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APRESENTAÇÃO

Mais uma vez, Samuel Whitefield estabelece um novo padrão de


pregação e ensinamento do que a Bíblia tem a dizer sobre o “fim
dos tempos”. Seu novo livro, Tudo será consumado, é um
maravilhoso tratado sobre uma série de textos bíblicos que precisam
ser lidos, entendidos e ensinados novamente nestes últimos dias
que precedem o retorno do nosso Senhor. Os leitores não ficarão
desapontados com este livro, uma vez que ele não trata o assunto
de maneira banal e cansativa. Pelo contrário, este livro produz uma
nova gama de percepções que, infelizmente, muitas vezes
permanecem adormecidas na Igreja. Eu exorto pastores e
professores das igrejas a adquirirem, o mais cedo possível, um
exemplar deste livro e darem início ao diálogo e à prática, conforme
o nosso Senhor nos orientou, para que possamos enfrentar os dias
que vêm pela frente, do fim dos tempos.
Dr. Walter C. Kaiser Jr., presidente emérito do Seminário Teológico
Gordon-Conwell

Samuel Whitefield fundamenta, com sucesso, a história e a


mensagem do “fim dos tempos” no contexto maior do glorioso plano
de redenção de Deus. Infelizmente, muitos cristãos sentem que as
questões relacionadas ao retorno de Jesus e ao fim dos tempos são
muito confusas, porque nunca entenderam a narrativa bíblica sob
uma visão mais abrangente. Seguindo a trilha harmoniosa das
alianças, promessas e planos de Deus, Samuel torna a conclusão
da narrativa e suas profundas implicações muito mais fáceis de
serem compreendidas. Quanto mais nos aproximamos do final da
história em que estamos inseridos, maior é a importância de
compreendê-la. Este livro ajudará grandemente qualquer cristão que
deseje não apenas entender a mensagem bíblica de forma mais
ampla como também cumprir seu papel nessa história, à medida
que ela se desdobra. Tudo será consumado é uma leitura altamente
recomendada.
Joel Richardson, autor best-seller do New York Times, palestrante e
cineasta

Tudo será consumado é uma leitura forte e perspicaz que provocará


e inspirará seu coração para o retorno de Jesus Cristo. Samuel tem
facilidade em "conectar os pontos", na mente do leitor, da grande
história de Deus, ao mesmo tempo que estimula a visão da Igreja
em relação aos próximos dias. Com tantas hipóteses e
especulações sobre o fim dos tempos sendo propagadas entre a
nossa geração, é revigorante ter um livro como este, que nos ajuda
a ancorar o coração na Palavra de Deus e nos prepara para
discipular e aconselhar outras pessoas nessas questões.
Jim Stern, pastor sênior da Destiny Church, St. Louis

Samuel Whitefield demonstra ser um pensador teológico muito


capaz. É maravilhoso poder incluí-lo na lista daqueles que
interpretam a Bíblia de uma maneira direta, de acordo com o
contexto original e o gênero literário. Que Deus acelere o alcance e
a influência deste livro.
Dr. Daniel C. Juster, autor e fundador da Tikkun International

Deus está levantando “pastores segundo o seu coração, que


apascentarão as pessoas com conhecimento e discernimento”, para
que seu coração seja fortalecido e sua mente tenha clareza para
entender o que Deus está fazendo na Terra nestes dias. Samuel
Whitefield é um dos pastores que Deus está usando para trazer o
entendimento de seu coração e de seus planos para nós. O assunto
do fim dos tempos compreende muito mais do que gráficos, tabelas
e cronogramas. Em última análise, é uma história, e quando você se
conecta a essa história, a fé, a esperança e o amor explodem em
seu coração e mente. Conheço Samuel Whitefield há dez anos e
posso testemunhar seu incansável trabalho para que o assunto do
fim dos tempos deixe de ser algo que somente os estudiosos
entendam, e passe a ser um assunto com o qual todo o corpo de
Cristo possa se envolver.
Corey Russell, autor e palestrante, UPPERROOM GLOBAL, Dallas

Samuel Whitefield estuda as Escrituras relacionadas ao fim dos


tempos há muitos anos, orando por discernimento e aprofundando o
sentido pleno do texto. Ao fazê-lo, ele nos desafia a mergulhar
nesses textos com ele e a responder à pergunta: “Como isso se
aplica a mim hoje?”. Ao estudar junto com Samuel, você será
desafiado, instruído e encorajado.
Dr. Michael L. Brown, presidente da Escola de Ministério FIRE, autor,
palestrante e apresentador do programa The Line of Fire

Mais uma vez, Samuel escreve de maneira cativante e acessível


sobre o grande plano redentor de Jesus para Israel e as nações,
que no Calvário teve o clímax e que culminará com sua segunda
vinda. Neste livro, Samuel ajuda os leitores a percorrerem a história
da redenção, utilizando uma metanarrativa clara com justificativas
bíblicas que sustentam a vinda de Jesus. Tudo será consumado é
um livro renovador e útil para quem deseja entender a missiologia e
a escatologia bíblica.
Daniel Lim, diretor do Centro de Estudos Bíblicos do Fim dos Tempos,
presidente da Casa Internacional de Oração de Kansas City (IHOPKC)
Dedicado a todos aqueles que incansavelmente
pastoreiam, ensinam e servem à Igreja de Cristo,
para que ela possa se tornar uma noiva pura e
imaculada, preparada para o retorno de seu noivo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha esposa, cujo trabalho e sacrifício nos


permitem realizar a tarefa que o Senhor nos deu.
Agradeço a todos os professores que investiram em minha vida
pessoalmente ou por meio do seu ministério. Não posso citar todos,
mas quero destacar alguns que tornaram este livro possível.
Agradeço primeiro a meu pai por ensinar fielmente os
fundamentos da fé e por ser um exemplo.
Obrigado a Janee Hawks por ser uma professora fiel da
Palavra e por abrir portas para eu ensinar.
Sou eternamente grato pela vida de Art Katz. A mensagem de
Art me ajudou a começar a entender o fim dos tempos,
incentivando-me a interpretar os profetas literalmente.
Obrigado a Mike Bickle por seu exemplo e pelo investimento de
sua vida em ensinar o que a Bíblia diz sobre o retorno de Jesus.
Sou eternamente grato.
Obrigado a Reggie Kelly. Você é um verdadeiro modelo em seu
compromisso com as Escrituras proféticas. Obrigado pelas horas de
conversa e os e-mails que me ajudaram a moldar o que é expresso
neste livro.
Obrigado a Bryan Purtle por sua amizade e contribuição neste
manuscrito. Sua contribuição fez uma diferença significativa no
manuscrito final.
Obrigado a Jason Chua por sua amizade e por dar nome a este
livro. Sem você, este livro ainda estaria sem nome.
Obrigado a Edie Mourey por seu trabalho neste manuscrito.
Seus esforços o melhoraram significativamente.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
PARTE 1: POR QUE ESTUDAR O RETORNO DE JESUS?
DUAS RAZÕES FUNDAMENTAIS PARA ESTUDAR O RETORNO DE JESUS
O RETORNO DE JESUS É PARTE INTEGRAL DO EVANGELHO
PARTE 2: AS PROMESSAS QUE TERÃO DE SER CUMPRIDAS –
PROMESSAS DE DEUS A ISRAEL E ÀS NAÇÕES
AS PROMESSAS QUE TERÃO DE SER CUMPRIDAS
COMO DEUS CUMPRIRÁ AS PROMESSAS
O FUTURO CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS
DEUS PRECISA CUMPRIR SUAS PROMESSAS
PARTE 3: O QUE PRECISA SER RESOLVIDO – A CRISE DA ALIANÇA
O DILEMA DA ALIANÇA COM ISRAEL
A DISCIPLINA DA ALIANÇA
A TENSÃO ENTRE AS ALIANÇAS
UMA NAÇÃO MODERNA COM UMA ALIANÇA ANTIGA
PARTE 4: A PROMESSA DE DEUS ÀS NAÇÕES
DEUS SEMPRE TEVE AS NAÇÕES EM MENTE
UMA GRANDE COLHEITA FINAL NAS NAÇÕES
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA IGREJA DO FIM DOS TEMPOS
PARTE 5: A GUERRA EM TORNO DAS PROMESSAS
O CONFLITO DO FIM DOS TEMPOS
JESUS E O JULGAMENTO DAS NAÇÕES
A MISSÃO ANTES DO FIM
COMO RESPONDER ÀS PROFECIAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOBRE O AUTOR
INTRODUÇÃO

Q uando Jesus morreu na cruz, ele clamou: “Está consumado!”.[1]


Em sua morte, Jesus fez o que anteriormente parecia
impossível: conquistou a redenção da humanidade e do cosmos.
Talvez, por causa da frase de Jesus, muitas pessoas pensam que a
cruz representa o cumprimento de todas as promessas de Deus,
mas isso não é o que a Bíblia ensina.
Em termos bíblicos, a cruz não cumpriu todas as promessas de
Deus, ela garantiu o seu cumprimento. Tragicamente,
negligenciamos muito do que a Bíblia diz sobre o cumprimento das
promessas de Deus. No entanto, toda a magnitude da obra da cruz
é revelada tanto no que foi cumprido quando Jesus morreu como
também no que se cumprirá nos eventos que marcarão um período
conhecido como o “fim dos tempos”.
Deus empenhou a própria honra em sua capacidade de garantir
o cumprimento de promessas específicas, e o plano de redenção
não estará concluído até que essas promessas sejam cumpridas.
De acordo com o apóstolo Paulo, não podemos nem imaginar o que
virá com o cumprimento de todas as promessas de Deus:
Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem
ouvidos ouviram, nem penetraram o coração humano, são as que
Deus preparou para os que o amam. 1 Coríntios 2.9
A expiação foi concluída na cruz, mas a história não terminou
ali. Tudo será consumado.

Deus está profundamente envolvido na história


A história da humanidade não consiste em uma série de
acontecimentos aleatórios. A Bíblia nos diz que Deus está
profundamente envolvido na história humana. Em sua narrativa de
redenção, ele está conduzindo a humanidade, de geração em
geração, a um desfecho predeterminado.
Deus é um grande contador de histórias, e o plano da redenção
é a história mais incrível já concebida. Como todas as grandes
histórias, o clímax acontece no fim. Mas o fim, que é o que
chamamos de “fim dos tempos”, pode se tornar confuso se você não
entender o panorama da história. No entanto, quando você
compreende a história da redenção através da lente das principais
promessas e alianças, o fim dos tempos se torna um desfecho
glorioso do plano de Deus nesta era.
Notáveis homens e mulheres da Bíblia foram motivados a fazer
imensos sacrifícios e a manifestar uma fé heroica porque ansiavam
pelo dia em que Deus cumpriria suas promessas e concluiria a
história. As profecias bíblicas sobre o fim da história deveriam ter
sobre nós o mesmo efeito que teve sobre os santos que vieram
antes. Deveríamos nos apegar à esperança que nos foi proposta,
mas muitas vezes deixamos de viver com esperança e expectativa
bíblica em relação ao fim dos tempos, porque estamos
desconectados da história.
Como qualquer boa história, o fim é a parte mais importante.
No entanto, muitos têm dificuldade de entender o final.
Normalmente, a razão para isso é que, embora conheçamos os
indivíduos e os eventos registrados na Bíblia, temos dificuldade de
conectá-los aos principais elementos que direcionam a história
bíblica. Quando não entendemos os elementos-chave da história, o
fim se torna confuso. No entanto, quando entendemos seus
principais elementos, o fim é simplesmente sua conclusão lógica. De
maneira semelhante, para entender completamente o evangelho,
precisamos entender o fim da história.
Muitas pessoas presumem que na cruz todas as promessas de
Deus foram cumpridas, mas isso não é verdade. A cruz garantiu o
cumprimento de todas as promessas de Deus, mas não cumpriu
todas elas. Portanto, para entender o que está por vir e reconhecer
o agir de Deus na Terra, precisamos saber o que ele iniciou e o que
precisa ser concluído. As promessas e alianças de Deus são os
principais elementos que conduzem a história em direção a um
desfecho. Quando identificamos como esses elementos orientam a
história, podemos entender melhor a obra redentora de Deus e o
papel que desempenhamos no desdobramento do seu plano.

Um momento sem precedentes


Vivemos um momento sem precedentes na história da humanidade.
Somos a primeira geração que pode dar testemunho do evangelho
para toda tribo, nação e língua. Cinquenta anos atrás, não sabíamos
quantos povos viviam na Terra e muito menos onde eles estavam
localizados. Na data da redação deste texto, sabemos onde cada
grupo étnico está, e os líderes da Igreja estão começando a se
concentrar estrategicamente em alcançar cada um deles. Não há
garantia de que a missão será cumprida em nossa geração, mas,
pela primeira vez na história humana, isso é possível. Trata-se de
um marco incrível porque a Bíblia prevê que esse testemunho
precisa ser dado antes que venha o fim.[2]
Além disso, fazemos parte da primeira geração na história da
humanidade em que Israel se tornou uma controvérsia global.
Embora Israel sempre tenha sido uma figura central na narrativa
bíblica, durante os tempos bíblicos, a grande maioria das nações
sequer sabia que Israel existia. Hoje, pela primeira vez na história,
Israel se tornou uma questão global que afeta as nações.
Essa ênfase global em Israel, e particularmente em Jerusalém,
não faz sentido de acordo com a lógica humana. Jerusalém não é
conhecida por ser um centro financeiro e comercial do mundo. Não
produz recursos naturais que impulsionam a economia global. Há
muito mais desafios humanitários na Terra do que o complexo
relacionamento de Israel com os palestinos. Embora as questões
em torno de Israel sejam importantes, existem conflitos muito
maiores na Terra. Esses outros conflitos recebem apenas uma
fração da atenção que Israel recebe.[3] A ênfase global em Israel
simplesmente não faz sentido quando não se leva em conta o que a
Bíblia ensina sobre um conflito final a respeito da salvação de Israel.
Viver em uma época em que um desses eventos estivesse
ocorrendo seria, por si só, algo fantástico, mas vivemos em um
tempo em que ambos os eventos estão ocorrendo simultaneamente
pela primeira vez na história. Trata-se de um momento inigualável e
inédito. Embora devamos evitar tentativas não bíblicas de prever
com exatidão o retorno de Jesus, o Novo Testamento nos instrui a
entender os tempos e as estações da Terra.[4]
Portanto, à medida que vemos os tempos e as estações
mudando, precisamos entender o plano redentor de Deus para que
possamos reconhecer seu agir na Terra e nos engajar plenamente
em sua missão.

A história — a chave para o fim


Não podemos entender o fim dos tempos focalizando apenas o fim
dos tempos. Isso seria como tentar entender um filme assistindo
apenas aos dez minutos finais. A chave para entender os principais
temas do fim dos tempos é conhecer os fundamentos da história
bíblica e como eles contribuem para o fim da história.
Quando você assiste a um filme, o fim é a conclusão lógica da
história. Ele pode conter algumas surpresas, mas faz sentido se
você entendeu seu início. A história prepara você para uma
conclusão dramática. Da mesma forma, a conclusão desvenda tudo
o que aconteceu antes. De certa forma, a conclusão é a parte mais
importante do filme, pois resolve o conflito e talvez revele todo o
sentido da história. O mesmo vale para a história da redenção.
Muitas vezes, o fim dos tempos parece confuso e estranho
porque não entendemos a história da redenção – a narrativa bíblica.
Portanto, para nós é fundamental ver o fim dos tempos como a
conclusão lógica dessa história. Precisamos conhecer a história do
plano redentor de Deus e como ele o conduz através dos principais
eventos da história.
Diferentes visões sobre o fim dos tempos levaram à produção
de muitos livros sobre o assunto, mas a maioria desses livros
descreve detalhes do fim dos tempos sem conectá-los à história da
redenção. O resultado é que muitos crentes ouviram descrições de
eventos do fim dos tempos, mas têm pouca compreensão do motivo
por que esses eventos devem acontecer e que papel desempenham
na história da redenção. Compreender como os eventos do fim dos
tempos se relacionam com a narrativa bíblica é necessário para que
possamos compreender plenamente o retorno de Jesus.
O retorno de Jesus pode parecer complicado quando não
entendemos sua conexão com a narrativa bíblica. Como alguns
crentes não entendem a narrativa, eles evitam completamente o
assunto da segunda vinda de Jesus, mesmo que ela seja um
componente central do evangelho. Outros cristãos abordam o fim
dos tempos essencialmente como um quebra-cabeça e se perdem
de tal forma nos detalhes que acabam se concentrando em gráficos
e tabelas, esquecendo-se de como o fim dos tempos está
relacionado com a missão de Deus, que está se desenvolvendo no
presente. A resposta para ambos os casos é situar o retorno de
Jesus no panorama geral da história, de modo que os eventos do
fim dos tempos se encaixem no contexto da narrativa bíblica.
Quando falhamos em ver o retorno de Jesus como parte da
narrativa bíblica, o fim dos tempos se torna um assunto mais trivial
do que missional. No entanto, a Bíblia é escrita como uma história
que se desenrola, um grande drama que cresce em intensidade, à
medida que cada parte da história conduz à próxima e os detalhes
desse drama são revelados para nos incitar a participar da missão
de Deus. Somos convidados a nos unir a Deus na conclusão do seu
plano redentor, portanto a Igreja não pode compreender plenamente
o seu papel sem compreender a história bíblica.
Livros sobre os detalhes do fim dos tempos podem ser úteis,
mas não são suficientes para nos instruir sobre o que acontece no
futuro. Precisamos saber o que está impulsionando esses eventos
específicos e por que a era presente precisa ser concluída.
Precisamos conectar os principais temas do início da história bíblica
e descobrir como eles contribuem para a sua consumação. Isso é o
que faremos neste livro.

O Antigo Testamento define o cenário


Uma das partes mais importantes da compreensão do plano de
Deus é a maneira como entendemos o Antigo Testamento. Muitos
crentes pensam que o Antigo Testamento foi revogado pela Nova
Aliança, mas a realidade não é tão simples assim. O Antigo
Testamento era a Bíblia que os apóstolos usavam em suas
pregações. Nossa capacidade de compreender plenamente a
história da redenção depende de nosso conhecimento e de nossa
compreensão das promessas e dos fundamentos do Antigo
Testamento. Depois de entender esses fundamentos, precisamos
saber como Jesus cumpre o plano redentor de Deus, como
devemos viver à luz do que foi cumprido e o que ainda falta ser
cumprido.
Quando estudamos a Bíblia ou ouvimos sermões dominicais,
temos a tendência de nos concentrar nos ensinos de Paulo, só
depois estudamos os ensinamentos de Jesus e raramente
estudamos o Antigo Testamento. Quando ouvimos mensagens
baseadas em passagens do Antigo Testamento, geralmente
percebemos que elas são usadas apenas para ilustrar uma verdade
do Novo Testamento ou como parte de um sermão temático.
Embora as cartas de Paulo às igrejas sejam muito práticas e
fundamentais para o cristianismo do Novo Testamento, ele e outros
autores do Novo Testamento presumiam que seu público-alvo já
tivesse uma base sólida no Antigo Testamento, algo que a maioria
dos cristãos modernos está perdendo. Como resultado, muitos
crentes se familiarizaram com a linguagem de Paulo e com algumas
das histórias de Jesus, mas não compreendem a maior parte das
Escrituras.[5]
O Antigo Testamento é a base da história da redenção. Embora
algumas partes tenham sido cumpridas, suas principais promessas
ainda não foram realizadas e continuam a sustentar o plano
redentor em nossos dias. As promessas de Deus não são apenas
parte do passado, elas fazem parte do nosso futuro. Logo, para
entender a história de Deus, temos que estudar o plano de Deus em
sua sequência natural. Isso significa entender os fundamentos do
Antigo Testamento, a obra de Jesus em sua primeira e segunda
vinda e, finalmente, como tudo isso se aplica no contexto do Novo
Testamento.
Quando aprendemos a história na sequência correta, fica muito
mais fácil entender o plano de Deus. Neste livro, vamos expor os
fundamentos do Antigo Testamento de forma simples e mostrar
como continuam a direcionar a história da redenção.
A vinda de Jesus foi uma parte decisiva da história de Deus,
mas não substituiu o que Deus já havia começado. A vinda de Jesus
não substituiu as promessas do Antigo Testamento; pelo contrário,
ela garantiu o seu cumprimento. Em vez de redefinir a missão de
Deus, a vinda de Jesus a expandiu de uma forma jamais prevista.
Como veremos em breve, as promessas feitas ainda serão
cumpridas, mas serão cumpridas de uma maneira que está muito
além de qualquer coisa que possamos imaginar.

Visão geral de cada seção


Antes de ir direto ao texto principal, apresentamos aqui uma breve
visão geral de cada parte do livro, para ajudar o leitor a ver aonde
queremos chegar:

Parte 1: Por que estudar o retorno de Jesus? – examinaremos a


importância de estudar o retorno de Jesus.
Parte 2: As promessas que terão de ser cumpridas –
revisaremos as principais promessas do Antigo Testamento que
ainda não foram cumpridas, mas que necessariamente se
cumprirão. A primeira vinda de Jesus garantiu o cumprimento
dessas promessas, mas não as cumpriu. Sua segunda vinda terá de
cumpri-las.

Parte 3: O que precisa ser resolvido: a crise da aliança – nós nos


concentraremos na crise gerada pela aliança mosaica em relação
ao cumprimento das promessas e como essa crise continua a afetar
as nações até hoje. Examinaremos como a primeira e a segunda
vinda de Jesus são necessárias para solucionar, permanentemente,
a crise da aliança mosaica, para que as promessas possam ser
cumpridas.

Parte 4: A promessa de Deus às nações – examinaremos o que a


Bíblia diz sobre as nações e como a promessa feita a Abraão sobre
as nações será cumprida por uma Igreja vitoriosa no fim dos
tempos.

Parte 5: A guerra em torno das promessas – examinaremos


como o cumprimento das promessas de Deus prepara o terreno
para o conflito do fim dos tempos. Também examinaremos por qual
motivo Israel é tão relevante para os eventos do fim dos tempos e
como as nações estão conectadas a esses eventos. Finalmente,
veremos como a compreensão do fim dos tempos é, para a Igreja,
uma questão missional, e não simplesmente teológica.
PARTE 1:

POR QUE ESTUDAR O RETORNO DE JESUS?


DUAS RAZÕES FUNDAMENTAIS PARA ESTUDAR
O RETORNO DE JESUS

Muitos cristãos nunca estudaram o retorno de Jesus e o fim dos


tempos. Existem várias razões para isso. Em alguns casos, eles
simplesmente nunca reservaram muito tempo para estudar o
assunto. Outros ouviram ensinamentos que tornaram o retorno de
Jesus ou o fim dos tempos ainda mais complexo e confuso. Há,
ainda, os que evitam o tema porque já observaram o assunto sendo
abordado de maneira não bíblica. Isso inclui tentar determinar o dia
exato do retorno de Jesus, concentrar-se em escapar dos eventos
do fim dos tempos em vez de fortalecer a Igreja e fazer previsões
prematuras sobre questões como a identidade do anticristo.
Devemos evitar cometer esses erros, e, de fato, ao longo da
história, um número relativamente pequeno de cristãos os cometeu.
Contudo, o receio de incorrer nos mesmos erros não deve nos
impedir de receber os benefícios de conhecer o que a Bíblia diz
sobre Jesus e o seu retorno. Ao estudarmos o retorno de Jesus,
nosso desafio não é apenas compreender o assunto mas também
responder de maneira apropriada a ele.
A resposta apropriada ao estudo do fim dos tempos é crescer
em amor por Jesus e tornar-se mais engajado em sua missão nas
nações. Os apóstolos do Novo Testamento ensinaram sobre o
retorno de Jesus, e isso os motivou a edificar a Igreja. O mesmo
deve acontecer conosco!
Estudar o retorno de Jesus deve resultar em três atitudes:
1 – Amar mais a Jesus e vê-lo como nossa maior esperança. Se
estivermos vivendo em paz e prosperidade, estudar o retorno de
Jesus nos ajudará a impedir que depositemos nossa esperança em
nossa prosperidade momentânea. Por outro lado, se vivermos em
escassez ou em sofrimento, o retorno de Jesus será uma fonte de
esperança e encorajamento em meio às provações.
2 – Preparar-nos para resistir ao homem mais perverso da
história. A cada geração, a Igreja global enfrenta oposição de
diversos homens malignos. Essa preparação fortalece a Igreja. Nós
os resistimos quando escolhemos viver vidas santas em vez de
sermos seduzidos pelo mal e nos dispomos a suportar a
perseguição até a morte.
3 – Envolver-nos na missão de Deus, uma vez que ansiamos
pelo retorno de Jesus. A Bíblia nos revela diversos eventos que
acontecerão na Terra antes do retorno de Jesus e nos instrui a
trabalhar para que esses eventos aconteçam. O desejo do retorno
de Jesus deve nos levar a nos envolver mais na obra de Deus na
Igreja.
Vamos começar com duas razões fundamentais para estudar e
entender o retorno de Jesus.

O amor a Jesus
A primeira razão para estudar o fim dos tempos é o amor que temos
por Jesus. Muitas pessoas, quando pensam no retorno de Jesus,
pensam principalmente no anticristo ou na Grande Tribulação.
Esses não são o foco principal do fim dos tempos de acordo com a
Bíblia. O foco principal do retorno de Jesus é o próprio Jesus.
Portanto, não conseguiremos estudar ou entender o fim dos tempos
corretamente a menos que mantenhamos Jesus no centro.
João fez essa observação em Apocalipse 1:
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar a
seus servos as coisas que em breve devem acontecer. Ele
enviou seu anjo para anunciar a seu servo João.
Quando João escreveu o livro do Apocalipse, ele o introduziu
como a "revelação de Jesus". O livro de João sobre o fim dos
tempos não tem como foco o anticristo ou a Grande Tribulação. Seu
foco é Jesus. Essa foi a base do entendimento de João, é a base do
entendimento do Pai e deve ser a base do nosso entendimento.
João nos disse que o Pai deu a Jesus essa grande história
cheia de eventos, para que ele pudesse compartilhá-la com o seu
povo. Do ponto de vista do Pai, o fim dos tempos é um presente
para Jesus porque prepara o cenário para a sua glória. O Pai revela
informações sobre o fim dos tempos porque ele quer chamar a
Igreja, que são as pessoas que pertencem a Jesus, para participar
da história que ele planejou a fim de glorificar seu Filho.
Para enfatizar esse ponto, João também descreveu seu
encontro com Jesus da seguinte maneira:
No dia do Senhor, eu me encontrei em espírito e ouvi atrás de
mim uma voz forte [...] Virei-me para ver quem falava comigo.
Ao me voltar, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos
candelabros, havia alguém semelhante a um ser humano,
vestindo uma túnica longa e uma faixa de ouro na altura do
peito. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã, tão
brancos como a neve, e seus olhos eram como uma chama de
fogo. Seus pés eram parecidos com metal brilhante, refinado
em uma fornalha, e sua voz era como a voz de muitas águas.
Na mão direita ele segurava sete estrelas, e da sua boca saía
uma espada afiada de dois gumes. Seu rosto brilhava como o
sol no seu fulgor. Quando o vi, caí a seus pés como se
estivesse morto. Então, ele pôs a mão direita sobre mim e
disse: Não temas, eu sou o primeiro e o último. Eu sou o que
vive; fui morto, mas agora estou aqui, vivo para todo sempre e
tenho as chaves da morte e do inferno. – Apocalipse 1.10,12-18
Percebemos como o encontro de João com Jesus foi
impressionante quando nos lembramos da vida de João. Ele foi,
provavelmente, o discípulo mais íntimo de Jesus. Ele se referia a si
mesmo como o discípulo que Jesus amava.[6] Quando os discípulos
comeram a última ceia, João reclinou-se ao lado de Jesus.[7]
Quando Jesus avisou que alguém o trairia, os apóstolos pediram a
João para perguntar a Jesus quem era o traidor.[8] João conhecia
Jesus extremamente bem. De acordo com os evangelhos, lemos
que João sentia-se confiante em sentar-se ao lado de Jesus e fazer-
lhe as perguntas que os outros discípulos tinham medo de fazer.
No entanto, quando João se encontrou com Jesus na ilha de
Patmos, ele caiu aos seus pés como se estivesse morto. Embora
João fosse próximo de Jesus, em Apocalipse 1, ele se deparou com
um Jesus que nunca conhecera antes. Isso o deixou chocado e
atordoado. De repente, Jesus era o mesmo amigo de sempre, mas
radicalmente diferente de tudo o que João havia visto antes.
Em sua primeira vinda, Jesus recusou-se a promover a si
mesmo.[9] Ao invés disso, ele encontrou grande alegria em falar
sobre Deus como Pai.[10] Quando Jesus veio, ele revelou um lado
paterno de Deus que era radicalmente diferente do que o povo
conhecia sobre o Deus de Israel. O lado que eles conheciam sobre
Deus era verdadeiro, mas incompleto. Havia muito mais sobre Deus
do que aquilo que haviam percebido no Sinai. Ele era o Deus que
sempre existiu, mas ao mesmo tempo um Pai amoroso.
O que Jesus fez pelo Pai em sua primeira vinda é o que o Pai
fará por Jesus em sua segunda vinda. O Pai deseja muito falar às
nações sobre seu Filho. Ele deseja que conheçamos o Filho como
ele o conhece. Assim como o Israel histórico conhecia a Deus, mas
não o conhecia como Pai, conhecemos Jesus como o Salvador
bondoso, mas não conhecemos a plena glória de quem ele é.
Acredito que o encontro de João em Apocalipse 1 revela a
intenção do Pai de nos revelar a beleza de Jesus de uma maneira
que não conhecemos. O Pai vai usar o fim dos tempos para
preparar o cenário para que a glória de Jesus seja revelada às
nações. A Igreja e as nações ficarão chocadas com a beleza de
Jesus que será revelada no fim dos tempos. Portanto, estudamos o
retorno de Jesus porque isso nos oferece um vislumbre do que está
por vir, quando o Pai revelar mais da beleza de Jesus. Queremos
sentir o que o Pai sente por seu Filho e participar de seu plano para
glorificá-lo.[11]
Existem aspectos da majestade de Jesus que serão
conhecidos somente em sua segunda vinda. Os apóstolos
estudaram esse assunto e o proclamaram. Nós deveríamos fazer o
mesmo. Precisamos evitar chegar a conclusões e respostas
antibíblicas para o retorno de Jesus, mas, ao mesmo tempo, não
devemos negligenciar esse assunto, pois é vital para a Igreja e
profundamente importante para o Pai.
Não só o Pai tem um profundo desejo de estar com Jesus, mas
Jesus também tem um profundo desejo de estar com seu povo,
como podemos ver em sua oração: [12]
Pai, meu desejo é que aqueles que me deste estejam comigo
onde eu estiver, para que vejam a minha glória, a qual me
deste, pois me amaste antes da fundação do mundo. – João
17.24
Jesus deseja que estejamos com ele onde ele está, a fim de
que vejamos sua glória. Não se trata meramente de sua glória
celestial, mas da glória que será revelada quando retornar como
Filho do homem para ressuscitar seu povo e restaurar a criação.

O amor à Palavra de Deus


A segunda razão pela qual estudamos o retorno de Jesus é o nosso
amor pela Bíblia. Há uma quantidade enorme de informações na
Bíblia sobre o fim dos tempos. Segundo uma estimativa
conservadora, existem mais de 150 capítulos nas Escrituras em que
o assunto principal é o período em que acontecerá o retorno de
Jesus.[13] Comparativamente, os evangelhos são compostos de 89
capítulos, portanto se trata de uma quantidade significativa de
informações. Nós não queremos deixar de lado mais de 150
capítulos da Bíblia.
Podemos não entender o significado completo de cada detalhe,
mas o fato de que Deus nos deu essas passagens significa que ele
deseja que compreendamos os principais temas nelas contidos.
Portanto, devemos estudá-las de forma constante e extensiva,
assim como faríamos com qualquer outra parte das Escrituras. A
chave para compreendermos o significado desses temas principais
é descobrir como eles se relacionam com a história da redenção, e
essa é a abordagem que adotaremos neste livro.
Precisamos recuperar uma visão bíblica do retorno de Jesus.
Essa é a história de Jesus, e há muita informação sobre isso na
Bíblia. Porque amamos Jesus e queremos nos conectar com o
plano do Pai de glorificar seu Filho, precisamos entender essas
passagens e reagir a elas de forma bíblica.
João nos dá uma chave para o estudo do retorno de Jesus:
Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia. –
Apocalipse 19.10
O objetivo da profecia bíblica é nos dar um testemunho de
Jesus. O estudo do fim dos tempos precisa ser centrado em Jesus
porque, sempre que isso acontecer, seremos levados a amá-lo
mais.
O RETORNO DE JESUS É PARTE INTEGRAL DO
EVANGELHO

O retorno de Jesus faz parte da mensagem do evangelho. Se


falarmos apenas da primeira vinda, sem abordar a segunda,
nossa mensagem estará incompleta. Isso não significa que, toda
vez que o evangelho é pregado, devemos falar sobre o retorno de
Jesus, nem significa que falar somente da primeira vinda de Jesus é
ineficaz. No entanto, se falarmos somente da primeira vinda, sem
mostrar a importância da segunda, não transmitiremos o evangelho
completo.
Para entender o evangelho, devemos ter uma visão correta da
cruz. A cruz é um evento ímpar. Talvez seja a maior revelação de
quem Deus é para a humanidade. Foi o resultado de séculos de
profecias e o cumprimento das principais promessas que Deus
havia feito. A cruz é frequentemente considerada o clímax da
história da redenção, mas, na verdade, ela prepara o cenário para
aquilo que será, de fato, o ponto alto da história. A cruz não cumpre
todas as promessas de Deus, somente garante o seu cumprimento.
O retorno de Jesus traz o cumprimento das promessas que foram
garantidas na cruz – promessas que incluem a ressurreição dos
mortos, o julgamento dos ímpios e a restauração da criação.
Como a primeira vinda não cumpriu todas as promessas de
Deus, o evangelho não trata apenas do que Jesus fez, mas revela
também o que Jesus fará.
Paulo disse que “somos os mais dignos de compaixão entre
todos os homens” se as promessas futuras do evangelho não forem
verdadeiras.
Se a nossa esperança em Cristo é apenas para esta vida,
somos os mais dignos de compaixão entre todos os homens. –
1 Coríntios 15.19
Paulo também disse que toda a criação está gemendo até que
Deus cumpra suas promessas:
Pois a criação aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de
Deus [...] Pois sabemos que toda a criação geme e agoniza até
agora, como se sofresse dores de parto; e não somente ela,
mas também nós, que temos os primeiros frutos do Espirito,
também gememos em nosso íntimo, aguardando ansiosamente
nossa adoção, a redenção do nosso corpo. – Romanos
8.19,22-23
Consequentemente, Paulo disse que o dom do Espírito Santo,
do qual hoje desfrutamos, é apenas uma parcela inicial do futuro
cumprimento das promessas de Deus:
Nele, também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, e nele também crido, fostes
selados com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da
nossa herança, para a redenção da propriedade de Deus, para
o louvor da sua glória. – Efésios 1.13-14
Paulo sabia que a obra da cruz havia garantido as promessas
de Deus, mas que sem a segunda vinda, nós não receberíamos a
herança prometida. O evangelho do Novo Testamento é uma
mensagem voltada para o futuro, que define nossa esperança no
retorno de Jesus e em tudo que envolve e acompanha esse retorno.
Consequentemente, os apóstolos tinham uma visão apocalíptica da
história. Eles entenderam que o retorno de Jesus é o único evento
que pode solucionar as crises da Terra.
Os apóstolos ordenaram que as nações se arrependessem
porque Jesus voltaria:
Todos eles [os apóstolos] procedem contra os decretos de
César, dizendo haver outro rei, Jesus. – Atos 17.7
Deus não levou em conta os tempos da ignorância, mas agora
ordena que todos os homens, em todos os lugares, se
arrependam, pois determinou um dia em que julgará o mundo
com justiça, por meio do homem que estabeleceu com esse
propósito. E ele garantiu isso a todos ao ressuscitá-lo dentre os
mortos. – Atos 17.30-31
Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a
todos os homens e ensinando-nos para que, renunciando à
impiedade e às paixões mundanas, vivamos neste mundo de
maneira sóbria, justa e piedosa, aguardando a bendita
esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e
Salvador, Cristo Jesus. – Tito 2.11-13
As circunstâncias nem sempre serão do jeito que são agora.
Jesus virá libertar o seu povo. Ele também julgará as nações.
Governará como Rei. Para os incrédulos, a mensagem de Jesus
como um Salvador sacrificial é tola,[14] mas talvez a parte mais
controversa do evangelho seja aquela que diz que o Salvador
sofredor também é um Rei vitorioso que retornará e destruirá as
forças da iniquidade, humana e demoníaca, que influenciam esta
era. A mensagem dos apóstolos sobre “um Rei maior que César”
impulsionou a perseguição à Igreja primitiva, talvez até mais do que
a mensagem de Jesus como Salvador.
O retorno de Jesus era a grande esperança da Igreja do Novo
Testamento[15] e sua motivação para uma vida santa.[16] Os
apóstolos do Novo Testamento pregaram um evangelho apocalíptico
como um exemplo para a Igreja nas gerações seguintes. Devemos
seguir seu testemunho e depositar nossa esperança onde a Igreja
do Novo Testamento depositou a sua.
O conhecido pastor e teólogo John Piper (1986)[17] resume a
esperança do evangelho da seguinte maneira:
A esperança bíblica não está no cruzar de dedos. É uma
expectativa confiante nas coisas boas que estão por vir [...]
Colocamos nossa esperança na segunda vinda de nosso
Senhor [...] A segunda vinda de Cristo é a conclusão de sua
obra redentora. Se você removê-la, toda a estrutura da obra de
salvação será destruída.
Com isso em mente, consideremos mais algumas razões pelas
quais devemos estudar o retorno de Jesus.

Conhecer a Deus
Em toda a Bíblia, Deus escolheu se revelar principalmente por seus
atos. A Bíblia declara os atributos de Deus, mas a Bíblia não
consiste predominantemente em declarações de seus atributos; ao
contrário, conta a história de suas interações com a humanidade.
Nessas interações, aprendemos quem é Deus e quais são suas
características. O estudo do retorno de Jesus não é,
predominantemente, o estudo dos eventos do fim dos tempos. É o
estudo de uma Pessoa, e a beleza dessa Pessoa é revelada de uma
maneira nova, estudando sua história e seu compromisso com seu
povo.
Por exemplo, Deus descreve a si mesmo como misericordioso,
mas quando vemos na Bíblia sua misericórdia sendo exercida sobre
Davi, depois de seu pecado de adultério, ou sobre o ladrão na cruz,
isso nos ajuda a compreender a grande misericórdia de Deus.
Podemos ouvir que Deus é fiel e acreditar nisso. No entanto, é só
quando experimentamos a fidelidade de Deus ao passar por uma
situação desesperadora que sabemos realmente o que significa a
fidelidade de Deus.
Deus não é revelado apenas nas histórias sobre o que ele fez;
ele também se revela nos prenúncios do que fará. Deus revelou
antecipadamente como agirá no futuro a fim de o conhecermos. Por
exemplo, a Bíblia nos diz que Deus liberará seus juízos e trará
justiça às nações no fim dos tempos. Atualmente, grande parte da
população da Terra anseia por justiça, e é o estudo do retorno de
Jesus que revela a paixão de Deus pela justiça.
Quer estejamos conscientes disso ou não, nossa perspectiva
sobre o retorno de Jesus afeta drasticamente a maneira como
vemos a Deus. Isso foi ilustrado nitidamente durante a Revolução
Chinesa. Os missionários ocidentais enviados à China haviam
ensinado aos cristãos que eles seriam arrebatados por Deus antes
da tribulação. No entanto, quando a revolução começou, os crentes
chineses repentinamente enfrentaram sofrimentos e perseguições.
Esse sofrimento gerou uma crise. Não foi uma crise sobre os
eventos do fim dos tempos, mas uma crise sobre o conhecimento de
quem Deus era.
Os missionários haviam ensinado uma visão sobre o fim dos
tempos que dizia que Deus removeria o seu povo da Terra antes
que tivessem de enfrentar dificuldades. De repente, eles se viram no
meio do sofrimento. O verdadeiro problema não foi um mal-
entendido sobre os eventos do fim dos tempos. O verdadeiro
problema era sua crença em um Deus que não queria que seu povo
passasse por sofrimentos, mas então descobriram que não era bem
assim. Sua visão sobre Deus foi abalada por causa de suas
expectativas sobre o fim dos tempos. Nem tudo em que acreditamos
com relação ao fim dos tempos tem um efeito dramático em nossa
fé, mas o que acreditamos sobre o retorno de Jesus afeta
profundamente a maneira como compreendemos a natureza de
Deus.
Quando Jesus veio pela primeira vez, foi de uma maneira que
contrariou a expectativa de muita gente. Embora os fariseus
conhecessem a Bíblia muito bem, Jesus era diferente daquilo que
esperavam. A enorme diferença entre quem Jesus realmente era e
o que esperavam que fosse levou-os a se ofenderem com ele,
gerando a incapacidade de recebê-lo. Da mesma forma, quando
Jesus voltar, a revelação de quem ele é gerará controvérsia e,
possivelmente, ofensa por causa de nossas suposições a seu
respeito. Portanto, precisamos estudar o que a Bíblia diz sobre ele e
seu retorno para crescermos em nosso verdadeiro conhecimento
sobre sua Pessoa.

Nossa esperança
Em qualquer boa história, o grande clímax acontece perto do fim. O
mesmo acontece com a história da redenção, por isso precisamos
recuperar o senso de expectativa e admiração pela maneira como
ela terminará.
Muitos de nós não conseguimos imaginar Deus fazendo, em
nossa geração, algo com a dimensão do dilúvio ou do êxodo, mas a
Bíblia ensina que todos esses eventos do passado eram
prefigurações do fim dos tempos. O dilúvio não foi o clímax da
história. O êxodo também não. Algo muito maior está por vir. É difícil
até mesmo imaginar os eventos do êxodo acontecendo em nossas
nações modernas, mas o profeta Jeremias prediz que o que está
por vir com o retorno de Jesus é tão dramático que esqueceremos o
êxodo:
Portanto, dias virão, diz o SENHOR, em que não se dirá mais:
Vive o SENHOR, que trouxe os israelitas da terra do Egito. –
Jeremias 16.14
Portanto, diz o SENHOR, virão dias em que não mais se dirá:
Juro pelo SENHOR, que tirou os israelitas da terra do Egito. –
Jeremias 23.7
A história desta era, como todas as boas histórias, atinge seu
clímax ao se aproximar do fim. Compreender esse clímax nos
oferece uma tremenda esperança para o futuro. Não importa o que
aconteça no desenrolar da história, o fim desta era será um evento
extraordinário. O que se seguirá na era vindoura é tão grande e
glorioso que não podemos sequer imaginar:[18]
Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem
ouvidos ouviram, nem penetraram o coração humano, são as
que Deus preparou para os que o amam. Deus, porém,
revelou-as a nós pelo seu Espírito. Pois o Espírito examina
todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus. – 1
Coríntios 2.9-10
A Bíblia faz uma analogia com o casamento para descrever o
retorno de Jesus. Por exemplo, Paulo compara seu trabalho na
Igreja à preparação de uma noiva para Jesus:
Porque tenho ciúme de vós, e esse ciúme vem de Deus, pois
vos prometi em casamento a um único marido, que é Cristo,
para vos apresentar a ele como virgem pura. – 2 Coríntios 11.2
No livro do Apocalipse, João descreve o retorno de Jesus e o
que se segue como uma festa de casamento:
Alegremo-nos, exultemos e demos glória a ele, porque chegou
o momento das bodas do Cordeiro, e sua noiva já se preparou
[...] E me disse: Escreve: Bem-aventurados os que são
chamados à ceia das núpcias do Cordeiro! Disse-me ainda:
Estas são as verdadeiras palavras de Deus. – Apocalipse
19.7,9
O emprego da analogia com o casamento é ótimo para
compreendermos a maneira como devemos abordar o assunto do
retorno de Jesus, porque há uma grande diferença entre a visão que
uma mulher casada e uma noiva têm sobre o casamento. Para a
mulher casada, seu casamento é principalmente uma lembrança –
um evento que mudou sua vida para sempre, mas não domina seus
pensamentos ou afeta suas atividades cotidianas. A noiva é
completamente diferente. Ela também se envolve nas tarefas da
vida cotidiana, mas está concentrada no dia do casamento. Se você
conversar sobre a vida com uma mulher que está noiva, verá que
ela rapidamente tocará no assunto do casamento, porque seu foco
está nesse dia e nesse evento. Isso ocupa seu pensamento, norteia
suas decisões e instiga suas emoções. De certa forma, sua vida gira
em torno de seu noivado e casamento.
Se utilizarmos a analogia com o casamento à luz da Bíblia,
veremos que a cruz não é o casamento, é o noivado. A cruz foi o
momento em que Jesus garantiu o cumprimento de todas as
promessas de Deus. No entanto, o cumprimento de tudo o que Deus
prometeu ainda não chegou. Como uma mulher que está noiva,
somos chamados a esperar ansiosamente, com intenso anseio, pelo
dia em que Jesus voltará para cumprir tudo o que o Pai prometeu.
Biblicamente, somos chamados a viver como a noiva, que
espera o dia do seu casamento; no entanto, muitos crentes vivem
como a mulher casada, lembrando do dia em que se casou.
Costumamos pensar no dia em que fomos salvos como o grande
evento de nossa vida, mas isso simplesmente não é verdade. O dia
em que fomos salvos marca o dia em que Deus começou a nos
preparar para o grande dia que virá.
Um cristão que não está interessado no retorno de Jesus é
como uma noiva que não está interessada no dia do seu
casamento: não é normal! Infelizmente, muitos na Igreja não
pensam frequentemente no retorno de Jesus porque o assunto foi
negligenciado ou ensinado de uma maneira não bíblica ou
desequilibrada. No entanto, quando ensinada de acordo com as
Escrituras, essa verdade deve criar um profundo anseio em nosso
coração por esse dia e um desejo de nos envolver na missão de
Deus, preparando a Terra para o retorno de seu Filho.

Obediência a Jesus
Em Mateus 24 e 25, Jesus pregou seu mais longo sermão sobre o
fim dos tempos. Depois de descrever os eventos do fim dos tempos,
ele comparou os dias que antecederiam ao seu retorno com os dias
que antecederam ao dilúvio de Noé e usou várias parábolas que
indicam como devemos responder à sua volta. Em seus
ensinamentos, Jesus destacou três pontos principais:
Haverá uma longa espera antes do fim dos tempos. Ele não
virá tão rápido quanto muitos pensam. Devemos
permanecer fiéis durante essa [aparente] demora.
Quando o fim dos tempos chegar, será um acontecimento
súbito. Devemos reconhecer a época em que vivemos,[19]
mas nunca tentar estabelecer uma data específica para o
seu retorno.[20]
Quando o fim dos tempos chegar, não haverá tempo para
preparação. Precisamos viver de tal maneira que estejamos
sempre preparados para a volta de Jesus.
A única maneira de responder adequadamente aos
ensinamentos de Jesus é preparar a Igreja, a cada geração, para o
seu retorno. Para sermos obedientes a Jesus, isso precisa fazer
parte do nosso discipulado. É parte do que Jesus ordenou e,
portanto, parte da Grande Comissão.[21]
O Pai está dando ao Filho uma "noiva" dentre as nações. Como
qualquer bom pai, ele quer que seu Filho receba a melhor noiva
possível. Ele apresentará a Jesus um povo maduro e glorioso, que
concorda em tudo com seu Filho.
Do mesmo modo que os preparativos de um casamento
preparam a noiva para se unir ao noivo, o estudo sobre o retorno de
Jesus prepara a Igreja para se unir a Jesus.
Deus não quer apenas nos transformar em uma ajudadora
adequada para seu Filho, mas também quer que estejamos
intimamente envolvidos em seu plano de exaltá-lo. Portanto, o
estudo do fim dos tempos tem implicações missiológicas, que nos
mostram os objetivos de Deus para a Igreja e revelam seu plano de
cooperação com a Igreja a fim de preparar as nações para o retorno
de Jesus.
O Novo Testamento nos instrui a entender o fim dos tempos e a
nos preparar. Isso não significa que compreenderemos todos os
pormenores, mas devemos conhecer os principais temas
relacionados ao que está por vir. Muitas pessoas estão
familiarizadas com a advertência de Jesus, em Mateus 24.36, de
que não saberemos o dia ou a hora de sua volta, mas precisamos
conciliar isso com sua afirmação, nos versículos 32-33, de que
devemos entender os tempos e as estações para não sermos
surpreendidos com a sua vinda:
Aprendei, pois, a parábola da figueira: Quando os ramos se
renovam e as folhas brotam, sabeis que o verão está próximo.
Da mesma forma, quando virdes todas essas coisas, sabei que
ele está próximo, às portas. – Mateus 24.32-33
Jesus também ensinou que seu retorno seria como nos dias de
Noé:
Pois a vinda do Filho do homem se dará à semelhança dos dias
de Noé. Porque nos dias anteriores ao dilúvio, todos comiam,
bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que
Noé entrou na arca; e não se deram conta até que veio o
dilúvio e levou a todos; assim também será a vinda do Filho do
homem. – Mateus 24.37-39
Nos dias de Noé, o julgamento pegou os habitantes da Terra de
surpresa, e eles não estavam preparados. No entanto, Noé estava
pronto. Da mesma forma, a Igreja deve estar preparada para o
retorno de Jesus. Como Jesus disse:
Por isso, ficai também preparados, pois o Filho do homem virá
numa hora que não esperais. – Mateus 24.44
Jesus contou uma parábola sobre cinco virgens prudentes
[sábias] e cinco virgens insensatas [tolas]. Todas estavam
esperando um noivo que estava muito atrasado. No entanto, as
prudentes estavam preparadas para a vinda do noivo e, embora
adormecessem durante a espera, estavam prontas quando ele
chegou:
O reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando
as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco delas
eram insensatas, e cinco, prudentes. Ao pegarem as lâmpadas,
as insensatas não levaram azeite. As prudentes, porém,
levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as suas
lâmpadas [...] À meia-noite, porém, ouviu-se um grito: O noivo
chegou! Saí ao encontro dele! Então todas as virgens se
levantaram e prepararam suas lâmpadas. E as insensatas
disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, pois nossas
lâmpadas estão se apagando. Mas as prudentes responderam:
Não; talvez não haja suficiente para nós e para vós. Ide, porém
aos que vendem azeite e comprai-o para vós. – Mateus 25.1-
4,6-9
Para sermos obedientes aos ensinamentos de Jesus, devemos
preparar a Igreja para a sua vinda, quer ela ocorra quer não ocorra
em nossos dias. O apóstolo Paulo ensinou exatamente a mesma
coisa:
Quando estiverem dizendo "Paz e segurança!", então, de
repente, a destruição lhes sobrevirá como dores de parto a uma
mulher grávida; e de modo nenhum escaparão. Mas vós,
irmãos, não estais nas trevas, de modo que aquele dia vos
surpreenda como um ladrão; porque todos sois filhos da luz e
filhos do dia; não somos da noite nem das trevas. Portanto, não
durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos
sóbrios. Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se
embriagam, embriagam-se de noite; mas nós, visto que somos
do dia, sejamos sóbrios, vestindo a armadura da fé e do amor,
tendo por capacete a esperança da salvação. – 1
Tessalonicenses 5.3-8
O retorno de Jesus virá repentinamente para o mundo, assim
como um ladrão chega inesperadamente à noite. No entanto, a
Igreja não será pega de surpresa como o mundo. A Igreja entenderá
os tempos e estará preparada para o seu retorno. É importante
evitar uma abordagem de preparação não bíblica e qualquer
tentativa de definir uma data para o retorno, mas também devemos
ser obedientes às Escrituras e preparar a nós mesmos e a Igreja
para o retorno de Jesus e para os eventos específicos que o
acompanharão.

A obra do Espírito Santo


Na noite antes de morrer na cruz, Jesus falou aos seus discípulos
sobre o que aconteceria quando ele não estivesse mais presente.
Foi uma conversa comovente cujos detalhes foram registrados por
João em seu evangelho.
Nessa conversa, Jesus prometeu o dom do Espírito Santo para
a Igreja:
Ainda tenho muito que vos dizer; mas não podeis suportá-lo
agora. Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos
conduzirá a toda a verdade. E não falará de si mesmo, mas dirá
o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele
me glorificará, pois receberá do que é meu e o anunciará a vós.
Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso eu vos disse que ele,
recebendo do que é meu, o anunciará a vós. – João 16.12-15
Jesus disse aos discípulos que havia muitas coisas que queria
compartilhar com eles, mas eles não conseguiriam suportar. Por
causa disso, ele lhes enviaria o Espírito Santo. Observe com
atenção o que Jesus disse que o Espírito Santo faria:
Ele falaria tudo o que ouvisse.
Ele anunciaria as coisas que estavam por vir.
Ele glorificaria Jesus, revelando à Igreja as coisas que
pertencem a Jesus. (Observe que Jesus repetiu essa
promessa duas vezes.)
Segundo Jesus, o Espírito Santo foi dado, entre outras razões,
para nos instruir e ensinar, a partir das Escrituras, sobre as coisas
que virão no futuro. Quando Jesus nos disse que o Espírito Santo
nos anunciaria as coisas que lhe pertencem, isso inclui sua segunda
vinda e os aspectos de sua glória que serão vistos apenas nessa
ocasião.
Quando pensamos no ministério do Espírito Santo, temos a
tendência de pensar em milagres, curas e outros dons e obras do
Espírito. Tudo isso é impressionante e importante para a edificação
da Igreja. No entanto, quando Jesus estava prestes a enfrentar a
cruz, prometeu aos discípulos que o Espírito Santo viria e revelaria
por meio das Escrituras tudo sobre o seu retorno e a sua glória.
Jesus sabia que essas informações seriam fundamentais para a
Igreja, por isso nos deu o Espírito Santo. O Espírito, por sua vez,
está muito desejoso de nos dar essa revelação.
Não devemos negligenciar nenhum aspecto da obra do Espírito
Santo. Precisamos de poder para pregar. Precisamos de poder para
curar os doentes. Precisamos de milagres e da manifestação de
todos os dons do Espírito. Precisamos que o Espírito libere a
convicção de pecado no coração humano por meio da pregação do
evangelho. E, de acordo com Jesus, também precisamos que o
Espírito revele, por meio da Palavra de Deus, o que o Pai tem a
dizer sobre a segunda vinda do seu Filho.

Engajamento em missões
Em 1974, o missiólogo Ralph Winter chocou o cenário das missões
mundiais com a introdução de um novo conceito (SHADRACH,
1974). Na época, havia um testemunho do evangelho em cada
nação da Terra, e muitos estavam perguntando se esse era o
cumprimento do mandamento de Jesus de espalhar o evangelho às
nações. Ralph Winter e outros pesquisaram as Escrituras
cuidadosamente e descobriram que o mandamento de Jesus não se
concentrava nas nações políticas. Em vez disso, concentrava-se no
que chamamos de povos ou etnias, grupos de pessoas com uma
língua e cultura em comum. A pesquisa de Ralph Winter
revolucionou as missões mundiais e transferiu o foco das nações
políticas para os povos.
Ralph Winter obteve esse insight estudando a volta de Jesus e
depois aplicando essa verdade à missão da Igreja. Quando
estudamos o retorno de Jesus, encontramos muitas informações
que nos ajudam a entender o propósito de Deus para a Igreja. Ao
estudarmos o que a Bíblia diz sobre o fim dos tempos, devemos
aplicar uma abordagem missionária. Queremos que essas
informações nos ajudem a entender como cooperar melhor com o
plano de Deus.
Estamos acostumados a pensar em nossa missão
principalmente em termos de indivíduos que respondem ao
evangelho, mas missões abrangem muito mais que isso.
Biblicamente, a obra missionária é o trabalho de Deus a fim de
preparar as nações para o retorno de Jesus.[22]
PARTE 2:

AS PROMESSAS QUE TERÃO DE SER


CUMPRIDAS – PROMESSAS DE DEUS A ISRAEL
E ÀS NAÇÕES
AS PROMESSAS QUE TERÃO DE SER
CUMPRIDAS

A chave para entender a história e o agir de Deus na Terra é a


compreensão de duas partes importantes da história da
redenção: as promessas de Deus e suas alianças. As promessas de
Deus são os compromissos específicos que ele assumiu. A história
da redenção é projetada para cumprir essas promessas. Alianças
são acordos de Deus com seu povo que incluem termos, condições
e promessas. As alianças bíblicas descrevem como Deus se
relaciona com seu povo e determinam como suas promessas são
cumpridas e como a história da redenção será concluída.
Começaremos examinando as promessas específicas de Deus.
Essas promessas têm as seguintes características
principais:
Elas são feitas por Deus e garantidas por ele. O pecado
humano não invalida as promessas.[23]
Essas promessas ainda não foram cumpridas, mas terão de
ser cumpridas no fim desta era. Deus empenhou a própria
honra em sua capacidade de garantir o cumprimento dessas
promessas.
Jesus garantiu o cumprimento dessas promessas, mas
ainda não as cumpriu.
Essas promessas serão cumpridas ao mesmo tempo e
estarão profundamente interconectadas.
Essas promessas serão cumpridas no fim dos tempos e,
finalmente, pelo retorno de Jesus. Portanto, elas são temas
centrais do fim dos tempos.
Não podemos entender como Deus encerrará esta era sem
conhecermos essas promessas. Como o escopo deste livro é
limitado, abordaremos brevemente cada promessa.[24]
Essas promessas declaram um futuro específico que Deus se
comprometeu a concretizar, um futuro positivo para Israel e as
nações. O pecado humano causa crise, turbulência e atraso no
cumprimento dessas promessas. Também faz com que os
indivíduos deixem de fazer parte das promessas. No entanto, como
essas promessas são garantidas por Deus, elas não são afetadas
pelas imperfeições humanas, como o fracasso, a fraqueza e o
pecado. Deus cumprirá tudo o que prometeu.
A missão de Deus, por intermédio da Igreja nas nações, é
designada por Deus para desempenhar um papel central no
cumprimento de suas promessas. Deus não cumprirá essas
promessas sozinho. Ele as cumprirá em cooperação com o seu
povo, então devemos entendê-las para participarmos mais
efetivamente do seu cumprimento. Essas promessas serão
finalmente cumpridas pelo retorno de Jesus, mas o trabalho da
Igreja ao longo da história prepara o cenário para o seu
cumprimento.

Preparando o cenário para as promessas


Gênesis 1 começa com a conhecida expressão introdutória "No
princípio", pois estabelece as bases para a história da redenção.
Depois de descrever brevemente a criação, o relato de Gênesis 1–
11 prepara o cenário para o plano divino de redenção do mundo.
Mostra como o pecado e a tragédia foram introduzidos na
experiência humana e registra o compromisso de Deus com a
redenção de sua criação.
Nos primeiros capítulos de Gênesis, começamos a conhecer
todos os efeitos do pecado humano, à medida que a situação da
humanidade se torna cada vez mais sombria. Famílias são
destruídas, filhos são assassinados e a maldade cresce tão
rapidamente que Deus envia uma inundação global para impedir o
aumento da maldade humana. Mesmo após o dilúvio, a crise
permanece porque o pecado continua a afligir a Terra. Todos os
líderes, incluindo Noé, são considerados incapazes de redimir a
humanidade. Desde o início, é evidente que a Terra precisa de um
novo líder, um novo homem, para redimir e restaurar a raça
humana.
Embora o dilúvio ainda fosse uma lembrança recente, os
homens decidiram desafiar a autoridade de Deus nas planícies de
Sinar. Eles começaram a construir uma torre de acesso ao poder
espiritual que lhes permitisse desafiar aquele que inundou a Terra.
Nesse momento crucial, Deus interveio e separou as pessoas,
confundindo seus idiomas. Assim começou a história das nações da
Terra.
Gênesis 11 revela que esses homens estavam tentando evitar
que fossem "espalhados" por toda a Terra:
Disseram mais: Vamos edificar uma cidade para nós, com uma
torre cujo topo toque no céu, e façamos para nós um nome,
para que não sejamos espalhados pela face de toda a terra. –
Gênesis 11.4
Deus queria que as pessoas se espalhassem por toda a Terra
porque queria que existissem as nações. Os homens não queriam
se espalhar pela Terra e, então, decidiram resistir a Deus. Deus
respondeu à resistência deles confundindo seu idioma e
dispersando-os em juízo. Embora tenha havido juízo, houve também
a promessa de redenção. A partir de Gênesis 3.15, Deus prometeu
uma “semente” que redimiria e restauraria a raça humana.
As nações que foram dispersas como resultado da rebelião se
tornariam uma bela parte do plano de Deus. O plano de Deus para
resgatar as nações começou em Gênesis 12, quando ele escolheu
um homem para se tornar pai de uma nação que seria usada para a
redenção de todas as nações.

A aliança de Deus com Abraão


Embora alguns trechos do Antigo Testamento tenham sido
revogados, a Bíblia, em momento algum, diz que todo o Antigo
Testamento foi revogado. Precisamos conhecer o contexto de
aliança do Antigo Testamento para que possamos reconhecer o que
é temporário e o que é permanente nele. As promessas feitas no
Antigo Testamento continuam impulsionando a história da redenção
muito mais do que a maioria das pessoas imagina.
Deus começou a história da redenção das nações fazendo uma
aliança com Abraão. Essa aliança é o fundamento do evangelho,
porque o seu êxito é garantido por Deus e não por Abraão. Embora
muitos crentes acreditem que o Antigo Testamento esteja revogado,
é mais correto dizer que a aliança mosaica foi revogada. A aliança
com Abraão não mudou. Ela é muito diferente da lei de Moisés. Na
próxima seção, examinaremos como a lei de Moisés afeta a história
da redenção e o papel que ela desempenha, mas devemos primeiro
estabelecer a base da aliança de Deus com Abraão.
A aliança abraâmica é a origem da convicção de Paulo de que
as boas novas do evangelho são a justiça que vem pela fé.[25] Em
Gênesis 15.6, Abraão creu em Deus, e "isso lhe foi atribuído como
justiça". Em certo sentido, tanto judeus quanto gentios salvos são
descendentes de Abraão, porque ele nasceu gentio e, ainda assim,
tornou-se pai do povo judeu.[26] Sua vida é uma representação de
como Israel e as nações devem ser salvos. Portanto, o apóstolo
Paulo identifica a aliança com Abraão como o fundamento do
evangelho:
Assim, as promessas foram feitas a Abraão e a seu
descendente. A Escritura não diz: E a teus descendentes, como
se falasse de muitos, mas como quem se refere a um só: E a
teu descendente, que é Cristo. E eu afirmo: A lei, que veio
quatrocentos e trinta anos mais tarde, não anula o testamento
antes validado por Deus, cancelando a promessa. Pois se a
herança provém da lei, já não provém mais da promessa. Mas
foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a
Abraão. – Gálatas 3.16-18
E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão e
herdeiros conforme a promessa. – Gálatas 3.29
Essas promessas sustentam a história da redenção e criam
uma grande tensão em toda a narrativa bíblica, à medida que os
profetas preveem seu cumprimento e, ao mesmo tempo, se
perguntam como Deus as cumprirá. Os autores do Novo Testamento
ficaram fascinados ao perceber que a morte e a ressurreição de
Jesus se tornaram os meios empregados por Deus para garantir
essas promessas. Essas promessas desempenham um papel
fundamental tanto na redenção das nações como no retorno de
Jesus. Portanto, o primeiro passo para entender o fim dos tempos é
entender essas promessas e o que a Bíblia diz sobre o
compromisso de Deus com elas.
Em Gênesis 12, Deus começa a dar forma e definição ao seu
plano redentor, chamando Abraão e fazendo-lhe promessas muito
específicas:
E o SENHOR disse a Abrão: Sai da tua terra, do meio dos teus
parentes e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
E farei de ti uma grande nação, te abençoarei e engrandecerei
o teu nome; e tu serás uma bênção. Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei quem te amaldiçoar; e todas as
famílias da terra serão abençoadas por meio de ti. – Gênesis
12.1-3
Deus fez três promessas muito diferentes para Abraão. Cada
uma dessas promessas são componentes-chave do plano redentor
de Deus, e todas as três – a promessa de terra, a promessa de
descendentes e a promessa de abençoar as nações – precisam se
cumprir. O conflito em torno dessas promessas preparará o cenário
para o conflito final no fim dos tempos.

A promessa de terra
Primeiro, Deus prometeu a Abraão uma terra específica. Em
Gênesis 12.1, ele diz a Abraão:
E o SENHOR disse a Abrão: Sai da tua terra, do meio dos teus
parentes e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
Todo o contexto da promessa é o envio de Abraão para uma
nova terra que ele possuirá. A terra é apresentada a Abraão como
uma herança permanente, de modo que os descendentes de
Abraão precisam habitar perpetuamente na terra para que essa
promessa seja cumprida. A herança é prometida especificamente a
Abraão,[27] que, como sabemos, nunca chegou a possuir a terra.
Aqui está a tensão: se as promessas de Deus são verdadeiras,
como Abraão nunca viu o cumprimento delas? Se a morte de
Abraão é o fim das promessas de Deus para ele, a promessa de
terra é eternamente descumprida porque Abraão nunca herdou a
terra nem viveu para ver seus descendentes a receberem como
herança. Para entender o plano redentor de Deus, precisamos
entender que essas promessas antigas ainda não foram cumpridas.
O livro de Hebreus descreve esse dilema quando conta a
história dos grandes homens e mulheres de fé [ou heróis da fé]. Sua
fé foi grande porque permaneceram fiéis mesmo quando não
receberam o que Deus lhes havia prometido:
Todos esses morreram mantendo a fé, sem ter recebido as
promessas; mas tendo-as visto e acolhendo-as de longe,
declararam ser estrangeiros e peregrinos na terra. – Hebreus
11.13
E todos eles, embora recebendo bom testemunho pela fé, não
obtiveram a promessa; visto que Deus havia providenciado algo
melhor a nosso respeito, para que, sem nós, eles não fossem
aperfeiçoados. Portanto, também nós, rodeados de tão grande
nuvem de testemunhas, depois de eliminar tudo que nos
impede de prosseguir e o pecado que nos assedia, corramos
com perseverança a corrida que nos está proposta. – Hebreus
11.39–12.1
A história da redenção conecta profundamente o povo de Deus,
até mesmo no sentido intergeracional. As promessas de Deus para
os patriarcas não foram cumpridas em suas vidas, mas elas
acontecerão quando desempenharmos nosso papel no plano
redentor. Assim como a fidelidade e a obediência dos patriarcas
prepararam o caminho para que a bênção chegasse até nós,
também nossa fidelidade e obediência contribuirão para a herança
deles. O desejo de ver os patriarcas receberem o que lhes foi
prometido deve nos levar a abandonar tudo o que nos atrapalha e a
trabalhar com o mesmo comprometimento que eles tinham.
As promessas feitas a Abraão, e não cumpridas, também
prepararam o caminho para a promessa da ressurreição. Abraão
não recebeu o que lhe foi prometido durante toda a vida e não pode
herdar as promessas depois de morto. A única explicação possível
para esse dilema é que chegará o momento em que Deus
ressuscitará Abraão (e os outros patriarcas) dentre os mortos, para
que possam receber o que ele prometeu.

A promessa de descendentes
Segundo, Deus prometeu descendentes a Abraão:
E farei de ti uma grande nação, te abençoarei e engrandecerei
o teu nome; e tu serás uma bênção. – Gênesis 12.2
Foi dito a Abraão que seus descendentes se tornariam uma
grande nação e que eles tornariam seu nome grandioso. Essa
declaração fala da qualidade dos descendentes de Abraão, não
apenas de quantidade. Essa promessa não pode ser cumprida
meramente pela reunião de um grande número de pessoas que
descendem de Abraão. Ela somente pode ser cumprida por meio de
uma nação que descende de Abraão e que faz o seu nome se tornar
grandioso porque é uma bênção na Terra.
A justiça é o que torna uma nação grandiosa.[28] Portanto, os
descendentes de Abraão precisam se tornar um povo justo e santo
para que essa promessa seja cumprida. Em termos bíblicos, os
injustos serão removidos da Terra, mas foi prometido a Abraão que
seus descendentes serão uma bênção na Terra,[29] o que fará com
que as nações honrem o nome de Abraão. Isso explica por que o
Antigo Testamento prediz, repetidamente, o dia em que Israel será
santo e justo.
Gênesis 15 confirma que essa grande nação deverá vir dos
descendentes naturais de Abraão.[30] Portanto, o compromisso de
Deus de abençoar as nações por intermédio de Abraão tem de
incluir a redenção da própria família de Abraão.
Essa promessa nunca foi cumprida na história. Para cumprir
sua promessa a Abraão, Deus precisa reverter o fracasso de Israel
em tornar o nome de Abraão grandioso, fazendo de seus
descendentes o povo justo que ele prometeu que seriam um dia.
Esse é o fundamento da promessa de Jesus de salvar Israel,
descrita no Novo Testamento.[31]
Essas duas primeiras promessas prepararam o caminho para
um dos temas centrais do fim dos tempos: a resolução da crise de
Israel e o cumprimento pleno do chamado de Israel.

A promessa de ser uma bênção para as nações


Deus também fez a Abraão uma promessa relativa às nações da
Terra. Deus prometeu a Abraão que todas as nações da Terra
receberiam bênçãos de acordo com seu plano de fazer uma grande
nação de descendentes de Abraão:
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei quem te
amaldiçoar; e todas as famílias da terra serão abençoadas por
meio de ti. – Gênesis 12.3
Essa promessa é o fundamento da promessa do Novo
Testamento de que Deus salvará um remanescente de todos os
povos da Terra.[32] As duas primeiras promessas são específicas aos
descendentes naturais de Abraão, mas Deus também prometeu
desde o início que seu plano para Abraão seria tornar Israel uma
grande bênção para todas as nações.
Isso significa que a ideia de salvação dos gentios não é uma
ideia nova, com origem no Novo Testamento, e Paulo se refere a
Gênesis 12.3 como a primeira pregação do evangelho aos gentios:
E a Escritura, prevendo que Deus iria justificar os gentios pela
fé, anunciou com antecedência a boa notícia a Abraão,
dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações. – Gálatas
3.8
Desde o início, o plano de Deus para Abraão era de abençoar
as nações. Como resultado, a salvação do povo judeu e a salvação
das nações estão profundamente entrelaçadas. Deus não cumprirá
uma promessa isoladamente; ele cumprirá todas as três. A crise que
se desenrola na Terra durante o fim dos tempos é sobre o
cumprimento dessas promessas.
Você pode levar meses planejando um evento importante, mas,
à medida que o evento se aproxima, tudo se acelera, uma vez que
os diferentes componentes necessários para o grande evento se
reúnem simultaneamente. O plano redentor de Deus se cumprirá da
mesma maneira. Durante séculos, as nações têm sido preparadas
para o cumprimento dessas promessas, mas, à medida que nos
aproximamos do tempo em que elas se cumprirão, parecerá que
tudo subitamente estará se acelerando, conforme Deus reúne as
três promessas.

O alerta sobre a controvérsia


Deus disse a Abraão que ele “abençoaria aqueles que o
abençoassem e amaldiçoaria aqueles que o amaldiçoassem” (Gn
12. 3). A versão “O Livro” diz: “Amaldiçoarei os que te fizerem mal”.
Deus alertou Abraão de que haveria uma grande controvérsia sobre
o seu plano redentor. Alguns indivíduos concordariam e celebrariam
o plano de Deus abençoando Abraão, enquanto outros
amaldiçoariam Abraão e o tratariam mal por não concordarem com
a forma como Deus escolheu cumprir essas três promessas.
Embora seja fácil se ofender com o plano de Deus, ele adverte
que concordar com seu plano abençoando Abraão é a maneira de
receber a bênção que fluirá para as nações da Terra. Isso fez com
que Paulo advertisse os crentes gentios em Roma a não agirem de
forma arrogante com relação ao povo judeu, mesmo que a maioria
deles não fosse salva.[33]
Não havia como Abraão prever a dimensão da controvérsia em
relação ao plano de Deus. Quando esta era se aproximar do fim, a
crise em torno da maneira como Deus escolheu cumprir todas essas
três promessas irá muito além do que alguém jamais pôde prever.
À medida que o plano redentor se desenrola, cada promessa
se torna dependente do cumprimento das outras promessas, uma
vez que Deus designou que cada promessa contribua para a
conclusão das outras. Ele não cumprirá uma promessa e anulará as
outras. O povo judeu não pode receber sua herança sem que as
nações entrem na bênção da salvação, mas as nações não podem
entrar em sua bênção completa sem que o povo judeu receba a
salvação e a herança da terra. Essas três promessas são três fios
de um cordão que não pode ser rompido.[34]

O fundamento do evangelho
Gênesis 12 define as três promessas centrais que orientam o plano
redentor de Deus: (1) os descendentes de Abraão se tornarão uma
nação justa, (2) eles herdarão permanentemente uma terra como
povo justo e (3) as nações receberão grande bênção e salvação
nesse processo. Essas três promessas tornam-se o fundamento da
missão de Deus no mundo e são reiteradas em toda a narrativa
bíblica.
Paulo disse aos gálatas que Abraão recebeu a essência do
evangelho em Gênesis 12:
E a Escritura, prevendo que Deus iria justificar os gentios pela
fé, anunciou com antecedência a boa notícia a Abraão,
dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações. – Gálatas
3.8
Os principais elementos do evangelho estão presentes em
Gênesis 12. Deus iniciou a salvação do homem. Ele decidiu agir a
fim de providenciar redenção para as nações. Ele prometeu garantir
a salvação do homem por meio de sua própria força e capacidade.
Tudo dependia de um filho que nasceria por uma concepção
milagrosa. Abraão e Sara não foram capazes de gerar o filho
prometido em sua condição natural, então Deus teria de
providenciar o milagre. Isso foi um prenúncio de Jesus: o Filho que
cumpriria todas as promessas de Deus, mas teve de ser concebido
pelo poder sobrenatural de Deus. Foi também um prenúncio do
novo nascimento. Nascemos mortos [em nossos pecados], por isso
é necessário que sejamos trazidos à vida pelo poder sobrenatural
de Deus.[35]
A declaração da aliança de Gênesis 12 foi seguida da
cerimônia da aliança, encontrada em Gênesis 15. O capítulo 15 é
significativo porque se tornará o fundamento do evangelho e da
salvação pela fé.[36] Paulo interpretou Gênesis 15 como uma aliança
ininterrupta:
Que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi
atribuído como justiça. – Romanos 4.3
Somos salvos pela fé porque Abraão garantiu pela fé as
promessas que lhe foram feitas. Nossa promessa de salvação está
garantida visto que as promessas feitas a Abraão estão garantidas.
O sofrimento, a morte e a ressurreição de Jesus não substituíram o
acordo que Deus fez com Abraão, mas garantiram e tornaram
possível o pleno cumprimento da aliança.
Observamos que Deus entrou em aliança com algumas
pessoas na Bíblia, e a cerimônia da aliança que Deus fez com
Abraão em Gênesis 15 é um dos grandes encontros narrados nas
Escrituras. Nesse encontro, Deus se comprometeu com Abraão a
cumprir suas promessas com base em seu próprio caráter e força.
Abraão havia expressado sua preocupação a Deus e lhe pediu
garantias de que as promessas de Gênesis 12 fossem cumpridas
literalmente. Abraão abordou apenas duas das promessas – a
promessa de descendentes e a promessa de terra –, mas a
cerimônia da aliança de Gênesis 15 foi uma confirmação do que foi
falado em Gênesis 12, e todas as três promessas foram
confirmadas por esse ato da aliança.
Então disse Abrão: Ó SENHOR Deus, que me darás, já que hei
de morrer sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliézer, de
Damasco? E Abrão prosseguiu: Tu não me deste filhos; um
servo nascido na minha casa será o meu herdeiro. – Gênesis
15.2-3
Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos
caldeus, para te dar esta terra como herança. E Abrão lhe
perguntou: Ó SENHOR Deus, como saberei que hei de recebê-
la por herança? – Gênesis 15.7-8
Abraão estava sofrendo porque não conseguia vislumbrar como
essas promessas seriam cumpridas. Ele não podia ter filhos, não
podia deixar descendentes, e estava vagando como um estranho na
terra que deveria possuir. Na conversa, Deus repetiu e confirmou
suas promessas do capítulo 12:
E eis que veio a palavra do Senhor a ele dizendo: Este não
será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair,
este será o teu herdeiro. Então o levou fora, e disse: Olha
agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E
disse-lhe: Assim será a tua descendência. – Gênesis 15.4-5
Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus,
para dar-te a ti esta terra, para herdá-la. – Gênesis 15.7
Depois de confirmar verbalmente sua promessa, Deus validou
a aliança com Abraão ao celebrar uma cerimônia na qual ele se
comprometeu plenamente a cumprir as promessas:
Ele lhe respondeu: Traze-me uma novilha de três anos, uma
cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rolinha e um
pombinho. Abrão trouxe-lhe todos os animais, cortou-os ao
meio e colocou cada parte em frente da outra; mas não cortou
as aves. Aves de rapina, porém, começaram a descer sobre os
cadáveres; e Abrão as espantava. Ao pôr do sol, caiu um
profundo sono sobre Abrão e sobre ele vieram grande pavor e
densas trevas. – Gênesis 15.9-12
Quando o sol já havia se posto e já estava escuro, surgiu um
fogo fumegante e uma tocha de fogo que passaram entre
aquelas metades. E naquele mesmo dia o SENHOR fez uma
aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência tenho dado
esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates; terra
do queneu, do quenezeu, do cadmoneu, do heteu, do perizeu,
dos refains, do amorreu, do cananeu, do girgaseu e do jebuseu.
– Gênesis 15.17-21
Existem vários componentes-chave nessa cerimônia de
aliança. Primeiro, a cerimônia se baseou em um método antigo de
se fazer acordos. Em tais cerimônias antigas, dois indivíduos
andavam entre as carcaças de animais mortos espalhadas pelo
caminho para fazer uma declaração verbal de seu compromisso.
Era o compromisso de que aceitariam que fosse feito a eles o que
foi feito aos animais se eles quebrassem o acordo. Deus queria
assegurar a Abraão que o acordo era permanente, usando como
referência uma cerimônia antiga que pudesse ser compreendida por
Abraão.
Segundo, Deus não permitiu que Abraão contribuísse para o
cumprimento da aliança. Embora a aliança tenha sido feita com
Abraão, no momento de consumar a aliança, Deus fez Abraão cair
em um sono profundo, deixando-o incapaz de contribuir para a
cerimônia da aliança. Isso aconteceu porque a justiça de Abraão[37]
tinha de vir somente de sua fé. Fé, ou confiança na Palavra de
Deus, foi a única contribuição da parte de Abraão que Deus
permitiu.
Terceiro, as duas partes tinham de caminhar pelos sacrifícios
para que a aliança fosse concretizada, mas, ao invés de Deus e
Abraão caminharem juntos, somente Deus passou por eles. A
aliança era apenas entre Abraão e Deus, e ainda assim Abraão viu
duas manifestações de Deus: uma tocha flamejante e uma panela
de fogo fumegante[38] movendo-se juntas entre os animais.
As duas partes tinham de caminhar entre os animais para
validar a aliança, e Abraão viu Deus caminhar com Deus entre os
animais. Isso significa que Deus fez aliança consigo mesmo para
garantir as promessas feitas a Abraão. Considerando outras partes
das Escrituras, as duas manifestações de Deus que Abraão viu
foram o Pai e o Filho caminhando entre os sacrifícios. Isso foi mais
do que uma promessa simbólica; foi também um ato profético. Por
causa do pecado de Abraão e do pecado de seus descendentes,
chegaria o dia em que o Filho seria sacrificado como aqueles
animais para preservar essa aliança.
Em Gênesis 15, o Pai e o Filho se comprometeram a cumprir
as promessas feitas a Abraão, e no Novo Testamento, vemos a
íntima parceria entre o Pai e o Filho na obra da redenção.
O compromisso de Deus com as promessas que fez a Abraão
em Gênesis 12 estava completamente evidente em Gênesis 15. A
dramática cerimônia de aliança enfatiza o fato de que a justiça de
Abraão não desempenha nenhum papel no cumprimento das
promessas. O próprio Deus garantirá as promessas com sua própria
justiça e à custa de seu próprio sangue.
Paulo aprendeu o conceito de justiça pela fé neste capítulo. Ele
entendeu que o compromisso de Deus com as promessas que fez
era baseado em sua força e não na nossa: as promessas seriam
cumpridas de acordo com a justiça que provém da fé.
Embora Abraão não tenha propriamente andado entre os
animais sacrificados, em outro sentido, ele andou na forma de uma
das manifestações de Deus, que se tornaria seu descendente.
Jesus caminhou como Deus e como futuro filho de Abraão. Dessa
maneira, Abraão participou da cerimônia sem garantir a sua parte da
aliança em sua própria força. Como Jesus caminhou como o
representante de Abraão, Paulo escreveu em Gálatas que as
promessas feitas a Abraão foram realmente feitas a Jesus como seu
descendente.[39] A justiça de Jesus garantiu que Abraão recebesse
os benefícios da aliança.

O convite à obediência
As promessas de Deus a Abraão eram incondicionais no sentido de
que Deus as garantiu. No entanto, Deus também exigiu que Abraão
respondesse em obediência com a circuncisão. A aliança foi
garantida pela capacidade de Deus, mas Deus deu a Abraão o
convite para responder em obediência.
Ao longo da vida de Abraão, nós o vemos responder a Deus
em genuína obediência, mas também vemos sua fraqueza em
outras áreas. Isso demonstra dois princípios principais:
Deus garante nossas promessas e nos ama em nossas
fraquezas. Por exemplo, Abraão mentiu sobre sua esposa duas
vezes quando estava com medo, mas suas falhas não o
desqualificaram.[40] Deus reconhece nossa fraqueza e a cobre com
sua força.
Deus valoriza nossa resposta. Nosso aparentemente
fraco “sim” é poderoso para ele. Isso explica por que Deus exigiu
que Abraão respondesse à aliança por meio da obediência na
circuncisão. Embora Deus garanta a aliança, precisamos responder
em obediência. Se falhamos, ele cobre nosso pecado com o sangue
de Jesus. Porém, se o rejeitamos e recusamos, podemos acabar
desvinculados das bênçãos de sua aliança.
As promessas feitas a Abraão são uma lente através da qual
podemos olhar o Antigo Testamento, porque essas três promessas
sustentam o plano de Deus e as previsões dos profetas. O Antigo
Testamento prediz, consistentemente, que chegará o dia em que
todo o Israel será justo (poderíamos dizer salvo),[41] um Israel justo
herdará sua terra permanentemente em paz e segurança,[42] e os
gentios adorarão o Deus de Israel.[43]

O cumprimento apocalíptico das promessas


Em todo o Antigo Testamento, vemos o profundo desejo do povo de
ver essas promessas sendo cumpridas. Também podemos ler os
oráculos fervorosos dos profetas que preveem que chegará o dia
em que Deus cumprirá as grandes promessas. Um dos pontos de
grande tensão do Antigo Testamento é a maneira como Deus
cumprirá o que disse em relação à condição de Israel e das nações.
À medida que a Bíblia se desenrola, os profetas começam a
descrever o cumprimento dessas promessas em termos bem
apocalípticos. Eles retratam, repetidamente, um tempo que está
muito além de qualquer outro momento da história e têm dificuldade
em encontrar palavras para descrever adequadamente a magnitude
do agir de Deus no fim dos tempos.[44] Esse tempo excederá os
eventos do êxodo antigo a ponto de nem mesmo o êxodo ser
lembrado.[45]
As promessas feitas a Abraão se repetem e são reforçadas e
validadas em todo o Antigo Testamento. Essas promessas são um
dos principais elementos unificadores de todos os livros do Antigo
Testamento. Somente depois de entendermos essas três promessas
e o compromisso de Deus de cumpri-las literalmente, os principais
temas das Escrituras e do fim dos tempos começarão a fazer
sentido.
COMO DEUS CUMPRIRÁ AS PROMESSAS

A interação de Deus com Abraão introduz vários padrões bíblicos.


Esses padrões revelam como Deus cumprirá suas promessas:
O plano de Deus envolverá uma profunda parceria com o
homem. O plano de Deus exigirá seu poder sobrenatural aliado
ao esforço e à participação do homem. Abraão e Sara tiveram de
fazer sua parte na concepção de um bebê, mas Deus
milagrosamente tocou o ventre de Sara.
Deus cumprirá seu plano por meio da ressurreição. Para cumprir
suas promessas, Deus tem de ressuscitar Abraão dentre os
mortos. Essa promessa de ressurreição se torna um padrão na
forma como Deus trata seu povo. É um padrão tão significativo
que Jesus passa pela morte e pela ressurreição para entrar em
sua glória.
As promessas serão cumpridas simultaneamente e não
sequencialmente. O agir de Deus ao longo do tempo preparará o
caminho para o cumprimento das promessas, e o cumprimento
virá de repente e de forma apocalíptica.
Israel se tornará uma figura e uma parábola para as nações,
ilustrando a relação de Deus com o homem. Israel se tornará
uma figura do evangelho e será uma das maneiras pelas quais
Deus demonstrará seu comprometimento com suas promessas.
Deus providenciará a solução para a crise da humanidade. Ele
levantará um homem que cumprirá o plano de redenção e as
promessas de Deus.
Deus preparará as nações antes da grande conclusão de seu
plano. O povo de Deus nas nações desempenhará um papel
significativo na preparação da Terra para o cumprimento de suas
promessas.
À medida que esses padrões aparecem na Bíblia, começamos a
ver como Deus cumprirá as promessas que fez a Abraão. No
centro do plano de Deus de cumprir tudo o que prometeu a
Abraão, encontramos dois aspectos: um Rei divino, que cumprirá
as promessas, e uma Nova Aliança.

Um Rei divino
Em 2 Samuel 7, o plano de Deus para o cumprimento das
promessas feitas a Abraão tornou-se mais específico com a aliança
singular que Deus fez com Davi:
Agora, assim dirás ao meu servo Davi: Assim diz o SENHOR
dos Exércitos: Eu te tirei do campo onde cuidavas das ovelhas,
para que fosses o príncipe do meu povo Israel. Estive contigo
por onde andaste e destruí todos os teus inimigos diante de ti.
Agora te tornarei tão famoso quanto os poderosos da terra. – 2
Samuel 7.8-9
Quando os teus dias se completarem e descansares com teus
pais, providenciarei um sucessor da tua descendência, que
procederá de ti; e estabelecerei o reino dele. Ele edificará uma
casa ao meu nome, e para sempre estabelecerei o trono do seu
reino. – 2 Samuel 7.12-13
A aliança feita com Davi está relacionada à aliança feita com
Abraão. Como na aliança feita com Abraão, Deus não impôs a Davi
condições que determinassem o resultado final da aliança. O
sucesso da aliança dependia inteiramente da capacidade de Deus
de cumprir sua promessa. Deus disse a Davi que sua aliança com
ele permaneceria "para sempre" e que ele não seria rejeitado como
Saul foi:
Mas não retirarei dele o meu amor fiel, como fiz com Saul, a
quem tirei da tua frente. Mas a tua casa e o teu reino serão
firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido
para sempre. – 2 Samuel 7.15-16
Como parte da aliança, Deus também prometeu a Davi que
levaria o povo judeu ao seu destino pleno como povo, e que eles
habitariam na terra de maneira segura e pacífica. Davi e seu filho
Salomão governaram durante os anos dourados do antigo reino de
Israel, mas durante esse tempo, Deus ainda prometeu um tempo
futuro em que os plantaria na terra sem inimigos.[46]
Também estabelecerei o meu povo Israel num lugar e ali o
plantarei, para que habite no seu lugar e não seja mais
perturbado e nunca mais seja oprimido pelos perversos, como
antes. – 2 Samuel 7.10
O livro de 2 Samuel conecta o futuro cumprimento das
promessas feitas a Abraão diretamente ao prometido Filho de Davi –
um Rei vindouro. Esse é o fundamento do Antigo Testamento
conforme Gálatas 3.16:
Assim, as promessas foram feitas a Abraão e a seu
descendente. A Escritura não diz: E a teus descendentes, como
se falasse de muitos, mas como quem se refere a um só: E a
teu descendente, que é Cristo.
As promessas feitas a Abraão serão cumpridas pelo homem
que Deus escolheu. As promessas do Messias e de Abraão são
inseparáveis porque a aliança feita com Davi é uma continuação da
aliança de Deus com Abraão. Quando Deus fez a aliança com Davi,
ele revelou que cumpriria suas promessas durante o governo e
reinado de seu Rei. Como esse Rei reinará para sempre, as
promessas serão garantidas.
Como Paulo escreveu, as promessas feitas a Abraão
finalmente pertencem a um homem específico, uma “descendência”
específica ou, ainda, uma “semente” de Abraão. Essa "semente" é
Jesus. A "semente" [ou a “descendência”] é referenciada em
Gênesis, 2 Samuel e Gálatas:
E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a
sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar. – Gênesis 3.15, ACF
Então o SENHOR apareceu a Abrão e disse: Darei esta terra à
tua descendência. E Abrão edificou ali um altar ao SENHOR,
que lhe aparecera. – Gênesis 12.7
Quando os teus dias se completarem e descansares com teus
pais, providenciarei um sucessor da tua descendência, que
procederá de ti; e estabelecerei o reino dele. – 2 Samuel 7.12
Assim, as promessas foram feitas a Abraão e a seu
descendente. A Escritura não diz: E a teus descendentes, como
se falasse de muitos, mas como quem se refere a um só: E a
teu descendente, que é Cristo. - Gálatas 3.16
As promessas feitas a Abraão são garantidas e cumpridas por
meio de uma única semente – Jesus. Observe que Paulo revelou
como as promessas serão cumpridas; ele não reinterpretou essas
promessas. Paulo mencionou especificamente as “promessas”, no
plural, porque esperava que todas as três promessas fossem
cumpridas.
É importante salientar que o livro de Gálatas não procura
redefinir as promessas especificamente dadas ao povo judeu e aos
gentios. Se Paulo quisesse mudar a expectativa em relação ao
cumprimento literal das três promessas feitas a Abraão, ele teria
escrito uma carta muito mais longa para redefinir essas promessas.
Em vez de redefinir as promessas, Paulo simplesmente declarou
que Jesus era a única maneira de vivenciar o cumprimento dessas
promessas e receber o Espírito:
Isso aconteceu para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos a
promessa do Espírito pela fé. – Gálatas 3.14
E, porque sois filhos, Deus enviou ao nosso coração o Espírito
de seu Filho, que clama: Aba, Pai. – Gálatas 4.6
Mas nós, pelo Espírito mediante a fé, aguardamos a justiça que
é nossa esperança. – Gálatas 5.5
Somente Jesus pode garantir o destino de judeus e gentios. Ele
é o único justo na linhagem de Abraão, portanto pode administrar as
promessas de Deus. Somente ele pode transformar os
descendentes de Abraão em uma nação justa. Somente ele pode
tornar o nome de Abraão grandioso. Somente ele pode permitir que
Abraão e seus descendentes habitem a terra que lhes foi prometida
em paz e justiça. Somente ele pode trazer grandes bênçãos aos
gentios.
Nem nossa herança judaica nem nossa herança gentia nos
proporciona o benefício da garantia de nossas promessas. Os
judeus não receberão sua parte na promessa de Abraão de maneira
diferente dos gentios. É apenas nosso relacionamento com Jesus
que garante nossa participação nas promessas de Deus e, como
Abraão, esse relacionamento é baseado em uma justiça que vem da
fé.
Por fim, as promessas feitas a Abraão foram feitas ao Rei
Jesus. Portanto, quando estamos em um relacionamento correto
com ele, sejamos judeus ou gentios, estamos aptos para desfrutar
dessas promessas.
Paulo enfatizou esse ponto no livro de Gálatas, lembrando aos
gálatas que eles haviam recebido o Espírito Santo pela fé em Jesus.
[47]
O dom do Espírito foi uma parte essencial no cumprimento das
promessas de Deus no Antigo Testamento.[48] Portanto, se Jesus
tem autoridade para derramar o Espírito, então ele tem autoridade
para cumprir as promessas.
Conforme a narrativa bíblica se desenrolava, os profetas
puderam vislumbrar a beleza deste Rei vindouro:
O SENHOR disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
até que eu ponha teus inimigos debaixo dos teus pés. O
SENHOR enviará de Sião o cetro do teu poder, e dominarás
sobre teus inimigos. Com vestes santas, teu povo se
apresentará de livre vontade no dia das tuas batalhas; teus
jovens serão como orvalho ao amanhecer. O SENHOR jurou e
não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a
ordem de Melquisedeque. – Salmo 110.1-4
No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado
sobre um alto e sublime trono, e as abas de seu manto
enchiam o templo. "Acima dele havia serafins; cada um tinha
seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés
e com duas voavam. "E clamavam uns aos outros: Santo,
santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está
cheia da sua glória. E as bases das portas tremeram à voz do
que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então eu disse:
Ai de mim! Estou perdido; porque sou homem de lábios
impuros e habito no meio de um povo de lábios impuros; e os
meus olhos viram o rei, o SENHOR dos Exércitos! – Isaías 6.1-
5
Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido. O
governo está sobre os seus ombros, e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da
Paz. O seu domínio aumentará, e haverá paz sem fim sobre o
trono de Davi e sobre o seu reino, para estabelecê-lo e firmá-lo
em retidão e em justiça, desde agora e para sempre. O zelo do
SENHOR dos Exércitos fará isso. – Isaías 9.6-7
Eu estava olhando nas minhas visões noturnas e vi que alguém
parecido com filho de homem vinha nas nuvens do céu. Ele se
dirigiu ao ancião bem idoso [Ancião de Dias] e a ele foi levado.
E foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os
povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um
domínio eterno, que não passará, e o seu reino é tal que não
será destruído. – Daniel 7.13-14
Embora os profetas de Israel tivessem como foco principal a
salvação de Israel, eles previram que o Rei vindouro também
salvaria as nações:
Naquele dia, a raiz de Jessé será como uma bandeira aos
povos, para onde as nações recorrerão; o seu descanso será
glorioso [...] Levantará uma bandeira entre as nações e ajuntará
os desterrados de Israel; e reunirá os dispersos de Judá desde
os quatro confins da terra. – Isaías 11.10,12
Ele diz: Não basta que sejas o meu servo para restaurares as
tribos de Jacó e trazeres de volta os remanescentes de Israel.
Também te porei para luz das nações, para seres a minha
salvação até a extremidade da terra. – Isaías 49.6
Deus deu a um Homem o domínio sobre Israel e as nações. Ele
cumprirá todas as promessas feitas a Abraão por meio do seu
sacrifício (primeira vinda) e de seus juízos (segunda vinda).[49]
Ambos são necessários para que Jesus cumpra as promessas feitas
a Abraão.

A Nova Aliança
A aliança abraâmica não se concretiza apenas com um Rei
vindouro, mas também com uma Nova Aliança. Essa Nova Aliança
não substitui a aliança feita com Abraão; ao invés disso, permite que
a aliança com Abraão seja cumprida. Essa Nova Aliança também
resolve o desafio da aliança mosaica, algo de que trataremos
melhor na próxima seção.
O grande desafio da lei mosaica é o fato de que suas justas
exigências expõem o nosso pecado, mas é incapaz de nos libertar
de nossa situação. A Nova Aliança é a resposta de Deus para a
crise gerada tanto por nossa condição pecaminosa como por nossa
incapacidade de obedecer às justas leis de Deus.
Essa Nova Aliança durará para sempre porque é garantida pelo
Rei que governará para sempre – o Rei profetizado em 2 Samuel 7.
O Rei escolhido por Deus e essa Nova Aliança são sua solução
permanente para a condição da humanidade. A Nova Aliança é um
acordo corporativo entre Deus e seu povo, soluciona a questão da
aliança mosaica e cumpre as promessas feitas a Abraão.
Essa Nova Aliança é declarada em Jeremias e Ezequiel:
Dias virão, diz o SENHOR, em que farei uma nova aliança com
a casa de Israel e com a casa de Judá. Ela não será como a
aliança que fiz com seus pais, quando os peguei pela mão para
tirá-los da terra do Egito, pois eles quebraram a minha aliança,
mesmo sendo eu o senhor deles, diz o SENHOR. Mas esta é a
aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz
o SENHOR: Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no
seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E
não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a
seu irmão, dizendo: Conhecei o SENHOR; porque todos me
conhecerão, do mais pobre ao mais rico, diz o SENHOR.
Porque perdoarei a sua maldade e não me lembrarei mais dos
seus pecados. – Jeremias 31.31-34
Farei com eles uma aliança eterna: não deixarei de fazer-lhes o
bem e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se
afastem de mim. Eu me alegrarei, fazendo-lhes o bem. E os
plantarei com firmeza nesta terra, com toda a minha fidelidade
e dedicação. – Jeremias 32.40-41
Mas eu me lembrarei da minha aliança, que fiz contigo nos dias
da tua juventude, e firmarei contigo uma aliança eterna [...]
Para que te lembres e te envergonhes, e nunca mais abras a
boca, por causa da tua vergonha, quando eu te perdoar tudo
quanto fizeste, diz o SENHOR Deus. – Ezequiel 16.60,63
Também vos darei um coração novo e porei um espírito novo
dentro de vós; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um
coração de carne. Também porei o meu Espírito dentro de vós
e farei com que andeis nos meus estatutos; e obedecereis aos
meus mandamentos e os praticareis. Então habitareis na terra
que eu dei a vossos pais, e sereis o meu povo, e eu serei o
vosso Deus. – Ezequiel 36.26-28
Essa Nova Aliança trará a salvação a todo Israel. A nação será
salva de forma tão completa que cada um conhecerá a Deus – nem
precisarão de professores.[50] Quando a nação entrar na Nova
Aliança, Israel será salvo para sempre e permanecerá
definitivamente na terra como povo santo de Deus. Trata-se do
cumprimento das promessas de Deus a Abraão. Se Deus está
comprometido com as duas primeiras promessas que fez a Abraão,
também está comprometido com a terceira promessa que fez às
nações. Isso deu aos apóstolos a confiança para oferecer livremente
a salvação aos gentios.
Para enfatizar seu compromisso com suas promessas, Deus
comparou sua capacidade de cumprir as promessas a Israel com
sua capacidade de sustentar a criação. Duas vezes em Jeremias,
ele disse que o sol, a lua e as estrelas cessariam se o povo de Israel
desaparecesse da Terra.[51] Deus fez essa declaração quando Israel
estava sendo destruído pela Babilônia e o povo estava sendo levado
para o exílio. Isso significa que Deus pretende cumprir suas
promessas, mesmo que Israel passe por escravidão, exílio ou
ocupação por potências estrangeiras.
Deus nem sempre preservou Israel como nação política, mas
comprometeu-se a preservar Israel como povo para sempre.
Portanto, assim como a destruição de Jerusalém pela Babilônia em
586 a.C. não anulou as promessas de Deus feitas ao povo judeu, a
destruição de Jerusalém por Roma em 70 d.C. também não
invalidou as promessas de Deus a Israel.
O livro de Hebreus descreve como a glória da Nova Aliança
supera a glória da aliança mosaica. O autor cita a profecia de
Jeremias sobre a Nova Aliança sem reinterpretá-la, mas
reafirmando que a aliança salvaria Israel e Judá para enfatizar o fato
de que Deus cumprirá as promessas feitas a Israel por meio da
Nova Aliança.
A Nova Aliança fará o que a aliança mosaica nunca poderia
fazer: garantir as promessas de Deus a Abraão, a Israel e,
finalmente, às nações.
Pois se aquela primeira aliança não tivesse defeito, nunca se
teria buscado lugar para a segunda. Porque ele diz,
repreendendo-os: Dias virão, diz o Senhor, em que
estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma
nova aliança. Não segundo a aliança que fiz com seus pais, no
dia em que os tomei pela mão para tirá-los da terra do Egito;
pois não permaneceram naquela minha aliança, e eu não
atentei para eles, diz o Senhor. Esta é a aliança que farei com a
casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as
minhas leis na sua mente e as escreverei em seu coração. Eu
lhes serei Deus, e eles me serão povo. Ninguém terá de
ensinar ao próximo, nem a seu irmão, dizendo: Conhece ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até o
maior deles. – Hebreus 8.7-11
No Novo Testamento, encontramos uma definição mais
completa da Nova Aliança. Ela é garantida pela morte e ressurreição
de Jesus. Seu sangue nos permite restabelecer o relacionamento
com Deus por meio de uma aliança que é garantida pela fidelidade e
justiça de Deus e não pela nossa justiça. Enquanto a maioria dos
cristãos reconhece que a salvação é oferecida às nações por meio
da Nova Aliança (isto é, a terceira promessa feita a Abraão), é a
Nova Aliança que garante o cumprimento de todas as três
promessas. A Nova Aliança faz mais do que se espera,
principalmente em relação à salvação dos gentios, mas não pode
fazer menos do que se enunciou que faria. Por meio dela é
necessário que Israel seja salvo.
O FUTURO CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS

P ara entender a história da redenção, precisamos reconhecer


que as promessas feitas a Abraão foram garantidas pela
primeira vinda de Jesus, mas ainda não foram cumpridas. Muitas
pessoas presumem que todas as promessas foram cumpridas na
primeira vinda, mas isso não é verdade. É importante examinar
algumas passagens do Antigo e do Novo Testamento para
demonstrar que a Bíblia prediz o futuro cumprimento das promessas
feitas a Abraão.

A expectativa do Antigo Testamento


Há algumas passagens do Antigo Testamento que, à primeira vista,
parecem indicar que as promessas feitas a Abraão foram em parte
cumpridas. Algumas passagens do livro de Josué são exemplos.[52]
Dessa maneira o SENHOR deu a Israel toda a terra que, com
juramento, prometera dar a seus pais; e eles a possuíram e
nela habitaram. E o SENHOR lhes deu descanso de todos os
lados, conforme tudo quanto havia jurado a seus pais; nenhum
de todos os seus inimigos pôde lhes resistir, mas a todos o
SENHOR lhes entregou nas mãos. Nenhuma palavra falhou de
todas as boas coisas que o SENHOR prometera à casa de
Israel! Tudo se cumpriu! – Josué 21.43-45
E assim como todas essas boas coisas de que o SENHOR,
vosso Deus, vos falou aconteceram, também o SENHOR trará
sobre vós todos os males, até vos destruir nesta boa terra que
ele vos deu. – Josué 23.15
Alguns crentes presumem que as promessas feitas a Abraão
foram cumpridas porque Israel possuiu uma porção da terra por
vários séculos e alcançou certa grandeza sob os reinados de Davi e
Salomão. Para interpretar essas passagens corretamente, temos de
vê-las no contexto das Escrituras, as quais apresentam várias
razões pelas quais esses versículos não indicam que as promessas
feitas a Abraão foram cumpridas.
Por exemplo, Hebreus 11.39-40 declara claramente que os
patriarcas não receberam o que foi prometido porque Deus tem um
plano maior para realizar, que envolve os santos do Antigo
Testamento e os crentes do Novo Testamento:
E todos eles, embora recebendo bom testemunho pela fé, não
obtiveram a promessa; visto que Deus havia providenciado algo
melhor a nosso respeito, para que, sem nós, eles não fossem
aperfeiçoados. – Hebreus 11.39-40
Isaías e Jeremias profetizaram muito tempo depois da
conquista da terra por Josué, e muito depois do reinado de
Salomão, mas em suas profecias, previram uma libertação
dramática e vindoura de Israel.[53] Jeremias previu que esse evento
vindouro seria tão dramático que ofuscaria o êxodo original em
comparação:
Portanto, dias virão, diz o SENHOR, em que não se dirá mais:
Vive o SENHOR, que trouxe os israelitas da terra do Egito; mas
sim: Vive o SENHOR, que trouxe os israelitas da terra do norte
e de todas as terras para onde os havia lançado; porque eu os
trarei de volta à terra que dei a seus pais. – Jeremias 16.14-15
Portanto, diz o SENHOR, virão dias em que não mais se dirá:
Juro pelo SENHOR, que tirou os israelitas da terra do Egito;
mas: Juro pelo SENHOR, que tirou e trouxe os descendentes
da casa de Israel da terra do norte, e de todas as terras para
onde os havia expulsado para habitarem em sua terra. –
Jeremias 23.7-8
Até o final do Antigo Testamento, os profetas mantiveram o foco
na redenção e na posse da terra por parte de Israel, contando sobre
um dia, no futuro, em que essas promessas seriam cumpridas.[54]
Essas previsões não fazem sentido se as promessas feitas a
Abraão já se cumpriram. A posse da terra pelo primeiro reino de
Israel foi resultado das promessas que Deus fez a Abraão, e os
antigos israelitas vivenciaram em parte o fiel compromisso de Deus
com suas promessas. É por isso que os autores do Antigo
Testamento associaram a posse da terra às promessas.
No entanto, quando consideramos todo o Antigo Testamento, o
fato de Israel ter desfrutado de parte da promessa na terra
obviamente não foi suficiente para cumprir as promessas; caso
contrário, esses profetas não teriam previsto um tempo futuro para o
cumprimento das promessas.
É significativo que os profetas usaram a linguagem do êxodo
para prever um tempo futuro de libertação. O primeiro êxodo foi o
principal evento que culminou com a posse da terra pelo povo de
Israel e seu estabelecimento como nação. Quando os profetas
afirmam que haverá um evento de êxodo no futuro que ofuscará
completamente o primeiro êxodo, isso revela que aquele êxodo e a
conquista da terra não foram suficientes para cumprir as promessas
de Deus a Israel.

A expectativa do Novo Testamento


O verdadeiro choque do Novo Testamento não diz respeito à
anulação das promessas de Deus feitas a Abraão, mas à maneira
como Deus as cumprirá em seu Filho, por meio de seu sofrimento,
morte e ressurreição e da sua segunda vinda. O Novo Testamento
revela que o cumprimento vai muito além do que Abraão esperava,
e o processo de cumprimento será muito diferente do que alguém
jamais pôde imaginar, mas o Novo Testamento confirma a
expectativa do Antigo Testamento de um cumprimento literal e futuro
das promessas. Isso se torna evidente se considerarmos algumas
passagens do Novo Testamento em seu contexto.

Mateus
Mateus de 21 a 23 contam a história da entrada de Jesus em
Jerusalém como Rei e de sua subsequente rejeição pelos líderes
religiosos da cidade pouco antes de sua crucificação. Em resposta à
rejeição, Jesus fez uma afirmação impressionante:
Pois desde agora vos digo que de modo algum me vereis, até
que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor. –
Mateus 23.39
Temos que considerar essa afirmação no contexto de toda a
passagem para entendermos o que Jesus quis dizer. Ele não estava
dizendo que eles não o veriam de novo, porque ele seria
publicamente crucificado alguns dias depois disso. Mateus colocou
a declaração de Jesus no contexto de dois eventos principais na
passagem. O primeiro foi a entrada de Jesus na cidade, como
Zacarias profetizou que o Rei messiânico entraria.[55] A segunda foi
a rejeição de Jesus como Rei pelos líderes judeus.
Jesus havia entrado na cidade como seu Rei, mas havia sido
rejeitado pelos líderes religiosos da cidade. Portanto, quando Jesus
disse aos governantes da cidade que eles não o veriam novamente
até que o recebessem como "aquele que vem em nome do Senhor",
ele estava prevendo que não entraria em Jerusalém novamente
como Rei até que os líderes judeus de Jerusalém o reconhecessem
como o Rei enviado por Deus.
Nesse versículo, Jesus condiciona sua segunda vinda e seu
futuro governo sobre Jerusalém como Rei à salvação de Israel.
Jesus se recusa a ser Rei dos judeus até que eles voluntariamente
o amem e o recebam. O fato de ele ter feito essa previsão em
Jerusalém enfatizou o seu compromisso com a terra de Israel e com
a sua capital.
Jesus afirmou um futuro cumprimento da promessa feita a
Abraão em relação a seus descendentes. Eles precisam ser
"salvos", o que resultará em receber Jesus como seu Rei. Além
disso, isso precisa acontecer em Jerusalém, o que significa que eles
devem ser salvos na terra de Israel. A salvação dos judeus na terra
garantirá sua herança permanente da terra. Jesus está tão
comprometido com o cumprimento literal das promessas feitas a
Abraão que não governará sobre a Terra como Rei sem antes
cumprir as duas primeiras promessas feitas a Abraão.
Jesus foi além da afirmação das duas primeiras promessas.
Quando os discípulos lhe perguntaram o que seria necessário para
cumprir o que os profetas haviam profetizado,[56] ele também
confirmou a terceira promessa feita a Abraão:
E este evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro,
para testemunho a todas as nações, e então virá o fim. –
Mateus 24.14
Jesus vinculou seu retorno ao cumprimento das três
promessas. Ele não apenas cumprirá as duas primeiras promessas,
mas também está empenhado em cumprir a terceira promessa.
Todas as famílias da Terra – podemos dizer “povos” – serão
abençoadas pelo evangelho antes que o fim chegue.[57] A promessa
do Novo Testamento de que toda tribo e língua precisa ouvir o
evangelho não era uma ideia nova. Era uma continuação da
promessa do Antigo Testamento feita a Abraão.
Alguns versículos adiante, depois de confirmar essa promessa,
Jesus reiterou seu compromisso com a salvação de Israel:
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as
nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo
com poder e grande glória sobre as nuvens do céu.[58] – Mateus
24.30
Por causa da referência ao lamento, muitos presumem que
esse versículo se refere ao lamento das nações pelo retorno de
Jesus. No entanto, esse não é o objetivo desse versículo. Jesus
estava se referindo a um evento específico predito por Zacarias:
Mas derramarei o espírito de graça e de súplicas sobre a casa
de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém; eles olharão para
aquele a quem traspassaram e o prantearão como quem
pranteia por seu único filho; e chorarão amargamente por ele,
como se chora pelo primogênito. Muitos chorarão em
Jerusalém naquele dia, como o pranto de Hadade-Rimom no
vale de Megido. Todas as famílias da terra prantearão em
separado: a família de Davi e suas mulheres; a família de Natã
e suas mulheres. – Zacarias 12.10-12
Zacarias descreveu um momento dramático do futuro de Israel.
Ele predisse o dia em que Israel veria Jesus como aquele que foi
traspassado por eles e em favor deles. Essa revelação resultará em
um grande lamento, mas será o lamento de arrependimento. É o
grande dia em que Israel verá Jesus novamente, reconhecendo-o
como aquele que os amou o tempo todo, e toda a nação lamentará
a forma como o rejeitaram e resistiram.
Zacarias usou imagens da história de José: José salvou os
gentios (no Egito) e os israelitas (família de Jacó). Da mesma
maneira, Jesus salvará os gentios e Israel. Quando Jesus voltar,
Israel lamentará ao se reunir com ele, assim como os filhos de Jacó
lamentaram quando se reuniram com seu irmão José e perceberam
o bem que ele havia feito por eles.
Mateus 24–25 resumem o ensinamento mais longo de Jesus
sobre o fim dos tempos, no qual Jesus revela dois aspectos
principais:
1. As promessas feitas a Abraão estão intimamente ligadas.
Jesus está comprometido com as três promessas.
2. As promessas se cumprirão no retorno de Jesus no
contexto do fim dos tempos.
Milhares de anos antes de pronunciar as palavras registradas
em Mateus 24, Jesus caminhou por entre os sacrifícios que
prenunciavam seu próprio sacrifício e se comprometeu com Abraão
a cumprir todas as promessas. Milhares de anos atrás, Jesus se
colocou diante desse homem idoso, que vivia no Oriente Médio, e
empenhou sua própria vida – seu próprio sangue – para cumprir
tudo o que havia prometido. Mateus 24 revela que ele não esqueceu
seu juramento.

As promessas em Atos
Jesus falou sobre o reino de Deus por quarenta dias antes de sua
ascensão. No final desses quarenta dias, fizeram-lhe uma pergunta
direta sobre seu ensinamento:
E os que se haviam reunido perguntaram-lhe: Senhor, é este o
tempo em que restaurarás o reino para Israel? Ele lhes
respondeu: Não vos compete saber os tempos ou as épocas
que o Pai reservou por sua autoridade. Mas recebereis poder
quando o Espírito Santo descer sobre vós; e sereis minhas
testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria, e até os confins da terra. – Atos 1.6-8
A pergunta era muito reveladora. Os ensinamentos de Jesus
geraram em seus ouvintes judeus a expectativa de que o reino fosse
restaurado a Israel. Quando Jesus respondeu, ele não descartou a
expectativa de um futuro restaurado para Israel, nem os corrigiu.
Jesus frequentemente corrigia os discípulos quando eles o
entendiam mal ou faziam suposições erradas,[59] mas neste caso ele
não os corrigiu, indicando que eles haviam entendido seu
ensinamento corretamente.
Jesus havia ensinado por quarenta dias e, se quisesse redefinir
a expectativa deles em relação ao que aconteceria com Israel, teria
feito isso durante esse período. Em vez disso, ele gerou em seus
ouvintes judeus a expectativa contínua de que ele cumpriria sua
promessa a Abraão de transformar seus descendentes em uma
grande nação.
Alguns cristãos ao longo da história têm acreditado que o reino
de Deus assume uma nova direção radical após a primeira vinda de
Jesus. Uma direção que não inclui mais nenhum propósito
específico para Israel. No entanto, Jesus não apenas afirmou o
futuro de Israel como também ensinou sobre um reino futuro
restaurado para Israel.
Em sua resposta, Jesus deu duas informações muito
importantes. Primeiro, ele tratou do tempo do cumprimento da
expectativa dos apóstolos. O reino não seria restaurado a Israel
imediatamente. Haveria um intervalo de tempo. Segundo, Jesus
vinculou a restauração de Israel à missão de levar o evangelho aos
gentios. Como em Mateus 24, Jesus enfatizou as três promessas.
Em Atos 1, Jesus deixou claro que as promessas são inseparáveis,
e ele não cumprirá uma sem cumprir as outras.
O livro de Atos também revela que os apóstolos aguardavam
com expectativa um futuro cumprimento das promessas. Em Atos 2,
Pedro faz referência à salvação futura de Israel citando Joel 2.32.
E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo. – Atos 2.21
E todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; pois
os que escaparem estarão no monte Sião e em Jerusalém,
como o SENHOR prometeu, e aqueles que o SENHOR chamar
estarão entre os sobreviventes. – Joel 2.32
Joel 2.32 prediz o dia em que Israel clamará por salvação. É
uma referência ao dia que Zacarias descreveu, quando todo o Israel
será salvo:
Mas derramarei o espírito de graça e de súplicas sobre a casa
de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém; eles olharão para
aquele a quem traspassaram e o prantearão como quem
pranteia por seu único filho; e chorarão amargamente por ele,
como se chora pelo primogênito. – Zacarias 12.10
O que Pedro quer dizer em Atos 2 é que o derramamento do
Espírito Santo levaria ao momento em que Joel e Zacarias
profetizaram, quando todos em Israel invocariam o nome do Senhor.
Em Atos 3, Pedro previu novamente a futura restauração de
Israel:
De modo que da presença do Senhor venham tempos de
refrigério, e ele envie o Cristo, que já vos foi predeterminado,
Jesus. É necessário que o céu o receba até o tempo da
restauração de todas as coisas, sobre as quais Deus falou pela
boca dos seus santos profetas, desde o princípio. – Atos 3.20-
21
Pedro não viu o cumprimento das promessas feitas a Israel na
primeira vinda de Jesus, em sua ascensão ou no tempo em que ele
governa do Céu. Ele previu um tempo futuro, determinado, em que
Jesus retornaria para cumprir as promessas. Será o tempo em que
as coisas que os profetas previram acontecerão.
Pedro não redefiniu o que os profetas haviam falado. Ele
esperava um futuro cumprimento literal de suas palavras. Ele usou a
palavra restauração exatamente como Jesus usou em Atos 1, e
Lucas registrou isso para que pudéssemos fazer a correlação entre
as duas passagens. Pedro, assim como Jesus, está se referindo à
restauração de Israel. A palavra que Pedro usou para restauração
( ἀ ποκατάστασις) foi uma referência à promessa do Antigo
Testamento sobre a restauração final de Israel. Pedro não usaria
essa palavra se as promessas já tivessem sido cumpridas. Ele
também não teria usado a linguagem da restauração se as
promessas fossem cumpridas por meio de um "novo" Israel sem
nenhuma conexão com o Israel histórico.
Perto do final de seu ministério, o apóstolo Paulo disse aos
romanos que estava acorrentado por causa da "esperança de
Israel",[60] uma declaração que demonstra que ele compartilhava a
expectativa de Pedro sobre a futura salvação de Israel.

As promessas em Romanos
Em Romanos 9, Paulo descreve sua angústia pela condição de
Israel, porque ele entendeu que sua eleição era irrevogável e que
Deus precisa cumprir suas promessas.[61] Paulo não teria ficado
angustiado com a situação do seu povo se as promessas a Israel
tivessem sido cumpridas. Paulo até descreve sua missão de levar o
evangelho aos gentios como uma parte essencial do plano de Deus
para cumprir essas promessas (Rm 10-11).
Em Romanos 11, Paulo resume sua expectativa de que Deus
cumprirá as promessas feitas aos judeus e gentios, revelando que
ele via sua missão pela lente das três promessas. Ele previu a
“plenitude dos gentios” e a “salvação de Israel”:
Irmãos, não quero que ignoreis este mistério para que não
sejais arrogantes: o endurecimento veio em parte sobre Israel,
até que chegue a plenitude dos gentios; e assim todo o Israel
será salvo, como está escrito: O Libertador virá de Sião e
desviará de Jacó as impiedades; e esta é a minha aliança com
eles, quando eu tirar os seus pecados. – Romanos 11.25-27
Paulo também resume sua missão em Romanos 15:
Afirmo, pois, que Cristo se tornou servo da circuncisão, por
causa da fidelidade de Deus, para confirmar as promessas
feitas aos patriarcas; e para que os gentios glorifiquem a Deus
pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto, eu te
louvarei entre os gentios e cantarei hinos ao teu nome. –
Romanos 15.8-9
As conclusões de Paulo são claras. Jesus veio para confirmar e
garantir as promessas feitas a Abraão e Jacó. A aliança não era
uma única promessa, mas várias promessas, e Paulo fez referência
ao cumprimento de todas as três. Por meio de Jesus, Deus está
comprometido com o que prometeu a Abraão, que envolve tanto
seus descendentes físicos quanto a salvação dos gentios. A visão
geral de Paulo sobre o evangelho revela novamente que as
promessas estão profundamente entrelaçadas e conectadas.[62]
O Novo Testamento não é claro sobre quando as promessas
serão cumpridas ou se são literais. O grande enigma é como Deus
completará seu maravilhoso plano, usando o cumprimento de cada
promessa como meio para trazer o cumprimento das demais. Deus
usará algo intensamente negativo – a rejeição de Jesus por parte de
Israel – para cumprir a promessa que fez a Abraão em relação aos
gentios. Em troca, os gentios vão desempenhar um papel
fundamental nas promessas feitas a Israel.

As promessas em Apocalipse
Como Jesus, Pedro e Paulo, João também previu o cumprimento
futuro das promessas. Em sua introdução ao livro de Apocalipse,
João resumiu o que o retorno de Jesus faria:
Ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo
aqueles que o traspassaram, e todas as tribos da terra se
lamentarão por causa dele. Sim. Amém. – Apocalipse 1.7
Como em Mateus 24.30, essa é uma citação do lamento
profetizado em Zacarias 12, lamento de arrependimento de Israel
diante do retorno de Jesus. Esse versículo não descreve o lamento
das nações iníquas no retorno de Jesus, mas o momento glorioso
em que Israel chegará ao arrependimento e receberá Jesus. O fato
de João enfatizar essa passagem em sua introdução revela a
importância que ele dava ao retorno de Jesus, pois essa era a sua
grande expectativa. Ele esperava que o retorno de Jesus cumprisse
essas promessas.
João também registrou algumas das previsões mais vívidas
sobre a salvação dos gentios:
E cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de tomar o
livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu
sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua,
povo e nação. – Apocalipse 5.9
Depois dessas coisas, vi uma grande multidão, que ninguém
podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em
pé diante do trono e na presença do Cordeiro, todos vestidos
com túnicas brancas e segurando palmas nas mãos. –
Apocalipse 7.9
Mais uma vez, vemos que o cumprimento de todas as
promessas está associado ao retorno de Jesus. Além disso, de
acordo com algumas considerações, o livro de Apocalipse tem mais
de 500 referências e alusões ao Antigo Testamento, indicando que
ainda há uma realização futura de muitas passagens do Antigo
Testamento.

A influência da história na interpretação


Se o Antigo e o Novo Testamento são tão claros sobre o
cumprimento literal e futuro das promessas, por que existem
interpretações bíblicas que consideram que as promessas foram
cumpridas ou que foram redefinidas pela primeira vinda de Jesus?
Há vários fatores que levaram a essas outras interpretações, mas
um que deve ser mencionado é a interpretação da Bíblia com base
em suposições sobre eventos históricos e não no próprio texto
bíblico.
Um exemplo-chave disso é o efeito da destruição de Jerusalém
em 70 d.C. na interpretação bíblica. A queda de Jerusalém e a
subsequente diáspora resultaram na expulsão de grande maioria do
povo judeu da terra de Israel. Setenta anos depois que
Nabucodonosor destruiu Jerusalém em 586 a.C., uma parcela
significativa da população judaica retornou e começou a reconstruir
Jerusalém. Após a destruição romana de Jerusalém, esse retorno
não aconteceu. Durante séculos, a terra e o povo judeu pareciam
completamente esquecidos. Parecia mesmo que Deus havia
revogado suas promessas.
Além disso, o fato de a maioria do povo judeu ter rejeitado
Jesus como o Messias fez com que o cumprimento literal das
promessas feitas a Abraão parecesse impossível para muitos
teólogos gentios. Como resultado, muitos teólogos assumiram que o
evento do ano 70 d.C. foi o veredito final de Deus sobre Israel e,
assim, desenvolveram sistemas de interpretação que encaravam as
promessas a Abraão de maneira alegórica. Dado que não houve um
retorno significativo de judeus, nem o estabelecimento de um
Estado judaico por quase dois mil anos, parecia razoável para os
teólogos tentar encontrar explicações alternativas para profecias
que pareciam impossíveis de se cumprir.
O que parecia impossível por séculos tornou-se subitamente
possível em 1948. O estabelecimento do Estado moderno de Israel
e a subsequente volta dos judeus à terra são um alerta de que não
devemos descartar o que a Bíblia diz claramente só porque parece
impossível.
Em retrospecto, dizer que Deus "cumpriu" ou "fez a transição"
das promessas a Israel no primeiro século depois de Cristo
simplesmente não faz sentido. A experiência de Israel no primeiro
século foi desastrosa. A nação não foi salva. Pelo contrário, de
acordo com Paulo, a maioria foi endurecida.[63] Além de Israel não
possuir verdadeiramente a terra, por estar sob ocupação romana, a
maioria das pessoas na terra foi expulsa pelos romanos. Dizer que
isso é o cumprimento da promessa que leva Israel a seu destino
viola toda lógica e bom senso. A situação de Israel no primeiro
século foi traumática e comprometeu a leitura clara sobre o
cumprimento das promessas de Deus.
A verdade é que toda a nossa redenção é baseada em Deus
fazendo o impossível. A Bíblia nos diz que Deus se tornou um ser
humano. Ele sofreu, morreu e ressuscitou dos mortos. Sua morte
pode proporcionar expiação a toda a humanidade. Como homem,
ele ascendeu ao seu trono nos céus. Ele voltará visivelmente dos
céus como homem. Os profetas jamais poderiam ter concebido isso,
pois tudo isso é uma impossibilidade humana. No entanto, essa é a
mensagem do evangelho.
Precisamos estar dispostos a viver sob a tensão de nos firmar
no que a Palavra de Deus claramente diz, mesmo quando a
possibilidade de cumprimento literal nos parece inviável. E
precisamos ter cuidado com a interpretação bíblica através de
nossas próprias lentes históricas ou através das lentes do que
consideramos ser razoável.
DEUS PRECISA CUMPRIR SUAS PROMESSAS

V imos como as promessas de Deus conduzem a narrativa


bíblica. Também vimos que as promessas de Deus
permanecem não cumpridas e os autores do Antigo e do Novo
Testamento esperavam um futuro cumprimento delas. Antes de
terminar esta seção, há mais dois pontos que precisamos destacar.
A primeira é que a honra de Deus está em jogo em relação à sua
capacidade de cumprir suas promessas. A segunda é que a
controvérsia sobre essas promessas está crescendo nas nações.

A honra de Deus está em jogo


A honra de Deus está em jogo em relação ao cumprimento literal de
suas promessas. Isso é ilustrado pela intercessão de Moisés por
Israel em Deuteronômio 9:
Orei ao SENHOR: Ó SENHOR Deus, não destruas o teu povo,
a tua herança, que resgataste com a tua grandeza, que tiraste
do Egito com mão forte. Lembra-te dos teus servos Abraão,
Isaque e Jacó. Não olhes para a dureza deste povo, nem para
a sua culpa, nem para o seu pecado; para que o povo da terra
de onde nos tiraste não diga: O SENHOR não conseguiu levá-
los para a terra que lhes havia prometido, por isso passou a
odiá-los e os tirou daqui para matá-los no deserto. Apesar de
tudo, eles são o teu povo, a tua herança, que tiraste com tua
grande força e com teu braço estendido. – Deuteronômio 9.26-
29
Na época da intercessão de Moisés, Israel estava
profundamente imerso no pecado e havia provocado o juízo de
Deus, de acordo com os termos da aliança. Deus se propõe a
destruir o povo de Israel e a fazer de Moisés uma grande nação,
mantendo as promessas.[64] Moisés desafia Deus a cumprir
literalmente suas promessas ou ser humilhado diante das nações.
Mesmo quando o povo de Deus é rebelde, a honra de Deus
está em jogo no cumprimento de suas promessas. Deus pode
cumprir suas promessas de maneira chocante e surpreendente, mas
Moisés argumentou que Deus teria de cumprir suas promessas de
forma fiel ao que dissera a Abraão.
As promessas feitas a Abraão são uma parte significativa do
"por que" por trás do "o que" dos eventos do fim dos tempos, pois
Deus planejou que o fim dos tempos fosse o grande momento
culminante do cumprimento de suas promessas. Como resultado, as
passagens do fim dos tempos tipicamente enfatizam a salvação do
povo judeu, a terra de Israel (especificamente, a cidade de
Jerusalém) e a salvação dos gentios.

A crescente controvérsia sobre as promessas


Quando olhamos os últimos cem anos da história, através das
lentes de cada promessa, vemos uma crescente escalada na
batalha pelas promessas. Vemos sinais claros do compromisso de
Deus com cada promessa e do aumento da resistência a cada uma
delas. Quanto mais nos aproximamos do retorno do Senhor, mais
extremo se tornará o conflito sobre essas promessas. Isso prepara o
caminho para o fim dos tempos, que será o tempo do conflito global
mais intenso sobre essas promessas. Deus liberará um poder sem
igual nas nações para cumprir seus propósitos, e o inimigo
promoverá uma oposição sem precedentes.

Promessa 1 – a terra
A Bíblia nos diz que a posse da terra pelos judeus se tornará uma
das principais controvérsias no mundo,[65] e agora, pela primeira vez
em dois mil anos, há um Estado judaico na Terra estabelecendo o
contexto dessa controvérsia. Vivemos na primeira geração em que o
repentino cumprimento das promessas em relação à terra é
possível.
Embora o Estado moderno de Israel não seja uma nação salva,
a própria existência desse Estado é uma declaração estrondosa de
que Deus pretende cumprir sua promessa a respeito da terra.
Historicamente, o conflito sobre a terra de Israel é um conflito
regional baseado em um conflito por rotas comerciais ou na
ambição de impérios regionais. O conflito sobre Israel nunca foi um
problema global que afeta as nações da Terra. Até agora. Como a
nação de Israel é uma realidade do nosso tempo, é fácil perceber o
quão impressionante e sem precedentes tudo isso é.
O mundo moderno não depende mais das antigas rotas
comerciais que motivaram os antigos agressores de Israel. Agora,
as nações se opõem a Israel por razões religiosas e ideológicas, e o
cenário está sendo preparado nas nações para o conflito final em
torno da questão da terra.

Promessa 2 – a salvação de Israel


A Bíblia nos diz que a salvação do povo judeu será contestada – até
o ponto de tentativa de extermínio – porque o fim dos tempos
resultará em sua salvação.[66] Em nossos dias, observamos que
ocorre uma salvação histórica entre o povo judeu. Embora Israel
ainda não esteja salvo, no meio deles têm surgido aqueles que
creem em Jesus como Messias. Em toda a Igreja, há também uma
crescente conscientização da necessidade de entender o que a
Bíblia diz sobre a salvação de Israel. O Senhor está demonstrando
seu compromisso de cumprir essa promessa.
Ao mesmo tempo, o século 20 viu o horror do Holocausto – a
tentativa mais terrível de impedir a salvação do povo judeu – e isso
não terminou com o Holocausto. A criação do Estado moderno de
Israel desencadeou o antissemitismo de uma maneira sem
precedentes e, em algumas partes do mundo islâmico, há
constantes convocações para a destruição do povo judeu. Em
alguns casos, convoca-se a aniquilação do povo judeu usando
linguagem antissemita que vai muito além de qualquer propagada
concebida por Adolf Hitler. Isso também não se limita ao Oriente
Médio. Em maio de 2016, metade dos soldados franceses alocados
na França estavam envolvidos na proteção de sinagogas e escolas
judaicas (MEOTTI, 2016).
A controvérsia em torno da salvação de Israel está aumentando
nas nações.

Promessa 3 – as nações
A Bíblia prevê que um remanescente em todas as nações vai adorar
o Deus de Israel antes que esta era termine,[67] sendo que estamos
à beira de um marco incrível na história da redenção: pela primeira
vez na história, é possível que o evangelho alcance todas as tribos e
línguas. O evangelismo está se acelerando, e milhões de pessoas
foram alcançadas com o evangelho no século passado. Vivemos em
uma época em que a Igreja que mais cresce no mundo está em uma
nação hostil ao evangelho (HOWARD, 2016), e milhões de pessoas
se reuniram para megacruzadas que seriam inimagináveis na
geração passada (CBN NEWS, 2017).
Ao mesmo tempo, mais cristãos foram martirizados no século
passado do que em todos os séculos anteriores juntos (JOHNSON,
2012), e a perseguição está em ascensão em várias nações hostis
ao evangelho. Embora o número de grupos de pessoas não
alcançadas tenha caído drasticamente, muitos dos povos restantes
serão os mais difíceis de serem alcançados.
PARTE 3:

O QUE PRECISA SER RESOLVIDO – A CRISE DA


ALIANÇA
O DILEMA DA ALIANÇA COM ISRAEL

E xaminamos as promessas que Deus terá de cumprir e como


elas moldam a história do fim dos tempos. No entanto, além de
promessas que precisam ser cumpridas, também há questões
específicas da aliança com Israel que devem ser finalmente
resolvidas. Essas questões da aliança impedem Israel e as nações
– mas particularmente Israel – de experimentar a plenitude das
promessas de Deus. Podemos chamar isso de crise da aliança.
Essa crise é frequentemente negligenciada, mas precisamos
entender o papel que ela desempenha na preparação do cenário
para o retorno de Jesus.
A crise da aliança é um dos efeitos dos termos e condições da
aliança mosaica. Se não compreendermos essa crise ou o processo
por meio do qual ela será resolvida, será difícil entender
completamente o fim dos tempos. Grande parte da confusão sobre o
fim dos tempos se deve ao não entendimento do papel da aliança
mosaica.
Muitos cristãos acreditam que a aliança mosaica não tem mais
nenhum efeito sobre Israel ou as nações, mas isso não é verdade.
Jesus garantiu a Nova Aliança e a resolução da aliança mosaica,
mas há um processo por meio do qual a vitória da cruz resolve
todos os problemas relacionados à aliança mosaica. Esse processo
será concluído durante o fim dos tempos e é uma parte essencial do
drama do fim dos tempos.
Muitas pessoas presumem que todo o Antigo Testamento foi
revogado. Como vimos quando examinamos as promessas de
Deus, isso não é verdade. Alguns aspectos foram revogados como
resultado da Nova Aliança, alguns estão desaparecendo e alguns
permanecem. Precisamos saber quais aspectos foram revogados e
quais permanecem para que possamos interpretar adequadamente
o Novo Testamento.

A aliança mosaica e a identidade judaica


Quando lidamos com a aliança mosaica, é importante saber a
diferença entre viver sob a aliança mosaica e viver uma expressão
de vida judaica que incorpora elementos da vida e identidade
judaica.
Na época do Novo Testamento, o grande desafio era como os
gentios poderiam fazer parte do povo de Deus. Como resultado, os
autores do Novo Testamento deixaram claro que os crentes das
nações não precisavam se "converter" a um estilo de vida judaico ou
assumir uma identidade judaica. Infelizmente, com o passar dos
anos, a Igreja se tornou predominantemente gentílica, e certos
segmentos da Igreja passaram a exigir que os crentes judeus
abandonassem completamente sua identidade judaica, uma ideia
que seria estranha à Igreja do Novo Testamento.
Após dois mil anos de um cristianismo principalmente gentílico,
nosso desafio é o oposto daquele que a Igreja do primeiro século
enfrentou. A questão não é mais se os gentios podem entrar na
família de Deus, mas é a seguinte: como a Igreja
predominantemente gentílica deve receber e honrar os crentes
judeus? Do mesmo modo que a Igreja primitiva abriu espaço para
os crentes gentios, a Igreja global agora precisa fazer o mesmo
pelos crentes judeus.
Quando falamos que a aliança mosaica se tornou obsoleta,
estamos nos referindo ao fato de que o pacto mosaico e suas
maldições não são mais impostos sobre os seguidores de Jesus.
Entretanto, quando falamos sobre a liberdade da aliança mosaica,
isso não significa que os crentes judeus devam abandonar sua
identidade judaica.
A aliança mosaica é uma parte essencial da história de Israel
no Antigo Testamento, mas não define todos os aspectos
relacionados a Israel. Muitos outros aspectos da vida judaica
baseados no Antigo Testamento não fazem parte da aliança
mosaica e, portanto, devem continuar a fazer parte da vida judaica
dos seguidores de Jesus. Está além do escopo deste livro lidar com
essa questão em detalhes, mas é imperativo que a Igreja reconheça
a validade de uma expressão judaica de fé, enraizada na história de
Israel.

O impacto da aliança mosaica


Assim como precisamos entender como as promessas de Deus no
Antigo Testamento continuam a conduzir a história da redenção,
também precisamos entender os aspectos do Antigo Testamento
que foram substituídos e como Deus planeja resolvê-los.
Nesta seção, trataremos principalmente da aliança mosaica,
que se refere à aliança feita entre Deus e Israel no Sinai. Muitos
crentes presumem que essa aliança não é mais relevante para o
plano redentor de Deus porque foi substituída, mas isso não é
verdade. Precisamos examinar como ela continua afetando Israel e
as nações e o papel específico que ela desempenha no final dos
tempos.
Antes de considerarmos a influência contínua da aliança
mosaica, precisamos começar com uma perspectiva adequada da
aliança. Muitos cristãos pensam na aliança mosaica apenas em
termos negativos, mas o mesmo Deus que nos deu a Nova Aliança
deu a aliança mosaica para reger Israel até a chegada da Nova.
Alguns teólogos cometeram o erro de tratar “lei e graça” como
se fossem mutuamente excludentes [não ocorrem ao mesmo
tempo],[68] mas o mesmo Deus que nos deu a lei também oferece a
graça. O problema com a lei não é a própria lei, mas a maldade do
coração humano que se rebela contra a lei de Deus:
De modo que a lei é santa, e o mandamento, santo, justo e
bom. Então, o que era bom tornou-se em morte para mim? De
modo nenhum. Mas o pecado, para que se mostrasse como
pecado, produziu em mim a morte por meio do que era bom; a
fim de que pelo mandamento o pecado se mostrasse
extremamente pecaminoso. – Romanos 7.12-13
O pensamento ocidental moderno tende a se rebelar contra
qualquer forma de lei ou proibição sob o rótulo de legalismo, mas
essa não é uma ideia bíblica. A lei de Deus é boa e vai além das
exigências específicas da aliança mosaica.
No contexto da aliança mosaica, podemos ver a misericórdia de
Deus preparando o cenário para a Nova Aliança. Quando o povo
pecou, Deus deu instruções para a restauração dos
relacionamentos. Algumas pessoas destacam apenas os castigos
da aliança mosaica, mas Deus também providenciou um meio de
restauração no contexto dessa aliança. Todo o sistema sacrificial foi
dado como uma imagem do desejo de Deus de restaurar a
comunhão. Deus foi paciente e demorou para decretar os castigos
da aliança mosaica, mas prontamente ofereceu misericórdia aos
que se arrependiam.
A aliança nos deu uma imagem da bondade e da severidade de
Deus. A aliança proporcionou uma imagem da disciplina de Deus,
bem como de sua misericórdia e redenção. Portanto, precisamos
rejeitar a heresia antibíblica de que o Deus do Antigo Testamento é
algum tipo de Deus vingativo que é diferente, em sua essência, do
Deus do Novo Testamento.

O encontro da aliança de Israel


Quando Deus fez uma aliança com Israel no Sinai, ele desceu
visivelmente em uma montanha e falou audivelmente a uma nação
inteira, convidando o povo daquela nação a fazer uma aliança com
ele.[69] A nação aceitou os termos do acordo e entrou na aliança. O
encontro de Israel com Deus no Sinai é a única vez que Deus
ofereceu um contrato ou aliança, de maneira visível e audível, a
uma nação inteira com termos e condições detalhados de bênção e
maldição.[70]
Embora alguns menosprezem a aliança mosaica, ela é um
evento sem igual e merece verdadeiro respeito. Moisés lembrou a
Israel o quão significativo foi o encontro da aliança:
Ou se algum povo ouviu a voz de Deus falar do meio do fogo,
como a ouvistes, e ficou vivo. Ou se algum deus decidiu tomar
para si uma nação do meio de outra nação, por meio de provas,
sinais, maravilhas, guerras, com mão poderosa, braço
estendido e com grandes prodígios, assim como o SENHOR,
vosso Deus, fez convosco no Egito, diante dos vossos olhos. –
Deuteronômio 4.33-34
Para Deus, a aliança feita no Sinai não foi simplesmente um
acordo legal. Foi um evento tão emocionante que Deus o descreveu
da maneira que um homem descreveria o dia do seu casamento.[71]
Passando por ti, vi que já estavas na idade de amar; então
estendi minha capa sobre ti e cobri tua nudez. Fiz um
juramento e firmei uma aliança contigo, diz o SENHOR Deus, e
tu passaste a me pertencer. – Ezequiel 16.8
Isso nos dá uma visão do relacionamento de Deus com Israel.
Mesmo depois que Israel se rebelou no deserto, Deus lembrou-se
do encontro da aliança com profunda emoção e afeto:
Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém: Assim diz o SENHOR:
Lembro-me de ti, da tua fidelidade na juventude, do teu amor
como noiva, de como me seguiste no deserto, numa terra não
semeada. – Jeremias 2.2
Do ponto de vista de Deus, essa aliança faz parte de uma
história contínua, pela qual ele é muito apaixonado. Não podemos
simplesmente descartar a aliança mosaica afirmando que é o
“Antigo Testamento” [ou a Velha Aliança]. Precisamos reconhecer
seu pleno significado e como ela se relaciona com as outras
alianças.

O propósito da aliança mosaica


Como a aliança mosaica é frequentemente desacreditada, seu
propósito passa despercebido com facilidade. A aliança mosaica
serve a vários propósitos redentores. Como as outras alianças de
Deus, ela nos fornece uma demonstração profunda da natureza de
Deus e da natureza do homem. A aliança revelou o intenso desejo
de Deus de oferecer misericórdia e viver em comunhão com seu
povo. Deus sabia que Israel falharia, então ele providenciou para
Israel um método nacional de arrependimento: o sistema de
sacrifícios e ofertas. Esse sistema também forneceu um padrão pelo
qual Israel, como povo, era convidado a ter comunhão regular com
Deus.
Além disso, a aliança conectou a vida diária do povo a Deus.
Muitos eventos da vida estavam relacionados a ofertas, e isso
aproximou as pessoas de Deus e fez dele um participante nos
aspectos cotidianos de sua vida. É fácil esquecermos que a
presença de Deus estava no tabernáculo e no templo original.
Portanto, a ordem para que o povo se dedicasse ao sistema de
sacrifícios e ofertas era um privilégio. Era uma oportunidade de se
aproximar da presença manifesta de Deus.
Além disso, a aliança revelou a seriedade dos juízos de Deus.
Embora possam parecer severos para nós, eles fazem parte da
natureza de Deus. Quando as pessoas pecam e não demonstram
arrependimento, Deus revela sua glória por meio de seus juízos.
Portanto, a aliança mosaica previa juízos pelos pecados
deliberados. Os juízos de Deus não são apenas parte da aliança
mosaica, eles são parte de quem ele é. Além disso, os juízos da
aliança nos dão uma imagem dos juízos que as nações enfrentarão
no fim.
A aliança mosaica também revelou a natureza do homem. A
história de Israel é a nossa história. O fracasso de Israel é nosso
fracasso, porque essa aliança revela a condição da humanidade.
Assim como Israel, estamos debaixo das justas exigências de Deus.
Como Israel, nos rebelamos contra Deus e estamos sujeitos ao seu
julgamento. Embora a aliança mosaica fosse um acordo específico
com Israel, ela demonstrou a verdadeira condição do homem. Israel
não falhou por causa de uma peculiaridade da nação. Os fracassos
de Israel resultaram da humanidade de Israel. A aliança mosaica
expôs nossa verdadeira condição e nossa necessidade de uma
justiça garantida por Deus. Israel é como um espelho. Quando
olhamos para Israel, vemos a nós mesmos.
Essa aliança também serviu a um propósito estratégico na
história da redenção. Ela revelou quem Deus era de uma maneira
mais profunda do que qualquer coisa que havia acontecido antes. A
aliança também preservou Israel como um povo único e permitiu
que a nação continuasse a desempenhar um papel de redenção
para as nações.
Sem os juízos da aliança mosaica, não entenderíamos o zelo
de Deus por sua própria glória, e o propósito de redenção designado
para Israel teria sido perdido. Os juízos de Deus preservaram a
nação de Israel e permitiram que ela cumprisse seu propósito na
aliança. Quando Israel abraçou a idolatria e os caminhos das outras
nações, o juízo de Deus separou Israel dessas nações e restaurou
sua distinção como povo.
A Bíblia usa a analogia do casamento para descrever o
relacionamento de Deus com seu povo. Usando essa analogia, a
aliança mosaica é como um noivado. Um compromisso de noivado
no passado era muito mais sério do que o noivado nos dias de hoje.
Tratava-se essencialmente do casamento civil que precederia a
consumação. Na aliança mosaica, Deus entrou em um intenso
relacionamento com Israel (de noivado) que precederia a Nova
Aliança (o casamento) e permitiria a consumação do relacionamento
de Deus com seu povo.
A aliança mosaica não era fundamentalmente legalista. Era um
sistema pelo qual Israel poderia se relacionar com Deus, continuar
sendo um povo separado, ser preservado e estar preparado para
cumprir seus propósitos de redenção. Era o contexto no qual Deus
revelava sua glória em misericórdia e juízo. Embora tenha nos
conduzido a uma Nova Aliança, superior à antiga, ela não deve ser
menosprezada.

As principais diferenças da aliança mosaica


Existem duas diferenças principais entre as alianças que Deus fez
com Abraão e Davi e a que ele fez com Israel no Sinai.
A primeira diferença fundamental é que Deus ofereceu à nação
de Israel um acordo com termos e condições específicos. Esses
termos e condições incluíam bênçãos e maldições que dependiam
do comportamento de Israel. Deus declarou seu compromisso
permanente com Israel na aliança, mas ele também determinou
condições específicas à nação, nas quais a obediência ou a rebelião
da nação determinaria se ela experimentaria bênção ou maldição
como efeitos da aliança. O resultado final da aliança mosaica estava
condicionado tanto à obediência do povo aos termos de Deus
quanto à fidelidade de Deus.
A Nova Aliança e as alianças feitas com Abraão e Davi são
muito diferentes porque todas elas são declarações do que Deus
fará no futuro. Nessas alianças, Deus não condicionou o resultado
final à resposta humana. Abraão ou Davi poderiam ter agido (depois
de firmada a aliança) de maneira que não desfrutassem mais dos
benefícios da aliança; ainda assim, Deus estaria vinculado à sua
palavra e garantiria pessoalmente o resultado final dessas alianças.
Jeremias observou especificamente a diferença entre a Nova
Aliança e a aliança feita no Sinai:
Dias virão, diz o SENHOR, em que farei uma nova aliança com
a casa de Israel e com a casa de Judá. Ela não será como a
aliança que fiz com seus pais, quando os peguei pela mão para
tirá-los da terra do Egito, pois eles quebraram a minha aliança,
mesmo sendo eu o senhor deles, diz o SENHOR. – Jeremias
31.31-32
A segunda diferença principal dessa aliança em relação às
demais é que Deus fez a aliança no Sinai com uma nação e não
com um indivíduo. Embora seja referida como a aliança mosaica,
Deus não fez a aliança com Moisés. Deus ofereceu a aliança à
nação de Israel e toda a nação aceitou audivelmente os termos
dessa aliança com Deus. A descrição bíblica do evento da aliança é
impressionante.[72]
Moisés voltou e, tendo convocado os anciãos do povo, expôs
diante deles todas as palavras que o SENHOR lhe havia
ordenado. E todo o povo respondeu de comum acordo:
Faremos tudo o que o SENHOR falou. E Moisés relatou ao
SENHOR as palavras do povo. Então o SENHOR disse a
Moisés: Virei a ti numa nuvem espessa, para que o povo ouça
quando eu falar contigo e sempre creia em ti. Porque Moisés
havia anunciado as palavras do povo ao SENHOR. – Êxodo
19.7-9
No terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões, relâmpagos e
uma nuvem espessa sobre o monte; e ouviu-se um soar de
trombeta muito forte, a ponto de fazer estremecer todo o povo
que estava no acampamento. Então Moisés levou o povo para
fora do acampamento ao encontro de Deus; e eles ficaram na
base do monte. Todo o monte Sinai fumegava, pois o SENHOR
havia descido sobre ele em fogo. A fumaça subia como fumaça
de uma fornalha, e todo o monte tremia muito. – Êxodo 19.16-
18
Ou se algum povo ouviu a voz de Deus falar do meio do fogo,
como a ouvistes, e ficou vivo. – Deuteronômio 4.33
O SENHOR, nosso Deus, fez uma aliança conosco no Horebe.
Não foi com nossos pais que o SENHOR fez essa aliança, mas
conosco; sim, com todos nós que hoje estamos aqui vivos. O
SENHOR falou conosco no monte, face a face, do meio do
fogo. – Deuteronômio 5.2-4
Esse encontro entre Deus e Israel vinculou toda a nação aos
termos e condições da aliança. Esses termos são resumidos em
Levítico 26 e Deuteronômio 28–30. Eles estabelecem o contexto
para o relacionamento de Israel com Deus por todo o Antigo
Testamento.
Por exemplo, em Levítico 26, Moisés resumiu as bênçãos
decorrentes da obediência, as maldições resultantes da
desobediência e o compromisso contínuo de Deus com Israel,
apesar de sua desobediência:
Se andardes nos meus estatutos e guardardes os meus
mandamentos e os cumprirdes, eu vos darei chuvas no tempo
certo, a terra dará seu produto e as árvores do campo darão
seus frutos. A debulha continuará até a colheita, e a colheita,
até a semeadura. Comereis o vosso pão com fartura e
habitareis seguros na vossa terra. – Levítico 26.3-5
Mas, se não me ouvirdes e não cumprirdes todos esses
mandamentos.[73] – Levítico 26.14
Mesmo assim, quando estiverem na terra dos seus inimigos,
não os rejeitarei nem os detestarei a ponto de destruí-los
totalmente e de quebrar a minha aliança com eles, porque eu
sou o SENHOR, seu Deus. Pelo contrário, por amor deles me
lembrarei da aliança com seus antepassados, que tirei da terra
do Egito diante dos olhos das nações, para ser o Deus deles.
Eu sou o SENHOR. – Levítico 26.44-45
A mensagem de Deus era simples: o resultado final da aliança
estava condicionado à resposta da nação. Ele responderia à sua
obediência com bênçãos e à sua desobediência com maldições. No
entanto, a declaração final de Deus para Israel foi de que ele
manteria uma aliança com eles, apesar do seu pecado. Deus ainda
não havia explicado como ele faria isso, mas claramente indicou que
encontraria uma maneira de cumprir a aliança quando Israel
quebrasse a aliança mosaica.

O pecado de uma minoria afeta a maioria


As maldições da lei eram uma ameaça constante às promessas a
Israel, porque elas condicionavam a posse de sua herança à
capacidade de Israel cumprir a lei. O pecado de Acã, durante a
conquista de Canaã, ilustra bem essa situação.
Quando os israelitas conquistaram Jericó, Deus proibiu os
israelitas de levar qualquer espólio. Acã ignorou essa ordem e
pegou as coisas que encontrou no cerco a Jericó. Como resultado
de sua desobediência, os israelitas foram derrotados na batalha
seguinte, e Josué teve de lidar com o pecado para que o favor do
Senhor pudesse retornar a Israel.[74]
O que aconteceu com Acã foi uma forte mensagem para toda a
nação: como a aliança mosaica foi feita com a nação, o pecado de
uma minoria poderia colocar toda a nação em risco. Como o pecado
de um remanescente poderia fazer com que toda a nação
experimentasse o juízo de Deus, criou-se um impasse.
Deus prometeu a Abraão que chegaria um tempo em que seus
descendentes seriam justos e herdariam uma terra
permanentemente em paz e segurança. No entanto, a lei dada por
Moisés criou uma condição em que as pessoas só poderiam habitar
na terra com segurança se todas as pessoas cumprissem
perfeitamente a lei; algo impraticável.
Israel concordou com a aliança mosaica como nação e sujeitou
todos os seus descendentes aos termos e condições dessa aliança.
Israel entrou na aliança mosaica como nação e Israel também terá
de sair da aliança como nação. Até que isso aconteça, qualquer
pecado na nação faz com que toda ela esteja vulnerável às
maldições da aliança.
No decorrer do tempo, Israel deixou de cumprir as exigências
da aliança. Israel não falhou porque os termos e condições da
aliança eram muito rigorosos ou porque eles, como nação, eram
mais perversos do que outras nações. Israel falhou simplesmente
porque eles eram humanos, e a força humana, por si só, é incapaz
de vencer o pecado e garantir as promessas de Deus.

A aliança precisa nos levar a Jesus


A experiência de Israel sob a aliança mosaica tinha o objetivo de ser
uma lição objetiva para nós, porque a história de Israel é a história
da humanidade. O poder de Deus precisa agir em nós e nos
transformar, de forma sobrenatural, para que possamos vencer o
pecado, manter um relacionamento com ele e cumprir nosso
chamado. A aliança mosaica revelou nossa condição pecaminosa,
mas não conseguiu nos libertar. Portanto, o objetivo da lei era nos
conduzir a Jesus, que pode nos libertar sobrenaturalmente:
Sabemos, contudo, que o homem não é justificado pelas obras
da lei, mas pela fé em Jesus Cristo. Nós também temos crido
em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e
não pelas obras da lei, pois ninguém será justificado pelas
obras da lei. – Gálatas 2.16
Desse modo, a lei se tornou nosso guia para nos conduzir a
Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. – Gálatas
3.24
Ora, sendo a lei sombra dos bens futuros, e não a imagem
exata das coisas boas, jamais pode aperfeiçoar os que vêm
apresentar suas ofertas por meio dos mesmos sacrifícios que
continuamente se oferecem de ano em ano. Se não fosse
assim, não teriam deixado de ser oferecidos? Pois, se os
adoradores tivessem sido purificados de uma vez por todas,
nunca mais teriam consciência do pecado. Porém, por meio
desses sacrifícios se faz recordação dos pecados a cada ano,
pois é impossível que o sangue de touros e de bodes apague
pecados. – Hebreus 10.1-4
Pelo novo e vivo acesso que ele nos abriu através do véu, isto
é, do seu corpo. – Hebreus 10.20
Essa aliança não desapareceu simplesmente com a vinda de
Jesus. Jesus garantiu uma Nova Aliança, mas há um processo por
meio do qual Israel terá de fazer a transição da aliança mosaica
para a Nova Aliança. Até que essa transição aconteça, a nação
permanece sujeita aos termos da aliança. À medida que
prosseguirmos, veremos como a aliança continua afetando Israel,
como será resolvida pelo retorno de Jesus e qual o papel que ela
desempenha na preparação do cenário para o fim dos tempos.
A DISCIPLINA DA ALIANÇA

A s maldições da aliança mosaica resultam no que podemos


chamar de disciplina da aliança. Embora a disciplina da aliança
mosaica fosse direcionada especificamente a Israel, sua história
revela a natureza de Deus e seu caráter. Portanto, a disciplina de
Deus sobre Israel nos instrui no conhecimento de Deus e dos seus
caminhos com todos os povos.
Descobrimos no Novo Testamento que a disciplina de Deus não
é só para Israel nem terminou com a primeira vinda de Jesus. Paulo
alertou os gentios de que a primeira vinda de Jesus intensificaria o
juízo de Deus sobre as nações e prenunciaria um dia futuro de
julgamento como nunca houve antes:
Deus não levou em conta os tempos da ignorância, mas agora
ordena que todos os homens, em todos os lugares, se
arrependam, pois determinou um dia em que julgará o mundo
com justiça, por meio do homem que estabeleceu com esse
propósito. E ele garantiu isso a todos ao ressuscitá-lo dentre os
mortos. – Atos 17.30-31
Mas, segundo tua teimosia e teu coração que não se
arrepende, acumulas ira sobre ti no dia da ira e da revelação do
justo julgamento de Deus. – Romanos 2.5
O juízo de Deus no Antigo Testamento não se limitou a Israel.
Deus também dirigiu severas palavras de juízo às nações, muitas
vezes como um alerta a elas sobre resistir ao seu propósito de
redenção para Israel.[75] Deus alertou as nações sobre não tirar
proveito da disciplina de Israel, tentando roubar sua herança. O
povo de Edom, em particular, tentou tirar vantagem do juízo de Deus
sobre Judá e, como resultado, foi julgado com severidade:
Naquele dia, diz o SENHOR, destruirei os sábios de Edom e o
entendimento do monte de Esaú! [...] Mas não devias olhar com
prazer o dia da desgraça de teu irmão, nem te alegrar com a
ruína do povo de Judá, nem falar com arrogância no dia da
tribulação [...] O dia do SENHOR está perto! Sobre todas as
nações! Como fizeste, assim se fará contigo; o teu feito voltará
sobre ti [...] A casa de Jacó será fogo, e a casa de José,
labareda, e a casa de Esaú, palha; o fogo e a labareda se
acenderão contra a palha e a consumirão; e não restará mais
ninguém da casa de Esaú; porque o SENHOR o disse. –
Obadias 8,12,15,18
Como a disciplina de Deus desempenha um papel significativo
na maneira como ele se relaciona com Israel e as nações,
precisamos definir os pressupostos que norteiam nossa abordagem
ao tema “disciplina”.

Deus se faz conhecido por meio de seus juízos


Deus se revela em seus juízos. Observe as palavras de Ezequiel:[76]
E não te pouparei, nem terei piedade; eu te punirei conforme os
teus caminhos, enquanto as tuas abominações estiverem no
meio de ti; e sabereis que eu, o SENHOR, castigo. – Ezequiel
7.9
E vos pagarão o vosso procedimento pervertido e levareis os
pecados dos vossos ídolos; e sabereis que eu sou o SENHOR
Deus. – Ezequiel 23.49
Assim executarei juízos no Egito, e saberão que eu sou o
SENHOR. – Ezequiel 30.19
Então saberão que eu sou o SENHOR, quando eu transformar
a terra em deserto e abandono por causa de todas as
abominações que praticaram. – Ezequiel 33.29
Deus não libera juízo por razões mesquinhas ou vingativas. Ele
o faz por causa de seu nome, para se tornar conhecido:
E sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu agir para
convosco por amor do meu nome, não conforme as vossas
obras, nem conforme os vossos atos corruptos, ó casa de
Israel, diz o SENHOR Deus. – Ezequiel 20.44
Portanto, diz à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Ó
casa de Israel, não é por tua causa que faço isto, mas por
causa do meu santo nome, que tendes profanado entre as
nações para onde fostes; e eu santificarei o meu grande nome,
que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio
delas; e as nações saberão que eu sou o SENHOR, quando eu
for santificado diante delas, diz o SENHOR Deus. – Ezequiel
36.22-23
Quando Deus libera juízo, seu principal interesse é
engrandecer o seu santo nome. Biblicamente, os juízos de Deus
revelam sua natureza, seu caráter, sua beleza e sua glória.
O pecado é mais do que a violação de regras arbitrárias. Em
última análise, é a violação de uma pessoa. É por isso que Deus
comparou o pecado de Israel ao adultério.[77] O adultério no
casamento não é simplesmente a quebra de uma regra; é a violação
de outra pessoa. O pecado é pessoal, não mecânico. O pecado
contra Deus é a violação de uma Pessoa que nos criou para um
relacionamento íntimo. O pecado destrói o relacionamento com
Deus, assim como o adultério destrói um casamento. O fato
surpreendente da mensagem bíblica é que Deus, embora violado
por Israel e pelas nações, busca intensivamente restaurar o
relacionamento com eles.
Quando pecamos, fazemos uma declaração sobre quem é
Deus. O pecado é a afirmação de que somos melhores do que Deus
e sabemos o que é melhor para nós e o que nos faz bem. Quando
rejeitamos seus caminhos, estamos contestando seu caráter, porque
seus caminhos são um reflexo de quem ele é. O pecado é uma
afirmação de que Deus não é perfeitamente bom e não age
verdadeiramente no melhor interesse da criação. Nosso pecado
corrompe a boa criação de Deus e violar a criação é o mesmo que
violar o próprio Deus, que formou a criação para sua alegria e
propósitos.
Porque o pecado é uma acusação contra Deus, ele precisa
responder à acusação contra sua bondade. Ele precisa demonstrar
primeiro que é bom e que sua bondade é expressa na maneira
como se relaciona com sua criação. Seus juízos são uma expressão
de como ele se sente sobre nossa corrupção e a violação da
criação.
Um juiz revela sua bondade na maneira como responde aos
crimes cometidos, e Deus não é diferente. As sentenças que um juiz
dá aos criminosos revelam o que o juiz valoriza e quanto ele se
importa com as pessoas que foram violadas. A glória de um juiz é
que ele demonstre o que é belo e verdadeiro por meio de seus
juízos sobre o que é mau. O mesmo ocorre com Deus. Seus
julgamentos revelam como ele valoriza sua santidade e seu cuidado
por sua criação, que é violada por nossos pecados. Portanto, ele
não nos deve desculpas por exercer seus juízos.
Quando pecamos, não apenas estamos declarando que
conhecemos o bem melhor que Deus, como também afirmamos que
o que Deus define como mal não é verdadeiramente mal. Nossa
presunção de que Deus não castigará o nosso pecado é uma
afirmação de que não vale a pena se sujeitar às leis de Deus, pois
elas não são expressões verdadeiras e valiosas de sua bondade.
É possível afirmar o que os pais consideram importante pelas
exigências que impõem aos filhos. As crianças aprendem
rapidamente as verdadeiras regras de uma casa, observando as
exigências e as tolerâncias dos pais. Regras que não são colocadas
em prática não são essencialmente verdadeiras. Quando pecamos
deliberadamente, como se Deus não se importasse com o pecado,
estamos afirmando que ele não valoriza suficientemente a sua lei e
não reagirá quando ela for violada. Pecar é uma forma de rejeição
da bondade e da grandeza de seu caráter.
No entanto, Deus não é um tipo de pai ausente cósmico. Ele
está envolvido intrinsecamente na sua criação. Ele reage à
maldade. Ele dedica tempo e esforço para defender seus preceitos
como justos e verdadeiros. Ele leva o tempo necessário para
demonstrar o valor de suas justas exigências.
Se Deus não julgasse as violações de sua lei, na prática, ele
estaria concordando com os seres humanos rebeldes que o pecado
"não é tão ruim assim" nem vale a pena ser corrigido. No entanto,
porque suas leis são uma expressão de sua natureza, e o nosso
pecado é uma acusação contra essa natureza, Deus precisa reagir
às nossas violações de sua lei para demonstrar a grandeza de
quem ele é, a saber, sua natureza revelada em suas boas leis.
Temos a tendência de rejeitar seus juízos porque estamos
muito à vontade com o pecado. O pecado é familiar para nós. É
normal para nós. Pode parecer ruim, mas “nem tanto assim”. Na
realidade, é uma rebelião explícita que difama a boa natureza de
Deus. É uma rejeição aberta à sua bondade, e quando Deus
responde em juízo, ele instrui as nações em sua justiça:
Minha alma te deseja durante a noite; sim, o meu espírito,
dentro de mim, te busca ansiosamente; porque os moradores
do mundo aprendem justiça, quando os teus juízos estão na
terra. – Isaías 26.9
Em seus juízos, Deus revela a glória do seu nome e adverte as
nações sobre um juízo eterno mais acentuado para aqueles que
persistem na prática do pecado. Portanto, seus juízos são uma
dádiva generosa para as nações.

A natureza redentora dos juízos de Deus


Costumamos associar os juízos de Deus principalmente à punição
que eles infligem, mas eles também trazem redenção. Quando Deus
libera seus juízos por causa da grandeza do seu nome, o resultado
natural é a redenção e restauração da criação. O resultado final do
juízo não é a morte, mas a vida.
O nome de Deus é engrandecido tanto em seus juízos quanto
na redenção que segue após os juízos:
Então as nações que restarem em volta saberão que eu, o
SENHOR, reedifiquei as cidades destruídas e plantei o que
estava devastado. Eu, o SENHOR, disse e farei isso. –
Ezequiel 36.36
E quando eu vos abrir as sepulturas e vos fizer sair, sabereis
que eu sou o SENHOR, ó povo meu. – Ezequiel 37.13
E as nações saberão que eu sou o SENHOR que santifico
Israel, quando o meu santuário estiver no meio deles para
sempre. – Ezequiel 37.28
O resultado redentor dos juízos de Deus é outra demonstração
da grandeza de seu caráter. Geralmente pensamos que Deus é
mais glorificado em sua capacidade de redimir, mas ele é glorificado
tanto em seus juízos quanto em sua salvação. Ambas são
demonstrações de sua natureza. Elas não são contraditórias.
Ambas são manifestações da bondade de Deus para com a sua
criação. A vida real, a vida verdadeira, é o resultado dos juízos de
Deus. Ele precisa julgar o que é falso e escravizador para que
possamos experimentar a vida verdadeira.
Quando Deus busca a sua própria glória, isso torna-se o meio
para nossa salvação.
O zelo de Deus por seu nome é a base de seu relacionamento
com Israel e com as nações. Deus finalmente demonstrará seu zelo
por seu próprio nome, trazendo salvação a um povo por meio
desses juízos.

A cruz – a revelação definitiva dos juízos de Deus


A cruz é a demonstração definitiva da natureza dos juízos de Deus.
Ela revela que os juízos de Deus são inevitáveis, perfeitos e têm
uma natureza redentora.
Primeiro, a cruz revela que os juízos de Deus são inevitáveis.[78]
Não há como escapar deles. A bondade de Deus exige que ele
responda à nossa maldade. É necessário que seja assim. Um Deus
justo teve de demonstrar sua bondade por meio dos seus juízos.
Jesus suportou a ira de Deus porque não havia outro caminho.[79]
Segundo, a cruz revela que o juízo de Deus é perfeito. Os
juízos de Deus são tão perfeitos que ele estava disposto a sofrer
seus próprios juízos. Esse é o indicador final de como os juízos de
Deus são justos e perfeitos. Ele não pediu desculpas por sua ira.
Em vez disso, voluntariamente suportou sua própria ira perfeita, em
favor de sua criação.
Finalmente, a cruz demonstra que o juízo de Deus é, em última
análise, um meio para a redenção. Ele é tão bom que seus juízos
resultam em vida para aqueles que concordam com ele. Assim
como o juízo de Deus a respeito de Jesus garantiu a redenção para
milhões, seus juízos acabarão provocando a redenção do cosmos.
A cruz demonstra graficamente que a ira de Deus se torna o
berço de sua misericórdia.
Não há outro nome, debaixo do céu, pelo qual podemos ser
salvos, porque a salvação deve vir por meio dos juízos de Deus.[80]
Se aceitarmos seus juízos, receberemos misericórdia em Jesus. Se
rejeitarmos a bondade de seus juízos, esses juízos nos punirão com
justiça entre os rebeldes que se dedicam à destruição da criação.
O sofrimento de Jesus na cruz é a resposta a todas as
acusações contra o juízo de Deus. Seu sofrimento voluntário
demonstra a perfeição dos juízos de Deus, e sua oferta de salvação
revela a natureza redentora dos juízos de Deus.

A vingança da aliança
Os juízos de Deus são descritos como a vingança da aliança.[81] A
bondade de Deus faz com que ele responda com vingança à
blasfêmia contra o seu nome. A sua vingança resulta em um grande
bem para o seu povo.
A criação floresce quando Deus expressa seu zelo por sua
própria glória. Essa é uma diferença fundamental entre Deus e o
homem. Quando os homens buscam a sua própria glória, outros
seres humanos sofrem. Quando Deus busca e revela a sua glória,
toda a criação se beneficia. A ousada busca de Deus por sua
própria glória não é egoísta; é a coisa mais gentil que ele pode
fazer.
Quando Deus se glorifica em seus juízos, ele está reagindo ao
pecado, ou à nossa ira, contra ele.
Aqueles que acolhem e promovem o pecado são uma ameaça
ao povo de Deus, uma vez que incentivam a prática das coisas que
destroem o chamado do homem. Portanto, quando Deus age em
juízo, ele está preservando o seu povo. Dessa maneira, a aliança
mosaica executou punição contra aqueles que ameaçavam o
chamado do povo, a fim de guiá-los a um futuro dia de salvação. A
disciplina de Deus não é a sua palavra final, portanto ele
permaneceu totalmente comprometido com o futuro de Israel,
mesmo quando eles quebraram a aliança:
Mesmo assim, quando estiverem na terra dos seus inimigos,
não os rejeitarei nem os detestarei a ponto de destruí-los
totalmente e de quebrar a minha aliança com eles, porque eu
sou o SENHOR, seu Deus. Pelo contrário, por amor deles me
lembrarei da aliança com seus antepassados, que tirei da terra
do Egito diante dos olhos das nações, para ser o Deus deles.
Eu sou o SENHOR. – Levítico 26.44-45

Deus disciplina Israel em amor


Em geral, consideramos os juízos de Deus desagradáveis, porque
nos falta uma revelação sobre a grandeza de Deus e de seu nome.
Quando estimamos uma pessoa, ficamos enfurecidos quando o
nome dela é difamado. Quanto maior a revelação que temos da
grandeza de Deus, maior será nossa harmonia com Deus e seus
juízos.
Alguns se sentem desconfortáveis com os juízos de Deus,
porque foram disciplinados da forma errada por seus pais
imperfeitos. Mas Deus não é assim. Ele é paciente. Ele não age
com raiva vingativa. Ele é um bom pai que age para o nosso bem.
Sua disciplina é uma prova de que somos seus filhos amados.[82]
O tempo que Israel peregrinou no deserto revela o afetuoso
cuidado de Deus em seus juízos. O povo se rebelou repetidamente
contra ele; queixaram-se constantemente e até adoraram um
bezerro de ouro. Por causa de sua rebelião, uma geração inteira
não pôde entrar na Terra Prometida.[83]
A peregrinação de Israel no deserto parece uma história trágica
por causa do pecado do povo e dos juízos de Deus. No entanto,
quando Deus falou sobre a peregrinação de Israel no deserto, ele se
referiu a ela como um tempo de amor e não como um tempo de
rebelião. Ele a descreveu da maneira que um homem descreveria o
amor da mulher com quem está prestes a se casar:[84]
Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém: Assim diz o SENHOR:
Lembro-me de ti, da tua fidelidade na juventude, do teu amor
como noiva, de como me seguiste no deserto, numa terra não
semeada. – Jeremias 2.2
A linguagem de Deus em Jeremias 2 é surpreendente,
especialmente quando a comparamos com as histórias sobre o
tempo de peregrinação de Israel no deserto. Isso nos dá uma visão
tremenda das emoções de Deus, sua misericórdia, sua paciência e
seus propósitos nos seus juízos. Seu amor por Israel fez com que
ele enxergasse a rebeldia de Israel com profundo afeto.
A avaliação de Deus sobre a peregrinação de Israel no deserto
nos faz recordar a experiência de pais que relatam os primeiros
anos de seus filhos. Quando os filhos são maiores, os pais
geralmente descrevem o período da infância com ternura e carinho.
Eles mencionam as coisas graciosas e carinhosas que seus filhos
fizeram. Eles mostram fotos e se gabam das conquistas de seus
filhos.
Na realidade, o que esses pais experimentaram de fato foi
exaustação, cansaço e frustração, sem mencionar as frequentes
ações de disciplina e proibições. No entanto, as lembranças
enfatizadas pelos pais revelam o que eles realmente pensam sobre
seus filhos. Mesmo que seja necessário muito trabalho e disciplina,
os pais têm lembranças positivas dos primeiros anos de seus filhos
porque seus filhos são seus filhos. Os pais disciplinam e se
esforçam para educar seus filhos por causa do cuidado que têm
para com eles, não por estarem indignados.
Deus frequentemente avalia as coisas de maneira diferente de
nós porque conhece o resultado, assim como os pais avaliam a
rebelião infantil e a imaturidade à luz da maturidade futura da
criança. Deus não pode ignorar o pecado, portanto sua disciplina é
séria e real. Ao mesmo tempo, ele não é um tirano vingativo que
deseja punir e exterminar seu povo. Ele é um Pai amoroso que se
esforça para que seu povo alcance a maturidade.
Deus não se esquiva de seus juízos, mas também deixa claro
que seu fim é a misericórdia. A mesma misericórdia que salva todo
aquele que crê vai salvar Israel um dia.

Deus disciplina seus filhos


A disciplina de Deus pode parecer severa, mas, em última análise, é
uma demonstração de sua justiça para o nosso bem. Em sua
disciplina, Deus mostra sua glória, a seriedade do pecado, seu terno
cuidado conosco e seu compromisso em nos aperfeiçoar.
A disciplina de Deus é tão perfeita que seu próprio Filho
amadureceu por meio dela:
Embora sendo Filho, aprendeu a obediência por meio das
coisas que sofreu. – Hebreus 5.8
Se não entendermos a disciplina de Deus para com Israel,
teremos problemas para entender sua disciplina em nossas próprias
vidas.
Já vos esquecestes do ânimo de que ele vos fala como a filhos:
Filho meu, não desprezes a disciplina do Senhor, nem fiques
desanimado quando por ele és repreendido. Pois o Senhor
disciplina a quem ama e pune a todo que recebe como filho. É
visando à disciplina que perseverais. Deus vos trata como
filhos. Pois qual é o filho a quem o pai não disciplina? Mas, se
estais sem disciplina, da qual todos se têm tornado
participantes, então, não sois filhos, mas filhos ilegítimos. Além
disso, tínhamos nossos pais humanos para nos disciplinar, e
nós os respeitávamos. Logo, não nos sujeitaremos muito mais
ao Pai dos espíritos, e assim viveremos? Pois eles nos
disciplinaram durante pouco tempo, como bem lhes parecia,
mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para sermos
participantes da sua santidade. Nenhuma disciplina parece no
momento motivo de alegria, mas de tristeza. Depois, porém,
produz um fruto pacífico de justiça nos que por ela têm sido
exercitados. – Hebreus 12.5-11
A disciplina de Deus é uma declaração de seu envolvimento.
Como filhos e filhas de Deus, experimentamos sua disciplina como
parte do processo que nos leva à maturidade.[85] Deus se refere a
Israel como seu filho primogênito entre as nações,[86] e Deus
disciplina todos os seus filhos, sejam eles indivíduos ou nações. A
falta de disciplina é um sinal de que não somos verdadeiros filhos
dele:
Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se têm tornado
participantes, então, não sois filhos, mas filhos ilegítimos. –
Hebreus 12.8

A disciplina de Deus é um sinal de seu compromisso


Os juízos de Deus preservam seus propósitos específicos para
Israel. Eles não são um sinal de sua rejeição de Israel, mas de seu
relacionamento específico com eles. Deus disciplina Israel para que
se torne a nação salva que ele a destinou a ser.
Quando Deus tarda em liberar juízo, o pecado e a iniquidade
aumentam. Portanto, seus juízos são uma expressão de
misericórdia, porque eles impedem que a iniquidade aumente e
cause ainda mais danos. Os castigos de Deus são uma
demonstração de sua estima pela justiça e de seu ódio pelo pecado.
O mesmo ocorre quando aplicamos penalidades a fim de dissuadir
as pessoas de cometer crimes e afirmar a gravidade de cometê-los.
Deus é paciente e longânime em seus juízos. Ele envia
profetas por décadas e, em alguns casos, séculos para avisar o
povo antes que ele libere seus juízos. Ele não está ávido para
disciplinar meramente por causa da disciplina em si mesma. Ele é
rápido em aplacar sua ira quando há arrependimento. Deus enviou
Israel ao cativeiro por causa de sua rebelião, mas recusou-se a
eliminá-los permanentemente.[87] Ele respondeu à quebra da aliança
por parte de Israel prometendo uma Nova Aliança que restauraria a
aliança quebrada.[88] A misericórdia de Deus para com Israel ao
longo da história revela sua natureza e seu caráter.
Os juízos de Deus sobre Israel nunca foram arbitrários. Eles
são os efeitos da aliança, e Deus os usa para proteger o chamado
de Israel. Eles protegem o chamado de Israel de duas maneiras.
Primeiro, eles revelam a santidade e a grandeza de Deus. Essa
revelação é a maior necessidade de Israel, porque finalmente levará
Israel a se voltar para Deus e receber sua salvação.
Segundo, os julgamentos de Deus separam Israel do pecado
que o seduz. Os caminhos pecaminosos das nações sempre foram
atraentes para Israel; portanto, Deus usa as nações em seus juízos
para mostrar a Israel que o caminho das nações resulta em morte,
destruição e opressão.
A história de Israel é uma clara advertência sobre como o
pecado que achamos tão atraente termina em morte.
A TENSÃO ENTRE AS ALIANÇAS

A aliança mosaica ofereceu uma demonstração de misericórdia


por meio do sistema sacrificial, mas não foi capaz de
providenciar uma expiação final completa. É, portanto, incapaz de
garantir as bênçãos da nação. À medida que a história de Israel se
desenrolava, a situação de Israel parecia cada vez mais terrível.
As promessas da aliança abraâmica e as maldições da aliança
mosaica criaram uma profunda tensão. Por um lado, Deus precisa
cumprir suas promessas a Abraão ou ele é um mentiroso e todo o
seu plano redentor entra em colapso, porque ele é incapaz de fazer
o que disse que faria. Por outro lado, as maldições da aliança
mosaica criaram uma barreira aparentemente impossível para Deus
cumprir suas promessas.
Por exemplo, a aliança abraâmica promete que Israel será uma
nação justa na terra e herdará a terra prometida a Abraão. No
entanto, a maldição pela desobediência, nos termos da aliança
mosaica, inclui sua humilhação aos olhos das nações e a perda da
terra:
Devastarei a terra, e os vossos inimigos que ali forem habitar
ficarão estarrecidos. Eu vos espalharei por entre as nações e
vos perseguirei com a espada desembainhada. A vossa terra
será devastada, e as vossas cidades se tornarão um deserto. –
Levítico 26.32-33
E o SENHOR vos espalhará entre todos os povos, desde uma
extremidade da terra até a outra, e lá cultuareis outros deuses
que não conhecestes, nem vós nem vossos pais, deuses de
madeira e de pedra. Mas nem entre essas nações
descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso. Pelo
contrário, nelas o SENHOR te dará coração angustiado, olhos
sem esperança e alma cheia de ansiedade. – Deuteronômio
28.64-65
Sob os termos da aliança, toda a nação deve ser justa para
eliminar a possibilidade de juízo, porque Deus fez a aliança
coletivamente. Quando examinamos a história de Israel e suas
falhas, imaginamos: como uma nação inteira pode ser
completamente justa diante de Deus sem ameaça de juízo? No
entanto, é isso que foi prometido a Abraão.
Deus deu a si mesmo uma missão impossível: ele precisa
cumprir todas as suas promessas enquanto, de alguma maneira,
também precisa solucionar o problema das maldições que impedem
o cumprimento dessas promessas.
Compreender o plano de Deus para solucionar a crise nacional
de Israel com relação aos termos da aliança mosaica é fundamental
para entender a obra de Deus nas nações e o plano de Deus para
Israel no fim dos tempos. Da mesma maneira que o fim dos tempos
é impulsionado pelo cumprimento das promessas de Deus a
Abraão, também é impulsionado pela resolução da aliança mosaica.
Os termos da aliança mosaica e o surpreendente plano de Deus
para resolvê-la são dois dos principais fatores que influenciam a
sucessão de eventos do fim dos tempos.
Essa tensão entre a aliança e o plano de Deus para resolvê-la
é uma imagem de nossa própria condição humana. A humanidade,
assim como Israel, foi chamada por Deus e recebeu uma missão.
Os seres humanos, assim como Israel, falharam em cumprir as
exigências de Deus e precisam de uma redenção que somente
Deus pode prover. A grande questão que envolve Israel – e toda a
humanidade – é esta: como Deus trará libertação ao mesmo tempo
que é fiel a seu caráter e a seus juízos?
A experiência de Israel sob a aliança mosaica é a declaração
de Deus para nós sobre nossa própria condição. Não somos apenas
incapazes de produzir a verdadeira justiça exterior, Jesus foi mais
rigoroso e expôs uma questão mais profunda: nosso pecado exterior
é o resultado de algo muito mais sério – o pecado interior.[89] Jesus
destruiu para sempre nossa ilusão sobre nossa própria capacidade
de sermos pessoas "boas". Não há solução humana para Israel ou
para as nações. O fracasso de Israel é o nosso fracasso, e a
esperança de Israel é a nossa esperança.
Essa tensão é uma das principais tensões encontradas no
Antigo Testamento e define o contexto para o Novo Testamento e
para o surgimento de um Messias que libertará Israel das maldições
da aliança.

Os profetas e as alianças
Jeremias previu que essa tensão sobre a aliança seria resolvida:
Dias virão, diz o SENHOR, em que farei uma nova aliança com
a casa de Israel e com a casa de Judá. Ela não será como a
aliança que fiz com seus pais, quando os peguei pela mão para
tirá-los da terra do Egito, pois eles quebraram a minha aliança,
mesmo sendo eu o senhor deles, diz o SENHOR. – Jeremias
31.31-32
Jeremias previu que chegaria um dia em que Israel receberia
suas promessas, mas isso exigiria uma aliança que não seria como
a que foi feita no Sinai. Um dos grandes mistérios do Antigo
Testamento é descobrir como Deus cumprirá a promessa de libertar
Israel e fará sua transição da aliança mosaica para a Nova Aliança.
A tensão entre as promessas feitas a Abraão e a aliança
mosaica é o fundamento dos profetas, cujas profecias sobre juízo e
salvação estavam enraizadas nas alianças. Deus deu aos profetas
detalhes específicos, mas a maioria de suas profecias era uma
aplicação dos termos da aliança em um momento específico,
aguardando uma resolução futura.
Por exemplo, quando o profeta Daniel intercedeu por Israel
depois que os babilônios destruíram Jerusalém, ele reconheceu que
esse juízo era um efeito da aliança:
Ao Senhor, nosso Deus, pertencem a misericórdia e o perdão,
já que nos rebelamos contra ele, e não obedecemos à voz do
SENHOR, nosso Deus, para andarmos nas leis que nos deu
por intermédio de seus servos, os profetas. Todo o Israel
transgrediu a tua lei, desviando-se para não obedecer à tua
voz. Por isso se derramou sobre nós a maldição, o juramento
que está escrito na lei de Moisés, servo de Deus; porque
pecamos contra ele. Ele confirmou a palavra que falou contra
nós e contra nossos juízes que nos julgavam, trazendo sobre
nós grande desgraça; porque nunca se fez debaixo de todo o
céu o que se tem feito a Jerusalém. Como está escrito na lei de
Moisés, toda esta desgraça nos sobreveio; apesar disso, não
buscamos o favor do SENHOR, nosso Deus, para nos
convertermos das nossas maldades e alcançarmos
discernimento na tua verdade. Por isso, o SENHOR cuidou de
trazer sobre nós a desgraça; pois o SENHOR, nosso Deus, é
justo em tudo o que faz, e nós não temos obedecido à sua voz.
– Daniel 9.9-14
Daniel, como todos os profetas, reconheceu que as alianças
conduzem a história, o juízo e a salvação de Israel. Daniel
intercedeu por misericórdia, porque estava confiante de que as
promessas de Deus proporcionariam uma maneira de a nação
escapar do interminável ciclo de juízo:
Ó Senhor, segundo todas as tuas justiças, afasta a tua ira e o
teu furor de Jerusalém, tua cidade, teu santo monte. Porque os
nossos pecados e as maldades de nossos pais fizeram de
Jerusalém e do teu povo um objeto de zombaria para todos ao
nosso redor. Ó nosso Deus, ouve agora a oração e as súplicas
do teu servo, e faze resplandecer o teu rosto sobre o teu
santuário assolado, por amor de ti, Senhor. Ó Deus meu, inclina
os ouvidos e ouve; abre os olhos e olha para a nossa
desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome; pois
não lançamos as nossas súplicas diante da tua face confiados
em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Ó
Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age
sem tardar, por amor de ti mesmo, ó meu Deus, porque a tua
cidade e o teu povo se chamam pelo teu nome. – Daniel 9.16-
19
Os profetas alternavam de forma repentina e dramática entre
proclamações ilustrativas sobre os juízos de Deus e as previsões
ousadas sobre a libertação vinda de Deus. Salvação e juízo
apareciam nas mesmas passagens. A aterrorizante ira de Deus e
seu amor afetuoso podiam aparecer no mesmo oráculo. Isso
ocorreu porque os profetas e suas profecias estavam ancorados nas
alianças.
Eles profetizavam com base na aliança feita com Abraão, que
prometia a bênção definitiva, e com base na aliança mosaica, que
estipulava os juízos de Deus. Os profetas parecem intercalar, de
forma repentina, dois temas muito diferentes, mas, quando
percebemos que eles vivem sob a tensão das alianças, seus
oráculos fazem sentido. Os profetas não sabiam como Deus
eliminaria essa tensão, mas eles sabiam que ele faria isso.
Jeremias 30 é um excelente exemplo desse tipo de profecia.
Começa com uma descrição aterradora do juízo sobre Israel. Ele
descreve gritos de terror e homens afligidos por causa de um
inevitável dia de angústia. Então a profecia muda repentinamente
para uma previsão da salvação e libertação de Deus:
Portanto, assim diz o SENHOR: Ouvimos gritos de pavor e de
terror, mas não de paz. Perguntai, pois, e observai se um
homem pode dar à luz. Por que, então, vejo todos os homens
com as mãos sobre o ventre como a mulher em trabalho de
parto? Por que todos os rostos estão pálidos? Ah! Como aquele
dia será terrível, sem comparação! Será tempo de angústia
para Jacó; mas ele será resgatado dela. Naquele dia, diz o
SENHOR dos Exércitos, quebrarei o jugo de sobre o seu
pescoço e romperei as suas correntes. Os estrangeiros nunca
mais os subjugarão; mas servirão ao SENHOR, seu Deus,
como também a Davi, seu rei, que lhes designarei. Portanto,
não temas Jacó, meu servo, diz o SENHOR, nem te assustes,
ó Israel! Eu te livrarei do país distante e também livrarei tua
descendência da terra do seu exílio. Jacó voltará, ficará
tranquilo e seguro, e ninguém o atemorizará. Porque estou
contigo para te salvar, diz o SENHOR! Destruirei totalmente
todas as nações por entre as quais te espalhei. A ti, porém, não
destruirei totalmente, mas eu te castigarei com medida justa.
De maneira alguma te deixarei inteiramente sem castigo. –
Jeremias 30.5-11
Profecias como essa expõem um dos sérios problemas com a
crença de que a Igreja substituiu Israel como o povo da aliança e,
como resultado, as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento
devem ser aplicadas à Igreja sem nenhuma aplicação específica a
Israel (isso é comumente conhecido como supersessionismo).[90]
Quando os profetas do Antigo Testamento se dirigem a Israel em
suas profecias, eles aplicam as alianças a Israel e preveem juízo e
libertação para Israel. O supersessionismo divide essas profecias
para que as profecias de juízo se apliquem principalmente a Israel e
as profecias de salvação se apliquem primariamente à Igreja. Isso é
incoerente e gera confusão sobre o conteúdo das profecias.
Devemos aplicar as profecias de forma coerente. Ou o juízo e a
salvação que os profetas preveem para Israel têm uma aplicação
específica para Israel ou nunca tiveram um significado específico
para Israel. Tanto o juízo quanto as promessas são direcionados a
Israel, portanto precisamos definir Israel de forma coerente. Isso não
significa que não possa haver aplicações secundárias dessas
profecias para as nações, mas precisamos ser coerentes na forma
como interpretamos Israel nessas passagens.
Essas profecias possuem uma aplicação específica a Israel,
porque os juízos profetizados são baseados na aliança mosaica –
um pacto feito exclusivamente com Israel e não com as nações.
Portanto, o juízo deve ser aplicado em primeiro lugar a Israel.
Praticamente todos os estudiosos da Bíblia concordam com esse
ponto quando se referem ao juízo de Israel. No entanto, a promessa
da salvação também deve ser aplicada antes de tudo a Israel, e é
aqui que tem havido inconsistência.
Essa inconsistência é talvez mais óbvia na maneira como
alguns estudiosos interpretam a destruição de Jerusalém no ano 70
d.C. O supersessionismo ensina que a destruição de Jerusalém no
ano 70 d.C. e a subsequente diáspora foram juízos divinos sobre a
incredulidade de Israel e, essencialmente, marcam o fim da relação
específica de Deus com eles. Embora o ano 70 d.C. deva ser
entendido como um juízo sobre a incredulidade de Israel, a ideia de
que a história de Israel termina em juízo viola a interpretação
coerente dos profetas, que previram que os juízos de Israel devem
culminar com a salvação de Israel.
Alguns dizem que a salvação de Israel é realizada como parte
da salvação das nações, mas essa é uma interpretação incoerente
sobre as profecias. Assim como existem juízos específicos para
Israel de acordo com os termos da aliança, as alianças também
incluem uma salvação específica para Israel.

O compromisso de Deus de eliminar essa tensão


Embora Êxodo, Levítico e Deuteronômio não nos deem muita
informação sobre como Deus solucionará o problema das maldições
da aliança, eles nos dão uma dica de que Deus encontrará uma
maneira de cumprir a aliança com Israel. Embora Israel fracasse, é
a aliança de Abraão que fundamenta o compromisso inquebrável de
Deus com essa nação.
Eu me lembrarei da minha aliança com Jacó, da minha aliança
com Isaque e da minha aliança com Abraão; e também me
lembrarei da terra [...] Mesmo assim, quando estiverem na terra
dos seus inimigos, não os rejeitarei nem os detestarei a ponto
de destruí-los totalmente e de quebrar a minha aliança com
eles, porque eu sou o SENHOR, seu Deus. Pelo contrário, por
amor deles me lembrarei da aliança com seus antepassados,
que tirei da terra do Egito diante dos olhos das nações, para ser
o Deus deles. Eu sou o SENHOR. – Levítico 26.42,44-45
Enquanto Israel adorava o bezerro de ouro, Moisés apelou às
promessas da aliança de Deus e pediu que ele agisse em
misericórdia para com Israel, e não em juízo, como eles mereciam.
Moisés fez esse pedido ousado no momento em que Israel estava
adorando um falso ídolo, porque conhecia a força do compromisso
da aliança de Deus com Israel.
Então o SENHOR disse a Moisés: Vai, desce, porque o teu
povo, que tiraste da terra do Egito, se corrompeu; depressa se
desviou do caminho que lhe ordenei. Fizeram para si um
bezerro de fundição, adoraram-no, ofereceram-lhe sacrifícios e
disseram: Aí está, ó Israel, o teu deus, que te tirou da terra do
Egito. O SENHOR disse a Moisés: Tenho observado esse povo
e vi que é um povo muito obstinado. Agora, deixa-me, para que
a minha ira se acenda contra eles e eu os destrua; e farei de ti
uma grande nação. Moisés, porém, suplicou ao SENHOR seu
Deus: Ó SENHOR, por que a tua ira se acende contra o teu
povo, que tiraste da terra do Egito com grande força e com mão
forte? [...] Lembra-te de Abraão, de Isaque e de Israel, teus
servos, aos quais por ti mesmo juraste, dizendo-lhes:
Multiplicarei os vossos descendentes como as estrelas do céu
e lhes darei toda esta terra de que tenho falado, e eles tomarão
posse dela para sempre. – Êxodo 32.7-11,13

A solução de Deus – a Nova Aliança


Deus mostra sua glória tanto em seus juízos quanto em sua
salvação. A aliança mosaica estabeleceu um contexto para que
Deus demonstrasse sua glória em seus juízos, mas ele também
precisa demonstrar a sua glória na salvação. A aliança mosaica não
pode revelar a glória da salvação de Deus, portanto Israel precisa
passar pela transição da velha aliança para o que Jeremias chamou
de Nova Aliança.[91]
É uma aliança diferente da aliança feita no Sinai, porque é
garantida pela justiça de Deus e não está condicionada à obediência
da nação. Portanto, é capaz de salvar completamente Israel.
Dias virão, diz o SENHOR, em que farei uma nova aliança com
a casa de Israel e com a casa de Judá. Ela não será como a
aliança que fiz com seus pais, quando os peguei pela mão para
tirá-los da terra do Egito, pois eles quebraram a minha aliança,
mesmo sendo eu o senhor deles, diz o SENHOR. Mas esta é a
aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz
o SENHOR: Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no
seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E
não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a
seu irmão, dizendo: Conhecei o SENHOR; porque todos me
conhecerão, do mais pobre ao mais rico, diz o SENHOR.
Porque perdoarei a sua maldade e não me lembrarei mais dos
seus pecados. – Jeremias 31.31-34
Ezequiel se referiu a essa aliança como uma aliança eterna:
Mas eu me lembrarei da minha aliança, que fiz contigo nos dias
da tua juventude, e firmarei contigo uma aliança eterna. –
Ezequiel 16.60
Pois vos tirarei dentre as nações e vos reunirei de todos os
países, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água
pura sobre vós, e ficareis purificados; eu vos purificarei de
todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos.
Também vos darei um coração novo e porei um espírito novo
dentro de vós; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um
coração de carne. Também porei o meu Espírito dentro de vós
e farei com que andeis nos meus estatutos; e obedecereis aos
meus mandamentos e os praticareis. Então habitareis na terra
que eu dei a vossos pais, e sereis o meu povo, e eu serei o
vosso Deus. – Ezequiel 36.24-28
Oseias também descreveu o dia em que Deus faria uma
aliança com Israel novamente:
Naquele dia farei uma aliança em favor dela com os animais
selvagens, com as aves do céu e com os animais que se
arrastam pela terra; e tirarei da terra o arco, a espada e a
guerra, e os farei viver em segurança. E me casarei contigo
para sempre; sim, eu me casarei contigo em justiça, juízo,
misericórdia e compaixão; eu me casarei contigo em fidelidade,
e tu reconhecerás o SENHOR. – Oseias 2.18-20
O livro de Hebreus cita a previsão de Jeremias sobre uma Nova
Aliança:
Mas agora tanto ele alcançou ministério mais excelente, quanto
é mediador de uma aliança melhor, firmada sobre melhores
promessas. Pois se aquela primeira aliança não tivesse defeito,
nunca se teria buscado lugar para a segunda. Porque ele diz,
repreendendo-os: Dias virão, diz o Senhor, em que
estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma
nova aliança. Não segundo a aliança que fiz com seus pais, no
dia em que os tomei pela mão para tirá-los da terra do Egito;
pois não permaneceram naquela minha aliança, e eu não
atentei para eles, diz o Senhor. Esta é a aliança que farei com a
casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as
minhas leis na sua mente e as escreverei em seu coração. Eu
lhes serei Deus, e eles me serão povo. Ninguém terá de
ensinar ao próximo, nem a seu irmão, dizendo: Conhece ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até o
maior deles. Pois serei misericordioso para com suas obras
más e não me lembrarei mais de seus pecados. Ao dizer que
esta aliança é nova, ele tornou antiquada a primeira. E o que se
torna antiquado e envelhece, está perto de desaparecer. –
Hebreus 8.6-13
Visto que a aliança mosaica não pode cumprir as promessas
porque seu resultado final é condicionado pela justiça dos seres
humanos, Deus fez uma provisão para Israel, por meio de uma
Nova Aliança. Observe que o autor de Hebreus não redefine os
termos Israel e Judá. A Nova Aliança prevê a salvação das nações,
mas também precisa salvar Israel e Judá, solucionando a crise de
Israel e preparando o cenário para o cumprimento das promessas.
A Nova Aliança era a esperança de Israel no Antigo
Testamento. É a promessa de que Deus solucionará uma situação
impossível. A grande questão era como essa Nova Aliança chegaria
e como a aliança mosaica seria resolvida. O Novo Testamento
responde a essa pergunta. A Nova Aliança veio com o sofrimento, a
morte e a ressurreição de Jesus.
Agora que a Nova Aliança chegou, descobrimos o plano de
Deus de fazer a transição de Israel, como nação, da aliança
mosaica para a Nova Aliança. Em Romanos 7, Paulo descreveu
como ocorre essa mudança de aliança:
Irmãos, falo aos que conhecem a lei. Por acaso ignorais que a
lei tem domínio sobre o homem enquanto ele vive? Porque pela
lei a mulher casada está ligada ao marido enquanto ele vive;
mas, se ele morrer, ela está livre da lei do casamento. Assim,
se ela se unir a outro homem enquanto o marido ainda vive,
será chamada adúltera; mas, se ele morrer, ela está livre da lei,
e assim não será adúltera, caso se una a outro marido. Assim
também vós, meus irmãos, morrestes quanto à lei mediante o
corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, àquele que
ressuscitou dentre os mortos, a fim de produzirmos fruto para
Deus.– Romanos 7.1-4
Uma aliança de casamento só é desfeita quando um dos
participantes da aliança morre. Paulo usou essa analogia porque
Deus se referiu ao que aconteceu no Sinai como o início de uma
aliança de casamento.
Pois o teu Criador é o teu marido, o seu nome é SENHOR dos
Exércitos, e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado
o Deus de toda a terra. – Isaías 54.5
Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém: Assim diz o SENHOR:
Lembro-me de ti, da tua fidelidade na juventude, do teu amor
como noiva, de como me seguiste no deserto, numa terra não
semeada. – Jeremias 2.2
Passando por ti, vi que já estavas na idade de amar; então
estendi minha capa sobre ti e cobri tua nudez. Fiz um
juramento e firmei uma aliança contigo, diz o SENHOR Deus, e
tu passaste a me pertencer. – Ezequiel 16.8
Romanos 7 descreve o que precisa acontecer aos indivíduos,
mas também o que terá de acontecer a Israel como nação. A nação
inteira precisa passar pela "morte" para então ser liberta da aliança
mosaica e entrar na Nova Aliança. Paulo explicou que a morte de
Jesus é o meio pelo qual essa transição ocorre, porque ele morreu
em nome de Israel.[92] Quando estamos em Cristo, nos identificamos
com a sua morte e nos unimos a ele. Portanto, por meio da morte de
Jesus, Israel pode entrar na Nova Aliança e escapar da antiga.
O compromisso de Deus com Israel permanece, mas a aliança
pela qual ele se relaciona com a nação precisa mudar para que ele
se una a eles definitivamente. Em Jesus, Deus traz a resolução para
a crise da aliança, mas Israel terá de entrar nessa resolução como
nação para que os efeitos da aliança mosaica cessem
definitivamente. A transição de Israel da aliança mosaica para a
Nova Aliança é um dos principais temas do fim dos tempos.

Disciplina, desespero e libertação


Ao fazer a aliança, Moisés advertiu o povo de que eles não seriam
capazes de cumpri-la e, como resultado, experimentariam a
disciplina e as maldições da aliança:
Todas essas maldições virão sobre ti, te perseguirão e te
alcançarão até que sejas destruído, por não teres dado ouvidos
à voz do SENHOR, teu Deus, para guardar os seus
mandamentos e estatutos, que te ordenou. Essas maldições
serão um sinal e um prodígio para ti e para tua descendência
para sempre. – Deuteronômio 28.45-46
Por um lado, as exigências da lei são boas. Por outro lado, o
ser humano não pode cumprir a lei. Mesmo quando as bênçãos são
oferecidas pela obediência e ameaças muito reais se aplicam à
desobediência, o homem ainda não pode garantir as bênçãos de
Deus pela sua própria força porque ele é simplesmente incapaz de
viver da maneira exigida pela justiça de Deus. Paulo identificou o
problema principal:
Porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. –
Romanos 3.23
O fracasso de Israel transmite uma mensagem clara: não
podemos garantir nosso próprio destino. Precisamos de alguém que
nos salve para garantir esse destino. A frustração inerente à lei
mosaica é projetada para nos levar a olhar para fora de nós
mesmos em busca de salvação: olhar para Deus. Dessa maneira, a
lei serve como um “tutor” ou professor que nos leva a Jesus:
Mas, antes que viesse a fé, éramos mantidos debaixo da lei,
nela confinados para a fé que haveria de ser revelada. Desse
modo, a lei se tornou nosso guia para nos conduzir a Cristo, a
fim de que pela fé fôssemos justificados. Mas, tendo chegado a
fé, já não estamos sujeitos a esse guia. – Gálatas 3.23-25
Jesus enfatizou a seriedade da situação no Sermão do Monte,
quando abordou o problema principal: o pecado interior. Ainda que
um homem não cometa adultério, o desejo de adulterar está em sua
mente e coração. Ainda que um homem não mate, a ira domina o
seu coração. Mesmo que Israel pudesse manter a lei exterior, o
povo judeu nunca poderia purificar seu coração e viver em
verdadeira justiça. Isso porque o pecado, a principal fonte de
rebelião contra Deus, constantemente desponta no coração de cada
indivíduo.
Para cumprir suas promessas, Deus não apenas tem de libertar
Israel mas também tem de fazer algo para lidar com a raiz do
pecado e da rebelião em seu povo. O pecado é como um cão dentro
de uma jaula. Podemos tentar colocá-lo na jaula, mas o seu latido
nos lembra de que ele está lá e busca, a qualquer momento, achar
uma maneira de escapar. Até que esse pecado interior seja tratado,
nem Israel nem as nações podem possuir permanentemente sua
herança.

É preciso encerrar o ciclo


Israel experimentou uma medida das bênçãos e promessas de Deus
ao longo da história. A partir do êxodo, Israel experimentou o favor
de Deus de uma maneira que é completamente única entre as
nações. Ao mesmo tempo, a disciplina da aliança também é um dos
principais fatores que definiram a história de Israel.[93]
No livro de Josué, o pecado de Acã na conquista de Jericó
afetou toda a nação. Foi um alerta a Israel de que o pecado
individual leva ao juízo nacional. No livro de Juízes, Israel
repetidamente caía em pecado e provocava os juízos de Deus, o
que resultava em um período de opressão militar estrangeira. No
entanto, quando a nação clamava e se arrependia, Deus restaurava
Israel. O livro de Juízes descreve ciclos repetidos de juízo e
libertação, que servem como uma previsão do futuro de Israel.
O pecado de Israel provoca os juízos de Deus, que envolvem a
perseguição a Israel por parte das nações. No entanto, quando
Israel se arrepender, Deus misericordiosamente o restaurará. De
maneira muito prática, esse é o resumo da história de Israel.
À medida que Israel crescia e amadurecia como nação, a
mesma história se repetia. Deus foi paciente.[94] Ele enviou profetas
para avisar a nação, mas, eventualmente, o pecado de Israel
provocou as maldições da aliança. Isso aconteceu primeiro com o
Reino do Norte (Israel), que foi invadido e levado cativo pela Assíria.
Pouco mais de um século depois, o Reino do Sul (Judá) foi invadido
pela Babilônia. Essa invasão foi ainda mais violenta porque
envolveu a cidade de Jerusalém. A nação sofreu uma agonia
indescritível quando Nabucodonosor saqueou a cidade, destruiu o
templo e deportou a maior parte da população. Mais uma vez, Israel
sofreu as maldições da aliança.
Quando Jerusalém foi destruída, o futuro de Israel parecia sem
esperança. No entanto, apenas setenta anos após a queda de
Jerusalém, um remanescente da Babilônia começou a retornar a
Jerusalém, dando início a um projeto de reconstrução do templo. A
invasão babilônica não foi o fim da história de Israel. Deus estava
preservando Israel, apesar de seus juízos.[95] Ele ainda se lembrava
de suas promessas, e profetas como Zacarias declararam a
salvação final de Israel.
Nos séculos seguintes, Israel lutou para se estabelecer na
terra. Tragicamente, a nação se afastou dos mandamentos de Deus.
Ainda mais tragicamente, Israel rejeitou o Messias quando ele veio e
viveu entre eles. Com misericórdia, Deus derramou o Espírito Santo
sobre os apóstolos e habilitou a Igreja a pregar em Jerusalém e na
Judeia por quatro décadas para chamar a nação ao arrependimento.
Muitos se voltaram para Deus em arrependimento, inclusive vários
sacerdotes,[96] mas a nação não se arrependeu, e a tragédia ocorreu
em 70 d.C., quando Jerusalém foi tomada, o templo foi destruído e
Israel foi espalhado pelas nações por causa das maldições da
aliança.
Por quase dois mil anos, não houve um retorno de judeus em
larga escala à terra. No entanto, Deus não se esqueceu de sua
aliança com Israel e, no século 20, ele começou a reunir Israel
novamente. Em 1948, as nações ficaram chocadas com um evento
impossível: Israel emergiu novamente como uma nação soberana.
Deus reuniu Israel em sua misericórdia e, no processo, fez uma
declaração às nações de que ele não havia se esquecido de suas
promessas a Israel.
Embora ele tenha reunido Israel por misericórdia, a aliança
ainda precisa ser resolvida. Até que a nação seja salva, ela
experimentará novamente a disciplina da aliança. O propósito dessa
disciplina é provocá-la a clamar por salvação. Israel permanece
sujeito a ciclos de disciplina, junto com uma esperança de
restauração e disciplina novamente, até que algo resolva a ameaça
da aliança contra a nação. Enquanto Israel confiar em suas próprias
forças para cumprir a aliança e garantir seu futuro, esse ciclo
continuará.

A luta coletiva de Romanos 7


A experiência pessoal de Paulo – a agonia de não conseguir fazer o
bem que desejava, mas o mal que não desejava – descreve a
história de Israel como povo:
Não entendo o que faço, pois não pratico o que quero, e sim o
que odeio. E, se faço o que não quero, concordo que a lei é
boa. Agora, porém, não sou mais eu quem faz isso, mas o
pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é,
na minha carne, não habita bem algum; pois o querer o bem
está em mim, mas não o realizá-lo. Pois não faço o bem que
quero, mas o mal que não quero. Portanto, se faço o que não
quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em
mim. – Romanos 7.15-20
O pecado no coração de Paulo o impedia de ser obediente à
boa lei de Deus. A questão não era a lei; era Paulo. Essa é a
essência da luta humana. Estamos presos em um "corpo de morte"
e precisamos de libertação. A experiência de Paulo como indivíduo
reflete a experiência de Israel como nação. A aliança que Israel fez
no Sinai colocou Israel no contexto de uma experiência coletiva de
Romanos 7.
Israel recebeu uma boa lei, mas foi incapaz de cumprir a lei de
Deus. Portanto, ficou sujeito às maldições dessa lei e
constantemente sujeito ao perigo do juízo. Até os maiores heróis de
Israel, como o rei Davi, cometeram graves violações da lei. Portanto,
Israel precisa de um libertador para encerrar esse ciclo. Esse
libertador é Jesus, e o ciclo continuará até que as nações se voltem
a Jesus.
O intenso clamor de Paulo precisa se tornar o clamor de Israel
para que a salvação de Paulo se torne a salvação de Israel:
Desgraçado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta
morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! Desse
modo, com a mente eu mesmo sirvo à lei de Deus, mas com a
carne, à lei do pecado. Portanto, agora já não há condenação
alguma para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do
Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e
da morte. – Romanos 7.24-8.2
Jacó só se tornou Israel quando lutou com Deus, e Deus
esvaziou Jacó de sua força deslocando seu quadril.[97] Essa é uma
imagem do que acontece conosco quando nos voltamos a Jesus.
Reconhecemos que nossa força não é suficiente, clamamos a Deus
por salvação e confiamos em sua força. Como seu pai Jacó, a
nação de Israel terá de chegar coletivamente a um lugar onde não
confiará em sua própria força e clamará a Deus pela salvação que
ele oferece, de acordo com os seus termos e garantida pela sua
capacidade.

O efeito contínuo da lei


Para entender completamente a aliança mosaica, precisamos
entender como ela é anulada e como continua a afetar o nosso
mundo. A obra redentora da cruz é a única maneira de as
exigências da aliança serem anuladas. Somente Jesus põe fim à
aliança mosaica:
Pois Cristo é o fim da lei para a justificação de todo aquele que
crê [...] Porque a Escritura diz: Todo o que nele crê nunca será
envergonhado. – Romanos 10.4,11
Paulo costumava usar as palavras a lei para se referir à aliança
mosaica. Agora, observe com atenção o que Paulo disse. Jesus é o
fim da lei para “todo aquele que crê”. Somente aqueles que nele
creem não serão envergonhados, somente aqueles que estão em
Jesus são libertos da condenação da lei e das maldições da aliança.
Portanto, a lei é um "guardião" (ou "tutor") designado por Deus para
nos levar a Cristo:
Desse modo, a lei se tornou nosso guia para nos conduzir a
Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. Mas, tendo
chegado a fé, já não estamos sujeitos a esse guia. Pois todos
sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. – Gálatas 3.24-26
Da mesma maneira que um tutor prepara um menor de idade
para a vida adulta, a lei nos prepara para receber o evangelho. A lei
serve a esse propósito para os indivíduos e para Israel como nação.
Uma vez que estamos em Jesus, o guardião não é mais necessário,
mas até que a fé esteja presente, a lei serve ao seu propósito como
um guardião que nos impulsiona em direção a Jesus.
Aqueles que estão em Jesus são filhos de Deus, mas se ainda
não estamos em Jesus, permanecemos sujeitos às maldições da lei.
Portanto, todos os que fazem parte do povo de Israel, mas não
estão em Jesus, permanecem sujeitos às maldições específicas da
aliança mosaica, assim como os gentios permanecem sujeitos às
maldições do pecado, se não estiverem em Jesus.
Paulo abordou essa questão quando se dirigiu aos judeus na
sinagoga da cidade de Antioquia, na Pisídia:
Irmãos, ficai pois sabendo que por meio dele vos é anunciado o
perdão dos pecados. E por meio dele, todo o que crê é
justificado de todas as coisas de que não pudestes ser
justificados pela lei de Moisés. – Atos 13.38-39
A mensagem de Paulo era clara: "Todo o que crê é justificado"
das maldições da lei de Moisés. Aqueles que não creem
permanecem sob os termos e condições da aliança, incluindo as
maldições. Logo em seguida, Paulo inseriu um alerta solene
encontrado em Habacuque:
Tomai cuidado para que não venha sobre vós o que foi falado
nos profetas: Vede, ó zombadores, admirai-vos e desaparecei;
porque em vossos dias realizarei uma obra, obra na qual jamais
creríeis se alguém vos contasse. – Atos 13.40-41
A “obra na qual jamais creríeis” a que Paulo se referia era Deus
levantando Babilônia para executar seus juízos contra Israel. Era
uma declaração de advertência aos "zombadores", aqueles que
desobedeceram à lei de Deus e não acreditavam que as maldições
resultariam em juízo.
Paulo advertiu os judeus na sinagoga de que a aliança mosaica
era uma ameaça contínua que só poderia ser extinta se eles
cressem em Jesus. Se eles não cressem em Jesus, permaneceriam
sujeitos aos juízos da aliança – "o que foi falado nos profetas" –
exatamente como Israel estava nos dias de Habacuque.

A transição para a Nova Aliança


A transição da aliança mosaica para a nova não é automática:
Mas agora tanto ele alcançou ministério mais excelente, quanto
é mediador de uma aliança melhor, firmada sobre melhores
promessas [...] Ao dizer que esta aliança é nova, ele tornou
antiquada a primeira. E o que se torna antiquado e envelhece,
está perto de desaparecer. – Hebreus 8.6,13
A aliança mosaica está se tornando obsoleta, envelhecendo e
pronta para desaparecer. É obsoleta por causa da obra de Jesus na
cruz. No entanto, ela ainda não desapareceu. A aliança mosaica
não expirou repentinamente na primeira vinda de Jesus. Para que
isso ocorra, terá de haver um processo pelo qual o povo que está
sujeito à aliança (Israel) invoque o nome de Jesus.
A aliança mosaica é uma aliança feita com uma única nação;
portanto, para que a aliança seja completamente revogada, a nação
precisa ser transformada de tal maneira que não esteja mais sujeita
aos seus termos. Chegará o dia, como Paulo previu, quando:
Todo o Israel será salvo, como está escrito: O Libertador virá de
Sião e desviará de Jacó as impiedades. – Romanos 11.26
Paulo não quis dizer que todo judeu que já viveu ao longo da
história será salvo, independentemente de ter tido ou não um
relacionamento com Jesus. Paulo estava prevendo um dia no futuro
em que toda a nação seria salva e estaria para sempre livre da
aliança mosaica. Trata-se do dia da salvação previsto pelos
profetas. É o dia em que todo o Israel conhecerá o Senhor como
Jeremias profetizou.[98]
Isso é algo que a aliança mosaica nunca poderia realizar, e é
algo que a Nova Aliança terá de realizar para que Israel seja livre
das maldições da aliança mosaica. Como a Nova Aliança depende
da justiça de Jesus e não da justiça de Israel, ela é capaz de criar
uma nação totalmente salva.
À medida que os indivíduos passam a estar em Jesus, a
aliança mosaica desaparece. No entanto, está chegando o dia em
que ela finalmente será revogada, e esse dia não virá antes que a
salvação alcance a mesma nação que fez a aliança mosaica.
Essa gloriosa salvação de todo Israel é predita inúmeras vezes
nas Escrituras.[99] Os profetas não tinham ideia de como esse dia
chegaria, mas eles sabiam que teria de chegar. Para nós, o mistério
foi agora revelado. Deus fará isso acontecer por meio da obra
redentora de seu Filho. A salvação nacional de Israel significará o
fim das maldições da aliança, por isso Paulo se referiu à salvação
deles como "vida dentre os mortos":
Porque, se a sua rejeição significa a reconciliação do mundo, o
que será a sua aceitação, senão vida dentre os mortos? –
Romanos 11.15
Zacarias descreveu a glória e as emoções do dia em que os
olhos da nação serão abertos e eles receberão Jesus como seu
Messias e Salvador:
Mas derramarei o espírito de graça e de súplicas sobre a casa
de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém; eles olharão para
aquele a quem traspassaram e o prantearão como quem
pranteia por seu único filho; e chorarão amargamente por ele,
como se chora pelo primogênito. – Zacarias 12.10
Ao longo da história, sempre houve um remanescente salvo em
Israel e, em nossa geração, esse remanescente está crescendo. Há
um número significativo de judeus messiânicos na terra de Israel
que amam Jesus, e quanto mais nos aproximamos do fim dos
tempos, mais veremos uma aceleração na salvação do povo judeu.
Devemos nos alegrar com isso e nos dedicar a esse avanço. No
entanto, um remanescente salvo não é suficiente para revogar a
velha aliança. Chegará o dia em que todo o Israel será salvo.
UMA NAÇÃO MODERNA COM UMA
ALIANÇA ANTIGA

N ada na história pode se comparar ao ressurgimento de Israel


em 1948. Foi algo sem precedentes. Nunca antes uma nação
havia sido restaurada desta forma, deixando de ser um povo
espalhado pelas nações e uma minoria perseguida por quase dois
mil anos. Essa foi uma afirmação de que Deus não havia se
esquecido de suas promessas para Israel, e, no entanto, as
promessas ainda precisam ser cumpridas. Embora o Israel moderno
seja um testemunho da misericórdia de Deus, também vive no meio
de um conflito constante. Jerusalém está tremendo de novo, como
nos dias dos profetas.
A nação não consegue habitar na terra em paz e segurança, e
é constantemente hostilizada por vários inimigos. Israel enfrenta a
fúria islâmica, a violência étnica e a violência política. Embora o
Israel moderno não seja uma nação justa, essa fúria é muitas vezes
irracional porque, em última análise, não é contra Israel; é uma fúria
contra o Deus que escolheu Israel para seus próprios propósitos.
Nós precisamos resistir a essa fúria. Também precisamos
denunciar os grupos radicais que buscam a aniquilação de Israel e
apoiam atos de terror para oprimir e destruir Israel, acobertados por
uma linguagem humanitária que seduz as nações a se enfurecerem
contra Israel. Não podemos ser cúmplices ou omissos em nossa
geração. Precisamos falar contra o radicalismo islâmico, os falsos
movimentos de justiça e outras ideologias e movimentos que se
recusam a reconhecer a aliança de Deus com Israel.
O Israel moderno tem deficiências e não é errado apontá-las.
No entanto, precisamos entender, concordar e falar com ousadia
sobre as promessas da aliança que Deus firmou com eles, porque
Israel é frequentemente demonizado e difamado de uma maneira
desproporcional à sua verdadeira realidade.[100]
Embora seja necessário resistir à fúria das nações, a atual crise
de Israel não se limita a despertar apenas a fúria das nações. Na
Bíblia, sempre que Israel era hostilizado por exércitos estrangeiros,
Deus estava comunicando algo à nação por meio desses ataques, e
hoje não é diferente. O Estado moderno de Israel está sob uma
ameaça quase constante de invasão, acompanhada da constante
hostilidade de exércitos estrangeiros, até mesmo de exércitos dentro
de suas fronteiras. Embora não devamos concordar com essa
hostilidade, precisamos reconhecer que o Senhor está falando à
nação por meio delas. Precisamos entender por que o Deus que
reuniu Israel está permitindo que seus inimigos o ataquem.

Uma nação moldada pela aliança


A Palavra de Deus ainda conduz e influencia eventos internacionais,
como fazia nos tempos antigos. O Israel moderno pensa que seus
inimigos políticos são seu principal desafio, mas, na realidade, seu
relacionamento com Deus continua sendo a principal problemática
de Israel.
No momento, Israel possui a terra e sofre ataques de seus
inimigos. Israel possui a terra, porém não recebeu toda a sua
herança. O Israel moderno experimentou repetidamente livramentos
sobrenaturais, mas ainda assim encontra-se continuamente em uma
situação impossível. Nada disso é por acaso. Israel é amado por
Deus, mas é hoje uma nação pecaminosa que não consegue entrar
em acordo com ele. Como eles possuem uma aliança nacional
peculiar com ele, há consequências específicas para o pecado da
nação. Os termos da aliança influenciam a realidade atual de Israel
muito além do que eles imaginam.
O fato de a nação estar sendo reunida demonstra as boas
intenções de Deus em relação a ela e seu compromisso com suas
promessas. Ao mesmo tempo, a angústia de Israel revela que as
maldições da aliança mosaica permanecerão até que a nação seja
salva.
Quando entendemos o Antigo Testamento corretamente,
conseguimos resolver grande parte do mistério que cerca o Israel
moderno e sua atual condição. Às vezes, pensamos que Deus
exerceu um papel essencialmente ativo em relação às nações
durante os tempos antigos, mas, agora, ele parece distante da atual
situação geopolítica. Na realidade, as alianças de Deus orientam a
forma como ele interage com as nações e, como resultado, explicam
a atual situação geopolítica.
É importante reconhecer que os efeitos positivos e negativos
das alianças podem ocorrer ao mesmo tempo. A presença de Israel
na terra e sua reunificação como nação são eventos completamente
sobrenaturais. Nas últimas décadas, Israel tem sido preservado
sobrenaturalmente em meio a conflitos militares, mesmo quando em
menor número. Israel dispõe de tecnologias que lhe permitem
sobreviver a guerras internas e ataques com mísseis, sofrendo
danos relativamente reduzidos. Tudo isso se deve à bondade de
Deus. É uma declaração de seu compromisso de preservar Israel e
cumprir suas promessas. No entanto, a mesma hostilidade da qual
Deus defende Israel também é um dos efeitos negativos das
alianças.
Para ter um entendimento completo do Israel moderno, temos
de lidar com a tensão entre essas duas realidades. Temos de
anunciar a Israel as consequências de seu pecado e os detalhes de
sua salvação futura. Podemos ver os sinais da disciplina de Deus e
os primeiros frutos de sua salvação por meio do remanescente
messiânico que cresce rapidamente entre o povo judeu. Deus está
falando simultaneamente a Israel por meio da disciplina,
preservando a nação com bondade e conduzindo-a à sua salvação.
Compreender essas realidades da aliança não significa
compactuar com o mal. Por exemplo, em Habacuque 1, Deus disse
a Habacuque que estava usando a Babilônia para falar a Israel, mas
isso não significava que Habacuque deveria ignorar ou consentir
com o pecado de Babilônia. No entanto, em nosso apoio a Israel,
não podemos ignorar a disciplina da aliança e o efeito que ela tem
sobre a nação.

O clamor por libertação


O Salmo 120 resume o propósito de Deus ao aplicar a disciplina da
aliança:
Na minha angústia clamei ao SENHOR, e ele me respondeu. –
Salmo 120.1
A pressão ou "angústia" de Israel tem por objetivo fazer com
que eles invoquem o Senhor para que sejam salvos. Por esse
motivo, a pressão da disciplina de Deus se intensificará até que a
nação coloque em prática os meios de salvação de Deus. Moisés
resumiu isso em Levítico e Deuteronômio quando previu que Deus
aplicaria sua disciplina a Israel para quebrar sua força:
Pois quebrarei a arrogância do vosso poder, e farei que o céu
seja para vós como ferro, e a terra, como bronze. – Levítico
26.19
Porque o SENHOR julgará seu povo e se arrependerá em favor
dos seus servos, quando vir que o poder deles já se foi e que
não resta nem escravo nem livre. – Deuteronômio 32.36
Quando a Bíblia prediz que Deus quebrará a arrogância do
poder de Israel, isso não significa que o objetivo de Deus é destruí-
lo. O objetivo de Deus não é quebrar Israel, mas quebrar a
confiança de Israel em sua capacidade de garantir o cumprimento
de suas promessas e de possuir sua herança. Deus quebrará o
"poder" de Israel para levá-los à condição do Salmo 120.1. Então, a
nação clamará ao Senhor por salvação.
Como vimos na primeira seção, o trecho de Zacarias 12.10-12
é uma profecia-chave no Novo Testamento. Jesus a citou, João a
citou e Pedro fez alusão a ela. É uma profecia muito ressaltada nas
descrições do Novo Testamento sobre o fim dos tempos, porque é o
dia pelo qual todos os profetas esperavam – o dia em que a
disciplina de Deus produzirá a salvação de toda a nação e o fim das
maldições da aliança.
Mas derramarei o espírito de graça e de súplicas sobre a casa
de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém; eles olharão para
aquele a quem traspassaram e o prantearão como quem
pranteia por seu único filho; e chorarão amargamente por ele,
como se chora pelo primogênito. – Zacarias 12.10

A nação e seu Messias


A disciplina de Deus é um dos elementos que fazem parte da
angústia de Israel, mas a nação também é alvo da ira de Satanás. O
inimigo sabe que não pode destronar Deus nos céus, então ele faz
guerra contra Deus na Terra, atacando as promessas de Deus. A ira
do inimigo contra Israel ao longo de sua história é uma forma de
guerra indireta contra o Deus de Israel.
O inimigo sabe que o pecado de Israel o torna vulnerável à
disciplina da aliança, e uma de suas estratégias para o fim dos
tempos será seduzir Israel ao pecado, para que seu pecado deixe a
nação vulnerável aos juízos de Deus. À medida que os juízos de
Deus sobre Israel se intensificam, o inimigo se aproveita da situação
e libera sua ira contra Israel. O inimigo ficará sob a ilusão de que
Deus não pode libertar Israel por causa de seu pecado e dos termos
de sua aliança com eles.
O que aconteceu com Jesus é uma figura do que acontecerá
com Israel no fim dos tempos. Quando o sofrimento de Jesus teve
início, o inimigo viu Deus transferir a culpa do nosso pecado para
Jesus.[101] Os "governantes desta era" (uma referência aos poderes
espirituais) participaram da crucificação de Jesus porque não
entenderam o que estava acontecendo. Eles viram o julgamento de
Jesus como uma oportunidade de liberar sua ira contra ele.
Nenhum dos governantes desta era compreendeu essa
sabedoria, pois se a tivessem compreendido, não teriam
crucificado o Senhor da glória. – 1 Coríntios 2.8
Esses “governantes” não viram como o Pai poderia salvar
Jesus, pois sua ira os cegou para o mistério da redenção. Por não
entenderem a misericórdia, crucificaram Jesus vorazmente. No
entanto, “Jesus crucificado” de repente se tornou “Jesus ressurreto”.
Eles pensaram que haviam derrotado Jesus, mas o evento que eles
pensaram ter sido sua maior vitória preparou o cenário para a sua
maior derrota.[102]
Paulo descreveu a morte e ressurreição de Jesus como a
sabedoria de Deus que os governantes não entendiam:
Pois a palavra da cruz é insensatez para os que estão
perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o
poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos
sábios e anularei a inteligência dos inteligentes. – 1 Coríntios
1.18-19
Observe que 1 Coríntios 1.18 é uma citação de Isaías 29.14:
Portanto, continuarei a fazer uma obra maravilhosa com este
povo, uma obra mais que maravilhosa; a sabedoria dos seus
sábios cessará, e a perícia dos seus peritos se esconderá. –
Isaías 29.14
Em Isaías 29, Deus predisse o que faria com "este povo",
referindo-se a Israel. É uma profecia muito dramática. Ele descreve
um cerco a Jerusalém, que levaria Israel "ao pó", ou seja, à
destruição.
Ariel, ai de Ariel, cidade onde Davi acampou! Acrescentai ano a
ano, completem o ciclo das festas. Então porei Ariel em apuros,
e haverá pranto e lamentação; ela será para mim uma
verdadeira fornalha. Acamparei ao teu redor, eu te sitiarei com
baluartes e farei um cerco contra ti. Então serás abatida, falarás
de debaixo da terra, e a tua voz sairá fraca do chão; a tua voz
debaixo da terra será como a de um espírito, como um assobio
desde o pó. – Isaías 29.1-4
Deus descreveu seu próprio envolvimento no cerco, nos
versículos 2 e 3. No entanto, no meio do cerco, algo inesperado
acontece. Os inimigos de Israel são tão drasticamente derrotados
que todo o cerco parece um sonho:
Os teus inúmeros inimigos serão como o pó, e a multidão dos
cruéis, como a palha que voa; isso acontecerá de repente, num
momento. Ela será visitada pelo SENHOR dos Exércitos com
trovões, terremotos e grande ruído; com tufão, tempestade e
labareda de fogo devorador. A multidão de todas as nações
que lutarão contra Ariel será como o sonho, uma visão da noite;
sim, a multidão de todos os que lutarem contra ela e contra a
sua fortaleza, e a puserem em aperto. – Isaías 29.5-7
Isaías 29 é uma profecia do dia em que Deus permitirá que os
inimigos de Israel venham contra eles. Seus inimigos aproveitarão a
oportunidade para liberar sua ira, acreditando que podem destruir as
promessas de Deus para Israel e impedir o juízo divino. No entanto,
esse momento de intensa pressão fará Israel clamar a seu Deus,
que os ouvirá e libertará de maneira repentina e chocante.[103] Paulo
conectou o texto de Isaías 29 ao de 1 Coríntios 1, porque Jesus era
uma figura profética de como a sabedoria de Deus seria
demonstrada na salvação de Israel.
Está chegando o dia em que Israel ficará vulnerável aos juízos
de Deus por causa de seu pecado e dos efeitos da aliança. Nesse
momento, seus inimigos vão se enfurecer e tentar tirar vantagem da
disciplina de Israel, sitiando Jerusalém. No entanto, Deus usará
essa situação para fazer Israel clamar por salvação.
Quando a condição de Israel parecer desesperadora, Deus de
repente o salvará da vingança de seus inimigos, lançando a sua
vingança sobre as nações e sobre aqueles que tentaram destruir
Israel em seu momento de transgressão, fraqueza e vulnerabilidade.
[104]
A libertação sobrenatural [ressurreição] de Jesus operada por
Deus é uma figura da libertação final de Israel. Jesus está tão
intimamente ligado a Israel que, em certo sentido, ele viveu a
história de Israel.
Israel não está salvo, e as nações são convocadas a chamá-lo
ao arrependimento com ternura, mas também com ousadia. No
entanto, o chamado de Israel continua sendo válido e Deus
permanece comprometido com ele da mesma maneira que um pai
permanece comprometido com um filho mesmo quando esse filho é
desobediente. Por serem incapazes de compreender a misericórdia,
os governantes desta era e as nações não conseguem enxergar a
certeza da concretização do plano de Deus, mas o alinhamento de
Israel com seu próprio destino é tão certo quanto o cumprimento do
destino de Jesus.

A história de Israel é a nossa história


Somos chamados a reconhecer o relacionamento de Deus com
Israel e declarar o destino da aliança com Israel, anunciando
profeticamente ao seu povo o que Deus exige para que partilhem
desse destino.
Quando entendemos o relacionamento de Deus com Israel,
entendemos melhor o relacionamento dele conosco. A lei de Deus
exige que Israel seja justo, mas em última instância, Deus exige que
todos sejamos justos. A lei de Deus traz juízo sobre Israel, mas sua
lei trará juízo sobre todos os homens no final. Israel e as nações
experimentam a misericórdia e a bondade de Deus mesmo quando
estão sujeitos a juízo.
O que Deus está fazendo com Israel é o mesmo que ele faz
com todos os crentes. Ele nos leva a um ponto em que não
podemos mais confiar em nossa própria habilidade, só nos resta nos
voltarmos a ele e sermos salvos. Paulo expressou isso em
Filipenses 3.3:
Porque nós é que somos a circuncisão, nós, os que servimos a
Deus em espírito, e nos orgulhamos em Cristo Jesus, e não
confiamos na carne.
As justas exigências de Deus para Israel e as nações servem
como um tutor glorioso para nos levar a Jesus. A lei levará não
apenas indivíduos à salvação mas também uma nação inteira a
Jesus.
PARTE 4:

A PROMESSA DE DEUS ÀS NAÇÕES


DEUS SEMPRE TEVE AS NAÇÕES EM MENTE

P or causa do lugar único que Israel ocupa na história de Deus,


uma parte significativa do drama do fim dos tempos gira em
torno de Deus resolvendo a situação de Israel e cumprindo as
promessas que fez a essa nação. No entanto, a história de Israel faz
parte da história de Deus e as nações. Deus iniciou seu plano com
Abraão a partir de seu desejo de salvar as nações. Por causa da
aliança abraâmica, a resolução de Deus para a crise de Israel e o
cumprimento das promessas a Israel terão de trazer bênção para as
nações. Portanto, também precisamos entender a promessa de
Deus às nações, como essa promessa vai se cumprir segundo a
Bíblia e como ela também prepara o cenário para os eventos do fim
dos tempos.
Quando Deus iniciou o plano de redenção com Abraão, ele
pretendia levar a salvação às nações:
E a Escritura, prevendo que Deus iria justificar os gentios pela
fé, anunciou com antecedência a boa notícia a Abraão,
dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações.[105] –
Gálatas 3.8
A salvação das nações não foi uma ideia que surgiu com o
tempo, tampouco foi “estendida” aos gentios porque Israel falhou em
cumprir o seu chamado. Deus fez uma aliança com Abraão para
salvar as nações. O Novo Testamento não é o fim da história de
Israel, nem o início da história das nações. Paulo lembrou a igreja
de Éfeso, composta principalmente por gentios, de que Deus os
tinha em mente antes da fundação do mundo:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que
nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões
celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele, antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
diante dele em amor; e nos predestinou para si mesmo,
segundo a boa determinação de sua vontade, para sermos
filhos adotivos por meio de Jesus Cristo. – Efésios 1.3-5
Os versículos que descrevem a Igreja do fim dos tempos nos
ajudam a entender os propósitos de Deus para as nações e o que
precisa acontecer antes do retorno de Jesus.

As três promessas feitas a Abraão estão firmemente


entrelaçadas
À medida que a história da redenção se desenrola, todas as três
promessas também se tornam interdependentes. As nações não
podem receber o conhecimento de Deus e sua salvação sem a obra
de Deus em Israel.[106] Ao mesmo tempo, a salvação de Israel
depende de um testemunho que virá das nações.[107] Deus nos fez
todos interdependentes para que todos fôssemos humildes.
Jesus veio confirmar, também poderíamos dizer "garantir", as
promessas feitas aos patriarcas judeus para que os gentios
glorificassem a Deus por sua misericórdia:
Afirmo, pois, que Cristo se tornou servo da circuncisão, por
causa da fidelidade de Deus, para confirmar as promessas
feitas aos patriarcas; e para que os gentios glorifiquem a Deus
pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto, eu te
louvarei entre os gentios e cantarei hinos ao teu nome. –
Romanos 15.8-9
As promessas de Deus para Israel e para as nações estão tão
intimamente conectadas que o plano de redenção une judeus e
gentios em um novo corpo. Paulo se referiu ao plano de Deus de
reunir judeus e gentios como o mistério de Cristo:
Estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade
de Israel, estranhos às alianças da promessa, sem esperança e
sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que
antes estáveis longe, viestes para perto pelo sangue de Cristo,
pois ele é a nossa paz. De ambos os povos fez um só e,
derrubando a parede de separação, em seu corpo desfez a
inimizade, isto é, a lei dos mandamentos contidos em
ordenanças, para em si mesmo criar dos dois um novo homem,
fazendo assim a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus
em um só corpo, tendo por ela destruído a inimizade. – Efésios
2.12-16
E como por revelação me foi manifestado o mistério, conforme
vos escrevi acima em poucas palavras, de forma que, quando
ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de
Cristo. Esse é o mistério que em outras gerações não foi
manifestado aos homens, da forma como se revelou agora no
Espírito aos seus santos apóstolos e profetas, isto é, que os
gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e
comparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do
evangelho. – Efésios 3.3-6
O plano de Deus para cumprir as promessas a Abraão inclui
promessas distintas a Israel, mas também envolve reunir judeus e
gentios em um único corpo. O fato de Israel e os gentios serem uma
só família em Jesus significa que receberemos as promessas feitas
a nós juntos, como família, ao mesmo tempo.

O desejo de Deus pelas nações


Embora ninguém soubesse exatamente como Deus salvaria as
nações, desde o início, a Bíblia fala de uma promessa na qual Deus
formaria um só povo, de Israel e das nações. Como as promessas
do Antigo e do Novo Testamento são cumpridas no contexto da
Igreja, elas revelam o plano de Deus para Israel e seu plano para as
nações. Portanto, as previsões feitas pelos profetas de um povo nas
nações que adora o Deus de Israel são descrições de uma Igreja
madura e preparada para o fim dos tempos. O estudo dessas
previsões nos dá uma imagem do cumprimento da terceira
promessa feita a Abraão.
Quando lemos o Antigo Testamento, podemos sentir o desejo
de Deus pelas nações:
Eu mesmo constituí o meu rei em Sião, meu santo monte.
Proclamarei o decreto do SENHOR; ele me disse: Tu és meu
filho, hoje te gerei. Pede-me, e te darei as nações como
herança, e as extremidades da terra como propriedade. –
Salmo 2.6-8
Que Deus se compadeça de nós e nos abençoe; e faça
resplandecer seu rosto sobre nós, para que se conheçam seu
caminho na terra e sua salvação entre todas as nações.
Louvem-te os povos, ó Deus, louvem-te todos os povos.
Alegrem-se e regozijem-se as nações, pois julgas os povos
com equidade e guias as nações sobre a terra. Louvem-te os
povos, ó Deus, louvem-te todos os povos. – Salmo 67.1-5
Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão diante de ti,
Senhor, e glorificarão teu nome. – Salmo 86.9
Cantai um cântico novo ao SENHOR, cantai ao SENHOR,
todos os moradores da terra. Cantai ao SENHOR, bendizei o
seu nome; dia após dia, proclamai a sua salvação. Anunciai
sua glória entre as nações, e suas maravilhas, entre todos os
povos. – Salmo 96.1-3
Eles levantarão a voz e cantarão de alegria; clamarão desde o
mar por causa da majestade do SENHOR. Por isso, glorificai o
SENHOR no oriente, e dai glória ao nome do SENHOR, Deus
de Israel, na região litorânea. Dos confins da terra ouvimos
cantar: Glória ao Justo. – Isaías 24.14-16
Aqui está o meu servo, a quem sustento; o meu escolhido, em
quem me alegro; pus o meu Espírito sobre ele; ele trará justiça
às nações. – Isaías 42.1
Eu, o SENHOR, te chamei em justiça; tomei-te pela mão e
guardei-te; eu te fiz mediador da aliança com o povo e luz para
as nações. – Isaías 42.6
Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os confins da terra;
porque eu sou Deus, e não há outro. – Isaías 45.22
Ele diz: Não basta que sejas o meu servo para restaurares as
tribos de Jacó e trazeres de volta os remanescentes de Israel.
Também te porei para luz das nações, para seres a minha
salvação até a extremidade da terra. – Isaías 49.6
Exulta e alegra-te, ó filha de Sião; pois eu venho e habitarei no
meio de ti, diz o SENHOR. Naquele dia, muitas nações se
ajuntarão ao SENHOR e serão o meu povo; habitarei no meio
de ti, e saberás que o SENHOR dos Exércitos me enviou a ti. –
Zacarias 2.10-11
Mas o meu nome é grande entre as nações, do oriente ao
ocidente; e em todo lugar oferecem ao meu nome incenso e
uma oferta pura; porque o meu nome é grande entre as
nações, diz o SENHOR dos Exércitos. – Malaquias 1.11
O livro de Jonas é um exemplo do profundo desejo de Deus
pelas nações. Deus enviou Jonas para pregar a uma nação
perversa que era inimiga de Israel, e Jonas ficou intensamente
frustrado porque sabia que Deus queria demonstrar sua misericórdia
para a Assíria:
Então orou ao SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso
que eu disse quando ainda estava na minha terra? Por isso é
que fugi depressa para Társis, pois sabia que és Deus
compassivo e misericordioso, paciente e cheio de amor, e que
te arrependes do mal. – Jonas 4.2
A declaração final de Deus a Jonas revela seu grande amor
pelos gentios, mesmo por aqueles considerados mais perversos:
O SENHOR disse: Tens compaixão da planta, que não
cultivaste nem fizeste crescer; que numa noite nasceu e na
outra noite morreu. E não teria eu compaixão da grande cidade
de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas que não
sabem discernir entre a mão direita e a esquerda, e também
muito gado? – Jonas 4.10-11
Embora o Antigo Testamento se concentre principalmente na
história de Israel, também deixa claro que Deus tem as nações em
mente. Isso se torna ainda mais claro no Novo Testamento.
Cada vez que Jesus comissionava os discípulos, ele os enviava
às nações:
E este evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro,
para testemunho a todas as nações, e então virá o fim. –
Mateus 24.14
Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. – Mateus 28.19
Mas recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre
vós; e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como
em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra. - Atos
1.8
Paulo descreveu o grande plano de Deus para salvar os
gentios e levá-los à plenitude:
Será que Deus é somente dos judeus? Não é também dos
gentios? É também dos gentios, visto que Deus é um só, o qual
justificará por meio da fé os da circuncisão, e também por meio
da fé os da incircuncisão. – Romanos 3.29-30
Irmãos, não quero que ignoreis este mistério para que não
sejais arrogantes: o endurecimento veio em parte sobre Israel,
até que chegue a plenitude dos gentios. – Romanos 11.25
Afirmo, pois, que Cristo se tornou servo da circuncisão, por
causa da fidelidade de Deus, para confirmar as promessas
feitas aos patriarcas; e para que os gentios glorifiquem a Deus
pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto, eu te
louvarei entre os gentios e cantarei hinos ao teu nome. E diz
ainda: Alegrai-vos, gentios, juntamente com o seu povo. E
ainda: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e louvem-no, todos
os povos. E, outra vez, Isaías também diz: Surgirá a raiz de
Jessé, aquele que se levantará para reger os gentios; nele os
gentios colocarão a esperança. – Romanos 15.8-12

A Igreja – testemunha de outro reino


Paulo descreveu a Igreja como "os embaixadores" de Deus porque
nossa cidadania está no Céu.[108] A analogia de Paulo da Igreja com
um povo de embaixadores é uma das melhores maneiras de
entender o reino de Deus nesta era.
Cada igreja nas nações é uma embaixada de outro reino.
Vivemos nos reinos deste mundo, mas representamos outro reino.
Da mesma forma que a embaixada de um país não é a plenitude
desse país, mas uma representação dele, também a Igreja nesta
era não é a plenitude do reino, mas aponta para o reino que está por
vir.
A Igreja nesta era não é a plenitude do reino, mas cada igreja é
uma expressão válida do reino. Quando as pessoas passam a fazer
parte da família de Deus, que é Igreja, elas experimentam os
valores e o poder do reino para os quais a Igreja aponta. Nossa
tarefa nesta era é construir o maior número possível de
“embaixadas” do reino vindouro.
A Igreja é um “lugar” nesta era onde as pessoas podem provar
o reino que está por vir. É a provisão de Deus para as nações
durante o fim dos tempos. Por meio da Igreja, as nações
experimentarão o poder do reino vindouro, serão convidadas a
resistir ao anticristo e declararão lealdade ao Rei vindouro.

A Igreja do fim dos tempos será uma Igreja madura


Paulo previu que o agir de Deus nas nações produziria uma Igreja
madura:
E ele designou uns como apóstolos, outros como profetas,
outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e
mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para a
obra do ministério e para a edificação do corpo de Cristo; até
que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à
medida da estatura da plenitude de Cristo. – Efésios 4.11-13
A previsão de Paulo é profunda: a Igreja chegará ao
conhecimento de Deus, à maturidade e à medida da estatura da
plenitude de Cristo. É isso que precisa ser realizado nela antes que
Jesus volte. É a razão pela qual Jesus morreu:
Maridos, cada um de vós ame a sua mulher, assim como Cristo
amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, a fim de
santificá-la, tendo-a purificado com o lavar da água, pela
palavra, para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa,
sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas
santa e irrepreensível. – Efésios 5.25-27
Segundo Paulo, a obra expiatória de Jesus cumprirá diversos
propósitos na Igreja. Por meio dela, a Igreja é santificada. A palavra
santificada significa separada para um propósito especial e inclui a
ideia de santidade. Por meio dela, a Igreja é purificada. Do mesmo
modo que os antigos israelitas se lavavam solenemente antes de se
aproximar de Deus, as palavras de Jesus purificam a Igreja. Jesus
está comprometido em apresentar uma Igreja vestida de esplendor,
sem manchas, rugas ou qualquer tipo de imperfeição.
Paulo usou a analogia do casamento para descrever o
relacionamento de Jesus com a Igreja. Jesus levará a Igreja à
maturidade porque ele morreu para ter uma Igreja que é santa e
sem defeitos. João Batista também usou a analogia do casamento
quando descreveu Jesus como noivo e a si próprio como o amigo do
noivo e seu ministério de preparar o povo para Jesus:
A noiva pertence ao noivo; mas o amigo do noivo, que está
presente e o ouve, alegra-se muito com a voz do noivo. Assim
se completa esta minha alegria. – João 3.29
Quando pensamos na noiva e no casamento, pensamos em
uma mulher madura e bela que se esforçou para se tornar atraente
para o noivo. O mesmo se aplica à Igreja. Jesus morreu para que a
Igreja fosse madura e bela, uma parceira adequada para ele. Como
resultado, a analogia do casamento é usada em todo o Novo
Testamento para descrever a condição final da Igreja:
Como também nos elegeu nele, antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor. –
Efésios 1.4
Porque tenho ciúme de vós, e esse ciúme vem de Deus, pois
vos prometi em casamento a um único marido, que é Cristo,
para vos apresentar a ele como virgem pura. – 2 Coríntios 11.2
Agora ele vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, a
fim de vos apresentar santos, inculpáveis e irrepreensíveis
diante dele. – Colossenses 1.22
A ele anunciamos, aconselhando e ensinando todo homem
com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem
perfeito em Cristo. – Colossenses 1.28
Alegremo-nos, exultemos e demos glória a ele, porque chegou
o momento das bodas do Cordeiro, e sua noiva já se preparou,
e foi-lhe permitido vestir-se de linho fino, resplandecente e
puro; pois o linho fino são as obras justas dos santos. E me
disse: Escreve: Bem-aventurados os que são chamados à ceia
das núpcias do Cordeiro! Disse-me ainda: Estas são as
verdadeiras palavras de Deus. – Apocalipse 19.7-9
O Pai quer dar a seu Filho uma noiva dentre as nações como
recompensa por seu sofrimento. Por esse motivo, o Pai aperfeiçoará
a Igreja até que ela se torne uma linda noiva para o seu Filho. O fim
dos tempos é o tempo em que a Igreja atinge a maturidade e está
pronta para se unir a Jesus para sempre. E, assim, a Bíblia compara
o retorno de Jesus a uma grande festa de casamento.
Não foi por acaso que Jesus realizou seu primeiro milagre em
um casamento, e a resposta das pessoas ao milagre é uma
declaração profética para nós. Deus está reservando o melhor para
o fim:
E lhe disse: Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os
convidados já beberam bastante, servem o inferior; mas tu
guardaste até agora o melhor vinho. – João 2.10
Jesus não está voltando para uma noiva que mal consegue
sobreviver; ele está retornando para uma Igreja madura que resiste
e prevalece contra os poderes do inferno:
E digo-te ainda que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra
ela. – Mateus 16.18
Tudo isso está relacionado com o fato de as nações serem
abençoadas. Subestimamos muito a glória que Deus derramará
sobre a Igreja. A Bíblia até promete que, quando nos encontrarmos
com Jesus, seremos como ele é.
Que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser
semelhante ao corpo da sua glória, pelo seu poder eficaz de
sujeitar a si todas as coisas. – Filipenses 3.21
E para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para
alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. – 2
Tessalonicenses 2.14
Amados, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o
que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como
ele é. – 1 João 3.2
Não importa quanta imaturidade conseguimos ver na Igreja
agora, a Bíblia promete que uma Igreja madura se levantará. Ela
será tão gloriosa que se vestirá com uma glória semelhante à
própria glória de Jesus e se tornará sua parceira adequada por toda
a eternidade. A Igreja é formada por judeus e gentios, portanto essa
é uma promessa para todos os povos, com implicações profundas
para a Igreja nas nações.
Apesar de o Antigo Testamento afirmar que chegará o dia em
que todos os israelitas serão salvos e as nações, abençoadas, é no
Novo Testamento que encontramos um enfoque maior sobre essa
promessa. Israel será salvo como nação, mas um remanescente
salvo também precisa vir de todos os povos até o fim desta era.[109]
Esse povo, judeu e gentio, estará aperfeiçoado quando Jesus voltar.
A Igreja do fim dos tempos será profundamente leal a Jesus e
viverá com grande expectativa de seu retorno.
Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do
seu testemunho e, mesmo diante da morte, não amaram a
própria vida. – Apocalipse 12.11
Vi algo como um mar de vidro misturado com fogo; e os que
haviam vencido a besta, a sua imagem e o número do seu
nome estavam em pé junto ao mar de vidro com harpas de
Deus. Eles cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o
cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as
tuas obras, ó Senhor Deus todo-poderoso; justos e verdadeiros
são os teus caminhos, ó Rei das nações. Senhor, quem não te
temerá e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por
isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti,
porque os teus juízos são manifestos. – Apocalipse 15.1-4
(grifo meu)
Daniel também descreveu a maturidade da Igreja do fim dos
tempos:
Ele perverterá com engano os que tiverem violado a aliança;
mas o povo que conhece o seu Deus se tornará forte e
mostrará resistência. Os sábios do povo ensinarão a muitos;
porém serão feridos pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e
pelo despojo por muitos dias. – Daniel 11.32-33
Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do
firmamento; e os que converterem a muitos para a justiça,
brilharão como as estrelas, sempre e eternamente. – Daniel
12.3
A Igreja do fim dos tempos será formada por um povo que
conhece seu Deus, permanece firme diante do anticristo e é
“atuante”. Esse povo instruirá muitas pessoas e fará com que
também entendam a Palavra de Deus. Eles farão com que “muitos
se convertam para a justiça”. Embora a Igreja do fim dos tempos
seja perseguida pelo anticristo, Daniel foi informado de que ela será
uma Igreja missionária e madura, e sua influência fará com que
muitos se convertam para a justiça.
Quando resumimos o que a Bíblia diz sobre a Igreja do fim dos
tempos, temos uma imagem vívida do que Deus fará nas nações. A
Igreja do fim dos tempos será como uma noiva madura. Ela estará
profundamente apaixonada por Jesus, adorando a Deus por todas
as suas obras poderosas, mesmo no meio da Grande Tribulação.
Ela será fiel e leal a Jesus, até a morte. Ela será uma influência
ativa na Terra, continuando a chamar os homens para a justiça.
Essa previsão não se limita a apenas uma parte do corpo. Somos
informados de que essa será a condição da Igreja em todos os
povos antes que o Senhor retorne:
Depois dessas coisas, vi uma grande multidão, que ninguém
podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em
pé diante do trono e na presença do Cordeiro, todos vestidos
com túnicas brancas e segurando palmas nas mãos [...] Eu lhe
respondi: Meu Senhor, tu sabes. E ele me disse: Estes são os
que vêm da grande tribulação e lavaram as suas túnicas e as
branquearam no sangue do Cordeiro. – Apocalipse 7.9,14
Nenhuma dessas previsões minimiza o sofrimento decorrente
de grandes provações, perseguições, conflitos e testes que a Igreja
do fim dos tempos enfrentará. A Bíblia prediz que muitos santos do
fim dos tempos perderão a vida por causa de sua fidelidade a Jesus.
No entanto, sofrimento e fidelidade até a morte não são sinais de
uma Igreja fraca. Eles são os indicadores de uma Igreja forte,
vibrante e madura, capaz de suportar as pressões impostas pelo
governante mais perverso da história.

A Igreja será aperfeiçoada em glória e em meio à crise


Dificilmente poderemos prever tudo o que estava no coração e na
mente de Deus quando ele fez a Abraão a promessa de abençoar
as nações, conforme lemos em Gênesis 12.3. Essa bênção é
descrita ao longo da história e acontecerá antes que esta era
termine. Assim como não podemos imaginar a glória da salvação de
Israel, também não podemos imaginar a glória que está vindo sobre
a Igreja madura.
O fim dos tempos é um tempo de glória, pois é quando a Igreja
chega à maturidade, e é também um tempo de crise como nunca
existiu, pois é quando o anticristo entra no palco da história humana.
Para ter uma imagem precisa do fim dos tempos, não podemos
subestimar nenhum desses temas.
Alguns subestimaram a glória da Igreja madura do fim dos
tempos. Quando fazemos isso, ignoramos o que a Bíblia diz sobre a
Igreja, o nosso pensamento passa a girar em torno do domínio do
anticristo sobre a Terra e o medo passa a controlar nossas ações;
perdemos a fé no que Deus fará no fim dos tempos. Isso explica por
que devemos examinar o que a Bíblia diz sobre a Igreja do fim dos
tempos.
Outros se concentram apenas no acontece na Igreja e não
consideram com sobriedade o que a Bíblia diz sobre a crise do fim
dos tempos. Será um período de tribulações como nunca houve
antes. Quando pensamos nas imensas crises que ocorreram ao
longo da história, percebemos que nenhuma delas se aproxima da
crise do final dos tempos. Esta excederá todas as outras crises. Os
profetas usaram uma linguagem dramática ao descrever o que
acontecerá para que estejamos preparados para isso. Não podemos
ignorar ou minimizar o que a Bíblia diz:
Ficarão desanimados; dores e aflições tomarão conta deles;
sofrerão como a mulher no parto; olharão assustados uns para
os outros; ficarão com o rosto vermelho. – Isaías 13.8
Por isso, fiquei muito angustiado; tive dores como as dores da
mulher no parto; estou tão atribulado que não consigo ouvir e
tão pasmo que não consigo ver. – Isaías 21.3
Perguntai, pois, e observai se um homem pode dar à luz. Por
que, então, vejo todos os homens com as mãos sobre o ventre
como a mulher em trabalho de parto? Por que todos os rostos
estão pálidos? Ah! Como aquele dia será terrível, sem
comparação! Será tempo de angústia para Jacó; mas ele será
resgatado dela. – Jeremias 30.6-7
Naquele tempo, Miguel, o grande príncipe, se levantará a favor
dos filhos do teu povo; e haverá um tempo de tribulação como
nunca houve desde que existiu nação até então; mas naquele
tempo, o teu povo, todo aquele cujo nome estiver escrito no
livro, será liberto. – Daniel 12.1
Ai de vós que desejais o dia do SENHOR! Para que quereis
este dia do SENHOR? Será um dia de trevas e não de luz. –
Amós 5.18
É dia de indignação, dia de tribulação e de angústia, dia de
tumulto e de destruição, dia de trevas e de escuridão, dia de
nuvens e de negridão, dia de trombeta e gritos de guerra contra
as cidades fortificadas e contra as torres altas. – Sofonias 1.15-
16
Porque haverá uma tribulação muito grande, como nunca
houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais
haverá. – Mateus 24.21
Por isso, alegrai-vos, ó céus, e todos vós que neles habitais.
Mas ai da terra e do mar! Pois o Diabo desceu até vós com
grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta. – Apocalipse
12.12
Não podemos suavizar as palavras desses versículos. Algo
está chegando que vai além de todo o histórico de crises
vivenciadas pela humanidade até hoje. Será o conflito final entre
Deus e seus inimigos pela salvação e restauração da Terra.
No entanto, em meio a essa crise, Deus se manifestará por
meio de um povo. Esse povo será maduro, que não se ofende com
qualquer coisa. Ele conhecerá o seu Deus, entenderá a crise do fim
dos tempos, permanecerá firme e será atuante.
O fim dos tempos será sem precedentes no que diz respeito às
tribulações, mas, simultaneamente, será um tempo de missões. A
Igreja não estará apenas resistindo à atividade do inimigo; ela será
ativa na obra de Deus. O evangelho se expandirá mesmo durante o
reinado do anticristo.
UMA GRANDE COLHEITA FINAL NAS
NAÇÕES

A promessa de Deus às nações será cumprida com uma grande


colheita que impactará todos os povos. A salvação das nações,
assim como a salvação nacional de Israel, é um evento importante
associado ao retorno do Senhor e predito ao longo do livro de
Apocalipse:
E cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de tomar o
livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu
sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua,
povo e nação. – Apocalipse 5.9
Depois dessas coisas, vi uma grande multidão, que ninguém
podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em
pé diante do trono e na presença do Cordeiro, todos vestidos
com túnicas brancas e segurando palmas nas mãos. –
Apocalipse 7.9
Vi outro anjo, que voava pelo meio do céu e trazia um
evangelho eterno para proclamar aos habitantes da terra e a
toda nação, tribo, língua e povo. – Apocalipse 14.6
Senhor, quem não te temerá e não glorificará o teu nome? Pois
só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão
diante de ti, porque os teus juízos são manifestos. – Apocalipse
15.4
Esses versículos nos mostram que haverá uma grande colheita
nas nações antes de Jesus voltar. Eles revelam que o evangelho
será pregado às nações até o retorno de Jesus, mesmo durante o
fim dos tempos. Isso significa que a obra missionária entre as
nações continuará mesmo durante o reinado do anticristo.
O alcance da colheita no fim dos tempos
As Escrituras predizem repetidamente uma colheita nas nações,
mas o livro do Apocalipse é o único que nos mostra os resultados
dessa colheita, porque a colheita final ocorrerá no fim dos tempos.
[110]
Apocalipse 7 descreve o alcance do avivamento do fim dos
tempos, que faz parte da promessa de Deus às nações:
Depois dessas coisas, vi uma grande multidão, que ninguém
podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em
pé diante do trono e na presença do Cordeiro, todos vestidos
com túnicas brancas e segurando palmas nas mãos; e
clamavam em alta voz: Salvação ao nosso Deus, que está
assentado no trono, e ao Cordeiro [...] Então, um dos anciãos
me perguntou: Quem são e de onde vieram estes que estão
vestidos com túnicas brancas? Eu lhe respondi: Meu Senhor, tu
sabes. E ele me disse: Estes são os que vêm da grande
tribulação e lavaram as suas túnicas e as branquearam no
sangue do Cordeiro. – Apocalipse 7.9-10,13-14
O ancião fez uma pergunta a João: “Quem são essas pessoas
e de onde elas vêm?”. Ele queria que João percebesse a
importância do momento em que essa visão se cumpriria. É assim
que a Igreja será na geração do fim, e os detalhes da visão foram
dados para que possamos entender as condições da Igreja do fim
dos tempos. Muitos comentaristas acreditam que esses são os
mártires da Grande Tribulação, mas, independentemente de João
ver apenas os mártires da Grande Tribulação ou toda a Igreja do fim
dos tempos, a mensagem é profunda.
João viu um grande número de pessoas, uma multidão que não
podia ser contada. Muitas pessoas pensam que a Igreja do fim dos
tempos mal conseguirá sobreviver, mas João viu algo
completamente diferente. Não podemos saber exatamente qual será
o tamanho da Igreja do fim dos tempos ou a qual porcentagem da
população da Terra a Igreja corresponderá, mas claramente ela será
numerosa. Como um ponto de comparação, em Apocalipse 9.16,
João descreveu um exército de duzentos milhões, e o fato de
ninguém poder numerar essa multidão significa que se trata de um
grupo incrivelmente grande de pessoas.
João não viu apenas uma Igreja enorme, como também viu
uma Igreja que vinha de todas as tribos e línguas. Isso significa que
haverá uma Igreja madura em todos os povos. Quando Deus
cumprir sua promessa às nações, cada grupo ou nação será
representado.
Algo tremendo terá de acontecer para produzir a multidão que
João viu. Esse tipo de Igreja deve ser o resultado de uma grande
colheita, maior do que tudo que vimos na história. É a previsão de
que um grande avivamento varrerá a Terra, tocará todos os povos e
produzirá uma colheita significativa nas nações.
E esse avivamento será tão profundo que resultará na
transformação de algumas nações consideradas inimigas de Israel,
que, por se voltarem totalmente a Jesus, cooperarão com seus
propósitos. Por exemplo, Isaías 19 fala de uma transformação
dramática em nações historicamente inimigas de Israel:
Naquele dia, Israel será o terceiro, junto com os egípcios e os
assírios, uma bênção no meio da terra; porque o SENHOR dos
Exércitos os tem abençoado, dizendo: Feliz seja o Egito, meu
povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha
herança. – Isaías 19.24-25
O fato de que essa colheita acontecerá durante o governo do
anticristo é espantoso.
O Novo Testamento fala recorrentemente sobre colheita.
Reconhecer essa analogia e perceber como os autores do Novo
Testamento a usaram é essencial para entender a previsão da Bíblia
de que haverá uma grande colheita no fim dos tempos.
João Batista descreveu Jesus como aquele que faria a colheita
na Terra:[111]
Ele traz na mão a sua pá e limpará sua eira; recolherá o seu
trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que não se
apaga. – Mateus 3.12
Jesus descreveu o tempo da sua segunda vinda como o tempo
da colheita:[112]
Jesus apresentou-lhes outra parábola, dizendo: O reino do céu
é semelhante ao homem que semeou boa semente em seu
campo. Mas, enquanto os homens dormiam, seu inimigo veio,
semeou joio no meio do trigo e retirou-se. Assim, quando o trigo
cresceu e começou a dar espigas, apareceu também o joio.
Então os servos do proprietário chegaram e lhe disseram:
Senhor, não semeaste boa semente em teu campo? De onde
vem o joio? Ele lhes respondeu: Algum inimigo fez isso. E os
servos lhe disseram: Queres, então, que o arranquemos? Mas
ele disse: Não, para que, ao tirar o joio, não arranqueis com ele
também o trigo. Deixai ambos crescerem juntos até a colheita.
Na época da colheita, direi aos que fazem a colheita: Ajuntai
primeiro o joio e atai-o em feixes para queimá-lo; o trigo, porém,
recolhei-o no meu celeiro. – Mateus 13.24-30
Jesus também usou a analogia da pesca para descrever o fim
dos tempos. Ele descreveu o fim dos tempos como o tempo em que
as redes ficariam cheias e os peixes da "colheita" seriam
capturados, tanto o bom quanto o mau:
Da mesma forma, o reino do céu é semelhante a uma rede
lançada ao mar, que apanhou todo tipo de peixes. E, quando
ficou cheia, os pescadores puxaram-na para a praia; e,
sentando-se, puseram os bons em cestos, mas, jogaram fora
os ruins. Assim será no fim do mundo: os anjos sairão e
separarão os maus dentre os justos. – Mateus 13.48-49
O livro do Apocalipse também contém a mesma linguagem da
colheita:
Olhei e vi uma nuvem branca diante de mim, e sobre a nuvem
estava assentado alguém semelhante a um filho de homem,
com uma coroa de ouro sobre a cabeça e uma foice afiada na
mão. Então, outro anjo saiu do santuário e clamava em alta voz
ao que estava assentado sobre a nuvem: Passa a tua foice e
ceifa, porque o tempo de ceifar chegou, pois a terra já está
madura para a colheita. Assim, aquele que estava assentado
sobre a nuvem passou sua foice pela terra, e a terra foi ceifada.
Ainda outro anjo saiu do santuário no céu, também com uma
foice afiada. E do altar saiu outro anjo, com poder sobre o fogo,
e clamou em alta voz ao que estava com a foice afiada: Passa
a tua foice afiada e colhe os cachos da vinha da terra, pois as
uvas já estão maduras. O anjo passou sua foice pela terra,
colheu as uvas da vinha e lançou-as no grande lagar da ira de
Deus. O lagar foi pisado fora da cidade, e dele saiu sangue até
a altura dos freios dos cavalos, numa extensão de mil e
seiscentos estádios. – Apocalipse 14.14-20
Nessas analogias, o fim dos tempos é uma grande colheita
para a justiça, mas também para a iniquidade. Quando
negligenciamos um desses dois aspectos da colheita, temos uma
visão incompleta do fim dos tempos. A Igreja chegará à plenitude e
o mal alcançará seu clímax na mesma geração. Isso tornará o fim
dos tempos um período espetacular, diferente de qualquer outro
período da história.

O ciclo agrícola de Israel – uma previsão sobre a colheita no fim


dos tempos
Quando os autores da Bíblia usavam a linguagem da colheita, eles
tinham em mente o ciclo agrícola do Israel histórico. Familiarizar-se
com esse ciclo nos ajuda a entender por que eles esperavam uma
ótima colheita no fim dos tempos. Esse ciclo começava no outono,
com o que foi chamado de “primeiras chuvas” (chuva temporã).
Essas chuvas acabavam com a secura do verão e produziam uma
colheita de castanhas e frutos. A primeira colheita sustentava o
povo, e as primeiras chuvas amoleciam o solo para que ele pudesse
ser trabalhado a fim de produzir uma colheita posterior. Após as
primeiras chuvas, os agricultores trabalhavam no solo e se
preparavam para um segundo ciclo de chuvas e uma segunda
época de colheita.
Na primavera, esse segundo ciclo de chuvas, chamado de
“últimas chuvas”,[113] chegava. Elas eram muito mais pesadas que as
primeiras chuvas e eram fundamentais porque preparavam as
principais plantações de Israel para a colheita. Era nessa época que
os principais alimentos básicos, como trigo e cevada, eram colhidos.
As duas chuvas e as duas colheitas estavam conectadas. Sem
as primeiras chuvas, não havia comida para sustentar as pessoas e
o terreno não ficava preparado para o trabalho subsequente. Sem
as primeiras chuvas, as últimas chuvas cairiam em um solo duro e
seco e destruiriam tudo. As últimas chuvas dependiam das primeiras
chuvas, mas as últimas chuvas eram muito mais pesadas e traziam
uma colheita muito maior. Essa colheita maior marcava o fim da
estação de crescimento.
A palavra bíblica “primícias” é usada para se referir à primeira
parte da colheita, após as primeiras chuvas. Paulo usou essa
metáfora para descrever o dom do Espírito, comparando-o com o
que desfrutaremos quando ressuscitarmos dentre os mortos e
recebermos todos os benefícios de nossa salvação. Paulo
descreveu o que temos atualmente como “primícias” ou “uma
colheita inicial” e esperava que uma colheita posterior e maior
viesse na ressurreição, que ocorre no retorno do Senhor.[114]
E não somente ela, mas também nós, que temos os primeiros
frutos do Espírito, também gememos em nosso íntimo,
aguardando ansiosamente nossa adoção, a redenção do nosso
corpo. – Romanos 8.23
Os apóstolos usaram o ciclo de colheita de Israel para
descrever o que Deus estava fazendo em sua geração, e isso revela
a expectativa de uma grande colheita futura que ocorreria no final
dos tempos, quando a Igreja chegasse à maturidade. Por exemplo,
Paulo e Tiago se referiram à Igreja primitiva como as primícias da
colheita que estava por vir:
Mas, irmãos, amados do Senhor, devemos sempre agradecer a
Deus por vós, pois ele vos escolheu como primícias da
salvação pela santificação feita pelo Espírito e pela fé na
verdade. – 2 Tessalonicenses 2.13
Segundo sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade,
para que fôssemos como os primeiros frutos de suas criaturas.
– Tiago 1.18
A Igreja primitiva entendeu que a chuva do Espírito em sua
geração era uma “chuva temporã”, que havia produzido uma
“colheita inicial” (ou primícias) e que uma chuva final viria para trazer
uma colheita final (e maior). A ideia de uma colheita inicial sem uma
segunda colheita maior ou de uma chuva precoce sem uma chuva
mais longa e pesada depois teria sido muito confusa para a Igreja
do primeiro século.
O entendimento deles sobre o plano de Deus era bastante
simples: o derramamento do Espírito em Atos 2 foi uma chuva inicial
que prepararia o solo e permitiria que a Igreja avançasse. No
entanto, essa chuva não foi a chuva final. O avanço da Igreja está
em preparar as nações para uma grande chuva vindoura que
resultará na grande colheita sobre a Terra no fim dos tempos.

A expectativa dos apóstolos sobre a colheita


É essencial entender o ciclo da colheita de Israel para interpretar
adequadamente o que os apóstolos acreditavam sobre o fim dos
tempos. Esse ciclo de colheita é a chave que abre o livro de Atos e
tem implicações no agir de Deus no fim dos tempos.
A perspectiva de Pedro para a colheita foi o que o levou a
descrever o derramamento do Espírito como uma manifestação da
profecia de Joel:
Mas isto é o que havia sido falado pelo profeta Joel: E
acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do
meu Espírito sobre todas as pessoas; e os vossos filhos e as
vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, os
vossos velhos terão sonhos. – Atos 2.16-17
Joel previu um derramamento do Espírito acompanhado pela
libertação de Israel e sinais dramáticos do fim dos tempos na Terra.
Nenhuma dessas coisas aconteceu na geração de Pedro e, mesmo
assim, Pedro viu claramente uma conexão entre Atos 2 e a profecia
de Joel por causa de Joel 2.23:
Filhos de Sião, alegrai-vos e regozijai-vos no SENHOR, vosso
Deus, porque ele faz descer muita chuva e vos dá a primeira e
a última chuva em medida justa, como fazia antes. – Joel 2.23
Em Joel 2.23, o profeta lembrou a seus leitores que o Senhor
deu chuvas abundantes, formadas de primeiras chuvas e últimas
chuvas, acompanhando colheitas iniciais e colheitas finais. Pedro
reconheceu o que estava acontecendo em Atos 2 como uma chuva
inicial e uma colheita inicial, na expectativa de que algo maior
estava por vir. O que aconteceu no livro de Atos estava diretamente
conectado ao cumprimento da profecia de Joel, porque começou
com um derramamento do Espírito e resultou em uma colheita em
Israel e entre os gentios.
No entanto, os eventos em Atos claramente não foram o
cumprimento de tudo o que Joel profetizou. Como Joel profetizou,
precisamos de uma chuva inicial e depois de uma última chuva. A
chave para entender como Pedro ligou o dia de Pentecoste à
profecia de Joel é perceber que Pedro entendia o Pentecoste como
uma chuva inicial que apontava para uma chuva muito mais forte e
posterior.
O livro de Joel e o livro de Atos interpretam um ao outro. O livro
de Joel fala das primeiras chuvas, mas se concentra principalmente
no derramamento do Espírito e nos juízos de Deus no fim dos
tempos. O livro de Atos é o oposto. Ele fala do derramamento e dos
juízos no fim dos tempos, mas se concentra principalmente nas
chuvas e na colheita da Igreja.
Da mesma maneira que as primeiras chuvas produzem uma
colheita menor e preparam o terreno para receber as últimas
chuvas, também a obra que Deus começou no livro de Atos
produziu uma colheita nas nações e as preparou para receber mais
tarde as chuvas mais intensas. No entanto, a colheita de Deus nas
nações estará incompleta até que uma chuva final, de alcance muito
maior do que a de Atos 2, caia e produza uma colheita muito maior
do que aquela que a Igreja do primeiro século experimentou.
Usando uma analogia do calendário agrícola de Israel, o
trabalho de Deus no Antigo Testamento foi como o verão seco de
Israel. Aquele verão seco terminou com as primeiras chuvas do
Espírito, que produziram uma colheita inicial. Foi isso que teve início
no dia de Pentecoste. Ele inaugurou uma estação de plantio e
colheita (à qual Pedro se referiu como os “últimos dias”), levando a
uma época em que Deus lançará as últimas grandes chuvas, que
levarão a última e maior colheita à maturidade.
Tiago usou essa analogia de primeiras e últimas chuvas e
colheitas iniciais e finais para resumir a obra de Deus no período de
tempo entre a primeira e a segunda vinda de Jesus:
Portanto, irmãos, sede pacientes até a vinda do Senhor. O
lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com
paciência, até que receba as primeiras e as últimas chuvas. –
Tiago 5.7
Estamos no tempo depois da chuva inicial e antes da última
chuva, e somos chamados a trabalhar nas nações para nos
preparar para a última chuva e para a grande colheita. O livro de
Atos descreve o início da chuva e da colheita e, portanto, nos dá
uma imagem de como será a colheita final. O livro de Atos descreve
um derramamento local do Espírito, mas o derramamento do
Espírito no fim dos tempos terá um alcance global. Atos descreve
uma colheita local entre judeus e gentios no contexto do Império
Romano, mas o avivamento do fim dos tempos produzirá uma
colheita global de todas as tribos e línguas.
Atos é um padrão que podemos usar para entender o que a
Bíblia prediz sobre o avivamento do fim dos tempos. As primeiras
chuvas no dia de Pentecoste não cumpriram a profecia de Joel, mas
fazem parte da profecia de Joel que anunciava uma chuva vindoura.
Atos 2 nos dá uma pequena imagem do derramamento do Espírito
que cumprirá Joel 2.
O derramamento do Espírito no dia de Pentecoste foi uma
garantia de que as últimas chuvas viriam. Se a ascensão de Jesus
ao Céu produziu as primeiras chuvas e uma colheita inicial nas
nações, quanto mais seu retorno à Terra não produzirá as últimas
chuvas e uma colheita ainda maior?
O trabalho da Igreja por dois mil anos pode ser comparado ao
trabalho de um fazendeiro que prepara a terra para a colheita.
Assim como as primeiras chuvas no Israel histórico permitiram que
os agricultores trabalhassem para a grande colheita, também o
derramamento do Espírito nos permite trabalhar para uma grande
colheita vindoura.
A Bíblia descreve repetidamente o fim dos tempos como o
tempo em que a colheita é feita na Terra. Com a recente explosão
demográfica na Terra, um avivamento global poderia facilmente
fazer com que houvesse mais cristãos na Terra do que no Céu, e
isso faz sentido segundo as passagens que descrevem a colheita de
Deus na Terra. Infelizmente, alguns irmãos na Igreja veem o fim dos
tempos apenas como um tempo de tribulações sem precedentes,
mas biblicamente também é um tempo de colheita.
Até mesmo a salvação completa de Israel não virá até que a
plenitude (colheita) dos gentios (nações) chegue:
Irmãos, não quero que ignoreis este mistério para que não
sejais arrogantes: o endurecimento veio em parte sobre Israel,
até que chegue a plenitude dos gentios. – Romanos 11.25
Para entender corretamente o fim dos tempos, devemos
entender que se trata de um tempo de colheita. Israel não somente
será salvo neste momento, como também haverá uma colheita nas
nações.

Sinais e maravilhas de Deus no fim dos tempos


Como vimos anteriormente, a Bíblia prediz um êxodo futuro, um
momento em que Deus socorre seu povo com grande poder e faz
algo tão dramático que leva as pessoas a não se referirem mais a
ele como o Deus do êxodo.[115] Deus vai liberar seu poder sobre as
nações em nome de Israel, excedendo grandemente o que ele fez
no êxodo, e isso tem implicações significativas na maneira como
entendemos o seu agir em seu povo e por meio dele.
Jesus reuniu judeus e gentios em um só corpo e enxertou os
gentios em Israel.[116] Portanto, quando Deus liberar seu poder no
fim dos tempos, isso afetará todas as partes do corpo de Jesus. A
promessa de um segundo êxodo significa que todo o povo de Deus
– judeus e gentios – experimentará uma demonstração sem
precedentes do poder de Deus.
No êxodo, Deus demonstrou seu controle absoluto sobre a
criação e, nesse processo, destruiu o império mais poderoso da
Terra. É difícil para nós imaginar os eventos do êxodo, mas a Bíblia
nos diz que a ação de Deus no fim dos tempos será tão poderosa
que não poderá ser comparada ao êxodo. Deus liberou seu poder
no êxodo antigo em favor de seu povo, e ele também liberará seu
poder no fim dos tempos em favor de seu povo.
No livro de Atos, quando a oposição aumentou contra o
evangelho, Deus liberou poder sobrenatural para promover o
avanço do evangelho. Trata-se de um padrão que nos ajuda a
entender a Igreja do fim dos tempos. Se Deus liberou um poder
incomum para estabelecer a Igreja em meio à oposição romana,
agora, ele não liberará um grande poder sobre a Igreja para que ela
resista ao homem mais perverso da história e à grande ira de
Satanás?
Apocalipse 11 nos dá uma pequena imagem do poder que
Deus liberará durante esse período da história:
Concederei às minhas duas testemunhas que profetizem
durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de
saco. Estas são as duas oliveiras e os dois candelabros que
estão diante do Senhor da terra. Se alguém quiser lhes causar
dano, de sua boca sairá fogo que devorará os seus inimigos;
pois, se alguém quiser lhes causar dano, certamente será
morto. Elas têm poder de fechar o céu para que não chova
durante os dias da sua profecia, e têm poder sobre as águas,
para convertê-las em sangue, e também para ferir a terra com
todo tipo de praga, quantas vezes quiserem. – Apocalipse 11.3-
6
Embora as duas testemunhas de Apocalipse 11 sejam
misteriosas, a mensagem é clara: Deus liberará um poder fantástico
sobre o seu povo durante o fim dos tempos para cumprir seus
propósitos. Essas duas testemunhas estarão em Jerusalém como
uma declaração do compromisso de Deus com Israel. Elas
“profetizarão” e seus atos serão acompanhados de poder. Da
mesma forma, a Igreja do fim dos tempos proclamará o evangelho
com sinais e maravilhas extraordinários. Isso nos mostra por que
Jesus predisse que “obras maiores” estavam disponíveis para a
Igreja:
Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim
também fará as obras que eu faço, e as fará maiores, pois
estou indo para o Pai. – João 14.12
Apocalipse 12 também descreve a intensidade do fim dos
tempos:
Então, ouvi uma forte voz no céu, que dizia: Agora chegaram a
salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu
Cristo; porque o acusador de nossos irmãos já foi expulso; ele,
que dia e noite os acusava diante do nosso Deus. Eles o
venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu
testemunho e, mesmo diante da morte, não amaram a própria
vida. Por isso, alegrai-vos, ó céus, e todos vós que neles
habitais. Mas ai da terra e do mar! Pois o Diabo desceu até vós
com grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta. –
Apocalipse 12.10-12
A Igreja do fim dos tempos será marcada pelo martírio, porque
haverá dentro dela crentes que “mesmo diante da morte, não
amaram a própria vida”. Essa é uma declaração de maturidade. A
situação na Terra será difícil, porque o diabo sairá em ira, sabendo
que seu tempo é curto. No entanto, ao mesmo tempo que a Terra
sofre os efeitos da ira de Satanás no fim dos tempos, o Céu se
alegra porque a salvação e o poder de Deus estarão sendo
liberados. Deus liberará poder e glória suficientes para confrontar a
ira de Satanás.
Isaías nos diz que a glória de Deus repousará sobre seu povo
no meio das tribulações do fim dos tempos:
Pois as trevas cobrirão a terra, e a escuridão cobrirá os povos;
mas o SENHOR resplandecerá sobre ti, e sobre ti se verá a sua
glória. – Isaías 60.2
Todas essas promessas têm implicações enormes na maneira
como pensamos sobre a Igreja do fim dos tempos. A Igreja do fim
dos tempos nunca é apresentada como um pequeno remanescente
que mal consegue sobreviver. O fim dos tempos é um clímax de
eventos tanto positivos quanto negativos, e examinando tudo o que
a Bíblia diz sobre a Igreja do fim dos tempos, podemos concluir
facilmente que Deus liberará os sinais e maravilhas mais poderosos
no fim dos tempos.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA IGREJA
DO FIM DOS TEMPOS

Quando consideramos as descrições da Igreja do fim dos tempos


que examinamos até agora, podemos identificar três
características principais:
1. Ela será madura.
2. Ela terá um tamanho significativo.
3. Ela será global, pois haverá uma Igreja vitoriosa em todos os
povos.
Há outra característica da Igreja do fim dos tempos que
devemos examinar: a Bíblia prediz repetidamente que a adoração e
a oração extravagantes serão características da Igreja do fim dos
tempos. Esse é outro indicador bíblico da maturidade e do tamanho
da Igreja do fim dos tempos. Somente uma colheita significativa,
como a que lemos em Apocalipse 7.9-17, poderia produzir a
adoração e a oração extravagantes que a Bíblia prediz.
A adoração e a oração são práticas comuns da Igreja, mas a
adoração e a oração da Igreja do fim dos tempos terão uma escala
incomum e uma estrutura global. Serão tão profundas que
representarão uma ameaça ao anticristo.

Oração e adoração extravagantes


A adoração pode ser descrita como uma concordância sobre quem
Deus é, enquanto a oração pode ser definida como uma
concordância com o que Deus quer fazer. Quando olhamos para as
canções e as orações da Igreja do fim dos tempos, encontramos
esses dois elementos. Alguns versículos destacam a adoração,
enquanto outros destacam a oração, mas juntas essas passagens
nos dão uma imagem da Igreja do fim dos tempos.
Nas últimas décadas, observamos que a adoração e a oração
se integram cada vez mais na Igreja como uma expressão única que
celebra quem é Deus e concorda com o que ele quer fazer na Terra.
Trata-se de um prenúncio do que os profetas previram.
Uma das previsões mais impressionantes sobre a Igreja do fim
dos tempos, em Apocalipse 22.17, é que chegará o dia em que o
Espírito e a noiva dirão: "Vem". Essa simples palavra reflete um
clamor global pelo retorno de Jesus. Esse clamor não é exclusivo do
livro do Apocalipse. A Bíblia descreve repetidamente um clamor
global que emergirá na Terra antes que Jesus retorne.[117] Esse
clamor global será uma das expressões mais vívidas do triunfo de
Deus sobre Satanás.
No jardim do Éden, Satanás convenceu o homem a rejeitar a
Deus. No entanto, um grande clamor será ouvido na Terra. Será um
clamor de apelo a Deus para voltar à Terra e um clamor de anseio
pelo retorno do Filho de Deus.
A Igreja ocupará o seu lugar nas nações como uma voz
humana e convidará o Filho de Deus a assumir o governo da Terra.
O que torna esse clamor ainda mais majestoso é que ele ocorrerá
no período mais sombrio da história. Alcançará seu clímax durante o
reinado do anticristo e será uma bela expressão global de amor e
devoção a Jesus. Será o clamor de uma noiva que não suporta mais
ficar longe do noivo. O clamor da Igreja do fim dos tempos é um dos
grandes presentes do Pai para seu Filho, e Jesus responderá a
esse clamor com seu majestoso retorno.[118]
O salmista ordenou que as nações cantassem à luz do retorno
do Senhor, porque o Pai quer que seu Filho seja recebido com um
canto alegre e extravagante. Esses salmos são instruções a serem
obedecidas, mas são mais que isso. São profecias sobre uma Igreja
global que anunciará por meio de cânticos a vinda do Senhor.[119]
Tributai ao SENHOR, ó famílias dos povos, tributai glória e
força ao SENHOR. Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu
nome; trazei ofertas e entrai nos seus átrios. Adorai o SENHOR
na beleza da sua santidade; tremei diante dele todos os
habitantes da terra. Dizei entre as nações: O SENHOR reina;
ele firmou o mundo, para que não seja abalado. Ele julgará os
povos com justiça. Alegrem-se os céus, e regozije-se a terra;
ruja o mar e tudo o que nele existe. Exulte o campo, e tudo o
que nele há; então todas as árvores do bosque cantarão de
júbilo na presença do SENHOR, porque ele vem, vem julgar a
terra, e julgará o mundo com justiça, e os povos, com
fidelidade. – Salmo 96.7-13
Cantai um cântico novo ao SENHOR, porque ele tem feito
maravilhas; sua mão direita e seu braço santo lhe alcançaram a
vitória. O SENHOR tornou conhecida sua salvação, manifestou
sua justiça perante os olhos das nações. Lembrou-se da sua
misericórdia e da sua fidelidade para com a casa de Israel;
todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso
Deus. Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os habitantes da
terra; aclamai, regozijai-vos e cantai louvores. Louvai ao
SENHOR com a harpa; com a harpa e ao som de canto. Com
trombetas e ao som de cornetas, exultai diante do Rei, o
SENHOR. Ruja o mar e tudo o que nele existe, o mundo e os
que nele habitam; batam palmas os rios; juntos regozijem-se os
montes diante do SENHOR. Pois ele vem julgar a terra; julgará
o mundo com justiça, e os povos, com equidade. – Salmo 98
Isaías profetizou o cumprimento dos Salmos 93 e 98 quando
ele predisse a adoração extravagante nas nações durante o fim dos
tempos:
A terra chora e murcha; o mundo enfraquece e murcha;
enfraquecem os mais nobres do povo da terra [...] Por isso a
maldição devora a terra, e os que habitam nela sofrem por sua
culpa; por isso os seus habitantes são queimados, e restarão
poucos. O vinho se vai, a videira seca, e todos os que se
alegravam gemem. O ressoar dos tamboris parou, o barulho do
povo em festa cessou, e a alegria da harpa acabou. Já não
bebem vinho ao som das canções; a bebida forte é amarga
para os que a bebem [...] A cidade ficou toda destruída, e as
suas portas, arruinadas. Assim será na terra, entre os povos,
como o sacudir da oliveira e como o apanhar das uvas que
caem após a colheita. Eles levantarão a voz e cantarão de
alegria; clamarão desde o mar por causa da majestade do
SENHOR. Por isso, glorificai o SENHOR no oriente, e daí glória
ao nome do SENHOR, Deus de Israel, na região litorânea. Dos
confins da terra ouvimos cantar: Glória ao Justo. Mas eu digo:
Nada sou, nada sou; ai de mim! Os traidores continuam traindo!
Os traidores continuam agindo traiçoeiramente. – Isaías 24.4,6-
9,12-16
A descrição de Isaías sobre o fim dos tempos é extraordinária.
Primeiro, ele explica que as trevas profundas cobrirão a Terra
durante o reinado do anticristo. Os cânticos cessarão. A celebração
cessará. Até as pessoas poderosas da Terra sofrerão. No meio
desse tempo incomparável de angústia e grande escuridão,[120]
Isaías previu que canções irromperiam repentinamente nas nações.
Os cânticos previstos por Isaías virão dos confins da Terra,
declarando a glória de Deus no meio do período mais sombrio da
história da humanidade.
Essas profecias são cumpridas pela Igreja do fim dos tempos e,
portanto, são uma declaração profunda da maturidade da Igreja do
fim dos tempos. O anticristo não será capaz de vencer essa Igreja.
Em vez disso, ela o desafiará liberando seus cânticos. Deus usará
esses louvores do fim dos tempos para liberar coragem entre as
nações. O fato de essas músicas serem ouvidas em toda a Terra
significa que a Igreja do fim dos tempos é uma força significativa na
Terra. Essa é a grande multidão que João não pôde contar em
Apocalipse 7.9. Quando ninguém mais tiver esperança, a Igreja terá
esperança. Quando ninguém mais cantar, ela cantará proclamando
a beleza de Deus.
Isaías profetizou novamente essa expressão de adoração
extravagante no fim dos tempos, em Isaías 42:
Cantai ao SENHOR um cântico novo, e o seu louvor desde a
extremidade da terra; vós, os que navegais pelo mar, e tudo
quanto há nele; vós, ilhas, e os vossos habitantes. O deserto e
as suas cidades levantem a voz com os povoados habitados
por Quedar; alegrem-se os que habitam nas rochas e clamem
do topo dos montes." Deem glória ao SENHOR, e anunciem o
seu louvor nas ilhas. O SENHOR sai como um valente,
desperta o zelo como guerreiro; clamará, fará grande ruído e se
mostrará valente contra os seus inimigos. Por muito tempo me
calei, estive em silêncio e me contive; mas agora darei gritos
como a que está em trabalho de parto, gemendo e respirando
ofegante." Transformarei os montes e as colinas em deserto e
farei secar toda a sua vegetação. Transformarei os rios em
ilhas e secarei as lagoas. – Isaías 42.10-15
Isaías 42 diz que o retorno de Jesus é uma resposta a um
clamor de adoração e intercessão na Terra. O capítulo começa com
a descrição da beleza do Servo de Deus (Jesus). À luz da beleza do
Servo de Deus, Isaías ordenou às nações que cantassem desde os
confins da Terra e associou esse canto extravagante ao retorno do
Senhor. Em resposta, Jesus liberará seu próprio clamor, que é
comparado ao de uma "mulher em trabalho de parto". A força da
resposta de Jesus nos diz muito sobre a força do clamor da Igreja.
O clamor de Deus será intenso, porque a Igreja terá clamado
intensamente.
Em Isaías 24 e 42, o profeta previu adoração e oração
extravagantes que estão ligadas ao retorno de Jesus e atingirão um
clímax durante o governo do anticristo. A Igreja do fim dos tempos
não será apenas uma testemunha nas nações, mas ela também
será uma força para Israel. Isaías resume isso no capítulo 62:
Por amor de Sião não me calarei, e por amor de Jerusalém não
descansarei, até que a sua justiça resplandeça como o nascer
do sol, e a sua salvação, como uma tocha acesa. E as nações
verão a tua justiça, e todos os reis verão a tua glória; e te
chamarão por um novo nome, que a boca do SENHOR
designará [...] Ó Jerusalém, coloquei vigias sobre os teus
muros, que não se calarão de dia nem de noite; ó vós, que
invocais o SENHOR, não descanseis, e não lhe deis descanso
até que ele estabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de
louvor na terra [...] O SENHOR proclamou aos confins da terra:
Dizei à filha de Sião: O teu Salvador vem; o seu galardão vem
com ele, e a sua recompensa o acompanha. E lhe chamarão:
Povo santo, remidos do SENHOR; e tu serás chamada
Procurada, cidade não desamparada. – Isaías 62.1-2,6-7,11-12
Esta é uma mensagem para a Igreja do fim dos tempos. Deus
não se calará com relação ao futuro de Jerusalém, porque as
nações verão a glória e a maravilha de sua salvação em Israel.
Quando Deus diz que não se calará, ele está nos convidando a não
nos calarmos também. Devemos ser como vigias. Os vigias
antecipam o que está por vir. Sabemos o que está vindo por causa
das Escrituras. À luz dessas Escrituras, devemos clamar e não dar
descanso ao Senhor até que ele cumpra suas promessas.
Em Isaías 62.11-12, Deus ordena às nações que declarem as
suas promessas a Israel. Isso faz parte do chamado da Igreja do fim
dos tempos nas nações. Deus não ficará calado, por isso não
ficaremos calados. Ele não pode descansar até que seus propósitos
sejam cumpridos, e ele nos convida a levantar um som que não
permitirá que ele descanse. É um convite à intercessão. Deus está
pedindo que a Igreja não pare de interceder até que ele realize tudo
o que deseja fazer.
Também é um convite para desempenharmos um papel
significativo no cumprimento das promessas de Deus. Deus não faz
esse tipo de convite a menos que saiba que seu povo responderá a
ele. Portanto, o convite de Isaías 62 é, em última análise, uma
profecia sobre uma Igreja madura. Chegará um tempo em que a
Terra estará cheia de intercessão incessante até que Deus cumpra
todas as suas promessas. E Deus liberará seu livramento no fim dos
tempos em resposta às nossas orações.

A Igreja – um povo sacerdotal nas nações


Malaquias também previu que Deus receberia adoração
extravagante das nações:
Mas o meu nome é grande entre as nações, do oriente ao
ocidente; e em todo lugar oferecem ao meu nome incenso e
uma oferta pura; porque o meu nome é grande entre as
nações, diz o SENHOR dos Exércitos. – Malaquias 1.11
Malaquias predisse que a adoração preencherá as nações,
para que o nome de Deus seja grande em todos os lugares. Deus
não está disposto a abrir mão de nenhuma parte da Terra. A
adoração encherá todos os lugares e partes. Ele também não está
disposto a renunciar a qualquer parte do dia. A adoração ocorrerá
do começo ao fim do dia. Malaquias previu que a adoração encheria
as nações de uma maneira extravagante, algo muito além de uma
reunião semanal ou de uma hora aqui e ali.
O contexto de Malaquias 1 torna essa profecia ainda mais
profunda. Malaquias 1 descreve o fracasso de Israel como povo em
exercer seu chamado sacerdotal. Deus provocou Israel neste
capítulo com o prenúncio de que ele estabeleceria a adoração e o
ministério sacerdotal em todas as nações.
Essa previsão revela duas coisas importantes sobre a Igreja do
fim dos tempos. Primeiro, a adoração das nações está associada à
restauração do chamado sacerdotal de Israel. Por ser um povo
sacerdotal nas nações, a Igreja desempenhará um papel no plano
de Deus de chamar Israel de volta ao seu ministério sacerdotal. Isso
faz parte do que Paulo chama de plano de Deus para provocar
Israel por meio dos gentios.[121]
Segundo, significa que o ministério sacerdotal de Israel é um
exemplo do que Deus levantará nas nações. O ministério de
adoração que Deus estabeleceu em Israel foi extravagante. A
adoração era oferecida de dia e noite. Era a função central da
nação. Do mesmo modo, o ministério de adoração e intercessão se
tornará central na Igreja. Será extravagante. Será de noite e de dia,
exatamente como em Israel. O chamado que primeiro foi dado a
Israel agora também foi dado às nações. Jesus ressurreto não é
menos digno de adoração do que era no Antigo Testamento.
Toda a nação de Israel era sacerdotal,[122] assim como toda a
Igreja é sacerdotal,[123] mas indivíduos específicos dentro de Israel
fizeram da manutenção da adoração noturna e diurna sua vocação
primária e em tempo integral. Da mesma forma, haverá pessoas na
Igreja que se dedicarão à adoração e à oração ininterruptas como
sua vocação em tempo integral. Tivemos obreiros cristãos em tempo
integral ao longo da história, e serão necessários cantores e
músicos em tempo integral para cumprir o que os profetas previram.

O anseio de Jesus por adoração e oração extravagantes


Ao responder às perguntas específicas sobre o seu retorno em
Lucas 17.22-37, Jesus descreveu o quão dramático seria esse dia:
Pois como o relâmpago que brilha em uma extremidade do céu
e ilumina até a outra extremidade, assim também será o Filho
do homem no seu dia. – Lucas 17.24
Ele então deu uma parábola com instruções sobre como se
preparar para o seu retorno:
Jesus também lhes contou uma parábola sobre o dever de orar
sempre e nunca desanimar: Em uma cidade, havia um juiz que
não temia a Deus, nem respeitava os homens. Na mesma
cidade, também havia uma viúva que sempre lhe pedia: Faze-
me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo ele não
queria atendê-la; mas depois disse consigo mesmo: Ainda que
eu não tema a Deus, nem respeite os homens, como esta viúva
está me incomodando, vou fazer-lhe justiça, para que ela não
venha mais me perturbar. E o Senhor prosseguiu: Ouvi o que
esse juiz injusto diz. E Deus não fará justiça aos seus
escolhidos, que dia e noite clamam a ele, mesmo que pareça
demorado em responder-lhes? Digo-vos que depressa lhes fará
justiça. Contudo, quando vier o Filho do homem, achará fé na
terra? – Lucas 18.1-8
Na parábola, Jesus destacou a constante intercessão de uma
viúva em busca de justiça. Ela não parava, então continuou a pedir
a um juiz relutante o que queria até conseguir. Jesus terminou a
parábola com a pergunta: "Quando vier o Filho do homem, achará fé
na terra?". A fé, neste contexto, é a intercessão consistente da
viúva. Lucas nos disse que a lição da parábola era o exemplo de
que devemos sempre orar e não desanimar. À luz desse contexto, a
parábola enfatizou a intercessão extravagante como parte da
preparação para o retorno de Jesus.
A cena da parábola comunica dois aspectos principais do que
significa ter fé. O primeiro é que devemos pedir continuamente. A
parábola é um convite para a Igreja se envolver em constante
intercessão. Jesus usa o exemplo de uma viúva na parábola porque
uma viúva não tem outra opção. Ela não tem nenhuma outra fonte
de provisão, a não ser esperar que sua oração seja respondida. A
mensagem para nós é clara: só nos resta acessar a provisão de
Deus quando entramos em oração.
O segundo ponto principal é que obteremos o que pedimos
quando tivermos confiança. Jesus sabe que, às vezes, parecerá que
Deus não está ouvindo ou respondendo. Ele sabe que a Igreja do
fim dos tempos enfrentará especialmente essa tentação quando ela
vir o anticristo se elevar. No entanto, sua mensagem para a Igreja é
que continuemos pedindo com confiança, pois Deus responderá.
Jesus termina a parábola com um convite para a Igreja do fim dos
tempos. Ele está procurando uma Igreja madura que caminha em fé,
e a parábola nos dá instruções sobre como podemos ser a Igreja
que Jesus encontrará quando voltar.
Jesus também nos pediu para orar para que a Terra se
tornasse como o Céu:
Portanto, orai deste modo: Pai nosso que estás no céu,
santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu. – Mateus 6.9-10
Quando João foi arrebatado, em Apocalipse 4 e 5, ele nos deu
uma ideia de como será a vontade de Deus no Céu. João viu a
glória de Deus no meio de uma expressão extravagante de
intercessão e adoração. Ele viu os seres viventes clamarem por
causa da glória de Deus e anciãos que carregam harpas (música) e
taças cheias das orações dos santos (intercessão). O vislumbre de
João no Céu em Apocalipse 4 e 5 nos dá uma imagem do que
Jesus nos pediu para orar, e quando a vontade do Pai for feita na
Terra como ela é feita no Céu, a Terra será cheia do mesmo
ministério de adoração que existe hoje no Céu.

A missão de Paulo de estabelecer adoração e oração


Paulo trabalhou entre os gentios para ver uma grande expressão de
adoração surgir nas nações. Em Romanos 15, ele citou passagens
do Antigo Testamento[124] que descrevem o ministério de adoração
de Israel e as aplicou aos gentios porque ele entendia que a
centralidade da adoração no Israel histórico era um padrão para a
Igreja. A expressão do ministério sacerdotal no tabernáculo do
Antigo Testamento e no templo aponta para uma expressão maior
na Igreja.
Afirmo, pois, que Cristo se tornou servo da circuncisão, por
causa da fidelidade de Deus, para confirmar as promessas
feitas aos patriarcas, e para que os gentios glorifiquem a Deus
pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto, eu te
louvarei entre os gentios e cantarei hinos ao teu nome. E
diz ainda: Alegrai-vos, gentios, juntamente com o seu povo.
E ainda: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e louvem-no,
todos os povos. E, outra vez, Isaías também diz: Surgirá a
raiz de Jessé, aquele que se levantará para reger os
gentios; nele os gentios colocarão a esperança. – Romanos
15.8-12 (grifo meu)
Antioquia foi a primeira igreja expressiva nas nações, e a
descrição de Lucas dessa igreja enfatiza esse fundamento:
Na igreja em Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé,
Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que havia
crescido com o governante Herodes, e Saulo. Enquanto
cultuavam o Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse:
Separai-me Barnabé e Saulo para a obra para a qual os tenho
chamado. – Atos 13.1-2
A palavra “cultuavam” em Atos 13.2 é a mesma palavra usada
para se referir ao ministério do templo. David Peterson escreveu o
seguinte sobre Atos 13:
Visto que o Senhor é o objeto da adoração ou ministério, Lucas
pode estar sugerindo que a oração coletiva é a atividade “de
culto” que substitui a abordagem sacrificial a Deus, que estava
no cerne do judaísmo. (PETERSON, 2009)
Até esse ponto, Jerusalém era o centro de adoração ao Deus
de Israel, mas o templo seria destruído dentro de algumas décadas.
Portanto, Antioquia foi apresentada por Lucas como o modelo de
como seria a Igreja nas nações. O ministério sacerdotal não foi
eliminado quando o evangelho se espalhou pelas nações. Foi
ampliado. Cada congregação se torna um pequeno “templo” no qual
o povo de Deus atua como sacerdote e ministra a Deus. O apóstolo
Paulo foi enviado às nações para reproduzir esse tipo de igreja em
todo o mundo gentio.
John Piper resumiu a missão da Igreja com sua declaração
bem conhecida em seu livro sobre missões:
As missões não são o alvo fundamental da igreja. Adoração é.
As missões existem porque não há adoração. A adoração é
fundamental, não as missões, porque Deus é essencial, não o
homem. Quando esta era se encerrar e os incontáveis milhões
de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não haverá
mais missões. Elas são uma necessidade temporária.
Adoração, porém, permanece para sempre. (PIPER, 1993)
Esse é o objetivo final de Deus para as missões mundiais.
Somos chamados a fazer mais do que evangelizar e plantar igrejas.
Somos chamados a trabalhar para que haja adoração extravagante
nas nações.

A intercessão da Igreja madura do fim dos tempos


Os profetas previram a adoração nas nações. Jesus morreu por isso
e os apóstolos trabalharam por isso. Portanto, podemos ter certeza
de que a história está se desenvolvendo até um momento em que
as nações liberarão canções extravagantes de louvor.
Quando o livro do Apocalipse descreve pessoas de toda tribo e
língua, vemos que elas estão praticando a adoração e a
intercessão:
E cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de tomar o
livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu
sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua,
povo e nação; e os constituíste reino e sacerdotes para nosso
Deus; e assim reinarão sobre a terra. – Apocalipse 5.9-10
Depois dessas coisas, vi uma grande multidão, que ninguém
podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em
pé diante do trono e na presença do Cordeiro, todos vestidos
com túnicas brancas e segurando palmas nas mãos; e
clamavam em alta voz: Salvação ao nosso Deus, que está
assentado no trono, e ao Cordeiro. – Apocalipse 7.9-10
A mensagem é clara. Uma Igreja madura em todas as tribos e
línguas surgirá no fim dos tempos e, quando surgir, liberará um
clamor profundo. Esse clamor será global, vindo de todos os povos.
A Igreja proclamará a beleza e majestade de Jesus e exercerá sua
identidade sacerdotal diante do Senhor.
O livro do Apocalipse também nos diz que a intercessão da
Igreja colocará em movimento a ação de Deus no fim dos tempos:
Veio outro anjo e colocou-se junto ao altar, segurando um
incensário de ouro; foi-lhe dado muito incenso para que ele o
oferecesse sobre o altar de ouro que está diante do trono,
juntamente com as orações de todos os santos. Da mão do
anjo subiu, diante de Deus, a fumaça do incenso junto com as
orações dos santos. Em seguida, o anjo pegou o incensário,
encheu-o com o fogo do altar e o lançou sobre a terra; e houve
trovões, vozes, relâmpagos e terremoto. – Apocalipse 8.3-5
Eles cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico
do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras,
ó Senhor Deus todo-poderoso; justos e verdadeiros são os teus
caminhos, ó Rei das nações. – Apocalipse 15.3
A oração extravagante é recebida no Céu e combinada com a
ação de Deus para ativar seu plano para o fim dos tempos. João
recebeu essa visão a fim de nos dar coragem para obedecer ao
texto de Lucas 18. Quando parece que nossas orações não estão
sendo respondidas, Deus as está coletando e elas desempenharão
um papel na liberação de sua ação. A Igreja do fim dos tempos está
confiantemente entoando cânticos que falam sobre a glória de Deus
e intercedendo pelos propósitos de Deus na Terra. Essas passagens
nos dão uma imagem da Igreja do fim dos tempos e nos incentivam
a interceder com convicção e ousadia.

Adoração e a Igreja – o padrão bíblico


Músicas e orações naturalmente são feitas por seres humanos;
portanto, quando a Bíblia prevê adoração e oração extravagantes,
está prevendo algo além do que geralmente consideramos "normal".
Os profetas previram um mover que terá um impacto global durante
o reinado do anticristo.
Eles previram um som que não poderá ser silenciado quando
todas as outras canções da humanidade silenciarem. Eles ouviram
canções que darão esperança às nações, sons que descreverão a
glória de Deus e fortalecerão Israel durante a crise do fim dos
tempos. Os profetas viram algo extravagante, global e maduro, que
não passará despercebido. Eles ouviram e previram um clamor
global, algo que ainda não vimos ou ouvimos. Será necessária uma
Igreja madura para resistir ao anticristo e liberar esse tipo de música
durante o fim dos tempos. Essa Igreja será expressiva a ponto de
provocar as nações com suas canções.
Quando Adão foi colocado no jardim do Éden, ele ministrava
como sacerdote diante de Deus. A adoração fazia parte da tarefa
sacerdotal. Deus encarregou o homem, como sacerdote, de
estender os limites do jardim para o resto da Terra. Deus poderia ter
expandido o jardim, mas escolheu fazê-lo em parceria com o
homem. Embora Adão tenha falhado em exercer seu chamado
sacerdotal, o Senhor resgatará o chamado da humanidade. O ser
humano desempenhará um papel significativo no plano redentor de
Deus de encher a Terra com o seu conhecimento e com a adoração.
Quando Deus iniciou seu plano redentor com Israel, a primeira
coisa que ele fez, antes mesmo de lhes dar uma terra, foi
estabelecer um ministério de adoração bem no centro da nação. Ele
designou sacerdotes, não apenas para oferecer sacrifícios, mas
para manter a adoração dia e noite.[125] Ele chamou a nação inteira,
não apenas os sacerdotes vocacionados, para ser uma nação
sacerdotal.[126] Essa ênfase na adoração é um prenúncio do
propósito supremo de Deus para a Igreja.
O rei Davi foi o maior rei de Israel e uma das principais
tipificações do Messias. Deus amou tanto o coração de Davi que fez
uma promessa incondicional de que o Messias seria o filho
[descendente] de Davi.[127] O peso de Davi por oferecer adoração dia
e noite e pela presença de Deus entre seu povo é uma das razões
pelas quais ele é chamado de homem segundo o coração de Deus.
[128]

Antes de ser rei, Davi foi pastor de ovelhas e passou muito


tempo sozinho, aproveitando para ministrar a Deus e compor
canções. Embora Davi fosse pastor e rei, ele era um sacerdote de
coração, e foi isso que o qualificou como o maior rei de Israel.
Quando Davi se tornou rei, ele foi motivado pelo desejo de
construir um "lugar de descanso" na Terra para a presença do
Senhor:
SENHOR, lembra-te de Davi, de todas as suas aflições, de
como jurou ao SENHOR e fez voto ao Poderoso de Jacó,
dizendo: Não entrarei na casa em que moro, nem deitarei na
cama em que durmo; não darei sono aos meus olhos, nem
repouso às minhas pálpebras, até que eu encontre um lugar
para o SENHOR, uma morada para o Poderoso de Jacó. –
Salmo 132.1-5
Este recebeu o favor da parte de Deus e pediu que lhe fosse
concedido edificar uma habitação para o Deus de Jacó. – Atos
7.46
Como Igreja, ansiamos pelo retorno de Jesus e pelo tempo em
que Deus habitará fisicamente na Terra entre seu povo. Até que
esse dia chegue, Deus habita entre seu povo no contexto da
adoração dia e noite.[129] Davi entendeu isso, e é por isso que a
característica mais singular de seu governo era o que chamamos de
“tabernáculo de Davi”. Era um santuário de adoração para onde
Davi levou a arca da aliança, que representava a presença de Deus
entre seu povo. Ele a colocou no tabernáculo e estabeleceu
cantores e músicos para cantar dia e noite sobre a glória de Deus.
O que devemos entender sobre o tabernáculo de Davi é que
ele era uma expressão profética do propósito de Deus. Davi estava
demonstrando algo que viria no futuro. Não houve sacrifícios no
tabernáculo de Davi, apenas adoração dia e noite. Era a expressão
de uma nova realidade que estava chegando, e essa nova realidade
se expressa no Novo Testamento.
Os reformadores que vieram depois de Davi em Israel
entenderam o significado desse ministério de adoração e o
restabeleceram como parte de suas reformas.[130] João Batista
ensinou seus discípulos a orar, e os discípulos pediram a Jesus que
os ensinasse a orar porque entenderam que a oração era parte da
natureza de Jesus.[131]
Quando a Igreja começou, houve adoração dia e noite no
templo, e a Igreja primitiva em Jerusalém valorizava o ministério
conduzido no templo.[132] O livro de Atos nos revela que a adoração
e oração coletivas tinham um lugar central na Igreja primitiva.[133]
Paulo instruiu as igrejas a falaram entre si com cânticos espirituais e
trabalhou para edificar uma Igreja expressiva que liberasse canções.
[134]
Tudo isso foi uma prefiguração do que está por vir, e o fim dos
tempos é o período em que Deus trará o cumprimento final do que
foi profetizado no Antigo Testamento.
PARTE 5:

A GUERRA EM TORNO DAS PROMESSAS


O CONFLITO DO FIM DOS TEMPOS

C omeçamos analisando as promessas de Deus e como elas


prepararam o cenário para o fim dos tempos. Depois disso,
examinamos a crise da aliança de Israel e o plano de Deus para
resolvê-la. Em seguida, examinamos algumas das descrições da
Igreja do fim dos tempos para entender melhor como será o
cumprimento da promessa de Deus às nações. Cada uma dessas
seções ajuda a entender o drama do fim dos tempos, porque esse
período representa simplesmente a conclusão lógica do plano
redentor de Deus nesta era.
Nesta seção final, examinaremos as principais razões para o
iminente conflito do fim dos tempos, que será uma guerra em torno
das promessas de Deus. Quando olhamos para as passagens da
Bíblia que descrevem os eventos do fim dos tempos, muitas delas
parecem girar em torno da cidade de Jerusalém, de um grande
conflito envolvendo o povo judeu e de sua dramática salvação
orquestrada por Deus. Para entender esse conflito, precisamos
saber por que Israel desempenha um papel tão central nos eventos
do fim dos tempos e que papel a igreja gentílica é chamada a
desempenhar durante esse tempo.
Por meio de Jesus, Deus introduziu os gentios na história de
Israel e, como resultado, a Igreja global tem um papel específico a
desempenhar na salvação de Israel durante a crise do fim dos
tempos.[135] A história de Israel e a história das nações sempre foram
a mesma história. Nossa salvação está ligada à salvação deles.
Nosso futuro está conectado ao futuro deles. Portanto, a tribulação
de Israel também é nossa tribulação. Isso é verdade agora, mas
será especialmente verdade no fim dos tempos.
Deus reunirá sua família unindo judeus e gentios. Ele levará o
povo judeu a um ponto em que eles amarão as nações e desejarão
servi-las. Ele também fará com que a igreja gentílica se identifique
com Israel e com o Rei judeu de Israel.

A Igreja está ligada à história de Israel


Hebreus trata de como o corpo de Jesus deve funcionar como um
só. Quando nos tornamos verdadeiramente um só corpo,
naturalmente nos alegramos com aqueles que se alegram e
choramos com aqueles que choram, sejam ou não parte de nossa
família natural:[136]
Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles,
e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no
corpo. – Hebreus 13.3, ACF
Hebreus 13.3 é uma instrução para o corpo de Jesus, mas
também representa o princípio de como a igreja gentílica se
relaciona com Israel.[137] Embora sejamos uma só família somente
com aqueles que receberam Jesus, fomos introduzidos na história
de Israel. Além disso, como vimos, a fúria do inimigo contra Israel é,
em última análise, uma expressão de sua fúria contra Jesus.
Portanto, sempre que Israel sofre, em determinado sentido, a
igreja gentílica participa desse sofrimento pelo fato de estar em
acordo com as promessas da aliança de Deus. Vimos isso em
pequena escala durante o Holocausto. Crentes gentios fiéis
sofreram naquela época por apoiar o povo judeu, mas agora uma
tempestade muito maior está chegando.

Por que Israel é tão proeminente nos eventos do fim dos


tempos?
Israel desempenha um papel central nos eventos do fim dos tempos
por causa das promessas específicas que Deus fez a eles, as quais
terão de ser cumpridas para que o Senhor seja fiel à sua Palavra.
Vamos revisar algumas passagens importantes.
Deus prometeu preservar a nação de Israel para sempre,
afirmando com ousadia que, se ele não pudesse sustentá-la, não
poderia sustentar a criação:[138]
Assim diz o SENHOR, que estabeleceu o sol para iluminar o
dia e determinou que a lua e as estrelas brilhassem à noite, que
agita o mar, de modo que suas ondas rujam; o seu nome é
SENHOR dos Exércitos: Se esses decretos deixarem de
funcionar diante de mim, diz o SENHOR, então a linhagem de
Israel deixará também de ser uma nação diante de mim para
sempre. Assim diz o SENHOR: Se puderem ser medidos os
céus em cima, e sondados os fundamentos da terra embaixo,
também eu rejeitarei toda a linhagem de Israel, por tudo quanto
eles têm feito, diz o SENHOR. – Jeremias 31.35-37
A palavra do SENHOR veio a Jeremias: Assim diz o SENHOR:
Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e com a noite,
de tal modo que não haja nem dia nem noite a seu tempo,
também se poderá invalidar a minha aliança com meu servo
Davi, para que ele não tenha um descendente que reine no seu
trono, como também a aliança com os sacerdotes levitas, que
me servem. Assim como não é possível contar as estrelas do
céu, nem calcular a areia das praias do mar, desse modo
multiplicarei a descendência de meu servo Davi e dos levitas,
que me servem. Veio ainda a palavra do SENHOR a Jeremias:
Observaste o que este povo está dizendo: O SENHOR rejeitou
as duas famílias de Israel e Judá, que havia escolhido? E assim
desprezam o meu povo, como se não pudesse mais voltar a ser
uma nação. Assim diz o SENHOR: Se a minha aliança com o
dia e com a noite não valesse mais, e se eu não tivesse
determinado as leis que governam o céu e a terra, então
poderia rejeitar a descendência de Jacó e de meu servo Davi,
não escolhendo alguém da sua descendência para governar a
descendência de Abraão, Isaque e Jacó. Porque mudarei o seu
destino e terei compaixão deles. – Jeremias 33.19-26
Além disso, Jesus predisse que não voltaria a governar e reinar
sobre as nações sem antes salvar Israel. Em Mateus 23.39, Jesus
disse aos governantes de Jerusalém que não dominaria sobre eles
até que lhe dissessem: "Bendito o que vem em nome do Senhor":
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os
que te são enviados! Quantas vezes eu quis ajuntar teus filhos,
como a galinha ajunta seus filhotes debaixo das asas, e não
quiseste! [...] Pois desde agora vos digo que de modo algum
me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em
nome do Senhor. – Mateus 23.37,39
Em Mateus 24.30, Jesus citou Zacarias 12.10-12 para prever
que sua segunda vinda seria uma época em que os olhos de Israel
se abriram e eles o receberiam como Messias. O trecho de Atos 1.6-
8 deixa claro que Jesus prometeu aos apóstolos que salvaria e
restauraria Israel. Pedro também pregou que Jesus retornaria para
salvar e restaurar Israel.[139]
O retorno de Jesus desencadeia seus juízos sobre as nações e
sobre Satanás e seu domínio. Portanto, a principal estratégia do
inimigo é fazer todo o possível para impedir o dia do retorno de
Cristo e a liberação de seus juízos. O retorno de Jesus está
associado ao cumprimento de suas promessas a Israel; portanto, o
inimigo fará tudo o que puder para impedir o cumprimento dessas
promessas e o retorno de Jesus. Durante o fim dos tempos, os
poderes do mal não estarão simplesmente perseguindo o povo de
Deus; eles estarão lutando por sua própria sobrevivência.

Um resumo do conflito do fim dos tempos


Apocalipse 12 fornece uma das descrições mais claras e concisas
do iminente conflito do fim dos tempos. O capítulo começa com a
descrição de uma mulher dando à luz um filho:
Viu-se, então, um grande sinal no céu: uma mulher vestida do
sol, com a lua debaixo dos pés, e uma coroa de doze estrelas
sobre a cabeça. Ela estava grávida e gritava com as dores de
parto, sofrendo intensamente para dar à luz. – Apocalipse 12.1-
2
Essa mulher com uma coroa de doze estrelas simboliza Israel e
a luta de sua história. João a viu pronta para dar à luz e, de repente,
viu algo horrível:
Viu-se também outro sinal no céu: um grande dragão vermelho
com sete cabeças e dez chifres, e sobre as cabeças havia sete
coroas, sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu,
lançando-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher
que estava para dar à luz, para devorar-lhe o filho assim que
nascesse. – Apocalipse 12.3-4
Um grande dragão vermelho apareceu e parou diante da
mulher para devorar seu filho. O dragão estava fixado na mulher por
causa de seu filho.
Então, ela deu à luz um filho, um homem que dominará todas
as nações com cetro de ferro. seu filho foi arrebatado para
Deus e para o seu trono. – Apocalipse 12.5
Embora o dragão tenha tentado destruir a mulher, ela deu à luz
um menino. É a criança, o Messias, que governará as nações com
cetro de ferro.[140] No entanto, o Messias foi subitamente arrebatado
ao trono. As imagens até esse ponto são claras. A mulher com doze
estrelas representa Israel, que o Senhor escolheu para "dar à luz" o
Messias. O Messias é a criança do sexo masculino que nasceu,
mas depois foi arrebatado para o trono de Deus na ascensão. A
fúria do dragão contra a mulher era por causa da criança.
O dragão,[141] que é Satanás, não pode fazer guerra contra
Jesus porque Jesus foi arrebatado aos céus e está sentado à direita
do trono de Deus.[142] Por ser incapaz de desafiar o trono de Deus,
ele escolhe fazer guerra na Terra. Ele faz isso agora mesmo,
tentando enganar e seduzir as nações,[143] mas algo maior está por
vir. Apocalipse 12 nos diz que chegará o dia em que Satanás será
lançado à Terra e ficará furioso porque ele sabe que seu tempo é
curto:[144]
E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, chamada
Diabo e Satanás, que engana todo o mundo. Ele e seus anjos
foram lançados à terra [...] Por isso, alegrai-vos, ó céus, e todos
vós que neles habitais. Mas ai da terra e do mar! Pois o Diabo
desceu até vós com grande ira, sabendo que pouco tempo lhe
resta. E quando o dragão se viu lançado à terra, perseguiu a
mulher que dera à luz o menino. – Apocalipse 12.9,12-13
Apocalipse 12.13 prediz que, quando o dragão perceber que foi
lançado à Terra e que seu tempo é curto, a primeira coisa que ele
fará será perseguir a mulher que deu à luz o menino. Trata-se de um
alerta de que Israel será o alvo da ira de Satanás no fim dos
tempos.
Então, de sua boca a serpente lançou atrás da mulher água
como um rio, para que ela fosse arrastada pela corrente. Mas a
terra socorreu a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o
dragão lançara da boca. – Apocalipse 12.15-16
O dragão lançará uma "corrente" contra a mulher para destruí-
la, mas a mulher será ajudada pela Terra. Quando a mulher é
preservada sobrenaturalmente, o dragão fica furioso e faz guerra
contra "os demais filhos dela", que são aqueles que "mantêm o
testemunho de Jesus Cristo". A mensagem é clara: a ira do dragão
no fim dos tempos contra os seguidores de Jesus está ligada à sua
incapacidade de destruir Israel.
O dragão se enfureceu contra a mulher e saiu para atacar os
demais filhos dela, os que guardam os mandamentos de Deus
e mantêm o testemunho de Jesus. – Apocalipse 12.17
Apocalipse 12 fornece um resumo conciso da estratégia do
inimigo para o fim dos tempos, e há vários pontos-chave que nos
ajudam a entender o que acontecerá no fim dos tempos:
A ira de Satanás (o dragão) no fim dos tempos será dirigida
contra Israel, e ele lançará uma "corrente" contra o seu povo
para arrastá-lo e destruí-lo. Isso nos diz que Israel é o alvo
da ira de Satanás no fim dos tempos. Outras passagens
também preveem essa ira contra Israel, mas Apocalipse 12
nos ajuda a entendê-la.
A ira de Satanás contra Israel é uma expressão de sua ira
contra Jesus (o filho do sexo masculino). Precisamos
entender que a ira das nações contra Israel é na verdade
uma expressão de sua ira contra Jesus. O verdadeiro
conflito diz respeito à sua pessoa, não a Israel. O papel de
Israel no plano de Deus para entronizar Jesus sobre as
nações coloca Israel bem no centro do conflito do fim dos
tempos.
A Terra ajudará a salvar e preservar a mulher. Isso nos diz
que o ataque de Satanás não será bem-sucedido no final.
Algo vai acontecer na Terra que desempenhará um papel na
preservação de Israel (a mulher).
Satanás ficará furioso quando perceber que é incapaz de
destruir Israel. Isso nos lembra que a destruição da mulher é
seu objetivo principal.[145]
Satanás dirigirá sua ira contra os seguidores de Jesus
quando perceber que é incapaz de destruir Israel. Isso nos
diz que os seguidores de Jesus têm um papel na
preservação de Israel no fim dos tempos. Apocalipse 12 nos
diz que a mulher é levada para o deserto. O deserto
provavelmente representa as nações e seu papel no serviço
a Israel. Tudo isso faz parte da preservação da mulher pela
Terra.
Apocalipse 12 prediz algo que nunca aconteceu na história:
uma Igreja madura que serve a Israel durante o período
mais difícil da história da humanidade. A Igreja do fim dos
tempos desempenhará um papel para impedir que Satanás
destrua Israel, enquanto ele se enfurece contra as
promessas de Deus.
Observe que Israel neste contexto se refere ao povo de Israel,
não necessariamente à nação política. Deus prometeu a Jeremias
que preservaria Israel para sempre como um povo, mesmo quando
Babilônia conquistasse o Israel político. Apocalipse 12 não se
concentra na preservação do Israel político (embora os profetas
afirmem que o anticristo será incapaz de conquistar completamente
Jerusalém),[146] mas na preservação do povo de Israel. Isso explica
por que a figura de uma mulher é usada para representar Israel. A
ênfase é o povo.
Apocalipse 12 nos oferece um alerta assustador: a tentativa
final de Satanás de frustrar o plano redentor de Deus será um
ataque ao povo judeu, com o objetivo de anular as promessas de
Deus. Como crentes, somos chamados a reconhecer a estratégia de
Satanás e a nos preparar para esse período sombrio da história da
humanidade. Devemos nos preparar para servir ao povo judeu,
mesmo que isso custe nossas próprias vidas.

A ira contra Israel no fim dos tempos


Muitos cristãos acreditam que a Igreja é o principal alvo da ira de
Satanás nos momentos finais desta era, mas isso não é verdade. O
inimigo perseguirá a Igreja severamente, e o martírio fará parte da
Grande Tribulação,[147] mas precisamos entender como isso se dará
e qual será o alvo da sua ira.
Apocalipse 12 prediz o que todos os profetas previram: Israel
será o alvo da ira de Satanás no fim dos tempos. (Isso explica as
repetidas previsões da Bíblia de que Deus liberará sua ira no fim
dos tempos sobre as nações que estiverem contra Israel.)[148] A
lógica de Satanás é contrária, cruel e calculista porque seu objetivo
principal é anular as promessas de Deus e impedir o retorno de
Jesus e, consequentemente, o seu próprio julgamento.
Mesmo que Satanás pudesse executar todos os seguidores de
Jesus, comumente estimados em cerca de dois bilhões de pessoas,
isso não afetaria, de forma alguma, as promessas de Deus nem o
retorno de Jesus. De fato, Jesus nos alertou que seríamos odiados
e perseguidos,[149] e a Bíblia prediz que muitos crentes perderão
suas vidas no fim dos tempos e herdarão grandes recompensas.[150]
No entanto, Israel é algo completamente diferente. Se Satanás
puder eliminar os estimados quatorze a quinze milhões de judeus na
Terra (DELLAPERGOLA, 2015), as promessas de Deus, incluindo a
promessa de Jesus voltar, seriam todas anuladas. Portanto, o
ataque final e mais horrível do inimigo às promessas de Deus
incluirá uma tentativa de eliminar o povo judeu, a fim de impedir o
retorno de Jesus e o juízo subsequente.
No fim dos tempos, o inimigo se enfurecerá contra Israel a
ponto de buscar a aniquilação de Israel, porque é a maneira mais
eficiente de atacar o plano redentor de Deus. Isso significaria que
não haveria Israel salvo nem um remanescente de judeus para
receber Jesus e cumprir o seu papel na segunda vinda. Isso
significaria que Deus seria incapaz de preservar esse povo como
prometera. A salvação final de Israel pelas mãos de Deus
desencadeia os juízos de Deus sobre as nações, de modo que
também significaria que a iniquidade das nações não seria julgada.
Se o povo judeu deixar de ser um povo e se ele nunca for salvo, as
promessas feitas a Abraão nunca poderão ser cumpridas, e todas
as promessas de Deus fracassarão.[151]
Essa é a raiz do antissemitismo. O antissemitismo é mais do
que racismo; é a acusação de que os judeus são a causa dos
problemas do mundo. Essa é a atitude que Satanás assumiu ao
longo da história em relação aos judeus, e ele a colocará em prática
novamente no final dos tempos, porque, para ele, se trata de uma
afirmação verdadeira. A redenção de Israel significará o julgamento
de Satanás; portanto, enquanto existirem judeus, eles são uma
declaração da fidelidade de Deus e uma parte essencial da
estratégia de Deus para trazer redenção.
Como o povo judeu prepara o cenário para o retorno de Jesus
e seus juízos sobre as nações, os muçulmanos, os fascistas, os
humanistas e muitos outros podem discordar praticamente de tudo,
mas têm um ponto em comum: concordam que os judeus são a
fonte dos problemas do mundo.

Uma advertência clara e séria


A severa previsão bíblica do conflito final sobre Israel é uma
advertência de que devemos tratar os eventos do século 20 com
mais seriedade, mais seriedade do que temos demonstrado até
agora. O povo judeu sobreviveu a perseguições (tragicamente, por
vezes, nas mãos de algumas nações que afirmavam ser cristãs),
calamidades e múltiplas tentativas de aniquilação. No entanto, o
Holocausto é um evento único na história. Havia uma intensidade no
Holocausto que era diferente quando comparada às antigas
calamidades que sobrevieram a Israel pelas mãos de Babilônia,
Roma e do rei Antíoco.
Tanto Babilônia quanto Roma estavam dispostas a permitir que
o povo judeu existisse com uma medida limitada de autonomia,
desde que se submetessem ao domínio do império. Eles só
destruíram Jerusalém quando ela se recusou a se submeter ao seu
domínio. Até Antíoco, que era extremamente brutal, foi movido por
seus objetivos religiosos e políticos. Embora ele tenha se tornado
um dos mais famosos arquétipos do anticristo da história, ele
recompensou os judeus que estavam dispostos a ser leais a ele e a
seguir sua religião. Babilônia, Roma e Antíoco procuraram destruir
Israel quando a nação se tornou um obstáculo aos seus próprios
planos. No entanto, nenhum deles viu a eliminação de Israel como
parte essencial da conquista de seus respectivos destinos.
O Holocausto foi completamente diferente. Não foi um conflito
político por terra ou submissão a um programa político. Quando
Hitler chegou ao poder, o povo judeu poderia ter sido um grande
trunfo para a nação alemã. Muitos judeus eram profissionais
comprometidos com o sucesso da Alemanha. Ao contrário de
Antíoco, Hitler não deu ao povo judeu a chance de declarar sua
lealdade a ele. A única opção era a execução simplesmente porque
eram judeus. Mesmo quando a máquina de guerra de Hitler
começou a falhar, ele retirou recursos das linhas de frente para
acelerar o trabalho nos campos de extermínio. Ele sabia que sua
agenda maligna só poderia ter sucesso se os judeus fossem
eliminados.
A afirmação de que Deus é soberano absoluto e tem um plano
de redenção desmorona se ele for incapaz de preservar esse
pequeno povo e de conduzi-lo ao seu destino. O horripilante foco e
a tenacidade de Hitler em sua campanha para destruir os judeus
nos permitem ter uma terrível prévia de como será o governo do
anticristo, porque ele entendeu que poderia anular as promessas do
Deus de Israel se pudesse eliminar o povo judeu.
Embora tenha havido muitos anticristos e muitos arquétipos do
anticristo ao longo da história,[152] Hitler é possivelmente a melhor
imagem de quem o anticristo será por várias razões:
Ninguém esperava a súbita ascensão de Hitler à
proeminência e ao poder nacional a partir de um começo
relativamente desconhecido. A Bíblia nos diz que o
anticristo será inicialmente considerado um líder
insignificante e não receberá a honra da realeza.[153]
Hitler era conhecido por sua poderosa oratória e seus
discursos hipnotizantes. Discursos ousados e palavras
poderosas são algumas das características do anticristo
encontradas com mais frequência na Bíblia.[154]
Hitler projetou uma visão para um império de mil anos. Isso
foi uma imitação do governo milenar de Jesus[155] e uma
tentativa de subverter Jesus como Messias.
Hitler fez da eliminação do povo judeu um de seus principais
objetivos. Ele acreditava que a eliminação do povo judeu
era necessária para alcançar seu desejo de construir um
império maligno. O anticristo também buscará a eliminação
dos judeus para que ele possa alcançar seus objetivos.
O Holocausto de Hitler pegou uma nação inteira de
surpresa. Mesmo no final da guerra, muitos alemães não
conseguiam compreender a dimensão do Holocausto. Da
mesma forma, a intensidade do conflito do fim dos tempos
sobre Israel pegará as nações desprevenidas.
O Holocausto provou a Igreja de forma profunda. A ira do
fim dos tempos contra Israel também provará a Igreja.
A parte mais assustadora do Holocausto, conhecida como a
“solução final”, durou quase exatamente o mesmo tempo
que a parte mais intensa da Grande Tribulação durará.
Durante esse período, os nazistas aceleraram o genocídio
do povo judeu. (O primeiro centro de extermínio da “solução
final” começou a funcionar em 8 de dezembro de 1941, e o
Holocausto terminou com a derrota dos nazistas em 8 de
maio de 1945 [US HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM,
2017]. Isso significa que a parte mais intensa do Holocausto
durou um mês a menos do que o período de três anos e
meio. A Bíblia menciona repetidamente o período de três
anos e meio como a duração da Grande Tribulação[156] que
se aproxima, e a semelhança nos períodos de tempo não é
acidental. Isso deve nos levar a prestar muita atenção à
Segunda Guerra Mundial.)
De muitas maneiras, o Holocausto nos dá uma imagem horrível
do que o anticristo tentará realizar. Como Hitler, o próximo anticristo
procurará anular as promessas de Deus buscando a aniquilação do
povo judeu. Esse desejo consumirá o anticristo, e ele causará
estragos na Terra em busca desse objetivo, porque, ao eliminar o
povo de Israel, ele alcançaria o impossível: anular as promessas de
Deus, tornando Deus um mentiroso incapaz de cumprir o que tinha
prometido.
O fato de esse terrível evento ter ocorrido em nossa geração
praticamente ao mesmo tempo que Israel ressurgia como nação
soberana deve nos fazer levar isso muito a sério. Se o inimigo se
enfureceu tanto com o nascimento do moderno Estado de Israel,
quanto mais não se enfurecerá com a salvação da nação?
Israel passou por provações nos últimos dois mil anos, mas
devemos perguntar por que uma provação dessa intensidade
emergiu repentinamente em nossa geração, ao mesmo tempo que
Deus estava conduzindo um ajuntamento histórico de Israel para
demonstrar seu compromisso contínuo com a nação. Precisamos
entender as implicações da crescente intensidade que envolve a
questão da salvação de Israel e falar com clareza e ousadia sobre
isso.
A Segunda Guerra Mundial serve como uma séria advertência
para a Igreja. Ela demonstra como uma crise centrada em Israel
também é uma provação para a Igreja. Uma das grandes tragédias
da Segunda Guerra Mundial é que grande parte da Igreja não
passou no teste do Holocausto.
A Segunda Guerra Mundial ilustra a previsão de Apocalipse 12
de que a ira de Satanás contra Israel se voltará contra a Igreja que
permanece fiel ao que Deus disse. Embora o inimigo direcione sua
ira para Israel, a igreja gentílica que foi enxertada em Israel
rapidamente se tornará também objeto de sua fúria.
Podemos dizer honestamente que a Igreja global está mais
bem preparada do que a Igreja do século passado para sobreviver a
esse tipo de provação? Estamos preparando ativamente a Igreja
para um evento semelhante ao Holocausto ou para algo que será
ainda mais intenso em proporções que não podemos imaginar?

Algo impensável está chegando


O Holocausto é uma tipificação arrepiante do que o inimigo
tentará pouco antes de Jesus retornar. Ele não ficará calado ou
passivo ao sentir a proximidade do retorno de Jesus e o
cumprimento de todas as promessas de Deus, porque o
cumprimento dessas promessas desencadeia seu julgamento.
Satanás responderá ao ousado compromisso público de Deus
com suas promessas, conforme demonstrado no plano de redenção
para Israel que está em andamento. Simplesmente não podemos
ignorá-lo ou assumir que o problema foi resolvido. Deus e seu
inimigo disputarão novamente a salvação de Israel. Desta vez, será
o conflito final sem precedentes sobre o futuro das promessas de
Deus e o juízo sobre seu inimigo.
Deus liberará poder sobrenatural e preservará o povo judeu,
mas haverá um terrível sofrimento nas nações, tanto para judeus
quanto para gentios. Toda a Terra sentirá os efeitos de sua ira. A
Igreja tem muito pouco entendimento sobre isso e está
completamente despreparada para lidar com essa situação.
Não podemos imaginar o que acontecerá na Terra quando
Satanás decidir tomar sua posição final e liberar toda a sua ira
contra as promessas de Deus. A Segunda Guerra Mundial não foi o
conflito final entre o bem e o mal. Algo muito maior está vindo. A
Terra ainda não sentiu toda a ira do inimigo contra as promessas de
Deus. Fomos advertidos repetidamente de que esse tempo será
como nenhum outro:
Ah! Como aquele dia será terrível, sem comparação! Será
tempo de angústia para Jacó; mas ele será resgatado dela. –
Jeremias 30.7
Naquele tempo, Miguel, o grande príncipe, se levantará a favor
dos filhos do teu povo; e haverá um tempo de tribulação como
nunca houve desde que existiu nação até então; mas naquele
tempo, o teu povo, todo aquele cujo nome estiver escrito no
livro, será liberto. – Daniel 12.1
Dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de negridão!
Como a luz da aurora se espalha sobre os montes, assim vem
um povo grande e poderoso, como nunca houve antes nem
haverá depois nos anos por vir, de geração em geração. – Joel
2.2
Porque haverá uma tribulação muito grande, como nunca
houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais
haverá. – Mateus 24.21
Embora Israel desempenhe um papel central nos eventos do
fim dos tempos, ele não é a questão principal, Jesus é. O inimigo
liberará toda a sua ira contra Israel, porque ele não está lutando
contra Israel, ele está fazendo guerra contra Jesus e contra o plano
redentor de Deus e para isso usará todos os meios que tem à sua
disposição.
O retorno de Jesus como Rei é um evento que mal podemos
imaginar. Isso fará com que todas as coisas sejam radicalmente
reconfiguradas. Quando ele voltar, julgará as nações, recompensará
a justiça, punirá a iniquidade e anulará a atual capacidade de
Satanás de influenciar e enganar as nações.[157] A ira do inimigo
contra Israel no fim dos tempos é uma expressão de quão longe ele
irá para tentar impedir o juízo executado por Jesus. O poder de
Satanás foi quebrado na cruz,[158] e ele não pode destronar Jesus
nos céus, então a Terra se tornará o campo de batalha final, onde
ele resistirá ao governo de Jesus com todos os meios necessários.
Quanto mais perto chegarmos do fim, mais desesperado nosso
inimigo se tornará. Seu desespero se concentrará no fato de Jesus
estar comprometido com a salvação de Israel antes de assumir seu
trono. Satanás não apenas se esforçará para manter Israel longe do
evangelho, mas também procurará eliminá-los como povo para
impedir qualquer possibilidade de seu arrependimento e do futuro
governo de Jesus.
JESUS E O JULGAMENTO DAS NAÇÕES

E m Mateus 24 e 25, Jesus proferiu seu ensinamento mais longo


sobre o fim dos tempos. Esse sermão é comumente referido
como o “sermão profético” ou a profecia do monte das Oliveiras,
porque ali Jesus o proferiu. Nesse ensinamento, encontramos
diversas implicações sobre como enxergamos o retorno de Jesus.
Ele enfatiza a importância de entendermos os principais temas.
O ensinamento pode ser resumido de maneira simples:
1. Mateus 24.3-14: temáticas nas nações que precedem o fim
dos tempos.
2. Mateus 24.15-31: eventos-chave do fim dos tempos.
3. Mateus 24.36-44: instruções sobre o tempo e a necessidade
de estar preparado para o retorno de Jesus.
4. Mateus 24.45–25.30: parábolas sobre como se preparar para
o retorno de Jesus.
5. Mateus 25.31-46: o julgamento das nações por Jesus.
Existem três chaves para entender esse ensinamento.
1. Tratar a passagem inteira como um único sermão.
2. Reconhecer o uso extensivo de profecias do Antigo
Testamento por Jesus.
3. Acompanhar o raciocínio de Jesus como mestre.

Um único sermão em resposta a uma pergunta


Os capítulos 24 e 25 de Mateus são uma resposta aos discípulos
que estavam perguntando como Jesus cumpriria as previsões dos
profetas e iniciaria seu governo sobre Jerusalém:
Estando ele sentado no monte das Oliveiras, seus discípulos
aproximaram-se dele em particular, dizendo: Dize-nos quando
essas coisas acontecerão e que sinal haverá da tua vinda e do
fim do mundo. – Mateus 24.3
Na época, os discípulos não esperavam que Jesus fosse
embora e depois retornasse em algum momento no futuro; portanto,
eles não estavam perguntando sobre uma segunda vinda em si. Os
discípulos fizeram sua pergunta porque Jesus havia entrado em
Jerusalém da maneira que o profeta Zacarias havia dito que o
Messias entraria,[159] mas ao invés de começar a governar, Jesus
repreendeu severamente os líderes religiosos e advertiu que não
tomaria seu lugar como Rei até que eles o recebessem.[160] Os
discípulos ficaram completamente confusos com essa série de
eventos. Em Mateus 21, parecia que estava começando o
cumprimento do que os profetas haviam dito, mas então tudo
mudou.
Por causa da perplexidade dos discípulos, e isso é
compreensível, Jesus citou várias passagens do Antigo Testamento
para demonstrar que ele continuava comprometido em cumprir o
que os profetas do Antigo Testamento haviam previsto. Essas
profecias seriam cumpridas de uma maneira completamente
inesperada, ou seja, em duas vindas ao invés de uma, mas todas
elas seriam cumpridas.
Também precisamos reconhecer a progressão do ensinamento
de Jesus como mestre. Mateus 24 é o começo de sua resposta à
pergunta dos discípulos. Mateus 25 é a conclusão de sua resposta.
Como qualquer bom professor, a resposta de Jesus chega a uma
conclusão e a uma aplicação, às quais ele espera que seu público
corresponda. Para ver a conclusão de Jesus no contexto correto,
precisamos tratar Mateus 24 e 25 como uma só passagem.

O uso das profecias do Antigo Testamento por Jesus


Jesus introduziu poucas informações inéditas nesse sermão. Ele
resumiu o que os profetas já haviam dito. Aqui estão apenas
algumas das referências do Antigo Testamento usadas por Jesus:
Em Mateus 24.15, Jesus fez referência a Daniel 8.13, 9.27,
12.11 e 11.31 e, portanto, instruiu seus ouvintes a
estudarem e compreenderem a profecia de Daniel para
entender o seu ensinamento.
Em Mateus 24.21, ele citou Daniel 12.1 diretamente e no
processo também fez referência a Jeremias 30.7 e Joel 2.2.
Em Mateus 24.22, Jesus fez alusão a Zacarias 13.8 e 14.2
sobre os dias que foram interrompidos.
Em Mateus 24.7, ele fez referência a Zacarias novamente,
especificamente Zacarias 9.14, comparando sua vinda a um
raio.
Em Mateus 24.29, Jesus citou Isaías 13.9-10 e Joel 2.31 e
3.15. No mesmo versículo, ele também fez alusão a Isaías
14.12, Isaías 34.4, Amós 5.20 e 8.9 e Sofonias 1.14-15.
Em Mateus 24.30, Jesus citou Zacarias 12.10-12 e Daniel
7.13-14.
Como Jesus usou as profecias do Antigo Testamento como a
fonte de seu ensinamento, devemos interpretá-lo de acordo com as
promessas do Antigo Testamento. Jesus não estava reinterpretando
as expectativas do Antigo Testamento; ele estava afirmando-as. O
processo que atenderá a essas expectativas será completamente
diferente do que se esperava, mas as profecias serão
concretizadas.

O resumo de Jesus sobre o seu retorno


Há uma linha geral no ensinamento de Jesus nesses dois capítulos.
Ele começou resumindo os eventos do fim dos tempos com base no
que os profetas haviam previsto. Jesus afirmou suas profecias e
indicou seu compromisso de cumprir o que os profetas haviam
profetizado. Jesus seguiu contando várias parábolas para ilustrar
como viver enquanto aguardamos o cumprimento dessas profecias.
Após essas parábolas, Jesus fez a conclusão da mensagem em
Mateus 25.31-46.
A conclusão de Jesus em Mateus 25.31-46 é uma das suas
previsões mais dramáticas:
Quando, pois, o Filho do homem vier na sua glória, e todos os
anjos com ele, então se sentará no seu trono glorioso; e todas
as nações serão reunidas diante dele; e ele separará uns dos
outros, à semelhança do pastor que separa as ovelhas dos
cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à
esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que
vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive
fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber;
era estrangeiro, e me acolhestes; precisei de roupas, e me
vestistes; estive doente, e me visitastes; estava na prisão e
fostes visitar-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor,
quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede
e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te
acolhemos, ou precisando de roupas e te vestimos? Quando te
vimos doente, ou na prisão, e fomos visitar-te? E o Rei lhes
responderá: Em verdade vos digo que sempre que o fizestes a
um destes meus irmãos, ainda que dos mais pequeninos, a
mim o fizestes. Então ele dirá também aos que estiverem à sua
esquerda: Malditos, afastai-vos de mim para o fogo eterno,
preparado para o Diabo e seus anjos; pois tive fome, e não me
destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era
estrangeiro, e não me acolhestes; estive nu, e não me
vestistes; doente, e na prisão, e não me visitastes. Então, eles
também perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou
com sede, ou estrangeiro, ou sem roupas, ou doente, ou na
prisão, e não cuidamos de ti? E ele lhes responderá: Em
verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer a um
destes mais pequeninos, deixastes de fazê-lo a mim. E eles
irão para o castigo eterno, mas os justos irão para a vida
eterna. – Mateus 25.31-46
Jesus começou se identificando como o glorioso "Filho do
homem" da visão narrada em Daniel 7.[161] Essa referência tornou
essa porção ainda mais dramática porque Daniel 7 descreveu Deus
vindo em sua glória e colocando um "Filho do homem" para julgar as
nações:
Eu estava olhando nas minhas visões noturnas e vi que alguém
parecido com filho de homem vinha nas nuvens do céu. Ele se
dirigiu ao ancião bem idoso e a ele foi levado. E foi-lhe dado
domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações
e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que
não passará, e o seu reino é tal que não será destruído. –
Daniel 7.13-14
Considerando que esta é a conclusão dramática do
ensinamento mais longo de Jesus sobre o fim dos tempos,
precisamos dar uma atenção significativa a ela. Diferentes
interpretações dessa passagem através da história da Igreja
deixaram muitos crentes com a ideia de que ela é de difícil
compreensão. Na realidade, essa porção final dos ensinamentos de
Jesus é relativamente fácil e direta.

Jesus repetiu o que os profetas previram


As três chaves que identificamos anteriormente (o sermão lido como
uma única passagem, o uso das referências do Antigo Testamento e
a percepção da linha de raciocínio de Jesus) são o que torna o final
do sermão relativamente fácil de entender. Como essa passagem é
seguida por várias parábolas, muitas pessoas presumem que essa
seção final também é uma parábola. No entanto, não se trata disso.
É uma conclusão literal de todo o ensinamento que descreve o juízo
de Jesus sobre as nações em seu retorno.
Jesus descreveu esse juízo porque esperava que os discípulos
se lembrassem dessa parte de seu ensinamento e ensinassem as
igrejas a terem uma atitude correta em relação a ele. É uma
passagem extremamente séria das Escrituras, proferida por Jesus
para esclarecer as pessoas e não para confundi-las. Essa
passagem não é uma nova previsão. Jesus repetiu uma previsão
bem conhecida do Antigo Testamento em Joel 3:
Naqueles dias e naquele tempo, quando eu restaurar os
exilados de Judá e de Jerusalém, reunirei todas as nações e as
farei descer ao vale de Josafá; e ali as julgarei por causa de
Israel, meu povo e minha herança, que espalharam entre as
nações; elas repartiram a minha terra e lançaram sortes sobre
o meu povo; deram um menino por uma prostituta e venderam
uma menina por vinho, para se embriagar. – Joel 3.1-3
Jesus não apenas fez referência à linguagem de Joel 3, mas
também ilustrou a passagem. O vale de Josafá[162] fica no lado leste
de Jerusalém. É o que separa o monte das Oliveiras do monte do
Templo e da parte leste de Jerusalém. Ao dar esse ensinamento,
Jesus sentou-se no monte das Oliveiras, olhou o vale de Josafá em
direção à cidade de Jerusalém e previu o dia em que reuniria as
nações neste vale, como Joel havia previsto.

Jesus deu uma ilustração visual


Como foi Jesus que ensinou, é fácil imaginar seus gestos com a
mão direita e a esquerda enquanto descrevia as recompensas e as
bênçãos. Quando Jesus gesticulou com a mão esquerda, ele teria
apontado para o Geena.[163] O Geena é um vale ao sul de Jerusalém
que começa no lado sudeste da cidade (lembre-se, Jesus estava
diretamente a leste da cidade, no monte das Oliveiras). Era o
depósito de lixo de Jerusalém, o local onde o lixo era queimado. Nos
dias de Jesus, queimava e ardia dia e noite. Toda vez que Jesus usa
a palavra “inferno”, o termo no original no grego é “Geena”. O
Geena era o ponto de referência de Jesus para o castigo, e quando
ele previu que poria as pessoas à sua esquerda, seus discípulos
imediatamente souberam o que isso significava.
Enquanto os discípulos ouviam Jesus, eles não ficaram
confusos sobre o significado da passagem. Em vez disso, ficaram
chocados com outra coisa. Em Joel 3, é YHWH quem julga as
nações. Em Mateus 25.31, Jesus é quem julga as nações. A
referência de Jesus a Joel 3 tem uma revelação poderosa: ele é o
juiz divino de Joel 3.[164] Quando ele começou esse ensinamento, os
apóstolos ficaram chocados, tentando assimilar a revelação de que
o juiz divino de Joel 3 estava sentado na frente deles em forma
humana.

Uma expressão confusa


O que pode ser confuso na passagem é o uso que Jesus faz do
termo “meus irmãos”. Jesus está se referindo aos discípulos ou está
se referindo a seus irmãos físicos, o povo judeu? Em certo sentido,
todos os crentes são irmãos[165] de Jesus, por isso há respaldo
bíblico para afirmar que os discípulos e todos os crentes podem ser
considerados irmãos de Jesus. Ao mesmo tempo, vemos na
história, no Antigo Testamento, Deus identificando-se com o povo
judeu, particularmente com seu sofrimento e aflição.[166]
A expressão “meus irmãos” deve ser interpretada no contexto
e, neste caso, o contexto fica claro quando analisamos os pontos-
chave do juízo de Jesus:
O tema dessa passagem é o retorno de Jesus. Ele descreve
o juízo de Jesus sobre as nações em seu retorno.
Jesus está julgando as nações, e seu critério é a forma
como trataram seus irmãos na prática.
Jesus recompensa aquelas nações que estavam dispostas
a servir seus irmãos em momento de crise.
Jesus se refere a seus irmãos como o “mais pequenino”.
Quando olhamos para Joel 3, a base da avaliação de Deus é
clara e explica por que os discípulos não ficaram confusos sobre o
significado dessa passagem:
Reunirei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e
ali as julgarei por causa de Israel, meu povo e minha herança,
que espalharam entre as nações; elas repartiram a minha terra
e lançaram sortes sobre o meu povo; deram um menino por
uma prostituta e venderam uma menina por vinho, para se
embriagar. – Joel 3.2-3
Joel previu que chegaria um momento em que Deus julgaria as
nações em nome de seu povo e sua herança – Israel. A descrição
de Joel do que precede esse julgamento dá sentido ao termo “mais
pequenino”. As nações se voltarão contra o povo judeu de uma
maneira incomparável, procurando oprimir, marginalizar e até
eliminá-los. Essa anunciada ira vindoura contra Israel é coerente
com a previsão de Joel de que Deus reunirá as nações no vale de
Josafá – ao qual ele se refere como o vale da Decisão – e liberará
sua ira sobre eles:
Proclamai isto entre as nações: Preparai a guerra, convocai os
guerreiros. Aproximem-se todos os homens de guerra e
ataquem. Forjai espadas das relhas dos vossos arados, e
lanças das vossas podadeiras; diga o fraco: Sou forte.
Apressai-vos e vinde, todos os povos em redor, e ajuntai-vos. Ó
SENHOR, faz descer para lá os teus guerreiros. Levantem-se
as nações e subam ao vale de Josafá, pois ali me assentarei
para julgar todas as nações em redor. Lançai a foice, porque a
colheita já está madura. Vinde, descei, porque o lagar está
cheio, os vasos dos lagares transbordam, pois a sua maldade é
grande. Multidões, multidões no vale da decisão! O dia do
SENHOR está perto, no vale da decisão. – Joel 3.9-14

Uma previsão coerente


Joel 3 não é uma previsão isolada. Ela é coerente com outras
passagens que preveem um dia [ou um tempo] que começará com
as nações se enfurecendo contra Israel e terminará com o juízo
repentino e dramático de Deus sobre as nações, em defesa de
Israel.
Zacarias previu o mesmo evento:
Farei de Jerusalém uma taça que embriague todos os povos ao
redor e também Judá, durante o cerco contra Jerusalém.
Naquele dia farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos
os povos; todos os que tentarem erguê-la serão gravemente
feridos. Todas as nações da terra se ajuntarão contra ela.
Naquele dia, diz o SENHOR, ferirei de medo todos os cavalos,
e de loucura, os que montam neles. Mas abrirei os olhos sobre
a casa de Judá e ferirei de cegueira todos os cavalos dos
povos. – Zacarias 12.1-4
Vem o dia do SENHOR, em que os teus despojos se repartirão
no meio de ti. Pois ajuntarei todas as nações para a luta contra
Jerusalém; a cidade será tomada, as casas serão saqueadas, e
as mulheres, violentadas; metade da cidade sairá para o
cativeiro, mas o restante do povo não será exterminado da
cidade. Então o SENHOR sairá e lutará contra essas nações,
como no dia da batalha. Naquele dia, os seus pés estarão
sobre o monte das Oliveiras, que está ao oriente de Jerusalém;
e o monte das Oliveiras será cortado pelo meio, do oriente para
o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte
será retirado para o norte e a outra metade para o sul. Fugireis
pelo vale dos meus montes, pois o vale dos montes chegará
até Azel; e fugireis assim como fugistes de diante do terremoto,
nos dias de Uzias, rei de Judá. Então o SENHOR, meu Deus,
virá com todos os seus santos [...] O SENHOR será rei sobre
toda a terra; naquele dia haverá um só SENHOR, e o seu nome
será único. – Zacarias14.1-5,9
Isaías também previu o mesmo evento, com uma linguagem
ainda mais forte:
Há um tumulto, como o de uma multidão enorme sobre os
montes! Um vozerio de reinos, de nações se reunindo! O
SENHOR dos Exércitos passa em revista o exército para a
guerra. Eles vêm de uma terra distante, das extremidades do
céu; o SENHOR e as armas da sua indignação, para destruir
toda aquela terra. Chorai, porque o dia do SENHOR está perto!
Virá como destruição do Todo-poderoso. – Isaías 13.4-6
Ó nações, chegai-vos para ouvir; e vós, povos, escutai; ouçam
a terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto ele produz.
Porque o SENHOR está irado contra todas as nações, e a sua
fúria está sobre todo o exército delas; ele determinou a sua
destruição, entregou-as à matança. Os seus mortos serão
jogados fora, e o mau cheiro dos seus cadáveres subirá; e os
montes se derreterão com o seu sangue [...] Pois o SENHOR
terá um dia de vingança, um ano de retribuições pela causa de
Sião. – Isaías 34.1-3,8
Sofonias também usou uma linguagem viva sobre este dia:
O grande dia do SENHOR está próximo! Está próximo e virá
depressa! Atenção! O dia do SENHOR é amargo; até o homem
poderoso clamará. É dia de indignação, dia de tribulação e de
angústia, dia de tumulto e de destruição, dia de trevas e de
escuridão, dia de nuvens e de negridão. – Sofonias 1.14-15
Portanto, diz o SENHOR, esperai por mim no dia em que eu me
levantar para saquear; porque o meu propósito é ajuntar
nações e reunir reinos, para derramar a minha indignação e
todo o furor da minha ira sobre eles; esta terra toda será
consumida pelo fogo do meu zelo [...] Canta alegremente, ó
filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te e exulta de todo o
coração, ó filha de Jerusalém. O SENHOR afastou a
condenação que havia contra ti, lançou fora o teu inimigo; o Rei
de Israel, o SENHOR, está no meio de ti; daqui por diante, não
temerás mal algum [...] O SENHOR, teu Deus, está no meio de
ti, poderoso para te salvar; ele se agradará de ti com alegria;
ele se renovará no seu amor e se alegrará em ti com júbilo [...]
Naquele tempo, agirei contra todos os que te afligem; salvarei o
aleijado e recolherei os dispersos; farei com que sejam
honrados e reconhecidos em toda a terra onde foram
envergonhados. Naquele tempo vos trarei, naquele tempo vos
recolherei; farei com que sejais reconhecidos e honrados entre
todos os povos da terra, quando, diante dos vossos olhos, eu
trouxer vossos cativos de volta, diz o SENHOR. – Sofonias
3.8,14-15,17,19-20
Esse evento é descrito repetidamente pelos profetas,[167] e
essas profecias ainda não foram cumpridas. Jerusalém sofreu várias
invasões, mas nunca uma invasão de múltiplas nações,
interrompida por Deus que, por sua vez, libera sua ira sobre essas
nações invasoras. Todos os cercos antigos que ocorreram em
Jerusalém terminaram com o sofrimento de Israel nas mãos das
nações, mas os profetas previram um cerco que terminará com a
salvação de Israel e as nações sendo julgadas por Deus com base
no tratamento que dispensaram a Israel. Esse é o evento ao qual
Mateus 25 se refere.
Jesus não está se referindo ao julgamento dos santos. Eles
serão reunidos com Jesus assim que ele aparecer nos ares, antes
de vir a Jerusalém.[168] Esse não é o julgamento de todo ser humano
que já viveu na Terra. É um evento que ocorrerá no retorno de
Jesus. Nesse dia, Jesus poderá julgar as nações conforme o que
fizeram a Jerusalém, porque o conflito do fim dos tempos que
ocorrerá em torno de Israel será uma expressão da ira das nações
contra Jesus.

As implicações do juízo de Jesus no fim dos tempos


O prenúncio de Jesus sobre seu juízo no dia de seu retorno foi
coerente com o que os profetas haviam previsto. Essa passagem é
a conclusão de Jesus para seu ensinamento mais longo sobre o fim
dos tempos, por isso ele espera que estejamos empenhados em
assimilar as profundas implicações que isso tem para a Igreja e para
as nações.
Quando observamos Mateus 25 com cuidado e sobriedade, à
luz de tudo o que a Bíblia diz sobre o retorno de Jesus e seu juízo
contra as nações, notamos uma previsão impressionante: antes do
retorno de Jesus, a dinâmica da vida na Terra mudará de tal
maneira que Jesus julgará as nações com base na resposta a uma
pergunta: qual foi a postura dessa nação em relação ao povo de
Israel em meio à crise do fim dos tempos?
Esse não será o único problema no final dos tempos. A Bíblia
descreve muitos outros sinais que poderão ser observados no fim
dos tempos. No entanto, a dinâmica específica envolvendo Israel
será o teste final que Jesus usará para executar o seu julgamento.
Vimos um pequeno exemplo disso no Holocausto nazista, mas o
conflito do fim dos tempos sobre o futuro de Israel será muito mais
intenso. O juízo de Jesus no fim dos tempos revela que Deus
responsabilizará as nações pela forma que reagiram à aliança de
Deus com Israel. Como veremos, as nações receberão um
testemunho dessa aliança por meio das Escrituras e do testemunho
dado pela Igreja.
A previsão de que Jesus pode julgar as nações com base em
sua resposta ao povo judeu durante a fúria do anticristo é
simplesmente impressionante. Ela revela três coisas sobre a crise
que se aproxima:
Indica a magnitude da crise do fim dos tempos. Algo está
chegando que está muito além de tudo o que podemos
imaginar.
A Igreja precisa entender o que a Bíblia diz sobre essa crise
e o julgamento das nações por Jesus. Esses versículos nos
foram dados para que possamos preparar a Igreja e as
nações para o que está por vir, antes que aconteça.[169]
A futura crise envolvendo Israel estará diretamente ligada à
contenda da Terra com Jesus, justificando a liberação do
juízo de Deus sobre as nações. O verdadeiro conflito na
Terra não é sobre Israel, é sobre Jesus. Precisamos
entender essa conexão para que possamos dar um
testemunho claro para as nações.
Nenhum dos conflitos anteriores sobre Israel desencadeou o
juízo de Deus sobre as nações. Algo muito além do que podemos
imaginar está chegando, algo que justificará a liberação dos juízos
de Deus no fim dos tempos. Existem dois desafios que enfrentamos,
que podem nos impedir de apreciar completamente a magnitude do
que está por vir. Um deles é assumir que tudo isso faz parte de um
discurso hiperbólico. No entanto, quando olhamos atentamente,
nenhuma dessas previsões foi cumprida anteriormente na história.
Se considerarmos as profecias que foram cumpridas, em detalhes,
na primeira vinda de Jesus, então devemos nos atentar com muita
seriedade para as passagens que se referem à segunda vinda.
O outro desafio é não compreender completamente a
magnitude dos conflitos anteriores sobre Jerusalém. Tendemos a ler
rapidamente os relatos da invasão babilônica ou da queda de
Jerusalém no ano 70 d.C., demonstrando desprezo e desinteresse
sobre as reais implicações desses eventos. Jeremias nos diz que o
cerco babilônico foi tão horrível que as mães estavam dispostas a
comer seus filhos. Quando sitiaram Jerusalém no primeiro século,
os romanos mataram mais de um milhão de pessoas crucificadas
(JOSEFO, 6:420). Não havia árvores suficientes para usar nas
cruzes (JOSEFO, 5:449-41). A tragédia foi tão grande que o
comandante romano Tito teria recusado uma coroa de louros por
sua vitória sobre Jerusalém, dizendo que "não havia mérito em
derrotar pessoas abandonadas por seu próprio Deus"
(FILÓSTRATO, 6.29).
Estamos tão desconectados do que realmente aconteceu no
Mundo Antigo que dificilmente tudo isso parece real para nós. No
entanto, para entender o que os profetas estão tentando nos dizer,
precisamos entender sobriamente o que aconteceu no passado.
Quando realmente sentimos o peso da história, as previsões feitas
pelos profetas se tornam muito mais reais e ameaçadoras. Se a
Bíblia deve ser lida literalmente, e a primeira vinda de Jesus mostra
que deve ser, estamos completamente despreparados para
enfrentar os dias que estão à nossa frente.
Alguns estudiosos tratam a linguagem entusiasmada dos
profetas como se fosse simplesmente uma linguagem hiperbólica,
que descreve um conflito primordialmente espiritual. No entanto, a
linguagem deles não é meramente hiperbólica. É a linguagem de
homens que não compreendiam totalmente as profecias que lhes
foram dadas a respeito dos momentos finais desta era, em que a
justiça e a iniquidade atingem a maturidade e entram em um conflito
sem precedentes. Deus quer que tratemos essas profecias com
seriedade.

Respondendo às palavras de Jesus


A Bíblia não diz que as nações de todas as gerações serão julgadas
de acordo com o entendimento dos planos e propósitos de Deus
para Israel, mas prevê que chegará um momento, pouco antes do
retorno do Senhor, quando ele exigirá que as nações concordem
com seus propósitos para Israel ou terão de enfrentar a sua ira. No
entanto, a maior parte da Igreja não entende que esse tempo está
chegando e poucos estão preparando a Igreja para essa crise.
Essas previsões nos foram dadas por dois motivos:
1. Para nos dar esperança e coragem sobre o futuro,
entendendo a vitória de Deus e o fim da resistência de Satanás.
2. Para nos tornar conscientes do que está por vir, para que
possamos cooperar com Deus em sua missão como um povo unido
no mesmo entendimento.
Devemos estudar o que as Escrituras dizem sobre a crise
vindoura para instruir os nossos filhos, as nossas igrejas e até as
nossas nações. Quando Jesus previu que julgaria as nações de
acordo com a resposta delas à crise do fim dos tempos em Israel,
ele não estava dizendo que Israel se tornaria a questão principal na
Terra. Ele estava dizendo que Israel, na última geração, se tornaria
um teste decisivo, que pode ser usado para testar as nações. Isso
significa que a crise em torno da salvação de Israel se tornará tão
grave que será um instrumento de teste confiável da resposta das
nações ao Messias de Israel.
Quando as nações se reunirem para o cerco final de
Jerusalém, isso será uma expressão clara da sua ira contra a
Jerusalém celestial e o Rei que nela habita. Será a expressão
máxima de ódio ao Deus de Israel, a seu método escolhido de
salvação e ao seu Rei escolhido. Temos de ser capazes de
comunicar aos outros por que uma crise que parece estar centrada
em Israel, na verdade, está realmente centrada no Rei de
Jerusalém.
A MISSÃO ANTES DO FIM

E m toda a Bíblia, Deus alertou as nações antes de liberar seus


juízos. Antes do dilúvio, Noé foi enviado como mensageiro.[170]
Antes de Deus tirar Israel do Egito, ele enviou Moisés para avisar
faraó. Moisés deixou claro para o faraó o que Deus queria, e o faraó
foi desafiado a responder. Embora o faraó tenha recusado o alerta
de Deus e sofrido seus juízos, o alerta, no entanto, foi dado. Antes
que os juízos de Deus viessem sobre Israel, ele enviou os profetas.
Deus até alertou as nações pagãs. A Assíria era uma nação ímpia e
gentia, mas Deus enviou Jonas para chamá-los ao arrependimento
antes que o juízo viesse.
Independentemente de as pessoas e as nações responderem,
Deus é fiel em dar um testemunho antes de liberar seus juízos. Os
apóstolos do Novo Testamento entenderam que a pregação do
evangelho e a Grande Comissão eram uma continuação desse
padrão. Portanto, eles fizeram mais do que evangelizar; eles
anunciavam os juízos de Deus no fim dos tempos e chamavam o
povo ao arrependimento.

Missões no Novo Testamento à luz do fim dos tempos


Ao considerarmos algumas passagens, podemos ver nitidamente
como os apóstolos do Novo Testamento trabalhavam de maneira
semelhante aos profetas do Antigo Testamento.
Os apóstolos alertaram as nações sobre os juízos vindouros do
fim dos tempos e o retorno de Jesus:
Ele nos ordenou que pregássemos ao povo e
testemunhássemos que por Deus ele foi constituído juiz dos
vivos e dos mortos. – Atos 10.42
Deus não levou em conta os tempos da ignorância, mas
agora ordena que todos os homens, em todos os lugares, se
arrependam, pois determinou um dia em que julgará o
mundo com justiça, por meio do homem que estabeleceu
com esse propósito. E ele garantiu isso a todos ao
ressuscitá-lo dentre os mortos. – Atos 17.30-31
Mas, segundo tua teimosia e teu coração que não se
arrepende, acumulas ira sobre ti no dia da ira e da revelação do
justo julgamento de Deus, que retribuirá a cada um segundo
suas obras. – Romanos 2.5-6 (grifo meu)
Terão de prestar contas àquele que está pronto para julgar os
vivos e os mortos. – 1 Pedro 4.5
Mas já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, tende
bom senso e estai alertas em oração. – 1 Pedro 4.7
Mas, pela mesma palavra, os céus e a terra de agora têm sido
guardados para o fogo, reservados para o dia do juízo e da
destruição dos homens ímpios. – 2 Pedro 3.7
A respeito deles também profetizou Enoque, o sétimo depois de
Adão, dizendo: O Senhor veio com seus milhares de santos,
para executar juízo sobre todos e convencer a todos os ímpios
de todas as ações de impiedade, que impiamente cometeram,
e de todas as palavras duras que ímpios pecadores proferiram
contra ele. – Judas 1.14-15
Os apóstolos prepararam a Igreja para enfrentar os juízos de
Deus:
Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os pensamentos
secretos dos homens, por Cristo Jesus, segundo o meu
evangelho. – Romanos 2.16
Porque foi com este propósito que Cristo morreu e tornou a
viver: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Mas tu,
por que julgas teu irmão? Ou, também, por que desprezas teu
irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus.
– Romanos 14.9-10
E, se o que alguém constrói sobre esse alicerce é ouro, prata,
pedra preciosa, madeira, feno ou palha, a obra de cada um se
manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será
revelada pelo fogo, e o fogo testará a obra de cada um. – 1
Coríntios 3.12-13
Pois é necessário que todos sejamos apresentados diante do
tribunal de Cristo, para que cada um receba retribuição pelo
que fez por meio do corpo, de acordo com o que praticou, seja
o bem, seja o mal. – 2 Coríntios 5.10
Desde agora a coroa da justiça me está reservada, a qual o
Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim,
mas a todos os que amarem a sua vinda. – 2 Timóteo 4.8
O Senhor também saberá livrar da provação os piedosos e
reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo
castigados. – 2 Pedro 2.9
Nisto o amor é aperfeiçoado em nós, para que tenhamos
confiança no dia do juízo, pois, assim como ele é, nós também
somos neste mundo. – 1 João 4.17
O ministério de Paulo em Tessalônica é um bom exemplo de
como os apóstolos comunicaram o evangelho. Em Tessalônica,
Paulo foi acusado de declarar a existência de um rei superior a
César:
Todavia, como não os encontraram, arrastaram Jasom e alguns
irmãos à presença das autoridades da cidade, gritando: Esses
homens que têm agitado o mundo chegaram também aqui, e
Jasom os acolheu. Todos eles procedem contra os decretos de
César, dizendo haver outro rei, Jesus. Assim, provocaram a
multidão e as autoridades da cidade que ouviram essas coisas.
– Atos 17.6-8
As autoridades da cidade ficaram perturbadas porque a
pregação de Paulo foi além da prática religiosa individual. Paulo
pregou Jesus como um Rei que viria com seus juízos e advertiu as
nações a se arrependerem e a se submeterem a Jesus antes de ele
vir com seus julgamentos. O ensinamento de Paulo nas igrejas era
muito semelhante. Paulo esteve em Tessalônica apenas por um
curto período de tempo, mas ele deu a essa nova igreja informações
detalhadas sobre o retorno de Jesus:
Porque vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor
virá como o ladrão, de noite [...] Mas vós, irmãos, não estais
nas trevas, de modo que aquele dia vos surpreenda como um
ladrão; porque todos sois filhos da luz e filhos do dia; não
somos da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como
os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios. – 1
Tessalonicenses 5.2,4-6
A prioridade do ministério de Paulo era alertar as nações e
preparar a Igreja para os juízos de Jesus no fim dos tempos. Paulo
simultaneamente advertiu as nações e preparou as igrejas para a
vinda de Jesus. Paulo viu isso como parte do seu chamado
missionário.
A carta de 1 João revela os ensinamentos dos apóstolos sobre
o retorno de Jesus e alguns dos detalhes que cercam sua segunda
vinda:
Filhinhos, esta é a última hora; o anticristo está vindo, já muitos
anticristos se têm levantado, conforme ouvistes; por isso,
sabemos que é a última hora. – 1 João 2.18
Assim conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa
que Jesus Cristo veio em corpo é de Deus; e todo espírito que
não confessa Jesus não é de Deus, mas é o espírito do
anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir, e
agora já está no mundo. – 1 João 4.2-3
João lembrou às pessoas que elas haviam sido ensinadas
sobre o anticristo vindouro. Isso revela que os apóstolos
valorizavam o ensinamento sobre o retorno de Jesus o suficiente
para dar à Igreja discernimento e entendimento sobre o que estava
por vir. João também associou seus ensinamentos sobre o anticristo
vindouro aos “muitos anticristos” na Terra agora. João lembrou à
Igreja que a crise do fim dos tempos é de natureza semelhante às
provações que a Igreja enfrentou e enfrenta ao longo da história.
Embora o fim dos tempos seja único em sua magnitude, houve
muitos anticristos e períodos de tribulação ao longo da história.
Podemos estar vivos ou não durante o reinado do anticristo, mas é
provável que durante nossa existência presenciaremos o governo
de pelo menos uma figura do anticristo. Essa é uma das chaves
para ensinar o fim dos tempos corretamente. Quando preparamos a
Igreja para a crise do fim dos tempos, também estamos preparando
a Igreja para responder adequadamente às crises de nossa
geração, mesmo que não vivamos a crise do fim dos tempos.

Vivendo à luz do retorno de Jesus


Embora a Igreja do primeiro século não tenha vivido para ver o
retorno de Jesus, ela viveu à luz desse retorno. A sua expectativa
do retorno de Jesus e a preparação para isso fizeram muito bem à
Igreja. Isso permitiu que ela criasse raízes diante de um ambiente
hostil e suportasse períodos de sofrimento.
Paulo continuou a estabelecer esse fundamento em todo o seu
ministério. Em 2 Timóteo, provavelmente a última carta de Paulo, ele
dá instruções específicas a Timóteo:
Eu te exorto diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar
os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino, prega a
palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende
e exorta com toda paciência e ensino. Porque chegará o tempo
em que não suportarão a sã doutrina; mas, desejando muito
ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo
seus próprios desejos; e não só desviarão os ouvidos da
verdade, mas se voltarão para as fábulas. Tu, porém, sê
equilibrado em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um
evangelista e cumpre teu ministério. – 2 Timóteo 4.1-5
Paulo encarregou Timóteo de pregar à luz do retorno de Jesus
e dos juízos que o acompanham. A frase “os vivos e os mortos” foi
usada pelos primeiros cristãos para descrever os juízos de Jesus
em seu retorno, segundo Lea & Griffin (1992). Knight (1992) resume
bem a motivação de Paulo: “Assim como a visão do juízo de Cristo
sobre todas as pessoas motivava Paulo, ele queria que isso
motivasse Timóteo”.
Paulo alertou Timóteo que tempos mais difíceis estavam
chegando e, por causa disso, ele deveria permanecer fiel em sua
tarefa. Podemos resumir os versículos de 1 a 4 desta maneira: à luz
dos juízos vindouros do Senhor e do engano que encherá a Terra,
prepare fielmente as pessoas para o que está por vir. Paulo deu a
Timóteo uma visão para o ministério pastoral que incluía a
preparação do povo para os eventos do fim dos tempos. Paulo
exortou Timóteo a ser firme e fiel neste ministério,
independentemente da época em que estava.
Paulo ordenou a Timóteo no versículo 5 que fizesse “a obra de
um evangelista”. Definimos evangelismo como anunciar o evangelho
aos incrédulos para que eles confessem a fé e experimentem o
novo nascimento. No entanto, não podemos aceitar essa definição
moderna e assumir que Paulo usou o termo exatamente da mesma
maneira que usamos. O entendimento de Paulo sobre evangelismo
– proclamação das boas novas – incluía todo o encargo que ele deu
a Timóteo.

A Grande Comissão é mais do que evangelismo


Paulo entendia que o objetivo do evangelismo era mais do que a
conversão das pessoas. Era proclamar o evangelho para que
algumas pessoas experimentassem a conversão, mas também
incluía alertar as pessoas sobre o juízo vindouro e preparar a Igreja
para o retorno de Jesus e tudo o que envolve e acompanha esse
retorno. Isso não minimiza a ação do ministério de evangelismo que
conduz as pessoas à conversão. Significa simplesmente que Paulo
entendia que a preparação das pessoas para o retorno do Senhor
era parte das ações de evangelismo.
Paulo entendia que a Grande Comissão era mais do que
evangelismo. Era uma ordem para discipular as nações e ensiná-las
a obedecer a tudo o que Jesus ensinou:
E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda autoridade me foi
concedida no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas
que vos ordenei; e eu estou convosco todos os dias, até o final
dos tempos. – Mateus 28.18-20
Temos a tendência de reduzir a Grande Comissão ao
evangelismo, mas Jesus nos ordenou que entrássemos nas nações
e ensinássemos as pessoas a "obedecer a tudo" o que ele havia
ordenado. Isso explica por que passagens como Mateus 24 e 25
são tão críticas. Elas fazem parte do que Jesus ordenou, por isso
precisamos discipular as nações, ensinando-as a obedecer a essas
passagens.
Além disso, porque Jesus é a divina Palavra de Deus,[171] todas
as Escrituras podem ser consideradas suas palavras. Portanto, o
mandamento de discipular as nações para obedecer a tudo o que
Jesus ensinou inclui ensinar as nações a estudar e obedecer a tudo
o que ele disse nas Escrituras. Isso inclui passagens como Joel 3 e
muitas outras que descrevem o juízo vindouro e os eventos que
envolvem o retorno de Jesus.

A obra missionária é mais do que evangelismo


Em nossa geração, a Igreja está mobilizando obreiros para concluir
a tarefa de evangelizar todas as tribos e línguas. Isso é
extremamente importante, mas a evangelização das nações é
apenas uma etapa das missões. Para cumprir a tarefa que Jesus
deu à Igreja, também devemos discipular as nações ensinando-as a
obedecer a tudo o que Jesus ordenou. O Holocausto é um alerta
chocante do que pode acontecer a uma Igreja despreparada e a
uma nação despreparada, quando não são ensinadas a obedecer a
tudo o que Jesus ordenou. À luz do que as Escrituras dizem, não
podemos nos dar ao luxo de estar despreparados para a crise final.
Alguns prepararam-se para o retorno do Senhor,
principalmente, tentando descobrir a data do retorno de Jesus ou
prever a identidade do anticristo, mas não foi isso que a Igreja do
primeiro século fez. Quando lemos o Novo Testamento,
identificamos uma forte ênfase no retorno de Jesus, mas os
escritores nunca interpretaram os eventos políticos do Império
Romano de acordo com suas expectativas do fim dos tempos. Eles
simplesmente proclamaram o que a Bíblia diz e viveram de acordo
com ela.
Preparar a Igreja para o retorno do Senhor não implica
essencialmente saber interpretar eventos políticos, mas
principalmente levá-la à maturidade. Preparar a Igreja para o retorno
do Senhor, de uma maneira bíblica, significa fortalecê-la para resistir
ao anticristo que se manifestará e também aos muitos anticristos
que já estão atuando na Terra.[172] Esse é um componente da obra
missionária.
Quando examinamos o ministério da Igreja no Novo
Testamento, podemos chegar a uma conclusão profunda: a obra
missionária vai além do evangelismo.
Quando pensamos em preparar as pessoas para o retorno do
Senhor, pensamos principalmente no discipulado, que as prepara
para viver em santidade e devoção pessoal. Isso é incrivelmente
importante, mas é apenas o começo da preparação das pessoas
para o retorno do Senhor. Os apóstolos estudaram o que as
Escrituras dizem sobre os eventos que acompanharão o retorno do
Senhor e ensinaram com ousadia, preparando o povo para esse
grande dia.
Devemos entender e ensinar os principais temas bíblicos sobre
o retorno do Senhor para que a Igreja esteja preparada e as nações
sejam advertidas a se arrependerem, antes que o grande e terrível
dia chegue. Quando falamos sobre juízo, tendemos a falar sobre
isso em termos gerais, mas as Escrituras nos dão muitos detalhes
específicos sobre os juízos futuros. Somos chamados a estudar e
conhecer esses detalhes.

Missões existem para preparar as nações para o retorno de


Jesus
Mateus 24.14 tornou-se um grito de guerra para as missões em
muitas igrejas:
E este evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro,
para testemunho a todas as nações, e então virá o fim. –
Mateus 24.14
Esse versículo é um dos fundamentos das missões modernas,
mas precisamos vê-lo dentro de um contexto para entender tudo o
que está implícito nele. Ele está em um contexto maior (Mateus 24 e
25) que examinamos no capítulo anterior. Esse contexto deve
influenciar nossa compreensão do que é necessário para cumprir o
versículo. Também vimos que a Igreja primitiva interpretou as
missões como a tarefa de preparar as nações para o retorno de
Jesus. Esse paradigma também deve afetar a maneira como vemos
Mateus 24.14.
A prática da Igreja primitiva demonstrou que as instruções
sobre o retorno de Jesus deveriam ter uma aplicação missionária,
porque Jesus quer que preparemos as nações para o seu juízo. A
estrutura geral do sermão de Jesus em Mateus 24 e 25 enfatiza a
natureza missionária do sermão. Aqui está a estrutura do sermão
sob uma perspectiva missionária:
Mateus 24.4-14: introdução de Jesus.
Mateus 24.15-35: eventos principais do fim dos tempos.
Mateus 24.36–25.30: instruções e parábolas sobre como se
preparar para os eventos do fim dos tempos.
Mateus 25.31-46: o julgamento das nações por Jesus no fim
dos tempos.
Em sua introdução, Jesus deu sinais específicos dos tempos
que a Igreja enfrentaria ao longo da história. Esses sinais
aumentariam à medida que entrássemos no fim dos tempos. Essa
seção ensina que a preparação é valiosa em todas as gerações,
porque cada geração enfrentará uma medida de perseguição
semelhante à perseguição do fim dos tempos. Foi isso que o
apóstolo João quis dizer quando disse que havia "muitos
anticristos".[173]
Jesus concluiu sua introdução em Mateus 24.14 com a
previsão de que o fim dos tempos não chegaria até que um
testemunho do evangelho do reino fosse dado em toda a Terra. O
evangelho do reino é uma declaração sobre o fim dos tempos.
Quando falamos de Jesus como Rei, não estamos apenas dizendo
que Jesus é um líder espiritual. Estamos dizendo que ele é o
governante legítimo da Terra, que virá para se assentar em um trono
real em Jerusalém, para cumprir tudo o que Deus prometeu e
destruir tudo o que se opõe aos propósitos de Deus.
Não apenas o evangelho de Jesus como Rei deve ser
proclamado, mas também deve ser dado como testemunho, que é
uma referência à função de um arauto. Um arauto entrava na cidade
antes do rei, anunciando sua vinda, e preparava a cidade para a
entrada do rei. Os discípulos entenderam o que Jesus estava
dizendo. A Igreja deve se tornar seu “arauto” para todas as nações,
anunciando sua vinda e instruindo a Terra a se preparar para a sua
vinda. Esse era o trabalho de um arauto, e Jesus comissionou seu
povo para desempenhar essa função em seu nome. (Paulo
descreveu os apóstolos como "embaixadores" por razões
semelhantes.)[174]
Para cumprir Mateus 24.14, precisamos preparar as nações
para a previsão de Jesus em Mateus 24.15:
Quando virdes no lugar santo a abominação assoladora, da
qual falou o profeta Daniel, quem lê, entenda. – Mateus 24.15
Na Nova Versão Internacional, esse versículo começa com
“Assim”. Trata-se de um conectivo que faz com que Mateus 24.15
seja a consequência de Mateus 24.14. Em outras palavras, Mateus
24.14 prepara a Terra para Mateus 24.15 e para os eventos que se
seguem. Esse versículo é uma declaração da grande bondade de
Deus. Ele não permitirá que o anticristo surja e que o drama do fim
dos tempos comece até que as nações estejam preparadas e
recebam um testemunho dado pela Igreja.
A Igreja do primeiro século entendeu isso. Eles prepararam a
Igreja para o retorno de Jesus e avisaram às nações que Jesus
estava vindo com seus juízos. Precisamos entender os principais
temas da visão geral de Jesus sobre os eventos do fim dos tempos
em Mateus 24.15-35 e o julgamento das nações em Mateus 25.31-
46, porque parte da responsabilidade da obra missionária é preparar
as nações para esses eventos. Por ser muito bondoso, Deus não
permitirá que os eventos do fim dos tempos comecem antes que as
nações sejam advertidas e preparadas.
Essa é uma das razões pelas quais os juízos de Jesus no fim
dos tempos são tão severos. Antes do início do fim dos tempos, a
Igreja dará às nações um alerta poderoso do que está por vir. Assim
como Moisés deixou claro para faraó quais eram as exigências
divinas antes de Deus lançar seus juízos no Egito, a Igreja declarará
a beleza de Jesus e a vinda de seus juízos futuros de tal maneira
que as nações não terão desculpa em seu retorno. A ira das nações
no fim dos tempos não é apenas uma manifestação do pecado, é
uma completa rejeição do evangelho do reino que terá sido
proclamado em todas as nações.

A preocupação de Paulo pelas igrejas gentílicas


O ministério de Paulo demonstra que ele trabalhou para preparar as
igrejas gentílicas para o juízo de Jesus (Mateus 25.31-46),
conectando-as à igreja de Jerusalém de forma prática. Antes de sua
primeira viagem missionária, Paulo viajou de Antioquia a Jerusalém
para entregar uma oferta financeira de uma igreja
predominantemente gentílica aos crentes na Judeia:
E os discípulos, cada um conforme suas posses, resolveram
enviar ajuda aos irmãos que habitavam na Judeia. – Atos 11.29
Em sua carta aos Gálatas, Paulo descreveu sua alegria em
chamar as igrejas gentílicas para ofertar aos crentes em Jerusalém:
E quando reconheceram a graça que me havia sido dada,
Tiago, Cefas e João, considerados colunas, estenderam a mão
direita da comunhão a mim e a Barnabé, para que fôssemos
aos gentios, e eles, à circuncisão. E nos recomendaram
somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também
procurei fazer com cuidado. – Gálatas 2.9-10
Paulo foi convidado a "se lembrar dos pobres", e esta frase é
uma forma abreviada de se referir aos pobres de Jerusalém
(GEORGE, 1994). Quando os apóstolos pediram a Paulo que se
lembrasse deles, os apóstolos em Jerusalém não estavam exigindo
apoio das igrejas gentílicas. Os apóstolos queriam ver uma profunda
amizade entre judeus e gentios. Eles ouviram Jesus ministrar o
ensinamento de Mateus 25 e reconheciam a importância de os
gentios permanecerem conectados ao povo judeu de forma prática.
Esses pequenos passos práticos foram determinados com esse
propósito, para que a Igreja estivesse preparada para a crise do fim
dos tempos.
Em 1 Coríntios, Paulo também incentivou a igreja de Corinto a
ofertar para a igreja de Jerusalém:
Quanto à coleta para os santos, fazei vós também o mesmo
que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana,
cada um de vós separe o que puder, de acordo com o seu
ganho, e o guarde, para que não se façam coletas quando eu
chegar. Quando eu chegar, enviarei, com carta de
recomendação, os que aprovardes para levarem a vossa
contribuição para Jerusalém. – 1 Coríntios 16.1-3
Paulo falou extensamente sobre essa coleta em 2 Coríntios 8 e
9 e abordou esse assunto em sua carta aos Romanos. Paulo
também deu um ensinamento magistral em Romanos de 9 a 11,
alertando fortemente a igreja gentílica para não se tornar arrogante:
E se alguns ramos foram cortados, e tu, sendo oliveira
silvestre, foste enxertado entre os outros ramos e feito
participante da raiz e da seiva da oliveira cultivada, não te
glories contra os ramos. Mas se te gloriares contra eles,
lembra-te de que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a
ti. – Romanos 11.17-18
Paulo sabia que o fracasso de Israel em responder ao
evangelho poderia facilmente resultar em crentes gentios se
tornando arrogantes em relação a Israel e sua incredulidade. Ele
sabia que uma igreja gentílica arrogante seria facilmente enganada
pelo inimigo e negligenciaria seu chamado para ministrar ao povo
judeu. Tragicamente, a história da Igreja confirmou as preocupações
de Paulo. Portanto, Paulo incentivou a igreja de Roma a
praticamente semear no povo judeu:
Porque pareceu bem às igrejas da Macedônia e da Acaia
levantar uma oferta fraternal para os pobres dentre os santos
de Jerusalém. Isso lhes pareceu bem, como devedores que são
para com eles. Porque, se os gentios participaram das bênçãos
espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens
materiais. – Romanos 15.26-27
O fato de Paulo ter tratado desse assunto em várias cartas
endereçadas a várias cidades mostra quão significativa era para ele
a oferta direcionada aos santos em Jerusalém. Ele não exigiu uma
oferta dos gentios como algum tipo de imposto espiritual para a
igreja-mãe. Ele pediu uma oferta voluntária, de amor e carinho.
Paulo tinha uma preocupação genuína pelas necessidades da igreja
de Jerusalém, mas essa oferta era mais do que uma resposta a uma
necessidade temporária.
Parte da ênfase de Paulo em servir à igreja de Jerusalém de
forma prática resultava de seu entendimento sobre a crise do fim
dos tempos. Ele entendeu que parte de seu trabalho era preparar os
gentios para amar e servir a Israel. Ele sabia que Israel seria o teste
final para as nações nos últimos dias e estava trabalhando entre os
gentios para que seus corações fossem afetuosos e conectados a
Israel de maneiras práticas, para que os gentios estivessem
preparados quando chegasse a hora. Paulo priorizou o apoio aos
crentes em Jerusalém, indicando que o relacionamento mais
importante entre os gentios e Israel era o relacionamento entre
crentes gentios e judeus.

Preparando a igreja gentílica


Paulo compartilhou sua profunda angústia pela salvação de
Israel[175] e chamou os gentios a terem esse mesmo encargo.[176] Em
seu comentário sobre Gálatas, Timothy George (1994) faz a
seguinte observação:
J. Munck, entre outros, interpretou a coleta paulina pelo ponto
de vista da esperança escatológica do apóstolo da conversão
de Israel. Foi sugerido que possivelmente Paulo esperava que,
ao entregar uma grande soma em dinheiro coletada das igrejas
gentílicas, seria desencadeada uma conversão em massa de
muitos judeus em Jerusalém, preparando assim o caminho
para o alvorecer da era messiânica.
Ao nos aproximarmos do final do livro de Atos, descobrimos
que a salvação de Israel continuava sendo um profundo anseio do
coração de Paulo:
Por essa razão vos convidei, para vos ver e falar. Pois estou
preso com esta corrente por causa da esperança de Israel. –
Atos 28.20
A Igreja do primeiro século compreendeu a responsabilidade
dos gentios de servir ao povo judeu e levou isso muito a sério. Seu
paradigma centrado em Israel, em que a igreja gentílica não era
uma entidade completamente nova, mas a inclusão das nações nos
propósitos de Deus para Israel, fazia do ministério dos gentios aos
judeus uma prioridade. A sua preocupação pelas igrejas gentílicas
nos mostra que a advertência de Jesus em Mateus 25.31-46 foi
compreendida literalmente pelos apóstolos. Eles entenderam e
ensinaram que os gentios têm uma responsabilidade em relação a
Israel. Dada a proximidade dos apóstolos com Jesus, suas ações
determinaram a maneira pela qual a Igreja do primeiro século
entendia Mateus 24 e 25.
Os apóstolos enfatizaram ações práticas, porque quando Jesus
julgar as nações, ele considerará a resposta prática que as nações
deram a Israel. Da mesma forma, precisamos não apenas discipular
as nações em relação aos ensinamentos biblicamente corretos, mas
também instruí-las na prática biblicamente correta. É por isso que
passagens como Mateus 24 e 25 não são opcionais. Elas devem
moldar e afetar a maneira como fazemos missões e como
discipulamos as nações. O fim dos tempos não vai testar apenas o
que as pessoas acreditam; vai testar o que as pessoas fazem,
porque essa é a verdadeira medida do que elas acreditam.
Vimos como a Bíblia prediz que Jerusalém, a salvação de Israel
e o Rei de Israel se tornarão uma controvérsia global que afetará
todas as nações. Isso é especialmente importante para nós, porque
agora vivemos na primeira geração da história da humanidade em
que a questão de Israel se tornou uma controvérsia global. Isso
nunca aconteceu antes na história.
Os cristãos tendem a reconhecer o papel significativo que Israel
desempenhou ao longo da história da redenção por causa da
maneira como a Bíblia se concentra em sua história. No entanto, no
Mundo Antigo, a grande maioria das nações da Terra não tinha
interesse no que estava acontecendo no Oriente Médio. Os eventos
mais dramáticos da Bíblia foram todos eventos regionais que
tiveram muito pouco impacto fora daquela região. O mundo em que
vivemos é dramaticamente diferente. A questão de Israel e
Jerusalém agora se tornou uma questão global. Todos os
continentes estão envolvidos. Nações a milhares de quilômetros de
distância têm interesse em Jerusalém e opiniões ousadas sobre o
que deve ser feito a essa cidade.
Não há uma explicação natural para que Israel tenha tanto
destaque no cenário global. Jerusalém não tem uma grande reserva
de petróleo. Não é um centro financeiro e comercial global. Embora
Deus tenha abençoado essa região de várias maneiras,
simplesmente não há razão lógica para Jerusalém e Israel serem
uma questão global. Alguns dizem que isso tem a ver com a
situação humanitária relacionada aos palestinos, o que chama a
atenção, mas há crises humanitárias muito maiores no mundo que
são praticamente ignoradas. As realidades geopolíticas
simplesmente não justificam o foco obtuso das nações em
Jerusalém.
As Nações Unidas são apenas um exemplo. Em 2016, a ONU
adotou vinte resoluções contra Israel e apenas seis contra o resto
das nações juntas (UN WATCH, 2016). Isso não é novidade. Em
2015, a ONU adotou vinte resoluções contra Israel e apenas três
contra o restante do planeta (UN WATCH, 2015). Quando
consideramos os eventos geopolíticos de 2015 e 2016, é
simplesmente inacreditável que os líderes globais da terra
considerem adequado gastar exponencialmente mais tempo com a
questão de Israel do que com outras calamidades que afetam
milhões de pessoas.
Atualmente, estamos enfrentando a maior crise humanitária
desde a Segunda Guerra Mundial, com mais de vinte milhões de
pessoas em risco de morrer de fome (PARKS, 2017). Ditadores e
pretensos ditadores ao redor do mundo estão fazendo ameaças e,
em alguns casos, tomando ações concretas para anexar território de
outras nações. Nações inteiras se desintegraram, dividindo-se entre
facções étnicas, religiosas e políticas. O terrorismo radical islâmico
desencadeou uma inacreditável carnificina. Existem milhões de
refugiados na Terra. Em meio a todas essas crises, que desafiam
dezenas de nações, a ONU coloca o foco em Israel como a questão
que mais precisa ser abordada. Isso simplesmente não tem uma
explicação racional além do que a Bíblia diz que acontecerá.
A Bíblia prevê que o Oriente Médio se tornará o centro dos
eventos mundiais no fim dos tempos. A história global vai voltar ao
local onde começou. Em nossa geração, a situação do Oriente
Médio está começando a afetar a Terra como nunca afetou. A
economia global é afetada pelo Oriente Médio por causa do
petróleo. O islamismo radical transformou-se de uma religião
regional a um desafio global. A crise dos refugiados no Oriente
Médio está perturbando as nações e desafiando o mundo. Temos
que reconhecer o que está acontecendo. Lentamente, o cenário
está sendo montado para um drama no Oriente Médio que vai
capturar a atenção do mundo inteiro, como a Bíblia prediz.
Essa tempestade crescente simplesmente não faz sentido à
parte das realidades espirituais. Há algo muito maior acontecendo,
que vai além do que vemos nas manchetes dos jornais. Os eventos
geopolíticos que estão se desenrolando agora são indicadores de
uma história maior e a Bíblia nos diz para onde a história está indo e
como será resolvida.
Embora não saibamos quando os eventos previstos pela Bíblia
acontecerão, devemos saber que agora vivemos, pela primeira vez
na história da humanidade, um momento no qual esses eventos são
possíveis. Isso significa que precisamos entender o que a Bíblia diz,
trabalhar para estabelecermos uma Igreja madura, que possa ser
fiel no meio da crise do fim dos tempos, e alertar as nações sobre a
necessidade de responder positivamente ao evangelho.
O Holocausto surgiu de repente para as nações. No entanto, a
crise do fim dos tempos está se formando nas nações, e não
podemos dizer que não tivemos tempo para nos preparar. Não é
sensato tentar cronometrar essa crise. Pode levar um longo tempo
para que aconteça ou pode surgir rapidamente. É sábio, no entanto,
reconhecer que agora vivemos na primeira geração da história da
humanidade na qual os eventos profetizados sobre a crise do fim
dos tempos podem se cumprir. Isso deve afetar a forma como
estudamos a Bíblia, como pastoreamos a Igreja e como fazemos
missões.
COMO RESPONDER ÀS PROFECIAS

D eus nos deu uma quantidade tremenda de informações sobre


como ele cumprirá suas promessas. Ele fez isso porque ama
nos fazer participantes do seu plano. Ele agirá em estreita
colaboração com e por meio de seu povo para preparar a Terra para
o retorno de Jesus. Essas previsões nos fornecem um roteiro para
as missões mundiais. Da mesma forma que saber qual é o destino
nos ajuda a planejar uma viagem, quando sabemos a direção para
onde está indo a história da redenção, podemos cooperar com Deus
em seus propósitos para a Terra.
Por exemplo, quando lemos Mateus 24.14, Mateus 28.19,
Apocalipse 5.9 e Apocalipse 7.9, descobrimos que Deus quer que o
evangelho seja pregado a todos os povos:
E este evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro,
para testemunho a todas as nações, e então virá o fim. –
Mateus 24.14
Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. – Mateus 28.19
E cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de tomar o
livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu
sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua,
povo e nação. – Apocalipse 5.9
Depois dessas coisas, vi uma grande multidão, que ninguém
podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em
pé diante do trono e na presença do Cordeiro, todos vestidos
com túnicas brancas e segurando palmas nas mãos –
Apocalipse 7.9
Somente Deus pode cumprir as profecias, mas o seu conteúdo
nos revela detalhes sobre a Igreja do fim dos tempos e nos orienta
sobre como fazer missões. A Igreja será composta de pessoas de
todas as tribos e línguas. Ela será uma Igreja unificada e madura.
Ela será uma Igreja alinhada com os propósitos de Deus para Israel.
Ela se expressará em oração e adoração extravagantes. Todas
essas descrições da Igreja do fim dos tempos nos são dadas para
que possamos ser participantes da obra que Deus fará para que a
Igreja atinja esse nível de maturidade.
Estamos acostumados a ler as profecias apenas para ter
conhecimento, mas na verdade elas são um convite. Somos
convidados a ser participantes da missão de Deus. A profecia
contém instruções para a Igreja. Reconhecemos isso em passagens
como Mateus 24.14, Apocalipse 5.9 e Apocalipse 7.9, mas
precisamos começar a ler todas as profecias da Bíblia da maneira
como lemos esses versículos.

Cada geração deve estar preparada


A Bíblia instrui a Igreja a estar preparada para o retorno de Jesus a
cada geração. Os apóstolos nos alertaram que muitos anticristos
viriam. Quando olhamos para a história, vemos que o drama do fim
dos tempos se desenrola repetidamente em uma escala muito
menor. As nações ficam sob o domínio de líderes como o anticristo
até que o Senhor os derrube. Então, o ciclo se repete.
Em cada geração podem surgir vários anticristos na Terra,
exigindo lealdade dos seus habitantes. Quando preparamos a Igreja
para o retorno de Jesus, estamos preparando a Igreja para ser bem-
sucedida em cada geração.
Podemos resumir a preparação da Igreja em duas tarefas
principais:
1. Apresentar o retorno de Jesus como a grande esperança da
Igreja e falar de Jesus de modo que o nosso coração anseie por ele
e seu retorno.
2. Preparar a Igreja para ser fiel a Jesus, resistindo ao mal e ao
homem mais iníquo da história.
Quando nos dedicamos a essas duas tarefas, fortalecemos a
Igreja em cada geração. Quando depositamos nossa esperança no
retorno de Jesus, isso impede a Igreja de cair no engano, não
importa se ela será provada por um contexto de conveniência e
conforto ou de sofrimento e angústia. A manifestação do anticristo
trará prosperidade[177] e tribulação. Ambos são testes para os quais
devemos estar prontos.
Deus usa pequenas tribulações para levar sua Igreja à
maturidade antes da Grande Tribulação. Ao estudarmos o fim dos
tempos da maneira que Deus planejou que o estudássemos,
estamos nos preparando para participarmos da sua missão e para
vencermos os anticristos de nossa geração. A superação dos
anticristos em cada geração fortalece a Igreja e a prepara para
enfrentar o último anticristo.

Buscar o conhecimento de Deus


O objetivo principal ao estudar o fim dos tempos é crescer no
conhecimento de Deus, porque Deus se revela no que faz. Isso
inclui o que ele fez e o que ele fará. Ao estudarmos o que Deus fará,
nosso amor por ele aumentará. Vemos sua fidelidade e seu
compromisso com suas promessas. Ficamos impressionados com
sua paciência para com Israel e as nações.
Aprendemos sobre suas emoções ao ler os oráculos dos
profetas. As informações que a Bíblia nos fornece sobre o fim dos
tempos são importantes e queremos conhecê-las. Mas o objetivo
principal de qualquer estudo do fim dos tempos é crescer no
conhecimento de Deus. Quando estudamos o fim dos tempos
corretamente, amamos mais Jesus. E esse deve ser nosso foco e
objetivo. É isso que nos permitirá confiar nele, mesmo em meio ao
sofrimento.
O estudo do fim dos tempos é relacional e missional
O fim dos tempos pode ser confuso se visto de forma isolada do
panorama da história da redenção. No entanto, quando entendemos
os principais componentes dessa história, podemos ver claramente
as coisas que precisam ser concluídas antes que a presente era
termine.
Compreender o panorama da história da redenção pelas lentes
das promessas de Deus para Israel e as nações nos proporciona
uma estrutura básica para entender os principais temas da Bíblia.
Sob essa estrutura, podemos compreender melhor a história do fim
dos tempos e os detalhes que a Bíblia nos oferece. Compreender a
história da redenção sob essa perspectiva também nos ajuda a
entender a obra de Deus em nossa própria geração, porque as
questões geopolíticas da Terra só fazem sentido quando vistas pela
perspectiva bíblica. Deus está envolvido com as nações agora,
como sempre esteve.
O principal objetivo de se estudar o plano de Deus não é
apenas crescer em conhecimento. Não se trata de uma busca
acadêmica por informações irrelevantes. Queremos entender o que
Deus disse sobre seu plano, para que possamos nos envolver e
cooperar com ele. O estudo do fim dos tempos é fundamentalmente
relacional e missional.
É relacional porque nos faz crescer em amor por Jesus.
Quando estudamos o drama do fim dos tempos, descobrimos um
aspecto da pessoa de Jesus que não vemos em nenhum outro
lugar. Ele se torna mais bondoso, mais majestoso e mais formoso
aos nossos olhos.
É missional porque nos dá o entendimento para melhorarmos
nossa cooperação com Deus em sua missão. Podemos ser
participantes do seu plano, mesmo tendo muito pouco entendimento
do que a Bíblia diz sobre o retorno de Jesus, mas quanto mais
compreendermos, nossa participação será mais efetiva pois
estaremos mais bem preparados para os dias que virão. Dias de
poder e glória, diferentes de tudo o que já vimos até então.
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SOBRE O AUTOR

Samuel Whitefield atua primariamente no


ministério de intercessão no contexto de oração dia e noite. Ele
também é escritor e palestrante, além de diretor do ministério
OneKing, que ajuda a conectar a Igreja global aos propósitos de
Deus para Israel e para as nações. É parte da equipe de liderança
sênior da Casa de Oração Internacional de Kansas City (IHOPKC) e
docente da Universidade IHOP.
Para mais informações, visite: www.samuelwhitefield.com
[1]
Ver João 19.30.

[2]
Ver Mateus 24.14; 28.19; Atos 1.6-8; Apocalipse 5.9; 7.9.
[3]
Por exemplo, em 2017 a Organização das Nações Unidas (UN WATCH, 2015,
2016, 2017) adotou vinte e uma resoluções contra Israel e seis contra o resto do
mundo. Em 2016, a ONU adotou vinte resoluções contra Israel e seis contra o
resto do mundo e, em 2015, adotou vinte contra Israel e três contra o restante das
nações. Veja fontes no final em Referências bibliográficas.
[4]
Ver Mateus 24.32-33; 1 Tessalonicenses 5.1-6.
[5]
Com base no número de palavras nos idiomas originais, o Antigo Testamento
representa aproximadamente 80% da Bíblia.
[6]
Ver João 13.23; 19.26; 20.2; 21.7,20.
[7]
Ver João 13.23.
[8]
Ver João 13.23-25.
[9]
Ver João 7.18; 8.49-50.
[10]
Ver Mateus 6.9; 10.29-31; João 1.18; 17.11,24-26.
[11]
Ver Salmo 2.7-9; 110.1-2; Isaías 9.6-7; 11.10; 42.1; Daniel 7.13-14; Mateus
3.17; 17.5; Lucas 9.35; João 5.22-23,27,37; Efésios 1.9-10; 20-23; Filipenses 2.9-
11; Hebreus 1.1-6; 2 Pedro 1.17; Apocalipse 5.6-9.
[12]
Ver também João 17.11,21-23.
[13]
Uma lista com 150 capítulos sobre o fim dos tempos [em inglês] pode ser
encontrada em: www.mikebickle.org/resources/resource/2888.
[14]
Ver 1 Coríntios 1.18.
[15]
Ver Atos 1.11; Atos 28.20; Romanos 8.18-25; 1 Coríntios 15.19; Gálatas 5.5; 1
Tessalonicenses 2.19; Tito 2.13; Hebreus 10.37; 1 Pedro 1.13; 2 Pedro 3.4-14; 1
João 3.2-3.
[16]
Ver 2 Pedro 3.11-14; 1 Timóteo 6.14-16; 2 Timóteo 1.12.
[17]
N.T.: As notas de referências bibliográficas estão todas no final
do livro.
[18]
Ver também Isaías 65.17; 66.22; 1 Coríntios 15.24; 2 Pedro 3.13; Apocalipse
21.1-4.
[19]
Ver Mateus 24.32-33.
[20]
Ver Mateus 24.36-37.
[21]
Ver Mateus 28.20.
[22]
Ver Mateus 28.20 .
[23]
Por esse motivo, essas promessas, às vezes, são chamadas de promessas
unilaterais, ou seja, dependem apenas da capacidade de uma das partes. Outros
se referiram a elas como promessas incondicionais, porque Deus está vinculado a
elas, independentemente do desempenho do homem.
[24]
Esta seção é uma forma revisada e resumida de “A Base do Evangelho – A
Promessa de Abraão”, do livro Único Rei: uma resposta cristocêntrica à questão
de Sião e o povo de Deus. É usada com a permissão da Forerunner Publishing. O
leitor encontrará ali uma discussão mais ampla e completa sobre essas
promessas.
[25]
Ver Romanos 4.3.
[26]
Ver Gálatas 3.29.
[27]
Ver Gênesis 15.8.
[28]
Ver Provérbios 14.34.
[29]
Ver o Salmo 37.
[30]
Ver Gênesis 15.4.
[31]
Ver Mateus 23.39; 24.30; Atos 1.6.
[32]
Ver Mateus 24.14; 28.19; Atos 1.6-8; Apocalipse 5.9; 7.9.
[33]
Ver Romanos 11.20,23-27.
[34]
Ver Eclesiastes 4.12.
[35]
Ver Efésios 2.5; João 3.3-7.
[36]
Ver Romanos 4.3.
[37]
A justiça bíblica inclui a ideia de que é necessário ser fiel para cumprir suas
promessas.
[38]
Em algumas traduções, aparece o termo “forno”.
[39]
Ver Gálatas 3.16.
[40]
Ver Gênesis 12.11-13; 20.2-3.
[41]
Ver Deuteronômio 30.1-6; Isaías 4.3; 45.17,25; 54.13; 59.21; 60.4,21; 61.8-9;
66.22; Jeremias 31.34; 32.40; Ezequiel 20.40; 36.10; 39.22,28-29; Joel 2.26;
Sofonias 3.9,12-13.
[42]
Ver Gênesis 12.1-3,7; 13.15; 17.7-8,19; 26.3; 28.3-4; 35.9-15; Levítico 26.42;
Deuteronômio 32.43; 1 Crônicas 16.17-18; Salmo 105.10-11; Isaías 32.17-18;
60.21; Jeremias 24.6; 32.40-41; Ezequiel 11.17; 36.26-28; Amós 9.15.
[43]
Ver Gênesis 12.3; Deuteronômio 32.21; Salmo 22.27; Isaías 24.14-16; 42.10-
12; 49.6; 56.6-7; 60.1-3; 65.1; Jeremias 16.19-21; Amós 9.11-12; Zacarias 2.11;
14.16; Malaquias 1.11.
[44]
Ver Jeremias 30.7; Daniel 12.1; Joel 2.2; Mateus 24.21.
[45]
Ver Êxodo 34.10; Deuteronômio 30.1-10; Isaías 11.11-16; Jeremias 3.16-17;
16.14-15; 23.7-8; 30.8-31; Joel 3; Zacarias 14.
[46]
A ênfase dos profetas do Antigo Testamento em Jerusalém e no trono de
Israel revela seu foco na aliança de Davi como solução para a crise de Israel. Ver
Salmo 132.11; 89.3-4; Isaías 2.1-4; 9.6-7; 16.5; 24.23; 32.1-2; 33.22; 40.1-11;
52.7-15; 65.19; Jeremias 23.5-6; 33.17-26; Ezequiel 37.24-28; 48.35; Daniel 7.27;
Joel 3.17,20-21; Amós 9.11-12; Miqueias 4.1-5; 5.2-5; Sofonias 3.14-20; Zacarias
9.9; 14.1-21.
[47]
Ver Atos 2.1-4; Gálatas 3.2,5-6.
[48]
Ver Isaías 44.3-4; 59.21; Ezequiel 36.27; 37.14; 39.29; Joel 2.28-29; Zacarias
12.10; Lucas 11.13; Romanos 8.9,14-16; 1 Coríntios 3.16; Gálatas 5.5,22-23;
Efésios 1.13-14; 2 Tessalonicenses 2.13; Tito 3.3-6; 1 Pedro 1.2,22; 1 João 3.24.
[49]
Ver Isaías 53.1-11; 63.1-6.
[50]
Ver Jeremias 31.34.
[51]
Ver Jeremias 31.35-37; 33.19-22.
[52]
O Salmo 105 e Jeremias 11.5 são outros dois exemplos.
[53]
Ver Isaías 11.11-12,16; 12.2; 25.1; 43.16-17; 51.10-15; Jeremias 16.14-15;
23.7-8.
[54]
Ver Isaías 4.3; 32.17-18; 45.17,25; 54.13; 59.21; 60.4,21; 61.8-9, 66.22;
Jeremias 24.6; 31.34; 32.40-41; Ezequiel 11.17; 20.40; 36.10,26-28; 39.25-28;
Joel 2.26; Amós 9.15; Sofonias 3.9,12; 12.13.
[55]
Ver Zacarias 9.9; Mateus 21.1-11.
[56]
Ver Mateus 24.3.
[57]
Ver Mateus 28.19; Atos 1.8; Apocalipse 5.9; 7.9.
[58]
A palavra “terra” em Mateus 24 é uma palavra flexível que pode se referir ao
planeta Terra (com o sentido de “o mundo inteiro”) ou a “uma porção específica de
terra”. O contexto determina a maneira como a palavra deve ser entendida. Nesse
caso, é uma citação de Zacarias 12 que se refere a uma porção específica da
terra, a saber Judá.
[59]
Ver Marcos 8.33; 10.42-43; Lucas 9.41,49-50,54-55.
[60]
Ver Atos 28.20.
[61]
Ver Romanos 9.1-3; 11.29.
[62]
Ver Deuteronômio 32.21; Romanos 10.19-21; Isaías 65.1-2; Romanos 11.1,11-
12,15,25-31.
[63]
Ver Romanos 11.7.
[64]
Ver Êxodo 32.10.
[65]
Ver Isaías 34, 63; Joel 3; Zacarias 12–14; Apocalipse 11.
[66]
Ver Daniel 7.21; Jeremias 31.31-40; Zacarias 12.10; Mateus 23.39; 24.30;
Romanos 11.25-26; Apocalipse 1.7; 12.17.
[67]
Ver Mateus 24.14; Romanos 10.19-21; Apocalipse 5.9; 7.9.
[68]
Isso varia desde a atitude negativa que muitos cristãos têm em relação à lei
até os exemplos mais extremos, como o dispensacionalismo clássico. O
dispensacionalismo clássico era um sistema teológico com dois povos de Deus –
Israel e a Igreja – e dois planos diferentes de salvação para cada um deles.
Embora não seja mais generalizado, teve um impacto significativo na maneira
como as pessoas viam Israel no século 20.
[69]
Ver Êxodo 19.1–20.21. A aliança está resumida em Deuteronômio 28–30.
[70]
Existem paralelos entre o encontro no Sinai com o ministério de Jesus e com
Atos 2, mas o encontro de Israel com Deus no Sinai é único com a oferta de uma
aliança com termos e condições bem específicos.
[71]
Ver também Oseias 2.15.
[72]
Ver também Deuteronômio 4.9-13,32-36; 5.1-4.
[73]
Ver Levítico 26.17-19.
[74]
Ver Josué 7.
[75]
Ver Isaías 34; Joel 3; Zacarias 14.
[76]
Deus diz repetidamente a Ezequiel que Israel e as nações saberão que "Eu
sou o Senhor", e a grande maioria dessas declarações está no contexto de seus
juízos. Ver Ezequiel 5.13,15; 6.7,10,13-14; 7.4,9,27; 11.10,12; 12.15-16,20;
13.9,14,21,23; 14.8; 15.7; 16.62; 17.21,24; 20.7,12,20,26,38,42,44; 21.5;
22.16,22; 23.49; 24.14,24,27; 25.5,7,11,17; 26.6,14; 28.22-24,26; 29.6,16,21;
30.8,12,19,25-26; 32.15; 33.29; 34.27,30; 35.4,9,15; 36.11,22-23,36,38;
37.6,13,28; 38.23; 39.6-7,21-23,28.
[77]
Ver Deuteronômio 31.16; Ezequiel 16; 23.11; Oseias 1.2; Jeremias 3.8-10.
[78]
Ver João 3.16-18.
[79]
Ver Isaías 53.6; Romanos 5.9; 2 Coríntios 5.21.
[80]
Ver João 3.36; 14.6; Atos 4.12; 10.42-43; 1 Coríntios 3.11; 1 Timóteo 2.5-6; 1
João 5.11-12.
[81]
Ver Levítico 26.25.
[82]
Ver Hebreus 12.6-8.
[83]
Ver Levítico 10.2; Números 16.30-35; 21.6; Deuteronômio 1.35.
[84]
Ver também Oseias 2.15.
[85]
Ver Romanos 8.18-19.
[86]
Ver Êxodo 4.22; Oseias 11.1.
[87]
Ver Jeremias 31.35-37.
[88]
Ver Jeremias 31.31-32; Hebreus 8.
[89]
Ver Mateus 5.21-37.
[90]
O supersessionismo às vezes é chamado de “teologia da realização” por seus
defensores e “teologia da substituição” por seus críticos.
[91]
Ver Jeremias 31.31-34.
[92]
Ver João 11.50-52.
[93]
Biblicamente, a disciplina é um sinal de filiação, e a disciplina de Deus para
com Israel é uma evidência do chamado único de Israel. Ver Hebreus 12.6-8.
[94]
Ver Êxodo 34.6.
[95]
Ver Jeremias 31.35-37; 33.14-26.
[96]
Ver Atos 6.7.
[97]
Ver Gênesis 32.22-32.
[98]
Ver Jeremias 31.31-35.
[99]
Ver Deuteronômio 30.1-6; Isaías 4.3; 45.17,25; 54.13; 59.21; 60.21; Jeremias
31.34; 32.40; Ezequiel 20.40; 39.22,28-29; Joel 2.26; Zacarias 12.10-14;
Romanos 11.26.
[100]
Para mais informações, consulte o livro Único Rei: uma resposta
cristocêntrica à questão de Sião e o povo de Deus.
[101]
Ver 1 Pedro 2.24.
[102]
Ver Romanos 1.4; 1 Coríntios 15.24-26; 2 Timóteo 1.10; Hebreus 2.14.
[103]
Ver Isaías 34; Joel 3; Zacarias 12-14.
[104]
Ver Isaías 14.19; Daniel 7.11; Apocalipse 19.20.
[105]
Ver Gênesis 12.3.
[106]
Ver Romanos 9.4-5.
[107]
Ver Romanos 10.19-21; 11.11-12,25-26.
[108]
Ver 2 Coríntios 5.20; Efésios 6.20; Filipenses 3.20.
[109]
Ver Apocalipse 5.9; 7.9.
[110]
Ver Apocalipse 5.9; 7.9.
[111]
Ver também Lucas 3.17.
[112]
Ver também Marcos 4.26-29.
[113]
Daqui cunhou-se o termo chuva serôdia.
[114]
Ver 1 Coríntios 15.23; 1 Tessalonicenses 4.16-18.
[115]
Ver Isaías 4.5; 11.11-12,16; 64.1-3; Jeremias 16.14; 23.6-7.
[116]
Ver Romanos 11.17; Efésios 2.12-13.
[117]
A Bíblia ordena repetidamente às nações que adorem a Deus e descreve e
prediz adoração e oração extravagantes nas nações. Veja Salmo 96.1,9,13; 98.1-
9; 102.15-22; 122.6; 149.6-9; Isaías 19.20-22; 24.14-16; 25.9; 26.1,8-9; 27.2-5,13;
30.18-19,29,32; 35.2,10; 42.10-15; 43.26; 51.11; 52.8; 62.6-7; Jeremias 31.7; Joel
2.12-17,32; Sofonias 2.1-3; Zacarias 8.20-23; 10.1; 12.10; 13.9; Mateus 21.13;
Lucas 18.7-8; Romanos 15.8-11; Apocalipse 5.8; 8.3-5; 16.7; 22.17.
[118]
Ver Isaías 42.10-14.
[119]
Os Salmos são frequentemente tratados como profecia no Novo Testamento.
[120]
Ver Jeremias 30.7; Daniel 12.1; Joel 2.2; Mateus 24.21.
[121]
Ver Romanos 11.11.
[122]
Ver Êxodo 19.6.
[123]
Ver 1 Pedro 2.9; Apocalipse 1.6; 5.10; 20.6.
[124]
Ver 2 Samuel 22.50; Deuteronômio 32.43; Salmo 18.49; 117.1.
[125]
Simbolizado pela queima diária de incenso, lâmpadas e pães consagrados.
Ver Êxodo 25.30, 37; 30.1.
[126]
Ver Êxodo 19.6.
[127]
Ver 2 Samuel 7.8-17.
[128]
Ver 1 Samuel 13.14; Atos 13.22.
[129]
Ver Salmo 9.11; 22.3; 65.1; 102.21; 147.12.
[130]
Ver 2 Crônicas 8.14-15; 20.19-22,28; 23.1; 24.27; 29.1-36; 30.21; 35.1-27;
Esdras 3.10-11; Neemias 12.24-47.
[131]
Ver Lucas 11.1.
[132]
Ver Atos 3.11; 5.12.
[133]
Ver Atos 1.14; 4.24-31; 6.4; 12.12; 13.1-3; 16.25; 20.36.
[134]
Ver Romanos 15.8-11; Efésios 5.19; Colossenses 3.16.
[135]
Ver Efésios 2.12-13; Romanos 11.17.
[136]
Ver também Romanos 12.15; 1 Coríntios 12.26.
[137]
Ver Romanos 11.18-24.
[138]
Ver também Isaías 66.22-23; 65.17-19.
[139]
Ver Atos 3.20-21.
[140]
Ver Salmo 2.9; Apocalipse 2.27; 19.15.
[141]
Ver Apocalipse 12.9.
[142]
Ver Salmo 110.1; Mateus 22.44; Atos 2.33; 7.55-56; Romanos 8.34; Efésios
1.20; Colossenses 3.1; Hebreus 1.3; 8.1; 10.12; 12.2; 1 Pedro 3.22; Apocalipse
3.21.
[143]
Ver 1 Pedro 5.8; Apocalipse 12.9.
[144]
Está claro em Apocalipse 12 que essa queda é um evento futuro. Aqui estão
algumas razões: Satanás é expulso de seu lugar de acusar os irmãos dia e noite
(Apocalipse 12.10), indicando que essa não é uma queda antiga, mas uma
remoção de um lugar que ele ocupa atualmente. Sua queda é associada a “um
tempo, tempos e metade de um tempo”. Essa frase vem de Daniel e se refere ao
período final da Grande Tribulação (Daniel 7.25; 12. 7). Quando o dragão é
derrubado e fica às margens do mar (Apocalipse 12.17), a besta descrita em
Apocalipse 13 surge em forma humana com todo o poder e autoridade do dragão
(Apocalipse 13.2-4). Esse personagem terrível é o anticristo e também está
associado ao período final da Grande Tribulação (Apocalipse 13.5).
[145]
Esse ataque é tão grave que os campos de prisioneiros, o cativeiro e a
libertação subsequente desses campos são mencionados com frequência pelos
profetas. Isso revela a severidade e a dimensão desse ataque coordenado. Ver
Isaías 11.11-16; 27.12-13; 42.6-24; 49.5-25; 61.1-2; Jeremias 30.3-24; 31.1-23;
Ezequiel 20.33-44; 39.25-29; Oseias 11.10-11; Amós 9.8-15; Joel 3.1-2; Sofonias
3.19-20; Zacarias 9.10-14.
[146]
Ver Zacarias 14.2; Apocalipse 11.
[147]
Ver Apocalipse 6.9; 7.14; 12.11.
[148]
Ver Isaías 34.1-3,8; 49.26; 61.2-3; 63.1-9; Joel 3.9-14; Sofonias 1.14-15;
3.8,14-15,17,19-20; Zacarias 12.2-4; 14.1-5,9.
[149]
Ver Mateus 10.16-25; Marcos 13.9-13; João 16.2,33.
[150]
Ver Apocalipse 6.9-10; 7.9-14; 12.11.
[151]
Ver Jeremias 31.35-37; 33.25-26.

[152]
Ver 1 João 2.18.
[153]
Ver Daniel 7.8; 8.9; 11.21.
[154]
Ver Daniel 7.8,20,25; 11.36; 2 Tessalonicenses 2.4; Apocalipse 13.5-6.
[155]
Ver Apocalipse 20.3.
[156]
Ver Daniel 7.25; 9.27; 12.7; Apocalipse 11.2-3; 13.5.
[157]
Ver Apocalipse 19.11-20.3.
[158]
Ver Colossenses 2.15; Hebreus 2.14-15.
[159]
Ver Mateus 21.4-5.
[160]
Ver Mateus 23.39.
[161]
O uso que Jesus fez do termo “Filho do homem” durante todo o seu ministério
foi muito controverso, porque é uma referência ao homem exaltado que julga no
lugar de Deus.
[162]
O nome Josafá significa literalmente "YHWH julga", de modo que o termo
“vale de Josafá” o descreve literalmente como o local do julgamento de Deus.
Também é conhecido como o vale de Cedrom.
[163]
Também conhecido como o vale de Hinom.
[164]
Ver também Daniel 7.13-14; Mateus 16.27; 28.18; João 5.22; 17.2; Atos
10.42; 17.31; Romanos 2.16; 2 Coríntios 5.10; 2 Tessalonicenses 1.7-10; 2
Timóteo 4.1; 1 Pedro 4.5; Apocalipse 20.11-12.
[165]
Ver Salmo 89.27; Mateus 12.50; Hebreus 2.10-12; Romanos 8.29.
[166]
Ver Deuteronômio 32.10; Isaías 63. 9; Miqueias 5.3; Zacarias 2.8.
[167]
Ver também Jeremias 30.7-11; Daniel 12.1.
[168]
Ver 1 Coríntios 15.23,52; 1 Tessalonicenses 4.16-17.
[169]
Isso faz parte do testemunho "do reino" necessário para cumprir Mateus
24.14.
[170]
Ver 2 Pedro 2.5.
[171]
Ver João 1.1; Apocalipse 19.10.
[172]
Ver 1 João 2.18
[173]
Ver 1 João 2.18.
[174]
Ver 2 Coríntios 5.20; Efésios 6.20.
[175]
Ver Romanos 9.2; 10.1.
[176]
Ver Romanos 11.
[177]
Ver 1 Tessalonicenses 5.3; Apocalipse 18.

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