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DOCUMENTO 135

João Batista
[Comissão de Medianeiros]

Introdução

João Batista nasceu em 25 de março do ano 7 a.C., segundo a promessa que Gabriel havia feito à Isabel em junho do
ano anterior. Durante cinco meses, Isabel guardou em segredo a visita de Gabriel; e quando disse a seu marido
Zacarias, ele ficou muito perturbado e só acreditou completamente em seu relato depois dele ter um sonho notável,
umas seis semanas antes do nascimento de João. Excetuando a visita de Gabriel à Isabel e do sonho de Zacarias, não
houve nada de estranho nem sobrenatural em relação ao nascimento de João Batista.
p1496:2 135:0.2 No oitavo dia, João foi circuncidado de acordo com o costume judeu. Dia após dia e ano após ano, ele
crescia como um menino normal no pequeno povoado conhecido naquela época com o nome de Cidade de Judá, a
umas quatro milhas ao oeste de Jerusalém.
p1496:3 135:0.3 O acontecimento mais memorável da primeira infância de João foi a visita, em companhia de seus
pais, a Jesus e à família de Nazaré. Esta visita ocorreu no mês de junho do ano 1 a.C., quando ele tinha um pouco mais
de seis anos de idade.
p1496:4 135:0.4 Depois deles retornarem de Nazaré, os pais de João começaram com a educação sistemática do
rapaz. Neste pequeno povoado não havia escola da sinagoga; entretanto, visto que Zacarias era um sacerdote, ele era
muito bem instruído, e Isabel era muito mais culta que a média das mulheres da Judéia; ela também era do sacerdócio,
sendo uma descendente das «filhas de Aarão». Como João era filho único, seus pais dispensaram muito tempo em sua
educação mental e espiritual. Zacarias só tinha curtos períodos de serviço no templo de Jerusalém, de maneira que
dedicou uma grande parte de seu tempo a instruir seu filho.
p1496:5 135:0.5 Zacarias e Isabel possuíam uma pequena granja onde criavam ovelhas. Dificilmente tiravam o sustento
desta propriedade, mas Zacarias recebia uma pensão regular dos fundos do templo dedicados aos sacerdotes.

João Faz-se Nazareno

p1496:6 135:1.1 Não havia escola na qual João se graduasse com a idade de quatorze anos, mas seus pais haviam
escolhido este ano como o mais apropriado para que recebesse seus votos oficiais de nazareno. Consequentemente,
Zacarias e Isabel levaram seu filho a En-Gedi, na descida do Mar Morto. Esta era a sede da irmandade nazarena no sul,
e ali o rapaz foi devida e solenemente admitido nesta ordem para toda a vida. Depois dessas cerimônias e de fazer os
votos de abster-se de toda bebida alcoólica, deixar crescer o cabelo e não tocar os mortos, a família dirigiu-se a
Jerusalém, onde João completou, diante do templo, as oferendas que se exigiam dos que recebiam os votos nazarenos.

p1496:7 135:1.2 João fez os mesmos votos vitalícios que foram ministrados a seus ilustres predecessores, Sansão e o
profeta Samuel. Uma vida nazarena era considerada como uma personalidade sacrossanta. Os judeus consideravam a
um nazareno com quase o mesmo respeito e veneração que ao sumo sacerdote, e que não era de se estranhar, posto
que os nazarenos consagrados para toda a vida eram as únicas pessoas, além dos sumos sacerdotes, a quem eram
permitidos entrar no santo dos santos do templo.

p1497:1 135:1.3 João regressou de Jerusalém à sua casa para cuidar das ovelhas de seu pai, e cresceu e converteu-se
em um homem forte com um caráter nobre.

p1497:2 135:1.4 Aos dezesseis anos, como resultado de leituras acerca de Elias, João ficou muito impressionado com o
profeta do Monte Carmelo e decidiu adotar sua maneira de se vestir. A partir daquele dia, João vestiu sempre um
vestido coberto de pelo com um cinturão de couro. Aos dezesseis anos já estava com mais de um metro e oitenta e
quase era um completo adulto. Com seus cabelos soltos e sua maneira peculiar de vestir, ele era realmente um jovem
pitoresco. E seus pais esperavam grandes coisas de seu único descendente, um filho da promessa e nazareno para
toda a vida.

A Morte de Zacarias

p1497:3 135:2.1 Depois de uma enfermidade que durou vários meses, Zacarias morreu em julho do ano 12 d.C, quando
João acabava de cumprir os dezoito anos de idade. Foi um momento de grande dificuldade para João, pois o voto
nazareno proibia o contato com os mortos, mesmo os de sua própria família. Ainda que João se esforçava em cumprir
com as restrições de seu voto quanto à contaminação dos mortos, ele duvidava que estivesse submetido totalmente aos
requisitos da ordem nazarena; por isso, depois do enterro de seu pai, ele foi a Jerusalém onde, na extremidade
nazarena do átrio das mulheres, ele ofereceu os sacrifícios requeridos para sua purificação.

p1497:4 135:2.2 Em setembro deste ano, Isabel e João fizeram uma viagem a Nazaré para visitar Maria e Jesus. João
estava quase decidido a começar a obra de sua vida, mas sentiu-se induzido, não só pelas palavras de Jesus senão
também por seu exemplo, a regressar ao lar, cuidar de sua mãe e esperar «que chegasse a hora do Pai». Depois de
despedir-se de Jesus e de Maria ao final desta agradável visita, João não viu novamente a Jesus até o momento de seu
batismo no Jordão.

p1497:5 135:2.3 João e Isabel regressaram a seu lar e começaram a fazer planos para o futuro. Como João negava-se
a aceitar a pensão de sacerdote dos fundos do templo que lhe era devido, ao cabo de dois anos eles haviam perdido
tudo, menos sua casa; assim pois, decidiram dirigir-se para o sul com seu rebanho de ovelhas. Consequentemente, o
verão em que João fez vinte anos testemunhou sua mudança para o Hebrom. João cuidou de suas ovelhas no
chamado «deserto da Judéia», perto de um riacho que era afluente de uma rio maior, que desembocava no Mar Morto
pelo En-Gedi. A colônia de En-Gedi incluía não somente aos nazarenos consagrados por toda vida ou por um período
determinado, mas também a outros numerosos pastores ascéticos que se congregavam nesta região com seus
rebanhos e fraternizavam com a irmandade dos nazarenos. Viviam da cria das ovelhas e das doações que os judeus
ricos faziam à ordem.

p1497:6 135:2.4 À medida que o tempo passava, João retornava cada vez menos ao Hebrom, e visitava En-Gedi com
maior freqüência. Ele era tão absolutamente diferente da maioria dos nazarenos, que lhe resultava muito difícil
fraternizar completamente com a irmandade. Mas ele tinha um grande afeto por Abner, o reconhecido chefe e dirigente
da colônia de En-Gedi.

A Vida de um Pastor

p1497:7 135:3.1 Ao longo do vale deste riacho, João construiu não menos que uma dúzia de refúgios de pedra e de
currais noturnos, à base de pedras empilhadas, de onde podia vigiar e proteger seus rebanhos de ovelhas e cabras. A
vida de João como pastor, deixava-lhe muito tempo livre para pensar. Ele conversava muito com Ezda, um menino
órfão de Bet-Zur, a quem de certo modo, havia adotado e que cuidava dos rebanhos quando João ia ao Hebrom para
ver sua mãe e vender ovelhas, e também quando descia a En-Gedi para os ofícios do sábado. João e o rapaz viviam de
maneira muito simples, sobrevivendo de carne de cordeiro, leite de cabra, mel silvestre e dos gafanhotos comestíveis
daquela região. Esta dieta habitual era complementada, de vez em quando, com as provisões que traziam do Hebrom e
En-Gedi.

p1498:1 135:3.2 Isabel mantinha João informado dos assuntos da Palestina e do mundo, e a convicção dele de que
estava se aproximando rapidamente o momento em que a antiga ordem das coisas estava por terminar, crescia mais e
mais intensamente; que ele se converteria no precursor da chegada de uma nova era, «o reino dos céus». Este rude
pastor tinha uma grande predileção pelos escritos do profeta Daniel. Havia lido mil vezes a descrição que Daniel fazia
da grande estátua, na que Zacarias lhe havia dito que representava a história dos grandes reinos do mundo,
começando pela Babilônia, e depois Pérsia, Grécia e finalmente Roma. João dava-se conta de que Roma já estava
composta daqueles povos e raças poliglotas, que nunca poderia converter-se em um império com bases sólidas e
firmemente consolidada. Acreditava que Roma estava até então dividida, como Síria, Egito, Palestina e outras
províncias; e então continuou a ler que «nos dias destes reis, o Deus do céu estabelecerá um reino que nunca será
destruído. E este reino não será entregue a outros povos, mas quebrará em pedaços e destruirá a todos esses reinos, e
subsistirá para sempre». «E entregaram-lhe um domínio, glória e um reino, para que todos os povos, nações e línguas
pudessem servir-lhe. Seu domínio é um domínio perpétuo que nunca perecerá, e seu reino nunca será destruído.» «E o
reino, o domínio e a grandeza do reino que estão por debaixo de todos os céus, serão entregues ao povo dos santos do
Altíssimo, cujo reino é um reino eterno, e todos os domínios lhe servirão e lhe obedecerão.»

p1498:2 135:3.3 João nunca foi completamente capaz de elevar-se acima da confusão causada pelo que havia ouvido
de seus pais sobre Jesus e estas passagens que lia nas escrituras. No livro de Daniel ele leu: «Tive umas visões
noturnas, e contemplei a alguém semelhante ao Filho do Homem que vinha com as nuvens do céu, e entregaram-lhe
um domínio, a glória e um reino.» Mas estas palavras do profeta não combinavam com o que seus pais lhe haviam
ensinado. Nem sua conversa com Jesus, na época em que foi visitá-lo quando tinha dezoito anos, correspondia-se com
estas declarações das escrituras. Apesar desta confusão, sua mãe afirmou-lhe diante toda sua perplexidade que seu
primo distante, Jesus de Nazaré, era o verdadeiro Messias, que ele havia vindo para sentar-se no trono de Davi, e que
ele (João) se converteria em seu primeiro precursor e em seu principal apoio.

p1498:3 135:3.4 De tudo o que João escutara sobre o vício e a perversidade de Roma e a libertinagem e a esterilidade
moral do império, do que soubera das maldades de Herodes Antipas e dos governadores da Judéia, ele estava prestes
a acreditar que o final dos tempos estava iminente. Parecia a este nobre e rude filho da natureza que o mundo estava
maduro para o final da era do homem e o amanhecer da era nova e divina -o reino dos céus. No coração de João
crescia o sentimento de que ele seria o último dos antigos profetas e o primeiro dos novos. E vibrava honradamente
com o impulso crescente de sair e proclamar a todos os homens: «Arrependei-vos! Entendei-vos bem com Deus!
Preparem-se para o fim; preparai-vos para a aparição da nova e eterna ordem das coisas terrestres, o reino dos céus».

A Morte de Isabel

p1499:1 135:4.1 Em 17 de agosto do ano 22 d.C, quando João tinha vinte oito anos de idade, sua mãe faleceu
repentinamente. Como os amigos de Isabel conheciam as restrições nazarenas a respeito do contato com os mortos,
incluídos os da própria família, eles fizeram todos os arranjos para o enterro de Isabel antes de mandarem buscar por
João. Quando ele recebeu a notícia da morte de sua mãe, ele ordenou a Ezda que levasse seus rebanhos a En-Gedi e
partiu para o Hebrom.

p1499:2 135:4.2 Ao regressar a En-Gedi depois do funeral de sua mãe, doou seus rebanhos à irmandade e afastou-se
do mundo exterior por um tempo enquanto jejuava e orava. João só conhecia os métodos antigos para aproximar-se da
divindade; só conhecia as histórias de Elias, Samuel e Daniel. Elias era seu ideal como profeta. Elias foi o primeiro
educador de Israel a ser considerado como um profeta, e João acreditava sinceramente que ele mesmo seria o último
desta longa e ilustre linhagem de mensageiros do céu.

p1499:3 135:4.3 João viveu em En-Gedi durante dois anos e meio, e persuadiu à maioria da irmandade de que
«aproximava-se o fim da era», de que «o reino dos céus estava prestes a surgir». E todos os seus primeiros
ensinamentos estavam baseados na idéia e no conceito correntes que os judeus tinham de um Messias prometido à
nação judaica, como o libertador da dominação de seus governantes gentios.

p1499:4 135:4.4 Durante todo este período, João leu bastante os escritos sagrados que encontrou no lar dos nazarenos
de En-Gedi. Ele ficou especialmente impressionado por Isaías e por Malaquias, o último dos profetas até aquele
momento. Leu e releu os últimos cinco capítulos de Isaías, e acreditou naquelas profecias. Então leria em Malaquias:
«Observe, enviar-vos-ei Elias, o profeta, antes que chegue o grande e terrível dia do Senhor; e ele orientará o coração
dos pais para os filhos e o coração dos filhos para seus pais, para que eu não venha castigar a Terra com uma
maldição.» E foi somente esta promessa de Malaquias de que Elias retornaria, o que impediu João de sair a predicar
sobre o reino vindouro, e a exortar seus compatriotas judeus a escapar da ira por vir. João estava maduro para
proclamar a mensagem do reino vindouro, mas esta esperança de que Elias regressaria o reteve durante mais de dois
anos. Sabia que ele não era Elias. O que queria dizer Malaquias? Sua profecia era literal ou figurada? Como podia
conhecer a verdade? Finalmente atreveu-se a pensar que, posto que o primeiro profeta havia se chamado Elias, o
último também devia ser conhecido, no final das contas, pelo mesmo nome. Entretanto, tinha dúvidas, dúvidas
suficientes para impedir-lhe de chamar-se a si mesmo de Elias.

p1499:5 135:4.5 Foi a influência de Elias a que fez que João adotasse seus métodos de ataque direto e áspero contra
os pecados e os vícios de seus contemporâneos. Tentou vestir-se como Elias e procurou falar como Elias; em todo seu
aspecto exterior parecia-se ao antigo profeta. Era um filho da natureza quase tão forte e pitoresco, quanto corajoso
predicador da retitude. João não era analfabeto, conhecia bem as sagradas escrituras judias, mas tinha pouca cultura.
Era um pensador transparente, um orador poderoso e um denunciador ardente. Dificilmente ele era um exemplo para
sua época, mas era uma censura eloqüente.

p1499:6 135:4.6 Finalmente, ele elaborou um método para proclamar a nova era, o reino de Deus; decidiu que seria o
precursor do Messias; dissipou todas as dúvidas e partiu de En-Gedi, um dia de março do ano 25 d.C, para começar
sua curta, porém brilhante carreira como predicador público.

O Reino de Deus

p1500:1 135:5.1 Para compreender a mensagem de João, deve-se levar em conta o estado do povo judeu no momento
em que ele apareceu em cena. Durante cerca de cem anos, todo Israel se encontrava num labirinto; eles não
conseguiam explicar sua contínua submissão aos soberanos gentios. Moisés não havia ensinado que a retitude sempre
era recompensada com a prosperidade e o poder? Eles não eram o povo eleito de Deus? Por que o trono de Davi
estava abandonado e vago? À luz das doutrinas mosaicas e dos preceitos dos profetas, os judeus encontravam
dificuldades em explicar sua prolongada aflição nacional.

p1500:2 135:5.2 Cerca de cem anos antes dos tempos de Jesus e de João, uma nova escola de educadores religiosos
havia surgido na Palestina, a dos apocalípticos. Estes novos instrutores desenvolveram um sistema de crença que
explicava os sofrimentos e a humilhação dos judeus sobre a base de que estavam pagando as penalidades dos
pecados da nação. Recorriam às razões bem conhecidas destinadas a explicar o cativeiro na Babilônia e em outros
lugares em tempos passados. Mas, segundo ensinavam os apocalípticos, Israel devia criar coragem; os dias de sua
aflição quase haviam terminado; o castigo do povo eleito de Deus estava quase terminado; a paciência de Deus com os
estrangeiros gentios estava quase esgotada. O fim do poderio de Roma era sinônimo do final da era e, em certo
sentido, do fim do mundo. Estes novos educadores apoiavam-se amplamente nas predições de Daniel, e ensinavam
consistentemente que a criação estava prestes a entrar em sua etapa final; os reinos deste mundo estavam a ponto de
converter-se no reino de Deus. Para a mente dos judeus daquela época, este era o significado da expressão -- reino
dos céus -- que figura em todas os ensinamentos de João e de Jesus. Para os judeus da Palestina, a frase «o reino dos
céus» só tinha um significado: um estado absolutamente justo em que Deus (o Messias) governaria as nações da Terra
com a mesma perfeição de poder com que governava no céu -«Sua vontade será feita na Terra assim como no céu».

p1500:3 135:5.3 Nos tempos de João, todos os judeus perguntavam-se com ansiedade: «Quanto tardará em chegar o
reino?» Existia o sentimento geral de que o poder das nações gentias estava se aproximando de seu fim. Em todo o
mundo judeu estava presente a viva esperança e a expectativa ansiosa de que a consumação do desejo de todos os
séculos se produziria durante a vida daquela geração.

p1500:4 135:5.4 Embora os judeus diferiam muito em suas estimativas sobre a natureza do reino vindouro, eles tinham
a mesma crença de que o acontecimento era iminente, de que estava próximo, próximo mesmo. Muitos dos que liam o
Antigo Testamento literalmente, aguardavam com expectativa por um novo rei na Palestina, por uma nação judaica
regenerada, livre de seus inimigos e governada pelo sucessor do rei Davi, o Messias, que seria rapidamente
reconhecido como o soberano justo e legítimo do mundo inteiro. Um outro grupo de judeus piedosos, menor, tinha uma
visão muito distinta deste reino de Deus. Ensinavam que o reino vindouro não era deste mundo, que o mundo estava se
aproximando a seu fim evidente, e que «um novo céu e uma nova terra» anunciariam o estabelecimento do reino de
Deus; que este reino seria um domínio interminável, que se poria fim ao pecado e que os cidadãos do novo reino se
tornariam imortais desfrutando desta felicidade sem fim.

p1500:5 135:5.5 Todos estavam de acordo que alguma limpeza drástica ou uma purificação disciplinadora precederia
necessariamente ao estabelecimento do novo reino na Terra. Os literalistas ensinavam que sucederia uma guerra
mundial que destruiria a todos os incrédulos, enquanto que os fiéis conseguiriam uma vitória universal e eterna. Os
espiritualistas ensinavam que o reino seria introduzido pelo grande juízo de Deus, que relegaria aos iníquos a seu juízo
de castigo bem merecidos e à sua destruição final, e ao mesmo tempo elevaria aos santos crentes do povo eleito aos
tronos de honra e de autoridade junto ao Filho do Homem, o qual reinaria em nome de Deus sobre as nações
redimidas. E este último grupo acreditava inclusive que muitos gentios piedosos poderiam ser admitidos na irmandade
do novo reino.

p1501:1 135:5.6 Alguns judeus tinham a opinião de que Deus pudesse possivelmente estabelecer este novo reino
mediante uma intervenção direta e divina, mas a grande maioria acreditava que Ele interporia um intermediário que o
representasse, o Messias. E este era o único significado possível que a palavra Messias podia ter na mente dos judeus
da geração de João e de Jesus. Messias não podia referir-se de nenhuma maneira a alguém que se limitasse a ensinar
a vontade de Deus ou a proclamar a necessidade de uma vida de retitude. A todas as pessoas santas deste tipo, os
judeus davam-lhes o nome de profetas. O Messias seria mais que um profeta; o Messias traria o estabelecimento do
novo reino, o reino de Deus. Ninguém que deixasse de fazer isto podia ser o Messias no sentido tradicional judeu.

p1501:2 135:5.7 Quem seria este Messias? De novo, os educadores judeus discordavam. Os mais velhos aferravam-se
à doutrina do filho de Davi. Os mais jovens ensinavam que, visto que o novo reino era um reino celestial, o novo
soberano poderia ser também uma personalidade divina, alguém que tivesse estado sentado muito tempo à direita de
Deus no céu. E por muito estranho que possa parecer, os que concebiam assim ao soberano do novo reino não o
imaginavam como um Messias humano, não como um simples homem, mas como «o Filho do Homem» -um Filho de
Deus- um Príncipe celestial, que havia estado muito tempo esperando para assumir assim a soberania da terra
renovada. Este era o pano de fundo religioso do mundo judeu quando João saiu a proclamar: «Arrependei-vos, porque
o reino dos céus está próximo!»

p1501:3 135:5.8 Faz-se claro pois, que o anúncio de João sobre o reino vindouro tinha nada menos que meia dúzia de
significados diferentes na mente dos que escutavam sua predicação apaixonada. Porém, não obstante o significado que
eles atribuíam às expressões que João empregava, cada um destes diversos grupos que esperavam o reino dos judeus
ficava intrigado pelas proclamações deste predicador da retitude e do arrependimento, sincero, entusiasta e tosco,
porém eficaz, que exortava tão solenemente a seus ouvintes a «fugir da ira vindoura».

João Começa a Predicar

p1501:4 135:6.1 A princípios do mês de março do ano 25 d.C, João viajou ao redor da costa ocidental do Mar Morto e
subiu pelo rio Jordão contrário a Jericó, ao antigo vau pelo qual passaram Josué e os filhos de Israel quando entraram
pela primeira vez na terra prometida, e cruzando ao outro lado do rio, ele se instalou perto da entrada do vau e começou
a predicar às pessoas que atravessavam o rio em ambas direções. Este era o mais freqüentado de todos os
cruzamentos do Jordão.

p1501:5 135:6.2 Era evidente a todos os que ouviam a João, de que ele era mais do que um pregador. A grande
maioria dos que escutavam este homem estranho que havia surgido do deserto da Judéia, iam embora acreditando que
haviam ouvido a voz de um profeta. Não é de se espantar que a alma destes judeus, cansados e esperançosos,
ficassem profundamente agitadas por tal fenômeno. Nunca em toda a história judia, os piedosos filhos de Abraão
haviam desejado tanto «o consolo de Israel» nem esperado mais ardentemente «a restauração do reino». Jamais em
toda a história dos judeus, a mensagem de João, «o reino dos céus está próximo», teria causado um apelo tão profundo
e universal como no momento em que ele apareceu tão misteriosamente na margem deste cruzamento meridional do
Jordão.
p1502:1 135:6.3 Ele era pastor, como Amós. Estava vestido como o antigo Elias, e fulminava com suas admoestações e
lançava suas advertências com o «espírito e o poder de Elias». Não é surpreendente que este estranho predicador
criasse uma poderosa comoção em toda Palestina, à medida que os viajantes levavam por todas as partes a notícia de
sua predicação junto ao Jordão.

p1502:2 135:6.4 Existia ainda, uma outra e nova característica sobre o trabalho deste predicador nazareno: ele batizava
a cada um de seus crentes no Jordão «para a remissão dos pecados». Ainda que o batismo não era uma cerimônia
nova para os judeus, eles nunca haviam visto empregá-lo como João o fazia agora. Durante muito tempo, haviam tido o
costume de batizar assim aos prosélitos gentios para admiti-los na comunidade do pátio exterior do templo, mas nunca
foi pedido aos mesmos judeus que se submetessem ao batismo de arrependimento. Só decorreram quinze meses entre
o momento em que João começou a predicar e a batizar, e sua prisão e encarceramento por instigação de Herodes
Antipas, mas neste curto período de tempo ele batizou a muito mais de cem mil penitentes.

p1502:3 135:6.5 João predicou quatro meses no vau de Betânia, antes de partir para o norte subindo o Jordão.
Dezenas de milhares de ouvintes, alguns por curiosidade, mas muitos com sinceridade e seriedade, vieram escutá-lo de
todas partes da Judéia, Peréia e Samaria. Inclusive vieram alguns poucos da Galiléia.

p1502:4 135:6.6 Em maio deste ano, enquanto que ele ainda se demorava no vau de Betânia, os sacerdotes e os
levitas enviaram uma delegação para perguntar a João se pretendia ser o Messias, e em virtude de que autoridade
predicava. João respondeu a estes inquisidores dizendo: «Ide a dizer a vossos chefes que haveis ouvido 'a voz daquele
que clama no deserto', como expressou o profeta, dizendo: `Preparai o caminho do Senhor, endireitai uma senda para
nosso Deus. Todo vale será preenchido, toda montanha e toda colina serão demolidas; o terreno acidentado se tornará
plano, enquanto os lugares ásperos se converterão em um vale liso; e todo o gênero humano verá a salvação de
Deus.'»

p1502:5 135:6.7 João era um predicador heróico, mas carente de tato. Um dia quando estava pregando e batizando na
margem ocidental do Jordão, um grupo de fariseus e um número de saduceus adiantaram-se e apresentaram-se para o
batismo. Antes de conduzi-los até a água, João dirigiu-se a eles como grupo dizendo: «Quem vos avisou para que fujais
da ira vindoura, como as víboras ante o fogo? Eu vos batizarei, mas vos advirto que tenhais que produzir os frutos
dignos de um arrependimento sincero, se quiséreis receber a remissão de vossos pecados. Não me digais que Abraão
é vosso pai. Eu vos declaro que destas doze pedras que estão diante de vós, Deus é capaz de fazer surgir filhos dignos
de Abraão. O machado já está posto nas raízes mesmas das árvores. Toda árvore que não dê bom fruto está destinada
a ser cortada e lançada ao fogo.» (As doze pedras a que se referia eram as famosas pedras comemorativas erigidas
por Josué para recordar a passagem das «doze tribos» por este mesmo ponto quando entraram pela primeira vez na
terra prometida.)

p1502:6 135:6.8 João dava aulas a seus discípulos, no decurso das quais lhes instruía sobre os detalhes de sua nova
vida e procurava responder às suas numerosas perguntas. Aconselhava aos educadores que ensinassem o espírito
assim como a lei escrita. Orientava aos ricos que alimentassem aos pobres; aos arrecadadores de impostos dizia: «Não
extorquis mais do que vos é designado.» Aos soldados dizia: «Não exerçais a violência e não exijais nada injustamente
-contentai-vos com vosso salário.» E a todo o mundo aconselhava: «Preparai-vos para o final da era -o reino dos céus
está próximo.»

João Viaja para o Norte

p1503:1 135:7.1 João tinha todavia, idéias confusas sobre o reino vindouro e seu rei. Quanto mais predicava, mais
confuso ficava, mas esta incerteza intelectual sobre a natureza do reino vindouro nunca diminuiu no mais mínimo sua
convicção de certeza no aparecimento imediato do reino. João podia estar confuso em sua mente, mas nunca em
espírito. Não tinha nenhuma dúvida sobre a chegada do reino, mas estava longe de estar seguro se Jesus seria ou não
o soberano deste reino. Enquanto João aferrava-se à idéia da restauração do trono de Davi, os ensinamentos de seus
pais de que Jesus, nascido na Cidade de Davi, seria o libertador tanto tempo esperado, pareciam-lhe consistentes; mas
nos momentos em que se inclinava mais para a doutrina de um reino espiritual e o final da era temporal na Terra, ficava
com grandes dúvidas sobre o papel que Jesus teria em tais acontecimentos. Às vezes questionava tudo, mas não por
muito tempo. Desejava realmente poder falar de tudo isto com seu primo, mas isso era contrário ao acordo estabelecido
entre eles.

p1503:2 135:7.2 À medida que João viajava para o norte, pensava muito em Jesus. Deteve-se em mais de uma dúzia
de lugares enquanto viajava Jordão acima. Foi em Adão onde, fez referência pela primeira vez a «outro que tem de vir
depois de mim» em resposta à pergunta direta que seus discípulos fizeram-lhe «És tu o Messias?». E continuou
dizendo: «Depois de mim virá um que é maior do que eu, de quem eu não sou digno de inclinar-me para desatar as
correias de suas sandálias. Eu vos batizo com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo. Ele tem em sua mão a
pá para limpar completamente sua eira; ele recolherá o trigo em seu granjeiro, mas queimará a palha com o fogo do
juízo.»

p1503:3 135:7.3 Em resposta às perguntas de seus discípulos, João continuou ampliando seus ensinamentos,
acrescentando dia após dia mais informação útil e confortante, se comparada à sua enigmática mensagem inicial:
«Arrependei-vos e sede batizados.» Nesta época a multidão estava chegando da Galiléia e de Decápolis. Dezenas de
crentes sinceros permanecessem, dia após dia, junto a seu adorado mestre.

O Encontro de Jesus e de João

p1503:4 135:8.1 No mês de dezembro do ano 25 d.C, quando João chegou às proximidades de Pela em sua viagem
Jordão acima, sua fama havia se estendido por toda Palestina, e sua obra havia se tornado no tema principal da
conversa de todas as cidades próximas ao Lago da Galiléia. Jesus havia falado favoravelmente da mensagem de João,
e isto fez com que muitos habitantes de Cafarnaum se unissem ao culto de arrependimento e de batismo de João.
Tiago e João, os filhos pescadores de Zebedeu, haviam descido em dezembro, pouco depois de que João se instalou a
predicar perto de Pela, e haviam se oferecido para o batismo. Iam ver João uma vez por semana, e traziam a Jesus as
notícias diretas e recentes da obra do evangelista.

p1503:5 135:8.2 Tiago e Judá, os irmãos de Jesus, haviam falado em ir até João para o batismo; e agora que Judá
havia vindo a Cafarnaum para os ofícios do sábado, depois de escutar o discurso de Jesus na sinagoga, tanto ele como
Tiago decidiram pedir-lhe conselho a respeito de seus planos. Isto aconteceu na noite do sábado 12 de janeiro do ano
26 d.C. Jesus pediu-lhes que adiassem a discussão até o dia seguinte, quando lhes daria sua resposta. Dormiu muito
pouco aquela noite, pois esteve em estreita comunhão com o Pai celestial. Havia combinado em almoçar com seus
irmãos ao meio-dia e aconselhar-lhes a respeito do batismo de João. Aquele domingo pela manhã, Jesus estava
trabalhando como de costume no estaleiro. Tiago e Judá haviam chegado com o almoço e o estavam esperando no
armazém de madeira, pois ainda não havia chegado a hora do recesso do meio-dia, e sabiam que Jesus era muito
formal nestas questões.

p1504:1 135:8.3 Pouco antes da pausa do meio-dia, Jesus deixou suas ferramentas, tirou seu avental de trabalho e
anunciou simplesmente aos três trabalhadores que estavam com ele na oficina: «Chegou minha hora.» Foi até seus
irmãos Tiago e Judá, repetindo: «Chegou minha hora -vamos ver João.» E eles partiram imediatamente para Pela,
almoçando enquanto viajavam. Isto ocorreu no domingo 13 de janeiro d.C. Detiveram-se para passar a noite no vale do
Jordão e chegaram ao lugar onde João estava batizando, por volta do meio-dia do dia seguinte.

p1504:2 135:8.4 João acabava de começar a batizar aos candidatos do dia. Uma vintena de penitentes formavam fila
esperando sua chance, quando Jesus e seus dois irmãos ocuparam seu lugar nesta fila de homens e mulheres sinceros
que se haviam feito crentes na pregação de João sobre o reino vindouro. João havia perguntado por Jesus aos filhos de
Zebedeu. Estava inteirado dos comentários de Jesus sobre sua predicação, e dia após dia esperava vê-lo chegar
naquele lugar, mas não havia imaginado encontrá-lo na fila dos candidatos ao batismo.

p1504:3 135:8.5 Como estava absorto com os detalhes de batizar rapidamente a um número tão elevado de conversos,
João não levantou a vista para ver Jesus até que o Filho do Homem pôs-se em sua imediata presença. Quando João
reconheceu Jesus, interrompeu as cerimônias por alguns momentos enquanto saudava a seu primo carnal e
perguntava-lhe: «Mas por que desces até a água para saudar-me?» E Jesus respondeu: «Para submeter-me a teu
batismo.» E João replicou: «Mas sou eu quem necessita ser batizado por ti. Por que vens até mim?» E Jesus sussurrou
a João: «Seja indulgente comigo agora, pois convém que demos este exemplo a meus irmãos que estão aqui comigo, e
para que as pessoas possam saber que chegou minha hora.»

p1504:4 135:8.6 A voz de Jesus tinha um tom determinado e com autoridade. João tremia de emoção ao preparar-se
para batizar Jesus de Nazaré no Jordão, ao meio-dia da segunda-feira 14 de janeiro do ano 26 d.C. Dessa forma João
batizou Jesus e a seus dois irmãos, Tiago e Judá. E quando João batizou aos três, dispensou aos demais para outro
dia, anunciando que retomaria os batismos ao meio-dia do dia seguinte. Enquanto o povo partia, os quatro homens, que
ainda permaneciam na água, ouviram um som estranho, e ato contínuo produziu-se uma aparição durante uns instantes
imediatamente acima da cabeça de Jesus, e ouviram uma voz que dizia: «Este é meu filho amado em quem estou bem
comprazido.» Uma grande mudança produziu-se no semblante de Jesus, e saindo da água em silêncio despediu-se
deles, dirigindo-se para as colinas do leste. E ninguém o viu novamente durante quarenta dias.

p1504:5 135:8.7 João acompanhou Jesus a uma distância suficiente para contar-lhe a história da visita de Gabriel à sua
mãe antes de que nascessem os dois, tal como havia escutado tantas vezes dos lábios de sua mãe. Deixou que Jesus
continuasse seu caminho, depois de ter-lhe dito: «Agora sei com segurança que tu és o Libertador.» Mas Jesus não
respondeu.

Quarenta Dias de Predicação

p1505:1 135:9.1 Quando João regressou para seus discípulos (agora ele havia uns vinte cinco ou trinta que viviam
constantemente com ele), os encontrou em uma séria reunião, discutindo o que acabava de suceder em relação ao
batismo de Jesus. Ficaram muito mais assombrados quando João contou-lhes agora a história da visita de Gabriel a
Maria antes de Jesus nascer, e também que Jesus não lhe disse nenhuma palavra depois de falar-lhe acerca disto.
Aquela noite não choveu, e este grupo de trinta pessoas ou mais conversou longamente sob a noite estrelada.
Perguntavam-se onde Jesus havia ido e quando o veriam novamente.
p1505:2 135:9.2 Depois da experiência deste dia, a pregação de João adquiriu um novo tom de certeza em suas
proclamações a respeito do reino vindouro e ao Messias esperado. Estes quarenta dias de espera, aguardando o
regresso de Jesus, foram um período de tensão. Mas João continuou predicando com grande força, e seus discípulos
começaram a predicar aproximadamente nesta época às multidões transbordantes que se amontoavam ao redor de
João às margens do Jordão.

p1505:3 135:9.3 No decorrer destes quarenta dias de espera, numerosos rumores esparziram-se pelo país, chegando
inclusive até Tiberíades e Jerusalém. Milhares de pessoas passavam pelo acampamento de João para ver a nova
atração, o famoso Messias, mas Jesus não estava à vista. Quando os discípulos de João afirmavam que o estranho
homem de Deus havia ido às colinas, muitos duvidavam de toda a história.

p1505:4 135:9.4 Cerca de três semanas depois que Jesus os deixou, uma nova delegação de sacerdotes e fariseus de
Jerusalém chegou naquele lugar de Pela. Perguntaram diretamente a João se ele era Elias ou o profeta que Moisés
prometera; e quando João disse, «Eu não sou», eles atreveram-se a perguntar, «És o Messias?», e João respondeu:
«Não o sou.» Então, estes homens de Jerusalém disseram: «Se não és Elias, nem o profeta, nem o Messias, então por
que batizas às pessoas, criando todo este alvoroço?» E João replicou: «Aqueles que têm me escutado e têm recebido
meu batismo podem dizer quem sou eu, mas eu vos afirmo que, embora eu batize com água, esteve entre nós aquele
que voltará para batizar-vos com o Espírito Santo.»

p1505:5 135:9.5 Estes quarenta dias foram um período difícil para João e seus discípulos. Quais seriam as relações
entre João e Jesus? Surgiam centenas de questões para discussão. A política e as preferências egoístas começaram a
aparecer. Brotaram violentas discussões acerca das diversas idéias e conceitos do Messias. Ele se converteria em um
chefe militar e em um rei como Davi? Destruiria aos exércitos romanos como Josué havia feito com os cananeus? Ou
viria para estabelecer um reino espiritual? João preferiu decidir, junto com a minoria, de que Jesus havia vindo para
estabelecer o reino dos céus, ainda que nem tudo estivesse claro em sua própria mente, tal para que fosse abraçado
exatamente dentro desta missão de estabelecer o reino dos céus.

p1505:6 135:9.6 Aqueles foram dias árduos na experiência de João, e orou para que Jesus regressasse. Alguns dos
discípulos de João organizaram grupos de busca para irem atrás de Jesus, mas João proibiu dizendo: «O tempo de
cada um de nós está nas mãos do Deus do céu; ele guiará a seu Filho eleito».

p1505:7 135:9.7 Foi no sábado 23 de fevereiro pela manhã cedo, que os companheiros de João, que estavam tomando
seu café da manhã, levantaram a vista para o norte, e observaram Jesus vindo até eles. Enquanto aproximava-se, João
subiu em uma grande rocha e, elevando sua voz sonora, disse: «Olhai ao Filho de Deus, o libertador do mundo! É dele
de quem tenho dito, `Depois de mim virá aquele que foi escolhido antes de mim, porque existia antes de mim'. Por esta
razão saí do deserto para predicar o arrependimento e batizar com água, proclamando que o reino dos céus está
próximo. E agora vem aquele que vos batizará com o Espírito Santo. Eu vi o espírito divino descer sobre este homem, e
ouvi a voz de Deus afirmar: `Este é meu filho amado em quem estou bem comprazido.'»

p1506:1 135:9.8 Jesus rogou-lhes que voltassem ao café da manhã, enquanto sentava-se para comer com João, pois
seus irmãos Tiago e Judá haviam regressado a Cafarnaum.

p1506:2 135:9.9 No dia seguinte pela manhã cedo, ele despediu-se de João e de seus discípulos, regressando à
Galiléia. Não lhes deu nenhuma indicação sobre quando o veriam de novo. Às perguntas de João acerca de sua própria
predicação e de sua missão, Jesus disse somente: «Meu Pai te guiará agora e no futuro como tem feito no passado.» E
estes dois grandes homens separaram-se àquela manhã às margens do Jordão, para nunca mais se verem novamente
na carne.

João Viaja para o Sul

p1506:3 135:10.1 Posto que Jesus havia ido ao norte para Galiléia, João sentiu-se induzido a voltar seus passos em
direção ao sul. Consequentemente, no domingo 3 de março pela manhã, João e o resto de seus discípulos
empreenderam sua viagem para o sul. Nesse meio tempo, aproximadamente uma quarta parte dos seguidores
imediatos de João haviam partido para Galiléia em busca de Jesus. Uma melancolia de confusão envolvia a João.
Nunca mais pregou como o havia feito antes de batizar Jesus. Sentia de alguma maneira que a responsabilidade do
reino vindouro já não estava sobre seus ombros. Sentia que sua obra estava quase terminada; estava desconsolado e
solitário. Mas predicava, batizava e seguiu viagem para o sul.

p1506:4 135:10.2 João deteve-se várias semanas perto do povoado de Adão, e foi aqui onde lançou seu ataque
memorável contra Herodes Antipas tomar ilegalmente a mulher de outro homem. Em junho deste ano (26d.C), João
estava de volta ao vau do Jordão em Betânia, onde havia começado sua predicação do reino vindouro há mais de um
ano atrás. Nas semanas que seguiram ao batismo de Jesus, o caráter da predicação de João mudou paulatinamente
numa proclamação de misericórdia para as pessoas comuns, enquanto que denunciava com renovada veemência a
corrupção dos dirigentes políticos e religiosos.

p1506:5 135:10.3 Herodes Antipas, em cujo território João havia estado predicando, ficou com medo de que seus
discípulos pudessem iniciar uma rebelião. Herodes também ressentia as críticas públicas de João sobre seus assuntos
familiares. Em vista de tudo isto, Herodes decidiu colocar João no cárcere. Consequentemente, em 12 de junho pela
manhã muito cedo, antes de que chegassem as multidões para escutar a predicação e presenciar os batismos, os
agentes de Herodes prenderam João. Como passavam as semanas sem que fosse libertado, seus discípulos
esparziram-se por toda Palestina, muitos deles foram à Galiléia para unir-se aos seguidores de Jesus.

João no Cárcere

p1506:6 135:11.1 João teve uma experiência solitária e um pouco amarga no cárcere. Poucos de seus discípulos foram
autorizados a visitá-lo. Anelava ver Jesus, mas teve que contentar-se em ouvir falar de sua obra através daqueles seus
discípulos que se tornaram crentes no Filho do Homem. Freqüentemente sentia-se tentado a duvidar de Jesus e de sua
missão divina. Se Jesus era o Messias, por que não fazia nada para libertá-lo desta insuportável reclusão? Por mais de
um ano e meio, este homem robusto habituado ao ar livre de Deus languesceu naquela desprezável prisão. E esta
experiência foi uma grande prova para sua fé em Jesus e para sua lealdade para com ele. Em verdade, toda esta
experiência foi uma grande prova inclusive para a fé de João em Deus. Muitas vezes esteve tentado a duvidar até da
autenticidade de sua própria missão e experiência.

p1507:1 135:11.2 Depois de ficar vários meses no cárcere, um grupo de seus discípulos veio ver-lhe, e depois de
informar-lhe sobre as atividades públicas de Jesus, disseram-lhe: «Então veja você, Mestre, aquele que esteve contigo
no alto Jordão, prospera e recebe a todos os que vêm até ele. Inclusive come nos festins com os publicanos e os
pecadores. Tu sofreste corajosamente em testemunho a ele, e entretanto, ele não faz nada para conseguir tua
libertação.» Mas João respondeu a seus amigos: «Este homem não pode fazer nada a menos que lhe seja determinado
por seu Pai que está nos céus. Recordai bem que tenho dito, `Eu não sou o Messias, mas fui enviado antes dele para
preparar seu caminho'. E isso é o que tenho feito. O que tem a noiva é o noivo, mas o amigo do noivo, que permanece
por perto e escuta a voz dele, regozija-se muito por causa disto. Minha alegria é pois completa. Ele deve aumentar e eu
diminuir. Eu sou desta terra e tenho proclamado minha mensagem. Jesus de Nazaré desceu do céu à Terra e está
acima de todos nós. O Filho do Homem descendeu de Deus, e proclamará as palavras de Deus. Porque o Pai que está
nos céus não entrega seu espírito para avaliar a seu próprio Filho. O Pai ama a seu Filho e logo porá todas as coisas
nas mãos deste Filho. O que crê no Filho tem a vida eterna. E estas palavras que digo são verdadeiras e
permanentes.»

p1507:2 135:11.3 Estes discípulos ficaram tão surpreendidos com a declaração de João que partiram em silêncio. João
também estava muito agitado, pois percebia que acabava de pronunciar uma profecia. Nunca mais duvidou
completamente da missão e da divindade de Jesus. Mas foi uma dolorosa desilusão para João a que Jesus não lhe
enviasse nenhuma mensagem, que não viesse a vê-lo e não utilizasse nenhum de seus grandes poderes para libertá-lo
do cárcere. Mas Jesus sabia de tudo isto. Amava muito a João, mas agora que estava inteirado de sua natureza divina,
e sabendo completamente das grandes coisas que se preparavam para João quando ele partisse deste mundo, e
sabendo também que a obra de João na Terra havia terminado, conteve-se para não intervir no desenvolvimento
natural da carreira deste grande predicador e profeta.

p1507:3 135:11.4 Esta longa tensão na prisão era humanamente insuportável. Muito poucos dias antes de sua morte,
João enviou de novo a uns mensageiros de confiança para que perguntassem a Jesus: «Está concluída minha obra?
Por que languesço no cárcere? És realmente o Messias ou temos que esperar outro?» E quando estes dois discípulos
entregaram a mensagem a Jesus, o Filho do Homem respondeu: «Voltai a João e diga-lhe que não o tenho esquecido,
mas que tolere por mim isto também, porque convém que cumpramos com toda a retitude. Contai a João o que tendes
visto e ouvido -que a boa nova é predicada aos pobres- e finalmente, dizei ao amado precursor de minha missão
terrestre que ele será abundantemente abençoado na era por vir, se ele resolver não duvidar e tropeçar por minha
causa». E estas foram as últimas palavras que João recebeu de Jesus. Esta mensagem o animou amplamente e
contribuiu muito a estabilizar sua fé e a prepará-lo para o trágico final de sua vida na carne, que sucedeu tão logo a esta
memorável ocasião.

A Morte de João Batista

p1508:1 135:12.1 Como João estava trabalhando no sul da Peréia no momento de ser preso, ele foi levado
imediatamente à prisão da fortaleza de Maqueronto, onde permaneceu encarcerado até sua execução. Herodes
governava na Peréia e na Galiléia, e nesta época mantinha sua residência na Peréia, tanto em Júlia como em
Maqueronto. Sua residência oficial da Galiléia havia sido trasladada de Séforis à Tiberíades, a nova capital.

p1508:2 135:12.2 Herodes tinha medo de libertar João a fim de que não provocasse uma rebelião. Temia executá-lo por
medo de que a multidão se amotinasse na capital, pois milhares de pereanos acreditavam que João era um santo, um
profeta. Por esta razão, Herodes mantinha no cárcere o predicador nazareno, sem saber que fazer com ele. João havia
comparecido várias vezes ante Herodes, mas nunca aceitou sair dos domínios de Herodes nem abster-se de toda
atividade pública se fosse libertado. E esta nova agitação em constante aumento, relacionada com Jesus de Nazaré,
advertia a Herodes que não era o momento adequado para colocá-lo em liberdade . Ademais, João era vítima também
do ódio intenso e amargo de Herodíades, a mulher ilegítima de Herodes.
p1508:3 135:12.3 Herodes falou com João em numerosas ocasiões sobre o reino dos céus, e ainda que às vezes ficou
seriamente impressionado com sua mensagem, tinha medo de libertá-lo da prisão.

p1508:4 135:12.4 Como ainda estavam se construindo muitos edifícios em Tiberíades, Herodes passava a maior parte
do tempo em suas residências da Peréia, e tinha predileção pela fortaleza de Maqueronto. Tiveram que passar vários
anos antes de que se terminassem completamente todos os edifícios públicos e a residência oficial de Tiberíades.

p1508:5 135:12.5 Na celebração de seu aniversário, Herodes organizou uma grande festa no palácio de Maqueronto
para seus oficiais principais e outras personalidades ilustres dos conselhos de governo da Galiléia e da Peréia. Como
Herodíades não havia conseguido levar a cabo a execução de João apelando diretamente a Herodes, ela dedicou-se
agora à tarefa de fazer-lhe morrer mediante um astuto plano.

p1508:6 135:12.6 No decurso das festividades e diversões da noite, Herodíades apresentou a sua filha para que
dançasse ante os comensais. Herodes ficou muito satisfeito com a atuação da donzela e, chamando-a ante ele, disse-
lhe: «És encantadora. Estou muito contente contigo. Peça-me no meu aniversário tudo o que desejes e eu te darei,
ainda que seja a metade de meu reino.» E quando Herodes disse tudo isto, encontrava-se sob o influxo de muitos
copos de vinho. A jovem retirou-se e perguntou à sua mãe o que devia pedir a Herodes. Herodíades disse-lhe: «Vá a
Herodes e peça-lhe a cabeça de João Batista.» E a jovem retornando à mesa do banquete, disse a Herodes: «Peço-te
que me dês imediatamente a cabeça de João Batista em uma bandeja.»

p1508:7 135:12.7 Herodes ficou cheio de medo e de tristeza, mas por causa de sua promessa e de todos os que se
sentavam a comer com ele, não quis negar o pedido. E Herodes Antipas enviou um soldado, ordenando-lhe que
trouxesse a cabeça de João. Assim foi como João foi decapitado àquela noite na prisão, o soldado trouxe a cabeça do
profeta em uma bandeja e deu à jovem no fundo da sala do banquete. E a donzela entregou a bandeja à sua mãe.
Quando os discípulos de João inteiraram-se disto, vieram à prisão para recolher seu corpo, e depois de sepultá-lo na
tumba, foram e contaram a Jesus.

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