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A Viúva de Gal Costa
A Viúva de Gal Costa
Daí em diante, ele passou a ser incluído nos jantares de Gal e Petrillo, que
estavam vivendo em Salvador, e das quais acabou ficando amigo. Chegou
a acompanhá-las em turnês internacionais e, dada a influência de sua
família, arranjava os melhores médicos da Bahia para atendê-las. Com o
tempo, passou a trocar confidências com Petrillo, que ligava tarde da
noite para desabafar sobre os problemas financeiros que enfrentava com
Gal. Um dia, sentiu confiança para contar que estava apaixonado por
outro homem. “Ser gay era o segredo da minha vida, meus pais não
podiam nem sonhar”, disse ele em entrevista à piauí.
Daí em diante, ele passou a ser incluído nos jantares de Gal e Petrillo, que
estavam vivendo em Salvador, e das quais acabou ficando amigo. Chegou
a acompanhá-las em turnês internacionais e, dada a influência de sua
família, arranjava os melhores médicos da Bahia para atendê-las. Com o
tempo, passou a trocar confidências com Petrillo, que ligava tarde da
noite para desabafar sobre os problemas financeiros que enfrentava com
Gal. Um dia, sentiu confiança para contar que estava apaixonado por
outro homem. “Ser gay era o segredo da minha vida, meus pais não
podiam nem sonhar”, disse ele em entrevista à piauí.
Sete anos depois, em dezembro de 2010, Prado foi convidado para assistir
à formatura de Gabriel, o filho de Gal, no maternal. Na manhã do dia do
evento, Petrillo ligou: “Passe aqui em casa para irmos juntos até a
creche”. O endereço era o Morada dos Cardeais, condomínio de luxo no
bairro da Vitória, cujos apartamentos têm varandas com vista para o mar
de Salvador. Petrillo estava sozinha em casa. “Cadê a patroa?”,
perguntou Prado, recorrendo ao apelido que a empresária usava para se
referir a Gal. “Ela teve que passar no cabeleireiro”, respondeu Petrillo, e
começou a chorar. Segundo a lembrança de Prado, ela disse: “Bruninho, a
Gal fez uma cirurgia no olho, e eu descobri que também vou precisar
operar o meu, só que estamos sem dinheiro. Eu preciso de qualquer valor
que você puder me emprestar, mas agradecerei muito se for algo entre 10
e 15 mil reais.” Ele quase caiu para trás. Petrillo acrescentou: “Eu disse à
Gal que estava indecisa quanto a te pedir, mas ela falou que você é tão
nosso amigo…” Prado conta que se sensibilizou e disse que faria o
possível para ajudar na cirurgia. Petrillo sorriu e secou as lágrimas do
rosto. Pouco depois, Gal chegou ao apartamento e todos partiram para a
formatura de Gabriel. No dia seguinte, segunda-feira, Prado mandou
entregar na casa de Gal e Petrillo um envelope amarelo com 15 mil reais.
“Quando ela falou isso, eu tremi”, diz o médico. Ele então conta que
decidiu escrever um e-mail para Gal revelando toda a história. A cantora
ligou, com a voz triste, dizendo que não sabia de nada e garantiu que
Petrillo lhe enviaria um cheque. Acrescentou que seria melhor ele se
afastar por um tempo porque ela não queria ter problemas com Petrillo.
O cheque prometido não chegou de imediato, mas Petrillo honrou a
ameaça: enviou para o consultório do pai de Prado um envelope com
uma foto dele beijando o namorado – era uma imagem que o próprio
Prado havia compartilhado com Petrillo quando ainda se davam bem.
Prado conta que, mais tarde, ela ligou para o seu pai e expôs a sua
intimidade. O efeito foi o inverso do que Petrillo planejara: Prado,
entrando num período de tristeza e pensamentos suicidas, foi acolhido
pela família.
Quando a Prefeitura de Vitória da Conquista anunciou o show de Gal
Costa em praça pública, o pai de Prado deixou um advogado e o
delegado em alerta para o caso de Petrillo fazer novas ameaças ao filho, o
que aconteceu assim que ela chegou à cidade. “Você vai tomar uma surra
tão bonita que vai aprender a respeitar os outros”, escreveu para Bruno
por SMS. “Ela dizia coisas como ‘Você não tem vergonha de pedir
dinheiro para uma mulher mais velha, sua bicha?’” Em 2012, Petrillo
tinha 62 anos, cinco a menos que Gal. Em pânico, Prado ligou para o pai,
que disse que estava na hora de dar um basta naquelas ameaças.
Seguindo o conselho da família, Prado foi para Nova York duas semanas
depois para aliviar o estresse. Ele conta que, um dia, Petrillo ligou para
seu celular, dizendo que sabia o nome do hotel em que estava hospedado
e, por ter morado na cidade, conhecia gente que poderia dar um jeito
nele. O médico teve uma crise de pânico e pegou um trem para a casa de
um amigo em Massachusetts, onde ficou até as ameaças cessarem. Meses
depois, recebeu o cheque de Petrillo com a devolução de todo o dinheiro.
Nunca mais falou com ela, nem com Gal. Hoje tem 41 anos e diz que esse
foi um dos piores traumas da sua vida.
Um dia, cansado de tudo, ele aproveitou uma carona com Gal para contar
o que estava acontecendo. Disse que Petrillo barrava ofertas de trabalho
que chegavam e que certos produtores internacionais se recusavam a
contratá-la por causa da índole da empresária. “Você pode ganhar o
dobro do que vem ganhando”, disse ele a Gal. A cantora bateu os punhos
fechados no volante do carro. “Estão tentando me roubar, Ricardo?”,
perguntou. Frugoli conseguiu acalmá-la, dizendo que ainda havia tempo
de contornar a situação.
No dia seguinte, chegou para trabalhar e estava tudo como antes. Gal o
tratava com a gentileza e a serenidade de sempre – e nunca voltou a falar
no assunto. Petrillo continuou à frente dos negócios e ainda o humilhava,
chamando-o de “burraldino” e fazendo comentários a respeito do seu
sobrepeso. “Eu tolerava por causa da Gal”, diz Frugoli. “Durante muito
tempo, fui o cara que não deixou a bomba explodir. Continuar ali era
importante para protegê-la do que vinha acontecendo na carreira e dentro
de casa.”
Comparecem nesta DELPOL, a pessoa de Ricardo Frugoli, o qual relata que vem
recebendo ligações telefônicas oriundas do fone […], bem como correspondências
eletrônicas via internet, por meio das quais a pessoa da autora Wilma Theodoro
Petrillo [o escrivão acrescentou um H], vem lhe proferindo ameaças a sua
integridade física, dentre elas relata que vai acabar com a pessoa do declarante,
salienta que além de ameaças por telefone a autora lhe profere pessoalmente em
seu trabalho situado no local dos fatos. Diante do acima narrado, dirigiu-se a esta
Unidade a fim de registrar o presente para serem tomadas as providencias
cabíveis. Vítima foi orientada quanto ao prazo e procedimento legal, para
representar em desfavor da autora, independentemente de intimação, se assim
desejarem.
estendeu por quase seis décadas, Gal Costa deixou uma herança
minguada para o filho. Uma busca em cartórios de registros de imóveis
no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia mostra que o item de maior valor é
uma casa no bairro paulistano dos Jardins. O imóvel foi adquirido por 5
milhões de reais em 2020, depois que o apartamento em que morava na
Alameda Itu precisou ser vendido para quitar dívidas. Um ex-
funcionário, que trabalhou com Gal até sua morte e conversou com
a piauí em cinco ocasiões, sempre por celular, diz que a conta bancária da
cantora era um “buraco negro”. Mesmo fazendo turnê atrás de turnê,
disco atrás de disco, o dinheiro entrava e era engolido. Treze pessoas
ouvidas pela piauí – seis ex-funcionários que trabalharam com Gal, seis
amigos da cantora e um parente – concordam em um aspecto: as finanças
da cantora foram minadas no período em que Petrillo e Gal estiveram
juntas.
Petrillo era a pessoa que cuidava das contas domésticas e também era a
empresária responsável pela Baraka Produções Artísticas, a GMC
Produções Artísticas e a Wilclick Produções Artísticas, empresas que
negociavam os shows de Gal. Havia dois funcionários que se dividiam
entre o trabalho no escritório e as demandas da vida pessoal de Gal e
Petrillo: o almoço, o jantar, as malas de viagem, o pagamento das contas,
o saque de dinheiro no banco. Um deles contou à piauí que, em 2015,
testemunhou Gal inquirir a parceira: “O dinheiro entra e some, as dívidas
não param de chegar. Que tipo de empresária é você?” Petrillo
respondeu: “Você é uma velha, as pessoas não querem mais te contratar.”
O funcionário conta que houve um momento de atrito físico. A cena
aconteceu na sala de estar do apartamento de Gal, na Alameda Itu.
Os shows continuavam a ser vendidos, mas alguns não chegaram a
acontecer. O mesmo empregado se lembra de receber telefonemas de
produtores furiosos. Até que um empresário gaúcho, Márcio André Melo
da Silva, ligou ameaçando-o de processo porque pagara para contratar
um show de Gal, mas não recebera os papéis assinados por Petrillo. O
funcionário decidiu relatar à cantora o que estava acontecendo. “Se eu
largo a Wilma, ela leva metade de tudo que eu tenho, sem nunca ter
trabalhado de verdade para conseguir alguma coisa”, disse Gal, segundo
o funcionário. Procurado pela piauí, Melo da Silva não quis se manifestar.
“Não tenho interesse de falar porque acredito que isso não vai levar a
nada.”
No final dos anos 1970, Gal Costa atingiu o seu ápice de popularidade no
Brasil. “Ela começou com muito prestígio, ao lado do Caetano Veloso e
dos tropicalistas, mas os discos não eram populares, costumavam agradar
principalmente aos formadores de opinião”, diz o jornalista e crítico
musical Mauro Ferreira. “A virada começa em 1978, quando saiu o
álbum Água Viva, com a gravação de Folhetim, do Chico Buarque. No ano
seguinte, sob a direção do Guilherme Araújo, ela fez o show Gal Tropical,
que virou o acontecimento do verão.”
Em 1984, Gal deixou a gravadora Philips e assinou com a RCA. “Então ela
passou a gravar baladas populares, como Chuva de Prata, com o Roupa
Nova”, continua Ferreira. “No disco Bem Bom, de 1985, lançou Sorte, com
Caetano Veloso, e a grande explosão que foi Um Dia de Domingo, com o
Tim Maia.” Vendeu mais de 500 mil cópias do álbum, um êxito comercial
para a época.
Gal repetiu a canção várias vezes no trajeto até a Zona Sul e terminou a
noite do lado de Veríssimo. “Era um momento mágico para nós duas.
Vivíamos o ápice das nossas carreiras”, diz a atriz, uma das estrelas da
Rede Globo na época. “Eu emendava uma novela atrás da outra, me
apresentava no teatro e em shows countries pelo país. Gal estava
lançando seus maiores sucessos. Seus shows e turnês nacionais e
internacionais duravam dois anos, com casas lotadas.”
Veríssimo nunca foi creditada como produtora de Gal, mas agia como
uma faz-tudo nos bastidores. Chamou duas figurinistas da Globo, Marília
Carneiro e Helena Gastal, para refinar a imagem da cantora. Usava o
conhecimento em italiano, francês e inglês para ajudar a fechar contratos
no exterior. Nos segundos que antecediam o show, levava Gal pelas mãos
até a entrada do palco. “Naquela época, trabalhar com ela era muito
simples. Ninguém precisava mover nada. O telefone simplesmente
tocava.”
Os amigos avisaram Jacy que aquele namoro era uma roubada. Contaram
que Petrillo tinha aplicado um golpe no ator Diogo Vilela na venda de
um imóvel. Por se tratar de uma amiga de amigos, o ator dispensou as
formalidades legais de um contrato, confiando no acordo verbal que
acabou não sendo cumprido. À piauí, Vilela disse apenas o seguinte: “Eu
não quero falar absolutamente nada sobre essa senhora.”
para o qual apenas Nana Caymmi costuma ligar. Ele tocou na manhã de 9
de novembro, mas a voz do outro lado era de um sobrinho de Nana,
avisando que tinha acabado de ver na tevê a notícia da morte da Gal.
No mausoléu onde Gal está enterrada, não há uma lápide com o nome da
cantora. Alguns fãs que visitam o local colocam fotos e dizeres sobre o
túmulo de mármore. A piauí visitou o local em maio. Além de
fotografias, encontrou uma placa de madeira com as datas de nascimento
e morte da cantora e um trecho da música Recanto: Coisas sagradas
permanecem,/nem o Demo as pode abalar./Espírito é o que, enfim, resulta/de
corpo, alma, feitos: cantar.
E m 2009, o produtor cultural Cleber Lopes Pereira procurou a
A sra. Wilma Petrillo, viúva da cantora Gal Costa, tem recebido diversas ligações
telefônicas e, inclusive, mensagem de WhatsApp, do repórter Thallys Braga, que
alega estar a serviço da revista piauí. Nessas mensagens, o citado repórter realiza
afirmações e questionamentos sobre supostos fatos de caráter privado e íntimo
relacionados à convivência entre a sra. Wilma Petrillo e a cantora Gal Costa, sob
o argumento de que está escrevendo uma matéria jornalística para a próxima
edição da revista.
Além disso, o citado repórter tem entrado em contato com pessoas próximas à sra.
Wilma Petrillo e a Gal Costa, no Brasil e nos Estados Unidos, e feito
questionamentos a tais pessoas sobre a convivência entre ambas, bem como
enviado a essas pessoas as alegações acima referidas. Ou seja, o repórter está
caluniando, difamando e injuriando a sra. Wilma Petrillo perante essas pessoas.
A sra. Wilma Petrillo não é uma pessoa pública, e a cantora Gal Costa sempre fez
questão de preservar a intimidade da família, inexistindo qualquer interesse
público em tais alegações, do que decorre o nítido interesse ofensivo do repórter.
Assim, serve a presente para adverti-los de que se for publicada qualquer matéria
sobre a sra. Wilma Petrillo, nós adotaremos as medidas judiciais cabíveis para
reparar a sua honra e impedir a continuidade da ofensa, inclusive aquelas de
caráter criminal contra o repórter e os responsáveis. Confiamos no bom senso e
qualidade da revista piauí para que matérias ofensivas, difamatórias e
caluniosas, sem qualquer interesse público, e unicamente destinadas a ofender,
caluniar e violar a privacidade alheia não sejam publicadas.