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MONS.

LUÍS CIVAM»

FORMAÇÃO
PARA O
APOSTOLADO

VOZES
MONSENHOR LUÍS CIVARDI

Formação Para
o Apostolado
Versão autorizada
de
FR. ADAUTO DE PALMAS, ,0 . F. M.

II EDIÇÃO

1948
EDITORA VOZES L tda ., PETR ó POLIS, R. J.
RIO DE JANEIRO — SAO PAULO
I M P R I M A T U R
P OR COMISSÃO ESPECIAL DO
EXMO. E REVMO. SR. DOM
JOSE- PEREIRA ALVES, ADMI­
NISTRADOR APOSTÓLICO DA
DIOCESE DE PETRÓPOLIS. PR.
MATEUS HOEPERS O. P. M.
PETRÓPOLIS, 20 DE DEZEMBRO
DE 1947.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


SUGESTÕES PRÁTICAS
PARA USO DESTE LIVRO
Os capítulos que en cerra o presente volume fo­
ram elaborados com o intuito de que forneçam m e­
lh o r entendim ento dos tem as que tratam os e, con­
sequentem ente, induzam a um apostolado leigo
m ais eficiente nos diferentes cam pos a que se re ­
ferem .
P a ra se in ic ia r no Apostolado Leigo, fazemos as
seguintes sugestões:
a) D edicar quinze m inutos diários à m editação
e ao estudo, a fim de se ab rasar no am or de Deus
e se p re p a ra r p a ra a Ação Católica.
b ) A ceitar como responsabilidade pessoal o tra ­
balho de se in stru ir acerca do ponto de vista ca­
tólico no tocante aos problem as atuais.
c) T ran sm itir a outros nossas opiniões e co­
nhecim entos e colaborar na form ação de dirigentes
e m ilitantes.
d) L er e d iscu tir a m atéria aqui exposta com
um ou m ais amigos e destarte en g en d rar planos p a­
ra form ar C írculos de Estudo.
e) S olicitar o Pe. Vigário ou seu C oadjutor a
que assista às reuniões, presidindo-as e dirigindo
os estudos.
f) Caso não pertençam os a nenhum a organiza­
ção paroquial, ing ressar na que nos m elhor condiz e
tom ar p arte ativa nos seus trabalhos.
g) In flu ir p ara que a organização da qual fa­
zemos parte a d ira à Ação Católica e com partilhe
seu apostolado, consoante o desejo do Santo P adre.
h ) E n tra r em com unicação com os dirigentes
diocesanos, propondo-lhes iniciativ as e pedindo-lhes
oportunas diretrizes.
i) Prom over a Ação Católica, m orm ente pelo
bom exemplo.
Não duvidam os que todos os católicos estão con­
vencidos da necessidade de ap licar rem édio im edia­
to às questões aqui ab ordadas; todavia o assentim en-
« FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

to m o ral ap en as não é suficiente, senão que se req u er


decidir-se a fazer algo p a ra p ro c u ra r o progresso
da Ação Católica.
S eria deveras lam entável que nos contentáram os
com a sim ples leitu ra dos capítulos deste livro; é
im prescindível avançarm os na p ró p ria santificação
e colaborarm os na Ação Católica do modo que va­
m os ap o n tar. N ada de fatigante ou in tricad o h á no
m ovim ento reg en erad o r da Ação Católica, an tes o
p articip arm o s nela se to rn a rá um a das m aiores sa­
tisfações de nossa vida de católicos.
Digne-se a Santíssim a Virgem, R ainha dos Após­
tolos, fazer com que as presentes páginas suscitem ,
naqueles que as estudam , o anelo ardente de tra ­
b a lh a r na recristian ização do m undo p o r meio da
Ação Católica.
0 APOSTOLADO

Introdução
Recordem os o episódio da cura do p aralítico no
Tanque das Ovelhas de Jeru salém : “H avia em torno
dele grande m ultidão de enferm os, cegos, coxos, pa­
ralíticos que aguardavam o m ovim ento da água,” F a­
zia trin ta anos que estava doente e não se pudera
curar. P or quê? Porque não tin h a um homem que
o m etesse na água quando esta era agitada pelo anjo.
Quantos enferm os da alm a em roda de nós! E
quantos que esperam a cura! Muitos deles podem
dizer com o p aralítico do T an q u e: “Não tenho n in ­
guém que me bote na p iscin a regen erad o ra da gra­
ça.” Em outras palavras, não enco n traram o após­
tolo.
Dolorosa re a lid a d e : m uitos são os enferm os da
alma, porém poucos as m édicos e enferm eiros. Pou­
cos os apóstolos no laicato católico.
P o r quê?
Às vezes p o r não se conhecerem a natureza, digni­
dade e necessidade do apostolado dos leigos.
P o r que tantos m em bros da Ação Católica não são
apóstolos ativos e fervorosos? Certam ente porque
ignoram tudo isto.
Uma vez que todos os m em bros de nossas associa­
ções devem ser apóstolos operosos, tratarem os deste
assunto do Apostolado, fazendo v er:
1. " Sua natureza.
2. ° Sua dignidade.
3. * N ecessidade do A postolado Leigo.

Natureza do Apostolado
Que é o apóstolo?
Chama o m undo de Apóstolo o que se consagra
com entusiasm o a um ideal, a um a causa pública.
Contudo não se lhe dá se esta causa é boa ou má.
Daí a profanação do nom e de Apóstolo quando se
aplica ao prop ag an d ista de ideais falsos, aos defen­
sores de causas não boas.
8 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

0 nome de Apóstolo é sagrado, tem sua consagra­


ção no Evangelho. Prega Cristo a todo o m undo
em razão de q u erer a salvação de todos. N ada obs­
tante, entre todos os seguidores de sua doutrina, es­
colhe doze aos quais cham ou Apóstolos. Dá-lhes um a
instrução especial, dispensa-lhes um trato íntim o
e fam iliar. P o r quê? P orque serão enviados pelo
m undo a co n tin u ar a m issão salvadora.
A palavra Apóstolo significa, portanto, enviado.
O A postolado é missão divina; e quem envia é Je ­
sus. E’ a seus Apóstolos que Ele disse: “Assim co­
mo o Pai me enviou, assim vos envio a vós.”
A que obra os en v ia? “Ide pelo m undo todo, p re­
gai o Evangelho a toda c ria tu ra hum ana. Quem
c re r e for batizado será salvo; quem não crer será
condenado.”
Logo a m issão dos Apóstolos é p reg ar o Evange­
lho, salvar as almas, conduzindo-as a seus destinos
eternos.
Eis o que significa A postolado: m issão espiritual
p a ra a salvação do próxim o.
Não é Apóstolo o que diz: “quero salvar-m e a
mim p ró p rio ”, senão o que d iz : “quero comigo sal­
v ar os outros.” O v erdadeiro Apóstolo tem sem pre
em m ente a palavra dolorosa de C risto m oribundo:
“T enho sede.”
Em um a palavra, Apóstolo é um a alma cristã e
cristian izad o ra, ou, segundo um a acertada expressão
de Pio X I: Apóstolo é um centro de irrad iação de
atividade benéfica.

Dignidade do Apostolado
N enhum a em presa hum ana pode com parar-se com
a do Apóstolo. P ara conhecer sua dignidade faz-se
m ister conhecer antes o valor da alm a hum ana.
Qual é o valor da alm a? 0 Sangue de Cristo Nosso
S en h o r: “Haveis sido resgatados não a preço de
ouro ou prata, m as com o Sangue precioso de
Cristo.
“Chegar à Índia, salvar uma alm a e então m o rrer”,
exclam ava o grande apóstolo S. F ran cisco Xavier.
O APOSTOLADO 9

Este Santo co m p reen d era o preço de um a alm a e


p o r isso cria que a vida estava bem em pregada na
salvação de um a só. Concedeu-lhe o Senhor a gra­
ça de salvar um a m ultidão ingente.
Escreve S. D ionisio: “De todas as coisas divinas,
a m ais divina é coo p erar com Deus na salvação de
um a alm a.” Obra essa que terá ressonâncias eter­
nas, ao passo que as obras hum anas não u ltra ­
passam os lim ites do tem po.
Todavia, ao passo que se fazem sacrifícios estu­
pendos e p o r vezes heroicos p a ra salvar a vida cor­
poral do próxim o, arrostan d o perigo de água e fo­
go — quantos são os que se expõem a estes m es­
mos perigos p o r lograr a salvação de um a alm a?
Além disso, não ra ro se enfrentam os m aiores ris ­
cos p o r coisas que valem muito m enos do que a
saúde do p ró x im o : p o r um prém io, pelo louvor, p or
uma vantagem m aterial.
Mas que se faz pela salvação de um a alm a?

Necessidade do Apostolado leigo


À despeito disso, o Apostolado é dever de todos:
não apenas dos sacerdotes, senão tam bém dos lei­
gos, Disse-o claram ente o P a p a : “E’ um dever de
am or p a ra com Deus, de carid ad e p ara com o p ró ­
ximo, dever im posto pelos sacram entos do b atis­
mo e da confirm ação.”
Hoje é esta obrigação m ais prem ente e m ais ne­
cessária.
Porquanto, à m edida que a sociedade, como a
m iúdo o declarou S. S. Pio XI, se to rn a cada vez
m ais pagã, a intervenção do alto se faz cada vez
m ais in suficiente p ara aten d er à grande em presa da
recristian ização social.
Em p rim eiro lugar, os sacerdotes são m ui poucos
para tam anho com etim ento; e, em segundo, em ra ­
zão de seu caráter sagrado, não podem p e n e tra r to­
dos os setores da vida social, e sobretudo aqueles
onde m ais necessária se torn a sua intervenção; em
terceiro lugar o m in istério do sacerdote é, vezes sem
conta, ineficaz, p o r estar cercado de percalços e di­
ficuldades de todo gênero.
10 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

O Apóstolo leigo deve s u p rir o sacerdote, porque


pode e n tra r ali onde não chega a ação do sacerdo­
te, e pode coligir messe copiosíssim a onde este só
en co n tra repulsão e desprezo.
À vista disso, o laicato há de ser a m ilícia auxi­
lia r da Igreja, e esta m ilícia cham a-se Ação Cató­
lica.

Conclusão
Em vésperas de uma grande batalha, Napoleão di­
rigiu-se assim a seus soldados: "Soldados, preciso
de vós!” Hoje a Igreja conclam a seus filhos: “F i­
lhos, necessito de vós!” Mas que diferença entre am ­
bas essas conclam ações: Napoleão convidava a uma
batalha cruenta, a Igreja convida-nos a um a luta p a­
cífica; Napoleão p reten d ia satisfazer suas am bições
pessoais, a Igreja não p ro cu ra o u tra coisa que não
a glória de Deus e o bem das almas. Custou a vitó­
ria de Napoleão m ilhares de vidas, a v itória da Igre­
ja dá a vida etern a a todos os rem idos.
A AÇÃO CATÓLICA

Introdução
M archava Antíoco, rei da Síria, com poderoso
exército con tra Jerusalém , a Cidade Santa. Judas
Macabeu, com andante dos judeus, ordenou ao povo
invocasse o nom e do Senhor, a fim de que ajudasse
a defender a cidade, e exortou os m ais valorosos
“a com bater varonilm ente e a d efender até a m orte
a Lei do Senhor, o tem plo, a cidade, a P átria e os
cidadãos”, am eaçados p o r Antíoco, m inistro de Sa­
tanás, e deu aos seus como santo e senha estas p a­
lavras: A V itória de Deus.
De feito, ela foi obtida gloriosam ente, Deus triu n ­
fou, Jerusalém e o tem plo salvaram -se.
Judas Macabeu e seus soldados são quais p re c u r­
sores da Ação Católica, porquanto esta é um exér­
cito, muito em bora exército pacífico. Seu santo e
senha são as palavras de Pio X I: “A paz de Cristo
no Reino de C risto.” E’ um exército que, à seme­
lhança daqueles judeus, não com bate pelo triunfo
de um povo, dum a dinastia ou facção, mas pela vi­
tó ria de Deus.
P o r isso a Ação Católica é um a ação dos leigos
organizada, cristian izad o ra e necessária.
Exam inem os estes característicos.

Ação dos leigos


A Ação C atólica é um cam po aberto a todos os
leigos, de qualq u er sexo, idade ou condição. E’ tal
qual a vinha evangélica em que todos são convida­
dos a tra b a lh a r; não há m ais pretexto p a ra o católi­
co leigo d izer: “Ninguém nos convidou ao tra b a­
lho”.
O P ai de Fam ílias, na pessoa de seu R epresentan­
te na terra, cham ou a todos com o convite: “Ide
também vós tra b a lh a r na m inha vinha, há cam po
para todos.”
12 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Contudo m ui poucos são ain d a os que atendem


ao cham am ento, de m odo que podem os dizer com
os convivas do b a n q u e te : “Muitos são os cham ados,
mas poucos os escolhidos.”

Ação organizada

Feito um tratad o de paz com a Inglaterra, m an­


dou a H olanda cu n h ar um a m edalha com em orativa
do acontecim ento; num lado representava uma ju n ­
ta de bois acolherados sob o jugo e em posição de
p u x ar o arado, sobreposta a eles a in scrição : “U ni­
dos Somos F ortes.” N outro lado se viam dois vasos
de b arro a boiar num m ar agitado, com esta le­
g enda: Se Nos Chocarm os, Q uebrarem os.”
O tim am ente serve esta m edalha p ara elucidar to­
da a organização da Ação Católica — essa que é ação
organizada. Quer isto sig n ificar que os leigos nela
inscrito s não estão isolados e independentes, mas
são como as partes de um todo, quais m em bros de
um corpo, quais soldados dum exército.
O antigo e sem pre verd ad eiro anexim : “Â União
Faz a F o rça” aponta-nos a utilidade, eficácia e ne­
cessidade da organização. Requer-se, p o r conseguin­
te, que a Ação Católica seja em todas as Nações um a
força organizada com seus núcleos paroquiais, dio­
cesanos e nacionais.
Sabemos p o r outra p arte como os m aus se unem
p a ra seus em preendim entos, dispersos em m uitos
pontos, atuam em acordo, talqualm ente H erodes e
Pilatos, quando se trata de com bater o nome de
Deus e a religião de Jesus Cristo. E p or que não se
u n iriam os bons p ara o bem e p ara defender os
direitos de Deus e fazer o que é bom?
P ara explicar a eficiência da organização costu-
rna-se re c o rre r a várias com parações. A preciadíssi­
ma é a das varas que, separadas, facilm ente se po­
dem quebrar, mas unidas em feixe não se quebram .
O utra não m enos evidente é a do regatozinho que,
à boca da fonte, cabe perfeitam ente dentro da m ão;
correndo, porém , através dos cam pos, reúne-se a
outros até converter-se num a to rren te a derram ar-
se pelas planícies, levando a fecundidade ou a de­
solação aos campos.
A AÇÃO CATÓLICA 13

Açfio recristíanizadora
0 único fim da Ação Católica é a vinda do Reina­
do de Cristo. 0 lema que tem foi dado por Jesus
Cristo mesmo: “Venha a nós o Vosso Reino”.
Os Romanos Pontífices assinalaram para a Ação
Católica o programa de S. Paulo: “Restaurar todas
as coisas em Cristo.” Todas as coisas, não somente
as consciências individuais, mas também a família,
a sociedade, em todos os seus elementos constituti­
vos e em todas as suas manifestações.
Ao passar S. Bernardino de Sena por alguma c i­
dade, convidava todos os habitantes a inscrever o
nome de Jesus nas fachadas de suas moradias, e
aceitavam o convite.
A Ação Católica quer escrever este nome em todas
as coisas e em todos os corações. Cristo não deve
ser um Rei encerrado no tabernáculo, nos claustros
ou nas casas dos vassalos fiéis; há de reinar em
todas as famílias e na sociedade inteira.
Conhecida é a lenda de S. Cristóvão, homem de
estatura descomunal. Depois de haver servido a al­
guns patrões tiranos, põe-se ao serviço de Cristo,
dedicando-se a obras de caridade. Junto ao rio
Oronte, encarrega-se de transportar aos ombros a
todos que quisessem atravessar.
Duma feita se lhe apresenta um menino mui for­
moso, rogando-lhe a mercê de o passar ao outro la­
do. O gigante leva-o sobre os ombros, mas no meio
do rio, levanta-se uma borrasca com grande perigo
de vida dos dois passageiros. 0 Menino brada: “Co­
ragem, Cristóvão, trazes a Cristo.”
Desde aquele dia, Adócimo — tal era seu verda­
deiro nome — chamou-se Cristóvão, ou seja Cristí-
fero : o que leva a Cristo. Todos os membros da Ação
Católica devem ser outros tantos Cristíferos a levar
a Cristo no meio da sociedade, sabendo que esta obra
não se fará sem dificuldades, visto como o apostola­
do cristão sempre conheceu tempestades e lutas.
Donde não olvidemos o que nos diz o Papa:
“Exclusivamente depois de formarmos a Cristo den­
tro de nós, poderemos facilmente comunicá-Lo à
família e à sociedade.” Pois ninguém dá o que não
tem, ou em outros termos, não pode ser Apóstolo
quem não é bom Cristão.
14 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Ação necessária
Mas donde vem isto de q uerer refo rm ar cristãm en­
te a sociedade? Basta a b rir os olhos p ara se conven­
cer da necessidade desta em presa.
Uma sociedade pode dizer-se deveras cristã, quan­
do nela não apenas se respeitam o símbolo da fé e o
decálogo, senão quando se observam todas as leis
p rescritas pela Igreja, quando a m oral evangélica é
norm a de vida quer em público quer em particular,
em casa como fora.
Será esta, p orventura, a condição da sociedade
m oderna?
A resposta é facil. B astará ap o n tar alguns fatos.
Gomo se respeita, p o r exem plo, o nome de Deus, em
certas e d eterm inadas regiões? Como se festejam as
festas do S enhor? Como se observam as norm as de
m oralidade?
Como se consideram no seio da sociedade civil
as regras da justiça e da caridade p ara com o p ró ­
xim o? Poder-se-á dizer que a carid ade — como o
exige o Mestre — é o característico de seus discí­
pulos?
E a fam ília, célula e fundam ento da sociedade, em
que estado se acha entre nós? E’ verdade que ainda
conserva o cunho de c ristã ; como se guardam , po­
rém , as v irtudes que a constituem o encanto da vida
fam iliar: o am or cristão, o respeito, a concórdia, a
fidelidade, a obediência?
A verdade é que a sociedade m oderna, como o re ­
petia o chorado P ontífice Pio XI, caiu quase em
sua totalidade no paganism o e necessita recristian i-
zar-se; a Ação Católica está encarregada desta ta­
refa.
P o r isso a Ação Católica tenciona form ar bons
cristãos e bons cidadãos p ara o bem da Igreja e da
P átria, cujos interesses vão unidos aos daquela.
Já o disse o Santo P a d re : “O verdadeiro cristão
é em virtu d e desta m esm a condição o m elhor cida­
dão, am ante de sua P á tria e subm isso às autoridades
legalm ente estabelecidas.”
A AÇAO CATÓLICA 19

Conclusão
A h istó ria do povo judeu oferece-nos outro fato
que rep resen ta adm iravelm ente a Ação Católica.
R egressando da escravidão de Babilónia, os judeus
puseram -se a reco n stru ir o tem plo e os m uros da
C idade Santa. Mas os num erosos inim igos im pediam -
lho. Fizeram -se orações ao Senhor e os o breiros sus­
tinham num a mão os instrum entos de trab alh o e
noutra a espada.
Hoje se trata de re e d ific ar a Cidade de Deus, a
sociedade cristã, devastada p o r m ais de meio século
pelo laicism o d escristianizador, Quem levará a ca­
bo tam anho em preendim ento? Todo o povo cristão,
sob a direção do Papa, dos Bispos e dos Sacerdotes.
Recordem os, todavia, o que nos aplica o P ap a:
“Se o Senhor não é o que edifica, em vão trabalham
os que edificam a cidade.” Como os antigos judeus
que levantaram o tem plo e a cidade, assim tam bém
nós outros invoquem os antes todo o auxílio do alto.
A oração p receda a ação e então estejam os seguros
de obter a vitó ria do Senhor.
A AÇÃO CATÓLICA E’ UM DEVER

Não é raro ouvir, q u ando convidam os alguém a


ingressar nas fileiras da Ação C atólica: “Homessa,
sou católico! Ou quer você que me faça b atizar de
novo ?”
Tal resposta p atenteia o desconhecim ento da Ação
Católica e do dever de p erten cer a ela.
Que coisa seja, já o dissem os no capítulo p rece­
dente. Agora querem os esclarecer p o r que é uma
obrigação da vida cristã.
A Ação Católica é:
a) um dever de am or p ara com Deus e de ca­
rid ad e p ara com o próxim o;
b) um dever im posto pelos sacram entos do Ba­
tism o e da Confirm ação.
São caducos, portanto, os pretextos alegados para
se exim ir desta obrigação. *
Dever de caridade
I. Em relação a Deus.
A um bom filho é p ró p rio am ar seu pai e desejar
que todos o amem e o honrem .
0 que de verdade am a a Deus não pode m enos
de q u erer que Ele seja am ado e glorificado de to­
dos. Esta a razão de ser a Ação Católica um apos­
tolado p a ra a glória de Deus. Seu program a pode
resum ir-se nestas palavras de S. P e d ro : “Que Deus
seja honrado em tudo.”
P or o u tra parte, quem am a a Deus há de querer
o que Deus quer. Pois bem, aí está S. Paulo a nos
e n s in a r: “A vontade de Deus é que todos se salvem
e cheguem ao conhecim ento de Deus.
Pelo que a Ação Católica é um apostolado para
a salvação das almas, ou, como ensina Pio XI, é
“um cuidado da p ró p ria alm a e da alma dos de­
m ais.”
A ACÂO CATÓLICA E’ um dever 1?

Portanto é um dever de amor de Deus; isto ressal­


ta mais claro pelo seguinte exemplo.
Desceu o Redentor Divino à terra, a fim de que
todos renascessem à vida sobrenatural: “Vim para
que todos tenham a vida, e a tenham em abundân­
cia.” Mas também esta vida, como a vida natural,
Ele não a comunica diretamente senão por intermé­
dio de outros. E assim como para a transmissão da
vida natural instituiu,o Matrimónio, bem assim criou
o apostolado para comunicar a vida sobrenatural.
Não salva Deus ao homem a não ser por meio de
outros homens.

II. Para com o próximo


0 poeta Metastásio põe na boca do pagão Atílio
Régulo esta sentença “Vive inutilmente quem não
vive senão para si.”
Tal palavra condena o egoísmo e estaria melhor
na boca do cristão, vinculado que é pela lei evan­
gélica da caridade a todos os seus semelhantes.
Cristo Nosso Senhor ordena-nos amar ao próximo
como a nós mesmos. Ora, ninguém ama verdadeira­
mente a si próprio, se não se preocupa por sua al­
ma, como também não há quem ame em verdade
a seu próximo, se não trata de o salvar.
Aliviar as necessidades corporais do próximo é
um dever que todos os cristãos cumprem e prati­
cam, e não há quem não se indigne ao ver a conduta
dos dois viajantes passando de largo, quando encon­
tram o ferido no caminho de Jericó; entretanto co­
move-nos profundamente o. proceder do samaritano
que dele se compadeceu e o levou à hospedaria
para que fosse tratado e curado.
Mas quantas almas feridas, abandonadas, não se
encontram hoje no caminho? E quantos são os bons
samaritanos que se inclinam até elas para as ali­
viar e salvar? Além de tudo não olvidemos que as
necessidades espirituais são mais urgentes do que
as corporais, pois o espirito é superior ao corpo.
Se são muitos os que cumprem com o dever da
caridade material, são mui poucos, ao contrário, os
que praticam a caridade espiritual; crê-se ter feito
bastante com o cuidar da própria alma.
Formação — 2
18 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Fez o Senhor a Caim, após o assassínio de Abel,


esta p erg u n ta: “Onde está teu irm ão?” Respondeu
C aim : “Sou eu p o rv en tu ra o guarda de meu irm ão?”
D irigisse Deus a m esm a pergunta a cada um dos
cristãos hodiernos, e reto rq u iriam com as palavras
de Caim. Todavia, sem em bargo, todos somos guar­
das de nossos irm ãos como no-lo dizem as Sagradas
E sc ritu ra s: “Deus a cada um deu o cargo de te r cui­
dado de seu irm ão.” Não há dúvida tratar-se aqui
especificam ente do cuidado espiritual.
A Ação Católica é a concretização perfeita deste
dever de carid ad e; é o socorro piedoso às necessi­
dades espiritu ais do próxim o; é o rem édio p reven­
tivo contra o tão difundido e daninho egoísmo es­
p iritual.

Obrigação imposta pelo Batismo e Confirmação


Pelo Batismo nos fazemos cristãos, isto é, adqui­
rim os o direito de cidad an ia nesta sociedade que se
cham a Igreja Católica.
Ora, em toda sociedade, os m em bros todos hão de
ser ativos, não em um mesmo plano nem da mesma
form a, mas todos têm de co n trib u ir p ara o m elhor
bem -estar da com unidade. O que procede de e n tra
m aneira é um parasita vergonhoso. E às vezes esta
obrigação se to rn a tão im periosa que exige o sacri­
fício da p ró p ria vida.
“Pois bem — ensina Leão XIII — se a lei natural
nos ordena am ar e defender a sociedade em cujo
seio vimos a p rim eira luz, e se todo cidadão deve
d ar a vida pela defesa da P átria, m aior é o am or
que todo cristão há de ter p ara com a Igreja. P o r­
que esta é a Cidade de Deus, p o r Ele organizada, e,
mesmo p ereg rin a em a terra, cham a e guia a seus
cidadãos à eterna felicidade dos Céus.”
Nalgumas associações somos sócios honorários,
bastando d ar o nome. E nesta grande sociedade da
Igreja Católica quantos não são apenas cristãos ho­
norários, que não fazem h o n ra a seu nome de ca­
tólicos. Foram batizados e seus nomes figuram no
registo paroquial — mas o que fazem pela Igreja?
Todos devêram os ser católicos efetivos, ou m elhor,
ativos. ~
A AÇÃO CATÓLICA E ’ UM DEVER 19

0 apostolado é um dever exigido m ais claram en­


te pelo sacram ento da Crisma.
0 Batismo faz-nos cristãos; a Crism a, soldados de
Cristo. P or meio deste sacram ento que aum enta a
graça santificante se nos dá a fortaleza espiritual
para em punhar as arm as e suster os ataques e im ­
pugnações dos inim igos.
Que é, porém , a m ilícia senão altruísm o e dom
de si? Um soldado egoísta é um contra-senso; é
como dizer sacerdote incrédulo, m estre ignorante,
juiz injusto.
A Ação Católica é um a santa m ilícia em favor de
Cristo e da Igreja; Pio XI definiu-a: “batalha santa
in iciad a em todas as frentes.” *
D urante a G rande G uerra houve, como todos sa­
bem, soldados que em vez de com bater nas p rim ei­
ras linhas, como era seu dever, se quedavam em pos­
tos seguros da retag u ard a; deu-se-lhes o nome de
Em boscados. O general Castelnau, que tanto se dis­
tinguiu na g uerra passada e na atualidade é p re si­
dente de um a grande organização católica de F rança,
cham a os católicos que se quedam na retaguarda,
em lugares seguros, e que recusam e n tra r em luta
nas fileiras da Ação Católica, de “ os Em boscados
da P aró q u ia”. Q uantos Em boscados desses atrás dos
soldados de Cristo!

Vãos pretextos.
Mas ninguém quer ser tachado de covarde, e daí
se inventaram vãos pretextos p ara dissim ular a ina­
ção.
Dizem u n s: “Isto toca aos P adres. Cristo disse aos
A póstolos: Ide e pregai — a nós outros nos com pete
ser bons cristãos e não m ais. De outro lado, os sa­
cerdotes bastam p o r si sós p ara esta em presa de
recristianização da sociedade.”
No entanto o Papa m anifestou-se de m ui d iferen ­
te modo ao d eclarar, m ais de um a vez, que a Ação
Católica é um dever não apenas do m in istério sa­
cerdotal, mas igualm ente da vida cristã.
Disso já indicam os as p rin c ip a is razões.
2*
20 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

A este propósito escreve o Cardeal M affi: “Cris­


tãos, lem brai-vos que, se nós sacerdotes somos os
capitães, vós sois os soldados; mais, o êxito duma
b atalha deve-se à p erícia e tática dos generais e
igualm ente ao valor e fidelidade com que cada um
dos soldados sabe m anter sua posição. Q uantas ba­
talhas de planos estratégicos im pecáveis se p erd e­
ram , porque o últim o dos soldados não foi fiel ao
que o arregim entara. Se assim quereis, nós outros,
sacerdotes, somos as sentinelas avançadas, a Com­
p a n h ia da Morte, célebre na heroica defesa de Car-
roccio, e serem os os prim eiro s a e n fren tar os inim i­
gos de C risto; mas vós sois a ala do exército e os
que haveis de sofrer o choque dos adversários.”
4 Numa das d errad eiras perseguições da Polónia
m á rtir se n a rra um feito que m uito faz ao nosso
caso. Intentavam os invasores p ro fa n ar o T aberná­
culo e ro u b ar a Sagrada E ucaristia. O sacerdote in ­
terpôs-se diante dos invasores no intuito de contê-
los a distân cia; vendo, porém , baldados todos os
seus esforços, corre ao S acrário e o protege com
am bas as mãos, abraça-se a ele com todas as forças,
num últim o recurso de defesa.
Nisso, adianta-se um cossaco e desfere furioso
golpe, decepando as mãos do sacerdote; este levan­
ta os cotos sangrentos e grita ao povo: “A vós cabe
agora a defesa de Jesus.” Irm ãos, a cena com oven­
te não é insólita; m uitas vezes os sacerdotes nos
sentim os de mãos tru n cad as e nos voltam os a vós
com a intim ação: “D efendei vós a Jesus!”
D irão outros: “A Ação Católica é um a novidade.
A Igreja viveu sem ela até hoje, e atualm ente há
m ais fé que antes e as coisas andam m elhor.”
R epetidas vezes o P apa rebateu tal asserção in ­
fund ad a; eis algumas de suas p alav ras: “Á Ação
C atólica não constitui lin d a novidade dos nossos
tem pos, como alguns pensam , os que não estão dis­
postos a receber esta novidade e não a estim am
como se deveria.”
A p rim eira difusão de cristianism o fez-se m edian­
te a Ação Católica e não se podia realizar de outro
modo. Que teriam efetuado os Doze, perdidos na
im ensidade do m undo pagão, se não houvessem cha­
m ado em seu auxílio os m eninos, jovens, donzelas,
A AÇAO CATÓLICA E ’ UM DEVER 21

m atronas e hom ens, dizendo-lhes: “Trazem os co-


nosco o tesouro de Cristo, ajudai-nos a distribuí-lo.”
A Ação Católica em sua natureza, q u er dizer, en­
quanto é a participação dos leigos no apostolado da
Jerarq u ia, é tão antiga como a mesma Igreja.
P ara o com provar, basta o seguinte fato. Após a
perseguição de Jerusalém , na qual perdeu a vida
S. Estêvão, m uitos cristãos leigos foram dispersados
e o livro dos Atos nos diz que “andavam dum lugar
para outro, anunciando a palavra de Deus. Em An-
tioquia in stru íram um a m ultidão tão num erosa que
naquela cidade se deu pela vez p rim e ira o nom e de
C ristãos aos seguidores de C risto.”
Os Apóstolos, sacerdotes, chegaram m ais tarde
àquela cidade. A p rim eira sem eada, as p rim eiras
conquistas, foi trab alh o de leigos.
P o r onde a Ação Católica não é um a novidade;
a novidade está só na form a exterior, na organiza­
ção. Que há de e stra n h a r? Quantas novidades não
temos adm itido na vida o rd in ária! D everem os voltar
à candeia de sebo p o r ser uma novidade a luz elé­
trica? A lei é esta: p ara tem pos novos, novas exi­
gências e novos rem édios.
Conclusão
Recordem os o episódio da conversão da Sama-
ritana. D epois do colóquio com Jesus, deixou o cân­
taro e se foi à cidade avisar seus concid ad ão s: “Vin­
de e vereis um homem que me disse tudo o que fiz.
Não será talvez o Salvador?” E m uitos vieram da
cidade e creram nele pela palavra da m ulher.
Aí temos um exem plo vivo do A postolado Leigo.
Prega a S am aritana a Cristo, convertendo-se ela pró­
p ria a Cristo, e p o r meio de seu procedim ento m ui­
tos outros tam bém .
Que visa a Ação C atólica? F azer conhecer e am ar
a Cristo. E’ a continuação, através dos séculos, da
obra da Sam aritana,
OS DOIS SACRAMENTOS
DA AÇÃO CATÓLICA
Introdução
Em O utubro de 1933, na C atedral de Santo E stê­
vão em Viena, concedeu-se, de m aneira solene, a
investidura da Suprem a Ordem da Milícia de Cristo
ao Dr. Miklas, P resid en te da R epública de Áustria.
Depois que o N úncio, em nome do Papa, celebrou
a solenidade, o novo C avaleiro da Ordem de Cristo
tom ou a palavra e disse:
“Ser um v erdadeiro Soldado de Cristo, ou pelo
m enos procurá-lo ser, deve co n stitu ir um a das preo­
cupações de todo cristão, e esse pensam ento há de
an im a r todo o procedim ento seja público seja p ar­
ticular. P o r boca dos P ad rin h o s o prom etem os no
Batismo, e depois, pessoalm ente c de m aneira sole­
ne, na Confirm ação.
No respeitante a mim , em m inha vida longa e a­
torm entada, tenho buscado — digo-o com franque­
za — ser um v erdadeiro Soldado de Cristo. Declaro-
o sem rodeios e com viva satisfação, e, em bora cla­
ram ente conheça m inha insuficiência, faltas e de­
feitos e hum anas im perfeições, espero que Deus,
Juiz benigno e m isericordioso que é, nos há de per­
doar.”
Com estas palavras, o P resid en te federal da Áus­
tria não apenas se dizia católico, mas católico m ili­
tante, destarte fazendo, qual v erdadeiro Soldado de
Cristo, profissão solene do catolicism o m ilitante, ou
seja, de Apostolado, apostolado esse que hoje tem a
sua m ais cabal expressão na Ação Católica.
Todavia não se contentou com isso o novo Cava­
leiro de C risto; como bom conhecedor da praxe da
Igreja, indicou ain d a os fundam entos dogm áticos
do A postolado Leigo, quando afirm a que todo cris­
tão prom ete ser soldado rle Cristo e, portanto, Após­
tolo, no m om ento de receb er o Batismo e a Crisma.
V erdade que bem poucos cristãos conhecem .
OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇAO CATÕLICA 23

P o r isso querem os profundá-la mais, dem ons­


trando sucintam ente que a Ação Católica, enquanto
Apostolado Leigo, é:
1) um a obrigação do Batism o;
2) um a obrigação da Crisma.

-v Obrigação do Batismo
Num subúrbio parisiense, um bom sacerdote p ro ­
pôs num belo dia a um operário incrédulo fizesse
b atizar um dos filhos que estava em perigo de m or­
te. “Que me im porta o vosso batism o — respondeu
o operário — isso não é lá m ais que uma p itada de
sal na boca.”
Na generalidade, os católicos têm do Batismo um
conceito um pouco m elhor do que o obreiro da nossa
história. Mas onde estão os que dele têm noção exata,
já em seus efeitos, já sobretudo em suas obrigações?
Uma obrigação que deriva dos efeitos do Batismo
é o Apostolado.
Pelo Batismo o homem se faz filho adotivo de
Deus, irm ão dc todos os cristãos, m em bro da Igreja.
Destes três efeitos em ana o dever do Apostolado,
como passam os a dem onstrar.
I. Filho Adotivo de Deus
Quando se batiza um m enino, renova-se a cena
m ilagrosa que se efetuou no dia do batism o de Jesus,
às orlas do Jordão. Do céu baixou a voz do E terno
P a i: “Este é o meu filho m uito amado, em o qual
tenho todas as m inhas com placências.”
P arecerá exagero, nada obstante é realidade. P ro ­
dígio de am or infinito.
“A dm irai — escreve S. João — que prova de am or
nos tem dado o Pai ao q u erer que nos cham em os e
sejamos em verdade filhos seus.”
Poucos cristãos advertem a esta altíssim a digni­
dade. Bem o com preendia a cam areira da filha do
Rei Luís XV da F ran ça; ao ser rep reen d id a p o r sua
senhora com estas p alav ras: “Não sabeis que sou fi­
lha do vosso R ei?” respondeu-lhe: “E* verdade; mas
eu sou filha de Deus, Rei dos Reis.”
Tão grande dignidade traz consigo um a obrigação
bem d efin id a: a de prom over e defender a honra
de Deus. Um filho não pode co n sid erar com olhos
24 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

indiferentes a h o n ra de seu pai. Se, pois, somos fi­


lhos de Deus, sua glória deve-nos preocupar.
Isto posto, em que consiste o Apostolado? Em ze­
lar pela hon ra de Deus. E que é a Ação Católica?
Um Apostolado p ara a glória de Deus.
Pelo que é o A postolado uma obrigação direta do
Batismo.
II. Irmãos de Todos os Cristãos
Os filhos de um mesmo pai chamam-se irm ãos.
Todos os cristãos são filhos de Deus; logo, irm ãos
entre si.
Os p rim eiros cristãos denom inavam -se com o no­
me dulcíssim o de Irm ãos. A inda hoje em dia a li­
turgia usa esta expressão: “Orai, Irm ãos” diz-nos
o sacerdote na Santa Missa.
Pois bem, entre irm ãos é coisa sagrada e natural
o am or, o auxílio recíproco e a com unicação dos
bens. “Tudo o meu é teu” — é a fórm ula da verda­
d eira fratern id ad e. O irm ão que tem m ais dá ao que
m enos tem ; não m orre de fome um irm ão enquanto
ao outro fica um pedaço de pão.
E se o provérbio re z a : “Amor de irm ão, am or de
ad v ersário ”, é verdade só no caso de o am or dege­
n e ra r em ódio, como a m iúdo sucede.
Devem os cristãos am ar-se e ajudar-se m útuam en­
te como irm ãos; ajudar um ao outro nas necessida­
des m ateriais e sobretudo nas espirituais. Hão de
p ro c u ra r que todos estejam providos dos dons do
E spírito, que ninguém pereça, que todos se salvem.
“Quem está enferm o, que eu não no esteja tam ­
bém ? Quem se escandaliza, que me eu não abrase?”
Tal palavra de S. Paulo deveria estar na boca de
todo cristão.
Então, que é afinal de contas a Ação Católica?
Um Apostolado p ara a salvação esp iritual de nossos
Irm ãos em Cristo.
III. Membros da Igreja
Pelo Batismo se adquire o direito de cidadania
nesta im ensa sociedade que é a Igreja Católica.
Ora, não devem acaso os cidadãos sofrer e trab a­
lh a r pelo bem da sociedade em que nasceram ou
da qual são m em bros, sociedade que se cham a Pá-
OS DOIS SACRAMENTOS DA AÇAO CATÓLICA 25

tria ou N ação? As contribuições e as responsabili­


dades são diversas, segundo o posto que cada qual
ocupa, mas todos estão obrigados a d ar algo.
Assim o sacrificar-se pela P á tria em perigo é um
dever p ara todos; destarte vim os como na passada
guerra m undial m orreram além de oito m ilhões de
hom ens p ara defender os direitos de suas respetivas
P átrias. Aos que então tom baram se erigiram em
todas as partes m onum entos de justo reconhecim en­
to.
Mas os cidadãos da Igreja, os súditos de Cristo
Rei, não terem os os m esm íssim os deveres p ara com
a sociedade religiosa a que pertencem os?
Pois bem, a Ação Católica é um Apostolado p ara
a defesa e dilatação da Igreja, ou seja, do Reino de
Cristo no m undo.
Obrigação imposta pela crisma.
Mais evidente é ainda que a Ação Católica é um
dever resultante do sacram ento da Confirm ação.
A Crism a ou C onfirm ação faz-nos cristãos p erfei­
tos, Soldados de Cristo. A um entando a graça, robus­
tece a alm a e torna-a idónea p ara a luta.
Deve o soldado com bater e mesmo m orrer, q uan­
do as circu n stân cias assim o exigem. P o r quem ?
Pela P átria, por seus concidadãos. Não p o r si, mas
pelos outros. A m ilícia é generosidade e sacrifício
de si próp rio . O soldado egoísta torna-se desertor.
O Soldado de Cristo deve lu ta r e com bater, e até
deve estar disposto a d a r a vida pela causa de Cristo
e pela defesa de seu reino, a Igreja.
Eis que a Ação Católica é a m ilícia santa p ara
defender a Cristo e a sua Igreja.
A Crisma, como o ensinam as E scritu ras, con sa­
gra-nos p ara o Apostolado.
Disse o Salvador a seus Apóstolos no m om ento de
separar-se deles p a ra voltar ao P a i: “R ecebereis a
força do E sp írito Santo que v irá sobre vós e sereis
m inhas testem unhas em Jerusalém , na Ju d eia e Sa-
m aria e até os confins da te rra .”
O E spírito Santo transform ou os Apóstolos e dis­
cípulos de Cristo em testem unhas, quer dizer, em
pregadores de sua doutrina.
26 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Cum priu-se a prom essa dez dias após a Ascen­


são do Salvador, no dia de Pentecostes. “Cheios do
E sp írito Santo, com eçaram a falar.” No p rincípio
tím idos, m edrosos — tinham renegado e abando­
nado a Cristo — depois de receber o E spírito Santo
tornaram -se valorosos heróis do nom e de Cristo.
Pois bem, na C onfirm ação o cristão recebe o Es­
p írito Santo com o cortejo de seus dons e, em bora
não do mesmo modo que os Apóstolos, todavia em
igual m edida. Logo se torn a testem unha de Cristo,
isto é, Apóstolo.
A C onfirm ação é, em razão do que se disse, o
Sacram ento do A postolado Leigo, o Sacram ento da
Ação Católica.
Conclusão
Como explicam os, a Ação Católica é uma certa
m ilícia, e ain d a tem os de acrescen tar que é m ilícia
escolhida.
R epresenta a m ilícia de Gedeão na luta contra
os inim igos. E ram m uitos os g u erreiros que seguiam
a Gedeão, porém o Senhor ordenou-lhe fazer um a
seleção e escolher só aqueles que, ao passarem pela
fonte de H arade, bebessem a água na concha da
mão sem d o b rar os joelhos. Apenas trezentos assim
procederam , e esses foram os escolhidos.
Os soldados da Ação Católica são como os de
Gedeão. Malgrado todos estejam recenseados, pela
Confirm ação, no exército cristão, m uitos deles não
possuem aptidão p ara esta m ilícia seleta; uns em­
boscaram -se, outros desertaram p ara o lado dos in i­
migos.
Os inscrito s na Ação Católica devem p re fe rir os
postos avançados, pelejar na vanguarda pelo triunfo
de Cristo.
Sejamos fiéis ao sinal convencionado como os
trezentos de Gedeão. Deus estará conosco como es­
teve com eles, e onde está Deus ali b rilh a a vitória.
0 APOSTOLADO DOS LEIGOS
NO EVANGELHO
Introdução
Entretanto, depois de tudo, o que se entende por
Leigos?
Por vontade do Fundador divino, na Igreja de
Deus há duas classes de membros: os Clérigos e os
Leigos. “Clérigos chamam-se aqueles que, ao me­
nos com a recepção da primeira tonsura, se dedi­
caram ao serviço divino.”
Todos os demais membros se chamam Leigos, ou
simplesmente Fiéis.
A Ação Católica é o Apostolado dos Leigos.
No Evangelho, ao lado da pessoa adorável do
Salvador, achamos já tal distinção em grau, diga­
mos, inicial. Os doze Apóstolos, chamados de ma­
neira especial a seguir o Salvador, são os futuros
Sacerdotes que constituirão a Jerarquia da Igreja, a
parte dirigente ou docente. São os cooperadores de
Cristo em virtude de eleição divina.
Contudo outras pessoas, que não foram chama­
das expressamente e por isso não pertenciam à Je­
rarquia nascente, auxiliaram ao Messias na obra
redentora, já tornando-0 conhecido, já dando a co­
nhecer a sua virtude, ou defendendo a Sua missão,
ou assistindo-Lhe nas necessidades materiais. Des­
te número fizeram parte muitos homens e mulheres.
Estes colaboradores voluntários de Cristo, estes
generosos auxiliares da obra messiânica, são de­
veras os precursores dos leigos que na atualidade
constituem a Ação Católica.
Desejaríamos enumerá-los a todos mas em favor
da brevidade só daremos a conhecer os principais,
cujo proceder nos servirá de exemplo e estímulo.
Exemplo dos Pastores
O Apostolado Leigo principiou ao lado da man­
jedoura do Salvador.
Os primeiros foram os pastores que à voz do anjo
28 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

se puseram em caminho, cheios de entusiasmo, ex­


clamando: “Vamos a Belém e vejamos o que foi que
sucedeu.” Vão e chegam, admiram e adoram. Não
termina aqui sua missão, porém. O Evangelista
acrescenta estas palavras que merecem toda nossa
atenção: “Voltaram os pastores, louvando e glorifi­
cando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido.
E todos os que ouviram falar ficaram pasmados
sobre as coisas que os mesmos narravam.”
Duas coisas nos ensinam os pastores:
1. “ 0 dever do Apostolado. Referiam a todos o
que haviam presenciado; falavam-lhes do Messias
esperado, tornando-0 conhecido, glorificando-0 em
particular e em público, entre os parentes e com­
panheiros de ofício ou profissão. Que é tudo isto se­
não genuíno Apostolado cristão?
2. ° Indicam ainda os pastores o como se prepa­
rar para o Apostolado.
Donde tamanho ardor apostólico nesta gente hu­
milde e ingénua? Têm o coração cheio de Jesus. E
donde lhes vem esta plenitude? Do contacto que ti­
veram com o mesmo Jesus.
Daí se infere que não poderemos ser verdadei­
ros Apóstolos se não conhecermos e amarmos inten­
samente a Jesus. E para 0 conhecer e amar, deve­
mos aproximar-nos d’Ele.
Onde 0 acharemos?
Em nossas igrejas, ao pé do tabernáculo. Aí está
o nosso Belém (palavra que significa Casa de Pão).
Digamos, pois, com os pastores: “Vamos até Belém”
— e, como eles, voltaremos dali convertidos em
Apóstolos.
Testemunho dos Beneficiados
E’ muito natural que aqueles que receberam algum
benefício de Jesus, sentiram a necessidade de agra­
decer a seu Benfeitor, publicar-Lhe o nome e apre­
sentá-Lo às turbas maravilhadas, tornando-se propa­
gandistas de sua missão e grandeza, ou, por outra,
fazendo-se Apóstolos. Isto sucedeu quase sempre.
Às vezes o Salvador mesmo ordenou aos que d’Ele
receberam algum beneficio ficassem calados. Sabia
que o povo não via n’Ele senão um rei temporal que
haveria de restabelecer o trono de David; o conhe-
O APOSTOLADO DOS LÈIGÒS 2Ô

cim ento dos prodígios havia de e x c ita r a paixão


política e p o d ia ser causa de desordens.
T odavia o espasm o chega a tal ponto que não raro
as m ultidões desrespeitam a proibição de Jesus. As­
sim aconteceu com a cura do surdo-m udo a quem
“ordenou que o não dissesse a ninguém ; mas, q uan­
to m ais se lhe proibia, m ais o publicava.”
O utras vezes, porém , o rd en a o p ró p rio Salvador
aos contem plados com algum a m ercê que a p u b li­
quem ; tal sucedeu com o possesso de Gérasa. L ib er­
tado não de um só dem ónio, m as dum a legião deles,
prostrou-se aos pés do Senhor e, reconhecido, “co­
meçou a Lhe su p licar perm itisse que ele 0 acom ­
panhasse. Mas Jesus não o deixou, porém lhe disse:
Vai a casa dos teus e an uncia quanto o Senhor te fez
e como se apiedou de ti. — E retirou-se e pôs-se a
divulgar na região da D ecápole quanto lhe fizera
Jesus; todos ficaram m aravilhados.”
Como en tra pelos olhos, este hom em quis ingres­
sa r na escola do Mestre e segui-Lo, im pulsionado
pelo agradecimento p ara com seu B enfeitor; m as
sua petição foi in deferida. F icará no século na q u a­
lidade de sim ples Leigo. C ontudo frisem os bem que
o mesmo Jesus lhe o rd en a exercer o A postolado
entre os seus, en tre os seus com patriotas que h a­
viam rogado a Jesus se retirasse do te rritó rio que
habitavam . Jesus encarrega ao hom em curado de
O su bstitu ir ali, propag an d o -0 entre os patrícios.
Vamos, pois, que todos os que tin h am recebido
alguma graça de Jesus se apressaram em a pagar
de algum modo, fazendo conhecer e am ar a seu Ben­
feitor. Q uantas vezes não teriam tom ado a defesa
d’Ele co n tra os m aldizentes, arrostando as lutas e
perigos, haja vista o cego de nascença que fora
expulso do S inédrio p o r h av er sustentado a divin­
dade de Jesus.
Devolver favor p o r favor é a m elhor form a de
gratidão, e essa foi a que usaram m uitos dos favo­
recidos p o r Jesus.
Tam bém nós recebem os d’Ele m uitos benefícios,
entre estes o m aior e p rim e iro : a graça da fé. Pois
bem. O m elhor m odo de m ostrarm os o nosso re ­
conhecim ento é tra n sm itir aos dem ais o dom rece­
bido; é o que nos aconselha S. P e d ro : “Quais bons
30 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

dispensadores dos m últiplos favores de Deus, cada


um de nós faça os outros p articip arem dos dons
recebidos.” Eis um a bela exortação ao Apostolado.

Um leigo taumaturgo
Deu Jesus a seus discípulos o “poder de c u ra r as
enferm idades >e expelir os dem ónios.” Os discípu­
los sentiam -se orgulhosos com os êxitos obtidos.
Uma feita, ao regressarem de uma m issão, disseram
ao Mestre m uito sa tisfe ito s: “Até os dem ónios se
nos subm etem em força de vosso nom e.”
Nisso estavam equivocados, julgando que tal po­
d er lhes fora concedido a eles exclusivam ente. As­
sim ao toparem certo dia com um estranho que ex­
pulsava os dem ónios em nom e de Jesus, proibiram -
lho ín continenti.
De regresso eles p ara casa, disse S. João, em nome
de todos, ao Salvador: “Mestre, vim os alguém, que
não é dos nossos, expelir em vosso nome os dem ó­
nios e proibim os-lho.” Jesus replicou-lhes, porém :
“Não lho proibais, p orquanto ninguém há que faça
prodígios em meu nom e e que possa falar m al de
mim. Pois quem não é co n tra vós está do vosso lado.”
O tal indivíduo que não segue a Jesus nem faz
p arte do Colégio Apostólico, é um leigo. A despeito
disso, expulsa os dem ónios em o nome de Jesus,
q u er dizer exerce um ofício apostólico. E o Mestre
não quer que lho im peçam ; com o que aprova sua
atividade.
Dois ensinam entos dá-nos aqui o Salvador:
a) o Apostolado não é m onopólio dos sacerdotes
ou do Clero, m as em certa m edida perm ite-se aos
leigos;
b) os que labutam no cam po do Apostolado hão
de se alegrar de que outros trabalhem tam bém e
talvez com fruto m ais abundante, e isto sem som­
b ra de ciúmes, sem espírito de rivalidade, com esta
ú nica aspiração : que Deus seja glorificado por quem
q u er que for. O que em verdade im porta é que o
bem se faça, pouco se nos dando p or quem.
O APOSTOLADO DOS LEIGOS 31

O primeiro apostolado feminino


Em o núm ero dos colaboradores leigos de Jesus
acham os outrotanto algum as m ulheres eleitas. Não
pregavam nem faziam m ilagres, porém prestavam
auxílio ao Messias e aos seus discípulos.
Relata-nos S. L ucas: “Jesus andava pelas cidades
e aldeias, p regando e an unciando o Reino de Deus;
estavam com Ele os Doze e m ais algum as m ulheres
que haviam sido liv rad as dos esp írito s m alignos e
de enferm id ad es: Maria, p o r sobrenom e M adalena,
da qual foram expelidos sete dem ónios; Joana, m u­
lher de Cusa, p ro cu rad o r de H erodes; e Susana e
m uitas outras que lhe assistiam com suas posses.”
Vivia Jesus de esmolas. As ditas piedosas m u­
lheres punham -Lhe à disposição seus haveres, pou­
pando-Lhe dessarte a preocupação do alim ento e
das dem ais necessidades da vida.
Ora, não será esta um a form a de cooperar com
Jesus, de co n co rrer p ara a propagação do Evange­
lho? Não será este um v erdadeiro A postolado a u x i­
liar?
0 Papa considera estas santas m ulheres como as
p rim eiras apostolas do m undo fem inino. “Vede —•
diz-nos — as m ulheres reun id as em torno do Sal­
vador, trab alh an d o com Ele e p ara Ele. E’ tocan­
te tal m anifestação da prim eira liga de m ulheres
católicas, da qual as atuais derivam .”
Uma outra m ulher, que não seguiu o Salvador,
fez-se eficaz p ropagandista d’E le: foi a Sam aritana.
Recebeu m uitos favores do Senhor, que a rem iu com
sua doutrina sublim e, resgatando-a da servidão do
pecado. Depois do colóquio junto ao Poço de Jacob,
conheceu ela que seu in terlo cu to r era o Messias de­
sejado, “largou o cân taro e co rreu a dizer a seus p a­
trício s: Vinde v er um hom em que me disse tudo
quanto fiz. Não será Ele p o rv en tu ra o Cristo? —
Vieram m uitos da cidade c creram n’Ele por causa
da palavra da m ulher que assegurava: Disse-me o
quanto fiz.”
Eis uma m ulher que, à sem elhança do Batista, p re­
para os cam inhos do Senhor — e com que êxito!
Compraziam -se os Apóstolos em se ch am ar teste­
m unhas da R essurreição do Senhor. Com efeito, a
R essurreição form a o centro das p réd icas dos Após-
32 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

tolos. Mas as primeiras testemunhas da Ressurrei­


ção do Senhor foram as mulheres: Maria Madalena
e suas companheiras que antemanhã foram ao Se­
pulcro para ungir o Corpo do Salvador.
E o Anjo deu-lhes este encargo: “Ide e avisai os
discípulos de como Ele ressurgiu dentre os mortos.”
E logo o próprio Jesus aparece a elas e lhes diz:
“Ide e noticiai a meus Irmãos que vou à Galiléia,
onde me verão.” Podia o Senhor confiar-lhes missão
mais apostólica?
Conclusão
No correr desta rápida exposição, vimos como o
apostolado tem sua origem no Evangelho. Os pri­
meiros representantes da Ação Católica, ação au­
xiliar dos Leigos para a difusão do Reino de Cristo,
viviam e trabalhavam em torno da Pessoa de Cristo.
Eram homens e mulheres: Ação Católica masculina
e feminina.
Compreendemos agora a dignidade da Ação Ca­
tólica: é divina — não só em sua finalidade, a gló­
ria de Deus, senão também em sua origem, visto que
podemos considerar o Salvador pelo que a instituiu.
Demos graças ao Senhor por nos ter chamado a
tão sublime vocação: somos os continuadores dos
Apóstolos Leigos do Evangelho. Ainda está Cristo no
meio de nós, perpetuando a sua missão redentora
por intermédio do Papa, Bispos e Sacerdotes. Tor­
nemo-nos dignos continuadores dos primeiros co-
operadores, por nosso exemplo c abnegação.
APOSTOLADO DOS LEIGOS
NA IGREJA PRIMITIVA
Introdução
"A Ação Católica — disse o Rom ano P o ntífice —
é a renovação, a continuação do que se realizou nos
p rim eiro s séculos da Igreja, nos dias da p rim eira
propagação da verdade católica.” P a ra nos disto
convencer, basta re le r as p rim eiras páginas dos es­
critores eclesiásticos e as epístolas. Ali estão enu­
m erados os que se fizeram colaboradores dos Após­
tolos na p rim eira difusão do Evangelho, os quais
levaram a palavra evangélica a todas as cam adas,
tanto entre o povo sim ples como até a palácio de
César.
Q uerem os com provar esta verdade histórica, tão
a m iúdo lem brada pelo Papa, aduzindo episódios da
H istória da Igreja nos tem pos apostólicos. Eles dir-
nos-ão que o Reino de Deus sobre a terra, a saber a.
Igreja, foi fu ndada pelos Apóstolos com a coopera­
ção dos leigos, isto é, da Ação Católica.

Precursores dos apóstolos


Os leigos foram na realidade os precu rso res dos
Apóstolos; querem os dizer que em alguns lugares a
p rim eira sem ente da verdade não foi sem eada pelos
Apóstolos, pelos rep resen tan tes da Jerarq u ia, senão
pelos leigos.
Lem bram os apenas duas cidades em que o Apos­
tolado da Je ra rq u ia foi preced id o pela o b ra dos lei­
gos.
1." Em A ntioquia.
Nos atos dos Apóstolos, livro não só divinam en­
te in sp irad o senão de reconhecida veracidade h is­
tórica, se vê que os prim eiro s germ es do c ristian is­
mo foram levados a esta cidade pelos sim ples fiéis.
Vejamos com o isto se deu.
Depois do m artírio de S. Estêvão, “levantou-se
uma grande perseguição con tra a Igreja de Jeru-
Formação — 3
34 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

salém, e todos, excetuando-se os Apóstolos, se dis­


persaram pelas regiões da Ju d eia e Saraaria. E os
que se espalharam andaram an unciando a palavra
de Deus de um lugar a outro.”
E o Livro Sagrado dá-nos algum as p artic u la rid a ­
des desta pregação: “Os que haviam sido disp er­
sados da perseguição sucedida por causa de Estêvão,
chegaram à F enícia, a C hipre e a A ntioquia, e pre­
gavam a palavra som ente aos judeus. E estavam com
eles alguns hab itan tes de C hipre e de Cirene, os
quais, entran d o em A ntioquia, falavam aos gregos e
pregavam -lhes o Senhor Jesus. E a m ão do Senhor
estava com eles, e m uitos creram e converteram -se
ao Senhor. Q uando estas notícias chegaram à Igreja
que estava em Jerusalém , enviou-se B arnabé a An­
tioquia. Logo que este chegou, regozijou-se ao ver
a graça do Senhor e exortou a todos perseveras­
sem no Senhor com firm eza de coração.”
Chegou B arnabé, o rep resen tan te da Jerarq u ia,
p ara com pletar a obra com eçada pelos fiéis; foram
estes que in stru íram na fé “uma tão grande m ulti­
dão, que em A ntioquia foi onde pela prim eira vez
se deu aos discípulos de C risto o nom e de C ristãos.”
• 2.° Em Roma.
Tam bém a Roma, onde P ed ro havia de estabe­
lecer p ara sem pre sua sede, tam bém à Capital do
m undo cristão, foi levado o cristianism o pela p ri­
m eira vez pelos sim ples fiéis, pelos leigos da Ação
Católica.
Esse fato não é histo ricam en te certo como p a ra
A ntioquia, m as tem m uitas probab ilid ades a seu fa­
v o r e adm item -no h isto riad o res de peso, como Ho-
rácio M arucchi, o qual e screv e:
“Os prim eiro s rep resen tan tes do m undo rom ano
que tiveram a v entura de ouvir a pregação do E van­
gelho foram alguns p eregrinos de Roma, os quais,
como atesta o Livro dos Atos, se achavam em Je ru ­
salém no dia de Pentecostes, quando pela prim eira
vez se anunciou a nova fé. E’ provável que alguns
desses, quer voltando diretam ente a Roma, q u e r in ­
diretam ente p o r interm édio de outros, se tornaram
m ensageiros da verdade evangélica na grande m e­
trópole. 0 mesmo pode dizer-se dos soldados da co­
orte itálica da guarnição de Cesareia, onde o centu-
rião Cornélio se converteu p o r m eio do Apóstolo
APOSTOLADO NA IGREJA PRIMITIVA 35

Pedro. E ainda é provável que alguns soldados


daquela coorte, convertidos à fé de Cristo a exemplo
do centurião, de volta a Roma, anunciaram a Boa
Nova na cidade de César, form ando assim o p r i­
m eiro núcleo da Igreja R om ana.”

Dois esposos: Áquila e Priscila


Na Epístola aos Rom anos escreve S. P aulo: “Sau­
dações a Áquila e P riscila, cooperadores meus em
Jesus Cristo, os quais expuseram as suas cabeças
por m inha salvação.”
Estes dois esposos auxiliaram a S. Paulo na e v an ­
gelização dos rom anos, e até afrontaram perigos p o r
esta causa. São, pois, rep resen tan tes autênticos da
Ação Católica, tal qual a define o Papa. Que fizeram ,
porém , na realidade p ara serem citados na ordem
do dia entre os Apóstolos de Roma?
A esta curiosidade, aliás legítim a, respondem os
Livros Sagrados. Áquila e P riscila viviam em Roma,
donde foram expulsos p o r edito do im p erad o r Cláu­
dio, e n tre os anos 49 e 50, em virtu d e do qual foram
expulsos todos os hebreus. E m igrando p a ra Corinto,
encontraram ali a Paulo, “o qual foi viver em sua
com panhia.”
Reuniam -se em sua casa os cristãos de Éfeso,
pois daí escreve S. Paulo aos fiéis de C o rin to :
“Saúdam-vos m uito no Senhor Áquila e P riscila com
a Igreja de sua casa, dos quais sou hóspede.”
P ara com preender o sentido desta expressão “i­
greja dom éstica”, convém reco rd ar que naqueles
tem pos os cristãos não tinham ainda edifícios p a ra
a celebração dos m istérios divinos, que se celebra­
vam em casa de particulares. D estarte a casa destes
dois santos esposos era o lugar de reunião dos
cristãos de Éfeso.
Nesta populosa cidade, Áquila e P riscila se to r­
naram propag an d istas da religião cristã, e um fruto
notável de sua pregação foi Apoio, que se tornou um
dos m ais valiosos cooperadores de S. Paulo.
Como lemos no Livro dos Atos, era Apoio um ju ­
deu, hom em eloquente e versado nas Santas E sc ri­
turas. Possuía algumas noções acerca do c ristian is­
mo, mas não era batizado ainda. Isso não obstante,
anim ado de zelo pela religião de Cristo, pôs-se a pre-
36 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

gá-la ná sinagoga, exem plo sublim e de apostolado


leigo. Tendo-o ouvido Áquila e P riscila, verificaram
que era eloquente, mas tin h a um a in strução religio­
sa insuficiente, razão p o r que o tom aram consigo
e lhe expuseram m inuciosam ente toda a doutrina
cristã. Assim instruído, Apoio anunciou a Cristo em
Éfeso, em Corinto e nas outras cidades, a respeito
do que nota S. L ucas: “foi de grande vantagem aos
que haviam crido, pois com grande destem or co n ­
vencia os judeus, provando com as E scritu ras que
Jesus era o M essias.”
O êxito obtido p o r este leigo foi tal que alguns
cristãos o igualaram a P edro e Paulo.
No início do reinado de Nero, abolido o decreto
de Cláudio, voltaram Áquila e P riscila a Roma e sua
casa veio a ser, como em Éfeso, o lugar de reunião
dos cristãos, e m ais tard e teve a h o n ra e distinção
de ab rig ar m ais um a vez a S. Paulo.

Outros cooperadores de São Paulo


Até agora lem bram os três cooperadores leigos de
S. Paulo, m as nos Atos e nas E pístolas há m enção
de outros não m enos im portantes. Citarem os alguns
deles.
Ao te rm in a r a carta aos Rom anos, o Apóstolo es­
creve: “Recom endo-vos a nossa irm ã Febe, que es­
tá no serviço da Igreja de Cêncris, p a ra que a rece­
bais no Senhor, de um modo digno dos Santos, e a
ajudeis em toda coisa que de vós p re c isar; p o rq u an ­
to ela assistiu a m uitos, e a m im em p articu lar.”
Comum ente se crê que se ela encarregou de le­
v ar a carta do Apóstolo aos rom anos e daí a reco ­
m endação de acolherem -na e assistirem -na como a
um a pessoa estrangeira e b enem érita da Igreja.
Diz-se ainda que está no serviço da Igreja, ou
seja, que é diaconisa. T ais eram cham adas naqueles
tem pos algum as piedosas m ulheres que exerciam na
Igreja m inistérios de carid ad e esp iritual e tem po­
ra l: in stru íam os catecúm enos, preparavam -nos p a ­
ra o batism o, presidiam à reunião das m ulheres na
igreja, etc. E ram portanto, como se vê, m ulheres de
Ação Católica.
Febe era diaconisa e tin h a servido não só a m ui­
tos cristãos, mas tam bém ao p ró p rio S. Paulo.
APOSTOLADO NA IGREJA PRIMITIVA 37

Ao louvor dispensado a Febe segue um a lista de


vinte e quatro nom es, encabeçados p o r Áquila e
P riscila, com o pedido aos cristãos de Rom a que
os saúdem em nome do Apóstolo um a vez que se
tra ta de seus colaboradores que com ele trab alh a­
ram no Senhor.
Aos cristãos de Tessalonica, hoje Salonica, S.
Paulo escreve estas significativas p a la v ra s : “T o r­
nastes-vos im itadores nossos e do Senhor, d e modo
que viestes a ser m odelo p a ra todos os fiéis da Ma-
cedônia e da Acaia. Pois p o r meio de vós divulgou-
se a palavra de Deus não só na M acedônia e na
Acaia, mas p o r toda p arte se propagou a fé em Deus,
de m aneira que não temos necessidade de falar-vos
disso.”
Os tessalonicenses tin h am p raticad o estas duas
form as de ap o sto lad o : a do exemplo e da palavra.
D ifundiram a palavra de Deus nas regiões circu n v i­
zinhas ao ponto de S. Paulo p oder declarar, com
evidente e benévolo encarecim ento, que sua prega­
ção era ali supérflua.
O fato explica-se assim : Tessalonica era um porto
m uito frequentado pelos estran g eiro s e seus h ab i­
tantes viviam em contato contínuo com os de ou­
tras regiões p o r causa do com ércio. Os cristãos de
T essalonica aproveitaram -se destas circu n stân cias
p ara divulgar o cristian ism o entre aqueles com quem
m antinham relações com erciais.
Este é o apostolado do p ró p rio meio, tão recom en­
dado pela Ação Católica a seus m em bros que estão
obrigados a viver e trab alh ar entre os povos pagãos.
Querem os re c o rd a r um a passagem da carta aos fi-
lipenses, na qual tem os tam bém um a exortação ao
apostolado dos leigos. E i-la: “Ajuda àqueles que tra ­
balharam comigo no apostolado do Evangelho”, e
acrescenta que p o r isto “os seus nomes estão escri­
tos no livro da v ida” .
Ao form ular Pio XI a definição que se tornou clás­
sica da Ação Católica, inspirou-se nas palavras do
Apóstolo que acabam os de citar. Falando, aos 12 de
Março, aos sem inaristas que haviam seguido os c u r­
sos da Ação Católica, observou que esta é v erd ad ei­
ram ente apostólica, visto como acom panhou os p ri­
m eiros apóstolos, e acrescen ta: “Q uando S. Paulo
em suas cartas elogia os que trabalham com ele na
38 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

evangelização, falando das m ulheres e dos leigos,


parece de feito p re p a ra r a definição da Ação Ca­
tólica que é participação dos leigos no apostolado
jerárq u ico da Igreja. Não fez o P apa outra coisa se­
não re p e tir o que há m uito tem po já o dissera o
Apóstolo.”
Conclusão
Pio XI deu a razão p o r que a Ação Católica su r­
giu juntam ente com o cristianism o. “Que teriam
podido fazer os doze, o eco de suas palavras, p er­
didos na im ensidade do m undo, se não tivessem so­
licitado o auxílio dos leigos, hom ens, m ulheres, an­
ciãos, m eninos, dizendo-lhes a todos: “Levamos o
tesouro de Deus, ajudai-nos a distribuí-lo.”
P ois bem ; nestes tem pos de paganism o renascente,
os sacerdotes não são suficientes p a ra a grande em­
presa do apostolado, precisam de colaboradores lei­
gos, necessitam da Ação Católica.
Oxalá que todos os que m ilitam em suas fileiras
sejam dignos colaboradores dos apóstolos, inflam a­
dos do espírito de conquista, a fim de que seus no­
mes estejam tam bém escritos no livro da vida.
0 APOSTOLADO NO PADRE NOSSO

Introdução
Conta-se que um belo dia caiu nas mãos de Ale­
x andre Severo um pergam inho no qual estava escrito
o P ad re Nosso. Apenas o im perador o leu, quedou
profundam ente com ovido e perguntou quem era o
autor daquela oração. Q uando soube que era de
Cristo N azareno, quis levantar-L he um a estátua no
santuário dom éstico, ao lado dos deuses tutelares.
Este im p erad o r pagão dá o portuna lição a m ui­
tos cristãos que diariam ente repetem a divina pre­
ce sem d ar atenção ao sentido profundo e às ver­
dades substanciais que se nela contêm.
Escreve T ertuliano que “o Padre-N osso é o resu­
mo de todo o Evangelho.”
Desta forma, o apostolado é um a das grandes ver­
dades contidas na oração dom inical. Chamou-a por
isso Pio XI de “ fórm ula sublim e do apostolado
cristão.”
Vamos p ro fu n d a r um pouco esta verdade, consi­
derando como o dever do apostolado está contido
im plicitam ente em todo o P ad re Nosso; expiicita-
m ente no prelúdio, na p rim e ira p arte e na segunda.

No prelúdio
Começa a oração dom inical com este prelúdio
solene: “P ad re Nosso, que estais no céu.” Palavras
excelsas, en cerran d o as m ais sublim es verdades.
Os hebreus adoravam e invocavam Javé como
Senhor, C riador e Juiz, não como P ai; em razão dis­
so o Antigo Testam ento infunde tem or e não am or.
Um exem plo: Q uando Deus cham ou Moisés ao
cume da m ontanha p ara lhe en treg ar a lei, ordenou
que o povo se não acercasse do m onte. D urante o
colóquio de Deus com Moisés, ouvia o povo os tro ­
vões e via os relâm pagos e como o m onte parecia
ard er. A terrados e cheios de espanto diziam todos a
40 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Moisés: “Fala-nos tu e te escutarem os, mas não nos


fale o Senhor p ara que não m orram os.”
Eis, porém , que vem o Messias e suprim e a dis­
tância que separava a Deus dos hom ens, revelando-
lhes a p atern id ad e divina. Vezes sem conta ouvim os
dos lábios do D ivino Mestre esta palavra dulcíssim a
de Pai aplicada a Deus.
Quando, pois, um dos discípulos lhe p ediu: “Mes­
tre, ensina-nos a o ra r”, Ele d is s e : Q uando orardes,
dizei: “P ad re Nosso”, não digais Senhor, nem Deus,
nem C riador, mas Pai.
Somos, portanto, seus filhos. Ora, todo filho deve
defender a hon ra do Pai. P o r conseguinte havemos
de defender a hon ra de Deus nosso Pai. E que outra
coisa é a Ação Católica senão um A postolado pela
glória de Deus?
Diz o S alvador: P ad re Nosso! — Esta palavra
Nosso, que ricos ensinam entos não encerra!
Não quer Jesus que digam os P adre Meu, pois em
torno de nós há outros que têm igual direito de ch a­
m ar a Deus com aquele nome, porque todos são
seus filhos.
E se todos dizemos com igual direito P ad re Nos­
so, segue daí que todos somos irm ãos.
Se todos somos irm ãos, havem os de nos ajudar
uns aos outros nas necessidades m ateriais e espi­
rituais.
Mas, que é o A postolado senão um socorro às ne­
cessidades esp iritu ais de nossos próxim os? .
Sem contestação, desde o preâm bulo o P ad re Nos­
so ensina o dever do Apostolado.
Ao preâm bulo segue o corpo da Oração que com­
preen d e duas partes em que se com pendia tudo
quanto devemos p e d ir ao Senhor.
Primeira Parte
Contém a p rim eira p arte três petições que faze­
mos como filhos de Deus; todas as três insinuam o
dever do A postolado pela Glória de Deus.
Nelas pedim os: “Santificado seja o Vosso Nome.
Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa von­
tade assim na te rra como no céu.”
E ’ isto o que querem os? Desejamo-lo sinceram ente?
Com efeito. Não fora assim , e nossa oração seria
O APOSTOLADO NO PADRE NOSSO 41

uma iro n ia e um insulto sacrílego. E isto se não


pode adm itir.
Nesta suposição, todos desejam os que o Nome de
Deus seja santificado p o r todos, que seu Reino se
estenda por todo o universo, que sua vontade se
cum pra na te rra p o r todos os hom ens, com res­
peito às suas leis divinas, como a cum prem no céu
os anjos e os santos.
Contudo p ara lograr estes fins se req u er que todos
trabalhem os com todas as nossas forças p ara os
conseguir.
Pois como desejar que venha o Reino de Deus, e
não tra b a lh a r p o r que se dilate cada vez m ais?
Não seria isto um sentim ento vão, um a oração
injuriosa?
E’ necessário, portanto, h arm o n izar o p rocedim en­
to com as palavras do P a d re Nosso, ou seja exercer
o Apostolado.
P o r isso a Ação C atólica é um A postolado pela
glória de Deus e está em perfeito acordo com o
P adre Nosso. E mesmo ao p arecer in gressar no
cam po político, sem pre visa a concretizar esta p eti­
ção que se tornou o lem a da Ação Católica: “Venha
a nós o Vosso Reino.”
Frequentes vezes o santo Dom Bosco se avistou
com pessoas políticas p ara lhes relem b rar os d irei­
tos da Igreja conculcados pelos governos anticleri-
cais. Aos que estranhavam o seu p ro ced er e o acusa­
vam de fazer política, costum ava resp o n d er: “A m i­
nha Política é a do P ad re Nosso. Nele pedim os todos
os dias que a nós venha o Reino do Pai celeste, que
se estenda e que se faça sem pre m ais poderoso.”
Eis o que exclusivam ente p ro cu ra Dom Bosco, quer
na igreja quer diante da petizada do O ratório ou na
presença dos hom ens públicos.
Esta P olítica do P ad re Nosso é a que deve exe­
cutar todo católico.
Segunda Parte
Na segunda p arte do P ad re Nosso fazemos quatro
pedidos, considerando-nos irm ãos de todos os nos­
sos próxim os. Daí nossa prece resulta num A posto­
lado pela salvação de todos eles.
Pedim os a Deus as seguintes q uatro coisas: “O
pfio nosso de cada dia nos dai hoje. P erdoai-nos as
42 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

nossas dívidas, assim como nós perdoam os aos nos­


sos devedores. Não nos deixeis c a ir em tentação.
Mas livrai-nos do m al.”
E ntão p a ra quem oram os? Só p ara nós? Não, cer­
tam ente, senão p o r todos, pois a fórm ula da oração
está na construção p lu ra l: “ dai-nos, perdoai-nos” —
e n ã o : dai-me, perdoai-m e.
Q uantos ensinam entos não derivam desta p a rti­
cularid ad e!
R ecorda-nos que não estamos isolados no m undo,
mas que m uitos outros nos rodeiam que são nossos
irm ãos; que en tre irm ãos a solidariedade é coisa
sagrada e obrigatório o auxílio mútuo, e que por is­
so devemos o ra r p o r todos e zelar pelo bem de todos.
Aqui está a reprovação im plicita da piedade egoís­
ta que únicam ente pensa nas necessidades pessoais,
querendo convergir a vista de Deus unicam ente para
si e considerando-se como que o centro do universo.
Inquestionàvelm ente é o P ad re Nosso a condena­
ção do individualism o religioso que se tantas vezes
en co n tra nas pessoas religiosas e que é a negação
p rá tic a do Apostolado. 0 P ad re Nosso é deveras um a
prece católica, pois tem em vista não apenas as nos­
sas p recisões particulares, senão a glória de Deus e
o bem -estar do próxim o.
Não faltam os iludidos que d iz e m : “Cristo im pôs
o dever do Apostolado aos sacerdotes e não aos lei­
gos” : afirm ação desfeita pelo P ad re Nosso que é
p a ra todos, assim leigos como P adres, e no qual ve­
mos expresso o dever geral do Apostolado.

Conclusão
C erta vez entrou um a noviça na cela de Santa
T eresinha do Menino Jesus e quedou-se m aravilha­
da ante a expressão celestial da Santa. “Em que
está p en san d o ?” — perguntou a noviça. Respondeu-
lhe a S a n ta : “Estava refletindo sobre o P adre Nos­
so, pois nada há m ais doce do que cham ar a D eus:
P ad re Nosso” — e dos olhos da Santa brotavam lá­
grim as de comoção.
Meditemos tam bém nós outros, um a p o r uma, as
petições do P ad re Nosso, e sentirem os acender-se-
nos no peito a cham a do Apostolado.
O APOSTOLADO
E A COMUNHÃO DOS SANTOS

Introdução
Ao rezar cada dia o Creio em Deus P adre, os
cristãos repetem as p alav ras: “Creio na Comunhão
dos Santos.” Todavia quantos são os que com preen­
dem o sentido deste dogma consolador e adm irável?
Quantos conhecem os deveres que dele derivam ?
Quantos o levam em consideração na vida p rática?
Infelizm ente pouquíssim os; e, sem em bargo, é um
dogma fundam ental na vida cristã. Dele em anam
obrigações im portantes, especialm ente o de c a rid a­
de m aterial e esp iritu al p a ra com o próxim o e, de
m aneira singular, o do Apostolado da Ação Católica,
o que passam os a dem onstrar.

O corpo Místico de Cristo


A Igreja de Cristo assem elha-se a um exército
composto de três grandes divisões: a Igreja T riu n ­
fante, com posta dos santos e bem -aventurados, a
Igreja padecente, com posta das b enditas alm as do
purgatório, e a Igreja M ilitante, da qual fazem p a r­
te os cristãos que pelejam cá na te rra pela conquis­
ta do céu.
E ntre todos estes m em bros — do céu, do purgató­
rio e da te rra — circula um a correnteza poderosa,
um a adm irável com unhão dos bens, intim id ad es de
vida,- solidaried ad e de interesses. E n tre os m em bros
das três com unidades, efetua-se um in tercâm bio de
bens, um v erd ad eiro com unism o espiritual, o m ais
belo e o único possível.
Nisto consiste o dogma da Com unhão dos Santos,
ou seja a com unidade de bens e interesses entre to­
dos os cristãos santificados pela graça, A palavra
Santo aqui se tom a em seu sentido m ais amplo, a
saber, enquanto designa os que são santificados pela
graça divina.
44 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

M elhor não se pode explicar este dogma da Comu­


nhão dos Santos do que pela sem elhança que usa o
apóstolo S. Paulo e que lhe era m ui g rata: seme­
lhança de um corpo, cuja Cabeça é Cristo e cujos
m em bros somos nós. “Como em um corpo — diz o
Apóstolo — tem os m uitos m em bros e destes cada um
tem seu ofício, de modo igual somos m uitos no Cor­
po de Cristo e Ele é a Cabeça do corpo da Igreja.”
Nossa in corporação em Cristo realiza-se pelo b a­
tism o : “Todos somos balizados num mesmo e sp í­
rito p ara form arm os um só Corpo.”
Pelo batism o somos incorp o rad o s neste corpo Mís­
tico que é a Igreja e do qual todo cristão é como
um a célula vivente. A sem elhança pau lina do corpo
torn a facilm ente com preensível o dogma da Comu­
nhão dos Santos, contudo não põe em relevo algu­
mas consequências p ráticas que ora vam os salientar.

Membros unidos e ativos


Todo corpo vivo reclam a unidade de vida. Uma
só alm a vivifica todos os m em bros do organism o,
um mesmo sangue circula p o r todos eles.
Ora, todos os cristãos, como se disse, são células
viventes de C risto; todos estão unidos sob a di­
reção da cabeça, C risto; todos form am um só cor­
po, a Igreja. Hão de viver, portanto, na m ais es­
tre ita união, na m ais ín tim a fratern idade.
Não significa isto que há com pleta igualdade en­
tre todos os m em bros da Igreja. Assim como no co r­
po orgânico há m ultiplicidade e d iversidade de
m em bros, de igual m eneira sucede na Igreja.
Adem ais em todo -organism o encontram os u n i­
versalidade de ação. Cada um dos m em bros é a ti­
vo e passivo ao mesmo tem po. E xem plificando: a
vista ilum ina e guia os pés, e estes levam a vista a
se p ô r em contato com os diversos objetos.
Da m esm a sorte no Corpo Místico, nenhum mem ­
b ro pode perm an ecer passivo e receptivo som ente:
todo m em bro há de receber e dar. Quer isto dizer
que todo cristão há de fazer algo pela glória de Deus
e a salvação das almas, ou, em outras palavras, há
de ser apóstolo. Bem como recebe do tesouro da
Igreja, assim deve c o n trib u ir p ara o mesmo.
Eis como o dogma da Com unhão dos Santos é a
O APOSTOLADO E A COM. DOS SANTOS 45

con d en ação do egoísm o espiritual, do in d iv id u a lis­


m o religioso, no qual não raro in cid em as alm as de
vista curta e espírito estreito.
C om preender e viver este dogma é consagrar-se
a um santo Apostolado.
Sem dúvida nenhum a, um dos Santos que m elh or
com preendeu e viveu este dogma da Comunhão dos
Santos foi Santa T eresinha do M enino Jesus, a tal
ponto que se bem pode dizer que lh e toda a v id a es­
teve anim ada e orien tad a por este dogm a a lh e d i­
latar o coração na con fiança e caridade, alargando
os horizontes até os extrem os lim ites e derrubando
as barreiras do egoísm o separatista.
“Quero ser filh a da Igreja”, costum ava repetir a
hum ilde carm elita que, a exem plo de sua Superiora,
quis m orrer com o verdadeira filha da Igreja. Em ­
bora enclausurada num convento, não perm anecia
alheia a nenhum a n ecessid ad e da Igreja.
“Amar a Jesus e salvar as alm as” foi o seu ideal,
pelo qual viveu, se m ortificou e m orreu. Durante a
últim a doença, a enferm eira que dela cuidava lhe
aconselhou um p asseiozin ho diário no jardim do
convento, con selh o aceito com o se ordem fora. V en­
do-a uma Irmã andar com grande esforço, observou-
lh e: “N estas con d ições m elhor seria repousar, p ois
o p asseio não pode trazer p roveito visto que lh e m ín ­
gua as forças.” “E’ verdade — respondeu a Santa —
m as sabe V. R everência o que m e anim a a padecer?
Caminho em favor de um m ission ário, penso com o
em terras longínquas ele se cansa e extenua nas suas
jornadas apostólicas, e assim ofereço as m inhas fa­
digas a D eus para d im inuir as suas.”
E não se extinguiu com a vida seu fervor apos­
tólico; no leito da m orte p ronuncia estas palavras
que são com o o seu testam ento; “Quero passar m eu
céu, fazendo o bem sobre a terra.”
D estarte a hum ilde religiosa continua lá do céu
a servir a grande causa da Comunhão dos Santos.

Membros solidários
Em todo corpo, seja qual for, existe solidariedade
de in teresses entre todos os m em bros, Q que sig n i­
fica que o bem -estar ou o mau estado de um o é
igualm ente de todos. “Se um m em bro padece — es-
46 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

creve S. Paulo — todos os m em bros padecem ; se


um se alegra, todos se regozijam ,” V erdade ex p eri­
m ental m erece m elhor refletida.
O bem -estar de um dos m em bros é o bem -estar
de todos eles. R ecordem os a alocução de Menênio
A gripa ao povo de Roma, quando este estava reu n i­
do no Monte Sacro p a ra p ro testar con tra a nobreza.
“Os m em bros — dizia o cônsul —- conjuraram -se du­
m a feita contra o estômago, porque este tudo tomava
p a ra si: mas bem depressa deixaram -se convencer
que da saúde dele dependia a de todos, e tornaram
ao costum e antigo.”
De outro lado, se o estômago quisera g u ardar todo
o alim ento p ara si e não o d istrib u ir aos dem ais
m em bros se p reju d icaria a si mesmo e aos demais.
Todos os outros m em bros sofreriam de atrofia, e
ele de h ip ertro fia.
P o r onde se vê que há v erd ad eira com unicação
entre todos os m em bros do corpo.
O mesmo acontece em todo organism o social, mor-
m ente na Igreja, Corpo Místico de Cristo. Escreve
S. Paulo a esse re s p e ito : “Não há desunião entre
os m em bros do corpo, senão que uns cuidam dos
outros.”
Com prazia-se p o r isso S. João Crisóstomo em
reco rd ar, nas suas pregações, o dogma da Comunhão
dos Santos e o dever do Apostolado que dele d e ri­
va. “0 proveito pessoal — soía re p e tir — resulta do
bem -estar dos dem ais e viceversa.” P or isso mesmo
dispôs Deus que estejam os em dependência uns dos
outros.
Igualm ente é certo que o mal de um dos m em bros
re d u n d a em prejuízo de todos. Sofre o estômago e
disso todo o organism o se ressente; uma sim ples
dor dos m olares p aralisa toda atividade.
E assim como existe um a m útua com passividade
e n tre todos os m em bros, assim tam bém há entre eles
um a p ro v id ên cia recíp ro ca p a ra a defesa dos m a­
les.
A cerca disso escreve S. João C risóstom o: “Nas
o co rrên cias tristes, os m em bros unem -se m ais inti-
m am ente entre si e vemos que, se um espinho se
no pé nos fincou, todo o corpo fica p reocupado: o
dorso curva-se, as mãos vão em busca do m em bro
afetado, os olhos pesquisam com desvelo e solicitu-
O APOSTOLADO E A COM. DOS SANTOS 47

de. Bem assim zelemos uns pelos outros e se um


m em bro padece, apiadem -se dele os dem ais.”
0 últim o pensam ento do Santo D outor é de evi­
dência c rista lin a : se um m em bro padece, todos os
outros sofrem com ele, pois de caso co n trário so­
b rev irá a atrofia ou a paralisia.
Neste espírito vivia o Apóstolo quando exclam a:
“Quem está enferm o para que eu não sofra com ele?
Quem se escandaliza p ara que me eu não ab rase?”
S. F rancisco de Assis, conform e refere S. Boaven-
tura, “chorava e soluçava am argam ente ao ver as
almas rem idas com o Sangue de Jesus m anchadas
com o pecado.”
Num belo dia em que estava absorto em oração,
na igreja de Santa M aria dos Anjos, apareceu-lhe
Nosso Senhor acom panhado da Virgem Santíssim a
e dos anjos e disse-lhe: “Pede-m e tudo quanto de­
sejas p a ra ti e p ara tua O rdem !” R espondeu o S anto:
“Peço-vos, Senhor, que todos os que entrarem nesta
igreja, após terem confessado os pecados ao pé do
sacerdote, recebam o perdão tanto de suas culpas
como tam bém do castigo p o r elas m erecido.”
Esta é a origem da indulgência cham ada da Por-
ciúncula, ou do perdão de S. F rancisco.
Quão bem S. F rancisco com preendeu e viveu
o dogma da Com unhão dos Santos! Como não co n ­
trasta seu zelo pelas alm as com o nosso desinteresse!

Conclusão
E esta in d iferen ça nossa faz-nos re c o rd a r outra
sentença de S. João Crisóstom o: “Não há frieza
m ais perniciosa do que a do cristão que se não preo­
cupa pela salvação de seus irm ãos.”
Sentença essa m uito v erd ad eira e que condena os
cristãos que crêem na Comunhão dos Santos e vi­
vem no m ais intran sig en te egoísmo.
A Ação Católica é a execução p rática deste dogma
que é a base da v ida cristã. U fanem o-nos de p erten ­
cer a ela; mas não nos contentem os com ser m em ­
bros passivos. A frase de Crisóstom o acim a citad a
dá-nos que refletir e estim ula-nos p ara esta m ilícia
do Apostolado.
0 APOSTOLADO DA ORAÇÃO

Introdução
O A postolado, ou seja o meio de salvar as almas,
pode exercitar-se de m uitas m an eiras: pela ação, pe­
la palavra, pela im prensa, pelo exemplo, etc.
Contudo o p rim eiro m eio insubstituível é a Oração.
Existe já um a obra benem érita que se propõe
o em prego deste meio e se cham a “Apostolado da
O ração”. Muitos de vós estareis inscritos nele e ou­
tros desejais fazê-lo.
Indiscutível é que todos os católicos, e especial­
m ente os m ilitantes da Ação Católica, devem p ra ­
ticar de um ou outro m odo este Apostolado, cuja
facilidade, p o d er e necessidade tencionam os es­
clarecer.
Necessidade
Digamo-lo sem receio : o Apostolado é im possível
sem a oração.
P o r quê?
a) Porque nada é possível sem o auxílio divino
que se obtém p o r meio da o ra ç ã o : “Sem mim nada
podeis fazer.” E frisem os como o Salvador diz que
mesmo n ad a podem os fazer sem Ele. P ortanto, nem
pouco nem m uito.
b) Muito m enos se poderão salvar as alm as; pois
que a Ação Católica, com ser em inentem ente sobre­
n atural, exige m eios da m esm a natureza. A conversão
de alm as é obra da graça, pelo que nos diz o Salva­
d o r: “Ninguém pode v ir a m im , se lhe meu P ai não
der a graça.
Um dia em que o gran d e co nquistador de almas
que era S. Domingos se angustiava ao ver o re ­
duzido núm ero de suas conquistas, não obstante seus
grandes desvelos, ouviu estas p alav ras: Semeias mas
não em vão.” E ntendeu o Santo perfeitam ente o sen­
tido desta advertên cia vinda do céu, e incontinente
redobrou suas orações.
O APOSTOLADO DA ORAÇÂ0 49

De fato o Apóstolo é tal qual um lav rad o r: abre


o sulco e lança nele a boa sem ente; mas, se não vier
auxílio do céu, não conseguirá o grão m edrar. Or­
valho celeste é a graça, todavia só a oração pode
a b rir os céus e fazê-lo descer.
Ensinou Jesus Cristo a necessidade da oração não
apenas com palavras senão tam bém pelo exemplo.
Antes de in ic ia r seu Apostolado, preparou-se p ara
ele com a oração durante quarenta dias. D urante os
três anos de sua vida pública vemo-Lo p e rc o rre r a
Palestina, pregando, operando m ilagres, mas tam ­
bém orando. Antes de escolher os Doze passou a n o i­
te em oração, e do mesmo modo p rocedia antes de
o b ra r alguns de seus m ilagres, p. ex., a ressurreição
de Lázaro.
Com isto nos ensina que todas as ressurreições,
seja da alma seja do corpo, são m ilagres de Deus e
que portan to exigem a oração.
Poder
A oração não é só necessária, m as tam bém pode­
rosa.
Quase diríam os que é onipotente, porquanto põe
a onipotência divina ao serviço de nossa debilidade.
E ’ Jesus quem nos diz: “Tudo o que ao meu Pai
p edirdes pela Oração, Ele conceder-vos-á.”
Se a oração, pois, é tão poderosa, quanto m ais o
não será quando pede o que é do sumo agrado do
Pai, a conversão dos pecadores? Não foi acaso p ara
isto que do céu desceu o Salvador e m orreu numa
cruz?
A oração é um meio do A postolado m ais poderoso
do que o heroism o, a eloquência e os p ró p rio s m ila­
gres. Estes podem , é verdade, causar adm iração;
mas, desacom panhados da graça do Senhor que p e­
netra os corações, perm anecem estéreis, não con­
vencem, não convertem . Disto tem os exem plos de
sobra no Evangelho e na H istória.
Ainda há pouco lem brávam os a ressurreição de
Lázaro. Houve alguma vez m ilagre m ais convincen­
te? Nada obstante os judeus não se converteram p re­
senciando-o, antes enfureceram -se ainda m ais contra
o Salvador. E é de notar que tinham conhecim ento
do m ilagre, pois d iz ia m : “Que farem os, visto que
este hom em faz m uitos prodígios?” A pesar de tudo,
Formação — 4
50 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

desde aquele instante os preocupava um só pensa­


m ento: m atar a Jesus e a Lázaro: “D eliberaram dar
a m orte a Lázaro, porque m uitos p o r causa dele se
apartavam dos judeus e seguiam a Jesus.”
P or ocasião da m orte do Salvador a natureza se
comoveu, o sol se escureceu, a te rra trem eu e os
m ortos ressuscitaram . “E vendo o que havia sucedi­
do, o centurião glorificou a Deus e disse: C ertam en­
te este hom em era um justo. — E toda a m ultidão
que presenciou o espetáculo e via o que estava su­
cedendo, voltou p ara a cidade, batendo no peito.”
A que se devem estas conversões? Ú nicam ente às
o corrências m ilagrosas?
Em p arte se a elas devem, porém antes de m ais
nada à oração de Cristo agonizante, que Ele fez por
seus verdugos.
Facilidade
Com ser tão necessário e poderoso o Apostolado
da Oração, é ao mesmo tem po fácil p ara todos. Real­
m ente é fácil p ara todos e, por isso mesmo, ob ri­
gatório p ara todos. “Nem todos os dem ais Apostola­
dos são para todos — disse-o Pio XI — e onde não
há possibilidade tam pouco h á obrigações. Mas todos
podem exercer o A postolado da O ração, pois todos
podem o rar.”
Podem o ra r os doutos e os ignorantes; os ricos e
os pobres; adultos, bem como crian ças que apenas
chegaram ao uso da razão.
Uma m enina de sete anos ouve falar de um grande
pecador, condenado à m orte e im penitente. Propõe-
se a salvá-lo com suas orações e tem o pressentim en­
to de que o alcançará. Pede ao Senhor um sinal que
obtém. Às vésperas da execução lê nos diários que
o condenado beijou três vezes o Crucifixo.
E sta m enina era Santa T eresinha do Menino Jesus.
Diz a lenda que um p reg ad o r de quaresm a gaba­
va-se m uito do grande êxito de seus serm ões e Nosso
Senhor fez-lhe conhecer que o fruto se não devia
à sua pregação, m as às preces de hum ilde irm ão lei­
go que o acom panhava como servidor. Este, en­
quanto o P adre pregava, ficava a um canto rogando
ao Senhor abençoasse as palavras de seu irm ão de
hábito.
O APOSTOLADO DA ORAÇAO 51

Quem não poderá fazer o que fez a religiosa do


Carmelo e o leigo da lenda?
P o r outra parte, à diferença dos outros aposto­
lados, o da Oração é possível sem pre e em todo lu­
gar.
Uma alm a apostólica nunca está desocupada; se
não pode trab alh ar e falar, certam ente pode orar.
Bastas vezes se torn a im possível d ar um bom con­
selho a um a alma, m ais ignorante que perversa, que
se extraviou da senda da salvação. Pois bem, ore­
mos por ela; se não podem os falar aos pecadores
sobre Deus, falemos com Deus sobre os pecadores.
E lucrarem os m uitíssim o, ainda que nos não seja
dado conhecer o sucesso de nosso A postolado de
Oração.
A quem devemos a trib u ir a conversão de S. Paulo?
À m ilagrosa aparição de Cristo no cam inho de Da­
m asco? Não; mas à oração de Santo Estêvão, o qual,
ao ser lapidado, “ dobrou os joelhos e bradou em
alta v o z: Senhor, não lhes leveis em conta este pe­
cado.” E tam bém orou pelo jovem Paulo, “que deu
consentim ento à m orte do m á rtir” , e guardava as
vestes dos que o apedrejavam .
Conclusão
Ante a realidade inegável destes fatos, devemos
confessar que não temos usado bastantem ente esta
arm a poderosa da O ração; tem os dem asiada con­
fiança no pod er dos meios hum anos, nos recursos
m ateriais. Daí nosso trabalho foi tão infrutuoso c
estéril. Havemos portanto de m udar de rum o, se
querem os conseguir a meta.
P ara term in ar, vou re fe rir um episódio da vida de
Dom Bosco; dá-nos a chave de sua prodigiosa ativi­
dade apostólica.
Aos 8 de Dezem bro de 1841, sublim ado já à digni­
dade sacerdotal, na sacristia da igreja de S. F ra n ­
cisco de Assis, em T urim , encontrou-se com um
m enino enferm o que não sabia nem sequer fazer o
sinal da cruz. Cheio de com paixão se ofereceu p ara
o in stru ir, e o jovem aceitou a oferta satisfeito.
Antes de in ic ia r sua instrução, Dom Bosco põe-se de
joelhos e reza a Ave Maria, a fim de que o S enhor
lhe conceda salvar aquela alma. “Esta Ave Maria,
52 FORMAÇÃO PARA Õ APOSTOLADO

u n id a à boa intenção do Santo, foi sobrem aneira


fecunda”, conta-nos o biógrafo do Santo.
Ao te rm in a r a instrução, presenteou o Santo seu
aluno im provisado com um a m edalha da SS. V ir­
gem e fê-lo pro m eter que v oltaria o domingo se­
guinte; enfim, o despediu com grande afabilidade.
Voltou o m enino, mas não já a sós senão com m ais
cinco rapazinhos m al vestidinhos como ele. À fre­
q uência ain d a aum entou no dom ingo seguinte.
Eis a origem do p rim eiro O ratório de Dom Bosco,
sem ente dim inuta que se converteu, como o grão
de m ostarda do Evangelho, em árvore frondosa. A
o b ra dos O ratórios com eçou, como todas as obras
do santo, com um a prece à SS. Virgem.
A exem plo de Dom Bosco, tem os de p rin c ip ia r
toda obra de apostolado com a oração antes que pe­
la ação. E ’ o único expediente p ara se obter êxito
duradouro.
0 APOSTOLADO DO EXEMPLO

Introdução
Um senhor um tanto descrente acercou-se um dia
p ara escutar o Cura de Ars, que dava aula de catecis­
mo. Mas como a voz do m estre fosse débil, e ele, de
outro lado, se achava algo distante e rodeado de
m uita gente, quase nada pôde ouvir. Não via senão
o rosto rad ian te do pregador, seus gestos suaves, seu
porte devoto; contudo saiu da igreja en ternecido e
transform ado, exaltando a santidade do hum ilde P á­
roco: “Não o ouvi, m as vi-o — dizia — e isto me
basta.”
Estas p alavras nos patenteiam o p o d er e a eficácia
do bom exem plo que, em verdade, é um dos p rin c i­
pais m eios do Apostolado. P ara com provar esta ver­
dade, sirva-nos o m odo de p ro ced er de Nossa Se­
nhor e dos p rim eiros cristãos.

Eficácia deste apostolado


Já o disseram os antigos: “ As p alavras comovem,
os exem plos arrastam .” E’ inegável que as obras
têm m ais força persuasiva do que as palavras.
Mais fácil é converter um pecador com a p rá­
tica da virtu d e do que com a pregação. E isto por
várias razões:
a) Antes de m ais nada porque o exem plo fala aos
olhos, q u er dizer, se faz m ais sensível. E’ nossa expe­
riên cia c o tid ia n a : o que en tra pelos olhos como­
ve-nos m ais profundam ente do que tudo quanto
percebem os pelo ouvido. 0 exem plo é uma lição in ­
tuitiva.
b ) 0 exem plo é como a linguagem m uda de pes­
soa convencida; é coisa sabida que a convicção
gera convicção, com o o p ran to as lágrim as.
c) Porque o bom exem plo equivale a um suave
convite, a um a exortação sem p alavras que se a ou­
trem faz espontaneam ente, não se arvorando o
94 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

adm oestador em m estre ou juiz, nem ofendendo a


suscetibilidade alheia, mas deixando a todos a lib er­
dade que lhes tão cara é.
A p a r de eficaz, o A postolado do exem plo é fácil.
Nem todos sabem exercer o Apostolado da pala­
v ra; mas todos, mesmo os ignorantes e iletrados, po­
dem p reg ar com o bom exemplo.
De outro lado esta é um a pregação que todos com ­
preendem , todos, ain d a que surdos de corpo ou de
espirito, ainda que não queiram ou não possam o u ­
v ir e aos quais qualquer outra pregação seria inefi­
ciente.
Que é que m otivou a conversão de S. Agosti­
nho?
Indubitàvelm ente influíram muito em seu esp íri­
to os serm ões de S. Ainbrósio que o fizeram co­
n h ecer a verdade do cristianism o. Mas não foram
suficientes. E ra m ister ro m p er as cadeias de um a
união ilegítim a, e Agostinho não se sentia capaz p a ­
ra isto. A dm irava a castidade, desejava-a ard en te­
m ente, mas não se resolvia a praticá-la. Dizia ao
S en h o r: “Dai-me a continência e a castidade, mas
não de repen te.” “Pois — diz-nos ele pró p rio —
tem ia ser atendido mui p restes e sarado de um m o­
m ento a outro da enferm idade da concupiscência.”
O lhando entretan to ao red o r, via jovens, donzelas,
m eninos e anciãos que guardavam perfeita observân­
cia da castidade. De súbito perguntou entre si: “0
que estes e estas podem, por que o não hei de poder
tam bém eu?” E com a graça de Deus superou os
ím petos da carne.
Assim, pois, no espírito deste orgulhoso professor
de R etórica puderam m ais os exem plos dos sim ­
ples que a palavra de exím io orador. Esta ilum inou
a inteligência; aqueles, porém , dobraram a vontade.

Como Cristo exerceu este apostolado


Jesus é o Mestre, e Ele mesmo com praz-se em se
assim ch am ar: Intitulais-m e a mim Mestre e Se­
nhor, e dizeis bem, pois realm ente o sou.”
Isto posto, como ensinou C risto? P rim eiro com o
exem plo do que com a palavra. “Começou a fazer e
a en sin ar.” T rin ta anos a fio seu único Apostolado
foi o exemplo.
O APOSTOLADO DO EXEMPLO 55

Com m uita justeza pôde dizer a seus discípulos:


“Dei-vos o exem plo, a fim de que tam bém vós fa­
çais o mesmo.”
Exem plo de hum ildade, caridade, virtudes que
form am a substância de sua doutrina.
Ordenou ainda aos seus exercitassem o m agisté­
rio do exem plo: “Que a vossa luz resplandeça diante
dos hom ens p ara que, considerando as vossas boas
obras, glorifiquem ao Pai que está nos céus.”
Devemos irra d ia r, portanto, a luz das boas obras,
não para glória p ró p ria, senão p ara a hon ra de Deus.
Com efeito, vendo os hom ens as obras que p ra ti­
camos, sentir-se-ão estim ulados a im itá-las e com
isso darão glória a Deus.

Como o praticaram os primeiros Cristãos


Como discípulos de Cristo e instru íd o s por Ele, os
prim eiro s cristãos co m preenderam e im itaram o
exemplo de seu Divino Mestre. Que luz abundante de
verdade e de bondade difundiram no m undo pagão,
m ais com o exemplo do que pelas palavras!
O apologista T ertuliano, que viveu no II século,
diz-nos que os pagãos ficavam como encantados ao
ver os exem plos de carid ad e que davam os cristãos,
virtude em polgante e desconhecida dos pagãos, e
exclam avam ad m irad o s: “Vede como os cristãos se
amam uns aos outros!”
Ao lado da carid ad e adm iravam neles tam bém a
fortaleza ao e n fren tar os perigos e até a p ró p ria
m orte antes de tra ir a fé. O filósofo S. Justino
chegou ao cristianism o m ovido pelo exem plo que
davam os seus adeptos. Num dos seus escritos, en­
dereçado ao im p erad o r A ntonino Pio p ara defender
os cristãos das in crim inações que lhes faziam os p a ­
gãos, confessa o seguinte: “Eu mesmo, quando ainda
me alim entava com as m áxim as de Platão, ao ver
acusar os cristãos e ao vê-los afro n tar com destem or
a m orte e toda sorte de suplícios, raciocinava que
era im possível que tal gente vivesse na in iq u id ad e e
no am or dos sentidos.”
E até hoje em dia — perdoem -m e — não existem
acaso desconfianças contra a Igreja e a religião de
C risto? A isso, que resposta m ais convincente do
56 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

que a nossa conduta cristã, nossa fé inquebrantável


e nossa fidelidade às prom essas do batism o?
Hoje como ontem , as m elhores conquistas são as
do exem plo. Quantas almas atorm entadas pela des­
v entura ou escravizadas ao respeito hum ano, não
voltaram ao bom cam inho graças ao exem plo de um
cristão verdadeiro!
F red erico Ozanam, o grande fu n d ador das Con­
ferências de S. Vicente de Paulo, quando estudante
da U niversidade de P aris, sentiu-se assaltado pelas
dúvidas contra a fé, parecendo-lhe ela não co n co r­
d ar com os resultados da ciência. Sua alma de cató ­
lico vacila. Fortalecido fica, porém , com o exemplo
de um bom cristão e notável hom em de ciência:
Ampère. “Um dia — refere o mesmo Ozanam —
cheio de tristeza e abatim ento entrei na igreja de
S. Estêvão do Monte, p ara alegrar o espírito. Esta­
va a igreja quase vazia e silenciosa, só aqui e ali al­
gumas pessoas oravam diante das relíquias de S.
Genoveva. A um canto estava um homem m ergu­
lhado em p rofunda m editação; acerquei-m e dele e
reconheci Am père hum ilhado diante da divina p re ­
sença. Passado algum tem po, retirei-m e intim am ente
com ovido e m ais unido a Deus.”
Conclusão
O bom exem plo conquista as alm as não só p a ra a
p rática da religião, senão p ara o Apostolado.
C onquistar novos sócios p ara a Ação Católica são
as d iretrizes traçad as pelo suprem o Jerarca, tal é o
desejo do Papa. Contudo qualquer esforço será b al­
dado se estiver separado do exemplo de um a vida
cristã íntegra.
P ara ju stificar a in ércia e a indolência costu­
mam alguns dizer: “Os m ilitantes da Ação Cató­
lica são como os dem ais.”
Dos sacerdotes e de todos os que exercem o Apos­
tolado exige-se uma conduta su p erio r à comum.
Com toda razão: ser m elhor do que os outros não
é p ara nós am bição, mas dever, pois é a condi­
ção de co nquistar almas p a ra Cristo e soldados para
a Ação Católica.
Tam bém nós outros, como Cristo e os prim eiros
cristãos, havem os de com eçar pela ação para en sin ar
depois.
0 APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO

Introdução
Nos capítulos anterio res vim os como o A postola­
do da oração e do exem plo são eficazes e necessá­
rios; ao alcance de todos e p ara todos obrigatórios.
Além destes ainda existe outro A postolado acessí­
vel a todos e não m enos e fic a z : falam os do Aposto­
lado do Sacrifício e do Sofrim ento.
0 sacrifício é a grande lei que, depois do peca­
do original, Deus prom ulgou p a ra toda a hum ani­
dade. N ada de grande se faz, depois da Sexta-feira
do Calvário, que não seja assinalado com o sofrim en­
to.
Desta lei não está isenta a obra m ais sublim e que
o hom em pode levar a cabo em cooperação com
D eus: a salvação das almas. 0 Apostolado, portanto,
requer sacrifício, ou m elhor é ele m esm o um cons­
tante sacrificio.
E vice-versa: o sacrifício é apostolado, isto é, um
meio de salvar almas, e mesmo podem os acrescen­
tar que é o meio soberano.
Esta é a verdade que agora querem os d eslin d ar:
a eficácia su p erio r do Apostolado do S acrificio e sua
possibilidade universal.

Eficácia do apostolado do Sacrifício


Escrevia S. T eresin h a do Menino Jesus a um Mis­
sionário estas palavras cheias de sabedoria evan­
gélica: “Desde que o Rei D ivino hasteou o pendão
da Cruz, todos devemos com bater e g an h ar vitórias
à som bra deste lábaro glorioso. Alegrai-vos, pois, de
que o p rin cíp io do vosso A postolado se caracteriza
pelo sinal da Cruz, pelo sofrim ento e pela persegui­
ção, m ais do que p o r b rilh an tes pregações, porque
é com aqueles que o Senhor quer consolidar seu
reino nas alm as.”
Donde, porém , b ro ta esta prodigiosa fecundida­
de apostólica do sacrifício?
58 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Das fontes que vamos enum erar.


1. ° — 0 que vale c u s ta : e o sacrifício vale m ais
que todos os outros apostolados, porque custa m ais e
porque exige m aiores esforços à vontade.
O rar, escrever, falar — não são coisas que re­
pugnem à natureza, bem que exijam algum esforço.
Mas sacrificar-se significa ir con tra a correnteza,
p orquanto o hom em criad o p ara a felicidade sente
repugnância natural pela dor.
Desta forma, quando o homem vence a natureza
e afronta o sacrifício, oferece a Deus o m ais p re­
cioso e agradável holocausto.
2. " — 0 que afasta o hom em de Deus é o pecado
e o pecado é o gozo ilícito, o p razer abusivo.
A reparação que satisfaz a justiça divina e resta­
belece o equilíbrio d estruído pelo pecado será o que
há de m ais oposto ao p ra z e r: a dor que se tran sfo r­
ma em penitência.
0 padecim ento é a moeda com que se resgatam as
alm as escravizadas sob o jugo do pecado, e todo
hom em , por benigna concessão do Senhor, pode res­
gatar com esta m oeda não só a p ró p ria alma, se­
não ainda a dos outros.
3. ° — Todo ato de A postolado é um a cooperação
à o b ra red en to ra de Cristo. Todavia esta redenção
culm inou na cruz. “Quando eu for levantado da te r­
ra, a tra ire i tudo a m im ”, disse o R edentor, falando
do sacrifício da Cruz. E assim se cum priu. E assim
canta a Igreja: com a sua m orte Ele devolveu a vida
a todos os hom ens.
P or conseguinte mais unidos estarem os à obra
red en to ra de Cristo, quando nos sacrificarm os pela
salvação das almas.
M aria SS., C o-redentora do gênero hum ano, es­
tava junto de Cristo ao pé da C ru z : “Estava junto
à Cruz de Jesus, Maria, sua Mãe.” Tam bém nós ou­
tros serem os co-redentores quando, a exemplo de
Maria, perm anecerm os ao pé da Cruz de Jesus, com­
p artilh an d o suas dores p a ra salvar as almas.

Possibilidade universal do sacrifício


Visto que a lei do sofrim ento é universal, o Apos­
tolado do sofrim ento h á de ser possível a todos.
Quem não padece algo? E quem não pode oferecer
O APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO 59

algum sacrifício em expiação de seus pecados e pela


salvação dos outros?
Q uando algum dos outros apostolados se nos to rn a
im possível, sem pre nos será possível o A postolado
da dor. 0 que está enferm o não pode tra b a lh a r nem
falar, até a mesma oração se lhe to rn a penosa; co n­
tudo sofre e n a dor tem um a fonte inexaurível de
m erecim entos p a ra si e p a ra os dem ais; fonte tanto
m ais copiosa, quanto m aiores os sofrim entos. O po­
d er espiritu al do sofrim ento aum enta à m edida que
m inguam as forças m ateriais, de m odo que o p acien­
te pode apro p riar-se das palavras de S. Paulo Após­
tolo: “Então é que sou m ais forte, quando estou
m ais fraco.”
Eva Lavallière, célebre estrela do teatro p a risie n ­
se, converteu-se p a ra se fazer m issio n ária enferm ei­
ra na Á frica; teve contudo que a b a n d è n a r o cam po
de seu apostolado, p o r se v er acom etida de uma
doença incurável. Ao despedir-se do Mons. Lem aitre,
A rcebispo de Cartago, d is s e : “Vim à Á frica p a ra ser­
v ir os outros; agora sou eu quem necessito o auxí­
lio deles. Tornei-m e um ser in ú til p a ra as Missões.”
“Não diga tal — respondeu com gravidade o Sr.
A rcebispo; — m uito ao invés, sua obra m issionária
não term inou, apenas vai com eçar. Sua vida será
um a dor continuada, m as não desanim e; assim a
Sra. realizará da m aneira m ais sublim e o ideal m is­
sionário. Será um a hóstia viva e poderá do leito,
transform ado em altar, oferecer-se como vítim a pela
conversão do m undo m uçulm ano.”
Inspirando-se no conceito da fecundidade apos­
tólica da dor, a União M issionária do Clero estabe­
leceu p ara cada ano, p o r ocasião da festa de P en ­
tecostes, a C am panha do Sofrim ento em p ro l das
Missões. Os prom otores desta p rática deveriam de
ter pensado nas palavras de S. B ernadete Soubirous,
a vidente de L ourdes; acom etida de grave doença
que a in abilitou p a ra todo trabalho, resp o n d ia aos
que lhe perguntavam o que fazia no convento: “F a­
ço de enferm a.”
N obilíssim o ofício, alta m issão de A postolado!
Pois a enferm idade oferecid a a Deus transform a-se
em poderoso instru m en to de salvação.
Só no P araíso poderem os com preender quanto
bem fizeram nossos m issionários e quan tas alm as
60 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

salvaram em virtude dos padecim entos dos enfer­


mos, os quais são os m ais eficazes colaboradores de
Cristo, porque estão m ais perto da Cruz.
4.° — Escreveu alguém que a dor é a m aior força
m oral do m undo, sentença que perfilham os plena­
m ente; todavia tem os de lam en tar que p ara m uitos
esta força seja com pletam ente desconhecida e esté­
ril.
As nossas m ontanhas são regadas de águas lim pís­
sim as que correm das alturas p a ra os vales. Condu­
zidas p o r canais, m ercê da in d ú stria do homem, es­
tas águas movem poderosas tu rb in as que geram
enorm e q u an tid ad e de força elétrica; esta, tran sp o r­
tad a às cidades e centros industriais, p resta servi­
ços incontáveis à hum anidade.
Ora, toda a te rra está b anhada e irrig ad a de to r­
rentes de lágrim as. Q uanta força não poderia b ro tar
destas fontes! Q uantos benefícios p ara o m undo es­
p iritu al!
Mas, talqualm ente a m aior p arte das águas da
m ontanha descem até às planícies sem ser utilizadas,
tam bém lágrim as sem conta derram am -se debalde.
Q uantas energias p erd id as p a ra a eternidade!

Conclusão
Antes de term in ar, volvamos os pensam entos a Li-
sieux, à cela de Santa T eresinha, cuja vida foi toda
um A postolado de oração e de sofrim entos.
Sua irm ã Celina com unicara-lhe a dolorosa notí­
cia da grave enferm idade do pai. Com o coração
tran sid o de dor, mas com os olhos serenos de quem
tudo contem pla à luz da fé, responde a Santa: “Ce­
lina, longe de lam entar-nos por esta cruz que o Se­
n h o r nos envia, não posso com preen der o am or in ­
finito que o levou a tratar-n o s assim. Muito h á de
am ar o S enhor a nosso bom pai, visto que o sujei­
ta a tal provação. E que delícias ser hum ilhado com
Ele! A nossa provação é um a m in a de ouro que te­
mos de ex p lo rar.”
Desses m inérios, quantos não já o Senhor nos
preparou! Nossa vida de cada dia está juncada de
dor, de m ortificação, de sacrifício, e podem os ofe­
recê-los não só com resignação, mas até com alegria,
como a hum ilde carm elita de Lisieux. Não deixe-
- Õ APOSTOLADO DO SACRIFÍCIO 61

mos c air em te rra os preciosíssim os grãozinhos des­


te ouro que o S enhor recebe em suas mãos como sa­
tisfação de nossas dívidas.
Contudo não apenas p a ra satisfazer as nossas dí­
vidas pessoais, senão tam bém as de nossos irm ãos.
Devemos tornar-nos apóstolos do S acrifício, de m o­
do especial como sócios da Ação Católica.
Santa T eresinha ensina-nos tam bém este dever,
quando term in a a carta a sua irm ã com esta reco­
m endação: “Ofereçam os nossos sacrifícios a Jesus
pela salvação das alm as.”
O convite dirige-se a nós. Aceitemo-lo como leina
de nossa vida. •
O APOSTOLADO DA FAMÍLIA

No apostolado da Ação Católica ocupa lugar de re­


levo o da Fam ília, o Apostolado pela recristianiza-
ção dos lares.
Devemos todos tra b a lh a r p o r que Cristo reine na
Fam ília, e é natural que esta o b ra com ece pela nossa
p ró p ria fam ília; a isto estam os obrigados pela Ca­
ridade.
E’ em S. Paulo que encontram os a seguinte frase
que nos muito faz re fle tir: “Se alguém não cuida dos
seus, e particu larm en te dos de sua casa, renegou a
fé e é p io r do que um infiel.” E aqui não fala o
apóstolo só do cuidado m aterial, m as tam bém do es­
p iritual.
P ortan to devemos interessar-nos p or aqueles de
nossos próxim os que m ais perto estão de nós: que
vivem debaixo de um mesmo teto conosco, se sen­
tam à mesma m esa e estão unidos a nós pelos víncu­
los do sangue e a quem cham am os nossos parentes.
Disto todos estão convencidos. Como, porém ,
exercer o apostolado fam iliar em favor de nossa F a­
m ília?
P ela palavra e pela ação: por meio das orações
feitas em favor dos que nos são chegados, p o r meio
de caridosas exortações e, finalm ente, pelo exemplo
das virtudes cristãs.
Oração
Quem não terá em casa, ou entre os seus p a re n ­
tes, algum enferm o de alma, algum que vive no aban­
dono, ou descuidando dos seus deveres religiosos?
E ’ m ister curá-lo, buscar-lhe um m édico que o
atenda em sua enferm idade. E que outro m édico
m ais sábio e poderoso senão Jesus?
Talvez em nossa casa, ou seja en tre os m em bros de
nossa fam ília, contam os com algum que perdeu a
vida so brenatural, que não p ratica a religião. Feliz­
m ente Cristo é um Médico singular que não apenas
sabe c u ra r os enferm os, mas tam bém ressu scitar os
m ortos. Invoquem o-Lo como a Irm ã de Lázaro e su-
O APOSTOLADO DA FAMÍLIA 63

pliquem os-Lhe que devolva a vida àquele a quem


amamos.
E’ certo que ressu scitar um a alm a é m ais difícil
do que ressu scitar um corpo, pois a alm a que é li­
vre pode o p o r resistên cia à o b ra divina. P or isso as
ressurreições esp iritu ais quase nunca são repentinas,
instantâneas, com o a ressu rreição dos corpos. E por
isso é indispensável que a nossa oração seja p erse­
verante; um a vez que perseverarm os, obterem os a
vitória, porquanto nada é im possível a Deus.
Q uantas lágrim as e preces não custou a Mônica a
conversão de S. Agostinho! “C horava ela — assim
nos conta o p ró p rio filho — m ais do que as o utras
m ães choram a m orte co rp o ral de seus filhos, e suas
lágrim as corriam até a te rra ; depois orava.” Um dia
a Santa apresentou-se ao Sr. Bispo, homem douto
e santo, p ara lhe rogar que cham asse Agostinho e
procurasse apartá-lo dos cam inhos m aus que an da­
va. Mas ele respondeu-lhe: “Deixe-o e encom ende-o
a Deus, pois não pode acontecer que pereça um filho
de tantas lágrim as.”
P alavras proféticas. As lágrim as e orações de Mô­
nica deram à Igreja um Santo e um M estre universal.

A exortação
Mas não basta falar a Deus na o ração ; é preciso
falar também com aquele por quem oram os. E esta
é a segunda poderosa arm a do Apostolado fam iliar:
a exortação. Em se tratan d o dos m em bros da fam í­
lia, o em prego deste meio é m ais fácil e eficaz.
Mais fácil; pois quantos ensejos não se ap resen­
tam na vida fam iliar p ara dizer um a boa palavra,
em tem po propício, quando os corações estão m ais
dispostos p ara receber a boa sem ente!
Mais eficaz; p orquanto fala a voz do coração e do
sangue. Como resistir a ela? Como su sp eitar in tu i­
tos interesseiros na voz do coração?
Não contava ain d a S. Tom ás de Aquino vinte
anos de idade, quando seus irm ãos e parentes
o encarceraram no castelo de Rocasseca p o r te r ves­
tido o hábito de S. Domingos. O pai tencionava
fazer dele um glorioso cavaleiro de im pério e um
poderoso abade de M ontecassino, jam ais, porém , um
64 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

frade m endicante. P ara o dem over de seu propósi­


to, lançaram mão de violências e até das m ais ver­
gonhosas tram as contra a castidade do jovem. Tudo
em vão. R ecorrem então à lei do sangue. O que não
puderam lograr a violência e a sedução, consegui­
ria o am or das irm ãs, que se puseram a d issuadir seu
irm ão com argum entos hum anos. Mas, por fim , fo­
ram elas vencidas, pois Tom ás falou-lhes com tal
convicção da vaidade do m undo, da beleza da vida
religiosa, das recom pensas eternas, que uma das
irm ãs se fez m onja b eneditina, e a segunda viveu
piedosam ente no século, acom panhando com suas
orações ao irm ão em sua ascensão às alturas da ciên ­
cia e da santidade.
E is o fruto do Apostolado fam iliar.
T ais frutos encontram os no p ró p rio Evangelho.
P edro, o prim eiro Papa, p o r quem foi conquistado
p ara Jesus? P o r seu irm ão A ndré.
Exemplo
E ntretan to , neste Apostolado fam iliar, como em
qualquer outro, convém sem pre p ô r de acordo as
palavras com as o bras; quer isto dizer que a exor­
tação irá acom panhada do exem plo da virtude, espe­
cialm ente daquelas que são o adorno da vida fam i­
lia r: a carid a d e generosa, o espírito de sacrifício, a
paciência.
“Toda árvore boa produz frutos bons.” Se, pois, a
religião de C risto é uma árvore boa, como andam os
a pregar, m ostrem o-lo pelos frutos das boas ob ras;
esta dem onstração de fato, esta apologia, esta lição
continua do exem plo, o p erará m aravilhosas conver­
sões no santuário dom éstico.
Célebre tornou-se a conversão de Clodoveu, Rei
de F rança, pagão casado com uma nobre cristã, S.
Clotildc. Uniu-se esta àquele pagão com o único
desejo de fazer cristão o m arido e com ele a nação
gaulesa. Como concretizar este plano tão audaz? F a­
lando a Deus sobre o m arido e dando a co nhecer a
este, nos colóquios íntim os, a beleza da religião de
Cristo. O Rei, todavia, não parecia adm irar-se nem
comover-se. E depois que Clotilde lhe narrou a P ai­
xão e m orte do R edentor, o Rei, que só acreditava
no dom ínio da força bruta, em pinou-se qual cavalo
de encontro a um obstáculo no cam in h o: um Deus
preso, m orto e vencido, jam ais seria seu Deus.
O APOSTOLADO DA FAMÍLIA 65

N ada obstante, no ânim o ru d e e conquistador do


Soberano vai o p eran d o um a m udança silenciosa a
v irtude da esposa, p articu larm en te sua tern a b ra n ­
d u ra e inalterável paciência. Deve ser um Deus ex­
tra o rd in á rio o que produz sem elhantes prodígios de
v irtu d e; um Deus m aior do que os que adoram os
pagãos, pois qual das dam as de palácio é igual a
sua esposa? Aos poucos se vai insin u an d o no c o ra ­
ção do M onarca um a certa sim patia pelo Deus de
Clotilde; num belo dia de ren h id a b atalha, Clodoveu
orou a ssim : “0 ’ Deus de Clotilde, se m e deres a vi­
tória, eu m e d arei a ti.” Venceu e deu-se a Cristo.
Na festa do N atal de 496, antes de d erram ar S.
Remígio a água batism al sobre a cabeça do feroz
M onarca, lhe d isse: “In clin a a cabeça; queim a o que
adoraste e ad o ra o que queim aste.” A nação dos gau­
leses seguiu o exem plo do rei e tornou-se a filha p ri­
m ogénita da Igreja.
Exem plo m aravilhoso do Apostolado fam iliar,
exercido pelo exem plo, pela oração e adm oestação.
Conclusão
M andaram um dia M arta e M aria dizer ao Senhor
que o irm ão delas, Lázaro, a quem Ele am ava, estava
doente. Jesus, contudo, chegou a Betânia, quando
Lázaro já estava m orto. Ao v er o Salvador, M arta
disse ch o ra n d o : “Senhor, se estiveras aqui, m eu ir ­
mão não m o rrera.” R espondeu-lhe o S enhor sim ples­
m ente: “Teu irm ão ressuscitará. Eu sou a ressu rrei­
ção e a vida.” E no mesmo dia o com provou pelos
fatos: à o rdem do Salvador, o m orto saiu da sepul­
tura.
No caso de c a ir enferm o algum m em bro de nossa
fam ília, im itam os o exem plo das irm ãs de Betânia,
oram os, cham am os a Jesus em nosso auxílio. Faze­
mos, porém , o u tro tanto, quando se tra ta de enfer­
m idade espiritual?
Jesus é a ressurreição e a vida não só do corpo,
m as tam bém da alma. Já o invocam os alguma vez
como Médico dos que padecem em espírito?
Que fizemos até hoje nós outros, dedicados ao
Apostolado, pela salvação dos que nos estão unidos
pelos vínculos do sangue?
Im põe-se um sério exam e de consciência, um a re ­
tificação em nosso procedim ento.
Formação — 5
0 APOSTOLADO DO MEIO AMBIENTE

Introdução
Quando se diz aos leigos que hão de praticar o
Apostolado, alguns assustam -se porque dele form am
um con ceito exagerado. Im aginam que para ser
apóstolo se requer a atividade prod igiosa de um S.
Paulo, a eloquência de um Crisóstom o, a sabedoria
de um A gostinho, o am or abrasado de um S. Fran­
cisco de A ssis, a graça m ilagrosa de um Dom Bosco.
E daí inferem logicam ente a seguinte con clusão:
coisa nobre e sublim e é o A postolado, m as não para
nós que carecem os de capacidade e de tem po.
Esta conclusão é um erro p erigosíssim o, visto
com o o A postolado é um dever que a todos incum be
e igualm ente está ao alcance de todos. Existem , é
verdade, form as de A postolado que não são p o ssív eis
a todos; m as outras há que todos podem exercer e
desenvolver, com o o A postolado no seio da fam ília
do qual acabam os de falar, bem com o o Apostolado
do m eio am biente, do qual vam os tratar, con sid eran ­
do :
a) em que ele consiste,
b ) com o é fácil e eficien te,
c) por que m eios se pode exercitar.

Em que consiste
V ivem os em contato não apenas com os n ossos
parentes, senão também com m uitas outras pessoas,
com as quais estam os relacionados em razão de n os­
sa profissão, ocupações, interesses, etc.
N isso, o A postolado do m eio am biente co n siste em
fazer bem àquelas alm as com que tem os de c o n ­
viver e que se encontram nas m esm as co n d içõ es de
vida ou de ocupação.
E’ o Apostolado do o p erário pelo operário, do pro­
fission al pelo colega, do estudante pelo condiscípulo,
da m ãe de fam ília em favor de o utras mães.
O APOSTOLADO DO MEIO AM BIEN TE 67

E’ ainda o A postolado que com m aior in sistên cia


recom endou o Papa aos m em bros da Ação C atólica:
é o “ponto vital”, com o ele o chama. Lem os com efei­
to na en cíclica Q u a d r a g é s i m o A r m o : “Os prim eiros
im ediatos apóstolos dos operários são os operários;
os apóstolos dos in du striais e com erciários serão os
in du striais e com erciários.”
Todo m em bro da Ação Católica, hom em , m ulher,
os jovens e as senhorinhas, devem , portanto, ser m is­
sionários conquistadores de almas; a conquista far-
se-á, antes de m ais nada, no m eio em que se desen­
rola nosso viver. ■
Como se exp lica a rápida difusão do cristianism o
no m eio das nações pagãs? Fator im portantíssim o
desta rápida expansão foi in con testàvelm en te o A pos­
tolado do m eio am biente, exercido pelos prim eiros
fiéis, anim ados ainda de zelo in con tido de conquista.
Onde quer que houvesse um cristão se form avam co ­
m unidades de cristãos, seja na palhoça do pobre,
seja no palácio de César, na loja do com erciante,
na resid ên cia do m agistrado, sob a tenda do soldado.
Em vista disso já no segundo século p odia Ter-
tuliano dizer: “Som os de ontem e já tudo tom am os:
cid ad es e aldeias, teatros e palácios, o senado e o
foro; apenas os tem plos dos deuses vos deixam os.”
Tom ando em consideração que a Igreja, que esta­
va, então, encarcerada, não tinha tem plos onde os
fiéis se pudessem reunir, m elhor se com preenderá o
m ilagroso daquela difusão, p ois convém não esque­
cer que os cristãos daqueles tem pos eram todos
apóstolos.
Apostolado fácil e eficaz
Que requer? Grande am or a D eus e ao próxim o. E’
quanto basta.
Um corpo cálido com u nica seu calor a quanto se
põe em contato com ele; de igual m aneira a alma
do apóstolo, abrasada pelo am or de Deus, irradia
espontâneam ente luz e calor em seu redor e ilu m i­
na a quantos estão a seu lado.
E se até agora não nos preocupam os com as al­
mas que estão a nosso lado, deitem os a culpa ao
nosso descuido e à nossa negligência.
No dia seguinte de sua conversão S. A gostinho
deixou a cátedra de R etórica em Milão e retirou-se
5*
68 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO

à solidão de Casíaco em com p anh ia de alguns am i­


gos não cristãos ainda. E ali, naquela solidão, se
deu ao estudo, à oração e ao apostolado. A cham a
que abrasava o coração de A gostinho queria in fla ­
m á-lo todo. Um dia chegará a ser tão poderosa que
inflam e o m undo inteiro. Mas ele, entretanto, quer
abrasar o coração de seus am igos que vivem com
ele na solidão: A lípio, N eb ríd io e V erecundo, os
quais, enfim , se fazem cristãos.
Exem plo adm irável do apostolado de um sim ples
leigo no m eio am biente.
Em verdade, esta form a de apostolado é p ossível
a todos, sem pre e em toda parte.
a) P o ssív e l a to d o s
Quem não pode dizer uma boa palavra ao am i­
go, ao com panheiro? Quem não pode aconselhá-lo ou
apartá-lo de um cam inho perigoso? Requerer-se-á
para isto ter estudado m uito ou ser m ui eloquente?
b ) E ’ p o ss ív e l sem p re
0 sacerdote prega, ordinàriam ente, nos dias de
festa; nós outros podem os fazê-lo a todo m om ento e
com aqueles que não vão à igreja e que, por isto m es­
m o, têm m ais n ecessid ad e de escutar a verdade.
c) P o s s í v e l e m t o d a p a r t e
0 sacerdote não pode entrar em certos m eios on­
de m ais se requer sua ação b en éfica. Os leigos, em
razão m esm o de sua profissão, encontram -se d isse­
m inados em todos os lugares e ali podem irradiar a
luz de seu cr istia n ism o : no cam po, na oficina, na
u niversidad e e no colégio, nas ruas e nas praças.
d) E fica z
Muitos há que desconfiam do sacerdote por tê-lo
em conta de p essoa interesseira. Outros lhe têm an­
tipatia ou alim entam contra ele p recon ceitos sem
fundam ento.
0 m esm o não se dá com o leigo, com panheiro
de escola ou de trabalho. 0 apóstolo do próprio m eio
é m elhor com preendido, porque com preende m elhor
as situações.
D esde crian ça e antes de entrar no sem inário fo i
Dom Bosco um apóstolo eficaz em seu m eio in fan ­
til. Para poder fazer-lhes o bem , aproveitou suas
qualidades de saltim banco, associava-se aos m eninos,
O APOSTOLADO DO MEIO A M BIEN TE 69

distraía-os e term in av a a diversão com algum ser-


m ãozinho ou com alguma oração. Nos dias festivos o
espetáculo term inava com convidá-los à igreja p a­
ra assistir ao catecism o ou aos ofícios religiosos. E
os espectadores seguiam -no em m assa.
H averia logrado tanto o sacerdote?

Meios de exercer este apostolado


Como p a ra o apostolado fam iliar, tam bém p a ra
este a arm a m ais p oderosa é a p alav ra: rezar a Deus
e logo ex o rtar os interessados.
Pois a p alav ra há de ser p reced id a pelo exem plo
e acom panhada da carid ad e. Bom exem plo e c a ri­
dade são como os dois braços de um a tenaz que
p ren d e as alm as e as eleva até Deus. .
Antes de m ais nada o bom exem plo. Sabido é de
todos que o Pe. Gemelli, fu n d ad o r e re ito r da U ni­
versidad e do Sagrado Coração, foi em sua m o­
cidade um decidido com unista. Quem o ganhou p ara
Deus foi o professo r Vico N ecchi, hoje Servo de
Deus, e seu com panheiro, prim eiram ente, na u n iv er­
sidade de M edicina em P avia, depois no hosp ital m i­
lita r de S. Am brósio em Milão, situado no p ró p rio
lugar que hoje ocupa a U niversidade do Sagrado Co­
ração.
A quem se deve a conversão do atual R eitor
M agnífico? P o r certo, que os prim eiro s germ es se
deveram à vida edificante de seu amigo N ecchi, pois
Gemelli duvidava da sin cerid ad e dos sacerdotes. Vi­
vendo em com panhia de N ecchi, católico m ilitante e
fervoroso, quis dar-se conta de toda a sua vida. Uma
tarde, ele disse: “Necchi, am anhã ao levantar-te,
chama-m e, quero saber o que é que fazes.”
“Com m uito gosto”, replicou-lhe Necchi.
E na m anhã seguinte entravam am bos na capela
e Gemelli ficou à p o rta observando atentam ente seu
com panheiro. 0 sacerdote celebrava a santa m issa;
à hora da Com unhão viu como se chegavam à mesa
eucarística as religiosas, os soldados e seu amigo
N ecchi.
Ao term in ar a m issa, Gemelli saiu com seu am i­
go afetando frieza e indiferença, em bora, na reali­
dade, estivesse p rofundam ente com ovido. Ao dia se­
guinte fez O mesm o e, pouco a pouco, as exortações
70 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

de Vico, fecundadas pela graça de Deus, p en etra­


vam no coração do co n tu rb ad o com panheiro e o
ganharam p a ra Deus.
Aqui um fruto notável do apostolado do meio, do
com panheiro p ara o com panheiro. E este apostolado
não com eçou com a palavra senão com o exemplo.
O utra arm a eficacíssim a do apostolado é a carid a ­
de, exercida p ara com aquele que quer converter-se
p ara Deus.
Volvamos a Dom Bosco. Quando ainda era lei­
go e estudava em C hieri, teve por com panheiro um
heb reu e propôs-se a convertê-lo. E m presa difícil! O
com panheiro tin h a necessidade de quem o ajudasse
nos estudos e Bosco, que era o p rim eiro da classe,
prontificou-se a lhe ajudar. Assim o ganhou para
Deus, e, enfim , teve o consolo de vê-lo receber o ba­
tism o. Comecemos p o r gan h ar os corações com a
carid ad e e m ais fàcilm ente ilum inarem os as in teli­
gências p a ra a verdade.
Conclusão
A p rim eira vez que S. Paulo pregou aos pagãos
em Cesareia, disse, falando do S alvador: “Passou a
fazer o bem e cu rando a todos os que estavam pos­
suídos do dem ónio.”
P ois bem, quem são os possuídos do dem ónio?
Não som ente os endem oninhados, senão os que
não têm a fé e não praticam a religião; pecadores
que, tendo p erd id o a filiação divina, caíram debaixo
da escravidão do dem ónio.
Tam bém nós outros devemos p assar pelo m undo,
curando a todos e fazendo-lhes o bem, como Cristo,
ao m enos a alguns dos m uitos oprim idos pelo de­
m ónio que encontram os em nossa vida diária. Só
assim serem os im itadores de Cristo e verdadeiros
m em bros da Ação Católica, que é A postolado e con­
quista de alm as p ara Deus.
O APOSTOLADO CATEQUÉTICO

Introdução
Em um recente docum ento pontifício sobre o ca­
tecism o algo há que visa diretam ente a Ação Cató­
lica e que nos im porta conhecer. O decreto P rovido
sane, de 12 de Jan eiro de 1935, depois de conv idar
os Bispos e os P árocos a p re p a ra r idóneos catequis­
tas, acrescen ta: “E ntre os catequistas haverão de
distinguir-se os m em bros da Ação Católica, os quais
já fizeram m uito neste cam po e nalgum as de suas
organizações com zelo que é m uito de louvar; esta­
beleceram nos program as anuais aulas de catecism o,
em que todos devem p a rtic ip a r.”
Não é este o p rim eiro convite que a C átedra de
Roma dirige aos m em bros da Ação Católica a p a r­
ticiparem do apostolado do catecism o. Querem os de­
m o n strar como se pode p a rtic ip a r do apostolado
catequético com o exem plo e a p alavra; e falarem os
logo de sua excelência e da recom pensa que lhe es­
tá assinalada.
Apostolado catequético do exemplo
O apostolado catequético consiste em tra b a lh a r p a­
ra que o povo seja in stru íd o nas verdades p rin c i­
pais da religião.
Pois bem, esta o b ra pode-se levar a efeito de m ui­
tos m odos: com a palavra, com os auxílios m ateriais
e com o exemplo.
O exem plo é m eio eficacíssim o segundo o conhe­
cido adágio dos antigos: Os exem plos arrastam. E os
m em bros da Ação Católica têm de freq u en tar o c a ­
tecism o paroquial p o r várias razões:
1. ° P ara instru ir-se na religião, dever p rim o rd ial
do cristão . Fom os criados p ara conhecer,
am ar e serv ir a Deus, e não podem os amá-Lo
nem servi-Lo, se O não conhecem os.
2. “ P a ra p rep arar-n o s a in stru ir os dem ais. O p ro ­
gram a da Ação Católica é: In stru ir-se p ara
in s tru ir os outros, esclarecer-se p a ra esclare­
cer os demais.
72 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

3.” P ara d a r bom exem plo. O apostolado do


exemplo, portanto, é o m ais fácil, tam bém o
m ais eficaz e possível a todos; é um dever es­
pecial dos sócios da Ação Católica que se
consagram ao apostolado.
Falando o P apa Pio XI às associações católicas de
um a p aróquia de Roma, dizia-lhes: “Recom enda­
mos instantem ente a todas as associações católicas,
m asculinas e fem ininas, que assistam ao catecism o
na p aróquia e ajudem ao Clero no cum prim ento
deste m in istério que a todo católico h á de p arecer
como o m ais santo e necessário.”
E sta recom endação do P ontífice dirige-se a todas
as associações de Ação Católica.

Apostolado catequético da palavra


Dissemos que os m em bros da Ação Católica de­
vem instru ir-se p ara in stru ir. De que modo se in s­
tru irã o ?
Há um m odo sim ples ao alcance de todos: a con­
versação que oferece m il ocasiões p a ra expor algu­
ma verdade da religião, desfazer alguns erros, res­
p o n d er às objeções m ais com uns con tra a religião.
E este é um apostolado m agnífico, individual, o ca­
sional.
Os leigos têm m ais opo rtu n id ad e que os sacerdotes
p a ra exercê-lo.
Além disto, com o q u er o Papa, os m em bros das
associações da Ação Católica hão de aju d ar o Clero
no ensino do catecism o e a razão é ev idente: A Ação
Católica é a p articip ação no apostolado da Jerarq u ia,
ou seja a colaboração com o Clero em todas as obras
do m inistério sacerdotal; e este da instrução cate-
quética ocupa um lugar im po rtan te na labtita do
sacerdote. Nosso Senhor deu aos apóstolos o m an­
dato esp ecial: “Ide e ensinai a todas as nações, ba­
tizando-as em nome do P adre, e do Filho, e do Es­
p írito Santo.” O p rim eiro é, pois, a instrução, logo
vem a distribuição da graça santificante.
P o r isso, a p rin cip al preocupação da Igreja em
todos os tem pos foi a instrução religiosa dos fiéis.
E nesta excelsa m issão a Igreja sem pre se há
servido da colaboração dos leigos; serviram -se dela
os Apóstolos, os quais, apenas chegados a uma ci-
O APOSTOLADO CATEQUBTICO 73

dade, já encontravam um bom núcleo de judeus e de


pagãos in stru ídos nas verdades da fé p elos cristãos
leigos.
E este fato repete-se ainda hoje em dia nas terras
de m issões. A A gência F i d e s refere com o um ven d e­
dor am bulante de tortas de arroz na C hina, con ver­
tido ao cristian ism o, se fez fervoroso catequista, p re­
gador nóm ade da verdade religiosa. Como não sabia
ler, pediu a um catequista que lhe en sin asse todo
o catecism o, aprendeu-o de cor, e logo, em razão
d e seu m inistério, ia às cid ad es para on d e não po­
dia ir o m ission ário, e com eçava a fazer con h ecer
a religião, exp lican d o as fórm ulas do catecism o à
sua clien tela, p ois era m uito popular e sim pático
por causa de seu caráter jovial e d ecidid o. D este
m odo aquele ven d ed or am bulante chegou a ser um
grande apóstolo da religião na China e converteu
às cen ten as pagãos que foram depois batizados pelo
m issionário.
E xem plo adm irável de apostolado catequético,
exercid o p or um leigo.

Excelência do apostolado catequético


0 catequista é um perfeito im itador de Jesus C ris­
to e dos A póstolos, o s quais foram os p rim eiros ca ­
tequistas. E n sinando as m esm as verdades que Cris­
to, o catequista coopera diretam ente na obra da re­
denção.
E nsina o catequista a ciên cia m ais sublim e que
tem p o r objeto a Deus m esm o; nenhum a ciên cia
pode com parar-se com a da religião, e essa está
condensada nas breves páginas do catecism o.
E xaltando P io XI o livrin h o do catecism o, diz que
é um com p ên dio adm irável de todas as verdades
teológicas con tidas na Suma de S. Tom ás, d e forma
que se pode dizer que o catecism o é o livro m ais
notável de todos os escritos no m undo.
O catequista en sin a a c iê n c ia m ais necessária, que
dá solução a todos os problem as da vida, form a as
alm as na virtude e en sin a o cam in ho do céu.
Bem con h ecid a é a obra de D iderot, célebre filó ­
sofo incrédulo, que en sin ava o catecism o a seu filh i-
nho. Surpreendido, um dia, n esse o fício por um
am igo que se m ostrou m aravilhado disso, respondeu-
74 FORMAÇÃO P A R A O APOSTOLADO

lh e: “Que quereis? Â m im im porta sobrem aneira


educar bem m eu filh o e para isso não se pode en­
contrar livro m elhor do que este, o catecism o.”
Não há, p ois, por que m aravilhar-se, se hom ens
n otáveis na ciên cia não se desdenhavam de ensinar
o catecism o aos m eninos. Por exem plo, A lexandre
Volta, in ven tor da pilha elétrica, que aos dom ingos
se retirava à igreja paroquial de P avia a ensinar o
catecism o às crianças; S. F rancisco de Sales, gran­
de doutor da Igreja, que nos dom ingos ia à sua igre­
ja catedral a ensinar aos m eninos as verdades da
religião.
Conclusão
Mas sobre todas estas razões está a da recom p en ­
sa que espera aos que ensinam aos dem ais o cam i­
nho da justiça. “Aquele que ensinar será tido com o
grande no reino dos céus”, diz-nos o Salvador. E es­
tas palavras dirigem -se também ao hum ilde cate­
quista; ele também terá parte na m ais esplênd id a re­
com pensa que o Senhor tem aparelhado para todos
os m ensageiros do E vangelho: para os A póstolos, os
Doutores, os M issionários e os pregadores. Oxalá
m uitos de vós outros sejam coroados com esta au­
réola.
O APOSTOLADO PASCOAL

Introdução
Recordem os a parábola do banquete nupcial que
m andou p re p a ra r o filho do re i: “M andou aos servos
que cham assem os convidados, pois m uitos deles
escusavem-se porque tinham que ir u ns a seus ne­
gócios, outros a suas fazendas.”
Este banquete nupcial é o sím bolo da E ucaristia.
O Rei divino convida todos os súditos, especial­
m ente neste tem po em que urge o preceito da Co­
m unhão pascal. Pois m uitos declinam o convite.
E quais são os servos que envia a cham ar os con­
vidados? Os sacerdotes assim como os leigos. A to­
dos lhes diz: “Ide às encruzilhadas e convidai a
quantos en co n trard es ao banquete das núpcias.”
Os leigos hão de tornar-se arautos do rei, m as de
m aneira especial os m ilitantes da Ação Católica, que
são os colaboradores do Clero.
E Jesus Cristo mesmo é quem nos recom enda este
apostolado pascoal, ou seja a p ropaganda p ara tra ­
zer a todos eles o convite da E ucaristia.
Pretendo in d ic a r agora a necessidade deste apos­
tolado e os m eios de exercê-lo.
Necessidade
E ntre nós noventa e nove p o r cento são católicos,
mas quantos destes cum prem o preceito da Igreja?
E quantos que não cum prem este m andam ento cha­
mam-se católicos?
Costum ava dizer o C ardeal M affi: “Eu conto os
católicos na igreja.” E tin h a razão, pois não basta o
batism o p a ra e n tra r no céu, requer-se, além disto,
p ara os adultos a S. Comunhão.
E esta não é opinião dos teólogos, senão vontade
expressa de Cristo, que d iz : “Se não com erdes a Car­
ne do Filho do Homem e não beberdes o seu San­
gue, não tereis a vida em vós. Aquele que com e a
m inha Carne e bebe o m eu Sangue, terá a vida eter-
76 FORMAÇÃO P A R A O APOSTOLADO

V em os hoje que m uitos cató lico s ou pseudocatóli-


co s, m orm ente nas grandes cidad es, não cum prem
o preceito pascal, transgredindo assim um m anda­
m ento da Igreja e privando-se do n ecessário ali­
m ento da vid a sobrenatural.
E’ m ister con vid á-los; e o R ei d ivin o, com o na
parábola do E vangelho, m anda até seus criad os para
que cham em estes con vid ad os ao festim eucarístico.
Antes de tudo, en via seus sacerdotes; m as com o e s ­
tes m ensageiros não gozam a con fian ça dos co n v id a ­
dos e corno não podem chegar a todos, e esp ecia l­
m ente àqueles que, com o filh o pródigo, foram para
regiões estranhas, longe da casa paterna, toca aos
leig o s que vivem em contato com os enferm os do
espírito, levá-los ao m éd ico das alm as e trazê-los
para que se nutram com o Pão que dá a vida.
H avia em Jerusalém , nos tem pos do Salvador, a
P iscin a das Ovelhas, que estava rodeada de cin co
p órticos: nela, com o nos con ta S. João, “havia uma
grande quantidade de enferm os, cegos, coxos, para­
lític o s que esperavam o m ovim ento da água. P o is o
anjo do Senhor d escia em certo dia à p iscin a e m o­
v ia a água e o prim eiro que entrava nela ficava são
de qualquer en ferm id ade que tivesse. H avia ali um
hom em que fazia trinta anos estava enferm o; vendo-
o, Jesus d iz-lhe: Queres ficar são? — E o en ferm o
resp ond e-lh e: Senhor, não tenho quem m e lev e à
p iscin a, quando a água se m ove, e quando trato de
descer outro já desceu prim eiro. — E Jesus d iz-lhe:
Levanta-te, tom a tua cam a e anda. — E de pronto
ficou são, tomou sua cam a e foi andando.”
N otem os as palavras do e n fe r m o : não há um h o ­
m em ; p ois, se tivesse h avido, m uito tem po antes te­
ria sido curado.
Quantos enferm os do esp írito podem repetir a
m esm a q u e ix a : não há um hom em que os submerja
na m ística p iscin a dos Sacram entos que dão a vid a
e a salvação.
E não serem os nós esses hom ens cham ados a de­
volver a salvação a tantos enferm os da alma?
Meios
Quais foram os m eios em pregados p elos servos da
parábola? A palavra, para exortar, aconselhar, res­
p onder às vãs escu sas: e assim lograram o seu in-
O APOSTOLADO PASCOAL 77

tento porque, pondo-se p o r todos os cam inhos, en­


co ntraram m uitos que atenderam ao convite, e a sa­
la do banquete encheu-se.
De igual m aneira tem os de p roceder.
Antes de tudo, o convite, o conselho, a exortação,
feita a tem po e de m an eira m ais o p o rtu n a; e se é
necessário, repeti-la com p ru d ên cia e carid ad e. _
Im po rta fazer con h ecer bem a gravidade do p re ­
ceito: p a ra e n tra r no p araíso não basta a certidão
do Batismo, senão que se requer, adem ais, o cum ­
prim en to do preceito pascoal, que custa às vezes,
porque tem como recom pensa a vida eterna.
E as m ais das vezes será necessário rem over as
dificuldades.
Q uais?
Muitos há que não se avizinham da m esa festiva,
porque têm cadeias nos pés que lhes im pedem a
chegada a e la : os m aus costum es, as ocasiões de pe­
cado. E’ dificil de conquistá-los e é preciso recom en­
dá-los a Deus p a ra que Ele lhes dê força de ro m per
com aqueles m aus hábitos e desvencilhar-se dessas
cadeias que os im pedem .
Outros há que se acham detidos p o r obstáculos
m ais fáceis de superar.
Outros há que não cum prem o p receito da Páscoa
p o r negligência, p o r descuido; esqueceram o cam i­
nho do confessionário e só p o r si não podem encon­
trá-lo. A estes devem os ajudar, sobretudo com o
conselho, levando-os a um confessor com preensivo
que lhes facilite o cum p rim en to do preceito.
O utros há que o não cum prem p o r vão tem or; sen­
tem na consciência o peso de antigas culpas e des­
confiam da m isericó rd ia de Deus. A estes havem os
de esclarecer, p e rsu a d ir que nenhum pecado, p o r
grave que seja, supera a m isericó rd ia do Senhor.
Outros, como o fariseu da parábola, têm dem asia­
da confiança em si mesmos, consideram -se justos e
dizem : p a ra salvar-se b asta ser hom em honrado. A
estes é m ister d ar a en ten d er que a v erd ad eira
honradez consiste em c u m p rir tudo o que o Senhor
nos pede, e Jesus não só in stitu iu os sacram entos da
P en itên cia e da E ucaristia, senão que, adem ais, nos
ordenou recebê-los.
Finalm ente há um a categoria de pessoas que se
abstêm p o r orgulho ou p o r vão respeito; não querem
80 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

ção civil de todos os católicos encam inhada a auxi­


lia r a santa b atalh a da fé nas m ais avançadas trin ­
ch eiras, co n trib u in d o com a ajuda prestada aos
com batentes das p rim eiras linhas. A inda que o fim
das m issões é inteiram en te espiritual, contudo não
se pode alcan çar sem o auxílio m aterial. E a coope­
ração m issio n ária tende a aju d ar nestas necessida­
des com o óbolo pelas missões.
A cooperação não é, porém , tão-sòm ente m aterial;
existe, além disso, a e s p iritu a l: cooperação de ora­
ções, p ara suscitar vocações m issionárias. E nesta
o b ra hão de colaborar não som ente os sacerdotes,
m as tam bém os leigos.
E esta cooperação é sum am ente necessária.
Os prim eiro s m issionários foram os Apóstolos que
tiveram , como sabemos, grande e considerável cola­
boração da p arte dos leigos. O mesmo auxílio têm,
hoje em dia, ainda os m issionários que trabalham no
vasto cam po das missões.
Necessidade
A cooperação m issionária é obrigatória, excelente
e benéfica.
1. ° O brigatória.
Na realidade é um dever de carid ade p ara com
o próxim o e um dever dos m ais urgentes. “Os infiéis
— disse Pio XI — são os m ais pobres entre os po­
bres.” E isto é assim, p orque carecem do dom da
fé, dom prim etro de Deus e raiz da justificação, ger­
me da vida eterna.
E \ adem ais, um dever de carid ad e para com Deus
que quer que todos se salvem ; e p a ra com o R eden­
tor divino que m orreu p o r todos.
E é, outrossim , dever de gratidão p ara com Deus.
“Pela fé d’Ele receb id a — continua o P apa — dá-se
a fé aos que não a receberam . E ’ um a restituição que
fazemos a Deus, porque quem dá ao pobre, dá a
Deus.”
2. ” Excelente.
A ação m issionária foi definida pelo P a p a : “A
obra m aior do cristianism o, o apostolado p o r exce­
lência.”
E bem se com preende a razão destas afirm ações:
a ação m issionária é a continuação m ais perfeita dos
Apóstolos e a m ais integral execução do m andato
O APOSTOLADO MISSIONÁRIO SI

de C risto: “Ide p o r todo o m undo, pregai o E van­


gelho a toda c ria tu ra.”
3.° Benéfica.
A cooperação m issionária vale tanto quanto a ação
prática, não só pelo prém io eterno que lhe está assi­
nalado, senão pelas vantagens educativas que traz
consigo. Realm ente, a cooperação m issionária é um
meio de form ação religiosa e apostólica. T rab alh an ­
do pelas m issões se enobrece o coração, a alma cura-
se deste egoísmo religioso, deste individualism o es­
p iritu a l que é um dos m ales de nossos tem pos.
Organização da ação missionária
A cooperação m issionária tem hoje um a o rg ani­
zação acabada.
Há três obras p o ntifícias que se estendem por
todo o m undo.
1. A obra da propagação da fé
A fun d ad o ra desta obra m aravilhosa foi um a h u ­
m ilde o p erária de Lião, P aulina Jarico t. A judada por
um a boa com panheira, fundou em 1820 um a associa­
ção de orações a favor das missões.
Im itando o exem plo de uma seita protestante,
prescreveu que os associados pagassem um a pequena
contribuição, sem analm ente, em favor das missões.
Em breve a obra se estendeu e fundiu-se com ou­
tras iniciativas sim ilares; em 1823 foi aprovada e
en riq u ecid a com num erosas indulgências.
Em 1922 o P apa Pio XI dispôs que a sede da obra,
que, até então, fora em Lião, se m udasse p a ra Roma.
Esta obra é que cada ano prom ove a Jo rn ad a Mis­
sionária de orações, p ropaganda e recursos em di­
nheiro p ara as missões.
2. A obra de São Pedro apóstolo
Tem um fim d eterm in ad o : a form ação do Clero
indígena p ara as missões.
Fim im portantíssim o porque os pagãos, p o r e v i­
dentes razões psicológicas, seguem m elhor a seus
com patriotas.
Nasceu esta obra em 1889 e foi fundada tam bém
p o r um a m u lh er fra n c e s a : E stefânia B igard e Joana,
sua filha. T endo recebido um a carta do Bispo de
Nagasaki, no Japão, na qual lhes p ed ia auxílio pa-
Formaçâo — 6
83 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

ra seu sem inário, as duas piedosas m ulheres resol­


veram in stitu ir um a fundação perm an ente com tal
finalidade e consagraram -se a ela com tal fervor que,
ao cabo de cin co anos, a mãe p o d ia d izer: Esta
o b ra chegou a ser a ú n ica preocupação de nossa
v ida.”
A provada pela Santa Sé, a obra tem um conselho
su p erio r em Roma.
3. A obra da Santa Infância
F u n d ad a p o r um bispo francês, M onsenhor F o rb in
Janson, em 1843, foi ap rovada três anos m ais tarde.
E’ a obra das crian ças e p ara as crianças. Os que
nela estão inscrito s oferecem cada dia suas orações
pelos m eninos pagãos e dão um a co ntribuição para
aju d ar ao batism o dos inesmos. No p rin cip io foi
in stitu íd a em favor dos m eninos da China, mas
hoje se estendeu a todos os m eninos infiéis. A sede
cen tral acha-se em Roma.

Relações com a Ação Católica


Na encíclica U ferm o propósito escreve Pio X :
“E nquanto a Igreja difunde o Reino de Deus a li on­
de ain d a não se pregou, trab alh a de todos os m odos
p a ra re p a ra r as perd as sentidas nas nações já con­
q uistadas.”
P ois bem, p a ra esp alh ar o Reino de Deus ali onde
não existe, a Igreja serve-se da ação e da co o pera­
ção m issio n ária; e p ara rem ed iar as perdas sentidas
nas nações já conquistadas, serve-se da Ação Cató­
lica, a qual, na opinião do Papa, é um a “reevangeli-
zação.”
A Ação M issionária p rega a C risto ali onde não
é conhecido; a Ação Católica preg a-0 onde não é
reconhecido.
P o r isso, P io XI pôde ch am ar as obras que co n sti­
tuem a Ação Católica “nossas m issões in tern as”, em
oposição às m issões estrangeiras.
A cooperação m issio n ária form a p a rte dos p ro g ra­
m as da Ação Católica.
E sta é um a disposição explícita da suprem a au­
to rid ad e eclesiástica, com o se depreende dos docu­
m entos que vam os c ita r. Na c a rta do C ardeal Secre­
tário de E stado ao Congresso N acional de Missões,
O APOSTOLADO MISSIONÁRIO 88

reunido em Pádua, lêem-se en tre o u tras palavras p re­


cisas: “Aquele que tra b a lh a n a defesa e na difusão
do R eino de Cristo em m eio das nações cristãs de­
ve, p o r isto mesmo, ser am igo e sustentador dos que,
com o mesmo fim, trabalham nas nações estranhas,
onde ain d a não alvoreceu a luz do Evangelho.”
A Ação Católica há de colaborar nas m issões pelas
seguintes razões especiais:
1. ° T rabalho essencial da Ação Católica é ajudar à
Jerarq u ia em tudo o que ela reclam a: pois bem , ela
pede-nos que ajudem os aos m issionários.
2. “ A Ação Católica há de form ar e im por a seus
m em bros o exercício de todos os deveres de cristãos,
e já vimos que a cooperação p ara as m issões é um
dever de carid ad e p a ra com Deus e p a ra com o p ró ­
ximo.
3. ° A Ação Católica deve p ro cu rar, p o r todos os
m eios possíveis, a form ação religiosa e apostólica de
seus m em bros; e a cooperação m issionária, como
vimos, é um dos m elhores m eios p ara conseguir este
fim.
Conclusão
Num periódico m issionário vimos, faz pouco, um a
fotografia em que se podia contem plar um m issio­
nário que levava o V iático, de avião, a um m orib u n­
do. Onde se fabricou aquele aeroplano? Em países
católicos. Com que m eios? Com os recursos dados
pelos católicos.
Exem plo p rático do auxilio que podem os p re star
aos m issio n ário s: com a nossa cooperação o m issio­
n ário pod erá levar o dom da fé aos infiéis.

6*
APOSTOLADO
EM FAVOR DA MORALIDADE

Introdução
Q uando am eaça um a grande epidem ia, as auto­
rid ad es tom am precauções p ara evitá-las: isolam en­
to dos atacados nos hospitais, ordem de d enunciar
os casos que se apresentem , desinfecção dos lugares
e habitações, e outras p rovidências higiénicas.
Os cidadãos, p o r outra parte, deverão evitar os
contatos inúteis e perigosos, o expor-se aos p e ri­
gos; deverão vigiar p ara que os atacados do co n ­
tágio não o com uniquem aos que estão sãos e cola­
b o ra r com as au to rid ad es p ara que o m al se não
propague.
Hoje nos am eaça um m al gravíssim o: a epidem ia
das almas, a im oralidade e a corrupção. As au torida­
des civis tom aram p rovidências e deram leis de de­
fesa e os agentes públicos estão encarregados de vi­
giar p ara que se cum pram . Nisso estarem os nós de
m ãos cruzadas? Não farem os sequer o que faríam os
no caso de epidem ia c o rp o ral? — vigiar, auxi­
liar, d en u n ciar à au to rid ad e os atacados do mal.
C ooperar na defesa da m oralidade pública é um
dos deveres dos citadinos, tão urgente com o o de
coo p erar na saúde pública.
E visto que a m oralidade é não som ente um bem
civil senão, além disto, religioso, a defesa da mo­
ralid ad e é um dever não só do cidadão, mas tam bém
do católico.
E que direm os do católico m ilitan te? Acaso não
tem a Ação Católica como um dos pontos de seu
program a a defesa da m oralidade?
P o r isso querem os co n sid erar este dever estu d an ­
do :
1. “ A im oralidade contem porânea.
2. ° Suas características e suas causas.
3. ° Como havem os de com batê-la.
APOSTOLADO EM FAVOR DA MORALIDADE 80

Imoralidade Contemporânea
Convém, antes de tudo, entender-nos acerca do
sentido da palavra im oralidade. Chama-se m oral tu­
do quanto se acom oda à lei divina e às justas leis
hum anas. Im oral é tudo o que a elas se opõe. Neste
sentido a in jú ria, o roubo são im orais.
Em sentido m ais estrito cham a-se im oral tudo o
que vai c o n tra as leis da castidade, porque a palavra
im oralidade designa o vicio da luxúria, considerado
não só em seus efeitos, m as tam bém em suas cau­
sas, p articu lares e públicas, in d iv id u ais e sociais. -
Neste sentido tom am os aqui a palavra im oralida­
de, que se cham a tam bém desonestidade e corrupção.
A realidade dolorosa de nossos dias é esta: a im o­
ralidad e é como um rio saído do leito que am eaça
a rra sa r tudo. O m undo está atacado não só pela crise
económ ica, m as p rin cip alm en te pela crise da im o­
ralid ad e m ais poderosa que a prim eira. Crise m oral
da qual sofrem todas as nações segundo seja m aior
ou m enor o freio da religião.
A im oralidade não é um sim ples resultado de nos­
sa época. D esde o pecado de Adão a natureza hum a­
na ficou viciad a; pois hoje vemos nações in teiras
que se degradam e paganizam . Deus pode re p e tir a
palavra que, em outro tem po, disse a N oé: “0 ho­
mem tornou-se c a rn a l”, porque vive como se d entro
do invólucro do corpo não alentasse um esp írito
im ortal. _
P o r isso, a im oralidade apresenta nos dias que
alcançam os u ns ca rac tere s de g ravidade alarm antes.

Características e Causas
T rês são as c a ra cterístic a s que ap resenta a _im o­
ralid ad e de nossa época; a extensão, a p recocidade
a insensibilidade.
1.” E x te n sã o
Em outras épocas o mal, em m ais graves m anifes­
tações, estava circu n scrito nos centros m ais populo­
sos: hoje em dia vai m udando-se das cidades p ara
os cam pos e p a ra as aldeias, onde, em outros tem ­
pos, a pureza dos costum es era igual à do sitio. Em
putras épocas a co rru p ção alcançava as altas esferas
86 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

da sociedade, hoje pen etra em todas as cam adas so­


ciais e vai-se fazendo um a nivelação na im oralidade.
2.° Precocidade
O utrora esta epidem ia respeitava, em parte, a p ri­
m eira infância, de tal form a que a infância e ra si­
nónim o de inocência. Mas nestes dias quantos me­
ninos podem re p e tir a palavra do Bispo de H ipona:
“A inda cria n ç a e tão pecad o r.”
3.° Insensibilidade
Em outros tem pos houve hom ens corrom pidos,
m as não tinham a consciência insensível; o pecado
ia acom panhado do rem orso e seguido da pen i­
tência. D ivertiam -se no Carnaval, mas arrependiam -
se na Quaresm a.
Hoje m uitos p erderam o sentido m oral e por
causa desta p erd a m uitas almas estão sepultas nas
som bras da m orte, sem p ro b ab ilid ad e de delas sair.
Estão enferm os e recusam o m édico; por isso, a
corrupção de hoje não dá esperan ças de correção.
Im pera um paganism o redivivo.
Causas deste mal
As p rin c ip a is parecem -nos as seguintes:
1." a dim inuição do sentim ento religioso cau­
sado pela obra laicizante. A to rren te im petuosa da
im oralidade encontrou m uito fracas as m argens do
sentim ento religioso e passou p o r cim a delas.
2 ° As novas invenções da ciência e do progresso,
postas no serviço das paixões hum anas. Daí são ele­
m entos de corrupção a im prensa, o cinem a, o rádio,
a facilidade de com unicações, e até o aum ento da
instrução. O progresso m aterial é causa de regresso
m oral. Os benefícios de Deus converteram -se em
m eios de depravação.
Como combatê-la?
T rês são as arm as de que p rin cip alm ente hão de
servir-se os sócios da Ação Católica para com ba­
te r a im oralidade do am biente.
APOSTOLADO EM FAVOR DA MORALIDADE 87

í.° A oração
No deserto o povo de Israel se viu atacado pelos
am alecitas. 0 perigo era gravíssim o, porque os ama-
lecitas eram g u erreiros corajosos. Israel lança-se
contra eles, conduzido p o r Josué. E ntretanto, Moi­
sés orav a em cim a do m onte. “E quando Moisés
levantava os braços, Israel vencia; mas, se os dei­
xava cair, Amalech levava a m elhor p a rte .”
Nossa luta é com um exército poderoso como
o dos am alecitas': a lu x ú ria e avareza: a lux ú ria
fom entada pela avareza, e esta que é o alim ento
daquela. E é im possível a vitória, se não rezar­
mos como Moisés.
2.° O exem plo
Ao apostolado da oração há de ju n ta r o não me­
nos eficaz e indispensável do exem plo. À nós nos
repete S. Paulo como a seu discípulo Tim óteo:
“Em tudo m ostrai o exem plo de boas obras.”
Os m aus costum es corrigem -se com os b o n s: os
santos purificavam o am biente em que viviam , com
a fascinação de seu exem plo. Tal era a pureza que
irrad ia v a o rosto do jovem João Bosco que seus
colegas não se atreviam a p ro ferir, em sua p re ­
sença, um a palavra m enos decente ou executar uma
ação m enos co rreta; a com panhia do jovem fa­
zia-os m elhores.
3° A ação
Todo m em bro da Ação Católica h á de ser não só
um exem plar de m oralidade, m as tam bém um
apóstolo. Devemos falar e agir no am biente em que
vivemos e com as forças de que dispom os, a fim de
que esta enferm idade dos maus costum es perca sua
eficácia e haja m enos vítim as. Nossa norm a há de
s e r : m anter-nos sãos, p reserv ar aos dem ais do con­
tágio e p ro c u ra r que os já atacados alcancem a cura.
P a ra isto co n v é m :
D izer a tem po a p alav ra que ilum ina, corrige e
m e lh o r a .. . Não p erm an ecer in d iferen te ante a
afluência - dos males.
D efender o conceito cristão da vida, a qual é
dever e não p razer; conceito que se vai obscure­
cendo até nas m entes de m uitos católicos.
Opor-se enèrgicam ente a todo sem eador de es­
cândalos c o n tra o qual p ro n u n cio u o Salvador m au-
88 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO

síssim o aquelas terríveis palavras: “Ai daquele por


quem vem o escândalo.” P ois bem , escandaliza-se
não só com as palavras e com a conduta depravada
e provocativa, mas também , dando aos dem ais oca­
sião de pecado com as diversões perigosas, os b ailes
desonestos, as m odas desavergonhadas.
Intervir, quando a ocasião particular é in eficaz,
com as autoridades públicas para que im peçam os
escândalos, e acabem com os focos de in fecção que
as m esm as le is proibem .
Opor armas às arm as: à revista licen cio sa , a m o­
ral; às d iversões m alsãs, as boas; à m oda frívola,
a digna e correta.
Mas, porquanto a ação repressiva e preventiva
apresenta alguns in con ven ien tes, tratarem os dela
no próxim o capítulo.
Conclusão
C om ovedor e sign ificativo é o diálogo entre D eus
e Abraão antes da destruição de Sodom a. D eus ha­
via determ inado destruir a cidade por causa dos
p ecados de luxúria de seus habitantes e co m u n i­
cou o d esígnio a Abraão.
O qual, levado à com paixão, pediu ao Senhor, d i­
zendo-lhe: “Farás p erecer o justo com o ím pio? Se
houver na cidad e cinquenta justos, perecerão tam­
bém ? e não perdoarás à cidad e t>or am or aos c in ­
quenta justos?” E o Senhor acedeu a perdoar o
povo prevaricador, se houvesse nela os cinquenta
justos. Mas não se encontravam . E logo Abraão
repetiu a súplica, d im inuindo sem pre o núm ero dos
justos até chegar a dez. “Por amor a estes dez jus­
tos não a d estruirei”. Mas não foram encontrados.
Como o santo Patriarca, elevem os as nossas sú-
p licas ao Senhor; m as não nos contentem os com
isso : façam os de m aneira que, com nossa ação mo-
ralizadora, aum ente o núm ero dos justos que atraiam
sobre o m undo não o castigo senão o perdão.
0 APOSTOLADO DA MORALIDADE
— SUAS FORMAS
Introdução
São Paulo escreveu estas palavras reveladoras de
seu zelo ap o stó lico : “Quem está enferm o que eu
não esteja tam bém ?”
A im oralidade do am biente, dissem os no capí­
tulo anterior, é um a im ensa epidem ia m oral. Todos
nós tem os de p ro c u ra r precaver-nos do contágio.
Mas não b asta: trata-se tam bém de p reserv ar os de­
m ais; tem-se que trab alh ar, pela cura dos atacados
pela doença da im oralidade. Cada um há de sen­
tir-se enferm o com o irm ão.
Querem os agora e stu d a r as p rin c ip a is causas
concretas da im oralidade e os focos m ais com uns
de infecção, p ara v er que é o que convém fazer
para d estru ir ou ao m enos p a ra circu n screv er a
área do contágio.
Estudarem os, pois, as p rin c ip a is form as de nosso
apostolado contra a im oralidade.
A revista
Uma das causas p rin c ip a is da co rrupção rein an te
é a revista im oral. Como com batê-la?
Não p erm itin d o que tais revistas entrem em nos­
sa casa, p ara que não venham a c a ir em mãos das
crianças ou em pregados.
C onvidando os liv reiro s e p erio d istas que expõem
im agens p ornográficas a retirá-las; e se isto não se
consegue, boico tar os vendedores destas im undícies.
R ecorrendo à au toridade p ara que dite leis nas
quais se castigue os que ofendem a m oralidade pú­
blica com a exibição de im agens que ferem o pudor.

Espetáculos e diversões
E ntre os espetáculos que m ais diretam ente aten­
tam contra a m oralidade tem-se que colocar em p ri­
m eiro lugar o cinem a e o teatro,
90 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

Como rem ediar os m ales que causam ?


Com o boicote. Não p erm itin d o que nossos filhos
e em pregados frequentem salões onde se re p re ­
sentam peças ou se exibem películas que ofendem
a m oralidade e fazendo p ropaganda para que n in ­
guém vá a tais lugares. Tal coisa vêm fazendo os
católicos norte-am ericanos com a conhecida “Le­
gião da D ecência” , a qual, além de ter feito fechar
num erosas salas de exibições im orais, conseguiu
influir sobre a m esm a produção cinem atográfica.
R ecorrendo à au toridade p a ra que aplique as leis
con tra as representações que atentam co ntra a m o­
ralidade.
O pondo ao cinem a im oral o cinem a m oral, como
ensina o P apa em sua encíclica V igilanti Cura.
E n tre as diversões m ais perigosas contra a m o­
ralid ad e estão os bailes; convém, portanto, em pre­
en d er um a cam panha con tra os salões públicos de
bailes (dancings).
Mas o m elhor meio p a ra com bater as diversões
m alsãs será p ro c u ra r que h aja boas. P ara isto ser­
vem providencialm cnte nossas associações juvenis,
os O ratórios Festivos, a instituição dos escoteiros
católicos, onde os m oços podem divertir-se sã­
m ente sem ofen d er a Deus.
As modas
O utro incentivo da im oralidade são as m odas in­
decentes.
E’ necessário que todos os m em bros da Ação Ca­
tólica sejam apóstolos da m oda decente, e façam
g uerra sem tréguas às im orais. Mas, antes de tudo,
está certo que a arm a m ais eficaz, e talvez a única,
é o exemplo. Que haja em cada p aróquia senhoras
e sen h o rin h as e m eninas que se proponham vestir
com elegância, sim? m as com dignidade.
Pois m uitas, como anotava o P apa, se deixam
levar pela co rren te invasora, “senh oras que não
queriam ser co n sid erad as como m undanas e que p re ­
tendem ser e dizer-se c r is tã s ... E é sobrem aneira
doloroso ver como d iante da co rren te da vaidade
capitulam não só as jovens senão tam bém m uitas
esposas e m ães que deveriam ser modelo da digni­
dade cristã.”
O APOSTOLADO D A M ORALIDADE 91

Im porta m uito atender à d ecência no vestir desde


a prim eira idade, por m uitas razões:
1. ° A m odéstia é obrigatória para todos: gran­
des e pequenos.
2. ° As crianças são capazes de pecado e, real­
m ente, pecam por vaidade.
3. ° Vêm a perder o sentido do pudor, custódio
da castidade, e se habituam às m odas in decentes
nos anos futuros.
Que resp onsab ilidad e para os pais, que, em vez
de guardar com cuidado a castidade de suas filh as
com o frágil tesouro, o expõem a todas as ciladas e
perigos destruindo, desde cedo, o véu do pudor!
E pelo que toca aos hom ens, também têm seus
deveres neste cam po, porque a m odéstia no vestir
obriga-os também. Em segundo lugar devem re­
frear com sua autoridade de pais, de esposos, de
irm ãos, a intem perança de suas filhas, esposas e
irm ãs, devida as m ais das vezes à incom preensão
e natural inadvertência.
Pode-se afirm ar que ao m enos a m etade da res­
p onsabilidade desta praga das socied ades m oder­
nas recai sobre os hom ens. (Esta id eia deverá ser
exp licada numa reunião de hom ens.)

Promiscuidade de sexos
A form a da vid a m oderna acentuou esta causa de
im oralidade: a prom iscuidade de sexos é quase
contínua, os m en inos e as m eninas, os h om ens e
as m ulheres andam quase sem pre m esclados nas fá­
bricas, nos negócios e também nas m esm as escolas.
D evem os, portanto, opor resistência a este foco
de im oralidade, ou ao m enos a suas consequências,
m ediante uma diligente vigilância. R ecordem os que
nesta m atéria é de evitar o p essim ism o ou a p re­
sunção; a castidade é tesouro p reciosíssim o que ao
m enor descuido pode perder-se.
Convém não aproxim ar dem asiado a palha ao
fogo, se querem os evitar o in cên d io. Esta é a norm a
do bom sentido, que vale também para o nosso caso.
A ex p eriên cia dem onstra, com efeito, que esta pro­
m iscu id ade in ju stificad a solta a prim eira faísca
donde haverá de nascer o in cên d io que tudo devore.
Estejam alerta os pais para não perm itir as di-
92 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

versões entre m eninos e m eninas, se não for na


p rim eira idade; tratem de que se evitem as ex­
cursões entre jovens de ambos os sexos, e sobre­
tudo os banhos mistos. Que tem pestade para a mo­
ralid ad e a que se levanta dessa fam iliaridade in­
devida e que se vai estendendo rap idam ente como
um contágio desde as grandes cidades até às al­
deias m ais afastadas!
E que terrív el responsabilidade p a ra os pais que
se m ostram com placentes quando não alentadores,
destes costum es que se vendem com o pom poso
nom e de m odernos! Não está longe o dia em que
chorem com lágrim as de sangue sua com placente
debilidade.
Palavras e ações contrárias à decência
A saliva é veículo de m uitas infecções, p o r isso
vemos escrito nas paredes dos quartos, nos vagões
dos bondes e dos tre n s: “E* p roibido cu sp ir.”
Pois da boca do hom em pode sair algo m ais in-
feccioso que a saliva: a palavra torpe, veículo de
m icróbios contagiosos p a ra a alma.
P ortanto, im peçam -se as conversas im orais, sem ­
pre e em toda parte, mas especialm ente quando aten­
tam con tra a inocência dos m eninos, unindo à
p ru d ên cia a coragem . P o r ex em p lo : um operário,
m em bro da Ação Católica, que em sua com panhia
tem outros que proferem palavras obscenas, não
há de p erm an ecer indiferente, senão que im pedirá
o escândalo, p rim eiro com m eios persuasivos, de­
pois dirigindo-se aos direto res da em presa. E as­
sim em casos sem elhantes.
E o nosso sinal de protesto tem m ais razão de
ser, quando não se trata já de p alavras inconve­
nientes senão de atos desavergonhados e de cenas
escandalosas.
O código penal de todas as nações civilizadas
castiga com penas severas todo atentado co n tra a
m oralidade.
Conclusão
H indem burgo passou à h istó ria como o vence­
d o r da batalha dos lagos M asurianos. De que modo
venceu o general alemão o poderoso exército ru s­
so? Com um a re tira d a estratégica p o r meio da
O APOSTOLADO DA M ORALIDADE 98

qual atra iu o inim igo a um a região pantanosa co­


b erta aparentem ente p o r grande extensão de v er­
dura. Ali pereceram m ilhares de soldados russos
afogados nos pântanos e devorados pelos rep tis que
viviam nas águas.
Isto é a im oralidade p ú b lica: um a vasta lagoa
coberta de v erd u ra enganadora. Indivíduos e po­
vos se precip itam p a ra lá e perecem m iseràvelm ente
no atoleiro, enquanto os im undos rep tis os devoram .
A im oralidade é a ru ín a dos povos e nações,
sinal de decadência civil e religiosa.
Com bater a im oralidade é, pois, fazer o b ra de
fé, de civilização, de religião e de patriotism o.
O APOSTOLADO DO CINEMA

Introdução
Há em Jerusalém um grande m uro, ru ín a do tem ­
plo judaico, aonde os hebreus vão, em dias deter­
m inados, a c h o ra r e o ra r; cham a-se o m uro das
Lam entações.
Lágrim as estéreis que não fizeram ressurgir o
tem plo m agnifico destruído p o r Tito, nem o farão
ressu rg ir no futuro.
A este p ra n to assem elha-se o de m uitos cristãos
que choram sobre ru ín as dos tem plos destruídos, ou
seja, das alm as p erv ertid as pelo escândalo, m ulti­
plicado hoje pelos portentosos passos do progresso
m oderno, como o cinem a, o rádio, a im prensa, e t c . . .
Contudo não fazem nada p ara re p a ra r as ruínas.
N enhum m em bro da Ação Católica pode filiar-
se a esta co n fraria de planejadores, porque o nos­
so program a é a Ação.
Na recente encíclica V igilanti Cura, sobre o cin e­
ma, o P apa deplorou os m ales causados por esta in ­
venção m oderna, mas ao mesmo tem po convidou os
bons católicos a re p a ra r os danos p o r ela causados
e a reagir. Seu convite é p ara nós uma ordem . To­
dos temos de colaborar na m oralização do cinem a.
Que farem os?
Indicarem os o que é que o P apa quer de todos
os bons, e em p a rtic u la r que é o que espera dos
m em bros da Ação Católica.
Uma promessa
Até há pouco, quase todas as películas que se
exibiam no m undo in teiro eram produzidas nos
E stados U nidos. Já com eçam a produzir-se tam ­
bém em o utras nações, todavia ain d a 80 por cento
nos vêm daquela nação.
De lá nos vem o mal, mas tam bém a indicação
do que farem os no terren o da m oralização dos es­
petáculos cinem atográficos.
Im pressionados pelas ru ín as causadas pelo ci­
nem a, os católicos norte-am ericanos iniciaram em
O APOSTOLADO DO CINEMA 95

1930 enérgica cam panha co n tra o cinem a im oral.


Antes de tudo, interv ieram com as casas p ro d u ­
toras, as quais co n co rd aram em regular a p ro ­
dução segundo um a n orm a ou código m oral a p re­
sentado pelos mesmos católicos.
E ’ certo que este código não se observou senão
p o r alguns anos, porque os p ro d u to res não creram
na constância da reação católica. Mas enganaram -se.
P erd id a esta batalha, iniciou-se outra com arm as
distintas e m ais eficazes; todo o E piscopado dos
Estados U nidos em preendeu um a cam p an h a con­
tra o cinem a im oral p o r m eio da “Legião da De­
cência”, cham ada assim porque seus fins eram os
de lograr a m oralização do cinem a. Os m em bros
desta Legião, legionários, com prom etiam -se solene­
m ente a não assistir a espetáculos indecentes e a
p ro c u ra r que os dem ais fizessem o mesmo. D ita
prom essa renova-se cada ano.
A Legião foi-se estendendo sobre todas as dioceses
e reun in d o num erosos aderentes, até e n tre os não
cató lico s: protestantes, judeus, conhecedores dos
males causados pelo cinem a im oral, co n trib u íram
com os católicos a esta cruzada em favor do bem .
Os resultados p rático s não se fizeram e sp e rar:
a prom essa foi fielm ente cu m p rid a p o r todos; os
espectadores d im inuíram , as en trad as das casas so­
freram fortes baixas. F erid o s na bolsa, que p ara
m uitos vale m ais que a consciência, os p ro d u to ­
res reflexionaram e m elhoraram a qualidade da
m ercadoria. D ata de então o term os hoje nos m er­
cados películas m enos más.
O P ap a q u er que a prom essa feita pelos cató­
licos norte-am ericanos seja im itad a pelos de ou­
tras nações.
Trata-se de um a sim ples prom essa, não de um
juram ento, pelo q ual aquele que a p ro n u n cia não
se faz réu de p erjú rio , se a não cum pre. Mas falta
à fidelidade, virtu d e que obriga p ara com os ho­
m ens e m uito m ais p a ra com Deus.
A prom essa obriga a não assistir aos espetáculos
indecentes, em q ualquer sala de exibição. Pelo qual
não obriga a abster-se, p o r com pleto, de assistir às
representações em geral, senão àquelas que ferem a
m oral. Mas nossa cam panha será m ais efetiva, se
96 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

desertam os de um teatro em que se representam às


vezes filmes que ofendem a dignidade e a decência.
A isto me d ir e is : “Pois como podem os saber
com antecipação o c a rá te r da película p a ra nos
absterm os de assistir a ela?”
O P apa pensou tam bém nesta dificuldade e daí
q u er que em cada nação se estabeleça um D eparta­
m ento N acional do Cine, debaixo da fiscalização
da Ação Católica, a fim de que revise e classifique
todas as películas e anuncie aos fiéis, por meio da
im prensa, a classificação de m erece. Na Colômbia
esta m issão vem cu m prindo com adm iráveis resu l­
tados a “Legião C olom biana de D ecência” por meio
da publicação sem anal na folhinha “Legião Colom­
b ian a da D ecência.” (A partado 1476. Bogotá.)

Razões desta promessa


V árias são as razões que nos devem obrigar a
fazer esta prom essa e a m antê-la.
l.° O b e m d e n o s s a s p r ó p r i a s a lm a s
O cinem a im oral ou só indecente é um perigo
gravíssim o p ara a v irtu d e em razão de seu poder
sugestivo: o cinem a fala aos sentidos, vista e ou­
vido, p o r m eio de quadros lum inosos e, m uitas
vezes, fascinadores. P o r isso, abre um sulco p ro ­
fundo em nossos ânim o s: bom ou nocivo segundo
o argum ento projetado na tela.
Muito m ais profundo é o seu influxo que o da
leitu ra que não fala com im agens aos olhos nem
aos ouvidos.
Os diários falam -nos dos delitos cinem atográfi­
cos; delitos com etidos p o r consequência da exibi­
ção de um a película. Jovens que, ao sair de um
teatro, p erp etraram os crim es que aí viram reali­
zados e perguntados pelo Juiz acerca dos m otivos
que os induziram a isto responderam que o viram
realizar-se num a fita.
E ’ certo que este grau de sugestão supõe in d iv í­
duos m ui sensíveis; m as, em igualdade de c ir­
cunstâncias, a sugestão opera-se até nos m ais equi­
lib rad o s dos espectadores.
Eis aqui um fato que com prova a nossa asserção.
Ao voltar um sen h o r a casa en co n tra a em pregada
O APOSTOLADO DO CINEMA 97

estendida na cam a e fortem ente atada. Os ladrões


haviam p enetrado na casa levando quanto encon­
traram à mão. D enunciado o fato, a em pregada
é levada p a ra os trib u n a is de investigação que
descobrem que ela era a cúm plice do furto e que
o havê-lo encontrado atada não era senão um tru ­
que para d espistar a polícia. Mas onde tin h a a p re n ­
dido um m odo tão genial p a ra d esp istar os in ­
vestigadores? No cinem a, onde havia visto a p ro ­
tagonista de um roubo fazer o mesmo.
2." Pelo bem dos dem ais
Abstendo-se de assistir a espetáculos im orais, da­
mos um bom exemplo, que vale p ersu ad ir m ais
que um longo discurso.
Todavia, enquanto puderm os, havem os de ach ar
meio tam bém de persuasão, fazendo um a v erd a­
deira p ropaganda co n tra os espetáculos im orais.
A isto nos obriga a prom essa que fizemos.
Como poderá perm an ecer insensível um católico
e um m em bro da Ação Católica ante os estragos que
causa o cinem a im oral, cham ado pelo P apa na c i­
tada encíclica: “escola de co rru p ção ” , e “in to x i­
cação das inteligências e das alm as” ? Estas d i­
versões são a perversão dos ânim os juvenis. No
cinem a se repete todos os dias o crim e de Hero-
des, quando fez degolar os inocentes, e delito m ais
grave até, porque se trata da m orte da consciência.
E’, pois, dever urgente de apostolado e de ca­
rid ad e im p ed ir ou ao m enos lim ita r este assassí­
nio das almas.
3.° Para obter o m elhoram ento m oral do cinem a
Isto nos prova o resultado obtido pelos católicos
dos Estados U nidos. E esse efeito tornar-se-á m ais
vasto e sensível quando o exército dos abstencio­
nistas, dos apóstolos do cinem a m oral aum entarem
em todo o m undo.
Este nobre exército da salvação há de te r a sua
b an d eira em nossa paróquia.
Conclusão
Os governos deram provid ên cias p a ra resolver o
problem a dem ográfico e económ ico que am eaça a
vida das nações; m as hoje esta vida está sèria-
Formação — 7
98 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

m ente am eaçada pela perversão dos costum es e


pela relaxação da fam ília. Já dissemos, o cinem a
é um dos p rin c ip a is fatores da quebra da m oral e
da fam ília. O qual im plica um falso conceito da
vida da mesma, que é considerada p or m uitos, não
como um dever senão como um prazer. E isto en­
fraquece o sentim ento fam iliar porque a m iúdo
co n trib u i a d ar ao m atrim ónio e aos deveres que
im põe um caráter antipático.
Nossa cam panha contra o cinem a im oral h á de
apoiar-se, pois, na consciência de cristãos e de
cidadãos, e deve ter como fim o bem da Religião
e da P átria.
Como os legionários de Roma, com batem os pelo
“altar e pelo la r” ; pro aris et focis.
APOSTOLADO DA IMPRENSA

Escreve o fogoso apologista T ertu lian o : “D ia virá


p ara a Igreja em que o testem unho de seus escri­
tores terá o valor do sangue e do m a rtírio .”
A com paração visa unicam ente o testem unho apo­
logético, porque en cerra uma grande v erd ad e: a
do inegável pod er m oral da im prensa.
Vejamos, pois, qual é esse poder, donde dedu­
zirem os p ara nós o dever do apostolado da im ­
prensa, dever que m uitos desconhecem . Veremos fi­
nalm ente como se tem de com preendê-lo e praticá-lo.
Poder da imprensa
Na casa de Gutenberg, inventor da im prensa,
inscreveu-se esta legenda: “Ninguém me resiste.”
Com ela nos é indicado o pod er m aravilhoso da
im prensa, assim como a im po rtân cia da invenção.
Pio XI diz: “A im prensa é, em nossos tem pos,
um a força poderosíssim a que pode converter-se na
m ais proveitosa ou na m ais danosa p a ra a vida
do m undo e da Igreja.”
E em verdade, em nossos tem pos, o povo regula
a sua opinião e dirige a sua vida segundo o sen­
tir do periódico.
P oderia parodiar-se o refrão castelhano que diz :
“Diga-me que d iário tu lês e dir-te-ei como pensas.”
Outro refrão diz: “Mais m ortos fez a língua que
a espada” ; e hoje poderíam os a c re sc en ta r: “Hoje
a im prensa não faz m enos m ortos do que a lín ­
gua.” O diário é arm a de largo alcance; a m á lín ­
gua pode-se co m p arar com um punhal hom icida;
a m á im prensa tem um alcance m uito m aior.
Quem poderá contar os m ales causados pela má
im pren sa? O profeta Ezequiel viu em visão um
cam po coberto de ossos hum anos; se tivéram os a
visão das almas, que cem itério vasto se ofereceria
aos nossos olhos! Q uantas alm as m ortas p ara a
vida sobrenatural! Pi se vamos buscando as causas
encontrarem os quase sem pre as más leituras.
Dante achou no inferno a F ran cisca de R ím ini,
culpada de adultério p o r ter lido, e ouviu que se
7*
100 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

lam entava dizendo: “M aldito seja o livro e quem


o escreveu.”
Q uantos livros, jornais, folhetos m alditos! E quan­
tas alm as no inferno p o r causa da m á leitura!
E se é grande a influência da im prensa sobre a
vida in dividual, não o é m enos sobre a social; p o r
isso se disse que a im p ren sa vence canhões. E não
é exagero. Vimos, d urante a guerra, quanto o poder
de certa im prensa anulava os efeitos dos canhões.
E tão certo é que m uitos governos se viram o b ri­
gados a im por a censura aos jornais. Esta pública
censu ra é a m ais clara dem onstração do po d er da
im prensa e, em especial, da im prensa periódica.

Dever grave
Se a im prensa é arm a tão poderosa, e se é causa
de tantas ru ín as, que farem os nós? A que rem é­
dio nos socorrerem os?
O rem édio é um só: a boa im prensa. Opor a r­
m as a arm as. Inúteis são as lam entações e o pran to
pela ruin a das alm as causada pela m á im prensa.
Daí o grave dever do apostolado da boa im prensa.
E daí o m andam ento do P ontífice Pio XI. Em o
notável discurso aos m em bros da Sociedade da Boa
Im p ren sa de Milão, d izia: “Concebestes o desígnio
de p re p a rar, d ifu n d ir e m u ltip licar a boa im prensa
no serviço do bem . Vosso lab o r é o m ais eficaz e
insubstituível porque o sem elhante se cura com o
sem elhante.”
E sta é a necessidade im periosa dos nossos dias.
E spontâneam ente nos vem à m em ória a recordação
do sorriso daquele bom frad e que não c ria que a
invenção da im prensa acabasse na te rra a tra d i­
cional diligência dos co p istas; ou a de M aquiavel
que não cria na aplicação p rá tic a das arm as de
fogo; ou a de N apoleão que não acreditava no uso
do vapor como força m otriz. A im prensa, com o a
pólvora e o vapor, im puseram -se ao m undo.
P a ra que há de ser a boa im prensa?
O P apa responde-nos na carta ao C ardeal P a­
tria rc a de L isboa: “P o r boa im p ren sa entendem os
não só a que não contém nada con tra os p rin cíp io s
da fé e as reg ras da m oral, m as tam bém a que se
faz defensora de tais p rin c íp io s.”
P ortanto, não basta não falar m al de C risto: é
APOSTOLADO DA IMPRENSA 101

necessário falar bem. Em presença de Cristo não


podem os ficar neutros. O mesmo disse: “Quem não
está comigo está con tra m im .” E estamos com
Cristo quando crem os e defendem os tudo o que
Ele ensinou, quando observam os todos os seus m an­
dam entos, quando respeitam os os direitos e as
prescrições de sua Igreja.
Isto vale p ara a im p ren sa: será boa e católica,
quando, sem causar a ru ín a das almas, as m elho­
ra, as eleva e lhes infunde um sopro de esp iritu a­
lidade; é resolução, quando é instrum ento de edu­
cação cristã.
Dever desconhecido
Agora se com preende m uito bem p o r que o apos­
tolado da im prensa é um dos m ais graves e u r­
gentes p a ra os católicos. Como d escuidar um meio
tão poderoso e tão apto p a ra a difusão da verdade
e do bem ? E, contudo, este é um dos deveres m ais
desconhecidos e m al com preendidos.
Ao ver alguém os estragos que causa a m á im ­
prensa, disse que é invenção diabólica. N ada m ais
falso: todas as invenções são em si mesm as obra
de Deus, enquanto são revelação e aplicação das
forças da natureza, feita de Deus.
Mas tam bém é verdade que desta como de todas
as outras invenções dos últim os tem pos se apode­
raram os filhos das trevas, enquanto os filhos da
luz se contentavam com ch o rar e lam entar-se, com
isso cum prindo-se a palavra d iv in a: “Mais p ru ­
dentes são os filhos das trevas que os da luz.”
0 cardeal Lavigerie, apóstolo dos negros, excla­
m ara em um de seus d iscursos: “Uma coisa nota-se,
nestes m om entos, nos católicos: a carid ad e em prol
das obras de beneficência é inesgotável, têm dinheiro
p ara co n stru ir igrejas, hospitais e capelas, p a ra ali­
v iar os pobres, p ara desenvolver as instituições
piedosas. Mas a luta destinada a defender a Igreja
e a sociedade divina não parece preocupá-los e não
há dúvida que esta luta é, na hora presente, im por­
tante sobre toda ponderação. F u n d a r e destin ar um
diário, encam inhado a d efender a boa causa, é
quase tão necessário como c o n stru ir um a igreja.”
Precisa, pois, sacudir a inércia, form ar uma nova
consciência.
Todos os católicos hão de em penhar-se nesta obra
102 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

e, de m aneira p articu lar, os agregados à Ação Ca­


tólica, estes que estão consagrados ao apostolado.
O exem plo vem de cim a e de longe: do mesmo S.
Paulo, modelo dos apóstolos. E’ célebre a frase de
M onsenhor K etteler: “Se S. Paulo tornasse ao m un­
do, far-se-ia jo rn alista.” Frase que Pio XI com entou
em um discurso deste m odo: “Disse um que, se o
apóstolo S. Paulo vivesse em nossos dias, seria jo r­
nalista. Não há dúvida que S. Paulo, não obstante
as dificuldades m ateriais, com suas cartas e seus es­
critos tão m aravilhosam ente m ultiplicados e que, ao
fim de seus dias, levou a tantas partes a luz do seu
Evangelho, não há dúvida que aquele homem de al­
ma tão ard en te na propagação da doutrina de Cristo,
se tivesse servido da m ais poderosa arm a p ara p ro ­
pagar a ideia e o pensam ento que é a im prensa.”
Como cumprir este Apostolado
Este dever há de se cu m p rir, especialm ente, de
três m an eiras: com a leitura, com a difusão, com a
ajuda m aterial c m oral p ara a boa im prensa.
l.° Com a leitura
Todos os católicos, mas de m aneira especial os
inscrito s na Ayão Católica, consid erarão como um
de seus p rin cip ais deveres o ler os diários cató­
licos, instrum entos eficazes de form ação religiosa,
m oral e social.
Alguns se escusam deste dever dizendo que os
outros diários estão m elhor redigidos. Pois “se
nossas publicações são até deficientes e necessi­
tam m elhorar, o modo m ais eficiente para alcançar
isto é apoiá-las; de outro modo cairem os no cír­
culo v ic io so : não se apoia a im prensa católica p o r­
que é defeituosa e im perfeita, e as publicações são
im perfeitas e defeituosas porque não são apoia­
das.” (Mons. G. B. G irardi, Bispo de Pavia.)
A im prensa sustém-se com a leitura e com as
assinaturas.
2.° Com a difusão e com a propaganda
Não basta ler um bom periódico, é preciso fa­
zer lê-lo e este é um dever p articu lar da Ação Ca­
tólica como ensina Pio X I: “Uma atividade a que
a Ação Católica tem de aten d er com preferência
é a de p ro cu rar a difusão da boa im prensa, e p a r­
ticularm ente de im prensa d iária, a qual, por ser m ais
difundida, é tam bém a que exerce m aior influxo.”
APOSTOLADO DA IMPRENSA 103

A Ação Católica é a co laboradora da Je ra rq u ia e


era nenhum cam po pode colaborar raais eficaz­
m ente que neste da im prensa, pois, como o diz
o já citado P o n tífice: “Os diários católicos são os
porta-vozes da Jerarq u ia e de seus ensinam entos.”
Ademais, a voz do periódico sem pre se ouve até
quando cale a do sacerdote. Dizia um católico ale­
mão num co n g resso : “O d iário é o m elhor coadju­
tor do P ároco.” O Pároco não prega senão uma vez
por sem ana e tem-se de ir escutá-lo; o diário^ prega
todos os dias e vem p ro curar-nos em casa.”
3.° Com a ajuda e a colaboração
Ajuda m oral, m orm ente da oração. Ajuda m ate­
rial, porque a im prensa, e em especial o diário,
não pode sustentar-se sem um a poderosa organiza­
ção financeira.
Os católicos hão de h abituar-se a co n sid erar co­
mo obra de beneficência o ajudar p ecuniàriam ente
a im prensa. Não só de pão vive o homem, disse
o Salvador; e a boa im prensa q u er n u trir as almas
com o pão da verdade e da virtude. Não será esta
acaso obra de beneficência?
Conclusão
O célebre W indthorst, fun d ad o r do p artid o do
Centro, na A lem anha, dizia: “Tem os necessidade de
um sexto m andam ento da Igreja: aju d ar à boa im ­
prensa.”
Bem com preenderam a necessidade deste p re­
ceito os m em bros de certa organização juvenil de
Ação Católica, que na sede de suas reuniões in sta­
laram um cofre com esta legenda: “P ara o d iário
católico”, e ali cada um podia depositar quanto
quisera, em favor da boa im prensa. No fim do ano
e ao ab rir o cofre encontraram -se cinquenta liras
com as quais se tom aram assin atu ras do diário cató­
lico, para os habitan tes da região. Ao ano seguinte
os que tinham desfrutado do benefício do d iário ca­
tólico queriam pagar a m etade da assinatura, e as­
sim o diário católico foi p en etran d o nos arredores.
Este é um exem plo adm irável de apostolado em
favor da boa im prensa. Quando estarão anim ados
de sem elhante espírito todos os m em bros de Ação
Católica?
Q uando isto se alcançar, estará resolvido o p ro ­
blem a do diário católico e da boa im prensa.
0 APOSTOLADO DO LIVRO
Introdução
Elogiando o falecido P ontífice Pio XI as ativida­
des da Sociedade da Boa Im prensa de Milão, dizia
um dia estas palavras cheias de v erd ad e: “Vosso
trabalho é v erd ad eira o b ra de caridade, cum prida
sapientissim am ente como q u er o E sp írito Santo.”
Quando p ronunciou estas palavras, tin h a o P apa
consigo “Os N oivos” de Manzoni, de quem era ad­
m irador. X aqueia novela se fala da fundação da
Biblioteca A m brosiana, o b ra do C ardeal F rederico
Borrom eu, da qual se diz que “se fez lutando con­
tra a ignorância, a in ércia e a a p atia” e o agudo
novelista cham a-a de “a m elhor e m ais útil esmola.”
Somos do p arecer de Manzoni, do Cardeal Bor­
rom eu e do mesmo Augusto P o ntífice Pio XI, e,
p o r isso, vamos expor as razões do nosso m odo de
pensar.
Dever de caridade
Reza um provérbio ita lia n o : “Aquele que lê, co­
m e” e assim é na re a lid a d e : a leitura engendra
as ideias, as ideias são o alim ento da inteligência.
A leitura, pois, nutre e fortalece a mente.
E assim como tem os cuidado p a ra que os ali­
m entos que nutrem o corpo sejam sãos, de outro
m odo se co nverteriam em causa de intoxicação:
de igual m aneira temos de velar p o r que os livros
que são o alim ento da inteligência sejam sãos.
O bom livro é o sustento do espírito.
Sendo assim , será obra de carid ad e o p ro cu rar
que nossos irm ãos tenham sem pre alim ento in te­
lectual são. D ar um pedaço de pão ao esfomeado
é obra de carid ad e m uito excelente; mas será m aior
o p ro c u ra r o sustento de tantas almas extenuadas
p o r falta de sãs leituras.
Mas quem cogita das necessidades da alm a?
Q uantos são os que com preendem esta obra de ca­
rid ad e?
Ao menos nós, m em bros da Ação Católica, con­
sagrados ao apostolado, devemos ter cuidado de
nossas p ró p ria s e das alm as dos próxim os, como
quer o P apa, quando nos diz que a “Ação Católica
O APOSTOLADO DO LIVRO 105

tem de p re p a ra r, d ifu n d ir, m u ltip licar a boa im ­


prensa no serviço do bem .”
Eficácia do livro
Alguns, quando se lhes fala da boa im prensa,
pensam logo na im prensa p e rió d ic a : diário ou re ­
vista. E é n atu ral que estas publicações, que são as
m ais lidas, atraiam a nossa atenção. Mas convém não
olvidar as outras publicações e, sobretudo, o livro.
Na realidade, se o p erió d ico vence ao livro em
difusão, porque é m ais lido, perde m uito em
profundidade. Com efeito, o livro, com p en etrar
m ais na alma, deixa im pressões m ais duradouras,
diz m ais coisas do espírito e perm anece conosco
por m ais tem po, até depois da leitura, como bom
amigo a quem nunca se abandona.
P or isso, diz o refrão que “ um bom livro é um
bom am igo” e o E sp írito Santo assegura-nos que
“quem achou um bom amigo encontrou o m aior
dos tesouros.” Ao invés, quem topa com um m au
livro, dá com sua ruína, como confirm a a expe­
riên cia de todos os dias.
A leitura de bons livros deu m uitos santos à
Igreja, ao passo que a de m aus livros foi a causa
da ru ín a de m uitos, especialm ente dos jovens.
Vamos provando estas asserções com alguns da­
dos históricos.
Efeitos do bom livro
Inácio de Loiola, oficial do exército espanhol é
gravem ente ferido no sitio de P am plona, e vê-se
obrigado a se re tira r a um castelo em busca da
cura. P ara d istra ir os ócios da enferm idade pede
uma novela. Na escassa biblioteca do castelo não
há m ais que a vida de Cristo e algum as vidas de
Santos. Pede lhe tragam a de S. F rancisco de As­
sis e de S. Domingos. Logo se sente transform ado
e daquela leitura data a sua conversão em soldado
de Cristo.
Outro fato m ais recente.
Bem conhecida é a biografia de P edro Jorge
F rassati, escrita pelo salesiano P ad re Antônio
Coiazzi.
Um dia recebe o autor a seguinte c a rta m uito
sig n ific a tiv a :
“Ontem de tard e tom ei o trem . P ara m atar o
tempo de longa jo rn ad a que ia fazer tin h a comigo
106 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

um a novela, mas de rep en te meus olhos toparam


com um em brulho que me cham ou a atenção e,
levado pela curiosidade, o abri. Ao ver que tinha
a vida de P edro Jorge Frassati, disse entre m im :
E stas são coisas de P ad res e agora não estou para
ler beatices. A profundei-m e, pois, na leitura do
perió d ico ; mas, como a travessia era longa, bem
depressa acabei de o ler. Tomei, então, sem inte­
resse, a vida do jovem e li ao acaso algumas pá­
ginas, mas, aos poucos, fui-me sentindo atraído,
e não a deixei senão com a últim a linha.
Não saberia dizer-lhe o que experim entei, pois,
apenas chegado ao term o da viagem, dirigi-m e
im ediatam ente à igreja, pus-me de joelhos e su­
pliquei ao sacerdote que me ouvisse de confissão.
Escutou-m e com paciência e com carinho e con­
duziu-me depois ao banquete eucarístico.
Naqueles m om entos senti em mim um estrem e­
cim ento de bondade e supliquei a Pedro Jorge que
me conservasse sem pre religioso.”
Efeito da leitu ra de um bom livro.
E quem nos d irá os bens que p roduziu a lei­
tu ra da vida de S. T eresin h a do M enino Jesus?
Efeitos do mau livro
Mas, em outro sentido, quanto é o mal que pode
causar um livro p re ju d ic ia i! Vejamos alguns exem­
plos.
Faz apenas alguns anos, ventilava-se nos trib u ­
nais de P aris a causa de um m enino de quinze
anos, acusado do assassínio de um m enino de seis.
Qual era a causa do delito? E xplica-nos assim o
mesmo c rim in o so : “Li num a novela a história do
assassínio de um m enino e isto me surpreendeu
profundam ente. A casualidade pôs-me frente a este
m enino de cujo assassínio sou acusado e quis re­
p ro d u zir e gozar a cena que tinha lido.”
Quem é o m ais culpado? O m enino assassino
ou o escrito r do conto?
Não faz m uito que a im prensa nos deu notícia
de um jovem encontrado m orto em seu quarto.
Ao rev istar a casa a au toridade achou sobre a
mesa de cab eceira aberto um livro de Ortiz, no
qual se n a rra com cores sedutoras o suicídio de
um jovem. A leitura foi fatal.
O APOSTOLADO DO LIVRO 107

E m esm o que a leitura de maus livros não con­


duza sem pre a estes excessos, deixa na alm a o
horror e a tristeza.
Conta-nos S. Teresa de Jesus, no livro de sua
vid a escrita por ela m esm a, que esteve ao ponto
de perder-se pela leitura dos livros de cavalaria.
“H abituei-m e a ler, escreve, e parecia-m e que não
era pecado perder tanto tem po naquele vão exer­
cício . A paixão apoderou-se de tal m odo de m im
que não podia estar con ten te se não tinha algum
livro novo. C om ecei a vestir-m e com elegân cia e a
querer fazer boa figura, para o que cuidava muito
do cabelo e de todas as outras vaid ades deste gê­
nero.” Por sorte o pai, cuidadoso da educação
da jovem , encom endou-a a bons educadores e junto
deles acabou-se o perigo das más leituras.
Normas práticas
Como crislãos
Amar o bom livro, grande m eio de form ação es­
piritual. A feiçoar-se às vid as dos Santos, sobre­
tudo dos que em nossos dias se distinguiram por
uma vida exem plar.
R ecusar de m aneira absoluta todo livro frívolo,
m esm o que não seja im oral, e p ed ir sem pre o pa­
recer de um Confessor ilustrado. '
Como apóstolos
Propagar o bom liv r o : fazê-lo conhecer, acon­
selhá-lo, dá-lo em prestado. Este é um dos prin­
cip ais deveres dos m em bros da Ação Católica.
D estruir os livros m a u s: este é um dos m eios
de acabar com os focos de corrupção espiritual.
D epois da pregação de S. Paulo em Éfeso, os
cristãos trouxeram -lhe os livros que continham
fórm ulas m ágicas e “os queimaram em presença
de todos e, feito o côm puto, acharam que valiam
cinquenta m il d enários”.
O exem plo vem -nos de cim a e de longe.
Conclusão
Um instrum ento de apostolado do livro são as
bibliotecas paroquiais e diocesanas. Como m em ­
bros da Ação Católica favoreçam os aos nossos P á­
rocos na consecução de uma b iblioteca paroquial,
onde, por preços m ódicos, nos será brindado são
alim ento para a alma.
O APOSTOLADO DA BENEFICÊNCIA

Introdução
S. In ácio Mártir chaina ao Papa “P resid en te da
carid ade”, palavra que se há de entender aqui
em seu sentido estrito de b en eficência.
T odos aqueles a quem o Papa cham a seus f i­
lhos hão de im itá-lo 11a prática desta virtude e
hão de ser, portanto, m inistros e instrum entos da
b en eficên cia.
A caridade ou a b en eficên cia é um dever de
cristão.
Mas é também um grande m eio de apostolado e,
por esse aspecto, querem os considerá-la por ora,
porque interessa de m odo especial aos associad os
na Ação Católica. A qual abarca em seu programa
toda forma de apostolado e, por isto m esm o, o
da caridade ou. da b en eficên cia que é um dos m ais
eficazes.
P io XI ensina que se tem de procurar o bem
do corpo pelo amor da alm a: chegar à alm a por
m eio do corpo. Este foi o segredo da grande ca­
ridade de S. V icente, de S. Benedito Cottolengo
e de S. João Bosco. A ssim se explicam as gran­
des conquistas das alm as que é o que tem de fa­
zer a Ação Católica.
Vam os estudar:
1. ° Como e por que a b en eficên cia é um m eio
de apostolado.
2. ° Como usavam dela Jesus Cristo, os A pós­
tolos e a Igreja.
A beneficência é um meio de apostolado
Por várias razões das quais a prim eira é que
a b en eficên cia é uma dem onstração efetiva da d i­
vin dad e da religião.
A le i da caridade é com o o d istin tivo e o lem a
que distingue a nossa santa religião, a qual, com o
seu autor, é caridade. Quem senão Cristo podia dar
a seus seguidores este p r e c e ito : A m ai-vos çom o
O APOSTOLADO DA BENEFICÊNCIA 109

irm ãos. N enhum a religião nem filosofia nunca deu


a seus adeptos este m andam ento m ilagroso. A c a ­
rid ad e é um a com o irrad iação da luz divina.
Mas que vale a carid ad e, se não for m ais que
sonido de p alav ras ou p uro sentim entalism o? P o r
isso ensina-nos o apóstolo S. Jo ão : “F ilhinhos
meus, am em o-nos não de p alavras e de língua, se­
não com as obras e de verdade.” Se de verdade
am am os a nossos irm ãos, tem os de desejar-lhes e
fazer-lhes o bem.
P o r isso, a b eneficência é m anifestação da ca­
rid ad e e esta prova a divindade da religião.
Na realidade a beneficência foi sem pre um a r­
gum ento de p ro p ag an d a e de defesa da religião
cristã e, po rtan to , um m eio de conversão à fé.
O m undo pagão converteu-se ao cristianism o por
meio da pregação e dos m ilagres dos Apóstolos, mas,
sobretudo, pelo resp len d o r da carid ad e benéfica dos
p rim eiro s cristãos. Os nobres e senhores con sid era­
vam seus escravos com o irm ãos; todos, ricos e po­
bres, particip av am em dias determ inados dos ága­
pes ou banquetes de c a rid a d e ; cad a um trazia os
alim entos segundo suas possibilidades, os ricos m ui­
to, pouco os pobres, mas todos com iam a um a m esma
m esa e na m esm a m edida. A beneficência era p ra ­
ticada, não só em Jerusalém , senão em todas as
com unidades cristãs, de form a que se podia dizer
que nenhum a delas padecia necessidade.
Os pagãos, diz-nos T ertuliano, ficavam atónitos
ante este espetáculo de fra te rn id a d e e de carid a d e
e exclam avam : “Vede como se am am .” Este p ro ­
ceder atraía sim patias à religião, autora de sem e­
lhantes prodígios, e daí as num erosas conversões.
Notável é a conversão de S. Pacôm io. Pagão,
aderente ao exército de C onstantino, chegou um dia
em que as tro p as m orriam de fome; os cidadãos co­
nhecedores da necessidade levaram espontâneam en­
te alim entos aos soldados em tal ab u n d ân cia que
Pacôm io ficou m aravilhado e exclam ou: “Mas que
classe de gente é esta?” Soube que eram cristãos
e que sua religião lhes ordena so co rrer e aju d ar os
necessitados. Im ediatam ente decidiu a b ra ç a r esta
religião e nela chegou a ser um de seus Santos.
E não se dá o m esm o hoje em d ia? As obras de
110 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

carid ad e convertem m ais ím pios que os liv ro s de


apologética, como sucede com a P equena Casa da
P ro v id ên cia de T urim , verd ad eiro prodígio de ca­
rid a d e e asilo de todas as m isérias hum anas.
Jesus Cristo mesmo p redisse o valor probatório
da carid ad e, q u ando no Serm ão da últim a Ceia
rogou ao P a i: “Pai, não rogo som ente p o r eles,
senão tam bém pelos que p o r sua palavra chegarem
a c re r em m im , p ara que sejam todos um e o m un­
do cre ia que tu me enviaste.” Daí que a caridade
fra te rn a dos cristãos é um dos m eios para o m undo
c re r em Jesus Cristo, enviado do P adre.
O utra razão é que a beneficência toca o coração
do favorecido, e, ganhando o coração, é m ais fácil
chegar à inteligência e à vontade.
E sta verd ad e apoia-se em a natureza psicológica
do hom em e tem p ara si a prova da experiência,
ao m ostrar-nos que, fazendo o bem aos corpos, é
m ais fácil g an h ar a alma.
Isto se dava com S. F rancisco de Assis, de quem
se escreve no livro “F io re tti” que “a quantos cu ra­
va o corpo, Deus lhes curava a alm a.” Certa vez,
num a h o sp ed aria o nde os filhos do Santo serviam a
um leproso tão im paciente e insuportável que p a­
recia, e assim era, estar possesso, os frades quise­
ram despedi-lo, m as antes advertiram a S. F ra n ­
cisco q u e vivia ali perto. O qual foi incontinenti
aonde estava o leproso insuportável e o exortou à
paciência, mas sem resultado nenhum . Então o San­
to lhe disse: “Posto que não estás contente com teus
servidores eu mesmo te serv irei.” O leproso res­
p o ndeu-lhe: “Quero que me laves todo o pus que
sai de mim mesmo e que está tão fedorento que
nem eu posso aguentar o mau ch eiro.” Logo S.
F rancisco, dizem -nos “ F io re tti”, fez esquentar água
com ervas perfum osas e, p o r divino m ilagre, onde
o Santo tocava com suas m ãos a lep ra se retirava,
deixando são o enferm o. Começou a sarar a carne,
e com eçou a sa ra r a alm a; vendo o leproso que
o corpo sarava, com eçou a se n tir grande com pun­
ção e p en itên cia de seus pecados e pôs-se a cho­
ra r am argam ente. E enquanto o corp o lançava fora
a lep ra que o afetava, a alm a desprendia-se por
d entro da le p ra do pecado, p o r m eio das lágrim as
e do arrependim ento.
O APOSTOLADO DA BENEFICENCIA 111

Este é o m étodo do apostolado fran ciscan o :


cu ra r a alma, sarando o corpo; ou, como diz Pio
XI, ‘‘buscar a alm a através do corpo”. E quantos
fatos nos falam da eficácia deste método!

Exemplo de Cristo, dos Apóstolos e da Igreja


E xem plo de Cristo
Diz-nos S. Lucas que o Salvador passava fazendo
o bem, curando os corpos, mas, sobretudo, as almas.
Lem brem o-nos da cura do paralítico que trouxe­
ram para que o Senhor o curasse; começou p o r lhe
cu rar a alm a: “Confia, filho, teus pecados te são
perdoados.” E como o acusassem de blasfêm ia, res­
pondeu : “A fim de que saibais que o Filho do Ho­
mem tem p o d er de p e rd o a r os pecados”, disse ao
p a ra lític o : “Levanta-te, tom a teu leito e anda.” E,
deste modo, enquanto o curava da p aralisia corpo­
ral, cura-o da en ferm id ad e da a lm a .. . À benefi­
cência corporal vai acom panhada da espiritual.
E não aconteceu o mesmo na m ilagrosa m u ltipli­
cação dos pães? Dá às m ultidões o pão do corpo,
mas logo lhes dá o da alm a: “T rab alh ai não pelo
alim ento que passa, senão pelo que dura até a vida
eterna. Eu sou o Pão vivo descido do céu. Quem
come a m in h a C arne e bebe o m eu Sangue terá a
vida eterna e eu o ressuscitarei no últim o dia.”
A seus discípulos recom enda o mesmo m é to d o :
“Em qualquer cidade o nde e n tr a r d e s .. . curai os
enferm os que ali houver e dizei-lhes: —• Aproxim a-
se o Reino de Deus.” P rim eiro cu rai e depois an u n ­
ciai-lhes o Reino de Deus. À pregação há de p re ­
ceder a beneficência, p a ra que esta p rep are os â n i­
mos a receber o anúncio salutar. Os Apóstolos deve­
rão evangelizar o m undo com a carid ad e e a palavra.
E xem plo dos Apóstolos
A histó ria diz-nos que foram fiéis seguidores do
preceito do Mestre, exercitavam o apostolado da
palavra e o da beneficência, curavam os corpos
p a ra cu rar as almas. Basta re c o rd a r o fato da cura
do paralítico na p o rta do tem plo de Jerusalém , e
da qual se serve o apóstolo S. P edro p a ra fazer ao
povo um se rm ã o : “O nom e de C risto curou a este
112 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO

que vedes e conheceis, e a fé que vem d’Ele deu


a este a perfeita saúde.” E peia palavra de S. P e­
dro se converteram cinco m il hom ens. Depois do
benefício, a exortação e a conversão.
E xem plo da Igreja
À luz destes exem plos a Igreja sem pre se tem
preocupado com so co rrer às necessidades m ateriais
dos povos, crian d o um a vasta rede de obras de
b eneficência que são o inais belo ornato de sua
h istó ria b im ile n á ria : hospitais, asilos, institutos de
correção, hospícios, e t c . . . .
E sem pre, p o r meio destes benefícios, chegou
à salvação de m uitas almas.
Já antes dissem os como a Casa da M isericórdia
de T urim é um argum ento em favor de nossa tese
e, p o r isso, pôde o d ire to r da o b ra assegurar ao
P ap a Bento XV que nenhum dos asilados ali tin h a
m o rrid o sem receb er os últim os Sacram entos.

Conclusão
Num discurso à Juventude Católica Italian a dizia
o P apa Pio X I: “O m undo não crê hoje nas pala­
vras da fé, mas, sim, nas da carid ad e.”
E sta verdade foi que sugeriu a F rederico Ozanam
a fundação das C onferências de S. V icente de P au ­
lo. Um dia, seus com panheiros na U niversidade de
P a ris lhe disseram : “T endes razão quando falais do
passado; o cristianism o fez verdad eiram ente p ro d í­
gios naquela época; m as hoje está m orto. P ortanto
vós que vos orgulhais do nom e de católico, que fa­
zeis? Onde estão as obras que m ostram vossa fé?”
“Têm razão”, disse prontam en te Ozanam, sem
em baraço. “Falta-nos p ô r de acordo a fé com as
obras. Mas que fazer p a ra m ostrar-nos verd ad eira­
m ente católicos, senão o que agrada a Deus? So­
corram os, pois, o próxim o, como fazia o Salvador,
e ponham os a fé sob as asas p ro teto ras da carid ad e.”
Esta é a resolução que tem os de tom ar os cató­
licos de hoje e, em p articu lar, nós católicos m i­
litantes. Vamos à alm a do povo p a ra ganhá-lo p ara
C risto p o r m eio da caridade.
SACERDÓCIO E AÇÃO CATÓLICA

A vinte de Dezem bro de 1935, Pio XI b rin d ava


o m undo com a célebre encíclica sobre o sacer­
dócio, docum ento que teve grande aceitação em
todo o universo e que não só interessa aos sacer­
dotes, mas tam bém aos que com eles colaboram
nas fileiras da Ação Católica.
A encíclica divide-se em três p a rte s: na p r i­
m eira trata-se da dignidade do sacerdócio, na se­
gunda da santidade e na terceira da prep aração
p ara o mesmo.
Queremos d em onstrar que, em cada um a destas
partes, algo há que se relaciona com a Ação Ca­
tólica.
Dignidade do sacerdócio
O Papa dem onstra, antes de tudo, a altíssim a
dignidade do sacerdócio, m in istério que “tem p or
objeto não as coisas hum anas e tran sitó rias, se­
não as divinas e eternas.” O sacerdote, afirm a o
Santo P adre, tem um ofício, em certo modo, su­
p erio r ao dos espíritos puros que estão na presença
de Deus, “porque, qual dos anjos pode consagrar
o Corpo de Cristo, p e rd o a r os pecados e a b rir as
portas do céu?”
T inha, pois, razão o santo cura de Ars ao dizer:
“Se me encontrasse com um sacerdote e um anjo,
cum prim en taria p rim eiro ao sacerdote e, depois,
ao anjo.”
Que estas palavras não são um exagero, dem onstra
o fato ex trao rd in ário que se lê na vida de S. F ra n ­
cisco de Sales. 0 P relado acabava de o rd e n a r um
sacerdote de A nnecy: term in ad a a cerim ónia, en­
quanto se retirav a o cortejo da igreja, o novo sa­
cerdote viu ao seu lado o Anjo da G uarda que o
acom panhava. Chegados a casa pôs-se a um lado
para deix ar p assar o Anjo. Mas o Anjo não se m o­
veu até que o sacerdote lhe havia precedido.
Pois bem, a Ação Católica, p articip ação no apos-
Formação — 8
114 FORMAÇÃO PARA O APOSTOLADO

tolado da Jerarq u ia, p a rtic ip a tam bém da digni­


dade da mesma.
Este é o ensinam ento de Pio XI quando escreve:
“Os que m ilitam na Ação Católica, por uma graça
especial de Deus, são cham ados a um a dignidade
m uito sem elhante à do sacerd o te: porque a Ação
C atólica não é outra coisa do que o apostolado
dos fiéis que, sob a direção dos Bispos, prestam
o seu auxílio à Igreja e, em certo modo, integram
a sua missão pastoral. Pelo que se vê quão grande
é esta in stitu ição !”
E na p rim eira encíclica Ubi arcano Dei escre­
vera o mesmo P o n tífice: “Quando os fiéis, unidos
aos sacerdotes e aos Bispos, participam da obra
do apostolado e da redenção, então m ais que nunca
são a raça escolhida, o sacerdócio real, o povo
santo de que fala o apóstolo S. P edro.”
Santidade
Mas quanto m ais elevado é o ofício, m aiores
serão os dotes que adornem a quem o desem penha.
P o r isso, a dignidade do sacerdócio, como escreve
o Papa na segunda p arte da encíclica, “exige de
quem está investido dela uma elevação de espi­
rito, uma pureza de coração, uma santidade de
vida corresp o n d en te à sublim idade e santidade do
ofício sacerdotal.
Grave responsabilidade p a ra os sacerdotes e para
os fiéis o dever de ajudar-lhes com a oração, a
fim de que possam chegar ao ideal de perfeição
sacerdotal.”
Mas aos sócios da Ação Católica corresponde-lhes
outro dever: em bora particip em da dignidade do
sacerdócio, também estão obrigados a m aior p er­
feição. Hão de distinguir-se entre todos os fiéis
pelo ex ercício de todas as v irtu d es e, em p a rti­
cular, da piedade, da pureza de costum es, da ca­
rid ad e para com o próxim o.
A santidade, como o apostolado, não é, pois, um
privilégio dos sacerdotes; todos os filhos da Igreja
são cham ados a ela e especialm ente, como já disse­
mos, os que se consagram a “um a o b ra tão seme­
lh an te à do sacerdote.” E todos têm a possibilidade
disto, seja qual for o estado de v id a que levem.
SACERDôqjO E ACAO CATÓLICA 115

P rova e exem plo do que acabam os de dizer é a


vida do servo de Deus, Luís N ecchi. Ao c o n tar
vinte e cinco anos, já m édico afam ado, deseja san­
tificar-se, consagrando-se ao apostolado, pois ainda
não decidiu qual será a sua vida, se sacerdote ou
leigo, se no convento ou no século, se celibatário
ou casado. Recolhe-se a um a casa de retiro e no
silêncio e oração pede luzes do alto. Ao te rm in ar
o retiro escreve no livro de resoluções: “Quanto
ao meu estado de vida parece-m e ser a vontade de
Deus que eu escolha o estado comum como meio
de santificação.”
E assim foi: p ara este grande apóstolo da Ação
Católica o estado com um foi o do m atrim ónio no
qual se santificou. P o r isso, dizíam os que a san­
tidade não é privilégio de algumas alm as senão
um dever p ara todos.
Preparação
A te rceira p arte da encíclica com eça assim : “Se
tão alta é a dignidade do sacerdócio, e tão excelsos
os dotes que requer, segue-se daí a necessidade
im prescindível de d ar aos candidatos do Santuá­
rio um a p reparação conveniente.”
E’ evidente, pois, se todo ofício reclam a p re p a ­
ração, tam bém a exige o apostolado. Os Doze es­
tiveram três anos na escola de Cristo, e hoje a
Igreja quer que os asp iran tes ao sacerdócio p er­
m aneçam doze anos nos sem inários, p ara p re p a ­
rar-se à sua m issão p o r meio da oração e do estudo.
E para que esta prep aração seja adequada, o P apa
dá, na encíclica que vam os com entando, norm as
para os bispos, p ara os d iretores de sem inários,
para sacerdotes e até p ara os leigos.
Pelo que toca às vocações sacerdotais, o P apa
reclam a de m an eira especial o apoio da Ação Ca­
tólica, como verem os no próxim o estudo.
Contudo os sócios da Ação não só devem cooperar
na p rep aração dos sacerdotes, m as tam bém p re p a ­
rar-se a si mesmos p a ra a o b ra do apostolado,
obra tão sem elhante à do sacerdote, p ara u sar a
expressão do P ontífice.
E tam bém hão de p rep arar-se como os a sp iran ­
tes ao sacerdócio, com a oração e o estudo.
8*
116 FORMAÇÃO PARA O AfiOSTOLADO

Com a oração, ou seja com as obras de piedade,


p a ra form ar a Cristo em nós. O Santo Pontífice
Pio X escrevia estas m em oráveis p a la v ra s: “Só
quando tenham os form ado a Cristo em nós, po­
derem os facilm ente restituí-lo à fam ília e à so­
ciedade.” E m ais notáveis são ain d a as palavras
do P ad re Mateus Crawley, arauto da devoção ao
Sagrado C oração: “O apóstolo é um cálice, cheio
até as bordas, da vida de Jesus Cristo, e essa su­
p erab u n d ân cia derram a-se sobre as alm as.”
A oração há de p reced er à ação. O célebre Pe.
M onsabré, p reg ad o r de Nossa Senhora de P aris, an ­
tes de su b ir ao púlpito, rezava de joelhos o terço;
e como um amigo lhe perguntasse a razão deste
proced er, respondeu-lhe: “Tomo a últim a infusão.”
Com o estudo. Não é necessário que estudeis a
teologia como os sem inaristas, mas, sim, deveis
conhecer a d o u trin a cristã, o suficiente para po­
d er defendê-la e difundi-la no meio am biente. Um
m em bro da Ação Católica há de distinguir-se p o r
sua form ação religiosa.
Conclusão
Em 1921 se ventilou, na sala de A udiências de
Milão, um processo con tra um sacerdote que, afi­
nal, foi absolvido. D urante a leitu ra da sentença
um grupo de jovens da Ação Católica atira ao
P adre, em sinal de alegria e de reparação, ram i-
lhetes de flores brancas. Logo o acom panharam e
conduziram em triunfo até à casa.
A dm irável este gesto dos jovens m ilaneses. Mas
há outras flores m ais preciosas que todos os mem ­
b ros da Ação Católica devem oferecer aos sacer­
dote, as flores da oração, a fim de que, com a
graça de Deus, possam co rresp o n d er a todos os
deveres e san tificar os demais.
A AÇÂO CATÓLICA
E A S VOCAÇÕES SACERDOTAIS

Introdução
Assim como o Clero tem deveres p a ra com a
Ação Católica, tam bém os fiéis os têm p a ra com
o Clero.
Antes de m ais nada, a Ação Católica h á de tra ­
b alh a r com a Je ra rq u ia p a ra que o Clero seja su­
ficiente e bem p rep arad o , p a ra o qual há de fa­
vorecer as vocações sacerdotais e aju d ar os sem i­
nários.
Este dever obriga todos, mas, de m an eira espe­
cial, os m ilitantes da Ação Católica.
Na encíclica sobre o sacerdócio católico de que
antes fizemos m enção, diz o P a p a : “A Ação Ca­
tólica, com o p articip ação do laicato no apostolado
jerárq u ico da Igreja não pode desentender-se deste
problem a vital das vocações sacerdotais.” Veremos,
p o rta n to :
1° P or que a Ação Católica tem este dever.
2. ° Alguns m eios de cum pri-lo.
3. ° As vantagens que daí derivam .
O dever
A Ação Católica tem o dever de colaborar, por
quantos m eios estejam ao seu alcance, p a ra que
as vocações sacerdotais se cultivem e cheguem a
feliz coroam ento.
A Ação Católica tem como fim suprem o o ad­
vento do Reino de Deus; mas como p o d erá d ifun­
d ir este reinado suavíssim o sem sacerdotes e m i­
nistros de C risto? E como terem os bons sacerdo­
tes sem um a form ação conveniente?
Pois bem, o meio de fo rm ar as vocações sacer­
dotais é o sem inário, do qual depende, em grande
parte, o p o rv ir das dioceses e das paróquias. Po­
derá a Ação C atólica e n carar com olhos in d iferen ­
tes este m áxim o problem a?
118 FORMAÇÃO PAR A O APOSTOLADO

A Ação Católica está constituída para ajudar à


Jerarquia; p ois bem , a prim eira e p rin cip al so­
licitu d e desta são os sem inários.
A partir do C oncílio de Trento, a Igreja quer
que cada uma das dioceses tenha o seu próprio
sem inário; em Roma existe uma Congregação en­
carregada de vigiar o progresso desta instituição.
S. Carlos Borrom eu cham ava aos sem inários o
Coração do coração dos Bispos.

Como cumprir este dever


E xporei três m eios ao alcance de todos.

1." A o r a ç ã o
“N ada tão necessário, ú til e oportuno — escreve
P io XI — com o a oração para ter b ons e santos
sacerdotes. D eus m esm o ensinou-nos este m eio e
revelou-o com palavras tão solenes que nenhum
outro argum ento teve nos lábios do Mestre exp res­
são tão enfática, tão alta e tão absoluta.”
“D ep ois da oração com que nos en sin ou a re­
zar ao Pai nosso que está nos céus, vem aquela
outra em que nos ensina a rogar ao P ai para que
en vie operários à sua m esse.”
A Igreja faz rezar aos fiéis, nas quatro têm po­
ras do ano, quando se conferem as Ordens Sa­
cras, a fim de que o céu con ceda bons sacerdotes.
Santa T eresinha do M enino Jesus declarava:
“Vim para o Carmelo para salvar as almas, mas
sobretudo para rezar p elos sacerdotes.”
E’ necessário, p ois, rezar a D eus para que envie
sacerdotes à sua Igreja; nenhum a petição pode ser
m ais agradável a Deus, nenhum a m ais m eritória.
2.° C o m a p r o p a g a n d a
P recisa fazer com preender a alta d ignidade e
as sublim es recom pensas do sacerdócio, falando
aos m eninos e aos adultos, aos filh os e aos pais.
Isto é o que vem fazendo a Ação Católica com o
aponta, com singular com p lacência, o Papa da m en­
cionada en cíclica sobre o sa c e r d ó c io : “Com íntim a
satisfação vem os que a Ação Católica se distingue
em todos os lugares e em todos os cam pos, m as
A A. C. E AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS 119

de m aneira esp ecial neste; certam ente o m elhor


prém io destes labores é ver as vocações sacerdotais
e religiosas que vão florescendo nas associações ju­
venis. Sentir-se-á verdadeiram ente orgulhosa a Ação
Católica com esta honra que sobre ela recai e há
de persuadir-se que, de nenhum a outra m aneira,
poderá colaborar m elhor neste aumento das fileiras
do Clero secular e regular e participar no verda­
deiro sentido daquele sacerdócio real que o P rín ­
cip e dos A póstolos atribui ao povo dos rem idos.”

3.° C o m a a j u d a m a t e r i a l
0 Salvador escolheu seus apóstolos entre as
classes hum ildes e sem recursos. O m esm o p roce­
der em prega ainda hoje em dia: as vocações sacer­
dotais florescem , sobretudo, entre as fam ílias pobres.
D aí a n ecessid ad e de ajudar aos m en inos que
se sentem cham ados ao sacerdócio e aos institutos
onde se formam e para o qual os B ispos costu­
mam prescrever sem anas esp eciais em favor dos
sem inários.
À frente desta em presa hão de estar todos os
m em bros da Ação Católica.
N isto a Ação Católica não faz m ais que con ti­
nuar uma gloriosa tradição, p ois desde o seu n asci­
m ento se tem preocupado com esta necessid ad e
da Igreja.
Vantagens
Mas a nossa colaboração para a obra das vo­
caçõ es sacerdotais não só é um dever, com o pro­
vam os, senão também uma vantagem in dividu al
e social.
Antes de tudo, uma v a n t a g e m i n d i v i d u a l . D i­
zia o Cura de Ars em um de seus n otáveis cate­
cism os ao p o v o : “S, Bernardo ensina-nos que to­
das as graças nos vêm por in term éd io de Maria,
e podem os juntar que também nos vêm por in ­
term édio do sacerdote, se não, id e confessar-vos
à SS. Virgem ou a algum dos anjos. Ela não poderá
absolver-vos, nem tão pouco um dos anjos; mas
o m ais hum ilde dos sacerdotes d ir-vos-á: — Eu
te absolvo, vai em paz. — Todo bem nos vem , pois,
por interm édio do sacerdote.”
120 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO

E acrescentava o S anto: “Vede como tendes um


grande in teresse em p re p a ra r sacerdotes para
Deus e quanto m ais santos sejam m aiores graças
vos obterão.”
Vantagem social.
Que seria da sociedade sem a religião de Cristo?
E como seria possível a religião sem os sacer­
dotes?
Olhemos ain d a p ara o Cura de Ars neste p o n to :
“Depois de Deus o sacerdote é tudo. D eixai um a
P aróquia sem sacerdote p o r lapso de um ano e que
será dela? C ontem plai as regiões pagãs onde não há
sacerdotes: ali se adoram os anim ais e as p lantas.”
Em verdade, o sacerdote de C risto é o d istri­
b u id o r de todos os bens da redenção, o m ensa­
geiro da verd ad e evangélica, o arauto e guardião
da civilização.
Conclusão
Como a pobre Mamãe M argarida não tem com
que custear a educação de seu filho Bosco, este
d iz-lh e: “Eu irei de p o rta em p o rta pedindo um a
ajuda.”
Obtido o consentim ento, o m enino vai-se por
toda a aldeia de C hieri, pedindo esmola. Os h a­
b itan tes de M urialdo, que conheciam os desejos do
filho de M argarida, m ostram -se com ele generosos.
Quem houvera dito àqueles hum ildes m oradores
que, socorrendo ao filho de M argarida, co opera­
vam na g randiosa obra dos salesianos?
Aquele que reza e sustenta as vocações sacerdo­
tais receb erá um dia, no além, a recom pensa de
suas liberalidades. E esta vantagem h á de m over-nos
a ser liberais e generosos em nossa cooperação.
A AÇÃO CATÓLICA
E A D E FE SA DA F E ’
Objetivos de nossa defesa
Introdução
T erm inando, devem os fazer frente ao perigo que
am eaça as nações católicas da A m érica da p arte
das seitas protestantes, e lem b rar os deveres que
incum bem aos m em bros da Ação Católica na Cam­
p anha de Defesa.
Mas quais são os objetivos de nossa defesa? E ’
o que querem os d ar a conhecer neste estudo.
Quatro são os objetivos de nossa defesa: a re ­
ligião de Cristo, a m oral de Cristo, o P apado, a
unidad e e a grandeza da P átria.
Defender a religião de Cristo
O P rotestantism o de hoje não é o mesmo que en­
sinaram Lutero e dem ais fundadores da Reforma.
Estes d estruíram m uitos dos dogmas do c ristian is­
mo e dividiram -se em num eráveis seitas: hoje con­
tam-se além de 300 som ente entre as m ais recentes.
Pode-se dizer que quase não há verdade reve­
lada que não fosse negada pelos autores da reform a;
nem mesmo se respeitou a divindade de Cristo,
e algumas seitas pregam um cristianism o sem Cristo.
Sua religião é um puro sentim entalism o.
Isto é o que observava o Papa, em Julho de
1934, às dirigentes da Juventude F em inina, quan­
do lhes d izia: “O Protestantism o in ten ta d estru ir
o tesouro da vida cristã. Que resta ao p ro testan ­
tism o da vida cristã, dos sacram entos, da m esma
pessoa de C risto? Uma lenda, uma figura hum ana.
Até a obra m esm a do R edentor, sua pessoa ado­
rável, foram co rro íd as pelo protestantism o.”
Não faz m uito que no P arlam ento da Noruega,
nação protestante, se discutia ou m elhor se sub­
m etia à votação a divindade do Salvador, a qual
se salvou p o r m uito poucos votos. Mas p ara m uitqs
122 FORMAÇÃO P A R A O APOSTOLADO

p rotestantes esta não foi válida e C risto não é p a ra


estes, como diz o Papa, m ais que um ser lendário
ou, quando m uito, m era pessoa hum ana.
E n tre as glórias da Idade Média se contam as
Cruzadas. Cristãos de todas as nações arm aram -se
e p artiram p a ra a T e rra Santa, a fim de defender
e lib e rta r o Sepulcro do Senhor con tra as profa­
nações dos infiéis. Faz-se m ister um a nova cruzada
em defesa da fé, que form a o tesouro da V erdade
p erm anente da Igreja e a tradição da P átria, p o r­
que hoje não se trata de d efender o Sepulcro de
C risto senão a sua mesma adorável Pessoa am ea­
çada de destruição nas alm as de m uitos cristãos.
A Ação Católica quer ser esta nova Cruzada,
feita não com arm as sanguinolentas senão com a
p ropaganda da im prensa, com os sacrifícios, com
as orações.
Defender a moral de Cristo
Falseados os p rin c íp io s da fé, o protestantism o
vai m inando os da m oral. P rovas? Ei-las:
Todas as seitas p ro testan tes adm item o divórcio
e a lim itação da natalidade, o que vale dizer li­
m itação da prole.
A C onferência anglicana de Lam beth, depois de
ter indicado que, se alguém julga ter a obrigação
de lim itar a n atalidade, deve u sar como meio p rin ­
cipal a co n tin ên cia e a abstenção, adm ite, toda­
via, o uso de outros meios, com a condição de que
não vão de encontro aos p rin cíp io s cristãos.
O utras seitas protestantes im itaram o exemplo
da confissão anglicana. Os m etodistas episcopais,
na co nferência de 1934, aprovaram a lim itação
científica da fam ília e sugeriram a seus m inistros
o estudo da questão.
P a ra escusar o divórcio os protestantes dizem
que a Igreja adm ite a anulação do m atrim ónio,
m as andam errad o s sobre a significação da pala­
vra, porque um a coisa é anu lar o m atrim ónio e o u tra
d eclarar a n ulidade do mesmo. A d iferença que
existe é a m esm a que m edeia en tre dar m orte a
um a pessoa e d eclarar a m orte p o r causa do assas­
sínio.
A AÇAA CATÓLICA E A DEFESA DA F E ’ 123

Pois bem, a Igreja não anula nenhum m atrim ó­


nio, só se lim ita a d eclarar a nulidade, a qual p re­
existe a toda declaração, p o r causas que são dis­
cutidas e provadas em juízo.
Defender o Papa
O protestantism o, com todo o m osaico de suas
seitas inum eráveis, converteu-se num a Babel. 0
que um a seita afirm a, a outra nega; não se p u­
deram p ô r de acordo senão sobre um a coisa: a
negação do P rim ado de Pedro, a aversão ao Papa.
E sta negação, esta aversão é como o cim ento
que une os vários fragm entos do protestantism o.
U nião negativa.
O protestantism o m oderno repete a antiga frase
dos p rim eiro s p ro testan tes: “A Igreja rom ana é a
sinagoga de Satanás, o P apa é o A nticristo.”
P o r isso, sua divisa parece ser luta co n tra o P a­
pado.
E, com efeito, m uitas seitas protestantes, desde
h á vários anos, vêm em pregando as suas b aterias
contra Roma, centro do catolicism o e sede do Ro­
m ano P ontífice.
Quer-se d estru ir o Papado. O que não pud eram
fazer os prim eiro s luteranos, quando passaram os
Alpes e desceram sobre Roma, levando, segundo
diziam, a corda que devia estrangular o últim o
dos Papas, querem fazer lentam ente os m odernos
com sua propag an d a anticatólica e antipapal.
Mas equivocam -se, porque a Igreja, conform e a
prom essa de seu F undador, é etern a; assim m es­
mo são lógicos atacando o fundam ento da mesma,
pois, destruído este, aquela cairá necessariam ente.
Falando na A m érica um sacerdote apóstata em
favor da p ropaganda protestante, dizia: “Q uando
se quer d ar m orte com segurança a um inim igo,
não se lhe fere no b raço ou na mão, senão que se
lhe fere na cabeça ou no coração. P o r isso, se
querem os acabar com a Igreja de Cristo, tem-se
que tirar-lh e a cabeça ou o coração.”
O raciocínio é concludente, e assim como os
protestantes se unem em seu ódio contra a ca­
beça da Igreja, nós católicos havem os de unir-nos
em um esforço com um de defesa co n tra os inim igos
do Vigário de Cristo.
124 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO

Defender a Unidade Nacional


Mas não é só o am or à Igreja e ao P apa que
nos há de m over a lu tar con tra as seitas, senão
tam bém o am or à P átria, cuja unidade espiritual
se baseia na vigorosa tradição c ristã que funda­
m enta a h istó ria de todas as nações am ericanas.
A fé católica é o m ais poderoso aglutinante de
nossos povos e fator de grandeza nacional; por
isso as p ro pagandas dissidentes, liberalistas, protes­
tantes ou jud ias são um delito de lesa nacionalidade.
Com batendo-as, a Ação Católica está prestando
serviço inestim ável à P átria.
Conclusão
Estes são os objetivos e as razões de nossa luta
con tra as seitas: d efender a religião de Cristo,
sua m oral civilizadora, o P apado e a P átria.
E posto que os propag an d istas das seitas vêm
de fora, dependem de um pod er estranho e são
sustentados com d in h eiro ou recursos estrangei­
ros, e porque, com batendo a religião de Cristo,
am eaçam a cultura e a unid ad e da P átria, tom e­
mos como lem a de nossas cam panhas esta dos sol­
dados espanhóis con tra as hostes da b arb árie ver­
m elha; “Não passarão.”
A DEFESA DA FE’
Nossas armas de defesa
Introdução
Diz Nosso Senhor no Evangelho que, “enquanto
os guardas do cam po dorm iam , veio o inim igo e
semeou a cizânia no m eio da boa sem ente.”
A cizânia rep resen ta o mal, o erro sem eado no
cam po da Igreja, onde o bom Sem eador Jesus
Cristo espalhará o bom grão da verdade e do bem.
Como na parábola do Evangelho, os inim igos
do bem sem earam o m al enquanto os guardas da
verdade dorm iam .
Quem são os custódios da v erdade? Somente
os sacerdotes? Não som ente eles senão tam bém os
fiéis: todos tem os o encargo de d efender e vi­
giar o bom grão da verdade evangélica.
O liberalism o, o com unism o, o protestantism o,
que sem eiam o erro na Igreja de Cristo, são os
m odernos inim igos que sem eiam a cizânia no m eio
da boa sem ente.
E enquanto realizam sua obra de perdição, p e r­
m anecerem os nós dorm indo? Quais são as arm as
que nos servirão p a ra a defesa de nossa Fé?
As p rin cip ais são: a oração, a instrução, a be­
neficência, a vigilância e a denúncia do inim igo.
Oração
Este inim igo d errotarem os com a oração, rogando
a Jesus, o bom Sem eador, que nos ajude a guard ar
sua Vinha, pois Ele disse: “Sem mim, nada podeis.”
A oração é necessária p ara toda obra boa, p o r­
que nem mesmo um só pensam ento bom podem os
ter sem a graça de Deus. T anto m ais necessária
será, pois, a oração p ara as obras do apostolado e
a defesa da religião. “Se o S enhor não defende a
cidade, em vão trabalham aqueles que a defendem .”
Dizia o P ap a às dirigentes da Juventude F em i­
n in a : “P restareis todo o vosso concurso a esta obra
de vitalidade sem igual da defesa da fé, e fareis
isso com a oração confiada, porque, como m uito
126 FORMAÇÃO PA R A O APOSTOLADO

bem dizia D-om B o s e o : “D eus está especialm ente


obrigado a nos ajudar, em se tratando de in teres­
ses não nossos, senão seus; e estará sem pre con osco
nesta batalha pela fé e pela vida cristã.”
A oração valoriza todas as outras armas de que
vam os falar.
Instrução
D efesa preventiva necessária é a instrução do
povo. Quando am eaça alguma epidem ia, o s m éd i­
cos costum am aplicar todas as in jeções p reventi­
vas contra o mal. À propaganda protestante é co­
mo uma grande epidem ia pern iciosa. D evem os
usar das in jeções preventivas antiprotestantes, in o ­
culando nas alm as a vida católica.
E deve saber-se que os protestantes fazem as
suas conquistas entre o s católicos ignorantes em
m atéria de religião.
O Exm o. Sr. Bispo de Parm a diz em sua carta
pastoral sobre o p rotestan tism o: “H erdeiros dos
Mártires e soldados da Igreja m ilitante, não tem e­
m os a heresia, nem as p erseguições que prepara­
ram sem pre os m aiores triunfos e reverdeceram a
árvore da fé. Tem em os, às vezes, com S, Cipriano,
a enervante in ércia, e m ais ainda, com Tertuliano,
a ignorância orgulhosa.
As épocas m ais tristes da Igreja foram sem pre
caracterizadas pela ign orân cia religiosa.
Como as trevas se dissipam vin do à luz, assim
os erros se dissipam com a verdade que n asce da
instrução.”
Beneficência
D iz um provérbio popular ita lia n o : “A quem
dá pão, cham arei p ai.” O que vem a ser: a quem
nos faz um benefício, conservam os-lhe gratidão.
Os protestantes que dispõem de ingentes m eios
m ateriais, sobretudo de recursos vin d os da Ingla­
terra e dos Estados U nidos, aproveitam a m iséria
do nosso povo, m orm ente em terryaos de crises co ­
mo a atual. Dão pão e ganham adeptos, socorrem
ao corpo e cativam as almas.
Im porta, p ois, tirar-lhes da mão esta arma p re­
judicial, ou m elhor que im peçam os o em prego dela,
tirando-lhes as vítim as que são os pobres.
A DEFESA DA F E ’ 127

De que m odo? Indo nós ao pobre com a v er­


dadeira carid ad e cristã, que socorre aos corpos e
às almas. D everíam os im itar o exem plo de Oza-
nam , que, fundando as C onferências de S. Vicente
de Paulo, p reten d ia defender a fé com a arm a da
caridade. E ’ de m ister o por a carid ad e que edifica
à que destrói.
 vigilância e a Denúncia
l.° Contra a propaganda escrita
Os adversários fazem p ropaganda escrita e oral.
A propaganda escrita faz-se p o r m eio da difusão
entre o povo com folhas, folhetos e livros.
Tal gênero de p ropaganda se faz em quiosques,
liv rarias e p o r meio de vendedores am bulantes.
Im po rta vivam ente que os católicos difundam os
bons livros e cooperem na publicação de obras
b aratas destinadas a c o n trab alan çar a influência
das protestantes.
2° Contra a propaganda oral
Convém :
a) A visar o P ároco da chegada de conferencis­
tas ou p ropagandistas de falsas d o utrinas, a fim
de que ele, com sua prudên cia, ponha em resguar­
do o povo confiado a seu cuidado.
b) P recav er a nossos irm ãos c o n tra a p ro p a­
ganda dos hereges e dissuadir-lhes de d ar o seu
nome às seitas condenadas pela Santa Igreja.
c) E m preender com “carid ad e e p ru d ên cia” a
obra da reconquista, quando algum católico deu
seu nome a alguma destas associações.
d) Não se deve e n tra r em discussões p úblicas:
não se proíbe, contudo, a conversação p rivada,
com espírito de caridade.
Conclusão
Considerem os a ofensa que se faz à V erdade e à
Igreja com o se fora um a ofensa feita à P á tria por
estes pregadores que vêm a “evangelizar”, como
dizem, os povos, como se fôram os selvagens e não
tivéram os um a trad ição c ristã de séculos que for­
ma o nosso tesouro e o segredo de nossa unidade
e da esp iritu alid ad e das nações sul-am ericanas.
ÍNDICE

Sugestões p ráticas p ara uso deste livro ........... 5


O Apostolado ................ 7
A Ação Católica .......................................................... 11
A Ação Católica é um dever ................................ 16
Os dois Sacram entos da Ação Católica ........... 22
O Apostolado dos Leigos no Evangelho ........... 27
A postolado dos Leigos na Igreja P rim itiv a . . 33
O A postolado no P adre Nosso .......................... 39
O A postolado e Comunhão dos Santos ............. 43
O A postolado da Oração ..................................... 48
O A postolado do Exem plo ................................. 53
O Apostolado do Sacrifício ................................. 57
O A postolado da Fam ília .................................. 62
O Apostolado do Meio A m biente ...................... 66
O Apostolado C atequético ................................. 71
0 Apostolado Pascoal ............................................ 75
O Apostolado M issionário ................................. 79
Apostolado em Favor da M oralidade ............... 84
O A postolado da M oralidade .......................... 89
0 Apostolado do Cinema ............................... 94
A postolado da Im prensa ...................................... 99
O A postolado do Livro ........................................ 104
O A postolado da B eneficência .......................... 108
Sacerdócio e Ação Católica ................................ 113
A Ação Católica e as Vocações Sacerdotais . . . 117
A Ação Católica e a Defesa da Fé .................. 121
A Defesa da Fé ..................................................... 125
LIVROS SOBRE A AÇAO CATÓLICA:

Capital e Trabalho, pelo Pe. Antônio de Morais Júnior.


184 pp. (Fechi) Broch.
A Família, o Divórcio e a Eugenia, por Mons. Vicente
Martins. 228 pp. . (Farti) Broch.
Questão Social: as Encíclicas “Rerum Novarum”, “Qua­
dragésimo Anno” e “Divini Redemptoris” em pergun­
tas e respostas, por M. Vincent. 128 pp. (Flavo) Broch.
A Carta Pastoral de D. Leme, quando Arcebispo de
Olinda-Recife, saudando os seus diocesanos. 152 pp.
(Fatu) Broch.
O Santo Sacramento do Batismo, por Frei Benvindo
Destéfani O. F. M. 48 pp. (Certo) Broch.
O Santo Sacramento da Crisma, por Fei Benvindo
Destéfani O. F. M. 48 pp. (Curto) Broch.
Formação de Estagiários- da Ação Católica, pelo Pe.
Agnelo Rossi. (Filmi) Broch.
Apóstolos no Próprio Ambiente, pelo Mons. Luís Ci-
vardi. 134 pp. (Fase) Broch.
Fundamento Bíblico e Dogmático da Ação Católica,
pelo P. J. Will S. J. 150 pp. (Fabo) Broch.
Os Problemas da Ação Católica, pelo P. J. Will S. J.
168 pp. (Fossi) Broch.
O Corpo Místico de Cristo e a Ação Católica, pelo P.
S. Tromp S. J. 144 pp. (Firtu) Broch.
A Ação Católica. Carta Pastoral de D. Antônio dos San­
tos Cabral. 32 pp. (Findu) Broch.

Pedidos à Editora Vozes Ltda.


Caixa postal, 23 — Petrópolis, R. J.
Filiais: Rio — S. Paulo

Palavra telegráfica deste volume — Broch. F a s a

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