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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Política Externa Brasileira I - DEI00013


Professor Renato Petrocchi
Aluna Mariana Caroli
Período – 2021.1

Questão Guia II para estudo e avaliação

Considerada a maior guerra da América do Sul, a Guerra do Paraguai foi um conflito


entre a Tríplice Aliança, que envolvia Brasil, Argentina e Uruguai, contra a ditadura de
Solano López. Por conta do conflito, ocorre a primeira experiência de integração efetiva da
região do Prata, uma vez que se estabelece uma aliança e uma convergência de interesses
entre o Império Brasileiro e seus vizinhos, com objetivo comum de retirar López do poder. É
considerada a guerra mais letal da América do Sul, sem um número exato de mortes, porém
com muitas baixas, tanto pelo conflito, quanto por doenças.
Durante a segunda metade do século XIX, estavam ocorrendo diversas intervenções
na região da Bacia do Prata pelo controle de territórios, o que gerava uma forte rivalidade
entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, que possuíam diferentes interesses econômicos e
políticos. O estopim do conflito se dá após a intervenção brasileira no Uruguai, até então
comandado pelo partido dos Blancos, aliado ao Paraguai. O Brasil tinha como objetivo retirar
os Blancos do poder e apoiar os Colorados, o que desagradou imensamente o Paraguai e
resultou na captura da embarcação brasileira Marquês de Olinda e no início oficial da guerra,
com tropas paraguaias atacando o território correspondente ao Mato Grosso.
É interessante ressaltar que o Império Brasileiro não estava esperando por um conflito
armado, ao contrário do Paraguai que vinha se armando. Segundo Doratioto, “De todos os
governos que lutaram na Guerra do Paraguai, apenas o de Solano López se preparara, de fato,
para um conflito regional [...] o governo imperial foi tomado de surpresa com o ataque
paraguaio a território brasileiro”. Esse trecho explica, de maneira pontual, o motivo da
ofensiva paraguaia ter dado certo num primeiro momento, fazendo com que López
acreditasse que seria um conflito curto e rápido, contudo o conflito durou de 1864 a 1870 e
custou muito mais do que López poderia imaginar.
Os motivos pelos quais a guerra durou tanto tempo são diversos. Primeiramente, o
Paraguai era um país isolado e com pouca interação, e por isso era um território desconhecido
por argentinos, brasileiros e uruguaios, o que proporciona uma vantagem defensiva para o
Paraguai. Outro motivo era a rivalidade já existente entre os países, que por vezes
desconfiavam um do outro, causando uma desarticulação do comando geral da Tríplice
Aliança e do fator estratégico, fazendo com que o conflito durasse mais tempo. Além disso, o
objetivo dos aliados era a retirada de Solano López do poder, não sendo uma ofensiva contra
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o povo paraguaio ou ao país, mas sim uma caçada pessoal. Desse modo, o conflito só se
encerraria com Solano López preso ou morto, o que contribuiu para o prolongamento da
guerra.
Depois das ofensivas paraguaias, os aliados iniciam sua resposta e fica claro que o
Paraguai não tinha chances de sair vitorioso. Rapidamente, o Brasil recuperou os territórios
perdidos e iniciou a invasão no território paraguaio. Entre os conflitos, é possível destacar a
Batalha de Tuiuti, considerada a maior e mais sangrenta batalha da Guerra do Paraguai e de
toda América do Sul, e a Batalha do Riachuelo, uma batalha naval que ocorreu no Rio
Paraná, considerada como uma das mais importantes e decisivas batalhas de toda a Guerra.
Os aliados saíram vitoriosos de ambas as batalhas, demonstrando sua força e explicitando a
mudança de rumo que a guerra tomou.
Com a captura da capital Assunção, Solano López inicia sua fuga, enquanto D. Pedro
II envia à cidade José Paranhos, seu chanceler, com objetivo de criar um governo provisório
no Paraguai. É criado esse governo a fim de firmar um acordo de paz dentro dos termos
brasileiros, com o reconhecimento da fronteira reivindicada pelo Brasil. De acordo com
Doratioto, Paranhos, teve um papel "decisivo" na instalação do governo provisório paraguaio.
Após a morte de López em 1870, o conflito finalmente chega ao fim, com inúmeras
baixas em ambos os lados, o Paraguai perde os territórios que estavam em disputa com Brasil
e Argentina, uma massiva destruição do território paraguaio e a economia do país entra em
crise profunda. Atualmente, a figura de Solano López é controversa: enquanto é considerado
um ditador sanguinário no Brasil, no Paraguai é visto como herói nacional.
Em relação ao Brasil, houveram incontáveis vidas perdidas, sem contar os recursos
financeiros que foram aplicados durante o conflito. Segundo Ricupero, “Doratioto calcula
que o esforço de guerra custou ao Brasil quantia equivalente a quase onze anos do orçamento
anual, gerando déficit contínuo nas décadas de 1870 e 1880” (Ricupero, p. 209). Assim, o
Brasil aumenta sua dependência ao capital estrangeiro, gerando dificuldades financeiras que
iriam frear o desenvolvimento do país.
É possível afirmar que esse conflito foi o início do fim do regime imperial,
evidenciando que foi uma vitória com custos altos. Mesmo ganhando a guerra, o Brasil não
consegue sair da crise econômica que o conflito gerou, levando a uma falta de investimentos
em infraestrutura e em outras áreas, resultando em um atraso. Essa crise é considerada um
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dos fatores principais que levou à queda do Império e à proclamação da Primeira República
Brasileira.
Outro fator que contribuiu para a queda da monarquia foi o papel do exército, que se
tornou um novo e influente mecanismo na vida nacional. Após a guerra, o exército brasileiro
se reinventa e surge mais unido, ganhando protagonismo nas decisões políticas do país. Não é
de se espantar que o primeiro presidente brasileiro foi um militar, o marechal Deodoro da
Fonseca. Logo, fica claro que o crescimento da dívida externa e o fortalecimento do exército
levaram ao golpe da Primeira República.
Porém, se por um lado o Brasil entrou em uma depressão econômica profunda,
limitando o crescimento do país, por outro a guerra fez com que o Império Brasileiro
atingisse todos os seus objetivos político-militares: assegurou a independência do Uruguai
com o comando dos Colorados, obteve a livre navegação dos rios da Bacia do Prata,
conseguiu a fronteira que desejava com os paraguaios, entre outras conquistas. Assim, o
Império se encontrou em seu auge do poder militar e econômico, consolidando o Brasil como
a grande potência do continente.
Mesmo a guerra tendo auxiliado o Império Brasileiro a atingir seu apogeu
político-militar, a falta de investimentos e a crise econômica que o conflito gerou, trouxeram
mais problemas do que soluções para o Brasil. Como o barão de Cotegipe diz em carta ao
barão de Penedo, a guerra nos atrasou meio século, o impacto dela na economia brasileira foi
negativo, além de aumentar nossa dependência com o capital estrangerio, principalmente
inglês. O Brasil sofrerá com as consequências do aumento da dívida externa e da crise por um
bom tempo, além de ter que conviver com inúmeras perdas de vidas de soldados. Assim, por
mais que o Império Brasileiro tenha atingido todos os seus objetivos, as consequências foram
muito duras para o país, tanto que resultou no fim do regime monárquico.
A Guerra do Paraguai marca o último conflito armado contra seus vizinhos que o
Brasil participou, marcando mais de 150 anos de paz. É um tema que gera diversas
controvérsias até hoje e é uma das manchas de nossa história diplomática, que representa
perdas humanas e atraso econômico e social. Infelizmente, o legado que ela nos deixou foi
uma tendência do exército brasileiro de intervir na política, que causou a queda da
monarquia, a ditadura de 64, diversos golpes ao longo da República e ameaça a democracia
do país até os dias de hoje.
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Podemos afirmar que essa guerra gerou um certo trauma de conflitos para o Brasil,
visto que, desde o embate, mantemos uma tradição de não intervenção nos assuntos dos
nossos vizinhos da América do Sul. Foi um conflito sangrento e fatal para o Paraguai, que
perdeu territórios e uma parte significativa de sua população masculina, e para o Brasil, que
perdeu 50 mil homens, não só em combate, mas devido à doenças. Só podemos concordar
com o título do livro de Doratioto, esse conflito foi, de fato, uma guerra maldita.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DORATIOTO, Francisco; FERGUSON, Juan. Maldita guerra: nova história da Guerra do
Paraguai. 2002.
RICUPERO, Rubens. A diplomacia na construção do Brasil: 1750-2016. Versal, 2017.

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