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Este livro é uma coletânea de uma

série de artigos publicados nas revistas


“Chamada da Meia-Noite” e “Notícias de Israel”.
Revisão: Célia Korzanowski, Ione Haake,
Sérgio Homeni, Traudi Federolf
Edição: Arthur Reinke
Capa e Layout: Roberto Reinke
Passagens da Escritura segundo a versão Almeida Revista e
Atualizada (SBB), exceto quando indicado em contrário: Nova
Versão Internacional - NVI, Almeida Corrigida e Revisada Fiel –
ACF ou Almeida Revista e Corrigida – ARC.
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Índice

Introdução
Cap. 1 | Cinco Razões Porque Amamos Israel
Cap. 2 | As Duas Testemunhas e o Arrebatamento da Igreja
Cap. 3 | O Santo Monte do Senhor – Utopia ou Realidade?
Cap. 4 | Israel – Pedra de Tropeço Para Muitos Cristãos
Cap. 5 | A Misteriosa Chave de Davi
Cap. 6 | Os Judeus, Inimigos de Todos os Homens?
Cap. 7 | Desafiando a Espada Flamejantedos Querubins
Cap. 8 | A “Grande Apostasia” – O Que é e Quando Será?
Cap. 9 | A Fuga
Cap. 10 | A Igreja Sem Israel
Introdução

A Bíblia é fascinante. Sua mensagem transforma vidas. Parte


dela é profecia. Muitas previsões bíblicas já se cumpriram, outras
ainda esperam por sua concretização. Não podemos negligenciar
uma porção tão grande do conteúdo das Sagradas Escrituras nem
menosprezar sua importância, pois “nenhuma profecia da Escritura
provém de particular elucidação, porque nunca jamais qualquer
profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20-
21). As profecias da Bíblia vêm de Deus, inspiradas pelo Espírito
Santo. Vale a pena estudá-las.
Este livro tentará responder algumas questões bem comuns a
quem se ocupa com o que a Bíblia diz sobre o futuro. Estudando
expressões curiosas como “Santo Monte do Senhor” ou “a Chave
de Davi” e personagens como “as Duas Testemunhas do
Apocalipse” teremos uma visão ampliada sobre a profecia na
Bíblia. Mas o assunto central será o papel de Israel nesse contexto
profético. “A Igreja Sem Israel” será o fio condutor dos capítulos
deste livro. Essa questão nos preocupa porque vemos muitas
igrejas e denominações forçando o texto bíblico, torcendo e
distorcendo muitas passagens que foram escritas para o povo de
Israel, não para a Igreja. Talvez um dos maiores erros que podemos
cometer ao estudar profecia seja não distinguir entre Israel, a Igreja
e as nações. Esses três grupos têm promessas específicas, e Deus
lida com cada um deles de forma diferente.
Temos observado com muito pesar os desvios da sã doutrina
pelos que, hoje, tentam judaizar a Igreja, introduzindo costumes,
festas e rituais que são exclusivos para Israel. Isso não é “atender” à
candeia da profecia. Igualmente preocupantes são as tentativas de
imitar os apóstolos judeus e a igreja primitiva. Não somos mais essa
igreja, somos a igreja dos tempos finais, caracterizada por duas
grandes falhas:
1. Pela Bíblia, será uma igreja exposta a muitos enganos, como
fica bem evidente em Mateus 7.22: “Muitos, naquele dia, hão de
dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado
em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu
nome não fizemos muitos milagres?”
2. Será uma igreja destituída da fé verdadeira, a ponto de Jesus
questionar em Lucas 18.8: “...quando vier o Filho do Homem,
achará, porventura, fé na terra?”
Devemos estudar o que a Bíblia diz sobre o futuro, pois “temos,
assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em
atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até
que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração” (2Pe
1.19). Que essa brilhante luz da candeia da profecia nos ilumine!
Cap. 1 | Cinco Razões Porque
Amamos Israel

Por que amamos e apoiamos Israel? A Palavra de Deus nos


fornece bem mais do que cinco razões para ficar do lado do
povo judeu, mas vamos focar nossa atenção naquelas que
consideramos as mais significativas.

Lemos acerca do centurião de Cafarnaum: “Tendo Jesus


concluído todas as suas palavras dirigidas ao povo, entrou em
Cafarnaum. E o servo de um centurião, a quem este muito estimava,
estava doente, quase à morte. Tendo ouvido falar a respeito de
Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus, pedindo-lhe que
viesse curar o seu servo. Estes, chegando-se a Jesus, com
instância lhe suplicaram, dizendo: Ele é digno de que lhes faças isto,
porque é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a
sinagoga. Então, Jesus foi com eles. E, já perto da casa, o centurião
enviou-lhe amigos para lhe dizer: Senhor, não te incomodes, porque
não sou digno de que entres em minha casa. Por isso, eu mesmo
não me julguei digno de ir ter contigo; porém, manda com uma
palavra, e o meu rapaz será curado. Porque também eu sou homem
sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens, e digo a
este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo: faze
isto, e ele o faz. Ouvidas estas palavras, admirou-se Jesus dele e,
voltando-se para o povo que o acompanhava, disse: Afirmo-vos que
nem mesmo em Israel achei fé como esta. E, voltando para casa os
que foram enviados, encontraram curado o servo” (Lc 7.1-10).
Jesus elogiou o comportamento desse centurião, que
desfrutava de um testemunho impressionante, positivo e
unânime entre o povo judeu. O status social e a profissão desse
homem não impediam que ele acolhesse Israel em seu coração de
uma forma toda especial. Obviamente essa era apenas uma
consequência de sua convicção pessoal de que o Deus de Israel era
o Deus verdadeiro. O centurião vivia e trabalhava em Israel e
observava o povo judeu, sua cultura e sua religião. O povo dizia que
ele “é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga”.
O fato de ele ter mandado chamar Jesus em uma situação de
angústia apenas comprova que o Espírito Santo também trabalhava
nos corações de não-judeus, iluminando suas mentes e conduzindo-
os a Cristo. Mesmo os soldados romanos durões e experimentados
que crucificaram Jesus e vigiaram Seu corpo reconheceram nEle
alguém extraordinário: “O centurião e os que com ele guardavam a
Jesus, vendo o terremoto e tudo o que se passava, ficaram
possuídos de grande temor e disseram: Verdadeiramente este era
Filho de Deus” (Mt 27.54).
Alguns anos depois de Pentecostes, no livro de Atos dos
Apóstolos, encontramos o relato detalhado da conversão de
Cornélio, outro centurião romano. Através da direção especial de
Deus, o apóstolo Pedro é enviado a Cesareia para encontrar-se com
ele. Esse homem com toda a sua casa proclamava abertamente sua
cordial simpatia pelo povo judeu. Dava muitas esmolas e orava a
Deus “de contínuo” (At 10.2). Pedro, especialmente legitimado por
Deus, abriu ali a porta do Evangelho aos gentios. E então podemos
ler o relato da primeira conversão real de um gentio a Cristo na era
da Igreja. Nesse evento, o amor por Israel ocupa um lugar todo
especial. Se no início da Igreja o amor por Israel e a simpatia pelo
povo judeu mereceram menção na Palavra de Deus, hoje isso nos
desafia a pensar com mais profundidade sobre o assunto.

1. Jesus descende de Israel


Não é por acaso que encontramos muitas genealogias
escrupulosamente registradas na Bíblia, documentos históricos que
retrocedem milhares de anos até Adão. Isso é único entre todas as
nações do mundo. Só Israel possui listas tão precisas e minuciosas.
Essas genealogias permitem pesquisar a ascendência de Jesus.
Logo no início do Novo Testamento, no Evangelho de Mateus, José,
o marido de Maria, é listado como descendente de Davi. Sua
linhagem começa com Abraão e passa pelo rei Salomão, filho de
Davi. Em Lucas 3.23-38, a genealogia começa com José, filho de
Eli, e não como em Mateus 1.16, onde ele é “filho de Jacó”. José
tornou-se “filho de Eli” (genro) por seu casamento com Maria. E
essa linhagem passa por Natã, mais um filho de Davi, pelo próprio
Davi, até chegar a Adão, documentando assim a origem de Maria
como “filha de Davi”. Esses são fatos inegáveis. Só podem ser
chamadas de ridículas as tentativas nazistas de negar a origem
judaica de Jesus Cristo. Em nossos dias também se ouvem teses
semelhantes da parte de líderes palestinos e islâmicos, que revisam
a História, tentam converter Abraão ao islamismo ainda 4.000 anos
depois de sua morte e procuram fazer de Jesus um palestino. Paulo
confirma: “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio
da descendência de Davi” (Rm 1.3). E em Romanos 9.5 ele fala
dos judeus: “deles são os patriarcas, e também deles descende o
Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para
todo o sempre. Amém!”.
A vida de Jesus transcorreu em lugares e vilarejos quase todos
facilmente identificáveis como localizados em Israel: Belém, o rio
Jordão, Nazaré, Cafarnaum, Tabga (lugar da multiplicação dos pães
e peixes), Jerusalém e o monte das Oliveiras, o tanque de Betesda
e o recém-descoberto tanque de Siloé, o monte do Templo, o vale
do Cedrom e, do outro lado, a cidadezinha de Betânia. Nos últimos
anos foram descobertas em Jerusalém algumas pedreiras antigas
de onde o rei Herodes mandava talhar as enormes pedras, típicas
de suas construções e usadas na majestosa restauração do Templo
judeu. Depois de décadas de busca, o arqueólogo judeu Ehud
Netzer achou o sepulcro de Herodes no lado sul do Heródio, o
monte artificial erguido ao sul de Jerusalém e Belém. Isso tudo fazia
parte da antiga região pertencente às tribos de Israel.
Em Apocalipse 5.5 somos confrontados outra vez com a
identidade judaica de Jesus: “...eis que o Leão da tribo de Judá, a
Raiz de Davi, venceu...”. Até no final da Bíblia, em meio às
profecias apocalípticas, Jesus é claramente conectado às suas
raízes judaicas.
Saber que Jesus foi um judeu legítimo, que viveu e
ministrou em Israel, não seria razão mais do que suficiente para
amar esse povo?

2. Toda a Bíblia vem de Israel


“Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a vantagem da
circuncisão? Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque
aos judeus foram confiados os oráculos de Deus” (Rm 3.1-2).
Na Carta aos Romanos, tão rica em ensinamentos e tão
fundamental à fé cristã, Paulo enfatiza a exclusividade de Israel
como detentor e veículo da revelação do único Deus verdadeiro,
mesmo na era da Igreja. O próprio Jesus testificou à mulher
samaritana no poço de Jacó: “Vós adorais o que não conheceis; nós
adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus”
(Jo 4.22). O próprio Deus estabeleceu que assim fosse, e a nós só
cabe aceitar ou rejeitar os fatos. O escritor da Carta aos Hebreus
traça a linha que vincula os profetas do Antigo Testamento à
revelação divina definitiva em Jesus e por meio de Jesus: “Havendo
Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais,
pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho...” (Hb 1.1-
2a). Mesmo que os teólogos modernos e os ateus tentem provar o
contrário, o testemunho do apóstolo Pedro sublinha a veracidade
das Sagradas Escrituras: “sabendo, primeiramente, isto: que
nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;
porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade
humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus,
movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20-21). Não esqueçamos: todos
esses homens santos eram judeus, eram homens de Israel.
É a Bíblia judaica que contém informações tão particularmente
importantes, sem as quais interpretaríamos todo o nosso mundo de
forma incorreta e estaríamos perdidos em meio às religiões, às
filosofias e ao intelectualismo que nos rodeia. A Sagrada Escritura
de Israel fala claramente acerca da origem da terra e de todo o
Universo: “porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o
mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o
Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êx 20.11).
“Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso
me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe
muito bem” (Sl 139.14). “Porque os atributos invisíveis de Deus,
assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens
são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.20). Essas declarações nos
provocam e nos desafiam a tomar posição. No decorrer dos
milênios, declarações assim causaram perseguições cruéis e
discriminação de judeus e cristãos. Mas continuará a ser sempre
verdadeiro: “Porque todos os deuses dos povos são ídolos; o
Senhor, porém, fez os céus” (1Cr 16.26).
Por isso, está em curso uma grande guerra para apagar essa
clara luz que vem da Bíblia via Israel. São intensas as tentativas de
riscar Israel do mapa, intimidando e desanimando os cristãos. Mas,
no final, o que está em jogo é a perdição eterna ou a salvação
eterna de cada um de nós: “como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada
inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a
ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais,
prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo,
segundo a sua vontade” (Hb 2.3-4). Essa confirmação especial por
meio de milagres e sinais e distribuições especiais do Espírito Santo
ocorreu por meio dos apóstolos judeus, oriundos de Israel e
arredores. O próprio Jesus, depois de Sua ressurreição, salienta a
veracidade e a precisão profética dos “oráculos de Deus”: “A seguir,
Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando
ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está
escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes
abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes
disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e
ressuscitar dos mortos no terceiro dia e que em seu nome se
pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as
nações, começando de Jerusalém” (Lc 24.44-47). Isso significa que
um fio condutor se estende desde Adão e Eva, passando por toda a
Bíblia e apontando e conduzindo a Cristo: “Examinais as Escrituras,
porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que
testificam de mim” (Jo 5.39).

3. Os judeus – uma prova da existência de Deus


“Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: Para obter ele a glória,
enviou-me às nações que vos despojaram; porque aquele que tocar
em vós toca na menina do seu olho” (Zc 2.8). A maioria das
traduções bíblicas diz que o texto está falando da menina do olho de
Deus. Isso significa que Israel tem uma posição especialmente
privilegiada diante de Deus. A menina do olho é uma parte muito
sensível e delicada, importante para a visão. É perigoso tocar nos
judeus. Até o mago e sacerdote pagão Balaão foi obrigado a
reconhecer que Israel era importante e que não era bom tocar nesse
povo singular. O rei moabita Balaque o havia incumbido de
amaldiçoar Israel. Balaão declarou: “Como posso amaldiçoar a
quem Deus não amaldiçoou? Como posso denunciar a quem Deus
não denunciou? Pois do cimo das penhas vejo Israel e dos outeiros
o contemplo: eis que é povo que habita só e não será reputado
entre as nações” (Nm 23.8-9). Alguns versículos depois, Balaão
revela ainda mais: “Eis que para abençoar recebi ordem; ele
abençoou, não o posso revogar. Não viu iniquidade em Jacó, nem
contemplou desventura em Israel; o Senhor, seu Deus, está com
ele, no meio dele se ouvem aclamações ao seu Rei. Deus os tirou
do Egito; as forças dele são como as do boi selvagem. Pois contra
Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; agora,
se poderá dizer de Jacó e de Israel: Que coisas tem feito Deus!”
(vv.20-23). Em outras passagens bíblicas lemos que a situação de
Israel daquela época nem mereceria esses elogios todos. Mas o
amor de Deus por essa nação cobria tudo; Ele “não viu iniquidade
em Jacó, nem contemplou desventura em Israel”. No Novo
Testamento encontramos algo semelhante em relação à Igreja:
“para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem
ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.27).
Por meio do sacrifício perfeito de Jesus seremos perfeitos diante de
Deus se estivermos “em Cristo”, mesmo que nossa situação prática
esteja longe da perfeição. E é em Cristo, o Messias de Israel, que o
povo judeu um dia encontrará sua salvação e sua plenitude
espiritual.
Infelizmente, em muitas igrejas não se ouve falar nada de bom
acerca de Israel. A fidelidade de Deus e Suas promessas para Israel
são deixadas de lado. Mas então, como interpretar versículos como
estes: “Assim diz o Senhor, que dá o sol para a luz do dia e as leis
fixas à luz e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz
bramir as suas ondas; Senhor dos Exércitos é o seu nome. Se
falharem estas leis fixas diante de mim, diz o Senhor, deixará
também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim
para sempre. Assim diz o Senhor: Se puderem ser medidos os céus
lá em cima e sondados os fundamentos da terra cá embaixo,
também eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por tudo
quanto fizeram, diz o Senhor. Eis que vêm dias, diz o Senhor, em
que esta cidade será reedificada para o Senhor, desde a torre de
Hananel até à porta da Esquina. Assim diz o Senhor: Se puderem
ser medidos os céus lá em cima e sondados os fundamentos da
terra cá embaixo, também eu rejeitarei toda a descendência de
Israel, por tudo quanto fizeram, diz o Senhor” (Jr 31.35-38). A
lógica é bem simples: apesar de tudo o que Israel fez, apesar de
toda a sua apostasia e de todos os seus pecados, Deus não o
rejeitará para sempre. E para que tenhamos absoluta certeza, Deus
chega a colocar em jogo as leis da natureza e a ordem cósmica!
“Assim diz o Senhor: Se puderdes invalidar a minha aliança com o
dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem
dia nem noite a seu tempo, poder-se-á também invalidar a minha
aliança com Davi, meu servo...” (Jr 33.20-21). Enquanto o homem
não puder lançar o sol e os planetas para fora de suas órbitas, o
plano especial de Deus com Israel manterá sua validade. Jesus é
fiador dessa garantia: “Em verdade vos digo que não passará esta
geração sem que tudo isto aconteça” (Mt 24.34).
A geração que não passará
Já houve abençoados homens de Deus e pregadores do
Evangelho que erraram ao comentar essa “geração que não
passará”. Como exemplo cito Hal Lindsey, que há algumas décadas
escreveu seu best-seller “A Agonia do Grande Planeta Terra”, que
alcançou uma tiragem total de 28 milhões de exemplares. Seu
propósito era honesto, mas ele errou. Suas conclusões foram
apressadas e precipitadas. Sua conta era simples: a fundação do
Estado de Israel ocorreu em 1948. Uma geração bíblica é de 40
anos. Portanto, 1948 mais 40 anos (uma geração) até a volta
gloriosa de Jesus. Retirando os sete anos apocalípticos,
chegaríamos a 1981, o ano do Arrebatamento! Mas como vemos
que a Igreja de Jesus ainda está na terra e não foi arrebatada,
percebemos automaticamente que sua conta não fechou. Isso nos
ensina a sermos cuidadosos. E também nos leva a uma conclusão
diferente: a geração que não passará é outra. A geração que
entrará nos sete anos apocalípticos, que verá e vivenciará os muitos
sinais proféticos se cumprindo, deverá reconhecer o tempo em que
estará vivendo e se preparará para a grande apostasia e
perseguição obedecendo ordens específicas que recebeu do
Senhor Jesus especialmente para aquele tempo. Certamente a
Igreja de Jesus não virá correndo dos quatro cantos do mundo para
refugiar-se nos montes da Judeia! Os cristãos não orarão para que
sua fuga não aconteça no sábado. Essas são informações para um
grupo definido (os judeus tementes a Deus) em um lugar bem
específico (em Israel) em uma época bem específica (no meio dos
sete anos, exatamente quando começará a Grande Tribulação).
Precisamos deixar que esta grande verdade fique gravada em
nossas mentes de uma vez por todas: no Novo Testamento existem
passagens que não são para nós. Elas são para o tempo depois do
Arrebatamento!
Deus escolheu Israel, Deus escolheu uma geração de judeus
para vivenciar a volta de Cristo. Escolher um povo como seu
instrumento especial simplesmente é parte da estratégia divina e de
Seu Plano de Salvação: “Não vos teve o Senhor afeição, nem vos
escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo,
pois éreis o menor de todos os povos” (Dt 7.7). A Igreja do Novo
Testamento é descrita de forma semelhante: “Deus escolheu as
coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não
são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se
vanglorie na presença de Deus” (1Co 1.28-29). Não podemos
questionar as escolhas que Deus faz.
No decorrer dos séculos podemos ver a fidelidade e a bondade
de Deus para com o povo de Israel. Muitas vezes Ele impediu que
Israel fosse completamente exterminado: pelo Faraó egípcio, por
Balaão, por Hamã no tempo da rainha Ester, pelos romanos, pela
Inquisição católica, pela Alemanha nazista e pelo Islã. E no final Ele
também impedirá que Israel venha a ser aniquilado pelo Anticristo.
Deus interferiu repetidamente e continuará interferindo em favor de
Seu povo Israel.
Toda a História desse povo, tanto em seus aspectos
negativos como positivos, é uma prova inequívoca da
existência de Deus!

4. Israel é o ponteiro no relógio mundial de Deus


“Ouvi a palavra do Senhor, ó nações, e anunciai nas terras
longínquas do mar, e dizei: Aquele que espalhou a Israel o
congregará e o guardará, como o pastor, ao seu rebanho” (Jr 31.10).
Baseados na profecia bíblica, sabemos que o reaparecimento de
Israel no cenário político mundial dá a largada para os juízos
apocalípticos sobre o mundo todo. Hoje quase ninguém mais
defende o direito de Israel à sua antiga pátria, já que esse direito
está intrinsecamente ligado à Bíblia e ao Deus de Israel. O último
bastião que resta são os cristãos bíblicos. E mesmo em nosso meio
é triste observar que muitos estão inseguros porque dão ouvidos a
teorias conspiratórias e nutrem um ilusório anseio amilenista. Este
último é um efeito colateral negativo da Reforma Protestante de 500
anos atrás, quando a Igreja foi colocada no lugar de Israel.
Em todo o conflito no Oriente Médio, o que realmente está em
jogo é o confronto entre o Islã e a Sagrada Escritura. Uma vez que
tanto judeus como cristãos se baseiam na Bíblia, nesse confronto
estamos juntos no mesmo barco. No profeta Isaías vemos o mundo
todo sendo avisado: “Eis que eu farei de Jerusalém um cálice de
tontear para todos os povos em redor...” (Zc 12.2). Jerusalém
dividirá as opiniões, e o mundo cada vez mais ímpio prefere
simpatizar com os palestinos ao invés de apoiar os judeus. Nesse
contexto, especialmente no mundo islâmico vivenciamos de forma
crescente o que diz o Salmo 83.4: “Dizem: Vinde, risquemo-los de
entre as nações; e não haja mais memória do nome de Israel”.
Como cristãos que pretendem manter-se fiéis à Bíblia,
precisamos ficar vigilantes e reconhecer o aspecto judaico do
Armagedom apocalíptico: “Eis que, naqueles dias e naquele tempo,
em que mudarei a sorte de Judá e de Jerusalém, congregarei
todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali entrarei
em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança,
Israel, a quem elas espalharam entre os povos, repartindo a minha
herança entre si” (Jl 3.1-2). A política global da ONU em relação a
Israel e aos cristãos é descrita acertadamente no Salmo 2: “Por que
se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis
da terra se levantam e os príncipes conspiram contra o Senhor e
contra o seu Ungido...” (vv.1-2). O mundo está se tornando cada vez
mais antissemita – e cada vez mais anticristão. Nossas tão
valorizadas democracias ocidentais começaram a criminalizar os
verdadeiros cristãos e a classificá-los de perigosos. A isso soma-se
uma tolerância doentia em nome da não discriminação bem como
de uma imoralidade vergonhosa, que beira a perversão. A
sociedade de consumo está disposta a pagar um preço bem alto
para garantir uma vida confortável, mas está podre como uma fruta
prestes a cair do pé. Sem o temor de Deus, as antigas e
abençoadas democracias cristãs transmutam-se, pela aterradora
decadência de seus valores e a perda de suas virtudes, em uma
Babilônia madura para o juízo, com o prenome de Sodoma.
Ulrich W. Sahm, conhecido analista europeu, aponta conexões
interessantes em relação às revoltas no mundo árabe: “O pequeno
Satã chamado Israel até hoje havia sido um baluarte que, com sua
luta contra os islâmicos, protegia também a Europa. Agora existe a
ameaça de um cenário imprevisível...”. Quanto mais a Europa e os
Estados Unidos, se distanciarem de Israel, mais as coisas irão
ladeira abaixo – de uma crise a outra, de uma catástrofe natural a
outra e de um ataque criminoso a coisas cada vez piores!
Até que...

“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que
não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento
em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios” (Rm
11.25). A salvação de pessoas através da proclamação mundial do
Evangelho está entrelaçada com a restauração espiritual de Israel.
“Cairão ao fio da espada e serão levados cativos para todas as
nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém
será pisada por eles” (Lc 21.24). Jerusalém serve de parâmetro no
fim dos tempos. Uma vez que há quase 70 anos Israel já se
encontra outra vez no rol de nações, a pressão inimiga cresce mais
e mais. Até no governo israelense ouvem-se vozes afirmando que o
Estado de Israel jamais se sentiu tão ameaçado como hoje. Todos
os levantes e revoltas populares em diversos países árabes
acabaram sendo um tiro pela culatra, pois transformaram-se em
uma grande explosão contra Israel. Não tenhamos ilusões: vivemos
em um mundo perdido. Segundo o calendário profético (que
trataremos em outro capítulo deste livro), o tempo das nações se
encaminha para seu final.
“Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que
venhais a dizer: bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt
23.39). Em meio a todos os processos e desenvolvimentos em
andamento e em meio a todos os focos de tensão e perigo, Israel
será dirigido inexoravelmente a uma situação tão sem saída que
somente lhe restará clamar pela intervenção divina. E então, na
hora da sua maior angústia, dará as boas-vindas Àquele que virá
em Nome do Senhor!

5. O futuro da Igreja está intimamente ligado ao


futuro de Israel
É muito significativo que a volta de Cristo esteja relacionada a
um local bem concreto: será no monte das Oliveiras, em Jerusalém.
Por que justamente Jerusalém, já que, segundo a opinião de muitas
denominações e igrejas cristãs, Deus não tem nenhum plano
especial com Israel no futuro?
Em Atos dos Apóstolos lemos sobre os anjos dizendo aos
discípulos: “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas?
Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o
vistes subir. Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado
Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um
sábado” (At 1.11-12). E o profeta Zacarias explica: “Naquele dia,
estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte
de Jerusalém para o oriente; o monte das Oliveiras será fendido
pelo meio... então, virá o Senhor, meu Deus, e todos os santos com
ele” (Zc 14.4-5). Juntamente com todos os santos do Antigo
Testamento seremos levados pelo Senhor dos Senhores ao monte
das Oliveiras em Jerusalém. E Jerusalém localiza-se em Israel.
No final do último livro do Novo Testamento vemos que a
Jerusalém celestial descerá do céu à terra: “Tinha grande e alta
muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e, sobre elas,
nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de
Israel” (Ap 21.12). Portanto, também no Novo Testamento somos
lembrados de que os nomes das doze tribos de Israel estarão
gravados nos portões da cidade divina, juntamente com os nomes
dos doze apóstolos, também homens de Israel: “A muralha da
cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze
nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Ap 21.14). Esse é o
cumprimento da promessa feita por meio do profeta Isaías: “Porque,
como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante
de mim, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o
vosso nome” (Is 66.22). Isaías não fala da Igreja; ele está falando do
futuro de Israel – o que qualquer leitor “comum” da Bíblia
compreenderá, bastando ler o contexto.
“Nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do Senhor
será estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os
outeiros, e para ele afluirão todos os povos. Irão muitas nações e
dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de
Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas
suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do Senhor, de
Jerusalém” (Is 2.2-4). Que visão grandiosa do reino de paz – que
terá sua sede em Jerusalém, no monte Sião!
“E para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e
reinarão sobre a terra” (Ap 5.10). Aqui são mencionados os salvos
em seu futuro ministério, exercido a partir de Sião. Por isso, crentes
realmente fiéis à Palavra também são sionistas cristãos, uma vez
que sua visão profética é acurada e porque eles creem no futuro
reino de paz. Eles defendem Israel e seu direito à terra que Deus lhe
prometeu, defendem seu direito à sua pátria, Eretz Israel, a terra de
Israel! E os palestinos e não-judeus que vivem lá hoje? Nessa
questão a Palavra do Senhor é bem clara e indica o rumo que as
coisas tomarão: “Assim diz o Senhor acerca de todos os meus
maus vizinhos, que se apoderaram da minha herança, que deixei
ao meu povo Israel: Eis que os arrancarei da sua terra e a casa de
Judá arrancarei do meio deles. E será que, depois de os haver
arrancado, tornarei a compadecer-me deles e os farei voltar, cada
um à sua herança, cada um à sua terra. Se diligentemente
aprenderem os caminhos do meu povo, jurando pelo meu nome:
Tão certo como vive o Senhor, como ensinaram o meu povo a jurar
por Baal, então, serão edificados no meio do meu povo. Mas, se
não quiserem ouvir, arrancarei tal nação, arrancá-la-ei e a farei
perecer, diz o Senhor” (Jr 12.14-17). Isso significa a opção entre
integração pacífica ou juízo divino, já que desqualificam a si
mesmos quando se tornam inimigos de Israel.

Orientação pessoal
É muito trágico e lamentável ver cada vez menos cristãos
posicionando-se em favor de Israel. Assumir nosso apoio a Israel
significa nadar contra a correnteza. Significa também nadar contra a
avalanche de informações negativas sobre Israel transmitidas pela
mídia mundial. Como cristãos, devemos estar bem informados sobre
o que acontece no mundo, sabendo dos processos e
desenvolvimentos em curso para não sermos atropelados pelos
acontecimentos, mas não devemos permitir que homens ímpios
formatem nossa opinião. Devemos sempre pensar biblicamente. Os
tempos finais se caracterizam tanto pelo engano como pela
sonolência espiritual. Mas, “ao começarem estas coisas a suceder,
exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se
aproxima” (Lc 21.28). O próprio Senhor exorta-nos a prestar atenção
a “estas coisas” – como prestamos atenção às luzes de alerta no
painel do carro.
“O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que,
sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim
o fizestes... E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos
com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te
assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que,
sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a
mim o deixastes de fazer” (Mt 25.40,44-45). Aqui o Senhor não
passa a pregar repentinamente um Evangelho social mas refere-se
à postura das pessoas em relação aos judeus. Etnicamente, sem
dúvida os judeus são irmãos de Jesus. Então devemos nos
perguntar: Será que somos cristãos antissemitas? Paulo exortou os
cristãos de Roma da época: “não te glories contra os ramos; porém,
se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz,
a ti” (Rm 11.18). Os ramos naturais e a raiz aqui mencionados são
os judeus e as alianças de Deus com Israel. A tradução bíblica
espanhola da Biblia de las Americas diz que não devemos ser
arrogantes em relação aos judeus e Israel. Devemos ser humildes,
compreensivos e amáveis.
As cinco razões que acabamos de expor deveriam nos
incentivar a amar e defender Israel, pregando sobre seu futuro e
orando pelo povo de Deus. E já que ainda podemos viver e trabalhar
por Jesus nessa era da graça, oremos por Israel e por seus
inimigos, desejando de todo o coração que muitos ainda aceitem a
Cristo antes que seja tarde demais.

Repetindo
1. Jesus foi, é e continuará sendo judeu (o Leão da tribo de
Judá).
2. Toda a nossa Bíblia é judaica.
3. Os judeus são uma impressionante prova da existência de
Deus.
4. Israel é o ponteiro no relógio mundial de Deus.
5. Nosso futuro está intimamente ligado ao futuro de Israel.
Para pensar
Para demonstrar que entendemos como Deus pensa sobre Seu povo
Israel, o que podemos fazer de melhor é contar aos outros, inclusive
aos judeus, como o Deus de Israel, por meio do Seu Messias Jesus,
transformou e abençoou nossas vidas. A Palavra de Deus diz: “Orai
pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam” (Sl 122.6).
Cap. 2 | As Duas Testemunhas e o
Arrebatamento da Igreja

A profecia bíblica é fascinante. Estudando personagens


proféticos e eventos futuros, teremos uma visão mais clara e
detalhada dos planos de Deus para os tempos que ainda
virão. No livro do Apocalipse entram em cena dois homens
misteriosos, cujo agir não parece se encaixar devidamente na
nossa Teologia. São as Duas Testemunhas do Apocalipse,
homens incumbidos de um ministério específico, num lugar
específico, em uma época específica.

Para entender melhor o cenário profético futuro, é de


importância decisiva que façamos a clara distinção entre a Igreja, as
nações e Israel. Em qual grupo as Duas Testemunhas se encaixam?
Estudando mais de perto quem são esses homens, o que eles
fazem e como agem, compreenderemos um pouco mais do
panorama profético, inclusive o papel do povo de Israel no
calendário divino. O texto sobre as Duas Testemunhas abrange
apenas onze versículos, mas tem uma riqueza impressionante de
detalhes e traz informações suficientes para responder muitas
questões que costumam surgir em relação à Escatologia e ao papel
futuro de Israel.
Vejamos: o texto começa com Deus dizendo: “Darei às minhas
Duas Testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta
dias, vestidas de pano de saco. São estas as duas oliveiras e os
dois candeeiros que se acham em pé diante do Senhor da terra” (Ap
11.3-4).

Deus se comunica de forma inteligível


Em Apocalipse 22.16 o Senhor confirma todo o conteúdo do
livro do Apocalipse: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar
estas coisas às igrejas”. É assim que Deus se comunica conosco:
de forma clara e inteligível. Então, por que temos os maiores
problemas em entender o último livro da Bíblia, se ele foi uma
revelação explicitamente para as igrejas? Quando Deus fala, Ele
fala de forma que se possa compreender o que está dizendo, pois
Ele é a fonte da informação e o Criador do entendimento. Quando
Ele se deu a conhecer através das muitas leis e ordenanças do
Sinai e do simbolismo no Tabernáculo, lemos que “falava o Senhor a
Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo” (Êx 33.11).
Nessa comunicação não havia interrupções nem panes, nada de
dissonância, erros de tradução ou interferências na conexão. A
comunicação da parte de Deus é clara e óbvia. Com essas
considerações em mente, tentaremos nos aproximar passo a passo
desses dois homens supostamente misteriosos que entram em cena
no Apocalipse. Vamos por partes:

As Duas Testemunhas: um problema teológico


Muitos espiritualizam as Duas Testemunhas de Apocalipse 11 e
dizem que elas simbolizam a Igreja. Se fizermos isso, teremos de
adaptar todo o texto bíblico a essa ideia. Será que a Igreja de Jesus
age como esses homens? Transformar água em sangue, lançar
pragas, matar os inimigos e fechar o céu (Ap 11.6) não se parecem
muito com os dons espirituais da Igreja! Por que existe tanta
dificuldade em ver esses dois homens em seu contexto evidente,
com seu ministério claramente definido durante os sete anos
especiais de restauração de Israel na Tribulação? Queremos
ensinar a Deus, dizendo que essa concepção é inconcebível e não
cabe na nossa Teologia?
Conforme Romanos 11.25-26 e Atos 15.14-16, Israel sairá do
banco de reservas e entrará no jogo depois da era da Igreja. Por
isso o Arrebatamento da Igreja, o encontro do Noivo Celestial com
Sua Igreja resgatada e “chamada para fora”, precisa acontecer
antes.
Nosso Deus é um Deus de ordem (1Co 14.33). É
absolutamente impossível tentar adaptar e atribuir à Igreja o
ministério das Duas Testemunhas do Apocalipse. Qualquer Bíblia de
Estudo com passagens paralelas conecta Apocalipse 11 com o
profeta Zacarias (Zc 4.2-3 e v.14), que menciona os “dois ungidos”.
Existe uma ligação muito óbvia entre o Antigo e o Novo Testamento.
O profeta Zacarias não sabia nada a respeito da Igreja, que ainda
era um mistério guardado nos desígnios de Deus, mas já falou o
que João revelaria muito mais tarde, no Apocalipse.
As Duas Testemunhas: como Moisés e Elias

Se observarmos com atenção o clima que reinava em Israel no


tempo da primeira vinda de Jesus, reconheceremos por quem
Israel estava esperando. Quando João Batista foi questionado
acerca de sua identidade, além do Messias havia mais dois homens
na mente dos judeus: “Este foi o testemunho de João, quando os
judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe
perguntarem: Quem és tu? Ele confessou e não negou; confessou:
Eu não sou o Cristo. Então, lhe perguntaram: Quem és, pois? És
Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Respondeu: Não” (Jo
1.19-21). Conforme Malaquias 3.1, Elias deveria preparar o caminho
para o Senhor. É o que também fica evidente na discussão
envolvendo João Batista em Mateus 17.11-13: “Então, Jesus
respondeu: De fato, Elias virá e restaurará todas as coisas. Eu,
porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes,
fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o filho do
Homem há de padecer nas mãos deles. Então, os discípulos
entenderam que lhes falara a respeito de João Batista”.
“És tu o profeta?” é uma pergunta que tem sua origem em uma
declaração profética feita por Moisés: “O Senhor, teu Deus, te
suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a
mim; a ele ouvirás... Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus
irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e
ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. De todo aquele que não
ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe
pedirei contas” (Dt 18.15,18-19). O Novo Testamento explica essa
promessa como tendo sido cumprida em Jesus (Jo 6.14). Isso,
porém, não exclui a possibilidade de que essa profecia tenha mais
um cumprimento futuro e inclua um aspecto escatológico. Antes da
nova vinda de nosso Senhor no final da Grande Tribulação, as Duas
Testemunhas entrarão em cena: um homem “como Elias” e “o
profeta” como Moisés. Como nos tempos finais tudo atinge seu
ápice, provavelmente Deus enviará seus dois servos mais
destacados para executar Seus planos. E eles terão a autoridade de
Moisés e Elias!

Um olhar na tradição judaica


Se lançarmos um olhar para a tradição judaica, veremos um
elemento interessante presente na circuncisão de um bebê judeu:
ele é circuncidado ao oitavo dia de vida (exatamente como Deus
ordenou a Moisés há 3.500 anos)! Da cerimônia faz parte a “cadeira
de Elias”, onde o rebento é colocado. Ao todo, nessa ocasião solene
o nome de Elias é mencionado duas vezes, e o nome de Moisés
três vezes. Na noite de Pessach, por ocasião da leitura de cada uma
das quatro promessas de libertação, bebe-se um cálice de vinho.
Mas como a salvação final do mundo inteiro pela vinda do Messias e
de Seu preparador do caminho, Elias, ainda está por acontecer, o
quinto cálice, chamado o cálice de Elias, permanece intocado.
Geralmente uma criança é solicitada a abrir a porta para que o
profeta Elias possa entrar, caso já tenha chegado. É fascinante e
significativo que, tanto na cerimônia da circuncisão como na
celebração da Páscoa são trazidas à memória as lembranças do
grande libertador Moisés e do profeta Elias. Seria este um prenúncio
do ministério futuro das Duas Testemunhas?

Quando as Duas Testemunhas entrarão em cena?


Donald D. Turner, em seu comentário do Apocalipse, dá o
seguinte conselho: “Cada um precisa decidir para si mesmo qual
será o tipo de ministério das Duas Testemunhas e quais as
circunstâncias exteriores reinantes na ocasião”. Se cada um decidir
para si mesmo o que significa determinada passagem bíblica, está
programado o caos! Mais adiante tentaremos responder a essa
pergunta.

O que caracterizará as Duas Testemunhas?


Além de pregarem vestidos de pano de saco (simbolizando luto,
arrependimento, humildade), a Bíblia menciona principalmente sua
relação muito próxima com Deus e seu poder de fazer sinais e
milagres. Sairá fogo de sua boca destruindo as pessoas que
ousarem atacá-las. Poderão fechar os céus para que não chova,
castigando o mundo com estiagem. Poderão transformar as águas
em sangue e – tantas vezes quantas quiserem – poderão ferir a
terra com toda sorte de pragas (flagelos) de juízo. A duração de seu
ministério tão especial está claramente demarcada: será de 1.260
dias. Suas vestimentas peculiares e sua pregação acompanhada de
sinais poderosos só podem significar uma única coisa: Deus está
falando de maneira bem especial com Israel, chamando Seu povo
ao arrependimento, conclamando-o a voltar para o verdadeiro Deus
de Israel. Esse poderoso ministério, acompanhado de tantos sinais
sobrenaturais, não são típicos da segunda metade da Tribulação,
que será “a Grande Tribulação”, uma época repleta de juízos
extraordinários abatendo-se sobre a terra. Nessa ocasião, por
exemplo, todo o mar se transformará em sangue e todos os seres
que vivem ali morrerão (Ap 16.3-4). A metade da humanidade
perecerá por meio das catástrofes da Grande Tribulação.
Gafanhotos do abismo superarão o mais arrepiante filme de terror,
torturando assustadoramente as pessoas por cinco meses. Diante
desses juízos tão terríveis, os flagelos provocados pelas Duas
Testemunhas mais parecem tentativas amorosas de um pai
procurando corrigir seus filhos, o que nos leva a situar seu ministério
nos anos iniciais da Tribulação.
Pontos de orientação
Muitas vezes lemos Apocalipse 11.7 de maneira superficial e
não percebemos um importante ponto de orientação: “Quando
tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que
surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará”. Essa
besta, chamada de primeira besta, também conhecida como o
dominador mundial, é descrita mais detalhadamente no capítulo 13:
“Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças
e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de
blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como
de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu
trono e grande autoridade” (Ap 13.1-2). Primeiro a besta emerge do
mar dos povos, e quando, depois de 1.260 dias, consegue matar as
Duas Testemunhas, ela sobe do abismo. Nesse tipo de pesquisa
minuciosa não podemos nos furtar de buscar o significado original
da palavra abismo, que é abyssos, mundo de baixo, submundo,
descrito como sendo o lugar dos demônios e do próprio Diabo.
Agora, com a besta emergindo do abismo, acontece algo realmente
extraordinário e fora do comum. No início, esse bem-sucedido
regente mundial surge como um político vindo dentre as nações, e
todo o contexto indica que ele virá do antigo Império Romano
restaurado, a atual Europa. Mas, de repente, a besta sobe do
abismo e parte para o assassinato das Duas Testemunhas de Deus.
Como isso é possível? O que aconteceu? O que mudou?
A profecia bíblica, conforme 2Pedro 1.19, é uma luz brilhante
que nos ilumina e traz segurança. Se Apocalipse 13, nos versículos
3 e 14, fala de uma ferida mortal do governante mundial, então não
precisamos tentar colocar no texto bíblico muitas outras
possibilidades. Uma ferida mortal é fatal. Um acidente fatal mata.
Não é parcialmente fatal, ou apenas temporariamente fatal! Esse
futuro líder morrerá literalmente por causa de uma ferida mortal,
talvez por meio de um atentado ou pela guerra. E depois ele
reviverá, agora como legítimo marionete de Satanás, vindo
diretamente “do abismo”. E então atacará as Duas Testemunhas,
que terão finalizado seu trabalho aqui na terra.

O falso Elias como arauto do pseudodeus


Depois da morte, ressurreição e arrebatamento das Duas
Testemunhas (Ap 11.7-12), o falso profeta imitará o Elias legítimo ao
fazer cair fogo do céu. “Também opera grandes sinais, de maneira
que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens” (Ap
13.13). Esse é um sinal singular, um milagre especial para enganar
Israel!
Enquanto as Duas Testemunhas exercem seu ministério, nada
lemos sobre alguma confrontação entre elas e o falso profeta, uma
vez que isso selaria a morte dele! Afrontar as Duas Testemunhas é
pedir para morrer. Mas o falso profeta ainda aparece em ação após
a morte e ressurreição desses dois homens. Assim, parece lógico
concluir que esse personagem apocalíptico somente poderá entrar
em cena após a morte, a ressurreição e o arrebatamento das Duas
Testemunhas. Esses dois homens terão de ser “retirados” antes,
para que o falso profeta possa fazer uso de todo o seu repertório de
feitos miraculosos. Se fizesse isso enquanto as Duas Testemunhas
estivessem vivas, o confronto resultaria na sua morte certa. Mas não
esqueçamos que é Deus quem permite a operação do erro como
juízo sobre o mundo!

Tempo apocalíptico
Ao estudar as Duas Testemunhas, encontramos dados exatos
sobre seu tempo de atuação na terra. Deus diz: “Darei às minhas
Duas Testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta
dias” (Ap 11.3) O próprio Senhor está delimitando seu ministério a
um prazo de três anos e meio. Isso não é acaso. Esse número
aparece outras vezes na Bíblia, nos fornecendo subsídios para uma
imagem mais completa acerca dos tempos finais. Como trataremos
desse assunto em outros capítulos, gostaria de mencionar apenas
que esse número de dias, concedido por Deus para seus
mensageiros exercerem sua tarefa, serve de consolo e segurança
para nós, que também servimos ao Senhor. Assim como eles,
seremos preservados e protegidos enquanto Deus nos quiser
trabalhando em Sua obra aqui na terra. Nada acontece por acaso. O
Senhor é soberano e detém o poder sobre o tempo e sobre o
espaço.

Primeiro a Igreja, depois Israel outra vez


O ministério das Duas Testemunhas dará largada à restauração
espiritual de Israel. Isso se torna especialmente visível quando elas
ressuscitam e sobem ao céu, e no terremoto que vem em seguida:
“Naquela hora, houve grande terremoto, e ruiu a décima parte da
cidade, e morreram, nesse terremoto, sete mil pessoas, ao passo
que as outras ficaram sobremodo aterrorizadas e deram glórias ao
Deus do céu” (Ap 11.13). A cidade que terá sua décima parte
destruída obviamente será Jerusalém. No mais tardar, é aqui que
começa uma mudança de pensamento no povo de Israel, uma
reviravolta interior, levando os judeus a fugir do Anticristo.

Arrebatamento na metade da Tribulação?


Na segunda metade dos sete anos, na chamada “Grande
Tribulação”, um tempo “como desde o princípio do mundo até agora
não tem havido e nem haverá jamais” (Mt 24.21), os juízos
apocalípticos da ira divina derramada sobre o mundo se
avolumarão. E nesse momento de intensa aflição vem o apelo à
perseverança e à fidelidade dos santos, pois estarão em uma
situação sem saída (Ap 13.10). Isso é sublinhado por Daniel 12.11-
12: “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a
abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias.
Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e
cinco dias”.
Se o Arrebatamento acontecesse na metade da Tribulação
(como alguns intérpretes defendem), então por que esse grupo que
foge para o deserto não foi arrebatado? Essa fuga acontecerá
exatamente na metade dos sete anos apocalípticos, quando o
Anticristo matará as Duas Testemunhas e quebrará seu pacto de
sete anos com Israel. Aí começa a perseguição! E aí acontecerá a
fuga! Se nesse momento acontecesse o Arrebatamento, quem
fugiria para os montes? De imediato ainda não existiriam os novos
crentes da Grande Tribulação, que só irão entrando em cena pouco
a pouco (Ap 7.14). Mas lemos em Apocalipse 13.10 da
perseverança e da fidelidade dos santos, que viram e vivenciaram
o ministério das Duas Testemunhas e a desolação abominável no
Templo em Jerusalém. Ali, nessa altura dos acontecimentos, não
haverá Arrebatamento. Não pode haver Arrebatamento, pois os
arrebatados, por serem salvos por Cristo, não estarão mais na terra.
E quem fugirá será a “mulher” de Apocalipse 12.6 e 14 (veja o
capítulo 9).
Conforme Romanos 11.25-26, a contagem regressiva dos
últimos sete anos do plano divino com Israel somente poderá ter
início após a era da Igreja e depois de seu Arrebatamento: “Porque
não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais
presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a
Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo
Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele
apartará de Jacó as impiedades”. Israel continuará no banco de
reservas até que a plenitude dos gentios esteja salva; até que Deus
tenha visitado os gentios, “a fim de constituir dentre eles um povo
para o seu nome” (At 15.14). Somente depois é que vem a
restauração do “tabernáculo caído de Davi” (At 15.16) e o
“Libertador de Sião” retornará visivelmente, em poder e glória. O
povo salvo dentre os gentios e o tabernáculo caído de Davi são
duas entidades bem distintas. Expressões como “primeiramente”
(v.14) e “cumpridas estas coisas” (v.16) sublinham essa lógica. O
que está em segundo lugar somente vem depois que o primeiro
estiver cumprido.
Apenas após o Arrebatamento, quando “a plenitude dos gentios
tiver entrado”, as Duas Testemunhas poderão surgir no palco
mundial, pregando nas ruas de Jerusalém e chamando Israel ao
arrependimento (Ap 11.3-13). O Arrebatamento da Igreja
acontecerá, portanto, antes do tempo da Tribulação!
A profecia bíblica é uma mina de ouro, um garimpo onde
encontramos preciosidades e muitas informações importantes
para não andarmos errantes nestes tempos finais, tão sombrios e
dominados pelo caos doutrinário.

Daniel e o Sermão Profético de Jesus


Jesus falou: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação
de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda),
então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes” (Mt 24.15-
16). Às vezes, nós cristãos costumamos nos referir ao futuro terceiro
Templo como sendo “o templo do Anticristo”. Um pastor israelense
manifestou-se depreciativamente a respeito do Instituto do Templo
em Jerusalém, que faz preparativos concretos para a edificação do
próximo templo judeu: “Isso é tudo para o Anticristo!” Mas tenhamos
cuidado: um templo que não tenha valor para Deus não poderia
sofrer abominação, pois já seria impuro de qualquer jeito. Prestemos
atenção, pois é Jesus quem diz que o lugar é santo, citando o
profeta Daniel. Repetindo: “Quando, pois, virdes o abominável da
desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê
entenda), então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes”
(Mt 24.15-16).
Uma “desolação abominável” somente é possível em um templo
legítimo, aceito e reconhecido por Deus. Só o que é santo pode ser
profanado. Pois em 2 Tessalonicenses 2.4 lemos: “o qual se opõe e
se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a
ponto de assentar-se no santuário de Deus [templo], ostentando-
se como se fosse o próprio Deus”. Paulo, inspirado pelo Espírito
Santo, chama o próximo templo de “santuário de Deus”! Todos os
comentaristas que tentam, de alguma forma, relacionar essa
declaração bíblica com a Igreja, deveriam considerar que Daniel não
conhecia o mistério da Igreja. Ele profetizava para Israel. E Jesus
também falava aos israelitas quando os mandou fugir para os
montes. Será que a rota de fuga indicada pelo Senhor poderia ser
pelas montanhas dos Alpes suíços ou para a cordilheira dos Andes
quando Ele disse: “... os que estiverem na Judeia fujam para os
montes”? Naturalmente que não! Aqui se está falando literalmente
dos montes judeus em terras judaicas. Essa é uma indicação
profética de Deus a um endereço específico em uma época
específica (no meio da 70ª semana de Daniel) em um local
geograficamente bem demarcado.

Elias restaurará todas as coisas!


“Mas os discípulos o interrogaram: Por que dizem, pois, os
escribas ser necessário que Elias venha primeiro? Então, Jesus
respondeu: De fato, Elias virá e restaurará todas as coisas” (Mt
17.10-11). “Todas as coisas” pode muito bem incluir a restauração
do Templo e o reinício dos sacrifícios. Para a retomada dessa
grandiosa tarefa de ministração no Templo, ausente por um período
de quase 2.000 anos, parecem imprescindíveis certas orientações e
instruções divinas diretas. Quando Deus deu a Moisés a
incumbência de edificar o Tabernáculo, mostrou-lhe um modelo e
explicou pessoalmente os detalhes (Êx 25.40; Hb 8.5). Isso também
aconteceu 500 anos mais tarde com Davi, que recebeu indicações
precisas antes da construção do primeiro Templo pelo seu filho
Salomão. Davi sublinha claramente que tudo lhe foi mostrado por
Deus (1Cr 28.11-12,19). Esse seria mais um argumento de peso
para posicionar o ministério das Duas Testemunhas na primeira
metade da septuagésima semana da profecia de Daniel, para
“restaurar todas as coisas”, inclusive reconstruindo o Templo que
será abominado depois. É uma possibilidade viável.

Visita ao Monte do Templo?


É bem provável que a construção do terceiro Templo não
acontecerá por meio de um pacto de paz com o dominador mundial
(Dn 9.27), mas através das Duas Testemunhas. Podemos imaginar
esses dois homens, revestidos do poder de Deus, talvez
acompanhados de alguns dos “Amigos do Templo”, reunindo-se
diante do Muro das Lamentações e subindo juntos na direção do
Monte do Templo? Podemos imaginar a reação dos muçulmanos e
de todo o mundo árabe? Podemos imaginar como de repente,
apavorados pelo fogo sobrenatural que neutraliza imediatamente
qualquer reação inimiga, todos serão obrigados a desocupar o
Monte do Templo, rangendo os dentes, mas resignados por não
terem alternativa, abrindo espaço para a edificação do grande e
novo Templo judeu?

Maldição ou bênção também em sentido teológico


É um fenômeno observar como hoje o último livro da Bíblia é
negado, alegorizado, mal entendido ou mal usado. Isso poderia
estar relacionado com o arrogante atropelamento de Israel, com a
“neutralização” teológica de Israel? Expressões como “expectativa
iminente” (da volta de Jesus), “Arrebatamento da Igreja”,
“restauração de Israel” e “palavra profética” são uma tortura para
muitos – expressões que irritam e provocam reação contrária, como
o pano vermelho chama o touro para a briga. Essas expressões são
catalogadas como fazendo parte do vocabulário fanático dos
fundamentalistas. Mas Deus disse a Abraão em relação a Israel:
“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem” (Gn 12.3). Parece mesmo uma maldição essa
grande incapacidade ou falta de vontade de se ocupar com o que
realmente está escrito no livro do Apocalipse, apesar de tudo ter
sido revelado “para as igrejas”. Não admira que a cegueira tenha
tomado conta de tantos que se chamam pelo nome de Cristo, porém
negam o que Ele próprio tem a nos dizer sobre o futuro!

O privilégio de conhecer
Faz parte do privilégio e da elevada posição da Igreja saber
com toda a certeza, pelas profecias do Antigo e do Novo
Testamento, o que nos espera e o que acontecerá com o mundo
depois do nosso Arrebatamento, mesmo que não tenhamos nada a
ver com os juízos que se abaterão sobre a terra! O livro do
Apocalipse foi dado primordialmente à Igreja (Ap 22.16). Deus
informou pessoalmente a Abraão acerca do juízo sobre Sodoma e
Gomorra mesmo Abraão não estando pessoalmente envolvido no
castigo: “Ocultarei a Abraão o que estou para fazer?” (Gn 18.17).
Abraão foi chamado de amigo de Deus (2Cr 20.7; Is 41.8), e Jesus
também nos chama de amigos: “Já nãos vos chamo servos, porque
o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado
amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a
conhecer” (Jo 15.15).

Para pensar
Que o Senhor abra nossos olhos para que possamos fugir das
tentações destes tempos finais e da cegueira espiritual, dando-nos
força para nadar contra a correnteza. Que Ele nos faça luzes no meio
de uma geração cada vez mais perversa, usando-nos como
testemunhas Suas, contribuindo para a salvação dos perdidos até que
Ele venha! Maranata!
Cap. 3 | O Santo Monte do Senhor
– Utopia ou Realidade?

Não será fácil encontrar uma pregação ou um comentário


mais extenso acerca do Santo Monte do Senhor, termo que
aparece diversas vezes na Bíblia. Hoje em dia grande parte
dos temas tratados no meio cristão são assuntos práticos e a
solução de crises pessoais. A Palavra de Deus realmente tem
muito a nos dizer sobre a melhor maneira de viver neste
mundo. Mas quando o eixo central ao redor do qual giram
todas as atenções é apenas e unicamente o bem-estar do
homem, alguma coisa está errada. Se estamos convictos de
que a Bíblia é mesmo a Palavra de Deus, como poderíamos
simplesmente deixar de lado grande parte do que Deus
disse? Por que negligenciaríamos o estudo das grandes e
eternas verdades, dos temas relevantes e dos assuntos que
são importantes para Deus? Por que pulamos de uma
promessa edificante para nosso próximo versículo predileto?
O apóstolo Paulo, ao se despedir dos anciãos da igreja de
Éfeso, assegurou: “...jamais deixei de vos anunciar todo o
desígnio de Deus” (At 20.27). Ele não deixou nada de fora!
Daí a importância de estudar temas, expressões e
personagens bíblicos, inclusive os tópicos não tão populares.

O que a Bíblia diz sobre o Santo Monte do Senhor? Que


papel esse monte desempenhará no futuro? Vejamos um
pouco mais sobre esse assunto, pouco tratado na
cristandade atual.

O primeiro monte da Bíblia


Para entrar no assunto: o monte mais importante da Bíblia
também é o primeiro, pois já existia no Éden. Vejamos:
O primeiro monte não é mencionado logo no início da Bíblia.
Encontramos o registro em Ezequiel 28. Uma profecia anunciava ao
rei de Tiro (localizado ao norte de Israel, atual Líbano) a
aproximação do juízo de Deus. Uma leitura atenta dos versículos 11
a 19 demonstrará, numa retrospectiva profética, que o príncipe de
Tiro simboliza o querubim mais belo e mais perfeito. Este era
perfeito “até que se achou iniquidade em ti [nele]” (v.15). O rei
humano daquela época, extremamente inteligente, equipado com
muitos dons e coroado de sucesso, transformou-se em um
dominador corrupto, perverso e orgulhoso a ponto de refletir e
representar Satanás, aquele que é “homicida desde o princípio e
jamais se firmou na verdade porque nele não há verdade. Quando
ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e
pai da mentira” (Jo 8.44). Em Ezequiel 28.12-13 descobrimos
detalhes muito interessantes a respeito desse querubim caído: “Tu
és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas
no Éden, jardim de Deus...”. Em seguida, no versículo 14, é
mencionado o primeiro monte da Bíblia: “Tu eras querubim da
guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de
Deus, no brilho das pedras andavas”.
Todo esse texto mostra que o maravilhoso anjo protetor havia
sido posto por Deus no jardim do Éden, mas desqualificou-se por
seu orgulho e por sua rebelião contra o Deus Criador. As
consequências foram devastadoras. No meio da revelação do
Apocalipse o apóstolo João escreve que o querubim se transformou
em um terrível dragão destruidor: “A sua cauda arrastava a terça
parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra; e o dragão
se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de
lhe devorar o filho quando nascesse” (Ap 12.4). Um terço do mundo
angelical, a terça parte das miríades celestiais, seguiu esse sedutor
“príncipe das trevas” em sua queda.
Em Isaías 14 reconhecemos o mesmo esquema.
Figuradamente, a zombaria do rei da Babilônia revela detalhes
sobre a queda daquele que é chamado de “estrela da manhã, filho
da alva” (v.12), que em sua soberba ousava concorrer com o próprio
Deus. Por isso, no jardim do Éden ele não hesitou em atacar os dois
primeiros seres humanos criados “à imagem de Deus”. Usando de
artimanhas traiçoeiras, lábia enganosa e adulação camuflada, ele
semeou dúvidas no coração de Eva, questionando o Deus amoroso,
que ele apresentou como sendo opressor e com intenções ocultas e
malévolas. Depois da expulsão do primeiro casal do Paraíso,
querubins armados vigiavam o acesso à árvore da vida.
A formulação “no Éden, jardim de Deus... no santo monte de
Deus” (Ez 28.13,14) demonstra o nível de importância desse tema
desde o início, pois é mencionado repetidas vezes na Palavra de
Deus e, no final, é uma indicação da Jerusalém celestial. Como o
Tabernáculo no deserto simbolizava e refletia coisas espirituais e
celestiais, assim o Santo Monte do Senhor também é uma indicação
evidente daquilo que Deus vai realizar num futuro não tão distante,
bem dentro do espírito de Hebreus 8.5: “os quais ministram em
figura e sombra das coisas celestes, assim como foi Moisés
divinamente instruído, quando estava para construir o tabernáculo;
pois diz ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo
que te foi mostrado no monte”. Ou como Davi, quando entregou as
plantas do projeto da construção do Templo para seu filho e
sucessor Salomão executar: “Tudo isso, disse Davi, me foi dado por
escrito por mandado do Senhor, a saber, todas as obras desta
planta” (1Cr 28.19). O quadro se completa: maquete e edificação
concluída; sombra e realidade se casam; profecia e cumprimento se
fundem!
Na volta gloriosa e triunfal de Cristo, quando Ele estabelecer
Seu reino de paz, haverá grandiosas transformações sobre a nossa
terra, inclusive modificações topográficas: “Naquele dia, estarão os
seus pés sobre o Monte das Oliveiras, que está defronte de
Jerusalém para o oriente; o monte das Oliveiras será fendido pelo
meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito
grande; metade do monte se apartará para o norte, e a outra
metade, para o sul... Toda a terra se tornará como a planície de
Geba e Rimon, ao sul de Jerusalém; esta será exaltada...” (Zc
14.4,10).
O que aconteceu figuradamente no passado por meio da
pregação de João Batista, se cumprirá literalmente quando Jesus
voltar: “Todo vale será aterrado, e nivelados, todos os montes e
outeiros; o que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos,
aplanados” (Is 40.4; comp. Mt 3.3). Montes inóspitos ou mares de
quilômetros de profundidade não faziam parte da criação original;
tornaram-se necessários apenas depois do Dilúvio, para que
voltasse a haver terra seca no globo terrestre (Sl 104.6-9).
Catástrofes cósmicas e o maior terremoto de todos os tempos,
assim como chuva de pedras de mais de 35 quilos caracterizarão o
fim apocalíptico do domínio humano e realçarão as gigantescas
modificações que ocorrerão: “o céu recolheu-se como um
pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram
movidos do seu lugar” (Ap 6.14). “...e ocorreu grande terremoto,
como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o
terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três
partes, e caíram as cidades das nações... Todas as ilhas fugiram, e
os montes não foram achados; também desabou do céu sobre os
homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um
talento...” (Ap 16.18-21).
Todas essas mudanças topográficas têm um propósito: o Santo
Monte do Senhor se tornará o monte mais alto do mundo: “Nos
últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do Senhor será
estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os outeiros, e
para ele afluirão todos os povos” (Is 2.2). O Santo Monte do Senhor
não será apenas o monte mais alto, será o centro do mundo
vindouro: “Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte
do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus
caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a
lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém” (Is 2.3). Todo o Israel se
reunirá ali: “Trarão todos os vossos irmãos, dentre todas as nações,
por oferta ao Senhor, sobre cavalos, em liteiras e sobre mulas e
dromedários, ao meu santo monte, a Jerusalém, diz o Senhor,
como quando os filhos de Israel trazem as suas ofertas de
manjares, em vasos puros à Casa do Senhor” (Is 66.20). Esse
monte está inseparavelmente ligado com nosso Senhor Jesus que
está voltando, pois a pedra cortada “sem auxílio de mãos” (que é o
próprio Senhor Jesus) esmiuçará a estátua vista no sonho de
Nabucodonosor, que simbolizava os sucessivos impérios mundiais
humanos, e a pedra encherá toda a terra (veja Dn 2.34-35). Existe
uma conexão que só o futuro revelará plenamente.

No reino de paz haverá um templo real?


Essa é uma pergunta muito comum. Muitas vezes encontramos
respostas às nossas perguntas através de uma conclusão lógica.
Em Zacarias 14.4 lemos a respeito da vinda do grande Rei celestial,
e no versículo 8 está escrito: “Naquele dia, também sucederá que
correrão de Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar
oriental, e a outra metade, até ao mar ocidental; no verão e no
inverno, sucederá isto” (Zc 14.8). Portanto, uma grande fonte de
águas vivas se abrirá em Jerusalém, com parte da água escorrendo
para o mar Mediterrâneo e a outra para o mar Morto.
O profeta Ezequiel, que também menciona muitas coisas
relativas ao fim dos tempos, nos revela com exatidão onde estará
localizada essa fonte: “Depois disto, o homem me fez voltar à
entrada do templo, e eis que saíam águas de debaixo do limiar do
templo, para o oriente; porque a face da casa dava para o oriente, e
as águas vinham de baixo, do lado direito da casa, do lado sul do
altar” (Ez 47.1). De onde vem a água e para onde ela flui? Ela brota
do templo e corre para o mar Morto: “Então, me disse: Estas águas
saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar
Morto, cujas águas ficarão saudáveis. Toda criatura vivente que vive
em enxames viverá por onde quer que passe este rio, e haverá
muitíssimo peixe, e, aonde chegarem estas águas, tornarão
saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer que passe este
rio. Junto a ele se acharão pescadores; desde En-Gedi até En-
Eglaim haverá lugar para se estenderem redes; o seu peixe,
segundo as suas espécies, será como o peixe do mar Grande, em
multidão excessiva” (Ez 47.8-10).
Até hoje não existem pescadores em En-Gedi, pois a água do
mar Morto contém uma concentração tão elevada de sal e outros
minerais que nem peixes nem plantas aquáticas sobrevivem ali. A
Bíblia relata que um dia o mar Morto será transformado tão
radicalmente pelas águas que vêm de Jerusalém que haverá muitos
peixes em En-Gedi. O mar Morto é real, e seu ambiente hostil à vida
é conhecido mundialmente. Real assim também será o monte do
Senhor com o Templo. Lá brotará a água que levará vida ao mar
Morto!
O monte da paz: “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo
se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado
andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão
juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como
o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já
desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal
nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se
encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”
(Is 11.6-9).
Críticos, justamente da ala dos defensores da piedosa evolução
teísta, desqualificam a literalidade do leão e da ovelha. Dizem que
leão e ovelha vivendo em harmonia é apenas uma ilusão infantil e
uma bela imagem simbólica. Mas, então, por que Deus explica,
através do profeta, como e por que no Milênio o leão rejeitará a
saborosa ovelha como alimento? Resposta: porque, segundo
Romanos 8.18-21, o leão será completamente redimido e liberto do
cativeiro da corrupção e se alimentará da mesma maneira que a
ovelha se alimenta – de palha, literalmente! É o que está escrito em
Isaías 11.7.
Em Gênesis 1.24 descobrimos conexões lógicas: “Disse
também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua
espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo
a sua espécie. E assim se fez”. Vemos que Deus criou animais
específicos para conviver com o homem e criou animais selvagens
para viver na floresta. Mesmo sendo chamados de “selváticos”, eles
eram vegetarianos pacíficos antes da queda: “E a todos os animais
da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra,
em que há fôlego de vida, toda erva verde lhe será para
mantimento. E assim se fez” (Gn 1.30). O consumo de carne só
veio depois do Dilúvio: “Tudo que se move e vive ser-vos-á para
alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora” (Gn 9.3).
Esse é um fato irremovível, que não pode ser interpretado de outra
forma. Aqui todo cristão verdadeiro precisa tomar posição e vestir a
camisa de criacionista.

A Bíblia ensina a restauração de toda a Criação


As imensas mudanças que ocorrerão por ocasião da volta de
Cristo terão uma ligação imediata com o Santo Monte do Senhor: “O
lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi;
pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem dano algum em
todo o meu santo monte, diz o Senhor” (Is 65.25).
Lá, no Santo Monte do Senhor, também haverá o ajuntamento
de todo o Israel, que terá retornado da Diáspora (dispersão
mundial), como diz o versículo 20 de Isaías 66: “Trarão todos os
vossos irmãos, dentre todas as nações, por oferta ao Senhor, sobre
cavalos, em liteiras e sobre mulas e dromedários, ao meu santo
monte, a Jerusalém, diz o Senhor, como quando os filhos de Israel
trazem as suas ofertas de manjares, em vasos puros à Casa do
Senhor”.
Haverá paz no mundo – paz entre os animais, paz entre
animais e os homens e paz entre os povos: “Ele julgará entre os
povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas
em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não
levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a
guerra” (Is 2.4). Essa paz não virá por meio de esforços humanos,
negociações de paz ou tratados de desarmamento; virá através do
Príncipe da Paz, o Messias de Israel, o Libertador de Sião. Esse
versículo maravilhoso que fala em transformar espadas em relhas
de arados e lanças em podadeiras está afixado na parede da sede
da ONU em Nova York apesar de lá não se acreditar na Bíblia e
constantemente se condenar Israel – mas é em Israel que essa
profecia se cumprirá!
Para Israel, a vinda de Jesus em glória também significará paz
com Deus, pois Ele mesmo habitará entre Seu povo. “Então, ouvi
grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e
Deus mesmo estará com eles” (Ap 21.3). O profeta Ezequiel diz algo
semelhante: “Habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual
vossos pais habitaram; habitarão nela, eles e seus filhos e os filhos
de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será seu príncipe
eternamente. Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua.
Estabelecê-los-ei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no
meio deles, para sempre. O meu tabernáculo estará com eles; eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. As nações saberão que
eu sou o Senhor que santifico a Israel, quando o meu santuário
estiver para sempre no meio deles” (Ez 37.25-28).
O monte dos sobreviventes: Em Zacarias 14 temos a
descrição da situação posterior aos juízos apocalípticos, que terão
criado circunstâncias jamais vistas na terra: “Todos os que restarem
de todas as nações que vieram contra Jerusalém subirão de ano em
ano para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, e para celebrar a
Festa dos Tabernáculos. Se alguma das famílias da terra não subir a
Jerusalém, para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, não virá
sobre ela a chuva” (Zc 14.16-17).
Os sobreviventes dos diversos povos virão do mundo todo até o
centro da terra para adorar o Deus verdadeiro, o Deus de Israel, em
Jerusalém, e para celebrar a Festa dos Tabernáculos. Portanto,
apesar dos pesados juízos, vemos que haverá sobreviventes no
mundo, fato que mais uma vez reflete nitidamente a infinita graça de
Deus. Por que esses sobreviventes refletem a graça divina?
Vejamos: se todos os que aceitarem o sinal da besta estiverem
perdidos e todos os que a rejeitarem serão martirizados, quem
restará? – Sabemos que haverá um remanescente de Israel que, de
forma milagrosa, será sustentado e protegido por Deus diante do
furor do Anticristo. Além desses, existe o grupo especialmente
mencionado de 144.000 selados, que será protegido e usado por
Deus. Esses sobreviventes serão judeus, mas haverá mais homens
vivendo e participando do Milênio, como vimos nos versículos já
mencionados, o que prova a imensa graça de Deus para com toda
uma humanidade rebelde, que por justiça mereceria a morte.
Perguntemo-nos por que depois das sete cartas do Apocalipse
aparecem em cena as Duas Testemunhas e os 144.000 selados. Se
nos aprofundarmos nos capítulos 7 e 11 do Apocalipse sem ideias
pré-concebidas e sem limitações denominacionais, entenderemos
facilmente que esses 144.000 selados e as Duas Testemunhas
serão judeus. Por que Israel reaparece em cena repentinamente?
As Duas Testemunhas, equipadas com muito poder, sem sombra de
dúvida atuarão como os maiores profetas do Antigo Testamento,
bem dentro da linguagem que Deus usava com Israel. Por quê?
Simplesmente porque a Igreja não estará mais aqui nessa ocasião!
A Noiva com a “bendita esperança” já terá sido arrebatada, tirada
desta terra pelo Noivo celestial antes “da hora da provação” que há
de vir sobre o mundo inteiro (Ap 3.10).
Um exemplo forte de ideias eclesiasticamente pré-concebidas é
encontrado no site www.theworkofgod.org/ZION.htm (em inglês). Ali,
o “estudo bíblico” propõe simplesmente substituir “Sião” e “santo
monte do Senhor” por “Maria”, e trocar “Jerusalém” por “Igreja
Católica”. Esse é um exemplo típico do abuso com as promessas
que são válidas exclusivamente para Israel. O comentário sobre
Miqueias é uma aula prática dessa violência contra o texto bíblico.
Está escrito: “Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao
monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine
os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião
virá a lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém” (Mq 4.2).
Comentaristas católicos explicam assim esta passagem: “Todos os
povos virão a Maria e a partir de lá (do papa, do Vaticano) provém a
doutrina verdadeira!” Ou Miqueias 4.11: “Acham-se, agora,
congregadas muitas nações contra ti, que dizem: Seja profanada, e
vejam os nossos olhos o seu desejo sobre Sião”. O comentário:
“Ataque protestante a Maria”. Ou Isaías 29.8: “Será também como o
faminto que sonha que está a comer, mas acordando, sente-se
vazio; ou como o sequioso que sonha que está a beber, mas
acordando, sente-se desfalecido e sedento; assim será toda a
multidão das nações que pelejarem contra o monte Sião”. A
explicação: “Não há pão celestial em outras igrejas” – exceto, é
óbvio, na “única que salva”, que seria a Igreja Católica.
Enquanto os católicos se apossam sem dó nem piedade das
mais belas promessas que Deus fez a Israel, os reformados
combatem a crença em um reino de paz como sendo “fanatismo
quiliasta” (de “quiliasmo”, que vem da palavra grega chílioi, que
significa mil. Refere-se à crença no reino milenar com sede em Sião
(Jerusalém) e com Jesus como Rei dos reis e Senhor dos
senhores). Afirmam que Isaías 11.6 é apenas linguagem figurada.
Que assim como o leão pasta pacificamente com a ovelha, hoje o
reino de Cristo estaria diante de um mundo ímpio e hostil, mas o
reino da cruz significaria o domínio da paz e do amor, um paraíso de
bem-aventurança. Essa simbologia simplesmente não condiz com a
realidade! Mesmo no meio das igrejas cristãs percebemos muitas
falácias no raciocínio, que acabam em becos espirituais sem saída.
Simplesmente não se admite o sentido lógico e literal de alguma
passagem bíblica, e aí entra a interpretação particular,
denominacional ou segundo certas ideologias!
Após a queda em pecado, nosso mundo começou a sofrer mais
e mais debaixo da maldição, intensificada ainda mais pelo
devastador Dilúvio. Até hoje toda a criação geme e sofre sob o
domínio da morte. Mas Deus promete: quando o Príncipe da Paz
voltar, tudo será mudado e ficará semelhante à criação original. Mas
quando, no meio supostamente cristão, o pensamento darwinista e
ateísta e a crítica à Bíblia vão se alastrando cada vez mais,
esperaremos em vão por declarações edificantes e fiéis à Palavra
de Deus, especialmente em relação às profecias ainda por se
cumprir, e mais especialmente ainda sobre um termo como “Santo
Monte do Senhor”.
Expressões como “Santo Monte do Senhor”, “meu santo
monte”, “monte do Templo” ou “monte Sião” e combinações de
palavras de sentido similar aparecem mais de 60 vezes na Bíblia.
Esta nossa explanação reflete uma posição doutrinária que pode ser
definida como simples e evidente. Não devemos nos desviar da
“simplicidade e pureza devidas a Cristo”, como Paulo relembrou aos
coríntios (2Co 11.3). Talvez hoje tão poucos falem de assuntos
proféticos porque se o fizessem, não estariam apenas olhando
para o futuro dos salvos, mas também teriam de proclamar o
lugar de Israel no calendário divino dentro do Plano de
Salvação. Após quase 2.000 anos de história eclesiástica, para
muitos é extremamente estranho falar em cumprimento literal das
profecias bíblicas, especialmente das que dizem respeito ao futuro
de Israel. Isso acontece por preconceito, mas também porque
muitas denominações simplesmente condenaram os “assassinos de
Cristo” para todo o sempre. A maldição é deixada para os judeus, e
as bênçãos são todas para os cristãos.
Para pensar
É fascinante saber que Deus, em um futuro não muito distante,
interferirá no nosso sistema aparentemente fechado e o romperá
através da vinda de Jesus Cristo a este mundo. Ele acabará
definitivamente com a política e o poder humanos. Essas mudanças
imensas e essa reviravolta total são uma forte esperança em meio à
decadência e à desorientação que nos rodeia. Que Deus nos ajude a
entender toda a riqueza que temos em Cristo e tudo o que está incluído
e assegurado na obra redentora de Jesus. Que o Senhor nos permita
ver tudo o que se tornará realidade por ocasião da manifestação da
glória do Rei dos reis, assim como a Bíblia nos ensina!
Cap. 4 | Israel – Pedra de Tropeço
Para Muitos Cristãos

“Deus desistiu de Israel. Era Seu povo escolhido no Antigo


Testamento, mas agora existe outro povo de Deus, que é a
Igreja, onde “não há mais judeu nem grego, homem ou
mulher” (veja Gl 3.28; Cl 3.11). Em todos os lugares do
mundo pessoas ouvem a proclamação do Evangelho e
aceitam Jesus como Salvador, passando a ser o “Israel de
Deus””. Essa é doutrina de muitas igrejas e denominações
que não reconhecem a legitimidade bíblica da existência de
Israel nem admitem que ele ainda é o povo de Deus e tem
um futuro prometido pelas Escrituras.

Israel divide as opiniões...


O que fazemos quando descobrimos profecias bíblicas dadas a
Israel que ainda não se cumpriram? Insistimos que elas
obrigatoriamente já se cumpriram em algum momento do passado?
Ou dizemos que não devemos interpretar literalmente todas as
passagens bíblicas, que devemos extrair seu simbolismo e aplicar
as “verdades espirituais” à realidade contemporânea da Igreja? Não
foi justamente o que Israel fez com as promessas messiânicas no
tempo de Jesus? As profecias acerca do Cordeiro de Deus que viria
para ser sacrificado pelos pecadores foram simplesmente ignoradas
ou entendidas da forma errada, mesmo que a causa e a natureza de
Sua morte (Is 53, Sl 22) estivessem descritas com grande
antecedência e nos mínimos detalhes nas Escrituras do Antigo
Testamento.
Os israelitas trocaram o Rei humilde, justo e salvador, que
entraria em Jerusalém montado em um jumento (Zc 9.9) pelo
Messias glorioso e vitorioso, que antes de tudo iria erradicar a
injustiça social e libertar Israel do jugo romano, trazendo a tão
desejada paz. Tudo o que os judeus daquela época esperavam era
relacionado às coisas terrenas e à satisfação de anseios humanos.
Assim Israel, e principalmente sua liderança religiosa, enveredou
por um labirinto cuja única saída foi uma tragédia: acabaram
rejeitando seu próprio Messias!
Se subtrairmos, menosprezarmos ou excluirmos
conscientemente certas partes da profecia bíblica, acabaremos
atropelados pelos próprios acontecimentos se cumprindo. Poderá
acontecer conosco algo semelhante ao que ocorreu com Israel na
época de Jesus. Por isso precisamos apontar para uma terceira
possibilidade, quase impositiva neste contexto: o cumprimento
literal, concreto e futuro das profecias bíblicas.

Um cenário profético concreto do fim dos tempos


Nos três capítulos de Ezequiel 37 a 39 somos confrontados
com a descrição de um interessante cenário dos tempos finais. Por
que “cenário dos tempos finais”?
“Depois de muitos dias, serás visitado; no fim dos anos, virás
à terra que se recuperou da espada ... Nos últimos dias, hei de
trazer-te contra a minha terra...” (Ez 38.8,16). Aqui temos uma visão
da futura história de Israel se desenrolando no fim dos tempos. E a
profecia para essa época prevê uma grande invasão a Israel.
Pergunta:

Como sabemos que a invasão de Gogue (Ez 38.2)


ainda não aconteceu?
Reconhecemos essa realidade em quatro efeitos colaterais
mencionados por Ezequiel:
1. “Os habitantes das cidades de Israel sairão e queimarão, de
todo, as armas, os escudos, os paveses, os arcos, as flechas, os
bastões de mão e as lanças; farão fogo com tudo isto por sete anos”
(Ez 39.9). Durante sete anos Israel não precisará se preocupar com
o fornecimento de energia; o estoque de combustível trazido de
longe pelos exércitos de Gogue abastecerá a nação. Nunca houve
isso em Israel.
2. Outro aspecto: “Durante sete meses, estará a casa de Israel
a sepultá-los, para limpar a terra” (v.12). A remoção dos cadáveres
levará mais de meio ano. Isso jamais aconteceu.
3. Nos versículos 15 e 16 encontramos informações adicionais
sobre fatos que também ainda não se realizaram na história de
Israel. A imensa vala comum onde os cadáveres dos inimigos serão
sepultados dará um novo nome ao vale onde estará localizada:
“Hamon-Gogue”, “vale das Forças de Gogue” (v.15). Não existe hoje
um vale com esse nome.
4. Ali também haverá uma cidade “das Forças” (v.16), chamada
de Hamona (ACF). Hoje não existe em Israel uma cidade chamada
Hamona nem uma “Cidade das Forças”. Por isso chegamos
necessariamente à conclusão lógica de que a invasão de Gogue, de
Magogue, ainda não aconteceu! Essas são profecias ainda por se
cumprir.

A descrição de Israel na época em que essa


profecia se cumprirá: ossos secos que revivem.
Ezequiel 37 retrata uma planície repleta de esqueletos
humanos. E de repente ela se torna palco da intervenção divina.
Passo a passo, quase como em uma aula de Anatomia, todas as
partes dispersas de inúmeros esqueletos começam a se juntar e
uma grande multidão se coloca de pé. Para que não entendamos
nem apliquemos esse evento apenas em sentido evangelístico,
como muitos gostam de fazer, o profeta Ezequiel recebe a
explicação clara de que esses ossos representam toda uma nação:
“Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel...” (Ez
37.11).

Quem são os “sepulcros”?


Pela leitura cuidadosa desses capítulos de Ezequiel podemos
reconhecer como Deus pensa acerca dos povos deste mundo, dos
povos gentios, dos povos não-judeus. Ele os chama de “sepulturas”
(Ez 37.12,21). Não é terrível e chocante alguém ser chamado de
“sepultura”? Justamente a Europa e os Estados Unidos,
considerados bastiões do cristianismo, hoje estão cada vez mais
decadentes e em rota de colisão com Deus, se colocando contra a
Bíblia e contra os valores cristãos. Em diversos países europeus os
crentes são chamados de pregadores do ódio e da intolerância,
tachados de fundamentalistas, inimigos da democracia e dos
direitos humanos. Não vai demorar muito, e a Bíblia será proibida
por ser “leitura discriminatória e perigosa”. Um continente todo já
está merecendo o título de “sepultura”. E esse processo será
mundial. Aqui no Brasil já percebemos a chegada dessa influência.
Jesus disse: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a
vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo
amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo
contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (Jo 15.18-
19). Os cristãos percebem o ódio dos muçulmanos, mas não apenas
deles; está se criando globalmente um clima contrário ao verdadeiro
cristianismo. Essa é mais uma profecia de Jesus cumprindo-se hoje!
Os sepulcros são outro simbolismo fácil de entender e aplicar.
Os sepulcros (vv.12-13) de onde a casa de Israel sai para se reunir
representam as diferentes nações do mundo, pois no versículo 21
encontramos mais uma peça de nosso quebracabeças: “Eis que eu
tomarei os filhos de Israel de entre as nações para onde eles
foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei para a sua
própria terra”.
Já que esses três capítulos de Ezequiel contam a mesma
história e formam um todo, e certos elementos comprovadamente
dizem respeito aos tempos finais, o retorno dos filhos de Israel ali
mencionado também acontecerá obrigatoriamente nos tempos
finais. Isso é facilmente perceptível na declaração de Ezequiel 38.8,
que expõe a motivação de Gogue: “Depois de muitos dias, serás
visitado; no fim dos anos, virás à terra que se recuperou da espada,
ao povo que se congregou dentre muitos povos sobre os montes de
Israel... este povo foi tirado de entre os povos...”. Gogue vai voltar-
se contra Israel por ser este um povo “tirado de entre os povos”, um
povo que se recuperou da espada e que há pouco ainda clamava
em seu desespero: “Os nossos ossos se secaram; e pereceu a
nossa esperança; estamos de todo exterminados” (Ez 37.11).
Auschwitz, por exemplo, não era um campo de concentração; era
um campo de extermínio, uma fábrica da morte. Na visão que
Ezequiel teve do campo de ossos secos ouvimos o clamor dos
judeus, o clamor de Israel quando confrontado com seu extermínio
iminente: “Nossa esperança se foi! Estamos completamente
exterminados!” Exterminados como insetos nocivos e irritantes, com
gás pesticida produzido pela indústria química da Alemanha. A
revelação de Deus nessa visão de Ezequiel garante, porém, que os
judeus, apesar de suas experiências extremamente negativas, “se
recuperarão da espada”, prometendo que eles sobreviveriam como
nação e retornariam para sua terra. Será que, diante da história
recente de Israel, ainda podemos duvidar da realidade da profecia
bíblica, tão profundamente atual? Ezequiel continua se cumprindo!

Onde Israel se encaixa na profecia?


Hoje grande parte do cristianismo tem problemas com a
existência do Estado de Israel e alimenta dúvidas acerca do direito
legítimo dos judeus à sua terra. Há os que não questionam
somente. Vão mais além, chegando a negar com veemência que os
judeus tenham direito legítimo ao território de Israel. Por isso
conclamam ao boicote a Israel, fazem demonstrações públicas e
condenam Israel sempre que puderem. Porém, se alguém se chama
ou se considera cristão, precisa ter uma base para seu nome e para
sua fé, e essa base é a Bíblia. Sem a Bíblia seremos ateus,
livrespensadores, budistas, hindus ou muçulmanos, mas não
seremos cristãos. Por isso, é necessário que o cristão creia no que
a Bíblia diz, inclusive no que ela diz em relação ao povo de Israel e
ao futuro dessa nação.
Examinemos mais de perto as menções à terra de Israel nos
três capítulos de Ezequiel. Olhando a lista reconheceremos que
mais da metade das passagens que mencionam Israel falam da
terra de Israel, dos montes de Israel e das cidades de Israel.
Ezequiel 37
V. 12: “... ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel”.
V. 14: “... e vos estabelecerei na vossa própria terra”.
V. 21: “... e os levarei para a sua própria terra”.
V. 22: “... uma só nação na terra, nos montes de Israel”.
V. 23: “... livrá-los-ei de todas as suas apostasias em que
pecarem e os purificarei. Assim, eles serão o meu povo, e eu serei o
seu Deus”.
V. 25: “Habitarão na terra que dei a meu servo Jacó... Davi, meu
servo, será seu príncipe eternamente”.
V. 26: “aliança de paz... aliança perpétua... o meu santuário no
meio deles”.
V. 27: “O meu tabernáculo estará com eles...”
V. 28: “As nações saberão que eu sou o Senhor que santifico a
Israel...”
Ezequiel 38
V. 8: “montes de Israel”.
V. 12: “o povo que se congregou dentre as nações”.
V. 12: “que habita no meio da terra”.
V. 14: “o meu povo de Israel”.
V. 16: “contra o meu povo Israel... contra a minha terra”.
V. 18: “contra a terra de Israel”.
V. 19: “a terra de Israel”.
V. 21: “todos os meus montes”.
Ezequiel 39
V. 2: “aos montes de Israel”.
V. 4: “Nos montes de Israel”.
V. 7: “no meio do meu povo Israel”.
V. 9: “Os habitantes das cidades de Israel”.
V. 11: “um lugar de sepultura em Israel”.
V. 12: “a casa de Israel”.
V. 13: “todo o povo da terra”.
V. 14: “percorrerão a terra”.
V. 17: “nos montes de Israel”.
V. 22: “os da casa de Israel saberão”.
V. 23: “a casa de Israel”.
V. 25: “me compadecerei de toda a casa de Israel”.
V. 26: “quando eles habitarem seguros na sua terra”.
V. 28: “tornarei a ajuntar para voltarem à sua terra”.
V. 29: “derramarei o meu Espírito sobre a casa de Israel”.
Portanto, a terra é de Deus, os montes são de Deus, e o
Senhor deu essa terra aos patriarcas judeus (Ez 37.25), ao povo de
Israel “para sempre”. É o país “no meio da terra” (Ez 38.12). Várias
vezes Deus chama Israel de “meu povo”, mesmo que, nas
diferentes etapas do seu caminho, Israel ainda nem fosse
verdadeiramente crente, apesar de tudo o que Deus fazia por eles e
no meio deles! Em Ezequiel 38.16 Deus fala a Gogue: “e subirás
contra o meu povo de Israel, como nuvem, para cobrir a terra. Nos
últimos dias, hei de trazer-te contra a minha terra, para que as
nações me conheçam a mim, quando eu tiver vindicado a minha
santidade em ti, ó Gogue, perante elas”. Em um só versículo somos
confrontados com Deus chamando Israel de “meu povo” e a terra de
Israel de “minha terra”. A isso soma-se o contexto temporal em que
isso sucederá: “nos últimos dias”. Isso deveria nos fazer pensar, a
nós que nos dizemos cristãos, para que não façamos como o
mundo, que condena Israel de forma leviana, precipitada e sem dar
crédito ao que Deus diz. A lista de passagens bíblicas que vimos e
muitas outras mais nos ensinam a agir de forma diferente!

“Mas Israel ainda nem se converteu!”


Eventos passados tão diversos como o Holocausto, a fundação
do Estado de Israel, o ajuntamento do povo vindo de mais de cem
nações, e eventos futuros como a terrível invasão de Gogue, da
terra de Magogue, ainda por acontecer, vão preparando Israel passo
a passo para a última e mais importante etapa de sua existência:
sua restauração espiritual. Deus intervirá em favor de Israel e contra
Gogue – com o povo de Israel ainda não regenerado
espiritualmente. Essa restauração será pela intervenção divina; é
o que lemos cinco vezes nestes capítulos de Ezequiel. (Ez 37.6,13 e
14; Ez 39.22 e 28).
Prestemos atenção aos verbos que exprimem o agir de Deus:
“Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós
estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis
que eu sou o Senhor” (Ez 37.6). Outras traduções dizem:
“reconhecereis que eu sou o Senhor” ou “vereis que eu sou o
Senhor”.
Desde 1948 Israel já está outra vez em sua terra. Essa profecia
já se cumpriu. Deus o salvará da invasão de Gogue. Isso ainda está
por acontecer. E Deus interferirá para transformar e restaurar Israel
espiritualmente: “Farei conhecido o meu santo nome no meio do
meu povo Israel e nunca mais deixarei profanar o meu santo nome;
e as nações saberão que eu sou o Senhor, o Santo em Israel” (Ez
39.7). “Segundo a sua imundícia e as suas transgressões, assim me
houve com eles e escondi deles o rosto. Portanto, assim diz o
Senhor Deus: Agora, tornarei a mudar a sorte de Jacó e me
compadecerei de toda a casa de Israel; terei zelo pelo meu santo
nome” (vv. 24-25). Então o próprio Deus Se revelará aos judeus: “Já
não esconderei deles o rosto, pois derramarei o meu Espírito sobre
a casa de Israel, diz o Senhor Deus” (v.29). A etapa final da plena
restauração de Israel como povo do Senhor será o derramamento
do Espírito Santo sobre toda a casa de Israel. De fato, hoje Israel
ainda não é crente, mas virá o tempo em que essa profecia de
renovação espiritual também se cumprirá ao pé da letra na vida e na
história do povo judeu.
Para todos nós, o retorno de Israel deveria ser uma luz de
alerta piscando e fazendo o alarme soar, pois quando as
“sepulturas” se abrem e os judeus saem das nações e voltam para
Israel, é porque o mundo está maduro para o juízo.

Perspectiva profética: a presença direta de Deus


na terra
Em Ezequiel 37.27-28 lemos: “O meu tabernáculo estará com
eles; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. As nações
saberão que eu sou o Senhor que santifico a Israel, quando o meu
santuário estiver para sempre no meio deles”. Bíblias de Estudo
costumam apontar para a passagem paralela desse texto em
Apocalipse 21.3-4: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo:
Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com
eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E
lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já
não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram”. Aqui, quando a Bíblia fala do “tabernáculo de Deus com
os homens”, está dizendo que Deus habitará entre eles, que fará
Sua morada aqui na terra. A terra estará outra vez diretamente
conectada à dimensão celestial!
Assim como cremos que um dia Deus habitará “no meio deles”,
reconhecemos, com a ajuda destes capítulos de Ezequiel, que isso
se cumprirá concretamente em Israel. Nesse caso não é possível
qualquer espiritualização da declaração bíblica, e é melhor que já
aceitemos hoje essa realidade futura. E não esqueçamos: quando a
nova Jerusalém descer do céu (Ap 21.10), nas doze portas de
pérolas estarão inscritos os nomes das doze tribos de Israel. O
futuro de Israel está entrelaçado com o futuro da Igreja. Será
que nos alegraremos quando virmos os nomes das tribos de Israel
ou isso nos incomodará? Se nossos sentimentos são negativos em
relação a Israel e aos judeus, deveríamos questionar seriamente
nossa relação com a Palavra de Deus e com nosso Senhor Jesus
Cristo, que no próprio Novo Testamento (Rm 11.26) é chamado de
Libertador de Sião!

Resumindo, aprendemos que...


...no fim dos dias haverá um movimento entre os ossos secos
que estiveram espalhados por longo tempo. Por 2.000 anos os
judeus viveram na Diáspora (dispersão pelo mundo). O começo
desse movimento entre os ossos é comparado a um “ruído”, um
“barulho” (Ez 37.7). Essa mobilização dos ossos secos começou
com o Primeiro Congresso Sionista dirigido por Theodor Herzl na
Basileia (Suíça) em 1897. Então, do barulho houve a transição para
o movimento: em 1947 partiu-se para a fundação do Estado de
Israel, com sua proclamação em 14 de maio de 1948 por David Ben
Gurion. Há quase 70 anos o povo judeu, que a profecia diz que seria
“sobremodo numeroso”, continua a se juntar (Ez 37.10), está
presente na mídia quase diariamente e mais de uma vez já fez as
nações árabes inimigas ranger os dentes. Nos últimos dias, Gogue
de Magogue é quem catalisará o transbordante ódio do mundo
contra Deus e contra Israel. Então o Senhor intervirá pessoalmente,
salvando Israel e fazendo-o reconhecê-lO como o seu Deus: “Farei
conhecido o meu santo nome no meio do meu povo Israel e nunca
mais deixarei profanar o meu santo nome; e as nações saberão que
eu sou o Senhor, o Santo em Israel” (Ez 39.7).
Por cinco vezes é mencionado que as nações (os povos, o
mundo) “reconhecerão, saberão, verão” o que estará se passando
quando Gogue for aniquilado juntamente com toda a sua aliança:
“As nações saberão que eu sou o Senhor que santifico a Israel,
quando o meu santuário estiver para sempre no meio deles” (Ez
37.28; comp. Ez 38.16,23; Ez 39.7,23). As nações serão forçadas a
reconhecer e admitir essa verdade por causa dos terríveis juízos
que experimentarão. Mas para muitos será tarde demais.
As declarações e as revelações proféticas em Ezequiel 37-39
deveriam nos levar a ver Israel como Deus vê. O Senhor conduz,
usa e faz de Israel o centro de Seu agir nos tempos finais, em todos
os acontecimentos que ainda estão por vir, já que a partir de Sião se
expandirá o maravilhoso Reino de Paz de Jesus Cristo. Por isso,
deveríamos nos distanciar decididamente de qualquer tendência
antissemita, deveríamos apoiar Israel, orando e fornecendo suporte
a projetos nesse país, exprimindo de forma bem prática nosso amor
pelo povo da Aliança do Senhor.
Para pensar
Nosso apoio a Israel é um testemunho eloquente de que fomos
salvos e abençoados pelo Deus e Messias de Israel e pelas Escrituras
de Israel. Se nos mantivermos fiéis à Bíblia, reconheceremos em Israel
e através de Israel toda a graça de Deus, todo o Seu amor e Sua
imensa misericórdia. Veremos que Israel é o cumprimento visível de
previsões divinas e não uma pedra de tropeço no nosso caminhar
cristão!
Cap. 5 | A Misteriosa Chave de
Davi

Expressões bíblicas aparentemente curiosas e estranhas ao


nosso vocabulário teológico habitual nos desafiam a
conhecer mais profundamente seu significado. Especialmente
na Escatologia encontramos algumas dessas expressões que
aguçam nossa curiosidade. Seu estudo vem carregado de
bênçãos. Vale a pena cavar mais fundo!

“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o


santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e
ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá” (Ap 3.7).
Filadélfia era a mais moderna das sete cidades onde havia as
igrejas cristãs que receberam as cartas do Apocalipse. Foi
fundada em 189 a.C. pelo rei Attalos II Philadelphos. Com esse
nome especial (Filadélfia significa amor fraternal), esse rei queria
expressar seu vínculo afetuoso com seu irmão Eumenes II.
Dominadores futuros tentaram mudar a denominação da cidade mas
não conseguiram. Até hoje Filadélfia continua sendo conhecida por
seu antigo e sugestivo nome. Como cidade fronteiriça entre a Frígia,
Mísia e Lídia, Filadélfia era o portal de entrada ideal para expandir a
cultura e o idioma gregos. Por isso Jesus usou a situação
geopolítica e a vocação da cidade de Filadélfia para ilustrar
verdades espirituais, e foi nesse contexto que Ele apontou para Sua
soberania e falou da “chave de Davi”. Isso é uma prova – e um
consolo – de que a partir do céu o Senhor vê tudo e domina todas
as circunstâncias! Ele tem a chave em Suas mãos.
Já que cremos que as cartas às igrejas do Apocalipse possuem
apelos proféticos que vão além das exortações genéricas aos
cristãos de todos os tempos, em Apocalipse 3.10 descobrimos uma
promessa bem especial à igreja de Filadélfia mas que se estende
até os tempos do fim, até ao final da era da Igreja: “Porque
guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te
guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo
inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. Essa
proteção toda especial pode ser resumida em uma única palavra:
Arrebatamento! O Arrebatamento da Igreja acontecerá antes dos
sete anos de Tribulação, antes da “operação do erro” (2Ts 2.11) que
se dará por meio da dupla anticristã, o dominador mundial e o falso
profeta, protagonistas da hora da provação que há de vir sobre o
mundo inteiro.

Para não esquecer


“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreva: Estas são as palavras
daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi. O que
ele abre ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode
abrir” (Ap 3.7 – NVI).
No que você pensa quando lê sobre a “chave de Davi”? Essa
expressão aparece uma única vez no Novo Testamento, e somente
uma no Antigo Testamento: “Porei sobre o seu ombro a chave da
casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fechará; fechará, e ninguém
abrirá. Fincá-lo-ei como estaca em lugar firme, e ele será como um
trono de honra para a casa de seu pai. Nele, pendurarão toda a
responsabilidade da casa de seu pai, a prole e os descendentes,
todos os utensílios menores, desde as taças até as garrafas” (Is
22.22-24).
O contexto dessa passagem do Antigo Testamento descreve
Deus anunciando uma despedida desonrosa para o administrador
corrupto Sebna, dizendo que iria colocar Eliaquim, filho de Hilquias,
em seu lugar. A chave de Davi serve de ilustração para a autoridade
e a grande responsabilidade diante de Deus e dos homens. Mas a
questão continua: por que o Senhor volta a usar essa expressão tão
rara justamente em uma das cartas do Apocalipse? Essas cartas
foram escritas sessenta anos depois do Pentecostes, depois da
destruição de Jerusalém e da queda nacional de Israel – e, assim,
dentro da era da Igreja! A maioria dos comentaristas parece ter
problemas com essa expressão, e muitos simplesmente a ignoram e
deixam de lado, enquanto alguns alegorizam a chave de Davi,
aplicando-a à Igreja em alguma forma de sentido figurado. Mas se
fosse para a Igreja, nosso Senhor poderia ter dito como em Mateus
28.18: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”. Por que,
ao invés disso, em Apocalipse 3.7 Ele usa essa expressão
específica, que nós cristãos ignoramos tão facilmente?

Cavando mais fundo


Na Filadélfia, como em todos os lugares dos primórdios do
cristianismo, havia confrontação com os judeus da sinagoga. Essa
era a parcela do povo judeu que se fechou para o Evangelho, que
se endureceu e reagiu com extremo antagonismo à mensagem de
Jesus. Não esqueçamos que as primeiras igrejas foram formadas
basicamente por judeus israelitas. Na Diáspora (Dispersão) houve
uma divisão entre os judeus que criam no Messias e os judeus “da
sinagoga”, e as igrejas cristãs passaram a ser formadas por judeus
tementes a Deus juntamente com os gentios convertidos. Mirando
esse antagonismo dos judeus “da sinagoga” ao Evangelho, Jesus
enfatiza quem é que detém a verdadeira autoridade. Ou seja, Ele
mesmo tem a chave de Davi! E promete uma porta aberta ao
Evangelho para a igreja de Filadélfia!

Quando o Novo Testamento fala em Davi


No Novo Testamento, quando aparecem expressões
relacionadas com Davi, precisamos sempre estabelecer uma
conexão com Israel. Por exemplo:
– O Filho de Davi (Mt 1.1; Mt 21.15).
– A descendência de Davi (Jo 7.42; Rm 1.3).
– A Raiz de Davi (Ap 5.5; Ap 22.16).
– O trono de Davi (Lc 1.32).
– A cidade de Davi (Lc 2.4).
– O tabernáculo caído de Davi (At 15.16).
O mesmo se dá com o uso de “Jacó”, “Sião” e
“Jerusalém”, caso esses nomes não sejam claramente usados em
sentido figurado, por exemplo, em Hebreus 12.22 (compare com Gl
4.24). Não observar que certas passagens, promessas,
advertências e profecias bíblicas dizem respeito explícita e
exclusivamente a Israel, hoje, depois de quase 2.000 anos de
História da Igreja, tem feito o assunto Israel tornar-se misterioso
para muitos, um mistério de consequências abrangentes e
perceptíveis. Aceitar ou rejeitar Israel: eis uma questão que pode
envenenar ou vivificar nossa Teologia. Nunca devemos perder de
vista que, já bem no início da Bíblia, Deus disse ao primeiro
patriarca de Israel: “Abençoarei os que te abençoarem e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra” (Gn 12.3). Por essa razão, a menção à chave de
Davi é uma advertência para não esquecermos desta realidade e
deste fato básico: a bênção sobre todas as famílias da terra tem
estreita relação com Abraão, Isaque e Jacó.
No último livro da Bíblia descobrimos algumas dessas
formulações tipicamente judaicas. Eis alguns exemplos:
– Os sete candelabros de ouro, a Menorá (Ap 1.12).
– O Leão da tribo de Judá (Ap 5.5).
– Taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos
santos (Ap 5.8; Ap 8.3).
– Os 144.000 selados das doze tribos (Ap 7.4-8).
– O Templo de Deus, o altar e o átrio (Ap 11.1-2).
– As Duas Testemunhas, que lembram Moisés e Elias (Ap 11.5-
6).
– A Arca da Aliança (Ap 11.19).
– A mulher com o sol, a lua, doze estrelas e asas de águia (Ap
12.1,14).
– O monte Sião (Ap 14.1).
– Os nomes das doze tribos sobre as doze portas da Jerusalém
celestial (Ap 21.12).
Arnold Fruchtenbaum, erudito judeu e profundo conhecedor da
Bíblia, listou mais de 500 passagens do Apocalipse que citam ou
têm relação direta com textos do Antigo Testamento. Quinhentas
referências! Por que esse acúmulo tão grande? Porque a história da
salvação de Israel será retomada e terá continuidade no tempo e no
espaço!

As tribos perdidas de Israel


Hoje o termo genérico “judeu” inclui todos os descendentes da
linhagem de Abraão, Isaque e Jacó. Antigamente, apenas os
descendentes de Judá eram chamados de “judeus”. Mais tarde,
Judá e Benjamin juntos formaram Judá, o Reino do Sul, em
contraposição às outras dez tribos separadas, que formaram o
Reino do Norte, chamado Israel. Por isso lemos na Bíblia acerca
dos reis de Judá e dos reis de Israel. No tempo de Jesus os
“judeus” eram principalmente os moradores de Jerusalém,
especialmente os líderes religiosos, pois Jerusalém fica na Judeia.
Prestemos atenção ao fato de que Paulo, em sua defesa diante
do rei Agripa, menciona todas as doze tribos: “...as nossas doze
tribos, servindo a Deus fervorosamente de noite e de dia, almejam
alcançar...” (At 26.7). E Tiago dirige sua carta “às doze tribos que se
encontram na Dispersão” (Tg 1.1). Aqui nada se percebe de dez
tribos misteriosamente perdidas, alvo das mais estranhas e malucas
especulações. Na nossa época existem muitas teorias acerca
dessas dez tribos supostamente perdidas. Em sua fértil fantasia,
muitos pensam reconhecer em povos ocidentais os descendentes
dos israelitas, ou então simplesmente colocam a Igreja em seu
lugar. É como se disséssemos: Hamburgo lembra Ham (Cam, Cão),
portanto, todos os hamburgueses descenderiam do segundo filho de
Noé, um óbvio disparate.
Para Deus nada é impossível. Ele trará Israel, como povo
completo de doze tribos, de volta para o cenário do fim dos tempos
(Ap 7.4-8) – da mesma forma como já fez com a tão improvável
fundação do Estado de Israel ou a modernização do idioma
hebraico, que era considerado uma língua morta! É impressionante
que pessoas como o rabino Eliyahu Avichail, por meio do Projeto
Elias, procurem e encontrem descendentes de Israel no mundo
todo: na China, nas ex-repúblicas soviéticas, na Índia, Japão, Itália,
Peru ou México. Não se trata de judeus da Diáspora que são
conhecidos e identificáveis como judeus, que se reúnem em
sinagogas ou centros de cultura judaica e mantêm escolas próprias
nas grandes cidades do mundo. O Projeto Elias procura judeus de
linhagens bem antigas, com pouco ou nenhum vínculo com a vida
judaica propriamente dita. Seu anelo é “descobrir” alguns desses
remanescentes e trazê-los de volta para Israel. Muitas vezes é
bastante difícil descobrir se são parcelas da população que se
converteram ao judaísmo em algum momento da História, sob a
influência de eventos ou pessoas, ou se esses judeus “descobertos”
pertencem ao Israel original. Um exemplo típico é encontrado em
Ester 8.17: “... e muitos, dos povos da terra, se fizeram judeus,
porque o temor dos judeus tinha caído sobre eles” (comp. Et 9.27).
No decorrer do tempo, quando grupos de judeus ou gentios
convertidos ao judaísmo ficaram isolados por catástrofes naturais,
por guerras ou movimentos migratórios, certamente muitas tradições
originais foram se modificando ou sendo encobertas por influências
externas. Isso torna a pergunta “quem é judeu de verdade?”
bastante complicada de responder. Por exemplo, no Brasil existem
muitos descendentes dos chamados “marranos”, judeus que no
tempo da Inquisição católica fugiram de Portugal (1536-1821) e da
Espanha (1478-1834). Parte deles se assimilou totalmente e se
adaptou à cultura brasileira. Porém, mesmo entre esses existem os
que, de repente, começam a pesquisar suas raízes, querem saber
de onde vem seu nome, fazem sua árvore genealógica – e isso
acontece depois de séculos, depois de muitas gerações – para
então emigrarem para Israel. Nem uma tribo está perdida!
Deus não planejou apenas a salvação dos gentios por meio da
obra de Jesus. Seu plano sempre incluiu a restauração de Israel.
Ele diz a Seu Filho: “Pouco é o seres meu servo, para restaurares
as tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de Israel;
também te dei como luz para os gentios, para seres a minha
salvação até às extremidades da terra” (Is 49.6). No final, é o próprio
Messias quem restaurará todas as coisas.

Deus cumpre o que promete


Isso nos lembra de anúncios proféticos como em Jeremias
16.15: “Tão certo como vive o Senhor, que fez subir os filhos de
Israel da terra do Norte e de todas as terras para onde os tinha
lançado. Pois eu os farei voltar para a sua terra, que dei a seus
pais”. “Aquele que espalhou a Israel o congregará...” (Jr 31.10).
Obviamente existem os bem espertos que afirmam que tudo isso já
se cumpriu no passado e não tem qualquer significado para os
judeus de hoje. É interessante ver que a profecia bíblica acaba
criando duas alas, dividindo as opiniões e nos fornecendo respostas
fenomenais a muitas dessas questões relativas a Israel: “Saberão
que eu sou o Senhor, seu Deus, quando virem que eu os fiz ir para
o cativeiro entre as nações, e os tornei a ajuntar para voltarem à sua
terra, e que lá não deixarei a nenhum deles” (Ez 39.28). Isso ainda
não se cumpriu! Mas um dia todos voltarão. Ainda há judeus
espalhados entre quase todos os povos do planeta. Por exemplo,
somente há pouco tempo a população de Israel ultrapassou pela
primeira vez o número de judeus que vivem nos Estados Unidos
(aprox. 5.500.000 pessoas).
O retorno dos judeus à terra de Israel acontece parcialmente
diante dos nossos olhos, e no final esse retorno será concluído pelo
próprio Deus: “E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de
trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos,
de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.31). Muitas vezes a
palavra “escolhidos” é aplicada exclusivamente à Igreja, e então
instala-se uma grande confusão, especialmente acerca do
Arrebatamento da Igreja e da ocasião em que ele ocorrerá. Isaías
65.9 menciona que os eleitos herdarão a terra de Israel. Se lermos
esse capítulo como um todo, não restarão dúvidas de que ele está
falando do povo de Israel que será salvo no final da Grande
Tribulação, e não da Igreja.

Repensando conceitos
A intervenção divina inclui a humilhação da soberba humana.
Um exemplo muito forte é Naamã, o general leproso do exército
sírio mencionado em 2Reis 5. É interessante ver que esse homem
de posição tão elevada tenha dado ouvidos às palavras de uma
escrava sua, uma menina israelita que havia sido raptada por
ocasião de uma incursão militar no estrangeiro. Certamente
circulavam muitas histórias acerca do povo judeu e de tudo o que o
Deus de Israel já havia realizado com essa nação ou por meio dela.
Mesmo assim Naamã ficou irritado quando o profeta Eliseu nem
sequer se dignou a recebê-lo, num primeiro momento, e ainda
ordenou que ele se banhasse sete vezes no rio Jordão. Mais uma
vez Naamã ouviu o conselho dos outros, dessa vez dos seus
servos, superou seu orgulho e obedeceu. E foi abençoado pelo
Deus de Israel. Finalmente curado, teve toda a sua vida
transformada. Depois que ele reconheceu o Deus de Israel diante
dos que estavam presentes (v.15), sentiu repentinas e justificadas
dúvidas acerca de frequentar o templo do ídolo Rimom, e foi buscar
aconselhamento espiritual junto ao profeta de Deus, que dessa vez
o recebeu e aconselhou pessoalmente (2Rs 5.15-19). Naamã
repensou seus conceitos, inclusive acerca do povo de Israel. Essa
é uma atitude digna de ser imitada.
Um acontecimento correlato também é encontrado no Novo
Testamento: a cura de um cego de nascença por meio de simples
saliva e terra (Jo 9.1-2). Costumamos ler superficialmente, sempre
dentro de nossa ótica piedosa, mas essa era uma atitude repulsiva e
uma forma um pouco desagradável de curar alguém. Muitos de nós
teriam se negado a fazer o que Jesus mandava. Teríamos
implorado: “Senhor, Tu não podes apenas impor as mãos e dizer
uma palavra para me curar?” O agir e a intervenção divina não
seguem um roteiro pré-estabelecido nem acontecem
automaticamente: o que Deus faz é único, singular e bem pessoal.
Nosso orgulho humano pode impedir que aceitemos a Bíblia
como Palavra de Deus, a Bíblia que surgiu em Israel e por meio dos
judeus. Mas Jesus é e continua sendo o Messias – inclusive de
Israel! Se O separarmos de Seu povo e O extirparmos de sua
História, estaremos criando um personagem que talvez seja um
homem bom, um libertário, um revolucionário ou pacifista, mas no
final restará apenas uma falsificação sem cruz e sem vida, uma
imitação sem real valor. Mas todo homem precisa de um Salvador!
Como é importante não apenas repensar nossos conceitos, mas
também adequá-los à Palavra de Deus!
Repetindo: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas
coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi,
que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá” (Ap
3.7).

Trocando o certo pelo duvidoso


O caminho mais fácil e com menor resistência, que exige o
menor empenho e o menor esforço, geralmente é o mais simpático
para nós. Em retrospectiva, porém, muitas vezes percebemos que
esse caminho não nos levou aos resultados esperados. O perigo de
desviar por atalhos ou de capitular diante dos obstáculos aumenta
quando o sofrimento fica maior, quando cresce a pressão e aumenta
a adversidade. E esse perigo cresce ainda mais quando se soma à
nossa tendência tão humana de nos livrar do problema o quanto
antes. Em Isaías 36 é descrita uma situação extremamente trágica:
um inimigo prepotente e numericamente superior havia sitiado
Jerusalém e deixado seus habitantes à míngua. Parecia que eram
vãs todas as orações e toda a sua confiança em Deus. Cheio de si,
arrogante, Rabsaqué, o substituto do rei arameu-assírio
Senaqueribe, escarnecia do Deus de Israel, tentando quebrar as
últimas resistências dos já enfraquecidos judeus. Ele enumerou
suas muitas conquistas e mencionou que os incontáveis deuses de
outros povos não surtiram qualquer efeito contra a expansão de seu
poderio. Ameaçou que Jerusalém iria passar pela mesma
experiência. Para completar a miséria, Rabsaqué dominava a língua
hebraica e, em nome do rei assírio, voltou-se diretamente ao povo
judeu falando: “Não deis ouvidos a Ezequias; porque assim diz o rei
da Assíria: Fazei as pazes comigo e vinde para mim; e comei, cada
um da sua própria vide e da sua própria figueira, e bebei, cada um
da água da sua própria cisterna; até que eu venha e vos leve para
uma terra como a vossa; terra de cereal e de vinho, terra de pão e
de vinhas” (Is 36.16-17). Essa era uma propaganda muito atraente,
com imagens que lembravam o reino de paz – porém, não em
Israel, mas na Assíria. Era um substituto chamativo, ofertado
enganosamente pelo inimigo para atrair os israelitas para fora da
Terra Prometida.
O islã faz algo semelhante quando, por meio de outras
revelações que não as da Bíblia, declara que conduzirá seus
seguidores a outro paraíso e para tanto declara nulas as revelações
divinas acerca de Israel, do Messias e da Igreja. O espírito que está
por trás desse ensino pode ser facilmente identificável no ódio que
Maomé tinha não apenas dos judeus; ele odiava a cruz dos cristãos
de uma forma extrema! Arnold Fruchtenbaum escreve acerca da
ojeriza total que Maomé nutria pela crucificação de Jesus, pelo
símbolo da cruz e pela reconciliação revelada por Deus na Pessoa
de Jesus Cristo:
Em relação a Jesus que está retornando, ele (Maomé) fala que
destruirá o “mito da cruz” e “quebrará ou destruirá a cruz” (Mishkat
IV, p. 80ss.). Waqidi relata que “Maomé tinha tanta aversão à forma
da cruz que, na sua casa, quebrava tudo o que lembrasse o formato
desse símbolo” (Dictionary of Islam, p.63). Tudo isso atesta a
profunda diferença entre a revelação bíblica e o Corão.
Desde a fundação do Estado no ano de 1948, só tem
aumentado o ódio contra Israel, que é considerado um corpo
estranho no meio do mundo islâmico. Depois de quase 2.000 anos
de dispersão, perseguição e Holocausto, ao invés de dar as boas-
vindas aos judeus como “os outros descendentes de Abraão” por
serem os originais detentores da verdadeira revelação de Deus, os
muçulmanos usam todos os meios para demonizar Israel e os
judeus, e, se pudessem, acabariam com eles.

Luzes de alerta no cenário profético


Na história recente apareceram as mais variadas sugestões de
territórios para instalar o povo judeu: em 1903 houve o Programa de
Uganda. No 6º Congresso Sionista na Basileia, o secretário britânico
para as colônias, Joseph Chamberlain, ofereceu aos judeus o platô
de Mau no Leste da África, no atual Quênia. Por causa do
antissemitismo crescente, multiplicaram-se ideias semelhantes na
época do domínio nazista na Alemanha. Antes da Solução Final
debatia-se seriamente a expatriação dos judeus europeus para a
ilha africana de Madagascar. Houve um fator que influenciou
fortemente essa tentativa: queriam impedir que mais judeus
chegassem à Palestina e minassem a importância de Jerusalém
para os cristãos e muçulmanos, caso viessem a instalar ali um
Estado no estilo do Vaticano. Os japoneses criaram o Plano Fugu
em 1934, e em 1938 decidiram receber os judeus que fugiam do
nazismo. O nome Fugu fala por si: significa baiacu. No Japão, esse
peixe venenoso é cuidadosamente limpo para ser comido. Era
assim que os japoneses classificavam os judeus, uma vez que
levavam a sério o que diziam os Protocolos dos Sábios de Sião
(um texto que descreve um suposto projeto de conspiração de
judeus e maçons para dominar o mundo através da destruição do
Ocidente). Os japoneses queriam servir-se dos judeus influentes e
capacitados em seu próprio benefício, mas sempre com cuidado,
como se faz ao consumir o baiacu. Até Joseph Stalin reservou em
1934, numa Rússia em ascensão, um território autônomo em meio
aos seus revolucionários deslocamentos de grandes contingentes
de população. Tratava-se do “Território Judeu Autônomo”, cujo
centro seria Birobidjão, próximo ao rio Amur, 8.000 quilômetros a
Leste de Moscou, na fronteira com a China e ao Norte das Coreias e
do Japão, para que ali os judeus pudessem manter a herança de
sua cultura judaica – bem distantes e bem separados das cidades
principais e dos centros industriais por razões de segurança! Mas
essas foram, todas elas, tentativas meramente humanas para
resolver de alguma forma a questão judaica. Na realidade, isso era
e continua sendo impossível, pois o próprio Senhor garante: “Em
verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto
aconteça” (Mt 24.34). Os judeus não passarão.
Com essas tentativas de conceder uma pátria aos judeus, as
luzes de alerta começavam a piscar em muitos lugares. Algumas
das peças do quebracabeças profético começavam a se mover.
Infelizmente, poucos reconheceram os sinais dos tempos. Poucos
perceberam que estavam começando as dores de parto para o
nascimento do Estado de Israel. Deus não queria um Projeto
Uganda barato, ou uma cópia de Israel em Madagascar ou uma
autonomia judaica russa em algum lugar no fim do mundo. Ele
queria Jerusalém, que viria a tornar-se uma pedra pesada para
todos os povos. Ele queria o povo judeu em Israel, no centro do
mundo (Ez 38.12b)! O movimento sionista serviu para apontar para
eventos futuros que de fato vieram a se concretizar. A chave de Davi
encontra-se nas mãos de Jesus Cristo, que determina, Ele
pessoalmente, o destino de Israel.
“A salvação vem dos judeus” (Jo 4.22), e nosso Deus é “o Deus
de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (Mt 22.32). Isso é
confirmado por nosso Senhor em Lucas 11.52: “Ai de vós,
intérpretes da Lei! Porque tomastes a chave da ciência; contudo,
vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam entrando”.
A Israel foram confiadas as declarações divinas. Isso não é nada
mais do que a oferta divina de reconciliação e salvação, e sua
aceitação decide entre a vida ou a morte – por toda a eternidade!
Esse assunto que Deus confiou a Israel era muito sério e envolvia
grande responsabilidade. Mas entre os judeus religiosos houve
abuso, uma monopolização da verdade e um esforço em manter
muitas tradições meramente humanas, que apenas serviam para
desviar o foco do essencial e fortaleciam ainda mais as posições e
os privilégios da liderança religiosa. Suas tradições eram
consideradas superiores à revelação de Deus em Jesus, que estava
em seu meio em Pessoa. Ele, porém, confirmou a realidade dessa
chave do conhecimento que fora confiada a Israel. Essa “chave da
ciência” não era algo tipo o Santo Graal ou alguma conspiração
qualquer, mas o verdadeiro caminho da salvação, o mapa do
caminho para o paraíso, um manual ensinando os homens como
voltar ao paraíso, com a figura central do Messias como Cordeiro de
Deus, o Deus e Rei de Belém, o Libertador de Sião e o Leão de
Judá. Mas infelizmente os quatro evangelhos e parte de Atos dos
Apóstolos relatam minuciosamente como Israel, como um todo, se
lançou mais e mais à deriva, rejeitando Jesus e perseguindo os
apóstolos após a crucificação do próprio Jesus. Os mestres da Lei
não entravam, eles mesmos, pela porta da salvação e ainda
excluíam aqueles que ousavam reconhecer a Jesus como o
Messias (como exemplo, leia João 9.34).

Pedro, o homem da chave


Pedro, o discípulo de Jesus, é um exemplo impressionante da
soberania de Deus e da vontade do Senhor de usar pessoas bem
comuns, de transformá-las e corrigi-las. Pedro foi instituído pelo
próprio Senhor para ser uma pessoa chave dotada de autoridade
especial. O que significa isso? Nosso Deus é um Deus de ordem, de
planejamento e de profecia. Jesus prometeu a Pedro: “Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos
céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (Mt
16.19).
Pedro foi quase empurrado a evangelizar os gentios. Precisou
da visão do lençol que descia do céu cheio de animais impuros,
animais não kosher. Ele atendeu o convite do centurião romano
chamado Cornélio e foi até a casa dele. Pedro justificou esse ato
diante dos presentes: “Vós bem sabeis que é proibido a um judeu
ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas
Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum
ou imundo” (At 10.28). O que Pedro fez foi um verdadeiro
escândalo, causando inquietação e gerando uma crise na igreja-
mãe de Jerusalém. Mas Pedro havia sido instituído por Deus como
pessoa chave para abrir a porta da salvação também aos não
israelitas, aos estrangeiros gentios.
Dois capítulos antes, Pedro e João já haviam chegado à
Samaria para legitimar o despertamento que ocorrera através da
pregação de Filipe (At 8.14ss.). Os samaritanos eram desprezados
pelos judeus por serem um povo misto, e a expressão “samaritano
endemoninhado” (Jo 8.48) provavelmente era uma das expressões
mais ferinas para xingar e humilhar um judeu. Na antiga Siquém
(Nablus) os samaritanos haviam construído seu próprio santuário.
Somos confrontados com a problemática que havia com os
samaritanos no diálogo de Jesus com a mulher no poço de Jacó,
quando Jesus confirmou à samaritana: “A salvação vem dos judeus”
(Jo 4.22). Exatamente isso cumpriu-se por meio de Filipe, um judeu
que apresentou Jesus aos samaritanos mostrando-o como o
Salvador de Israel, o Salvador por quem muitos samaritanos
também esperavam ansiosamente (Jo 4.25). A salvação veio dos
judeus aos samaritanos.
Mas por que Deus reteve o Espírito Santo, tão claramente
prometido, impedindo assim o renascimento dos samaritanos
arrependidos de seus pecados? A resposta a essa pergunta é muito
importante, uma vez que existe muita confusão nas igrejas quando
se usa esse evento como argumento para afirmar que o batismo
com o Espírito Santo seria uma experiência distinta, separada e
posterior à conversão. O problema que havia naquele momento era
que as igrejas samaritanas teriam se separado dos judeus se
tivessem recebido o Espírito Santo imediatamente. O Novo
Testamento daquela época, personificado pelos apóstolos vivos, não
teria sido considerado a autoridade suprema, levando os
samaritanos a desvirtuarem-se da verdadeira fé em Jesus e
tornarem-se uma seita, mais cedo ou mais tarde. Por isso os
apóstolos tiveram de descer de Jerusalém e, pelo ato visível da
imposição de mãos, transmitir-lhes o Espírito Santo. Em
retrospectiva, esse tempo é analisado assim: “dando Deus
testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários
milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua
vontade” (Hb 2.4). Existem traduções da Bíblia que dizem
“distribuições especiais do Espírito Santo”. Tudo foi colocado em
movimento por aqueles que haviam sido especificamente escolhidos
por Deus, que foram usados e confirmados – e isso é plenamente
válido para o nosso homem na posição-chave, Pedro! Pensemos
“no ligar e desligar” em conexão com a morte tão marcante de
Ananias e Safira depois de interrogados por Pedro (At 5.5,10). Ali
havia uma autoridade suprema em ação.
Quem veio depois de Pedro? Quem foi seu sucessor? A
reivindicação de autoridade apostólica é recorrente por parte de
seitas as mais variadas, especialmente pela igreja católica. Mas
essa é mais uma pergunta respondida na Carta aos Hebreus: “Se,
pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos...” (Hb 2.2).
Essa palavra firme, falada por meio de anjos, alude à outorga da Lei
a Israel no monte Sinai. O que restou depois da indescritivelmente
gloriosa experiência no Sinai? A Palavra de Deus revelada e
transmitida! Exatamente o mesmo depois de Pedro e dos apóstolos:
o Novo Testamento ficou como testemunho e autoridade final:
“Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o
julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no
último dia” (Jo 12.48). Portanto, o que transmite a verdade não são
emoções especiais, nada de êxtase, revelações extrabíblicas ou
visões, nem apóstolos neotestamentários ou papas, mas é a
Palavra de Deus! Tragicamente, para muitos hoje só a Bíblia parece
pouco, parece singela demais, chama pouca atenção ou é
demasiadamente radical. A ideia da Igreja em aparência de serva,
da Igreja peregrina, é desprezada por completo. Mas a base da fé
cristã é a Palavra de Deus, escrita e registrada na Bíblia.
Autoridade legítima, ainda hoje, não reside em coisas fora do
comum, em atitudes chamativas ou em um grande show cristão. A
“loucura de Deus” (1Co 1.25) humilha e quebranta o pecador
arrogante e não satisfaz nossa imaginação carnal nem nossa mente
natural. É justamente nessa insatisfação que se firmam muitos
enganadores modernos vestidos de pele de ovelha: servem-se dos
incautos, da religiosidade das massas, da boa-fé e das falsas
expectativas de muitos cristãos insatisfeitos para propagarem seu
falso evangelho.

Só por Jesus!
Jesus tem autoridade sobre nossa vida, sobre nossa casa,
sobre a Igreja, sobre Seu povo terreno Israel, sobre o mundo e
sobre os acontecimentos do passado, do presente e do futuro. Ele
nos abre o reino da luz e da salvação. Ele abre a porta celestial para
o Arrebatamento. Também é Ele quem detém as chaves da morte e
do inferno (Ap 1.17-18). Tudo aponta para Jesus, tudo converge em
Jesus. E quando a graça de Deus abre nossos olhos,
reconhecemos que a Bíblia toda é cristocêntrica: “Examinais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas
mesmas que testificam de mim” (Jo 5.39; comp. Lc 24.25,27,44).
Semelhante à chave de Apocalipse 3.7 é a menção a Jesus em
Apocalipse 5.5: “eis o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi...” e em
Apocalipse 22.16: “Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante
Estrela da Manhã”. Segundo Colossenses 1.16-17, “nele, foram
criadas todas as coisas” e “nele tudo subsiste”. Além disso, Ele
“sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). Ele é
a origem e a raiz de tudo, que tudo supre, alimenta e mantém.

A Chave de Davi
“Não te glories contra os ramos; porém, se te gloriares, sabe
que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti” (Rm 11.18). Já
que até muitos judeus messiânicos têm dificuldades em reconhecer
a divindade de Jesus, a profecia bíblica de Zacarias 12.10 fornece a
essa questão uma resposta clara e acima de qualquer suspeita:
“olharão para aquele a quem traspassaram”. A conexão com o
versículo anterior (v.9) e com o primeiro versículo do mesmo
capítulo não deixa dúvidas de que aqui é o Deus de Israel quem
está falando, o Criador dos céus e da terra e o Juiz das nações que
virão contra Jerusalém. Ele promete que derramará o Espírito Santo
sobre Israel, dando lugar a um grande choro e intensa lamentação,
e Ele chama a Si mesmo de “traspassado”, “aquele a quem
traspassaram”.
Para pensar
Infelizmente, muitos cristãos não se dão conta de toda a abrangência
desta realidade: todo e qualquer ato salvador divino acontece sempre
em Jesus e por meio de Jesus. A profecia bíblica nos revela ainda que
Israel, no final, será conduzido ao seu Messias. Esse Messias, Jesus,
detém a chave de Davi e é Ele próprio a Raiz de Davi. E por que lemos
acerca disso no último livro da Bíblia, no seu último capítulo (Ap
22.16)? Para que não esqueçamos jamais que “Eu, Jesus, enviei o
meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas”.
Cap. 6 | Os Judeus, Inimigos de
Todos os Homens?

Será que existem passagens bíblicas que justificam o


antissemitismo?

O antissemitismo parecia superado


Quando a Segunda Guerra Mundial terminou e o mundo todo
estava ciente dos horrores perpetrados pelos nazistas alemães
contra os judeus, instaurou-se uma justificada e generalizada
esperança de que o antissemitismo estivesse superado e sepultado
juntamente com os milhões de cadáveres dos mortos nos campos
de extermínio. Mas essa é mais uma das ilusões humanas
frustradas pela realidade dos fatos. A fundação do Estado de Israel
em 1948 levantou todo o mundo árabe contra os judeus. Os judeus
já não tinham o agrado dos seus vizinhos, mas agora constituíam
um alvo concreto para ser atacado. Os pagamentos das reparações
de guerra efetuados pelos alemães e as indenizações que os judeus
receberam por terem sido coagidos a fazer trabalhos forçados nas
fábricas alemãs foram atitudes vistas com pouca simpatia e até com
desagrado por uma grande parcela da população alemã. Mas não
foi só na Alemanha que esse monstro aparentemente adormecido
chamado antissemitismo começou a se reerguer.
Hoje as manifestações de desagrado por Israel, pela existência
do Estado judeu e por sua política, além de um verdadeiro
renascimento do mais descarado antissemitismo, são perceptíveis
no mundo todo, até em nações que sempre haviam sido simpáticas
a Israel. Ainda pior é ver que esse sentimento também é encontrado
no meio cristão.

Antissemitismo cristão?
O mundo odeia Israel. Mas o que causa espanto são as
declarações e ações contra Israel vindas de personalidades cristãs.
Não são poucas as manifestações de homens destacados no meio
evangélico que afirmam encontrar no Novo Testamento a base
para sua antipatia pelo povo que nos deu a Bíblia, o povo do nosso
Salvador Jesus, o povo dos judeus.

O Novo Testamento é antissemita?


Na hora de reportar-se à Bíblia em busca de respaldo para o
antissemitismo cristão, a passagem mais citada é 1Tessalonicenses
2.14-16: “...irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de
Deus existentes na Judeia em Cristo Jesus; porque também
padecestes, da parte dos vossos patrícios, as mesmas coisas que
eles, por sua vez, sofreram dos judeus, os quais não somente
mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos
perseguiram, e não agradam a Deus, e são adversários de todos
os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos gentios para
que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida
de seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles,
definitivamente”. Outras traduções da Bíblia empregam expressões
igualmente fortes para qualificar esse grupo de homens que Paulo
menciona em sua carta: eles são “contrários a todos os homens”
(ACF) ou “hostis a todos” (NVI). Uma versão alemã fala que eles
seriam inimigos de todos os homens.

Buscando ajuda no contexto


Será que, nessa passagem, Paulo está se referindo ao povo de
Israel como um todo? Para saber quem eram esses judeus
inimigos de todos os homens é vital analisar o contexto em que
são mencionados e o que a Bíblia toda tem a dizer sobre o assunto.
Será que Paulo fala em judeus pensando na sua nação judaica, ou
seja, não gentia? Seriam eles os membros judaizantes da igreja de
Jerusalém que causavam inquietação entre os gentios convertidos?
Ou tratava-se da liderança religiosa de Jerusalém, que tentou se
livrar de Jesus e mais tarde também dos Seus seguidores? São três
as possibilidades de interpretação. Vejamos a quem Paulo se
referia, buscando apoio em palavras de João Batista e de Jesus
Cristo:
Em João 8.39-44 encontramos um desses textos fortes contra
os “judeus”, sempre lembrando que é uma declaração do próprio
Senhor Jesus:
“Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes
Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas
agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade
que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão. Vós fazeis as obras
de vosso pai. Disseram-lhe eles: Nós não somos bastardos; temos
um Pai, que é Deus. Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato,
vosso Pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus
e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Qual
a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque
sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do Diabo, que é
vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida
desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há
verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.39-44).
São palavras chocantes, e pelo contexto vemos que Jesus as
proferiu em seu “sermão do Templo” (v.2), dirigido a uma audiência
bem específica: “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido
nele” (v.31). Portanto, os destinatários dessas palavras tão duras de
Jesus eram pessoas que haviam crido nEle. Isso é maravilhoso, não
é? Pessoas haviam crido nEle! Mas Jesus não se deixa enganar
pelas aparências e começa a provocá-las para “provar... para saber”
o que estava em seu coração (Dt 8.2; veja 2Cr 32.31). O que Jesus
buscava e ainda busca não são pessoas religiosas que seguem a
multidão; Ele também não espera uma concordância apenas
intelectual com as verdades que proclama; o que Ele busca é
qualidade e não quantidade. Mas esse grupo a quem Ele falou tão
asperamente era formado por judeus que, de repente,
desqualificaram a si mesmos ofendendo o Senhor ao chamá-lo de
“samaritano... que tem demônio” (Jo 8.48). Não eram ouvintes
normais. Deve ter sido o mesmo grupo que já fora severamente
repreendido por João Batista:
“Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao
batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da
ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não
comeceis a dizer dentre vós mesmos: temos por pai a Abraão;
porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a
Abraão” (Mt 3.7-10).
Mais tarde, ouvimos palavras semelhantes da boca do próprio
Senhor Jesus: “Raça de víboras, como podeis falar coisas boas,
sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração” (Mt
12.34). Ele os acusou de terem cometido o pecado contra o Espírito
Santo: “Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão
perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será
perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do
Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o
Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem
no porvir” (Mt 12.31-32). Alguns capítulos depois, lemos: “...vós
exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais
cheios de hipocrisia e de iniquidade. Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas, porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os
túmulos dos justos e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de
nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos
profetas! Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos
que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos
pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da
condenação do inferno?” (Mt 23.28-33).

Voltando aos “judeus”...


...podemos afirmar que toda vez que essa palavra aparece com
conotação negativa no Novo Testamento, o contexto mostra que
sempre se tratava da liderança religiosa judaica.
A expressão “judeu” não soa bem até hoje e funciona como um
clichê antissemita. Os “judeus” a quem Paulo se dirige são os Hoi
Ioudaioi, os Yehudim. Na sua origem, ser especificamente “judeu”
era ser membro da tribo de Judá. No tempo de Jesus alguns
discípulos foram chamados de galileus, mesmo sendo judeus do
povo de Israel. Havia essa diferenciação. Nem todos os que viviam
na terra de Israel eram chamados internamente de judeus. Hoje
todos os semitas da linhagem de Abraão, Isaque e Jacó recebem o
estereótipo de judeus, muitas vezes com conotação discriminatória.
Infelizmente, alguns tradutores da Bíblia prestaram um desserviço
ao escrever que os judeus seriam “inimigos de todos os homens”
como se tratando de todos os judeus, de toda a nação judaica.

Uma repreensão justificada


Os judeus que foram chamados de inimigos de todos os
homens, filhos do Diabo, serpentes e raça de víboras eram
hipócritas de coração endurecido, tão cegos para a realidade à sua
frente que chegaram a acusar Jesus de expulsar demônios por meio
de Belzebu. Esse foi o pecado contra o Espírito Santo, o pecado
que não tem perdão. O mais trágico foi que eram homens de Israel,
da elite religiosa judaica, que deveriam saber o que estava
acontecendo e poderiam ter reconhecido quem era Jesus. Israel era
o receptor da revelação divina, o povo eleito e o canal por onde o
Messias viria ao mundo. Por isso, ao não receberem o Messias de
braços abertos, foram merecedores das severas reprimendas tanto
de João Batista quanto de Paulo e do próprio Senhor Jesus, que
lhes falou: “Ai de vós, intérpretes da Lei! Por que tomaste a chave
da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que
estavam entrando” (Lc 11.52). Infelizmente, a afirmação de Jesus:
“vós sois do Diabo” (Jo 8.44), foi transferida a todos os judeus, e aí
a escalada do ódio aos judeus tomou seu rumo e se desenvolveu
como uma avalanche. Passou por tudo o que se viu na História,
produzindo perseguições, Inquisição, pogroms (ondas persecutórias
no Leste europeu), deportações, “Os Protocolos dos Sábios de
Sião” até chegar à atual conclamação ao boicote a Israel. E outra
vez ouve-se a famosa acusação, ouvida e repetida à exaustão nos
anos que antecederam o Holocausto: “Os judeus são a nossa
desgraça!” Os povos ao redor de Israel juraram acabar com a nação
ainda antes que Israel tivesse um Estado próprio, um juramento que
continua de pé ainda hoje. Aniquilar Israel, matar judeus, difamar
judeus, discriminar judeus – nada é novo nessas manifestações de
ódio e desprezo.
Podemos saber que Jesus não estava acusando o povo como
um todo. Ele era amoroso, especialmente com os mais necessitados
de salvação, comia com publicanos e era chamado de beberrão
porque mantinha comunhão com os perdidos. Jesus amava Seu
povo.
Infelizmente o cristianismo, dividido em suas múltiplas
denominações e seitas, mostrou-se uma ferramenta útil para a
incitação ao antissemitismo. A Teologia da Substituição é a base
para muitas das manifestações contra Israel e contra os judeus,
uma vez que colocou a Igreja no lugar de Israel. Já falamos dos
estragos causados por essa doutrina bem como sobre a
impossibilidade de seguir esse ensino sem violentar as Escrituras.
Nessa corrente doutrinária, a literalidade de grande parte das
profecias é trocada pelo simbolismo, que pode refletir o desejo de
corações humanos, porém, não deixa de ser uma violência contra
as Escrituras.

A Reforma e o antissemitismo
Na vida do grande reformador alemão Martim Lutero percebe-
se claramente para onde conduz o antissemitismo, mesmo
teologicamente camuflado. Sua Teologia não teve um final feliz.
Quando Hitler, em seu famigerado livro “Mein Kampf” (“Minha Luta”)
justificava sua luta contra os judeus, citou com todas as letras o
reformador alemão como sua fonte de referência: “Lutero foi um
grande homem, um gigante. Com um solavanco ele rompeu a
penumbra, viu os judeus como nós apenas hoje começamos a ver.
Somente pratico aquilo que a Igreja já faz há séculos, apenas o
faço de forma mais meticulosa”. E Julius Streicher, editor do
periódico difamatório antissemita “Der Stürmer”, declarou diante do
Tribunal de Nüremberg, responsável pelo julgamento dos crimes de
guerra da cúpula nazista: “Hoje o doutor Martim Lutero deveria estar
no meu lugar no banco dos réus caso seus escritos estivessem em
julgamento. Em seu livro “Dos judeus e suas mentiras”, o Dr. Lutero
escreve que os judeus são uma criação de serpentes, que suas
sinagogas devem ser queimadas, que eles devem ser aniquilados.
Foi justamente o que fizemos!”. Por ocasião de sua execução em 16
de Outubro de 1946, despediu-se com as palavras: “Heil Hitler! Esta
é a minha Festa de Purim de 1946. Eu vou para Deus. Um dia os
bolcheviques também enforcarão vocês!”. É macabro e sarcástico
ouvir o que Lutero declarou em suas famosas conversas à mesa:
“Quando eu batizo um judeu, quero levá-lo à ponte do Elba,
pendurar uma pedra em seu pescoço e empurrá-lo para baixo,
dizendo: Eu te batizo em nome de Abraão”. Hoje, pesquisando a
expressão “porca judaica”, ficamos chocados ao descobrir que ainda
existem muitas igrejas alemãs com esse desenho entalhado em
pedra em seus muros e paredes. Declaração do próprio Lutero:
“Aqui em Wittenberg, na nossa diocese, existe uma porca esculpida
em pedra; leitões e judeus deitados debaixo dela, mamando; atrás
da porca está um rabino, que levanta a perna direita da porca, e
com sua mão esquerda ergue o rabinho da porca, se agacha e, por
baixo do rabo, olha atentamente para o traseiro da porca e vê o
Talmude, como se quisesse ler algo bem picante e curioso...” (do
escrito “Dos judeus e suas mentiras”, Jena 1543, citado em
“Erlanger Ausgabe der Lutherschriften XXXII”, p. 298). Também
trazemos à lembrança as ilustrações representando a Igreja como
mulher guerreira montada em um cavalo, com uma lança na mão,
atacando e furando o pescoço da sinagoga, representada de olhos
fechados, sentada em uma porca e se agarrando a um galho.
Resumindo, o empenho dos pais da Igreja em aniquilar Israel da
Teologia e dos planos divinos foi seguido posteriormente pela
perseguição física aos judeus, pelos pogroms reais, chegando ao
terrível Holocausto. Tem razão quem declarou: “No final, o
antissemitismo só pode ser explicado teologicamente”.
Adolf Hitler já dizia que não pode haver dois povos escolhidos.
A aniquilação do povo judeu, segundo ele “esse tumor cancerígeno
da humanidade”, foi seu alvo prioritário até o mais amargo fim. Dizia
que os judeus inventaram a consciência, uma consciência que a
raça superior não precisava. Himmler já falara que dois mil anos de
história judaico-cristã haviam produzido apenas falsos sentimentos
de culpa. “Para o nosso povo é vital optar entre seguir a fé cristã-
judaica e sua frouxa moral da compaixão ou cultivar uma fé robusta,
heroica, centrada no deus que está na natureza, no deus na própria
nação, no deus em seu próprio destino, em seu próprio sangue”.
Exatamente essa é a razão que levou, por exemplo, o ator
hollywoodiano Richard Gere, criado em lar cristão, a se converter ao
budismo: “No budismo não existe culpa!”.
Salta aos olhos a semelhança entre o vocabulário antijudeu dos
pais da igreja usado já em seus primórdios e o vocabulário
marcadamente racista dos nacional socialistas alemães. Eberhard
Bethge, biógrafo de Bohnhöfer (teólogo alemão que participou da
resistência a Hitler e foi morto pelos nazistas), se expressou de
forma semelhante: disse que “os nacional socialistas não
inventaram nenhuma palavra nova em seu linguajar. Os pais da
igreja nos primeiros séculos seguiram, quase todos, os conselhos
de João Crisóstomo, que disse ser obrigação do cristão odiar os
judeus. Quanto mais amamos a Cristo, mais temos de combater os
judeus que O odeiam”.
“O Holocausto é a terrível colheita de uma semeadura
persistente e prolongada... Sem o antijudaísmo cristão, o
antissemitismo racista e, com ele, o Holocausto, não teria sido
possível”. “Teologia pós-Auschwitz precisa ter ouvidos atentos para
qualquer antijudaísmo, inclusive antijudaísmo escondido em
comentários de textos bíblicos e doutrinários” (Rudolf Krause em
“Der Holocaust – eine Theologiewende?” – Jüdische und christliche
Entwürfe einer Theologie nach Auschwitz; “O Holocausto – uma
virada na Teologia?” – Esboços judeus e cristãos para uma Teologia
pós-Auschwitz).
Existe até um antissionismo praticado por cristãos que se
pretendem fiéis à Bíblia, cristãos não liberais, que aceitam a Bíblia
toda como Palavra de Deus. Mas em relação a Israel e aos judeus
eles parecem tomados de cegueira. Por exemplo Harry Bethel, de
Bethel Ministries.com, proclama em alto e bom som: “Os judeus não
são mais o povo escolhido de Deus”. Muitos não pregam
abertamente, mas em seus corações não creem que Israel tem um
futuro prometido por Deus. É uma tarefa difícil conciliar esse
pensamento com a Bíblia, mas podemos dizer que as variações
sobre esse tema são quase infinitas.

E o Antigo Testamento?
Com medo de encarar passagens controversas, amigos de
Israel evitam mexer com textos bíblicos negativos ou difíceis e se
furtam a comentar passagens pesadas como essa sobre os judeus
serem antagônicos a todos os homens. Mas o fato é que as
Sagradas Escrituras de Israel, o Antigo Testamento, o Tanach,
contém bem mais passagens negativas do que o Novo Testamento.
Por exemplo, o capítulo 28 de Deuteronômio, que fala da bênção e
da maldição. Os castigos que Deus promete caso Israel seja
desobediente e rebelde são terríveis! O inimigo terá permissão
divina para sitiar e deixar as cidades morrendo de fome
(cumprimento em 2Rs 18.27 e Is 36.12), levando seus habitantes ao
mais terrível canibalismo (Dt 28.53ss.), quase à aniquilação (Dt
28.62).
Assim como o juízo se cumpriu sobre Israel no tempo do Antigo
Testamento, da mesma forma os castigos anunciados pelo Senhor
Jesus se abateram sobre Israel depois que Ele subiu ao céu, mais
precisamente a partir do ano 70 d.C., quando Israel foi literalmente
arrasado, Jerusalém foi aniquilada e do lindo Templo judeu não ficou
pedra sobre pedra, bem como Jesus predissera.
Todas as passagens negativas sobre Israel, todas as ameaças
de castigo e juízo sobre os judeus, porém, não justificam qualquer
forma de antissemitismo ou discriminação de judeus. O reverso da
medalha é representado pelas outras passagens bíblicas,
complementares aos anúncios de juízo e castigo, que falam da
futura restauração dessa nação, tanto espiritual como politicamente,
e de seu restabelecimento em sua própria terra sob o reinado de
seu Messias.
Jesus disse: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta” (Mt
23.38). O Antigo Testamento já dizia: “Porque os filhos de Israel
ficarão muitos dias sem rei, sem príncipe, sem sacrifício, sem
coluna, sem estola sacerdotal ou ídolos do lar. Depois, tornarão os
filhos de Israel, e buscarão ao Senhor, seu Deus, e a Davi, seu rei;
e, nos últimos dias, tremendo, se aproximarão do Senhor e da
sua bondade” (Os 3.4-5). Assim como Deus prometeu castigo e
maldição a Israel por seu pecado, também prometeu restauração e
bênção ao Seu povo escolhido nos últimos dias.
Existem versículos bíblicos para tudo, desde que eles sejam
arrancados de seu contexto e isolados do restante da Bíblia.
Vejamos um exemplo bem evidente:
Jesus, “vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se
dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhes: Nunca mais
nasça fruto de ti. E a figueira secou imediatamente” (Mt 21.19). Mas
aí lemos Mateus 24.32-33, e o quadro adquire mais cores e
nuances: “Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus
ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o
verão. Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei
que está próximo, às portas”. Um texto explica e completa outro
texto.

Os cristãos esquecem
Muitos cristãos esquecem que a obra de Jesus é bem mais
abrangente do que apenas proporcionar-nos a salvação eterna.
Vejamos Isaías 49.6: “Sim, diz ele: Pouco é o seres meu servo,
para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os
remanescentes de Israel; também te dei como luz para os gentios,
para seres a minha salvação até a extremidade da terra”. Essa
abordagem não é um grande problema para a maioria dos cristãos.
Mas aqui a restauração de Israel e o ajuntamento dos judeus
dispersos vêm ainda antes da menção à salvação dos gentios, que
somos nós. Todos são unânimes quando se fala no Messias
Redentor da humanidade. O “servo do Senhor” (Obed YAHWE), o
mesmo que morreu como Cordeiro de Deus na Sua primeira vinda,
é o objeto das Boas Novas do Evangelho. Mas a reunião e a
restauração de Israel também são parte integrante do ministério de
Cristo! Será que nos contentamos com uma versão light da Escritura
ou cremos na Bíblia toda, do Gênesis ao Apocalipse, inclusive no
que ela diz acerca do futuro, e do futuro de Israel especificamente?
Para pensar
Quanta falta faz uma objetividade bíblica, uma visão abrangente das
grandes verdades divinas e um coração aberto, sem ideias pré-
concebidas! Pelo menos a partir de 1948, quando foi fundado o Estado
de Israel, os cristãos podem ter a mais absoluta certeza de que Deus
está cumprindo profecias milenares. Se até o mundo secular reconhece
que o deserto florescente é profecia em cumprimento, quanto mais nós,
que experimentamos o agir de Deus em nossas próprias vidas,
podemos ter a profunda convicção de que os judeus não são “inimigos
de todos os homens”, mas que a “salvação vem dos judeus” (Jo 4.22).
É por essa salvação que Israel ainda espera!
Cap. 7 | Desafiando a Espada
Flamejantedos Querubins

Há 70 anos a Alemanha nazista caiu. Até hoje o Holocausto é uma


lembrança traumática, sempre acompanhada da pergunta “Como isso
foi possível?”. E será que um novo Holocausto não se aproxima
perigosamente?
É assombroso, mas verdadeiro: os horrores do Holocausto têm
relação com a ânsia humana de construir seu próprio paraíso aqui
na terra. Os homens procuram o caminho até o paraíso ou tentam,
ao menos, recriar parte do Éden que se perdeu. É exatamente esse
anseio que explica como foi possível a meteórica ascensão de
Hitler. E é esse anseio que faz com que a tragédia do nazismo
possa se repetir em nossos dias. Os homens querem construir um
mundo próprio, um mundo sem Deus. Mas suas tentativas falharam
e falharão. Deus fechou o Paraíso, colocando diante dele querubins
com espadas flamejantes, barrando o acesso ao mais belo dos
lugares que já foi criado:
“E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim
do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o
caminho da árvore da vida” (Gn 3.24).
C.E. Bärsch escreveu em seu notável livro Die politische
Religion des Nationalsozialismus (A Religião Política do Nacional
Socialismo – Munique/Alemanha, 1998):
O sucesso dos nacional socialistas, ainda bem antes do início
do governo nazista ter sido estabelecido legalmente em 1933,
baseava-se no elemento religioso contido em sua ideologia (p. 183).
Por exemplo, Hitler, o “enviado pela Providência” permitia que o
venerassem de forma quase religiosa (p. 195). Quando Hitler
participava pessoalmente de algum programa do Partido,
geralmente seu discurso representava o clímax do evento. E como
“escolhido por Deus” ele proclamava sua mensagem de salvação ao
povo, despertando a esperança de uma redenção nacional (p. 179-
181).
Com o passar do tempo, cada vez mais alemães foram sendo
seduzidos pelo “evangelho” de Hitler, que se dizia conduzido por
uma força superior, prometendo levar o povo alemão à sua salvação
nacional. E foi justamente essa convicção que liberou energias em
Hitler e em seus seguidores, desencadeando forças poderosas que
foram se tornando cada vez mais destrutivas, como bem demonstra
a História.
A terminologia nazista que falava do “Terceiro Reich” (Terceiro
Império) não estava nesse contexto por acaso. Na Idade Média o
teólogo italiano e fundador de uma ordem religiosa Joachim di Fiore
(1130-1202) desenvolveu uma interpretação escatológica-
apocalíptica da História. Suas ideias foram ampliadas e expandidas
por seus seguidores (o “joaquinismo”) e não ficariam sem influência
na História. Di Fiore via três reinos seguidos, três eras sucessivas:
depois da primeira era do Deus Pai, do Antigo Testamento, e da
segunda era iniciada por Cristo, o Deus Filho, com a proclamação
do seu Evangelho, o monge esperava o “terceiro reino”, a era do
Espírito Santo sobre a terra, um reino de amor e liberdade, quando
a salvação da humanidade se completaria. Simbolicamente, esse
tempo seria o Milênio. Bem mais tarde, esses ideais seriam
assumidos e proclamados pelo nacional-socialismo alemão. Adolf
Hitler, como os comunistas Marx antes dele e Mao Tse-Tung depois
dele, realmente tentou construir um paraíso na terra, não
necessariamente o “reino dos céus” da vitoriosa classe
trabalhadora, mas o reino fascista da raça ariana! Ainda bem que o
milênio de Hitler só durou míseros 12 anos (de 1933 a 1945)!

Os homens precisam de mitos


Apenas o racionalismo darwinista da era moderna não satisfaz
a necessidade que o homem tem de dar sentido à sua existência,
como a ascensão de Hitler mostra com assustadora clareza. Os
homens precisam de mitos. O ser humano quer algo em que
acreditar, algo em que se agarrar. O relato do repórter David Lloyd
George acerca da situação alemã, depois de uma visita a
Berchtesgaden (uma das residências de Hitler), foi publicado no
Daily Express em 17 de setembro de 1936, mostrando a que grau
chegava o engano e a sedução emanados de uma Alemanha
poderosa e progressista:
Acabo de voltar de uma visita à Alemanha [...] Vi o famoso Führer
alemão, vi as grandes transformações que ele fez. Alguém pode
pensar o que quiser sobre seus métodos – e eles certamente não são
os métodos de um país parlamentar – mas não resta qualquer dúvida
de que ele provocou uma maravilhosa mudança no espírito das
pessoas, em seu comportamento uns com os outros, em suas
manifestações sociais e econômicas. [...] Não é mais a Alemanha da
primeira década após a Primeira Guerra Mundial, não é mais uma
Alemanha alquebrada, derrotada, oprimida, atemorizada, vegetando
com sentimentos de incapacidade. Ela agora está plena de esperança
e confiança, com uma renovada determinação de conduzir a própria
vida, sem interferência de quaisquer forças além de seus próprios
limites. Pela primeira vez desde a [Primeira] Guerra Mundial, existe
entre as pessoas uma sensação generalizada de segurança. É uma
Alemanha altiva e feliz. Vi e conheci isso em todos os lugares.
Hoje pode-se dizer o que se quiser, mas no ano de 1936 a
Alemanha era um país desabrochando, um país feliz. Em sua face
havia o sorriso radiante de uma mulher apaixonada. Os alemães
estavam apaixonados por Hitler. E tinham todas as razões para
sentirem-se gratos. Hitler havia superado o desemprego trazendo
um novo renascimento da economia e transmitindo aos alemães
uma renovada consciência de sua força como nação e de sua tarefa
como país (Sefton Delmer em Die Deutschen und Ich (Os Alemães
e Eu), Hamburgo/Alemanha, 1961, p.28).
Este foi o segredo do sucesso de Hitler: a mistura genial entre
valores supostamente cristãos e a promessa de redenção e
salvação nacional, transformando a sociedade alemã em um bloco
monolítico, firme e coeso, ansiando por um futuro glorioso. O lado
diabólico e trágico dessa realidade foi Hitler substituindo Jesus por
sua própria pessoa e trocando os judeus, povo escolhido por Deus,
pelo povo ariano. Anos antes do Holocausto, em uma conversa à
mesa, perguntaram a Hitler: “E os judeus?”. Sua resposta foi: “Não
pode haver dois povos escolhidos!”.
O povo alemão não se deu ao trabalho de escutar de forma
crítica o que Hitler dizia. Não analisou profundamente o conteúdo de
seus discursos. Hitler já declarara publicamente em 1922: “Se
alguma vez eu realmente chegar ao poder, o aniquilamento dos
judeus será minha primeira e mais importante tarefa”. Matar judeus
era sua tarefa prioritária. Os cristãos não deveriam ter protestado
nesse momento? Não deveriam ter obedecido ao que a Bíblia
ordena em Provérbios 24.11-12: “Livra os que estão sendo levados
para a morte e salva os que cambaleiam indo para serem mortos.
Se disseres: Não o soubemos, não o perceberá aquele que pesa os
corações? Não o saberá aquele que atenta para a sua alma? E não
pagará ele ao homem segundo as suas obras?”.
Ao tentar avaliar como foi possível acontecer tudo o que se viu
na época do nazismo, o que mais assusta não é a participação ativa
de tanta gente no Holocausto; a grande catástrofe foi o silêncio e a
omissão dos “bons”, principalmente dos cristãos na Alemanha, que
foram enredados nas armadilhas do evangelho marrom, uma
mensagem de salvação por meio de uma ideologia. A passividade
das outras nações do mundo foi mais um fator que tornou possível a
matança que Hitler perpetrou contra os judeus. Em 1938 Roosevelt,
o presidente americano, convocou uma conferência em Èvian-les-
Bains na França para discutir o futuro dos judeus na Europa.
Apenas três dos 30 países mostraram-se dispostos a acolher alguns
milhares de judeus. Um informante teria relatado a Hitler depois da
conferência: “Faça o que quiser com os judeus. Ninguém no mundo
os quer”.

Não faltou aviso!


Hoje nos sentimos revivendo a época que antecedeu o
Holocausto. As manifestações de antissemitismo nos assustam.
Não conseguimos entender como pessoas supostamente
esclarecidas estão embarcando nessa onda. Com as publicações da
“Chamada da Meia-Noite” tentamos ser uma voz de alerta como foi
Jabotinsky.
Na década de 80 do século 19 começavam a piscar as luzes
vermelhas no painel profético. Depois de quase dois mil anos,
começava a cair a ferrugem do relógio parado chamado Israel.
Inexplicavelmente, as molas ficaram tensionadas e a engrenagem
voltou a funcionar. Israel e os judeus começavam a se mover outra
vez.
Em 1882 começou a imigração moderna a Israel. Até 1931 mais
de 180.000 judeus do Leste europeu e da Rússia reuniram-se na
sua pátria ancestral. Humanamente, esse era um grupo pequeno,
quase desprezível, mas, mesmo assim, ainda nas dimensões da
volta dos judeus do cativeiro babilônico no tempo de Neemias e
Esdras. Portanto, não era pouca gente. Nesses 50 anos de retorno
à Terra Prometida ocorreram os primeiros congressos sionistas
internacionais, apresentando propostas para a criação de uma pátria
judaica. As molas propulsoras desse movimento eram as
discriminações, as perseguições e os assassinatos de judeus, ou
seja, a forte expressão do velho e conhecido antissemitismo em
suas muitas e variadas facetas.
Um dos poucos judeus que percebeu as luzes de alerta
piscando foi Ze’ev Vladimir Jabotinsky (1880-1940), fundador do
movimento juvenil de direita Betar e mentor intelectual do partido
israelense Likud. Seus alertas foram extremamente “proféticos”.
Hoje, infelizmente, vemos que sua voz não foi ouvida e seus
conselhos não foram acatados. Causa admiração perceber o quanto
ele estava com a razão. Também causa tristeza ver que sobreviveu
só uma pequena parcela dos milhões de judeus das comunidades
do Leste europeu que ele queria salvar do perigo iminente.
Theodor Herzl, em seu romance utópico Altneuland (Antiga
Terra Nova), ainda sonhava que o mundo iria amar os judeus a
ponto de eles nem precisarem de um exército quando estivessem
em sua própria pátria. Os muçulmanos árabes dariam as
boasvindas de braços abertos a seus primos de além-mar porque
eles iriam reduzir a mortalidade infantil e compartilhar com eles os
frutos da educação e da cultura europeias. Mas Jabotinsky não ficou
ofuscado com essa ilusão.
No dia em memória à destruição dos dois Templos judeus
(Tisha B’av) do ano de 1938 ele declarou em Varsóvia:
Há três anos venho apelando aos judeus da Polônia, coroa da
comunidade judaica mundial. Continuo a alertar incessantemente que a
catástrofe está chegando cada vez mais perto. [...] Pelo amor de Deus!
Que cada um de vocês permita ser salvo enquanto ainda é tempo, pois
o prazo está encurtando mais e mais. [...] O que eu gostaria de gritar
bem alto a todos vocês é: quem conseguir escapar da catástrofe irá
vivenciar o solene e sublime momento de um grande casamento judeu
– o renascimento e a restauração do Estado judeu. Não sei se terei o
privilégio de participar [N.T.: infelizmente, não conseguiu. Morreu em
1940, portanto, 8 anos antes da fundação do Estado de Israel], mas
meu filho viverá esse momento. Eliminem a Diáspora ou a Diáspora
destruirá vocês!
Com essa exortação ele queria dizer que todos os judeus
deveriam emigrar para a terra dos seus antepassados e fugir para
Israel. Se não fossem para lá, o antissemitismo os alcançaria! Em
1936 Jabotinsky apresentou um plano de evacuação da população
judaica da Polônia, Hungria e Romênia para realocá-la na então
Palestina.
Diante da Comissão Peel em 1937, em Londres, Jabotinsky
reforçou:
Estou muito preocupado, pois o que digo aqui é tudo, menos popular
para minha gente, e eu reconheço isso, mas o que é verdade, é
verdade! Encontramo-nos diante de uma catástrofe iminente.
Precisamos salvar milhões de pessoas. Não sei se seria um terço da
raça judaica, a metade ou um quarto. Mas são milhões...
Conforme estimativas oficiais, o número de vítimas do
Holocausto só nos países citados no plano de evacuação de
Jabotinsky foi superior a 3 milhões (!) – sobreviveram apenas
600.000 dos 4 milhões de judeus poloneses, romenos, húngaros e
da antiga Tchecoslováquia. Apenas 15%! Se compararmos o total
de vítimas do Holocausto com a população judaica mundial na
época da Segunda Guerra Mundial, veremos que um terço foi
dizimado! E Jabotinsky falara em um terço, um quarto ou a metade.
Ele tinha razão!
Que ouçamos as vozes de alerta, que ouçamos o que a Bíblia
tem a dizer sobre antissemitismo, antijudaísmo e sobre Israel!

Antissemitismo teológico?
Para que o Holocausto viesse a se concretizar havia um fator
preponderante, talvez o mais importante de todos: o antissemitismo
teológico das igrejas da Alemanha. O filósofo Karl Jaspers declarou
em 1962 que Hitler havia colocado em prática com muita exatidão
os “Conselhos Contra os Judeus”, livro escrito por Martim Lutero. O
próprio Hitler, em uma conversa com o bispo de Osnabrück, Wilhelm
Berning, em 1933, justificou a perseguição aos judeus, dizendo:
“não estou fazendo nada contra os judeus que não seja aquilo que
as igrejas já fazem contra eles por 1.500 anos”. No ano de 1923,
Hitler já anunciava: “Lutero foi um grande homem. Com um safanão
ele rompeu a penumbra e viu os judeus como apenas hoje
começamos a enxergá-los”. Por isso, não foi por acaso que a Noite
dos Cristais coincidiu com o aniversário de Hitler. Nessa noite foi
dada a largada para a destruição física e literal das propriedades
judaicas e dos próprios judeus. As palavras deram lugar à ação. E
mais do que embaraçosa tornou-se a situação dos judeus batizados
na Alemanha, que começaram a vir aos cultos marcados com a
estrela de Davi amarela. Diversos representantes da Igreja Luterana
Alemã basearam-se em Lutero quando decidiram que, por sua
ascendência, os cristãos judeus não tinham mais lugar em uma
Igreja Evangélica Alemã.
Cito mais uma vez uma fonte histórica com credibilidade para
retratar o que acontecia na Alemanha daquela época: Julius
Streicher, editor do odioso jornal antissemita Der Stürmer, também
se referiu ao grande reformador alemão Martim Lutero para justificar
sua linha editorial discriminatória:
O Dr. Martim estaria hoje sentado em meu lugar no banco dos
acusados se esse livro fosse levado em consideração pelos
representantes da acusação. No livro “Dos Judeus e Suas Mentiras”
o Dr. Martim Lutero escreveu que os judeus são uma raça de
serpentes, que devemos queimar suas sinagogas, que eles
precisam ser exterminados. Foi o que fizemos.
Streicher foi condenado à forca no Tribunal de Nüremberg,
juntamente com mais dez nazistas importantes.
Quando um adido consular do Vaticano foi procurado por
judeus pedindo que a Santa Sé se opusesse à deportação de
judeus inocentes da antiga Tchecoslováquia, especialmente das
crianças, ele retrucou: “Não existe sangue inocente de crianças
judias no mundo. Todo o sangue judeu é culpado. Vocês devem
morrer. Esse é o castigo esperado por causa desse pecado [da
crucificação]”.
A falta de conhecimento bíblico, a cegueira em relação à
profecia bíblica, as tentativas de apagar o povo de Israel da História
da Salvação, a Teoria da Evolução (que advoga a sobrevivência do
mais forte e mais apto) além de um pensamento ocultista, tudo isso
mesclado a uma doutrina salvacionista pseudorreligiosa deu origem
à terrível calamidade chamada Holocausto. Mas até hoje não nos
damos conta que a perseguição aos judeus foi um sinal de alerta, o
começo de uma expansão abruptamente interrompida pela vitória
dos Aliados em maio de 1945. O que muitos não sabem é que o
nazismo também planejava a destruição dos cristãos!
Himmler abominava a virtude cristã do amor ao próximo,
escreve Peter Longerich, muito próximo de Hitler e autor de uma
biografia de Himmler, expoente e influente nazista que apoiava seu
líder nos propósitos antissemitas:
Princípios cristãos como compaixão e misericórdia
atrapalhavam seu caminho na hora de tratar com intransigência as
“raças inferiores”. Himmler almejava substituir valores cristãos por
virtudes germânicas como a tenacidade (capacidade de enfrentar
reveses) para os alemães serem vitoriosos na luta contra os
homens inferiores. Declarou: “Vivemos no tempo de medir forças
com o cristianismo de forma definitiva”.
Carl Goerdener, que fez parte da resistência alemã contra Hitler
e foi executado em fevereiro de 1945, quase no final da guerra,
registrou em seu testamento ainda em 1937 que Hitler estaria
firmemente decidido a acabar primeiro com os judeus e depois com
os cristãos. Goebbels escreveu em seu diário em 29 de dezembro
de 1939:
O Führer é profundamente religioso e pensa de forma
completamente anticristã. Ele vê o cristianismo como um ramo que
brotou do judaísmo e, por isso, como absolutamente decadente...
que no final será destruído.
No ambiente em que Hitler se movia circulavam propostas de
acabar com todas as confissões religiosas após o “Endsieg” (vitória
final), proclamando Hitler como o novo “Messias”, que, como
“enviado por Deus”, receberia honrarias divinas por ser o “Salvador
e Libertador”. Um documento estratégico interno previa que “os
locais tradicionais de culto” como as igrejas e catedrais, seriam
renomeados e passariam a se chamar “santuários de Hitler”. O
próprio Hitler avaliou e assinou essa proposta anotando no
documento: “O primeiro esboço aproveitável! Enviar ao Dr.
Goebbels para análise. Adolf Hitler”.
No nazismo, antes de qualquer outra coisa, a cruz suástica
deveria substituir a onipresente cruz dos cristãos. À derrocada da
República de Weimar deveria seguir-se o reino da glória. O “novo
reino vindouro”, a “ressurreição” e “salvação” da Alemanha seriam o
alvo final da “história da salvação” de Hitler. “Heil Hitler!” (Salve
Hitler!) não era só uma saudação, era um plano de governo.
Será que estamos conscientes de que os judeus pagaram um
preço assustadoramente alto por nós cristãos? Hitler queria
acabar com os cristãos depois de ter acabado com os judeus.
Regimes totalitários sempre perseguem tanto judeus como cristãos!
Basta olhar para os países regidos pelo islamismo ou para os
lugares onde o comunismo se impôs. Na lista de Hitler os judeus
apenas estavam no topo da lista de prioridades, os cristãos vinham
logo em seguida. Somente por isso a maioria dos cristãos escapou
da morte. Foi só uma questão de tempo. Somos devedores para
com os judeus, e por isso deveríamos fazer tudo o que estiver ao
nosso alcance para apoiar, defender e amar os judeus e o Estado
de Israel. Se de um ponto de vista meramente humanista já
deveríamos cuidar dos fracos e oprimidos, das minorias e dos
desamparados da sociedade, como cristãos nossa responsabilidade
apenas aumenta. Diante de Deus somos todos iguais e temos o
mesmo valor. Uma vida humana é uma vida humana, independente
de sua raça, cor ou origem. Os judeus, por sua história de
perseguição e opressão, mereceriam nosso apoio irrestrito quanto
ao seu direito à existência. E, além disso tudo, existe a Bíblia, que é
muito clara acerca de um futuro de Israel como nação.
Hitler foi só uma amostra e uma sombra do futuro Anticristo. O
modo como Hitler chegou ao poder será aperfeiçoado de tal maneira
que o mundo todo será seduzido e enganado por um único homem.
Os criminosos de guerra nazistas, quando acusados por seus
crimes, se defenderam dizendo que só tinham cumprido com sua
obrigação e apenas obedecido ordens. Como gostavam de repetir,
jamais teriam feito mal a alguém. Aqui nos defrontamos com a
capacidade de uma ideologia satânica: consegue destruir
completamente a personalidade das pessoas, tornando-as
incapazes de reconhecer seus erros e de se arrepender. Para
impedir que isso se repita, só há um meio: vigiar! Quando pequenos
começos nos inquietam, é hora de abrir os olhos e prestar muita
atenção aos fatos! Hoje esses começos nem tão pequenos já estão
diante dos nossos olhos!
Olhando para nosso mundo poderíamos ficar muito assustados.
Uma pesquisa da BBC em 22 países demonstrou que o Estado
Nacional Judeu de Israel é tão odiado quanto a ditadura comunista
da Coreia do Norte. Apenas o Irã e o Paquistão têm índices piores
que Israel. Segundo a opinião do jornal israelense Jerusalem Post, a
causa seria a política externa de Israel. Mas isso é verdade só em
parte. Na realidade, é o velho e antigo antissemitismo que está se
alastrando mais uma vez. Defender a criação de um Estado
Palestino é mero pretexto para as injeções venenosas da esquerda
e as publicações tendenciosas de jornalistas antissemitas, que
assim buscam dar livre vazão a toda a sua maldade e ao ódio aos
judeus entranhados em seus corações. A mídia tendenciosa
coopera fortemente para que os judeus sejam novamente atacados
na Europa. – Europa, tua maneira de lidar com o conflito no
Oriente Médio custa a vida de judeus em teus países! E no
restante do mundo os incidentes antissemitas, antijudeus e anti-
Israel têm aumentado exponencialmente.
Jeffrey Hersch, em seu livro Nazi Propaganda for the Arab
World, (Propaganda Nazista Para o Mundo Árabe) comprovou que
existe uma “transferência de tradição” da ideologia nazista alemã
para o fundamentalismo islâmico. Saudações de Hitler viraram
moda entre os inimigos muçulmanos de Israel, como provam
imagens do Hezb’Allah (Partido de Alá) e do Hamas que circulam na
mídia com regularidade. Enquanto Israel “estende suas mãos a
todos os Estados vizinhos e seus povos numa oferta de paz e boa
vizinhança”, como diz sua Declaração de Independência, o artigo VII
da Carta do Hamas prega abertamente a destruição de todos os
judeus do mundo.
Muitas pessoas pensam que Israel simplesmente odeia tanto os
árabes como os judeus são odiados nos países árabes. Essa
suposição é tão infundada como a mentira dos nacional socialistas
da Alemanha daquela época, que diziam que os judeus odiavam os
alemães como os nazistas odiavam os judeus. Os inimigos de Israel
querem destruir o Estado judeu. Os israelenses só querem viver em
paz. Será que é realmente tão difícil escolher o lado certo nesse
conflito?
Hoje, quando muitos no Ocidente tentam inverter o Holocausto,
querendo comparar a Faixa de Gaza com Auschwitz e os
israelenses com os nazistas, e quando falam do “Holocausto dos
filhos de Ismael”, está ocorrendo uma terrível inversão dos fatos.
Será que ninguém acorda e percebe que os palestinos são
financiados e abastecidos com armas pelo estrangeiro,
principalmente pelo Irã, para servir de ponta de lança no
aniquilamento de Israel? Israel é acusado de “ocupar” a Faixa de
Gaza. Mas o que acontece quando Israel afrouxa as condições e,
por exemplo, permite a entrada de material de construção (cimento,
entre outros)? Os palestinos constroem os túneis de contrabando
para o Egito e os túneis do terror em direção a Israel, destruídos por
Israel no último conflito. Esses túneis trouxeram a verdade à luz e
expuseram o gigantesco abuso praticado com o material que
deveria servir para melhorar as condições de vida dos palestinos!
Quando as pessoas protestam diante de museus do Holocausto
portando cartazes onde está escrito No Holocaust in Palestine!,
trata-se do mais puro antissemitismo. E não é segredo que muitos
países da Liga Árabe e muitos dos árabes (e palestinos) que vivem
em Israel estariam imediatamente prontos a dar continuidade ao
Holocausto que terminou há 70 anos – e se pudessem, matariam
até o último judeu! A simpatia ocidental pelas manobras da Fatah e
do Hamas inverte aqueles que já foram valores ocidentais como
“justiça” e “liberdade”, revelando uma perigosa tendência à
autodestruição. Quanto tempo a distorção da verdade continuará
dando certo? O presidente do Congresso Judaico Europeu não
exagerava quando disse: “Um novo Holocausto está palpavelmente
próximo. Isso não é apenas um sonho ruim!”.
O regime nazista prometeu “Heil Hitler”! Salvação em Hitler,
salvação sem cruz, sem uma fé verdadeiramente bíblica, sem
arrependimento e sem novo nascimento. Era um regime que tentava
criar um reino de paz na terra por meio de suas próprias forças, um
projeto tentando trazer de volta o paraíso perdido. E a tentativa
falhou miseravelmente, com as consequências danosas que vemos
até hoje na vida de tantas pessoas. Será que agora as coisas são
diferentes do que há 70 anos? Quem tenta conseguir de volta o
paraíso perdido sem contar com Deus, simbolicamente falando terá
um encontro inevitável com os querubins e suas espadas
flamejantes que guardavam o Paraíso original (Gn 3.24). É uma
volta impossível. Seus portões estão fechados à humanidade. Mas
um dia tudo mudará!
A Palavra de Deus nos exorta insistentemente a termos cuidado
com o Anticristo dos tempos finais, que sem dúvida prometerá o
paraíso aos homens (2Ts 2; Ap 13). A Bíblia anuncia uma grande
apostasia, em que muita gente dará ouvidos às falsas promessas de
instalar um paraíso na terra, porém o preço será a adoração ao
Anticristo. Mas a Bíblia também mostra que aqueles que aceitaram
o amor pela verdade de todo o coração não serão enganados.
Serão enganados e seduzidos todos aqueles que não acolheram o
amor da verdade, a mesma verdade que os teria poupado da
grande apostasia – veja Apocalipse 13.8 e 2Tessalonicenses 2.10.
Para pensar
A esperança dos que hoje creem no Senhor Jesus é que Ele os
arrebatará antes que o Anticristo seduza e engane o mundo todo! E
então o próprio Deus salvará Israel e estabelecerá Seu paraíso sobre a
terra com a chegada de Jesus Cristo. Esse será o verdadeiro Milênio, o
legítimo paraíso na terra. Os querubins não mais barrarão nossa
entrada nesse lugar maravilhoso! Ali nossos anseios mais profundos
serão atendidos e nossos desejos mais acalentados serão satisfeitos!
Maranata! Sim, vem Senhor Jesus!
Cap. 8 | A “Grande Apostasia” – O
Que é e Quando Será?

Muitas passagens do Novo Testamento falam de apostasia,


mas nem sempre elas falam de apostasia na Igreja. “A
Grande Apostasia”, a apostasia propriamente dita, não
acontecerá na era da Igreja.

Essa “Grande Apostasia” não será algum movimento no


mundo gentio nem a decadência do cristianismo; resume-se
a um homem sendo adorado mundialmente no lugar de Deus.

Muitas vezes somos confrontados com dúvidas acerca do que


seria essa “grande apostasia” e em que época ela ocorreria. As
perguntas geralmente se referem à passagem clássica de
2Tessalonicenses 2.1-4, que diz: “Irmãos, no que diz respeito à
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, nós
vos exortamos a que não vos demovais da vossa mente, com
facilidade, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra,
quer por epístola, como se procedesse de nós, supondo tenha
chegado o Dia do Senhor. Ninguém, de nenhum modo, vos engane,
porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e
seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se
opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de
culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se
como se fosse o próprio Deus”.
Essa é uma passagem difícil. Mas não estamos sozinhos com
nossa dificuldade em entendê-la e encaixá-la no contexto geral dos
eventos preditos na Bíblia. Paul D. Feinberg, conhecido especialista
em Escatologia Bíblica, declarou: “A Segunda Carta aos
Tessalonicenses 2.1-7 é um dos textos escatológicos mais difíceis
do Novo Testamento”. O texto é desafiador. Por isso encontramos
tantas opiniões diferentes e tanta confusão nas igrejas a respeito do
significado de apostasia. Esse texto literalmente divide as opiniões e
cria duas alas de pensamento. E parece que Pedro tinha essa
passagem em mente quando falou das cartas de Paulo: “Por essa
razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por
serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis, e
tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como
igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como,
de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há
certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis
deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a
própria destruição deles” (2Pe 3.14-16).

A profecia é difícil demais para os novos na fé?


Muitas vezes ouvimos a argumentação de que a profecia bíblica
seria difícil demais, reservada para os avançados no estudo da
Bíblia, para cristãos mais maduros, pais e mães em Cristo. Mas os
destinatários dessa relevante declaração de Paulo, os crentes da
cidade portuária macedônia de Tessalônica, eram relativamente
jovens na fé cristã – tinham no máximo dois anos de convertidos.
Essa igreja havia sido fundada no ano 49 d.C. por Paulo e Silas na
segunda viagem missionária. A primeira carta foi escrita a eles um
ano depois de sua fundação, a segunda meio ano depois da
primeira. Conforme Atos 17.1 e versículos seguintes, essa igreja
surgiu quando um grupo de judeus se separou da sinagoga. Muitos
judeus e outros homens piedosos conheciam as Sagradas
Escrituras de Israel – portanto, já tinham ouvido falar do Dia do
Senhor através dos escritos dos profetas. E Paulo podia dizer-lhes,
baseado no que aprenderam na sinagoga e por meio dos seus
próprios ensinamentos: “Irmãos, relativamente aos tempos e às
épocas, não há necessidade de que eu vos escreva” (1Ts 5.1).
Paulo fala de tempos e épocas especiais, fala de dispensações. O
Arrebatamento será um desses marcos temporais. A entrada em
cena da pessoa do Anticristo recebendo a adoração, o cúmulo da
apostasia, sinalizará outro desses acontecimentos marcantes.
O Senhor nos equipou da melhor forma possível para podermos
discernir e entender as coisas futuras e as conexões espirituais
entre os fatos. O equipamento que o Senhor nos concedeu é o
Espírito Santo: “quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos
guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá
tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir”
(Jo 16.13). Guiar a toda verdade inclui uma visão geral das
profecias sobre o futuro. Deus nos dá informações claras sobre o
que precisamos saber a respeito do que ainda está por vir. Isso é
válido tanto para novos convertidos como para aqueles que seguem
a Cristo há muitos anos. E uma das características de um cristão
verdadeiro, segundo Paulo em sua primeira carta aos
tessalonicenses, é esperar constantemente pela volta de Cristo:
“pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão
teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos,
vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e
para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou
dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.9-10).

Um aparte curioso, uma interrupção no raciocínio


Na passagem de 2Tessalonicenses 2.3-4 que estamos
analisando, parece que de repente Paulo faz um aparte,
intercalando uma observação que parece mudar o rumo do
raciocínio que está desenvolvendo. Aparentemente, ele diz: “Sim,
devemos esperar por Jesus, mas Ele ainda não pode vir porque
antes deve ocorrer a apostasia”. Isso realmente é assim?
Havia pessoas que usavam todos os meios para tentar
convencer os jovens crentes de Tessalônica de que já teria
começado o tempo apocalíptico especial, o “Dia do Senhor”. Paulo
reagiu a isso e pediu aos tessalonicenses: “...que não vos demovais
da vossa mente, com facilidade, nem vos perturbeis, quer por
espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se procedesse de
nós, supondo tenha chegado o Dia do Senhor” (2Ts 2.1-2). Pedro
segue nessa mesma linha de pensamento quando declara que
Paulo escreveu coisas difíceis de entender “... que os ignorantes e
instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras,
para a própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos
como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados
pelo erro desses insubordinados, decaiais da vossa própria firmeza;
antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia
eterno” (2Pe 3.16-18). Aqui Pedro fala de ignorantes e instáveis,
deturpadores das Escrituras, insubordinados e decaídos. São
pessoas que não querem se submeter à autoridade nem permitem
ser corrigidas, pessoas obstinadas que se agarram fanaticamente
às suas opiniões. Por isso, Pedro tentava livrar a Igreja de algumas
concepções errôneas acerca da volta de Cristo que haviam se
infiltrado nas mentes dos cristãos.

Qual dia – Dia do Senhor ou Dia de Jesus Cristo?


Paulo exortou com todas as letras: “Ninguém, de nenhum
modo, vos engane, porque isto [o dia do Senhor] não acontecerá
sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da
iniqüidade, o filho da perdição [o Anticristo]” (2Ts 2.3). Infelizmente,
muitos leem nessa passagem o que ela não diz. Por exemplo, uma
página da internet afirma que “o dia do Arrebatamento não virá sem
que primeiro venha a apostasia”. Declarações assim são comuns.
Mas é arbitrário afirmar que aqui o texto bíblico fala do dia do
Arrebatamento, pois não corresponde aos originais gregos. O
correto é traduzir: “...o dia do Senhor... não acontecerá sem que
primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade,
o filho da perdição”. Muitos gostariam de ler: “O dia do
Arrebatamento ainda não pode vir”. Se esse tivesse sido realmente
o ensino de Paulo, por que os crentes de Tessalônica estavam
assustados? Por que estavam confusos? Justamente porque
entendiam, e com razão, que Paulo ensinava que o Arrebatamento
teria de vir antes disso tudo!

Que apostasia?
Quando a Igreja é situada dentro do tempo da Tribulação e o
Arrebatamento deixa de ser iminente e é postergado para mais
tarde, somos obrigados a aplicar a “apostasia” à própria Igreja. Mas
quando juntamos as peças do quebra-cabeças com cuidado, nos
deparamos com um cenário nítido e lógico. A Bíblia menciona “a”
apostasia, falando de um evento bem específico. A “apostasia” não
é algum movimento no mundo gentio nem a decadência do
cristianismo, mas resume-se a um homem sendo adorado
mundialmente no lugar de Deus – o cumprimento pleno e definitivo
de Romanos 1.18-24, que já vivenciamos em suas manifestações
antecipadas e de forma ainda atenuada: “Inculcando-se por sábios,
tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves,
quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou tais homens à
imundícia, pela concupiscência de seu próprio coração, para
desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de
Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do
Criador...” (Rm 1.22-25). Isso já pode ser observado em nossos
dias. Mas ainda não é a apostasia.
Mas olhemos mais uma vez para a passagem inicial acerca da
apostasia: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto
não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja
revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe
e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de
culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se
como se fosse o próprio Deus” (2Ts 2.3-4).
Aproximadamente 40 a 45 anos depois de as cartas aos
tessalonicenses terem sido escritas, o Espírito Santo revelou o
Apocalipse ao idoso apóstolo João na ilha de Patmos. Todo o trecho
de 2Tessalonicenses 2.1-7 deve ser visto em conexão com as
profecias detalhadas do Apocalipse, especialmente com o capítulo
13: “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres,
parecendo cordeiro, mas falava como dragão. Exerce toda a
autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra
e seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora
curada. Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do
céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam
sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante
da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma
imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; e lhe foi
dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a
imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não
adorassem a imagem da besta. A todos, os pequenos e os
grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes
seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para
que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a
marca, o nome da besta ou o número do seu nome” (Ap 13.11-17).
Eis aí um retrato bem realista de como será a grande apostasia!

Vigilância e sobriedade, hoje mais do que nunca!


Como esses eventos futuros lançam suas sombras diante de si
e como já vemos o palco apocalíptico sendo montado e preparado,
a ordem da hora é cuidar, vigiar e sermos sóbrios. Certos
desenvolvimentos que podem ser observados em igrejas
supostamente evangélicas são de assustar, pois se encaixam
perfeitamente no cenário dos tempos finais. Existe uma verdadeira
dependência, um vício em supostos milagres, sinais e
manifestações sobrenaturais. Mas tudo isso vai inexoravelmente em
direção ao engano anticristão. No Brasil estamos vivenciando
exemplos cada vez mais extremos e aberrações inimagináveis
dentro de igrejas que se dizem bíblicas. Muitas coisas são difíceis
de acreditar. Eis alguns exemplos pinçados de sites de testemunho
da internet:

Galinhas falando em línguas


O bancário Paulo foi castigado por Deus com sete tipos de
câncer porque não atendeu o chamado para o ministério de ser
ganhador de almas em tempo integral. Então, de manhã bem cedo,
Deus o conduziu ao galinheiro, onde uma galinha falava em línguas
e era interpretada pelo galo. Paulo foi curado do câncer, foi ser
pregador e recebeu o dom de curar os enfermos. Seus dons
incluíam implantar dentes de ouro e fazer um anão crescer.
Outro exemplo é aquele do homem que tenta imitar o poder
espiritual do apóstolo Paulo (veja At 19.12). Ele procura influenciar
as pessoas com sua magia “cristã”. Incentivado pelo pastor, um
homem endividado tomou o lenço dele e esfregou-o na maçaneta da
porta do banco. E vejam só: seu débito de R$ 18.000,00
simplesmente sumiu de sua conta!
Assim como existem unidades paramilitares, hoje há os
movimentos paracristãos, que parecem mover-se em um mundo
paralelo, uma realidade particular bem distante da Bíblia e da
vontade de Deus que ela revela. Estejamos alertas diante desses
enganos! Nem tudo é tão explícito como os casos que acabei de
citar. Muitas heresias vêm com aparência de verdade. Todas essas
manifestações são cópias piratas da igreja primitiva, que era
majoritariamente formada por judeus. Naquela época, quem foi
especialmente confirmado e autenticado por Deus como confiável e
detentor do verdadeiro poder divino? Para esclarecer esse ponto,
basta ler esta passagem das Escrituras: “como escaparemos nós,
se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, (1.) tendo sido
anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois (2.) confirmada
pelos que a ouviram; dando Deus testemunho (3.) juntamente com
eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do
Espírito Santo, segundo a sua vontade” (Hb 2.3-4). Isso foi
autêntico! Mas hoje vemos tanta coisa não autêntica na área de
milagres e sinais que poderíamos pensar, com justiça, que está em
curso uma grande apostasia.

De que época fala 2Tessalonicenses?


A profecia de 2Tessalonicenses 2 fala de que época? A entrada
em cena do “iníquo”, do “homem do pecado”, do “filho da perdição”,
também chamado de besta do abismo, será sinalizada quando o
governador mundial for curado de uma ferida mortal (veja Ap
13.3,12; 17.8), dando largada à Grande Tribulação: “Ora, o
aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo
poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de
injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da
verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes
manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de
serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes,
pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (2Ts 2.9-12). Esses
versículos tratam do tempo após o Arrebatamento. Nessa fase os
homens se exporão conscientemente à operação do erro. Apóstatas
serão todos os que aceitarem a marca da besta.
Mesmo após o Arrebatamento haverá a proclamação clara do
Evangelho durante três anos e meio através das Duas Testemunhas
em Jerusalém, por meio dos 144.000 selados judeus e através das
mensagens e dos alertas dos três anjos especiais (veja Ap 14.6-12),
que poderão ser ouvidos globalmente por todas as pessoas! Some-
se a isso a consciência de cada um, a natureza como evidente
prova da existência de um Criador e a lembrança dos cristãos
arrebatados. Os homens terão como saber a verdade, mas
escolherão o engano e a mentira. Por isso impõe-se a pergunta
ouvida com muita frequência quando se fala desse contexto:

Haverá uma segunda chance de salvação depois


do Arrebatamento?
Essa possibilidade é negada com muita veemência por muitos
cristãos e pregadores do Evangelho. Outros afirmam que nessa fase
da Tribulação se converterão aqueles que ainda não ouviram a clara
proclamação das Boas Novas de Cristo, por exemplo, os índios
ainda não alcançados pelo Evangelho, os muçulmanos ou as
multidões na China. Obviamente é pouco provável que alguém se
decida por Jesus quando está em perigo de morte debaixo do
império do Anticristo, se, na era da graça, teve todas as chances de
se converter. Se foi leviano e negligente em relação à salvação de
sua alma quando as coisas eram bem mais fáceis, por que se
converteria agora, debaixo de tão grande pressão? Isso é verdade.
Mas não exclui a possibilidade de alguém ser salvo. O grande
engano (do qual a Igreja será poupada, pois terá sido arrebatada
antes; veja Ap 3.10), permitido pelo próprio Deus como juízo sobre o
mundo, culminará com o Anticristo sendo adorado juntamente com
sua estátua, sua imagem que adquirirá vida (Ap 13.14-15). Mas
certamente haverá pessoas que se oporão a essa adoração idólatra,
homens e mulheres que darão lugar à verdade, que resistirão à
sedução satânica e não aceitarão o sinal de lealdade à besta
satânica (Ap 13.16-18). Por isso, faz todo o sentido deixar literatura
(Bíblias, livros, folhetos, DVDs) para o tempo depois do
Arrebatamento, para testemunhar aos nossos amigos e vizinhos,
parentes e colegas sobre a fé em Jesus. No tempo dos juízos
apocalípticos o braço do Senhor não estará encolhido para salvar!
Em Apocalipse 7.9-17 encontramos “grande multidão que ninguém
podia enumerar”, pessoas que vêm da Grande Tribulação, que
lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro.
Deus não deseja a morte do ímpio. Essas pessoas do mundo todo
são expressão e prova do grande amor de Deus, salvando mesmo
em meio aos piores juízos que a terra jamais experimentou e
experimentará! Mas João não sabia quem eram essas pessoas que
vinham da Grande Tribulação. Ele não as reconhecia, apesar de ter
vivido 60 anos vendo gente sendo salva, convertidos de muitos
povos e nações sendo acrescentados à Igreja de Jesus. Por que o
experimentado apóstolo João não conseguia saber quem era essa
grande multidão? Porque ela não faz parte da Era da Igreja, não
está integrada na atual Era da Graça, pois será juntada depois,
como grupo distinto, mas também salvo pelo sangue do Cordeiro.

O amor pela verdade


Pessoas experimentarão a grande apostasia “porque não
acolheram o amor da verdade para serem salvos”. Outra tradução
diz: “através do qual poderiam ter sido salvas!” (2Ts 2.10). Aqui
descobrimos a responsabilidade individual e a liberdade de decisão
dos homens! Aqueles que Deus entregará nas mãos do Anticristo
serão os que rejeitaram conscientemente a verdade, mesmo tendo
tido a oportunidade de acolhê-la em amor. Nós também precisamos
enaltecer esse amor incondicional pela verdade nos dias de hoje. As
posições cristãs estão cada vez menos nítidas nas questões éticas,
por exemplo, na área do homossexualismo, do aborto, do
casamento e do divórcio, do sexo antes e fora do matrimônio, etc.
Mas penso também no ecumenismo e na onda tão popular do
politicamente correto. Tudo isso acontece porque a Bíblia é
questionada. Será que ela ainda é a Palavra de Deus? Será que o
relato da Criação é confiável? Será que a divindade de Cristo é
real? Será que a salvação é unicamente por meio de Jesus Cristo?
Diante dos desafios da nossa época, nosso único recurso é
aceitar o amor pela verdade e nadar contra a correnteza, inclusive
nos temas tão polêmicos como Israel e os judeus, defendendo seu
direito à terra que Deus lhes prometeu por herança.

Existe um “tarde demais!”


“Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande
voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua
marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da
cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será
atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na
presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos
séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem
de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer
que receba a marca do seu nome” (Ap 14.9-11). Esse terceiro anjo
aponta para o fato de que, com a aceitação e a adoração da besta e
da sua imagem, uma linha terá sido ultrapassada irreversivelmente
e que não haverá mais salvação para essas pessoas. Com o
pecado original no paraíso aconteceu algo semelhante: “E o Senhor
Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás
livremente mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” (Gn 2.16-17). Depois dessa desobediência não importava
mais como os homens iriam reagir – o estrago estava feito e a morte
tornara-se irreversível. O mesmo aconteceu nos tempos de Jesus,
quando certo limite foi definitivamente ultrapassado por um grupo de
homens: “Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não
expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos
demônios... Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão
perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito Santo
não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o
Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o
Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo
nem no porvir” (Mt 12.24 e 31-32). Quando os líderes judeus
classificaram os sinais messiânicos de Jesus como demoníacos,
não havia mais salvação para eles! Eles ultrapassaram
definitivamente uma linha. Não havia mais volta!

Deus está no controle


Na passagem de 2Tessalonicenses que estamos analisando
vemos que Paulo recebeu uma revelação bem interessante: “E,
agora, sabeis o que o detém, para que ele seja revelado somente
em ocasião própria. Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e
aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém;
então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus
matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de
sua vinda” (2Ts 2.6-8). Podemos tentar adivinhar e definir “o que” ou
“aquele” que ainda detém o Anticristo, mas uma coisa é bem certa:
no final, é o próprio Deus quem precisa dar luz verde para o
desencadeamento dos juízos que se abaterão sobre a terra. Ele é o
Senhor do Universo! Ele tem a última palavra! Não são os Iluminatti,
os maçons ou os Bilderberger, muito menos os políticos ou a
indústria farmacêutica ou o sistema financeiro global quem decide
as coisas. Por isso, é importante que nós, cristãos, sejamos
cuidadosos com tantas teorias da conspiração que aparecem na
internet. Não será um chip implantado sob a pele que levará alguém
ao inferno. Apenas a marca da besta (o que quer que isso venha a
ser), somada à adoração da imagem da besta é que selará a
perdição dessas pessoas. Elas não demonstrarão sua lealdade ao
governador mundial somente; elas se entregarão a ele de corpo e
alma. Venderão sua alma ao Diabo – literalmente!
Cuidado com os enganos
Mesmo que o texto de 2Tessalonicenses 2.3-4 diga respeito ao
tempo que sucederá o aparecimento do filho da perdição e não fale
diretamente de nós, que vivemos no tempo da graça, fazemos bem
em ficarmos atentos porque igualmente corremos o perigo de
sermos enganados e seduzidos. O Senhor Jesus não falou em vão
acerca de falsos mestres e falsos profetas. Ele sabia do que estava
falando – para todos os crentes de todas as épocas. Por isso,
levemos muito a sério o que está escrito em Colossenses 2.8-9:
“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs
sutilezas, conforme as tradições dos homens, conforme os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade”.
Para pensar
Em Jesus temos a proteção que precisamos nestes tempos escuros
e sombrios e nestes dias maus. Estamos vivendo numa época em que
os eventos futuros já se delineiam no horizonte. Precisamos de Jesus
no centro da nossa vida, da nossa mente e do nosso coração!
Precisamos de Jesus e de Sua Palavra. Todo o resto é secundário e
duvidoso. Em Jesus temos tudo! Em Jesus habita toda a plenitude de
Deus. Olhemos para Ele, concentremos nossa atenção nEle,
concedamos cada vez mais espaço a Ele no nosso dia-a-dia e
sirvamos ao Senhor com amor cada vez maior e com dedicação que
cresce dia após dia!
Cap. 9 | A Fuga

O Senhor Jesus disse: “Quando, pois, virdes o abominável da


desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo
(quem lê entenda), então, os que estiverem na Judeia fujam
para os montes” (Mt 24.15-16).

Que fuga será essa? Quem deverá fugir?


A resposta a essas perguntas está no último livro da Bíblia, o
Apocalipse. Muitos consideram o capítulo 12 o mais simbólico e
mais figurativo de todo o livro, que é o mais cheio de imagens e
ilustrações de todo o Novo Testamento. Essa linguagem figurada
não facilita a análise de seus 18 versículos, dificultando seu encaixe
no restante da profecia bíblica. Neste artigo tentaremos tomar a nós
o desafio, procurando analisar, à luz de toda a Bíblia, quem seria
esta mulher que um dia fugirá para o deserto.
O texto sagrado diz: “Viu-se um grande sinal no céu, a saber,
uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa
de doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as
dores do parto, sofrendo tormentos para dar à luz. Viu-se, também,
outro sinal no céu, e eis um dragão, grande, vermelho, com sete
cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas. A sua cauda
arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a
terra; e o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar
à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse. Nasceu-lhe,
pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de
ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono. A
mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado
lugar para que nele a sustentassem durante mil duzentos e
sessenta dias. Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos
pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus
anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o
lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que
se chama Diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi
atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos. Então, ouvi grande
voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino
do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o
acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de
noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa do
sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que
deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida. Por
isso, festejai, ó céus, e vós, os que neles habitais. Ai da terra e do
mar, pois o Diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo
que pouco tempo lhe resta. Quando, pois, o dragão se viu atirado
para a terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho varão; e
foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que
voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada durante
um tempo, tempos e metade de um tempo, fora da vista da
serpente. Então, a serpente arrojou da sua boca, atrás da mulher,
água como um rio, a fim de fazer com que ela fosse arrebatada pelo
rio. A terra, porém, socorreu a mulher; e a terra abriu a boca e
engoliu o rio que o dragão tinha arrojado de sua boca. Irou-se o
dragão contra a mulher e foi pelejar contra os restantes da sua
descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o
testemunho de Jesus; e se pôs em pé sobre a areia do mar” (Ap 12.
1-18).
A tendência é aplicar esse texto a nós, cristãos, e à Igreja de
Jesus da atualidade. Mas basta que nos aprofundemos um pouco
mais em seu conteúdo para percebermos que uma interpretação
meramente simbólica, centrada unicamente na Igreja, não é apenas
errada; esse tipo de interpretação nos obriga a sermos seletivos em
relação a outras passagens e a muitos detalhes que a Bíblia traz. Se
aplicarmos este capítulo à Igreja seremos forçados a desconsiderar
muitas informações bíblicas importantes e teremos de negligenciar
declarações bem claras e inequívocas das Sagradas Escrituras.
Tentaremos não incorrer neste erro.
As perguntas que se impõem ao leitor atento são fáceis de
listar:
1. Quem é esta mulher?
2. Quando, exatamente, ela foge?
3. Por que ela foge?
4. De quem ela foge?
5. Para onde ela foge?
6. O que significam os marcos temporais mencionados no
texto?
7. O que virá depois da fuga?
Os primeiros versículos de Apocalipse 12 descrevem uma
mulher com dores de parto para dar à luz. O seu filho arrebatado ao
céu é facilmente identificado como nosso Senhor Jesus. Ele é
Aquele que regerá as nações com cetro de ferro. E essa mulher,
logicamente, não pode representar a Igreja, uma vez que esta se
formou do Filho. O Filho não nasceu da Igreja! Portanto, a mulher
somente pode representar Maria, a mãe biológica de Jesus, ou,
então, o povo de Israel, nação de onde veio Jesus. E já que o texto
descreve o dragão (Satanás) em sua fase explícita e
declaradamente anticristã (v.3; veja também Apocalipse 13.1 em
conexão com o governador mundial) e é chamado de sedutor de
todo o mundo, vemos que a simbologia neste texto vai muito além
de Maria e descreve o povo inteiro que trouxe o Messias ao mundo,
mencionando o que lhe acontecerá na Grande Tribulação. A mulher
no deserto é Israel.
A mulher, ou seja, Israel, fugirá de Satanás nos tempos finais.
Será que dispomos de mais informações sobre esse evento futuro?
Jesus falou sobre isso em seu Sermão Profético?
Quando comparamos os três capítulos mais relevantes que
contêm as profecias de Jesus (Mt 24, Mc 13 e Lc 21), chama nossa
atenção que Lucas é o único a intercalar a narração da futura
destruição de Jerusalém, que veio a ocorrer no ano 70 d.C. (Lc
21.12-24). Esse texto deve ser destacado e separado do restante
das profecias apocalípticas de Jesus, pois Ele mesmo deu
orientação (em Lc 21.12) de que “antes, porém, de todas estas
coisas”, que ocorreriam em um futuro distante, outros fatos
aconteceriam primeiro. Realmente, a profecia acerca da destruição
de Jerusalém cumpriu-se no ano 70 d.C., e as demais declarações
proféticas de Jesus ainda esperam por seu cumprimento, inclusive
suas profecias exortando a fugir.
Lemos Jesus falando no Evangelho de Mateus: “Quando, pois,
virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no
lugar santo (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judeia
fujam para os montes” (Mt 24.15-16). Essas recomendações de
Jesus já deixaram muitos cristãos confusos. Será que Ele manda
que os crentes fujam?
“Quem estiver sobre o eirado não desça a tirar de casa alguma
coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua
capa. Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem
naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno,
nem no sábado; porque nesse tempo haverá grande tribulação,
como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem
haverá jamais” (Mt 24.17-21). Nosso Senhor sublinha: “quem lê,
entenda!”. Devemos entender. Podemos entender todas essas
informações. Devemos ser e somos capazes de colocá-las em seu
devido contexto.
Paulo menciona: “Irmãos, relativamente aos tempos e às
épocas, não há necessidade de que eu vos escreva” (1Ts 5.1).
Mateus 24.15 fala de um desses marcadores de tempo (“tempos” e
“épocas”), uma dessas datas e um desses momentos significativos
e relevantes dentro do calendário das coisas futuras: “Quando
virdes...”. Na profecia bíblica que estamos estudando há um desses
grandes marcos de tempo, um momento de virada que mudará tudo
e dará a largada para o começo da “Grande” Tribulação.

Daniel e o momento de virada


Daniel era profeta. Estava exilado na Babilônia e ali teve uma
visão de todos os reinos que viriam depois de sua época, das
nações e impérios que seriam destruídos bem no final, logo antes
de o Grande Rei chegar dos céus para estabelecer uma nova ordem
de coisas. Daniel recebeu do Senhor a revelação de muitas
informações detalhadas, inclusive sobre o futuro Anticristo. Daniel
era judeu, pregava a judeus e seu livro era lido por judeus. Para ele,
a Igreja era um mistério ainda não revelado. E quando escreveu a
respeito da “abominação desoladora” e da profanação do santuário
(Dn 9.27, Dn 11.31 e Dn 12.11) referia-se claramente ao Templo
judeu em Jerusalém, que um dia seria desolado e abominado. Uma
abominação é algo monstruoso, horrível e assustador, um falso
deus ou uma imagem de ídolo. Apocalipse 13.13-17 nos fornece
mais informações sobre essa “abominação”. E Paulo diz a seu
respeito: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não
acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o
homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se
levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a
ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se
fosse o próprio Deus” (2Ts 2.3-4). Isso é abominação.
Essa parece ser a continuação lógica, a consequência que
Deus previa: quando Ele for negado, quando Ele for frontalmente
rejeitado como o único Deus verdadeiro e quando os judeus e os
cristãos forem discriminados e perseguidos, então virá o dia em que
um super-homem se assentará no trono de Deus, ocupando Seu
lugar e se fazendo passar por Deus. Essa será a abominação
desoladora.
Uma imagem apocalíptica, uma estátua do Anticristo, seja de
que material e na forma que for, será colocada dentro do Templo
judeu, então já reconstruído em Jerusalém, e todo o mundo a
adorará, aliás, será obrigado a adorá-la (Ap 13.13-17). Esse será o
momento crucial para a humanidade, o ponto em que uma criatura
será literalmente adorada no lugar do Criador. Romanos 1 fala da
idolatria e de suas consequências, que encontrará seu ápice nesse
momento. É nesse contexto de afronta a Deus que a mulher foge.
Nessas circunstâncias deve ocorrer sua fuga. Portanto, em Mateus
24 Jesus dá ordens bem claras a um grupo especial de pessoas
num lugar específico, em um tempo específico. As ordens para
fugir não são para nós!

1. Quem é a mulher no deserto?


Como já afirmamos, a mulher é Israel. São aqueles judeus que
obedecem às palavras de Jesus e fogem sem demorar. E, ao fugir,
serão levados a um refúgio seguro, guardados e sustentados por
três anos e meio. Mas esse resgate com “as duas asas da grande
águia” (Ap 12.14) se dará somente com os judeus que, na ocasião,
se encontrarem em “Eretz Israel”, na terra de Israel. Vemos que
Deus tratará esses judeus de uma forma especial e cuidará deles de
forma privilegiada. Isso se dará porque, “no fim dos dias”, eles
ouviram o chamado divino e retornaram à terra de seus
antepassados, construíram ali sua existência e agora já podem ver
seus filhos, netos e bisnetos crescendo e se multiplicando na Terra
Prometida. Cremos que esse será um grupo especial de judeus que
se converterá durante o início da Tribulação, naqueles primeiros três
aos e meio em que o império do Anticristo ainda proporcionará certa
paz e segurança. Nessa fase ainda estará em vigor a aliança entre o
Anticristo e Israel, que será quebrada depois desses três anos e
meio.

2. Quando exatamente a mulher foge?


Como já vimos, o momento exato é quando ocorre a
profanação do Templo judeu em Jerusalém. Com a imagem da
besta sendo colocada no santuário (Ap 13.14-17) começa a grande
apostasia mundial, com o sinistro sinal da besta sendo introduzido e
aplicado aos homens em sua mão direita ou na fronte. O controle
total estará selado e garantido. Mas, por que na mão direita ou na
fronte? Existem as mais loucas especulações circulando no meio
cristão acerca dessa famosa marca da besta. Alguns dizem que a
mão e a testa seriam os lugares do corpo humano com menos
rejeição a um implante. Isso é tolice!
Há milênios, quem tem usado alguma coisa especial em sua
mão direita e na fronte? Os judeus quando oram! Eles colocam os
“tefilim”, nome dado a duas caixinhas de couro, cada qual presa a
uma tira de couro de animal “kasher”, contendo um pergaminho com
textos da Torá. Baseiam-se nas ordens divinas em Êxodo 13.1-10 e
11-16 (veja Dt 6.4-9; Dt 11.13-21). Para eles, esse é um ato de
obediência, trazendo a Palavra de Deus conscientemente à sua
memória ao orar: “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso
coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que
estejam por frontal entre os olhos” (Dt 11.18). Por essa razão o
Anticristo não apenas se assentará no Templo judeu para receber
adoração como se fosse Deus; ele também imitará o uso dos
“tefilim”, colocando em seus adoradores sua própria marca profana.
Já que Jerusalém com Sião, o Santo Monte do Senhor, será o
centro do futuro reino de paz, a sua capital por assim dizer, o dragão
terá grande ódio contra um alvo bem concreto: sua ira será contra
Jerusalém e contra seus habitantes. Ali ele tentará organizar e
estabelecer seu próprio simulacro de reino mundial de paz.
Em um passado não muito distante houve uma tentativa
semelhante: levantou-se na Alemanha o Sacro Império Romano
Germânico de Mil Anos. Depois de apenas doze anos de governo
de Hitler, em que pé estava esse império? Arrasado e destruído,
completamente aniquilado, com a Alemanha em ruínas. Muito pior
será a situação do mundo depois que adorar e se entregar
globalmente ao supremo líder anticristão! A passagem do Anticristo
pelo palco do mundo deixará atrás de si uma terra arrasada! Mas aí
Jesus entrará em cena e tudo será diferente!
Essa fuga da “mulher” ocorrendo no início da Grande Tribulação
(a segunda metade dos sete anos da Tribulação) representa outro
forte argumento para afirmar e crer que o Arrebatamento não
poderá ocorrer nesse momento, no meio desses sete anos
apocalípticos. A fuga da mulher e o Arrebatamento da Igreja não
podem coincidir. Pois, como se explicaria essa multidão de judeus
crentes (em Cristo) que fugirão para serem preservados durante a
Grande Tribulação? Esses judeus “guardam os mandamentos de
Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12.17). Eles creem em
Jesus Cristo, e como tais, não estariam mais na terra para fugir para
os montes, pois certamente teriam sido arrebatados juntamente com
os gentios salvos por Cristo! Essa fuga deve acontecer mais tarde,
algum tempo depois do Arrebatamento.

3. Por que a mulher foge?


Ela terá de fugir porque, com o início da “Grande” Tribulação,
começará um tempo muito horrível sobre a terra, um tempo que
colocará em risco sua própria existência. Lemos em Daniel: “haverá
tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até
àquele tempo...” (Dn 12.1). O Senhor Jesus cita essa passagem de
Daniel em Mateus 24.21. Enquanto em Israel os tementes a Deus
salvarão suas vidas fugindo para os montes, provavelmente sendo
arrebatados dali para um refúgio seguro no deserto, o mais puro
desespero se abaterá sobre o restante do globo terrestre e sobre
todos os ímpios deste mundo. Seu pavor chegará ao ponto de se
esconderem nas cavernas e nos penhascos, clamando aos montes
e às rochas para que os cubram e os escondam da ira do Cordeiro
(Ap 6.15-16). Por não terem se voltado para Deus enquanto era
tempo, agora, no meio dos juízos aterradores, eles literalmente
“oram” à matéria morta suplicando por ajuda e proteção. Esse é um
fruto bem evidente da Teoria da Evolução, que mais parece uma
Teologia, hoje mundialmente usada como arma contra Deus, contra
a Bíblia, contra os cristãos e contra a lógica mais elementar. Quem
nega o Criador acaba adorando a criatura! Idolatria sempre é um
beco sem saída, com uma única consequência: a perdição de quem
a pratica. Esses adoradores de criaturas serão tomados de horror e
pânico e cobertos por uma onda de pavor como uma avalanche que
desce a montanha arrastando e destruindo tudo o que encontra pelo
caminho. Esse será o juízo divino sobre os ímpios. E é desse juízo
que Deus poupará esse grupo especial que fugirá para os montes,
poupando essa “mulher” que será protegida no deserto.

4. De quem a mulher fugirá?


A contagem regressiva para Satanás começa depois que o
dominador mundial voltar à cena após ter sido mortalmente ferido
(Ap 11.7; Ap 13.1,3,14), portanto, ressuscitando dentre os mortos,
vindo diretamente do abismo. A aliança de paz de sete anos com
Israel será anulada (Dn 9.27) e então começará um tempo terrível
para judeus e novos cristãos (Dn 12.11-12; Ap 12.17; Ap 13.7,12).
Todo o ódio concentrado de Satanás se derramará contra Israel,
começando com a profanação do Templo. A mulher fugirá do
Anticristo!

5. Para onde foge a mulher?


Nos textos proféticos dos evangelhos encontramos algumas
informações adicionais sobre a fuga. Primeiro, a ordem de fugir:
quem se encontrar na Judeia deverá fugir para os montes
(circunvizinhos). Também percebemos que as pessoas a quem se
dirigem essas palavras (pessoas que recebem e aceitam essas
ordens) devem fugir imediatamente, com urgência, praticamente só
com a roupa do corpo (Mt 24.15-21; Mc 13.14-20).
É interessante ver que, diferente dos demais evangelhos, no
Evangelho de João não existe um capítulo com o Sermão Profético
de Jesus. Isso é curioso, pois alguns anos depois, esse apóstolo
recebeu um livro inteiro só de profecia: recebeu a revelação de todo
o Apocalipse, todo o último livro do Novo Testamento. E no décimo
segundo capítulo do Apocalipse lemos que a mulher fugirá para o
deserto (Ap 12.6)! No versículo 14 descobrimos que a mulher voará
para o lugar que Deus preparou para ela. Então, o que é correto?
Ela fugirá ou voará? Fugirá voando? Voará fugindo? Hoje não temos
como saber como realmente será essa fuga. Mas como a Bíblia diz
que duas asas sobrenaturais da grande águia a levarão (v.14),
percebemos que Deus protegerá esse grupo especial de judeus e o
conduzirá em segurança, semelhantemente ao que fez com o povo
de Israel quando fugia do Egito (Êx 19.4; Dt 32.10-14).
No contexto da saída do povo de Israel do Egito é muito
interessante ver as informações detalhadas que Moisés fornece em
Deuteronômio 29.5: “Quarenta anos vos conduzi pelo deserto; não
envelheceram sobre vós as vossas vestes, nem se gastou no vosso
pé a sandália”. Deus não só interrompeu o envelhecimento natural
de roupas e sandálias por 40 anos; elas nem sequer se gastaram.
Sapateiros e costureiras ficaram desempregados por 40 anos. E a
intervenção divina também sustentará o povo escondido em um
lugar seguro no deserto.
A mulher fugirá. E depois, como todas as coisas são possíveis
para Deus, podemos considerar viável um “arrebatamento
horizontal”, um deslocamento desse grupo de pessoas de um lugar
a outro da terra. Quando se der a anunciada profanação do Templo,
o sinal prometido e previamente publicado em Israel estará visível a
todos, e então será hora de fugir bem depressa. Todos aqueles que
levarem a sério as palavras de Jesus (inclusive as informações do
livro de Daniel e os alertas das Duas Testemunhas nos três anos e
meio que acabaram de transcorrer; veja Ap 11.3-13), fugindo em um
ato de submissão e obediência, farão parte dessa “mulher”. E ela
será protegida e sustentada em um lugar especial e bem seguro.
Sinais de fuga – precedentes históricos

Antes de fugirem do Egito, os israelitas marcaram as ombreiras


de suas portas com o sangue do cordeiro pascal. Vendo o sangue, o
Anjo da morte passava adiante e poupava as casas marcadas.
Nessa situação concreta, não bastava orar por proteção divina.
Deus queria ver um sinal, uma ação bem definida da parte dos
judeus: Ele queria ver o sangue do cordeiro na porta!
Algo semelhante aconteceu pouco mais tarde, já durante a
jornada do povo judeu pelo deserto. Os israelitas ficaram
insatisfeitos e começaram a reclamar, rebelando-se contra Deus e
contra Moisés (Nm 21.4-9). Como castigo Deus enviou uma praga
de “serpentes abrasadoras”. Eram abrasadoras porque eram
extremamente venenosas e agressivas e sua picada queimava e era
terrivelmente dolorosa. Depois que essa praga já tinha feito muitas
vítimas entre o povo, os demais começaram a clamar a Deus por
misericórdia e salvação do pesadelo. Se em obediência e
arrependimento os judeus olhassem para uma serpente de bronze
que Moisés levantou em uma vara, como um estandarte visível em
todo o arraial, eram curados das picadas. Mais uma vez, orar não
bastava. Eles tinham de apresentar o sinal exterior de obediência ao
Senhor, uma reação pessoal e intransferível: olhar para a serpente
de bronze! Deus queria vê-los olhando para a serpente de bronze!
Quando Ló fugiu de Sodoma, Deus ordenou que não olhasse
para trás. Essa era a única condição imposta para sua salvação e
de sua família. Um leve descuido, um momento de dúvida, teria
consequências terríveis (Gn 19.17,26; Lc 17.32). Mais tarde, o
próprio Jesus mandou que os judeus também fugissem
imediatamente quando vissem a profanação do Templo. E sua fuga
sinalizará sua obediência e submissão ao que Jesus ordenou.
Outro exemplo aconteceu quando Jesus curou o cego de
nascença (Jo 9.7). Jesus colocou lama em seus olhos e mandou
que ele se lavasse no tanque de Siloé. Essa cura especial, portanto,
tornou-se efetiva só depois do ato de descer até o tanque e lavar os
olhos. O cego teve de fazer sua parte, obedecendo ao que Jesus
lhe dizia, mesmo que uma palavra teria bastado para sua cura.
Jesus não precisava da lama para curá-lo.
A fuga de Apocalipse 12 terá essa característica: a mulher de
que falamos, simbolizando todo um grupo de judeus, fugindo no
começo da Grande Tribulação, sinalizará a Deus que está fazendo
sua parte, provando que se lembra do que Jesus ordenou e que
está obedecendo Suas ordens. E então o próprio Deus cumprirá
Sua promessa e protegerá essas pessoas! A mulher, ao fugir, estará
demonstrando sua obediência às palavras de Jesus.
Um oásis em meio ao colapso apocalíptico
O versículo que introduz o relato da fuga da mulher para o
deserto diz: “e foram dadas à mulher as duas asas da grande águia,
para que voasse até o deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada
durante um tempo, tempos e metade de um tempo, fora da vista da
serpente” (Ap 12.14). “Fora da vista da serpente” significa fora de
seu alcance. Em uma época de controle total com todos os recursos
tecnológicos, as comunicações globais e os modernos meios de
transporte como será o tempo do Anticristo, a mulher ficará fora do
raio de ação do governante mundial. Talvez formulando o assunto
de outra forma, entenderemos melhor: Deus simplesmente tirará o
refúgio no deserto da dimensão do Anticristo! Humanamente, esse
lugar não existirá. Será um vazio completo no mapa mundial. Isso
será grandioso! A mulher (Israel) estará protegida dos ataques do
Diabo e do Anticristo em pleno deserto. Mas a impaciência e a falta
de fé poderão levar os judeus a deixarem seu refúgio seguro,
abandonando seu esconderijo e cedendo à tentação de não
perseverar. Por isso lemos a exortação para que “perseverem até o
fim” (Mt 10.22; Mt 24.13; Mc 13.13;) e a bem-aventurança para os
que perseverarem: “Bem-aventurado o que espera e chega até mil
trezentos e trinta e cinco dias” (Dn 12.12).
Outra vez podemos recorrer a exemplos bíblicos do passado
para entendermos um pouco mais como poderia ser esse lugar
seguro. Em Sodoma, quando Ló tentava proteger seus dois
visitantes, saiu de sua casa e fechou a porta, deixando os dois lá
dentro. Então, estava diante da turba ensandecida sedenta por
violentar aqueles homens. Quando ele fechou a porta, mostrou que
estava disposto a dar sua própria vida para proteger seus hóspedes.
Que coragem! Foi praticamente um ato suicida, mas Deus viu sua
atitude. Na Bíblia está escrito a respeito desse evento: “Porém os
homens, estendendo a mão, fizeram entrar Ló e fecharam a porta; e
feriram de cegueira aos que estavam fora, desde o menor até ao
maior, de modo que se cansaram à procura da porta” (Gn 19.10-11).
Nosso genial Criador, Aquele que move cada átomo e cada
molécula de todo o Universo, pode interferir na percepção humana.
Na história de Ló, Deus simplesmente desligou no cérebro daqueles
homens maus a parte responsável pela visão da porta. Podemos
entender muito bem o que significa “ser ferido de cegueira”, mesmo
que este relato já tenha mais de 4.000 anos!
Mais tarde, o profeta Eliseu passou por experiência parecida,
registrada em 2 Reis 6.14-23. Os inimigos arameus saíram à
procura de Eliseu por considerarem-no um espião secreto. Um
grande comando deveria “neutralizar o alvo”. De manhãzinha o
servo do profeta ficou muito assustado quando viu que estavam
rodeados pelos inimigos. Eliseu era inabalável em sua fé, e orou
para que Deus abrisse os olhos de seu servo, fazendo-o enxergar o
que se passava no mundo invisível: na realidade, estavam cercados
por cavalos e carros de fogo. Aí Eliseu pediu a Deus: “Fere, peço-te,
esta gente de cegueira. Feriu-a de cegueira, conforme a palavra de
Eliseu” (2 Rs 6.18). E, de repente, as tropas de elite do inimigo
transformaram-se em homens desorientados, vagando sem rumo
pelo campo. O servo teve seus olhos abertos para a dimensão
divina e as tropas inimigas tiveram seus olhos fechados por Deus. O
Criador e programador do nosso DNA é grandioso e Seu poder está
acima de tudo!
Algo semelhante acontecerá no tempo do Anticristo. Ele e seus
asseclas não conseguirão ver o local pacífico e absolutamente
seguro que Deus preparou para os judeus neste que será o tempo
de sua maior tribulação, a maior angústia de toda a história da
humanidade, a profetizada “angústia de Jacó” (Dn 12.1; Jr 30.7).
O código secreto da profecia
O texto que conta a fuga da mulher para o deserto menciona
dois períodos de tempo, dois marcos que têm confundido muita
gente. Esses números só passam a fazer sentido dentro de uma
interpretação literal, fiel ao todo da Bíblia. Apocalipse 12.6
menciona: “A mulher, porém fugiu para o deserto, onde lhe havia
Deus preparado lugar para que a sustentem durante mil duzentos e
sessenta dias”. A segunda menção a um período específico de
tempo ocorre oito versículos depois: “e foram dadas à mulher as
duas asas da grande águia, para que voasse até o deserto, ao seu
lugar, aí onde é sustentada durante um tempo, tempos e metade
de um tempo, fora da vista da serpente” (Ap 12.14). O leitor da
Bíblia mais experiente e versado logo saberá que esses 1.260 dias,
que são 42 meses, também equivalem a três anos e meio. Esse
último termo é usado pela primeira vez no livro de Daniel, como
revelação profética de algo que aconteceria no futuro. Coincide com
a descrição da fuga da mulher!
Pelo visto, esses dados são obscuros e incompreensíveis para
muita gente, que simplesmente não entende esses números ou não
consegue encaixá-los no restante das profecias bíblicas. Muitas
interpretações do Apocalipse são chocantes, por serem absurdas, e
desanimadoras, porque aplicam simbologia a qualquer texto mais
difícil de interpretar. Mas quando admitimos e cremos que Israel
ainda desempenhará um papel no futuro, temos clareza na
interpretação sem sermos obrigados a forçar o texto bíblico.
Quando admitimos que a história de Israel não acabou, que ela
terá uma continuidade dentro dos planos de Deus, tudo fica
harmonioso e as profecias tornam-se fonte de alegria e gozo.
Mas se nos fecharmos a essa possibilidade, uma perigosa cegueira
espiritual tomará conta de nossas mentes. A falta de compreensão
de muitas passagens contribuirá para que nossa fé fique mais débil
e menos centrada no que o texto sagrado realmente diz.
Interpretações arbitrárias, baseadas em preferências pessoais e
denominacionais são perigosas. Fazendo isso, abrimos mão da
literalidade do texto, permitindo atribuir qualquer sentido a qualquer
passagem profética.
Listando os trechos que citam esses marcos de tempo teremos
um quadro geral, muito lógico e coerente, e o “código” profético terá
sido revelado:
• Daniel 9.27: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma
semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de
manjares...”. Essa semana equivale a sete anos. A aliança de paz
entre o Anticristo (o governador mundial) e Israel será quebrada na
metade da “semana”, portanto, depois de três anos e meio, quando
o Anticristo revelará suas reais intenções diabólicas.
• Apocalipse 11.3: “Darei às minhas duas testemunhas que
profetizem por mil duzentos e sessenta dias...”. Esse será o tempo
em que as Duas Testemunhas exercerão seu ministério, justamente
o tempo que os gentios terão para “calcar aos pés a cidade santa”,
como diz Apocalipse 11.2.
• Por duas vezes a perseguição apocalíptica é delimitada dentro
de “tempos, tempo e metade de um tempo”: em Daniel 7.25 e Daniel
12.7, e no Apocalipse (13.5) o prazo é o mesmo, mas citado como
seu equivalente: 42 meses.
• Em Daniel 12.11-12, depois da profanação do Templo, os fiéis
ao Senhor são animados a suportar o sofrimento por 1.290 dias, e
serão bem-aventurados os que chegarem a 1.335 dias. Isso é um
pouco mais do que três anos e meio, mas esse será o prazo
dilatado a que Jesus se referiu em Mateus 10.22: “Aquele, porém,
que perseverar até o fim, esse será salvo”. Essa perseverança faz
todo o sentido, pois será um tempo específico de esperar que uma
situação extremamente difícil chegue ao fim.
Infelizmente, uma parte negativa da herança dos reformadores
Lutero e Calvino é um resquício que ficou do antigo catolicismo: a
doutrina de que Israel foi definitivamente substituído pela Igreja. Por
meio desse sistema de interpretação bíblica, formou-se um vácuo
na área da profecia, um legítimo buraco negro na Teologia
protestante. A profecia foi reinterpretada, falsificada, diluída e muitas
vezes carregada de viés antissemita. Essa deficiência aparece com
muita clareza na hora de interpretar esses números e datas, esse
“código profético”, uma codificação que, quando devidamente
interpretada, esmiuçada e colocada em seu devido contexto,
funciona perfeitamente, faz todo o sentido e visualiza toda a
fascinação e coerência das profecias bíblicas.
O Salmo 25.14 ressalta que “a intimidade do Senhor é para os
que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança”. Outras
traduções dizem que a intimidade com o Senhor está reservada
para os que O temem, compartilhando exclusivamente com eles os
segredos das Suas promessas. E a nós, cristãos, Deus revelou
Seus segredos e Seus planos para o futuro: “Já não vos chamo
servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas
tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi do meu Pai
vos tenho dado a conhecer” (Jo 15.15). Através de Jesus e dos
apóstolos Deus compartilhou conosco as profecias sobre o futuro.
Portanto, com a ajuda do Espírito Santo, com um coração humilde,
que se submete à autoridade da Palavra de Deus, é possível
estudar as profecias, unindo os fatos e ordenando-os em sua
sequência temporal. Existem perguntas que ficarão em aberto até
que os fatos estejam acontecendo, mas esses dados de tempo que
aparecem na história da mulher que foge para o deserto têm
paralelos em outros livros da Bíblia, deixando-nos mais bem
informados sobre o desenrolar dos eventos no período apocalíptico.

7. O que virá depois da fuga?


Como já dissemos, quando a mulher fugir para o deserto e ali
for protegida sobrenaturalmente, uma era nunca antes vista na face
da terra terá seu início. A Tribulação que já estava em curso
transforma-se em “Grande” Tribulação, uma época jamais vivida
pela humanidade. Será a época dos juízos apocalípticos, com todas
as suas pragas e catástrofes, seus selos e trombetas, flagelos e
taças de ira e punição.
Depois disso, quando parecer não haver saída, certamente não
virá o fim do mundo, pois “logo em seguida à tribulação daqueles
dias, o sol escurecerá, a lua não dará sua claridade, as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados.
Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os
povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre
as nuvens, com poder e muita glória” (Mt 24.29-30). Jesus voltará
visivelmente para estabelecer Seu maravilhoso reino de paz e
justiça sobre a terra. Será o tão esperado Milênio finalmente
tornando-se realidade!
Para pensar
O grande Príncipe da Paz trará a paz entre os animais, entre animais
e homens (Is 11.6-8; Is 65.25), e entre os homens (Is 2.2-4). Também
trará paz entre os povos e Israel e entre os homens e Deus. Maranata!
Cap. 10 | A Igreja Sem Israel

Danos e prejuízos à Igreja de Cristo ao tentar excluir ou


substituir Israel

Neste capítulo final sobre A Igreja Sem Israel faremos uma


breve análise do que, em nossa opinião, resultou das tentativas de
ter uma igreja cristã que não valoriza suas raízes judaicas, uma
igreja que tenta excluir Israel das promessas futuras que Deus lhe
deu e que substitui Israel por si própria. Algumas afirmações podem
parecer polêmicas. Não queremos atacar a ninguém de forma
pessoal. Mas o propósito dos exemplos que citamos, das acusações
que fazemos e dos fatos que expomos é um só: que cada um
questione suas posições, analisando se elas são bíblicas ou apenas
tradições herdadas, bem de acordo com as palavras do Senhor
Jesus, que disse a respeito de outro assunto: “Por que transgredis
vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?”
(Mt 15.3). Por tradição, muito é feito e deixado de fazer. Por tradição
as pessoas erram. E por ser humana, a tradição é sujeita a falhas,
precisando sempre ser questionada e avaliada à luz da Bíblia.
Paulo sublinha esta verdade: “Cuidado que ninguém vos venha
a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas; conforme a tradição
dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo
Cristo” (Cl 2.8).
Desde que a Igreja de Jesus nasceu existe essa luta
ininterrupta pela clara e cristalina doutrina bíblica, uma luta pela sã
doutrina, por posições embasadas nas Escrituras e para afastar
influências deletérias e sectárias que diluem e corrompem os
ensinamentos de Cristo, uma batalha incessante contra o
pensamento mundano, secularizado e temporal, e contra a mera
religiosidade. A luta da Igreja de Jesus é por um discipulado
autêntico e verdadeiro de cada um de seus membros. Como recurso
contra essas influências e armadilhas falaciosas, o cristão dispõe da
ação do Espírito Santo em seu coração e da Palavra de Deus em
suas mãos. A Bíblia, a Palavra de Deus, é uma espada de dois
gumes, a melhor ferramenta para corrigir rumos, endireitar
pensamentos tortuosos e recolocar no devido lugar os valores, as
convicções e as verdades divinas. Estudar a Bíblia é expor-se à
ação da Espada do Espírito, como diz Hebreus 4.12: “Porque a
palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
propósitos do coração”. Podemos interpretar assim este versículo:
um dos lados da espada é para o pecador, alertando-o sobre a
santidade e a ira de Deus e expondo toda a sua perdição. O outro
lado da espada é para nós, crentes, levando-nos pessoalmente a
dividir e discernir os fatos. Por isso temos a exortação de 1Coríntios
11.31-32: “Porque, se julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados. Mas, quando somos julgados, somos disciplinados pelo
Senhor, para não sermos condenados com o mundo”.
Ao invés de cortarmos o galho onde nós mesmos estamos
sentados, prejudicando nossa própria posição como Igreja de Jesus,
deveríamos ter a coragem de corrigir nosso rumo quando estamos
nos desviando, de abrir nossa mente para o que realmente a Bíblia
diz e então obedecer à Palavra, para podermos trazer bons frutos:
“Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de
Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver
feito por meio do corpo” (2Co 5.10). Existe o bem, existe o mal.
Podemos fazer o bem, podemos fazer o mal, ainda que sejamos
filhos de Deus, mesmo sendo renascidos e lavados no sangue do
Cordeiro. Essa passagem não é para pessoas não salvas; é para os
crentes. E como crentes, devemos nos analisar, avaliar e corrigir
nossos raciocínios, inclusive a respeito do que pensamos, falamos e
pregamos sobre Israel e sobre a profecia bíblica, pois um dia, diante
do Tribunal de Cristo, teremos de prestar contas ao Senhor.
Quando retiramos Israel do Plano de Salvação, quando
negamos que essa nação ainda terá um futuro como preveem
tantas profecias bíblicas, quando nos apropriamos de promessas,
exortações, rituais e festas judaicas não precisamos ficar admirados
com as consequências. Na prática, temos observado abusos,
aberrações, falsificações e manifestações diretamente decorrentes
dessa maneira de pensar. Muitos cristãos agem ingenuamente, sem
pensar seriamente no que estão fazendo. Existem denominações
inteiras entrando conscientemente em becos sem saída pela
simples razão de terem abdicado do literalismo bíblico, de terem se
colocado no lugar de Israel ou de rejeitarem pura e simplesmente
tudo aquilo que a Bíblia diz sobre o povo judeu.

Primeira consequência: Cegueira em relação às


profecias bíblicas
Retirar Israel do plano divino de salvação traz consequências
fatais na área da profecia bíblica. Nos capítulos anteriores
expusemos essa verdade por meio de diversos exemplos e
diferentes passagens da Bíblia, iluminando personagens,
esclarecendo termos e encaixando cronologicamente certos eventos
futuros, alguns especificamente profetizados aos judeus, outros
exclusivamente relacionados à Igreja. A aniquilação teológica de
Israel dos planos divinos muitas vezes vem acompanhada de uma
extremada e extrapolada doutrina da predestinação, que certamente
se baseia em algumas passagens bíblicas bem claras, porém, deixa
de lado outras tantas falando do outro lado da moeda, distorcendo
assim o amor de Deus e limitando a grandiosidade do sacrifício de
Cristo pelos pecadores. A causa dessa cegueira está na forma de
estudar e analisar os escritos e os ensinamentos de grandes
homens de Deus do passado. Suas conclusões passam a servir de
filtro para o que lemos, iluminando ou obscurecendo nosso
entendimento para o que realmente está escrito no texto sagrado.
Mas o problema básico, inclusive nos textos desses homens, é a
nãodiferenciação entre Israel e Igreja. Dr. Ronald E. Diprose mostra
em seu livro altamente recomendável Israel and the Church: The
Origin and Effects of Replacement Theology [Israel e a Igreja: A
Origem e os Efeitos da Teologia da Substituição] que vastas áreas
da doutrina cristã são afetadas pela posição que assumimos em
relação a Israel. (Veja lista de livros recomendados no final deste
livro).

O tema mais controverso: o Arrebatamento


Precisamos nos perguntar por que haverá o “luxo” de um
arrebatamento de crentes poucos anos antes da volta gloriosa de
Jesus ao monte das Oliveiras, quando Ele virá como Rei dos reis e
Senhor dos Senhores. Se Jesus virá pessoalmente à terra, por que
os salvos serão levados embora da terra pouco antes disso?
Nosso Deus não é um Deus de confusão, é um Deus de paz
(1Co 14.33). E porque Deus não é um Deus de confusão, todos os
filhos de Deus que já morreram em Cristo ressuscitarão e também
participarão do Arrebatamento. Deus juntará o que deve ficar junto.
Os salvos por Cristo formam a Noiva do Cordeiro, são um todo, e
como tal serão arrebatados. Sabemos que, no relato bíblico,
encontramos apenas três arrebatamentos de pessoas vivas ao céu:
Enoque, Elias e o próprio Senhor Jesus. Se já houve
arrebatamentos anteriormente, por que muitas denominações
cristãs não admitem a possibilidade de um arrebatamento futuro?
A resposta é: porque anularam Israel da profecia! E o
Arrebatamento tem relação direta com Israel!
Explico: a retirada de cena de toda a Igreja de Jesus dará
espaço para o início de uma nova era, de uma nova época, de uma
nova dispensação. Nosso Deus é sempre o mesmo, Ele não muda.
O que muda é Sua maneira de agir. No decorrer das eras Ele agiu
de formas variadas, diferentes e específicas com as pessoas. No
Paraíso, Sua ação era uma, no tempo dos sacrifícios e holocaustos
no Tabernáculo e no Templo judeu seu agir com os homens era
diferente do que Ele faz hoje, na Igreja, por meio do Espírito Santo.
Ou haverá alguém que ainda queira trazer sacrifícios de sangue
depois que já foi derramado o precioso sangue do Cordeiro em
nosso favor? Ou hoje ainda somos guiados pela nuvem divina e
pela coluna de fogo?
Existem duas passagens bíblicas fáceis de entender e que
esclarecem bastante este assunto: “Porque não quero, irmãos, que
ignoreis este mistério para que não sejais presumidos em vós
mesmos: que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja
entrado a plenitude dos gentios” (Rm 11.25). Já analisamos esse
até em outras partes deste livro. Mas, percebemos que aqui o
apóstolo Paulo está falando do endurecimento de Israel, relevante
neste contexto. Como povo, Israel foi colocado de lado. Mas não
para sempre. Deus estipulou um final desse endurecimento, dizendo
que Israel ficaria assim até que outra situação se instalasse. E esse
até só fará sentido quando aplicado à mudança de todo o povo de
Israel, uma mudança atingindo a nação inteira. Um dia todo o Israel
será salvo!
O outro texto bíblico que joga luz sobre esse momento de
mudança é Atos 15.13-16, citando Amós 9.11: “Depois que eles
terminaram, falou Tiago, dizendo: irmãos, atentai nas minhas
palavras: expôs Simão como Deus, primeiramente, visitou os
gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu nome.
Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito:
Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído
de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei”. Você
percebe a sequência dos fatos? Tiago reconhecia, ainda bem no
início da história do cristianismo, que a salvação em Cristo se
espalharia até os confins da terra (Deus iria “constituir um povo
dentre os gentios”). Ele estava ciente de que Deus chamaria para
fora uma multidão imensa, do mundo todo, salvando muitos gentios
pela fé em Jesus Cristo. Mas como Tiago fala que isso aconteceria
primeiramente, é claro que haveria um depois. “Cumpridas estas
coisas”, cumprido o plano divino de “constituir dentre os gentios um
povo para o seu nome”, Deus voltaria e reedificaria o tabernáculo
caído de Davi. É claro que os judeus renascidos, que creem em
Jesus, fazem parte da Igreja e com ela serão arrebatados. Mas a
restauração do tabernáculo caído de Davi é algo que acontecerá
com Israel como nação, completa e vivendo em sua pátria.
Todo ano, no Natal, lembramos especialmente de Belém e da
profecia acerca do nascimento de Jesus: “E tu, Belém Efrata,
pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti
me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde
os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). Essa
profecia não prevê apenas o lugar onde Jesus iria nascer; prediz
também que Aquele que nasceria em Belém Efrata reinaria em
Israel. Jesus reinará. Ele será Rei. Mas em Sua primeira vinda Ele
não reinou. Não reinou espiritualmente nem politicamente, pois
todas as Suas reivindicações foram rejeitadas e Ele foi executado
como criminoso e blasfemador. Jesus nasceu em Belém mas ainda
não reinou em Israel. Portanto, essa profecia ainda espera por seu
cumprimento pleno. Essa é uma das promessas feitas a Israel ainda
em aberto. E ela se cumprirá depois que a Igreja tiver partido,
quando tiver se cumprido a septuagésima semana de Daniel e o
mundo estiver imerso em caos e sofrendo debaixo do poder do
Anticristo (como já explicamos em outros trechos deste livro).
Gostaríamos de salientar mais uma vez que o profeta Isaías
recebeu a revelação de três características do Servo do Senhor, três
aspectos interessantes da Sua pessoa e da Sua obra: “Sim, diz ele:
Pouco é o seres o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e
tornares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei como
luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade
da terra” (Is 49.6). Suas três incumbências seriam:
Primeiro compromisso: restaurar as 12 tribos de Israel. Deus
conhece a história de cada pessoa de cada geração, desde Adão!
Por isso, não precisamos especular acerca das tribos de Israel,
perdidas ou não. Elas serão restauradas, pois para Deus nada é
impossível. Na Jerusalém celestial, quando os nomes das doze
tribos de Israel estiverem inscritas nas doze portas (Ap 21.12), não
será apenas como memorial ou peça de museu. Será a presença
real de Israel nessa cidade divina (Is 65.17-18; Is 66.22). Na
presença de Deus não estará apenas o nome de Israel e de suas
tribos; a posteridade dos filhos de Israel estará toda ali, na Sua
presença.
Segunda tarefa do Servo do Senhor: trazer os remanescentes
de Israel de volta à sua pátria ancestral. Outras traduções da Bíblia
falam que o Servo do Senhor trará de volta os dispersos. E Ele não
apenas restaurará todas as coisas, Ele conduzirá tudo à sua
consumação final: “a fim de que, da presença do Senhor, venham
tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi
designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos
tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por
boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (At 3.20-21).
Deus falou pela boca dos seus santos profetas ao povo de Israel! E
quando Deus falou sobre o futuro, mencionou muitas vezes o reino
milenar de paz, o Milênio de Jesus Cristo, quando o Príncipe da paz
se assentará em Seu trono em Jerusalém. Trazer de volta os judeus
ainda dispersos para então ser seu Rei, essa é uma das missões do
Filho de Deus.
Terceira incumbência: trazer salvação ao mundo todo. Isso
está acontecendo agora, em nossa época, com todos os esforços
missionários para pregar o Evangelho a todos e alcançar os
perdidos. A respeito dessa parte da profecia não existe a menor
dúvida. O problema geralmente surge quando a Bíblia fala no futuro
de Israel, pois muitos negam-se a crer nessa realidade. Paulo
explica muito bem: “Porque, se o fato de terem sido eles [os judeus]
rejeitados trouxe reconciliação ao mundo [abrindo espaço para a
Igreja], que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os
mortos?” (Rm 11.15).Uma versão livre diz: “Pois se a rejeição deles
trouxe a reconciliação ao mundo, o que será a sua aceitação senão
vida dentre os mortos?”.
Depois desses esclarecimentos, creio que ficou evidente que o
endurecimento de Israel foi parcial, temporário e não definitivo.
Obviamente sempre houve judeus que foram salvos por Jesus. No
início, a Igreja era formada basicamente por judeus. Todo o começo
da Igreja em Jerusalém era fundamentalmente judeu. Depois, o
Evangelho se espalhou pelo mundo alcançando gentios, nações e
povos nos mais afastados recantos do globo terrestre. Quando
menciona o restabelecimento, Paulo está falando do povo de Israel
como um todo, que um dia reconhecerá a Cristo como seu Messias
divino. Portanto, seu restabelecimento deve referir-se a um evento
ainda por acontecer, mesmo que hoje já podemos ver Israel como
nação em sua terra outra vez. Mas seu renascimento espiritual se
dará quando seu Messias voltar.
O ministério do Servo do Senhor só para restaurar o
tabernáculo caído de Davi é pouco para Deus. Ele também colocou
Jesus para ser luz para o mundo todo. São partes inseparáveis de
Seu ministério, uma já cumprida e em cumprimento, outra ainda
esperando por sua concretização.

Apropriação indevida oficializada


Analisando algumas religiões e seitas mais extremas veremos
muito nitidamente seus líderes simplesmente apagando a existência
de Israel, usurpando seus símbolos e tomando seu lugar na História
da Salvação, sempre lembrando que a Igreja não é Israel.
A Igreja Católica

A igreja católica se especializou em usurpar símbolos, rituais e


ordenanças que são exclusivas para Israel. Basta lembrar o papa
ocupando o lugar do sumo sacerdote judeu, de seus templos
suntuosos querendo ser o lugar da manifestação divina como era o
Templo judeu, e de suas cerimônias e rituais, muitos copiados do
Antigo Testamento. Não examinaremos minuciosamente a igreja
católica, pois ela se encaixa em diversos itens específicos tratados
mais adiante.
Os Mórmons (de Joseph Smith)

Os mórmons oscilam na hora de definir sua autoridade final,


pendendo entre a Bíblia, os escritos mórmons, declarações de
profetas mórmons do passado, declarações de profetas mórmons
atuais e “revelações pessoais”. Tudo depende do que querem
acreditar, escolhendo a autoridade segundo a ocasião. Muitas vezes
essas instâncias de autoridade contradizem-se umas às outras.
Joseph Smith, o fundador da igreja dos mórmons, afirmava que
relatou à sua família sua primeira visão do ano de 1820, onde Deus
e Cristo teriam lhe dito que ele não deveria se filiar a nenhuma das
igrejas existentes porque todas seriam falsas. Muitas vezes os
mórmons recebem uma “bênção patriarcal” quando fazem vinte
anos de idade. Essa é uma bênção solene, proclamada por um
“patriarca” ordenado, que diz à pessoa o que a vida lhe reserva se
for um mórmon obediente. Ele também diz à pessoa que está
recebendo a bênção de que tribo ela descende (geralmente Efraim
e Manassés). A bênção é registrada para futuras referências. Isso é
simplesmente uma forma de adivinhação. Muitas bênçãos são
vagas e difusas, pouco específicas em suas declarações.
Geralmente quem tentar aplicar as profecias a situações concretas
não encontrará confirmação nos fatos.
Os Adventistas (de Ellen White)
Os adventistas não apenas fazem confusão entre a Lei e a
graça, entre a salvação unicamente pela fé e a salvação por meio
de obras. Mesmo que diante do público preguem a liberdade em
Cristo, internamente percebe-se claramente a pressão para
executar certos rituais, demonstrar comportamentos e assumir
costumes específicos, mais ligados à Lei do que à graça. Os
adventistas fazem confusão entre Israel e Igreja.
A ênfase dos adventistas na observância do sábado é muito
forte, a ponto de considerarem a guarda do domingo como o sinal
da besta (de Apocalipse 13). Os adventistas procuram se contrapor
à Igreja Católica, mas ao fazer isso condenam todos os demais
cristãos que não guardam o sábado. Vejamos algumas declarações
de adventistas:
“Talvez a coisa mais temerária, a mudança revolucionária que a
igreja jamais realizou ocorreu no primeiro século. O dia santo, o
sábado, foi transformado em domingo. O “Dia do Senhor” (Dies
Dominica) foi escolhido não por ser ordenado na Escritura mas pela
igreja exercendo sua própria autoridade. O dia da ressurreição e o dia
de Pentecoste (50 dias depois) caíram no primeiro dia da semana, no
domingo. Tornou-se o novo sábado. Todo aquele que pensa que a
Escritura é a única autoridade, logicamente deveria tornar-se
adventista do Sétimo Dia e deveria guardar o sábado. Portanto, não é
apenas a Bíblia quem afirma que o domingo é o sinal da autoridade de
Roma, pois a própria igreja faz isso. O sinal da besta é o domingo!”
(Sentinel, Pastor´s page, Saint Catherine Catholic Church, Algonac,
Michigan, 21/05/1995).
Com essa jogada de enaltecer o sábado e condenar todos os
demais cristãos que não o guardam, os adventistas sentem-se os
únicos certos e os donos da verdade. Não queremos, aqui, entrar no
debate da guarda legalista de sábado ou domingo. Mas o domingo
pode ser o sinal da besta? O que é o sinal da besta? Segundo
fontes adventistas, ele é a guarda do domingo:
O sinal divino, ou selo, revela-se na santificação do sétimo dia da
semana, o sábado, o memorial estabelecido pelo Senhor para a
Criação. [...] O sinal da besta é o oposto: a santificação do primeiro dia
da semana. Esse sinal diferencia aquele que reconhece a autoridade
papal daquele que reconhece a autoridade de Deus (Testimonies 8,
117; veja Zeugnisse 8.123).
A recusa em obedecer aos mandamentos de Deus e a resolução de
odiar os proclamadores dessas leis leva à mais encarniçada guerra de
ataque que o dragão jamais terá encetado. Ele empenhará toda a sua
energia contra o povo de Deus que obedece à Lei: “Faz que lhes seja
dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte” (Ap 13.16)
(idem).
Não se exige deles apenas que deixem de fazer qualquer
trabalho braçal no domingo, mas que reconheçam intelectualmente
o domingo como sendo o sábado. “Para que ninguém possa
comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da
besta ou o número do seu nome” (Ap 13.17).
É espantoso o modo adventista de interpretar Apocalipse 13. É
bizarro e grotesco o modo forçado de interpretar uma passagem que
diz respeito a um personagem real que, no futuro, exercerá seu
poder aplicando seu sinal nas pessoas que o seguirem. Mas
certamente esse sinal não será o domingo. O sábado foi dado a
Israel. A Lei foi dada a Israel. Se os adventistas tentam cumprir
algumas das 613 leis dadas a Israel, incluindo os Dez
Mandamentos, estão condenados a falhar, pois algumas dessas leis
e ordenanças somente podem ser cumpridas em Israel, por judeus.
Mas essa ideia de que o domingo é o sinal da besta parece ser
genial, uma vez que milhões de pessoas seguem a doutrina
adventista. Mais uma vez, Israel foi colocado de lado. Por coerência,
os adventistas também não acreditam no Arrebatamento ou no reino
milenar de paz com sede em Jerusalém, em Israel.
Uma observação sobre o sábado:
Guardar o sábado como os adventistas? Ou guardar o
domingo, versão cristã desse mandamento? Se formos entrar nesse
tema, é bom examinarmos o que Novo Testamento diz sobre o
assunto. Devemos prestar uma atenção especial ao que ele diz
depois de Pentecoste! Não encontramos quase nada sobre
restrições alimentares ou guardar o dia de sábado. Paulo menciona
que essas são apenas sombras de coisas futuras: “Ninguém, pois,
vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua
nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que
haviam de vir...” (Cl 2.16-17). Ou ele afirma que um guarda certos
dias e outro não: “Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais
todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria
mente” (Rm 14.5). Essas são diretrizes bem claras. Resumem o que
o Novo Testamento diz sobre a guarda do sábado ou do domingo.
Quando um judeu se converte, renascendo pela fé em Cristo, e
continua guardando o sábado, essa será uma decisão estritamente
pessoal, sem fazer qualquer diferença em relação à sua salvação
em Cristo. Ela não depende de feriados, de normas sobre comida
ou bebida, de consumir alimentos proibidos ou liberados ou de
cumprir qualquer outra lei ou ordenança dada por Deus ao Israel do
Antigo Testamento. Sua salvação é pela fé, assim como a salvação
de um gentio também é pela fé em Cristo.
Em relação a usos e costumes, ressalto que estes podem se
diferenciar muito de país para país, e como cristãos, não devemos
causar escândalo. Mas as coisas exteriores não interferem em
nossa salvação em Jesus! Ser um bom testemunho, dar bom
exemplo, respeitar a cultura vigente são atitudes de amor, mas não
interferem na salvação eterna. Por amor, o cristão faz ou deixa de
fazer certas coisas. Só por amor aos seus irmãos e irmãs em Cristo
um crente se priva de certas coisas, adota ou não adota certos
costumes e procura sempre se portar de forma a não difamar o
Evangelho. Não estamos falando de pecados, estamos nos
referindo a questões secundárias, roupas e penteados, comida e
bebida, feriados e sábados, e assim por diante.
As Testemunhas de Jeová (de Joseph Franklin Rutherford)

Em 1931 Rutherford, então presidente das Testemunhas de


Jeová , decidiu que os judeus já teriam perdido seu papel
histórico e que agora sua seita estaria tomando o leme, pois, afinal,
os profetas bíblicos teriam se referido às Testemunhas em suas
profecias e não ao povo judeu. Uma publicação oficial diz que as
Testemunhas de Jeová são “o verdadeiro Israel”. Essa doutrina
continua em vigor até hoje. As Testemunhas também negam a
existência de Israel. Dizem que o Estado de Israel teria surgido
contra a real vontade de Deus e seria um instrumento de Satanás.
Angloisraelismo
“Angloisraelismo ou israelismo britânico (em inglês: british
israelism) é uma doutrina do fundamentalismo cristão que afirma a
crença de que nações europeias (anglossaxões), principalmente a
Inglaterra e com ela sua casa real, são os verdadeiros israelitas,
descendentes das tribos perdidas do Norte de Israel, sendo eleitos
como os verdadeiros escolhidos por Deus. Entre as bases para esta
teoria está a ideia de que a palavra anglo deriva da palavra ‘anjo’ e
que saxão era uma transliteração do nome do filho de Abraão,
Isaque. O angloisraelismo surgiu na Grã-Bretanha entre os séculos
XVIII e XIX, teve algum crescimento enquanto o império britânico
existia e então diminuiu acentuadamente. Atualmente existem
organizações cristãs que incorporam estas ideias em seus credos.
O angloisraelismo é um dos fundamentos teóricos de diversos
movimentos tanto fundamentalistas como integristas nos Estados
Unidos e em outros países”.
Rand, um de seus líderes, falou que “os judeus não foram
apenas separados do antigo Israel, mas até abandonaram as
verdadeiras tribos, deixando de ser o povo escolhido”. Em 1995 a
parte majoritária desse movimento se distanciou de certas práticas e
ideias, uma vez que elas fomentavam o racismo e o antissemitismo,
fornecendo munição para grupos extremistas, por exemplo, para a
Ku-Klux-Klan nos Estados Unidos. A confusão toda começou com
um falso entendimento de quem é judeu, do que é Israel e com a
tentativa de apropriação indevida da identidade israelense por
pessoas gentias. Não judeus querendo ser judeus não é uma
simples brincadeira, é um erro teológico de consequências
perigosas.

Consequências práticas quando se troca Israel


pela Igreja
Hierarquia não-bíblica e usurpação do sacerdócio de Cristo

A Teologia da Substituição fez com que a Igreja adotasse uma


hierarquia sacerdotal. Instituir sacerdotes era uma ordenança divina
para o povo de Israel, primeiro para o Tabernáculo no deserto e
depois para o Templo em Jerusalém. Com o tempo, essa prática
passou a fazer parte da doutrina da Igreja. Isso obscureceu a
doutrina bíblica da salvação individual somente pela graça, por meio
da fé pessoal de um pecador arrependido que se volta para Cristo.
A salvação passou a ser administrada pelos sacerdotes, padres e
outros líderes eclesiásticos. No nível pessoal, esta foi a pior
consequência da Teologia da Substituição: uma casta sacerdotal
reivindicando para si o poder de transmitir a graça de Deus por meio
dos sacramentos. Essa modalidade de ministério cristão não está
firmada nos fundamentos do Novo Testamento, mas provém do
Antigo Testamento, que ordenava o sacerdócio levítico.
Dali surgiu o sacramento do batismo de bebês, trazendo
grandes problemas com a doutrina dos apóstolos acerca da
salvação pessoal. Como se processa a salvação? É bem importante
saber que a salvação segundo a Bíblia somente torna-se ativa pela
fé consciente e pessoal na obra de Jesus consumada na cruz em
lugar do pecador (veja Jo 3.14-16; At 4.12; Rm 3.23-26; Rm 4.25;
Rm 10.9). Ninguém pode ir ao Pai senão através do Filho (Jo 14.6;
1Tm 2.3-6). Segundo Hebreus 7.22-25, a salvação é pessoal e
intransferível, pois Jesus pode “salvar totalmente os que por ele se
chegam a Deus”. E também o sacerdócio de Jesus jamais pode ser
transferido a outrem; só Ele é o Mediador entre Deus e os homens.
A nova vida acontece e surge por meio do Espírito Santo, pois é
uma ação divina, assim como a salvação (Jo 1.11-13; Jo 3.3-8; Tt
3.4-7). Os homens só pregam a Palavra de Deus. A obra de
salvação é sempre do Alto!
O sacerdócio, com suas funções e reivindicações, copiado e
imitado hoje em dia e durante grande parte da história da Igreja,
baseia-se claramente na Teologia da Substituição. Isso leva muita
gente a uma falsa sensação de segurança, a uma errônea ideia de
que, se seu líder prometeu, então agora sua vida está em ordem
diante de Deus. Mas o acesso ao Senhor é único e pessoal.
Somente Jesus pode interceder por nós, pois, como já afirmamos,
só Ele “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus,
vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). Essa função
também é intransferível. A Igreja não é Israel. A Igreja não tem mais
sacerdotes. Tem líderes, anciãos e presbíteros, mestres e
evangelistas, mas sua função é outra. Eles não são mediadores
entre Deus e os homens como eram os sacerdotes do Antigo
Testamento.
Organização ou organismo vivo?

A deformação da Igreja, passando de um organismo vivo a uma


organização humana dominada por uma hierarquia sacerdotal, abriu
caminho para uma perigosa aplicação da doutrina de Agostinho
acerca do reino de Deus. Com o prestígio adquirido por Leão o
Grande como bispo de Roma no Concílio de Calcedônia (451 d.C.),
bem como o fortalecimento do poder político da Igreja Católica
romana por meio de Gregório, o Grande (590-604 d.C.), foi sendo
pavimentado o caminho para a igreja ocidental triunfante da Idade
Média. São bem conhecidas as consequências da compreensão de
Agostinho a respeito do reino messiânico, interpretação chamada de
amilenismo. Muito longe de apresentar os reais valores de um
reinado divino na terra, os papas que se seguiram tinham em mente
mais e mais poder humano. E eles não tiveram escrúpulos em forjar
e adulterar documentos que lhes garantiam a posse (“Doação de
Constantino”) de territórios como Roma e a Itália, além de toda a
metade ocidental do Império Romano. O ápice do abuso ao
apresentar-se e agir em nome de Deus foi o início das Cruzadas,
com Urbano II (1088-1109), permitindo o massacre de judeus e
muçulmanos. Reivindicações territoriais, conquistas e domínios,
será que era essa a ideia de reino de Deus que Jesus ensinava e
tinha em mente?
O batismo de bebês deve ser mencionado mais uma vez
porque ele simplesmente foi criado como substituto da circuncisão
judaica no oitavo dia de vida de um recém-nascido. Como o
pequeno israelita passava a fazer parte do povo escolhido de Deus
por meio desse ritual, assim o bebê que é batizado passa a fazer
parte do “corpo de Cristo”, mesmo sem ainda ter condições de
professar sua fé em Jesus. Com isso criou-se e cria-se um
crescimento biológico do número de membros de uma igreja, muitas
vezes com pessoas não renascidas pela água e pelo Espírito, como
está escrito em João 3.5. Aí resta à igreja local administrar valores
cristãos, ministrar os sacramentos e incentivar a comunhão entre
seus membros, porém sem poder espiritual de gerar novas vidas em
Cristo.
Durante a Reforma houve um genuíno empenho em reavivar a
verdadeira vida espiritual na Igreja, um esforço em acabar com
tradições meramente humanas e um grande ímpeto por voltar ao
fundamento bíblico. Mas é digno de reparo que justamente Lutero e
Calvino ensinavam um genuíno entendimento do que a Bíblia dizia
sobre a salvação: só pela graça, só pela fé e não por obras, como
era costume naquela época, quando a igreja católica vendia suas
indulgências e as negociava como mercadoria. Infelizmente, porém,
esses reformadores trabalhavam com duas normas diferentes na
interpretação bíblica: toda a Escritura deveria ser entendida em seu
sentido óbvio e evidente, assim como o texto fala – com exceção
das passagens que falam de Israel. Esse tema deveria ser
entendido de forma alegórica e simbólica. Isso significa que nossos
amados e famosos reformadores, em seu caminho de volta à Bíblia,
ficaram parados em Agostinho, Constantino, Eusébio e Orígenes.

Clero evangélico?
Todo o desenvolvimento observado na igreja católica e em
muitas ramificações das igrejas reformadas não ficou sem deixar
sua influência nas demais denominações e igrejas evangélicas. Por
isso, é importante e imprescindível diferenciar entre o sacerdócio do
Antigo Testamento e o que o Novo Testamento ensina sobre
liderança da Igreja de Jesus.
A estrutura de Igreja neotestamentária tem anciãos
(gr.,presbíteros) como liderança e autoridade. Anciãos e bispos (gr.,
episkopos) assim como pastores (gr., poimen) são designações do
mesmo cargo (1 Pe 5.1-2). Isso significa que os anciãos têm dons
diferentes e se completam mutuamente. Essa pluralidade é o
modelo divino para a Igreja. Portanto, pela Palavra de Deus, não
deve existir um sistema de liderança com um homem só detendo
toda a autoridade sobre o rebanho. O outro extremo seria uma
democracia espiritual, igualmente não ensinada pela Bíblia. Homens
maduros, considerados e destacados por seu comportamento
exemplar, que preencham os critérios bíblicos (2Tm 3.17; Tt 1.6-8) e
queiram servir ao Senhor e à sua igreja local, esses serão seus
líderes. Quando essa norma é observada e colocada em prática
vemos um crescimento espiritual saudável e frutífero além de uma
abençoada comunhão entre os crentes em Cristo.
A Bíblia diz sobre os diferentes dons que o Senhor concede
para a Igreja: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros
para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”
(Ef 4.11-12). Mas sobre o dom de cura, tão popular em nossos dias,
a Palavra de Deus diz: “Está alguém dentre vós doente? Chame os
presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o
com óleo, em nome do Senhor” (Tg 5.14). Aqui as ordens são bem
claras: já naquela época o doente é quem chamaria os presbíteros
para virem à sua casa. Presbíteros sempre são mencionados no
plural. Não encontramos respaldo bíblico algum para o costume de
viajar procurando um pastor ou pregador poderoso que tenha o
“dom de cura”. O mesmo modelo pode ser reconhecido quando
Paulo chamou os presbíteros da igreja de Éfeso para se despedir
antes de viajar a Mileto (At 20.17). Juntos, esses homens eram a
liderança da igreja. Sua maturidade e qualificação, além de sua
prontidão para servir haviam se cristalizado, e eles eram
reconhecidos por seu caráter e seu testemunho. Dentre eles havia
pastores, evangelistas e mestres completando-se
maravilhosamente, alcançando o propósito de Deus com a Igreja:
“para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne
conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares
celestiais” (Ef 3.10). Timóteo também recebeu conselhos
importantes e efetivos para ficar ciente “de como se deve proceder
na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da
verdade” (1Tm 3.15). A casa de Deus do Novo Testamento não é
um prédio. O templo do Novo Testamento é o conjunto de crentes
salvos por Jesus. Nesse aspecto a Teologia da Substituição também
causou estrago. Pedro diz: “Chegando-vos para ele, a pedra que
vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e
preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois
edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio
de Jesus Cristo” (1 Pe 2.4-5). A Igreja como reunião de pessoas
salvas é representada por um santuário, uma casa espiritual. E a
reunião de seus membros pode acontecer em qualquer lugar, um
prédio próprio ou em um escritório, em uma fábrica vazia ou em
uma escola, na firma de algum irmão, num celeiro ou em qualquer
outro lugar. Igreja acontece quando os cristãos se reúnem. “Não
sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita
em vós?” (1Co 3.16). Catedrais impressionantes, altas e ricamente
adornadas, com seus vitrais coloridos, suas esculturas e obras de
arte, infelizmente tentando impressionar ao mundo, certamente não
representam a Igreja que Deus planejou, uma Igreja peregrina aqui
na terra, sem cidadania e sem território próprio. Mas essa
concepção de “casa de Deus” como templo físico se fixou de tal
forma que, em muitos países, os prédios das igrejas são chamados
de templos. O megaprojeto do bispo Edir Macedo em São Paulo,
inaugurado recentemente, é apenas o expoente mais visível dessa
aberração, que chegou a incluir uma réplica da arca da aliança.

O dízimo: praticar a Lei na era da Igreja?


Sempre que ouvimos uma pregação sobre o dízimo, a
passagem invariavelmente citada é Malaquias 3.10: “Trazei todos os
dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha
casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos
abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênçãos sem
medida”. O dízimo era uma contribuição semelhante a um tributo
para sustentar e manter o Templo em Jerusalém com todos os seus
ministérios e serviços executados pelos sacerdotes, que viviam
dessas doações. Chamar os locais de reunião dos cristãos de
“templos” é distorcer o sentido literal da palavra. Templo só houve
em Israel! O “templo” do novo Testamento é formado por pessoas,
pedras vivas formando um edifício espiritual. Assim, querer instituir o
dízimo como obrigação cristã está fora de lugar. O dízimo era uma
obrigação do israelita. Os cristãos não são obrigados a dar o dízimo,
mas muitas vezes Deus espera que eles invistam bem mais do que
dez por cento de seus ganhos no reino de Deus, como disse Paulo
em 2Coríntios 9.6-7: “E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco
também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância
também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no
coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a
quem dá com alegria”. Aqui vemos claramente a liberdade
individual, mas também vemos a responsabilidade de cada um na
hora de doar e ofertar. Os conselhos de Paulo são bem práticos e
vão ainda mais longe: “No primeiro dia da semana, cada um de vós
ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá
juntando, para que se não façam coletas quando eu for” (1Co 16.2).
Infelizmente, a realidade mostra que geralmente só reagimos
debaixo de pressão. Isso levou algumas igrejas a colocar em seu
mural, exposto a todos, o relatório de quanto cada um dos membros
contribuiu com dízimos e ofertas. É triste, mas é verdade! O amor ao
nosso Senhor deveria disciplinar nossas finanças, nos levar a um
padrão de vida mais simples, mais parecido com o de Jesus, que
nada tinha, investindo cada vez mais no reino de Deus para
“ajuntarmos tesouros nos céus” (Mt 6.19). Não esqueçamos:
também na questão de dízimos, ofertas e doações, a Igreja não é
Israel! Houve época em que os crentes chegavam a vender tudo
que tinham e distribuíam o produto entre todos, à medida que
alguém tinha necessidade (At 2.45). Isso era bem mais do que 10%!
Eles davam tudo para o reino de Deus! Existe maneira mais sublime
e nobre de investir o dinheiro que Deus nos dá?

Fundamento posto, fundamento único


Quando edificamos um prédio, logo depois da escavação vem a
colocação dos fundamentos. A base vai segurar toda a construção.
Mas uma vez colocada a base, o que vem depois são as paredes, o
teto, as aberturas e todos os detalhes de um edifício. A fundação é
única e não se repetirá. Por isso, não está correto tentar ressuscitar
o ministério dos apóstolos judeus que colocaram os fundamentos da
Igreja desde Pentecoste. Além de não sermos mais a Igreja
primitiva, pois somos claramente a igreja dos tempos finais, não
devemos tentar recolocar fundamentos. Eles já estão postos. Hoje
edificamos, construímos e avançamos com a proclamação do
Evangelho pelo mundo, tentando alcançar os ainda não alcançados
e preparando a Igreja para o Arrebatamento. Efésios 2.19-20 diz:
“Pois já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos
santos e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento
dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário
dedicado ao Senhor”. A Igreja não pode ficar tentando ser uma
cópia pirata da Igreja primitiva. Deve assumir seu lugar na História
da Salvação, sabendo que hoje a volta de Cristo está bem mais
próxima do que nos primórdios da sua caminhada. Querer repetir
Pentecoste é como tentar repetir o Natal ou a Páscoa. Os sinais e
milagres que autenticaram a Igreja em formação ficaram no
passado, mesmo que o poder de Deus seja o mesmo hoje e
sempre.

Falsos apóstolos
Muitos cristãos ficam impressionados com os títulos de apóstolo
ou patriarca que alguns pregadores atribuem a si mesmos. Mas os
patriarcas estão no passado, os apóstolos de Jesus já morreram há
muito tempo e o que temos hoje são seguidores de Jesus,
discípulos do Mestre e pregadores do Evangelho.
Querer ressuscitar o ministério dos apóstolos é heresia e nada
mais do que tentar copiar os apóstolos judeus e a Igreja primitiva!
Paulo declara com muita ênfase: “Porque os tais são falsos
apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de
Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma
em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se
transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as
suas obras” (2Co 11.13-15). No versículo 12 Paulo acusa esses
homens de quererem ser “considerados iguais a nós”. Essas
declarações de Paulo chocam! Será que além dos apóstolos
escolhidos e eleitos haveria mais alguns? Paulo chama de falsos
apóstolos todos aqueles que reivindicam para si a autoridade
apostólica e os que tentam reproduzir as manifestações miraculosas
da época em que era colocado o fundamento da Igreja. Ele não
apenas os rejeita, ele os condena abertamente!
Infelizmente, hoje vemos uma grande parte da Igreja
enveredando pelo caminho do misticismo, da religiosidade que
pouco difere do catolicismo, e até pela senda do espiritismo, pois a
passividade abre portas para manifestações sobrenaturais que não
são do Espírito Santo. Campanhas, votos e compromissos são
feitos como se o homem pudesse manipular a Deus. Muitos nem
percebem que estão no rumo errado, mas precisamos nos perguntar
por que Jesus foi tão duro quando declarou: “Nem todo o que me
diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz
a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão
de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós
profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos
demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então,
lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os
que praticais a iniquidade” (Mt 7.21-23). Jesus já previu e profetizou
o que estamos vivendo hoje. Atos 20.30 diz que “dentre vós
mesmos se levantarão homens falando coisas pervertidas para
arrastar os discípulos atrás deles”. Talvez essa seja a face mais
evidente da realidade que estamos vivendo como Igreja: homens se
levantando e arrastando multidões atrás de si! Tudo começa com
uma compreensão errada de quem é a Igreja, quem é Israel e quem
é o mundo. E os homens pervertidos de Atos 20 sentem-se donos
do rebanho, como já previa Jeremias 25.34.

Judaização da Igreja
Como hoje vemos uma fome muito grande pelo sobrenatural,
pelo espetacular e extrarodinário, outra tendência tem se alastrado
visivelmente: a judaização de muitas igrejas. Percebe-se isso no uso
místico de utensílios tipicamente judeus como o Shofar (berrante), a
Menorá (candelabro), bandeiras, a quipá (solidéu), o Talit (xale de
oração), a Arca da Aliança e uma decoração festiva aludindo ao
Templo judeu. Trazer souvenirs e lembranças de viagem de Israel é
um gesto neutro, destituído de conotação mágica. Porém, muitos
são atraídos por essas coisas visíveis porque um retorno às raízes
judaicas supostamente representaria uma bênção toda especial.
Com isso fica cada vez menor a distância que separa o puro
legalismo do cristianismo ensinado no Novo Testamento. Logo em
seguida vem a observância das festas judaicas, do sábado e de
certas regras de alimentação, mas essas foram ordenanças
explicitamente para Israel.
Obviamente somos plenamente a favor de orar por Israel,
estudar sua história e honrar tudo o que recebemos dessa nação.
Afinal, Jesus foi judeu, os apóstolos foram judeus e o início da Igreja
foi formado por judeus. Prestar nossas homenagens a Israel, orar
pela paz de Jerusalém, visitar a terra onde Jesus viveu é diferente
de judaizar a Igreja. Amar Israel apoiando e financiando projetos
sociais em Israel, combater o antissemitismo, fazer amizade com
judeus são reações normais de gratidão a esse povo que tantas
bênçãos legou à humanidade. E se até sua rejeição (endurecimento
temporário) já resultou em nossa salvação, quanto mais sua
verdadeira restauração espiritual será bênção para o mundo?!
Somos ramos enxertados em Israel. “Se, porém, alguns dos ramos
foram quebrados, e tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em
meio deles e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira,
não te glories contra os ramos, porém, se te gloriares, sabe que não
és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti” (Rm 11.17-18).
Percebemos o que está escrito nessa passagem? Fomos
enxertados “em meio deles” (dos judeus), e não em lugar deles.

Conclusão
Acabamos de fazer um breve apanhado das consequências
mais evidentes, dentro do cristianismo, quando se tenta excluir
Israel dos planos divinos, quando se tenta substituí-lo pela Igreja ou
quando se nega que esse povo ainda tem um futuro concreto,
profetizado pelo próprio Senhor.
Por isso, consideramos de extrema importância parar, analisar
e ver com clareza que ponto de vista estamos assumindo, seja de
forma consciente e com o uso de certas passagens bíblicas para
embasar nossas posições, ou sem pensar, simplesmente sendo
arrastados pela correnteza da opinião geral. Parar e pensar!
Questionar! Comparar passagem bíblica com passagem bíblica, ver
o que o Novo e o Antigo Testamento têm a dizer sobre o assunto,
ver o que Jesus falou sobre Israel, analisar as declarações de Paulo
e dos outros apóstolos, orando e nos sujeitando à Palavra de Deus
e não ao nosso próprio raciocínio ou às nossas ideias pré-
concebidas, tudo isso fará com que tenhamos uma visão mais
abrangente e mais coerente acerca de qualquer assunto, e neste
caso, acerca de uma Igreja com ou sem Israel.
Para terminar, gostaria de deixar alguns conselhos para os que
leram este livro até aqui:
1. Veja bem como edifica. Esteja atento ao modo de edificar o
edifício de sua fé e de suas convicções: “Segundo a graça de Deus
que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e
outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque
ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o
qual é Jesus Cristo” (1Co 3.10-11).
2. Permita que a Espada da Palavra e do Espírito ilumine
sua mente: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao
ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12).
3. Limpe sua mente, faça uma faxina em seu raciocínio:
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem
de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Assim, se alguém a si mesmo se purificar deste erros, será
utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando
preparado para toda boa obra” (2Tm 2.15 e 21).
4. Não se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo:
“Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua
astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte
da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2Co 11.3).
Com a Palavra de Deus em mãos e com a ajuda do Espírito
Santo nos iluminando e dirigindo, estaremos aptos a reconhecer
erros em nossa maneira de pensar, poderemos chegar a toda
verdade e a viver segundo a sã doutrina. Que o Senhor nos
abençoe nessa caminhada e nos conceda a graça de
permanecermos no caminho estreito nestes tempos nada fáceis!

Livros recomendados:
“A Teologia da Substituição – o Futuro de Israel é Coisa do
Passado?” - Norbert Lieth e Johannes Pflaum
“A Verdade Sobre Jerusalém na Profecia Bíblica”, Thomas Ice e
Timothy Demy
“A Verdade Sobre o Arrebatamento”, Thomas Ice e Timothy Demy
“A Verdade Sobre o Milênio”, Thomas Ice e Timothy Demy
“A Verdade Sobre o Templo dos Últimos Dias”, Thomas Ice e Timothy
Demy
“Hitler, o Quase-Anticristo”, Dave Hunt
“Jerusalém – Obstáculo Para a Paz Mundial?”, Dr. Roger Liebi
“Jerusalém – Um Cálice de Tontear”, Dave Hunt
“Jesus e o Fim dos Tempos”, Thomas Ice
“O Dia do Juízo”, Dave Hunt
“O Sermão Profético de Jesus”, Norbert Lieth
“Por Que Justamente Israel?”, Norbert Lieth
“Sionismo Cristão”, Thomas Ice

Dvds do autor:
“O Código Profético”
“Escatologia”

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