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A EMERGÊNCIA DA ECONOMIA DA EDUCAÇÃO

Pressupostos educativos e desenvolvimento económico

A educação é a estrada mestra para a preparação dos recursos humanos necessários ao


crescimento de um país e ao seu desenvolvimento. Em Moçambique, infelizmente, os programas
educativos realizados após a independência estão hoje seriamente ameaçados por factores
externos ao sistema educativo.

Ferreira (1997) refere que:


Actualmente a educação é um bem social estratégico tanto para a pessoa, como para a sociedade.
o mundo contemporâneo terá a cultura e a economia centradas no conhecimento e no saber
sistematizado e organizado ao longo da história. Neste novo contexto, a escola adquire
importância vital. Daí, a necessidade urgente de re/construir a escola pública brasileira esfacelada,
ao longo de décadas, por políticas privatistas que atingiram, em cheio, a formação do professor e o
ambiente da sala de aula.

O desenvolvimento económico é definido como processo histórico do crescimento sustentado da


renda, ou do valor adicionado por habitante, resultando em uma melhoria do padrão de vida da
população de um estado nacional, fruto da sistemática acumulação de capital e da incorporação
de conhecimento ou processo técnico à produção (Mayer & Rodrigues, 2013).

Económica, Emergência e Educativa

Nicoolai, Hine e Wales (2015) referem que “a educação em situações de emergência económicas
prolongadas é importante por diversas razões”.

Por um lado, ao propiciar espaços seguros durante situações que necessitam reduzir e
desenvolver outras actividades para lidar com a emergência económica, a educação salvaguarda
vidas e proporciona apoio psicossocial, fundamental para o desenvolvimento a longo prazo de
crianças, jovens e comunidades. Por outro lado, é crucial para o sucesso da intervenção noutros
setores, como sejam o do abastecimento de água e de cuidados de saúde. A educação é vital para
a paz e a estabilidade dos países (INEE, 2010) e é frequentemente identificada, pelas próprias
comunidades afetadas, como um setor altamente prioritário (Save the Children e NRC, 2014).

O papel da educação no desenvolvimento econômico é mais que a formação de mão-de-obra


profissional e técnica, é importante sua influência na inversão tecnológica, na difusão de
inovações, na aptidão empresarial, nos padrões de consumo, na propensão à poupança, na
adaptabilidade a mutações econômicas e na participação ativa dos distintos setores sociais nas
tarefas do desenvolvimento (Santos).

Ainda no olhar de Santos, “a educação se inscreve entre as necessidades vitais da sociedade


democrática, por constituir o único meio legítimo de participação de todos em tudo”.

Portanto, os problemas da Economia da Educação ou da aplicação da análise econômica para a


escolarização estão ainda para ser devidamente equacionados, embora vários economistas hajam
manifestado interesse pelos problemas educacionais.

Na emergência da económica na educação a existência de politica educacional é infalível para a


dinâmica educativa, “a política educacional age sobre a educação, mas não tem, como pode
parecer num primeiro momento, o domínio sobre ela. Ao contrário, é a própria educação que
pode atuar e interferir na política educacional” (Martins, 1993).

Neste sentido, olhamos a política educacional como um dos instrumentos para se projetar a
formação dos tipos de pessoas de que uma sociedade necessita para resolver os problemas
concernes a emergência económica na educação. Ao contrário da educação, que ajuda a pensar
tipos de mulheres e homens, a política educacional ajuda a fazer esses tipos, definindo a forma e
o conteúdo do saber que vai ser passado de pessoa a pessoa para contribuir e legitimar seu
mundo, e visando, com isso, garantir a sobrevivência dos vários tipos de sociedade.

A política educacional ajuda a formar tipos de seres humanos, visa assegurar a sobrevivência dos
tipos de sociedade. É justamente nesse momento que a política educacional revela sua dupla face:
política e econômica (Santos).

Entre a economia e política educacional há uma interdependência entre ambas as vertentes. Nessa
interdependência, o teor econômico pesa mais que o político.

De acordo com Martins (1993), “o significado econômico da política educacional é bem mais
recente que seu teor político, que só nasceu a partir da questão da igualdade social”.

A política educacional é responsável por assegurar o direito à educação para todos os cidadãos.
Junto a outras políticas sociais asseguradoras de seus respectivos direitos, ela tem por fim
proporcionar condições mais igualitárias de vida, dando assim, ao menos em teoria,
oportunidades iguais de existência para todos.
Assim, a política educacional, que teoricamente é a responsável pela universalização do ensino,
concretamente, não consegue assegurar sequer oportunidades iguais de escolarização a todos os
cidadãos, quanto mais igualdade social (Silva & Silva, 2022).

Educação e Desenvolvimento Econômico

Santos refere que “a educação para o desenvolvimento constitui uma estratégia, pois ela deve
visar à formação de recursos humanos aptos a participar da dinâmica do processo econômico”.

À medida que um país se desenvolve, ele passa a depender menos dos recursos naturais e cada vez
mais da tecnologia e do trabalho qualificado. Formação profissional, tecnologia e
desenvolvimento económico-social são situações e atitudes que se integram ou ainda termos de
uma equação. A educação oferece ao educando algumas opções, sejam elas em função do grau do
ensino, sejam em função da escolha da especialização (Baptista & Filho, 1975).

“O desenvolvimento econômico global tem sido analisado sobejamente e o seu relacionamento


com a formação e utilização de recursos humanos de alto nível constitui atualmente uma das
grandes preocupações dos administradores e economistas” (Santos).

Santos e Silva (2020) entendem que:


O papel que a educação pode desempenhar no desenvolvimento econômico é mais evidente em
relação à formação de mão-de-obra profissional e técnica, mas também é importante sua
influência sobre a inversão tecnológica, a difusão de inovações, a aptidão empresarial, os padrões
de consumo, a propensão à poupança, a adaptabilidade a mudanças econômicas e a participação
ativa dos distintos setores sociais nas tarefas do desenvolvimento.

“Do ponto de vista econômico, um país que inicia seus esforços de desenvolvimento com um
sistema escolar rudimentar poderia conceder uma prioridade demasiado alta à expansão da
educação primária em relação a outros níveis de educação” (Silva, 2019).

“O desenvolvimento econômico e o educacional devem ser coerentes” (Oliveira, 2021). O


serviço educativo deve prover o país de conhecimentos técnicos e de um grau de evolução
cultural que favoreça o crescimento da população e o melhoramento do nível de vida de seus
habitantes.

Assim, o desenvolvimento econômico e, consequentemente, a obtenção de rendas individuais


mais altas, constituem o único recurso viável para incrementar a escolaridade, porque o trabalho
do menor representa um obstáculo à sua permanência na escola, ou, pelo menos, na sua maior
dedicação às atividades escolares.
A Educação em Emergência em Moçambique

Moçambique tem enfrentado constantes emergências nos últimos anos. Depois da destruição
causada pela passagem dos ciclones Idai e Kenneth, das inundações, das incursões dos
insurgentes no Norte, dos ataques da Junta Militar no centro, acresce-se agora o desafio de fazer
face à uma pandemia.

O sector da educação é fustigado por várias catástrofes naturais e as condições climáticas


extremas, como o caso de cheias, inundações, ventos fortes e ciclones, estes provocam a
destruição de salas de aulas privando os alunos de continuar com o curso normal das actividades
lectivas.

Além do impacto forte causado pelo período chuvoso 2019-2020, as populações de Cabo
Delgado e da região centro do país também enfrentam desafios com os insurgentes devido a uma
crescente onda de insegurança registada nos últimos meses e ataques armados da Junta Militar da
Renamo. Os ataques recentes de grupos malfeitores em Cabo Delgado e na região centro têm
vandalizado instituições de ensino e causam abandono escolar de alunos e professores
(MINEDH, 2020). Outrossim, a pandemia COVID-19 está a causar perturbações na
aprendizagem de milhões de crianças e adultos em Moçambique.

Depreende-se que estas situações acrescem o risco de abandono escolar, principalmente das
raparigas e crianças em situação de vulnerabilidade, como as deslocadas, com problemas de
saúde e de famílias monoparentais devido ao encerramento das escolas.

Para garantir a continuidade das aulas em zonas afectadas por estes eventos, são normalmente
necessárias, espaços temporários de aprendizagem, material para os alunos, professores e
equipamentos escolar, fundos adequados e uma logística profissional incluindo processos de
aquisição rápida de materiais, transporte, armazenamento e contratação de empresas para a
reabilitação de obras. E, igualmente a criação de condições sanitárias para decurso seguro das
aulas, em caso de aumento de casos de COVID-19. Dada a tipologia das salas de aulas (material
convencional, misto, local) e a situação económica do país, o sector da educação apresenta
algumas dificuldades para lidar com estas situações.
Bibliografia

Baptista, F. O. (1975). Economia da educação, planejamento e explosão demográfica. São Paulo,


Brasil: Pioneira.
Ferreira, J. M. (1997). Educação Urgente: para quê? São Paulo, Brasil: UNESP.
Martins, C. (1993). O que é política educacional. São Paulo, Brasil: Brasiliense.
Mayers & Rodrigues, F. (2013). A Influência do Capital Humano Sobre o Desenvolvimento
Econômico: um olhar sobre a educação. Revista de Administração do UNISAL, v. 3, n.3, p.
1-16. ISSN 1806-5961.
MINEDH, (2020). Programa de Educação em Emergência 2020-2021. Parceria Global da
Educação.
Nicoolai, S., Hine, S. & Wales, J. (2015). Educação em situações de emergência e crises
prolongadas. Education for Development.
Oliveira, R. F. & Sousa, B. J. R. (2021). O salário-educação em três dimensões: distribuição,
planejamento e gasto. Disponível em:
<https://periodicos.ufjf.br/index.php/RPDE/article/view/30838/20673>. Acesso em 13
Fevereiro 2024.
Santos, A. M. & Silva, A. (2020). Escola de saúde pública de Santa Catarina – Análise do
trabalho desenvolvido à luz da economia da educação. Disponível em:
<https://brazilianjournals.com/ojs/index.php/BRJD/article/view/13270>. Acesso em 12
Fevereiro de 2024.
Silva, J. A. S. & Silva, O. R. (2019). Políticas públicas de educação superior e desenvolvimento
local: as transformações no município de Cachoeira (BA) após a implantação da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Disponível em:
<https://www.redalyc.org/journal/5520/552064521011/552064521011.pdf>. Acesso em: 13
de Fevereiro 2024.
Silva, M. B. (2019). A contrarreforma do ensino médio – Lei 13. 415/2017: educação de
resultados? Disponível em: <https://periodicos.uniso.br/quaestio/article/view/3257/3279>.
Acesso em 13 Fevereiro de 2024.

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