: GÊNERO E NACIONALIDADE ...................29


2.1 TEORIAS QUEER........................................................................................29
2.2 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE GÊNERO...............................................32
2.3 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E NACIONALIDADE.............37

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................41
3.1 A INTERNET COMO ESPAÇO HÍBRIDO E LUGAR DE PESQUISA.........41
3.2 CONCEITOS DE TRAJETÓRIA TEXTUAL E ENTEXTUALIZAÇÃO.........44
3.3 CONTEXTO DE PESQUISA.......................................................................46
3.4 CRITÉRIOS E GERAÇÃO DE DADOS.......................................................48
3.5 CATEGORIAS DE ANÁLISE.......................................................................52

4. AS CAMISETAS E SUA TRAJETÓRIA ......................................................55


4.1 LEITURA DOS OBJETOS DE CONSUMO....................................................55
4.2 A TRAJETÓRIA TEXTUAL ...........................................................................58
4.3 ALGUMAS REFLEXÕES..............................................................................65

5. ENTEXTUALIZAÇÕES DOS OBJETOS DE CONSUMO E SOBRE AS


MULHERES BRASILEIRAS .......................................................................67
5.1 ENTEXTUALIZAÇÕES DOS OBJETOS DE CONSUMO............................67
5.2 ENTEXTUALIZAÇÕES COMO POLÊMICA.................................................69
ENTEXTUALIZAÇÕES SOBRE AS MULHERES BRASILEIRAS...................85
5.3 ALGUMAS REFLEXÕES.............................................................................95
10
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................100

ANEXOS..................................................................................................................104

11
INTRODUÇÃO

A sociedade que entra no século XXI é caracterizada por um tipo de


modernidade diferente da que entrou no século XX. Neste período de um século a
outro aconteceram, por exemplo, duas grandes guerras mundiais, o desenvolvimento
de tecnologias digitais e outras transformações que mudaram o cenário mundial e
tecnológico, deixando xs 1 sujeitxs sociais mais confusos em relação às suas crenças,
ideologias, valores e aumentando os conflitos existenciais. Desta forma, x sujeitx se
percebe perdido dentre tantas referências, confuso diante de tantas e tão rápidas
mudanças, cético quanto à estabilidade de valores.
Segundo Hall (2003, p.8) “[...] as identidades modernas estão sendo
‘descentradas’, isto é, deslocadas ou fragmentadas”. Para o autor, há uma mudança
de estrutura que vem transformando a sociedade desde o século XX. Tal
fragmentação atinge conceitos até então considerados sólidos, tais como o cenário
cultural de classe, gênero, sexualidade, raça, nacionalidade, que, “[...] no passado,
nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais”. Neste sentido, o
autor afirma que tais transformações também mudam nossas identidades pessoais e
transformam a ideia de sujeitx integradx.
Bauman (2001) denominou este período Modernidade Líquida, momento em
que a solidez moderna perde espaço para os líquidos, que são leves, fluidos,
amórficos e sempre ocupam a forma do recipiente em que se encontram. Sendo
assim, o indivíduo da modernidade, produtor, determinado, sólido, começa a se
transformar e/ou a conviver também com o sujeito líquido, flexível e consumidor. De
acordo com o estudioso, o consumismo trouxe a quebra dos obstáculos sólidos e a
necessidade começa a ser substituída pelo desejo fluido, ou seja, estamos em
processo. Neste sentido, as identidades começam a ser compreendidas como fluidas
e flexíveis:

1
Utilizamos a letra x em algumas palavras para caracterizar a fluidez de gênero, pretendemos com
isso nos referir além das categorias masculino e feminino, como também transexuais, travestis, gays,
lésbicas, enfim, inúmeras categorias que não se enquadram mais no padrão binário.
12
[...] em vista da volatilidade e instabilidade intrínsecas de todas ou
quase todas as identidades, é a capacidade de “ir às compras” no
supermercado das identidades, o grau de liberdade genuína ou
supostamente genuína de selecionar a própria identidade e de mantê-
la enquanto desejado, que se torna o verdadeiro caminho para a
realização das fantasias de identidade. Com essa capacidade, somos
livres para fazer e desfazer identidades à vontade. Ou assim parece.
(BAUMAN, 2001, p.107).

Portanto, a rigidez e a solidificação de conceitos, normas, padrões que


constituem x sujeitx modernx, parecem, hoje, começar a ser algo maleável,
modificável, instável, livre e passível de compra em um mundo capitalista, no qual
além da venda de bens concretos, tais como roupas, sapatos, acessório, casas, são
vendidos também bens abstratos, tais como a beleza, o lar, a sedução, a paz, o amor.
Neste sentido, Bauman (2008) mostra que as identidades são comerciáveis
entre os sujeitos. De acordo com o autor, em uma cultura consumista, há a
preocupação de estar sempre à frente das novidades e lá permanecer. O sentimento
de pertencer é administrado por essas tendências de estilo, ou seja, nas palavras do
autor (2008, p.108): “[...] o processo de autoidentificação é perseguido, e seus
resultados são apresentados com a ajuda de ‘marcas de pertença’ visíveis, em geral
encontráveis nas lojas”. Tal compra de identidades faz, por exemplo, x sujeitx comprar
as camisetas da Adidas, patrocinadora oficial da Copa do Mundo, logo após o
lançamento das mesmas.
Na perspectiva de Giddens (1991), a Modernidade é o momento de quebra com
o Iluminismo e de generalização das grandes narrativas. Para ele, estamos em um
momento de transição entre Modernidade e Modernidade Reflexiva, período de dar
espaço ao sujeito social fragmentado. Este período nos proporciona a mudança de
olhar do centro para as margens, possibilitando debates sobre temáticas apagadas
na Modernidade, como gênero, raça, sexualidade. Intrínseca a ela está a possibilidade
de reflexividade sobre nós mesmxs. É neste contexto de inserção dx sujeitx social, no
pensamento contemporâneo, que a pluralidade de sujeitxs aparece. Para Moita Lopes
(2004, p.162), estamos vivendo

[...] tempos em que muitas certezas estão sendo questionadas em um


mundo de risco iminente (ecológico e outros), de incertezas (de seres
pós-orgânicos, por exemplo) e em um mundo econômico que muitos
chamam de novo capitalismo, que necessita de novos conhecimentos
13
para enfrentá-lo. Como os pesquisadores da área da linguagem
podem produzir conhecimento sem se envolver com essas questões?
Se o fizeram em tempos passados, as mudanças que vivemos, no
momento atual, não nos deixam espaço para respirar: é tempo de
repensar os percursos epistemológicos que têm nos orientado.

Segundo o estudioso, parece não ser mais possível a crença de que há um


afastamento teórico necessário, em que x pesquisador/a não se envolve com o objeto
de estudo. Em tempos de pós-modernidade desvenda-se a crença de neutralidade
nas pesquisas. Para o autor (2004, p.159), as Ciências Humanas e Sociais estão
vivendo uma “grande ebulição”, que

[...] se explica por uma série de mutações experienciadas na vida


contemporânea que requerem teorias e metodologias novas e que,
portanto, põem em xeque modos de produzir conhecimento que não
dão conta dessas mudanças. Além disso, fala-se cada vez mais sobre
hibridismo teórico metodológico, sobre o fim do ideal de neutralidade
e objetividade na produção do conhecimento, sobre a obrigação de
questionar todas as práticas do ponto de vista ético (inclusive aquelas
de pesquisa) e sobre a responsabilidade para com os outros.

Estamos vivenciando novas possibilidades de construção de pesquisadorxs,


essxs do contemporâneo, que questionam e refletem sobre o que fazem. Partindo do
princípio de que não há neutralidade teórica, da impossibilidade de distanciamento
teórico, da reflexividade sobre nós msmxs e do hibridismo teórico metodológico,
assim, entendemos que estamos em um momento em que fazer pesquisa implica em
fazer política:

[...] no meu entender, esse impacto passa necessariamente por uma


compreensão do campo de estudos linguísticos com uma forte base
de politização ou o que, segundo Pennycook (2001) ao se referir à
Linguística Aplicada, vou chamar de estudos linguísticos com atitude
política clara. [...] (MOITA LOPES, 2004, p. 163).

Esta investigação compreende que para fazer pesquisa é necessário pesquisar


em outras áreas além da Linguística, buscando, desta forma, um caráter
interdisciplinar para melhor compreender o ser humano. Ou seja, para a Linguística
Aplicada, a Linguística em si não responde a todos os questionamentos, então, é
preciso buscar respostas em outras áreas, tais como a sociologia, a psicologia, a
filosofia, etc. Segundo Bronckart (1999, p.31), faz-se necessário compreender “as

14
ações humanas em suas dimensões sociais e discursivas constitutivas”. Para tal,
tornam-se importantes as contribuições de outras áreas do conhecimento.
Nesse contexto de Modernidade Reflexiva (GIDDENS, 1991), acrescentamos
a pluridiversidade2 (MOITA LOPES, 2004) e trazemos para o centro desta
investigação as mulheres brasileiras, que em tempos de Copa do Mundo 2014, foram
retratadas como atrativos turísticos pela Adidas, patrocinadora oficial do evento. Ela
lançou duas camisetas polêmicas (ver figura 1, p.17) que mostram, através da
ambiguidade, a mulher brasileira como alguém disponível para o sexo. De acordo com
Bauman (2008), vivemos em uma sociedade de consumo, onde até mesmo as
pessoas são transformadas em mercadorias. Há um desejo de compra que precisa
ser satisfeito, estamos cercados de objetos, pessoas, sentimentos, para consumir.
Apesar de terem sido retiradas de circulação devido à repercussão negativa, as
camisetas foram criadas para serem compradas, consumidas pelas pessoas, por isso
as chamamos de objetos de consumo.
Como sabemos, a Copa do Mundo é um campeonato internacional de futebol
que acontece de quatro em quatro anos, no qual o país sede atrai públicos de
diferentes países; os olhares midiáticos voltam-se mais atentamente para o local que
sedia o evento. Nesse momento, juntamente com a ebulição dos protestos, emergiram
assuntos diversos, tais como questões sobre preconceitos, direitos de igualdade e
cotas para mulheres no Senado. Entretanto, mesmo com protestos e manifestações,
a Copa do Mundo foi realizada.
No Brasil, milhões de pessoas comemoram a seleção do país para sediar o
evento em 2014. Contudo, em 2013, deparamo-nos com uma série de protestos e
manifestações contra a corrupção, o custo da copa, a falta de saúde, segurança etc.
Nesse momento, juntamente com a ebulição dos protestos, emergiram assuntos
diversos, tais como questões sobre preconceitos, direitos de igualdade e cotas para
mulheres no senado, cura gay, racismo entre outros.
O momento era crítico, principalmente tendo em vista as manifestações que
aconteciam no Brasil entre 2013/2014. Um grupo de estudantes começou um
movimento contra o aumento da passagem de ônibus e milhares de pessoas aderiram
e foram às ruas gritar pelos seus direitos, que já não se restringiam apenas às

2
Entendemos aqui pluridiversidade (MOITA LOPES, 2004) como a coexistência de várias pessoas
diferentes, sem categorização, sem rótulos e sem preconceitos.
15
passagens de ônibus, mas à educação, à saúde, contra a corrupção, etc. O
movimento recebeu o nome de “Vem pra rua”.
Dentro deste contexto, algumas pessoas também se manifestavam contra o
acontecimento da Copa do Mundo. As justificativas eram muitas: os custos das
construções de estádios, o superfaturamento de obras, ausência de investimentos em
saúde, educação, transportes e outras áreas básicas. Por outro lado, outros eram a
favor do evento e diziam que para a saúde é necessário a formação de mais médicos;
para a educação, a qualificação de professores, enfim, argumentos favoráveis e
contrários circularam na mídia tradicional, alternativa e nas redes sociais por alguns
dias.
Como em muitos eventos de abrangências mundiais, como Copas e
Olimpíadas, algumas patrocinadoras lançam produtos específicos para o evento. A
Adidas, patrocinadora oficial da Copa do Mundo no Brasil 2014, lançou duas
camisetas que enfatizaram a construção discursiva de mulheres brasileiras como um
atrativo turístico que também deve ser conhecido. As camisetas trouxeram à tona toda
uma construção discursiva e performativa, estereotipada sobre a mulher brasileira.
Esses discursos não são isolados, ouvimos nos noticiários que mulheres brasileiras
são abusadas sexualmente. A publicidade reforça a imagem da mulher que se vende
por dinheiro ou abre mão de seus valores morais por um cartão de crédito sem limites,
trocando sua integridade por sapatos, bolsas, joias etc. Vemos nas mídias diversas a
veiculação de discursos que dizem que a mulher brasileira tem um certo “borogodó”,
algo de quente, tropical, sedutor, que mostra o corpo curvilíneo para atrair atenção, o
desejo, afinal, no senso comum, já se diz que tudo que é bonito deve ser mostrado.
Na página a seguir, a figura 1 mostra as camisetas lançadas pela Adidas na
ocasião:

16
Figura 1 -- camisetas para Copa do Mundo 2014 retiradas do Google imagens

Uma verde e a outra amarela, as camisetas simbolizam as cores


predominantes da bandeira do Brasil. Aquela tinha uma figura polêmica amarela que
poderia ser compreendida como um coração ou também como uma bunda de ponta
cabeça com biquíni fio dental e dizia “I ‘Love’ Brazil”3 ou “I ‘Love’ bundas brasileiras”;
a outra, em primeiro plano traz o estereótipo difundido de uma brasileira de biquíni e
a expressão pejorativa “lookin’ to score Brazil”4. O lançamento das camisetas gerou
polêmica que se materializou em uma série de protestos na web em várias línguas e
países.
As reações ao lançamento das camisetas foram diversas. Elas foram objetos
de discussão em muitos lugares do mundo, tanto em jornais da imprensa tradicional
quanto em mídias alternativas. Além disso, grupos feministas brasileiros e
internacionais se posicionavam contra os objetos de consumo, pessoas comuns
questionavam ou ratificavam o discurso da mulher brasileira como objeto sexual e de
consumo nas redes sociais. O próprio governo federal brasileiro também se
manifestou contra o assunto.
Apesar das camisetas terem sido apagadas pela multinacional, encontramos
um primeiro print da página de vendas das camisetas no jornal O Estado de São Paulo
no dia 24 de fevereiro de 2014. Mas, o primeiro site brasileiro em que se aborda a
temática das camisetas é o jornal O Globo, no mesmo dia, ao meio dia. Entretanto, no
site O Globo aparece apenas uma das imagens das camisetas, dobrada em uma pilha

3Tradução nossa: eu amo Brasil.


4 Na tradução literal é: procurando marcar gols no Brasil, mas “lookin’ to score” é também uma
expressão que significa pegar garotas no sentido sexual, transar, etc.
17
numa loja. É, então, através do jornal O Estado de São Paulo que conseguimos
visualizar as camisetas tais como no site da Adidas.
Estas construções discursivas e performativas, presentes nos objetos de
consumo, já cristalizadas sobre as mulheres brasileiras fomentam nossa vontade de
pesquisar essa temática. Ao nos depararmos com as camisetas sobre o evento
mundial, observamos que os objetos nos interessavam, porque retomam discursos
sobre os corpos das mulheres brasileiras, mostrando que tais construções viajam por
séculos e naturalizam as brasileiras apagando a diversidade dessas mulheres que
vivem por todo o território nacional. Assim, com base neste contexto, nosso objetivo
geral é:
 Descrever a trajetória textual brasileira dos dois objetos de consumo
(camisetas para a Copa do Mundo 2014).
E nossos objetivos específicos são:
 Analisar três entextualizações dos objetos de consumo citados na
trajetória textual estudada.
 Analisar as entextualizações sobre as mulheres brasileiras presentes
nos textos selecionados.
Com base nestes objetivos, apresentamos as seguintes perguntas de pesquisa:
 Qual a trajetória textual dos objetos de consumo para a Copa do Mundo?
 Como os objetos de consumo são entextualizados nos três textos
selecionados?
 Que entextualizações sobre as mulheres brasileiras são observadas nos
três textos escolhidos?
Ao pesquisarmos a temática mulheres brasileiras encontramos, no banco de
dados da Capes, artigos relacionados à saúde tais como: parto de mulheres
brasileiras; a incontinência urinária em mulheres brasileiras; quanto a diferença de
gênero, encontramos artigos que abordam a liderança das mulheres brasileiras;
dissertações que falam sobre a mulher brasileira. Encontramos um capítulo de livro
de Branca Falabella Fabrício organizado por Moita Lopes (2013) que mais se
aproxima de nossa pesquisa, pois aborda a temática mulheres brasileiras com foco
em trajetória textual e entextualização, porém em território português. Há também,
artigos de Piscitelli (2007;2008) trabalhando a questão de brasilidade sob a
perspectiva do turismo sexual; Heilborn (2006) aborda a sexualidade brasileira;

18
Balestrin (2013, p.92) busca “[...] articular gênero e brasilidade a partir da análise de
cenas fílmicas protagonizadas por mulheres”. Contudo, não encontramos pesquisa,
pelo viés das Teorias Queer, cuja ênfase seria a intersecção entre gênero e
nacionalidade com foco nas questões de linguagem como performance. Sendo assim,
este trabalho pretende contribuir para os estudos de práticas identitárias,
especificamente linguagem e gênero, que trazem investigações cujo centro é a
mulher, e no caso dessa pesquisa, as mulheres brasileiras.
Para isso, além dos atos de fala performativos propostos por Austin
([1962]1990) e Derrida ([1972]1988), esta investigação também se embasa nos
estudos sobre gênero e sexualidade propostos pelas Teorias Queer (LOURO, 2008,
2010; BUTLER, 2003), na proposta de trajetória textual de (BLOMMAERT, 2005) e de
entextualizações (BAUMAN e BRIGGS, 1990), (BLOMMAERT, 2008) e (MELO e
MOITA LOPES, 2015).
Nossos instrumentos de geração de dados são dois objetos de consumo
lançados pela Adidas e os três textos encontrados ao longo de sua trajetória textual.
As categorias de análise são as pistas indexicais propostas por Wortham (2001):
referência, predicação, citação, índices avaliativos e descritores metapragmáticos;
utilizamos para análise das imagens as categorias propostas por Kress e Van
Leeuwenn ([1996] 2006).
Esses objetos de consumo tiveram uma longa trajetória textual e se
entextualizaram em diferentes sites. Para selecioná-los estabelecemos alguns
critérios:
 Sites em Língua Portuguesa brasileira, porque as entextualizações
podem apontar para os discursos brasileiros sobre os textos em análise.
 10 primeiras páginas do Google, porque contemplavam o período
analisado de 24 de fevereiro de 2014 a 6 de março do mesmo ano.
 O primeiro jornal que mostra as camisetas tal como aparece no site da
Adidas, O Estado de São Paulo.
 Um site de variedades com algo de diferente dos outros sites, UOL, que
faz uma enquete sobre a retirada das camisetas de circulação, obtendo
5003 votos, sendo 67,44% favoráveis à retirada.
 Um blog cuja audiência é feminina: Mulheres contra o feminismo:
orgulhosas e felizes de sermos mulheres.

19
Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. O primeiro, Linguagem
como performance, aborda a linguagem vista através dos atos de fala performativos
propostos por Austin ([1962]1990) e a releitura que Derrida ([1972]1988) fez de tais
atos de fala. Além desses, trazemos contribuições de alguns autores para essa teoria,
tais como Pennycook (2007) e Bauman e Briggs (1990). O segundo capítulo, Gênero
e Nacionalidade pelo viés das Teorias Queer, mostra como se constituíram as Teorias
Queer, quais seus pilares e o que ela questiona, trazendo suas principais teóricas, tais
como Butler (2003), Louro (2008), Preciado (2014), etc. Além disso, mostramos como
acontece a construção de mulher brasileira através da intersecção entre gênero
(mulher) e nacionalidade (brasileira).
No terceiro capítulo, Percurso metodológico, introduzimos conceitos teóricos-
metodológicos, ou seja, reflexões sobre o contexto da internet, conceitos sobre
trajetória textual e entextualização e explicação detalhada de como essa pesquisa foi
realizada. Apresentamos, também, noção de pistas indexicais tais como propostas por
Wortham (2001) que serão utilizadas para a realização das análises das
entextualizações. E, ainda, categorias propostas por Kress e Van Leeuwen
([1996]2006) para a análise das imagens. Os capítulos de análise se dividem em dois.
No quarto capítulo, As camisetas e sua trajetória textual, fazemos a análise das
camisetas e abordamos a trajetória textual dos objetos de consumo nessa pesquisa.
No quinto, As entextualizações dos objetos de consumo, analisamos quatro
entextualizações em contextos online. Por fim, encontra-se as Considerações finais,
Referências Bibliográficas e os Anexos. A seguir, iniciamos as reflexões teóricas que
embasam esta pesquisa.

20
1 LINGUAGEM COMO PERFORMANCE

O presente capítulo aborda a linguagem como performance. Para tanto,


trazemos os conceitos de atos de fala performativos proposto por Austin ([1962]1990),
e a releitura que Derrida ([1972]1988) fez desses. Trazemos também as contribuições
de outros autores, tais como Bauman e Briggs (1990) e Pennycook (2007).

1.1 OS ATOS DE FALA

Nesta seção, apresentamos a concepção de linguagem como performance e


para tal abordamos a perspectiva de Austin ([1962] 1990), um filósofo que, de acordo
com Stefani e Borba (2013), tem grande importância para a filosofia analítica da
linguagem pelo fato de tratá-la como uma ação social, ou seja, por querer
compreender a linguagem do cotidiano.
De acordo com Ottoni (2002), enquanto Noam Chomsky discutia a gramática
gerativa nos Estados Unidos, na França, Benveniste tratava a linguagem em uma
perspectiva semântica e na Inglaterra, Austin propunha o conceito de atos de fala.
Segundo Ottoni (2002, p.121), para a década de 1960, Austin era considerado um
“desconstrutor”, alguém que inovou os pensamentos existentes:

[...] Austin é, em si, um “desconstrutor” de uma filosofia tradicional e –


por que não? – de uma linguística tradicional. Este rompimento com o
passado está evidenciado pela discussão do performativo e do
constatativo, do verdadeiro e do falso que é o lugar em que, para ele,
se confundem e fundem a filosofia e a linguística.

Austin se preocupava com a linguagem ordinária ao contrário da filosofia da


linguagem tradicional. Para o estudioso, não havia fronteiras entre a filosofia e a
linguística, pois ambas faziam parte de um mesmo campo, nas palavras dele:

21
Onde está a fronteira? Há uma em alguma parte? Você pode colocar
esta mesma questão nos quatro cantos do horizonte. Não há fronteira.
O campo está livre para quem quiser se instalar. O lugar é do primeiro
que chegar. Boa sorte ao primeiro que encontrar alguma coisa
(AUSTIN, 1958, p.134).

Em suas primeiras conferências, Austin ([1962] 1990) nos mostra que a


linguagem está para além da descrição, apresenta a proposta dos atos de fala e os
compreende como atos de fala constatativos, aqueles que descrevem algo, sendo
verdadeiros ou falsos, e atos de fala performativos, que indicam uma ação realizada:

o termo "performativo" será usado em uma variedade de formas e


construções cognatas, assim como se dá com o termo "imperativo”.
Evidentemente que este nome é derivado do verbo inglês to perform,
verbo correlato do substantivo "ação”, e indica que ao se emitir o
proferimento está se realizando uma ação, não sendo,
consequentemente, considerado um mero equivalente a dizer algo.
(AUSTIN, [1962] 1990, p. 23).

Austin buscava romper com a tradição da filosofia da linguagem de um estudo


analítico da linguagem. Ele não se preocupava em estruturar, mas sim em refletir
sobre a linguagem em uso. Para o autor, no momento de uma enunciação está
acontecendo mais do que uma simples fala, quando alguém profere um ato de fala,
uma ação acontece. A derivação do verbo to perform cunha o termo performativo,
portanto, atos de fala performativos são aqueles que realizam uma ação no momento
de sua enunciação.
Conforme Austin ([1962] 1990) propõe, seriam necessárias condições
especiais para que esses atos de fala performativos se realizassem. Para ele, deve
haver um procedimento real e já aceito. Se houver algum caso particular, deve se
adequar ao procedimento já especificado. O autor (p.31) afirma que “[...] o
procedimento deve ser executado, por todos os participantes de modo correto e
completo”. Ou seja, sem estas condições o proferimento não se realiza.
Para entendermos melhor estas condições, pensemos em um juiz de paz ao
afirmar a um casal heteronormativo: Eu vos declaro marido e mulher, ou um padre,
representante do catolicismo, dizer: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Nas duas situações ambos fazem um proferimento que, ao ser
enunciado, realiza-se e atendem às condições especiais sugeridas pelo filósofo da
linguagem:

22
Deve existir um procedimento convencionalmente aceito, que
apresente um determinado efeito convencional e que inclua o
proferimento de certas palavras, por certas pessoas e em certas
circunstâncias: e além disso, que as pessoas e circunstâncias
particulares, em cada caso, devem ser adequadas ao procedimento
específico invocado[...]. (AUSTIN, [1962]1990, p.31)

Contudo, esse mesmo padre estaria impossibilitado de proferir um ato de fala


performativo sentenciando um réu à condenação, porque, considerando Austin, ele
não preencheria as condições especiais, como, por exemplo, ser juiz de uma vara
criminal. Nas palavras de Salih (2012, p.127):

[...] de acordo com Austin, para uma afirmação ter força performativa
(em outras palavras, para que possa realizar o que nomeia), ela deve:
(1) ser enunciada pela pessoa designada para fazê-lo e num contexto
apropriado; (2) observar determinadas convenções; e (3) levar em
conta a (s) intenção (intenções) do enunciador. [...].

Ao refletir sobre sua própria teoria de atos de fala, o próprio Austin ([1962] 1990)
desconsidera toda a dicotomia entre constatativo e performativo. Para o autor, todos
os atos de fala tornam-se performativos, ou seja, quando se enuncia, uma ação é
realizada. Entretanto, o autor reconsidera a linguagem na ficção, para ele a estiolação
ainda não é considerada um ato de fala performativo, noção que posteriormente será
refeita por Derrida ([1972]1988) conforme veremos no próximo tópico.
Para Austin ([1962]1990) o ato de fala performativo é composto de três partes:
locucionária, ilocucionária e perlocucionária.

 Ato de fala locucionário

Para Austin ([1962]1990), “[...] quando realizamos um ato de fala locucionário,


utilizamos a fala [...]”. Nas palavras de Ottoni (2002, p.128), é o ato de fala locucionário
“que produz tanto os sons pertencentes a um vocabulário quanto a articulação entre
a sintaxe e a semântica, lugar em que se dá a significação no sentido tradicional”.
Podemos entender, então, o ato de fala locucionário como o som com sentido emitido
durante a enunciação.

23
 Ato de fala ilocucionário

De acordo com Austin ([1962] 1990, p.89), ato de fala ilocucionário é “[...] a
realização de um ato de dizer algo [...]”. Conforme Ottoni (2002, p.128), este é o “ato
de realização, através de um enunciado”. Com base nos dois autores,
compreendemos o ato de fala em questão como a ação que acontece diante do
enunciado de promessa, por exemplo, durante um casamento: eu prometo ser fiel,
amar-te e respeitar-te, na alegria...

 Ato de fala perlocucionário

Conforme Austin ([1962]1990, p.95), “[...] podemos realizar atos


perlocucionários, os quais produzimos porque dizemos algo [...]”. Para Ottoni (2002,
p.128), é o ato de fala perlocucionário, “que produz efeito sobre o interlocutor”.
Entendemos, aqui, que esse ato é a produção de seus efeitos sobre a pessoa.
Nesse sentido, de acordo com Austin ([1962]1990, p.90), podemos ter
objetivos, propósitos, intenções, e a partir disso agir com a linguagem para gerar em
outras pessoas os efeitos desejados:

Há um outro sentido em que realizar um ato locucionário, e assim um


ato ilocucionário, pode também realizar um ato de outro tipo. Dizer algo
frequentemente, ou até normalmente, produzirá certos efeitos ou
consequências sobre os sentimentos, pensamentos, ou ações dos
ouvintes, ou de quem está falando, ou de outras pessoas. E isso pode
ser feito com o propósito, intenção ou objetivo de produzir tais efeitos.

Neste sentido, Austin traz a perspectiva social para a linguagem,


compreendendo-a como atos de fala que, ao serem proferidos, realizam ações. Outros
autores fazem leituras das teorias dos atos de fala performativos, inicialmente
propostas por Austin, e trazem contribuições importantes para a concepção de
linguagem como atos de fala performativos, conforme veremos a seguir.

24
1.1.1 Releituras da teoria dos atos de fala performativos

Alguns autores releram as teorias da linguagem através dos atos de fala


performativos, trazidas por Austin ([1962]1990), e contribuíram para a teoria. Nesta
seção trazemos as releituras de Derrida ([1972]1988), Bauman e Briggs (1990) e
Pennycook (2007).
Derrida ([1972]1988) faz uma releitura da teoria dos atos de fala de Austin
([1962]1990) e tece algumas críticas à proposta do segundo. Uma delas, segundo
Melo e Moita Lopes (2015, p.56), é o fato de que “[...] não seriam necessárias
condições específicas para que um ato de fala fosse considerado performativo. [...]”,
ou seja, todo ato de fala performativo é uma ação independente de condições, até
mesmo a estiolação, a linguagem em uso na ficção, seria também considerada um
ato de fala performativo. Ao enunciar, uma ação é realizada, independente das
condições propostas por Austin, efeitos emergem a partir de uma ação promovida na
enunciação.
Uma segunda contribuição de Derrida a Austin é retomada por Salih (2012,
p.128), ao afirmar que:

[...] Derrida tira proveito da “fragilidade” que Austin percebe no signo


linguístico: afinal, Austin não tentaria diferenciar performativos bem-
sucedidos de mal sucedidos se não soubesse que os enunciados
estão sujeitos a serem extraídos do contexto e utilizados de forma que
não as pretendidas por seus enunciadores originais. Derrida
argumenta que o que Austin vê como uma cilada ou uma fragilidade
é, na verdade, uma característica de todos os signos linguísticos, os
quais estão sujeitos à reapropriação, à reiteração e [...] à re-citação.[...]

Observamos, segundo Salih (2012), que, para Derrida, assim como para
Austin, todos os atos de fala são performativos, ou seja, ao enunciarmos, uma ação é
realizada. Esta segunda contribuição se refere também à reapropriação, reiteração e
re-citação, ou seja, somos construídos através dos discursos de outras pessoas e nos
apropriamos de falas, inicialmente não proferidas por nós, mas que, no momento da
nossa enunciação, são colocadas por nós mesmxs em nossas falas e consideramo-
la como próprias. A reapropriação, a reiteração e a re-citação são, para o estudioso,
inerentes aos signos.

25
Outra contribuição trazida por Derrida ([1972]1988) é o questionamento de uma
intenção prévia ao discurso. Para ele, a interação somente acontece na presença do
outro, o script pode ser quebrado, e, então, não haveria uma intenção fora da
linguagem. Por exemplo, em uma situação de fim de relacionamento, a pessoa pode
preparar toda a fala para terminá-lo com x parceirx, dependendo dx parceirx, pode
ocorrer um recuo e não seguir com o objetivo de terminar. Mais especificamente, a
pessoa que receberá a notícia do término do namoro, pode dizer que está com dor de
cabeça devido a problemas no trabalho. A outra pode silenciar e não dar continuidade
ao objetivo proposto, ou pode simplesmente prosseguir com seu objetivo, ou ainda
acontecerem inúmeras possibilidades imprevisíveis, tais como uma notícia de morte,
um pedido de perdão.
Na releitura dos atos de fala austinianos, Derrida ([1972]1988) contribui ao dizer
que o performativo é interiorizado pela iterabilidade e citacionalidade:

Derivada do sânscrito itara, “outro”, a iterabilidade é a propriedade do


signo de ser sempre outro na sua mesmidade, a repetição na
alteração; a citacionalidade é a propriedade do signo de ser retirado
de seu contexto “original” e deslocado para outro, produzindo, por isso
mesmo, significado. Derrida argumenta que tais propriedades não são
eventuais ou acidentais, mas constitutivas dos signos, portanto, dos
atos de fala, e, delas, os atos retiram sua força. (PINTO, 2013)5

Em nossas palavras, iterabilidade é a repetição diferente do ato de fala. Nas


práticas sociais, por exemplo, nas questões de gênero, repetimos automaticamente
que rosa é para menina, assim como azul é para menino, boneca é brinquedo de
garota, carrinho é brinquedo de garoto etc. Tais atos de fala performativos são
repetidos e repetidos...Quando um casal engravida, por causa da repetição do que
citamos acima, pode receber muitas roupas rosas se a criança for menina, ou azuis,
se for menino. A repetição do discurso e os efeitos de que menina brinca de boneca
e menino brinca de carrinho, podem ser observadas nas práticas sociais, nos
brinquedos de famílias cujas crenças e valores são mais tradicionais.
Repetimos estes atos de fala performativos através da iterabilidade e da
citacionalidade, esta última refere-se à citação de falas do outro em nossa própria fala:
o enunciado é extraído de seu contexto, que foi extraído de outro contexto, e é
passível de incontáveis e incontroláveis citações, feitas pela mídia, igrejas, escolas,

5
Citação retirada do site http://revistacult.uol.com.br/home/2013/11/o-percurso-da-performatividade/
26
redes sociais, etc. Sendo assim, estão relacionadas ao efeito e à força, uma
propriedade repetível que ganha re-significações de acordo com o contexto. Por outro
lado, Derrida também nos fala que essa repetição de atos de fala pode falhar e são
construídos outros sentidos para além do performativo, ou seja, para a
performatividade.
Considerando esta investigação, podemos, através da perspectiva derridiana,
compreender que os atos de fala performativos sobre a hipersexualidade das
mulheres brasileiras, construídas por uma sexualidade exacerbada, consideradas
como objetos sexuais, sedutoras, são repetidos e reforçados pela iterabilidade. A
repetição de tais atos de fala performativos ao longo do tempo pode se tornar uma
verdade, uma essência, uma substância.
Além de Derrida, mencionamos aqui as contribuições de Bauman e Briggs
(1990). Para eles, Austin ([1962]1990) trouxe-nos a linguagem como fator social. Eles
concordam com os níveis de atos de falas propostos pelo filósofo da linguagem
(locucionário, ilocucionário e perlocucionário), porém, conforme vimos, porém, para
os estudiosos, há uma certa dificuldade em mostrar o dinamismo neles existente.
Buscando sanar isso, estes autores propõem olhar para a performance dinâmica, não
somente pelo viés dos atos de fala performativos, mas também em relações
estabelecidas com a questão da performatividade, da performance e do performer,
implicadas em relações sociais e de poder.
De acordo com os estudiosos, Austin trabalhava com o ato de enunciar, ou
seja, com a força deste ato e não com o efeito por ele produzido. Sendo assim, focava-
se mais no performativo do que nos sujeitos sociais. Para o filósofo da linguagem, o
ato de enunciar ganha mais ênfase do que as performances que são construídas e
encenadas através destes atos. De acordo com Bauman e Briggs (1990), a vida social
é um processo de performance, assim, ao falarmos, uma performance discursiva é
realizada. Para eles, faz-se necessário contextualizar as performances e, antes de
pensarmos em dicotomias, devemos refletir sobre pluralidade, característica do
contemporâneo. As diferenças não são mais tidas como binárias, elas são múltiplas.
Nesta perspectiva, os autores citados trazem os atos de fala para as questões
identitárias. Eles afirmam que para se estudar a performance é necessário que ela
esteja inserida em um texto e situada em um contexto.

27
Abordar a linguagem como ação remete-nos também a Pennycook (2007),
pois, para o autor, a linguagem “[...] produz as condições que ela descreve” (p.66)6 ou
seja, a linguagem constrói os sujeitos sociais, os corpos, o mundo, e é responsável
pela nossa reinvenção e do outro. Para ele, “[...] o que une performances juntas não
é uma competência que se encontra dentro de cada indivíduo, mas uma grande
variedade de forças sociais, culturais e discursivas”. (p.60)7. É esse emaranhado de
variedades que proporcionam as construções, sedimentações de práticas sociais e a
reinvenção de nós mesmxs e de outrxs. Para Pennycook (2007), vivemos em um
contexto em que não existem barreiras para as línguas, ou seja, é um contexto
translingual, em que pedaços de línguas viajam e se recontextualizam em outros
contextos. Dentro desses, a performance é mantida pelo social e expressa pelas
forças orais, culturais.
Ao pensarmos nas camisetas da Adidas, com base na perspectiva da
linguagem como performance, ao serem lançados, tais objetos de consumo com
textos que constroem mulheres brasileiras como hipersexualizadas e atrativo turístico,
realizam ações sobre corpos de tais mulheres e sobre o país. Observamos, então,
que os atos de fala são corpóreos como nos diz Pinto (2007) e produzem efeitos.
Assim, a linguagem não é apenas descrição, ela age e produz efeitos, nas palavras
de Butler (1997, p.8) “[...]nós fazemos coisas com a linguagem, produzimos efeitos
pela linguagem e nós fazemos coisas para a linguagem, mas a linguagem é também
a coisa que fazemos”.
Neste sentido, há a repetição ao longo dos anos desses discursos que deslizam
e constroem verdades. A intersecção entre gênero (mulher) e nacionalidade
(brasileira) aponta para discursos de sexualidade exacerbada, construídos sobre
esses corpos concebidos como singulares. Estas construções discursivas sobre as
mulheres brasileiras são normatizadas pela linguagem como performance. Veremos,
no próximo capítulo, tais construções normativas, que estabelecem normas para as
ações dos sujeitos.

6it produces the conditions it describes. (p.66)


7“[...]
what ties performances together is not a competence that lies within each individual but a wide
array of social, cultural and discursive forces.[...].”(p.60)
28
2 MULHERES BRASILEIRAS: GÊNERO E NACIONALIDADE

Nesse capítulo explicamos o que são as Teorias Queer e quais xs principais


teóricxs a ela relacionados. A seguir, refletimos sobre as construções discursivas e
performativas das mulheres brasileiras e, para isso, trazemos algumas questões sobre
gênero, depois acrescentamos a nacionalidade, pois é na intersecção entre gênero e
nacionalidade que se apontam os efeitos sobre as mulheres brasileiras.

2.1 TEORIAS QUEER

No dicionário escolar Longman (2009) inglês/português, a palavra “queer” traz


a seguinte tradução: “1. esquisito 2. bicha. Esta palavra é ofensiva”. Para Louro (2008,
p.38) “Queer pode ser traduzido por estranho, talvez ridículo, excêntrico, raro,
extraordinário. Mas, a expressão também se constitui uma forma pejorativa com que
são designados homens e mulheres homossexuais. ” No senso comum, o termo
ofende e agride o outro.
Segundo Salih (2012) e Louro (2008), as Teorias Queer se originaram de uma
aliança entre três movimentos: teorias feministas, teorias pós-estruturalistas da
linguagem e teorias psicanalíticas, que se questionavam sobre o sujeito. “[...] o queer
não está preocupado com definição, fixidez ou estabilidade, mas é transitivo, múltiplo
e avesso à assimilação” (SALIH, 2012, p.19). Ou seja, o termo queer não se restringe
apenas aos que assumem uma homonormatividade, mas é muito mais abrangente,
criticando xs que colocam à margem todxs aquelxs que são excluídxs por estarem
fora do padrão considerado central. Nesta perspectiva, de acordo com Louro (2008,
p.38), o termo queer,

[...] com toda sua carga de estranheza e de deboche, é assumido por


uma vertente dos movimentos homossexuais precisamente para
caracterizar sua perspectiva de oposição e de contestação. [...] Seu
alvo mais imediato de oposição é, certamente, a heteronormatividade
29
compulsória da sociedade; mas não escaparia de sua crítica a
normalização e a estabilidade propostas pela política de identidade do
movimento homossexual dominante. Queer representa claramente a
diferença que não quer ser assimilada ou tolerada e, portanto, sua
forma de ação é muito mais transgressiva e perturbadora.

As Teorias Queer vão além dessas dicotomias homem vs. mulher, masculino
vs. feminino, e questionam as práticas sociais que causam sofrimento a determinados
corpos. Essa teoria é recente, de acordo com Louro (2008, p.39),

a política queer está estreitamente articulada à produção de um grupo


de intelectuais que, ao redor dos anos 90, passa a utilizar esse termo
para descrever seu trabalho e sua perspectiva teórica.

De acordo com Miskolci (2007), foi De Laurents (1991) quem utilizou pela
primeira vez o termo Teorias Queer, a fim de nomear estudos sociológicos sobre a
minoria de gênero, mas, para Oliveira et al (2009), foi Butler quem fez emergir as
questões queer:

[...] o trabalho de Butler se envolve numa discussão dialética com as


categorias pelas quais o sujeito é descrito e construído, investigando
por que o sujeito é hoje configurado do modo como é, e sugerindo que
é possível fazer com que modos alternativos de descrição estejam
disponíveis dentro das estruturas existentes de poder. (SALIH, 2012,
p.13)

Para Miskolci (2007), as Teorias Queer costumavam ser associadas aos


estudos sobre sexualidade, gênero e desejo, porém, atualmente, intensificam-se as
pesquisas sobre as diversas diferenças nas práticas sociais. Recentemente, de
acordo com o autor, entre as Teorias Queer e os estudos pós-coloniais, aparecem
intersecções entre categorias que são interdependentes entre si, tais como a
racialização do sexo e a sexualização da raça, assim também acontece às demais
categorias, tais como classe social, nação, gênero, idade, deficiências etc.
De acordo com Sedgwick (2007), dependendo da relação entre as pessoas,
principalmente com ênfase na hierarquia econômica, são poucas as que não estão no
armário. Para a autora, elas se deparam com muros ao redor de si próprias, o que as
obriga a esconder quem são e tentarem enquadrar-se nas imposições normativas. A
partir disto, a pesquisadora propõe que o armário não é uma característica relacionada
apenas ao gênero gay, e sim, numa perspectiva mais ampla, a questão não se
30
restringe a assumir-se ou não gay, a autora cita, por exemplo, “[...] uma mulher gorda
sair do armário [...]” (p.28) ou então, judeus, ciganos, negros, velhos, cadeirantes etc,
cujos corpos são reprimidos e colocados em armários.
Tal perspectiva amplia o campo de intersecção nas Teorias Queer, que não
apontam somente para as imbricações entre gênero e sexualidade, mas sim, como a
autora propõe, o sair do armário, para todos os oprimidos e sofredores que não se
enquadram em um padrão central. A autora ainda aponta que o fato de se assumir
não livra ninguém de se relacionar com o seu próprio armário, nem com o armário do
outro, acrescento que, tais atitudes, bem como o respeito ao próximo, trariam um
pouco mais de dignidade para as diversas encenações de performances discursivas
nesse mundo pluridiversificado.
De acordo com Butler (2003), as identidades são múltiplas, somos vários ao
mesmo tempo, encenamos diversas performances identitárias, então, não temos uma
identidade fixa e definida, principalmente tendo em vista este contexto fluido, no qual
cada circunstância nos cobra a encenação de performances discursivas distintas. Nas
palavras de Salih (2012, p.11):

[...] o “sujeito” de Butler não é um indivíduo, mas uma estrutura


linguística em formação. A “sujeitidade” [“subjecthood”] não é um
dado, e, uma vez que o sujeito está sempre envolvido num processo
de devir sem fim, é possível reassumir ou repetir a sujeitidade de
diferentes maneiras. [...]

Na citação, observamos que vai além o ato de romper com a estrutura de poder
binária em que o primeiro exerce poder sobre o segundo. Com base na autora,
podemos dizer que há modos alternativos de encenar performances de gênero, raça,
nacionalidade, classe, que não se enquadram dentro dos padrões binários da
sociedade contemporânea. Assim, as Teorias Queer têm o objetivo de questionar
práticas sociais que causam sofrimento. Nas palavras de Louro (2008, p.38), “[...]
queer significa colocar-se contra a normalização – venha ela de onde vier”.
As Teorias Queer trazem, portanto, “[...] a ideia de que o sujeito não é uma
entidade preexistente, essencial, e que nossas identidades podem ser reconstruídas
sob formas que desafiem e subvertam as estruturas de poder existentes. [...]” (SALIH,
2012, p.23). Não há como enxergar sob um único ponto de vista as questões que
envolvem gênero, por exemplo, sem estabelecer intersecções com raça, classe social,

31
etnias, sexo, etc. Butler (2003, p.20) afirma que “[...] se tornou impossível separar a
noção de “gênero” das interseções políticas e culturais em que invariavelmente ela é
produzida e mantida. ”
Essa perspectiva é compartilhada por Barnard (2004), que propõe que raça,
gênero e sexualidade devam ser estudas juntas, pois ao privilegiar-se um dos traços
performativos, concomitantemente, excluem-se os outros. Como exemplo da
necessidade de se estudarem os traços citados, Melo e Moita Lopes (2013, p.246),
embasados em Barnard (2004), afirmam que:

ao discutir sexualidade e raça, especificamente, em relacionamentos


entre homossexuais masculinos negros e brancos, o autor apresenta
a complexidade da questão, pois aparentemente tais relações
poderiam significar ausência de preconceito e racismo.

Neste sentido de intersecção, tal como os autores e autoras apontam,


iniciaremos algumas reflexões sobre gênero que, para as Teorias Queer, é uma
construção por meio de atos de fala performativos e performances discursivas como
veremos a seguir.

2.2 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE GÊNERO

Uma das teóricas que discutem gênero na perspectiva das Teorias Queer é
Judith Butler, que é considerada queer, não por escolha pessoal, mas porque, de
acordo com Salih (2012, p.11) “ao ler os textos de Butler, notamos que fazer perguntas
é seu estilo preferido, mas apenas muito raramente ela lhes dá respostas [...]” e
questionar é o objetivo das Teorias Queer. Butler contesta e questiona discursos que
trazem sofrimentos para corpos excluídos e considerados abjetos na Modernidade.
As discussões sobre gênero trazidas por Butler (2003) acontecem com base
também nos estudos de Beauvoir (1949), que diz: “A gente não nasce mulher, torna-
se mulher”, ou seja, ser mulher é uma construção, um processo. Podemos observar
essa construção em ações dos outros sobre nós; quando pequenas, nos diziam como
sentar, nos portar, nos vestir e agir. Se olharmos o gênero pela história feminina,
veremos que havia cursos de etiquetas para as mulheres serem de forma x, para
32
serem boas donas de casa, etc. Desta forma, conforme Butler (2003, p.20), as
performances discursivas de gênero são construídas, aprendidas e assimiladas, são
múltiplas, “se alguém é mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é”.
Neste sentido, trabalhamos na perspectiva de que o gênero é aprendido, construído,
não hereditário e interseccionado.
De acordo com Salih (2012, p.91), para Butler, “[...] as identidades de gênero
são construídas e constituídas pela linguagem, o que significa que não há identidade
de gênero que preceda a linguagem. [...]”. Como dito pela autora, o eu não existe fora
da linguagem, a construção de identidade ocorre na e pela linguagem. É através da
linguagem que o mundo ganha existência, portanto, é também através dos atos de
fala performativos (AUSTIN, [1962] 1990), da citacionalidade e iterabilidade
(DERRIDA, [1972]1988), que se constroem as definições de gênero que se tornam
essência.
Um exemplo disto são os discursos do senso comum que constroem os corpos
de mulheres como acessíveis e disponíveis. Tais discursos são repetidos pela
iterabilidade e citacionalidade, que, com o passar dos séculos, se constroem como
verdades. Verdades que trazem efeitos nos corpos, tais como a violência física, verbal
e psicológica direcionadas às mulheres.
Ainda para o senso comum, Cortella (2015)8 afirma que desde muito tempo as
mulheres são construídas como propriedades pertencentes a alguém. O autor cita o
mandamento não cobiçar a mulher do próximo, e diz que em sua origem hebraica,
deveria ser traduzido por não cobiçar o boi, a terra e a mulher do próximo. Sendo
assim, estaria relacionado a não invejar os bens do outro, portanto, não é um
mandamento de fidelidade, mas sim de propriedade e que pode ser compreendido
como um registro que já colocava a mulher em posição de pertencer ao homem e em
situação de inferioridade.
Na perspectiva de que gênero é uma construção, Butler (2003, p.24) diz que
ele é culturalmente construído, ou seja, uma construção discursiva, histórica,
performativa e cultural, “[...] não há razão para supor que gêneros também devam
permanecer em número de dois. ” Louro (2010, p.204) propõe olharmos para as
declarações é um menino, ou é uma menina, como “[...] a nomeação de um corpo
recém-nascido ou prestes a nascer como desencadeadora de uma espécie de viagem

8
Café filosófico exibido em 19/07/2015 às 22h: https://www.youtube.com/watch?v=eE9J4oHop0E
33
que se desenvolve ao longo de toda a existência do sujeito. ” A autora afirma que está
pressuposto que essa viagem siga uma sequência obrigatória, a qual sinaliza uma
coerência entre sexo (macho ou fêmea), gênero (masculino ou feminino) e
sexualidade (desejo pelo sexo oposto). Sendo assim, para Louro (2010, p.205):

[...] o ato de nomear o corpo acontece, portanto, no interior de uma


lógica binária que supõe o sexo como um dado anterior à cultura e
pretende lhe atribuir um caráter definitivo e a-histórico. A nomeação
inaugura um processo de masculinização ou feminização com o qual
o próprio sujeito se compromete. [...]

Embasados em Salih (2012, p.125), podemos dizer que gênero tem sua
construção iniciada quando se diz a uma mãe gravida, “é uma menina!”. Não temos
aqui um enunciado apenas, mas sim um ato de fala performativo que inicia o processo
de construção de uma menina. Segundo a autora: “[...] um processo baseado em
diferenças percebidas e impostas entre homens e mulheres, diferenças que estão
longe de ser “naturais”. [...]”.
Por exemplo, quando uma mãe está grávida ela começa a construção binária
performativa: se for menina receberá o nome tal, se for menino, o tal, se for do sexo
feminino o quarto será rosa, roxo ou em cores que culturalmente e historicamente
foram construídas para meninas; se for do sexo masculino, o quarto será azul, verde,
ou em cores que culturalmente e historicamente foram construídas para meninos.
Mas, a cor preta jamais será usada na decoração do quarto dx bebê, nem roupinhas
pretas x bebê ocidental usará, porque no senso comum, a cor preta não é para recém-
nascidos. Estes são exemplos de atos de fala performativos sobre meninos e
meninas, no contexto histórico social atual, que são repetidos pela mídia, família,
escolas, igrejas etc., e que podem construir uma verdade cultural e histórica que
marca os corpos e gera efeito sobre eles.
Para Pinto (2007, p.4), gênero é “ [...] um efeito de atos de fala, cuja violência
está em se apresentarem como reais, naturais, produzindo uma estrutura sempre
binária e hierarquizada. [...]”. Neste sentido, em nossas práticas sociais há uma
fórmula pré-estabelecida e esperada para a encenação de performances discursivas
de gêneros. Essa fórmula, padrão, estipulada e padronizada, causa sofrimento para
corpos que não se enquadram nesse padrão binário, já que os atos de fala
performativos produzem efeitos nos corpos. As transgêneros, por exemplo, não se

34
enquadram neste binário, consequentemente, vemos tais corpos serem ilegitimados
quando os nomes sociais destas pessoas não são aceitos, quando muitas vezes, elxs
são humilhados em sala de aula, hospitais, repartições públicas, por seus corpos não
corresponderem aos documentados em um RG, por exemplo.
Neste sentido, é através dos efeitos reproduzidos sobre os corpos que a
possibilidade de encenar diversas performances discursivas de gênero se restringe
ao ato de encenar apenas duas, masculina e feminina, as quais são construídas e
aprendidas como aceitáveis pela sociedade.
Para Preciado9 (2014), o momento que vivemos é transformador: “a situação
em que estamos e onde construímos o gênero e a normalidade são a guerra total no
interior do corpo e frente a isso, a revolução é constante”. Sendo assim, para a autora,
“ a guerra não será depois e a revolução não será amanhã, e sim a guerra é hoje e a
revolução é agora”. A autora concorda com Butler ao afirmar que o corpo também é
um ato de fala, e até mesmo o desejo é uma construção:

obviamente não acredito que possa haver uma verdade sexual


escondida sob uma grande capa de repressões sociais. Não confio
nada no desejo, absolutamente não acredito que haja um desejo
anterior a um conjunto de normas ou acordos sociais, e sim que o
desejo é criado nessa rede de relações, da mesma forma que não há
uma identidade que preceda as interpelações normativas. Quando falo
em desejo, não me refiro à noção psicanalítica ou inconsciente de
desejo, e sim a como o prazer e o corpo se estruturam em uma rede
de relações. Desaprender teus 'próprios' desejos, aquilo que
culturalmente aprendemos a desejar, é uma espécie de tarefa muito
longa mas fundamental. (PRECIADO, 2014)

Para a autora, tal como o gênero, a noção de desejo também é uma construção
aprendida, repetida e que vai sendo sedimentada aos poucos pela repetição, sendo
estabelecida de tal maneira que fomenta e ensina o padrão de desejo heterossexual,
ao ponto de ser necessário desaprender os desejos construídos como próprios, uma
árdua tarefa, para que se possa encenar performances identitárias múltiplas.
Para Butler (2003), culturalmente, o padrão que ocupa o centro é composto
pelos gêneros inteligíveis. Estes são constituídos quando sexo, gênero, prática sexual
e desejo mantendo relações de coerência entre si. Ou seja,

9
Entrevista publicada no blog: http://ggemis.blogspot.com.br/2014/10/beatriz-preciado-esquerda-e-
tao.html
35
[...] gênero só pode denotar uma unidade de experiências, de sexo,
gênero e desejo, quando se entende que o sexo, em algum sentido,
exige um gênero – sendo o gênero uma designação psíquica e/ ou
cultural do eu – e um desejo – sendo o desejo heterossexual e,
portanto, diferenciando-se mediante a uma relação de oposição ao
outro gênero que ele deseja. [...] (BUTLER, 2003, p.45).

Por exemplo, dentro dessa construção binária de gênero inteligível, uma


pessoa com um sexo biológico masculino, portadora de órgão genital masculino
(pênis), pertence ao gênero masculino e sente desejos pelo feminino; uma pessoa
com o sexo biológico feminino, portadora de órgão genital feminino (vagina),
pertencente ao gênero feminino, sente desejos pelo oposto, o masculino. Essa é a
construção binária aprendida, repetida e apropriada que constrói o gênero inteligível.
Neste sentido, é apagada a pluralidade de gêneros que encontramos ou
encenamos nas práticas sociais. No senso comum, gênero se refere ao masculino e
feminino, ele se ancora na matriz heterossexual que o compreende como binário,
assim, o biológico e o desejo estão ligados ao gênero. Essa perspectiva é criticada
pelas Teorias Queer que não relacionam o biológico ao desejo nem ao gênero. Para
as Teorias Queer gênero está relacionado à pluralidade, à construção. Assim, dentro
dessa pluridiversidade, a multiplicidade de gêneros é contestada pelas noções
binárias dessa categoria. Concordamos com Butler (2003, p.28) quando afirma que o
gênero é “[...] um conjunto de relações e não um atributo individual”. E também que
devemos (idem, p.35) “[...] questionar as relações de poder que condicionam e limitam
as possibilidades dialógicas. ”
Portanto, Butler não trabalha com a noção de identidade fixa, mas sim com
encenação de performances. Além disso, para as Teorias Queer, a intersecção de
traços performativos (categorias construídas pela repetição dos atos de fala) nos
permite um entendimento mais complexo das pessoas. Assim, gênero deve ser
analisado, segundo Barnard (2004), Wilchins (2004), Sommerville (2000), em relação
à raça, sexualidade, classe social, etc., sendo, impossível separar gênero das
intersecções políticas e culturais.
Conforme mencionado, no início desta seção, para Butler (2003) as identidades
de gênero são múltiplas. Há maneiras diversas, interseccionadas por outros traços,
de encená-las. Assim, uma mulher é um conjunto, um plural e não um singular.
Embasados em Gonzales (1984), afirmamos que, no caso específico das mulheres
brasileiras, observamos uma sexualização e uma racialização do gênero, pois a
36
nacionalidade da mulher brasileira perpassa gênero, raça e aponta para sexualidade,
conceitos totalmente interligados, podendo trazer, para esta, sofrimento e
marginalização através de uma brasilidade.
Como vimos, pela iterabilidade e citacionalidade (DERRIDA, [1972]1988),
repetem-se tanto os discursos de gênero, que ganham a ideia de verdade, de
substância inquestionável. Essa repetição traz consigo a ideia de essência. Torna-se,
portanto, essencial ser homem/mulher, branco (a), heteronormativo (a) e de classe
média. Esta construção apaga todas as outras possibilidades de se encenarem outras
performances discursivas.
Sendo assim, os traços performativos, no caso das mulheres brasileiras, se
constroem através da intersecção entre gênero e nacionalidade, que interseccionados
acionam outros traços performativos, como a sexualidade. Se nesse emaranhado de
traços performativos adicionarmos a raça, especificamente a raça negra e suas
nuances, a carga sedimentada sobre essa mulher brasileira como sensual, sedutora
e hipersexualizada intensifica-se, conforme veremos a seguir.

2.3 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E NACIONALIDADE

Partindo da perspectiva de que gênero é uma construção histórica, social,


discursiva e performativa, além de interseccionado por outras categorias já
mencionadas anteriormente, passaremos a interseccioná-lo também com a ideia de
nação, para tratar das mulheres brasileiras.
De acordo com Costa (2001), a construção da nação brasileira tem como
origem a brasilidade mestiça. Para o autor, tinha-se a ideia de misturar as raças para
branquear a população, mas na verdade, ao persistir o mito dos cruzamentos inter-
raciais, o que aconteceu não foi um gradativo clareamento da população, mas sim um
escurecimento, ou seja, observando a raça em uma escala gradativa teremos a
mulher brasileira como uma mulher mestiça, de pele morena escura, conhecida como
mulata.
Correa (1996) nos diz que é imprescindível ao falar de gênero, falar também
de raça. A autora nos conta que durante algum tempo, os médicos discutiam e

37
estudavam as mulatas para saber se eram ou não estéreis, tais como as mulas
(cruzamento entre égua e jumento) que originaram sua designação. Para a autora
(p.45), havia uma cultura de que “[...] tanto o negro como a negra precisam branquear
para aproximar-se do polo idealizado”.
Concordamos com Schucman (2014) quando afirmamos que a raça é uma
construção social, histórica, discursiva e performativa, e sua definição muda de acordo
com a história. Assim, atualmente, ser uma mulher, negra, heterornomativa, de classe
média, não é o mesmo que ser a mesma mulher na década de 80. O conceito de raça,
segundo Barnard (2004), Sullivan (2003) e Wilchins (2004) é maleável e se transforma
ao longo do tempo.
Schucman (2014) nos mostra que negros que iam dos Estados Unidos para a
África do Sul, na época da política do Apartheid, devido às relações de poder, eram
considerados brancos. Consideramos também a pesquisa de Melo e Moita Lopes
(2015) que nos conta sobre um garoto homoerótico negro, que ao atingir uma classe
social mais elevada se torna moreno. É neste sentido, tendo a raça como uma
construção discursiva e performativa em território brasileiro, que dizemos que as
mulheres brasileiras, tal qual a representada na camiseta da Adidas, são consideradas
mulheres de pele morena à escura.
O termo brasileiro é um gentílico, adjetivo pátrio, que surgiu com a
comercialização do pau-brasil. Entretanto, de acordo com Balestrin (2011), é um termo
focado e trabalhado no período da ditadura, que ganhou ênfase com a ideia de nação.
É então que temos o estereótipo construído de mulata que ganhou evidência durante
o período de ditadura, sendo construída com brasileira, pois havia o interesse do
governo em promover o turismo sexual no país, atraindo, assim, estrangeiros.
Corrêa (1996, p.48) nos diz que:

[...] a mulatice é um gênero consagrado por Di Cavalcanti ou


Sargentelli, entre outros, algo assim como um gênero literário, e a
mulata é uma figura engendrada, culturalmente construída, num longo
processo histórico que a opõe, seja nas figuras femininas que são
moedas em nossas pesquisas, seja às figuras masculinas que se opõe
a elas (opondo-se ao mesmo tempo, ao Branco e ao Negro) [...]

38
Tais corpos eram retratados pelo pintor Di Cavalcanti e também trazidos pelas
ações de Sargenteli10, que se auto definia como “mulatólogo”, que através de um
programa de televisão com grande divulgação na década de 70, escolhia a melhor e
mais bela dançarina. Sargenteli viajava o mundo com suas mulatas, e reproduzia toda
essa construção discursiva e performativa de mulher sensual, sedutora,
hipersexualizada, com pouca roupa, disponível e como um ponto turístico que deveria
ser visitado:

a ideia de que a sensualidade se deve a essas raízes negras é


reforçada neste período e é fortemente expressa no mito da
sexualidade aberta e desinibida dos brasileiros. Esse mito está
presente também na divulgação de um tipo de propaganda do país, na
publicidade do turismo, que promove, por exemplo, a imagem da
mulata: uma mulher sexualmente muito liberada, “quente” e “fogosa”,
o resultado da miscigenação de um homem branco com uma mulher
negra. A publicidade difunde a imagem de um país o qual as pessoas
andam quase nuas nas praias, com mulatas, de modo que há uma
associação entre as imagens do carnaval com as de paraíso sexual.
(HEILBORN, 2006, p. 49/50).

Durante o período da ditadura militar, a EMBRATUR, Empresa Brasileira de


Turismo, foi utilizada pelos militares como meio de vender uma imagem bonita do país
através do turismo sexual, a imagem da mulher brasileira mulata foi propagada com
ênfase no corpo, na beleza, para que se pudesse ter uma bela imagem do país,
diferentemente da opressão e violência que aconteciam no período de ditadura no
Brasil.
É possível observar que a construção de brasilidade de um tipo de mulher
brasileira está marcada pela intersecção entre gênero e raça. Esta mulher brasileira
de pele morena à escura foi construída, na perspectiva de Derrida, pela iterabilidade
e citacionalidade de atos de fala performativos que as colocam como
hipersexualizadas, disponíveis para o sexo, fogosas, com o corpo trabalhado e que
sabe sambar. Estas mulheres brasileiras específicas são legitimadas como tais. Por
outro lado, se olharmos a mulher brasileira branca, não são indexicalizados e
entextualizados os mesmos discursos.
A nação brasileira marca o corpo da mulher deste país, entretanto, a carga
sedimentada sobre esses corpos se intensificam à medida em que a pele escurece.

10 Para maiores informações acessar a entrevista de Jô Soares com Sargenteli no link:


https://www.youtube.com/watch?v=kem13BVEmOY
39
Historicamente vemos que os corpos de mulheres escravas negras eram construídos
como propriedades (mercadorias) dos senhores de engenho, isso daria direito a tais
homens brancos de se apropriar e violentar tais corpos (GIACOMINI, 1988). Neste
sentido, a escrava era utilizada para desempenhar diversas funções, até mesmo de
escrava sexual, que pela lógica de propriedade, o seu corpo não lhe pertencia. Além
de todo esse sofrimento, havia ainda o discurso de que as mulheres negras seduziam
os homens. Neste sentido, os discursos de hipersexualização da mulher negra
valorizam, no sentido sexual, os seus corpos.
Repetem-se as construções discursivas e performativas de uma única mulher
brasileira marcada pela pele bronzeada, a cor da miscigenação, que encena
performances identitárias de uma mulher fácil, acessível, disponível para o sexo,
objeto sexual, submissa.
Percebe-se, então, a interligação entre gênero e nacionalidade, para Salih
(2012, p.70), “[...] a ideia de que o sujeito é efeito em vez de causa fornece a chave
para as teorias sobre a identidade performativa desenvolvidas por Butler”. Sendo
assim, as mulheres brasileiras são os efeitos discursivos de toda essa construção
discursiva e performativa sobre as brasileiras repetida ao longo dos anos.
Tais construções discursivas e performativas - que se repetem através da
iterabilidade e da citacionalidade - sobre a mulher brasileira, pelo viés das Teorias
Queer, são compreendidas por nós como a intersecção entre gênero e brasilidade,
apontando para construção de mulher brasileira sensual, sedutora, hipersexualizada,
fácil, disponível, objeto sexual, que é observada nas camisetas em análise nessa
pesquisa, que trazem a mulher brasileira construída como mulata que possui uma pele
bronzeada e se exibe como um atrativo turístico a ser visitado na Copa do Mundo
2014.
Além desses conceitos propostos pelas Teorias Queer, faz-se necessário
compreender sobre a internet, trajetória textual e entextualização, partes
metodológicas importantíssimas para a realização dessa pesquisa online, conforme
veremos no próximo capítulo.

40
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O terceiro capítulo dessa dissertação visa apresentar o caminho metodológico


percorrido nesta investigação, e traz inicialmente uma breve reflexão sobre a internet
como espaço híbrido; a seguir abordamos o contexto de pesquisa e também conceitos
de trajetória textual e entextualização. Explicitamos os critérios, os instrumentos de
geração de dados, as categorias de análise dos objetos de consumo e as categorias
de análise das entextualizações.

3.1 A INTERNET COMO ESPAÇO HÍBRIDO E LUGAR DE PESQUISA

No mundo globalizado em que vivemos, as informações, as pessoas, pedaços


de línguas etc. (BLOMMAERT, 2014)11 viajam transglobalmente em segundos. São
Discursos diversos e de várias ordens que se esbarram, se complementam, se
chocam e se (des) encontram; tudo isso propiciado pelo avanço e o acesso às
Tecnologias de Informação e Comunicação das informações veiculadas pelas e nas
redes digitais.
A diversidade midiática unida à inteligência coletiva faz com que a tecnologia
seja cada vez mais refinada, proporcionando a divulgação de produtos e a interação
entre as pessoas. Para Jenkins (2009, p.29) estamos em um momento de cultura da
convergência,

[...] onde as velhas e as novas mídias colidem, onde a mídia


corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor
de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras
imprevisíveis.

11
Conferência ministrada por Blommaert, em 2014, no Congresso Internacional de Linguística Aplicada
promovido pela AILA, em Brisbane – Austrália.
41
De acordo com Castells (2003, p.8), “a internet é o meio de comunicação que
permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento
escolhido, em escala global. [...]”. Em outras palavras, a conexão entre pessoas e a
trajetória de informações mundiais, como vemos em tempos de Modernidade
Reflexiva (GIDDENS, 1990), é acessível com a criação da internet, especificamente,
da Web 2.0.
Para Moita Lopes (2010, p.394), a Web 2.0 proporciona “[...] um mundo no qual
não há muita diferença entre o público e o privado”. Para o autor (p.399), “o mundo da
Web 1.0 pode ser entendido como aquele no qual a tela do computador era um lugar
de consumo a ser consumido pelo usuário. [...]”. Diferentemente da Web 2.0, que, nas
palavras do autor (ibid., p.399) “opera-se sob uma outra lógica: a da participação, a
da colaboração, a da inteligência coletiva e a da possibilidade de intensificação das
relações sociais nas wikis, espaços de afinidades, fanfictions, etc”.
Neste sentido, a Web 1.0 divide nitidamente o usuário, aquele que consome,
do produtor, aquele que faz; já na Web 2.0 não existe mais a separação entre
consumidor e produtor. Para Reilly (2005 apud Moita Lopes, 2010, p.400) “A Web 2.0
não é uma tecnologia, mas uma atitude”.
Assim, consideramos a web como um espaço híbrido, um espaço em que
encontramos tudo: corpos para consumir, redes sociais, salas de bate papo, jornais,
canais de TV, de vídeo, blogs, etc. Nestes espaços as pessoas interagem por meio
de textos e linguagens diversas, essas interações fluem mais intensamente devido ao
anonimato:

Especialmente, deve-se ressaltar a possibilidade de anonimato que os


participantes dos novos letramentos digitais têm, facilitando o
tratamento de temas tabus como sexualidade e gênero nem sempre
enfrentados sem esforço no face a face [...] (MOITA LOPES, 2010,
p.401)

As dimensões das discussões na Web 2.0 são diferentes das face a face, pois
o anonimato cria uma ilusão de proteção, fazendo com que o sujeito se expresse mais
profundamente em temas considerados tabus. Este anonimato, pode, por exemplo,
estar escondido em um perfil falso. Utilizo o termo ilusão de proteção, pois através do
anonimato, o sujeito acredita que o outro não sabe quem ele é, portanto, não o
agrediria fisicamente, mas a proteção não acontece, pois o sujeito sofre toda uma

42
retaliação se aquele pensamento for diferente do esperado. Então, é agredido
verbalmente no mundo online. Um exemplo de agressões está nos ataques verbais
sofridos por mulheres negras que vêm se destacando na mídia tradicional como o
caso da jornalista Maju, das atrizes Cris Viana, Sheron de Menezes e Taís Araújo. Ao
mesmo tempo em que temos coletivos discutindo, nas redes sociais, políticas de
valorização e inclusão para mulheres negras, deparamo-nos com garotos de
programas, gays ou não, que vendem seus corpos, campanhas para defender o
salário digno de algumas profissões, dicas de saúde e beleza, questionamentos do
que é ser negro/a no país, etc. Baseados em Bauman (2001), podemos dizer que
temos aqui exemplos do híbrido.
Além disso, a Web 2.0, em tempos de Modernidade Liquida (BAUMAN,2001),
é um espaço para transgressão, para questionamentos, tais como corpos abjetos que
começam a se expor, mas de maneira a apontar seus posicionamentos e preservar
sua identidade real. Também estamos em um contexto fluido e de mobilidade, os quais
fazem emergir diferentes trajetórias textuais, como no caso de nossa pesquisa, as
camisetas percorreram diferentes sites, sendo entextualizadas através de diversos
pontos de vista. Nesse sentido, este espaço onde os textos viajam com mais facilidade
e rapidez é também um espaço para se fazer pesquisa.
De acordo com Buzato (2007, p.50), as TICs incorporadas ao cotidiano
proporcionaram novas formas de relações sociais, portanto, necessita-se de formas
mais adequadas para a análise das interações sociais. Para o autor, os contextos são
“[...] heterogêneos, dinâmicos e porosos [...]” e apenas reconhecer isso não é
suficiente, ele se posiciona a favor de uma revisão conceitual e metodológica.
Segundo Pieniz (2007), pensar sobre ambientes de pesquisa virtual faz-se
fundamental, uma vez que há novas formas de interações sociais através da internet.
A etnografia virtual é uma saída para pesquisadores contemporâneos, a autora julga
necessário ter em mente as formas de coleta para assegurar boas condições de
trabalho. Para Hine (2005) a etnografia pode ser aplicada ao contexto online, pois
esse é definido como um contexto cultural. Ou seja, a etnografia virtual é a
metodologia de pesquisa tal como a pesquisa etnográfica – que se baseia na
observação; levantamento de hipótese, análises sob o ponto de vista do pesquisador,
etc. - porém em ambiente virtual. Nesse sentido, a etnografia virtual pode ser utilizada
como ferramenta exploratória de blogs, redes sociais, entre outros espaços online.

43
Sendo assim, nossa pesquisa é de cunho etnográfico virtual, porque estamos
em contexto online e retiramos nossos dados da Internet. O processo se iniciou em
novembro de 2014 e se estendeu até agosto de 2015, incluindo pesquisas sobre
trajetória textual e entextualização das camisetas, conceitos que veremos a seguir.

3.2 CONCEITOS DE TRAJETÓRIA TEXTUAL E ENTEXTUALIZAÇÃO

De acordo com Moita Lopes (2010), vivemos em um mundo pluridiversificado,


em que corpos considerados abjetos na modernidade ganham vozes na Web 2.0.
Fabrício (2013, p.144) afirma: “mobilidade, hiperdiversidade e tempo turbinado: três
ideias na ordem do dia do mundo globalizado [...]”. É nesse sentido de rapidez, liquidez
contemporânea, que textos viajam rapidamente, percorrendo diferentes trajetos,
proporcionando ligações entre contextos e sendo entextualizados em muitos lugares,
com posicionamentos diferentes e proporcionando efeitos diversos. De acordo com
Fabrício (2013, p.144), “são encontros, e desencontros, de toda ordem, promovidos
pela tecnologia informacional, midiática e digital, cujos tentáculos se espraiam pelos
quatro cantos do planeta. [...]”.
Para Melo e Moita Lopes (2015, p.61), dentro dessa mobilidade em que
vivemos, o constructo de trajetória textual refere-se a “[...] como entextualizações de
textos percorrem o tempo e o espaço ao clique do mouse ou ao toque da tela[...]”.
Para Fabrício (2013, p.158) a trajetória textual conecta “[...] diferentes interlocutores
em contextos distintos [...]”, é por meio dela que os textos viajam diferentes percursos.
De acordo com Silva (2014, p.68) “[...] tanto no passado como hoje em dia, parece
que viajar é de fato o destino dos textos”. Na leitura que Guimarães (2014, p.69) faz
de Blommaert (2005 e 2010), ela explica que:

Conforme apontado por Blommaert (2005, p.62) textos viajam, ou seja,


seguem trajetórias por diferentes contextos. Também sublinha o fato
de que um “mesmo” texto, quando transportado, não ser mais o texto
“original”. A história é remodelada, renarrada, reenquadrada e o objeto
deixa de ser o texto e se torna a trajetória do texto.

44
Segundo Blommaert (2005, p.57), a noção de contexto vai além dos eventos
comunicativos. O contexto deve ser observado de maneira local e translocal, como
algo em movimento, “[...] os contextos não são características de textos isolados, mas
de economias mais amplas de comunicação e textualização”. Falar de contextos
implica em muitos outros fatores, tais como conhecimento de mundo e acessibilidade
ao conhecimento, vai além do texto, questionando até mesmo as noções de poder.
Complementando a questão, Melo e Moita Lopes (2015, p.60), embasados em
Blommaert (2008; 2010), compreendem que na trajetória textual:

[...] tais textos e Discursos circulam e viajam velozmente pela rede,


carregando suas características históricas, agregando novos sentidos
e promovendo a socialização de pessoas por meio de vários recursos
semióticos[...]

As trajetórias textuais acabam esquecidas no contexto, porém é através delas


que os textos percorrem diferentes caminhos. Os processos de entextualizações
proporcionam ressignificações aos textos. Os sentidos são construídos
pluridirecionalmente, ou seja, de vários ângulos, vários lados, direções, não há um
sentido único, sobretudo nos dias atuais.
Sobre entextualização, especificamente, Bauman e Briggs (1990, p.22)
afirmam que é:

[...] o processo de tornar o discurso passível de extração, de


transformar um trecho de produção linguística qualquer em uma
unidade – um texto – que pode ser extraído do seu cenário
interacional.

Para os autores, a entextualização de um texto implica no descentramento de


discursos, ou seja, é um processo transformacional em que emergem novos sentidos,
ideologias, poder, Discursos são descentrados e entextualizados. Eles afirmam que a
entextualização envolve outros processos como a descontextualização e a
recontextualização pois, para ser entextualizado, ele precisa ser descontextualizado
e depois recontextualizado. Nas palavras dos autores (ibdem, p.75), “a
descontextualização e a recontextualização de textos são dois aspectos do mesmo
processo. [...]”. Para tal, se faz necessário tomar as dimensões esquecidas no
contexto e considerar “[...] o que acontece com um texto uma vez que é

45
descontextualizado”. Guimarães (2014, p.72) afirma que “[...] textos devem ser
compreendidos como seguindo trajetórias através de sucessivas entextualizações”.
Nas palavras de Melo e Moita Lopes (2015, p.61), embasados em Bauman e
Briggs (1990), a entextualização é a “[...] capacidade reflexiva do discurso de ser
compartilhado em diferentes sistemas de significação e o enquadramento do texto que
carrega suas marcas para outros espaços”.
Blommaert (2005) afirma que entextualização é o processo de retirar um texto,
ou um pedaço dele, do contexto e colocá-lo em outro contexto, ou seja, materializá-
lo. Nas palavras do autor (2005, p.515) “[...] discursos retirados de seu ambiente de
interação e transmitidos em conjunto com novas sugestões de contexto”.De acordo
com o autor, (p.47), a entextualização é um processo no qual:

[...] discursos são sucessivamente ou simultaneamente


descontextualizados e metadiscursivamente recontextualizados, de
modo que se tornem um novo discurso, associado a um novo contexto
e acompanhado por uma metadiscursividade particular, que fornece
um tipo de leitura preferida para o discurso.

Nesta investigação, compreendemos que as distintas entextualizações


compõem as diversas trajetórias textuais, inseridas nesse mundo globalizado e
líquido, que se misturam, se envolvem. Sendo assim, conforme já dito na introdução
desta pesquisa, trabalhamos com a trajetória textual e a entextualização dos objetos
de consumo camisetas, que foram lançados para a Copa do Mundo, contexto que
abrange a criação das camisetas como veremos no próximo tópico.

3.3 CONTEXTO DE PESQUISA

Neste espaço, apresentamos o contexto de nossa pesquisa e para tal


abordamos o evento Copa do Mundo. De acordo com a Nova Enciclopédia Barsa
(1998), o evento Copa do Mundo teve início em 1928, sugerido pelo presidente da
FIFA (Federation Internationale de Football Association), o francês Jules Rimet.
Desde então, o evento mundial acontece de quatro em quatro anos e foi
tomando grandes proporções, mobilizando muitos patrocinadores e muito dinheiro.

46
Em 1970, de acordo com Barsa (1998), a competição foi transmitida ao vivo pela
televisão, mas apenas na Copa de 1974 que o ao vivo passou a ser em cores. Em
1986, na Copa do Mundo no México, foi apresentado pela primeira vez o recurso “Tira-
Teima”, um software que possibilita pausas durante o jogo.12 Mas, foi em 1994,
(BARSA, 1998, p.477), que o evento alcançou sua audiência recorde, “[...] 33 milhões
de espectadores assistiram aos 52 jogos, enquanto 3,5 milhões de torcedores
compareceram aos estádios. [...]”.
Sendo assim, a divulgação do evento atinge escala mundial. O que acontece
no período de preparação e durante a Copa do Mundo torna-se notícia também de
abrangência internacional, como foi o caso das manifestações. Um ano antes da Copa
do Mundo 2014, ou seja, junho de 2013, começaram manifestações de brasileirxs
contra o aumento da passagem de ônibus porém, as manifestações tomaram
proporções inimagináveis, e o motivo deixou de ser singular e tornou-se plural.
Diversas pessoas, das mais diferentes idades, encontraram-se nas ruas através do
movimento Vem pra rua para lutar pelos direitos do povo brasileiro, direito à saúde,
educação, etc. Vários manifestantes eram contrários ao país sediar o evento Copa do
Mundo devido ao gasto superfaturado nas preparações do evento, dentre eles, o mais
noticiado foi o gasto nas construções e reformas de estádios.
O país mudou seu cenário político, social e econômico. Os protestos não
pararam quando a Copa se iniciou, os gritos ofensivos ao governo aconteciam no
decorrer dos jogos do Brasil e as manifestações permearam o cenário da Copa do
Mundo no Brasil 2014.
Como mencionado na introdução, é de praxe a criação de camisetas em
homenagem ao país que sedia o evento. Assim, há um grupo que analisa e monta o
objeto de consumo que será lançado, embasado em pesquisas e questionamentos
sobre o lugar que sedia o evento. No caso da Copa de 2014, as camisetas foram
lançadas com o suposto título de homenagem às mulheres brasileiras. As camisetas
eram uma verde e outra amarela, sinalizando as cores predominantes da bandeira do
Brasil, país sede do evento:

12
Informações retiradas do site: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/06/tecnologia-de-
transmissao-de-tv-evolui-junto-com-copas-veja-video.html
47
Figura 2 – Camisetas lançadas para a Copa do Mundo 2014

A primeira parece ser destinada ao público feminino, pois percebemos as


curvas, os seios, tal modelo é comumente conhecido por baby look. Ela é verde com
uma figura ambígua que pode ser lida como um coração ou uma nádega feminina com
um biquíni fio dental, com a frase “I (love) Brazil”. A segunda sugere um modelo
masculino, amarela, com o estereótipo de uma brasileira, o cenário típico do Rio de
Janeiro e a frase “Lookin’to scoore Brazil”. Dedicamos um item no próximo capítulo
para a leitura dessas camisetas.
A polêmica do lançamento desses objetos de consumo foi tão grande que gerou
protestos em redes sociais, blogs, jornais, etc., a repercussão foi tão negativa que as
camisetas lançadas no site da Adidas foram apagadas. Porém, tal atitude não impediu
que ela viajasse nesse contexto online, líquido e rápido.
Como havia muitos dados sobre o material em análise, elencamos alguns
critérios para nos guiar na seleção de dados conforme veremos a seguir.

3.4 CRITÉRIOS E GERAÇÃO DE DADOS

Conforme já dito, nossa pesquisa é de cunho etnográfico virtual, o processo de


busca e acompanhamento dos dados aconteceu de novembro de 2014 a agosto de
2015. Inicialmente, digitamos no Google “camisetas Adidas Copa do Mundo 2014”,

48
apareceram aproximadamente 600.000 resultados e as imagens dos objetos de
consumo:

Figura 3 - Print da página de pesquisa no Google em 05/07/2015

Fomos abrindo os links e lendo as reportagens, assim, descobrimos que a


trajetória textual dos objetos de consumo era imensa, viajando até mesmo para fora
do Brasil, encontramos trechos em sites espanhóis, americanos, italianos, franceses,
etc. Decidimos então o primeiro critério:

 Nossas pesquisas são realizadas apenas nos sites em que o texto está em
Língua Portuguesa Brasileira, porque as entextualizações podem apontar
para os Discursos brasileiros sobre os textos em análise.
 No texto deve haver a entextualização de pelo menos um dos objetos de
consumo, ou seja, deve aparecer uma das imagens das camisetas em
algum momento no decorrer do texto, pois é a trajetória desses objetos que
nos interessa.

A trajetória textual das camisetas iniciou em 24 de fevereiro de 2014, teve seu


ápice no dia 25 de fevereiro de 2014 e depois a recorrência das entextualizações foi
diminuindo. Decidimos, então, mostrar o momento em que a trajetória textual teve seu
ápice:

49
 Selecionamos as dez primeiras páginas do Google, pois proporcionam uma
visão geral da viagem do texto através de um recorte, com início em 24 de
fevereiro de 2014 e término em 06 de março do mesmo ano.

Não nos é possível analisar todos os textos que aparecem nesse recorte
escolhido, ele mostra a trajetória textual, então, após observar os textos que
entextualizaram os objetos de consumo, estipulamos outros critérios que
proporcionassem a seleção de algumas entextualizações para nossa análise.
Optamos pelo:

 Jornal O Estado de São Paulo, pois ele é o primeiro a entextualizar as


camisetas como elas aparecem no site da Adidas. Apesar de o jornal O
Globo ser o primeiro que aparece na trajetória, ele traz as camisetas
dobradas em uma loja física, e o Jornal O Estado de São Paulo é o primeiro
a trazer um print da página da Adidas com os modelos virtuais que foram
entextualizados nos textos durante a trajetória textual.
 Site de variedades UOL, pois dentre todos que aparecem na nossa
trajetória, ele é o único que faz uma pesquisa se a camiseta deve ou não
ser retirada do mercado e obteve 5003 votos.
 Blog que aponte para construções discursivas para o público feminino:
Mulheres contra o feminismo: orgulhosas e felizes de sermos
mulheres.

Sendo assim, com base nos critérios citados, os textos que geraram nossos
dados para a entextualização são os dois objetos de consumo, os três textos em que
as camisetas foram entextualizadas: o jornal, o site de variedades e o blog.
No Jornal o Estado de São Paulo, a matéria que proporcionou nossos dados
foi: Camisas da Adidas tem duplo sentido e provocam revolta no governo, conforme
observamos na imagem a seguir:

50
Figura 4 - Entextualização feita pelo jornal O Estado de São Paulo

Já no site de variedades UOL as camisetas foram entextualizadas com o título:


Adidas lança camisetas sobre a Copa com conotação sexual e causa polêmica, como
mostra a figura:

Figura 5 - Entextualização feita pelo site de variedades UOL

Finalmente, o Blog Mulheres contra o feminismo entextualizou as camisetas


com o título: Carnaval-Copa do mundo: Mulher brasileira é prostituta, Brasil é terra de
bundas e as camisas da Adidas, conforme vemos na figura 6:

51
Figura 6 - Entextualização feita pelo blog Mulheres contra o feminismo

Para analisar tais entextualizações e também fazer uma leitura desses objetos
de consumo embasamo-nos em algumas categorias de análise que apresentamos a
seguir.

3.5 CATEGORIAS DE ANÁLISE

Para análise do corpus dessa investigação, utilizamos as pistas indexicais


propostas por Wortham (2001), porque nos proporcionam entender o que o outro diz
pela língua, ou seja, uma análise linguística, que apesar de serem usadas para
estudar posicionamento interacional, elas podem sinalizar também a trajetória textual
e as entextualizações das camisetas. Dentre as pistas indexicais sugeridas por
Wortham (2001) utilizaremos: referência, predicação, citação, índices avaliativos e
descritores metapragmáticos.
A referência se trata do nome, do referencial, nas palavras de Melo e Moita
Lopes (2015, p.62) “[...] são os elementos do mundo ao qual o narrador se refere. ”
A predicação caracteriza e qualifica os objetos, para Melo e Moita Lopes (2015,
p.62) é “[...] a caracterização de elementos mencionados pelo narrador”.

52
Quanto à citação, acontece quando traz o discurso de outro e o coloca em sua
própria fala, de acordo com Melo e Moita Lopes (2015, p.62) está sempre “[...]
relacionada à citação da fala do outro para recriar um momento de interação”.
Já os índices avaliativos são marcadores, conectivos, conjunções, que
sinalizam um determinado modo de falar, nas palavras de Melo e Moita Lopes (2015,
p.62) são “[...] itens lexicais, construções gramaticais, sotaque etc. que caracterizam
socialmente grupos sociais ou sujeitos sociais”.
Por fim, os descritores metapragmáticos mostram que tipo de ação está no
texto, os verbos discentes que são expressos, para Melo e Moita Lopes (2015, p.63)
são “[...] verbos ‘de dizer’ usados pelo narrador para se referir ou predicar o que é
contado na história”.
Já para as análises das imagens, utilizamos a proposta de Kress and Leuman
([1996]2006). De acordo com os autores, durante o século XX, a linguagem não verbal
começou a interagir com outros recursos semióticos, de maneira que é comum
encontrarmos diferentes textos multimodais. A escolha desses diversos recursos
semióticos que compõem os textos mencionados acontece tal qual a escolha de
índices linguísticos. Sendo assim, a escolha de imagens e ou palavras é carregada
de significações. Os autores também afirmam que a leitura desses textos multimodais
deveriam ser aprendidas na escola.
Kress e Van Leeuwen ([1996]2006) sugerem que como a linguagem verbal, as
imagens proporcionam a representação do mundo social, das identidades, servindo
também como mensagem. Não há uma estratégia única e singular capaz de analisar
cada elemento que proporcionará o discurso que dali emerge, mas sim um conjunto
de estratégias e elementos, ou seja, um todo é capaz de distinguir os discursos que
ali borbulham.
Para isso faz-se necessário observar o todo, os autores propõem separar as
imagens em alguns planos, observar o que está saltando da imagem, considerado
como primeiro plano. O que vem em um nível atrás, segundo plano, são as imagens
com mais de dois planos. Em outras palavras, observamos as dimensões que estão
presentes na imagem. Outro fator relevante são as cores e as combinações destas
dimensões presentes nas imagens, que sinalizam mais um traço a ser analisado.

53
De acordo com os pesquisadores, fora da escola, as imagens estão presentes
no cotidiano das crianças e adolescentes através de revistas, jornais, sites, jogos
eletrônicos, filmes, enfim, uma série de mídias que compõem o mundo pós-moderno.
Atualmente, a linguagem visual e os textos multimodais têm ganhado mais
destaque na vida social, os textos escritos, por muito tempo considerados tradicionais,
hoje, dão espaço a textos multimodais, apresentando mais de uma modalidade
semiótica em sua composição. Com efeito, percebemos a dinamicidade do mundo em
que vivemos, a sociedade pós-moderna tem diferentes maneiras de explicar e dialogar
com ele.
Através dessas categorias analisaremos nosso corpus. Nos próximos
capítulos, mostraremos a trajetória textual dos objetos de consumo, faremos uma
leitura das camisetas e analisaremos as três entextualizações.

54
4 AS CAMISETAS E SUA TRAJETÓRIA TEXTUAL

Neste capítulo, primeiramente analisamos os objetos de consumo, as


camisetas, a seguir, traçamos a trajetória textual em contexto brasileiro, mostrando a
viagem que esses objetos de consumo percorreram a fim de contemplarmos o nosso
primeiro objetivo que é descrever a trajetória textual dos objetos de consumo. Por fim,
apresentamos algumas reflexões sobre a trajetória textual que as camisetas
percorreram.

4.1 LEITURA DOS OBJETOS DE CONSUMO

Os objetos de consumo, as camisetas da Adidas, foram lançadas para a Copa


do Mundo 2014 realizada no Brasil. A primeira delas (figura 7) é toda verde como
observamos a seguir:

Figura 7 - Camiseta verde Adidas

55
As curvas, os seios, a cintura fina, as mangas curtas, indicam ser uma camiseta
direcionada para o público feminino, o modelo conhecido por baby look, que é justo.
As cores são o verde, que ocupa a maior parte do produto, azul anil e amarelo,
sinalizando as cores da bandeira brasileira e, consequentemente, representando o
Brasil, país sede da Copa do Mundo 2014.
A referência I (eu) em azul anil está em primeiro plano, bem como a figura que
é ambígua, representando ao mesmo tempo um coração e/ou uma bunda com biquíni
fio dental, indicando, assim, um equilíbrio entre o índice linguístico e a imagem, ou
seja, que ambos têm a mesma importância no texto. O mesmo não ocorre com a
referência Brazil, que está em segundo plano e entre os seios da imagem.
De acordo com Bechara (2009), a figura de linguagem ambiguidade é um
recurso que proporciona mais de um sentido, ou seja, sentidos diversos em uma
mesma mensagem. Desta forma, a figura ambígua pode ser lida de duas maneiras,
como a imagem de um coração amarelo que indexa o verbo to love, que significa
amar, emergindo o sentido de que eu amo Brasil, ou o coração amarelo sinaliza uma
bunda invertida, bem definida, vestida por um biquíni fio dental verde, mostrando uma
mulher de costas cuja cintura é bem fina, implicando em outro sentido, no de que eu
amo a bunda brasileira. Os textos observados na camiseta indicam que ao acionar
gênero (mulher) com nacionalidade (brasileira), representado pelas cores na
camiseta, acionam-se as construções discursivas e performativas do corpo da mulher
brasileira, no sentido sexual.
Outra ocorrência que nos chamou atenção, é o fato da camiseta se destinar às
mulheres, justificada pelo manequim feminino em que a camiseta é exposta. Tal gesto
sinaliza que a camiseta e a mulher brasileira são desejadas também por mulheres ou
objetos de consumo de mulheres.
Já na outra camiseta (ver figura 8, p.57) as linhas retas, as mangas mais
compridas e o ato de fala lookin’ to score (‘fazer gols’) mostram que a camiseta pode
ser um produto para um público masculino, justificado pelo manequim em que se
encontra. Quanto às cores, o amarelo nos remete ao Brasil e sinaliza descontração,
alegria, sol e verão. O país também é sinalizado tanto pelo verde das matas como
pelo azul claro do céu. Já o vermelho pode se referir ao desejo, à paixão, ao fogo que
aparece tanto no início como no fim da imagem e se mescla ao laranja enfatizando o
calor, o verão, a diversão e a liberdade.

56
Figura 8 - Camiseta amarela Adidas

Há também, em primeiro plano, uma mulher morena, de cabelos pretos longos


e lisos, com uma faixa ou uma tiara cor de rosa que reforça sua feminilidade. O corpo
moreno contrasta com o fio dental verde que simboliza o Brasil, esse corpo é curvilíneo
e de cintura bem fina, mostrando um padrão de beleza para essa mulher que é
brasileira e carioca, indicado pelo Pão de Açúcar em verde, em segundo plano. Essa
mulher morena e de corpo sensual está de braços abertos, a mão esquerda segurando
a bola, também em primeiro plano, indicando uma recepção aos turistas da Copa do
Mundo. A bola de futebol é preta e branca, não necessariamente a bola oficial do
evento, porém ela não quebra o equilíbrio das cores, e marca o evento. A mulher está
junto com um dos pontos turísticos conhecidos no país, o que sugere que ela também
é um atrativo turístico.
O verbo no infinitivo to score, em branco, apresenta vários sentidos, tais como
marcar, pontuar, sublinhar, escrever partitura13, porém, ao estar associado a uma bola
de futebol, na qual se refere à letra O, indexa os sentidos de marcar, pontuar, cobrar
pênaltis e fazer gols. Já o verbo lookin’to que está no gerúndio, escrito em vermelho,
cor do fogo, da paixão, e de forma abreviada, mostra uma linguagem cotidiana e
coloquial. Ele indexa sentidos como focar e esperar (no sentido de expectativas) e é
uma expressão que reforça o evento Copa do Mundo no Brasil. Ressaltamos também
que as duas letras “o o” do looking, compõem um olho e estão direcionadas ao lado

13 Mais informação no site: http://pt.bab.la/dicionario/ingles-portugues/score


57
direito do texto. Lookin’to score é, então, uma expectativa em fazer gols e conquistar
um campeonato, mas também é uma gíria, uma expressão sexual. De acordo com
Cambridge Dictionary, significa ter sucesso em seduzir alguém sexualmente14, já para
o Urban Slang Dictionary, um dicionário de gírias, é fazer sexo com alguém que você
geralmente acabou de conhecer. 15
O Pão de Açúcar, em verde, posicionado no mesmo plano da referência Brasil
e do sol, sinaliza, de forma fálica, um famoso símbolo do turismo carioca. A referência
Brazil aparece em verde, vermelho e laranja, sinalizando um país do verão, da
descontração, da liberdade, da paixão e do desejo. Neste sentido, observamos a
entextualização de discursos que viajam pela história e retomam a questão da mulher
brasileira, marcada pela pele morena à negra, disponível para sexo e que, como o
Pão de Açúcar, deve ser visitada durante a Copa. Podemos afirmar que gênero
interseccionado com nacionalidade acionam construções discursivas e performativas
de sexualidade.

4.2 A TRAJETÓRIA TEXTUAL

Conforme Silva (2014) sugere, viajar sempre foi o destino dos textos, eles
percorrem trajetos diferentes, mídias diversas, etc. Mostramos, a seguir, a trajetória
textual dos objetos de consumo, de 24 de fevereiro de 2014 a 06 de março do mesmo
ano, para isso criamos algumas linhas do tempo, com data, hora e veículo, que
facilitam nosso olhar sobre a trajetória; após, apresentamos as mudanças mais
significativas nos títulos dos textos que compõem a trajetória textual.
A primeira linha do tempo é do dia 24 de fevereiro de 2014:

24/2/14____12h__________16h________20h38_________22h52______22h52___
O Globo Gazeta O Estado de Cidade Jornal
online São Paulo Marketing O Popular

14 “to succeed in seducing someone sexually”


15 “to have sex with someone that you have usually just met”.

58
Observamos que a trajetória textual das camisetas inicia-se às 12h do dia 24
de fevereiro e finaliza-se, neste dia, às 22h52. As camisetas viajam por canais de
comunicação jornalísticos (O Globo, Gazeta Online, Estado de São Paulo e o jornal O
Popular) e um site específico sobre marketing (Cidade Marketing). Percebemos
também, que no início da trajetória, no Globo, ao meio dia do dia 24 de fevereiro de
2014 é mostrada a imagem de uma das camisetas, a verde, em tecido e dobrada,
conforme a figura 9:

Figura 9 - Trajetória textual no jornal O Globo

Com o título Camiseta vendida nos EUA usa apelo sexual vinculado à Copa no
Brasil, neste jornal, a camiseta aparece empilhada, provavelmente em uma prateleira
de uma loja. A foto utilizada por esse jornal recebeu uma edição que proporcionou um
zoom, que corta a parte de cima dessa imagem polêmica e direciona, assim, o olhar
do leitor para a bunda ali estampada.
A seguir, no mesmo dia, às 16h, a trajetória textual das camisetas segue para
gazetaonline com o título: Camiseta vendida nos Estados Unidos usa apelo sexual
vinculado à Copa no Brasil, é possível identificar que o título é idêntico ao veiculado
no jornal O Globo. A imagem, nesse site, é a mesma do jornal O Globo, porém sem o
zoom, mas ainda é a camiseta verde, de tecido, empilhada em uma loja.

59
Já no jornal O Estado de São Paulo, as camisetas são veiculadas no mesmo
dia 24, às 20h38min. Contudo, identificamos mudanças tanto na manchete da
reportagem quanto nas próprias camisetas como mostra a imagem a seguir:

Figura 10 – Trajetória textual no jornal O Estado de São Paulo

Escolhemos mostrar as duas imagens (O Globo e Estadão), pois o primeiro


jornal foi a marca inicial da trajetória textual estuda e o segundo jornal foi quem
mostrou as camisetas em modelos virtuais, que perpetuaram todo o restante da
trajetória textual estudada.
Diferentemente das duas trajetórias mencionadas, aqui elas aparecem no
caderno de Esportes, na seção Futebol e a manchete diz: Camisetas com conotação
sexual da Adidas para a Copa revoltam o governo. Pelo título é possível perceber que
houve um efeito negativo do lançamento por parte do governo federal (revolta,
governo). Quanto às camisetas, neste meio de comunicação elas aparecem como
modelos virtuais e de forma interativa, dessa maneira, o internauta pode clicar em uma
tira com seis opções: a primeira é uma sugestão de alteração para as camisetas; a
segunda é a camiseta verde, não mais em tecido e sim na imagem baby look feminina
tal qual observamos nesta dissertação; a terceira é um zoom na estampa da camiseta
verde; a quarta é a camiseta amarela, também no mesmo molde em que se encontra
nessa dissertação; a quinta é um zoom na camiseta amarela com ênfase no corpo da
mulher brasileira ali presente e a última são as duas camisetas no site da Adidas, com
um círculo ao redor para chamar à atenção no meio de outras à venda.

60
É nesta figura, neste momento, que encontramos, a imagem como apresentada
no site da Adidas, a imagem que circulou e causou polêmica a ponto de a
multinacional esportiva tomar a decisão de deletar o lançamento dessas camisetas e
todas as informações sobre esse lançamento, por isso, não conseguimos acessá-la,
mas o print do Estadão retrata e comprova que as camisetas foram veiculadas pelo
site da patrocinadora (ver figura 10).
A trajetória textual desses objetos de consumo segue, ainda no mesmo dia 24,
e na mesma hora 22h52min, para dois sites diferentes. No sistema de busca do
Google, apesar de acontecerem no mesmo dia, hora e minuto, as camisetas
aparecem primeiro no o site cidade marketing pelo título: Camisetas têm duplo sentido
e provocam revolta no governo brasileiro. Novamente é observado um efeito do
lançamento (provocam, revolta, governo). Além disso, aqui é sinalizada a
ambiguidade de sentido da camiseta (duplo sentido).
No mesmo dia e horário, o último percurso dos objetos de consumo em análise
é observado no site do jornal O Popular: Embratur critica camisetas da Adidas vendida
com apelo sexual. Aqui observamos uma outra alteração no título que inclui, na
manchete da reportagem, o órgão responsável pelo Turismo nacional. O efeito de tal
lançamento dos produtos que constroem as mulheres brasileiras como
hipersexualizadas, disponíveis para serem conhecidas como outros pontos turísticos
é criticado e pode ser observado pelas pistas indexicais (crítica, Embratur, apelo
sexual).
O 25 de fevereiro foi o ápice da trajetória textual dos objetos de consumo
percorreram 36 sites diferentes, dentre eles, jornais, blogs, revistas, sites de
variedades. No dia 26, o movimento do texto na web 2.0 diminui, e ele transita em
apenas 05 sites, depois encontramos marcas dessa trajetória nos dias 28 de fevereiro,
03,05 e 06 de março.
Não teríamos tempo nem espaço para analisar cada espaço que os objetos de
consumo percorreram, portanto, decidimos olhar os títulos das entextualizações e
destacar aqui em nossa análise, quais os momentos que ocorreram mudanças
significativas e que novas pistas indexicais sinalizam a alteração.
Mostramos a seguir a linha do tempo do dia 25 de fevereiro de 2014:

61
25/02/2015 09h13 _____09h14_____ 09h31_____ 12h06_____ 12h15__
Uol site de Blog Em.com Lance net R7
Variedades Diário do Economia Copa 2014 Esportes
Nordeste

12h19 _____12h44_____ 13h09_____ 13h42_____ 13h52_____ 13h54__


Gazeta R7 Revista Blog do Jornal Tribuna
Esportiva Notícias Brasileiros Torcedor GGN Hoje

14h14_____ 14h32_____ 15h41_____ 15h53_____ 16h01_____ 16h01__


Ig Paraná Brasil Revista Globo Folha na
Economia Online Post Portal Copa
Esporte Fórum

16h05 _____16h09_____ 16h13_____ 16h18_____ 16h42_____ 16h53 __


G1 Estadão Terra na Portal Revista iBahia
Esportes Copa 2014 Infomoney

17h07 _____17h50_____ 17h57_____ 18h33_____ 18h41_____ 18h43 __


Jornal do Revista Portal Revista Jornal Catraca
Commercio Carta Jovem Rolling Epoch Livre
Capital Pan Stones Times

22h39 _____s/h16_________s/h_________s/h________s/h_________s/h____
Pragmatis- Estádio Jornalismo Correio Diário Blog I (Love)
mo Político Vip SBT Lageano Pernam- Beach style
buco

__s/h___
Informe
Pernambuco

No dia 25 de fevereiro de 2014, às 09h13min, um novo índice linguístico é


incorporado à trajetória das camisetas, “polêmica”, no site de variedades UOL, na
página específica para a Copa: Adidas lança camisetas sobre a Copa com conotação
sexual e causa polêmica. Este termo (polêmica) como na trajetória textual do dia 24
de fevereiro sinaliza os efeitos trazidos pelo lançamento dos objetos de consumo e
mostra debates, discursos sobre o assunto o que é percebido pela longa viagem dos
textos, incluindo diferentes idiomas (ver tabela 2, em anexo, p.114).

16
Sem hora identificada
62
O site de variedades aponta a trajetória textual das camisetas como o Estadão,
com uma tarja e diversas opções em que o internauta clica e escolhe a imagem que
aparecerá, a primeira é a camiseta verde; a segunda, a camiseta amarela; a terceira,
o print da página da Adidas em que as camisetas também estavam sendo
comercializadas; a quarta é um zoom na camiseta verde; a quinta é um zoom na
camiseta amarela e a última são as duas camisetas, uma ao lado da outra, primeiro a
amarela e depois a verde. Outro fator diferencial nesse site de variedades é uma
pesquisa que pergunta ao internauta: “você acha que a venda das camisetas deve ser
interrompida?”. Dentre os 5003 votos que constam na pesquisa, 67% afirmam que sim
e 33% afirmam que não.
No dia 25 de fevereiro de 2014, às 12h06 min, no portal de notícias da Copa,
Lance net – Copa 2014, a trajetória textual aparece com o título: Em meio à polêmica
com camisas da Copa, Dilma ataca turismo sexual. Até então, no decorrer da
trajetória, ainda não havia aparecido nos títulos as pistas indexicais Dilma e turismo
sexual, percebemos que a trajetória começa a mudar.
A trajetória textual segue, às 12h15min, para o Site de variedades R7, que
decide manter no título a pista indexical turismo sexual: Camisetas polêmicas são
acusadas de incentivar turismo sexual. Percebemos que somente depois de oito sites,
a pista indexical Dilma é repetida, no Brasil Post, um canal associado à Abril, às
15h41min, Dilma condena Adidas por camisetas com referências sexuais no Brasil e
na Copa de 2014, o verbo condenar no presente do indicativo proporciona uma
certeza.
Os objetos de consumo continuam percorrendo a trajetória textual, ainda no dia
25 de fevereiro, às 15h53min, na Revista Portal Fórum, veiculada pelo site de
variedades Ig, com o título: Adidas lança material da Copa com conotação machista,
neste trecho da trajetória textual percebemos um posicionamento que caracteriza os
objetos de consumo como machistas. Quando o leitor observa o termo machista,
outras construções discursivas são acionadas, diferentes das até então ditas.
Às 16h13min deste mesmo dia, em uma página específica para Copa, no portal
Terra, chamada de Terra na Copa, as camisetas aparecem com o título: Adidas
explica e diz que não venderá mais camisetas sexistas. Nesse trecho da trajetória
textual, algumas construções discursivas sobre sexismo são abordadas, tais como a

63
segregação sexual que exclui um grupo, no caso das camisetas, as mulheres, e
acionam o poder de outros sobre tais corpos.
Às 17h50 min, na revista Carta Capital, a referência de lugar (Brasil) aparece
no título interseccionada ao turismo sexual, o que proporciona uma amplitude para
estes objetos de consumo: Adidas retira das lojas camisetas que relacionam o Brasil
ao turismo sexual. Alguns minutos depois, às 17h57min, o Portal Jovem Pan,
veiculado pela UOL, sinaliza um arrependimento da multinacional esportiva através
do título: Adidas pede desculpas por camisetas com conteúdo sexual.
A última entextualização do dia 25, com hora, foi às 18h43, pelo Catraca Livre.
Na página de Cidadania houve a troca da pista indexical Adidas por patrocinadora da
Copa do Mundo: Patrocinadora da Copa do Mundo faz camiseta com duplo sentido e
causa polêmica. A troca destas pistas indexicais proporciona uma leitura que carrega
maiores responsabilidades para a Adidas. Ainda no dia 25, sem hora identificada, por
isso colocamo-la por último, ela foi feita por um blog, I (love) beach style com título
voltado ao seu público: Polêmica fashion: Adidas na Copa do Mundo, além disso, a
trajetória vem acompanhada da #chateada. Ou seja, a questão polêmica das
camisetas vai para o universo da moda e apagam-se sentidos de sexualidade.
Ainda no mês de fevereiro, a trajetória textual percorre mais cinco sites, quatro
no dia 26 e um no dia 28 conforme veremos na linha do tempo a seguir:

26/02/2014 0h00________s/h________sh________sh________28/02 s/h


Tribuna Radio- Mais de Blog Blog do
Do Norte agência Trinta Mulheres Ornilo
Contra o Lundgren
Feminismo

No dia 26 de fevereiro de 2014, as horas na trajetória textual desaparecem, e


tudo o que encontramos a partir deste dia está igual ao dia 26, ou seja, sem hora
identificada, seguimos o sistema de busca do google para definirmos qual viria
primeiro ou depois. Neste dia, a trajetória textual dos objetos de consumo passa pelo
portal de notícias Radioagência com o título: Camisetas da Adidas fomentam
exploração sexual e tráfico de mulheres, acionando construções discursivas diferentes
das até então percebidas no decorrer da trajetória textual. Essas novas construções
indexam sentidos que acusam diretamente a patrocinadora do evento de incentivar
tanto o turismo sexual quanto o tráfico de mulheres.

64
Neste mesmo dia, a trajetória textual passou pelo blog Mulheres contra o
feminismo: orgulhosas e felizes de serem mulheres, no qual havia o artigo de título:
Carnaval-Copa do mundo: Mulher brasileira é prostituta, Brasil é terra de bundas e as
camisetas da Adidas. Este artigo de opinião, apesar de também ser contrário às
criações das camisetas, segue na contramão de outros encontrados, pois ele culpa a
mulher brasileira por tais construções discursivas e performativas, a exemplo das
explícitas nas camisetas.
Em março, a trajetória segue para mais três lugares, nos dias 03, 05 e 06,
também sem hora identificada, conforme vemos a seguir:

03/03/2014_______05/03/2014______06/03/2014
Blog da Blog a cortesã PSTU
Regina moderna

No dia 03 de março de 2014, no Blog da Regina, percebemos novamente a


associação de dois eventos divulgados mundialmente, o Carnaval e a Copa do
Mundo, percebida pelo título: Adidas, Copa e Carnaval. Observamos que neste título
apaga-se a questão explicita do sexo.
Ainda no início do mês de março, dia 05, a trajetória textual em análise
percorreu o Blog A Cortesã Moderna, com o título: Eles vão pensar que somos todas
prostitutas, esse artigo de opinião também se diferencia dos outros encontrados, pois
aponta para construções discursivas sobre a prostituição e apaga as camisetas do
título, porém elas aparecem no meio do texto.
Por fim, no dia 06 de março, a trajetória textual passou pelo site do partido
político PSTU: Copa do Mundo do machismo e da exploração sexual, que traz à tona
outras construções discursivas, bem diferentes da primeira apontada nessa trajetória:
Camisetas vendidas nos EUA usa apelo sexual vinculado à Copa no Brasil.

4.3 ALGUMAS REFLEXÕES

Como observado ao longo da análise, a trajetória textual dos objetos de


consumo viaja por vários dias, tanto em sites brasileiros como em estrangeiros. O

65
segundo não é foco de nossas análises, mas no anexo 2 (p.114) apresentamos
superficialmente uma tabela com a trajetória textual internacional de tais objetos.
Percebemos, então, principalmente comparando o ponto inicial da trajetória textual
estudada, com o final da mesma, que, conforme o texto viaja, como diz Blommaert
(2005) novos sentidos emergem. De acordo com Blommaert (2005) e Fabrício (2013),
percebemos que em ambientes online não existem fronteiras, há um espaço híbrido
onde textos viajam transglobalmente, tal como vimos na viagem dos objetos de
consumo, representada nesse capítulo. Observando as mudanças apenas nos títulos
dos artigos e reportagens encontrados, é possível perceber que as TICs possibilitam
a viagem rápida dos textos.
Pelos títulos observados ao longo da trajetória textual, vemos que nos primeiros
percursos as reportagens contam o fato do lançamento das camisetas, e
posteriormente são apresentados outros títulos que sinalizam os efeitos dos atos de
fala performáticos e corpóreos em vários veículos. No dia 26 de fevereiro de 2014,
temos como ápice desse efeito, a retirada o das camisetas de circulação.
No auge da trajetória textual, as pistas indexicais sinalizam que as camisetas
foram associadas à exploração sexual, turismo sexual, machismo, sexismo, etc. Isso
indica que ao percorrer sites diversos, a questão da mulher brasileira construída como
disponível foi criticada não apenas pelo governo, mas pela própria mídia. Neste
sentido, tais camisetas apontam para a repetição de atos de fala performativos que
constroem a mulher brasileira miscigenada, uma única mulher hipersexualizada, a
qual não lhe é atribuído a encenação de performances diversas, que não sejam
sexuais. Tal construção é feita através da intersecção apontada pelas Teorias Queer,
onde estudos recentes (MISKOLCI, 2007, BARNARD, 2004, SEDGWICK, 2007)
mostram como categorias interdependentes, necessitam ser estudas juntas, tais como
gênero e nacionalidade nas mulheres brasileiras, representadas nessas camisetas,
que percorreram a longa trajetória textual estudada e nas três entextualizações que
veremos a seguir, no próximo capítulo.

66
5 AS ENTEXTUALIZAÇÕES DOS OBJETOS DE CONSUMO E SOBRE AS
MULHERES BRASILEIRAS

Neste capítulo, contemplamos nossos dois últimos objetivos: analisar três


entextualizações dos objetos de consumo citados na trajetória textual estudada e
analisar as entextualizações sobre as mulheres brasileiras presentes nos textos
selecionados. Para isso, através das pistas indexicais propostas por Wortham (2001),
analisamos três entextualizações dos objetos de consumo ao longo da trajetória
textual: o jornal O Estado de São Paulo; o site de variedades UOL e o blog: Mulheres
contra o feminismo: orgulhosas e felizes de sermos mulheres conforme veremos a
seguir.

5.1. ENTEXTUALIZAÇÕES DOS OBJETOS DE CONSUMO

Nesta seção trazemos trechos das análises que abordam as camisetas


construídas como objetos de consumo. No jornal O Estado de São Paulo percebemos
que há a utilização de valores para se referir as camisetas, ou seja, a camiseta é
colocada na posição de um objeto a ser comprado, consumido:

A outra camiseta coloca um coração amarelo que também pode ser


enxergado no formato de nádegas com um fio dental verde. Também
passa uma imagem de duplo sentido e fala. No site, custa US$ 22
(R$51,50). O portal do jornal O Globo já havia mostrado a peça nesta
segunda-feira. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (outra camiseta, coração, formato) com o verbo no presente do


indicativo (coloca) apontam, juntamente com as predicações (amarelo, de nádegas,
com um fio dental verde), as características presentes nessa camiseta. A locução
verbal (pode ser enxergado) aliada ao índice avaliativo (também) reforça a existência
dessa possibilidade de leitura, comprovada pela frase (também passa uma mensagem

67
de duplo sentido e fala), percebemos que provavelmente houve um equívoco na
digitação que deixou a frase incompleta. A referência de lugar (no site), a predicação
(US$22 (R$ 51,50) e o verbo no presente do indicativo (custa) expressam uma certeza
e passam também, tal qual o valor expresso na anterior, a sensação de uma realidade,
algo que está acontecendo e é passível de compra.
O site de variedades UOL também traz os valores das camisetas:

Uma camiseta de cor verde mostra a frase “Eu amo o Brasil”. Mas o
que seria um coração tem na verdade o formato de um bumbum de
biquíni. A outra camiseta, amarela, mostra: “lookin’to socorre”, o que
poderia ser traduzido como “buscando fazer gols”, mas que também
pode ser uma alusão a “pegar garotas”. As camisetas custam de U$22
a U$25 (de R$50 a R$60)

As referências (camiseta, frase, coração, formato, bumbum) e as predicações


(de cor verde, de biquíni), juntamente com a citação (eu amo Brasil), entrelaçadas aos
verbos (mostra, seria, tem), sinalizam a descrição da camiseta verde lançada pela
Adidas. Para indicar a descrição da camiseta amarela, o texto utiliza as referências
(camiseta, alusão), a predicação (amarela) e as citações (“lookin’to score”, “buscando
gols”, “pegar garotas”) entrelaçadas aos verbos e locuções verbais (mostra, pode ser
traduzido, pode ser), além disso, o site também indica os preços das camisetas (US$
22 e US$ 25) e a conversão em reais (R$50 a R$60), que sinaliza a possibilidade de
compra e coloca as camisetas como objetos de consumo.
No blog Mulheres contra o feminismo não há os valores, entretanto, outras
pistas nos apontam que as camisetas são entextualizadas pelo blog também como
objetos para consumo:

E sobre as camisetas?? O governo brasileiro fingiu um ataque


de histeria com tal fato das camisetas. A patrulha politicamente
correta saiu da toca, deixou o ufanismo tomar conta das
emoções, e bradou: “Isso não. Somos “o império brasileiro agora
na moda com a Copa aqui no nosso quintal”.

Neste trecho observamos a referência (camisetas), indicando que o blog


abordará o assunto. As referências (governo, fato, ataque), juntamente com as
predicações (das camisetas, brasileiro, de histeria), unidas pelo verbo (fingiu) no
pretérito perfeito, indexam sentidos de falsidade, descaso e falta de preocupação.

68
O blog faz novamente uso de citação (Isso não. Somos o império brasileiro agora na
moda com a Copa aqui no nosso quintal), juntamente com as referências (patrulha,
ufanismo), as predicações (politicamente correta, das emoções) e, ligados pelo
descritor metapragmático (bradou), sugerem que muitxs acreditam que está tudo bem.
Além disso, ao utilizar a pista linguística (moda) o blog sinaliza que as camisetas são
objetos de consumo, tal como as roupas, acessórios que compõem as tendências da
moda.

5.2. ENTEXTUALIZAÇÕES COMO POLÊMICAS

Nesta seção trazemos as diferentes polêmicas presentes nas camisetas, tais


como a polêmica do lançamento das camisetas, que abrange a conotação sexual e a
polêmica da exploração sexual. Ambas são efeitos gerados pelo lançamento dos
objetos de consumo. Para observarmos com mais detalhes como ocorreram essas
entextualizações, inicialmente apresentamos os títulos e subtítulos que compõem
cada artigo analisado. A entextualização dos objetos de consumo no jornal O Estado
de São Paulo tem o título:

Camisetas com conotação sexual da Adidas para a Copa revoltam o


governo (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

No título mencionado, as referências (camiseta, conotação, Copa) e as


predicações (sexual, Adidas) sinalizam que os objetos em análise foram
compreendidos como sexuais pelo veículo e também pelo governo. Tal compreensão
também é observada pelo verbo no presente do indicativo (revoltam), que sinaliza
ainda o efeito provocado no governo que é a revolta.
A notícia segue com o subtítulo:

Site da empresa nos Estados Unidos oferece peças com mensagens


de duplo sentido (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (site, peças, mensagem), a referência de lugar (Estados


Unidos), juntamente com as predicações (da empresa, de duplo sentido) e o verbo no
69
presente do indicativo (oferece), sugerem a questão do duplo sentido presentes nas
imagens e amenizam o título e explicam um pouco mais do título citado,
complementam o título.
Já o título do site de variedades UOL é semelhante a do jornal O Estado de
São Paulo, são repetidas algumas pistas linguísticas (camisetas, conotação sexual,
Adidas, Copa), entretanto, eles se diferem, pois, para o site de variedades, o efeito
tratado foi a polêmica, sem especificar com quem, onde, como:

Adidas lança camisetas sobre a Copa com conotação sexual e causa


polêmica (UOL, 2014)

As referências (Adidas, camisetas, Copa, conotação, polêmica), juntamente


com a predicação (sexual), entrelaçadas pelos verbos no presente do indicativo
(lança, causa) sinalizam que a ação promovida pela multinacional esportiva embasada
no evento mundial teve cunho sexual e gerou polêmica. Percebemos que é um título
mais genérico do que o colocado pelo Estadão, mas que sinaliza um efeito do ato de
fala performativo presente na camiseta.
Enquanto nos dois títulos as camisetas e seus efeitos são tratados como revolta
e polêmica, o blog mulheres contra o feminismo opta por um título que foca a mulher
brasileira, especificamente a forma como ela foi construída nas camisetas (prostitutas)
e trata também de como o Brasil é construído lá fora (bunda, Carnaval), ou seja, o
blog aciona um evento brasileiro mundialmente conhecido em que as mulheres
brasileiras aparecem nos carnavais paulista e carioca seminuas. Percebemos pelo
título:

Carnaval-Copa do Mundo: Mulher Brasileira é prostituta, Brasil é terra


de bundas e as camisas da Adidas (BLOG, 2014)

As referências (Carnaval, Copa, Mulher, Brasil, terra, camisas), aliadas às


predicações (do mundo, brasileira, prostituta, de bundas, da Adidas) e entrelaçadas
pelo verbo de ligação (é), no presente do indicativo, sugerem uma imagem do Brasil
em contexto mundial, na qual as mulheres brasileiras são construídas com ênfase na
sexualidade. O título do blog indexa sentidos de que as mulheres que vivem no país
das bundas são prostitutas e foram retratadas pelas camisetas da Adidas. Tais

70
construções discursivas apontam para além da entextualização dos objetos de
consumo, indicam as entextualizações sobre mulher brasileira.
A entextualização dos objetos de consumo aparece de maneira distinta entre
os dois veículos analisados. No jornal O Estado de São Paulo, além das
entextualizações das camisetas, há um painel interativo que o internauta pode clicar
na imagem e ela se ampliar, modificando a legenda de acordo com a imagem. A
primeira imagem é a sugestão de novas versões das camisetas propostas pelo
governo:

Figura 11 - Sugestão do governo para alteração das camisetas

Com um coração sorrindo no lugar da figura ambígua, a mulher de biquíni é


substituída por outra mulher, desta vez uma baiana em trajes típicos, que apagam a
sensualidade e a sexualidade exacerbada. O Pão de Açúcar é mantido ao fundo,
porém a frase se altera de “lookin’to score Brazil” para “we love Brazil”.
Chamamos atenção pelas escolhas de substituição, feitas pelo governo federal,
na camiseta verde, um sorriso no coração desfez a ambiguidade. Na camiseta
amarela, o Pão de Açúcar continua, ou seja, o Rio de Janeiro ainda está representado
na imagem, a bola permanece, dando ênfase ao evento. A troca da carioca seminua
pela baiana toda coberta sinaliza uma tentativa de apagar e esconder a sensualidade
representada na imagem anterior, porém, o que questionamos é que não mantiveram
a carioca apenas colocando roupas, mas para apagar a sexualidade exacerbada

71
representada naquele corpo, optaram por trocar o corpo. Outra mudança perceptível
é o “Brazil”, que sai do fundo da imagem e vem para primeiro plano, sinalizando o que
é mais importante na Copa. Essas novas versões aparecem com a legenda:

Governo federal sugere alterações nas camisetas lançadas pela


Adidas (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (governo, alterações) juntamente com as predicações (federal,


pela Adidas) entrelaçadas aos os verbos (sugere, lançadas) indicam uma
possibilidade de substituição dos objetos de consumo, reforçando a citação do
presidente da Embratur sobre os atributos naturais e culturais do Brasil, nesta mesma
reportagem. A segunda imagem do Estadão é a camiseta verde:

Figura 12 - Camiseta verde entextualizada pelo jornal O Estado de São Paulo

A imagem vem acompanhada da legenda:

Camiseta polêmica coloca imagens que são vistas com duplo sentido
e possuem conotação sexual (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (camiseta, imagens) apontam o que foi o motivo das predicações


(polêmica, duplo sentido, conotação sexual) que caracterizam as camisetas. Os
verbos (coloca, possuem) e a locução verbal (são vistas) estão no presente do

72
indicativo, o que sinaliza uma certeza sobre o que está desenhado na camiseta. Além
disso, reforçam as opiniões sobre as como as camisetas são vistas.
Após, mostrar as sugestões de camisetas organizadas pelo governo federal e
a camiseta verde, o veículo de comunicação em questão apresenta, como terceira
imagem, ainda a camiseta verde, porém com zoom na estampa:

Figura 13 - Camiseta verde entextualizada pelo jornal O Estado de São Paulo

A legenda dessa imagem se altera para:

Produto da Adidas coloca um coração que também pode ser


enxergado em formato de nádega. (O ESTADO DE SÃO PAULO,
2014)

As referências (produto, coração, formato), juntamente com as predicações (da


Adidas, de nádegas), indicam o que está na camiseta, porém, ao referir-se ao coração,
o jornal escolheu o verbo (coloca) no presente do indicativo, que expressa uma
certeza, mas quando muda o foco para nádega o tempo verbal também muda, a
locução verbal (pode ser) aliada ao índice linguístico (também), não expressa mais a
certeza sobre o desenho nas camisetas, mas, agora, uma sugestão, uma hipótese, o
coração não é uma nádega como na legenda anterior desse mesmo site, ele pode ser.
Somente na quarta imagem o jornal O Estado de São Paulo traz a camiseta amarela:

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Figura 14 - Entextualização da camiseta amarela pelo jornal O Estado de São Paulo

A imagem vem seguida da legenda:

Camiseta traz expressão que também significa pegar garotas de uma


maneira sexual (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (camisetas, expressão, garotas), juntamente com a predicação


(de uma maneira sexual) e o verbo no infinitivo (pegar) aliados ao índice avaliativo
(também), mostram que ele ainda está se referindo ao objeto de consumo camisetas,
mas, ao optar por mostrar o significado (pegar garotas) e omitir a expressão (fazer
gols), o jornal acaba por escolher apenas a leitura polêmica da ambiguidade para
colocar na legenda.
A quinta imagem do jornal O Estado de São Paulo é um zoom na camiseta
amarela:

74
Figura 15 - Entextualização da camiseta amarela feita pelo jornal O Estado de São Paulo

A imagem é acompanhada da legenda:

Imagem mostra garota de biquíni com a paisagem do Rio de Janeiro


ao fundo (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (imagem, garota, paisagem) aliadas às predicações (de biquíni,


do Rio de Janeiro), juntamente com o verbo (mostra) no presente do indicativo,
sinalizam uma certeza e sugerem que tal corpo esteja disponível.
A sexta e última imagem do jornal O Estado de São Paulo são as camisetas no
site da Adidas:

75
Figura 16 - Entextualização das camisetas pelo jornal O Estado de São Paulo

A imagem vem acompanhada da legenda:

Materiais são vendidos no site da Adidas nos Estados Unidos e


comercializados com outros produtos (O ESTADO DE SÃO PAULO,
2014)

As referências (materiais, site, produtos), a referência de lugar (nos Estados


Unidos), a predicação (da Adidas) e a locução verbal (são vendidos) transmitem a
ideia de realidade, de algo que realmente está acontecendo.
O site de variedades UOL também possui uma tira interativa que possibilita o
internauta clicar na imagem, entretanto, a primeira imagem é a camiseta verde:

76
Figura 17 - Camiseta verde entextualizada pelo UOL

Ela vem acompanhada da legenda:

A Adidas lançou duas camisetas relacionadas à Copa no Brasil que


têm gerado polêmica. Uma delas mostra um coração em “Eu amo
Brasil” que é representado com um bumbum de biquíni. A conotação
sexual fez a Embratur protestar contra o produto. (UOL, 2014)

As referências (Adidas, camisetas, Copa, polêmica) repetem o título da


reportagem, porém há o acréscimo da predicação (no Brasil). Já as referências
(coração, bumbum), a predicação (de biquíni), aliadas à citação (eu amo o Brasil) e
entrelaçadas ao verbo no presente do indicativo (mostra) e a locução verbal (é
representado), restringem-se apenas ao objeto de consumo, camiseta verde, explícito
na imagem à qual a legenda se refere. Além disso, as referências (conotação,
Embratur, produto), aliadas à predicação (sexual) e os verbos (fez) no pretérito
perfeito e (protestar) no infinitivo, sinalizam o descontentamento e a desaprovação do
governo representados pela Embratur, responsável pelo turismo brasileiro.
Em relação ao segundo objeto de consumo trazido pelo site de variedades
UOL, temos a camiseta amarela:

77
Figura 18 - Camiseta amarela entextualizada pelo UOL

A legenda que acompanha o produto diz:

A Adidas lançou duas camisetas relacionadas à Copa no Brasil que


têm gerado polêmica. Uma delas mostra a frase “lookin’to score”, que
pode ser entendida como “buscando marcar (gols), mas também
fazendo alusão a “pegar mulheres”. A conotação sexual fez a
Embratur protestar contra o produto.

As referências (Adidas, camisetas, Copa, polêmica), juntamente com a


predicação (no Brasil), entrelaçadas ao verbo (lançou), no pretérito perfeito, indicam
uma ação finalizada e a locução verbal (tem gerado) no particípio, que indica uma
ação contínua, sinalizam que a empresa fez um ato que já se finalizou, mas que gerou
efeitos, ou seja, os efeitos é que são a polêmica. As citações (“lookin’to score”,
“buscando marcar gols”, “pegar mulheres”) mostram que a expressão na camiseta
teve dois sentidos, um deles muito ofensivo, ao ponto de a Empresa Brasileira de
Turismo manifestar-se, conforme vemos na frase seguinte através das referências
(conotação, Embratur, produto), da predicação (sexual), dos verbos (fez, protestar) e
do índice avaliativo (contra).
A terceira imagem trazida pelo site de variedades UOL, já é o print de um site
que vende produtos da Adidas. Neste sentido, as camisetas também são construídas
como objetos a serem consumidos pelo internauta, ou seja, objetos de consumo.

78
Figura 19 - Camisetas entextualizadas pelo site de variedades UOL

Essa imagem traz a legenda:

As camisetas polêmicas da Adidas estão à venda no site dos EUA da


empresa e custam US$22 e US$25. Cerca de R$50 e R$60.

As referências (camisetas, site), as predicações (da Adidas, dos EUA, da


empresa) e o verbo no presente do indicativo indicando uma certeza (custam)
apontam que o consumidor americano pode adquirir os produtos. Eles estão sendo
comercializados valores em dólar (U$22 e U$25) e a conversão em real juntamente
com o índice avaliativo (cerca de) que indica o valor aproximado, na época da Copa,
era (R$50 e R$60). Tais valores indexam sentidos de que estes objetos são para
consumo, como vimos no tópico anterior.
A quarta imagem do site de variedades UOL é o zoom na camiseta verde:

79
Figura 20 - Entextualização da camiseta verde pelo site de variedades UOL

A legenda dessa imagem é exatamente a mesma legenda da camiseta verde


já apresentada pelo site de variedades, neste sentido, observamos a repetição de atos
de fala performativos com ênfase na polêmica.
A quinta imagem no site de variedades UOL também é um zoom na camiseta
amarela:

Figura 21 - camiseta amarela entextualizada pelo site de variedades UOL

80
A legenda dessa imagem também é a mesma da imagem da camiseta amarela
inteira, ou seja, parece-nos que a repetição de atos de fala performativos é uma
característica do site tanto quanto o foco na polêmica.
Já a sexta e última imagem no site de variedades UOL são as duas camisetas:

Figura 22 - Camisetas Adidas entextualizadas pelo site de variedades UOL

A legenda das camisetas é:

A Adidas lançou duas camisetas relacionadas à Copa no Brasil que


tem gerado polêmica. A conotação sexual fez a Embratur protestar
contra o produto.

Essa legenda é um recorte da legenda da camiseta amarela, feita pelo site de


variedades UOL, tal atitude mostra, mais uma vez, a ferramenta de repetição utilizada
pelo site.
Comparando o jornal O Estado de São Paulo e o site de variedades, nós
percebemos que as imagens, em sua maioria, são parecidas: a camiseta verde; o
zoom na camiseta verde; a camiseta amarela; o zoom na camiseta amarela e o print
da página de vendas online da Adidas em que as camisetas estavam sendo
comercializadas. Apenas uma imagem é diferente, enquanto o site de variedades UOL
traz as camisetas uma ao lado da outra, o jornal O Estado de São Paulo traz duas
novas camisetas que são sugestões de alteração dos objetos de consumo propostas

81
pelo governo. Além disso, a posição das camisetas nos textos é diferente, o jornal traz
as camisetas no meio da matéria e o site de variedades traz no início.
A polêmica do lançamento que traz a camiseta como conotação sexual e a
polêmica da exploração sexual são observadas nos dois veículos. Além disso, no
Blog Mulheres contra o feminismo: orgulhosas e felizes de sermos mulheres,
observamos que ele traz apenas uma imagem das camisetas e aborda, através da
ironia, a polêmica do lançamento:

Figura 23 - Entextualização feita pelo Blog Mulheres contra o feminismo: orgulhosas e felizes de sermos mulheres

O blog não traz uma legenda para as camisetas, como visto nas duas outras
mídias, mas elas vêm antecipadas por um parágrafo que as contextualiza:

Como muitos sabem, a Adidas resolveu fazer camisas


“homenageando” a nossa cultura. Claro, com bundas. Vejam a
imagem abaixo: (camisetas). (BLOG, 2014)

As referências (Adidas, camisas, cultura, imagens) e a predicação (com


bundas) sinalizam que, para o blog, há uma única ótica pela qual o Brasil é visto, que
são as bundas. A característica que emerge quando se fala em Brasil, é intensificada
pela figura de linguagem ironia (claro, com bundas) e também pelo advérbio de
intensidade (muitos). Além disso, o índice linguístico (claro), também indexa o sentido
de que nos eventos mundiais citados acima (Carnaval, Copa do Mundo) o corpo da
82
brasileira é sempre exposto conforme veremos mais abaixo no tópico
entextualizações sobre as mulheres brasileiras.
Os objetos de consumo também são entextualizados durante a trajetória textual,
como polêmicas, nos sites selecionados. Ao referir-se às camisetas, o jornal O Estado
de São Paulo diz que,

Uma linha de camisetas da Adidas sobre a está gerando polêmica por


causa do duplo sentido que o material traz. Ao mesmo tempo que fala
de Brasil e da paixão pelo futebol, também reforça o apelo sexual num
momento que o governo do País luta para não passar essa imagem
internacionalmente. O material causou revolta na Embratur, que
promete formalizar nesta terça uma reclamação à empresa alemã de
material esportivo. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (polêmica, sentido, revolta, Embratur, material) e o verbo no


gerúndio (gerando) podem sugerir que a polêmica e a revolta não se finalizaram. Além
disso, percebemos que um dos efeitos do lançamento das camisetas, é uma
reclamação formal sugerida pela locução verbal no presente do indicativo (promete
formalizar), pelas referências (reclamação, empresa, material) e pelas predicações
(esportivo, alemã).
A entextualização das camisetas como polêmica pode ser observada também
no site de variedades UOL, que cita o jornal o Estado de São Paulo, afirmando que:

De acordo com os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, a polêmica


chegou a altas esferas, a ponto de a Embratur prometer formalizar
uma reclamação. Na tarde desta terça-feira, a Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência publicou uma nota de repúdio à confecção
de camisetas com ilustrações de cunho sexual associado as cores e
aos símbolos do Brasil (UOL, 2014)

As referências (jornais, O Estado de S. Paulo, O Globo, polêmica, esferas,


Embratur, reclamação), a predicação (altas), os verbos (chegou, prometer formalizar)
colocam a Empresa Brasileira de Turismo em um patamar de extrema importância,
pois tal ato, atingiu proporções maiores, chegou, através do índice avaliativo (a ponto
de) fazer com que a Empresa se manifestasse, isto sinaliza a gravidade da situação.
Além do mais, ao citar outros jornais, tal atitude mostra, por parte do UOL, que não é
ele quem está criando a polêmica.

83
As referências (tarde, Secretaria, nota, confecção, ilustrações, cores, símbolos)
e as predicações (de Direitos Humanos, da Presidência, de repúdio, de camisetas, de
cunho sexual, do Brasil) entrelaçadas aos verbos (publicou, associado), indicam a
contrariedade do órgão público em relação ao lançamento das camisetas. O site de
variedades UOL traz a nota na íntegra ao final da matéria, sem se posicionar de
maneira contrária, o que mostra que o site endossa o posicionamento emitido pela
secretaria.
Outra entextualização das camisetas como polêmicas é identificada no trecho
a seguir:

Uma linha de camisetas inspirada na Copa do Mundo lançada pela


marca de material esportivo Adidas está causando polêmica. Isso por
causa das imagens que retratam o Brasil e da conotação sexual que
pode ser vista nas ilustrações destas roupas, algo que se tem tentado
combater até por parte do governo brasileiro (UOL, 2014)

As referências (linha, Copa, marca, Adidas, polêmica), juntamente com as


predicações (de camisetas, do Mundo, de material esportivo), entrelaçadas aos
verbos (inspirada, lançada) e pela locução verbal (está causando), sugerem algo que
já foi feito (verbos na forma nominal particípio), mas que ainda estão surtindo efeitos
(verbo na forma nominal gerúndio) dele. Através do índice avaliativo (isso por causa)
o texto aponta o porquê as camisetas estão surtindo efeito da polêmica, ou seja,
retratar o Brasil como conotação sexual é causar polêmica. As referências (imagens,
Brasil, conotação, ilustrações, roupas, governo) e as predicações (sexual, brasileiro),
entrelaçadas aos verbos e locuções verbais (retratam, pode ser vista, tem tentado
combater), mostram que há uma tentativa de combater toda a construção discursiva
e performativa de mulher brasileira que foi exposto nas camisetas para Copa do
Mundo.
Tanto o Jornal O Estado de São Paulo, quanto o site de variedades UOL,
utilizam da mesma citação de Flávio Dino, presidente da Embratur (empresa brasileira
de turismo):

“Vamos entrar em contato com a direção da Adidas, fazendo um apelo


para que reveja essa atitude e tire os produtos do mercado. Essa
campanha vai no sentido contrário ao que o Brasil defende”, explica
Flávio Dino, presidente da Embratur. “Nosso esforço é voltado para a
promoção do Brasil pelos atributos naturais e culturais. Uma iniciativa
84
dessas ignora e desrespeita a linha de comunicação que o governo
adota. ” (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014 / UOL,2014)

Sabemos, através das referências (Flávio Dino, presidente) e da predicação


(da Embratur), de quem é o pronunciamento sobre os objetos de consumo, as aspas
e o descritor metapragmático (explica) confirmam que é uma citação.
Pelas referências (contato, direção, apelo, atitude, produtos) e as predicações
(da Adidas, do mercado), entrelaçadas à locução verbal no futuro do indicativo (vamos
entrar) e os verbos no presente do subjuntivo (reveja, tire), comprova-se que há uma
hipótese, uma possibilidade. Ou seja, reforça-se o descritor metapragmático já
analisado (promete formalizar).
As referências (campanha, sentido), a predicação (contrário) e a referência de
lugar (Brasil) sinalizam uma oposição do país em relação ao lançamento das
camisetas. Já as referências (esforço, promoção, atributos, linha, governo),
juntamente com as predicações (do Brasil, naturais e culturais, de comunicação),
indicam uma outra vertente do país, a qual necessita de (esforço) para ser repetida e
sedimentada.
Percebemos que os atos de fala performativos hipersexualizando as mulheres
brasileiras já estão propagados, pois não foi necessário esforço para serem repetidos
nos objetos de consumo em análise, porém, tal ato de fala necessita de uma
desconstrução para que outros atos de fala performativos se repitam e se
sedimentem, como esboça a fala do presidente da Embratur, com “esforço”.
Dedicamos o próximo tópico às entextualizações sobre as mulheres brasileiras.

5.3. ENTEXTUALIZAÇÕES SOBRE AS MULHERES BRASILEIRAS

Neste tópico, analisamos as entextualizações, nos artigos que compõem o


corpus desta pesquisa, que através de atos de fala performativos repetem as
construções sobre mulheres brasileiras. O jornal O Estado de São Paulo retrata a
mulher brasileira presente na camiseta:

85
Uma camiseta apresenta a frase, que pode ser traduzida por “em
busca de gols”. Mas também é uma expressão que significa “pegar
garotas” de uma maneira sexual. A imagem de uma moça de biquíni
não deixa dúvidas da dupla intenção. Ela está à venda no site da
Adidas nos Estados Unidos por (US$ 25) (R$58,50) e parece fazer
parte de uma nova linha. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2014)

As referências (camiseta, frase) unidas à citação (“em busca de gols”), através


da locução verbal (pode ser traduzida), indicam uma possibilidade de tradução, que
não é única. O índice avaliativo (mas também) entrelaça as duas orações,
proporcionando a ligação entre os significados. A referência (expressão), juntamente
com a citação (“pegar garotas”), a predicação (de uma maneira sexual) e os verbos
no presente do indicativo, sinalizando uma certeza (é, significa), apontam para a
construção discursiva e performativa de mulher brasileira fácil, disponível, sensual,
sedutora. Há também a figura de linguagem ambiguidade presente na referência (ela)
e na locução verbal (está à venda), fazendo alusão tanto à camiseta quanto à moça
de biquíni.
Os Discursos sobre sexualidade acionados através da intersecção entre gênero
e brasilidade são comprovados também pela frase a seguir: a imagem da moça de
biquíni não deixa dúvidas da dupla intenção. O jornal mostra, através da locução
verbal (está à venda), que a ação acontece no presente, a referência de lugar (no site
da adidas, nos Estados Unidos) sinaliza onde essa ação acontece. Ainda a referência
(camiseta) e a predicação (por (US$25) (R$58,50) indicam o valor em dólar e a sua
transformação em real, proporcionando uma ideia de realidade plausível. A locução
verbal (parece fazer), aliada à referência (parte) e à predicação (de uma nova linha)
proporcionam um caráter exclusivo, único, novo, para as camisetas.
No blog em análise encontramos a construção de mulher brasileira que mostra
a bunda como um atrativo turístico:

Mas o fato é: A bunda feminina brasileira é um dos grandes


atrativos nacionais no mercado de turismo internacional. Mulher
brasileira no exterior é vista prostituta, vulgar, fácil. Todos sabem
disso basta uma rápida procura na internet. E não é obra que se
constrói em pouco tempo não ... Enquanto alguém viaja para o
exterior para ver a natureza, fazer compras, provar novos pratos, etc,
o turista estrangeiro na sua maioria sabe que o Brasil é terra de
bundas, sexo com um certa facilidade, futebol, carnaval, praias,
turismo sexual e mais bundas. (BLOG, 2014)

86
O blog chama atenção através do negrito às referências (bunda, mulher,
atrativos) e às predicações (feminina, brasileira, no exterior, grandes, nacionais, no
mercado, de turismo internacional, prostituta, vulgar, fácil) que indexam sentidos
direcionados à construção de sexualidade exacerbada, fruto da intersecção entre
gênero (mulher) e nacionalidade (brasileira). Ainda com ênfase, escrito em negrito, o
blog afirma através das referências (todos, procura, obra) junto com as predicações
(rápida, na internet), com os índices avaliativos, advérbios de negação (não), de
tempo (pouco tempo) e o verbo no presente do indicativo (constrói), que a construção
de mulher brasileira fácil, acessível, vulgar, prostituta vem sendo repetida no
transcorrer da emancipação cultural.
Ele faz uma comparação binária entre o turista que vai para o exterior e o turista
que vem do exterior. Quando utiliza a referência (alguém) o verbo (viaja) e a referência
de lugar (para o exterior), a característica é composta pelas atitudes (para ver a
natureza, fazer compras, provar novos pratos), todavia, para a referência (turista), a
predicação (estrangeiro), o verbo (sabe) e a referência de lugar (Brasil), as
características se alteram para: é terra de bundas, sexo com certa facilidade, futebol,
carnaval, praias, turismo sexual e mais bundas. Isso sinaliza, para o blog, mais uma
vez, que o olhar sobre a mulher brasileira é singular, ela é vista conforme expresso no
título, como prostituta.
O Jornal o Estado de São Paulo traz, através da citação de Flávio Dino,
presidente da Embratur, a construção negativa da mulher brasileira e também a
construção de mulher brasileira como objeto de consumo:

“O governo brasileiro discorda dessa linha de produtos, não


aceitaremos o turismo sexual. Claro que as pessoas podem namorar
durante a Copa, mas não queremos uma mercantilização disso. Acaba
sendo inclusive um desserviço à própria marca, porque ela está se
associando a um tema muito negativo”, comenta Dino. (O ESTADO
DE SÃO PAULO, 2014)

Ao trazer outra citação sobre o lançamento dos objetos de consumo, isso indica
que a linha editorial do jornal adota pensamentos bastante parecidos com o do
governo. As referências (governo, linha, turismo), aliadas às predicações (brasileiro,
de produtos, sexual), juntamente com o verbo no presente do indicativo (discorda),
apontam a posição do governo em relação aos produtos, porém, ao abordar o tema
turismo sexual, a pessoa da conjugação verbal muda para a primeira pessoa do plural,
87
incluindo assim o seu posicionamento e até mesmo o do leitor (nós), o índice
avaliativo, advérbio de negação (não), junto com o verbo (aceitaremos) proporciona a
rejeição de tal ato. A citação ainda indexa sentidos de que o sexo durante o evento é
permitido, desde que não seja comercializado, ou seja, a mulher como objeto de
consumo, e o presidente ainda se posiciona de maneira a culpar a Adidas, expondo
que a empresa se denigre ao abordar a temática das camisetas.
O site de variedades UOL, traz a mulher brasileira como acolhedora através de
uma citação de Flavio Dino dada ao jornal O Globo:

“[...] O povo brasileiro é acolhedor e temos certeza de que aqueles que


nos visitarão irão respeitar o Brasil”, completou Dino ao O Globo.

Ao abordar a questão cultural construída sobre o Brasil de que as pessoas que


o habitam são acolhedoras, automaticamente a citação traz a construção da mulher
que habita este país, ou seja, que possui as características da população local, que
acolhe.
O site de variedades UOL, traz a Nota emitida pela Secretaria dos Direitos
Humanos, entextualizando a mulher brasileira construída como apelo sexual:

A Secretaria de Direitos Humanos da presidência da República


(SDH/PR) vem à público repudiar qualquer iniciativa que vincule a
imagem do nosso país a conteúdos de apelo sexual, como o ocorrido
no episódio no qual a empresa Adidas anunciou a confecção de
camisetas com ilustrações de cunho sexual associado às cores e aos
símbolos do Brasil. Qualquer estímulo nesse sentido significa
associar-se a criminosa prática do turismo sexual que se constituiu em
uma grave violação de Direitos Humanos combatida
permanentemente pelo país.

As referências (secretaria, público, imagem, conteúdos, ocorrido, episódio,


empresa, confecção, ilustrações, cores, símbolos) aliadas às predicações (de Direitos
Humanos, da Presidência da República, do nosso país, de apelo sexual, Adidas, de
camisetas, de cunho sexual, do Brasil) e entrelaçadas á locução verbal (vem repudiar),
ao verbo (vincule) e ao descritor metapragmático (anunciou) sinalizam que a
manifestação do órgão público é um efeito ao lançamento das camisetas, além disso,
a secretaria afirma em público que abomina qualquer associação entre turismo sexual
e Brasil. A nota emitida pela secretaria ainda afirma que a camiseta incentiva, através
da referência (estimulo), o turismo sexual. Além do mais, coloca tais práticas como
88
ilícitas através das predicações (criminosa, grave), ou seja, polêmica é crime e tem
punição.
O blog traz mais algumas entextualizações sobre as mulheres brasileiras,
afirmando que

Esse post passa longe de querer comandar a vida sexual alheia. Ele
tem como objetivo questionar esta hipersexualidade pregada por
feministas que querem se comportar como o cafa que elas dizem odiar
amparadas na muleta da liberdade (como se vivessem no Oriente
Médio rsrsrs), na total falta de responsabilidade aliadas a lógica e
principalmente o resto nada prazeroso disso tudo: a fama do Brasil de
terra do turismo sexual e a fama de prostituta da mulher brasileira
mundo afora que atinge qualquer mulher brasileira.
(BLOG, 2014)

As referências (post, vida, objetivo, hipersexualidade, feministas, cafa, muleta,


falta, lógica, resto) e as predicações (sexual, da liberdade), entrelaçadas aos
descritores metapragmáticos (questionar, dizem odiar), sinalizam um posicionamento
sobre as feministas, ironizando tais atitudes através da referência de lugar (Oriente
Médio) e do verbo (vivessem) seguidos de risos (rsrsrs), indicando a impossibilidade
de a mulher brasileira ter voz para manifestar seus direitos. O blog ainda coloca a
culpa sobre as feministas pela referência (fama) e as predicações (do Brasil, de terra,
do turismo sexual, de prostituta, da mulher brasileira). O verbo (atinge), a referência
(mulher) e a predicação (brasileira) indexam efeitos de sentido sobre todos os corpos,
inclusive os que, para o blog, não são feministas e não participaram desta construção.
O Blog ainda afirma sobre a construção de mulher brasileira que:

O carnaval vem aí. A nossa cultura e nossos valores são relativizado


e estereotipados ao extremo. Mais algumas toneladas de bundas de
fora, rebolando, para todos apreciarem, a começar pela Globeleza
(daquela Globo “conservadora” demais, né?). Os cartões postais são
conhecidos: aquele bundão da mulata com o Pão de Açúcar ao fundo.
Liga a TV: bundas rebolando, em tudo que é programa, desde
Chacrinha, até Faustão, Caldeirão do Hulk, Pânico, etc. Baile funk:
bundas, e mais bundas, descendo até o chão ao som de tá-tá-tá-tum-
tum. Funkeiras louvado o seu feminismo e dizendo que surram com a
bunda, adoram dar e distribuir. Há bunda pra todo lado. Somos o país
das bundas. E tal imagem reflete algo ainda mais forte visto aos olhos
de uma pessoa estranha a nossa cultura: o Brasil é uma terra de
mulheres no cio e de extrema facilidade no assunto sexo. E tudo isso
com APOIO das feministas “meu corpo, minhas regras, fortes e
modernas”. Vejamos: (BLOG, 2014)

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A referência (Carnaval), o verbo no presente do indicativo (vem) e o índice
avaliativo (aí) nos remete ao título, que alia os dois eventos com repercussão mundial.
As referências (cultura, valores) e os pronomes possessivos (nossas, nossos)
demarcam a quem pertence as referências, as predicações (relativizado,
estereotipados ao extremo) apontam para características construídas sobre tais
referências. A referência (toneladas) e as predicações (de bundas, de fora) aliadas ao
verbo no gerúndio (rebolando), mostram que tal ato acontece continuamente. O verbo
(apreciarem) no futuro do subjuntivo indica uma possibilidade e o índice avaliativo
(para todos) representa uma finalidade.
O blog segue listando referências (Globeleza, Globo, programa, Chacrinha,
Faustão, Caldeirão do Hulk, Pânico) que, de acordo com o blog, são espaços na
televisão em que as bundas aparecem rebolando, tais como nas referências (cartões
postais, bundão) e nas predicações (da mulata). Percebemos que o blog utiliza desde
exemplos antigos, como Chacrinha, até programas atuais. Ou seja, retoma desde os
espaços antigos onde a exposição do corpo da brasileira era e é alvo.
As referências (baile, bundas, chão, som) e as predicações (funk, tá-tá-tá-tum-
tum) aliadas à referência (funkeiras), ao verbo (louvado) e à predicação (seu
feminismo) indexam sentidos que generalizam as funkeiras como quem quer mostrar
a bunda, e para tal, de acordo com o blog, faz-se necessário ser feminista. A referência
(país) vem acompanhada da predicação (das bundas) e as referências (Brasil, terra)
são seguidas das predicações (de mulheres no cio, de extrema facilidade no assunto
sexo), além disso, o final deste parágrafo é resumido pelas referências (tudo isso,
APOIO) e a predicação (das femininas) e o uso de caixa alta, além de dar ênfase,
representa gritos na internet. Tais representações culminam com as construções
discursivas e performativas cristalizadas sobre as mulheres brasileiras expressas em
nossa dissertação.
Para sustentar seu argumento que culpa as feministas por tais construções, o
blog utiliza a citação (meu corpo, minhas regras fortes e modernas). O blog termina o
parágrafo com o verbo (vejamos), que proporciona a interligação entre os parágrafos
e sugere que nos mostrará exemplos sobre tais considerações.
Além disso, o blog mostra uma visão tradicional de intensificação do incentivo
ao sexo com as mulheres brasileiras em determinadas épocas:

90
Em épocas de carnaval podemos ver em aeroportos e outros lugares
cheios de turistas propagandas como: “Nesse carnaval o Brasil estará
distribuindo X milhões de camisinhas gratuitamente. Com a AIDS não
se brinca”. E este é o mesmo tipo de propaganda que vai ser feito
durante as Olimpíadas pois como disse nossa presidente “Vamos
trazer uma escola de samba e arrasar na abertura”. Ou seja, mais
bundas. Nessas horas ninguém fala nada. (BLOG, 2014)

As referências (épocas, aeroportos, lugares, propagandas), as predicações (de


carnaval, de turistas), juntamente com a citação (nesse carnaval o Brasil estará
distribuindo X milhões de camisinhas gratuitamente. Com a AIDS não se brinca),
sinalizam que no carnaval há uma campanha maior de prevenção às doenças
sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids. O blog dá continuidade em seu
argumento através das referências (tipo, Olimpíadas), da predicação (de propaganda)
e da citação da presidente (vamos trazer uma escola de samba e arrasar na abertura)
e isso sugere que, para blog, tal como o carnaval, as Olimpíadas serão uma
representação de (mais bundas). O blog chama atenção em negrito para o descaso
com a encenação dessas performances (Nessas horas ninguém fala nada).
O Blog ainda afirma sobre a construção de mulher brasileira que:

Se alguém residiu ou reside no exterior sabe o que é o Brazilian day.


Nele podemos ver brasileiras que adoram mostrar a bunda e toda a
festa é feita em homenagem ao axé, samba, carnaval e mais bundas.
Ser brasileira é sempre algo a ver com bunda e o pior, isso trazido por
parte de mulheres também. (BLOG, 2014)

As referências (alguém, exterior, brazilian day, brasileiras, bunda, festa,


homenagem, axé, samba, carnaval, bundas, brasileira, algo, mulheres), a predicação
(com bunda), os verbos (residiu, reside, mostrar, é, trazido) e a locução verbal
(podemos ver), apontam para construções que culpam os brasileiros e as brasileiras
por essa imagem com ênfase, de acordo com o blog, na bunda. Chamamos atenção
para o índice avaliativo (pior) que indica, dentro de uma hierarquia estabelecida pelo
blog, que tal atitude de dar ênfase à bunda é pior quando vinda das mulheres,
portadoras de tais corpos. Portanto, o blog indexa a culpa desta construção de
brasilidade à mulher.
O blog segue culpando a mulher brasileira, especificamente as que eles
consideram feministas:

91
Se alguém for em algum salão de beleza feminino no exterior ou no
Brasil vai saber que o que mais acontece é ter mulher brasileira
alimentando o turismo sexual de um modo bem feminista. “Faço
o que quero com meu corpo e peguei muitos gringos ontem na balada,
etc.”, “Adoro ter marido GRINGO ou somente quero me casar com
GRINGO, etc.” Mulher brasileira que vai viajar no exterior adora pegar-
dar-distribuir para estrangeiros para contar para as amigas depois.
Uma parte da mulher brasileira “feminista, forte e moderna” hoje
faz turismo sexual. Do outro lado temos o turista sexual que tem na
mente aquela fantasia da brasileira fácil, do carnaval, das bundas e
nestas horas um alimenta o outro. (BLOG, 2014)

As referências (alguém, salão, mulher, turismo, modo), juntamente com as


predicações (de beleza, feminino, brasileira, sexual, feminista), com as referências de
lugar (no exterior, no Brasil) e com o verbo (for) e as locuções verbais (vai saber, é
ter) sinalizam que tanto fora do Brasil, como no Brasil, a mulher brasileira é quem
fomenta o turismo sexual. O blog utiliza negrito para destacar tal atitude e também por
ela ser contrária ao posicionamento do blog sendo, assim, considerada bem feminista.
O blog segue utilizando citações de mulheres brasileiras (faço o que quero com meu
corpo e peguei muitos gringos ontem na balada, etc,), (adoro ter marido GRINGO ou
somente quero me casar com GRINGO), nessa última, reparamos a ênfase na palavra
gringo escrita em caixa alta, que representa gritos na internet.
As referências (mulher, estrangeiros, amigas), a predicação (brasileira), a
locução verbal (vai viajar), a junção de verbos (adora, pegar-dar-distribuir) e também
o descritor metapragmático (conta), sinalizam que as brasileiras, quando viajam, têm
tais atitudes e depois se vangloriam. A seguir, o blog destaca em negrito as referências
(parte, turismo), as predicações (da mulher brasileira, sexual) e também a citação
(feminista forte e moderna) ligadas com o verbo (faz) no presente do indicativo,
sinalizando que o turismo sexual está presente quando se intersecciona gênero
(mulher) e nacionalidade (brasileira).
O índice avaliativo (do outro lado) indica que o blog mostrará um outro ponto
de vista, aliado ao verbo (temos), ele mostra as referências (turista, fantasia) e as
predicações (sexual, da brasileira, fácil, do carnaval, das bundas), chama atenção em
negrito para a frase (nestas horas um alimenta o outro), o que representa um
equilíbrio, uma sustentação entre quem produz e quem consome o turismo sexual.
O blog prossegue com seus argumentos na entextualização sobre as mulheres
brasileiras:

92
Ah, mas a culpa é do machismo? Sério. Tentem em um salão de
beleza feminino falar de mulher para mulher e condenar estas
mulheres acima como piriguetes, falsas conservadores e prostitutas
que jogam nossa imagem nos bailes funks. Questionem o carnaval.
Tentem dizer que para todas elas mostrarem mais sobre o lado bom
do Brasil ao invés de estereótipos para estrangeiro ver. Se você for
homem como pai, marido, namorado, irmão tente falar com uma
destas criaturas para maneirar na sua “brasilidade” bundalizada. Elas
irão taxar você de machista rsrsrsrs. Entenderam? Nós também não.
(BLOG, 2014)

A referência (culpa) e a predicação (do machismo) seguidas do ponto de


interrogação e da resposta (sério) expressam através da figura de linguagem ironia,
mais uma vez, que a culpa das construções discursivas e performativas sobre os
corpos das mulheres brasileiras é delas mesmas. A referência (salão) e as
predicações (de beleza, feminino, de mulher), juntamente com o descritor
metapragmático (condenar), a referência (mulheres) e as predicações (piriguetes,
falsas, conservadores, prostitutas) caracterizam tais corpos. As referências (imagem,
bailes) e a predicação (funks) com o verbo (jogam) apontam para um lugar onde tais
performances devem ser encenadas. O descritor metapragmático (questionem) e a
referência (carnaval) indicam que tal evento deve ser repensado.
As referências (elas, Brasil, estereótipos, estrangeiro) e o índice avaliativo (lado
bom), representam, através de uma relação binária, dois lados de um país, para o
blog, existe o lado construído pelas feministas e outro que seria um bom, construído
por elas, antifeministas. As referências (homem, pai, marido, namorado, irmão),
ligadas ao índice avaliativo (sem você), ao verbo (for) e a locução verbal (tente falar)
juntamente com a referência (criatura) sinalizam performances masculinas superiores,
há a troca do índice linguístico mulher por criatura. O verbo (maneirar) com a
referência (brasilidade) e a predicação (bunda) apontam para construções discursivas
de que tais mulheres encenam performances com suas bundas, porém, para o blog,
tais corpos não assumem as performances, pois ele utiliza a locução verbal (irão
taxar), a referência (você) e a predicação (de machista) seguida por risos (rsrsrsrs),
indicando que, a ironia do começo do parágrafo repetiu-se ao final, com ênfase no
verbo (entenderam) seguido da pergunta e da resposta pelos índices avaliativos (nós
também não).
O blog sintetiza seu posicionamento sobre a mulher brasileira:

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Em resumo, possuímos os turistas sexuais de verdade, possuímos a
falsa brasilidade de que temos que amar samba, axé, funk, carnaval
pois pra ufanistas isto é ser brasileiro ou brasileira (povo alegre que
todos gostam mas ninguém respeita) e por outro lado temos todo um
aparato construído por relativistas morais e feministas que abusam da
falta de responsabilidade, invertem valores, usam de coletivismo
barato, propaganda feminista e vitimismo aliados a impunidade.
(BLOG, 2014)

O índice avaliativo (em resumo) sinaliza que o blog sintetizará tudo o que foi
dito até o presente momento. O verbo (possuirmos) conjugado na primeira pessoa do
plural indica que todos nós, brasileirxs, compactuamos com a referência (turistas) e
as predicações (sexuais, de verdade). A seguir, o blog repete o verbo (possuímos)
porém mudam-se as referências e predicações (falsa brasilidade), indicando que, para
o blog, valorizamos uma cultura de massa.
A locução verbal (temos que amar) na primeira pessoa do plural enfatiza o que
deve ser adorado na cultura brasileira, que para o blog é representado através das
referências (samba, axé, funk, carnaval). O índice avaliativo (pois) seguido das
referências (ufanistas, brasileiro, brasileira, povo, ninguém) e da predicação (alegre)
entrelaçadas aos verbos (é, ser, gostam, respeita) sinalizam que, para o blog, há uma
construção sobre como encenar performances da nacionalidade brasileira, porém tais
ações, de acordo com o blog, não são respeitadas em contextos mais amplos.
O índice avaliativo (por outro lado) indica que o blog apontará outros
posicionamentos, porém, tais posicionamentos não são tão contrários como indica o
índice avaliativo, pois estes “novos” posicionamentos culpam, mais uma vez, as
referências (relativistas, feministas) juntamente com a predicação (morais). Tais
culpas são indexadas pelos verbos (abusam, invertem, usam), pelas referências (falta,
valores, propaganda, vitimismo, impunidade) e pelas predicações (de
responsabilidade, de coletivismo barato, feminista). Portanto, as atitudes contrárias ao
Blog, mais uma vez, são sinalizadas como se fossem feministas.
O Blog repete atos de fala performativos sobre as mulheres brasileiras e o país:

Sem hipocrisia. Um país que faz de tudo para colocar a bunda das
mulheres no topo da hierarquia dos valores nacionais com apoio de
feministas que vandalizam a nossa cultura e nossos valores sociais e
familiares, um lugar que prega a falsa brasilidade do samba, carnaval,
agora querer ser moralista e fingir não saber a causa do problema?
Vamos acordar, meninas e ver que o problema parte de uma parte do
povo brasileiro e da parcela tanto masculina como feminina. E as
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feministas apoiam isso com relativismo moral e falta de
responsabilidade pelos próprios atos. (BLOG, 2014)

As referências (hipocrisia, país, bunda, topo, valores, apoio, cultura), as


predicações (das mulheres, da hierarquia, nacionais, de feministas, sociais,
familiares), juntamente com os verbos (faz, colocar, vandalizam), sinalizam que tal
construção de valorização da bunda feminina como o que há de mais importante em
território brasileiro tem, de acordo com o blog, a participação das feministas. Neste
sentido, o Blog demonstra um desconhecimento do movimento feminista. As
referências (lugar, brasilidade, moralista, causa) e as predicações (falsa, do samba,
carnaval, do problema) entrelaçadas pelos verbos (prega, fingir, saber) e pela locução
verbal (querer ser) seguidos de ponto de interrogação, indicam que o país foi
construído com ênfase na sexualidade da mulher brasileira, sendo assim, elas fazem
a pergunta num tom irônico sobre se isentar da culpa.
As referências (meninas, problema, parte, masculina, feminina) a predicação
(do povo brasileiro), a locução verbal (vamos acordar) e os verbos (ver, parte),
sinalizam que a culpa, de maneira geral, é de uma parcela da população brasileira.

5.4 ALGUMAS REFLEXÕES

Como podemos observar durante a análise, há varias entextualizações sobre os


objetos de consumo, tanto na questão da imagem como nos artigos. Percebemos que
as camisetas entextualizam construções discursivas sobre a mulher brasileira que
viajam desde o período da ditadura até atualmente. Tais atos de fala performativos
constroem uma mulher brasileira vista como prostituta, um atrativo turístico, alguém
com uma única característica, a sexual.
Ao acionarmos as Teorias Queer, percebemos que a intersecção entre gênero
(mulher) e nacionalidade (brasileira) apontam para a sexualidade, além disso, se
interseccionarmos a raça, teremos a construção de uma mulher brasileira, presente
nos objetos de consumo em análise nesta pesquisa. Utilizamos as Teorias Queer
justamente para questionar essa normalização que causa sofrimento para muitos
corpos, neste caso, principalmente às mulheres brasileiras da pele escura à negra.

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Percebemos também, que tanto o site de variedades UOL quanto o jornal O
Estado de São Paulo, entextualizaram os objetos de consumo de forma semelhante,
indexaram sentidos dos protestos do governo e se posicionaram contra as polêmicas,
tanto do lançamento quanto da exploração sexual, além de culparem a Adidas por
esse lançamento. Por outro lado, no blog, não observamos o foco na Adidas, mas sim
na mulher que está presente na camiseta e gerou polêmica, o blog culpa a mídia, o
governo, as mulheres brasileiras, os homens, as feministas, etc., por toda a
construção de mulher brasileira entextualizada como objetos de consumo, para serem
consumidas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem, na perspectiva performativa (AUSTIN, [1962]1990), proporciona


o entendimento de como pode acontecer a construção de diversas práticas sociais. É
através da repetição dos atos de fala performativos sobre as mulheres brasileiras, que
as mesmas são construídas sobre apenas uma ótica, a sexual. Mulheres brasileiras
são vistas como propensas ao sexo, liberais, disponíveis, quentes, fogosas, boa de
cama, e diversos adjetivos sexuais. Nesta perspectiva de construção, a linguagem é
entendida por nós, como ação. Assim, Fiorin (2013, p.28) diz que:

A linguagem não se destina apenas a perceber o mundo, a categorizar


a realidade, a servir de instrumento de interação social, a informar, a
influenciar, a exprimir sentimentos e emoções, a criar e a manter laços
sociais, a falar da própria linguagem, a ser fonte e lugar de prazer, a
forjar uma identidade para o falante, mas é também uma forma de
ação.

Ou seja, conforme vimos no decorrer dessa dissertação, as pessoas agem no


mundo através da linguagem, as ações se realizam ao dizer e provocam efeitos nos
corpos e nas práticas sociais. Nesse sentido, Melo e Moita Lopes também trazem a
linguagem como ação que provoca efeito:

[...] A linguagem, entendida como ação, é relevante nesta discussão,


porque é por meio dela que os corpos são constituídos nas práticas
sociais, ou seja, o discurso é central na reinvenção do outro e de nós
mesmos. [...] (MELO; MOITA LOPES, 2013, p.241).

Neste sentido, percebemos que os atos de fala performativos repetidos sobre


as mulheres brasileiras, especificamente aqueles enfatizados na ditadura,
incentivaram o turismo sexual, objetificando a mulher brasileira de pele escura à
negra, transformando-a em atração turística. A divulgação das mulatas brasileiras foi
rápida principalmente devido ao auxílio de algumas personalidades, tais como
Sargentelli e Di Cavalcanti. Atualmente, em tempos de Copa do Mundo 2014, tais atos

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de fala performativos são repetidos pela Adidas ao lançar as camisetas que compõem
o corpus desta pesquisa.
Apesar de as mulheres brasileiras serem construídas como efeitos de atos de
fala performativos repetidos sobre seus corpos, que a constroem sob uma ótica
sexual, percebemos uma polêmica em torno do lançamento desses objetos de
consumo, o que nos indica uma leve mudança na tentativa de amenizar esses
discursos. Sabemos que desde o governo do Fernando Henrique Cardoso há uma
tentativa de combater o turismo sexual, porém ainda nos deparamos com a repetição
de atos de fala performativos sobre a mulher brasileira que viajam em diversas mídias,
principalmente no espaço hibrido da internet.
A trajetória textual desses objetos de consumo mostra, através de sua
amplitude, que não existem barreiras no mundo online/virtual e que mesmo com a
tentativa da Adidas em apagar o lançamento das camisetas, esses objetos de
consumo viajaram inúmeros sites, tomando uma proporção até mesmo internacional.
Observamos essa extensão da trajetória textual estudada e percebemos que só o fato
dos objetos de consumo serem descritos e propagados como ofensivos em muitos
sites, já nos aponta uma multiplicidade de opiniões que indexam sentidos sobre a
racialização erotizada desses corpos. Além disso, o que trouxemos, com o auxílio
das Teorias Queer, é que a intersecção entre gênero, nacionalidade e raça aciona
essas construções discursivas e performativas que, através da citacionalidade e da
iterabilidade, apontam para a encenação de performances sexuais das mulheres
brasileiras. Também através das Teorias Queer questionamos essas normas que
causam sofrimentos para muitos corpos, nesta pesquisa, especificamente às
mulheres brasileiras.
As entextualizações das camisetas apontam para os objetos de consumo, para
as polêmicas - tanto do lançamento quanto da exploração sexual - e também para as
construções discursivas sobre as mulheres brasileiras. Tanto o lançamento das
camisetas, quanto a trajetória textual e a entextualização desses objetos de consumo,
trazem à tona a construção de mulher brasileira fácil, acessível, disponível, boa de
cama, sensual, sedutora, e todas as outras características ligadas à sexualidade
dessa mulher. Estas construções discursivas e performativas sobre tais corpos estão
sendo repetidas por muitxs, mas já são questionadas por outros, como é o caso de
nossa pesquisa, que se embasa nos estudos contemporâneos de gênero (LOURO,

98
2008, 2010; BUTLER, 2003), nos atos de fala performativos (AUSTIN ([1962]1990) e
na repetição destes atos (DERRIDA ([1972]1988). Trouxemos para o centro desta
pesquisa a mulher brasileira, iniciamos alguns questionamentos sobre as normas que
excluem tais corpos e pretendemos, em trabalhos futuros, darmos continuidade
nesses estudos que têm a finalidade de construir um mundo melhor.

99
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103
ANEXO 1
Tabela de trajetória textual

Tabela 1 - A trajetória textual dos objetos de consumo em sites brasileiros

Data Hora Tipo Site Título Link


24/02/ 12h O Globo Camisetas http://oglobo.globo.com/esporte
2014 vendidas nos s/camiseta-vendida-nos-eua-
EUA usa apelo usa-apelo-sexual-vinculado-
sexual vinculado copa-no-brasil-11696324
à Copa no Brasil
24/02/ 16h Gazeta Camiseta http://gazetaonline.globo.com/n
2014 online vendida nos ovo/_conteudo/2014/02/noticias/
Estados Unidos mundo/1480258-camiseta-
usa apelo sexual vendida-nos-estados-unidos-
vinculado a Copa usa-apelo-sexual-vinculado-a-
no Brasil copa-no-brasil.html
24/02/ 20h.38 Estadão Camisetas com http://esportes.estadao.com.br/n
2014 min. conotação sexual oticias/futebol,camisetas-com-
da Adidas para a conotacao-sexual-da-adidas-
Copa revoltam o para-a-copa-revoltam-o-
governo governo,1134142
24/02/ 22h Cidade Camisetas da www.cidademarketing.com.br/2
2014 52min marketing Adidas tem duplo 009/n/17066/camisetas-da-
sentido e adidas-tm-duplo-sentido-e-
provocam revolta provocam-revolta-no-governo-
no governo brasileiro.html
brasileiro
24/02/ 22h.52 O popular Embratur critica http://www.opopular.com.br/edit
2015 min camisetas da orias/economia/embratur-critica-
Adidas vendidas camisetas-da-adidas-vendidas-
com apelo sexual com-apelo-sexual-1.482758
25/02/ 9h.13 Uol – Site Adidas lança http://co
2014 min. de camisetas sobre padomundo.uol.com.br/noticias/

104
varieda- a Copa com redacao/2014/02/25/adidas-
des conotação sexual lanca-camisetas-sobre-a-copa-
e causa polêmica com-conotacao-sexual-e-causa-
polemica.htm
25/02/ 9h.14 Blog – Conotação http://blogs.diariodonordeste.co
2014 min. Diário do sexual em m.br/diarionacopa/copa-do-
Nordeste camisas da mundo-de-2014/conotacao-
– Diário Adidas para a sexual-em-camisas-da-adidas-
na Copa Copa é alvo de para-a-copa-e-alvo-de-criticas-
críticas do do-governo-brasileiro/
governo brasileiro
25/02/ 11h.31 Em.com Embratur pede http://www.em.com.br/app/notici
2014 min. – Econo- que Adidas retire a/economia/2014/02/25/internas
mia do mercado _economia,501812/embratur-
camisas da Copa pede-que-adidas-retire-do-
com apelo sexual mercado-camisas-da-copa-com-
apelo-sexual.shtml
25/02/ 12h.06 Lance net Em meio a http://www.lancenet.com.br/cop
2014 min. – Copa polêmica com a-do-mundo/polemica-camisas-
2014 camisas da Copa-Dilma-
Copa, Dilma turismo_0_1091290900.html
ataca turismo
sexual
25/02/ 12h.15 Site de Camisetas http://esportes.r7.com/futebol/co
2015 min. varieda- polêmicas são pa-do-mundo-2014/camisetas-
des:R7 acusadas de polemicas-sao-acusadas-de-
Esportes- incentivar turismo incentivar-turismo-sexual-
Estadão sexual 25022014
conteú-
dos
25/02/ 12h.19 Gazeta Adidas lança http://www.gazetaesportiva.net/
2014 min. esportiva camisetas noticia/2014/02/futebol/adidas-
referentes à lanca-camisetas-referentes-a-

105
Copa do Mundo copa-do-mundo-com-
com conotação conotacao-sexual.html
sexual
25/02/ 12h.44 Portal de Camisas da Copa http://www.portaldenoticia.com/c
2014 min. notícia – do Mundo com amisas-da-copa-mundo-com-
veiculado conotação sexual conotacao-sexual-e-repudiada-
por R7 é repudiada pelo pelo-governo/
governo
25/02/ 13h.9 Revista Adidas usa apelo http://brasileiros.com.br/2014/02
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ros camisetas sobre vender-camisetas-sobre-copa/
a Copa
25/02/ 13h.42 BT- Blog Adidas lança http://blogs.ne10.uol.com.br/torc
2014 min. do camisa polêmica edor/2014/02/25/adidas-lanca-
torcedor - para a Copa de camisa-polemica-para-copa-
veiculado 2014 2014/
pela Uol
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e irrita governo camisas-da-copa-e-irrita-
governo
25/02/ 13h.54 Tribuna Adidas lança http://www.tribunahoje.com/noti
2014 min. hoje – camisas da Copa cia/95148/esporte/2014/02/25/a
esporte – com conotação didas-lanca-camisas-da-copa-
veiculado sexual, e governo com-conotaco-sexual-e-
por R7 repudia governo-repudia.html
25/02/ 14h.14 Ig – Adidas lança http://economia.ig.com.br/empre
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sas com conotação com-conotacao-sexual-e-gera-
sexual e gera polemica.html
polêmica

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25/02/ 14h.32 Paraná Adidas cancela http://www.parana-
2014 min. online vendas de online.com.br/editoria/esportes/
camisas com news/726985/?noticia=ADIDAS
conotação sexual +CANCELA+VENDA+DE+CAMI
SAS+COM+CONOTACAO+SE
XUAL
25/02/ 15h.41 Brasil Dilma condena http://www.brasilpost.com.br/20
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Associa- camisetas com camiseta_n_4854297.html
do a Abril referências
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fórum – com conotação material-da-copa-com-
Veicula- machista conotacao-sexual/
da pelo Ig
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2014 01min. Globo Adidas retira das tebol/copa-do-
Esporte lojas camisas da mundo/noticia/2014/02/apos-
copa com polemica-adidas-retira-das-
conotação sexual lojas-camisas-da-copa-com-
conotacao-sexual.html
25/02/ 16h.01 Folha/Uol Adidas diz que http://www1.folha.uol.com.br/es
2014 min. –Folha vai retirar do porte/folhanacopa/2014/02/1417
na Copa mercado 599-adid as-diz-que-vai-retirar-
camisetas do do-mercado-camisetas-do-
Brasil com apelo brasil-com-apelo-sexual.shtml
sexual
25/02/ 16h.05 G1 Adidas suspende http://g1.globo.com/economia/n
2014 min. venda de blusas egocios/noticia/2014/02/adidas-
do Brasil com suspende-vendas-de-blusas-do-
conotação sexual

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brasil-com-conotacao-
sexual.html
25/02/ 16h.09 Estadão - Após polêmica, http://esportes.estadao.com.br/n
2014 min. esportes Adidas tira do oticias/futebol,apos-polemica-
mercado adidas-tira-do-mercado-
camisetas com camisetas-com-conotacao-
conotação sexual sexual-da-copa,1134472
da Copa
25/02/ 16h.13 Terra- Adidas se explica http://esportes.terra.com.br/fute
2014 min. Terra na e diz que não bol/copa-2014/adidas-se-
Copa venderá mais explica-e-diz-que-nao-vendera-
camisas sexistas mais-camisas-
sexistas,d66eca1927a64410Vg
nVCM4000009bcceb0aRCRD.h
tml
25/02/ 16h.18 Portal Após polêmica, http://www.portal2014.org.br/not
2014 min. 2014 Adidas cancela icias/12966/APOS+POLEMICA
vendas camisa +ADIDAS+CANCELA+VENDAS
com conotação +CAMISA+COM+CONOTACAO
sexual +SEXUAL.html
25/02/ 16h.42 Revista: Governo repudia http://www.infomoney.com.br/ne
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y sexual em mais/noticia/3209701/governo-
camisetas da repudia-icones-com-apelo-
Adidas sexual-camisetas-adidas
25/02/ 16h.53 iBahia Após polêmica, http://www.ibahia.com/detalhe/n
2014 min. veiculado Adidas retira oticia/apos-polemica-adidas-
por camisas com retira-camisas-com-apelo-
globo. apelo sexual do sexual-do-
Com mercado mercado/?cHash=59eac0163c5
df0dd980a9a8e28b56a97
25/02/ 17h.07 Jornal do Adidas cancela http://jconline.ne10.uol.com.br/c
2014 min. Commerc venda de anal/esportes/futebol/noticia/201

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io – camisas com 4/02/25/adidas-cancela-venda-
veiculado conotação sexual de-camisas-com-conotacao-
pelo Uol sexual-119378.php
25/02/ 17h.50 Revista Adidas retira das http://www.cartacapital.com.br/s
2014 min. Carta lojas camisetas ociedade/patrocinadora-oficial-
Capital que relacionam o da-copa-adidas-lanca-linha-
Brasil ao turismo com-incentivo-ao-turismo-
sexual sexual-no-brasil-4432.html
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Pan – desculpas por 2014/apos-polemica-adidas-
veiculado camisetas com pede-desculpas-por-camisetas-
pela Uol conteúdo sexual com-conteudo-sexual.html
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Stones – Copa de camisetas-depois-de-
veiculada circulação depois reclamacao-do-ministerio-do-
pela Uol de reclamação do turismo-brasileiro
Ministério do
Turismo brasileiro
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no Brasil com sexual/#.VZaZCvlViko
apelo sexual
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Cidadani- faz camiseta com r-da-copa-do-mundo-faz-
a duplo sentido e camiseta-com-duplo-sentido-e-
causa polêmica causa-polemica/
25/02/ 22h.39 Pragmati Adidas lança http://www.pragmatismopolitico.
2014 min. smo material da Copa com.br/2014/02/adidas-lanca-
Político – com apelo sexual

109
Redação material-da-copa-com-apelo-
pragma- sexual.html
tismo
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2014 futebol: Adidas retira das opa-2014-adidas-retira-das-
Estádio lojas camisas lojas-camisas-com-conotacao-
Vip com conotação sexual
sexual
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1min.3 mo SBT camisetas
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a Copa
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com conotação mundo-com-
sexual conota%C3%A7%C3%A3o-
sexual
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com apelo sexual camisas-com-apelo-
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exploração fomentam-
sexual e tráfico explora%C3%A7%C3%A3o-
de mulheres sexual-e-tr%C3%A1fico-de-
mulheres
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2014 comunica camisetas mais adidas-e-camisetas-mais-
ção – polêmicas da polemicas-da-copa-mundo/
Mais de Copa do Mundo
trinta
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2014 Mulheres do mundo: mo.wordpress.com/tag/camisa-
contra o Mulher brasileira da-adidas/
feminis- é prostituta,
mo Brasil é terra de
bundas e as
camisas da
Adidas
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2014 Ornilo MUNDO: Adidas m.br/2014/02/copa-do-mundo-
Lundgren parar de vender adidas-parar-de-vender.html
camisetas com
uma pitada de
turismo sexual no
Brasil
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2014 Mensa- Carnaval m.br/home/meio_e_mensagem/
gem:

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Regina 3/Adidas-Copa-e-Carnaval.html
05/03/ Blog a Eles vão pensar http://acortesamoderna.com.br/
2014 Cortesã que somos todas eles-vao-pensar-que/
Moderna prostitutas
06/03/ PSTU Copa do Mundo http://www.pstu.org.br/node/204
2014 do machismo e 26
da exploração
sexual

112
ANEXO 2
Trecho da trajetória textual internacional

Tabela 2 - A Trajetória textual das camisetas em sites internacionais

Data Hora Título Tradução Link


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2014-1795822_48.php
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113
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Brasil 2014 por convidarem ao turismo-sexo
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25/03/ Brasile 2014: Brasil 2014: http://mondiali.net/4091-
2014 Magliette Camisetas brasile-2014-magliette-
sessualmente sexualmente sessualmente-esplicite-
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tanga sulle t- dental na camiseta, promo-ritiro-parte-
shirt promo, são retirados pela adidas/
ritiro da parte di Adidas
Adidas

114
ANEXO 3
Texto publicado pelo jornal O Estado de São Paulo

115
116
Anexo 4
Texto publicado pelo site de variedades

117
118
Anexo 5
Texto publicado pelo blog Mulheres contra o feminismo

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