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LUÍS CIVAM»
FORMAÇÃO
PARA O
APOSTOLADO
VOZES
MONSENHOR LUÍS CIVARDI
Formação Para
o Apostolado
Versão autorizada
de
FR. ADAUTO DE PALMAS, ,0 . F. M.
II EDIÇÃO
1948
EDITORA VOZES L tda ., PETR ó POLIS, R. J.
RIO DE JANEIRO — SAO PAULO
I M P R I M A T U R
P OR COMISSÃO ESPECIAL DO
EXMO. E REVMO. SR. DOM
JOSE- PEREIRA ALVES, ADMI
NISTRADOR APOSTÓLICO DA
DIOCESE DE PETRÓPOLIS. PR.
MATEUS HOEPERS O. P. M.
PETRÓPOLIS, 20 DE DEZEMBRO
DE 1947.
Introdução
Recordem os o episódio da cura do p aralítico no
Tanque das Ovelhas de Jeru salém : “H avia em torno
dele grande m ultidão de enferm os, cegos, coxos, pa
ralíticos que aguardavam o m ovim ento da água,” F a
zia trin ta anos que estava doente e não se pudera
curar. P or quê? Porque não tin h a um homem que
o m etesse na água quando esta era agitada pelo anjo.
Quantos enferm os da alm a em roda de nós! E
quantos que esperam a cura! Muitos deles podem
dizer com o p aralítico do T an q u e: “Não tenho n in
guém que me bote na p iscin a regen erad o ra da gra
ça.” Em outras palavras, não enco n traram o após
tolo.
Dolorosa re a lid a d e : m uitos são os enferm os da
alma, porém poucos as m édicos e enferm eiros. Pou
cos os apóstolos no laicato católico.
P o r quê?
Às vezes p o r não se conhecerem a natureza, digni
dade e necessidade do apostolado dos leigos.
P o r que tantos m em bros da Ação Católica não são
apóstolos ativos e fervorosos? Certam ente porque
ignoram tudo isto.
Uma vez que todos os m em bros de nossas associa
ções devem ser apóstolos operosos, tratarem os deste
assunto do Apostolado, fazendo v er:
1. " Sua natureza.
2. ° Sua dignidade.
3. * N ecessidade do A postolado Leigo.
Natureza do Apostolado
Que é o apóstolo?
Chama o m undo de Apóstolo o que se consagra
com entusiasm o a um ideal, a um a causa pública.
Contudo não se lhe dá se esta causa é boa ou má.
Daí a profanação do nom e de Apóstolo quando se
aplica ao prop ag an d ista de ideais falsos, aos defen
sores de causas não boas.
8 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Dignidade do Apostolado
N enhum a em presa hum ana pode com parar-se com
a do Apóstolo. P ara conhecer sua dignidade faz-se
m ister conhecer antes o valor da alm a hum ana.
Qual é o valor da alm a? 0 Sangue de Cristo Nosso
S en h o r: “Haveis sido resgatados não a preço de
ouro ou prata, m as com o Sangue precioso de
Cristo.
“Chegar à Índia, salvar uma alm a e então m o rrer”,
exclam ava o grande apóstolo S. F ran cisco Xavier.
O APOSTOLADO 9
Conclusão
Em vésperas de uma grande batalha, Napoleão di
rigiu-se assim a seus soldados: "Soldados, preciso
de vós!” Hoje a Igreja conclam a seus filhos: “F i
lhos, necessito de vós!” Mas que diferença entre am
bas essas conclam ações: Napoleão convidava a uma
batalha cruenta, a Igreja convida-nos a um a luta p a
cífica; Napoleão p reten d ia satisfazer suas am bições
pessoais, a Igreja não p ro cu ra o u tra coisa que não
a glória de Deus e o bem das almas. Custou a vitó
ria de Napoleão m ilhares de vidas, a v itória da Igre
ja dá a vida etern a a todos os rem idos.
A AÇÃO CATÓLICA
Introdução
M archava Antíoco, rei da Síria, com poderoso
exército con tra Jerusalém , a Cidade Santa. Judas
Macabeu, com andante dos judeus, ordenou ao povo
invocasse o nom e do Senhor, a fim de que ajudasse
a defender a cidade, e exortou os m ais valorosos
“a com bater varonilm ente e a d efender até a m orte
a Lei do Senhor, o tem plo, a cidade, a P átria e os
cidadãos”, am eaçados p o r Antíoco, m inistro de Sa
tanás, e deu aos seus como santo e senha estas p a
lavras: A V itória de Deus.
De feito, ela foi obtida gloriosam ente, Deus triu n
fou, Jerusalém e o tem plo salvaram -se.
Judas Macabeu e seus soldados são quais p re c u r
sores da Ação Católica, porquanto esta é um exér
cito, muito em bora exército pacífico. Seu santo e
senha são as palavras de Pio X I: “A paz de Cristo
no Reino de C risto.” E’ um exército que, à seme
lhança daqueles judeus, não com bate pelo triunfo
de um povo, dum a dinastia ou facção, mas pela vi
tó ria de Deus.
P o r isso a Ação Católica é um a ação dos leigos
organizada, cristian izad o ra e necessária.
Exam inem os estes característicos.
Ação organizada
Açfio recristíanizadora
0 único fim da Ação Católica é a vinda do Reina
do de Cristo. 0 lema que tem foi dado por Jesus
Cristo mesmo: “Venha a nós o Vosso Reino”.
Os Romanos Pontífices assinalaram para a Ação
Católica o programa de S. Paulo: “Restaurar todas
as coisas em Cristo.” Todas as coisas, não somente
as consciências individuais, mas também a família,
a sociedade, em todos os seus elementos constituti
vos e em todas as suas manifestações.
Ao passar S. Bernardino de Sena por alguma c i
dade, convidava todos os habitantes a inscrever o
nome de Jesus nas fachadas de suas moradias, e
aceitavam o convite.
A Ação Católica quer escrever este nome em todas
as coisas e em todos os corações. Cristo não deve
ser um Rei encerrado no tabernáculo, nos claustros
ou nas casas dos vassalos fiéis; há de reinar em
todas as famílias e na sociedade inteira.
Conhecida é a lenda de S. Cristóvão, homem de
estatura descomunal. Depois de haver servido a al
guns patrões tiranos, põe-se ao serviço de Cristo,
dedicando-se a obras de caridade. Junto ao rio
Oronte, encarrega-se de transportar aos ombros a
todos que quisessem atravessar.
Duma feita se lhe apresenta um menino mui for
moso, rogando-lhe a mercê de o passar ao outro la
do. O gigante leva-o sobre os ombros, mas no meio
do rio, levanta-se uma borrasca com grande perigo
de vida dos dois passageiros. 0 Menino brada: “Co
ragem, Cristóvão, trazes a Cristo.”
Desde aquele dia, Adócimo — tal era seu verda
deiro nome — chamou-se Cristóvão, ou seja Cristí-
fero : o que leva a Cristo. Todos os membros da Ação
Católica devem ser outros tantos Cristíferos a levar
a Cristo no meio da sociedade, sabendo que esta obra
não se fará sem dificuldades, visto como o apostola
do cristão sempre conheceu tempestades e lutas.
Donde não olvidemos o que nos diz o Papa:
“Exclusivamente depois de formarmos a Cristo den
tro de nós, poderemos facilmente comunicá-Lo à
família e à sociedade.” Pois ninguém dá o que não
tem, ou em outros termos, não pode ser Apóstolo
quem não é bom Cristão.
14 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Ação necessária
Mas donde vem isto de q uerer refo rm ar cristãm en
te a sociedade? Basta a b rir os olhos p ara se conven
cer da necessidade desta em presa.
Uma sociedade pode dizer-se deveras cristã, quan
do nela não apenas se respeitam o símbolo da fé e o
decálogo, senão quando se observam todas as leis
p rescritas pela Igreja, quando a m oral evangélica é
norm a de vida quer em público quer em particular,
em casa como fora.
Será esta, p orventura, a condição da sociedade
m oderna?
A resposta é facil. B astará ap o n tar alguns fatos.
Gomo se respeita, p o r exem plo, o nome de Deus, em
certas e d eterm inadas regiões? Como se festejam as
festas do S enhor? Como se observam as norm as de
m oralidade?
Como se consideram no seio da sociedade civil
as regras da justiça e da caridade p ara com o p ró
xim o? Poder-se-á dizer que a carid ade — como o
exige o Mestre — é o característico de seus discí
pulos?
E a fam ília, célula e fundam ento da sociedade, em
que estado se acha entre nós? E’ verdade que ainda
conserva o cunho de c ristã ; como se guardam , po
rém , as v irtudes que a constituem o encanto da vida
fam iliar: o am or cristão, o respeito, a concórdia, a
fidelidade, a obediência?
A verdade é que a sociedade m oderna, como o re
petia o chorado P ontífice Pio XI, caiu quase em
sua totalidade no paganism o e necessita recristian i-
zar-se; a Ação Católica está encarregada desta ta
refa.
P o r isso a Ação Católica tenciona form ar bons
cristãos e bons cidadãos p ara o bem da Igreja e da
P átria, cujos interesses vão unidos aos daquela.
Já o disse o Santo P a d re : “O verdadeiro cristão
é em virtu d e desta m esm a condição o m elhor cida
dão, am ante de sua P á tria e subm isso às autoridades
legalm ente estabelecidas.”
A AÇAO CATÓLICA 19
Conclusão
A h istó ria do povo judeu oferece-nos outro fato
que rep resen ta adm iravelm ente a Ação Católica.
R egressando da escravidão de Babilónia, os judeus
puseram -se a reco n stru ir o tem plo e os m uros da
C idade Santa. Mas os num erosos inim igos im pediam -
lho. Fizeram -se orações ao Senhor e os o breiros sus
tinham num a mão os instrum entos de trab alh o e
noutra a espada.
Hoje se trata de re e d ific ar a Cidade de Deus, a
sociedade cristã, devastada p o r m ais de meio século
pelo laicism o d escristianizador, Quem levará a ca
bo tam anho em preendim ento? Todo o povo cristão,
sob a direção do Papa, dos Bispos e dos Sacerdotes.
Recordem os, todavia, o que nos aplica o P ap a:
“Se o Senhor não é o que edifica, em vão trabalham
os que edificam a cidade.” Como os antigos judeus
que levantaram o tem plo e a cidade, assim tam bém
nós outros invoquem os antes todo o auxílio do alto.
A oração p receda a ação e então estejam os seguros
de obter a vitó ria do Senhor.
A AÇÃO CATÓLICA E’ UM DEVER
Vãos pretextos.
Mas ninguém quer ser tachado de covarde, e daí
se inventaram vãos pretextos p ara dissim ular a ina
ção.
Dizem u n s: “Isto toca aos P adres. Cristo disse aos
A póstolos: Ide e pregai — a nós outros nos com pete
ser bons cristãos e não m ais. De outro lado, os sa
cerdotes bastam p o r si sós p ara esta em presa de
recristianização da sociedade.”
No entanto o Papa m anifestou-se de m ui d iferen
te modo ao d eclarar, m ais de um a vez, que a Ação
Católica é um dever não apenas do m in istério sa
cerdotal, mas igualm ente da vida cristã.
Disso já indicam os as p rin c ip a is razões.
2*
20 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
-v Obrigação do Batismo
Num subúrbio parisiense, um bom sacerdote p ro
pôs num belo dia a um operário incrédulo fizesse
b atizar um dos filhos que estava em perigo de m or
te. “Que me im porta o vosso batism o — respondeu
o operário — isso não é lá m ais que uma p itada de
sal na boca.”
Na generalidade, os católicos têm do Batismo um
conceito um pouco m elhor do que o obreiro da nossa
história. Mas onde estão os que dele têm noção exata,
já em seus efeitos, já sobretudo em suas obrigações?
Uma obrigação que deriva dos efeitos do Batismo
é o Apostolado.
Pelo Batismo o homem se faz filho adotivo de
Deus, irm ão dc todos os cristãos, m em bro da Igreja.
Destes três efeitos em ana o dever do Apostolado,
como passam os a dem onstrar.
I. Filho Adotivo de Deus
Quando se batiza um m enino, renova-se a cena
m ilagrosa que se efetuou no dia do batism o de Jesus,
às orlas do Jordão. Do céu baixou a voz do E terno
P a i: “Este é o meu filho m uito amado, em o qual
tenho todas as m inhas com placências.”
P arecerá exagero, nada obstante é realidade. P ro
dígio de am or infinito.
“A dm irai — escreve S. João — que prova de am or
nos tem dado o Pai ao q u erer que nos cham em os e
sejamos em verdade filhos seus.”
Poucos cristãos advertem a esta altíssim a digni
dade. Bem o com preendia a cam areira da filha do
Rei Luís XV da F ran ça; ao ser rep reen d id a p o r sua
senhora com estas p alav ras: “Não sabeis que sou fi
lha do vosso R ei?” respondeu-lhe: “E* verdade; mas
eu sou filha de Deus, Rei dos Reis.”
Tão grande dignidade traz consigo um a obrigação
bem d efin id a: a de prom over e defender a honra
de Deus. Um filho não pode co n sid erar com olhos
24 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Um leigo taumaturgo
Deu Jesus a seus discípulos o “poder de c u ra r as
enferm idades >e expelir os dem ónios.” Os discípu
los sentiam -se orgulhosos com os êxitos obtidos.
Uma feita, ao regressarem de uma m issão, disseram
ao Mestre m uito sa tisfe ito s: “Até os dem ónios se
nos subm etem em força de vosso nom e.”
Nisso estavam equivocados, julgando que tal po
d er lhes fora concedido a eles exclusivam ente. As
sim ao toparem certo dia com um estranho que ex
pulsava os dem ónios em nom e de Jesus, proibiram -
lho ín continenti.
De regresso eles p ara casa, disse S. João, em nome
de todos, ao Salvador: “Mestre, vim os alguém, que
não é dos nossos, expelir em vosso nome os dem ó
nios e proibim os-lho.” Jesus replicou-lhes, porém :
“Não lho proibais, p orquanto ninguém há que faça
prodígios em meu nom e e que possa falar m al de
mim. Pois quem não é co n tra vós está do vosso lado.”
O tal indivíduo que não segue a Jesus nem faz
p arte do Colégio Apostólico, é um leigo. A despeito
disso, expulsa os dem ónios em o nome de Jesus,
q u er dizer exerce um ofício apostólico. E o Mestre
não quer que lho im peçam ; com o que aprova sua
atividade.
Dois ensinam entos dá-nos aqui o Salvador:
a) o Apostolado não é m onopólio dos sacerdotes
ou do Clero, m as em certa m edida perm ite-se aos
leigos;
b) os que labutam no cam po do Apostolado hão
de se alegrar de que outros trabalhem tam bém e
talvez com fruto m ais abundante, e isto sem som
b ra de ciúmes, sem espírito de rivalidade, com esta
ú nica aspiração : que Deus seja glorificado por quem
q u er que for. O que em verdade im porta é que o
bem se faça, pouco se nos dando p or quem.
O APOSTOLADO DOS LEIGOS 31
Introdução
Conta-se que um belo dia caiu nas mãos de Ale
x andre Severo um pergam inho no qual estava escrito
o P ad re Nosso. Apenas o im perador o leu, quedou
profundam ente com ovido e perguntou quem era o
autor daquela oração. Q uando soube que era de
Cristo N azareno, quis levantar-L he um a estátua no
santuário dom éstico, ao lado dos deuses tutelares.
Este im p erad o r pagão dá o portuna lição a m ui
tos cristãos que diariam ente repetem a divina pre
ce sem d ar atenção ao sentido profundo e às ver
dades substanciais que se nela contêm.
Escreve T ertuliano que “o Padre-N osso é o resu
mo de todo o Evangelho.”
Desta forma, o apostolado é um a das grandes ver
dades contidas na oração dom inical. Chamou-a por
isso Pio XI de “ fórm ula sublim e do apostolado
cristão.”
Vamos p ro fu n d a r um pouco esta verdade, consi
derando como o dever do apostolado está contido
im plicitam ente em todo o P ad re Nosso; expiicita-
m ente no prelúdio, na p rim e ira p arte e na segunda.
No prelúdio
Começa a oração dom inical com este prelúdio
solene: “P ad re Nosso, que estais no céu.” Palavras
excelsas, en cerran d o as m ais sublim es verdades.
Os hebreus adoravam e invocavam Javé como
Senhor, C riador e Juiz, não como P ai; em razão dis
so o Antigo Testam ento infunde tem or e não am or.
Um exem plo: Q uando Deus cham ou Moisés ao
cume da m ontanha p ara lhe en treg ar a lei, ordenou
que o povo se não acercasse do m onte. D urante o
colóquio de Deus com Moisés, ouvia o povo os tro
vões e via os relâm pagos e como o m onte parecia
ard er. A terrados e cheios de espanto diziam todos a
40 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Conclusão
C erta vez entrou um a noviça na cela de Santa
T eresinha do Menino Jesus e quedou-se m aravilha
da ante a expressão celestial da Santa. “Em que
está p en san d o ?” — perguntou a noviça. Respondeu-
lhe a S a n ta : “Estava refletindo sobre o P adre Nos
so, pois nada há m ais doce do que cham ar a D eus:
P ad re Nosso” — e dos olhos da Santa brotavam lá
grim as de comoção.
Meditemos tam bém nós outros, um a p o r uma, as
petições do P ad re Nosso, e sentirem os acender-se-
nos no peito a cham a do Apostolado.
O APOSTOLADO
E A COMUNHÃO DOS SANTOS
Introdução
Ao rezar cada dia o Creio em Deus P adre, os
cristãos repetem as p alav ras: “Creio na Comunhão
dos Santos.” Todavia quantos são os que com preen
dem o sentido deste dogma consolador e adm irável?
Quantos conhecem os deveres que dele derivam ?
Quantos o levam em consideração na vida p rática?
Infelizm ente pouquíssim os; e, sem em bargo, é um
dogma fundam ental na vida cristã. Dele em anam
obrigações im portantes, especialm ente o de c a rid a
de m aterial e esp iritu al p a ra com o próxim o e, de
m aneira singular, o do Apostolado da Ação Católica,
o que passam os a dem onstrar.
Membros solidários
Em todo corpo, seja qual for, existe solidariedade
de in teresses entre todos os m em bros, Q que sig n i
fica que o bem -estar ou o mau estado de um o é
igualm ente de todos. “Se um m em bro padece — es-
46 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Conclusão
E esta in d iferen ça nossa faz-nos re c o rd a r outra
sentença de S. João Crisóstom o: “Não há frieza
m ais perniciosa do que a do cristão que se não preo
cupa pela salvação de seus irm ãos.”
Sentença essa m uito v erd ad eira e que condena os
cristãos que crêem na Comunhão dos Santos e vi
vem no m ais intran sig en te egoísmo.
A Ação Católica é a execução p rática deste dogma
que é a base da v ida cristã. U fanem o-nos de p erten
cer a ela; mas não nos contentem os com ser m em
bros passivos. A frase de Crisóstom o acim a citad a
dá-nos que refletir e estim ula-nos p ara esta m ilícia
do Apostolado.
0 APOSTOLADO DA ORAÇÃO
Introdução
O A postolado, ou seja o meio de salvar as almas,
pode exercitar-se de m uitas m an eiras: pela ação, pe
la palavra, pela im prensa, pelo exemplo, etc.
Contudo o p rim eiro m eio insubstituível é a Oração.
Existe já um a obra benem érita que se propõe
o em prego deste meio e se cham a “Apostolado da
O ração”. Muitos de vós estareis inscritos nele e ou
tros desejais fazê-lo.
Indiscutível é que todos os católicos, e especial
m ente os m ilitantes da Ação Católica, devem p ra
ticar de um ou outro m odo este Apostolado, cuja
facilidade, p o d er e necessidade tencionam os es
clarecer.
Necessidade
Digamo-lo sem receio : o Apostolado é im possível
sem a oração.
P o r quê?
a) Porque nada é possível sem o auxílio divino
que se obtém p o r meio da o ra ç ã o : “Sem mim nada
podeis fazer.” E frisem os como o Salvador diz que
mesmo n ad a podem os fazer sem Ele. P ortanto, nem
pouco nem m uito.
b) Muito m enos se poderão salvar as alm as; pois
que a Ação Católica, com ser em inentem ente sobre
n atural, exige m eios da m esm a natureza. A conversão
de alm as é obra da graça, pelo que nos diz o Salva
d o r: “Ninguém pode v ir a m im , se lhe meu P ai não
der a graça.
Um dia em que o gran d e co nquistador de almas
que era S. Domingos se angustiava ao ver o re
duzido núm ero de suas conquistas, não obstante seus
grandes desvelos, ouviu estas p alav ras: Semeias mas
não em vão.” E ntendeu o Santo perfeitam ente o sen
tido desta advertên cia vinda do céu, e incontinente
redobrou suas orações.
O APOSTOLADO DA ORAÇÂ0 49
Introdução
Um senhor um tanto descrente acercou-se um dia
p ara escutar o Cura de Ars, que dava aula de catecis
mo. Mas como a voz do m estre fosse débil, e ele, de
outro lado, se achava algo distante e rodeado de
m uita gente, quase nada pôde ouvir. Não via senão
o rosto rad ian te do pregador, seus gestos suaves, seu
porte devoto; contudo saiu da igreja en ternecido e
transform ado, exaltando a santidade do hum ilde P á
roco: “Não o ouvi, m as vi-o — dizia — e isto me
basta.”
Estas p alavras nos patenteiam o p o d er e a eficácia
do bom exem plo que, em verdade, é um dos p rin c i
pais m eios do Apostolado. P ara com provar esta ver
dade, sirva-nos o m odo de p ro ced er de Nossa Se
nhor e dos p rim eiros cristãos.
Introdução
Nos capítulos anterio res vim os como o A postola
do da oração e do exem plo são eficazes e necessá
rios; ao alcance de todos e p ara todos obrigatórios.
Além destes ainda existe outro A postolado acessí
vel a todos e não m enos e fic a z : falam os do Aposto
lado do Sacrifício e do Sofrim ento.
0 sacrifício é a grande lei que, depois do peca
do original, Deus prom ulgou p a ra toda a hum ani
dade. N ada de grande se faz, depois da Sexta-feira
do Calvário, que não seja assinalado com o sofrim en
to.
Desta lei não está isenta a obra m ais sublim e que
o hom em pode levar a cabo em cooperação com
D eus: a salvação das almas. 0 Apostolado, portanto,
requer sacrifício, ou m elhor é ele m esm o um cons
tante sacrificio.
E vice-versa: o sacrifício é apostolado, isto é, um
meio de salvar almas, e mesmo podem os acrescen
tar que é o meio soberano.
Esta é a verdade que agora querem os d eslin d ar:
a eficácia su p erio r do Apostolado do S acrificio e sua
possibilidade universal.
Conclusão
Antes de term in ar, volvamos os pensam entos a Li-
sieux, à cela de Santa T eresinha, cuja vida foi toda
um A postolado de oração e de sofrim entos.
Sua irm ã Celina com unicara-lhe a dolorosa notí
cia da grave enferm idade do pai. Com o coração
tran sid o de dor, mas com os olhos serenos de quem
tudo contem pla à luz da fé, responde a Santa: “Ce
lina, longe de lam entar-nos por esta cruz que o Se
n h o r nos envia, não posso com preen der o am or in
finito que o levou a tratar-n o s assim. Muito h á de
am ar o S enhor a nosso bom pai, visto que o sujei
ta a tal provação. E que delícias ser hum ilhado com
Ele! A nossa provação é um a m in a de ouro que te
mos de ex p lo rar.”
Desses m inérios, quantos não já o Senhor nos
preparou! Nossa vida de cada dia está juncada de
dor, de m ortificação, de sacrifício, e podem os ofe
recê-los não só com resignação, mas até com alegria,
como a hum ilde carm elita de Lisieux. Não deixe-
- Õ APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO 61
A exortação
Mas não basta falar a Deus na o ração ; é preciso
falar também com aquele por quem oram os. E esta
é a segunda poderosa arm a do Apostolado fam iliar:
a exortação. Em se tratan d o dos m em bros da fam í
lia, o em prego deste meio é m ais fácil e eficaz.
Mais fácil; pois quantos ensejos não se ap resen
tam na vida fam iliar p ara dizer um a boa palavra,
em tem po propício, quando os corações estão m ais
dispostos p ara receber a boa sem ente!
Mais eficaz; p orquanto fala a voz do coração e do
sangue. Como resistir a ela? Como su sp eitar in tu i
tos interesseiros na voz do coração?
Não contava ain d a S. Tom ás de Aquino vinte
anos de idade, quando seus irm ãos e parentes
o encarceraram no castelo de Rocasseca p o r te r ves
tido o hábito de S. Domingos. O pai tencionava
fazer dele um glorioso cavaleiro de im pério e um
poderoso abade de M ontecassino, jam ais, porém , um
64 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Introdução
Quando se diz aos leigos que hão de praticar o
Apostolado, alguns assustam -se porque dele form am
um con ceito exagerado. Im aginam que para ser
apóstolo se requer a atividade prod igiosa de um S.
Paulo, a eloquência de um Crisóstom o, a sabedoria
de um A gostinho, o am or abrasado de um S. Fran
cisco de A ssis, a graça m ilagrosa de um Dom Bosco.
E daí inferem logicam ente a seguinte con clusão:
coisa nobre e sublim e é o A postolado, m as não para
nós que carecem os de capacidade e de tem po.
Esta conclusão é um erro p erigosíssim o, visto
com o o A postolado é um dever que a todos incum be
e igualm ente está ao alcance de todos. Existem , é
verdade, form as de A postolado que não são p o ssív eis
a todos; m as outras há que todos podem exercer e
desenvolver, com o o A postolado no seio da fam ília
do qual acabam os de falar, bem com o o Apostolado
do m eio am biente, do qual vam os tratar, con sid eran
do :
a) em que ele consiste,
b ) com o é fácil e eficien te,
c) por que m eios se pode exercitar.
Em que consiste
V ivem os em contato não apenas com os n ossos
parentes, senão também com m uitas outras pessoas,
com as quais estam os relacionados em razão de n os
sa profissão, ocupações, interesses, etc.
N isso, o A postolado do m eio am biente co n siste em
fazer bem àquelas alm as com que tem os de c o n
viver e que se encontram nas m esm as co n d içõ es de
vida ou de ocupação.
E’ o Apostolado do o p erário pelo operário, do pro
fission al pelo colega, do estudante pelo condiscípulo,
da m ãe de fam ília em favor de o utras mães.
O APOSTOLADO DO MEIO AM BIEN TE 67
Introdução
Em um recente docum ento pontifício sobre o ca
tecism o algo há que visa diretam ente a Ação Cató
lica e que nos im porta conhecer. O decreto P rovido
sane, de 12 de Jan eiro de 1935, depois de conv idar
os Bispos e os P árocos a p re p a ra r idóneos catequis
tas, acrescen ta: “E ntre os catequistas haverão de
distinguir-se os m em bros da Ação Católica, os quais
já fizeram m uito neste cam po e nalgum as de suas
organizações com zelo que é m uito de louvar; esta
beleceram nos program as anuais aulas de catecism o,
em que todos devem p a rtic ip a r.”
Não é este o p rim eiro convite que a C átedra de
Roma dirige aos m em bros da Ação Católica a p a r
ticiparem do apostolado do catecism o. Querem os de
m o n strar como se pode p a rtic ip a r do apostolado
catequético com o exem plo e a p alavra; e falarem os
logo de sua excelência e da recom pensa que lhe es
tá assinalada.
Apostolado catequético do exemplo
O apostolado catequético consiste em tra b a lh a r p a
ra que o povo seja in stru íd o nas verdades p rin c i
pais da religião.
Pois bem, esta o b ra pode-se levar a efeito de m ui
tos m odos: com a palavra, com os auxílios m ateriais
e com o exemplo.
O exem plo é m eio eficacíssim o segundo o conhe
cido adágio dos antigos: Os exem plos arrastam. E os
m em bros da Ação Católica têm de freq u en tar o c a
tecism o paroquial p o r várias razões:
1. ° P ara instru ir-se na religião, dever p rim o rd ial
do cristão . Fom os criados p ara conhecer,
am ar e serv ir a Deus, e não podem os amá-Lo
nem servi-Lo, se O não conhecem os.
2. “ P a ra p rep arar-n o s a in stru ir os dem ais. O p ro
gram a da Ação Católica é: In stru ir-se p ara
in s tru ir os outros, esclarecer-se p a ra esclare
cer os demais.
72 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Introdução
Recordem os a parábola do banquete nupcial que
m andou p re p a ra r o filho do re i: “M andou aos servos
que cham assem os convidados, pois m uitos deles
escusavem-se porque tinham que ir u ns a seus ne
gócios, outros a suas fazendas.”
Este banquete nupcial é o sím bolo da E ucaristia.
O Rei divino convida todos os súditos, especial
m ente neste tem po em que urge o preceito da Co
m unhão pascal. Pois m uitos declinam o convite.
E quais são os servos que envia a cham ar os con
vidados? Os sacerdotes assim como os leigos. A to
dos lhes diz: “Ide às encruzilhadas e convidai a
quantos en co n trard es ao banquete das núpcias.”
Os leigos hão de tornar-se arautos do rei, m as de
m aneira especial os m ilitantes da Ação Católica, que
são os colaboradores do Clero.
E Jesus Cristo mesmo é quem nos recom enda este
apostolado pascoal, ou seja a p ropaganda p ara tra
zer a todos eles o convite da E ucaristia.
Pretendo in d ic a r agora a necessidade deste apos
tolado e os m eios de exercê-lo.
Necessidade
E ntre nós noventa e nove p o r cento são católicos,
mas quantos destes cum prem o preceito da Igreja?
E quantos que não cum prem este m andam ento cha
mam-se católicos?
Costum ava dizer o C ardeal M affi: “Eu conto os
católicos na igreja.” E tin h a razão, pois não basta o
batism o p a ra e n tra r no céu, requer-se, além disto,
p ara os adultos a S. Comunhão.
E esta não é opinião dos teólogos, senão vontade
expressa de Cristo, que d iz : “Se não com erdes a Car
ne do Filho do Homem e não beberdes o seu San
gue, não tereis a vida em vós. Aquele que com e a
m inha Carne e bebe o m eu Sangue, terá a vida eter-
76 FORMAÇÃO P A R A O APOSTOLADO
6*
APOSTOLADO
EM FAVOR DA MORALIDADE
Introdução
Q uando am eaça um a grande epidem ia, as auto
rid ad es tom am precauções p ara evitá-las: isolam en
to dos atacados nos hospitais, ordem de d enunciar
os casos que se apresentem , desinfecção dos lugares
e habitações, e outras p rovidências higiénicas.
Os cidadãos, p o r outra parte, deverão evitar os
contatos inúteis e perigosos, o expor-se aos p e ri
gos; deverão vigiar p ara que os atacados do co n
tágio não o com uniquem aos que estão sãos e cola
b o ra r com as au to rid ad es p ara que o m al se não
propague.
Hoje nos am eaça um m al gravíssim o: a epidem ia
das almas, a im oralidade e a corrupção. As au torida
des civis tom aram p rovidências e deram leis de de
fesa e os agentes públicos estão encarregados de vi
giar p ara que se cum pram . Nisso estarem os nós de
m ãos cruzadas? Não farem os sequer o que faríam os
no caso de epidem ia c o rp o ral? — vigiar, auxi
liar, d en u n ciar à au to rid ad e os atacados do mal.
C ooperar na defesa da m oralidade pública é um
dos deveres dos citadinos, tão urgente com o o de
coo p erar na saúde pública.
E visto que a m oralidade é não som ente um bem
civil senão, além disto, religioso, a defesa da mo
ralid ad e é um dever não só do cidadão, mas tam bém
do católico.
E que direm os do católico m ilitan te? Acaso não
tem a Ação Católica como um dos pontos de seu
program a a defesa da m oralidade?
P o r isso querem os co n sid erar este dever estu d an
do :
1. “ A im oralidade contem porânea.
2. ° Suas características e suas causas.
3. ° Como havem os de com batê-la.
APOSTOLADO EM FAVOR DA MORALIDADE 80
Imoralidade Contemporânea
Convém, antes de tudo, entender-nos acerca do
sentido da palavra im oralidade. Chama-se m oral tu
do quanto se acom oda à lei divina e às justas leis
hum anas. Im oral é tudo o que a elas se opõe. Neste
sentido a in jú ria, o roubo são im orais.
Em sentido m ais estrito cham a-se im oral tudo o
que vai c o n tra as leis da castidade, porque a palavra
im oralidade designa o vicio da luxúria, considerado
não só em seus efeitos, m as tam bém em suas cau
sas, p articu lares e públicas, in d iv id u ais e sociais. -
Neste sentido tom am os aqui a palavra im oralida
de, que se cham a tam bém desonestidade e corrupção.
A realidade dolorosa de nossos dias é esta: a im o
ralidad e é como um rio saído do leito que am eaça
a rra sa r tudo. O m undo está atacado não só pela crise
económ ica, m as p rin cip alm en te pela crise da im o
ralid ad e m ais poderosa que a prim eira. Crise m oral
da qual sofrem todas as nações segundo seja m aior
ou m enor o freio da religião.
A im oralidade não é um sim ples resultado de nos
sa época. D esde o pecado de Adão a natureza hum a
na ficou viciad a; pois hoje vemos nações in teiras
que se degradam e paganizam . Deus pode re p e tir a
palavra que, em outro tem po, disse a N oé: “0 ho
mem tornou-se c a rn a l”, porque vive como se d entro
do invólucro do corpo não alentasse um esp írito
im ortal. _
P o r isso, a im oralidade apresenta nos dias que
alcançam os u ns ca rac tere s de g ravidade alarm antes.
Características e Causas
T rês são as c a ra cterístic a s que ap resenta a _im o
ralid ad e de nossa época; a extensão, a p recocidade
a insensibilidade.
1.” E x te n sã o
Em outras épocas o mal, em m ais graves m anifes
tações, estava circu n scrito nos centros m ais populo
sos: hoje em dia vai m udando-se das cidades p ara
os cam pos e p a ra as aldeias, onde, em outros tem
pos, a pureza dos costum es era igual à do sitio. Em
putras épocas a co rru p ção alcançava as altas esferas
86 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
í.° A oração
No deserto o povo de Israel se viu atacado pelos
am alecitas. 0 perigo era gravíssim o, porque os ama-
lecitas eram g u erreiros corajosos. Israel lança-se
contra eles, conduzido p o r Josué. E ntretanto, Moi
sés orav a em cim a do m onte. “E quando Moisés
levantava os braços, Israel vencia; mas, se os dei
xava cair, Amalech levava a m elhor p a rte .”
Nossa luta é com um exército poderoso como
o dos am alecitas': a lu x ú ria e avareza: a lux ú ria
fom entada pela avareza, e esta que é o alim ento
daquela. E é im possível a vitória, se não rezar
mos como Moisés.
2.° O exem plo
Ao apostolado da oração há de ju n ta r o não me
nos eficaz e indispensável do exem plo. À nós nos
repete S. Paulo como a seu discípulo Tim óteo:
“Em tudo m ostrai o exem plo de boas obras.”
Os m aus costum es corrigem -se com os b o n s: os
santos purificavam o am biente em que viviam , com
a fascinação de seu exem plo. Tal era a pureza que
irrad ia v a o rosto do jovem João Bosco que seus
colegas não se atreviam a p ro ferir, em sua p re
sença, um a palavra m enos decente ou executar uma
ação m enos co rreta; a com panhia do jovem fa
zia-os m elhores.
3° A ação
Todo m em bro da Ação Católica h á de ser não só
um exem plar de m oralidade, m as tam bém um
apóstolo. Devemos falar e agir no am biente em que
vivemos e com as forças de que dispom os, a fim de
que esta enferm idade dos maus costum es perca sua
eficácia e haja m enos vítim as. Nossa norm a há de
s e r : m anter-nos sãos, p reserv ar aos dem ais do con
tágio e p ro c u ra r que os já atacados alcancem a cura.
P a ra isto co n v é m :
D izer a tem po a p alav ra que ilum ina, corrige e
m e lh o r a .. . Não p erm an ecer in d iferen te ante a
afluência - dos males.
D efender o conceito cristão da vida, a qual é
dever e não p razer; conceito que se vai obscure
cendo até nas m entes de m uitos católicos.
Opor-se enèrgicam ente a todo sem eador de es
cândalos c o n tra o qual p ro n u n cio u o Salvador m au-
88 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO
Espetáculos e diversões
E ntre os espetáculos que m ais diretam ente aten
tam contra a m oralidade tem-se que colocar em p ri
m eiro lugar o cinem a e o teatro,
90 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Promiscuidade de sexos
A form a da vid a m oderna acentuou esta causa de
im oralidade: a prom iscuidade de sexos é quase
contínua, os m en inos e as m eninas, os h om ens e
as m ulheres andam quase sem pre m esclados nas fá
bricas, nos negócios e também nas m esm as escolas.
D evem os, portanto, opor resistência a este foco
de im oralidade, ou ao m enos a suas consequências,
m ediante uma diligente vigilância. R ecordem os que
nesta m atéria é de evitar o p essim ism o ou a p re
sunção; a castidade é tesouro p reciosíssim o que ao
m enor descuido pode perder-se.
Convém não aproxim ar dem asiado a palha ao
fogo, se querem os evitar o in cên d io. Esta é a norm a
do bom sentido, que vale também para o nosso caso.
A ex p eriên cia dem onstra, com efeito, que esta pro
m iscu id ade in ju stificad a solta a prim eira faísca
donde haverá de nascer o in cên d io que tudo devore.
Estejam alerta os pais para não perm itir as di-
92 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO
Introdução
Há em Jerusalém um grande m uro, ru ín a do tem
plo judaico, aonde os hebreus vão, em dias deter
m inados, a c h o ra r e o ra r; cham a-se o m uro das
Lam entações.
Lágrim as estéreis que não fizeram ressurgir o
tem plo m agnifico destruído p o r Tito, nem o farão
ressu rg ir no futuro.
A este p ra n to assem elha-se o de m uitos cristãos
que choram sobre ru ín as dos tem plos destruídos, ou
seja, das alm as p erv ertid as pelo escândalo, m ulti
plicado hoje pelos portentosos passos do progresso
m oderno, como o cinem a, o rádio, a im prensa, e t c . . .
Contudo não fazem nada p ara re p a ra r as ruínas.
N enhum m em bro da Ação Católica pode filiar-
se a esta co n fraria de planejadores, porque o nos
so program a é a Ação.
Na recente encíclica V igilanti Cura, sobre o cin e
ma, o P apa deplorou os m ales causados por esta in
venção m oderna, mas ao mesmo tem po convidou os
bons católicos a re p a ra r os danos p o r ela causados
e a reagir. Seu convite é p ara nós uma ordem . To
dos temos de colaborar na m oralização do cinem a.
Que farem os?
Indicarem os o que é que o P apa quer de todos
os bons, e em p a rtic u la r que é o que espera dos
m em bros da Ação Católica.
Uma promessa
Até há pouco, quase todas as películas que se
exibiam no m undo in teiro eram produzidas nos
E stados U nidos. Já com eçam a produzir-se tam
bém em o utras nações, todavia ain d a 80 por cento
nos vêm daquela nação.
De lá nos vem o mal, mas tam bém a indicação
do que farem os no terren o da m oralização dos es
petáculos cinem atográficos.
Im pressionados pelas ru ín as causadas pelo ci
nem a, os católicos norte-am ericanos iniciaram em
O APOSTOLADO DO CINEMA 95
Dever grave
Se a im prensa é arm a tão poderosa, e se é causa
de tantas ru ín as, que farem os nós? A que rem é
dio nos socorrerem os?
O rem édio é um só: a boa im prensa. Opor a r
m as a arm as. Inúteis são as lam entações e o pran to
pela ruin a das alm as causada pela m á im prensa.
Daí o grave dever do apostolado da boa im prensa.
E daí o m andam ento do P ontífice Pio XI. Em o
notável discurso aos m em bros da Sociedade da Boa
Im p ren sa de Milão, d izia: “Concebestes o desígnio
de p re p a rar, d ifu n d ir e m u ltip licar a boa im prensa
no serviço do bem . Vosso lab o r é o m ais eficaz e
insubstituível porque o sem elhante se cura com o
sem elhante.”
E sta é a necessidade im periosa dos nossos dias.
E spontâneam ente nos vem à m em ória a recordação
do sorriso daquele bom frad e que não c ria que a
invenção da im prensa acabasse na te rra a tra d i
cional diligência dos co p istas; ou a de M aquiavel
que não cria na aplicação p rá tic a das arm as de
fogo; ou a de N apoleão que não acreditava no uso
do vapor como força m otriz. A im prensa, com o a
pólvora e o vapor, im puseram -se ao m undo.
P a ra que há de ser a boa im prensa?
O P apa responde-nos na carta ao C ardeal P a
tria rc a de L isboa: “P o r boa im p ren sa entendem os
não só a que não contém nada con tra os p rin cíp io s
da fé e as reg ras da m oral, m as tam bém a que se
faz defensora de tais p rin c íp io s.”
P ortanto, não basta não falar m al de C risto: é
APOSTOLADO DA IMPRENSA 101
Introdução
S. In ácio Mártir chaina ao Papa “P resid en te da
carid ade”, palavra que se há de entender aqui
em seu sentido estrito de b en eficência.
T odos aqueles a quem o Papa cham a seus f i
lhos hão de im itá-lo 11a prática desta virtude e
hão de ser, portanto, m inistros e instrum entos da
b en eficên cia.
A caridade ou a b en eficên cia é um dever de
cristão.
Mas é também um grande m eio de apostolado e,
por esse aspecto, querem os considerá-la por ora,
porque interessa de m odo especial aos associad os
na Ação Católica. A qual abarca em seu programa
toda forma de apostolado e, por isto m esm o, o
da caridade ou. da b en eficên cia que é um dos m ais
eficazes.
P io XI ensina que se tem de procurar o bem
do corpo pelo amor da alm a: chegar à alm a por
m eio do corpo. Este foi o segredo da grande ca
ridade de S. V icente, de S. Benedito Cottolengo
e de S. João Bosco. A ssim se explicam as gran
des conquistas das alm as que é o que tem de fa
zer a Ação Católica.
Vam os estudar:
1. ° Como e por que a b en eficên cia é um m eio
de apostolado.
2. ° Como usavam dela Jesus Cristo, os A pós
tolos e a Igreja.
A beneficência é um meio de apostolado
Por várias razões das quais a prim eira é que
a b en eficên cia é uma dem onstração efetiva da d i
vin dad e da religião.
A le i da caridade é com o o d istin tivo e o lem a
que distingue a nossa santa religião, a qual, com o
seu autor, é caridade. Quem senão Cristo podia dar
a seus seguidores este p r e c e ito : A m ai-vos çom o
O APOSTOLADO DA BENEFICÊNCIA 109
Conclusão
Num discurso à Juventude Católica Italian a dizia
o P apa Pio X I: “O m undo não crê hoje nas pala
vras da fé, mas, sim, nas da carid ad e.”
E sta verdade foi que sugeriu a F rederico Ozanam
a fundação das C onferências de S. V icente de P au
lo. Um dia, seus com panheiros na U niversidade de
P a ris lhe disseram : “T endes razão quando falais do
passado; o cristianism o fez verdad eiram ente p ro d í
gios naquela época; m as hoje está m orto. P ortanto
vós que vos orgulhais do nom e de católico, que fa
zeis? Onde estão as obras que m ostram vossa fé?”
“Têm razão”, disse prontam en te Ozanam, sem
em baraço. “Falta-nos p ô r de acordo a fé com as
obras. Mas que fazer p a ra m ostrar-nos verd ad eira
m ente católicos, senão o que agrada a Deus? So
corram os, pois, o próxim o, como fazia o Salvador,
e ponham os a fé sob as asas p ro teto ras da carid ad e.”
Esta é a resolução que tem os de tom ar os cató
licos de hoje e, em p articu lar, nós católicos m i
litantes. Vamos à alm a do povo p a ra ganhá-lo p ara
C risto p o r m eio da caridade.
SACERDÓCIO E AÇÃO CATÓLICA
Introdução
Assim como o Clero tem deveres p a ra com a
Ação Católica, tam bém os fiéis os têm p a ra com
o Clero.
Antes de m ais nada, a Ação Católica h á de tra
b alh a r com a Je ra rq u ia p a ra que o Clero seja su
ficiente e bem p rep arad o , p a ra o qual há de fa
vorecer as vocações sacerdotais e aju d ar os sem i
nários.
Este dever obriga todos, mas, de m an eira espe
cial, os m ilitantes da Ação Católica.
Na encíclica sobre o sacerdócio católico de que
antes fizemos m enção, diz o P a p a : “A Ação Ca
tólica, com o p articip ação do laicato no apostolado
jerárq u ico da Igreja não pode desentender-se deste
problem a vital das vocações sacerdotais.” Veremos,
p o rta n to :
1° P or que a Ação Católica tem este dever.
2. ° Alguns m eios de cum pri-lo.
3. ° As vantagens que daí derivam .
O dever
A Ação Católica tem o dever de colaborar, por
quantos m eios estejam ao seu alcance, p a ra que
as vocações sacerdotais se cultivem e cheguem a
feliz coroam ento.
A Ação Católica tem como fim suprem o o ad
vento do Reino de Deus; mas como p o d erá d ifun
d ir este reinado suavíssim o sem sacerdotes e m i
nistros de C risto? E como terem os bons sacerdo
tes sem um a form ação conveniente?
Pois bem, o meio de fo rm ar as vocações sacer
dotais é o sem inário, do qual depende, em grande
parte, o p o rv ir das dioceses e das paróquias. Po
derá a Ação C atólica e n carar com olhos in d iferen
tes este m áxim o problem a?
118 FORMAÇÃO PAR A O APOSTOLADO
1." A o r a ç ã o
“N ada tão necessário, ú til e oportuno — escreve
P io XI — com o a oração para ter b ons e santos
sacerdotes. D eus m esm o ensinou-nos este m eio e
revelou-o com palavras tão solenes que nenhum
outro argum ento teve nos lábios do Mestre exp res
são tão enfática, tão alta e tão absoluta.”
“D ep ois da oração com que nos en sin ou a re
zar ao Pai nosso que está nos céus, vem aquela
outra em que nos ensina a rogar ao P ai para que
en vie operários à sua m esse.”
A Igreja faz rezar aos fiéis, nas quatro têm po
ras do ano, quando se conferem as Ordens Sa
cras, a fim de que o céu con ceda bons sacerdotes.
Santa T eresinha do M enino Jesus declarava:
“Vim para o Carmelo para salvar as almas, mas
sobretudo para rezar p elos sacerdotes.”
E’ necessário, p ois, rezar a D eus para que envie
sacerdotes à sua Igreja; nenhum a petição pode ser
m ais agradável a Deus, nenhum a m ais m eritória.
2.° C o m a p r o p a g a n d a
P recisa fazer com preender a alta d ignidade e
as sublim es recom pensas do sacerdócio, falando
aos m eninos e aos adultos, aos filh os e aos pais.
Isto é o que vem fazendo a Ação Católica com o
aponta, com singular com p lacência, o Papa da m en
cionada en cíclica sobre o sa c e r d ó c io : “Com íntim a
satisfação vem os que a Ação Católica se distingue
em todos os lugares e em todos os cam pos, m as
A A. C. E AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS 119
3.° C o m a a j u d a m a t e r i a l
0 Salvador escolheu seus apóstolos entre as
classes hum ildes e sem recursos. O m esm o p roce
der em prega ainda hoje em dia: as vocações sacer
dotais florescem , sobretudo, entre as fam ílias pobres.
D aí a n ecessid ad e de ajudar aos m en inos que
se sentem cham ados ao sacerdócio e aos institutos
onde se formam e para o qual os B ispos costu
mam prescrever sem anas esp eciais em favor dos
sem inários.
À frente desta em presa hão de estar todos os
m em bros da Ação Católica.
N isto a Ação Católica não faz m ais que con ti
nuar uma gloriosa tradição, p ois desde o seu n asci
m ento se tem preocupado com esta necessid ad e
da Igreja.
Vantagens
Mas a nossa colaboração para a obra das vo
caçõ es sacerdotais não só é um dever, com o pro
vam os, senão também uma vantagem in dividu al
e social.
Antes de tudo, uma v a n t a g e m i n d i v i d u a l . D i
zia o Cura de Ars em um de seus n otáveis cate
cism os ao p o v o : “S, Bernardo ensina-nos que to
das as graças nos vêm por in term éd io de Maria,
e podem os juntar que também nos vêm por in
term édio do sacerdote, se não, id e confessar-vos
à SS. Virgem ou a algum dos anjos. Ela não poderá
absolver-vos, nem tão pouco um dos anjos; mas
o m ais hum ilde dos sacerdotes d ir-vos-á: — Eu
te absolvo, vai em paz. — Todo bem nos vem , pois,
por interm édio do sacerdote.”
120 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO