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Ficha Técnica
Preâmbulo
Introdução
PARTE I PORTUGAL DESDE FINAIS DA IDADE
MÉDIA
1. População
2. Instituições políticas
3. Economia e desenvolvimento
PARTE II PORTUGAL: UMA INTERPRETAÇÃO
4. Expansão e império
5. Cultura e religião
6. A maldição dourada
7. Um país novo, liberal?
8. A Primeira República
9. O Estado Novo
10. A época contemporânea
Epílogo
Para saber mais
Bibliografia
Créditos das imagens
Comentários a As Causas do Atraso Português,
de Nuno Palma
Todos os que nas matérias de Portugal se governaram pelo discurso,
erraram e se perderam; e por aqui se perderam (ainda entre nós)
os que na opinião dos homens eram de maior juízo.
Padre António Vieira, História do Futuro
Preâmbulo
[1] Duas breves notas sobre a linguagem que utilizo. Primeiro, para que o livro seja o mais
acessível possível, modernizei a ortografia das citações que transcrevo para a atual. Segundo,
trabalho em língua inglesa há muitos anos, e emprego elementos dela neste ensaio a bem da
legibilidade do texto e do rigor das ideias. Noto em particular que utilizo a vírgula de série (Oxford
comma), apesar de esta não ser prática corrente na escrita em língua portuguesa. Tomemos como
exemplo a frase «Fui ao teatro com os meus pais, a Maria, e o Joaquim». Sem a última vírgula, não é
claro se fomos cinco pessoas ao teatro, sendo duas delas os meus pais, ou se fomos apenas três, sendo
que os meus pais são a Maria e o Joaquim. A vírgula de série resolve essa ambiguidade.
Introdução
[a] discussão, longe de nos assustar, é o que mais desejamos; porque, ainda que
dela resultasse a condenação das nossas ideias, contanto que essa condenação fosse
justa e inteligente, ficaríamos contentes, tendo contribuído, posto que indiretamente,
para a publicação de algumas verdades.
[7] A génese da transição demográfica teve a sua origem ainda em finais dos anos 20 do século
xx. Veja-se CERMEÑO et al. (2023), p. 7.
[10] Fonte: até 1864, várias fontes citadas em PALMA et al. (2020).
[13] Como é evidente, os casamentos entre a Nobreza, que eram combinados, representavam uma
exceção a esta regra.
[14] Por exemplo, no Minho havia mais tendência para a endogamia nos casamentos.
[17] Para uma revisão moderna das ideias relacionadas com a obra de Thomas Malthus e da sua
diferente aplicabilidade ao longo do tempo, veja-se GALOR (2022).
[18] Se os cronistas não tinham a informação de que dispomos hoje, e não teriam certamente a
capacidade de compreender as sociedades nativas em toda a sua complexidade, continua a valer a
pena ler a sua irrepetível experiência em primeira mão. Veja-se GÂNDAVO (2004), publicado
originalmente em 1574.
[20] VAN ZANDEN et al. (2019). No que toca à situação do sul da Europa Ocidental, e em
particular de Portugal, há afirmações feitas neste livro que não correspondem de todo à realidade
histórica. Explicarei isso mais à frente.
[21] O próprio John Hajnal reconheceu isto logo no início do artigo de 1965, onde afirmava que
apenas a Europa de Leste estava fora deste padrão.
[23] Ainda que o número médio de filhos por mulher estivesse a cair desde há décadas, como
referido anteriormente.
[24] Esta é uma idade que anda próxima da dos outros países europeus. Fonte: EUROSTAT
(2023a).
[27] Existiam variações regionais em todos os países. Mas essas variações não estiveram
sistematicamente associadas a uma maior discriminação contra as mulheres no sul da Europa
Ocidental.
[28] Existe suporte empírico detalhado relativo a esta matéria, dizendo respeito a meados do
século xviii. Veja-se SILVA e CARVALHAL (2020).
[29] Logo, menores do que as que eram praticadas genericamente noutras partes do mundo.
[30] Em 1974, cerca de 43% das mulheres portuguesas em idade ativa trabalhavam fora de casa,
sendo esta percentagem parecida com a média europeia, e muito superior à de países do sul europeu,
como a Espanha, Itália, ou Grécia. Veja-se OUR WORLD IN DATA (2017).
[31] Tendo em conta que o rácio de rapazes sobre raparigas à nascença é sempre próximo de 1.
[34] A rápida reintegração dos retornados na sociedade portuguesa foi notável, ainda que tenha
tido consequências não despiciendas nos mercados laborais. Veja-se BOHNET et al. (2022).
[35] A partir de 1890, a fonte destes números é a informação dada em VALÉRIO (2001). Fontes
mais atualizadas dão números parecidos. Veja-se AMARAL (2009), e também HENRIQUES e
RODRIGUES (2009).
[38] HIRSCHMAN (1970). Segundo o WORLD ECONOMIC FORUM (2016), uma em cada
cinco pessoas nascidas em Portugal vive fora do país. Outros países em que isso se passa são o
Cazaquistão, Macedónia do Norte, Síria, e Trinidad e Tobago.
[40] Entre 2011 e 2021 a população diminuiu em cerca de 200 mil pessoas. Veja-se INSTITUTO
NACIONAL DE ESTATÍSTICA (2021), e EXPRESSO (2022).
2.
Instituições políticas
População média
Número total de Método de escolha dos Salários dos
Representação por representante
representantes representantes representantes
(em milhares)
Eleição a nível
Cortes de
127 municípios 254 4 municipal pelos Pagos pelos municípios
Portugal
vereadores e povo
Eleição; sorteio;
Pagos pelos impostos
consenso; rotação entre
Cortes de 19 grandes aprovados (cerca de
36 104 famílias (dependendo
Castela municípios 75%) e pelos municípios
do município em
(25%)
causa)
Eleição pelos
Condados (37); Pagos pelos senhores
latifundiários (com
Parlamento cidades com estatuto locais, e pelos círculos
296 7 rendimentos acima de
de Inglaterra de condado (12); ou circunscrições dos
40 xelins); escolhidos
burgos (98) burgos e cidades
pelo monarca
Existe também outro pormenor que mostra como – enquanto
funcionaram – as Cortes de Portugal apresentavam um grau de
representatividade superior ao que existia no parlamento inglês. Trata-se do
direito que concelhos da Índia e do Brasil tinham de nelas participar. Essa
prática também existia no país nosso vizinho relativamente à América
espanhola. Já a sua ausência em Inglaterra, como é conhecido, foi um dos
fatores que esteve na base da independência dos Estados Unidos da
América em 1776. Em Portugal, pelo contrário, Goa (1645), Salvador da
Bahia (1653), e São Luís do Maranhão (1676) ganharam o direito a
participar nas Cortes onde discutiam questões fiscais que também lhes
diziam respeito.[101]
[41] Neste livro, emprego frequentemente os termos «Estado» e «Coroa» como equivalentes, o
que poderá parecer pouco rigoroso. No entanto, esta simplificação faz sentido: mesmo no presente,
não existem garantias de que o Estado defenda o interesse público. Pelo contrário, sabemos que
muitas vezes os políticos agem em função dos seus interesses privados, mesmo com grandes custos
para a maior parte da população. A minha simplificação não é original: o historiador Chris Wickham,
por exemplo, argumenta que faz sentido pensar na ação das monarquias, pelo menos desde o século
xiii, como ações estatais. Veja-se WICKHAM (2016). Relativamente ao contexto português, veja-se
MATTOSO (2001). Direi mais sobre esta matéria no Capítulo 7.
[42] Existem muitos livros dedicados a esta matéria, como por exemplo NORTH et al. (2009); ou
ACEMOGLU e ROBINSON (2019).
[43] Parece-me válida a expressão «interesse público», apesar de nos parlamentos também se
confrontarem, como é evidente, diferentes fações de variados interesses privados. Por «poder
executivo» refiro-me apenas à Coroa, e não a outras partes do Estado (nomeadamente os municípios).
[44] MARONGIU (1968). Sobre o facto de as Cortes de Castela e de Portugal terem papéis
parecidos com o parlamento inglês, sendo por isso comparáveis, ver HENRIQUES e PALMA
(2023a), pp. 266-268.
[47] Neste capítulo, no âmbito das instituições políticas comparadas, refiro-me em geral aos
parlamentos como fonte de limitação do poder executivo. Na verdade, existiu sempre outra fonte
potencialmente importante de restrições ao executivo – os tribunais. Mas não existem estudos
comparados e quantitativos sobre os tribunais e o seu papel na separação de poderes em Portugal,
nomeadamente a sua evolução ao longo dos séculos. As minhas observações sobre este assunto
apenas podem ser, pois, pontuais.
[48] Muita informação deste capítulo é, portanto, baseada no seguinte artigo e respetivo
apêndice: HENRIQUES e PALMA (2023a).
[49] Já no caso de Inglaterra, o país melhorou a qualidade das suas instituições políticas de forma
sistemática apenas a partir da sua Guerra Civil, em meados do século xvii.
[50] Pelo menos desde finais da Idade Média. Deixo de fora os reinados de Afonso I e Sancho I.
[51] Por motivos que explicarei adiante, nenhum dos termos «Monarquia Liberal» e «Monarquia
Constitucional» me parecem adequados, mas por enquanto sigo a convenção utilizando o primeiro
termo, por ser mais conhecido.
[53] Que assim era é reconhecido por CARDIM (2005), pp. 171, 207-208.
[54] Eram apresentados «capítulos particulares», relativos aos problemas de cada comunidade
local, e «capítulos gerais», relativos a questões de alcance mais geral. Veja-se CARDIM (2005), p.
173.
[55] Os nobres e o clero falavam dos assuntos do seu interesse. Não se pronunciavam sobre os
impostos, que incidiam sobre os povos, e também por isso, participavam nas Cortes de forma menos
sistemática. Não havia votações propriamente ditas: as decisões eram tomadas por unanimidade. Os
procuradores dos povos discutiam entre si até chegarem a acordo e aceitarem (ou não) a
proposta do rei. Quando a questão tocava a todos, sendo por exemplo dinástica e não fiscal, a decisão
era tomada após confrontados os diferentes argumentos.
[59] Exceto, como é evidente, nas «novas Europas», como os Estados Unidos da América ou
vários estados da América Latina. Vale a pena ainda referir que em fases preliminares do
desenvolvimento de certas sociedades, geralmente de pequena escala, os governantes ouviam as
populações reunidas em pequenas assembleias, que foram desaparecendo à medida que a burocracia
estatal se impunha. Ou seja, existiram sociedades não europeias de dimensão reduzida com tradições
de assembleias e até alguma proto-democracia em várias épocas, mas sempre com uma lógica e
escala muito mais limitada do que a que viria a ser observada na Europa. Veja-se STASAVAGE
(2020).
[60] MALINOWSKI (2019).
[63] A literatura sobre a relação entre as instituições políticas inglesas e a Revolução Industrial é
extensa, mas está sumarizada em BESLEY et al. (2023).
[71] Que tem sido argumentado por vários autores. Por exemplo, ACEMOGLU et al. (2005), pp.
546-579.
[72] Um Alderman inglês era um membro da assembleia municipal que estaria em segundo lugar
em termos de estatuto relativamente ao Mayor, e corresponde de forma aproximada a um vereador
em Portugal, notando que não existia historicamente nos municípios portugueses um presidente
(Mayor).
[77] Por «cavaleiros» entenda-se aqui não o estatuto social, mas sim combatentes a cavalo. Os
municípios eram chamados pelo rei a organizar exércitos desta natureza que iriam servir durante
algumas semanas.
[78] POWERS (1998). Também aqui há um contraste com Inglaterra, cujos mais importantes
burgos eram dominados por oligarquias mercantis (ainda que não todos), enquanto a maior parte dos
shires era dominada pelos grandes latifundiários e pela pequena aristocracia.
[83] Sem dúvida, Le Roy Ladurie referia-se principalmente à sociedade rural da França profunda,
onde afirmava que pouco ou nada se tinha alterado durante os séculos. Apesar disso, este conceito
tem sido por vezes aproveitado para dar a ideia de que o «Antigo Regime» era mais estático, tanto
em termos económicos como políticos, do que era na verdade o caso.
[88] Para uma boa história recente da Guerra Civil Inglesa, recomendo BRADDICK (2008).
[89] Note-se a precocidade destes eventos tanto em relação à chamada Revolução Gloriosa de
1688-1689 no mesmo país, como à Revolução Francesa dos finais do século seguinte. A Revolução
Francesa aparentemente influencia mais a cultura do nosso país, até por ser ensinada com maior
detalhe nas nossas escolas e universidades, o que por sua vez é certamente um resultado da influência
direta que teve em Portugal no século xix, pois através das Invasões Francesas veio «bater-nos à
porta». No entanto, há muito a aprender com a Revolução Inglesa do século xvii e as suas
consequências, que a prazo não foram menos profundas.
[92] THOMPSON (1997). Apesar de a Coroa não ter ficado satisfeita com as ações de Jeronimo
de Salamanca, isso não o impediu de ter sido pago, de voltar a ser eleito por Burgos como procurador
para as Cortes de 1601, e até de ter conseguido que um dos seus filhos viesse a servir como capitão
da infantaria na Flandres. Veja-se DE ARCE (2008); DANVILA Y COLLADO (1885), vol. V, p. 625.
[97] Para o caso de Castela, ver ZAMORA (1988). Para o caso de Inglaterra, veja-se
MCKISACK (2019).
[98] Note-se que os concelhos portugueses correspondiam em Inglaterra aos burgos (boroughs) e
a cidades, como Londres, Bristol ou York. Mas a maior parte do território não estava sob a alçada
destes, mas de condados (shires), cujo sistema judicial e administrativo concentrava-se nos xerifes.
[99] Em Inglaterra, o correspondente aos municípios são os burgos e não os condados, já que
estes últimos correspondiam a fronteiras administrativas, sem autogoverno.
[102] O que foi escrito em Portugal sobre esta matéria e outras relativas não apenas ao século xix
e seguintes, mas também ao século xviii, era frequentemente enganador. Veja-se RAMOS (1990).
[103] Ver, por exemplo, NORTH e THOMAS (1973), pp. 120, 127-128; TILLY (1994);
ERTMAN (1997); MADDICOTT (2010); ACEMOGLU et al. (2005); HOUGH e GRIER (2015).
[105] Sir John Fortescue, jurista, deputado do parlamento inglês e pensador de teoria política,
considerava que as instituições inglesas eram superiores às continentais. Influenciou bastante a
análise institucional comparada subsequente na literatura anglo-saxónica. Ver FORTESCUE (1775).
[112] A própria Restauração tinha sido feita também em nome do regresso a um modelo político
menos centralizado no poder de uma pessoa do que o que vigorava em Espanha. Veja-se
MONTEIRO (2021), p. 154. No entanto, a questão mais relevante ao longo do tempo não me parece
ser, apesar de tudo, relativa ao rei recorrer principalmente a apenas um ou mais conselheiros, mas sim
até que ponto existiam limites mais gerais ao poder executivo, como os das Cortes e tribunais.
[114] SILVA (1856), p. 410. Em 1698, já depois da descoberta do ouro do Brasil, um máximo
legal de 5% voltou a ser imposto a todas as perpetuidades privadas. Aplicava-se a todos os censos
(empréstimos perpétuos), porque a motivação era escoar a dívida pública (i.e. da Coroa) a juros
baixos. Veja-se HENRIQUES e PALMA (2023a), p. 283.
[116] Regressado do exílio, Castelo Melhor viria também a ser conselheiro de Estado entre 1708-
1719, já durante o reinado de D. João V. Veja-se MONTEIRO (2021), p. 151.
[118] D. Pedro II só viria a ser aclamado rei depois da morte do seu irmão mais velho, em 1683.
Logo, em 1668 o futuro D. Pedro II era apenas regente, mas quem já governava.
[120] Ou, para ser mais preciso: as Cortes não reuniram mais em Castela após 1664 no século
xvii, mas com a mudança para a dinastia Bourbon, as Cortes reuniram seis vezes em Madrid, apenas
por motivos cerimoniais, já que não tinham poder.
[121] A informação que dou neste parágrafo e no anterior é baseada nas Tabelas 6 e 7 do artigo:
HENRIQUES e PALMA (2023a).
[122] Estes últimos, ao contrário dos primeiros, não eram obrigatórios, nem se baseavam na
avaliação fiscal, mas apenas afetavam alguns grupos.
[124] As Cortes castelhanas estavam a aprovar cada vez menos leis e a ter cada vez menos
sucesso na aprovação das suas iniciativas legislativas; em Inglaterra, por contraste, passava-se o
contrário. Veja-se HENRIQUES e PALMA (2023a), pp. 273-274.
[125] As alterações políticas que resultaram da chamada Glorious Revolution implicaram que, na
realidade, o executivo (que era agora o Parlamento, não a Coroa) passasse até a ser bastante
poderoso, tendo certamente mais poder do que tinha tido antes o rei. No entanto, isso foi até positivo;
o que importa é que era um poder limitado do ponto de vista constitucional.
[129] Como reconhecia em 1541 o Conde da Castanheira, «se os mercadores não vivem senão de
olhar pelo modo da vida das pessoas com que contratam, e que podem fazer meter na cadeia, aos reis
(…) se lhes não podem pagar, não podem eles mais fazer isso». Castanheira era o Vedor da Fazenda
português, posição com competências nesta altura aproximadamente equivalentes às das Secretarias
de Estado do Orçamento e do Tesouro, servindo também como juiz em certas matérias ou litígios
relacionados com assuntos da Fazenda real. Veja-se CRUZ (2001) e HENRIQUES e PALMA (2023),
p. 280.
[130] Como também acontece com outras matérias que trato neste livro, este resumo é um
sumário sintético de questões financeiras e históricas complexas. Para detalhes, veja-se
HENRIQUES e PALMA (2023a), pp. 280-286.
[132] Sobre a expressão «feudalismo fiscal» aplicada ao Court of Wards, veja-se HEALY (2015).
[133] Para a comparação do Court of Wards com o Juízo dos Órfãos em Portugal, veja-se o
Apêndice online de HENRIQUES e PALMA (2023a), e as referências aí citadas.
[134] Como deveria ser evidente, o absolutismo também não implica poder sem quaisquer
limites, mas ultrapassa o âmbito deste livro estar a considerar esta matéria em detalhe, ou ainda as
diferentes variedades, como o chamado «despotismo esclarecido».
[135] QUENTAL (2008), pp. 55, 90. Esta obra é a baseada no discurso de Quental proferido
numa sala do Casino Lisbonense em Lisboa no dia 27 de maio de 1871, a que me referi no início do
livro.
[136] Tendo esse país na prática deixado de ser uma colónia logo em 1808, e a separação política
efetiva ocorrido em 1822, como é sabido.
[138] Aliás, nem em França, nos termos em que geralmente o absolutismo é referido. Veja-se
ROSENTHAL (1990).
3.
Economia e desenvolvimento
Até meados do século xx, Portugal era uma economia agrícola, sendo
esse o setor em que mais de metade da população trabalhava. No entanto,
este dado não implica uma sociedade estática em que nada tenha mudado ao
longo dos séculos. Como já mencionei, a ideia da história imóvel (histoire
immobile), associada à escola dos Annales, que influenciou muitos
académicos em Portugal, entre os quais Vitorino Magalhães Godinho, não
fornece um bom modelo para compreender a História de Portugal. Nem a
história institucional e política, como expliquei no capítulo anterior, nem a
económica, como explicarei de seguida.[139] Por exemplo, sabemos hoje
que, em meados do século xviii, quase metade da população do país
trabalhava fora do setor agrícola. Porém, um século depois, a indústria e os
serviços ocupavam apenas um terço da força de trabalho.[140] A História de
Portugal tem várias surpresas destas – nunca foi um caminho linear. E
certamente nunca foi imóvel.
A história quantitativa tem tido grandes avanços nas últimas duas
décadas. Hoje sabemos bastante sobre a evolução da economia portuguesa
ao longo dos tempos. O trabalho pioneiro de António Castro Henriques tem
mostrado que Portugal era dos países mais prósperos da Europa em finais
da Idade Média, contrariando muitas narrativas anteriores. Por volta de
1300, o produto agrário português per capita era superior ao inglês, sendo a
população de Portugal de cerca de um milhão de pessoas, o que
correspondia a menos de um quarto da população inglesa na mesma época.
Portugal e Espanha eram, nessa altura, economias de fronteira – um pouco
como o oeste americano no século xix. Ou seja, à medida que a
Reconquista avançava, não havia falta de terras. Isto implicava que, para
um dado nível tecnológico, cada pessoa do lado cristão tinha, em média,
bastantes terras e alimentos disponíveis. No caso português, a conquista do
Algarve tinha terminado em meados do século xiii (1249) e, por isso, por
volta de 1300 não haveria falta de terras.[141] Portugal beneficiou de um
contexto agrário, monetário e institucional favorável que levou a níveis de
taxas de juro comparativamente baixas desde o século xiii, antes da queda
que mais tarde viria a acontecer noutras partes da Europa.[142]
Com a consolidação política e o aumento demográfico, a situação de
abundância de terras foi-se atenuando. Porém, logo depois, em meados do
século xiv, a pandemia conhecida como Peste Negra matou cerca de um
terço, ou mais, da população. Isso implicou uma maior disponibilidade de
terras para os sobreviventes. De facto, a peste matava pessoas, mas não as
terras (nem o capital). Como tal, os níveis de vida subiram para quem
sobreviveu. É neste contexto que podemos entender a Lei das Sesmarias de
D. Fernando (1375), que tinha como objetivo diminuir o despovoamento
rural e estimular a produção agrícola, tendo a Coroa o direito a expropriar e
doar terras a outros que se comprometessem a cultivá-la em tempo útil. Esta
ameaça do confisco de terra que estivesse por cultivar sugere que na altura a
terra era, de facto, barata. Dado o contexto político e militar, a lei poderia
também refletir uma preocupação estratégica com a segurança alimentar em
caso de confronto com Castela e, porventura, com a saída de moeda para o
estrangeiro. A Peste Negra continuaria a ter surtos até décadas depois, mas a
população acabou por recuperar. Perante a lenta melhoria tecnológica, isso
acarretou uma descida dos rendimentos disponíveis para níveis próximos
dos anteriores. Em finais da Idade Média, portanto, o contexto económico
português era favorável por comparação com outras partes da Europa ou até
do mundo, apesar de existirem sinais relativos a um certo declínio ou pelo
menos estagnação da economia.
A partir do início do século xvi, existem dados anuais seguros, baseados
na investigação que fiz em coautoria com Jaime Reis.[143] Foi-nos possível
reconstruir o rendimento real por pessoa – isto é, o Produto Interno Bruto
(PIB), em paridades de poder de compra, portanto, corrigido da inflação –
entre os inícios do século xvi e meados do século xviii. Juntando outras
séries, é possível ter uma série contínua até à atualidade. É o que mostro na
Figura 7.[144] Uma informação notável a reter deste gráfico é o brutal
crescimento da economia no século xx. Outra é o facto do PIB per capita
de Portugal só ter voltado ao nível em que já tinha estado em meados do
século xviii já em pleno século xx. Sobre a unidade dos «dólares
internacionais de 1990» mais direi à frente; por enquanto basta manter
presente que uma sociedade com 400 destes dólares encontra-se próxima do
nível de subsistência.
Neste gráfico, a escala no eixo vertical não é linear, mas sim logarítmica:
se assim não fosse, a magnitude do crescimento do século xx iria ofuscar as
flutuações anteriores, que seriam difíceis de ver. A escala implica que, entre
cada linha horizontal e a seguinte, o nível de rendimento duplique. Um
aspeto importante a ter em conta é o de que, apesar do crescimento
explosivo aparecer apenas no século xx, tinha também existido um período
anterior de crescimento que não é possível desprezar: o rendimento médio
por pessoa duplicou entre o início da série, em 1527, e meados do xviii. Isto
mostra desde logo que é errada a ideia segundo a qual Portugal terá estado
sempre em decadência desde os Descobrimentos, apesar de amplamente
difundida por muitos, como por exemplo Lúcio de Azevedo e Antero de
Quental.[145] No entanto, existiu sem dúvida um período de notável
catástrofe económica, mas isso aconteceu mais tarde: entre a década de 70
do século xviii e meados do xix. Nessa altura, o rendimento por pessoa caiu
a pique, eliminando todos os ganhos dos três séculos anteriores.
Uma análise fina da evolução desta série mostra que algumas das
supostas causas do declínio ou decadência da economia portuguesa que
frequentemente ouvimos não podem estar corretas. Um exemplo é o
Terramoto de 1755 que, como se vê, não esteve associado a qualquer queda
significativa do rendimento por pessoa. Outros dois casos são as Invasões
Francesas, ou ainda a perda do Brasil – estes dois últimos eventos
aconteceram tarde demais, quando o declínio acentuado da economia já
estava a verificar-se. Sobre as causas do atraso – as verdadeiras e as míticas
– mais direi nos capítulos seguintes. Para já, importa reter que o século xix
foi, em termos económicos, um século completamente perdido para
Portugal, já que mesmo os períodos de tímidos avanços verificados nas
décadas finais desse século corresponderam a um período de divergência,
pois o resto da Europa crescia muito mais, como veremos. Mas na
realidade, as raízes do atraso vinham do século anterior. Como já referi,
Portugal só voltaria a ter um rendimento médio por pessoa parecido com o
que já tinha tido em meados do século xviii em pleno século xx. A História
de Portugal é um drama na tela grande.
Comparações internacionais
[139] No entanto, aproveito para notar, a bem da verdade, que também considero que houve
aspetos positivos associados às metodologias de investigação histórica desenvolvidas por alguns
investigadores associados aos Annales, incluindo o próprio Vitorino Magalhães Godinho no caso da
História Económica de Portugal.
[146] PWR-PORTUGAL (s.d.). Nem todos os preços, salários, e rendas que Jaime Reis e eu
utilizámos para reconstruir o PIB português para 1527-1850 foram recolhidos no contexto dos dois
projetos financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, já que alguns foram recolhidos
mais tarde com financiamento das Universidades de Groningen e Manchester.
[147] Como é evidente, nem sempre existia um contrato formal. Noto também que nalguns casos
em que existia um complemento não monetário ao salário, por exemplo quando eram dadas dormida,
roupa, ou comida a certos trabalhadores, é por vezes possível calcular o valor destes e acrescentá-los
ao valor do salário. Ver, por exemplo, como isto é feito em PALMA et al. (2023).
[148] Estes podem aparecer nas fontes como «jornaleiros», ou simplesmente «trabalhadores».
Ainda no início do século xx, os homens a dias, contratados para trabalhos agrícolas, eram referidos
desta forma. Assim acontecia, por exemplo, na obra notável Através dos Campos, originalmente
publicada em 1903 pelo etnógrafo e lavrador José da Silva Picão.
[149] GODINHO (2019), p. 99. Como era seu hábito, Godinho não dá uma fonte concreta
relativa a este número.
[151] Não confundir a servidão, que acabou gradualmente ao longo da Idade Média, com a
escravatura, que dizia respeito a populações trazidas de outras regiões, não sendo consideradas
portugueses.
[153] A maior parte dos dados foi recolhida de arquivos, mas em alguns casos também foram
utilizados dados pertencentes a fontes já publicadas. Para saber mais sobre este tipo de fontes, veja-se
PALMA (2020b).
[157] Para além dos bens que menciono, também se incluíram outros. A lenha para aquecimento
é a necessária para produzir 2.0 milhões de BTUs. Ver detalhes em PALMA e REIS (2019).
[158] A expansão desta cultura poderá até estar relacionada com a descida de certas medidas de
desigualdade que é observável entre meados do século xvi e meados do XVIII. Veja-se REIS
(2017a).
[159] Por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (HDI, em inglês) é calculado como
uma média geométrica de três indicadores: o próprio PIB, a esperança média de vida, e o nível de
educação da população medido através do número de anos de escolaridade da população. Pensemos
nesta última medida. Porque é um fim em si? Imagine-se uma população em que todas as pessoas vão
muitos anos para a escola, mas aprendem apenas matéria inútil (por exemplo, matéria elogiosa sobre
o ditador do seu país), que não os ajuda a melhorar o seu nível de vida. Será isto um fim em si, se não
aumenta o seu bem-estar? Na medida em que a resposta é não, como é minha convicção,
compreendemos uma importante limitação deste indicador. Este indicador conta apenas o número de
anos de escolaridade, sem considerações sobre a qualidade da oferta educativa. No que toca ao bem-
estar da população, escolaridade, especialmente quando obrigatória, deve ser vista como um meio
para um fim, não como um fim em si. Tudo isto para notar que o PIB por pessoa (que também é
pouco informativo sobre questões de desigualdade) não é um indicador perfeito se utilizado como
aproximação para o nível de desenvolvimento das sociedades, mas as alternativas existentes não são
necessariamente melhores.
[161] Ou pelo menos, referem-se a fronteiras fixas no tempo, tanto quanto possível. Por exemplo,
no caso da Itália, os dados até 1861 excluem o sul da Itália. Nalguns casos, devido à natureza dos
dados subjacentes, existem mudanças de fronteira a meio da série. Isto acontece com Inglaterra, que
nestes números corresponde a Inglaterra (mais País de Gales) até 1700, e Grã-Bretanha depois disso
(ou seja, também incluindo a Escócia). E também acontece com a Holanda, que corresponde à
Holanda propriamente dita até 1807, e aos Países Baixos depois disso. No caso da Alemanha, as
fronteiras são as de 1871.
[162] Esta linha tem evoluído ao longo do tempo, como é evidente, devido à inflação. Falar em
preços de 1990 corresponde simplesmente a uma normalização para efeitos comparativos. Ver, por
exemplo, RAVALLION et al. (2009).
[163] Também conhecidos como dólares de Geary-Khamis, correspondem a uma unidade
monetária hipotética em paridade de poder de compra com o dólar dos EUA num dado ano – neste
caso, 1990. Sobre a desigualdade em sociedades pré-modernas, ver, por exemplo, MILANOVIC et
al. (2011), ou ALFANI e DI TULLIO (2019); sobre o caso português, veja-se REIS (2017a).
[164] A Tabela é mais segura sobre a identificação e a cronologia dos países que estavam com
uma trajetória dinâmica. Sobre as questões metodológicas relacionadas com a contabilidade nacional
histórica, veja-se JONG e PALMA (2018); PALMA (2020b); PALMA e SANTIAGO-CABALLERO
(2023).
[165] Na realidade, os dados de Portugal não incluem o Algarve e as ilhas, mas cobrem ainda
assim quase todo o país, ao contrário do que acontece com a Holanda relativamente aos Países
Baixos.
[167] Portugal em 1950 ($2086 por pessoa) era mais pobre que Moçambique em 2010 ($2613) e
apenas marginalmente mais rico que a Nigéria também em 2010 ($1876). Portugal era, em 1950,
claramente mais pobre que Cabo Verde em 2008 ($2735, dados de 2008). Estes números estão
expressos em termos reais (dólares PPP de 1990), ou seja, já corrigem o efeito da inflação e de
diferentes custos de vida em diferentes sítios. Na medida em que os três países que dou como
comparação subiram de rendimento desde então, a conclusão mantém-se e até sai fortalecida. Estas
comparações não são isentas de problemas, até por não terem em consideração questões de
distribuição. Angola tinha apenas $1600 por pessoa em 2010, o que contrasta com a impressão
(errada) que muita gente tem em Portugal de Angola ser um país com muitos ricos. Mas também é
possível que o «bem-estar mediano» em Portugal em 1950 fosse superior ao de Cabo Verde na
atualidade. Seja como for, Portugal era bastante desigual em 1950, mas também o são quase todos os
países pobres no presente. E estou aqui a identificar riqueza (um stock) como rendimento por pessoa
(um fluxo), mas na prática isso não faz diferença neste contexto. É possível consultar estes e muitos
outros exemplos na MADDISON PROJECT DATABASE (2020).
PARTE II
PORTUGAL:
UMA INTERPRETAÇÃO
4.
Expansão e império
1500–
2,0% 0,8% 2,6% 0,8% 0,9%
49
1550–
1,3% 0,8% 1,7% 2,4% 2,4%
99
1600–
1,7% 1,3% 1,5% 1,3% 5,1%
49
1650–
2,2% 2,0% 2,8% 3,7% 4,9%
99
1700–
5,2% 4,1% 5,7% 5,4% 4,7%
49
1750–
4,7% 3,6% 6,6% 7,0% 5,7%
99
1800–
5,1% 4,5% 11,1% - 4,8%
49
Dito tudo isto, não deixa de ser verdade que foi no século xviii que o
império teve um peso maior para Portugal: não apenas para a Coroa, mas
para a economia.[217] E, no entanto, também seria no século xviii que
Portugal iria começar a ficar para trás, estando esse declínio precisamente
associado ao império, e em particular às chegadas de ouro do Brasil, como
veremos no Capítulo 6. Temos de aguardar pela segunda metade do século
xx para observarmos uma convergência sustentada de Portugal para os
níveis de rendimento da Europa Ocidental, e nessa altura isso não se deveu
ao império (como mostro no Capítulo 9). Em suma: o império nunca serviu
para transformar Portugal num país rico, ao contrário do que é tantas vezes
repetido. Esse é apenas mais um mito da nossa História.[218]
Até agora, tenho vindo a tratar dos efeitos que o império teve para
Portugal. Vimos que, mesmo quando o império apresentou maior
importância para a economia portuguesa, o seu impacto direto foi apenas
moderado. E a prazo até foi negativo, devido a um conjunto de efeitos
indiretos que irei explicar em mais detalhe no Capítulo 6. Uma implicação
da baixa (ou negativa) importância do império para a economia portuguesa
é que também é necessariamente falso dizer que a riqueza de Portugal se
tenha produzido graças à escravatura ou à violência associadas à construção
do império, ou às trocas comerciais relacionadas com o mesmo. Nem para
os portugueses a viver em Portugal, de resto, nem para os que viviam
noutras regiões. Vale também a pena ter em conta o efeito, a prazo, que a
expansão portuguesa teve para as regiões que foram colonizadas.
Na Bahia, como mostro em trabalho coautorado com Guilherme
Lambais, o nível de vida dos trabalhadores não qualificados era comparável
ao da Europa em finais do século xvi, mas declina ao longo do tempo com o
aumento brutal da entrada de escravos nos séculos xvii e xviii, vindo a
recuperar um pouco somente com o fim do tráfico de escravos e da
escravatura, mas sem voltar ao nível inicial, até ao século xx.[222] Por outro
lado, como mostro em trabalho coautorado com Hélder Carvalhal, os
trabalhadores não qualificados em Luanda e Benguela viram o seu nível
de vida piorar entre o século xix e grande parte do xx. O nível de vida
piorava porque existia uma grande quantidade de trabalhadores sob regime
coercivo que distorciam o mercado laboral, fossem escravos ou, a partir de
1875-1880, serviçais.[223] Durante séculos, foi considerado que a escravatura
era essencial para o desenvolvimento do Brasil e, por implicação, também
para os negócios em Angola. Mas não era bem assim. Sendo inegável que a
instituição da escravatura e do comércio de escravos enriqueceu os bolsos
de algumas elites coloniais, nunca foi uma estratégia eficaz de
desenvolvimento para Portugal no seu conjunto. Aliás, pelo menos entre
meados do século xix e meados da centúria seguinte, os rendimentos
médios por pessoa não eram muito superiores em Portugal do que no Brasil
ou nas suas colónias.[224]
Como referi, a escravatura de negros vindos de África, e em particular de
Angola, não só era aceite, como era, à época, vista como fundamental para
o desenvolvimento do Brasil.[225] Por contraste, no Brasil, a Coroa e a os
jesuítas tentaram frequentemente proteger as populações nativas para que
não fossem massacradas ou escravizadas, tendo-se tornado, por isso
mesmo, alvo de frequentes protestos das elites locais.[226] E os esforços de
conversão dos missionários Cristãos fora da Europa, aliás, variaram muito
em função das características de cada região.[227] Em 1826, o Brasil, já
independente, assinou um Tratado com o Reino Unido em que prometia
suprimir completamente o tráfico de escravos. Esse Tratado foi, na verdade,
letra morta, dando origem à expressão «para inglês ver». As próprias
autoridades brasileiras não aplicaram a legislação e mais de um milhão de
escravos africanos entraram no Brasil já depois da independência, em
condições que não teriam sido melhores que as do século anterior.[228] Mas
caso a escravatura fosse fonte de riqueza para países, então Portugal e o
Brasil seriam os países mais ricos do mundo em épocas presentes e
passadas, já que foram dos países que mais estiveram envolvidos nesse
tráfico. Além disso, o que sabemos é que o tráfico de escravos, e de forma
mais genérica a dependência do Brasil face à escravatura, acabaram por ser
um entrave ao seu desenvolvimento global a prazo, sem prejuízo de ter
enriquecido algumas elites mercantis que não eram representativas do país.
[229]
Nada do que até agora escrevi implica que as expansões ibéricas – apesar
da violência que lhes esteve associada – não tenham tido, a prazo,
consequências profundas e positivas a nível mundial. Na realidade,
acabaram por beneficiar todos os países do mundo e portanto,
indiretamente, também Portugal. Isso aconteceu devido à ligação entre
esses eventos e a Revolução Científica do século xvii. Mas este canal de
influência não é propriamente de natureza imperial e o mecanismo é muito
indireto. Passo a explicar, ainda que com alguma brevidade, por não ser
esse o tema central deste livro, embora não possa ser ignorado devido à sua
grande relevância a prazo.
«A experiência é a madre de todas as cousas, per ela soubemos
radicalmente a verdade» – assim escreveu em 1506 o cosmógrafo português
Duarte Pacheco Pereira em De esmeraldo situ orbis, uma obra notável que
continha as coordenadas geográficas de latitude e longitude de todos os
portos conhecidos no seu tempo. Com a expansão marítima, de facto, surgiu
nessa época uma nova mentalidade – primeiro em Portugal, depois em
Castela, e finalmente em toda a Europa Ocidental. Esta nova forma de ver o
mundo rejeitava elementos-chave de obras clássicas, como os escritos de
Aristóteles e a própria Bíblia, pelo simples facto de que, por exemplo, era
possível atravessar o equador sem os exploradores ficarem queimados ou de
pernas para o ar.[235] Ao longo do tempo, o contacto direto por via marítima
com outras partes do mundo – a África subsariana, a Ásia, e a América –
confrontou a sociedade europeia com uma miríade de animais, plantas, e
populações que não tinham sido antecipadas e muito menos descritas em
nenhuma das fontes clássicas ou medievais. Desta forma, esses repositórios
livrescos onde se guardava o conhecimento deixaram de ser a fonte última
da verdade, ficando assim aberta a porta a um novo mundo baseado na
ciência e com uma base empírica e experimental.[236]
Olhar para outras sociedades ajuda a compreender quão extraordinário
foi este processo que teve lugar na Europa. Consideremos o caso da frota do
almirante Zheng He, explorador e diplomata ao serviço da dinastia chinesa
Ming, que atingiu as costas do Quénia ou mesmo Moçambique no início do
século xv – de onde, aliás, trouxe uma girafa para a China por volta de
1415. O principal navio desta frota era muito maior que a nau São Gabriel,
que fazia parte da expedição de quatro navios de Vasco da Gama (sendo que
a caravela da armada portuguesa, a Bérrio, ainda era mais pequena).
Atentemos às diferenças de tamanho. A São Gabriel teria um casco com
cerca de 20 metros, uma boca com sete metros, e um pontal de uns quatro
metros, da quilha ao convés.[237] Por contraste, os maiores navios da frota de
Zheng He teriam até 75 metros, com postes do leme de mais de dez metros.
[238]
A Figura 12 ilustra as magnitudes comparadas.[239] As suas frotas teriam
sido compostas por centenas de navios e muitos milhares de homens. No
entanto, quando os portugueses chegaram à China, em inícios do século xvi,
os chineses já não sabiam construir estes navios, devido a mudanças
políticas internas. As sete expedições de Zheng He, que ocorreram entre
1405 e 1433, resultaram de ambições imperiais e diplomáticas desprovidas
de propósitos comerciais. Como tal acabaram por ser consideradas
excessivamente caras e, por isso, foram canceladas.[240] Ou seja, deu-se na
China um importante retrocesso tecnológico, o que só foi possível por se
tratar de um Estado unificado. Foi o contrário do que viria a acontecer na
Europa Ocidental, onde a competição entre estados garantiu um processo de
evolução política, fiscal e tecnológica continuado que, a prazo, viria a
beneficiar toda a região.[241] Note-se de resto, que foram os jesuítas
europeus a introduzir na China as novidades astronómicas de Galileu
Galilei. As descobertas que Galileu fez com o telescópio em 1609-1611
tornaram-se pouco depois conhecidas em Portugal, por via da Aula da
Esfera do Colégio jesuíta de Santo Antão em Lisboa, sendo depois, a partir
daí divulgadas para vários pontos do globo, incluindo a China.[242] Os
jesuítas foram também os reformadores do calendário chinês e fizeram a
cartografia desse império. Tornando-se nos «cientistas do imperador»,
fizeram observações astronómicas precisas, com o jesuíta flamengo
Ferdinand Verbiest (1623-1688) a construir um observatório astronómico
em Pequim. Os jesuítas europeus faziam furor na Corte chinesa, onde
tiveram um enorme impacto devido aos seus avançados conhecimentos de
cosmografia e outras ciências matemáticas e naturais.[243] Tudo isto mostra
como a ciência europeia era sem dúvida a mais avançada dessa época.
[168] Note-se, no entanto, que a personagem do Velho do Restelo era defensora da corrente que
advogava um investimento na guerra em Marrocos. Logo, a sua crítica à expansão e ao império em
zonas mais longínquas está inserida nesse contexto.
[169] Não tenho inclinação para participar nos debates sobre se o termo «Descobrimentos» deve
ou não ser usado. É evidente que o termo é eurocêntrico; mas foram os europeus, de facto, a fazer as
descobertas a que o termo se refere. E os próprios contemporâneos usavam variações desta
expressão, em geral sem grande conteúdo normativo. Logo, o termo não me incomoda, mas ainda
assim parece ser redutor, até por apenas fazer sentido para os séculos xv e xvi. As expressões
«expansão» e «império» englobam melhor o fenómeno em questão nas suas várias dimensões.
[170] Ainda que existam zonas da Ásia onde se falam dialetos com base na língua portuguesa,
mas sem grande expressão numérica. Também existem palavras de origem portuguesa em línguas
como o japonês.
[171] De resto, convém lembrar que a escravatura era genericamente considerada uma instituição
natural nesta época, sendo praticada por várias sociedades que não a europeia – tendo sido, é preciso
não esquecer, os europeus a aboli-la no século xix. Aliás, até esse século, era frequente cativos serem
levados à força para o Norte de África através de ataques à costa da Península Ibérica, dando origem
à expressão «anda mouro na costa». Cabia depois à Ordem dos Trinitários o pagamento de resgates.
Sobre estas e outras matérias relacionadas, veja-se, por exemplo, MARQUES (2020).
[172] Relativamente ao império em África entre finais do século xix e durante o século xx, mais
direi nos caps. 7, 8, e 9.
[173] A diferença prende-se com o facto do primeiro conceito ser um stock, enquanto o segundo
é um fluxo anual. No entanto, é habitual estarem fortemente correlacionados, sendo em geral as
sociedades com maiores rendimentos anuais também as mais ricas (como também acontece com as
famílias).
[176] Como é evidente, nem sempre é claro se os cronistas tinham motivações políticas para o
fazer. Veja-se BOXER (2004).
[177] Sobre o tamanho comparado das economias e população destas regiões, veja-se PALMA e
SILVA (2023).
[178] PARKER (1996).
[181] Algo parecido passava-se, por exemplo, com os espanhóis em Manila, nas Filipinas. Aliás,
os espanhóis, em êxtase depois da sua «conquista» da América Central e do Sul, ao início até
pensaram em conquistar a China, um plano que abandonaram rapidamente quando perceberam a
escala do que estava em causa em termos militares – também lhes faltando a ajuda dos germes que
tinham sido essenciais para dizimar as populações nativas no caso americano. Veja-se DIAMOND
(1998).
[183] Existiam algumas exceções, e a minha discussão aqui é algo simplificada. Para os detalhes,
veja-se THOMAZ (2022), p. 143.
[189] Nas fontes dessa época, estes últimos aparecem frequentemente descritos como Olandeses,
ainda que isso seja pouco rigoroso, pois a Holanda é apenas uma das várias províncias dos Países
Baixos. Seria por isso mais correto denominá-los «neerlandeses». No entanto, os próprios habitantes
dos Países Baixos nos nossos dias referem-se a si próprios por «holandeses», apesar de estarem bem
conscientes da falta de rigor. Logo, neste livro, eu também faço por vezes essa identificação, por ser
mais natural na língua portuguesa.
[193] As ilhas tinham papéis diferentes. Apesar deles terem variado no tempo, podemos
simplificar (bastante) dizendo que São Tomé e Príncipe era um centro de produção açucareira (e,
mais tarde, a partir de finais do século xviii, de café e cacau), ao passo que Cabo Verde especializava-
se na manutenção e abastecimento das armadas a caminho da Índia (na medida em que a viagem
demorava vários meses), para além do tráfico de escravos.
[194] RAMOS et al. (2009), p. 564.
[196] Que assim foi também pensava um observador estrangeiro que visitou o país na década de
70 do século xviii, tendo escrito que «Os proveitos do comércio estrangeiro e das vastas regiões [do
império](…) nunca chegaram até ao camponês português, a não ser para dar aos habitantes das duas
principais cidades os meios de lhes pagar um pouco melhor as provisões que levam ao mercado; o
esplendor das conquistas ultramarinas nunca melhorou a sua situação»; MÓNICA (2020), p. 56.
[198] Uma alternativa que também faria sentido seria relativamente ao tamanho da economia,
medida nomeadamente pelo PIB nominal, quando disponível.
[199] THOMAZ (2022), p. 58. Já no caso do comércio intercontinental tanto a oriente como a
ocidente, existiam perdas ocasionais de navios, devido a naufrágios por causas naturais, como
tempestades e monções, e a ataques de piratas. Estas perdas causavam certamente danos à economia.
Não existe um estudo sistemático sobre o caso português, mas sobre o caso de Espanha, que está
estudado quantitativamente, cf. BRZEZINSKI et al. (2024).
[201] Por volta da primeira metade do século xvi, por exemplo, apenas alguns barcos iriam para
a Índia, por comparação com bastantes mais – largas dezenas – com destino à Flandres, vindo muitos
outros de outros destinos europeus para vender produtos.
[204] PALMA e SILVA (2023). Os portugueses também estiveram envolvidos no comércio intra-
asiático, em certas épocas transportando, por exemplo, prata do Japão para a China. Mas também este
comércio nunca teve um peso muito grande em termos agregados.
[205] A feitoria de Antuérpia (também conhecida como Feitoria da Flandres, tendo-se seguido a
uma anterior existente em Bruges até 1499), que administrava a comercialização e distribuição na
Europa dos produtos que os portugueses traziam da Ásia, enfrentou forte concorrência, teve grandes
riscos associados à sua atividade, e acumulou dívidas. Começou a ter dificuldades claras desde 1526,
e foi fechada por D. João III em 1549. Nos anos anteriores, o número de navios que anualmente
ligavam Lisboa a Antuérpia não ultrapassou, a não ser em anos excecionais, as duas dúzias. Veja-se
ALMEIDA (1993), pp. 29, 33-36, 39.
[207] Sendo esta uma situação que se alteraria no século xix, quando a população de Lisboa caiu
relativamente a outras cidades europeias, como a outras do país, nomeadamente ao Porto. Veja-se
BAIROCH et al. (1988).
[208] Uso aqui o termo «independência nacional» de uma forma aproximada, mas que me parece
válida. Durante a União Dinástica (1580-1640), Portugal tinha os mesmos reis da Espanha, mas
manteve-se como um reino à parte, com uma administração e império que em princípio se
mantiveram como entidades separadas. No entanto, durante esta época o país não teve política
externa própria, por exemplo, e esteve sujeito a múltiplas decisões políticas, por exemplo de natureza
fiscal, que eram tomadas pelos Habsburgos em Madrid. E como explico noutra parte deste livro,
existiram durante esta época consequências institucionais negativas da união, enquanto durou. Sobre
a expressão «vaca de leite» utilizada por D. João IV relativamente ao Brasil, ver BOXER (1952), p.
177.
[209] Trata-se de uma estimativa, feita em 1525, para o ano seguinte. Os dados são estimativas
da receita, mas apresentam um bom indicador da capacidade fiscal, já que o estado da fazenda não
indica os números arbitrariamente, mas antes se baseia nos anos anteriores e nos contratos de
arrendamento já estabelecidos. Este documento faz parte do «Núcleo Antigo» do ANTT, que contém
documentos que escaparam ao Terramoto de 1755 por se encontrarem no Castelo de São Jorge, no
chamado Armário da Casa do Coroa. Documentos equivalentes perderam-se no incêndio que destruiu
a Casa dos Contos em 1755.
[212] Esta Tabela é baseada nos cálculos e fontes apresentados em COSTA et al. (2022).
[213] BRANDT et al. (2014); KARAMAN e PAMUK (2013); KARAMAN e PAMUK (2010).
[217] O império tinha tido peso relevante para a Coroa nalgumas décadas do século xvi; COSTA
et al. (2022).
[218] E voltaria a ser assim nos séculos seguintes, como mostrarei nos capítulos seguintes.
[221] Os próprios holandeses seriam depois largamente vencidos pelos ingleses na Ásia no
século seguinte. SUBRAHMANYAM (2012), pp. 223-225.
[222] Estas conclusões apoiam-se numa metodologia semelhante à que descrevi no capítulo
anterior para Portugal. LAMBAIS e PALMA (2023).
[223] CARVALHAL e PALMA (2023). Trabalho em curso com Hélder Carvalhal, no contexto do
meu projeto da ESRC, «Measuring the Great Divergence: a study of global standards of living, 1500-
1950».
[224] Dei alguns detalhes e números sobre esta matéria em PALMA (2016a).
[225] A atitude dos jesuítas não era a mesma em relação à escravatura negra e aos nativos do
continente americano. Em Angola, por exemplo, os jesuítas tinham em certas épocas quase
exclusivamente mão-de-obra escrava a trabalhar nas suas propriedades fundiárias à volta de Luanda.
[226] A hostilidade das elites locais à Companhia de Jesus tinha a ver com a oposição desta ao
interesse dos colonos em escravizar os nativos, e, mais tarde, com questões relativas às fronteiras no
contexto do Tratado de Madrid de 1750 (também conhecido com Tratado dos Limites), e com a
Companhia do Grão-Pará e Maranhão. Para além disso existia a preocupação dos nativos formarem
um exército. Veja-se ROMEIRAS (2019b), cap. 2; FRANCO (2006).
[230] No início de 2022, tornou-se viral nas redes sociais uma entrevista de Carlos Fino à Folha
de São Paulo, na qual o antigo jornalista sublinhava que «o Brasil tem vergonha das suas origens
portuguesas». Veja-se FINO (2021).
[232] Para um sumário da literatura sobre o caso Espanhol, veja-se CHAROTTI et al. (2022).
[235] Era sabido que a terra era redonda, mas o conceito de gravidade era desconhecido.
[244] Ver, por exemplo, LEITÃO e SÁNCHEZ (2017b); LEITÃO e SÁNCHEZ (2017a).
Também vale a pena consultar ALMEIDA (2018).
Outro exemplo que pode ser dado é o caso, trágico, de Bento de Moura
Portugal (1702-66). Cientista português, apoiante precoce da ciência
newtoniana em Portugal, e membro da Royal Society of London, Bento de
Moura Portugal inventou uma máquina a vapor. Mas foi perseguido e preso
por Pombal por motivos estritamente políticos.[286] Foi acusado de fazer
críticas aos governantes, sendo contrário às políticas de Pombal e do rei D.
José, bem como de ter conversas com o Padre Malagrida, manifestando
simpatia por ele; e também de apoiar os Távora. O atentado ao rei, atribuído
a estes últimos, ocorreu em 3 de setembro de 1758, e a 13 janeiro de 1759
chegou a Pombal uma denúncia anónima contra Bento de Moura Portugal,
de que resultou a sua prisão no forte da Junqueira a 9 de julho de 1760, de
onde não sairia com vida. Encerrado em condições terríveis, morreria a 27
de janeiro 1766. Rómulo de Carvalho chamou-lhe «uma das vítimas de
Pombal».[287]
Em resumo, pelo menos no século xviii, é evidente que os entraves ao
desenvolvimento e à liberdade em Portugal eram principalmente de
natureza política, e não tanto cultural ou religiosa.[288] As perseguições
religiosas e a própria Inquisição, de resto já bastante diminuída nesse
século, devem ser vistas em primeiro lugar como um instrumento do poder
político. Como tal, o problema profundo do país não era – e nunca tinha
sido em termos comparados – cultural ou religioso. Era, isso sim, um
problema de natureza institucional.[289] Ou seja, as instituições políticas –
sejam elas boas ou más (neste caso, más) – não resultam apenas do
ambiente cultural e social, uma vez que também acabam, elas próprias, por
condicionar o contexto aparentemente «cultural», e também por essa via os
resultados económicos das sociedades.[290] Voltarei a este tema no próximo
capítulo.
[246] Aproveito para notar que Causas da Decadência dos Povos Peninsulares inclui várias
outras afirmações que se sabe hoje serem erros históricos, incluindo uma referência à suposta Escola
de Sagres do Infante D. Henrique, de onde teria saído Bartolomeu Dias (p. 43); números
completamente errados sobre a evolução da população portuguesa ao longo dos séculos, por forma a
encaixarem na narrativa a ser apresentada, como vimos no Capítulo 1 (p. 83); e informações erradas
sobre a balança de pagamentos (p. 84). Veja-se QUENTAL (2008).
[247] WEBER (2002). A edição original é de 1905. Noto que não tenho qualquer declaração de
interesses a fazer: dificilmente os meus argumentos neste capítulo podem ser vistos como uma defesa
ideológica da religião católica, pois sou ateu.
[251] PALMA e REIS (2019); e, sobre a acumulação de capital humano (literacia e numeracia),
ver STOLZ et al. (2013), pp. 562-564; e, ainda, LISBOA (2011), pp. 341-342.
[252] BROADBERRY et al. (2015). Note-se ainda que a natureza de muitas das alterações
constitucionais ocorridas no século xvii em Inglaterra não se relacionaram com a religião protestante,
mas antes com outras questões de natureza política. Veja-se PINCUS (2009).
[253] Deve ser reconhecido que as bases de dados a que me refiro são por vezes ambíguas
relativamente à diferença entre, por um lado, não existirem dados disponíveis (porque o trabalho
sobre Portugal não foi feito, logo não existem «observações») e, por outro lado, o número de livros
ser efetivamente assumido como zero – mas o resultado prático para a investigação que resulta dessas
bases de dados acaba por ser parecido. Outra fonte de ambiguidade é a diferença entre produção e
consumo de livros, já que, por exemplo, os Países Baixos produziam muitos livros que depois eram
exportados, o que inflaciona o seu valor dessa medida em estudos em que é utilizada como
aproximação para o seu nível de capital humano, como já tem sido feito em artigos que não vale a
pena aqui referir. Sobre as bases de dados a que me refiro, veja-se CLIO INFRA (s.d.), «Book titles
per capita», e também CENTER FOR GLOBAL ECONOMIC HISTORY (s.d.).
[254] No caso da Prússia, que foi estudado em detalhe, as únicas diferenças visíveis em finais do
século xix eram entre alemães e polacos, e não entre alemães protestantes e católicos. Os polacos
eram efetivamente mais pobres, e poupavam menos, mas por sofrerem discriminações sociais e
políticas, sendo de resto o próprio Max Weber um nacionalista alemão enviesado contra os interesses
das populações polacas. Veja-se KERSTING et al. (2020).
[257] O argumento que faço neste capítulo é simplesmente um argumento comparado. Não
considero os efeitos que as religiões tiveram para o desenvolvimento económico das sociedades ao
longo do tempo, uma questão que é muito complexa e que não pretendo abordar aqui. Insisto é que
não há suporte empírico a favor da superioridade do protestantismo em si (isto é, separado do seu
contexto político) para o desenvolvimento económico.
[258] Para dar um exemplo mais contemporâneo, note-se que a Europa do Leste começou a
convergir apenas quando mudou as instituições políticas no final da Guerra Fria, nos anos 1990:
antes disso, os elevados níveis de escolaridade e de capital humano não ajudavam a Europa de Leste
a convergir.
[260] Ainda que nalguns casos tenham a sua origem na Índia ou na China.
[261] SARAIVA (1985). Obra originalmente publicada em 1969.
[267] A Inquisição seria abolida só em 1821, já esvaziada de poder efetivo. Estas mortes
resultaram, portanto, de uma percentagem reduzida do universo de mais de 45 mil processos
sentenciados pela Inquisição portuguesa ao longo de cerca de três séculos. Veja-se BETHENCOURT
(1996), p. 275; MARCOCCI e PAIVA (2016), p. 12. Note-se de passagem que as execuções em si
não eram feitas pela Inquisição, mas sim pelas autoridades civis.
[268] Esta foi elaborada pouco depois do Terror, e viria a ser publicada em 1911. PICARD
(1911).
[269] Até 27 de Julho. A morte de Robespierre, guilhotinado a 28 de julho, seria a n.º 2680.
[270] Segundo outra fonte, os números são parecidos: nos 49 dias anteriores à queda de
Robespierre, em finais de julho de 1794, foram mortas por motivações políticas 1376 pessoas (uma
média de 28 por dia apenas em Paris). RÉVILLE (1911), p. 224.
[271] Estes números de assassinados dizem respeito apenas a Paris, e existiam mais tribunais
deste género noutras partes de França.
[273] Turing suicidou-se dois anos depois, e apenas seria perdoado pelo seu «crime» a título
póstumo em 2013. A decisão de perdoar formalmente todos os que tinham sido condenados por
«gross indecency» apenas aconteceu ainda mais recentemente; veja-se SKY NEWS (2016).
[276] Sobre o caso de Galileu Galilei, veja-se FINOCCHIARO (2019). Para uma visão mais
geral da Inquisição, ainda que com um foco em Itália, ver MARCUS, H. (2020).
[283] Que assim era foi apontado várias vezes por visitantes estrangeiros. Veja-se MÓNICA
(2020), p. 41.
[284] Sobre este irmão de Sebastião Carvalho e Melo, ver ROMEIRAS (2019a), pp. 172-190.
[286] Bento de Moura Portugal já tinha tido um episódio com o Santo Ofício na década de 1740,
estava Carvalho e Melo na Áustria, mas isto não esteve relacionado com a sua perseguição,
condenação, prisão (e morte no calabouço) ordenadas a partir de 1759 por Pombal. Sobre a situação
difícil dos estrangeirados em Portugal no século xviii, veja-se CARNEIRO et al. (2000).
[288] Outros exemplos sobre esta matéria encontram-se em FRANCO (2006), nomeadamente a
partir da p. 573.
[289] Sobre a direção de influência que corre das instituições políticas para a cultura, veja-se
ACEMOGLU e ROBINSON (2021); e ACEMOGLU e ROBINSON (2022).
[293] Portugal é na atualidade até um país em que há muita gente com opinião sobre quase tudo,
mesmo estando mal informada, e absolutamente convencida de que tem razão. É evidente que este
problema não é exclusivo de Portugal, sendo, pelo menos em parte, uma consequência da interação
da democracia com a sociedade da informação e das redes sociais. Assim sendo, corrobora o meu
ponto: a «cultura» portuguesa alterou-se, revelando não ser igual ao longo do tempo (o mesmo
aconteceu com a muito menor religiosidade do país em relação ao que era há algumas décadas). Em
suma, dificilmente Portugal pode ser considerado um país de medricas e subservientes na atualidade,
como afirma Rentes de Carvalho.
6.
A maldição dourada
Figura 19. Rácio do preço dos bens não transacionáveis relativamente aos
transacionáveis, e produção de ouro.
Durante o século xviii, Portugal importava sistematicamente bens de
valor superior aos que exportava, em particular de Inglaterra, pagando a
diferença em ouro.[378] Em troca do ouro português, a Inglaterra chegou a
enviar 18% das suas exportações manufaturadas para Portugal durante o
período 1741-1745, e mais de metade de certos produtos, nomeadamente
têxteis, durante grande parte de Setecentos.[379] O défice externo de Portugal
aumentou decisivamente na primeira metade do século, estabilizando por
volta dos 4 mil milhões de réis por ano, num período de inflação baixa, em
meados do século. À medida que as importações vindas de Inglaterra
subiam vertiginosamente entre inícios e meados do século xviii, as
exportações portuguesas caíam. A redução destas últimas é particularmente
significativa, já que a produção de vinho até aumentou em resultado do
Tratado de Methuen, de dezembro de 1703, que permitia acesso facilitado
ao mercado inglês. Mas os termos em que o Tratado foi negociado, na
sequência de pressão inglesa, foram eles próprios certamente consequência
das chegadas do ouro. D. Luís da Cunha, o embaixador de Portugal em
Londres, conhecido à época em Portugal como o «oráculo da política» por
ter pensamento a médio e longo prazo, foi afastado das negociações pela
Corte de Lisboa, dado ser partidário da política manufatureira do Conde de
Ericeira e contrário ao levantamento da Pragmática. D. Luís da Cunha
manteve-se nas décadas seguintes como opositor convicto ao Tratado de
Methuen, que considerava que estava a levar à falência numerosas fábricas
em Portugal que eram, nas suas palavras, «o remédio de inumeráveis
povos».[380]
Grande parte das enormes quantidades de têxteis que eram importadas
para Portugal de Inglaterra eram depois re-exportadas para o Brasil. Até
inícios do século xviii, todo o comércio com o Brasil tinha de acontecer
através de Portugal. O ouro vindo do Brasil, portanto, financiava o défice,
partindo regularmente em paquetes de Lisboa para Plymouth.[381] Durante
décadas, as exportações de ouro corresponderam a 70% do valor das
exportações portuguesas, distorcendo assim a balança de pagamentos. As
importações de ouro chegaram a valer cerca de 7% do PIB português – de
Portugal continental – em finais dos anos 1720 e meados dos anos 1740,
sendo que geralmente andaram por volta dos 5% até 1770.[382] Estas
percentagens correspondem, de resto, a ordens de magnitude, em média,
parecidas com as que se aplicaram em Espanha durante a Idade Moderna.
Os crescentes défices comerciais de Portugal com a Inglaterra podem ser
interpretados à luz do Tratado de Methuen de 1703, que estabelecia taxas
preferenciais (23%) para a importação de têxteis ingleses, em troca de uma
redução das tarifas alfandegárias que se aplicavam ao vinho português
ficarem um terço abaixo das que se aplicavam aos vinhos franceses.[383] O
Tratado encontrava correspondência com outro, de caráter secreto, que já
tinha existido em 1654 (embora não tivesse sido aplicado de forma efetiva),
também tendo um aspeto geopolítico e militar, relacionado com a
participação de Portugal na Guerra da Sucessão Espanhola e com a defesa
do império, nomeadamente o Brasil.[384] A assinatura do Tratado, em finais
de 1703, teria inegáveis implicações para Portugal. Dois terços das
exportações de vinho iam para o Reino Unido logo em inícios do século
xviii.[385] Mas o que deve ser enfatizado é que a sua assinatura foi ela
própria um resultado das chegadas de ouro que já estavam a acontecer e
que, era certo à época, iriam continuar durante muito tempo.[386] Décadas
depois, quando as remessas de ouro do Brasil começaram a abrandar, a
partir da década de 1770, o Tratado de Methuen ainda estava em vigor.[387]
Em conclusão, embora o Tratado de Methuen tenha contribuído para a
desindustrialização do país, foi apenas um mecanismo e não a sua causa
última.[388]
Importa vermos, com algum detalhe, como foi gasto o dinheiro que
chegou, principalmente na forma de moedas de ouro. Antes de mais, como
já referi, o dinheiro foi aplicado em importações de bens de consumo. Entre
1720 e 1750, o défice comercial aumentou de dois biliões de réis (2,4% do
PIB nominal) para mais de quatro biliões de réis (3,9% do PIB), chegando a
seis biliões em 1756 (6,1% do PIB), o ano seguinte ao Terramoto. Ao longo
do século, o défice comercial teve uma relação sempre próxima com o valor
das chegadas do ouro.[405] Em 1760, um visitante italiano escreveria que os
portugueses:
são muito ricos no que a oiro e jóias diz respeito. Contudo, a sua riqueza não
deriva do que se produz em Portugal (…) poucos são os produtos que [Portugal]
lança no mercado, uma vez que as suas manufaturas são de pouca relevância (…) os
portugueses desejam os produtos que a indústria inglesa é capaz de produzir e os
ingleses querem o oiro que os portugueses retiram do Brasil e é assim que, desta
forma, estas duas nações conduzem os seus negócios.
Por outro lado, como referi, nesta época houve pouco interesse político
no fomento das manufaturas nacionais, estando as prioridades políticas
focadas na maximização da extração de ouro do Brasil.[412] Ou seja, a
estagnação técnica e empresarial foi uma consequência, também de
natureza política, dos carregamentos de ouro. A própria expansão urbana de
zonas do país durante o século xviii não representou mais do que a sua
transformação em cidades de consumo, dependentes da oferta de bens não
transacionáveis, nomeadamente serviços, e da importação de bens.[413]
Lisboa, a cidade onde estava a Coroa e a Corte, tornou-se particularmente
dependente de importações financiadas pelo ouro do Brasil.[414]
Também a produção de cereais (um bem que podia ser importado) sofreu
uma queda, ao mesmo tempo que a sua produtividade se mantinha baixa
para os padrões europeus.[415] Ainda que a introdução do milho americano
tenha tido sucesso, especialmente no norte do país, Portugal continuou a
importar grandes quantidades de cereais, chegando a atingir 151,6 toneladas
em 1800. Os cereais importados, que já chegavam a 55% do total do
consumo de Lisboa em 1729, atingiram os 72% em 1778, apesar dos
elevados custos de transporte.[416] Para o país como um todo, a importação
representava 5,5% a 7% do consumo, enquanto em Inglaterra
correspondiam apenas a 3%. Aliás, o trigo representava entre 5% e 12% do
valor das exportações inglesas para Portugal.[417] Como consequência destas
importações, bem como da baixa produtividade da produção nacional,
muitas terras deixaram de ser cultivadas, passando a ser utilizadas para a
pecuária, como referi anteriormente.[418] Isto correspondeu a uma adaptação
racional dos agricultores ao contexto económico português: a criação de
gado e de ovelhas tinha um caráter mais capital-intensivo e, ao contrário do
que acontecia com os cereais, a carne não estava afetada pela concorrência
estrangeira.[419]
Os mercados de crédito também tiveram um desenvolvimento medíocre
em Portugal durante o século xviii. Em 1698 já tinha sido criado um limite
máximo de 5% de juro para certos contratos de crédito. Em 1757, na
sequência do Terramoto, que tinha acontecido dois anos antes, Pombal
interferiu com o mercado de juros, distorcendo-o ainda mais.[420] O mercado
de crédito funcionava com grandes ineficiências, até devido ao facto de a
ausência de um cadastro implicar que um colateral, dado como garantia,
pudesse ser hipotecado até à exaustão e portanto estar de tal forma onerado
com hipotecas que se tornava inútil.[421] Na década de 1770, a Coroa proibiu
mesmo a Misericórdia de Lisboa – que, na prática, também era um banco –
de emprestar a privados, com o objetivo de canalizar o dinheiro disponível
para o Estado.[422] Isto não só impedia o setor privado de ter acesso a
crédito, como era um mau negócio para a própria Misericórdia de Lisboa.
Depois desta proibição, a Misericórdia do Porto e outras entidades
continuaram a emprestar apenas ao setor privado, o que sugere que
emprestar à Coroa não era um bom investimento. No entanto, essas
entidades eram muito menores em dimensão do que a Misericórdia de
Lisboa: em 1797, as receitas da Misericórdia de Lisboa eram 6,5 vezes as
do Porto.[423] As políticas estatais, em benefício da Coroa, aconteciam em
detrimento do setor privado da economia.
O Terramoto de 1755
A destruição do ensino
A mais desastrosa política de Pombal, no longo prazo, foi a destruição do
sistema educativo do país. Ainda na primeira metade do século xviii, o nível
de capital humano em Portugal apenas estava atrás do das partes mais
avançadas da Europa, sendo até pequena a diferença.[483] Nesta altura,
Portugal tinha duas universidades, assim como uma rede de escolas de
ensino pré-universitário em todo o país. Nas décadas seguintes, essa
situação viria a mudar radicalmente. Tudo indica que, ainda hoje, pagamos
o preço da decisão de Pombal de expulsar os jesuítas do país, sem que
tivesse sido implementada qualquer alternativa viável para a educação da
população. Foi declarado pela Junta da Inconfidência que os bens
confiscados aos jesuítas deveriam financiar a substituição da sua atividade
de ensino. Os bens dos jesuítas foram efetivamente confiscados, mas essa
substituição não chegou a acontecer, sendo na realidade a intenção do
governo o encaixe, no erário régio, de capital para equilibrar as contas do
Estado.[484] No alvará mandado publicar por Pombal, em 28 de junho de
1759, afirmava-se mesmo, em nome do rei, que devia ser abolida a
memória das escolas jesuítas, «como se nunca houvessem existido nos
meus Reinos, e Domínios, onde têm causado tão graves lesões e tão graves
escândalos», mas os planos para o que deveria substituir essas escolas eram
vagos e nunca foram implementados.[485] Só por esta razão não parece
descabido escrever que Pombal foi o pior político de sempre a governar
Portugal.[486] Carvalho e Melo deixou-nos o legado mais desastroso de
qualquer político que alguma vez governou o país. Em meados do século
xviii, antes da sua expulsão, a Companhia de Jesus contava, em Portugal,
mais de 1000 membros, a maior parte dos quais estavam envolvidos no
ensino, que era gratuito. Os jesuítas geriam 20 colégios à data da sua
expulsão, assim como a Universidade em Évora, que também seria fechada
com a sua expulsão, como já vimos – e que só viria a reabrir mais de dois
séculos depois. No total (incluindo Brasil, Angola, Índia e Macau), a
Companhia de Jesus tinha 37 colégios, além de um grande número de
residências.[487] Tudo viria a ser substituído por quase nada.
A situação do ensino, no período anterior à expulsão da Companhia de
Jesus por Pombal, foi estudada por Francisco Malta Romeiras e Henrique
Leitão, em cujas estimativas e trabalho me apoio aqui.[488] Em 1759, quando
Pombal expulsou do país os jesuítas – sendo o primeiro país da Europa a
fazê-lo – eles eram responsáveis pela formação de capital humano de cerca
de 20.000 estudantes.[489] No total, existiriam em Portugal, em meados do
século xviii, cerca de 20.000 alunos naquilo que poderíamos considerar o
ensino pré-universitário, distribuídos por todo o país (Tabela 4). Muitas
destas escolas tinham mais de 1000 alunos, tendo tido o Colégio de Santo
Antão em Lisboa entre 2500 e 3000.[490] Mesmo as mais pequenas teriam
algumas centenas.
O ensino jesuítico não seria perfeito, mas existia no terreno – e podia ter
servido de base para uma expansão educativa a acontecer mais tarde.[491]
Pouco importa que o número de jesuítas não fosse o suficiente, só por si,
para a massificação do ensino. O que importa é que a sua presença teria
criado condições para que a massificação viesse a ocorrer – mesmo que
pelas mãos do Estado. É preciso capital humano para formar mais capital
humano. Num país de analfabetos faltavam os professores. Pombal declarou
que estava a reformar o sistema educativo, que prometia substituir por um
mais moderno. Mas – como tantas vezes aconteceu na História – tudo não
passou de retórica vazia, de belas palavras de um político, sem qualquer
efeito prático. Pombal evitou utilizar a infraestrutura existente, mas, na
maior parte dos casos, as escolas dos jesuítas foram substituídas por pouco
ou nada, levando à quase total destruição do sistema educativo pré-
universitário do país. Portugal tornou-se um país sem escolas.
Ano de Ano de
Escola Escola
fundação fundação
Colégio de Santo Antão de Lisboa 1553 Colégio de São Sebastião de Portalegre 1605
Colégio da Purificação de Évora 1577 Seminário dos Santos Reis de Vila Viçosa 1735
Colégio da Madre de Deus de Évora 1583 Colégio da Santíssima Trindade de Gouveia 1739
pode ser considerado como o mais despótico de todos os que dirigem os Reinos
da Europa (…) a lei aqui estabelecida é geralmente uma palavra vazia de sentido, a
não ser quando as suas cláusulas são postas em execução por ordens especiais do
soberano.[510]
[294] Carta de Ofício a Marco António de Azevedo Coutinho em 2 de janeiro de 1741. Em:
MELO (1986), p. 11. Como noutras citações mais antigas mencionadas neste livro, modernizei o
vernáculo da citação.
[295] GODINHO (2019). Originalmente publicado em 1971. Godinho, que poderia ser descrito
como um Oliveira Martins estruturalista, foi um sábio, mas como tantos outros deixou-se trair muitas
vezes pela sua ideologia.
[298] Sobre o efeito dos metais preciosos americanos nestes outros países, veja-se PALMA
(2018a); e CHEN et al. (2022).
[299] Uma discussão das quantidades produzidas e importadas para a Europa está disponível em
Palma (2020a); e também PALMA (2022a).
[301] No caso de Inglaterra os dados correspondem a Inglaterra e País de Gales até 1700, e à
Grã-Bretanha a partir daí. As fontes são: BROADBERRY et al. (2015); PRADOS DE LA
ESCOSURA et al. (2022); PALMA e REIS (2019).
[302] A abertura dos portos deu-se com uma carta régia de janeiro de 1808 («Decreto de Abertura
dos Portos às Nações Amigas»), promulgada pelo Príncipe-regente pouco depois da chegada da corte
ao Brasil. Terminou assim o sistema de comércio mercantil que obrigava os produtos brasileiros a
passarem pelas alfândegas da metrópole. Dois anos depois seria assinado o «Tratado de Comércio e
Navegação», um acordo internacional assinado entre Portugal e a Grã Bretanha a 19 de fevereiro de
1810, que estabelecia uma taxa alfandegária preferencial para os comerciantes ingleses.
[303] Outros exemplos poderiam ser dados, como Angola ou a Nigéria (comparadas com o
Quénia), ou ainda São Tomé e Príncipe (por contraste com Cabo Verde). Sobre esta última
comparação, veja-se VICENTE (2010).
[304] Isto acontece em particular aos países em que a natureza das instituições políticas não é
muito robusta quando as receitas aparecem, o que era certamente o caso da Venezuela no século xx, e
de Espanha e Portugal nos séculos xvi a xviii. Mas, o que é relevante notar é que o contrafactual não
teria sido certamente diferente para Inglaterra caso grandes quantidades de prata tivessem sido
encontradas em Massachusetts ou na Virginia em finais do século xvii, por exemplo. Sobre a
condicionalidade da Maldição dos Recursos à situação política e de desenvolvimento institucional
inicial, veja-se COLLIER (2011).
[305] Ainda que a designação seja recente, este fenómeno é de alguma forma conhecido há
muito. Por exemplo, tanto David Hume como Adam Smith notaram, no século xviii, que a prata e o
ouro não tinham enriquecido a Espanha e Portugal, antes o contrário. Hume notou isso mesmo em
1742, e Adam Smith constatou-o em 1776. Veja-se HUME (1987), p. 33, e SMITH (2003), livro 4,
capítulos 1 e 6. Logo no século xvi alguns intelectuais em Espanha também debateram estas
questões, ainda que em termos bastante mais vagos do que é hoje possível fazermos.
[307] Um sumário desta literatura está disponível em CHAROTTI et al. (2022). Relativamente às
elites extrativas ligadas à terra, veja-se DRELICHMAN (2007).
[308] No caso de Espanha, a prata era taxada a 1/5 ou 1/10, dependendo das regiões ou períodos
temporais. No caso do Brasil no século xviii, o sistema fiscal mais conhecido é o do Quinto, mas na
realidade existiram outros em certas épocas, como é o caso da Capitação (imposto pago em função
do número de escravos a trabalhar na extração do ouro). Também podia existir contrabando, mas tudo
indica que era relativamente reduzido, já que era uma prioridade absoluta da Coroa evitar a fraude.
De forma aproximada podemos dizer que cerca de um quinto do produzido era entregue ao Estado.
[309] Há um terceiro mecanismo que se relaciona com volatilidade dos recursos Veja-se CHEN
et al. (2022).
[310] Sobre as dimensões comparadas das maldições dos recursos ao longo da história,
especialmente na sua componente fiscal, veja-se DRELICHMAN e VOTH (2008).
[313] Também a França tinha tido uma bancarrota em 1558, possivelmente por ter imitado a
Espanha. Veja-se REINHART e ROGOFF (2009), p. 87.
[314] PERES (1957), PERES (1933), 2.ª parte, cap. III. Não se tratou de uma bancarrota pois os
credores tiveram a possibilidade de recuperar o principal (o capital investido), caso não
considerassem as novas condições satisfatórias.
[316] As Cortes de Castela com Filipe II (I de Portugal) também ainda tinham, apesar de tudo,
alguma força nesta época, embora em decrescendo. A viragem definitiva deu-se com o novo imposto
de 1599, já durante o reinado de Filipe III (II de Portugal). Veja-se HENRIQUES e PALMA (2023a).
[320] A principal invasão espanhola acabaria por ser adiada quase duas décadas (1659),
coincidindo com o fim da Guerra Franco-Espanhola (1635-1659), tendo Portugal e a nova dinastia
dos Bragança tido tempo para organizarem o país e a sua defesa.
[321] A décima foi nessa altura substituída pela contribuição predial. Sobre as implicações fiscais
da décima, veja-se COSTA e MIRANDA (2023); COSTA et al. (2022).
[322] Entretanto, os impostos não aprovados pelas Cortes aumentaram. Depois de 1640, apenas
voltariam a ser frequentes a partir de meados do século seguinte, com Pombal.
[323] Tendo também na década de 30 desse século sido forjadas as atas das Cortes de Lamego.
Veja-se CARDIM (2005), p. 198.
[327] Estes corresponderam a 1641, 1642, 1645-1646, 1653-1654, 1668, 1673-1674, 1679-1680,
e 1697-1698.
[328] HENRIQUES e PALMA (2023a), nomeadamente a Tabela 7, p. 277. Esta situação das
Cortes portuguesas na segunda metade do século xvii contrastava com o caso de Espanha, onde a
última assembleia tomou lugar em 1664.
[329] ROCHA (1896), p. 169. Sobre a relevância destas matérias a explicar o sucesso económico
de Inglaterra, veja-se COX (2016).
[333] Esta expedição está descrita, por exemplo, em AZEVEDO (1929), e em PERES (1932), p.
156 e seguintes.
[337] MAGALHÃES (2005). Sobre a chegada das notícias do ouro à costa do Brasil logo em
1695-1697, veja-se BOXER (1962), p. 39.
[340] Sobre os números da população e emigração, veja-se PALMA et al. (2020); e COSTA et al.
(2016), p. 166.
[347] Esta é uma terminologia que se prende com um fenómeno do século xx, e é, a meu ver,
infeliz, mas está bem estabelecida na literatura e por isso a menciono.
[353] Tem existido em anos recentes uma reavaliação do valor da política industrial na ciência
económica. Reconhece-se agora que existem vários contextos, tanto históricos como nos países em
vias de desenvolvimento na atualidade, em que uma política de substituição de importações, ou mais
genericamente uma política industrial, tiveram sucesso (ainda que não aconteça sempre). Veja-se
JUHÁSZ (2018); LANE (2021); JUHÁSZ et al. (2023).
[363] Em 1671, artesãos especializados em têxteis foram contratados em Rouen, França, para
trabalhar em Estremoz. HANSON (1981).
[364] Este programa de industrialização acabou por ser abandonado devido à pressão política de
quem era afetado negativamente pelo monopólio, mas demonstrou a viabilidade da produção em
escala em Portugal. COSTA et al. (2016), p. 141.
[378] COSTA et al. (2016); FISHER (1971), p. 197. Noto de passagem que o ouro português
ganhou importância na economia inglesa. PALMA (2018a); e PALMA (2020a).
[382] Para detalhes sobre estes cálculos, veja-se KEDROSKY e PALMA (2024).
[383] Condições parecidas foram oferecidas mais tarde pela Inglaterra aos Países Baixos. Veja-se
PEDREIRA (2005).
[388] A minha interpretação é, portanto, diferente da longa tradição que existe que culpa
diretamente o Tratado de Methuen. Por exemplo, em parte numa resposta à teoria das vantagens
comparativas de David Ricardo, o economista alemão Friedrich List notou já no século xix que
Portugal teve um surto industrial em finais do século xvii, interrompido devido à destruição da
indústria nacional promovida pelo Tratado de Methuen. Veja-se LIST (1841).
[390] Fontes: PALMA e REIS (2019); e REIS (2005b) para os períodos posteriores a 1850. Note-
se que o trabalho em curso de Hélder Carvalhal e Filipa Ribeiro da Silva, utilizando outro tipo de
dados para o século xviii, sugere um padrão semelhante: por volta da década de 60 do século xviii,
cerca de metade da população portuguesa trabalhava em setores fora da agricultura. Este trabalho
ainda não está disponível, mas consulte-se o trabalho relacionado que os mesmos autores fizeram
anteriormente, CARVALHAL e SILVA (2019).
[391] Não confundir o milho americano (Zea mays), que teve uma grande expansão em Portugal
no século xviii, especialmente no norte do país; com o milho europeu, chamado de milhete, milho-
miúdo ou painço. Sobre a questão agrícola, veja-se PALMA e REIS (2019) e a literatura aí citada;
sobre a emigração para o Brasil, veja-se PALMA et al. (2020).
[392] Sobre este conceito, veja-se GOLLIN et al. (2016).
[393] Para detalhes sobre o cálculo destes valores, veja-se KEDROSKY e PALMA (2024).
[395] Existe muita informação disponível sobre a venda de terras e o comportamento de mercado
nas terras existentes. Aplicavam-se incentivos económicos mesmo nas terras sujeitas a contratos
enfitêuticos, onde na prática as pessoas simplesmente pagavam uma renda (geralmente uma
proporção do produto) ao proprietário. Por isso havia ampla margem de manobra para decisões
individuais e incentivos. Veja-se FREIRE e LAINS (2016), nomeadamente os caps. 3, 4, e 6.
Consulte-se ainda COSTA et al. (2016), pp. 180-182.
[403] Para além do PIB per capita propriamente dito, os salários reais (ou seja, já corrigidos da
inflação) dos trabalhadores, tanto os qualificados como os não qualificados, caíram nas décadas
finais do século xviii. Para além disso, também a quantidade relativa de trabalhadores não
qualificados aumentou relativamente aos qualificados, como também sugere a informação respeitante
à mudança estrutural negativa observada na segunda metade do século xviii (e que se agravaria na
primeira metade do século xix), antes discutida no contexto da Figura 19. Veja-se PALMA e REIS
(2019).
[404] Esta ideia é defendida, por exemplo, por PEDREIRA (1994), p. 298. No entanto, este autor
compara os números de exportação nominais ao longo do tempo sem ter em conta a inflação. Entre
1790 e 1805 os preços aumentaram cerca de 50%, estabilizando (ou até descendo ligeiramente)
durante algum tempo, para aumentarem novamente a partir de 1809. Alguns anos depois, existiu até
um período deflacionário, ou seja, de descida de preços. Tal volatilidade nominal impede que se
infiram valores ou quantidades sem ter em conta a evolução do nível de preços. Para o nível de
preços, veja-se PALMA e REIS (2019). Outro autor que defende a importância das Invasões na
destruição da indústria, focando-se no caso de Trás-os-Montes, é SOUSA (2006).
[405] FISHER (1971).
[406] Ainda em finais da década seguinte, outro estrangeiro faria observações de teor semelhante:
«O ouro que lhes vem da América meridional só lhes passa pelas mãos para ir encher as das nações
mais industriosas, em paga de coisas indispensáveis de alimento e vestuário que elas lhes fornecem».
Veja-se MÓNICA (2020), pp. 22-23, 27, 59.
[409] O «excesso de monges, padres e freiras», assim como o dinheiro gasto em missas «para
livrar as almas do Purgatório», por vezes notada por observadores estrangeiros, deve ser visto não
tanto como fruto da mentalidade da época – que era parecida em toda a Europa, e dentro desta ainda
mais na Europa católica, como vimos no Capítulo 5 –, mas como resultante da disponibilidade de
ouro do Brasil e das suas consequências. Em relação aos comentários de observadores estrangeiros
sobre o excesso comparado de gastos nestas matérias, veja-se MÓNICA (2020), pp. 43, 58, 96.
[410] O conde de Povolide deixou um testemunho relativo ao «aumento do culto divino da Igreja
com grandes despesas da sua Real Fazenda», despesas que podiam ser feitas graças à «grande
abundância de oiro que trazem as frotas do Brasil das minas deste Estado, e vemos já erguida em Sé
Patriarcal a Capela Real com Patriarca e cónegos com traje e honras de bispos»; citado em RAMOS
et al. (2009), p. 348.
[411] Na traseira do coche pessoal deste último destaca-se uma águia imperial que representa o
Poder Absoluto.
[413] As cidades de consumo, por contraste com as cidades produtivas, tendem a proliferar em
países com níveis elevados de exportações de recursos naturais (como o ouro). GOLLIN et al.
(2016).
[429] MADUREIRA (1997), pp. 439-440; COSTA et al. (2016), pp. 215-216.
[430] Já que era responsabilidade do rei convocar as Cortes. Sobre a relação entre a necessidade
de assinar um Tratado de comércio e a defesa do Tratado ultramarino, veja-se, por exemplo, SILVA
(2018). Note-se que, no século anterior, D. João IV e os seus sucessores tinham negociado com as
Cortes não de bom grado, mas antes por necessidade fiscal. Veja-se CARDIM (2005), pp. 206-207.
[432] Apesar do título ter sido atribuído apenas sete anos antes de perder o poder, refiro-me
várias vezes no livro a Sebastião José Carvalho e Melo como «Marquês de Pombal», ou «Pombal»,
mesmo para períodos anteriores ao título nobiliárquico, por ser assim conhecido, sendo esta
simplificação comum mesmo na literatura histórica especializada.
[433] Por exemplo, veja-se PEREIRA (2009). Para uma visão mais matizada, mas ainda assim
largamente positiva em relação aos supostos esforços de centralização e racionalização de Pombal,
veja-se MAXWELL (1995); MONTEIRO (2008); e RAMOS et al. (2009), pp. 366-371.
[435] Os jesuítas defendiam genericamente que os governantes deviam ter o poder limitado pelas
leis, assembleias representativas, normas éticas, e conceitos abstratos como o «bem comum».
FRIEDRICH (2022), p. 299.
[436] O ensino gratuito era prática corrente nos colégios jesuítas. FRIEDRICH (2022), pp. 103,
272; O’MALLEY (1993); e GRENDLER (2018).
[442] Seria, aliás, possível reforçar algumas das ideias que referi nesse capítulo. No presente
contexto, importa notar que nomear grupos de uma forma genérica como «o Clero» – mesmo
distinguindo o Clero secular do regular – esconde diferenças importantes. Os jesuítas eram muito
diferentes, e opunham-se, aos dominicanos, associados à Inquisição e apoiantes do poder absoluto.
[450] Um exemplo de um autor que exagera muito o impacto do Terramoto é PEREIRA (2009).
[451] Em rigor, estas unidades correspondem à escala de magnitude do momento, que sendo
calculada de forma diferente (mais precisa), está normalizada para ser equivalente à Escala de
Richter. JOHNSTON (1996).
[452] FRANÇA (2009), pp. 350-351. Tal como França refere, foi moda entre os lisboetas de
posses construírem barracas mesmo nos casos em que as suas casas não tinham sido afetadas.
[460] BESLEY et al. (2023); O’BRIEN e PALMA (2023); O’BRIEN (1988); BOGART e
RICHARDSON (2011); e BOGART e RICHARDSON (2009).
[462] No que diz respeito a Pombal expulsar os jesuítas motivado pela vontade de aumentar o
poder real, à semelhança do que aconteceu pouco tempo depois em Espanha, veja-se FRIEDRICH
(2022), p. 599.
[463] Malagrida tinha passado muitos anos no Brasil e enfrentado o irmão de Pombal, que era aí
Governador. Para além disso, no ano seguinte ao Terramoto, este jesuíta publicou um opúsculo no
qual afirmava que a catástrofe era um castigo de Deus pelo despotismo e a ruína moral do governo
português. Veja-se FRIEDRICH (2022), p. 591; e FRANCO (2006), pp. 417-419.
[466] Elaborado sob supervisão e inspiração de Pombal, a obra que ficou conhecida como
Relação Abreviada fazia acusações medonhas contra os jesuítas. Veja-se FRANCO (2006), p. 422.
[467] Esta temática encontra-se bem explicada em FRANCO (2006), pp. 400-411. Agradeço a
José Eduardo Franco as várias conversas que tivemos sobre estes assuntos.
[474] Sobre o fracasso dos planos pombalinos de fomento industrial, veja-se MADUREIRA
(1997); MACEDO (1982); e PEDREIRA (2005), pp. 205-206.
[476] Outros observadores estrangeiros observaram nas décadas seguintes a corrupção do sistema
judicial. Consideraram que, por vezes, ela resultava da pobreza dos agentes do Estado, como por
exemplo os escrivães e os juízes. Veja-se MÓNICA (2020), pp. 43, 97, 129, 136.
[477] RAMOS et al. (2009), pp. 366-368; FRANCO (2006), pp. 424-427.
[478] As circunstâncias desta eventual tentativa de assassinato não são de todo claras, não sendo
de excluir que se tenha tratado de uma encenação encomendada pelo próprio Carvalho e Melo.
[479] ROMEIRAS (2014), p. 15; ROMEIRAS (2019b); FRIEDRICH (2022), pp. 585-586, 590-
592. Sobre a incriminação dos jesuítas, acusados de tentativa de regicídio para vingarem o
afastamento da corte e o desfavor real, Veja-se FRANCO (2006), pp. 343-344. Um visitante italiano
em 1760, que por duvidar do que se passara tentou recolher testemunhos, notou que ninguém queria
dar-lhe informações, «sendo visível o medo que tinham de abordar o sucedido»; Veja-se MÓNICA
(2020), p. 27.
[480] FRANCO (2006), p. 574. Na realidade, em Portugal, os jesuítas eram inimigos declarados
da Inquisição, controlada pelos dominicanos. THOMAZ (2022), pp. 162-163.
[481] O quadro na sua iconografia também mostra outros aspetos da obra de Pombal,
nomeadamente a reconstrução da cidade depois do Terramoto.
[484] FRANCO (2006), pp. 436-438. O Tribunal da Junta da Inconfidência tinha sido criado por
Pombal para julgar os acusados pelo atentado contra o rei D. José dos crimes de lesa-majestade,
traição e rebelião. Viria a ser também usado para envolver os jesuítas na tentativa de regicídio.
[486] Sobre a catástrofe pombalina para a educação nacional, vale a pena também consultar
BUESCU (2012), pp. 56-68.
[491] Na viragem para o século xviii, a Companhia de Jesus acompanhava apenas com algum
atraso e hesitação as novidades científicas da época; FRIEDRICH (2022), pp. 380-382.
[493] Isto porque o Colégio dos Nobres nunca chegou a acolher 100 alunos.
[494] CARVALHO (2011b), pp. 446-451. Não considero aqui a fundação da Aula do Comércio,
por Pombal, pois também era uma instituição elitista, sem capacidade de alavancar o
desenvolvimento, num país de analfabetos.
[512] Não nego a legitimidade do derrube espontâneo de algumas estátuas, como aconteceu por
exemplo em Portugal logo a seguir ao 25 de Abril, e em países ex-comunistas da Europa Central e do
Leste no início dos anos 1990. São situações diferentes de outras mais recentes em que isso é feito
por certas minorias políticas num contexto político estável e na ausência de um debate histórico sério.
7.
Um país novo, liberal?
Outro mito relativo a este período é a ideia de que só nesta época é que
verdadeiramente surgiu em Portugal um Estado propriamente dito. Algumas
correntes historiográficas defendem que, antes do Estado Constitucional,
tinha existido meramente uma Coroa, uma coligação precária de territórios
com larga autonomia, dos quais uma parcela importante pertencia a casas
nobiliárquicas e instituições religiosas.[562] Nesta perspetiva, a Coroa estaria
apenas empenhada na defesa dos seus interesses dinásticos e, como tal, não
podia ser confundida com um verdadeiro Estado. Mas essa visão
corresponde a um equívoco. Em toda a Europa Ocidental, as Monarquias
agiam de uma forma que pode ser identificada como as ações de um Estado
pelo menos desde o século xiii: recolhendo impostos em troca de bens
públicos, como por exemplo a justiça e a defesa nacional.[563] O nosso país
não era diferente.[564] Aliás, na realidade, todos os estados estão vulneráveis
à captura: não há nada de mágico no liberalismo político, na Constituição
escrita, ou no Estado moderno, que garanta a proteção de direitos e
a transparência.[565] A Monarquia Constitucional do século xix levou a
grandes mudanças nos direitos de propriedade e na natureza e
funcionamento das instituições políticas e administrativas, ainda que
tenham sido precisos muitos anos para algumas dessas reformas se terem
efetivado.[566] No entanto, não é possível afirmar que o regime inventou um
país novo, como é por vezes afirmado. A continuidade que existiu deve ser
reconhecida.
Longe de um recomeço marcado por princípios liberais e novas políticas
bem orientadas para o desenvolvimento, o novo regime manteve muito do
péssimo legado institucional e educativo que vinha de trás. Numa
perspetiva comparada, pode dizer-se mesmo que até o agravou. Que assim
foi é sugerido pelo facto das reformas económicas e constitucionais do
século xix não terem tido quaisquer efeitos positivos visíveis para a
economia nacional. A situação de partida no início desse século, como é
evidente, já não seria brilhante. Lord Byron, que visitou a capital do país
em 1809 – alguns meses depois de Sir Arthur Wellesley, o futuro Duque de
Wellington, ter expulsado os franceses –, afirmou mesmo numa carta à mãe
que «Lisboa contém pouco mais que ruas sujas e habitantes ainda mais
sujos».[567]
Mas vejamos alguns indicadores estatísticos. No início do século xix, a
estatura média dos portugueses (indicador do padrão de vida) ainda não era
genericamente diferente da que se observava em outros países europeus.
Contudo, a partir de meados desse século, as estaturas médias começaram a
aumentar em todos os países, mas não em Portugal. Como resultado disso,
por volta de 1890, as pessoas portuguesas eram as mais baixas da Europa.
Foi, portanto, apenas ao longo do século xix que Portugal se tornou num
país de pessoas com estaturas físicas comparativamente baixas – um
processo que só começaria a ser revertido em pleno século xx, como
veremos no Capítulo 9.[568] A nível macroeconómico, também não existem
dúvidas de que o crescimento económico português durante o século xix foi
medíocre, circunstância agravada pelo facto de várias outras economias
europeias atravessarem então o processo conhecido como Revolução
Industrial e estarem assim a crescer rapidamente, tendo esta sido uma
evolução que Portugal não acompanhou. Para o povo português do século
xix, os debates políticos queriam dizer pouco, e a sua vida continuou
largamente como tinha sido: rural, pobre, e analfabeta. Como tal, as décadas
que vão de 1820 a 1930 foram caracterizadas por uma divergência
relativamente aos outros países da Europa Ocidental, muitos dos quais se
industrializaram e cresceram rapidamente durante esta época (ver Figura
25).[569] Como é possível verificar nesta figura, a divergência abrandou
durante as décadas de 1860 a 1890, mas sem que, nessas décadas, tenha
havido uma recuperação sustentada.[570] A Figura 25 também lembra algo
que convém ter em mente quando estudarmos os períodos históricos
seguintes nos próximos capítulos: o facto de os outros países da Europa
crescerem não implica que Portugal tenha de acompanhar esse processo. É
por isso sempre necessário analisarmos o que está a acontecer internamente,
de modo a melhor compreendermos o comportamento macroeconómico do
país.
Um país de analfabetos
Uma das maiores dificuldades com que lutamos provém da falta de habilitação
do pessoal. A falta de instrução geral e a carência quase absoluta de instrução
técnica faz com que tenhamos muitas dificuldades, não só para adquirir bons
operários mas também para alcançar mestres competentes.[607]
[513] Sobre o bloqueio continental ter reforçado a influência inglesa, consultar MACEDO
(1990), p. 102.
[514] Não considero aqui a Grécia parte integrante da Europa Ocidental. Não só não lhe pertence
do ponto de vista geográfico, como também não estava integrada na história política dela no início do
século xix. Em todo o caso, incluir a Grécia na Europa Ocidental não mudaria muito a conclusão,
apenas daria um consolo enganador e serviria como uma «parra de Adão» para camuflar o fracasso
económico português. Noto, no entanto, que continuando Portugal a ser na atualidade o país mais
atrasado da Europa Ocidental, isso não quer dizer que a distância do atraso em relação à média da
Europa ou aos países mais ricos fosse constante ao longo do tempo. Irei explicar isto neste capítulo e
nos seguintes.
[516] Em vez de redigida e votada pelas Cortes Constituintes, como tinha acontecido com a
Constituição de 1822.
[518] D. Miguel anunciou que convocaria as antigas Cortes nos moldes semelhantes aos
anteriores ao século xviii, o que de facto chegou a acontecer. Naturalmente, é difícil saber como teria
evoluído a situação institucional caso o miguelismo tivesse triunfado, mas parece improvável que não
tivesse evoluído de forma a acompanhar, pelo menos em parte, o que aconteceu noutros países da
Europa.
[520] FLANDREAU (2022). Sem me alongar muito, considero um mito a ideia de que existe
uma «aliança» entre Portugal e Inglaterra em vigor desde o Tratado de Windsor (1386). Na realidade,
por vezes foi do interesse britânico o alinhamento com Portugal, e nada mais. Não acabam os
exemplos (uns mais discutíveis que outros, certamente) em que a suposta aliança foi irrelevante –
1580, 1588, 1659, 1890, ou 1939, entre outros –, mas limito-me a mencionar dois em detalhe. Em
finais do século xix, a Inglaterra dececionou o governo português ao não garantir o domínio
português da foz do Zaire (1884) perante a pressão da Alemanha e da França. E, em 1961, Portugal
invocou a suposta «aliança» (em defesa de Goa) e foi ignorado. Veja-se RAMOS et al. (2009), p.
551.
[526] Várias estimativas são discutidas por Manuel Braga da Cruz, que considera ser 450 o
número mais credível. CRUZ (2013), pp. 89, 312-313.
[527] Anos antes houve um processo semelhante em França, e outro equivalente em Espanha,
que, ainda que gradual e com antecedentes desde o final do século anterior, atingiu o seu cúmulo com
la Desamortización de 1835-1837.
[528] Ainda que Pombal não tivesse perseguido todas as ordens religiosas, mas principalmente os
jesuítas e as entidades que considerou terem simpatia por eles.
[532] No caso das ordens religiosas femininas, não poderiam aceitar noviças – estando, portanto,
condenadas a prazo. Seriam extintas à medida que morressem as últimas freiras, sendo nessa altura
os bens incorporados na Fazenda Nacional.
[535] Isso acabaria por levar ao fim do governo setembrista, e à assinatura de tratados com a
Inglaterra, em 1842. BONIFÁCIO (2013), pp. 97-99, 141.
[539] RAMOS et al. (2009), p. 506; BONIFÁCIO (2013), pp. 154, 157-159.
[545] Anos antes tinha sido assinado um tratado em Londres – a Quádrupla Aliança, da qual
fizeram parte a Inglaterra e a França – com o objetivo de expulsar D. Miguel de Bragança de
Portugal e D. Carlos de Borbón de Espanha, mesmo que tal obrigasse à entrada de tropas estrangeiras
nos dois países.
[546] BONIFÁCIO (2013), p. 207.
[551] O início de alguns destes investimentos datava ainda dos governos de Costa Cabral, sem
prejuízo de só ter sido inaugurado em 1856 o primeiro troço de caminho-de-ferro, entre Lisboa e o
Carregado. RAMOS et al. (2009), pp. 506, 524.
[554] Este último resultou, na década de 1870, da fusão do anterior com outro, o Partido
Reformista, que por sua vez tinha resultado de uma cisão do Partido Histórico. Como tal, o Partido
Progressista, inicialmente liderado por Anselmo Braamcamp, pode ser considerado um continuador
do Partido Histórico.
[556] RAMOS et al. (2009), p. 519. Esta tese de Herculano pode estar parcialmente correta, mas
tem de ser relativizada. Vivemos, na atualidade, numa sociedade inimaginavelmente mais próspera
do que a de meados do século xix. Mesmo os políticos atuais de origens mais modestas tiveram, em
termos absolutos, uma infância privilegiada quando comparada com os seus homólogos da centúria
de Oitocentos. E, no entanto, as lutas políticas continuam, ainda que menos violentas. Possivelmente,
o que os políticos de todas as épocas procuram é também estatuto social, que é sempre relativo.
[559] REIS (1979); REIS (1984) e REIS (1986). Vale ainda a pena consultar LAINS (1986) e
LAINS (1987).
[569] O denominador da série corresponde a uma média móvel não ponderada de três anos, dos
sete países da Europa Ocidental para os quais existem dados para este período: Reino Unido, França,
Itália, Países Baixos, Dinamarca, Noruega e Suécia. Veja-se BOLT e VAN ZANDEN (2020).
[570] Que assim foi já tinha sido enfatizado, por exemplo, por Álvaro Ferreira da Silva e Luciano
Amaral. Ambos mencionam uma «suspensão da divergência» nas décadas de 70 e 80 do século xix.
Veja-se SILVA e AMARAL (2011).
[580] Há quem sustente que o fontismo representou mais do que isso, mas ainda assim
reconhecendo que as políticas educativas desse período não tiveram grande sucesso. Veja-se
JUSTINO (2022).
[581] No entanto, deve ser reconhecido que muitos dos empréstimos fontistas foram para pagar
dívidas anteriores. Veja-se MATA (1987).
[582] ESTEVES (1998) e ESTEVES (2003).
[584] Como é evidente, esta matéria tem paralelismos com os argumentos que apresento nos
caps. 6 e 10, mas sobre a qual não conheço nenhum estudo aprofundado. Sobre a contribuição mais
genérica das remessas para a industrialização e a estabilidade financeira dos países durante o padrão-
ouro, veja-se, respetivamente, REIS (1993a); e ESTEVES e KHOUDOUR-CASTÉRAS (2009).
[585] Esta percentagem é baseada numa estimativa que utiliza informação das entradas através
do Banco de Portugal entre 1888 e 1891. Veja-se LAINS (1995), pp. 127-128.
[588] Ainda que a Grã-Bretenha tivesse mudado mais tarde de política. MENESES (2010a), p.
21.
[592] REIS (1996). A transformação foi gradual mas lenta, tendo dado um salto em frente
durante a Segunda Guerra Mundial; veja-se AMARAL (2018). Sobre a evolução gradual, para efeitos
comparativos, do caso de Inglaterra, veja-se O’BRIEN e PALMA (2023). A nacionalização do Banco
de Inglaterra deu-se em 1946; a do Banco de Portugal deu-se apenas em 1974.
[595] De resto, o crédito hipotecário só se desenvolveria no último quartel do século xix. Até aí,
a questão prendia-se largamente com o colateral que podia ser usado. As quintas (ou as colheitas) não
eram aceites facilmente como colateral no novo sistema bancário.
[596] Os números são pouco seguros, mas Portugal teria em 1850 uma taxa de analfabetismo que
rondaria os 85%, chegando a 75% por volta de 1900. Portanto, ao longo do século xix os progressos
foram pouco impressionantes, especialmente quando comparados com os registados nos outros países
da Europa Ocidental, que partindo de uma situação não muito diferente da portuguesa em meados do
século xviii, atingiram 100 anos depois níveis incomparáveis. Os analfabetos eram, em 1850, 45%
em França, Bélgica, e Itália, 30% em Inglaterra e País de Gales, e apenas cerca de 5% nos países
nórdicos. Mesmo em Espanha, Itália e Polónia correspondiam a menos dez pontos percentuais do que
em Portugal. Em 1900 já correspondiam a 20% ou menos em todos estes países, exceto no último
grupo, sendo menos de 2% nos países nórdicos. Em Espanha, Itália, e Polónia eram 60%, ou seja, a
diferença entre estes países e Portugal agravou-se durante 1850-1900, correspondendo a 15 pontos
percentuais na viragem para o século xx. Em 1900, apenas a Rússia e os países dos Balcãs tinham na
Europa uma percentagem de analfabetos semelhante à registada em Portugal, na ordem dos 75%.
CANDEIAS (2004), p. 34.
[597] A criação de escolas nos quartéis (outra alternativa) foi tentada a partir de 1815, usando o
chamado «método de ensino mútuo» (inventado por ingleses na Índia), mas os resultados haviam
sido, e continuariam a ser, muito pontuais e reduzidos, ainda que a escolarização nos quartéis tenha
continuado.
[599] A informação deste parágrafo é em parte baseada em JUSTINO (2022), pp. 305, 307, 309,
311, 354, 357, 377.
[605] Para o caso, bem estudado, do Alentejo, veja-se FONSECA (1996); FONSECA e REIS
(1987); FONSECA (2003), sobretudo as pp. 225-226; e REIS (1982).
[609] AMARAL (2012). Baseio-me neste artigo para muitos dos elementos que apresento nas
linhas seguintes. Sobre as grandes dificuldades, ou mesmo a impossibilidade, de mudar a sociedade
de uma vez de forma radical, consultar também VALENTE (2007).
[610] Como vimos no Capítulo 6, muitas das terras que supostamente estavam protegidas das
forças de mercado, na realidade estavam sujeitas a forças de mercado, o que sugere que este tipo de
propriedade talvez não fosse na prática tão ineficiente como possa parecer à primeira vista.
[617] Defendia antes a Carta Constitucional de 1826, recentemente abolida por D. Miguel, que
considerava ser «racional nos seus preceitos, justa na distribuição de poderes e compatível com as
instituições existentes, que pretendia reformar, mas não subverter». Fazendo um contraste com o que
acontecia em Inglaterra, notou também que em Portugal «todos os projetos que venham da iniciativa
individual ou de associações locais são vistos com suspeita, se realizados sem a intervenção do
governo central»; MÓNICA, pp. 134-135.
[618] Edmund Burke era do partido Whig, e não dos Tories (conservadores). Sendo inegáveis na
sua obra alguns elementos de conservadorismo, Burke foi toda a vida um defensor da tolerância
religiosa, e os seus comentários aos excessos da Revolução Francesa podem ser vistos como uma
crítica liberal. Nas Reflections on the Revolution in France, Burke critica a tentativa de reduzir os
direitos e as responsabilidades dos cidadãos, insistindo em que a igualdade não pode servir para
justificar a destruição da equidade numa sociedade civil, enfatizando a diferença entre um governo
legítimo e responsável e uma tirania popular. Veja-se BOURKE (2015).
[623] Note-se que à época era consensual na Europa colonizar África, sendo por isso a posição
de Portugal nesta matéria idêntica à dos outros países europeus.
[625] Sendo essa situação, de resto, frequente nas décadas finais da monarquia. Veja-se RAMOS
et al. (2009), pp. 570-571.
[626] Esse edifício sofreria alterações ao longo do século xix, mas é onde ainda hoje funciona a
Assembleia da República. Até finais dos anos 1980 albergou o Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
[627] Sobre a variação do sufrágio ao longo do século xix, consultar HESPANHA (2004), pp.
259-269.
[628] Para além disso, as eleições também podiam ser aldrabadas através da manipulação dos
círculos eleitorais. Ver VALENTE (2018), p. 203.
[629] RAMOS et al. (2009), pp. 533-534, 538, 541.
[632] Que assim foi já tinha sido notado, por exemplo, por LAINS (2003c).
[633] Ainda que existisse censura em certos contextos, como é visível por exemplo pela reação
das autoridades às Conferências do Casino a que me referi na Introdução, ou na condenação dos
republicanos à luz da Lei da Imprensa em vigor, sendo estes acusados de crimes de lesa-majestade.
MENESES (2010a), pp. 25, 30-31.
[634] Muitos líderes republicanos estavam, aliás, a soldo do Estado, como oficiais e funcionários
públicos. Veja-se MENESES (2010a), p. 24.
[636] Comunicação feita em função do Código Penal de 1913. Citado em MARQUES (1991),
pp. 417-418.
[637] Tal como no Capítulo 5, noto aqui que não tenho qualquer declaração de interesses a fazer,
pois sou republicano.
[641] Note-se que emprego a palavra «esquerda» à luz dos padrões da época, não aos de hoje.
Convém ter presente que a Primeira República tinha um sufrágio restrito, proibindo o voto às
mulheres e aos analfabetos, por exemplo. Direi mais sobre esta matérias nos parágrafos seguintes.
[649] Fez, no entanto, algumas visitas pontuais ao país nos anos anteriores, ainda que receando
pela sua segurança.
[650] RAMOS (2001). Sobre a noção de democracia limitada, veja-se LINDERT (2003); e
LINDERT (2004).
[651] Ainda assim, existiu, sem qualquer dúvida, censura governamental durante a Primeira
República. A partir de 1912 o governo passou a poder apreender jornais «que atentem contra a
ordem, contra os bons costumes e contra a república». RAMOS et al. (2009), p. 595.
[652] TENGARRINHA (1981), pp. 585 e 589. Para exemplos de repressões violentas por parte
das forças de segurança, Veja-se MENESES (2010a), p. 64; e RAMOS et al. (2009), p. 584.
[657] De resto, foi já com o «liberalismo» do século xix que se acentuou a construção de muitos
«papéis de género». Veja-se VAQUINAS (2011), pp. 125-127.
[658] Ainda que, na prática, este gesto fosse meramente simbólico, já que, como é evidente,
durante a ditadura salazarista o voto tivesse pouco significado e consequências políticas.
[659] BRAGA (2014a). Aproveito para notar que uma mulher ocupou um cargo executivo (uma
subsecretaria de Estado) durante esse regime, ainda que apenas em 1970. Veja-se ALMEIDA (2018).
Atente-se no facto de que essa situação não era muito diferente da que existia noutros países
europeus católicos conservadores à época, mesmo em democracias, como durante o gaullismo em
França, ou o domínio da Democracia Cristã em Itália.
[660] Este era, portanto, um sufrágio censitário, ou seja, a concessão do direito do voto era dada
apenas aos cidadãos que cumprissem certos critérios económicos.
[661] Com exceções, como era o caso de criminosos.
[662] Para além dos criminosos, também os militares não podiam votar.
[667] Formalmente, o ensino passou a ser obrigatório em 1835. Uma data alternativa é 1844,
como expliquei no capítulo anterior.
[669] Preâmbulo ao Decreto de 29 de março de 1911. Citado em MARQUES (1991), p. 527. Não
confundir este João de Barros com o historiador do século xvi.
[670] RAMOS (2001), pp. 356-357; RAMOS et al. (2009), pp. 586-587.
[681] Os argumentos dos parágrafos seguintes são baseados em PALMA e REIS (2021).
[686] A proibição da coeducação no ensino primário deu-se 11 dias depois do 28 de Maio, ainda
que inicialmente com algumas condicionantes. A exigência estendeu-se também ao ensino
secundário. Quando não era possível utilizar edifícios separados, dividia-se o ensino em dois turnos,
com horários distintos, um para os rapazes e outro para as raparigas. No caso do ensino particular,
quando não era possível proceder ao desdobramento, as escolas tiveram de optar pelo ensino de um
dos sexos. Veja-se CARVALHO (2011b), pp. 728-729, 781.
[689] CARVALHO (2011b), p. 706. Leonardo Coimbra expôs as suas ideias sobre estas matérias
em COIMBRA (1926).
[691] A informação deste parágrafo é em grande parte baseada em SILVA e AMARAL (2011).
[697] Como é sobejamente sabido, a participação na Grande Guerra foi o fator mais diretamente
responsável pela eliminação de vários regimes, e até de dinastias, em várias partes da Europa.
[698] Isto também foi um resultado da dependência do país de certos produtos importados. Com
dificuldades nos mercados internacionais, não havia comida a entrar nos portos.
[702] Nunca mais tinha existido uma tentativa séria de restaurar a monarquia depois da queda da
Monarquia do Norte, que durou menos de um mês no início de 1919. Esse golpe, liderado por
Henrique de Paiva Couceiro (próximo do Integralismo Lusitano), tentado na sequência do assassinato
de Sidónio Pais, nem sequer conseguiu o apoio do rei deposto, D. Manuel II. Esse assunto aparentava
estar, portanto, fechado, sem haver utilidade ou vantagem para o regime em ser reaberto.
Relativamente à relação de Salazar com os monárquicos, veja-se MENESES (2010b), p. 101.
Vale a pena começar por enfatizar que o Estado Novo era uma ditadura,
em que os níveis de repressão e censura aumentaram relativamente aos
regimes anteriores, até por ser um regime mais estável e organizado. Apesar
de, como expliquei no capítulo anterior, a Primeira República ter ficado
muito longe de ser uma democracia num sentido moderno, existiu ainda
assim alguma alternância partidária, alguma liberdade de expressão, e até,
em certos momentos, alguma legitimidade democrática. O regime era,
apesar da centralidade do PRP, mais democrático do que a Ditadura Militar
e o Estado Novo viriam a ser. Na Primeira República existiam pressões
sobre a imprensa e, por vezes, até destruição dos seus equipamentos, em
particular pelos apoiantes do PRP, mas a censura não foi exercida, apesar de
tudo, de forma tão sistemática como viria a ser no regime seguinte.
É importante esclarecer que o simples facto de o Estado Novo ter sido
uma ditadura significa, pelo menos para mim, que qualquer sucesso a nível
do desenvolvimento económico e dos efeitos favoráveis para o bem-estar
das populações não justifica o amordaçar da liberdade. Destacam-se
negativamente as prisões políticas, a censura e delito de opinião, e as
eleições-fantoche – traços característicos dos sistemas ditatoriais, que não
são apenas condenáveis, mas mesmo inaceitáveis. Ainda assim, importa
compreender que, no contexto do seu tempo, a repressão foi muito ligeira,
em comparação com os Estados totalitários da Alemanha Nazi, da União
Soviética, da Itália Fascista, ou mesmo da Argentina de Videla, já nos anos
1970 e inícios dos 1980. Basta notar, por exemplo, que o Estado Novo não
restaurou a pena de morte, que em Portugal tinha sido abolida para crimes
políticos em 1852, para crimes civis em 1867, e para crimes militares em
1911. Apesar disso, durante o regime existiram algumas execuções
extrajudiciais, sendo amplamente conhecido o caso de Humberto Delgado e
da sua parceira e secretária Arajaryr Campos, assassinados pela PIDE perto
de Badajoz em 1965. Além disso, as condições sanitárias na prisão do
Tarrafal, em Cabo Verde, corresponderam à pena de morte para alguns dos
que tiveram a infelicidade de para lá serem enviados, ainda que tenham sido
relativamente poucos.[711] Convém lembrar, no entanto, que o envio de
presos políticos para o degredo nas colónias era anterior ao Estado Novo,
uma vez que já tinha sido praticado pela Monarquia e pela Primeira
República.[712] A Primeira República também tinha sido responsável por
sacrificar na Primeira Guerra Mundial milhares de portugueses em nome da
defesa das colónias em África.[713] É uma afirmação normativa, ou seja, um
juízo de valor, e que eu subscrevo, afirmar que, independentemente das
comparações e do contexto da época, a polícia política, os tribunais
plenários e a censura não são aceitáveis. O facto de a repressão ter sido
exercida em grande parte (ainda que não exclusivamente) contra forças
políticas que não eram mais democráticas também é uma explicação
largamente insatisfatória, ainda que não possa ser escamoteada.[714] Dizer
que estas ações devem ser entendidas no contexto do seu tempo não é o
mesmo que dizer que devem ser legitimadas. Mas devem ser analisadas e
compreendidas, até porque não é de excluir que em certas épocas e
contextos tivessem sido inevitáveis relativamente a alternativas que teriam
sido piores.[715]
Em suma, o Estado Novo, quando comparado com outros regimes
ditatoriais, não foi uma ditadura particularmente repressiva.[716] Mas, para
compreendermos por que assim foi, é importante refletirmos sobre os
fatores que explicam a sobrevivência de um regime que durou quase meio
século e sobre a forma como estes estiveram certamente relacionados com
os motivos que explicam esse baixo nível de repressão. Parece improvável
que a explicação esteja nos brandos costumes dos seus líderes. Em vez
disso, é mais credível considerarmos a falta de necessidade que a ditadura
teve de exercer mais violência para sobreviver. Um exemplo disto é o facto
de o Estado Novo variar os níveis de repressão ao longo do tempo em
função de quando é que a repressão era mais necessária para assegurar a
sobrevivência do regime. Veja-se o aumento das detenções entre 1943 e
1949, tendo voltado a diminuir a partir daí, à medida que o regime entrou
num período de maior calma.[717] Outro exemplo é o facto de a censura ter
sido menos apertada no Ultramar, durante a Guerra Colonial, do que era na
Metrópole.[718] Tudo isto sugere que o regime em geral não foi mais
repressivo porque não precisou; quando precisava, tornava-se mais
repressivo.[719] Mas frequentemente não precisava. Vejamos porquê.
Grande parte da população – conservadora, rural, e analfabeta – não
esperava grande coisa dos governantes em Lisboa. A política, portanto,
passava-lhes largamente ao lado, a não ser em questões fraturantes. Salazar
podia assim ser seletivo ao exercer a repressão, preservando a paz – e,
claro, o seu regime – sem causar grandes escândalos.[720] É possível
argumentar que a Lei da Separação, de Afonso Costa, acabou por ser uma
bênção para a Igreja. Ajudou a criar um inimigo comum, levando a que o
movimento católico emergisse da Primeira República mais coeso do que
tinha sido no período final da Monarquia Constitucional. Desta forma,
Salazar – que nestas questões era um político pragmático – conseguiu
brandir a reabertura da questão religiosa como uma arma para manter a
Igreja sob controlo.[721] Numa perspetiva comparada, a ideologia do Estado
Novo permaneceu branda, em comparação com o «nacional catolicismo»
imposto por Franco em Espanha. Isto está certamente relacionado com o
modo como o poder foi obtido e consolidado nestes dois países, com
diferentes relações de força a caracterizarem cada um desses processos: em
Portugal, as forças anticlericais não foram fisicamente eliminadas, ao
contrário do que aconteceu em Espanha devido à sua Guerra Civil (1936-
39).[722]
Como referi, existe uma ideia bastante difundida de que durante o Estado
Novo o povo passava fome e não tinha acesso a cuidados de saúde. Isto é
normalmente afirmado sem serem feitas comparações com regimes e
épocas históricas anteriores. Em trabalho conjunto com Alexandra Cermeño
e Renato Pistola, estudei em detalhe a forma como o bem-estar das crianças
e jovens adultos evoluiu durante o século xx.[787] Utilizámos três arquivos: o
do Hospital de São Roque da Misericórdia de Lisboa, o da Casa Pia de
Lisboa e o do Exército (Livros de Recenseamento Militar). Esta última
fonte cobre todo o país, ainda que apenas os indivíduos de sexo masculino,
observados aos 20 anos de idade e até 1968. De resto, é uma amostra
representativa, pois a inspeção militar era obrigatória.[788] As fontes
recolhidas nos dois primeiros arquivos, por outro lado, cobrem ambos os
sexos e crianças de várias idades, mas apenas para a cidade de Lisboa.[789]
Através do tratamento estatístico de milhares de observações individuais
recolhidas destas fontes, concluímos que as melhorias de alimentação e
saúde ao longo do tempo foram drásticas, tendo começado muito antes da
instauração da democracia ou do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Vejamos, por exemplo, a evolução da percentagem de pessoas que
sofriam de problemas no crescimento, originando uma estatura baixa. Como
vimos no Capítulo 7, a estatura dos portugueses já era a mais baixa da
Europa em finais do século xix. A reduzida altura era geralmente provocada
por deficiências alimentares e más condições sociais, nomeadamente
sanitárias. Os dados que recolhemos dos Livros de Recenseamento Militar
sugerem que, em meados dos anos 1920, cerca de 40% dos mancebos do
país sofriam de problemas desta natureza. O número equivalente para
Lisboa era quase dez pontos percentuais mais baixo (Figura 30).[790] Estas
percentagens iriam cair rapidamente nas décadas seguintes, chegando, em
finais da década de 1960, a cerca de metade do que tinham sido em 1924.
Todos sabemos, por observação própria, que as gerações mais jovens em
Portugal são tendencialmente mais altas do que as anteriores, embora não
seja tão evidente que isso decorre de um processo de melhorias económicas
e sociais que entrou em rápido andamento logo em meados do século xx.
Historicamente, a altura média em Portugal andava pelos 1,65m para os
homens, tendo este número estagnado, ou até descido, na segunda metade
do século xix, como vimos no Capítulo 7. Estas alturas começaram depois a
crescer uma média de cerca de um centímetro por década, a partir dos anos
20 do século xx, com uma forte aceleração nos anos 1960.[791]
Figura 31. Mortalidade infantil (por 1000 crianças com menos de 1 ano de
idade).
Como notei no Capítulo 1, a taxa de fecundidade – ou seja, o número
médio de crianças nascidas vivas por mulher – tinha já descido para apenas
três em 1960, um número historicamente baixo. Esta transição demográfica
esteve certamente relacionada com as subidas de rendimento desta época,
principalmente a partir de 1950. Mas a própria descida da fecundidade
também implicava que era agora possível alimentar melhor cada criança
que sobrevivia. A taxa de fecundidade continuou depois a descer – para 2,7
em 1974, apenas 1,7 em 1985, e estabilizando depois, a partir de meados
dos anos 1990, para os cerca de 1,4 nos dias de hoje.[799]
Tabela 5. Consumo alimentar médio por pessoa para uma seleção de bens,
em kg ou litros.
[708] Citado em MÓNICA (1978), p. 116. Para a contextualização do que Salazar pretendia dizer
com isto, veja-se CARVALHO (2011b), p. 728.
[709] Uma análise cuidadosa dos discursos e das declarações de Salazar revela a sua preocupação
com o nível de educação do povo e até com um Estado cuja ação contribuísse para melhorar as
condições de vida das pessoas. No entanto, na sua visão, isso não podia colidir com a gestão prudente
dos fundos públicos que devia acompanhar os investimentos necessários aos objetivos traçados. O
recurso a postos escolares e a regentes escolares sem diploma, em vez de professores, por exemplo,
deve também ser entendido nesta ótica. Veja-se MENESES (2010b), pp. 27-29, 34, 40, 95, 461. Mas
para além disso, é inegável que havia a preocupação de enquadrar e de controlar a instrução, sendo
essa considerada útil se direcionada num certo sentido. No entanto, em matéria da doutrinação, este
regime não era diferente dos anteriores e, até, da democracia atual, ainda que de forma eventualmente
mais mitigada. Sobre a doutrina do ensino do Estado Novo e os seus objetivos, veja-se CARVALHO
(2011b), pp. 724-725, 738-739, 744, 767.
[711] As estimativas variam, mas tudo indica que menos de 40 pessoas morreram no Tarrafal.
Veja-se MENESES (2010b), pp. 181, 679; GALLAGHER (2020), p. 71.
[712] Apesar de a construção da prisão do Tarrafal ter sido feita pelo Estado Novo, o envio de
prisioneiros políticos para o degredo em África a mando dos regimes anteriores é reconhecido até
pelos sobreviventes da prisão do Tarrafal. Veja-se PEDRO (2007).
[713] As estimativas variam, mas é seguro dizer que o Corpo Expedicionário Português (CEP)
sofreu cerca de 8 mil mortos e 40 mil baixas nos dois anos em que Portugal participou no conflito.
Como tal, foi certamente mais mortífero, por ano, do que a Guerra Colonial viria a ser nos 14 anos de
conflito (1961-1975), em que, segundo as estimativas mais altas, morreram cerca de 10 mil
combatentes portugueses nas três frentes. Nessa altura a população do país era também muito
superior, como vimos no Capítulo 1. Portanto, não restam dúvidas de que a Grande Guerra foi, por
ano e per capita, muito mais mortífera (para os militares portugueses, como é evidente, já que
também houve muitos mortos e feridos entre a população civil e os movimentos independentistas na
Guerra Colonial). Sobre estes números, ver AFONSO e GOMES (2013); e SOUSA (2021).
[714] Isto aconteceu tanto à direita do regime, com a ilegalização e prisão de Nacional-
Sindicalistas a partir de 1934, como à esquerda, sendo conhecido o caso do PCP. Um regime imposto
por qualquer uma destas duas forças políticas dificilmente teria sido menos repressivo do que o
Estado Novo.
[715] No período entre as guerras, não existiam praticamente democracias na Europa, sendo o
Reino Unido, e com dificuldade a França, as exceções. Já no pós-guerra teria sido mais provável
haver eleições livres em Portugal, ato eleitoral esse que até poderia ser ganho por Salazar, que tinha
livrado Portugal do conflito mundial. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. Mas também não é
claro que, caso as eleições tivessem tomado lugar, a situação subsequente fosse muito diferente. A
velha oposição a Salazar tinha as mesmas ideias sobre o império, e não é evidente que um governo
diferente com a presidência de Norton de Matos, ou de Humberto Delgado, tivesse procedido à
descolonização imediata em 1961; uma guerra colonial, se longa, implicaria sempre repressão e
censura. Também não é claro que uma democracia iniciada em 1945 evitasse muitas das dinâmicas
sociais e partidárias da Primeira República. É incerto que o país tivesse crescido o mesmo, ou ainda
mais, do que as altas taxas de crescimento que se verificaram na realidade. No entanto, uma
democracia poderia ter feito investimentos de natureza diferente (por exemplo, mais na educação e
menos na guerra, pelo menos a prazo), e teria certamente levado a uma evolução política e cultural de
longo prazo bastante diferente para país. Este é um contrafactual difícil de avaliar, sendo por isso
qualquer hipótese sobre esta matéria altamente especulativa.
[716] Sobre esta questão, ver também RAMOS et al. (2009); e ainda MENESES (2010b).
[718] Acresce que a partir de 1961, com o início da guerra em Angola, terminaram as culturas
obrigatórias e o estatuto do indigenato. Veja-se RAMOS et al. (2009), p. 506.
[721] Sobre o facto de Salazar não ter sido um idealista católico, consultar SIMPSON (2014), pp.
48 e 241. Note-se que não se pode descrever o Estado Novo como um regime sujeito à vontade da
Igreja. Um exemplo disso é a insatisfação do Vaticano com os termos da Concordata de 1940, na
sequência da melhoria negocial significativa conseguida por Salazar para o Estado português em
comparação com alguns anos antes. Ver ainda GALLAGHER (2020), pp. 61-66.
[723] Não tendo sido muito diferente das intervenções estatais verificadas à época noutros países
europeus. Veja-se AMARAL (2019), pp. 119-120.
[724] MARTINS (2020), pp. 311-312.
[725] MARTINS (2020), p. 314. De forma mais abrangente, sobre a passagem de Pedro
Theotónio Pereira pela Subsecretaria de Estado das Corporações, e suas circunstâncias, veja-se
MARTINS (2020), pp. 243-349.
[727] PINTO (2008), p. 32. Como escreveu Rui Ramos, «O Estado Novo, enquanto regime,
nunca perdeu o ar de algo inacabado e impreciso, próximo do “começo” – e, portanto, também de um
possível fim. Ao longo de décadas, foi mais uma “situação” (como aliás se dizia), um governo, do
que propriamente um regime.». RAMOS (2023).
[731] De facto, os patrões criticavam o subsecretário de Estado das Corporações pelas suas
tentativas de condicionar os salários e os horários de trabalho, entre outros aspetos. Veja-se
MARTINS (2020), p. 313.
[732] Muitas das greves e dos distúrbios verificados durante a Primeira República relacionaram-
se com o aumento dos preços dos bens alimentares básicos.
[734] A EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre) era uma união alfandegária europeia
constituída desde a sua fundação pelo Reino Unido, Dinamarca e Suécia, entre outros países. Ainda
hoje existe, mas com apenas quatro Estados-Membros, sendo dois deles a Noruega e a Suíça.
Portugal saiu da EFTA ao entrar para a CEE, em 1986.
[737] O protecionismo agrícola continuou depois, ainda que com menor intensidade, até aos anos
1980 – e mesmo até ao presente, ainda que com alterações importantes, no contexto da Política
Agrícola Comum da União Europeia. AMARAL e FREIRE (2017), pp. 254, 259.
[739] Que assim era seria mais tarde negado pelo regime, mas foi admitido ao início, até com um
certo orgulho: «mesmo com a Câmara eletiva não haverá já para nós parlamentarismo, isto é,
discussões estéreis, grupos, partidos, lutas pela posse de poder na Assembleia Nacional». Veja-se
SALAZAR (1935), pp. 333-334, 336, 344.
[740] RAMOS et al. (2009), p. 634.
[743] CRUZ (2013), p. 226; GALLAGHER (2020), p. 2; PINTO (2018), pp. 228, 237.
[749] RAMOS (1986), p. 135; LUCENA (1976); GALLAGHER (2020), pp. 53-58.
[750] Houve várias greves durante a Segunda Guerra Mundial, em particular a partir de 1942.
Também se verificaram tentativas de golpes militares entre 1945 e 1947. Depois da oposição do
Movimento de Unidade Democrática (MUD), existiria a campanha de Norton de Matos às eleições
presidenciais de 1949. Na década seguinte, Craveiro Lopes, presidente da República, também
entraria em conflito com Salazar.
[752] Como é evidente, o PCP era perseguido nessa altura, o que não explica a baixa adesão da
população às suas ideias.
[755] Dado o enfoque quantitativo deste capítulo (à semelhança do livro em geral), vale a pena
responder à pergunta se os números que uso são verdadeiros ou apenas uma invenção da ditadura.
Não pertence a uma obra divulgativa como esta alongar-se na crítica detalhada das fontes. No
entanto, todos os números que apresento neste capítulo foram validados em estudos científicos, de
resto publicados após 1974, muitos deles da autoria de pessoas que são, ou eram, de esquerda.
[756] Quer tomemos 1926, 1928, ou 1933 como ponto de partida do regime, o resultado geral
não é diferente, já que o crescimento exponencial se deu principalmente no pós-guerra.
[757] O arranque da industrialização teve lugar ainda nos anos 1930, tendo também ocorrido
mudanças importantes na agricultura entre 1930 e 1950. LAINS (2003b), p. 45.
[758] Para o período deste gráfico, já existem dados para mais países relativamente ao gráfico
análogo que mostrei no Capítulo 7. Logo, a Europa Ocidental está aqui definida pelos seis países
fundadores da CEE, com a exceção do Luxemburgo (para o qual não existem dados antes de 1950),
mais o Reino Unido, Dinamarca, Noruega e Suécia, dentro da lógica de verificar a convergência
relativamente às partes mais ricas da Europa; veja-se LAINS (2003a). A ligeira discrepância de
percentagens nos anos comuns entre este gráfico e o seu análogo do Capítulo 7 deve-se à diferença
da amostra utilizada, pela razão que indiquei. Fonte para os dados: BOLT e VAN ZANDEN (2020).
Tal como no gráfico análogo do Capítulo 7, utilizo médias móveis de três anos.
[759] Ainda assim, deve ser reconhecido que, quando a Casa Bancária Totta sentiu graves
dificuldades financeiras em 1929, em resultado do crash da bolsa de Nova Iorque, Salazar demoveu
Alfredo da Silva de liquidá-la de imediato, receando o contágio financeiro do resto do sistema
bancário português. Salazar, à época ministro das Finanças, também providenciou uma injeção de
capital do Banco de Portugal no Totta, mediante garantias do grupo CUF, entre outras medidas que
visavam evitar os possíveis custos sociais e políticos do desemprego devidos à crise financeira. Veja-
se SARDICA (2020), pp. 112-116.
[760] Convém insistir que Portugal não convergiu com os outros países europeus durante a
Segunda Guerra Mundial. Essa aparente aproximação deveu-se simplesmente aos efeitos negativos e
temporários do conflito nas outras economias europeias. Uma vez terminada a guerra, os outros
países recuperaram e Portugal voltou a descer em termos relativos.
[761] Para ser mais preciso, o valor exato de 1973 foi 57%. Isto não claramente visível neste
gráfico já que o mesmo mostra médias móveis de três anos.
[763] Sobre a «Campanha Nacional de Educação de Adultos», veja-se CARVALHO (2011b), pp.
786-787.
[775] AMARAL e FREIRE (2017), p. 257. A vaga de mecanização nos anos 1940 e 1950
caracterizou-se pela generalização das ceifeiras mecânicas e levou milhares de homens de toda a
Beira (de maneira geral coincidindo com as zonas de xisto e quase até ao Porto) a ficarem sem o
trabalho sazonal das ceifas do Ribatejo e do Alentejo. Conhecidos à época por «ratinhos», esta
mudança tecnológica desequilibrou o seu difícil equilíbrio económico familiar e lançou-os para a
indústria, construção civil e serviços urbanos (sapateiros, barbeiros e todo esse pequeno empresariado
nascente). Veja-se SANTOS (2015); e PICÃO (1983). Obra publicada originalmente em 1903.
[776] A diferença das percentagens devia-se à menor produtividade do emprego no setor agrícola.
Para o peso da agricultura no PIB, veja-se LAINS (2003b), p. 63.
[777] Por comparação, Espanha já usava 18 quilos por hectare em 1930-1935. O nível que
Portugal atingiu nos anos 1950 foi atingido na Alemanha, Bélgica ou Países Baixos 40 anos antes,
por volta de 1910. Veja-se LAINS (2003b), p. 58.
[778] Sobre os padrões de desenvolvimento regional na Europa ao longo do século xx, veja-se
ROSÉS e WOLF (2018).
[784] Aliás, a própria vaga de emigração para França nos anos 1960 foi possível por causa das
transformações sociais e económicas da época.
[785] Em boa verdade, uma população bem alimentada é certamente mais produtiva, por isso
existe nesta questão alguma endogeneidade ou causalidade inversa. Mas faz sentido numa primeira
análise ver as melhorias de alimentação como consequência do crescimento, ou pelo menos como
uma variável altamente correlacionada com o nível de vida.
[786] Isto não prova que tal tenha acontecido apenas por causa das ações do regime, mas há
informação histórica que mostra que foi assim pelo menos em parte. PALMA e REIS (2021); e
CERMEÑO et al. (2023).
[788] Depois de 1968, a idade em que os mancebos eram observados mudou para os 18 anos,
pelo que os dados desta fonte deixam de ser imediatamente comparáveis.
[789] Como nós explicamos no artigo, estas fontes são representativas dos habitantes de Lisboa,
e, portanto, não das outras partes do país. Veja-se CERMEÑO et al. (2023).
[790] Em rigor, o que medimos estatisticamente foi a percentagem de pessoas que sofriam de
nanismo (stunting), de acordo com critérios internacionais. Veja-se CERMEÑO et al. (2023).
[792] Ainda que, como já referido, tenhamos recolhido dados apenas das crianças de Lisboa.
[796] Fonte: agregação e tratamento de várias fontes feita por CERMEÑO et al. (2023). Os
números referem-se a Portugal continental até 1980 e ao país inteiro a partir dessa data. Na Tabela
apenas se contabilizam as partes comestíveis dos alimentos, por exemplo arroz sem casca. No caso
de 1977, no entanto, a fonte original é pouco clara em relação ao que se está a contabilizar, se os
totais ou apenas as partes comestíveis.
[798] Na década anterior a 1974, os assalariados do Alentejo tinham vivido o seu período de
maior bem-estar. Veja-se BARRETO (2017), pp. 88, 100. Já nos anos 1930, um inquérito relativo aos
solos do país concluíra que era um mito a existência de grandes quantidades de terras férteis não
cultivadas. Veja-se AMARAL e FREIRE (2017), p. 254.
[802] Ainda assim, por ser uma amostra limitada, é natural que certas percentagens possam não
coincidir exatamente com as nacionais, mesmo apenas para as referentes à população de sexo
masculino.
[803] PALMA e REIS (2021), p. 425. Aí mostramos percentagens relativas aos alfabetizados,
enquanto aqui mostro, inversamente, percentagens relativas aos analfabetos.
[804] A diferença entre a altura máxima e a altura mínima em cada intervalo não é a mesma em
todos os intervalos porque a tabela está organizada de forma a cada intervalo corresponder a um
quintil que contém 20% da amostra.
[806] Não há qualquer contradição entre a informação desta tabela, relativamente à qual as
observações para o período do Estado Novo correspondem aos anos de 1940 e 1950, para indivíduos
observados aos 20 anos de idade, e o facto de a taxa de analfabetismo infantil ser já residual na
década de 1950. Veja-se PALMA e REIS (2021).
[807] PALMA e REIS (2021). Por contraste, há quem insista que a separação entre sexos era
«uma aberração», talvez por não compreender o contexto da época. Veja-se GRILO (2023); ou
PIMENTEL (2022), que afirma «O fim das escolas mistas também tem esse propósito, cada um no
seu lugar (…) cada um com a sua função, as mulheres no lar a educar, esposas dos seus maridos, eles,
teoricamente, a ganharem o salário.»
[809] O prémio salarial caiu, e o salário dos trabalhadores não qualificados subiu, durante esta
época. Desta forma, não existiram, portanto, nem um maior incentivo financeiro à escolarização, nem
menores perdas de rendimentos (custos de oportunidade) associados à presença das crianças na
escola, pelo contrário. Veja-se PALMA e REIS (2021), p. 424.
[810] Mais tarde, a partir dos anos 1950, o Estado Novo voltaria a aumentar o número de anos
obrigatórios. CARVALHO (2011b), pp. 729, 733, 796.
[811] O decreto do Estado Novo que reduziu a exigência da 5.ª ou 4.ª classes para a 3.ª classe
visava reconhecer e lidar com a realidade do país, para depois evoluir a partir daí. Veja-se
SEQUEIRA (1978).
[813] Este aparente simplismo era na realidade uma abordagem pragmática que tinha o objetivo
de tornar o ensino mais acessível a alunos e a professores. Era, portanto, uma política alinhada com
as recomendações que os economistas de desenvolvimento consideram mais acertadas para os países
pobres. GLEWWE et al. (2009).
[818] Estes argumentos encontram-se desenvolvidos em PALMA e REIS (2021), pp. 431-432.
[823] E a seu tempo, também em resultado disto, a cultura e normas sociais do país também
mudaram.
[825] Em França, o peso da Defesa nas despesas públicas era então de 29%. RAMOS et al.
(2009), p. 684.
[826] Para um exemplo recente de um autor que foi ministro da Educação, entre outros altos
cargos, e que insiste na ideia de que os problemas atuais da educação têm raízes no Estado Novo, ver
GRILO (2022). Marcelo Rebelo de Sousa escreve no prefácio deste livro que «O autor demonstra por
que razão a educação foi um dos flagrantes fatores de retardamento nacional, entre os anos 30 e 60».
Consultar ainda GRILO (2023).
[828] Não deixa assim de ser curioso que a criação da FCT, e até da própria JNICT, seja
frequentemente atribuída a Mariano Gago nos anos 1990, como é feito por LOBO (2023).
[845] Uma analogia mais contemporânea é a evolução económica da China protagonizada por
Deng Xiaoping e alguns dos seus sucessores, que arrancou muitos milhões de pessoas da pobreza
sem que se avançasse na democratização do país.
[846] As reformas económicas, quando não acompanhadas de reformas políticas, por regra
estagnam a partir de um certo grau de desenvolvimento. Por exemplo, tudo indica que é o que está a
acontecer na China atualmente.
[847] Como vimos no cap. 6, mesmo no que diz respeito ao século xviii, o efeito dessa
dependência parcial foi a prazo negativo.
[848] Assim o fez, por exemplo, ROSAS (2021). O problema evidente e recorrente dos que
fazem este tipo de afirmações é a incapacidade de quantificar seja o que for. Mas, sem números, tudo
não passa de opiniões sem fundamento.
[852] Esta diferença é importante, por exemplo, em relação às ajudas europeias que Portugal
recebe atualmente. Mais direi sobre este assunto no Capítulo 10.
[853] Como fornecedores de importações de mercadorias, a sua importância era ainda menor.
AFONSO e AGUIAR (2005).
[855] De resto, a Espanha e a Grécia também convergiram nesta época, mas sem terem colónias
relevantes.
[856] Salazar era contrário à integração europeia na sua vertente política, considerando que a
França estava a cometer um suicídio nacional. GALLAGHER (2020), p. 227.
[857] O regime também promoveu o colonialismo «fora de tempo», ainda que não seja claro que
uma democracia tivesse enveredado por um caminho diferente, pelo menos nos primeiros anos da
guerra. Basta lembrar os casos dos ingleses no Quénia e dos franceses na Argélia poucos anos antes.
[858] A esquerda, em particular, tenta com frequência colar a direita democrática ao regime,
mesmo quando isso não faz qualquer sentido. Desenvolvo esta matéria com mais detalhe no capítulo
seguinte.
[859] A argumentação dos parágrafos seguintes baseia-se em PALMA (2021b) que escrevi para o
jornal Público na sequência de uma polémica em que me encontrava envolvido depois da minha
participação no congresso do Movimento Europa e Liberdade de 2021 (PALMA 2021a).
[861] MENDES et al. (s.d.), p. 52. Este programa está ainda hoje parcialmente em vigor, e não
menciona o 25 de Novembro. Eu analisei o enviesamento dos programas escolares em mais detalhe
num post do blogue Portugal no Longo Prazo (PALMA 2021).
[862] Acessível a partir do minuto 3.00 no vídeo relativo ao ensino de História do 9.º ano durante
a epidemia COVID em 2020, por enquanto disponível online: RTP (2020a). Noto ainda que na aula
anterior, sobre a democratização de Portugal, o 25 de Novembro não é mencionado, como pode ser
verificado em RTP (2020b). Vídeos visualizados em julho de 2021 e 2023.
[863] GALLAGHER (2020), pp. 2, 68-69, 82; MENESES (2010b), pp. 85, 90, 101, 151, 162-
163, 169, 179, 187-189, 249, 266-268, 707; CRUZ (2013), p. 228. Parece-me credível explicar a
célebre fotografia de Mussolini colocada a certa altura na secretária de Salazar como parte da sua
estratégia de moderar e integrar no regime segmentos políticos à sua direita.
[864] Alguns dos motivos que explicam a sobrevivência do regime foram de natureza interna,
como o alinhamento cultural com grande parte da população, e outras de ordem externa, como a
Guerra Fria e a posição periférica do país.
[865] PINTO (2008), pp. 46-47.
[866] «O nacionalismo do Estado Novo não é e não poderá ser nunca uma doutrina de isolamento
agressivo – ideológico ou político (…) tão afastado do liberalismo individualista, nascido no
estrangeiro, e do internacionalismo da esquerda como de outros sistemas teóricos e práticos
aparecidos lá fora como reação contra eles (…) Sem dúvida se encontram, por esse mundo, sistemas
políticos com os quais tem semelhanças, pontos de contacto, o nacionalismo português – aliás quase
só restritos à ideia corporativa. Mas no processo de realização e sobretudo na conceção do Estado e
na organização do apoio político e civil do governo são bem marcadas as diferenças (…) é preciso
afastar de nós o impulso à formação do que poderia chamar-se o Estado totalitário»; SALAZAR
(1935), pp. 333-334, 336, 344-346.
[867] PINTO (2018); MARTINS (2022); GALLAGHER (2020), pp. 82-83; MENESES (2010b),
pp. 168-169. As autoridades esforçaram-se por esvaziar o Nacional-Sindicalismo, aliciando alguns
camisas azuis para dentro do regime. Veja-se MARTINS (2020), p. 311. O regime tinha uma atitude
semelhante em relação às forças políticas «à sua esquerda», nomeadamente antigos republicanos.
[871] Foi assim constatado por vários observadores estrangeiros que visitaram Portugal nos anos
1930. MÓNICA (2020), pp. 238, 247.
[872] Sobre os eventos relativos a Aristides de Sousa Mendes, ver GALLAGHER (2020), pp.
120-126, 130. Gallagher insiste (p. 126) que é injusto ignorar o bem que o governo português, e
Salazar em particular, fez pelos refugiados judeus, e que a atenção desproporcional dada a Sousa
Mendes no contexto da época sugere que a história da Segunda Guerra Mundial está a ser utilizada
como arma política no Portugal contemporâneo. Quando visitei o Museu Nacional Resistência e
Liberdade na Fortaleza de Peniche em 2021, existia à entrada uma exposição sobre Aristides de
Sousa Mendes. Este museu também se referia a «presos políticos que lutaram pela democracia»,
mesmo quando se tratava de membros do PCP.
[873] GOLSON (2020); MENESES (2010b); e GALLAGHER (2020), pp. 105-116, 135.
[874] Acresce que o regime está temporalmente próximo de nós. Dificilmente uma pessoa em
Portugal será acusada de «branqueamento» por afirmar que a economia chinesa tem crescido de
forma sustentada nas últimas décadas.
[875] E estando a estátua de D. José (figura associada a Pombal como é evidente) no centro da
que é certamente a praça mais importante do país (tanto em termos históricos como no presente).
[876] Grande parte da oposição ao Estado Novo foi conduzida por pessoas de esquerda que,
depois do 25 de Abril, se identificaram com o Partido Socialista e os partidos à sua esquerda. Por sua
vez os que fundaram o PPD (mais tarde PSD), saíram, embora não totalmente, da chamada «Ala
Liberal», constituída durante o período marcelista. Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão
e outros que estiveram na base do PPD foram deputados em eleições não democráticas. É aqui que,
em grande medida, também reside a clivagem histórica (e até desconfiança ideológica) entre os
blocos ditos de «esquerda» e de «direita» portugueses. Isto apesar de, em determinados momentos,
ter havido alianças táticas entre o PS e as forças políticas à sua direita – quer por razões de regime
(em 1975, com o famoso comício da Alameda e, a seguir, com o apoio ao 25 de Novembro), quer por
razões conjunturais (em 1983, com a constituição de um governo de bloco central). A clivagem teve
sempre como pano de fundo o legado moral da luta efetiva contra a ditadura do Estado Novo.
Aqueles que se situam orgulhosamente no campo político da «única» e «legítima» esquerda são
tipicamente quem mais reivindica a oposição ao Estado Novo (ou serem os herdeiros políticos dos
que fizeram essa luta). Apesar de a repressão do regime do Estado Novo ter sido, em termos
comparados, relativamente discreta e suave, como vimos, ainda assim houve muita gente perseguida,
presa e torturada. Muitas delas passaram a ter como objetivo na vida dar a conhecer o inferno que
viveram, e a desvalorizar tudo o que contrariasse a sua experiência de vida e opinião. Este fator,
muito forte do ponto de vista emocional, condicionou a narrativa histórica do passado recente
português. A falta de distanciamento histórico criou oportunidades políticas que continuam a ser
aproveitadas.
[877] Uma boa parte das elites comerciais e intelectuais assinava publicações como o jornal
República e a revista Seara Nova. A existência de imprensa desalinhada com o regime, apesar de os
cortes do «lápis azul» da censura, exemplifica a natureza relativamente tolerante e moderada do
Estado Novo (poderia tê-la proibido, mas não só não o tentou fazer, como a reconheceu legalmente.)
Como é evidente, outras publicações, como o Avante!, não se sujeitavam à censura prévia e optaram
pela via clandestina.
[878] Agradeço ao meu pai, que fez parte da oposição de esquerda ao Estado Novo e conheceu
simpatizantes da Primeira República, várias conversas sobre estas matérias. Foi uma fonte de história
oral que me ajudou, ao longo dos anos, a compreender este ponto de vista.
[879] Como de resto ficou claro a partir de 1968 com as hesitações políticas de Marcello
Caetano.
10.
A época contemporânea
Vou mostrar que essa esperança não podia ter vindo a ser mais ilusória,
ainda que não explique sozinha o atraso. Uma coisa é certa: os fundos
europeus não estão a levar à convergência, apesar da sua magnitude quase
inimaginável. Segundo dados do Banco de Portugal, o país já recebeu 133
mil milhões de euros desde a adesão à União Europeia até inícios de 2023,
sendo que o contributo total português para o orçamento comunitário
corresponde a um terço deste número. Estes valores excluem o Plano de
Recuperação e Resiliência (PRR), com um período de execução até 2026, e
que importará em mais de 22 mil milhões de euros entre subvenções e
empréstimos. É significativo que os meios de comunicação social se refiram
frequentemente a este tipo de valores como algo benéfico apenas por
aparentemente representar um saldo positivo a favor de Portugal.[902] Os
fundos europeus recebidos por Portugal têm correspondido a valores por
volta dos 2% a 3% do PIB português por ano desde meados dos anos 1980.
[903]
Estes valores colossais têm tido, na prática, contrapartidas baixas, como
referi, sendo por isso, na margem, valores muito significativos. O peso dos
fundos é superior ao da Autoeuropa, que sendo tão central para a economia
portuguesa, anda pelos 1,5% do PIB: um valor que corresponde
aproximadamente a todas as remessas anuais dos emigrantes, e suficiente
para construir cerca de 14 grandes hospitais.[904] Até ao alargamento da UE
a Leste, Portugal foi o país da UE que mais sistematicamente «beneficiou»
de financiamento estrutural, relativamente ao PIB. Foi inclusivamente dos
países que mais receberam financiamento estrutural em termos absolutos.
[905]
Não restam dúvidas de que o nosso país foi na Europa o que mais e por
mais tempo «beneficiou» destas ajudas.[906] E nos próximos anos, até 2030,
vão chegar a Portugal mais de 57 mil milhões de euros em fundos europeus,
manifestando a procuradora Ana Carla Almeida graves preocupações com a
falta de recursos para combater as fraudes com esses fundos.[907] Em termos
aproximados, estes valores atingem, em termos anuais, cerca de 3% do PIB.
[908]
Ou seja, a UE continua a dar-nos todos os anos dinheiro que equivale ao
peso de duas «Autoeuropas» na economia, sem grandes contrapartidas
práticas.[909]
Hoje, os fundos de coesão per capita recebidos por Portugal estão entre
os mais altos de todos os Estados-Membros. Durante o período 2014-2020
atingiram cerca de 380 euros por pessoa e por ano, em preços correntes,
para as zonas menos desenvolvidas do país, um valor apenas próximo do
que receberam as zonas equivalentes de alguns países ex-comunistas. Este
valor compara com uma média de menos de um terço – 112 euros por
pessoa – entre todos os Estados-Membros para o mesmo período. Países
como a Roménia ou a Bulgária apenas receberam 150 euros por pessoa.[910]
Os fundos de coesão correspondem apenas a uma média de 0,3% do PIB da
UE como um todo, uma proporção quase dez vezes inferior à portuguesa.
Aliás, a própria Comissão Europeia reconhece que, para algumas das zonas
mais pobres de Portugal, como é o caso dos Açores, o valor é quase 12
vezes maior – atingindo cerca de 3,5% do PIB por ano. Uma análise
detalhada, e sub-regional, mostra que todas as regiões de Portugal
(incluindo Lisboa e o Algarve, ainda que com um pouco de menor
intensidade) recebem uma quantidade de fundos europeus apenas
comparável aos recebidos por regiões da Europa do Leste.[911] A ideia de
que é possível impor «a partir de cima» igualdade entre todos os países ou
mesmo regiões da UE é uma visão utópica, e é bem possível que esta lógica
que determina a distribuição dos fundos esteja a contribuir, pelo contrário,
para aprofundar o atraso relativo de certas regiões e Estados-Membros mais
pobres – e também, por essa via, da própria União Europeia no seu todo
relativamente a outras partes do mundo.[912]
Globalmente, e tomando todos os períodos desde meados dos anos 1980
em consideração, Portugal foi certamente um dos países da UE que mais
receberam quantias provenientes destes fundos relativamente ao tamanho
da sua economia. É também, juntamente com a Grécia, o país que há mais
tempo deles depende.[913] Comparem-se os valores que mencionei com os
das chegadas de ouro do Brasil no século xviii, que corresponderam a 4 a
6% do PIB nominal por ano, entre 1720 e a década de 1760, declinando a
partir de então, até ficar por 1% em finais do século.[914] Nessa época, esses
montantes foram o suficiente para condenar a economia e o sistema político
a uma trajetória perniciosa com consequências para o atraso que ainda hoje
sentimos. Tal como nessa época, as chegadas de fundos não representam
hoje proporções anuais esmagadoras, mas vão tendo efeitos ao longo do
tempo, até devido a não terem, na prática, grandes contrapartidas.
Distorcem a economia e o sistema político, com graves consequências a
prazo. São o novo ouro do Brasil.
Os fundos europeus enviados para Portugal têm claramente falhado no
seu objetivo primordial: a convergência com a Europa mais desenvolvida.
À medida que vários países – ou, para ser mais rigoroso, regiões europeias
– se aproximaram dos níveis médios de desenvolvimento da União
Europeia, têm perdido o direito a receber estes fundos. Portugal é uma
espécie de país pedinte, e viciado, que continua a receber esmola décadas
depois, porque nunca deixou de ser pobre – tendo recebido mais e por mais
tempo do que os outros. Perversamente, quase parece que este país
dependente gosta de continuar a sê-lo, tal é o endeusamento a que o
discurso público eleva os dinheiros europeus. Isto é verdade tanto
relativamente aos fundos regulares – que têm, de resto, categorias variadas,
incluindo fundos de desenvolvimento regional, o fundo social europeu,
fundos de coesão, bem como fundos agrícolas e relacionados com as pescas
– como aos de emergência, como é o caso do PRR, apelidado em Portugal
de «bazuca»: a chuva de milhões que tantos disseram que nos iria salvar.
Desde o princípio que me mostrei cético.[915] Até porque me recuso a
esquecer a nossa História: os fundos europeus não passam do ouro do Brasil
dos dias de hoje.
É evidente que esta analogia não é uma comparação literal nem deve ser
exagerada: Portugal tem hoje um contexto económico e social e um sistema
político diferentes do que tinha no século xviii. Mas, tal como no antigo
processo da Maldição dos Recursos que desenvolvi no Capítulo 6, os
fundos distorcem hoje a economia do país através dos mesmos dois
mecanismos fundamentais: a perda de competitividade do setor dos
transacionáveis, por um lado, e os efeitos negativos relacionados com a
falta de responsabilização política e prestação de contas (accountability)
para as instituições políticas e as políticas públicas, por outro.
Em suma, as transferências das instituições europeias são responsáveis
por dois fenómenos. Em primeiro lugar, a entrada dos fundos distorce a
economia, empurrando os fatores produtivos para setores não
transacionáveis, como o imobiliário ou as obras públicas (muitas vezes
desnecessárias), tendo efeitos negativos e custos indiretos para o setor
exportador. Em segundo lugar, o dinheiro vindo de fora, frequentemente
sem grandes contrapartidas, permite aos governos distribuir mais rendas.
Este dinheiro não recompensa uma efetiva subida de produtividade da
economia, mas, pelo contrário, é dinheiro «caído do céu». O único requisito
é manter o país atrasado e é isso que os governos têm feito há décadas. Por
isso mesmo, perversamente, a torneira dos dinheiros europeus não fecha.
Na prática, a UE subsidia Portugal por ser mau aluno, dando dinheiro
que anestesia a economia e distorce o processo político. A torneira aberta
financia alguns investimentos e consumo, permitindo transmitir a ideia de
que a situação do país não é tão grave como é, enquanto impede um debate
sério sobre a verdadeira situação do país. O fim dos fundos iria implicar um
confronto com a dura realidade existente, que teria implicações políticas
sérias e disruptivas para a atmosfera cultural e intelectual do país. Sem os
fundos, o edifício político e ideológico que nos rodeia cairia que nem um
castelo de cartas, com implicações sérias para o regime e os partidos que
têm governado o país. Se, no imediato, levaria certamente a uma crise, esse
fim também seria o incentivo certo para abrir o caminho para serem feitas
verdadeiras reformas.
O dinheiro vindo da Europa ajuda o governo em Portugal a comprar
apoio político interno, aumentando o valor da captura do Estado. Também
quebra a ligação temporal entre a falta de eficácia das decisões políticas e as
recessões económicas, escondendo do público a extensão dos problemas e
protegendo, com uma cortina de fumo, a inércia e incompetência dos
governantes. Como os fundos adiam os problemas, sem os resolver, criam
um desfasamento temporal entre os momentos em que o povo sente a crise
«na pele» e aquele em que os maiores erros de política económica foram
feitos. O resultado tem um impacto decisivo nas escolhas dos eleitores, que
tendem a recompensar os efeitos de curto prazo.[916] Os fundos também
reduzem os limites ao poder executivo, levando ao baixo escrutínio do
poder político e a violações do princípio da divisão dos poderes.[917] Tudo
isto leva a inúmeros conflitos de interesse relacionados com o papel central
do Estado, agravados por ser Portugal um país pequeno. Concentradas na
«corte» em Lisboa, próximas do poder político, as elites conhecem-se
pessoalmente e a sua permanente encenação esconde que, no fundo, estão
preocupadas principalmente com os seus próprios interesses.
Em Portugal existe um excesso de leis e de regulação que confunde
objetivos com meios ou instrumentos, que são ineficientes, assim como
uma excessiva legislação produzida «a quente» em reação a casos
mediáticos, sem haver um pensamento estruturado e global subjacente.[918]
Portugal é dos países do mundo com mais proteção laboral para quem tem
contrato de trabalho permanente.[919] Esta situação explica a elevada
percentagem de casos de contratos de trabalho a termo, criando um
mercado de trabalho segmentado e com pouca justiça intergeracional,
porque são os jovens que ocupam a esmagadora maioria destes contratos a
termo. Os sindicatos estão hoje envelhecidos e são pouco representativos,
estando muito ligados a interesses políticos, ao contrário do que estabelece
a Constituição.[920]As medidas ativas de emprego, como os estágios e a
formação profissional, são pouco diferenciadas, em grande medida
desatualizadas, e com impactos que não são avaliados, tendo pouca
capacidade de resposta às mudancas que se avizinham com o crescimento
da inteligência artificial.[921] Em Portugal quase nada, de resto, é sujeito a
uma avaliação de impacto ou a análises custo-benefício.
Também somos um dos países do mundo que mais direitos promete na
Constituição, o que não é positivo, como se verifica pelo facto de os outros
países que prometem tanto ou mais serem Estados mais pobres, como
Angola, Bolívia, Cabo Verde, Equador e Venezuela.[922] Ou seja, Portugal
tem uma Constituição terceiro-mundista. Como demasiadas vezes acontece,
estamos perante uma encenação, perante mais um triunfo do de jure sobre o
de facto. Mas quem governa com demagogia falha.[923] Portugal é um país
alérgico a reformas estruturais que permitiriam ajudar a economia, sendo
essas reformas displicentemente catalogadas como «neoliberais»,
«capitalistas», «de direita» – ou mesmo, absurdamente, «fascistas».[924]
Entre as elites intelectuais (até mais do que entre o povo) existe também
muito preconceito contra a iniciativa privada, e muitas vezes, desconfiança
em relação à prestação de contas e de fiscalização da ação governativa. O
resultado acaba por ser uma intervenção estatal excessiva (frequentemente
desnecessária e por vezes até mal-intencionada), as leis laborais rígidas e
inadequadas ao mundo globalizado do presente, os impostos altos
relativamente à qualidade dos bens públicos, um Estado Social incapaz de
dar às pessoas o que necessitam, uma enorme injustiça intergeracional, a
estagnação económica, e a continuação do processo de divergência.[925]
Apesar da elevada carga fiscal, nem sequer os serviços de educação e saúde
mais básicos consegue o Estado assegurar: faltam vagas no ensino pré-
escolar, professores no ensino pré-universitário, a medicina dentária faz
apenas recentemente e de forma muito parcial parte do SNS, e o número de
utentes sem médico de família já é quase 1,7 milhões.[926] As listas de espera
de anos para cirurgias, urgências encerradas, e filas nos Centros de Saúde
são amplamente noticiadas, ano após ano. O Estado tudo promete: desde
milhares de camas em residências universitárias, a habitação social
abundante e a preços acessíveis. Mas pouco consegue, apesar dos fundos
europeus e da elevada carga fiscal.[927] O baixo investimento público tem
levado a uma forte erosão do capital público, com a depreciação a ter
efeitos negativos para a produtividade que se vai sentir durante décadas.[928]
Como tantas vezes na nossa História, o de facto diverge do de jure e da
propaganda.
A existência dos fundos ajuda a explicar a ausência de reformas no país.
Não é suficiente dizer que reformas estruturais e políticas públicas de
melhor qualidade fariam o país crescer. Isso é evidente. Aliás, é quase
trivial. O que é preciso compreender é porque não são adotadas melhores
políticas públicas em Portugal (nem alguma vez o foram nas últimas
décadas, com graus de cinzento que variaram, mas pouco, ao longo do
tempo). A ausência da procura de reformas, mesmo quando os problemas
estão identificados, é que é o facto fundamental que tem de ser explicado.
Portugal tem uma elite egoísta, em parte legitimada nas urnas, mas apenas
preocupada em proteger os seus interesses. O facto de não existirem
alternativas viáveis à vista é, em si, o facto mais relevante. O país está
bloqueado, mas não quer mudar. O espírito corporativista impera, com um
sem-fim de lóbis a pedir mais para si, e sendo sempre o contribuinte a
pagar.
A própria antecipação da chegada do PRR, por exemplo, foi antecedida
por ações políticas inequívocas com potenciais efeitos a prazo, como
aconteceu com o caso da procuradora que ficou em primeiro lugar no
concurso para o Gabinete da Procuradoria Europeia – órgão que iria
supervisionar a fraude nos fundos – e que foi preterida pelo governo. Ou
então o facto de o governo não ter reconduzido o presidente do Tribunal de
Contas que se tinha levantado contra a reforma das regras de contratação
pública aplicáveis aos fundos europeus, o que, como é óbvio, abre a porta à
má utilização dos mesmos.[929] E Portugal está há anos sem juiz no Tribunal
de Contas Europeu, o tribunal que controla a cobrança e a utilização dos
fundos da UE.[930] Até o inspetor-geral de Finanças admitiu modificar
pareceres de forma (no mínimo) pouco ética para garantir o acesso
continuado de Portugal aos fundos europeus. Vale a pena transcrever o
motivo «patriótico» com que justificou a aldrabice:
Dito isto, convém sublinhar que os fundos europeus não são o único
fator que explica o atraso atual do país – ou, para ser mais rigoroso, a
divergência (já que, como é evidente para quem tenha lido este livro até
aqui, o atraso em si era anterior). Os fundos europeus contribuem para a
divergência, mas isto acontece porque se relacionam com outros fatores que
interagem com a sua existência e também ajudam a explicar a falta de
reformas políticas e mudanças culturais associadas. Aliás, vários países
europeus têm vindo a receber fundos, mas ainda assim convergiram. Isto
aconteceu com os países da Europa Central e do Leste que aderiram à
União Europeia. Ainda que nenhuns tenham recebido tantas verbas e por
tanto tempo, relativamente ao tamanho das suas economias, como Portugal,
a verdade é que têm convergido.[954] Irei agora argumentar que isto tem
acontecido porque a Europa Central e do Leste – a parte que se juntou à UE
– retirou conclusões da sua História, entre o pós-guerra e o final do século
xx, muito diferentes das que foram tiradas em Portugal. Ou seja, a
divergência foi também cultural, tendo implicações políticas.
Em Portugal, a partir de 1974 imperou uma narrativa, que mostrei no
capítulo anterior ser falsa, segundo a qual o atraso do país era exclusivo ou
principalmente devido ao Estado Novo. Essa narrativa continua viva e de
boa saúde nos nossos dias. Nos meios de comunicação social continua a
dizer-se e a escrever-se com regularidade que «[o] maior responsável pelo
atraso do país é, sem qualquer dúvida, o Salazar», considerado o culpado
pelo baixo nível educativo do país, ao mesmo tempo que são
desculpabilizadas as escolhas políticas feitas por duas gerações de políticos
e eleitores.[955] Pessoas que se afirmam historiadoras profissionais fazem
mesmo afirmações como: «Hoje ainda, defensores do Estado Novo, muitas
vezes por ignorância, difundem a ideia de que Salazar diminuiu o
analfabetismo».[956] Além de esta ser uma afirmação falsa, como já vimos,
note-se também o julgamento de intenções: quem contrarie este preconceito
é imediatamente catalogado como um «defensor» do Estado Novo.
Tudo isto continua a ser hoje feito de forma contínua, mas tem uma
origem histórica. A partir do período revolucionário de 1974-1976, as
políticas dessa ditadura de direita foram entendidas como uma visão falhada
de desenvolvimento, devido à percecionada baixa intervenção do Estado na
economia.[957] Este erro na caracterização do regime penetrou de forma
profunda na consciência coletiva do país – em parte, aliás, devido ao papel
dos meios de comunicação social e ao ensino escolar nas décadas seguintes,
todos influenciados por políticos disfarçados de historiadores e intelectuais.
Já a nível político, o regime do Estado Novo foi identificado com o
fascismo – o que não é factual – para o estigmatizar o mais possível, assim
como o poder económico.[958] Isto tornou ainda mais poderoso o ataque à
«direita» – mesmo a democrática, moderada e liberal – propositadamente
atirada para o mesmo saco. O Estado Novo, visto como fascista, foi
identificado com o capitalismo, enquanto o socialismo foi considerado o
equivalente da democracia.[959] Como resultado, desenvolveu-se um
condicionamento cultural e uma doutrina excessivamente otimista quanto à
eficácia do Estado. Tudo isto se associou a um nível educativo baixo das
populações, em particular às questões relativas à literacia financeira, e à
qualidade globalmente reduzida da academia no que toca à seleção dos
docentes e investigadores, entre outros aspetos.[960] O analfabetismo do país
no passado encontra hoje um paralelo na baixa literacia financeira – uma
espécie de analfabetismo económico, que enfrentamos no presente. O
resultado é um país com expetativas irrealistas sobre o Estado Social e com
uma ênfase política quase exclusiva nas questões da desigualdade, mesmo
quando essa ênfase é feita à custa de um debate sério à volta da criação de
riqueza.[961] Isto é irónico, porque apenas essa pode pagar o Estado Social
de qualidade que as pessoas tanto desejam e merecem. Nivelar por baixo
apenas pode levar a um país em que quase todos são pobres.
Destes condicionamentos culturais emergiu um país estatista em que os
políticos tudo prometem e pouco conseguem de facto.[962] Um país
altamente capturado pelas elites, com políticas públicas que são, na prática,
por vezes fiscalmente regressivas, como acontece com o facto de os alunos
de licenciatura pagarem propinas baixas nas universidades públicas
(incomparáveis com os custos), mesmo quando são provenientes de
famílias de contextos socioeconómicos favoráveis.[963] O número de
licenciados a abandonar o país corresponde a 40% dos novos licenciados
todos os anos, segundo algumas estatísticas, não sendo claro se irão voltar
ou se o dinheiro que neles foi gasto irá alguma vez beneficiar os
contribuintes portugueses que neles investiram.[964] O corporativismo –
entendido aqui como a defesa dos interesses privados de certos grupos, em
detrimento do conjunto da população – sobreviveu ao fim do Estado Novo
e, num certo sentido, está mais forte do que nunca. No que toca à política
económica, existe, portanto, mais continuidade entre os regimes do que
possa parecer. A Constituição de 1976, tal como a de 1933, opunha-se ao
liberalismo económico e promovia um apertado controlo estatal sobre a
economia.[965] Após a subida ao poder da Aliança Democrática em 1979,
tornou-se notório que a «direita» portuguesa tinha fortes tendências
jacobinas, que clamavam por um forte intervencionismo estatal.[966] Sá
Carneiro, que se intitulava como sendo de centro-esquerda, dizia mesmo
que a social-democracia era uma via para o socialismo, que o seu partido se
inspirava no SPD alemão, e quis que o mesmo aderisse à Internacional
Socialista, tendo nesse propósito sido bloqueado, pelo menos em parte, pelo
PS.[967] Nada disso impedia Mário Soares e outros políticos de esquerda de
alertarem para o regresso do fascismo.[968] Permaneceria até 1989 em
Portugal a proibição constitucional de privatizar as empresas que tinham
sido nacionalizadas e as unidades coletivas da reforma agrária (que até tinha
sido inicialmente defendida pelo PPD/PSD, e que ainda existiam em grande
número no Alentejo).[969] Por tudo isto, ainda no início da década de 1990, a
revolução socialista portuguesa estava menos desmantelada do que poderia
parecer em resultado da adesão do país à CEE.[970] A defesa dos interesses
privados de natureza corporativista continuava. E continuou.[971]
Na verdade, a distinção fundamental para compreender estas matérias
não é entre políticas de «esquerda» ou «direita» – conceitos limitados –,
mas sim entre políticas contrárias ou favoráveis à concorrência. Todos os
regimes iliberais são contrários à concorrência e, neste aspeto, o país mudou
pouco durante todo o século xx. É possível até argumentar que tem piorado
nesta matéria durante a democracia, devido aos condicionamentos culturais
de origem política. Os sucessivos governos, mesmo desde os anos 1990,
lutaram frequentemente contra a liberalização da economia (muitas vezes
confundindo, ou querendo confundir, privatizações com concorrência ou
liberalização propriamente dita).[972] É fundamental percebermos que
privatizar não implica liberalizar, de modo a compreendermos uma das
fontes fundamentais do nosso atraso contemporâneo.[973] Mesmo a chamada
«direita liberal» portuguesa mostra-se frequentemente equivocada nestas
matérias, confundindo, ou querendo confundir, a defesa dos mercados com
a defesa dos lucros de certas empresas ou grupos profissionais.
Os condicionamentos culturais existentes implicam que os políticos que
defendam um país diferente nestas matérias estão condenados a falhar. Um
exemplo que pode ser dado é o de Francisco Lucas Pires: um político que se
definia como sendo de direita num país em que isso era praticamente tabu e
que defendia ideias que a população não estava pronta para compreender ou
aceitar. Foi dos poucos que, em meio século de democracia, ambicionou um
país liberal no plano da política económica, enfatizando que defendia a
economia liberal «por causa dos trabalhadores».[974] Mas poucos
acreditaram e teve pouco sucesso político. O chamado «Grupo de Ofir»,
liderado por Lucas Pires, era constituído por liberais e foi pro-concorrência.
Mas o eleitorado dito «da direita» preferiu um caminho diferente em 1985,
levando ao fim da existência dessas opções políticas que não eram viáveis
para as carreiras dos políticos que as defendessem.[975] Não havia espaço
para a direita liberal em Portugal. Os condicionamentos que levaram a esse
estado das coisas foram culturais, mas tinham origem política. A natureza
da transição para a democracia, nos moldes em que aconteceu e no contexto
historicamente determinado de baixo capital humano do país, reforçou um
quadro que acabou por impedir «a direita» de ser menos corporativa. Lucas
Pires falhou porque tinha de falhar no contexto que existia, que é
aproximadamente o mesmo que ainda hoje existe.[976]
Por contraste, na Europa Central e de Leste a experiência em primeira
mão das ditaduras comunistas matou qualquer romantismo associado à mão
pesada do Estado. Isto é verdade não apenas para os países bálticos – onde
o sucesso da transição para uma economia de mercado foi quase absoluto –
mas também para os países com tendências infelizmente menos
democráticas como a Hungria e a Polónia, e em menor grau a República
Checa e até a Roménia.[977] Ainda que as revoluções que aí tenham existido
também tivessem tido um pendor nacionalista que nem sempre é bem
compreendido na Europa Ocidental, em nenhum destes países existem hoje
ilusões sobre o valor do comunismo ou da extrema-esquerda, cujos partidos
são inexistentes ou muito minoritários. Ao mesmo tempo, os partidos do
centro são, no que respeita ao papel a atribuir à intervenção do Estado e a
favor de uma economia de mercado, muito mais moderados do que
acontece em Portugal.[978]
As reformas que os países de leste têm feito estão ainda por fazer, em
grande medida, em Portugal. Não basta dizer, como já afirmei, que há
reformas necessárias. É preciso também compreendermos os motivos da
sua ausência. E é aqui que a designada «Maldição dos Recursos», devido
aos fundos europeus, se relaciona de uma forma muito perniciosa com os
condicionamentos culturais e políticos do Portugal contemporâneo. Os
fundos permitem a ilusão de que o modelo de desenvolvimento do país é
sustentável. No entanto, não é assim, já que o modelo é centrado em gastar,
na proteção de interesses corporativos, e não em produzir. Mas não há corda
ao pescoço para mudarmos de vida enquanto a torneira dos fundos europeus
continuar a jorrar.[979] O resultado de tudo isto tem sido um retorno negativo
destes fundos. Portugal tem-se estado a transformar numa economia
envelhecida e pouco competitiva, bem como numa democracia apenas
eleitoral, limitada, não liberal, com uma sociedade pouco dinâmica, fechada
à concorrência, aos mercados, e às reformas que pudessem gerar
crescimento económico.[980] Um país de onde muitos jovens saem, ou ficam
com uma taxa de fecundidade baixa, agravando a prazo a sustentabilidade
da Segurança Social (cada vez mais dependente de transferências diretas do
Orçamento do Estado), e a desigualdade intergeracional, assim como as
suas consequências políticas.[981]
A natureza revolucionária da transição que se seguiu ao golpe de Estado
de 1974 não ajudou. Esse golpe teve, pela mão dos seus protagonistas, uma
motivação inicial de natureza corporativista, relacionada com a defesa dos
seus interesses imediatos, relativos à sua progressão na carreira no contexto
da Guerra Colonial, que queriam que terminasse.[982] Mas a verdade é que o
golpe enfrentou pouca resistência e teve a adesão de altos quadros que
tinham estado associados ao regime, como é o caso de António de Spínola,
tendo também uma natural e saudável adesão do povo. O contraste com a
Espanha ajuda a compreender que o facto de ter sido, em última análise,
uma revolução que levou a um corte radical com o passado, em vez de uma
transição negociada, não ajudou depois a economia durante o período
democrático. No país vizinho, a transição democrática, a partir de 1975, foi
negociada – possivelmente, até porque viram os problemas económicos e
políticos que haviam surgido em resultado da revolução em Portugal. A
transição negociada em Espanha implicou que a direita democrática não
tivesse ficado manchada, pelo menos não com a intensidade e da mesma
forma que aconteceu em Portugal. No país vizinho não existiram nem
ocupações de terras, nem nacionalizações, nem fugas de capital – incluindo
o capital humano relativo a conhecimentos de gestão empresarial – nem se
gerou um ambiente hostil à iniciativa privada como aconteceu em Portugal.
Os resultados diferenciais para a produtividade da economia são fáceis de
observar na Figura 33.[983] Segundo estes dados, calculados por Luciano
Amaral, até 1974 a produtividade crescia em paralelo nos dois países, mas a
partir daí apareceu uma divergência que se manteve até ao presente.[984]
Utilizando uma metodologia alternativa, menos conservadora, outros
autores chegaram a conclusões parecidas relativamente à divergência desde
o 25 de Abril em relação à Espanha, mas argumentam mesmo que as
diferenças foram ainda maiores, e Portugal apenas terá regressado a uma
produtividade do trabalho idêntica à de 1973, só em 1990.[985] O que é certo
é que Portugal é hoje um dos países da Europa com a produtividade do
trabalho mais baixa, apresentando até uma perda de competitividade que
tem estado a acentuar-se.[986] Considerando a baixa produtividade do
trabalho, não é surpreendente que os salários em Portugal sejam dos mais
baixos da Europa.
[880] Estes mitos, apesar de serem tão falsos como outros veiculados desde épocas remotas,
como é o caso das Cortes de Lamego, tendem a perpetuar-se e influenciam negativamente a ação dos
povos, acabando por ser uma causa de atraso.
[881] E, sem dúvida, alguns também beneficiam da situação atual, que não querem que mude,
apesar de prejudicar a maioria, e em particular os mais pobres, os mais jovens, e as gerações futuras.
[882] Assim o fez, por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa em junho de 2023. Veja-se JORNAL
DE NOTÍCIAS (2023b).
[883] Portugal é considerado uma democracia limitada e com falhas em relatórios e bases de
dados internacionais. A revista The Economist considera que Portugal não é uma democracia plena, e
a última versão da base de dados «Varieties of Democracy», da Universidade Gotemburgo, considera
mesmo que Portugal é o único país da Europa Ocidental que não é uma democracia liberal, mas
apenas uma democracia eleitoral. Veja-se ECONOMIST INTELLIGENCE UNIT (2022), e V-DEM
(v. 13). Por contraste, a União Europeia insiste numa visão demasiado otimista sobre os problemas da
democracia e da justiça em Portugal, apontando problemas apenas em países com a Hungria ou a
Polónia. Veja-se COMISSÃO EUROPEIA (2023).
[884] Ainda que isto possa não ser verdade para toda a população, nomeadamente para os jovens.
[887] Sobre este período e em particular a reforma agrária, o livro incontornável é BARRETO
(2017).
[889] Isto que não era possível fazer para o período anterior a meados dos anos 1980, devido à
falta de dados para países da Europa do Leste.
[890] A fonte é a base de dados Maddison Project. Veja-se BOLT e VAN ZANDEN (2020).
Agradeço a Jutta Bolt ter-me enviado uma versão mais atualizada que inclui os dados até 2021. Os
resultados de 2022 ainda não estavam disponíveis no momento da escrita deste livro.
[892] Agradeço a Pedro Magalhães, que leu uma versão preliminar deste capítulo, a sugestão de
que este ponto merecia ser enfatizado.
[893] Assim como a negação da utilidade de olhar para o comportamento do PIB ou mesmo dos
números em geral, como se estes não fossem relevantes (quando contextualizados) para
compreendermos que políticas públicas é que podem melhorar o bem-estar das pessoas.
[897] Para além do Estado Social propriamente dito, pode ser dado também o exemplo da justiça
administrativa e fiscal, que é incapaz de tomar decisões em tempo útil, nomeadamente nas questões
da criminalidade económico-financeira, mas continua sem as reformas necessárias.
[898] Estes dois fatores também se ligam porque os baixos níveis de capital humano da
população contribuem para a sua aceitação, ou pelo menos para a indiferença, relativamente à
expressão «à justiça o que é da justiça», frequentemente usada para proteger casos em que a lentidão
e ineficiência dos tribunais facilita a corrupção, o tráfico de influências, e o branqueamento de
capitais. Como deveria ser evidente, a separação dos poderes diz respeito a casos concretos, mas não
à eficiência judicial no seu todo, que é, e apenas pode ser, uma responsabilidade política. Veja-se
GAROUPA (2011). Sobre o facto da justiça portuguesa ser das mais lentas e ineficientes da Europa,
veja-se EUROPEAN COMMISSION (2023), ficando a ressalva de em geral não existirem dados que
comparam exatamente tribunais administrativos e fiscais porque muitos países não têm este tipo de
tribunais.
[899] Darei alguns exemplos neste capítulo. Sobre esta matéria vale também a pena consultar
ALEXANDRE et al. (2016).
[900] Para ser mais rigoroso, nem sempre todos os países da Europa aparecem nestes estudos,
mas entre os países que aparecem Portugal fica colocado sistematicamente em último lugar. ECO
(2022); OCDE (2023).
[901] Ainda assim, não posso deixar de notar que no caso da Irlanda – e do Luxemburgo assim
como dos Países Baixos, sendo estes países claramente não periféricos –, o bom comportamento da
sua economia se deve, pelo menos em parte, a políticas fiscais a que a União Europeia deveria prestar
mais atenção, porque se implementadas por todos os Estados-Membros levariam a resultados que
seriam piores para todos. Também Portugal apostou, ainda que de forma diferente, numa política
semelhante, mas com uma incidência diferente: os «vistos gold». Todas estas políticas são pouco
sustentáveis para a UE considerada no seu todo, mas não me alargo aqui sobre esta matéria pois sai
ligeiramente do âmbito do presente livro.
[903] MATEUS (2013), p. 512. As contas exatas são mais difíceis de fazer do que possa parecer,
porque é preciso apurar os valores exatos das transferências anuais e dividir esses valores nominais
de todos os anos pelo PIB nominal de cada ano. Este último, por exemplo, correspondeu a cerca de
240 mil milhões em 2022. Veja-se BANCO DE PORTUGAL (2023). Como é evidente, é algo
arbitrário comparar valores relativos a um programa plurianual com o PIB de um ano, em média, mas
esta é uma medida simples e convencional, embora uma interpretação mais rigorosa implique
apresentar resultado em unidades de tempo (anos ou meses de PIB), e não em percentagens «médias»
do PIB anual.
[905] Ou seja em termos totais, em euros, sem ter em conta o tamanho da população do país.
Portugal foi o terceiro país que mais recebeu financiamento estrutural da UE em termos absolutos
(valores nominais, em euros) entre 1989 e 1999, e o quarto que mais recebeu entre 2000 e 2006. Para
os valores comparados do financiamento estrutural médio em percentagem do PIB, e em milhões de
euros, veja-se MATEUS (2013), p. 512.
[908] Para o cálculo dos 3% relativos ao PRR, usei o PIB nominal de 2022 como ano de base. A
percentagem poderá ser superior se o PRR for outra vez reprogramado ou se a evolução do PIB for
negativa, especialmente num contexto de inflação que poderá voltar a ser baixa. Se os atrasos
implicarem que grande parte da execução fica concentrada nos anos finais do PRR, poderá haver
anos com percentagens totais claramente superiores a 4%, ou mesmo 5%, do PIB.
[912] Noto que, segundo o Artigo 147.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia,
«A fim de promover um desenvolvimento harmonioso do conjunto da União, esta desenvolverá e
prosseguirá a sua ação no sentido de reforçar a sua coesão económica, social e territorial (…) a União
procurará reduzir a disparidade entre os níveis de desenvolvimento das diversas regiões e o atraso das
regiões menos favorecidas (…) é consagrada especial atenção às zonas rurais, às zonas afetadas pela
transição industrial e às regiões com limitações naturais ou demográficas graves e permanentes, tais
como as regiões mais setentrionais com densidade populacional muito baixa e as regiões insulares,
transfronteiriças e de montanha.». Veja-se UNIÃO EUROPEIA (2016).
[913] Desde 1981 que a Grécia beneficia de ajudas da Europa, e há décadas que estas constituem
2,4 a 3,3% do PIB anual desse país. Os resultados, tal como no caso de Portugal, não têm sido
positivos. Mas Portugal recebeu ainda mais dinheiro do que a Grécia. Veja-se LIARGOVAS et al.
(2015), pp. 5-10. Sobre as consequências políticas negativas dos fundos para a Grécia, veja-se
HILIARAS & PETROPOULOS (2016).
[915] Ver, por exemplo, PALMA (2020c), PALMA (2021a), ou ainda PALMA (2022b).
[916] Tudo isto enquanto investimentos fundamentais que requerem planeamento de longo prazo
são adiados, mesmo quando se trata de infraestruturas físicas, como por exemplo o novo aeroporto de
Lisboa.
[917] A UE tem tido efeitos positivos a outros níveis nas instituições. Exemplos: o fim do sigilo
fiscal e bancário, que permite a investigação criminal e o combate ao branqueamento de capitais,
como não havia nos anos 1990 (tornou possível a Operação Marquês); ou a supervisão dos grandes
bancos pelo BCE (posterior ao BES).
[918] Sobre estas matérias e outras relacionadas, veja-se GRATTON et al. (2021).
[919] OCDE (s.d.).
[920] Apesar de alguns movimentos novos que surgiram nos últimos anos, sobretudo na esfera do
setor público.
[921] Sobre estas matérias, e em particular sobre a perspetiva das reformas na legislação laboral
portuguesa que poderiam ser benéficas para o emprego, veja-se HIJZEN e MARTINS (2020);
MARTINS (2021b); MARTINS (2021a); e OCDE (2017).
[923] Isso mesmo também sugere a citação em epígrafe de António Vieira com que abri este
livro, apesar do seu contexto imediato estar relacionado com uma falsa esperança castelhana relativa
a Portugal.
[924] Esta utilização do termo «fascismo» é tão abrangente quanto vazia de conteúdo. A direita
portuguesa, que apesar de tudo existe (mais nas bases do que nos líderes partidários), envergonhada
pelo menos em parte com o sucesso dessa retórica que a associa ao «fascismo», cedeu ao longo do
tempo a muitas das lógicas estatistas que são tradicionalmente de esquerda, pelo menos nas
democracias – ainda que a dimensão mais relevante seja serem antiliberais, como explico mais à
frente neste capítulo. Num país em que o peso do Estado na economia ronda os 50%, as acusações de
«neoliberalismo» são também absurdas.
[925] Aproveito para notar que, se por um lado os impostos altos são apenas um mecanismo e
não o problema fundamental, por outro eles são de facto altos, especialmente tendo em conta que a
má qualidade dos serviços públicos levam muitas pessoas a colocarem os filhos em escolas privadas,
a ter um seguro de saúde privado, e um Plano Poupança Reforma, por exemplo. Ou seja, pagam a
dobrar.
[927] Os investimentos públicos na saúde oral estão a ser feitos – sem surpresas – com recurso ao
PRR. Veja-se GOVERNO DE PORTUGAL (2023a). Consultado em 10 de setembro de 2023.
[937] O consenso sobre esta matéria é de tal forma generalizado que não faz sentido destacar
exemplos para além das principais figuras com responsabilidades públicas; abro uma exceção com o
objetivo de mostrar que esse consenso chega mesmo a pessoas próximas do partido com assento
parlamentar que defende menos intervenção do Estado na economia. Veja-se ARROJA (2022).
[939] Em rigor, considero um erro o compromisso de enviar dinheiro. E que, havendo esse
compromisso, quanto menos for executado, melhor para o país. Como é evidente, há que prestar
contas pelo financiamento recebido. Logo, o problema não é tanto a execução em si, mas sim a
própria existência destes fundos de volumes colossais.
[940] As notícias sobre esta matéria são frequentemente contraditórias, mas não parece existir
informação de que os níveis de fraude em Portugal com estes fundos sejam muito diferentes dos
níveis médios dos outros países. OBSERVADOR (2020); e OBSERVADOR (2022a). No entanto, a
falta de informação pode ser simplesmente devida a um sistema de deteção de fraude inadequado, ou
seja, relacionado com a justiça lenta e disfuncional do país. OBSERVADOR (2023b).
[941] EUROPEAN ANTI-FRAUD OFFICE (s.d.), onde ser lê: «Cooperation with national
authorities and operational partners in international organisations is very important. They often have
major control responsibilities in projects financed by the EU; OLAF may not have sufficiently
effective investigative powers of its own.». Página visualizada em 27 de junho de 2023. Ver ainda
OCDE (2019).
[944] No oitavo relatório sobre a coesão económica, social, e territorial da União Europeia, de
2022 – com o título «Coesão na Europa para 2050» – a comissária para Política de Coesão e
Reformas e o comissário do Emprego e Direitos Sociais questionam alguns aspetos de
implementação, mas insistem que a política de coesão é um motor de convergência para a Europa.
Consultar UNIÃO EUROPEIA (2022).
[947] Como é evidente, dou este exemplo a título ilustrativo. No que diz respeito às drogas, em
certos casos o desmame gradual pode ser o mais recomendado pelos médicos. Já no que respeita ao
país, não me parece que um desmame desta natureza fosse o ideal, ainda que as pessoas mais pobres
tivessem de ser protegidas da crise imediata que resultaria.
[951] São 150 milhões de euros para o património cultural, 93 milhões para redes culturais e
transição digital, e 40 milhões para a reabilitação e conservação do património cultural nacional.
GOVERNO DE PORTUGAL (2023b). Consultado em 7 de julho de 2023.
[953] As dinâmicas recíprocas entre a política e a economia implicam que as instituições políticas
débeis e capturadas pelos interesses prejudiquem a prazo o desenvolvimento económico. É um ponto
que merece reflexão em Portugal. O Marquês de Pombal foi exemplo disso: subiu ao poder num
contexto problemático propício a lideranças fortes, mas depois ele próprio aprofundou os problemas.
[954] Também não é evidente a avaliação do impacto dos fundos para os países ex-comunistas,
pois nada impede que estejam ou venham a ter um impacto negativo mas por enquanto insuficiente,
em termos líquidos, para travar a convergência. Para alguma informação relativa à Hungria, veja-se
MURAKOZY e TELEGDY (2023).
[955] PEREIRINHA (2023). Este é apenas mais um exemplo de um entre muitos artigos que
analisam os números de 1973 sem considerar a sua evolução nas décadas (ou mesmo séculos)
anteriores.
[957] Sendo esta mais mito que realidade: o número dos funcionários públicos aumentou muito
durante o Estado Novo, e o Estado intervinha em força em certos setores da economia. Abordámos
essa realidade no capítulo anterior.
[960] É notório que esta seleção é frequentemente feita com critérios alheios ao mérito
académico. Ainda que existam concursos formais, na prática os fatores de lealdade pessoal e
partidária são mais importantes. A academia portuguesa tem dos níveis de endogamia académica
mais elevados da Europa (SOLER 2001), p. 132.
[961] O Estado Social de qualidade é algo desejável. O que não faz sentido é exigir mais e
melhor sem existir um plano de viabilização financeira, através da criação de riqueza. Nestas
condições não é possível pagar um SNS de qualidade, por exemplo, especialmente no contexto de
uma população residente cada vez mais envelhecida.
[962] Quando escrevo estas linhas, em julho de 2023, entre os oitos partidos com assento na
Assembleia da República apenas um assume-se de direita. Acresce ser um partido recente, criado há
poucos anos, minoritário apesar da muita atenção mediática que lhe é dada e de estar em crescimento.
Esta realidade é altamente invulgar a nível europeu e nas democracias das outras partes do mundo.
Na Polónia e outros países ex-comunistas da UE, é frequente os dois partidos principais que disputam
o poder serem ambos de direita, sendo o combate político entre a «direita liberal» e a direita
nacionalista e eurocética, com tendências autoritárias, ou «iliberal». Veja-se APPLEBAUM (2021).
[963] Sendo que grande parte deixa o país mal acaba o curso, na procura legítima de uma vida
melhor. Assim fortalecem o capital humano de outros países pago à custa do contribuinte português.
[964] RÁDIO RENASCENÇA (2023b). Neste sentido, não é motivo de orgulho que a
percentagem de jovens licenciados nas gerações mais recentes em Portugal seja maior do que noutros
países europeus. Independentemente da regressividade fiscal desta situação, se os jovens emigram é
porque não encontraram no país as oportunidades que ambicionavam. Não podemos avaliar
positivamente essa estatística sem avaliarmos a qualidade do ensino, por exemplo refletida num
estudo sistemático relativo aos tipos de emprego e remunerações que os jovens licenciados
emigrantes conseguem no estrangeiro, ou os motivos pelos quais há tanta procura comparada pelo
ensino superior em Portugal. Não é de excluir que seja a falta de oportunidades profissionais que
esteja a levar um número invulgar de jovens a fazer licenciaturas, muitas das quais tiradas em
instituições de ensino superior com baixa qualidade.
[967] ILHARCO (2021); RTP (1998). É possível que Sá Carneiro não tivesse outra forma de
sobreviver politicamente. Mas isso não importa para o meu argumento, que se mantém: os
condicionamentos culturais do pós-25 de Abril atiraram o país para políticas económicas
irresponsáveis.
[973] Refiro-me aos setores que devem ser deixados ao mercado, ainda que regulados.
[975] Levando a que vários membros do «Grupo de Ofir» – incluindo os próprios Francisco
Lucas Pires e António Borges – se adaptassem à realidade do país, acabando assim no PSD ou na sua
órbitra. Por outro lado, o próprio CDS, a que muitos tinham estado associados, guinou numa direção
conservadora, nacionalista e eurocética.
[976] Nos nossos dias, mesmo as forças políticas (minoritárias) que ressurgiram em defesa de
temas liberais, normalmente não tocam nos temas que beneficiam muitos dos seus membros:
regulação da comunicação social, sociedades de advogados, mecanismos de privatização, as «portas
giratórias». Isso acontece num contexto de manutenção de rendas e de interesses corporativos.
[977] Estando num nível de PIB per capita muito inferior ao de Portugal nos anos 1990, todos
estes países já nos ultrapassaram.
[978] Seria mais rigoroso falar em economias mistas do que em economias de mercado ou
capitalismo. Isto porque é evidente que o peso do Estado nas economias dos países europeus é
enorme, sendo cerca de metade em França e Portugal (sendo um pouco menor na Europa Central e do
Leste). As exceções a esta realidade são países como a Bielorrússia, que por motivos de ordem não
económica são saudosistas. Veja-se ALEKSIÉVITCH (2016).
[979] É sabido que a Maldição dos Recursos (tal como a ajuda externa dada aos países pobres)
tem uma componente condicional: depende da situação inicial das instituições políticas. Ou seja, e
para dar um exemplo, a Noruega tem beneficiado da riqueza gerada com os seus enormes recursos
naturais, nomeadamente o petróleo. O fundo soberano norueguês, constituído para gerir os proventos
daí obtidos, não tem intervindo negativamente no sistema político e na economia do país. Veja-se
COLLIER (2011).
[980] Como já notei anteriormente, Portugal é considerado uma democracia apenas eleitoral,
limitada e com falhas, por relatórios internacionais; veja-se ECONOMIST INTELLIGENCE UNIT
(2022), e V-DEM (v. 13). Mas noto que Portugal, por enquanto, não aparece longe da fronteira dos
critérios de democracia plena ou liberal destas bases de dados. Logo, é possível que volte a entrar
nessas categorias no futuro próximo. Desta forma, o problema do país não é tanto não ser uma
democracia plena, como o facto da natureza concreta da democracia que existe refletir a realidade
social e cultural que caracteriza o eleitorado do país. Para além disso, há matérias relativas à falta de
escrutínio do poder político e prestação de contas que estas bases de dados apenas capturam de forma
bastante indireta e imperfeita. Para alguns exemplos, veja-se PÚBLICO (2022), ou ainda o facto de
um relatório recente, supostamente independente, sobre a desinformação na UE ter sido revisto ou
editado por uma assessora do Primeiro Ministro de Portugal, ao contrário do que aconteceu para
outros países da Europa; EU DISINFO LAB (2023). Como seria de esperar, neste relatório
«internacional», o governo ou membros do Partido Socialista não aparecem como uma fonte
relevante de desinformação, apesar de inúmeras notícias mostrarem o contrário, inclusivamente
muitas publicadas no Polígrafo (jornal de fact-checking cujo Diretor de Operações assina o relatório).
[981] Já que os pensionistas e os fucionários públicos tendem a votar nos partidos menos
reformistas. Os partidos e decisores políticos, por sua parte, dão sistematicamente prioridade aos
interesses das gerações mais velhas, pois valem mais votos (por serem mais pessoas, e por terem
menores taxas de abstenção).
[983] AMARAL (2009). Os cálculos deste estudo terminam em 2008, e foram atualizados neste
livro até 2022 com a mesma metodologia pelo próprio autor, que generosamente partilhou comigo os
resultados, apesar de ainda não os ter publicado. Para essa extensão, os dados de base utilizados para
Portugal correspondem a Conference Board para 2007-2017 e OECD.stat para 2017-2021; e os dados
de base utilizados para Espanha correspondem a PRADOS DE LA ESCOSURA (n.d.) até 2017 e
OECD.stat para 2017-2021. Veja-se CONFERENCE BOARD (2023) e OECD.stat (2023).
[984] Os dados das horas de trabalho correspondem ao número de empregados por ano vezes o
número médio de horas de trabalho que cada empregado terá trabalhado nesse ano. Note-se que, para
além dos motivos que apresentei para a divergência da produtividade laboral, também aconteceu
outro fator relevante que foi a continuação da entrada das mulheres no mercado de trabalho em
Portugal. Em 1974, 42,7% das mulheres trabalhavam fora de casa, mas essa percentagem era de
apenas 28,5% em Espanha. Na década seguinte, até meados dos anos 1980, essa situação não mudou
em Espanha, onde eram ainda apenas 28,7% em 1985. Por contraste, em Portugal, a percentagem já
era de 45,7% no mesmo ano, depois de ter descido de um valor de mais de dois pontos percentuais
dois anos antes, e voltando a subir nos anos seguintes. Ou seja, em Portugal as mulheres continuaram
a trabalhar mais fora de casa, mas isso correspondeu à continuação de uma tendência vinda de trás.
Mesmo que esta diferença de crescimento (não níveis) relativamente à Espanha possa ser vista como
pelo menos em parte um fruto da natureza da transição política, também era certamente um resultado
da maior pobreza relativa do país, que levava a decisões feitas por necessidade financeira. Logo, é
um fator endógeno. A participação das mulheres no mercado de trabalho em Espanha começou
depois a convergir com os valores portugueses (e da maior parte dos países da Europa Ocidental,
com exceções como a Itália) a partir de finais dos anos 1980, tornando-se parecida apenas já no
século xxi. Para a fonte dos dados citados, veja-se OUR WORLD IN DATA (2017).
[985] BRITO et al. (2023). Segundo estes autores, a produtividade do trabalho em Portugal teria
mesmo ultrapassado a da Espanha em inícios dos anos 1970, mas teve uma queda brutal a partir de
1974, acentuando-se em 1975, e depois de uma tímida recuperação, mas voltando a descer entre 1982
e 1984, e começando a recuperar mais uma vez a partir de 1985, quando a produtividade espanhola
era quase o dobro da lusa. Segundo os dados destes autores, a divergência de produtividades a partir
do 25 de Abril foi, e manteve-se, ainda maior do que no caso que mostro na Figura 33. Agradeço a
Luís F. Costa a partilha destes dados alternativos.
[987] BARRETO (2017), p. 377. Vale também a pena ver o programa RTP (2015).
[988] BARRETO (2017), p. 304.
[989] Em 2021 o líder do partido, Rui Rio, afirmava que «O PSD não é um partido de direita»
(DIÁRIO DE NOTÍCIAS 2021); em 2023, Francisco Pinto Balsemão afirmou que «vê o partido que
fundou como parte do “centro-esquerda”», TSF (2023a). Ligações consultadas em 28 de julho de
2023.
[991] Apesar de as eleições do 25 de abril de 1975 terem mostrado de forma contundente que não
era esse o desejo da maior parte do povo, elas podiam não se ter realizado, ou ter-se realizado sem
que os resultados fossem respeitados. Tal cenário era plausível caso o PCP tivesse conseguido
dominar as outras forças de extrema-esquerda, ou se se aliasse a Otelo Saraiva de Carvalho (caso este
tivesse caído na sua órbitra).
[993] Pelo contrário, Portugal é um país que normaliza o comunismo e a extrema-esquerda, por
mais obviamente antidemocráticas que sejam.
[996] Paradoxalmente ou não, isto aconteceu até com Francisco Rolão Preto, o líder do
Movimento Nacional-Sindicalista – ou seja, o rosto do «fascismo português» nos anos 1930. Rolão
Preto seria condecorado a título póstumo por Mário Soares em 1994 com a Ordem do Infante D.
Henrique. Depois de 1945 Rolão Preto assumiu posições políticas diferentes das que defendera antes.
Mas estes factos não deixam por isso de ser significativos: qualquer oposição ao Estado Novo veio a
ganhar legitimidade depois do 25 de Abril (ainda que sem dúvida isso tenha acontecido mais com as
oposições de esquerda).
[997] Sobre a oposição do PCP às eleições de 25 abril de 1975 e em aceitar os seus resultados,
veja-se BARRETO (2017), p. 238.
[1001] Já em meados dos anos 1990 se sabia que Portugal não convergiu com os países
fundadores da União Europeia (Alemanha, França, Itália e Benelux) durante o período 1974-1985.
Veja-se BARROS e GAROUPA (1996), p. 548. Para um estudo mais recente que avalia um
contrafactual, separando o efeito do que se passou internamente da crise internacional relacionada
com o choque petrolífero da mesma altura, veja-se AMARAL et al. (2022).
[1003] POÇAS (2021), p. 265. No entanto, é possível argumentar que as ações das Brigadas
Vermelhas em Itália nos anos 1970 e 1980 levaram a respostas políticas que ajudam a explicar a
perda de competitividade da economia italiana. Não me alargo aqui nesta matéria. Deixo o meu
agradecimento a Mauro Rota, da Universidade de Roma La Sapienza, pelas conversas sobre este
tema.
[1005] O Conselho da Revolução, instituído nos dias a seguir ao 11 de Março, era um órgão de
tutela constitucional do poder político, exercendo poderes paralelos aos do parlamento, sendo apenas
extinto na primeira revisão constitucional da Constituição de 1976, em 1982. Quer isto dizer que
Portugal foi uma democracia tutelada, e como tal limitada, até 1982.
[1006] Do meu ponto de vista, ainda não foi escrita uma obra que dê, de uma forma competente,
a perspetiva geral da História de Portugal pós-25 de Abril. Talvez isso se explique por não haver o
distanciamento histórico necessário, ainda que os constrangimentos da academia portuguesa também
não ajudem. Para uma visão global das últimas décadas da história económica portuguesa, embora de
forma muito sintética, recomendo AMARAL (2022).
[1007] Foi apenas com a revisão constitucional de 1989 que caiu a proibição constitucional de
reprivatizar as empresas que tinham sido nacionalizadas. Mas as privatizações já estavam a
acontecer, mesmo que, até aí, só se pudesse privatizar até 49%, algo que tinha sido aceite pelo
Tribunal Constitucional (que tinha sido criado com a Revisão Constitucional de 1982, na sequência
da extinção do Conselho da Revolução).
[1009] Também data dessa época a entrada da Autoeuropa em Portugal, uma fábrica que viria a
ter um peso grande na economia portuguesa, e que não foi financiada diretamente pelo PEDIP (que
financiou grande parte dos investimentos nacionais e estrangeiros na indústria portuguesa) mas sim
com outros fundos comunitários à disposição de Portugal, como o Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional e o Fundo Social Europeu. Este investimento direto estrangeiro foi
relevante também por ter levado ao grande aumento da produção de componentes automóveis em
Portugal, atividade que tinha começado com o Grupo Renault. Até devido ao problema da Maldição
dos Recursos, sou, no entanto, pessimista em relação à capacidade do país utilizar as suas grandes
reservas de lítio para dinamizar uma cadeia de valor até às baterias, algo que deveria estar a ser
preparado. Sobre esta matéria, veja-se AMARAL (2021).
[1010] Alguns dos detalhes que aqui reproduzo foram-me contados por Luís Mira Amaral. Pelo
menos no que diz respeito ao caso do Porto a situação não vinha apenas do PREC, mas também do
processo de industrialização de finais dos anos 1940. Para promover a eletrificação no Porto, o
ministro Eng. Ferreira Dias fixou tarifas degressivas para consumidores domésticos (quanto maior o
consumo, menor o preço), que continuaram, pelo menos em parte, em vigor. Consultar SAMPAIO
(2017).
[1011] Assim como terá refletido um efeito (ainda que temporariamente positivo em termos
líquidos) das chegadas dos fundos europeus.
[1012] Ainda que no setor da energia tenha criada em 1995 a ERSE (Entidade Reguladora do
Setor Elétrico) para regular os monopólios naturais das redes de transporte e distribuição de
eletricidade, no contexto da privatização do sector elétrico. A ERSE foi o primeiro regulador
independente do governo criado no âmbito da economia real. Mas este e outros mercados regulados
evidenciavam ineficiências claras, sendo o Estado português alertado sucessivamente para este tema
ao longo dos anos pelo FMI e pela OCDE. Sobre esta matéria, assim como estudos de caso não
apenas da ERSE, mas também da ANACOM e do Tribunal da Concorrência, Regulação e
Supervisão, veja-se LOURENÇO (2022).
[1013] Exemplo disso é a falta de contratação internacional de reguladores por concurso, a partir
de critérios técnicos. A seleção é feita na prática por critérios políticos, sem os tribunais a
desempenharem um papel de supervisão relevante. Devido a estes problemas não terem atualmente
solução, seria preferível o modelo das direções-gerais, pois é mais transparente, democrático e
barato. Veja-se GAROUPA (2016).
[1014] Como tem mostrado Nuno Garoupa e coautores em múltiplos estudos, apesar dos custos
administrativos e com os recursos humanos, os tribunais continuam congestionados e sem capacidade
de resposta. Mas, para além destes custos, existem também custos indiretos, derivados do direito de
recurso. Os aspetos processuais continuam a predominar sobre os aspetos substantivos e o sistema
judicial vai ficando cada vez mais fragmentado.
[1017] Ainda que esta designação não esteja errada, por simplificação e aproximação.
[1021] Parece-me que o país caminha para um ambiente político fortemente polarizado, o que, de
resto, acompanha a tendência europeia. No caso português, tudo indica que a História vai continuar a
ser instrumentalizada.
[1022] Internamente, alimentam também a ilusão de que têm uma influência internacional muito
maior do que o que é o caso (a realidade é que é quase nula). Os meios de comunicação social
nacionais fazem frequentemente eco desta ideia errada.
[1023] O pensamento antiliberal em Portugal tem uma sustentação dupla: permite os monopólios
e oligopólios extrativos na área económica e social; e fomenta os monopólios ideológicos. As duas
minam a democracia pluralista. Agradeço a Nuno Garoupa as várias conversas que influenciaram o
meu pensamento nestas matérias.
[1024] Neste sentido, o Estado Novo – e a sua figura central, Salazar – influenciou
profundamente o país não só enquanto durou, mas também através do regime que lhe sucedeu, que já
dura há mais tempo do que o próprio Estado Novo durou.
[1026] DINHEIRO VIVO (2022). Parece improvável que a TAP venha a ser vendida a um preço
sequer próximo deste valor.
[1028] Menciono a ferrovia para continuar com um exemplo ao nível do capital físico. Mas
investimentos sérios em capital humano ou em reformas do funcionamento do Estado teriam
certamente um retorno superior a prazo.
[1030] Criar um fundo de investimento diversificado, como fazem alguns países em risco de
sofrer da Maldição dos Recursos (casos do Botswana, Chile ou Noruega), não seria autorizado pela
União Europeia. Nem, francamente, faria sentido aplicar ao caso português. No entanto, seria
possível à UE impor ao Estado português, por exemplo, um teto de 10% no financiamento de
projetos, sendo os restantes 90% financiados pelo setor privado, mas evitando-se empresas de
tamanho pequeno sem clara capacidade transformadora para economia. Este tipo de políticas seria
preferível à situação que se verifica, ainda que me pareça, dado o contexto histórico e institucional do
país, que se devia acabar completamente com os fundos. Relativamente às estratégias internacionais
para lidar com o problema da Maldição dos Recursos, veja-se, por exemplo, POUOKAM (2021).
[1] Escrevo isto apesar de ser uma minoria de pessoas a votar em quem manda, devido ao voto na
oposição, e principalmente à abstenção (que tem subido ao longo das décadas, andando agora nos
50% da população, mesmo nas eleições legislativas, por comparação com menos de 10% nas eleições
de 25 de abril de 1975).
[2] Infelizmente, há uma forte probabilidade da Frente Nacional (conhecida desde 2018 por
Rassemblement National) vir a ganhar as eleições em França nos próximos anos. Considero isso
indesejável, ainda que provavelmente inevitável. Quando tal acontecer, pode provocar um forte abalo
de consequências imprevisíveis na UE. Aliás, tal ocorreria num contexto maior em que vários países
da Europa vivem politicamente polarizados, com uma parte cada vez maior do eleitorado a votar em
partidos radicais ou extremistas, com uma clara viragem à direita, que é provável tornar-se a prazo
dominante. Se assim for, Portugal ficará isolado na cena europeia.
[3] Os mitos estão de tal forma enraizados que até instituições internacionais fora dos meios
académicos os repetem. Um exemplo é a CIA, que afirma que Portugal atingiu uma «idade de ouro»
nos séculos xv e xvi, tendo perdido muita da sua riqueza e estatuto devido ao Terramoto de 1755, às
invasões napoleónicas, e à independência do Brasil: «Following its heyday as a global maritime
power during the 15th and 16th centuries, Portugal lost much of its wealth and status with the
destruction of Lisbon in a 1755 earthquake, occupation during the Napoleonic Wars, and the
independence of Brazil, its wealthiest colony, in 1822» (CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY,
2023).
[4] Tal como os fundos europeus, o Euro contribuiu para a contração do setor transacionável da
economia portuguesa. Veja-se AMARAL (2022); e AMARAL (2019), p. 286. Convém ter em mente,
no entanto, que a adoção do Euro, e os termos em que isso aconteceu, foram escolhas políticas.
[6] Pelo contrário, a UE por enquanto insiste, a meu ver muito erradamente, que as reformas
estão a ser implementadas, que já se notam melhorias institucionais, que as partes interessadas locais
(stakeholders) elogiam as reformas modelares do governo, e que apenas há problemas devido a
recursos limitados, mas que o PRR vai ajudar. Veja-se COMISSÃO EUROPEIA (2023).
[7] Relativamente ao primeiro ponto, isto é, o da seleção negativa, a questão é simples: noutro
contexto os protagonistas defenderiam políticas diferentes, fossem os mesmos ou outros.
[8] Lendo-se aí que «os versos hoje são mais filhos da tradição, do que da natureza e da arte».
Veja-se ANTT, Manuscritos da Livraria, n.º 1072 (23), fls. 291-295v.
Para saber mais
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«Este é um livro fascinante, corajoso, frontal, sem papas nas línguas, que
se lê com muito proveito e nos estimula a reflexão crítica sobre Portugal,
desconstruindo poderosos estereótipos do nosso passado. Podemos não
concordar com tudo, nomeadamente com alguns juízos categóricos, mas a
sua arguta perspetiva analítica, fundada em fontes primárias e estatística
histórica, é uma pedrada no charco de algum unanimismo académico ou
acriticismo cultural que tem secado o debate crítico sobre a história de
Portugal e dos nossos mitos e juízos simplificados.
Estamos diante de um livro importante de um historiador emergente que,
estando fora a ensinar em Inglaterra, ensaia uma hermenêutica sem medo de
retaliações académicas nem dos “clientelismos” de carreira. Saúdo
vivamente a publicação deste livro e espero que contribua para “estalar o
verniz” e inaugurar um debate, que nos falta, aberto, sério e reconfigurador
das nossas visões cristalizadas sobre a história do nosso país.»
– José Eduardo Franco, Professor Catedrático da Universidade Aberta e
Coordenador do Programa Doutoral em Estudos Globais
«Brilhante e incisivo, o livro de Nuno Palma obriga a olhar para a velha
questão do “atraso português” com olhos novos. O que torna muitas das
interpretações deste ensaio especialmente provocadoras e relevantes não é
apenas o facto de contrariarem ideias feitas, mas sobretudo a circunstância
de estarem apoiadas em evidência empírica muito sólida. O debate acerca
das origens do nosso atraso não terminou, mas Nuno Palma elevou-o a um
nível de rigor e exigência académica que nunca tinha tido antes.»
– Henrique Leitão, Pró-Reitor da Universidade de Lisboa e Prémio
Pessoa 2014
Landmarks
1. Cover
2. Title-Page
3. Table of Contents
4. Bibliography
5. Acknowledgments