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XXXIII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA DA UFRN - eCICT 2023

ANAIS
EXPEDIENTE
APRESENTAÇÃO

O Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica (eCICT) é um evento aberto


à comunidade no qual todos os aproximadamente 1.700 alunos de Iniciação
Científica e Tecnológica da UFRN (bolsistas e voluntários) apresentam os
resultados de suas pesquisas desenvolvidas ao longo de um ano, como
cumprimento de um plano de trabalho elaborado e orientado por um
professor/pesquisador do quadro permanente da Instituição.

O eCICT está entre as ações inseridas no âmbito do Programa Institucional de


Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica da UFRN, que possui entre seus
objetivos: a) Contribuir para a formação e engajamento de recursos humanos
em atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação; b)
Contribuir para a formação científica de recursos humanos que se dedicarão a
qualquer atividade profissional; e c) Contribuir para a formação de recursos
humanos que se dedicarão ao fortalecimento da capacidade inovadora das
empresas no País.

A 34ª edição do Congresso teve como tema “Ciências básicas para o


desenvolvimento sustentável”, estando alinhada aos 17 Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU. Ao submeter os
trabalhos ao Congresso, os alunos indicaram os objetivos da Agenda 2030 aos
quais suas pesquisas estavam relacionadas. Essa iniciativa visa estimular a
pesquisa científica e tecnológica voltada para a busca por soluções para os
desafios sociais contemporâneos.

Em uma etapa inicial do eCICT, denominada Mostra de Trabalhos e Vídeos de


Ciência, Tecnologia e Inovação, foram realizadas as apresentações dos
trabalhos submetidos pelos participantes do evento. As apresentações
ocorreram de forma assíncrona, por meio de arquivos digitais (trabalho
completo e vídeo), sendo disponibilizadas não só aos avaliadores do congresso
pelos Sistemas da UFRN, mas também ao público em geral por meio do site do
evento (www.cic.propesq.ufrn.br). Após essa etapa inicial, que ocorreu sob o
formato virtual, os 48 melhores trabalhos do evento foram selecionados para
apresentação oral em uma etapa complementar do congresso que ocorreu de
forma presencial.
Os alunos concorreram ao 7ª Prêmio Destaque na Iniciação Científica e
Tecnológica da UFRN, que foi instituído pela Pró-Reitoria de Pesquisa em 2017
para reforçar as ações dos programas institucionais de iniciação científica e
tecnológica. O prêmio contemplou as categorias Trabalho Destaque de
Iniciação Científica e Tecnológica e Vídeo Destaque de Iniciação Científica e
Tecnológica) e a subcategoria Inovação. Os premiados foram agraciados com
bolsas mensais de até R$ 1100,00 (mil e cem reais) durante o período de um
ano. Os orientadores dos alunos premiados adquiriram precedência em relação
aos demais para efeitos de concorrência no Edital de Bolsas de Pesquisa da
UFRN em 2024.

Ainda em 2023, a Pró-Reitoria de Pesquisa realizou a 5ª Edição do Prêmio


Pesquisador Destaque da UFRN, certame instituído em 2019 e que é
concedido anualmente aos pesquisadores da instituição que tenham
apresentado relevantes contribuições para o desenvolvimento da ciência em
cada uma das três grandes áreas do conhecimento: Ciências da Vida; Ciências
Exatas, da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes.
Além de troféu e certificado, todos os premiados foram contemplados com
auxílio no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para custear despesas
específicas, discriminadas em edital, e tiveram a oportunidade de compartilhar
suas experiências com os participantes do eCICT 2023 em uma mesa redonda.

O congresso cumpriu três funções valiosas para o desenvolvimento da ciência


na instituição: inserção dos discentes em um ambiente acadêmico de
publicação e apresentação dos resultados da pesquisa; divulgação científica
por meio dos vídeos que utilizam uma linguagem científica, porém acessível a
todos; e, por fim, a popularização da ciência.
PROGRAMAÇÃO

SETEMBRO/2023
Mostra de Trabalhos e Vídeos de Ciência, Tecnologia e
27 a 29/09
Inovação do eCICT 2023
OUTUBRO/2023

Divulgação dos pré-selecionados para apresentação na


19/10
etapa presencial do eCICT 2023

NOVEMBRO/2023

06 a 10/11 Etapa presencial do eCICT 2023

06/11 Palestra de abertura - 15h

06/11 Mesa Redonda: Pesquisador Destaque - 15h30

07 a 09/11 Sessões de Apresentações Orais

10/11 Palestra eCICT Talks - 15h

10/11 Cerimônia de encerramento e premiação - 16h30


CB
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: ET1201

AUTOR: RAFAEL FERNANDES LOTERIO DA SILVA

COAUTOR: BRUNO MATTOS SILVA WANDERLEY

COAUTOR: THAYNÁ JEREMIAS MELLO

COAUTOR: GUILHERME ORTIGARA LONGO

COAUTOR: LIVIAN MARIA DIAS DE ARAÚJO

ORIENTADOR: CYBELLE MENOLLI LONGHINI

TÍTULO: Avaliação da contaminação por nutrientes dissolvidos nos


ecossistemas recifais do Arquipélago de Fernando de Noronha – PE

Resumo

O funcionamento dos ecossistemas recifais é controlado por fatores físico-químicos do


ambiente, onde o aporte de nutrientes pode provocar prejuízos à saúde dos corais. O
lançamento de esgotos domésticos sem tratamento adequado é um dos fatores
principais para a contaminação desses sistemas, causando a proliferação de
macroalgas e decréscimo da área de cobertura de corais. O objetivo deste trabalho é
avaliar os níveis de contaminação por nutrientes nos recifes do arquipélago de
Fernando de Noronha, considerando duas formas de uso das áreas: múltiplos e
restrito. Para isso, amostras de água foram coletadas em meia profundidade e
analisadas quanto aos níveis de nutrientes inorgânicos dissolvidos (ortofosfato, nitrito,
nitrato e N-amoniacal). Os resultados mostram que a qualidade da água foi
predominantemente satisfatória na área de uso restrito, enquanto foi constatada
contaminação por ortofosfato na área de usos múltiplos (máximo de 0,086 mg/L). As
estações de tratamento de esgoto (ETEs) também apresentaram níveis de ortofosfato
e N-amoniacal acima dos limites estabelecidos pela legislação (máximo de 22.82 mg/L
para ortofosfato e 64,40 mg/L para N-amoniacal), mostrando ineficiência no
tratamento de efluentes do arquipélago. Assim, mesmo estando protegida por
Unidade de Conservação, o arquipélago está sujeito aos impactos da poluição por

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esgoto, o que mostra a urgência no monitoramento e formas efetivas de tratamento


deste material, considerando a capacidade de carga da região.

Palavras-chave: Poluição. Esgoto. Unidade de Conservação. Nutrientes.

TITLE: Contamination by dissolved nutrients in reef ecosystems of the


Fernando de Noronha Archipelago – PE.

Abstract

The functioning of reef ecosystems is mainly determined by physical and chemical


factors and the input of nutrients can cause damage to the health of corals. The
release of domestic sewage without adequate treatment is one of the main factors for
the contamination of these systems, causing growth of macroalgae and other non-
building organisms and a decrease in the area covered by corals. The main aim of this
study is to evaluate the levels of contamination by nutrients in the reefs of the
Fernando de Noronha archipelago, considering two forms of use of the areas: multiple
uses and restricted use. For this, seawater samples were collected and analyzed for
levels of dissolved inorganic nutrients (orthophosphate, nitrite, nitrate and N-
ammoniacal). The seawater quality was predominantly satisfactory in the restricted
use area, while orthophosphate contamination was found in the multiple use area
(maximum of 0.086 mg/L). The sewage treatment plants (STPs) also showed levels of
orthophosphate and N-ammoniacal above the limits established by the Brazilian
regulation (maximum of 22.82 mg/L for orthophosphate and 64.40 mg/L for N-
ammoniacal), showing inefficiency in the treatment of effluents from the archipelago.
Thus, even though it is a marine protected area, the archipelago is subject to the
impacts of sewage pollution, which shows the urgency of monitoring and effective
ways of treating this material, considering the load capacity of the region.

Keywords: Pollution. Seawage. Marine Protected Areas. Nutrients.

Introdução

Os recifes de corais são ambientes reconhecidos por sua grande importância biológica
e ecológica, representando a maior biodiversidade a nível global, além de fornecerem
serviços ecossistêmicos atrelados à atividade pesqueira e ao ecoturismo (Buddemeier
et al., 2004). O equilíbrio desses sistemas é determinado pela estrutura e composição

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das comunidades biológicas e suas interações ecológicas, as quais respondem às


condições físico-químicas da água do mar (Fabricius, 2005). O aporte excessivo de
nutrientes (principalmente nitrogênio e fósforo) provenientes de atividades urbanas,
agrícolas e industriais é um prevalente estresse antrópico que afeta a dinâmica recifal,
desencadeando impactos que variam desde mudanças fisiológicas às complexas
alterações na estrutura e funcionamento do ecossistema (van Dam et al., 2011).
Em nível fisiológico, o processo de enriquecimento em nutrientes provoca prejuízos
relacionados ao sucesso reprodutivo, decréscimo das taxas de calcificação e da
densidade de esqueleto em corais (D’angelo; Wiedenmann, 2014). Outro impacto
significativo envolve alterações na relação simbiótica entre os corais e as zooxantelas,
aumentando a susceptibilidade de corais aos eventos de branqueamento quando
expostos ao estresse por aumento da temperatura e intensidade luminosa
(Wiedenman et al., 2013). Do ponto de vista da estrutura da comunidade, a maior
preocupação associada ao enriquecimento por nutrientes envolve o crescimento
excessivo e o sucesso competitivo de macroalgas em detrimento dos corais e outros
organismos construtores (De’ath; Fabricius, 2010). Em médio e longo prazo, o
decréscimo da heterogeneidade de hábitats condicionado pela predominância de
comunidades algais compromete a complexidade estrutural do ecossistema com
consequentes perdas da biodiversidade (Ferrier-Pagès et al., 2000).
O aporte de nutrientes para os ecossistemas marinhos depende da fonte de
contaminação e da intensidade das atividades antrópicas desenvolvidas na região de
entorno da área afetada (Vikas; Dwarakish, 2015). Nas áreas costeiras do Brasil, a
descarga de esgoto sem tratamento é a fonte mais significativa de nutrientes com
potenciais impactos sobre os ecossistemas recifais costeiros (Costa Jr. et al., 2000;
Costa Jr. et al., 2008). A descarga fluvial e subterrânea também são fatores
importantes a serem considerados, uma vez que a entrada de nutrientes (e outros
poluentes) é intensificada durante os períodos chuvosos e com o aumento do fluxo
hidrológico (Costa Jr. et al., 2000; Costa Jr. et al., 2008).
Apesar de estar protegido por uma Unidade de Conservação (Parque Nacional Marinho
de Fernando de Noronha - PARNAMARFN), o Arquipélago de Fernando de Noronha
(FN) está sujeito aos impactos decorrentes do crescimento urbano e do fluxo turístico
que gera efluentes domésticos, cujo destinação final é o ambiente marinho. Estudos
geoquímicos da matéria orgânica sedimentar na plataforma insular de Fernando de
Noronha mostrou relativo enriquecimento orgânico em carbono, nitrogênio e fósforo
em regiões específicas da ilha, o qual foi atribuído à descarga de efluente da estação
de tratamento de esgoto (Barcellos et al., 2016). Apesar disso, não há estudos com
enfoque na distribuição de nutrientes na coluna d’água no Arquipélago de FN, bem
como no acompanhamento dos níveis encontrados com os padrões estabelecidos pela
legislação pertinente e possíveis prejuízos à saúde dos ecossistemas recifais. Nesse

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sentido, o presente estudo tem como objetivo avaliar a distribuição espacial de


nutrientes dissolvidos no Arquipélago de FN, considerando áreas com diferentes tipos
de uso. Esse estudo permitirá a discussão dos impactos potenciais do enriquecimento
por nutrientes sobre comunidades biológicas recifais. Resultados desta natureza são
de grande importância para a formulação e adequação de estratégias de manejo e
conservação em Áreas Marinhas Protegidas, como é o caso do PARNAMARFN.

Metodologia

As medições e coletas de amostras de água foram executadas durante uma expedição


realizada em Abril de 2022, considerando treze estações de amostragem distribuídas
no entorno do Arquipélago de FN. O delineamento amostral incluiu pontos das faces
norte e sul da ilha e 2 pontos nas maiores ilhas secundárias do arquipélago. Foram
consideradas duas condições distintas quanto às formas de uso (áreas de usos
múltiplos e de uso restrito) e quanto à posição da costa em relação ao vento
(barlavento – mar de dentro; e sotavento – mar de fora; Figura 1).
As amostras de água foram coletadas em meia profundidade por mergulho, adotando-
se cuidados quanto ao uso de luvas que serão trocadas a cada estação de amostragem.
As variáveis físico-químicas: temperatura, pH e salinidade serão medidas em campo
com equipamento multiparâmetros. Alíquotas de 2000 mL de água foram
armazenadas em frascos de polietileno para posterior processamento e análise de
nutrientes inorgânicos dissolvidos (nitrito, nitrato, n-amoniacal e ortofosfato); e
mantidas sob refrigeração. Todo o material utilizado será previamente
descontaminado com solução de HCl 10 % e água ultrapura. As amostras foram
filtradas imediatamente após o desembarque, utilizando membranas de acetato de
celulose de 0,45 µm de porosidade em sistema de filtração à vácuo, e o filtrado foi
mantido congelado até o momento da análise. As concentrações de material
particulado em suspensão (MPS) foram determinadas por gravimetria a partir da
massa do material retido nos filtros e calculadas em função do volume filtrado.
Os nutrientes inorgânicos dissolvidos (ortofosfato, nitrito, nitrato, n-amoniacal) foram
analisados por colorimetria/espectrofotometria de acordo com os métodos descritos
por Grasshoff et al. (1999). As análises de nitrato foram realizadas por redução a nitrito
em coluna de cádmio. As leituras de absorbância serão realizadas em
espectrofotômetro UV/VIS, segundo os comprimentos de onda 810 nm (ortofosfato),
543 nm (nitrito e nitrato) e 630 nm (n-amoniacal).
Para avaliar o grau de contaminação das áreas estudadas, os níveis encontrados para
nutrientes serão comparados aos limites estabelecidos pela legislação vigente para
águas salinas (CONAMA 357/2005).

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Resultados e Discussões

Seguindo a regulamentação Brasileira (Resolução CONAMA 357/2005), os resultados


para nutrientes inorgânicos dissolvidos indicam que a qualidade da água está
satisfatória na maioria das amostras, embora tenham sido observadas irregularidades
em algumas estações localizadas nas áreas de usos múltiplos. Nas estações marinhas, a
média das concentrações foi de 0,036 ± 0,012 mg L-1 para ortofosfato e 0,038 ± 0,012
mg L-1 para N-amoniacal (Tabela 1).
Os níveis de ortofosfato dissolvido alcançaram 0,086 mg L-1 na estação Porto e 0,078
mg L-1 em Morro de Fora. Estas concentrações ultrapassam os limites estabelecidos
pela legislação para P-total (0,062 mg L-1). Considerando que as nossas análises foram
realizadas na fração dissolvida (água do mar filtrada; < 0,45 µm), os níveis seriam ainda
maiores na fração de P-total (água do mar bruta, sem filtração), o que indica
desconformidade e condições de contaminação para esses locais específicos.
A concentração de ortofosfato na estação rio Sancho ultrapassou em mais de 100
vezes os limites estabelecidos pela legislação para P-total (6,77 mg. L-1), enquanto as
concentrações de nitrato, nitrito e N-amoniacal foram baixas nesse local. Os níveis de
nutrientes dissolvidos no rio Boldró se encontraram acima dos limites estabelecidos
pela legislação para ortofosfato (1,65 mg. L-1) e N-amoniacal (2,26 mg L-1). Contudo, a
concentração de nitrito no rio estava próxima ao limite legal (0,18 mg L-1). O efluente
da ETE de Biboca apresentou concentração de N-amoniacal (64.4 mg L-1) mais de três
vezes acima do limite estabelecido pela legislação. As concentrações de ortofosfato
foram tão altas quanto 22,82 mg/L no efluente da ETE de Biboca e 8,27 mg/L em
Boldró, embora não haja limite estabelecido pela legislação para esse composto em
efluentes (Tabela 2).
A contaminação por nutrientes foi mais significativa nas áreas de usos múltiplos, mas
também foi observado nas áreas de uso restrito (Morro de Fora). Na costa do mar de
dentro do arquipélago, os efluentes lançados nas ETEs de Biboca e Boldró não
atenderam aos padrões estabelecidos pela legislação brasileira, indicando potencial
ineficiência no processo de tratamento de esgoto. Os níveis de nutrientes na água
estavam dentro do limite aceitável na maioria dos recifes, o que pode ser devido à
hidrodinâmica costeira na dispersão de poluentes ou na assimilação biológica, por sua
vez transferindo os compostos do compartimento abiótico para o biótico.
Estudos prévios em FN (Bertini e Braga 2022) documentaram as concentrações de
nutrientes a 3 km da FN em julho de 2013 e encontraram níveis inferiores em
comparação aos resultados do presente estudo. A concentração máxima de

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ortofosfato dissolvido registrada pelos autores foi de 0,08 µmol/L, enquanto o valor
máximo em nosso estudo foi cerca de 10 vezes superior (0,90 µmol/L na estação
Porto). Similarmente, as concentrações de ortofosfato e N-amoniacal registradas no
presente estudo também foram muito superiores aos resultados encontrados nos anos
de 2013-2014 em quatro locais (o nível ortofosfato na estação Porto era 0,32 µmol/L e
agora alcançou 0,95 µmol/L; N-amoniacal em Morro de Fora era 0,08 µmol/L e agora é
2,35 µmol/L; e na estação Laje Dois Irmãos era 0,01 µmol/L; dados de Assunção et al.
2016 em comparação ao presente estudo). Estes resultados sugerem um aumento nas
concentrações de nutrientes ao longo do tempo, particularmente perto das ilhas,
possivelmente devido ao aumento dos aportes continentais. As estações de Porto e
Morro de Fora apresentam evidência de contaminação por fosfato que ultrapassam os
limites legais.
A entrada de nutrientes no ambiente marinho pode ter origem tanto de fontes
antropogênicas como naturais. Entre as fontes naturais, as aves se destacam por
contribuir para o aporte de nitrogênio devido ao ácido úrico que é convertido em
amônia pelas bactérias antes de entrar na água marinha (Justel-Díez et al. 2023). Nas
áreas com populações de aves marinhas, a amônia proveniente do guano pode
provocar aumentos pontuais nos níveis de N-amoniacal. As populações de aves
marinhas que colonizam as falésias nas proximidades de Laje Dois Irmãos e Baía dos
Golfinhos (Santos e Serafini 2020) podem ser uma fonte de nutrientes para estes
locais. Apesar disso, não foram observadas altas concentrações de fósforo nestes
locais, o que era esperado tendo em vista que o guano pode ser mais enriquecido em
fósforo quando comparado com fontes antropogênicas de nutrientes (Graham et al.
2018). Esta observação sugere fortemente que os nutrientes detectados nestes locais
são originários principalmente de fontes antropogênicas de nitrogênio, distinguindo-os
assim do guano de aves rico em fósforo. Por outro lado, a alta concentração de
ortofosfato observada no Rio Sancho está provavelmente relacionada com a entrada
de guano de aves marinhas proveniente das áreas de nidificação.
Com relação à influência do vento, os níveis de nutrientes foram geralmente mais
baixos na costa do mar de fora em comparação à porção da costa do mar de dentro,
exceto para o ortofosfato em Atalaia. Essa estação compreende um recife entremarés
considerado mais suscetível à influência humana em comparação aos recifes
profundos (Mello et al. 2023). Além disso, essa área é influenciada por um pequeno
riacho advindo da região mais populosa da ilha, bem como pela presença constante de
gado, podendo funcionar como fonte de nutrientes. Dessa forma, as condições de
qualidade da água em FN foram predominantemente boas, embora tenham sido
identificadas fontes importantes de contaminação que podem comprometer a
qualidade ambiental por enriquecimento de nutrientes em curto e médio prazo.

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Conclusão

Os resultados do presente estudo mostram baixa eficiência do tratamento do esgoto


gerado no arquipélago, com níveis de ortofosfato e N-amoniacal acima dos limites
permitidos pela legislação. Esse fator levou à contaminação de cursos d’água com
influência direta das ETEs, bem como nas estações marinhas localizadas na área de
usos múltiplos do arquipélago. Além da poluição antropogênica por descarte de
esgoto, o guano das aves pode ser uma fonte natural importante de N-amoniacal nos
locais próximos às áreas de nidificação de aves. Em médio e longo prazo, o
enriquecimento com nutrientes pode provocar danos consideráveis à saúde e
manutenção dos recifes de corais. Assim, torna-se urgente o monitoramento dos focos
de poluição, bem como a adoção de tecnologias eficientes para o tratamento dos
efluentes produzidos no arquipélago.

Referências

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eCICT 2023

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Anexos

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eCICT 2023

Figure 1: Localização das estações de amostragem no Arquipélago de Fernando de


Noronha e cursos de água doce para avaliar as fontes múltiplas de contaminação por
nutrientes inorgânicos. WTP: estação de tratamento de esgoto.

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Tabela 1: Parâmetros de qualidade da água nas estações marinhas do arquipélago de


Fernando de Noronha. Concentrações em mg L-1. Entre parênteses: padrões da
legislação. Negrito: fora dos padrões. *Limite para P-total.

Tabela 2: Parâmetros de amostragem no arquipélago de Fernando de Noronha.


Definições conforme o CONAMA 357/2005. Quando disponíveis, os estarão indicados
em parênteses.

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CÓDIGO: ET1371

AUTOR: GABRIEL DE LIMA VIEIRA

ORIENTADOR: JOSE LUIZ DE ATTAYDE

TÍTULO: A CAL HIDRATADA COMO ADSORVENTE ALTERNATIVO PARA


ÁGUAS EUTROFIZADAS

Resumo

As florações de cianobactérias decorrentes de eutrofização degradam a qualidade da


água, impactam as formas de vida e as atividades antrópicas. Técnicas de Flock and
Lock são capazes de indisponibilizar nutrientes em excesso para produtores primários,
freando os efeitos da eutrofização. Contudo, os adsorventes convencionais empregados
nessas intervenções atualmente são custosos e inacessíveis. Por isso, frequentes são as
buscas por adsorventes alternativos, especialmente em compostos calcificados, ferrosos
ou aluminosos. Frente a isto, o presente projeto se propôs a realizar experimentos de
bancada para avaliar o desempenho adsortivo da cal hidratada PA. Se hipotetizou que,
em virtude do conteúdo de cálcio do composto, esse material seria adsorvente tal qual
solos calcários brutos ou minerais tratados com Ca. Foram realizados dois ensaios de
adsorção: um com água destilada e outro com águas de reservatórios, ambas
enriquecidas com P, onde se monitorou o ortofosfato e pH como parâmetros.
Complementarmente, também se realizou um experimento de manupulação da dosagem
da cal para observar os efeitos no pH. A Cal teve altíssimo desempenho de adsorção,
com mais de 99% de remoção em todos os tratamentos e Qmax de 26 mg/g. Em
contrapartida, o composto elevou o pH das águas mesmo em dosagens baixíssimas,
sendo o aumento brusco mesmo nas águas de reservatório. Conclui-se que a cal
apresenta grande potencial de remoção de P, mas sua introdução torna o meio hiper-
alcalino.

Palavras-chave: Hidróxido de cálcio. Adsorção. Floc and lock. Eutrofização.


Fosfato.

TITLE: HYDRATED LIME AS AN ALTERNATIVE ADSORBENT FOR


EUTROPHIC WATERS

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eCICT 2023

Abstract

Cyanobacterial blooms caused by eutrophication degrade water quality, impacting


forms of life and anthropic activities. Flock and Lock techniques are capable of making
excess nutrients unavailable to primary producers; however, conventional adsorbents
used in these interventions are inaccessible. Therefore, pursuance for alternative
adsorbents are frequent, especially in calcified, ferrous or aluminous compounds. Thus,
the present project intended to carry out bench experiments in order to evaluate the
adsorptive performance of laboratory hydrated lime. It was hypothesized that, due to the
calcium content of the compound, this material would be adsorbent similarly to raw
calcareous soils or minerals treated with Ca. Two adsorption tests were carried out: one
with distilled water and the other with water from reservoirs, both enriched with P ,
where orthophosphate and pH were monitored as parameters. Complementarily, an
experiment was also carried out to manipulate the lime dosage to observe the effects on
the pH. The lime had a very high adsorption performance, with more than 99% removal
in all treatments and a Qmax of 26 mg/g. On the other hand, the compound raised the
pH of the water even at very low dosages, with a great increase even in reservoir waters.
It is concluded that lime has a great potential for removing P, but its introduction makes
the medium hyper-alkaline.

Keywords: Calcium hydroxide. Adsorption. Floc and lock.Eutrophication.


Phosphate

Introdução

A eutrofização é um problema típico da gestão de recursos hídricos, especialmente no


contexto de climas semiáridos (Barbosa et al., 2012), e que tende a ser agravado pelas
mudanças climáticas (IPCC, 2022). O excesso de nutrientes na água propicia um
aumento exacerbado de produtividade primária com florações de cianobactérias ,
implicando em alterações no metabolismo ecossistêmico, na estrutura das comunidades
e na qualidade da água (Paerl e Huisman, 2008; Huisman, 2018).
Não obstante, a eutrofização é especialmente problemática para os reservatórios do
Semiárido brasileiro. Esse fato é decorrente (I) da morfometria dos reservatórios,
geralmente rasos (Barbosa et al., 2012, Zhou et al., 2022; Bonilla et al., 2023); (II) do
regime de chuvas com períodos prolongados de seca (Brasil et al., 2016; Rocha Júnior
et al., 2018); (III) da piscicultura (Dantas et al. 2019); (III) da cobertura vegetal
tipicamente esparsa e pouco densa (Barbosa et al., 2012). Além, é claro, desses
mananciais- assim como ocorre em outros domínios climáticos - sofrerem influência do

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adensamento humano e das atividades agropecuárias instaladas na área de drenagem das


bacias hidrográficas (Barbosa et al., 2012).
Embora a eutrofização resulte principalmente do aporte externo de nutrientes (em
especial, de fósforo [P]), as cargas internas de nutrientes também são relevantes para
compreender a dinâmica trófica dos reservatórios. Isso se deve pois, mesmo quando o
abastecimento alóctone é cessado ou freado, o sedimento - operando como estoque de
nutrientes - pode agir como uma fonte interna de fertilização ao liberar o fósforo que se
acumulou neste compartimento (Søndergaard et al., 2001; Søndergaard et al., 2003). Por
isso, estratégias que contemplam apenas as cargas externas podem não ser suficientes
para restaurar o estado trófico de um reservatório, sendo necessárias outras medidas
(Søndergaard et al., 2001).
Logo, uma das ações que vêm sendo utilizadas para mitigar os efeitos das cargas
internas (sempre associado ao controle das cargas externas) é o emprego de solos ou
argilas, que têm potencial de reter em sua superfície (adsorver) os íons fosfatos
dissolvidos água, os fazendo decantar para “aprisioná-los” no sedimento (Douglas et al.
2016). Esta técnica de geoengenharia é conhecida por “floc and lock” (Lucena-silva et
al., 2022; Cavalcante et al. 2022). Um adsorvente ideal deve possuir: alta eficiência,
facilidade de acesso e aplicação, baixo custo e segurança ambiental e sanitária (Mucci et
al. 2018). Entretanto, os adsorventes convencionais mais eficientes hoje (e.g.
Phoslock®) são de difícil acesso pois são muito custosos, por isso esforços para
explorar adsorventes locais e naturais, visando criar alternativas para reduzir custos e
facilitar a aquisição são importantes (Douglas et al. 2016).
Tendo em vista que “a maioria dos adsorventes de P com capacidade de absorção
substancial são geralmente enriquecidos em Ca, Fe e/ou Al ou um combinação dos
mesmos (...)” (Douglas et al. 2016), estudos vêm se debruçando sobre as capacidades
adsortivas de materiais naturalmente ricos ou tratados com cálcio (Li et al. 2023;
Mitrogiannis et al. 2017; You et al. 2017; Markou et at. 2016; Yin et al. 2016). Somado
a isso, “Ca(OH)₂ é um químico barato e o Ca²⁺ não é prejudicial, não apresentando
problemas ambientais” (Markou et al. 2016).
O presente projeto se propôs a realizar ensaios de adsorção em bancada com hidróxido
de cálcio (PA). A hipótese é que, em virtude do conteúdo de cálcio do produto, a cal
hidratada apresente potencial adsortivo, como se verifica em solos naturalmente ricos ou
modificados com Ca já explorados na literatura.

Metodologia

2.1 Ensaio Adsorção em Água Deionizada

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Os desenhos experimentais destrinchados a seguir seguem moldes amplamente


empregados em ensaios de adsorção em bancada (Monicelli et al. 2021; Mucci et al.
2018).
Primeiramente, realizou-se um experimento de adsorção de fósforo reativo dissolvido
(SRP, ortofosfato) em água deionizada. Para tal, foram preparadas soluções com
concentrações crescentes de fosfato, objetivando formar um gradiente com: 0; 0,5; 1;
2,5; 5; 10; 20; 40; 80, 160 e 320 mg/L (Figura 1). Para o preparo de tais soluções, foi
dissolvido fosfato de potássio monobásico anidro PA (KH2PO4) em água. O gradiente é
relevante para compreender não apenas se há adsorção ou não, mas para averiguar a
partir de qual faixa o adsorvente começa a saturar e perder seu possível desempenho,
atingindo um platô na curva de adsorção. Esse gradiente permite determinar a
capacidade máxima de adsorção (Qmax) do composto, contribuindo para sua
caracterização (Nascimento et al. 2014). A estimativa do Qmax e da curva de adsorção
será feita utilizando o Modelo de Isoterma de Langmuir, representada pela seguinte
equação:
q = (qmax.KL.Ce)/(1+KL.Ce)
onde:
q = quantidade do soluto adsorvido por grama de adsorvente no equilíbrio (mg/g);
qmax = capacidade máxima de adsorção (mg/g);
KL= constante de interação adsorvato/adsorvente (L/mg);
Ce= concentração do adsorvato no equilíbrio (mg/L).
A determinação de ortofosfato será realizada conforme o método proposto por Murphy
& Rilley (1962). Este procedimento envolve uma espectrofotometria de absorção das
amostras diluídas, após adição de um reagente colorimétrico misto.
A água deionizada utilizada neste experimento é ligeiramente ácida, com pH médio em
torno de 6. Considerando que o pH é um fator que interfere significativamente na
capacidade adsortiva (Nascimento et al. 2014), e que o pH de reservatórios do semiárido
brasileiro variam em torno de 8, será gotejada em cada solução de P uma solução de
hidróxido de sódio (NaOH), para que o pH das diluições seja elevado para níveis entre
7,75 e 8,25. Esse pH alterado foi medido com pHmetro de bancada e considerado o pH
inicial do experimento.
As soluções de cada concentração serão introduzidas em tubos Falcon de 50 ml
contendo 0,1 g de cal hidratada PA, simulando uma dosagem de 2 g de adsorvente por
litro. O experimento será conduzido em triplicata (n = 3). Logo, haverá um total de 33
tubos devido às 11 concentrações.
Os tubos contendo a cal hidratada e suas respectivas soluções de P serão levados à mesa
agitadora por 24 horas a 200 rotações por minuto (rpm), para que a solução seja
homogeneizada e as partículas de adsorvente possam reter fosfato e formar colóides.

20
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Após esse período de incubação, os tubos serão centrifugados durante 5 minutos a 3.000
rpm.
Com o material decantado, o pH final dos tubos é lido; bem como são retirados 20 ml
do sobrenadante de cada tubo para leitura de ortofosfato. Para a leitura final de
ortofosfato, entretanto, é necessário realizar uma filtragem através de membrana de
celulose com porosidade 0,45 µm. Um panorama do experimento pode ser observado na
figura 1 (anexo)
2.2 Ensaio de Adsorção em Águas de Reservatórios
A segunda etapa experimental foi similar à primeira, mas empregando água de três
reservatórios do semiárido brasileiro ao invés da água destilada: a Barragem Boqueirão
de Parelhas (ou Ministro João Alves), o Reservatório Dourado e o Gargalheiras (ou
Marechal Dutra), todos localizados no semiárido potiguar e pertencentes à Bacia
Hidrográfica Piranhas-Açu. A água coletada dos mananciais foi filtrada por membrana
de 0,45 µm para que se retirasse o P-particulado. Para esta leva experimental, apenas
enriqueceu-se a água com KH2PO4 para que atingisse concentração de cerca de 50
µg/L de P, simulando uma condição de eutrofização nos reservatórios. O grupo controle
do experimento não foi enriquecido. A dosagem de adsorvente, número de réplicas
(n=3, totalizando 18 tubos) e demais procedimentos de incubação e leitura de
parâmetros seguiram conforme descrito anteriormente.
2.3 Experimento de pH
Por fim, observando preliminarmente o efeito intenso que o adsorvente teve sobre o pH
da água, realizou-se um terceiro experimento complementar onde se manipulou a
quantia de adsorvente adicionada à água, para tentar encontrar uma dosagem menos
ofensiva para este parâmetro. Foram preparados tubos falcon com 0,025; 0,05; 0,1; 0,2 e
0,3 g de cal hidratada em água deionizada sem alteração de prévia de pH. Os tubos
foram incubados e centrifugados conforme já descrito, e o pH lido em seguida.

Resultados e Discussões

3.1 Adsorção
As concentrações reais de fósforo estavam em faixas similares às teóricas pretendidas
(Tabela 1). A cal hidratada apresentou um desempenho muito acima do que fora
antecipado, alcançando mais de 99% de remoção do P dissolvido mesmo nas
concentrações mais altas (Gráfico 1). As concentrações de soluto na fase líquida (Ce)
após o equilíbrio eram ínfimas quando comparadas às iniciais, todas menores que 0,5
mg/L (Tabela 1).

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Os dados se adequaram ao modelo de Langmuir (Gráfico 2), seguindo a tendência de


maior parte dos compostos calcinados (Li et al 2023, Ma et al. 2017, Markou et al.
2017); embora alguns adsorventes dessa natureza se enquadrem melhor em outros
modelos, principalmente de Freundlich (You et al. 2017, Yin et al. 2016). O modelo de
Langmuir pressupõe que 1. as moléculas de adsorvato se agregam à superfície do
adsorvente numa monocamada (ou seja, sem sobreposição), 2. que existe um número
definido de sítios de ligação e que cada adsorvato se ligue a apenas um deles por vez, o
indisponibilizando para outras moléculas e 3. as moléculas adsorvidas não interagem ou
interferem umas com as outras (Nascimento et al. 2014, pg. 27). Segundo o modelo, o
potencial máximo de adsorção (Qmax) da cal foi de 26.9 mg/g. O desempenho da
adsorção - como evidenciado pela curva - teve uma progressão quase perfeitamente
linear em função da concentração inicial de P, embora este fato possa ser decorrente da
instauração do composto em todos os tratamentos que impossibilitou alcançar o platô de
adsorção e o "ápice" da curva.
Um desempenho adsortivo similarmente promissor foi observado nas águas de
reservatório (Gráficos 3, 4 e 5). Para todos os reservatórios, as concentrações finais
médias de P-dissolvido não excederam 3 µg/L e, em Gargalheiras, chegaram a 0 µg/L.
Este resultado está dentro do esperado considerando que os montantes de fósforo
adicionados inicialmente a estas águas (quando adicionados) eram muito inferiores ao
do experimento anterior em água destilada.
3.2 pH
A cal elevou muito intensamente o pH das águas, deionizada ou de reservatórios. No
ensaio de manipulação de dosagem em água deionizada, o pH inicial de 7,02 foi
alterado para um pH final médio de 12,51. Mesmo nas dosagens mais baixas de
adsorvente (0,5 g/L), o pH da água alcançou faixas muito similares às demais (Gráfico
6). O efeito de tamponamento natural das águas de reservatório também não foi
suficiente para conter a variação deste parâmetro e, de modo similar, o pH atingiu níveis
exorbitantes, em torno de 13,66 (Gráfico 7).

Conclusão

4 CONCLUSÕES
Em conclusão, a cal hidratada PA se apresenta como composto de alto potencial
adsortivo, sequestrando muito eficientemente frações de fósforo dissolvido da coluna
d'água. Sua capacidade de adsorção é tamanha que - para além do que propôs
inicialmente o presente trabalho, que foca sua aplicação em mananciais - cabe ponderar
se não seria mais cabível utilizar esse material em meios com maiores cargas
nutricionais, como águas servidas. Inclusive, grande parte das pesquisas com
adsorventes calcinados tem as estações de tratamento de efluentes como ênfase desde o

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início, enquanto apenas alguns se debruçam sobre o Flock and Lock nos açudes e
reservatórios (Li et al 2023, Ma et al. 2017, Markou et al. 2017).
No que concerne o pH, apesar de um aumento ser esperado (como de praxe para
substâncias de natureza calcária), a cal hidratada PA elevou exacerbadamente esse
parâmetro nas soluções, mesmo quando introduzida em doses irrisórias. Além disso, a
hipótese de que o aumento seria mais brando nas águas de reservatório em virtude do
tamponamento natural não foi corroborada. Esses fatos levam a crer que a cal hidratada
- pelo menos nos moldes apresentados pelo projeto - não é própria para ser introduzida
em mananciais, especialmente considerando o uso socioeconômico e de subsistência
que os reservatórios possuem. Além de eficientes, os adsorventes devem ser seguros, e
isto envolve interferir minimamente em outros parâmetros de qualidade da água e
garantir a qualidade dela para seus diversos usos.

Referências

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Anexos

FIGURA 1 - PANORAMA DO DESENHO EXPERIMENTAL

TABELA 1 DADOS EXPERIMENTAIS

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GRÁFICO 1 - % DE REMOÇÃO

GRÁFICO 2 - ISOTERMA DE LANGMUIR

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GRÁFICO 3 - ADS NAS ÁGUAS DE BOQUEIRÃO (leia-se os tratamentos "sem" e "com"


como "sem/com adição de P"

GRÁFICO 4 - ADS NAS ÁGUAS DE DOURADO (leia-se os tratamentos "sem" e "com"


como "sem/com adição de P"

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GRÁFICO 5 - ADS NAS ÁGUAS DE GARGALHEIRAS (leia-se os tratamentos "sem" e


"com" como "sem/com adição de P"

GRÁFICO 6 - ELEVAÇÃO DE PH COM DIFERENTES DOSES DE CAL. A linha rosa marca o


pH inicial (7.02)

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GRÁFICO 7 - ALTERAÇÃO DE PH EM ÁGUAS DE RESERVATÓRIOS

TABELA 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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eCICT 2023

CÓDIGO: ET1586

AUTOR: LIVIAN MARIA DIAS DE ARAÚJO

COAUTOR: GUILHERME ORTIGARA LONGO

COAUTOR: THAYNÁ JEREMIAS MELLO

COAUTOR: RAFAEL FERNANDES LOTERIO DA SILVA

COAUTOR: BRUNO MATTOS SILVA WANDERLEY

ORIENTADOR: CYBELLE MENOLLI LONGHINI

TÍTULO: Sistema carbonato e condições para a calcificação nos ecossistemas


recifais do Arquipélago de Fernando de Noronha – PE: existem áreas mais
vulneráveis aos efeitos da acidificação dos oceanos?

Resumo

O aumento da queima de combustíveis fósseis tem provocado um grande aumento na


liberação de dióxido de carbono (CO2) atmosférico. A difusão de CO2 para a superfície
da água pode levar à acidificação dos oceanos (AO), resultando no decréscimo da
calcificação pelos corais e alterações no funcionamento dos ecossistemas recifais. Este
estudo tem como objetivo avaliar as condições para a calcificação nos recifes do
Arquipélago de Fernando de Noronha (FN) e sua vulnerabilidade aos efeitos da AO.
Para isso, amostras de água do mar foram coletadas superficialmente em 13 estações
de amostragem em FN em duas condições distintas quanto às formas de uso: áreas de
usos múltiplos e de uso restrito. A alcalinidade total foi analisada por titulação
potenciométrica e utilizada para o cálculo do sistema carbonato. Constatou-se altas
concentrações de íons carbonato (319,3 ± 60,4 µmol/L) e do estado de saturação da
aragonita (5,16 ± 0,9), indicando condições favoráveis para a calcificação em FN. Os
resultados de CO2 e pCO2 (pressão parcial de CO2) sugeriram o predomínio de
autotrofia nas estações marinhas. No entanto, altas concentrações de CO2 (26 µmol/L)
foram registradas em um córrego com influência direta de esgoto, refletindo processos
heterotróficos de decomposição da matéria orgânica. Considerando a região de
contaminação na praia é importante que haja verificação dos focos de poluição e riscos
futuros para a calcificação dos corais e intensificação dos efeitos da AO.

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Palavras-chave: CO2. acidificação dos oceanos. calcificação. corais. poluição.

TITLE: Carbonate system and calcification in reef ecosystems of the Fernando


de Noronha Archipelago: are there areas more vulnerable to the effects of
Ocean Acidification?

Abstract

The increase in the burning of fossil fuels has caused a large increase in the release of
atmospheric carbon dioxide (CO2). Diffusion of CO2 to the seawater surface can cause
Ocean Acidification (OA), resulting in decreased calcification by corals and changes in
the functioning of reef ecosystems. This study aims to evaluate the conditions for
calcification in the reefs of the Fernando de Noronha Archipelago (FN) and their
vulnerability to the effects of AO. For this, surface seawater samples were collected in
13 sampling stations in FN by considering two different conditions regarding the forms
of use: areas of multiple uses and restricted use. Total alkalinity was analyzed by
potentiometric titration and used to calculate the carbonate system. High
concentrations of carbonate ions (319.3 ± 60.4 µmol/L) and aragonite saturation state
(5.16 ± 0.9) were found, indicating positive conditions for calcification in NF. CO2 and
pCO2 results suggested a predominance of autotrophy in marine stations. However,
high CO2 concentrations (26 µmol/L) were recorded in a stream with direct sewage
influence, reflecting heterotrophic processes of organic matter decomposition.
Considering this continental source of contamination, it is needed to verify the sources
of pollution and future risks for the calcification of corals and increasing the effects of
the AO in the reefs located at multiple-use areas.

Keywords: CO2. ocean acidification. calcification. corals. pollution.

Introdução

Os recifes de corais são ambientes reconhecidos por sua grande importância biológica
e ecológica, representando a maior biodiversidade a nível global, além de fornecerem
serviços ecossistêmicos atrelados à atividade pesqueira e ao ecoturismo (BUDDEMEIER
et al., 2004). O equilíbrio desses sistemas é determinado pela estrutura e composição
das comunidades biológicas e suas interações ecológicas, as quais respondem às
condições físico-químicas da água do mar (FABRICIUS, 2005).
A heterogeneidade de hábitats produzida pelo crescimento de corais e outros
organismos calcificadores é um dos fatores primordiais para a manutenção da elevada
biodiversidade em ecossistemas recifais (FERRIER-PAGÈS et al., 2000). As taxas de

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calcificação ou produção biológica dos esqueletos de carbonato de cálcio (CaCO3), por


sua vez, são determinadas pelas concentrações de íons carbonato (CO32-) e
bicarbonato (HCO3-), os quais são produtos da solubilidade do dióxido de carbono
(CO2) e constituem o sistema carbonato da água do mar (GATTUSO et al., 1999;
LECLERCQ et al., 2000; ZEEBE; WOLF-GLADROW, 2001). Outro fator determinante para
que haja a calcificação é o estado de saturação da aragonita (ꭥarag), forma de
carbonato de cálcio utilizada por corais para a precipitação do esqueleto calcáreo
(GATTUSO et al., 1998; LECLERQ et al., 2000; REYNAUD et al., 2003).
A especiação química do sistema carbonato depende, principalmente, do pH da água
do mar, em que condições de menor pH levam ao decréscimo das concentrações de
íons CO32- e do estado de saturação da aragonita, que são os blocos construtores dos
esqueletos dos corais (ZEEBE; WOLF-GLADROW, 2001). Nesse sentido, os impactos
globais da acidificação dos oceanos estão diretamente associados ao deslocamento do
equilíbrio do sistema carbonato provocado pelo aumento da difusão de CO2
atmosférico para a superfície dos oceanos (ORR et al., 2005). Como resultado, ocorre a
dissolução do substrato carbonático dos recifes, decréscimo na deposição do
esqueleto pelos organismos calcificadores e consequentes alterações na estrutura e
funcionamento dos ecossistemas recifais (HOEGH-GULDBERG et al., 2017).
Os impactos da acidificação dos oceanos sobre os ecossistemas recifais podem ser
ainda mais acentuados em áreas sujeitas às fontes múltiplas de estresse, como a
poluição marinha (CABRAL et al., 2019). O aporte elevado de nutrientes pelo
lançamento de efluentes domésticos, agrícolas e industriais, por exemplo, pode levar
ao metabolismo líquido do sistema predominantemente heterotrófico, com a
liberação de CO2 e intensificação da acidificação nesses locais (ZENG et al., 2015).
Assim, recifes localizados em áreas impactadas pela poluição apresentam maior
vulnerabilidade aos efeitos da acidificação dos oceanos, notadamente o decréscimo do
pH, a redução da disponibilidade de íons CO32- e do estado de saturação da aragonita
(PROUTY et al., 2017).
Considerando que os recifes de corais estão sujeitos tanto aos impactos de ordem
local pela poluição marinha quanto aos eventos globais da acidificação dos oceanos, a
interação entre esses fatores pode provocar efeitos sinérgicos e acelerar a degradação
desses ambientes (BISCÉRÉ et al., 2015; MARQUES et al., 2020; TRACY et al., 2020).
Nesse sentido, este estudo tem como objetivoavaliar as condições para a calcificação
nos ecossistemas recifais do Arquipélago de Fernando de Noronha e sua
vulnerabilidade aos efeitos da acidificação dos oceanos.Pretende-se, com isso,
direcionar a formulação e readequação de estratégias de manejo e conservação em
Áreas Marinhas Protegidas, como é o caso do Parque Nacional Marinho de Fernando
de Noronha - PARNAMARFN.

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Metodologia

1) Procedimentos de campo

As áreas de coleta para este estudo foram 13 estações de amostragem no Arquipélago


de Fernando de Noronha, considerando duas condições distintas quanto aos tipos de
uso da área: 1 - áreas de usos múltiplos onde é permitido o turismo e infraestrutura
urbana; 2 - áreas de uso restrito no qual só é permitido atividades de mergulho (Figura
1).

Amostras de água do mar foram coletadas superficialmente por atividade de mergulho


nos locais com ocorrência de recifes de corais e acondicionadas em frascos de
polietileno. Cerca de 100 mL de água foram preservados com solução concentrada de
cloreto de mercúrio (HgCl2) para as análises de alcalinidade total (AT), enquanto
1000mL foram reservados para as análises de nutrientes e mantidos sob refrigeração.
As variáveis pH, temperatura e salinidade foram medidas em campo com o auxílio de
pHmetro portátil e refratômetro.
Ao chegar no laboratório as amostras destinadas às análises de nutrientes foram
filtradas utilizando membranas de acetato de celulose de porosidade de 0,45
micrometros e a alíquota filtrada foi mantida congelada até o momento da análise.
2) Análises de laboratório e cálculos
A alcalinidade total foi determinada por titulação potenciométrica com HCl 0,1M pelo
método de Gran e calculada a partir do programa ALCAGRAN.BAS (Carmouze, 1994).
As concentrações de carbono inorgânico total (TCO2) e a especiação do sistema
carbonato foram calculadas por um modelo de associações iônicas utilizando-se a
alcalinidade total (AT), o pH, a temperatura e a salinidade (Carmouze, 1994) a partir do
programa CO2SYS.EXE (Lewis; Wallace, 1998).
3) Análises estatísticas
Para avaliar as variações quanto a vulnerabilidade à acidificação dos oceanos, foi
realizado o teste estatístico deMann-Whitney para identificar diferenças espaciais
entre áreas de usos múltiplos versus de uso restrito. Para isso, foi utilizado o Software
estatístico Past versão 4.03.

Resultados e Discussões

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As concentrações de CO2 dissolvido variaram de 3,9 µmol/L (estação Atalaia) a 26


µmol/L (estação Boldró Praia), enquanto os valores de pCO2 e tCO2 variaram de 151,5
µmol/L a 964,9 µmol/L e 1488 µmol/L a 2679,1 µmol/L, respectivamente, também com
os valores máximos registrados em Boldró Praia. Essa estação está inserida dentro da
área de usos múltiplos e localiza-se após um córrego de despejo de esgoto, indicando
possível ocorrência de heterotrofia líquida. Nessas condições, as taxas de produção
primária (fotossíntese) são menores que as de respiração, sendo assim, a
remineralização bacteriana libera CO2 dissolvido para o sistema, exportando
nutrientes inorgânicos (LIETH & WHITTAKER, 1975; CARMOUZE, 1994). O baixo valor
de pH nesta estação (7,85) também evidencia a elevada liberação de CO2 por
processos heterotróficos (Tabela 1).
As menores concentrações de CO2 nas outras estações de coleta podem indicar uma
alta atividade biológica por produção primária pela comunidade de fitoplâncton, agora
se tratando de uma autotrofia líquida, onde as taxas de produção primária são maiores
que as de respiração no sistema, havendo uma maior absorção de carbono inorgânico
(Figura 2). Dessa forma, o pCO2 e o tCO2 são menores, com consequente aumento do
pH (LIETH & WHITTAKER, 1975; CARMOUZE, 1994).
Os valores de CO32- variaram de 161,6 µmol/L (estação Boldró Praia) a 430,8 µmol/L
(estação Atalaia), enquanto os valores de Ωaragonita variaram de 2,78 (estação Boldró
Praia) a 6,87 (estação Atalaia). De acordo com LECLERCQ et al. (2000) o nível ideal de
Ωarag para calcificação é aproximadamente igual a 5,0, dessa forma, a estação Atalaia
e todas as outras estações localizadas na área de uso restrito apresentaram condições
adequadas para calcificação pois se encontram acima de 5. Nas estações de usos
múltiplos, destaca-se a característica heterotrófica da estação Boldró Praia (menor pH,
maior pCO2, e alta concentração de CO2). O menor pH identificado neste local desloca
o equilíbrio do sistema carbonato e favorece as concentrações de CO2 dissolvido e de
HCO3-, já as concentrações de CO32- são desfavorecidas (Zeeb e Wolf-Gladrow 2001),
o que provoca a diminuição de Ωarag. Embora essa estação esteja situada na praia,
esse resultado evidencia uma condição de alerta, uma vez que as águas heterotróficas
podem alcançar as áreas marinhas com recifes de corais, podendo causar prejuízos
para a calcificação e até dissolução líquida de CaCO3 (LONGHINI et al., 2015),
promovendo maior sensibilidade do sistema quanto aos efeitos da AO. Nas estações
de usos múltiplos situadas na área marinha, as amostras coletadas em Lajes Dois
Irmãos apresentam um valor favorável à calcificação (5,23). Os valores de Ωarag das
estações Porto (4,86), Boldró (4,44) e Biboca (4,46) estão abaixo de 5, porém ainda não
apresentam um impedimento para a calcificação (Figura 3). Conforme destacado
anteriormente, os resultados de CO2 dissolvido e pCO2 sugerem a ocorrência de
autotrofia líquida na maioria das estações de coleta. O aumento de pH decorrente do
consumo de CO2 e decréscimo de pCO2 favorece a formação de íons carbonato que

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está diretamente relacionado à disponibilidade de Ωarag (ZEEBE & WOLF-GLADROW,


2001).
Com relação às formas de uso, as estações localizadas nas áreas de usos múltiplos
apresentaram concentrações de íons carbonato e estado de saturação da aragonita
significativamente inferiores quando comparadas à região de uso restrito (Mann-
Whitney, p < 0,05). Esses resultados mostram que, apesar de ainda haver condições
favoráveis para a calcificação, as áreas sujeitas ao maior nível de impacto humano
estão mais vulneráveis à AO. Problemas futuros poderão ser observados quanto à
calcificação e crescimento do recife por apresentarem o decréscimo do pH, a redução
da disponibilidade de íons CO32- e do estado de saturação da aragonita (PROUTY et
al., 2017).

Conclusão

Com base nos resultados encontrados no presente trabalho, os recifes de Fernando de


Noronha apresentam condições favoráveis para a calcificação e crescimento dos
corais. Apesar disso, foram observadas diferenças significativas para as concentrações
de íons carbonato e estado de saturação da aragonita com relação às formas de uso do
arquipélago, com menores valores nas áreas de usos múltiplos. Essa porção do
arquipélago está sujeita ao aporte de contaminantes, o que foi evidenciado em Boldró
Praia, estação próxima a um córrego com influência direta de esgoto, que apresentou
aumento de CO2 dissolvido, decréscimo do pH e das concentrações de íons carbonato,
refletindo processos heterotróficos de decomposição da matéria orgânica.
Considerando a região de contaminação na praia é importante que haja verificação dos
focos de poluição, pois há riscos futuros de intensificação dos efeitos da acidificação
oceânica e consequente decréscimo na calcificação pelos corais.

Referências

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Anexos

Figura 1: Mapa da área de estudo, mostrando as estações de coleta nas áreas de usos
múltiplos e áreas de usos restritos no arquipélago de Fernando de Noronha.

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Tabela 1 - Variáveis físico-químicas registradas nas estações de coleta do arquipélago


de Fernando de Noronha.

Figura 2: Concentrações de carbono inorgânico total (TCO2), bicarbonato (HCO3-),


dióxido de carbono dissolvido (CO2) e pressão parcial de CO2 (pCO2) no arquipélago
de Fernando de Noronha. Laranja - áreas de usos múltiplos; Cinza - áreas de uso
restrito.

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Figura 3: Concentrações de íons carbonato (CO32-) e estado de saturação da aragonita


(Ωarag) nas estações de coleta do arquipélago de Fernando de Noronha. Laranja - áeas
de usos múltiplos; Cinza - áreas de uso restrito.

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CÓDIGO: HS0049

AUTOR: ESTÊNIO LEONARDO SANTOS ALADIM

ORIENTADOR: DENISE MORAIS LOPES GALENO

TÍTULO: O conhecimento sobre o sono na educação em Saúde: O que


precisamos mudar no ensino sobre o sono?

Resumo

Os distúrbios do sono têm uma grande prevalência no mundo todo e trazem diversas
consequências negativas à saúde, podendo gerar maior predisposição ao
desenvolvimento de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras
patologias. No entanto, embora as alterações de sono sejam bastante prevalentes é
observada a existência de uma lacuna quanto ao conhecimento do sono e diagnóstico
correto dos seus distúrbios, que está associada a uma formação técnico-científica
insuficiente dos profissionais de saúde no que diz respeito aos assuntos relacionados a
esta temática. Nesse contexto, o objetivo deste estudo é reconhecer as fragilidades de
conhecimento dos alunos dos cursos da saúde de uma universidade federal em relação
às temáticas do sono, analisar a quantidade de horas de ensino sobre o tema e propor
estratégias que possibilitem maior formação técnico-científica sobre o assunto. Os
voluntários foram convidados a responder um questionário que tinha como intuito
investigar a quantidade de horas de aula dedicadas ao ensino do sono e medir o nível
de conhecimento sobre a temática através do Assessing Sleep Knowledge in Medical
Education (ASKME). A partir da análise dos dados, foi visto que a 54,81% tiveram
apenas de 1 a 5 horas-aula voltadas ao ensino do sono e 62,65% apresentam um nível
de conhecimento mediano sobre o assunto, revelando que existem aspectos a serem
melhorados no currículo dos cursos de graduação da área da saúde.

Palavras-chave: conhecimento sobre o sono. Educação em Saúde.


Questionário ASKME

TITLE: Knowledge about sleep in health education: what do we need to change


in teaching about sleep?

Abstract

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Sleep disorders have a high prevalence worldwide and bring several negative
consequences to health, which may lead to a greater predisposition to the
development of obesity, cardiovascular diseases, diabetes, among other pathologies.
However, although sleep disturbances are quite prevalent, there is a lack of knowledge
about sleep and the correct diagnosis of its disorders, which is associated with
insufficient technical-scientific training of health professionals with regard to issues
related to sleep. related to this topic. In this context, the objective of this study is to
recognize the weaknesses in the knowledge of students of health courses at a federal
university in relation to sleep issues, to analyze the amount of teaching hours on the
subject and to propose strategies that allow for greater technical-scientific training.
about the subject. Volunteers were invited to answer a questionnaire that aimed to
investigate the amount of class hours devoted to teaching sleep and measure the level
of knowledge on the subject through the Assessing Sleep Knowledge in Medical
Education (ASKME). From data analysis, it was seen that 54.81% had only 1 to 5 class
hours focused on teaching sleep and 62.65% had an average level of knowledge on the
subject, revealing that there are aspects to be improved in the curriculum of
undergraduate courses in the health area.

Keywords: knowledge about sleep. Health Education. ASKME Questionnaire.

Introdução

Embora definir sono não seja uma tarefa fácil, seja sob o ponto de vista fisiológico, seja
com base na descrição comportamental do indivíduo que dorme. Podemos considerar
o sono uma condição fisiológica de atividade cerebral, natural e periódica,
caracterizada por modificação do estado de consciência, redução da sensibilidade aos
estímulos ambientais, acompanhados por características motoras e posturais próprias,
além de alterações autônomas (GOMES, 2010). Os distúrbios desse mecanismo
fisiológico tão importante trazem diversos impactos negativos à saúde como por
exemplo, ganho de peso, maior predisposição a obesidade, inflamação, doenças
cardiovasculares, diabetes, entre outros (Louis et. al. 2008).
Estima-se que a prevalência dos distúrbios do sono (DS) na população mundial adulta
seja de 15% a 27%, com cerca de 70 milhões de pessoas sofrendo com algum tipo
dessa doença só nos Estados Unidos (Bardini et. al, 2015). No Brasil, 76% da população
apresenta pelo menos uma queixa relacionada ao sono e mais de 50% dos adultos têm
pelo menos algum DS diagnosticado durante sua vida (Castro et. al. 2013).
Embora os distúrbios do sono sejam muito prevalentes, existe uma dificuldade patente
para o seu correto diagnóstico, o que sugere que haja, inclusive, problemas na
formação técnico-científica dos profissionais de saúde em assuntos relacionados ao
sono (Tamay et al. 2006). Parte desta dificuldade em se diagnosticar os distúrbios do

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sono está ligada à real insuficiência de educação formal sobre o sono normal e os seus
distúrbios nos cursos de graduação na área da saúde (Meissner et al., 1998; Southwell
et al., 2008). A insuficiência de educação formal sobre o sono é algo presente na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), visto que o ensino sobre a
saúde, a expressão normal e as patologias do sono na UFRN se dá majoritariamente de
forma facultativa/optativa aos alunos dos diferentes cursos de graduação da área da
saúde da Universidade através de duas disciplinas denominadas “Neurobiologia do
sono” e “Cronobiologia aplicada à saúde”.
Este cenário deixa claro a necessidade de se aumentar a inserção das competências,
incluindo conteúdo teórico cognitivo, as relativas atitudes e habilidades aos programas
de graduação, pelo menos na área da saúde. Contudo, em paralelo com as mudanças
nas políticas de ensino superior em saúde, são fundamentais a criação e a utilização de
ferramentas objetivas para o monitoramento do sucesso das intervenções didático-
pedagógicas, sob forma de medidas de conhecimento e competências. Para tanto, o
meio mais direto e de capacidade de aplicação em ampla escala é a utilização de
questionários desenvolvidos para esta finalidade (Southwell et al., 2008), como por
exemplo o questionário de ASKME.
O ASKME trata-se de um questionário onde são apresentados itens no formato
"verdadeiro ou falso" com uma terceira opção de resposta, a "não sei", para minimizar
o efeito da adivinhação pelos respondentes. As perguntas do questionário abordam 8
domínios diferentes que estão relacionados aos princípios básicos e arquitetura do
sono, Insônia; princípio do ciclo circadiano; narcolepsia; parassonias; distúrbios
respiratórios do sono e efeito de drogas/álcool sobre ele (CONWAY 2009).
Diante do que foi exposto, é fundamental ressaltarmos adequadamente a relevância
que o ensino sobre a saúde do sono tem para os alunos de graduação em formação na
área da saúde para que estes saiam da universidade preparados para diagnosticar e
traçar condutas assertivas no que diz respeito ao tratamento das alterações de sono e
suas consequências.
Essa pesquisa tem o objetivo de avaliar os conhecimentos sobre a expressão fisiológica
e sobre as principais patologias do sono em estudantes de graduação da área da saúde
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e está relacionada com o objetivo 3
(saúde e bem-estar) e 4 (educação de qualidade) dos objetivos de Desenvolvimento
Sustentável.

Metodologia

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Esta é uma pesquisa descritiva, de abordagem quantitativa, transversal, realizada


através da aplicação de um questionário estruturado para análise dos conhecimentos
sobre saúde e patologias do sono.
Foram incluídos no estudodiscentes de ambos os sexos, maiores de 18 anos que
tivessem cursado ao menos 2 semestres completos do curso e excluídos discentes
provenientes de programas de mobilidade acadêmica ou aqueles que não tenham
cursado integralmente às disciplinas das graduações da área da saúde na UFRN.
Como instrumento de investigação foi utilizada a versão traduzida e validada do
questionário ASKME (Assessing Sleep Knowledge in Medical Education), criado por
Zozula et al. (2001), além de um questionário com perguntas sobre os dados pessoais
do participante, como por exemplo: Nome, idade, sexo, período atual da graduação e
horas de estudo sobre sono através de disciplinas obrigatórias ou optativas que o
aluno teve até o momento.
A aplicação dos questionários foi realizada através da plataforma google forms, cujo
link (https://forms.gle/7h4F1hptX9SpQdd9A) foi enviado aos discentes através da
plataforma institucional da UFRN (SIGAA) e através de contatos por mídias sociais,
como as redes sociais dos centros acadêmicos de cada curso. Ao acessar o link, o
discente lia na primeira seção do questionário a versão digital do termo de
consentimento de participação na pesquisa, submetido e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (CEP/UFRN) sob o número 4.696.274. Concordando em continuar, o discente
era direcionado para o questionário a respeito dos seus dados pessoais e em seguida
para o questionário ASKME-BR.
Após a fase de coleta, os dados foram analisados utilizando o programa de estatística
JASP.Foram utilizadas estatísticas básicas, valores absolutos e relativos, acompanhados
pelos respectivos intervalos de confiança para descrição dos dados.Especificamente
quanto aos dados do questionário ASKME, as categorias de respostas receberam
pontuação de acordo com o acerto de cada item. Respostas corretas receberam
pontuação correspondente ao valor 01 (um), e as respostas incorretas assim como as
assinaladas como “não sei” foram unidas em uma única categoria e contabilizadas com
valor 0 (zero). As pontuações foram somadas e calculadas, e as médias de cada item,
assim como as médias dos domínios foram computados. As médias de acertos de cada
assertiva do questionário foram divididas em três faixas, de acordo com a pontuação:
1) 0 a 29%: Nível crítico de conhecimento, requerendo mudanças curriculares de curto
prazo; 2) 30 a 59%: Classificada como alerta/mediano, revelando aspectos a serem
melhorados no currículo e exigindo medidas em médio prazo; 3) igual ou maior que
60% de acertos: Expressivo conforto, podendo ainda potencializar esse conhecimento
nos cursos da UFRN.

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Resultados e Discussões

A partir da análise dos dados, foi visto que da amostra de 166 participantes, 27, 1%
(n=45) eram do curso de enfermagem, 39,8% (n=66) eram de fisioterapia, 11,45%
(n=19) do curso de medicina, 12,05% (n= 20) do curso de Nutrição e 9,60% (n=16)
eram do curso de odontologia (Tabela 1).
Em relação ao tempo de aulas relacionadas às temáticas do sono (tabela 2), a maior
parte dos alunos, 54,8% (n=91) tiveram apenas de 1 a 5 horas dedicadas ao estudo da
temática; 9,6% (n=16) estudaram de 5 a 10 horas; 2,4% (n=4) estudaram de 10 a 15
horas; 3,01% (n=5) tiveram de 15 a 20 horas de estudo; 10,2% (n= 17) estudaram mais
de 20 e por fim, 19,88% (n=33) não tiveram nenhuma hora de ensino voltada para o
estudo do sono.
Quanto a média de acertos no questionário ASKME (Tabela 3) foi visto que 16,27%
(n=27) dos alunos encontram-se na faixa 1 de conhecimento, ou seja, acertaram de 0 a
29% do questionário, o que significa um nível crítico de conhecimento, requerendo
mudanças curriculares de curto prazo; 62,65% (n=104) encontram-se na faixa 2
representando o grupo que acertou 30 a 59% das perguntas, tal faixa é classificada
como alerta/mediana, revelando aspectos a serem melhorados no currículo e exigindo
medidas em médio prazo; e por fim, 21,0,8% (n=35) encontram-se na faixa 3 composta
por aqueles que tiveram uma média de acertos maior ou igual a 60%, o que representa
um expressivo conforto em relação ao conhecimento sobre as temáticas do sono,
podendo ainda potencializar esse conhecimento nos cursos da UFRN.
Quanto à análise do peso que cada um dos oito domínios do questionário teve no
score final (tabela 4 e gráfico 1) foi encontrada uma correlação (Spearman rho =0.74,
p<0.001) para o D1, (Spearman rho =0.62, p<0.001) para o D2, (Spearman rho =0.56,
p<0.001) para o D3, (Spearman rho =0.48, p<0.001) para o D4, (Spearman rho =0.52,
p<0.001) para o D5, (Spearman rho =0.64, p<0.001) para o D6, (Spearman rho =0.49,
p<0.001) para o D7, (Spearman rho =0.62, p<0.001) para o D8. Diante desses, infere-se
que o maior nível de conhecimento dos alunos é sobre o domínio das bases
neurobiológicas (D1) enquanto os maiores déficits estão nos domínios dos distúrbios
respiratórios (D7) e insônia (D4), os quais apresentaram menor grau de correlação.
Segundo Bacelar e colaboradores (2020), a insônia é o distúrbio do sono mais comum
na população em geral e a prevalência mundial de seus sintomas é de
aproximadamente 30- 35%. Além disso, estudos como o de Souza et. al. (2020),
revelam que distúrbios respiratórios como apneia a afeta 2 a 4% da população mundial
e pode gerar patologias como : Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Insuficiência

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Cardíaca Congestiva, Doença Arterial Coronariana e arritmias. Desse modo, tendo em


vista a alta prevalência desses distúrbios e suas consequências negativas à saúde, o
baixo nível de conhecimento dos alunos e futuros profissionais da saúde se mostra um
fator preocupante, pois esse déficit provavelmente irá refletir em profissionais
incapazes de diagnosticar e/ou adotar condutas terapêuticas assertivas para o
tratamento.
Na investigação da relação entre número de horas de ensino sobre sono e
desempenho no questionário ASKME (tabela 5) observou-se que discentes submetidos
à carga horária entre 1 a 5 horas diferiram do grupo sem carga horária formal (p=
0,004) (Dunn's test), assim como aqueles que foram submetidos de 15 a 20 horas e
mais de 20 horas de estudo diferiram do grupo sem carga horária dedicadas ao estudo
do sono, apresentando um p=0,006 e p= < 0,001, respectivamente. Diante disso, é
possível inferir que os os estudantes que tiveram qualquer tempo de hora-aula
relacionada ao conhecimento do sono tiveram um melhor desempenho se
comparados aqueles que não tiveram nenhuma aula.
Kovacić et al. (2002) desenvolveram um estudo com o objetivo de avaliar o
conhecimento e as atitudes em relação à medicina do sono de estudantes de medicina
do segundo ano, médicos em pós-graduação e especialistas em diferentes áreas. Além
de responder o questionário ASKME, os participantes também responderam a um
questionário sobre as atitudes clínicas a serem tomadas na medicina do sono, assim
como a um questionário sobre a hipertensão. Os Resultados confirmaram que o
conhecimento da medicina do sono era geralmente baixo em estudantes de medicina,
bem como em médicos. Especialistas e pós-graduados demonstraram maior
conhecimento sobre hipertensão do que sobre medicina do sono e não demonstraram
melhor conhecimento sobre o último assunto se comparados aos estudantes. Para os
pesquisadores, um nível muito baixo de conhecimento sobre medicina do sono está
provavelmente relacionado à falta de educação adequada durante a graduação, pós-
graduação e programas de residência.
Na mesma perspectiva, Mahendran et al. (2004) também desenvolveram um estudo
que contou com uma amostra de 240 estudantes de medicina com o objetivo de
avaliar o conhecimento em relação à medicina do sono. Os resultados encontrados
mostraram que o conhecimento sobre sono é geralmente baixo em estudantes de
medicina, com apenas 1,7% , pontuando entre 21-30 pontos. Os autores destacam
ainda que aqueles estudantes que apresentaram pontuações mais altas em
conhecimento básico do sono provavelmente tenham adquirido esse conhecimento
por meio de suas próprias leituras, uma vez que o tempo médio gasto sobre medicina
do sono durante o ensino médico é bastante reduzido.
Ademais, estudo desenvolvido por Conway (2009) com o objetivo de medir o impacto
de intervenções educacionais sobre medicina do sono oferecidas a alunos de

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graduação do 2º e do 3º ano de medicina, do 4º ano de enfermagem, 2º ano de


biomedicina e estudantes de pós-graduação de uma universidade concluiu que cursos
sobre a medicina do sono oferecidos são capazes de promover o aumento do
conhecimento na área entre os diferentes grupos de alunos, demonstrando dessa
forma, o impacto positivo que a educação formal sobre sono tem na formação de
profissionais da saúde.
O presente estudo, assim como os demais citados, destacam que boa parte dos
estudantes da área da saúde demonstram um nível de conhecimento a respeito da
medicina do sono abaixo do esperado e isso é reflexo das baixas cargas horárias
dedicadas ao ensino do assunto. Tendo em vista que todos os profissionais da saúde
podem ter contato com um paciente que sofre de distúrbio do sono (DS), intervenções
educacionais destinadas aos profissionais de todas as áreas das ciências médicas é
extremamente importante para ajudar a identificação dos sinais e sintomas dos DS,
assim como para que possam orientar e tratar adequadamente os pacientes (Dement,
1993).

Conclusão

Diante das análises feitas, conclui-se que a maior parte dos discentes apresentam um
nível de conhecimento mediano ou crítico, o que é reflexo da ausência de conteúdos
curriculares obrigatórios e da reduzida oferta de disciplinas optativas voltadas para o
ensino do sono. Para sanar tal adversidade, em um primeiro momento, a melhor
medida a ser tomada seria a criação de um material didático que possa ser acessado e
compreendido facilmente, pois diante da falta de carga horária formal o material deve
ser o mais atrativo possível para gerar o interesse pelo estudo. Além disso, uma
possível solução a médio prazo seria a realização de um simpósio/webinário
multidisciplinar onde fosse ofertadas palestras sobre os mais diversos temas sobre
sono e que fosse falado do ponto de vista das variadas áreas da saúde. Por fim, a
melhor forma de sanar tal problema é a criação e inclusão de um componente
curricular obrigatório na grade dos cursos da saúde para que todos alunos tenham
uma carga horária formal mínima sobre estudo do sono e adentrem no mercado de
trabalho mais preparados para diagnosticar e tratar os distúrbios do sono.

Referências

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Bacelar, A. et. al. Insônia : do diagnóstico ao tratamento. – São Caetano do Sul, SP:
Difusão Editora; São Paulo: Associação Brasileira do Livro, 2019.
Bardini et. al. Perfil epidemiológico das doenças mais prevalentes em pacientes
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da UNESC. Criciúma – SC. Disponível em
<https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/52659> acesso em: 04/08/2022.
Castro LS, Poyares D, Leger D, Bittencourt L, Tufik S. Objective prevalence of insomnia
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Gomes MM, Quinhones MS, Engelhardt E. Neurofisiologia do sono e aspectos
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obstructive sleep apnea: a survey study. Sleep Breath. 2008;12(4):295-302.
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apneia e hipopneia obstrutiva do sono e principais comorbidades associadas. Rev Ciênc
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Anexos

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Tabela 1: Frequência de participação por curso

Tabela 2: Horas de estudo sobre sono

Tabela 3: Frequência de acertos por faixa

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Tabela 4: Correlação dos domínios com o score final

Figura 1: Correlação dos domínios com o score final

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Tabela 5: Relação entre número de horas de ensino sobre sono e desempenho no


ASKME

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CÓDIGO: HS0112

AUTOR: YASMIM KAMILA DA COSTA RIBEIRO

ORIENTADOR: DANIELLA REGINA ARANTES MARTINS SALHA

TÍTULO: Comparativo entre o cenário de leis e resoluções nacionais e


internacionais sobre a bioética, a pesquisa em seres humanos e os impactos
das terapias gênicas

Resumo

O presente plano de trabalho busca estudar as diversas leis e resoluções internacionais


e fazer um comparativo com as nacionais, a fim de entender o panorama mundial
acerca da bioética, bioengenharia e do biodireito. Dessa forma, será analisada a
evolução destas áreas e que ensinamentos podem ser incorporados ao nosso sistema
jurídico para melhorá-lo, de maneira a resolver possíveis conflitos normativos e
materiais que venham a surgir a partir das transformações na área pesquisada. Com a
intenção de aprimorar o direito, este plano de trabalho também buscará estudar as
novas terapias gênicas para entender de maneira mais exata seus impactos no corpo
humano e na sociedade, analisar a evolução das legislações e resoluções ao redor do
mundo sobre biodireito e bioética, além de estar a par dos últimos avanços no campo
da biotecnologia e como o direito tratar-los-á. A abordagem do projeto de pesquisa
será hipotético-dedutiva e fenomenológica, quanti-qualitativa, de natureza aplicada,
utilizando como métodos auxiliares estatístico e comparativo e com objetivo
explicativo de listar a legislação e resoluções internacionais e nacionais, além de avaliar
os resultados e de realizar avaliações formativas acerca das leis, através dos
procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica, estudos de caso e pesquisa ex-post-
facto, para analisar as consequências das restrições e permissões quanto à
biotecnologia e às terapias gênicas.

Palavras-chave: Biodireito. Bioética. Direito Internacional.

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TITLE: Comparison between the scenario of national and international laws and
resolutions on bioethics, research on human beings and the impacts of gene
therapies

Abstract

This work plan seeks to study the various international and international laws and
make a comparison with the national ones, in order to understand the world
panorama about bioethics, bioengineering and biolaw. In this way, the evolution of
these areas will be allowed and that the teachings can be incorporated into our legal
system to improve it, in order to resolve possible normative and material conflicts that
may arise from the transformations in the researched area. With the intention of
improving the law, this work plan will also seek to study the new gene therapies to
understand more accurately their impacts on the human body and society, analyze the
evolution of legislation and experiment around the world on biolaw and bioethics, in
addition to being aware of the latest advances in the field of biotechnology and how
the law will treat them. The approach of the research project will be hypothetical-
deductive and phenomenological, quantitative-qualitative, of an applied nature, using
statistical and comparative auxiliary methods and with the explanatory objective of
listing the legislation and international and national force, in addition to evaluating the
results and carrying out formative estimates of laws, through the technical procedures
of bibliographic research, case studies and ex-post-facto research, to analyze the
consequences of restrictions and permissions on biotechnology and gene therapies.

Keywords: Biolaw. Bioethics. International law.

Introdução

Dentro deste plano de trabalho, o objetivo é acompanhar o desenvolvimento da


bioética e biodireito no panorama internacional e contribuir para seu avanço,
estudando sobre a origem da disciplina da bioética como tal, e como se deu sua
evolução desde então nos diversos países, além de analisar casos emblemáticos que
proporcionaram novas discussões éticas que poderiam ser abarcadas pelos princípios
bioéticos. Nesse sentido, houve uma investigação acerca do nascimento da bioética,
como ela se desenvolveu, quais foram suas principais obras e qual o impacto desses
estudos na comunidade internacional e na vida prática dos sujeitos-alvo desta: os
pacientes e participantes de pesquisa.

Metodologia

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Para realizar este estudo, a técnica preponderante foi a pesquisa bibliográfica,


consultando documentos online e livros físicos sobre o assunto. A abordagem utilizada
foi quanti-qualitativa, já que foram utilizados dados de pessoas afetadas
(principalmente na análise dos casos que já ocorreram) e foram abordados problemas
no campo jurídico e ético-filosófico. Para aumentar o conhecimento de algumas
técnicas genéticas e da visão internacional sobre a bioética, foram realizados cursos
online sobre o CRISPR-Cas9 e sobre a bioética, direitos de reprodução e genética; o
método, em geral, foi hipotético-dedutivo, partindo de alguma hipótese inicial e
realizando as pesquisas a partir dela e também fenomenológico, ao estudar os casos e
fenômenos, juntamente com pesquisa ex-post-facto. Os principais casos estudados
foram os da Segunda Guerra Mundial, que levaram ao Código de Nuremberg, à
Declaração de Helsinque, e eventualmente ao Relatório de Belmont. Casos mais
recentes e específicos também foram estudados, como HeLa cells e o caso do médico
chinês He Jiankui e as gêmeas com genes editados. Também será aplicado um
questionário com público-alvo a população em geral.

Resultados e Discussões

Como parte do plano de trabalho, um artigo científico foi produzido (ainda não
publicado) sobre a intersecção entre bioética e direitos humanos, demonstrando como
os princípios bioéticos podem se encaixar na proteção conferida pelo Direito
Internacional dos Direitos Humanos, ao considerar algumas normas da bioética como
jus cogens, quando em relação à tortura; além de preencher as eventuais lacunas
deixadas pela bioética, os princípios dos direitos humanos trazem uma proteção
atemporal que acompanharia, na medida do possível, os avanços biotecnológicos,
trazendo uma maior segurança em nível global - como demonstrado pelo texto.
A pesquisa deste artigo também resultou em submissão de banner para o “25º
Seminário de Pesquisa do CCSA: As controvérsias da inovação e tecnologia no mundo
do trabalho”, sobre a mesma temática, mas focando na importância de considerar
alguns princípios bioéticos como jus cogens.
Outro trabalho realizado foi o envio de um resumo para o “II Simpósio Potiguar
Animais e Comunidade: Os animais humanos, não humanos e o meio ambiente, uma
questão de Saúde Única”, sobre a bioética animal, para auxiliar o direito brasileiro a
reconhecer a senciência animal, como já disposto por alguns instrumentos
internacionais, a fim de modificar a posição jurídica nacional que considera os animais
como coisas, passando a reconhecê-los como pessoa sui generis.

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O trabalho principal, todavia, deste plano de pesquisa, é o estudo sobre a edição de


embriões utilizando técnicas de alteração do gene e o comércio de embriões - tanto os
editados quanto os não editados. Esta ainda é uma pesquisa ainda em andamento.
Para complementar o estudo, será realizado um questionário, após aprovação do
comitê de ética, sobre como a população em geral enxerga a questão da edição de
embriões e do comércio destes.
A ideia surgiu do curso sobre Bioethics, que apresentou a realidade do comércio de
embriões nos Estados Unidos, levantando as diversas questões éticas que envolvem a
prática. Com isso, a pesquisa que tem sido realizada é de estudar como a legislação
internacional permite essa prática e como os estudos da bioética, em contrapartida,
encaram a permissão - para, no final, fazer uma comparação entre a legislação
brasileira com a externa e averiguar se o Brasil abarcaria esta prática, além de tratar do
problema ético em si.

Conclusão

Como conclusões das pesquisas realizadas sob o direcionamento deste projeto de


pesquisa, constatou-se que a interdisciplinaridade da bioética com o direito traz
importantes reflexões que fomentam o avanço das legislações que buscam proteger as
pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente no contexto biotecnológico -
como demonstrado pelo trabalho que abordou a intersecção da bioética com os
Direitos Humanos; mas também visto no resumo sobre o direito animal: a bioética
tornou-se uma aliada imprescindível para desmistificar a ideia de “coisa” ainda
atribuída aos animais. Já o último trabalho citado, trouxe como conclusões prévias
como a diferença entre culturas pode influenciar o direito e como a bioética pode
trabalhar para achar um common ground, a fim de garantir um mínimo de proteção
internacional.

Referências

ARAUJO, Julia Gandin; CASTRO, Júllia Andrade; RIBEIRO, Yasmim Kamila C.; CASIMIRO,
Adelaide Helena T. Engenharia genética na prevenção de doenças: perspectiva da
jurisprudência no Brasil. In: RIBEIRO, Leonardo Jensen. Direito civil e Direito
constitucional e suas nuances. Campo Grande: Inovar, 2021. P. 85-99. DOI:
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-80476-93-0. Acesso em: 03 abr. 2023.

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eCICT 2023

ATLAN, Henri. Humanidade e dignidade no mundo da biotecnologia. In: GARRAFA,


Volnei; MARTINS, Gerson Zafalon; BARBOSA, Swenderberger do Nascimento. Bioéticas,
poderes e injustiças: 10 anos depois. Brasília: CFM/Cátedra Unesco de Bioética/SBB,
2012.
BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Promulgada em 05 de outubro de 1988.
BRASIL. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996. Dispõe sobre diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 de out. 1996.
BRASIL. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 de jun. 2013.
BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Lei de Biossegurança. Código de Ética
Médica: Resolução CFM nº 2.217, de 27 de setembro de 2018, modificada pelas
Resoluções CFM nº 2.222/2018 e 2.226/2019 / Conselho Federal de Medicina –
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DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. 10. ed. São Paulo: Saraiva jus, 2017.
FERREIRA, Maria de Fátima Oliveira. Engenharia Genética: O Sétimo Dia da Criação.
Ilustrações Marcio Perassolo. São Paulo, 11ª impressão: Moderna, 2000 (Coleção
Polêmica).
ISAACSON, Walter. A Decodificadora: Jennifer Doudna, edição de genes e o futuro da
espécie humana. 1 ed. Rio de Janeiro: Intrínseca: 2021.
PESSINI, Leo; BERTACHINI, Luciana; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. Bioética,
cuidado e humanização: das origens à contemporaneidade. São Paulo: Centro
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POTTER, Van Rensselaer. Bioethics: Bridge to the Future. New Jersey: Prentice Hall,
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TRIBUNAL INTERNACIONAL DE NUREMBERG. Código de Nuremberg. Nuremberg, 1947.


Disponível em: https://www.ghc.com.br/files/CODIGO%20DE%20NEURENBERG.pdf.
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eCICT 2023

CÓDIGO: HS0139

AUTOR: MARIA AURÉLIA EUGÊNIA DE LIMA

ORIENTADOR: DANIELLA REGINA ARANTES MARTINS SALHA

TÍTULO: O avanço da biotecnologia no âmbito agroalimentar e a escassez de


estudos sobre os possíveis impactos causados no consumo de alimentos
transgênicos à saúde humana.

Resumo

A biotecnologia é um campo que se encontra em constante expansão,


abrangendo diversas áreas científicas e desempenhando um papel
fundamental na criação de novos produtos e métodos com o intuito de melhorar
a qualidade de vida e sanar diversos problemas por meio da aplicação da
tecnologia. Associado a este propósito está a produção de alimentos
geneticamente modificados que tem como principais objetivos aumentar a
produtividade agrícola e torná-los resistentes a pragas e doenças. A partir
dessa vertente, esta pesquisa tem o objetivo de abordar a lacuna científica em
relação aos potenciais impactos do consumo de alimentos transgênicos à
saúde humana. Além de proporcionar uma análise relativa à evolução da
biotecnologia sob a óptica do biodireito, promovendo uma interseção entre as
ciências humanas e biológicas. O presente plano de trabalho propõe investigar
não somente as questões científicas mas também as percepções e opiniões da
sociedade envolvendo a temática abordada. Para atingir esse objetivo, será
realizada a coleta de opinião da população estudantil da UFRN e da população
da cidade do Natal-RN por meio da aplicação de questionários referente ao
tema em discussão. Dessa forma, essa avaliação permitirá uma percepção
profunda do grau de informação da sociedade em relação aos OGMs.
Dessarte, esse estudo integrado busca promover uma análise crítica sobre a
expansão da biotecnologia além de proporcionar uma avaliação minuciosa a
respeito do consumo dos OGM à saúde humana.

Palavras-chave: biotecnologia, alimentos transgênicos, biodireito.

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TITLE: The advance of biotechnology in the agri-food sector and the scarcity of
studies on the possible impacts caused by the consumption of transgenic foods
on human health.

Abstract

Biotechnology is a field that is constantly expanding, covering several scientific


areas and playing a fundamental role in the creation of new products and
methods with the aim of improving the quality of life and solving various
problems through the application of technology. Associated with this purpose is
the production of genetically modified foods whose main objectives are to
increase agricultural productivity and make them resistant to pests and
diseases. From this perspective, this research aims to address the scientific gap
in relation to the potential impacts of the consumption of transgenic foods on
human health. In addition to providing an analysis on the evolution of
biotechnology from the perspective of biolaw, promoting an intersection
between the human and biological sciences. This work plan proposes to
investigate not only the scientific issues but also the perceptions and opinions of
society involving the theme addressed. To achieve this objective, the opinion of
the student population of the UFRN and the population of the city of Natal-RN
will be collected through the application of questionnaires related to the topic
under discussion. Thus, this assessment will allow a deeper perception of
society's level of information regarding GMOs. Thus, this integrated study seeks
to promote a critical analysis of the expansion of biotechnology in addition to
providing assessment thorough of the consumption of GMOs for human health.

Keywords: biotechnology, transgenic food, biolaw.

Introdução

A biotecnologia abrange a aplicação da ciência na utilização de organismos


vivos e seus produtos visando o benefício humano. Esse campo engloba a
síntese de produtos e a solução de problemas através da implementação de
diversas tecnologias que podem ser aplicadas a entidades biológicas (Laith,
2022), dentre as inovações está a criação de Organismos Geneticamente
Modificados (OGMs) cujo o propósito é aumentar a produtividade agrícola e
tornar as plantas resistentes a pragas e doenças (Ismail et al.,2019). Porém,
por trás dessa promessa de progresso emergem considerações científicas e

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éticas que merecem uma atenção profunda. De fato, quais são os reais
impactos do consumo de alimentos transgênicos à saúde humana?.
No Brasil, a produção de alimentos transgênicos é fiscalizada por a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que visa estabelecer normas às
atividades que envolvam construção, cultivo, manipulação, uso, transporte,
armazenamento, comercialização, consumo, liberação e descarte relacionados
a OGMs em todo o território brasileiro (Penna et al., 2020). Além de tratarem da
minimização dos riscos em relação aos OGMs. Porém apesar dessa inspeção
minuciosa muitas lacunas ainda perduram em relação aos alimentos
geneticamente modificados e seu consumo.
Atualmente, a ingestão de alimentos transgênicos aumentou significativamente
desde do início da sua produção nos anos 90, entretanto apesar do avanço e
da criação de inúmeras espécies de plantas geneticamente modificadas, pouco
se sabe sobre os seus efeitos danosos à saúde humana. Antigamente,
associava os OGMs ao surgimento de anomalias, distúrbios metabólicos e
infertilidade, porém cientistas garantiram que o consumo de alimentos
transgênicos não apresentam risco maior do que os alimentos tradicionais
(Rodriguez et al.,2022). Entretanto, essas especulações muitas vezes ainda
são associadas a esses alimentos.
Comumente a essas incertezas, se torna imperativo refletir sobre as
preocupações impostas pela sociedade em relação ao consumo de OGMs e
suas implicações éticas. A fim de explorar o avanço da biotecnologia na
produção de alimentos transgênicos e suas supostas implicações maléficas
para a saúde humana. Diante do exposto faz-se necessário ponderar o nível de
informação pública diante desse tema e a interface do biodireito a respeito do
consumo de alimentos geneticamente modificados.

Metodologia

O projeto adota uma abordagem investigativa e exploratória empregando o


método hipotético-dedutivo, analisando casos científicos relacionados ao
consumo de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) na dieta
humana. Destacando a escassez de estudos científicos nesse contexto e
ressaltando preocupações éticas em relação aos efeitos da ingestão de
alimentos transgênicos na saúde das pessoas.
A pesquisa visa compreender a percepção da sociedade em relação ao tema,
para isso será realizado uma coleta de opiniões da população estudantil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da cidade de Natal-RN. Para
garantir resultados representativos, um plano amostral foi elaborado,

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envolvendo 385 pessoas participantes, o cálculo desse número foi baseado no


censo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
para população de Natal-RN, usando a fórmula geral para determinar o
tamanho da amostra.
A coleta de dados será conduzida de maneira diferente para os dois grupos: a
população estudantil responderá um questionário online onde será
disponibilizado um link por meio de email e redes sociais, enquanto a
população de Natal/RN, será abordada pessoalmente para responder o
questionário. É válido ressaltar que as perguntas presentes no questionário
serão as mesmas para ambos os públicos e formas de aplicação, destaca-se
ainda, que a participação dos indivíduos está condicionada a leitura e aceitação
prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Resultados e Discussões

O presente estudo encontra-se atualmente em fase de análise pelo Comitê de


Ética (CEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), devido à
sua natureza como um questionário direcionado à sociedade. Após a
aprovação da documentação pelo Comitê de Ética, nossa próxima etapa
consistirá na aplicação do questionário ao grupo amostral que já se encontra
definido.
Para a parcela estudantil, o questionário será enviado por meio de email ou
redes sociais. O convite para participação da pesquisa ocorrerá mediante o
envio de um link que previamente direcionará o indivíduo para a leitura e
aceitação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), somente
após a aceitação deste termo o participante dará início a realização do
questionário objetivo, contendo 15 perguntas de múltipla escolha.
No caso da população de Natal-RN, optaremos pela abordagem presencial
para a aplicação do questionário. Nesse cenário, os indivíduos serão
abordados e convidados a participar da pesquisa. Após a leitura cuidadosa e
aceitação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o
participante dará início a realização do questionário, o qual contém 15
perguntas de múltipla escolha iguais ao questionário direcionado ao público
estudantil.
Uma vez coletadas todas as respostas da amostra, nossa próxima etapa
consistirá em analisar minuciosamente os resultados, isso nos permitirá obter
uma compreensão mais profunda do nível de conhecimento da sociedade em
relação ao consumo de alimentos transgênicos e aos princípios da bioética.
Nosso objetivo final é estimular uma reflexão crítica sobre o tema abordado

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

contribuindo para uma discussão informada e consciente. A fim de proporcionar


uma reflexão crítica sobre o assunto abordado.

Conclusão

Diante do exposto, é evidente que os estudos científicos relacionados aos


potenciais danos causados pelo consumo de Organismos Geneticamente
Modificados (OGMs) para a saúde humana ainda carecem de abrangência e de
profundidade. Além disso, é crucial enfatizar que a aplicação dos questionários
irá contribuir para uma compreensão mais abrangente de como as pessoas se
sentem em consumir esses alimentos mesmo com a carência de informações
que ainda persistem. Dessa forma, torna-se imperativo intensificar os esforços
no sentido de conduzir mais investigações abrangentes acerca dos potenciais
impactos dos alimentos geneticamente modificados na saúde humana.

Referências

EŞ, Ismail et al. The application of the CRISPR-Cas9 genome editing


machinery in food and agricultural science: Current status, future perspectives,
and associated challenges. Biotechnology advances, v. 37, n. 3, p. 410-421,
2019.
LAITH, AL-Eitan; ALNEMRI, Malek. Biosafety and Biosecurity in the Era of
Biotechnology: The Middle East Region. Journal of Biosafety and
Biosecurity, 2022.
PENNA, P. M. M. et al. Biossegurança: uma revisão. Arquivos do Instituto
Biológico, v. 77, p. 555-565, 2020.
VEGA RODRÍGUEZ, Angelo et al. Myths and realities about genetically
modified food: A risk-benefit analysis. Applied Sciences, v. 12, n. 6, p. 2861,
2022.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: HS0144

AUTOR: JULLIA ANDRADE DE CASTRO

ORIENTADOR: DANIELLA REGINA ARANTES MARTINS SALHA

TÍTULO: TRANSHUMANISMO: Devemos deixar que a ciência e a tecnologia


nos levem além dos limites estabelecidos por nossa biologia?

Resumo

À medida que a ciência da biotecnologia avança, surgem tópicos


complexos, como a edição genética e a possibilidade de modificar
características humanas. Tais avanços têm implicações éticas e legais
significativas. Com o objetivo de ajudar a solucionar os paradigmas
jurídicos existentes, o cerne deste trabalho reside na análise do arcabouço
jurídico em níveis tanto nacional quanto internacional, no contexto dos
notáveis progressos científicos e tecnológicos que caracterizam o campo do
biodireito e da bioética no que tange a possibilidade de modificar
geneticamente humanos (melhoramento genético). Esta investigação
mergulha nas nuances multifacetadas associadas à manipulação genética,
terapias gênicas e ao conceito de eugenia moderna, buscando compreender
de que forma tais intervenções podem reverberar nas bases fundamentais
das sociedades e nas prerrogativas de equidade que as norteiam. Portanto, o
trabalho buscará compreender como diferentes jurisdições respondem a
essas questões cruciais, considerando as preocupações éticas e sociais
subjacentes. Por fim, à medida que as fronteiras da biotecnologia
continuam a se expandir, este estudo tem como propósito acompanhar os
mais recentes desenvolvimentos nesse campo dinâmico, além de oferecer
insights sobre como o sistema jurídico está se adaptando para abordar os
novos desafios que surgem.

Palavras-chave: Bioética; Biodireito; Biotecnologia.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

TITLE: TRANSHUMANISM: Should we allow science and technology to take us


beyond the limits established by our biology?

Abstract

As the science of biotechnology advances, complex topics arise, such as


genetic editing and the possibility of modifying human traits. Such
advancements carry significant ethical and legal implications. With the aim
of refining existing legal paradigms, the core of this work resides in the
analysis of the legal framework at both national and international levels,
within the context of notable scientific and technological progress that
characterizes the field of biolaw and bioethics. This investigation delves
into the multifaceted nuances associated with genetic manipulation, gene
therapies, and the concept of modern eugenics, seeking to comprehend how
such interventions can resonate within the fundamental foundations of
societies and the principles of equity that guide them. Therefore, the work
will seek to understand how different jurisdictions respond to these crucial
questions, considering the underlying ethical and social concerns. Lastly, as
the frontiers of biotechnology continue to expand, this study is designed to
track the most recent developments in this dynamic field, in addition to
providing insights into how the legal system is adapting to address the
emerging new challenges.

Keywords: Bioethics; Biolaw; Biotechnology.

Introdução

O objetivo deste estudo consiste em oferecer uma visão abrangente dos


elementos ligados ao melhoramento genético humano em embriões e em
adultos, incluindo uma análise das formas como diversas jurisdições têm se
adaptado e incorporado os princípios da bioética nas suas estruturas legais e
regulatórias. Além disso, será examinado a objetificação da vida devido ao
processo de mercantilização envolvendo bebês projetados com
características específicas (como a ausência de certas doenças genéticas ou
modificações de características físicas) por meio de técnicas de Fertilização

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

in Vitro (FIV) como também pelo potencial uso de edição genética para
melhorar o desempenho físico ou cognitivo de adultos. Esse cenário
engloba a criação de indivíduos "perfeitos" a um grau tal que os afasta dos
elementos essenciais de sua natureza, formando um contraste marcante
com a busca pela saúde. Por último, será investigada a abordagem legal
perante essas inovações tecnológicas, e como casos notáveis que
provocaram reflexões éticas inovadoras tiveram impacto na elaboração e
revisão das leis relacionadas à pesquisa em seres humanos. Dessa forma, o
propósito subjacente é aprofundar a compreensão da interligação entre a
ciência, a ética e o sistema jurídico.

Metodologia

Para conduzir este estudo, a metodologia empregada se baseou


principalmente em fontes bibliográficas, tal qual o ordenamento jurídico
nacional e internacional, livros, doutrinas, publicações, periódicos. A
abordagem adotada apresentou características quantitativas e qualitativas
na análise de casos ocorridos, e na análise jurídico e ético-filosófica. A
abordagem de investigação compreendeu uma imersão nas perspectivas
internacionais da bioética, bem como nas teorias dos direitos humanos.
Para atingir esse objetivo, cursos sobre a biotecnologia CRISPR-Cas9,
direito constitucional, bioética, genética e direitos humanos foram
realizados. O método geral adotado seguiu uma abordagem hipotético-
dedutiva, partindo de premissas iniciais e conduzindo as investigações com
base nessas suposições. As principais investigações englobam momentos
históricos de grande importância, abrangendo eventos ocorridos durante a
Segunda Guerra Mundial, que levaram à formulação do Código de
Nuremberg, à emissão da Declaração de Helsinque e, posteriormente, à
produção do Relatório de Belmont. Além disso, foram examinadas
situações mais contemporâneas, como o caso protagonizado por Josiah
Zayner, um "biohacker" que introduziu a tecnologia CRISPR-Cas9 em seu
próprio corpo. Também foi avaliado o incidente que incluiu o médico
chinês He Jiankui e suas tentativas de realizar edições genéticas em
gêmeas. Além disso, a outra vertente da pesquisa engloba a aplicação de
um questionário à comunidade acadêmica e ao público externo, com o
propósito de compreender a percepção do corpo social em relação às

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

temáticas ligadas à manipulação genética visando o aprimoramento


humano. A coleta dessas informações será conduzida por meio do ambiente
virtual.

Resultados e Discussões

A biotecnociência estabeleceu os alicerces essenciais para a manipulação


dos genomas, inaugurando assim a oportunidade de remodelar as
características genéticas. Neste contexto, a bioética desempenha um papel
fundamental ao confrontar o desafio de delinear as possibilidades de
aplicação das biotecnologias surgidas através do progresso genético. É de
suma importância ressaltar que é necessário manter um delicado equilíbrio
entre o avanço tecnológico, uma vez que ele carrega consigo riscos
significativos, mas também oferece oportunidades de aprimoramento para a
nossa espécie. Encontrar uma abordagem sensata para promover a inovação
biotecnológica, ao mesmo tempo em que se preservam os valores éticos,
representa uma empreitada complexa. É absolutamente crucial que a
sociedade colabore para estabelecer regulamentações que assegurem a
exploração responsável e benéfica dos progressos científicos, com pleno
respeito aos direitos e à dignidade de todos os indivíduos
envolvidos. Como parte desse estudo, um artigo científico intitulado
“Crispr-Cas9 e Direitos Humanos: A preservação da diversidade em face
da biotecnologia genética” foi produzido e publicado no Congresso
Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Coimbra em Portugal,
analisando a aplicabilidade da teoria dos direitos humanos frente à edição
genética, mais precisamente acerca da técnica do CRISPR-CAS9. Também
foi publicado um resumo no mesmo congresso acerca da temática. Além
disso, está sendo elaborada uma pesquisa sobre edição genética em bebês,
adultos e a mercantilização da vida que vai começar após a aprovação do
comitê de ética em pesquisa com seres humanos. Também haverá um
questionário direcionado à comunidade, cujo propósito é reunir
informações relacionadas ao debate sobre a manipulação genética, bem
como compreender o conhecimento das pessoas a respeito desse assunto.

Conclusão

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

A biotecnociência estabeleceu os requisitos essenciais para a manipulação


dos genomas, enquanto a bioética enfrenta o desafio de explorar as
potenciais aplicações das biotecnologias avançadas na genética. É crucial
evitar uma abordagem extremista que demonize a biotecnologia, chegando
ao ponto de proibir essas pesquisas ou equipará-las a atividades criminosas.
Essa abordagem é perigosa, impraticável e entra em conflito com os
princípios fundamentais de liberdade intelectual e pesquisa científica. A
contribuição da biotecnologia é evidente, já que muitas pessoas em todo o
mundo desfrutam de uma melhor qualidade de vida, mesmo enfrentando
doenças, graças aos avanços nessa área. No entanto, é necessário evitar o
outro extremo, no qual a tecnologia avança sem regulação ou reflexão
adequada. Esse cenário também é arriscado, uma vez que, além das
liberdades individuais, existem responsabilidades para com os participantes
das pesquisas e para com a sociedade que será impactada por essas
técnicas. Valores fundamentais como a dignidade humana, o direito à
autodeterminação e o desenvolvimento da individualidade devem ser
protegidos. Portanto, encontrar um equilíbrio sensato entre o avanço
tecnológico, a ética na pesquisa e a salvaguarda dos direitos humanos é
essencial para orientar o desenvolvimento responsável da biotecnologia
genética.

Referências

ARAUJO, J. G.; CASTRO, J. A.; RIBEIRO, Y. K. C.; CASIMIRO, A. H.


T. Engenharia genética na prevenção de doenças: perspectiva da
jurisprudência no Brasil. In: RIBEIRO, Leonardo Jensen. Direito civil e
Direito constitucional e suas nuances. Campo Grande: Inovar, 2021.
VERDIVAL, Rafael. As implicações bioéticas-jurídicas do uso da edição
genética como protocolo terapêutico. 1. ed. Joinville: Clube de Autores,
2022. v. 1.
PEREIRA, Tiago Campos (org.). Introdução à Técnica de CRISPR.
Sociedade Brasileira de Genética. Editora Cubo. 2016.
Biotecnologia, bioética e Direitos Humanos - Medeiros, Robson Antão de.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Trad. Giulio Einaudi Editore. Rio
de Janeiro: Campus, 1992.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos
Direitos Humanos, 1948.
Declaração Universal do Genoma Humano e dos Direitos Humanos, 1999.
BRASIL. Lei no 11.105, de 24 de março de 2005.
BRASIL. Resolução no 466, de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
13 de jun. 2013.
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 10. ed., rev., aum. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2017.
MOSER, Antônio. Biotecnologia e bioética: para onde vamos? Perópolis,
RJ: Vozes, 2004, p. 225.
SANDEL, Michael J. Contra a perfeição: ética na era da engenharia
genética. Trad. de Ana Carolina Mesquita. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2021.
ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria geral dos direitos humanos.
Porto Alegre: Safe, 1996.
ANDORNO, Roberto. Bioéica y dignidad de la persona. Madri: Editorial
Tecnos S.A, 1998.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: HS0182

AUTOR: JULIA GANDIN ARAUJO

ORIENTADOR: DANIELLA REGINA ARANTES MARTINS SALHA

TÍTULO: BIOTECNOLOGIA E NORMA: um olhar do direito acerca da


biotecnologia na perspectiva normativa e no meio social.

Resumo

O presente trabalho trata da relação entre a estrutura do ordenamento jurídico brasileiro


e a ascensão da biotecnologia. Nessa circunstância, será abordado a Teoria da
Hierarquia das Normas, a qual demonstra que toda norma existente possui uma posição
e um valor dentro do sistema jurídico; além disso, também explora a visão que agentes
do direito possuem sobre esse cenário. O estudo do tema é importante porque traz tais
consequências para a realidade social, econômica e jurídica. Dentre as dificuldades
apontadas é possível mencionar o conhecimento seccional dos profissionais, havendo
maior atenção à questão da inteligência artificial e a reprodução assistida; como também
deve-se levantar a falta de ação do Poder Legislativo em discutir e desenvolver maiores
leis que versem sobre conteúdo bioético. Acerca dos procedimentos metodológicos,
foram utilizados a pesquisa quali-quantitativa, com levantamento de dados
bibliográficos e aplicação de questionário que analisa o conhecimento e impacto das
novas biotecnologias para profissionais catedráticos no direito, com abordagem
indutiva, cujo objetivo perpassa por descrever a real conjuntura do ordenamento
brasileiro e mediante a tais conclusões realizar sugestões de melhoramento. Conclui-se
que o tema encontra-se previsto na legislação, mas ainda se faz necessário a busca por
mais estudos no tocante à execução de práticas em biotecnologias que possam agregar
informações tanto do direito quanto da bioética.

Palavras-chave: Bioética; Biodireito; Hierarquia das Normas.

TITLE: BIOTECHNOLOGY AND ORDINATION: a view of the law on


biotechnology in the normative perspective and in the social environment.

Abstract

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eCICT 2023

The present work deals with the relationship between the structure of the Brazilian legal
system and the rise of biotechnology. In this circumstance, the Hierarchy of Norms
Theory will be addressed, which demonstrates that every existing norm has a position
and a value within the legal system; in addition, it also explores the view that legal
agents have on this scenario. The study of the subject is important because it brings such
consequences to the social, economic and legal reality. Among the difficulties pointed
out, it is possible to mention the sectional knowledge of professionals, with greater
attention to the issue of artificial intelligence and assisted reproduction; as well as the
lack of action of the Legislative Power in discussing and developing greater laws that
deal with bioethical content. Regarding the methodological procedures, qualitative and
quantitative research was used, with bibliographic data collection and the application of
a questionnaire that analyzes the knowledge and impact of new biotechnologies for
professors of law, with an inductive approach, whose objective pervades by describing
the real situation of the Brazilian legal order and based on these conclusions make
suggestions for improvement. It is concluded that the theme is foreseen in the
legislation, but it is still necessary to search for more studies regarding the execution of
practices in biotechnology that can add information from both law and bioethics.

Keywords: Biolaw. Bioethics. Hierarchy of Norms.

Introdução

Nas últimas décadas, as ciências jurídicas vêm desenvolvendo um diálogo


multidisciplinar com a bioética. Tal compromisso de compartilhamento de saberes não
seria em vão, mas consequência de um contexto marcado pela chamada 4ª Revolução
Industrial. Esta na visão de Klaus Schwab (2016), possuem tamanha profundidade à
humanidade que por si mesma desdobra-se em duas expectativas: a de um futuro
potencialmente promissor ou nocivo; dentre os principais frutos dessa revolução técnica
pode-se mencionar a inteligência artificial, nanotecnologia, robótica, internet das coisas
e a biotecnologia. Por sua vez, tendo em vista que a pesquisa limita seu objeto de
análise a biotecnologia, deve-se conceituá-la como “o uso de organismos vivos,
especialmente, células e bactérias, para fins industriais ou científicos” (Cambridge,
2023, tradução nossa). Tal conceito demonstra a ideia de que a cada momento o
progresso científico efetua uma fusão entre a tecnologia e o bios.
Nessa perspectiva, surgiu-se uma necessidade de proteger os direitos até então
construídos por meio de conquistas históricas, mas que encontram na era pós-moderna
uma potencialidade de serem postos em perigo (Bobbio, 2004). A forma de minimizar
tais impactos adviria de um posicionamento do direito em compreender o atual estágio
social, bem como refletir sobre o que a ciência jurídica tem absorvido desse contato até
então naquilo que se caracteriza pelo objeto principal do direito: a norma.
À vista disso, define-se norma jurídica enquanto “manifestação de autoridade que
expressa preceito obrigatório imposto, ou reconhecido como tal, pelo Estado, destinado

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eCICT 2023

a reger relações jurídicas entre pessoas e entre elas e o Estado” (Brasil, 2023). Vale
mencionar que sua origem histórica encontra-se tão remota quanto as civilizações
humanas, à exemplo do Código de Hamurabi, na Mesopotâmia; os 10 Mandamentos
Mosaicos, para o povo hebreu; e o Código de Manu, em relação aos hindus. Portanto,
mostra-se mais que adequada a expressão jurídica, Ubi societas, ibi jus, onde (está) a
sociedade, aí (está) o direito, tendo em vista que quaisquer interações humanas detém a
possibilidade de gerar vínculos jurídicos, como também confrontos que necessitam de
pacificação e soluções..
Assim, a pesquisa aborda as formas como a norma se manifesta nos estudos jurídicos e
a hierarquia adotada pelo sistema de direito brasileiro, para logo após elencar o perfil
dos tipos normativos predominantes no país em referência a temática da biotecnologia,
como também se emitirá um parecer valorativo acerca desses regramentos, isto é,
buscará entender o papel que elas desempenham, e se a forma como nosso ordenamento
se encontra atualmente é satisfatória ante o contexto descrito.

Metodologia

Enquanto metodologia científica, pode-se afirmar que o presente estudo possui uma
abordagem essencialmente indutiva, pois, se conduz mediante pequenas premissas, as
quais irão sem complementando ao longo do desenvolvimento da pesquisa, são elas: (I)
compreendendo o direito enquanto ciência, entende-se a existência de um conjunto
valorativo de normas, isto é, as regras encontram-se organizadas em um sistema no qual
umas possuem maior valor que outras, assim, como é esse sistema hierárquico no
contexto brasileiro? (II) a biotecnologia vem ascendido em uma velocidade incessante,
causando profundas mudanças no meio social a qual ela age, com isso, existem
normativas que de certa forma regulam essa temática? se sim, quais são elas e, por fim,
(III) existindo essas normas, qual seria a posição delas na hierarquia, sua valoração?
A busca pelas respostas a tais perguntas suscitará em um trabalho de caráter básico, cuja
coleta de amostras se mostrará quali quantitativa, assim como se utilizar da pesquisa
bibliográfica com o fito de reter informações sobre as leis existentes e o sistema
valorativo de normas por meio de livros, artigos, materiais educativos, declarações e
legislações, além de comentários doutrinários relativos às características vigentes nelas.
Ademais, a outra parte da pesquisa consiste em debater a questão da biotecnologia e
norma na perspectiva do professor acadêmico de direito, um grupo formado por vários
profissionais da área jurídica (professores exclusivos, promotores de justiça, juízes,
advogados e dentre outros) com conhecimento prático e teórico nas mais diversas
ramificações do direito. A obtenção desses dados ocorrerá mediante realização de
entrevista tanto em ambiente virtual quanto presencial.

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eCICT 2023

Resultados e Discussões

Em primeiro lugar, é preciso entender que o ordenamento brasileiro possui uma


hierarquia entre as normas jurídicas, tal estrutura seria consecutiva da teoria
desenvolvida pelo austríaco Hans Kelsen (2001), este afirma que todo sistema jurídico é
formado por normas de variadas espécies, aquelas referentes à conduta de um indivíduo
apresentaria um caráter vinculativo. Mais à frente, o mesmo explica que um fato não
poderia ser o pilar de validade de uma norma, apenas outra norma seria. Desse modo,
desenvolve-se a noção de que existiria uma norma superior e outra inferior quando
postas em confronto, estando esse conceito intrínseco à ideia da norma hipotética
fundamental, esta seria “a fonte comum da validade de todas as normas pertencentes a
uma e mesma ordem normativa, o seu fundamento de validade comum” (ibidem, p.217).
Em suma, observa-se que há normas originárias, as quais possuem o papel de
estabelecer os pilares daquele conjunto de regramentos, em seguida, há normas
secundárias, cujo conteúdo e valor encontram-se subordinados à norma principal.
Tal ordenação tem como objetivo gerir os conflitos de normas passíveis de ocorrer,
tendo em vista o princípio lógico da não-contradição, isto é, não faria sentido construir
um sistema jurídico marcado por leis que ora designam uma certa conduta, ora
determinam uma outra conduta, incongruente em relação a primeira. Além disso, o
estabelecimento de uma norma principal possibilita promover também o chamado
controle de constitucionalidade, este se resume a análise de compatibilidade que uma lei
e outros atos normativos em relação às previsões constitucionais (Silva, 2021), uma vez
que se reconhece a ciência do direito enquanto uma disciplina argumentativa em sua
essência.
No contexto nacional, a Teoria da Hierarquia das Normas Jurídicas foi adotada tendo
como Lei Maior principal a Constituição Federal. Assim, toda forma normativa abaixo
dela deverá estar em consonância com a mesma, sob o risco de tal norma ser
considerada ilegítima, porquanto, a sua validade perpassa pela conformidade com as
normas hierarquicamente superiores a ela. Ademais, as normas secundárias dividem-se
em vários tipos de regulamentação ao ponto de aos olhos leigos acreditar-se que elas
coexistem em igual valor, o que de fato não se pode considerar. A própria Carta Magna
trata de classificar essas normas secundárias no seu artigo 59° com o fito de estabelecer
a chamada pirâmide normativa, a qual será exposta a seguir em ordem decrescente de
superioridade:
Primeiro há as Emendas à Constituição, cuja função encontra-se em trazer um texto
complementar à norma constitucional. Após, surgem as leis complementares que
regulam variáveis matérias previstas na Constituição de alguma forma, mas não
explicadas por ela, isto é, são leis que ampliam conceitos tragos no texto constitucional.
Depois, estão as leis ordinárias, leis comuns, aquelas que passam pelo processo
parlamentar. Mais abaixo estarão as leis delegadas, leis resultantes de uma delegação do

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eCICT 2023

Congresso Nacional de sua função legislativa para uma comissão composta por os
próprios membros ou com a participação do Presidente da República, sem participação
do plenário (OGUISSO; SCHMIDT. 1999), sendo sucedidas em valor pelas medidas
provisórias, normas expedidas pelo Presidente da República em situações de urgência,
possuindo força de lei e vigência em um período de 60 dias, passando pelo controle
legislativo (CNJ, 2018), há também os chamados decretos legislativos. Por fim, indo
para as bases da pirâmide, identifica-se as resoluções e portarias, as quais caracterizam-
se como normas infralegais, ou seja, regulamentos de criação marginal ao procedimento
legislativo ordinário. Vale mencionar que o texto constitucional prevê e delega poder
para que órgãos públicos possam regulamentar questões relacionadas à sua alçada de
atuação ou questões de organização interna.
Um ponto importante a ser explorado consiste nos tratados de direito internacional, pois,
também são considerados normas e com força vinculativa para seu cumprimento. Tal
visão demonstra um amadurecimento em relação aos tratados, haja vista que
documentos de origem externa ao ordenamento brasileiro são vistos apenas pela
percepção de serem recomendativos, à exemplo das declarações.
Não obstante, por muito tempo perdurou-se o entendimento de que um norma externa
estaria em paridade com as leis ordinárias, todavia, abriu-se um precedente por meio do
RE n° 466.343-1 SP, de 03 de dezembro de 2008, no qual o Supremo Tribunal Federal
se pronunciou sobre a compatibilidade do Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos e da Convenção Americana de Direitos Humanos, na parte em que vedam a
prisão civil por dívida em relação ao artigo 5° da constituição federal que considerava a
prática legítima. Ao final, o STF julgou em favor do texto internacional e fundamentou
a decisão a partir da explicação de que os diplomas internacionais que versam sobre a
temática dos direitos humanos possuem um lugar específico dentro do sistema jurídico
brasileiro: abaixo da constituição, mas acima da legislação interna, adquirindo um status
de norma supralegal (Carreau; Bichara, 2021).
Por fim, conforme o próprio exemplo acima demonstrado, vale mencionar o fenômeno
da “cultura dos precedentes”, o qual impacta todo sistema normativo e o estudo da
ciência jurídica. Pois bem, compreende o termo “cultura dos precedentes” o recente
fenômeno de maior apreciação das decisões judiciais na formação do direito. Com isso,
além de uma organização em relação aos variados tipos de leis, busca-se também
realizar uma uniformização interpretativa, haja vista que existem normas capazes de se
destrinchar em diversas correntes de entendimento. Fredie Didier Jr. (2017) afirmou que
a coerência entre duas normas e precedente revela-se quando ambos podem ser
justificados mediante um mesmo princípio superior a eles. Nessa ocasião, o jurista
reforça que se torna imprescindível a necessidade de formar-se precedentes claros,
certos e coerentes.
Nesse sentido, após as devidas explicações acerca da estrutura das normas no contexto
brasileiro, tem-se a próxima etapa da pesquisa, a qual consiste em identificar os
regramentos existentes no país que aludem sobre a biotecnologia, com a finalidade de

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eCICT 2023

após se enumerar tais fontes de regulamento, seja possível identificar a sua classificação
hierárquica, em conformidade ao dispositivo 59° da Constituição de 1988.
Quando se menciona a Carta Magna, entende-se que essa estabelece alguns princípios
relevantes nas problemáticas envolvendo os impactos das biotecnologias. Dentre esses
princípios, pode-se mencionar: a dignidade da pessoa humana, a não submissão de
qualquer tratamento degradante e a promoção da saúde como um dever estatal
(AUGUSTO; FRANÇA, 2019).
Em relação às normas derivadas ao texto constitucional, acabou-se por identificar
alguns regulamentos em vigor que falam, ou em sua totalidade ou em alguns trechos,
acerca da questão biotecnológica. Porém, antes vale destacar que não se pode considerá-
la uma lista exaustiva. Dito isto, foram identificadas cerca de 45 (quarenta e cinco)
normativas, dentre elas, 12 (doze) leis complementares e ordinárias, isto é, cerca de
26,7% do conteúdo amostral; 27 (vinte e sete) resoluções e portarias, em sua maioria de
órgãos infralegais como CFM (Conselho Federal de Medicina), CNS (Conselho
Nacional de Saúde) e o CTNbio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), sendo
elas cerca de 60,% do conteúdo amostral; no mais, em menores quantidades, encontrou-
se 5 (cinco) decretos, cerca de 11,1% do conteúdo amostral, como também 1 decreto-
lei, a qual formou cerca de 2,2% do conteúdo amostral. Destaca-se que apesar da última
ainda encontrar-se em vigor (fala-se do Código Penal), o tipo normativo decreto-lei não
existe mais na formação do direito devido ao fato de não ser compatível com o sistema
democrático de separação dos poderes e transmissão de responsabilidade ao Poder
Legislativo.
As temáticas biotecnológicas de maior interesse por parte da legislação encontram-se no
ramo dos organismos geneticamente modificados, a pesquisa com embriões, o uso de
dados genéticos para fins de identificação e a biossegurança em relação ao consumidor.
Percebeu-se, também, a existência em maior quantidade de regramentos considerados
inferiores no conjunto hierárquico. Uma conclusão lógica decorrente disso seria que as
principais fontes normativas sobre as novas biotecnologias advém de órgãos
relacionados à aplicação cotidiana dessas técnicas; paralelamente, tem-se uma ação
mais contida do Poder Legislativo, apesar do mesmo deter uma maior responsabilidade
na formação das normas.
Desta maneira, os possíveis desdobramentos sobre essa configuração discutida, por
enquanto não possui uma conclusão formada, haja vista que a obtenção de tais
informações ocorrerá mediante a aplicação de questionário no formato de entrevista,
cuja autorização, por envolver a participação se seres humanos, dependerá de prévia
submissão e avaliação no CEP-Central da UFRN.
Entretanto, mediante o uso de bibliografia detectou-se que em certos tópicos, a
configuração de “muitas normas, mas poucas leis” pode adquirir consequências
negativas. como forma de elucidar, Maria de Fátima Freire de Sá e Bruno Torquato de
Oliveira Neves (2021) teceram breve comentário em seu capítulo sobre reprodução

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humana assistida, quando comentam o quão problemático era o trecho da resolução


CFM 1.957/2010 sobre reprodução humana assistida no tocante da limitação de idade
para alguém se candidatar à gestação por RA, pois, trata-se de uma limitação de
direitos, e por si mesma a resolução não configura-se um documento com validade
jurídica, nas palavras dos pesquisadores em bioética e biodireito: “a limitação de
direitos das pacientes não pode ocorrer por intermédio de uma normativa de órgão
autárquico, que tem abrangência tão somente de regulação interna” (ibidem, p.112).
Outro ponto posto em análise crítica é a falta de um estatuto jurídico-penal com um
olhar mais atento à criminalidade genética. Em síntese, a Lei de Biossegurança - Lei
11.105 de 24 de março de 2005 - prevê em alguns artigos a criminalização de certas
práticas, à exemplo a prática de engenharia genética em célula germinativa humana,
zigoto humano ou embrião humano; entretanto, a referida legislação faz isso de forma
pouco minuciosa, ocasionando em várias práticas consideradas antiéticas, mas não
ilegais, haja vista que a lei não a criminaliza (Diniz, 2017).

Conclusão

Em suma, observou a predominância de resoluções, o modelo normativo de valoração


menor do que os outros existentes na classificação deixada pela Constituição, em
detrimento de poucas leis, as quais são consideradas de maior valor, pois encontram-se
apenas abaixo da constituição. No mais, essas leis versam em sua maioria de assuntos
relacionados à biotecnologia voltada para agricultura, alimentação e nutrição.
Em um entendimento primário, o qual será apenas chancelado após a finalização da
etapa das entrevistas, tal característica das normas brasileiras na temática da
biotecnologia demonstra uma certa fragilidade dos poderes legislativo e judiciário em
acompanhar as mudanças que a sociedade vem passando com o impacto das novas
tecnologias, o que em um futuro, caso não mudado, detém a potencialidade de resultar
em uma dificuldade de garantir os direitos tanto individuais como coletivos.
A melhor forma de mitigar esse possível cenário está em uma maior abertura de diálogo
interdisciplinar entre as ciências jurídicas e as ciências biológicas. Ao mesmo tempo,
vale também futuros trabalhos os quais desenvolvam análises mais minuciosas das
legislações em vigor, pontuando suas características positivas, suas problemáticas, bem
como suas limitações no conteúdo em que se dispõem a regular.

Referências

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CÓDIGO: HS0608

AUTOR: MATEUS ALVES DOS SANTOS

ORIENTADOR: NAIANNE KELLY CLEBIS

TÍTULO: Avaliação dos níveis de depressão, ansiedade, estresse e fatores


associados nos alunos ingressantes do curso de farmácia nas atividades de
ensino presenciais no período pós pandemia da covid-19.

Resumo

Depressão, estresse e ansiedade são problemas comuns entre os estudantes


na contemporaneidade. Com a pandemia da covid-19, o isolamento social foi
necessário para conter a transmissão do vírus e, por conta disso, as aulas
passaram a ser ofertadas de maneira remota e os alunos deixaram de
aproveitar diversas experiências e socialização que o ensino presencial
proporciona. Isso, associado a diversos outros fatores, influenciou
negativamente a saúde mental dos estudantes. Com a volta do ensino
presencial, se observou a necessidade de avaliar o bem-estar dos alunos
ingressantes do curso de Farmácia. Os resultados do estudo mostrou que os
discentes apresentaram índices maiores de estresse, ansiedade e depressão,
evidenciando a que a saúde mental debilitada é um problema frequente nos
estudantes e que a pandemia da covid-19, devido ao isolamento social aliado à
diversos outros fatores estressores, contribuíram negativamente no bem-estar
dos alunos.

Palavras-chave: Depressão, ansiedade, estresse, estudantes, pandemia.

TITLE: Evaluation of the levels of depression, anxiety, stress and associated


factors in students entering the pharmacy course in face-to-face teaching
activities in the post-covid-19 pandemic period.

Abstract

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Depression, stress and anxiety are common problems among students today.
With the covid-19 pandemic, social isolation was necessary to contain the
transmission of the virus and, as a result, classes began to be offered remotely
and students no longer enjoyed the diverse experiences and socialization that
face-to-face teaching provides. This, combined with various other factors, has
had a negative impact on students' mental health. With the return of face-to-
face teaching, there was a need to assess the well-being of students entering
the Pharmacy course. The results of the study showed that students had higher
rates of stress, anxiety and depression, showing that poor mental health is a
frequent problem for students and that the covid-19 pandemic, due to social
isolation combined with various other stressors, has contributed negatively to
students well-being.

Keywords: Depression, anxiety, stress, students, pandemic.

Introdução

Desde março de 2020, após a OMS oficializar a instalação de pandemia da


Covid-19, as aulas teóricas e práticas de disciplinas como anatomia humana
passaram a ser desenvolvidas totalmente de forma remota. Com o isolamento
social os alunos perderam a oportunidade de conviverem e trocarem
experiências, de terem do professor um feedback em tempo real e as trocas de
ideias que somente as aulas presenciais podem oferecer. Além disso, o ensino
remoto levou ao aumento da carga horária de estudos e aumento de estresse,
ansiedade e depressão. A incerteza causada pela pandemia da Covid-19 e o
isolamento social tem sido um desafio para professores e alunos. Com o início
da vacinação no Brasil as atividades de ensino passaram de remotas para
híbridas e agora, após a vacinação em massa da maior parte da população de
nosso país, as atividades de ensino finalmente voltaram a acontecer de forma
100% presencial. O isolamento social imposto pela pandemia impactou
negativamente o estado mental e a saúde das pessoas (ARISTOVNIK et al.,
2020; BROOKS et al., 2020; OMS, 2020; VINDEGAARD; BENROS 2020), pois
a proximidade física e as oportunidades para interação são importantes no
desenvolvimento e promoção de laços sociais (BODA et al., 2020). Além disso,
o medo da morte, do desemprego, do futuro profissional, a perda do ano letivo,
entre outros tem gerado uma pressão psicológica generalizada nos estudantes
aumentando a ocorrência de transtornos como a ansiedade, depressão e
estresse (BROOKS et al., 2020; CAO et al., 2020; ELMER et al., 2020; LUO et
al., 2020; OMS, 2020; SAHU, 2020). Vários fatores são estressores durante a
pandemia da COVID-19 que podem levar a quadros depressivos, transtornos

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de ansiedade e aumento na solidão. Alunos que se preocupavam com suas


famílias e amigos apresentavam-se mais deprimidos e estressados. Aqueles
preocupados com o futuro da carreira tiveram níveis mais elevados de
ansiedade e estresse. Os alunos com problemas pessoais apresentavam mais
depressão, ansiedade e estresse. Para a maioria dos alunos, o isolamento
social estava associado ao aumento de ansiedade. Os alunos que moravam
sozinhos e/ou que não tinham relacionamentos amorosos apresentavam
aumento nos sintomas depressivos, e por interagirem menos com indivíduos
em sua rede pessoal eram mais ansiosos (ELMER et al., 2020). As alterações
no estado mental dos estudantes podem ter consequências negativas na vida
dessas pessoas, levando ao aumento do uso de substâncias nocivas ao
organismo como álcool, drogas e medicamentos (automedicação). Além disso,
elas podem causar alterações na rotina desses indivíduos quanto à qualidade
do sono, a prática de exercícios físicos, aos hábitos alimentares, levando a
comorbidades. Vários instrumentos têm sido utilizados para avaliar os níveis de
depressão, ansiedade e estresse, entre elas a Escala de Ansiedade,
Depressão e Stress EADS-21(PAIS-RIBEIRO et al., 2004; VIGNOLA; TUCCI,
2014; GALVÃO et al., 2017; MAIA et al., 2020), que assume que as
perturbações psicológicas são dimensionais e não categoriais, ou seja, que as
diferenças na depressão, ansiedade e stress experimentadas por sujeitos
normais e com perturbações, são essencialmente diferenças de grau. Neste
estudo utilizamos este instrumento versado para o português do Brasil e
validado por Vignola e Tucci (2014) para avaliar a incidência/grau de
ansiedade, depressão e estresse nos alunos ingressantes do curso de farmácia
da UFRN matriculados na disciplina Anatomia Humana.

Metodologia

Esta pesquisa antes do seu início foi submetida a análise da Comissão de ética
e pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Número do
Parecer: 4.895.411) pela Plataforma Brasil.
Delineamento
A presente pesquisa possui caráter descritivo transversal (HOCHMAN et al.,
2005; ARAGÃO, 2011) e tem por objetivo avaliar a influência do retorno
presencial das aulas pós Pandemia do Covid-19 na saúde mental de alunos
matriculados na disciplina Anatomia Humana para os estudantes ingressantes
do curso de farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte no
período letivo de 2022.1
Amostra

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Os estudantes foram convidados por e-mail a participarem voluntariamente da


pesquisa. O questionário elaborado para este estudo foi aplicado aos alunos
das turmas do curso de farmácia matriculados na disciplina anatomia humana
no ano letivo de 2021.1, 2021.2 e 2022.1 da UFRN, ou seja, turmas
desenvolvidas no período remoto, híbrido e presencial, respectivamente, sendo
esta última pós Pandemia da COVID-19. Cada turma do curso de farmácia
(integral) tem em média 50 alunos, totalizando 150 pessoas. Todos os alunos
foram convidados a participar do estudo, e este procedimento está de acordo
com os estudos de Nakhostin-Ansari et al. (2020) e Nogueira et al. (2021).
Alunos de outros períodos do curso de farmácia não participaram, mesmo que
estes estivessem matriculados na disciplina.
Procedimentos de obtenção de dados
Todos os alunos da turma de 2022.1 do curso de farmácia integral da UFRN
(campus central) foram convidados a participar desta pesquisa. A coleta de
dados ocorreu totalmente de forma virtual por um questionário elaborado na
Plataforma do Google Forms. Os alunos receberam um e-mail explicativo e um
link. Ao acessarem o link, os participantes encontraram o Registro de
Consentimento Livre e Esclarecido (RCLE) da pesquisa. Aqueles que
aceitaram participar foram direcionados automaticamente ao questionário
EDAS-21 ESCALA DE DEPRESSÃO, ANSIEDADE E ESTRESSE (VIGNOLA;
TUCCI, 2014). No total, os alunos responderam 21 questões em um tempo
médio de 20 minutos. A escala de resposta aos itens foi do tipo Likert de quatro
pontos, variando de 0 (não se aplicou de maneira alguma) a 3 (aplicou-se muito
ou na maioria do tempo). Para facilitar o entendimento dos participantes, foi
apresentado no questionário a seguinte escala: 0 (não se aplicou a mim); 1
(aplicou-se a mim algumas vezes); 2 (aplicou-se a mim muitas vezes) e; 3
(aplicou-se a mim na maior parte das vezes).
Questionário
O questionário utilizado no presente estudo está descrito na tabela 1. Foi
aplicado aos alunos da disciplina de Anatomia Humana para o Curso de
Farmácia, ministrada de forma remota, híbrida e presencial.
Análise estatística
A normalidade dos dados e a homogeneidade de variâncias foi avaliado pelos
testes de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente. Os dados não seguiram a
normalidade na sua distribuição. Por conta disto, foram utilizados testes não
paramétricos, e calculados valores de mediana e intervalo interquartil.

Resultados e Discussões

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Os resultados da pesquisa realizada com os alunos do primeiro período do


curso de Farmácia da UFRN estão descritos na tabela 2, e foram calculados
por valores de mediana e intervalo interquartil. A mediana corresponde ao
número central de uma lista organizada de forma crescente ou decrescente,
caracterizando-se como uma medida de tendência central. Esta informa o valor
médio, mostrando uma característica média geral dos dados. Assim, foi
possível observar, pelos dados apresentados, que os alunos da turma pós
pandemia, ou seja, da turma presencial, apresentaram maiores índices de
depressão, ansiedade e estresse em relação às turmas do ensino remoto e
híbrido.
Segundo Dimitrios Kavvadas et al., 2023, avaliando os níveis de ansiedade,
estresse e depressão entre estudantes universitários, três anos desde o início
da pandemia, a prevalência de estresse e depressão foi semelhante entre os
alunos no primeiro e no terceiro ano, enquanto os níveis de ansiedade tiveram
um pequeno aumento no terceiro ano desde o início da pandemia. Esses
dados são relativamente semelhantes aos encontrados na presente pesquisa,
como pode ser visualizado na tabela 2, onde observa-se que os níveis de
estresse apresentados nas turmas do ensino remoto e do ensino presencial
foram semelhantes. Entretanto, os níveis de ansiedade entre os alunos da
turma 2022.1 da UFRN apresentaram índices significativamente maiores do
que os alunos da turma de 2021.1.
Samrah Jamshaid et al.,2023, em um estudo longitudinal sobre a saúde mental
dos estudantes pré e pós pandemia da Covid-19 constatou que o bem-estar
dos alunos era bom na fase pré-pandemia quando comparado com a fase pós
pandêmica. Esses achados da literatura estão de acordo com os dados
encontrados na presente pesquisa, uma vez que os alunos da turma presencial
demonstraram-se bem mais ansiosos do que os alunos do ensino remoto e
híbrido, mostrando que a pandemia afetou a saúde mental desses estudantes.
Para Diniz e Seabra (2018), os jovens estudantes, ao entrarem na
universidade, passam por um período de desafio psicológico e de adaptação
que vai desde a transição do ensino médio para a vida profissional. Isso
justifica o porquê alguns alunos apresentam níveis de depressão, ansiedade e
estresse, pois, para Xu e Wang (2023), nos três últimos anos, a pandemia da
Covid-19 desenvolveu problemas psicológicos que afetam pessoas em todo o
mundo.
Os resultados do presente estudo, como mostra a tabela 2, constatou que os
alunos do ensino pós pandemia, ou seja, a turma do ensino presencial,
demonstraram maiores índices de depressão, ansiedade e estresse. Esses
índices estão de acordo com estudos encontrados na literatura. Martinez
Líbano et al., 2023, em sua pesquisa sobre a prevalência e variáveis
associadas à depressão, ansiedade e estresse entre estudantes chilenos no

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ensino superior pós pandemia, constataram que os discentes apresentaram


índices elevados de depressão, ansiedade e estresse, mostrando que os
problemas de saúde mental aumentaram após a pandemia no Chile.
Diversos estudos presentes na literatura apresentaram resultados semelhantes
aos encontrados nesta pesquisa. Talarowska et al., 2023, em uma pesquisa
sobre a saúde mental dos estudantes de universidades polonesas dois anos
após o surto da covid-19, confirmou os elevados níveis de estresse e a
deterioração da saúde mental dos alunos. Esses achados foram semelhantes
aos encontrados nos estudantes do primeiro período do curso de Farmácia,
matriculados na disciplina de Anatomia Humana para o Curso de Farmácia,
principalmente da turma de ensino presencial, que apresentaram níveis de
estresse maiores do que as turmas anteriores.
Os motivos pelos quais os alunos podem apresentar níveis mais elevados de
depressão, estresse e ansiedade podem ser diversos. Para Quan et al., 2023,
a pandemia ocasionou grandes impactos psicológicos nos estudantes
universitários chineses e que isso pode ser exacerbado por comorbidades no
indivíduo, fatores econômicos, experiências traumáticas anteriores, além da
própria exposição à pandemia, por exemplo. Assim, são necessários estudos
mais aprofundados sobre as possíveis causas que levam os estudantes a
apresentarem níveis de depressão, estresse e ansiedade.
Para Lee, Jeong e Sujin (2021), o estresse, a ansiedade e a depressão foram
problemas generalizados nos estudantes durante a pandemia da covid-19. Na
presente pesquisa, constatou-se que esses problemas se mantiveram nos
estudantes matriculados na disciplina de Anatomia Humana para o Curso de
Farmácia e que, além disso, a turma pós pandemia apresentou índices maiores
de estresse, ansiedade e depressão do que a turma do ensino remoto e
híbrido. Isso indica que a pandemia afetou ainda mais a saúde mental dos
alunos ingressantes do curso de Farmácia da UFRN que participaram da
pesquisa.

Conclusão

O estudo indicou que os alunos ingressantes do curso de Farmácia,


matriculados na disciplina de Anatomia Humana Para o Curso de Farmácia, no
período pós pandemia, apresentaram índices maiores de estresse, ansiedade e
depressão. Isso sugere que a pandemia da covid-19 afetou negativamente a
saúde mental dos estudantes, provavelmente, pelo medo dos estudantes da
exposição ao vírus, mesmo com todos os cuidados sanitários realizados. Logo,
enfatiza-se a importância do cuidado do bem-estar dos estudantes, uma vez

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que esses problemas são frequentes no tecido social e podem ocasionar


consequências severas na vida dos indivíduos.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: HS0911

AUTOR: JULIA RAMOS TORRES

COAUTOR: DÉBORA LOUISE DA CRUZ SILVA

ORIENTADOR: ARRILTON ARAUJO DE SOUZA

TÍTULO: Capacidade referencial em chamados alimentares de Calitriquideos:


uma revisão

Resumo

Comunicação funcionalmente referencial é a capacidade de veicular


informações sobre eventos e objetos externos ao emissor está
presente em diversos taxa. Os primatas calitriquídeos, como os
saguis, oferecem a oportunidade de estudar essas habilidades
comunicativas. A presença de chamados referenciais em contextos
alimentares foi observada em diversas espécies de primatas e um
exemplo notável é o estudo em Callithrix jacchus, onde Rogers et
al. (2018) identificaram chamados funcionalmente referenciais
associados à comida. Dessa forma, achou-se necessário revisar os
estudos a respeito da capacidade referencial em chamados
alimentares na família dos Calitriquídeos, sendo de grande
relevância para atualizar o conhecimento disponível e identificar
lacunas a serem exploradas em projetos futuros. Logo, este
trabalho teve por objetivo realizar ampla revisão bibliográfica sobre
o comportamento vocal durante a alimentação dos primatas
pertencente à família Callitrichidae com foco na capacidade
referencial das vocalizações. Pesquisaram-se artigos científicos na
plataforma “Google Acadêmico”, publicados no intervalo dos anos
1990 a 2023. Um total de 11 publicações foi obtido em nossa
pesquisa, todos com resultados positivos para a existência da

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eCICT 2023

capacidade referencial em chamados alimentares em diferentes


espécies de calitriquídeos.

Palavras-chave: Comportamento alimentar; comunicação animal; primatas.

TITLE: Referential capacity in food calls of Callitrichids: a review

Abstract

Functionally referential communication is the ability to convey


information about external events and objects by the sender and is
present in various taxa. Callitrichid primates, such as marmosets,
provide an opportunity to study these communicative skills. The
presence of referential calls in feeding contexts has been observed
in several primate species, with a notable example being the study
on Callithrix jacchus, where Rogers et al. (2018) identified
functionally referential calls associated with food. Therefore, it was
deemed necessary to review studies regarding referential capacity
in food calls within the Callitrichid family, as this is highly relevant to
update the available knowledge and identify gaps to be explored in
future projects. Thus, the objective of this work was to conduct an
extensive literature review on vocal behavior during feeding in
primates belonging to the Callitrichidae family, with a focus on the
referential capacity of vocalizations. Scientific articles were searched
on the "Google Scholar" platform, published between the years 1990
and 2023. A total of 11 publications were obtained in our search, all
with positive results regarding the existence of referential capacity in
food calls across different species of Callitrichids.

Keywords: Eating behavior; animal communication; primates.

Introdução

A capacidade de veicular informações sobre eventos e objetos


externos ao emissor está presente em diversos taxa. Essa
habilidade é também conhecida como comunicação funcionalmente
referencial (FEDUREK; SLOCOMBE, 2011), e tem importância na

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eCICT 2023

compreensão da comunicação animal e dos percursores da


linguagem humana. Os primatas calitriquídeos, como os saguis,
oferecem a oportunidade de estudar essas habilidades
comunicativas, pois o sistema de reprodução cooperativa favorece
esses animais a serem mais proativos em compartilhar informações
sobre alimentos, presença de predadores e etc., o que pode ser
interpretado como uma forma de cuidado cooperativo (BURKART;
GUERREIRO; MISS; ZUERCHER, 2018).
O ato de compartilhar alimentos está comumente associado à
emissão de vocalizações conhecidas como chamados alimentares,
que têm a função de atrair receptores para o alimento a ser
compartilhado (BROWN; ALMOND; BERGEN, 2004). Em
calitriquídeos, diversos estudos indicam que os chamados de
comida são mais frequentemente emitidos em contextos que
envolvem a partilha alimentar. Por exemplo, quando os membros do
grupo estão distantes da fonte de comida, há um aumento na
emissão de chamados alimentares (VITALE; ZANZONI; QUEYRAS;
CHIAROTTI, 2003). Além disso, a presença de filhotes no grupo
também está associada a uma maior emissão desses chamados
(GUERREIRO; ANTONIO; FINKENWIRTH; GRIESSER; BURKART,
2019).
No entanto, para que esses chamados sejam considerados
funcionalmente referenciais, é necessário considerar fatores como a
resposta dos receptores. Embora possam ser influenciadas pelos
níveis de excitação, essas vocalizações também podem transmitir
informações referentes ao objeto ou evento em questão (CLAY;
SMITH; BLUMSTEIN, 2012). A presença de chamados referenciais
em contextos alimentares foi observada em diversas espécies de
primatas (CLAY; SMITH; BLUMSTEIN, 2012). Um exemplo notável
é o estudo em Callithrix jacchus, onde Rogers et al. (2018)
identificaram chamados funcionalmente referenciais associados à
comida. Nesse estudo, diferentes tipos de alimentos levava a
produção de três tipos de chamados alimentares (A, B e C).
Entretanto, ao reproduzir essas vocalizações para os saguis
(playback), apenas o chamado C provocou a mudança
comportamental esperada para vocalizações funcionalmente

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

referenciais, ou seja, levou os saguis a interromper o consumo de


um alimento pouco preferido para buscar por um alimento preferido
em um local específico, evidenciando seu caráter referencial
(ROGERS; STEWART; KAPLAN, 2018).
Reconhecemos aqui a importância de novos estudos com a espécie
Callithrix jacchus para a obtenção de dados mais robustos com
relação a sua capacidade referencial, principalmente a execução de
experimentos com saguis de vida livre. Entretanto, não foi possível
aplicar a metodologia prevista no plano de trabalho, para a
realização de experimentos de playback com saguis selvagens. Isso
se deu ao fato dos grupos de trabalho estarem em um momento de
dinâmica social instável, que não permitia a realização desse tipo
de metodologia. Dessa forma, achou-se necessário revisar os
estudos a respeito da capacidade referencial em chamados
alimentares, não somente em saguis comuns, mas na família dos
Calitriquídeos, sendo de grande relevância para atualizar o
conhecimento disponível e identificar lacunas a serem exploradas
em projetos futuros. Por fim, este trabalho teve por objetivo realizar
ampla revisão bibliográfica sobre o comportamento vocal durante a
alimentação dos primatas pertencente à família Callitrichidae com
foco na capacidade referencial das vocalizações.

Metodologia

Os artigos científicos para esta revisão bibliográfica, os quais foram


publicados em periódicos, foram pesquisados através da plataforma
“Google Acadêmico” por meio das palavras-chave “food-calls”,
“Callitrichidae”, “referential” e “capacity”, todos publicados no
intervalo dos anos de 1990 a 2023. A seleção dos artigos foi
realizada de acordo com a presença do tema da capacidade
referencial de chamados alimentares em qualquer espécie da
família dos calitriquídeos. Após feita a leitura inicial, os trabalhos
foram catalogados em uma tabela pela espécie de calitriquídeo
estudada e as referências, utilizando o software Microsoft Excel

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eCICT 2023

(Tabela 1). Um total de 11 publicações foi obtido em nossa


pesquisa.

Resultados e Discussões

Após análise e seleção dos artigos, foram encontradas 11


publicações que tiveram relação com o tema sobre capacidade
referencial de chamados alimentares em Calitriquídeos desde 1990
até 2023. Dentre esses, 4 foram acerca do Sagui-de-tufo-branco
(Callithrix jacchus), 3 sobre o Saguim-cabeça-de-algodão (Saguinus
oedipus), 2 sobre o Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), 1
sobre o Sagui-da-cara-branca (Callithrix geoffroyi) e 1 acerca do
Mico-de-barriga-vermelha (Saguinus labiatus).
A começar pelos trabalhos que estudaram o Sagui-de-tufo-branco
(BEZERRA; SOUTO, 2008; ROGERS; STEWART; KAPLAN, 2018;
VITALE et al., 2003), as quatro publicações trazem resultados e
discussões que confirmam a alta capacidade referencial que os
chamados alimentares de C. jacchus parece possuir.
O estudo realizado por Rogers et al., 2018, foi o principal a
comprovar a presença dessa capacidade, complementarmente ao
trabalho feito por Vitale et al., 2003. Rogers e colaboradores.
realizaram experimentos com um grupo de Saguis-de-tufo-branco
utilizando quatro tipos de comidas (banana, mirtilo, larvas de
tenébrios e grilos) e gravou as vocalizações que esses animais
emitiam quando encontravam os alimentos. Com esses
experimentos, foram identificados três chamados alimentares, A, B
e C. Seus resultados mostraram que o Chamado A, conforme
descrito por Vitale et al. 2003, é uma vocalização indicativa de
alimentos. Ela sinaliza a disponibilidade de comida,
independentemente do tipo (frutas ou insetos). Outra vocalização
estudada, o Chamado B, é emitida apenas na presença de
alimentos, porém com menor frequência e intensidade do que os
outros chamados. Os resultados sugerem que essa chamada pode
ser mais provocada por grilos do que por frutas ou larvas de

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eCICT 2023

tenébrio, entretanto, mais pesquisas são necessárias para


determinar sua especificidade em relação ao tipo de alimento e se é
emitida de forma intencional e referencial.
A descoberta central é um novo chamado (Chamado C), que
sinaliza especificamente a presença de insetos (não de frutas) e
possui características referenciais. Essa vocalização é mais comum
quando os insetos estão visíveis em comparação com quando estão
sendo consumidos, e também quando o sagui é testado
isoladamente, ao invés de estar com um companheiro na gaiola. Os
resultados demonstram que os Chamados C não são simplesmente
emitidos ao ver um alimento preferido, visto que houve uma
correlação negativa entre o número de Chamados C emitidos e a
preferência por larvas de farinha. Além disso, mesmo quando os
saguis expressaram preferência por banana, nenhum Chamado C
foi emitido. De fato, não foi registrado nenhum Chamado C nos
testes com banana ou mirtilo. Essas conclusões fornecem
evidências claras da função referencial das chamadas alimentares
em Saguis-de-tufo-branco.
No estudo de Vitale et al., 2003, são apresentados dados que
sugerem que os chamados associados a alimentos no Sagui-de-
tufos-brancos, além de serem um sinal de excitação do emissor ao
descobrir uma fonte de alimento preferido, também podem ter uma
função comunicativa, transmitindo informações sobre a localização
de recursos ao grupo. Além disso, essas chamadas podem
representar uma vantagem para o emissor, pois ao atrair indivíduos
próximos, o emissor pode aumentar o nível geral de vigilância
antipredatória.
Bezerra & Souto, 2008, traz uma descrição detalhada e quantitativa
do repertório vocal do Sagui-de-tufo-branco, explorando os
contextos comportamentais associados a vocalizações específicas
de grupos que vivem em ambiente natural, não apenas de
chamados alimentares. Contudo, em seus resultados é apresentado
a ideia de que ao encontrar uma quantidade relativamente grande
de alimentos vegetais, como uma jaca ou manga aberta, eles
tendiam a emitir o “brief whistle call”, vocalização descrita como um

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eCICT 2023

chamado curto e agudo, emitido em série e com a boca bem aberta


(BEZERRA; SOUTO, 2008). Eles concluíram que poderia ser um
chamado de recrutamento, uma vez que ao ouvi-la, outros membros
do grupo se aproximam e os consomem junto com o indivíduo que
vocalizou.
Por fim, LOUISE CRUZ SILVA, 2021, analisou as diferenças entre
indivíduos de diferentes status sociais, a influência da presença de
filhotes no grupo e a relação com a quantidade e qualidade dos
alimentos. Os ajudantes, em sua maioria machos, foram os
primeiros a encontrar e anunciar os alimentos, em comparação aos
reprodutores. A presença de filhotes nos grupos levou os machos
ajudantes a vocalizarem mais rapidamente, diminuir o consumo de
alimentos e aumentar a emissão de chamados após encontrar
comida. A qualidade dos alimentos teve um impacto maior no
comportamento dos machos, que chamaram rapidamente e
consumiram menos alimentos de alta qualidade. As fêmeas
ajudantes foram mais sensíveis à quantidade de comida e relutaram
em chamar e consumir pequenas quantidades. Os achados indicam
que a competição e cooperação entre os membros do grupo, bem
como a dinâmica reprodutiva da espécie, moldam o comportamento
vocal e alimentar. Os machos ajudantes, que desempenha um
papel importante no cuidado infantil, alteraram seu comportamento
vocal alimentar na presença de infantes, enquanto as fêmeas
ajudantes tiveram estratégias de forrageamento sensíveis à
quantidade de comida. As descobertas também destacam as
múltiplas funções dos chamados alimentares com o diferencial da
sua relação com a dinâmica do grupo.
Os estudos de ELOWSON; TANNENBAUM; SNOWDON, 1991;
ROUSH, 1996; ROUSH; SNOWDON, 1999, abordam diferentes
aspectos e resultados sobre o comportamento de chamados
associados a alimentos em Saguis-de-topete-branco (Saguinus
oedipus), mas em essência, compartilham informações
semelhantes. Elowson et al., 1991, investigou o comportamento de
chamados associados à alimento em Saguis-de-topete-branco,
focando em fatores ambientais e de desenvolvimento. Dois tipos de
chamados, C-chirps e D-chirps, previamente associados ao

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eCICT 2023

contexto alimentar, foram usados principalmente em situações de


alimentação. Embora diferissem nos contextos comportamentais,
ambos atenderam à definição de chamados alimentares. Os
resultados sugerem que esses chamados não eram
necessariamente sinais simbólicos, mas indicavam tanto a presença
de comida quanto as preferências do emissor.
O estudo de Roush, 1996, aborda os efeitos da hierarquia social,
quantidade e distribuição de alimentos nas taxas de chamados
alimentares. Os resultados destacaram efeitos mais significativos do
status social do que das variações na comida. Esses achados
contrastaram com estudos anteriores que encontraram correlações
entre taxa de emissão de chamados e preferências alimentares em
tamarins e outras espécies de saguis. Observou-se que os
chamados eram emitidos em contextos diversos, que não o
contexto alimentar, principalmente para indicar excitação. Os
receptores reagiam com comportamentos de aproximação, mesmo
sem ver a comida.
Já Roush et al., 2000, trabalhou com chamados associados a
alimentos de saguis-de-topete-branco, indicando tanto a
presença/ausência de comida quanto o nível de excitação do
emissor. Os achados foram comparados a estudos sobre chamados
de alarme e de agonismo, indicando que vocalizações em primatas
fornecem informações sobre estímulos externos. Os chamados
eram emitidos em diferentes contextos, e sua função principal era
indicar excitação. Embora os chamados não parecessem ter uma
função clara, os receptores reagiam com comportamentos de
aproximação.
Os três artigos convergem ao destacar que os chamados
associados a alimentos dos saguis-de-topete-branco não são
necessariamente sinais simbólicos, mas transmitem informações
sobre a presença de comida e as preferências do emissor. Além
disso, as vocalizações parecem envolver informações motivacionais
e referenciais, e os receptores reagem com comportamentos de
aproximação, mesmo quando não conseguem ver a comida. Os
resultados também mostram que o status social tem um impacto

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eCICT 2023

significativo nas taxas de emissão de chamados alimentares, em


contraste com estudos anteriores.
Explorando o estudo para o gênero Leontopithecus, BENZ, 1993,
investigou se as vocalizações dos micos-leões-dourados continham
informações sobre a preferência alimentar. Os resultados
mostraram que as vocalizações estavam correlacionadas com as
preferências alimentares desses animais. As vocalizações para
alimentos preferidos eram mais frequentes do que para alimentos
menos preferidos. Essa descoberta apoiou a ideia de que as
vocalizações transmitiam informações sobre a preferência
alimentar. No entanto, as correlações entre as características das
vocalizações e a preferência alimentar variaram, dificultando a
interpretação.
A análise discriminante mostrou que as vocalizações variavam de
acordo com o alimento e podiam ser classificadas corretamente em
categorias alimentares. Embora houvesse indícios de que as
vocalizações continham informações representacionais sobre o
ambiente, era incerto se os saguis realmente usavam essas
informações. Mais pesquisas, incluindo estudos de reprodução, são
necessárias para entender completamente o papel das
vocalizações na comunicação alimentar.
Já TROISI et al., 2018, desenvolve seu trabalho sobre os micos-
leões-dourados e os efeitos dos chamados reproduzidos no
comportamento dos seus juvenis. Os chamados tiveram um impacto
imediato na interação dos juvenis com a comida e no
comportamento de forrageamento. O estudo investigou o impacto
das vocalizações na eficiência do forrageamento e na coordenação
de grupos. As chamadas influenciaram o comportamento de
aproximação dos juvenis e sua preferência por substratos
adequados para o forrageamento, resultando em maior sucesso na
obtenção de comida. As vocalizações foram consideradas honestas
e possivelmente facilitadoras da aprendizagem. Meses depois da
exposição às chamadas, juvenis independentes consumiram mais
comida do que aqueles não expostos. O estudo examinou se os

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eCICT 2023

chamados influenciavam o comportamento dos adultos, mas não


foram observadas diferenças significativas.
Os chamados também foram explorados em relação ao
comportamento de inserção e perseverança dos juvenis na caixa.
Os juvenis continuaram a depender de informações sociais para o
forrageamento, independentemente do sucesso. O estudo
reconheceu limitações e sugeriu pesquisas futuras sobre idade, tipo
de chamado e mecanismos de aprendizado social. Concluiu que as
vocalizações de oferta de comida facilitam a aprendizagem e
podem auxiliar no desenvolvimento de forrageamento
independente. As comparações com outras espécies poderiam
oferecer insights sobre a evolução do ensino. O estudo sugeriu que
os chamados podem acelerar a transição para o forrageamento
independente e discutiu se a aprendizagem era resultado dos
chamados ou do cuidado parental. Mais pesquisas são necessárias
para entender melhor a evolução desse comportamento.
Tanto KITZMANN; CAINE, 2009, com o sagui-da-cara-branca,
como CAINE; ADDINGTON; WINDFELDER, 1995, com o mico-de-
barriga-vermelha, trabalharam com o efeito dos chamados
alimentares com suas respectivas espécies. Kitzmann et al., 2008,
investigou os efeitos das reproduções de chamados alimentares em
saguis, observando suas respostas comportamentais. A pesquisa
documentou que os chamados alimentares dos saguis-da-cara-
branca evocam comportamentos alimentares antecipatórios nos
receptores e, portanto, atendem ao critério de percepção para
comunicação funcionalmente referencial. Embora as análises
forneçam evidências de que os dados dos animais dentro dos
grupos eram independentes, as preocupações sobre a dependência
permanecem quando os animais não são testados individualmente.
Isto pode ser especialmente verdadeiro em espécies socialmente
cooperativas e coesas, como os saguis.
Caine et al., 1995, examinou o comportamento de chamados
alimentares em saguis-de-barriga-vermelha e como eles se
relacionam com a preferência e quantidade de alimentos. Foi
observado que os saguis vocalizam mais em resposta a alimentos

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eCICT 2023

preferidos e em situações em que há alimentos em abundância.


Além disso, os chamados alimentares não estavam
necessariamente ligados ao compartilhamento de alimentos, já que
os detentores de alimentos eram relutantes em compartilhar.
Mesmo quando pequenas quantidades de alimentos eram
encontradas fora do campo visual dos membros do grupo, os saguis
vocalizavam mais, sugerindo que os chamados alimentares não se
baseiam apenas em oportunidades de compartilhamento ou em
visualização de grandes quantidades de alimentos.
Os resultados indicam que os chamados alimentares podem manter
os membros do grupo por perto, beneficiando o chamador ao evitar
a separação do grupo e os riscos associados a isso. Isso é
consistente com outros estudos sobre chamados alimentares em
diferentes espécies que também mostram sensibilidade aos efeitos
da audiência e sugerem que esses chamados desempenham um
papel na coesão do grupo.

Conclusão

Os estudos examinados nesta revisão oferecem insights


importantes sobre a capacidade referencial em chamados
alimentares de Calitriquídeos. Eles destacam a diversidade de
contextos comportamentais e a influência de fatores sociais,
ambientais e de preferência alimentar na emissão desses
chamados. Embora ainda existam questões a serem exploradas, as
evidências sugerem que essas vocalizações desempenham um
papel significativo na comunicação e coordenação entre os
membros do grupo, contribuindo para a eficiência alimentar e a
coesão social dessas espécies. Como pode ser observado, uma
quantidade pequena de artigos foi encontrada acerca do tema, e
isso só revela a importância de se realizar mais estudos que
abordem a questão da capacidade referencial em chamados
alimentares nesse grupo.

Referências

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eCICT 2023

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Anexos

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eCICT 2023

Tabela 1 – Lista dos trabalhos encontrados e selecionados, espécies envolvidas e


respectivas referências, de 1990 a 2023.

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eCICT 2023

CÓDIGO: HS0995

AUTOR: MARIA IZAMARA GENTIL NUNES

COAUTOR: DAVI ANDRADE BARRETO

ORIENTADOR: FIVIA DE ARAUJO LOPES

TÍTULO: Entendendo a violência doméstica por múltiplos parceiros em uma


amostra brasileira, relação entre autoestima e idade com a revitimização por
múltiplos parceiros

Resumo

A violência doméstica é um problema global que atinge indivíduos de todas as idades,


gêneros e orientação sexual. Um termo bastante utilizado recentemente nesse
contexto, é a vitimização por parceiro íntimo (VPI), caracterizada como qualquer forma
de violência vinda de um parceiro atual ou anterior. A revitimização, por sua vez, é o
processo no qual o indivíduo por repetidas vezes se submete a relacionamentos
abusivos sendo possível observar diferentes tipos de violência, dentre elas moral,
patrimonial, física e psicológica. Com base nisso, o presente estudo se propôs a auxiliar
na compreensão desse processo de revitimização avaliando os efeitos da idade e da
autoestima. O estudo foi realizado através de um questionário online respondido
anonimamente via Google forms, com itens importantes a respeito de dados
sociodemográficos, a Escala de Autoestima de Rosenberg e um Questionário sobre a
violência por múltiplos parceiros. Nossos resultados mostram que, após análise
estatística, não foram observados efeitos quanto à idade. Por sua vez, para a
autoestima, dentro do hipotetizado, todos os tipos de violência observados
apresentaram significância, indicando revitimização por mais de um parceiro naqueles
indivíduos com baixa autoestima. Consideramos, portanto, a partir dos resultados
apresentados neste trabalho, que os mesmos servem de auxílio na compreensão da
revitimização por múltiplos parceiros.

Palavras-chave: Revitimização. Parceiros. Violência. Autoestima. Idade

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

TITLE: Understanding domestic violence by multiple partners in a Brazilian


sample, relationship between self-esteem and age with revictimization by
multiple partners

Abstract

Domestic violence is a global problem that affects individuals of all ages, genders, and
sexual orientation. A term that has been used a lot recently in this context is intimate
partner victimization (IPV), characterized as any form of violence from a current or
former partner. Revictimization, in turn, is the process in which the individual
repeatedly submits to abusive relationships, and it is possible to observe different
types of violence, including moral, patrimonial, physical and psychological. The present
study set out to aid in the understanding of this revictimization process by evaluating
the effects of age and selfesteem.The study was conducted using an online
questionnaire answered anonymously via Google forms, with important items
regarding sociodemographic data, the Rosenberg Self-Esteem Scale, and a
Questionnaire on Multiple Partner Violence. Our results show that, after statistical
analysis, no effects were observed for age. In turn, for self-esteem, within the
hypothesized, all types of violence observed showed significance, indicating
revictimization by more than one partner in those individuals with low self-esteem.
Therefore, based on the results presented in this study, we consider that they help to
understand revictimization by multiple partners.

Keywords: Revictimization, partners, violence, self-esteem, age

Introdução

A violência doméstica, sob diversos fatores e intensidades, é um problema comum no


mundo inteiro. Homens e mulheres se submetem a relacionamentos abusivos que
podem lhes trazer traumas e consequências na vida cotidiana. Um parâmetro pouco
observado na literatura é o quanto as vítimas se submetem a esse problema de
maneira repetida em seus relacionamentos, o que seria caracterizado como
revitimização.
A violência por parceiro íntimo diz respeito a determinados comportamentos de
parceiros ou ex-parceiros que causem danos físicos, sexuais ou psicológicos em
seu(sua) parceiro(a) (WHO, 2014). Esse é um problema subnotificado e pouco
conhecido pelos profissionais que pode causar ao indivíduo lesões físicas, danos
psiquiátricos, até mesmo a morte (Dicola, 2016). Mulheres vítimas de violência por
parceiro íntimo, podem apresentar transtornos mentais significativos mesmo quando
não há violência física ou sexual (Mendonça et al., 2017). Além disso, possuem muito

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mais chances de desenvolver sinais de depressão quando comparadas com aquelas


que não sofrem (Ellsberg et al., 2008).
No contexto da seleção sexual, no processo de preferência e escolha de parceiros, a
autoestima e a autopercepção como parceiro(a) romântico(a) andam juntas, sendo
indivíduos de maior autoestima aqueles que se autoavaliam mais positivamente
(Mafra et al., 2015).
Outro aspecto importante na escolha e seleção de parceiros é a idade ou as
características que indiquem a idade de um parceiro em potencial (Buunk et al., 2001).
Contudo, essa escolha é totalmente atrelada ao potencial reprodutivo que varia de
acordo com a idade (Kenrick et al., 1992). De maneira geral, as mulheres tendem a
preferir 17 homens de idade mais elevada, enquanto a escolha dos homens ocorre de
forma contrária (Wiederman, 1993).
Contudo, observar o comportamento de cada indivíduo no sentido de identificar
elementos que auxiliem a compreensão a partir do ponto de vista social da pessoa se
expor a um relacionamento abusivo torna-se interessante, dado o aumento de registro
de ocorrências nessa direção. Isso favoreceria o crescimento da divulgação e
conhecimento da população a respeito do tema, visando o combate e a prevenção
desses acontecimentos. O trabalho possui o intuito de realizar uma avaliação da
influência da idade e autoestima na revitimização por múltiplos parceiros.

Metodologia

A amostragem foi realizada com um público-alvo de adultos entre 18 e 60 anos. Foi


utilizado o software G*Power 3.1.9.2 (Faul et al., 2007) para o cálculo do tamanho da
amostra, sendo utilizados os seguintes parâmetros: valor alfa igual a 5%, poder
esperado em 80% e o valor da medida de efeito (ρ) média. A partir disso, a amostra
deveria ser composta por 128 participantes, sendo 64 homens e 64 mulheres. A coleta
foi realizada de forma anônima através de formulário online na plataforma Google
Forms. Inicialmente os participantes deveriam responder a o Termo de Consentimento
Livre Esclarecido (TCLE) devidamente aprovado pelo comitê de ética (CAAE nº
57841022.7.0000.5537; Parecer nº 5.499.446), para posteriormente responderem a
uma série de questões a respeito de dados demográficos e pessoais.
Os instrumentos utilizados foram 1) Escala de Autoestima de Rosenberg, uma escala
composta por dez itens que mensuram atitudes de autoavaliação e, portanto,
autoestima. A versão utilizada é a versão brasileira adaptada por Dini e colaboradores
(2004) da versão original de Rosenberg (1965). 2) Questionário sobre violência por
múltiplos parceiros: questionário desenvolvido por Barreto (2023) baseado na Lei

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Maria da Penha (Lei nº 11.340, 2006) com intuito de investigar as violências: física,
psicológica, patrimonial e moral. A criação deste questionário se deu devido à ausência
de escalas validadas no contexto do Brasil para investigação da violência por múltiplos
parceiros. Como o questionário foi aplicado online, não foram incluídas questões
quanto a violência sexual, para reduzir a possibilidade de gatilhos e desconfortos junto
aos participantes, sendo destacados quatro tipos de vitimização: patrimonial, moral,
psicológica e física. 3) Questionário sociodemográfico, utilizado para investigação da
renda, nível de instrução, orientação sexual, sexo e gênero, variáveis interessantes no
processo de escolha de parceiros, bem como análise também do nível de informação
sobre o relacionamento abusivo.
Os dados foram processados no programa estatístico IBM SPSS Statistics 20. Para
testagem foi realizado um teste de normalidade para verificação da distribuição da
amostra, sendo este processo necessário para definição do tipo de teste estatístico a
ser realizado. O modelo escolhido foi o teste paramétrico de análise de variância
(ANOVA) para análise das hipóteses. A partir das respostas obtidas no Questionário
sobre violência por múltiplos parceiros (Barreto, 2023), os participantes foram
divididos em três grupos de acordo com o tipo de violência sofrida: indivíduos que não
sofreram nenhum tipo de violência (P0), indivíduos que sofreram violência por um
parceiro (P1) e indivíduos que sofreram violência por mais de um parceiro (P2). Para
testagem das Hipóteses foi realizado o teste estatístico de análise de variância
(ANOVA) com a intenção de comparar as médias entre os grupos (P0, P1 e P2). Quando
verificadas diferenças entre os grupos, foi utilizado o teste de Tukey para identificar
entre quais grupos ocorria a diferença. No presente estudo, foram considerados
significativos valores com p < 0,05.

Resultados e Discussões

Foram coletadas ao todo 928 respostas. Os participantes que responderam o sexo


totalizaram 908, sendo 240 do sexo masculino 20 (26,43%) e 668 do sexo feminino
(73,60%). Quanto ao grau de escolaridade o maior percentual se encontra nos pós-
graduados (45,00%). Quanto aos aspectos étnicos, a amostra era predominantemente
branca (49,45%) e pardos (38,16%), cuja orientação sexual foi em grande maioria de
héteros (80,30%) e casados ou em união estável (41,60%). Quanto à classificação de
classe econômica, a maior quantidade de respostas foi referente ao nível B2 (38,60%).
A média de idade dos participantes foi de 34,78 anos (DP = 11,45).
No que se refere às análises estatísticas referentes ao parâmetro de idade, para três
dos quatro tipos de vitimização: moral (F(2) = 0,693, p = 0,5), psicológica (F(2) = 1,431,
p = 0,24) e física (F(2) = 0,04, p = 0,961) não foi observada significância estatística. Já

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em relação a vitimização patrimonial (F(2) = 3,751, p = 0,024) houve diferença entre os


grupos. No entanto, a diferença entre cada variável, nesse caso a quantidade de
revitimização, por nenhum parceiro, por um parceiro e por mais de um parceiro, não
apresentou diferença entre si no teste de Tukey.
A análise estatística dos quatro tipos de vitimização atrelada à escala de autoestima de
Rosenberg indicou diferenças significativas entre os grupos. Quanto à vitimização
patrimonial quando comparados os grupos P0, P1 e P2 foi observada uma diferença
significativa entre os mesmos (F(2) = 5,796, p = 0,003), havendo diferença entre P0 e
P1 em comparação a P2, indicando que indivíduos com índices mais baixos de
autoestima tendem a sofrer maior revitimização patrimonial por mais de um parceiro.
No que diz respeito a vitimização moral também observamos diferenças significativas
entre os grupos (F(2) = 10,178, p < 0,01), havendo uma diferença significativa entre os
três grupos P0, P1 e P2, evidenciando uma diminuição proporcional da relação de
autoestima e a revitimização, de maneira que a medida que quanto menores os índices
de autoestima, a vitimização moral tende a ocorrer de forma mais elevada por uma ou
mais vezes. A observação dos aspectos de vitimização psicológica também apontou
diferença entre os grupos (F(2) = 17,78, p < 0,01) com um padrão semelhante à
vitimização patrimonial, em que os grupos P0 e P1 apresentam índices de autoestima
diferentes de P2 (este último com valores mais baixos).Por fim, a vitimização física não
apresentou diferenças entre os grupos (F(2) = 0,778, p = 0,45).
Realizada a investigação da revitimização por múltiplos parceiros no que diz respeito
aos aspectos de idade e autoestima, tornou-se possível observar que a idade analisada
nos quatro tipos de violência abordados não apresentou relevância nesse processo, de
maneira que as diferenças estatísticas não demonstraram significância. No âmbito da
autoestima, em relação aos tipos de violência analisados, o processo de revitimização
foi identificado principalmente naqueles que possuíam baixa autoestima,
corroborando a predição da segunda hipótese.
As análises estão de acordo com o que é descrito na literatura. Embora dados
indiquem que a idade é importante quando observada uma vitimização, não foi
observada diferença significativa nos fatores de risco para a vitimização (Selin et al.,
2019). Quanto à ocorrência da violência, foi observado em outros estudos, que a idade
do parceiro é importante. Homens mais velhos possuem maior necessidade de
controle sobre as mulheres em decorrência da internalização dos valores paternalistas.
Além disso, também foi verificado que a idade da mulher e o número de filhos podem
ser preditores da vitimização (Ali & Tariq, 2021).
Quanto à ocorrência, foi observado que a probabilidade de presença de VPI atinge o
pico no início dos 20 anos e declina logo após. Sendo um indicativo da divergência nos
resultados obtidos no trabalho considerando que a média de idade foi de 34,78 anos e
sendo também uma amostra predominantemente mais instruída com pós-graduação

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completa. No que diz respeito ao risco de acontecimento de uma VPI, a probabilidade


prevista foi maior para jovens do sexo feminino com idade próxima dos 17 anos e
continuando até próximo dos 28 anos (Johnson et al., 2015). No entanto, não há com
clareza estudos dos processos de reincidência dessas violências em outros
relacionamentos.
No contexto da vitimização por parceiro íntimo e autoestima a literatura descreve uma
relação entre eles, de forma que um dos principais fatores para baixa autoestima entre
as mulheres é a exposição à vitimização (Güler, 2022). Fica evidenciado também, que
pessoas com maiores exposições à violência possuem características fortes de baixa 25
autoestima (Parvin, 2018). Contudo, há um forte indicativo de que indivíduos com
autoestima baixa poderiam submeter-se por mais vezes a relacionamentos abusivos
devido a crença de que não seriam capazes de obter relacionamentos saudáveis,
compactuando com a ideia de que a intensidade da violência doméstica em outros
relacionamentos é um fator de risco para a revitimização por mais de um parceiro
(Ørke et al., 2018).

Conclusão

Após realização das análises estatísticas, considerando a avaliação dos parâmetros de


idade e autoestima com intuito de auxiliar na compreensão da revitimização por
múltiplos parceiros, foi possível identificar a relevância desses índices no âmbito da
violência doméstica, sobretudo no que se refere à autoestima, especificamente
investigando quatro pilares importantes: a violência física, psicológica, moral e
patrimonial, descrevendo o cumprimento dos objetivos do trabalho.
O processo de revitimização confere ao indivíduo sujeito à violência danos à sua saúde,
com isso, a análise proposta no presente estudo pode auxiliar na investigação e
reconhecimento da situação pelo próprio indivíduo, podendo levar à busca de apoio,
para que o mesmo não se submeta a relacionamentos abusivos e não entre
novamente em outros. Consideramos, portanto, que os resultados obtidos neste
estudo podem apresentar melhorias para a compreensão do processo de
revitimização.

Referências

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CÓDIGO: HS1085

AUTOR: JOSIVAN BERNARDINO SILVA DE FRANCA

ORIENTADOR: ROVENA CLARA GALVAO JANUARIO ENGELBERTH

TÍTULO: "Quando a luz dos olhos meus": EFEITOS DA TERAPIA DE LUZ


AZUL EM RESPOSTAS COGNITIVAS, EMOCIONAIS E NEUROQUÍMICA DE
ROEDORES IDOSOS

Resumo

O envelhecimento representa processo natural, inevitável e progressivo que afeta os


organismos vivos de maneira única. As alterações morfológicas e funcionais que
caracterizam o envelhecimento se relacionam com o declínio cognitivo observado em
indivíduos idosos ao decorrer do aumento da idade. Nesse sentido, diversas terapias
alternativas têm se tornado destaque como mecanismos de intervenção, como por
exemplo a fototerapia utilizando luz azul com intensidade de 150 lux, que vem
mostrando resultados positivos no controle do declínio cognitivo. O objetivo deste
trabalho é avaliar o efeito da terapia de luz azul sobre os domínios cognitivos de ratos
jovens e idosos, a partir da estimulação e análise de regiões como hipocampo. Para
isso, serão utilizados quatro grupos de animais jovens e idosos para testes como o de
campo aberto, reconhecimento de objeto e avaliação do registro de atividade e
repouso antes e após o tratamento com luz azul, a fim de avaliar questões
comportamentais. Essa terapia será aplicada nas primeiras 6 horas de claro durante
um período de 14 dias, sob um ciclo de C:E de 12:12. Ainda nessa mesma sala será
realizado o período de adaptação, onde será registrado e avaliado o ritmo de atividade
e repouso sob um ciclo de C:E de 12:12 horas. Com isso, é esperado que os métodos
empregados possam possibilitar melhorias comportamentais nos idosos durante o
envelhecimento, assim como também informações quanto as substâncias
neuroquímicas expressas durante o processo

Palavras-chave: Envelhecimento. Declínio cognitivo. Terapia de luz azul.

TITLE: "Quando a luz dos olhos meus": EFEITOS DA TERAPIA DE LUZ AZUL
EM RESPOSTAS COGNITIVAS, EMOCIONAIS E NEUROQUÍMICA DE
ROEDORES IDOSOS

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Abstract

The aging represents a natural, inevitable and progressive process that affects living
organisms in a unique way. The morphological and functional alterations that
characterize aging are related to a cognitive decline observed in elderly individuals as
they age. In this sense, several alternative therapies have become highlighted as
intervention mechanisms, such as phototherapy, which using low-intensity blue light
(150 lux) has shown positive results in controlling cognitive decline. The objective of
this work is to evaluate the effect of blue light therapy on the cognitive domains of
young and old rats, based on stimulation and analysis of hippocampus regions. For
this, four groups of young and old animals will be used for tests such as object
recognition and discriminative avoidance, before and after treatment with blue light, in
order to assess behavioral issues. This therapy will be applied in the first 6 hours of
light during a period of 14 days, under a C:E cycle of 12:12. In the same room, the
adaptation period will be realized, where the rhythm of activity and rest will be
recorded and evaluated under a C:E cycle of 12:12 hours. With this, it is expected that
the methods employed may enable behavioral improvements in elderly individuals
during aging, as well as information regarding the level of neurochemical substances
expressed during the process.

Keywords: Aging. Cognitive decline. Blue light therapy.

Introdução

O envelhecimento é caracterizado por alterações morfológicas e fisiológicas em todos


os órgãos e tecidos, podendo desencadear limitações na funcionalidade do
organismo.1 Estudos sobre o tema proporcionaram a discussão de diversas teorias a
fim de tentar explicar os mecanismos envolvidos na formação e manutenção desse
processo. Algumas dessas teorias possuem embasamento em aspectos evolutivos
caracterizados pela ação da seleção natural, ao passo que outras são formadas tendo
como base aspectos sistemáticos e moleculares, como por exemplo a formação de
radicais livres e o encurtamento dos telômeros.1,2 No entanto, apesar dessas teorias
possuírem hipóteses distintas, comumente concordam que o envelhecimento é
marcado por um processo natural, inevitável e progressivo.3 Apesar do processo de
envelhecimento ser denominado universal, há várias questões que o torna
heterogêneo. Em primeiro plano, é importante entender que esse processo afeta
organismos de maneira pessoal, visto que há uma variedade de fatores, tanto internos
como externos que interagem e podem modificar o organismo dos indivíduos.3 Além
disso, o declínio do funcionamento dos sistemas que compõem o organismo ocorre de
maneira desigual, promovendo ainda mais um aumento na quantidade de variáveis
que dificultam o seu entendimento.4 O sistema nervoso central é um dos sistemas que

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mais sofrem impacto com o avanço da idade, principalmente no que diz respeito aos
domínios cognitivos. A cognição pode ser caracterizada como um conjunto de
habilidades que fornecem a capacidade de perceber, interpretar e armazenar
informação no formato de conhecimento.5 Dito isso, é importante destacar que
apesar de ser observado no envelhecimento um declínio cognitivo, essa diminuição
ocorre de forma heterogênea.4 Apesar de ser observado uma ligação entre a
diminuição no volume cerebral do idoso com o declínio cognitivo 6,7, outros fatores
podem contribuir com esse decaimento mental, como por exemplo as disfunções
fisiológicas Em mamíferos, o equilíbrio homeostático pode ser modulado através do
núcleo supraquiasmático, comumente conhecido como relógio biológico, que mantém
a regulação da ritmicidade interna através de ciclos de atividade:repouso que podem
ser arrastadas por pistas ambientais, como é o caso do ciclo claro:escuro.7 Estudos
referentes ao declínio cognitivo, mais precisamente no domínio referente à memória,
nos mostra uma diminuição na atividade de células presentes em sub-regiões do
hipocampo, tais como o CA1, CA3 e o giro denteado.8 A diminuição de células
funcionais nessas regiões provoca por consequência uma limitação no processamento
de novas informações, haja vista que, ocorre um decréscimo de neurogênese e
gliogênese causado muitas vezes pelo processo de neuroinflamação apresentado no
indivíduo idoso.9,10 Atualmente, tem sido destaque a utilização de terapias
alternativas que promovam uma lentificação ou até mesmo a estagnação do declínio
cognitivo.11 Dentre elas, tomamos como ênfase a fototerapia, pois através dela foram
realizados estudos utilizando roedores nocaute para a doença de Huntington, onde foi
observado uma melhora na manutenção da ritmicidade circadiana e
consequentemente na qualidade do sono que, como mencionado anteriormente,
possui uma grande influência nos domínios cognitivos.12 A fototerapia, inclusive
utilizando a luz azul, possui aspectos positivos no desempenho cognitivo como
mostrado em estudos que avaliaram a realização de tarefas que demandam atenção
sustentada, assim como também demonstrado em trabalhos que avaliaram a memória
de trabalho através de testes comportamentais.13 No entanto, existem várias lacunas
quanto ao mecanismo e o real efeito cerebral dessa intervenção terapêutica, haja vista
que, além dos efeitos positivos há também efeitos negativos nos domínios cognitivos.
Desse modo, é necessário estudos referentes ao controle de intensidade e duração do
tempo de exposição, a fim de frear os resultados negativos, como o estresse oxidativo.

Metodologia

Serão utilizados no estudo 104 Rattus novergicus da linhagem Wistar, machos jovens e
idosos, com 3 e 20 meses de idade, respectivamente. Esses animais serão separados
conforme a idade, sendo 52 no grupo jovem e 52 no grupo idoso. Além disso, cada

112
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eCICT 2023

grupo será dividido na metade, caracterizando 26 animais jovens para controle e 26


animais jovens para terapia. Assim como também para o grupo idoso, ou seja, 26
animais idosos para controle e 26 animais idosos para terapia. Antes do início dos
experimentos, esses animais ficarão no biotério experimental do LENq sob condições
de temperatura, umidade e ciclo claro:escuro controlados, sem nenhuma restrição
quanto à disponibilidade de água e alimento. Esses animais serão alojados de modo a
ficar dois idosos por caixa no máximo, considerando o peso do idoso, e cinco por caixa
quando o animal for jovem. Todos os animais mencionados passarão por duas rodadas
de testes que buscam avaliar o desempenho cognitivo, como o campo aberto e
reconhecimento de objetos. O primeiro será realizado em três fases e durante três dias
consecutivos, ao passo que o segundo, ocorrerá em duas fases em dois dias
consecutivos. Além disso, os testes ocorrerão em dois horários distintos, começando
às 7 horas pela manhã e às 19 horas da noite. Os registros comportamentais serão
fornecidos através de uma câmera instalada sobre os aparelhos, no centro da sala. É
importante também que antes e depois de cada teste comportamental, o
experimentador limpe tanto os objetos quanto o aparato com álcool 70% no intuito de
eliminar pistas olfativas que por ventura interfiram nos resultados. Todos os animais
serão colocados em uma sala específica para avaliação cronobiológica com 12 horas de
claro e 12 horas de escuro durante 14 dias consecutivos, de modo a adaptá-los antes
dos testes cognitivos. Em seguida, somente os animais do grupo experimental voltarão
para a sala de ritmo e ficarão expostos a 6 horas de luz azul com um lux de 150, 6
horas de claro e 12 horas de escuro, durante 14 dias consecutivos, como mostrado na
figura 1. Para a avaliação neuroquímica, os roedores serão medicados com uma
solução de Tiopental sódico de forma intraperitoneal para indução de anestesia geral
uma hora antes de seu ZT. Em seguida, os animais serão submetidos a uma perfusão
transcardíaca, que consiste no processo de infundir 400ml de solução salina com 5
gotas de EDTA no leito ventricular do animal, no intuito de promover o processo de
exsanguinação sem possíveis coagulações. Posteriormente, também será infundido no
mesmo local 400ml de solução paraformaldeído, que funcionará como solução
fixadora. Após a fase de perfusão, os animais serão decapitados e então se dará início
ao processo de craniotomia, que consiste na retirada dos encéfalos e então
mergulhados em solução fixadora por até 24 horas e logo depois armazenados em
solução de sacarose a 30% para posterior microtomia. Durante essa etapa os encéfalos
serão submetidos a uma temperatura de -70ºC e então seccionados utilizando o
equipamento criostato - 20ºC, em uma espessura de 50μm. Ao final dessa etapas,
todas as secções serão conservadas a temperatura de 4 ºC para posterior realização do
procedimento de imunohistoquímica, onde será verificado os níveis de expressão de
substâncias neuroativas como GFAP, C-fos, NeuN, BDNF, PER e BMAL. Após análise
imunohistoquímica, as lâminas serão montadas com as devidas secções. As áreas a
serem analisadas serão coradas com tionina para referências a localização das mesmas

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eCICT 2023

e o software imageJ será utilizado para a análise das imagens obtidas e auxiliar na
contagem de células e delimitação dessas áreas. Para verificação dos dados de todos
os testes, foi realizada uma análise prévia de normalidade através do teste de Shapiro
Wilk. Todos os dados são expressos em média ± erro padrão da média (EPM). Todos os
dados serão avaliados a partir de análise de variância com ANOVA de medidas
repetidas, seguida do teste post hoc de Tukey, assim como o teste t de Student
pareado para amostras do mesmo grupo e não pareado para amostras entre grupos
diferentes. O nível de significância será considerado quando p < 0,05, e o GraphPad
Prism 8 será o software utilizado nessas análises estatísticas.

Resultados e Discussões

Levando em consideração a eficácia da fototerapia em tratamentos na regulação da


ritmicidade circadiana e nos próprios aspectos cognitivos, com a realização desse
projeto é esperado que o uso da terapia de luz azul promova o melhoramento nas
respostas emocionais e na memória de reconhecimento de objetos nos indivíduos
idosos, além de um ritmo de atividade repouso menos fragmentado, promovendo
então uma melhora nos aspectos comportamentais envolvidos no processo de
envelhecimento.15 A avaliação comportamental utilizando o campo aberto tem sido
empregada em vários estudos a fim de avaliar as respostas emocionais. Dividido em
duas zonas, interna e externa, a princípio é esperado que os animais apresentem
comportamento do tipo ansioso, preferindo espontaneamente se mover próximo às
paredes, ou seja, na zona externa. No entanto, posteriormente é esperado que os
mesmos grupos de animais, tanto jovens como idosos, explorem o ambiente nos
mostrando um comportamento mais exploratório15. Ainda dentro da avaliação
comportamental, utilizando testes de reconhecimento de objetos, é esperado que os
animais idosos que não apresentem características relacionadas ao declínio cognitivo
apresentam preferência pelo objeto novo quando comparado ao antigo, haja vista
que, uns dos domínios mais afetados por esse declínio é a memória espacial. Ao passo
que os animais tratados apresentam uma afinidade exploratória maior pelo objeto
novo em relação ao antigo, quando comparado com o grupo controle. É evidente que
a ritmicidade endógena pode ser regulada pelo sistema de temporização circadiano, e
que os indivíduos idosos possuem predisposição a apresentar uma desregulação do
ciclo atividade e repouso, diferente dos jovens. Como consequência, essa desregulação
pode promover alteração na homeostasia, desencadeando alterações metabólicas.16
Logo, através da avaliação do ritmo de atividade e repouso dos animais antes e depois
da terapia é esperado um progresso com relação a diminuição da fragmentação no
ritmo circadiano.

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Conclusão

Por ser um processo natural, inevitável e progressivo, o envelhecimento e todos os


seus declínios estruturais e funcionais vem ganhando destaque nos estudos
comportamentais devido a ligação direta com os domínios cognitivos. Dentro das
características apresentadas nos indivíduos idosos, a dessincronização da atividade e
repouso ganha visibilidade justamente por estar diretamente relacionada com a
formação de novas memórias, assim como também na manutenção dessas. Dito isso,
os resultados obtidos utilizando terapias alternativas, como por exemplo a fototerapia
de luz azul, na regulação da ritmicidade circadiana vem mostrando melhora, assim
como também no tempo e na qualidade do sono. Dessa forma, através da avaliação
comportamental promovido por testes como o de campo aberto e reconhecimento de
objetos, é de se esperar um melhoramento significativo nos domínios cognitivos, assim
como também nos sistemas que são modulados pelo ritmo de atividade e repouso.

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CÓDIGO: HS1147

AUTOR: ANA LUIZA MENEZES DA ROCHA

ORIENTADOR: FIVIA DE ARAUJO LOPES

TÍTULO: Efeitos de priming sobre a avaliação da autoeficácia em estudantes


universitários, construção e aplicação de protocolo para coleta de dados

Resumo

A persistente busca por conhecimento e novas habilidades é uma tendência do ser


humano. A visão de que essas habilidades estão relacionadas com a seleção sexual, as
torna ainda mais valiosas e isso acontece devido ao valor de mercado (VM), ou seja, o
valor de uma pessoa como parceiro reprodutivo (Fisher, Cox, Bennett, & Gavric, 2008;
Brase & Guy, 2004). Diante disso, ter a consciência da sua autoeficácia (AEf) que é a
crença que o indivíduo tem quanto a sua capacidade de alcançar seus objetivos
(Bandura, 2006), pode influenciar em suas percepções pessoais. Nesse contexto, sem
que o indivíduo perceba ele pode estar reagindo a estímulos do ambiente, através da
exposição a estímulos externos, o que é conhecido como efeito priming (Bargh, 2006).
Dada a interessante conexão entre esses constructos, o presente estudo visou
desenvolver um protocolo de coletas específico para testar o efeito priming sobre a
percepção da eficácia geral por parte de estudantes universitários, assim como a
apresentação do valor de mercado autopercebido nesse cenário.

Palavras-chave: Autoeficácia; Priming; Valor de mercado; Protocolo;


Universitários

TITLE: Priming effect on college students' self-efficacy perception, protocol


development and application on data collection

Abstract

The persistent search for knowledge and new skills is a human tendency. The notion
that these skills are related to sexual selection makes them even more valuable and
this happens due to the mate value (MV), the value of a person as a reproductive

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partner (Fisher, Cox, Bennett, & Gavric, 2008; Brase & Guy, 2004). Therefore, being
aware of your self-efficacy (SE), which is the belief that the individual has regarding
his/her ability to achieve his/her goals (Bandura, 2006), can influence this person’s
personal perceptions. In this context, without the individual realizing it, he may be
reacting to environmental stimuli, through exposure to external stimuli, what is known
as priming effect (Bargh, 2006). Given the interesting connection between these
constructs, the present study aims to develop a specific data collection protocol to test
the priming effect on the perception of general self-efficacy in a sample of college
students, as well as the presentation of self-perceived mate value in this scenario.

Keywords: Self-efficacy; Priming; Mate Value; Protocol; Undergraduate


students

Introdução

A tendência das pessoas de estarem sempre buscando aprender novas coisas e


aprimorar suas técnicas acaba influenciando no seu bem-estar e desenvoltura ao longo
da vida (Ryan & Deci, 2000). Junto do aumento das habilidades pessoais, está o
engajamento social que reflete na aprovação das outras pessoas (Leary, 2007), assim
como a adesão de características potencialmente valorizadas na seleção sexual, que
compõem o dito valor de mercado de um indivíduo no mercado biológico de
acasalamento (Fisher, Cox, Bennett, & Gavric, 2008; Brase & Guy, 2004). Diante do
aperfeiçoamento de características pessoais, temos um importante conceito chamado
Autoeficácia, que diz respeito as crenças pessoais quanto a conquista de objetivos
(Bandura, 2006) que assim como outras autoavaliações, pode sofrer influência do meio
social. Tendo em vista a autoeficácia que cada pessoa considera possuir, o priming,
exposição prévia a estímulos que pode influenciar na resposta a um estímulo
subsequente, sem que exista consciência do indivíduo sobre tal influência (Bargh,
2006), se mostra importante para entender como cada indivíduo avalia sua
autoeficácia. Com o intuito de construir um experimento que possibilite testar o uso
de atividades de priming para verificar seu potencial efeito sobre os níveis de
autoeficácia de estudantes universitários, desenvolvemos um protocolo de coleta de
dados para estudos de priming especificamente para a avaliação da autoeficácia geral.

Metodologia

Participantes & Instrumentos

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Os participantes serão 50 estudantes de graduação da UFRN (amostra estimada com


base em estudos descritos na literatura, c.f. Mattingly, McIntyre & Lewandowski, 2012;
Fitzsimons & Bargh,2003; Gardner, Gabriel & Hochschild, 2002). O critério de inclusão
na amostra será a idade, em que os estudantes deverão ter entre 18 e 35 anos. Local
de Estudo A pesquisa será realizada nas dependências da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Centro de Biociências. As coletas presenciais ocorrerão no
LECH (Laboratório de Evolução do Comportamento Humano) Instrumentos Os
questionários aplicados nas coletas serão compostos do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) e dos seguintes instrumentos: Questionário
sociodemográfico da ABEP (2016), Autoavaliação como parceiro romântico (Castro,
2009), Escala de Autoeficácia de Meneses e Abbad (2010). Os instrumentos que serão
utilizados estão descritos a seguir: • Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE): Fornece uma breve introdução ao participante do que consiste a pesquisa e
quais seriam as atividades por ele desempenhadas caso concorde em participar.
Também são explicadas questões que fizeram menção à ausência de trocas financeiras
envolvidas na pesquisa, à participação voluntária (respondendo aos questionários
apenas as pessoas que quisessem fazê-lo, podendo, inclusive, desistir de participar a
qualquer momento), e à garantia da integridade e da preservação da identidade dos
participantes; • Questionário sociodemográfico: perguntas de caráter pessoal para
melhor caracterização da amostra coletada, como: sexo, idade, níveis de escolaridade
e socioeconômico dos participantes; • Autoavaliação como parceiro romântico: Esse
tipo de avaliação é feito em duas etapas, em que, primeiramente, o indivíduo atribui
pontos a ele, de acordo com uma escala Likert de 0 a 9 pontos para cada uma das nove
características pesquisadas: • Rosto bonito, Corpo bonito e Saúde, usados para
representar atratividade; • Sociável, Concordabilidade/Bem humorado(a) e Fiel como
representantes de personalidade; e • Boa condição financeira, Inteligente e
Determinado(a) e trabalhador(a) como indicadores de status social. Sendo 0 a menor
pontuação para a característica e 9 a pontuação máxima. Na segunda etapa haverá
uma escala de diferencial semântico em formato de reta de 10 centímetros, na qual o
participante deverá marcar com uma seta ou um “x” quão desejável ele julgava ser
como parceiro romântico (de nada desejável (0) a extremamente desejável (10)); •
Escala de Autoeficácia: Composto de itens relativos à Autojulgamentos acerca das
próprias capacidades/habilidades; Motivação para ação; Enfrentamento de
obstáculos/ persistência; Predisposição ao desafio; à abertura à experiência;
Capacidade de recuperação diante de fracassos; Influência do sucesso inicial para o
sucesso final de uma atividade; Histórico de sucessos anteriores; e Necessidade de
encorajamento externo/instruções. Engloba 15 itens que apontam a percepção geral
do participante acerca de sua capacidade para realizar determinadas atividades com
sucesso. Tais itens estão associados a uma escala do tipo Likert, de concordância,
contendo 5 pontos, em que o valor 1 representava a total discordância do participante

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eCICT 2023

e o valor 5, a total concordância. Realização do priming A tarefa de priming consistirá


em o(a) participante responder a perguntas de caráter lógico e o feedback das
respostas dadas pelos participantes será manipulado; após a manipulação com priming
de caráter positivo ou negativo em relação a sua habilidade de realizar as tarefas, os
instrumentos acima mencionados serão aplicados. Análise de Dados Um Teste de
Normalidade será conduzido para avaliar se as variáveis envolvidas no estudo possuem
distribuição normal, caso esse padrão se confirme serão realizados testes GLM, caso
seja aberta a oportunidade procuraremos estender nossa análise para o uso de
equações estruturais para verificar o comportamento de nossas variáveis de estudo.
Procedimento
No protocolo de coletas, antes da chegada do participante acontece a preparação do
local: organização da sala em que ocorrem as coletas, ajuste da temperatura do
ambiente para receber o participante, verificação do funcionamento dos aparelhos
utilizados tais como computadores e tablets e checagem do link que permite o acesso
aos questionários. Com a chegada do sujeito de pesquisa, o mesmo é devidamente
recepcionado e conduzido até a sala de coleta. Ao início da coleta, informamos ao
sujeito o tempo de duração do experimento e o apresentamos o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido o qual contém todas as devidas informações
referentes à pesquisa e seus responsáveis. Após passar todas as instruções para o
participante, o indivíduo a cargo da coleta, se coloca à disposição e na ausência de
possíveis dúvidas, se dirige à sala de observação dando privacidade ao participante e
aguarda a finalização do evento daquela coleta.

Resultados e Discussões

O protocolo para aplicação dos questionários foi construído e testado conforme


descrito, se mostrou eficiente em contexto de coleta de dados, tendo suas perguntas
claras, objetivas e de fácil entendimento por parte dos indivíduos, assim, provando-se
válido para as análises das variáveis de interesse e passíveis de replicação. Análises de
cunho quantitativo serão realizadas à posteriori como desdobramento do resultado
positivo quanto a aplicação do protocolo utilizado.
Como fruto da análise do desempenho do experimento realizado, é possível
identificarmos a importância e garantia de que alguns parâmetros sejam devidamente
atendidos para que possamos afirmar o sucesso de um protocolo de coletas em
pesquisas envolvendo comportamento humano. Tais parâmetros dizem respeito à
clareza semântica que envolve a compreensão dos termos utilizados nos instrumentos;
o critério experimental que diz respeito aos cuidados com a padronização das coletas e

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eCICT 2023

cuidados com o bem-estar & integridade dos participantes; assim como a eficácia da
obtenção dos dados de interesse por meio da qualidade dos instrumentos escolhidos,
planejamento e correta aplicação do protocolo desenvolvido (Borsa et al., 2012).

Conclusão

Os dados advindos desse estudo se mostram úteis e interessantes para o estudo na


área de comportamento humano, tendo em vista sua contribuição na elaboração de
protocolo de coleta de dados específico para utilização de atividades de priming na
investigação de níveis de autoeficácia geral. Estudos nas áreas de bem-estar subjetivo,
autoestima, saúde mental, educação e cognição serão grandes beneficiadas na
implementação dos produtos produzidos por meio deste estudo. Além dos
desdobramentos possíveis através das análises dos efeitos observados a partir da
aplicação desse protocolo que possibilitará a construção de políticas que visem
aprimorar os níveis de autoeficácia de nossos estudantes através de atividades de
priming construídas com base nos dados obtidos por meio do presente estudo.

Referências

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eCICT 2023

Paidéia (Ribeirão Preto), 22(53), 423-432.

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eCICT 2023

CÓDIGO: HS1342

AUTOR: LYZANDRO LUCAS FERREIRA BEZERRA

ORIENTADOR: ROVENA CLARA GALVAO JANUARIO ENGELBERTH

TÍTULO: FEEDING TIME MATTERS? EFEITO DA RESTRIÇÃO ALIMENTAR


TEMPORAL SOBRE PARÂMETROS NEUROQUÍMICOS E RESPOSTA
MOTORA EM MODELO CRÔNICO DA DOENÇA DE PARKINSON

Resumo

A Doença de Parkinson (DP) é a segunda desordem neurodegenerativa mais


prevalente globalmente. Há indícios de uma relação bidirecional entre
disfunções circadianas e a progressão dessa condição. A restrição temporal da
alimentação, um paradigma-chave para investigar ciclos alimentação/jejum,
tem apresentado resultados promissores na regulação dos ritmos circadianos
de atividade-repouso, redução do estresse oxidativo e da neuroinflamação.
Diversos modelos farmacológicos têm a capacidade de replicar o cenário da
DP, como o modelo da reserpina, que gradualmente induz alterações
comportamentais e neuroquímicas relacionadas à doença. Nesse contexto, o
objetivo da pesquisa é examinar como um protocolo de restrição temporal da
alimentação influencia o modelo farmacológico da DP induzida pela reserpina,
a fim de avaliar a resposta motora dos animais e parâmetros neuroquímicos,
como neuroinflamação e marcadores de neurodegeneração. O estudo
envolverá 140 animais distribuídos em sete grupos. Esses grupos terão acesso
limitado à alimentação por apenas 8 horas diárias, com administração de
reserpina antes e depois da restrição. Outros grupos terão dieta ad libitum
durante todo o experimento, além dos grupos controle. Todos os animais serão
submetidos ao teste de catalepsia e, posteriormente, passarão por análises
imunohistoquímica. Espera-se que os resultados contribuam para ampliar a
compreensão sobre como os ritmos alimentares afetam parâmetros
neuroquímicos e a progressão da DP.

Palavras-chave: Doença de Parkinson; Restrição alimentar temporal;


cronoterapias

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TITLE: FEEDING TIME MATTERS? EFFECT OF TEMPORAL FOOD


RESTRICTION ON NEUROCHEMICAL PARAMETERS AND MOTOR
RESPONSE IN CHRONIC PARKINSON DISEASE MODEL

Abstract

Parkinson's Disease (PD) is the second most prevalent neurodegenerative


disorder globally. There is evidence of a bidirectional relationship between
circadian dysfunctions and the progression of this condition. Time restriction of
food, a key paradigm for investigating feeding/fasting cycles, has shown
promising results in regulating activity-rest circadian rhythms, reducing oxidative
stress and neuroinflammation. Several pharmacological models have the ability
to replicate the PD scenario, such as the reserpine model, which gradually
induces behavioral and neurochemical changes related to the disease. In this
context, the objective of this research is to examine how a protocol of temporal
restriction of food influences the pharmacological model of PD induced by
reserpine, in order to evaluate the animals' motor response and neurochemical
parameters, such as neuroinflammation and neurodegeneration markers. The
study will involve 140 animals divided into seven groups. These groups will
have limited access to food for just 8 hours a day, with reserpine administered
before and after the restriction. Other groups will have ad libitum diet throughout
the experiment, in addition to the control groups. All animals will be submitted to
the catalepsy test and, subsequently, will undergo immunohistochemical
analysis. It is hoped that the results will contribute to broadening the
understanding of how eating rhythms affect neurochemical parameters and the
progression of PD.

Keywords: Parkinson's disease; Temporal food restriction; chronotherapies

Introdução

Conceitualmente, a doença de Parkinson (DP) pode ser definida como uma


desordem do movimento associada a perda de neurônios em regiões
específicas da substância nigra, além do acúmulo intracelular difuso de
agregados de α-sinucleína (NIH & NINDS, 2021; Poewe et al.,2017). Os
principais sintomas motores são o tremor de repouso, a bradicinesia, a rigidez
muscular e a instabilidade postural (WHO, 2022). Atualmente entende-se que
uma variedade de sintomas não-motores incluindo alterações de sono,
cognição, disfunção autonômica, depressão, disfunção olfativa, dor (Defazio et
al., 2017; Poewe et al., 2017; Rodriguez et al., 2015); além de disfunção
circadiana (Li et al., 2017) também podem estar presentes, desde os estágios
iniciais da doença. As manifestações não-motoras, apesar de heterogêneas,

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representam importantes marcadores clínicos para o diagnóstico precoce da


DP, tendo em vista que podem surgir antecedendo os sintomas motores em
meses ou anos (Berg et al., 2021). Ao conjunto de sinais e sintomas
precedentes, convencionou-se denominar estágio prodromal (Berg et al., 2021;
Postuma et al.,2012). Diferentes estratégias terapêuticas têm se destacado no
tratamento dos sintomas motores e não-motores da doença de Parkinson. A
principal intervenção é medicamentosa, e consiste na ingestão de L-DOPA
(Jamebozorgi et al., 2019). Esforços recentes vem sendo direcionados a
intervenções que promovam tanto a modificação no padrão de progressão da
doença quanto aos déficits não motores que podem estar a ela associados
(Poewe et al., 2017). Restrições dietéticas entram no escopo destas últimas,
sendo elencadas como possíveis agentes terapêuticos (Neth et al.,2021). Em
doenças neurodegenerativas, perturbações nos ritmos circadianos podem
estabelecer uma relação bidirecional com a progressão do quadro patológico
(Nassan & Videnovic, 2022). Na DP, os sintomas motores, não-motores,
neuroinflamação e estresse oxidativo podem oscilar circadianamente,
sinalizando a influência das variáveis cronobiológicas sobre o quadro
(Videnovic & Golombek, 2017). Diversas intervenções baseadas na
cronobiologia (cronoterapias) estão sendo recentemente testadas em modelos
animais e em humanos portadores de desordens neurodegenerativas, por
representarem soluções de baixo custo que podem aumentar a qualidade de
vida (Fifel & Videnovic, 2019; Nassan & Videnovic, 2022). Na doença de
Parkinson, cronoterapias estudadas incluem luz, melatonina e exercício (Fifel &
Videnovic, 2019; Nassan & Videnovic, 2022). Outros fatores, como o ciclo de
disponibilidade alimentar podem exercer influencia sobre a ritmicidade biológica
(Carneiro et al., 2019). A restrição alimentar temporal, especificamente, pode
ser entendida como um ajuste no tempo de disponibilidade alimentar sem
redução na quantidade de calorias ingeridas, que, quando associada a fase de
atividade dos organismos, pode ter efeitos fisiológicos significativos (Duregon
et al., 2021), incluindo influências no metabolismo (Hatori et al., 2012; Moro et
al., 2016), câncer, neuroinflamação (Fontana et al., 2021), cognição, e ritmos
circadianos em diferentes espécies. Alguns estudos, observaram camundongos
submetidos a uma dieta altamente lipídica, disponibilizada durante uma janela
temporal de 8h diárias (sendo 16h de jejum), durante 18 semanas, consumiram
quantidades equivalentes de calorias que seus parceiros em dieta ad libitum,
porém apresentaram melhor coordenação motora, atenuação no ganho de
peso corporal, ajuste nos ritmos dos osciladores circadianos periféricos;
prevenção da obesidade, além de diminuição dos níveis de inflamação (Hatori
et al., 2012), evidenciando o papel dos horários de alimentação e jejum na
manutenção de um estado metabólico adequado, mesmo na presença de uma
dieta obesogênica. Estudos envolvendo a restrição alimentar temporal e a
doença de Parkinson são escassos, evidenciando a importância de se

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investigar a influência desse tipo de intervenção crononutricional e seus


desfechos na DP.

Metodologia

ANIMAIS
Serão utilizados 140 animais da espécie Rattus Norvegicus, com idades
aproximadas de 3 meses, os quais serão dispostos em caixas de polipropileno
contendo 4 animais cada e permanecerão no biotério de experimentação do
Laboratório de Estudos Neuroquímicos (LENq) da UFRN. O ambiente terá
condições controladas de temperatura (23 ± 1 ºC); iluminação (ciclo
claro/escuro de 12h/12h) e fluxo de ar; além de disponibilidade de água e
alimento ad libitum (até que se iniciem os experimentos, quando haverá
mudança de disponibilidade alimentar para os grupos em restrição). Todos os
animais serão manipulados por 10 minutos durante 5 dias precedendo a
experimentação. Finalizado esse período, eles serão distribuídos de forma
randomizada em sete diferentes grupos (fig. 1): Controle ad libitum (20 animais
que não receberão injeções de Reserpina e terão alimentos disponíveis ad
libitum); dois grupos Reserpina ad libitum – machos e fêmeas (com 20 animais
cada, que receberão injeções de Reserpina e terão alimentos disponíveis ad
libitum); dois grupos Reserpina em restrição alimentar temporal (RAT) –
machos e fêmeas (com 20 animais cada, que receberão injeções de Reserpina
e serão submetidos a protocolo de restrição alimentar temporal); e dois grupos
Reserpina RAT pré – machos e fêmeas (com 20 animais cada, que serão
submetidos a protocolo de restrição alimentar temporal 30 dias antes do início
das aplicações da reserpina).

FÁRMACOS
O grupo controle ad libitum receberá aplicações subcutâneas de 1mL/kg de
solução salina diluída em duas gotas de ácido acético glacial. Os grupos
Reserpina ad libitum (machos e fêmeas), Reserpina RAT e Reserpina RAT pré
receberão injeções administradas de forma subcutânea do fármaco Reserpina
(Sigma Chemical Co., St. Louis, MO, USA) na dosagem de 0.1mg/kg dissolvida
em 2 gotas de ácido acético glacial e diluída em água destilada (1mL/kg). Em
todos os grupos as aplicações se darão em dias alternados, em horário pré-
estabelecido (ZT2) sendo 15 a quantidade estipulada total de aplicações (Lima
et al., 2021).

RESTRIÇÃO ALIMENTAR TEMPORAL


Os animais do grupo Reserpina RAT (machos e fêmeas) terão acesso ao
alimento durante um período de tempo diário de 8h (iniciando em ZT16),
coincidindo com a fase de maior atividade dos animais, sendo as demais 16h

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de jejum (a partir de ZT0), durante 30 dias. É importante salientar, todavia, que


o pesquisador irá retirar o alimento disponível quando acabar o tempo e irá
disponibilizá-lo no horário determinado, o que resultará em redução no ciclo. A
ração dos animais será pesada antes e depois de ser disponibilizada
diariamente. A data de início da restrição alimentar se dará concomitante à
data de início das aplicações de Reserpina para os animais dos grupos
Reserpina RAT, com exceção dos grupos Reserpina RAT pré, onde a restrição
alimentar irá preceder as aplicações de reserpina em 30 dias, totalizando 60
dias em restrição alimentar temporal. Os demais grupos terão acesso ao
alimento ad libitum durante todo o período de experimentação. No ZT0, haverá
pesagem da ração para os animais em regime ad libitum diariamente.

TESTE DE CATALEPSIA
Todos os animais passarão pelo teste comportamental de catalepsia, o qual
será realizado antes da primeira injeção e em dias alternados ao longo da
intervenção com reserpina (Santos et al, 2013), persistindo até finalizar o
período de restrição alimentar. O teste se dará pelo posicionamento das patas
dianteiras do animal em uma barra de vidro disposta horizontalmente,
posicionada a 9cm da superfície. O tempo, em segundos, em que o animal
permanecer em postura imóvel (catalepsia) será contabilizado utilizando
cronômetro, sendo o limite máximo de 180s. Serão feitas três tentativas por
animal a cada testagem, sendo o tempo final uma média de três tentativas
consecutivas.
SACRIFICIO MICROTOMIA
Passadas 24h após finalizar o período de restrição alimentar (para membros
dos grupos reserpina), e 24h após finalizar os 30 dias dos grupos em dieta ad
libitum, será feito o sacrifício dos animais, por meio de sobredosagem de
anestésico tiopental Em seguida passarão por perfusão transcardíaca, com
infusão de solução salina 0,9% em tampão fosfato 0,1M (pH 7,4) seguida de
infusão de solução fixadora de paraformaldeído a 4% em tampão fosfato 0,1M
(pH 7,4), por meio de bomba peristáltica. Os encéfalos serão coletados por
craniotomia e serão pós-fixados em solução fixadora com a adição de 30% de
sacarose por 24h, a qual será substituída por outra solução de sacarose a 30%
em tampão fosfato 0,1M pH 7,4 para crioproteção após as 24h iniciais. O tecido
cerebral será seccionado utilizando micrótomo, em secções/cortes frontais de
50μm, as quais serão distribuídas em compartimentos (poços) contendo
solução anticongelante à base de etilenoglicol e tampão fosfato.

ANALISE IMUNOHISTOQUIMICA
Serão realizadas análises imunohistoquímicas para as seguintes substâncias:
Tirosina Hidroxilase (TH); Proteína Ácida Fibrilar da Glia (GFAP); Molécula
Adaptadora de ligação ao Cálcio ionizada 1 (Iba 1); Proteína S100 (S100). Para
estimar a imunorreatividade a TH, GFAP, Iba1 e S100, serão selecionadas

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eCICT 2023

secções que representem a substância negra pars compacta, substância negra


ventrolateral, área tegmentar ventral e núcleo estriado de cada animal,
utilizando como referência o atlas de Paxinos e Watson (Paxinos & Watson,
2005). As secções serão dispostas individualmente em lâminas e serão
submetidas a um bateria de intensificação e logo após cobertas por lamínulas
utilizando um meio de inclusão (Entellan). para serem posteriormente
visualizadas em microscópio óptico (Olympus BX-41). As imagens serão
digitalizadas por câmera (Nikon, DMX-1200) para análise morfométrica de
densidade celular. O software imageJ será utilizado para a análise das imagens
obtidas e para auxiliar na contagem de células e delimitação de áreas.

Resultados e Discussões

RESULTADOS ESPERADOS
Diferentes tratamentos vêm sendo propostos com o objetivo de minimizar os
sintomas e proporcionar melhor qualidade de vida aos indivíduos com doença
de Parkinson (DP), apesar de não existir cura. Ao longo dos anos, avanços
importantes têm sido documentados principalmente quanto ao descobrimento
dos mecanismos fisiopatológicos relacionados a doença, os quais são
fundamentais para o desenvolvimento dessas alternativas terapêuticas. O
estresse oxidativo, causado pelo acúmulo intracelular progressivo de espécies
reativas de oxigênio, a neuroinflamação, representada pelo aumento na
reatividade inflamatória de células da glia, assim como a falha nos mecanismos
celulares de autofagia, responsáveis por degradar agregados proteicos que
conduzem ao mau funcionamento celular e apoptose, vêm sendo amplamente
correlacionados ao surgimento e progressão da neurodegeneração na DP.
Estudos recentes sugerem ainda uma correlação entre um aumento desses
agentes etiológicos em associação a perturbações na ritmicidade circadiana,
em uma relação bidirecional. Um interesse cada vez maior tem se evidenciado
na busca de tratamentos não-farmacológicos que possam agir sobre os
mecanismos causadores e retardar a progressão dos sintomas da DP. Nos
últimos anos, as dietas restritivas têm ganhado destaque nesse quesito. A
restrição alimentar temporal, enquanto ferramenta cronoterapêutica que visa
influenciar a ritmicidade biológica a partir de ciclos de jejum e alimentação, tem
demonstrado resultados promissores na diminuição de marcadores associados
a quadros neurodegenerativos, como as doenças de Huntington e Alzheimer.
A pesquisa em desenvolvimento está buscando avaliar se esses efeitos se
estendem a um modelo animal da doença de Parkinson, tendo em vista que
diferentes autores relatam a influência da restrição alimentar temporal na
diminuição da neuroinflamação e do estresse oxidativo, melhoras sistemáticas
na ritmicidade circadiana, bem como um aumento positivo nos mecanismos de

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autofagia em modelos animais. Considerando-se que a pesquisa está em fase


de desenvolvimento, temos, portanto, como resultados esperados:
 Possível melhora nos aspectos motores e cognitivos nos animais
submetidos a restrição alimentar temporal, especialmente naqueles
expostos previamente a esse tipo de intervenção alimentar, quando
comparados aos animais em dieta disponível ad libitum;
 Possível melhora nos aspectos motores e cognitivos observada no
domínio do tempo, vista a partir de um retardo no surgimento dos
sintomas motores e cognitivos nos animais em dieta restritiva quando
comparados aos animais em dieta ad libitum;
 Possível diminuição no grau de neurodegeneração, a partir da
diferenciação da resposta neuronal e glial a marcadores associados a
doença (tirosina hidroxilase e alfasinucleína), a neuroinflamação e
estresse oxidativo (Iba1), nas áreas relacionadas ao controle do
movimento voluntário, especialmente na substância nigra, região mais
afetada pela DP.
Esses possíveis resultados estão sendo investigados e, caso sejam
confirmados, podem constituir uma evidência importante para a investigação da
restrição alimentar temporal enquanto intervenção complementar na doença de
Parkinson, estimulando o desenvolvimento de novas pesquisas com outros
modelos animais, bem como em seres humanos.

Conclusão

Em suma, a DP continua a representar um desafio significativo para a saúde


pública no Brasil. Com uma estimativa de 5 a 35 novos casos por cada 100.000
habitantes, de acordo com os dados epidemiológicos mais recentes, fica
evidente que essa condição neurológica demanda uma atenção contínua por
parte dos profissionais de saúde e das autoridades. A crescente incidência em
uma população que envelhece progressivamente ressalta a importância de
estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz.
Observando esse cenário fisiopatológico progressivo, nossa pesquisa propôs-
se a investigar a influência de um protocolo de restrição alimentar temporal
sobre um modelo de DP em machos e fêmeas. Os resultados podem contribuir
para a análise da restrição alimentar enquanto ferramenta cronoterapêutica
complementar na DP, além de aumentar a compreensão a respeito da
influência dos ritmos de alimentação sobre parâmetros neuroquímicos e
progressão do quadro. Estes esforços tem se voltado ao desenvolvimento de
intervenções que promovam maior qualidade de vida aos portadores do
quadro, lentificando o surgimento e a progressão dos sintomas motores e não-
motores da população afetada.

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Anexos

Fig. 1: representação esquemática dos grupos que serão utilizados durante a


experimentação.

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CÓDIGO: HS1519

AUTOR: JOAO PEDRO DO NASCIMENTO DE SOUZA

ORIENTADOR: ARRILTON ARAUJO DE SOUZA

TÍTULO: Caracterização dos chamados alimentares emitidos na presença de


infantes em Callithrix jacchus

Resumo

Este estudo conduziu a uma revisão bibliográfica abrangente, abordando o


comportamento vocal de primatas da família Callitrichidae durante situações de
alimentação, especialmente na presença de filhotes. A investigação se baseou em um
intervalo de trinta anos, de 1991 a 2021, e utilizou a plataforma "Google Acadêmico"
para buscar artigos científicos relevantes. Utilizando palavras-chave como "food-calls",
"Callitrichidae", "infant" e "cooperative", foram examinados diversos estudos que
abordavam comportamentos de chamados alimentares, cuidado parental,
desenvolvimento e estrutura social desses primatas. No total, foram identificados 12
artigos que se encaixavam nos critérios de pesquisa. A leitura completa desses artigos
permitiu a categorização em quatro temas principais: cuidado parental,
desenvolvimento, vocalização alimentar e estrutura social. Dentre esses 12, cinco
abordaram o cuidado parental, três discutiram a vocalização em contextos
alimentares, um explorou o desenvolvimento e um se encaixou em duas categorias,
vocalização alimentar e cuidado parental. Ao analisar essas publicações, emergiram
entendimentos significativos sobre a comunicação vocal desses primatas em relação à
obtenção de alimentos e ao cuidado parental. Essa metodologia robusta não apenas
revelou a relevância desses aspectos comportamentais, mas também destacou a
lacuna existente no conhecimento sobre essas espécies e suas complexas interações
sociais.

Palavras-chave: Comportamento vocal. Callitrichidae. Cuidado parental

TITLE: Caracterização dos chamados alimentares emitidos na presença de


infantes em Callithrix jacchus

Abstract

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This study presents a comprehensive literature review on the vocal behavior of


Callitrichidae primates during feeding, particularly in the presence of infants. The
investigation spans three decades (1991-2021) and employs the "Google Scholar"
platform to search for relevant scientific articles. Through keywords like "food-calls,"
"Callitrichidae," "infant," and "cooperative," numerous studies addressing food calls,
parental care, development, and social structure of these primates were examined. A
total of 12 articles fitting the search criteria were identified. These were categorized
into four main themes: parental care, development, feeding vocalization, and social
structure. Five articles focused on parental care, three on feeding vocalizations, one on
development, and one spanned both feeding vocalization and parental care. The
analysis of these publications offers valuable insights into the vocal communication of
these primates concerning food acquisition and parental care. This robust
methodology not only emphasizes the significance of these behavioral aspects but also
highlights the existing gaps in understanding their species and intricate social
interactions.

Keywords: Vocal behavior, Callitrichidae, Parental care

Introdução

A complexidade dos padrões de cuidado parental e comportamento cooperativo nos


primatas Callitrichidae, como tamarins e micos-leões-dourados, é notável e quase
exclusiva dentro do reino animal. As contribuições fundamentais de SUSSMAN (1987) e
BERGMÜLLER (2007). destacam a singularidade desses primatas ao descreverem
grupos compostos por adultos não relacionados de ambos os sexos e a presença de
ajudantes não reprodutores. Esse sistema único desafia as concepções tradicionais de
monogamia e estruturas familiares, ressaltando a importância da pesquisa nesse grupo
para compreender as adaptações evolutivas e as estratégias de reprodução que
diferenciam os Callitrichidae de outras famílias de primatas não humanos. A
investigação sobre o comportamento vocal da espécie Callithrix jacchus, mais
conhecido como sagui-de-tufo-branco, tem revelado notáveis correspondências com a
comunicação humana, especialmente quando se considera a interação entre os
chamados vocais e a presença de filhotes. Estudos conduzidos por TAKAHASHI,
NARAYANAN e GHAZANFAR (2013) têm destacado a habilidade dos saguis em modular
o ritmo de suas respostas vocais em concordância com os chamados de seus
companheiros, um fenômeno denominado “alternância vocal de turnos ". Esse
fenômeno não só demonstra uma complexidade na comunicação vocal dos saguis, mas
também converge com os padrões de diálogo observados nas interações humanas.
Investigações conduzidas por GULTEKIN e HAGE (2017, 2018) sugerem que filhotes
com limitada interação parental tendem a apresentar comportamentos vocais menos
maduros, contrastando com aqueles criados em ambientes ricos em interações sociais.

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eCICT 2023

Isso insinua que a relação com os pais desempenha um papel fundamental no


desenvolvimento vocal dos filhotes, algo paralelo ao processo de aprendizado
humano. Também ganha destaque ao observar as vocalizações associadas à
alimentação nos saguis. Autores como VITALE, ZANZONI, QUEYRAS E CHIAROTTI (2003)
e GUERREIRO MARTINS, ANTONIO, FINKENWIRTH, GRIESSER E BURKART (2019)
enfatizaram que chamados relacionados à comida são mais frequentes quando filhotes
imaturos estão presentes no grupo. Isso suscita questões interessantes sobre como os
saguis comunicam- se com os filhotes em relação ao compartilhamento de alimento e
como essas vocalizações podem influenciar na aprendizagem alimentar social.
YAMAMOTO e ARAÚJO LOPES (2004) exploraram a aquisição de alimentos em saguis,
revelando que os filhotes frequentemente observam os adultos se alimentando antes
de se aventurarem a experimentar novos alimentos. Esse aprendizado social é, em
grande parte, mediado por vocalizações associadas à alimentação. Essas descobertas
ilustram a influência crucial das interações sociais na formação dos hábitos alimentares
dos filhotes e indicam a relevância das vocalizações nesse processo. Sendo assim, este
estudo visa aprofundar nossa compreensão a respeito do comportamento vocal dos
calitriquídeos durante a alimentação com foco na modificação de padrões
comportamentais na presença de filhotes. Ao explorar a relação entre as vocalizações
associadas à alimentação, a presença dos filhotes e as interações sociais, almejamos
objetivamos elucidar a intrincada rede de comunicação e aprendizado que caracteriza
o comportamento vocal desses primatas. Isso não apenas contribuirá para o
entendimento das características presentes nessas espécies, mas também poderá
fornecer valiosas percepções sobre a evolução da comunicação vocal em primatas,
incluindo potenciais implicações para a compreensão da comunicação humana.

Porém, com as mudanças de composição nos últimos meses não foi possível fazer as
análises das vocalizações e, consequentemente estatísticas, por essa razão foi feito
uma revisão bibliografica de estudos que abordam a capacidade referencial nas
vocalizações associadas à alimentação, especialmente na presença de filhotes. Essa
reavaliação não se restringe apenas aos saguis mas também abrange toda a família dos
Calitriquídeos.

Metodologia

Para esta revisão bibliográfica, foram examinados artigos científicos publicados em


periódicos, utilizando a plataforma “Google Acadêmico” e explorando as palavras-
chave utilizadas foram “food-calls”, “Callitrichidae”,”infant”, “cooperative”. A pesquisa
foi conduzida com foco na vocalização na presença de infantes em espécies

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pertencentes à família dos calitriquídeos. A pesquisa abrangeu um intervalo de 30


anos, de 1991 a 2021. A metodologia envolveu a seleção de artigos que abordassem os
comportamentos de chamados alimentares e cuidado parental nas espécies dessa
família. Foram catalogadas um total de 121 publicações que atenderam a esse critério
durante a leitura completa dos trabalhos, para isso foram criadas 4 categorias de
possíveis “tema foco”(cuidado parental, desenvolvimento, vocalização alimentar e
estrutura social). Cada artigo foi registrado em uma tabela que continha informações
como ID, título, nome(s) do(s) autor(es) e ano de publicação. Esses dados foram
organizados utilizando o software Microsoft Excel. Essa abordagem permitiu compilar
e analisar de forma sistemática os aspectos da vocalização na presença de infantes em
espécies de calitriquídeos ao longo das últimas três décadas.

Resultados e Discussões

Ao analisar as 12 publicações sobre o tema tendo em vista o tema foco, pudemos


observar que houveram 5 publicações sobre cuidado parental, 3 sobre vocalização em
contexto alimentar, 1 sobre desenvolvimento e 1 que conseguiu se enquadrar em 2
categorias, sendo elas: vocalização alimentar e cuidado parental, fazendo com que
esta se tornasse o foco de toda a discussão, pois foi a publicação que descreve melhor
o que estava sendo pesquisado. A partir disso podemos observar o quanto este tema é
pouco debatido apesar de ser tão importante para entendermos como funciona a
estruturação social de calitriquídeos não só no contexto alimentar mas também como
isso impacta todo o leque comportamental desses animais. A compreensão do
comportamento vocal em contextos alimentares na presença de infantes traz à luz
uma intrincada tapeçaria de interações sociais, estratégias de forrageamento e
comunicação adaptativa que se faz presente na grande diversidade de espécies de
primatas. Autores como RAPAPORT (2011), KITZMANN (2019), MOURA (2010), CLAY
(2012) e DA CRUZ SILVA (2021) contribuem para moldar uma visão abrangente desses
comportamentos e suas implicações. RAPAPORT (2011) lança luz sobre a ativa
participação dos jovens micos-leões-dourados na busca por alimentos, através da
coleta conjunta e da transferência de conhecimento alimentar por membros mais
experientes. Essas estratégias não apenas impulsionam a aquisição de alimentos, mas
também fomentam o aprendizado acerca da diversidade de recursos disponíveis no
ambiente, destacando, assim, a importância da colaboração intergeracional. Em uma
perspectiva semelhante, KITZMANN (2019) investiga as respostas dos saguis-de-tufos-
brancos aos chamados alimentares, revelando a complexidade da comunicação vocal
nesse contexto. As vocalizações de alimentação transcendem o simples interesse por
comida, transmitindo informações detalhadas sobre a qualidade e quantidade de
alimentos. Essas vocalizações, carregadas de significado, não só apontam a

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disponibilidade de recursos, mas também evidenciam a adaptabilidade desses


primatas para reagir seletivamente a diferentes estímulos alimentares. MOURA (2010),
por sua vez, explora as intrincadas dinâmicas de compartilhamento de alimentos entre
micos-leões- dourados, ressaltando a contribuição tanto de indivíduos reprodutores
quanto de ajudantes. Isso não somente destaca o papel crucial das fêmeas
reprodutoras e dos machos ajudantes na distribuição de alimentos para filhotes, mas
também demonstra uma adaptação às demandas ecológicas e sociais, enfatizando a
colaboração na obtenção e compartilhamento de alimentos. CLAY (2012) amplia a
compreensão da comunicação em contextos alimentares, enfatizando que os
chamados de alimentos não se limitam a meros indicativos de comida. O estudo
destaca como esses chamados podem ser influenciados pelas pressões ecológicas,
sociais e reprodutivas dos indivíduos emissores. Enquanto os chamados de alarme são
fundamentais para a sobrevivência, os chamados de alimentos exibem uma
flexibilidade maior, adaptando-se a diversas pressões seletivas. Essa distinção entre as
funções dos chamados ilustra a complexidade das adaptações comunicativas em
primatas. Nesse contexto de comunicação complexa, o estudo de DA CRUZ SILVA
(2021) sobre chamados alimentares em saguis-de-tufos-brancos ganha relevância. Ela
se concentra nas chamadas de alimentos emitidas por diferentes membros do grupo,
enfatizando a atuação proativa dos machos ajudantes na divulgação de informações
sobre alimentos, especialmente na presença de infantes. Isso evidencia a interconexão
entre os papéis desempenhados pelos membros do grupo na comunicação de
informações vitais sobre os recursos alimentares, contribuindo assim para a adaptação
coletiva.

Conclusão

Em síntese, a análise detalhada dos comportamentos de vocalização em contextos


alimentares na presença de infantes em primatas desvenda uma rede intrincada de
estratégias adaptativas, comunicação eficiente e aprendizado cooperativo. Através dos
estudos de diferentes autores, é possível obter uma visão mais profunda das
complexas interações sociais e comportamentais desses primatas, revelando sua
notável capacidade de responder a uma ampla gama de estímulos ecológicos e sociais
por meio da comunicação vocal.

Referências

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foraging behavior of young wild golden lion tamarins (Leontopithecus rosalia): Age-
related changes and partner preferences. American Journal of Primatology, 82(11),
e23178. RAPAPORT, L. G. (2020). Social contributions to the foraging behavior of young
wild golden lion tamarins (Leontopithecus rosalia): Age-related changes and partner
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C., & HUBER, L. (2006). Social contact influences the response of infant marmosets
towards novel food. Animal Behaviour, 72(2), 365-372.

Anexos

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TABELA 1 mostrando os temas foco dos artigos explorados durante a revisão


bibliografica

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CÓDIGO: HS1539

AUTOR: TICYANA DIAS COSTA DA SILVA

ORIENTADOR: CAROLINA VIRGINIA MACEDO DE AZEVEDO

TÍTULO: Diferenças sexuais nos padrões temporais de sono em adolescentes

Resumo

O padrão temporal de sono no ser humano varia ao longo dos anos. Na adolescência, é
comum haver um atraso de fase, apresentando uma tendência à vespertinidade, que
atrelado aos horários matutinos de início das aulas, pode causar prejuízo ao sono.
Além disso, diferenças sexuais afetam os horários e duração do sono. O objetivo deste
estudo foi caracterizar os padrões temporais do sono em função do sexo em
adolescentes. Mediante a isso, foi realizado um estudo com base em dados coletados
através de questionários respondidos por 58 adolescentes do ensino médio no turno
matutino. Os dados obtidos foram comparados em função do sexo e dia da semana,
considerando dias de aula e dias livres. Através desses dados, identificou-se que os
horários e duração do sono diferem entre os dias da semana, de modo que os
adolescentes dormem e acordam mais cedo, com menor duração na semana (Anova, p
<0,05). Além disso, os horários de dormir e acordar diferem entre os sexos, com as
meninas dormindo e acordando mais cedo que os meninos (Anova, p < 0,05).
Entretanto, não foram observadas diferenças sexuais na duração de sono,
variabilidade nos horários de dormir e acordar, débito de sono, cronotipo e jetlag
(Teste t, p > 0,05), diferente do esperado com base na literatura, tornando-se
fundamental a realização de mais pesquisas com uma amostra maior a respeito do
sono dos adolescentes levando em consideração o sexo.

Palavras-chave: Sono de adolescentes; Diferenças sexuais; Jetlag social

TITLE: Sex differences in sleep time patterns in adolescents

Abstract

The temporal pattern of sleep in humans varies over the years. In adolescence, it is
common for there to be a phase delay, with a tendency towards vespertineness,
which, coupled with morning school start times, can cause sleep problems. In addition,

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sexual differences affect sleep times and duration. The aim of this study was to
characterize sleep time patterns according to gender in adolescents. To this end, a
study was carried out based on data collected through questionnaires answered by 58
high school adolescents during the morning shift. The data obtained was compared
according to gender and day of the week, considering school days and days off. The
data showed that sleep times and duration differed between the days of the week,
with adolescents going to bed earlier and waking up earlier, with a shorter duration
during the week (ANOVA, p <0.05). In addition, bedtimes and wake-up times differed
between the sexes, with girls going to bed and waking up earlier than boys (ANOVA, p
< 0.05). However, no sex differences were observed in sleep duration, variability in
bedtimes and wake times, sleep debt, chronotype and jetlag (t-test, p > 0.05), which is
different from what was expected based on the literature, making it essential to carry
out further research with a larger sample on adolescent sleep, taking sex into account.

Keywords: Adolescent sleep; Sex differences; Social jetlag

Introdução

O padrão de sono no ser humano varia ao longo dos anos. Na adolescência,


apresentamos uma tendência maior à vespertinidade, caracterizada por um atraso de
fase nos horários de sono (Andrade et al., 1993; Crowley et al., 2018) quando
comparamos com a infância e fase adulta, em que se tem uma tendência à
matutinidade (Jenni & Carskadon, 2005; Roenneberg et al., 2004 ; Randler & Engelke,
2019).
Mediante a tendência a vespertinidade observada na adolescência (Andrade et al.,
1993; Crowley et al., 2018), pode-se perceber que se tratando dos horários das aulas, a
comunidade escolar não se adequa a esta mudança de fase, pois a maioria das escolas
e unidades acadêmicas iniciam suas atividades matutinas entre 7h e 7h30, alocando
neste turno as séries do fundamental II e ensino médio, ou seja, os adolescentes. Por
outro lado, em alguns casos, têm-se o ensino infantil e fundamental I com atividades
no turno vespertino. Portanto, os horários escolares são contrários ao padrão
temporal de sono no ser humano. Essas pressões sociais unidas aos mecanismos de
biorregulação da adolescência culminam no modelo da “tempestade perfeita”,
descrito pela primeira vez por Carskadon em 2011. Sendo assim, nessa fase é comum o
sono ser prejudicado, sendo irregular, reduzido e de má qualidade. Para um bom
desempenho cognitivo dos adolescentes são recomendadas entre 8 a 10 h de sono por
noite (Hirshkowitz et al., 2014). Desse modo, unindo a tendência à vespertinidade dos
adolescentes, o que faz com que estes sejam propícios a atrasar o horário de dormir,

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com o horário de início das aulas pela manhã, têm-se uma menor duração de sono do
que o necessário para o desempenho cognitivo.
Aliado a essas mudanças no padrão temporal de sono na adolescência existem
diferenças individuais com relação ao sono (Swaminathan et al., 2017). Uma dessas
diferenças é com relação à duração do sono. Indivíduos adultos que dormem menos
de seis horas por noite são considerados pequenos dormidores, ao passo que os que
dormem mais de nove horas por noite são considerados grandes dormidores (Van
Dongen et al., 2005). Além disso, há diferenças em relação às preferências aos horários
de sono e de atividade, que caracterizam o cronotipo. Dessa forma, os indivíduos que
preferem horários mais cedo são chamados de matutinos, e os que preferem horários
mais tardios são chamados de vespertinos, enquanto os que preferem os horários
entre os dois são chamados de intermediários (Horne & Ostberg, 1976). Além disso, as
diferenças sexuais afetam o cronotipo, a duração e a qualidade de sono, sendo
descrito na literatura que mulheres tendem à matutinidade e reportam maior
necessidade de sono, passando mais tempo na cama que homens (Baker et al., 2020;
Tonetti et al., 2008; Roenneberg et al., 2004). O ciclo menstrual tem um impacto sobre
a qualidade do sono, pois durante os últimos dias do ciclo e nos primeiros dias da
menstruação, mulheres reportam maior frequência de problemas de sono (Baker &
Driver, 2004; Kravitz et al., 2005).
Além disso, o jetlag social, definido como sendo a discrepância entre os ritmos
endógeno e social (Wittmann et al.,2006), pode ter um impacto negativo na saúde do
indivíduo, pois pode promover um desalinhamento circadiano (Beauvalet et al., 2017).
Diante disso, o objetivo deste estudo é caracterizar os padrões temporais em função
do sexo em adolescentes.

Metodologia

Foi realizado um estudo transversal baseado em questionários online no período letivo


de 2022 e 2023, com 58 estudantes da primeira e segunda série do ensino médio de
uma instituição pública de ensino técnico-integrado em Natal/RN. A pesquisa recebeu
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (CEP - UFRN - parecer: 5.456.242 parecer emenda: 5.905.464 ). A equipe
pedagógica foi contatada para aprovação da pesquisa na escola e organização da
programação da coleta de dados. Os estudantes foram recrutados através de convites
feitos pelos pesquisadores em sala de aula de forma presencial.

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Critérios de inclusão
Foram incluídos na amostra estudantes de ambos os sexos entre 14 e 18 anos de idade
matriculados no turno matutino em algum curso técnico-integrado de nível médio na
instituição pesquisada. Além disso, o estudante deveria assinar o Termo de
Assentimento e, para os menores de idade, apresentar a assinatura do responsável no
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Critérios de exclusão
Foram excluídos da amostra participantes que relataram ter distúrbios de sono e/ou
neurológicos, depressão, transtorno de ansiedade e outras desordens afetivas, bem
como os participantes que relataram uso de fármacos ou outras substâncias que
possam interferir no sono.
Coleta de dados
Para a coleta de dados, os participantes preencheram um total de dois questionários
de aplicação única: (1) A Saúde e o Sono e o (2) Questionário de Cronotipo de
Munique. Esses questionários foram disponibilizados de forma online aos alunos.
Questionário “A Saúde e o Sono”
Foi utilizada a versão do questionário “A Saúde e o Sono” modificado por Mathias et al.
(2006), que apresenta questões sobre os hábitos de sono e a saúde geral do
participante.
Questionário de Cronotipo de Munique
Foi utilizado o Questionário de Cronotipo de Munique que apresenta questões simples
sobre os horários do sono (Roenneberg et al., 2003; 2007). As questões pedem para
que os pesquisados informem o horário de ir para a cama e que decidem dormir,
quantos minutos precisam para adormecer, o horário de acordar, se necessitam de
despertador e quantos minutos demoram para se levantar. Todas as perguntas se
referem ao que acontece em dias de aula e dias livres. A partir das respostas, pode-se
estimar o cronotipo do participante, baseado no cálculo da meia fase do sono dos dias
livres. O índice de jetlag social é calculado por meio da diferença entre a meia fase do
sono dos dias livres e nos dias de aula (Wittman et al. 2006).
Análise
Os dados foram organizados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Após
isso, foi feita uma análise estatística através do programa Jamovi utilizando ANOVA
para as variáveis: horário de dormir, horário de acordar e duração de sono. Enquanto o
teste t foi utilizado para as variáveis: variabilidade nos horários de dormir,
variabilidade nos horários de acordar, débito de sono, cronotipo e jetlag social,
calculados através da diferença entre final de semana e semana. Os dados obtidos

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foram comparados em função do sexo e dia da semana, considerando dias de aula e


dias livres. O nível de significância foi de 5%.

Resultados e Discussões

Horário de Dormir
O fator sexo foi estatisticamente significativo para o horário de dormir (F(1,112) =
4,473; p < 0,05), bem como o dia da semana (F(1,112) = 28,815; p < 0,001). Observou-
se que, de maneira geral, os adolescentes dormem mais tarde aos finais de semana do
que na semana independente do sexo (Figura 2), e as meninas dormem mais cedo do
que os meninos (Figura 1). Além disso, não houve significância estatísitica na interação
entre o sexo e dia da semana (F(1,112) 0,048 = 4,47; p > 0,05).
Quando comparamos os sexos e os dias da semana através do teste post hoc, pode-se
observar diferenças estatisticamente significativas nas meninas e meninos entre
semana e final de semana (Tukey, p < 0,001). Tanto meninos quanto meninas dormem
mais cedo na semana do que nos finais de semana (Figura 3).
Mediante a estes resultados, pode-se propor que devido a apresentarem uma
tendência maior à vespertinidade quando comparado a outras fases (Jenni &
Carskadon, 2005; Roenneberg et al., 2004 ; Randler & Engelke, 2019), os adolescentes
dormem mais tarde em dias livres do que em dias letivos, o pode ser decorrente do
horário das aulas. Além disso, nota-se que de forma geral as meninas dormem mais
cedo do que os meninos na semana e no fim de semana, o que, baseado na literatura,
pode-se explicar devido às meninas apresentarem uma tendência à matutinidade
(Roenneberg et al., 2004).
Horário de Acordar
Observa-se que o fator sexo apresenta uma tendência a ser significativo para o horário
de acordar (F(1,112) = 2,828 ; p = 0,095), enquanto o dia da semana foi
estatisticamente significativo (F(1,112) = 365,123 ; p < .001). Observou-se que os
adolescentes acordam mais tarde aos finais de semana do que na semana
independente do sexo (Figura 5,) e que as meninas tendem a acordar mais cedo do
que os meninos (Figura 4). Além disso, a interação entre o sexo e dia da semana não
foi estatisticamente significativa (F(1,112) = 0,145 ; p > 0,05).
Quando comparamos os sexos e os dias da semana através do teste post hoc, pode-se
observar diferenças em ambos os sexos entre semana e final de semana (Tukey, p <
0,001). Tanto meninos quanto meninas acordam mais cedo na semana do que nos
finais de semana (Figura 6).

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Mediante a estes resultados, observa-se que os adolescentes acordam mais tarde em


dias livres, sendo então o horário de início das aulas um “encurtador” do sono.
Levando em consideração que os adolescentes apresentam uma tendência maior à
vespertinidade caracterizado por um atraso de fase nos horários de sono (Andrade et
al., 1993; Crowley et al., 2018), o ideal seria que os horários escolares acompanhassem
essa mudança, iniciando as aulas mais tardiamente. Além disso, nota-se que de forma
geral as meninas tendem a acordar mais cedo que os meninos, o que pode ser
explicado devido às meninas apresentarem uma tendência à matutinidade
(Roenneberg et al., 2004). Entretanto, estudos adicionais com uma maior amostra são
necessários para analisar as diferenças no horário de acordar entre meninos e
meninas.
Duração de sono
Observa-se que o fator dia da semana foi estatisticamente significativo para a duração
do sono (F(1,112) = 92,375 ; p < 0,01). De maneira geral, os adolescentes dormiram
mais nos finais de semana do que na semana (Figura 8). Por outro lado, o sexo não foi
estatisticamente significativo (F(1,112) = 0,505 ; p > 0,05 - Figura 7), assim como,
interação entre o sexo e dia da semana (F(1,112) = 0,252 ; p > 0,05).
Quando comparamos os sexos e os dias da semana através do teste post hoc, pode-se
observar diferenças em ambos os sexos comparando os dias de semana e final de
semana (Tukey, p < 0,001), ambos os sexos tiveram maior duração de sono nos finais
de semana do que em dias de semana (Figura 9). Por outro lado, não houve diferença
entre os sexos em cada dia da semana, diferente do observado na literatura, em que
as meninas reportam maior necessidade de sono e passam mais tempo na cama que
homens (Baker et al., 2020; Tonetti et al., 2008). Portanto, novos estudos com uma
amostra maior são necessários para esclarecer essas diferenças.
Considerando que para o desempenho cognitivo de adolescentes são recomendadas
entre 8 e 10h por noite (Hirshkowitz et al., 2014), propõe-se que é mais difícil para os
adolescentes cumprirem essas necessidades de sono em dias letivos devido ao conflito
entre o atraso de fase nos horários de sono (Andrade et al., 1993; Crowley et al., 2018)
e o horário de início das aulas, o que poderia ser amenizado caso esse horário fosse
repensado.
Variabilidade para dormir, variabilidade para acordar, débito de sono, cronotipo e
jetlag social
Diferente do esperado, a variabilidade nos horários de dormir (Figura 10) e acordar
(Figura 11), o débito de sono (Figura 12), o cronotipo, (Figura 13) e o jetlag social
(Figura 14) não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os sexos
(Teste t, p > 0,05).

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De acordo com a literatura, as meninas apresentam uma tendência à matutinidade


(Roenneberg et al., 2004), podendo o sono delas ser menos afetado pelos horários
escolares matutinos. Mediante a isso, comparado às meninas, era esperado que os
meninos apresentassem maior variabilidade nos horários de dormir e acordar, que são
as diferenças entre os horários para dormir e acordar entre dias de aula e dias livres,
bem como maior índice de débito de sono, que é a diferença de sono que o corpo
precisa para se recuperar.
De igual forma, era esperado maiores índices de jetlag nos meninos, que é a
discrepância entre os ritmos endógeno e social, bem com era esperado que as
meninas apresentassem o cronotipo mais matutino que os meninos (Roenneberg et
al., 2004), o que não foi observado nos dados, fazendo-se necessário novos estudos
com amostras maiores a respeito do sono dos adolescentes em função do sexo.
De forma geral, os resultados encontrados reforçam a necessidade de abordagem da
temática sobre a saúde e o sono dos adolescentes entre os integrantes da comunidade
escolar, como pais, alunos, professores e, principalmente, a gestão da escola, para que
o calendário acadêmico possa ser ajustado, visando melhorar o desempenho dos
estudantes de forma saudável e compatível com as mudanças temporais da
adolescência.

Conclusão

A partir das análises realizadas, é possível concluir que o dia da semana é um fator
relevante para os padrões temporais de sono. Pôde-se perceber que, quando os
adolescentes apresentam a possibilidade de escolher os horários de dormir e acordar
em dias livres, torna-se visível a tendência à vespertinidade, mostrando o atraso de
fase nessa faixa etária.
Além disso, podemos concluir que a organização temporal da escola está indo ao
contrário das necessidades de sono dos adolescentes, iniciando suas atividades
matinais entre 7h e 7h30, podendo causar prejuízo ao sono dos alunos, que
apresentam essa tendência ao atraso de fase.
Ao analisar as diferenças sexuais, pode-se concluir que as meninas dormem e acordam
mais cedo de forma geral quando comparadas aos meninos. Isso pode estar
relacionado à matutinidade observada em meninas. Entretanto, não foram
encontradas diferenças no cronotipo entre os sexos, tornando-se fundamental a
realização de mais pesquisas com uma amostra maior a respeito do sono dos
adolescentes levando em consideração o sexo.

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Referências

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Anexos

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Figuras

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CÓDIGO: OU0729

AUTOR: HEMILLY LIANNE DE OLIVEIRA NASCIMENTO

ORIENTADOR: ELIZA MARIA XAVIER FREIRE

TÍTULO: Inventário da herpetofauna de um fragmento urbano de mata atlântica


no município de Natal-RN

Resumo

A urbanização é um fenômeno global que afeta significativamente a biodiversidade por


meio da fragmentação de habitats. A Mata Atlântica é um bioma que sempre esteve
submetido a processos de fragmentação, restando apenas áreas remanescentes de sua
distribuição original. Nesse contexto, foram inventariadas as espécies de anfíbios e
répteis do Centro de Experimentos e Pesquisas da Mata Atlântica (CEPEMA),
remanescente integrado ao Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, município de Natal,
Rio Grande do Norte. Foram definidas quatro áreas para a amostragem, utilizando as
metodologias de busca ativa e armadilhas de interceptação e queda. Registraram-se
174 espécimes de 18 espécies de répteis Squamata, sendo as mais abundantes
Coleodactylus natalensis, Tropidurus hispidus e Hemidactylus mabouia. Os resultados
apontaram uma baixa diversidade e riqueza de espécies na área, calculadas por meio
do índice de Shannon e estimadores de riqueza. A maioria das espécies registradas
tendeu a ser generalista e de fácil adaptação a mudanças antrópicas, fatores
resultantes da proximidade do CEPEMA à malha urbana; no entanto, também se
destacam espécies de floresta, inclusive endêmica e ameaçada de extinção. O
monitoramento dessa área possibilitará o desenvolvimento de estratégias de manejo e
de conservação, em prol da conservação desta área protegida.

Palavras-chave: herpetofauna; Mata Atlântica; remanescentes; urbanização;


conservação

TITLE: Inventory of the herpetofauna in an urban fragment of the Atlantic Forest


in the municipality of Natal-RN

Abstract

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Urbanization is a global phenomenon that significantly impacts biodiversity through


habitat fragmentation. The Atlantic Forest is a biome that has always been subjected
to fragmentation processes, leaving only remaining areas of its original distribution. In
this context, the species of amphibians and reptiles of the Center for Experiments and
Research of the Atlantic Forest (CEPEMA) were inventoried, which is a remaining
fragment integrated into the Dom Nivaldo Monte Municipal Park, in the city of Natal,
Rio Grande do Norte. Four areas were defined for sampling, using active search
methodologies and interception and pitfall traps.A total of 174 specimens of 18 species
of Squamata reptiles were recorded, with the most abundant being Coleodactylus
natalensis, Tropidurus hispidus, and Hemidactylus mabouia. The results indicated low
species diversity and richness in the area, calculated using the Shannon index and
richness estimators. Most of the recorded species tended to be generalists and easily
adaptable to anthropic changes, which are factors resulting from the proximity of
CEPEMA to the urban network. However, forest species also stand out, including
endemic and endangered ones. Monitoring this area will enable the development of
management and conservation strategies for the benefit of preserving this protected
area.

Keywords: herpetofauna; Atlantic Forest; remnants; urbanization; conservation

Introdução

1. Introdução
No início do século XX apenas 15% da população ocupava cidades. Todavia, o cenário
mudou já na metade deste século, com a expansão populacional na zona urbana
(Annez & Buckley, 2009). O processo de urbanização tem sido contínuo, se estendendo
mundialmente, ocupando mais de 471 milhões de ha da superfície terrestre (Mitchell
& Brown, 2008). O panorama brasileiro, de acordo com a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios, é de que 84% da população está localizada em áreas urbanas
(IBGE, 2015).
O processo de urbanização é a principal causa da extinção local de espécies,
favorecendo a homogeneização biótica por meio do aumento em riqueza e abundância
de espécies exóticas da flora e da fauna (McKinney 2002, 2006; Freire et al., 2018;
Cordier, 2021; Lisboa et al., 2021), bem como aumento na abundância de espécies
nativas, a maioria generalistas e mais tolerantes a alterações ambientais (McKinney
2002; Andrade, 2018). Com o rápido aumento desse processo, áreas urbanas têm se
destacado como habitats com condições características que favorecem a presença de
espécies nativas urbanófilas e exóticas (Rodda e Tyrrell, 2008; Cordier, 2021). Algumas

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áreas das ciências estudam as possibilidades que se estabelecem em cenários como


estes em que ações antrópicas e o ambiente natural se encontram e suas
consequências. Nesse contexto, a Herpetologia Urbana, apesar de emergente, estuda
fatores que possibilitam e/ou limitam a sobrevivência de anfíbios e répteis em espaços
urbanizados (Mitchell & Brown, 2008). Esses indivíduos possuem características as
quais os tornam um interessante modelo para aferir qualidade ambiental e responder
questionamentos sobre os efeitos da urbanização (Mitchell & Brown, 2008; Freire,
2011; Böhm et al., 2013).
Nessa perspectiva, este estudo teve como objetivo identificar quais espécies da
herpetofauna habitam o Centro de Experimentos e Pesquisas da Mata Atlântica
(CEPEMA), um pequeno fragmento de mata recentemente incorporado à área do
Parque Municipal Dom Nivaldo Monte (ZPA 1). Este espaço localiza-se no município de
Natal (RN), cidade na qual houve um aumento populacional influenciado pelos eventos
econômicos e sociais a partir da década de 1970 (Santos, 2016). A vegetação presente
na área do CEPEMA caracteriza-se como um mosaico de espécies arbóreas exóticas e
espécies nativas da Mata Atlântica, bioma que apresenta alto nível de fragmentação
em seu limite setentrional, no Rio Grande do Norte, onde se encontra reduzido em sua
maioria a fragmentos isolados (Silva & Tabarelli, 2001; Ribeiro et al., 2009; Freire et al,
2018; Lisboa et al., 2021, Dubeux et al., 2022). Apesar disso, a Mata Atlântica abriga
cerca de 200 espécies de répteis e 370 de anfíbios, além de outros táxons, várias
endêmicas e ameaçadas de extinção (Freire et al., 2018; Marques, Eterovic & Sazima,
2019).
Diante do exposto, é fundamental investigar quais espécies de répteis e anfíbios
permanecem nesse fragmento de vegetação envolto pela malha urbana. A hipótese a
ser testada é de que a herpetofauna do CEPEMA é constituída por uma pequena
fração das espécies presentes em fragmentos maiores e mais conservados de Mata
Atlântica do Estado, com predominância de espécies generalistas e mais tolerantes ao
processo de urbanização. Além de contribuir com conhecimento científico, este
trabalho possibilitará conscientizar a população do entorno do Parque Municipal, do
qual o CEPEMA é parte, sobre a relevância da manutenção desses espaços para
conservação das espécies nativas e melhoria da qualidade de vida das pessoas, através
da arborização que possibilita a amenidade climática, bem como pela alimentação do
lençol freático por meio das dunas.

Metodologia

2. Metodologia

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Área de estudo
O estudo foi realizado no Centro de Experimentos e Pesquisas da Mata Atlântica -
CEPEMA, que compreende uma área de aproximadamente 5 hectares (ha) localizada
no bairro do Pitimbú, no município de Natal-RN. Esse fragmento de mata por muitos
anos foi utilizado como horto florestal, atualmente desativado. Em seguida, em 2017,
esta área do CEPEMA foi incorporada ao Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, como
compensação ambiental do processo de licenciamento de um empreendimento
imobiliário. Esta área apresenta vegetação arbórea, composta por espécies exóticas, e
por espécies nativas da Mata Atlântica, e é circundado por malha urbana, exceto na
sua porção norte, que possui conexão com o Parque Municipal Dom Nivaldo Monte.
Procedimentos metodológicos
Para registrar e identificar as espécies da herpetofauna que ocorrem na área do
CEPEMA, foram utilizados dois métodos de amostragem: (1) busca ativa limitada por
tempo, e (2) armadilhas de interceptação e queda (pitfalls).
Foram definidas previamente quatro (4) áreas de amostragem, na forma de
circunferências com raio de 40m, para possibilitar cobrir uma maior extensão do
território. Cada área foi demarcada utilizando um aplicativo de GPS e foram assim
identificadas: área 1(A1), área 2 (A2), área 3 (A3) e área 4 (A4) (Figura 1). As
localizações foram delimitadas de forma a abranger diferentes microhabitats e auxiliar
na amostragem. As expedições envolveram um esforço amostral mensal, durante dois
dias consecutivos, por sete meses. As buscas foram realizadas no período diurno,
incluindo os turnos da manhã e tarde.
Figura 1. Mapa da área do CEPEMA, incluindo as quatro áreas amostradas
nesteestudo.
Na metodologia de busca ativa, a pesquisadora e equipe deslocou-se a pé, lentamente,
registrando ativamente de forma visual e, sempre que possível com registro
fotográfico, espécies de anfíbios e répteis em atividade ou em repouso, bem como
seus vestígios (e.g. mudas de pele e pegadas de lagartos de maior porte). Ao longo do
percurso também foram movidos materiais depositados no solo, materiais estes que
podem servir de abrigo para a herpetofauna, tais como serrapilheira, troncos, galhos,
rochas, cupinzeiros, entre outros (Bernarde, 2012). Foi determinado um período de 30
minutos para busca ativa em cada área.
As armadilhas de interceptação e queda (pitfalls) apresenta eficiência principalmente
na amostragem de espécies terrícolas e fossoriais, tanto de hábitos diurnos quanto
noturno (Bernarde, 2012). Cada estação de armadilha de interceptação e queda
consistiu de 4 baldes de 20 L, enterrados em nível do solo, com três metros de
equidistância, dispostos em formato de Y. Interligando os baldes, foi instalada uma

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lona-guia de 60 cm de altura, parcialmente enterrada, impedindo que os animais


passassem por debaixo da lona, e seguissem para os baldes, onde foram capturados.
As armadilhas eram abertas na manhã do primeiro dia de excursão e verificadas no
final da tarde do mesmo dia, assim como na manhã e tarde do segundo dia de
atividades. Os animais capturados foram identificados, fotografados e soltos nos
mesmos locais de captura, com exceção daqueles coletados como material
testemunho e/ou que apresentassem dificuldade de identificação rápida.
Para constituição do material testemunho da pesquisa, um indivíduo de cada espécie
foi coletado. Os animais foram eutanasiados utilizando o método de resfriamento
(Shine, 2015), fixados em formol a 10% e conservados em álcool a 70%. Os espécimes
encontram-se depositados na Coleção Herpetológica da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN-CH).
Análises estatísticas
O esforço amostral do estudo foi avaliado através de curvas de acumulação de
espécies e estimadores de riqueza (Sales et al., 2009; Silveira et al., 2010), utilizando o
programa Estimates 9.1.0 (Colwell, 2013). Para calcular a diversidade de espécies, foi
utilizado o índice de diversidade de Shannon (Shannon, 1949), utilizando o programa
PAST® versão 4.13 (Hammer et al., 2001).
A análise de similaridade faunística entre a herpetofauna com ocorrência no CEPEMA e
em outras áreas de Mata Atlântica e Caatinga do Rio Grande do Norte (e.g., Parque
Estadual Dunas do Natal, Área de Proteção Ambiental Jenipabu, Parque Estadual Mata
da Pipa, Estação Ecológica do Seridó e Serra de Santana), foi realizada a partir de uma
matriz de presença/ausência das espécies em cada área por meio do índice de Jaccard,
representada pelo dendrograma de cluster, sendo estes executados também no
programa PAST® versão 4.13. Para a análise foram utilizados tanto dados primários
quanto secundários encontrados na literatura, a saber, para cada região: Parque
Estadual Dunas do Natal (Freire, 1996; Lisboa, 2005), Área de Proteção Ambiental
Jenipabu (Santos Jr., dados não publicados), Parque Estadual Mata da Pipa (IDEMA,
2014), Estação Ecológica do Seridó (Caldas et al., 2016) e Serra de Santana (Freire et
al., 2023)
As espécies registradas no CEPEMA foram analisadas quanto à distribuição geográfica
e história natural (atributos ecológicos, ocorrência em ambientes antropizados),
tomando como base as informações disponíveis na literatura científica, e quanto ao
status de conservação nas listas vermelhas nacional (MMA, 2018) e internacional
(IUCN, 2022) de espécies ameaçadas de extinção.

Resultados e Discussões

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3. Resultados e discussão
Foram registrados 174 indivíduos, sendo seis Anura e 211 Squamata, pertencentes a
15 famílias e 18 espécies (três de anfíbios, duas de anfisbênias, cinco de serpentes e
oito de lagartos; Tabela 1). Entre as espécies identificadas, 75% apresentaram baixas
abundâncias, com registros de um a três espécimes. As espécies encontradas com
maior frequência foram Coleodactylus natalensis Freire, 1999 (58%), seguido por
Tropidurus hispidus Spix, 1825 (13,2%) e Hemidactylus mabouia Moreau de Jonnès,
1818 (6,3%). A primeira é uma espécie de floresta, endêmica de remanescentes
florestais do RN (Lisboa; Freire, 2012; Freire et al 2018) e este registro é bastante
relevante para subsidiar estudos ecológicos mais substanciados, e estratégias para a
Conservação dessa espécie, dando continuidade a este estudo. Por outro lado, as duas
últimas são generalistas de habitats e H. mabouia é exótica e invasora (Freire, 1996).
Cabe destacar que tanto em estudo anterior quanto neste, C. natalensis tem sido
espécie frequente com grande densidade populacionalnesta área do CEPEMA (R. Sales,
dados não publ.); temperatura mais amena, umidade mais alta, maior sombreamento
e maior ocorrência de serapilheira podem justificar esse fato. Além disso, por
constituir um pequeno fragmento de mata circundado por malha urbana a norte, sul e
oeste, e por área degradada a leste, é possível que venha ocorrendo um
“empacotamento” de indivíduos nessa área, que oferece condições ambientais
propícias para a sobrevivência dessa espécie (Sousa & Freire, 2011; Lisboa & Freire,
2012).
Tabela 1. Registros das espécies encontradas no CEPEMA. A1:Área 1; A2: Área 2; A3:
Área 3; A4: Área 4; FA: registros realizados fora das unidades amostrais. Status de
conservação de espécie: Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção (MMA, 2018)
e IUCN Red List of Threatened Species (IUCN, 2023). NE: Não Avaliada; DD: Dados
Insuficientes; LC: Menos Preocupante; NT: Quase Ameaçada; VU: Vulnerável; EN: Em
Perigo.
Quanto à diversidade de espécies, o Índice de Shannon (H’) apontou resultados entre
H’=1,26 para a área 2 (a menos diversa), e H’=1,48 para a área 3, a mais diversa.
No geral, o CEPEMA apresentou baixa diversidade de espécies, H’=1,65 para a área
total. A curva de rarefação (Figura 2), utilizando a riqueza de espécies por dia de
amostragem, não sofreu estabilização, sugerindo uma maior riqueza de espécies na
área, que poderia ser obtida com o aumento do esforço amostral. Os estimadores de
riqueza ACE, Chao 1 e Jackknife 1 sugerem valores de riqueza entre 28 e 36 espécies.
Ou seja, é muito possível que a continuidade deste estudo resulte em maior riqueza de
espécies para essa área. No entanto, mais importante que o número de espécies
ocorrentes nesta área é a composição de espécies, ou seja, quais espécies ocorrem,

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cabendo aqui destacar a relevância da abundância de Coleodactylus natalensis,


espécie endêmica de áreas florestadas do RN e ameaçada de extinção (Freire et al.,
2018; MMA, 2018; IUCN, 2022)
Quanto à abundância, a área de amostragem que se destacou foi a área 1, com um
total de 67 indivíduos registrados, seguido pela área 4 com 39 registros. A área com
menor abundância foi a área 2, sendo importante ressaltar a dificuldade de acesso em
alguns locais desta, diminuindo a capacidade de amostragem. Adicionalmente, foram
registrados 15 indivíduos em locais fora das unidades amostrais, que ocorriam
principalmente durante o deslocamento entre áreas.
Cabe destacar ainda os registros de ovos, com presença notável de ovos de C.
natalensis, de vestígios de peles de répteis (lagartos e serpentes), e de registro de
ninhos de espuma.
No que se refere à composição de espécies registradas, quando a do CEPEMA foi
comparada com três áreas de Mata Atlântica (Área de Proteção Ambiental Jenipabu
(APAJ), Parque Estadual Dunas do Natal (PEDN) e Parque Estadual Mata da Pipa
(PEMP)), e com duas de Caatinga (Estação Ecológica Seridó (ESEC Seridó) e Serra de
Santana), por meio do Índice de similaridade de Jaccard, constatou-se que o CEPEMA
se apresenta como grupo irmão de todos os grupos de similaridades próximas (PEMP e
PEDN; ESEC Seridó; APAJ), com maior similaridade com os dois primeiros; ou seja, em
virtude da proximidade da Caatinga ao litoral do RN, as espécies ocorrentes em ambos
os biomas coexistem (Freire et al., 1996). Assim sendo, as espécies do CEPEMA
ocorrem em diversos habitats e microhabitats, tanto na Mata Atlântica quanto na
Caatinga.
Apesar de haver predominância de espécies de formações abertas na área do CEPEMA,
cabe destacar as espécies de áreas florestadas, conforme detalhamento a seguir.
Figura 2. Curva de rarefação e estimadores de riqueza construída do software
EstimateS 9.1.0 (Colwell, 2013)
Figura 3. Dendrograma de similaridade faunística por índice de Jaccard realizado no
PAST versão 4.13.
Espécies de floresta
Coleodactylus natalensis, inicialmente descrita como espécie endêmica do Parque
Estadual Dunas do Natal (Freire, 1999), atualmente é registrada em diversos
remanescentes de Mata Atlântica do Rio Grande do Norte (Lisboa et al., 2018; Freire et
al, 2018), portanto endêmica deste Estado. Fatores como folhiço abundante, alta
umidade, temperaturas amenas e baixa incidência solar direta são preferenciais à esta
espécie (Lisboa et al., 2008) e podem explicar a alta densidade da espécie no CEPEMA.
Tais particularidades também restringem sua distribuição, devido à redução de

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fragmentos de mata e alterações bióticas devido ao efeito da urbanização (Freire,


2018). Todas as áreas amostradas no CEPEMA apresentaram um número expressivo de
indivíduos de C. natalensis.
Também se destacam entre espécies de floresta, as serpentes Amerotyphlops
paucisquamus (ameaçada de extinção) e Adelphostigma occipitalis.
Espécies de formações abertas
Estas se destacam por serem generalistas, incluindo espécie exótica e invasora.
Ameiva ameiva é encontrada tanto na Caatinga semiárida como em bordas e clareiras
de florestas tropicais da Amazônia e Mata Atlântica (Vitt e Colli, 1994). É uma espécie
generalista que não é muito afetada por alterações antrópicas (Sartorius et al, 1999). A
maior parte dos registros de A. ameiva no CEPEMA foram feitos na área 1, que tem
conexão direta com a extensão do Parque Municipal. Foram feitos dois registros de um
casal e, em ambos, os indivíduos se moviam pela área 1 até atravessar o ponto de
conexão entre o CEPEMA e o Parque. Houve também um registro de A. ameiva sendo
predada pela serpente Philodryas nattereri.
Hemidactylus mabouia foi introduzido em diversos países, e teve origem na África
(Vanzolini, 1968; Rocha, 2011). Hoje é identificada como espécie invasora encontrada
comumente em cidades, recebendo o nome de “Lagartixa-de-parede” ou “Lagartixa-
doméstica”. Em relação a sua população, não sofrem riscos (IUCN, 2023), sendo um
grupo que conseguiu se estabilizar em diversos habitats e microhabitats (Freire, 1996).
Devido a isso, tendem a ser um fator de modificação em relação a outras espécies, e
estão associados a diminuição de espécies nativas devido a urbanização (McKinney,
2002).
Tropidurus hispidus possui uma vasta distribuição pela América do Sul e é
característico de áreas de Caatinga (Vanzolini, 1980; Carvalho, 2013). É uma espécie
urbanófila comum aos centros urbanos (Andrade, 2020) e generalista em relação à
microhabitats (Freire, 1996). Foi a segunda espécie com o maior número de registros
durante esse estudo.

Conclusão

4. Conclusões
O CEPEMA abriga uma herpetofauna representada principalmente por espécies
generalistas, aliadas a formações abertas, mas algumas espécies de áreas florestadas

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se destacam a exemplo do lagarto Coleodactylus natalensis, espécie endêmica de


remanescentes de Mata Atlântica do RN e ameaçado de extinção.
Em adição, Coleodactylus natalensis apresentou grande abundância na área estudada,
fato que justifica a continuidade deste estudo em forma de monitoramento
populacional e desenvolvimento de estratégias de conservação para esta espécie e
respectiva área de ocorrência.
A influência da urbanização sobre a herpetofauna tem sido um tema abordado em
diversos trabalhos, devido ao papel de suas espécies como bioindicadoras. Portanto,
estratégias de educação ambiental e a conscientização da população do entorno do
Parque Municipal é imprescindível para a Conservação não apenas das espécies
ameaçadas, mas da biodiversidade e de toda essa área protegida imersa em meio à
malha urbana.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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Anexos

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Figura 1. Mapa da área do CEPEMA, incluindo as quatro áreas amostradas neste


estudo.

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Tabela 1.1 Registros das espécies encontradas no CEPEMA

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eCICT 2023

Tabela 1.2 Registros das espécies encontradas no CEPEMA

Figura 2. Curva de rarefação e estimadores de riqueza construída do software


EstimateS 9.1.0 (Colwell, 2013)

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Figura 3. Dendrograma de similaridade faunística por índice de Jaccard realizado no


PAST versão 4.13.

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CÓDIGO: OU1232

AUTOR: SÉRGIO HENRIQUE DANTAS VIEIRA

ORIENTADOR: ELIZA MARIA XAVIER FREIRE

TÍTULO: Investigação do repertório comportamental do lagarto ameaçado de


extinção Coleodactylus natalensis Freire, 1999 (Squamata: Sphaerodactylidae)

Resumo

O comportamento animal desempenha papel crucial na ecologia e na sobrevivência


das espécies, e o estudo do comportamento de lagartos têm despertado interesse de
pesquisadores devido à sua diversidade e importância ecológica. Neste estudo,
buscou-se investigar os comportamentos termorregulatório e de forrageamento do
lagarto Coleodactylus natalensis, fundamentais para entender as adaptações
ecológicas e interações com o ambiente. Além disso, o estudo do comportamento
desses animais fornecerá informações valiosas para subsidiar ações de conservação e
para o manejo desta espécie ameaçada. Nesse contexto, este estudo teve como
objetivos observar os comportamentos exibidos por C. natalensis e, com base nestes,
elaborar um Etograma. Foram realizadas observações mensais, durante o período
diurno, em uma arena de observação montada na área do CEPEMA/Parque Municipal
Dom Nivaldo Monte, Natal/RN. Os indivíduos de C. natalensis foram coletados nesta
área e marcados para identificação individual durante os registros na arena. As
observações foram feitas de forma ad libitum, registrando comportamentos
relacionados ao forrageamento, termorregulação, interações sociais e fuga de
predadores. Estas observações foram capturadas com filmadora digital, transferidas
para computador, planilhadas, analisados, selecionados e comparados com a
literatura. Os resultados possibilitaram elaborar o Etograma exibindo as diversas ações
e descrições dos comportamentos por categorias, tais como, descanso.

Palavras-chave: comportamento animal, etograma, lagarto Coleodactylus


natalensis

TITLE: "Investigation of the behavioral repertoire of the endangered lizard


Coleodactylus natalensis Freire, 1999 (Squamata: Sphaerodactylidae)"

Abstract

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Animal behavior plays a crucial role in ecology and species survival, and the study of
lizard behavior has sparked researchers' interest due to their diversity and ecological
significance. In this study, we aimed to investigate the thermoregulatory and foraging
behaviors of the Coleodactylus natalensis lizard, which are essential for understanding
ecological adaptations and interactions with the environment. Furthermore, studying
the behavior of these animals will provide valuable information to support
conservation efforts and the management of this endangered species. In this context,
the objectives of this study were to observe the behaviors exhibited by C. natalensis
and based on these observations, create an ethogram. Monthly observations were
conducted during the daytime in an observation arena set up in the CEPEMA/Dom
Nivaldo Monte Municipal Park area, Natal/RN. The C. natalensis individuals were
collected from this area and marked for individual identification during the arena
records. Observations were conducted ad libitum, recording behaviors related to
foraging, thermoregulation, social interactions, and predator evasion. These
observations were captured using a digital camcorder, transferred to a computer,
tabulated, analyzed, selected, and compared with the literature. The results allowed
for the creation of an ethogram displaying various actions and descriptions of
behaviors by categories, such as resting.

Keywords: Animal behavior, ethogram, Coleodactylus natalensis lizard

Introdução

A expressão dos comportamentos resulta de processos fisiológicos complexos e


integrados, envolvendo o sistema nervoso central, o sistema nervoso periférico e a
musculatura esquelética, os quais são influenciados por processos bioquímicos. Estes
processos, por sua vez, têm uma relação dependente com a temperatura do animal
(BENNETT, 1980). Como os répteis são ectotérmicos, dependem de fontes externas de
calor para regular sua temperatura corporal. Essa necessidade térmica é refletida nos
comportamentos que realizam para efetuarem termorregulação, como a exposição
direta ou indireta ao sol, modulada por posturas corporais e períodos de atividade
(ROCHA e SLUYS, 2008; ANJOS et al., 2017). De acordo com Bogert (1949), os lagartos
possuem mecanismos ainda mais refinados para a regulação da temperatura corporal.
Nesse contexto, o clado Gekkota engloba várias famílias de lagartos conhecidos
popularmente como gecos. Estudos comportamentais com espécies de gecos ao redor
do mundo mostram que a maioria delas apresenta comportamento de forrageamento
do tipo "senta-e-espera" (BAUER, 2007; PALMEIRA et al., 2021). No entanto, também
há evidências de variações no tipo de forrageamento em algumas espécies de gecos,
uma vez que em seu ambiente natural algumas utilizam estratégias de forrageamento
ativo (WERNER et al., 1997). Quanto ao período de atividade e termorregulação, a
maioria dos gecos é noturna e termorreguladora passiva, ou seja, sua temperatura

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corporal varia de acordo com a temperatura do ambiente em que estão (ANDRADE,


2018). Entretanto, como discutido por Bauer (2007), a maioria das espécies de gecos
ao redor do mundo ainda carece de estudos comportamentais. Este é o caso da
espécie Coleodactylus natalensis pertencente à família de gecos Sphaerodactylidae,
que é endêmica de remanescentes florestais da Mata Atlântica no estado do Rio
Grande do Norte (RN) e está ameaçada de extinção (MMA, 2018; IUCN, 2021).
Atualmente, essa espécie está classificada como ameaçada (EN), tanto na Lista de
Espécies Ameaçadas de Extinção da União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN, 2021) quanto no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção (MMA, 2018). As restrições ambientais e o desmatamento crescente desses
remanescentes florestais são os principais fatores responsáveis por esta espécie se
encontrar em risco de extinção (FREIRE et al., 2018). Estudos ecológicos realizados com
C. natalensis mostraram que essa espécie tem preferência por ambientes úmidos, com
folhiço denso e temperaturas mais amenas (LISBOA e FREIRE, 2012). Suas presas mais
importantes e frequentes são Isopoda e Araneae, e a composição da dieta sugere que
a espécie apresenta algum grau de seletividade em relação à alimentação (LISBOA;
SALES; FREIRE, 2012). Em relação à reprodução, as fêmeas de C. natalensis geralmente
colocam uma ninhada com um único ovo, podendo depositá-los individualmente ou
em locais compartilhados (SALES et al., 2020). Por outro lado, até então, o único
estudo sobre o comportamento dessa espécie foi realizado por Sousa e Freire (2011),
que avaliaram o comportamento termorregulatório, o qual demonstrou que C.
natalensis é um termorregulador passivo (SOUSA e FREIRE, 2011). Uma forma de
examinar e descrever todas as possibilidades de comportamento de um determinado
animal é através da elaboração de etogramas ou repertórios comportamentais, que
descrevem e quantificam as principais atividades realizadas, horários de pico,
interações e como os animais dividem seu tempo ao longo do dia (DEL-CLARO, 2004).
Considerando que o conhecimento sobre a biologia e história natural de uma espécie é
o primeiro passo para embasar estratégias de conservação (PRIMACK E RODRIGUES,
2001), a investigação do repertório comportamental de C. natalensis, uma espécie
oficialmente ameaçada de extinção (MMA, 2018; IUCN, 2021), é plenamente
justificável e cientificamente relevante.

Metodologia

4.1. Área de estudo O estudo foi realizado no Centro de Experimentos e Pesquisas da


Mata Atlântica (CEPEMA),uma parcela do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte,
localizado na área urbana de Natal/RN, Zona de Proteção Ambiental 1 (ZPA-1), onde
ocupa uma área de 136,54 hectares. Este Parque, que compreende uma Unidade de
Conservação (UC) de proteção integral, é um atrativo turístico, ambiental e social para

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a cidade, dispondo de área de lazer, trilhas, Centro de Pesquisa, Sala de exposição e


um Centro de Educação Ambiental para integrar a sociedade a este espaço natural,
composto por flora e fauna característicos. Uma das áreas destinadas à pesquisa
científica no Parque é o Centro de Experimentos e Pesquisas da Mata Atlântica
(CEPEMA), espaço onde o estudo comportamental de Coleodactylus natalensis foi
realizado. 4.2. Procedimentos metodológicos Para investigar o repertório
comportamental de Coleodactylus natalensis, foi montada uma arena de observação
na área do CEPEMA, Parque Municipal Dom Nivaldo Monte. A arena foi preparada
utilizando quatro tábuas de madeira, cada uma medindo 70 cm de largura por 20 cm
de altura, além de uma tábua adicional de 70 cm² forrando a parte inferior, e assim
constituindo um quadrado disposto no solo. Para criar um ambiente fiel ao habitat
natural de Coleodactylus natalensis, o fundo da arena foi coberto com serapilheira
retirada do próprio solo da área de estudo. Em cada excursão mensal, os indivíduos de
C. natalensis a serem dispostos na arena de observação, foram coletados
manualmente usando o método de busca ativa na serapilheira sombreada da área, um
habitat característico para essa espécie. Após coletados, os lagartos foram marcados
com tinta atóxica da marca Tempera Guache® para possibilitar a identificação
individual e facilitar a visualização. Em seguida, foram transferidos para a arena; até 10
indivíduos foram colocados simultaneamente para permitir interações sociais e
registros pelo pesquisador. As observações começaram no dia seguinte à coleta,
permitindo um período de aclimatação dos lagartos à arena. A arena foi protegida por
uma tela porosa, evitando fugas e a entrada de predadores. Cada espécime foi
observado de forma ad libitum, conforme Yamamoto e Volpato, (2011), sempre que
possível visualizar o animal. Essas observações e registros ocorreram mensalmente,
das 8h às 16h, de novembro de 2022 a junho de 2023, exceto o mês de abril por
problemas logísticos. Durante as observações, os comportamentos do lagarto foram
documentados, incluindo o período de atividade, forrageamento e termorregulação.
Tais registros foram capturados por meio de uma filmadora digital (Sony HDR-CX190®).
Os resultados foram categorizados em termos de manutenção corporal, que abrange
processos físicos, químicos e fisiológicos; forrageamento; locomoção e fuga, conforme
foi proposto por Ruby e Niblick (1994). As análises qualitativas dos dados coletados
possibilitaram a elaboração de um Etograma, no qual todos os detalhes do repertório
comportamental observado em campo para Coleodactylus natalensis foram
disponibilizados.

Resultados e Discussões

Os resultados das observações comportamentais exibidas por C. natalensis estão


definidas e descritas a seguir, conforme cada tipo de comportamento registrado e

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eCICT 2023

exposto no Etograma (Tabela 1). Comportamentos de locomoção e forrageamento Os


lagartos passaram o tempo de observação predominantemente sob a serrapilheira, o
que limitou a observação direta de suas atividades. No entanto, em momentos visíveis,
eles se deslocaram vagarosamente pelo substrato, frequentemente examinando o
ambiente ao redor, indicando atividades de forrageamento. O ato de dardejar a língua
e investida em direção a possíveis presas também foi ocasionalmente observado; este
último, também sendo registrado tanto quando os espécimes estavam em posição
estacionária quanto em movimento. No que diz respeito à caminhada rápida, foi
menos frequente do que a caminhada lenta, pois os animais tendiam a se ocultar sob a
serrapilheira logo após o movimento (Tabela 1). Os resultados obtidos em campo
demonstram um padrão de comportamento de forrageamento confuso em
Coleodactylus natalensis, indicando possível tipo de forrageio flutuante. Em algumas
ocasiões, esses lagartos adotam a postura de predador "senta e espera", enquanto em
outros momentos exibem um comportamento predatório ativo, um fenômeno que já
foi documentado em outras espécies de lagartos (WERNER et al., 1997; AOWPHOL et
al., 2006; ANDRADE et al., 2020). Comportamentos de manutenção Dentro dessa
categoria, os comportamentos mais comuns foram o scanning e o descanso. Em
algumas instâncias, os indivíduos alternavam entre essas posições sem alterar sua
localização. O comportamento de lamber os olhos foi observado tanto durante o
movimento dos espécimes quanto enquanto permaneciam em posição estacional.
Quanto à defecação, houve apenas um registro (Tabela 1). Uma parte significativa do
tempo diário desses lagartos é dedicada ao descanso sob a serrapilheira. Apesar do
valor defensivo demonstrado pela sua morfologia, como é o caso da camuflagem, eles
mantêm um estado de alerta constante em relação ao ambiente circundante,
realizando verificações periódicas, uma atividade que também é observada em outros
grupos de répteis (RUBY; NIBLICK, 1994). A ausência de pálpebras nos C. natalensis os
leva a adotar o comportamento de lamber os olhos para mantê-los limpos, uma
adaptação que compartilham com outros lagartos. Comportamento de fuga O
comportamento de fuga dos lagartos, quando submetidos a ruídos ambientais, é uma
ocorrência recorrente que leva a uma rápida corrida em direção à serrapilheira como
forma de se ocultarem (Tabela 1). Essa reação está intimamente relacionada a uma
interessante faceta do comportamento desses animais. Ao identificarem possíveis
ameaças, é comum que eles adotem uma estratégia de correr rapidamente em direção
a refúgios, pesando cuidadosamente o risco de captura versus os custos associados à
fuga (GREENE, 1988; BURGER e GOCHFELD, 1990; COOPER, 1997; RECARTE et al.,
1998; MARTIN e LOPEZ, 1999). Esse padrão de resposta se alinha de forma coesa com
os resultados obtidos durante as observações. Para registros e avaliações mais
completas dos comportamentos aqui descritos para Coleodactylus natalensis, é
imprescindível maior tempo de observação/registro que será possível apenas com a
continuidade deste estudo. Em adição, poderão ser coletados mais dados,

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principalmente sobre suas respostas à predação e interações intraespecíficas, Esses


dados auxiliarão na formulação de estratégias para conservação desta espécie.

Conclusão

Em síntese, as análises dos comportamentos exibidos por Coleodactylus natalensis


possibilitam concluir que, em sua maioria, essa espécie compartilha características
comuns a outros grupos de lagartos. No entanto, merece destaque o comportamento
de forrageamento confuso em Coleodactylus natalensis, indicando possível forrageio
flutuante. Entretanto, a escassez de estudos comportamentais sobre essa espécie e/ou
grupos filogeneticamente próximos, impossibilita conclusão precipitada. Portanto, a
continuidade deste estudo é imprescindível para constituir base sólida sobre o
comportamento dessa espécie, a qual possa subsidiar estratégias de conservação para
essa espécie.

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Anexos

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Tabela 1

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CÓDIGO: SB0005

AUTOR: AGNES ANDRADE MARTINS

COAUTOR: STPHANNIE JAMYLA DE ARAÚJO BARBOSA

ORIENTADOR: AURIGENA ANTUNES DE ARAUJO

TÍTULO: Avaliação da atividade antioxidante do extrato bruto da casca do caule


da Commiphora leptophloeos em modelo experimental de mucosite intestinal

Resumo

A mucosite intestinal (MI) é uma das principais consequências da quimioterapia, e


compromete a qualidade de vida de pacientes oncológicos submetidos ao tratamento
com 5-fluorouracil (5-FU). Análises fitoquímicas de extratos da Commiphora
leptophloeos (CL) vêm demonstrando a presença de compostos químicos com
potencial efeito protetor em condições inflamatórias. Este ensaio pré-clínico, in vivo,
objetivou avaliar a atividade antioxidante do extrato bruto da casca do caule da
Commiphora leptophloeos em modelo experimental de MI. 40 camundongos Swiss
foram aleatoriamente distribuídos em cinco grupos (n=8/grupo): CN (controle
negativo), CP (MI + salina), CL 100 (MI + CL 100mg/kg), CL 200 (MI + CL 200mg/kg) e CL
400 (MI e extrato 400mg/kg). O extrato da CL foi administrado diariamente a partir do
1º dia experimental. A indução da MI por meio da administração do 5-FU foi realizada
após 8 dias do início do experimento. Os animais foram eutanasiados no 12º dia, e
amostras teciduais de intestino e cólon foram destinadas para de dosagem de
malondialdeído (MDA) e glutationa (GSH), e da atividade da invertase. A MI levou a um
aumento da concentração de MDA, e o extrato de CL, nas doses de 100 mg/kg e 200
mg/kg, reduziu a concentração desse composto (p<0.05). Por outro lado, o extrato não
foi capaz de aumentar os níveis de glutationa e da enzima invertase, em relação ao
grupo controle positivo. Conclui-se que o extrato da CL apresentou modesto efeito
antioxidante na mucosite intestinal.

Palavras-chave: Mucosite; 5-fluorouracil; Commiphora leptophloeos

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TITLE: Evaluation of the antioxidant activity of the crude extract of the stem
bark of Commiphora leptophloeos in an experimental model of intestinal
mucositis

Abstract

Intestinal mucositis (IM) is one of the main consequences of chemotherapy, and it


compromises the quality of life of cancer patients undergoing treatment with 5-
fluorouracil (5-FU). Phytochemical analysis of Commiphora leptophloeos (CL) extracts
have demonstrated the presence of chemical compounds with potential protective
effect in inflammatory conditions. This preclinical, in vivo, trial aimed to evaluate the
antioxidant activity of the crude extract of the stem bark of Commiphora leptophloeos
in an experimental model of IM. 40 Swiss mice were randomly distributed into five
groups (n=8/group): CN (negative control), CP (IM + saline), CL 100 (IM + CL 100mg/kg),
CL 200 (IM + CL 200mg/kg) and CL 400 (MI and extract 400mg/kg). The CL extract was
administered daily from the 1st experimental day. IM induction through the
administration of 5-FU was performed 8 days after the beginning of the experiment.
The animals were euthanized on the 12th day, and tissue samples from the intestine
and colon were destined for malondialdehyde (MDA) and glutathione (GSH) dosage,
and invertase activity. MI led to an increase in the concentration of MDA, and the CL
extract, at doses of 100 mg/kg and 200 mg/kg, reduced the concentration of this
compound (p<0.05). On the other hand, the extract was not able to increase the levels
of glutathione and the enzyme invertase, in relation to the positive control group.
Thus, CL extract showed a modest antioxidant effect on intestinal mucositis.

Keywords: Mucositis; 5-fluorouracil; Commiphora leptophloeos

Introdução

O 5-fluorouracil é, na atualidade, um dos agentes quimioterápico mais utilizados no


tratamento de pacientes oncológicos (Gmeiner; Okechukwu, 2023). Dentre os efeitos
adversos causados por esse fármaco, destaca-se a mucosite, que pode afetar todo o
trato gastrointestinal (TGI), desde a cavidade bucal até o cólon (Huang et al., 2022).
Estima-se que 80% dos pacientes submetidos a essa modalidade de tratamento
desenvolvem mucosite intestinal (Barbosa et al., 2022).
Essa condição, por sua vez, caracteriza-se pela ulceração na mucosa intestinal, levando
a quadros de dor, vômitos e diarreia, e além de comprometer a qualidade de vida e
bem-estar dos pacientes, a depender de sua gravidade, pode ainda atrasar ou
interromper o tratamento oncológico (Batista et al., 2020). Os gastos anuais com os
casos de são estimados em mais 1 bilhão de dólares, e estão diretamente relacionados

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eCICT 2023

às consequências da mucosite, como alterações do estado nutricional, gastrostomia ou


dependência de alimentação parenteral, hospitalização e predisposição a bacteremia
ou mesmo sepse em casos graves (Mohammed et al., 2023).
A fisiopatologia dessa condição está associada a um processo inflamatório intenso,
caracterizado pela produção de citocinas e de espécies reativas de oxigênio, que ao
causarem dano ao DNA, promovem morte celular com subsequente dano à barreira
epitelial intestinal (Yu et al., 2022, Wei; Wen; Xian, 2021). Os agentes utilizados no
manejo da mucosite intestinal são paliativos em sua maioria, e até o momento não
existe uma intervenção eficaz na prevenção dessa condição (Huang et al., 2022). Na
perspectiva de melhorar a qualidade de vida desses pacientes, cada vez mais agentes
que atuem na modulação da resposta do hospedeiro, com foco no mecanismo
molecular da inflamação e do estresse oxidativo, têm sido estudados.
Nesse contexto, a aplicação de compostos derivados de plantas vêm ganhando
destaque nas últimas décadas em função do fácil acesso e grande disponibilidade de
matéria-prima, boa aceitabilidade entre os indivíduos, baixa toxicidade e baixo custo. A
Commiphora leptophloeos (CL), pertencente à família Burseraceae e popularmente
conhecida como “Imburana do Sertão”, é tradicionalmente utilizada por tribos
indígenas como infusão, chá ou xarope para o tratamento de suas doenças infecciosas
inflamatórias (Pereira et al., 2017). Essa planta apresenta propriedades antibacterianas
(Pereira et al., 2017), antifúngicas, antibiofilme (Dantas-Medeiros et al., 2021) e anti-
inflamatórias (Dantas-Medeiros et al., 2021). Cordeiro e colaboradores (2021)
constataram ainda que o extrato da folha da CL foi capaz de reduzir em 50% as
espécies reativas de oxigênio intracelular.
Tomando como base o seu potencial biológico frente a condições inflamatórias, o
presente estudo objetivou avaliar a atividade antioxidante do extrato bruto da casca
do caule da Commiphora leptophloeos em um modelo experimental de mucosite
intestinal.

Metodologia

Considerações éticas
Os protocolos de experimentação foram submetidos e aprovados pela Comissão de
Ética no Ensino e Pesquisa em Animais (CEUA) – Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), segundo protocolo 40/2022, certificado nº 321.040/2022.

Local do estudo

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Os experimentos e análises laboratoriais, incluindo o preparo e manipulação dos


animais, e a coleta de materiais orgânicos, foram realizados no Laboratório de
Farmacologia do Centro de Biociências (UFRN).

Caracterização do estudo e desenho experimental


O presente estudo trata-se de um ensaio pré-clínico, in vivo, e controlado por placebo.
A amostra foi composta por 40 camundongos Swiss (Mus musculus), com 60 dias de
idade e peso aproximado de 30 a 40g, mantidos em condições ambientais de umidade
(45-55%) e temperatura (22ºC ±2ºC) controladas com ciclo claro/escuro padrão de
12/12horas, com água e ração para animais de laboratório (Purina – Nuvilab CR-
1autoclavável; Nuvital, SP, Brasil) ad libitum. Os animais foram divididos
aleatoriamente nos seguintes grupos experimentais:

 Grupo controle negativo (CN): 8 animais submetidos à administração de 1μl de


solução salina via gavagem;
 Grupo controle positivo (CP): 8 animais submetidos à administração de 1μl de
solução salina via gavagem e à administração de 5-FU i.p (450mg/kg);
 Grupo Commiphora leptophloeos 100mg/kg (CL 100): 8 animais submetidos à
administração de 1μl do extrato da casca do caule da Commiphora
leptophloeos na dose de 100/mg/kg e à administração de 5-FU i.p (450mg/kg);
 Grupo Commiphora leptophloeos 200mg/kg (CL 200): 8 animais submetidos à
administração de 1μl do extrato da casca do caule da Commiphora
leptophloeos na dose de 200/mg/kg e à administração de 5-FU i.p (450mg/kg);
e
 Grupo Commiphora leptophloeos 400mg/kg (CL 400): 8 animais submetidos à
administração de 1μl do extrato da casca do caule da Commiphora
leptophloeos na dose de 400/mg/kg e à administração de 5-FU i.p (450mg/kg).

Protocolo experimental e eutanásia


A partir do primeiro dia experimental, os animais receberam diariamente gavagem oral
com salina ou extrato. Em seguida, tinham seus pesos verificados. No 8º dia
experimental, foi realizada a administração via intraperitoneal do 5-fluorouracil na
dose de 450mg/kg. No 12º dia experimental, os animais foram eutanasiados com
sobredose anestésica de Cloridrato de Ketamina 10% (80mg/kg, Vetnil, São Paulo,
Brasil) e Cloridrato de Xilazina 2% (10mg/kg, Calmium, São Paulo, Brasil). Em seguida,
foram coletadas, de cada animal, três amostras de tecido com 4 cm de comprimento
do intestino delgado, compreendendo uma amostra do duodeno na região

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imediatamente após a mucosa gástrica, uma amostra do jejuno totalmente envolvida


por mesentério e uma amostra do íleo envolvendo a junção ileocecal.

Dosagem de malondialdeído (MDA)


O conteúdo de MDA, produto da peroxidação lipídica, foi investigado nas amostras de
tecido jejunal como marcador de estresse oxidativo, conforme descrito anteriormente
(Barbosa et al., 2022). Resumidamente, as amostras foram suspensas em tampão
Trizma 1:5 (p/v). O material foi incubado por 40 minutos a 45°C em banho-maria,
centrifugado a 2500 G por 5 minutos a 4°C; 300 mL foram então removidos, lidos a 586
nm e interpolados em uma curva padrão. Os sobrenadantes foram testados quanto ao
conteúdo de MDA e colocados em microplacas. A absorbância de cada amostra foi
medida a 586 nm.

Dosagem de glutationa (GSH)


Às amostras de tecidos jejunais foram adicionadas 0,02M de etilenodiamina-tetra-
acético, 3 por grupo, e armazenadas a -80ºC até sua utilização. Os tecidos foram
homogeneizados (0,25 µL de solução a 5%), adicionada 320µL de água destilada e 80
µL de ácido tricloroacético a 50%. As amostras foram centrifugadas a 3000 rpm
durante 15 minutos em uma temperatura de 4ºC. Removeu-se o sobrenadante (400
µL) e adicionou-se 800 µL de 0,4M de tampão Tris pH 8,9 e 20 µL de ácido ditiobis-2-
nitrobenzóico0,01M). A absorbância foi medida a 420 nm.

Atividade da invertase
Para o ensaio da atividade da invertase nos tecidos jejunais, foi utilizado o método do
ácido 3,5-dinitrosalicílico (DNS) (Barbosa et al., 2022). Para gerar uma curva padrão,
uma solução estoque de 1 g/L de glicose foi preparada e alíquotas de 1 mL, 0,8 mL, 0,6
mL, 0,4 mL e 0,2 mL dessa solução foram adicionadas a cinco tubos, seguidas da adição
de 0 mL, 0,2 mL, 0,4 mL, 0,6 mL e 0,8 mL de água destilada para atingir as seguintes
concentrações de glicose: 1 g/L, 0,8 g/L, 0,6 g/L, 0,4 g/L e 0,2 g/ EU. Além disso, um
sexto tubo continha 1 mL de água destilada. O reagente DNS (ácido 3,5-dinitro-2-
hidroxibenzóico, Sigma-Aldrich, São Paulo, Brasil) (0,5 mL) foi adicionado a cada tubo
de ensaio. Os tubos foram aquecidos em banho-maria a 100°C por 5 minutos e, em
seguida, transferidos para banho-maria fria. Água destilada (8,5 mL) foi adicionada a
cada tubo (volume total, 10 mL) e os valores percentuais de transmitância a 540 nm
foram registrados. Os resultados são expressos como a quantidade de enzima
necessária para liberar um µmol de açúcar redutor em um minuto.

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Análise estatística
Os dados obtidos foram avaliados quanto à distribuição normal através do teste de
Shapiro-Wilk. Em seguida, foram avaliados estatisticamente pela análise de variância
(ANOVA) seguido pelo pós-teste de Bonferroni, em caso de distribuição normal. Em
caso de distribuição não-normal, os dados foram avaliados pelo teste de Kruskall-
Wallis seguido pelo pós-teste de Mann-Whitney. Níveis significantes foram definidos
em 95% (p<0.05).

Resultados e Discussões

Resultados
Avaliação do peso dos animais
A pesagem dos animais diariamente revelou uma redução de massa dos animais
submetidos à injeção de 5-FU. A administração do extrato da Commiphora
leptophloeos não foi capaz de atenuar a perda de peso, e o aumento de sua
concentração demonstrou uma tendência de acentuar esse parâmetro (Figura 1).

Quantificação de malondialdeído
A administração i.p do 5-FU proporcionou um aumento da concentração de
malondialdeído em amostras de tecido intestinal (p>0.001). O extrato da casca do
caule da Commiphora leptophloeos, via gavagem oral, foi capaz de prevenir o aumento
desse marcador do estresse oxidativo nas doses de 100 (p<0.001) e 200 mg/kg
(p<0.01) (Figura 2).

Quantificação de glutationa
A indução da mucosite intestinal por meio da administração i.p do 5-FU não impactou
nos níveis de glutationa no intestino dos animais (p>0.05). Entretanto, a administração
do extrato da casca do caule da Commiphora leptophloeos reduziu a concentração de
GSH na dose de 200 mg/kg em relação ao grupo controle positivo (p<0.05), e nas doses
de 200 e 400 mg/kg em relação ao grupo controle negativo (p<0.05) (Figura 3).

Avaliação da atividade da invertase

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A administração i.p do 5-FU não impactou nos níveis da enzima invertase nas amostras
jejunais dos animais (p>0.05). Por outro lado, a administração do extrato da casca do
caule da Commiphora leptophloeos reduziu a concentração dessa enzima na dose de
400 mg/kg em relação aos grupos controle positivo (p<0.05) e negativo (p<0.01)
(Figura 4).

Discussão
O presente estudo buscou investigar os efeitos protetores da administração sistêmica,
via gavagem oral, do extrato bruto da casca do caule da planta Commiphora
leptophloeos no intestino e cólon de camundongos submetidos à indução de mucosite
intestinal por meio do 5-fluorouracil. Essa substância foi capaz de reduzir a
concentração de malondialdeído nas concentrações de 100 e 200 mg/kg. Até onde
sabemos, este é o primeiro estudo que busca compreender os efeitos desse extrato na
mucosite intestinal.
A administração do 5-FU promove a formação de espécies reativas de oxigênio, que ao
passar do tempo, conduzem a um estado de estresse oxidativo drástico nos tecidos
intestinais. A ativação de vias de sinalização, como a do fator de transcrição nuclear κB
(NF κB), p53 (fosfoproteína 53) e Wnt/β-catenina, causam uma quebra da homeostase
da barreira intestinal, levando a um aumento da produção, recrutamento e infiltração
de células inflamatórias e subsequente secreção de citocinas pró-inflamatórias,
levando à ocorrência de ulceração e dano tecidual (Silva et al., 2023). Assim, terapias
com potencial, em geral, de atuação no âmbito do estresse oxidativo, devem ser
avaliadas para aplicação nessa condição, tendo em vista especialmente um efeito
protetor da mucosite intestinal em pacientes sob tratamento oncológico com esse
fármaco.
A dosagem dos níveis de malondialdeído revelou que a indução da mucosite intestinal
promoveu um aumento de sua concentração, porém o extrato da casca do caule da
Commiphora leptophloeos reduziu os níveis de MDA nas doses de 100 e 200 mg/kg.
Essa constatação aponta para um potencial efeito antioxidante dessa substância nessa
condição. O malondialdeído, por sua vez, consiste em um dos produtos finais da
peroxidação lipídica celular, e é tido como um marcador do estresse oxidativo, uma
vez que o aumento nos radicais livres causa superprodução de MDA (Gawel et al.,
2004).
Cordeiro e colaboradores (2021) avaliaram a capacidade antioxidante de extratos
etanólico e metanólico de folhas da Commiphora leptophloeos através de ensaios pré-
clínicos, com o modelo Caenorhabditis elegans. Eles verificaram uma alta capacidade

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antioxidante em ensaios in vitro de eliminação de radicais DPPH e superóxido, e


reduziu os níveis de espécies reativas de oxigênio (ROS) intracelulares em 50% no
ensaio in vivo.
As propriedades biológicas relacionadas à Commiphora leptophloeos, incluindo, para
além da atividade antioxidante, o potencial antibacteriano, antifúngico e anti-
inflamatório, são majoritariamente associadas aos seus compostos, identificados por
meio de triagem fitoquímica, com especial destaque para os flavonoides e polifenóis
(Dantas-Medeiros et al., 2021; Dantas-Medeiros et al., 2021; Pereira et al., 2017;
Pessoa et al., 2020).
A avaliação do peso dos animais revelou que a administração preventiva do extrato da
Commiphora leptophloeos não foi capaz de prevenir a perda de massa corpórea. Esse
efeito sistêmico está principalmente associado aos efeitos diretos e indiretos do 5-FU
de anorexia e desidratação (Oliveira et al., 2021). Barbosa e colaboradores (2022), em
um estudo que avaliou o efeito do Lactobacillus casei em um modelo experimental de
mucosite intestinal, constatou que o probiótico também não foi capaz de interferir no
peso dos animais, apesar de ter exercido um importante efeito anti-inflamatório em
geral nesse quadro patológico. Isso reforça, nesse sentido, que esse parâmetro parece
ser inerente à administração do 5-FU, constituindo-se como mais um desafio a ser
superado no contexto das consequências do tratamento quimioterápico.
A avaliação dos níveis de glutationa revelaram e da atividade da invertase revelaram
baixos valores dos grupos CL 200 e CL 400 em relação aos controles negativos e
positivos. Esses resultados, associados à maior perda de massa corpórea verificado nos
animais desses grupos, podem apontar, por sua vez, para um efeito tóxico dessas
concentrações maiores. Pessoa e colaboradores (2020) realizaram uma investigação do
uso etnomedicinal de Commiphora leptophloeos no tratamento de diarreia, e
estabeleceram uma dose letal do extrato igual ou maior a 5000 mg/kg. Apesar disso,
diferenças na preparação do extrato, incluindo os métodos de obtenção e solvente
utilizados podem impactar diretamente na definição dessa dose.
Por fim, é importante pontuar que apesar de ser um trabalho inédito até o momento,
nosso estudo possui limitações. Considerando as doses utilizadas e os resultados
obtidos, hipotetizamos que melhores resultados podem ser alcançado a partir da
utilização de doses mais baixas. Ainda, realizamos análises unicamente voltadas para o
estresse oxidativo baseada nos parâmetros de MDA e GSH, e efeitos sobre a atividade
da invertase e massa corpórea dos animais. Uma investigação mais profunda sobre os
efeitos microbiológicos e anti-inflamatórios do extrato bruto da casca do caule da
Commiphora leptophloeos, por meio da análise de mediadores pró e anti-
inflamatórios, e de marcadores da integridade epitelial, bem como avaliação
histológica do intestino e cólon dos animais submetidos à indução da mucosite

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intestinal e à gavagem oral com o extrato em questão são fundamentais para um


entendimento mais amplo dos seus efeitos nessa condição.

Conclusão

Com base nos achados do presente estudo, conclui-se que o extrato bruto da casca do
caule da Commiphora leptophloeos apresentou modesto efeito antioxidante na
mucosite intestinal.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Anexos

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 1. Representação gráfica da média dos pesos dos animais ao longo do período
experimental. Fonte: autoria própria (2023)

Figura 2. Representação gráfica da dosagem de MDA no tecido intestinal dos animais.


Fonte: autoria própria (2023)

188
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 3. Representação gráfica da dosagem de GSH no tecido intestinal dos animais.


Fonte: autoria própria (2023)

Figura 4. Representação gráfica da atividade da enzima invertase no tecido intestinal


dos animais. Fonte: autoria própria (2023)

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0026

AUTOR: MARIANNA DE OLIVEIRA CORREA

ORIENTADOR: JONAS IVAN NOBRE OLIVEIRA

TÍTULO: Modelagem Molecular e Predição das Propriedades Físico-químicas,


Farmacocinéticas e de Toxicidade de Substâncias Bioativas no Combate da
Doença de Chagas

Resumo

Atualmente, o tratamento da doença de Chagas é limitado a dois medicamentos,


nifurtimox e benzonidazol, os quais têm eficácia limitada e causam efeitos colaterais
significativos, como náuseas, perda de peso e efeitos neuropsiquiátricos. Além disso,
de acordo com a Organização Mundial da Saúde, esses medicamentos não são eficazes
em todas as fases da doença, destacando a necessidade de desenvolver novas opções
terapêuticas.

Neste estudo, identificamos novas opções terapêuticas para a doença de Chagas por
meio da análise de seis candidatos a fármacos: Posaconazole (POS), CHEMBL3104525,
CHEMBL91704, CHEMBL193804 (BZTS), análogo de isoxazol e um derivado da 4-
arilaminonolina-3-carbonitrila (DerM). Avaliamos 40 descritores físico-químicos e
propriedades ADMET (Absorção, Distribuição, Metabolismo, Excreção e Toxicidade)
para determinar a viabilidade de cada candidato, utilizando ferramentas de predição
como admetlab2.0, admetSAR, preADMET, pkCSM e PredHerg.

Durante o estudo, Posaconazole e CHEMBL91704 alcançaram resultados ADMET


desfavoráveis, enquanto CHEMBL3104525, CHEMBL193804 e o análogo de isoxazol se
destacaram por não serem cardiotóxicos. No entanto, apenas a molécula
CHEMBL193804 atendeu a todas as regras de química medicinal, posicionando-a como
o candidato mais promissor para o tratamento da doença de Chagas. Esses resultados
indicam que a CHEMBL193804 possui propriedades farmacocinéticas mais adequadas
e menor potencial tóxico, tornando-a potencialmente mais segura, co

Palavras-chave: Doença de Chagas. Farmacocinética. ADMET. Fármaco.


Ferramentas Computa

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TITLE: Molecular Modeling and Prediction of Physicochemical, Pharmacokinetic


and Toxicity Properties of Bioactive Substances to Combat Chagas Disease

Abstract

Currently, the treatment of Chagas disease is limited to two drugs, nifurtimox and
benzonidazole, which have limited efficacy and cause significant side effects such as
nausea, weight loss and neuropsychiatric effects. Moreover, according to the World
Health Organization, these drugs are not effective at all stages of the disease,
highlighting the need to develop new therapeutic options.

In this study, we identified new therapeutic options for Chagas disease through the
analysis of six drug candidates: Posaconazole (POS), CHEMBL3104525, CHEMBL91704,
CHEMBL193804 (BZTS), isoxazole analog and a 4-arylaminonoline-3- carbonitrille
derivative (DerM).

We evaluated 40 physicochemical descriptors and ADMET (Absorption, Distribution,


Metabolism, Excretion and Toxicity) properties to determine the feasibility of each
candidate using prediction tools such as admetlab2.0, admetSAR, preADMET, pkCSM
and PredHerg.

During the study, Posaconazole and CHEMBL91704 achieved unfavorable ADMET


results, while CHEMBL3104525, CHEMBL193804 and the isoxazole analog stood out for
being non-cardiotoxic. However, only the molecule CHEMBL193804 met all medicinal
chemistry rules, positioning it as the most promising candidate for the treatment of
Chagas disease. These results indicate that CHEMBL193804 has more adequate
pharmacokinetic properties and lower toxic potential, making it potentially safer, with
lower risk of adverse effects. Subsequently, we performed the evaluation of the
biological activity

Keywords: Chagas disease. Pharmacokinetics. ADMET. Drug. Computational


Tools.

Introdução

A doença de Chagas é uma doença tropical negligenciada (DTN) causada pelo

Parasita protozoário hemoflagelado Trypanosoma cruzi (RASSI et al., 2015) que


pertence à ordem Kinetoplastida e à família Trypanosomatidae. A doença possui duas
fases: uma fase aguda, que pode ser sintomática ou assintomática, e uma fase crônica,

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que pode se manifestar como assintomática, cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva. A


doença recebeu o nome de Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, um médico e pesquisador
brasileiro que a descobriu em 1909.

A doença era historicamente confinada a áreas rurais da Região das Américas


(excluindo as ilhas do Caribe). No entanto, devido à maior mobilidade populacional nas
últimas décadas, a maioria das pessoas infectadas agora reside em áreas urbanas. A
infecção também tem sido cada vez mais detectada nos Estados Unidos, Canadá,
muitos países europeus e algumas regiões da África, Mediterrâneo Oriental e Pacífico
Ocidental (OMS, 2023) De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
atualmente existem 21 áreas endêmicas, incluindo Argentina, Belize, Bolívia, Brasil,
Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guatemala,
Guiana, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e
Venezuela (OMS, 2023) A doença afeta aproximadamente de 6 a 7 milhões de pessoas
no mundo, principalmente na América Latina, onde é a principal causa de morte por
cardiomiopatia (CHATELAIN et al., 2015). Aproximadamente 70 milhões de pessoas nas
Américas correm o risco de contrair essa doença, mas menos de 1\% dos afetados
recebem tratamento devido à falta de conhecimento sobre a doença e dificuldade de
acesso aos cuidados médicos (THAKARE et al., 2021)

Apesar dos dados alarmantes apresentados no parágrafo anterior e dos muitos anos
que se passaram desde a descoberta da doença, o cenário de tratamento não é
otimista. Nos últimos anos, avanços significativos foram feitos na compreensão da
infecção e suas manifestações, incluindo o fato de que até 30% das pessoas
cronicamente infectadas desenvolvem alterações cardíacas e até 10% desenvolvem
alterações digestivas, neurológicas ou mistas que podem exigir tratamento específico
(OMS, 2023).

No entanto, esses avanços não se traduziram em tratamentos melhorados, que


permanecem os mesmos há mais de 50 anos, consistindo no uso de nifurtimox e
benznidazol, dois medicamentos desenvolvidos empiricamente em 1960 e 1970,
respectivamente (FERREIRA et al., 1990). De acordo com Jackson e colaboradores,
2020, em um estudo que comparou a tolerância de ambos os medicamentos em
adultos de países não endêmicos, 90\% dos pacientes relataram pelo menos um efeito
adverso. Pacientes tratados com nifurtimox apresentaram mais sintomas digestivos,
enquanto aqueles tratados com benzonidazol tiveram mais efeitos mucocutâneos.
Ambos os grupos apresentaram efeitos neuropsiquiátricos. O estudo também revelou
que as alternativas de medicamentos disponíveis para o tratamento da doença de
Chagas são mal toleradas e frequentemente resultam na interrupção do tratamento,
independentemente do medicamento utilizado. Ambos os medicamentos são

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contraindicados para mulheres grávidas ou pacientes com insuficiência renal ou


hepática, bem como para indivíduos com histórico de distúrbios neurológicos ou
psiquiátricos (no caso do nifurtimox) (OMS, 2023).

Embora ambos os medicamentos sejam quase 100\% eficazes se administrados


imediatamente após a fase aguda da infecção, incluindo infecção congênita, sua
eficácia diminui à medida que mais tempo se passa desde o início da infecção, e as
reações adversas também são mais frequentes em idades mais avançadas (OMS,
2023). O Nifurtimox apresenta baixa eficácia na fase crônica, e em alguns casos, sua
ineficácia está relacionada à resistência de algumas cepas de T. cruzi (COSTA et al.,
2013; Andrade et al., 2008).

Metodologia

O estudo realizado aborda uma análise detalhada dos principais protótipos de agentes
antichagásicos e suas vias metabólicas específicas de atuação no parasita Trypanosoma
cruzi. Os candidatos abordados incluem Pozaconazol (POS), um azol que inibe a síntese
de ergosterol no parasita; CHEMBL3104525, um inibidor do CYP51 que bloqueia a
biossíntese de ergosterol e esteróis; CHEMBL91704, um inibidor seletivo da protease
cruzipaina; CHEMBL193804 (BZTS), que atua desregulando a função mitocondrial e
aumentando a produção de espécies reativas de oxigênio; análogo de isoxazol, que
inibe a redutase da tripanotiona; e o derivado da 4-arilaminonolina-3-carbonitrila
(DerM), que atua por meio da peroxidação do heme, resultando em produção
excessiva de espécies reativas de oxigênio.
Para avaliar a viabilidade desses candidatos, várias regras de química medicinal foram
aplicadas usando ferramentas como FAFDrug4, ADMETlab 2.0 e outras, incluindo
Regras do 5, Drug-Like Soft, Lead Like Soft, REOS, ZINC, Golden Triangle, Regra de
Verber, Regra de Egan, Regra de GSK, Regra de Pfizer e CNS. Essas regras avaliam
critérios como peso molecular, logP, aceitadores e doadores de ligações de hidrogênio,
entre outros, para selecionar compostos com propriedades adequadas para o
desenvolvimento de drogas.
Além disso, cálculos de descritores moleculares, propriedades fisicoquímicas,
similaridade de drogas e previsões ADMET foram realizados através de várias
ferramentas, incluindo ADMETlab 2.0, PreADMET, FAFDrug4, AdmetSAR, PredHerg e
pkCSM. Essas ferramentas fornecem informações sobre propriedades como absorção,
distribuição, metabolismo, excreção, toxicidade, interações medicamentosas, entre
outros.

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O servidor AdmetSAR é uma ferramenta notável, alimentada por uma grande


quantidade de dados experimentais que permitem a avaliação de várias propriedades
e interações de compostos. O servidor FAFDrug4 combina abordagens baseadas em
toxicofóros e regras de físico-química para selecionar compostos de alta qualidade. O
servidor pkCSM utiliza uma combinação de descritores para prever propriedades físico-
químicas, enquanto o servidor PredHerg é utilizado para avaliar o potencial de
bloqueio dos canais de hERG K (+), que estão associados a arritmias cardíacas letais.
O processo de docking molecular foi realizado usando servidores como SwissDock e
DockThor. O SwissDock emprega o software EADock para prever modos de ligação em
aplicações reais, enquanto o DockThor utiliza técnicas de machine learning e
pontuações empíricas para indicar propriedades físico-químicas dos compostos.
O processo de refinamento semi-flexível foi realizado usando o servidor HADDOCK,
que utiliza dados de perturbação de deslocamento químico para análise da estrutura
tridimensional e interações proteína-ligante. Além disso, o servidor PRODIGY foi usado
para estimar a afinidade de ligação através do cálculo da constante de Gibbs.
A análise das interações não covalentes entre proteína e ligante foi realizada com o
servidor PLIP, que fornece uma visão detalhada das ligações de hidrogênio, interações
hidrofóbicas e pontes salinas presentes nas estruturas.
No geral, o estudo combina abordagens computacionais e ferramentas avançadas para
avaliar a eficácia, a segurança e as interações dos candidatos a agentes antichagásicos,
fornecendo insights valiosos para o desenvolvimento de novos tratamentos para a
doença de Chagas.

Resultados e Discussões

1.1. Propriedades físico-químicas e de química medicinal


A fim de analisar as propriedades físico-químicas e de druglikeness, que consiste em
uma característica qualitativa dos produtos químicos determinada por meio de
votação de um comitê de especialistas e é extensivamente considerada nas etapas
iniciais da descoberta de líderes e medicamentos (URSU et al., 2011), refere-se às
propriedades físico-químicas que um composto deve ter para ser considerado um
candidato viável a fármaco., foram examinados oito gráficos, nos quais a porção azul
representa o limite desejável e a porção vermelha indica o mínimo necessário (Anexo
2). Esses gráficos, que tem por objetivo avaliar o potencial de moléculas como
candidatas a fármacos, incluem as seguintes regras: Drug Like-Soft, CNS, Golden

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Triangle, e Regra de Egan, Regra de GSK, e Pfizer, Lead Like Soft, R.E.O.S, RO5 e Regra
de Verber, e ZINC, que são construídas com base em parâmetros físico-químicos
(anexo 3). Quanto ao desempenho dos compostos nessas regras, o BZTS demonstrou o
melhor resultado, atendendo a todas as onze regras avaliadas. O análogo de isoxazol,
CHEMBL3104525 e o DerM também apresentaram resultados favoráveis, com o
primeiro sendo aceito em oito regras e os dois últimos em sete regras. Por outro lado,
o POS e o CHEMBL91704 foram considerados adequados apenas em duas regras. Esses
resultados indicam que o BZTS e os outros compostos favoráveis possuem
propriedades físico-químicas e de química medicinal que são mais promissoras para o
desenvolvimento de fármacos, enquanto o POS e o CHEMBL91704 apresentam
consideráveis limitações em relação a esses critérios
1.1. Drug Like-Soft:
Possui a função de comparar candidatos farmacológicos com fármacos já estabelecidos
no mercado (LIPINSKI et al., 2004). Para isso, a métrica analisa características
relacionadas à solubilidade, permeabilidade e biodisponibilidade oral. Na análise
realizada, a maioria das moléculas avaliadas atendeu aos parâmetros estabelecidos
pela métrica, indicando sua adequação como potenciais candidatas a fármacos. No
entanto, duas moléculas, POS e CHEMBL91704, não se enquadraram nos valores
esperados para MW , HBA , nrotb (número de ligações rotativas), nrb (número de
ligações rotativas e ligações simples) e n\_SystemRing (número de anéis no sistema).
1.2. CNS:
Ao examinar o gráfico que ilustra a capacidade de diferentes substâncias químicas de
atravessar a barreira hematoencefálica (BHE) e exercer efeitos no sistema nervoso
central (SNC), constatou-se que nenhum dos compostos analisados se adequou
integralmente aos parâmetros estabelecidos, o que é uma vantagem. O POS
apresentou as maiores discrepâncias em relação a esses parâmetros, enquanto o
DerM não atingiu os resultados mínimos, indicando ser muito leve para atravessar a
BHE. Além disso, os demais compostos demonstraram tamanhos que sugerem
dificuldades em interagir de forma eficaz com o SNC., o que é uma consideração
importante para o desenvolvimento de tratamentos para a doença de Chagas, visto
que alterações neurologicas são indejáveis.
1.3. Regras do 5 e Verber:
Essa estratégia de seleção tem como objetivo identificar moléculas com potencial para
se tornarem candidatos promissores a fármacos administrados por via oral, levando
em consideração propriedades físico-químicas que impactam a permeabilidade em
membranas biológicas e a solubilidade em meio aquoso. Este parâmetro indica que a
má absorção ou permeabilidade do ligante é mais provável quando o ligante possui
mais de 5 doadores de ligação de hidrogênio (HBD), mais de 10 aceitadores de ligação

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de hidrogênio (HBA), peso molecular superior a 500 daltons, logP maior que 5, sendo
todos os parâmetros múltiplos de 5 (LIPINSKI et al., 2001). Por outro lado, a regra de
Verber é empregada para avaliar a permeabilidade intestinal desses compostos. No
contexto da presente análise, observou-se que apenas o POS e CHEMBL91704 foram
considerados não conformes com ambas as regras, indicando potenciais limitações em
relação à sua biodisponibilidade e permeabilidade celular. Por outro lado, os demais
compostos avaliados obtiveram conformidade com ambas as regras, sugerindo uma
maior biodisponibilidade e permeabilidade celular favoráveis.
1.4. Regras de GSK e Pfizer:
Essas regras são empregadas para avaliar se uma molécula possui um peso molecular
adequado, área de superfície controlada e lipofilicidade favorável. Segundo Gleeson,
M.P,2008 (GLEESON et al., 2008), para a regra GSK compostos químicos com um peso
molecular (MW) acima de 400 e um logP superior a 4 não apresentam um perfil
ADMET favorável. Ambas as regras avaliam a biodisponibilidade oral dos fármacos.
Entre as moléculas analisadas, apenas o BZTS atendeu plenamente aos parâmetros
estabelecidos por ambas as regras. No entanto, as demais moléculas excederam os
valores máximos permitidos para o logP nas duas regras, bem como o peso molecular
de acordo com a regra de GSK.
1.5. Lead Like Soft:
É utilizada para triagem de compostos químicos e seleção de candidatos a fármacos. A
estratégia consiste em escolher compostos que apresentem características similares
aos compostos líderes, porém com maior flexibilidade e menor rigidez molecular
(LIPINSKI et al., 2004), e com a capacidade de serem modificados para melhorar a
afinidade e/ou seletividade, sem comprometer as propriedades ADMET. Os critérios
utilizados nesse filtro são baseados em valores de referência encontrados na literatura
científica, que descrevem as propriedades físico-químicas de compostos que possuem
semelhanças com compostos líderes (lead-like) (OPREA et al., 2007). Entre as
moléculas analisadas, apenas BZTS e o análogo de isoxazol se enquadraram
perfeitamente nos critérios estabelecidos pela regra LLS. As demais moléculas
apresentaram valores acima do esperado em relação a StereoCenters, MW, logP, HBA,
nrotb, nrb e n_SystemRing.
1.6. Regras de Golden Triangle e Egan:
É uma abordagem que avalia características de lipofilicidade, peso molecular e
interações adequadas em moléculas. Dentre as moléculas analisadas, BZTS foi a que
melhor se enquadrou nesses parâmetros, demonstrando conformidade com os
critérios estabelecidos. No entanto, as demais moléculas apresentaram valores de
peso molecular acima do esperado. Já a regra de Egan, que leva em consideração a
lipofilicidade, acidez e basicidade da molécula para sua avaliação, permitiu a aceitação

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de todas as moléculas estudadas. Essa regra permite avaliar a distribuição das


moléculas em diferentes meios e condições, fornecendo informações relevantes sobre
sua viabilidade como candidatas a fármacos
1.7. R.E.O.S:
É uma estratégia empregada para auxiliar na seleção de compostos com potencial para
se tornarem promissores candidatos a fármacos. Juntamente com outras regras, como
Drug Like Soft e ZINC, são levadas em consideração as propriedades físico-químicas
que afetam a biodisponibilidade oral e a interação com alvos biológicos. Apenas POS e
CHEMBL91704 foram consideradas não conformes, apresentando valores acima do
limite em alguns parâmetros, como MW, HBA e nrotb. Por outro lado, as demais
moléculas analisadas se mantiveram dentro dos limites desejáveis, indicando que
possuem potencial para atravessar membranas celulares e atingir seus alvos, além de
exibirem boa biodisponibilidade.
1.8. ZINC:
A estratégia conhecida como regra ZINC é utilizada para auxiliar na identificação de
compostos com potencial para se tornarem candidatos promissores a fármacos ou
sondas químicas. Além da regra ZINC, outras diretrizes como Drug Like Soft e R.E.O.S
são consideradas, levando em conta as propriedades físico-químicas que influenciam
na biodisponibilidade oral e na interação com alvos biológicos. Com exceção do POS e
CHEMBL91704, todas as outras moléculas analisadas neste estudo atenderam
perfeitamente aos critérios avaliados. Esses resultados sugerem que essas moléculas
possuem potencial para serem consideradas como candidatas promissoras para
desenvolvimento de fármacos, devido à sua conformidade com as características
desejáveis estabelecidas pela regra.
1.1. Propriedades de absorção, distribuição, metabolização, excreção e toxicidade
(ADMET)
Os parâmetros de absorção do ADMET estão sendo avaliados em 6 propriedades
(Anexo 4):
1.1. Absorção
Em termos de absorção, a molécula BZTS mostrou-se a única favorável em todos os
parâmetros avaliados, indicando que possui a melhor absorção em comparação aos
compostos mencionados. Todas as moléculas apresentaram resultados favoráveis em
relação à absorção intestinal humana (HIA) e biodisponibilidade oral humana (HOB). O
POS demonstrou resultados positivos em relação à permeabilidade em células de rim
canino de Madin-Darby (MDCK). Apenas o POS e o CHEMBL91704 não obtiveram
aprovação em relação à permeabilidade em células Caco-2. análogo de isoxazol
também demonstrou resultados favoráveis em relação à permeabilidade cutânea.

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1.1. Distribuição
Em termos de distribuição, todos os compostos apresentaram valores favoráveis para
o parâmetro de Volume de Distribuição (VD). BZTS foi o único favorável para Fração
não ligada (Fu) e Ligação às proteínas plasmáticas (PPB), sendo a molécula mais aceita
nos parâmetros de distribuição.
1.1. Metabolismo
O citocromo P450 desempenha um papel fundamental em várias reações enzimáticas
essenciais, incluindo desintoxicação, oxidação de xenobióticos e ativação ou
desativação de fármacos (NEBERT et al., 2002).
O candidato BZTS foi o que apresentou menos interações com as isoformas do
citocromo P450. Ele é um substrato do CYP2D6 e um inibidor do CYP1A2, o que
significa que é metabolizado pelo CYP2D6 e pode reduzir a atividade do CYP1A2. Além
disso, não é um substrato do CYP3A4 e não inibe as isoformas CYP2C19, CYP2C9,
CYP2D6 e CYP3A4. Isso indica que não é metabolizado pelo CYP3A4 e não afeta a
atividade dessas outras isoformas do citocromo P450. Essas informações são
relevantes para compreender o metabolismo do fármaco e suas possíveis interações
com outros medicamentos que são substratos ou inibidores dessas enzimas. Ao
prescrever medicamentos, é importante considerar essas interações e monitorar os
pacientes quanto a possíveis efeitos adversos.
1.1. Excreção
Para a excreção, os compostos BZTS e DerM apresentaram os melhores desempenhos,
com índices satisfatórios em todos os três parâmetros avaliados, enquanto
CHEMBL3104525 apresentou o pior desempenho, sendo aprovado apenas em um
parâmetro. Todos os compostos foram favoráveis para tempo de meia vida. Apenas
CHEMBL3104525 análogo de isoxazol foram reprovados em Substrato OCT2 Renal.
POS, CHEMBL3104525, CHEMBL91704 foram reprovados em Clearance total.
1.1. Toxicidade
Para o parâmetro de cardiotoxicidade, os compostos CHEMBL3104525, BZTS e análogo
de isoxazol apresentaram resultados satisfatórios, enquanto POS, CHEMBL91704 e
DerM indicaram potencial cardiotóxico, sendo reprovados no parâmetro. O teste de
Cardiotoxic determina se o composto é capaz de inibir os canais de potássio
codificados pelo gene hERG, de acordo com o Pred-hERG. É importante ressaltar que o
órgão mais prejudicado na doença de Chagas é o músculo cardíaco, sendo assim, é
essencial que os compostos não possuam toxicidade nesse aspecto. Foram gerados
dois gráficos referentes a toxicidade dos candidatos a fármaco (Anexo 5).

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1.1. Identificação do alvo molecular, docking, refinamento e construção do perfil de


interações.
Os resultados da etapa de análise farmacocinética revelaram um fármaco promissor, o
CHEMBL193804 (BZTS). Este composto faz parte do grupo das Tiossemicarbazonas,
que têm sido alvo de vários estudos devido à sua atividade contra diversos
protozoários, como Plasmodium falcipar, Trichomonas vaginalis, Trypanosoma cruzi e
Entamoeba histolytica (WALCOURT et al., 2004; AGUIRRE et al., 2004). Nos últimos
anos, o grupo de pesquisa liderado por Borsali tem se dedicado ao estudo do
composto 4-nitrobenzaldeído tiossemicarbazona (BZTS), demonstrando seu potencial
como agente terapêutico contra L. amazonensis e T. cruzi (BRITTA et al., 2014; BRITTA
et al., 2015).
Estudos anteriores, conduzidos por Du et al. (LAUFER et al., 2002), Fujii et al. (FUJII et
al., 2005) e Siles et al. (SILES et al., 2006), relataram as ações inibitórias de derivados
de tiossemicarbazona contra a cisteína protease, conhecida como cruzaina ou
cruzipaina, assim como contra enzimas expressas em todas as fases do ciclo de vida de
T. cruzi. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo caracterizar o sítio de
ligação do BZTS (ChemBL193804) na cruzipaina (RCPDB id: 4klb), descrevendo as
principais interações moleculares que estabilizam o complexo.
A etapa de dockagem foi realizada utilizando os servidores SwissDock e DockThor. No
entanto, devido à necessidade de maior precisão nas funções energéticas, as
plataformas HADDOK e PRODIGY foram empregadas para refinar as estruturas geradas
e fornecer uma análise energética das conformações obtidas.
Quatro compostos estruturais de menor energia foram obtidos, sendo que o melhor
deles apresentou os seguintes resultados: HADDOCK score = -40.0, Van der Waals = -
20.2045 (kcal/mol), energia eletrostática = -106.843 (kcal/mol), energia de
dessolvatação = 0.8 (kcal/mol), afinidade da ligação (variação da energia livre de Gibbs)
= -6.24 (kcal/mol), BSA = 456.054 (Å) e energia total (energia eletrostática + Van der
Waals) = --127.0475 (kcal/mol). A análise evidencia a estrutura DockThor4 como mais
estável, uma vez que possui menor energia, indicando maior probabilidade de
ocorrência espontânea (Figura 2).
O modelo preditivo implementado no PRODIGY foi treinado utilizando um subconjunto
de estruturas de ligação proteica, que foram selecionadas a partir de 144 referências
de afinidade energética não redundantes, contendo tanto estruturas tridimensionais
de componentes não ligados como ligados. Também foram considerados os valores de
dissociação da energia livre de Gibbs (KASTRITIS et., 2011) (Figura 3).
O melhor modelo de acoplamento 3D do complexo Cruzipain-BZTS segundo o
protocolo de refinamento PRODIGY. Fonte: Autoria própria.

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Ao analisar o perfil de interação intermolecular entre a proteína e o ligante utilizando o


PLIP, foi estabelecida uma distância interfacial de 5,5 Å (100). Nesse contexto, foram
identificados sete aminoácidos-alvo principais que desempenham um papel crucial na
estabilidade do complexo fármaco-receptor. A seguir, são mencionadas as ligações e
os nomes desses aminoácidos: TRP26, GLY65 e CYS25 para a ligação de hidrogênio;
MET68 e ALA138 para a interação hidrofóbica; e GLU208 para as pontes salinas (Figura
4, Anexo 6).

Conclusão

O estudo avaliou seis candidatos para o tratamento da doença de Chagas. As


moléculas CHEMBL3104525, BZTS e o análogo de isoxazol se destacaram
positivamente, sendo não cardiotóxicas. O BZTS atendeu a todas as onze regras de
química medicinal, enquanto o CHEMBL
3104525 e o análogo de isoxazol apresentaram valores satisfatórios em algumas
regras. O BZTS também mostrou menor inibição de isoformas do citocromo P450 e não
evidenciou hepatotoxicidade, além de apresentar os melhores resultados na análise
ADMET. Além disso, durante a análise de ancoragem molecular, constatou-se que os
resíduos TRP26, GLY65, CYS25, MET68, ALA138 e GLU208 desempenham um papel
importante na complexação do ligante em seu receptor. Portanto, o BZTS é
considerado o candidato mais promissor devido a suas propriedades farmacocinéticas
superiores e menor potencial tóxico, o que o torna uma opção mais segura com menor
risco de efeitos adversos quando comparado aos demais candidatos.

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Anexos

comparação energética entre os modelos

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melhor modelo proteína-receptor

Cálculo das interações intermoleculares

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ferramentas utilizadas para calcular parâmetros físico-químicos e de ADMET

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gráficos de druglikeness.

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resultados da predição físico-química

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resultados da predição ADMET.

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análise de toxicidade do PredhERG.

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Representação visual das interações intermoleculares.

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CÓDIGO: SB0028

AUTOR: DANIEL MARQUES DA SILVA

ORIENTADOR: BRUNO LOBAO SOARES

TÍTULO: Análise de séries temporais em estudo de respiração do Yoga

Resumo

O presente relatório informa como se deu a execução do plano de trabalho “Análise de


séries temporais em estudo de respiração do yoga”, pertencente ao projeto de
pesquisa “Técnicas respiratórias do yoga na autorregulação da aprendizagem e das
emoções de universitários”, pelo discente de iniciação científica. A participação se deu,
inicialmente, a partir da contribuição com a coleta dos dados de parâmetros
fisiológicos como eletroencefalograma (EEG), eletrocardiograma (ECG) e respiração de
trinta universitários voluntários durante a prática de técnicas respiratórias do yoga,
chamadas de pranayamas, e também nas atividades de indução de estresse
(Mannheim multicomponent stress test ou MMST) e tarefa atencional de Flanker pós-
MMST. Posteriormente, as atribuições do discente estiveram voltadas para o
processamento dos dados coletados durante a tarefa do Flanker por meio do software
BrainVision Analyzer 2.2. A partir da coleta dos dados e da elaboração das etapas para
processamento, os resultados obtidos serão analisados estatisticamente para se
verificar a contribuição da prática dos pranayamas para as alterações
comportamentais e fisiológicas dos participantes do estudo.

Palavras-chave: Yoga; pranayamas; Flanker; Mannheim multicomponent stress


test (MMST).

TITLE: Time series analysis in yoga breathing study

Abstract

This report informs how the work plan “Analysis of time series in a study of yoga
breathing” was carried out, belonging to the research project “Yoga breathing
techniques in the self-regulation of learning and emotions of university students”, by
the scientific research student. Participation was initially based on the contribution
with the collection of data on physiological parameters such as electroencephalogram

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(EEG), electrocardiogram (ECG) and breathing of thirty university students who were
volunteers during the practice of yoga breathing techniques, called pranayama, and
also in stress-inducing activities (Mannheim multicomponent stress test or MMST) and
Flanker's post-MMST attentional task. Subsequently, the student's assignments were
focused on processing the data collected during the Flanker task using the BrainVision
Analyzer 2.2 software. From data collection and elaboration of processing steps, the
results obtained will be statistically analyzed to verify the contribution of the
pranayama practice to the behavioral and physiological alterations of the study
participants.

Keywords: Yoga; pranayamas; Flanker; Mannheim multicomponent stress test


(MMST).

Introdução

Esta iniciação científica teve como objetivo contribuir para o projeto “Técnicas
respiratórias do yoga na autorregulação da aprendizagem e das emoções de
universitários”, cujo objetivo é investigar possíveis modificações comportamentais e
fisiológicas de universitários ao passarem por treinamentos de técnicas baseadas no
controle da respiração do yoga, também conhecidas como pranayamas, de modo a
contribuir para melhor elucidação dos efeitos fisiológicos a longo prazo da prática
regular dessas técnicas. Nesse contexto, busca-se avaliar parâmetros fisiológicos como
eletroencefalograma (EEG), eletrocardiograma (ECG) e respiração, assim como analisar
a capacidade de foco/concentração e de autorregulação emocional através da tarefa
atencional de Flanker pós-teste de indução de estresse (Mannheim multicomponent
stress test ou MMST). A população de estudo foi composta por universitários de
ambos os sexos da UFRN entre 18 e 30 anos de cursos diversos (graduandos e pós-
graduandos), os quais foram randomicamente distribuídos em dois grupos de n=15:
grupo teste, os quais passaram por treinamento das técnicas respiratórias em um
período de oito semanas entre dois registros de dados; e grupo controle, sem
intervenção entre os dois registros.
Os voluntários do grupo teste foram instruídos a praticar no mínimo 10 minutos por
dia a técnica ensinada a eles e tiveram encontros semanais com a instrutora de yoga. A
partir do processamento dos dados coletados e posterior análise estatística dos
resultados, torna-se possível estudar a autorregulação da aprendizagem e das
emoções, assim como uma modulação em parâmetros fisiológicos dessa população
amostral. Caso os resultados sejam benéficos para a saúde, teremos a perspectiva de
implementação desses pranayamas em escolas, universidades e na clínica, como
prevenção e/ou terapia complementar em doenças psicossomáticas e mentais.

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Metodologia

A metodologia do presente plano de trabalho envolveu, inicialmente, a participação na


coleta de dados de EEG, ECG e frequência respiratória dos voluntários por duas vezes
em um intervalo de tempo de oito semanas, durante a realização de técnicas
respiratórias próprias do yoga, da tarefa atencional de Flanker e da indução de
estresse por meio do MMST. Essa participação na coleta de dados dos trinta
universitários envolveu colocação dos eletrodos nas toucas para captação do EEG,
instalação dos equipamentos necessários nos voluntários, condução das etapas da
coleta por meio das instruções repassadas aos participantes, além de monitoramento
durante todo o período do experimento.
A partir dos dados coletados, iniciou-se a análise por meio do software BrainVision
Analyzer 2.2. A primeira etapa envolveu a investigação do potencial relacionado ao
evento (ERP) da tarefa atencional de Flanker, a qual incluiu a segmentação dos dados
para a recorte do período relacionado ao Flanker, seguido pela mudança de referência
dos dados para o valor médio dos eletrodos. Posteriormente, aplicou-se aos dados de
EEG um filtro passa-alta de 1 Hz para eliminar as frequências mais baixas e também um
filtro notch de 60 Hz para amenizar a influência da rede elétrica. O passo seguinte
envolveu a aplicação da análise de componentes independentes para a retirada dos
artefatos dos dados, a qual foi realizada de forma manual com o auxílio de
ferramentas de cálculo do software. Após isso, foi possível aplicar um filtro passa-baixa
de 40 Hz para a eliminação das variações mais rápidas dos dados.
O processamento dos dados foi complementado por uma inspeção que envolveu a
retirada de trechos nos quais as amplitudes dos sinais apresentavam valores muito
distintos ou que variaram muito rapidamente para o que se espera de um EEG
humano. Também foram removidos os trechos que indicavam baixa atividade do sinal,
o que provavelmente ocorre por falha na captação dos eletrodos em determinados
momentos da coleta. Em seguida, o período da tarefa Flanker foi dividido em épocas,
as quais representam as aparições dos eventos e as respectivas reações dos
voluntários. Após isso, corrigiu-se a linha de base dos dados e foram calculadas as
médias das épocas do Flanker para cada voluntário, de modo a permitir o início das
análises estatísticas entre os grupos teste e controle.

Resultados e Discussões

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A atuação na coleta de dados dos voluntários do projeto de pesquisa culminou na


obtenção de dados de EEG, ECG e frequência respiratória de trinta universitários
durante a realização de técnicas respiratórias próprias do yoga, da tarefa atencional de
Flanker e da indução de estresse por meio do MMST antes e após oito semanas. Esse
amplo conjunto de dados permitirá diversas análises a respeito de como a prática ou
não de técnicas respiratórias durante o período entre os dois testes pode alterar
determinadas características dos voluntários, assim como o desempenho relacionado
às tarefas propostas.
Ademais, a partir do ERP relacionado à tarefa atencional de Flanker, obtido por meio
dos passos descritos na metodologia, será possível analisar estatisticamente os dados
obtidos para os grupos teste e controle, obtendo assim as primeiras conclusões à
respeito do estudo sobre os efeitos das técnicas respiratórias do yoga. Além disso, a
construção de uma sequência de etapas para o processamento dos dados obtidos
permitirá a replicação e validação desse modelo para a linguagem de programação
Python, de modo a promover processamentos semelhantes sem a dependência de
softwares pagos, tal qual o usado até então.

Conclusão

A participação enquanto discente de iniciação científica nesta pesquisa contribuiu para


a coleta de dados dos voluntários do projeto “Técnicas respiratórias do yoga na
autorregulação da aprendizagem e das emoções de universitários” e também para a
construção das etapas de processamento das informações obtidas no ERP na tarefa
atencional de Flanker por meio do software BrainVision Analyzer 2.2. Para o
prosseguimento do projeto, será fundamental dar continuidade à análise dos demais
parâmetros coletados, como ECG e MMST, além de migrar as etapas de
processamento para a linguagem de programação Python e para o software MATLAB
(Matrix laboratory), como forma de ter maior domínio quanto às funções
implementadas quando comparado com o programa de computador anteriormente
utilizado. Ao fim do processamento dos dados, será possível realizar a análise
estatística e obter informações acerca da contribuição da prática dos pranayamas para
alterações comportamentais e fisiológicas.

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CÓDIGO: SB0030

AUTOR: JESSICA KAROLINE DE LIMA SILVA

ORIENTADOR: JULLIANE TAMARA ARAUJO DE MELO CAMPOS

TÍTULO: Tecido Adiposo Marrom, Autofagia e Mitofagia nas Lipodistrofias


Congênitas: revisão de literatura e análise molecular.

Resumo

O tecido adiposo consiste principalmente de adipócitos brancos (WAT) ou marrons


(BAT). Ele tem sua importância na regulação dos níveis sistêmicos de energia, na qual
suas diferenças funcionais e equilíbrio são cruciais para que exista uma manutenção do
balanço energético do corpo. As lipodistrofias correspondem a um conjunto de
distúrbios heterogênicos raros, decorrentes de uma perda generalizada ou parcial do
tecido adiposo e caracterizada pela presença de diversas comorbidades metabólicas,
causadas por alterações genéticas ou fatores adquiridos. Estudos já demonstraram que
genes relacionados à lipodistrofias congênitas, como o BSCL2, possuem relação com o
tecido adiposo marrom. Além disso, existem pesquisas relacionadas com a lipodistrofia
parcial familiar do tipo 2 (FPLD2), em que a autofagia demonstra-se desregulada e o
equilíbrio entre o BAT e WAT não são mantidos, o que corrobora com a manifestação
da doença. Outrossim, a autofagia e mitofagia estão implicados em diversas doenças, e
como as mitocôndrias estão altamente presentes no tecido adiposo marrom e danos
nessas organelas já foram associados às lipodistrofias, estudos devem ser feitos para
buscar se existe relação entre a mitofagia no BAT e essas desordens metabólicas.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica
para análise de dados sobre o tecido adiposo marrom em lipodistrofias congênitas e
estudar a relação entre autofagia, mitofagia e o BAT nestes distúrbios.

Palavras-chave: Tecido adiposo marrom. autofagia. mitofagia. Lipodistrofias


congênitas

TITLE: Brown adipose tissue, autophagy and mitophagy in congenital


lipodystrophies: literature review and molecular analysis.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Abstract

Adipose tissue consists mainly of white (WAT) and brown (BAT) adipocytes. It has its
importance in the regulation of systemic energy levels, in which its functional
differences and balance are crucial for maintaining the body's energy balance.
Lipodystrophies corresponds to a set of rare heterogenic disorders, resulting from a
generalized or partial loss of adipose tissue and characterized by the presence of
several metabolic comorbidity, caused by genetic alterations or acquired factors.
Studies already regret that genes related to congenital lipodystrophies, such as BSCL2,
are related to brown adipose tissue. Furthermore, there are studies related to familial
partial lipodystrophy type 2 (FPLD2), in which autophagy is shown to be dysregulated
and the balance between BAT and WAT is not maintained, which corroborates the
manifestation of the disease. Moreover, autophagy and mitophagy are implicated in
several diseases, and as mitochondria are highly present in brown adipose tissue and
damage to these organelles has already been associated with lipodystrophies, studies
should be carried out to find out if there is a relationship between mitophagy in BAT
and these disorders metabolic. Therefore, the present work aims to carry out a
bibliographical research to analyze data on brown adipose tissue in congenital
lipodystrophies and to study the relationship between autophagy, mitophagy and BAT
in these disorders.

Keywords: Brown adipose tissue. Autophagy. Mitophagy. Congenital


lipodystrophies

Introdução

Os lipídios são armazenados no organismo em dois tipos de tecido adiposo: o tecido


adiposo branco (WAT) e o tecido adiposo marrom (BAT). O primeiro é responsável pelo
armazenamento de reservas energéticas no corpo além de isolamento e proteção
mecânica de alguns órgãos vitais, enquanto a função do segundo é a oxidação lipídica
para a produção de calor. Os tecidos adiposos, que consistem principalmente de
adipócitos, são importantes na regulação dos níveis sistêmicos de energia, e um bom
equilíbrio entre é importante para manter a homeostase energética (RÀFOLS, 2014,
WANG; SEALE, 2016).
A perda da função BAT está ligada à obesidade e doenças metabólicas, e aumento do
desenvolvimento de gordura bege e marrom, por outro lado, aumenta o gasto

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energético e melhora a sensibilidade à insulina. Aumentos experimentais de BAT em


animais estão associados a um fenótipo magro e saudável (WANG; SEALE, 2016).
As síndromes lipodistróficas constituem um grupo heterogêneo de doenças raras,
relacionadas à um comprometimento patológico do tecido adiposo, e complicações
metabólicas, incluindo dislipidemia, diabetes, resistência à insulina, doença hepática
gordurosa não alcoólica, disfunções do eixo gonadotrófico e defeitos endócrinos do
tecido adiposo com deficiência de leptina e adiponectina. São originadas de uma perda
generalizada ou parcial de tecido adiposo de acordo com o grau de perda de gordura,
sem evidência de privação de nutrição ou estado catabólico, e resulta de
heterogeneidade genética (doenças hereditárias) quando relacionadas à mutações, ou
causas adquiridas associada à autoimunidade (ARAÚJO-VILAR; SANTINI, 2019; DE
MELO CAMPOS et al., 2021).
Mutações no gene BSCL2 estão associadas à um tipo de Lipodistrofia congênita do tipo
2, é um importante regulador do metabolismo mitocondrial de adipócitos marrons
maduros, e, portanto, para a manutenção e programação da termogênese adaptativa,
além de ser essencial para a manutenção celular e tecidual. Estudos mostram que o
catabolismo lipídico mediado por BSCL2 dentro do BAT é crucial para a função e
sobrevivência dos adipócitos marrons maduros (ZHOU et al., 2020).
Diversos estudos têm relatado que a autofagia, uma via de degradação lisossomal, está
envolvida na regulação do metabolismo lipídico, na diferenciação de adipócitos e na
manutenção do equilíbrio entre WAT e BAT. Foi demonstrado que a ativação da
autofagia é fundamental na diferenciação do WAT, reprimindo o proteassoma-
dependente de degradação de PPARγ2 e provocando uma redução no número de
mitocôndrias, bem como ativação da fusão de gotículas lipídicas. Em contraste, a
inibição química de autofagia levou ao escurecimento do WAT, reduzindo assim o
acúmulo de lipídios (PELLEGRINI et al., 2019).
Em pesquisas relacionadas à Lipodistrofia parcial familiar do tipo 2 (FPLD2), foram
identificadas desregulações no mecanismo de autofagia e diferenciação de adipócitos,
na qual sugerem um novo mecanismo patogenético que leva à distribuição inadequada
de gordura em lipodistrofias ligadas à lâmina A e mostram que tanto a renovação
prejudicada dos adipócitos brancos quanto a falha no escurecimento do tecido adiposo
contribuem para a doença (PELLEGRINI et al., 2019, LIU; CZAJA, 2013).
Autofagia e mitofagia são processos celulares importantes onde há degradação pelos
lisossomos dos componentes intracelulares danificados, sendo a mitofagia específica
para as mitocôndrias. Tais processos estão implicados em diversas doenças
neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson, na qual
exercem funções protetoras ao remover proteínas agregadas anormais. A mais
estudada e relevante para as doenças humanas é a mitofagia, que é responsável pela

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remoção de mitocôndrias aberrantes e envelhecidas (CASTELLAZZI et al., 2019).


Ademais, o aumento da mitofagia geralmente coincide com transições metabólicas, e
os níveis mais significativos de mitofagia in vivo ocorrem dentro dos tecidos de alta
demanda metabólica (LONG et al., 2022).

Metodologia

De acordo com os objetivos propostos, foi realizada a revisão de literatura (não foi
possível a análise molecular), buscando artigos científicos que discutem o tema sobre o
tecido adiposo marrom em lipodistrofias, além da relação com a autofagia e mitofagia,
na base de dados digital PubMed (disponível no National Center for Biotechnology
Information - NCBI). Diante disso, os critérios de inclusão utilizados foram de artigos
científicos publicados nos últimos 12 anos, ou seja, entre os anos de 2011 e 2023, que
abordassem de modo geral a autofagia relacionada ao tecido adiposo, principalmente
o BAT, e também em associação às doenças metabólicas como as lipodistrofias
congênitas, em um contexto clínico e molecular, utilizando as seguintes palavras-chave
em língua inglesa: “adipose tissue and metabolism”, “autophagy and adipose tissue”,
"lipodystrophy prevalence”, “congenital lipodystrophy", “lipodystrophy and
autophagy”, “congenital lipodystrophy and autophagy”, e “BSCL2 and autophagy”.
Dessa maneira, foram examinados os títulos e resumos dos artigos identificados
inicialmente, e posteriormente foram lidos os textos de forma completa na íntegra
para confirmação dos critérios de inclusão, avaliando se o conteúdo tinha correlação
com a proposta deste trabalho. Após a leitura das referências escolhidas a partir
desses critérios de elegibilidade, as informações foram organizadas e reunidas nesta
revisão. No total, foram incluídos 27 artigos.

Resultados e Discussões

TECIDO ADIPOSO E A AUTOFAGIA:


Todas as espécies animais possuem uma maneira de armazenar o excesso de energia a
ser utilizado em caso de necessidades futuras e, na maioria das espécies, os lipídios
são armazenados no tecido adiposo branco (WAT - White Adipose Tissue) (RÀFOLS,
2014). O WAT é o principal tecido armazenador de energia do corpo, possuindo a
função principal de controle da homeostase energética por meio do armazenamento e
liberação de lipídios em resposta às necessidades nutricionais e metabólicas

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sistêmicas, além de desempenhar o isolamento e proteção mecânica a alguns órgãos


vitais do corpo (RÀFOLS, 2014; ZWICK, 2017).
Os adipócitos marrons que compõem o tecido adiposo marrom (BAT - Brown Adipose
Tissue) também realizam o acúmulo e armazenamento de lipídios, como é algo
característico dos adipócitos brancos uniloculares no WAT (PEIRCE; CAROBBIO; VIDAL-
PUIG, 2014). Entretanto, seu papel fisiológico principal é de metabolizar ácidos graxos
para produzir calor, o que é apoiado por conter em suas abundantes mitocôndrias uma
alta proporção da Proteína Desacopladora 1 (UCP1 - Uncoupling protein 1) (PEIRCE;
CAROBBIO; VIDAL-PUIG, 2014; WANG; SEALE, 2016).
De acordo com sua notável capacidade de oxidação de substratos, o BAT é ativado em
roedores em resposta ao consumo excessivo de nutrientes, como a ingestão de uma
dieta rica em gordura, um processo conhecido como termogênese induzida pela dieta.
Em roedores, a exposição crônica ao frio aumenta a capacidade termogênica por
elevar o número de adipócitos marrons, recrutando assim massa BAT. Como parte da
mesma resposta, as chamadas células bege ou “brite” (marrom em branco) também
são recrutadas no WAT, resultando em “bronzeamento” do WAT (PEIRCE; CAROBBIO;
VIDAL-PUIG, 2014).
O browning ou “bronzeamento” do tecido adiposo é um processo de conversão
dinâmica ou modificação de adipócitos brancos em um fenótipo semelhante aos
adipócitos marrons, após indução por estímulos fisiológicos, farmacológicos ou
hormonais, como por exposição ao frio e exercício (RO et al., 2019). Essas células
semelhantes aos adipócitos marrons são os adipócitos bege, que estão localizados
dentro dos depósitos WAT, são multiloculares e possuem um maior nível de expressão
de UCP1 do que os adipócitos brancos, mas não tanto como os marrons, e também
têm a capacidade de converter energia em calor (Wu et al., 2013; WANG; SEALE,
2016).
A autofagia, é um importante processo fisiológico homeostático que ocorre no citosol
das células pelos lisossomos, permitindo degradar e realizar uma reciclagem dos
componentes intracelulares excessivos ou danificados, como as organelas (incluindo
mitocôndrias, peroxissomos e retículo endoplasmático), e ainda, eliminar
componentes indesejados presentes na célula, fornecendo nutrientes para manter
importantes funções celulares em estado de deficiência nutricional (ZHANG; ZEN; JIN,
2012; TAO; XU, 2020; FERHAT; FUNAI; BOUDINA, 2019).
Defeitos nessa via autofágica levam à uma redução significativa dos aminoácidos
intracelulares, e por conseguinte a uma incapacidade da célula de sintetizar proteínas
necessárias para a sobrevivência, o que pode resultar em morte celular (MAIXNER et
al., 2012). Outra importância da autofagia está na manutenção da integridade celular,
isso porque elimina produtos e organelas celulares desnecessárias, danificadas e/ou

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potencialmente nocivas, e evita o acúmulo de proteínas mal dobradas (CASTELLAZZI et


al., 2019). Coerente com essas funções fundamentais, a autofagia tem sido estudada
no contexto de processos biológicos básicos, como o envelhecimento,
desenvolvimento celular e defesa celular contra patógenos, e está implicada na
patogênese de uma grande quantidade de doenças humanas (MAIXNER et al., 2012).
Os três principais tipos de autofagia sofridas pelos adipócitos são: a macroautofagia, a
lipofagia e a mitofagia, que são processos de reciclagem de agregados proteicos, de
excesso de gordura e de mitocôndrias danificadas, respectivamente, em resposta ao
estresse associado ao status de nutrientes, estresse oxidativo e estresse genotóxico no
corpo humano, na qual ocorrem dinamicamente dependendo do estado de
bronzeamento do tecido adiposo (RO et al., 2019; ZHANG; ZEN; JIN, 2012; CAIRO et al.,
2016). Tanto o mau funcionamento da autofagia quanto a disfunção dos adipócitos
estão relacionados às causas de distúrbios metabólicos (TAO; XU, 2020; RO et al.,
2019).
A autofagia em seu funcionamento normal é essencial durante o desenvolvimento. A
primeira evidência do papel da autofagia especificamente no desenvolvimento do
tecido adiposo foi observada avaliando o fenótipo de camundongos com deficiência
em ATG5, pela qual detectou-se uma autofagia de todo o corpo defeituosa. Os
camundongos nocautemorrem no primeiro dia após o nascimento, destacando a
importância da via autofágica no desenvolvimento normal (MAXINER et al., 2012).
Nos últimos anos, diversos estudos destacaram o papel da autofagia na função do
tecido adiposo, como seu papel na adipogênese e na termogênese. Além disso, o
processo autofágico encontra-se prejudicado no tecido adiposo de humanos e animais
obesos e diabéticos, o que evidencia a importância dessa via de degradação lisossomal
para a manutenção da saúde metabólica (FERHAT; FUNAI; BOUDINA, 2019).
A mitofagia, que medeia a degradação intracelular seletiva e diminuição em número
das mitocôndrias para eliminar as que estão danificadas/ disfuncionais e manter a
homeostase celular, quando direcionada para formar mais gotículas lipídicas no tecido
adiposo branco, garantindo uma quantidade adequada correspondente à demanda
energética, contribui em parte para o “branqueamento” dos adipócitos beges,
transformando-os em adipócitos brancos após a retirada do estímulo, como a
exposição ao frio (FERHAT; FUNAI; BOUDINA, 2019; CAIRO; VILLARROYA, 2020; RO et
al., 2019). Então, quando há um bloqueio da mitofagia em adipócitos brancos, as
mitocôndrias deixam de ser degradadas e ficam acumuladas enquanto há inibição da
adipogênese, resultando em um fenótipo de tecido adiposo bege/marrom (RO et al.,
2019).
Diante disso, consistente com estudos de cultura celular, a inibição da mitofagia em
camundongos, a partir da deficiência de um gene relacionado a autofagia ou por

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administração química, demonstrou no tecido adiposo branco o acúmulo de


mitocôndrias com diminuição da massa de gordura e alterações para um fenótipo de
adipócitos marrom/bege (RO et al., 2019).
Outrossim, estudos mais recentes associaram o “branqueamento” de BAT com uma
expressão aumentada de marcadores de mitofagia após dieta rica em gordura,
enquanto a ativação de BAT após exposição ao frio ou estimulação β-adrenérgica é
caracterizada por uma redução na mitofagia. Esses resultados implicam que, para
manter o conteúdo mitocondrial mais alto, o processo mitofágico em BAT deve ser
inibido (FERHAT; FUNAI; BOUDINA, 2019).
Dessa forma, resume-se que, quando a termogênese se encontra ativada, há indução
da biogênese mitocondrial em adipócitos marrons e bege juntamente com o
aparecimento de novos adipócitos bege. E essa ativação do tecido adiposo marrom/
bege é acompanhada por um aumento da lipólise (degradação de lipídios para
abastecer o processo) e inibição da atividade autofágica e mitofágica no geral. De
modo contrário, quando há inativação do tecido adiposo marrom/bege implica na
perda de mitocôndrias e desaparecimento dos adipócitos bege (branqueamento), além
de acúmulo de lipídios (devido à redução da oxidação do substrato) e uma indução da
autofagia e mitofagia, que eliminam os componentes celulares responsáveis pela
termogênese (CAIRO; VILLARROYA, 2020).
A autofagia no tecido adiposo propicia principalmente dois aspectos, de um lado essa
via de degradação lisossomal é necessária para a recombinação citoplasmática e
limpeza mitocondrial durante a formação de gordura, e de outro modo, pode estar
envolvida na regulação do metabolismo mitocondrial nos adipócitos maduros. Assim, a
autofagia então torna-se essencial tanto para a diferenciação dos adipócitos como
para o acúmulo de vesículas lipídicas. Dessa forma, quando há mudanças no estado
nutricional, o processo autofágico pode aumentar ou diminuir a degradação de
gotículas lipídicas de acordo com as necessidades corporais, desempenhando um
papel importante na regulação do metabolismo dos lipídios nos adipócitos e na
manutenção das funções das células adiposas (TAO; XU, 2020).
LIPODISTROFIAS CONGÊNITAS E A AUTOFAGIA
As lipodistrofias têm sido historicamente consideradas doenças muito raras, com
prevalência estimada mundial de aproximadamente 3 casos para um milhão de
habitantes, dividido em 0,23 casos para cada um milhão de habitantes para as
lipodistrofias generalizadas e 2,84 casos em um milhão de habitantes para as
lipodistrofias parciais (CHIQUETTE et al., 2017). No estado do Rio Grande do Norte
(RN), existe uma das maiores taxas de prevalência da Lipodistrofia Generalizada
Congênita (CGL) no mundo, correspondendo a cerca de 32 casos para um milhão de
habitantesc(DE AZEVEDO MEDEIROS et al., 2017).

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As lipodistrofias congênitas estão associadas à redistribuição do tecido adiposo, perda


de tecido adiposo branco subcutâneo e aumento do visceral, e deposição de gordura
em outras regiões do corpo (CAMPOS et al., 2022). Com início da perda de gordura
geralmente se manifestando ao nascimento ou durante o primeiro ano de vida e
associado a uma quase completa falta de tecido adiposo, a Lipodistrofia Generalizada
Congênita (CGL - congenital generalized lipodystrophy) é considerada bastante grave e
relacionada à mortalidade precoce, e as mutações mais comuns nessa lipodistrofia
estão presentes nos genes AGPAT2 e BSCL2 respectivamente relacionados à CGL tipo 1
e CGL tipo 2; enquanto mutações em CAV1 (CGL tipo 3) parece ser muito raro, e em
CAVIN1 (CGL tipo 4, que associa lipoatrofia generalizada e distrofia muscular) é mais
comum que a CGL 3 (ARAÚJO-VILAR; SANTINI, 2019; CAMPOS et al., 2022; LIM et al.,
2021).
Em outra perspectiva, a Lipodistrofia Parcial Familiar (FPLD - familiar partial
lipodystrophy) é caracterizada por uma deficiência de gordura subcutânea nos
membros e região dos glúteos que surge durante a infância ou puberdade, e está
associada a um acúmulo excessivo de tecido adiposo em partes do corpo como a face,
pescoço e área intra-abdominal (CAMPOS et al., 2022). São descritos oito subtipos de
FPLDs, e todos com as causas moleculares primárias sendo genes relacionados ao
envelope nuclear e à homeostase dos adipócitos, como LMNA e PPARγ (ARAÚJO-
VILAR; SANTINI, 2019; CAMPOS et al., 2022). Diante disso, indivíduos com FPLD tipo 2,
também conhecida como Síndrome de Dunnigan, possuem mutações no gene LMNA/C
(que codifica as proteínas do envelope nuclear, laminas A e C), a mais prevalente
forma de Lipodistrofia hereditária de causa monogênica (CAMPOS et al., 2022;
ARAÚJO-VILAR; SANTINI, 2019; LIM et al., 2021).
O diagnóstico é baseado em investigações clínicas, metabólicas e são realizadas
análises genéticas, na qual tem grande relevância para o paciente ter os cuidados
médicos adequados e o aconselhamento genético. As bases moleculares e celulares
dessas síndromes envolvem alterações na diferenciação, estrutura e/ou regulação da
gotícula lipídica de adipócitos e/ou senescência celular prematura, dentre outras
(ZAMMOURI et al., 2022). Ademais, as lipodistrofias, por serem raras e heterogêneas,
podem frequentemente não serem reconhecidas ou serem diagnosticadas
erroneamente, causando-se preocupação devido sua progressividade e possibilidade
de complicações potencialmente fatais (ARAÚJO-VILAR; SANTINI, 2019).
Em pré-adipócitos isolados do BAT interescapular de camundongos recém-nascidos
com deficiência do gene AGPAT2 cultivados/diferenciados in vitro, verificou-se que
antes da diferenciação adipogênica, as proteínas relacionadas à autofagia ATG3,
complexo ATG5–ATG12,ATG7 e LC3II estavam aumentadas, mas o fluxo autofágico
estava reduzido devido um aumento dos níveis de P62 nesses adipócitos
indiferenciados homozigotos para a mutação em AGPAT2 em comparação às células

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do tipo selvagem, mas essas diferenças desapareceram nos dias seguintes de


diferenciação. Com isso, esses achados por meio de estudos in vitro forneceram
informações a respeito de que há um comprometimento do fluxo autofágico basal em
pré-adipócitos indiferenciados deficientes de AGPAT2, gene o qual mutações são
relacionadas à Lipodistrofia Generalizada tipo 1, mas é normalizado após a indução de
diferenciação adipogênica. Desse modo, mesmo a autofagia parecer não estar
envolvida na diferenciação prejudicada de pré-adipócitos com essa mutação, o papel
fisiopatológico da autofagia na CGL1 permanece desconhecido (FERNÁNDEZ-GALILEA
et al., 2015).
A Seipina é uma proteína transmembrana, que reside no Retículo Endoplasmático,
codificada pelo gene BSCL2, e está envolvida em distúrbios metabólicos lipídicos, como
a Lipodistrofia Congênita tipo 2 (CGL2). Sabendo que essa proteína está concentrada
nas junções entre o RE e gotículas lipídicas citosólicas, e é um dos fatores mais
importantes na regulação do metabolismo lipídico ao regular a diferenciação de
adipócitos e morfologia de gotículas lipídicas, além de ter relatos de que o
componente da autofagia LC3 interage diretamente e participa da formação das
vesículas de lipídios somado ao fato de o sistema autofágico ser necessário para a
quebra destas, FAN e colaboradores (2015) investigaram a hipótese de haver relação
direta da seipina com a autofagia, utilizando cultura de células transfectadas com os
plasmídeos de seipina mutada em locais de glicosilação e plasmídeos GFP-LC3. Nesta
pesquisa, encontraram que uma expressão das proteínas seipinas com a mutação
levou à ativação da autofagia (manifestada por uma diminuição da proporção de LC3I
para LC3II) nas 3 linhagens celulares, e alterou substancialmente a distribuição
subcelular do marcador de autofagossomo GFP-LC3, sobrepondo as seipinas mutadas,
levando ao aparecimento de vários vacúolos grandes no citoplasma, indicando que
existe uma relação direta entre BSCL2 e o sistema autofágico (FAN et al., 2015).
Dessarte, verificou-se que mutações da seipina nos locais de glicosilação interrompem
a sua função fisiológica na regulação do metabolismo das gotículas lipídicas, e a
autofagia ativada atua como uma resposta adaptativa para quebrar as gotículas
lipídicas anormais, na qual sua interrupção aceleraria o processo de fusão delas. Sendo
assim, a ativação do sistema autofágico bem como a morfologia anormal das gotículas
lipídicas causadas pela seipina com mutação, foi dependente da desglicosilação,
mostrando que há uma estreita relação entre a proteína mutante, a autofagia e a
morfologia das vesículas de lipídios. Além disso, essas mutações levam ao dobramento
incorreto de proteínas no RE, causando estresse de RE e subsequente ativação
autofágica. Então, no estudo apresentaram que uma possível explicação para
ocorrência de lipodistrofia seria devido um acúmulo ou perda de lipídios em
adipócitos. Por conseguinte, a perda da função proteica normal devido mutações em
BSCL2 pode representar um fator determinante na progressão do distúrbio metabólico

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Berardinelli-Seipin (CGL2), e o processo autofágico constitui um alvo celular para


anormalidades no metabolismo lipídico (FAN et al., 2015).
Em pesquisas relacionadas à Lipodistrofia parcial familiar do tipo 2 (FPLD2), utilizando-
se análise in vitro por meio de cultura celular e transfecção com amostras de BAT
obtidas por biópsias do pescoço de pacientes FPLD2, e estudo in vivo com mulheres
não medicadas afetadas por FPLD2 e submetidas ao estudo PET/CT (Tomografia
Computadorizada por Emissão de Pósitrons) com estimulação ao frio, foram
identificadas desregulações no mecanismo de autofagia e diferenciação de adipócitos,
na qual identificou-se autofagia alterada em pré-adipócitos laminopáticos antes da
indução da diferenciação. Encontraram evidências de ativação da autofagia em
precursores de adipócitos marrons lipodistróficos induzidos a se diferenciar, na qual
houve formação de gotículas lipídicas aumentadas típicas de adipócitos brancos e
desregulação de genes do tecido adiposo marrom; associado a um comprometimento
da formação de grandes gotículas lipídicas na diferenciação de precursores de
adipócitos brancos, além de regulação alterada de genes do tecido adiposo e
expressão de UCP1 que é marcador de BAT. Além disso, o tecido adiposo do pescoço
do paciente FPLD2, uma área de adipogênese marrom, mostrou um fenótipo branco
remanescente de sua origem marrom, associada à avaliação morfofuncional in vivo de
depósitos de gordura na área do pescoço mostrando ausência de atividade do tecido
adiposo marrom (PELLEGRINI et al., 2019; LIU; CZAJA, 2013).
Diante desta perspectiva, PELLEGRINI e colaboradores (2019) encontraram achados
que destacam um novo mecanismo patogenético referente à distribuição inadequada
de gordura em lipodistrofias ligadas à lamina A, e mostram existir uma diferenciação
prejudicada dos precursores de WAT e falha no bronzeamento do tecido adiposo a
partir de uma conversão de pré-adipócitos marrons para a linhagem branca,
contribuindo para a doença. Então, sugeriram o mecanismo que leva à perda
subcutânea de WAT em FPLD2, na qual relaciona-se com uma ativação precoce da
autofagia em precursores de adipócitos, seguida de comprometimento do fluxo
autofágico associado à regulação alterada de PPARγ1 e UCP1; e de outro lado,
obtiveram que o mecanismo que leva ao acúmulo de gordura no distrito do pescoço
FPLD2 está relacionado à ativação autofágica precoce, regulação negativa de PPARγ1 e
diferenciação anormal em direção ao fenótipo WAT. Observações essas que permitem
uma melhor compreensão de como decorre as alterações no tecido adiposo de
indivíduos com FPLD2, como é gerada essa perda subcutânea de tecido adiposo ao
mesmo tempo em que há acúmulo de gordura na região do pescoço, o que também
pode ocorrer em outras lipodistrofias com a mesma anormalidade fenotípica
(PELLEGRINI et al., 2019).
Em estudos realizados a partir de fenotipagem e triagem molecular do gene CAVIN1,
que codifica a proteína cavin-1, na qual mutações estão relacionadas com CGL4, e

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também a partir de estudos celulares conduzidos em fibroblastos de pele de dois


probandos e indivíduos controles além de em pré-adipócitos de murinos, identificaram
duas novas mutações de CAVIN1 homozigóticas associadas à CGL, e observaram que a
deficiência de cavin-1 levou à uma regulação positiva da autofagia, com aumento no
nível de LC3-II, na proporção de LC3-II para LC3-I e uma diminuição do nível de P62,
com consequente resistência à insulina e diferenciação alterada de adipócitos. Os
resultados revelaram pela primeira vez a contribuição de cavin-1 na regulação da
autofagia, na qual viu-se que sua deficiência prejudica a adipogênese, ao passo que a
inibição da autofagia pelo nocaute de ATG5 resgatou em parte a diferenciação de
adipócitos alterada e a resistência celular à insulina (SALLE-TEYSSIÈRES et al., 2016).
Neste contexto, foram mostrados por SALLE-TEYSSIÈRES et al. (2016) novos
mecanismos fisiopatológicos que podem abrir novas perspectivas terapêuticas para
doenças do tecido adiposo associadas à uma desregulação da autofagia, incluindo
CGL4, como sugeridos pelo conjunto de resultados obtidos na pesquisa, de os defeitos
metabólicos induzidos pela deficiência de cavin-1 serem mediados por uma regulação
positiva constitutiva do fluxo autofágico, havendo a possibilidade dessa proteína atuar
como um regulador fisiológico negativo da autofagia. Dessa forma, a autofagia
desregulada por causa de mutações que levam a ausência de uma proteína, contribui
para a lipodistrofia e resistência à insulina em várias patologias, em especial para a
fisiopatologia da lipoatrofia e as disfunções metabólicas associadas em CGL4 (SALLE-
TEYSSIÈRES et al., 2016; LIM et al., 2021).

Conclusão

Os dados revisados neste trabalho permitem enfatizar a importância dos tipos de


tecido adiposo para o metabolismo energético e homeostase corporal, em especial do
tecido adiposo marrom, e sua compreensão possibilita contribuir com novas
descobertas e estratégias terapêuticas para os distúrbios metabólicos relacionados,
como as lipodistrofias.
Foi notório que, a autofagia é um processo de degradação fortemente regulado e
essencial para a manutenção da homeostase fisiológica das células eucarióticas; ao
degradar componentes celulares defeituosos representa um processo de renovação,
além de ser crucial para a sobrevivência fornecendo nutrientes essenciais, e também
desempenha funções mais especializadas, tais como a regulação da diferenciação de
adipócitos, degradação de lipídios, manutenção do equilíbrio entre WAT e BAT,
liberação de adipocinas inflamatórias nos adipócitos.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Como analisado nesta revisão bibliográfica, a autofagia defeituosa têm sido implicada
nas lipodistrofias congênitas, o que enfatiza-se a existência de complexas relações
entre o tecido adiposo e o metabolismo corporal, incluindo a autofagia como
perspectiva futura de potenciais opções terapêuticas no campo das lipodistrofias, na
qual visualizou-se uma escassez de pesquisas relacionadas apesar de sua gravidade, e
em outras doenças do tecido adiposo associadas à uma desregulação das vias
autofágicas.
Diante desta perspectiva, a regulação adequada da autofagia, em especial também da
mitofagia, é importante para a homeostase metabólica, necessária para garantir a
função do tecido adiposo, e para prevenir ainda mais distúrbios metabólicos. Portanto,
como o processo autofágico pode desempenhar um papel crítico na prevenção ou
atenuação dessas doenças, a manipulação dos processos autofágicos no tecido
adiposo para fins terapêuticos carece de maior compreensão dos mecanismos
regulatórios que controlam a autofagia e sua contribuição para a fisiopatologia dos
tecidos adiposos.
Dessa maneira, há alguns questionamentos importantes a serem levantados ainda,
para elucidar o envolvimento da autofagia no tecido adiposo em distúrbios
metabólicos, como por exemplo: 1) Quais são os efeitos adversos no corpo causados
por inibição da autofagia, em caso de uma intervenção destas desordens do
metabolismo, para conversão de WAT em tecido adiposo marrom ou bege?; 2) A
desregulação da atividade autofágica detectada nos pacientes com lipodistrofias
congênitas, são a causa ou consequência destes distúrbios no tecido adiposo?. Logo,
enfatiza-se a importância e a necessidade de estudos futuros nessa área, no que diz
respeito à atuação da autofagia como um importante mecanismo patogenético nas
lipodistrofias congênitas, visto que o sistema autofágico é um potencial mecanismo
para compreender e contribuir com medidas terapêuticas para as lipodistrofias
congênitas, com base nas citações revisadas neste estudo.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0034

AUTOR: LUDMILA THAINA CHAVES FREITAS

ORIENTADOR: BENTO JOAO DA GRACA AZEVEDO ABREU

TÍTULO: ANÁLISE MORFOLÓGICA DOS NERVOS ISQUIÁTICOS DE


ANIMAIS DIABÉTICOS SUBMETIDOS À OXIGENOTERAPIA HIPERBÁRICA

Resumo

Introdução: A Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica caracterizada por


hiperglicemia crônica, afetando milhões globalmente. Ela engloba DM tipo 1 (causada
por destruição de células pancreáticas) e DM tipo 2 (causada por resistência à
insulina). A hiperglicemia crônica prejudica sistemas orgânicos, inclusive nervoso e
cardiovascular. A Neuropatia Diabética (ND) é comum, afetando a função nervosa, e
lesões traumáticas em nervos periféricos são debilitantes.Este estudo avalia a
Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB) como tratamento em lesões de nervo isquiático em
ratos diabéticos. A OHB envolve oxigênio sob alta pressão, mostrando promessa na
regeneração neural e dor neuropática. Objetivos: Avaliar os efeitos da OHB em modelo
de lesão nervosa em ratos diabéticos induzidos por estreptozotocina, enfocando
morfologia e funcionalidade da regeneração. Metodologia: Utilizando 60 animais, a
DM foi induzida com STZ, divididos em grupos: C+L (normoglicêmicos com lesão
nervosa); C+L+OHB (normoglicêmicos com lesão nervosa e OHB); DM+L (diabéticos
com lesão nervosa); DM+L+OHB (diabéticos com lesão nervosa e OHB). A lesão do
nervo isquiático foi realizada conforme Perez et al (2018). Conclusões: O estudo
contribuirá para compreender a OHB como terapia adjuvante em lesões nervosas
periféricas em pacientes diabéticos.

Palavras-chave: DM; nervo isquiático; Oxigenoterapia hiperbárica; morfologia

TITLE: MORPHOLOGICAL ANALYSIS OF ISCHIAL NERVES OF DIABETIC


ANIMALS SUBMITTED TO HYPERBARIC OXYGEN THERAPY

Abstract

Introduction: Diabetes Mellitus (DM) is a metabolic syndrome characterized by chronic


hyperglycemia, affecting millions globally. It encompasses type 1 DM (caused by

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eCICT 2023

destruction of pancreatic cells) and type 2 DM (caused by insulin resistance). Chronic


hyperglycemia impairs organ systems, including the nervous and cardiovascular
systems. Diabetic Neuropathy (DN) is common, affecting nerve function, and traumatic
injuries to peripheral nerves are debilitating. This study evaluates Hyperbaric Oxygen
Therapy (HBO) as a treatment for sciatic nerve injuries in diabetic rats. HBOT involves
high pressure oxygen, showing promise in neural regeneration and neuropathic pain.
Objectives: To evaluate the effects of HBOT in a model of nervous injury in diabetic rats
induced by streptozotocin, focusing on morphology and functionality of regeneration.
Methodology: Using 60 animals, DM was induced with STZ, divided into groups: C+L
(normoglycemic with nerve damage); C+L+HBO (normoglycemic with nerve damage
and HBOT); DM+L (diabetics with nerve damage); DM+L+HBO (diabetics with nerve
damage and HBOT). Sciatic nerve injury was performed according to Perez et al (2018).
Conclusions: The study will contribute to understanding HBOT as an adjuvant therapy
in peripheral nerve injuries in diabetic patients.

Keywords: MD; sciatic nerve; Hyperbaric oxygen therapy; morphology

Introdução

A Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica caracterizada por hiperglicemia


crônica, exigindo controle glicêmico rigoroso e assistência médica constante. Atingindo
cerca de 387 milhões de pessoas globalmente, sua prevalência deve aumentar em 205
milhões até 2035 devido a fatores de risco como obesidade e sedentarismo.
Classificada em tipos 1 e 2, a DM do tipo 1 resulta em destruição autoimune das
células ß-pancreáticas, enquanto a DM tipo 2 é marcada por resistência à insulina e
disfunção na secreção. As complicações, incluindo danos aos sistemas nervoso e
cardiovascular, abrangem danos severos ao sistema locomotor, provenientes da
neuropatia periférica (ND) em pacientes diabéticos. A hiperglicemia crônica glicosila
proteínas e afeta múltiplos tecidos, mesmo antes do desenvolvimento da ND.
A ND, prevalente em 45-50% dos pacientes diabéticos, impacta a qualidade de vida,
resultando de danos microvasculares, defeitos na bomba Na+-K+-ATPase e alterações
na condução neural. Estas anormalidades incluem redução na velocidade de condução,
amplitude e alterações na morfologia neural. A ND frequentemente demonstra
simultaneamente degeneração e regeneração nervosa, prejudicando a sinaptogênese,
regeneração e remielinização dos axônios afetados, o que interfere na reabilitação de
lesões nervosas traumáticas. As lesões de nervos periféricos, afetando 350.000
indivíduos nos EUA, geram déficits motores e sensoriais, além de dor neuropática
crônica.
A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) tem emergido como abordagem promissora para
tratar lesões graves, incluindo isquemias cerebrais, neuropatias e cicatrização de

234
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

feridas. A OHB envolve administração intermitente de oxigênio a alta pressão,


combatendo hipoxemia e hipóxia. Recentemente, estudos demonstraram que a OHB
pode promover a regeneração nervosa e oferecer efeitos neuroprotetores em lesões
cerebrais e medulares. Além disso, a OHB atua na dor neuropática através de
mecanismos opioides cerebrais. A literatura ainda carece de dados conclusivos sobre a
eficácia da OHB em lesões de nervos periféricos, devido a diferentes modelos
experimentais e metodologias empregadas.
Considerando esse cenário, este estudo visa investigar os efeitos da OHB em lesões do
nervo isquiático em ratos diabéticos tipo 1, focando na morfologia e funcionalidade
durante a regeneração. Isso tem relevância clínica, oferecendo insights sobre a
aplicabilidade da OHB como terapia adjuvante para lesões de nervos periféricos em
pacientes diabéticos. Com o objetivo de desvendar os mecanismos de ação da OHB,
este estudo se alinha às pesquisas prévias do grupo, que também exploraram o
impacto da OHB em outros órgãos.
Em última análise, os resultados deste projeto podem contribuir para consolidar a OHB
como uma estratégia eficaz no tratamento de lesões de nervos periféricos em
pacientes diabéticos, oferecendo informações valiosas sobre as características
morfológicas, eletrofisiológicas e funcionais do nervo em regeneração. Isso pode ter
implicações significativas na intervenção clínica, melhorando a qualidade de vida
desses pacientes e oferecendo uma abordagem mais eficaz para tratar essa
complicação da Diabetes Mellitus.

Metodologia

Neste estudo, foram utilizados 60 ratos machos da linhagem Wistar, com idades em
torno de 40 dias e peso médio de 220-300 g, obtidos do Biotério do Centro de Ciências
da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os animais foram
distribuídos em quatro grupos: C+L (normoglicêmicos com lesão nervosa), C+L+OHB
(normoglicêmicos com lesão nervosa e tratados com OHB), DM+L (diabéticos com
lesão nervosa) e DM+L+OHB (diabéticos com lesão nervosa e tratados com OHB).
Os ratos foram alojados em grupos de quatro por caixa, mantidos em condições
controladas de temperatura (24 ± 2°C) e iluminação (12 horas claro/12 horas escuro),
com acesso livre a água e ração. Após uma semana de adaptação, a indução da
diabetes foi realizada com uma única dose de estreptozotocina (STZ) em ratos dos
grupos diabéticos, verificando-se a glicemia após sete dias. Os animais com glicemia
superior a 250 mg/dl foram considerados diabéticos. O protocolo experimental foi
aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da UFRN.

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eCICT 2023

A lesão do nervo isquiático foi induzida em todos os grupos, exceto o C+L, através de
transecção completa do nervo. A sutura epineural foi realizada, e os animais foram
monitorados durante a recuperação. A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) foi
administrada aos grupos C+L+OHB e DM+L+OHB durante cinco semanas após a lesão,
com sessões de 70 minutos, três vezes por semana. A OHB foi realizada em uma
câmara hiperbárica com pressão de 2 atmosferas absolutas e 100% de oxigênio.
Após as cinco semanas de tratamento, os animais foram eutanasiados e os nervos
isquiáticos foram coletados. Procedimentos histológicos foram aplicados, incluindo
coloração com Hematoxilina e Eosina (HE) e “sudan black” para bainha de mielina.
Imagens foram processadas para quantificação da área da mielina e do número de
capilares. Análises histomorfométricas incluíram a medição do diâmetro máximo e
mínimo da fibra nervosa, diâmetro do axônio, razão G (indicador de mielinização) e
espessura da bainha de mielina.
A análise estatística foi realizada com o software SPSS 22.0, empregando ANOVA one-
way e testes post-hoc para comparações entre grupos. Um nível de significância de 5%
foi utilizado.
Dessa forma, este estudo empregou ratos da linhagem Wistar, induziu diabetes em
ratos selecionados, realizou lesões no nervo isquiático em diversos grupos, aplicou
tratamento com OHB em grupos específicos e conduziu análises histológicas e
histomorfométricas para avaliar a morfologia do nervo e os efeitos do tratamento. O
protocolo experimental foi conduzido em conformidade com padrões éticos e
científicos, buscando entender os impactos da OHB na regeneração de nervos
periféricos em ratos diabéticos.

Resultados e Discussões

4.1 Análise clínica Resultados das dosagens glicêmica ainda não disponíveis devido a
futura divulgação como Artigo científico. 4.2 Análise Morfológica Resultados ainda não
disponíveis devido a futura divulgação como Artigo científico. 4.3 Análise
Eletromiográfica e funcional Resultados das dosagens glicêmicas ainda não revelados
devido a futura divulgação como Artigo científico.

Conclusão

A partir dos dados obtidos por meio das análises concluiremos se os efeitos da
oxigenoterapia hiperbárica no reparo do nervo isquiático em um modelo experimental
de ratos diabéticos induzidos por estreptozotocina são significativos.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0036

AUTOR: RIAN LUCAS DE OLIVEIRA PINTO

ORIENTADOR: ALEXANDRE FADIGAS DE SOUZA

TÍTULO: Revisão sobre a Ecologia e o Extrativismo de espécies arbóreas


tropicais com ênfase em Euterpe precatória (o açaí do Amazonas) - Fase II

Resumo

Este estudo explora uma revisão sobre a compreensão ecológica das populações de
árvores tropicais, com foco na Euterpe precatoria, o açaí-amazonas, na região central
da Amazônia, destacando a importância do estudo populacional das espécies arbóreas.
O estudo abrange temas como a demografia de espécies tropicais, focando no açaí
solteiro, e considera influências sazonais, como inundações nas áreas de várzea e
estresse de sombra nas terras firmes. Explora fatores denso-dependentes, competição
intraespecífica e a relevância ecológica e socioeconômica do açaí. Em relação às
variações demográficas das plantas em gradientes ambientais, fatores como
disponibilidade de recursos, interações e perturbações influenciam taxas demográficas
como sobrevivência, crescimento, fecundidade e recrutamento. A competição por
recursos, principalmente a luz solar, é crucial em habitats tropicais, com densidade de
árvores afetando a sombra e o estabelecimento de plantas dependentes de luz.
Fatores bióticos também influenciam, com espécies abundantes como o açaí do
Amazonas, a espécie arbórea mais abundante da Amazônia, que podem sofrer por
efeitos dependentes da densidade, devido à competição, levando a impactos negativos
no crescimento e reprodução e estabelecimento. Esses efeitos podem variar
dependendo de onde a planta está estabelecida. A pesquisa sobre a Euterpe precatoria
destaca a ecologia das árvores tropicais e a importância de entender sua demografia
para a conservação e manejo.

Palavras-chave: Ecologia Tropical; Ecologia de Populações; Demografia de


Palmeiras

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TITLE: Review on the Ecology and Extraction of Tropical Tree Species with
Emphasis on Euterpe precatoria (açaí da Amazônia) - Phase II

Abstract

This study explores a review of the ecological understanding of tropical tree


populations, focusing on Euterpe precatoria, the Amazonian açaí palm, in the central
region of the Amazon rainforest, highlighting the importance of studying the
population dynamics of tree species. The study covers topics such as the demography
of tropical species, with a focus on the solitary açaí palm, and considers seasonal
influences such as flooding in várzea areas and shade stress in upland areas. It delves
into density-dependent factors, intraspecific competition, and the ecological and socio-
economic significance of açaí. Regarding demographic variations of plants across
environmental gradients, factors such as resource availability, interactions, and
disturbances influence demographic rates like survival, growth, fecundity, and
recruitment. Competition for resources, especially sunlight, is pivotal in tropical
habitats, with tree density affecting shading and the establishment of light-dependent
plants. Biotic factors also play a role, with abundant species like the Amazonian açaí
palm being subject to density-dependent effects due to competition, resulting in
negative impacts on growth, reproduction, and establishment. These effects can vary
based on the plant's location. The research on Euterpe precatoria underscores the
ecology of tropical trees and the importance of understanding their demography for
conservation and management.

Keywords: Tropical Ecology; Population Ecology; Demography of Palms

Introdução

O plano de trabalho teve como objetivo a realização de uma revisão bibliográfica


sobre o conhecimento ecológico relativo ao processo extrativista de populações
arbóreas tropicais, com ênfase em Euterpe precatória (o açaí do Amazonas). A revisão
representa a primeira etapa de um projeto que está sendo desenvolvido que aborda a
dinâmica populacional e a viabilidade do extrativismo sustentável da espécie em toda
a cadeia produtiva. Nas próximas etapas serão realizadas as análises de dados.
Uma compreensão mais profunda do conhecimento ecológico, juntamente com a
análise das dinâmicas das populações nativas, no contexto extrativista, tem um papel
fundamental na promoção da gestão sustentável da cadeia de suprimentos de

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produtos florestais não madeireiros e na administração dos recursos naturais. Essa


abordagem se baseia na crescente consciência entre os especialistas em Ecologia sobre
a interdisciplinaridade entre as diversas áreas do conhecimento.

Metodologia

Buscamos a literatura publicada disponível através do ISI Web of Science e do Google


Scholar. Para cada artigo escolhido foi utilizado o protocolo de escolha com base em
citações e impacto do artigo e autores. Para cada tópico de interesse foi estabelecido
escolher pelo menos um artigo referência na área, um artigo com publicação recente,
e um pioneiro no tema. Em seguida, selecionamos artigos relevantes que abordaram
temas sintetizados em cada parágrafo de interesse de maneira mais aplicada e
sistemática. Incluímos revisões e estudos baseados em conjuntos de dados tanto
regionais quanto globais, incluindo: 1) Demografia de espécies tropicais, com foco no
açaí solteiro; 2) Influência sazonal no que diz respeito ao bioma amazônico, como
inundações nas áreas de várzea; 3) Estresse da sombra nas áreas de terra firme do
bioma; 4) Fatores denso dependentes e competição intraespecífica; 5) Importância
ecológica e socioeconômica do Açaí. Se não foi encontrado um artigo que seguiu nosso
protocolo de escolha, procuramos adicionar os que sintetizaram semelhanças em
resultados com objetivos dos temas propostos.

Resultados e Discussões

Compreender a demografia das espécies tropicais é fundamental para entender a


estrutura de abundância das comunidades ecológicas, e para a elaboração de planos
de manejo. Os determinantes da distribuição, composição e riqueza das espécies
arbóreas variam com o tipo de hábitat (PIRONON et al., 2018) e de sua escala espacial
(EISERHARDT et al., 2011). Fatores como a competição, dispersão, tamanho do nicho e
a distribuição das condições ambientais no espaço e no tempo desempenham um
papel importante na determinação da distribuição das espécies em relação à
distribuição do habitat adequado, que é expressão do seu nicho (PULLIAM, 2000;
SCHURR et al., 2012). De modo que cada espécie responde a específicas e possíveis
combinações de condições ambientais onde está inserida. Espécies mais adaptadas a
um determinado habitat possuem maiores taxas demográficas de sobrevivência,
crescimento e fecundidade interferindo diretamente em sua abundância (MAGUIRE,
1973; SCHURR et al., 2012). Essas taxas, porém, podem variar, de maneira coincidente

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ou não entre habitats dentro da ocorrência regional da espécie, com efeitos complexos
sobre a abundância local (MAGUIRE, 1973; PIRONON et al., 2018).
O desempenho demográfico das espécies varia ao longo de diferentes gradientes
ambientais, incluindo gradientes de disponibilidade de recursos, de interações e de
perturbações. Vários fatores implicam em respostas complexas que as espécies
apresentam, em função dos trade-offs de suas taxas demográficas (sobrevivência,
crescimento, fecundidade e recrutamento) e selecionam espécies com histórias de
vida mais ou menos adaptadas à aquisição de recursos (e.g., crescimento rápido e
dependência de luz abundante) ou à sua conservação (e.g., crescimento lento e
capacidade de sobreviver na sombra) (KUPERS et al., 2019; ZHU et al., 2015) Esses
fatores influenciam o desempenho das plantas expostas a esses gradientes ambientais,
sendo a luz geralmente o principal fator limitante do crescimento de plântulas em
florestas ombrófilas densas, recurso tipicamente limitado nas densamente
sombreadas planícies amazônicas (BRUM; SOUZA, 2020; COMITA; HUBBELL, 2009;
ROZENDAAL et al., 2020). A maior disponibilidade de luz, por exemplo, aumenta as
taxas demográficas, principalmente entre as espécies mais adaptadas a ambientes
abertos, como as palmeiras, que dominam as várzeas nas planícies amazônicas (BRUM;
SOUZA, 2020; ROZENDAAL et al., 2020). Estas espécies devem apresentar taxa
demográfica reduzida na terra firme, onde podem depender fortemente da abertura
de clareiras para atingir a idade adulta e completar seu ciclo de vida (HOUSEHOLDER et
al., 2021; SVENNING, 2001, 2002). Característica também marcante dessas regiões é a
perturbação periódica causada pela inundação nas áreas de várzea (BRUM; SOUZA,
2020; HAUGAASEN; PERES, 2006; HOUSEHOLDER et al., 2021). Essas regiões
apresentam heterogeneidade topográfica entre várzeas mais altas e mais baixas
devido à declividade do terreno e a dinâmica de inundação (DANTAS et al., 2020). As
inundações periódicas reabastecem o solo das planícies aluviais com nutrientes,
devido à deposição de sedimentos ricos em minerais trazidos de regiões a montante
(DANTAS et al., 2020; WJ JUNK, 1989). A inundação periódica do rio causa uma
submersão das sementes e plântulas, reduzindo a germinação e o estabelecimento
(BRUM; SOUZA, 2020; HAUGAASEN; PERES, 2006), e alterando as taxas demográficas,
inclusive ligadas a mecanismos de sobrevivência que reduzem e aliviam as condições
hipóxicas e anóxicas, através da plasticidade fenotípica (DANTAS et al., 2020; FERREIRA
et al., 2009). Os efeitos ecológicos desses dois gradientes, de luz e de inundação, são
diversos, moldando os padrões de distribuição e interferindo na ontogenia das plantas
(VALLADARES; NIINEMETS, 2008).
A competição por recursos, incluindo a luz solar, é um fator importante na ecologia de
populações e na regulação de plantas em habitats tropicais. A abundância de árvores
pode ser um fator intermediário importante nessa competição (ROZENDAAL et al.,
2020). Quando há uma maior abundância de árvores em um habitat tropical, a

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cobertura de folhagem aumenta, o que leva a uma maior sombra no sub-bosque e


pode dificultar o estabelecimento e a persistência de espécies de plantas mais
dependentes de luz (HUBBELL et al., 2001). Alguns estudos comprovam a taxa de
crescimento em altura sendo influenciada pela disponibilidade de luz, com maior
crescimento em áreas mais iluminadas (NINAZUNTA et al., 2016). A área basal das
árvores presentes na vizinhança de cada indivíduo tem se revelado como uma
ferramenta importante para avaliarmos a competição em florestas tropicais pluviais.
Assim, se uma determinada área apresenta maior adensamento de árvores, isto
sugere uma maior competição por recursos, como a luz. É o caso das sub-populações
de Euterpe edulis na Mata Atlântica de Santa Catarina em condições diferentes de área
basal florestal, cujo crescimento foi menor em vizinhanças com maior área basal
(SILVA; LAUTERJUNG; REIS, 2020). Por isso, estratégias de ciclo de vida são importantes
de forma que compense as variações nas condições abióticas e bióticas e locais, além
de superar os efeitos denso-dependentes a. A capacidade de manter taxas
demográficas positivas a despeito de efeitos denso-dependentes, de variação de
habitat e de competição inter-específica em vizinhanças adensadas, o que permite
justificar a hiper-dominância de algumas espécies nas florestas tropicais, como é o
caso de algumas palmeiras (NINAZUNTA et al., 2016; TER STEEGE et al., 2013).
Fatores bióticos também moldam a história de vida das espécies e influenciam o
desempenho demográfico das populações. Espécies mais abundantes, nos trópicos,
costumam apresentar denso-dependência negativa como resposta à alta densidade
populacional coespecífica, causando efeitos negativos no crescimento, na reprodução,
na dispersão e mortalidade (HÜLSMANN; CHISHOLM; HARTIG, 2021). Isso pode estar
relacionado à mortalidade de plântulas e sementes por herbívoros e patógenos
(COMITA; STUMP, 2020; FRECKLETON; LEWIS, 2006; HARMS et al., 2000), bem como à
forte competição intra-específica por espaço e recursos (BERGAMO et al., 2020;
SOUZA, 2017), o que limita o crescimento populacional (HÜLSMANN; CHISHOLM;
HARTIG, 2021). Apesar dos efeitos denso-dependentes negativos serem focos nos
estudos de dependência da densidade, efeitos positivos podem ser observados através
da estabilização das condições microclimáticas, como temperatura e umidade, e da
proteção contra predadores e patógenos (GOLDENHEIM; IRVING; BERTNESS, 2008;
LOAYZA et al., 2017). Embora o estresse ambiental seja frequentemente associado a
efeitos negativos, ele é frequentemente usado de maneira inadequada em estudos
empíricos, o que acaba superestimando o papel dos fatores abióticos na estrutura da
comunidade (KRAFT et al., 2015). Com o aumento dos níveis de estresse ambiental
podem, na verdade, surtir efeitos positivos na denso-dependência. Isso ocorre porque
a maior intensidade e frequência de interações coespecíficas positivas podem proteger
os indivíduos contra o aumento do estresse abiótico (ZHANG; TIELBÖRGER, 2020). Os
efeitos da densidade tendem a ser mais pronunciados nas fases iniciais da vida e
aumentar com a proximidade filogenética (NINAZUNTA et al., 2016; ZHU et al., 2015).

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A concentração da pesquisa apenas nos estágios iniciais pode levar à perda de


informações importantes sobre a população, já que os efeitos denso-dependentes
podem ser observados em fases de vida maiores e até em adultos (GOLDBERG et al.,
2001; SOUZA, 2017). Esses efeitos denso-dependentes podem ser sutis e variações
significativas podem também ser esperadas quando comparamos diferentes escalas de
habitats e entre diferentes espécies (HÜLSMANN; CHISHOLM; HARTIG, 2021; MATOS;
FRECKLETON; WATKINSON, 1999).

Conclusão

Neste trabalho, revisamos os sobre o conhecimento ecológico relativo ao processo


extrativista de populações arbóreas tropicais, com ênfase em Euterpe precatória (o
açaí do Amazonas (Euterpe Precatoria) na Amazônia central. Sendo a espécie mais
abundante da amazônia (TER STEEGE et al., 2013), essa palmeira parece ser uma
espécie-chave potencial da ecologia na região devido às suas funções ecológicas, que
desempenham um papel crítico na manutenção da biodiversidade e dos serviços
ecossistêmicos, incluindo sua floração e frutificação, que são importantes para a fauna
granívora (STEVENSON, 2005). Além disso, o açaí solteiro é um produto florestal não
madeireiro essencial para as comunidades ribeirinhas da Amazônia (LOPES et al.,
2019). É um alimento energético, fonte de propriedades nutricionais, ricas em fibras e
antioxidantes (PEIXOTO et al., 2016). Também possui muitas utilidades para indústria
farmacêutica, podendo ser usado em produtos antiinflamatórios, antienvelhecimento
e como um fotoprotetor, sendo tema de extensas pesquisas, devido a sua utilidade
para a indústria fitoquímica (KANG et al., 2012; ROCHA, 2004). Além de seu potencial
para a produção de fármacos e alimentação, o caroço e os resíduos do açaí podem ser
utilizados como biocombustível pela sua propriedade lignocelulósica (AMARAL et al.,
2022; RIBEIRO; GONÇALVES, 2023), integrando sua produção à economia local
(BARROS et al., 2021). Atualmente, o açaí é cada vez mais valorizado como commodity
no mercado internacional e pode ser um dos principais produtos produzidos em
sistemas agroflorestais (LOPES et al., 2019), embora sua cadeia de produção ainda
enfrente diversas limitações logísticas e de técnicas produtivas.

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CÓDIGO: SB0037

AUTOR: GABRIEL MELO CALDAS NOGUEIRA

COAUTOR: CHRISTINA DA SILVA CAMILLO

COAUTOR: SHEILA RAMOS DE MIRANDA HENRIQUES

COAUTOR: HELAINE CRISTIANE SILVA

COAUTOR: GABRIEL CARVALHO DE OLIVEIRA CRUZ

COAUTOR: MARIA DO SOCORRO MEDEIROS AMARANTE DO


NASCIMENTO

ORIENTADOR: SERGIO ADRIANE BEZERRA DE MOURA

TÍTULO: Preparação histológica de espécimes teciduais da glândula tubária e


glândulas salivares maiores e menores.

Resumo

As glândulas tubárias foram relatadas em 2021 como estruturas localizadas na região


da parede da faringe próximo ao tubo auditivo com a presença de mucina nas células
do referido tecido glandular. A literatura reporta argumentos a favor da classificação
da glândula tubária como glândula salivar. O objetivo do estudo foi realizar a
preparação de espécimes teciduais de glândulas tubárias e descrevê-las a partir da
observação em microscopia óptica. Os achados foram comparados com a descrição
histológica das glândulas salivares menores e maiores. Foi realizada a coleta de
espécime tecidual na em onze cadáveres sob a responsabilidade legal do
Departamento de Morfologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. O material foi processado por histotécnicas, produzidas lâminas que
foram coradas em Hematoxilina e Eosina, ácido periódico de Schiff e picrosirius red. As
lâminas foram analisadas por microscopia óptica e foram observados fragmentos de
glândulas exócrinas predominantemente mucosas e presença de estruturas ductais. As
estruturas glandulares são envolvidas por tecido conjuntivo, o qual emite septações.
Ainda não é possível concluir se de fato são glândulas salivares, apesar de muitas

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características indicarem que sim. São necessários mais estudos sobre o tema, com a
utilização de marcadores imuno-histoquímicos.

Palavras-chave: Glândula tubária, Preparação histológica, Glândulas salivares.

TITLE: Histological preparation of tissue specimens from the tubarial gland and
major and minor salivary glands.

Abstract

Tubarial glands were reported in 2021 as structures located in the region of the
pharyngeal wall close to the auditory tube with the presence of mucin in the cells of
said glandular tissue. The literature reports arguments in favor of classifying the
tubarial gland as a salivary gland. The objective of the study was to perform the
preparation of tissue specimens of tubarial glands and describe them from observation
in optical microscopy. The findings were compared with the histological description of
the minor and major salivary glands. Tissue specimens were collected from eleven
cadavers under the legal responsibility of the Morphology Department of the
Biosciences Center of the Federal University of Rio Grande do Norte. The material was
processed by histotechnics, producing slides that were stained in Hematoxylin and
Eosin, periodic acid Schiff and picrosirius red. The slides were analyzed by optical
microscopy and fragments of predominantly mucous exocrine glands and the presence
of ductal structures were observed. Glandular structures are surrounded by connective
tissue, which gives off septations. It is still not possible to conclude whether they are in
fact salivary glands, although many characteristics indicate that they are. Further
studies on the subject are needed, using immunohistochemical markers.

Keywords: Tubarial gland, Histological preparation, Salivary glands.

Introdução

Por meio de tomografia por emissão de pósitrons com ligantes de antígenos de


membrana específicos da próstata (PSMA PET/CT), um par de glândulas similares à
glândulas salivares, localizadas na parede posterior da nasofaringe, foram descobertas.
Por estarem próximas do toro tubário, importante estrutura da nasofaringe humana,
foram denominadas de "glândulas tubárias". Essa descoberta foi relatada por Valstar
et al. em 2021, em um artigo publicado no Journal of Radiotherapy and Oncology. A
pesquisa é relevante no campo da oncologia, uma vez que, ao se realizar radioterapia
na região da cabeça e pescoço, as glândulas salivares devem ser protegidas para que
não sejam danificadas. Portanto, se de fato essas estruturas forem glândulas salivares,

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eCICT 2023

novos protocolos de proteção na radioterapia deverão ser criados (VALSTAR et al.,


2021).
A natureza exata dessas glândulas tem sido objeto de questionamentos na literatura.
Narayan e colegas (2021) argumentaram que as evidências eram insuficientes para
classificá-las como glândulas salivares, enquanto Schumann (2021) relatou que órgãos
similares na nasofaringe humana já foram descritos em publicações alemãs e,
portanto, esse achado não seria uma nova descoberta.
Pushpa e colaboradores (2021) realizaram uma análise histológica da nasofaringe de
um cadáver, processando e corando os espécimes teciduais com Hematoxilina e Eosina
(HE) e ácido periódico de Schiff (PAS). Eles observaram glândulas exócrinas com
características de secreção mucosa, bem como células mioepiteliais, marcadas por
imuno-histoquímica. Com base nisso, vê-se que esse tema ainda é pouco explorado na
comunidade científica. Por isso, o propósito deste trabalho foi realizar o
processamento histológico e a coloração de lâminas de espécimes teciduais de
glândulas tubárias e descrevê-las a partir da observação em microscopia óptica. Os
achados foram comparados com a descrição histológica das glândulas salivares
menores e maiores.

Metodologia

A proposta foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UFRN) que emitiu
parecer favorável (4.895.434). Foram dissecadas cabeças de 11 cadáveres que estão
sob a responsabilidade do Laboratório de Anatomia Humana, do Departamento de
Morfologia (DMOR), Centro de Biociências (CB), da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Na dissecação, foram coletados materiais da região do toro
tubário, das glândulas salivares submandibular, parótida, palatinas e labiais.
O material obtido foi fixado em solução de Bouin, passando por técnicas de
processamento histológico no Laboratório de Técnicas Histológicas (DMOR/CB/UFRN),
emblocado em parafina e foram preparadas lâminas com o espécime tecidual coradas
com Hematoxilina e Eosina, ácido periódico de Schiff (PAS) e Picrosirius red. As lâminas
histológicas foram analisadas por microscopia óptica. As análises das glândulas
tubárias foram comparadas com as organizações histológicas das glândulas salivares
maiores e menores. As lâminas foram analisadas em microscopia óptica.

Resultados e Discussões

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A análise histológica dos espécimes de glândulas tubárias revela áreas coloração


significativa por PAS (Figuras 01 e 02), compatível com glândulas exócrinas
mucosas. Foram observados ductos glandulares localizados em posição periférica do
espécime que apresentam características compatíveis com ductos excretores (Figuras
03 e 04). Também observamos a presença de septações (Figura 05). Por a estrutura
estar anatomicamente próxima da mucosa respiratória, em uma lâmina foi possível
observar o epitélio respiratório (Figura 06). Além da análise das glândulas tubárias, foi
realizada a descrição histológicas das glândulas salivares maiores (parótida e
submandibular) e salivares menores (palatinas e labiais (Figura 07) e das glândulas
salivares maiores, provenientes da parótida (Figura 08) e da submandibular (Figura
09). A parótida e a submandibular foram coradas com o Picrosirius, evidenciando a
grande presença de tecido conjuntivo na região.

Conclusão

Os cortes histológicos de glândula tubária examinados por microscopia óptica


apresentam estruturas de glândulas exócrinas, com porções secretoras produtoras de
material mucoso, circundadas por tecido conjuntivo em formato de septações. Entre
as estruturas secretoras, foi possível observar ductos excretores circundados por
tecido conjuntivo. Ainda foi possível observar epitélio respiratório, o que está em
consonância com a estrutura da glândula. A análise das glândulas salivares maiores e
menores foi dentro do esperado, com o destaque para a coloração do Picrosirius, que
permitiu visualizar a grande quantidade de tecido conjuntivo no parênquima da
parótida e da submandibular.
A respeito da pergunta feita por Valstar et al. em 2021, se a glândula tubária seria ou
não um tipo de glândula salivar, em nossa análise não foi possível afirmar de certeza,
mas há muitos indicativos de que pode ser (presença de ducto excretor e de
septações, além das glândulas mucosas). É necessário mais pesquisa nesse contexto,
em especial com o uso de marcadores imunohistoquímicos, para saber mais sobre o
assunto e definir os possíveis futuros protocolos de radioterapia.

Referências

1 VALSTAR, Matthijs H. et al. The tubarial salivary glands: A potential new organ at risk
for radiotherapy. Radiotherapy and Oncology, v. 154, p. 292-298, 2021.

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2 NARAYAN, Ravi K. et al. A macroscopic salivary gland and a potential organ or simply
tubarial sero-mucinous glands?. Radiotherapy and Oncology: Journal of the European
Society for Therapeutic Radiology and Oncology, 2020.
3 SCHUMANN, Sven. Salivary glands at the pharyngeal ostium of the Eustachian tube
are already described in histological literature. Radiotherapy and Oncology, v. 154, p.
326, 2021.
4 PUSHPA, N. B.; RAVI, Kumar Satish; DURGAPAL, Prashant. Discovery of new salivary
gland–A substantial histological analysis. Radiotherapy and Oncology, v. 161, p. 92-94,
2021.

Anexos

Figura 01 - Glândula tubária exibindo áreas coradas por PAS - Aumento: 50x.

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Figura 02- Glândula tubária exibindo áreas coradas por PAS - Aumento: 100x.

Figura 03 - Ducto excretor da glândula tubária. Corante H&E - Aumento: 500x.

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Figura 04 - Ductos excretores da glândula tubária. Corante H&E - Aumento: 500x.

Figura 05 - Septos conjuntivos na glândula tubária. Coloração H&E - Aumento: 100x.

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Figura 06 - Epitélio respiratório na proximidade das estruturas glandulares. Glândula


tubária. Coloração H&E - Aumento: 500x.

Figura 07 - Glândula parótida - Coloração: Picrosirius - Aumento: 100x.

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Figura 08 - Glândula submandibular - Coloração: Picrosirius - Aumento: 100x.

Figura 09 - Palato - Corante PAS - Aumento de 50x.

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CÓDIGO: SB0040

AUTOR: ANA CAROLINA COSTA CAVALCANTE

ORIENTADOR: JULLIANE TAMARA ARAUJO DE MELO CAMPOS

TÍTULO: Compreendendo as funções da Caveolina-1 na Lipodistrofia


Congênita Generalizada do tipo 3 e Parcial Familiar do tipo 7 através de
Análises de Bioinformática

Resumo

As lipodistrofias são um grupo heterogêneo de doenças raras em que seus portadores


apresentam como sintoma principal uma quantidade reduzida de tecido adiposo
branco subcutâneo, além de alterações sistêmicas semelhantes a síndrome metabólica
relacionada à obesidade, como diabetes mellitus do tipo 2, hiperinsulinemia e
dislipidemia, podendo progredir para quadros mais graves. Podem ser classificadas em
dois grandes grupos, as lipodistrofias generalizadas congênitas e as lipodistrofias
parciais familiares. Dentro desses grandes grupos, existem dois tipos que ocorrem
devido a variantes patogênicas no mesmo gene, CAV1, sendo elas a lipodistrofia
generalizada congênita do tipo 3 e a lipodistrofia parcial familiar do tipo 7.
Recentemente foi classificado um novo tipo de lipodistrofia que também apresenta
variantes patogênicas nesse mesmo gene, chamada de nova síndrome de lipodistrofia
associada a síndrome progeróide neonatal. Esse gene codifica a proteína caveolina-1,
um importante componente das caveolas, invaginações na membrana plasmática com
diversas funções no metabolismo celular. Por ser uma doença rara, existem poucos
estudos que correlacionem os genótipos e fenótipos encontrados nos pacientes e
pouco se sabe também como as mudanças estruturais ocasionadas na proteína
caveolina-1 interferem no metabolismo desses pacientes. Esse trabalho visa analisar o
genótipo e fenótipo de pacientes bem descritos na literatura com esses três tipos
distintos de lipodistrofias.

Palavras-chave: Lipodistrofias. Variantes patogênicas. CAV1. Caveolina-1.

TITLE: Understanding Caveolin-1 functions in Congenital Generalized


Lipodystrophy type 3 and Familial Partial Lipodystrophy type 7 through
Bioinformatics analysis

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Abstract

Lipodystrophies are a heterogeneous group of rare diseases. Their carriers present a


reduced amount of subcutaneous white adipose tissue as the main symptom.
However, they also experience systemic alterations similar to those seen in obesity-
related metabolic syndrome, including type 2 diabetes mellitus, hyperinsulinemia and
dyslipidemia. Lipodystrophies can be classified into two large groups: congenital
generalized lipodystrophies and familial partial lipodystrophies. Within these groups,
two types occur due to different mutations in the gene CAV1. These types are
congenital generalized lipodystrophy type 3 and familial partial lipodystrophy type 7.
Recently, a new type of lipodystrophy syndrome associated with neonatal progeroid
syndrome has been classified involving the same gene. This gene is responsible for
encoding the protein caveolin-1, which plays a crucial role as a component of caveolae.
They are invaginations in the plasma membrane that have diverse functions in cell
metabolism. Due to the rarity of this disease there have been limited studies
correlating the genotypes and phenotypes observed in patients. Consequently, the
understanding of how the structural changes caused by mutations in the caveolina-1
protein interfere with the metabolism of affected individuals remains limited. The
objective of this study is to analyze the genotype and phenotype of patients who have
been well-documented in the literature with these three different types of
lipodystrophies.

Keywords: Lipodystrophies. Pathogenic variants. CAV1. Caveolin-1.

Introdução

As lipodistrofias são um grupo heterogêneo de doenças raras em que seus portadores


apresentam uma quantidade reduzida de tecido adiposo branco subcutâneo. Esse
grupo de doenças tende a gerar um interesse considerável, pois é tipicamente
associada com diversas manifestações da síndrome metabólica relacionada à
obesidade, incluindo a diabetes mellitus do tipo 2, doença hepática gordurosa não
alcoólica, hiperinsulinemia, dislipidemia, hipertensão e síndrome do ovário policístico.
Em casos de falta de acompanhamento médico, essas desordens metabólicas podem
progredir para comorbidades mais severas, como pancreatite aguda, cirrose hepática,
carcinoma hepático, insuficiência renal, doenças cardiovasculares e sepse. As
quantidades reduzidas de tecido adiposo branco nas lipodistrofias são a causa principal
dos baixos níveis séricos de leptina e adiponectina, hormônios produzidos por este
tecido que atuam na regulação metabólica do indivíduo. Concentrações baixas de
leptina, o “hormônio da saciedade”, pode resultar em um comportamento alimentar
aumentado, devido à falta de sensação de saciedade. Devido à maior ingestão de
calorias e a falha em armazenar os triglicerídeos no seu local adequado, quase todos

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os pacientes manifestam acúmulo de gordura em órgãos menos otimizados para essa


função. Esse processo, conhecido como acúmulo ectópico de gordura, ocorre
principalmente no fígado, pâncreas e músculo esquelético, mas pode ocorrer em
outros tecidos. As características físicas desses indivíduos, além das já citadas, variam
bastante, podendo incluir: problemas de crescimento, veias e musculaturas
proeminentes, acantose nigricans, xantomas eruptivos, acromegalia e entre outras
características. Existem dois grandes grupos nessa doença. Um deles é a Lipodistrofia
Generalizada Congênita (CGL), uma doença autossômica recessiva rara que resulta na
quase completa ausência de tecido adiposo, no desenvolvimento de uma aparência
acromegálica, resistência à insulina, com acantose nigricans, diabetes mellitus,
dislipidemias, hepatoesplenomegalia, ovários policísticos, dentre outras complicações.
A CGL do tipo 3 está relacionada a variantes patogênicas no gene CAV1, localizado no
cromossomo 7q31 e que codifica a proteína caveolina-1, importante componente das
caveolas, sendo elas invaginações especializadas com diversas funções na membrana
de diversos tipos celulares como adipócitos, células endoteliais, fibroblastos, endotélio
e em diferentes tipos celulares no pulmão. As mutações associadas a esse distúrbio
são homozigóticas e localizadas no éxon 2 e 3 do gene CAV1. O outro grande grupo é a
Lipositrofia Parcial Familiar (FPLD), caracterizada pela perda de gordura gradual nos
membros inferiores e superiores, além da região dos glúteos, resultando na
visualização facilitada de músculos e veias superficiais mais proeminentes. Em alguns
pacientes, o tecido adiposo pode se acumular ou permanecer em quantidade normal
no rosto, pescoço, região intra-abdominal e, em mulheres, na região da vulva.
Anormalidades metabólicas incluem resistência à insulina, diabetes mellitus, acantose
nigricans, hipertrigliceridemia, pancreatite, hirsutismo, anormalidades menstruais e
ovário policístico ocorrem com frequência. A FPLD do tipo 7 também está relacionada
a variantes patogênicas no gene CAV1 em heterozigose nas regiões 5’ UTR e no éxon 3.
Ademais, um novo tipo de lipodistrofia generalizada com início neonatal foi descrita
envolvendo o gene CAV1, especificamente com variantes patogênicas na região do
éxon 3. Essa nova síndrome é bastante heterogenia e se manifesta tanto com
características clássicas da lipodistrofia quanto características das síndromes
progeróides, como perda de tecido adiposo nas regiões glúteas, das mãos e pés, baixa
estatura, alopecia, osteoporose, pele manchada, entre outras.

Metodologia

Para realização desse projeto, foi realizada uma revisão da literatura no período de
setembro de 2022 à maio de 2023, buscando artigos científicos na base de dados
digital PubMed. Os critérios de inclusão utilizados foram de artigos publicados nos
últimos 23 anos, ou seja, entre os anos de 2000 e 2023, que abordassem relatos de

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casos de pacientes com lipodistrofia generalizada congênita do tipo 3, lipodistrofia


parcial familiar do tipo 7 e a nova síndrome de lipodistrofia associada a síndrome
progeróide neonatal, que possuíssem análises genotípicas conclusivas associando
essas doenças ao gene CAV1, utilizando as seguintes palavras-chave em língua inglesa:
“congenital generalized lipodystrophy”, “congenital generalized lipodystrophy type 3”,
“familial partial lipodystrophy”, “familial partial lipodystrophy type 7”, “novel neonatal
onset lipodystrophy syndrome”, “CAV1”, “Caveolin-1”. As informações obtidas nesses
artigos foram analisadas e organizadas em três grupos, um para cada tipo de
lipodistrofia estudado, analisando tanto as características genotípicas quanto as
fenotípicas dos pacientes. Ademais, foi realizado uma busca no mesmo período em
registros de bancos de dados digitais que relacionam genes e doenças hereditárias,
OMIM, e que reúnem dados sobre sequências e funcionalidades de proteínas, UniProt,
para esclarecer as funcionalidades do gene e proteína estudados nesse trabalho e
tentar elucidar o que ocorre nos pacientes relatados.

Resultados e Discussões

Para os pacientes com CGL 3 foram encontrados dois artigos. No primeiro artigo, Kim
et al (2008) relatam o caso de uma paciente brasileira com uma alteração homozigota
no éxon 2 do gene CAV1. A mudança de nucleotídeo c.112G→T leva a uma
substituição do ácido glutâmico na posição 38 por um códon de parada (p.Glu38X). O
relato dessa paciente A consta que ela nasceu de pais consanguíneos; foi notado
lipoatrofia facial aos 3 meses de idade; Seu desenvolvimento foi normal, exceto por
episódios recorrentes de pneumonia, diarreia crônica e crescimento deficiente; Aos 8
anos teve o diagnóstico de lipodistrofia generalizada com hipertrofia muscular,
organomegalia e características físicas correspondentes a severa resistência à insulina,
incluindo acantose nigricans e hirsutismo; Aos 9 anos foi constatado
hepatoesplenomegalia e esteatose hepática; Aos 13 anos foi diagnosticada com
diabetes mellitus, severa hipertrogliceridemia associada a hipercolesterolemia e
concentrações plasmáticas quase indetectáveis de leptina e adiponectina; Sua estatura
permaneceu abaixo da média desde os 8 anos até a idade adulta; Aos 20 anos também
foi diagnosticada com amenorreia primária. Já no segundo artigo, Karhan et al (2021)
realizaram o relato de quatro membros de uma grande família consanguínea da
Turquia. Foi identificada uma nova deleção homozigota de dois pares de bases
(c.237_238del) no éxon 3 do gene CAV1, resultando em um “frameshift” e terminação
prematura. Os relatos clínicos desses quatro pacientes foram descritos do seguinte
modo: a paciente B foi encaminhada aos 15 anos de idade para a Mersin University
com dificuldades para deglutir; Seus pais eram primos de primeiro grau; Ela
apresentava rosto triangular e acromegálico, com perda generalizada de gordura nas

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mãos e região plantar, uma pele fina e manchada com vasos dérmicos visíveis,
acantose nigricans nas virilhas e axilas, musculatura proeminente e mãos e pés
aumentados; desde os 14 anos ela se queixa de hirsutismo e amenorreia secundária;
Apesar da baixa estatura e massa corporal, ela foi descrita por ter um apetite voraz;
Exames laboratoriais mostraram hipertrigliceridemia, baixos níveis de HDL,
hiperinsulinemia em jejum e leptina; Exames de imagem confirmaram o diagnóstico de
CGL além de mostrar presença de ovários policísticos, esteatose hepática e estágios
iniciais de acalasia. O paciente C possui 18 anos e é primo da paciente B, também foi
encaminhado por dificuldade de deglutição; É relatado a presença de lipodistrofia
generalizada e características dismórficas leves desde a primeira infância; Seus sinais e
sintomas eram semelhantes ao da paciente B, entretanto suas anormalidades
metabólicas eram mais leves; Acalasia do tipo 2 foi diagnosticada após exames de
imagem, além de uma possível retinite pigmentosa atípica. A paciente D, uma menina
de 10 anos de idade, e a paciente E, uma menina de 8 meses de idade, foram
analisadas durante a triagem familiar sistemática e, assim como os pacientes
anteriores, nasceram de pais consanguíneos; Possuíam atraso de crescimento,
presença de aparência dismórfica e lipoatrofia generalizada; Suas avaliações físicas
eram normais, entretanto investigações laboratoriais encontraram altos níveis de
triglicerídeos e insulina, além de baixos níveis de HDL. Com o relato desses pacientes
foi elaborado uma tabela para melhor visualização de seus sinais e sintomas. É possível
observar algumas similaridades entre todos os 5 indivíduos, como por exemplo a
consanguinidade dos progenitores. Por ser uma doença de herança autossômica
recessiva, é necessário que ambos os alelos do gene CAV1 presentes na pessoa
tenham variantes patogênicas que causem CGL3. Em famílias consanguíneas, a
prevalência de determinadas sequências gênicas é maior devido à falta de
variabilidade genética entre os indivíduos. Ademais, algumas características clínicas se
repetem nos pacientes do primeiro e segundo artigo, apesar de possuírem mutações
distintas. Podemos observar que todos tiveram deficiência nos seus crescimentos e
ganho de peso, apesar de relatos de apetite voraz. Na primeira infância, todos
mostraram aparecimento de características de perda de tecido adiposo,
principalmente na região da face, e aparência dismórfica, padrões compatíveis com a
CGL3, tendo em vista ser uma doença congênita. Musculatura proeminente também
foi vista em todos os casos, o que pode ser explicado pela falta de tecido adiposo
recobrindo os músculos, dando mais destaque e apresentando mais definição para
esse tecido. Diabetes mellitus foi diagnosticada apenas em uma das pacientes, assim
como a resistência à insulina. Entretanto, características que são associadas a
resistência à insulina, como a acantose nigricans e hirsutismo, são encontradas em
outras duas pacientes que não foram relatadas com esse diagnóstico. Mas ambas são
características de causas multifatoriais, logo podem não estar relacionadas
necessariamente a resistência a insulina. Com relação aos sintomas sistêmicos, as

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pacientes A e B apresentaram esteatose hepática, o que faz sentido com a patogenia


da doença. Outro sintoma em comum dessas duas pacientes é a alteração nos órgãos
reprodutivos. Ambas apresentam amenorreia e apenas uma apresenta ovários
policísticos. Atualmente, na literatura, já é conhecido que os baixos níveis de leptina
em mulheres podem causar amenorreia e problemas de fertilidade, principalmente em
mulheres abaixo do peso. Com relação aos exames bioquímicos, os parâmetros mais
importantes com relação a lipodistrofias de um modo geral são: o aumento da
quantidade de triglicerídeos, que está presente em 4 dos 5 pacientes analisados, e o
aumento de insulina circulante no corpo que indica a resistência à insulina, presente
em 3 dos 5 pacientes. Um parâmetro específico para pacientes com CGL é o baixo nível
de HDL-c, que foi presente em 4 dos 5 pacientes nesse estudo. Podemos concluir que
os sinais e sintomas, apesar de algumas vezes serem semelhantes, se apresentam de
formas distintas entre os pacientes. Porém, as características “clássicas” se
manifestam na maioria, como a consanguinidade parental, lipoatrofia detectada nos
primeiros meses de vida, hipertrigliceridemia, hiperinsulinemia em jejum. Apesar do
pequeno número amostral, também é possível perceber que os sinais e sintomas são
mais agressivos em mulheres. Algumas explicações para tal acontecimento podem ser
interferências genéticas, estilo de vida ou epigenética. Ademais, alguns estudos
mostram que a severa deficiência de leptina pode levar a perda de secreção de
gonadotrofinas, o que poderia resultar em problemas relacionados aos órgãos
reprodutores femininos, mas até então não existem estudos específicos
documentados com pacientes com CGL.
Para os pacientes com FPLD 7 foi encontrado apenas um artigo. Cao et al (2008)
relatam o caso de três pacientes, todos possuíam mutações raras e heterozigota no
gene CAV1. Dois pacientes (A e B), a filha e seu pai respectivamente, possuíam a
mutação c.400del (p.l134Lfs*5), que ocorre no éxon 3 desse gene, resultando em um
término prematuro com perda da porção carboxiterminal do produto proteico. Já o
terceiro paciente (C) possui a mutação -88delC que ocorre na região 5’ UTR. Os relatos
clínicos desses três pacientes foram descritos do seguinte modo: a paciente A foi
avaliada aos 28 anos e desde o início da fase adulta fazia uso de cadeira de rodas; Ao
nascimento, foi notada falta de tecido adiposo subcutâneo em seu rosto e tronco,
micrognatia e catarata congênita; Anos mais tarde foi notado diplopia, zunido nos
ouvidos e defeito no processamento auditivo central; possuía hiperlipoproteinemia do
tipo 5 de forma severa, pancreatite recorrente, além de resistência à insulina, porém
sem presença de diabetes; Ao longo de mais exames, foi notado que ela possuía
hipotensão ortostática, um palato arqueado e alto, pele esticada com pouco tecido
adiposo subcutâneo na região dos glúteos, quadris e coxas, presença de dedos
palmados, acantose nigricans, retinite pigmentosa, nistagmo acentuado, dismetria
ocular, disdiadococinesia, marcha espástico-atáxica, clônus espontâneo das pernas,
sinais bilaterais de Babinski, potência reduzida na extremidade inferior, perda da

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sensação de vibração nas mãos e pés, parestesia e desequilíbrio e incontinência


urinária; Investigações laboratoriais mostraram plasma lipêmico com elevados níveis
séricos de colesterol e triglicerídeos. O paciente B, pai da paciente A, possui 55 anos de
idade, era diabético e possui uma distribuição de gordura corporal semelhante à de
sua filha; Ele possuía catarata congênita e retinite pigmentosa, entretanto não possuía
mais nenhuma queixa de sintomas neurológicos; Em exames, foi notada falta de tecido
adiposo subcutâneo no rosto, pescoço e membros, também possuía sensação
diminuída em ambas as pernas, mas com potência muscular normal, apesar de
apresentar uma marcha instável; O paciente possui anormalidades bioquímicas menos
severas que sua filha, como uma hipertrigliceridemia mais leve e nenhum histórico de
pancreatite. Já o paciente C possuía 35 anos ao ser avaliado; Ele notou que no início
dos seus 20 anos possuía reservas de gordura redistribuídas com relativa perda de
tecido adiposo subcutâneo nos braços, glúteos, coxas e panturrilhas, entretanto seu
tecido adiposo visceral se apresentava aumentado na região abdominal; possuía
hipertrigliceridemia severa, que surgiu também por volta dos seus 20 anos, junto com
episódios recorrentes de pancreatite; Aos 33 anos foi diagnosticado com diabetes.
Com o relato desses pacientes foi elaborado uma tabela para melhor visualização de
seus sinais e sintomas. É possível observar que os pacientes A e B, parentes que
possuem a mesma mutação, apresentam um quadro clínico parecido. Porém é possível
notar que a mulher apresenta um quadro mais grave em relação aos homens, mesmo
quando apresenta a mesma mutação. A distribuição de tecido adiposo também segue
um padrão de semelhança entre os indivíduos, enquanto A e B possuem perda de
tecido apenas na região da face e braços, o indivíduo C apresenta perda nos braços,
glúteos, coxas e panturrilhas. Essas diferenças relacionadas ao tecido podem ocorrer
devido a diferença das mutações que ocorrem entre eles. Com relação a exames
laboratoriais, foi constatado apenas nos pacientes do sexo masculino a presença de
diabetes mellitus a partir dos 30 anos de idade. Hiperlipoproteinemia, ou dislipidemia,
dos tipos 4 e 5 foram diagnosticados em todos os pacientes. Como consequência, é
possível perceber esse aumento de compostos gordurosos no sangue através da
medição de triglicerídeos plasmáticos realizada pelos pacientes. Quanto as queixas
relacionadas ao sistema nervoso, é notada a predominância de sintomas na paciente
do sexo feminino, reiterando que o sexo biológico do portador pode ter alguma
relação com a gravidade das lipodistrofias. Enquanto o paciente C não apresenta
nenhuma alteração nesse quesito, os pacientes A e B compartilham algumas queixas.
Por fim, para os pacientes com a nova síndrome de lipodistrofia neonatal associada a
síndrome progeróide neonatal foi encontrado um artigo com análise genotípica e três
com análise fenotípica. Garg et al (2015) relata sobre dois pacientes, o paciente A,
sendo um menino caucasiano da Espanha que possuía uma mutação de novo em
heterozigose no éxon 3 do gene CAV1, a c.424C>T, que resulta em perda de função da
proteína. Já a paciente B, era uma menina de quase 2 anos de idade, também

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caucasiana, mas que possuía outra mutação de novo em heterozigose, a


c.479_480delTT, que também resulta em perda de função. Os relatos clínicos desses
dois pacientes foram descritos do seguinte modo: o paciente A, que possui 7 anos,
nasceu de uma gestação normal, sem consanguinidade parental e sendo o único dos
três filhos do casal a apresentar esse quadro clínico; Foi notado que ele possuía pele
fina, face dismórfica, má distribuição de gordura corporal, baixo ganho de peso, seus
pés e mãos eram azulados, seus pelos eram loiros, finos e cresciam de forma lenta;
Exames revelaram perda generalizada de tecido adiposo subcutâneo, exceto nos
glúteos, pouca musculatura, abdômen levemente protuberante, fígado palpável, pele
fina e seca com vasos dérmicos claramente visíveis; Seus níveis séricos de HDL se
encontrava baixo; Aos 30 meses de idade, notou-se a formação de catarata bilateral
avançada, exigindo cirurgia. Já a paciente B, assim como o paciente A, não possuía pais
consanguíneos e também possuía outros dois irmãos saudáveis; Ela tinha uma
acentuada perda generalizada de tecido adiposo subcutâneo, pele manchada,
fontanelas grandes e rosto triangular; Alimentava-se mal e apresentava disfagia e
aspiração crônica, além de vômitos e diarreias cíclicas; Exames mostraram perda
generalizada de tecido adiposo subcutâneo, exceto nos glúteos, associado a pele fina e
manchada; Seus dentes eram pequenos e amarelados e possuía cabelos finos; Exames
laboratoriais mostraram baixos níveis de HDL; Uma tomografia computadorizada do
tórax aos 18 meses revelou uma malformação arteriovenosa pulmonar no lobo inferior
esquerdo e uma biopsia de pulmão revelou hipertensão arterial pulmonar; Aos 27
meses foi visto também sinais de infiltração de gordura no fígado; Ao longo do seu
desenvolvimento, seu peso e altura permaneceram abaixo do esperado para sua
idade. Com o relato desses pacientes foi elaborado uma tabela para melhor
visualização de seus sinais e sintomas. Ambos os pacientes possuem pais não
consanguíneos, outros irmãos saudáveis e nenhum relato semelhante na família, se
diferenciando dos casos de FPLD 7 e CGL 3, que dependem da herança da mutação.
Ambos também tiveram certos comprometimentos na região do crânio, como por
exemplo a presença de macrocefalia e rosto triangular. De forma individual, o paciente
A apresentou hipoplasia mandibular, nariz fino, boca pequena e catarata. Já a paciente
B apresentou fontanela anterior aberta e possível atrofia cerebral. Muitas das
características encontradas estão mais relacionadas à síndrome progeróide do que
com características já descritas em lipodistrofias, porém a catarata foi um sintoma
relatado em pacientes com FPLD 7. Com relação ao tecido adiposo, ambos
apresentaram um padrão de distribuição semelhante tanto de perda quanto de
conservação de gordura. Problemas sistêmicos relatados nos artigos foram com
relação ao quilotórax, pneumotórax bilateral, hipertensão pulmonar e má formação
arteriovenosa, todos encontrados na paciente B. Apesar da caveolina estar bem
presente nas células pulmonares, não é possível afirmar com certeza que essas
características decorrem apenas da mutação de gene CAV1. Em contrapartida, o

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paciente A desde muito novo apresenta um dos principais sintomas sistêmicos


encontrados em pacientes com lipodistrofias, a hepatomegalia. Analisando os exames
bioquímicos dos pacientes, o paciente A apresenta altos índices de colesterol e
triglicerídeos e índices normais de HDL, enquanto a paciente B apresenta um quadro
diferente com índices de colesterol e triglicerídeos normais, enquanto seus níveis de
HDL se encontram baixos. Devido à pouca idade dos pacientes, é possível que esses
parâmetros sofram variação ao longo do tempo e se estabilizem em valores normais
no futuro. Porém, devido a presença de lipodistrofia, o mais provável é que esses
pacientes desenvolvam quadros de hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia e baixos
níveis de HDL.
O gene CAV1 gera bastante interesse devido a sua relação direta a três lipodistrofias
distintas, como já foi abordado. Entretanto, ainda é desconhecido como a proteína
caveolina-1 alterada afeta os indivíduos a nível metabólico e causa os sinais e sintomas
vistos nas lipodistrofias descritas. Analisando o local que as mutações ocorrem, as que
estão relacionadas com CGL3 ambas resultam em uma parada antecipada na produção
da proteína, gerando perda de grande parte do gene, além de serem mutações que
afetam ambas as isoformas da caveolina-1. Essa perda massiva de nucleotídeos pode
ter relação direta com a gravidade da perda de tecido adiposo, característica das
lipodistrofias congênitas, e com a severidade dos sintomas. Entretanto, as mutações
relacionadas com FPLD7 estão localizadas em dois locais opostos do gene, enquanto a
mutação -88delC ocorre antes mesmo do primeiro éxon, na região 5’UTR, a mutação
c.400del ocorre apenas no éxon 3. Com isso, espera-se que a primeira mutação cause
maiores danos ao paciente do que a segunda, mas não é isso que ocorre, os dois
pacientes que apresentam a mutação c.400del apresentam sinais e sintomas mais
graves que o outro paciente, ademais a paciente do sexo feminino apresenta um
quadro clínico ainda mais complicado que os outros. Portanto não é possível afirmar
que uma perda maior da estrutura do gene resulte em sintomas mais graves. Outra
hipótese para o aparecimento mais grave de sintomas na CGL3 é o fato da doença só
ocorrer quando a mutação ocorre em homozigose, ou seja, a mutação está presente
em ambos os alelos, o que pode gerar um maior impacto metabólico no paciente. Essa
hipótese também esclarece o fenótipo da FPLD7, pois essa patologia ocorre quando a
mutação está presente em heterozigose, o que pode diminuir a gravidade dos sinais e
sintomas pelos pacientes ainda possuírem uma cópia não mutada do gene. Porém
mais estudos se fazem necessários para compreender os impactos, mecanismos e
alterações que essas mutações realizam nos indivíduos.
Ao analisar as mutações relacionadas com a nova síndrome de lipodistrofia neonatal
associada a síndrome progeróide neonatal, apesar se ser caracterizada como uma CGL,
devido ao seu aparecimento ao nascimento ou primeira infância e alguns sintomas
semelhantes, as alterações genéticas ocorrem apenas no final do éxon 3, afetando

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apenas a região C-terminal da proteína, ou seja, apenas uma pequena parte do gene é
perdida. Ademais, essa mutação ocorre em heterozigose, diferente das mutações de
CGL que são homozigotas. Apesar dessas diferenças, é importante ressaltar que essa
nova lipodistrofia também possui características da síndrome progeróide, portanto são
necessários mais estudos com esses pacientes para entender quais desses sintomas é
possível correlacionar com as mutações em CAV1 e quais são relacionadas a essa outra
síndrome.

Conclusão

O gene CAV1 possui relação direta com as lipodistrofias, especialmente a CGL3, FPLD7
e a nova síndrome de lipodistrofia neonatal associada a síndrome progeróide neonatal.
Apesar dos avanços e pesquisas na área, é notório a necessidade de mais estudos
genéticos, bioquímicos e fisiológicos para um melhor entendimento de como
determinadas mutações acarretam os sintomas apresentados pelos pacientes e
entender o motivo de três subtipos distintos dessa doença serem ocasionados por
diferentes mutações no mesmo gene. Esses estudos auxiliam na construção do
conhecimento sobre essa doença rara, além de ajudar profissionais da saúde com
diagnósticos corretos e melhor tratamento desses pacientes.
Apesar do pequeno número amostral, foi possível perceber que em cada um dos
subtipos estudados houve padrões sintomáticos, mesmo com cada paciente
apresentando singularidades. É importante ressaltar que entre os indivíduos do
mesmo subtipo, as mutações são diferentes apesar de encontradas no mesmo gene, o
que favorece essa diversidade de características clínicas encontradas. Ademais, é
relevante destacar também a explícita e ainda mal compreendida diferença de
gravidade de sintomas entre pacientes do sexo feminino e masculino.
Faz-se necessário também estudos voltados para a compreensão das funções das
caveolas e da proteína caveolina-1, bem como das proteínas que atuam juntamente a
ela: as outras caveolinas e o grupo das cavinas. Ainda se sabe muito pouco sobre a
atuação e interação que esses componentes realizam dentro e fora das células, mais
conhecimento sobre eles poderia ser de extrema importância para o melhor
entendimento de alguns subtipos de lipodistrofias.

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Anexos

Principais tecidos/órgãos comumente afetados em lipodistrofias.

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O gene CAV1 e as isoformas da caveolina-1

Tabelas com todos os pacientes analisados para CGL3

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Tabelas com todos os pacientes analisados para FPLD7

Tabelas com todos os pacientes analisados para a nova síndrome de lipodistrofia


associada a síndrome progeróide

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CÓDIGO: SB0051

AUTOR: VITORIA ERICA DIAS AVELINO DA SILVA

ORIENTADOR: DANIEL MARQUES DE ALMEIDA PESSOA

TÍTULO: Influência da coloração do substrato e temperatura sobre a mudança


de cor em maria-farinha (Brachyura: Ocypodidae: Ocypode quadrata)

Resumo

O uso da coloração críptica para evitar detecção é uma das estratégias anti-predação
mais difundidas na natureza, podendo ser alcançada de forma eficiente por meio da
mudança de coloração para ajuste da aparência do animal com o fundo. Pesquisas em
caranguejos brachyura revelam capacidade de mudança de coloração para a
comunicação intraespecífica, camuflagem e termorregulação. Porém, para a única
espécie de maria-farinha do Atlântico Ocidental (Ocypode quadrata) ainda não há
estudos sobre sua coloração. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar a cor de dois
morfotipos (rajado e amarelo) de O. quadrata, analisando como a cor do substrato e
temperatura pode ter influenciado a evolução de suas colorações. Foram coletadas
marias-farinhas na praia de Pium (RN) e medido, com um espectrofotômetro, o brilho
médio de quatro pontos corporais em quatro diferentes tratamentos (substrato
branco e preto em temperatura controle e substrato branco e preto em temperatura
fria). Para a carapaça do morfotipo rajado, o brilho médio foi maior no substrato
branco do que no substrato preto, enquanto para o morfotipo amarelo não foi
detectado capacidade de mudança de brilho em relação aos tratamentos para
nenhuma parte corporal. Essa capacidade de mudança de coloração, que difere entre
os morfos, pode estar relacionada às diferentes pressões de predação sofridas por
eles.

Palavras-chave: Camuflagem. Caranguejo fantasma. Termorregulação.


Predação.

TITLE: Influence of substrate color and temperature on color change in ghost


crab (Brachyura: Ocypodidae: Ocypode quadrata)

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Abstract

The use of cryptic coloration to avoid detection is one of the most widespread anti-
predation strategies in nature. This can be efficiently achieved by changing coloration
to match the appearance of the animal with the background. Research on Brachyura
crabs reveals a color-changing capacity for intraspecific communication, camouflage,
and thermoregulation. However, for the only species of ghost crab from the Western
Atlantic (Ocypode quadrata) there are still no studies on its coloration. The objective of
this research was to characterize the color of two morphotypes (brindle and yellow) of
O. quadrata. Analyzing how the substrate color and temperature may have influenced
the evolution of its colors. Ghost crabs were collected on Pium Beach (RN) and the
average brightness of four body spots was measured using a spectrophotometer in
four different treatments (white and black substrate at control temperature and white
and black substrate at cold temperature). For the carapace of the brindle morphotype,
the average brightness was higher on the white substrate than on the black substrate.
While for the yellow morphotype, no ability to change brightness was detected about
the treatments for any body part. This ability to change color, which differs between
morphs, may be related to the different predation pressures suffered by them.

Keywords: Camouflage. background matching. Thermoregulation. Predation.

Introdução

A coloração é fundamental na defesa contra predadores (CARO; KONERU, 2021),


diminuindo as chances de ataque do predador à presa. Uma estratégia que faz uso da
coloração é a cripticidade, fazendo com que um indivíduo evite ser detectado pelo
predador por possuir similaridade de cor e/ou padrão com o ambiente em que se
encontra (STEVENS; MERILAITA, 2009).
A camuflagem é uma das estratégias anti-predação mais difundidas na natureza e
existe uma diversidade de mecanismos utilizados pelas espécies para conseguirem
atingi-la eficientemente. Além de características morfológicas, o comportamento
também apresenta papel chave na melhoria da crípse. Um exemplo, é o
comportamento de mudança de cor, que permite a adequação da aparência a
diferentes fundos (STEVENS; RUXTON, 2018). Em alguns animais, como cefalópodes e
camaleões, essa mudança pode ocorrer em segundos, ou poucos minutos, enquanto
que em muitas outras espécies a mudança irá acontecer de forma muito mais lenta.
Um exemplo de mudança de cor mais lenta são as que ocorrem ao longo do
desenvolvimento ontogenético, como é observado em vários caranguejos ao longo de
suas mudas (STEVENS, 2016).

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Os caranguejos brachyurus, possuem mais de 7 mil espécies descritas bastantes


distintas entre si (TSANG et al., 2014) e apresentam uma enorme diversidade de cores
corporais que contemplam todo o espectro de luz visível, bem como o ultravioleta
(UV), o que os torna ótimos modelos de estudo sobre o uso da coloração na natureza
(CARO, 2018). Dentro da infraordem brachyura está presente a família Ocypodidae, a
qual pertence os caranguejos uçás, marias-farinhas e chama-marés, que além da
diversidade de cores, também possuem uma grande capacidade de mudança de
coloração, a curto e longo prazo. Essas mudanças de coloração têm sido relacionadas a
comunicação intraespecífica, camuflagem e termorregulação (DETTO et al., 2008;
STEVENS et al., 2013; TAKESHITA, 2019).
Marias-farinhas, também conhecidas como caranguejos fantasma, são pertencentes
ao gênero Ocypode, o qual contempla 21 espécies em nível mundial, sendo Ocypode
quadrata (FABRICIUS, 1787) a única espécie de caranguejo fantasma encontrada no
Atlântico Ocidental (SAKAI; TÜRKAY, 2013). O. quadrata tem sua distribuição
acontecendo de Rhode Island (EUA) até o Rio Grande do Sul (Brasil) (OCAÑA et al.,
2016), habitam o meso e supra litoral de praias arenosas, e seu ritmo de atividade está
associado à uma faixa mínima de temperatura de 14 a 25°C (BLANKENSTEYN, 2006).
Têm uma alimentação diversificada, pois se comportam tanto como predadores como
também como detritívoros, o que os torna importantes para transferência de energia
ao longo da cadeia trófica (BRANCO et al., 2010; OCAÑA et al., 2016).
Observa-se dois padrões de cores diferentes em O. quadrata, uma coloração mais
homogênea, e bem amarela (encontrada em animais maiores) (Figura 1A) e uma
coloração disruptiva, e não amarelada (vista em animais menores) (Figura 1B). Estes
padrões distintos podem estar associados com a ontogenia, pois Stevens et al. (2013)
mostrou que juvenis de O. ceratophthalmus têm padrão mais disruptivo que adultos e,
também mostra, que podem mudar de cor para camuflagem. Ademais, uma pesquisa
realizada com O. pallidula revelou que, além de alterar o brilho da carapaça, também
escolhem ativamente o substrato que proporciona melhor crípse (UY et al., 2017).
Assim, para cada morfotipo deve existir diferentes estratégias para garantir a
camuflagem, entretanto, para a única espécie de maria-farinha do atlântico ocidental
ainda não há estudos sobre a função e importância da sua cor.
Neste estudo buscamos entender como a capacidade de mudança de cor pode ter
evoluído como estratégia anti-predação, em morfotipos de caranguejo maria-farinha.
Hipotetizamos que i) os caranguejos ficarão mais claros sobre substrato branco e mais
escuros quando sobre substrato preto e ii) os caranguejos ficarão claros em
temperatura mais alta e se tornarão escuros em temperatura mais baixa.

Metodologia

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Área de estudo
Foram considerados como pertencentes ao morfo rajado os caranguejos que não
possuíam pernas amarelas, sendo o contrário para o morfo amarelo. Ambos os morfos
de O. quadrata foram capturados na praia de Pium – RN (5°57'06.0"S 35°09'08.1"W)
(Figura 2), a qual é conectada à praia da Barreira do Inferno e a de Cotovelo. Apresenta
grande quantidade de atividades antrópicas na temporada de verão (dezembro a
fevereiro), entretanto, no restante do ano a visitação diminui consideravelmente, se
tornando praticamente deserta. Apesar de possuir marcas de modificações humanas,
como algumas partes da encosta com plantação de grama, ainda conserva muito de
suas características naturais e vegetação original, como a salsa-da-praia (Ipomoea pes-
caprae).
Coleta e transporte dos animais
As coletas e experimentos aconteceram no período de abril de 2022 a março de
2023.A coleta dos animais ocorreu sempre um dia antes dos experimentos, durante a
maré baixa, no início da manhã (7h00 às 9h00) ou à tarde (14h00 às 18h00). Os
caranguejos foram capturados manualmente através de busca ativa, e acondicionados
individualmente em garrafas pet (com a região do gargalo cortada) com um pouco de
areia da praia no fundo, sendo molhados com água do mar sempre que a areia ficava
seca, para evitar dissecação. Ao todo, coletamos 32 marias-farinhas, onde 15
corresponderam ao morfotipo amarelo e 17 ao morfotipo rajado.
Os animais foram levados ao Laboratório de Ecologia Sensorial (SEL) – UFRN, onde
ocorreram as análises quanto: (I) ao tamanho; (II) à coloração; e (III) à capacidade de
mudança de coloração.
Caracterização da cor
A coloração foi mensurada com um método não-invasivo. Para isso, foi utilizado um
espectrofotômetro USB4000-UV-VIS (Ocean Optics, Inc.), conectado a uma fonte de luz
DH-2000-BAL (Ocean Optics, Inc.) via fibra ótica bifurcada (QR450-7-XSR) (Figura 3). O
equipamento foi calibrado por meio de um branco padrão WS-1-SL (Ocean Optics, Inc.)
e preto padrão (desligando a fonte de luz).
A aquisição da coloração física foi realizada direcionando a ponta da fibra a 45º, nas
seguintes partes de cada caranguejo: (I) quela (região frontal e superior); (II) perna
locomotora e (III) carapaça. A partir dos dados de refletância coletados, foi calculado o
brilho médio de cada parte corporal do caranguejo em cada um dos tratamentos. O
brilho médio trata-se da quantidade média de luz refletida por cada parte corporal.
Experimento de mudança de cor

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Para verificar se existe mudança de coloração ativa dependendo do substrato e/ou


temperatura em O. quadrata, foram utilizados dois tratamento de substrato: (I)
substrato claro, representado por uma folha de papel branca e (II) substrato escuro,
representado por uma folha de papel preta (ambas as folhas eram do tipo color set,
tamanho A4), em duas condições de temperatura: (I) controle, correspondente à
temperatura natural do ambiente (média de 28,35ºC) e (II) frio, correspondente à faixa
de temperatura entre 19ºC – 21ºC, obtida por meio de uma sala com sistema de ar-
condicionado. Esses valores de temperatura fria foram escolhidos levando em
consideração a temperatura mínima registrada para a região nordeste do Brasil, de
acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a fim de simular
condições de temperatura mínima que estes indivíduos estariam submetidos
naturalmente.
Antes de serem submetidos ao processo experimental, foi mensurada a cor da quela
(região frontal e superior), perna locomotora e carapaça de cada indivíduo. Em
seguida, em uma sala do laboratório, mantida em temperatura ambiente (controle),
dois caranguejos, separados por uma divisória de papelão para evitar a visualização do
outro indivíduo, foram colocados, individualmente, em potes de vidro transparente.
Cada pote foi posicionado sobre um dos substratos mencionados, por 30 minutos. A
ordem de qual substrato era apresentado primeiro foi aleatória, para controlar uma
possível mudança de cor por ritmo circadiano. Após esse período a coloração de cada
parte corporal foi novamente medida e, posteriormente, os caranguejos foram
colocados sobre o substrato oposto, por mais 30 minutos, sendo cada parte corporal
mensurada após esse período. Terminado todo o processo na temperatura controle
(Bloco I), o caranguejo foi levado para a sala fria, onde o experimento foi refeito (Bloco
II) (Figura 4). Ambas as salas possuíam um termômetro para monitoramento da
temperatura, a qual era verificada no início do experimento e no final.
Ao final dos blocos experimentais, foi mensurado com um paquímetro digital de
precisão a largura da carapaça e o comprimento horizontal das duas quelas. Os
caranguejos foram marcados na carapaça com um pingo de super cola e um pouco de
areia, para evitar a recaptura desses animais, e devolvidos à praia de Pium.
Análise estatística
Para verificar se houve mudança no brilho de cada parte corporal em relação aos
tratamentos, foi realizado no programa R 4.2.1 o teste não-paramétrico Kruskal-Wallis
e teste post-hoc de Dunn-Bonferroni. Um resultado foi considerado como significativo
se apresentasse um p < 0,05.

Resultados e Discussões

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Brilho médio - morfotipo rajado


Carapaça
Para o morfotipo rajado, houve diferença significativa do brilho médio da carapaça
dependendo do tratamento (𝛘²(4) = 19,345, p < 0,001). O teste post-hoc de Dunn
mostrou diferença entre os tratamentos branco controle (25,278 e 7,549, mediana e
amplitude interquartil) comparado ao preto controle (16,896 e 6,287) (p ajustado =
0,030), branco controle comparado ao preto frio (15,952 e 7,681) (p ajustado = 0,016),
branco frio (25,239 e 10,054) comparado ao preto controle (p ajustado = 0,022) e
branco frio comparado ao preto frio (p ajustado = 0,012), sendo o brilho médio da
carapaça sempre maior no substrato branco do que no substrato preto, independente
da temperatura (Figura 5A).
Quela frontal e quela superior
Não foi encontrada diferença significativa no brilho médio da quela frontal em relação
aos tratamentos (𝛘²(4) = 2,887, p = 0,577). A quela superior, por sua vez, apresentou
maior brilho médio em branco frio quando comparado com o preto frio ( 𝛘²(4) =
12,464, p = 0,014) (BF: 19,686 e 14,724, PF: 13,898 e 5,004, p ajustado = 0,048), não
sendo detectado nenhuma outra diferença entre os tratamentos (Figura 5D).
Perna
Não houve diferença significativa no brilho médio da perna em relação aos
tratamentos (𝛘²(4) = 7,746, p = 0,101). Estatísticas descritivas disponíveis na tabela 1.
Aqui mostramos que o morfotipo rajado consegue alterar o brilho da sua carapaça
para ajustar ao brilho do substrato onde se encontra, não havendo influência da
temperatura nesse processo. Esse comportamento também foi relatado para juvenis
de Ocypode ceratophtalmus e de Carcinus maenas, onde os indivíduos também se
tornavam mais brilhantes em cascalho branco e menos brilhante em cascalho escuro
(STEVENS et al., 2013; STEVENS et al., 2014). Isso evidencia uma função para a
camuflagem, pois a carapaça é a região mais visível do caranguejo.
Para a quela superior, região que também tem maior visibilidade quando visto de cima
por predadores aviários, foi observado uma mudança de brilho similar a encontrada
para a carapaça, com um brilho maior no substrato branco e menor no substrato
preto. No entanto, houve influência da temperatura, pois a quela superior só se torna
mais brilhante no branco quando está em temperatura fria.
Foi observado que regiões corporais vistas frontalmente, como a quela frontal e as
pernas locomotoras, têm um brilho constante independente do substrato. Assim, a cor
dos apêndices do caranguejo podem estar desempenhando um papel na comunicação

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intraespecífica, como já foi mostrado para o caranguejo chama-maré Leptuca


leptodactyla, onde a refletância de luz UV na sua quela frontal é usada para a atração
de fêmeas (SILVA et al., 2022).
Brilho médio - morfotipo amarelo
Não houve diferença significativa do brilho médio em relação aos tratamentos para
nenhuma parte corporal das marias-farinhas de morfotipo amarelo (carapaça: 𝛘²(5) =
5,474, p = 0,361 | quela frontal: 𝛘²(4) = 2,231, p = 0,693 | quela superior: 𝛘²(4) = 2,786,
p = 0,594 | perna: 𝛘²(5) = 10,443, p = 0,064) (Figura 6). Estatísticas descritivas
disponíveis na tabela 2.
Para o morfotipo amarelo foi observado resultado diferente dos indivíduos rajados,
mostrando que de fato, deve existir diferença nas estratégias anti-predação entre os
morfos. Os caranguejos amarelos não apresentaram capacidade de alterar seu brilho
dependendo do substrato. Possivelmente, devido os caranguejos amarelos possuírem
maior tamanho, também apresentam maior capacidade de defesa ativa contra
predadores (NOKELAINEN et al., 2017), o que deve compensar sua falta de capacidade
de mudança de cor. Além disso, os caranguejos maiores também conseguem cavar
tocas mais fundas (de difícil acesso para predadores), bem como são normalmente
encontrados na região superior da praia (TURRA et al., 2005; NEVES; BEMVENUTI,
2006), onde está presente a vegetação que pode estar fornecendo abrigo para eles.

Conclusão

A partir dos resultados encontrados, foi observado que existe mudança de brilho,
dependendo da parte corporal, em relação à cor do substrato e à temperatura em O.
quadrata. Essa capacidade de mudança difere entre os morfos, sugerindo diferentes
estratégias anti-predação entre eles. Tal hipótese pode ser testada posteriormente,
por meio da realização de modelagem visual, mostrando como predadores enxergam a
cor de cada morfotipo contra seus substratos naturais.

Referências

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Anexos

Figura 1. A) morfotipo amarelo de O. quadrata. B) morfotipo rajado de O. quadrata.

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Figura 2. Praia de Pium. Fonte: Vitória Silva (2023)

Figura 3. Sistema de espectrofotometria utilizado para mensuração da cor. Fonte:


Andrea Cocucci. Disponível em <
http://wiki.imbiv.unc.edu.ar/index.php/Archivo:Protocolo.png >. Acesso em 10 de abril
de 2023. Editado por Vitória Silva.

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Figura 4. Design experimental.

Figura 5. Brilho médio da carapaça (A), perna (B), quela frontal (C) e quela superior (D)
das marias-farinhas de morfotipo rajado em relação aos tratamentos de substrato e
temperatura.Letras minúsculas indicam diferença estatística significativa.

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Tabela 1. Estatísticas descritivas (mediana e amplitude interquartil) do brilho médio de


cada parte corporal dos caranguejos de morfotipo rajado em cada um dos
tratamentos.

Figura 6. Brilho médio da carapaça (A), perna (B), quela frontal (C) e quela superior (D)
das marias-farinhas de morfotipo amarelo em relação aos tratamentos de substrato e
temperatura.Círculos representam a média e barras o desvio padrão.

Tabela 2. Estatísticas descritivas (mediana e amplitude interquartil) do brilho médio de


cada parte corporal dos caranguejos de morfotipo amarelo em cada um dos
tratamentos.

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CÓDIGO: SB0076

AUTOR: GABRIELA DE ARAUJO CAMARA SOBRAL

ORIENTADOR: RAQUEL CORDEIRO THEODORO

TÍTULO: TENEBRIO MOLITOR COMO MODELO EXPERIMENTAL PARA


COMPARAÇÃO DE PERFIS DE VIRULÊNCIA DE FUNGOS PATOGÊNICOS
DO GÊNERO SPOROTHRIX PERTENCENTES AOS CLADOS CLÍNICO E
AMBIENTAL

Resumo

A esporotricose é uma micose subcutânea e um problema de saúde pública mundial,


causada pelas espécies do gênero Sporothrix, um fungo termodimórfico, através da
inoculação traumática. Estas espécies são divididas em clado clínico e ambiental devido
a diferenças genéticas e epidemiológicas. Neste trabalho, foi realizada a comparação de
perfis de virulência de espécies de Sporothrix pertencentes aos clados clínico e
ambiental, em seu estado leveduriforme, utilizando o modelo invertebrado Tenebrio
molitor. Esse modelo se mostrou eficiente e evidenciou as diferentes curvas de
sobrevivência entre as espécies, bem como as taxas de hemócitos e a recuperação de
unidades formadoras de colônias. Observou-se que S. schenckii foi a espécie com menor
taxa de sobrevivência e S. globosa com a maior. Também foi observado uma curva de
mortalidade significativa do S. pallida, pertencente ao clado ambiental. Os resultados da
recuperação de UFC’s e da contagem da taxa de hemócitos indicam que a espécie que
foi capaz de matar mais larvas não foi a que provocou a maior recuperação de UFC’s
nem o maior aumento no número de hemócitos.

Palavras-chave: Sporothrix. Tenebrio molitor Esporotricose. Virulência.

TITLE: Tenebrio molitor as an experimental model for comparing the virulence


profiles of pathogenic fungi of the genus Sporothrix belonging to the clinical and
environmental clades

Abstract

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Sporotrichosis is a subcutaneous mycosis and a worldwide public health problem,


caused by species of the genus Sporothrix, a thermodimorphic fungus, through
traumatic inoculation. These species are divided into clinical and environmental clades
due to genetic and epidemiological differences. In this study, we compared the virulence
profiles of Sporothrix species belonging to the clinical and environmental clades, in
their yeast-like state, using the invertebrate model Tenebrio molitor. This model proved
to be efficient and showed the different survival curves between the species, as well as
the hemocyte rates and the recovery of colony-forming units. It was observed that S.
schenckii was the species with the lowest survival rate and S. globosa the highest. A
significant mortality curve was also observed for S. pallida, which belongs to the
environmental clade. The CFU’s recovery and hemocyte count results indicate that the
species capable of killing the greatest number of larvae was not the one that caused the
greatest CFU’s recovery or the greatest increase in the number of hemocytes.

Keywords: Sporothrix. Tenebrio molitor. Sporotrichosis. Virulence.

Introdução

A esporotricose é uma micose subcutânea causada por fungos termodimórficos do


gênero Sporothrix presente em todo o mundo, principalmente em regiões tropicais e
subtropicais, sendo um problema de saúde pública bastante negligenciado no Brasil
(Rodrigues et al., 2020). A infecção acomete humanos e animais, e ocorre via
inoculação traumática de células fúngicas via contato com hospedeiro felino/canino
infectado ou por solo contaminado. As manifestações clínicas humanas mais comuns
envolvem lesões na pele e tecidos subcutâneos e pode variar de acordo com a
competência imune do hospedeiro infectado (Rodrigues et al., 2022).
Dentre as 53 espécies do gênero Sporothrix spp., 7 são de interesse clínico e estão
divididas em clados clínico e ambiental devido a diferenças morfológicas, fisiológicas,
genéticas, epidemiológicas e de virulência. S. brasiliensis, S. schenckii, S. globosa e S.
luriei fazem parte do clado clínico por serem as espécies patogênicas mais recorrentes.
As espécies S. chilensis, S. mexicana e S. pallida pertencem ao clado ambiental por
serem consideradas patogênicas acidentais (Rodrigues et al., 2020).
Dada tal diversidade de espécies patogênicas, são necessários estudos comparativos das
mesmas em modelos animais, a fim de auxiliar no tratamento da esporotricose, uma vez
que diferentes espécies possuem diferentes níveis de virulência e de resistência a
antifúngicos (Rodrigues et al., 2014). Em modelo murino, Arrillaga-Moncrieff et al.
(2009) apontaram que a espécie mais virulenta é a S. brasiliensis. Contudo,
recentemente um estudo comparando a virulência das 7 espécies de interesse clínico,
também em murino, mostrou alta virulência em algumas espécies do clado ambiental,
como S. mexicana e S. pallida, enquanto S. brasiliensis não se mostrou tão letal
(Corrêa-Moreira et al., 2021).

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eCICT 2023

Considerando as dificuldades envolvidas em realizar experimentos em modelo murino,


como o maior gasto em infraestrutura, em manutenção dos animais e as questões éticas
relacionadas, modelos alternativos de animais, como os invertebrados, vêm ganhando
destaque na realização desses experimentos pela maior praticidade e facilidade
burocrática. Desse modo, os modelos Galleria mellonella e Tenebrio molitor destacam-
se por suportarem temperaturas mais elevadas, por volta de 37°C, permitindo que
experimentos com fungos termodimórficos sejam feitos (de Souza et al., 2018). A
avaliação da virulência de fungos Sporothrix foi realizada em G. mellonella com as
espécies S. schenckii e S. brasiliensis, e foi mostrado a maior virulência deste último
quando inoculado na fase leveduriforme (Clavijo-Giraldo et al., 2016). Com T. molitor,
um trabalho similar foi publicado avaliando as espécies do clado clínicoe comprovou a
eficácia desse modelo animal para experimentos e corroborou com os resultados
encontrados anteriormente, nos quais o S. brasiliensis foi considerada a espécie mais
virulenta e a S. globosa a menos, na fase leveduriforme, enquanto que na fase micelial
não foram vistas diferenças significativas (Lozoya-Pérez et al., 2021).
Diante dos estudos citados, os ensaios comparativos focaram nas cepas do clado clínico,
excluindo a relevância clínica de espécies do clado ambiental, consideradas patogênicas
acidentais. Assim, o objetivo deste trabalho é a comparação da virulência de sete
espécies de fungos do gênero Sporothrix, tanto na fase micelial como
leveduriforme,utilizando Tenebrio molitor como modelo experimental. A curva de
sobrevivência, a recuperação de unidades formadoras de colônias (UFC’s), a
histopatologia e a taxa de hemócitos do inseto foram avaliadas para comparar a
virulência entre as espécies.

Metodologia

 Manutenção das cepas de Sporothrix


Os isolados fúngicos utilizados neste plano de trabalho foram cedidos pelo Professor
Dr. Anderson M. Rodrigues (UNIFESP) e pelo Professor Dr. Thales Domingos Arantes
(UFG). As diferentes cepas foram mantidas como micélio, a 25°C, em ágar Sabouraud e
um novo semeio foi feito a cada três meses.
 Manutenção da colônia de T. molitor e termoconversãodas cepas de Sporothrix
A colônia de T. molitor foi mantida em caixas, onde cada fase de seu ciclo de vida
(larva, pupa e besouro) foi condicionada separadamente, com ausência de claridade e
em temperatura ambiente. O substrato utilizado é composto por: farelo de trigo
(36,36%), germe de trigo (18,18%), farinha de trigo (18,18%), aveia em flocos
(16,36%), extrato de soja (10,9%) e cloranfenicol (0,04%) (de Souza et al., 2015).

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Com relação a termoconversão da fase micelial para a leveduriforme dos fungos


Sporothrix, foram feitas tentativas em meio BHI (brain heart infusion) líquido a 37°C,
com agitação de 100 rpm durante 92 horas. Também foram utilizados para o cultivo os
Ágar Sangue, Sabouraud e BHI, incubados posteriormente, em placas de Petri, a 37°C.
 Preparo do inóculo e inoculação no modelo T. molitor
Para a coleta de leveduras foram adicionados 2 ml de salina (NaCl 0,85%) na placa
cultivada, para suspensão das células e o volume foi posteriormente transferido para um
microtubo com uma alça bacteriológica descartável, centrifugado a 6000 xg, 4°C,
durante 3 minutos e lavado três vezes com PBS (137 mM NaCl, 2.7 mM KCl, 10 mM
Na2HPO4, 1.76 mM KH2PO4, pH 7.4), com uma centrifugação ao final de cada
lavagem. Após as lavagens, as células foram ressuspendidas com PBS e a concentração
foi ajustada para 2x10⁵ células/µL. A quantificação das células foi feita com um
hemocitômetro manual.
As larvas T. molitor selecionadas para o experimento pesavam entre 100mg e 200mg. O
grupo controle foi inoculado com 5 μL de PBS e os demais grupos, foram inoculados
com 5 μL do inóculo preparado para cada espécie analisada, utilizando uma Seringa
Hamilton (701 N, 26's gauge, 10 μL), na porção ventral da hemocele do animal, no
segundo ou terceiro esternito posterior ao último par de pernas. Em cada inoculação, 30
larvas foram usadas e separadas em grupos de 10, cada grupo em uma placa de petri
contendo o substrato, incubado a 37°C por 10 dias. Após a inoculação, foi feita a cada
24 horas, durante dez dias, a contagem de larvas mortas para a realização da curva de
sobrevivência. A mortalidade das larvas foi verificada a partir da ausência de
movimento na presença de estímulo físico, bem como a presença de melanização. Fora
o grupo controle inoculado com PBS, outros dois grupos controles foram feitos com
larvas não injuriadas, um incubado a 25°C e o outro a 37°C.
 Recuperação UFC’s
Para a realização da recuperação de unidades formadoras de colônias (UFC’s), três
larvas foram inoculadas com 10⁶ células/5μL com cada uma das sete espécies aqui
estudadas do fungo Sporothrix e incubadas a 37°C durante três dias. Após esse período,
elas foram lavadas com etanol 70% e salina em seguida. Então, foram decapitadas com
um bisturi e tiveram sua hemolinfa extraída, a partir da qual foi feita uma diluição
seriada (1:10 e 1:100), semeada posteriormente (100 μL) em meio Mycosel ágar e
incubada a 25°C. 14 dias depois do semeio, foram contabilizadas a quantidade de
unidades formadoras de colônias recuperadas. Essas colônias foram confirmadas como
pertencentes ao gênero Sporothrix tanto macroscopicamente como microscopicamente.
 Histopatologia
Para a histopatologia, 4 larvas por espécie foram inoculadas com 10⁶ células/5μL, e
incubadas a 37°C por três dias. Após esse período, elas foram decapitadas e
condicionadas em formol 10% e colocadas em banho maria a 40°C por 40 minutos. Em

289
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seguida, as larvas foram armazenadas em microtubos com uma nova solução de formol
10% e enviadas para a Dra. Gisleine Fernanda França (UFG), responsável pelo
processamento e confecção das lâminas.
 Contagem de hemócitos
Para a contagem de hemócitos, as larvas inoculadas com cada espécie foram incubadas
a 37°C, decapitadas após 6 horas de inoculação e 10 μL de sua hemolinfa foi extraída.
Essa hemolinfa foi diluída em PBS, com diluição de 1:10, em seguida, foi realizada a
contagem dos hemócitos utilizando um hemocitômetro manual (Câmara de Neubauer).
A mesma contagem foi feita após 18 horas e 30 horas de inoculação. Em relação ao
grupo controle deste experimento, foi feita a contagem de hemócitos com larvas
inoculadas apenas com PBS e com larvas não injuriadas, um grupo incubado a 25°C e
outro a 37°C (Mylonakis et al., 2005).

Resultados e Discussões

RESULTADOS:
 Termoconversão micélio – levedura
O método no qual a conversão morfológica se mostrou mais efetiva foi através da
incubação em meio BHI sólido a 37°C, realizando 3 passadas neste meio a cada 7 dias.
A maioria das espécies do clado clínico, S. brasiliensis, S. schenckii e S. globosa,
converteram bem para o estado de levedura e apenas com o S. luriei não sofreu a
termoconversão. Dentre as espécies do clado ambiental, apenas S. pallida conseguiu
sofrer a conversão total.
 Curva de sobrevivência
Com relação às curvas de sobrevivência, a espécie com menor taxa de sobrevivência foi
o S. schenkii, seguida pelo S. brasiliensis, S. pallida e S. globosa, que apresentou um
padrão semelhante ao controle PBS. Além disso, também foi feita a curva de
sobrevivência do S. brasiliensis recuperado da larva e que foi posteriormente re-
inoculado nela, o qual apresentou a maior taxa de mortalidade dentre as espécies
analisadas neste experimento.
 Recuperação de UFC's
Quanto a recuperação de unidades formadoras de colônias, o S. brasiliensis recuperado
da larva apresentou a maior quantidade de recuperação fúngica, seguido pelo S. pallida,
do clado ambiental, S. brasiliensis, S. globosa e S. schenckii, os quais pertencem ao
clado clínico.
 Histopatologia

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A histopatologia realizada com as larvas infectadas com as espécies S. schenkii, S.


brasiliensis, S. globosa e S. pallida permite observar a presença de leveduras agrupadas
e melanina nos tecidos. Na histopatologia das larvas inoculadas com PBS, grupo
controle, não foram observadas alterações teciduais e presença de melanina.
 Contagem de hemócitos
A contagem dos hemócitos, feita 6h, 18h e 30h após a inoculação dos fungos nas larvas,
mostrou que o S. brasiliensis causou o maior aumento no número de hemócitos, seguido
pelo S. pallida, S. brasiliensis recuperado da larva, S. globosa e S. schenckii, o qual não
apresentou uma variação muito significativa entre as últimas horas. Com o controle
PBS, o número de hemócitos diminuiu com o passar das horas.
DISCUSSÃO:
Em plano de trabalho anterior foi realizada a comparação de perfis de virulência de sete
espécies do gênero Sporothrix em seu estado micelial, utilizando Tenebrio molitor
como modelo experimental. Desse modo, para dar continuidade ao trabalho, foi
necessário realizar a termoconversão dos fungos para a avaliação de seus perfis de
virulência na fase leveduriforme, porém houve muita dificuldade na realização dessa
conversão das espécies do gênero Sporothrix, em particular aquelas pertencentes ao
clado ambiental. Para a realização do ensaio de termoconversão, foram feitas várias
tentativas em meio BHI líquido e em meios de cultura não seletivos, como Ágar Sangue
e Ágar Sabouraud, todos testados em diferentes condições, porém sem sucesso.
Também foi feita uma tentativa para realizar essa conversão a partir do fungo
recuperado da larva T. molitor. O método pelo qual os fungos sofreram uma conversão
mais efetiva foi pela incubação em meio Ágar BHI, a 37°C. A única espécie do clado
ambiental em que foi possível realizar a conversão foi a S. pallida, enquanto as demais,
S. mexicana e S. chilensis, se mostraram resistentes. Isso se deve provavelmente ao fato
dessas espécies estarem mais relacionadas ao ambiente saprofítico, onde vivem em
temperatura ambiente na fase micelial. Dentre as espécies do clado clínico, a maioria
converteu bem, com exceção do S. luriei, o que pode significar que elas são mais bem
adaptadas ao estado leveduriforme, uma vez que são espécies patogênicas e vivem a
37°C quando infecta os seres vivos (Rodrigues et al., 2020).
O que esperávamos ao executar a curva de sobrevivência, a contagem da taxa de
hemócitos do inseto e a recuperação de UFC’s, era que as espécies do clado clínico em
sua fase leveduriforme apresentassem maior índice de mortalidade, maior taxa de
hemócitos e maior recuperação fúngica. Dentre estas espécies, também esperávamos
que S. brasiliensis fosse a que causasse mais mortes e S. globosa, a que causasse menos,
como mostrado em trabalhos já publicados, em que utilizaram tanto murinos (Arrillaga-
Moncrieff et al., 2009), como modelos invertebrados (Clavijo-Giraldo et al., 2016;
Lozoya-Pérez et al., 2021). Porém, apesar de S. globosa apresentar uma alta
sobrevivência, nossos resultados mostraram que S. schenckii, e não S. brasiliensis,
provocou mais mortes nas larvas T. molitor, enquanto S. pallida, espécie do clado

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ambiental, apresentou uma taxa de mortalidade próxima a desempenhada pelo S.


brasiliensis. Assim, tais resultados se assemelham com os encontrados no trabalho de
Côrrea-Moreira, que foi realizado com murinos, onde ele mostrou que a virulência de
algumas espécies do clado ambiental foi maior que a do S. brasiliensis e que S. schenkii
mostrou-se a mais virulenta (Corrêa-Moreira et al., 2021).
Também tínhamos como hipótese inicial que a espécie que causasse mais mortes
também seria aquela mais recuperada e que iria induzir a maior produção de hemócitos,
porém não foi o que encontramos. S. schenkii foi a espécie que causou mais mortes,
entretanto foi a menos recuperada da larva. Uma possível causa para isso seria a relação
patógeno e hospedeiro entre Sporothrix spp. e T. molitor, onde o fungo que parasita o
inseto tem uma disseminação maior sem causar tantos danos, uma vez que a
disseminação do parasita não necessariamente significa a morte imediata do hospedeiro,
pois depende da resposta imunológica que o agente induz. De maneira semelhante,
Fernandes e colaboradores, ao compararem as curvas de sobrevivência com a
recuperação de UFC’s de diferentes isolados de espécies do clado clínico de Sporothrix,
também observaram que a espécie mais recuperada não foi a que causou mais mortes
nos murinos infectados (Fernandes et al., 2013). S. schenkii também não provocou um
aumento muito grande no número de hemócitos, diferente de S. brasiliensis e S. pallida,
o que sugere que estas espécies, por provocarem um aumento maior no número de
hemócitos, células que atuam no sistema de defesa do T. molitor, foram combatidas pelo
sistema imunológico da larva no momento da infecção e, por isso, não causaram tantas
mortes como S. schenckii, uma vez que os microorganismos que são envolvidos por
uma camada melanizada de hemócitos morrem devido à falta de oxigênio ou pela
liberação de compostos, como espécies reativas de oxigênio, produzidos pela atividade
de enzimas como resposta a infecção (de Souza et al., 2018).
Além disso, é importante comparar a virulência do fungo S. brasiliensis quando
inoculado pela primeira vez na larva e quando é re-inoculado após ser recuperado. O
fungo recuperado apresentou uma maior taxa de morte ao decorrer de 10 dias, bem
como maior recuperação de unidades formadoras de colônias. Quanto aos hemócitos, o
S. brasiliensis inoculado pela primeira vez provocou um maior aumento no número
destas células. Isso demonstra como o sistema imunológico do hospedeiro atua ativando
fatores de virulência do fungo, tornando-o mais patogênico e letal.

Conclusão

Dentre os resultados apresentados neste plano de trabalho, é importante destacar a


diferença entre o que era esperado e o que foi obtido. A maioria dos trabalhos na
literatura mostram que a espécie S. brasiliensis é a mais virulenta, porém, em nossos
resultados, S. schenckii foi a espécie que provocou maior mortalidade nas larvas T.
molitor, que, por sua vez, se mostrou um modelo eficiente para a comparação dos perfis

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eCICT 2023

de virulência. A única espécie do clado ambiental em que foi possível realizar a


termoconversão, S. pallida, também apresentou uma maior virulência em relação ao que
era esperado baseado em estudos anteriores. Além disso, S. schenckii não foi a espécie
que provocou uma maior recuperação de UFC's nem uma maior taxa de hemócitos,
como esperado, o que sugere que as espécies capazes de induzir um maior aumento das
células de defesa são menos letais para a larva. A comparação entre a virulência de uma
espécie quando inoculada pela primeira vez na larva e quando é re-inoculada após ser
recuperada também é um dado importante que evidencia a atuação do sistema
imunológico do hospedeiro na ativação de fatores de virulência do fungo. Essas
diferenças podem estar associadas à questão imunológica entre a larva T. molitor e as
espécies do fungo Sporothrix, que provavelmente não é a mesma quando comparado
entre o murino e o fungo.

Referências

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2022.

Anexos

Figura 1. Curva de sobrevivência de larvas T. molitor inoculadas com PBS (grupo


controle) e com as espécies S. schenckii, S. brasiliensis, S. globosa, S. pallida e S.
brasiliensis recuperado e re-inoculado na larva, todas elas em seu estado
leveduriforme.

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Figura 2. Recuperação de UFC’s após 14 dias do semeio em Mycosel ágar, incubado a


25°C, das larvas T. molitor inoculadas com PBS e com as espécies S. schenckii, S.
brasiliensis, S. globosa, S. pallida e S. brasiliensis recuperado e re-inoculado na larva.

Figura 3. Histopatologia dos tecidos das larvas T. molitor após a inoculação com PBS
(A) e com as espécies S. schenckii (B), S. brasiliensis (C), S. globosa (D) e S. pallida (E),
todas elas em seu estado leveduriforme.

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Figura 4. Contagem de hemócitos das larvas T. molitor após 6h, 18h, e 30h da
inoculação com PBS e com as espécies S. schenckii, S. brasiliensis, S. globosa, S. pallida
e S. brasiliensis recuperado e re-inoculado na larva.

Figura 5. Curva de sobrevivência comparando as larvas T. molitor inoculadas com S.


brasiliensis e S. brasiliensis recuperado e re-inoculado na larva.

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Figura 6. Recuperação de UFC’s comparando as larvas T. molitor inoculadas com S.


brasiliensis e S. brasiliensis recuperado e re-inoculado na larva.

Figura 7. Contagem de hemócitos comparando as larvas T. molitor inoculadas com S.


brasiliensis e S. brasiliensis recuperado e re-inoculado na larva, após 6h, 18h e 30h da
inoculação.

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CÓDIGO: SB0083

AUTOR: ELIZABETH COSTA SOBRAL DE ALBUQUERQUE

ORIENTADOR: RAIMUNDO FERNANDES DE ARAUJO JUNIOR

TÍTULO: Análise in vitro da eficiência antitumoral das nanoparticulas


poliméricas carreadoras da Doxorrubicina e ácido palmítico no câncer de
mama.

Resumo

Em 2020, o câncer de mama afetou mais de 2 milhões de pessoas, para o


tratamento dessa enfermidade é utilizado, principalmente, o quimioterápico
Doxorrubicina (DOX). Esse medicamento é inespecífico, atingindo células
saudáveis, resultando em diversos efeitos colaterais. Sob essa perspectiva,
para aumentar a eficiência da DOX e promover promover a apoptose de
células cancerígenas e a imunidade antitumoral, um novo tratamento foi criado
utilizando nanopartículas de PLGA contendo uma combinação entre DOX e
ácido palmítico, uma substância promissora que diminui o crescimento de
tumores, mas, devido a suas características hidrofóbicas, não é bem entregue
as células cancerígenas. Desse modo, diferentes formulações de
nanopartículas combinando AP+DOX foram utilizadas para tratar células
tumorais 4T1 in vitro, analisando a eficiência da encapsulação das NPs, a
localização intracelular dos medicamentos, a citotoxicidade com MTS e testes
de apoptose, além de a capacidade do AP repolarizar macrófagos M2 em M1,
induzindo uma imunidade antitumoral, através de ensaio de cicatrização de
feridas. Assim, os resultados demonstraram que o tratamento combinado de
AP, DOX e PLGA-NP apresentou uma redução significativa do crescimento e
capacidade de metástases do tumor em comparação com outros tratamentos
que não combinam os 3 elementos, e a diminuição de macrófagos M2 no
microambiente tumoral após o tratamento combinado.

Palavras-chave: Câncer de mama. Nanopartículas de PLGA.


Doxorrubicina.Ácido Palmítico.

TITLE: Effective breast cancer therapy based on palmitic acid-loaded PLGA


nanoparticles.

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Abstract

In 2020, breast cancer affected more than 2 million people, for the treatment of
this disease, mainly the chemotherapy drug Doxorubicin (DOX) is used. This
drug is nonspecific, reaching healthy cells, resulting in several side effects.
From this perspective, to increase the efficiency of DOX and promote cancer
cell apoptosis and antitumor immunity, a new treatment was created using
PLGA nanoparticles containing a combination of DOX and palmitic acid, a
promising substance that decreases tumor growth. , but, due to its hydrophobic
characteristics, it is not well delivered to cancer cells. Thus, different
formulations of nanoparticles combining AP+DOX were used to treat 4T1 tumor
cells in vitro, analyzing the efficiency of encapsulation of NPs, intracellular
location of drugs, cytotoxicity with MTS and apoptosis tests, in addition to the
ability of AP repolarize M2 macrophages to M1, inducing anti-tumor immunity,
via wound healing assay. Furthermore, the results demonstrated that the
combined treatment of AP, DOX and PLGA-NP showed a significant reduction
in tumor growth and metastases capacity compared to other treatments that do
not combine the 3 elements, and the decrease of M2 macrophages in the tumor
microenvironment after combined treatment.

Keywords: Breast cancer. PLGA nanoparticles.Doxorubicin. Palmitic acid

Introdução

No final do ano de 2020, o câncer de mama ultrapassa o câncer de pulmão e


passa a ser o câncer mais diagnosticado segundo Agência Internacional de
Pesquisa em Câncer (IARC) do mundo representando uma ameaça à saúde.
Entretanto, devido a sua natureza heterogênea, uma estratégia terapêutica de
sucesso ainda não foi encontrada e atualmente apresenta muitos efeitos
colaterais e alto índice de resistência ao tratamento [1]. Sob essa perspectiva,
foi desenvolvido um novo tratamento utilizando ácido palmítico encapsulado em
nanopartículas de PLGA em associação com um quimioterápico, a
doxorrubicina (DOX), com o objetivo de incentivar a apoptose de células
cancerígenas e a imunidade anti tumoral. Nesse sentido, o ácido palmítico (AP)
foi escolhido para esse projeto devido a sua atividade antitumoral demonstrado
em alguns tumores, inibindo a via relacionada a PI3K e diminuindo a
proliferação celular e a capacidade de migração e invasão de outros tecidos [2].
Contudo, as propriedades hidrofóbicas do AP dificultam a sua entrada nas
células, diminuindo sua eficácia terapêutica. Assim, ao se associar o AP à
DOX, cria-se um sistema capaz de adentrar as células tumorais.
Nanopartículas de ácido Iáctico-co-glicólico (PLGA) foram funcionalizadas com
AP+DOX, servindo como carreadoras, visando maior eficiência terapêutica e a
diminuição de efeitos tóxicos em células não tumorais. Neste trabalho, o

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nanossistema formado pelas nanopartículas de PLGA funcionalizadas com


AP+DOX foi testado em modelos in vitro com células 4T1, tendo como objetivo
investigar se o nanossistema é capaz de impedir a progressão tumoral,
prevenir metástases e modular o microambiente tumoral para um perfil de
resposta imunológica antitumoral, protagonizada por macrófagos M1.

Metodologia

Preparação das Nanopartículas


Nanopartículas de PLGA foram feitas a partir do método de evaporação de um
solvente em emulsificação dupla previamente descrito na literatura [3,4].
Resumidamente, 10 mg de DOX foram dissolvidos em 1 mL de água ultrapura
deionizada, depois 150u L de corante DID em solução com 0,5 mg/mL de clorofórmio,
25 mg de PA e 50 mg de PLGA foram dissolvidos em 3 ml de clorofórmio e misturados
por 3 minutos com auxílio de um ímã a temperatura ambiente. Após a mistura, a
solução de DOX foi adicionada gota a gota à mistura de clorofórmio com PA e PLGA e,
em seguida, adicionados a um sonicador para emulsificar a solução ,por 75s, obtendo
assim, a emulsão primária. Posteriormente, a emulsão primária foi emulsionada em 20
mL de 5% álcool polivinílico em um banho de gelo usando um sonicador para obter
uma emulsão dupla que depois foi transferida para 15ml de PVA aquoso a 2% e
agitado com um agitador magnético por 4 horas. Após a agitação, a solução foi
ultracentrífugada a 14000 g por 35 minutos e lavada 3 vezes com água ultrapura e
liofilizada por 4 dias para obter as nanopartículas e armazená-las a - 20°C.
Eficiência de encapsulação das NPs
A eficiência da encapsulação das nanopartículas com DOX foi avaliada de acordo com
estudos anteriores [5-8], de modo que 1 mg de NPs carregadas com DOX foram
dissolvidos em 0,4 mL de DMSO. As nanopartículas de PLGA foram transferidas para
uma placa de 96 poços em 100 uL/poço,e,em seguida, a absorbância do medicamento
droga foi avaliada com o leitor SpectraMax® iD3 a 480nm. Enquanto para o ácido
palmítico realizou-se Cromatografia Líquida de Ultra Eficiência e Espectrometria de
Massa. Para isso, AP foi dissolvido a uma concentração de 0,5 mg/mL e 40 uL dessa
solução foi dispersado em 500 uL de metanol e tratado em ultrasonificação por 10
minutos, e centrifugado por 15 minutos a 3000 G, depois a solução foi usada para uma
curva de calibração com 8 níveis de concentração, de 3,125 até 400 ug/mL. Ensaio de
liberação de medicamentos in vitro A eficiência da liberação do medicamento foi
avaliada segundo a literatura [9] ,assim, 2mg das nanopartículas de PLGA contendo
DOX e/ou AP foram dissolvidas em PBS com PH variando de 5 a 7,4 e adicionado a
tubos de diálise que ficaram sendo constantemente agitados a 150 rpm em uma
temperatura de 36,5°C.Em seguida, os tubos de diálise foram adicionados em um

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becker contendo 25 mL de PBS. A quantificação da DOX e do AP em suspensão foi feita


com o SpectraMax M3 em 150nm e 580 nm (medições feitas em triplicata).
Ensaios in vitro
Para os ensaios in vitro [9] foram utilizadas células das linhagens 4T1 e RAW 264.7, que
foram cultivadas em DMEM com 1% de penicilina e 10% de soro fetal bovino ,
mantidas a 37°C na incubadora e subcutivadas com confluência de 80-90%.
Viabilidade celular
A citotoxicidade nas células 4T1 foi avaliada por ensaio de MTS [9]. Para isso, 1x104
células foram cultivadas por poço (placa de 96 poços) por 24 horas em meio DMEM
com FBS a 10%. Em seguida, o meio foi substituído por meio DMEM suplementado
com NPs e as células foram mantidas em cultura por mais 48 horas. As células foram,
então, tratadas com o reagente de MTS e incubadas por 1h30m e a absorbância foi
avaliada com auxílio de SpectraMax M3 a 490 nm.
Citometria de fluxo
A capacidade das nanopartículas de promover apoptose ou necrose nas células de
câncer de mama foi verificada por ensaio de citometria de fluxo [9]. Em uma placa de
24 poços foram cultivadas 1 x 105 células por poço até que atingissem uma confluência
de 80-95%. Em seguida, foram tratadas com 25 ug/mL de diferentes formulações de
nanopartículas. Após 48 horas do tratamento as células foram destacadas com tripsina
e marcadas com Anexina-V-FITC e F7AAD para indicar apoptose e necrose,
respectivamente.
Localização intracelular por Microscopia Confocal
Para verificar a capacidade das células em internalizar as nanopartículas, foi realizada
imunofluorescência e citometria de fluxo [9] após 1h, 4h, 24h e 48h de incubação com
80 ug/mL de nanopartículas em meio DMEM sem soro. As células foram fixadas com
formol por 20 minutos e lavadas com PBS, para serem coradas com phalloidin-FITC
para actina e DAPI para o núcleo, e foram analisadas com um microscópio de
imunofluorescência. Foi também realizada microscopia confocal para avaliação da
localização intracelular das nanopartículas, assim como a localização das
nanopartículas de AP com lisossomos, utilizando corantes phalloidin para o
citoesqueleto, DAPI para o núcleo e LysoTracker™ Deep Red para os lisossomos.
Polarização da linhagem RAW 264,7 para macrófagos M2
A polarização das células em macrófagos foi realizada segundo a literatura [9]. Células
RAW 264,7 foram cultivadas no poço de 24 poços com 8x104 por poço por 24 horas,
suplementando o meio com 20 ng/mL de IL-4, depois das primeiras 24 horas, os
macrófagos M2 foram incubados com meio sem SBF com IL-4 por 48 horas. Ademais,
para averiguar os efeitos de AP nos macrófagos M2 foi cultivados células RAW em um
meio suplementado com 20 ng/ml de IL-4 seguida de uma incubação com meio sem
SBF suplementado com 25 ug/mL de NPs com AP por 48 horas.
Ensaio de Cicatrização de Feridas

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A fim de analisar o efeito das nanopartículas na capacidadede invasão das células


tumorais 4T1, foi realizado um protocolo de migração celular com ensaio de ranhura
[9] após 48h do tratamento com as nanopartículas. Para isso, utilizou-se o kit
IncuCyte® Cell Migration após a confluência celular ter atingido 95-100% e, a cada 2h,
foram obtidas imagens para investigar a velocidade de proliferação celular. Por fim,
para avaliar o efeito do AP em macrófagos M2 foi necessário polarizar a linhagem
células RAW 264.7 . Para isso, 8 x 104 células foram cultivadas em cada poço de uma
placa de 24 poços e tratadas com 20 ng/mL de IL-4 por 24 horas. Em seguida, foram
suplementadas com 25 ug mL de PLGA-AP e IL-4 por 48 horas.

Resultados e Discussões

Com relação às características físico-químicas das nanopartículas, os


resultados demonstraram que a adição de PA, DOX ou PA e DOX nas
cápsulas de PLGA não altera estas características, mantendo uma forma
esférica com superfície lisa com tamanho variando de 144,9 a 160,2 nm e
carga negativa. Em seguida, foi analisado o padrão de liberação da droga de
DOX e AP em diferentes valores de PH, com resultados apontando que o AP
tem uma liberação mais lenta e incompleta em comparação com DOX e com os
dois compostos tendo uma liberação mais rápida em um PH mais ácido,
contudo, os resultados demonstram uma liberação de sucesso das
nanopartículas de PLGA contendo AP e DOX nas primeiras 48 horas. Foi
utilizado citometria de fluxo e microscopia confocal para avaliar a eficiência das
drogas em nanopartículas, com o objetivo de observar a absorção das NPs
com DOX sob a presença e ausência de AP, desse modo, os resultando
mostraram que a absorção de DOX aumentou progressivamente com o tempo
e que DOX livre foi maior que DOX encapsulado, após 1h e 4h, no entanto em
um tempo maior que 24h não teve diferença significante entre DOX livre e DOX
encapsulado.Além disso, na análise microscópica, obteve-se que o DOX livre
se acumulou no núcleo das células enquanto o grupo controle mostraram um
acúmulo gradual no citoplasma. Sobre os resultados da capacidade das
nanopartículas de AP e AP+DOX reduzirem a viabilidade celular e induzirem
apoptose na linhagem 4T1 foi necessário primeiro determinar a IC50, ou seja, a
concentração mínima que cada composto necessita para reduzir em 50% a
atividade metabólica da célula, de cada composto, de forma que DOX
apresentou uma concentração de 10,54 ug/mL e AP 66,86 ug/mL e do grupo
controle (NPs PLGA), NPs com DOX, AP e DOX e AP, com concentração de
20.261 mg/mL, 7.65 μg/mL, 214.7 μg/mL e 7.52 μg/mL, respectivamente,
demonstrando que NPs com DOX, AP ou a combinação dos compostos
precisam de uma concentração menor para interferir na atividade celular.
Ademais, foi comparado o efeito de DOX livre com DOX encapsulado nas

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células, demonstrando que ,sob mesma concentração, NPs com DOX, AP e


AP+DOX reduzem a viabilidade em 44,4%, 35,8% e 70% ,respectivamente,
indicando um efeito aditivo das substâncias juntas.Em seguida foi avaliado a
taxa de necrose/apoptose em 24 e 48 horas em células 4T1 com DOX e AP
não encapsulados, demonstrando que em 24 horas as células tratadas com
2,88 ug/mL e 7,52 ug/mL de DOX tiveram 28,72% e 34,46% de apoptose e
posteriormente, em 48 horas tiveram 35,65 % e 58,1 % de apoptose, enquanto
as células tratadas com 12,75 μg/mL e 32,70 μg/mL de AP em 24 horas
tiveram taxas de 18,69 % e 20,17 % e em 48 horas 20,39 % e 32,98 % de
apoptose. Ademais, para avaliar a redução da atividade metabólica em
diferentes formulações de NPs foi quantificado a taxa de apoptose em
citometria de fluxo com coloração de Anexina V/7AAD, demonstrando que as
células tratadas com 25 ug/mL de NPs PLGA em 24 e 48 horas ainda tiveram
uma viabilidade acima de 90%, indicando que o PLGA sozinho não é citotóxico,
enquanto células tratadas com NPs PLGA-PA, NPs PLGA-DOX e NPs PLGA-
PA-DOX ,sob a mesma concentração, demonstraram nas primeiras 24 horas
uma viabilidade de 17,41 %, 35,3 % e 27,54 %, respectivamente, e de 19,3 %,
42,38 % and 53,6 %, respectivamente, em 48 horas. Além disso, foi analisado
a via intracelular de liberação do ácido palmítico e das nanopartículas com AP,
para isso foi preparado NPs PLGA encapsulado com DiD e AP-rodamina e
analisados por 1h, 4h,12h, 24h, 48 horas com um microscópio confocal, de
forma que os resultados demonstraram que as nanopartículas de AP
acumularam no citoplasma, assim como o AP-rodamina com o passar do
tempo, de modo que foi possível concluir que as nanopartículas entram nas
células por vesículas endocíticas que se fundem em pré-lisossomos e
amadurecem em lisossomos, ademais, foi explorado a colocalização dos NPs
AP-rodamina com os lisossomos, tratando células com 100 ug de NPs PLGA
AP-rodamina e depois com LysoTracker por 0h, 4h , 24h e 48 horas,
demonstrando que a colocalização diminui com o tempo. Para verificar se as
nanopartículas de AP podem induzir a repolarização de macrófagos M2 em M1,
assim como ocorre com o ácido palmítico livre, foi utilizado citometria de fluxo
com marcadores CD163 para M2 e CD68 e CD86 para M1, de forma que a
expressão de CD163 foi reduzida em macrófagos M2 diferenciados depois de
tratados com NPs PLGA-AP em comparação com os tratados com o grupo
controle de NPs e os não tratados, semelhantemente, a expressão de CD68 e
CD86 aumentou depois do tratamento com NPs PLGA-AP em comparação
com os tratados com o grupo controle de NPs e os não tratados, de forma que
é possível concluir que assim como o ácido palmítico livre, o AP encapsulado
em nanopartículas pode reverter a polarização de macrófagos M2 em um
fenótipo M1 com ação antitumoral. Por fim, foi realizado o ensaio de
cicatrização de feridas para avaliar o efeito das nanopartículas com ácido
palmítico na migração e invasão de células 4T1, de forma que após 12 horas
foi observado uma redução na velocidade de cicatrização no grupo tratado com

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NPs de AP em relação ao grupo controle tratado apenas com NPs de PLGA e


com o grupo não tratado, de forma que estes grupos apresentaram no final
uma taxa de 86,49 % e 73,36 %, respectivamente, enquanto o grupo tratado
com NPs PLGA-AP a taxa era menor, de apenas 43,28% e reduziu ainda mais
no grupo tratado com NPs de AP+DOX, sendo apenas de 31,33%, indicando
que o ácido palmítico inibe a proliferação de células tumorais. Portanto, pode-
se averiguar que os NPs carregados com PA, assim como PA e DOX, inibiu
efetivamente o crescimento e metástase do tumor de câncer de mama, além
disso, o efeito terapêutico de PLGA-PA NPs se mostrou semelhante aos NPs
PLGA-DOX, NPs PLGA-PA-DOX e DOX livre, demonstrando que o ácido
palmítico sozinho ou em combinação com DOX é um tratamento promissor
para o câncer de mama, entretanto a liberação de AP é mais lenta que DOX, o
que acredita-se ser responsabilidade da sua natureza hidrofóbica que se
mantém mais tempo dentro das nanopartículas. Além disso, em comparação
com o DOX livre que entra na células direto pela membrana a absorção de NPs
de AP e DOX são mais lentas, provavelmente pela absorção mais demorada
das nanopartículas seguida pela liberação no citoplasma das drogas. Assim, os
resultados deste estudo in vitro demonstraram que as nanopartículas contendo
ácido palmítico inibiram significativamente a capacidade de invasão e
proliferação das células 4T1, apresentando um comportamento mais citotóxico
quando coencapsulado com doxorrubicina, além de ser capaz de reverter a
polarização de macrófagos M2 em M1, entretanto, in vivo, alguns desses
resultados divergiram devido a natureza heterogênea do câncer pela
variabilidade genética e epigenética, de forma que estudos futuros devem
elucidar a capacidade terapêutica de AP em células 4T1 de câncer de mama,
visto que, o ácido pode ter aplicações clínicas para o tratamento de alguns
pacientes.

Conclusão

Diante da necessidade de criar uma nova terapia que mantivesse os efeitos


antitumorais da DOX e os potencializarem, mas com intuito de superar suas
limitações, a criação de nanopartículas de PLGA encapsuladas com ácido
palmítico e doxorrubicina apresentaram resultados satisfatórios in vitro. Assim,
NPs carregadas com AP e AP e DOX inibiram de forma eficiente o crescimento
e a metástase do câncer de mama, demonstrando-se um efeito terapêutico
similar a doxorrubicina livre e NPs carregadas apenas com DOX, de modo que,
as nanopartículas contendo os dois fármacos pode ser uma alternativa viável
de tratamento para o câncer de mama no futuro. Além disso, a entrega dos
medicamentos via nanopartículas, apesar de se demonstrar inicialmente
lenta ,no caso de NPs contendo ácido palmítico, foi bem sucedida, de modo
que foi possível entregar os medicamentos nas células cancerígenas sem

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

afetar as células saudáveis. Ademais, nanopartículas com ácido palmítico


também foram capazes de reverter a polarização de macrófagos M2 em M1,
resultando assim em efeitos antitumorais, que corroboram para a modulação
do microambiente tumoral. De modo geral, é possível observar que a utilização
de nanopartículas com quimioterápicos se mostra uma terapia promissora para
o câncer de mama. Todavia, mais estudos são necessários para avaliar as
condições dessa terapia in vivo.

Referências

[1] MASOUD, Viviana; PAGÈS, Gilles, Targeted therapies in breast cancer: New
challenges to fight against resistance, World Journal of Clinical Oncology, v. 8, n. 2, p.
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Tecnológica.

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eCICT 2023

[12] Primeiro inibidor de PI3K aprovado para o tratamento do câncer de mama nos
EUA - Manual de Oncologia Clínica do Brasil, disponível em:
<https://mocbrasil.com/blog/noticias/primeiro-inibidor-de-pi3k-aprovado-para-o-
tratamento-do-cancer-de-mama-nos-eua/>. acesso em: 8 ago. 2023. [13] IJMS | Free
Full-Text | Multifunctional Role of Lipids in Modulating the Tumorigenic Properties of
4T1 Breast Cancer Cells, disponível em: <https://www.mdpi.com/1422-
0067/23/8/4240>. acesso em: 8 ago. 2023. [14] DE ARAUJO JUNIOR, Raimundo
Fernandes et al, Ceramide and palmitic acid inhibit macrophage-mediated epithelial–
mesenchymal transition in colorectal cancer, Molecular and Cellular Biochemistry, v.
468, n. 1, p. 153–168, 2020.

Anexos

Fluxograma

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CÓDIGO: SB0089

AUTOR: ISABELLE DE LIMA MARQUES

ORIENTADOR: RAIMUNDO FERNANDES DE ARAUJO JUNIOR

TÍTULO: Estabelecimento e análise patológica descritiva de cultura de tecido


organotípico do câncer colorretal de paciente da Liga Norte-Riograndense
Contra o Câncer.

Resumo

O câncer colorretal ocupa a segunda posição no ranking de causas de mortes por


cânceres no mundo, demonstrando a urgência em desenvolver novos métodos
eficazes para o seu tratamento. Este trabalho teve como objetivo estabelecer o
protocolo de cultura de tecido organotípico (CTO) de câncer colorretal (CCR) derivado
de lesões removidas cirurgicamente de um paciente da LIGA Norte-Riograndense
Contra o Câncer, Natal/RN, sem tratamento químico prévio. As lesões ex-vivo foram
cultivadas em condições específicas, buscando mantê-las viáveis por 4 e 24 horas, e
algumas foram submetidas ao tratamento com Oxaliplatina (OXA) em concentrações
crescentes. Para verificar a viabilidade tecidual da CTO e o microambiente tumoral
(MT) foram realizadas análises histopatológicas em H&E e imunohistoquímica com
TGF-β, marcador preditivo de imunossupressão do MT. A morfologia geral do grupo
controle se manteve após 4 horas, com modificações na microestrutura tumoral em 24
horas. Com o tempo, observou-se aumento da necrose e atenuação da população de
células imunológicas e glandulares. No grupo OXA de menor concentração, o tumor
pareceu reestruturar-se com a presença de tecido fibroblástico. O TGF-β marcou bem
tecidos mais preservados, principalmente nas CTOs que apresentavam glândulas
intestinais transformadas. Conclui-se que a técnica é capaz de manter a viabilidade
tecidual, sendo necessário adequações para predizer melhores estratégias de
abordagens terapêuticas no CCR.

Palavras-chave: Câncer colorretal. Tecido organotípico. Microambiente tumoral.

TITLE: Establishment and descriptive pathological analysis of organotypic


tissue culture of colorectal cancer from a patient of the “Liga Norte-
Riograndense Contra o Câncer”.

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Abstract

Colorectal cancer occupies the second position on the ranking of deaths caused by
cancer worldwide, which demonstrates the urgency in developing new effective
methods for its treatment. This study aimed to establish the organotypic tissue culture
(OTC) protocol for colorectal cancer (CRC) derived from lesions surgically removed
from a patient at LIGA Norte-Riograndense Contra o Câncer, Natal, RN, without
previous chemical treatment. The ex-vivo lesions were cultured under specific
conditions, seeking to keep them viable for 4 and 24 hours, and some of the tumor
sections were treated with Oxaliplatin (OXA) at increasing concentrations. To verify the
tissue viability of the OTC and the tumor microenvironment (TME), histopathological
analysis in H&E and immunohistochemistry with TGF-β, a predictive marker of TME
immunosuppression, were performed. The general morphology of the control group
was maintained after 4 hours, occurring modifications on its tumor microstructure at
24 hours. Over time, increased necrosis and attenuation of the immune and glandular
cell populations were observed. The group with the lower concentration of OXA
seemed to show tumor restructure in the presence of fibroblastic tissue. TGF-β marked
well-preserved tissues, especially in OTCs that had transformed intestinal glands. In
conclusion, the technique is capable of maintaining tissue viability over time, requiring
adjustments to predict better therapeutic approaches in CRC.

Keywords: Colorectal cancer. Organotypic tissue culture. Tumor


microenvironment.

Introdução

Segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (AIPC), ligada à


Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer colorretal (CCR) foi o terceiro câncer
mais diagnosticado no mundo, com quase 2 milhões de novos casos em 2020. O CCR
também foi considerado a segunda causa mais comum de morte por câncer em todo o
mundo. Tais dados epidemiológicos mantêm-se padronizados em relação aos censos
registrados e publicados pelo Órgão em anos anteriores (Tabela 1), demonstrando a
sua tenacidade e, portanto, a importância de aprofundar em estudos que objetivem o
desenvolvimento e manutenção da saúde coletiva.
O CCR decorre da transformação celular em regiões do cólon e reto do intestino
grosso, em que o epitélio normal sofre mutações genéticas, e, com a instauração do
processo inflamatório recorrente, ocorrem expansões clonais com geração de pólipos,
podendo levar, por exemplo, ao acúmulo de mutações nos genes p53. Assim, há o
disfuncionamento dos mecanismos de reparo e apoptose, conservando um clone

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eCICT 2023

maligno que se divide demasiadamente. O crescimento dessas células induz a


progressão do CCR (XIONG; WANG; TIRUTHANI, 2019) (Figura 1).
Os constituintes tumorais são definidos em um sítio denominado de microambiente
tumoral (MT), composto por células neoplásicas associadas a células imunes, estromais
e endoteliais, formando uma grande conexão interativa, com produção de moléculas
que delineiam as características fenotípicas do tumor (Figura 2) (DIAKOS et al., 2014;
FIGUEIREDO, 2019; ZAFARI et al., 2022). Essas moléculas podem ser citocinas e
quimiocinas, responsáveis por sinalizar novas demandas e modificar o comportamento
do MT (ZAFARI et al., 2022). O TGF-ß (Fator de transformação do crescimento beta) é
um exemplo de proteína que promove a remodelagem a nível de MEC, possibilitando o
movimento de células neoplásicas que, por sua vez, direcionam a metástase. Além
disso, induz a mudança de fenótipo de linfócitos T regulatórios e de MDSCs,
estimulando o perfil imunossupressor celular (SWARTZ; LUND, 2012; ZAFARI et al.,
2022).
A presença do perfil imunossupressor garante a promoção de mecanismos de
resistência à droga (quimiorresistência) no câncer. Essa atividade limita a ação de
agentes quimioterápicos sobre os tumores, por meio da promoção do efluxo do
fármaco, da aquisição de reparo dos danos ao DNA e da evasão da morte celular
(HOLOHAN et al., 2013).
Uma vez que existe uma ampla variabilidade de aspectos tumorais em cada paciente,
espera-se a ocorrência de uma variabilidade quimiorresponsiva em cada indivíduo
(TILSED et al., 2022). Essa questão tece desafios enfrentados pela equipe clínica,
juntamente com pacientes refratários ao tratamento e detentores de mau-
prognósticos associados ao CCR (WANG et al., 2021; RUBIN; GILLILAND, 2012). A saída
para essa problemática pode girar em torno do estudo da composição deste tumor, e
traçar condutas terapêuticas direcionadas e específicas para cada indivíduo.
(BINNEMARS-POSTMA; STORM; PRAKASH, 2017).
Surgem, então, as abordagens terapêuticas pré-clínicas, importantes para obtenção de
respostas medicamentosas personalizadas, visando prever a eficácia do tratamento
(TONIATTI et al., 2014). Diversos tipos de modelos experimentais in vitro, in vivo e ex
vivo têm sido desenvolvidos nos últimos anos. O fragmento de tecido tumoral
organotípico consiste em amostras derivadas de espécime cirúrgico do paciente
submetidas a condições de cultivo ex vivo, permitindo análises morfológicas e
moleculares (DING et al., 2021). Esse método é eficaz para manutenção do MT original
e particular de cada tumor (KENERSON et al., 2020), detendo a sua capacidade
metabólica e a biotransformação de drogas (CARRANZA-TORRES et al., 2015).
Dessa forma, este trabalho realizou a padronização da metodologia de cultivo de
tecido organotípico do câncer colorretal de paciente da Liga Norte-Riograndense

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Contra o Câncer, para averiguar a viabilidade tumoral e, posteriormente, delinear a


terapia personalizada.

Metodologia

2.1 Aquisição de tecidos e dados clínicos:


As amostras clínicas foram obtidas a partir da ressecção cirúrgica de tumores de
pacientes sem tratamento químicos prévios e em consentimento mediante assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando o uso do material
para pesquisa e garantindo os direitos dos pacientes.
2.2. Transporte da amostra:
O tumor de um paciente foi escolhido para o estudo, evitando regiões de necrose
aparentes, em que parte do tecido foi acondicionado em formalina a 4%, para
posterior coloração em hematoxilina e eosina (H&E), e outra parte acondicionada em
meio de cultura (DMEM) suplementado com antibióticos (4 μg / ml de anfotericina B,
100 U / ml de penicilina, 100 μg / ml de estreptomicina e 30 μg / ml gentamicina)
(GHOSH et al., 2019). O material foi transportado em gelo até o laboratório de
experimentação (Laboratório de Investigação do Câncer e Inflamação -
LAICI-DMOR/CB, UFRN).
2.3. Secção de tecidos:
Todo o processo foi realizado sob condições estéreis, em cabine de fluxo laminar. O
tecido tumoral, acondicionado em meio de cultura, foi seccionado em segmentos de
lesões (≅ 2 mm³), com o auxílio de instrumentação cirúrgica estéril (pinça e bisturi),
para produção de cortes de tecido organotípico (GHOSH et al., 2019; VAN DE MERBEL
et al., 2018). Os fragmentos foram colocados sobre inserções de filtro de nitrocelulose
(inserções de filtro de 6 poços, tamanho de poro de 0,45 μm, Millipore), os quais
foram cortados e posicionados em placas de cultura de 12 poços (VAN DE MERBEL et
al., 2018).
2.4. Condições de cultivo tecidual:
Cada poço foi preenchido com 1 ml de meio de cultura Dulbecco’s Modified Eagle’s
Medium (DMEM), enriquecido com 20% FBS, 1 mM de piruvato de sódio (Gibco), 2
mM de L-glutamina (Gibco) e 1% de antibióticos: 4 μg / ml de anfotericina B, 100 U /
ml de penicilina, 100 μg / ml de estreptomicina e 30 μg / ml gentamicina. Os cortes
foram posicionados acima das inserções de filtro de nitrocelulose.

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O estudo foi realizado em triplicata (n=3), dividido em grupos submetidos a: DMEM,


DMSO 0,1%, OXA 1 mg/ml, OXA 2,5 mg/ml e OXA 5 ml/ml. Após cultivadas, foram
mantidas em estufa úmida a 37 °C e 5 % de CO², durante os tempos de 4 e 24 horas.
2.5. Processamento histológico:
Para a análise microscópica, as amostras foram coletadas em tempos de 0 horas, 4
horas e 24 horas, e acondicionadas em paraformaldeído a 4%. O período de fixação do
material foi de apenas 2 horas (NAIPAL et al., 2016). Após a fixação, o tecido foi
desidratado por incubação em uma série de concentrações crescentes de etanol
(banhos de 40 minutos). Posteriormente, o tecido foi clarificado em xilol (banhos de 40
minutos) e incluído em parafina. Cortes de parafina (5 μm) foram confeccionados e
montados em lâminas. Por fim, as lâminas foram coradas com hematoxilina e eosina
(HE), o que permitiu a análise histológica em microscopia óptica de luz (400x, Olympus
BX50, Departamento de Morfologia/UFRN).
2.6. Análise histopatológica:
Os cortes corados por H&E foram submetidos à análise histopatológica, atribuindo
escores para necrose (1 = ausente, 2 = leve, 3 = moderado e 4 = intenso), infiltrado
inflamatório (1 = ausente, 2 = leve, 3 = moderado e 4 = intenso), presença de vasos (1 =
>25%, 2 = 25-50%. 3 = 50-75% e 4 = >75%), desmoplasia (1 = ausente, 2 = leve, 3 =
moderado e 4 = intenso), células tumorais (1 = >25%, 2 = 25-50%. 3= 50-75% e 4 =
>75%) e glândulas tumorais (1 = >25%, 2 = 25-50%. 3 = 50-75% e 4 = >75%). Os escores
foram aplicados traçando quatro quadrantes imaginários por campo analisado
(aumento de 400x), com a análise histopatológica conduzida de forma duplo-cega por
dois pesquisadores. Os valores médios de escores foram utilizados para estatística.
2.7. Imuno-histoquímica para TGF-β:
Os cortes teciduais foram desparafinados por dois banhos em xileno (10 min) e três
enxágues em etanol a 100% (5 min), etanol a 70% e 50% (3 min). Em seguida, os
tecidos foram lavados em água destilada e submetidos à recuperação de antígeno a
90°C por 30 min com tampão citrato pH 6,0. Os cortes foram então lavados e
incubados overnight com Bovine serum albumin a 1% (BSA) (Gibco) para bloqueio de
background. Em seguida, os cortes foram incubados com anticorpo primário contra
TGF-β (1:200, Tecnologia de sinalização celular, coelho, Santa Cruz, G0114). Para a
marcação secundária o reagente universal imunoperoxidase para coelho (Histofine) foi
incubado por 25 min, de acordo com a orientação do fabricante. Em seguida, a
imunoreatividade foi visualizada pelo uso do substrato DAB (Cell Marque, cat),
aplicado por tempo não superior a 10 min. A captura das imagens foi feita em
microscópio de luz (Nikon Eclipse 2000 equipado com Nikon DS-Fi2; Nikon
Corporation, Tóquio, Japão) com aumento objetivo de 400×. Para a análise, os escores
foram feitos considerando o percentual de células marcadas (1 = <25%, 2 = 25-50%, 3=

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50-75% 4= >75%) e a intensidade de marcação (1 = ausente, 2 = visualizado no


aumento de 400x, 3 = visualizado no aumento de 100x, 4 = visualizado no aumento de
40x) (C DE S L OLIVEIRA et al., 2020). O escore final foi obtido pela multiplicação entre
a proporção de células marcadas e a intensidade de marcação. As análises foram
realizadas por dois examinadores previamente treinados de forma duplo-cega.
2.8. Análise estatística:
A análise estatística foi realizada com GraphPad Prism versão 6.0.1.298. Para testar a
diferença estatística dos escores de H&E dos tratamentos, da marcação IHQ de TGF-β
dos tratamentos e dos controles foram aplicados os testes ANOVA bidirecional e o pós-
teste de Tukey. Valores de P menores que 0,05 foram considerados significativos (* P <
0,05; ** P < 0,01; *** P < 0,001; **** P < 0,0001). Para testar a diferença estatística
dos escores de H&E dos controles foi aplicado o teste não-paramétricos de Kruskal-
Wallis com pós-teste de Dunn. Valores de P menores que 0,05 foram considerados
significativos (* P < 0,05; ** P < 0,01; *** P < 0,001).

Resultados e Discussões

A manutenção da morfologia tumoral presente no tecido da CTO (grupos DMEM,


Figura 3) assemelha-se ao observado na biópsia convencional (não cultivada), com
exceção da presença de glândulas, indicando que as condições do MT são preservadas
na cultura organotípica. As perdas glandulares podem ser decorrentes das mudanças
adaptativas do MT na CTO (MARTIN et al., 2019), uma vez que, com o passar do
tempo, a redução progressiva de celularidade é esperada na técnica (SALAS et al.,
2020). Em paralelo, as células tumorais ocupam papel importante na configuração
estrutural das glândulas transformadas. Assim, a redução das células tumorais
ocasiona alterações conformacionais glandulares, observadas em quantidade
criteriosamente reduzida no tratamento com OXA (MIKUŁA-PIETRASIK et al., 2019).
A CTO DMEM 4h demonstrou conservação da citoarquitetura geral (Figura 3 - g-j), com
menos degradação aparente do que na CTO DMEM 24h (Figura 3 - j-k). Fatores como
presença de vasos sanguíneos e de infiltrado inflamatório mostraram-se reduzidos na
comparação entre os tempos de CTO DMEM (Figura 3 - h, k e Figura 4 - a), bem como,
uma significativa redução na presença de glândulas após 24 horas de CTO (Figura 3 d, j
e Figura 4 - a). Esses achados apontam para a ocorrência de alterações
conformacionais dos fragmentos mediante adaptações às modificações metabólicas
induzidas pelo novo ambiente (KENERSON et al., 2020), visto que, após modificar o
ambiente em que o tumor se encontra, esperam-se alterações fisiológicas em diversos
aspectos, principalmente no que diz respeito às conexões com os sistemas do

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organismo, no que tange às relações de interação com a medula óssea; aos nichos pré-
metastáticos ou metastáticos; ao perfil de composição do MT em relação aos
componentes que são necessariamente renovados com certa periodicidade; ao aporte
de nutrientes e de oxigênio, dentre outros. Assim, aspectos que influenciam na
conformação do MT na CTO ex vivo podem justificar alterações sofridas pelo cultivo
(KENERSON et al., 2020), porém não impossibilita a promoção de estudos
aprofundados do comportamento do tumor (MARTIN et al., 2019).
3.1. Presença de células tumorais:
A redução de células tumorais observada em DMSO e OXA teve significância estatística
quando comparada com a CTO DMEM para 4 horas e 24 horas (Figura 6 - a). A
presença de células tumorais foi modificada ao analisar e comparar as lesões de
DMEM com as lesões de DMSO, após 24 horas. Além disso, as lesões de maior
concentração de OXA (5 mg/mL) apresentaram maior diferença estatística em relação
à lesão de DMEM em 24 horas de CTO. Tal diferença estatística foi constatada devido a
diminuição do tamanho do tumor e da viabilidade tecidual da CTO tratada com OXA,
assim, a maior presença de células tumorais e imunológicas no CTO DMEM não tratado
garante a viabilidade tecidual na implementação da técnica. (HE; DENG, 2022).
3.2. Presença de vasos sanguíneos:
Houve diferenças significativas na análise da presença de vasos entre a lesão que teve
contato apenas com DMEM em relação às lesões tratadas, com concentrações
progressivas de OXA ao passar do tempo de cultivo (Figura 5 - f-j e Figura 6 - b). Após
24 horas de cultura pode-se observar que houve redução de vasos sanguíneos nas
lesões em contato com DMSO em relação às lesões que tiveram contato apenas com
DMEM, o que mostra o efeito citotóxico do DMSO (Figura 5 p-q). As lesões de controle
de DMEM 4 horas e 24 horas apontaram para irrelevância estatística, mostrando que,
para esse parâmetro não houve modificações substanciais para serem consideradas
(Figura 6 - b). Tal parâmetro é importante para inferir uma possível manutenção da
viabilidade tecidual após 24 horas de CTO (indicadas pelas setas pretas na Figura 5 - f;
p). Não houve redução de vasos sanguíneos com o passar do tempo da cultura
organotípica, entretanto, a presença de vasos sanguíneos não foi afetada com o
contato com DMSO, como esperado.
3.3. Infiltrado inflamatório:
Após 4 horas da CTO, a população de células imunológicas apresentou reduções
significativas nos tratamentos, quando comparada à lesão controle (Figura 5 - f),
indicada nas setas laranjas. Após 24 horas de CTO em DMEM, houve redução
significativa de infiltrado inflamatório (Figura 6 - c). Os tratamentos não mostraram
diferenças significativas para tal parâmetro, em ambos os tempos estudados.

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3.4. Desmoplasia:
No parâmetro de desmoplasia analisada, houve reduções estatísticas relevantes entre
a lesão de DMEM e a lesão tratada com a OXA 2,5 mg/ml e OXA 5 mg/ml, em 4 horas.
Após 24 horas, a estatística demonstrou um aumento de tecido fibrótico no
tratamento com menor concentração de OXA 1 mg/ml (Figura 6 - d), em comparação
com CTO DMEM 24 (Figura 5 - r, indicadas pelas setas roxas).
Sabe-se que, após a biópsia, não há como, na CTO, ocorrer o recrutamento de células
imunossupressoras sistêmicas, tais como Treg e MDSCs, como ocorre normalmente no
organismo (ZHOU et al., 2016). A evasão imunológica se dá pela troca de fenótipos
antitumorais por fenótipos pró-tumorais, eficazes em prover estabelecimento tumoral.
Alguns exemplos de células imunológicas influenciadas pelo tumor são: linfócitos T
regulatórios, linfócitos B regulatórios, macrófagos do tipo dois (M2) ou macrófagos
associados ao tumor (TAMs) e neutrófilos associados ao tumor de Células Supressoras
de Origem Mielóide (MDSC) (BINNEMARS-POSTMA; STORM; PRAKASH, 2017). A
presença dessas células possui relevância clínica para o tratamento de pacientes com
câncer (ANDERSEN; MILETIC; HOSSAIN, 2022; BINNEMARS-POSTMA; STORM;
PRAKASH, 2017). Como componente do estroma do MT, além dos componentes da
matriz extracelular importantes para a tumorigênese, como o colágeno tipo I, existem
os Fibroblastos Associados ao Tumor (CAFs), os quais exercem influências sobre o
remodelamento da matriz extracelular (MEC), que é importante para a migração de
células tumorais através da mesma e no desenvolvimento de resistência à droga
(TILSED et al., 2022). As CAFs também são importantes em iniciar um processo de
cicatrização contínuo no tumor (ZAFARI et al., 2022), agregando características ao
tumor denominadas como “feridas que nunca cicatrizam” (DVORAK, 2015). O processo
cicatricial do tecido conjuntivo é análogo ao mecanismo de desmoplasia tumoral, em
que a MEC torna-se gradativamente enriquecida por fibras colágenas do tipo 1,
criando um tecido conjuntivo denso, processo que facilita a interação entre células
tumorais e inflamatórias e serve como barreira para a difusão de quimioterápicos,
contribuindo, assim, para a resistência às drogas, um dos principais hallmarks do
câncer (DVORAK, 2019).
Por isso, ao realizar uma análise dos parâmetros atribuídos neste trabalho como
critérios de viabilidade tecidual, é necessário compreender o que está ocorrendo com
o tumor mediante a implementação da técnica e perceber que a diminuição da
população celular comumente encontrada em microambiente tumoral de CCR estaria
se modificando com o tratamento com OXA (Figura 5 - a-e e k-o), sem a repopulação
de células antitumorais, como ocorre nos modelos in vivo (TILSED et al., 2022; ZAFARI
et al., 2022).
A reorganização do tecido pode oferecer hipóteses de que há ativação de mecanismos
em prol da cicatrização tecidual, também atribuídos aos hallmarks do câncer (DVORAK,

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2019). Esse processo cicatricial relaciona-se com a redução de necrose, quando se


comparam CTO DMEM e CTO OXA (1 mg/mL - 4 horas) (Figura 5 - p, r). A presença de
desmoplasia pode implicar ativação de mecanismos de sobrevivência no tumor, apesar
do tratamento com OXA, associando-os a uma probabilidade de ativação de recursos
quimiorresistentes (GU; FENG, 2018; TILSED et al., 2022).
A organização do tecido tumoral conta a prevalência da MEC. Como o tumor de biópsia
não demonstrou tecido fibroso significativo, nos segmentos coletados (Figura 3 - d),
em confluência com os fragmentos que foram submetidos à cultura, também não
apresentaram proporções significativas de desmoplasia (Figura 3 - g, j). O aumento
desse parâmetro após 24 horas de tratamento com OXA de 1 mg/mL (Figura 5 - r e
Figura 6 - d) corrobora com a presença de tecido fibrótico, inferindo-se a ocorrência de
desmoplasia dose-dependente vigente, a qual pode estar relacionada a uma
quimiorresistência progressiva, adquirida pelo tumor do paciente, para a concentração
de 1 mg/mL (DVORAK, 2015; SUN, 2015), já que o tratamento pode induzir fatores
promotores de resistência à droga (TILSED et al., 2022). As mesmas características não
puderam ser vistas nos tratamentos com DMSO (Figura 5 q). Assim, estima-se a
possibilidade de execução de CTO com objetivo de promoção de estudos pré-
tratamento que predigam o desenvolvimento de resistência à droga de um paciente a
determinado quimioterápico (SHINDE; FRANGOGIANNIS, 2014; SUN, 2015).
3.5. Presença de glândulas:
Não houve diferenças estatísticas entre os grupos de CTO (Figura 6 - e). A presença de
glândulas apresentou diferenças morfológicas comparando os tempos de 4 horas e de
24 horas de CTO (Figura 3 - e, k, indicados com a seta verde). Entretanto, isso não se
manteve na comparação entre os grupos para o mesmo período de análise (Figura 6 -
e). Já a coloração IHQ com TGF-β acompanhou a presença da integridade das glândulas
tumorais, onde mostraram marcação principalmente nas células integrantes das
glândulas transformadas (Figura 7 a, c-e, indicadas pelas setas rosa). Houve redução
significativa da marcação de TGF-β entre CTO DMEM e DMSO e entre CTO DMEM e
OXA 5 mg/mL, após 4 horas (Figura 7 a-b, e e k). O marcador apresentou-se reduzido
com o passar do tempo de cultivo para todos os grupos testados após 24 horas (Figura
7 f-j).
A expressão de TGF-β foi visualizada principalmente no interior das células caliciformes
das glândulas transformadas. A presença de TGF-β no citoplasma de células
caliciformes e na luz glandular do tumor apresenta indícios de produção por tais
células que compõem a glândula transformada. Tal molécula foi associada a
mecanismos inibitórios de diferenciação (MCCAULEY et al., 2014) e de condução de
hiperplasia das células caliciformes (OUYANG et al., 2010). Esses comportamentos de
indiferenciação e de hiperplasia gerados pelo TGF-β refletem com os respectivos
hallmarks do câncer (HANAHAN, 2022). A redução gradativa dessa molécula no tecido

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tumoral organotípico com o tratamento e com o tempo de cultivo pode associar-se ao


desempenho terapêutico da OXA sobre a CTO, indicando o valor preditivo terapêutico
relacionado à técnica (HE; DENG, 2022). Além disso, como a expressão de TGF-β está
associada a estágios avançados do câncer, sendo considerados como mau prognóstico
(CALON et al., 2012, 2015), a redução da sua expressão pode ser indicativo de eficácia
terapêutica.
Após 24 horas de manutenção do cultivo houve redução da presença de glândulas
(Figura 4 - a), que acompanharam a redução da marcação com TGF-β (Figura 4 - b),
incluindo a CTO DMEM (Figura 3 - f, i e l). As CTOs sem tratamento permaneceram
expressando TGF-β em 4 horas, o que pode indicar conservação da funcionalidade
molecular tecidual, com possibilidade de manutenção de alguns hallmarks do câncer
mediados por TGF-β, como imunossupressão e resistência à droga (HANAHAN, 2022;
SYED, 2016). O TGF-β apresenta papel importante, em estágios avançados do câncer,
no estímulo de mecanismos de proliferação, de invasão, de regulação imunológica
imunossupressora, de modificação do microambiente, de remodelação da MEC, de
indução da transição epitélio-mesenquimal (EMT), características as quais favorecem a
metástase (VILLALBA et al., 2017). O fator liberado por essas células pode interagir
com os outros componentes do MT e repercutir em respostas mencionadas acima,
ligado ao maior poder migratório de células tumorais, ativação de CAFs, à ativação de
perfis imunossupressores e aos estímulos angiogênicos e metastáticos (CALON et al.,
2012).
Assim, a expressão de TGF-β participa da manutenção de hallmarks, em que sua
redução após 24 horas de cultivo (Figura 7) pode ser definida pelo processo de
desvitalização cursiva do modelo ex vivo sugerido pela queda metabólica após esse
tempo de estudo (HE; DENG, 2022). Isso pode justificar a reestruturação adaptativa
frente às novas condições em que o tumor encontra-se, o que implica a ativação de
mecanismos de reparo e quimiorresistência (ZAFARI et al., 2022; ZHONG et al., 2021),
que estariam atrelados à presença de desmoplasia na CTO não tratada e ao aumento
de desmoplasia para CTO OXA 1 mg/mL (Figura 6 - d), após 24 horas. Isso indica a
possibilidade deste último grupo apresentar processo cicatricial ligado à
quimiorresistência após o tratamento (GU; FENG, 2018; TILSED et al., 2022), já que os
resultados também foram encontrados em outros experimentos com uso de CTO,
gerando suporte para favorecer a triagem rápida de respondedores e não
respondedores ao tratamento (HE; DENG, 2022).
A diminuição de expressão de TGF-β, juntamente com o aumento de necrose e a
redução do infiltrado inflamatório para tratamento com maior concentração de OXA
(Figura 5 - i, j; Figura 6 - c e f; Figura 7 - k) pode ser indicativo de que o tumor estaria se
tornando menos imunossupressor, sendo eficaz em promover morte do tumor
(TESNIERE et al., 2010), já que há maior quantidade de células imunológicas na CTO

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não tratada e elas são alvos comuns para o desenvolvimento de novas terapêuticas
para o câncer (HE; DENG, 2022; XING et al., 2021). De tal modo, a presença de células
imunológicas associadas ao tumor, tais como Macrófagos associados ao tumor (TAMs)
(ZHANG et al., 2018) e linfócitos (ZHOU et al., 2016) foram descritos correlacionados à
expressão de TGF-β no sítio tumoral e sua redução pode compactuar com a redução da
população imune na CTO (GU; FENG, 2018). Em suma, o CTO tratado com OXA de 5
mg/mL pode induzir morte imunogênica, redução da proporção glandular (Figura 5 - t),
que retroalimenta a redução da expressão de TGF-β (Figura 7 - e, k) o que, por sua vez,
reduz a ocorrência de desmoplasia (Figura 6 - d) (WEN et al., 2017).
As análises sugerem que o tratamento com OXA está levando a citotoxicidade tecidual
do tumor (indicada pela redução das células neoplásicas) (Figura 6 - f) (ALCINDOR;
BEAUGER, 2011) e redução da imunossupressão expressa com redução da marcação
de TGF-b e das células imunológicas (ZHOU et al., 2016), sem possibilitar
quimiorresistência, marcada pela redução da desmoplasia (WEN et al., 2017). Assim, a
presença de TGF-β pode acarretar em um feedback positivo da ativação do perfil
celular pró-tumoral, inferindo-se que a submissão do tumor ao tratamento com OXA
pode associar-se ao estímulo do perfil pró-inflamatório (ZHANG et al., 2018; ZHOU et
al., 2016).
3.6. Necrose:
A necrose foi indicativa de viabilidade tecidual, uma vez que aumentou
consideravelmente na CTO após a submissão aos tratamentos com DMSO e OXA em 4
horas (Figura 6 - f), em que percebem-se extensas áreas de degradação nos
tratamentos quando comparadas com a CTO DMEM (Figura 5 f-j). Conhecendo os
mecanismos de ação das duas substâncias utilizadas, conclui-se que ambas estão
induzindo toxicidade tecidual tumoral, levando à morte do tecido após 4 horas de
tratamento (MIKUŁA-PIETRASIK et al., 2019).
Houve, também, diferenças entre as lesões de DMEM nos diferentes tempos de 4h e
de 24h. Aparentemente, o tempo de cultura pode levar o tecido tumoral a sofrer uma
maior ocorrência de necrose (indicada com setas vermelhas na figura 5 - i, j e t). O
aumento do parâmetro necrose entre a CTO DMEM de 4 horas e de 24 horas conduz
às interpretações coerentes ao corte do suprimento sanguíneo sistêmico. Na CTO, a
dispersão dos nutrientes ocorre por difusão, ao contrário do que ocorre no organismo
humano vivo, em que o oxigênio e a glicose circulam por meio dos vasos sanguíneos,
até interagirem com sítio de ligação específicos e adentrarem nas células (HAMMOND
et al., 2014). Desse modo, a modificação do aporte nutricional pode determinar
alterações metabólicas no cultivo tecidual, transformando a mecânica de trocas
gasosas, podendo conduzir para a necrose. (CARRANZA-TORRES et al., 2015). Além
disso, o processo de fatiamento também danifica o tecido, conduzindo ao trauma

317
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tecidual, que pode desencadear morte em regiões de borda do tecido (NAIPAL et al.,
2016; UNGER et al., 2015).
Além disso, foram ressaltadas, na estatística, diferenças entre CTO DMEM e OXA 2,5
mg/mL e OXA 5 mg/mL (Figura 6 - f), mostrando um aumento nos grupos tratados para
4 horas. O aumento de necrose acompanha o aumento gradativo da concentração de
OXA (Figura 6 - f), todavia, não existem diferenças significativas em termos do
potencial de tratamento relacionado ao aumento da concentração do quimioterápico.
A análise histopatológica da lesão biopsiada não cultivada do tumor apresentou
necrose em grau leve, demonstrando presença de necrose tumoral antes da incubação
em CTO. A ocorrência de necrose tumoral foi descrita como facilitadora no processo de
necrose ex vivo na CTO (MEIJER et al., 2017), onde há certo grau de necrose natural
associada à rápida proliferação das células neoplásicas, uma vez que existem regiões
hipóxicas centrais nos fragmentos de tecido, levando à necrose tumoral irregular e
heterogênea ine. Tal processo agiliza a ocorrência de necrose na incubação ex vivo do
tumor, podendo justificar perdas intrínsecas ao tumor do paciente (HAMMOND et al.,
2014). Assim, a ocorrência de necrose analisada pode estar relacionada à necrose
tumoral irregular e heterogênea, inerente ao tumor (HIDA et al., 2013). Em paralelo, o
próprio processo de mudança do ambiente, do tempo de transporte tecidual da CTO e
da duração do processamento podem levar as células ao estresse, desencadeando
morte celular e apontando para as limitações inerentes à técnica (NAIPAL et al., 2016).
Isso também pode explicar perdas visualizadas na CTO DMEM após 24 horas.

Conclusão

A técnica de cultivo de tecido organotípico foi eficazmente implementada, com


garantia de execução metodológica e estudo de viabilidade após 4 horas. Foi possível
determinar parâmetros de viabilidade tecidual relacionados com as características
histopatológicas observadas entre os grupos de biópsia tumoral e CTOs. A morfologia
geral do tecido foi mantida após implementação da metodologia em 4 horas, com
redução da integridade glandular aparente com o passar do tempo e com submissão
aos tratamentos com OXA, atrelados à toxicidade medicamentosa. Ao passo que,
aspectos histopatológicos, como presença de vasos, infiltrado inflamatório,
desmoplasia, células tumorais e necrose são diferentes entre CTOs tratadas e não
tratadas, há semelhança entre CTO não tratada com a biópsia tumoral não cultivada,
indicando que o tecido cultivado, mesmo em um ambiente fisiológico diferente,
apresenta comportamentos adaptativos semelhantes ao tumor original. Isso aponta
para a manutenção da viabilidade tecidual da CTO durante o tempo de estudo.
Resultados de desmoplasia após 24 horas de tratamento com OXA (1 mg/mL) sugerem

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manutenção da heterogeneidade intratumoral do tumor original, correlacionando


manutenção de hallmarks do CCR na CTO, como a quimiorresistência. A presença de
glândulas, no entanto, demonstraram redução após 24 horas, juntamente com a
redução da marcação de TGF-β, podendo justificar-se pelas alterações de conformação
tecidual e reajustes metabólicos decorridos das novas condições ambientais em que as
os fragmentos em cultura passam a ser inseridos. Dessa forma, o modelo de cultura
organotípica ex vivo demonstrou ser viável e capaz de emular as respostas adaptativas
esperadas pelas células tumorais, mimetizando o mais próximo possível do MT no
paciente, frente a quimioterapia padrão no tempo de 4 horas. Baseado nesses
resultados, tempos mais longos de manutenção das lesões em CTO serão novamente
testadas em protocolos aperfeiçoados.

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Anexos

Tabela 1 - Extraído do INCA: Mortalidade proporcional por câncer de Cólon e Reto,


homens e mulheres, Brasil, entre 2012 e 2020. Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema
de Informação sobre Mortalidade - SIM MP/Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatís

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FIGURA 1 - Progressão tumoral no CCR. As células do epitélio passam pelo processo de


expansão clonal, que, após mutação KRAS, promovem a formação de adenomas.
Subsequentemente, ocorre a mutação de p53, com posterior formação de carcinoma.

Figura 2 - Componentes celulares do microambiente tumoral. Fonte: Compilação do


autor. Ilustração criada com BioRender.com, 2022.

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Figura 3 - Comparação de controles entre tecido biopsiado normal (a-c), tecido


biopsiado tumoral (d-f), CTO DMEM 4h (g-l) e CTO DMEM 24h (j-l), em que (a), (d), (g)
e (j), 100x; 31 (b-c), (e-f), (h-l) e (k-l), 400x.

Figura 4 - Gráficos correspondentes às análises estatísticas dos parâmetros


histopatológicos e marcação de TGF-β dos controles: biópsia tumoral, CTO DMEM 4
horas e CTO DMEM 24 horas.

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Figura 5 - Análise histopatológica da viabilidade da cultura de tecido organotípico


(CTO). A avaliação de integridade foi realizada em 4 horas de CTO (a-e, 100x e f-j, 400x)
e em 24 horas de CTO (k-0, 100x e p-t, 400x).

Figura 6 - Dados estatísticos da análise histopatológica dos grupos CTO DMM, CTO
DMSO e CTO OXA 1 mg/mL, 2,5 mg/mL e 5 mg/mL. tratados da CTO são apresentados
com a formulação de escores apresentados nos gráficos da figura.

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Figura 7 - Marcação imuno-histoquímica de TGF-beta; em CTO. Produção de TGF-b por


glândulas tumorais em CTO DMEM 4 horas (a-e), e redução da marcação,
acompanhando proporcionalmente a redução de glândulas e de conformação original
do tumor, após 24 horas

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CÓDIGO: SB0091

AUTOR: FELIPE FERREIRA WANDERLEY

ORIENTADOR: JOHN FONTENELE ARAUJO

TÍTULO: Qualidade do sono, transtornos e queixas associadas em pacientes


diabéticos no município de Caicó-RN: uma análise de dados preliminares

Resumo

Já é conhecida a associação direta entre as alterações no ciclo sono e vigília, como o


sono insuficiente e a fragmentação do sono, com o metabolismo anormal da glicose,
resistência insulínica e aumento do risco de Diabetes Mellitus. Assim, este trabalho
visa descrever os dados preliminares quanto à qualidade do sono, os transtornos e as
queixas associadas ao sono em pacientes diabéticos no município de Caicó-RN. Trata-
se de um estudo observacional com seres humanos, de desenho transversal e de
caráter quantitativo. A coleta dos dados foi realizada por meio de inquéritos e dividida
em três frentes de pesquisa, sendo uma delas aqui representadas pelos questionários:
Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP), Escala de Sonolência de Epworth
(ESE), Questionário de Berlim (QB) e o Índice de Gravidade da Insônia (IGI). No que se
refere aos resultados, até o presente momento foram coletados 53 pacientes, o que
representa um quantitativo de 27% do cálculo amostral. Dentre esses participantes,
80% (42) são do sexo feminino, 77,3% (48) apresentaram uma pobre qualidade de
sono, 41,5% (22) apresentaram grande chance de apresentar Sonolência Excessiva
Diurna, 56,6% (30) apresentaram alta chance de apresentar a Síndrome da Apneia
Obstrutiva do Sono 7,5% (4) e 20,7% (11) apresentaram insônia clínica moderada e
grave, respectivamente. . Assim, esses dados evidenciam a tendência de sinais e
sintomas relacionados aos distúrbios do sono nesta população.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus; Transtornos do Sono; Qualidade do Sono.

TITLE: Sleep quality, disorders and related complaints in diabetic patients in the
city of Caicó-RN: an analysis of preliminary data

Abstract

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The direct association between alterations in the sleep-wake cycle, such as insufficient
sleep and sleep fragmentation, with abnormal glucose metabolism, insulin resistance
and increased risk of Diabetes Mellitus is already known. Thus, this work aims to
describe preliminary data regarding sleep quality, disorders and complaints associated
with sleep in diabetic patients in the city of Caicó-RN. This is an observational study
with human beings, cross-sectional and quantitative. Data collection was carried out
through surveys and divided into three research fronts, one of which is represented
here by questionnaires: Pittsburgh Sleep Quality Index (SPQI), Epworth Sleepiness
Scale (ESS), Berlin Questionnaire ( QB) and the Insomnia Severity Index (IGI). With
regard to the results, up to the present moment, 53 patients were collected, which
represents a quantity of 27% of the sample calculation. Among these participants, 80%
(42) are female, 77.3% (48) had poor sleep quality, 41.5% (22) had a high chance of
having Excessive Daytime Sleepiness, 56.6% (30) ) had a high chance of having
Obstructive Sleep Apnea Syndrome 7.5% (4) and 20.7% (11) had moderate and severe
clinical insomnia, respectively. . Thus, these data show the trend of signs and
symptoms related to sleep disorders in this population.

Keywords: Diabetes Mellitus; Sleep Disorders; Sleep Quality.

Introdução

Os ritmos biológicos são uma variação regular de uma função orgânica relacionada à
passagem do tempo (TORRES, 2013). De tal forma, o ciclo sono e vigília, um tipo de
ritmo biológico, é compreendido como um fenômeno normal, ativo, processual,
reversível e cíclico (TORRES, 2013).
Nesse sentido, já é reconhecido que alterações no ciclo sono e vigília, como o sono
insuficiente e a fragmentação do sono estão ligados ao metabolismo anormal da
glicose, resistência insulínica e aumento do risco de Diabetes Mellitus (DM). Além das
implicações metabólicas, alguns indivíduos privados de sono, seja por menores
quantidades de sono ou por baixa qualidade, podem apresentar queixas associadas ao
desempenho diário, atrelado a dificuldades de manterem-se acordados durante o dia,
sendo frequentemente incapazes de responder rapidamente a estímulos externos e
têm maior dificuldade de concentração, o que é uma grande característica da
Sonolência Excessiva Diurna (SED) (BERTOLAZI, 2009).
Além disso, a insônia também se enquadra como um distúrbio de sono, sendo o mais
frequente em todo o mundo e é caracterizada pela dificuldade para iniciar ou para
manter o sono, pelo despertar precoce ou pelo sono não restaurador. Quando em sua
forma crônica, a insônia pode levar a prejuízos, como fadiga excessiva, falta de

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eCICT 2023

atenção, concentração e memória e problemas sociais, familiares e ocupacionais


(NEVES, 2020).
Ademais, há também aqueles que apresentam a Síndrome da Apneia Obstrutiva do
Sono, a qual se caracteriza pela interrupção parcial ou completa, intermitente das vias
aéreas superiores durante o sono, tendo como manifestações mais frequentes o ronco
alto e repetido, despertares periódicos, interrupções respiratórias presenciadas,
sonolência e cansaço diurno, desgaste intelectual e modificações de humor, bem como
agravamentos no quadro de doenças de base, como a própria diabetes (GARDENGHI;
DA SILVA MORAIS, 2016).
Outro aspecto muito importante na análise do sono é a qualidade do sono, pois ela é
afetada por diversos fatores, como idade, cultura, fatores ambientais, condições
psicológicas e fisiológicas, e quando ela se encontra baixa, ela é associada com maiores
taxas de mortalidade e de maiores prevalências de comorbidades, como a diabetes.
Além disso, essa baixa qualidade se associa com os distúrbios de sono, como a
sonolência excessiva diurna, que é causa frequente de acidentes de trânsito e de
trabalho (DA LUZ DUTRA et al, 2021).
Assim, essa pesquisa se mostra de grande importância, pois pode ser uma grande
fonte de informações para entender a qualidade de sono, os transtornos e queixas
associadas ao sono em pacientes diabéticos, sendo de grande valia para o
planejamento de futuras intervenções no âmbito da qualidade de vida e na melhoria
de aspectos patológicos desses indivíduos.
O objetivo central do estudo é analisar a qualidade do sono, os sinais e sintomas
relacionados aos transtornos do sono (SED, SAOS e Insônia) e as queixas associadas
por meio de inquéritos.

Metodologia

Este trabalho apresenta os resultados coletados por um dos braços da pesquisa “Ciclo
sono/vigília e ritmo alimentar em pacientes com Diabetes Mellitus no município de
Caicó-RN: fatores associados e repercussões clínico-metabólicas”.
Este trabalho relata alguns dados preliminares de uma pesquisa em seres humanos
com desenho transversal, de caráter observacional e com metodologia quantitativa,
sendo realizada em pacientes diabéticos atendidos pela Atenção Primária à Saúde
(APS) do município de Caicó - Rio Grande do Norte. A cidade fica distante há 282 Km da
capital estadual, sendo a principal cidade da referida região e a oitava cidade em
população no estado (IBGE, 2023).

330
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eCICT 2023

Foram incluídos indivíduos de ambos os sexos, com idade igual ou acima de 18 anos,
diagnosticados com Diabetes Mellitus de acordo com a Sociedade Brasileira de
Diabetes (2019), acompanhados pelas 18 Estratégias de Saúde da Família (ESFs) do
município de Caicó. Foram excluídos aqueles que reportaram as seguintes condições:
(1) grávidas, puérperas e lactantes; (2) apresentar complicações agudas do diabetes;
(3) não apresentarem ou não fornecerem meios de comunicação que possibilite
contato com os pesquisadores, visto que esse contato é fundamental para o
andamento da pesquisa. Todos os participantes do estudo foram apresentados ao
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A coleta dos dados foi realizada por meio de inquéritos, sendo eles:

 Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP): que se trata de um


questionário que verifica a qualidade do sono do indivíduo em um intervalo de
1 mês, definindo a qualidade do sono de acordo com a pontuação final: menos
de 5 pontos (“boa qualidade do sono”) e mais de 5 pontos (“pobre qualidade
do sono”) (JOÃO et al, 2017)
 Escala de Sonolência de Epworth (ESE): questionário composto por 8 (oito)
questões que mensuram o grau de Sonolência Excessiva Diurna (SED). Durante
a resposta, o indivíduo deve responder de acordo com a sua chance de
adormecer em determinadas situações, sendo graduado de acordo em uma
escala que varia de 0 (nenhuma chance) a 3 (grande chance). Com isso, será
possível classificar o nível de sonolência do paciente em: ausência de SED (0 a
10 pontos), grande chance de SED (entre 10 a 15 pontos) e SED grave (acima de
15 pontos) (JOHNS, 1991).
 Questionário de Berlim (QB): este é uma forma de avaliação com 3 (três)
categorias que incluem ronco, sonolência diurna e diagnóstico de hipertensão
ou obesidade. A sua classificação determina a chance do indivíduo apresentar a
Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) a partir do número de
categorias pontuadas: 0 ou 1 categoria (baixa chance de SAOS) e 2 ou 3
categorias (alta chance de SAOS) (NETZER, 1999).
 Índice de Gravidade da Insônia (IGI): essa avaliação é formada por 5 (cinco)
perguntas que buscam identificar a percepção do indivíduo sobre a gravidade
da insônia de acordo com o valor obtido pela soma das pontuações: menor que
7 pontos (ausência de insônia significativa), entre 8 e 14 pontos (limite inferior
para insônia), entre 15 e 21 pontos (insônia clínica moderada) e acima de 21
pontos (insônia clínica grave) (GORESTEIN et al, 2000).
Após a coleta dos dados por meio dos inquéritos, os dados foram tabulados e
interpretados de acordo com os parâmetros de cada instrumento. Com isso, foi
realizada a análise descritiva dos dados preliminares.

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Resultados e Discussões

Até o presente momento foram coletados 53 pacientes, o que corresponde ao total de


27% da amostra final estimada, isto é, de 196 pacientes. Para a realização das coletas,
os coordenadores das Estratégias de Saúde da Família do município foram
previamente comunicados, a fim de realizar as coletas naquelas que demonstrarem
disponibilidade de espaço nos dias e semanas mais viáveis para os pesquisadores. Os
pacientes foram randomizados a partir de listas previamente disponibilizadas pelas
unidades. As coletas foram realizadas a partir de visita ao domicílio dos pacientes e na
própria estrutura das unidades, que demonstraram interesse em participar, tendo em
vista as limitações espaciais dos pacientes.
Dentre esses participantes, 80% (42) são do sexo feminino, 77,3% (48) apresentaram
uma pobre qualidade de sono, 41,5% (22) apresentaram grande chance de apresentar
Sonolência Excessiva Diurna, 56,6% (30) apresentaram alta chance de apresentar a
Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) 7,5% (4) e 20,7% (11) apresentaram
insônia clínica moderada e grave, respectivamente.

Conclusão

Por se tratar de uma pesquisa em andamento e que ainda não apresenta dados
completos para a realização de análises estatísticas, não foi possível, neste contexto,
realizar inferências e traçar relações concretas entre os dados coletados. Contudo, a
partir dos dados descritivos é possível notar uma tendência dos indivíduos diabéticos
do município de Caicó apresentarem uma baixa qualidade do sono e a presença de SED
e SAOS. Assim, espera-se que ao final do estudo seja possível compreender, a partir da
realização das análises estatísticas, se tais perspectivas serão confirmadas ou não.

Referências

BERTOLAZI, A. N. et al. Portuguese-language version of the Epworth sleepiness scale:


validation for use in Brazil. Jornal Brasileiro de Pneumologia [online]. 2009, v. 35, n. 9,
pp. 877-883, 2009.

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DA LUZ DUTRA, Ludmylla et al. Avaliação do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh


em estudantes de Medicina: Uma revisão integrativa da literatura. Research, Society
and Development, v. 10, n. 8, p. e52410817530-e52410817530, 2021.
GARDENGHI, G.; DA SILVA MORAIS, J. R. O uso do Questionário de Berlim (QB) em
pacientes com predisposição à síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS): uma
revisão de literatura. Revista Brasileira De Saúde Funcional, v. 1, n. 3, p. 9-9, 2016.
GORESTEIN, Clarice; TAVARES, S.; ALÓE, F. Questionários de auto-avaliação de sono.
Gorestein C, Andrade LHS, Zuard AW. Escalas de avaliação clínica em psiquiatria e
psicofarmacologia. São Paulo: Lemos, p. 423-34, 2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2022.
Rio de Janeiro: 2023.
JOÃO, Karine Alexandra Del Rio et al. Validation of the Portuguese version of the
Pittsburgh sleep quality index (PSQI-PT). Psychiatry research, v. 247, p. 225-229, 2017.
JOHNS, Murray W. A new method for measuring daytime sleepiness: the Epworth
sleepiness scale. sleep, v. 14, n. 6, p. 540-545, 1991.
NETZER, Nikolaus C. et al. Using the Berlin Questionnaire to identify patients at risk for
the sleep apnea syndrome. Annals of internal medicine, v. 131, n. 7, p. 485-491, 1999.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes-
2019-2020. São Paulo: SBD; 2019.
TORRES, Jhan Sebastian Saavedra et al. Ritmo circadiano: el reloj maestro. Alteraciones
que comprometen el estado de sueño y vigilia en el área de la salud. Morfolia, v. 5, n.
3, 2013.

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CÓDIGO: SB0095

AUTOR: JUDIELSON RIBEIRO GOMES

ORIENTADOR: NAISANDRA BEZERRA DA SILVA FARIAS

TÍTULO: Avaliação da oxigenoterapia hiperbárica como terapia preventiva ao


estresse oxidativo renal em ratos diabéticos

Resumo

A Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica crônica e complexa, que se


caracteriza por disfunções na produção, secreção e/ou utilização da insulina. A
Oxigenoterapia Hiperbárica (OTH) consiste na administração intermitente de oxigênio
puro a 100% sob pressão superior à atmosférica, possivelmente mitigando danos
provenientes de hipoxemia, hipóxia tecidual e estresse oxidativo. Este estudo teve
como propósito investigar os aspectos morfológicos relacionados à nefropatia
diabética (ND) resultante da DM em ratos diabéticos sujeitos à OTH. Ratos Wistar
(Rattus norvegicus), com 60 dias de idade e peso variando entre 220 e 280g, foram
categorizados nos seguintes grupos: C (indivíduos com níveis glicêmicos normais,
n=12); GC+OTH (indivíduos normoglicêmicos submetidos à OTH, n=12); DM (indivíduos
diabéticos, n=12); GD+OTH (indivíduos diabéticos sujeitos à OTH, n=12). Os grupos
GC+OTH e GD+OTH receberam tratamento de OTH durante 60 minutos, cinco dias por
semana, durante cinco semanas. Após a eutanásia, os rins foram coletados para
análise morfohistológica, através da avaliação de modificações estruturais no
parênquima renal e na expressão da proteína renal do fator de necrose tumoral-α
(TNF-α) e do fator de crescimento transformante-β1 (TGF-β1). Nossos resultados
indicaram que o grupo diabético manifestou hiperglicemia, redução de peso e
alterações no consumo de água e alimento, além de apresentar mudanças na
microestrutura dos corpúsculos renais.

Palavras-chave: Diabetes mellitus. Nefropatia diabética. Oxigenoterapia


hiperbárica

TITLE: THE INFLUENCE OF HYPERBARIC OXYGEN THERAPY ON THE


PREVENTION OF DIABETIC NEPHROPATHY IN RATS

Abstract

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Diabetes Mellitus (DM) is a chronic and complex metabolic syndrome characterized by


dysfunctions in the production, secretion and/or utilization of insulin. Hyperbaric
Oxygen Therapy (HOT) consists of the intermittent administration of 100% pure oxygen
under pressure higher than atmospheric, possibly mitigating damage from hypoxemia,
tissue hypoxia and oxidative stress. The purpose of this study was to investigate the
morphological aspects related to diabetic nephropathy (DN) resulting from DM in
diabetic rats subjected to HBOT. Wistar rats (Rattus norvegicus), aged 60 days and
weighing between 220 and 280g, were categorized into the following groups: C
(individuals with normal glycemic levels, n=12); GC+OTH (normoglycemic individuals
subjected to HBOT, n=12); DM (diabetic individuals, n=12); GD+OTH (diabetic
individuals subjected to HBOT, n=12). The GC+OTH and GD+OTH groups received OTH
treatment for 60 minutes, five days a week, for five weeks. After euthanasia, the
kidneys were collected for morphohistological analysis by assessing structural changes
in the renal parenchyma and renal protein expression of tumor necrosis factor-α (TNF-
α) and transforming growth factor-β1 (TGF-β1). Our results indicated that the diabetic
group manifested hyperglycemia, weight reduction and changes in water and food
consumption, in addition to presenting changes in the microstructure of the renal
corpuscles.

Keywords: Diabetes mellitus. diabetic nephropathy. hyperbaric oxygen therapy.

Introdução

As doenças crônicas possuem uma incidência crescente na população mundial, a


Diabetes Mellitus (DM) integra um grupo de síndromes metabólicas e é caracterizada
por hiperglicemia decorrente de falhas na secreção ou ação da insulina, ou ambos. A
hiperglicemia crônica é a marca distintiva observada na DM e está associada a danos a
longo prazo, além de disfunções e insuficiências em diversos órgãos, sobretudo nos
olhos, rins, nervos, coração e vasos sanguíneos (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION,
2014). As complicações resultantes dos efeitos prejudiciais da DM manifestam-se em
diversos tecidos do corpo humano, especialmente em áreas com microvascularização
sensível. Desse modo, a DM figura como uma das principais causadoras de
morbimortalidade cardiovascular, cegueira, insuficiência renal e amputações na
atualidade, sendo a neuropatia diabética periférica a principal responsável pela última
(SCHMIDT, 2019). Os rins, órgãos vitais para a homeostase corporal, desempenham
funções reguladoras no volume de líquido extracelular, urina, osmolaridade, pH, além
de produzirem hormônios e manterem o equilíbrio hidro-eletrolítico dentro de limites
fisiológicos (GUYTON, 2017).A nefropatia diabética (ND) desponta como uma das
complicações microvasculares mais relevantes e prevalentes associadas à DM,
frequentemente culminando em insuficiência renal terminal (JAFARI et al., 2017). Os
primeiros achados patológicos da ND englobam o espessamento da membrana basal,

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eCICT 2023

aumento da matriz mesangial e acúmulo de matriz extracelular (MEC), com


subsequente desenvolvimento de glomeruloesclerose e fibrose tubulointersticial,
contribuindo para lesões renais irreversíveis (GAO et al., 2014). Outros aspectos
cruciais da ND incluem a perda de podócitos, proteinúria pronunciada e modificações
no arcabouço glomerular, com aumento da espessura da membrana basal e atrofia
tubular (HILLS; SQUIRES, 2011). Componentes primordiais do acúmulo de matriz
mesangial em pacientes com história prolongada de diabetes compreendem o
colágeno tipo IV, a fibronectina e, em fases avançadas, o colágeno tipo I (SHARMA;
MCGOWAN, 2000). A Oxigenoterapia Hiperbárica (OTH) é uma abordagem terapêutica
que envolve a administração intermitente de oxigênio puro (O2) a 100%, em um
ambiente pressurizado conhecido como câmara hiperbárica, que apresenta pressão
superior à atmosférica, normalmente entre duas e três atmosferas (MARTINELLI et al.,
2019). A Sociedade Médica de Medicina Subaquática e Hiperbárica reconhece 14
indicações clínicas com validação para o tratamento com OTH, incluindo úlceras do pé
diabético, intoxicação aguda por monóxido de carbono, embolia gasosa e doença
descompressiva aguda (ANDRADE; SANTOS, 2016). Nesse contexto, a OTH envolve a
administração intermitente de O2 a 100% em alta pressão, com potencial para reduzir
danos oriundos de hipoxemia e hipóxia tecidual, possivelmente diminuindo processos
inflamatórios teciduais (ANDRÉ-LÉVIGNE et al., 2016; BEGIC; DILIC, 2019). Apesar disso,
seus mecanismos de ação permanecem parcialmente compreendidos, especialmente
sua influência específica em diferentes tecidos, traumas e lesões de difícil recuperação
(TEGUH et al., 2015). Diante desse cenário, essa terapia exibe potencial promissor na
redução do edema, estímulo à fagocitose e ação anti-inflamatória. Nesse contexto,
este estudo teve como objetivo investigar e analisar a morfologia dos corpúsculos e
túbulos renais em ratos diabéticos submetidos à oxigenoterapia hiperbárica, bem
como quantificar citocinas pró-inflamatórias e pró-fibróticas.

Metodologia

Declaração de Ética Os procedimentos experimentais foram realizados após aprovação


do Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(protocolo nº 054/2018). Desenho experimental Este estudo empregou um total de 48
ratos da linhagem Wistar (Rattus norvegicus), com idade de 60 dias e peso variando
entre 220 e 280 g. Esses animais foram obtidos do Biotério do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CCS-UFRN), com a seleção de
uma amostra desse tamanho visando garantir um contingente suficiente mesmo
diante de possíveis perdas. Os ratos foram distribuídos em quatro grupos distintos:
Grupo C, composto por animais normoglicêmicos (n=12); Grupo GC+OTH, formado por
animais normoglicêmicos submetidos à OTH (n=12); Grupo DM, consistindo de animais

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diabéticos (n=12); e Grupo GD+OTH, compreendendo animais diabéticos submetidos à


OTH (n=12). Todos os animais foram alojados em caixas de polipropileno com
dimensões de 41 x 34 x 16 cm, equipadas com bebedouro e comedouro, ao longo de
todo o período experimental. Cada caixa abrigava quatro animais, e as condições de
temperatura (22±2°C) e iluminação (ciclo de 12/12h claro e escuro) foram
rigorosamente controladas. Além disso, os animais tinham acesso ilimitado a ração e
água. Indução de Diabetes Mellitus Tipo 1 através de Estreptozotocina Ratos dos
grupos DM e GD+OTH foram submetidos a um jejum de 12 horas e anestesiados com
isoflurano misturado com oxigênio. Nesse estado, receberam uma única dose de
Estreptozotocina (STZ) na proporção de 45 mg/kg de peso corporal, administrada por
via intraperitoneal após ser dissolvida em um tampão citrato. Grupos C e GC+OTH
receberam um tratamento similar com veículo em vez de STZ para equiparar o
estresse. Após uma semana, a glicose no sangue foi medida e níveis acima de 250
mg/dL indicaram diabetes. Protocolo de Oxigenoterapia Hiperbárica Os grupos
GC+OTH e GD+OTH passaram por um período de adaptação à Oxigenoterapia
Hiperbárica (OTH) com um tratamento placebo de uma semana em uma câmara
hiperbárica. Em seguida, receberam tratamento com oxigênio a alta pressão (100%)
por cinco semanas consecutivas. Os ratos diabéticos começaram a adaptação após
uma semana do diagnóstico de diabetes. A adaptação envolveu colocar os animais na
câmara hiperbárica por 60 minutos, cinco dias por semana, durante uma semana,
conforme protocolo de Perng et al. (2004). Eutanásia e Coleta de Amostras Após um
intervalo de 48 horas após a última sessão de Oxigenoterapia Hiperbárica (OTH), todos
os grupos de animais passaram por um processo de anestesia através da inalação de
isoflurano em combinação com oxigênio puro a uma taxa de 5% para indução e 2%
para manutenção. Verificando a glicemia após um jejum de 12 horas, bem como o
estado de sedação e anestesia profunda, procedeu-se à realização de uma tricotomia
na área ventral do tórax e abdômen dos animais. Isto foi seguido por um corte
longitudinal direcionado para o processo xifóide, permitindo a remoção dos rins direito
e esquerdo de cada animal. Técnicas Histológicas e Morfometria Os tecidos renais dos
grupos diversos foram imersos em uma solução de paraformaldeído a 4% para fixação.
Após um período de 24 horas de fixação, os fragmentos renais foram preparados para
técnicas histológicas padrão e subsequentemente seções de 4 μm de espessura foram
obtidas através de microtomia. As lâminas histológicas produzidas foram coradas
utilizando hematoxilina-eosina (HE) e Ácido Periódico-Schiff (PAS). Estas lâminas foram
então submetidas à captura de imagens microscópicas utilizando um microscópio
óptico AxioImager M2 (Zeiss) equipado com uma câmera de vídeo digital AxioCam Mrc
(Zeiss) para imagens de campo claro. A coloração HE foi empregada para avaliar o
tecido renal, incluindo a identificação de corpúsculos renais na região do córtex renal,
assim como para observar características glomerulares e tubulares. O uso da coloração
PAS foi aplicado para avaliar sinais de esclerose, como expansão da matriz mesangial

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(LUIZ et al., 2013). A avaliação histomorfométrica, que abrange a medição da área


glomerular e dos túbulos contorcidos distais (TCD), bem como a análise da expansão
do dano glomerular pela avaliação da matriz mesangial, foi realizada usando o
software Image J, versão 1.8.0 (National Institutes of Health, Maryland, EUA),
previamente calibrado em micrômetros (µ) (ABRAMOFF; MAGALHÃES; RAM, 2004).
Imuno-histoquímica (IHC) O tecido renal foi processado conforme as técnicas de Silva
et al. Fragmentos renais de 4 μm foram escolhidos aleatoriamente de três animais de
cada grupo. Isso envolveu etapas como desparafinação, reidratação e recuperação
antigênica usando solução de citrato de sódio. A peroxidase endógena foi neutralizada
com solução de H2O2 a 3%. Os cortes foram incubados com anticorpos primários anti-
TNF-α e anti-TGF-β1 em diluição de 1:400, seguidos por anticorpos secundários
biotinilados e conjugado de rábano peroxidase-estreptavidina. A imunorreatividade foi
visualizada com DAB, e a contracoloração foi feita com hematoxilina. Micrografias
foram capturadas em vários campos de ampliação de 100x. A imunorreatividade foi
visualizada com DAB, e a contracoloração foi feita com hematoxilina. Micrografias
foram capturadas em vários campos de ampliação de 100x. A expressão da proteína foi
quantificada medindo a relação entre as áreas de coloração DAB e H após separação
de cor usando o plug-in Color Deconvolution do Fiji, conforme descrito por Bartis.
Análise Estatística A análise estatística dos dados foi conduzida utilizando o software
PAST versão 4.03. As avaliações de medidas individuais foram realizadas através da
ANOVA ONEWAY, seguida do teste post hoc de Tukey. As discrepâncias entre os
grupos foram consideradas estatisticamente significativas quando o valor de P <0,05.

Resultados e Discussões

Glicemia, peso corporal, peso relativo dos rins e ingestão hídrica e alimentar Os
animais dos grupos GD e GD+OTH apresentaram aumento considerável da glicemia
após a indução do DM quando comparados aos animais dos grupos GC e GC+OTH (P <
0,05; Tabela 1). A glicemia dos animais aumentou na mesma proporção em ambos os
grupos de diabéticos, não houve redução da glicemia quando os animais foram
tratados com OTH. A hiperglicemia é uma das características clínicas mais
proeminentes no Diabetes Mellitus. No início do estudo, todos os animais foram
submetidos a avaliações dos níveis de glicose no sangue antes de serem designados
para seus grupos correspondentes. Isso foi realizado para confirmar que os animais
apresentavam níveis normais de glicose, dentro dos intervalos de referência
estabelecidos para ratos da linhagem Wistar (DANTAS et al., 2006). A estreptozotocina
(STZ) é uma glicosamina-nitrosureia frequentemente empregada para induzir diabetes
em modelos experimentais. Essa substância é absorvida por células pancreáticas que
possuem transportadores de glicose GLUT-2. Quando entra em contato com essas

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células, a STZ induz a alcalinização do DNA celular e, como resultado, a ativação


subsequente da poli-ADP ribose sintetase. Isso desencadeia uma rápida e fatal
depleção de NAD nas células pancreáticas, levando à diminuição subsequente nos
níveis de ATP e à inibição da síntese e secreção de insulina (SILVA et al., 2011).
Hiperglicemia, distúrbio metabólico que pode ser induzido por STZ, desempenha um
papel crucial no desenvolvimento das lesões nos corpúsculos renais observadas na ND.
No entanto, é possível prevenir ou significativamente reduzir a intensidade dessas
lesões ao manter os níveis glicêmicos próximos aos valores normais (SALGADO et al.,
2003). Nesse contexto, é esperado que o uso da Oxigenoterapia Hiperbárica (OTH) seja
implementado em conjunto com outros tratamentos convencionais para DM, como o
uso de insulina e a prática de atividades físicas. O impacto benéfico do tratamento com
OTH reside na sua capacidade de fornecer oxigênio para áreas isquêmicas, bem como
no controle , a longo prazo, do estresse oxidativo. Isso sugere um potencial
significativo para a OTH como uma abordagem complementar para melhorar a gestão
do DM. Os animais dos grupos GD e GD+OTH apresentaram perda significativa de peso
quando comparados aos animais dos grupos GC e GC+OTH (Tabela 1). A perda de peso
observada em animais diabéticos é uma consequência de uma disfunção metabólica
que engloba várias alterações nos processos de metabolismo de carboidratos e
lipídios. Além disso, há um aumento no catabolismo de proteínas. Isso pode estar
relacionado à diminuição do ganho de peso observada em animais diabéticos
submetidos à Oxigenoterapia Hiperbárica (OTH) (BANG et al., 2009). O peso relativo
dos rins foi aumentado nos grupos GD e GD+OTH quando comparados aos grupos GC e
GC+OTH (P<0,05). Levando em consideração esses resultados, pode-se notar que
houve hipertrofia significativa no grupo GD quando comparado ao grupo GC. Para
calcular o peso relativo do rim, a seguinte fórmula foi aplicada: peso relativo do rim (%)
= (peso do rim / peso corporal do animal) x 100. A utilização dessa fórmula é essencial
no contexto do modelo experimental de diabetes tipo 1, uma vez que os animais
diabéticos frequentemente apresentam perdas significativas de peso quando
comparados aos animais saudáveis. Essa perda de peso pode afetar diretamente o
peso dos órgãos, incluindo os rins, levando a alterações no peso desses órgãos que não
estão relacionadas a patologias. Através desse cálculo, é possível mitigar a influência
do peso corporal do animal. As médias de peso renal para os grupos foram as
seguintes: GC= 0,34; GC + OTH= 0,37; GD= 0,56; GD + OTH= 0,63. Observa-se que o
grupo DM apresentou uma hipertrofia renal significativa em comparação ao grupo
CONT. Isso evidencia a lesão renal inicial no grupo DM. É importante ressaltar que o
tratamento com OTH não demonstrou a capacidade de reduzir ou reverter esse
aumento de peso renal (figura 3). A hipertrofia renal, caracterizada pelo aumento no
tamanho das células glomerulares e tubulares, representa uma das primeiras
alterações na ND. Embora a hipertrofia seja uma resposta celular fisiológica de
adaptação, ela posteriormente contribui para uma má adaptação funcional renal. Isso

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pode levar à atrofia ou degeneração celular, fibrose renal e progressão da doença


renal diabética (DKD) (MA et al., 2020). Os resultados mostraram diferenças
estatisticamente significativas, evidenciando que os animais dos grupos GD e GD+OTH
aumentaram o consumo de ração e água quando comparados aos dos grupos GC e
GC+OTH(P < 0,05) confirmando o estado de polidipsia e polifagia [19]. Também foi
observada poliúria, marcada pela produção excessiva de urina, observada na limpeza
diária das baias onde os animais estavam alojados. O aumento excessivo na ingestão
de água e consumo de ração é um achado clínico importante no DM (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2015). O aumento da ingestão hídrica está relacionada com a
desidratação celular, de forma que a glicose passa a não possuir a capacidade de se
difundir facilmente entre os poros da membrana celular e consequentemente, por
pressão osmótica, os líquidos intracelulares seguem para o meio extracelular a fim de
manter um equilíbrio osmótico, sendo isso responsável pelo surgimento da polidipsia
(GUYTON, 2017) Tamanho dos corpúsculos renais: O grupo GD mostrou aumento do
tamanho dos corpúsculos renais quando comparados com o GC (P < 0,05; Fig. 1).
Enquanto o grupo tratado GD+OTH apresentou uma redução significativa em seu
tamanho em relação ao grupo GD (p<0,05; Fig. 1 e 2) evidenciado pelo Diâmetro do
corpúsculo renal e sua área. Essas mudanças de natureza hipertrófica podem estar
relacionadas a um estímulo amplificado de fatores de crescimento, como hormônio do
crescimento, fatores semelhantes à insulina (IGFs), fator de crescimento
transformador beta (TGFβ), PDGF, fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e
outros ativadores (SALGADO et al., 2003). A presença desses resultados positivos
sugere que a Oxigenoterapia Hiperbárica (OTH) pode ser considerada como uma
abordagem preventiva contra a hipertrofia renal. Em relação ao aumento do peso
renal observado no grupo GD+OTH, é plausível que tal aumento esteja associado aos
túbulos e à matriz extracelular renal (MER), não demonstrando uma conexão direta
com o incremento de glomérulos. Esses resultados promissores indicam a potencial
aplicação da OTH como uma medida preventiva contra a hipertrofia renal. Área
Glomerular A histomorfometria do glomérulo foi conduzida com a finalidade de
investigar a possível hipertrofia nos capilares glomerulares (Fig. 3). Não foram
identificadas diferenças significativas nesse parâmetro entre os grupos. Isso indica que
essa região do glomérulo sofre poucas ou nenhuma alteração volumétrica em modelos
experimentais que envolvem ratos diabéticos. Área do Espaço de Bowman Por meio da
diferença entre a área do corpúsculo renal e do glomérulo, é possível avaliar o espaço
entre essas duas estruturas, possibilitando relacioná-lo com o volume do filtrado
glomerular. Na condição de lesão renal induzida pelo diabetes mellitus (DM), um dos
primeiros resultados observados é a hiperfiltração glomerular, característica do estágio
1 da nefropatia diabética. Nessa fase, ocorre uma dilatação acentuada das arteríolas
aferentes em relação às arteríolas eferentes, resultando em um aumento do fluxo
sanguíneo através do capilar glomerular, consequentemente ampliando a pressão

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intraglomerular. Essas condições, quando mantidas ao longo do tempo, levam à


hipertrofia glomerular e ao aumento da área superficial do capilar glomerular. Isso
resulta em mudanças hemodinâmicas que contribuem para o desenvolvimento e/ou
progressão da doença (CE et al., 2017). A redução do espaço de Bowman no grupo
GD+OTH reforça a eficácia da OTH em combater a hipertrofia glomerular. A expansão
do espaço de Bowman provoca aumento da pressão e do fluxo hidrostático, gerando
estresse mecânico nas estruturas pós-filtração. Quando esse estresse mecânico se une
à hiperfiltração glomerular, ocorrem adaptações glomerulares e tubulares, tanto
adaptativas quanto mal-adaptativas. Esses efeitos, vinculados ao fluxo sanguíneo,
desempenham um papel fundamental na patogênese das doenças glomerulares.
Portanto, o controle da hiperfiltração é um alvo terapêutico crucial no contexto do
diabetes (CHAGNAC et al., 2019). No grupo DM, o espaço de Bowman apresentou
aumento quando comparado ao grupo controle (Fig. 4). Além disso, observou-se uma
diminuição desse espaço no grupo GD+OTH em relação ao grupo DM, evidenciando o
impacto positivo da OTH na prevenção de alterações na estrutura glomerular. O
aumento do espaço de Bowman coincidiu com um aumento na área do corpúsculo
renal, corroborando o achado clínico de hiperfiltração glomerular que caracteriza essa
fase inicial da lesão renal, já que o aumento é necessário para acomodar o maior
volume filtrado entre o tufo e a cápsula glomerular. Área Tubular Externa A atrofia
tubular é uma modificação relevante identificada na nefropatia diabética (HILLS;
SQUIRES, 2011, Mauer 1984). Sua origem reside no dano crônico proveniente do
excesso de espécies reativas de oxigênio (EROs), resultando na ativação de sequências
apoptóticas. Além disso, estímulos patofisiológicos gerados por TGF-b1, Fator de
Crescimento de Tecido Conjuntivo (CTGF) e produtos AGEs contribuem para a sua
etiologia (HILLS; SQUIRES, 2011). Esta deterioração progressiva leva a uma mudança
significativa no perfil das células dos túbulos renais, que após um período de estímulo
intenso, passam por uma transformação morfológica e funcional em miofibroblastos.
Assumindo características de células mesenquimais, estas células também contribuem
para a acumulação de matriz extracelular. São as mudanças na organização das
proteínas estruturais que são responsáveis pelas alterações morfológicas observadas
(Soldatos; Cooper 2008). A inflamação desempenha um papel crucial na gênese do
desenvolvimento da ND. As células do tecido renal reagem a esse estímulo
inflamatório adverso produzindo citocinas pró-inflamatórias, quimiocinas e moléculas
de adesão, criando um ciclo de respostas inflamatórias contínuas. A liberação desses
quimioatraentes provoca a migração e infiltração de leucócitos no tecido renal,
contribuindo para o avanço da atrofia tubular, fibrose glomerular/tubulointersticial e
glomeruloesclerose (Banki et al., 2013). Quando examinada a área tubular externa no
contexto do TCD, observou-se uma discrepância entre os grupos GC e GD (Fig. 5),
indicando o início do processo de atrofia tubular. No entanto, essa diferença não
alcançou significância estatística. Área do Lúmen Tubular É evidente um aumento na

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dimensão do lúmen tubular no grupo GD em comparação com o grupo GC. No grupo


GD+OTH, esse aumento foi significativamente atenuado (Fig. 6), indicando o efeito
protetor observado com o uso de OTH nesse parâmetro. O lúmen tubular representa a
via pela qual o filtrado glomerular segue seu trajeto; ao longo dessa rota, algumas
substâncias são reabsorvidas ou secretadas, enquanto outras são encaminhadas para
excreção. Em fases iniciais da ND, ocorre hiperfiltração, que se apresenta como um
marcador crucial para a detecção inicial de lesões renais. Isso é caracterizado pelo
aumento da taxa de filtração glomerular (TFG) (Salgado et al., 2003). O aumento no
tamanho do lúmen tubular observado no grupo DM corrobora com essa constatação.
Esse aumento do lúmen é uma resposta compensatória resultante de uma
concentração mais alta de filtrado glomerular. Área do epitélio tubular A área do
epitélio tubular pode ser calculada pela diferença entre as áreas da borda externa e
interna do túbulo renal. O grupo GD exibiu uma diminuição na área tubular em
comparação com os outros grupos, indicando a presença do processo de atrofia
tubular. No entanto, o tratamento com OTH mostrou um efeito benéfico ao reverter
essa alteração (P < 0,05; Fig. 7). Mudanças notáveis nos túbulos levam mais tempo
para se desenvolverem e ocorrem ao longo do tempo, da mesma forma que a
expansão da matriz mesangial, que pode ser difusa ou nodular, a glomeruloesclerose,
e fibrose tubulointersticial, glomerular e o acúmulo de glicogênio (Banki et al., 2013).
Os resultados positivos da terapia com OTH na morfologia dos túbulos renais reforçam
os efeitos protetores associados a essa abordagem, conforme demonstrado por Verma
(2015). A OTH é capaz de suprimir o NAG (N-acetil-β-D-glicosaminidase), um
biomarcador crucial para avaliar o estresse celular nos túbulos renais, resultando em
uma redução significativa do dano nesta região. Expansão Mesangial A dilatação das
arteríolas renais de pequeno calibre resulta em hipertensão glomerular, causando
dano crônico a essas estruturas. Como consequência, ocorrem processos de
cicatrização limitados nesse tecido, com um acúmulo ampliado de componentes da
matriz extracelular (MEC), como colágeno, laminina e fibronectina (Fioretto & Mauer,
2007). Isso caracteriza um acúmulo de matriz extracelular que, por sua vez, provoca
uma redução funcional no mesângio (Guyton & Hall, 2008), o que é notável no estágio
3 da nefropatia diabética (Salgado et al., 2003). Embora não tenham sido observadas
diferenças estatisticamente significantes entre os grupos (Fig. 8), é perceptível um
aumento considerável na quantidade de matriz mesangial no grupo DM. A expansão
da matriz mesangial é um fenômeno que ocorre em fases tardias, e para que essa
mudança se torne mais evidente, é necessário um período de experimentação mais
prolongado. De acordo com Salgado (2003), "O grau de fibrose intersticial está
diretamente ligado aos níveis de pressão e à expansão mesangial", sendo que o
acúmulo de matriz desempenha o papel principal na diminuição da Taxa de Filtração
Glomerular (TFG) que se manifesta no decorrer do desenvolvimento da lesão renal. O
excesso de matriz mesangial obstrui e comprime os capilares do glomérulo, reduzindo

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a área de absorção e, consequentemente, afetando a função glomerular (Fioretto &


Mauer, 2007). Imunoexpressão de TNF-α e TGF-β1 A avaliação da imunoexpressão de
TNF-α e TGF-β1 foi realizada em cortes renais corados com H&DAB (Fig 9 e 10).
Observou-se que a expressão da proteína TNF-α aumentou significativamente no
grupo GD em comparação com o grupo GC (P < 0,05) e o grupo GC+OTH (P < 0,05).
Além disso, o grupo GD+OTH apresentou um aumento na expressão de TNF-α em
comparação com o grupo GC+OTH. A imunoexpressão de TGF-β1 foi maior nos rins dos
animais do grupo D em comparação com os grupos GC e GC+OTH (P < 0,05; Fig. 10).
Enquanto houve redução na expressão de TGF-β1 no grupo GD+OTH quando
comparado ao grupo GD (P < 0,05). As citocinas pró-inflamatórias e pró-fibróticas
estão elevadas na DM e desempenham um papel central no desenvolvimento e
progressão das complicações crônicas geradas pela exposição prolongada à
hiperglicemia [35,36]. Estudos demonstraram que a OTH é capaz de reduzir os níveis
séricos de TNF-α e TGF-β [37,38]. Atualmente, existem amplas evidências de que a
estimulação da imunidade inata e o subsequente desenvolvimento de uma reação
inflamatória crônica de baixo grau, presente na DM, é um fenômeno importante na
patogênese e progressão da ND [39]. Este processo inflamatório crónico é sustentado
por citocinas pró-inflamatórias, tais como: IL-1, IL-2, IL-12, IL-18, IFN-γ e TNF, libertadas
em resposta aos danos causados pelo ambiente hiperglicêmico de longa duração. O
TNF-α, em particular, está envolvido em vários mecanismos relacionados com o
desenvolvimento e a progressão da ND, tais como: perturbação da função
hemodinâmica glomerular, alteração da barreira de permeabilidade glomerular,
atividade pró-coagulante; recrutamento de células infiltrantes para o rim e indução de
apoptose. Öztopuz et al [40] descreveram que a HBO, 2,5 ATA durante 7 dias, foi capaz
de reduzir os níveis de expressão genética de TNF-α, IL-1β e Kim-1 renal num modelo
de nefrotoxicidade induzido pela gentamicina. Noutro estudo, Cermik et al [38]
demonstraram que um protocolo de OTH utilizando 2,8 ATA, durante 90 minutos a
cada 12 horas durante 5 dias, foi capaz de atenuar significativamente os danos renais
devidos à inflamação local e sistêmica, reduzindo os níveis séricos de TNF-α e IL-6 num
modelo de nefrotoxicidade induzida por paracetamol. Vários estudos relataram os
efeitos anti-inflamatórios teciduais e sistêmicos da HBO [41,42,43,44]. A OTH é capaz
de atenuar o TNF-α através da modulação do estresse oxidativo ou do efeito direto no
sistema imunitário inato [42,43]. A OTH reduz ainda significativamente as citocinas
pró-inflamatórias através de vários fatores de transcrição, incluindo o fator 1 induzido
pela hipóxia (HIF-1) e o fator nuclear kappa B (NF-κB) [44]. Não foi encontrada uma
diferença estatisticamente significativa na expressão de TNF-α entre os grupos GD e
GD+OTH, mas os nossos resultados indicam uma indicação de atenuação no grupo
GD+OTH, sendo necessário mais tempo de tratamento para que esta redução seja
significativa. Estudos têm confirmado a associação entre o TGF-β1 e o
desenvolvimento e progressão da ND [36, 45, 46]. O aumento do TGF-β1 é apontado

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como um dos principais mecanismos responsáveis pela produção excessiva de MEC, o


que leva à acumulação de colagénio no mesângio glomerular e, consequentemente, à
progressão da redução da taxa de filtração glomerular (TFG) e insuficiência renal [45].
No nosso estudo, verificámos que o TGF-β1 se encontrava em níveis mais baixos no
grupo GD+OTH em comparação com o grupo GD. Peizhen et al [46] também
observaram um efeito positivo da oxigenoterapia hiperbárica (OTH) num modelo de
rato com laminectomia. Ao utilizarem a OTH a cada 24 horas durante 7 dias,
conseguiram reduzir a fibrose epidural através da diminuição do TGF-β1, resultando
numa menor deposição de colagénio. Portanto, podemos perceber o efeito benéfico
da HBO na redução do TGF-β1 e sua correlação com o acúmulo de matriz extracelular.

Conclusão

Nossos resultados mostraram alterações histopatológicas importantes no rim de ratos


diabéticos. Essas alterações concentraram-se principalmente nos corpúsculos renais,
com destaque para a hipertrofia e alargamento do espaço de Bowman, alterações que
possivelmente ocorreram devido à hiperfiltração glomerular, um dos distúrbios
fisiopatológicos característicos da lesão renal induzida pelo DM. Outros achados
relevantes foram atrofia das células epiteliais do DCT e aumento do lúmen tubular no
rim diabético. Como a HBO impediu essas alterações, nossos resultados sugerem um
efeito protetor positivo da HBO na morfologia renal em ratos diabéticos e podem
contribuir para o entendimento da HBO na função renal e sua correlação com o DM.

Referências

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Anexos

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CÓDIGO: SB0142

AUTOR: VICTOR VINICIUS DE FARIAS LIMA

ORIENTADOR: ELAINE CRISTINA GAVIOLI

TÍTULO: Efeitos relacionados à memória de reconhecimento de objetos


induzido pela tansulosina - antagonista de adrenoceptor alfa-1A - em
camundongos

Resumo

A tansulosina, um antagonista de receptor α1-adrenérgico, é considerada uma das


melhores opções para o tratamento da hiperplasia prostática benigna em pacientes de
meia-idade do sexo masculino. No entanto, evidências clínicas de efeitos colaterais
relacionados ao sistema nervoso central promovidos pela tansulosina já foram relatadas.
Este estudo visa investigar os efeitos do tratamento com tansulosina em camundongos
machos submetidos ao teste de reconhecimento de objetos. Nesse estudo foram
utilizados camundongos Swiss machos tratados com tansulosina de forma aguda por via
oral (0,01 e 0,001 mg/kg), 1 h antes, imediatamente depois da sessão treino ou 1 h da
sessão teste. Observou-se que, semelhante ao biperideno, amnésico utilizado como
controle positivo, a tansulosina alterou significativamente o índice de reconhecimento
de objetos quando administrada antes da sessão de treino ou imediatamente depois.
Além disso, a tansulosina quando administrada antes da sessão teste também prejudicou
o reconhecimento de objetos de forma dose-dependente. Cabe salientar que nem a
tansulosina nem o biperideno, em nenhum momento, afetou o tempo total de exploração
dos objetos. Em conclusão, os dados mostram que a administração de tansulosina afetou
a aquisição, consolidação e a evocação da memória de reconhecimento de objetos
quando administrada agudamente. Esses dados são relevantes para entender os efeitos
colaterais da tansulosina no sistema nervoso central e estudar possíveis mecanismos.

Palavras-chave: Tansulosina. Camundongo. Memória. Modelo animal.

TITLE: Effects related to object recognition memory induced by tamsulosin -


alpha-1A adrenoceptor antagonist - in mice

Abstract

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Tamsulosin, an α1-adrenergic receptor antagonist, is the first class treatment for benign
prostatic hyperplasia in middle-aged male patients. However, clinical evidence suggests
central side effects related to the administration of tamsulosin. This study aims to
investigate the effects of tamsulosin treatment in male mice subjected to the object
recognition task. In this study, male Swiss mice were acutely treated with tamsulosin
per oros (0.01 and 0.001 mg/kg), 1 h before, immediately after the training session or 1
h before the test session. It was observed that, similar to the amnestic biperiden used as
a positive control, tamsulosin significantly impaired the object recognition index when
observed before the training session or immediately after. Furthermore, tamsulosin
when injected before test session also impaired objetct recognition in a dose-dependent
manner. It is worthy mentioning that neither tamsulosin nor biperiden affected the total
time spent exploring the objects in the test session. In conclusion, our findings showed
that tamsulosin affected acquisition, consolidation and evocation of memory assessed in
the object recognition task. These findings are relevant to understand the possible side-
effects of tamsulosin in the central nervous system and allow us to investigate in the
future the neurobiological mechanisms.

Keywords: Tamsulosin. Mouse. Memory. Animal models.

Introdução

A tansulosina é um fármaco amplamente usado (12,6 milhões de prescrições em 2010)


no tratamento dos sintomas do trato urinário inferior relacionados ao envelhecimento ou
hiperplasia prostática benigna (HPB; Frankel et al., 2018). Este fármaco é um
antagonista dos α1-adrenoceptores, apresentando maior afinidade pelos receptores α1A
- ordem de afinidade: α1A ≥ α1D >α1B, os quais são expressos principalmente na
musculatura lisa da próstata, ducto deferente, epidídimo ou vesícula seminal (Calzada &
de Artinano, 2001). Neste sentido, o bloqueio dos adrenoceptores α1A na próstata
resulta em relaxamento da musculatura lisa, reduzindo a resistência uretral prostática e
melhorando os sintomas urinários relacionados ao HPB (Lepor et al., 1993a; Lepor et
al., 1993b).

Os três subtipos de adrenoceptores α1 são expressos no sistema nervoso central (SNC),


mas com diferenças na densidade e localização, sendo o subtipo α1A-adrenoceptor
aquele com maior expressão e distribuição. De fato, é descrito que 55% dos α1-
adrenoceptores presentes no SNC de camundongos são do subtipo α1A, enquanto os
subtipos α1B e α1D representam 35% e 10%, respectivamente (Frankel et al., 2018;
Perez & Doze, 2011). Além disso, é descrito que os α1A-adrenoceptores podem ser
encontrados principalmente na amígdala, cerebelo, córtex cerebral, hipocampo,
hipotálamo, mesencéfalo, núcleo do trigêmeo no tronco cerebral e medula espinhal
(Frankel et al., 2018). Devido à expressão significativa de α1A-adrenoceptores no
sistema límbico, especula-se que a sua função esteja relacionada à modulação da

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resposta emocional e de processos cognitivos. Estudos anteriores avaliando os papéis


dos receptores α1-adrenérgicos na neurotransmissão e cognição foram inconsistentes
(Perez et al., 2020). Isso ocorreu devido ao uso de ligantes pouco seletivos e muitos
desses estudos foram publicados antes da caracterização dos subtipos de receptores
clonados e do posterior desenvolvimento de modelos animais. Com a disponibilidade de
ligantes mais seletivos e o desenvolvimento de modelos animais, uma imagem mais
clara de seu papel na cognição e neurotransmissão pode ser avaliada. De fato, Doze et
al. (2011) mostraram que camundongos que não expressam os α1A-adrenoceptores
apresentam prejuízos cognitivos em longo prazo. Por outro lado, outros estudos dão
apoio a ideia que a ativação do receptor α1-adrenérgico está relacionado à formação de
memória de diversos tipos (Perez et al., 2020).

Diante deste contexto, é plausível supor que antagonistas de α1A-adrenoceptores,


como a tansulosina, possam apresentar efeitos no SNC principalmente devido a sua
capacidade de ultrapassar a barreira hematoencefálica (Yamada et al., 1999; Kim et al.,
2012; Kim et al., 2015; Duan et al., 2018). Estudos epidemiológicos demonstraram que
o uso crônico de tansulosina esteve associado a maior risco de desenvolvimento de
demência, delírio e doença de Parkinson (Frankel et al., 2018). Além de sua já citada
ação como antagonista de α1A-adrenoceptores, é descrito que a tansulosina também
possui afinidade pelos receptores serotoninérgicos 5-HT1A, com afinidade 100 vezes
menor que a α1A-adrenoceptores. Os receptores 5-HT1A regulam importantes funções
no SNC (como humor, atenção, aprendizado e memória) e podem contribuir com os
efeitos centrais de tal fármaco. Assim, o objetivo deste estudo é avaliar os efeitos
comportamentais relacionados à memória de reconhecimento de objetos em
camundongos em tratamento agudo com tansulosina. Em última instância, este estudo
investiga os efeitos colaterais centrais da tamsulosina, bem como dará suporte para
estudo futuros que visam compreender as bases neurobiológicas e o papel de
adrenoceptores α1 nas funções cognitivas.

Metodologia

Animais
Para desenvolver este estudo foram utilizados camundongos Swiss machos (8-10
semanas; 30-40 g) provenientes do Biotério do Central/Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Os animais foram alojados em, no máximo, 6 por caixa (41 x 34 x 16
cm), com livre acesso a ração e água e foram mantidos em um ciclo de 12 horas claro e
12 horas escuro (luzes acessas às 6:00 h da manhã) com temperatura de 22°C ± 1°C.
Todos os procedimentos experimentais foram realizados de acordo com as
recomendações da Lei n° 11.794 de 08/10/2008 (Lei Arouca) e previamente aprovados
pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal do Rio

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Grande do Norte (protocolo N° 182.034/2019).

Drogas e tratamentos

A tansulosina foi administrada agudamente por via oral (vo), com o auxílio de uma
cânula de gavagem, nas doses de (0,01 e 0,001 mg/kg). A tansulosina foi solubilizada
em solução fisiológica (NaCl 0,9%). As doses de tansulosina foram escolhidas com base
na dose equivalente usada clinicamente para o tratamento da hiperplasia prostática
benigna (Kim et al., 2016; Nair e Jacob, 2016).. O biperideno (2 e 4 mg/kg, ip, 30 min
antes do treino ou imediatamente após, respectivamente), antagonista muscarínico M1
que produz efeito amnésico, foi utilizado como controle positivo na tarefa de
reconhecimento de objetos. O biperideno foi solubilizado, no dia do experimento, em
solução de NaCl 0,9%. Os fármacos foram administrados no volume de 10
ml/kg[EG1] . O grupo controle negativo recebeu salina, no mesmo volume, pela mesma
via de administração que o grupo tratado com a tansulosina.

Testes comportamentais

Tarefa de reconhecimento de objetos

Para avaliar a memória de reconhecimento foi utilizado o teste de reconhecimento de


objetos, conforme descrito previamente por Leger et al. (2013). O teste de
reconhecimento de objetos foi conduzido em campo aberto (40 x 40 x 40 cm). Todos os
animais foram submetidos a uma sessão de habituação onde foi permitida a exploração
livre do campo por 30 minutos. Vinte e quatro horas após a habituação, a sessão de
treino foi realizada. Os animais foram colocados no centro do campo aberto por 5
minutos, no qual dois objetos idênticos em forma, tamanho, cor e textura foram
posicionados em dois vértices adjacentes, 10 centímetros a partir das paredes. Os
animais exploraram o campo aberto, na presença destes dois objetos, e o tempo gasto
explorando cada um foi registrado. Após um intervalo de 6 h ocorreu a sessão teste. Os
animais foram novamente submetidos ao campo aberto, mas agora eles foram expostos
a dois objetos diferentes: um familiar (o mesmo do dia anterior) e um novo (diferente
apenas na forma). O comportamento de exploração foi definido através de parâmetros
comportamentais como sniffing, ou tocar o objeto com o focinho e/ou com as patas
dianteiras. Para a análise do comportamento animal na etapa 1 e 2, utilizamos o índice
de reconhecimento de objetos calculado para cada animal na sessão treino e teste,
baseando-se nas seguintes proporções: TA2/(TA1+TA2) e TB/(TA1+TB),
respectivamente. (TA1 = tempo gasto explorando o objeto familiar A1; TA2 = tempo
gasto explorando o objeto familiar A2; TB = tempo gasto explorando o objeto novo B).
Para a avaliação do efeito da tansulosina na etapa 3 do desenho experimental, foi
utilizado o índice de reconhecimento de objetos (IR) foi calculado para cada animal na
sessão teste, de acordo com van Goethem et al. (2012), utilizando a seguinte fórmula:

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IR= (TB - TA1)/(TB + TA1), onde TA1 = tempo gasto explorando o objeto familiar A1;
TB = tempo gasto explorando o objeto novo B. Salienta-se que o resultado do IR varia
de 1 a -1, no qual -1 indica preferência do animal pelo objeto familiar, 0 indica que não
houve preferência significativa por nenhum objeto, e 1 significa preferência pelo objeto
novo. Todo o procedimento foi registrado e, posteriormente, analisado com o emprego
de um software de rastreamento do animal, Anymaze (Stoelting Co, San Diego, USA).

Desenho experimental

Etapa 1 – Avaliação do efeito do tratamento agudo com tansulosina antes da sessão


treino

Para avaliar as ações da tansulosina na aquisição da memória de reconhecimento de


objetos, biperideno 2 mg/kg (ip), tansulosina 0,001 e 0,01 mg/kg (vo) e solução salina
(ip ou vo, conforme o caso) foram administrados em camundongos antes da sessão
treino da tarefa de reconhecimento de objetos. Passados 30 min para o biperideno e 60
min para os animais que receberam tansulosina, os animais foram expostos à sessão
treino da tarefa de reconhecimento de objetos por 5 min. Seis horas depois, os animais
foram expostos à sessão teste da tarefa de reconhecimento de objetos e o
comportamento animal foi avaliado.

Etapa 2 – Avaliação dos efeitos do tratamento agudo com tansulosina imediatamente


após a sessão treino

Objetivando investigar as ações da tansulosina na consolidação da memória de


reconhecimento de objetos, os animais foram tratados com biperideno, tansulosina e
solução salina imediatamente após a sessão treino da tarefa de reconhecimento de
objetos. Seis horas depois, os animais foram novamente expostos à tarefa de
reconhecimento de objetos, agora na presença de um objeto familiar e um novo, e o
comportamento animal foi avaliado.

Etapa 3 – Avaliação dos efeitos do tratamento agudo com tansulosina antes da sessão
teste

Objetivando investigar as ações da tansulosina na evocação da memória de


reconhecimento de objetos, os animais foram inicialmente expostos à sessão treino da
tarefa de reconhecimento de objetos por 5 min. Passadas 5 h da sessão treino, os
camunodngos foram tratados com tansulosina 0,001, 0,01 mg/kg (vo) ou solução salina
e 1 hora depois expostos à sessão teste da tarefa de reconhecimento de objetos, onde o
comportamento animal foi avaliado durante 5 min.

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Resultados e Discussões

Conforme já apresentado no relatório da Iniciação científica de 2022, a figura 1 ilustra


os efeitos da administração aguda de biperideno (2 mg/kg, ip) e tansulosina (0,001 e
0,01 mg/kg, vo) na memória de reconhecimento de objetos em camundongos. Observa-
se que o grupo controle, nas nossas condições experimentais, é capaz de evocar a
memória de reconhecimento, ou seja, apresenta índice de reconhecimento
estatisticamente significativo quando comparada a sessão treino com a sessão teste (Fig.
1, P<0,05). O biperideno 2 mg/kg, um fármaco com ação amnésica, utilizado neste
estudo como controle positivo, quando administrado antes do treino, prejudicou a
aquisição da memória de reconhecimento, conforme demonstrado pela ausência de
significância entre a sessão treino e a sessão teste (Fig. 1, P>0,05).

O tratamento com tansulosina na maior dose (0,01 mg/kg), mas não na dose de 0,001
mg/kg, antes da sessão de treino, afetou a aquisição da memória de reconhecimento em
camundongos. De fato, observou-se não haver diferenças significativas no índice de
reconhecimento entre a sessão treino e teste nos animais tratados com tansulosina 0,01
mg/kg (Fig. 1, P>0,05). No entanto, na menor dose de tansulosina, os animais foram
capazes de reconhecer o objetivo novo na sessão teste, conforme observado pelo
aumento significativo do índice de reconhecimento (Fig. 1, P<0,05). Além disso, nem o
tratamento com biperideno nem com tansulosina afetou o tempo total de exploração dos
objetos na sessão teste, mostrando não haver outros fatores além da memória alterando
o comportamento dos animais na sessão teste. Estes dados apoiam a ideia de que o
prejuízo no reconhecimento de novos objetos observados em animais tratados com
tansulosina e biperideno não é devido a um possível efeito sedativo ou estimulante do
sistema nervoso central. Ainda, pode-se inferir que tanto o biperideno quanto a
tansulosina causaram prejuízo na fase de aquisição da memória, já que os animais
quando foram treinados sob o efeito das drogas não foram capazes de reconhecer o
objeto novo na sessão teste.

Visando avaliar o efeito do tratamento com tansulosina na fase de consolidação da


memória de reconhecimento de objetos, os animais foram tratados com a droga em
diferentes doses imediatamente depois da sessão treino e, 6 h depois, a evocação da
memória foi avaliada na sessão teste. A fim de padronizar a condição experimental, foi
testado o efeito da administração aguda de biperideno (2 e 4 mg/kg), um amnésico
antagonista de receptor muscarínico M1. O efeito do biperideno está representado na
figura 2, onde pode-se observar que o tratamento agudo com a dose de 4 mg/kg, mas
não 2 mg/kg, afetou a consolidação da memória, conforme observado pela ausência de
diferença estatística entre a sessão treino e teste. Por outro lado, o grupo tratado com

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biperideno 2 mg/kg apresentou índice de reconhecimento de objeto significativamente


diferente entre a sessão treino e teste (Fig. 2, P<0,05).

Semelhante ao biperideno, a tansulosina, na maior dose testada, também afetou a


consolidação da memória de reconhecimento, como pode ser observado pela ausência
de significância no índice de reconhecimento entre a sessão treino e teste (Fig. 2,
P>0,05). No entanto, na dose de 0,001 mg/kg, a tansulosina não afetou a evocação da
memória na sessão teste, como observado pela diferença significativa entre treino e teste
(Fig. 2, P<0,05). Além disso, nem o tratamento com biperideno nem com tansulosina
afetou o tempo total de exploração dos objetos na sessão teste (Fig. 2, P>0,05),
mostrando não haver outros fatores além da memória alterando o comportamento dos
animais na sessão teste.

Na terceira etapa desse estudo, avaliou-se o potencial da tansolusina de afetar a


evocação da memória de reconhecimento antes da sessão teste. Nessa etapa
experimental, semelhante ao efeito da tansulosina no pré- e pós-treino, na maior dose
(0,01 mg/kg), administrada 1 hora antes da sessão teste, prejudicou a evocação da
memória de reconhecimento. O grupo controle e grupo tansolusina 0,001 apresentou
índice de reconhecimento maior que 0, enquanto que o grupo tansulosina 0,01 teve
índice negativo (Fig. 3A, P<0,05 para controle e tans 0,01). Além disso, o tempo de
exploração entre o objeto familiar e o objeto novo (Fig. B, P<0,05) foi significante
apenas no grupo controle (Fig. 3, P<0,05), apontando uma tendência à menor dose de
tansulosina de afetar a exploração dos objetos. Ainda, nessa etapa foi avaliada a
distância total percorrida no campo aberto e comparada entre a sessão treino e teste, mas
não foi observada diferença estatística, mostrando que as doses de tansulosina testadas
não afetaram a locomoção (Fig. 3C).

Se compararmos os dados aqui apresentados com a literatura veremos que estão em


concordância. De fato, há evidências substanciais de que a ativação de α1-
adrenoceptores desempenham um papel importante na eficácia e plasticidade sináptica
com efeitos no aumento das funções de aprendizagem e memória, enquanto que o
bloqueio da sinalização está relacionado ao prejuízo cognitivo (Perez et al., 2020).
Estudos mostram que a ativação de α1-adrenoceptores pode melhorar o medo
condicionado, espacial, recompensa, olfativo, tanto nas fases de aquisição quanto de
consolidação de memórias (Perez et al., 2020). Cabe salientar que a tansulosina é
geralmente utilizada para tratar problemas prostáticos em pacientes de meia-idade ou
idade avançada e que podem sofrer também com doenças neurodegenerativas e declínio
cognitivo mediado pela idade ou pela doença.

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Este plano de trabalho é uma continuação do ano anterior, e uma análise dos dados
apresentados agora indicam que a tansulosina administrada de forma aguda tem uma
influência negativa durante as fases de aquisição, consolidação e evocação da memória
de reconhecimento de objetos.

Cabe salientar que o biperideno não foi testado na fase pré-teste, pois essa droga não
serve como controle positivo para afetar a fase de evocação da memória, já que seu
efeito ocorre nas fases de aquisição e consolidação, como foi demonstrado nas etapas 1
e 2. As drogas que afetam a evocação da memória são aquelas que de alguma forma
afetam a locomoção, os sentidos dos animais (visão, audição, tátil) ou a motivação, logo
não é comum na literatura serem testados controles positivos para tal circunstância.
Logo, ao verificar o prejuízo na evocação da memória de reconhecimento induzido pela
tansulosina, não podemos descartar que nessa fase, o fármaco pode estar afetando outras
funções fisiológicas, como por exemplo, funcionamento cardiovascular, que estejam de
alguma forma indiretamente comprometendo a evocação da memória nos animais.

Apesar dos resultados aqui presentes apontarem para um efeito prejudicial da


tansolusina na memória de reconhecimento, de forma dose-dependente, no estudo de
Kim et al. (2015), o tratamento com tamsulosina por quatro semanas melhorou a
memória aversiva e espacial em ratos. Esses achados mostram que a tansolusina pode
afetar de formas diferentes a capacidade mnemônica. No nosso estudo, foi testada a
memória de reconhecimento de objetos, o que elucida a necessidade de testar os efeitos
da tansolusina de forma crônica nesse tipo de memória. O plano de trabalho também
propôs testar essa administração repetida de tansolusina, porém tivemos atrasos na
execução dessa etapa, mas os testes estão em andamento e esperamos em breve
conseguir analisar os dados para, então, entendermos os efeitos da tansulosina
administrada cronicamente na memória de reconhecimento de objetos.

Figura 1 – Efeito do tratamento agudo com tansulosina (TSL; 0,001 e 0,01 mg/kg, vo) e
da droga amnésica, biperideno (BPD; 2 mg/kg, ip) na fase de aquisição da memória de
reconhecimento de objetos em camundongos. Os dados são apresentados como a média
± erro padrão da média do índice de reconhecimento de objetos e do tempo total de
exploração dos objetos na sessão teste de animais tratados com biperideno (painéis
superiores) e tansulosina (painéis inferiores) avaliados nos 5 min de teste. A linha
pontilhada representa a não preferência pelos objetos. *P<0,05, Student t-test ou
ANOVA para análise dos dados de biperideno e tansulosina, respectivamente, de 8
camundongos por grupo.

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Figura 2 - Efeito do tratamento agudo com tansulosina (TSL; 0,001 e 0,01 mg/kg, vo) e
da droga amnésica, biperideno (BPD; 2 e 4 mg/kg, ip) na fase de consolidação da
memória de reconhecimento de objetos em camundongos. Os dados são apresentados
como a média ± erro padrão da média do índice de reconhecimento de objetos (painéis
superiores) e do tempo total de exploração dos objetos na sessão teste (painéis
inferiores) avaliados nos 5 min de teste. A linha pontilhada representa a não preferência
pelos objetos. *P<0,05, Student t-test ou ANOVA para análise dos dados de biperideno
e tansulosina, respectivamente, de 8 camundongos por grupo.

Figura 3 - Efeito do tratamento agudo com tansulosina (TSL; 0,001 e 0,01 mg/kg, vo)
administrada 1 h antes da sessão teste de reconhecimento de objetos em camundongos.
Os dados são apresentados como a média ± erro padrão da média do índice de
reconhecimento de objetos (A) na sessão teste, do tempo total de exploração dos objetos
na sessão teste (B) e da distância total percorrida (C) na sessão treino e teste, avaliados
durante 5 min. A linha pontilhada representa a não preferência pelos objetos. *P<0,05,
Student t-test ou ANOVA para análise dos dados de tansulosina, de 8 camundongos por
grupo.

Análise estatística
Os dados foram apresentados como média ± EPM como descrito nas legendas das
figuras. Os dados passaram por verificação de normalidade e homogeneidade de
variância antes da realização dos testes estatísticos. As diferenças foram avaliadas
através de teste t de Student ou ANOVA de uma via seguida de teste de Tukey,
conforme descrito nas legendas das figuras. Foi considerada diferença estatisticamente
significativa para os valores de P<0,05. Os procedimentos estatísticos foram realizados
no programa GraphPad Prisma 6.0 (Graph Pad Software Inc., San Diego, USA).

Conclusão

O tratamento agudo com biperideno afetou a aquisição e a consolidação da memória de


reconhecimento de objetos em camundongos. Tal resultado atesta que os testes foram
realizados em condições experimentais adequadas. Além disso, observamos que o
tratamento agudo com tansulosina, de forma dose-dependente prejudicou a aquisição,
consolidação e evocação da memória de reconhecimento de objetos em camundongos.

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Em conjunto, os dados aqui apresentados são relevantes para o estudo dos efeitos
colaterais da tansulosina no sistema nervoso central e são a base para estudos futuros
elucidar os possíveis mecanismos neurobiológicos relacionados a tais ações.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Anexos

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Figura 1

Figura 2

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Figura 3

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CÓDIGO: SB0151

AUTOR: SAMIRA KARLA BARBOSA DA SILVA

COAUTOR: MARCELLA ARAÚJO DO AMARAL CARNEIRO

COAUTOR: VALKIRIA DE SOUZA GOMES

ORIENTADOR: ELIANE MARINHO SORIANO

TÍTULO: Cultivo da macroalga Gracilaria birdiae (Rhodophyta, Gracilariales)


através de esporos

Resumo

As macroalgas marinhas desempenham um papel essencial em todos ecossistemas


marinhos, contribuindo para a produção primária, o sequestro de carbono e servindo
como habitat para diversos animais. Elas desempenham um papel essencial na economia
mundial, pois estão diretamente ligadas à produção de alimentos, medicamentos e
vários subprodutos. Visando aprimorar técnicas de cultivo sustentáveis baseadas na
produção de plântulas a partir de esporos, este estudo investigou a taxa de sobrevivência
de três espécies de Gracilaria, germinadas em diferentes substratos (fitilho, conchas e
rodólitos). Os resultados mostraram preferências variadas por substratos entre as
espécies. G. domingensis apresentou taxas de sobrevivência satisfatórias em todos os
substratos testados, sendo maior nos fitilhos (84%), seguido dos rodólitos (79,1±6,4%) e
das conchas (77,6%±16,6%). G. birdiae teve sucesso principalmente nos rodólitos
(100%) e nas conchas (80%), não apresentando fixação nos fitilhos. Por sua vez, G.
caudata exibiu taxas de sobrevivência baixas em todos os substratos (< 50%). Esse
estudo destaca a importância da escolha do substrato para o sucesso da germinação e
sugere a necessidade da continuidade de pesquisas nessa área para compreender a
relação entre tamanho de esporos, substrato e variáveis ambientais no desenvolvimento
de espécies nativas, fundamentais para a maricultura e recuperação de populações
significativamente reduzidas ao longo da nossa costa.

Palavras-chave: Macroalgas. Cultivo. Substratos. Esporos.

TITLE: Cultivation of macroalgae of the genus Gracilaria through spores

Abstract

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Marine macroalgae play an essential role in all marine ecosystems, contributing to


primary production, carbon sequestration and serving as a habitat for diverse animals.
They play an essential role in the world economy as they are directly linked to the
production of food, medicine and various by-products. Aiming to improve sustainable
cultivation techniques based on the production of seedlings from spores, this study
investigated the survival rate of three species of Gracilaria, germinated in different
substrates (ribbon, shells and rhodoliths). The results showed varied preferences for
substrates among species. G. domingensis showed satisfactory survival rates in all tested
substrates, being higher in ribbons (84%), followed by rhodoliths (79.1±6.4%) and
shells (77.6%±16.6%). G. birdiae was successful mainly in rhodoliths (100%) and in
shells (80%), showing no fixation in ribbons. In turn, G. caudata exhibited low survival
rates in all substrates (< 50%). This study highlights the importance of choosing the
substrate for successful germination and suggests the need for further research in this
area to understand the relationship between spore size, substrate and environmental
variables in the development of native species, which are fundamental for mariculture
and recovery of significantly reduced populations along our coast.

Keywords: Macroalgae. Cultivation. Substrates. Spores.

Introdução

As macroalgas marinhas desempenham um papel fundamental nos ecossistemas


marinhos do mundo inteiro. Elas contribuem significativamente para a produção
primária, além de servir como habitat para uma grande variedade de organismos
marinhos, desde o zooplâncton até animais de grande porte, tais como as tartarugas
verdes (SANTOS et al., 2011). As algas marinhas, também, são essenciais na
construção de recifes e na facilitação do estabelecimento dos corais (SILVA et al.,
2012). Além disso, elas contribuem com a redução de CO2 mundial, sendo um
importante sumidouro para as emissões antropogênicas (CHUNG et al., 2011).
No contexto econômico, as macroalgas também possuem um valor bastante
significativo. Elas são amplamente utilizadas nas indústrias alimentícia e farmacêutica
pois são fonte de ficocolóides (e.g. ágar, carragena e alginatos), comumente utilizados
na produção de espessantes, emulsificantes, gelatinas e laxantes (BEZERRA;
MARINHO-SORIANO, 2010). No Brasil, a principal fonte de ágar são as espécies do
gênero Gracilaria, pertencente ao filo Rhodophyta, que são amplamente encontradas no
nosso litoral, desde o Ceará até o Rio Grande do Sul (PLASTINO; OLIVEIRA, 2002).
O cultivo dessas algas no Nordeste é desenvolvido, principalmente, por mulheres e
proporciona uma fonte de renda adicional, que contribui para a autonomia financeira e o
aumento da participação delas no setor econômico (Marinho-Soriano, 2017). Diante
disso, o cultivo das macroalgas possui um papel fundamental para o desenvolvimento
sustentável do País e estão ligadas a diversos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), tais como a Fome zero, Igualdade de gênero e Vida debaixo da água
(FERREIRA et al., 2021).

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eCICT 2023

O principal método de cultivo utilizado no Nordeste é por meio da propagação


vegetativa (FERNANDES et al, 2017; FERREIRA et al., 2021). Embora seja um
método de fácil manejo, ele possui algumas desvantagens, tais como a necessidade de
uma grande quantidade de plantas para iniciar o cultivo e a diminuição da variabilidade
genética, que por sua vez, pode acarretar em uma maior suscetibilidade a doenças e
redução da produtividade (TITLYANOV et al., 2010). Uma alternativa que pode ser
utilizada para contornar esse problema é o desenvolvimento de mudas por meio de
esporos. Esse método se mostra mais eficaz, pois além de precisar de uma pequena
quantidade de biomassa para iniciar o cultivo, permite a produção de mudas com maior
variabilidade genética e seleção linhagens mais produtivas (MASSAD et al., 2020). O
cultivo a partir de esporos tem se mostrado eficiente para diversas espécies da família
Gracilariaceae, tais como: Gracilariopsis lemaneiformis (ZHOU et al., 2016) Gracilaria
chilensis (ALVEAL et al., 1997) e Gracilaria parvispora (ZHOU et al., 2016; GLENN
et al, 1996).
Para que o cultivo a partir de esporos seja bem-sucedido é necessário ter um
conhecimento prévio sobre o histórico de vida da espécie cultivada (LOTZE et
al.,1999). As algas que pertencem à classe Florideophycidae (HURD et al. 2014),
possuem três fases em seu histórico de vida, duas fases diplóides (tetrasporófitos e
carposporófitos), responsáveis pela liberação de esporos (tetrásporos e carpósporos,
respectivamente) e uma fase haplóide produtora de gametas sexuais (gametófitos
femininos e masculinos) (MARINHO-SORIANO; CARNEIRO, 2021). Ter esse
conhecimento permite que os interessados em cultivar essas algas possam aproveitar as
peculiaridades de cada uma dessas fases, podendo, dessa forma, melhorar, e até
aumentar sua produção (MANTRI et al, 2009).
Com base no contexto apresentado, o objetivo principal deste trabalho foi desenvolver
e aprimorar técnicas específicas para a esporulação e germinação de três espécies do
gênero Gracilaria em diferentes tipos de substratos, com o propósito de promover a
sustentabilidade e melhoria das atividades de cultivo de macroalgas no Nordeste,
contribuindo para o avanço científico e prático no campo da aquicultura marinha.

Metodologia

2.1 Coleta das Algas


As espécies Gracilaria birdiae, Gracilaria domingensis e Gracilaria caudata utilizadas
nesse experimento foram coletadas no banco natural da praia de Mãe Luiza, localizada
no município de Natal, Rio Grande do Norte. Essas macroalgas são caracterizadas por
possuir um ciclo de vida trifásico. A fase carposporofítica foi escolhida por apresentar
uma estrutura globosa no talo da alga que é visível a olho nú, denominado cistocarpos, e
que são responsáveis pela liberação de esporos com maior viabilidade (CARNEIRO,
2011; HURD et al. 2014). As amostras foram coletadas de forma manual, no período de
maré baixa. Os indivíduos selecionados eram todos férteis (presença de cistocarpos).

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eCICT 2023

Logo após serem retirados do mar foram colocados em sacos plásticos contendo água
do mar e levados até o Laboratório de Macroalgas, do Departamento de Oceanografia e
Limnologia da UFRN. Lá foram transferidos para aquários com água do mar filtrada e
enriquecida com meio de cultura Von Stosch (VS) 12,5% (URSI; PLASTINO, 2001),
onde permaneceram por três dias (Figura 1A - ANEXO).
2.2 Desinfecção dos Substratos
Para o experimento de germinação de esporos em diferentes substratos foram utilizados
9 rodólitos, 9 fitilhos e 9 conchas, ou seja, 3 unidades de cada um dos substratos, para
cada espécie de Gracilaria utilizada. Esses materiais foram previamente autoclavados,
mantidos em uma solução de sabão neutro diluída (0,5%) por um período de 30 min
(Figura 1B - ANEXO), escovadas e lavadas com água destilada. Posteriormente, foram
transferidos para uma solução de Povidine diluída (1%) e postos para secar em um
recipiente de vidro com papel toalha. Após a secagem, os substratos foram armazenados
em um recipiente de vidro fechado até o momento em que foram utilizados no
experimento.
2.3 Desinfecção dos ramos das macroalgas
As amostras de algas passaram por uma triagem onde foram selecionados apenas os
ramos com estruturas férteis evidentes (cistocarpos). Posteriormente, eles foram
cortados, com o auxílio de uma lâmina de aço, em fragmentos de 2 cm (Figura 1C -
ANEXO), totalizando 18 fragmentos para cada espécie. Os mesmos foram colocados
em uma peneira e submergidos por 30s em uma solução salina de sabão neutro diluída
em 0,5%. Logo depois, eles foram lavados com água do mar esterilizada - esse processo
foi repetido três vezes. Em seguida, cuidadosamente, foi passado uma haste flexível
com algodão embebido em uma solução de povidine diluída em 1%. Posteriormente, os
ramos foram lavados com água do mar esterilizada, finalizando, assim, o processo de
desinfecção dos fragmentos férteis.
2.4 Fixação dos Ramos nos Substratos
Os fragmentos foram presos em cada um dos diferentes substratos com o auxílio de
uma linha de silicone. Foram utilizadas 3 réplicas de cada substrato, onde foram fixados
2 fragmentos férteis em cada um deles (Figura 1D - ANEXO). Os substratos foram
inoculados em recipientes de plásticos contendo 200 ml de água do mar esterilizada e
enriquecida com meio de cultura VS 12,5% (Figura E - ANEXO), onde foram mantidos
por 48h. Após este período os ramos foram retirados dos substratos para visualização da
liberação dos esporos, com auxílio de uma lupa (estereomicroscópio). Os substratos
permaneceram nos frascos durante 1 semana, e a troca do meio de cultura foi feita a
cada dois dias, sempre lavando os substratos com o auxílio de uma pisseta contendo
água do mar esterilizada.
2.5 Desenvolvimento dos esporos
Ao final da primeira semana os substratos foram transferidos para recipientes maiores e
com aeração. Em cada um dos recipientes foram utilizados 700 ml de água do mar
esterilizada e enriquecida com meio de cultura VS 12,5% (Figura 1F - ANEXO). Os
recipientes foram mantidos em uma sala de incubação, com iluminação de 80 μmol de

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eCICT 2023

fótons.m-2.s-1, provida a partir de lâmpadas fluorescentes e com fotoperíodo de


12h:12h (claro:escuro). A troca do meio de cultura, bem como a limpeza e análise dos
substratos foram realizadas a cada 7 dias, durante três semanas.
2.6 Análise das amostras
Os substratos foram observados na lupa e fotografados para a avaliação e contagem da
sobrevivência das plântulas desenvolvidas a partir da germinação dos esporos. Os
períodos de registros foram 22, 34 e 41 dias após a remoção dos ápices. Os dados
obtidos foram organizados em uma planilha no excel e efetuados os cálculos de média e
desvio padrão da porcentagem de sobrevivência (%), bem como a produção de gráficos
e tabelas.

Resultados e Discussões

O presente estudo analisou a taxa de sobrevivência das plântulas desenvolvidas a partir


da germinação de esporos de três espécies de Gracilaria (G. caudata, G. birdiae e G.
domingensis), em diferentes substratos: fitilhos, rodolitos e conchas. A tabela 1 mostra
os resultados obtidos da contagem das plântulas e as taxas de sobrevivência (%)
calculadas para as três espécies, nos diferentes substratos, ao longo do período
experimental.
3.1 Fitilhos
As plântulas de G. caudata que germinaram nos fitilhos apresentaram uma taxa de
sobrevivência de 45,2%, após 34 dias de experimento. Embora significativa, não se
mostrou satisfatória, uma vez que foram mais baixas do que as taxas apresentadas pelas
outras espécies. Por outro lado, para G. domingensis (Figura 2A - ANEXO) a taxa de
sobrevivência foi de 94%, sendo assim considerada satisfatória e significativa. Em
relação à G. birdiae, identificamos um padrão diferente das demais espécies, cujos
esporos não conseguiram se fixar nos fitilhos, provavelmente devido à textura mais lisa
e macia do substrato, que dificultou sua adesão. Estudos anteriores sugerem que a
textura do substrato desempenha um papel crucial na fixação dos esporos, indicando
que superfícies mais ásperas e rugosas são mais adequadas (KAIN; DESTOMBE, 1995;
MARTÍN, 2011). Após decorridos 41 dias, houve uma queda nas taxas de sobrevivência
para ambas as espécies, atingindo valores de 41,9% e 84%, respectivamente (Tabela 1).
Nesse sentido, considerando esse tipo de substrato, a espécie G. domingensis foi a que
apresentou a maior quantidade de plântulas germinadas e ainda se manteve com alta
taxa de sobrevivência até o período final do experimento.
3.2 Conchas
Em relação as conchas, a taxa de sobrevivência das plântulas de G. caudata, após 34
dias, foi de 47,8%, um valor significativo, porém insatisfatório. Vale ressaltar que, após
41 dias, a amostra precisou ser descartada devido à contaminação por fungos no
substrato, evidenciando a importância de monitorar e controlar possíveis contaminações
durante os processos de cultivo de esporos. O experimento foi repetido, entretanto o

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eCICT 2023

material contaminou novamente. Após desinfecção de todas as outras possíveis fontes


de contaminação no laboratório, planejamos uma nova tentativa, entretanto, não foi
possível obter material fértil. No que diz respeito à G. birdiae (Figura 2B - ANEXO) as
plântulas apresentaram uma taxa de sobrevivência de 92% após 34 dias, e
posteriormente 80%, após 41 dias. Mesmo com uma diminuição das taxas de
sobrevivência ao final do experimento, os resultados continuaram sendo considerados
significativos e satisfatórios. No caso da G. domingensis, a taxa de sobrevivência após
34 dias apresentou uma média de 72,1±24,3%, aumentando para 77,6±16,6% após 41
dias, sendo considerada uma taxa de sobrevivência satisfatória. Esses resultados atestam
a eficácia da fixação dos esporos de G. domingensis nas conchas, garantindo a
estabilidade das taxas de sobrevivência.
3.3 Rodólitos
Quanto aos rodólitos, não houve desenvolvimento de plântulas para G. caudata,
indicando a incompatibilidade desse substrato com a espécie, quando submetida às
condições experimentais de cultivo. No entanto, tanto a G. birdiae quanto a G.
domingensis demonstraram uma boa fixação dos esporos e consequentemente
desenvolvimento de plântulas nesse mesmo substrato. Ambas as espécies apresentaram
taxas de sobrevivência significativas e satisfatórias (Tabela 1). G. birdiae exibiu uma
taxa de sobrevivência de 100% após 34 dias, e que se manteve até o final do
experimento. A espécie G. domingensis (Figura 2C - ANEXO), por sua vez, manteve
uma taxa de sobrevivência média de 97,6±1,3% após 34 dias, a qual declinou para
79,1% após 41 dias.
De acordo com resultados obtidos no nosso experimento, podemos constatar a
influência do tipo de substrato na fixação e sobrevivência das plântulas desenvolvidas a
partir da germinação de esporos, para as três espécies de Gracilaria testadas. Em geral,
foi observado que cada espécie requer um tipo diferente de substrato. Isso
provavelmente ocorre devido ao fato de que diferentes espécies, mesmo pertencendo ao
mesmo gênero, possuem esporos de tamanhos distintos (YU et al, 2016). Assim,
dependendo da espécie e do substrato utilizado, os esporos podem ou não encontrar um
local adequado para se fixarem.
Dessa forma, para iniciar um cultivo a partir de esporos, é preciso ter cuidado na
escolha do substrato, pois o mesmo precisa ter uma superfície adequada para que eles
possam se assentar e germinar (ZHOU et al., 2016). Estudos mostram que, além do
formato, a textura dos substratos também é extremamente importante para o processo de
fixação dos esporos (KARIMI et al., 2021; EKONG et al., 2019). Os experimentos
realizados por Alveal et al. (1997) e Glenn et al. (1996), utilizando Gracilaria chilensis
e Gracilaria parvispora, respectivamente, mostraram que pedras, conchas e cascalhos
foram os mais adequados para fixação, germinação e crescimento dos esporos. Além
disso, por estarem submetidas a condições de laboratório, e portanto, distintas da
natureza, a germinação e o desenvolvimento das plântulas também podem sofrer
influência das condições físico-químicas do ambiente de cultivo (YARISH et al. 2012).
Garza-Sánchez et al. (2000) demonstram em seus estudos que a liberação, fixação e

370
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eCICT 2023

sobrevivência de esporos de Gracilaria pacifica possuem respostas distintas quando


submetidas a gradientes de temperatura e irradiância. Para a espécie Gracilaria
lemaneifomis, além das taxas de germinação e sobrevivência, o diâmetro dos esporos
também é afetado pelas condições de temperatura associados a diferentes níveis de
irradiância no ambiente de cultivo (YE et al. 2006).

Conclusão

Como visto, para alcançar altas taxas de sobrevivência de plântulas germinadas a partir
de esporos, as espécies de Gracilaria utilizadas neste experimento apresentaram
diferentes exigências quanto ao substrato adequado para sua fixação e germinação. Com
base nos resultados obtidos, podemos concluir que a concha se mostrou o substrato mais
adequado para as três espécies, enquanto os fitilhos não foram favoráveis para G.
caudata e G. birdiae devido às características de sua superfície, que não proporcionam
as condições adequadas para a adesão dos esporos. Os rodólitos, por sua vez,
mostraram-se inadequados apenas para G. caudata, uma vez que houve
desenvolvimento satisfatório dos esporos para as espécies G. birdiae e G. domingensis.
Como recomendação para estudos nesta área, sugerimos novas pesquisas que
relacionem o diâmetro dos esporos com o substrato utilizado para a sua fixação, para
que dessa forma, seja possível determinar qual é o mais adequado para cada espécie. Em
adição, estudos que relacionem as variáveis ambientais com a germinação e o
desenvolvimento de plântulas são de extrema importância para a padronização das
técnicas de cultivo das espécies nativas com potencial aplicação na maricultura, assim
como também, para recuperação de bancos naturais degradados.

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Anexos

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Figura 1: (A) Aquários com algas coletadas na praia de Mãe Luiza, Natal, RN. (B)
Desinfecção dos substratos utilizados no experimento. (C) Ramo fértil de 2cm de G.
caudata; (D e E) Distribuição das espécies de Gracilaria (G. birdiae, G. domingensis, G.
ca

Figura 2: (A) plântulas de G. domingensis germinadas nos fitilhos; (B) plântulas de G.


birdiae germinadas em concha; (C) plântulas de G. domingensis germinadas em
rodólitos.

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Tabela 1. Taxa de sobrevivência de três espécies de macroalgas marinhas pertencentes


ao gênero Gracilaria (G. caudata, G. birdiae e G. domingensis) em relação a três
substratos diferentes (Fitilho, Concha e Rodólito), ao longo de diferentes intervalos.

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CÓDIGO: SB0153

AUTOR: VALKIRIA DE SOUZA GOMES

COAUTOR: MARCELLA ARAÚJO DO AMARAL CARNEIRO

COAUTOR: SAMIRA KARLA BARBOSA DA SILVA

ORIENTADOR: ELIANE MARINHO SORIANO

TÍTULO: Cultivo de Gracilaria birdiae (Gracilariales, Rhodophyta) através da


propagação vegetativa

Resumo

As macroalgas marinhas são fundamentais para os ecossistemas marinhos, servindo de


suporte para a sobrevivência de muitos organismos. São valorizadas comercialmente
devido aos seus produtos, e dessa forma, são utilizadas como fonte de renda para
diversas famílias que vivem do seu extrativismo e das atividades de maricultura. Diante
desse contexto, o objetivo desse estudo foi aprimorar as técnicas de propagação
vegetativa de G. birdiae a partir do acompanhamento do seu desempenho em três
tratamentos com diferentes densidades algais: 2g/L, 5g/L e 10g/L. Os resultados
mostraram que os tratamentos apresentaram um aumento significativo de biomassa
durante todo o estudo. Quanto às TCRs, elas estiveram estáveis na maior parte do
cultivo, com redução apenas na última semana. Diferente dos demais tratamentos, a
densidade de 10 g/L foi o que apresentou o menor ganho de biomassa e os valores mais
baixos de TCR do experimento. Como conclusão desse estudo, indicamos que os
tratamentos mais eficientes foram os que apresentaram densidades mais baixas (2g/L e
5g/L), e que o tempo de cultivo pode influenciar o desenvolvimento de estruturas
férteis, acarretando na diminuição da biomassa e TCRs. O aprimoramento das técnicas
de cultivo para obtenção de mudas pode auxiliar muitas famílias que vivem em zonas
costeiras e utilizam o método de propagação vegetativa como forma de cultivo,
permitindo a continuidade dessa atividade econômica, além de contribuir com a
manutenção dos recursos da natureza.

Palavras-chave: Macroalgas. Cultivo. Propagação Vegetativa. Maricultura.

TITLE: Cultivation of Gracilaria birdiae (Gracilariales, Rhodophyta) through


propagation vegetative

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Abstract

Marine macroalgae are fundamental to marine ecosystems, supporting the survival of


many organisms. They are commercially valued due to their products, and in this way,
they are used as a source of income for several families who live from their extractivism
and mariculture activities. Given this context, the objective of this study was to improve
the vegetative propagation techniques of G. birdiae by monitoring its performance in
three treatments with different algal densities: 2g/L, 5g/L and 10g/L. The results
showed that the treatments had a significant increase in biomass throughout the study.
As for the TCRs, they were stable in most of the cultivation, with a reduction only in the
last week. Unlike the other treatments, the density of 10 g/L was the one that presented
the lowest biomass gain and the lowest values of TCR in the experiment. As a
conclusion of this study, we indicate that the most efficient treatments were those with
lower densities (2g/L and 5g/L), and that the cultivation time can influence the
development of fertile structures, resulting in a decrease in biomass and TCRs. The
improvement of cultivation techniques to obtain seedlings can help many families that
live in coastal areas and use the vegetative propagation method as a form of cultivation,
allowing the continuity of this economic activity, in addition to contributing to the
maintenance of nature's resources.

Keywords: Macroalgae, Cultivation, Vegetative Propagation, Mariculture.

Introdução

As macroalgas marinhas são fundamentais para os ecossistemas marinhos, sendo


consideradas fonte de alimentação e habitat para diversos organismos (OLIVEIRA et
al., 2002). Elas são comercializadas mundialmente por possuírem uma grande variedade
de compostos que proporcionam uma série de benefícios, ganhando assim notoriedade
nas indústrias alimentícias e farmacêuticas (CHARRIER et al., 2017). As macroalgas
também fornecem matéria-prima para a produção de bioenergia, além da sua aplicação
nos setores têxteis, ração de animais e biofertilizantes. Diante disso, a utilização desses
organismos é algo muito promissor, sendo responsável pelo fornecimento de compostos
de alto valor agregado para uma infinidade de áreas relevantes nas diversas indústrias
(JAGTAP; MEENA, 2022).
As macroalgas marinhas são exploradas comercialmente por muitas comunidades
costeiras em todo o mundo. Atualmente, os cultivos desses organismos demonstram um
crescimento significativo na produção global, passando de 10,6 milhões de toneladas
para 32,4 milhões de toneladas, no período entre 2000 e 2018, respectivamente (FAO
2020). No Brasil, a forma de cultivo mais comumente utilizada é a maricultura, que
consiste na produção das algas em áreas costeiras de pouca profundidade, o que facilita
o controle e a produção do produto, sem prejudicar gravemente os ecossistemas
(BEZERRA, 2008).
Na região Nordeste e Sudeste do Brasil, onde a maioria dos cultivos de macroalgas

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

estão presentes, geralmente são empregadas tecnologias simples e de fácil manejo para
o desenvolvimento da biomassa algal. O método mais utilizado é por meio da
propagação vegetativa, que consiste na criação de novos indivíduos a partir da
fragmentação dos talos (FERNANDES et al., 2017). Essa técnica exige pouco recurso
financeiro e conhecimento técnico. Apesar do avanço e das perspectivas promissoras em
relação ao desenvolvimento dessa atividade, o cultivo no Brasil é algo que se encontra
em fase inicial e carente de inovação tecnológica sustentável (FERREIRA et al., 2021;
MARINHO-SORIANO, 2017).
As espécies mais cultivadas no nordeste do Brasil são as agarófitas do gênero
Gracilaria, que são facilmente encontradas nas regiões intertidais (SILVA, 2022;
MARINHO-SORIANO et al., 1999). Embora encontrada com facilidade por toda a
costa Nordestina, os estoques naturais estão sendo cada vez mais reduzidos devido a
urbanização, que afeta indiretamente os seus leitos naturais através de práticas não
ecológicas (HOLANDA, 2016; BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010). Além
disso, desde a década de 70, o extrativismo desenfreado para fins comerciais, gerou
consequências até hoje, pois afetou fortemente a disponibilidade desses recursos
(VASCONCELOS, 2015; CÂMARA- NETO, 1982).
A importância dos cultivos em zonas costeiras é impactante, fornecendo retorno
financeiro, social e ecológico para sociedade. Entretanto, a diminuição desses recursos
pode prejudicar financeiramente muitas famílias, que utilizam essa atividade como fonte
alternativa de renda. Além disso, por ser uma atividade executada principalmente por
mulheres, a manutenção do espaço delas nesse mercado de trabalho é de extrema
importância para o empoderamento das maricultoras (FERREIRA et al., 2021).
Dessa forma, os cultivos de macroalgas podem estar relacionados a alguns dos objetivos
do desenvolvimento sustentável (ODS), como por exemplo, o Fome zero (2), Igualdade
de gênero (5) e Vida na água (14), ressaltando a importância dessa atividade. No
entanto, devido aos desafios enfrentados, torna-se necessário desenvolver técnicas que
promovam práticas de cultivo mais sustentáveis. Assim, este estudo visa fornecer
informações técnico-científicas sobre o desenvolvimento de mudas de G. birdiae por
meio da propagação vegetativa em laboratório. Para isso, amostras dessa espécie foram
cultivadas em diferentes densidades algais (2g/L, 5g/L e 10g/L) e avaliadas com base no
seu desempenho fisiológico a partir dos resultados de biomassa e taxa de crescimento
relativo (TCR).

Metodologia

2.1 Coleta das algas e aclimatização em condições de laboratório


A espécie Gracilaria birdiae utilizada no experimento foi coletada no banco natural da
praia de Mãe Luiza (Figura 1A - ANEXO), localizada no litoral do Rio Grande do
Norte, Brasil. As amostras foram retiradas manualmente em período de maré baixa e em
seguida, foi transportado em caixas isotérmicas com água do mar, para o laboratório de

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Macroalgas, localizado no Departamento de Oceanografia e Limnologia, da


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). No laboratório, as algas foram
limpas para remoção de impureza e da fauna associada. Selecionou-se apenas os ramos
das algas que apresentavam uma boa aparência e sem estruturas reprodutivas evidentes
(e.g. cistocarpos).
Para obtenção dos fragmentos propagativos, os ramos selecionados foram cortados,
medidos e padronizados a um comprimento inicial de 3 cm (Figura 1B – ANEXO).
Inicialmente, os fragmentosforam colocados em sacos de cultivos, contendo 1L de água
do mar esterilizada e enriquecida com o meio de cultura Von Stosch (VS) a 12,5%. Eles
foram mantidos durante 4 dias para a aclimatização sob as condições de laboratório:
aeração por períodos alternados de 30 min, temperatura de 26°C, irradiância de 80 μmol
de fótons.m-2.s-1 e fotoperíodo de 12h:12h (Claro:Escuro). Posteriormente, as algas
foram levadas para serem cultivadas no laboratório de cultivo intermediário da fazenda
de aquacultura PRIMAR, localizada em Tibau do Sul - RN.
2.2 Delineamento experimental
No laboratório da PRIMAR, os fragmentos propagativosforam pesados e transferidos
para recipientes de cultivo, contendo 2L de água do mar esterilizada enriquecida com o
meio de cultura Von Stosch (VS) a 12,5%, e mantidos sob as mesmas condições de
laboratório anteriormente descritas. Os fragmentos foram separados em nove amostras,
que foram subdivididos em três tratamentos, sendo cada um deles com diferentes
densidades algais: 2g/L (n=3), 5g/L (n=3) e 10g/L (n=3). Os recipientes foram
distribuídos aleatoriamente sobre a bancada do laboratório. Foi empregada aeração
fornecida por um compressor radial isento de óleo (Ibram CR-03). A iluminação (80
μmol de fótons.m-2.s-1) foi provinda a partir de lâmpadas fluorescentes “Luz do Dia”
(Osram 40 W) e o fotoperíodo adotado foi de 12h (Figura 1C - ANEXO).
2.3. Desenvolvimento das Plântulas
Durante um mês foi feito o acompanhamento do desenvolvimento das plântulas e os
valores de crescimento foram registrados através da pesagem semanal das algas. Para
isso, a cada 7 dias foi feita a manutenção do experimento, sendo realizada a troca do
meio de cultivo e reajustado o volume de água para as densidades testadas. Os
fragmentos propagativos eram retirados dos recipientes de cultivo, limpados para a
remoção das epífitas, com auxílio de pincéis, (Figura 1D - ANEXO) e pesadas em
balança digital (precisão 0,1g).
2.4. Análise de Dados
Os dados obtidos durante a pesagem semanal foram organizados em uma planilha no
Excel e efetuados os cálculos de média e desvio padrão para avaliação dos valores de
biomassa algal nos diferentes tratamentos. A partir desses dados, foi calculado o ganho
de biomassa em porcentagem (%), considerando os valores registrados no início e a
cada medida semanal. As taxas de crescimento relativo (TCR), foram calculadas com
base na fórmula: TCR=LnBfBit*100 (MARINHO-SORIANO et al. 2002), onde, ln =

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logaritmo neperiano, Bf = biomassa final; Bi= biomassa inicial e t = intervalo de tempo


entre as medidas, em dias.
Foi utilizado o teste ANOVA (two-way para medidas repetidas) para verificar se houve
variações estatisticamente significativas nas variáveis, biomassa e TCR, durante o
período de estudo e entre os tratamentos. Quando as diferenças eram confirmadas, as
comparações entre as médias foram obtidas utilizando o teste a posteriori de Tukey
(p<0,05). As análises foram realizadas utilizando o programa R Studio (versão 2020).

Resultados e Discussões

O acompanhamento dos valores de biomassa e TCR, ao longo das semanas de cultivo,


pode ser visualizado nas Figuras 2A e 2B (ANEXO), respectivamente. A Tabela 1
mostra os resultados das análises descritivas (mínimo, máximo e média±desvio padrão)
e ANOVA (Fcal e p) para as variáveis analisadas (ganho de peso, biomassa e TCR).
Os valores de biomassa obtidos a partir dos diferentes tratamentos apresentaram
aumento significativo ao longo do tempo de experimento (F = 2078.384; p<0,001),
sempre positivo em relação a sua biomassa inicial. O teste de tukey mostrou que todos
os tratamentos diferem entre si (p<0,001). Para o tratamento com a densidade de 2 g/L,
as algas atingiram um valor máximo de 7,88±0,04g ao final da 5º semana, o que
correspondeu a aproximadamente 4x o valor da biomassa inicial (385,0%). Para o
tratamento com densidade de 5 g/L, esses valores chegaram a 18,03±0,04g, ou seja,
358,2% a mais, quando comparado a biomassa no início do experimento. Embora o
tratamento com 10 g/L tenha atingido um volume de biomassa elevado (31,03g),
quando comparado aos demais, ele foi o que apresentou o menor ganho de biomassa
(307,3%). Estudos anteriores relatam que o aumento da biomassa influencia diretamente
o espaço do cultivo, o que pode resultar em estresse fisiológico, fazendo com que elas
passem a produzir substâncias que afetam diretamente seu desenvolvimento (CORREA
et al., 1996), consequentemente enfraquecendo os talos, assim como também gerando a
despigmentação dos mesmos (CARNEIRO, 2011).
No que diz respeito à TCR, de forma geral, todos os tratamentos apresentaram um
padrão de crescimento semelhante entre as semanas de cultivo, com diferença
significativa ao longo do período de estudo (F = 10.077; p<0,001). As taxas mais
elevadas foram registradas na primeira semana para as três densidades testadas. Os
maiores valores foram alcançados nas densidades de 2 g/L (3,15±0,60 %.d-1) e 5g/L
(3,12±0,75 %.d-1) (Tabela 1), sendo considerados estatisticamente semelhantes
(p=0,2374), enquanto que para o tratamento com 10 g/L, a TCR foram
significativamente mais baixa que as demais (2,42±0,38 %.d-1). A partir da segunda
semana de experimento, as TCRs se mantiveram constantes, indicando uma excelente
estabilidade da espécie às condições de cultivo. Na última semana, o crescimento de G.

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birdiae apresentou uma desaceleração nos tratamentos de 5 g/L e 10 g/L, enquanto que
para 2 g/L, a redução não foi significativa (Figura 2B - ANEXO). Os valores mais
baixos de TCR foram registrados nesse período para os três tratamentos (Tabela 1 -
ANEXO).
De acordo com dados da literatura, o tempo de cultivo pode ser um dos fatores que
influenciaram na redução da produtividade das espécies. Isso pode ser causado por
vários fatores, incluindo a viabilidade dos talos em estado fértil avançado dentro do seu
ciclo reprodutivo. Embora tenham sido utilizadas plantas inférteis para a produção dos
ramos propagativos, pôde-se observar que ao final do cultivo, muitos apresentaram-se
férteis. Esse fato foi constatado a partir da observação da germinação de tetrásporos in
situ e, consequentemente, o desenvolvimento de pequenos talos gametofíticos epífitos
nos ramos propagativos/tetrasporófitos (Figura 1D).
A ocorrência de diferentes estruturas reprodutivas em um mesmo talo pode ser
observada, e está relacionada a falhas mecânicas na liberação dos esporos (germinação
in situ de tetraspóros), genéticas ou citológicas (OLIVEIRA & PLASTINO, 1994;
KAIN (JONES) & DESTOMBE, 1995). A germinação in situ foi relatada para G.
birdiae durante a elucidação de seu histórico de vida em laboratório (COSTA &
PLASTINO, 2001). Registros de germinação in situ na natureza (ARAÚJO, 2005;
CARNEIRO 2011) e em cultivos no mar (CARNEIRO 2011) também foram
observados para essa espécie.
Durante o período fértil, as algas desviam uma quantidade significativa de energia para
produção de células germinativas, e consequentemente, reduzem a sua taxa de
crescimento. Além disso, a abertura do tecido, utilizada para o desprendimento dos
esporos, fica mais suscetível a contaminação/necrose. Dessa forma, o talo entra no
processo de senescência, com redução de biomassa e crescimento.

Conclusão

Diante os resultados obtidos, os tratamentos que mais apresentaram vantagens


fisiológicas sob as condições de cultivo testadas, foram os tratamentos com densidades
de 2g/L e 5g/L. Portanto, considerando que o volume final de biomassa alcançado é
superior utilizando maiores densidades, podemos concluir que a forma mais eficiente
para obter maior produtividade são os cultivos das algas em 5g/L. Além disso, é de
extrema importância a recomendação do ajuste constante no volume de água ao longo
das semanas, permitindo que ocorra a manutenção da densidade algal dentro dos
recipientes. Para resultados mais satisfatórios, é necessário o aprimoramento de técnicas
de cultivo voltadas para a redução dos eventos de germinação in situ, visando dessa
forma, um aumento no tempo de cultivo. Os resultados desses estudos podem auxiliar
muitas famílias que utilizam o método de propagação vegetativa como forma de cultivo,

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contribuindo para manutenção dos recursos na natureza, e permitindo a continuidade


dessa atividade econômica de forte impacto social nas comunidades costeiras.

Referências

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Rhodophyta) na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape,
Paraíba, Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em
Oceanografia, Recife, 95 p. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco.
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BEZERRA, Antonino de Freitas. Cultivo de algas marinhas como desenvolvimento
de comunidades costeiras. 2008. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do
Rio Grande do Norte.
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do Nordeste.Série Ciência & Tecnologia, 1982.
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seleção de linhagens em cultivos no mar de Gracilaria birdiae (Rhodophyta,
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FERNANDES, Felipe de Oliveira et al. Effect of fertilization pulses on the production
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Applied Phycology, v. 29, n. 2 p. 695-705, 2017.
FERREIRA, Ana Beatriz Gomes et al. Evaluation of ecosystem services provided by
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n. 6, p. 499-511, 2021.

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eCICT 2023

HOLANDA, Ticiana de Brito Lima. Obtenção de biomassa da macroalga agarófita


Gracilaria birdiae (Plastino & Oliveira) através da germinação de esporos em
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Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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birdiae no desenvolvimento de produtos alimentícios. 2015. 124 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade Federal Rural
do Semiárido, Mossoró.

Anexos

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Figura 1:(A) Banco de algas da praia de Mãe Luiza, RN;(B) Padronização dos fragmentos
propagativos;(C) Distribuição dos recipientes de cultivo utilizados no experimento;(D)
Acompanhamento do desenvolvimento das plântulas e limpeza das algas
semanalmente.

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Figura 2: Valores médios de biomassa (A) e taxas de crescimento (B) para os três
tratamentos testados (2 g/L, 5 g/L e 10 g/L).

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Tabela 1. Sumário dos resultados das análises descritivas (mínimo, máximo e


média±desvio padrão) e ANOVA para o ganho de peso (%), biomassa (g) e TCR (%.d-1)
de G. birdiae, nos diferentes tratamentos (2 g/L, 5 g/L e 10 g/L).

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CÓDIGO: SB0154

AUTOR: LETICIA MARQUES GOMES DA SILVA

ORIENTADOR: JULLIANE TAMARA ARAUJO DE MELO CAMPOS

TÍTULO: Análise Molecular e de Bioinformática das Variantes Patogênicas


relacionadas à Lipodistrofia Congênita do tipo 1

Resumo

O tecido adiposo é um tecido conjuntivo cuja função ultrapassa o papel de


fornecimento energético do corpo, atuando também na secreção de adipocinas,
proteínas importantes para a regulação de apetite e balanço energético, imunidade,
sensibilidade à insulina, angiogênese, inflamação e resposta de fase aguda, pressão
sanguínea e metabolismo de lipídeos. Dentre essas proteínas destaca-se, atualmente,
a adiponectina, visto que possui funções antioxidantes, anti-inflamatórias,
cardioprotetoras, anti-apoptóticas e anti-diabéticas. À vista disso, é importante
ressaltar que existe um grupo de doenças que tem o tecido adiposo como alvo: as
lipodistrofias. Em ênfase, as Lipodistrofias Generalizadas Congênitas (LGCs) são
doenças autossômicas recessivas de alta prevalência no Nordeste do Brasil. A LGC
pode se manifestar em 4 formas diferentes, sendo a primeira delas advinda de
mutações no gene AGPAT2, o qual codifica a proteína 1-AGPAT 2, que participa da via
de formação de triacilgliceróis. Nesse contexto, foi observado que pacientes
acometidos com LGC do tipo 1 possuem disfunções no tecido adiposo, além de
redução na expressão do hormônio adiponectina mais acentuada do que nas pessoas
com LGC do tipo 2. O presente trabalho objetiva realizar análises das variantes
patogênicas da LCG do tipo 1, como estratégia para melhor compreender como elas
interferem nas características fenotípicas, clínicas e metabólicas do paciente com LGC
do tipo 1, além de investigar sua relação com adiponectina.

Palavras-chave: Adiponectina, AGPAT2, 1-AGPAT 2, LGC do tipo 1

TITLE: Molecular and Bioinformatics Analysis of Pathogenic Variants related to


Type 1 Congenital Lipodystrophy

Abstract

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The adipose tissue is a connective tissue whose function goes beyond the role of
energy supply of the body, also acting in the deficiency of adipokines, proteins
important for the regulation of appetite and energy balance, immunity, insulin
sensitivity, angiogenesis, inflammation and acute phase response, blood pressure and
lipid metabolism. Currently, adiponectin stands out among these proteins, since it has
antioxidant, anti-inflammatory, cardioprotective, anti-apoptotic and anti-diabetic
functions. In view of this, it is important to emphasize that there is a group of diseases
that target adipose tissue: lipodystrophies. In emphasis, Congenital Generalized
Lipodystrophies (CGLs) are autosomal recessive diseases with high prevalence in
Northeast Brazil. CGL can manifest itself in 4 different ways, the first of which comes
from mutations in the AGPAT2 gene, which encodes the 1-AGPAT 2 protein, which
participates in the triacylglycerol formation pathway. In this context, it was observed
that patients with type 1 CGL have dysfunctions in the adipose tissue, in addition to a
more pronounced reduction in the expression of the hormone adiponectin than in
people with type 2 CGL. of bioinformatics of pathogenic variants of type 1 CGL, as a
strategy to better understand how they interfere in the phenotypic, clinical and
metabolic characteristics of patients with type 1 CGL, in addition to investigating the
relationship between these pathogenic variants and adiponectin levels.

Keywords: Adiponectin, AGPAT2, 1-AGPAT 2, CGL type 1

Introdução

Sabe-se que o tecido adiposo é frequentemente conhecido como uma estrutura capaz
de ser um reservatório energético. Entretanto, outras funções foram atribuídas a esse
tecido. Umas delas é a produção das adipocinas, substâncias significativas para o bom
funcionamento endócrino do organismo. Atualmente, as adipocinas são amplamente
estudadas e, além de possuir funções de manutenção da homeostase do tecido
adiposo, outras aplicabilidades estão sendo descobertas para essas substâncias. Nesse
sentido, destacam-se a leptina, caracterizada por fornecer a sensação de saciedade e
que tem aparentado estar envolvida na regulação das funções reprodutivas, e a
adiponectina (APN), hormônio cujas funções são associadas à proteção contra doenças
cardiovasculares, aumento da sensibilidade do organismo à insulina e atuação na
atividade antioxidante, anti-inflamatória, antidiabética e anti-apoptótica(LAU;
MUNIANDY, 2011).
Nesse contexto, uma doença de caráter autossômico recessivo estritamente
relacionada ao tecido adiposo é a Lipodistrofia Generalizada Congênita (LGC).
Primeiramente, descrita por Waldemar Berardinelli, em 1954, e, em seguida, por
Martin Seip, em 1959, a LGC é uma doença mundialmente rara, sendo descrito 1 caso
a cada 1 milhão de nascimentos, podendo ainda ser caracterizada como super rara,

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além de apresentar um elevado índice de subnotificação(GARG, 2004). Entretanto, no


Nordeste do Brasil, nosso grupo de pesquisa revelou que existe uma alta prevalência
da LGC no estado do Rio Grande do Norte, com cerca de 32 casos para cada 1 milhão
de habitantes(DE AZEVEDO MEDEIROS et al., 2017).
Molecularmente, a LGC possui 4 diferentes etiologias: O tipo 1 é caracterizado por
mutações no gene AGPAT2, localizado no braço longo do cromossomo 9, na posição na
região 3, banda 3 e sub-banda 3 (9q34.3) e possui 6 éxons e menos de 20 kb. Esse gene
codifica para a proteína 1-AGPAT 2, com 278 aminoácidos. A proteína encontra-se no
Retículo Endoplasmático (RE), principalmente nas células do fígado, pâncreas, intestino
delgado e tecido adiposo, contendo importância na diferenciação dos pré-adipócitos e
acúmulo de triacilgliceróis em adipócitos maduros(GALE et al., 2006). Não obstante, a
1-AGPAT 2 participa da via de produção de triacilgliceróis, agindo na conversão de
ácido lisofosfatídico para ácido fosfatídico(GARG; AGARWAL, 2009).
Sendo assim, concomitante com as pesquisas supracitadas, as lipodistrofias descritas
são patologias que se configuram por deficiência na quantidade de tecido adiposo e de
seus metabólitos, dentre eles as adipocinas. De modo geral, as manifestações clínicas
dos portadores dessas doenças podem ser identificadas pela perda do tecido adiposo,
normalmente tendo como consequência o aparecimento de diabetes mellitus,
acantose nigricans, esteatose hepática (pode ser agravada pela deposição de lipídeos
ectópicos em tecidos não adiposos) e dislipidemia(GARG, 2004).
Como já mencionado, alguns estudos evidenciaram que a adiponectina atua como
fator protetor ao estresse oxidativo. Agregando a isso, um trabalho constatou que a
adiponectina total e a de alto peso molecular estavam mais baixas em pacientes com
Lipodistrofia Congênita Generalizada tipo 1 em comparação aos do tipo 2 (ANTUNA-
PUENTE et al., 2010). Nesse viés, correlacionando os aspectos clínicos dos pacientes
detentores da doença, seria notório expectar que indivíduos com LGC do tipo 1, que
possuem menos adiponectina como fator protetor ao dano oxidativo, tivesse um maior
desequilíbrio redox e, consequentemente. maior dano oxidativo quando comparados
aos pacientes do tipo 2. Ademais, sabe-se que quando há um maior estresse oxidativo,
esses pacientes teriam maiores chances de contraírem lesões no DNA, maior ativação
das vias de reparo. Apesar disso, essa correlação não é associada à clínica, uma vez
que a LGC do tipo 2 é qualificada como a mais severa, sendo possível deduzir que haja
algum possível mecanismo compensatório nos pacientes do tipo 1.

Metodologia

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Pesquisa bibliográfica utilizando ClinVar para verificar quais eram as variantes


patogênicas mais relevantes e descritas atualmente, bem como as diretamente
relacionadas com Lipodistrofia Generalizada Congênita do Tipo 1.
Análise molecular utilizando, como base, o banco de dados do NCBI, CCDS database,
obtendo a sequência de 837 nucleotídeos que codificam AGPAT2, bem como a
sequência de 278 aminoácidos que constituem a proteína normal 1- AGPAT 2. Essa
análise constitui-se em identificar a localização da mutação, transcrevê-la utilizando a
sequência de nucleotídeos descrita anteriormente no software Expasy Translate Tool
para tradução da proteína resultante.
As dosagens de adiponectina humana, realizadas por Maria Eduarda Cardoso de Melo,
foram feitas através do método ELISA, com 96 testes, pelo kit Human Adiponectin
ELISA , com todas as amostras postas em duplicata, 2 controles normais e 3 controles
heterozigotos, lidos por espectrofotômetro leitor de placas de microtitulação (em ou
próximo de 450 nm) com software.

Resultados e Discussões

Dos 71 resultados considerados patogênicos de AGPAT2 encontrados no banco de


dados ClinVar, a LGC1 foi causada somente por AGPAT2 em 21 casos. Dentre elas, as
mutações c.646 A>T; c.589-2A>G e c.366_588+534del foram analisadas.
A mutação c.646 A>T(AKINCI et al., 2016), mudança de adenina para timina na posição
646, gera a proteína mutada p.Lys216*, menor, em que ocorre a substituição de lys216
da proteína por um códon de parada e interrompe a tradução. Na variante patogênica
589-2A>G(AGARWAL et al., 2002), há a mudança de adenina por guanina na região
aceptora 2 o intron 4, gerando uma proteína p.Val197Alafs*19, que configura um
códon de parada e promove uma proteína menor.
A c.366_588+534del(GOMES et al., 2004) caracteriza-se por uma deleção de 1037
pares de base (pb).Os pacientes detentores da mutação c.646 A>T apresentaram
diabetes mellitus tipo 2, enzimas hepáticas elevadas e ausência generalizada de tecido
adiposo, enquanto os pacientes com 589-2A>G evidenciaram sintomas como
acentuada escassez de tecido adiposo, extrema resistência à insulina,
hipertrigliceridemia, esteatose hepática e diabetes mellitus tipo 2. Os indivíduos com
c.366_588+534del Todos os indivíduos afetados apresentavam ausência generalizada
de tecido adiposo, diabetes mellitus tipo 2 com acentuada resistência à insulina e
hipertrigliceridemia.

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A dosagem de adiponectina por método ELISA revelou que todos os pacientes com as
mutações surpracitadas têm níveis dessa adipocina abaixo do normal(4 a maior do que
15µg/mL): 0,7µg/mL(c.646 A>T),0,5µg/mL(589-2A>G) e 0,6µg/mL (c.366_588+534del).
Tendo em vista as funções da adiponectina, é possível inferir que sua deficiência pode
estar relacionada ao aparecimento de algumas características clínicas nos pacientes
acometidos.

Conclusão

Sob análise do banco de dados ClinVar, 21 variantes patogênicas de AGPAT2 estão


pontualmente relacionadas com LGC1 na literatura já divulgada internacionalmente,
bem como alguns estudos quanto às alterações na proteína 1 -AGPAT 2. À vista disso,
foi possível observar a existência de uma diversidade significativa de apresentações
clínicas da Lipodistrofia Generalizada do tipo 1, dado que tanto as alterações em 1 -
AGPAT 2 quanto na adiponectina aparentam estar interligados a certas características
metabólicas, clínicas e determinados fenótipos.
As informações obtidas através de análises de bioinformática no Expasy Translate Tool
evidenciaram compatibilidade com o que já foi descrito na leitura em relação à
sequência de aminoácidos da proteína, reforçando as características prejudiciais de
cada mutação. Dito isso, mais análises são necessárias para caracterizar, de forma
correta, a relação dos sintomas da LGC1 com regiões afetadas da proteína originada de
cada variante patogênica de AGPAT2 relacionada à Lipodistrofia Generalizada
Congênita do Tipo 1.

Referências

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CÓDIGO: SB0158

AUTOR: MARIALUYSA DE ARAUJO SOARES

COAUTOR: MIRIA MARIA ANJO DA SILVA

ORIENTADOR: SUSANA MARGARIDA GOMES MOREIRA

TÍTULO: Avaliação da mutagenicidade de microesferas de hidroxiapatita


nanoestruturada pelo teste de reversão da Salmonella Typhimurium

Resumo

A medicina moderna enfrenta desafios complexos no tratamento de lesões que


resultam em perdas críticas de massa óssea, originadas por doenças degenerativas,
infecções, traumas ou tumores. Para superar as limitações das técnicas tradicionais,
como os transplantes autólogos, a hidroxiapatita (HA), uma biocerâmica com
propriedades osteoindutoras e osteocondutoras, tem sido muito explorada. O Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Regenerativa (REGENERA) desenvolve
microesferas de HA nanoestruturada, com substituições iônicas, visando otimizar seu
uso clínico. Foram utilizadas HA produzidas a 90 °C, e modificadas com íons Zinco,
Carbonato, Estrôncio e Fluoreto. A avaliação de mutagenicidade, conforme exigido
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), foi
realizada usando o teste de reversão em Salmonella typhimurium, com as cepas TA100
e TA98. Os resultados demonstraram ausência de mutagenicidade nas microesferas,
tanto nas cepas TA100 quanto TA98, incluindo nos testes onde foi usada a ativação
metabólica com a fração S9. A razão de mutagenicidade (RM) foi menor do que 2,
indicando que as microesferas de HA nanoestruturada não apresentam potencial
mutagênico nas condições avaliadas

Palavras-chave: Teste de Ames. Genotoxicidade. Biomateriais. Osteoindução

TITLE: Evaluation of the mutagenicity of microspheres of nanostructured


hydroxyapatite by the reversion test of Salmonella Typhimurium.

Abstract

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Modern medicine faces complex challenges in the treatment of injuries that result in
critical loss of bone mass, caused by degenerative diseases, infections, traumas or
tumors. To overcome the limitations of traditional techniques, such as autologous
transplants, the hydroxyapatite (HA), a bioceramic with osteoinductive and
osteoconductive properties, has been widely explored. The National Institute of
Science and Technology in Regenerative Medicine (REGENERA) develops microspheres
of nanostructured HA, with ionic substitutions, aiming to optimize their clinical use. HA
produced at 90 °C and modified with Zinc, Carbonate, Strontium and Fluoride ions,
were used. The mutagenicity assessment, as required by the Organization for
Economic Co-operation and Development (OECD), was performed using the reversion
test of Salmonella typhimurium, using the strains TA100 and TA98. The results
demonstrated the absence of mutagenicity in the microspheres, in the both strains,
including the tests where metabolic activation with the S9 fraction was used. The
mutagenicity ratio (RM) was less than 2, indicating that the microspheres of
nanostructured HA do not have mutagenic potential under the evaluated conditions.

Keywords: Ames test. Genotoxicity. Biomaterials. osteoinduction

Introdução

O tecido ósseo constitui um tipo especializado de tecido conjuntivo, composto por


diversas células, incluindo osteoclastos e osteoblastos, e uma matriz extracelular
(MEC) que possui características distintas (LOPES et al., 2018). Essa matriz pode ser
identificada por seus componentes orgânicos, como o colágeno, bem como por
elementos inorgânicos que compõem a estrutura óssea. O osso, além de suas funções
de proteção de órgãos internos e sustentação estrutural, desempenha um papel
biomecânico crucial em conjunto com os músculos, garantindo resistência física
(ALMEIDA et al., 2020). Embora o osso seja capaz de remodelação contínua em
resposta a estímulos mecânicos, danos mais graves, com perda de massa óssea
significativa, causados por doenças degenerativas, infecções, traumas ou tumores
podem comprometer essa capacidade de auto regeneração e resultar em danos
irreparáveis aos pacientes (ALMEIDA et al., 2020; LUO et al., 2018). Nestes casos, a
abordagem atualmente usada pela medicina como o método padrão para tratar esses
tipos de danos são os transplantes autólogos. Contudo, esses procedimentos
enfrentam desafios, como a disponibilidade limitada de material doador e
complicações pós-cirúrgicas, como dores crônicas (GARBO et al., 2020). Nesse
contexto, a pesquisa busca por estratégias que promovam a capacidade regenerativa
do tecido ósseo, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes (BATTAFARANO
et al., 2021). A hidroxiapatita (HA) é um biomaterial cerâmico, com aplicações

394
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eCICT 2023

biomédicas, devido à sua presença na estrutura óssea (COELHO et al., 2019). A HA


também pode ser sintetizada com similaridade estrutural à matriz extracelular óssea
(REY et al., 2009). Além de promover osteocondução, osteointegração e estabilidade
físico-química, a HA possui benefícios quando nanoestruturada e associada a íons
como carbonato (CO32-), Zinco (Zn2+), Fluoreto (F-) e estrôncio (Sr2+), resultando em
melhor performance, cristalinidade e porosidade (KAVIYA et al., 2021; SISWANTO
SISWANTO et al., 2020). Neste sentido, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em
Medicina Regenerativa (REGENERA) desenvolveu diferentes micropartículas à base de
HA nanoestruturada, contendo CO32- (CHA), Zn2+ (ZnHA), Sr2+ (SrHA) e F- (HAF). Além
da substituição com diferentes íons, também foram usadas diferentes condições de
sínteses, incluindo temperaturas 5ºC, 37ºC e 90ºC (DOS ANJOS et al., 2019; FOOK;
APARECIDA, A.H.II; FOOK, [s.d.]; GARBO et al., 2020). Neste estudo, micropartículas à
base de HA substituídas com íons e produzidas a 90 ºC foram investigadas. Em
pesquisas anteriores foi visto que a HA oferece suplementação iônica vantajosa
(ZHONG et al., 2021). Porém, para introduzi-la no mercado, testes regulados por
instituições como OECD e ANVISA, que avaliem sua segurança biológica e alterações
estruturais são cruciais. Testes de genotoxicidade e mutagenicidade, como o ensaio de
mutação reversa em bactérias, constam na lista de ensaios recomendados pelas
agências reguladoras (KUMARAVEL et al., 2022).O teste de reversão em Salmonella
typhimurium, permite avaliar mutações genéticas após exposição a substâncias
mutagênicas (AMES et al., 1972). E este estudo visou avaliar a mutagenicidade das
diferentes microesferas de HA produzidas a 90ºC, usando as cepas de S. typhimurium
TA98 e TA100, na presença e na ausência de ativação metabólica (fração S9). A fração
S9 é constituída de extratos hepáticos de camundongo que simulam a ação do
citocromo P450. A avaliação do potencial carcinogênico dos produtos de
metabolização dos materiais é de grande importância porque permite analisar o
potencial pró-mutagênico de um material e evitar possíveis danos irreversíveis à saúde
(BARROS; OLIVEIRA; MORAIS, 2022). A escolha das cepas TA100 e TA98 foi
determinada a partir dos mecanismos de indutores de mutação que podem ser
identificados a partir de cada cepa (MORTELMANS; ZEIGER, 2000).

Metodologia

PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS


Todos os procedimentos foram realizados em condições de esterilidade e de acordo
com as normas da OECD e ISO (OECD, 2016; ISO 10993-12). As microesferas de
hidroxiapatita foram pesadas e colocadas em meio de cultura Dulbecco’s Modified
Eagle’s Medium (DMEM) na proporção 100 mg de microesferas para 1 mL de meio.

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Após 24 h de incubação, a 37° C, com agitação de 14000 rpm as amostras foram


centrifugadas, por 10 min, e o sobrenadante foi retirado para ser usado nos
experimentos (método do teste de contato indireto).
Os procedimentos anteriores foram realizados em condições de esterilidade, na cabine
de fluxo laminar, além de estarem de acordo com os protocolos dispostos pela OECD e
ISO (OECD GUIDELINE FOR TESTING OF CHEMICALS BACTERIAL REVERSE MUTATION
TEST, 1997; ISO 10993-12). As amostras foram nomeadas como CHA, ZnHA, HAF e
SrHA, de acordo com os respectivos íons presentes em suas composições - carbonato
(CO32-), zinco (Zn2+), Fluoreto (F- ) e estrôncio (Sr2+), respetivamente.
TESTE DE REVERSÃO EM SALMONELLA TYPHIMURIUM NA AUSÊNCIA OU PRESENÇA DE
ATIVADOR METABÓLICO
O método usado foi uma adaptação do teste original desenvolvido por AMES (1972),
que permite fazer o ensaio usando volumes menores. Assim, foi seguido o
procedimento proposto por KADO et al. (1983) com algumas modificações. Este ensaio
foi realizado em microssuspensão, na presença e ausência de mistura S9 (Moltox TM,
Carolina do Norte, EUA), utilizando a amostra preparada a partir das microesferas à
base de HA (Figura 1). Como controle negativo (NC) foi usada água destilada
autoclavada e como controles positivos (PC) foram utilizados: 0,5 g/placa 4NQO (4-
nitroquinolina-óxido) para a TA98; 5,0 g/placa de azida sódica para a estirpe TA100.
Resumidamente, 102 µL de uma mistura contendo a amostra e suspensão de células
(109 células/mL) foi incubada a 37° C, durante 90 min. Em seguida, foram adicionados
2 mL de Top agar fundido (0,6% de bacto-agar e NaCl a 0,5%), antes do plaqueamento
numa placa de Petri contendo meio mínimo agar (1.5% agar, Vogel Bonner E medium).
As colônias His+ revertentes foram contadas após 48 h de incubação, a 37º C. Todos os
ensaios foram repetidos pelo menos três vezes e em triplicata. A mutagenicidade dos
extratos preparados a partir das microesferas de HA foi avaliada seguindo a razão de
mutagenicidade determinada pelo protocolo: o número máximo de revertentes na
presença das amostras deve ser no mínimo 2 vezes superior ao número de revertentes
no controle negativo (Mortelmans e Zeiger, 2000).
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Todos os bioensaios apresentados foram realizados em triplicata técnica e biológica.
Os dados foram tabulados e os valores expressos a partir da média ± desvio padrão. A
análise da variância foi desenvolvida pelo teste estatístico two-way ANOVA, utilizando
o GraphPad Prism® versão 8.0.1 (GraphPad Software, San Diego, CA, EUA), com o pós-
teste de Turkey. A significância estatística considerada p<0,05.

Resultados e Discussões

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Foram utilizadas as cepas de S. typhimurium TA98 e TA100, na presença e ausência de


ativação metabólica (Fração S9). Ao final do tratamento e incubação, as colônias
revertentes - espontâneas e/ou induzidas - foram contabilizadas (Figura 2).
Como mostrado na Tabela 1, os tratamentos na cepa TA98 - que identifica
deslocamento no quadro de leitura - na ausência da fração S9, não apresentaram um
RM ≥ 2, indicando um resultado negativo para mutagenicidade. O mesmo foi
observado com a cepa TA98 na presença da Fração S9, que por sua vez, obteve um RM
inferior a 2.
Em relação à cepa TA100, nos testes com e sem Fração S9, observamos um aumento
do RM em comparação com os testes realizados com a cepa anterior. No entanto, o
RM permanece menor que 2, o que determina um resultado negativo para
mutagenicidade (Tabela 2).
Os controles apresentaram um aumento quanto ao número dos revertentes
espontâneos, o que é uma variação comum a cada laboratório (MORTELMANS;
ZEIGER, 2000). No entanto, todos os extratos ainda apresentaram um RM menor que
2. Pode-se observar também que há significância estatística, considerando valor de
p<0,0001, apenas para o controle positivo em relação ao controle negativo. Não sendo
observadas diferenças estatísticas entre o controle negativo e os tratamentos com as
amostras.
O ensaio de reversão da Salmonella é eficaz, rápido e deve ser complementado com
outros testes, como o ensaio de micronúcleo (DU et al., 2019).No entanto, com RM
menor que 2, os resultados sugerem que as amostras não induzem mutações. Estudos
em animais e nanohidroxiapatitas também mostram baixa genotoxicidade
(YAMAMURA et al., 2018; KAVASI et al., 2021). Contudo, estudos específicos de
mutagenicidade e genotoxicidade para microesferas de HA nanoestruturada com
substituições iônicas são escassos e necessários para avaliar a biocompatibilidade
desses biomateriais. Ensaios diretos também são recomendados para uma
compreensão abrangente dos efeitos, pois o teste de reversão em Salmonella, por ser
um sistema bacteriano, ainda possui algumas limitações, como a impossibilidade de
realizar endocitose, além da dificuldade de identificar a metabolização dos fármacos
de forma direta, sendo necessária a adição da fração S9 para fazer uma análise indireta
(AMES, 1972). Além disso, é recomendado incluir caracterização química dos extratos
(SEYEDMAJIDI et al., 2018).

Conclusão

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Os testes conduzidos utilizando as cepas bacterianas TA98 e TA100, tanto na presença


quanto na ausência da ativação metabólica, indicaram resultados negativos para
mutagenicidade. Isso se deve ao fato de que o valor da Razão de Mutagenicidade (RM)
em todas as amostras foi inferior a dois.
Ademais, é sugerido que esses resultados possam ser complementados por outras
avaliações genotóxicas e mutagênicas, incluindo testes com sistemas eucarióticos,
como o ensaio cometa e o CBMN, a fim de atender às diretrizes da OECD. Além disso, é
importante considerar a realização de ensaios utilizando o método direto para uma
avaliação mais abrangente do potencial genotóxico desses materiais.

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400
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eCICT 2023

Anexos

Figura 1. Representação esquemática do procedimento realizado no teste de reversão


em Salmonella

Figura 2. Imagem representativa dos resultados de reversão bacteriana. Placas


relativas às bactérias expostas ao extrato ZnHA (A), DMEM (B) e H2O (C).

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Tabela 1. Resultados da análise de mutagenicidade expressa pela média ± desvio


padrão das colónias de revertentes por placa na linhagem TA98 de S. typhimurium,
com e sem tratamento das amostras com fração S9.

402
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eCICT 2023

Tabela 2. Resultados da análise de mutagenicidade expressa pela média ± desvio


padrão das colônias e RM do número de revertentes, por placa, na linhagem TA100 de
S. typhimurium com e sem tratamento das amostras com fração S9.

403
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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0167

AUTOR: RICARDO GABRIEL DE LIMA BISNETO

COAUTOR: RUANN RAMIRES NUNES PAIVA

ORIENTADOR: VIVIANE SOUZA DO AMARAL

TÍTULO: AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA RADIAÇÃO NATURAL EM


MICRORREGIÕES POTIGUARES: O CASO DO MUNICÍPIO DE LAJES
PINTADAS, RN-BRASIL

Resumo

A radioatividade é conhecida como uma das principais causas de cânceres,


com destaque ao pulmonar, no mundo, e mesmo sendo um objeto de estudo
há muito tempo, a exposição a esse fenômeno ainda é uma grande
preocupação global. Existem diversos tipos de radiação, uma delas é a
radiação ionizante, que tem poder penetrante, variando de acordo com a
quantidade de energia emitida pelas partículas. Esse tipo de radiação pode
ser originada de diversas fontes, sendo uma das principais o decaimento de
elementos químicos, como o Urânio, presente em diversos tipos de rocha.
Um dos casos mais conhecidos de decaimento de Urânio é o do município
de Lajes Pintadas, no interior do RN - Brasil, onde é relatado a presença de
altas concentrações de Radônio - um dos elementos de decaimento do
Urânio - no ambiente. Dessa forma, o estudo busca analisar os impactos
dessa exposição ao radônio, avaliando a relação entre possíveis cenários
genéticos clínicos e o polimorfismo dos genes GSTT1 e GSTM1, que estão
associados a tradução de enzimas relacionadas no desintoxicação do
organismo frente a presença de xenobióticos.

Palavras-chave: Polimorfismo, Radônio, Câncer de Pulmão, GSTT1, GSTM1

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TITLE: EVALUATION OF THE EFFECTS OF NATURAL RADIATION IN


POTIGUARIAN MICRO-REGIONS: THE CASE OF LAJES PINTADAS, RN-
BRAZIL

Abstract

The radioactivity is known as one of the main causes of cancer, with


emphasis on lung cancer, in the world, and even being a research focus for
a long time, the exposure to this phenomenon still remains as a great global
concern. There are different kinds of radiation, one being ionizing
radiation, which has penetrating potential, that varies depending on the
amount of energy emitted by the particles. This type of radiation originates
from several sources, one of them being the decay of chemical elements,
like Uranium, present in several types of rocks. One of the most known
cases is the Uranium decay in Lajes Pintadas, located in the state of Rio
Grande do Norte - Brasil, where high concentrations of Radon - an element
of Uranium decay - were assessed in the environment. Therefore, this
research seek to analyze the consequences of Radon exposure, measuring
the correlation between possible clinical-genetic scenarios and
polymorphism in GSTT1 and GSTM1 genes, which are associated with
translation of enzymes that participate in organism detoxification in the
presence of xenobiotics.

Keywords: Polymorphism, Radon, Lung Cancer, GSTT1, GSTM1

Introdução

A radiação é um fenômeno que pode ser originado tanto de fontes naturais


quanto de fontes artificiais, mas todas baseadas num mesmo princípio, a
busca por estabilidade dos elementos químicos (ASSOCIATION, W. N,
2016). As radiações podem ser classificadas em ionizantes (quando há
fluxo de partículas ou fótons que podem ionizar átomos dos materiais por
onde passam) ou não ionizantes (quando o fluxo não possui capacidade de
ionização). A radiação ionizante constitui um conceito de elevada
preocupação global por estar muito presente no ambiente e ser capaz de

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eCICT 2023

causar efeitos danosos a nível celular e genômico, sendo, por isso, um


importante foco de estudos ao redor do mundo (WHO, 2009). Uma das
fontes naturais de radiação ionizante é o decaimento do Urânio, um
elemento químico que está presente na estrutura de muitas rochas, e que
durante seu decaimento, tem como intermediário o Radônio. O Radônio é
um elemento químico, faz parte dos gases nobres, é incolor, inodoro e
insípido, logo, passa despercebido pelo ambiente, e o mais importante, ele é
um elemento instável que libera partículas alfa (OLIVEIRA, Richelly,
2022). Assim, o Radônio constitui uma fonte de preocupação quando
inalado, já que a liberação das partículas alfas causam danos celulares e a
nível genômico, contribuindo para o desenvolvimento de cânceres, quando
indivíduos são expostos cronicamente, e outras doenças, principalmente,
mas não exclusivamente, relacionadas ao sistema respiratório, como as
doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOCs).
Tendo em vista essa questão, é importante obter informações de regiões
que estão sujeitas a exposição ao Radônio, para que se tomem medidas
profiláticas. Ao redor do mundo, existem diversas regiões onde o Radônio
constitui uma fonte de preocupação iminente, nos países desenvolvidos, há
uma série de medidas tomadas em regiões de possível exposição ao
Radônio, ajudando na prevenção de doenças, entretanto, em países não
desenvolvidos e em desenvolvimento, o Radônio ainda é tratado com
negligência e como um risco emergente para a população, incluindo no
Brasil. No país, que possui uma das maiores reservas de urânio mundiais,
foi observado no semiárido, e mais especificamente, no estado do Rio
Grande do Norte, uma província geológica chamada de pegmatítica da
Borborema (PPB), que possui uma grande quantidade de minerais
compostos pelo Urânio, e por isso, a região apresenta altos índices
radioativos (OLIVEIRA, Richelly, 2022). É justamente nessa região onde
se localiza o município de Lajes Pintadas, no qual foi avaliado um alto
índice de radioatividade natural, advindo principalmente do gás Radônio,
fazendo com que ele se tornasse alvo de estudos referentes aos efeitos da
exposição contínua a esse gás radioativo. Uma das principais formas de
avaliar esses efeitos é a avaliação de genes envolvidos na proteção contra
xenobióticos, o que inclui os genes GSTT1 e GSTM1, que estão
relacionados a produção de enzimas do grupo das Glutationas S-
transferases são muito estudadas na área da Oncogênese. Esses dois genes

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eCICT 2023

são conhecidos por apresentarem uma alta taxa de polimorfismos, logo, o


estudo busca avaliar as consequências da exposição crônica ao Radônio
associada aos diferentes desfechos genéticos possíveis frente aos
polimorfismos nesses genes e a relação dessas condições com o
desenvolvimento de câncer.

Metodologia

O presente estudo foi realizado com fundamentação em três etapas


distintas. A primeira etapa consistiu no embasamento teórico com
referencial bibliográfico para a realização da pesquisa, fazendo associação
entre o conteúdo de livros, artigos científicos e outros tipos de fontes na
área da comunicação científicas, que tratassem da radiação ionizante, um
tópico estudado a mais tempo, os polimorfismos, um assunto mais recente e
a correlação entre esses fenômenos, para, a partir desse levantamento,
entender como a radiação afeta o nosso organismo e como os
polimorfismos afetam esse fenômeno levando a diferentes desfechos frente
a exposição crônica.
Posteriormente, na segunda etapa, foram definidas as técnicas de Biologia
Molecular para o estudo dos indivíduos da cidade de Lajes Pintadas. As
técnicas utilizadas foram a PCR (Polymerase Chain Reaction), que permite
a amplificação das amostras de DNA coletadas dos indivíduos do
município a partir de amostras sanguíneas, reconstruindo os genes GSTT1
e GSTM1 a partir de seus primers específicos, e a Eletroforese em Gel, que
permite a visualização das bandas de DNA, indicando se aquele indivíduo
era positivo ou não para o polimorfismo. Os indivíduos foram classificados
em ativos (caso o gene estivesse ativo, ou seja, desmetilado) ou nulos (caso
o gene estivesse desativado, ou seja, metilado). Ambos os protocolos foram
realizados com base nos estudos de LORENZ, 2012. Para a coleta das
amostras, os participantes da pesquisa se locomoveram até o município de
Lajes Pintadas, onde coletaram o sangue dos indivíduos, com kits contendo
tubos coletores e agulhas. Essas amostras foram transportadas até o
Laboratório de Genética Toxicológica, localizado no Centro de
Biociências, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do

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Norte. Essas amostras foram processadas aos poucos, havendo a extração


do DNA e, posteriormente, a realização das técnicas de biologia molecular.
Por fim, após a coleta dos dados dos indivíduos, a terceira etapa foi
realizada, consistindo nas análises estatísticas, utilizando o software
JAMOVI com auxílio da Linguagem R de programação, para obter uma
visão mais analítica do fenômeno analisado.

Resultados e Discussões

As análises de biologia molecular demonstraram que o grupo controle (n =


92), de amostras coletadas em Natal (área de baixa exposição), possuía
28,3% dos indivíduos com genótipo GSTT1 nulo e 58,7% dos indivíduos
com genótipo GSTM1 nulo, enquanto para o grupo teste (n = 313), de
amostras coletadas em Lajes Pintadas (área de alta exposição), 36,7% dos
indivíduos demonstraram genótipo GSTT1 nulo e 65,8% dos indivíduos
demonstraram genótipo GSTM1 nulo. A partir deste comparativo, foi
possível observar que os indivíduos do grupo teste apresentaram uma taxa
de genótipo, tanto para GSTT1 nulo quanto para GSTM1 nulo, maiores que
o grupo controle. Além disso, a partir da bibliografia revisada, também
foram coletados dados relativos às taxas de genótipo GSTT1 nulo e
GSTM1 nulo de um grupo controle comparativo de literatura, em que o
resultado para GSTT1 nulo apresenta uma porcentagem maior para o grupo
controle (44%) em relação ao grupo teste (36,7%), enquanto o resultado
para GSTM1 nulo apresenta uma porcentagem maior para o grupo teste
(65,8%) em relação ao grupo controle (23,1%), corroborando para o que foi
visto na comparação entre os grupos controle e teste da pesquisa realizada.
A partir desses dados, é possível interpretar algumas questões referentes à
exposição crônica ao Radônio observada nos indivíduos do município de
Lajes Pintadas. Percebe-se, principalmente, uma maior taxa de genótipos
nulos para os genes alvo da pesquisa no grupo teste, evidenciando a
capacidade da radiação ionizante emitida pelo radônio, por meio das
partículas alfa, de alterar o genoma dos indivíduos. A grande questão seria:
"Qual o efeito desse genótipo nulo no risco para o desenvolvimento de
câncer?", outros estudos realizados que também investigam a relação do

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eCICT 2023

genótipo nulo com o aumento do risco de suscetibilidade ao


desenvolvimento de doenças, incluindo o câncer, mostra um resultado
contrário do esperado, já que a expressão "genótipo nulo" dá a ideia de uma
menor proteção no organismo. Entretanto, os resultados demonstraram que
indivíduos com genótipo nulo apresentaram um menor risco de
desenvolvimento de câncer de pulmão, que é a principal preocupação
quando falamos de exposição ao Radônio por inalação. Isso contrasta com
resultados para relações dos polimorfismos de GSTT1 e GSTM1 para
outros tipos de cânceres, demonstrando uma ambiguidade no
funcionamento desses genes e suas proteínas, e possivelmente indicando
que em determinados tipos de cânceres, o aumento da conjugação da
glutationa indicaria um maior risco para o desenvolvimento do câncer.

Conclusão

Por meio do estudo, foi possível entender os conceitos de radiação


ionizante e as consequências da exposição crônica a esse tipo de fenômeno.
Os indivíduos de Lajes Pintadas, apresentaram em seu genoma traços de
alterações epigenéticas, observadas pelo genótipo nulo dos genes GSTT1 e
GSTM1, numa frequência maior que os indivíduos do grupo controle, que
foram coletados de residentes da cidade de Natal, uma região de baixa
exposição ao Radônio quando comparada a região do município de Lajes
Pintadas. Assim, é importante ressaltar a importância de continuar os
estudos neste município e outros com alta exposição ao radônio, utilizando
técnicas mais refinadas para entender os mecanismos moleculares do
radônio que levam ao desenvolvimento de câncer de pulmão, e entender
mais visivelmente a verdadeira relação dos polimorfismos com a alteração
no risco para desenvolvimento de câncer. Além disso, é importante
evidenciar mais ainda a necessidade de medidas de prevenção, para que
gerações futuras, nos municípios de alta incidência de Radônio, possam ter
uma maior qualidade de vida.

Referências

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eCICT 2023

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410
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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0175

AUTOR: VITÓRIA BARROS MARQUES

ORIENTADOR: EDILSON DANTAS DA SILVA JUNIOR

TÍTULO: Influência do meloxicam e do cetoprofeno sobre aspectos


morfofuncionais do testículo de ratos

Resumo

Os fármacos podem afetar a fertilidade masculina por mecanismos diversos e,


muitas vezes,
múltiplos alvos podem estar envolvidos. Medicamentos amplamente usados na
rotina clínica
e que merecem destaque quanto aos seus efeitos anti-fertilidade são os anti-
inflamatórios não-
esteróides (AINEs), tais como o meloxicam e o cetoprofeno. Esse trabalho
visou avaliar
morfologicamente os efeitos dos AINEs meloxicam e cetoprofeno sobre os
testículos de
ratos. Foram usados 3 animais, um para cada grupo experimental (controle,
tratados com
meloxicam 1 mg/Kg ou cetoprofeno 5 mg/kg por 15 dias). Foram realizadas
medidas
biométricas (pesos corpóreos e testiculares), medidas morfométricas
testiculares (diâmetros
testiculares e altura do epitélio seminífero) e estereológicas (densidades de
volume tubular e
tecido intersticial testicular). Neste trabalho, observamos que o meloxicam e o
cetoprofeno
podem, possivelmente, interferir de maneira negativa sobre parâmetros
estereológicos,
biométricos e morfométricos do testículo. No entanto, mais experimentos
devem ser
realizados para comprovar estes achados.

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Palavras-chave: AINEs, testículo, morfologia, fertilidade masculina.

TITLE: Influence of meloxicam and ketoprofen on morphofunctional aspects of


the male rat testis

Abstract

Drugs can affect male fertility through diverse mechanisms, often involving
multiple targets.
Widely used drugs in clinical practice that deserve attention regarding their anti-
fertility
effects are non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs), such as meloxicam
and
ketoprofen. This study aimed to morphologically evaluate the effects of
meloxicam and
ketoprofen NSAIDs on rat testicles. Three animals were used, one for each
experimental
group (control, treated with meloxicam 1 mg/kg, or ketoprofen 5 mg/kg for 15
days).
Biometric measurements (body and testicular weights), testicular morphometric
measurements (testicular diameters and seminiferous epithelium height), and
stereological
measurements (tubular volume densities and testicular interstitial tissue) were
performed. In
this study, we observed that meloxicam and ketoprofen could potentially
negatively interfere
with stereological, biometric, and morphometric testicular parameters. However,
further
experiments must be conducted to confirm these findings.

Keywords: NSAIDs, testis, morphology, male fertility.

Introdução

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) constituem um dos grupos


farmacológicos mais utilizados na medicina, devido à sua capacidade de
reduzir a
inflamação, além de produzir analgesia e ação antipirética. Esses fármacos
atuam por meio da

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eCICT 2023

inibição do sistema enzimático das prostaglandinas endoperóxido sintases


(mais conhecidas
como ciclooxigenase), que converte ácido araquidônico em prostaglandinas,
tromboxanos e
prostaciclina (Schung; Manopas, 2007)
As prostaglandinas e seus receptores são amplamente encontrados no trato
reprodutor
masculino de diferentes espécies, sendo, portanto, essenciais para a fertilidade
masculina. De
fato, é demonstrado que homens com oligospermia apresentam baixos níveis
de
prostaglandinas no sêmen (Drobnis; Nangia, 2017). Os mecanismos propostos
para as ações
anti-fertilidade dos AINEs estão relacionados à inibição da síntese de
prostaglandinas no trato
geniturinário, a qual poderia reduzir a produção de testosterona, levando a
alterações da
espermatogênese e na histologia de tecidos andrógeno-dependentes como o
testículo (Albert
et al., 2013; Asok Kumar; Chinoy, 1988).
Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que alguns AINEs (como
ácido
acetilsalicílico e ibuprofeno) podem afetar a fertilidade masculina (Drobnis;
Nangia, 2017).
Apesar dessas evidências, existem poucos estudos na literatura associando
déficits de
fertilidade ao uso dos AINEs meloxicam e cetoprofeno. Desta forma, o presente
estudo visa
descrever a possível influência in vivo do meloxicam e cetoprofeno sobre a
macro e
microestrutura testicular de ratos Wistar. A pesquisa visa identificar os
possíveis danos
provocados pelo uso dos AINEs, expressos em alterações das variáveis
morfológicas
testiculares.

Metodologia

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eCICT 2023

Este estudo foi realizado em parceria com o Biotério do Departamento de


Biofísica e
Farmacologia (DBF) e o Departamento de Morfologia (DMOR), da Universidade
Federal do
Rio Grande Norte (UFRN), situada em Natal, RN.
Comitê de ética: Esta pesquisa foi previamente submetida e aprovada pela
Comissão
de Ética no Uso de Animais (CEUA) do Centro de Biociências da Universidade
Federal do
Rio Grande do Norte/Campus Natal (Protocolo 005/2021).
Animais: Foram utilizados ratos Wistar com 2-4 meses de idade, pesando 200-
400g,
provenientes do Biotério Central do Centro de Biociências da UFRN. Os
animais foram
mantidos no Biotério do Departamento de Biofísica e Farmacologia da UFRN,
ciclo de luz
claro-escuro de 12 horas (claro, das 6:00 às 18:00) e temperatura controlada
(23°C ± 1°C).
Todos os procedimentos experimentais foram realizados de acordo com as
recomendações da
Lei 11.794 de 08/10/2008 (Lei Arouca).
Tratamento, grupos experimentais e eutanásia dos animais: Após período de
ambientação ao biotério do DBF (mínimo de 30 dias), os animais foram
separados em grupos
experimentais: grupo I (controle = salina 0,9%), grupo II (meloxicam = 1mg/kg),
grupo III
(cetoprofeno = 5 mg/kg) e foram tratados via gavagem por 15 dias. Os animais
foram
monitorados diariamente: peso corpóreo, condições físicas e comportamento.
Após o
tratamento, devidamente anestesiados, os animais foram submetidos à
eutanásia com
superdosagem de cetamina e xilazina. Foram utilizados 06 animais por grupo.
No entanto,
devido a erros no preparo das amostras, foi possível apenas a análise de dos
testículos direito
e esquerdo de apenas 01 animal por grupo. Este experimento será repetido e
os dados finais
deverão ser alcançados até o fim deste ano.
Coleta e processamento das amostras: Os testículos foram removidos e
pesados em
balança semi-analítica de precisão. As amostras foram processadas por
imersão em Bouin e

414
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eCICT 2023

após 30 minutos foram hemisseccionadas e as hemissecções retornaram à


solução de Bouin
por 24h. Após a fixação, foram lavados de quatro a cinco vezes em álcool 70%,
com
intervalo de 12 horas entre as lavagens, para remoção do excesso de fixador,
até que o álcool
não apresente mais resíduos. Em seguida, os cortes foram clivados e
processados em rotina
histológica convencional com impregnação em parafina para obtenção, através
de
microtomia, de cortes com 5 μm de espessura. As seções foram coradas pelo
método de
hematoxilina-eosina (HE).
Densidade de volume testicular e histometria testicular: A densidade de volume
do testículo foi obtida pelo método de Cavaliere. Seguindo esse método, os
testículos foram
seccionados transversalmente, com cortes de 5mm de espessura. Na
superfície dorsal de cada
fatia foi disposta uma grade de contagem de pontos. Para obtenção do
diâmetro tubular e da
altura do epitélio seminífero serão mensuradas 36 secções histológicas
transversais de cada
animal, buscando o mais circular possível dos túbulos seminíferos no estádio 1
do ciclo do
epitélio seminífero. Para as mensurações dos túbulos seminíferos e contagem
dos pontos, as
quais foram obtidas por meio de microscópio de luz (Olympus BX40), em
objetiva de 10X,
equipado com câmera fotográfica digital acoplado a terminal de computador
com auxílio do
programa Image Pro-express v 6.0 e foram analisadas com o programa
ImageJ.
Análise estatística: Os dados foram apresentados como média ± erro padrão
da média
quando possível. Nenhuma análise estatística foi realizada devido ao n
insuficiente (02
testículos de 01 animal/grupo).

Resultados e Discussões

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Os resultados foram obtidos com base na média aritmética dos testículos


(direito e esquerdo)
01 animal por grupo. Os dados foram apresentados em três tabelas, contendo
os três grupos
experimentais (grupo I - controle, grupo II - meloxicam 1 mg/Kg por 15 dias e
grupo III –
cetoprofeno 5 mg/Kg por 15 dias).
As variáveis biométricas incluíram peso corpóreo e peso testicular absoluto e
estão
demonstradas na tabela 1. O peso corporal dos animais do grupo II e III,
apresentam leve
tendencia de diminuição em relação ao grupo I - controle. O peso testicular
absoluto do grupo
II apresentou tendência de diminuição quando comparado ao animal com o
grupo I. O grupo
III não apresentou a mesma tendência. O peso testicular é considerado um
importante
parâmetro na avaliação dos níveis de perda do epitélio seminífero (Hacker-
Klom et al.
1986).No entanto, devido ao pequeno numero de amostras avaliadas,
nenhuma conclusão
pode ser tomada e mais experimentos serão realizados.

Os componentes estereológicos avaliados incluíram as densidades de volume


tubular e de
tecido intersticial testicular e estão exibidas na tabela 2. O presente estudo
evidenciou
possíveis alterações nas densidades de volume dos túbulos seminíferos e do
tecido intersticial
testicular. Constatou-se que ao comparar o animal do grupo I, aos animais dos
grupos II e III,
os volumes dos túbulos seminíferos mostraram uma tendencia a diminuição. As
densidades
de volumes do tecido intersticial apresentam propensões inversas às
observadas nas
densidades de volume de túbulos seminíferos, pois, há relação de
proporcionalidade entre as
duas variáveis. Desse modo, os grupos II e III mostraram um possível aumento
no volume
intersticial. Segundo Eboetse et al. (2011), as substâncias com efeitos
deletérios sobre

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espermatogênese são capazes de diminuir o diâmetro dos túbulos seminíferos,


fazendo com
que tais estruturas ocupem um espaço físico menor. Estes parâmetros serão
analisados e está
tendencia será confirmada a partir de novos experimentos que serão
realizados.

Os parâmetros morfométricos avliados incluíram altura do epitélio germinativo e


diâmetro
dos túbulos seminíferos e estão descritos na tabela 3. Os diâmetros dos
túbulos seminíferos
revelaram-se possivelmente diminuídos nos grupos II e III quando relacionados
ao valor do
grupo controle. É descrito que há correlações positivas entre o diâmetro e
atividade
espermatogênica (Sinhá-Hikim et al. 1985). A altura do epitélio germinativo
também
acompanhou o mesmo viés dos diâmetros e apresentou uma tendencia a
diminuição. O
decréscimo do eixo maior (diâmetro tubular) e do eixo menor (altura do epitélio)
sugerem a
atrofia dos túbulos seminíferos (Asok Kumar, Chinoy, N.J. 1988),
possivelmente em reposta
da ação prejudicial das AINEs.

Conclusão

Neste trabalho, observamos que o meloxicam e o cetoprofeno podem,


possivelmente,
interferir de maneira negativa sobre parâmetros estereológicos, biométricos e
morfométricos
do testículo. No entanto, mais experimentos devem ser realizados para
comprovar estes
achados.

Referências

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Anexos

Tabela 1. Valores são média ± erro padrão da média do Peso corpóreo (PC) (g) e peso
testicular absoluto (PTA) (mg) para os grupos: Grupo I - Controle, Grupo II - Meloxicam,
Grupo III -Cetoprofeno. [n=1 animal por grupo (PC) e 2 testículos por animal (PTA)

Tabela 2. Densidade de volume dos túbulos seminíferos (DVTS) (%), densidade de


volume do tecido intersticial (DVTI) (%) para os grupos: Grupo I - Controle, Grupo II -
Meloxicam, Grupo III -Cetoprofeno. (n=3).

Tabela 3. Diâmetro do testiculo seminífero (DTS) (μm), altura do epitélio seminifero


(AES) (μm) para os grupos: Grupo I - Controle, Grupo II - Meloxicam, Grupo III -
Cetoprofeno. (n=3).

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CÓDIGO: SB0185

AUTOR: DAYANE RUFINO VIEIRA

ORIENTADOR: JEFERSON DE SOUZA CAVALCANTE

TÍTULO: EFEITO DO ENRIQUECIMENTO SOCIAL SOBRE O RITMO DE


ATIVIDADE-REPOUSO, TEMPERATURA E COMPORTAMENTO SOCIAL,
EMOCIONAL E COGNITIVO NA PROLE DE RATOS WISTAR EXPOSTOS A
ANTIDEPRESSIVOS NA GESTAÇÃO

Resumo

No perinatal há uma alta plasticidade, o cérebro se adapta ao ambiente, contudo, esta


é uma etapa de grande vulnerabilidade. Alterações na sinalização serotonérgica
parecem levar a déficits comportamentais, logo, a exposição a antidepressivos como
os Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS), neste período, podem levar
a efeitos deletérios na organização anatômica e funcional. O objetivo deste trabalho
consiste em investigar, em diferentes fases de vida da prole, se esta exposição precoce
gera alterações na circuitaria serotoninérgica ao ponto de afetar o ritmo circadiano de
atividade e repouso, cumprindo assim os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
três e quatro. Foram coletados dados de testes do ritmo de atividade locomotora-
repouso e feita análise de marcadores oscilatórios químicos do sistema circadiano em
dois Zeitgebers em ratos machos e fêmeas expostos a Fluoxetina (FLX) (20 mg/kg). Os
resultados obtidos até o momento evidenciam mudanças no padrão de atividade
locomotora, havendo aumento na amplitude relativa, no periodograma, avanço de
fase, mas sem diferença significativa entre os grupos. Houve maior fragmentação do
ritmo no claro-escuro (CE), diferente do visto em escuro-constante (EC) e por fim, a
sincronização teve menor robustez no ritmo no EC, mas sem diferenças no CE. O
estudo faz-se importante diante da necessidade de suprir a lacuna que há, quanto a
pesquisas em nível neuroquímico em estruturas do sistema de temporização
circadiano.

Palavras-chave: Ritmo circadiano. Supraquiasmático. ISRS. Serotonina.


Perinatal.

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TITLE: Effect of social enrichment on the activity-rest rhythm, temperature and


social, emotional and cognitive behavior in the offspring of Wistar rats exposed
to antidepressants during pregnancy

Abstract

Perinatal period there is high plasticity, the brain adapts to the environment, however,
this is a stage of great vulnerability. Changes in serotonergic signaling seem to lead to
behavioral deficits, so, exposure to antidepressants such as Selective Serotonin
Reuptake Inhibitors (SSRIs) during this period can lead to deleterious effects on
anatomical and functional organization. The objective of this work is to investigate, at
different stages of life of the offspring, whether this early exposure generates changes
in the serotonergic circuitry to the point of affecting the circadian rhythm of activity
and rest, thus fulfilling Sustainable Development Goals 3 and 4. Data from tests of
locomotor activity-rest rhythm were collected and analysis of chemical oscillatory
markers of the circadian system was performed in 2 Zeitgebers in male and female rats
exposed to Fluoxetine (FLX) (20mg/kg). The results obtained so far show changes in the
pattern of locomotor activity, with an increase in the relative amplitude, in the
periodogram, phase advance, but without significant difference between the groups.
There was greater fragmentation of the rhythm in light-dark (CE), different from that
seen in constant-dark (CE) and finally, the synchronization had less robustness in the
rhythm in CE, but without differences in CE. The study becomes important in view of
the need to fill the gap that exists, regarding research at the neurochemical level in
structures of the circadian timing system.

Keywords: Circadian rhythm. Suprachiasmatic. SSRI. Serotonin. Perinatal.

Introdução

Nos mamíferos, o mais notável marca-passo que controla a ritmicidade circadiana da


maioria dos parâmetros comportamentais e fisiológicos, é o núcleo supraquiasmático
(NSQ). Em condições ambientais normais, os relógios biológicos são redefinidos
diariamente por aproximadamente 24 horas, através de fatores externos que servem
como indicadores do tempo, chamados de Zeitgebers (ZT). A luz é o mais importante
ZT a nível de retina, compreendendo o glutamato como o seu principal
neurotransmissor. É também sabido que o NSQ pode ser reiniciado por estímulos não
fóticos mediados pela serotonina e pelo neuropeptídeo Y.
Ademais, existem relógios periféricos, os quais respondem aos sinais de ajuste de fase
do NSQ e são essenciais para manter as relações de fase ideais entre os osciladores
centrais e periféricos, influenciando em diversas funções biológicas. Algumas dessas

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funções são usadas como marcadores dos ritmos circadianos em mamíferos, a


exemplos, o ciclo de sono/vigília, a temperatura corporal e secreção de hormônios. Na
classe hormonal podemos citar a melatonina, substância química vital para a regulação
da temporização.
Com estudos foram descobertos genes do ciclo circadiano como o Clock, BMAL1, Per1,
Per2, e Criptocromo (Cry1 e Cry2), e que interações entre eles conduzem ritmos
circadianos na atividade elétrica das células do NSQ. Em ratos, o surgimento de um
ritmo na expressão de Per1, Per2, Clock, Cry e vasopressina arginina no NSQ, se dá por
volta do 20º dia embrionário, enquanto a expressão de BMAL1 acontece a partir do 1º
dia pós-natal. A sinaptogênese do NSQ e a inervação do trato retino-hipotalâmico
desenvolvem-se durante os períodos pré-natal tardio e entre o 4º e o 10º dia pós-
natal, (Moore, 1991; Moore, Bernstein, 1989; Speh, Moore, 1993; Sumova et al.,
2012), já a robustez dos osciladores circadianos acontece após o nascimento.
Tratando-se dos neurônios serotoninérgicos, eles surgem no início do
desenvolvimento, sobretudo nos nove núcleos da rafe e exercem um forte efeito no
mecanismo do relógio circadiano, visto que o NSQ recebe aferência serotoninérgica
das fibras medial e dorsal, sendo responsável por modular a sensibilidade à luz (Morin,
1999; Meyer-Bernstein, Morin, 1996; Smith et al., 2015; Card, Moore, 1989).
O ritmo dos fetos sincroniza tanto de forma endógena, bem como com estímulos não-
fóticos vindos da mãe, a exemplo o tempo de alimentação e secreção de melatonina
materna. Referente aos diversos processos fisiológicos que ocorrem com a mãe
durante a gestação para favorecer o desenvolvimento do feto, alguns são controlados
pelo sistema circadiano e perturbações podem gerar alterações na ritmicidade dos
fetos capazes de persistir até a fase adulta, se manifestando como transtornos de
humor, estresse, abuso de substâncias.
Sabe-se que a depressão é uma complicação comum da gravidez e do período pós-
parto, o qual cerca de 70% relatam sintomas durante a gravidez e 10-16% preenchem
os critérios para transtorno depressivo maior (Yonkers et al., 2009). Sendo assim, são
utilizados antidepressivos e em torno de 10,2% dessas mulheres são tratadas com
ISRS. Artigos então associam a sua utilização com mudanças no neurodesenvolvimento
fetal via transferência placentária. Correlaciona-se também comportamentos
internalizantes como a ansiedade na infância, a exposição in utero a antidepressivos e
modelos animais apontam para um efeito de longo prazo dos ISRS, o que gera
questionamentos sobre a prescrição desses medicamentos.
Desta forma objetivamos com este estudo, explorar as consequências no
comportamento do ritmo de atividade-repouso a nível neuroquímico, nas estruturas
cerebrais encarregadas pela expressão desse ritmo, após serem expostas à FLX no
perinatal em diferentes fases da prole e assim verificar uma possível relação do
sistema serotoninérgico com o sistema de temporização circadiano. Consideramos

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ainda, que faz-se necessário haver pesquisas nacionais para suprir a lacuna que existe
de trabalhos nesta área.

Metodologia

Para o estudo utilizamos 6 ratas (Rattus novergicus) da linhagem Wistar, retiradas do


biotério central localizado no Departamento da Fisiologia, no Centro de Biociências da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os animais estavam alojados em
gaiolas plásticas de dimensões padrão (32x39x16.5cm), com comida e água disponíveis
ad libitum, sob um ciclo CE de 12/12h, com luzes acesas às 06h e temperatura mantida
em 23 ± 2 °C. Todos os experimentos foram conduzidos seguindo manuais e normas de
boa conduta e ética com animais de laboratório disponibilizadas pelo CONCEA e
regulados pelo comitê local da UFRN, CEUA/UFRN (nº 204.068/2019).
O ciclo estral das fêmeas foi acompanhado diariamente, realizando esfregaço vaginal
para reconhecimento da fase de proestro, cujo conteúdo foi analisado em microscópio
óptico com lente objetiva de aumento em 40x. Após, os machos foram escolhidos
aleatoriamente e introduzidos nas gaiolas das fêmeas. As mesmas foram observadas
para identificação do tampão vaginal e acompanhadas até o 5º dia da provável de
gestação. No grupo FLX, o tratamento se deu do 13º até o 21º dia e para cada fêmea
grávida foi fixada a dose em 20mg/kg/dia (Patil et al., 2011). As fêmeas do grupo
Controle foram tratadas com solução de água destilada na concentração inicial de
20mg/ml. A administração em ambos grupos foi por meio de gavagem.
Após o nascimento da prole, os animais foram desmamados em 28 dias e separados de
acordo com o tratamento recebido pela mãe. Os grupos foram definidos em (1)
machos Controle (n = 20), (2) machos FLX (n = 20) (3) fêmeas Controle (n = 20) (4)
fêmeas FLX (n = 20). No 15º pós-natal, 7 animais por grupo foram para a perfusão, o
restante seguiu para avaliação do ritmo de atividade locomotora. Aos 45 dias os
grupos foram submetidos ao registro do ritmo de atividade e repouso, alojados em
gaiolas individuais de polipropileno (30 x 19 x 13cm) dentro de caixas de registro de
ritmo de atividade-repouso, com exposição inicial a um ciclo CE 12/12h, que se iniciava
às 6h com o desligamento das luzes, marcando o início da noite subjetiva, durante 14
dias com comida e água acessíveis ad libitum. A temperatura ambiente foi mantida em
23ºC ± 1,0 e a umidade relativa do ar ao redor de 60%. Na sala experimental havia
isolamento total para luz e isolamento parcial para o som. No 15º dia, os animais
foram submetidos ao EC por 14 dias. Finalizado este protocolo, os animais voltaram
para o ciclo CE 12/12h por um período de 14 dias.
Com 90 dias de nascidos, a atividade da prole foi registrada durante todo o
experimento por meio de sensores infravermelhos localizados a 3 cm de altura sobre

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as tampas das gaiolas. Os dados coletados foram contabilizados e analisados em


intervalos de 5 minutos por meio do software Sistema de Acionamento Programado –
SAP (desenvolvido por Rodrigues & Araujo, Laboratório de Cronobiologia – UFRN,
2012). Os Actogramas e as análises de ritmos foram gerados através dos softwares El
Temps© (Antoni Díez-Noguera, Universitat de Barcelona, http://www.eltemps.com –
Copyright©1999) e GraphPad Prism 7. Os dados foram observados em um actograma,
onde primeiramente foram verificadas as informações paramétricas que produziram
um periodograma, posteriormente foi vista a amplitude relativa e a acrofase,
considerando o período de tempo em horas. Além disso, foi realizado um exame não
paramétrico, oposto ao de uma onda senoidal, que determina a variabilidade
intradiária. Os dados da atividade locomotora foram analisados dia a dia, em 2 ou 3
blocos de 14 dias.
Concluída a etapa comportamental, os animais foram anestesiados via intraperitoneal
com Cetamina (50mg/kg) e Xilazina (10mg/kg) em 2 fotoperíodos diferentes, ZT3 e
ZT14. Em seguida iniciou-se a perfusão transcardíaca com impulsão de solução salina
0,9% em tampão fosfato 0,1M (pH 7,4), logo depois foi impulsionada a solução
fixadora de paraformaldeído 4% em tampão fosfato 0,1M (pH 7,4) e removidos os
cérebros através de craniotomia. Os mesmos foram mergulhados por 24 horas em
solução com 4% de paraformaldeído e 30% de sacarose (v/v) em tampão fosfato 0,1M
(pH 7,4). Por fim foram colocados em solução com 30% de sacarose diluída em solução
fosfato tamponada 0,1M (pH 7,4) até a criosecção. Na microtomia foram feitas secções
frontais de 50μm, distribuídas em 5 poços contendo solução anticongelante à base de
etilenoglicol e tampão fosfato 0,1M (pH 7,4). Após esse processo, os cortes foram
armazenados a 4°C até a reação de imunohistoquímica.
Os cortes foram submetidos ao processo de imunohistoquímica utilizando o protocolo
Avidina-Biotina-Complexada a peroxidase. Inicialmente eles passaram por 5 lavagens
de 5 minutos em tampão fosfato 0,1M, pH 7,4 (TF 0,1M) sob agitação e tratados com
peróxido de hidrogênio 0,3% em TF 0,1 M, durante 20 minutos para inativar a
peroxidase endógena. Na sequência foram realizadas novas 5 lavagens por 5 minutos
em TF0,1M. Logo após, os cortes foram incubados em solução de anticorpo primário
específico para detecção do marcador neuronal desejado, diluídos separadamente em
TF 0,1 M com 0,4% de solução Triton-X- 100/TF. Concluída essa etapa, eles passaram
por mais 5 lavagens em TF 0,1M, 5 minutos cada, subsequentemente as secções foram
incubadas por 2 horas em solução com anticorpo secundário biotinilado (anti-coelho),
diluído em solução de TF com 0,4% de Triton-X 100. Para finalizar, os cortes passaram
por 5 lavagens, 5 minutos cada, em TF 0,1M e foram incubados por 2 horas em solução
portando avidina-biotina (0,5%), diluída em TF 0,1M com 0,4% de Triton-X 100/NaCl.

Resultados e Discussões

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O período de atividade padrão dos ratos, dentro de 24h, se dá na fase de escuro e esta
afirmação pode ser constatada nos actogramas, apresentados na figura logo abaixo,
assim, podemos destacar que foi evidenciado a mudança no padrão de atividade
locomotora em resposta à exposição ao tratamento do grupo de machos Controle
(Figura 1) e FLX (Figura 2).
Tratando-se da amplitude relativa do ritmo, verificamos diferenças significativas entre
os grupos. O grupo FLX na fase CE, apresentou uma amplitude relativa maior do que o
grupo Controle e na fase de EC, o grupo FLX mostrou uma maior amplitude comparada
ao grupo Controle.
Na acrofase, há uma tendência com relação ao tratamento no ciclo CE, o qual o grupo
FLX apresentou um avanço de fase. Em relação ao tratamento, tanto na fase CE, como
na fase EC, não foram percebidas discrepâncias consideráveis entre os grupos.
Refletindo sobre o periodograma, há desigualdades importantes quanto ao tratamento
nas duas fases, onde o grupo FLX apresentou um período maior comparados ao grupo
Controle em ambas.
Explorando as variáveis não-paramétricas, é possível aferir importantes características
dos ritmos circadianos como a sincronização a um ZT e a fragmentação. A respeito da
fragmentação no CE, foi demonstrada uma dissimetria no tratamento, o qual o grupo
FLX expôs uma maior repartição do ritmo se confrontado ao grupo Controle. Por outro
lado, não foi possível observar uma desarmonia entre os grupos no EC.
Por fim, em relação a sincronização a um ZT, não foram vistas diferenças significativas
no CE com relação ao tratamento, em contrapartida, apresentou-se uma discordância
no tratamento no EC, onde o grupo FLX manifestou uma menor robustez no ritmo,
quando comparados ao grupo Controle.
No que diz respeito aos achados literários, podemos notar diversos trabalhos que
versam sobre o bloqueio precoce da recaptação da serotonina durante o
neurodesenvolvimento. Comumente é avaliado o comprometimento cognitivo
comportamental em roedores, focando no registro do ritmo de atividade-repouso e
verificando as mudanças de fase durante o ciclo CE e no EC. É realizada ainda, uma
abordagem analítica baseada nos parâmetros relacionados à existência de um relógio
biológico que define a fase de osciladores de diferentes ritmos fisiológicos e
endócrinos no organismo, todavia, é inegável a quantidade reduzida de discussões
para estudos.
Pensando justamente neste campo que está aberto, que o nosso grupo de pesquisa
busca analisar as variáveis circadianas, paramétricas e não-paramétricas,
comportamentais e neuroquímicas, em três fases importantes da vida do indivíduo e é

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então, a primeira pesquisa a mostrar esse tipo de investigação com um protocolo de


FLX perinatal, lidando com os ciclos CE e EC como sincronizadores advindos do ritmo
de atividade-repouso, visualizando até mesmo as diferenças sexuais.
Meyer-Bernstein, Morin, 1996; Pickard et al., 1997; Glass et al., 2003 falam que as
alterações observadas no ritmo de atividade-repouso na prole exposta a FLX numa
janela crítica do neurodesenvolvimento, podem estar relacionadas com alterações a
nível neuroquímico em estruturas do sistema de temporização, tanto nas vias
neuropeptidérgicas quanto serotonérgicas no NSQ e nos núcleos dorsal e medial da
rafe, respectivamente.
Esquadrinhando mais ainda a literatura, é possível encontrar Duncan, 1996; Gannon et
al., 2007; Challet et al., 2001, afirmando que as mudanças no comportamento do ritmo
circadiano da atividade locomotora, podem estar relacionadas a um desarranjo em
diferentes neurotransmissores que se correlacionam com mudanças na circuitaria
serotonérgica e que a exposição a um ISRS no NSQ, ocasiona inibições na mudança de
fase causada pela luz.
No estudo de Possidente et al., 1991 com camundongos adultos, ele reconheceu que o
tratamento crônico com a FLX durante 14 dias, causou um encurtamento do período
de atividade em livre-curso. Outras pesquisas, assim como a de Nomura colaboradores
(2008), permaneceram percebendo uma diminuição do período no ritmo de atividade-
repouso in vitro, a seguir das aplicações do medicamento em ciclo CE ambiental de
camundongos.
Entretanto, tais diminuições do período após administração crônica de ISRS em
animais adultos, é na verdade o oposto ao que observamos, acreditamos que
provavelmente pela administração do medicamento no nosso trabalho ter sido
realizada em uma fase crítica de neurodesenvolvimento, onde se relatam a formação e
a expansão das vias serotonérgicas, fez com que o nosso resultado fosse diverso do
encontrado na análise de Nomura e colaboradores (2008).
Em perspectiva futura, realizaremos a quantificação da expressão neuroquímica de
marcadores importantes na sincronização do ritmo circadiano, como o BMAL1, o
polipeptídeo intestinal vasoativo, a vasopressina arginina, a serotonina, todos no NSQ
e do neuropeptídeo Y, tanto no NSQ, bem como no folheto intergeniculado, ocorrendo
em dois Zeitgebers distintos, de machos e fêmeas, sob influência do tratamento
perinatal da FLX em fases evolutivas diferentes das suas vidas.

Conclusão

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Fármacos Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina como a FLX, alteram a


sinalização e a inervação serotoninérgica devido ao aumento de serotonina
extracelular. Esta ocorrência gera déficits na circuitaria de áreas que coordenam a
ritmicidade circadiana. Considerando a comprovada e notória importância da
serotonina para o neurodesenvolvimento dos mamíferos em geral e que, tendo em
vista que até agora há pesquisas insuficientes na área, faz-se necessário investigar os
efeitos desta droga.
Por enquanto, de acordo com os nossos resultados prévios, a administração da FLX na
prole de machos influenciou em mudanças no período, na amplitude, na fragmentação
e na estabilização do ritmo circadiano. Em ambas as condições, CE e EC, a prole de
machos que recebeu FLX a partir da mãe, apresentou um aumento no comprimento do
período e na amplitude do ritmo quando comparados à prole Controle. Esses dados
corroboram com nossos dados anteriores (Linhares et al., 2022). Por esse motivo, o
nosso trabalho buscou esmiuçar os efeitos do tratamento com a FLX a partir do 13º dia
de gravidez até o 21º dia gestacional, sobre a expressão de osciladores endógenos da
ritmicidade circadiana (neuropeptídeo Y, serotonina, polipeptídeo intestinal vasoativo,
vasopressina arginina e BMAL1), associados ao funcionamento do NSQ e do folheto
intergeniculado da prole ao longo da sua ontogênese (PN15, PN45 e PN90).
Considerando que cada pesquisa busca novos conhecimentos, independentemente da
direção de seus resultados, o projeto de pesquisa realizado levantou indagações
pertinentes sobre os efeitos do uso da Fluoxetina no período gestacional sobre a
ritmicidade circadiana da prole. Tais resultados podem servir de apoio para a
realização de pesquisas futuras que avaliem os efeitos dessa exposição também em
seres humanos. A principal importância da temática reside em promover reflexões em
saúde que visem garantir o bem-estar e uma vida saudável tanto para as mães quanto
para seus filhos, cumprindo assim o preconizado nos objetivos três e quatro dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

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Anexos

Figura 1 e Figura 2 - Média da curva ajustada (Mesor) e a linha vertical representa o


pico de atividade (Acrofase) do animal. U.A., Unidade Arbitrária; ZT, Zeitgeber Time;
CE, Claro-Escuro. EC, Escuro-Constante.

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CÓDIGO: SB0188

AUTOR: ISADORA LUISA GOMES DA SILVA

ORIENTADOR: RAIMUNDO FERNANDES DE ARAUJO JUNIOR

TÍTULO: Estudo in vivo da eficiência antitumoral do sistema de liberacao em


nanoescala da doxorrubicina e do ácido palmítico no câncer de mama.

Resumo

O câncer de mama é responsável por uma alta taxa de mortalidade. Assim, surge a
necessidade do desenvolvimento de tratamentos inovadores para bloquear a
progressão tumoral e metástase. Dessa forma, o nosso grupo desenvolveu uma
estratégia de tratamento baseada nas propriedades antitumorais e imunomoduladoras
do ácido palmítico (PA), um ácido graxo, ao associá-lo a uma nanopartícula polimérica
e a doxorrubicina, quimioterápico padrão para tratar o câncer de mama. Essa
estratégia composta pelas nanopartículas (NPs), PA e DOX (PLGA+PA+DOX) e seus
controles foram administradas 3x intratumor, a cada 5 dias, em tumores de mama em
camundongos Balb/C. Os tumores foram medidos a cada 3 dias para se criar uma curva
de crescimento tumoral. Em seguida os animais foram eutanasiados no 18º dia,
coletando-se os tumores, fígado, pulmões e sangue para análises histológicas,
genéticas e sanguíneas, respectivamente. Os resultados mostraram que a
nanopartícula completa (PLGA + PA + DOX) teve os resultados mais significativos na
redução do tamanho e volume tumoral, aumentando de marcadores apoptóticos e
diminuindo a proliferação tumoral e metástase. Ademais, a estratégia teve uma
excelente atividade imunomodulatória dentro do tumor aumentando a infiltração de
linfócitos. Em suma, o nosso grupo demonstrou que a associação da DOX e ácido
palmítico teve uma alta atividade antitumoral por melhorar o perfil imunológico
dentro do tumor, e consequentemente, impedir a progressão do tumor.

Palavras-chave: cancer de mama; tumor; nanomedicina; tratamento; acido


pamitico

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TITLE: In vivo study of the antitumor efficiency of the nanoscale delivery system
of doxorubicin and palmitic acid in breast cancer.

Abstract

Breast cancer is responsible for a high mortality rate. Thus, there is a need to develop
innovative treatments to block tumor progression and metastasis. Thus, our group
developed a treatment strategy based on the antitumor and immunomodulatory
properties of palmitic acid (PA), a fatty acid, by associating it with a polymeric
nanoparticle and doxorubicin, a standard chemotherapeutic to treat breast cancer.
This strategy composed of nanoparticles (NPs), PA and DOX (PLGA+PA+DOX) and their
controls were administered 3x intratumor, every 5 days, in breast tumors in Balb/C
mice. Tumors were measured every 3 days to create a tumor growth curve. Then the
animals were euthanized on the 18th day, collecting the tumors, liver, lungs and blood
for histological, genetic and blood analysis, respectively. The results demonstrated that
the complete nanoparticle (PLGA + PA + DOX) had the most significant results in
reducing tumor size and volume, increasing apoptotic markers and preventing tumor
protection and metastasis. Furthermore, the strategy had excellent
immunomodulatory activity within the tumor by increasing lymphocyte infiltration. In
short, our group stated that the association of DOX and palmitic acid had a high
antitumor activity by improving the immune profile in the tumor, and consequently,
prevent tumor progression.

Keywords: breast cancer; tumor; nanomedicine; treatment; palmitic acid

Introdução

O câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente na população feminina brasileira,


dotando de uma estimativa de 66,54 novos casos a cada 100.000 mulheres (INCA,
2023). Entretanto, o tratamento desta patologia é complexo, tendo em vista os
diferentes subtipos e padrões de resposta aos tratamentos convencionais, como
radioterapia e quimioterapia, cujas desvantagens envolvem uma gama considerável de
efeitos colaterais, além de obstáculos como a resistência a medicamentos (MASOUD;
PAGÈS, 2017).
Nessa perspectiva, a inovação científica objetiva o desenvolvimento de novas terapias
contra o câncer de mama, que possibilitem um balanço entre eficiência de tratamento

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e redução de efeitos colaterais, a fim de aumentar a qualidade de saúde e expectativa


de vida do paciente.
Dentre os diversos fatores relacionados à complexidade desse tipo de câncer é
importante citar o microambiente tumoral, o qual está comprovadamente relacionado
à capacidade metastática e a resistência medicamentosa (WU; DAI, 2017). No estroma
tumoral predominam os macrófagos associados ao tumor, tipo M2, cuja ação
imunossupressora favorece as propriedades malignas tumorais (HE et al., 2022). Vale,
assim, focar em diversos tratamentos que visem à polarização para macrófagos do tipo
M1, que em oposição são antitumorais.
As células cancerígenas exibem um metabolismo lipídico alterado, uma vez que os
ácidos graxos possuem funções estruturais e energéticas importantes para o
estabelecimento e proliferação celular, apresentando-se em diferentes vias de
sinalização, dentre as quais encontram-se a diferenciação e a apoptose (SHAIKH et al.,
2017). Desse modo, estudos recentes comprovaram que a modulação desse
metabolismo a partir da aplicação de ácidos graxos exógenos possibilita o combate à
progressão do câncer de mama (HE et al., 2022), exemplificado pela regulação da
polarização dos macrófagos no microambiente tumoral (DE ARAUJO JUNIOR et al.,
2020).
Com diversas propriedades benéficas na terapia do câncer, várias pesquisas científicas
focaram na aplicação do ácido palmítico (PA), um ácido graxo saturado, em novos
tratamentos. O ácido palmítico foi capaz de promover a parada do ciclo celular, ao
inibir a via PI3K/AKT (ZHU et al., 2021), bem como inibiu a viabilidade e proliferação
das células 4T1, células de câncer de mama, in vitro (HE et al., 2022). Ademais, o PA
exibiu capacidade imunomoduladora, ao induzir a polarização de macrófagos M2 em
M1 no câncer colorretal (DE ARAUJO JUNIOR et al., 2020).
Entretanto, na prática a insolubilidade dos ácidos graxos em meios aquosos dificultam
a sua utilização. Para superar tal obstáculo, o presente trabalho teve como foco a
utilização de um sistema de entrega de drogas (DNS) baseado na nanomedicina, com a
utilização de nanopartículas poliméricas constituídas por PLGA, as quais em trabalhos
anteriores (C DE S L OLIVEIRA et al., 2021) comprovaram-se uma ferramenta vantajosa
para o estabelecimento de estratégias terapêuticas mais eficazes.
Sob essa ótica, as nanopartículas são capazes de proteger, estabilizar e potencializar as
propriedades farmacocinéticas do fármaco, melhorando a absorção e distribuição.
Assim, o presente estudo desenvolveu uma estratégia de tratamento contra o câncer
de mama maligno associando uma nanopartícula polimérica de PLGA (copolímero de
ácido láctico-ácido glicólico) ao ácido palmítico (PA) e um quimioterápico padrão, a
doxorrubicina, abordagem aplicada in vitro e in vivo.

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Metodologia

Indução de modelo de tumor ortotópico


Mediante a aprovação pelo Comitê de Manejo de Animais de Laboratório e Comitê de
Ética da Universidade Federal do Rio Grande Norte (nº 063/2016) e estritamente de
acordo com as diretrizes atualizadas do ARRIVE (“The ARRIVE guidelines 2.0: Updated
guidelines for reporting animal research | PLOS Biology”, [s.d.]), camundongos BALB/C
fêmeas foram adquiridos do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA; Recife,
PE , Brasil).
Os camundongos, que apresentavam entre 7 - 9 semanas e pesavam entre 22 - 26g,
foram divididos em 6 grupos contendo 6 animais cada e após 1 semana foram iniciados
os experimentos.
De início ocorreu a indução do modelo ortotópico de câncer de mama, como já
estabelecido pelo grupo de pesquisa. Nesse modelo, após a anestesia com uma
combinação de Cetamina e Xilazina na concentração 1:1, células 4T1 - em uma
concentração de 1 X 10⁶ células em 100uL, foram injetadas na quarta mama esquerda
dos animais.
Quando o tumor atingiu 3mm³, os seguintes tratamentos foram aplicados: solução
salina (controle negativo), DOX (controle negativo), PLGA, PLGA PA, PLGA DOX, PLGA
PA DOX. Os animais foram tratados a cada 5 dias (3 tratamentos intratumorais).
Eutanásia e análise hematológica
No 18° dia de experimento, todos os animais foram eutanasiados e procedeu-se com a
coleta do sangue, fígado, pulmão e tumor - os quais foram encaminhados para análise
hematológica, bioquímica e histológica.
A coleta do sangue se deu, em um tubo contendo EDTA em uma concentração de
1mg/mL. A punção foi realizada na veia caudal, coletando-se amostras de sangue em
triplicata. A partir das amostras coletadas, realizou-se a contagem de células
sanguíneas, quantificação de hemoglobina por qRT-PCR e hematócrito em um
equipamento hematológico (UniCel® DxH 800, Beckman Coulter, Inc. CA, EUA).
Análise histopatológica e imunohistoquímica
Após a eutanásia dos animas, as amostras de tumor, fígado e pulmão coletadas foram
fixadas, inclusas em parafinas e seccionadas em lâminas, as quais foram encaminhadas
para analise histopatológica e imunohistoquímica.

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Na análise histopatológica, as lâminas foram coradas em hematoxilina-eosina (HE) e


avaliadas a partir do Índice de Alteração Histológica (IHA), o qual estabelece três
estágios de comprometimento tecidual. No estágio I, não há comprometimento
funcional. O estágio II estabelece grave comprometimento da função do órgão e o
estágio III esse comprometimento se apresenta como grave e irreversível.
Assim, é calculado o IHA mediante a fórmula AH = 1 × ΣI + 10 × ΣII + 100 × ΣIII (RÔXO et
al., 2018). Os valores encontrados foram divididos em quatro estágios. Foram
pontuadas todas as secções de cada lâmina avaliada.
0 - 15%
Leve infiltração de linfócitos e tecido conservado com pouca necrose.
15 - 25%
Nível leve a moderado de necrose e infiltração de linfócitos.
25 - 50 %
Nível moderado a grave de necrose e infiltração de linfócitos.
50 - 100%
Necrose tecidual grave e grave infiltração de linfócitos.
Os blocos incluídos em parafina foram seccionados em lâminas com 3μm, as quais
passaram por etapas de desparafinização, hidratação, recuperação antigênica, etapas
de bloqueio até a incubação overnight com os anticorpos primários:anti-caspase-3,
anti-MMP2, anti-CXCL12 e anti-NF-κB. Em seguida ocorreu a incubação com anticorpo
secundário biotinilado e aplicação de um conjugado estreptavidina/HRP e
diaminobenzidina. Após a coloração com hematoxilina e a montagem, as lâminas
foram analisadas por microscopia (Nikon E200 LED) e fotografadas (CHARAFE-
JAUFFRET et al., 2004).
RT-qPCR
Os tumores coletados foram encaminhados para a análise da expressão gênica por PCR
em tempo real (RT-PCR), analisando-se os marcadores: β-actina, Nf kB, Apaf-1, Mdr1,
Birc5 (Survinina), MMP2 e CXCL12, sendo β-actina o gene de manutenção utilizado
como controle interno da amplificação (BAS et al., 2004). A extração e a purificação
foram realizadas mediante o uso do Trizol e do kit de isolamento de RNA total
(Promega SV Total RNA Isolation System) seguindo as instruções de uso. Após a
realização da extração do material genético, seguiu-se com as etapas de: conversão
para cDNA e amplificação dos alvos. Os alvos foram utilizados em triplicata e os
primers desenhados foram: β-actina F: 5'-AGGCCAACCTGTAAAAGATG-3 ', R: 5'-
TGTGGTACGAGAGGCATAC-3'; Nfκb F: 5'-CCGTCTGTCTGCTCTCTCT-3', R: 5'-

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CGTAGGGATCATCGTCTGCC -3'; Apaf-1 F: 5'-TTCCAGTGGCAAGGACACAG-3', R: 5'-


CCACTCTCCACAGGACAAC-3'; Mdr1F:5'-TCAGCAACAGCAGTCTGGAG-3';R: 5'-
ACTATGAGCACCACCAGCACC-3'; Birc5 (Survivina) F: 5'-
AGAACAAAATTGCAAAGGAGACCA-3', R: 5'-GGCATGTCACTCAGGTCCAA-3'; Mmp2 F: 5'-
AACGGTCGGGAATACAGCAG-3', R: 5'-GTAAACAAGGCTTCATGGGGG-3'; e Cxcl12 F: 5'-
TCAGCCTGAGCTACAGATGC-3', R: 5'-CTTTAGCTTCGGGTCAATGC-3'.
Análise Estatística
Após os experimentos, para a validação dos dados obtidos foi realizada a partir do
cálculo de média ± DP (desvio padrão) em triplicata ou quintuplicata, os quais foram
aplicados no no software GraphPad Prism 8.1.1 (GraphPad Software, San Diego, CA,
EUA), realizando-se os testes Mann-Whitney não pareado , análise de variância
bidirecional (ANOVA) e teste t de Student. A validação da significância estatística foi
realizada a partir do cálculo do valor de P, conforme já estabelecido na literatura
(BOOS; STEFANSKI, 2011), de modo que: * p ≤ 0,05, ** p ≤ 0,01, *** p ≤ 0,001 e **** p
≤ 0,0001.

Resultados e Discussões

Inibição do crescimento tumoral In vivo por PLGA PA NPS


Foram observados resultados significativos na redução do volume e peso tumoral a
partir do tratamento com DOX e nanopartículas PLGA carreadas com DOX, Ácido
palmítico (PA) ou ambos, em comparação aos grupos tratados apenas com solução
salina (Fig. 6 B–C)
Os dados também indicam que o efeito antitumoral das nanopartículas carregadas
com PA foram semelhantes às nanopartículas carreadas com DOX (Fig. 6C).
Ademais, as nanopartículas PLGA PA carreadas e não carreadas com DOX
proporcionam um efeito maior na redução do peso e do tamanho do tumor em
comparação ao tratamento com DOX livre (Fig. 6 C–D), com o adicional de
promoverem uma menor redução de Leucócitos, o que sugere uma minimização dos
efeitos colaterais a partir do tratamento com PLGA PA (Fig. 6E).
Inibição da capacidade metastática do câncer de mama por PLGA PA NPS
Avaliou-se a capacidade dos tratamentos com nanopartículas na capacidade
metastática do câncer de mama no modelo in vivo.

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Desse modo, foram obtidos resultados que indicam uma redução maior dos nichos
metastáticos do fígado a partir do tratamento com a DOX livre a as nanopartículas
carreadas com DOX e ácido palmítico, em comparação com os grupos salina e PLGA
(Fig. 7A-C).
Nesse mesmo enfoque, a metástase no pulmão foi drasticamente reduzida pelos
tratamentos com DOX livre e os tratamentos experimentais com nanopartículas em
comparação aos grupos controles (Fig. 7B-C).
Avaliação do perfil de expressão de genes e proteínas no TME
Com relação a análise do, microambiente tumoral, observou-se um aumento na
expressão de Caspase 3, indicando um efeito pró apoptótico, a partir do tratamento
com DOX livre, PLGA-DOX e PLGA-PA-DOX(** p ≤ 0,01 , *** p ≤ 0,001, **** p ≤ 0,0001)
, sendo observado um aumento mais significativo no último grupo - Dados observados
apenas nos grupos contendo DOX (Fig 8B).
A partir desses tratamentos, foi notório a partir de RT-PCR o aumento da expressão
dos genes FADD e APAF-1 (* p ≤ 0,05, ** p ≤ 0,01, *** p ≤ 0,001, **** p ≤ 0,0001),
intrinsecamente relacionados à apoptose (Fig 8C-D).
Ademais, a expressão do inibidor de apoptose Birc5 (Survivin) e do gene de resistência
à múltiplas drogas 1 (Mdr1) foi reduzida a partir da ação das nanopartículas PLGA-DOX,
PLGA-PA e PLGA-PA-DOX no TME (Fig 8E-F).
Em contrapartida, o efeito de DOX livre sobre o gene Mdr1 levou a um aumento da
expressão desse, a qual pode ser minimizada a partir da utilização das nanopartículas
como sistema de entrega (Fig. 8F).
Em suma, tem-se que a entrega de drogas em um sistema encapsulado torna possível
a redução da resistência à medicamentos observada nos tratamentos convencionais.
Bem como, a utilização da nanopartícula associada a ácido palmítico é capaz de
potencializar os efeitos pró-apoptóticos.
Avaliando-se outras vias de sinalização relevantes ao estroma tumoral, observou-se, a
partir de imunohistoquímica e RT-PCR, a redução do fator de transcrição NFkb 1, da
metaloproteinase MMP2 e do gene Cxcl12 - importantes na proliferação tumoral,
mediante os tratamentos com DOX livre e DOX encapsulada com PLGA e PLGA PA em
comparação aos controles experimentais (Fig 9).
Vale salientar, assim, que o tratamento com a DOX, associado ao PLGA PA, obteve
resultado mais significativo na redução desses marcadores em comparação aos outros
tratamentos, dados constatados na IH e na RT-PCR, indicando que o sistema de
entrega de PLGA PA potencializa e promove ação anti metastática, atuando nas
diferentes vias do microambiente tumoral.

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A partir da imunohistoquímica, também foi avaliado a capacidade de imunomodulação


dos tratamentos. Desse modo, constatou-se redução de CD163, marcador de
macrófagos M2 pela aplicação de todos os tratamentos, sendo maior naqueles
contendo DOX (Fig S4A e C). Por sua vez, a expressão de CD68, marcador de macrófago
M1, mostrou-se aumentada a partir dos tratamentos com DOX livre, PLGA DOX e PLGA
PA DOX (Fig S4B e D.
Indução da infiltração de linfócitos em tumores de mama por PLGA PA NPS
Comparando os tratamentos experimentais com os grupos salinas e PLGA exclusivo,
observou-se que os grupos controle possuíam uma quantidade maior de áreas
necróticas.
Contudo, o achado mais significativo foi a capacidade do PLGA PA de reduzir a necrose
(Fig.10 A-B) e aumentar a infiltração de linfócitos no tecido (Fig. 10 A-C), sendo o único
tratamento que demonstrou menos de 25% de áreas de células necróticas. Os grupos
que continham PA na composição aumentaram a infiltração de linfócitos em
comparação com os controles, destacando-se PLGA PA em que algumas áreas
apresentaram mais de 50% de linfócitos.
Ademais, nos grupos tratados com PLGA PA e PLGA PA DOX os linfócitos localizaram-se
preferencialmente nas áreas necróticas.
Todos esses resultados indicam a capacidade imunomoduladora do ácido palmítico no
microambiente tumoral.

Conclusão

A partir do exposto, torna-se notório que a combinação de DOX e Ácido Palmítico


demonstrou um efeito antitumoral potencializado. Mediante a aplicação das
nanopartículas foi possível observar inibição de crescimento e da capacidade de
metástase, além do aumento da apoptose e minimização da resistência à
medicamentos.
Os resultados demonstraram que o ácido palmítico e a doxorrubicina atuam em
diferentes vias no combate ao crescimento tumoral, as quais se complementam. Nesse
enfoque, o ácido palmítico é capaz de compensar algumas desvantagens do
tratamento com a DOX, a exemplo da resistência medicamentosa.
Corroborando com a perspectiva abordada, destaca-se também a capacidade exibida
pelo sistema de entrega baseado em nanopartículas na potencialização do tratamento,
sobretudo na modalidade farmacocinética.

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Em suma, o PA exibiu significativa ação anti metastática e imunomoduladora,


aumentando a população de linfócitos infiltrantes - resultados que indicam uma nova
abordagem terapêutica efetiva contra o câncer de mama.

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Anexos

Fig 6 - Curva de crescimento tumoral

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Fig 7 - Painel histológico e gráfico

Fig 8 - Painel imunohistoquímico e gráfico dos marcadores de apoptose

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Fig 9 - Painel imunohistoquímico e gráfico dos marcadores de proliferação

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Fig 10 - Painel histológico: infiltração dos linfócitos

Graphical abstract

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CÓDIGO: SB0206

AUTOR: VALKLEIDSON SANTOS DE ARAUJO

COAUTOR: AGNES ANDRADE MARTINS

ORIENTADOR: AURIGENA ANTUNES DE ARAUJO

TÍTULO: Analise Histopatologica, Imunohistoquimica, dosagem de citocinas e


RT PCT dos EFEITOS DA INIBIÇÃO DO RECEPTOR DA INTERLEUCINA 6
SOBRE O METABOLISMO DO TECIDO ÓSSEO

Resumo

O tocilizumab é medicamento inibidor do receptor de IL-6 que vem sendo


estudado como uma possível terapia para doença periodontal, uma vez que a
IL-6 é mediador na resposta inflamatória da doença periodontal capaz de
induzir processos celulares destrutivos para os tecidos de suporte dentário.
Com base nisso, objetivo avaliar o papel do inibidor específico do IL-6R sobre o
metabolismo ósseo através de modelo experimental de DP. METODOLOGIA:
Foi realizado de um ensaio pré-clínico, in vivo, randomizado e controlado com
uma amostra de 50 ratos Wistar submetidos ao modelo de doença periodontal
experimental por 11 dias. O tratamento foi feito nos grupos experimentais de
forma terapêutico e profilático com 2 mg/Kg do fármaco. Foram realizadas as
análises histopatológica, RT-PCR e de ensaio de citocinas para IL-6.
Resultados: Foi observado que Tocilizumabe, administrado localmente na boca
do animal, demonstrou desenvolver efeito protetor na periodontite
experimental.

Palavras-chave: Saúde bucal. Inibidores de interleucina 6. Periodontite.

TITLE: HISTOPATHOLOGICAL, IMMUNOHISTOCHEMICAL ANALYSIS,


DOSAGE OF CYTOKINE AND RT-PCT OF THE EFFECTS OF INTERLEUKIN
6 RECEPTOR INHIBITION ON BONE TISSUE METABOLISM.

Abstract

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Tocilizumab is an IL-6 receptor inhibitor drug that has been studied as a


possible therapy for periodontal disease, since IL-6 is a mediator in the
inflammatory response of periodontal disease capable of inducing destructive
cellular processes for tooth support tissues . Based on this, the objective is to
evaluate the role of the specific IL-6R inhibitor on bone metabolism through an
experimental model of PD. METHODOLOGY: A pre-clinical, in vivo, randomized
and controlled trial was carried out with a sample of 50 Wistar rats submitted to
the model of experimental periodontal disease for 11 days. The treatment was
carried out in the experimental groups in a therapeutic and prophylactic way
with 2 mg/Kg of the drug. Histopathological analysis, RT-PCR and cytokine
assay for IL-6 were performed. Results: It was observed that Tocilizumab,
administered locally in the animal's mouth, demonstrated to develop a
protective effect in experimental periodontitis.

Keywords: Oral Health, Interleukin-6 Inhibitors.Periodontitis.

Introdução

A doença periodontal (DP) é uma condição biofilme dependente, ou seja, o


fator etiológico é biofilme periodontopatogênico. Além disso, o desenvolvimento
da doença é considerado multifatorial e a resposta de defesa do hospedeiro
exerce papel significativo no desafio microbiano e no prognóstico da DP. Com
base nisso, o mecanismo imunológico capaz de induzir um processo
inflamatório decorrente da presença de biofilme, acarreta produção de
mediadores inflamatórios como a interleucina-1 (IL-1), interleucina-6, TNF-α e
entre outras que favorecem a destruição tecidual do periodonto através do
processo inflamatório exacerbado (LINS et al., 2006).
Conforme Irwin e Myrikkas (1998), a IL-6 é considerado um potencializador no
processo de diferenciação dos osteoclastos. E por isso, participa modulando a
reabsorção óssea com o aumento da expressão de IL-6 em situações
inflamatórias, como no caso de periodontite crônica ou ainda no reparo ósseo
(FUJIHASSHI et al., 1993). A IL-6 é uma citocina produzida por diversas
células e seus receptores, IL-6R, também são expressos em uma diversidade
celular, podendo explicar suas diversas atividades mediadoras em doenças
inflamatórias como a DP e outras condições sistêmicas (MCLOUGHLIN et al.,
2005).
O tocilizumab, um anticorpo monoclonal humanizado de receptor de IL-6, se
liga com elevada afinidade interditando as vias de transdução de sinais que
inibe a dimerização do complexo IL-6, IL-6R e a gp130, evitando a sinalização.
Ensaios clínicos mundiais de tocilizumab provaram seus efeitos excepcionais
sobre artrite reumatoide e artrite idiopática juvenil (ZHANG; CHEN; TERAO,
2017).

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Assim, levando-se em consideração os avanços na patogênese da doença


periodontal e as novas técnicas para modulação da resposta inflamatória do
hospedeiro (OLIVEIRA et al., 2017), esse estudo teve como objetivo avaliar o
papel do inibidor específico do IL-6R sobre o metabolismo ósseo através de
modelo experimental de DP.

Metodologia

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Os protocolos de experimentação foram submetidos e aprovados pela


Comissão de Ética no Ensino e Pesquisa em Animais – Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, segundo protocolo 004/2021, certificado nº
238.004/2021.

LOCAL DO ESTUDO

Os experimentos e análises laboratoriais, incluindo o preparo e manipulação


dos animais, e a coleta de materiais orgânicos, foram realizados no Laboratório
de Farmacologia do Centro de Biociências (UFRN). O preparo de lâminas
histológicas foi realizado no Laboratório de Patologia do Departamento de
Odontologia da UFRN. O processo de escaneamento das amostras por μCT e
de análise radiográfica foi realizado na Universidade da Califórnia em Los
Angeles (UCLA)- School of Dentistry.

CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO E DESENHO EXPERIMENTAL

O presente estudo trata-se de um ensaio pré-clínico, in vivo, e controlado por


placebo. A amostra foi composta por 50 ratos Wistar machos (Rattus
norvergicus) fornecidos pelo Biotério Central do Centro de Biociências da
UFRN, com aproximadamente 200g de peso e idade de 60 dias. Os animais
foram mantidos em condições ambientais de umidade (45-55%) e temperatura
(22ºC ±2ºC) controladas com ciclo claro/escuro padrão de 12/12horas, com
água e ração para animais de laboratório ad libitum. Os animais foram divididos
aleatoriamente nos seguintes grupos experimentais:

· Grupo controle (CG): 10 animais submetidos à administração de 10μl de


solução salina em cada papila mesial e distal (face palatina) do 2º molar
superior esquerdo e direito;

· Grupo periodontite experimental (EP): 20 animais submetidos à administração

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de 10μl de solução salina em cada papilas mesial e distal (face palatina) do 2º


molar superior esquerdo e à indução de periodontite experimental;

· Grupo periodontite experimental + TCZ 2mg/kg (EP + TCZ): 20 animais


submetidos à administração de 10μl de TCZ em cada papilas mesial e distal
(face palatina) do 2º molar superior esquerdo e à indução de periodontite
experimental.

PROTOCOLO EXPERIMENTAL

Para administração da solução (dia 0), os animais foram submetidos à


anestesia via injeção intraperitoneal de Cloridrato de Ketamina 10% (80mg/kg)
e Cloridrato de Xilazina 2% (10mg/kg). Em seguida, foram injetados 10μ de
solução salina (GC e EP) ou TCZ (EP + TCZ) em cada papila mesial e distal da
face palatina do 2º molar superior esquerdo, com o auxílio de uma
microseringa de Hamilton.

No terceiro dia experimental (dia 3), os animais foram novamente anestesiados


e a periodontite experimental foi induzida a partir da colocação de fio de sutura
nylon 3.0 estéril (Polysuture) na região cervical do segundo molar superior
esquerdo dos animais, com o nó cirúrgico voltado para a face vestibular.

Após 11 dias da indução da periodontite (dia 14), os animais foram novamente


anestesiados e submetidos à coleta de 5mL de sangue por meio de punção
cardíaca. Em seguida, foram eutanasiados com sobredosagem dos
anestésicos, e amostras maxilares e de tecido gengival foram removidas e
destinadas para análises.

Cada animal do grupo controle poderia fornecer 2 amostras de tecido gengival


(lado esquerdo e direito) ou 1 amostra de maxila (lado esquerdo). Quanto aos
grupos EP e EP + TCZ, cada animal poderia fornecer 1 amostra de tecido
gengival (lado esquerdo) ou maxila (lado esquerdo).

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DO SANGUE

O sangue obtido da punção cardíaca foi armazenado em tubos coletores de 5


mL. Em seguida, eles foram centrifugados a 2.500 rpm durante 15 minutos. Os
níveis séricos de aspartato aminotransferase (TGO/AST), ureia e creatinina
foram determinados com kits de diagnóstico padronizados (LABTEST®).
AVALIAÇÃO POR MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

Amostras de maxila foram dissecadas e fixadas com paraformaldeído 10% em

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solução salina tamponada por 48 horas e armazenadas em álcool 70%. Em


seguida, foram digitalizadas por um microtomógrafo de alta resolução com
resolução de 20 micrômetros. O gerador de raio-X foi operado com um
potencial de aceleração de 80 kV, corrente de 124μA e tempo de exposição de
883 ms por projeção. As imagens foram produzidas com um tamanho de voxel
de 6x6x6 μm.

ANÁLISE HISTOLÓGICA
Para análise histológicas, amostras de maxila foram dissecadas e fixadas com
paraformaldeído 10% em solução salina tamponada por 24 horas. Em seguida,
foram descalcificadas em solução de EDTA 10% (pH 7,4) por 10 semanas.
Posteriormente, foram processadas e incluídas em parafina. As lâminas foram
obtidas por meio de secções seriadas no plano sagital, com 3,5µm de
espessura. Em seguida, foram coradas com hematoxilina e eosina. Os cortes
histológicos foram analisados cegamente por um patologista em microscópio
óptico convencional (Olimpus®CH2, Olimpus Optical Co. Ltd, Japão).
ANÁLISE DE CITOCINAS
Os níveis de interleucina-6 (IL-6) foram obtidos com a utilização dos kits
comerciais de ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA) (R&D Systems,
Minneapolis, MN).
RT-PCR
Amostras gengivais (n= 5/grupo) foram armazenadas em Trizol à -70°C. O
RNA total (1,0 mg) foi transcrito utilizando-se o kit de extração de SV TOTAL
RNA ISOLATION SYSTEM
ANÁLISE ESTATÍSTICAS
Os dados obtidos foram avaliados quanto à distribuição normal através do teste
de Shapiro-Wilk. Em seguida, foram avaliados estatisticamente pela análise de
variância (ANOVA) seguido pelo pós-teste de Bonferroni, em caso de
distribuição normal.

Resultados e Discussões

ANÁLISE BIOQUÍMICA DO SANGUE


Os resultados dos níveis séricos de TGO, ureia e creatinina surgem a indução
da doença periodontal não desencadeou nenhum efeito sistêmico, já valores
obtidos nas análises estavam dentro dos valores de referência.

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ANÁLISE HISTOLÓGICA
A análise histopatológica revelou que os animais do grupo experimental
obtiveram um maior infiltrado inflamatório quando comprado ao grupo que teve
a administração do TCZ, este grupo por sua vez obteve uma menor infiltração
celular.
ENSAIO DE CITOCINAS
O imuno-ensaio por ELISA constatou que os animais com periodontite
apresentaram maior concentração de IL-6. Já o grupo com administração de
TCZ proporcionou menor concentração dessa citocina nos tecidos gengivais.
RT-PCR
A análise por RT-PCR revelou aumento da expressão das enzimas
antioxidantes SOD e GPX-1 no tecido gengival de animais com periodontite.
Nos animais que receberam TCZ houve redução da expressão, o que indica
uma menor quantidade de estresse oxidativo neste grupo.
ANÁLISE POR MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
As análises da microtomografia computadorizada revelaram comprometimento
do tecido ósseo em animais submetidos à indução de doença periodontal,
fossem eles tratados ou não tratados. A administração do TCZ foi capaz de
atenuar a perda óssea linear causada pela periodontite e a avaliação
volumétrica revelou que esses animais apresentaram maior número de
trabéculas quando comparados aos animais doentes que não receberam
tratamento.

Conclusão

A partir dos resultados discutidos, podemos concluir Tocilizumabe, administrado


localmente na boca do animal, demonstrou desenvolver efeito protetor na
periodontite experimental, sem comprometimento renal e hepático. Esses achados,
possuem importância na área da periodontia e podem ser relevantes no contexto
clínico, considerando seu uso nos casos mais complexos de periodontite, ou ainda
assumir um papel de tratamento coadjuvante associado a outras terapias básicas.

Referências

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Anexos

Figura 1: Classificação eventos histológicos de acordo com escores.

Figura 2: Dosagem sérica de TGO/AST, Ureia e Creatinina expressos por média ± desvio
padrão.

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Figura 3: Fotomicrografias mostrando cortes histológicos nos tecidos periodontais nas


regiões interproximais dos segundos molares superiores. Coloração: hematoxilina e
eosina (H&E). Ampliação: 100×.

Figura 4: Quadro de medianas dos escores histológicos com valores mínimo e máximo
entre parênteses.

Figura 5: O gráfico mostra as médias dos níveis de IL-6 medidos no tecido gengival.

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Figura 6: O gráfico representa as médias da expressão relativa de mRNA para os genes


SOD (A) e GPx (B). Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

Figura 7: Gráficos de análise linear e volumétrica realizada por meio de


microtomografia computadorizada. Perda óssea linear (A); BV/TV (B); Número de
trabéculas (C); Separação trabecular (D); Espessura trabecular (E).

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CÓDIGO: SB0226

AUTOR: LUIZA FLAVIA ESTEVAM DA COSTA

ORIENTADOR: SUSANA MARGARIDA GOMES MOREIRA

TÍTULO: Estudo da aplicação do Tenebrio molitor como modelo in vivo para


avaliar o efeito anti-obesidade de amostras ricas em polissacarídeos sulfatados
de algas verdes

Resumo

A obesidade é um grave problema de saúde que afeta o mundo inteiro. Os


tratamentos farmacológicos atuais comumente geram efeitos colaterais indesejados,
evidenciando a necessidade de novas substâncias para tratar o problema. Em
trabalhos anteriores relatamos o efeito anti-obesida de de amostras ricas em
polissacarídeos sulfatados (PSs) da alga verde Caulerpa sertularioides em modelo in
vitro. No entanto, testes para avaliar o efeito in vivo das amostras precisam ser
realizados. O Princípio dos 3Rs da experimentação animal preconiza a substituição de
modelos vertebrados quando possível. Portanto, o presente trabalho teve como
objetivo desenvolver o Tenebrio molitor como modelo in vivo para o estudo de
substâncias com potencial anti-obesidade. A manipulação e manutenção destes é
simples e de baixo custo, comparado a outros modelos in vivo. Assim, para validar o
modelo, testamos o efeito do ciprofibrato - fármaco antilipidêmico usado na clínica -
no ganho de peso em larvas de T. molitor. As larvas tratadas por 15 dias com o
fármaco não apresentaram diferença de ganho de peso quando comparadas às não
tratadas. Os resultados sugerem que otimizações na metodologia são necessárias e,
nas próximas etapas, serão testadas doses maiores de ciprofibrato. A padronização de
um modelo de estudo in vivo usando larvas de T. molitor será muito importante para
os trabalhos que estão sendo desenvolvidos no grupo relacionados com a avaliação do
potencial anti-obesidade de amostras ricas em PSs.

Palavras-chave: Invertebrado. Ciprofibrato. Antiadipogênese.

TITLE: Study of Tenebrio molitor as an in vivo model to evaluate the anti-


obesity effect of samples rich in sulfated polysaccharides from green seaweeds

Abstract

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Obesity is a serious health problem that afects individuals in the entire world. Current
pharmacological treatments commonly generate unwanted side effects, highlighting
the need for new substances to treat this problem. In previous works, we reported the
anti-obesity effect of samples rich in sulfated polysaccharides (PSs) from the green
seaweed Caulerpa sertularioides in an in vitro model. However, tests to assess the in
vivo effect of the samples need to be performed. The Principle of the 3Rs of animal
experimentation recommends the substitution of vertebrate models whenever
possible. Therefore, the present work aimed to develop Tenebrio molitor as an in vivo
model for the study of substances with anti-obesity potential. The handling and
maintenance of these animals are simple and inexpensive compared to other in vivo
models. Thus, to validate the model, we tested the effect of ciprofibrate - an
antilipidemic drug used clinically - on weight gain in T. molitor larvae. Larvae treated
for 15 days with the drug showed no difference in weight gain compared to untreated
ones. The results suggest that optimizations in the methodology are needed. In the
next steps, higher ciprofibrate doses will be tested to see if there will be a reduction in
weight gain. The standardization of an in vivo study model using T. molitor larvae will
be very important for the works in development in the group related to the evaluation
of the anti-obesity potencial of samples rich in PSs.

Keywords: Invertebrate. Ciprofibrate. Antiadipogenesis.

Introdução

A obesidade está associada ao aumento do risco do desenvolvimento de outras


doenças, como diabetes tipo 2, esteatose hepática e hipertensão (Blüher, M. 2019). De
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é descrita como o
acúmulo excessivo de gordura que apresenta risco à saúde (Zorena, Katarzyna et al.
2020), e é uma preocupação devido à alta prevalência, chegando a ser considerada
uma epidemia global (Boutari and Mantzoros 2022). O tecido adiposo acometido pela
obesidade deixa de desempenhar suas funções metabólicas, culminando em inúmeros
distúrbios metabólicos (Zorena, Katarzyna et al. 2020). Nas últimas décadas muitos
medicamentos utilizados para tratar a obesidade foram retirados do mercado por
apresentarem efeitos colaterais a longo prazo (Tak, Young Jin et al. 2021). É urgente,
portanto, a exploração de novas substâncias com atividade anti-obesidade que não
apresentem efeitos colaterais significativos.
As algas marinhas constituem uma fonte rica de micro e macronutrientes, mas
também são fonte de diversos compostos com diferentes bioatividades descritas,

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entre as quais se encontra a anti-obesidade (Gómez-Zorita, Saioa et al. 2020). Já foi


descrito, em trabalhos prévios publicados pelo nosso grupo, os efeitos antiadipogênico
e antilipogênico promovido por amostras ricas em polissacarídeos sulfatados (PSs)
extraídos da alga marinha verde Caulerpa prolifera em modelos in vivo e in vitro
(Chaves Filho 2020). Foi visto, no trabalho em questão, que os PSs diminuem
significativamente a expressão de marcadores adipogênicos e lipogênicos. Relatamos,
também, o efeito antiobesidade de amostras ricas em PSs extraídos da alga marinha
verde Caulerpa sertularioides em modelo in vitro (Chaves Filho et al. 2022). Entretanto,
o efeito inibitório do acúmulo de gordura promovido por esta alga em um modelo in
vivo ainda não foi descrito.
De acordo com o Princípio dos 3 Rs da experimentação animal (Russel e Burch 1959),
devemos substituir o uso de animais vertebrados vivos por invertebrados ou outro
modelo, quando possível. Neste sentido, pretendemos desenvolver um modelo in vivo
para estudar o efeito de PSs de algas no acúmulo de gordura. No caso, queremos usar
a larva do Tenebrio molitor para desenvolver esse modelo. Estas larvas contêm uma
quantidade significativa de lipídios em sua composição, correspondendo a cerca de 30
a 34% de sua matéria seca (Simone et al. 2019), podendo surgir como um possível
modelo para estudar o efeito anti-obesidade. Larvas de T. molitor são bastante
utilizadas como ração para animais na agropecuária, porém ainda não há relatos na
literatura sobre a aplicação do coleoptera como modelo para estudos de anti-
obesidade. Portanto, neste estudo pretendemos desenvolver o modelo de T. molitor
para avaliar o potencial anti-obesidade de amostras ricas em PSs da macroalga C.
sertularioides. Antes de testar o efeito anti-obesidade das amostras, é necessário
validar o modelo usando um fármaco já utilizado na clínica para esta finalidade. O
ciprofibrato é um fármaco com atividade antilipidêmica em humanos que atua se
ligando ao "peroxisome proliferator-activated receptor alpha" (PPARalfa), um receptor
nuclear que estimula a oxidação de ácidos graxos. Testamos, portanto, o efeito do
ciprofibrato na redução do ganho de peso em larvas de T. molitor. Desta forma, o
presente trabalho teve como objetivo validar o T. molitor como modelo in vivo para o
estudo de anti-obesidade, por meio da administração do ciprofibrato, no intuito de
aplicá-lo em trabalhos futuros para estudar o efeito antilipogênico das amostras ricas
em PSs da alga C. sertularioides.

Metodologia

Manutenção das larvas de T. molitor. As larvas do T. molitor foram fornecidas,


gentilmente, pelo grupo coordenado pela professora Raquel Theodoro (DBG),
colaboradora deste estudo. Para os testes, as larvas foram divididas em 3 grupos,
todos alimentados com o mesmo substrato – 36,36% de farelo de trigo, 18,18% de

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germe de trigo, 18,18% de farinha de trigo, 16,36% de aveia em flocos, 10,9% de


extrato de soja e 0,04% de cloranfenicol (Langston, K., Selaledi, L. & Yusuf, A. 2023). Os
animais foram mantidos em placas de Petri (60x15mm), sob condições de baixa
luminosidade, temperatura de 27 ± 1 °C e umidade relativa 40-50% (Brai, Annalaura et
al 2023).
Administração do ciprofibrato. O ciprofibrato foi diluído em álcool, já que é um
composto apolar, e foi pipetado em um pedaço de papel filtro de modo que fosse
administrado 2 ug de fármaco por larva. Dependendo da condição, no papel filtro
também foi pipetado uma solução de glicose a 5%, para a concentração de glicose final
ser 34mg/placa de Petri. O papel filtro foi, então, colocado junto às larvas.
Para testar o efeito do ciprofibrato, o primeiro grupo foi submetido a um papel filtro
embebido somente com glicose a 5%; em outro grupo, larvas submetidas à mesma
dieta foram tratadas apenas com ciprofibrato (ausência de glicose); e um último grupo
foi submetido à mesma dieta e tratado com glicose e fármaco simultaneamente. O
experimento foi feito em triplicata com 10 animais por grupo. Cada grupo de larvas foi
mantido em placas de Petri nas condições supracitadas por 15 dias.
Análise da toxicidade. A análise da toxicidade do ciprofibrato nas larvas foi realizada
por meio do monitoramento da sobrevivência dos grupos tratados ao longo do tempo
do experimento.
Mensuração/medição da massa das larvas. A massa de cada grupo foi aferida, a cada 3
dias, em uma balança de precisão até o final do experimento (15° dia). No final foi
calculado o ganho de peso quando comparado ao primeiro dia do experimento. As
larvas foram selecionadas de modo que os grupos iniciaram com uma massa
semelhante.
Análise dos dados. Foram realizados 3 ensaios independentes, cada um deles em
triplicata experimental. Os dados foram comparados quanto à variância (ANOVA),
seguido pelo teste de Sidak, com diferenças significativas quando P ≤ 0,05. O software
utilizado foi o Graphpad Prism versão 8.

Resultados e Discussões

Padronização das condições de estudo. Como não encontramos na literatura nenhum


estudo que avalie o ganho de peso em larvas de T. molitor - na verdade, há
pouquíssimos trabalhos na literatura utilizando o coleoptera -, desenvolvemos uma
metodologia para tal finalidade. Executamos uma triplicata de 10 animais por
tratamento, todos nas mesmas condições de temperatura, umidade e substrato.
Larvas selecionadas com peso entre 50 e 67 mg, agrupadas com substrato trocado a

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cada 7 dias e mantidas em ambiente com pouca luminosidade se mostraram ideais


para o estudo. Elas não apresentaram características fenotípicas de estresse -
hiporreatividade, morte - nem passaram para o estágio de pupa. Foi observado,
também, que o comportamento alimentar das larvas foi consideravelmente
estimulado pela glicose. Dos 3 grupos, apenas aqueles que continham glicose tiveram
o seu papel todo consumido ao final do experimento (figura 1). Por essa razão,
analisamos o ganho de peso apenas naqueles grupos que continham glicose embebida
no papel filtro.

Análise da toxicidade. Durante o período do experimento, todas as larvas de T.


molitor sobreviveram, indicando que, para a dosagem administrada, o ciprofibrato não
foi tóxico.
Diferença do ganho de peso entre os grupos. Foi analisada a diferença do ganho de
peso entre os grupos de animais tratados com a glicose e animais tratados com glicose
e ciprofibrato. Durante o experimento não se observou diferença significativa de
ganho de peso entre os dois grupos. O grupo tratado com glicose e ciprofibrato
apresentou menor ganho de peso do que aquele tratado apenas com a glicose ao final
do 15° dia de experimento, porém tal diferença não se traduz numa significância
estatística (figura 2).
Há poucos estudos na literatura que utilizam o ciprofibrato em animais e nenhum em
invertebrados. Dessa forma, o presente trabalho foi o primeiro a testar a
administração do ciprofibrato em um modelo invertebrado. Também não encontramos
muitos estudos que adotem larvas de T. molitor como modelo in vivo, de modo que
entre os modelos animais invertebrados mais explorados estão a mosca-da-fruta
Drosophila melanogaster e a larva Galleria mellonella (Tonk-Rügen, Miray et al. 2022).
As larvas de T. molitor são empregadas em larga escala como ração e alimento e o
aspecto nutricional de sua composição é bastante explorado (Simone et al. 2019).
Existem também estudos sobre a capacidade de metabolização e degradação de
plástico (Mamtimin, Tursunay et al 2023) e sobre a exploração do potencial de
bioconversão de micotoxinas (Zhao, Dandan et al 2022). Porém existem poucos
estudos utilizando o coleoptera como organismo modelo para pesquisas
experimentais. Portanto, o nosso trabalho foi pioneiro na utilização de larvas de T.
molitor como modelo invivo na pesquisa experimental.
O ciprofibrato atua no receptor nuclear PPARalfa, que está envolvido na expressão de
genes relacionados ao metabolismo lipídico. O PPARalfa, assim como todos os outros
fatores desta família, está ausente nos invertebrados (Grabacka, Maja et al 2021).
Porém, como não há informações na literatura acerca dos marcadores lipogênicos e
adipogênicos e das vias envolvidas no metabolismo dos lipídeos do T. molitor, o
fármaco pode atuar em outra via bioquímica e molecular ainda não elucidada. Genes

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que codificam receptores nucleares estão presentes nos invertebrados (Miglioli,


Angelica et al. 2021). Dessa forma, a larva pode conter uma proteína homóloga à
PPARalfa com semelhança na sequência de aminoácidos e de estrutura tridimensional,
de maneira que também tenha a possibilidade de haver um sítio de ligação ao
ciprofibrato.
Roedores são os animais mais utilizados no estudo da obesidade, frequentemente com
alguma mutação monogênica para mimetizar a condição de obesidade em humanos
(Lutz, Thomas A 2020). Entretanto, a obesidade é resultado de um desbalanço
energético entre ganho e gasto de energia que envolve várias vias bioquímicas e
moleculares, sendo um processo complexo que necessita de estudos de maneiras
distintas que, complementados, chegam próximo de refletir a obesidade em humanos.
É importante, portanto, não restringir a maioria dos estudos da obesidade a apenas
um organismo, sendo importante a validação de modelos in vivo para o estudo de
tratamentos anti-obesidade, preferencialmente aqueles que se enquadrem nos
princípios dos 3 Rs. A manipulação e a manutenção das larvas do T. molitor é simples e
de baixo custo, quando comparado ao cuidado com outros modelos animais. Além
disso, não requer aprovação por um comitê de ética para a sua utilização.
A dose de ciprofibrato administrada às larvas, ainda que não tenha sido tóxica, não foi
suficiente para gerar uma diferença de ganho de peso significativa quando comparada
ao grupo não tratado. Isto poderá ser devido a uma dose insuficiente para causar um
efeito, mas também pode ser resultado da ausência de vias metabólicas ativadas por
essa droga no animal. Assim, nos próximos trabalhos iremos aumentar a dosagem do
ciprofibrato nos ensaios. Adicionalmente iremos testar o fucoidan - uma classe de PSs
extraídos de macroalgas marrons - cuja atividade na redução do ganho de peso em
roedores já foi demonstrada (Urasaki, Yasuyo, and Thuc T Le 2022), na tentativa de
observar o efeito anti-obesidade no T. molitor e validar o modelo invertebrado.

Conclusão

As larvas de T. molitor têm o comportamento alimentar estimulado pela glicose, de


maneira que o papel filtro embebido com glicose surge como uma forma de
administração válida para esses animais. A dose administrada do ciprofibrato não foi
tóxica para as larvas de T. molitor, mas também não foi suficiente para gerar uma
redução do ganho de peso quando comparado ao grupo não tratado. Dessa forma, em
trabalhos futuros iremos administrar doses maiores do fármaco no intuito de analisar
o efeito deste no ganho de peso e na toxicidade nas larvas de T. molitor. Iremos,
também, administrar amostras ricas em PSs com atividade anti-obesidade descrita,
como por exemplo o fucoidan ou mesmo as amostras ricas em PSs da macroalga C.

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sertularioides - que já tiveram seu efeito antiadipogênico evidenciado in vitro pelo


nosso grupo.
O presente estudo foi importante por ter sido o primeiro a delinear uma metodologia
para tentar estabelecer o emprego de larvas de T. molitor como modelo anti-
obesidade, sendo pioneiro na administração de fármacos nesses animais. No entanto,
mais estudos são necessários para atingir esse objetivo.

Referências

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1-0716-0385-7_2
Mamtimin, Tursunay et al. “Gut microbiome of mealworms (Tenebrio molitor Larvae)
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Mancini, Simone et al. “Former Foodstuff Products in Tenebrio Molitor Rearing: Effects
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Genes vol. 12,1 83. 11 Jan. 2021, doi:10.3390/genes12010083
Tonk-Rügen, Miray et al. “Insect Models in Nutrition Research.” Biomolecules vol.
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Urasaki, Yasuyo, and Thuc T Le. “Functional Complementation of Anti-Adipogenic
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16 Oct. 2022, doi:10.3390/nu14204325
Zhao, Dandan et al. “Detoxication and bioconversion of aflatoxin B1 by yellow
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production from contaminated grain.” Ecotoxicology and environmental safety vol.
242 (2022): 113935. doi:10.1016/j.ecoenv.2022.113935
Zorena, Katarzyna et al. “Adipokines and Obesity. Potential Link to Metabolic Disorders
and Chronic Complications.” International journal of molecular sciences vol. 21,10
3570. 18 May. 2020, doi:10.3390/ijms21103570

Anexos

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Figura 1. Registros fotográficos que evidenciam o comportamento alimentar das


larvas.“G” corresponde à glicose, enquanto "F" corresponde ao ciprofibrato.

Figura 2. Avaliação do peso das larvas durante o tempo do experimento. O grupo


tratado com o fármaco não apresentou redução significativa do ganho de peso ao final
do 15° dia. "G" corresponde à glicose, enquanto "F" corresponde ao ciprofibrato.

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CÓDIGO: SB0231

AUTOR: MARIANA DIAS MENDES

ORIENTADOR: MARICELE NASCIMENTO BARBOSA

TÍTULO: O efeito do estresse na graduação na resposta cardiovascular e


psicológica de estudantes da UFRN

Resumo

Atualmente o estresse é reconhecido com um dos maiores problemas que acometem


a saúde física e mental do indivíduo. Ele corresponde a uma resposta física, psíquica
e hormonal que ocorre quando o corpo necessita de adaptação frente a um evento
que pode causar desequilíbrio à homeostase do indivíduo. Assim, o ingresso do
estudante na Universidade pode mantê-lo em contato com estressores específicos,
como as avaliações de conteúdo, a quantidade do material a ser estudado, as
demandas impostas no curso, a interferência familiar, a concorrência, entre outros. O
objetivo desse estudo foi investigar a resposta cardiovascular e emocional de
estudantes do Curso de Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
durante exposição à dois tipos diferentes de avaliação de conteúdo: escrita e gincana.
Para isso, foram registrados os valores da pressão arterial sistólica e diastólica, da
frequência cardíaca e do estado de ansiedade (IDATE) dos estudantes antes e após as
atividades avaliativas (fases basal, pré-teste, pós-teste e recuperação). Foi encontrado
um aumento na pressão arterial sistólica na prova escrita e na frequência cardíaca na
gincana; o estado de ansiedade variou em ambos os tipos de avaliação. Além disso, foi
encontrado os maiores valores nas variáveis cardiovasculares e na resposta emocional
dos estudantes nas fases pré teste que antecederam a aplicação do estressor com o
retorno aos valores basais após sua finalização.

Palavras-chave: Estresse; Graduação; Resposta cardiovascular, Estudantes, .

TITLE: The effect of graduation stress on the cardiovascular and psychological


response of UFRN students

Abstract

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Currently, stress is recognized as one of the biggest problems that affect the physical
and mental health of the individual. The Stress corresponds to a physical, psychic and
hormonal response that occurs when the body needs to adapt to an event that can
cause an imbalance in the individual's homeostasis. Then, the student's admission to
the University can keep him in touch with specific stressors, such as content estimates,
the amount of material to be reflected, the demands imposed on the course, family
interference, competition, among others. The objective of this study was to investigate
the cardiovascular and emotional response of students of the Biomedicine Course at
the Federal University of Rio Grande do Norte during exposure to two different types
of content evaluation: writing and gymkhana. For this, the values of systolic and
diastolic blood pressure, heart rate and state of anxiety (IDATE) of the students were
recorded before and after the evaluative activities (baseline, pre-test, post-test and
recovery phases). An increase in systolic blood pressure was found in the written test
and in heart rate in the gymkhana; the state of anxiety varied in both types of
assessment. In addition, the highest values were found in the cardiovascular variables
and in the state anxiety of the students in the pre-test phases that preceded the
application of the stressor with the return to baseline values after its completion.

Keywords: Stress; Graduation; Cardiovascular response, Students,

Introdução

Considerado um problema na saúde pública, o estresse afeta, em média, 90% das


pessoas em todo o mundo. No Brasil, cerca de 30% da população que está em idade
para trabalhar, incluindo aquelas já empregadas ou procurando emprego já foram
significativamente afetadas pelo estresse advindo da pressão excessiva (Santos et al.,
2017).

No transcurso da vida, em determinadas ocasiões, as pressões biopsicossociais são


responsáveis por desequilíbrios na homeostase do indivíduo, prejudicando seu
desempenho nas mais variadas circunstâncias. Essas pressões geradoras de estresse
são vivenciadas em diversas situações, na vida pessoal, social, profissional, e, não
menos diferente, durante a trajetória acadêmica (Liu Kam, 2020; Monteiro, 2007).

O ingresso na graduação traz inúmeras mudanças em áreas distintas, tanto no âmbito


acadêmico, como também pessoal, institucional, vocacional e social (Sahão et al, 2021;
Baptista, Ferraz; Inácio, 2020), contribuindo para um aumento do nível de estresse.
Neste sentido, alguns estudos têm mostrado que o estresse vem sendo identificado
em um nível elevado nos alunos dos cursos da área de saúde por afetar a inteligência
emocional, apresentando-se com um papel potencial para os estudantes de medicina,
enfermagem e outras áreas da saúde, afetando tanto a saúde mental pessoal quanto a

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prática profissional (Birks et al, 2009).Neste período, esta população é colocada frente
a diversos fatores geradores de estresse, como a mudança dos hábitos, aumento da
carga acadêmica, atividades impostas pela universidade, mudança no ambiente e
outras situações desconhecidas nunca enfrentadas (Acharya; Jin; Collins, 2018). Além
desses fatores, os universitários ainda precisam lidar com a mudança ao surgir a
necessidade de sair da casa dos pais para morar com colegas (algumas vezes sendo
pessoas desconhecidas), as despesas e dificuldades financeiras para estudar, pressão
vinda dos professores ou pais, as preocupações com o futuro, entre outros fatores
(Dachew; Bisetegn; Gebremariam, 2015).Embora o estresse seja considerado uma
resposta instintiva do corpo humano para lidar com estímulos e eventos que causem
algum impacto nas diferentes dimensões e funções no cotidiano, estresse excessivo
pode desencadear as mais diversas alterações psicológicas e fisiopatológicas. Dentre
muitas alterações físicas desencadeadas pelo estresse estão incluídas doenças
gastrointestinais, cardiovasculares, respiratórias, dermatológicas e imunológicas.
Diante do estresse prolongado o corpo desempenha uma resposta semelhante como
seria frente a uma situação de perigo, em que há uma elevação da pressão arterial,
aumento da frequência cardíaca e constrição de vasos sanguíneos (Rios OFL, 2006).
Esse processo de estresse contínuo pode causar doenças cardiovasculares, variando de
doenças crônicas até a crises de aumento de pressão arterial e doenças agudas
(William et al, 2002). Além disto, também existem as manifestações psicológicas, como
transtornos de ansiedade, insônia, e até mesmo depressão (Lipp, 2013). De acordo
com dados de diferentes estudos, lidar com agentes estressores específicos durante a
formação profissional são prováveis fatores que contribuem para promoção de
diferentes alterações mentais (El-Gilany et al, 2019). A saúde mental dos alunos vem
causando uma significada preocupação no ambiente acadêmico, tendo em vista a
estimativa de que um em cada cinco universitários no mundo é afetado por um
transtorno mental, sendo os transtornos de ansiedade o mais incidente (Souza et al,
2022). O início na vida acadêmica pode deixar o indivíduo cada vez mais ocupado,
tendo em vista o aumento das exigências e tarefas. Além disso, esse período pode dar
início a vida adulta e levar o estudante a enfrentar novas situações, fazendo com que
haja a necessidade de constante adaptação. Dessa forma, as chances de
desenvolvimento de depressão e ansiedade aumentam (Cardozo et al., 2016; Carvalho
et al., 2015).

Metodologia

Sujeitos:

Foram avaliados 30 alunos de ambos os sexos do primeiro período do curso de

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Biomedicina, com idade entre 18 e 28 anos, sendo 22 alunos do sexo masculino e 8


alunos do sexo feminino. A amostragem foi feita de maneira aleatória, com os
indivíduos interessados em participar se disponibilizando voluntariamente. Os
indivíduos foram informados que o estudo foi de natureza psicofisiológica, não sendo
usada metodologia invasiva para a sua realização, que ocorreu antes e após uma breve
entrevista. Em seguida foram apresentados ao planejamento experimental, e aqueles
que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) evidenciando estar cientes do caráter voluntário de sua
participação, ficando estabelecida a autonomia para adesão e desistência dos
participantes em qualquer momento.

A seguir, cada voluntário preencheu um Inventário de Identificação que consta de


informações gerais, que formaram um banco de dados que serviu para a seleção dos
voluntários baseada nos seguintes critérios excludentes: uso de medicamentos
(contraceptivos e ansiolíticos), tabagismo, alcoolismo, uso habitual de drogas ilícitas, e
história de doenças crônico-degenerativa. Os indivíduos que se enquadraram nos
critérios passaram para a etapa seguinte do experimento.

Avaliações de conteúdo: O estudante recebeu no início do semestre o cronograma de


atividades das disciplinas, no qual estão sinalizados os dias e horários da realização das
avaliações. As avaliações de conteúdo fazem parte do calendário de atividades, sendo
sua data e hora de seu conhecimento desde o início do período letivo. Dessa forma,
avaliações de conteúdo através de teste escrito ou gincana podem ser consideradas
estressores crônicos, já que o sujeito tem conhecimento de várias características do
estressor, tais como sua natureza, seu tempo de exposição, sua previsibilidade e
controle sob sua ocorrência, que pode interferir significativamente em sua resposta
fisiológica (Anisman e Merali, 1997).
- Escrita: consistiu na resolução de questões subjetivas de conteúdos básicos. A
maioria das questões testou o conhecimento teórico e analítico do estudante;
- Gincana: consistiu na identificação de estruturas em peças anatômicas marcadas
através de alfinetes coloridos e dispostas em sequência, como também por questões
simples que se referem à identificação e localização de porções do corpo humano. O
sujeito permaneceu diante de cada peça ou questão (estação) por 2 minutos
respectivamente.
-Avaliação do Estado de Ansiedade (IDATE): Antes da aplicação do inventário, os
voluntários foram informados que sua identificação foi feita através de suas iniciais e,
que os pesquisadores envolvidos no estudo se comprometem a utilizar os dados e o
material coletado somente para a pesquisa, analisando as informações obtidas em
conjunto com as de outros voluntários. Sua identificação individual foi preservada. A
investigação da resposta emocional foi feita pela aplicação do seguinte

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instrumento:Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) (ANEXO 3).O IDATE, ou


Inventário de Ansiedade Traço-Estado é um instrumento de pesquisa psicológica, de
autoria de Spielberg et al (1979), versão em português do State-Trait Anxiety Inventory
– STAI Y (Spielberger et al, 1970). De acordo com o instrumento, a ansiedade pode ser
investigada pelo estado de ansiedade (A-estado): o sujeito indica como se sente em
um determinando momento do tempo. O uso do IDATE tem como objetivo medir
estados transitórios de ansiedade, que variam em intensidade e flutuam no tempo. De
acordo com seus autores (Spielberger et al, 1979), a exposição de indivíduos a
situações estressantes normalmente leva a elevação do estado de ansiedade. Ele
avalia a variabilidade dos escores das escalas de Ansiedade Traço-Estado pela
administração de 1 inventário constituído de 20 afirmações cada. Para cada sensação
relatada, o sujeito deve marcar a melhor qualificação para seu estado, numa escala de
quatro (4) pontos, de acordo com a intensidade no momento. O resultado é dado pela
soma dos valores marcados.

- Procedimento Experimental

O procedimento experimental foi realizado nos Departamentos de Morfologia (DMOR)


e Fisiologia (DFS) do Centro de Biociências da UFRN.
No dia marcado, os voluntários foram encaminhados para uma sala na qual foram
realizadas 5 etapas descritas abaixo:

a) Repouso: o voluntário preencheu o questionário de eventos diários e realizou


averiguação das recomendações diárias. A seguir, foram convidados a relaxar,
permanecendo em repouso por 10 minutos, ao som de música ambiente;

b) Basal: Em cada voluntário foram verificados os valores da frequência cardíaca pela


pulsação da artéria radial do membro superior esquerdo, e das pressões arterial
sistólica e diastólica, através de um tensiômetro digital. Em seguida foi aplicado o
instrumento de avaliação do estado de ansiedade (IDATE).

c) Pré-teste: Novamente foram verificados os valores da frequência cardíaca pela


pulsação da artéria radial do membro superior esquerdo, das pressões arterial sistólica
e diastólica e em seguida o voluntário preencheu o inventário de Ansiedade (IDATE).
Esta é considerada uma fase antecipatória, onde provavelmente respostas fisiológicas
aos estressores são verificadas (Kirschbaum et al, 1993);

d) Teste: realização da avaliação de conteúdo (escrita ou gincana);

e) Pós-Teste: o voluntário foi novamente submetido à avaliação cardiovascular

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(frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica) e emocional (estado de


Ansiedade-IDATE);

f) Recuperação 1: o voluntário repousou por 20 minutos;

g) Recuperação 2: o voluntário foi novamente submetido a avaliação cardiovascular


(frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica) e emocional (estado de
Ansiedade-IDATE).

-Análise Estatística:As variáveis dependentes, as pressões arterial sistólica e diastólica,


a frequência cardíaca e o Estado de Ansiedade, foram analisadas através do programa
StatSoft STATISTIC

Resultados e Discussões

RESULTADOS: Os indivíduos analisados durante a aplicação dos estressores mostraram


variações quanto à pressão arterial. Durante a realização da avaliação escrita foram
verificados os seguintes valores médios de pressão arterial sistólica nas fases basal:
110,67 ± 0,26 mmHg, pré-teste: 117,53 ± 3,06 mmHg, pós-teste: 113,50 ± 3,02 mmHg
e recuperação: 110,13 ± 2,09 mmHg. A comparação desses valores através do teste de
Friedman ANOVA mostrou uma diferença entre as fases como mostrado. Na aplicação
do teste post-hoc de Wilcoxon (Z) para comparar as fases do experimento foi
observada uma diferença entre as fases basal e pré-teste, e uma tendência de
diferença entre as fases pré-teste e pós-teste com valor de pressão sistólica mais
elevado sendo verificado na fase pré-teste.No que se refere aos valores médios da
pressão aretrial diastólica na prova escrita obtivemos os seguintes valores: 73,60 ±1,70
mmHg, na fase basal, 76,43 ±1,58 mmHg na fase pré-teste, 76,10 ± 2,03 mmHg na fase
pós-teste e 74,27 ± 2,69mmHg fase de recuperação. O teste de Friedman não mostrou
diferenças entre as fases (Friedman ANOVA = 2,072; p ≥ 0,05).Para os valores médios
da frequência cardíaca não foi encontrada uma diferença significativa na avaliação
escrita entre as fases do experimento. (Friedam ANOVA = 4,496; p ≥ 0,05). Na fase
basal foi de 72,30 ± 2,44 bpm, na pré-teste de 74,13 ± 2,37 bpm, no pós-teste de 73,0
± 2,74 bpm e na recuperação foi 71,07± 2,61 bpm.Quanto à avaliação do estado de
ansiedade realizado através do Inventário IDATE, foram encontrados os seguintes
valores: 45,44 para a fase basal, 48,00 para pré-teste, 44,33 para pós-teste e 42,56
para recuperação. Foi verificada uma diferença significativa entre as fases como
mostra.Durante a gincana, os valores médios encontrados para a pressão arterial
sistólica foram: 115,67 ± 3,11 mmHg na fase basal, 117,00 ± 3,38 mmHg na pré-teste,
117,73 ± 3,42 mmHg na pós-teste e 114,53 ± 3,03 mmHg na recuperação. (Tabela 6) A

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comparação desses valores através do teste de Friedman ANOVA não mostrou


diferença significativa entre as fases (Friedman ANOVA= 5,408; p ≥ 0,05). Da mesma
forma, a pressão arterial diastólica não variou entre as fases do experimento
(Friedman ANOVA = 1,0000; p ≥ 0,05).Com relação à frequência cardíaca registrada
durante a gincana foram observados os seguintes valores: 77,80 ± 3,51 bpm na fase
basal, 79,60 ± 3,10 bpm na pré-teste, 76,93 ± 3,29 bpm na pós-teste e 73,86 ± 2,64
bpm na recuperação. O teste Friedman ANOVA mostrou uma diferença entre os
valores de frequência cardíaca, como pode ser observado na Tabela 6.A aplicação do
teste post-hoc de Wilcoxon (Z) comparando as fases do experimento mostrou uma
diferença entre elas: fase basal x recuperação e fases pré-teste x recuperação (Tabela
7). Os valores da frequência cardíaca foram mais elevados nas fases basal e pré-teste
quanto comparado com a fase de recuperação.Com relação ao Inventário IDATE para o
estado, os valores médios encontrados durante a gincana foram: 50,67 na fase basal,
50,56 na pré-teste, 38,67 na pós-teste e 38,00 na recuperação. A comparação desses
valores pelo Teste de Friedman ANOVA mostrou uma diferença entre as fases como
mostra a Tabela 8.Com a análise do teste de Wilcoxon, foram encontradas variações
significativas estavam entre as fases: basal x pós-teste, basal x recuperação, pré-teste x
pós-teste e pré-teste x recuperação (Tabela 9).
Os valores médios de ansiedade foram observados com maior frequência nas fases
basal e pré-teste quando comparados com aqueles registrados nas fases pós-teste e
recuperação.
DICUSSÃO: Os resultados do presente estudo mostraram uma diferença significativa na
pressão arterial sistólica na prova escrita entre as fases do experimento, com os
maiores valores observados na fase pré-teste. Com relação à frequência cardíaca
durante a gincana, os valores médios mais elevados foram verificados nas fases basal e
pré-teste quando comparados com a fase de recuperação. A avaliação de estado de
ansiedade pelo IDATE mostrou para a prova escrita os níveis mais acentuados na fase
pré-teste quando comparado com a recuperação, e na gincana, nas fases basal e pré-
teste comparados aos valores nas fases pós-teste e recuperação, respectivamente.
Diante dos resultados obtidos, fica evidente que na fase pré-teste, tanto na avaliação
por meio de prova escrita quanto na gincana, observou-se, dentre as etapas do
experimento, os maiores valores das respostas fisiológicas analisadas. Considerando
que esta é descrita como a fase de resposta antecipatória, por se tratar daquele estado
em que o organismo desenvolve uma resposta frente a um estímulo, sendo, neste
caso, o agente estressor específico, é esperado que as variáveis cardiovasculares sejam
alteradas, tendo em vista que o sistema cardiovascular é um participante ativo da
resposta ao estresse, sendo influenciado pelos sistemas regulatórios neural e humoral.
Assim, os principais resultados das respostas cardiovasculares são o aumento da
frequência cardíaca, do débito cardíaco e da pressão arterial (Loures et al, 2002).

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Nesse sentido, McGraw et al. (2012) avaliou a resposta autonômica (frequência


cardíaca e pressão arterial) e hormonal (cortisol salivar) de 38 enfermeiras do exército
em 3 situações: antes, durante e após a simulação de situação de combate. Foram
verificados aumento nos níveis de cortisol salivar, na pressão arterial e na frequência
cardíaca durante a realização da simulação comparados a aqueles observados na fase
de recuperação (30 minutos após o término da simulação de guerra). Sugere-se que a
apresentação de situações estressantes agudas e crônicas mobiliza o indivíduo
internamente com o objetivo de ajustar sua resposta fisiológica as demandas
apresentadas por seu meio externo e interno.
Comparando os resultados obtidos na aferição da Pressão arterial sistólica e diastólica
na fase basal com os valores da fase de recuperação não foram encontrados valores
significativos, ou uma elevação preocupante nos estudantes frente ao fator causador
de estresse. Semelhantemente, um estudo recente encontrou os seguintes valores da
PA sistólica e diastólica inicial e final comparando dois grupos: um com sintomas de
estresse, e o outro grupo considerado como assintomático. Nesta pesquisa, não foram
encontradas maiores alterações dessas variáveis cardiovasculares nos participantes
sintomáticos, apesar de que o esperado é que pessoas portadoras de sintomas de
estresse apresentem sinais de hipertensão, como resultado da liberação de hormônio
devido a vasoconstricção que ocorre nessa condição (Oliveira; Santos, 2019).
Com relação à frequência cardíaca, não foi verificada uma importante variação dos
valores durante a prova escrita, sugerindo que possivelmente esse não é um estressor
significativo que cause algum impacto nos valores dessa variável, se comparado a
outras formas de avaliação de conteúdo como a apresentação oral e a avaliação de
competência clínica propostas por Sarid et al. (2005), como observado neste estudo
com relação às avaliações de conteúdo de caráter prático por meio da realização das
gincanas.
Os maiores valores da frequência cardíaca durante o estudo foram encontrados na
fase basal e pré-teste em relação a gincana, antes mesmo do indivíduo ser exposto aos
agentes estressores específicos. Sugere-se que essa variação ocorreu devido o
conhecimento prévio que o discente possui sobre a natureza do teste, o que implica no
desenvolvimento de uma resposta quase imediata e adaptativa frente a uma situação
vista como um perigo pelo organismo. Essa resposta pode ser caracterizada por um
traço do esforço de adaptação que nosso organismo elabora nessas situações (Loures
et al, 2002).
De acordo com o exposto na literatura, dentre os agentes estressores específicos estão
às pressões com o tempo de avaliação, à competição por um bom desempenho, o
caráter da avaliação e à carga horária (Toews et al, 1997; Ribeiro et al, 2018).

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Em relação ao estado de ansiedade IDATE, os indivíduos apresentaram um maior


estado de ansiedade nas fases que antecederam a prova escrita e a gincana.
Especificamente, a avaliação de conteúdo realizado por meio da gincana é uma
situação que gera ansiedade no indivíduo, sendo assim o contato com uma avaliação
desse caráter demonstra que a maioria dos estudantes se sentem ansiosos ainda
durante a fase basal, por já terem conhecimento do seu funcionamento e duração, por
exemplo. Sugere-se que a variação no nível de ansiedade verificado nos indivíduos nas
fases antecipatórias do teste pode ter sofrido influência de fatores como o medo de
não conseguir recordar o assunto estudado, ou até mesmo a pressão para ser
aprovado. Ambas as situações fazem com que seja necessário a modulação de uma
resposta e uma adaptação psicofisiológica para que o indivíduo se prepare e saiba lidar
com tal situação.
É importante mencionar que, a ansiedade verificada no período que antecede as
avaliações (Bzuneck & Silva, 1989; Rosário & Soares, 2003), afeta o desempenho dos
estudantes nos exames em função de seu componente cognitivo podendo interferir no
nível de atenção e concentração. Assim, a resposta de estresse sinalizada pelo estado
de ansiedade registrado no presente estudo, pode auxiliar na elaboração de mudanças
na formação educacional dos estudantes através da avaliação do efeito das avaliações
no estado físico e emocional desses indivíduos e, suas possíveis repercussões no
desempenho acadêmico.

Conclusão

Em síntese, os valores médios da pressão arterial (sistólica), frequência cardíaca e


pontuações no Inventário de Ansiedade pelo IDATE foram maiores nas fases que
antecederam a aplicação dos estressores, por se tratar da fase em que ocorre a
resposta antecipatória. Além disso, foi possível analisar que após a finalização da
exposição dos estressores, os valores médios das variáveis fisiológicas voltaram para os
níveis basais. Logo, essas respostas estão provavelmente associadas aos ajustes
fisiológicos necessários para o enfrentamento de situações estressantes.
Entretanto, não foi obtido nenhuma alteração significante das variáveis analisadas, ou
do estado de ansiedade, que possam indicar que a apresentação desses agentes
estressores cause algum impacto nas funções cardiovasculares normais dos indivíduos.

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CÓDIGO: SB0243

AUTOR: MARIANA FERNANDES DE OLIVEIRA

ORIENTADOR: BRUNO CAVALCANTE BELLINI

TÍTULO: Uma nova espécie de Poduromorpha (Hexapoda, Collembola) para a


Região Nordeste do Brasil

Resumo

Colêmbolos são pequenos artrópodes e fazem parte da fauna terrestre há muito


tempo, sendo os primeiros hexápodes a aparecerem no registro fóssil. Na atualidade,
há aproximadamente 9400 espécies de colêmbolos descritas, distribuídas em quatro
grandes ordens: Entomobryomorpha, Poduromorpha, Symphypleona e Neelipleona.
Os Poduromorpha são caracterizados por possuírem segmentação visível, presença de
cerdas ou vesículas no protergito e apêndices geralmente curtos. Hypogastruridae
Börner, 1906 é a segunda maior família dentro desta ordem, abrigando cerca de 740
espécies, distribuídas em 42 gêneros, incluindo Hypogastrura Bourlet, 1839, com 176
espécies descritas e distribuição cosmopolita. Há 17 espécies de Hypogastrura com
registro na Região Neotropical. Destas espécies, apenas duas foram registradas no
Brasil até então. Este trabalho se propôs a compilar as diagnoses de espécies de
Hypogastrura que ocorrem na Região Neotropical e descrever uma nova espécie
brasileira. Hypogastrura sp. nov.,coletada no Estado do Rio Grande do Sul, possui
como características distintivas: antênomero IV com 10 sensilas subcilíndricas, com
microsensila presente, órgão pós-antenal com 4 vesículas, cerda a0 presente na
cabeça, cerda m2 no Th. II presente, colóforo com 4+4 cerdas, tenáculo com 4+4
dentes, fúrcula bem desenvolvida, dens com 7+7 cerdas, mucro em forma de colher e
espinhos anais robustos inseridos em papilas anais. Com esta descrição o gênero agora
agrupa 18 espécies na Região Neotropical

Palavras-chave: Colêmbolos, Fauna de Solo, Hypogastruridae, Hypogastrura

TITLE: A NEW SPECIES OF PODUROMORPHA (HEXAPODA,


COLLEMBOLA) FROM THE NORTHEAST REGION OF BRAZIL

Abstract

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Springtails are small arthropods and have been part of the terrestrial fauna for a long
time, being the first hexapods to appear in fossil records. Currently, there are
approximately 9,400 described species of springtails, distributed in four major orders:
Entomobryomorpha, Poduromorpha, Symphypleona, and Neelipleona. Poduromorpha
are characterized by visible trunk segmentation, the presence of chaetae or vescicles
on the protergum, and short appendages. Hypogastruridae Börner, 1906 is the second-
largest family within this order, encompassing around 740 species, distributed across
42 genera, including Hypogastrura Bourlet, 1839, with 176 described species and a
cosmopolitan distribution. There are 17 species of Hypogastrura recorded in the
Neotropical Region. Out of these species, only two have been recorded in Brazil so far.
This study aimed to compile the species diagnoses of Hypogastrura occurring in the
Neotropical Region and describe a new Brazilian species. Hypogastrura sp. nov. is
characterized by distinctive features: antennomere IV with 10 subcylindrical sensilla,
with a microsensillum present, post-antennal organ with 4 vesicles, a0 chaeta present
on the head, m2 chaeta on Th. II present, colophore with 4+4 chaetae, tenaculum with
4+4 teeth, well-developed furcula, dens with 7+7 chaetae, spoon-shaped mucro and
robust anal spines inserted in anal papillae. With this description, the genus now
includes 18 species in the Neotropical Region.

Keywords: Springtails, Soil Fauna, Hypogastruridae, Hypogastrura

Introdução

Colêmbolos (Hexapoda, Collembola) são pequenos animais pertencentes ao filo


Arthropoda que possuem características semelhantes às dos insetos, como: corpo
dividido em cabeça, tórax e abdome, um par de antenas e três pares de pernas. Os
colêmbolos, diferentemente da maioria dos insetos, são ápteros e ametábolos, ou
seja, não possuem asas nem passam por metamorfose durante seu desenvolvimento.
Outra diferença entre insetos e colêmbolos é o fato de que as peças bucais em
Collembola se localizam quase que inteiramente dentro da cápsula cefálica, condição
que os caracteriza como entognatos (Bellinger et al., 1996-2023). Os insetos, por sua
vez, são ectognatos, por possuírem as peças bucais projetadas para fora da cabeça.
Além disso, os colêmbolos possuem três apêndices abdominais exclusivos: o colóforo,
estrutura tubular com função principal de osmorregulação; a fúrcula, que permite o
salto, e o tenáculo, que prende a fúrcula ao corpo do animal. Esses apêndices são
considerados sinapomorfias de Collembola (Hopkin, 1997).

A ordem Poduromorpha Börner, 1913 atualmente conta com 3.636 espécies descritas,
distribuídas em aproximadamente 395 gêneros (Bellinger et al., 1996-2023). Os
colêmbolos dessa ordem possuem corpo alongado, por vezes com aspecto achatado,

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cutícula com elevada granulação, segmentação visível, presença de cerdas no


protergito (e raramente, com vesículas no lugar destas), geralmente poucas cerdas
dorsais e apêndices geralmente curtos. A presença do órgão pós-antenal (OPA) varia
dentro da ordem, além de sua morfologia geral, e quantidade de vesículas. Da mesma
forma, varia também a quantidade de omatídeos dentro da ordem, podendo estar
ausentes ou chegar até oito em cada lado da cabeça. O tamanho desses animais pode
variar entre 0.4 mm e 1,7 cm, e a pigmentação do corpo pode ser branco, azul,
vermelho, roxo e, mais raramente, amarelo, com alguns táxons possuindo mais de
uma cor (D’Haese, 2003). As espécies com coloração mais escura são encontradas em
ambientes com maior exposição solar, como o litoral, sugerindo que a pigmentação
escura desempenha um papel importante em espécies expostas à radiação ultravioleta
(Verhoef et al., 2000; Zinkler & Wilking, 1989).

Dentre as famílias de Poduromorpha destaca-se Hypogastruridae Börner, 1906,


principal táxon epiedáfico de poduromorfos mastigadores (Bellinger et al., 1996-2023).
No Brasil, Hypogastruridae é representada por 30 espécies nominais distribuídas em
11 gêneros (Zeppelini et al.,2023). O gênero tipo desta família, Hypogastrura Bourlet
1839, trata-se de um táxon cosmopolita com aproximadamente 170 espécies
reconhecidas em todo o globo (Bellinger et al. 1996-2023), sendo 17 para a Região
Neotropical e apenas duas registradas no Brasil (Zeppelini et al.,2023).

Neste trabalho buscamos revisar as diagnoses das espécies neotropicais de


Hypogastrura e descrever um novo táxon brasileiro.

Metodologia

Embora o plano original do projeto tenha se proposto a descrever uma nova espécie
do Nordeste brasileiro, o táxon escolhido para estudo foi proveniente do Rio Grande
do Sul, através da análise de material relativo ao doutorado do aluno Clécio Danilo
Dias da Silva. Também gostaríamos de ressaltar que a maior parte dos resultados
apresentados neste relatório foi desenvolvido pela aluna Maria Luiza Oliveira do
Amaral, que foi a primeira discente a receber a bolsa, mas que colou grau entre
fevereiro e março de 2023 e agora é mestranda no PPG em Psicobiologia do Centro de
Biociências da UFRN. Dessa forma, este relatório sumariza os dados contidos no
Trabalho de Conclusão de Curso da aluna supracitada. A aluna atualmente vinculada à
bolsa, Mariana Fernandes de Oliveira, está se dedicando a estudar outra espécie nova

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de Collembola da ordem Symphypleona, e apresentará os dados relativos a este novo


projeto no ano que vem.

O espécimes de Hypogastrura advém do município de Pinheiro Machado, Rio Grande


do Sul. Esta região é comumente conhecida por apresentar um clima subtropical
úmido, com chuvas mensais regulares. As temperaturas costumam variar entre 16 e 22
ºC, sendo Julho considerado o mês mais frio do ano (com mínimas de até 10 ºC) e
Fevereiro sendo o mais quente, podendo atingir 38 ºC. A vegetação consiste em um
mosaico de gramíneas e arbustos e os solos são predominantemente Argissolos e
Leptossolos (Silva et al., 2022).

Os colêmbolos foram coletados utilizando-se armadilhas de queda do tipo pitfall traps,


que consistiram em tubos Falcon de 50 mL, com 30 mm de diâmetro, preenchidos com
etanol 70% e uma gota de detergente, que ficaram enterrados no solo. Foram
utilizadas cinco subparcelas, com um espaçamento de 50 m entre elas, onde foram
colocadas três armadilhas em cada subparcela. Os pitfalls permaneceram instalados
por 24 horas.

Após as coletas, o material biológico coletado foi analisado no Laboratório de


Sistemática de Collembola, situado no DBEZ – Departamento de Botânica e Zoologia do
Centro de Biociências da UFRN, onde foi realizada a triagem e montagem das lâminas.
A triagem do material foi feita utilizando-se um microscópio estereoscópico, e os
colêmbolos foram a princípio separados e morfotipados. Para a montagem de lâminas
foi utilizado uma adaptação dos métodos de Arlé e Mendonça (1982) e Jordana et al.,
(1997), que consistem em: i) diafanizar os espécimes primeiramente em Líquido de
Nesbitt aquecido à 50° C por alguns minutos, utilizado para remover a coloração do
animal e facilitar a visualização de estruturas importantes no microscópio óptico; ii)
lavagem secundária em ácido lático, utilizado para dissolver a musculatura dos
espécimes; iii) banho em água destilada para remoção do excesso de reagentes dos
espécimes clarificados, e por fim; iv) inclusão dos espécimes em lâminas
semipermanentes em Líquido de Hoyer. Após montadas, as lâminas foram dispostas
em estufa para secagem por 3 dias a 50° C. Ao final da montagem e secagem das
lâminas, os espécimes foram depositados na Coleção de Collembola do Centro de
Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CB/UFRN).

Os espécimes de Hypogastrura coletados no Rio Grande do Sul passaram por uma


análise taxonômica, a fim de buscar-se sua identidade. Essa pesquisa se deu com base

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em estudos de chaves de identificação do gênero Hypogastrura, descrições de


espécies, registros da ocorrência do gênero na Região Neotropical e outras
bibliografias relevantes. Nesta etapa as espécies neotropicais foram identificadas e
suas diagnoses revisadas, como apresentado nos resultados. As principais bibliografias
utilizadas para esta revisão foram: Yosii (1960); Yosii (1962); Massoud (1967);
Christiansen & Bellinger (1980); Borner (1906); Palacios-Vargas (1986); Palacios-Vargas
(1990); Mari Mutt & Bellinger (1990); Folsom (1916); Jordana et al., (1997); Mari Mutt
& Bellinger (1996); Bellinger et al., (1996–2023).

Ao comparar os resultados obtidos com as características morfológicas dos espécimes,


estudados com o auxílio de um microscópio óptico com câmara clara Leica DM500,
confirmou-se que se tratava de uma nova espécie. Para a descrição taxonômica as
características investigadas foram principalmente: a quetotaxia das antenas, com
destaque para a quantidade de sensilas presentes; quetotaxia da cabeça, quantidade
de vesículas do órgão pós-antenal; quetotaxia dos segmentos do tórax, do abdome e
das pernas; quantidade de cerdas do colóforo, quantidade de dentes do tenáculo,
morfologia e quetotaxia da fúrcula e morfologia do poro genital. Essas estruturas
foram desenhadas à mão, utilizando o microscópio óptico com câmara clara Leica
DM500 e DM750, e os desenhos foram vetorizados por meio do software CorelDRAW
Graphics Suite X8.

Resultados e Discussões

Após a revisão bibliográfica, foram reconhecidas 17 espécies de Hypogastrura na


Região Neotropical, com apenas duas com ocorrência no Brasil – Hypogastrura
manubrialis Tullberg, 1869 e H. rehi Börner, 1906. A seguir são apresentadas as
diagnoses do gênero Hypogastrura e das espécies neotropicais, além da descrição da
nova espécie para o Brasil.

1. Gênero Hypogastrura Bourlet, 1839

Espécie tipo: Achorutes (Hypogastrura) viaticus Tullberg, 1872


Diagnose. Artículo antenal (Ant.) IV com bulbo apical simples ou trilobado; sensilas da
Ant. IV em número variado; rapê sensorial presente ou ausente. Órgão sensorial da
Ant. III com cinco cerdas, duas internas ventrais (tubos olfativos), duas sensilas guarda,
uma dorsal (Sgd) e uma ventral (Sgv), e uma microsensila ventral (ms). Palpo maxilar
com placa sublobal 0–3 cerdas. Olhos 8+8; OPA presente, com 3–6 vesículas
(geralmente com 4). Quetotaxia da cabeça complexa, com todas as séries de cerdas

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primárias. Quetotaxia dorsal com cerdas com tamanhos similares. Tenent hair
presente ou ausente. Unguículus geralmente presente e com lâmina basal. Tenáculo
com 3–4 dentes. Fúrcula sempre presente. Dens com 5–7 cerdas. Mucro variável em
forma. Dois espinhos anais geralmente pequenos presentes no dorso do Abd. VI
(Adaptado de Christiansen & Bellinger, 1980; Jordana & Arbea, 1989; Jordana et al.,
1997).
Distribuição: Cosmopolita (Bellinger et al., 1996-2022).
Notas taxonômicas: Ceratophysella Börner, 1932 foi primeiro tratado como um
subgênero de Hypogastrura, mas foi elevado a gênero e separado do último pela
presença de saco eversível latero-ventral na articulação entre a Ant. III e IV, ausente
em Hypogastrura s. str. (Börner, 1932); e pela homologia de uma sensila no Th. II–III,
que em Ceratophysella é p3 e em Hypogastrura s. str. é p4 (Yosii, 1960).

2. Hypogastrura assimilis Krausbauer, 1898

Diagnose. Tamanho máximo do corpo em cerca de 1,5 mm. Cor azul-acinzentado. Ant.
IV com bulbo apical simples; com até 10 sensilas longas e cilíndricas. Órgão sensorial
da Ant. III normal com duas sensilas arredondadas, duas cerdas de guarda longas e
pontiagudas e uma sensila acessória ventral bem pequena. Ant. I com 8 cerdas e uma
cerda p diminuta. OPA pequeno e em forma de estrela com 3–6 vesículas. Cerdas
pequenas, pontudas e lisas. Th. II com cerda m2 geralmente presente; m2 ausente no
Th. III; Th. II–III com p4 e m7 como sensilas. Abd. IV com cerda m2 ausente; Abd. I–IV
com sensila em p5; Abd. V com sensila em p3. Tita I-III com 1,1,1 tenent hairs
respectivamente. Unguis com um dente. Unguículos sem lamela. Tenáculo com 4+4
dentes. Dens com 7+7 cerdas e grânulos grandes; 2–3 vezes maior que o mucro.
Espinhos anais pequenos (Adaptado de Cassagnau & Rapoport, 1962; Greenslade et
al., 2013).

3. Hypogastrura brevispina Harvey, 1893

Diagnose. Comprimento do corpo entre 0,8 mm e 1,2 mm. Cor azul escuro. Ant. IV
com 10 sensilas subcilindricas, uma microsensila, um organito subapical e um bulbo
apical simples. Órgão sensorial da Ant. III formado por 2 microsensilas, 2 sensilas
guarda e uma microsensila ventro-lateral. Ant. II com 14 cerdas dispostas em dois
espirais. Ant. I com 7 cerdas. Olhos 8+8; OPA com 5 vesículas. Th. I com 3+3 cerdas. Th
II–III com 3 fileiras de cerdas, as sensoriais sendo p4 e m7. Abd. II–III com duas fileiras
de cerdas, com ausência de a3, sendo p5 sensorial. Tita I–III com 19,19,18 cerdas
respectivamente, com 1,1,1 tenent hairs. Colóforo com 4+4 cerdas. Tenáculo com 4+4
dentes. Mucro com uma reentrância subterminal; razão dens:mucro = 2.1:1. Espinhos

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anais pequenos e curvos (Adaptado de Palacios-Vargas, 1990).

4. Hypogastrura copiosa Folsom, 1916

Diagnose. Comprimento do corpo cerca de 1,5 mm. Cor preto acastanhado, com lado
ventral e extremidades mais claras. Ant. IV com 9 sensilas dorsais curtas e em forma de
bastonetes. Órgão sensorial da Ant. III em duas hastes sem sulco e duas sensilas
guarda. Olhos 8+8 em uma mancha preta; OPA composto por 4 vesículas. Quetotaxia
corporal moderadamente desenvolvida, com cerdas maiores levemente serrilhadas.
Th. II–III com cerdas em 3 linhas, sendo p4 sensila e levemente mais longa do que as
demais cerdas. Abd. I–III com cerdas em 3 linhas, todas do mesmo tamanho, sendo p5
sensila. Abd. IV com cerdas em 3 linhas e p5 como sensila. Abd. V com cerdas em 2
linhas, sendo p3 sensila e mais longa que as demais cerdas. Tita I–III com 1,1,1 tenent
hairs respectivamente. Unguis de todas as pernas iguais, com um dente interno
próximo ao ápice e dentes laterais aparentemente ausentes. Colóforo com 4+4 cerdas.
Tenáculo com 4 dentes em cada ramo. Face dorsal do dens lisa, com 7+7 cerdas
longas. Mucro pequeno, reto e ligeiramente arredondado apicalmente. Razão
dens:mucro = 22:5 (Adaptado de Yosii, 1960).

5. Hypogastrura devia Christiansen & Bellinger, 1980

Diagnose. Comprimento máximo de 2,3 mm. Cor preto-azulado. Ant. IV com 8–10
sensilas facilmente distinguíveis. OPA 1.5 vezes mais longo que o olho mais próximo,
com 4 vesículas. Cerda m ausente no Abd. V. m2 presente no Abd. IV. m3 presente no
Abd. IV. Tita I-III com 1,1,1 tenent hairs respectivamente, fraca ou fortemente
clavados, nunca acuminado. Dens 2.5–3.2 vezes o tamanho do mucro. Espinhos anais
⅓–⅕ vezes o tamanho do unguis (Adaptado de Christiansen & Bellinger, 1980).
Notas taxonômicas: Christiansen & Bellinger (1980) informam que essa espécie pode
ser um sinônimo para H. manubrialis, mas que seria separada da última pela presença
de tenent hairs clavados e OPA com vesículas subiguais. A diagnose desta espécie
também a aproxima de H. assimilis.

6. Hypogastrura essa Christiansen & Bellinger, 1980


Diagnose. Comprimento máximo de 1,55 mm. Cor amarelo opaco do lado ventral, com
forte pigmento preto-azulado ou cinza-azulado na cabeça e tronco. Ant. IV com 6–8
sensilas fracamente distinguíveis. OPA com 3–6 vesículas, normalmente 5 ou 6. Face
dorsal do abdômen relativamente granulada, com grânulos maiores no Abd. V e Abd.
VI. Abd. V como em H. manubrialis, sem cerdas m. Dens 2 vezes maior que o mucro
(Adaptado de Christiansen & Bellinger, 1980).

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Notas taxonômicas: Christiansen & Bellinger, 1980 indicam que H. essa é facilmente
confundível com H. manubrialis, H. matura Folsom, 1916 e H. assimilis. Ela se
diferencia de H. manubrialis pela presença de uma cerda acessória na Ant. I e mucro
com morfologia diferente, e se diferencia de H. matura e H. assimilis pelo mucro
proporcionalmente maior.

7. Hypogastrura hispanica Steiner, 1955


Diagnose. Comprimento do corpo entre 1,3 e 1,4 mm. Cor enegrecida após tratamento
com KOH. Ant. IV com bulbo apical esférico e sensilas fortemente curvadas. Olhos 8+8;
OPA formado por 4 vesículas, sendo 2 mais alongadas. Tita I-III com 1,1,1 tenent hairs
respectivamente. Colóforo com 5+5 cerdas. Tenáculo com 4+4 dentes. Dens com 7+7
cerdas. Mucro curvo como um gancho. Presença de lamela interna e externa. Espinhos
anais retos. Projeção anal 1/4 da borda interna da garra III (Adaptado de Steiner,
1955).

8. Hypogastrura leo Palacios-Vargas, 1986


Diagnose. Comprimento do corpo entre 1,1 mm e 1,8 mm. Cor roxo muito escuro,
quase negro, com as membranas intersegmentares e região ventral mais claras. Ant. IV
com bulbo apical simples, 4 sensilas dorsais curtas e delgadas, um organito sensorial
pequeno, uma microsensila e 2–3 cerdas ventrais grossas. Órgão sensorial da Ant. III
com duas microsensilas com ½ ddo comprimento das sensilas guarda e uma
microsensila externa. Ant. II com 12 cerdas, Ant. I com 7 cerdas. Olhos 8+8; OPA menor
que um olho, formado por 1 vesícula com tendência a se dividir em 4. Presença de m1
no Th. II, m2 e m5 ausentes no Th. III. Dois pares de sensilas no Abd. I–II, p5 e m7. Um
par de sensilas no Abd. III–IV (p5) e um no Abd. V (p3). Tita I-III com 2,3,4 tenent hairs
respectivamente. Colóforo com 4+4 cerdas. Unguis com 1 dente interno no terço
apical. Tenáculo com 3+3 dentes. Dens com 6–7 cerdas. Mucro alargado com uma
lamela curta e ápice curvo. Fêmea com 14 cerdas na placa genital e macho com 42–50.
Dois espinhos anais pequenos (Adaptado de Palacios-Vargas, 1986).

9. Hypogastrura manubrialis Tullberg, 1869


Diagnose. Comprimento do corpo com cerca de 1,4 mm. Cor marrom acinzentado ou
azulado, com antenas profundamente pigmentadas, região ventral e extremidades
pálidas. Ant. IV com 6–10 sensilas, frequentemente 9. Órgão sensorial da Ant. III com
duas hastes em um sulco e duas cerdas modificadas. OPA com 4 ou raramente 6
vesículas. Cerdas corporais pouco desenvolvidas e frequentemente pouco visíveis. Th.
II–III com cerdas bastante pequenas, sem diferenciação das sensilas. Abd. I–III com
cerdas longas em duas fileiras, sendo p5 sensila e mais longa que as outras. Tita I-III
com 1,1,1 tenent hairs respectivamente. Unguis com ou sem dente interno, a ¾ de

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distância da base. Unguículus com ⅔ do tamanho do unguis, sem lamelas claras, com
uma papila basal. Colóforo com 4+4 cerdas. Tenáculo com 4 dentes em cada ramo.
Superfície dorsal do dens com granulações grosseiras e com 7+7 cerdas, incluindo uma
cerda basal externa mais longa que as demais. Razão dens:mucro = 5:2. Espinhos anais
muito pequenos. Leve espessamento cuticular no dens, imediatamente antes do
mucro. (Adaptado de Yosii, 1960; Yosii, 1962).
Notas taxonômicas: Apesar da diagnose detalhada, Yosii, 1960 sugere não haver claras
diferenças desta para H. assimilis. Em 1962, Yosii também sugere que é difícil separar a
espécie de H. matura Folsom, 1916. Christiansen & Bellinger, 1980 informam que essa
é uma espécie problemática, fortemente relacionada a H. pannosa Mcnamara, 1922.

10. Hypogastrura matura Folsom, 1916


Diagnose. Comprimento do corpo 1 mm. Cor azul escuro ou acinzentado, com
manchas ovais ou arredondadas formadas por núcleos hipodérmicos. Ant. IV com 8
sensilas. Olhos 8+8; OPA com 4 vesículas. Tita I-III com 1,1,1 tenent hairs
respectivamente. Dens com 7+7 cerdas dorsais. Mucro alongado, triangular, com
lamela externa terminando antes do ápice; ápice mucronal arredondado e voltado
para cima. Dois espinhos anais pequenos, ligeiramente curvados (Adaptado de Folsom,
1916; Christiansen & Bellinger, 1980).

11. Hypogastrura mexicana Handschin, 1928


Diagnose. Comprimento entre 0,8 mm e 1,1 mm. Cor azul-acinzentada. Ant. IV com
bulbo apical trilobado, 9–10 sensilas com ⅔ do comprimento das cerdas regulares,
uma microsensila e um organito sensorial subapical. Órgão sensorial da Ant. III com
duas microsensilas, duas sensilas guarda (Sgd e Sgv) e uma microsensila ventral. Ant. II
com 13 cerdas, Ant. I com 8 cerdas. Olhos 8+8; OPA com 4–5 vesículas de tamanhos
distintos e uma vesícula acessória posterior. Microsensila (ms) no Th. II., Th. III sem a2
e m5, sensila p1 no abdome I–IV e sensila p3 no abdome V. Tenent hairs presentes.
Colóforo com 4+4 cerdas. Tenáculo com 4+4 dentes. Dens com 7+7 cerdas, 2–3 vezes o
comprimento do mucro. Mucro sem lamelas, bem desenvolvido e triangular. Fêmea
com 22 cerdas no poro genital, macho com 26–36. Dois espinhos anais pequenos
(Adaptado de Palacios-Vargas, 1986).

12. Hypogastrura oregonensis Yosii, 1960


Diagnose. Comprimento do corpo 1,8 mm. Cor marrom-acastanhado. Ant. IV com 7–9
sensilas, algumas semelhantes a cerdas comuns. Órgão sensorial da Ant. III normal,
com 2 cerdas guarda modificadas. Olhos 8+8; OPA com 4 vesículas, as duas anteriores
um pouco maiores que as posteriores. Cerdas do corpo simples e bem desenvolvidas
para o gênero. Th. II–III com cerdas subiguais, p4 como sensila. Abd. IV com tubérculo

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(elevação cuticular) mediano, não pareado, grosseiramente granulado e incluindo p2


de ambos os lados, outro tubérculo lateral com p3-p6, projetado anteriormente até a
linha a,. p5 como sensila. Abd. V–VI granulados grosseiramente em ambos os
segmentos. Tenent hair ausentes. Colóforo com 4+4 cerdas. Tenáculo com 4 dentes
em cada ramo. Fúrcula bem desenvolvida. Dens com 7+7 cerdas. Mucro com
granulação marcante. Razão dens:mucro = 2:3. Espinhos anais cerca de 1/4 do
comprimento do mucro (Adaptado de Yosii, 1960).
Notas taxonômicas: A fúrcula longa e o mucro fortemente granulado, além da
granulação do Abd. IV separam esta espécie de seus congêneres (Yosii, 1960).

13. Hypogastrura perplexa Christiansen & Bellinger, 1980


Diagnose. Comprimento máximo de 1,7 mm. Cor de fundo amarelo-pálido ou branco,
com pigmento azul variando de manchas dispersas até cor escura sobre o dorso; lado
ventral pálido. Tegumento uniformemente granulado. Ant. IV com bulbo apical simples
e 3–4 sensilas com ápice discretamente arredondado, similares de alguma forma às
cerdas acuminadas. OPA com 4 vesículas, raramente 5. Cerdas a3, m2 e p3 do Abd. IV
presentes ou ausentes. Tita I-III com 2,3,4 ou 3,3,4 tenent hairs clavados,
respectivamente; tenent hair subapical do terceiro par de pernas geralmente pouco
clavado (Adaptado de Christiansen & Bellinger, 1980)
Notas taxonômicas: H. perplexa pode ser separada de H. humi Folsom, 1916 por ter o
unguículus proporcionalmente menor, e de H. tullbergi Schäffer, 1900 por ter espinhos
anais e mucro proporcionalmente menores. (Christiansen & Bellinger, 1980).

14. Hypogastrura purpurescens Lubbock, 1868


Diagnose. Cor púrpura-acastanhada, com a parte inferior do corpo pálida. O corpo e os
apêndices são granulados e cobertos de cerdas brancas, curtas, lisas e dispersas. Ant.
IV com bulbo apical simples, com 4–7 sensilas. Ant. I com 7 cerdas. Mandíbulas com 4–
5 dentes incisivos. Olhos sem pigmentação extra. Cerdas abdominais unilateralmente
ciliadas. Tita I-III com 2,3,2 ou 2,3,3 tenent hairs respectivamente. Unguis com um
único dente interno na parte distal. Unguículus presente, terminando em um
filamento. Tenáculo com 3–4 dentes. Dens com 7+7 cerdas dorsais (Adaptado de
Lubbock, 1868; Christiansen & Bellinger, 1980; Greenslade et al., 2013).

15. Hypogastrura rehi Börner, 1906


Diagnose. Comprimento do corpo cerca de 1 mm. Pigmento azul-acinzentado.
Granulação do tegumento grosseira, mais forte na região anal. Cerdas grossas,
ligeiramente curvadas e serrilhadas. Ant IV com 7 sensilas; Ant. III com duas cerdas
olfativas. Olhos 8+8; OPA com 5 vesículas. Cerdas pré-tarsais notavelmente longas. Tita
I-III com 1,1,1 tenent hairs longos. Unguis com um dente; unguículus sempre menor

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que o unguis. Dens com 7+7 cerdas, sendo uma cerda basal muito longa. Mucro com
ponta de gancho, em forma de folha, aparentemente sem lamela interna; lamela
externa muito reta. Espinhos anais retos e muito pequenos, cerca de três vezes mais
longos que os grânulos circundantes (Adaptado de Börner, 1906).

16. Hypogastrura sensilis Folsom, 1919


Diagnose. Comprimento máximo 2,0 mm. Cor azul escuro. Órgão sensorial da Ant. III
com numerosas cerdas eretas. Quetotaxia corporal com muitas cerdas pequenas e
curvas; algumas robustas e de tamanho moderado. Tita I-III com 1,1,1 tenent hairs
longos e capitados, respectivamente; demais cerdas do tita pequenas e levemente
clavadas. Tenáculo com 3+3 dentes. Dens 3 vezes maior que o mucro. Espinhos anais 3
vezes o tamanho das papilas (Adaptado de Christiansen & Bellinger, 1980).

17. Hypogastrura similis Nicolet, 1847


Diagnose. não encontrada.
Nota taxonômica: Não foi possível obter a descrição de Nicolet de H. similis.

18. Hypogastrura viatica Tullberg, 1872


Diagnose. Cor azul-violeta ou preto. Ant IV com bulbo apical simples, com 4–7 sensilas.
Olhos com 8+8 omatídeos. Th. II–III com cerda m2, sensila como p4. Abd. I–III com
duas fileiras de cerdas, p5 como sensila. Abd. IV com cerdas em três fileiras, sensila
como p3 ou p5. Abd. V com cerdas em duas fileiras e sensila como p3; tegumento do
Abd. V e Abd. VI mais granuloso que o resto do corpo. Tita I-III com 2,3,3 tenent hairs
respectivamente. Colóforo com 4+4 cerdas. Tenáculo com 3+3 dentes. Dens com 6+6
cerdas. Mucro com lamela basal larga, facilmente identificável. Espinhos anais 1.5
vezes maiores que as papilas (Yosii, 1960; Yosii, 1962; Christiansen & Bellinger, 1980;
Jordana & Arbea, 1990; Arbea et al., 2007).

19. Hypogastrura sp. nov.


Material tipo. Holótipo: fêmea em lâmina (CC/UFRN): Brasil, Estado do Rio Grande do
Sul, Pinheiro Machado, −53,577,106; −31,385,678; 12/xi/2018, pitfall traps, col:
Podgaiski, L.R. Parátipos depositados no CC/UFRN: 1 macho em lâmina, mesmos dados
do holótipo.

Diagnose. Espécimes pigmentados de azul escuro. Ant. IV com bulbo apical simples, 10
sensilas subcilíndricas, ms presente; Ant. IV e III com separação bem marcada
ventralmente, órgão sensorial da Ant. III com microcerdas-S, duas sensilas guarda e
uma ms ventral; órgão pós-antenal com 4 vesículas; cerda a0 na região dorsal da

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cabeça presente; cerda m2 no Th. II presente; apêndice empodial com um filamento


terminal atingindo a metade do unguis; colóforo com 4+4 cerdas; tenáculo com 4+4
dentes; fúrcula bem desenvolvida, dens com 7+7 cerdas, mucro em forma de colher,
com uma lamela externa; espinhos anais robustos inseridos em papilas anais.

Descrição. Espécimes de coloração azul escuro. Granulação do corpo fina e uniforme


distribuída em todo o corpo. Habitus típico do gênero.
Cabeça. Ant. IV com bulbo apical simples, com 10 sensilas (S0–S9), ms presente;
ventralmente com 3 cerdas inseridas em papilas. Ant. IV e III fusionadas dorsalmente
com separação bem marcada ventralmente. Órgão sensorial da Ant. III com duas
microcerdas-S protegidas por duas sensilas guardas (Sgd e Sgv), ms ventral. Ant. I com
9 cerdas, sendo 7 dorsais e 2 ventrais, Ant. II com 12 cerdas. OPA composto por 4
vesículas. Olhos 8+8, com 3 cerdas interoculares (oc1–oc3). Quetotaxia dorsal
composta de micro e mesocerdas; a0, d5–d1 (d3 e d1 presente ou ausentes), sd5–sd1,
v1–v2, c1–c4 (c2 presente ou ausente), p1–p5 presentes.

Quetotaxia dorsal do tronco. Tórax e abdômen dorsais com quetotaxia heterogênea,


com micro e mesocerdas com ponta arredondada e longas sensilas. Fórmula das
sensilas longas do Th. II ao Abd. V: 22/11111. Th. I com 3+3 mesocerdas. Th. II com 6+6
cerdas na série “a” (a1–a6), 7+7 na série “m” (m1–m6, m3’), e 7+7 na série “p” (p1–p6,
p4’), sendo está última presente ou ausente. Th. III com 6+6 cerdas na série “a” (a1–
a6), 5+5 na série “m” (m1–m5), e 6+6 na série “p” (p1–p6). Sensilas longas no Th. II e III
p4 e m6; ms lateral presente no Th. II. Abd. I–III com quetotaxia principal semelhante,
com 5+5 cerdas na série “a” (a1–a2, a4–a6), 3+3 na série “m” (m3–34, m6), e 6+6 na
série “p” (p1–p6). Sensilas longas dos Abd. I-III p5. Abd. IV com 6+6 na série “a” (a1–
a6), 4+4 na série “m” (m1, m4–36), e 7+7 na série “p” (p1–p6, p5’), sensilas longas p5.
Abd. V com 5+5 cerdas na série “a” (a1–a5), 1+1 na série “m” (m5), e 5+5 na séris “p”
(p1–p5), sensilas longas p3. Abd. VI com 3+3 na série “a” (a1–a3), e 3+3 na série “p”
(p1–p3), sendo p1 como espinhos anais, e uma mesocerda ímpar p0.

Apêndices do tronco e abdome ventral Quetotaxia dos Tita I-III = 19/19/18. Ungues
com um pequeno dente medial interno, unguículus (apêndice empodial) com um
filamento terminal atingindo a metade do unguis. Colóforo com 4+4 cerdas. Tenáculo
com 4 dentes em cada ramo. Manúbrio com 15+15 cerdas. Fúrcula bem desenvolvida,
dens com 7+7 cerdas dorsais. Mucro em forma de colher, com uma lamela externa.
Placa genital do macho com 11 cerdas, desprovida de cerdas eugenitais diferenciadas,
placa genital da fêmea com 8 cerdas genitais. Valvas anais pares com 19 cerdas cada.
Dois espinhos anais pequenos.

Notas taxonômicas. Hypogastrura sp. nov. assemelha-se a outros taxa neotropicais

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como H. brevispina, H. devia e H. mexicana por apresentar 10 sensilas na Ant. IV, e por
apresentar 1,1,1 tenent hairs clavados nos Tita I-III, no entanto diferem dessas mesmas
espécies por possuir 12 cerdas na Ant. II e 9 cerdas na Ant. I. H. devia se diferencia de
H. sp. nov. pela presença da cerda m2 no Abd. IV, em Hypogastrura sp. nov. essa cerda
está ausente. A nova espécie é também única pela combinação do OPA com 4
vesículas, colóforo com 4+4 cerdas e 4+4 dentes no tenáculo.

Conclusão

A descrição detalhada de Hypogastrura sp. nov. e sua comparação com a fauna


neotropical, além do compilado de informações apresentados neste trabalho,
representam um primeiro passo no sentido da expansão do conhecimento sobre o
gênero no Brasil, que por sua extensão e variedade de habitats deve abrigar mais
espécies endêmicas e desconhecidas do gênero. Espera-se que este trabalho dê
subsídios para uma futura revisão detalhada da fauna neotropical de Hypogastrura,
capaz de solucionar os entraves observados em relação a diagnoses pouco
informativas e em sobreposição, e gere um modelo de descrição (ou redescrição) de
espécies capaz trazer dados fidedignos e úteis para melhor delimitar as espécies
dentro do gênero.

Após a realização deste trabalho, agora são conhecidas 18 espécies de Hypogastrura


para a Região Neotropical, com três ocorrendo no Brasil: H. manubrialis Tullberg, 1869,
H. rehi Börner, 1906 e Hypogastrura sp. nov. (Bellinger et al., 1996-2023), sendo essa a
segunda espécie de colêmbolo registrado no Pampa brasileiro. A revisão das espécies
neotropicais apontou dificuldades diagnósticas em separar ou delimitar alguns táxons,
como sobreposição de caracteres e diagnoses incompletas, o que dificulta o estudo
sobre esses animais.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0254

AUTOR: BRUNA SANTANA DA SILVA

COAUTOR: DIOGO JACKSON DE AQUINO SILVA

ORIENTADOR: DANIEL MARQUES DE ALMEIDA PESSOA

TÍTULO: Influência da coloração de fêmeas no comportamento de corte dos


machos do caranguejo Leptuca leptodactyla (Brachyura: Ocypodidae)

Resumo

Os caranguejos chama-marés são animais com alta diversidade de cores corporais e se


utilizam da comunicação visual em confrontos e escolha de parceiros. Machos e
fêmeas da espécie Leptuca leptodactyla em períodos reprodutivos mudam a cor da
carapaça para um branco brilhante, provavelmente relacionado à reprodução. Porém,
ainda não sabemos se o branqueamento nas fêmeas comunica algo ao macho. O
objetivo do trabalho foi verificar se a coloração na carapaça da fêmea afeta a
preferência sexual dos machos. Este estudo foi feito em Barra do Rio, no município de
Extremoz-RN, onde foram capturadas fêmeas de L. leptodactyla. Para saber se o
macho apresenta alguma preferência por fêmeas brancas, foi apresentado 1 fêmea de
coloração cinza escura natural e 1 fêmea de coloração branca pintada para 36 machos.
O comportamento do macho em direção às fêmeas foi filmado por cinco minutos e
observado número de acenos, tempo de corte para as fêmeas e sua preferência inicial.
Para saber se há diferença entre acenos e tempo gastos às fêmeas brancas e escuras
utilizamos o teste de mann whitney, para saber a preferência inicial foi utilizado o
teste binomial, alfa de 5%. Os machos não preferiram um tratamento (p= 0,405), o
teste de mann-whitney não teve significância para as variáveis de aceno em direção à
fêmea (p= 0.7222, n= 36) e duração total na corte (p= 0.7222, n= 36). Assim, a cor da
carapaça da fêmea L. leptodactyla, parece não influenciar no investimento reprodutivo
dos machos.

Palavras-chave: Visão de cores. Coloração corporal. Seleção de parceiros.

TITLE: Influence of female coloration on the courtship behavior of the crab


Leptuca leptodactyla (Brachyura: Ocypodidae)

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Abstract

The Fiddler crabs are animals with a high diversity of body colors and use visual
communication in confrontations and choice of partners. Males and females of the
species Leptuca leptodactyla in reproductive periods change the color of the carapace
to a bright white, probably related to reproduction. However, we still don't know if
bleaching in females communicates something to the male. The objective of this study
was to verify whether the coloration of the female's carapace affects the sexual
preference of males. This study was carried out in Barra do Rio, in the municipality of
Extremoz-RN, where females of L. leptodactyla were captured. To find out if the male
has any preference for white females, 1 natural dark gray female, and 1 painted white
female were presented to 36 males. Male behavior towards females was filmed for
five minutes and several nods, courtship time for females, and their initial preference
were observed. To find out if there is a difference between nods and time spent on
white and dark females, we used the Mann-Witney test, to find out the initial
preference, the binomial test was used, alpha of 5%. Males did not prefer a treatment
(p= 0.405), the Mann-Whitney test was not significant for the variables nodded
towards the female (p= 0.7222, n= 36) and total courtship duration (p= 0.7222, n = 36).
Thus, the carapace color of the female L. leptodactyla does not seem to influence the
reproductive investment of males.

Keywords: Color vision. Body coloration. Mate selection.

Introdução

A comunicação visual é uma estratégia usada pelos organismos para transmitir sinais,
seja para demonstrar fitness, se esconder de predadores ou encontrar parceiros
(Bradbury et al., 2011). Essa comunicação está presente em diversos organismos como
nos caranguejos, que mudam a sua coloração corporal.
A infraordem Brachyura, caranguejos verdadeiros, possuem uma diversa gama de
elementos visuais, como a coloração corporal que está relacionada com diferentes
formas de aumentar sua aptidão na camuflagem, comunicação social e sexual (Caro,
2018). Além disso, esses animais conseguem modificar a coloração do corpo em curtos
ou longos períodos de tempo, o que garante que esses animais se adaptem a
diferentes habitats, mesmo sendo deslocados (Hemmi et al., 2006).
Os Chama-Marés são caranguejos, também conhecidos como caranguejos violinistas
pertencentes a família Ocypodidae. Possuem dimorfismo sexual, com a presença de
um quelípodo hipertrofiado nos machos, e têm um complexo conjunto de
comportamentos visuais, dentre eles a presença de diferentes cores corporais,
quelípodo com refletância de luz UV (Silva et al., 2022), comportamento de aceno

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(How et al., 2007) e presença de capuz na toca (Kim et al., 2015). Foi observado
também que nesses animais há presença de células fotorreceptoras, que são
fundamentais para a visão de cores, o que pode explicar a diversidade de cores
encontrada nessa família (Rajkumar et al., 2010).
Na reprodução a coloração foi vista como uma maneira de demonstrar qualidade do
indivíduo, pois, há um elevado custo nutricional para produzir sua coloração (Todd et
al., 2011). Por isso, o uso deste sinal pode reduzir o erro nas buscas por bons parceiros,
além de informar sobre a maturidade do caranguejo (Baldwin et al., 2012). Também é
conhecida a capacidade desses animais em refletir a luz UV pelo seu quelípodo, o que
também se relaciona com a atração de parceiros (Cummings et al., 2008).
Uma espécie muito presente nas costas brasileiras é o Leptuca leptodactyla, que
apresenta quatro colorações: acinzentado, esverdeado, alaranjado e branco; sendo
este último um sinalizador reprodutivo (Crane, 1975). Contudo, ainda são necessários
estudos que investiguem a importância da coloração das fêmeas na preferência dos
machos.
Até o momento, a maioria dos estudos com os Chama-Marés é atentado à escolha
apenas das fêmeas, colocando fêmeas para decidir entre os machos disponíveis,
contudo, também existem variações nas fêmeas que podem contribuir na reprodução
desses animais, sinalizando informações sobre maturidade e qualidade.
O objetivo deste trabalho foi verificar se a coloração na carapaça das fêmeas afeta a
preferência sexual dos machos. Nossa hipótese é que a coloração da carapaça de
fêmeas de L. leptodactyla afeta o comportamento de cortejo do macho, em que irão
acenar mais em direção às fêmeas de coloração branca, permanecer mais tempo
próximos às fêmeas brancas e se direcionar primeiro para fêmeas brancas.

Metodologia

Localde estudo
O estudo foi realizado em Barra do Rio - no município de Extremoz, 5°40'43.4"S
35°13'07.5"W, a beira do rio Ceará-mirim, área de mangue, a zona em que foi
realizado o experimento possui solo arenoso e campo aberto, com presença de
vegetação de mangue ao redor. O horário da experimentação ocorreu entre às 8h da
manhã e 13h da tarde, que compreenderam o período de atividade do L. leptodactyla.
Nesse ambiente, há ocorrência das espécies de Chama-Marés: Leptuca leptodactyla,
Leptuca thayeri, Leptuca cumulanta e Uca maracoani.
Experimento

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O experimento consistiu em apresentar pares de fêmeas (uma apresentando cor


escura e uma pintada de branco) para os machos reprodutivos, a fim de observar o
comportamento de corte. Para a realização do experimento foi feita a captura de
vários pares de fêmeas com coloração escura de L. leptodactyla, com comprimento
corporal que variaram entre 7mm a 10mm. Após a medição do tamanho corporal das
fêmeas utilizando um paquímetro, parte das fêmeas mantiveram sua coloração natural
e a outra metade teve sua carapaça tingida de tinta branca (acrilex) (figura 1). Em
seguida, ambas foram ancoradas por linhas (1,5cm) de nylon amarradas a pregos, que
foram enterradas no substrato.
Para o experimento, escolhemos machos que estavam realizando display de aceno,
possuíam ornamento de toca e coloração nupcial. Ao redor da toca do macho, foi
colocado um tecido com dimensões 70cm x 70cm e uma placa de fórmica com altura
de dez cm (figura 2) para impedir outros animais com tocas próximas de interagirem
no teste em andamento. No centro da arena se encontrava a toca do macho e,
direcionada à sua entrada, duas fêmeas foram posicionadas a uma distância de dez
centímetros da entrada da toca, com uma distância de 13 centímetros entre elas
(figura 3).
Com uma câmera foi realizada a gravação do comportamento de cortejo dos machos,
contabilizado cinco minutos a partir do momento em que o macho sai da toca e
começa a acenar. Dos vídeos, foram extraídos três variáveis: i) quantidade de acenos
para cada fêmea; ii) qual fêmea sofreu a primeira interação e iii) tempo gasto pelo
macho na interação com a fêmea. Foi considerada como escolha quando o macho se
dirigiu a uma das fêmeas, em pelo menos metade do percurso, o que equivale a cinco
centímetros.
Análise estatística
Para a realização das análises foi utilizado o software estatístico R junto ao R-studio.
Para calcular a probabilidade de escolha dos machos por um dos tratamentos (Branca
e natural) foi realizado um teste binomial. Já para analisar a quantidade de acenos do
macho de acordo com a escolha pela fêmea e a duração de tempo gasto em corte na
interação com a fêmea, foi realizado o teste de Mann-whitney com a função
wilcox.test do pacote ‘Rstatix’.

Resultados e Discussões

A partir da análise dos vídeos, foi visto que não houve diferença na preferência inicial
dos machos em relação a cor da carapaça (p = 0,405), houve uma pequena diferença
no número de escolhas totais das fêmeas brancas (figura 4). Também não houve

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diferença da quantidade de acenos entre os tratamentos e na duração de tempo gasto


em corte (W = 169, p= 0.7222; W = 148, p = 0.7722) (figura 5). O que não era esperado,
já que há mudança na coloração nesses animais, e nos machos essa coloração está
associada com a reprodução (Crane, 1975).
Os caranguejos machos são escolhidos por seus atributos, (Jiang et al., 2009;
Muramatsu 2010), como o caso de muitas famílias, cujo macho possui uma maior
conspicuidade para atrair fêmeas (Gomes et al., 2018; Tregenza et al. 2022). Já as
fêmeas focam suas energias na camuflagem para se proteger de predadores.
O caranguejo chama maré Uca tangeri macho possui um maior contraste nas partes do
corpo do que nas fêmeas (Cummings et al., 2008), assim como o L. leptodactyla,
reforçando a ideia da alta comunicação desses animais através de sua coloração
corporal. Enquanto que as fêmeas não vão possuir tal contraste, tendo seu corpo
quase por completo da mesma cor, assim, não evidenciando suas qualidades pela
coloração de seu corpo.
Na população de Barra do Rio, é observado nitidamente nos machos as diferentes
cores, contudo nas fêmeas, raramente é visto a cor branca, Talvez a coloração das
fêmeas esteja mais relacionado a predação do que a comunicação intraespecífica.
Assim, a coloração das fêmeas no momento da corte não influenciará no
comportamento reprodutivo desses animais. O que entra em desacordo com o
trabalho de (Baldwin et al., 2012) com o Callinectes sapidus, cujos machos tinham
preferência por fêmeas com uma coloração vermelha contrastante, cor de maturação
sexual nesta espécie.
É possível que os machos de L. leptodactyla não consigam distinguir a maturidade
sexual das fêmeas e foque suas energias reprodutivas em qualquer parceira
reprodutiva que se aproxime de sua toca.
É preciso ressaltar que se faz necessário verificar outros componentes da comunicação
sexual do caranguejo Leptuca leptodactyla. Talvez o tamanho seja um fator mais
importante pois reflete a quantidade de ovos que a fêmea pode liberar, aumentando o
fitness do macho.

Conclusão

A coloração da carapaça de fêmea Leptuca leptodactyla, não afeta a preferência


reprodutiva dos machos.

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Anexos

Figura 1: Fêmea de Leptuca leptodactyla com coloração cinza escuro natural (A) e
Fêmea de Leptuca leptodactyla com coloração modificada com tinta branca (B).

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Figura 2: Arena em volta da toca do macho para a experimentação e gravação


comportamental.

Figura 3: Esquema experimental na parte superior se encontra a toca do macho e na


parte inferior as fêmeas branca e natural apresentadas ao macho.

Figura 4: Escolha do macho em relação a cor da carapaça das fêmeas

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Figura 5: número de acenos direcionados às fêmeas (A) e tempo de insistência (B) dos
machos. Linhas horizontais grossas, bigodes e caixas indicam, respectivamente,
mediana, valores máximos e mínimos, segundo e terceiro quartis.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0258

AUTOR: MARIA LUIZA DE MORAIS BARROS

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: AVALIAÇÃO DO EFEITO ADJUNTO DE TERAPIAS


COMPLEMENTARES NO TRATAMENTO DE PACIENTES COM
DEPRESSÃO MAIOR

Resumo

Introdução: A Depressão Maior (DM) é a segunda causa da carga global de


incapacitação. Atualmente, a terapia com antidepressivos é a principal linha de
tratamento na DM, porém os efeitos colaterais e a resposta tardia podem levar a uma
baixa adesão ao tratamento. Nesse sentido, aponta-se a tendência na área da
Psiquiatria, em buscar linhas alternativas de tratamento, como intervenções baseadas
no estilo de vida. Metodologia: 63 pacientes com DM foram distribuídos em 3 grupos
terapêuticos (farmacoterapia exclusiva; terapia farmacológica combinada ao exercício
físico ou ao mindfulness) seguindo protocolo home-based ao longo de 12 semanas
para avaliação clínica dos sintomas depressivos e da qualidade do sono. Resultados:
Ossintomas depressivos reduziram significativamente ao longo do período de
tratamento (basal*5ª p<0.001; basal*12ª p<0.001), independentemente do grupo
(p=0.445), apesar de a dimensão do efeito ter sido maior para o grupo exercício, (GF,
d=0.95; GE, d=1.97; GM, d=0.79). Para a qualidade do sono, também houve melhora
ao longo das semanas (basal*5ª p<0.001; basal*12ª p<0.001), não havendo diferença
significativa entre os grupos (p=0.555; GF d=0,76; GE d=1,30; GM d=1,12). Discussão:
Opções de tratamento adicionais baseados na melhoria do estilo de vida por meio de
protocolo on-line, seja por meio do mindfulness ou do exercício físico, tornam-se
viáveis e acessíveis para pacientes com DM, ampliando o tamanho do efeito clínico das
terapias de primeira linha atuais.

Palavras-chave: Depressão Maior. Mindfulness. Exercício físico. Terapia


adjuvante.

TITLE: ADJUVANT EFFECT OF LIFESTYLE-BASED AND HOME-BASED


THERAPIES ON DEPRESSIVE SYMPTOMS AND SLEEP QUALITY IN

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eCICT 2023

PATIENTS WITH MAJOR DEPRESSION

Abstract

Introduction: Major Depression (MD) is the second leading cause of the global burden
of disability. Currently, therapy with antidepressants is the main line of treatment in
DM, but side effects and late response can lead to poor adherence to treatment. In
this sense, the tendency in the field of Psychiatry to seek alternative lines of treatment,
such as interventions based on lifestyle, is pointed out. Methodology: 63 DM patients
were distributed into 3 therapeutic groups (exclusive pharmacotherapy;
pharmacological therapy combined with physical exercise or mindfulness) following a
home-based protocol over 12 weeks for clinical assessment of depressive symptoms
and sleep quality. Results: Depressive symptoms significantly reduced over the
treatment period (baseline*5th p<0.001; baseline*12th p<0.001), regardless of group
(p=0.445), although the effect size was greater for the group exercise, (GF, d=0.95; EG,
d=1.97; GM, d=0.79). For sleep quality, there was also improvement over the weeks
(baseline*5th p<0.001; baseline*12th p<0.001), with no significant difference between
groups (p=0.555; GF d=0.76; EG d =1.30; GM d=1.12). Discussion: Additional treatment
options based on lifestyle improvement through an online protocol, whether through
mindfulness or physical exercise, become viable and accessible for patients with DM,
expanding the size of the clinical effect of therapies current frontline.

Keywords: Major Depression. Mindfulness. Physical exercise. Adjuvant therapy.

Introdução

A Depressão Maior (DM) antes da pandemia de COVID-19 atingia cerca de 322 milhões
de pessoas no mundo (World Health Organization, 2017). A carga global de
incapacitação induzida pela DM prevista para 2030 foi atingida em 2010, vinte anos
antes do esperado (World Health Organization, 2017). E ainda estima-se um aumento
de 27,6% no mundo após a pandemia de COVID-19 (Santomauro et al., 2021). Mesmo
com os esforços para o desenvolvimento e aplicação de terapias antidepressivas
seguras e com adesão satisfatória por parte dos pacientes, ainda se observa um
aumento significativo na prevalência da Depressão Maior em grupos etários cada vez
mais jovens (Hidaka, 2012).
Atualmente, a terapia medicamentosa, com antidepressivos, é a principal linha de
tratamento na DM, porém os efeitos colaterais e a resposta tardia podem levar a uma
baixa adesão ao tratamento, afetando globalmente a remissão sintomatológica

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(Blumenthal et al., 2007). Nesse sentido, aponta-se a tendência mundial, na área da


Saúde Mental, em buscar linhas alternativas de tratamento, destacando as
intervenções baseadas no estilo de vida, como a yoga, o mindfulness e o exercício
físico que ganharam notada atenção nos últimos anos por reduzirem os sintomas
depressivos e aumentarem o bem estar geral dos pacientes com depressão (Craft &
Perna, 2004; Sarris et al., 2014, 2015, 2016).
Apesar da compreensão dos benefícios associados a essas terapias na redução dos
sintomas depressivos, a maior parte dos pacientes não as executam. Por exemplo,
cerca de 70% dos pacientes com depressão são sedentários. Entende-se que a
aderência do paciente a esse tipo de tratamento é difícil, devido tanto à falta de
motivação e de prazer inerentes à patologia, mas também pelo baixo envolvimento do
sistema de saúde mental e físico (Firth et al., 2019).
A fim de contornar tal problemática, surgem as intervenções home-based aplicadas
com auxílio de aplicativos de celular, reforçando o engajamento de pacientes
depressivos. Essas, vêm sendo validadas por meio de estudos clínicos randomizados,
que apontam o potencial de escalonamento dessas tecnologias (Arean et al., 2016;
Torous et al., 2021).
Uma revisão sistemática com metanálise apresentou o uso de aplicativo de
mindfulness como ferramenta eficaz na melhora de quadros depressivos, superando
desafios de alcance das intervenções presenciais e demonstrando benefícios
equivalentes a terapias usuais farmacológicas (Spijkerman, Pots & Bohlmeijer, 2016).
Enquanto, outros estudos apontam os benefícios da prática de exercício físico sob o
modeloremotoem pacientes com diagnóstico de DM (Moreira-Neto et al., 2021).
Outro aspecto importante parte da sintomatologia da DM que também parece ser
favorecida pelas intervenções baseadas no estilo de vida, é a qualidade do sono. As
alterações no ciclo sono-vigília são preditoras de episódios depressivos (Moulton et al.,
2015).
Por outro lado, uma recente revisão sistemática com metanálise demonstrou que
indivíduos com depressão que realizam atividade física apresentaram melhorias
significativas nos distúrbios do sono quando comparados a grupos-controle
sedentários, valendo-se de benefícios independentes da intensidade do exercício ou
de sua modalidade (Lederman et al., 2018). Ademais, a terapia com mindfulness
também tem se mostrado relevante para melhoria de distúrbios do sono enquanto
comorbidades da DM e outros transtornos, como abordado em recente revisão
sistemática (Rusch et al., 2019).
Diante desse cenário, o presente estudo visou analisar o efeito adjuvante de terapias
baseadas no estilo de vida e home-based (exercício físico e mindfulness) em
comparação à terapia farmacológica exclusiva no tratamento da Depressão Maior por

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meio da avaliação dos sintomas depressivos e da qualidade do sono. Assim, espera-se


que as terapias baseadas no estilo de vida apresentem um efeito adjuvante positivo
sobre a farmacoterapia exclusiva nas variáveis estudadas.

Metodologia

Esse estudo é do tipo intervencional home-based, aberto, randomizado e controlado.


Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UFRN, sob parecer número
5.442.889) realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pelo
Laboratório de Medidas Hormonais (LMH) em colaboração com a plataforma digital de
saúde Up Saúde. Foram selecionados 63 sujeitos estudantes, de ambos os sexos, com
idade entre 18 e 60 anos diagnosticados com Transtorno Depressivo Maior.

O estudo incluiu apenas estudantes da UFRN com idade superior a 18 anos. Apenas
pacientes com presença de episódio depressivo atual parte do diagnóstico de
depressão unipolar (sem satisfazer critérios diagnósticos para presença de outro
transtorno mental) foram incluídos neste ensaio clínico. Excluíram-se indivíduos com
restrição ao uso de Escitalopram ou que estavam em uso de medicamentos
psiquiátricos, neurológicos ou com efeitos sobre a cognição, humor e funções
neurovegetativas, à exceção de antidepressivos. Por se tratar de um estudo home-
based, o acesso à internet em um smartphone, bem como apresentar disponibilidade
para a realização das consultas foram utilizados como critérios de inclusão. Ainda,
gestantes, lactantes e indivíduos com alguma desabilidade física ou mental que
impossibilite a aplicação das terapias complementares e farmacológica foram
excluídos.

Os voluntários foram triados por meio de questionários disponibilizados através do


aplicativo de smartphone UpSaúde, contendo perguntas sobre uso de medicação e
diagnóstico prévio de comorbidades. Ainda, nesse procedimento de triagem, foi
aplicado o questionário Patient Health Questionnaire-2 (PHQ-2).

Os pacientes selecionados na primeira etapa foram direcionados para realização de


atendimento médico para diagnóstico e classificação da intensidade da DM, além de
avaliação global dos critérios de inclusão, também por meio do UpSaúde, respeitando
todas as normas de regulação do Conselho Federal de Medicina (CFM). Essa segunda
etapa foi realizada por uma equipe composta por médicos psiquiatras, aptos e
especializados para esse fim, da Unidade de Atenção Psicossocial (UNAPS) do Hospital
Universitário Onofre Lopes (HUOL). O embasamento para o diagnóstico da DM foi
dado por meio da utilização de escalas psicométricas, considerando resolução

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específica para diagnóstico de condições mentais (CFP 1996): 1) Mini Entrevista


Neuropsiquiátrica Internacional (MINI); 2) Escala de avaliação para depressão de
Montgomery e Asberg (MADRS), com pontuação mínima de 7 pontos (Montgomery e
Asberg, 1979).

Foram disponibilizadas via link as escalas Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) e


Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP), para autopreenchimento e aplicação
pelos pacientes, em três momentos distintos: basal, 5ª e 12ª semanas.

Novas consultas foram realizadas na 5ª e 12ª semanas a fim de, respectivamente,


avaliar possíveis ajustes de dose do medicamento e realizar o encaminhamento e
finalização de acompanhamento por meio do estudo. Ao final do tratamento, os
pacientes que não obtiveram remissão do quadro psiquiátrico foram encaminhados
para seguimento do plano terapêutico no SUS, por meio do Programa de Saúde da
Família (PSF) ou do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

Durante esse período, em três momentos distintos (basal, 5ª e 12ª semanas), foram
aplicados questionários de avaliação psicométrica sobre sintomas depressivos e
qualidade de sono: a Escala de Depressão de Beck (BDI-II) e o Índice de Qualidade de
Sono de Pittsburgh (IQSP), respectivamente.

Os pacientes foram distribuídos em 3 grupos terapêuticos: terapia farmacológica


exclusiva; terapia farmacológica combinada ao exercício físico; terapia farmacológica
combinada ao mindfulness. De forma indistinta, não foi permitido optar pelo tipo de
tratamento a ser utilizado. A randomização foi feita pelo software
www.randomization.com.

No grupo com terapia farmacológica, o tratamento foi feito exclusivamente com


Escitalopram, medicamento da classe dos Inibidores Seletivos de Recaptação de
Serotonina (ISRS), por um período de 12 semanas. O remédio foi ofertado sem custos,
pela própria pesquisa, a todos os pacientes. A dose de entrada do fármaco foi
padronizada pela equipe de psiquiatras da UNAPS, 10mg, sofrendo ajustes ao longo do
tratamento de acordo com as alterações de humor verificadas nas consultas e por
meio da resposta às escalas psicométricas.

O grupo exercício também foi tratado com Escitalopram (10mg ao início, com
possibilidade de ajuste de dose individualmente), porém associado a um protocolo de
exercício físico supervisionado por profissional de Educação Física aplicado quatro
vezes por semana durante 12 semanas. .

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No grupo mindfulness, utilizou-se a mesma medicação (Escitalopram, 10mg ao início,


com possibilidade de ajuste de dose individualmente) associada, desta vez, a um
protocolo de meditação aplicado virtualmente. Ao longo das 12 semanas, foram
realizados encontros semanais com 60 minutos de duração de forma síncrona (1
vez/semana) em grupos com até 12 voluntários, além de outros 3 encontros virtuais
semanais com 20 minutos de duração no formato assíncrono. Ao todo, totalizando 2
horas de intervenção por semana, similar ao executado no grupo do exercício físico.

Foi realizada uma análise descritiva com as variáveis qualitativas, representadas na


forma de frequências absolutas e relativas, ao passo que as variáveis quantitativas
foram demonstradas na forma de média e desvio-padrão. Para verificar a associação
entre o tipo de tratamento e as escalas aplicadas ao longo do tempo de observação,
foi realizado o teste de Análise de Variância (ANOVA) de medidas repetidas, com pós-
teste de Holm. Adicionalmente, foi calculado o d de Cohen para análise da dimensão
do efeito nos grupos terapêuticos durante as semanas.

As variáveis dependentes desse estudo foram sexo; idade; curso da graduação; escore
da escala BDI; e escore da escala IQSP. As variáveis independente são os grupo e a
semana de trat

Resultados e Discussões

A pesquisa contou com 63 participantes, estudantes da Universidade Federal do Rio


Grande do Norte, em sua maior parte do sexo feminino (67%) e discentes de cursos
das áreas de Ciências da Saúde e Humanística. Dentro da amostra, a idade variou entre
20 e 55 anos, com idade média de 28 anos (Tabela 1).
De forma randomizada, os pacientes foram distribuídos em 3 grupos terapêuticos:
terapia farmacológica exclusiva (GF, n = 26); terapia farmacológica combinada ao
exercício físico (GE, n = 22); terapia farmacológica combinada ao mindfulness (GM, n =
15) (Figura 2).
Ao longo das semanas, foi possível observar que 31 dos 57 pacientes apresentaram
remissão dos sintomas depressivos (BDI-II), progredindo clinicamente para “depressão
leve” ou “sem depressão” (Tabela 3).
Os sintomas de DM (BDI-II) reduziram significativamente ao longo do período de
tratamento (F=26.03, p<0.01; basal*5ª p<0.001; basal*12ª p<0.001),
independentemente do grupo (F=1.26, p=0.294) (Figura 3). Ainda, é possível notar que
a dimensão do efeito foi maior para o grupo exercício em comparação ao grupo

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farmacológico, enquanto o grupo mindfulness apresentou efeito médio (GF, d=0.95;


GE, d=1.97; GM, d=0.79) (Tabela 4).
O escore médio da IQSP e o número de participantes de cada grupo terapêutico ao
longo do tratamento é descrito na Tabela 5.
A tabela 6 aponta que a maior parte dos pacientes, independentemente do grupo
terapêutico, apresentavam algum distúrbio do sono no início do estudo (n=32, 51%),
sendo esse quantitativo reduzido em 62,5% ainda na 5ª semana (n=12, 21%),
apontando uma melhora na qualidade do sono. Na 5ª e 12ª semanas de tratamento, a
maior parte dos pacientes apresentaram qualidade do sono ruim (S5ª n=35; 61% /
S12ª n= 25; 60%).
Foi observada uma melhora da qualidade do sono (IQSP) ao longo das semanas
(F=33.748, p<0.001; basal*5ª p<0.001; basal*12ª p<0.001), porém não houve
diferença significativa entre os grupos ao longo do tratamento (F=0.759, p=0.555).
Apesar disso, para os grupos com terapias adjuvantes, o tamanho do efeito foi maior
quando comparada a do grupo farmacológico - alcançando o benefício máximo na
qualidade do sono durante a 12ª semana (GF d=0,76; GE d=1,30; GM d=1,12) (Figura 4
e Tabela 7).
Nesse estudo, avaliamos ao longo de 12 semanas o efeito adjuvante de terapias
baseadas no estilo de vida e home-based sobre os sintomas depressivos e qualidade
do sono do tratamento em pacientes com DM. Não foi possível constatar diferença
significativa entre os grupos de farmacoterapia exclusiva e dessa associada a uma
terapia adjuvante, apesar de obtermos maior dimensão do efeito na melhoria dos
sintomas para os grupos nos quais houve aplicação das intervenções complementares,
principalmente o exercício físico.
De forma geral, os sintomas depressivos, mensurados por meio da escala BDI-II,
reduziram já a partir da 5ª semana de protocolo terapêutico até a semana final, a 12ª,
na qual se atingiu os melhores índices. No entanto, nos grupos onde a medicação foi
associada às terapias baseadas no estilo de vida, o tamanho do efeito foi maior na
melhoria de tal sintomatologia. Outros estudos vêm apontando os benefícios do
exercício físico e do mindfulness na redução dos sintomas depressivos (Gujral et al.,
2017; Hofmann et al., 2010). Por exemplo, as intervenções baseadas em mindfulness
produzem uma melhora na ruminação e redução dos sintomas depressivos (Li et al.,
2022). Por outro lado, uma intervenção combinada do exercício com a farmacoterapia
por 6 semanas apontou melhoras significativas no quadro depressivo, também aferido
por meio da BDI (Imboden et al., 2020). Porém, a maior parte desses estudos utilizam
terapias presenciais. Os estudos que buscam aplicar as terapias baseadas no estilo de
vida e home-based para a redução dos sintomas de estresse e depressão geralmente

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são desenvolvidos em populações não-clínicas ou clínicas onde a depressão é uma


comorbidade (Chen et al., 2015; Demark-Wahnefried et al., 2008; Wu et al., 2022).
A proposta terapêutica fundamentada no home-based guiada e implementada em
nosso estudo foi uma estratégia de mitigar a baixa motivação dos pacientes
depressivos e os sintomas negativos de autoconfiança e de incapacidade em
desempenhar ações. Sabe-se que a sintomatologia inerente a DM também pode
dificultar a adoção de hábitos saudáveis e uma mudança de estilo de vida, os quais são
essenciais no contexto do tratamento dessa patologia (Lederman et al., 2019). Ainda
nesse sentido, fortalece-se a prerrogativa de que a supervisão seja capaz de aumentar
a adesão à prática de exercício físico (Dias et al., 2017), bem como potencializar o fator
motivacional (McClaran, 2003).
No entanto, ainda são poucas as investigações onde as terapias baseadas no estilo de
vida e home-based são aplicadas num público alvo cujo diagnóstico principal é a
depressão maior, como é o caso desse estudo. Nesse contexto, protocolo de exercício
físico home-based supervisionado, realizado na pandemia de COVID-19, durante o
distanciamento social, demonstrou uma maior redução de sintomas depressivos
(aferido pelo escore de MADRS), comparando com indivíduos sedentários (Moreira-
Neto et al., 2021).Paralelamente, outro estudo com indivíduos diagnosticados com DM
resistente avaliou a resposta clínica do exercício físico de moderada intensidade e
home-based associado à terapia farmacológica sobre os sintomas depressivos, o qual
não apresentou diferenças estatisticamente significativas ao se comparar com o grupo
em terapia isolada com antidepressivo. No entanto, 26% dos pacientes do grupo
exercício apresentaram remissão sintomatológica, enquanto, no grupo controle,
nenhum paciente apresentou resposta ou remissão, demonstrando a eficácia e o
benefício adjuvantes do exercício físico (Mota-Pereira et al., 2011).
Ao discutir a terapia com mindfulness, um estudo clínico randomizado sob modelo
home-based apontou para uma redução significativa da gravidade da depressão,
aferida pela redução do escore da PHQ-9, associada com uma menor taxa de recaída
(Segal et al., 2020). Já uma robusta revisão sistemática com meta-análise encontrou
um efeito significativo, porém pequeno (g = 0,29; p = 0,001), sobre sintomatologia
depressiva a partir de protocolo home-based com mindfulness (Spijkerman, Pots &
Bohlmeijer, 2016), enquanto outra pesquisa, de mesma categoria, utilizou a população
universitária não-clínica e obteve resultados também satisfatórios, porém diminutos
(Reangsing, Abdullahi & Schneider, 2023).
Ao analisar desfechos clínicos do presente estudo tomando como base a escala IQSP,
foi percebida uma melhora da qualidade do sono na amostra analisada. De forma
semelhante aos dados da BDI-II, um considerável benefício foi atingido ainda na 5ª
semana, apresentando seu máximo potencial na 12ª semana. De forma geral, a terapia
farmacológica isolada apresentou menor tamanho de efeito na melhora da qualidade

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do sono comparada à sua combinação com o exercício e a intervenção corpo-mente,


convergindo aos apontamentos de uma recente revisão sistemática com metanálise
(Brubpacher et al., 2021). Na revisão citada, as intervenções baseadas no estilo de vida
(corpo-mente, exercício resistido, meditação e aeróbico) também foram
significativamente mais eficazes para a melhoria da qualidade do sono do que o
tratamento isolado habitual. Outro estudo utilizou um aplicativo on-line de
mindfulness a fim de avaliar a resposta clínica de pacientes com sintomas depressivos
e ansiosos associado a quadro de insônia severa. Nesse contexto, foi possível perceber
melhora de ambos os quadro comórbidos a partir de um protocolo de 8 semanas,
destacando melhora significativa da fadiga e sonolência diurna (Huberty et al., 2021).
Ainda no que tange à qualidade do sono, sabe-se que transtornos associados, como a
insônia, são comorbidades frequentemente vistas como diagnósticos secundários à
DM, sendo um importante marcador de gravidade da doença (Galvão et al., 2021).
Corroborando com essa ideia, na amostra analisada, na semana basal,
aproximadamente 50% dos participantes tinham diagnóstico de distúrbio do sono
(IQSP>10), enquanto ao final do tratamento esse valor foi reduzido para 14%.

Conclusão

Dessa forma, os resultados do presente estudo apontam que opções de tratamento


adjunto baseados na melhoria do estilo de vida, seja por meio da mindfulness ou do
exercício físico, e home-based são viáveis para pacientes com DM, corroborando na
ampliação das terapias de primeira linha atuais, essencialmente farmacológicas. Ainda,
considerando a preocupação multiprofissional em minimizar a sintomatologia das
comorbidades mais prevalentemente associadas, como a insônia, as terapias baseadas
no estilo de vida podem, então, ser avaliadas com ação sobre a sintomatologia dupla
de pacientes deprimidos e com baixa qualidade de sono.
Porém, em contraponto ao aventado na hipótese científica, não houve diferença
estatisticamente significativa entre os grupos de tratamento, apesar da dimensão do
efeito nas melhoras nos sintomas depressivos e da qualidade do sono nos grupos das
terapias baseadas no estilo de vida terem se apresentado maiores que no grupo
farmacológico exclusivo, ou seja, de alguma maneira essas terapias adjuntas
apresentaram um benefício extra. Pode-se sugerir que o tamanho restrito da amostra
pode ter inviabilizado a observação das diferenças estatísticas entre grupos, além de
poder não ser representativa da realidade dos pacientes em geral, necessitando de
pesquisas ainda mais democráticas e amplificadas. Ademais, no nosso estudo, assim
como em vários outros similares, não foi utilizado uma mensuração biológica do sono,
como a polissonografia, para auxiliar e fortalecer a investigação psicométrica. Tal fato

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pode ocasionar uma interpretação subjetiva e autorreferida das sintomatologias, sem


precisão na gradação de remissão dos distúrbios do sono. Os trabalhos a serem
desenvolvidos poderão ampliar o número de pacientes em grupos de intervenção e
buscar por medidas mais objetivas em paralelo à aplicação de escalas psicométricas.
Destaca-se, pois, a relevância do presente artigo no cenário da Saúde Mental e na
prática clínica psiquiátrica ao abordar terapias inovadoras no tratamento da DM,
integrando protocolos de exercício físico e terapias corpo-mente guiados à
comodidade e praticidade de sua execução na casa do paciente.

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Health, 9, 773296.

Anexos

Figura 1. Desenho do estudo.

Tabela 1. Estatísticas descritivas da amostra - Dados sociodemográficos

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Figura 2. Diagrama CONSORT do participante descrevendo o fluxo para arrolamento,


alocação e análise dos pacientes por grupos terapêuticos.

Tabela 3. Análise qualitativa do escore da BDI-II

Figura 3. Médias marginais estimadas com base no intervalo de confiança de 95% para
a avaliação da BDI-II ao longo das semanas em cada grupo de tratamento.

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Tabela 4. Associações entre as variáveis analisadas para a BDI-II

Tabela 5. Estatística descritiva da amostra para a escala IQSP.

Tabela 6. Análise qualitativa do escore do IQSP.

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Figura 4. Médias marginais estimadas com base no intervalo de confiança de 95% para
a avaliação da IQSP ao longo das semanas em cada grupo de tratamento.

Tabela 7. Associações entre as variáveis analisadas para a IQSP.

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CÓDIGO: SB0266

AUTOR: EVALDO HENRIQUE PESSOA DA COSTA

COAUTOR: RÔMULO AUGUSTO DE PAIVA MACEDO

COAUTOR: VLADIMIR GALDINO SABINO

ORIENTADOR: CARLOS AUGUSTO GALVAO BARBOZA

TÍTULO: EFEITO DA FOTOBIOMODULAÇÃO E DA MICROARQUITETURA


DO BIOMATERIAL NA ATIVIDADE BIOLÓGICA DE CÉLULAS CULTIVADAS
SOBRE ARCABOUÇOS POLIMÉRICOS

Resumo

A fotobiomodulação (PBM) tem demonstrado impactos positivos na proliferação de


diversos tipos celulares, no entanto, seu uso na área da engenharia de tecidos ainda é
limitado. O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da PBM na proliferação e
viabilidade de células-tronco de dentes decíduos humanos (SHEDs) e células
osteoblásticas (MC3T3) cultivadas na superfície de arcabouços de ácido polilático
(PLA). As células foram cultivadas nas superfícies dos filmes e submetidas ou não
(controle) à irradiação com laser diodo (InGaAlP; 660nm; 30mW; dose de 4J/cm²). O
ensaio do Alamar Blue avaliou a viabilidade e proliferação celular, as fases do ciclo
celular por citometria de fluxo e a integração célula-arcabouço por microscopia
eletrônica de varredura (MEV), nos intervalos de 24, 48 e 72h pós-irradiação. Os
resultados mostraram o crescimento de SHEDs e células MC3T3 nos arcabouços, com
tendência proliferativa ao longo do experimento. Os dois tipos celulares exibiram
maior proliferação (p<0,05) quando irradiados em comparação com os grupos
controle, o que foi confirmado por um maior percentual de células (p<0.05) nas fases
proliferativas do ciclo celular. As células nos grupos irradiados apresentaram um
evidente aumento na densidade celular, conforme os resultados da MEV. Conclui-se
que a PBM é uma estratégia bioestimuladora nas células cultivadas em PLA, revelando,
desse modo, uma ferramenta promissora no campo da engenharia de tecidos.

Palavras-chave: Laserterapia. Células-tronco. Osteoblastos. Biomateriais.


Polímeros.

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TITLE: EFFECT OF PHOTOBIOMODULATION AND MICROARCHITECTURE


OF THE BIOMATERIAL ON THE BIOLOGICAL ACTIVITY OF CELLS
CULTURED ON POLYMERIC SCAFFOLDS

Abstract

Photobiomodulation (PBM) has demonstrated positive impacts on the proliferation of


several cell types, but its use in tissue engineering is still limited. The aim of the study
was to evaluate the effects of PBM on the proliferation and viability of human primary
tooth stem cells (SHEDs) and osteoblastic cells (MC3T3) cultured on the surface of
polylactic acid (PLA) scaffolds. The cells were cultivated on the surfaces of the films and
submitted or not (control) to diode laser irradiation (InGaAlP; 660nm; 30mW; dose of
4J/cm²). The Alamar Blue assay evaluated cell viability and proliferation, cell cycle
phases by flow cytometry and cell-structure integration by scanning electron
microscopy (SEM), at intervals of 24, 48 and 72 hours post-irradiation. The results
showed the growth of SHEDs and MC3T3 cells on the scaffolds, with a proliferative
tendency throughout the experiment. The two cell types exhibited greater
proliferation (p<0.05) when irradiated compared to the control groups, which was
confirmed by a higher percentage of cells (p<0.05) in the proliferative phases of the
cell cycle. The cells in the irradiated groups showed a clear increase in cell density,
according to the SEM results. It is concluded that PBM is a biostimulatory strategy in
cells grown in PLA, thus revealing a promising tool in the field of tissue engineering.

Keywords: Laser therapy. Stem cells. Osteoblasts. Biomaterials. Polymers.

Introdução

A engenharia de tecidos ósseos evoluiu ao longo dos anos, visando abordar os desafios
dos requisitos biomiméticos de tecidos, ao simular a formação de tecido
funcionalmente saudável (Maia et al., 2022). De maneira geral, a engenharia de
tecidos engloba três elementos fundamentais: uma estrutura de suporte que
proporciona a base e o substrato para o crescimento e maturação do tecido; uma
fonte de células que facilita a criação do tecido desejado; e fatores de crescimento ou
estímulos biofísicos que orientam o desenvolvimento e a diferenciação celular dentro
da estrutura de suporte (Sharma et al, 2019).
O ácido polilático (PLA) tem uma variedade de aplicações biomédicas devido a sua alta
resistência, biodegradabilidade, biocompatibilidade e baixo custo, bem como

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apresenta bons resultados mecânicos e propriedades antibacterianas. (Alam, F et al.,


2019; Casasola et al., 2014; Saini et al., 2016). Os arcabouços de PLA podem promover
um excelente ambiente para o crescimento celular devido às suas propriedades físicas
inerentes (Armentano et al., 2013). Os arcabouços nanofibrosos de PLA produzidos
pela técnica de eletrofiação têm se mostrado uma ferramenta versátil para a
engenharia tecidual, pois apresentam uma superfície topográfica tridimensional para
adesão de células, além de funcionar como um dispositivo para liberação de fármacos
ou moléculas bioativas, como substrato para a biofuncionalização (Santoro et al.,
2016).
A engenharia tecidual com células-tronco apresenta vantagens em relação aos demais
tipos celulares em virtude da sua capacidade de proliferação e diferenciação (Ginani et
al., 2018). As células-tronco de dentes decíduos esfoliados humanos (SHEDs) são
derivadas da crista neural embrionária e têm sido amplamente estudadas nos últimos
anos devido à sua capacidade de multi-diferenciação, o que torna as SHEDs uma das
fontes mais populares de células-tronco para estudos em medicina regenerativa e
engenharia de tecidos (Ko et al., 2020). Por outro lado, as células osteoblásticas têm
sido amplamente utilizadas em pesquisas na área da biologia óssea e engenharia do
tecido ósseo, por apresentarem um modelo favorável da osteogênese in vitro, sendo a
linhagem MC3T3 o tipo celular mais encontrado nos estudos (Addison et al., 2015)
A fotobiomodulação (PBM) tem sido apontada como uma estratégia para promover
rápida proliferação celular in vitro. Esta ferramenta contribui para melhorar a
regeneração tecidual, constituindo um importante terapia adjuvante que atua
estimulando a atividade celular, angiogênese, ativação osteoblástica, crescimento
axonal, ação anti-inflamatória e anti-edematosa, aumento da síntese e maturação de
colágeno e biomoléculas (Reis, C. H et al., 2022).
Uma revisão publicada por Ginani et al. (2015) indica que LBI pode ser útil no futuro
como uma ferramenta para engenharia de tecidos associada a células-tronco. Além
disso, Ginani et al. (2018) mostraram que o LBI tem uma influência positiva na
proliferação in vitro de SHEDs. Portanto, para melhorar a tríade de engenharia de
tecidos junto com células-tronco, scaffolds e fatores de crescimento, o LBI foi proposto
como o quarto elemento da engenharia de tecidos (Marques et al., 2016).
Recentemente, Sabino et al. (2020) mostraram que LBI aumenta a proliferação de
células pré-osteoblásticas MC3T3-E1 em filmes de PLA produzidos pelo método
convencional de fundição de solvente, sugerindo que pode ser potencialmente
aplicado na engenharia de tecido ósseo.
Com base nesse contexto, formulamos a hipótese de que é viável unir os benefícios
advindos da fotobiomodulação com as características favoráveis dos arcabouços de
ácido polilático em formato de filmes, visando sua utilização nas abordagens de
engenharia de tecidos. Assim, o objetivo do estudo foi avaliar a viabilidade e

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proliferação de células-tronco pulpares e células osteoblásticas cultivadas em filmes de


PLA submetidas à fotobiomodulação com laser de diodo no espectro de luz visível (660
nm).

Metodologia

1. Preparação dos filmes, avaliação da superfície e desinfecção para realização dos


ensaios biológicos
Os filmes de PLA foram obtidos através do método convencional de evaporação de
solvente, seguindo-se o protocolo descrito por Sabino et al (2020). A solução foi
vertida em placas de Petri e mantida em câmara de ventilação até a evaporação
residual do clorofórmio e o desenvolvimento de um filme fino. Os filmes obtidos foram
então cortados em espécimes circulares para realização dos ensaios biológicos. A
morfologia da superfície do filme PLA foi avaliada por microscopia eletrônica de
varredura (MEV) e a nanotopografia por microscopia de força atômica (AFM). A
nanotopografia foi analisada em microscópio de força atômica Shimadzu SPM 9600
(Shimadzu, Japão), para determinação da rugosidade média da superfície. Os filmes de
PLA foram lavados (3 x 2 min) em uma solução tampão de fosfato (PBS) e expostos à
luz ultravioleta (UV-C) por 30 minutos em uma câmara de fluxo laminar, seguido de
incubação por 15 minutos em uma solução de PBS contendo antibióticos e
antimicóticos (400 UI/mL de penicilina, 400 µg/mL de estreptomicina e 1 µg/mL de
anfotericina B; todos da Gibco, EUA). Posteriormente, os filmes de PLA foram inseridos
em placas de 6, 24 e 96 poços e equalizados por imersão em meio α-MEM
suplementado com soro fetal bovino a 10% (FBS; Gibco, EUA) overnight à 37ºC e
atmosfera de 5% de CO2.
2. Cultivo das células
As células-tronco de dentes decíduos humanos esfoliados (SHEDs) utilizadas no estudo
foram previamente isoladas e caracterizadas por Ginani et al. (2018), com aprovação
do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(Parecer CAAE: 34913314.4.0000.5537). Após o descongelamento, a natureza
multipotencial das células foi determinada de acordo com os critérios estabelecidos
por Dominici et al. (2006). As células osteoblásticas utilizadas na pesquisa foram da
linhagem MC3T3-E1, derivadas de calvárias de camundongo, obtidas da AmericanType
Culture Collection (ATTC, EUA) e gentilmente cedidas pelo Laboratório de Biopolímeros
(BIOPOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Os dois tipos celulares foram cultivados isoladamente em garrafas de cultura (TPP,
Suíça) com 7 mL de meio α-MEM suplementado com 10% de soro fetal bovino e 1% de

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antibiótico e antimicótico. Durante todo o tempo de cultivo as células foram mantidas


a 37°C em atmosfera umidificada, contendo 5% de CO2 e o meio trocado a cada 3 dias.
Após a confluência, as células foram subcultivadas a partir do uso solução de tripsina-
EDTA (0,25%-1mM, Gibco, EUA), centrifugadas e distribuídas em novos frascos de
cultura com meio fresco.
3. Protocolo de irradiação
Para a realização dos experimentos biológicos, cada tipo celular foi divido em dois
grupos: Controle (C) - células cultivadas na superfície dos filmes de PLA e não
submetidas à irradiação com laser; e Laser (L4) - células cultivadas na superfície dos
filmes de PLA e submetidas à irradiação com laser. As células do grupo L4 foram
submetidas a uma única irradiação com laser de diodo InGaAIP (Kondortech. Brasil),
comprimento de onda de 660 nm, potência de 30 mW, densidade de energia de 4,0
J/cm², diâmetro da ponta de 0,01 cm², no modo de ação contínua. A ponta de
irradiação do laser foi mantida perpendicularmente à placa a uma distância de 0,5 cm
do filme de PLA e cada irradiação foi realizada por 2 min 13 s. Os filmes foram
dispostos na placa de modo a manter um poço vazio entre os poços contendo células,
visando evitar a dispersão não intencional de luz durante a aplicação do laser (GINANI
et al., 2018).
4. Avaliação da viabilidade e proliferação celular
O ensaio de Alamar Blue® foi realizado em quadruplicata (n=4), com as células
cultivadas em placas de 96 poços na densidade de 5 x 10³ células/poço. Após cada
intervalo experimental (24, 48 e 72h) o meio foi removido dos poços e as células foram
cultivadas com 10 µL de Alamar Blue® (Invitrogen, USA) e 90 µL de meio α-MEM sob
condições normais de cultivo, por 4h. Em seguida, os arcabouços foram removidos da
placa e a absorbância das soluções foi medida em leitor de microplaca (Epoch, Biotek,
USA) em um comprimento de onda de 570 nm e de 600 nm e a redução do Alamar
Blue® foi então calculada a partir da equação fornecida pelo fabricante.
5. Análise do ciclo celular
As células de cada grupo foram cultivadas em triplicata em placas de seis poços na
densidade de 2 x 10⁵ células/poço. Após 72h de cultivo, as células foram incubadas
com paraformaldeído 2% por 30 minutos, lavadas com PBS gelado e permeabilizadas
com saponina 0,01% por 15 minutos. Após este procedimento, as células foram
incubadas com 10 µL de RNAse (4 mg/mL) a 37ºC por 30 minutos. Foram adicionados
então 5 µL de Iodeto de Propídeo (25 mg/mL), juntamente com 200 µL de PBS gelado,
e as células foram avaliadas em citometria de fluxo (585 nm) para identificação das
fases do ciclo celular.
6. Avaliação da integração célula-superfície do arcabouço

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A morfologia das células e sua integração com a superfície do PLA foram avaliadas por
MEV. No intervalo de 72h, os filmes de PLA foram lavados duas vezes em PBS e em
seguida fixados em glutaraldeído a 2,5% por 12h, pós-fixados em tetróxido de ósmio a
1% por 60 min e lavados em água destilada. As amostras foram então desidratadas em
álcool etílico, banhadas a ouro pela técnica de sputtering e examinadas sob um
microscópio eletrônico de varredura (Hitachi TM300, Hitachi, Japão).
7. Análise estatística
As avaliações estatísticas foram realizadas no software GraphPad Prism 8.0 (GraphPad,
San Diego, CA, EUA). Análises não paramétricas foram realizadas, pois os dados não
apresentaram distribuição gaussiana (teste de normalidade Shapiro-Wilk, alfa = 0,05).
As diferenças entre os grupos foram analisadas pelos testes de Kruskal-Wallis e Mann-
Whitney, considerando um intervalo de confiança de 95% (p<0,05).

Resultados e Discussões

Os resultados da MEV dos filmes produzidos mostraram que estes apresentavam uma
superfície regular (Figura 1-A) e os resultados da caracterização nanotopográfica por
AFM (Figura 1-B) indicam um perfil de rugosidade média da superfície (Ra) de 21.43
nm, altura média máxima do perfil (Rz) de 183.94 nm, altura máxima do pico do perfil
(Rp) de 67.71 e espaçamento médio entre os picos (Rp/Rz) de 0.36 nm, apresentando
ainda alguns poros.
O ensaio do Alamar Blue mostrou que nas SHEDs (Fig. 2-A) o grupo L4 (laser) exibiu
uma proliferação celular maior em comparação ao grupo C (controle), com diferenças
significativas (p<0,01) nos três intervalos de tempo estudados. De modo semelhante,
as células MC3T3-E1 (Figura 2-B) exibiram uma proliferação celular maior no grupo
irradiado (L4), apresentando uma porcentagem de redução de Alamar Blue
significativamente maior em comparação ao grupo C nos intervalos de 24 (p<0.01), 48
e 72 h (p<0,0001).
A análise do ciclo celular por citometria de fluxo permitiu identificar o percentual de
células nas fases proliferativas do ciclo. Tanto nas SHEDs (Figura 3-A) como nas MC3T3
(Figura 3-B) os grupos irradiados exibiram porcentagens aumentadas de células nas
fases S e G2/M em comparação com controles não irradiados, com diferenças
significativas (p<0,05) para os dois tipos celulares. Dado que as populações de células
classificadas nas fases S e G2/M compreendem células no próprio estado proliferativo,
esse achado reforça o efeito potencial do laser de baixa intensidade no crescimento
celular e também é consistente com os dados obtidos no ensaio do Alamar Blue.

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A análise das amostras por MEV mostrou que nos grupos L4, tanto as SHEDs (Figura 4-
A) quanto as células MC3T3 (Figura 4-B) apresentavam uma distribuição mais
homogênea ao longo da superfície dos filmes e uma maior densidade celular em
comparação com o grupo C, indicando que a irradiação promoveu uma maior
densidade celular na superfície do filme. Além disto, algumas células MC3T3 do grupo
L4 exibiram eventualmente uma morfologia mais arredondada, enquanto as células do
grupo C mantiveram uma morfologia fibroblastóide, o que pode sugerir um efeito do
laser na diferenciação osteogênica.
A atual pesquisa evidenciou que os filmes de ácido polilático (PLA) fabricados por meio
da técnica de evaporação de solvente apresentam uma superfície com grau de
hidrofilicidade adequado, permitindo a adesão e multiplicação das células-tronco da
polpa dental e das células pré-osteoblásticas. Wang et al. (2017) investigaram a
proliferação de células-tronco de dentes decíduos esfoliados humanos (SHEDs)
cultivadas com (tratado) e sem (controle) extrato de PLA e observaram que o cultivo
de células em PLA e meio normal não foi significativamente diferente, havendo
proliferação das SHEDs. Esses achados corroboram os nossos no ensaio Alamar Blue,
que mostrou que mesmo o grupo não irradiado (C) apresentou tendência proliferativa
das células durante o experimento, sugerindo que o PLA tem boa biocompatibilidade
com os dois tipos celulares estudados e, conseqüentemente, pode representar uma
perspectiva promissora no reconstrução de tecidos dentais e ósseos perdidos. Neste
estudo, optou-se por uma densidade energética de 4 J/cm² com base em um estudo
prévio que demonstrou um aumento na multiplicação das células MC3T3 quando
estimuladas por laser vermelho em densidades energéticas de 3 e 5 J/cm² (Pagin et al.,
2014).
Visando se obter um número adequado de células-tronco para a aplicação no campo
da engenharia tecidual, o emprego de técnicas para a proliferação celular é
imprescindível visto que o seu rendimento in vitro normalmente é baixo (Mei et al.,
2014). Neste sentido, o LBI destaca-se como uma importante ferramenta para
aumentar o número de células-tronco disponíveis em um menor intervalo de tempo
(Khorsandi et al., 2020). Quando submetidas à fotobiomodulação, as SHEDs e MC3T3s
cultivadas sobre o PLA exibiram uma tendência proliferativa ao longo do experimento,
comprovando que o LBI com uma dose de 4 J/cm² exerce efeitos bioestimulatórios.
Vários estudos mostraram que o LBI tem vários efeitos bioestimulantes na proliferação
e diferenciação das células-tronco mesenquimais, embora os mecanismos moleculares
precisos envolvidos permaneçam pouco alimentados (De Freitas, Hamblin, 2016).
Estudos recentes mostram que a energia luminosa do LBI é capaz de aumentar a
quantidade de ATP, que acelera a mitose, resultando em uma produção equilibrada de
fibroblastos por meio da normalização do colágeno e das fibras elásticas (Khorsandi et
al., 2020). Além disso, já foi relatado que após a absorção dos fótons pelas células,

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inúmeras vias de sinalização são ativadas, levando à ativação de fatores de transcrição.


Estes fatores de transcrição podem apoiar a recuperação do tecido, aumentando a
expressão de genes relacionados à migração/proliferação celular, sinalização anti-
inflamatória, vias anti-apoptóticas e enzimas antioxidantes (De Freitas, Hamblin, 2016).
O LBI possui efeitos positivos em células sobre cultivos regulares previamente
descritos e tem sido associado ao aumento do potencial da membrana mitocondrial e,
portanto, à produção de ATP (Ginani et al., 2018) e à geração de espécies reativas de
oxigênio (ROS) (Migliario et al., 2014). Estes eventos bioquímicos têm sido apontados
como responsáveis pelo controle da proliferação, viabilidade, diferenciação celular e
apoptose (Cerdeira et al., 2016).
Renno et al. (2010) avaliou doses maiores do LBI e observou que células pré-
osteoblásticas (MC3T3-E1) cultivadas em biosilicato e irradiadas com uma dose de 10
J/cm2 apresentaram uma diminuição da proliferação celular quando comparada ao
grupo não irradiado. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Pinto et
al. (2013), que também utilizou um suporte de biosilicato e uma dose de 120 J/cm2
para o reparo de defeitos ósseos em ratos, e não identificou um efeito extra da
laserterapia no processo de regeneração. Esses resultados podem estar associados a
interferência do biomaterial no momento da aplicação do laser, onde a luz pode sofrer
refração ou absorção (Zaccara et al., 2015). No caso dos filmes de PLA usados no
presente estudo, a possível refração ou absorção de luz pelo biomaterial não parece
ocorrer, já que obtivemos uma curva proliferativa mais ascendente nos grupos
irradiados quando comparados com o grupo não irradiado (C) durante o experimento.

Conclusão

Neste estudo, a aplicação da fotobiomodulação resultou em um aumento notável na


viabilidade e proliferação das células pré-osteoblásticas MC3T3 e das células-tronco de
dentes decíduos (SHEDs), as quais foram cultivadas na superfície dos filmes de ácido
polilático (PLA). Através da utilização de ensaios metabólicos de redução do Alamar
Blue, análise do ciclo celular por Citometria de Fluxo e avaliação da morfologia celular
por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), foi possível constatar que o laser
induz respostas positivas nos tipos celulares avaliados, quando em interação com um
arcabouço. Tais conclusões apontam a fotobiomodulação, dentro dos parâmetros
estudados, como uma ferramenta potencial em futuros estudos in vitro e in vivo da
engenharia de tecidos dentários e ósseos.

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Anexos

Figura 1 - Caracterização da superfície dos filmes de PLA. A – Eletrofomicrografia da


superfície dos filmes de PLA em 2000X. B – Nanotopografia da superfície dos filmes de
PLA obtidas por AFM.

Figura 2 – Redução do Alamar Blue nos diferentes intervalos estudados. Aumento na


redução do Alamar Blue nos grupos irradiados ao longo dos intervalos indica aumento
da proliferação celular comparada com o grupo C.

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Figura 3 - Distribuição percentual das células dos diferentes grupos nas fases do ciclo
celular, no intervalo de 72h. Maior percentual de células nas fases proliferativas do
ciclo (S e G2/M) no grupo irradiado em comparação com o grupo controle.

Figura 4 - Eletromicrografias das SHEDs e MC3T3-E1 cultivadas sobre os filmes de PLA.


Nos dois tipos celulares os grupos irradiados exibem maior densidade celular do que os
grupos não irradiados.

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CÓDIGO: SB0288

AUTOR: JOAO VICTOR FREIRE DE PAULA

COAUTOR: JULIANA CAMPOS PINHEIRO

ORIENTADOR: CARLOS AUGUSTO GALVAO BARBOZA

TÍTULO: A fotobiomodulação pode ser um quarto componente na engenharia


tecidual? Revisão sistemática de estudos in vitro

Resumo

O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da fotobiomodulação em relação a adesão,


viabilidade, proliferação e diferenciação de células cultivadas sobre arcabouços na
engenharia tecidual. A seleção dos estudos, baseou-se na metodologia PICO com o
objetivo de estabelecer a questão norteadora da pesquisa bibliográfica e uma
verificação baseada no Meta-Análise de Estatística para Avaliação e Revisão do
Instrumento (MAStARI). Um total de 8373 estudos foram inicialmente identificados.
Após a triagem de resumos e textos completos, 10 artigos foram incluídos em nossa
análise. Os dados obtidos na maioria dos estudos revisados demonstraram que a
fotobiomodulação pode aumentar o potencial regenerativo de alguns tipos teciduais,
regulando os processos metabólicos celulares. Além disso, os estudos relataram um
aumento na proliferação e diferenciação celular. Entretanto, a densidade da
fotobiomodulação, tempo de exposição, tipo de tecido exposto e tipo de arcabouço
deve ser levado em consideração para implementações de protocolos mais precisos e
adequados que sejam úteis para a engenharia tecidual.

Palavras-chave: Engenharia tecidual; Terapia a laser; Fotobiomodulação;


Adesão Celular

TITLE: Photobiomodulation as a complementary tool in tissue engineering: a


systematic review of in vitro studies

Abstract

The aim of the study was to evaluate the effects of photobiomodulation in relation to
adhesion, viability, proliferation and differentiation of cells grown on scaffolds in tissue

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engineering. The selection of studies was based on the PICO methodology with the
objective of establishing the guiding question of the bibliographic research and a
verification based on the Statistical Meta-Analysis for Assessment and Review of the
Instrument (MAStARI). A total of 8373 studies were initially identified. After screening
abstracts and full texts, 10 articles were included in our analysis. The data obtained
from most of the studies reviewed stated that photobiomodulation can increase the
regenerative potential of some tissue types, regulating cellular metabolic processes. In
addition, studies report an increase in cell proliferation and differentiation.
Photobiomodulation density, exposure time, type of exposed tissue and type of
scaffold should be taken into account for implementations of more accurate and
adequate protocols that are useful for tissue engineering.

Keywords: Tissue engineering; laser therapy; Photobiomodulation; Cell


Adhesion;

Introdução

Na atualidade, há conhecimento acerca das diversas aplicações que a engenharia de


tecidos apresenta no âmbito das ciências biomédicas. Seu propósito primordial
consiste em desenvolver substitutos biológicos capazes de recuperar ou aprimorar a
funcionalidade dos tecidos. Nesse contexto, a engenharia de tecidos emerge como
uma área promissora, particularmente no que concerne às situações em que a
carência de tecido é originada por anormalidades congênitas [1]. A literatura destaca
que os princípios essenciais da engenharia de tecidos envolvem a utilização de células
isoladas, cultivadas em estruturas de suporte e combinadas com substâncias
indutoras. Contudo, é imperativo assegurar uma quantidade apropriada de células
para alcançar resultados mais vantajosos [4]. A aplicação da terapia a laser tem sido
adotada na engenharia de tecidos como uma estratégia complementar visando
estimular a diferenciação e a multiplicação celular [4]. Nesse contexto, Marques et al.
[5] propuseram que o laser desempenha um quarto papel na engenharia de tecidual.
Apesar disso, a literatura carece de estudos in vitro em número limitado que busquem
esclarecer a utilização das fontes de luz monocromática, tais como LED e laser, nesse
domínio. Pesquisas têm demonstrado que a utilização apropriada de doses e
comprimentos de onda específicos da luz laser traz benefícios terapêuticos para a
reparação dos tecidos [4]. Dessa forma, é possível afirmar que a fotobiomodulação
exerce um papel de modalidade terapêutica eficaz, embora seja necessário adaptar a
dosagem, comprimento de onda e densidade de energia conforme os objetivos a
serem alcançados [6]. Portanto, o objetivo central desta revisão sistemática é avaliar
os efeitos da fotobiomodulação no que concerne à adesão, viabilidade, multiplicação e

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diferenciação das células cultivadas em estruturas de suporte no contexto da


engenharia de tecidos.

Metodologia

Estratégias de pesquisa A presente pesquisa foi realizada seguindo uma abordagem de


revisão sistemática conforme mostra a figura 1, baseada na metodologia PRISMA
[7].Uma pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados eletrônicas
PubMed/Medline, Web of Science, Science Direct, Scopus, Embase e Lilacs, localizando
estudos publicados independente do idioma de origem e data de publicação. Todas as
etapas e revisões da pesquisa foram avaliadas por dois revisores com experiência na
elaboração de protocolos de revisão sistemática (JCP e CAGB). A estratégia de busca
baseou-se nas combinações das seguintes palavras-chave: ("Tissue engineering"
[MeSH] AND "Photobiomodulation" [MeSH] AND " Cell adhesion" [MeSH] AND " Cell
viability" [MeSH] AND “Cell proliferation” [MeSH] AND " Cell differentiation” [MeSH]).
Também foi realizada uma busca manual dos artigos utilizando as referências dos
estudos com potencial de inclusão na revisão sistemática. Seleção dos estudos Para
esta busca, foi utilizada a metodologia PICO com o objetivo de estabelecer a questão
norteadora da pesquisa bibliográfica. Assim, a pergunta central estabelecida na
presente revisão sistemática foi: “A utilização da fotobiomodulação favorece a adesão,
viabilidade, proliferação e diferenciação de células cultivadas em arcabouços da
engenharia tecidual?” Somente estudo in vitro que descreverem o efeito da
fotobiomodulação em células cultivadas sobre os arcabouços utilizados na engenharia
tecidual foram incluídos. Os critérios de exclusão foram, os estudos in vivo e ex-vivo e
artigos de revisão de literatura/sistemática. Os artigos que não corresponderem aos
critérios de elegibilidade e artigos duplicados foram removidos do estudo. Uma
primeira etapa de seleção dos estudos foi realizada a partir da análise dos títulos e dos
resumos. Posteriormente, todos os estudos cujos títulos ou resumos forem julgados
pertinentes ao tema foram obtidos na íntegra e analisados por completo. Ao final, os
artigos analisados e selecionados pelos avaliadores foram incluídos na sistematização
dos dados. Foi utilizado um software de gerenciamento de referências objetivando o
controle dos artigos analisados e remoção das duplicadas (Mendley, Elsevier, Londres,
Reino Unido). Além disso, foram coletadas as seguintes informações dos estudos
avaliados: autor, ano de publicação, tipo de célula, tipo de arcabouço, modo de
apresentação/técnica de produção do arcabouço, protocolo(s) de fotobiomodulação
utilizado, tipo de ensaio realizado, tempo (intervalos) de avaliação e resultados
relevantes. Risco de viés Metodologicamente, os autores avaliaram todos os estudos
incluídos de acordo com uma lista de verificação baseada no Meta-Análise de
Estatística para Avaliação e Revisão do Instrumento (MAStARI) [8]. Dois revisores (JCP

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e CAGB) responderam 9 perguntas para estudos descritivos: Q1- O estudo é baseado


em uma amostra aleatória ou pseudo-aleatória?; Q2- Os critérios para inclusão na
amostra estão claramente definidos?; Q3- Os fatores de confusão são identificados e
as estratégias para lidar com eles são declaradas?; Q4- Os resultados são avaliados
usando critérios objetivos?; Q5- Se comparações estão sendo feitas, houve descrição
suficiente dos grupos?; Q6- O acompanhamento é realizado por um período de tempo
suficiente?; Q7- Os resultados dos experimentos que se retiraram são descritos e
incluídos na análise?; Q8- Os resultados são medidos de maneira confiável?; Q9- A
análise estatística apropriada é usada? Foi utilizada S para “sim”, N para “não” e NA
para “não aplicável”. Posteriormente, o risco de viés foi classificado como alto quando
o estudo alcançou até 49% de uma pontuação "sim", moderado quando o estudo
atingiu 50% a 69% de uma pontuação "sim" e baixo quando o estudo alcançou mais de
70% de uma pontuação "sim". As divergências foram resolvidas pela discussão entre os
dois autores (JCP e CAGB).

Resultados e Discussões

Seleção dos estudos A estratégia de busca elaborada nesta revisão sistemática


resultou em um total de 8373 estudos localizados nas bases de dados avaliadas. Após a
triagem dos títulos e resumos, 158 estudos foram considerados potencialmente
elegíveis e lidos na íntegra por 2 avaliadores independentes (JCP e CAGB). Ao final das
análises, 10 artigos publicados entre 2010 e 2020 preencheram todos os critérios de
inclusão e foram selecionados para esta revisão sistemática [9-18] (Figura 1). Risco de
viés De acordo com a análise pelos dois autores (JCP e CAGB) artigos incluídos na
revisão e avaliados pelo MAStARI, apresentaram um baixo risco de viés conforme
demonstra a tabela 1. Principais resultados dos estudos incluídos Os achados
relacionados aos protocolos de fotobiomodulação utilizados, tempo de avaliação, tipo
de ensaio avaliado e principais resultados dos estudos, encontram-se na tabela 2 e 3.
No estudo de Renno et al. [9] os pré-osteoblastos MC3T3-E1 foram cultivados sobre os
arcabouços de biosilicato e expostos à radiação utilizando o laser arseneto de gálio-
alumínio (GaAsAl) (Smart Laser Medilaze, Austrália). O comprimento de onda usado foi
830 nm contínuo, uma única dose de radiação foi administrada em uma densidade de
energia ajustada em 10J/cm2. Os autores concluíram que a fototerapia a laser resultou
em uma redução na proliferação celular em comparação com o grupo controle não
irradiado. Futuras pesquisas, devem ser elaboradas com o intuito de elucidar o papel
da laserterapia associada a arcabouços de biosilicato, levando em consideração as
possíveis interações do laser com compostos matriciais da estrutura deste tipo de
biomaterial. Hsu et al. [10], utilizou um aparelho de laser Hélio-Neônio (HeNe) (MED-
1000, Suíça) com um comprimento de onda contínua de 632,8 nm e densidade única

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de 1,18J/cm2. A irradiação a laser foi realizada em células endoteliais cultivadas sobre


arcabouços de Poli(carbonato) uretano (PU). Concluiu-se neste estudo que a adesão
das células endoteliais expostas ao laser na superfície do arcabouço foi aumentada,
quando comparadas com o grupo controle não irradiado. Parenti et al. [11] utilizaram
um laser arseneto de gálio-alumínio (GaAsAl) (Pocket Laser, Itália), com o
comprimento de onda de 915 nm e dosagem de 2J/cm2. As irradiações foram
realizadas em sessão única em pré-osteoblastos MG63 cultivados em arcabouços
porosos de hidroxiapatita. A partir das análises, não foi observada diferença
estatisticamente significativa na taxa de proliferação nos grupos irradiados e não
irradiados. Desta forma, foi sugerido que a irradiação do laser não influenciou o
crescimento celular, sendo necessários novos estudos utilizando diferentes protocolos
de dosagem e comprimento de onda para comparar o efeito laserterapia de baixa
intensidade em pré-osteoblastos humanos MG63. Chintavalakorn et al. [12] utilizaram
LEDs (Epitex, Japão) que emitiram luz no comprimento de onda 680 nm em pré-
osteoblastos MC3T3-E1 cultivados em arcabouços de colágeno tridimensionais. As
células foram estimuladas diariamente por carregamento mecânico de 3 Hz sinusoidal
com vibração de 3000 μstrain, ou fotobiomodulação usando LED com fluência de
3J/cm2 ou combinação de ambos. O respectivo estudo concluiu que, as células
cultivadas sobre os biomateriais tridimensionais expostos à estimulação mecânica,
fotobiomodulatória ou combinada exibiram calcificação precoce e maior densidade em
massa quando comparadas com o grupo controle, não irradiado. No estudo de Çakmak
et al. [13] foi utilizada uma fonte de luz policromática (Collagentex polychromatic light
exposure unit, Canadá) fornecendo comprimentos de onda na faixa de 590-1500 nm
para investigar os efeitos da fotoestimulatórios relacionados a diferenciação
osteogênica de células-tronco mesenquimais humanas (hMSCs) cultivadas em
arcabouços de seda tridimensionais. Foi concluído que, a luz policromática em
comprimentos de ondas biologicamente eficazes, podem ser utilizadas como uma
ferramenta eficaz para induzir a diferenciação osteogênica, se tornando um grande
potencial para a regeneração óssea. Fernandes et al. [14] avaliaram o efeito
fotobiomodulatório do laser arseneto de gálio-alumínio (GaAsAl) (Photon lase III, DMC
Equipment, Brasil) no comprimento de onda de 808 nm e densidade de 10J/cm2.
Foram irradiados os fibroblastos e osteoblastos cultivados separadamente em
arcabouços de Biosilicato®/PLGA em um intervalo de 24, 48 e 72 h. Os achados do
presente estudo demonstraram que a laserterapia de baixa intensidade aumentou a
viabilidade dos fibroblastos e osteoblastos. Consequentemente, esses dados destacam
o potencial de combinação do biosilicato/PLGA e da laserterapia de baixa intensidade
como uma ferramenta eficaz na engenharia de tecidos ósseos. No estudo de Oliveira et
al. [15] as células Vero foram cultivadas sobre arcabouços tridimensionais utilizando
colágeno tipo I. A bioestimulação foi realizada utilizando uma tabela óptica composta
por 40 LEDs vermelhos (LAT, Instituto de Física de São Carlos, Brasil) com o

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comprimento de onda de 630 nm e uma dosagem de 30J/cm². Em um intervalo de 24


h, os resultados foram avaliados e observou-se que as células do grupo experimental,
proliferaram e secretaram elementos da matriz extracelular. Conclui-se que os
arcabouços tridimensionais de colágeno do tipo I e a fotobiomodulação com o
comprimento de onda de 630 nm, são recursos eficientes para a engenharia de
tecidos. Zaccara et al. [16] utilizaram o laser de índio-gálio-fosfato de alumínio
(InGaAlP) (MM Optics Ltd, Brasil) comprimento de onda de 660nm e densidade de
1J/cm². A metodologia utilizada, baseou-se no cultivo de células-tronco da polpa
dental humana (hDPSCs) cultivadas em um arcabouço tridimensional de agarose. Foi
concluído que a laserterapia de baixa intensidade influenciou positivamente a
diferenciação das hDPSCs quando cultivadas em um arcabouço tridimensional de
agarose, sendo uma ferramenta promissora para aplicações em engenharia de tecidos.
No estudo de Yuan et al. [17] a irradiação foi realizada em células neuronais PC-12
associadas a nanopartículas superparamagnéticas de óxido de ferro e ouro. Foi
utilizado um emissor dose de 1,90 mW/cm2. Nenhuma toxicidade grave foi observada
na irradiação da luz LED nas intensidades medidas, demonstrando que essa
abordagem, pode ser uma ferramenta promissora para a indução da neurogênese não
invasiva. E o estudo de Sabino et al. [18] avaliou a eficácia da irradiação do laser de
índio-gálio-fosfato de alumínio (InGaAlP) (Kondortech, Brasil) na proliferação de pré-
osteoblastos MC3T3-E1 cultivados em arcabouços de PLA. A irradição utilizada foi de
660 nm e densidade de 4J/cm². Os resultados demonstraram que a associação do PLA
com a laserterapia de baixa intensidade apresentou maior proliferação celular, quando
comparado com os grupos não irradiados, demonstrando que a associação de
biomaterais como o PLA e a laserterapia, são promissores para a engenharia de
tecidos. DISCUSSÃO Nos últimos anos, o uso da fotobiomodulação tem sido analisado
em diferentes áreas biomédicas como uma opção para o alívio da dor, reparo tecidual,
método de indução da proliferação e viabilidade de diversos tipos celulares [9-11,16-
18]. O uso de modelos de cultura celular é vantajoso, pois fornece um ambiente
controlado para estudar uma ampla variedade de fenômenos celulares [20]. Embora
também possua como limitações o fato de não mimetizar um ambiente in vivo. Nesse
sentido, investigar os efeitos in vitro da bioestimulação para melhorar a compreensão
atual dos mecanismos de crescimento, diferenciação e desenvolvimento celular, torna-
se fundamental para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas [19]. O
presente estudo buscou analisar e discutir o papel da fotobiomodulação como uma
ferramenta prática na engenharia tecidual, assim como seus efeitos e implicações
analisados nas diversas linhagens celulares. Uma área-chave de interesse em relação a
fotobiomodulação e seu efeito em células-tronco teciduais e células progenitoras é o
seu potencial para aumentar a capacidade de diferenciação celular, o que, por sua vez,
melhora a taxa de regeneração dos tecidos [20]. Em nossa revisão sistemática,
resultados promissores foram observados no aumento da taxa de regeneração

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tecidual induzida por fotobiomodulação. A análise da fotobiomodulação como método


de indução da regeneração em modelos de cultura tridimensional foi realizada por
Zaccara et al. [16], no qual os autores apontaram que através da fotobiomodulação no
período de 14 dias, as células-tronco da polpa dentária humana cultivadas nos
respectivos arcabouços exibiram diferenciação osteogênica, adipogênica e
condrogênica. Além disso, quando comparadas ao grupo controle, as células
fotobioestimuladas apresentaram significativamente todos os processos de
diferenciação aumentados. A densidade da fotobiomodulação é um fator crucial para
análise e possui uma forte relevância nos resultados apresentados. Nesse sentido,
possíveis interações do laser com os compostos do biomaterial devem ser analisados.
Embora a maioria dos estudos concordem que entre 1 J/cm2 –5J/cm2 é a densidade
de potência ideal para indução da proliferação celular, o estudo conduzido por
Migliario et al. [21] utilizaram o laser de diodo de 980 nm e evidenciaram que a
proliferação foi maior na faixa de 5J/cm2 a 50J/cm2, atingindo um pico proliferativo
em 10J/cm2 em osteoblastos. No entanto, seus resultados em 50J/cm2 sugeriram que
espécies reativas de oxigênio teve um efeito tóxico nas células circundantes e exibiu
uma diminuição nos níveis de proliferação nesse ponto. O estudo de Renno et al. [9]
observaram que a fototerapia a laser de 830nm a 10J/cm2 resultou em uma redução
no crescimento celular em comparação com controles não irradiados em osteoblastos
cultivados em arcabouços de biosilicato. Portanto, pesquisas combinando
fotobiomodulação a laser e diversos tipos de biomateriais devem levar em
consideração as possíveis interações do laser com os compostos da matriz. A
abordagem da engenharia de tecidos para regeneração óssea pode incorporar a
implementação de arcabouços, fatores de crescimento, célulastronco e
fotobiomodulação para aumentar o influxo de células osteogênicas para a área alvo e
estimular a capacidade natural de reparo/cicatrização do corpo. No entanto, também
há estudos com resultados que discordam dessa crença otimista e não encontraram
melhora significativa. Parenti et al. [11] não encontraram diferença estatisticamente
significativa na taxa de proliferação nos grupos irradiados e não irradiados. Assim,
torna-se necessário a implementação prática de mais estudos utilizando diferentes
protocolos de dosagem e comprimento de onda para análise mais aprofundada de
acordo com cada linhagem celular e arcabouço utilizados. As células-tronco da polpa
dentária, analisadas entre os estudos selecionados por Zaccara et al. [16], depositaram
uma matriz mineralizada quando cultivadas em arcabouços tridimensionais e expostas
a irradiação utilizando o laser InGaAlP de onda contínua, 660 nm. Alguns aspectos do
laser podem influenciar os resultados de proliferação desejados, como o espectro de
luz ideal, nível de potência, densidade de energia e comprimento de onda [4, 22].
Peplow et al. [23] argumentam que a comparação entre os resultados de estudos
anteriores é difícil devido à grande variedade de parâmetros de irradiação,
metodologias e tipos de células utilizadas. A densidade de energia é um fator

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importante que influencia os resultados da proliferação celular. O efeito da


laserterapia de baixa intensidade em célulastronco da polpa dentária foi investigado
por Eduardo et al. [24], no qual se observaram que uma densidade de energia de
3,0J/cm2 associada a um comprimento de onda de 660 nm influenciou positivamente
a proliferação celular. Utilizando uma densidade de energia menor (1,0J/cm2), Soares
et al. [4] observaram um efeito bioestimulatório positivo da laserterapia de baixa
intensidade em células-tronco do ligamento periodontal. Esses achados sugerem que a
utilização de baixas doses da laserterapia, podem ser promissoras no que diz respeito a
engenharia tecidual. O número e o intervalo de aplicações do laser também
influenciam os resultados da laserterapia de baixa intensidade. Li et al. [25]
compararam a proliferação de células-tronco de medula óssea irradiadas em intervalos
de 48 h durante um período de 13 dias e observaram efeito positivo na proliferação
celular. Resultados semelhantes foram relatados por Soares et al. [4] que utilizaram
potência de 30 mW e densidade de energia de 1J/cm2. Uma densidade de energia
menor de 0,5 J/cm2 mostrou pouca influência. Destaca-se, ainda, que a terapia a laser
exerce um efeito dose-dependente nas respostas biológicas e parece ter um efeito
cumulativo a cada nova dose aplicada [26]. Os resultados dos estudos revisados foram
heterogêneos, o que dificultou a conclusão dos protocolos adequados utilizados para
obter resultados mais eficientes quanto à viabilidade, proliferação e diferenciação
celular. Embora os estudos selecionados, em sua maioria, tenham mostrado um papel
positivo da fotobiomodulação na viabilidade e indução da proliferação de diferentes
tipos celulares, mais pesquisas são necessárias para determinar o papel específico e
mecanismos biomoleculares na resposta das diferentes linhagens celulares ao
processo de fotobiomodulação.

Conclusão

Considerando as potenciais restrições inerentes a esta revisão sistemática e a


variabilidade nas abordagens metodológicas e nos resultados documentados, a análise
revelou que a fotobiomodulação pode ampliar o potencial de regeneração de
determinados tipos de tecidos, devido aos seus efeitos bioestimulantes. Em alguns
casos, os estudos indicaram um incremento na taxa de multiplicação e especialização
celular. No entanto, é crucial levar em conta o comprimento de onda, a intensidade da
fotobiomodulação, o período de exposição e a natureza do tecido submetido, a fim de
estabelecer protocolos mais precisos e adaptados que possam ter utilidade no âmbito
da engenharia tecidual.

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538
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Anexos

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Fluxograma de seleção de estudos do PRISMA.

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CÓDIGO: SB0297

AUTOR: RAYNARA BOLCONT DE OLIVEIRA GOMES

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: Avaliação da qualidade de sono na resposta ao tratamento com a


cetamina em pacientes com depressão resistentes

Resumo

A depressão é uma doença vista como o mal do século XXI, sendo assim uma
das doenças mais frequentes. Nesse sentido, este projeto teve como objetivo
avaliar a qualidade de sono na resposta ao tratamento com a cetamina em
pacientes com depressão resistente. O estudo contou com 23 participantes de
ambos os sexos e com idade mínima de 18 anos. A qualidade de sono foi
avaliada com o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh. Os pacientes com
resistência ao tratamento (TRD) apresentaram uma qualidade do sono pobre
na sessão basal e no final do estudo, sendo assim não houve melhora
significativa na qualidade de sono ao longo do tratamento com a cetamina, de
modo a continuar na categoria pobre qualidade do sono.

Palavras-chave: Cetamina, qualidade de sono, depressão resistente;

TITLE: Evaluation of sleep quality in response to ketamine treatment in patients


with resistant depression

Abstract

Depression is a disease seen as the evil of the 21st century, thus being one of
the most frequent diseases. In this sense, this project aimed to evaluate the
quality of sleep in response to treatment with ketamine in patients with resistant
depression. The study had 23 participants of both sexes and with a minimum
age of 18 years. Sleep quality was assessed using the Pittsburgh Sleep Quality
Index. Patients with treatment resistance (TRD) had poor sleep quality at
baseline and at the end of the study, so there was no significant improvement in

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eCICT 2023

sleep quality throughout treatment with ketamine, so they remain in the poor
quality category of sleep.

Keywords: Ketamine, sleep quality, resistant depression;

Introdução

O transtorno depressivo maior se configura em uma condição clínica presente


na sociedade, atingindo cerca de 5,8% da população brasileira (WHO, 2017).
As alterações de sono são queixas frequentes nos pacientes com transtorno
depressivo, inclusive o DSM 5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders) destaca a alteração de sono como sintomatologia do quadro
depressivo. Na depressão observa-se principalmente a insônia, caracterizada
pela dificuldade de iniciar ou manter o sono, podendo ser momentâneo ou
contínuo (Kaplan 2016). A poucas horas de sono influencia na qualidade de
vida e nas condições cognitivo e social do sujeito, uma vez que a privação do
ciclo de sono tem influência na alteração de humor, estresse e ansiedade
(Breslau, Roth, Rosenthal e Andreski, 1996).

O sono constitui uma peça fundamental para a restauração da energia e a


qualidade de vida, a alteração do sono promove prejuízos em curto e longo
prazo nas atividades do sujeito (Neves, 2013). Caracteriza-se o sono por
alterações fisiológicas, comportamentais e atividades neurais, há alternância
entre o sono - redução e relaxamentos das atividades - e vigília - aumento das
atividades, em destaque as motoras- configurando-se como o ciclo circadiano
no qual contribui para homeostase e regulação do corpo, um exemplo do
funcionamento do ciclo é a secreção de melatonina uma vez que é regulada
pelo ciclo do sono. Na presença de modificação do ciclo do sono alguns
hormônios sofrem variações na produção, como cortisol e melatonina
( Santiago et. al 2020 e Weinberg et. al 1979).

A depressão resistente ao tratamento impõe longos desafios aos pacientes e


aos médicos, uma vez que apresentam as sintomatologias com alta e
prolongada frequência, tais quais humor depressivo, distúrbio do sono (insônia
ou hipersônia) e entre outros. Estudos mostram que o desajuste na qualidade
do sono em pacientes com DRT são amplamente presentes (Filho,
2014).Apesar dos avanços nas pesquisas sobre a farmacologia no tratamento
dos transtornos depressivos, cerca de 30%, com depressão não apresentam
respostas aos antidepressivos (Corriger, Pickering, 2019). A depressão
resistente ao tratamento (DRT) é definida como depressão grave com resposta
fraca ou insatisfatória de dois tratamentos, em dosagem e duração adequada,
de duas classes de antidepressivo diferente (Franco, Lima et al. 2020).

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eCICT 2023

Recentemente, alguns estudos têm evidenciado os benefícios de intervenções


alternativas associadas aos antidepressivos como, eletroconvulsoterapia. É
destacado também, o uso da cetamina para tratamento da DRT, sinalizando o
rápido efeito antidepressivo ( Franco, Lima et al. 2020).Entretanto, a maior
parte dos estudos avaliam a cetamina endovenosa, bem como a intranasal, a
qual recentemente foi autorizada pela ANVISA e FDA, no entanto o acesso a
essa medicação ainda é muito restrito devido ao seu alto valor financeiro.
Estudos usando cetamina por vias intramuscular (IM) e subcutânea (SC) ( Loo,
Gálvez, O’keefe, Mitchell et.al. 2016) são ainda menos comuns, embora a via
de administração SC tenha o benefício de ser de mais fácil administração além
de alcançar níveis plasmáticos da cetamina comparáveis à administração IM.
Além disso, quando utilizada como anestésico, a cetamina SC foi tão eficaz
quanto, mas mais segura que a IM, já que provoca menor impacto sobre o
sistema cardiovascular (Javid, Rahimi, Keshvari, 2011).

Além da cetamina ter apresentado resultados positivos quanto a resposta


antidepressiva, os pacientes com depressão resistente parecem apresentar
uma resposta ao tratamento com efeitos antidepressivos cumulativos e
sustentados (Franco, 2020). A cetamina ainda tem sido associada na
regularização Do tempo de sono e por consequência uma melhora nos
sintomas depressivos (Rodrigues, 2022). Nesse sentido, o estudo tem como
diferencial a intenção de avaliar os efeitos na qualidade do sono através da
administração de cetamina por uma via pouco explorada, a subcutânea, em
pacientes com DRT.

Metodologia

O trabalho foi realizado no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), com


voluntários entre 18 e 65 anos, de ambos os sexos, sendo recrutados em torno
de 30 voluntários com depressão resistente ao tratamento e com indicação
para terapia com cetamina pela equipe de psiquiatria do HUOL ou de outros
psiquiatras da região metropolitana de Natal/RN ou estados vizinhos. Todos os
voluntários aceitos que passaram pelos critérios de inclusão e exclusão
assinaram o termo de consentimento e livre esclarecimento.
Os critérios de inclusão e exclusão dos voluntários pacientes, são: Inclusão se
refere a pacientes em episódio depressivo grave/severo atual, ocorrendo há
pelo menos 4 semanas, e que já tenham feito uso de pelo menos dois
medicamentos antidepressivos, em dose e duração adequadas. Os de
exclusão incluem condições físicas e mentais que impeçam o uso seguro de

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eCICT 2023

cetamina: hipertensão não controlada, insuficiência cardíaca congestiva ou


outras evidências de comprometimento do estado cardíaco, DPOC, obesidade
grave, aumento da pressão intracraniana ou cerebrospinal, gravidez,
hipertireoidismo, resposta adversa prévia à cetamina, sintomas psicóticos
presentes ou passados, distúrbio de identidade dissociativo, distúrbio do
espectro do autismo e sintomas prodrômicos da esquizofrenia. Indivíduos que
não são elegíveis ou decidem não participar, retornarão ao tratamento padrão.
A triagem de pacientes ocorreram no ambulatório de depressão do HUOL,
quando foram identificados e recrutados a partir da aplicação da SCDI
(Entrevista Clínica Estruturada para DSM-5). Os pacientes que preencheram os
critérios de elegibilidade para participação no estudo preencheram o
consentimento informado (TCLE), e realizaram a primeira aferição dos
sintomas de depressão pela Montgomery-Asberg Depression Rating Scal
(MADRS). Nesse momento foi marcada a primeira sessão de cetamina, e
informado que a presença de acompanhante é obrigatória. As sessões de
cetamina aconteceram no ambulatório de psiquiatria do HUOL, que contou com
a disponibilidade de duas salas, uma com duas poltronas, com capacidade
para duas infusões simultaneamente, e a outra sala com uma maca, com a
capacidade para uma infusão.
O projeto é composto da aplicação de escalas clínicas e em pacientes que
submetidos ao protocolo clínico para tratamento de depressão resistente ao
tratamento que consiste na aplicação de cetamina subcutânea uma vez por
semana durante 8 semanas. As escalas a serem utilizadas são: IQSP (Escala
de Sono de Karolinska e Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh):
desenvolvido para registrar elementos chave do distúrbio do sono. IQSP:
autoaplicável sendo realizada na primeira, terceira e penúltima sessão.
A IQSP é uma escala de autoavaliação da qualidade subjetiva do sono. Suas
questões avaliam sete componentes clínicos (Anexo 1) e a pontuação global
varia de 0 a 21 pontos, sendo classificados em sono de boa qualidade menor
que 5 pontos, qualidade ruim de 5 ou acima de 5 pontos.
Esse estudo fez o uso de cetamina na forma de Dextrocetamina, à dose
recomendada de 0,5 mg/kg na primeira infusão. Caso não haja resposta
adequada, a segunda infusão deve ser realizada com dose de 0,75 mg/kg e as
subsequentes 1 mg/kg. Nesse processo de escalonamento, a dose mais baixa
para a qual observarmos resposta (e.g., 0,5 ou 0,75 mg/kg) será repetida ao
longo do tratamento.
Para a organização dos dados foi utilizado o programa Microsoft ® Excel 2007
e a análise estatística foi realizada pelo programa Statistical Package for Social
Sciences (SPSS ® ). Para a realização da análise estatística foi adotado o teste

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eCICT 2023

do Anova de uma via para verificar se houve melhora na qualidade do sono.


Sendo considerados significativos valores de p <0,05.

Resultados e Discussões

Resultados

Para a caracterização do grupo de participantes é composta de 30 dados


coletados. Houve 7 exclusão, sendo os motivos de exclusão dos participantes e
dos dados os seguintes, 3 apresentaram reações alérgicas a cetamina, 2
desistiu do estudo e 2 pela falta de resposta a algumas escalas do estudo. Dos
dados considerados temos 15 mulheres e 8 homens. A média de idade dos
sujeitos é 35 anos, com o desvio padrão de 14,2385 anos.
A tabela 1 refere-se à análise do escore total da IQSP. Dentre os pacientes
analisados, não houve uma melhora na qualidade do sono. Antes do uso da
cetamina, observa-se uma média de 11.3 ( desvio padrão de 2,754 no escore
total)que se classifica como qualidade do sono pobre; ao aplicar a escala na
terceira semana, nota-se como média 10.57 ( desvio padrão de 2, 997 no
escore total) que se classifica como qualidade do sono pobre; na última
aplicação, sétima semana, observa-se como média 9.957 ( desvio padrão de
2,771 no escore total) que se classifica como qualidade do sono pobre. Sendo
o F da análise da variância no Anova de valor 2.63, não havendo
estatisticamente a significância de p <0,05. A partir dessa comparação não foi
observada diferença estatisticamente significativa para o escore total, na
primeira, terceira e sétima sessão do tratamento com cetamina.
A tabela 2 demonstra o gráfico do escore total da IQSP da sessão basal,
sessão 3 e sessão 7. É possível observar que não houve melhora significativa
na qualidade de sono.
A tabela 3 mostra os escore da IQSP por voluntário, demonstrando as
mudanças estatísticas ao decorrer da primeira, terceira e sétima semana de
aplicação da cetamina. Observa-se que os participantes não apresentaram
melhoras significativas na qualidade do sono, continuando na classificação do
sono pobre durante os três marcos de coleta do IQSP ( primeira, terceira e
sétima semana de aplicação da cetamina).
Discussão
Os distúrbios do sono são considerados patologias que apresentam uma
combinação etiológica com bases biológica e cognitiva, podendo apresentar
diferentes elementos também afetados pela depressão maior (Doi, 2000). Com

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eCICT 2023

isso, este estudo procurou investigar os efeitos no sono após o tratamento de 7


semanas com cetamina em voluntários com DRT, por meio da comparação de
escores na Escala de Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, avaliando-os
no início (basal), no meio e no final do tratamento.
Foram selecionados ao todo 30 voluntários, destes apenas 23 dados de
voluntários foram analisados, a caracterização deste grupo é composta pela a
média de idade de 35 anos, sendo a maioria dos voluntários mulheres.
A análise dos dados refutam a expectativas das hipóteses do projeto
revelando a inexistência na melhora da qualidade do sono. No estudo de Liu e
colaboradores (2020) analisou a influência da insônia basal na eficácia
antidepressiva de administração intravenosa da cetamina IV (0,5 mg/kg durante
40 min), sendo aplicada seis infusões durante doze dias nos voluntários com
depressão unipolar e bipolar. As conclusões foram que os pacientes que
tiveram uma maior redução no distúrbio do sono, como insônia, na primeira
infusão alcançaram uma melhora em seus sintomas depressivos, além de ser
observado que os pacientes com alta insônia eram mais prováveis de obter
resposta e remissão dos sintomas depressivos que aqueles com baixa insônia.
O estudo avalia a qualidade do sono por meio da Escala de Avaliação de
Depressão de Montgomery-Asberg (MADRS), que interpreta de modo geral o
distúrbio do sono. Este resultado do estudo citado se diferencia dos resultados
do projeto uma vez que não avalia a qualidade do sono com uma escala
específica, como a IQSP e a quantidade de aplicação da cetamina.
O sono basal dos voluntários é considerado pobre, o autor Franco (2020)
reforça a concepção da presença de anormalidades no ritmo circadiano que
podem levar ao distúrbio do sono, uma das sintomatologias presente na DRT.
Na análise dos escore total dos sujeitos não se percebe melhora significativa
do sono (tabela 2). Apesar deste resultado no estudo, a revisão de literatura
esclarece que a cetamina melhora o sono REM (movimentos rápidos dos
olhos) e aumenta significativamente os níveis de fator neurotrófico derivado do
cérebro (BDNF), proteína sináptica relacionada fortemente com a atividade de
ondas lentas (SWA), melhorando a plasticidade sináptica mediada pelo BDNF
e os sintomas depressivos (Franco e Lima, 2020).
É importante ressaltar que os voluntários durante o tratamento com a
cetamina continuaram a fazer uso das medicações, tal estudo avalia que não
houve competição farmacológica das enzimas dos receptores. As medicações
usadas pelos voluntários são indutores do sono ou depressores do sistema
nervoso central (Tabela 4).
Apesar de não haver a suspensão dos fármacos usados pelos voluntários
durante a administração da cetamina, ainda assim não há significância no
estudo. Observa-se a pouca literatura específica que discorra sobre a melhora

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eCICT 2023

da qualidade do sono em sujeitos com DRT e o uso da cetamina. Com isso,


percebe-se a necessidade da possibilidade de uma análise pelos componentes
da Escala do IQSP para investigar se há alguma alteração significativa. Desta
forma, nota-se que este estudo se constitui o primeiro em usar a escala IQSP
em relação ao uso da cetamina em pacientes com DRT. Além disso, estimula-
se uma nova avaliação dos resultados em busca de compreender melhor os
dados obtidos pela pesquisa .

Conclusão

Diante do exposto, conclui-se que apesar dos estudos relatarem uma melhora
significativa dos sintomas depressivos com o uso da cetamina. Não foi possível
observar uma melhora significativa na qualidade do sono dos voluntários e sua
predisposição para ser correlacionada com um dos fatores que influenciam na
resposta positiva ao tratamento. Entretanto, coloca-se em evidência a
necessidade de outras pesquisas sobre o tema, com a intenção de estabelecer
se há alguma melhora em componentes específicos do sono. Inclusive
utilizando escalas como MADRS para fazer um comparativo com a escala
específica do sono, como IQSP. O que pode contribuir para uma mudança de
perspectiva de resultado na próxima pesquisa com esta temática.

Referências

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547
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Anexos

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eCICT 2023

Anexo 1- Componentes IQSP

A tabela 1-escore total da IQSP

A tabela 2 - escore total da IQSP

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eCICT 2023

A tabela 3 -IQSP por voluntário

Tabela 4 - tabela das medicações usadas pelos voluntários.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0311

AUTOR: RAISSA DOS SANTOS BELARMINO

ORIENTADOR: RENATA ANTONACI GAMA

TÍTULO: EFEITO DA AZITROMICINA NO CICLO DE DESENVOLVIMENTO


DE Chrysomya megacephala (DIPTERA:CALLIPHORIDAE) E EFEITOS NA
DETERMINAÇÃO DO INTERVALO Post mortem

Resumo

Entomologia Forense é a área que utiliza dados e aspectos ecológicos dos insetos com
o objetivo de ajudar na resolução de casos da área forense, e, uma de suas subáreas é
a médico-legal, tem como principal aplicação a estimativa do intervalo post-mortem
(IPM). Dentre os dípteros usados na Entomologia forense, tem destaque a Chrysomya
megacephala, que está presente significativamente em levantamentos de
entomofauna. Ao se alimentarem do corpo em decomposição, os insetos podem
incorporar substâncias que podem afetar seu desenvolvimento e influenciar as
estimativas do IPM, deturpando-o. Além disso, decorrente do cenário pandêmico
perpassado, o antibiótico azitromicina foi muito utilizado como um dos itens presentes
no “kit covid” durante a pandemia de COVID-19. Sendo assim, o objetivo
deste trabalho foi avaliar a influência desse antibiótico no ciclo de vida da mosca C.
megacephala. Para a realização dos ensaios, foram utilizados cem ovos desinfetados,
acondicionados em insetário e criados em recipientes plásticos contendo 120g de
carne moída acrescida de azitromicina. Para controle, as larvas foram mantidas apenas
com carne. O monitoramento será diário até a emergência dos adultos, sendo
anotadas as mudanças de estádio/estádio e duração de cada fase. Os resultados
parciais revelaram que apenas houve transmissão do antibiótico da dieta no estádio
larval l2, além disso, mostraram que aparentemente a azitromicina não
possui influência no ciclo de desenvolvimento da C. megacephala.

Palavras-chave: Intervalo post-mortem. Azitromicina. Chrysomya megacephala.

TITLE: Effect of Azithromycin in the Developmental Cycle of Chrysomya


megacephala (Diptera: Calliphoridae) and its Effects on Post-mortem Interval
Determination.

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eCICT 2023

Abstract

Forensic entomology is concerned with the use of insect data and ecological aspects
to solve forensic cases. One of its subfields is forensic entomology, whose main
application is post-mortem interval (PMI) estimation. Among the diptera used in
forensic entomology, Chrysomya megacephala stands out and is heavily represented in
entomofauna studies. When insects feed on decaying bodies, they may ingest
substances that can impair their development and confound PMI estimates. In
addition, the antibiotic azithromycin was used in Brazilian hospitals during the
pandemic COVID -19 as one of the components of the "COVID kit". Therefore, the aim
of this study is to investigate the influence of this antibiotic on the life cycle of the fly C.
megacephala. For the test, one hundred disinfected eggs were used, placed in
an insectarium and reared in plastic containers containing 120 g of minced meat
enriched with azithromycin. In the control group, larvae were reared with meat only.
Monitoring is done daily until the adults hatch, recording the change in stages and the
duration of development. The experiments have not yet been completed, but the
initial results are promising. The partial results show that the antibiotic is transferred
through food only in the larval stage L2. They also showed that azithromycin does not
appear to affect the developmental cycle of C. megacephala.

Keywords: Post-mortem interval. Azithromycin. Chrysomya megacephala

Introdução

A Entomologia Forense é a área que utiliza dados e aspectos ecológicos dos


insetos com o objetivo de ajudar na resolução de casos da área forense[1], ela possui
quatro subáreas, sendo uma delas a médico-legal, que é o ramo que estuda insetos e
outros artrópodes associados, principalmente, com crimes que atentam contra a vida,
tendo como principal aplicação a estimativa do intervalo post-mortem (IPM), por meio
do conhecimento de taxonomia, biologia e sucessão da fauna cadavérica[2],
permitindo estimar o tempo que passou entre a morte e a descoberta do corpo.
Dentre os insetos que possuem grande relevância na subárea médico-legal, a
ordem Diptera ganha grande destaque, pois na fase inicial de decomposição o cálculo
da estimativa do IPM pode ser realizado a partir da idade de suas larvas[2]. Isto porque
os insetos dessa ordem possuem a capacidade de se deslocarem rapidamente para a
matéria em decomposição e podem utilizar o cadáver como local de reprodução,
postura dos ovos e para nutrição, sendo os primeiros a chegarem ao local[3]. Dentre os
dípteros usados na Entomologia forense, a família Calliphoridae tem grande

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notoriedade pois é uma das primeiras a colonizar o cadáver, além disso, é a que mais
possui espécies estudadas e sua biologia pode ser utilizada nas atividades forenses[4],
e ainda, dentro desta família, a Chrysomya megacephala é uma das espécies que
sempre está presente em grande número em levantamentos de entomofauna[5].
Os espécimes imaturos de C. megacephala vêm sendo usados como
amostras toxicológicas qualitativas secundárias na entomotoxicologia[6], uma área que
aplica princípios químicos e toxicológicos em insetos que se alimentam dos restos
mortais. Esses espécimes são usados para a detecção de drogas ou substâncias tóxicas
que não podem mais ser detectadas devido à decomposição avançada dos corpos[7].
No entanto, é importante destacar que, ao se alimentarem do corpo em
decomposição, os insetos indiretamente ingerem tóxicos que podem afetar seu
desenvolvimento e influenciar as estimativas do IPM, deturpando-o [2], sendo assim, é
fundamental que a influência de substâncias sob o ciclo de desenvolvimento seja
estudada, com a finalidade de estabelecer novos parâmetros para situações
específicas.
Tratando-se dos antibióticos, mesmo já sendo conhecidos os impactos positivos
da presença dos microrganismos no ciclo dos dípteros, pouco se sabe quais são
as consequências que os antibióticos podem causar nos diferentes estádios desses
insetos. À vista disso, faz-se imprescindível que pesquisas avaliem os efeitos que o uso
de antibiótico causa no ciclo, principalmente pela pandemia de COVID-19, onde houve
um aumento considerável do uso indiscriminado de antibióticos. Segundo a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi registrado que de uma média de 711 mil
comprimidos do antibiótico de azitromicina eram vendidos por mês no ano de 2019,
durante a pandemia passaram a serem vendidos 1 milhão de comprimidos ao mês[8].
Esse aumento se deu porque a Azitromicina, um macrolídeo semi-sintético derivado da
eritromicina que possui uma ação bacteriostática, foi um dos itens presentes no “kit
covid”, muito utilizado nos hospitais brasileiros durante o cenário pandêmico, mesmo
não apresentando eficácia comprovada. Levando em consideração a relevância que os
insetos possuem como amostras biológicas nas análises da entomologia forense, a
importância da influência dos microrganismos nos insetos, somado ao uso
indiscriminado da azitromicina durante a pandemia do COVID-19, esse estudo teve
como objetivo avaliar o efeito que o antibiótico azitromicina pode causar no
desenvolvimento e no comportamento da C. megacephala, realizando teste que
corroborem para o entendimento do impacto na dinâmica ecológica da espécie e sua
implicação no cálculo do intervalo post-mortem, além disso, também foram realizados
testes bacteriológicos com as larvas e adultos que se alimentaram com dieta acrescida
com antibiótico durante seu ciclo.

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Metodologia

Coleta e manutenção de Chrysomya megacephala em laboratório:


Por sua ampla distribuição no território nacional, facilidade de manutenção de
colônia, por ser uma das espécies de grande importância forense e uma das mais
encontradas em cadáveres humanos e carcaças, foi escolhida como objeto de estudo a
Chrysomya megacephala (Fabricius 1794)[9]. Para o estabelecimento da colônia,
exemplares adultos foram coletados no campus da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), utilizando armadilhas de garrafa PET escadas com fígado de
frango em decomposição. As armadilhas foram deixadas no campo por 5 horas, no
período da manhã, e os adultos coletados foram encaminhados para o Laboratório de
Insetos e Vetores (CB-UFRN), onde foram anestesiados em freezer, e, com o auxílio da
chave de identificação de Carvalho & Ribeiro[10], foram identificados. Os
exemplares de C. megacephala identificados foram separados das demais espécies
presentes nas armadilhas e colocados em gaiolas de acrílico (30x30x30 cm). Para
manutenção da colônia os indivíduos, diariamente, receberam uma solução açucarada
e substrato para postura feito com dieta artificial preparada com 30 mL de água
destilada e 10,5g de dieta seca (composta por 3,5 g de leite em pó, 3,5 g de levedo de
cerveja e 3,5 g de farinha láctea) disponibilizado para consumo em placa de Petri
(60x15mm)[11]. As larvas que chegaram ao estádio L3, foram colocadas em um pote
que dispunha de substrato formado por areia higiênica, da marca Kets, triturada para
virarem pupas. Os insetos foram mantidos no insetário climatizado (60% umidade,
27±2ºC, 12E:12C) e todos os ensaios foram realizados nessas condições.
Escolha da dieta para os ensaios:
Inicialmente, a dieta escolhida para os ensaios seria a dieta artificial usada na
manutenção. Porém, foram realizados alguns pilotos para avaliar a presença do
antibiótico na dieta artificial. Para isso, diferentes concentrações de antibiótico com
dieta foram colocadas em placas de Petri contendo Ágar Mueller-Hinton e culturas de
Escherichia coli. Depois das 18 horas de incubação, não foi possível observar a
presença de halos na placa. Após vários testes com a dieta artificial, foi concluído que
seria necessário utilizar outro tipo de dieta. Foi realizado o mesmo teste, dessa vez
com carne bovina moída (REF), no meio com as culturas, e após a incubação foi
possível observar a presença de halos nas diferentes concentrações. Sendo assim, a
dieta escolhida para a realização dos ensaios foi a carne.
Obtenção da Azitromicina e cálculo das concentrações:
A concentração de antibiótico utilizada foi calculada com base nas orientações
de dosagem presentes na bula, que recomendam uma dose de 10 mg/kg/dia, o que
significa que para 1000 g seriam necessários 10 mg. Portanto, para os 120 g utilizados
na dieta, seriam necessários 1,2 mg. Em seguida, foi verificado na bula que em 5 mL há

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209,6 mg disponíveis de azitromicina di-hidratada. Com isso, calculou-se que


aproximadamente 30 μL seriam necessários para os 1,2 mg. Portanto, com base nesses
cálculos, utilizamos 30 μL de azitromicina na dieta de 120g neste experimento, além
disso, testamos com o dobro da concentração (60μL) e uma representação de uma
superdosagem (200μL).
Avaliação da influência da azitromicina no ciclo de desenvolvimento:
Para a avaliação da influência do antibiótico no ciclo de desenvolvimento, baseado
na metodologia de Preußer et al. (2021)[12], quatrocentos ovos de C. megacephala
foram separados, desinfetados e divididos igualmente em potes plásticos contendo a
dieta e representando os seguintes grupos: Controle negativo(CN): contendo apenas
120g de carne moída, Dose 1(D1): 120g de carne moída acrescida de 30μL de
azitromicina, Dose 2(D2): 120g de carne com 60μL do antibiótico e Dose 3 (D3): 120g
de carne moída com 200μL de azitromicina. Para confirmar a passagem do antibiótico
para o inseto através da carne da dieta, foi realizada uma análise bacteriológica, onde
macerou-se separadamente 10 indivíduos de cada estádio larval (L2 e L3) e adultos,
advindos da alimentação da dieta com azitromicina, com 2 mL de água destilada.
O caldo formado pela maceração dos indivíduos de cada estádio foi diluído
em proporções de 1:1, 1:2, 1:4, 1:8, 1:16 e 1:32. Após realizar as diluições, discos feitos
com papel filtro foram embebidos nos tubos com as respectivas diluições e dispostos
em placas de Petri contendo Ágar Mueller-Hinton com culturas de Escherichia coli
ATCC 25922 (preparadas de acordo com o grau de turbidez da escala 0,5 de
McFarland). Para o controle positivo, foram colocados discos do antibiótico
azitromicina, previamente comprados, nas placas de Petri com as culturas. Junto com
as placas teste, foi feita uma placa com amostra de cada dieta das gaiolas do ensaio
junto com controle positivo (disco com azitromicinaCP), com o objetivo de provar que
as larvas estavam em contato com o antibiótico na dieta. Seguindo as orientações de
uso dadas pela empresa KASVI, responsável pela produção do caldo da bactéria, as
placas foram incubadas a 36-+1°C por 18 horas. Após esse período, a formação ou
ausência dos halos em torno dos discos foi analisada.
O monitoramento das lavas, dos testes e do controle negativo, foi realizado a cada
6 horas e os dados de mortalidade, mudança e duração de cada fase foram anotados,
também foi avaliado se as moscas que emergiram ovipõem ou não. Além disso, 10%
dos indivíduos dos estádios larvais, pupas e adultos foram retirados para realizar
medições de tamanho em papel milimetrado (as larvas foram eutanasiadas em água a
80ºC para evitar uma contorção da larva após a morte) e peso utilizando a balança de
precisão, Aux220 Unibloc da empresa SHIMADZU. Todo o ensaio foi realizado em
triplicata.
Análise estatística:
Para a análise estatística, os dados obtidos nos testes foram digitados no

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Microsoft Excel e submetidos a Análise de Variância e teste T de Student, considerando


p<0,05. A duração do ciclo, tamanho, peso e mortalidade avaliados usando ANOVA.

Resultados e Discussões

Os resultados apresentados são os resultados parciais obtidos na primeira repetição


dos ensaios.
Avaliação da presença de halos nas dietas:
Na placa que avaliava as dietas, foi observado a formação de halo no disco do
controle positivo (disco de azitromicina, utilizado para antibiograma), da D1, D2 e D3,
apenas controle negativo não apresentou halo de inibição. Sendo assim, esse resultado
comprova que as larvas que estão em dietas com a azitromicina estão em contato
direto com o antibiótico presente na carne. Também foi possível observar os
resultados das placas com as diferentes diluições do macerado da L2, na placa do
controle negativo (CN) e na placa do grupo D1, observamos que houve crescimento de
bactérias ao redor de todas as concentrações e apenas no controle positivo houve
formação de halo. Inesperadamente, na placa do grupo D2, foi possível
observar formação de halo no controle positivo e na diluição de 1:32, um resultado um
pouco inusitado pois o padrão seria aparecer na maior diluição como também nas
menores diluições. Na placa do grupo D3 também conseguimos observar esse mesmo
resultado inesperado, observamos crescimento de halo no controle positivo e nas
diluições de 1:1, 1:2, 1:16 e 1:32, apenas as diluições de 1:4 e 1:8 não apresentaram
halo. Diante do exposto, o que pode ser concluído é que de fato houve transmissão da
azitromicina por meio da alimentação na D2 e D3.
Porém, nas placas como o macerado das larvas em L3, foi obtido diferente do das
em L2, neste em todas as placas das dietas (CN, D1, D2 e D3) não foi possível verificar a
presença de halos nas diferentes diluições, apenas no controle positivo. Desse modo,
não há vestígios de que o antibiótico que estava presente na dieta foi transmitido para
as larvas em L3.
Avaliação do tamanho e peso dos insetos:
No tocante ao tamanho e peso das larvas em L2, aparentemente não foram
observadas diferenças entre os valores médios dos grupos. No CN, a média do peso
das dez larvas foi de 0,0369 g e o tamanho médio foi de 7,1 mm. D1, apresentou média
igual a 0,0425 g e 7,4 mm de tamanho médio. Já D2, teve 0,0506 g como média de
peso e 7,3 mm como média de tamanho. Por fim, a D3 teve 0,0429 g e 7,7 mm como
médias. Dessa forma, D2 foi a que apresentou maior peso médio e D3 a que
apresentou maior tamanho médio.
Quanto às larvas em L3, no CN as médias foram de 0,2996 g e 13,6 mm, de peso
e tamanho respectivamente. D1 teve média de peso igual a 0,3191 g e de tamanho

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médio de 13,8 mm. Já em D2, foram obtidas médias iguais a 0,3124 g e 14,4 m. Por
fim, D3 teve peso médio de 0,2117 g e tamanho médio igual a 12 mm. Assim, D2 teve a
maior média de tamanho e D1 foi a maior média de peso, enquanto D3, curiosamente,
teve a menor média de peso e tamanho. Na fase de pupa, os grupos C01, D1, D2 e D3
obtiveram as médias de 0,2975 g, 0,3028 g, 0,3232 g e 0,2976 g, respectivamente. Já
no tamanho apresentaram médias bem diferentes, ainda que bem próximas, C01 teve
média de 9,2 mm, D1 de 9,6 mm, D2 de 9,8 e D3 igual a 10. Assim, D3 foi a que
apresentou a maior média de tamanho ao mesmo tempo que foi o grupo que ficou
quase que empatado com C01 na menor média de peso.
Avaliação do ciclo de desenvolvimento:
Em referência à duração da fase larval e da fase de pupa, não foram registradas
grandes distinções entre CN, D1 e D2, porém a D3 demorou 28 horas a mais do que as
demais dietas. O tempo em fase de larva registrado para CN, D1, D2 e D3 foram,
respectivamente, 114 horas, 114 horas, 120 horas e aproximadamente 142 horas. A D3
foi a que permaneceu em estágio larval por mais tempo, o que já era esperado, pois,
durante a espera do término da fase larval, passando para a fase de pupa, foi
observado que as larvas em L3 da D3 levaram um tempo maior para irem à pupa
quando comparado com todos os outros grupos. Bem como, foi o grupo que demorou
o maior tempo para as moscas emergirem, apesar de ter aproximadamente 114 horas
de duração do estágio em pupa, semelhante ao D1 e D2, já o CN demorou apenas
102h para as moscas emergirem.
No momento, a avaliação do desenvolvimento das moscas que emergiram está
sendo feita e sendo observado se vai haver ou não oviposição, para que depois sejam
realizadas análises de tamanho e peso e a análise bacteriológica.

Conclusão

A área da Entomologia Forense usa dados e aspectos ecológicos dos insetos com
o objetivo de ajudar na resolução de casos da área forense. Sendo a estimativa do
intervalo post mortem (IPM) sua principal ferramenta, é por meio do conhecimento de
taxonomia, biologia e sucessão da fauna cadavérica que se permite estimar o tempo
decorrido entre a morte e a descoberta do corpo. Porém, esse cálculo pode sofrer
interferência de alguns tóxicos.
Esse estudo tem por objetivo avaliar se a azitromicina tem a capacidade de
influenciar tanto o ciclo de desenvolvimento da Chrysomya megacephalacomo no
cálculo do intervalo de post mortem. Os ensaios ainda estão em andamento, mas os
resultados parciais da primeira repetição mostraram que aparentemente, ainda que
não tenham terminado a repetição, a azitromicina não possui tanta influência no ciclo

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de desenvolvimento da C. megacephala, visto que não foram registradas diferenças


tão significativas entre o ciclo da moscas que estavam na dieta sem antibiótico e no
ciclo das que estavam nas gaiolas com diferentes concentrações do antibiótico, apesar
de ter sido observado leves atrasos no ciclo das moscas que estavam na dieta que
continha uma representação de superdosagem de 200μL. Sobretudo, é necessário
esperar o fim desse primeiro ciclo e avaliar os resultados que serão obtidos nas futuras
repetições, que passarão por análise estatística, para ter certeza se há ou não
influência por parte da azitromicina sobre as o ciclo dessas moscas.

Referências

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Sci Law. 1983 Jan;23(1):57-63. doi: 10.1177/002580248302300110. PMID: 6338338.
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Entomologia forense: quando os insetos são vestígios. 2ª ed. Campinas: Millennium. p.
39-50. 2007
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interesse forense com ocorrência em Maringá-PR-Brasil. Revista Uningá, v. 43, n. 1,
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em: <https://dados.gov.br/>. Acesso em: 16 de Junho de 2023.
[9] BAIA et al. The Effect of Flunitrazepam (Rohypnol) on the Development
of Chrysomya megacephala (Fabricius, 1794) (Diptera: Calliphoridae) and its
Implications for Forensic Entomology. Journal of Forensic Sciences. 61, p.1112 – 1115.
2016.

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eCICT 2023

[10] CARVALHO, C. J. B.; RIBEIRO, P.B. Chave de Identificação das Espécies


de Calliphoridae (Diptera) do Sul do Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia
Veterinária. 9 (2): 169-173. 2000
[11] GAMA, R.A. et al. Maggot Therapy: basic protocol for maintenance,
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1794) (Diptera: Calliphoridae). Entomological Communications, 3, 2021: ec03022
[12] PREUßER D, BRÖRING U, FISCHER T, JURETZEK T. Effects of antibiotics ceftriaxone
and levofloxacin on the growth of Calliphora vomitoria L. (Diptera: Calliphoridae) and
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Jul;81:102207. doi: 10.1016/j.jflm.2021.102207. Epub 2021 Jun 27. PMID: 34214895

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CÓDIGO: SB0332

AUTOR: JOYCE PATRICIA CORDEIRO DE BRITO

ORIENTADOR: GIULIANNA PAIVA VIANA DE ANDRADE SOUZA

TÍTULO: Contribuições de atividades experimentais na temática de alimentação


e sustentabilidade para a aprendizagem de conteúdos científicos e
desenvolvimento do letramento científico

Resumo

A aprendizagem científica e o letramento científico apresentam deficiência no


âmbito da educação básica e essa problemática está relacionada aos métodos
de ensino comumente utilizados em sala de aula. Como resolução, a utilização
de metodologias ativas na educação tem demonstrado grande relevância no
processo de formação e obtenção de uma aprendizagem mais significativa
pelos alunos. Assim, o objetivo dessa pesquisa foi avaliar a viabilidade e a
significância da utilização de metodologias ativas na aprendizagem e
letramento científico na temática de alimentação e sustentabilidade. Para sua
realização, kits didáticos foram elaborados sobre a temática proposta, e
utilizados em oficinas aplicadas em uma turma de ensino médio. Em seguida,
foram feitas análises qualitativa e quantitativa do desenvolvimento dos alunos
frente ao tema proposto. Após aplicação das oficinas foi observado um melhor
engajamento da turma nos assuntos relacionados à temática, e também foi
evidente o potencial das oficinas ministradas para desenvolver o letramento
científico. Dessa forma, pode-se concluir que a utilização e avaliação de
metodologias ativas para o ensino de biologia é de grande importância para
melhorar o processo de ensino e aprendizagem do conhecimento e letramento
científicos.

Palavras-chave: Metodologia ativa; Ensino e aprendizagem; Inovação da


educação

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TITLE: Contributions of experimental activities on the theme of food and


sustainability for the learning of scientific content and the development of
scientific literacy

Abstract

Scientific learning and scientific literacy are deficient in basic education, and this
issue is related to the traditional teaching methods typically employed in
classrooms. As a solution, the execution of active methodologies in education
has demonstrated significant relevance in the schooling process, leading to
more profound learning outcomes among students. Therefore, this study aims
to illustrate the viability and importance of implementing active methodologies in
facilitating learning and scientific literacy in the subject of food and
sustainability. To its accomplishment, didactic kits were devised for the
designated topic. These kits were implemented in applied workshops in a high
school classroom, followed by qualitative and quantitative analysis of the
student's progress concerning the specified theme.

Behind implementing the kits, a noticeable enhancement in the students'


engagement with topics related to the theme was evident. Another finding was
the power to promote the development of scientific literacy through applied
workshops. Thus, it's concluded that the implementation and assessments of
active methodologies in educating biology is of great significance to improve the
teaching and learning process of this knowledge and scientific literacy.

Keywords: Active methodology; Teaching and learning; Education innovation.

Introdução

Com o considerável avanço das Ciências e Tecnologias da Informação em


conjunto com o mundo globalizado que existe hoje, é possível verificar
inúmeras mudanças nas relações interpessoais, na comunicação, nas artes,
nos negócios e em várias outras esferas. No entanto, lamentavelmente, os
passos dados no ambiente educacional não têm acompanhado o dinamismo do
mundo contemporâneo. Por isso, surge a necessidade de uma reinvenção do
ensino na sala de aula, como enfatizou o Professor António Nóvoa em
entrevista à Boto (2018, p.18), a “revolução digital coloca-nos perante novas
maneiras de pensar, de conhecer, de comunicar e, sobretudo, de aprender”. Os

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estudantes possuem uma gama diversificada de formas de aprendizagem, que


precisam ser contempladas dentro do contexto educacional, e para isso, é
necessário rever estratégias metodológicas que potencializam o aprendizado.
Nesse contexto, as metodologias ativas propõem um maior envolvimento do
aluno com o conteúdo e com o professor. Além do mais, o processo de ensino
e aprendizagem na escola precisa apresentar no mínimo dois indivíduos e uma
relação entre eles: discente e o docente (ZANI; NOGUEIRA, 2006). O professor
precisa se atualizar quanto aos recursos didáticos disponíveis para aproximar
esse processo, e em ferramentas para o desenvolvimento cognitivo, a fim de
tornar a aprendizagem algo concreto, relevante e significativo para o estudante.
Por isso, a proposta das atividades experimentais na temática de alimentação e
sustentabilidade surge como uma estratégia metodológica ativa para o ensino
de ciências e eficaz dentro da sala de aula. Isso representa uma tentativa de
distanciar-se da abordagem puramente tradicionalista, e incorporar aspectos da
abordagem libertadora ou da pedagogia da libertação, em que o aluno é o
protagonista da sua aprendizagem, com aplicação de processos de
investigação, tematização e problematização.Neste contexto, os discente
participam de uma variedade de atividades, tais como leitura, observação,
discussão, auto análise, com o desenvolvimento de habilidades, cuja algumas
das mais importantes são as de avaliação, reflexão, análise e síntese (DAOUK;
BAHOUS; BACHA, 2016).
Aliado a isso, a proposta da atividade foi utilizar todas as dimensões para
desenvolvimento da temática de alimentação e sustentabilidade, como a
dimensão sensório/motor, em que os alunos manuseiam os experimentos,
afetivo/emocional em que os alunos entram em contato com sua realidade
proximal e mental/cognitiva com a construção do saber científico.
Dessa forma, o aprendizado ativo emerge como um novo modelo para a oferta
da educação de qualidade, eficiente, colaborativa, engajadora e motivadora,
com grande potencialidade e flexibilidade para adequar-se a cada
particularidade e realidade encontrada nas instituições de ensino. Além de
estimular o desenvolvimento e aprimoramento do letramento científico na
sociedade. Por essa razão, a educação não pode ser considerada mais uma
prática simples (MISSEYANNI et al., 2018) e não pode ser negligenciada ou
ser considerada ou tratada como algo retrógrado. Dessa forma, esse projeto
teve o objetivo de avaliar a viabilidade e a significância da utilização de
metodologias ativas na aprendizagem e letramento científico na temática de
alimentação e sustentabilidade.

Metodologia

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Esse projeto teve uma abordagem de pesquisa de caráter exploratório,


empregando o método de intervenção pedagógica. Ela foi realizada com
estudantes do ensino médio da Escola Estadual Walfredo Gurgel, localizada na
cidade de Natal/RN. A base metodológica foi concedida com uma abordagem
inicial do diagnóstico. Nessa etapa, foi possível avaliar as concepções dos
estudantes sobre a temática de alimentação e sustentabilidade. Essa fase é
fundamental para compreender o grau de conhecimento científico que os
estudantes possuem sobre a temática, considerando e verificando a
contribuição de tal conhecimento influencia os hábitos diários e como isso
impacta o seu rendimento escolar. Para essa finalidade, realizaremos uma
pesquisa de caráter qualitativo e quantitativo utilizando formulário do Google
como instrumento de coleta de dados.
A princípio o projeto estava sob o processo de avaliação do Comitê de Ética,
mas durante a elaboração do trabalho foi aprovado. Os estudantes foram
convidados a participar da pesquisa e solicitados a assinar um Termo de
Consentimento Livre (TCL) autorizando a coleta de informações e os
esclarecimentos necessários sobre a pesquisa e a participação do estudo, caso
o aluno for menor de idade, foi solicitado a assinatura dos pais.
Posteriormente, foi realizado o planejamento das atividades experimentais sob
a orientação da professora do Departamento de Bioquímica da UFRN. Foram
produzidas sequências didáticas e roteiros experimentais para aplicação na
escola. Foram elaboradas a oficina de vitaminas e a culminância, adaptações e
ajustes na oficina de água virtual, proteínas, lipídios, carboidratos e nutrientes.
Como também, a produção de kits didáticos, com materiais duradouros,
recursos impressos e digitais. Foram abordados os temas relacionados aos
nutrientes essenciais à saúde, hábitos alimentares, IMC, relação dos nutrientes
e aprendizagem, distúrbios da alimentação e suas consequências, desperdício
de alimentos e seus impactos na sociedade e no ambiente, Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, agricultura sustentável, entre outros, na tentativa
de aproximar o conteúdo com a realidade dos alunos.
Sucessivamente, as oficinas foram aplicadas e incorporadas a uma disciplina
eletiva da escola, com a dinâmica de uma aula teórica com o professor titular, e
aplicação metodológica escolhida por ele, e uma aplicação da oficina, com a
metodologia ativa na semana subsequente. Implementando o ensino por
investigação, ensino construtivista, valorização dos conhecimentos prévios,
atividades lúdicas e concretas, e ensino por atividade experimental em
laboratório. Todas as oficinas foram ministradas pelos estudantes em formação
do Curso de Ciências Biológicas Licenciatura da UFRN (Universidade Federal
do Rio Grande do Norte), sob a supervisão do professor responsável pela
disciplina de Biologia da escola e a professora orientadora do projeto.

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Utilizando dos materiais produzidos nos kits didáticos, projetor para a


visualizações dos materiais digitais e os roteiros de orientação.
Após a conclusão de todas as oficinas, foi passado um questionário avaliativo
de caráter quali- e quantitativo, também utilizando o formulário do Google como
instrumento de coleta de dados para avaliar o resultado dessa nova
metodologia aplicada. Essa avaliação buscou entender quais as contribuições
da proposta para o conhecimento científico e o desenvolvimento de atitudes
saudáveis e sustentáveis, considerando a particularidade de cada aluno.
Em conclusão, os dados foram analisados tanto qualitativamente quanto
quantitativamente. As informações obtidas dos formulários foram tabulados,
transformados em gráficos e categorizados em dimensões como contribuição
metodológica; reflexão da prática docente, geração de conhecimento científico,
letramento científico e mudança de postura relacionada aos hábitos
alimentares e sustentáveis.

Resultados e Discussões

De maneira semelhante a qualquer empreendimento de pesquisa, ocorre um


processo de construção e adaptações que ocorrem entre a teoria e
observações/hipóteses, bem como na prática/experimentação. Como resultado
qualitativo, o presente estudo foi sujeito a ajustes para atender às demandas
do ambiente escolar. Inicialmente, notou-se uma resistência por parte dos
alunos em expressar seus conhecimentos prévios e participar na discussão em
grupo ou com os professores. Isso revelou claramente que os estudantes
estavam habituados a assumir um papel passivo na sala de aula, de acordo
com um estilo educacional tradicional, no qual eles simplesmente receberam
informações prontas.
Consequentemente, foi percebido que uma adaptação à nova metodologia
exigia tempo. Além disso, constatou-se que muitos alunos não estavam
familiarizados com o método científico; alguns tinham apenas uma
compreensão superficial do conceito, enquanto outros estavam totalmente
alheios a ele. Diante dessa realidade antecipada, foram empregadas aulas
investigativas e experimentais, nas quais os alunos foram encorajados a fazer
observações, formular hipóteses, realizar experimentos e apresentar
conclusões. Por meio dessa abordagem metodológica, os alunos tiveram uma
interação eficaz com o método científico.
Outra estratégia bem sucedida foi a utilização de problematização no contexto
de um ensino construtivista. Isso permitiu que os alunos estabelecessem
conexões entre o conteúdo e suas próprias realidades, despertando um vínculo

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

afetivo. Assim, a questão de alimentação e sustentabilidade não apenas


apareceu na sala de aula, mas também encontrou eco em suas reflexões sobre
como relacionar o assunto com as experiências de suas famílias e seus lares.
Já para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem no domínio da
bioquímica alimentar, foram introduzidos recursos lúdicos. Esse recurso visava
tornar o entendimento das moléculas menos abstratas, trazendo esse conteúdo
para o concreto, possibilitando o manuseio e a interação direta com o aluno,
facilitando a compreensão acerca da diversidade de moléculas.
Após a aplicação de todas as oficinas sobre o tema proposto e adaptação
acerca da nova metodologia, a última oficina a “culminância”, se tornou um
método para a consolidação do conteúdo. Então, a turma foi distribuída em
grupos, cada um deles ficou responsável por apresentar a oficina definida por
sorteio em uma “feira científica”para a comunidade escolar, para isso, os
grupos produziram cartazes, e adaptaram alguns experimentos para um
formato mais interativo. Esse momento foi muito importante para avaliar as
competências e habilidades de cada indivíduo como também do trabalho em
grupo .
Lamentavelmente, os dados quantitativos não serão incluídos neste trabalho
devido ao atraso na aprovação do comitê de ética. A validação e permissão
para utilização desses dados só são entregues mediante aceitação do projeto.
De acordo com o regulamento, os dados só podem ser levantados e aceitos
após a data de aprovação do comitê. Por isso, os dados serão coletados após
a publicação desse trabalho.
Além disso, ajustes foram necessários para boa execução das oficinas, o
tempo das aulas são restritos e por isso os professores precisam estar atentos
com os minutos para a execução de cada ação. Por isso, as oficinas estão
sendo ajustadas e sendo inseridas em um guia didático, com um meio de
estratégia para auxiliar os professores a executar essas oficinas e também vai
ser uma ferramenta para impulsionar os profissionais da educação básica no
ensino de biologia a adotar as metodologias ativas e inovar na sala de aula.

Conclusão

A partir da aplicação e avaliação dessa metodologia observamos que os alunos


precisam de tempo para se adaptarem a um novo método de ensino, por isso é
de extrema importância explicar como vai funcionar as aplicações das oficinas.
Depois do processo de ajustes e acomodação da nova abordagem, temos
como resultados visíveis uma maior motivação nos alunos em estarem
presentes nas aulas, engajamento nas discussões propostas e um

565
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

envolvimento nas atividades lúdicas, experimentais e de investigação. Dessa


forma, podemos concluir a importância da utilização de metodologias ativas no
ensino de ciências e biologia e a necessidade da sua aplicação para produzir
nos alunos uma aprendizagem significativa.
Devido ao elevado nível de complexidade dos assuntos e a dificuldade de
abstração de determinados conteúdos da bioquímica, o aprendizado ativo, em
relação aos métodos mais tradicionais, se mostra mais eficaz por aumentar a
compreensão dos alunos, trazendo aplicabilidade e contextualização do mundo
que ele vive.
Diante disso, para o melhor desenvolvimento dessas ações em sala de aula,
torna-se necessário um aumento de pesquisas em metodologias ativas em
ensino de ciências e biologia que se dedique em investigar as possíveis
abordagens que se adequam a diferentes realidades.
É notório o crescente interesse na busca por inovação no contexto
educacional, refletindo-se na busca por abordagens mais eficientes em sala de
aula. No entanto, persiste a necessidade de aprimorar estratégias para
divulgação desses trabalhos e das práticas já elaboradas por discentes que
também são pesquisadores. Por isso, concluímos que os guias didáticos são
uma importante ferramenta para a divulgação científica, visto que ele torna
essa abordagem mais acessível aos professores da rede básica.

Referências

NASCIMENTO, Tuliana a Euzébio do; COUTINHO, Cadidja. Metodologias


ativas de aprendizagem e o ensino de Ciências. Multiciência Online,
Santiago/RS, 2016. Disponível em: http://urisantiago.br/multicienciaonline/?
daf=artigo&id=51. Acesso em: 27 ago. 2023.
Marques, H. R., Campos, A. C., Andrade, D. M., & Zambalde, A. L.. (2021).
Inovação no ensino: uma revisão sistemática das metodologias ativas de
ensino-aprendizagem. Avaliação: Revista Da Avaliação Da Educação Superior
(campinas), 26(3), 718–741. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-
40772021000300005. Acesso em: 27 ago. 2023.
ROCHA, C. J. T. da; FARIAS, S. A. de. METODOLOGIAS ATIVAS DE
APRENDIZAGEM POSSÍVEIS AO ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA.
REAMEC - Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, [S. l.], v.
8, n. 2, p. 69–87, 2020. DOI: 10.26571/reamec.v8i2.9422. Disponível em:
https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/reamec/article/view/9422.
Acesso em: 27 ago. 2023.

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eCICT 2023

METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UM ESTUDO DAS


RELAÇÕES SOCIAIS E PSICOLÓGICAS QUE INFLUENCIAM A
APRENDIZAGEM. Orientador: Silvia Regina Quijadas Aro Zuliani. 2019. 369 p.
Tese de Doutorado (Pós-graduação em Educação para a Ciência - FC) -
Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP, 2019. Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/182204. Acesso em: 27 ago. 2023.
PRADO, Gustavo Ferreira. METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE
CIÊNCIAS: UM ESTUDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS E PSICOLÓGICAS QUE
INFLUENCIAM A APRENDIZAGEM. Orientador: Silvia Regina Quijadas Aro
Zuliani. 2019. 369 p. Tese de Doutorado (Pós-graduação em Educação para a
Ciência - FC) - Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP, 2019. Disponível
em: http://hdl.handle.net/11449/182204. Acesso em: 27 ago. 2023.
Kraemer, Fabiana Bom et al. O discurso sobre a alimentação saudável como
estratégia de biopoder. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. 2014, v. 24,
n. 4 [Acessado 27 Agosto 2023] , pp. 1337-1360. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0103-73312014000400016>. Acesso em: 27 ago.
2023.
ZANI, A. V.; NOGUEIRA, M. S. Incidentes críticos do processo ensino-
aprendizagem do curso de graduação em enfermagem, segundo a percepção
de alunos e docentes. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão
Preto, v. 14, n. 5, 2006.
VENTURA COSTA, L.; VENTURI, T. Metodologias Ativas no Ensino de
Ciências e Biologia: compreendendo as produções da última década. Revista
Insignare Scientia - RIS, v. 4, n. 6, p. 417-436, 8 out. 2021.

Anexos

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Kit água virtual

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Kit proteínas

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Kit Nutrientes

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Kit lipídios

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CÓDIGO: SB0333

AUTOR: ANA BEATRIZ BERTELLI BOTTINI

ORIENTADOR: UMBERTO LAINO FULCO

TÍTULO: Análise energética de aminoácidos do Vírus do Nilo Ocidental

Resumo

O presente artigo realizou análise inicial, por meio da química e física quântica, das
interações moleculares entre a poliproteína do vírus do Nilo Ocidental e seu ligante, a
fim de promover testes in silico para identificar os aminoácidos com melhor interação.

Palavras-chave: MFCC.DFT.Interação.

TITLE: Energy analysis of West Nile Virus amino acids

Abstract

This article carried out an initial analysis, using chemistry and quantum physics, of the
molecular interactions between the West Nile virus polyprotein and its ligand, in order
to promote in silico tests to identify the amino acids with the best interaction.

Keywords: MFCC.DFT.Interaction.

Introdução

A expansão da presença do homem em áreas rurais propicia a propagação de


arboviroses, as quais são transmitidas por mosquitos, como a Febre do Nilo Ocidental
(FNO), transmitida pelo mosquito do gênero Culex. Essa doença tem como agente
etiológico o vírus do Nilo Ocidental (VNO) que compartilha o mesmo gênero e família
da dengue, Zika e Chikungunya: Flavivirus e Flaviviridae, respectivamente (Brasil).
A FNO foi identificada em 1937 em países africanos, asiáticos e europeus, chegando
aos Estados Unidos, Canadá e Venezuela em 1999, e identificada em cavalos no Brasil
em 2009 (Fiocruz, 2021).

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eCICT 2023

Em sua grande maioria, os sintomas são leves, como cefaléia, fadiga, dores musculares
e sinais gastrointestinais (SILVA, 2016 apud SILVA et al., 2022), os quais se manifestam
entre 3 e 14 dias, mas em alguns casos pode causar meningoencefalite grave(Brasil).
Sendo relatado 89 (oitenta e nove) casos de doença neuroinvasiva do vírus do Nilo
Ocidental, até o mês de agosto do corrente ano, nos Estados Unidos de acordo com
Centers for Disease Control and Prevention (2023).
Análises demonstram que o complexo NS2B-NS3 é essencial para a replicação do vírus,
cuja proteína NS2B possui ação catalítica sobre a protease multifuncional NS3 (ERBEL,
et al, 2006; BRECHER, et al, 2013 e BAHARUDDIN, et al.,2013, apud Ourique, 2018)
sendo alvo de estudos para desenvolvimento de fármacos com finalidade de combater
o VNO. A fim de combater a VNO, sabendo que a poliproteína tem como ligante o
BEZ0001(N-benzoyl-L-norleucyl-L-lysyl-N-[(2S)-5-carbamimidamido-1-hydroxypentan-
2-yl]-L-argininamide), utiliza-se a metodologia in silico para simular condições naturais
e realizar testes em busca de um fármaco, até o momento não descoberto.

Metodologia

Em consonância com tais estudos, em consulta ao RCSB PDB (protein data bank), cuja
proteína possui o código 2FP7, com resolução 1,68 Å (ERBEL, et al, 2006), identificou-
se o pH ideal igual a 8,5. Feito isso, foi gerado arquivo da molécula com extensão .pdb
para proporcionar a análise visual com o software Discovery studio, o qual permitiu
verificar que a proteína é composta por duas cadeias de aminoácidos: “A” contendo 40
resíduos e “B” com 150 resíduos.
Em continuidade, gerou-se imagem 2D do ligante para ser conferida a conformação
desse no pH fisiológico com auxílio do programa Marvin Sketch (Marvin Beans Suite -
ChemAxon), e estado de protonação analisado pelo servidor web PropKa On-line 2.0
(https://www.ddl.unimi.it/vegaol/propka.htm). De posse de tais dados, foram
realizadas adequações na estrutura contida no Discovery studio.
Após tal identificação, foi calculada a energia de interação existente entre a proteína e
o ligante por meio da metodologia MFCC (fracionamento molecular com caps
conjugados). Essa metodologia fragmenta estruturas complexas em capas de
aminoácidos para possibilitar a utilização de técnicas quânticas computacionais, de
baixo custo e resultados precisos,proporcionando a determinação da energia do
sistema com uso da fórmula:
E(L-R) = E(L + C1-iRiC1+i) - E(C1-iRiC1+i) - E(L + C1-iC1+i) + E(C1-iC1+i)
Na qual, o primeiro termo corresponde a energia de interação entre o ligante (L) e o
resíduo (Ri), o segundo termo se refere a energia de interação entre o ligante e o

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eCICT 2023

resíduo conjugado as suas capas (Ci e Ci+1), o terceiro elemento simboliza a energia de
interação entre o ligante e as capas, o quarto termo representa a energia do resíduo
ligado a suas capas de aminoácido, e o quinto termo corresponde a energia isolada das
capas, para repor seus valores, pois foram removidas duas vezes(termos terceiro e
quarto). Após tal identificação, foram calculadas as interações moleculares com o
método de física e química quântica da Teoria do Funcional da Densidade (DFT).
Posteriormente foi calculada a interferência eletrostática para constante dielétrica
ε=40 com auxílio do Gaussian, para que modo in silico se aproxime das condições
biológicas da interação da proteína e seu ligante.
As ligações podem sofrer interferência da distância entre o resíduo e o ligante, sendo
analisados os raios de convergência com valores de r = 2,0 Å e variação de distância
igual a 0,5 Å até atingir r = 10 Å.

Resultados e Discussões

A energia de interação permite identificar qual aminoácido possui maior interação com
o ligante, sendo um potencial alvo para fármaco, no caso da simulação realizada,
verificou-se que a ASP129 possui energia de ligação igual a -12,38 kcal/mol com
distância e r=2 Å entre resíduo e ligante. Considerando o potencial de interação com
ligante, e que valores positivos significam repulsão, que pode ser foco de melhoria de
interação entre proteína-ligante, segue sequência de aminoácidos mais atrativos para
o mais repulsivo na constante dielétrica ε = 40: ASP0129 (-12,38 kcal/mol); GLY0151 (-
6,38 kcal/mol); GLN1086 (-5,80 kcal/mol); ASN0152 (-5,72 kcal/mol); ASN1084 (-5,64
kcal/mol); GLY0153 (-5,49 kcal/mol); e ILE0155 (-5,36 kcal/mol).

Conclusão

As metodologias in silico tornam-se cada vez mais importantes nos estudos e


desenvolvimento de fármacos e vacinas, possibilitando testes in vivo mais efetivos e
precisos, uma vez que permite simular condições biológicas e recombinações
moleculares.
Em virtude dessa pesquisa ter sido iniciada apenas há quatro meses, em decorrência
da limitação de tempo, não foi possível analisar de modo detalhado as interações,
sendo esse artigo focado na problemática e metodologia a ser desenvolvida. Tendo

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eCICT 2023

necessidade de desenvolver por completo o estudo, incluindo a análise da constante


dielétrica ε=10 e construção de gráfico de convergência e gráfico BIRD.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde, saúde de A a Z, Febre do Nilo Ocidental. Disponível em:


<https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-do-nilo-ocidental>.
Acesso em: 12 jun. 2023.
CDC – CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. West Nile Virus. 2023.
Disponível em: <https://www.cdc.gov/westnile/statsmaps/current-season-data.html>.
Acesso: 15 ago. 2023.
ERBEL, Paul. et al. Structural basis for the activation of flaviviral NS3 proteases from
dengue and West Nile virus. Nature structural & molecular biology, v. 13, ed. 4, 2006.
Disponível em: <https://www.nature.com/articles/nsmb1073>. Acesso em: 20 de maio
2023.
GUIMARÃES, Marcela. Desenho racional de antivirais: identificação de novos inibidores
contra a protease do vírus do Nilo Ocidental por high-throughput screening,
Repositório Institucional, Universidade Federal de São Paulo, 2021. Disponível em:
<https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61228>. Acesso em: 16 jul. 2023.
MENEZES, Maíra, Vírus do Nilo Ocidental é detectado em Minas Gerais. Fundação
Oswaldo Cruz, 2021. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/virus-do-nilo-
ocidental-e-detectado-em-minas-gerais>. Acesso em: 20 jun. 2023.
OURIQUE, Gabriela. Estudo in silico da interação da protease NS3-NS2B de diferentes
flavivirus com um inibidor peptídico, 2018. Disponível em:
<https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/26084/1/Estudoinsilico_Ourique_2
018.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2023.
SILVA, Tales, et al. Prospecção in silico de produtos naturais inibidores da enzima de
replicação viral NS5 RDRP do vírus do Nilo Ocidental, Revista Thema, n. 3, 2022.
Disponível em:
<https://periodicos.ifsul.edu.br/index.php/thema/article/view/2199/2106>. Acesso
em: 20 jun. 2023.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0334

AUTOR: ANA LIVIA MESQUITA SOARES

ORIENTADOR: ELAINE CRISTINA GAVIOLI

TÍTULO: PADRONIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS COM


VISTAS À PROPOSIÇÃO DE UM MODELO ANIMAL PARA DETECÇÃO DE
FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS DE AÇÃO RÁPIDA

Resumo

O tratamento farmacológico do Transtorno Depressivo Maior (TDM) possui limitações,


como baixa eficácia, efeitos colaterais e atraso para início dos efeitos terapêuticos. Os
antidepressivos de ação rápida podem melhorar as condições de pacientes e os modelos
animais são ferramentas úteis para investigá-los, ainda que não existam modelos
capazes de selecioná-los. Assim, o presente projeto buscou padronizar um modelo
animal para identificar antidepressivos de ação rápida, com base na ingestão de
glicocorticóides. Para tanto, camundongos Swiss machos foram submetidos a 2 ensaios
pilotos. No ensaio piloto 1, foram avaliados dois intervalos de tempo de restrição
hídrica (4 e 8h) para o Teste de Preferência por Sacarose (TPS). Em seguida, os animais
foram submetidos ao ensaio piloto 2, onde foram continuamente expostos por via oral a
Água mineral (controle), Corticosterona, Hidrocortisona ou Veículo por 10 dias
ininterruptos. Os TPS e de Suspensão pela Cauda (TSC) foram realizados durante o
período de exposição para examinar comportamentos relacionados à depressão.
Constatou-se que no piloto 1 os dois períodos de restrição hídrica apresentaram
desempenho similar. O TPS realizado no ensaio piloto 2 mostrou que ambos os
glicocorticóides têm desempenho próximo no desencadeamento do fenótipo depressivo,
mas o TSC sugeriu que a hidrocortisona pode ser uma alternativa mais viável. Essas
descobertas contribuíram para padronizar o uso do TPS e determinar o corticoide mais
apropriado.

Palavras-chave: Antidepressivos; Glicocorticóides; Transtorno Depressivo


Maior.

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TITLE: STANDARDIZATION OF EXPERIMENTAL CONDITIONS WITH A


VIEW TO PROPOSING AN ANIMAL MODEL FOR DETECTION OF FAST-
ACTING ANTIDEPRESSANT DRUGS

Abstract

The pharmacological treatment of Major Depressive Disorder (MDD) has limitations,


such as low efficacy, side effects, and delay in the onset of therapeutic effects. Rapid-
acting antidepressants can improve patient conditions and animal models are useful
tools for investigating them, although there are no models capable of selectively
selecting them. Thus, the present project sought to standardize an animal model to
identify rapid-acting antidepressants, based on the ingestion of glucocorticoids. To this
end, male Swiss mice were subjected to 2 pilot tests. In pilot test 1, two intervals of
water restriction time (4 and 8h) were evaluated for the Sucrose Preference Test (SPT).
Then, the animals were subjected to pilot test 2, where they were continuously exposed
orally to Mineral Water (control), Corticosterone, Hydrocortisone or Vehicle for 10
uninterrupted days. The SPT and Tail Suspension (TST) tests were performed during
the exposure period to evaluate behaviors related to depression. It was found that in
pilot 1 the two periods of water restriction had similar performance. The SPT performed
in pilot test 2 showed that both glucocorticoids have similar performance in triggering
the depressive phenotype, but the TST suggested that hydrocortisone may be a more
viable alternative. These findings contributed to standardizing the use of SPT and
determining the most appropriate corticoid.

Keywords: Antidepressants; Glucocorticoids; Major Depressive Disorder.

Introdução

O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é um transtorno mental que afeta globalmente


cerca de 5% dos adultos, sendo mais comum em mulheres do que em homens. Os
sintomas incluem humor deprimido, perda de prazer ou interesse em atividades,
alterações no sono e apetite, fadiga, dificuldade de concentração, sentimentos de culpa
ou baixa autoestima e pensamentos sobre morte ou suicídio (Malhi; Mann, 2018). O
principal tratamento farmacológico para a depressão inclui inibidores seletivos da
recaptação de serotonina (ISRS). No entanto, esses tratamentos têm limitações
significativas, incluindo o início tardio da eficácia, surgimento de diversos efeitos
colaterais e resistência ao tratamento em até 40% dos pacientes (Rincón-Cortés; Grace,
2020).

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eCICT 2023

Uma possibilidade promissora para o avanço no tratamento da depressão são os


antidepressivos de ação rápida, como a cetamina. Este é um medicamento originalmente
usado para anestesia e alívio da dor, mas também é utilizado em indivíduos com
depressão resistente ao tratamento (Rincón-Cortés; Grace, 2020). Ao contrário dos
antidepressivos convencionais, a cetamina pode melhorar os sintomas da depressão em
apenas algumas horas e esse efeito pode se estender em até 7 dias. Ainda assim, cabe
destacar que essa classe de fármacos foi descoberta ao acaso na clínica psiquiátrica e,
para que novas moléculas com esse perfil sejam desenvolvidas, os modelos animais
ainda são ferramentas necessárias (Ramaker; Dulwa, 2017).

Os modelos animais oferecem uma maneira de avaliar a segurança, eficácia e potencial


toxicidade, ou seja, busca prever se novas substâncias têm ou não o efeito terapêutico
esperado, antes de serem testadas em seres humanos (Willner, 2002). Todavia, os
modelos de depressão atuais possuem algumas desvantagens, como o fato de que foram
baseados na sensibilidade a fármacos já conhecidos, sendo úteis somente para
identificar potenciais medicamentos com efeitos terapêuticos parecidos, tornando difícil
a descoberta de novos antidepressivos (Ramaker; Dulwa, 2017). Também é relevante
observar que esses modelos não conseguem determinar se um dado medicamento com
potencial antidepressivo proporciona um efeito terapêutico de ação rápida, como no
caso da cetamina, ou se requer semanas de tratamento para aliviar os sintomas
depressivos em humanos (Ramaker; Dulwa,, 2017).

Dentre as opções de modelos animais de depressão, o modelo de ingestão via água de


beber de glicocorticóides apresenta-se como ferramenta útil para caracterizar o efeito de
antidepressivos de ação rápida em roedores, uma vez que essa forma de indução
biológica do fenótipo depressivo é gradual, como ocorre com os pacientes que possuem
o TDM (Moda-Sava et al., 2019; Wang et al., 2017). Espera-se que a reversão desse
quadro pelos ISRSs seja gradativa, enquanto os antidepressivos de ação rápida
promovem rapidamente os efeitos terapêuticos. Além disso, o modelo em questão
demanda pouca intervenção, é sensível a testes padrão ouro para a seleção de
antidepressivos e promove a apresentação do fenótipo depressivo na maior parte da
população testada (Frazer; Morilak, 2005; Wang et al., 2017). Em modelos de exposição
ao estresse, como o Modelo de Derrota Social e o Modelo de Estresse Crônico Variado,
a taxa de indução do estado depressivo é mais susceptível a variações, uma vez que
dependem de fatores, como a espécie de roedor utilizada no estudo, além de linhagem,
sexo, idade e outros (Becker; Pinhasov; Ornoy, 2021).

Dado que ainda há lacunas nos antidepressivos convencionais, a pesquisa com modelos
animais é necessária para avançar na compreensão e tratamento de transtornos
psiquiátricos, como a depressão. O presente projeto busca adaptar esse modelo de
ingestão de corticosterona para torná-lo uma ferramenta útil na identificação de
potenciais antidepressivos de ação rápida, permitindo prever o tempo necessário de

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eCICT 2023

tratamento com o fármaco a ser testado para reverter os comportamentos depressivos


causados pela exposição crônica à corticosterona

Metodologia

Animais:
Camundongos Swiss machos (produzidos a partir da colônia do Biotério do Centro de
biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte) 8-12 semanas de idade,
serão mantidos em um ciclo claro-escuro de 12:12 h (luzes acesas às 06:00 da manhã)
em temperatura ambiente constante (22 ± 1 ° C). Os animais foram mantidos em gaiolas
de polipropileno (43 × 30 × 16 cm) com acesso a ração e água ad libitum. Todos os
procedimentos experimentais neste estudo obedeceram a legislação brasileira (n °
11.794/2008) e só foram realizados após a aprovação no Comitê de Ética no Uso de
Animais (No. 284.010/2022/CEUA/UFRN).
Drogas e tratamentos:
Para a realização deste estudo foram utilizadas as seguintes drogas: corticosterona
(CORT) e succinato de hidrocortisona sódica (ambas provenientes da Cayman
Chemical, Cambridge Bioscience) disponível na água de beber do animal que foi
mantido isolado durante a exposição à droga. A CORT foi dissolvida em etanol 1% e
misturada com água mineral fornecida para os animais na concentração final de CORT
0,1 mg/ml e etanol 1% (Moda-Sava et al., 2019). Apesar de haver poucos relatos de uso
na literatura (Gourley et al., 2008), succinato de hidrocortisona sódica por ser solúvel
em água foi testado em ensaio piloto, na mesma concentração da CORT (0,1 mg/ml),
como forma alternativa à CORT, já que não demanda etanol como solvente. O etanol
possui atividade no SNC e pode ser um fator de viés para o presente projeto,
principalmente por requerer longos períodos de exposição.
Testes comportamentais:
Teste de Preferência por Sacarose (TPS)
O teste de preferência de sacarose (TPS) é amplamente usado para medição de anedonia
em roedores (LIU et al., 2018). Para habituação à solução de sacarose, os animais foram
isolados, com acesso contínuo a duas garrafas, uma contendo água e outra contendo
solução de sacarose 1%. durante 72h. Em seguida, os animais serão submetidos à
privação hídrica de 4h ou 8h e, após esse período, puderem acessar os dois bebedouros,
um com solução de sacarose e outro com água mineral por 12h (durante a fase escura).
Passadas as 12h, no dia seguinte, as garrafas foram pesadas e foi calculada a preferência
de ingestão de sacarose. A preferência de sacarose foi calculada determinando a fração
(%) do consumo de solução de sacarose 1% dividido pelo consumo total de água.

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eCICT 2023

Percentuais acima de 50% indicam preferência pela solução de sacarose e estima-se que
80% dos animais apresentam esse comportamento (Liu et al., 2018).
Teste de Suspensão pela Cauda (TSC)
O teste foi realizado conforme descrito anteriormente por Steru et al. (1985) e Medeiros
et al., (2015). É comumente utilizado para avaliar o desespero comportamental dos
animais. Os camundongos isolados foram alocados em uma sala experimental
acusticamente isolada por 60 min antes do teste para aclimatação. No momento do teste,
os camundongos foram suspensos, 50 cm acima do chão, por uma fita adesiva colocada
a 1 cm da ponta da cauda. O tempo de imobilidade, ou seja, o tempo que cada animal
permaneceu imóvel durante a sessão de 6 min foi registrado (em segundos), nos últimos
4 min de observação. Após o teste, o animal retornou para o biotério na gaiola moradia.
Desenho Experimental:
Ensaio Piloto 1 - Determinação das condições experimentais: tempo de restrição hídrica
do TPS
O primeiro passo para iniciar o desenvolvimento deste projeto foi determinar as
melhores condições experimentais para obtenção de dados fidedignos associado ao
menor índice de estresse para o animal. Para isso, determinou-se o tempo ideal de
restrição hídrica a ser adotado no teste de preferência pela sacarose. Os camundongos
foram isolados, expostos ao protocolo do teste de preferência pela sacarose, porém
considerando dois intervalos de restrição hídrica a serem testados (4 e 8h) antes da
avaliação do consumo de solução de sacarose no no teste.Nesse estudo piloto, o
consumo de sacarose e água ingerido após o período de restrição proposto, bem como o
peso corpóreo dos animais após exposição aos dois períodos de restrição foi avaliado,
como forma de medir o impacto no bem-estar dos animais. Caso fossem detectadas
semelhanças nos resultados coletados nos intervalos de 4 e 8h de restrição, seria
escolhido o menor intervalo nas etapas posteriores do projeto.
Ensaio Piloto 2 - Determinação das condições experimentais: tipo de corticosterona a
ser usada no estudo
O tipo de glicocorticóide (ex.: corticosterona - solúvel em solução aquosa de etanol 1%
ou succinato de hidrocortisona sódica – solúvel em água) que melhor se adeque às
condições e exigências experimentais e ao paladar dos animais precisou ser testada em
um ensaio piloto. Para realização deste ensaio piloto, os animais ficaram expostos a 2
garrafas e foi avaliada a preferência pelos tratamentos oferecidos, quantidade de líquido
consumida e peso corpóreo ao longo do tempo. Além disso, os animais também foram
submetidos a avaliação comportamental, visando avaliar a preferência pela sacarose e a
imobilidade nos TPS e TSC, respectivamente. A duração total do estudo piloto foi de 14
dias, dos quais 10 dias foram de exposição aos tratamentos. Com relação ao tipo de
corticosterona a ser usada, os grupos experimentais foram divididos conforme ilustra a
figura 02.

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eCICT 2023

ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram tabulados no software Excel e os procedimentos estatísticos foram
realizados no programa SPSS para Windows, versão 21.0, e Graphpad Prism 8.0
(Graphpad Software IncSan Diego, USA). O tamanho amostral foi calculado utilizando
o software G*Power 3.1.9.4 e os dados passaram por teste de normalidade. A análise
estatística a ser utilizada para determinar a diferença entre os grupos foi o Testes T de
Student e ANOVA de uma via seguida do Testes de Tukey para os ensaios piloto 1 e 2.

Resultados e Discussões

Ensaio Piloto 1 - Determinação das condições experimentais: tempo de restrição hídrica


do TPS
Inicialmente, a pesquisa visou estabelecer o período ideal de restrição hídrica a ser
aplicado no Teste de Preferência pela Sacarose (TPS), antes da exposição à solução de
sacarose. Foram examinados dois intervalos de privação de água (de 8 e 4 horas,
respectivamente) com o objetivo de determinar quais desses intervalos poderiam ser
empregados nas fases posteriores do estudo sem afetar os resultados obtidos e o bem-
estar dos animais. Conforme indicado na figura 03, os resultados indicam que tanto o
intervalo de privação de água de 4 horas quanto o de 8 horas tiveram um efeito
semelhante na preferência pela sacarose, no consumo de líquidos e na perda de peso
corporal. Portanto, a escolha foi feita de adotar o período de privação hídrica mais curto,
ou seja, 4 horas, no teste de preferência pela sacarose.
Esses achados se contrapõem a trabalhos como os de Liu e colegas (2018) que sugerem
privação hídrica prolongadas de 24 horas antes do teste de preferência por sacarose.
Zhang e colaboradores (2017) demonstraram que restrições prolongadas causam
desidratação, perda de peso significativa e aumento nos níveis de corticosterona, devido
ao estresse. Mesmo estudos que optam por períodos mais moderados de restrição
comumente utilizam intervalos de 18h (Cohen; Hachey, 1980). Ainda que o tempo de
restrição possa variar de acordo com o objetivo do estudo, o modelo animal utilizado e
outras variáveis experimentais, nossos dados indicam que há possibilidade de
implementar intervalos reduzidos de privação hídrica e, com isso, garantir resultados
satisfatórios, bem como minimizar impactos negativos na saúde dos animais.
Ensaio Piloto 2 - Determinação das condições experimentais: tipo de corticosterona a
ser usada no estudo
Ingestão de glicocorticóides
Nesta etapa investigou-se qual seria o tipo de corticosterona mais adequado às
condições experimentais propostas. Para tanto, foram utilizadas: I) corticosterona
solúvel em solução de etanol 1% e II) succinato de hidrocortisona sódica solúvel em

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eCICT 2023

água. Como ilustrado na figura 04, se compararmos o perfil de ingestão da solução de


corticosterona com o de solução de succinato de hidrocortisona sódica, conclui-se que
não houve diferença significativa entre o consumo das garrafas (figura 04B, D),
indicando que ambas as drogas utilizadas são palatáveis aos animais. Destaca-se,
também, que ambos os tratamentos não resultaram em uma diminuição de peso
significativa dos animais, sugerindo que a corticosterona não compromete
substancialmente o bem-estar animal, a curto prazo (figura 05A). Diversos estudos
optam pela corticosterona dissolvida em etanol (Buynitsky; Mostofsky, 2009) ao passo
que trabalhos como os de Zalachoras et al. (2016) utilizam o succinato de hidrocortisona
sódica para indução das alterações comportamentais. Ainda assim, nossos dados
sugerem que ambas as drogas possuem desempenho semelhante nos parâmetros
avaliados.
Avaliação dos efeitos comportamentais mediante exposição aos diferentes tipos de
glicocorticóides
Com a finalidade de investigar as repercussões comportamentais dos dois tipos de
glicocorticóides adotados no estudo e a viabilidade do protocolo proposto, os animais
antes do início do tratamento com a corticosterona (baseline) e 10 dias após a exposição
foram submetidos à sequência de testes previstos nos blocos T1 e T2 descritos nas
etapas experimentais. Inicialmente, os grupos foram submetidos ao protocolo de
Preferência de Sacarose (habituação, baseline e TPS). Como ilustra a figura 6A, não
houve diferença expressiva no percentual de preferência por sacarose entre os grupos na
etapa do baseline, realizada após a habituação e previamente à exposição a
corticosterona. Entretanto, como mostra a figura 6B, no TPS realizado após 10 dias de
administração de corticosterona na água de beber dos animais, observou-se diminuição
significativa da preferência por sacarose nos grupos tratados com succinato de
hidrocortisona 0,1 mg/mL (Grupo 2) e corticosterona 0,1 mg/mL solúvel em etanol a
1% (Grupo 04), quando comparado aos controles água e veículo (Grupo 1 e 3,
respectivamente). Esses dados sugerem que os dois tipos de glicocorticóides são
capazes de induzir comportamento anedonico nos animais tratados (B = F (3,15) =
13.79; P < 0,05; ANOVA de uma via seguido do Teste de Tukey).
Ainda assim, foi necessário investigar se havia diferenças significativas entre os dois
glicocorticóides nos testes comportamentais, uma vez que que o etanol pode afetar a
motivação, o comportamento motor, o humor e a memória em animais expostos
cronicamente a substância, o que poderia comprometer os resultados provenientes do
grupo tratado com corticosterona dissolvida em etanol 1% (Arndt; Turvey, 2000). Em
consonância a esses dados, nosso estudo identificou alterações comportamentais nos
grupos veículo e CORT dissolvida em etanol 1% no Teste de Suspensão pela Cauda,
onde os animais apresentaram maior imobilidade em comparação aos demais grupos (B
= F (3,16) = 3,620; P < 0,05; ANOVA de uma via seguido do Teste de Tukey).
De acordo com Lambert e colegas (2010), o álcool permite uma dissolução mais
eficiente da corticosterona e uma distribuição mais homogênea da substância na

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eCICT 2023

solução, o que pode aumentar a precisão da dosagem administrada. Além disso, a


diluição da corticosterona em etanol é uma das formas mais comuns de solubilização da
molécula, o que pode aumentar a sua biodisponibilidade e melhorar a sua absorção no
trato gastrointestinal. No entanto, a utilização do etanol pode apresentar algumas
desvantagens. Segundo Crews e Nixon (2009), a exposição crônica ao etanol pode levar
a alterações comportamentais em animais, como aumento da agressividade, diminuição
da atividade locomotora, o que explicaria os resultados dos testes supracitados. Além
disso, a administração de corticosterona dissolvida em etanol pode aumentar os efeitos
comportamentais da substância, como a sedação e a redução da ansiedade, o que pode
enviesar os resultados dos estudos que utilizam esses modelos (Lambert et al., 2010).
A hidrocortisona, por sua vez, é um glicocorticóide sintético deferido do cortisol e sua
estrutura química se assemelha a da corticosterona. Segundo Yau e colaboradores
(2014), a diferença mais importante entre as duas drogas está relacionada às suas
propriedades farmacocinéticas; A hidrocortisona é rapidamente absorvida pelo trato
gastrointestinal e tem uma curta duração de ação, enquanto a corticosterona apresenta
uma potência menor que o cortisol e uma duração de ação mais longa (Yau et al., 2014).
Além disso, compararam com ratos comparou o efeito da exposição crônica à
hidrocortisona e à corticosterona sobre o comportamento relacionado à ansiedade e
depressão. Os resultados mostraram que ambos os hormônios levaram a um aumento
nos comportamentos ansiosos e depressivos, reforçando os achados do estudo em
questão.
Possivelmente, o etanol induziu os comportamentos atrelados à depressão ao invés do
corticóide, sobretudo a mobilidade dos animais no TSC, após 10 dias de exposição.
Esse achado abre precedente para uma análise mais crítica dos resultados obtidos de
estudos que utilizam solução de etanol para solubilizar a corticosterona, considerando
seu efeito depressor no SNC. Cabe considerar a utilização de veículos alternativos para
a administração de corticosterona, a fim de minimizar a interferência do etanol nos
efeitos comportamentais e fisiológicos dos animais expostos repetidamente.

Conclusão

Os resultados obtidos a partir do ensaio piloto 1 indicam que os dois períodos de


restrição hídrica apresentaram desempenho similar nos parâmetros avaliados. Isso
permitiu a escolha pelo intervalo de restrição mais curto, sem comprometer o bem-estar
dos animais. Além disso, o ensaio piloto 2 evidenciou que ambos os glicocorticóides
têm um desempenho próximo no desencadeamento do fenótipo depressivo, quando
administrados cronicamente na água potável dos animais, conforme ilustrado pelo TPS.
Entretanto, o TSC sugeriu que a hidrocortisona pode ser uma alternativa mais viável em
relação à CORT, dado que esta última pode induzir alterações comportamentais em
decorrência de solubilização em etanol.

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eCICT 2023

Tais descobertas contribuíram para melhor delinear as condições experimentais para as


fases subsequentes, padronizando o uso do TPS - fundamental para avaliação de um
sintoma nuclear do TDM - e determinando o corticoide mais apropriado para um
protocolo de exposição prolongada. Para futuras pesquisas, é relevante considerar o uso
de meios alternativos para a administração de glicocorticóides, com o objetivo de
minimizar a interferência do etanol nos efeitos comportamentais e fisiológicos dos
animais submetidos a exposições repetidas. Da mesma forma, é necessário levar em
consideração a utilização de procedimentos menos invasivos para os animais em
experimentação.

Referências

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eCICT 2023

MEDEIROS, Iris U. et al. Blockade of nociceptin/orphanin FQ receptor


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MODA-SAVA, R. N. et al. Sustained rescue of prefrontal circuit dysfunction by
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RINCÓN-CORTÉS, M.; GRACE, A. A. Antidepressant effects of ketamine on
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depression. Behavioural pharmacology, v. 13, n. 3, p. 169-188, 2002.
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attenuates the depression-like behaviour induced by chronic corticosterone exposure. J
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glucocorticoid receptor modulator. Scientific reports, v. 6, n. 1, p. 1-13, 2016. doi:
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Anexos

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eCICT 2023

Esquema representando o protocolo utilizado no ensaio piloto 1 para determinar o


tempo de restrição hídrica a ser usado no Teste de Preferência por Sacarose.

Esquema representando o protocolo utilizado no ensaio piloto 2 para avaliar o tipo de


glicocorticóide a ser adotado no estudo e suas repercussões comportamentais.

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eCICT 2023

Padronização das condições experimentais para realizar o Teste de Preferência por


Sacarose (TPS) em camundongos.

Comparação do consumo, avaliada através do peso (g) das garrafas, entre os grupos
experimentais testados observados durante 4 dias

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eCICT 2023

Avaliação da preferência por um dos glicocorticóides utilizados no estudo e de suas


repercussões no peso dos animais.

Efeitos da exposição aos diferentes tipos de glicocorticóides no TPS. Percentual (%) de


preferência por sacarose dos grupos experimentais durante o baseline, realizado antes
da exposição à corticosterona;

Efeitos da exposição aos diferentes tipos de glicocorticóides no TSC. (A) Tempo de


imobilidade (s) dos animais durante o Teste de Suspensão pela Cauda, antes da
exposição à corticosterona;

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0344

AUTOR: NICOLE BEZERRA DE MEDEIROS LIMA

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: CORRELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE SUICIDALIDADE E O USO DA


CETAMINA EM PACIENTES COM DEPRESSÃO RESISTENTE AO
TRATAMENTO

Resumo

Esse artigo pretende analisar a variação do nível de suicidalidade para pacientes com
depressão resistente ao tratamento (n = 18) submetidos a 8 injeções semanais de
cetamina por via de administração subcutânea. As variações no nível de suicidalidade
foram avaliadas por meio do Inventário Beck de Ideação Suicida (BSI) 24 horas e 7 dias
após cada sessão. Como resultado, foi visto que o efeito da cetamina via subcutânea
na propensão ao suicídio é sustentado ao longo da semana, não havendo diferença
significativa entre os valores de BSI obtidos 24h e 7 dias após cada sessão. Sendo
assim, o estudo sugere que injeções subcutâneas semanais de cetamina reduzem a
tendência suicida em pacientes depressivos resistentes ao tratamento, com um rápido
início de ação que se mantém ao longo da semana, ou seja, confirmando um efeito a
médio prazo após múltiplas administrações da cetamina pela via subcutânea, o que
abre possibilidades para que investimentos sejam feitos no uso desse estratégia de
tratamento para pacientes com ideação suicida de caráter agudo, mas também
subagudo.

Palavras-chave: Cetamina. Depressão resistente ao tratamento.

TITLE: CORRELATION BETWEEN THE LEVEL OF SUICIDALITY AND THE


USE OF KETAMINE IN PATIENTS WITH TREATMENT-RESISTANT
DEPRESSION

Abstract

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eCICT 2023

This article intends to analyze the variation in the level of suicidality for patients with
treatment-resistant depression (n = 18) submitted to 8 weekly injections of ketamine
by subcutaneous administration. Variations in the level of suicidality were assessed
using the Beck Suicidality Inventory (BSI) 24 hours and 7 days after each session. As a
result, it was seen that the effect of subcutaneous ketamine on suicide propensity is
sustained throughout the week, with no significant difference between the BSI values
obtained 24h and 7 days after each session. Therefore, the study suggests that weekly
subcutaneous injections of ketamine reduce the suicidal tendency in treatment-
resistant depressive patients, with a rapid onset of action that is maintained
throughout the week, i.e., confirming a mid-term effect after multiple administrations
of ketamine by subcutaneous route, which opens up possibilities for investments to be
made in the use of this treatment strategy for patients with acute suicidal ideation, as
well as subacute ones.

Keywords: Ketamine. Treatment-resistant depression.

Introdução

Depressão resistente ao tratamento (DRT) é definida como depressão grave com


resposta insatisfatória de dois medicamentos de duas classes diferentes de
antidepressivos (AL-HARBI, 2012). Aproximadamente 30% dos pacientes com
depressão apresentam respostas inadequadas a tratamentos com antidepressivos,
mesmo após múltiplas intervenções. Portanto, a DRT impõe grandes desafios aos
pacientes, com prolongada severidade de sintomas e elevadas tentativas de suicídio.
Tendo em vista que a OMS estima que a depressão é responsável por 4,3% da carga
global das doenças e que o suicídio também é um fenômeno universal, é de suma
importância analisar o quanto a busca por um tratamento alternativo e eficaz para
pacientes com depressão resistente ao tratamento se faz indispensável (SOUZA, 1999).
Nos últimos anos, estudos clínicos vêm demonstrando que doses sub-anestésicas de
cetamina, um antagonista de receptores NMDA, proporcionam surpreendentemente
ação rápida antidepressiva. Ainda que seu mecanismo de ação não esteja
completamente esclarecido, algumas evidências direcionam para o âmbito de uma
ação anti-inflamatória por meio da via do ácido quinurênico. Isso se deve ao fato de
que a inflamação pode estar associada a um aumento na conversão de ácido
quinolínico para ácido quinurênico (CAPA, 2021). O primeiro é um agonista dos
receptores NMDA, enquanto o segundo é um antagonista.

590
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eCICT 2023

A maioria dos estudos que analisam esse uso da cetamina utilizam uma única
administração do fármaco por via endovenosa, a exemplo do realizado por Vidal et al,
2018, com o objetivo de documentar a segurança e os efeitos antidepressivos e
antisuicidas de uma única injeção rápida (0,5 mg/kg de cetamina IV, durante um
minuto) em 10 pacientes com depressão resistente ao tratamento. Ademais, a
cetamina na apresentação de spray nasal também tem ganhado maior relevância nos
estudos mais recentes (Ionescu et al., 2021).
Entretanto, essas formas de apresentação não são completamente acessíveis, tendo
em vista que a via de administração endovenosa requer uma extensa supervisão
médica e equipe de enfermagem especializada, e a via de administração intranasal,
por si só, tem um alto custo (BAHR, 2019).
Em contrapartida, a cetamina por via administração subcutânea é menos frequente
em estudos e, quando feitos em pacientes com inclinação suicida, geralmente são
realizados com uma única administração e com investigações agudas, ou seja, com um
período curto de análise dos pacientes (ACEVEDO-DIAZ, 2020). Porém, ao se comparar
com as vias endovenosa e intranasal, os custos de aplicações subcutâneas são
significativamente menores (CAVENAGHI et al., 2021) e a demanda de equipamentos e
profissionais especializados é menor, sendo, portanto, promissor investir em estudos -
até porque as evidências científicas que comprovam esse tipo de uso da cetamina são
insuficientes (SURJAN et al., 2022) - que analisem a eficácia de múltiplas
administrações por via subcutânea com investigações de médio prazo para avaliação
da resposta ao tratamento e de possíveis efeitos colaterais nos pacientes.
O uso da cetamina, segundo CORRÊA (2018), como terapia farmacológica auxiliar na
prevenção ao comportamento suicida se evidencia por 3 razões: a letargia da
efetividade dos tratamentos atuais conhecidos, a natureza repetente do ato de
tentativa de suicídio, sendo primordial impedir a primeira tentativa dessa ação e, por
fim, sua letalidade, especialmente no que se refere à causa de morte entre jovens.
Sendo assim, observando as várias evidências sobre os impactos positivos da cetamina
em quadros de DRT e na diminuição dos níveis de suicidalidade dos pacientes, é
imprescindível que seja analisado a influência de múltiplas administrações da cetamina
subcutânea a médio prazo na mudança do grau de ideação suicida, a fim de que seja
possível enxergar parametricamente as vantagens e possíveis efeitos adversos da
utilização desse fármaco.

Metodologia

Voluntários

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eCICT 2023

O trabalho recrutou 40 pacientes com idade entre 18 e 65 anos com depressão


resistente ao tratamento e com indicação para terapia com cetamina pela equipe de
psiquiatria do HUOL. A triagem de pacientes ocorreu no ambulatório de depressão do
HUOL, onde foram identificados e recrutados a partir da aplicação da SCDI (Entrevista
Clínica Estruturada para DSM-5). Os pacientes que preencheram os critérios de
elegibilidade para participação no estudo foram solicitados a preencher e assinar o
consentimento informado (TCLE), e realizar a primeira aferição dos sintomas de
depressão pela MADRS (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale).
O estudo foi restrito a pacientes em episódio depressivo grave/severo atual, ocorrendo
há pelo menos 4 semanas, e que já tenham feito uso de pelo menos dois
medicamentos antidepressivos, em dose e duração adequadas.
Os critérios de exclusão incluem condições físicas e mentais que impeçam o uso seguro
de cetamina: hipertensão não controlada, insuficiência cardíaca congestiva ou outras
evidências de comprometimento do estado cardíaco, DPOC, obesidade grave,
aumento da pressão intracraniana ou cerebrospinal, gravidez, hipertireoidismo,
resposta adversa prévia à cetamina, sintomas psicóticos presentes ou passados,
distúrbio de identidade dissociativo, distúrbio do espectro do autismo e sintomas
prodrômicos da esquizofrenia. Indivíduos que não são elegíveis ou decidem não
participar, retornarão ao tratamento padrão.
Desenho experimental
O projeto consiste na administração subcutânea de cetamina semanalmente ao longo
de oito semanas com doses ajustadas à resposta clínica do paciente, de forma que a
análise das escalas foi feita até a nona semana. Os efeitos foram comparados a dados
da literatura que usaram métodos convencionais de administração da cetamina
(especialmente intravenosa e intranasal).
As sessões de aplicação da cetamina ocorreram no ambulatório de psiquiatria do
HUOL, pela manhã, sendo necessário um acompanhante para o paciente ser liberado
após o término da sessão. Cada paciente foi recebido por um membro da equipe de
pesquisa, que tornará a explicar detalhes dos procedimentos.
Foram coletados dados demográficos e clínicos da doença no encontro inicial do
estudo e também foram realizadas todas as medidas de linha de base por meio da
aplicação das escalas:
1) MADRS (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale): é um questionário de 10
itens amplamente utilizado para avaliar a gravidade da depressão em ensaios clínicos e
na prática e foi aplicada na triagem dos pacientes.
2) BSI (inventário Beck de ideação suicida): medida escalar de auto-relato, que objetiva
a identificação da presença de ideação suicida e foi aplicada (através de um link online)

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eCICT 2023

um dia antes da sessão, no dia da sessão - antes da aplicação da cetamina - e um dia


após a aplicação da cetamina.
Ao final de cada sessão, os participantes foram avaliados clinicamente e liberados, na
presença do(a) acompanhante. Um dia após as sessões, era solicitado aos pacientes
que preenchessem a escala BSI.
Análise dos resultados
Os dados referentes à BSI serão analisados utilizando-se o programa IBM SPSS
Statistics. As condições de interesse (basal vs. pós-intervenção) serão comparadas por
tendência central para os resultados contínuos (paramétricos ou não paramétricos, a
depender da distribuição) e por testes de qui-quadrado ou exato de Fischer (a
depender dos resultados das tabelas).

Resultados e Discussões

RESULTADOS
Inicialmente, dos 82 pacientes que participaram da triagem no HUOL, 24 preencheram
os critérios de inclusão e iniciaram a aplicação de cetamina subcutânea. Quatro
participantes abandonaram o estudo durante sua execução: um participante após a
primeira aplicação por insuficiência financeira, um participante após a segunda
semana apresentou planejamento suicida necessitando de internação e foi
descontinuado do estudo, e dois participantes após a terceira semana foram
diagnosticados com COVID- 19. Um paciente tentou suicídio durante o estudo, mas
continuou na amostra. Além disso, dois pacientes foram diagnosticados com
Transtorno Afetivo Bipolar durante a fase de acompanhamento e, em seguida, foram
excluídos da amostra, que ao final totalizou 18 participantes.
Entre os participantes do estudo, oito (44%) relataram uma ou mais tentativas de
suicídio antes do estudo e 10 (56%) negaram tentativa anterior. Grande parte dos
pacientes, 61% (11), já havia feito reforço terapêutico com lítio e 11% (2) com
antipsicóticos.
A pontuação média da Escala de Ideação Suicida Beck (BSI) foi de 18 (± 7,1), de forma
que, ao fazer a análise de 7 dias após a última sessão (oitava), 11 pacientes (61%)
apresentaram uma média de BSI igual a 0, enquanto 4 (22%) possuíam valores acima
de 20.
Em relação ao BSI equivalente às 8 sessões, observamos uma redução significativa nos
escores totais ao longo das sessões (F (8, 136) = 11,02; p < 0,0001) desde a primeira
dose (p<0,05), que se manteve até a última sessão (p<0,001). Além disso, os resultados

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eCICT 2023

confirmam um efeito sustentado da cetamina administrada por via subcutânea ao


longo de uma semana, já que a média de BSI 24 horas e 7 dias após cada sessão não
apresentou diferença significativa (F (8, 136) = 0,43; p = 0,89).
DISCUSSÃO
Os resultados analisados corroboram a eficácia, a curto e médio prazo, das 8 sessões
de infusões subcutâneas repetidas de cetamina na redução da ideação suicida dos
pacientes com DRT de forma rápida já nas 24 horas após a primeira sessão e
sustentado ao longo de 7 dias para cada uma das sessões. Uma resposta semelhante
foi observada em um estudo que demonstrou efeitos cumulativos na redução da
ideação suicida em pacientes submetidos a infusões repetidas de cetamina
intravenosa três vezes por semana com manutenção dos efeitos a partir de infusões
uma vez por semana (PHILLIPS et al. 2020). Porém, o nosso estudo fez uso da via
subcutânea e apenas 1 vez por semana, sendo mais viável para ser aplicado no
cotidiano e menos oneroso, mas, ainda assim, alcançando resultados promissores.
Nesse sentido, os dados adquiridos acrescentam novas informações sobre a ação
sustentada da cetamina subcutânea na redução da ideação suicida, especialmente pela
queda dos escores do BSI, de imediato e sustentado durante as 8 semanas.
Ao analisar os escores do BSI antes da sessão 1 e 24 horas após esta, já se pode
perceber que com apenas uma administração da cetamina subcutânea, os pacientes
apresentaram uma diminuição estatisticamente significativa nos valores médios basais.
Isso se mostra embasado por ideia de que a redução da ideação suicida depende em
grande parte da eficiência das ações agudas da cetamina mediadas pelo glutamato,
que incluem euforia transitória (Price et al. 2014), ou seja, experimentar euforia
temporária durante a infusão seria especificamente útil para reduzir o desejo de
morrer até 24 horas depois, o que pode ser visto pelos valores basais do BSI quando
comparados.
Ionescu et al, 2021, realizou um estudo com adultos com depressão maior e ideação
suicida ativa, comparando spray nasal de escetamina em relação ao placebo 2 vezes
por semana durante 4 semanas. A avaliação da gravidade dos sintomas depressivos e
do nível de ideação suicida era realizada antes, 4 e 24 horas após a primeira dose do
spray nasal, sendo observado, ao final, uma redução significativa do nível de
suicidabilidade dos pacientes. Ao contrapor esses dados com os resultados do nosso
estudo, é possível observar que as múltiplas administrações de cetamina subcutânea
também apresentam eficácia na redução da ideação suicida, entretanto, com a
vantagem dos custos reduzidos em relação à escetamina intranasal, além da
possibilidade de manter um benefício a médio prazo, o que, no estudo comparado,
assim como na grande maioria, só se observam análises a curto prazo.

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Um ponto importante de ser ressaltado em relação ao estudo é que os pacientes


continuaram com prescrições orais de antidepressivos que já faziam uso antes do
estudo, o que pode ser um fator de confusão, a exemplo do que foi mostrado no
ensaio clínico de Hu et al. (2015), em que a associação de infusão de cetamina a
inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) produziu menor tempo de
resposta em comparação ao grupo fazendo uso de ISRS associado a placebo,
resultando em pontuações mais baixas em escalas para avaliação da ideação suicida.
Esse contexto chama atenção para a possibilidade de se investir em estudos que
controlem o tipo de antidepressivo usado pelos pacientes submetidos à administração
da cetamina a fim de que associações medicamentosas que potencializam os efeitos
antidepressivos sejam analisadas.
O estudo em questão, sendo assim, permite ampliar conhecimentos já consolidados
acerca da eficácia a curto prazo da cetamina na redução da ideação suicida, cujas
evidências atuais apontam para uma diminuição marcada da ideação suicida às 2, 4 e
24 horas após tratamento com cetamina e escetamina (Xiong J et al, 2021). Isso
porque, os resultados avaliados a partir das múltiplas aplicações de cetamina
subcutânea corroboram com a noção de que há também uma resposta de médio prazo
nos pacientes no que se refere à redução da ideação suicida, especialmente explicitada
pela manutenção da queda dos valores de BSI 7 dias após cada sessão. Portanto, é de
elevada relevância a determinação de protocolos clínicos que usufruam desses efeitos
da cetamina, permitindo que os pacientes vivenciem com maior plenitude a redução
de sintomas depressivos e de ideação suicida.

Conclusão

Com base no que foi apresentado, pode-se constatar que os resultados analisados têm
muito a contribuir com estudos futuros, uma vez que permite validar o uso da
cetamina por uma via de administração com menor custo - subcutânea - e com eficácia
a médio prazo, emergindo como uma interessante possibilidade no tratamento de
pacientes com ideação suicida que requerem acompanhamento por períodos mais
longos - pelo menos 7 dias. Assim, essa estratégia pode ser utilizada de forma a
permitir a ampliação do acesso a um tratamento eficaz e menos oneroso para
pacientes com DRT, o qual pode contar com protocolos clínicos semanais - ao invés de
2 ou 3 vezes na semana - e a via de administração sendo subcutânea - já que o custo é
bem inferior ao das vias IN e IV.

Referências

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CÓDIGO: SB0346

AUTOR: RENALI CAMILO BEZERRA

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: Análise dos efeitos colaterais das terapias complementares sobre a


taxa de glicídios e lipídios em indivíduos com Depressão Maior

Resumo

Neste trabalho, discursa-se acerca do Projeto de Enfrentamento à Tristeza, estudo


clínico controlado longitudinal (Projeto de Enfrentamento à Tristeza), foi realizado na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal-RN, discentes e
funcionários da UFRN, de ambos os sexos, com idade entre 18 a 40 anos, com
depressão maior, que foram distribuídos em 3 grupos terapêuticos: voluntários
adeptos apenas do tratamento farmacológico (grupo Farmacológico), indivíduos que
aliaram o exercício físico com o fármaco (grupo Exercício) e participantes que
realizaram uma intervenção corpo-mente em conjunto com o uso do medicamento
antidepressivo (grupo Intervenção Corpo-Mente) – que foram pareados quanto ao
sexo, idade, renda e escolaridade.

Essa produção realizou uma análise das taxas glicêmicas e lipídicas dos voluntários
participantes desse estudo, no qual pacientes com depressão maior foram tratados
usando terapia farmacológica exclusiva e associada a práticas complementares;
exercício físico ou uma intervenção corpo-mente.

Houve uma redução significativa na glicemia de jejum do início para o final do


tratamento em todos os grupos, uma diminuição significativa dos triglicerídeos apenas
no grupo que aliou o exercício físico ao medicamento e um aumento significativo da
lipoproteína de baixa densidade (LDL) em todos os grupos.

Palavras-chave: Depressão Maior. Terapias Complementares. Biomarcadores.

TITLE: Analysis of side effects of complementary therapies on the rate of


glycides and lipids in individuals with Major Depression

Abstract

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In this paper, we discuss the Project for Coping with Sadness, a controlled
longitudinal clinical study (Project for Coping with Sadness), which was carried
out at the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN), Natal-RN, UFRN
students and employees, of both genders, aged between 18 and 40 years, with
major depression, who were divided into 3 therapeutic groups: volunteers who
adhered only to pharmacological treatment (Pharmacological group), individuals
who combined physical exercise with the drug (Exercise group) and participants
who underwent a mind-body intervention together with the use of
antidepressant medication (Mind-Body Intervention group) – who were matched
for sex, age, income and education.

This production carried out an analysis of the glycemic and lipid levels of the
volunteers participating in this study, in which patients with major depression
were treated using exclusive pharmacological therapy and associated with
complementary practices; physical exercise or a body-mind intervention.

There was a significant reduction in fasting glycemia from the beginning to the
end of treatment in all groups, a significant decrease in triglycerides only in the
group that combined physical exercise with medication, and a significant
increase in low-density lipoprotein (LDL) in all groups.

Keywords: Major Depression. Complementary Therapies. Biomarkers.

Introdução

Em consonância com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões


de pessoas sofrem, no mundo, com o Transtorno de Depressão Maior (DM), uma
prevalência, que supera os dados ligados ao álcool. Legitimando o caráter
significativamente incapacitante da DM, no estudo “O enfrentamento do transtorno
depressivo maior na perspectiva de pacientes”, o qual entrevistou um total de 25
adultos portadores da enfermidade, 76% dos entrevistados não possuíam um vínculo
empregatício. Ademais, os participantes relataram frequentemente anedonia, apatia,
redução da energia, dificuldade para tomar decisões e desesperança.
De acordo com o DSM 5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders)
pode diagnosticar-se uma depressão maior quando ocorrem ininterruptamente
durante pelo menos 2 semanas, 5 dos 9 seguintes sintomas: 1) humor depressivo: com
características como grande tristeza, isolamento, vazio interior (ou irritabilidade no
caso das crianças e adolescentes); 2) perda anormal de interesse e prazer (anedonia);
3) distúrbios do apetite com consequentes alterações de peso (aumento ou diminuição
significativos); 4) distúrbios no sono (insônia ou hipersônia);) distúrbios na atividade
motora (lentificação ou hipermotilidade); 6) fadiga anormal ou perda de energia; 7)

599
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eCICT 2023

culpa excessiva e inapropriada; 8) fraca concentração e grande indecisão; 9)


pensamentos mórbidos e suicidários. Sendo que, ao menos 1 desses sintomas precisa
ser o humor depressivo ou a anedonia.
O objetivo do tratamento antidepressivo é eliminar ou atenuar sintomas, recuperar
a capacidade funcional e social e evitar a recorrência. Nesse cenário, além das medidas
medicamentosas, que atuam nos mecanismos de bloqueio e recaptação de
neurotransmissores no cérebro, surge a terapia comportamental (TC), a qual também
pode ser combinada com o uso de fármacos. Quanto a essa modalidade de tratamento
– que pode incluir, a exemplo, o exercício físico, a meditação e a yoga – as
intervenções precisam ser flexíveis e individualizadas, baseadas, sobretudo, na
singularidade dos protagonistas das ações, o que foi previsto na proposta-base deste
documento (Esch et al., 2007; Hofmann et al., 2010; Marchand, 2012; Uebelacker &
Broughton, 2016; Vignaud et al., 2018; Wang et al., 2014).
Em meio aos sintomas incapacitantes, já descritos, ligados ao TDM, como a
desesperança e a falta de energia, os portadores de doença mental apresentam
comorbidades como: diabetes mellitus tipo II, obesidade, doenças cardiovasculares e
síndrome metabólica. Essas enfermidades possuem uma prevalência 40% maior nos
pacientes com DM, que na população em geral. Em adição a isso, de modo geral, os
antidepressivos tricíclicos, em especial os com maior ação noradrenérgica, e os
inibidores da monoaminoxidase tendem a aumentar os níveis glicêmicos e piorar o
controle metabólico dos pacientes (Araújo et al, 2013). Além disso, os antidepressivos
também interferem no metabolismo dos lipídios, através especialmente do aumento
do peso corporal (Occai, 2011).
Nessa perspectiva, quanto às práticas relativas à terapia complementar, além de
serem ferramentas de tratamento dos sintomas e das alterações fisiológicas
associadas à DM, podem, ainda, ser visualizados diversos benefícios na redução das
comorbidades físicas e dos efeitos colaterais induzidos pelos fármacos antidepressivos,
auxiliando na diminuição do peso e do risco cardiovascular e no ajuste glicêmico
(Schuch et al., 2016, Firth et al. 2019).
Logo, a análise da taxa glicêmica e lipídica de indivíduos protagonistas no cenário
das terapias complementares torna-se significativamente relevante, haja vista a
possibilidade de elaboração de uma base sólida com relação à utilização da terapia
complementar não exclusivamente no tratamento da DM, mas também na atenuação
do risco associado de comorbidades, ligado majoritariamente à glicemia exagerada e
ao excesso de lipídios circulantes nas pessoas portadoras dessa desordem mental.

Metodologia

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O estudo clínico controlado longitudinal base desta análise (Projeto de


Enfrentamento à Tristeza), foi realizado na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), Natal-RN, com indivíduos vinculados à UFRN, de ambos os sexos, com
idade entre 18 a 40 anos, com depressão maior, que foram distribuídos em 3 grupos
terapêuticos – voluntários adeptos apenas do tratamento farmacológico, indivíduos
que aliaram o exercício físico com o fármaco e participantes que realizaram uma
intervenção corpo-mente em conjunto com o uso do medicamento antidepressivo –
que devem ser pareados quanto ao sexo, idade, renda e escolaridade.
O recrutamento de participantes se deu por meio de divulgação em cartaz, boletim
eletrônico da UFRN, mídias sociais e, fórum dos cursos via SIGAA. Todos os voluntários
assinaram um termo de consentimento e livre esclarecimento (TCLE).
O início do processo de triagem ocorreu por meio de e-mail ou pelo aplicativo do
Programa de Enfrentamento à Tristeza. Nesse processo é aplicado o questionário de
saúde do paciente 2 (Patient Health Questionnaire 2: PHQ2) e são realizadas perguntas
que ajudarão no atendimento dos critérios de inclusão e exclusão. Uma vez atingindo a
pontuação de corte do PHQ2 e atendendo aos critérios de inclusão e exclusão do
estudo, os possíveis voluntários são direcionados para o agendamento, ainda no
aplicativo, de uma consulta médica com a equipe de psiquiatria do estudo.
O diagnóstico da DM foi realizado utilizando as escalas psicométricas a seguir, com
base em resolução específica para diagnóstico de condições mentais (CFP 1996): 1)
Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-5 (SCID); 2) Escala de avaliação para
depressão de Montgomery e Asberg (MADRS), com pontuação mínima de 7 pontos
(Montgomery e Asberg 1979). Além disso, durante a consulta, é aplicado um
questionário sociodemográfico (QSD) e o questionário de prontidão para a atividade
física (PAR-Q).
Após a triagem por meio do aplicativo do Programa de Enfrentamento à Tristeza, da
consulta com o psiquiatra e da inclusão no estudo, os pacientes tornam-se conduzidos
individualmente para a realização da coleta de dados basais, que se dá de modo
presencial no campus central da UFRN. Em seguida, eles são aleatoriamente
distribuídos nos 3 grupos de tratamentos. Logo após, será iniciado o tratamento que
terá duração de 12 semanas.
O medicamento antidepressivo é iniciado logo após a coleta basal. O fármaco
escolhido foi o oxalato de escitalopram, o qual age na inibição seletiva da recaptação
da serotonina, sendo indicado para tratamento antidepressivo.
Assim, o grupo Farmacológico utiliza apenas a droga como terapia durante as 12
semanas do estudo, sem outras intervenções, enquanto o grupo Exercício e
Intervenção Corpo-Mente fazem uso do oxalato de escitalopram em conjunto com a
terapia complementar. Esta se dá majoritariamente de forma virtual, através de aulas
síncronas semanais, via Google Meet, aliadas com atividades assíncronas, ligadas ao
compartilhamento de um vídeo ou áudio — o que contabiliza 2 horas por semana.

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eCICT 2023

Na 13ª semana do tratamento (após o término do tratamento), além da consulta


guiada pelo médico psiquiatra, os pacientes são conduzidos individualmente para a
realização de novas coletas de dados presenciais, similar à coleta basal.
A coleta de sangue é realizada por técnicos aptos à realização do procedimento,
utilizando material perfurante descartável (agulha e seringa). São coletados 30 ml de
sangue em cada uma das coletas. As coletas são realizadas no Laboratório de Medidas
Hormonais, do Departamento de Fisiologia & Comportamento, Centro de Biociências
da UFRN. Na ocasião da coleta os voluntários apresentaram no mínimo um período de
8 horas de jejum e 30 minutos de descanso. O sangue coletado é processado no
Laboratório de Medidas Hormonais, Departamento de Fisiologia & Comportamento,
do Centro de Biociências da UFRN. Esse mesmo laboratório realiza os exames de
glicemia em jejum e o perfil lipídico.
Todas as amostras são dosadas em duplicatas e com cegamento do voluntário e
grupo do estudo. As amostras de plasma são preparadas por meio de extração líquido-
líquido (LLE) em microescala, utilizando os solventes; clorofórmio, metanol e água,
com base no método de Bligh & Dyer (1959). Nesse tipo de extração, após a mistura da
amostra com os solventes e centrifugação (10 min, 10000 g, 4 ºC), obtém-se um
sistema de três fases: uma fase aquosa, contendo metabólitos mais polares, uma fase
intermediária, onde são separadas as proteínas, e uma fase orgânica, na qual os
lipídeos são extraídos da amostra. O teste enzimático colorimétrico foi utilizado para a
medição da glicose e dos triglicerídeos e a Fórmula de Friedewald foi usada para
calcular a fração LDL.
Para a análise dos dados foi aplicado estatística multivariada. Foi utilizado para
investigação das alterações da coleta basal (B) para a última coleta, na 13ª semana
(S12), o programa JASP, do qual foram extraídos a diferença média (dm) entre os dois
valores e o valor p para demonstrar se a diferença encontrada é significativa ou não.
Um p ≤ 0,05, ou seja, uma probabilidade menor ou igual a 5%, indica que há diferença
significativa entre os grupos. Um valor de p > 0,05, ou seja, probabilidade maior que
5%, indica que não há diferença significativa entre os grupos. Ademais, para casos em
que não houve diferença significativa ao trabalhar com os valores absolutos, utilizou-se
o logaritmo para verificar se há alguma mudança significativa — caso remetente aos
triglicerídeos.
Desse modo, serão analisados os seguintes grupos: Farmacológico (F), Exercício em
conjunto com o fármaco (E + F) e Intervenção Corpo-Mente em conjunto com fármaco
(CM + F).

Resultados e Discussões

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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Os resultados apresentados referem-se à glicemia de jejum (GJ), aos triglicerídeos


(TG) e à lipoproteína de baixa densidade (LDL) dos pacientes do grupo Farmacológico,
o qual faz apenas uso do medicamento antidepressivo, do grupo Exercício, que realiza
atividade física, além do uso do medicamento antidepressivo, e do grupo de
Intervenção Corpo-Mente, o qual inclui yoga e meditação, em conjunto com o
medicamento antidepressivo. Esses resultados relacionam-se aos dois momentos em
que se dá a coleta de sangue — no início (coleta basal) e na 13ª semana de
tratamento.
Quando é feita uma análise global dos três grupos apresentados em conjunto, é
observada uma diminuição significativa na GJ (dm = 16,232; p = 6,976.10-8) e nos TG,
mas apenas quando analisados de forma logarítmica, (dm = 0,101; p = 0,005) e um
aumento significativo no LDL (dm = -24,003; p = 5,108.10-4).
Em primeiro plano, quanto ao grupo Farmacológico (N = 8). Houve uma diminuição
significativa na GJ (p = 9,661.10-4; dm = 15,125). Ademais, no que se refere ao grupo
Exercício foram analisadas GJ de pacientes que faziam uso do medicamento
antidepressivo em conjunto com a atividade física (N = 7). Do primeiro para o último
momento de análise, foi observado um decréscimo relevante (p = 0,004; dm = 14,429).
Em adição, quanto ao grupo da Intervenção Corpo-Mente, adeptos desta intervenção
em conjunto com o fármaco antidepressivo, este também teve suas GJ documentadas
(N = 7). Observou-se uma redução relevante desse biomarcador (dm = 19,143; p =
0,003).
Com relação aos participantes do grupo Farmacológico, foram analisados também os
TG dos pacientes (N = 13). Ocorreu uma discreta diminuição, não significativa (p =
0,936; dm = 1,231). Já no que se refere aos resultados dos participantes do grupo
Exercício, os quais se encontravam fazendo uso também do fármaco antidepressivo (N
= 16), foi vista uma redução de caráter significativo nos TG dos pacientes (p de
6,765.10-4; dm = 30,312). Sobre os voluntários da Intervenção Corpo-Mente, os
participantes que tiveram seus TG analisados (N = 12) se encontravam, como os
outros, aliando a medicação, tendo, ao fim, uma elevação não significativa (p = 0,712;
dm = -6,083).
Seguindo no âmbito dos lipídeos, tornou-se possível analisar a LDL (N = 8) dos
pacientes da porção farmacológica, tendo havido um crescimento significativo (p =
0,045; dm = -25,287). Já quanto à LDL no grupo Exercício (N = 6), houve um aumento
significativo, ao longo das 12 semanas (dm = -23,778; p = 7,422.10-4). Quando se migra
para a LDL dos participantes da Intervenção Corpo-Mente (N = 11), com o
medicamento antidepressivo como adjuvante, como visto nos outros grupos, ocorreu
um aumento significativo (p = 0,05; dm = -22,945).
É possível observar o mesmo comportamento na GJ em todos os grupos: uma
redução significativa na GJ do início para o final do tratamento, com uma significância

603
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maior no grupo Exercício, seguido pelo grupo da Intervenção Corpo-Mente e, por fim,
pelo Farmacológico.
Quanto a isso, torna-se cabível destacar que a decadência do cortisol, hormônio que
tende a elevar a glicemia, com a melhora do quadro da DM, ao longo das 12 semanas
de tratamento, repercutiu na diminuição em todos os grupos da glicose sérica. Isso
aparece reforçado pelo papel do cortisol na sintomatologia da DM, que, pela disfunção
do eixo HPA, torna-se desproporcionalmente elevado em momentos de estresse
(Nandam, et al). Assim, um tratamento efetivo do quadro depressivo tende a baixar o
nível sérico desse hormônio e consequentemente decorrer em uma menor glicemia de
jejum (Hucklebridge et al).
Destaca-se que os pacientes fizeram uso do oxalato de escitalopram, um
medicamento que age na inibição seletiva da recaptação de serotonina, sendo
classificado como ISRS, classe de fármacos que tem sido associada, em alguns
trabalhos, com redução dos níveis de glicemia (Weber-Hamann, et al). Estudos com
utilização de fluoxetina já haviam sido ligados à redução da GJ e da hemoglobina
glicada (Fráguas et al., 2009), com base na hipótese de que haja uma maior
sensibilização periférica à insulina, havendo uma consequente maior eficácia na ação
desse hormônio anabólico, havendo diminuição na glicose sérica. No entanto, os
efeitos do fármaco antidepressivo no metabolismo da glicose ainda são conflitantes,
com outros estudos demonstrando pouca ou nenhuma alteração nos níveis glicídicos
(Eker, et al).
Ademais, como registrado na Literatura (Groot et al., 2019), o exercício físico atua
como agonista do tratamento farmacológico, agindo estimulando a absorção de
glicose pelo tecido muscular, demonstrando a importância de associar métodos
adjuvantes e não apenas o método usual medicamentoso, demonstrando a relevância
do exercício físico no tratamento de pessoas com DM no que diz respeito a
comorbidades como diabetes mellitus e obesidade (Groot et al., 2019). Destaca-se,
ainda, que, em comparação com os indivíduos que realizaram apenas o tratamento
farmacológico, esperava-se uma diferença mais relevante no grupo que associou a
atividade física (Groot et al., 2019), o que pode não ter sido observado pela reduzida
amostragem de pacientes analisados.
Em acréscimo, como evidenciado em um estudo realizado pela Universidade do Sul
da Califórnia (Sanogo et al., 2022) com pacientes diabéticos, tanto a yoga quanto a
meditação podem reduzir a glicose no sangue isoladamente, o que, como ocorreu,
pode ser potencializado pelo ISRS. Desse modo, convém também cogitar o uso da
intervenção corpo-mente no contexto da DM.
Já quando há o debruçamento sobre os lipídios, houve uma diferença entre os
grupos, de modo que se torna possível ver uma redução significativa dos TG apenas no
grupo Exercício, com variações não significativas nos outros grupos.

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eCICT 2023

No que se refere ao grupo Farmacológico, os dados disponíveis na Literatura


revelam uma heterogeneidade do impacto dos ISRS no perfil lipídico. Acerca disso,
semelhante ao presente estudo, o trabalho de Eker et al, o qual incluiu pacientes que
receberam tratamento antidepressivo (sertralina, escitalopram, fluoxetina e
venlafaxina) durante 8 semanas, não observou diferenças significativas nos níveis de
triglicerídeos. Em contraste, há um decréscimo significativo nos TG no grupo que usou
o oxalato de escitalopram em conjunto com a prática de atividade física. Houve uma
magnitude maior na diminuição dos TG nesta última parcela em comparação com o
grupo Farmacológico, o que foi imensamente protagonizado pelo exercício. Mesmo a
atividade física, unicamente, é capaz de reduzir os TG, algo observado no Programa
ACTIVE II (Groot et al., 2019).
Finalmente, os resultados não significativos no impacto dos TG no grupo
Intervenção Corpo-Mente são contrastantes com dados atuais da Literatura (Donelli et
al., 2019), os quais demonstram um impacto positivo tanto da yoga quanto da
meditação sobre o perfil lipídico dos indivíduos, o que pode novamente não ter sido
observado em razão da amostra limitada. Porém, esse resultado reforça a
superioridade do exercício físico com relação ao impacto sobre os lipídios, quando
comparado com as técnicas corpo-mente, mais interligadas ao controle da respiração e
direcionamento da atenção.
Por último, não se notou uma diferença entre os grupos do estudo na fração LDL: foi
visto um aumento significativo do momento inicial para o último. No que se refere ao
grupo Farmacológico, essa lipoproteína, juntamente com o colesterol total, já havia
sofrido uma ascendência no estudo de Eker et al, dado que enfatiza a repercussão
negativa dos medicamentos antidepressivos sobre o colesterol e as frações. Já quando
se pensa nos grupos Exercício e Intervenção Corpo-Mente, os estudos anteriores
supracitados revelaram o contrário do padrão observado: havia, na verdade, uma
diminuição no nível dessa lipoproteína e não um aumento. Dessa forma, pode-se
sugerir a relevância de outras variáveis, como o estilo de vida, incluindo a alimentação
no resultado final, além da limitada amostragem.

Conclusão

Diante do quadro exposto, tornou-se possível averiguar concordâncias com a


Literatura atual, assim como discordâncias, no que se refere aos resultados trazidos no
trabalho em questão. Primeiramente, pode-se extrair do trabalho que há uma redução
significativa nos níveis de glicose no sangue em diferentes tipos de tratamento, incluso
o uso do tratamento usual (apenas tratamento farmacológico) e das terapias
complementares. Entretanto, a hemoglobina glicada, em estudos futuros, pode ser um
marcador mais fiel do comportamento da glicose nesses pacientes, já que a glicemia

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de jejum é mais vulnerável a variáveis como ingestão de cafeína e álcool. Ademais, no


que se refere ao perfil lipídico, foi possível visualizar um impacto positivo no grupo
Exercício, confirmando a hipótese vigente na Literatura atual que atesta a importância
da prática de atividade física no metabolismo dos lipídios, causando, enfim, a
diminuição de marcadores lipídicos, como os TG (Crisitini et al., 2012). No que se
refere ao grupo da Intervenção Corpo-Mente, a não significância sobre os TG, sugere a
influência de variáveis como a alimentação e o estilo de vida e, ainda, confirma a tese
de que o exercício físico mostra-se superior no impacto sobre os lipídios. Já quanto ao
uso apenas do oxalato de escitalopram, não era esperada uma diminuição nos TG, mas
são necessários mais estudos sobre isso. Por fim, a fração LDL, representante do
colesterol nesta análise, sofreu um acréscimo em todos os grupos, o que destoa dos
dados disponíveis atualmente, havendo a necessidade de se realizar mais estudos, com
uma amostra maior de indivíduos.
Desse modo, ao final deste trabalho, é possível visualizar o benefício que terapias
complementares (analisados em conjunto com o tratamento usual, farmacológico)
podem oferecer aos indivíduos portadores da DM na prevenção e no tratamento de
comorbidades como diabetes mellitus, obesidade e doenças cardiovasculares, para
além do auxílio na melhora do quadro da própria doença. Assim, torna-se cabível
visualizar esse eixo como próspero para estudos futuros, de modo a individualizar o
caso de cada paciente, de modo a disponibilizar um tratamento integrado e otimizado.

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Anexos

Figura 1 - Comportamento da GJ no grupo Farmacológico ao longo do estudo. Fonte:


Programa Estatístico JASP.

Figura 2 - Comportamento dos TG no grupo Farmacológico ao longo do estudo. Fonte:


Programa Estatístico JASP.

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Figura 3 - Comportamento da LDL no grupo Farmacológico ao longo do estudo. Fonte:


Programa Estatístico JASP.

Figura 4 - Comportamento da GJ no grupo Exercício ao longo do estudo. Fonte:


Programa Estatístico JASP.

Figura 5 - Comportamento dos TG no grupo Exercício ao longo do estudo. Fonte:


Programa Estatístico JASP.

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Figura 6 - Comportamento da LDL no grupo Exercício ao longo do estudo. Fonte:


Programa Estatístico JASP.

Figura 7 - Comportamento da GJ no grupo Intervenção Corpo-Mente ao longo do


estudo. Fonte: Programa Estatístico JASP.

Figura 8 - Comportamento dos TG no grupo Intervenção Corpo-Mente ao longo do


estudo. Fonte: Programa Estatístico JASP.

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Figura 9 - Comportamento da LDL no grupo Intervenção Corpo-Mente ao longo do


estudo. Fonte: Programa Estatístico JASP.

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CÓDIGO: SB0351

AUTOR: NATAN PEREIRA DE MEDEIROS ALBERTO

ORIENTADOR: RENATA SWANY SOARES DO NASCIMENTO

TÍTULO: Perfil epidemiológico de distúrbios congênitos em neonatos no Estado


do Rio Grande do Norte

Resumo

Os Distúrbios Congênitos (DCs) ou anomalias congênitas (ACs), são defeitos do


desenvolvimento presentes ao nascimento que podem causar prejuízo à função do
órgão ou sistema atingido. Estes distúrbios podem ser causados por fatores genéticos,
ambientais, ou mais frequentemente pela combinação destes, na chamada herança
multifatorial. Com o intuito de averiguar o cenário atual de distúrbios congênitos no
território potiguar, esse trabalho teve como objetivo conhecer os distúrbios
congênitos presentes em recém-nascidos do Rio Grande do Norte nos últimos 20 anos.
Os dados foram coletados do banco de dados do DATASUS: SIHSUS, SINASC e
estatísticas vitais do TABNET de recém-nascidos diagnosticados com algum tipo de
máformação congênita (MC) nos últimos 20 anos. De 2011 a 2021 nasceu um total de
509.789 crianças no RN, dentre essas 3.889 crianças apresentaram alguma AC ao
nascimento. 20.512 crianças tiveram o parâmetro ignorado na Declaração de Nascido
Vivo (DNV). Os tipos de MCs mais frequentes foram: MCs e DCs do aparelho
osteomuscular (930) e MCs do sistema nervoso (SN). 2015 foi o ano com mais
nascimentos de crianças com MCs. Tanto a incidência quanto a prevalência
aumentaram com os anos. Natal, Parnamirim e Mossoró foram os municípios com
maiores números de crianças com MCs. MCs do sistema cardiovascular e do SN foram
as mais letais. ACs são um problema de saúde pública bastante recorrente portanto,
são imprescindíveis pesquisas para conhecer possíveis causas e intervenções.

Palavras-chave: distúrbios congênitos, rio grande do norte, epidemiologia

TITLE: Epidemiological Profile of Congenital Disorders in Neonates in the State


of Rio Grande do Norte

Abstract

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Congenital Disorders (CDs) or congenital anomalies (CAs) are developmental defects


present at birth that can impair the function of the affected organ or system. These
disorders can be caused by genetic, environmental factors, or more commonly by a
combination of these factors, known as multifactorial inheritance. In order to
investigate the current scenario of congenital disorders in the state of Rio Grande do
Norte, this study aimed to identify congenital disorders present in newborns from the
last 20 years. The data were collected from the DATASUS database: SIHSUS, SINASC,
and vital statistics from TABNET of newborns diagnosed with some type of congenital
malformation (CM) in the last 20 years. From 2011 to 2021, a total of 509,789 children
were born in RN, among them, 3,889 children had some type of CA at birth. 20,512
children had the parameter ignored in the Declaration of Live Birth (DNV). The most
frequent types of CMs were musculoskeletal system CMs (930) and nervous system
CMs (NS). The year 2015 had the highest number of children born with CMs. Both the
incidence and prevalence increased over the years. Natal, Parnamirim, and Mossoró
were the cities with the highest numbers of children with CMs. CMs of the
cardiovascular system and NS were the most lethal. CAs are a recurrent public health
problem; therefore, research is essential to understand possible causes and
interventions

Keywords: congenital disorders, rio grande do norte, epidemiology

Introdução

Os Distúrbios Congênitos (DCs) ou anomalias congênitas (ACs), são defeitos do


desenvolvimento presentes ao nascimento que podem causar prejuízo à função do
órgão ou sistema atingido. Estes distúrbios podem ser causados por fatores genéticos,
ambientais, ou mais frequentemente pela combinação destes, na chamada herança
multifatorial (Kalter, 2003; Moore et al., 2016, Carlson, 2014). Os distúrbios congênitos
representam a segunda causa mais frequente de morte neonatal, depois da
prematuridade. A maioria dos óbitos ocorre no primeiro mês de vida, podendo
estender-se até os primeiros 12 meses (Amorim et al., 2006). Sabe-se que em
determinados estágios do desenvolvimento os embriões são mais vulneráveis a
perturbações, sendo o período crítico principalmente até a 8ª semana de gestação, a
qual caracteriza o término do período embrionário e início do período fetal (Moore et
al., 2013). Qualquer substância que produza dano ao embrião ou feto durante a
gravidez é chamada teratógeno. Estes danos ocorrem porque, além de nutrientes,
diversas substâncias nocivas conseguem cruzar a membrana placentária, tais como
vírus, medicamentos e outras drogas diversas que venham a ser utilizadas pela
gestante, incluindo drogas abortivas, causando assim variados graus de distúrbios
congênitos (Moreira et al., 2001; Kalter, 2003; Moore et al., 2016). Em se tratando de
anormalidades cromossômicas, estas são responsáveis pelas formas mais graves de

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eCICT 2023

máformação e representam 50 a 60% dos casos de embriões precocemente abortados


(Moore et al., 2016). Levantamentos prévios apontaram que dentre os distúrbios mais
freqüentes prevalecem aqueles associados aos sistemas nervoso, cardiovascular,
aparelhos osteomusculares, digestório e genito-urinário, seguidas por máformações
múltiplas, como fendas lábio-palatinas e síndromes causadas por anomalias
cromossômicas (Amorim et al., 2006; Costa et al., 2006; Ramos et al., 2009; Polita et
al., 2013). Mundialmente, estima-se que a prevalência de defeitos congênitos se
encontre entre 3% e 5% dos nascidos vivos, sendo que destes, 1% a 2% são
considerados defeitos graves. Estudos nacionais estimam sua frequência entre 1,7 e
5% (Moreira et al., 2001; Costa et al., 2006; Ramos et al., 2009). Assim, para um maior
conhecimento da incidência desses distúrbios e de possíveis fatores de risco é
necessário que seja feito um mapeamento de sua ocorrência. A cidade de Natal e
outros municípios ainda apresentam apresentam carência deste tipo de estudo, o qual
será de grande relevância para a obtenção deste diagnóstico e, a partir dos dados
obtidos, a possibilidade de planejamento de ações de divulgação científica para que a
população em geral conheça suas causas e consequênciias. Quanto aos benefícios para
os estudantes de graduação envolvidos, especialmente das áreas de saúde e
biológicas, além da vivência da atividade científica destaca-se a aquisição de
conhecimentos sobre eventuais fatores de risco que permitam buscar alternativas para
a prevenção de máformações ou mesmo se apropriando de conhecimento para dirimir
as dúvidas dos familiares promovendo, assim, um acompanhamento adequado que
proporcione a melhoria da qualidade de vida dessas crianças.

Metodologia

Será realizado um estudo descritivo observacional e transversal (Hochman et al.,


2005), à partir da análise dos dados cadastrados no DATASUS, SIHSUS, SINASC e
estatísticas vitais do TABNET de recém-nascidos diagnosticados com algum tipo de
máformação congênita (MC) nos últimos 20 anos.Também poderão ser utilizados
Boletins Epidemiológicos estaduais e municipais. A fim de se estabelecer a ocorrência
de MCs, será calculada a proporção entre o número de recém-nascidos normais e o
número de recém-nascidos com MC. Para o cálculo da Incidência serão utilizados os
dados de novos casos em relação à população em risco; e para a prevalência tem-se o
número de casos existentes em relação à população em risco no momento avaliado.
Quanto aos fatores de inclusão no estudo, tem-se os recém-nascidos, vivos ou mortos,
com idade gestacional a partir de 22 semanas e/ou peso fetal maior ou igual que 300
g. A partir dos casos diagnosticados com MC será feito levantamento de dados
observando os seguintes itens: Tipo de máformação; Evolução neonatal (alta ou óbito);
Identificação do recém-nascido (sexo, etnia, idade em meses); Perfil socioeconômico

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materno (etnia, idade, escolaridade, renda mensal média) e local de residência;


Presença ou ausência de fatores de risco maternos (consumo de drogas, número de
gestações, doença viral, bacteriana ou parasitária materna, histórico de máformações
congênitas em gestações anteriores, realização do pré-natal).

Resultados e Discussões

De 2011 a 2021 nasceu um total de 509.789 crianças no RN, dentre essas 3.889
crianças apresentaram alguma AC ao nascimento. 20.512 crianças tiveram o
parâmetro ignorado na Declaração de Nascido Vivo (DNV). Os tipos de ACs
identificadas ao nascimento de crianças nascidas foram: espinha bífida (123), outras
malformações congênitas do sistema nervoso (493), malformações congênitas do
aparelho circulatório (153), fenda labial e fenda palatina (287), ausência, atresia e
estenose do intestino delgado (4), outras malformações congênitas aparelho digestivo
(198), testículo não-descido (23), outras malformações do aparelho geniturinário
(322), Deformidades congênitas do quadril (12), Deformidades congênitas dos pés
(598), malformações e deformações congênitas do aparelho osteomuscular (930),
outras malformações congênitas (516), anomalias cromossômicas não classificados em
outra parte (219), Hemangioma e linfangioma (11). Os anos que apresentaram os
maiores índices de crianças nascidas vivas com DCs foram os anos de 2015 e 2016 (Fig.
1). Foi escolhido evidenciar todos os municípios do RN por residência da mãe que
apresentaram número de crianças com ACs superior a 40, sendo estes: Açu (42), Caicó
(61), Canguaretama (52), Ceará-Mirim (99), Currais Novos (66), Parnamirim (365),
Goianinha (51), Macaíba (73), Mossoró (232), Natal (1.069), Parelhas (43), Ruy Barbosa
(62), São Gonçado do Amarante (92) e São José do Mipibu (103). Referente a
mortalidade, de 2011 a 2021 houve um total de 2.435 óbitos, onde a maioria destes foi
de crianças nascidas com malformações congênitas do sistema circulatório. Do número
total de crianças nascidas vivas no RN (509.789), 0,7% dos nascimentos foram de
crianças com ACs, um número relativamente baixo, porém, em 4% dos nascimentos
não foram relatadas a presença ou não de ACs. Subentende- se que nessas crianças
com parâmetro ignorado as ACs estiveram ausentes, por isso a falta de cuidado ao
responder essa questão. Em um estudo realizado em uma maternidade de Ribeirão
Preto 0,27% das DNVs tiveram o parâmetro ignorado (Righeto et al, 2008). Já em
Alagoas esse valor foi de 5,8% chamando atenção para uma possibilidade de
subnotificação (Malta, 2021). É importante que esse parâmetro seja devidamente
preenchido para que tenhamos a certeza do número de casos notificados de crianças
com ACs. Referente aos tipos de ACs mais frequentes, as principais foram
malformações e deformações congênitas do aparelho osteomuscular (930
nascimentos), MCs do pé (598), outras MCs (516) e MCs do sistema nervoso (493).

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Dentre as malformações congênitas do aparelho osteomuscular temos: malformações


do quadril, deformidades do pé, polidactilia, sindactilia entre outros. Das MCs do pé
temos: metatarso aduto, pé torto congênito, calcaneovalgo entre outros. Sobre as
outras malformações congênitas estão inclusas: ictiose congênita, epidermólise
bolhosa, outras MCs da pele, MCs da mama entre outras. E das MCs do sistema
nervoso destacamos: anencefalia, microcefalia, hidrocefalia, encefalocele entre outros.
É importante destacar essas condições pois os tipos de ACs evidenciadas pelos
sistemas do DATASUS foram evidenciadas na forma de grupos de ACs da CID 10. Dessa
forma, não está evidente quais as ACs exatas das crianças nascidas no RN, assim, faz-se
necessária uma pesquisa futura a fim de procurar os tipos de ACs dessas crianças. 2015
e 2016 foram os anos que houve o surto de ZIKA vírus. Filhos de gestantes que
contraíram a doença apresentaram várias ACs do sistema nervoso ao nascimento,
especialmente microcefalia e anencefalia. Microcefalia é uma condição em que o
encéfalo do indivíduo não se desenvolve propriamente, indo até 1/3 do seu
crescimento total, contudo, o indivíduo ainda pode sobreviver. Anencefalia é a
ausência do encéfalo e estruturas craniais, sendo uma condição mais severa e
incompatível com a vida. Tanto a incidência como a prevalência das ACs apresentaram
um aumento gradual com os anos (quadro 1). Isso indica que os nascimentos de
crianças com ACs são uma questão de saúde que não vem diminuindo ao longo dos
anos, pelo contrário. Grande parte das ACs que foram observadas no RN possuem
causa multifatorial, desse modo, fatores genéticos (como mutações e até
predisposição genética caso os pais tenham ou tiveram a mesma condição dos seus
filhos) ambientais (radiação, consumo de agrotóxicos) e até mesma uma dieta pobre
em nutrientes essenciais para o desenvolvimento ideal do embrião estão envolvidas no
aparecimento de determinadas anomalias congênitas. É interessante pensar em
formas de terapia para essas crianças. Uma dessas formas é a tecnologia de CRISPR-
Cas9, um mecanismo de edição gênica que tem um potencial de ajudar crianças com
uma anomalia detectada no pré-natal e (dependendo da anomalia) possivelmente
após o nascimento também. Ainda, algumas doenças que a mãe contrair durante a
gravidez podem levar ao aparecimento de anomalias. Grande parte dos municípios
evidenciados aqui fazem parte do sistema costeiro-marinho do IBGE e fazem parte dos
biomas da caatinga e mata atlântica. Dessa forma, a maresia, o calor e exposição a
Raios UV podem ser fatores ambientais importantes para a aparição das ACs. O RN é
um Estado que contribui para a produção agrícola do país, produzindo principalmente
cana-de-açúcar, melão, algodão entre outros. Nas plantações são usados agrotóxicos
para controle de insetos, larvas, fungos etc. Existem vários trabalhos no Brasil e fora do
país que atribuem o aparecimento de ACs com a exposição a agrotóxicos (Valdés et al,
2017; Leite, 2009; Sousa, 2022). A maioria das crianças que vieram a óbito (quadro 2)
sofriam de anomalias congênitas do sistema circulatório (112 óbitos), podemos
destacar MCs das câmaras e comunicações cardíacas, MCs dos septos cardíacos, MCs

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das valvas entre outros. O sistema cardiovascular é essencial para fornecer oxigênio e
nutrientes aos tecidos do corpo, garantindo seu funcionamento adequado, dessa
forma, malformações congênitas graves desse sistema sem o devido tratamento (por
vezes cirúrgico) compromete sua função e a sobrevivência do indivíduo afetado. O 2º
sistema mais afetado foi o sistema nervoso (42), este desempenha um papel
fundamental no funcionamento do corpo, incluindo o controle de funções vitais, como
respiração, batimentos cardíacos e resposta a estímulos. Dos dados coletados, não foi
possível obter informações específicas sobre as ACs das crianças nascidas no RN, nem
informações socioeconômicas tanto das crianças como de suas mães, assim, não foi
feita uma análise estatística entre as varíaveis socioeconômicas e maternas e o
aparecimento das ACs.

Conclusão

Fica evidente que ACs são um problema de saúde pública bastante recorrente que com
o tempo vêm acontecendo mais frequentemente, portanto, é imprescindível pesquisas
nessa área para conhecer possíveis causas, e possíveis intervenções. Cabe uma nova
coleta de dados para verificar o perfil das crianças afetadas do RN e realizar um teste
paramétrico para verificar se existe uma correlação entre as variáveis
socioeconômicas, maternas e individuais da criança e a ocorrência das ACs.

Referências

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eCICT 2023

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relação com a mortalidade fetal e infantil em Alagoas. Gep News, v. 5, n. 1, p. 55-57,
2021. Righetto, A.L.C et al. Anomalias congênitas: validade das informações das
declarações de nascido vivo em uma maternidade de Ribeirão Preto, São Paulo. São
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2017. Sousa, V.P. Exposição a agrotóxicos e anomalias congênitas. Editora Científica.
Universidade Federal do Espírito Santo. 2022.

Anexos

Fig. 1: Número total de crianças nascidas vivas com ACs no RN de 2011 a 2021. Fonte:
SINASC - DATASUS

Quadro 1: Incidência e prevalência das ACs a cada 10.000 nascidos vivos No RN.

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Quadro 2: Número de crianças falecidas a cada ano por tipo de sistema orgânico
afetado. Fonte: SIM - DATASUS

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CÓDIGO: SB0361

AUTOR: MARIA EDUARDA LACERDA CAVALCANTI DENES

COAUTOR: NATAN PEREIRA DE MEDEIROS ALBERTO

COAUTOR: HELOISA CRISTINA CARVALHO DOS SANTOS

ORIENTADOR: RENATA SWANY SOARES DO NASCIMENTO

TÍTULO: O MCM como espaço de ensino-aprendizagem de Morfologia


Humana

Resumo

Esta pesquisa buscou caracterizar o MCM como espaço de ensino-aprendizagem de


morfologia humana, de forma exploratória quantitativa, através da aplicação de
questionário, após a visitação de turmas de diferentes níveis, (sendo o técnico-
profissionalizante o grupo mais representativo), além de elucidar o público e a
atividade deste nos espaços físicos e virtuais do museu. As perguntas abordaram a
opinião dos visitantes sobre a apresentação das peças, curiosidades e dificuldades
conceituais, além da satisfação com a mediação e a visita. Os resultados apontaram
um público presencial integralmente potiguar, principalmente da capital e região
metropolitana, e que, majoritariamente, não conhecia o ambiente antes da visitação
escolar e consideraram, em maioria, a visita muito satisfatória, sendo a exposição de
anatomia a preferida entre as demais, cativando contentamento com a qualidade e
visualização das peças. Os conteúdos referentes aos sistemas (s.) cardiovascular e
nervoso foram considerados os mais difíceis de serem aprendidos em sala de aula e
estudos extra-classe e, apesar do aparelho circulatório, na exposição, chamar grande
atenção dos visitantes, a embriologia e o s. respiratório se destacaram mais. Assim, o
MCM se configurou como um espaço importante de visitação escolar, onde dúvidas
acerca da morfologia humana são respondidas e informações sobre saúde e doença
são repassadas de forma interessante e satisfatória, contribuindo substancialmente
para o processo educativo.

Palavras-chave: Museus. Educação não-formal. Ensino-aprendizagem.


Morfologia humana.

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TITLE: The MCM like a human morphology educative space

Abstract

This research characterize the MCM as a human morphology educative space, in a


quantitative exploratory way, through a questionnaire application, after visiting groups
of different levels, in addition to elucidate the public and their activity in the museum
physical and virtual places. The questions addressed the public opinion on the
presentation of the pieces, curiosities and conceptual difficulties, as well as satisfaction
with the mediation and the visit. The results pointed to a fully face-to-face public from
Rio Grande do Norte, mainly from the capital and metropolitan region, and who, for
the most part, did not know the environment before the school/university visit and
considered, in the majority, the visit very satisfactory, with the anatomy exhibition
being the favorite one among the others, captivating contentment with the pieces
quality and visibility. The cardiovascular and nervous systems (s.) were considered the
most difficult to be learned in the classroom and extra-class studies and, even though
the circulatory system attracting great attention from public, in the exhibition,
embryology and the respiratory s. had more contrast. Thus, the MCM was configured
as an important space for school visitation, where questions about human morphology
are answered and information about health and disease is passed on in an interesting
and satisfactory way, contributing substantially to the educational process.

Keywords: Museums. Non-formal education. Teaching-learning. Human


morphology.

Introdução

O Museu de Ciências Morfológicas (MCM) da Universidade Federal do Rio Grande do


Norte (UFRN) enquanto museu de ciências, demonstra o caráter de espaço não-formal
de ensino, uma vez que conta com exposições que tratam da morfologia de animais
marinhos e terrestres e dos seres humanos, bem como a relaciona com biodiversidade,
relações ecológicas e preservação destes, propiciando autonomia e flexibilização do
aprendizado. Atrelado a isso, a exposição de Anatomia Humana, por sua vez,
aprofunda o autoconhecimento acerca da morfofisiologia humana, bem como noções
de manutenção da saúde e prevenção de doenças. Diante disso, o projeto O MCM
como espaço de ensino-aprendizagem de Morfologia Humana teve como objetivo
analisar a opinião de turmas visitantes ao museu acerca da exposição de Anatomia
Humana, elencando suas dificuldades acerca do conteúdo e em que aspéctos o

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instrumento museau contribui para a sana-las, em seus espaços físicos e virtuais, além
de identificar o percentual de agendamento de visitas para essa exposição, em
específico, em detrimento às demais e descrever o perfil do público presencial e à
distância do MCM.

Metodologia

O estudo se tratou de uma pesquisa quantitativa, cujo instrumento de coleta de dados


foi a aplicação de questionários disponibilizados de maneira física (impressos) e contou
com perguntas a serem respondidas pelos próprios participantes da pesquisa, sob
orientação dos aplicadores (monitores do museu e pesquisadores), depois da visita,
afim de compreender as noções que o público já possui sobre o tema e comparar com
o conhecimento adquirido após a visita ao museu, afim de traçar um retrato real, a
partir de uma amostra representativa, de toda a população alvo da pesquisa. Para isso,
os resultados foram alisados sob interpretação positivista. O questionário foi aplicado
às turmas que completavam a visita e ainda possuíam tempo hábil para responder à
pesquisa, sob autorização dos professores responsáveis e, apenas, àqueles alunos que
demonstravam interesse em colaborar, ficando livres para desistir de participar em
qualquer momento, de forma não comprometer negativamente o andamento da aula
não-formal nem constranger nenhum visitante. Para a catalogação do percentual de
agendamento de visitas para a exposição de Anatomia Humana, foi utilizada a
plataforma do Google - Google Sheets, para confeccionar uma planilha contendo
informações adquiridas a partir dos livros (virtual e físico) de agendamento do museu.
Já para identificar a eficácia dos meios de divulgação do MCM, foi utilizado o de
relatórios de desempenho da principal rede social do museu, o Instagram, disponível
na aba Insights.
Ao longo do projeto foram realizadas reuniões semanais, quinzenais ou mensais, de
maneira virtual, através da plataforma de vídeo conferência do Google, o Google
Meet, em que a professora orientadora do projeto passou encaminhamentos a serem
trabalhados durante os períodos entre os encontros. Dentre esses encaminhamentos
estavam pesquisas bibliográficas, decisão e construção do instrumento de coleta de
dados, reformulação e validação dos questionários, análises dos resultados parciais e
instruções para a construção do artigo sob esses dados. Os questionários foram
aplicados às turmas-visitantes que contemplavam estudantes dos ensinos
Fundamental, Médio, Técnico-Profissionalizante, Graduação e Pós-Graduação. Durante
o período, ainda podemos citar a catalogação do percentual de agendamento de
visitas para a exposição de anatomia, em detrimento às demais, bem como as vistas
escolares que, apesar de terem passado por toda a exposição, tiverem seu foco

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principal concentrado nos temas abordados na sala de Anatomia Humana. Além disso,
o projeto oportunizou a submissão do resumo do artigo em produção para o IX
Congresso Nacional de Educação.
Em contraponto, dos objetivos listados, apenas sob a identificação da eficácia dos
meios de divulgação do MCM ainda não foi tecida uma análise, entretanto, grande
parte dos dados disponíveis na plataforma do Instagram já foram coletados. Além
disso a amostra sob a qual o questionário foi aplicado ainda parece ser reduzida para
representar todo o público do museu.

Resultados e Discussões

Através dos resultados parciais, obtidos através dos questionários, foi possível
perceber um público presencial potiguar, principalmente da capital e região
metropolitana, e que, majoritariamente, não conhecia o ambiente antes da visitação
escolar. A visita foi considerada, para a maioria, muito satisfatória, sendo a exposição
de anatomia a preferida entre as demais, cativando contentamento com a qualidade e
visualização das peças. Os conteúdos referentes aos sistemas cardiovascular e nervoso
foram considerados os mais difíceis de serem aprendidos em sala de aula e em estudos
extraescolares. E, apesar do aparelho cardiovascular chamar grande atenção dos
visitantes na exposição, os temas que mais se destacaram foram a embriologia e o
sistema respiratório. Desse modo, o MCM se configurou como um espaço importante
de visitação escolar, onde dúvidas acerca da morfologia humana são respondidas e
informações sobre saúde e doença são repassadas de forma interessante e satisfatória,
contribuindo significativamente para o processo educativo. Já na catalogação do
percentual de agendamento de visitas para a exposição de Anatomia Humana dos anos
de 2022 e 2023 (após reabertura do MCM para visitas presenciais depois do período
de reclusão devido à pandemia de Covid-19), a grande maioria das turmas passaram
por todas as exposições, incluindo a exposição de Anatomia Humana, além de haver
uma singela, porém significante, parcela de agendamentos, apenas, para visitar a
referida exposição, enquanto uma pequena fração não passou pela sala de Anatomia
Humana, sendo, deste total, temáticas voltadas à exposição anatômica, o enfoque
principal procurado por uma parte considerável das aulas não-formais agendadas no
museu.

Conclusão

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Desse modo, através do projeto O MCM como espaço de ensino-aprendizagem de


Morfologia Humana, o MCM se demonstrou um espaço importante de visitação
escolar, onde dúvidas acerca da morfologia humana são respondidas e informações
sobre saúde e doença são repassadas de forma interessante e satisfatória,
contribuindo significativamente para o processo educativo. Além de exemplificar como
meseus de ciências podem contribuir significativamente para a educação ao serem
procurados para a realização de momentos não-formais de aula.

Referências

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Stratton, 1963.
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BRITO, A. G. O Jardim Zoológico enquanto espaço não formal para promoção do
desenvolvimento de etapas do raciocínio científico. 114 f. Tese de Doutorado.
Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências) –Universidade de Brasília,
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FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
MARANDINO, M; Selles, S.E.; Ferreira, M.S. Ensino de biologia: histórias e práticas em
diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez. 2009.
SOUZA, Gessica Coelho de. Reflexão sobre o uso do Museu De Morfologia Da UFG na
prática docente de professores de ciências e biologia. 2021

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CÓDIGO: SB0362

AUTOR: ALTAMIRA SAMARA DA PAZ MEDEIROS

ORIENTADOR: EUDENILSON LINS DE ALBUQUERQUE

TÍTULO: Análise das interações do bromodomínio N-terminal e seu potencial


inibidor

Resumo

Estudos moleculares são cruciais para entender a relação entre resistência e virulência.
As proteínas de bromodomínio, como BRD2, BRD3 e BRD4, são reguladoras
multifuncionais que se ligam à cromatina acetilada, desempenhando papéis na
regulação gênica, para entender sua regulação gênica e adaptação a ambientes. Um
método chamado MFCC, baseado em DFT, analisou as interações entre a proteína
BRD2 e seu ligante. O MFCC, que fragmenta proteínas para cálculos precisos, permitiu
a análise eficiente das interações. O estudo esclarece interações importantes entre
BRD2 e seu ligante, fornecendo insights para futuros estudos e desenvolvimento de
medicamentos.

Palavras-chave: Bromodomínio; DFT; MFCC; Estrutura Cristalográfica

TITLE: Analysis of the interactions of the N-terminal bromodomain and its


inhibitory potential

Abstract

Molecular studies are crucial to understanding the relationship between resistance


and virulence. Bromodomain proteins such as BRD2, BRD3 and BRD4 are
multifunctional regulators that bind to acetylated chromatin, playing roles in gene
regulation, to understand their gene regulation and adaptation to environments. A
method called MFCC, based on DFT, analyzed the interactions between the BRD2
protein and its ligand .The MFCC, which breaks down proteins for precise calculations,
allowed efficient analysis of interactions. The study sheds light on important
interactions between BRD2 and its ligand, providing insights for future studies and
drug development.

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Keywords: Bromodomain; DFT; MFCC; Crystallographic structure

Introdução

As proteínas contendo bromodomínio, como as da família BET, incluindo BRD2, BRD3 e


BRD4, desempenham papéis multifuncionais como reguladores transcricionais. Essas
proteínas se conectam à cromatina acetilada através de seus bromodomínios em
tandem conservados. Atualmente, estão em teste pequenas moléculas direcionadas
aos bromodomínios BET para tratar várias doenças. No entanto, essas moléculas
frequentemente não fazem distinção entre os diferentes membros da família BET
(Werner, 2020).
Os bromodomínios são componentes evolutivamente conservados, compostos por
cerca de 110 aminoácidos, que possibilitam a interação proteína-proteína. Eles têm a
capacidade de reconhecer e se ligar a resíduos de lisina acetilados em histonas e
diversas outras proteínas. Dessa forma, as proteínas contendo bromodomínio atuam
como leitores epigenéticos da acetilação de histonas. Isso lhes permite recrutar
complexos reguladores da transcrição para a cromatina e se unir a histonas acetiladas,
desempenhando um papel crucial na regulação da expressão gênica (Wang, 2021).
A importância dos bromodomínios se estende à interpretação do código epigenético e
à regulação da transcrição de genes. Embora sejam fundamentais nesses processos, o
potencial terapêutico da modulação desses componentes é em grande parte
inexplorado, devido à escassez de sondas químicas apropriadas (Chung, 2012). Em
resumo, os bromodomínios são segmentos específicos de proteínas que possuem a
habilidade de se ligar a resíduos acetilados em histonas e outras proteínas,
desempenhando um papel central na compreensão do código epigenético e no
controle da expressão gênica.
Zhang et al (2003), propôs o MFCC que é uma estratégia de simulação computacional
que divide uma molécula em fragmentos menores, aplicando capas conjugadas nas
bordas dos fragmentos para permitir cálculos de alta precisão, como mecânica
quântica, enquanto reduz a carga computacional geral da simulação. Isso facilita o
estudo de sistemas moleculares complexos, como proteínas e ligantes, de maneira
mais eficiente. Sendo o principal objetivo deste estudo, analisar por métodos de
mecânica quântica, as interações entre o BRD2 e seu ligante, acompanhada da Teoria
Funcional da Densidade (DFT) que é utilizada para calcular as propriedades eletrônicas
e estruturais. Possibilitando o melhor entendimento dessa ligação para aplicações
futuras.
O objetivo deste estudo é analisar a interação entre o bromodomínio e seu potencial
inibidor, pois segundo Chung et al(2011) As modificações pós-traducionais (MPTs) nas

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eCICT 2023

histonas são dinamicamente adicionadas e removidas por uma variedade de enzimas,


muitas das quais têm sido alvo de esforços de descoberta de medicamentos

Metodologia

Para realizar os cálculos computacionais da interação entre a proteína e ligante, foi


obtida a estrutura cristalográfica por difração de raio X que foi disponibilizada no
Protein Data Bank (PDB) do Bromodomínio N-terminal de BRD2 Humano com 3-metil-
1,2,3,4-tretahidroquinazolin-2-ona (PDB ID: 4A9I) com resolução de 2,25 Å. Permitindo
demonstrar a conformidade tridimensional da molécula em seu estado fundamental.
Com o software Discovery, foi realizada a fixação da estrutura molecular e a adição de
seus átomos de hidrogênio, que devido as limitações nas técnicas de difração de raio x,
não foram incluídas anteriormentes, com a utilização do Marvin Sketch, foi possível
verificar o estado de protonação do ligante no pH do cristal, sendo analisado pelo
servidor PropKa Online 2.0. Por último, a otimização geométrica da estrutura
molecular foi feita com a aplicação do campo de força CHARMm.
Para a realização dos cálculos das energias de interação entre a proteína e seu ligante
foi utilizado o método do MFCC, com base no DFT com a constante dielétrica de 40. De
acordo com Zhang (2003), o MFCC garante que as interações entre fragmentos sejam
consideradas com precisão. Isso permite que a técnica mantenha uma alta qualidade
de resultados enquanto reduz significativamente a demanda computacional.
Ocorrendo a fragmentação da proteína em diversos aminoácidos que serão
conjugados a capas nas suas extremidades, resultando na soma das energias de
interação sendo igual do sistema como um todo.
Em seguida, é possível determinarmos a energia total pela fórmula:
EI(L - Ri) = E(L + Ci Ri Ci+1) - E(L + CiCi+1) - E(CiRiCi+1) + E(CiCi+1)
onde primeiro termo EI(L - RI) mostra a energia de interação entre o ligante (L) e o
resíduo (Ri) ;o segundo termo E(L+ Ci Ri Ci+1) é a energia total do sistema (ligante,
resíduo e sua capa ; o terceiro termo E(L + CiCi+) mostra a energia entre os ligantes e
suas capas; o quarto termo E(CiRiCi + 1) representa a energia do resíduo ligado a suas
capas; o quinto e último termo E(CiCi+1) representa a energia das capas. As energias
de ligação do complexo foram obtidas pelo software Gaussian.
Este procedimento envolve estudar como a energia de interação entre um ligante e
aminoácidos em uma proteína varia à medida que você aumenta a distância entre eles,
tendo os valores da energia.

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Começando a 2.5 Å do ligante, calculamos a energia de interação para aminoácidos a


cada 0.5 Å de distância. A convergência é atingida quando a mudança na energia entre
dois intervalos consecutivos é inferior a 10%. Isso ajuda a identificar a estabilização
energética das interações.

Resultados e Discussões

Aquisição de informação genética por transferência horizontal de genes, perda de


genes, bem como outras modificações genômicas, como rearranjos de DNA e
mutações pontuais, pode alterar constantemente o conteúdo do genoma e, portanto,
a adequação e a competitividade de variantes individuais em determinados nichos
(Leimbach, 2012).
Analisando a convergência, sendo a energia total o somatório das energias de cada
resíduo de aminoácido de cada raio, na Fig.1 mostra os principais resíduos. Foram
analisadas a interação de 54 resíduos nos intervalos de R=2,5 Â a R=10 Â. com
intervalo de 0,5 Â entre os raios. Os cálculos energéticos foram realizados na constante
dielétrica ε = 40. No raio de 2,5 Â foi encontrado os resíduos PHE99 com a energia de -
1,55 kcal/mol e o ASN156 com a energia de -3,08 kcal/mol, no R= 3 Â foi encontrado os
seguintes resíduos PRO98 com a energia de -4,46 e ASN156 com a energia de -4,06 e
no R=3,5 Â foi encontrado o resíduo de ILE162 com a energia de -4,37.

Conclusão

Devido ao seu papel fundamental na regulação da expressão gênica e na epigenética,


os bromodomínios têm se tornado alvos importantes de pesquisa em várias áreas,
incluindo biologia molecular, biotecnologia, medicina e desenvolvimento de fármacos.
Inibidores de bromodomínios estão sendo investigados como possíveis terapias para
doenças.
Entre os aminoácidos que foram analisados foram destacadas as principais interações
nos residuos PHE99, ASN156, PRO98, ILE162, onde foi detectado energia atrativa do
sistema.
Com o MFCC em conjunto com o DFT, o artigo buscou esclarecer as principais
interações. Os dados desse artigo podem ser úteis para estudos futuros e elaboração
de fármacos.

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Referências

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Anexos

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Grafico 1 - Gráfico de convergência

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CÓDIGO: SB0365

AUTOR: GIOVANNA KAREN DE SOUZA RODRIGUES

ORIENTADOR: RENATA FIGUEIREDO ANOMAL

TÍTULO: O estresse oxidativo e o desenvolvimento do córtex auditivo em ratos


modelo de autismo: em busca de um biomarcador molecular e do tratamento
por nanopartículas

Resumo

Alterações auditivas são sintomas comuns em pessoas diagnosticadas com Transtorno


do Espectro Autista (TEA). Tem sido sugerido que alterações na percepção de
frequências sonoras em pessoas autistas devem-se a desordens no desenvolvimento
do córtex auditivo. Dentre as possíveis causas para isso, estão as complicações no
período crítico pós-natal, o mau funcionamento de neurônios parvalbumino-positivos
e as disfunções nas redes perineuronais que os envolvem. Procuramos avaliar se o
desequilíbrio entre o estresse oxidativo e a atividade de sistemas antioxidantes
naturais, como a glutationa (GSH), contribui para as desordens no processamento
auditivo em indivíduos com TEA. Fizemos cortes de cérebro de ratos modelo de
autismo (Rattus Novergicus), imuno-histoquímica utilizando Lectina de Wisteria
floribunda (WFA) como anticorpo primário, montagem de lâminas histológicas e,
atualmente, temos catalogado cada uma delas para posterior análise morfológica.

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista.Estresse oxidativo.Redes


perineuronais

TITLE: Oxidative stress and the development of the auditory cortex in autism
model rats: in search of a molecular biomarker and nanoparticle treatment

Abstract

Hearing alterations are common symptoms in people diagnosed with Autism Spectrum
Disorder (ASD). It has been suggested that alterations in the perception of sound
frequencies in autistic people are due to disorders in the development of the auditory
cortex. Possible causes include complications in the critical postnatal period,
malfunctioning of parvalbumin-positive neurons and dysfunctions in the perineuronal

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networks that surround them. We sought to assess whether the imbalance between
oxidative stress and the activity of natural antioxidant systems, such as glutathione
(GSH), contributes to auditory processing disorders in individuals with ASD. We made
brain sections from autism model rats (Rattus Novergicus), immunohistochemistry
using Lectin from Wisteria floribunda (WFA) as the primary antibody, mounting of
histological slides and, currently, we have catalogued each of them for later
morphological analysis.

Keywords: Autism Spectrum Disorder.Oxidative stress.Perineuronal nets

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio comportamental do


neurodesenvolvimento caracterizado por uma tríade sintomática de
comprometimento na comunicação e uso da linguagem, prejuízo na interação social e
apresentação de comportamentos estereotipados [1]. Tem sido amplamente aceito
pela comunidade científica que o TEA possui etiologia multifatorial, ou seja, de ordem
ambiental, genética ou epigenética [2]. Para fins de diagnóstico e tratamento, o
distúrbio vem sendo categorizado em “sindrômico”, no qual alterações morfológicas
direcionam para a determinação de patologias genéticas, “não sindrômico”, de origem
idiopática, sem associação a sinais morfológicos específicos, e “múltiplo”, quanto à
herdabilidade do transtorno em familiares afetados com fenótipo semelhante [3].
Atualmente, a prevalência mundial média estimada do TEA é de 1 criança afetada a
cada 100 [4].
Tem sido descrito na literatura científica que pessoas autistas apresentam alterações
sensoriais relacionadas aos sistemas somatossensorial, visual, auditivo e vestibular, por
exemplo [5]. No sistema auditivo, podemos observar alterações na acuidade auditiva,
além de hipo ou hipersensibilidade. Estudos mais recentes sugerem que as alterações
sensoriais no TEA estão relacionadas ao desequilíbrio entre as conexões inibitórias e
excitatórias, provocadas por alterações no período crítico do desenvolvimento pós-
natal.
O período crítico pós-natal é marcado por maior plasticidade cerebral provocada por
estímulos sensoriais externos [6, 7]. O início e fim do período crítico são controlados
por neurotrofinas, uma família de proteínas responsável pelo crescimento,
manutenção e atividade neuronal. Estes fatores neurotróficos modulam o refinamento
dos mapas sensoriais corticais por meio do amadurecimento de interneurônios
GABAérgicos paravalbumino-positivos (PV+) e do desenvolvimento das redes
perineuronais ao redor destes neurônios. Por exemplo, o período crítico do
desenvolvimento espectral do córtex auditivo primário (A1) refere-se ao
amadurecimento do mapa tonotópico (das frequências sonoras), que inicia-se com o

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aumento da expressão local da neurotrofina BDNF [8] e o amadurecimento dos


neurônios PV+ e das redes perineuronais.
As redes perineuronais são proteínas de glicocálice constituídas principalmente de
proteoglicanos, como sulfato de condroitina. No início do período crítico passam a
envolver a membrana dos neurônios PV+, modulando o estabelecimento das conexões
neuronais, e a redução da plasticidade neural no córtex sensorial [9-11]. Existem
evidências de que a disfunção das células PV+ e das redes perineuronais [12, 13]
poderia ser provocada pelo desequilíbrio entre o estresse oxidativo e os sistemas de
defesa antioxidantes. Um estudo prévio demonstrou reduzido número de
interneurônios PV+ envolvidos pela rede perineuronal após o bloqueio da síntese do
peptídeo antioxidante glutationa (GSH) [14]. Variações genéticas nas vias da glutationa
têm sido observadas no TEA [15-19], e a redução na concentração da glutationa foi
associada à severidade do TEA [20-22].
Acredita-se que déficits nos sistemas antioxidantes naturais e consequente aumento
do estresse oxidativo causem um mau funcionamento das células PV+ e disfunções no
desenvolvimento das redes perineuronais [23]. Neste estudo temos por objetivo
investigar se o estresse oxidativo interfere na formação dos mapas tonotópicos de
roedores modelo de autismo, alterando o desenvolvimento das redes perineuronais ao
redor dos neurônios PV+. Alteração no desenvolvimento do mapa tonotópico foi
demonstrado previamente pelo presente grupo de pesquisa, de forma que A1 de ratos
modelos de autismo têm maior representação de neurônios que respondem a sons de
alta frequência em A1, que os campos receptores das frequências sonoras
apresentavam baixa diferenciação e que o limiar de intensidade sonora (volume de
som) era maior em relação ao grupo controle [24].

Metodologia

Todas as etapas metodológicas do presente trabalho foram aprovadas pela Comissão


de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Nos experimentos utilizamos roedores da espécie Rattus novergicus como
modelo de autismo e obtivemos três grupos de estudo: um grupo controle e dois
grupos teste tratados com ácido valpróico (ratos VPA). Para produzir ratos VPA, o ciclo
estral de fêmeas matrizes foi controlado por meio de esfregaço vaginal. Cada fêmea
era colocada para reprodução em uma gaiola com um macho pela manhã quando era
detectado o período de proestro. No dia seguinte, novo esfregaço vaginal era realizado
para identificação de espermatozóides, indicando a cópula/reprodução e
caracterizando este dia como dia embrionário zero [E0]. No dia embrionário 12 (E12),
era injetada nas fêmeas gestantes uma solução de ácido valpróico (500 mg / kg;

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eCICT 2023

dissolvida em NaCl 0,15 M i.p.) [25, 26]. As fêmeas gestantes do grupo controle
receberam uma injeção com o mesmo volume de solução de veículo (NaCl 0,15 M i.p.)
Os ratos VPA obtidos a partir desta etapa eram tratados com nanopartículas a 4
mg/kg/dia durante o período crítico pós-natal do desenvolvimento espectral (das
frequências sonoras de A1 (entre P10 e P13). Nanopartículas são partículas que
conseguem permear facilmente as membranas teciduais devido ao tamanho
reduzido.Um dos grupos de ratos VPA recebeu nanopartículas nos dias pós-natais 10,
11, 12 (P10-12). As nanopartículas deste grupo continham extratos da planta Libidibia
ferrea com moléculas antioxidantes. O outro grupo VPA recebeu apenas a
nanopartícula em P10-12, sem moléculas antioxidantes, servindo de controle para que
os efeitos observados no organismo não sejam da administração de nanopartículas.
Esta etapa do trabalho, de indução do autismo nos ratos e de administração de
nanopartículas, foi realizada pelos discentes do edital de iniciação científica de
2021/2022. Eu acompanhei somente a etapa de reprodução e indução de autismo
nestes roedores.
Durante o período de Julho de 2022 a Agosto de 2023 realizei as seguintes atividades
no material obtido a partir dos experimentos acima citados: secção do encéfalo,
imuno-histoquímica para análise de rede perineuronal, montagem e catalogação de
lâminas histológicas contendo as secções do encéfalo.
O criostato foi utilizado para a seccionar os encéfalos. A espessura adotada para os
cortes coronais foi de 50 μm e o armazenamento dos cortes obtidos (de rostral para
caudal) foi feito em placas de 24 poços, nas quais cada poço continha uma solução de
paraformaldeído a 4%. Antes do uso do criostato era preparada uma base para o bloco
do encéfalo com uma secção coronal a nível do cerebelo. Após esta etapa, o encéfalo
era imerso em Tissue Tek®, de modo a estabilizar a temperatura do tecido e, portanto,
facilitar o corte.
A imuno-histoquímica realizada foi do tipo imunoperoxidase pelo método ABC, a fim
de revelar a rede perineuronal ao redor dos neurônios de A1. Neste procedimento, os
cortes eram submetidos a cinco lavagens de cinco minutos no agitador, com 50 mL de
tampão fosfato 0,2M, seguidos de tratamento com 500 μL de peróxido de hidrogênio
(H2O2) e 5 mL de Triton X-100 (um agente permeabilizante de membranas e
solubilizante de proteínas), para então ser feita a incubação overnight com exposição a
50 μL do anticorpo primário, a lectina da Wisteria floribunda (WFA). No dia seguinte,
lavagens idênticas ao dia anterior eram realizadas e depois os cortes eram colocados
em solução contendo o kit ABC. Esta solução era composta por 10 μL de Avidina e 10
μL de Biotina, mais 4 mL de Triton X-100 contendo Cloreto de Sódio (NaCl). Após 2
horas, os cortes passavam por outros ciclos de lavagem e, finalmente, expostos a 1 mL
de Diaminobenzidina (DAB) adicionado em solução com 60 mL de tampão fosfato 0,2M
e 100 μL Peróxido de Hidrogênio (H2O2) para a revelação do antígeno.

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eCICT 2023

A montagem das lâminas não era feita no mesmo dia da imuno-histoquímica, assim
como as lâminas utilizadas não eram gelatinizadas. Para esta etapa, os cortes, já com o
antígeno revelado e a coloração definida, eram colocados num recipiente contendo 50
mL de tampão fosfato 0,1M e organizados em ordem anatômica com auxílio do atlas
“The Rat Brain: in stereotaxic coordinates”. Feito isso, a lâmina era umidificada no
tampão de modo a facilitar a manipulação dos cortes, evitando a perda de tecido. Os
cortes montados nas lâminas eram cobertos por Entellan®, meio de montagem para
lâminas histológicas. Em seguida, era posta a lamínula sobre a superfície do corte
contendo Entellan® e retirado o excesso de ar, com a finalidade de evitar que bolhas
interferissem na visualização da lâmina no microscópio. Um dia após a montagem as
lâminas eram limpas com xilol dentro de uma capela com exaustor.
A catalogação das lâminas ainda está em progresso e tem sido feita com o uso de um
microscópio óptico (Nikon Eclipse Ni) acoplado a uma câmera (Nikon DS-Ri1) que
transmite a imagem da lâmina para um software (Nis-Elements AR) ao qual está
conectada. Cada corte é analisado individualmente e comparado às figuras de dois
atlas de encéfalo de ratos: um para neonatos (“Atlas of the Developing Rat Nervous
System”) e outro para animais em fase adulta (“The Rat Brain: in stereotaxic
coordinates”).

Resultados e Discussões

O presente plano de trabalho não apresenta resultados estatísticos, visto que ainda
está em curso e foi renovado para o próximo ano. Portanto, será descrito a seguir um
relatório de todos os dados coletados até então.
Ao decorrer de 2022, participei da secção de 3 encéfalos, entre os meses de Agosto a
Outubro. Os tecidos seccionados apresentaram-se adequados para armazenamento e
posterior uso na imuno-histoquímica, porém um dos cérebros foi erroneamente
seccionado por problemas no congelamento do Tissue Tek®, o que levou à
instabilidade do bloco do encéfalo e consequente perda de boa parte do tecido.
Ainda no ano de 2022, três procedimentos de imuno-histoquímica foram efetuados
nos grupos controle, em Julho, Outubro e Novembro. Contudo, em nenhum deles
obteve-se marcação das redes perineuronais. Em seguida, foram feitas as seguintes
alterações no protocolo: aumento na quantidade de WFA de 2,4 μL para 50 μL,
redução na quantidade de tampão fosfato 0,2M na revelação do antígeno de 100 mL
para 50 mL, e, por fim, troca da solução de DAB diluído utilizado por uma nova. Desta
forma, conseguimos alcançar uma marcação satisfatória dos cortes.

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Após a solução deste problema, iniciou-se um novo ciclo de realização de imuno-


histoquímicas no período de Março a Junho de 2023, todas nos grupos VPA. Das seis
imuno-histoquímicas feitas, quatro foram concluídas com marcação adequada das
redes perineuronais. Duas imuno-histoquímicas apresentaram resultados
inadequados: uma com os cortes muito danificados e outra com cortes
excessivamente espessos, o que impossibilitou tanto a montagem da lâmina quanto a
visualização no microscópio. Ainda há quatro imuno-histoquímicas a serem realizadas,
dentre os cérebros que foram cortados no período de 2022 a 2023, e que
correspondem a três animais do grupo VPA sem antioxidante e um animal do grupo
VPA com antioxidante. Ademais, temos em mente o objetivo de refazer as imuno-
histoquímicas que não obtiveram sucesso em detrimento do desajuste na diluição do
DAB.
Não houve montagem de lâminas no ano de 2022. Em 2023, porém, foram montadas
cinquenta e três lâminas, sendo quatro delas para teste. Em cada uma, foram
colocados de quatro a cinco cortes, seguindo a ordem anatômica do corte mais rostral
para o mais caudal.
A catalogação das lâminas montadas foi iniciada no mês de Julho de 2023 e segue em
andamento. No total foram analisadas vinte e duas lâminas. Após projetar a imagem
do microscópio no software é feita a análise da anatomia do corte e a comparação
com as imagens dos atlas utilizados como base para esta etapa. Também é observado
se ambos os hemisférios estão ao mesmo nível estereotáxico e, portanto, se
representam a mesma figura no atlas. Quaisquer apontamentos extras, como
qualidade da perfusão, da montagem da lâmina ou da imuno-histoquímica, são
registrados. Até o presente momento (07/08/2023) faltam vinte e seis lâminas a serem
analisadas e catalogadas. Após o catálogo das lâminas será iniciada a etapa de
identificação das áreas corticais e a contagem das células marcadas pela
imunohistoquímica para rede perineuronal. Esta etapa está prevista para ocorrer no
próximo ano, de Setembro de 2023 a Agosto de 2024.
Este estudo tem como objetivo compreender a interferência do estresse oxidativo na
formação dos mapas tonotópicos, como também encontrar uma possível correlação
entre a redução do antioxidante glutationa e o desencadeamento de déficits auditivos,
causados por prejuízos no desenvolvimento dos neurônios PV+ e suas redes
perineuronais e do período crítico espectral de A1. Para isso, escolhemos a técnica de
imuno-histoquímica, especificamente do tipo imunoperoxidase por método ABC,
utilizando a Lectina de Wisteria floribunda (WFA) como anticorpo primário, para
marcar as redes perineuronais que circundam os interneurônios GABAérgicos PV+.
Um estudo feito em 2020, por Mafi e colaboradores [27], buscava associar a densidade
de redes perineuronais, em neurônios GABAérgicos e não GABAérgicos, com o
processamento auditivo nos colículos inferiores. A metodologia adotada foi

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eCICT 2023

semelhante à do presente trabalho, desde a espessura dos cortes até a imuno-


histoquímica para redes perineuronais utilizando WFA. Neste estudo, o anticorpo WFA
foi utilizado em concentração de 1:100, tal como na início do nosso projeto. No artigo
de Mafi e colaboradores (2020) é mencionado um problema na adesão dos anticorpos
usados (WFA e anti-GAD, anticorpo murino para a enzima Ácido Glutâmico
Descarboxilase): as superfícies foram melhor marcadas, enquanto a porção central,
mais profunda, foi pobremente revelada. No entanto, após um mapeamento das
regiões marcadas, o artigo relata que foi possível prosseguir com uma amostra
satisfatória para análise quantitativa. Na seção “Resultados”, o autor relata o sucesso
em identificar e quantificar as redes perineuronais em ambos os tipos celulares.
Acreditamos que o aumento da concentração do anticorpo WFA, em nosso trabalho,
possa ter contribuído para solucionar os problemas de marcação no tecido.
Ao longo de nosso trabalho, também conseguimos fazer adaptações protocolares,
mencionadas na metodologia, para alcançar uma coloração adequada das secções,
porém acreditamos ser necessário realizar ainda a coloração de Nissl, para a
delimitação das áreas corticais, tal qual foi ainda realizado por Mafi e colaboradores
(2020), a fim de complementar a marcação imuno-histoquímica, visto que uma das
próximas etapas para este estudo é a contagem de células e identificação das seis
camadas corticais de A1.

Conclusão

No trabalho em questão foi possível concluir que o uso da imuno-histoquímica do tipo


imunoperoxidase pelo método ABC e da Lectina de Wisteria floribunda como anticorpo
primário é uma boa opção para a identificação de redes perineuronais envolvendo
neurônios parvalbumino-positivos no córtex auditivo primeiro. No entanto, para fins
de quantificação e diferenciação de camadas corticais, faz-se necessário a
complementação com outras técnicas histológicas, como a coloração de Nissl.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0366

AUTOR: HANNA GABRIELA BEZERRA DE MACEDO TINOCO

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: Correlação entre a evolução dos sintomas da Depressão Maior e a


adesão ao tratamento farmacológico

Resumo

Introdução: O tratamento com antidepressivos reduz a morbidade e melhora o


desfecho clínico do Transtorno Depressivo Maior (TDM), uma das principais
causas de incapacidade e piora na qualidade de vida dos acometidos, mas a
não-adesão ao tratamento medicamentoso é comum. Assim, o objetivo deste
estudo científico foi analisar se a aderência ao tratamento farmacológico se
relaciona diretamente à resposta antidepressiva. Métodos: Estudo clínico
longitudinal, recrutou pacientes seguindo critérios de seleção e exclusão.
Ocorreu a triagem, diagnóstico, coleta de dados basais e tratamento
farmacológico com duração de 12 semanas, com envio de questionários. Os
pacientes foram classificados como assíduos ou não ao tratamento e foi feita a
análise dos resultados, por meio dos testes de Spearman e Mann-Whitney,
com nível de significância considerado p<0,05. Resultados e discussão: Não
houve correlação entre a aderência à farmacoterapia e os sintomas ao longo
do tratamento (rho = 0,011, p = 0,885), e a assiduidade no uso do
medicamento não influenciou a variação dos sintomas depressivos do início ao
final da terapia (W(16) = [41.000], p = 0,428), o que desperta uma atenção em
relação ao acompanhamento dos dados coletados, além de sugerir uma nova
investigação com um maior tamanho amostral. Conclusão: Para correlacionar a
evolução da resposta clínica e a adesão do paciente ao tratamento
farmacológico, a qual não foi significativa, foram feitas sugestões para os
próximos estudos clínicos.

Palavras-chave: Correlação. Depressão. Adesão. Aderência. Tratamento


farmacológico.

TITLE: Correlation between the evolution of symptoms of Major Depression and


adherence to pharmacological treatment

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Abstract

Introduction: Treatment with antidepressants reduces morbidity and improves


the clinical outcome of Major Depressive Disorder (MDD), one of the main
causes of disability and worsening quality of life for those affected, but non-
adherence to drug treatment is common. Thus, the objective of this scientific
study was to analyze whether adherence to pharmacological treatment is
directly related to antidepressant response. Methods: Longitudinal clinical study,
recruited patients following selection and exclusion criteria. There was
screening, diagnosis, collection of baseline data and pharmacological treatment
lasting 12 weeks, with the sending of questionnaires. Patients were classified as
assiduous or not attending treatment and the results were analyzed using the
Spearman and Mann-Whitney tests, with a significance level of p<0.05. Results
and discussion: There was no correlation between adherence to
pharmacotherapy and symptoms throughout treatment (rho = 0.011, p = 0.885),
and regularity in medication use did not influence the variation in depressive
symptoms from the beginning to the end of therapy ( W(16) = [41,000], p =
0.428), which draws attention to the monitoring of the collected data, in addition
to suggesting a new investigation with a larger sample size. Conclusion: To
correlate the evolution of the clinical response and the patient's adherence to
the pharmacological treatment, which was not significant, suggestions were
made for the next clinical studies.

Keywords: Correlation. Depression. Adherence. Pharmacological treatment.

Introdução

O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é uma doença de etiologia multifatorial


que atinge tanto aspectos fisiológicos, quanto psicossociais dos indivíduos
afetados, sendo uma das principais causas de incapacidade e piora na sua
qualidade de vida. Considerando o aumento no número de casos e suas
consequências sociais, entre elas o risco de suicídio, o TDM constitui um sério
problema de saúde pública[2] e é a desordem de maior prevalência dentro dos
transtornos depressivos - acomete em torno de 350 milhões de pessoas no
mundo (World Health Organization 2017). A incidência de episódios
depressivos em adolescentes tem aumentado significativamente na última
década, atingindo 14% do público jovem masculino e cerca de 30% das
adolescentes com idades próximas aos 17 anos (Hankin 2006, Breslau et al.
2017). Entre essa população, o TDM tem se mostrado a segunda principal
causa das mortes (Young 2012).

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Nesse contexto de sintomas depressivos em jovens, algumas pesquisas


desenvolvidas no Brasil têm descrito as caraterísticas incidentes em estudantes
universitários, dentre os quais cerca de 15 a 25% apresentam algum transtorno
psíquico durante sua formação acadêmica3. Na depressão, além do forte
sofrimento psicológico, pode haver prejuízos no desempenho acadêmico[5],
bem como nos relacionamentos pessoais, de forma que essa cadeia de
acontecimentos pode ser potencializadora do próprio estado patológico
(Licayan 2009).
Diante disso, existem diferentes formas de tratamento para o Transtorno da
Depressão Maior, entre elas a psicoterapia e a terapia medicamentosa com
antidepressivos - sobre a qual dados revelam o aumento do seu uso, nas
últimas décadas[4].
Segundo Lima, Sougey e Vallada-Filho (2004), os antidepressivos têm
influenciado na redução da morbidade e na melhoria do desfecho clínico da
doença, de modo que eles têm sido considerados efetivos no tratamento da
depressão (Akerblad, 2007; Fleck & cols., 2003; Marques, 2000). Entretanto,
embora esses psicofármacos apresentem resultados positivos, sabe-se que a
não-adesão ao tratamento medicamentoso é comum, em razão,
principalmente, do tempo de latência para início dos seus efeitos terapêuticos e
do surgimento dos efeitos colaterais logo na fase inicial do tratamento[7], de
forma que estudos corroboram cientificamente o fato de existir essa dificuldade
no processo de aderência e manutenção dos voluntários aos tratamentos[13], o
que tem se tornado motivo de preocupação para os profissionais da saúde
(Leite & Vasconcellos, 2003).
Frente ao fato de muitos pacientes não aderirem a esse tipo de tratamento,
estudos têm mostrado que as terapias complementares no tratamento do TDM
são benéficas, sendo o exercício físico, por exemplo, uma opção de baixo
custo e acessível[9]. Essa é uma das formas de tentar melhorar a adesão dos
pacientes à terapia farmacológica.
Dessa forma, a partir de uma investigação científica quanto ao grau de adesão
dos pacientes às diferentes formas de tratamento, o objetivo deste estudo foi
analisar se a aderência ao tratamento farmacológico se relaciona diretamente à
resposta antidepressiva. Espera-se que pacientes com maior adesão à terapia
apresentem melhor resposta.

Metodologia

Pacientes:

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Essa análise foi feita a partir de um estudo clínico longitudinal, ocorreu na


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal-RN, com
estudantes e servidores da UFRN, de ambos os sexos, com idade acima de 18
anos, com depressão maior. O recrutamento de participantes se deu por meio
de divulgação em mídias sociais e ferramentas de divulgação da universidade.
Os voluntários assinaram um termo de consentimento e livre esclarecimento
(TCLE), contendo informações sobre o estudo, por meio do aplicativo do
Programa de Enfrentamento à Tristeza e foi assegurada a liberdade de
abandonar o estudo sem que isso lhe trouxesse qualquer prejuízo.
Quanto à seleção dos pacientes:
Critérios de inclusão:
Presença de episódio depressivo atual;
Idade > 18 anos;
Ser estudante ou servidor da UFRN;
Ter acesso à internet para o uso do aplicativo em um smartphone.
Critérios de exclusão:
Satisfazer critérios diagnósticos para presença de outro transtorno mental,
além da depressão maior;
Utilizar medicamentos psiquiátricos, neurológicos ou com efeitos sobre a
cognição, humor e funções neurovegetativas, exceto antidepressivos que
possam ser trocados pelo fármaco do estudo, e ansiolíticos que possam ser
descontinuados sem prejuízos ao paciente;
Apresentar sintomas fóbicos específicos de injeção-sangue-ferimentos;
Gravidez e lactação.
Desenho experimental:
Para serem incluídos, os voluntários passaram pelo processo de triagem - por
meio do aplicativo do Programa de Enfrentamento à Tristeza - e responderam a
algumas perguntas e questionários. Após atingir o ponto de corte, os possíveis
voluntários foram direcionados para o agendamento, via aplicativo, de uma
consulta médica com a equipe de psiquiatria do estudo. O diagnóstico
fornecido foi realizado por meio da utilização de algumas escalas
psicométricas, em especial a de MADRS (Montgomery e Asberg 1979) - e/ou
classificação da intensidade da Depressão Maior (DM).
Escala de avaliação para depressão de Montgomery e Asberg (MADRS)
(Montgomery e Asberg 1979): reflete características físicas, cognitivas e

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comportamentais da depressão, possibilitando medir presença e gravidade de


vários sintomas depressivos, a ser preenchida por entrevistador competente.
Além disso, foi aplicado um questionário sociodemográfico (QSD).
Concluída a triagem e a elegibilidade, os pacientes foram conduzidos
individualmente para a realização da coleta de dados basais - presencial no
campus central da UFRN. Logo após, foi iniciado o tratamento com duração de
12 semanas, quando houve o envio, semanalmente, do link que possui a
escala PHQ-9.
Questionário sobre a saúde do paciente 9 (PHQ-9): é um instrumento
autoaplicado, aberto e validado no Brasil, constituído por nove itens baseados
nos critérios diagnósticos para depressão maior do DSM-IV. Cada item varia de
0 (nenhuma vez) a 3 (quase todos os dias), com o escore total variando de 0 a
27, o que permite mensurar a gravidade dos sintomas depressivos (Santos et
al. 2013).
Para a análise da evolução das respostas clínicas, houve uma comparação
com a adesão dos pacientes aos tratamentos, uma vez que, assim, é possível
eliminar o viés da confusão - em relação, por exemplo, à administração correta
dos medicamentos. Por isso, algumas etapas foram realizadas, descritas
abaixo:
A adesão à terapia medicamentosa foi registrada por meio da resposta à
pergunta: “Quantas vezes você esqueceu de tomar a medicação essa
semana?” no questionário semanal;
Foi feita uma comparação entre os dados de adesão, anteriormente citados,
com a evolução dos sintomas depressivos – por meio do questionário PHQ-9, a
fim de compreender o impacto de uma boa adesão ao tratamento em
específico.
A partir dessas respostas, os pacientes foram classificados como assíduos ou
não-assíduos, dependendo da assiduidade, que foi realizada da seguinte
forma: com base na quantidade de vezes nas quais os pacientes esqueceram
de tomar a medicação, foi calculado o número de dias em que administraram
corretamente. Os que possuíram uma taxa de assiduidade maior ou igual a
90%, foram ditos assíduos, enquanto uma taxa menor que 90%, não-assíduos.
Tratamentos:
O subgrupo de pacientes que fez parte do tratamento farmacológico foi tratado
exclusivamente com antidepressivo do grupo inibidores de recaptação de
serotonina (ISRS), o escitalopram, por 12 semanas. A dose do fármaco foi
estabelecida - e foi ajustada de 10mg para 15mg, conforme a necessidade -
pela equipe de profissionais especializados, composta de médicos residentes
do programa de psiquiatria do HUOL.

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Análise dos resultados:


Neste estudo as variáveis dependentes foram a PHQ-9 e a adesão ao uso da
medicação, e variáveis independentes os grupos e a semana de tratamento.
Para a análise dos dados, foi aplicado o teste de correlação de Spearman, a
fim de investigar as possíveis correlações entre a resposta antidepressiva e a
adesão ao uso do fármaco e à terapia complementar. Adicionalmente, o teste
de Mann-Whitney independente foi realizado a fim de comparar a variação da
PHQ-9 entre participantes classificados como assíduos e não-assíduos no uso
da medicação. O nível de significância considerado será p < 0,05.

Resultados e Discussões

A partir dos testes realizados com o tamanho amostral de 18 pacientes, não foi
encontrada correlação entre a aderência à farmacoterapia e os sintomas
depressivos ao longo do tratamento (rho = 0,011, p = 0,885). Além disso, a
assiduidade no uso do medicamento não influenciou a variação dos sintomas
depressivos do início ao final do tratamento (W(16) = [41.000], p = 0,428).
Estes resultados não corroboram a hipótese inicial, de que uma maior
aderência às terapias - nesse caso a farmacológica - geraria uma melhor
evolução sintomatológica. Isso seria percebido por meio de reduções
significativas nos valores da escala PHQ-9, pontuados pelos pacientes os quais
obtiveram uma maior adesão à administração do fármaco escitalopram ao
longo dos dias. Além disso, os participantes do estudo foram divididos em dois
grupos, em relação à sua assiduidade. Tal processo para classificação foi de
pelo menos 90% de aderência à farmacoterapia, definido a partir de análise
qualitativa, uma vez que, segundo Psicologia, Saúde & Doenças (2001), são
diversos os critérios para especificar o paciente como aderente ou não-
aderente.
O fato de 72,22% dos pacientes envolvidos no estudo terem sido classificados
como assíduos desperta uma atenção mais cautelosa em relação ao
acompanhamento mais refinado dos dados coletados, pois há grande
possibilidade de haver viés de resposta, tendo em vista que a falta de
progresso clínico, acompanhando uma boa adesão, sugere uma sensibilidade
maior no monitoramento eletrônico, mais eficiente em comparação ao método
de detecção utilizado (World Health Organization, 2003). Estes conhecimentos
podem explicar o motivo da correlação, realizada na presente pesquisa, entre a
assiduidade e a variação dos valores da PHQ-9 não possui significância,
circunstância que representa um contraponto à literatura. Isso porque
melhorias são inevitáveis à medida que os indivíduos se tornassem mais

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aderentes (CONN et al., 2016), além das diferentes intervenções que


potencializam a adesão - avaliada por meio de métodos diretos, como a
avaliação do clearance dos fármacos no sangue, e indiretos - ao longo do
tratamento e, com isso, apresentam uma melhor resposta clínica (BARRETO et
al., 2021). Esses procedimentos indiretos, inclusive, são questionários de
autorrelato já predeterminados, bem como a contagem dos medicamentos na
cartela, o que diminui a subjetividade quanto à aderência à terapia
farmacológica.
É válido destacar, ainda, o possível comprometimento da execução de
diferentes tarefas, entre elas a autoadministração dos medicamentos
prescritos, provocado pelos sintomas depressivos (IBANEZ et al., 2014).
Entretanto, os dados apresentados não elucidam essa dificuldade e
potencializam o alerta no que se refere às respostas fornecidas pelos
pacientes, por meio de perguntas direcionadas dentro dos questionários
semanais, bem como sugerem uma nova investigação com um maior tamanho
amostral.

Conclusão

Este estudo clínico teve o objetivo de correlacionar a evolução da resposta


antidepressiva e a adesão do paciente aos tratamentos farmacológico
exclusivo, a fim de compreender o impacto de uma adesão com padrão
assíduo para o tratamento em específico e poder analisar diferentes estratégias
para melhora clínica dos pacientes.
Os testes estatísticos foram realizados com um tamanho amostral reduzido e
isso pode ter influenciado diretamente nos resultados, que não obtiveram
significância, sendo um contraponto à literatura científica analisada. Posto isso,
vale pontuar a possibilidade de existir viés de resposta, por parte dos
pacientes, no processo de captação dos dados. Sendo necessário, portanto, a
realização dos próximos estudos com métodos mais sensíveis e eficazes -
como a utilização de métodos diretos ou os indiretos, que incluem
questionários pré definidos e a contagem de medicamentos. Isso poderia ser
feito por meio do envio de fotos da cartela, juntamente ao preenchimento do
questionário semanal, de modo que o responsável por cada paciente já possa
verificar e anotar em uma planilha a quantidade de fármacos que realmente
foram consumidos na determinada semana. Essas estratégias possuem o
objetivo de mitigar ao máximo a possibilidade de existir erros. Além disso, é
indispensável a análise com um maior número amostral, no intuito de garantir a
credibilidade estatística e qualitativa.

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Referências

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eCICT 2023

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pacientes com depressão: revisão integrativa da literatura. 2021.

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CÓDIGO: SB0370

AUTOR: GABRIEL HENRIQUE MARINHO DO NASCIMENTO

ORIENTADOR: ALICE DE MORAES CALVENTE VERSIEUX

TÍTULO: Estudos sobre Malvaceae no Rio Grande do Norte, fase 3.

Resumo

Malvaceae Juss. é uma família com grande diversidade de espécies e


importância econômica e cultural, incluindo plantas como algodão, cacau,
barriguda e hibisco. Apesar disso, o estado do Rio Grande do Norte apresenta
deficiências significativas no conhecimento de sua flora, sendo um dos com
menor diversidade documentada de plantas no país. A pesquisa teve como
objetivo preencher lacunas de coleta e conhecimento, especialmente em áreas
centrais do estado. Através de esforços de coleta, identificação e pesquisa,
foram obtidos dados que contribuíram para um entendimento mais profundo da
presença da família Malvaceae no estado. Esses resultados serão base para
futuras publicações, incluindo uma chave de identificação e um checklist de
espécies confirmadas no estado, com novas ocorrências registradas.

Palavras-chave: Malvaceae, Diversidade, Rio Grande do Norte.

TITLE: Studies on Malvaceae in Rio Grande do Norte, phase 3.

Abstract

Malvaceae Juss. encompasses a diverse array of species with significant


economic and cultural relevance, including cotton, cocoa, baobab, and hibiscus.
Nonetheless, the state of Rio Grande do Norte faces substantial deficiencies in
its knowledge of the local flora, ranking among the country's region with the
lowest documented plant diversity. This study aimed to address these gaps by
focusing on collection and taxonomic understanding, particularly within central
areas of the state. Through rigorous collection, identification, and research
efforts, valuable data were acquired, enriching the comprehension of
Malvaceae in the region. The findings serve as a cornerstone for forthcoming

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publications, encompassing an identification key and a confirmed species


checklist specific to the state, including newly documented occurrences.

Keywords: Malvaceae, Diversity, Rio Grande do Norte.

Introdução

Malvaceae Juss. representa atualmente a décima família botânica mais


diversa do país (BFG 2015), possuindo cerca de 4225 espécies conhecidas
dentre 243 gêneros, com distribuição cosmopolita (Angiosperm Phylogeny
Website, 2017). Malvaceae possui ainda espécies de profunda importância
econômica (como o algodão e o cacau) e cultural (como a barriguda e o
hibisco). No estado do Rio Grande do Norte, por sua vez, a família apresenta
89 espécies, distribuídas dentre 44 gêneros (Nascimento, dados não
publicados).
Entretanto, tamanha diversidade ainda encontra-se defasada no estado do
Rio Grande do Norte, o estado do país com os mais baixos níveis de riqueza
de plantas documentada (Versieux et. al. 2017). Apesar dos esforços de
botânicos nos últimos anos para enriquecer o conhecimento acerca da flora do
estado, muitos grupos taxonômicos ainda possuem profundas lacunas de
dados.
Após esforços de pesquisas anteriores, constatou-se um déficit considerável
de dados em regiões centrais do estado, localizadas nas mesorregiões central
potiguar e agreste potiguar. A presente pesquisa teve como objetivo apresentar
dados obtidos em algumas dessas áreas, acrescentando informações novas ao
universo amostral, e construindo um conhecimento mais aprofundado sobre o
status da família Malvaceae no estado.

Metodologia

As coletas foram realizadas de acordo com os procedimentos tradicionais


em botânica (Fidalgo & Bononi, 1989). Seguidos de devida herborização e
depósito no Herbário UFRN. Inicialmente as coletas foram realizadas em
municípios da mesorregião Leste Potiguar. Após isso, foram realizadas
também coletas em regiões mais remotas, que apresentavam pouco, ou
nenhum dado de ocorrência para Malvaceae.
A identificação das espécies foi realizada através de bibliografia
especializada, bem como comparação com outros espécimes depositados no

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eCICT 2023

herbário, e através das plataformas specieslink, reflora e gbif. Durante as


coletas, os espécimes foram fotografados como forma de contribuir para a
elaboração do banco de imagens. As imagens que não puderam ser obtidas,
foram disponibilizadas através de colaboradores.
Os mapas de distribuição por gênero, bem como de esforço de coleta
adicional foram feitos a partir da plataforma QGIS, utilizando as coordenadas
geográficas obtidas no momento das coletas. Por fim, a chave de identificação
foi elaborada a partir da plataforma Xper3, com dados morfológicos dos
espécimes depositados no Herbário UFRN.

Resultados e Discussões

Após a identificação das lacunas de coletas em regiões mais centrais do


estado, foram realizados esforços de coleta para algumas dessas áreas. Os
esforços de coleta foram devidamente catalogados e traduzidos para mapas de
ocorrência, apontando a localização desses espécimes, de forma a representar
quais municípios do Rio Grande do Norte passaram a ter ocorrência
confirmada para Malvaceae (MAPA 1).
Os mesmos dados foram utilizados para a construção de outro mapa, que
dispõe às coletas pelas mesorregiões do estado, criando uma melhor
caracterização dessa distribuição de acordo com características climáticas e de
relevo (MAPA 2). Os esforços adicionais de coleta foram também adicionados
aos mapas já previamente obtidos das distribuições para cada gênero no
estado, adicionando ao conhecimento de nossa flora.
É notório que, sobretudo nas regiões mais centrais do estado, ainda serão
necessários esforços adicionais para sanar as lacunas existentes, não só sobre
Malvaceae, mas sobre os mais diversos grupos que compõem a flora potiguar.
A dificuldade de locomoção e disponibilidade de recursos se põe como um
empecilho para a realização dessas em áreas mais remotas, frustrando o
trabalho da botânica no estado.
Adicionalmente, foi possível reunir, a partir das fotografias tiradas durante a
coleta, imagens de caracteres diagnósticos de espécies características da flora
estadual, compondo um guia para a identificação visual dessas espécies com
ampla ocorrência (IMAGEM 1). A disposição das fotos se põe de forma a
agrupá-las por subfamília, denotando a presença dos grupos Malvoideae,
Byttnerioideae, Helicteroideae, Sterculioideae, Bombacoideae e Grewioideae.

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Por fim, utilizando como base os espécimes coletados e a coleção do


Herbário UFRN, foi possível elaborar uma chave de identificação para a família
Malvaceae, contendo os gêneros presentes no estado (IMAGEM 2). A chave
utiliza caracteres de fácil observação (tais como hábito ou margem foliar) para
auxiliar no reconhecimento do gênero de, facilitando posteriormente a
identificação de sua espécie.
As fotos obtidas e a chave de identificação serão disponibilizadas para
facilitar os projetos de pesquisa de estudantes e demais botânicos, bem como
em diversas áreas afins.

Conclusão

Após esforços de coleta, identificação e pesquisa, podemos ter um


entendimento muito mais aprofundado sobre o status da família no estado do
Rio Grande do Norte. Os trabalhos desenvolvidos servirão de base para
publicações subsequentes, contemplando a chave de identificação, bem como
o checklist das espécies com ocorrência confirmada, expondo as novas
ocorrências registradas para a região do Rio Grande do Norte.
Espera-se que os dados aqui obtidos sirvam como base para a elaboração
de trabalhos semelhantes, visando aumentar o conhecimento sobre a flora do
estado.

Referências

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diversity in
Citizen Science Observation Dataset B, Tiago P (2020). Biodiversity4all Research-Grade
Observations. BioDiversity4All. Occurrence dataset https://doi.org/10.15468/njmmp7
accessed via GBIF.org on 2023-05-30.
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de material botânico. São Paulo: Instituto de Botânica, 1989. 62 p.
GBIF.org (26 June 2023) GBIF Occurrence Download:
https://doi.org/10.15468/dl.7669a6
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<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB156>. Acesso em: 14 ago. 2023

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QGIS Development Team, 2023. QGIS Geographic Information System. Open Source
Geospatial Foundation Project. http://qgis.osgeo.org
The Catalogue of Life Partnership (2017). APG IV: Angiosperm Phylogeny Group
classification for the orders and families of flowering plants. Checklist dataset
https://doi.org/10.15468/fzuaam accessed via GBIF.org on 2023-04-07.
VERSIEUX, L.M.; DÁVILA N.; DELGADO G.C.; SOUSA, V.F.; MOURA, E.O.; FILGUEIRAS, T.;
ALVES, M.V.; CARVALHO, E.; PIOTTO, D.; FORZZA, R.C.; CALVENTE, A.; JARDIM, J.G.
2017. Integrative research identifies 71 new plant species records in the state of Rio
Grande do Norte (Brazil) and enhances a small herbarium collection during a funding
shortage. PhytoKeys. 83(1): 43-74.

Anexos

MAPA 1 - Coletas de Malvaceae nos municípios do RN

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MAPA 2 - Coletas de Malvaceae nas mesorregiões do RN

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IMAGEM 1 - Guia das espécies de Malvaceae do RN

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IMAGEM 2 - Chave de identificação eletrônica para Género de Malvaceae no RN

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CÓDIGO: SB0379

AUTOR: GABRIELLA FERNANDES DUTRA DA SILVA

ORIENTADOR: UMBERTO LAINO FULCO

TÍTULO: Bioquímica quântica da interação energética do receptor NOP -


Analise Quantica Energértica De Um Potencial Inibidor Contra Vírus Do Nilo
Ocidental (WNV)

Resumo

Com o objetivo de compreender a relação energética entre a proteína ligante


do vírus do Nilo Ocidental (WNV) NS2B-NS3 e a protease em complexo com
3,4-diclorofenilacetil-Lys-Lys-GCMA, foram utilizados cálculos de química
quântica baseados na teoria do funcional da densidade (DFT) e o método de
Fragmentação com Capas Conjugadas (MFCC), uma ferramenta
computacional. Neste trabalho, foram analisados os aminoácidos, bem como
as regiões de maior atração e repulsão. De acordo com o estudo, observou-se
que a energia de interação convergiu em 9,0 Å. O estudo visa aprimorar as
técnicas e compreender os efeitos entre esses elementos, suas interações e
níveis de energia, com o intuito de selecionar compostos que possam ser
utilizados como fármacos antivirais. Esses compostos poderão ser aprimorados
posteriormente para combater o vírus WNV de forma mais eficiente.

Palavras-chave: MFCC. DFT. VÍRUS. NILO. WVN

TITLE: Quantum biochemistry of the energetic interaction of the NOP receptor -


Energetic Quantum Analysis Of A Potential Inhibitor Against West Nile Virus
(WNV)

Abstract

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With the aim of understanding the energy relationship between the ligand
protein of the West Nile virus (WNV) NS2B-NS3 and the protease in complex
with 3,4-dichlorophenylacetyl-Lys-Lys-GCMA, quantum chemistry calculations
based on the density functional theory (DFT) and the Fragmentation with
Conjugated Caps (MFCC) method, a computational tool, were employed. In this
study, amino acids and regions of higher attraction and repulsion were
analyzed. According to the study, the interaction energy converged at 9.0 Å.
The research aims to enhance techniques and comprehend the effects among
these elements, their interactions, and energy levels, with the purpose of
selecting compounds that can be used as antiviral drugs. These compounds
may be further improved to more efficiently combat the WNV virus.

Keywords: MFCC. DFT. VÍRUS. NILE. WVN

Introdução

O Vírus do Nilo Ocidental (WNV) pertence ao gênero Flavivirus, família


Flaviviridae, assim como os vírus da Dengue e da Febre Amarela. Sua
transmissão e permanência na natureza ocorrem em ciclos alternados de
infecção, envolvendo pássaros e mosquitos hematófagos, principalmente do
gênero Culex. No entanto, a disseminação para mamíferos e humanos pode
acontecer acidentalmente por meio da picada de mosquitos que se
alimentaram de aves infectadas ou através de infecções durante sessões de
transfusão sanguínea. Relatos de infecções no México, Caribe, América
Central e Canadá têm causado mais de mil mortes anuais (BLUT &
KRANKHEITSERREGER, 2013; TOMLINSON & WATOWICH, 2008).
Segundo (HAMMAMY, M. Zouhir, 2014) em relação aos sintomas associados
ao contágio por WNV, aproximadamente 80% das infecções são
assintomáticas, enquanto nos outros casos os sintomas variam desde febre
baixa (95% dos casos sintomáticos) até encefalite ou meningite, afetando cerca
de 20% dos casos. Os sintomas incluem febre do WNV acompanhada de dor
de cabeça, fraqueza, vômitos e sintomas inespecíficos, como dores musculares
ou no pescoço, confusão e fala arrastada. A disseminação está diretamente
ligada à permanência em áreas rurais. Atualmente, não existem vacinas ou
tratamentos antivirais específicos para a febre do Nilo, e o tratamento é
baseado em cuidados paliativos para aliviar os sintomas apresentados.
Portanto, com o objetivo de compreender a performance do vírus, nota-se a
relevância da análise molecular para interpretar a estrutura viral e o processo
de replicação. O WNV é um vírus de tamanho relativamente reduzido, que
possui um nucleocapsídeo com formato cercado por uma dupla camada

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lipídica. O nucleocapsídeo é constituído por várias cópias da proteína C e do


RNA viral. A camada externa do vírus é composta por duas proteínas: a
proteína de revestimento E e a proteína de membrana M. A proteína de
revestimento E desempenha um papel na ligação e fusão durante a entrada do
vírus nas células hospedeiras.
A replicação do vírus WNV acontece através da ligação do vírus a uma célula
hospedeira, utilizando receptores como a lectina DC-SIGNR (possivelmente em
vez da integrina de adesão intercelular específica para células dendríticas) ou a
integrina yvy3. Após a etapa inicial de ligação, o vírus entra na célula por
endocitose mediada por clatrina. Em um ambiente de pH baixo, o
nucleocapsídeo é liberado no citoplasma quando se funde com o retículo
endoplasmático (RE) em vesículas lisossômicas. Em seguida, o RNA viral é
traduzido em uma única poliproteína. Depois, a protease viral NS2B-NS3 e
várias proteases do hospedeiro clivam a poliproteína para produzir dez
proteínas funcionais. A RNA polimerase dependente de RNA (RdRp) dentro de
NS5, juntamente com outras proteínas virais não estruturais e possivelmente
proteínas celulares, sintetizam cadeias negativas complementares do modelo
de RNA viral. As cadeias negativas de RNA servem como modelo para a
síntese de novos genomas. A montagem e organização das novas partículas
virais ocorrem em associação com membranas intracelulares, e os vírions em
formação transitam pelo sistema secretor. Portanto, inibir a protease viral
(NS2B-NS3) ou as proteases do hospedeiro pode ser uma abordagem
promissora no desenvolvimento de antivirais eficazes para terapias contra o
WNV (HAMMAMY, M. Zouhir, 2014).

Metodologia

As metodologias aplicadas foram realizadas por meio do inibidor da protease


do Vírus do Nilo Ocidental (WNV) NS2B-NS3, em complexo com 3,4-
diclorofenilacetil-Lys-Lys-GCMA, obtida através da estrutura 2YOL disponível
no site do PDB. O estado de protonação da estrutura 2YOL foi verificado
através do programa "Marvin Sketch" para análise e simulação em um meio
com pH de 7,35 a 7,45, compatível ao sanguíneo, com o objetivo de examinar
a experimentação ocorrendo em um meio semelhante ao corpo humano. Após
este processo, foi realizado o ajuste de ligações. Consequentemente, foi
aplicado com o intuito de comparar com o programa anteriormente utilizado e
verificar a ligação entre hidrogênios e moléculas de água, com a finalidade de
examinar as interações entre essas estruturas.
Em segundo plano, foi realizada a estimativa da energia total relacionada
proteína NS2B-NS3 e o inibidor EBN 2170, calculada com base no método da

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Teoria Funcional da Densidade (DFT), associado à Fragmentação com Capas


Conjugadas (MFCC), processo este de suma importância para a preparação ao
cálculo, seguindo Morgon e Custódio (1994). A pesquisa demonstrou que essa
metodologia busca presumir propriedades moleculares quantitativamente ou
tendências qualitativas dessas propriedades e explicar a natureza da ligação
química, estando entre os principais objetivos da Química Quântica.
Atualmente, o MFCC tem sido amplamente utilizado para calcular a energia de
ligação proteína-ligante, permitindo a investigação de vários resíduos de
aminoácidos em uma proteína de forma computacionalmente eficiente e
precisa. O método de fracionamento foi originalmente desenvolvido para obter
um cálculo ab initio escalável e linear das energias de interação proteína-
ligante, fragmentando a molécula de proteína em partes de aminoácidos
devidamente protegidos. Uma característica distintiva do MFCC em relação a
outros métodos de fragmentação, que empregam capeamento de ligações
fracionadas, é a utilização de tampas que correspondem a porções das seções
vizinhas da molécula. Essa abordagem fornece uma representação eficiente do
ambiente local durante os cálculos dos fragmentos individuais.
Marcando a molécula do ligante como L e o resíduo interagindo com L como
Ri (i denota o índice do i-ésimo resíduo de aminoácido), a energia de interação
individual entre L e cada Ri, E(L–Ri), em nível DFT é calculada de acordo com
a seguinte equação:
EI(L–Ri) = E(L + C1i Ri Ci+1) - E(C1i Ri Ci+1) + E(L + C1i Ci+1) + E(C1i Ci+1)
(1)
Nessa equação, o primeiro termo E(L + Ci1 Ri Ci+1) representa a energia
total do sistema formado pelo ligante e o resíduo capeado. O segundo termo,
E(Ci1 Ri Ci+1), corresponde à energia total do resíduo capeado isolado. O
terceiro termo E(L + Ci1 Ci+1) é a energia total do sistema formado pelo
conjunto de capas e o ligante L, enquanto o quarto e último termo E(Ci1 Ci+1)
é a energia total do sistema formado pelas capas isoladas. Além disso, as
moléculas de água cristalográficas foram incluídas como parte do resíduo mais
próximo, ao qual estão ligadas por pontes de hidrogênio.
Conduziu-se um estudo de convergência da energia de interação em relação
ao raio de ligação do ligante, com o intuito de estabelecer um limite para o
número de resíduos de aminoácidos a serem analisados, garantindo a
preservação das interações importantes. Esse processo teve o propósito de
estabilizar a energia de ligação total. A energia de ligação total foi obtida pela
soma das energias de resíduo-ligante dentro de um raio e das energias de
ligação consecutivas. A investigação abrangeu a variação da energia de
interação total, levando em consideração todas as contribuições dos resíduos
de aminoácidos em uma esfera de raio, originando-se no ligante. Para cada

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resíduo de aminoácido (Ri), foram considerados os três aminoácidos anteriores


(Ci1) e os três seguintes (Ci+1).
Neste estudo, utilizamos a combinação da abordagem MFCC com o modelo
de solvatação contínua COSMO (Modelo de triagem semelhante a condutor) e
diferentes constantes dielétricas (ε) para tornar o ambiente simulado mais
similar ao ambiente proteico. Essa abordagem nos permitiu estimar os efeitos
de energia, incluindo a polarização eletrostática promovida pelo solvente, para
assim, simular uma experimentação compatível com as condições ocorridas na
realidade e investigar os níveis energéticos presentes na relação proteína-
ligante entre o Vírus do Nilo Ocidental NS2B-NS3 protease em complexo com
3,4-diclorofenilacetil-Lys-Lys-GCMA.

Resultados e Discussões

Sob a perspectiva de aprimoramento de técnicas e métodos para entender a


interação com o vírus do Nilo, foi analisado a relação proteína ligante, segundo
a abordagem de investigação dos níveis de energias de interação segundo o
enfoque MFCC. Nessa perspectiva, na figura 01, nota-se a variação de
energia, determinada por quilo caloria por mol com variação de 5 a 50, em
detrimento do raio, este é calculado por meio da unidade de medida Angstrom,
com escala de 2 a 10, para analise mais assertiva foi considerado os
fragmentos de aminoácidos e interações mais relevantes. Sendo assim,
verifica-se que inicialmente ao aplicar com a constante dielétrica de 40, houve
uma variação significativa de energia, desestabilização, entre os raios de 2,0 e
2,5, nos aminoácidos Gly1151 e Tyr1161, nota-se que este segundo aumentou
negativamente sua energia de interação. Ademais, sucessivamente os raios a
partir de 3,0, permanecem relativamente estaveis, ocorrendo variações menos
expressivas, com relação a energia, como na Ser1163 e Ile1162.
Diante disso, a partir da implementação da abordagem MFCC, possibilita a
visualização mais detalhada acerca da energia de ligação em detrimento do
raio, de cada aminoácido individualmente. Por meio disso, é possível averiguar
as regiões de maior interação e estabilização, tal informação é de suma
importancia para a abordagem e implementação de futuros tratamentos contra
o vírus do Nilo.

Conclusão

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Sob esse viés, em perspectiva ao trabalho e seus resultados, partindo do


pressuposto de que quanto mais negativa é a energia de interação do
aminoácido maior sua força proteína-ligante, ao analisar o gráfico (Fig. 2), nota-
se que o aminoácido Phe85 possui a força mais expressiva, com energia de -6
quilo caloria por mol, trazendo benefícios a ligação. Em contrapartida a
Asp1129, detem a força de repulsão mais considerável de 8 energia/Kcal mol,
caracterizando-se por não agregar benefícios a ligação.
Além disso, nota-se a importância do aminoácido Phe85, para o
desenvolvimento de fármacos, pois em (OURIQUE, 2018), foi destacado a
interação de ponte de hidrogênio com o ligante, que segundo (RANG & DALE,
2003), tal ligação é ideal para fármacos que atuam nos receptores de nosso
organismo, pois sabemos que o efeito desejado terá um tempo limitado. Esta
observação sugere que pode ser possível desenvolver um novo inibidor
peptídico ou até mesmo melhorar o desempenho.
Neste contexto, há a necessidade latente de descobertas a respeito do
combate ao vírus do Nilo. Nos últimos anos, tem observado um crescente
surgimento de ferramentas computacionais que têm se mostrado uma nova e
valiosa abordagem para enfrentar esse desafio. Essas ferramentas têm sua
base em princípios matemáticos, físico-químicos, termodinâmicos e químicos, e
estão se tornando uma importante aliada no campo da descoberta de novos
fármacos. Especificamente, o uso de técnicas de triagem virtual baseadas na
estrutura molecular tem mostrado resultados promissores, o que levou à sua
ampla adoção nos últimos dez anos.(QUEVEDO, 2016).
Como visão para o futuro, espera-se uma busca exponencial por meio de
testes in silico com um número cada vez maior de moléculas, com o objetivo de
obter novos resultados que sejam igualmente ou até mais satisfatórios do que
os alcançados atualmente. Além disso, prevê-se que haverá uma continuação
da validação dos resultados obtidos através de testes de dinâmica molecular e
ensaios experimentais.

Referências

SILVA, Tales Natan Freitas da et al. Estudo in silico de compostos como


potenciais fármacos antivirais contra o Vírus do Nilo Ocidental. Revista de
Pesquisa em Ciências da Saúde, v. 10, n. 2, p. 628, 2023. Disponível em:
https://periodicos.ifsul.edu.br/index.php/thema/article/view/2199/2106, Acesso
em: 24 jul 2023.
OURIQUE, G.S.; VIANNA, J.F.; LIMA NETO, J.X.; OLIVEIRA, J.I.N.; MAURIZ,
P.W.; VASCONCELOS, M.S.; CAETANO, E.W.S.; FREIRE, V.N.;

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eCICT 2023

ALBUQUERQUE, E.L.; FULCO, U.L. Uma investigação de química quântica de


um potencial medicamento inibidor contra o vírus da dengue. , | RSC Adv, 9 pg,
6 de jun 2016. Acesso em: 24 de jul 2023.
Ourique, Mariana da Costa. Estudo in silico da interação de inibidores
peptídicos com a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) de diferentes
espécies, 130 pg, 2018. Disponível em:
https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/26084/1/Estudoinsilico_Ourique
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FLORES, E. F.; WEIBLEN, R. O vírus do Nilo Ocidental. Microbiologia. Ciência
Rural, v. 39, n. 2, abr. 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-
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HAMMAMY, M. Zouhir. Desenvolvimento e caracterização de um novo
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Aleppo/Síria Marburgo/Lahn 2014 der Philipps-Universität Marburg. Acesso em:
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QUEVEDO, C. V. Triagem virtual em banco de dados de ligantes considerando
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2016. 161 f.Tese (Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação) –
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
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HAMMAMY, M. Zouhir. Desenvolvimento e caracterização de um novo
peptídeomimético inibidores da protease NS2B-NS3 do vírus do Nilo Ocidental.
Marburgo/Lahn, 2014. Tese (Doutorado em Ciências Naturais) - Faculdade de
Farmácia, Universidade Philipps de Marburgo. Acesso em: 24 jul 2023.

Anexos

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Fig. 01 Energia de interação total em função do raio, calculado durante o estudo de


convergência considerando constante dielétrica de 40.

Fig. 2 Ilustração gráfica que destaca os resíduos mais significativos na interação com o
ligante, apresentando as distâncias mínimas entre cada resíduo e o ligante.

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CÓDIGO: SB0389

AUTOR: MAELE OLIVEIRA DE SENA

ORIENTADOR: EDILSON DANTAS DA SILVA JUNIOR

TÍTULO: Avaliação da participação dos α1A-adrenoceptores sobre o


comportamento relacionado à depressão em camundongos

Resumo

Introdução: Os adrenoceptores α1 (α1-AR) são amplamente encontrados nos tecidos


periféricos, modulando as respostas à noradrenalina ou adrenalina. No entanto,
trabalhos recentes vêm chamando a atenção para expressão dos α1-AR no Sistema
Nervoso Central (SNC), destacando o subtipo α1A, o qual apresenta maior nível de
expressão em áreas como: amígdala, hipocampo, hipotálamo, córtex cerebral e
mesencéfalo. Assim, é natural supor que a modulação dos α1A-AR possa interferir na
regulação dos estados afetivos relacionados à depressão. Objetivos: Avaliar a
participação dos α1A-AR sobre o comportamento relacionado à depressão, utilizando
como ferramenta farmacológica a oximetazolina, um agonista parcial e seletivo dos
α1A-AR. Metodologia: Foram usados camundongos machos e adultos, os quais foram
tratados com oximetazolina de 0,0001 - 1 mg/kg 60 min antes do teste do nado
forçado. O tempo de imobilidade foi mensurado a fim de avaliar as ações do fármaco
sobre o comportamento do tipo depressivo. Resultados: Os camundongos tratados
com a oximetazolina, um agonista parcial e seletivo para os α1A-AR, 60 min antes da
exposição à natação forçada demonstraram um aumento significativo do tempo de
imobilidade nas doses de 0,01, 0,1 e 1 mg/kg. Conclusão: A oximetazolina induziu
comportamento depressivo. Mais estudos em andamento avaliarão sua influência na
atividade motora e o efeito de um agonista total para os α1A-AR, excluindo possível
ação antagonista-like da oximetazolina.

Palavras-chave: Adrenoceptores α1A, oximetazolina,depressão

TITLE: Evaluation of the α1A adrenoceptors involvement in depressive-like


behavior in mice.

Abstract

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Introduction: α1 adrenoceptors (α1-ARs) are widely found in peripheral tissues,


modulating responses to noradrenaline or adrenaline. However, recent studies have
drawn attention to the expression of α1-ARs in the Central Nervous System (CNS),
highlighting the subtype α1A, which exhibits higher expression levels in areas such as
the amygdala, hippocampus, hypothalamus, cerebral cortex, and mesencephalon.
Thus, it is natural to hypothesize that modulation of α1A-ARs could interfere with the
regulation of affective states related to depression. Objectives: To evaluate the
involvement of α1A-ARs in depression-related behavior, using oxymetazoline as a
pharmacological tool—a partial and selective agonist of α1A-ARs. Methodology: Adult
male mice were treated with oxymetazoline ranging from 0.0001 to 1 mg/kg, 60
minutes before the forced swim test. Immobility time was measured to assess the
drug's effects on depressive-like behavior. Results: Mice treated with oxymetazoline
0.01, 0.1 and 1 mg/kg and submitted to the forced swimming test showed a significant
increase in immobility time. Conclusion:Oxymetazoline induced depressive behavior.
More ongoing studies will assess its influence on motor activity and the effect of a full
α1A-AR agonist, excluding a possible antagonist-like action of oxymetazoline.

Keywords: α1A adrenoceptors oxymetazoline, depression

Introdução

A depressão é um transtorno psicológico de origem multivariada que pode levar os


pacientes a quadros de diminuição ou perda de interesse por atividades que
costumavam ser prazerosas, desregulação de funções biológicas, variação de peso
corporal, alteração nos níveis de energia, menor capacidade de concentração,
sentimento de inutilidade e, com frequência, tristeza constante (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013; KALIA, 2005).
A teoria monoaminérgica representa a hipótese clássica mais antiga sobre a base
biológica da depressão. De acordo com essa teoria, a depressão pode estar
relacionada a níveis reduzidos de monoaminas, como serotonina, noradrenalina e
dopamina, em áreas específicas do córtex e do sistema límbico. Essas substâncias são
consideradas possíveis contribuintes para o desenvolvimento de sintomas depressivos
(PENG et al., 2015; VISMARI; ALVES; PALERMO-NETO, 2008).
No entanto, a fim de entender os mecanismos fisiopatológicos dos transtornos
psiquiátricos e estudar diferentes alvos terapêuticos, algumas famílias de receptores
de membrana vêm sendo estudadas, como é o caso dos receptores adrenérgicos, em
especial os adrenoceptores α1 (α1-AR), o qual é dividido nos subtipos α1A-, α1B- e
α1D-AR (FRANKEL; DUAN; ALBERTSEN, 2018). Os α1-AR são amplamente distribuídos
nos tecidos periféricos, onde desempenham um papel na modulação das respostas à
noradrenalina ou adrenalina liberadas após a ativação do sistema nervoso autônomo

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simpático. Isso é evidente, por exemplo, na contração da musculatura lisa dos vasos
sanguíneos e nos tecidos do trato geniturinário, incluindo o ducto deferente, a
próstata, a vesícula seminal, o epidídimo e a cápsula testicular (SMALL; MCGRAW;
LIGGETT, 2003). No momento, a maioria dos estudos indicam que a redução da
atividade dos α1-AR poderia estar relacionada à depressão, seja em humanos ou em
modelos animais de depressão baseados no estresse crônico.
De fato, é demonstrado que o estresse ou fatores como ACTH/corticosterona podem
dessensibilizar α1-AR no sistema nervoso central de roedores (STONE et al., 2003).
Estudos em humanos, por sua vez, apresentaram evidências da redução da densidade
de receptores α1-AR na cauda e corpo do estriado de pacientes depressivos que
cometeram suicídio (GROSS-ISSEROFF et al., 1990). Com relação ao subtipo de α1-AR
envolvido na depressão, é descrito que camundongos transgênicos expressando
receptores α1A-AR mutantes com atividade constitutiva apresentaram
comportamento do tipo antidepressivo em testes como a natação forçada (DOZE et al.,
2009). Por outro lado, o tratamento repetido com o antidepressivo imipramina ou
eletroconvulsoterapia aumentou os níveis de RNAm para α1A-, mas não α1B-AR, no
córtex pré-frontal de ratos (NALEPA et al., 2002). Recentemente, um trabalho do nosso
grupo demonstrou que o tratamento com a tansulosina, um antagonista dos α1A-AR,
facilitou a indução de comportamentos do tipo depressivo em camundongos
(HOLANDA et al., 2022). Diante do exposto, é notório que os α1-AR, particularmente o
subtipo α1A, podem estar envolvidos na depressão. Estudos que avaliem esse sistema
receptor, utilizando ferramentas farmacológicas seletivas (agonistas e antagonistas,
podem contribuir com o entendimento da fisiopatologia dessa doença ou até mesmo
dar suporte para a criação de novas estratégias terapêuticas. Neste projeto, avaliamos
a participação dos α1A-AR sobre o comportamento relacionado à depressão em
camundongos utilizando a oximetazolina, agonista parcial dos adrenoceptores α1A-AR,
como ferramenta farmacológica.
Objetivo
Objetivo Geral: Avaliar a participação dos adrenoceptores-α1A (α1A-AR) sobre o
comportamento relacionado à depressão em camundongos.
Objetivos específicos: Avaliar os efeitos do tratamento com um agonista seletivo para
o α1A-AR sobre o comportamento do tipo depressivo em camundongo;

Metodologia

Animais:

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Para desenvolver este estudo, foram utilizados 58 camundongos Swiss machos (8-10
semanas; 30-40 g) provenientes do Biotério do Central/Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Os animais foram alojados em, no máximo, 10 por caixa, com livre
acesso a ração e água e foram mantidos em um ciclo de 12 horas claro-escuro (luzes
acesas às 6:00 h) com uma temperatura de 22°C ± 1 °C. Todos os procedimentos
experimentais foram realizados de acordo com as recomendações da Lei n° 11.794 de
08/10/2008 (Lei Arouca) e previamente aprovados pela Comissão de Ética no Uso de
Animais (CEUA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (protocolo
003/2023).
Drogas e Tratamentos:
Oximetazolina - Agonista parcial e altamente seletivo para os α1A-AR (HAENISCH et al.,
2010). A administração intraperitoneal do agonista ocorreu em camundongos com
doses de 0,0001 (n=8), 0,001 (n=8), 0,01 (n=8), 0,1 (n=8) e 1 mg/kg (n=9), 60 minutos
antes dos testes comportamentais. A dosagem e o método de administração da
oximetazolina baseiam-se em estudos anteriores que analisaram a influência deste
composto no Sistema Nervoso Central de roedores (YAOITA et al., 2020). Os animais
controles (n=17) receberam veículo (Salina 0,9%) pela mesma via e volume que os
animais tratados.
Avaliação do comportamento com características depressivas por meio do teste de
natação forçada
Para conduzir este teste, os ratos foram individualmente colocados em um cilindro de
vidro transparente (altura 18 cm; diâmetro 17 cm) contendo água a 24 ± 1ºC. O tempo
em que permaneceram imóveis (tempo flutuando na água sem tentar escapar) foi
cronometrado durante os últimos 4 minutos de uma sessão de natação que durou no
total 6 minutos. A execução do teste de natação forçada seguiu o protocolo
originalmente proposto por Porsolt et al. (1977). A imobilidade observada reflete um
comportamento com características depressivas, reversível por agentes
antidepressivos convencionais.
Análise estatística
Os dados referentes aos parâmetros comportamentais foram analisados quanto à
normalidade e homogeneidade através de testes de Kolomorov-Smirnov e Levene.
Para análises das respostas comportamentais nos camundongos, foram comparados os
grupos controle e experimentais para cada resposta comportamental através de teste
de ANOVA. Todas as análises foram consideradas estaticamente significativas quando
o valor de significância de p estiver abaixo de 0.05.

Resultados e Discussões

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É descrito que camundongos transgênicos expressando um α1A-AR mutante com


atividade constitutiva (ativação do receptor na ausência de ligantes) apresentam
comportamento do tipo antidepressivo (DOZE et al., 2009), enquanto que o
tratamento com tansulosina, um antagonista seletivo dos α1A-AR, produziu
comportamento do tipo depressivo em camundongos. Diante dos achados da
literatura, hipotetizamos que a utilização de agonistas do receptor α1A-AR pudessem
produzir comportamentos do tipo antidepressivo. No entanto, os camundongos
tratados com a oximetazolina, um agonista parcial e seletivo para os α1A-AR, 60 min
antes a exposição à natação forçada demonstraram um aumento significativo do
tempo de imobilidade nas doses de 0,01, 0,1 e 1 mg/kg, quando comparado aos
animais que receberam apenas veículo (grupo controle) (Gráfico 1), indicando que a
oximetazolina foi capaz de produzir comportamento do tipo depressivo.
É sabido que a oximetazolina é um agonista parcial para os α1A-AR (α1A-AR). Devido a
sua baixa eficácia, um agonista parcial pode produzir tanto ações de agonista como
antagonista, a depender de vários fatores entre eles: quantidade do fármaco que
alcança o local de ação, números de receptores funcionais no tecido, presença de um
agonista total/ligante endógeno. Na presença de um ligante endógeno, um agonista
parcial irá produzir ações de um antagonista, competindo com a substância endógena
pelo mesmo receptor e, portanto, impedindo que o ligante endógeno produza o efeito
máximo possível naquela célula (JACKSON, 2010). Este poderia ser o caso da ação pró-
depressiva produzida pela oximetazolina em nossas condições experimentais. Este
fármaco, por conta da sua alta afinidade e baixa eficácia para os α1A-AR (BAKER et al.,
2023), poderia impedir a ação do neurotransmissor noradrenalina (possui baixa
afinidade e alta eficácia em comparação a oximetazolina) (BAKER et al., 2023),
exercendo uma ação de antagonista e produzindo efeitos pró-depressivos de forma
similar a tansulosina, um antagonista dos α1A-AR (HOLANDA et al., 2022).

Conclusão

Desta forma, concluímos que a pesquisa contribuiu para uma compreensão mais
aprofundada da influência dos receptores α1A-AR no comportamento de
camundongos, uma vez que, a administração da oximetazolina, um agonista parcial e
seletivo para os α1A-AR, antes da exposição à natação forçada, resultou em um
aumento significativo no tempo de imobilidade, indicando um comportamento
depressivo. Mais estudos são necessários e estão em andamento a fim de avaliar as
ações da oximetazolina na atividade motora dos animais e testar a ação de um

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agonista total (Nafazolina, cefazolina A61603, etc) para os α1A-AR sobre o


comportamento do tipo depressivo em camundongos.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental


Disorders. 5th. ed. Washington, DC: American Psychiatric Association, 2013
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Anexos

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Figura 1

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CÓDIGO: SB0390

AUTOR: JOAO PEDRO ANDRADE RANGEL

ORIENTADOR: KARINNA VERISSIMO MEIRA TAVEIRA

TÍTULO: A saúde bucal de pessoas com transtornos mentais graves: uma


revisão sistemática

Resumo

A discussão em torno das desordens mentais emergiu como um dos temas mais
relevantes e urgentes na sociedade, uma vez que indivíduos de todos contextos são
impactados por essas condições de forma direta ou indireta, afetando não só o bem-
estar psicológico, como também a qualidade de vida em geral. A influência da saúde
mental na saúde oral dos indivíduos deve ser abordada uma vez que esses transtornos
podem ser fatores precipitantes de problemas na saúde oral. O objetivo do presente
trabalho é, através de uma revisão sistemática da literatura, responder à pergunta:
'Existe associação entre doenças mentais severas e condições de saúde oral?'. Foi
realizada uma busca de acordo com as guidelines do PRISMA 2022. A estratégia PECOS
foi utilizada, delimitando os critérios de inclusão e exclusão. 6 bases de dados e a
literatura cinzenta foram analisadas à partir da estratégia de busca delimitada. 2
pesquisadores avaliaram independentemente os estudos, incluindo, ao final do
processo, 20 estudos para síntese qualitativa e quantitativa. As condições mentais
severas avaliadas foram a esquizofrenia, depressão severa, transtorno bipolar e o
transtorno obsessivo-compulsivo, e as condições de saúde oral foram a cárie dentária,
doença periodontal, perda dentária e transtornos da articulação temporomandibular.
Todos estudos passaram por uma avaliação do risco de viés e uma análise de seus
resultados, para comparação estatística. O estudo encontra-se em fase final de escrita.

Palavras-chave: Saúde oral; saúde mental; cárie dentária; esquizofrenia;


depressão

TITLE: The oral health of people with severe mental disorders: a systematic
review

Abstract

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The discussion around mental disorders emerges as one of the most relevant and
urgent topics in society, since individuals from all contexts are directly or indirectly
impacted by these conditions, affecting not only their psychological well-being, but
also theirquality of life in general.The influence of mental health on the oral health of
individuals must be addressed, since these disorders can be precipitating factors for
problems in oral health.The objective of the present work is, through a systematic
review of the literature, to answer the question: 'Is there an association between
serious mental illnesses and oral health conditions?'.A search was carried out
according to the PRISMA 2022 guidelines. The PECOS strategy was used, delimiting the
inclusion and exclusion criteria.6 databases and gray literature were revealed from the
delimited search strategy.2 researchers independently evaluated the studies,
including, at the end of the process, 20 studies for qualitative and quantitative
review.Miscellaneous mental conditions assessed were schizophrenia, severe
depression, bipolar disorder, and obsessive-compulsive disorder, and oral health
conditions were dental caries, periodontal disease, tooth loss, and temporomandibular
joint disorders.All studies underwent a risk of bias assessment and an analysis of their
results for statistical comparison.The study is in the final writing phase.

Keywords: Oral health; mental health; dental caries; schizophrenia; depression

Introdução

Transtornos psíquicos constituem uma das principais fontes de ônus global de doenças
no mundo. A depressão figura como a principal causa dos transtornos mentais,
enquanto a ansiedade se posiciona como o mais prevalente entre eles. A propagação
da COVID-19 também foi ligada a uma ascensão nas taxas de angústia psicológica, com
índices variando entre 35% e 38% ao redor do globo. Organismos como a OMS
confirmam que distúrbios mentais, incluindo depressão, transtorno bipolar e
esquizofrenia, são classificados entre as 20 principais moléstias incapacitantes.
Uma conexão crucial a ser estabelecida é a influência do bem-estar mental na saúde
bucal, visto que transtornos mentais podem servir como catalisadores para problemas
de saúde bucal. Isso se deve ao impacto dessas condições no cotidiano dos indivíduos,
moldando seus hábitos de autocuidado oral, os quais podem predispor ao acúmulo de
placa bacteriana. Além disso, comportamentos parafuncionais frequentemente
associados a problemas mentais podem agravar a situação. Medicamentos que
perturbam o equilíbrio biológico também podem induzir uma série de alterações
bucais.
Nesse contexto, surge a necessidade de examinar a correlação entre transtornos
mentais e problemas bucais, enfocando não apenas a estética e autoestima, mas
também as funcionalidades, considerando como distúrbios mentais podem ser

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catalisadores de cáries, doenças gengivais, problemas na articulação


temporomandibular e perda dentária. As condições mentais analisadas neste estudo
foram selecionadas devido à sua alta prevalência e classificação como distúrbios
mentais graves, incluindo esquizofrenia, depressão severa, transtorno obsessivo-
compulsivo, transtorno esquizoafetivo e transtorno bipolar.
Apesar da existência de pesquisas anteriores e revisões sistemáticas que exploraram a
relação entre saúde bucal e transtornos mentais, a realização deste estudo é
justificada pela necessidade de atualização e pela omissão da literatura cinzenta em
análises passadas, além do crescente interesse na sociedade contemporânea. Nesse
sentido, o propósito desta revisão sistemática é responder à pergunta focal: "Existe
uma associação entre distúrbios mentais graves e condições de saúde bucal?

Metodologia

Esta revisão sistemática foi executada conforme as orientações do PRISMA. A


estratégia PECOS foi empregada nesse exame para delinear os seguintes critérios de
seleção dos estudos: A população (P) foi composta por adultos maiores de 18 anos;
Exposição (E) - A exposição envolveu indivíduos com quadros de doenças psicológicas
graves, como transtorno esquizoafetivo, transtorno bipolar, depressão grave/maior e
transtorno obsessivo-compulsivo; Comparação (C) - Os controles foram constituídos
por pessoas com boa saúde bucal; Resultado (O): Pacientes com cáries dentárias,
doença periodontal, perda dentária, incluindo edentulismo, e disfunções da
articulação temporomandibular, também englobando pessoas com doenças mentais
graves; Os estudos observacionais foram o tipo escolhido (S).
Foram incluídos estudos cujas amostras consistiam em pacientes com diagnóstico de
doença mental grave. Também foram incorporados estudos que analisaram a saúde
bucal em relação a cáries dentárias, doença periodontal, distúrbios da articulação
temporomandibular e perda dentária, incluindo edentulismo. Uma comparação
obrigatória com um grupo de controle saudável foi requerida, onde os controles
englobavam indivíduos sem quaisquer problemas de saúde bucal. Foram admitidos
estudos observacionais, de caso-controle, coorte e transversais. Considerações
relativas à etnia, sexo, idade, idioma ou ano de publicação não foram discriminatórias.
Critérios de exclusão foram aplicados da seguinte maneira: 1. Estudos com populações
compostas por menores de 18 anos; 2. Estudos nos quais os indivíduos não possuíam
doenças mentais graves ou as condições de saúde bucal estudadas; 3. Estudos sem

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grupo de controle saudável; 4. Publicações do tipo resenha, cartas, livros, resumos de


conferências, relatos de caso, séries de casos, artigos de opinião, artigos técnicos,
diretrizes, métodos randomizados ou não randomizados e ensaios clínicos; 5. Casos em
que o texto completo do estudo não foi disponibilizado, mesmo após solicitação aos
autores.
Todas as buscas foram realizadas antes de agosto de 2021 e atualizadas em março de
2022 por meio das bases de dados EMBASE, Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed/Medline, Psycinfo, Scopus e Web of Science.
Além disso, a literatura cinzenta também foi explorada via Biblioteca Digital Brasileira
de Teses e Dissertações (BDTD), Google Scholar, Open Gray e ProQuest Dissertation
and Thesis. Termos MeSH combinados com termos livres foram empregados para
buscar artigos possivelmente pertinentes nas bases de dados, com palavras-chave
estruturadas envolvendo a população e a intervenção. Adicionalmente, uma pesquisa
manual das referências dos estudos inclusos foi realizada e um especialista consultado
para identificar possíveis artigos não incluídos.
As referências duplicadas foram eliminadas com software específico. No processo de
Seleção, Dois pesquisadores, seguindo critérios pré-estabelecidos de inclusão e
exclusão, independentemente selecionaram cada item com base na relevância por
meio dos títulos e resumos. Quando a decisão sobre a elegibilidade não pôde ser
tomada com base no título e no resumo, o artigo completo foi obtido. Em caso de
discordância não resolvida por debate entre o primeiro e o segundo revisor, um
terceiro pesquisador foi incluído para desempatar. A fim de cegar a revisão e
possibilitar a análise independente e confidencial, o site Rayyan
(http://rayyan.qcri.org) foi utilizado, cegando todas as avaliações. Para garantir a
concordância entre os revisores, o coeficiente de concordância kappa foi calculado e a
seleção dos estudos só começou quando o valor de concordância foi > 0,8, indicando
concordância satisfatória. Quando dados estavam ausentes ou incompletos, tentativas
de contato com os autores foram feitas para obter informações não publicadas. Os
autores foram contatados por e-mail durante três semanas consecutivas, sempre que
informações adicionais eram necessárias. Os mesmos dois pesquisadores
independentes do processo de seleção extraíram as seguintes informações por meio
de planilhas eletrônicas padronizadas: sobrenome do primeiro autor, ano de
publicação, país de publicação, desenho do estudo, análise de saúde bucal e saúde
mental, características da amostra, idade média da amostra, medidas de saúde bucal e
saúde mental, tipo de análise estatística, variáveis de ajuste e resultados. Os estudos
de caso-controle, transversais e de coorte incluídos foram avaliados quanto à
qualidade metodológica usando a avaliação do Instituto Joanna Briggs. O risco de viés
foi classificado como alto quando o estudo recebeu até 49% de respostas "sim",

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moderado quando recebeu de 50% a 69% de respostas "sim" e baixo quando obteve
mais de 70% de respostas "sim".

Resultados e Discussões

Entre os estudos incluídos, 19 foram redigidos em inglês e 1 estava no idioma


português brasileiro, originados de várias nações, como Arábia Saudita, Bósnia e
Herzegovina, Brasil, Egito, Espanha, Índia, Irã, Itália, Sérvia, Suécia, Taiwan e Turquia.
As publicações abrangem um intervalo de anos de 2009 a 2022. Dentro do conjunto de
estudos de caso-controle, o tamanho das amostras variou de 40 a 390 participantes,
cujas idades variaram entre 18 e 67 anos. Para os estudos transversais, as amostras
oscilaram entre 60 e 1643 participantes, com idades entre 18 e 71 anos. Nos estudos
de coorte, as amostras totalizaram 61.685 e 184.824 participantes, com média de
idade de 44 anos. Dois estudos não seguiram pareamento quanto a idade e gênero.
Um estudo focou apenas no gênero feminino, enquanto outro se concentrou no
gênero masculino (34). Os demais estudos foram pareados quanto a idade e gênero.
As condições psicológicas examinadas compreenderam esquizofrenia, transtorno
bipolar, depressão severa e transtorno obsessivo-compulsivo. A quarta edição do
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV) prevaleceu como o
critério mais empregado para diagnóstico, enquanto os índices de Dentes Cariados,
Perdidos ou Obturados (CPO-D), o Índice Periodontal Comunitário (CPI) e os Critérios
Diagnósticos de Pesquisa para Distúrbios Temporomandibulares (RDC/TMD) foram
utilizados para as condições de saúde bucal.
No que diz respeito às condições de saúde bucal investigadas, 12 estudos abordaram a
saúde periodontal, 5 exploraram disfunções temporomandibulares, e 8 analisaram a
cárie dentária. Vale destacar que o número de estudos avaliando cada condição
excede a quantidade total de artigos selecionados devido a alguns estudos
considerarem mais de uma condição simultaneamente. A perda dentária foi avaliada
nos estudos dentro do índice CPO-D, juntamente com a cárie dentária. Os resultados
individuais dos estudos serão avaliados no texto completo do artigo.

Esta análise sistemática compila as amplas evidências relativas à condição de saúde


bucal em indivíduos que enfrentam esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão
severa, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno esquizoafetivo. Os autores se
depararam com desafios na seleção e busca de estudos, considerando que cinco

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diferentes distúrbios foram abordados neste estudo. Por esse motivo, uma busca
abrangente foi realizada, resultando em um considerável número de estudos
encontrados tanto em bases de dados quanto na literatura cinzenta. Em alguns casos,
a comunicação direta com os autores se fez necessária devido a restrições
relacionadas à disponibilidade dos materiais, visando avançar para as etapas seguintes
da revisão.
Os achados indicam uma relação entre a saúde mental e a saúde bucal dos pacientes. É
crucial destacar que muitos estudos incorporaram variáveis como o uso de tabaco,
álcool, antipsicóticos, níveis de estresse, gênero e idade dos pacientes. Portanto, esses
fatores devem ser considerados na análise abrangente do paciente, visto que podem
representar possíveis fatores de risco para o desenvolvimento de condições bucais, ou
até mesmo fatores de confusão nos estudos.
É relevante enfatizar que as conclusões obtidas por meio das análises foram
estatisticamente significantes e consistentes, permitindo estabelecer associações entre
a saúde mental e a saúde bucal. Consequentemente, a inclusão da avaliação da
integridade da saúde bucal em indivíduos com distúrbios mentais ganha destaque e
importância.

Conclusão

Tendo em vista a compreensão da interligação entre esses dois aspectos da saúde, é


imperativo que os profissionais da área estejam devidamente informados sobre essa
correlação e permaneçam vigilantes para intervir de maneira apropriada junto aos
seus pacientes. Ao explorar a literatura relacionada ao tema, tornou-se evidente que
essa interdependência está ganhando cada vez mais destaque, e a quantidade de
estudos que investigam essa relação no contexto de uma abordagem mais holística ao
cuidado dos pacientes tende a crescer. Atualmente, o estudo encontra-se em fase final
de escrita e análise estatística.

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CÓDIGO: SB0410

AUTOR: ALINE BUENO DA SILVA

COAUTOR: EDSON APARECIDO VIEIRA FILHO

COAUTOR: MARIANA XAVIER DEIGA FERREIRA

COAUTOR: WILDNA FERNANDES DO NASCIMENTO

ORIENTADOR: GUILHERME ORTIGARA LONGO

TÍTULO: A duração dos eventos de soterramento influencia a resistência e


resiliência de Siderastrea stellata ao aumento da temperatura?

Resumo

Os efeitos das mudanças climáticas estão intensificando o processo de branqueamento


de corais, podendo resultar em morte e redução da diversidade marinha. Além disso, o
soterramento é outro fator estressante que pode influenciar nestes efeitos em recifes
rasos. No Brasil, o principal bioconstrutor de recifes rasos é o coral Siderastrea stellata
que, embora resistente ao soterramento e variação de temperatura, pode apresentar
diferentes respostas dependendo da duração destes eventos. Para compreender o
impacto do soterramento e temperatura, conduzimos experimentos em laboratório
manipulando essas condições de estresse em 42 colônias de S. stellata. As colônias
foram submetidas a tratamentos simulando temperaturas atuais e futuras, além de
soterramento de curta e longa duração. Após o experimento, as condições retornaram
a níveis naturais, e as colônias foram monitoradas para avaliar a recuperação. No geral,
as colônias apresentaram redução na taxa fotossintética, entretanto aquelas sujeitas
ao soterramento de curta duração demonstraram maior eficiência fotossintética e
valores superiores durante a recuperação, comparadas às submetidas ao
soterramento prolongado. A diferença de temperatura não influenciou na resposta
fisiológica das colônias de S. stellata sob condições de soterramento. Assim, o
aumento da sedimentação em áreas costeiras, ocasionando soterramentos
prolongados, representa impacto significativo e comparável ao branqueamento
causado por estresse térmico.

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Palavras-chave: Branqueamento. Mudanças climáticas. Sedimentação. Recifes


rasos.

TITLE: Does the duration of burial events influence the resistance and
resilience of Siderastrea stellata to temperature rise?

Abstract

The effects of climate change are intensifying the coral reef bleaching process, which
can result in death and reduction of marine diversity. Additionally, burial is another
stress factor that can influence these effects in shallow reefs. In Brazil, the main builder
of shallow reefs is the coral Siderastrea stellata, which, although resistant to burial and
temperature variation, may exhibit different responses depending on the duration of
these events. To understand the impact of burial and temperature, we conducted
laboratory experiments manipulating these stress conditions on 42 colonies of S.
stellata. The colonies were subjected to treatments simulating current and future
temperatures, as well as short and long-term burial. After the experiment, conditions
returned to natural levels, and the colonies were monitored to assess recovery.
Overall, the colonies showed a reduction in photosynthetic rate, but those subjected
to short-term burial demonstrated greater photosynthetic efficiency and higher values
during recovery, compared to those subjected to prolonged burial. Temperature
difference did not influence the physiological response of S. stellata colonies under
burial conditions. Thus, increased sedimentation in coastal areas, causing prolonged
burial, represents a significant and comparable impact to bleaching caused by thermal
stress.

Keywords: Coral bleaching. Climate change. Sedimentation. Shallow reefs

Introdução

Os recifes de corais são um dos ecossistemas vitais para o planeta (Elliff e Kikuchi,
2017), com grande relevância ecológica, social e econômica devido à alta
biodiversidade e aos serviços ecossistêmicos prestados, como reciclagem de
nutrientes, turismo, pesca e proteção costeira (Soares et al., 2021). Contudo,

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mudanças climáticas globais, resultantes dos impactos antrópicos, têm contribuído


para o aquecimento e acidificação dos oceanos, impactando negativamente a saúde e
integridade dos recifes (Hoegh-Guldberg et al., 2007; Bellwood et al., 2004), dando aos
corais pouco tempo para se recuperarem (Smale et al., 2019; Hughes et al., 2018).
O branqueamento ocorre quando a relação simbiótica entre corais e microalgas
dinoflageladas presentes no seu tecido é rompida. Nessa relação, os corais oferecem
abrigo aos endossimbiontes em troca de nutrientes oriundos da fotossíntese (Weis et
al., 2008). Temperaturas mais altas intensificam a atividade fotossintética dos
simbiontes (Weis et al., 2008), resultando em aumento do estresse oxidativo e
expulsão das microalgas, causando o branqueamento do coral à medida que seu tecido
perde a coloração e o esqueleto calcário é exposto. Outro fator que contribui para o
branqueamento dos corais é o soterramento (Goatley e Bellwood, 2013), devido à
mudança de padrões de ventos e ondas, facilitando a deposição e acúmulo de
sedimento sobre corais (Lirman e Manzello, 2009). Esse estressor local acentua
impactos negativos à saúde do coral, como redução da atividade fotossintética dos
simbiontes, diminuição do crescimento por abrasão e até morte por sufocamento
(Nugues e Roberts, 2003; Roy e Smith, 1971; Philipp e Fabricius, 2003). Esses impactos
em escala global (aquecimento) e local (soterramento) podem atuar sinergicamente e,
em longo prazo, levar à queda da cobertura coralínea, com implicações sérias não só
para os corais, mas também aos organismos que têm os recifes como principal habitat
de sobrevivência.
Em locais onde as condições ambientais são desfavoráveis, a capacidade de resistir a
distúrbios e se recuperar após esses eventos é fundamental para a sobrevivência das
comunidades recifais (Nascimento, 2019). Nesse contexto, os recifes de corais do Brasil
representam um bom modelo para investigar a resistência e resiliência dos corais, por
demonstrarem, em comparação aos recifes do Caribe e Indo-Pacífico (Mies et al.,
2020), menores taxas de mortalidade após eventos de branqueamento (Kelmo e Attrill,
2013; Dias e Gondim, 2016; Banha et al., 2020; Teixeira et al., 2019). Essa resiliência
pode estar ligada a algumas características da costa brasileira, como a alta
variabilidade nas condições ambientais e hidrodinâmicas, fortes ventos e grandes
descargas de sedimentos, que parecem ter favorecido a predominância de corais
maciços adaptados a essas condições (Mies et al., 2020; Leão et al., 2016). Entre esses
corais, uma espécie que se destaca pela sua ampla distribuição e dominância ao longo
da costa é Siderastrea stellata, sendo um dos principais corais construtores de recifes
de águas rasas no país (Castro e Pires, 2001). Esta espécie ocorre até mesmo em poças
de maré sujeitas a altas temperaturas e hidrodinamismo (Castro e Pires, 2001), o que a
torna tolerante a condições estressantes. Assim, entender sua resposta ao estresse é
crucial para a dinâmica local.

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Para entender os efeitos do soterramento e do aquecimento, que têm se demonstrado


como fatores que afetam a saúde dos corais e sua capacidade de recuperação,
conduzimos experimentos em laboratório manipulando as duas condições de estresse
utilizando colônias de S. stellata. Nos experimentos, a duração do soterramento no
coral foi testada, em diferentes temperaturas, e com posterior monitoramento da
recuperação. A questão que se busca responder é: “Como a saúde da espécie
Siderastrea stellata varia quando submetida a soterramentos de diferentes durações e
como essa variação afeta sua resposta ao aumento da temperatura?”.

Metodologia

Local de estudo

Para realizar este trabalho, as colônias de Siderastra stellata foram coletadas dentro da
Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), RN, mais especificamente,
nos Parrachos de Rio do Fogo (5° 16 '36"S, 35° 22' 45"O). A APARC é uma Unidade de
Conservação de Uso Sustentável, criada pelo decreto estadual nº 15.746, de julho de
2001, com objetivo de assegurar a preservação da biodiversidade marinha, através do
monitoramento das pressões antrópicas impostas aos ambientes recifais. A APARC
está localizada na plataforma rasa do Rio Grande do Norte, percorrendo os municípios
de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros. Dentre as atividades realizadas nestas áreas,
a pesca artesanal, visitação turística, mergulho recreativo, mergulho autônomo e
pesquisas científicas são permitidas com restrição a suas zonas de ocorrência e cotas
diárias de visitação conforme a portaria N°027/2013 do IDEMA. Os recifes de corais da
APA estão situados a aproximadamente 7 km da costa, em profundidade de 1 a 6
metros (Roos et al., 2020) e são caracterizados por apresentar em sua cobertura
bentônica algas turf, algas calcárias, macroalgas, esponjas, corais escleractíneos
zooxantelados, zoantídeos e cianobactérias (Roos et al., 2019). A parte experimental
deste trabalho foi conduzida no Laboratório de Experimentação Aquática (LEXA) do
Laboratório de Ecologia Marinha (LECOM), localizado no Departamento de
Oceanografia e Limnologia da UFRN em Natal, Rio Grande do Norte.

Coleta e aclimatação das colônias


Ao todo, 42 colônias de Siderastrea stellata, com aproximadamente 2,5 cm de
diâmetro, foram coletadas nos Parrachos de Rio do Fogo, seguindo uma distância
mínima de 10 metros entre cada uma, a fim de assegurar variação genética e

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amostragem representativa da população local. Em seguida, as colônias foram


transferidas para sistemas de aquários no LEXA, e passaram por um período de
aclimatação de 7 dias, em condições ideais de temperatura, pH, oxigênio e iluminação
para reduzir os níveis de estresse ocasionados durante a coleta. Os sistemas de
aquários do laboratório são fechados e possuem equipamentos para o controle de pH,
oxigênio, temperatura, filtragem e iluminação artificial eletrônica configurada para
disponibilizar radiação luminosa com comprimentos de onda adequados para espécies
de corais.

Tratamento de duração do soterramento

Após o período de aclimatação, as colônias foram acondicionadas em recipientes


plásticos e cobertas por sedimento arenoso coletado da praia em frente ao
laboratório. Em seguida, foram divididas aleatoriamente em três tratamentos de
soterramento: curta duração, longa duração e controle; e, posteriormente, distribuídas
entre os 14 aquários, de modo que na disposição final, cada aquário apresentava uma
colônia de cada tratamento. Com exceção do grupo controle, as colônias de curta e
longa duração foram completamente enterradas, diferindo somente o período de
tempo em que permaneceram nesta condição. O grupo de curta duração foi
submetido ao soterramento por 15 dias, enquanto o de longa duração permaneceu
soterrado por 30 dias.

Tratamento de temperatura

Em conjunto com o experimento de soterramento, as colônias também foram


submetidas a dois tratamentos de temperatura, atual e futura. Os grupos definidos no
experimento anterior (curta duração, longa duração e controle) foram divididos em
dois a fim de analisar os efeitos do soterramento em conjunto com o aumento de
temperatura. Metade dos aquários foram mantidos em temperatura constante de 27°
C (atual), enquanto na outra metade ocorreu manipulação da temperatura, simulando
uma onda de calor. A temperatura da água, inicialmente a 27° C, foi elevada
gradualmente durante três dias até atingir 30℃, provocando o estresse térmico, de
acordo com recomendação de Grottoli et al. (2021). Os corais foram mantidos nesta
temperatura por uma semana, seguido de diminuição gradual para a temperatura
inicial (27℃). Após o experimento, as colônias permaneceram em observação durante
8 dias, em processo de recuperação.

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Saúde dos corais

A capacidade fotossintética dos simbiontes foi medida de dois em dois dias em cada
colônia com o auxílio de um fluorômetro subaquático (diving PAM), durante o
experimento e no período de recuperação. Nos mesmos dias, também foram
coletados dados da qualidade da água, como salinidade, temperatura e pH. Além
disso, registros fotográficos foram realizados para o acompanhar o estado físico dos
corais durante o processo. As fotografias aconteceram em estúdio com auxílio de
câmera anfíbia em aquário separado dos demais, e, no momento dos registros, as
colônias foram posicionadas ao lado da paleta de cores do CoralWatch Coral Health
Chart para comparar seu do estado físico com o padrão de cores da matriz D (ver
detalhes em https://coralwatch.org/monitoring/using-the-chart/). A tabela de saúde
de corais do CoralWatch é uma ferramenta de avaliação para análise qualitativa da
coloração dos corais. Em formato de cartão (6x6), a tabela utiliza 6 gradientes de cores
(de tons mais pálidos a mais escuros) em 4 matrizes distintas (B, C, D e E) para
classificar as alterações de cor no processo de branqueamento. Esta técnica permite
uma avaliação otimizada através de uma observação visual rápida da mudança do
coral saudável em transição de branqueamento (Siebeck et al., 2006).

Resultados e Discussões

Análise da eficiência fotossintética

No tratamento em que a temperatura foi mantida a 27°C (atual), observamos


diminuição da taxa fotossintética das colônias submetidas ao soterramento, tanto para
as colônias que ficaram soterradas por 15 dias (curta duração), quanto para as que
permanecem enterradas por 30 dia (longa duração). Entretanto, as colônias soterradas
por mais tempo apresentaram as menores taxas, como demonstrado na Figura 1.
No processo de recuperação, as colônias do tratamento de curta duração exibiram
melhores taxas de eficiência fotossintética - o maior índice foi de 0,34 (erro padrão ±
0,07) após o 8º dia de desenterramento. Em comparação, as colônias que ficaram
soterradas por mais tempo apresentaram menores taxas, visto que o maior índice foi
de 0,24 (erro padrão ± 0,07) no 6º dia após desenterramento, e nos dias seguintes,
houve uma queda nos valores.

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De maneira parecida, nos tanques em que foi simulado uma onda de calor, as colônias
dos dois tratamentos de soterramento tiveram baixas taxas fotossintética durante o
experimento, tal como o grupo de longa duração demonstrou menores valores no
decorrer dos dias. Contudo, a condição de estresse térmico ocasionou menores índices
de eficiência fotossintética nos quatro primeiros dias (Figura 1), em comparação com o
tratamento em que a temperatura permaneceu a 27°C.
Já o processo de recuperação das colônias submetidas ao soterramento associado a
onda de calor, foi melhor para os dois tratamentos, demonstrando taxas de progressão
na eficiência fotossintética ao longo dos dias após o desenterramento.

Análise de cor para determinar saúde e mortalidade das colônias

Os critérios para avaliar a saúde das colônias a partir da coloração foram


fundamentados no trabalho de conclusão de curso de Nascimento (2019), onde
colônias consideradas saudáveis apresentaram cor normal amarronzada, e para estes
estados, classificamos as colônias com D6, D5 e D4 de acordo com a tabela
CoralWatch. Quando pálidas, a perda parcial de sua coloração ocorre em diferentes
tonalidades, relacionado assim com as cores D3, D2 e D1. Para classificar com
branqueadas, consideramos a coloração branca semelhante à cor do esqueleto da
colônia, devido a perda das micro algas dinoflageladas. Ademais, as colônias foram
consideradas mortas quando apresentavam coloração esbranquiçada associada à falta
da camada de tecido, podendo ou não haver sobrecrescimento de algas.
Com relação à coloração das colônias durante o experimento e período de
recuperação, no tratamento em que a temperatura foi mantida a 27 °C, o grupo curta
duração apresentou diminuição de tonalidade e mortalidade, ou seja, as colônias se
tornaram mais pálidas ao longo dos dias, sinalizando branqueamento e algumas não
sobreviveriam até o final do período de recuperação. Na figura 2, é possível visualizar a
diferença de coloração das colônias no início do estudo, onde mais da metade
abrangiam os padrões D5 e D4, porém, no momento em que foram desenterradas,
57% das colônias vivas apresentavam coloração D1, e após 8 dias (intervalo de
recuperação), apenas duas colônias passaram para um nível maior (D4), e as outras
duas sobreviventes permaneceram com a mesma cor do dia em que foram
desenterradas. Do mesmo modo, as colônias soterradas por mais tempo (tratamento
de longa duração) passaram a ficar mais claras durante o experimento, e a taxa de
mortalidade foi maior do que as soterradas por 15 dias (Figura 2). Antes do
soterramento, 87% das colônias apresentavam cor entre D5 e D4, entretanto, quando
desenterradas, apenas 1 das colônias sobreviventes permaneceu viva até o período de
recuperação demonstrando sinal de recuperação, passando de D2 a D4.

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Semelhante ao grupo anterior, as colônias que passaram por estresse térmico também
apresentaram tons mais pálidos ao longo do experimento e período de recuperação
(Figura 3), porém a quantidade de colônias que sobreviveram foi maior (Figura 3). No
início do tratamento de curta duração, 71% das colônias foram categorizadas com cor
D5, no entanto, quando desenterradas duas colônias morreram e 51% das
sobreviventes passaram para a cor D1. Já no início do tratamento de longa duração,
todas as colônias apresentavam a cor D5, porém, ao serem desenterradas, apenas 5
sobreviveram e estavam com a cor a menor cor da tabela (D1). O processo de
recuperação para os dois tratamentos de soterramentos expressou efeito parecido às
colônias, no final foram três sobreviventes, duas com coloração D1 e uma D2.

No geral, os resultados destes experimentos corroboram com dados obtidos no


trabalho de Tunala et al. (2019), demonstrando que colônias submetidas ao
soterramento total de longa duração são as mais prejudicadas, pois a redução da
disponibilidade de luz afeta diretamente no balanço de energia do coral
sobrecarregando seu metabolismo. Uma vez que a viabilidade do alimento provido da
fotossíntese é comprometida, em consequência da expulsão das zooxantelas, o animal
precisa aumentar sua frequência respiratório para capturar alimentos pelo seus
pólipos (Roy, 1971; Abdel-Salam et al., 1988; Stafford-Smith, 1993). Segundo Philipp e
Fabricius (2003), a redução de coloração em corais soterrados ocorre devido à redução
da quantidade de endossimbiontes no tecido hospedeiro. Assim, a mudança de
coloração é um sinal de estresse relacionado com a duração do soterramento (Tunala
et al, 2019) podendo comprometer a saúde de S. stellata.
Referente a recuperação das colônias após soterramento, a maior parte das colônias
branqueadas faleceram, apresentando crescimento de algas e na maioria dos casos foi
relatada necrose tecidual. Diferentemente dos resultados deste trabalho, estudos
realizados avaliando a resiliência de S. stellata após soterramento de 4 meses tiveram
resultados positivos quanto a recuperação deste coral (Longo;Correia; Mello, 2020).
Algumas variáveis como: baixo hidrodinamismo da água; anóxia do meio;
contaminação do sedimento; e granulometria do sedimento podem ser hipóteses a
serem testadas a fim de compreendermos os motivos pelos quais o processo de
recuperação das colônias deste estudo não corresponderam aos demais.
Com relação a temperatura, para este experimento, as duas condições distintas
tiveram resposta diferente das esperadas, uma vez que a sobrevivência das colônias foi
maior nos tratamentos de soterramento em que houve estresse térmico. Desta forma,
não podemos afirmar se a temperatura teve influência no processo de recuperação.
Contudo, a pouca variação da eficiência fotossintética e coloração das colônias do
grupo controle (em que não houve soterramento) demonstra que a espécie
Siderastrea stellata é resistente a variação de temperatura (Laborel, 1970; Segal e

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Castro, 2000). Portanto, a sobrevivência do coral S. stellata a eventos de soterramento


de longa duração depende da intensidade desses eventos, bem com a agilidade que a
comunidade endossimbionte é restabelecida (Ortiz et al. 2014).

Conclusão

A duração de eventos de soterramento total em recifes rasos da costa brasileira pode


influenciar na saúde do coral S. stellata provocando branqueamento e morte, igualado
aos efeitos da temperatura por si só, relatada nos últimos anos, decorrentes das
mudanças climáticas. Devido o aumento de episódios de estresse ambiental e a
diminuição dos espaços de tempo entre esses eventos, a existência de corais com
capacidade de tolerância a esses fatores se torna benéfica para a comunidade dos
recifes, possibilitando que ela permaneça estável e tolerante diante das mudanças
climáticas já em andamento. Dessa maneira, estudos mais aprofundados são
necessários para compreendermos melhor a resistência e resiliência dos corais
brasileiros.

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Anexos

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eCICT 2023

Figura 1: Média da eficiência fotossintética das colônias de Siderastrea stellata


submetidas ao soterramento em temperatura constante de 27°C (A) e com estresse
térmico de 30ºC (B).

693
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eCICT 2023

Figura 2: Frequência de coloração das colônias de Siderastrea stellata submetidas ao


soterramento em temperatura constante de 27°C. (A) e mortalidade (B).

694
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 3: Frequência de coloração das colônias de Siderastrea stellata submetidas ao


soterramento com estresse térmico de 30ºC. (A) e mortalidade (B)

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0425

AUTOR: GABRIELLE GERMEK COELHO SANTOS

ORIENTADOR: SILVIA REGINA BATISTUZZO DE MEDEIROS

TÍTULO: Estudo genômico de vírus de DNA circulantes na região metropolitana


de Natal – RN

Resumo

Os vírus são estruturas subcelulares e um importante alvo de pesquisas atualmente, de


modo a compreender a atuação, relevância e ameaças quanto a sua patogenicidade
que podem afetar a saúde humana. Pouco é conhecido, porém, sobre a presença,
distribuição e interação de vírus no meio urbano, mais especificamente, aqueles
presentes em transportes públicos. Desta forma, este trabalho teve como objetivo a
detecção viral exposta no transporte público do município de Natal/RN. Foram feitas
coletas de amostras nas superfícies de 67 ônibus distribuídos em várias linhas
circulantes da cidade durante o período de inverno (18/07/2022 até 21/09/2022). Foi
feito um pool das amostras, seguido da extração de DNA viral, preparação da
biblioteca genômica e sequenciamento. As sequências foram analisadas com
ferramentas da Bioinformática. Os resultados do trabalho ainda são parciais, e
mostraram baixas concentrações da amostra pós-extração (0,04 ng/µL). Contudo, as
bibliotecas genômicas pós-sequenciamento e seus dados estatísticos obtiveram
qualidades significativas. Nas análises em Bioinformática, o número de sequências para
DNA Viral foi de 18.805.942, e seu valor N50, após a montagem, foi de 5.769. Tais
resultados indicam bons parâmetros para a continuidade do projeto, dando início a
realização da taxonomia das amostras, abundância e diversidade dos taxa in silico e
suas correlações com dados referentes a temperatura, umidade e epidemiologia.

Palavras-chave: metagenoma; vírus; ônibus.

TITLE: Genomic study of circulating DNA viruses in the metropolitan region of


Natal - RN

Abstract

696
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Microbial diversity is vast and is currently an important research target, in order to


understand the role and relevance of beneficial microorganisms, as well as the threats
of pathogenic microorganisms that can affect human health. Little is known, however,
about the presence, distribution and interaction of urban microorganisms, more
specifically, those present in public transport. In this way, this work had as objective
the viral detection exposed in the public transport of the city of Natal/RN. Samples
were collected from the surfaces of 67 buses distributed on several circulating lines in
the city during the winter period (07/18/2022 to 09/21/2022). Samples were pooled,
followed by viral DNA extraction, genomic library preparation and sequencing. The
sequences were analyzed with Bioinformatics tools. The results of the work are still
partial, and showed low concentrations of the post-extraction sample (0.04 ng/µL).
However, the post-sequencing genomic libraries and their statistical data obtained
significant qualities. In Bioinformatics analyses, the number of sequences for Viral DNA
was 18,805,942, and its N50 value, after assembly, was 5,769. Such results indicate
good parameters for the continuity of the project, initiating the realization of the
taxonomy of the samples, abundance and diversity of taxa in silico and their
correlations with data referring to temperature, humidity and epidemiology.

Keywords: metagenome; virus; bus.

Introdução

Os vírus são considerados estruturas subcelulares, já que precisam da maquinaria


celular hospedeira para se tornar possível a sua replicação (KING; MEHLE, 2020). Eles
apresentam um ciclo de biossíntese exclusivamente intracelular, sem metabolismo
fora da célula. Suas propriedades podem mudar com base na sua natureza e seus
hospedeiros. Normalmente, o material genético dos vírus pode ser de DNA (ex:
Adenoviridae) ou RNA (ex: Coronaviridae), de fita simples ou fita dupla, e com uma
variedade de tamanhos e formas. A estrutura do vírus é revestida por uma proteína
chamada capsídeo, que protege o seu genoma. Em relação à morfologia, eles podem
ser icosaédricos, filamentosas, com formato complexo (vírus bacteriófagos) ou de
“bala de revólver” (LIANG; BUSHMAN, 2021, p. 514).
Os vírus podem se manter suspensos no ambiente por certo período de tempo na
forma de bioaerossóis. Estes são elementos biológicos presentes na atmosfera de
forma dispersa. Sua constituição depende de fatores como a fonte do material e
outras características ambientais, mas são mais conhecidos como uma combinação de
um microrganismo suspenso no ar (tradução do inglês para “airborne microorganism”)
a partículas de poeira, vapor d’água e/ou secreções (VANETTI; OLIVEIRA, 2020; KIM;
HAN; YOO, 2022).

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O ambiente urbano cresce cada vez mais e mais pessoas são inseridas nele,
culminando no aumento da concentração microbiana (GOHLI et al., 2019). O sistema
de transporte público é um importante foco viral, no qual milhares de pessoas o
ultilizam diariamente, interagindo de forma constante com micróbios (HERNÁNDEZ et
al., 2020). O principal transporte público do município de Natal/RN é o ônibus,
deslocando, diariamente, mais de 100 mil pessoas (STTU, 2021).
Foi criada uma organização internacional em 2015 com o objetivo de melhor conhecer
o microbioma urbano ao redor do mundo, o Consórcio de Metagenoma e Metadesign
de Biomas Urbanos e de Metrô (MetaSUB). Através dele, são investigadas a densidade,
tipos e dinâmicas de metagenomas virais e perfis de microrganismos com resistência
antimicrobiana (RAM) a partir da criação de protocolos para coleta e sequenciamento
de amostras (DANKO et al., 2021).
As ciências ômicas são um conjunto de abordagens para análises moleculares, sendo
compostas pela genômica, proteômica, transcriptômica, metabolômica e epigenômica.
Os dados das multi-ômicas são amplamente utilizados para o estudo de ferramentas
biológicas distribuídas em diferentes níveis (SUBRAMANIAN et al., 2020). A
metagenômica é caracterizada pelo sequenciamento e análise genética de amostras
ambientais, muito utilizada para caracterização de traços funcionais de fontes
microbianas. Esta ciência ômica é utilizada pelo MetaSUB para o desenvolvimento de
análises genéticas das amostras coletadas pelas cidades ao redor do mundo, de modo
a compreender quais microrganismos circulam juntamente aos humanos diariamente
(DANKO et al., 2021).

Metodologia

Coleta das amostras: Primeiramente, foram realizadas coletas de amostras em


períodos distintos, de sazonalidade de verão e inverno, em um total de 67 ônibus estes
distribuídos em 14 linhas diferentes que cobrem as regiões de Natal (Zonas Norte, Sul,
Leste e Oeste). Foram, ao todo, 26 dias de coleta. As amostras foram coletadas por uso
de swabs, pré-umedecidas com solução RNALater® (RNALater, da Thermo Fisher), em
superfícies cujo contato com a mão é frequente, em um intervalo de 3 minutos. Os
ônibus escolhidos para a coleta foram previamente selecionados a partir da sua rota e
da média de quantidade de passageiros por dia. Na coleta, foram feitas duplicatas (A,
em que é passado o swab no lado do motorista, e B, em que é passado o swab no lado
da porta).
Extração das amostras: Após a coleta, as amostras biológicas foram armazenadas e
transportadas até o laboratório, onde foram feitas extrações de DNA das amostras

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coletadas a partir do kit QIAamp UltraSens Viral Kit, para possível visualização de vírus
de DNA presentes nas amostras. Antes da extração, foi feita a preparação do pool das
duplicatas das amostras, levando-as para um tubo Falcon50 livre de RNAse, em
seguida direcionadas ao vórtex por 1 minuto e, então, centrifugadas a uma velocidade
de 300 rpm por 1 minuto. Os swabs foram retirados e armazenados em um novo tubo,
e o pool, formado pelo líquido restante, foi centrifugado a uma velocidade de 1500x g
por 10 minutos. A extração de DNA foi realizada seguindo o protocolo do fabricante. Já
extraído, o material genético viral será quantificado, utilizando o NanoDrop One, da
Thermo Fisher Scientific, que é um espectrofotômetro UV-Visível. O seu princípio do é
medir a absorção de luz UV, visível, através de uma amostra líquida.
Preparação da biblioteca genômica: Foi feita uma etapa de quantificação das amostras,
utilizando o Qubit 2.0 Invitrogen por meio do kit dsDNA HS (Thermofisher), para
comparar o rendimento da amostra (input) antes e depois da etapa de preparação da
biblioteca. O processo de preparação de uma biblioteca genômica é definida pela
fragmentação do DNA e adesão de marcadores nas extremidades dos fragmentos, de
modo a serem lidos durante o sequenciamento. A preparação da biblioteca foi
realizada utilizando o kit Illumina Stranded Total RNA Prep, Ligation with Ribo-Zero
Plus seguindo o protocolo do fabricante. Após esta etapa, a amostra foi quantificada
novamente no Qubit.
Sequenciamento e análise em Bioinformática: O sequenciamento foi feito através do
Illumina NextSeq 1000, seguindo instruções do fabricante. A biblioteca foi adicionada
em uma célula de fluxo (flowcell) do tipo P1 (que pode proporcionar 100 milhões de
leituras), e levada para o sequenciamento. Nessa etapa, cada poço da flowcell é
preenchido com um fragmento de DNA, e deste, é sintetizada uma nova fita
complementar. Tal processo ocorre simultaneamente nos inúmeros poços,
promovendo milhões de cópias de DNA de fita simples (ssDNA). O método de
sequenciamento foi o paired-end, que faz a leitura de ambas as extremidades das
sequências, começando pela fita foward e terminando pela fita reverse. Após o
sequenciamento, deu-se início à análise em Bioinformática, a partir da plataforma
virtual KBase, que agrega vários programas para estudo biológico. Foi feito o controle
de qualidade das leituras, por meio do FASTQC, uso do programa Trimmomatic para
corte de adaptadores e nucleotídeos com qualidade ruim dentro da sequência, e
montagem das sequências através do MetaSPAdes. O processo da montagem se dá na
formação do genoma por meio da sobreposição dos fragmentos de DNA. Após a
montagem, foram analisados dados estatísticos, como N50, L50 e conteúdo GC da
amostra.

Resultados e Discussões

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Em relação aos pools de DNA viral, a quantificação para ambas as duplicatas foi
conseguida pelo NanoDrop e Qubit, com resultados obtidos na tabela 1 (em anexo). A
partir da análise dos rendimentos pós-extração, observa-se, em uma visão geral,
valores baixos em ambas as duplicatas. Apesar dos valores previstos para as razões
A260/280 e A260/230 serem, aproximadamente, entre 1,8 e 2,2 (NANODROP, 2016),
os resultados atingidos do pool de DNA viral A1 e A2 foram de, apenas, 1,39 e 0,35
para A1, e 1,85 e 0,52 para A2, este último com valores um pouco maiores. Desta
forma, quando as razões não se encaixam nos intervalos aceitáveis, indica-se que seus
valores de quantificação não são confiáveis.
Foi feita, seguidamente, a análise de concentração no equipamento Qubit, a partir do
kit dsDNA HS (Thermofisher), para saber o input das amostras antes da preparação de
suas bibliotecas. O princípio do Qubit é definido na detecção de corantes fluorescentes
que estão ligados às moléculas alvo da amostra, o que viabiliza sua quantificação. A
faixa de massa estimada para o input é entre 0,1 a 120 ng. A amostra de DNA viral A1
não atingiu o número necessário para um input mínimo de 0,1 ng no ensaio,
significando na inviabilidade da preparação da biblioteca genômica para essa amostra,
logo, ela foi descartada (representando o X na tabela 2). Em contrapartida, a amostra
de DNA viral A2 atingiu os números mínimos necessários para o input, dando
seguimento para a preparação da sua biblioteca genômica.
Com base nos resultados de rendimento obtidos pelo Nanodrop, foram inferidas
algumas hipóteses para explicar tais valores baixos. A primeira hipótese é o tipo de
swab utilizado para coleta que pode ter interferido na concentração do material
genético. De acordo com o MetaSUB (DANKO et al., 2021), os swabs com ponta de
material poroso podem reter o líquido contendo o DNA da amostra, o que pode ser
uma possível causa para a baixa concentração do material genético obtida após o
ensaio de extração.
Outra hipótese é relacionada ao conteúdo viral das amostras. Na maioria dos estudos
de metagenoma de ambientes urbanos, sobressai a presença de bactérias nas
amostras, sendo pouca, ou nenhuma, a detecção de vírus. Nos poucos estudos que de
fato detectam vírus, estes dificilmente são identificados a nível de espécie (DANKO et
al., 2021), e quando conseguem, são majoritariamente vírus de DNA bacteriófagos
(LEUNG et al., 2021). Essas indagações corroboram para os resultados iniciais de
rendimento, os quais mostram maiores concentrações de bactérias do que de vírus nas
duplicatas. O que pode ser explicar essas diferenças dos resultados é a instabilidade
viral intrínseca em ambientes fora do seu hospedeiro, assim como também a
temperatura do local de estudo, que pode facilitar tal instabilidade (PRUSSIN et al.,
2019). Regiões com temperaturas mais baixas permitem maior estabilidade viral fora

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do hospedeiro do que ambientes com temperaturas mais altas, o que é uma constante
no município de Natal, cujo clima é equatorial.
A última hipótese recai no número de passageiros que são conduzidos nos ônibus e
sua correlação com a quantidade de microrganismos presentes nesses veículos de
transporte. Os demais estudos que trabalham com metagenoma microbiano em
transporte público são realizados em cidades maiores, como metrópoles, que
transportam milhões de pessoas e apresentam redes maiores e mais complexas de
transporte público, como Seul (GUEVARRA, 2022), Moscou (KLIMENKO, 2020) e Cidade
do México (ROBLES et al., 2020). Já Natal é uma cidade relativamente pequena, com
uma população de, aproximadamente, 897.000 pessoas (IBGE, 2021), e destas, cerca
de 100.000 utilizam os ônibus, único meio de transporte público, diariamente (STTU,
2021). Mesmo que o fluxo de passageiros de Natal seja considerado alto em relação ao
número da população, o valor se torna bem menor se comparado ao fluxo de
passageiros que circulam nos metrôs e ônibus dessas metrópoles. Sendo assim, é
possível deduzir que a quantidade de microrganismos expostos nos transportes
públicos das grandes metrópoles é significativamente maior do que os que circulam
nos ônibus do município de Natal, o que pode ser uma possível razão para a pouca
quantidade de material genético extraído (Tabela 2).
Após a preparação das bibliotecas, houve a quantificação das amostras pelo Qubit, a
partir do kit dsDNA HS (Thermofisher) e, depois, seus perfis foram conferidos no
Bioanalyzer, utilizando o kit High Sensitivity DNA (Agilent), com seus resultados
expostos na tabela 2. Comparando a concentração, em ng/µL, da amostra de DNA viral
(input) pelo Qubit antes e depois da preparação da biblioteca, pode-se observar um
aumento do valor da amostra, indicando um bom perfil da biblioteca antes de checar
seu rendimento no Bioanalyzer.
O Bioanalyzer é um sistema de eletroforese automatizada usado para o controle de
qualidade de bibliotecas das amostras e, por meio dele, determina-se seu tamanho,
concentração, pureza e molaridade. Após a corrida eletroforética, foram plotados
electroferogramas mostrando o desempenho das amostras para a análise dos dados
de DNA (Figura 1). Os electroferogramas expostos comparam o tamanho (em pares de
base) com a unidade de fluorescência (FU) dos fragmentos. Juntamente às amostras,
um electroferograma contendo vários fragmentos de DNA de tamanhos já conhecidos
(ladder) foi acrescentado, servindo como referência para os fragmentos das amostras.
Em cada corrida das amostras, dois fragmentos (o menor, de 35 bp, e o maior, de
10380 bp) foram colocados como marcadores para agrupar e alinhar os fragmentos
das amostras de DNA. Após a análise dos resultados do Bioanalyzer, pode-se dizer que
a biblioteca viral possui tamanho próximo, em torno de 500 bp, e está dentro do
intervalo permitido pelo kit (entre 50 a 7000 bp) e, assim, confere bom perfil para o
sequenciamento.

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Após o sequenciamento, foi feito o controle de qualidade e, em seguida, a montagem


da sequência, obtendo os dados expressos na tabela 3. A qualidade da sequência por
nucleotídeo, após a trimagem executada no Trimmomatic, foi disponibilizada pelo
FASTQC, exposta na figura 2. O gráfico apresenta três níveis que apontam a qualidade
(a cor vermelha para ruim, a cor amarela para aceitável e a cor verde para boa). A
sequência viral se manteve no nível verde do gráfico, com alguns pequenos desvios, o
que indica boa qualidade. A amostra de DNA viral A obteve um alto número de reads
antes da montagem e, após essa etapa, ela obteve um número relativamente baixo de
contigs, o que pode indicar maior contiguidade. Os contigs são caracterizados como
conjuntos de segmentos de DNA sobrepostos, formando uma representação contígua
do genoma (GREEN, 2023).
Ainda, a tabela mostra algumas métricas utilizadas para análise da montagem, que são
o N50, L50 e conteúdo GC (%GC). O N50 se dá pelo tamanho do menor contig, em que
contigs maiores ou iguais a ele cobrem, pelo menos, 50% dos nucleotídeos da
montagem (ALHAKAMI; MIREBRAHIM; LONARDI, 2017). Sendo assim, valores altos de
N50 podem significar que a sequência possui alguns poucos contigs longos que vão
cobrir sua maior parte, facilitando a localização dos genes, enquanto valores baixos de
N50 podem indicar um maior número de contigs curtos que cobrem a sequência,
podendo significar alguma contaminação (FURROW; MEDINA, 2020). Tendo como base
tais parâmetros, a amostra de DNA viral exibe um valor baixo de N50. No entanto, o
N50 pode trazer resultados errôneos, pois, em situações que ocorram junções erradas
durante a montagem, podem ser formados contigs maiores do que realmente são,
elevando, assim, o valor N50 (SALZBERG, 2012, apud THRASH et al., 2020).
O conteúdo GC, ou %GC, é a porcentagem de nucleotídeos cujas bases nitrogenadas
são a guanina e citosina que estão distribuídas no genoma (MAHAJAN; AGASHE, 2022).
O par guanina-citosina contém um hidrogênio a mais em sua ligação do que o par
adenina-timina, tornando-o termicamente mais estável do que o segundo par. Assim,
quanto maior o conteúdo GC de uma sequência, mais estabilidade térmica o genoma
poderá ter em matrizes com temperaturas maiores (BORISOVA, 1993, apud HU et al.,
2022). Em genomas de procariotos, o conteúdo GC pode variar entre espécies,
podendo ser entre 16% a 77%, e as causas para essa tamanha variação podem estar
relacionadas ao tamanho dos seus genomas (NISHIDA, 2013, apud CAR et al., 2022).
Analisando o conteúdo GC da amostra viral, pode-se inferir que ela está dentro do
espectro esperado, apresentando porcentagem relativamente alta, o que pode
significar em uma significativa estabilidade térmica.

Conclusão

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Os transportes públicos são grandes fontes de microrganismos, estes que interagem a


todo o momento com seus passageiros, o que torna essencial o estudo desses
microrganismos urbanos e suas capacidades patogênicas ou não nesse meio. Neste
trabalho, foram coletadas e analisadas amostras de superfícies de ônibus que
circulantes no município de Natal/RN, e tal estudo se enquadra em um projeto maior,
direcionando uma abordagem metagenômica para o estudo de diversidade microbiana
urbana, e trazendo aqui resultados ainda parciais, relativos a dados estatísticos das
amostras. De modo geral, a sequência de DNA viral obteve bons perfis de qualidade e
contiguidade, o que nos garante o prosseguimento do projeto, realizando análises in
silico, sua taxonomia e investigando informações quanto a sua diversidade,
abundância e as relações ecológicas entre os taxa descritos. Ainda, serão exercidas
possíveis correlações entre os dados obtidos no trabalho e os dados relativos a
temperatura, umidade e a epidemiologia do período das coletas. O atual estudo tem,
como principal objetivo, procurar retornar todo o conhecimento científico adquirido
para a população natalense e aos seus órgãos governamentais.

Referências

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Anexos

Tabela 1: Valores da quantificação e concentração das amostras pós-extração.

Tabela 2: Valores de concentração e rendimento das bibliotecas.

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Figura 2: Qualidade das sequências, por nucleotídeos, após realizada a trimagem.


Fonte: FASTQC Report.

Figura 1: Electroferograma da biblioteca da amostra de DNA viral (apenas a duplicata


A) e um ladder contendo tamanhos de referência. Fonte: Bioanalyzer.

Tabela 3: Dados estatísticos da amostra viral pós-montagem.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB0434

AUTOR: GABRIEL VINICIUS ROLIM SILVA

ORIENTADOR: UMBERTO LAINO FULCO

TÍTULO: Análise in silico de interações intramoleculares entre a protease do


HIV-1 e o inibidor de protease GRL-063 por uso da química quântica

Resumo

A pandemia do HIV continua sendo um dos principais pontos de preocupação


de saúde mundial, afetando milhões de indivíduos por todo o globo. Devido ao
grande potencial mutagênico do vírus e sua capacidade de adquirir resistência
à terapêutica convencional, vários estudos estão focando no desenvolvimento
de fármacos capazes de agir mesmo em cepas resistentes do vírus. Dentre
estas opções, o inibidor de protease GRL-063 se apresenta como uma
alternativa eficiente e com resultados in vitro satisfatórios contra o HIV
resistente a drogas de primeira linha. Neste contexto, este artigo busca
apresentar uma análise comparativa das energias de interação existentes na
estrutura cristalográfica do inibidor de protease GRL-063 e a protease do HIV,
usando um esquema de fragmentação molecular com capas conjugadas
(MFCC) com o formalismo da teoria do funcional da densidade (DFT). A partir
destas energias, foram definidas as principais interações existentes entre o
ligante GRL-063 e os resíduos de aminoácido da proteína viral, sendo estas
Asp25, Ala28, Ile47, Pro81, Asp30, Gly49, Gly27, Ile84, Ile50 e Gly48. Nossas
simulações buscam oferecer uma avaliação profunda e valiosa do
funcionamento da estrutura, permitindo um melhor entendimento que pode ser
utilizado na otimização e modelagem de novos fármacos contra o HIV de
eficiência ainda maior.

Palavras-chave: HIV. AIDS. Química quântica. MFCC. DFT. Bioinformática.


Biofísica.

TITLE: In silico analysis of intramolecular interactions between HIV-1 protease


and the protease inhibitor GRL-063 using quantum chemistry

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Abstract

The HIV pandemic remains a major global health concern, affecting millions of
individuals across the globe. Due to the great mutagenic potential of the virus
and its ability to acquire resistance to conventional therapy, several studies are
focusing on the development of drugs capable of acting even on resistant
strains of the virus. Among these options, the protease inhibitor GRL-063
presents itself as an efficient alternative with satisfactory in vitro results against
HIV resistant to first-line drugs. In this context, this article aims to present a
comparative analysis of the interaction energies existing in the crystallographic
structure of the protease inhibitor GRL-063 and the HIV protease, using the
molecular fractionation with conjugated caps (MFCC) scheme within the density
functional theory (DFT) formalism. From these energies, the main interactions
existing between the GRL-063 ligand and the amino acid residues of the viral
protein were defined, these being Asp25, Ala28, Ile47, Pro81, Asp30, Gly49,
Gly27, Ile84, Ile50 and Gly48. Our simulations aim to provide an in-depth and
valuable assessment of its structural function, allowing a better understanding
that can be used in the optimization and designing of new HIV drugs with an
even higher efficiency.

Keywords: HIV. AIDS. Quantum chemistry. MFCC. DFT. Bioinformatics.


Biophysics.

Introdução

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença infecciosa


causada pelo retrovírus Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e dividida em
seus subtipos HIV-1 e HIV-2, com o primeiro sendo o principal devido a sua
distribuição global, ao passo que o subtipo 2 possui seus focos de infecção
concentrados na África Ocidental (MURRAY et al., 2017). A doença é
altamente contagiosa, tendo suas principais fontes de transmissão o contato
sexual, contato com sangue infectado, e transmissão vertical (MURRAY et al.,
2017).
O mecanismo patológico da doença se dá pela entrada do vírus nas células
TCD4 e da linhagem mielóide, afetando o sistema imune do paciente. Do
contato com a célula-alvo até o estágio de maturação viral, há uma série de
etapas que permitem a replicação do vírus: fusão, permitindo a entrada do
vírus na célula; conversão do RNA viral em DNA complementar pela enzima
transcriptase reversa, a entrada do vírus no núcleo celular pela enzima

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eCICT 2023

integrase; e por fim a maturação viral com a clivagem das proteínas


precursoras em proteínas funcionais pela enzima protease. Cada etapa é um
alvo em potencial para estratégias terapêuticas que buscam inibir a replicação
no paciente de forma a manter a infecção controlada, a chamada terapia
antiretroviral.
Atualmente, estima-se que existam 38,4 milhões de infectados pela doença,
vitimando 650 mil no ano de 2021; desses, cerca de 28,7 milhões estão
realizando a terapia antiretroviral (UNAIDS, 2022). No Brasil, a terapêutica
recomendada pelo Ministério da Saúde é composta pelos fármacos Tenofovir,
Lamivudina e Dolutegravir. Porém, a alta capacidade mutagênica do vírus HIV
muitas vezes diminui a eficácia ou inutiliza a atividade destes fármacos de
primeira linha. Sendo assim, o desenvolvimento de alternativas capazes de
combater cepas resistentes se mostra um desafio que precisa ser
urgentemente ultrapassado. Neste artigo foi realizada a análise do ligante GRL-
063, um inibidor da protease altamente efetivo contra cepas mutantes
resistentes a outros fármacos e sua interação com a protease viral formando
um complexo proteína-ligante. O ligante analisado possui características
farmacocinéticas e farmacodinâmicas positivas, como boa permeabilidade
celular e baixo IC50, bem como eficácia contra diferentes modelos do vírus
(BULUT et al., 2020).
Metodologias in silico vem se mostrando uma ferramenta potente para análise
de interações intramoleculares, em especial de complexos proteína-ligante.
Valendo de conhecimentos da mecânica molecular (MM), mecânica quântica
(MQ) e bioinformática, estes estudos se utilizam de métodos computacionais
para predizer com um alto grau de confiabilidade o comportamento de
estruturas biológicas (MUCS; BRYCE, 2013) e podem ser aplicados em uma
infinidade de áreas, como na farmacologia (OURIQUE et al., 2020; CAMPOS et
al., 2020; HAMID et al., 2022), microbiologia (AMAMUDDY et al., 2020), e
biologia celular (VENABLE et al., 2019).
De forma a permitir o proveito da alta precisão proporcionada pelas pelas
análises MQ e com redução no custo computacional, é empregado na proteína
o método de fracionamento molecular com capas conjugadas (MFCC)
(ZHANG; ZHANG, 2003), permitindo a análise energética de pequenas partes
de um todo cuja soma das energias é extremamente similar ou igual a da
molécula íntegra (ZHANG; ZHANG, 2003). Este método permite uma redução
na capacidade computacional exigida mantendo uma elevada precisão nos
cálculos.
O objetivo deste estudo é analisar, por métodos de MQ, as interações
energéticas existentes entre o ligante inibidor de protease GRL-063 com a
protease de um HIV tipo selvagem aplicada em conjunto à teoria do funcional
da densidade (DFT) (KOHN; SHAM, 1965). Dessa forma, foi possível entender

709
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eCICT 2023

melhor as interações existentes entre este novo fármaco e o vírus e apontar


prováveis pontos de interesse no desenvolvimento de novas estratégias
terapêuticas.

Metodologia

Para a realização dos cálculos computacionais da interação entre proteína e


ligante, a estrutura cristalográfica obtida por difração de raio X disponível no
Protein Data Bank (PDB) do GRL-063 complexado a protease do HIV-1 (PDB
ID: 6OGP) a uma resolução de 1.53 Å foi usada para análise (BULUT et al.,
2020). Esta metodologia permite demonstrar a conformação tridimensional de
moléculas com seus átomos correspondentes e proporciona uma
representação fidedigna da estrutura em seu estado regular.
Devido às limitações existentes na técnica de difração de raio X, como a não
inclusão de átomos com baixo peso nuclear (a exemplo do hidrogênio), bem
como adequação da estrutura a seu estado biológico, algumas alterações
foram realizadas. Primeiramente, foi realizada a fixação da estrutura para
adição dos átomos de hidrogênio não presentes anteriormente; logo após, com
auxílio da ferramenta Marvin Sketch (Marvin Beans Suite - ChemAxon), o
estado de protonação do ligante foi verificado no pH fisiológico (7.2 a 7.5), com
o estado de protonação da proteína sendo analisada pelo servidor web PropKa
On-line 2.0 (https://www.ddl.unimi.it/vegaol/propka.htm). Por fim, a otimização
geométrica da estrutura foi feita aplicando o campo de força CHARMm
(Chemistry at Harvard Macromolecular Mechanics), desenvolvido
especialmente para utilização em estruturas orgânicas (Figura 1).
As energias de interação existentes no complexo proteína-ligante da protease
do HIV-1 e seu inibidor GRL-063 foram obtidas pela fragmentação prévia da
proteína pelo MFCC com os cálculos propriamente ditos realizados dentro do
formalismo do DFT. O MFCC consiste na fragmentação de estruturas
complexas para permitir a aplicação de técnicas da mecânica quântica a baixo
custo de processamento computacional com elevada precisão nos resultados.
A proteína é fragmentada em seus diversos aminoácidos constituintes, e então
a cada extremidade C e N-terminal deste aminoácido é adicionado um outro
aminoácido - chamados de capas conjugadas - de forma a fechar as valências
existentes pela quebra das ligações peptídicas da proteína na fragmentação. A
soma das energias de interação individuais destes fragmentos com o ligante é
igual a do sistema como um todo (ZHANG; ZHANG, 2003); além disso, devido
a aplicação destas capas de aminoácidos, é possível simular um ambiente o
mais próximo possível do biológico ao levar em conta interações mais realistas
com sua vizinhança.

710
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eCICT 2023

Após a fragmentação e aplicação das capas é possível determinar a energia


total do sistema de maneira algébrica, com cada termo da equação
representando as energias de interação relativas às moléculas envolvidas.
Assim, a energia total de ligação pode ser obtida por meio da fórmula:
EI(L - Ri) = E(L +CiRiCi+1) -E(L +CiCi+1) - E(CiRiCi+1) +E(CiCi+1)
Onde o primeiro termo EI(L - Ri) representa a energia de interação entre o
ligante (L) e o resíduo correspondente (Ri), o segundo termo E(L +C iRiCi+1)
representa a energia de interação entre o ligante e o resíduo conjugado as
suas capas (Ci e Ci+1), o terceiro termo E(L +C iCi+1) representa a energia de
interação entre o ligante e as capas, o quarto termo E(C iRiCi+1) representa a
energia do resíduo ligado a suas capas de aminoácido, e o último elemento
E(CiCi+1) representa a energia das capas, uma vez que as mesmas foram
removidas duas vezes entre o terceiro e quarto termos da equação.
As energias intermoleculares da interação no complexo proteína-ligante pós-
fragmentação pelo MFCC foram obtidas por meio do software Gaussian G09,
pelo método do DFT, levando em conta a densidade eletrônica dos átomos
para obter as energias correspondentes. Nesta etapa, de modo a analisar a
influência existente entre cargas na vizinhança do complexo proteína-ligante
(ou seus resíduos) e de que forma estas poderiam influenciar nas interações
existentes, foram levadas em consideração duas constantes dielétricas ε
distintas no experimento. Primeiramente, para simular um ambiente similar ao
vácuo com pouca interferência de campos elétricos vizinhos, um valor de ε =
10 foi utilizado. Por outro lado, uma constante dielétrica ε = 40 foi escolhida
devido a estudos anteriores que demonstram este valor como o capaz de
melhor emular as condições fisiológicas (Morais et al., 2020). Desta forma, a
constante ε = 10 pode servir como um modelo “controle” para validar os
resultados obtidos em ε = 40, uma vez que uma constante dielétrica menor
está associada a uma permitividade maior e necessariamente valores
energéticos maiores (ou seja, mais atrativos). Assim, constantes dielétricas
menores permitem interações atrativas mais energéticas entre moléculas, que
diminuem a medida que o valor de ε aumenta.
Com posse dos valores energéticos relativos a cada resíduo, foram obtidos
seus raios de interação correspondentes de forma a estudar a estabilização
energética em função dos aminoácidos dispostos no espaço que interagem
com o ligante. O raio é centrado no ligante e, começando a uma distância r =
2.5 Å, foram analisados os aminoácidos dispostos em distâncias que variavam
0.5 Å entre si. A convergência, ponto em que a soma das energias dos
aminoácidos correspondentes a um raio não possui alteração significante
comparada ao raio imediatamente anterior, foi definida como sendo de 10%.
Esta análise é feita até que a diferença de energia entre um raio ri e o raio ri +
0.5 Å seja menor que o valor de convergência.

711
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Resultados e Discussões

Através da análise de protonação do ligante, constatou-se a ausência de


cargas no ligante em pH fisiológico no intervalo de 7.2 - 7.4 bem como sua
conformação estrutural. De forma a melhor representar as interações
existentes entre a protease do vírus HIV e o ligante GRL-063, este último foi
dividido em 3 regiões distintas: I, II, e III (Figura 2). As interações deste
complexo proteína-ligante foram calculadas pela metodologia do MFCC em
conjunto com o DFT, destacando-se seus principais resíduos energéticos (em
kcal/mol) bem como o critério de convergência da estrutura, obtido pelo traçado
de raios r a partir do ligante até uma distância de 9.5 Å, com a convergência
obtida a partir da observação de uma variância energética menor que 10%
entre raios subsequentes. Para efeito de demonstração da influência da
permissividade do meio nas interações intramoleculares, bem como a diferença
de estimativa de energias em ambientes de alta e baixa permissividade, os
cálculos energéticos foram realizados nas constantes dielétricas ε = 10 e ε =
40, buscando simular condições similares à do vácuo e fisiológicas,
respectivamente.
Na análise de convergência, a energia total de cada raio foi obtida pelo
somatório das energias individuais de cada resíduo de aminoácido incluído
naquela distância. Na Figura 3, estão representados os principais resíduos
existentes nos raios r = 2 Å a r = 5 Å, sendo este último o ponto em que a
convergência foi alcançada para ambas constantes dielétricas e mantendo-se
estável para todos os raios seguintes. Ao todo, foram analisadas 45 interações
abrangidas no intervalo estudado de 2 a 9.5 Å para ambas constantes
dielétricas. Notadamente, é possível observar uma diminuição significativa na
energia atrativa total do sistema no raio r = 2.5 Å, representada por um pico de
valor positivo absoluto neste ponto. Este aumento foi provocado pela presença
do aminoácido Pro81 pertencente a protease do vírus, e condiz com os valores
energéticos obtidos pelos cálculos utilizando o Gaussian, como demonstrado
na Figura 4.
Em posse dos dados energéticos dos resíduos de aminoácido obtidos pela
metodologia do MFCC em conjunto ao DFT, é possível a representação das
principais interações energéticas do complexo proteína-ligante sob a forma de
um gráfico BIRD, um acrônimo em inglês para as principais informações
demonstradas no mesmo: sítios de ligação (binding sites), energias de
interação (interaction energies), e domínio dos resíduos (residues domain). A
Figura 4 apresenta um gráfico BIRD gerado para o complexo da protease viral
e seu inibidor, demonstrando seus principais aminoácidos e energias

712
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eCICT 2023

correspondentes. Para a constante dielétrica ε = 10, os aminoácidos


representados e suas energias foram, em ordem do mais atrativo para o mais
repulsivo, respectivamente: Asp25 (-4.55 kcal/mol) > Ile84 (-4.48 kcal/mol) >
Ile50 (-4.19 kcal/mol) > Ala28 (-3.73 kcal/mol) > Gly27 (-2.90 kcal/mol) > Gly49
(-2.88 kcal/mol) > Gly48 (-2.64 kcal/mol) > Ile47 (-2.53 kcal/mol) > Asp30 (1.85
kcal/mol) > Pro81 (11.40 kcal/mol). Já para valores de ε = 40, os principais
resíduos foram: Ile84 (-4.53 kcal/mol) > Ile50 (-3.87 kcal/mol) > Ala28 (-3.68
kcal/mol) > Asp25 (-3.06 kcal/mol) > Gly27 (-2.64 kcal/mol) > Ile47 (-2.62
kcal/mol) > Gly49 (-2.47 kcal/mol) > Gly48 (-2.27 kcal/mol) > Asp30 (3.32
kcal/mol) > Pro81 (11.48 kcal/mol). Para a constante ε = 40, os aminoácidos de
maior destaque foram a Ile84 com a maior energia de atração, Ile50 com a
segunda maior , e a Asp25 em conjunto com a Pro81 representando os únicos
aminoácidos com interações repulsivas no sistema, em especial a prolina,
justificando o pico observado no gráfico de convergência (Figura 3).
Os principais resíduos atrativos foram analisados frente a suas interações
intermoleculares existentes entre o ligante GRL-063 e a protease do HIV
(Figura 5), nominalmente: Asp25, Ala28, Ile47, Gly49, Gly27, Ile84, Ile50 e
Gly48. Curiosamente, os três resíduos mais energéticos apresentaram ligações
alquil, sendo estas respectivamente alquil-alceno, alquil-alquil e alquil-alceno;
não somente, conseguiram apresentar um potencial atrativo superior ao de
resíduos que apresentaram ligações de hidrogênio convencionais (não-
convencionais), como a Asp25 (Gly27, Gly49 e Gly48). Este resultado pode ser
justificado pela capacidade de interações intramoleculares realizadas por um
grupamento alquil e/ou alcano entre hidrogênios de realizar uma interação
direcional similar às encontradas nas pontes de hidrogênio, especialmente em
estruturas altamente ramificadas (MONTEIRO; FIRME, 2014).
O Asp25 se apresenta como outro ponto de interesse nas interações
intramoleculares, sendo a única ponte de hidrogênio convencional identificada
dentre os aminoácidos representados na Figura 4. Para efeitos de inibição da
atividade proteolítica do HIV, este resíduo se apresenta como um importante
alvo farmacológico devido a importância dos ácidos aspártico na atividade de
hidrólise das ligações amida existentes na poliproteína sintetizada durante a
replicação viral (HUANG; CHEN, 2019). Além disso, devido a natureza desta
proteína como uma protease aspártica, estes resíduos apresentam grandes
chances de se manterem conservadas entre diferentes cepas mutantes do HIV.
Outro ponto de destaque foram o alto número de pontes de hidrogênio não-
convencionais na estrutura, a exemplo das Gly27, Gly49 e Gly48.
Normalmente, ligações de hidrogênio se caracterizam como interações
intramoleculares existentes entre dois átomos de alta eletronegatividade, sendo
um caracterizado como o doador de hidrogênio, e outro como o receptor. De
forma geral, esta interação é observada entre elementos dos grupos 15, 16 e

713
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eCICT 2023

17 da tabela periódica, particularmente N, O, e F. Entretanto, em certos casos


é possível observar ligações de hidrogênio com ausência de átomos
particularmente eletronegativos na posição de receptor ou doador (Ibon Alkorta
et al., 1998); no caso deste artigo, os três resíduos apresentaram como doador
um fragmento C-H, tendo um átomo de oxigênio como receptor. Atenção
especial deve ser dada para os resíduos Gly48 e Gly49, que fazem parte da
sequência Gly48-Gly49-Ile50-Gly51-Gly52, uma região com potencial
mutagênico elevado e que possuem uma curiosa propriedade de se
“enrolarem” para dentro da proteína, ocultando resíduos hidrofóbicos contidos
na região (SCOTT; SCHIFFER, 2000). Por fim, o resíduo Ile47 apresentou
interações do tipo dipolo-dipolo induzido.

Conclusão

A AIDS é uma doença infecciosa causada pelo vírus HIV e de predominância


global. Devido ao seu perfil patológico, com a infecção de células TCD4 e
consequente imunossupressão do paciente, ela prejudica a capacidade do
corpo de combater outras doenças e levando a complicações secundárias
muitas vezes fatais. Por conta do perfil de imunodeficiência dos portadores de
HIV, tratamentos de suporte sintomáticos não são efetivos pois o sistema
imune tem prejudicada, ou completamente anulada, sua capacidade de
combater a infecção por conta própria. Desta forma, estratégias terapêuticas
que alvejam especificamente o vírus se apresentam como a alternativa mais
eficiente de combate a infecções vigentes. Entretanto, sua alta capacidade
mutagênica e perfis de resistência se revelam como os principais obstáculos no
desenvolvimento de novos fármacos. Neste panorama, drogas capazes de
manter seu efeito mesmo contra diferentes cepas mutantes são continuamente
reportadas na literatura.
O inibidor da protease viral GRL-063 desponta como um dos principais
candidatos a fármacos contra o HIV resistente a terapêutica convencional.
Algumas de suas propriedades são bem descritas na literatura por meio de
testes in vitro (BULUT et al., 2020), com resultados satisfatórios se comparado
a drogas de primeira linha, como o darunavir, que se mantém contra cepas
selvagens e mutantes distintas. Com a utilização de métodos computacionais,
foi possível a análise das interações energéticas a nível atômico existentes
entre o ligante e o seu alvo farmacológico. Neste artigo, foram apresentados os
principais resíduos de aminoácidos da protease do HIV e a forma como estes
interagem com o fármaco discutido.
De todos os aminoácidos analisados, as principais interações puderam ser
observadas nos resíduos Ile84, Ile50, Ala28, Asp30 e Pro81. Os três primeiros

714
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eCICT 2023

apresentaram as maiores energias atrativas do sistema, enquanto os dois


últimos se destacaram como únicos resíduos repulsivos no complexo. Além
disso, o resíduo Asp25 se demonstrou o quarto aminoácido mais atrativo para
a constante dielétrica ε = 40. Segundo dados da literatura, o ácido aspártico
possui um papel importante na clivagem protéica realizada pela protease do
HIV; dessa forma, o Asp25 e Asp30 se mostram como pontos de interesse para
pesquisas futuras em formulações envolvendo o GRL-063, em especial pela
energia repulsiva apresentada pelo último.
Através do uso de ferramentas de dinâmica quântica aplicada a metodologias
de trabalho in silico, este artigo buscou elucidar as principais interações
energéticas existentes entre o fármaco GRL-063 e o seu alvo viral sob um
ponto de vista da mecânica quântica, destacando resíduos de aminoácido de
maior importância no complexo proteína-ligante resultante. Os dados
apresentados por este artigo podem ser úteis para estudos futuros envolvendo
este fármaco e sua capacidade de auxiliar no combate a AIDS pelo mundo.

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Anexos

Figura 1 - Representação tridimensional do complexo proteína-ligante após


minimização energética e otimização geométrica.

717
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eCICT 2023

Figura 2 - Divisão da estrutura do ligante GRL-063 em 3 regiões distintas.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 3 - Gráfico de convergência dos resíduos nas constantes dielétricas 10 e 40. Em


ambos casos, a convergência foi obtida no raio r = 5.0 Å.

Figura 4 - Gráfico BIRD com os principais resíduos de aminoácido e suas energias


correspondentes para as constantes dielétricas 10 e 40, bem como suas regiões de
ligação com o ligante GRL-063.

719
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 5 - Representação das principais ligações intramoleculares existentes entre o


ligante GRL-063 e a protease viral.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0456

AUTOR: MANUELA LIMA VALÉRIO DOS SANTOS

ORIENTADOR: BRUNO CAVALCANTE BELLINI

TÍTULO: Uma nova espécie de Symphypleona (Hexapoda, Collembola) para a


Região Nordeste do Brasil

Resumo

Collophoridae Bretfeld, 1999 é uma das 10 famílias da ordem Symphypleona


(Hexapoda, Collembola). Apesar de possuir uma ampla distribuição mundial, tendo
sido registrada nas Américas, África e Ásia, possui apenas um gênero, Collophora
Richards in Delamare-Deboutteville & Massoud, com sete espécies válidas. Neste
trabalho apresentamos uma revisão com base na literatura do conhecimento prévio do
grupo, com diagnoses atualizadas do gênero e de suas espécies. Além disso,
descrevemos a segunda espécie de Collophora registrada para o Brasil, que possui
como principais características diagnósticas a presença de duas cerdas reduzidas
acessórias às tricobótrias A e D, tenáculo com uma cerda, manúbrio com 4+4 cerdas,
fórmula ventral da quetotaxia do dens como 2...1 e valva anal superior feminina com
4+4 cerdas aladas e 1+1 cerdas com ápice serrilhado. Esperamos que a descrição da
nova espécie e a revisão aqui apresentadas sirvam de base para futuros estudos sobre
gênero, e facilitem a descrição e identificação de novas espécies dentro do táxon.

Palavras-chave: Colêmbolos, Collophoridae, Collophora, revisão, taxonomia.

TITLE: A new species of Symphypleona (Hexapoda, Collembola) from the


Northeast region of Brazil

Abstract

Collophoridae Bretfeld, 1999 is one of the 10 families of the order Symphypleona


(Hexapoda, Collembola). Despite having a wide global distribution, having been
recorded in the Americas, Africa, and Asia, it comprises only one genus, Collophora
Richards in Delamare-Deboutteville & Massoud, with seven valid species. In this study,
we present a literature-based review of the previous knowledge of the group, with
updated diagnoses of the genus and its species. Additionally, we describe the second

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eCICT 2023

species of Collophora recorded from Brazil, which is characterized by the presence of


two reduced accessory chaetae on bothritricha A and D, tenaculum with one chaeta,
manubrium with 4+4 chaetae, ventral formula of the dens chaetotaxy as 2...1, and the
upper female anal valve with 4+4 winged and 1+1 serrated-tipped chaetae. We hope
that the description of the new species and the revision presented here will serve as a
foundation for future studies on the genus and facilitate the description and
identification of new species within the taxon.

Keywords: Springtails, Collophoridae, Collophora, review, taxonomy.

Introdução

Os Collembola compreendem uma das quatro classes Arthropoda, englobando


pequenos animais similares a insetos comuns em diversos ambientes terrestres,
especialmente os edáficos. Collembola é um grupo de origem antiga na linhagem dos
Arthropoda, e o mais antigo fóssil do grupo, Rhyniella praeccursor Hirst & Maulik,
1926, de Rhynie na Escócia, data do Devoniano antigo (~ 400 Ma). Em contraste,
descobertas recentes de coprólitos (fezes fossilizadas) em rochas do Siluriano Superior
(~ 412 Ma) sugerem que colêmbolos já eram um componente importante de
ecossistemas terrestres muito antes do registro de Rhyniella (Bellinger et al. 1996-
2023). Colêmbolos são componentes da mesofauna edáfica, e possuem um importante
papel ecológico na fragmentação e decomposição da matéria orgânica no solo. Nesse
cenário, os colêmbolos ainda podem desempenhar um papel significativo como
bioindicadores, servindo inclusive como marcadores ecotoxicológicos (Bellini et al.
2023).
Dentro da classe Collembola, podemos encontrar quatro ordens com morfologias
diferentes. Os Entomobryomorpha são caracterizados por possuírem o corpo
segmentado e apêndices geralmente alongados, o pronoto é sempre ausente no
grupo, fazendo com que o protórax seja curto e desprovido de cerdas e/ou papilas
dorsais. Os Poduromorpha também possuem o corpo claramente segmentado, mas
seus apêndices são curtos, além de possuírem o pronoto com cerdas ou papilas
associadas. Os Symphypleona possuem corpos globulares, e os primeiros quatro
segmentos abdominais são fundidos aos segmentos torácicos e constituem o grande
abdômen, enquanto os dois últimos segmentos abdominais (ou apenas o último)
formam o pequeno abdômen. Suas antenas também são mais longas que a cabeça. E
por fim, os Neelipleona são representados por uma única família (Neelidae), são muito
pequenos (em média com 0,5 mm ou menos), não possuem olhos, mas possuem um
tronco comparável à dos Symphypleona, com a diferença de que seu corpo é
majoritariamente formado por segmentos do tórax e não do abdômen, e que suas
antenas são mais curtas que a cabeça (Hopkin 1997, Christiansen & Bellinger 1998,
Bellinger et al. 1996-2023, Bellini et al. 2023).

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A ordem Symphypleona abriga atualmente 10 famílias, sendo Collophoridae Bretfeld,


1999 uma das menores, com apenas um gênero e sete espécies nominais (Bellinger et
al. 1996-2023). Os Collophoridae são semelhantes a outras Katiannoidea pela presença
de um típico órgão metatrocanteral. Entretanto, diferem-se dos Katiannidae e
Arrhopalitidae especialmente pela presença de 4+4 omatídeos nas manchas oculares e
a presença de uma peculiar tricobótria D no grande abdome (Richards 1968, Bretfeld
1999). O único gênero de Collophoridae, Collophora Richards, 1964 in Delamare-
Delamare-Deboutteville & Massouda, 1964a já foi registrado nas Américas, África e
Ásia (Bellinger et al. 1996-2023).
Este trabalho propõe uma revisão da bibliografia relativa ao gênero Collophora para
apresentação das diagnoses, além da apresentação da diagnose de uma nova espécie
brasileira do gênero. Este esforço busca criar uma base para futuros trabalhos em
taxonomia e sistemática envolvendo a família Collophoridae.

Metodologia

Os espécimes de Collophora estudados já encontravam-se depositados na Coleção de


Collembola do Centro de Biociências da UFRN. Estes foram montados para microscopia
seguindo os procedimentos descritos por Arlé & Mendonça (1982) e Jordana et al.
(1997) combinados. Após isso os espécimes foram estudados sob microscópio óptico
com contraste de fases e câmara clara. Foram desenhados aspectos da morfologia
geral dos espécimes para comparação taxonômica, sendo os principais: quetotaxia das
antenas, cabeça, tronco, pernas e fúrcula, morfologia dos complexos empodiais e
mucro.
Posteriormente a espécie desenhada foi comparada com as demais do gênero. Nesta
etapa foi feita revisão bibliográfica para buscar-se identificar as diagnoses de todas as
espécies do gênero, assim como dados complementares. As principais referências
consultadas foram: Denis (1933, 1948), Delamare-Deboutteville & Massoud (1964ab),
Yosii (1966), Hüther (1967), Betsch (1980), Bretfeld (1999) e Zeppelini & Brito (2013).

Resultados e Discussões

Através da revisão bibliográfica proposta, são apresentadas a seguir as diagnoses


revisadas do gênero e das sete espécies de Collophora. Como a família é
monogenérica, sua diagnose coincide com a do gênero.

Collophoridae Bretfeld, 1999


Collophora Richards, 1964 in Delamare-Deboutteville & Massoud, 1964a

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Diagnose do gênero: quarto artículo antenal não anelado, terceira segmento antenal
sem papila dorsal, olhos 4+4, órgão metatrocanteral com alvéolo circular, unguis com
túnica, tenent-hair capitado ausente, sacos do colóforo ligeiramente mais longos que o
corpo, quinto segmento abdominal fundido com o pequeno abdômen, tricobótria D
capitada, em papila conspícua e arredondada, cerda neosminturóide presente na área
parafurcal (adaptado de Delamare-Deboutteville & Massoud, 1964a, Bretfeld 1999,
Zeppelini & Brito 2013).
Notas taxonômicas: O gênero Collophora é mais emelhante a Arrhopalites
Börner,1906, mas se diferencia especialmente em relação à morfologia da tricobótria
D, que é curta e apresenta o seu ápice captado, e o número de olhos nas manchas
oculares (4+4 em Collophora, 2+2 ou menos em Arrhopalites). A distribuição das
espécies sugere fortemente uma origem na Gondwana para o gênero. A única espécie
conhecida da Região Neártica é a C.quadriculata (Denis,1933), que deve ter invadido a
América Central e do Norte após a formação do Istmo do Panamá (Zeppelini & Brito
2013).

Collophora africana Delamare-Deboutteville & Massoud, 1964b

Diagnose da espécie: Quarto artículo antenal com subdivisões pouco claras, com uma
sensila afilada e outra regular em sua região medial; quetotaxia da cabeça com cerdas
finas e longas; grande abdômen com três pares de tricobótrias (A-C) dispostas em
triângulo; par anterior de tricobótrias aparentemente rígido e direcionado para a
cabeça; tricobótria D deslocada anteriormente no grande abdômen sobre uma
protuberância bem desenvolvida, com ápice em forma de espátula; tricobótria E do
pequeno abdômen pequena, no abdômen V; tibiotarso III com uma série de cerdas
espiniformes; tubérculo empodial bem desenvolvido; úngues I-II com um dente
interno proximal cada; túnica presente nos úngues I-III; unguículos I-III com filamento
empodial alcançando o ápice dos úngues; mucro relativamente longo, com lamelas
interna e externa serrilhadas (modificado de Delamare-Deboutteville & Massoud,
1964b).

Collophora mysticiosa Yosii, 1966

Diagnose da espécie: Artículos antenais I-III com cerdas simples, não modificadas;
artículo antenal IV levemente anelado, com três subsegmentos, cerdas deste
segmento grossas, verticiladas e levemente ciliadas distalmente; bulbo apical ausente,
espinho apical presente; artículo antenal IV com algumas cerdas sensoriais longas e
curvas, uma cerda delas é grossa e curvada apicalmente em forma de “s”; cabeça com
cerdas verticais e faciais não modificadas; cerdas pré-labrais e labrais seguindo a
fórmula 6:2:3:4; unguis de todas as pernas carenados dorsalmente e com túnica; dente

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lateral e interno ausentes; unguiculus triangular, acuminado, não dentado e com uma
longa cerda axial subigual ao unguis em comprimento; tibiotarsos sem cerdas
modificadas; tenaculum com rami tridentados e com processo basal, corpus sem
cerdas; manúbrio curto; mucro delgado, amplamente arredondado apicalmente,
ambas as margens serrilhadas (~ 14 dentes) e com um pseudoníquia basal ventral;
grande abdômen com leve sinal de segmentação por manchas de pigmentos; cerdas
anteriores curtas, posteriores longas, e apicalmente arredondadas; valva anal, superior
das fêmeas com todas as cerdas anais aladas ou ciliadas; cerda a0 ciliada (modificado
de Yosii, 1966).

Collophora quadrioculata (Denis, 1933)

Diagnose da espécie: Artículo antenal IV indistintamente anelado; limites do segmento


torácico nítidos desde o primeiro segmento abdominal; segmento abdominal V
bastante reduzido dorsalmente; ausência de cerdas espessas na cabeça; tubérculo da
tricobótria do abdômen V deslocado anteriormente; unguis com um dente interno, um
par de dentes laterais, túnica presente ao menos no terceiro par de pernas; ungues I e
II mais longos e estreitos do que ungues III, unguículos I e II mais longos e estreitos que
o unguículus III; espinho, na junção distal do retináculos do dens com o manúbrio,
muito desenvolvido (modificado de Denis, 1933).

Collophora remanei Delamare-Deboutteville & Massoud, 1964a

Diagnose da espécie: Artículo antenal IV com 7-8 verticilos de cerdas alongadas e lisas;
sensila subapical particularmente espessa; três tricobótrias do anteriores grande
abdômen (A-C) alinhadas; tricobótria do segmento genital largamente deslocada
anteriormente sobre o grande abdômen; trocânteres anteriores I-II sem cerdas
espiniformes; trocânteres médios e posteriores com espinhos sensoriais; tibiotarsos
alongados com quetotaxia simples. únguis sem dente interno e túnica distinta; dens da
fúrcula dorsalmente com apenas uma cerda proximal; tibiotarso III na parte interna
com duas cerdas grossas e ásperas (modificado de Delamare-Deboutteville & Massoud,
1964a).

Collophora subquadrioculata (Denis, 1948)

Diagnose da espécie: Artículo antenal IV liso, sem anelações; limites dos segmentos
torácicos II-III e segmento abdominal I bem marcados; sem cerdas espessas na cabeça
ou no tronco; ungues sem túnica, dente interno ou lateral; dens da fúrcula sem

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espinhos dorsais; tenáculo sem cerdas; ungues I e II mais longos e estreitos do que
ungues III; cerdas dentais delgadas (modificado de Denis, 1948).

Collophora sudanica Hüther, 1967

Diagnose da espécie: Cabeça dorsalmente como em C. remanei, as 4 cerdas da borda


são um pouco mais grossas que as demais; ventralmente com um par de cerdas
medianas; úngues com túnica, um dente interno e dois pares de dentes laterais; cerdas
terminais não pareadas do segmento abdominal VI lisas; apêndices anais em forma de
lança, lisos e pontiagudos; protuberâncias da tricobótria D do segmento abdominal V
sem cerdas modificadas; segmentos torácicos até o segmento abdominal I claramente
separados dos segmentos seguintes, segmento abdominal V completamente separado
do VI; tricobótrias abdominais A-C alinhadas e equidistantes; segmento genital com
uma cerda de cada lado além da tricobótria D; papila da tricobótria D circundada por
três cerdas simples; segmento anal, exceto cerdas terminais, sem cerdas medianas,
valva dorsal e ventral sem espinhos; valva superior com duas cerdas grandes e aladas,
valva inferior com três; tenáculo com uma cerda (modificado de Hüther, 1967).

Collophora terrabrasilis Zeppelini & Brito, 2013

Diagnose da espécie: redução nas cerdas trocanterais (1/1/1) e dos dentes do


complexo empodial; ápice do artículo antenal IV com cerdas em forma de gancho
estreitadas no terço distal, com sensila em forma de bulbo, pequeno abdômen com
cerdas A1 e B3 lisas; tricobótria A com uma sensila acessória; cerdas pré-labrais e
labrais seguindo a fórmula 6:2:5:4; ungues com túnica, unguiculos com filamento
apical ultrapassando a ponta dos ungues, unguiculos I com um pequeno dente interno,
II e III sem dente interno (modificado de Zeppelini & Brito, 2013).
Notas taxonômicas: C. terrabrasilis difere das outras espécies em relação pelo número
reduzido de cerdas trocanterais (3/2/2 em C.africana, C. remanei e C. sudanica). A
fórmula das cerdas pré-labrais e labrais também separa a espécie de C. mysticiosa
(6:2:3:4) e C. sudanica (6:5:5:4). Collophora terrabrasilis possui uma sensila na
superfície dorsal do grande abdômen alinhada a tricobótria A, que também é
observada em C. sudanica, enquanto as duas sensilas posteriores a tricobótria D vista
em C. terrabrasilis estão também presentes em C. africana (Zeppelini & Brito 2013).

Collophora sp. nov. Santos, Medeiros & Bellini

Holótipo: fêmea em lâmina (CC/UFRN): Brasil, Estado do Piauí, floresta Nacional dos
Palmares, 06/IV/2022, armadilha pitfall, Col: Mesquita, C.P.

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Parátipos depositados no CC/UFRN: 2 machos em lâmina e 1 fêmea, mesmos dados do


holótipo

Diagnose: Quarto artículo antenal com cinco subsegmentos, subartículo distal com
duas cerdas curvadas, demais retas e lisas; artículos antenais I-III com cerdas simples e
curtas, artículo I com cinco cerdas; cabeça sem cerdas ímpares nas regiões frontal,
interantenal e clipeal, cerdas espiniformes ausentes; região interocular com 1+1 cerdas
laterais aos olhos; grande abdômen com segmentos torácicos levemente marcados e
individualizados, segmentos abdominais I-IV fusionados; tricobótrias A-C alinhadas
entre si, A sobre ampla papila e com duas cerdas reduzidas de ápice abaulado
acessórias; tricobótria D em ampla papila, com duas cerdas reduzidas de ápice
abaulado acessórias; valva anal superior feminina sem cerdas bífidas, com 4+4 cerdas
aladas e 1+1 cerdas com ápice serrilhado; apêndice subanal curto e com ápice
abaulado; tenáculo com uma cerda; manúbrio com 4+4 cerdas, dens ventralmente
com a fórmula de cerdas como 2...1 e dorsalmente com 8 cerdas e um espinho
cuticular; mucro com as duas lamelas claramente serrilhadas.
Notas taxonômicas: As principais características diagnósticas da nova espécie são a
presença de duas cerdas reduzidas acessórias às tricobótrias A e D, quetotaxia do
tenáculo, da fúrcula e da valva anal feminina. Comparada com C. brasilis, a única
espécie do gênero previamente registrado no Brasil (Zeppelini & Brito 2013), a nova
espécie se diferencia pela presença de duas cerdas curvadas no ápice do quarto
artículo antenal (vs. três em C. brasilis); tricobótria A com duas cerdas reduzidas
acessórias (vs. nenhuma em C. brasilis); quetotaxia ventral do dens seguindo a fórmula
2...1 (3...1 em C. brasilis) e valva anal superior feminina com cerdas aladas e com um
par de cerdas serrilhadas (ausentes em C. brasilis).

Conclusão

Após este trabalho agora são reconhecidas oito espécies de Collophoridae para todo o
globo, sendo duas para o território brasileiro. As diagnoses da maior parte das espécies
é carente em informações utilizadas na taxonomia moderna de Symphypleona,
indicando que necessitam de redescrição taxonômica. Este trabalho corresponde
então um esforço no sentido de uma revisão ampla do gênero e sua comparação com
os outros táxons de Katiannoidea.

Referências

Arlé R, Mendonça C 1982 Estudo preliminar das espécies de Dicranocentrus Schött,


1893, ocorrentes no Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro (Collembola). Revista

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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CÓDIGO: SB0502

AUTOR: ADRIAN MAIA MIRANDA

ORIENTADOR: JOHN FONTENELE ARAUJO

TÍTULO: Existe relação entre a luz e a atividade de pessoas cegas?

Resumo

Os ritmos biológicos estão presentes em todos os seres vivos e são muito importantes
na natureza. Dentre esses ritmos, o ciclo circadiano, com período próximo de 24 horas,
destaca-se como um dos mais importantes, regulando várias atividades dos seres
humanos, como ciclo sono-vigília, secreção de hormônios, entre outros. A fim de que
esse ciclo funcione normalmente, são necessários marcadores temporais externos
para seu ajuste ao período de 24 horas e, dentre esses marcadores, a luz destaca-se
como o principal. É natural, portanto, que apareça a dúvida de como esse sistema
funcionaria em pessoas com pouca ou nenhuma percepção de luz, ou seja, pessoas
cegas. As pessoas cegas estão especialmente vulneráveis a vários distúrbios do sono,
além de sofrerem muito preconceito e isolamento. Esse trabalho tem como objetivo
analisar a relação entre a sincronização de pessoas cegas com a luz e seu
comportamento durante o dia. Para isso, foram utilizados dados de actigrafia de 20
indivíduos (17 homens e 3 mulheres). Como resultados, a maior parte deles estava
com atraso de fase (15) da atividade em relação à luz e não foram encontradas
relações significativas entre a diferença de fase e as variáveis amplitude relativa e L5.
Foi encontrada uma fraca relação linear positiva entre a diferença de fase e M10.

Palavras-chave: Cronobiologia, Cegueira, Actigrafia, Distúrbios do sono.

TITLE: Is there a relationship between light and the activity of blind people?

Abstract

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Biological rhythms are present in all living beings and are very important in nature.
Among these rhythms, the circadian cycle, with a period close to 24 hours, stands out
as one of the most important, regulating various activities of human beings, such as
sleep-wake cycle, secretion of hormones, among others. In order for this cycle to
function normally, external temporal markers are needed to adjust it to the 24-hour
period, and among these markers, light stands out as the main one. It is natural,
therefore, that doubts arise as to how this system would work in people with little or
no perception of light, that is, blind people. Blind people are especially vulnerable to
various sleep disorders, in addition to suffering a lot of prejudice and isolation. This
work aims to analyze the relationship between the synchronization of blind people
with light and their activity during the day. For this, actigraphy data from 20 individuals
(17 men and 3 women) were used. As a result, most individuals had phase delay (15) of
the activity in relation to light and no significant relationships were found between the
phase difference and the relative amplitude and L5 variables. A weak positive linear
relationship was found between the phase difference and M10.

Keywords: Chronobiology, Blindness, Actigraphy, Sleep disturbances.

Introdução

Os ritmos biológicos estão presentes por toda a natureza e são muito importantes para
os seres vivos, eles variam em frequência e período, estando presentes desde o nível
celular até o fisiológico (ATAN et al., 2023). Dentre esses ritmos, o ciclo circadiano
destaca-se por ter um papel muito importante na fisiologia humana, regulando
funções como ciclo sono-vigília, atenção, secreção de hormônios, entre outros (ATAN
et al., 2023)
O ciclo circadiano corresponde aos ritmos biológicos endógenos em seres humanos e
possuem um período próximo, mas não exatamente, 24 horas (CZEISLER, 1999). Esse
ciclo regula o comportamento humano durante o dia. Então, se esse ritmo não
possuísse nenhum tipo de ajuste, as atividades biológicas humanas não estariam
sincronizadas com o dia e a noite, causando vários prejuízos como sonolência, déficit
de atenção, dificuldades emocionais, entre outros (DAGAN; AYALON, 2005).
Tendo isso em vista, pode-se perceber que o processo de sincronização desse ciclo é
extremamente importante. Nesse sentido, a luz destaca-se como o principal marcador
temporal de ajuste do ciclo circadiano (CZEISLER et al., 1986) através de receptores na
retina que enviam essas informações para o núcleo supraquiasmático do hipotálamo
(BERSON, 2002), sendo esse o principal agente gerador do ritmo endógeno (GREEN;

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GILLETTE, 1982). Ela faz com que o ciclo, que normalmente é maior que 24 horas, seja
igual a 24 horas.
Levando isso em consideração, fica claro que a luz é um fator extremamente relevante
para o ajuste desse ciclo. Dessa forma, como funcionaria esse sistema em pessoas com
pouca ou nenhuma percepção de luz, ou seja, pessoas cegas? Esses estudos
demonstraram que a maioria desses indivíduos encontram-se em livre curso
(UCHIYAMA; LOCKLEY, 2015) e possuem uma grande incidência de distúrbios do sono
(SACK et al., 1992).
Além disso, os indivíduos cegos constituem uma população significativa de cerca de 43
milhões de pessoas em todo o mundo (BOURNE et al., 2021) e sofrem muita
discriminação e preconceito. É necessário estudar o comportamento fisiopatológico
desses indivíduos, a fim de descobrir novas formas de garantir uma maior inclusão e
uma vida mais saudável.
Uma forma bastante utilizada para analisar o ciclo circadiano é através do uso de
actímetros (SANTOS et al., 2021). Eles são dispositivos de baixo custo e pouco invasivos
utilizados, normalmente, no pulso e que medem a atividade motora, a incidência de
luz e a temperatura de um indivíduo durante o dia. Através dessas variáveis é possível
deduzir se o indivíduo está acordado, dormindo ou realizando alguma atividade
(BENEDITO-SILVA et al., 2021).
Dentre as variáveis possíveis de retirar dos dados de um actímetro, existem as
paramétricas e as não paramétricas: as paramétricas são aquelas obtidas a partir do
ajuste de uma função cosseno em relação ao ciclo sono-vigília, enquanto que as não
paramétricas não derivam do ajuste de uma função cosseno (GONÇALVES et al, 2015).
As variáveis não paramétricas são muito eficientes em identificar alterações no ciclo
sono-vigília (WITTING et al., 1990) e, portanto, serão aquelas utilizadas neste trabalho.
Em síntese, este trabalho se propõe a utilizar dados de actigrafia de pessoas cegas e,
através do uso de variáveis não paramétricas, estudar a relação da sincronização
dessas pessoas com a luz e sua atividade durante o dia. Isso através de variáveis não
paramétricas de actigrafia, como M10, L5, amplitude relativa e diferença de fase.

Metodologia

Foram utilizados dados obtidos do Laboratório de Neurobiologia e Ritmicidade


Biológica da UFRN (LNRB-UFRN). Esses dados continham informações de actímetros
(atividade motora, incidência luminosa e temperatura) de 20 indivíduos cegos (17
homens e 3 mulheres). Os actímetros foram colocados no braço não dominante dos

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indivíduos durante todo o dia e pelo período de 24 dias. Foi utilizado o programa
ActStudio, Microsoft Excel 2016 e Google planilhas para organização e análise dos
dados, incluindo criação de tabelas.
Neste estudo, as variáveis obtidas pelo programa ActStudio foram: L5, L5 onset, M10 e
M10 onset. L5 representa a média das 5 horas de menor atividade no período de 24
horas. L5 onset corresponde ao horário de início das 5 horas de menor atividade. M10
descreve a média das 10 horas de maior atividade no período de 24 horas. M10 onset
corresponde ao horário de início das 10 horas de maior atividade. Todas essas
variáveis foram utilizadas tanto para análise do ritmo atividade-repouso quanto para
exposição à luz, sendo excluídos os dias nos quais os indivíduos possuíam M10 ou L5
iguais a zero. No fim, os períodos utilizados variaram de 8 a 24 dias e foram
considerados os dados de 18 indivíduos.
Em seguida, foi calculada a diferença entre M10 onset de atividade motora e de
exposição à luz, sendo essa definida como diferença de fase. Após calcular a diferença
de fase para cada dia de cada indivíduo, foi feita a média das diferenças de fase. Esse
dado foi utilizado para construir gráficos e tabelas de distribuição, dispersão e,
posteriormente, foi realizada a análise de regressão entre a diferença de fase e as
variáveis L5, M10 e amplitude relativa.
Posteriormente, foi calculada a média de L5 e M10 de atividade-repouso de cada
indivíduo. Também foi feito o cálculo da variável amplitude relativa através da divisão
da diferença pela soma de M10 e L5 de atividade motora. Após realizar o cálculo da
amplitude relativa para cada dia, foi realizada uma média para cada indivíduo.
A seguir, foram feitos gráficos de dispersão dos valores de L5, M10 e amplitude relativa
em comparação com o valor da diferença de fase. Também foi feita uma análise de
regressão estudando a influência da diferença de fase nas variáveis L5, M10 e
amplitude relativa.

Resultados e Discussões

Resultados
Nossos resultados mostraram que os voluntários com deficiência visual apresentaram
diferentes padrões de relação de fase entre o início da atividade e o início da exposição
à luz. Alguns apresentaram o início da fase ativa posterior ao da fase de exposição à luz
(Figura 1 - direita) e outros o início da fase ativa coincide com o início da exposição à
luz (Figura 1 - esquerda). A maior parte dos indivíduos (10 dos 18, 55%) possui a
diferença de fase maior que 118 minutos (Figura 2), com apenas um indivíduo

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destoando do grupo, com um atraso de 180 minutos. No geral, os indivíduos tiveram


sua fase de atividade após o início da maior exposição à luz.
Além disso, não foram encontradas relações significativas entre a diferença de fase e
L5 (R²=0,01 e P=0,69 - Figura 3) e entre a diferença de fase e a amplitude relativa
(R²=0,001 e P=0,9 - Figura 3). Entretanto, existe uma fraca relação linear positiva entre
a diferença de fase e M10 (R²=0,21; P=0,054 - Figura 3; e y = 2,93x + 2165 - Figura 4).
Os indivíduos que acordaram mais tarde são mais ativos e a luz não possui influência
relevante na fase de atividade.
Discussão
A maior parte dos indivíduos possuía um atraso de fase do início da atividade em
relação ao início da exposição à luz, diferentemente do estudo de FLYNN-EVANS et al.
2014, no qual 17% dos indivíduos sem percepção de luz apresentaram avanço de fase
e 7% um atraso. Nós sugerimos que isso ocorreu em virtude de o nosso estudo ter sido
realizado em baixas latitudes, enquanto que o outro estudo foi realizado na américa
do norte, em latitudes mais altas. Tendo isso em vista, regiões de baixas latitudes
possuem menor variação climática, podendo isso ter influenciado no resultado
encontrado.
Também há uma correlação entre o atraso de fase da atividade em relação à exposição
à luz e à intensidade de M10 de atividade. Primeiramente, pensamos que esse
resultado poderia ser explicado pela hipótese de que aqueles indivíduos que
acordaram mais tarde o fizeram em virtude de seguir o despertar fisiológico do corpo,
enquanto que aqueles que acordaram mais cedo o fizeram por auxílio de um
despertador, fazendo com que tivessem uma perturbação no ciclo sono-vigília, levando
a uma sonolência e menor atividade durante o dia. Contudo, esse não é o caso do
nosso trabalho, tendo em vista que os indivíduos não estão em livre-curso. Portanto,
sugerimos que os indivíduos que realizam mais atividade durante o dia (maior M10),
em virtude de um componente homeostático do corpo, possuem mais sono e dormem
mais, acordando mais tarde.
Normalmente, seria esperado que os indivíduos começassem a ser mais ativos assim
que fossem expostos à luz, contudo, o estudo atual mostrou que esse não é o caso,
pois inclusive pessoas que tiveram atraso de fase tiveram maiores M10, demonstrando
que a luz possui pouca influência na atividade de pessoas cegas. Portanto, fica
perceptível que o importante não é sincronizar atividade física com exposição à luz e
sim incentivar a prática de atividade física, independente do horário, a fim de garantir
uma vida mais saudável, especialmente para os deficientes visuais. Além disso, é
importante garantir que existam espaços acessíveis e adaptados para essa população.

Conclusão

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eCICT 2023

Por fim, foi possível observar que a diferença de fase não possui influência relevante
em L5 e na amplitude relativa. Dito isso, ela demonstrou uma fraca relação com a
variável M10, e sugerimos que isso ocorreu em virtude de um maior desequilíbrio
homeostático durante o dia em virtude da maior atividade, levando à um maior
cansaço e necessidade de dormir até mais tarde. Além disso, espera-se normalmente
que os indivíduos comecem a ser mais ativos assim que sejam expostos à luz, contudo,
esse trabalho demonstrou que esse não é o caso nos indivíduos cegos, pois inclusive
aqueles com uma diferença de fase maior foram mais ativos. Isso leva à conclusão de
que não é importante sincronizar a atividade física de pessoas cegas com a luz e sim
incentivar a prática de atividade física para essa população, independente do horário, a
fim de garantir uma vida mais saudável tanto no espectro físico quanto mental.

Referências

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of Circadian Rhythm Disorder. Turkish Journal of Ophthalmology, v. 53, n. 2, p. 111–
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Anexos

Figura 1: Actogramas de dois indivíduos para representação da diferença de fase. À


esquerda um com diferença de fase próxima de zero e à direita um com diferença de
fase maior que zero.

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eCICT 2023

Figura 2: Distribuição da diferença de fase entre atividade-repouso e exposição à luz.


Esse gráfico demonstra a quantidade de indivíduos que possuem diferença de fase
entre os intervalos propostos (em minutos).

Figura 3: Tabela com os valores de análise de regressão entre a diferença de fase e as


variáveis L5, M10 e amplitude relativa.

Figura 4: Gráfico de dispersão entre os valores de M10 e a diferença de fase. Esse


gráfico demonstra a relação linear positiva entre os valores de M10 e da diferença de
fase

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CÓDIGO: SB0541

AUTOR: AIAN DOS SANTOS VIANA

ORIENTADOR: RIVA DE PAULA OLIVEIRA

TÍTULO: Comparação do efeito da deficiência dos genes CSB-1 e XPA-1 e seu


reflexo na integridade dos neurônios colinérgicos no animal modelo
Caenorhabditis elegans

Resumo

A estabilidade do genoma enfrenta constantes ameaças de agentes genotóxicos tanto


endógenos quanto ambientais, o que pode resultar em lesões no DNA. Asim, existem
mecanismos de reparo, como a Excisão de Nucleotídeos (NER) e a Excisão de Base
(BER) são acionados prontamente para corrigir esses danos. No entanto, falhas nesses
sistemas podem ocasionar uma série de doenças complexas, caracterizadas por
envelhecimento precoce e neurodegeneração. A via NER, é altamente conservada,
desempenhando um papel vital no nematóide C. elegans, onde é responsável por
restaurar danos resultantes da exposição à radiação ultravioleta. Essa via de reparo é
dividida em GG-NER e TC-NER, cada uma com funções específicas. Dentro desse
contexto, o presente estudo tem como objetivo comparar os efeitos
neurodegenerativos da inibição de CSB-1 e XPA-1.Para alcançar esse objetivo, uma
análise de fluorescência foi conduzida, visando neurônios colinérgicos do C. elegans.
Essa análise empregou a técnica de interferência de RNA (RNAi) para inibir a expressão
dos genes da via TC-NER, CSB-1 e XPA-1, com o intuito de avaliar tanto a intensidade
média de fluorescência quanto possíveis alterações axonais nos organismos estudados.
Os resultados demonstraram que não houve diferença estatisticamente significativa na
intensidade de fluorescência entre os grupos examinados. No entanto, observou-se
um aumento de 22% nas incidências de alterações axonais no grupo tratado com RNAi
(XPA-1) em relação ao grupo controle.

Palavras-chave: XPA. CSB. Neurodegeneração. RNAi. Projeções axonais

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TITLE: Comparison of the effect of CSB-1 and XPA-1 gene deficiencies and
their impact on the integrity of cholinergic neurons in the model organism
Caenorhabditis elegans.

Abstract

Genome stability faces constant threats from both endogenous and environmental
genotoxic agents, which can result in DNA damage. Thus, repairmechanisms such as
Nucleotide Excision (NER) and Base Excision (BER) are readily triggered to correct these
damages. However, failures in these systems can cause a series of complex diseases,
characterized by premature aging and neurodegeneration. The NER pathway is highly
conserved, playinga vital role in the nematode C. elegans, where it is responsible for
restoring damage resulting from exposure to ultraviolet radiation. This repair pathway
is divided into GG-NER and TC-NER, each with specific functions. Within this context,
the present study aims to compare the neurodegenerative effectsof CSB-1 and XPA-
1inhibition. To achieve this goal, a fluorescence analysis was conducted, targeting C.
elegans cholinergic neurons. This analysis employed the RNA interference (RNAi)
technique to inhibit the expression of TC-NER pathway genes, CSB-1 and XPA-1, in
order to evaluate both the mean fluorescence intensity and possible axonal changes in
the studied organisms. The results demonstrated that there was no statistically
significant difference in fluorescence intensity between the groups examined.
However, a 22% increase in the incidences of axonal changes was observed in the
RNAi-treated group (XPA-1) compared to the control group.

Keywords: XPA. CS. Neurodegeneration. RNAi. Axonal projections.

Introdução

A estabilidade do material genético está constantemente sob ameaça de agentes


genotóxicos provenientes tanto do ambiente quanto do próprio organismo, os quais
têm o potencial de causar danos no DNA (HORST et al., 2002). Os possíveis efeitos
mutagênicos resultantes de danos ao genoma são prontamente evitados por meio da
ativação dos sistemas de reparo do DNA, que englobam diversas vias de reparação,
incluindo o processo de excisão de base (BER) e a excisão de nucleotídeos (NER)
(LOPES et al., 2020).
Anomalias congênitas nos mecanismos de reparo do DNA têm como consequência
uma série de síndromes extremamente complexas, acarretando uma variedade de

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graus de comprometimento no desenvolvimento, enfermidades neurodegenerativas e


até mesmo envelhecimento precoce (BABU; HOFMANN; SCHUMACHER, 2014).
A via NER desempenha um papel crucial na correção de danos volumosos no DNA
causados pela exposição à luz ultravioleta. Essa via é subdividida em duas vertentes: a
via TC-NER, que repara danos associados a sequências de transcritas, e a via GG-NER
que atua no restante do genoma. E em ambas as vias, a proteína XPA desempenha um
papel essencial na formação do complexo de pré-incisão.
Alterações genéticas na via TC-NER frequentemente envolvem os genes CSB e CSA,
resultando na manifestação da síndrome de Cockayne (SC). Esta síndrome é
caracterizada por uma série de disfunções neuronais e pelo envelhecimento
prematuro, destacando a importância crítica desses mecanismos de reparo na
manutenção da integridade genômica (HORST et al., 2002).
Anomalias no sistema de reparo NER, em resposta a danos no genoma, desencadeiam
a depleção de NAD+, resultando na perturbação da mitofagia e subsequente disfunção
mitocondrial (FANG; BOHR, 2017). Esse processo patológico contribui para a criação de
um ambiente celular tóxico, rico em espécies reativas de oxigênio, e provoca a
desregulação do cálcio, que é um fator crucial para a sobrevivência e a plasticidade
neuronal (JUNG et al., 2020). Em paralelo a isso, a disfunção mitocondrial está sendo
cada vez mais considerada como um fator chave na progressão da síndrome de
Cockayne (SC), junto com o aumento dos danos não reparados no DNA (OKUR et al.,
2020).
No organismo C. elegans, a via NER possui como função exclusiva a correção de danos
ao DNA induzidos pela exposição à radiação ultravioleta (UV). Essa via possui tanto GG-
NER quanto TC-NER e compreende proteínas ortólogas de XPA e CSB, que são
denominadas XPA-1 e CSB-1, respectivamente (LANS; VERMEULEN, 2011). No contexto
das duas sub-vias, somente a TC-NER permanece funcional em animais adultos,
enquanto a GG-NER e ativa apenas nas fases iniciais do desenvolvimento do verme.
Desta forma, o estudo com o organismo modelo C. elegans oferece vantagens notáveis
para a pesquisa. Com um genoma sequenciado e diversas ferramentas de manipulação
genética à disposição, como transgenia, edição de genoma, mutagênese e RNAi,
ademais, o C. elegans proporciona uma plataforma relativamente simples para a
realização de experimentos de genética direta e inversa (RIECKHER; BUJARRABAL;
DOLL, 2018).
Os estudos realizados por Lopes et al. (2020), Naranjo-Galindo et al. (2022) e Lans et al.
(2010) revelaram que o organismo modelo C. elegans emerge como uma alternativa
altamente promissora para investigações que abordem a interação entre circuitos
neurais e comportamento, assim como os mecanismos fundamentais relacionados à
neurodegeneração e ao processo de envelhecimento.

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eCICT 2023

Dito isso este estudo tem como objetivo realizar a comparação do efeito
neurodegenerativo da inibição da função dos genes CSB-1 e XPA-1 no C.elegans em
adultos de 1 dia para compreender melhor as relações de neurodegeneração
associada aos mecanismos de reparo do DNA, visando contribuir com o
desenvolvimento de futuras pesquisas que busquem remediar os efeitos
neurodegenerativos do envelhecimento, e contribuindo com a promoção da saúde e
bem-estar pelo cronograma da ONU.

Metodologia

No cultivo de C. elegans, as linhagens utilizadas, sejam elas com mutações,


modificadas geneticamente ou na forma selvagem, são criadas a uma temperatura de
20°C em meio sólido denominado NGM (Meio de Crescimento para Nematoides), no
qual são inseridas bactérias E. coli (cepa OP50) para servir de fonte nutricional.
Os experimentos são conduzidos com indivíduos em estágio sincronizado de
desenvolvimento, adquiridos por meio da digestão química de hermafroditas adultos
prenhes. Essa digestão é realizada com uma solução de lise (composta por 50% de
hipoclorito de sódio e 2,5 mM de hidróxido de sódio), seguida de uma etapa de
lavagem para a obtenção dos embriões.
A redução da expressão dos genes XPA-1 e CSB-1 será realizada por meio da técnica de
RNAi por alimentação. Nesse procedimento, os vermes serão alimentados com
bactérias E. coli HT115 transformadas com plasmídeos pL 4440 modificados, contendo
sequências específicas dos genes alvo. Através desse método, os vermes cultivados
junto às E. coli transformadas absorvem os plasmídeos contendo RNAi durante a
alimentação. Esses plasmídeos são assimilados pelas células dos vermes, que passam a
produzir o conteúdo do plasmídeo, resultando na inibição da atividade dos genes alvo.
No procedimento experimental, as bactérias foram cultivadas durante a noite em 10
mL de meio Luria-Bertani (LB) com pH 7,0 (composição de 10g/L de caseína, 5g/L de
extrato de levedura e 10g/L de NaCl), ao qual foi adicionada uma concentração de 60
μg/ml de ampicilina. No dia seguinte, essas bactérias foram diluídas em uma
proporção de 1:10 em LB acrescido de ampicilina. O crescimento das bactérias foi
monitorado até que alcançassem uma densidade óptica (OD) de 600 nm igual a 1,0.
Essa cultura bacteriana foi então semeada em placas contendo meio NGM
suplementado com 1 mM de IPTG, formando uma camada que servirá como alimento
para os C. elegans. A síntese do RNAi é ativada pela indução através do uso de IPTG.

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Para o ensaio de integridade dos neurônios colinérgicos os animais utilizados foram os


seguintes: da cepa LX929 que carrega uma proteína de fluorescência verde (GFP)
acoplada a promotores específicos para neurônios colinérgicos, que serão
sincronizados e semeados em estágio L1 de desenvolvimento em placas de NGM
contendo a E. coliHT115 transformada.
Os animais foram cultivados em três grupos contendo RNAi para os genes XPA-1, CSB-1
e o controle, durante 56 h até alcançarem o estágio L4 a adulto de 1 dia. Em seguida,
os animais foram fotógrafos para análise no software NIH Image J®versão 1.51 (2011).
A expressão de GFP pode ser observada ao comprimento de onda de 600 nm, assim
sendo as imagens são obtidas por meio do uso do microscópio óptico de fluorescência
Olympus (modelo BX51, Tokyo – JAPAN).
A neurodegeneração foi analisada sobre dois critérios: intensidade média de
fluorescência dos animais, obtido de pixel por área marcada, com o intuito de verificar
a expressão de GFP em cada grupo, e, portanto, estipular a sobrevivência neuronal; e
contagem de marcadores de neurodegeneração na forma de alterações morfológicas
axonais.

Resultados e Discussões

A avaliação da intensidade média de fluorescência nos neurônios marcados com GFP e


o tratamento com RNA interferente revelou ausência de diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos RNAi(xpa-1), RNAi(csb-1)e o grupo controle (Figura 1).
Estes resultados podem implicar que a degeneração neuronal não decorre da
diminuição do número de neurônios, uma vez que não há um aumento
estatisticamente significativo na perda de neurônios colinérgicos. No entanto,
observações preliminares sugeriam que a neurodegeneração poderia manifestar-se
por meio de alterações nas projeções axonais, as quais foram observadas em maior
escala nos grupos submetidos ao tratamento com RNAi(xpa-1) e RNAi(csb-1). Tais
observações levantam a possibilidade de que a avaliação global da intensidade de
fluorescência talvez não seja um parâmetro adequado para a análise da
neurodegeneração nos animais.
Realizou-se uma análise adicional focada na morfologia axonal dos animais, com o
intuito de quantificar as alterações observadas. Através dessa avaliação, foram
identificados três tipos distintos de modificações nas projeções axonais: ramificações,
quebras de conexões e a formação de estruturas nodulares denominadas "beads". A
principal alteração identificada consistiu na presença proeminente de estruturas

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eCICT 2023

semelhantes a contas, conhecidas como "beads", nas projeções axonais de todos os


grupos examinados, incluindo o grupo controle (Figura 2).
Essa forma de degeneração dos axônios ocorre devido a uma ruptura no citoesqueleto,
resultando em projeções que apresentam um aumento de volume, conhecidas como
"beads" (SCHAFER et.al; 2011). Essas anomalias provocam interrupções nas projeções,
interferindo no transporte adequado de grânulos contendo neurotransmissores e
levando, consequentemente, a uma redução ou perda da função neuronal. Pesquisas
sugerem que essas deformidades podem ser desencadeadas por tensões mecânicas
nas projeções axonais (Hubert et.al;2010), o que, em parte, pode explicar a
significativa ocorrência de "beads" tanto nos animais submetidos ao tratamento com
RNAi quanto no grupo controle.
A análise de alteração axonal mostrou uma prevalência significativa no número de
observações de “beads” por animal (al/an) em todos os grupos analisados em relação
as ramificações observadas, em animais adultos de 1 dia. O qual o grupo tratado com
RNAi(controle) obteve uma media de 0,423al/an; RNAi(xpa-1) obteve 0,682al/an; e o
grupo tratado com RNAi(csb-1) 0,51al/an (figura 2). As ramificações observadas
apresentaram uma tendência de aumento nos grupos tratados com RNAi(xpa-1) e
RNAi(csb-1) em relação a controle, no entanto os resultados não tiveram significância
estatística. Ainda se tratando das "beads", ao analisar a média das observações no
grupo de controle em relação aos outros grupos, é evidente que os valoresdos grupos
tratados com RNAi(xpa-1) e RNAI(csb-1) são superiores àqueles observados no grupo
de controle. No entanto, é importante ressaltar que apenas a comparação do grupo
RNAi(xpa-1) com controle apresentou significância estatística, conforme ilustrado na
figura 3.
É importante destacar que não realizamos avaliações das quebras de conexão devido à
escassez de observações. Essa escassez pode estar associada ao fato de que, de acordo
com Lopes et al. (2020), a formação de "beads" representa uma fase inicial do
processo neurodegenerativo, que pode evoluir para outras formas de degeneração em
períodos mais longos de tratamento.
A análise estatística do total de alterações axonais revelou que o grupo que obteve
maior concentração de alterações axonais por animal foi o grupo tratado com
RNAi(xpa-1), quedemostrou uma média de 0,388al/an (valor de p < 0,0001), que é
significativamente maior que a observada no grupo tratado com RNAi(controle), com
valor de 0,167al/an. Enquanto que o grupo tratado com RNAi(csb-1) apresentou uma
média de 0,278al/an que também demostra uma tendência de aumento, similar ao
grupo RNAi(xpa-1),no entanto os resultados não tiveram relevância estatística, tanto
em comparação com controle, quanto com o grupo RNAi(xpa-1) (Figura 4).

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Estes resultados podem ser explicados pelo fato de que no C. elegans, XPA-1
desempenha um papel comum nas vias GG-NER e TC-NER e é essencial para a ativação
de ambas as vias de reparo. A inativação de XPA-1 pode ter interrompido uma etapa
mais inicial da via, causando uma disfunção no reparo mais acentuada do que a
observada em CSB, que está envolvida exclusivamente na via TC-NER. O acumulo
maior de “beads” nos grupos expostos ao RNAi(xpa-1), pode indicar uma maior
sensibilidade neuronal.
É crucial observar que este estudo carece ainda de informações relativas à integridade
axonal e à intensidade da fluorescência dos animais ao longo de seu processo de
envelhecimento, até alcançarem a fase adulta avançada. Esses dados seriam essenciais
para confirmar o efeito acumulativo da neurodegeneração ao longo do tempo.
Adicionalmente, é relevante lembrar que a técnica de inibição por RNAi apresenta
limitações devido a barreiras biológicas, sobretudo nas células nervosas, o que pode
resultar em uma inibição parcial da expressão dos genes-alvo. Esse fator poderia levar
à atenuação dos efeitos patológicos que foram observados.

Conclusão

As informações coletadas indicam que a redução da expressão do gene XPA-1 no


organismo modelo C. elegans resulta em um fenótipo mais pronunciado de
neurodegeneração, que está associado a mudanças notáveis nas estruturas axonais.
Comparativamente, a diminuição da expressão de CSB-1 produz um efeito menos
acentuado. Entre as alterações observadas em todos os grupos, inclusive no grupo não
tratado, as estruturas em forma de "beads" são as mais prevalentes.

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eCICT 2023

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Anexos

intensidade média de florescência dos grupos XPA-1, CSB-1 e controle

relação de beads e ramificações por total de anomalias observadas

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Media de beads por animal nos grupos XPA-1, CSB-1 e controle

Proporção de axônios defeituosos por animal

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CÓDIGO: SB0546

AUTOR: ANDERSON KAIAN DE LIMA MANIÇOBA

ORIENTADOR: PEDRO PAULO DE ANDRADE SANTOS

TÍTULO: Indução da Carcinogênese Oral e Avaliação Clínica das Lesões


obtidas em ratos

Resumo

A complexidade no entendimento dos inúmeros mecanismos que envolvem a


carcinogênese oral demanda estudos pormenorizados para auxiliar no entendimento
desse intricado processo. Desta forma, a análise clínico-patológica do processo de
evolução da carcinogênese oral induzida quimicamente ajuda a entender não só o
desenvolvimento, como também a gênese de possíveis alterações patológicas que
podem acometer essa região tão nobre do corpo humano que é a cavidade oral.
Diante disso, é realizado um estudo utilizando ratos da linhagem Wistar, um animal
que possui muita similaridade com o sistema humano, submetendo-o a um processo
de indução de carcinogênese química a partir do agente carcinogênico 4NQO,
analisando características clínicas, histopatológicas e histomorfométricas das
diferentes etapas de desenvolvimento do carcinoma oral. Espera-se que os achados do
presente projeto possam contribuir para a melhoria no entendimento do processo de
carcinogênese, futura atuação de biomarcadores e suas relações com prognóstico das
lesões, objetivando um tratamento mais promissor e eficiente para os pacientes
acometidos por lesões que compõem o espectro de formação do carcinoma
epidermoide oral.

Palavras-chave: 4NQO. Carcinoma Mucoepidermoide. Ratos Wistar.

TITLE: Induction of Oral Carcinogenesis and Clinical Evaluation of Lesions


Obtained in Rats

Abstract

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The complexity in understanding the numerous mechanisms that involve oral


carcinogenesis requires detailed studies to help understand this intricate process.In
this way, the clinical-pathological analysis of the process of evolution of chemically
induced oral carcinogenesis helps to understand not only the development, but also
the genesis of possible pathological changes that can affect this noble region of the
human body that is the oral cavity.In view of this, a study is carried out using rats of
the Wistar lineage, an animal that has a lot of similarity with the human system,
subjecting it to a process of induction of chemical carcinogenesis from the carcinogenic
agent 4NQO, analyzing clinical, histopathological and histomorphometric
characteristics of thedifferent stages of development of oral carcinoma.It is expected
that the findings of this project can contribute to the improvement in the
understanding of the carcinogenesis process, future performance of biomarkers and
their relationship with the prognosis of lesions, aiming at a more promising and
efficient treatment for patients affected by lesions that make up the
spectrumformation of oral squamous cell carcinoma.

Keywords: 4NQO. Mucoepidermoid Carcinoma. Wistar Rats.

Introdução

O carcinoma epidermóide de boca (CEB) tem origem nos tecidos epiteliais e os locais
mais acometidos são borda lateral de língua, lábio inferior e assoalho de boca.
Entretanto, qualquer superfície bucal pode ser afetada. Considerado uma doença
predominantemente do sexo masculino, atinge principalmente indivíduos acima dos
45 anos de idade e leucodermas (Neville et al, 2009). O câncer de lábio é uma das mais
freqüentes neoplasias malignas da cavidade oral provavelmente devido esta
localização anatômica ser mais facilmente diagnosticada, apresentando um melhor
prognóstico e uma sobrevida de 5 anos ou mais, em comparação ao câncer de língua
(Luna-ortiz et al, 2004). A 4-nitroquinolina-1-óxido (4NQO) é uma substância
mutagênica capaz de gerar alterações no DNA que mimetizam eventos moleculares
induzidos pelo tabaco e pode ser utilizada para o desenvolvimento de carcinogênese
oral experimental (Zigmund et. al, 2022)
Frente à importância do entendimento do processo de carcinogênese oral, objetivando
contribuir na melhoria das condições de tratamento e prognóstico dos pacientes
acometidos por esta enfermidade, o presente trabalho tem por objetivo analisar,
descritiva e comparativamente, as características clínicas considerando a extensão
superficial e profundidade das lesões invasivas do espectro maligno induzidas
quimicamente pelo 4NQO.

Metodologia

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eCICT 2023

Caracterização do Estudo
Esta pesquisa consistirá em uma análise clínica descritiva e comparativa das lesões
orais quimicamente induzidas pelo 4-NQO em ratos e que pertençam ao espectro de
malignidade, realizando ainda a mensuração de extensão através da morfometria.
Amostra e Indução Química das Lesões
Serão utilizados 50 ratos machos da linhagem Wistar, com peso entre 200-250 g,
oriundos do Biotério do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Os animais serão alojados em caixas de polipropileno providas de bebedouro
e comedouro, onde ficaram 3 ou 4 animais por gaiola, submetidos a condições
controladas de temperatura (24±2 °C) e de iluminação (ciclo de 12 horas claro/12
horas escuro) e receberão ração e água ad libitum. O peso de cada animal será aferido
a cada 7 dias, o consumo de água e ração por gaiola foi averiguado todos os dias ao
longo das 37 semanas experimentais. O protocolo experimental será submetido a
análise da Comissão de Ética no Uso Animal (CEUA) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). A amostra será constituída por 50 ratos Wistar machos
adultos, sendo 10 ratos constituindo o grupo controle (GC), e 40 ratos que constituirão
o grupo experimental por um tempo máximo de 37 semanas, nesse grupo será diluído
na água presente no bebedouro o agente carcinógeno 4-NQO (SUPSAVHAD et al,
2016), após esse período serão sacrificados com injeção intraperitoneal de cloridrato
de ketamina 5% e xilazina 2% (0,3ml/100g), e as lesões de cavidade oral serão
devidamente coletadas, fotografadas para a análise macroscópica das lesões, medidas
e imersas em formaldeído a 10% para serem posteriormente emblocadas em parafina
e cortadas em micrótomo para a análise histopatológica, imuno-histoquímica e
histomorfométrica.
Análise clínica (macroscópica) e morfométrica das lesões induzidas quimicamente
Após o período de indução da carcinogênese oral, as lesões obtidas serão fotografadas
usando uma câmera da marca Canon Rebel T6 com macro lente de 100mm, para que
todos os detalhes superficiais das lesões possam ser examinadas nos mínimos detalhes
e a partir da análise das fotografias realizadas, coletaremos informações sobre tipo de
inserção, evidências de úlceras, sangramento, variação de coloração, variação
topográfica e mensuração da extensão superficial das lesões que será obtida usando o
software Image J (National Institute of Health-NIH).
Análise Estatística
Os resultados obtidos serão submetidos a testes estatísticos apropriados, com o
objetivo de testar as hipóteses aventadas no presente estudo. Os dados serão
digitados originalmente na planilha eletrônica Excel (Microsoft Windows XP Home

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eCICT 2023

edition®) e posteriormente exportados para o formato DBF (Data Base Format), para
poderem ser lidos pelo programa GraphPad Instat (GraphPad Instat version 3.00 for
Windows 95®, GraphPad Software, San Diego, Califórnia-USA), onde serão feitas as
análises.
Implicações Ética
O presente trabalho pertence ao projeto aprovado no Edital Universal do CNP 2021 (nº
409414/2021-2) intitulado “Estudo clínico patológico e imunohistoquímico da evolução
de carcinomas epidermoides orais induzidos quimicamente em ratos” e foi submetido
à apreciação de seu conteúdo pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (CEUA/UFRN).

Resultados e Discussões

Realização de toda a revisão de literatura; Confecção do projeto de pesquisa para


enviar ao Comitê de ética em pesquisa para uso de Animais (CEUA-UFRN);Recebemos
aprovação do projeto junto a CEUA-UFRN com o nº de protocolo Nº
317.051/2022;Desde então, foi feita a solicitação dos ratos ao Biotério Central do
Centro de Biociências da UFRN e devido a grande demanda, ainda estamos
aguardando os ratos para dar início a fase experimental da nossa pesquisa que é a
indução química do carcinoma epidermoide para dar continuidade as demais etapas.
Tendo como previsão para entrega dos ratos o mês de setembro de 2023;Devido a
isso, foi solicitada a renovação do presente projeto de iniciação científica para o
período 2023-2024 para dar continuidade a pesquisa, tendo obtido aprovação para dar
continuidade a esta pesquisa a partir do mês de setembro de 2023.

Conclusão

O 4NQO mostra-se eficaz ao induzir carcinogênese em ratos da linhagem Wistar,


apresenta-se um excelente carcinógeno tanto por induzir lesões em pouco tempo
quanto pela semelhança com as lesões encontradas em tecido humano. A partir da
revisão de literatura realizada, constata-se a necessidade de adotar parâmetros
técnicos de boas práticas para o uso de 4NQO como indutor de carcinogênese oral em
ratos Wistar, a fim de alinhar o rigor metodológico do estudo àqueles já presentes na
literatura. Para tanto, alguns aspectos devem ser observados ao longo do
desenvolvimento da pesquisa, como a descrição dos cuidados com a solução, dos
efeitos adversos e do número de perdas, tendo em vista que a dose, o tempo e a

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

forma de aplicação são fatores que, em conjunto, podem influenciar os resultados da


pesquisa. Por sua vez, tendo em vista que o presente estudo se encontra em execução,
tais parâmetros serão observados na execução das demais etapas da pesquisa a serem
realizadas no período de 2023-2024, tendo em vista a renovação do projeto.

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CÓDIGO: SB0564

AUTOR: JOYCE CRISTINNE SILVA FLORENCIO

ORIENTADOR: SUSANA MARGARIDA GOMES MOREIRA

TÍTULO: Avaliação da mutagenicidade de amostras ricas polissacarídeos


sulfatados da macroalga verde C. cupressoides

Resumo

A macroalga Caulerpa cupressoides possui nas paredes celulares


polissacarídeos sulfatados (PS) que são descritos, como moléculas
bioativas que têm propriedades benéficas. Dessa forma, o presente estudo
teve como finalidade avaliar o potencial mutagênico de 4 amostras ricas em
PS, preparadas a partir da alga C. cupresssoides. A avaliação foi realizada
usando o teste de reversão da bactéria. Este teste é uma ferramenta
acessível para estudar a mutagenicidade em substâncias. Consiste em um
ensaio onde se usam cepas de Salmonella typhimurium engenheiradas, que
possuem mutações que impedem a produção de Histidina, um aminoácido
essencial para o crescimento das bactérias. No caso das amostras testadas
serem mutagênicas, a mutação é revertida, permitindo a formação de
colônias. Em 1983, Kado et al. propuseram modificações no experimento,
possibilitando uma maior sensibilidade e menor custo, criando o protocolo
de microssuspensão em S. typhimurium, utilizado neste trabalho. Existem
diferentes cepas que permitem avaliar diferentes mecanismos de
mutagenicidade e, neste estudo, foram usadas as cepas TA100 e TA102. Os
resultados preliminares com a cepa TA100 indicam que as amostras
testadas não apresentam potencial mutagênico nas concentrações utilizadas,
já que não se obtiveram resultados significativos de reversão. No entanto,
mais estudos são necessários para avaliar a segurança do ponto de vista
genotóxico destas amostras.

Palavras-chave: Mutagenicidade; genotoxicidade, Polissacarídeos sulfatados;


Macroalgas

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TITLE: Evaluation of the mutagenicity of samples rich in sulfated


polysaccharides from the green macroalgae C. cupressoides

Abstract

The macroalgae Caulerpa cupressoides has sulfated polysaccharides (PS)


in its cell walls, which are described as bioactive molecules that have
beneficial properties. Thus, the present study aimed to evaluate the
mutagenic potential of 4 samples rich in PS prepared from the seaweed C.
cupresssoides. The evaluation was performed using the bacteria reversal
test. This test is an affordable tool for studying mutagenicity of substances.
It is an assay that uses engineered strains of Salmonella typhimurium,
which have mutations that prevent the production of Histidine, an essential
amino acid for the growth of bacteria. If the tested samples present
mutagenic potential, the mutation is reversed, allowing the formation of
bacterial colonies. In 1983, Kado et al. proposed several protocol
modifications, allowing greater sensitivity and lower cost, creating the
microsuspension protocol in S. typhimurium, used in this work. There are
different strains that allow evaluating different mechanisms of
mutagenicity, in this study strains TA100 and TA102 were used.
Preliminary results obtained with strain TA100 indicate that the tested
samples do not present mutagenicity in the tested concentrations, since the
results did not show significant reversion. However, further studies are
needed to assess the safety of these samples.

Keywords: Mutagenicity; genotoxicity, Sulfated polysaccharides; Macroalgae;

Introdução

A biodiversidade marinha continua a revelar uma vasta gama de compostos


bioativos, abrindo novos caminhos para a pesquisa científica na medicina
regenerativa e oportunidades para buscar terapias alternativas mais
eficazes. As algas se destacam como fonte de compostos bioativos e
nutricionais (BIRIS-DORHOI,et al., 2020).
Dentre as moléculas com bioatividades descritas, destacam-se os
polissacarídeos sulfatados (PS), presentes na parede celular das algas
(MANLUSOC. et al, 2019 ). PS são moléculas constituídas por, pelo

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menos, um grupo sulfato ligado a açúcares. Entre as propriedades


importantes descritas para os PS encontram-se: anti-inflamatórias (WU et
al., 2016), anticoagulante (LI et al., 2017), antitumoral, osteogênicas
(CHAVES FILHO et al., 2022), anti-adipogênica (CHAVES FILHO et al,
2022) e antioxidante (ALENCAR et al., 2019), entre outras. A utilização de
compostos extraídos de algas marinhas também oferece vantagens quanto à
sustentabilidade, pois as algas são fontes renováveis, promovendo a
conservação do ecossistema marinho juntamente ao desenvolvimento
científico (BIRIS-DORHOI et al., 2020).
Apesar do grande potencial para aplicações biomédicas, o estudo da
biocompatibilidade desses compostos é necessário, incluindo o potencial de
genotoxicidade, como é exigido pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OECD). Um dos testes aprovados por essas agências
reguladoras é o teste de reversão bacteriana, que permite avaliar o potencial
mutagênico de substâncias químicas, a partir de ensaios onde se utilizam
cepas de bactérias engenheiradas (OECD, 2020; ANVISA, 2013).
Ensaios de mutagenicidade são importantes para investigar se uma
substância não causará danos irreparáveis no DNA. O teste de Ames, ou
teste de reversão bacteriana, é uma ferramenta barata para buscar indícios
de mutagenicidade em substâncias (AMES et. al., 1973). Consiste em um
ensaio que usa diferentes cepas de bactérias de Salmonella typhimurium,
engenheiradas para permitir avaliar diferentes mecanismos que podem
levar a danos no DNA. Assim, existem diferentes cepas que permitem
detectar uma variedade de mutágenos que agem de formas diferentes, como
TA100 e TA102 (MARON & AMES, 1983), que foram as utilizadas na
pesquisa, visando elucidar o potencial mutagênico de substâncias que
induzem substituição de pares de base, ou danos por oxidação,
respectivamente.
Em 1983, Kado et al. propuseram modificações no experimento,
possibilitando uma maior sensibilidade e menor custo, criando o protocolo
de microssuspensão em S. typhimurium, utilizado neste trabalho.
Para utilizar esta metodologia, é necessário, realizar periodicamente a
manutenção dos estoques permanentes, onde se verifica o genótipo e a taxa
de reversão espontânea das cepas, isto é, a capacidade das colônias

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eCICT 2023

reverterem a auxotrofia espontaneamente (MARON & AMES, 1983). Os


ensaios de mutagenicidade são executados expondo essas bactérias a
amostras que serão avaliadas pela reversão que causam, e o número de
revertentes será contabilizado, e será verificado se existe relação dose-
dependente que indique genotoxicidade (AMES et al, 1972; ZEIGER,
2019). Um mutágeno conhecido e específico para cada cepa, a Mitomicina
C, para TA102 (AMES et al, 1982) ou Azida sódica, para TA100, é usado
como control positivo do teste. Uma limitação do teste de Ames é o fato de
algumas moléculas só poderem ser metabolizadas por enzimas específicas
encontradas somente em mamíferos. Esta limitação pode ser ultrapassada
usando uma fração microssomal de extrato de fígado de camundongos
(Fração S9), que faz a ativação metabólica e permite que os potenciais
produtos mutagênicos da metabolização das amostras também sejam
avaliados (AMES et al, 1972; ZEIGER, 2019).

Metodologia

PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS RICAS EM POLISSACARÍDEOS


SULFATADOS
As amostras ricas em PS utilizadas na pesquisa foram preparadas em
trabalhos anteriores. No caso, foram quatro frações preparadas a partir do
extrato total rico em PS da macroalga C. cupressoides: F0.3, F0.5, F1.0 e
F2.0.
MANUTENÇÃO DAS CEPAS DE S. typhimurium
As renovações foram realizadas durante como descrito em Kado et al.,
1983, como se descreve resumidamente em seguida. Nos três primeiros
dias foram preparados os inóculos em caldo nutriente com ou sem
antibióticos e ágar nutriente sem antibiótico. No dia reservado para o
ensaio de renovação, foram preparados os estoques permanentes com 900
ul de dimetilsulfóxido (DMSO) e 100 ul do caldo com cultura bacteriana.
Em seguida, as placas máster foram preparadas usando 40 ul da cultura,
estriados em placas de ágar mínimo enriquecido. O teste para dependência
de histidina foi realizado em duas placas e ágar mínimo, um com histidina
e biotina e a segunda sem histidina. As placas foram divididas em

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quadrantes e estriam-se as culturas em seu respectivo espaço com uma alça


de inoculação de 10 ul. A verificação da mutação RFA foi realizada em
ágar nutriente, pipetando 10 ul de cristal violeta nas culturas estriadas. Para
o teste de deleção UVrB, os quadrantes foram divididos ao meio, onde um
lado foi exposto à luz ultravioleta após a inoculação. Para a garantir a
resistência aos antibióticos Ampicilina e Tetraciclina, 10 ul de cada
antibiótico foram estriados em placas diferentes, e a cultura estriada sobre o
antibiótico após esperar que a placa secasse. A taxa de reversão foi
realizada com a microssuspensão da cultura em 3 mL de top ágar, e
incorporação em placas de ágar mínimo enriquecido. As placas de genótipo
e máster ficaram incubadas a 37°C por 24 h, e as placas para calcular a taxa
de reversão permaneceram incubadas por 48 h.
ENSAIO DE MUTAGENICIDADE
Um inóculo em caldo nutriente foi preparado no dia anterior ao ensaio.
Após o período de incubação, o inóculo foi centrifugado e ressuspendido
em 4 mL de tampão fosfato. Em tubos de ensaio, foram aliquotados tampão
fosfato, as amostras e a cultura ressuspendida. Para os controles positivos,
foi adicionada Mitomicina C para TA102 (AMES et al, 1982), e Azida
Sódica para TA100, para substituir a amostra. No caso dos controles
negativos, o substituto foi água ultrapura (MilliQ). Esses tubos foram para
a incubadora a 37°C, durante 90 min. Em seguida, o top ágar foi
adicionado aos tubos e a mistura agitada em movimentos circulares nas
placas de ágar mínimo enriquecido. Os resultados foram obtidos após 48 h,
depois de uma incubação a 37°C. Para os controles positivos Em tubos de
ensaio, alíquotas das bactérias foram expostas ao mutágeno Mitomicina C
(AMES et al, 1982)
Os testes foram realizadas em triplicatas independentes para cada uma das
amostras e, após a contagem, foi calculada a média aritmética da razão de
mutagenicidade (RM), dividindo a média das placas do ensaio pelo número
de colônias revertentes do controle negativo (reversão espontânea), e
desvio padrão.
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os ensaios de mutagenicidade foram realizadas em triplicatas
independentes para cada uma das amostras e, após a contagem, foi
calculada a média aritmética, a razão de mutagenicidade (RM), dividindo a

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eCICT 2023

média das placas do ensaio pelo número de colônias revertentes do controle


negativo (reversão espontânea), desvio padrão, e os cálculos foram
submetidos ao teste Two-way ANOVA seguido do teste Tukey.

Resultados e Discussões

REVERSÃO COM S. typhimurium, CEPA TA100


Depois da renovação da cepa e da preparação das placas máster, foram
realizados os testes com as amostras ricas em PS.
Nos ensaios sem ativação metabólica, na ausência da fração S9, obtivemos
o resultado mostrados na Figura 1, e com nos ensaios realizados com
ativação metabólica, obtivemos os resultados mostrados na Figura 2.
Como já introduzido, a mutagenicidade no teste de reversão bacteriana é
pesquisada a partir da capacidade da substância em teste reverter a mutação
auxotrófica das cepas de S. typhimurium, portanto, quanto mais revertentes,
mais genotóxica é a substância avaliada. No entanto, para que seja
considerada mutagênica, a triplicata deve apresentar reversão maior que o
dobro da reversão espontânea do controle negativo, segundo o protocolo da
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) para o ensaio de
microssuspensão em S. typhimurium (CETESB, 1994).
Percebe-se nestes resultados, que não há, em nenhuma das amostras e
concentrações testadas, um aumento significativo da taxa de reversão, o
que indica que não há um potencial mutagênico nesses compostos, que
possa ser detectado pela cepa TA100. Essa linhagem é capaz de detectar
agentes que causam Frameshift por troca de pares de base, uma mudança
na matriz de leitura, e seu fator R pKM101, que confere resistência à
Ampicilina faz com que a cepa seja mais sensível aos mutágenos, como
descrito em Ames et al, em 1975. Os resultados indicam, portanto, que as
amostras ricas em PS não possuem potencial mutagênico, visto que as
Razões de Mutagenicidade obtidas nos ensaios são menores que 2.
Por outro lado, Mortelmans et al, 2000, afirmam que utilizar esse método
não estatístico é insensível para cepas com um reversão espontânea alta, e
sensível demais para testes com produtos químicos com baixa capacidade

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eCICT 2023

de reversão. Então, segundo Mortelmans et al, consideram-se mutágenos os


compostos capazes de induzir uma resposta dose-dependente em uma ou
mais de uma cepa utilizada no teste de Ames; e considera-se um mutágeno
fraco se houver resposta dose-dependente em uma ou mais cepas. Mas com
o número de revertentes menor que o dobro da reversão do controle
negativo. Usando esse critério, os resultados também indicam que as
amostras utilizadas no estudo não são mutagênicas, visto que os ensaios
não apresentaram aumento na reversão proporcional à dosagem das
amostras.
Utilizando testes estatísticos, Two-way ANOVA, para os ensaios
realizados com e sem ativação metabólica separadamente, os resultados
indicam que, com a excepção do controles positivo, o número de colónias
revertentes expostas às amostras teste não foram significativos quando
comparados com os controles negativos. As variações encontradas nestes
testes permaneceram dentro do intervalo esperado, havendo pouca
diferença entre as médias resultantes dos ensaios com fração S9 e sem
fração S9, mas que não correspondem a um resultado mutagênico.
MANUTENÇÃO DA S. typhimurium, CEPA TA102
O primeiro ensaio de renovação da cepa TA102 mostrou genotipagem
correta e apresentou crescimento na taxa de reversão espontânea, porém,
algumas placas foram invalidadas por desidratarem com o calor da
incubadora. Foi necessário repetir a reversão espontânea, excluindo a
colónia 1 por termos perdido a placa máster por desidratação.
No segundo ensaio de renovação não se obteve crescimento no caso da
reversão espontânea, mas o genótipo estava correto. Nas terceira, quarta e
quinta renovações utilizaram-se apenas 2 estoques em vez dos 4 iniciais,
apresentando os mesmos resultados: sem crescimento na taxa de reversão e
genótipo correto.
A primeira tentativa de renovação já mostrava problemas em alguns dos
estoques, visto que a taxa de reversão espontânea esperada para a cepa seria
entre 240 e 320 colônias (CETESB, 1994). Com o estoque 1 obteve-se um
bom resultado, dentro do padrão, mas foi eliminado por perda da placa
máster. No caso dos estoques 2 e 4, estes apresentaram reversões muito
acima do esperado, enquanto o que o estoque 3, apresentou um número
muito baixo. Optamos por repetir o ensaio da reversão espontânea, já que a

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eCICT 2023

cepa foi aprovada em todos os testes para verificar o genótipo. Desta vez,
os resultados foram positivos para os estoques 2 e 4; todavia, o terceiro
tinha uma contagem acima do descrito na literatura e uma das placas da
triplicata estava contaminada (CETESB, 1994).
Não foram realizados ensaios de mutagenicidade com a cepa TA102, visto
que todas as tentativas de renovação falharam mesmo testando diferentes
estoques. Apesar de não haver crescimento visível suficiente para a
contagem, em algumas placas foi possível observar o ágar bastante opaco,
quando naturalmente é translúcido, indicando que havia alguma mudança
naquela composição.
Diminuímos a quantidade de estoques permanentes testados por vez, para
facilitar o ensaio e a disponibilidade de materiais, evitando desperdícios.
Somente dois ensaios foram realizados testando controles positivos e
negativos da cepa TA102, com intenção de verificar se o mutágeno
conseguiria reverter a mutação das bactérias e se haveria crescimento por
reversão espontânea. De início não observamos reversão em nenhum dos
controles positivos e negativos. Já no segundo teste, observamos
crescimento, perceptivelmente maior nos controles positivos.
Os testes não são realizados no protocolo, sendo uma das tentativas de
entender o problema, já que foi excluída a possibilidade dos estoques ou
meios estarem contaminados.
O primeiro ensaio falhou. Semelhante às placas das renovações, não se
verificou crescimento visível além da coloração opaca do ágar mínimo. A
segunda tentativa foi mais promissora e, após 24 h, já eram visíveis as
colônias bacterianas. Ainda assim, a reversão espontânea dos controles
negativos estava bem abaixo do mínimo de 240 reversões descritas na
literatura.

Conclusão

Os resultados obtidos a partir dos testes com a cepa TA100 foram


analisados e não apresentaram significância estatística na variação dos
valores de reversão das amostras nas concentrações utilizadas,.

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A cepa TA100 é uma das cepas padronizadas para o teste de Ames, para
classificar substâncias químicas como mutágenos ou não. Apenas esse teste
não é suficiente para validar a mutagenicidade dos compostos testados, pois
as cepas engenheiradas possuem diferentes tipos de mutações, que podem
ser revertidas por mecanismos de dano diferentes. Nesse caso, como não se
verificou mutagenicidade para a cepa TA100, será necessário realizar
ensaios com outras cepas que estão dentro desse padrão estabelecido,
TA102 e TA97a.
Quanto à cepa TA102, não foi possível realizar testes de mutagenicidade
com a linhagem. Apesar do genótipo aprovado, não mostrou resultados na
taxa de reversão espontânea. As manutenções são realizadas para manter
válidos os estoques permanentes, pois durante o armazenamento é possível
que ocorra acúmulo de mutações, ocasionando novas mutações. Dessa
forma, é necessário fazer novos testes com estoques restantes, e adquirir
uma nova linhagem, se for o caso.

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Anexos

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Figura 1 - Resultados dos ensaios de mutagenicidade com a cepa TA100, sem Fração
S9. Os valores correspondem à média da reversão por placa das triplicatas
independentes. CN se trata do controle negativo, e CP se trata do controle positivo,
com P = 0.0001.

Figura 2 - Resultados dos ensaios de mutagenicidade com a cepa TA100, com Fração
S9. Os valores correspondem à média da reversão por placa das triplicatas
independentes. CN se trata do controle negativo, e CP se trata do controle positivo,
com P = 0.0001.

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CÓDIGO: SB0569

AUTOR: ALDIELYSON JORGE CAVALCANTE DE BRITO

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: Análise da toxicidade renal e hepática decorrente da administração da


cetamina por via subcutânea na depressão resistente ao tratamento

Resumo

Um aspecto pouco observado nos estudos clínicos com cetamina para tratamento de
depressão é a análise da toxicidade renal e hepática, mediante múltiplas
administrações. Entretanto, protocolos terapêuticos de administrações semanais vêm
sendo empregados em pacientes com depressão resistente ao tratamento (DRT). Logo,
o objetivo desse ensaio clínico aberto é avaliar a toxicidade renal e hepática da
escetamina subcutânea (ESC) ao longo de 7 administrações semanais em pacientes
com DRT.

Foram incluídos 30 pacientes com severidade moderada à grave, as toxicidades foram


analisadas através da creatinina, uréia, TGO e TGP. A coleta de sangue foi realizada em
3 sessões da ESC (Dextrocetamina). A dose inicial foi de 0,5 mg/kg, sendo escalonadas
em função da resposta clínica avaliada pela Escala de MADRS. Foi utilizada a ANOVA de
medidas repetidas para análise dos parâmetros hepáticos e renais ao longo das
sessões.

Ao todo, 25 pacientes finalizaram o estudo. Os parâmetros avaliados não


apresentaram variação estatisticamente significativa ao longo do tratamento
(Creatinina: F[2,46] = 1,773, p = 0,188; Ureia: F[2,48] = 0,272, p = 0,763; TGO: F[2,48] =
0,895, p = 0,415; TGP: F[2,48] = 0,245, p = 0,784).

De forma inédita, esse estudo sugere segurança renal e hepática para 7 administrações
semanais de escetamina SC no tratamento da depressão resistente ao tratamento,
corroborando para o perfil de segurança dessa substância quando empregada em um
esquema terapêutico dessa magnitude.

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Palavras-chave: Depressão resistente ao tratamento; cetamina, subcutânea;


toxicidade.

TITLE: Analysis of renal and hepatic toxicity resulting from subcutaneous


ketamine administration in treatment-resistant depression

Abstract

An aspect rarely observed in clinical studies with ketamine for the treatment of
depression is the analysis of renal and hepatic toxicity, through multiple
administrations. However, therapeutic protocols of weekly administrations have been
used in patients with treatment-resistant depression (TRD). Therefore, the objective of
this open clinical trial is to evaluate the renal and hepatic toxicity of subcutaneous
esketamine (ESC) over 7 weekly administrations in patients with TRD.

30 patients with moderate to severe severity were included, the toxicities were
analyzed through creatinine, urea, TGO and TGP. Blood collection was performed in 3
sessions of ESC (Dextroketamine). The initial dose was 0.5 mg/kg, scaled according to
the clinical response assessed by the MADRS Scale. Repeated measures ANOVA was
used to analyze liver and kidney parameters throughout the sessions.

In all, 25 patients completed the study. The evaluated parameters did not show
statistically significant variation throughout the treatment (Creatinine: F[2.46] = 1.773,
p = 0.188; Urea: F[2.48] = 0.272, p = 0.763; TGO: F[2.48 ] = 0.895, p = 0.415; TGP:
F[2,48] = 0.245, p = 0.784).

In an unprecedented way, this study suggests renal and hepatic safety for 7 weekly
administrations of SC esketamine in the treatment of treatment-resistant depression,
corroborating the safety profile of this substance when used in a therapeutic scheme
of this magnitude.

Keywords: Treatment resistant depression; ketamine, subcutaneous; toxicity.

Introdução

O transtorno depressivo maior é uma condição clínica de elevada prevalência,


atingindo cerca de 300 milhões de pessoas no mundo (1). Aproximadamente 30% dos

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pacientes com depressão apresentam respostas inadequadas a tratamentos com


antidepressivos, mesmo após múltiplas intervenções (2,3). A depressão resistente ao
tratamento (DRT) impõe grandes desafios aos pacientes, com alta severidade de
sintomas, e desfechos importantes (3,4).
Nos últimos anos, estudos clínicos vêm demonstrando que doses subanestésicas da
cetamina proporcionam surpreendentemente ação rápida antidepressiva (5). Ensaios
clínicos evidenciaram resposta antidepressiva da cetamina nos primeiros dias após a
primeira sessão, incluindo casos que não responderam à eletroconvulsoterapia (ECT)
(6–9).
Os efeitos antidepressivos da cetamina são rápidos e duradouros, sobretudo
considerando que seu tempo de meia-vida no organismo humano é da ordem de
minutos após infusão intravenosa (10). Estudos clínicos com a cetamina têm
apresentado taxas de resposta da ordem de 70%, ocorrendo em 24h e dura até 1
semana após infusão única ou repetidas (8,11–13). Esses resultados são relevantes na
medida que toda medicação antidepressiva atualmente disponível surte efeito apenas
após algumas semanas do início do uso. Tais resultados levaram ao governo americano
aprovar a cetamina como medicação para DRT (14). Consoante a isso, desde 2018 a
equipe de psiquiatria do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), vem aplicando a cetamina como protocolo
clínico em pacientes resistentes aos tratamentos convencionais (anexo).
É sabido que a via de administração e a dosagem determinam a farmacocinética de
uma substância, fundamental na eficácia e efeitos colaterais provocados por diferentes
medicamentos (15). No caso da cetamina, a maior parte dos ensaios clínicos têm feito
administração por infusão intravenosa (IV), a 0,5 mg/kg durante 30-40 minutos (7–9,
16,17). Outras vias de administração menos invasivas, como por exemplo, a via oral
(18), intranasal (19) e sublingual (20) também têm sido avaliadas.
Observou-se que a via SC manteve as taxas de resposta e remissão das outras vias
testadas, com o pico da melhora acontecendo 24h após a administração, provocando
redução do impacto agudo da cetamina sobre o sistema cardiovascular, como elevação
da frequência cardíaca e pressão arterial (15). Quando utilizada como anestésico, a
cetamina SC é tão eficaz quanto, mas mais segura que a IV, já que provoca menor
impacto sobre o sistema cardiovascular (25%) (15). Apesar da constante aferência da
reatividade cardiovascular nos estudos clínicos com cetamina para tratamento de
depressão, um aspecto pouco observado nesses ensaios é a análise da toxicidade renal
e hepática, mediante a análise dos seus biomarcadores, sobretudo em estudos de
longo prazo e múltiplas administrações.
Outro fator pouco explorado nos estudos clínicos com cetamina é o uso de diferentes
doses durante o tratamento. Embora os efeitos antidepressivos pareçam estar

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eCICT 2023

relacionados à dose, os efeitos colaterais também estão, incluindo efeitos


psicotomiméticos e dissociativos, elevação transitória da pressão arterial e da
frequência cardíaca (30). Uma estratégia útil para minimizar os efeitos colaterais é a
otimização da dose.
Dessa forma, este estudo pretende contribuir nessas duas frentes: i) avaliar a resposta
antidepressiva da cetamina em dose escalonada em pacientes com depressão
resistente ao tratamento administrada por via SC, semanalmente, por 8 semanas; ii)
avaliar a toxicidade renal e hepática do tratamento completo.
Espera-se que esse projeto forneça informações sobre a eficiência da via de
administração SC da cetamina no tratamento na DRT, bem como seus efeitos
colaterais nas funções renais e hepáticas, mediante análise dos biomarcadores renais:
creatinina e ureia, e dos biomarcadores hepáticos: transaminase pirúvica (TGP/ALT) e
transaminase oxalacética (TGO/AST).

Metodologia

Desenho experimental
Este estudo é um estudo clínico aberto e observacional composto por aplicação de
escalas psicométricas e coleta de sangue em pacientes que estavam sob protocolo
clínico para tratamento de depressão resistente ao tratamento que consistiu na
aplicação de cetamina subcutânea uma vez por semana durante 8 semanas.
Participantes
Recrutamos 25 pacientes com idade entre 18 e 65 anos com depressão resistente ao
tratamento e com indicação para terapia com cetamina pela equipe de psiquiatria do
HUOL. Os participantes foram identificados e recrutados no ambulatório de depressão
do HUOL, na rede de saúde pública e privada e encaminhados para a triagem do
estudo. Após fornecerem consentimento informado (TCLE), os participantes foram
examinados inicialmente para determinar a elegibilidade de participação no estudo
A triagem de pacientes ocorreu no ambulatório de depressão do HUOL, quando foram
aplicados a SCDI (Entrevista Clínica Estruturada para DSM-5), para atender aos critérios
de inclusão e exclusão, e a escala clínica de Montgomery-Åsberg (MADRS,
Montgomery-Asberg Depression Rating Scale), essa, para a aferição dos sintomas de
depressão. Nesse momento foram coletados dados demográficos e clínicos da doença,
bem como foi marcado a primeira sessão de cetamina, informando que a presença de
acompanhante é obrigatória.

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eCICT 2023

Critérios de inclusão/exclusão. O estudo foi restrito a pacientes em episódio


depressivo grave/severo atual, ocorrendo há pelo menos 4 semanas, e que já tivessem
feito uso de pelo menos dois medicamentos antidepressivos, em dose e duração
adequadas. Os critérios de exclusão incluíram condições físicas e mentais que
impediam o uso seguro de cetamina: hipertensão não controlada, insuficiência
cardíaca congestiva ou outras evidências de comprometimento do estado cardíaco,
DPOC, obesidade grave, aumento da pressão intracraniana ou cerebrospinal, gravidez,
hipertireoidismo, resposta adversa prévia à cetamina, sintomas psicóticos presentes
ou passados, distúrbio de identidade dissociativo, distúrbio do espectro do autismo e
sintomas prodrômicos da esquizofrenia. Indivíduos que não foram elegíveis ou
decidiram não participar, retornaram ao tratamento padrão.
Sessão experimental
As sessões de cetamina ocorreram na sala de infusão do ambulatório de psiquiatria do
HUOL, que conta com uma maca e duas poltronas, com capacidade para duas infusões
simultaneamente. No dia da sessão, o paciente chega ao serviço em jejum de sólidos
por 4h e líquidos por 2h. Ao chegar ao local do estudo, o paciente é recebido por um
membro da equipe de pesquisa, que tornará a explicar detalhes dos procedimentos.
Foram realizadas todas as medidas de linha de base: MADRS para aferição dos
sintomas depressivos e a CADSS (Clinician Administered Dissociative State Scale), para
avaliação dos efeitos dissociativos. A CADSS foi aplicada novamente 40 minutos após a
infusão da substância. Ao final de cada sessão, de aproximadamente 2 horas, os
participantes foram avaliados clinicamente e liberados, na presença do(a)
acompanhante.
Coleta de sangue
A coleta de sangue foi realizada antes da primeira, quarta e oitava sessões. Foi
realizada dosagem de ureia e creatinina, TGO, TGP, pelo Laboratório de Análises
Clínicas do HUOL.
Cetamina
Esse estudo fez uso de cetamina na forma de Dextrocetamina, à dose recomendada de
0,5 mg/kg na primeira infusão. Não havendo resposta adequada, a segunda infusão foi
realizada com dose de 0,75 mg/kg e as subsequentes 1 mg/kg. Nesse processo de
escalonamento, a dose mais baixa para a qual observarmos resposta (e.g., 0,5 ou 0,75
mg/kg) foi repetida ao longo do tratamento.
Análise estatística
As condições de interesse (basal vs. pós intervenção) serão comparadas por tendência
central para os resultados contínuos (paramétricos ou não paramétricos, a depender
da distribuição) e/ou por testes de quiquadrado ou exato de Fischer (a depender dos

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eCICT 2023

resultados das tabelas). Serão calculadas a resposta e remissão para uma semana, e
para cada semana até uma semana após a última sessão. A resposta clínica é definida
como uma diminuição de 50% ou mais na pontuação MADRS da linha de base e a
remissão é definida como uma pontuação MADRS de 10 ou menos. Os tamanhos de
efeito serão calculados utilizando-se Cohen's d.

Resultados e Discussões

Ao todo, 25 pacientes finalizaram o estudo. Os parâmetros avaliados não


apresentaram variação estatisticamente significativa (tabela 1 e 2) ao longo do
tratamento (Creatinina: F[2,46] = 1,773, p = 0,188; Ureia: F[2,48] = 0,272, p = 0,763;
TGO: F[2,48] = 0,895, p = 0,415; TGP: F[2,48] = 0,245, p = 0,784).
Estudos com pacientes com depressão, usando cetamina por vias intramuscular (IM) e
subcutânea (SC) (15, 21–24) são menos comuns, embora a via de administração SC
tenha o benefício de ser de mais fácil administração além de alcançar níveis
plasmáticos da cetamina comparáveis à administração IV. Há um único estudo que
comparou a resposta antidepressiva através das vias de administração IV, IM e SC (15).
Sabe-se que a maior parte da escetamina (80%) é metabolizada no fígado, produzindo
norcetamina. Esta última também possui propriedades analgésicas, porém fracas (20 a
30% da potência da cetamina). O pico da concentração sanguínea da norcetamina é
atingido cerca de 30 minutos após a administração intravenosa. Em seguida, a
norcetamina é primariamente hidrolisada por meio de glucurono-conjugação e
excretada pela urina e pela bilis. Além do fígado, o metabolismo ocorre em menor
proporção nos rins, intestino e pulmões (33).
Uma revisão de 60 estudos (ensaios randomizados e estudos observacionais) analisou
que aproximadamente 40% dos estudos descreveram alterações cardiovasculares (34).
Em ensaios randomizados, mediante administração de uma dose intravenosa única de
escetamina, dentre os efeitos hemodinâmicos incluem-se aumentos limitados no
tempo na pressão arterial e na frequência cardíaca. Ademais, nessa mesma revisão foi
associado o uso abusivo da cetamina a lesões hepáticas e toxicidade da bexiga.
Apesar da escetamina de uso intranasal ser aprovado pela ANVISA (Resolução nº 4.413
de 29/10/2020), para pacientes adultos com Transtorno Depressivo Maior resistente, a
análise do perfil de segurança renal e hepática torna-se um objeto de estudo com
dados insuficientes, sobretudo quando se quer analisar um tratamento crônico da
cetamina. Em face do exposto, é de suma importância estabelecer esse perfil de
segurança mediante a inspeção das vias de metabolização citadas.

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Nesse sentido, foi possível constatar a segurança da cetamina via SC no tocante a


toxicidade renal e hepática, o que revela um ineditismo por ser o primeiro estudo a
analisar tais biomarcadores no contexto abordado, como também contribui para uma
possível validação dessa terapêutica.

Conclusão

De forma inédita, nosso estudo sugere segurança renal e hepática para 7


administrações semanais de escetamina pela via subcutânea no tratamento da
depressão resistente ao tratamento, corroborando para o perfil de segurança dessa
substância quando empregada em um esquema terapêutico de administração
semanal.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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Anexos

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Tabelas dos biomarcadores hepáticos e renais

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CÓDIGO: SB0585

AUTOR: GESSINARA PEREIRA DA SILVA

ORIENTADOR: DENISE MORAIS LOPES GALENO

TÍTULO: Efeitos de um programa de exercícios físicos sistematizados


direcionado para a melhoria da função cardiorrespiratória e qualidade de vida
em tempos da pandemia da COVID-19

Resumo

Introdução: A pandemia da COVID-19 teve um impacto negativo na qualidade de vida


da população, e no aumento das doenças crônicas. Objetivo: Analisar a qualidade de
vida e a função cardiorrespiratória dos indivíduos pós pandemia por meio de um
programa de exercícios. Metodologia: Contou com 20 voluntários de ambos os sexos,
10 para um grupo intervenção e 10 para o grupo controle. Foram aplicados o
questionário SF-36 e os teste de cooper, TC6 e teste de sentar e levantar. Resultados:
50% eram do sexo masculino e 50% do sexo feminino, idade média de 24,6±6,08 anos,
peso 68,915±13,88Kg, altura 1,65±0,09m e IMC de 25,0±4,07Kg/m². Após o programa
de exercícios o grupo intervenção apresentou melhora significativa nos domínios:
limitações por aspectos emocionais, valor pré de 33,33±41,57 e após 62,96±42,30,
Vitalidade, valor pré 39,5±12,79 e pós 55,55±18,61 (p<0,05), saúde mental, pré
50,4±13,35 e após 69,33±15,23 (p<0,05). O grupo intervenção apresentou melhora no
teste de Cooper com distância média percorrida pré de 1713,3±563,81 e pós
2042±626,50m (p<0,05), no TC6 com distância média percorrida pré de 506±81,40 e
após 596,5±43,46m (p<0,05), e no deste de sentar e levantar com a média de
repetições pré de 29,9±3 e pós 35±1,83 (p<0,05). Conclusão: A prática de exercícios
físicos sistematizados pode ser uma intervenção eficaz e de baixo custo para melhorar
a função cardiorrespiratória e a qualidade de vida dos pacientes.

Palavras-chave: pandemia, covid-19, cardiopulmonar, atividade física,


isolamento.

TITLE: Effects of a systematic exercise program aimed at improving


cardiorespiratory function and quality of life during the COVID-19 pandemic.

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Abstract

The COVID-19 pandemic has had a detrimental impact on the quality of life of the
population and has led to an increase in chronic diseases. To analyze the quality of life
and cardiopulmonary function of individuals post-pandemic through an exercise
program. Methodology: The study involved 20 volunteers of both sexes, with 10 in the
intervention group and 10 in the control group. The SF-36 questionnaire, as well as the
Cooper test, 6-minute walk test (6MWT), and sit-to-stand test were administered. 50%
were male and 50% were female, with a mean age of 24.6±6.08 years, weight of
68.915±13.88 kg, height of 1.65±0.09 m, and BMI of 25.0±4.07 kg/m². After the
exercise program, the intervention group showed significant improvement in the
domains of limitations due to emotional aspects, with a pre-value of 33.33±41.57 and
a post-value of 62.96±42.30, Vitality, with a pre-value of 39.5±12.79 and post-value of
55.55±18.61 (p<0.05), and mental health, with a pre-value of 50.4±13.35 and post-
value of 69.33±15.23 (p<0.05). The intervention group showed improvement in the
Cooper test, with a pre-average distance covered of 1713.3±563.81 m and a post-
average of 2042±626.50 m (p<0.05), in the 6MWT with a pre-average distance covered
of 506±81.40 m and a post-average of 596.5±43.46 m (p<0.05), and in the sit-to-stand
test with a pre-average repetitions of 29.9±3 and a post-average of 35±1.83 (p<0.05).
Systematic physical exercise can be an effective to improve unction and the quality of
life.

Keywords: pandemic, COVID-19, cardiopulmonary, physical activity, isolation.

Introdução

O isolamento social, conhecido no Brasil como “quarentena”, mudou profundamente o


estilo de vida e impactou de forma negativa na qualidade de vida da população em
geral (CASAGRANDE et al., 2020). A pandemia da COVID-19 trouxe consigo tanto as
causas e consequências da enfermidade como também uma maior necessidade de
permanecer em casa, estudar em casa, lidar dia a dia com as crianças, reduzir
drasticamente a interação social ou trabalhar muito mais horas sob circunstâncias
estressantes e, paralelamente, gerenciar os riscos de saúde associados (Altena et al.,
2020; Costa et al., 2020).
O cenário da pandemia da COVID-19 e o isolamento social foi repercutido no relativo
aumento do sedentarismo e o risco aumentado de desenvolvimento de várias doenças
crônicas como obesidade e doenças cardiovasculares (Jiménez-Pavón, Carbonell-
Baeza, Lavie, 2020), pois para muitas pessoas, a pandemia impôs várias barreiras para
a manutenção de um estilo de vida fisicamente ativo (Siddiqui et al., 2014). A
dificuldade de acesso a alimentação saudável, pelo receio de sair de casa, trouxe um
desequilíbrio alimentar, além de estresse emocional (Malta et al, 2021). Mesmo após a

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vacinação, a incerteza de contaminação ou reinfecção causou enormes impactos


físicos, sociais e emocionais que potencializaram de forma negativa a qualidade de
vida, acarretando sérios prejuízos na saúde pública mundial (CASAGRANDE et al.,
2020).
A pandemia COVID-19 tem sido descrita como um dos maiores problemas de saúde
pública mundial das últimas décadas, ocasionando essas perturbações psicológicas e
sociais que afetam a capacidade de enfrentamento de toda a sociedade (OMS, 2020).
O SARS-CoV-2 usa o receptor da enzima de conversão da angiotensina 2 (ECA2) para
entrada nas células (XU et al., 2020). O comprometimento pulmonar decorrente do
novo coronavírus deve-se a razões que envolvem a vasta área de superfície pulmonar,
que é altamente suscetível para o vírus inalado e o fator biológico decorrente da
grande expressão da enzima de conversão da angiotensina 2 (ECA2) nas células
epiteliais alveolares (LU et al., 2020).
A entrada do SARS-CoV-2 nas células pulmonares e outras células que se ligam à ECA2
e desativa o efeito positivo da produção de Ang 1-7, induz um desequilíbrio entre a
razão Ang II / Ang1-7 e exacerbando uma resposta inflamatória (Vaduganathan et al.,
2020). Essa resposta inflamatória também conhecida como “tempestade de citocinas”,
iniciada pela invasão viral das células da superfície pulmonar que causa diretamente
uma inflamação pulmonar e a invasão dos cardiomiócitos, estimulando a
superativação da resposta imune do corpo, aumentam o dano e a apoptose das células
do miocárdio, além de reduzir a estabilidade das placas ateroscleróticas coronárias,
cenário este que poderá resultar na síndrome coronariana aguda (Bansal, 2020; Ruan
et al., 2020).
Evidências apontam que o exercício físico, ativa a via da ECA 2 e cliva a produção de
Ang II em Ang1-7 levando a alterações fisiológicas benéficas para os sistemas
cardiorrespiratório e contribui na inibição da resposta inflamatória e fibrótica (Nunes-
Silva, 2017). Portanto, o exercício físico pode ser usado como uma estratégia
terapêutica benéfica da saúde cardiorrespiratória global dos indivíduos, além de
aumentar a resiliência e auxiliar na melhora do humor e qualidade de vida. Pesquisas
têm elucidado que a prática regular de atividade física é considerada o padrão ouro de
uma vida saudável, constituindo como uma abordagem não farmacológica eficiente na
prevenção e tratamento das doenças crônicas (De Sousa et al., 2020; Pedersen, Saltin,
2015), redução dos níveis de estresse, ansiedade e depressão (Jiménez-Pavón,
Carbonell-Baeza, Lavie, 2020; Vancini et al., 2017). Sendo assim, o objetivo deste
estudo é avaliar os efeitos de um programa de exercícios físicos na melhoria da função
cardiorrespiratória e qualidade de vida em tempos de pós pandemia da COVID-19.

Metodologia

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Trata-se de um estudo longitudinal, quantitativo e qualitativo, na Universidade federal


do rio grande do norte (UFRN), dentro do laboratório de aulas práticas de fisiologia,
pertencente ao departamento de fisiologia e comportamento (DFS-CB). A execução do
projeto foi realizada na pista de atletismo pertencente ao ginásio poliesportivo da
UFRN, campus de Natal-RN. Os critérios de inclusão foram voluntários com idade ≥ 18
anos de ambos os sexos com comprovação de vacinação contra a COVID-19 residentes
em Natal-RN, Brasil, ou cidades próximas, com interesse demonstrado neste estudo.
Foram excluídos participantes com sintomas de COVID-19, ou qualquer outra condição
que incapacite a prática de atividade física, bem como que apresentaram doenças
crônicas descompensadas, doenças psiquiátricas descompensadas e sem tratamento,
usuários de drogas e ainda aqueles que não concordarem em assinar o termo de
consentimento do estudo. A intervenção contou com a participação dos alunos de
iniciação científica e profissionais de educação física e fisioterapia que estiveram à
frente da construção do plano de trabalho, montagem e acompanhamento dos
treinos, avaliações físicas dos participantes. O estudo contou com o total de 20
voluntários, sendo 10 do sexo masculino e 10 do sexo feminino. No dia da triagem
todos os voluntários realizaram uma avaliação física (medidas antropométricas,
aferição de peso (kg), altura(M). Essas informações foram coletadas antes do início e
após as intervenções com exercícios físicos. A coleta de informações teve duração
máxima de 20 minutos para ser concluída. As intervenções ocorreram duas vezes por
semana com duração média de 60 minutos, cada, durante 10 semanas e foi constituída
de exercícios aeróbicos (corrida contínua, corrida intervalada, caminhada contínua,
circuitos breves de baixa a moderada intensidade), alongamentos, atividades
cooperativas, e circuitos em pequenos grupos, constituídos por exercícios de
coordenação motora, resistência de velocidade, velocidade de reação, força,
equilíbrio, e trabalho em equipe. Todos os exercícios foram planejados e adaptados a
cada participante, com intenção de maximizar os resultados individuais e coletivos.
Antes do início do programa de treinos, foi realizada uma avaliação física. Antes de
cada dia de treinamento, contou com a realização de atividades de aquecimento
articular em grupos, e ao final dos treinos foram feitos exercícios de alongamento
articular, sempre acompanhados pelos profissionais responsáveis. Antes do início da
prática de exercícios físicos, para a avaliação da aptidão cardiorrespiratória foi utilizado
o teste de Cooper (COOPER, 1968). Também foi utilizado o teste de caminhada de 6
minutos e o teste de sentar e levantar de 1 minuto para avaliação da capacidade
funcional. O teste de Cooper é formado por uma corrida ou caminhada de 12 minutos
em um percurso plano e demarcado, com intuito de verificar o deslocamento máximo
de cada indivíduo. Após os 12 minutos, a distância percorrida é verificada e aplicada
em uma fórmula que é utilizada para calcular o Volume Máximo de Oxigênio (VO2),
sendo então verificada a capacidade aeróbica da pessoa. Assim, para calcular o VO2

779
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máximo levando em consideração a distância percorrida em metros pela pessoa em 12


minutos, deve-se colocar a distância (D) na fórmula seguinte: VO2 max = (D – 504)/45.
O referido teste é um dos mais utilizados no mundo devido sua ótima capacidade de
avaliação indireta do VO2 máximo, apresentando ótima correlação com os testes de
avaliação direta, exigindo muito menos recursos. O VO₂ máximo reflete a capacidade
máxima do corpo de um indivíduo de transportar e metabolizar oxigênio durante um
exercício físico, sendo a variável fisiológica que melhor reflete a capacidade aeróbica
de um indivíduo. Com base nele, a intensidade da corrida, através do percentual do
VO2 máximo, será calculado, individualmente, para cada participante. O teste de
caminhada de 6 minutos (TC6) a pessoa foi instruída a caminhar o máximo que
conseguir durante 6 minutos corridos, em um corredor de 30 metros demarcados.
Sendo permitido a interrupção do teste em caso de fadiga extrema ou qualquer outra
incapacidade limitante. O teste de sentar e levantar por 1 minuto é composto pela
realização do movimento de sentar e levantar durante 60 segundos, onde o paciente
começa o teste sentado e será contabilizado cada vez que sentar novamente. O
voluntário foi orientado a não usar apoio das mãos para realização do teste. É avaliado
e contabilizado a quantidade de vezes que é realizado o movimento durante 1
minuto. Também foi aplicado o Short-Form Health Surveya-SF 36, que envolve 8
domínios: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de
saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. As
pontuações variam de 0 a 100, com pontuações mais altas indicando o melhor para
cada domínio. Todas as recomendações e orientações gerais de prevenção da COVID-
19 foram aplicadas, conforme protocolo (OMS, 2020). Foram consideradas as
observâncias éticas contempladas na Resolução nº466, de 12 de dezembro de 2012,
do Conselho Nacional de Saúde, bem como asseguradas a manutenção do caráter
anônimo dos participantes da pesquisa, a proteção de suas identidades e a liberdade
de recusar a participar ou retirar seu consentimento no decorrer do estudo. O projeto
foi submetido para o CEP-UFRN e aprovado sob o número 5.985.951. Foi utilizado a
análise descritiva para interpretar os dados dos formulários que foram expressos em
média e desvio padrão, para os dados paramétricos. Para comparar duas variáveis foi
usado o teste T de Student ou Wilcoxon. Variáveis qualitativas foram apresentadas e
correlacionadas com outras variáveis. As correlações entre as variáveis foram feitas
pelo teste de Pearson e Spearman. O nível de significância estatística foi definido em
5% para todos os testes (p ≤ 0,05). O pacote estatístico utilizado será o programa
Sttatistica versão 7.0.

Resultados e Discussões

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O presente estudo foi realizado com a participação de 20 voluntários, que residem na


cidade de Natal/RN. Dentre os participantes da amostra, 50% eram sexo masculino e
50% do sexo feminino, com idade média de 24,6±6,08 anos. A média dos dados
antropométricos tiveram peso 68,915 ± 13,88 Kg, altura 1,65 ± 0,09 metros e Índice de
Massa Corporal com média de 25,0 ± 4,07Kg/m².
Entre os participantes desse estudo, 45% foram diagnosticados com Covid-19 e 55%
não tiveram diagnóstico, 55% dos participantes apresentaram sintomas relacionados à
doença. Dentre os sintomas mais comuns relatados pelos participantes, a dor de
cabeça foi mencionada por 90,9% deles, seguida pela coriza (63,6%), dor muscular
(63,3%), tosse seca e dor na garganta (60%), e febre (≥ 37,8°C) (54,4%). É importante
ressaltar que nenhum dos participantes precisou ser internado.
Durante a análise do questionário de qualidade de vida (SF-36) entre os participantes
do grupo de intervenção e grupo controle observou-se uma variação nos resultados de
cada domínio antes e depois da realização dos exercícios, respectivamente. Os valores
de média e desvio padrão dessas variações estão presentes na Tabela 1.
A variação entre os grupos antes e após intervenção vai de concordância com os
resultados apresentados por Macedo Et al, 2012.
A análise estatística dos dados revelou resultados significativos relacionados à
influência do programa de exercícios na qualidade de vida dos participantes. Esse
achado corrobora com os resultados obtidos no estudo de Silva et al, (2010), onde
verificou-se a importante influência de uma rotina de atividade física na vida das
pessoas. O domínio Limitações por Aspectos Emocionais do questionário SF-36 após o
programa de exercício apresentou melhora no grupo que fez a prática de exercícios,
enquanto o grupo controle apresentou mais dificuldades em suas limitações grupo
intervenção pré , grupo intervenção pré 33,33 ± 4,57 e pós 62,96 ± 42,30 e grupo
controle pré de 70 ± 31,44 e pós 56,66 ± 36,66 (p<0,05), como apresentado na Figura
1, isso indica que o exercício físico influencia na qualidade de vida, intervindo no seu
comportamento, relacionamentos e desempenho na vida diária e no meio social,
destacando a importância da saúde mental na promoção de uma boa qualidade de
vida.
A vitalidade foi um dos aspectos que mostrou diferença significativa para o grupo
intervenção quando comparado com grupo controle, a média pré do grupo
intervenção 39,5 ± 12,79 e pós de 55,55 ± 18,61 e grupo controle pré 51 ± 23 e após
60,5 ± 18,36 (P<0,05), como demonstra a figura 2, impactando positivamente após a
prática de exercício, promovendo bem-estar físico e emocional, influenciando a
energia e motivação pessoal de cada indivíduo.
O estado geral de saúde também apresentou diferença significativa, grupo intervenção
pré 42,1 ± 12,66 e após 50,77 ± 14,76 e o grupo controle pré 56,6 ± 20,48 e após 61,4 ±
1979 (p<0,05), demonstrando que a prática de exercício físico influencia diretamente
na saúde física, mental e emocional, incluindo energia, habilidades e capacidades para

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realizar atividades diárias e presença de sintomas e bem-estar, indicando que um


aumento na vitalidade está associado a uma melhor percepção do estado geral de
saúde. Os aspectos sociais também foram relevantes, mostrando influência na saúde
mental. Isso sugere que um ambiente social positivo e interações sociais saudáveis
podem contribuir para uma melhor saúde mental e qualidade de vida. De acordo com
o estudo de Goodwin (2003) a atividade física regular foi associada a uma prevalência
significativamente diminuída de depressão maior e transtornos de ansiedade.
Outro aspecto importante que demonstrou diferença significativo no grupo
intervenção foi o domínio Saúde Mental, grupo intervenção pré 50,4 ± 13,35 e após
69,33 ± 15,23 e o grupo controle pré 62,4 ± 22,78 e após 65,6 ± 18,60 (p<0,05), como é
visualizada na figura 3.
Indicando que antes do programa de exercícios os participantes apresentavam uma
maior probabilidade de uma variedade de problemas emocionais, psicológicos e
comportamentais que afetam o bem-estar mental e emocional de um indivíduo.
Incluindo uma maior taxa de ansiedade excessiva, depressão, transtornos alimentares,
problemas com o sono e baixa autoestima, impactando diretamente na capacidade de
lidar com o estresse e manter relacionamentos saudáveis. Essa análise destaca a
importância da atividade física na saúde mental e na promoção da saúde em uma boa
qualidade de vida. Esses resultados evidenciam a importância do programa de
exercícios na melhoria da qualidade de vida dos participantes, com benefícios
observados em diferentes aspectos físicos e psicossociais. A prática regular de
exercícios físicos pode promover uma maior capacidade funcional nas atividades de
vida diária, aumento da vitalidade e melhora da saúde mental e dos aspectos sociais.
Esses achados reforçam a recomendação de incluir o exercício físico como parte
integrante de estratégias de promoção da saúde e do bem-estar.
A prática de exercícios físicos predominantemente aeróbico é um fator crucial no
condicionamento cardiorrespiratório (SILVA, 2021). A partir de análises pré e pós dos
testes de caminhada de 6 minutos, sentar e levantar, e o teste de cooper foram
identificados os seguintes resultados em cerca dos voluntários do grupo intervenção e
grupo controle respectivamente antes e após a prática de exercícios físicos,
demonstrado na tabela 2.
A análise estatística dos dados revelou diferenças significativas na capacidade
funcional do grupo intervenção após o programa de exercícios nos resultados dos
testes de Cooper, caminhada de 6 minutos e sentar e levantar (p < 0,05). No teste de
Cooper, que avalia a capacidade cardiorrespiratória, observou-se um aumento
significativo na distância percorrida pelos participantes após o programa de exercícios,
com metros percorridos inicialmente pelo grupo intervenção de 1713,3 ± 563,81 e
após 2042 ± 626,50 e no grupo controle de 1914 ± 530,90 e após 1631 ± 436,58. Isso
indica uma melhora na capacidade aeróbica e na resistência física dos indivíduos que
praticam atividade física. O TC6 também demonstrou diferenças significativas,com

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distância inicial pelo grupo intervenção de 506 ± 81,40 e após 596,5 ± 43,46 já o grupo
controle de 524,6 ± 63,06 e após 515,3 ± 49,83, revelando um aumento na distância
percorrida pelos participantes do grupo intervenção. O teste de sentar e levantar, que
avalia a força muscular e a capacidade funcional, também apresentou mudanças
significativas, com repetição inicial pelo grupo intervenção de 29,9±3 e após 35 ± 1,83
já o grupo controle 29,6 ± 4,52 e após 29 ± 4,1. Os participantes do grupo intervenção
mostraram um aumento na quantidade de repetições realizadas durante o teste,
indicando um ganho de força e uma melhora na capacidade de realizar atividades
diárias que exigem força e resistência. Como observado na figura 1: Houve um
incremento da distância percorrida no grupo intervenção antes e após a realização dos
exercícios. P<0,05.
Outro dado relevante, foi com relação ao teste de caminhada de 6 minutos, onde
também foi observado uma melhoria da capacidade cardiorrespiratória antes e após a
intervenção, como mostra a Figura 2. (p<0,05).
Também podemos observar um incremento na quantidade de repetições realizadas
pelo grupo intervenção no teste de sentar e levantar após a realização do protocolo de
exercícios, como mostra Figura 3.(p<0,05).
Essas melhorias nas capacidades funcionais e físicas têm implicações importantes para
a qualidade de vida dos indivíduos. Um indivíduo em boa forma física tem maior
capacidade de tolerar as demandas físicas que fazem parte do cotidiano, enquanto
outro que não esteja em forma por vezes terá de interromper a atividade devido a
fadiga (LAZZOLI, JK, 1997). Um aumento na capacidade cardiorrespiratória significa que
os participantes terão uma melhor eficiência na realização de atividades físicas, como
correr, caminhar longas distâncias ou subir escadas, sem se cansar rapidamente. Isso
pode resultar em um maior envolvimento em atividades físicas do dia a dia e uma
sensação de bem-estar geral.
Além disso, o aumento na resistência física e na força muscular proporcionada pelos
exercícios pode facilitar a realização de tarefas cotidianas, como carregar sacolas de
compras, realizar tarefas domésticas ou levantar objetos pesados. Isso contribui para
uma maior autonomia e independência dos indivíduos, melhorando sua funcionalidade
e qualidade de vida.
Em resumo, os resultados dos testes de Cooper, caminhada de 6 minutos e sentar e
levantar evidenciam que o programa de exercícios teve um impacto positivo nas
capacidades funcionais e físicas dos participantes. Essas melhorias representam uma
maior capacidade aeróbica, resistência física, força muscular e capacidade funcional,
que têm implicações significativas na realização de atividades diárias e na promoção de
um estilo de vida mais ativo e saudável.
As respostas obtidas estão em concordância com estudos anteriores que mostraram os
benefícios da prática de exercícios físicos regulares na melhoria da capacidade
cardiorrespiratória e na qualidade de vida. Além disso, a intervenção realizada neste

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eCICT 2023

estudo foi adaptada utilizando recursos simples e acessíveis, o que pode ser uma
opção viável para as pessoas que ainda estão enfrentando restrições de
movimentação.

Conclusão

Os resultados deste estudo podem ser úteis para profissionais de saúde que buscam
estratégias para ajudar seus pacientes a enfrentar os desafios impostos pela pandemia
da COVID-19. A prática de exercícios físicos sistematizados pode ser uma intervenção
eficaz e de baixo custo para melhorar a função cardiorrespiratória e a qualidade de
vida dos pacientes.
No entanto, é importante destacar que este estudo foi realizado com um número
limitado de pacientes e que são necessários mais estudos com amostras maiores e
seguimento a longo prazo para confirmar os resultados encontrados nesta pesquisa.
Mesmo assim, os resultados deste estudo sugerem que os programas de exercícios
físicos podem ser uma ferramenta valiosa na melhoria da saúde e bem-estar durante a
pandemia da COVID-19 e podem ajudar a minimizar os efeitos negativos do isolamento
social e da redução da atividade física. Esses resultados indicam uma diminuição nos
problemas psicológicos relatados pelos participantes após a realização do programa de
exercícios. Essas descobertas ressaltam a importância dos exercícios físicos como uma
intervenção efetiva na melhoria da qualidade de vida, abrangendo diferentes domínios
físicos e psicológicos. Contudo, é importante lembrar que a prática de exercícios físicos
deve ser adaptada às necessidades e condições individuais de cada paciente, e deve
ser realizada com orientação de profissionais capacitados.

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Anexos

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Tabela 1 - Média e desvio padrão do SF-36 pré e pós-intervenção dos dois grupos.

grafico 1 - limitações por aspectos emocionais

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grafico 2 - vitalidade

grafico 3 - saúde mental

Tabela 2 - Média e desvio padrão dos testes, pré e pós-intervenção dos dois grupos.

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Figura 4: Teste de cooper grupo intervenção. Fonte própria. Natal/RN, 2023;

Figura 5: Teste de caminhada de 6 minutos grupo intervenção. Fonte própria.


Natal/RN, 2023;

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Figura 6: Teste de sentar e levantar grupo intervenção. Fonte própria. Natal/RN, 2023

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CÓDIGO: SB0598

AUTOR: GABRIEL LUCAS DE FREITAS COSTA

COAUTOR: BEATRIZ APARECIDA DE SOUZA

ORIENTADOR: DANIEL MARQUES DE ALMEIDA PESSOA

TÍTULO: Papel da coloração do quelípodo hipertrofiado de machos de Leptuca


leptodactyla no reconhecimento de coespecíficos de duas populações.

Resumo

A fim de alcançar o sucesso reprodutivo, as fêmeas devem ser capazes de distinguir


indivíduos coespecíficos de heteroespecíficos e avaliar a qualidade de potenciais
parceiros reprodutivos. Como os caranguejos chama-marés exibem uma ampla
diversidade de cores, pistas e sinais de cores podem ser cruciais para o reconhecimento
de parceiros reprodutivos nesse grupo. A espécie Leptuca leptodactyla é encontrada em
manguezais ao longo do litoral do Rio Grande do Norte e suas populações próximas
podem exibir variações de coloração na carapaça e nos apêndices locomotores. Estudos
anteriores mostraram que, nesta espécie, sinais visuais desempenham um papel
fundamental no reconhecimento de indivíduos de diferentes populações. Este trabalho
buscou investigar a preferência de fêmeas de L. leptodactyla na escolha de parceiros,
quando apresentadas a machos de diferentes populações que apresentam colorações
distintas. De forma a testar a hipótese de que as pistas de cor da quela são importantes
no reconhecimento coespecífico de diferentes populações, foi conduzido um
experimento no qual as fêmeas tiveram a oportunidade de escolher entre dois potenciais
parceiros de diferentes populações com a cor das quelas pintadas de amarelo. Os
resultados não mostraram uma preferência significativa das fêmeas por cada grupo
experimental, o que leva à hipótese de que este reconhecimento de distintas populações
está associado a pistas de cor quela hipertrofiada, que foi controlada no presente estudo.

Palavras-chave: Ocypodidae; Chama-maré; Visão de cores; Escolha de


parceiros.

TITLE: Role of hypertrophied cheliped coloration of male Leptuca leptodactyla


in conspecific recognition of two populations.

Abstract

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In order to achieve reproductive success, females must be capable of distinguishing


conspecific individuals from heterospecific ones and evaluating the quality of potential
reproductive partners. Since fiddler crabs exhibit a wide diversity of colors, cues and
color signals might be crucial for partner recognition in this group. The species Leptuca
leptodactyla is found in mangroves along the coast of Rio Grande do Norte, and its
nearby populations display variations in carapace and locomotor appendage coloration.
Previous studies have shown that, in this species, visual signals play a fundamental role
in recognizing individuals from different populations. This study aimed to investigate
the preference of female L. leptodactyla in choosing partners when presented with
males from different populations displaying distinct colorations. To test the hypothesis
that color cues from the cheliped are important in conspecific recognition of different
populations, an experiment was conducted where females had the opportunity to choose
between two potential partners from different populations with their chela color painted
yellow. The results did not show a significant preference by females for either
experimental group, which leads to the hypothesis that recognition of distinct
populations is associated with cues from hypertrophied cheliped coloration, which was
controlled for in the present study.

Keywords: Ocypodidae; Fiddler crab; Color vision; Mate choice.

Introdução

A sinalização sensorial, seja visual, acústica, química ou elétrica, é uma estratégia


presente em diferentes animais e que pode ser utilizada no contexto sócio-sexual para
identificação de potenciais parceiros reprodutivos e diferenciação de indivíduos
(Bradbury & Vehrencamp, 2011). Na sinalização visual, a coloração corporal se mostra
atrelada a diferentes funções, contribuindo com a sobrevivência e/ou sucesso
reprodutivo em diversas espécies (Cuthill et al., 2017), se mostrando importante para:
evitar predação (Hamasaki, 2022), regular a temperatura corporal (Wilkens &
Fingerman, 1965) e reconhecimento sócio-sexual (Detto, 2007; Silva, 2019 ; Silva et al.
2022). Em caranguejos verdadeiros (Eubrachyura), trabalhos já foram realizados
analisando o papel da coloração corporal na discriminação de indivíduos, seja para a
escolha de parceiros reprodutivos (Detto, 2007; Detto & Backwell, 2009; Baldwin,
2012; Dyson et al., 2020; Silva et al., 2022) ou na diferenciação de indivíduos (Detto,
2006; Detto, 2008; Silva, 2019; Dyson et al. 2020). No entanto, poucos estudos
analisaram a influência dos fenótipos de cor na preferência sexual dentro de indivíduos
de uma mesma espécie (Silva, 2019).

Os caranguejos chama-marés (Crustacea: Ocypodidae) apresentam ampla diversidade


de coloração (Crane, 1975). Estudos comportamentais já demonstraram que ocorre a
discriminação de sinais visuais (Detto, 2006), em Uca capricornis, diferentes padrões
de cores podem ser importantes para o reconhecimento individual dentro de uma mesma
população, bem como um potencial indicador de seu estado reprodutivo (Detto, 2008).

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Sabe-se que fêmeas de Uca mjoebergi quando apresentadas a machos com a quela
pintada com a cor natural de seus coespecíficos, passam a ter maior interação com estes,
mesmo que não sejam da sua espécie. Em Leptuca leptodactyla, sabe-se que a coloração
da carapaça é utilizada para discriminar indivíduos heteroespecíficos (Silva, 2019),
enquanto a quela é a pista visual utilizada na escolha de parceiros reprodutivos (Silva et
al. 2022).

O caranguejo chama-maré Leptuca leptodactyla (Rathbun, 1898) é uma espécie comum


na costa brasileira, ocorre do Pará à Santa Catarina (Laurenzano et al., 2016), habitando
manguezais e estuários, em meio a sedimento arenoso ou lamoso (Thurman et al.,
2013). Apresentam carapaça branca na fase adulta, bem como quelípodo hipertrofiado
amarelado que reflete luz ultravioleta (Silva et al. 2022) e apêndices locomotores que
podem variar em tons de amarelo, laranja ou vermelho (Crane, 1975), durante a fase
reprodutiva ocorre um alvejamento na carapaça, que pode se estender aos demais
segmentos do corpo. Foi constatado que duas populações de L. leptodactyla apresentam
variações na coloração da carapaça e apêndices (Silva, 2019), ambas ocorrem em áreas
de manguezais conectadas ao rio Ceará-mirim (Extremoz-RN). Os machos da
população localizada no Centro de Tecnologia de Aquicultura (CTA) da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) apresentam carapaças mais brancas, coloração
que se estende aos seus apêndices locomotores (Figura 1a), enquanto machos da praia
de Barra do Rio (BR), possuem carapaça acinzentada e apêndices que variam entre tons
de amarelo, cinza e marrom (Figura 1b) (Silva, 2019).

Estudos realizados para avaliar a preferência de fêmeas do CTA e da praia de Barra do


Rio por machos de ambas as populações, revelaram que as fêmeas exibem uma
preferência significativa por machos pertencentes à sua própria população (Silva, 2019;
B.A.Souza, comunicação pessoal). Apesar da existência de variação na coloração dos
indivíduos das duas populações, essas pesquisas não esclareceram se, e quais, pistas
visuais estão associadas à preferência das fêmeas. Com base nisso, este trabalho buscou
dar continuidade aos estudos de Silva (2019) e B.A.Souza (dados não publicados),
investigando o papel da coloração do quelípodo hipertrofiado dos machos na
preferência das fêmeas da praia de Barra do Rio.

Metodologia

Local do estudo

O estudo foi conduzido durante o período de janeiro a maio de 2023 no município de


Extremoz, Rio Grande do Norte, tendo dois locais para coleta dos espécimes utilizados,
ambos a margem do rio Ceará-mirim: um manguezal próximo à praia de Barra do
Rio(BR) (5°40'36.7"S 35°13'20.0"W) e o outro localizado no Centro de Tecnologia de
Aquicultura(CTA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte(UFRN)

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(5°40'29.5"S 35°14'11.3"W) (Figura 2).

A população de chama-marés que habita o manguezal do CTA vive em um ambiente


mais afastado do rio, com sedimento arenoso e com nenhuma ou baixa vegetação,
existindo simpatricamente com outros chama-marés do local, como: Leptuca
cumulanta, Leptuca thayeri, Uca maracoani, Minuca rapax e Minuca burgesi (Santos et
al., 2015; Silva, et al. 2019) (Figura 3a). Enquanto a população encontrada na praia de
Barra do Rio habita próximo ao rio e em sedimento que varia de arenoso a lamoso,
contando com baixa vegetação e coexistindo com U. maracoani e M. rapax (Figura 3b).
Ambas as populações atingem as especificidades de condições ambientais descritas por
Crane (1975) e Melo (1996) associadas à ocorrência da espécie.
Procedimento experimental

As coletas foram realizadas nas marés baixas diurnas, ocorrendo durante e em torno das
fases da lua nova e cheia, quando se dá o fenômeno das marés de sizígia, no qual os
caranguejos atingem seu pico reprodutivo. A coleta foi feita primeiramente no CTA,
onde ocorrem machos de L. leptodactyla com carapaça branca, após a coleta dos
machos do CTA, estes eram transportados para a praia de Barra do Rio, onde ocorria a
segunda etapa da coleta, sendo esta a dos machos com carapaça acinzentada e das
fêmeas de L. leptodactyla, este foi o local no qual ocorreram os processos
experimentais. Ao todo, foram utilizados 40 machos da espécie citada nos
procedimentos experimentais, sendo 20 indivíduos de cada população.

Para determinar o papel da coloração do quelípodo hipertrofiado dos machos de ambas


as populações na preferência da fêmea, foi utilizada a metodologia descrita por Detto
(2006), na qual as fêmeas foram apresentadas a uma escolha binária entre dois
potenciais parceiros reprodutivos em uma arena. Primeiramente, os machos de ambas as
populações foram pareados, de modo que as quelas hipertrofiadas deveriam apresentar
no máximo um milímetro de diferença de comprimento, Em seguida, um fio de um
centímetro foi amarrado a um prego e colado em suas carapaças, conforme
experimentos anteriores (Detto et al., 2006; Silva, 2019) e a quela hipertrofiada foi
pintada com tinta atóxica (ACRILEX amarelo ocre ouro - nº 573), mantendo somente a
coloração natural da carapaça e apêndices locomotores.

A arena, também baseada no modelo de Detto (2006) e posteriormente adaptada por


Silva (2019), foi constituída por duas folhas transparentes de acetato, com 30cm de
comprimento e dois centímetros de altura (considerando a partir da superfície do
substrato), com distância de 12cm uma da outra, estabelecendo um corredor entre
ambas. Cada extremidade do corredor foi ocupada por um macho fixado no substrato,

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posicionados com a quela hipertrofiada voltada para o centro da arena. Uma fêmea foi
colocada no centro da arena, sendo mantida dentro de um pequeno copo de vidro
transparente que foi conectado a uma alavanca manual até o momento de iniciar o
experimento.

O tempo utilizado para a aclimatização dos machos foi de dez minutos, com estes já
posicionados na arena, somente após esse período uma fêmea foi adicionada sob o copo,
onde aguardava um minuto antes do teste de fato iniciar. Passado esse tempo, a alavanca
conectada ao copo foi ativada, liberando a fêmea, que teve quatro possibilidades de
ação, sendo: escolher, fugir, manter-se imóvel ou enterrar-se. Foi considerado escolha
todas as vezes em que as fêmeas se posicionaram a menos de dois centímetros do
macho escolhido, se mantendo próximas a ele. As demais ações que não atingiram esse
pré-requisito foram consideradas como fuga, e nesse caso, as fêmeas foram removidas
do experimento. Após cada escolha, os machos tiveram suas posições trocadas, até
contabilizar três escolhas para o par presente na arena. Quando as três escolhas foram
realizadas, um novo par foi inserido na arena para dar continuidade ao experimento.

Análise estatística

A análise estatística foi feita no R studio, utilizando o teste binomial (one tail)
considerando o número de escolhas por parte das fêmeas quando apresentadas aos
machos das populações de L. leptodactyla de Barra do Rio e CTA.

Resultados e Discussões

Resultados

Um total de 277 fêmeas foram utilizadas para o experimento, 60 escolhas foram


realizadas, sendo escolhidos 33 machos do CTA e 27 machos de BR (Figura 4). De
acordo com o teste binomial aplicado, a preferência das fêmeas por machos mais
esbranquiçados do CTA ou mais acinzentados de BR não foram significativas (P > 0,5).

Discussão

Os resultados obtidos indicam que a coloração da carapaça e dos apêndices locomotores


não são as características que influenciam essa preferência, enquanto a cor do quelípodo
hipertrofiado pode ser importante para esta preferência das fêmeas entre as duas
populações, visto que foi o único sinal visual que foi controlado nesse experimento.
Sabemos por meio de dados preliminares que existe uma preferência de fêmeas de BR

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por machos de sua própria população, o que também ocorre na população do CTA
(Silva, 2019; B.A.Souza, dados não publicados). O fato do nosso experimento não ter
sido capaz de mostrar essa preferência, é um forte indício da importância da coloração
da quela para essa escolha, visto que sinais de outras modalidades sensoriais (e.g.
acústicos, sísmicos, químicos), bem como sinais visuais provenientes da carapaça e
apêndices locomotores estavam disponíveis no desenho experimental utilizado.

Trabalhos anteriores mostram que a coloração da quela é importante no contexto sócio-


sexual, tanto para o reconhecimento coespecífico (Detto, 2006; Dyson et al., 2020; Silva
et al. 2022), quanto na escolha de parceiros reprodutivos (Detto, 2007; Detto &
Backwell, 2009; Dyson et al., 2020; Silva et al. 2022). Estudos já mostraram que
algumas espécies de chama-marés apresentam reflexão de luz ultravioleta nos
quelípodos hipertrofiados (Detto & Backwell, 2009 ; Silva et al., 2022) e em Uca
Mjoebergi o UV atua como uma sinalização visual para as fêmeas na seleção de
parceiros (Detto & Backwell, 2009). Em L. leptodactyla, as fêmeas apresentam
preferência natural por machos com reflexão de luz ultravioleta nas quelas (Silva et al.
2022), o que nos leva a hipótese de que as fêmeas podem utilizar esse mesmo sinal
visual para discriminar os machos de ambas as populações utilizadas no trabalho. Essa
característica foi ocultada pelo uso da tinta amarela utilizada para homogeneizar os
quelípodos hipertrofiados dos machos, uma vez que esta tinta impossibilita a reflexão da
luz ultravioleta. Trabalhos futuros precisam analisar se o padrão de reflectância UV dos
machos de ambas as populações são distintos e se indivíduos que apresentam essa
característica predominantemente possuem maior êxito nas escolhas das fêmeas. Caso
venha a se confirmar essa preferência das fêmeas por machos de sua própria população,
em detrimento a machos de outras populações, isso poderá corroborar a premissa de que
a variação geográfica de determinadas características em machos provoquem uma
variação geográfica de preferência das fêmeas (Endler & Houde, 1955), podendo levar à
especiação.

Conclusão

Com base nos resultados obtidos, concluímos que a preferência das fêmeas por machos
das duas populações provavelmente se dá por pistas de cor do quelípodo hipertrofiado.
A reflexão de UV no quelípodo hipertrofiado pode ser o fator desencadeador para esta
preferência, mas estudos posteriores precisam ser desenvolvidos para confirmar essas
hipóteses.

Referências

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Anexos

Figura 1

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Figura 2

Figura 3

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Figura 4

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CÓDIGO: SB0603

AUTOR: GISELE TAVARES MOLLICK GALVÃO

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: A influência de uma técnica de respiração de yoga no tratamento da


depressão: associações com o devaneio mental e a interocepção

Resumo

A depressão maior é um transtorno psiquiátrico que atinge mais de 320 milhões de


pessoas no mundo e, embora existam diversos medicamentos para reduzir os
sintomas, parte dos pacientes não se adequam à monoterapia medicamentosa. Dessa
forma, outras opções de tratamento devem ser consideradas. Diante disso, o objetivo
do estudo é avaliar a resposta antidepressiva por meio da execução de um protocolo
on-line e home-based da respiração yóguica Ujjayi, em universitários com DM, e as
possíveis correlações entre tal resposta, a interocepção e o devaneio mental. O
tratamento teve duração de 12 semanas, sendo uma sessão semanal de 1h de
intervenção guiada e 3 sessões de 20 minutos por meio de vídeos. Pacientes com DM
de severidade moderada à grave também foram tratados com antidepressivo. Foi
observado uma redução dos sintomas independentemente do uso do antidepressivo, o
qual foi correlacionado com a diminuição do devaneio mental e com o aumento da
interocepção. Estudos anteriores mostram que o yoga pode ser uma alternativa
adjuvante ao tratamento da DM, porém poucas são as investigações relatando o uso
de protocolos específicos de respiração yóguica em indivíduos com DM e ainda,
relacionando com a interocepção e o devaneio mental. Diante do exposto, apesar do
tamanho amostral ser pequeno, o estudo traz resultados favoráveis ao uso do
pranayama Ujjayi como terapia complementar para o tratamento da DM.

Palavras-chave: Depressão. Yoga. Interocepção. Devaneio mental.


Pranayama. Respiração.

TITLE: The influence of a yoga breathing technique in the treatment of


depression: associations with mind wandering and interoception

Abstract

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Major depression is a psychiatric disorder that affects more than 320 million people
worldwide and, although there are several drugs to reduce symptoms, some patients
do not adapt to drug monotherapy. Thus, other treatment options should be
considered. Therefore, the objective of the study is to evaluate the antidepressant
response through the execution of an online and home-based protocol of Ujjayi yogic
breathing, in university students with DM, and the possible correlations between such
response, interoception and mind wandering. The treatment lasted 12 weeks, with a
weekly session of 1 hour of guided intervention and 3 sessions of 20 minutes through
videos. Patients with DM of moderate to severe severity were also treated with
antidepressants. A reduction in symptoms was observed regardless of the use of
antidepressants, which was correlated with a decrease in mind wandering and an
increase in interoception. Previous studies show that yoga can be an adjuvant
alternative to the treatment of DM, but there are few investigations reporting the use
of specific yogic breathing protocols in individuals with DM and also relating it to
interoception and mental reverie. Given the above, despite the sample size being
small, the study brings favorable results to the use of Ujjayi pranayama as a
complementary therapy for the treatment of DM.

Keywords: Depression. Yoga. Interoception. Mind wandering. Pranayama.


Breathing.

Introdução

A depressão maior (DM) é um dos transtornos psiquiátricos mais disseminados na


população mundial (WHO et Al., 2017). Conforme a OMS, antes da pandemia pelo
vírus SARS-CoV-2 essa doença afetava cerca de 320 milhões de pessoas ao redor do
mundo (WHO et Al., 2017). No entanto, a pandemia de COVID-19 foi motivadora para
a elevação no índice de pacientes diagnosticados com transtornos mentais, e segundo
um resumo científico divulgado pela OMS, a prevalência mundial de depressão
aumentou cerca de 25% no primeiro ano da pandemia (WHO et Al., 2022).

Embora existam cerca de 22 princípios ativos no mercado global para a redução dos
sintomas depressivos, aproximadamente 30 a 35% dos sujeitos não respondem ao
tratamento farmacológico (Blumenthal et Al. 1999, apud MORAES, 2007). Isto posto,
sugere-se então, que o manejo terapêutico ideal dessa psicopatologia deva considerar
as bases sociais, psicológicas e biológicas relativas ao sujeito como ser humano (Stahl
1998, apud SOUZA, 1999).

O Yoga é uma técnica integrativa milenar que promove o bem-estar físico e mental
(SILVA, 20020; MOURA et Al., 2021). Essa terapia complementar foi inserida no SUS em

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2011, por intermédio do Programa Academia da Saúde, cujo objetivo era promover
atividades físicas e práticas corporais (Barros et Al. 2014). O incremento da aptidão
física, a melhoria da qualidade de vida, a atenuação da depressão, da ansiedade, da
frequência cardiorrespiratória, da pressão arterial e do estresse são alguns dos
benefícios proporcionados pelas técnicas de Yoga (Moura et Al. 2021). Embora já
existam evidências científicas positivas quanto aos seus benefícios na potencialização
da resposta da medicação e/ou redução dos efeitos colaterais (Moura et Al. 2021), o
yoga ainda não foi incorporado nas diretrizes de tratamento da DM.

Os pranayamas são técnicas de respiração yóguica, de fácil aplicabilidade, com custos


relativamente baixos; eles podem ter ritmos e durações distintos, bem como podem
ser realizados com e sem retenção de ar nos pulmões (CRAMER et Al., 2014; ARRIBAS
PALACIOS et Al., 2022). Alguns estudos observam que a prática de pranayamas
promove uma diminuição importante nos níveis de estresse, no afeto negativo,
depressão e de ansiedade (Novaes 2017; DORIA et Al., 2015; MAHOUR e VERMA,
2017).

Os pranayamas auxiliam no incremento da capacidade de percepção do estado do


corpo, a interocepção (Ceunen et Al., 2016). Sujeitos em harmonia com seu sistema
interoceptivo são mais habilidosos em controlar reações emocionais e entender os
sentimentos intrínsecos (apud MARMELEIRA e VEIGA, 2018). Os pranayamas também
ajudam a manter o foco no momento presente, desenvolvendo a habilidade da
atenção aos pensamentos, conhecida como atenção plena, reduzindo o devaneio
mental, ou, mind wandering (MW). MW refere-se à mudança de pensamentos na
atividade cerebral, que, de forma espontânea, desloca a atenção do indivíduo de
eventos do ambiente externo ou da execução de uma tarefa em andamento para o
processamento de informações não relacionadas ao momento presente (Smallwood e
Schooler, 2006; Smallwood e Schooler, 2015).

Sabe-se que a aderência dos pacientes com depressão às terapias complementares


não é fácil, não apenas por falta de tempo na rotina, mas também devido à dificuldade
do paciente em sentir prazer ou motivação em realizar a prática, devido às condições
inerentes à DM (DSM-V) (POTTER, W. Z. et Al., 1991, apud WANNMACHER, 2004).

Neste contexto, este estudo investiga a capacidade de resposta antidepressiva em


universitários com DM através de uma terapia de yoga on-line, com um protocolo
focado na técnica de respiração Ujjayi, e sua relação com a interocepção e o MW.
Como hipóteses, espera-se que a intervenção terapêutica on-line propicie a adesão e
permanência dos pacientes no tratamento complementar proposto, culminando em

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uma resposta antidepressiva relevante que será associada à redução do MW e ao


aumento da interocepção, que são parâmetros de percepção ao estado do próprio co

Metodologia

Este é um estudo clínico aberto, controlado e longitudinal, desenvolvido na


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com público-alvo voltado para
estudantes e servidores da UFRN, de ambos os sexos, maiores de 18 anos, com DM. A
terapia do yoga é um dos grupos terapêuticos oferecidos pelo Programa de
Enfrentamento à Tristeza. Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento
e livre esclarecimento (TCLE), possuindo total liberdade para deixar o estudo sem
quaisquer prejuízos.

A triagem ocorreu através do aplicativo UPSaúde. Neste, foi aplicado o questionário de


saúde do paciente 2 e ao atingir a pontuação de corte do PHQ2, caso também
atendessem aos critérios de inclusão e de exclusão do estudo, eles eram direcionados
para agendar uma consulta psiquiátrica.

Critérios de inclusão:

Episódio depressivo atual;

Maior de 18 anos;

Ser estudante ou servidor da UFRN;

Ter acesso à internet em um smartphone.

Critérios de exclusão:

Satisfazer critérios diagnósticos para presença de outro transtorno mental, além da


DM;

Utilizar medicamentos psiquiátricos, neurológicos ou com efeitos sobre a cognição,


humor e funções neurovegetativas, com a exceção de antidepressivos que possam ser
trocados pelo fármaco do estudo e ansiolíticos que possam ser retirados sem prejuízos
ao paciente;

Gravidez e lactação;

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Alguma desabilidade que impossibilite a aplicação das terapias complementares.

O diagnóstico e/ou classificação da intensidade da DM foi fornecido na consulta


psiquiátrica on-line, via telemedicina, realizada por um dos psiquiatras da Unidade de
Atenção Psicossocial do HUOL. O diagnóstico da DM foi feito através da Minientrevista
Neuropsiquiátrica Internacional (MINI). Outrossim, durante a consulta, um
questionário sociodemográfico (QSD) foi aplicado.

Para pacientes com DM de severidade moderada ou grave foi prescrito um fármaco


antidepressivo (Escitalopram), o qual foi custeado pelo estudo. Já os pacientes
diagnosticados com DM de severidade leve, foram tratados exclusivamente com a
terapia de respiração yóguica.

As coletas de dados ocorreram no início e no fim do estudo e consistiram na aplicação


de testes psicométricos para avaliação dos sintomas depressivos (BDI-II), do devaneio
mental (MEWS) e da interocepção (MAIA). Na 5ª semana, uma nova consulta foi
realizada, com o objetivo de verificar a resposta do paciente ao tratamento e de
observar uma possível necessidade de ajuste de dose da medicação. Ademais, ao final
da intervenção (12ª semana), outra consulta foi feita, a fim de investigar a resposta
clínica do paciente ao tratamento.

Tratamento com yoga

O protocolo de Yoga, de duração de 12 semanas, foi realizado em grupo e on-line e


com foco foi nas técnicas de respiração chamadas de pranayamas. A prática da técnica
de respiração foi realizada 4 vezes por semana, distribuídas da seguinte maneira: 1) 1
encontro de 1h de duração em formato de aula síncrona por videochamada. 2) 3
sessões assíncronas de 20 minutos, através das aulas gravadas e disponibilizadas na
ferramenta Google Drive, as quais eram realizadas pelos próprios voluntários.

Descrição da técnica do pranayama Ujjayi

Inicialmente, a yogaterapeuta ensinou como o voluntário deve preparar-se para a


prática e como a respiração abdominal deve ser realizada. Depois, o protocolo
completo começou a ser adotado (5 minutos de respiração abdominal deitado e 10
minutos de ciclo Ujjayi, no qual cada etapa possui duração de 2 minutos), solicitado a
ser feito de forma consciente, lenta e profunda: respiração abdominal silenciosa;
respiração oceânica fluida; respiração Ujjayi com retenção de ar na inspiração e na
expiração; pranayama Ujjayi fluido; respiração abdominal silenciosa.

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Instrumentos Psicométricos

Questionário de saúde do paciente 2: O PHQ-2 é uma ferramenta de avaliação


reduzida e consiste nos dois primeiros dos nove itens do módulo de depressão do
PHQ-9.

Minientrevista Neuropsiquiátrica Internacional (MINI): MINI é uma breve entrevista


diagnóstica padronizada, compatível com os critérios do DSM-III-R/IV e CID-10.

Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) (Beck, Steer e Brown 2011): Trata-se de uma
escala de autorrelato, cuja destinação é avaliar sintomas depressivos em uma
classificação gradativa de estados de depressão “mínima”, “leve”, “moderada” e
“grave”.

Escala de Devaneio Mental Excessivo (MEWS): Validada em 2016, mostrou ter grande
potencial em aferir a dimensão sintomática de desordens como a depressão no que
pauta o fluxo de pensamentos espontâneos excessivos.

Avaliação Multidimensional da Consciência Interoceptiva (MAIA). Mede o estado e a


capacidade do indivíduo de identificar suas emoções e suas sensações corporais
interoceptivas (Mehling, 2012).

Análise estatística

Neste trabalho, os sintomas depressivos (medidos pela BDI-II), o devaneio mental


(mensurado pela MEWS) e a interocepção (avaliado pela MAIA) foram considerados
como variáveis dependentes; as semanas do tratamento foram julgadas como
variáveis independentes. Os dados sociodemográficos foram inseridos como co-
variáveis.

Tendo em vista que os sintomas depressivos podem ser influenciados pelo uso de
medicação, para analisar a BDI-II foi realizada uma ANCOVA de medidas repetidas,
empregando o uso de medicamento como co-variável. As variáveis associadas com a
atenção aos pensamentos (MEWS) e ao corpo (MAIA) foram analisadas sob aplicação
do teste de postos sinalizados de Wilcoxon. A correlação entre a sintomatologia
depressiva (BDI-II) e as escalas MEWS e MAIA, foram feitos testes de correlação de
medidas repetidas.

As medidas de tendência central e dispersão foram, respectivamente, média e erro

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padrão para BDI-II, e mediana e quartis 1 (Q1, 25%) e 3 (Q3, 75%) para MEWS e MAIA.
Os tamanhos de efeito relatados foram o d de Cohen, para a BDI-II, e o r de Pearson
(ponto-bisserial), para MEWS e MAIA, junto ao seu respectivo intervalo de confiança
de 95%. A signi

Resultados e Discussões

Inicialmente, 46 indivíduos foram avaliados para a elegibilidade ao estudo, no entanto


27 deles foram excluídos; algumas das causas foram: diagnóstico de transtorno
diferente de DM (n = 12), ausência de episódio depressivo maior atual (n = 7),
dependência de substância (n = 1), histórico de falha com o escitalopram (n = 1), outro
(n = 6) (Figura 2). Em seguida, 19 pacientes iniciaram o tratamento, desses apenas 11
fizeram o tratamento completo (12 semanas) (Figura 2). A desistência dos voluntários
após a alocação no grupo de yoga (n = 8) foi motivada, principalmente, pela
dificuldade em conciliar as práticas de yoga da intervenção com a rotina. Com relação
aos 11 pacientes que finalizaram o tratamento, a maioria é do sexo feminino,
totalizando cerca de 72,7% (n = 8), e 27,3% deles é do sexo masculino (n = 3). A faixa
etária dos pacientes variou entre 23 e 45 anos, apresentando a média de 29,5 anos
(desvio padrão = 7,878). O estado civil com maior predominância foi o de solteiro(a),
representando 72,7% da amostra (n = 8), seguido de casado(a) com 18,2% (n = 2) e
separado(a), com 9,1% (n= 1). Todos os pacientes eram estudantes, a respeito da
escolaridade, 72,7% deles (n = 8) declarou cursar uma graduação, 9,1% (n = 1) faz uma
pós-graduação, 9,1% (n = 1) cursa o mestrado e outros 9,1% (n = 1) está no doutorado.
Ao relatar sobre a renda familiar, aproximadamente 27,3% (n = 3) possuem renda de
até 1 salário mínimo, 36,4% (n = 4) dos participantes afirmou ser de 1 a 2 salários
mínimos, outros 9,1% convivem com 2 a 5 salários, e 27,3% (n = 3) dispõem de 5 a 10
salários; 63,7% (n = 7) deles afirmou que trabalha, opondo-se aos cerca de 36,3% (n =
4) que não contribuem para a renda familiar.
Figura 2. CONSORT dos pacientes que chegaram ao grupo de yoga, mostrando os
indivíduos excluídos, as desistências e os sujeitos analisados.
Considerando o diagnóstico de depressão, antes da consulta com o(a) psiquiatra do
estudo, apenas 18,2% (n = 2) dos pacientes fazia acompanhamento com psicólogo,
enquanto 81,8% (n = 9) dos pacientes relataram não ter feito nenhum tipo de
psicoterapia. Quanto ao uso de medicação para a depressão maior, 45,5% (n = 5) dos
indivíduos participaram da pesquisa com medicamento e 54,5% (n = 6) não utilizaram
antidepressivo durante as 12 semanas da terapia de Ujjayi. Sobre o uso regular de
drogas, 63,7% (n = 7) relatou não fazer uso de nenhum tipo de substância de abuso, já
36,3% (n = 4) afirmou fazer uso de álcool, dentre os quais 1 deles (9,1%) também
utiliza o cigarro.

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Com relação aos sintomas depressivos, aferidos utilizando a BDI-II, foi constatada uma
diminuição dos níveis sintomáticos (F(1,9) = 17.93, p < 0.001; t = 4.23, d = 1,51 [0,44;
2,57], p < 0.001) entre o início do tratamento (basal = 32.20 2.65) e o final dele (final =
17.43 3.24). A respeito do uso de medicação, 45,5% (n = 5) dos indivíduos participaram
da pesquisa com antidepressivo e os outros 54,5% (n = 6) não utilizaram medicamento
durante a intervenção, todavia esta co-variável não interferiu na resposta
antidepressiva (F(1,9) =0.97, p = 0.35) (Figura 3). Sobre o reajuste de dose, todos
aqueles que iniciaram a intervenção com terapia farmacológica (n = 5) precisaram de
reajuste da medicação na 1ª consulta de retorno (5ª semana), já na 2ª e última
consulta (12ª semana), 60% (n = 3) deles precisaram ajustar novamente a medicação.
Figura 3. Box plot dos sintomas depressivos aferidos pela BDI-II (Beck's Depression
Inventory II) no início (basal = 32.20 2.65)) e no final do tratamento (12ª semana =
17.43 3.24)), utilizando o teste ANCOVA de medidas repetidas (F(1,9) = 17.93, p <
0.001; t = 4.23, d = 1,51 [0,44; 2,57]) com o uso de medicação como co-variável (F(1,9)
=0.97, p = 0.35). Cada ponto refere-se a um paciente. * p < 0,05.
A respeito do devaneio mental excessivo, utilizando a MEWS como instrumento
mensuração, foi constatada uma redução do devaneio mental excessivo (W = 24.5, z =
1.775, p = 0.045, r = 0.750 [0.399]) entre o começo (mediana = 27, Q1 = 17, Q3 = 34) e
o fim do tratamento (mediana = 22, Q1 = 18, Q3 = 26) (Figura 4A). Além disso, foi
verificada uma correlação positiva entre os sintomas depressivos e o devaneio mental
ao longo do estudo (r = 0.82, p = 0.012) (Figura 4B).
Figura 4. A) Box plot do devaneio mental, medido pela MEWS (Mind Wandering
Excessively Scale), no começo (basal: mediana = 27, Q1 = 17, Q3 = 34)) e no fim do
tratamento (12ª semana: mediana= 22, Q1 = 18, Q3 = 26), utilizando o teste de postos
sinalizados de Wilcoxon (W = 24.5, z = 1.775, p = 0.045, r = 0.750 [0.399]). Cada ponto
refere-se a um paciente. * p < 0,05. B) Correlação de medidas repetidas entre os
sintomas depressivos e o devaneio mental ao longo do estudo (r = 0.82, p = 0.012).
Sobre a interocepção, utilizando a MAIA como ferramenta de medida, foi possível
observar que houve um aumento de seu escore (W = 1.000, z = -2.38, p = 0.008, r = -
0.944 [0.377]) entre o início do tratamento (mediana = 13.73, Q1 = 12.03, Q3 = 18.85)
e o seu final (mediana = 17.66, Q1 = 16.41, Q3 = 23.915) (Figura 5A). A análise de
correlação denotou uma relação inversa entre a interocepção e os sintomas
depressivos, no entanto, foi marginalmente significativa (r = -0.66, p = 0.054) (Figura
5B). Outra avaliação de correlação indicou uma relação inversa não significativa entre a
interocepção e o devaneio mental (r=-0,29, p=0,485) (Figura 6).
Figura 5. A) Box plot da interocepção, mensurada pela MAIA (Multidimensional
Assessment of Interoceptive Awareness), no começo (basal: mediana = 13.73, Q1 =
12.03, Q3 = 18.85) e no fim do tratamento (12ª semana: mediana = 17.66, Q1 = 16.41,

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Q3 = 23.915)), utilizando o teste de postos sinalizados de Wilcoxon (W = 1.000, z = -


2.38, p = 0.008, r = -0.944 [0.377]). Cada ponto refere-se a um paciente. * p < 0,05. B)
Correlação de medidas repetidas entre os sintomas depressivos e a interocepção ao
longo do estudo (r = -0.66, p = 0.054).
Figura 6. Correlação de medidas repetidas entre o devaneio mental (MEWS - Mind
Wandering Excessively Scale) e a interocepção (MAIA - Multidimensional Assessment
of Interoceptive Awareness) ao longo do estudo (r=-0,29, p=0,485).
A terapia complementar de yoga (12 semanas de duração), com o protocolo de
respiração yóguica Ujjayi, atuou significativamente na melhora do quadro depressivo.
Foi observada uma redução dos sintomas depressivos similar tanto em pacientes cujo
tratamento foi baseado exclusivamente na yogaterapia, quanto naqueles sob
farmacoterapia associada ao yoga durante a intervenção. Com relação ao devaneio
mental, foi verificada uma diminuição desse traço entre o começo e o final da
intervenção, que apresentou uma correlação significativa com a redução dos sintomas
depressivos. Considerando a interocepção, foi possível perceber um aumento dela
entre o início do tratamento e o seu final, que se correlacionou com a redução dos
sintomas depressivos, todavia, foi marginalmente significativa. Diante disso, é possível
perceber que as hipóteses estabelecidas pelo presente trabalho foram verificadas.
Primariamente, é importante destacar que, na literatura, já existem várias revisões
qualitativas mostrando evidências da eficácia do uso do yoga no tratamento da
depressão (CRAMER et Al., 2013; PILKINGTON et Al., 2005; UEBELACKER et Al., 2010).
No entanto, os resultados devem ser analisados de maneira cautelosa pelo fato de o
yoga ser um conjunto de práticas heterogêneas, com intervenções diversificadas, e as
descrições metodológicas existentes nas publicações serem vagas, o que impedem
conclusões mais bem delineadas e confiáveis, inclusive com análises quantitativas
(CRAMER et Al., 2013; PILKINGTON et Al., 2005; UEBELACKER et Al., 2010). Assim, faz-
se necessário mais ensaios clínicos que testem os diferentes protocolos de yoga de
forma específica, ou seja, com a separação de suas diversas práticas (pranayamas,
asanas e outras), como também em associação, além de publicações que detalhem
melhor o protocolo utilizado a fim de facilitar as análises por pares, até mesmo de
forma quantitativa (MEYER et Al., 2012). Foi nesse contexto, que esse estudo testou
especificamente a ação da respiração yóguica, o pranayama Ujjayi, na redução dos
sintomas depressivos e apontou um resultado satisfatório.
No mesmo sentido do nosso estudo, uma intervenção de pranayama, do tipo
Bhramaripranayama (respiração da abelha), aplicada on-line por 15 dias (20 minutos
por dia), durante o isolamento domiciliar da pandemia da COVID-19, com a supervisão
de instrutor de yoga, demonstrou impactos positivos na saúde mental dos sujeitos e na
qualidade de sono (JAGADEESAN et Al., 2022). Apesar das similaridades com a
pesquisa do presente trabalho, por envolver a prática de uma técnica de respiração de

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yoga em uma intervenção home-based, o estudo de Jagadeesan e colaboradores


(2022) não foca em pacientes com DM, que é o enfoque do presente estudo, e difere
no tempo de terapia, 15 dias, sendo bastante curto em comparação às 12 semanas do
Programa de Enfrentamento à Tristeza.
Já no contexto da depressão, alguns estudos vêm analisando os efeitos dos
pranayamas na diminuição da depressão e no aumento da resiliência em pacientes
com DM. Por exemplo, a intervenção do Anulomavilomapranayama (uma adaptação
do Nadishodhana pranayama, do Yoga Sutra de Patañjali), por um período de 6
semanas, induziu melhoria dos sintomas depressivos, avaliados antes e após o
tratamento pela escala BDI, bem como o aumento da resiliência (PRIYADARSINI e
ROHINI, 2017).
O pranayamaUjjayi, termo que significa "respiração vitoriosa", também é denominada
como respiração oceânica e, de acordo com Brown e Gerbarg (2005), fundamenta-se
em uma contração dos músculos laríngeos, diminuindo o espaço entre as pregas
vocais. O protocolo de Ujjayi do presente trabalho julga a respiração abdominal como
inerente à respiração oceânica, incluindo, em estágios de um ciclo completo, a
retenção de ar após a inspiração (antara kumbhaka) e a expiração (bahya kumbhaka).
A respiração abdominal consiste em uma dilatação do abdômen na inspiração e
retração na expiração, cuja prática deve ser lenta, profunda e fluida. Conforme
Grouven (2018), esta técnica é considerada como pré-requisito preparatório para a
realização de pranayamas, como o Ujjayi. A retenção voluntária de ar nos pulmões
após a inspiração (pode ou não estar incluso nos pranayamas) presumivelmente
promove o aumento do fluxo de sangue no cérebro, por causa da vasodilatação que é
motivada pelo incremento do dióxido de carbono (CAMPANELLI, TORT, LOBÃO-
SOARES, 2020). Poucos são os estudos com pacientes com depressão que analisam
isoladamente os efeitos dessa técnica sob os sintomas clínicos, similar ao protocolo
aplicado nesse estudo. Entretanto, esse tipo de respiração yóguica demonstrou, unida
a outras práticas de yoga, ser capaz de reduzir sintomas de depressão e ansiedade
(DORIA et Al., 2015), assim como consegue minimizar os níveis de estresse, ao
aumentar o controle do sistema nervoso parassimpático (MAHOUR e VERMA, 2017).
A interocepção está associada a uma grande diversidade de assuntos nos campos da
saúde mental, como: emoções negativas, dor, transtornos de ansiedade e transtornos
afetivos, como a depressão (Ceunen et Al., 2016; Domschke, Stevens, Pfleiderer, &
Gerlach, 2010; Paulus & Stein, 2010; apud MARMELEIRA e VEIGA, 2018). Segundo
Goodkind et Al. (2015), indivíduos com transtornos psiquiátricos (por exemplo, a
depressão, a ansiedade e transtornos alimentares), possuem uma baixa capacidade de
detecção, de análise e de resposta à sinais interoceptivos, ou seja, baixa atenção ao
corpo (GOODKIND et Al., 2015). Por outro lado, sujeitos em harmonia com seu sistema
interoceptivo são mais habilidosos em controlar reações emocionais e entender os

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eCICT 2023

sentimentos intrínsecos (Craig, 2015; Füstös, Gramann, Herbert, & Pollatos, 2013;
apud MARMELEIRA e VEIGA, 2018). A revisão de Khoury, Lutz e Schuman-Olivier (2018)
analisou 14 ensaios clínicos randomizados e controlados, a fim de verificar a eficácia de
intervenções interoceptivas para o tratamento de transtornos psiquiátricos, dentre
eles a depressão. Metade dos estudos (inclusive aquele acerca da depressão)
apresentou resultados positivos na melhora das medidas interoceptivas de autorrelato
e da sintomatologia dos transtornos (KHOURY, LUTZ e SCHUMAN-OLIVIER, 2018). No
presente estudo, foi observado que o tratamento de yoga auxiliou no aumento da
interocepção, a qual foi relacionada com a redução dos sintomas depressivos. Os
resultados obtidos na revisão de 2018 foram semelhantes aos nossos, apesar de o
nosso ser específico para a depressão e o outro, abordar estudos com diferentes
transtornos psiquiátricos; além disso, a pesquisa analisada na revisão que tratou
indivíduos com depressão utilizou uma terapia baseada na atenção plena e também
utilizou a escala MAIA para mensurar a atenção ao estado do corpo, de modo similar
ao proposto no âmbito do projeto de Enfrentamento à Tristeza.
Sob outra perspectiva, observamos, adicionalmente, uma redução do devaneio mental
em função da intervenção de yoga, a qual foi relacionada à redução dos sintomas
depressivos. Assim como van Vugt et Al. (2018), o presente estudo considera a
ruminação como um componente do MW, que se caracteriza por formação de
conteúdos negativos e natureza persistente (Smith and Alloy, 2009, apud Chaieb et Al.,
2022). Na mesma direção, o trabalho de Kinser et Al. (2013) avaliou a viabilidade e
aceitação de uma intervenção de yoga de 8 semanas (contando com sequências de
asanas, pranayamas, savasana e yoga nidra - meditação guiada) em mulheres com DM,
visando obter resultados acerca da ruminação. O estudo randomizado e controlado
contou com um grupo experimental de yoga e um grupo atenção-controle. A
diminuição dos sintomas depressivos ocorreu tanto no grupo de atenção-controle
quanto no grupo de yoga, porém o grupo de yoga foi o único com tendência de
redução da ruminação.
Outrossim, estudos apontam que a atenção plena pode auxiliar pacientes depressivos
a superar a depressão por meio da redução do devaneio mental, ou seja, da ruminação
(Teasdale et Al. 2000). Por este ângulo, a redução do devaneio mental, ou seja, a
mudança de pensamentos de forma espontânea, o deslocamento da atenção
constante, provavelmente também se relaciona ao aumento da interocepção. No
nosso estudo, a correlação encontrada entre a interocepção e o devaneio mental não
foi significativa, em contraste a estudos anteriores que apontam relação entre
devaneio e sensações corporais (Michael et al., 2017). Tal inconsistência pode ter
ocorrido devido ao tamanho da amostra insuficiente (n = 11).
Nesse sentido, vale ressaltar que o tamanho da amostra (n = 11) reduzido é um ponto
negativo para este estudo. Todavia é preciso reconhecer que, para serem mais

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eCICT 2023

acurados os critérios de inclusão, o presente estudo excluiu vários sujeitos elegíveis


por causa da ausência de episódios atuais da DM, por diagnóstico de transtornos
diferentes da depressão unipolar, pelo histórico de dependência de substância e falha
no tratamento com o antidepressivo utilizado pelo projeto.
Outro ponto relevante, em termos de limitações, foi o elevado índice de desistência
dos pacientes, cerca de 42%. Sabe-se da dificuldade de pacientes com DM em aderir às
terapias complementares, seja devido à anedonia (POTTER, W. Z. et Al., 1991, apud
WANNMACHER, 2004), bem como a falta de tempo na rotina para a dedicação a uma
terapia dessa categoria. Por essa razão que a terapia de yoga deste projeto foi
oferecida de forma on-line. Mesmo assim, e de modo contrário às nossas expectativas,
as desistências foram elevadas. O motivo mais citado entre os sujeitos desistentes foi
não conseguir encaixar as práticas na rotina, mas acreditamos que a anedonia seja
uma outra forte razão para esse abandono. Ademais, é necessário destacar que de
acordo com a metodologia de yoga adotada no tratamento de sujeitos com DM,
aqueles fisicamente desabilitados a executar posturas corporais podem sentir
desconforto, contudo as práticas podem ser adaptadas (UEBELACKER et Al., 2010).
Porém, em nosso estudo nenhum efeito adverso foi relatado, como fadiga e falta de ar
nos participantes de um estudo, portanto, não acreditamos que a metodologia da
intervenção tenha sido um fator decisivo na decisão dos indivíduos desistentes.

Conclusão

A intervenção de yoga baseada em um pranayama obteve resultados relevantes na


redução dos sintomas depressivos, o qual relacionou-se com o aumento da
interocepção (um traço importante da prática de yoga) e a redução do devaneio
mental (traço relativo à DM). Os sintomas depressivos apresentaram uma diminuição
similar nos pacientes tratados apenas com a yogaterapia e naqueles que foram
tratados com a terapia complementar associada à farmacoterapia. À respeito do
devaneio mental, foi percebida uma redução de seus níveis ao longo do estudo, além
de que esta variável apresentou uma correlação significativa com o decaimento dos
escores de sintomas depressivos. Outrossim, houve um aumento nos escores da
interocepção entre o início e o fim da intervenção, correlacionando-se inversamente
com os sintomas depressivos, porém foi marginalmente significativa. Diante do
exposto, com base nos resultados observados, sugere-se que novas pesquisas sejam
realizadas ampliando o número amostral, pois essas poderão facilitar a inclusão de
protocolos de respirações yóguicas (como o Ujjayi) nas Diretrizes da Associação
Médica Brasileira do protocolo como terapia complementar às terapias
medicamentosas para o tratamento da DM. Assim como, melhor avaliar a relação
tanto da interocepção e o devaneio mental entre si, quanto com os sintomas

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depressivos, no contexto de uma intervenção corpo-mente em sujeitos com DM.De


forma geral,, este estudo colabora para que as terapias complementares
fundamentadas em protocolos de respiração yóguica, como o Ujjayi, sejam adotadas
em tratamentos para pacientes com depressão maior, visto o custo relativamente
baixo de inserção e a ausência de efeitos adversos graves.

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Anexos

Figura 1. Desenho do estudo. PHQ-2 (Patient Health Questionnaire 2), MINI


(Minientrevista Neuropsiquiátrica Internacional), BDI-II (Beck's Depression Inventory
II), MAIA (Multidimensional Assessment of Interoceptive Awareness), MEWS (Mind
Wandering Excess

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Figura 2. CONSORT dos pacientes que chegaram ao grupo de yoga, mostrando os


indivíduos excluídos e os analisados.

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Figura 3. Box plot dos sintomas depressivos aferidos pela BDI-II (Beck's Depression
Inventory II) no início (basal = 32.20 2.65)) e no final do tratamento (12ª semana =
17.43 3.24)), utilizando o teste ANCOVA de medidas repetidas (F(1,9) = 17.93, p < 0

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Figura 4. A) Box plot do devaneio mental, medido pela MEWS (Mind Wandering
Excessively Scale), no começo (basal: mediana = 27, Q1 = 17, Q3 = 34)) e no fim do
tratamento (12ª semana: mediana= 22, Q1 = 18, Q3 = 26), utilizando o teste de postos
sinalizados

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Figura 5. A) Box plot da interocepção, mensurada pela MAIA (Multidimensional


Assessment of Interoceptive Awareness), no começo (basal: mediana = 13.73, Q1 =
12.03, Q3 = 18.85) e no fim do tratamento (12ª semana: mediana = 17.66, Q1 = 16.41,
Q3 = 23.915))

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Figura 6. Correlação de medidas repetidas entre o devaneio mental (MEWS - Mind


Wandering Excessively Scale) e a interocepção (MAIA - Multidimensional Assessment
of Interoceptive Awareness) ao longo do estudo (r=-0,29, p=0,485).

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CÓDIGO: SB0610

AUTOR: ANA KAROLINA DOS SANTOS SILVA

COAUTOR: IRMA CARVALHO E SILVA

ORIENTADOR: JULIANA DEO DIAS

TÍTULO: EFEITO DE TEMPERATURA E NUTRIENTES SOBRE O


ZOOPLÂNCTON ASSOCIADO À MACRÓFITA SUBMERSA

Resumo

A estrutura das comunidades aquáticas pode mudar devido ao aumento da


temperatura e da concentração de nutrientes dirigidos pelas mudanças climáticas.
Nesse sentido, realizamos um experimento no Laboratório de Experimentação
Aquática (LEXA) da UFRN com o objetivo de avaliar o efeito de dois níveis de
temperatura (ambiente - 27ºC e aquecido - 30°C), nutrientes (oligo e eutrófico) e dois
tipos de substrato (macrófita natural e artificial) sobre a densidade, biomassa, riqueza,
composição e tamanho médio corporal do zooplâncton associado à macrófita
submersa Egeria densa. O experimento foi realizado em aquários de 30L, teve 4
réplicas e duração de 65 dias. A amostra de zooplâncton foi obtida a partir da coleta de
1 L de água próximo às macrófitas aquáticas e filtragem em rede de plâncton de 68-
µm. Os organismos foram identificados, quantificados e medidos em microscópio
óptico. Utilizamos ANOVA e PERMANOVA para avaliar o efeito de temperatura,
nutrientes, substrato e interações sobre os atributos univariados e multivariados da
comunidade zooplanctônica, respectivamente. A temperatura foi o fator
preponderante, afetando negativamente a densidade (ANOVA, F = 11,86, p = 0,002),
riqueza de espécies (ANOVA, F = 6,194, p = 0,020) e composição ((ANOVA, F = 2,300, p
< 0,036), e positivamente, o tamanho do corpo (ANOVA, F = 8,178, p = 0,008). Esses
resultados nos permitem entender os efeitos das mudanças climáticas sobre a biota
aquática, especialmente no semiárido brasileiro.

Palavras-chave: aquecimento global. mudanças climáticas. experimento.


Egeria densa.

TITLE: EFFECT OF TEMPERATURE AND NUTRIENTS ON ZOOPLANKTON


ASSOCIATED WITH SUBMERGED MACROPHYTE

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Abstract

The structure of aquatic communities can change due to increases in temperature and
nutrient concentrations driven by climate change. With this in mind, we carried out an
experiment at UFRN's Aquatic Experimentation Laboratory (LEXA) with the aim of
evaluating the effect of two temperature levels (ambient - 27ºC and heated - 30°C),
nutrients (oligo and eutrophic) and two types of substrate (natural and artificial
macrophyte) on the density, biomass, richness, composition and average body size of
zooplankton associated with the submerged macrophyte Egeria densa. The experiment
was carried out in 30L aquariums, had 4 replicates and lasted 65 days. The zooplankton
sample was obtained by collecting 1L of water near the aquatic macrophytes and
filtering it through a 68-µm plankton net. The organisms were identified, quantified
and measured under an optical microscope. We used ANOVA and PERMANOVA to
evaluate the effect of temperature, nutrients, substrate and interactions on the
univariate and multivariate attributes of the zooplankton community, respectively.
Temperature was the predominant factor, negatively affecting density (ANOVA, F =
11.86, p = 0.002), species richness (ANOVA, F = 6.194, p = 0.020) and composition
(ANOVA, F = 2.300, p < 0.036), and positively, body size (ANOVA, F = 8.178, p = 0.008).
These results allow us to understand the effects of climate change on aquatic biota,
especially in the Brazilian semi-arid region.

Keywords: global warming. climate change. experiment. Egeria densa.

Introdução

As mudanças climáticas têm impactado muitos ecossistemas, bem como a subsistência


humana, mesmo que de forma assimétrica pelo planeta (IPCC, 2021; Meerhoff et al.,
2022). Os ecossistemas aquáticos continentais (e.g. rios, lagos e reservatórios) estão
entre os mais ameaçados pelas mudanças relacionadas ao clima, uma vez que
encontram-se fragmentados e isolados na paisagem terrestre e estão sujeitos a
numerosos estressores antropogênicos, que afetam diretamente as comunidades
biológicas que os compõem (Mckee et al., 2002; Jeppesen et al., 2009). Culminando à
perda de serviços ecossistêmicos essenciais para a população humana, como
abastecimento de água e irrigação (Moss et al., 2009; Meerhoff et al., 2012).
Dentre os efeitos das mudanças climáticas mais comumente descritos está o aumento da
temperatura. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima
(IPCC 2021) prevê um aumento de até 1,5ºC na temperatura global já para os próximos
20 anos se nada for feito para mitigar a emissão de gases do efeito estufa (IPCC, 2021).
O aquecimento global em curso pode alterar a estrutura e a dinâmica das comunidades
aquáticas de forma direta com o aumento da temperatura ou indiretamente através de
alterações no regime de precipitação, ciclagem de nutrientes e eutrofização (Jeppesen et

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al., 2009; Paerl & Paul, 2012; Meerhoff et al., 2012; Rasconi et al., 2015; Meerhoff et
al., 2022).
O zooplâncton tem importante papel nos ecossistemas aquáticos continentais, por serem
elo entre produtores primários e secundários e participarem ativamente da ciclagem de
matéria e energia nos ecossistemas (Litchman et al. 2013). Estudos têm mostrado que o
zooplâncton pode responder ao aumento da temperatura, principalmente com
diminuição da riqueza de espécies, sendo que os rotíferos e os pequenos cladóceros
parecem predominar em regiões de maiores temperaturas (Beisner et al., 1997; Brucet et
al., 2010; (Meerhoff et al., 2012, De Senerpont Domis et al., 2013). Além disso, o
aumento da temperatura pode acarretar em diminuição da estrutura de tamanho corporal
do zooplâncton (das Candeias et al., 2022; Brucet et al., 2010; Havens et al., 2015;
Gillooly, 2000) por afetar a taxa metabólica dos indivíduos (Brown et al., 2004).
Existe um feedback entre eutrofização e mudanças climáticas como resultado de
processos atuando em diferentes escalas espaciais e temporais (Meerhoff et al., 2022).
A eutrofização leva a uma redução da riqueza de zooplâncton e à dominância de grupos
mais tolerantes às condições ambientais adversas (de Melo et al., 2019; Duré et al.,
2021), além de também diminuir o tamanho corporal médio desses organismos (das
Candeias et al., 2022).
Quando associados a macrófitas aquáticas submersas, a riqueza de espécies e densidade
de zooplâncton registrada tem sido alta (e.g., Jeppesen et al., 1994, Schriver et al., 1995,
Padial et al., 2009), porque as macrófitas submersas nos ecossistemas de água doce
fornecem heterogeneidade de habitat, refúgio e recurso alimentar para o zooplâncton e
outros organismos que habitam esta região dos ecossistemas aquáticos (Carriel et al.,
2023; Portilla et al., 2022).
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar experimentalmente os efeitos da
temperatura, nutrientes e tipo de substrato sobre atributos da comunidade
zooplanctônica (riqueza, densidade, biomassa, tamanho corporal médio e composição)
associada a macrófita aquática submersa Egeria densa Planch. Nós esperamos que o
aumento da temperatura e da concentração de nutrientes leve a uma redução da riqueza
de espécies, densidade, biomassa e tamanho corporal médio do zooplâncton e promova
mudanças na composição de espécies. Considerando que tanto a macrófita aquática
natural quanto a artificial oferecem a mesma complexidade morfológica,
disponibilizando refúgio e recurso alimentar (epifíton) para o zooplâncton, espera-se
que não haja diferença dos atributos da comunidade zooplanctônica e na composição
entre o tipo de substrato.

Metodologia

Nós conduzimos um experimento em microcosmo (aquários de vidro com 40 cm altura


x 30 cm de profundidade e 30 cm de largura) no Laboratório de Experimentação
aquática (Lexa), situado no Departamento de Oceanografia e Limnologia (DOL) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no período de abril a junho de

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2022. O delineamento experimental foi do tipo fatorial com três tratamentos


(temperatura, nutrientes e tipo de substrato), com dois níveis (2x2x2) e quatro réplicas
cada, totalizando 32 unidades amostrais (Figura 1). Os níveis de temperatura utilizados
foram ambiente (27°C) e aquecido +3ºC (30°C) A temperatura ambiente foi definida
conforme a temperatura média do reservatório onde o material biológico foi amostrado
e a temperatura aquecida com base nos relatórios do IPCC 2021 para a região. Os níveis
de nutrientes considerados foram oligotrófico e eutrófico. Foram utilizados dois tipos de
substratos: macrófita submersa natural e artificial. A temperatura dos aquários foi
controlada através de banho maria com auxílio de piscinas plásticas, aquecedores
elétricos e termômetros.
O tratamento de nutrientes foi controlado pela adição de dosagens específicas de
solução padrão composta de Nitrato de Sódio e fosfato (3200 µg/L no total) de forma a
atingir as seguintes concentrações nos aquários: 160 µg/L de NO3- e 8 µg/L de PO4
(oligotrófico) e 1600 µg/L de NO3- e 80 µg/L de PO4 (eutrófico). Metade dos aquários
receberam 13 fragmentos de 20 cm da macrófita aquática Egeria densa Planch. e a outra
metade recebeu 9 fragmentos de 20 cm da macrófita artificial, com morfologia muito
semelhante a E. densa (Figura 2). A luz foi produzida por lâmpadas fluorescentes com
espectro semelhante a luz solar e fotoperíodo de 12:12 horas luz/escuro. Aeradores
foram utilizados em cada aquário.
O sedimento, a macrófita E. densa e o zooplâncton associado às macrófitas utilizados
para a montagem dos aquários foram coletados no reservatório Epitácio Pessoa,
município de Boqueirão-PB, região semiárida do Nordeste brasileiro. Antes de serem
plantadas nos aquários, as macrófitas aquáticas coletadas em campo foram lavadas em
água corrente utilizando escovas para retirar o biofilme. Os aquários foram preenchidos
com 30 litros de água da torneira desclorada. O inóculo de zooplâncton associado às
macrófitas foi obtido através da lavagem e raspagem das macrófitas aquáticas e,
posterior, distribuição do material em placas de petri (100 mm de diâmetro) mantidas
sob regime de luz artificial durante 21 dias para colonização. O inóculo de zooplâncton
associado às macrófitas também organismos autotróficos, uma vez que estes são a fonte
de alimento do zooplâncton. O inóculo foi adicionado aleatoriamente nos aquários. O
experimento foi mantido por 65 dias.
O zooplâncton associado às macrófitas foi coletado ao final do experimento através da
filtragem de 1 litro de água em rede de plâncton de 68 μm. Esta amostra de água foi
obtida bem próxima às macrófitas aquáticas em cada aquário, e posteriormente, fixada
em solução de formaldeído 4%, tamponado com carbonato de cálcio.
O zooplâncton foi identificado, quantificado e medido em microscópio óptico. As
espécies de rotíferos, cladóceros e copépodes foram identificadas por meio de
bibliografia especializada. Em sua maioria, as amostras foram integralmente
quantificadas. Quando necessária a análise de subamostras para as contagens,
quantificamos no mínimo 10% da amostra concentrada em 50 ml com auxílio de pipeta
do tipo Hensen-Stempel. A densidade foi expressa em ind L-1.O tamanho corporal
médio (µm) do zooplâncton em microscópio óptico, utilizando-se objetiva (magnitude
10x) com retículo micrométrico. As medições foram realizadas em pelo menos 20

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eCICT 2023

indivíduos de cada espécie por amostra. A biomassa do zooplâncton (µgPS L-1) foi
obtida pela multiplicação da densidade e do peso seco individual. Para rotíferos, o peso
seco individual foi obtido através do biovolume (Ruttner-Kolisko, 1977), enquanto para
os cladóceros e copépodes foi obtida através de regressões peso comprimento (Dumont
et al., 1975; Bottrell et al., 1976; Azevedo et al., 2012).

O efeito da temperatura (ambiente - 27°C e aquecido - 30°C), nutrientes (oligotrófico e


eutrófico), tipo de substrato (macrófita natural e artificial) e interação na riqueza de
espécies, densidade, biomassa e tamanho corporal médio do zooplâncton associado à E.
densa foram testados através de Análises de Variância (ANOVA) de três fatores. As
variáveis respostas (riqueza, densidade, biomassa e tamanho corporal médio) foram
testadas, previamente, quanto aos pressupostos de normalidade e homocedasticidade
através dos testes de Shapiro-Wilk e de Levene, respectivamente (Zuur, 2010). Os
dados de densidade e biomassa foram transformados em Log10 (x+1) para atender aos
pressupostos. As demais variáveis não precisaram ser logaritmizadas. O nível de
significância utilizado foi de p menor que 0,05.
O efeito dos tratamentos sobre a composição da comunidade zooplanctônica foi testado
através de Análise de Variância Permutacional Multivariada (PERMANOVA, Anderson
2001), usando a matriz de similaridade de Jaccard, com dados de presença e ausência
das espécies. Nós usamos a Análise de Coordenadas Principais (PCoA) para melhor
visualizar os resultados da PERMANOVA. O teste de espécies indicadoras (ISA, De
Cáceres e Legendre, 2009) foi utilizado para determinar um grupo de espécies que seja
característico de cada um dos tratamentos experimentais. Todas as análises estatísticas
foram realizadas no programa R (R Core Team, 2021), utilizando os pacotes: “vegan”
(Oksanen et al., 2016) para a ANOVA, teste Tukey, PERMANOVA e “indicspecies”
(De Cáceres e Legendre, 2009) para ISA.

Resultados e Discussões

Foram registradas 8 espécies de zooplâncton associado à macrófita Egeria densa, sendo


5 de rotíferos, 2 de cladóceros e 1 de copépode ciclopóide. A riqueza por amostra variou
entre 1 e 5 espécies, enquanto que a densidade total do zooplâncton foi de 6 a 423 ind
L-1. As espécies mais abundantes no experimento foram Plationus patulus (Müller,
1786) (rotífero), Dunhevedia odontoplax Sars, 1901 e Pseudosida bidentata Herrick,
1884 (ambos cladóceros). A biomassa total variou de 0,12 a 369 µgPS L-1, enquanto o
tamanho médio corporal variou de 108 a 502 µm.

A riqueza de espécies (F[1,23] = 6,194, p < 0,020), densidade total (F[1,23] = 11,860, p
< 0,002) e o tamanho médio individual (F[1,23] =8,178, p < 0,008) do zooplâncton
associado às macrófitas diferiu significativamente entre os tratamentos de temperatura
de acordo com os resultados da ANOVA (Tabela 1; Fig. 3). Entretanto, não foram

826
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eCICT 2023

observadas diferenças significativas nestes parâmetros entre os tratamentos de


nutrientes, tipo de substrato e a interação entre eles. A riqueza de espécies e a densidade
total do zooplâncton foi menor no tratamento de maior temperatura (30°C), enquanto o
tamanho corporal médio foi maior (Tukey, p < 0,05). A biomassa total do zooplâncton
não diferiu entre os tratamentos de temperatura, nutrientes, tipo de substrato e interação
(ANOVA, p > 0,05).
A temperatura teve um efeito significativo sobre a composição do zooplâncton
associada às macrófitas aquáticas (ANOVA, F[1,23] = 2,300, p < 0,036). A análise de
PCoA evidenciou a separação dos grupos pela temperatura usando dados de presença e
ausência. O eixo 1 da PCoA (28,9%) foi o que melhor demonstrou a diferença na
composição de espécies entre os tratamentos ambiente (27°C) e aquecido (30 °C) (Fig.
4).
A análise de espécies indicadoras a partir do teste ISA destacou o rotífero Keratella
tropica como espécie com alta especificidade (p<0.05), que ocorreu exclusivamente nos
tratamentos cuja temperatura foi mantida em 27ºC. Enquanto, os rotíferos Brachionus
falcatus e M. ventralis por apresenteram baixa ocorrência no experimento, foram
destacadas como espécies assimétricas, mas não indicadoras para os tratamentos.

Nossos resultados mostraram que a temperatura, mediada pelas previsões relacionadas a


mudanças climáticas, afetou significativamente o zooplâncton associado à macrófita E.
densa, sendo determinante para a riqueza, densidade, tamanho corporal médio e
composição de espécies. Conforme previsto nas hipóteses, foi observada uma
diminuição da riqueza e da densidade do zooplâncton. A temperatura influencia em
processos biológicos relacionados à fenologia e distribuição das espécies (Meerhoff et
al., 2012; Capon et al., 2021). Havens et al. (2015) identificaram que a riqueza diminui
com o aumento da temperatura. Observa-se assim que a longo prazo, temperaturas
elevadas podem alterar características-chave no funcionamento dos ecossistemas
aquáticos, favorecendo a homogeneização da comunidade zooplanctônica (Duré et al.,
2021), por causar redução no número de espécies.
Era esperada uma diminuição do tamanho corporal médio do zooplâncton com o
aumento da temperatura, conforme obtido em outros estudos (Gillooly & Dodson, 2000;
Arim et al., 2007; Forster et al., 2011; Brucet et al., 2010; Havens et al., 2015; Das
Candeias 2022; Mariani et al., 2023). Entretanto, nossos resultados foram distintos. A
temperatura pode diminuir o tempo de geração e favorecer a permanência de
organismos com crescimento mais rápido (Brucet et al., 2010; Bozinovic & Marquet,
2007). Havens et al. (2015) também observaram uma redução do tamanho médio do
zooplâncton com a temperatura. Ainda, constataram que cladóceros maiores estavam
presentes nos lagos frios da Groenlândia em torno de 12°C e os menores nos lagos
quentes da Flórida com temperatura de 30°C.

O aumento do tamanho corporal médio obtido em nosso estudo foi devido ao fato de
cladóceros da espécie Pseudosida bidentata (ambiente = 479 µm; aquecido = 809 µm),
náuplios (ambiente = 79 µm; aquecido = 169 µm) e copepoditos (ambiente = 191 µm;

827
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eCICT 2023

aquecido = 306 µm) terem quase dobrado de tamanho no tratamento aquecido, quando
comparado ao tratamento com temperatura ambiente. As demais espécies registradas
neste estudo apresentaram maior tamanho corporal médio no tratamento de temperatura
ambiente, conforme previsto em nossa hipótese. A diminuição do tamanho corporal
médio dos organismos com o aumento da temperatura, tem sido considerada como a
terceira resposta universal ao aquecimento global (Daufresne et. al., 2009; Gardner et
al., 2011; Woodward et al., 2010), juntamente com mudanças na distribuição geográfica
e na fenologia das espécies. Essa diminuição do tamanho corporal em função do
aumento da temperatura tem sido observada para várias comunidades de ecossistemas
aquáticos continentais (Daufresne e Boët, 2007; Daufresne et al. 2009; Mckee et al.,
2002; Yvon-Durocher et al., 2011). Portanto, apesar do tamanho médio da comunidade
ter aumentado com o aquecimento, devemos observar que quando analisamos em nível
de espécies, a grande maioria apresentou uma redução do tamanho corporal com o
aumento da temperatura. Além disso, o fato de ser observado um aumento do tamanho
do corpo e uma redução da densidade do zooplâncton no tratamento aquecido, fez com
que não fossem registradas diferenças na biomassa total.

A temperatura tornou distinta a composição de espécies entre os tratamentos, conforme


previsto em nossa hipótese. Esse resultado também coincide com outros estudos
realizados com zooplâncton (Beisner et al., 1997; Brucet et al., 2010; De Senerpont
Domis et al., 2013).
Era esperado, o efeito significativo dos nutrientes na comunidade zooplanctônica
associada à macrófita E. densa, visto que este efeito tinha sido demonstrado na literatura
(Šorf et al., 2015). Também havia sido registrada a predominância de cladóceros
menores em tratamentos com alto teor de nutrientes (Šorf et al., 2015). O
enriquecimento de nutrientes nos ecossistemas aquáticos pode afetar a composição e
diversidade zooplanctônica, levando a uma simplificação funcional da comunidade,
afetando, principalmente, espécies filtradoras menores (Duré et al., 2021). Entretanto,
não verificamos efeito dos nutrientes com outras variáveis na composição, biomassa
total e tamanho médio do zooplâncton associado à E. densa.

Os atributos da comunidade zooplanctônica não responderam quanto ao tipo de


substrato (macrófita natural e macrófita artificial), conforme previsto em nossa hipótese.
As macrófitas submersas abrigam uma diversidade enorme de organismos porque
oferecem maior número de recurso alimentar e refúgio (Carriel et al., 2023; Portilla et
al., 2022). Mas como no nosso estudo, a morfologia de ambas macrófitas eram
semelhantes, embora uma fosse artificial, não houve efeito significativo no zooplâncton.

Conclusão

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Concluímos com este estudo que o aumento da temperatura reduziu a riqueza de


espécies e densidade e a riqueza e aumentou o tamanho médio corporal do zooplâncton
associado à macrófita E. densa, independente da concentração de nutrientes ou do tipo
de substrato (macrófita natural ou artificial). Esses resultados são super importantes do
ponto de vista científico e nos ajudam a entender o efeito das mudanças climáticas sobre
a biota aquática da região tropical do planeta, especialmente no semiárido brasileiro
para que medidas sejam tomadas e evitem a perda de funções e serviços ecossistêmicos
nos ambientes aquáticos continentais.

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Anexos

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Figura 1. Experimento em Aquários no Laboratório de Experimentação Aquática (Lexa).

833
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eCICT 2023

Figura 2. Macrófita aquática submersa natural da espécie Egeria densa (a) e macrófita
submersa artificial (b).

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eCICT 2023

Fig. 3.Efeito da temperatura, nutrientes, tipo de substrato e interação na riqueza de


espécies (nº de espécies), densidade (log10 ind L-1), biomassa (log10 µgPS L-1) e
tamanho corporal médio (µm) do zooplâncton associado a macrófita Egeria densa.
Art= Mac

Tab 1. Resultados da ANOVA three-way para riqueza de espécies (nº de espécies),


densidade (log ind L-1), biomassa (log µgPS L-1) e tamanho corporal médio (µm) do

835
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zooplâncton associado.

Fig 4. Ordenação da composição de espécies pela Análise de Coordenadas Principais


(PCoA).

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CÓDIGO: SB0613

AUTOR: RAPHAEL VICTOR SILVA ANDRADE

COAUTOR: VALKLEIDSON SANTOS DE ARAUJO

COAUTOR: ARNOBIO ANTONIO DA SILVA JUNIOR

COAUTOR: RAFAELA ALCINDO SILVA

COAUTOR: AGNES ANDRADE MARTINS

COAUTOR: EDNALDO GOMES DO NASCIMENTO

ORIENTADOR: AURIGENA ANTUNES DE ARAUJO

TÍTULO: AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DO CIMENTO PORTLAND ASSOCIADO


AO NIÓBIO

Resumo

Este estudo avaliou a bioacompatibilidade subcutânea do Cimento Portland com


diferentes proporções de Óxido de Nióbio (Nb2O5). O Grupo Controle/GC (MTA,
Angelus®), Experimental/F6 (CP, Nb2O5 e CaSO4) e Experimental/F7 (CP, Bi2O3,
Nb2O5 e CaSO4) foram caracterizados através do modelo de biocompatibilidade
subcutânea. A amostra foi composta por cinco ratos wistas. Cada um dos 05 ratos
wistar recebeu quatro implantes contendo os cimentos estudados. Os cortes
histológicos foram corados com hematoxilina-eosina e avaliados por meio de luz
polarizada. Aos 60 dias, o grupo F6 apresentou vasos pequenos e dispersos células
inflamatórias mononucleares, pontuação de 2 (1-2, p<0,05). F7 e F6 apresentaram
birrefringência positiva à luz polarizada. Concluí-se que a utilização do Óxido de Nióbio
(Nb2O5) em associação com o Cimento Portland resultou no desenvolvimento de um
material biocompatível com o tecido subcutâneo de rato, com alta birrefringência para
cristais de calcio, evidenciando sua capacidade ósseo regenerativa.

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Palavras-chave: Agregado Trióxido Mineral; Nióbio; Cimento Portland;


Bioatividade

TITLE: BIOLOGICAL EVALUATION OF PORTLAND CEMENT ASSOCIATED


WITH NIOBIUM

Abstract

This study evaluated the subcutaneous biocompatibility of Portland Cement with


different proportions of Niobium Oxide (Nb2O5). The Control/GC (MTA, Angelus®),
Experimental/F6 (CP, Nb2O5 and CaSO4) and Experimental/F7 (CP, Bi2O3, Nb2O5 and
CaSO4) groups were characterized using the subcutaneous biocompatibility model.
The sample consisted of five Wista rats. Each of the 05 Wistar rats received four
implants containing the studied cements. Histological sections were stained with
hematoxylin-eosin and evaluated using polarized light. At 60 days, the F6 group had
small vessels and scattered mononuclear inflammatory cells, score 2 (1-2, p<0.05). F7
and F6 showed positive birefringence to polarized light. It was concluded that the use
of Niobium Oxide (Nb2O5) in association with Portland Cement resulted in the
development of a material that is biocompatible with the subcutaneous tissue of rats,
with high birefringence for calcium crystals, evidencing its regenerative bone capacity.

Keywords: Mineral Trioxide Aggregate; Niobium; Portland cement; Bioactivity

Introdução

O Agregado Trióxido Mineral, mais conhecido pela sigla MTA, é um material utilizado
para fins de reparo em Endodontia. Possui ampla aplicabilidade clínica, como em
perfuração, selamento, fraturas radiculares, capeamento pulpar, apicificação apical
plug-in, barreira coronal em revascularização e como material de preenchimento
radicular em cirurgias apicais [1-4].
O MTA tem boa biocompatibilidade e radiopacidade, facilita a regeneração do
ligamento periodontal e apresenta
baixa resposta inflamatória com boa capacidade de selamento, baixa solubilidade e
atividade antimicrobiana. É um material composto principalmente, por três
ingredientes em pó: 75% Cimento Portland (PC), 20% bismuto óxido (Bi2O3) e 5% de
gesso (CaSO4).
Embora apresente propriedades satisfatórias, alguns aspectos podem limitar o uso
deste material, como o alto custo, a baixa vazão, bem como a
presença de Bi2O3 , que reduz a resistência à compressão.

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A adição de Bi2O3 ao MTA prejudica algumas propriedades, como diminuição da


estabilidade, aumenta a porosidade do
cimento e causa manchas nos dentes, a longo prazo. Em relação à biocompatibilidade,
há evidências de que Bi2O3 inibe a proliferação celular na polpa dentária e no
ligamento periodontal.
Diversos estudos utilizam o PC como base para o desenvolvimento de novos cimentos,
uma vez que possui baixo custo e propriedades físicas, químicas e biológicas como o
MTA. No entanto, o cimento Portland não possue a radiopacidade ideal, sendo
necessária a adição de um radiopacificador para permitir seu uso clínico. Alguns
exemplos desses radiopacificadores são Tungstato de Cálcio (CaWO4 ),Óxido de
Zircônio (ZnO 2) e Óxido de Nióbio.
O Oxido de Nióbio (Nb2O5) é um metal de transição amplamente estudado. É
comumente utilizado em ligas de titânio para implantes osseointegráveis, pois
apresenta excelentes resultados tanto em propriedades físicas e quimicas, como otima
biocompatibilidade. Também contribuiu para a necessária radiopacidade quando
utilizados em cimentos endodônticos à base de metacrilato, além de aumentar a
resistência mecânica à corrosão e desintegração. O NbO5 tambem possui a capacidade
de formar hidroxiapatita em contato com os tecidos dentários. A literatura cita que o
Nb2O5 apresentou boa proliferação e migração de células-tronco da polpa dentária
quando usadas em cimentos endodônticos.
Desse modo, o presente estudo tem como objetivo avaliar a resposta inflamatória e
ósseo indutora de dois cimentos experimentais à base de cimento Portland e óxido de
nióbio em tecido subcutâneo de ratos, comparando-os ao MTA angelus.

Metodologia

O protocolo de pesquisa sobre uso de animais deste estudo foi autorizado pelo Comitê
de Éticade Pesquisa Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
(CEUA n°037/2021). Os experimentos foram realizados em cinco ratos machos adultos
Wistar (Rattus norvegicus albinus) pesando 200 a 250g. Os ratos foram mantidos em
gaiolas individuais de aço inoxidável sob ciclo claro-escuro 12:12, temperatura (22 ºC)
e umidade (55%) controladas com comida e água fornecidas.
Os tubos de polietileno (Abbot Lab. Do Brasil Ltda., São Paulo, SP, Brasil) de 10,0 mm
de comprimento e 1,6 mm de diâmetro, previamente esterilizados com óxido de
etileno, foram preenchidos com controle negativo/CN: tubos vazios; Controle positivo:
tubos com MTA; grupo F6; Grupo F7.
Imediatamente após a mistura dos materiais, os tubos de polietileno foram

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preenchidos e implantados no subcutâneo dorsal. Em cada rato foram colocados


quatro tubos de polietileno, preenchidos com diferentes materiais foram implantados
por via subcutânea.
Os animais foram anestesiados com injeção intraperitoneal de cetamina (80 mg/kg de
peso corporal) combinada com xilazina (4 mg/kg de peso corporal). A pele dorsal foi
raspada e desinfetados com solução de iodo a 5%. Posteriormente, foi feita uma
incisão de 20 mm de comprimento utilizando um bisturi (n° 15, Fibra Cirúrgica,
Joinville, SC, Brasil) e dois tubos de polietileno, cada um preenchido com um dos
materiais, foram colocados nas bolsas subcutâneas.
Após 60 dias do implante, os tubos envoltos por tecido conjuntivo foram removidos e
os espécimes foram processados para inclusão em parafina.
Os espécimes foram fixados por 48 horas à temperatura ambiente em formaldeído a
4% (preparado a partir de paraformaldeído) tamponado a pH 7,2 com fosfato de sódio
0,1 M.
Posteriormente, os espécimes foram desidratados em concentrações graduadas de
etanol, clarificados em xileno e embebido em parafina. Os fragmentos foram
seccionados com 5 µm de espessura através de o uso de micrótomo e histologia com
coloração de rotina por eosina-hematoxilina foi
realizado.
A análise foi realizada com microscópio óptico da Oral-dental Laboratório de Patologia
do Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e as
características histológicas pontuadas de 0 a 4 conforme informações abaixo
(adaptado de Cavalcante et al. 2011).
Os parâmetros histopatológicos foram determinados:
0. Tecido conjuntivo remodelado/sem inflamação
1. Fibrose + inflamação crônica leve
2. Fibrose + inflamação crônica moderada
3. Processo inflamatório crônico (tecido de granulação)
4. Processo agudo (vasos dilatados, infiltrado inflamatório misto com neutrófilos)
Os espécimes foram processados e embebidos em parafina e cortados em série em
seções de 5um de espessura para avaliação sob luz polarizada.
As propriedades ópticas dos cimentos no tecido biológico foram identificado por
Microscopia em Luz Polarizada, utilizando um microscópio de luz polarizada Leica DM
750 (Leica Microsystems®) equipado com uma câmera digital Leica EC3 e as imagens
processadas no software Leica Application Suite LAS EZ v1.6.0. As imagens foram
obtidas com ampliação de 50x, 100x e 200x.

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Os dados obtidos foram avaliados estatisticamente pelo teste de variância (ANOVA)


com Correção de Bonferroni com nível de significância de 5%.

Resultados e Discussões

O grupo controle negativo teve mediana de 0 (0-0,75), com segmento de pele


revestido por epitélio escamoso estratificado ortoqueratinizado sob o qual existe uma
derme representada por tecido conjuntivo denso mostrando apêndices cutâneos. Em
profundidade, há um adipócito e uma faixa de músculo esquelético (músculo da
mucosa) seguido por outra faixa de músculo moderadamente solto tecido conjuntivo
intercalado com pequenos vasos extáticos e mononucleares dispersos células
inflamatórias.

O grupo controle positivo teve uma mediana de 3 (2,25-3,0) segmento de pele


revestido por orto-epitélio escamoso estratificado queratinizado sob o qual existe uma
derme representada por tecido conjuntivo denso mostrando apêndices cutâneos. Em
profundidade, uma faixa de músculo esquelético desorganizado (músculo da mucosa)
é visto seguido por tecido conjuntivo moderadamente frouxo exibindo numerosos
vasos sanguíneos de calibre variado, alguns deles em êxtase, além de manchas
acastanhadas
material amorfo excitando resposta inflamatória predominantemente mononuclear e
áreas de extravasamento de glóbulos vermelhos. As diferenças foram estatisticamente
significativas quando comparadas com NC e F6 (p<0,05). Figura 4.

O grupo F6 apresentou pontuação mediana de 2 (1-2) Segmento de pele coberto por


orto-epitélio escamoso estratificado queratinizado sob o qual existe uma derme
representada por tecido conjuntivo denso mostrando apêndices cutâneos. No fundo,
abaixo da camada muscular, existe uma deposição densa de material amorfo
enegrecido associado a tecido conjuntivo escasso, onde podem ser observados alguns
pequenos vasos e células inflamatórias mononucleares dispersas. As diferenças foram
estatisticamente significativas quando comparadas com NC e F7 (p<0,05). Figura 4.

O grupo F7 apresentou pontuação mediana de 3 (2-3) Segmento de pele coberto por


epitélio escamoso estratificado ortoqueratinizado sob o qual há derme representada
por
tecido conjuntivo denso mostrando apêndices cutâneos. Em profundidade, abaixo da
camada muscular, vê-se tecido conjuntivo fibroso denso e espesso exibindo
proliferação de células fusiformes, numerosos pequenos vasos sanguíneos dilatados e

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infiltrado inflamatório mononuclear moderado. As diferenças foram estatisticamente


significativas quando comparadas com NC (p<0,05). Figura 4.

Na avaliação das amostrs através da microscopia de luz polarizada, foi possível


observar nas regiões implantadas com os cimentos MTA Angelus®, F6 e F7 a formação
de material mineralizado. A microscopia de luz polarizada é utilizada para observação
de estruturas birrefringentes (estruturas anisotrópicas como o osso), quando a luz
penetra nas substâncias minerais, sofre refrações possibilitando observar regiões
coradas nas escalas entre o violeta e vermelho, enquanto as regiões com ausência de
substância mineral permanecem escurecida (Halliday et al. 2016). Os tecidos expostos
aos cimentos MTA Angelus®, F6 e F7 apresentaram regiões com a presença de hábitos
cristalinos e birrefringência característicos de cristais de cálcio formados através da
combinação dos íons cálcio do material e o gás carbônico dos tecidos biológicos, fato
que evidencia possibilidade do material de formar tecido ósseo (Gomes-Filho et al.
2009; Benetti et al. 2019). Os grupos controle negativo, que foram implantados apenas
com o tubo de polietileno com nenhuma das formulações, não apresentou nenhuma
birrefringência ou características sugestivas de cristais de cálcio. Figura 5.

Conclusão

Concluí-se que a utilização do Óxido de Nióbio (Nb2O5) em associação com o Cimento


Portland resultou no desenvolvimento de um material biocompatível com o tecido
subcutâneo de rato, com relevante bioaceitação dos materiais em tecido subcutâneo e
alta birrefringência para cristais de calcio, evidenciando sua capacidade ósseo
regenerativa.

Referências

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Anexos

Figuras 5

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Figura 4

Figuras 1, 2 e 3

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CÓDIGO: SB0645

AUTOR: MARINA EDUARDA MENEZES DE LIMA

ORIENTADOR: DENISE MORAIS LOPES GALENO

TÍTULO: Efeitos de um programa de exercícios físicos sistematizados


direcionado para a saúde mental e qualidade do sono em tempos da pandemia
da COVID-19

Resumo

No cenário da pandemia da covid-19, muitos indivíduos ficaram expostos a uma


situação estressante sem precedentes de duração. Trata-se de um estudo longitudinal,
quantitativo e qualitativo, que utilizou questionários via google forms online,
respondido por 20 voluntários,50% eram do sexo feminino e 50% masculino, com
idade média de 24,6 ± 6,08 anos, residentes em Natal-Brasil.Os questionários Índice da
Qualidade de Sono de Pittsburgh, Escala de Percepção de Estresse-10 e Escala de
Ansiedade e Depressão, foram avaliados antes e após as práticas de intervenção entre
os voluntários do grupo Intervenção e Controle.O estudo revelou que, dos
participantes, 45% tiveram a Covid-19, cujo principais sintomas foram: dor de cabeça
(90,9%), coriza (63,6%),ansiedade (68%), estresse (62%) e preocupação (60%).Sobre o
sono, 54% afirmaram que a Pandemia da covid-19 afetou a qualidade do sono, tempo
para pegar no sono e tempo de sono por noite.Observou-se uma melhora de 30% da
qualidade do sono antes e após a intervenção 10,4±3,31 Vs. 8,7±1,95 (p<0,05). Foi
notório também para os questionários e ansiedade e depressão: para “só depressão”
no pré o percentual foi de 50%, no pós esse valor ficou nulo (p<0,05).O presente
estudo mostra que a prática de exercícios físicos sistematizados possui uma melhora
na percepção da qualidade do sono, depressão e ansiedade, sendo necessário que
esse estudo seja posto em prática com um número maior de voluntários e com um
prazo maior de aplicação.

Palavras-chave: Pandemia; Covid-19; Sono; Exercícios sistematizados.

TITLE: Effects of a systematic physical exercise program aimed at mental


health and sleep quality in times of the Covid-19 pandemic

Abstract

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In the scenario of the covid-19 pandemic, many individuals were exposed to a stressful
situation of unprecedented duration. This is a longitudinal, quantitative and qualitative
study, which used questionnaires via google forms online, answered by 20 volunteers,
50% female and 50% male, with a mean age of 24.6 ± 6.08 years, residents in Natal-
Brazil. The Pittsburgh Sleep Quality Index, Stress Perception Scale-10 and Anxiety and
Depression Scale questionnaires were evaluated before and after the intervention
practices among the volunteers of the Intervention and Control group. that, of the
participants, 45% had Covid-19, whose main symptoms were: headache (90.9%), runny
nose (63.6%), anxiety (68%), stress (62%) and worry ( 60%). Regarding sleep, 54%
stated that the Covid-19 Pandemic affected their sleep quality, time to fall asleep and
sleep time per night. after the intervention 10.4±3.31 Vs. 8.7±1.95 (p<0.05). It was also
notorious for the questionnaires and anxiety and depression: for “only depression” in
the pre the percentage was 50%, in the post this value was null (p<0.05). The present
study shows that the practice of systematic physical exercises has an improvement in
the perception of sleep quality, depression and anxiety, and this study needs to be put
into practice with a larger number of volunteers and with a longer period of
application.

Keywords: Pandemic; Covid-19; Sleep; Systematized exercises

Introdução

A pandemia covid-19 tem sido descrita como um dos maiores problemas de saúde
pública mundial das últimas décadas, ocasionando essas perturbações psicológicas e
sociais que afetam a capacidade de enfrentamento de toda a sociedade (“I Campinas I
37 I”, 2000).
Esse cenário da pandemia da covid-19 e o isolamento social também tem repercutido
no relativo aumento do sedentarismo e o risco aumentado de desenvolvimento de
várias doenças crônicas como obesidade e doenças cardiovasculares (JIMÉNEZ-PAVÓN,
CARBONELL-BAEZA, LAVIE, 2020), pois para muitas pessoas, o fechamento de
academias, dentre outros centros de treinamento pelas autoridades de saúde
competentes, impôs várias barreiras para a manutenção de um estilo de vida
fisicamente ativo (BERNADETE, [s.d.]).
Mesmo após a vacinação, a incerteza de contaminação ou reinfecção tem causado
enorme impactos físicos e sociais emocionais da população em geral, que passou a
apresentar sintomas como altos níveis de ansiedade, medo, insônia, solidão, pânico,
angústia, depressão e sentimento de abandono, que potencializam de forma negativa
a qualidade de vida e sono acarretando sérios prejuízos na saúde pública mundial
(CASAGRANDE et al., 2020).
O sono saudável pode ser um fator de proteção fundamental para lidar positivamente
com esses desafios, embora a oportunidade adequada de dormir possa ser afetada

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pelo aumento da pressão do tempo de trabalho, cuidados infantis e necessidades


domésticas (BROOKS, et al., 2020).
O isolamento social decorrente da pandemia da covid-19 tem impactado de forma
negativa na qualidade de vida e sono (CASAGRANDE et al., 2020). O sono compreende
aproximadamente um terço da vida e é uma função fisiológica essencial indispensável
à sobrevivência. O processo de envelhecimento produz alterações na arquitetura do
sono levando a uma redução de sono n3, aumento do número de despertares
noturnos, redução da qualidade e quantidade total de sono, o que explica a sonolência
diurna (GEIB et al., 2003).
Quinhones e gomes, (2011) relataram que tanto a latência como a capacidade de
manter o sono diminuem com a idade e se associa ao aumento da morbimortalidade,
saúde física e mental prejudicadas. A literatura científica traz evidências de prejuízos
de funcionamento cognitivo associados à privação de sono ao longo prazo (KRAUSE et
al., 2017).
Os benefícios do exercício estão associados à produção e ativação de muitos fatores de
sinalização e vias que contribuem para manter a homeostase neuronal (neurogênese,
angiogênese e sinaptogênese), causada por neurotrofinas e fatores de crescimento,
como o fator neurotrófico derivado do cérebro (bdnf), o fator 1 de crescimento
semelhante à insulina (igf-1), hormônios e segundos mensageiros (CASSILHAS et al.,
2016). A prática de atividade física tem sido amplamente recomendada como
abordagem para reduzir as consequências do distanciamento social durante a
pandemia da covid-19, principalmente devido ao seu potencial benefício relacionado à
imunidade, qualidade do sono, doenças crônicas e saúde mental (DA SILVEIRA et al.,
2020; JIMÉNEZ-PAVÓN, CARBONELL-BAEZA, LAVIE, 2020).
Ainda existe uma escassez de políticas públicas que ofertem serviços de lazer e de
saúde voltados para práticas de atividades físicas, principalmente para a população de
menor poder aquisitivo durante a pandemia da covid-19 (OLIZ, DUMITH, KNUTH,
2020).
Como objetivo geral, promover a prática de exercícios físicos sistematizados à
população da cidade de Natal/RN, com acompanhamento de profissionais de educação
física e fisioterapia, em um cenário de retomada gradual da interação social após o
pico da pandemia do COVID-19 Especificamente, observar e relatar se houve mudança
na qualidade do sono após as práticas da intervenção, associada a pontuação final do
PSQI, descrever se houve um resultado benéfico na latência do sono dos participantes
após as intervenções, comparar se após a intervenção os participantes obtiveram
mudanças na percepção de depressão e ansiedade.

Metodologia

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eCICT 2023

Trata-se de um estudo longitudinal, quantitativo e qualitativo, que utilizou


questionários via google forms online, respondido por voluntários com idade ≥ 18 anos
e residentes em Natal-Brasil, para conseguir dados e, assim, avaliar se houve
mudanças positivas no aspecto do sono e saúde mental após as atividades práticas
realizadas com o grupo intervenção.
As práticas de intervenção ocorreram na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), dentro do laboratório de aulas práticas de fisiologia, pertencente ao
departamento de Fisiologia e Comportamento (DFS-CB). A execução do projeto
ocorreu na pista de atletismo pertencente ao ginásio poliesportivo que atende as
demandas dos cursos de educação física e fisioterapia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), campus de Natal-RN.
A intervenção contou com a participação de 20 voluntários, 2 alunas de iniciação
científica, 1 profissional de Educação Física e 1 de Fisioterapia. Estiveram à frente da
construção do plano de trabalho, montagem e acompanhamento dos treinos,
avaliações físicas dos participantes os profissionais de Educação Física e Fisioterapia.
Foram excluídos participantes com sintomas de covid-19, ou qualquer outra condição
que incapacitava a prática de atividade física, bem como que apresentaram doenças
crônicas descompensadas, doenças psiquiátricas descompensadas e sem tratamento,
usuários de drogas e ainda aqueles que não concordaram em assinar o termo de
consentimento do estudo via plataforma Google forms.
No questionário para avaliar o sono, foi utilizado o Índice da qualidade do sono de
Pittsburgh (PSQI), o qual é composto por 9 questões, com pontuações de 0 a 3, sendo
considerado ponte de corte para distúrbio do sono a pontuação final >10 (BUYSSE et
al,1989).
Para avaliar os resultados acerca da saúde mental, foi utilizado o questionário Escala
de Percepção de Estresse-10 (EPS-10), composto por 10 questões, com pontuação de 0
a 4 (COHEN, S., KAMARCK, T., & MERMELSTEIN, R, 1983).
A classificação acerca da saúde mental, foi por meio do questionário da Escala
Hospitalar de Ansiedade e Depressão, o qual é formado por 14 questões, com
pontuação de 0 a 3 (ZIGMOND, SNAITH, 1983).
A coleta de dados foi minimamente invasiva, onde foram aplicados apenas
questionários e formulários validados sendo consideradas as observâncias éticas
contempladas na Resolução nº466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional
de Saúde. Também foram asseguradas a manutenção do caráter anônimo dos
participantes da pesquisa, a proteção de suas identidades e a liberdade de recusar a
participar ou retirar seu consentimento no decorrer do estudo. O projeto foi
submetido para o CEP-UFRN e aprovado sob o número 5.985.951. Para análise
bioestatística dos dados foram utilizados os testes t de Student para comparações
entre grupos ou dentro dos grupos (medidas repetidas) e correlação de Pearson no
programa STATISTICA versão 7.0.

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Resultados e Discussões

Os resultados referem-se a dados de uma amostra de 20 voluntários, da cidade de


Natal/RN. Dentre os participantes da amostra, 50% eram do sexo feminino e 50%
masculino, com idade média de 24,6 ± 6,08 anos. Para os dados antropométricos,
obteve-se uma média de peso 68,9 ± 13,88 kg, altura 1,65 ± 0,09 cm ; e Índice de
Massa Corporal (IMC) 25,0 ± 4,07 Kg/㎡.
O estudo revelou que, dos participantes, 45% tiveram a Covid-19, 55% apresentaram
sintomas, sem internações. Os sintomas mais relatados foram: dor de cabeça (90,9%),
coriza (63,6%), dor muscular (63,3%), tosse seca e dor na garganta (60%), febre (≥ 37,8
C°), (54,4%). De acordo com o questionário via Google Forms, os seguintes problemas
psicológicos relatados foram: ansiedade com destaque, apresentando 68%, seguido de
estresse 62% e preocupação com 60%. Sobre o sono, 54% afirmaram que a Pandemia
da covid-19 o afetou significativamente.
Para a duração do sono no grupo Intervenção a média Pré foi 6,1 ±1,12 horas de sono
por noite e no momento pós intervenção 7,3 ± 1,0. Assim, o grupo intervenção obteve
aumento da duração de sono após o processo de intervenção (p<0,05), enquanto para
o grupo controle a duração de sono não apresentou diferença nas etapas pré e pós
intervenção (Figura 1).
A qualidade do sono apresentou melhora na etapa Pós intervenção, de acordo com a
pontuação final do questionário (PSQI), entre os grupos controle e intervenção
(p<0,05), mas não houve diferença entre as etapas Pré e Pós em nenhum dos grupos.
(Figura 2). A média para Pontuação Final para o grupo intervenção Pré 10,4±3,31 Vs.
média Pós 8,7±1,95.
Para o aspecto da Latência - demorar mais de 30 minutos para pegar no sono - o grupo
intervenção, no momento Pré práticas apresentou média 2,2±0,8 Vs. 1,5±1,08 para
este aspecto acima citado. Na análise dentro do grupo intervenção mostrou que a
latência diminuiu na etapa Pós em relação a etapa Pré (p<0,05) (Figura 3). A média da
latência Pré para intervenção foi 3,0±0,8 Vs. 1,8±1,03 min.
No que se trata do estresse percebido, os voluntários do grupo Intervenção
apresentaram um percentual zero para a classificação “Alto estresse percebido” na pós
intervenção (Pré p>0,05) (Pós p>0,05). A média Pré para o grupo intervenção para o
estresse percebido foi de 19,35±4,30 e a Pós 19,7±2,02.
No questionário de Ansiedade e Depressão para o grupo Intervenção: no Pré
intervenção apresentou 50% dos voluntários com “ambos”, no momento Pós esse
percentual foi para 20%. Segundo a classificação do questionário Escala Hospitalar de
Ansiedade e Depressão, foi detectado o percentual de 50% para a classificação “só
ansiedade”, enquanto no pós esse percentual foi 10%. Os valores dos escores de

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ansiedade não apresentaram diferença entre grupos ou entre etapas (Figura 4).
Ansiedade houve diminuição em ambos os grupos, com incidência maior para grupo
intervenção no pré (p<0,05) e pós (p>0,05) (Figura 4). A média para ansiedade para o
grupo intervenção Pré 10,8 ± 0,83 Vs. média Pós 12,33± 1,52.
Segundo a classificação do questionário Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão
foi detectado o percentual de 50% para a classificação “só depressão”, enquanto no
pós esse percentual foi zero. Na etapa Pré, o grupo intervenção apresentou maior
escore para depressão que o grupo controle (Figura 5). Na comparação Pré e Pós o
grupo intervenção apresentou uma diminuição do escore de depressão (Figura 5). A
média para depressão para o grupo intervenção Pré 11,8±1,31 Vs. média Pós
6,18±5,03.Muitos estudos investigam os efeitos psicológicos do confinamento durante
a pandemia da covid-19, mas não usou questionários de sono específicos e se
concentrou principalmente no público exposto ou os que se contaminaram com o
próprio vírus.
Como critério avaliado na qualidade do sono, foi levado em consideração como cada
participante classificou seu sono, e sua percepção pré e pós as atividades de
intervenção. Observando o questionário PSQI para o grupo Intervenção: 30% dos
voluntários obtiveram mudança da classificação “Distúrbio do sono” para “Sono Ruim”.
Essa discussão possui semelhança com resultados encontrados no estudo “Atividade
física em todas as fases da vida e qualidade do sono na idade adulta”, em que os
adultos os quais realizaram atividade física em diferentes períodos da vida apresentou
melhor qualidade de sono, comparado aos que não tinham esse hábito (CANHIN et al.,
2021).
De acordo com um estudo "Exercício e sono", jovens com idade entre 19 e 20 anos, os
quais praticavam atividades físicas regularmente no horário do final da tarde (17:00 às
20:00), apresentavam uma latência do sono reduzida nos dias em que treinavam em
comparação com os dias em que não havia o treino (JOSÉ et al., 2001). Esse estudo
apresenta um grupo com média de idade semelhante ao nosso, e o resultado sobre
redução da latência do sono nos dias em que foi realizado o exercício físico, como
ocorreu com os voluntários do grupo intervenção, em que 40% passaram de "3x ou
mais por semana" para "1 ou 2x na semana”, levando menos tempo para conseguir
adormecer.
De acordo com um levantamento epidemiológico da prática de atividade física na
população geral da cidade de São Paulo com idade acima de 20 anos, de ambos os
sexos, as queixas de insônia e de sonolência excessiva eram maiores entre os
entrevistados que não realizavam atividade física regularmente (MELLO; FERNANDEZ;
TUFIK, 2000). Esse estudo possui faixa de idade semelhante e estão condizentes com
os resultados obtidos em que, no pós práticas, os voluntários do grupo Intervenção
40% mudaram de “3x ou mais por semana” para “1 ou 2x na semana” acerca de ter
menos dificuldades para ficar acordado(a) enquanto faziam refeições e atividades

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sociais, assim como em uma diminuição na frequência de vezes em que sentiu


problema relacionado a indisposição ou falta de entusiasmo para realizar as atividades
diárias. Serve como um reforço de que a prática de atividades físicas pode trazer
benefícios ao padrão do sono, reduzindo a tendência do surgimento de distúrbios do
sono.
No aspecto da saúde mental, no grupo intervenção para “só depressão” no pré o
percentual foi de 50%, no pós este percentual foi zerado, com nenhum voluntário se
considerando com depressão em isolado. Para “ansiedade e depressão”, no grupo
Intervenção esse percentual foi de 50% dos voluntários, no momento pós esse
percentual foi para 20%, com menos voluntários tendo concomitantemente ansiedade
e depressão.
No estudo “Benefícios da atividade física para saúde mental”, é apontado que os
indivíduos que estão efetivamente envolvidos em algum tipo de atividade física, estão
otimizando sua saúde mental na medida em que vão ao encontro de seu bem-estar, e
este é visivelmente percebido quando há uma melhora do humor e ânimo para o
desenvolvimento de suas atividades de vida diária; o pensamento se torna mais lógico,
crítico e criativo; e há mais agilidade nas respostas a estímulos internos e externos.
Todos esses fatores associados contribuem para uma melhor condição mental de
superação das crises e problemas do dia a dia (BRASIL; OLIVEIRA; AGUIAR, [s.d.]).
Pesquisas têm elucidado que a prática regular de atividade física é considerada o
padrão ouro de uma vida saudável, constituindo como uma abordagem não
farmacológica eficiente na prevenção e tratamento das doenças crônicas (DE SOUSA et
al., 2020; PEDERSEN, SALTIN, 2015), redução dos níveis de estresse, ansiedade e
depressão (JIMÉNEZ-PAVÓN, CARBONELL-BAEZA, LAVIE, 2020; VANCINI et al., 2017), e
melhorias nas funções cognitivas, memória e emoções (WRANN et al., 2013).
De acordo com o estudo “Prática de atividade física e o estresse: uma revisão
bibliográfica”, foi observado que, em geral, a prática de atividade física está associada/
relacionada à redução dos níveis de estresse em diferentes faixas etárias e por meio de
distintos tipos de atividade (SILVA; LEONÍDIO; FREITAS, 2015). Em conformidade a isto,
na Pré os voluntários do grupo Intervenção apresentaram um percentual nulo para
“Alto estresse percebido” na pós intervenção, sendo que no momento pré esse valor
chegou em 10%, implicando em menos voluntários com alto estresse e, por
consequência, melhor qualidade de vida.

Conclusão

Levando-se em consideração esses aspectos, o presente estudo se mostra de grande


valia para demonstrar que a prática de exercícios físicos sistematizados possui uma
melhora na percepção da qualidade do sono, estresse, depressão e ansiedade, tendo

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eCICT 2023

em vista os dados mostrados. No contexto da pandemia da COVID-19, em que todos


passaram por um longo período de isolamento social, um programa de atividades
físicas sistematizadas se mostrou útil para a adequação ao retorno das atividades
presenciais, promovendo integração e interação com segurança.
É importante ressaltar que é necessário que esse estudo seja posto em prática com um
número maior na amostra de voluntários e com um prazo maior de aplicação, para que
seja possível obter resultados mais precisos e efetivos e, assim, que seja confirmado os
achados desta pesquisa. Se faz urgente destacar também a necessidade da execução
das atividades práticas por profissionais da área para que montem os planos de ação e
possam orientar e coordenar a equipe de modo eficaz, como forma de proporcionar
um espaço seguro para os voluntários e todos os envolvidos.
Por fim, com a publicação dos resultados desse projeto, almejamos um caminho
importante para incentivar a criação e a implementação de políticas públicas, parcerias
com outros departamentos, órgãos públicos e projetos que envolvem ações de
inclusão social, responsabilidade social, tecnologia e inovação.

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Anexos

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Figura 5: Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão pré e pós para grupo controle e
intervenção. Fonte: própria, Natal/RN, 2023.

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Figura 4: Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão pré e pós para grupo controle e
intervenção. Fonte: própria, Natal/RN, 2023.

Figura 3: Latência do sono para grupo controle e intervenção. Fonte: própria,


Natal/RN, 2023.

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Figura 2: Qualidade do sono para grupo controle e intervenção. Fonte: própria,


Natal/RN, 2023.

Figura 1: Duração do sono (hrs) para grupo controle e intervenção. Fonte: própria,
Natal/RN, 2023.

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CÓDIGO: SB0649

AUTOR: LUCAS FELIPE DA SILVA SILVEIRA

COAUTOR: ANA ELIZABETH BONATO ASATO

ORIENTADOR: ADRIANO CALIMAN FERREIRA DA SILVA

TÍTULO: IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE PARA A MAGNITUDE E


ESTABILIDADE DO APORTE DE DETRITOS EM UMA FLORESTA SAZONAL

Resumo

A biodiversidade é apontada como um dos principais fatores condutores ao aumento


da eficácia dos ecossistemas, além de influenciar positivamente na estabilidade das
comunidades e negativamente na estabilidade das populações que a compõe. Neste
trabalho nós testamos a importância da biodiversidade, representada pela riqueza
taxonômica e pela diversidade filogenética, para a magnitude e estabilidade do aporte
de detritos vegetais à nível de população e comunidade em um fragmento florestal de
Restinga no Rio Grande do Norte. Foram realizadas 10 coletas, de janeiro a outubro de
2016 em 41 parcelas. A riqueza taxonômica e a diversidade filogenética das parcelas
foram calculadas com base no detrito coletado, e não na vegetação viva do local. Para
as análises estatísticas, foram utilizadas regressões simples e o critério de seleção de
modelos de Akaike (AIC), utilizando as variáveis de diversidade já citadas, além da
abertura do dossel das parcelas, área basal total populacional, e variáveis edáficas
abióticas .
Os resultados obtidos neste trabalho, portanto, podem indicar que, de fato, ambientes
com alta sazonalidade, como as Restingas, fazem pouco uso de mecanismos de
complementariedade de nicho, que seria a base para a maior parte das explicações das
relações Diversidade-Produtividade e Diversidade-Estabilidade.
É importante entender que são resultados preliminares de um projeto de longa
duração, que ficam mais claros com o aumento do número de coletas para análise.

Palavras-chave: História evolutiva;dinâmica temporal;funcionamento de


ecossistemas.

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TITLE: IMPORTANCE OF DIVERSITY FOR THE MAGNITUDE AND


STABILITY OF DEBRIS INTRODUCTION IN A SEASONAL FOREST

Abstract

Biodiversity is identified as one of the main driving factors for increasing the
effectiveness of ecosystems, in addition to positively influencing the stability of
communities and negatively influencing the stability of the populations that compose
it. In this work we tested the importance of biodiversity, represented by taxonomic
richness and phylogenetic diversity, for the magnitude and stability of the input of
plant debris at population and community level in a forest fragment of Restinga in Rio
Grande do Norte.Ten collections were carried out from January to October 2016 in 41
plots. The taxonomic richness and phylogenetic diversity of the plots were calculated
based on the collected detritus, and not on the living vegetation of the site. For the
statistical analyses, simple regressions and the Akaike model selection
criterion(AIC)were used,using the already mentioned diversity variables,in addition to
the opening of the canopy of the plots, total basal area of the population, and abiotic
edaphic variables.
The results obtained in this work, therefore, may indicate that, in fact,environments
with high seasonality, such as the Restingas,make little use of niche complementarity
mechanisms,which would be the basis for most explanations of the Diversity-
Productivity relationships and Diversity-Stability.
It is important to understand that these are preliminary results of a long-term project,
which become clearer with the increase in the number of collections for analysis.

Keywords: Evolutionary history; temporal dynamics; functioning of ecosystems.

Introdução

A crescente perda de biodiversidade tem trazido à tona a importância da investigação


do papel da biodiversidade no funcionamento dos ecossistemas, bem como a
investigação das consequências da perda da diversidade biológica (DUFFY; GODWIN;
CARDINALE, 2017; LOREAU, 2001; SRIVASTAVA et al., 2012), principalmente nas
últimos 30 anos. Nesse sentido, a investigação da relação entre biodiversidade e
funcionamento de ecossistemas busca investigar a influência da diversidade biológica
contida nas comunidades sobre a performance e estabilidade de uma ou várias
funções dos ecossistemas (LOREAU, 2001). Para isso, têm sido utilizados
dominantemente organismos pequenos com curtos ciclos de vida, tais como algas

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(CORCORAN; BOEING, 2012; ZHANG; ZHANG, 2006) e bactérias (GALAND; SALTER;


KALENITCHENKO, 2015), ou ainda comunidades vegetais, predominantemente
gramíneas (CALIMAN et al., 2010).
Estudos diversos constatam a relação positiva entre a diversidade e a magnitude da
produção de biomassa (CARDINALE et al., 2006; HOOPER et al., 2012); ou seja, a
diversidade seria um dos fatores responsáveis pela alta produtividade das
comunidades. Existem dois grupos principais de mecanismos explicativos para esta
relação. O primeiro deles é o efeito de seleção, que assegura a produtividade por meio
da maior probabilidade da presença de espécies altamente produtivas, sendo estas
funcionalmente dominantes dentro da comunidade, à medida que a diversidade
aumenta (HUSTON, 1997; WARDLE; BOX; ZEALAND, 2012). O segundo grupo de
mecanismos abrange os efeitos de complementariedade que por sua vez se dividem
em partição de nicho e facilitação, os quais predizem que comunidades com mais
espécies são mais eficientes em utilizar a totalidade de recursos disponíveis no
ambiente via partição de recursos ou através da melhoria nas condições abióticas,
respectivamente, fazendo com que os recursos sejam usados mais eficientemente,
culminando no aumento da magnitude da produtividade (CARDINALE; PALMER;
COLLINS, 2002; LOREAU; HECTOR, 2001).
O presente trabalho teve como objetivo geral investigar a importância da
biodiversidade da vegetação em diferentes facetas (taxonômica e filogenética), frente
a demais variáveis ambientais e da estrutura da comunidade vegetal, sobre a
magnitude e a variabilidade temporal do aporte de detritos vegetais no solo em um
fragmento natural de mata de Restinga em Parnamirim/RN.
i) investigar se a riqueza de espécies e a diversidade filogenética, têm influência sobre
a magnitude do aporte de detritos em ambiente natural; ii) investigar se a riqueza de
espécies e a diversidade filogenética têm influência sobre a variabilidade temporal do
aporte de detritos em ambiente natural, tanto à nível populacional quanto de
comunidade; iii) determinar qual faceta da diversidade, taxonômica ou filogenética
melhor explica essas relações.
Hipóteses e predições
i) comunidades com maiores valores de riqueza e diversidade filogenética terão a
magnitude do aporte significativamente maiores em comparação às comunidades com
menores valores de riqueza de espécies e diversidade filogenética; ii) a riqueza e a
diversidade filogenética da vegetação irão estabilizar (i.e. reduzir a variabilidade
temporal) o aporte de serapilheira da comunidade ao longo do tempo;iii) tais efeitos
da riqueza e diversidade filogenética sobre a estabilidade serão opostos (i.e.
aumentarão a variabilidade temporal do aporte de serrapilheira) a nível de
populações. iv) a diversidade filogenética terá maior capacidade explicativa dos
padrões encontrados em comparação à riqueza taxonômica.O estresse ambiental
seleciona as espécies com maior tolerância ás condições árduas do ambiente, é fato

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eCICT 2023

que através de experimentos que o solo fértil é consequência da diversidade. Por isso
é plausível que a fertilidade do solo seja afetada pelas mudanças na diversidade das
comunidades, aumentando a importância da diversidade para o funcionamento do
ecossistema, este trabalho destaca a importância da investigação.

Metodologia

Área de estudo
O estudo foi realizado em uma área de restinga majoritariamente arbórea, localizada
no Centro de Lançamento Barreira do Inferno (CLBI) (5º54’ S, 35º10’ W), área militar
estabelecida no município de Parnamirim/RN, situada no litoral do Estado do Rio
Grande do Norte. Na região predomina clima tropical com estação seca que varia entre
3 e 9 meses anuais e período chuvoso com precipitação anual em torno de 1700 mm
(INMET, 2017). Para o ano de 2016, o período chuvoso concentrou-se entre os meses
de março a junho, enquanto o período de seca estendeu-se pelo resto do ano.
Desenho amostral e coleta de dados
A área de estudo foi dividida em três regiões: norte, com três transectos; sul, com
quatro transectos; e oeste, com dois transectos. Cada transecto tem uma extensão de
100 m e possui 5 parcelas – com exceção de dois dos transectos na zona sul –.
totalizando 41 parcelas para a realização do estudo.
As parcelas são delimitadas apenas por 4 estacas – uma em cada vértice – não
impedindo, assim, o trânsito de material. Neste trabalho, cada parcela será analisada
individualmente como uma comunidade local.(Figura 1)
Cada parcela possui 6 coletores,sendo 4 deles distribuídos próximos aos seus vértices,
1 localizado centralmente e um último alocado de maneira assistemática dentro da
parcela. O material (folhas, galhos, frutos, sementes e flores) depositado nos coletores
foi recolhido mensalmente e secado em estufa a 40 ºC durante 48 horas. Em
laboratório, o material foi triado e apenas as folhas separadas ao nível de espécie.
Todo material foi em seguida pesado (com precisão de três casas decimais). Pela
impossibilidade de se identificar a taxonomia do detrito referente a outros órgãos
vegetais (galhos, flores e etc..) e pelo fato do detrito foliar contribuir com a maior
parte do aporte de detritos à serapilheira (ZALAMEA; GONZÁLEZ, 2008), neste trabalho
apenas os dados de aporte foliar foram utilizados.
Neste trabalho foram utilizados dados acumulados durante o período de janeiro a
outubro de 2016, totalizando 10 meses de amostragem, período que compreendeu
tanto épocas de estiagem quanto de chuva.Dados ambientais, como as concentrações
de nitrogênio e fósforo no solo, e algumas variáveis de estrutura física da vegetação,
como área basal e porcentagem de cobertura do dossel, foram incorporados nas

862
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análises, com valores estimados por parcela.


Como as coletas aconteceram uma vez a cada mês e considerando que grande parte
da decomposição acontece nas primeiras semanas após a queda do detrito e posterior
lixiviação, a quantificação do aporte é certamente subestimada em casos onde as
amostragens ultrapassem um prazo de duas semanas.Este aspecto é certamente mais
problemático para ambientes úmidos onde a maior precipitação contribui bastante
para o processo de lixiviação do detrito contido nos coletores. Entretanto, este aspecto
é provavelmente de menor relevância para estudos desta natureza em florestas
estacionais secas, tais como a deste estudo, pois nestes casos a maior parte do aporte
de folhas ocorre durante a estação seca, período no qual os efeitos da lixiviação são
bem menores. Ainda assim, a fim de estimar com maior exatidão os aportes para cada
espécie e para comunidade como um todo, foram instalados litterbags contendo 3
gramas de detrito foliar de cada espécie dentro de inúmeros coletores distribuídos ao
longo de várias parcelas na área de estudo, para aferir e taxa de decomposição por
espécie, em duas ocasiões (seca e chuva).
Passado um mês da instalação os litterbags foram retirados do campo e, em
laboratório, o material foi colocado em estufa e pesado, seguindo a metodologia já
mencionada. Desta forma a taxa de decomposição de cada espécie dentro dos
coletores foi estimada, sendo sua constante de decaimento (k) utilizada para corrigir as
perdas de massa dos detritos por lixiviação dentro dos coletores. Esta estimativa de
perda de massa por espécie leva em conta tanto a velocidade de decomposição da
espécie quanto também o tempo em que o detrito ficou no coletor. Como não temos
como controlar a taxa diária de queda de detritos de cada espécie nos coletores,
podendo parte dos detritos terem caído nos coletores no início do período de coleta e
outra parte próximo ao dia da coleta, para o cálculo médio da perda de massa por
espécie nós assumimos que o detrito passou um tempo médio decompondo em torno
de 50% do período de tempo utilizado para calcular o aporte mensal da espécie.
Análises estatísticas
Para quantificar os efeitos da riqueza de espécies, diversidade filogenética e das
variáveis relacionadas a cobertura vegetal e disponibilidade de recursos na magnitude
do aporte de detritos e na sua estabilidade temporal a nível de populações e
comunidade, foram utilizadas uma série de regressões lineares simples. Os dados de
magnitude do aporte, área basal e diversidade filogenética foram transformados para
atingir os pressupostos das análises.O conjunto de variáveis independentes utilizado
(riqueza de espécies, diversidade filogenética, área basal da comunidade, abertura do
dossel, concentração de N e P do solo) são todas qw variáveis que podem apresentar
considerável variação espacial em sistemas florestais e possuem reconhecida
importância em determinar a variação de valores de magnitude e estabilidade do
aporte de detritos e, portanto, compuseram a lista de potenciais variáveis
explanatórias a serem exploradas em nosso estudo.

863
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As análises de seleção de modelos foram realizadas utilizando o software SAM versão


4.0 (RANGEL; DINIZ-FILHO; BINI, 2010).

Resultados e Discussões

Resultados
Magnitude do aporte
A magnitude do aporte apresentou visíveis variações temporais e espaciais, embora a
variação temporal seja mais perceptível (Apêndice D). A média mensal mais alta de
aporte de detritos aconteceu no mês de janeiro (80,32 Kg.h-1 .ano-1 ). Os meses com
menores valores de aporte registrados foram maio (8,19 Kg.h-1 .ano-1 )e setembro
(8,30 Kg.h-1 .ano-1 ),com a queda de folhas voltando a crescer no mês de
outubro(46,68 Kg.h-1 .ano-1).Em relação à variação espacial do aporte de detritos, o
menor valor médio de aporte foi de 20,65 Kg.h-1 .ano-1 (parcela 72), enquanto o
maior foi de 52,43 Kg.h-1 .ano-1.(Tabela 1)
O modelo mais plausível para explicar a magnitude do aporte levou em consideração
apenas a porcentagem de abertura do dossel (4) e a concentração de nitrogênio no
solo (6) (r² = 0,38, Tabela 1). A porcentagem de abertura do dossel aparece em quase
todos os modelos explicitados na Tabela 1 e é ela quem apresenta relação mais forte
(negativa) com a magnitude do aporte (r² = 0,33, Figura 2D). A concentração de
nitrogênio no solo, por sua vez, apresenta relação positiva com a magnitude do aporte
(Figura 2E, r2 = 0,16).(Figura 2)
Apesar disso, a diversidade se mostrou uma importante variável para a estruturação
física da vegetação. Em relação à área basal total da comunidade, o critério de seleção
de modelos de Akaike indicou como melhor modelo (AICc) o conjunto da riqueza
taxonômica (1) e a concentração de nitrogênio no solo (4) (Tabela 2). A riqueza de
espécies e a concentração de nitrogênio foram as únicas variáveis explanatórias que
mostraram alguma relação, apesar de singelas, com a área basal (Figura 3A e 3C). A
diversidade filogenética e a concentração de fósforo no solo não apresentaram relação
com a variável resposta em questão (Figura 3B e 3D).(Figura 3)
Já com relação à porcentagem de cobertura do dossel das comunidades, a riqueza não
aparece no melhor modelo, sendo a concentração de nitrogênio a única variável
selecionada no melhor modelo (r² = 0,12, Tabela 3). A abertura do dossel tendeu a
diminuir com o aumento da concentração de nitrogênio no solo (Tabela 3). A
importância da diversidade sobre a estrutura física da vegetação pode revelar uma
importância indireta da diversidade sobre a magnitude do aporte, visto que há
importância direta da estrutura da vegetação sobre o aporte.(Tabela 2 e 3 ) e (Figura 4)
Estabilidade temporal do aporte a nível de comunidade

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(Tabela 4)
O melhor modelo para explicar a estabilidade do aporte de detritos a nível de
comunidade incluiu a área basal total (3) e a porcentagem de abertura do dossel (4),
de acordo com o os resultados do AIC (Tabela 4) embora a força das relações tenha
sido muito fraca (Figura 5C e 5D). A diversidade filogenética (2) surge no segundo
melhor modelo e a riqueza taxonômica (1) no terceiro (Δ AIC), ambos juntamente com
as variáveis 3 e 4, porém adicionando pouca explicação aos resultados dos modelos
anteriores. É importante evidenciar que a força das relações (r²) em quaisquer
modelos está sempre abaixo de 20%, indicando pequena importância das variáveis
explanatórias selecionadas sobre a estabilidade do aporte a 21 nível de comunidade.
Além disso, os baixos valores de w1/wi para o segundo e o terceiro modelo mostram
um alto nível de incerteza na escolha do melhor modelo (2.322 e 2.845).
Discussão
De forma geral a riqueza de espécies e a diversidade filogenética apresentaram pouca
importância para os padrões de aporte de detritos foliares observados, dando pouco
suporte para a nossa primeira hipótese. Variáveis relacionadas ao porte e cobertura da
vegetação, como a área basal e abertura do dossel, bem como variáveis relacionadas a
fertilidade do solo, como a concentração de nitrogênio, foram mais importantes para
explicar os padrões de magnitude do aporte observados. Em relação aos padrões de
estabilidade temporal do aporte de detritos, nenhuma das variáveis explanatórias,
incluindo a riqueza de espécies e a diversidade filogenética, apresentaram-se
relevantes para a determinação dos valores de estabilidade a nível de comunidade
(Hipótese ii). Entretanto, a riqueza de espécies foi uma importante variável
explanatória para prever a variabilidade temporal do aporte a nível populacional,
conforme previsto (Hipótese iii), tendo o aumento da riqueza levado a um consistente
aumento da variabilidade temporal (i.e. diminuição da estabilidade) do aporte a nível
populacional. Finalmente, oposto ao previsto por nossa hipótese iv, a riqueza
taxonômica se mostrou mais explicativa para as variáveis resposta analisadas do que a
diversidade filogenética. De forma geral nossos resultados apontam para uma limitada,
embora existente, importância de variáveis relacionadas a biodiversidade na
explicação de padrões relacionados a magnitude e estabilidade de processos
ecossistêmicos, um padrão que corrobora parcialmente resultados encontrados em
estudos de observação a respeito do tema, desenvolvidos em comunidade naturais
(HUANG et al., 2017; LIANG et al., 2016; MORIN et al., 2014; PAQUETTE; MESSIER,
2011). A hipótese ii, que aborda o efeito positivo da diversidade sobre a estabilidade
tempora l do aporte de detritos foi baseada na relação existente entre a quantidade de
espécies e a quantidade de estratégias ecológicas utilizadas pelas espécies que
coocorrem, tendo em vista a história evolutiva e a evitação de competição (CADOTTE;
DAVIES; PERES-NETO, 2017). É esperado que com o aumento da diversidade local, as
espécies que ali ocorrem tendam à especialização de nicho e se utilizem de estratégias

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diferentes de obtenção de recursos e manutenção do balanço hídrico. Isso pode ser


traduzido, por exemplo, na coocorrência de espécies decíduas, semi-decíduas e
perenes, que possuem padrões fenológicos diferentes. O resultado é um padrão de
compensação das dinâmicas temporais entre as espécies (i.e. enquanto uma espécie
perde folhas em um período do ano, outra espécie perde suas folhas em outro período
e, ainda, uma terceira espécie apresentaria queda de folhas continuamente durante o
ano), como já observado em relação á padrões fenológicos de floração (DAVIES et al.,
2013; PARRISH; BAZZAZ, 1979). O efeito negativo da riqueza sobre a estabilidade
temporal de aporte nas populações foi observado. Entretanto, isso não foi traduzido
em efeitos estabilizadores à nível da comunidade. Provavelmente, esta ausência de
efeito decorre do forte padrão de sincronia no aporte causado pelo clima. Ambientes
fortemente sazonais, com estação seca bem marcada, apresentam dinâmica temporal
de queda de folhas diferente daquela em florestas pouco sazonais ou mesmo
assazonais. A estação seca em ambientes sazonais funciona como pressão ambiental,
forçando as espécies a reagirem quase sempre da mesma maneira (ZALAMEA;
GONZÁLEZ, 2008). Sendo assim, a assincronia populacional esperada nas dinâmicas
temporais das espécies dentro de uma comunidade é quase inexistente (ver Figura
4A). Como a dinâmica temporal das comunidades é consequência das respostas
indivíduas das populações que a compõem, e estas, por sua vez, respondem de
maneira similar quando submetidas às mesmas pressões, o aumento da diversidade
não contribui para o aumento da estabilidade. Nesse sentido, pode-se pensar que a
sazonalidade na Restinga potiguar, sob uma perspectiva fenológica, é forte o suficiente
para compelir as árvores a produzir e se desfazer de suas folhas no mesmo período,
em notável sincronia (Apêndice D), mesmo que sob uma perspectiva morfofisiológica
as condições não sejam consideradas tão severas (SILVA et al., 2017). Nossos
resultados, de maneira contrária à muitas evidências, indicaram a pouca importância
da diversidade filogenética, sendo a riqueza a variável relacionada a diversidade mais
importante. É possível que a sazonalidade tenha grande influência neste resultado,
pois esta pode ser traduzida em outro conceito: estresse. Ambientes estressantes
possuem padrões de estruturação diferentes de ambientes agradáveis. O estresse
ambiental, representado geralmente por filtros como temperaturas muito elevadas e
falta de água, tende a selecionar positivamente espécies com atributos mais
relacionados à tolerância às condições árduas impostas pelo ambiente, ao passo em
que os ambientes com menor estresse tendem a favorecer atributos que elevam a
competitividade do indivíduo (CORNWELL et al., 2006) As Restingas podem ser
classificadas como ambientes estressantes, em função das altas temperaturas, alta
salinidade e baixa pluviosidade (SCARANO, 2002). Dessa forma, se adotarmos como
premissa que espécies filogeneticamente mais aparentadas possuem maior
quantidade de características conservadas (LI et al., 2016) as comunidades da nossa
área de estudo tendem a ser compostas majoritariamente por espécies

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filogeneticamente próximas, onde os atributos que permitem a sobrevivência dessas


espécies neste ambiente são conservados. Entretanto, a diversidade filogenética
incorpora traços funcionais não capturados pela riqueza taxonômica, e é uma surpresa
que a sua importância e explicabilidade para os padrões encontrados seja menor que a
importância e explicabilidade da riqueza (Hipótese iv). Uma possível explicação seria
que os filtros ambientais impostos levem espécies pouco próximas filogeneticamente à
convergência evolutiva de traços funcionais (CORNWELL et al., 2006). Ainda, pelo fato
de as Restingas serem ambientes recentemente formados, o tempo para coevolução
com espécies próprias foi insuficiente, é proposto que a sua colonização tenha sido
feita por espécies dos biomas adjacentes, como as Florestas Pluviais, Cerrado e
Caatinga (SCARANO, 2002). Como nem todas as espécies são capazes de sobreviver às
suas condições estressantes, a Restinga potiguar tem. Dessa forma, nossos resultados
indicam que, talvez, as diferenças funcio nais possivelmente tenham pouca
importância para a coexistência das espécies e para a funcionalidade do ecossistema
(GIVNISH, 1987), e a riqueza taxonômica pode ser suficiente para prever processos
fenológicos. Trabalhos recentes realizados em comunidades naturais em escala global
mostram que a diversidade possui papel fundamental no aumento da produtividade
(GRACE et al., 2016; ZHANG; CHEN; REICH, 2012), podendo ser mais importante,
inclusive, que disponibilidade de nutrientes (incluindo nitrogênio) no solo (DUFFY;
GODWIN; CARDINALE, 2017). Aqui, a quantidade de nitrogênio, o porte da vegetação e
a sua estrutura da copa se mostraram, em termos relativos, mais importantes para
determinar os padrões de magnitude do aporte de detritos. A diversidade não
demonstrou efeitos diretos significativos sobre a magnitude do aporte de detritos.
Entretanto, a riqueza de espécies, faceta taxonômica da diversidade, apresentou efeito
sobre a área basal das comunidades, que, por sua vez, é uma medida indireta de
produtividade (CLARK et al., 2001). Com isso, o efeito positivo da área basal sobre o
aporte de serrapilheira pode indicar um efeito positivo indireto da diversidade sobre a
magnitude do aporte (diversidade-área basal-aporte). Os efeitos de
complementariedade (partição de nicho e facilitação) são bastante utilizados para
explicar grande parte dos resultados encontrados em estudos em BFE (CARDINALE et
al., 2007). Em ambientes severos, como no caso da Restinga, a facilitação se faz
especialmente importante pois permite que um aumento da diversidade e
consequente aumento da eficiência da função ecossistêmica (PAQUETTE; MESSIER,
2011). Entretanto, estes mecanismos são bastante associados à dinâmica de
estruturação das comunidades vegetais; ou seja, uma estruturação com base na
complementariedade de nicho ecológico das espécies resultaria em um efeito
sinérgico da diversidade sobre o aporte de detritos (Hipótese i). Uma pesquisa
realizada na área de estudo utilizada neste trabalho trouxe evidências de que a
estrutura da vegetação tende a seguir uma dinâmica fracamente neutra (SILVA et al.,
2015). Isso significa que a estocasticidade ambiental possui papel fundamental no

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padrão de coexistência das espécies, o que resulta na ausência do efeito sinérgico


proveniente dos efeitos de complementariedade de nicho. Esses resultados podem
sugerir que mesmo os mecanismos tão importantes para a coexistência das espécies
talvez demonstrem importâncias diferentes em ambientes similarmente severos, de
acordo com a sua dinâmica de estruturação (estocástica ou determinística). Se,
portanto, a diversidade aparenta não ser tão importante na estruturação física da
vegetação, qual fator poderia ser? A concentração de nutrientes no solo,
principalmente de nitrogênio, se mostrou uma variável bastante importante para a
produtividade, tanto de maneira direta, influenciando na magnitude do aporte, quanto
de maneira indireta, com efeitos na área basal e na cobertura do dossel. A restinga é
uma vegetação tradicionalmente de ambientes costeiros e, sendo assim, se estabelece
sobre solos arenosos. Ecossistemas dunares apmoresentam grande deficiência na
retenção de nutrientes, visto que a granulometria e a composição desses solos facilita
a lixiviação, tendo como resultado solos pouco férteis (SCARANO, 2002). A fertilidade
do solo no geral é comprovadamente uma das variáveis mais importantes para a
produtividade (HOMEIER et al., 2012). Dessa forma, a concentração de nitrogênio é
ainda mais importante em ambientes onde este recurso é escasso, tendo efeitos
importantes nas medidas diretas e indiretas da produtividade do ecossistema.
Contudo, é sabido, através de experimentações, que a fertilidade do solo também
pode ser consequência da diversidade em função do fluxo de matéria no sentido
material vegetal-solo (FRIDLEY, 2003). Ainda, trabalhos observacionais em ambientes
severos têm constatado uma grande importância da diversidade sobre o aumento da
fertilidade do solo, sobretudo em estágios sucessionais avançados (MORI et al., 2017).
Se, portanto, se considerarmos a floresta de Restinga como um ambiente florestal
maduro, é possível que a concentração de nitrogênio, tão importante para a
estruturação da vegetação, seja consequência da própria vegetação, e não causa.
Sendo assim, é plausível que a fertilidade do solo seja bastante afetada pelas
mudanças na diversidade das comunidades, aumentando a importância da diversidade
para o funcionamento do ecossistema.

Conclusão

Nossos resultados, apesar de parciais, revelam uma significativa importância da


sazonalidade e das condições adversas para a fenologia do aporte de detritos, dando
indícios da pouca importância de mecanismos de coexistência com base na
complementariedade de nicho que têm sido descritos na literatura. Até então,
diversidade se mostrou pouco preditiva para os padrões de magnitude e estabilidade
do aporte de serapilheira, mas vale salientar que são necessários estudos em escala

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temporal maior para que a dinâmica temporal seja avaliada com maior precisão. Além
disso, a inclusão de outras medidas de diversidade, bem como a identidade, a
composição de espécies e a equitabilidade das comunidades seja importante. A
fertilidade do solo foi indicada como uma importante variável para a produtividade de
maneira direta e indireta, enquanto a estrutura física da vegetação, como a área basal
e a porcentagem de abertura do dossel, foram indicadas como variáveis de
importância direta na produtividade. Talvez, a estruturação neutra da vegetação
indicada em trabalhos anteriores tenha relevância nos processos ecossistêmicos,
devendo-se à estocasticidade grande parte da explicação para os padrões
encontrados. É válido ressaltar que o delineamento deste trabalho permite avaliar a
relação da biodiversidade com o funcionamento do ecossistema em diferentes escalas
e apesar 27 de, aqui, termos trabalhado apenas com uma escala local, análises em
escaladas maiores se fazem pertinentes, tendo em vista que os mecanismos ecológicos
podem gerar padrões distintos em escalas diferentes (BOND; CHASE, 2002;
CARDINALE; IVES; INCHAUSTI, 2004; CHISHOLM et al., 2013). Apesar dos esforços para
encontrar quais variáveis melhor predizem os padrões de magnitude e estabilidade do
aporte, é importante ressaltar que nenhum trabalho, até então, toma a medida de
aporte de detritos como medida de funcionalidade do ecossistema e, talvez, esta seja
uma variável pouco sensível às mudanças de diversidade. Ainda, este trabalho destaca
a importância de investigações mais profundas em ecossistemas naturais tropicais,
sobretudo em comunidades com estruturação neutra, visto que o comportamento das
espécies expostas frente a condições ambientais mais rigorosas pode resultar em
padrões diferentes daqueles descritos na literatura.

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Anexos

– Delineamento das parcelas e posicionamento dos coletores. Foto: Ana Elizabeth.

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Tabela 1 – Seleção de modelos pelo critério de Akaike (AIC) para a magnitude do


aporte de detrito. 1: riqueza taxonômica, 2: diversidade filogenética (log10), 3: área
basal (log10), 4: porcentagem de abertura de dossel, 5: concentração de fósforo e 6:
con

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Figura 2 – Relação entre o log da magnitude do aporte de serapilheira com (A) riqueza
de espécies, (B) diversidade filogenética (log), (C) área basal média por população (log),
(D) porcentagem de abertura do dossel, (E) concentração de nitrogênio e (F) fó

Figura 3 – Efeitos da riqueza de espécies (A), diversidade filogenética (log) (B),


concentração de nitrogênio no solo (C) e concentração de fósforo no solo (B) sobre a
área basal da comunidade vegetal (log).

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Tabela 2 – Seleção de modelos pelo critério de Akaike (AIC) para a área basal total das
comunidades. 1: riqueza taxonômica, 2: diversidade filogenética (log10), 3:
concentração de fósforo (log10) e 4: concentração de nitrogênio no solo.

Figura 4 – Efeitos da riqueza de espécies (A), diversidade filogenética (B), concentração


de nitrogênio no solo (C) e concentração de fósforo no solo (B) sobre a porcentagem
de abertura do dossel.

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Tabela 3 – Seleção de modelos pelo critério de Akaike (AIC) para a porcentagem de


abertural do dossel. S: riqueza taxonômica, PD: diversidade filogenética (log10), P:
concentração de fósforo (log10) e N: concentração de nitrogênio no solo.

Tabela 4 – Seleção de modelos pelo critério de Akaike (AIC) para a estabilidade do


aporte a nível de comunidade. 1: riqueza taxonômica, 2: diversidade filogenética
(log10), 3: área basal (log10), 4: porcentagem de abertura de dossel, 5: concentração
de fó

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Tabela 4 – Seleção de modelos pelo critério de Akaike (AIC) para a estabilidade do


aporte a nível de comunidade. 1: riqueza taxonômica, 2: diversidade filogenética
(log10), 3: área basal (log10), 4: porcentagem de abertura de dossel, 5: concentração
de fó

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Figura 5 – Relação entre a variabilidade temporal do aporte de serapilheira à nível de


comunidade com (A) riqueza de espécies, (B) diversidade filogenética (log), (C) área
basal média por população (log), (D) porcentagem de abertura do dossel, (E) concent

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CÓDIGO: SB0653

AUTOR: RENATA SOPHIA CAVALCANTI ARAUJO

ORIENTADOR: JOSELIO MARIA GALVAO DE ARAUJO

TÍTULO: Identificação dos arbovírus circulantes no Estado do Rio Grande do


Norte em 2022

Resumo

Os vírus Dengue (DENV) pertencem ao gênero dos Flavivirus e a família Flaviviridae. Os


quatro sorotipos são denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. A transmissão
se dá por mosquitos, vetores artrópodes e hematófagos, pertencentes ao gênero
Aedes, podendo ser da espécie Aedes aegypti ou Aedes albopictus. Esse trabalho teve
como objetivo descrever aspectos epidemiológicos da Dengue no estado do Rio
Grande do Norte durante o ano de 2022. Para isso, a proporção dos sorotipos e a
análise espaço temporal foram analisadas com base nos dados fornecidos pela
Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte (SESAP/RN).A partir dos
dados fornecidos, 56.787 casos suspeitos foram notificados em 2022. Foi realizado o
teste de RT-PCR para a detecção e sorotipagem, em que 23.19% (n=499) casos foram
positivos para dengue, 2,4% (n=1.217) foram negativos e 13,8% (n=7827) foram
inconclusivos ou não realizados. Por sorotipo obteve-se DENV-1 com 108 casos, DENV-
2, 392 casos, e DENV-3, 1 caso. O DENV-4 não foi identificado. Então, faz-se necessário
o fortalecimento da vigilância virológica da dengue no estado do Rio Grande do Norte,
a partir da maior realização de testes como o RT-PCR, uma vez que a dengue possui
importância epidemiológica recorrente nesse estado. Além disso, é relevante também
o constante controle dos vetores da dengue, para que os casos da doença também
sejam reduzidos.

Palavras-chave: Dengue; Epidemiologia; Rio Grande do Norte; Monitoramento

TITLE: Identification of circulating arboviruses in the State of Rio Grande do


Norte in 2022

Abstract

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Dengue viruses (DENV) belong to the Flavivirus genus and the Flaviviridae family. The
four serotypes are named DENV-1, DENV-2, DENV-3, and DENV-4. Transmission takes
place by mosquitoes, arthropod and hematophagous vectors, belonging to the genus
Aedes, and may be of the species Aedes aegypti or Aedes albopictus. This work aimed
to describe the epidemiological aspects of Dengue in the state of Rio Grande do Norte
during the year 2022. For this, the proportion of serotypes and the temporal space
analysis were analyzed based on data provided by the Secretariat of Public Health of
the State of Rio Grande do Norte. Rio Grande do Norte (SESAP/RN). From the data
provided, 56,787 suspected cases were reported in 2022. The RT-PCR test was
performed for detection and serotyping, in which 23.19% (n=499) cases were positive
for dengue, 2.4% (n=1,217) were negative and 13.8% (n=7827) were inconclusive or
not performed. By serotype, DENV-1 was obtained with 108 cases, DENV-2, 392 cases,
and DENV-3, 1 case. DENV-4 has not been identified. Therefore, it is necessary to
strengthen the virological surveillance of dengue in the state of Rio Grande do Norte,
based on the greater performance of tests such as RT-PCR, since dengue has recurrent
epidemiological importance in this state. In addition, the constant control of dengue
vectors is also relevant, so that cases of the disease are also reduced.

Keywords: Dengue; Epidemiology; Rio Grande do Norte; Monitoring

Introdução

Os vírus pertencentes ao gênero Flavivirus, como os vírus dengue (DENV), Zika (ZIKV) e
Febre Amarela (VFA), são responsáveis por grandes surtos e epidemias, representando
um grave problema de saúde pública. Os principais vetores dessas doenças são os
mosquitos do gênero Aedes spp., sendo o Aedes aegypti o primário, e o A. albopitcus o
secundário, os quais estão presentes em diversas regiões do mundo, o que causa a
proliferação das doenças (KRAEMER et al., 2015). Além das flaviviroses acima descritas,
outro arbovírus tem preocupado as autoridades de saúde pública no Brasil: o vírus
Chikungunya (CHIKV), pertencente ao gênero Alphavirus (SOLIGNAT et al., 2009). Os
vírus CHIKV, DENV e ZIKV apresentam estrutura e genoma semelhantes, com RNA de
fita simples e polaridade positiva (WEAVER et al., 2018). O vírus Chikungunya (CHIKV)
apresenta apenas um sorotipo, assim como o ZIKV e o VFA, o que os difere do vírus da
Dengue, que apresenta 4 sorotipos(RAUPP et al., 2014).
As manifestações clínicas da Dengue incluem febre alta (40°C), dores fortes de cabeça,
dor atrás dos olhos, dores nos músculos e articulações, náusea, manchas vermelhas
pelo corpo, e em casos mais graves hemorragia ou choque (BHATT et al., 2013). A
febre Zika possui sintomas parecidos com os da Dengue, mas pode provocar
microcefalia e síndrome de Guillán Barré (MERCADO-REYES et al., 2019). A
Chikungunya também apresenta sintomas semelhantes, mas é caracterizada por

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artralgias persistentes (AMARAL; BILSBORROW; SCHOEN, 2020). Por apresentarem


sintomas semelhantes, é necessário o diagnóstico diferencial por meio de métodos
sorológicos e moleculares(REDDY et al., 2012).
A dengue teve seus primeiros casos por volta da década de 20, mas foi nos anos de
1981-1982 que foi registrada a primeira epidemia dos sorotipos DENV-1 e DENV-4 no
território brasileiro, no estado de Roraima (RR). Posteriormente foram introduzidos os
outros sorotipos, 2 e 3. Desde então, a expansão do DENV no Brasil tem sido
consideravelmente alta, visto que, segundo a Organização Mundial de Saúde(OMS),
dos anos de 1998 a 2007 o país teve 61% de todos os casos mundiais de Dengue
(BARBOSA et al., 2017). Esses dados também se devem às condições climáticas
favoráveis para a disseminação viral e dos mosquitos vetores, pela alta densidade
populacional e clima tropical (VIANA; IGNOTTI, 2013). No município de Natal, no Rio
Grande do Norte, a reemergência teve-se por volta de 1996, com a maior incidência da
doença no ano de 2008, com 1.952 casos para cada 100 mil habitantes (BARBOSA et
al., 2017). De acordo com a Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do
Norte (SESAP/RN), 56.787 casos suspeitos foram notificados em 2022, 10.792 casos em
2019, 3.023 em 2020, e 3.052 em 2021, em que ao serem analisados, os dados
mostram um expressivo aumento nos dados fornecidos. Os casos positivos dos anos
posteriores contabilizaram 3.052 casos confirmados para Dengue em 2020 e 1.218
casos confirmados em 2021. Desde julho de 2009, o Laboratório de Doenças
Infecciosas e do Câncer da UFRN (LADIC-UFRN) contribui para a vigilância dos vírus
dengue no Estado do Rio Grande do Norte (RN). A partir de julho de 2015, o LADIC-
UFRN passou a monitorar também os vírus Zika e Chikungunya no RN. Essas
informações são compartilhadas com as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde e
contribuem para nortear as ações de combate ao vetor. Neste projeto, propõe-se
realizar a identificação dos vírus Dengue e seus sorotipos no Rio Grande do Norte no
ano de 2022, com enfoque no município de Natal.

Metodologia

1) Amostras clínicas: Foram estudadas amostras provenientes de pacientes com sinais


e sintomas compatíveis com infecção por arbovírus, além de obedecerem ao critério
de serem coletadas em até 5 dias após o início dos sintomas devido ao período
virêmico. Essas amostras compreenderam o período de janeiro a setembro de 2022. As
amostras foram fornecidas pelo Laboratório Central do Rio Grande do Norte (LACEN-
RN) e pela Secretaria de Saúde de Natal, instituições colaboradoras deste projeto. Uma
alíquota destas amostras foi encaminhada ao Laboratório de Biologia Molecular de
Doenças Infecciosas e do Câncer da UFRN, para identificação viral através de métodos
moleculares (RT-PCR convencional e qRT-PCR). Todas as amostras foram

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acompanhadas de ficha de identificação e dados de coleta em relação ao início da


doença. Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP/UFRN) (CAAE:
51057015.5.0000.5537). Em concordância com a participação, será solicitado aos
novos pacientes atendidos que assinem o termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE), quando será explicado detalhadamente o projeto.

2)Controles Virais: Foram utilizados controles dos vírus Dengue, Zika e Chikungunya
isolados de pacientes no Estado do Rio Grande do Norte, pelo Laboratório de Biologia
Molecular de Doenças Infecciosas e do Câncer da UFRN.

3) Extração do RNA viral, Transcrição reversa seguida da reação em cadeia da


polimerase (RT-PCR e qRT-PCR): Para detecção de arbovírus e quantificação da carga
viral (Viremia): o RNA viral das amostras de soro humano foi extraído através do
QIAmp Viral Mini Kit (QIAGEN, Inc., Valencia, EUA), de acordo com o protocolo descrito
pelo fabricante, para a realização da técnica de qRT-PCR. O RNA viral extraído foi
armazenado no freezer -70°C até o momento de utilização. A técnica de transcrição
reversa seguida da reação em cadeia pela polimerase em tempo real (qRT-PCR)
descrita por Faye et al. (2013) foi utilizada para pesquisa do vírus Zika. Para essa
pesquisa foi utilizado o equipamento 7500 Fast da Applied Biosystems (Thermo
Scientific), localizado no Laboratório de Biologia Molecular de Doenças Infecciosas e do
Câncer da UFRN. A metodologia descrita por Lanciotti et al. (1992) foi realizada para
detecção e tipagem dos vírus dengue. Este protocolo detecta os quatro sorotipos
simultaneamente em um procedimento semi-nested, gerando produtos amplificados
(amplicons) com tamanhos específicos (em pares de base) para cada sorotipo dos
DENV. Em uma primeira etapa, serão utilizados iniciadores consensuais (D1 e D2) para
os quatro sorotipos. No procedimento semi-nested, serão utilizados iniciadores
específicos TS1, TS2, TS3 e TS4 para detecção dos DENV-1 a 4, respectivamente. Para a
análise do produto amplificado, será realizada eletroforese em gel de agarose.

4)Análise Espacial: Os dados desse estudo foram analisados de forma articulada e


complementar com os dados das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde para a
identificação das áreas de circulação viral, fornecendo base para orientar as ações de
combate ao vetor. As análises estatísticas foram realizadas no programa Microsoft
Office Excel® 2019. Os mapas de situação epidemiológica foram construídos a partir do
programa QGIS versão 3.32.2.

1) Amostras clínicas: Foram estudadas amostras provenientes de pacientes com sinais


e sintomas compatíveis com infecção por arbovírus, além de obedecerem ao critério
de serem coletadas em até 5 dias após o início dos sintomas devido ao período

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virêmico. Essas amostras compreenderam o período de janeiro a setembro de 2022. As


amostras foram fornecidas pelo Laboratório Central do Rio Grande do Norte (LACEN-
RN) e pela Secretaria de Saúde de Natal, instituições colaboradoras deste projeto. Uma
alíquota destas amostras foi encaminhada ao Laboratório de Biologia Molecular de
Doenças Infecciosas e do Câncer da UFRN, para identificação viral através de métodos
moleculares (RT-PCR convencional e qRT-PCR). Todas as amostras foram
acompanhadas de ficha de identificação e dados de coleta em relação ao início da
doença. Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP/UFRN) (CAAE:
51057015.5.0000.5537). Em concordância com a participação, será solicitado aos
novos pacientes atendidos que assinem o termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE), quando será explicado detalhadamente o projeto.

2)Controles Virais: Foram utilizados controles dos vírus Dengue, Zika e Chikungunya
isolados de pacientes no Estado do Rio Grande do Norte, pelo Laboratório de Biologia
Molecular de Doenças Infecciosas e do Câncer da UFRN.

3) Extração do RNA viral, Transcrição reversa seguida da reação em cadeia da


polimerase (RT-PCR e qRT-PCR): Para detecção de arbovírus e quantificação da carga
viral (Viremia): o RNA viral das amostras de soro humano foi extraído através do
QIAmp Viral Mini Kit (QIAGEN, Inc., Valencia, EUA), de acordo com o protocolo descrito
pelo fabricante, para a realização da técnica de qRT-PCR. O RNA viral extraído foi
armazenado no freezer -70°C até o momento de utilização. A técnica de transcrição
reversa seguida da reação em cadeia pela polimerase em tempo real (qRT-PCR)
descrita por Faye et al. (2013) foi utilizada para pesquisa do vírus Zika. Para essa
pesquisa foi utilizado o equipamento 7500 Fast da Applied Biosystems (Thermo
Scientific), localizado no Laboratório de Biologia Molecular de Doenças Infecciosas e do
Câncer da UFRN. A metodologia descrita por Lanciotti et al. (1992) foi realizada para
detecção e tipagem dos vírus dengue. Este protocolo detecta os quatro sorotipos
simultaneamente em um procedimento semi-nested, gerando produtos amplificados
(amplicons) com tamanhos específicos (em pares de base) para cada sorotipo dos
DENV. Em uma primeira etapa, serão utilizados iniciadores consensuais (D1 e D2) para
os quatro sorotipos. No procedimento semi-nested, serão

Resultados e Discussões

Amostras do período de janeiro a setembro de 2022 foram enviadas para o LADIC de


pacientes do estado do RN com suspeita de Chikungunya, Dengue e Zika. Em relação à
Chikungunya, o exame de RT-PCR permitiu a avaliação de 1132 casos em que 26,7%

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atestaram como positivos (n=302), 70,5% negativos (n=798), e 2,8% indeterminados


(n=32). O local com o maior número de casos (n=53) compreendia o município de João
Câmara, 17% do total de casos do estado. Os casos não analisados pelo método de RT-
PCR foram realizados por PRNT ou teste sorológico. Para a Zika, foram confirmados
719 casos no Rio Grande do Norte, em que o município de Natal apresentou o maior
número de casos (n=87).
A pesquisa feita neste trabalho mostrou que 56.787 casos suspeitos de Dengue foram
notificados em 2022 no estado do Rio Grande do Norte pelo SINAN. Desses casos,
9543 amostras foram enviadas para a testagem por RT-PCR, mas apenas 1765 foram
testadas. Esses testes foram utilizados para para a detecção e sorotipagem do DENV ,
em que para o total de casos testados, 28.38%(n=501) dos casos foram positivos, 69%
(n=1.217) foram negativos e 2.71% (n=48) foram inconclusivos. A porcentagem dos
testes não realizados foi de 81.5% (n=7778). As amostras que não foram analisadas
pelo teste de RT-PCR, tiveram o resultado fornecido por outros testes ou por consultas
clínicas. Os demais resultados foram realizados por testes de NS1, IgM e Isolamento
viral, os quais detectaram 13.171 casos de dengue. A partir da identificação dos
municípios foi possível analisar a incidência de casos (gráfico 1) a partir da análise por
RT-PCR, em que Ielmo Marinho e Nova Cruz apresentaram o maior número de casos
detectados, ambos com 77 casos positivos, 15% do total de casos do estado. Em
segundo lugar, o município de João Câmara apresentou 58 casos, 11% da prevalência
de casos. A capital, município de Natal, apresentou apenas 22 casos positivos.
Dos casos confirmados, a análise por sorotipo identificou DENV-1 com 108 casos, 22%
do total, DENV-2, 392 casos, 78% do total, e DENV-3, um caso, 0,2%. O DENV-4 não foi
identificado. Dos municípios com o maior número de casos, Ielmo Marinho apresentou
uma maior incidência de DENV-2, com 99% do total de casos do município(n=77). A
prevalência de DENV-2 também ocorreu em Nova Cruz, porém com proporção
diferente, com 19 casos para DENV-1 e 57 para DENV-2, de um total de 76 casos, além
da ocorrência de DENV-3, com um caso, sendo o único múnicipio no estado em que
esse sorotipo foi identificado. O DENV-2 também foi encontrado em maiores números
em João Câmara, ao contabilizar 79% do total de casos (n=57), e com o restante para
DENV-1. O DENV-2 também apareceu como o único sorotipo presente em um
munícipio, como Poço Branco que apresentou 33 casos.
Pode-se observar que regiões mais interioranas tiveram o maior número de casos,
como Ielmo Marinho e Nova Cruz com 77 casos, o que pode representar um déficit no
saneamento básico em locais de difícil acesso (MONTEIRO, 2016), que gera como
consequência a maior proliferação do vetor. Por isso deve-se considerar a alta taxa de
urbanização e presença do vetor Aedes em diversos municípios , o qual é altamente
antropofílico, resultando no ciclo endêmico permanente de DENV no meio
urbano(WEAVER et al., 2018). Nos anos anteriores, o número de casos confirmados foi

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consideravelmente menor, em um período de 2019 a 2022:10.792 casos em 2019,


3.023 em 2020, e 3.052 em 2021. Essa diferença no número de notificações dos anos
2019 a 2022 pode ser explicada pelo surto de COVID-19 iniciado no ano de 2020, que
fez com que a vigilância epidemiológica para as arboviroses fosse diminuída, causando
subnotificações e atrasos de resultados. Além disso, com o conhecimento ainda
escasso da COVID-19, doenças como as arboviroses poderiam ser identificadas
incorretamente, devido às semelhanças nas manifestações clínicas (BORRE et al.,
2022).

Conclusão

A análise feita neste estudo permitiu concluir que o número de casos totais analisados
por RT-PCR foi de 498 para o estado do RN, com prevalência nos municípios de Nova
Cruz e Ielmo Marinho, que juntos somam 30,9% dos casos positivos. Também, o
sorotipo com maior incidência no estado foi o DENV-2, com 392 casos. Por fim, esse
trabalho constatou o aumento no casos de Dengue no Rio Grande do Norte no ano de
2022, com 498 casos positivos registrados através do análise por RT-PCR, quando
comparado aos anos de 2020 e 2021, o que pode ser consequência ainda da pandemia
instalada pela COVID-19 que resultou em uma sobrecarga do sistema de saúde e a
negligência no controle e combate de vetores. A partir disso foi possível notar que
diversos municípios do Rio Grande do Norte apresentaram casos positivos para
Dengue, ainda mais em regiões mais longínquas que não possuem a fiscalização e
vigilância mais precisa dos surtos da doença. Além disso, o aumento de casos pode
também significar uma melhor vigilância epidemiológica, visto que nos anos de 2020 e
2021, também por consequência do foco maior do sistema de saúde na resolução dos
casos de COVID-19, pode ter havido um problema de subnotificação dos casos.

Referências

AMARAL, J. K.; BILSBORROW, J. B.; SCHOEN, R. T. Chronic chikungunya arthritis and


rheumatoid arthritis: what they have in common. The American journal of medicine, v.
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Anexos

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INCIDÊNCIA DOS SOROTIPOS DO VÍRUS DENGUE NO RIO GRANDE DO NORTE, 2022

CASOS DE DENGUE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 2022

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CÓDIGO: SB0658

AUTOR: ARTHUR GEOVANNI BORGES VITAL

ORIENTADOR: PEDRO PAULO DE ANDRADE SANTOS

TÍTULO: Análise histopatológica e histomorfométrica das lesões quimicamente


induzidas em ratos

Resumo

O câncer de cavidade oral é um dos tipos de neoplasia maligna mais prevalentes,


sendo o carcinoma epidermóide uma neoplasia maligna de origem epitelial, que
representa o tipo histológico mais comum dentre os canceres de cavidade oral. Esse
tipo de lesão pode acometer todos os tecidos epiteliais da cavidade oral e seu
prognóstico está intimamente ligado ao momento do diagnóstico, devido à capacidade
de penetração e progressão dessa lesão para tecidos e órgãos adjacentes. Os modelos
de indução carcinogênica animal são ótimas alternativas para avaliar esse fator de
progressão e assim ter parâmetros de avaliação quanto a alterações teciduais e
moleculares. Nesse contexto, o 4-óxido de nitroquinolina (4NQO) destaca-se por ser
um ótimo indutor de lesões malignas em animais capaz de induzir a carcinogênese nos
seus diferentes estágios de progressão e mimetizar as diferentes alterações
histológicas e moleculares do carcinoma epidermóide oral para assim fornecer
parâmetros de avaliação de progressão e invasão adequados.

Palavras-chave: Carcinogênese, Câncer Oral, Histopatologia, Histomorfometria

TITLE: Histopathological and histomorphometric analysis of chemically induced


lesions in rats

Abstract

Oral cavity cancer is one of the most prevalent types of malignant neoplasm, with
squamous cell carcinoma being a malignant neoplasm of epithelial origin, which
represents the most common histological type among oral cavity cancers. This type of
lesion can affect all epithelial tissues of the oral cavity and its prognosis is closely linked
to the moment of diagnosis, due to the penetration capacity and progression of this
lesion to adjacent tissues and organs. Animal carcinogenic induction models are

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eCICT 2023

excellent alternatives to evaluate this progression factor and thus have parameters for
evaluating tissue and molecular alterations. In this context, 4-nitroquinoline oxide
(4NQO) stands out for being an excellent inducer of malignant lesions in animals
capable of inducing carcinogenesis in its different stages of progression and mimicking
the different histological and molecular alterations of oral squamous cell carcinoma to
thus provide appropriate profession and invasion assessment parameters.

Keywords: Carcinogenesis, Oral Cancer, Histopathology, Histomorphometry.

Introdução

O carcinoma epidermóide de boca (CEB) tem origem nos tecidos epiteliais e os locais
mais acometidos são borda lateral de língua, lábio inferior e assoalho de boca.
Entretanto, qualquer superfície bucal pode ser afetada. Considerado uma doença
predominantemente do sexo masculino, atinge principalmente indivíduos acima dos
45 anos de idade e leucodermas. O câncer de lábio é uma das mais frequentes
neoplasias malignas da cavidade oral, provavelmente devido esta localização
anatômica ser mais facilmente diagnosticada, apresentando um melhor prognóstico e
uma sobrevida de 5 anos ou mais, em comparação ao câncer de língua. Frente à
importância do entendimento do processo de carcinogênese oral, objetivando
contribuir na melhoria das condições de tratamento e prognóstico dos pacientes
acometidos por esta enfermidade. O presente plano de trabalho tem por objetivo
analisar, descritiva e comparativamente, as características histopatológicas e
histomorfométricas considerando a profundidade das lesões invasivas do espectro
maligno induzidas quimicamente pelo 4-óxido de nitroquinolina 4NQO.

Metodologia

Serão utilizados 50 ratos machos da linhagem Wistar, com peso entre 200-250 g,
oriundos do Biotério do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Os animais serão alojados em caixas de polipropileno providas de bebedouro
e comedouro, onde ficaram 3 ou 4 animais por gaiola, submetidos a condições
controladas de temperatura (24±2 °C) e de iluminação (ciclo de 12 horas claro/12
horas escuro) e receberão ração e água ad libitum. O peso de cada animal será aferido
a cada 7 dias, o consumo de água e ração por gaiola foi averiguado todos os dias ao
longo das 40 semanas experimentais. O protocolo experimental será submetido a
análise da Comissão de Ética no Uso Animal (CEUA) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). A amostra será constituída por 50 ratos Wistar machos
adultos, sendo 5 ratos constituindo o grupo controle (GC), e 45 ratos que constituirão

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eCICT 2023

o grupo experimental por um tempo máximo de 40 semanas, nesse grupo será diluído
na água presente no bebedouro o agente carcinógeno 4-NQO, após esse período serão
sacrificados com injeção intraperitoneal de cloridrato de ketamina 5% e xilazina 2%
(0,3ml/100g), e as lesões de cavidade oral serão devidamente coletadas, fotografadas
para a análise macroscópica das lesões, medidas e imersas em formaldeído a 10% para
serem posteriormente emblocadas em parafina e cortadas em micrótomo para a
análise histopatológica, imuno-histoquímica e histomorfométrica. Após o período de
indução da carcinogênese oral, as lesões obtidas serão fotografadas usando uma
câmera da marca Canon Rebel T6 com macro lente de 100mm, para que todos os
detalhes superficiais das lesões possam ser examinadas nos mínimos detalhes e a
partir da análise das fotografias realizadas, coletaremos informações sobre tipo de
inserção, evidências de úlceras, sangramento, variação de coloração, variação
topográfica e mensuração da extensão superficial das lesões que será obtida usando o
software Image J (National Institute of Health-NIH). Serão obtidos cortes de 5 μm de
espessura e estendidos em lâminas de vidro e coradas em hematoxilina-eosina, a
partir disso, as lesões coletadas serão submetidas a análise histopatológica para serem
categorizadas de acordo com o diagnóstico e considerando o grau de evolução da
lesão no processo de carcinogênese. Desta forma, os casos serão diagnosticados como
mucosa oral normal, provenientes de ratos do grupo controle; Casos diagnosticados
como: displasia oral leve; Casos diagnosticados como displasia oral severa; Casos
diagnosticados como carcinomas in situ e casos diagnosticados como carcinoma
epidermóide oral.

Resultados e Discussões

O carcinoma epidermóide oral, é o tipo histológico mais comum de câncer bucal,


durante o seu desenvolvimento, essa neoplasia maligna passa por diversos estágios
distintos. Em um momento inicial as células com alterações malignas estão limitadas
apenas à camada mais superficial da mucosa oral, de tal forma que a progressão da
lesão e metástase para outros tecidos fica limitada, bem como o prognóstico nessa
etapa é mais favorável. Porém à medida que avança para estágios intermediários ou
avançados, o tumor penetra camadas mais profundas da mucosa, podendo chegar ao
tecido conjuntivo subjacente e se disseminar para outros órgãos e tecidos, em um
quadro conhecido como metástase, que pode ocorrer tanto por via linfática como
sanguínea. Sendo os estágios mais avançados caracterizados por um prognóstico mais
duvidoso, dificultando assim as opções de tratamento. A utilização de estudos
experimentais em animais é uma ótima alternativa para o estudo preciso das
alterações celulares e moleculares, bem como a progressão de lesões como o
carcinoma epidermóide oral. O 4-óxido de nitroquinolina (4NQO), é uma substância

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carcinogênica do grupo dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos que apresenta um


forte potencial carcinogênico, que permite a indução carcinogênica em animais com
uma grande semelhança as lesões que acometem os humanos, sendo capaz de realizar
uma comparação entre os diferentes estágios sequenciais dessa lesão, de forma que
para realizar a histomorfometria e mensurar a profundidade dessas lesões dentre os
diferentes estágios de desenvolvimento foi planejado um estudo com a indução
carcinogênica em ratos, entretanto devido a grande demanda de ratos da linhagem
Winstar no biotério central do centro de biociências da UFRN, não foi possível realizar
a fase experimental de indução química do carcinoma epidermóide oral nos ratos e a
continuidade das demais etapas, tendo como previsão para entrega dos ratos o mês
de setembro de 2023. Devido a isso, foi solicitada a renovação do presente projeto de
iniciação científica para o período 2023-2024 para dar continuidade a pesquisa.

Conclusão

Em síntese, os resultados obtidos a partir da etapa de revisão de literatura


demonstram a capacidade do óxido de nitroquinolina (4NQO) em induzir o câncer oral
em ratos da linhagem Winstar, cujo organismo apresenta similaridades com o dos
humanos. O 4NQO causa alterações moleculares e celulares responsáveis pelo
desenvolvimento de lesões malignas a depender do período de indução, essas lesões
vão desde estágios de alterações e displasias mais leves, podendo chegar até
carcinomas epidermóides orais de graus mais avançados. De tal maneira, o
entendimento das diferentes etapas de progressão do carcinoma é de grande
importância, uma vez que graus mais avançados exibem um prognóstico menos
favorável, de forma que caberá à etapa laboratorial da pesquisa demonstrar e
estabelecer uma comparação entre a progressão das lesões em seus diferentes
estágios.

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CÓDIGO: SB0659

AUTOR: LETICYA PINTO DE ARAUJO

ORIENTADOR: SILVIA REGINA BATISTUZZO DE MEDEIROS

TÍTULO: Avaliação da toxicidade do reteno in vivo e in vitro

Resumo

Reteno ou RET (1-metil-7-isopropilfenantreno), um Hidrocarboneto Policíclico


Aromático (PAH) não prioritário, é o mais prevalente na queima de celulose, embora
seus efeitos tóxicos não estejam claramente elucidados. Neste trabalho, utilizando
embriões de zebrafish, investigamos a embriotoxicidade e a neurotoxicidade do RET.
Foram utilizadas cinco concentrações de RET: 100 µg/L, 250 µg/L, 500 µg/L, 750 µg/L e
1000 µg/L, mas também dois controles negativos: controle de água (WC) e DMSO 0,1%
(NC) . Foi utilizado 4mg/L de 3,4-Dicloroanilina como controle positivo. Os ovos e larvas
foram avaliados quanto à morfologia externa a cada 24, 48, 72 e 96 horas pós-
fecundação (hpf). Larvas com 7dpf previamente tratadas com RET foram expostas a
um estímulo de movimento de corda para medir a resposta optomotora. O RET não
alterou significativamente a taxa de sobrevivência para nenhum grupo analisado.
Contudo, nossos resultados mostram que o tratamento com todas as cinco
concentrações de RET induziu defeitos morfológicos significativos. Mudanças de
comportamento foram induzidas: a proporção de peixes que seguiram o movimento
das listras foi significativamente diferente entre os grupos, sugerindo uma
neurotoxicidade.

Palavras-chave: zebrafish; Embriotoxicidade, Comportamento opto-motor,


neurotoxicidade

TITLE: In vitro and in vivo evaluation of Retene toxicity

Abstract

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Retene or RET (1-methyl-7-isopropylphenanthrene), a non-priority Polycyclic Aromatic


Hydrocarbon (PAH), is the most prevalent from cellulose burning, although its toxic
effects are not clearly elucidated. In this work, using zebrafish embryos, we
investigated the embryotoxicity and neurotoxicity of RET. Five RET concentrations
were used: 100 µg /L, 250 µg/L, 500 µg/L, 750 µg/L, and 1000 µg/L, but also two
negative controls: water control (WC) and DMSO 0.1% (NC). 4mg/L of 3,4-
Dichloroaniline as positive control was used. The eggs and larvae were evaluated for
external morphology every 24, 48, 72 and 96 hours post fertilization (hpf). Larvae with
7dpf previously treated with RET were exposed to a string moving stimuli to measure
optomotor response. RET did not alter significantly the survival rate for any group
analyzed. However, Our results show that the treatment with all five concentrations of
RET induced significant morphological defects. Changes in behavior were induced:
proportion of fish that followed the stripe movement was significantly different
between groups.

Keywords: Zebrafish; Embryotoxicity, Visual-motor behavior, neurotoxicity

Introdução

Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs) são compostos ambientais


onipresentes que apresentam contaminantes ambientais conhecidos por seus efeitos
prejudiciais à saúde humana (VEHNIÄINEN et al., 2016). Existem milhares de PAHs e
uma extensa literatura elucidou as propriedades genotóxicas e mutagênicas de 16
PAHs prioritários, que estão incluídos nas atuais legislações ambientais das agências de
proteção ambiental. estabelecendo-os como fatores de risco para o desenvolvimento
de neoplasias (KIM et al., 2013). No entanto, vários autores levantaram algumas
questões sobre a subestimação da toxicidade dos PAHs, sugerindo que outros podem
ter potenciais tóxicos semelhantes ou superiores aos prioritários. Notavelmente,
descobriu-se que os PAHs induzem efeitos agudos no corpo, elevando os níveis de
estresse oxidativo através da geração de espécies reativas de oxigênio (ROS). Esse
estresse oxidativo desencadeia processos inflamatórios e morte celular (KE et al.,
2018; SHANG et al., 2017). A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US-
EPA) listou 16 PAHs com base em suas propriedades mutagênicas e cancerígenas. Estes
incluem acenafteno, benzo[ghi]perileno, criseno, acenaftileno, benzo[a]antraceno,
benzo[b]fluoranteno, antraceno, benzo[k]fluoranteno, benzo[a]pireno, fluoranteno,
indeno[1,2,3- cd]pireno, naftaleno, fenantreno, dibenzo[ah]antraceno, fluoreno e
pireno, que são considerados compostos prioritários (USEPA, 2014). No entanto, o
reteno (7-isopropil-1-metilfenantreno; RET) é o HAP mais prevalente derivado da
queima de celulose (DE OLIVEIRA ALVES et al., 2015) e não está incluído na lista de 16

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compostos prioritários da US-EPA. Esta omissão deve-se principalmente à investigação


limitada sobre os seus aspectos de toxicidade. Danio rerio (Zebrafish), é atualmente
considerado um excelente organismo modelo em diversas áreas biomédicas
(Nishimura et al., 2015). Esta espécie possui transparência óptica, baixo custo de
criação, alta taxa de fertilidade, pequeno tamanho e alta similaridade com a genética
humana (cerca de 70%) com vários genes relacionados ou conservados que estão
envolvidos com o sistema de metabolismo enzimático (citocromo P450),
neurotransmissores e vias complexas de sinalização nervosa (Referência). Portanto,
este modelo está sendo fortemente utilizado na identificação de possíveis
componentes nocivos no desenvolvimento embrionário, na organogênese, e com
considerável capacidade genotóxica na busca de compreensão e obtenção de dados
conclusivos (DAI et al., 2014; NISHIMURA et al., 2016 ). Este estudo tem como objetivo
investigar os efeitos embriotóxicos induzidos pelo RET no zebrafish (Danio rerio)
através da implementação do teste de toxicidade embrionária de peixes (FET). Serão
seguidas as diretrizes fornecidas pelas Diretrizes da OCDE para Testes de Produtos
Químicos, Seção 2, Teste No. 236, pois são reconhecidas pelas principais agências de
proteção ambiental como o protocolo padrão para avaliar os riscos potenciais de
substâncias químicas. Examinar as alterações nos estágios embrionários do peixe-zebra
exposto ao RET é de importância significativa, pois permite a determinação de níveis
de exposição aceitáveis pelas agências de proteção ambiental, estabelecendo assim
uma compreensão abrangente do seu potencial perfil prejudicial. Este trabalho visa
especificamente avaliar os endpoints de embriotoxicidade, desenvolvimento e
neurotoxicidade do RET em um modelo in vivo de zegrafish. Ao avaliar estes
parâmetros específicos, podem ser obtidos conhecimentos valiosos sobre os efeitos do
RET no desenvolvimento embrionário e nos processos neurológicos, contribuindo para
o estabelecimento de medidas regulatórias adequadas para a proteção ambiental.

Metodologia

2. Materiais e métodos
2.3 Animais e manutenção
Este estudo, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, obteve
aprovação ética do Comitê de Ética Animal (CEUA 33.060/2018). Todos os
experimentos envolvendo peixes-zebra foram realizados seguindo o protocolo
aprovado e foram conduzidos no Fish Lab, localizado no Departamento de Fisiologia e
Comportamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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zebrafish adulto (Danio rerio) da cepa WT, com quatro meses de idade, foi obtido em
uma fazenda local em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Os peixes foram alojados e
mantidos no Laboratório de Peixes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Para garantir uma maior variabilidade genética semelhante à diversidade encontrada
na população humana em geral, foi selecionada uma população exogâmica. A matriz
de criação foi mantida em sistema de rack automatizado (ZebTEC Active Blue Stand
Alone - Tecniplast®) sob condições de iluminação controlada, seguindo ciclo de 14
horas de luz e 10 horas de escuro. Antes da criação, os peixes foram aclimatados
nessas condições por no mínimo três meses. Eles foram alojados em tanques de
acrílico não enriquecido com densidade de 2 a 3 animais por litro. As condições
ambientais dos tanques foram cuidadosamente controladas, sendo mantidos os
seguintes parâmetros: temperatura em 28°C, pH em 7,2, níveis de amônia total abaixo
de 0,01 mg/L e condutividade de 1.600μS/cm. Os peixes-zebra foram alimentados com
uma dieta composta por artêmia Artemia sp. (Artemia salina do RN®, Brasil) e alimento
comercial em flocos (Alcon Basic®, Brasil) contendo 60% de proteína e 15% de gordura.
Os peixes foram alimentados três vezes ao dia para atender às suas necessidades
nutricionais.
2.2 Obtenção de embriões
Para a obtenção dos embriões, os peixes adultos foram escolhidos aleatoriamente e
colocados em tanques de reprodução na proporção de três fêmeas para dois machos.
Esses tanques foram preenchidos com água do sistema e mantidos nas mesmas
condições acima. No dia seguinte, os ovos foram coletados aproximadamente 60
minutos após o acendimento das luzes. Ovos viáveis, caracterizados pela formação de
blástula 3 horas pós-fecundação (hpf) sob estereomicroscópio com aumento de 80x,
foram cuidadosamente separados, lavados com água do sistema e depois transferidos
para placas de isopor de 24 poços, com um embrião por poço.
2.3 Teste de toxicidade aguda
No ensaio de embriotoxicidade induzida por RET, os embriões foram expostos a vários
grupos de experimentos como 3,4-Dicloroanilina, incluindo uma concentração de
controle positivo de 4mg/L, e concentrações crescentes de RET de 100 µg/L, 250 µg/L,
500µg/ L, 750 µg/L e 1000 µg/L. Os controles negativos incluíram água do sistema e
0,1% de DMSO puro. O período de exposição variou de 3 a 120hpf. A cada 24 horas, os
embriões foram examinados meticulosamente em estereomicroscópio com aumento
de 80X, para identificar sinais de letalidade, que incluíram coagulação do ovo, ausência
de formação de somitos, não deslocamento da base da cauda, ausência de batimentos
cardíacos, ocorrência de edema pericárdico, edema do saco vitelino, edema ocular,
alterações na pigmentação corporal, bem como malformações na cabeça, cauda e
coração.

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eCICT 2023

2.4 Avaliação da resposta optotomotora


Larvas de zebrafish, sete dias após a fertilização (dpf), foram pré-tratadas com RET e
expostas a dois estímulos móveis para medir sua resposta optomotora, seguindo a
metodologia descrita por Creton (2009). Os estímulos foram apresentados por meio de
projeção de PowerPoint na tela do computador, com uma placa de Petri (8,5 cm de
diâmetro) contendo as larvas colocada à sua frente. Todos os testes comportamentais
foram realizados entre 10h e 12h para minimizar possíveis influências nas atividades
locomotoras e na sensibilidade visual dos animais. As análises comportamentais foram
realizadas em duplicata para cada concentração (n = 12 larvas por grupo) e para o
controle negativo (n = 12 larvas por grupo). O teste teve como objetivo avaliar a
resposta optomotora e envolveu o uso de padrões listrados móveis compostos por
listras pretas e brancas alternadas (24,5 cm x 1,5 cm; Figura 1a). Inicialmente, as listras
moveram-se para cima durante 1 minuto, seguido de um intervalo de 5 segundos sem
estímulo (tela branca). Após o intervalo, as listras desceram por mais 1 minuto. Esse
padrão de listras em movimento foi repetido dez vezes a uma velocidade constante de
1 cm/s, enquanto o comportamento das larvas foi registrado em vídeo. Ao final de
cada minuto, quando o fundo branco foi apresentado, as larvas que conseguiram
rastrear os movimentos das listras foram consideradas com resposta optomotora
positiva. Por outro lado, as larvas que não seguiram os padrões de listras foram
identificadas como tendo uma resposta optomotora negativa, indicando um potencial
efeito neurotóxico.
2.5 Análise estatística
A análise estatística foi realizada no GraphPad Prism versão 8.0.0 para Windows. A
normalidade dos dados foi avaliada pelos testes Shapiro-Wilk, D'Agostino-Pearson e
Anderson-Darling. Os dados paramétricos foram comparados por meio de ANOVA,
enquanto os dados não paramétricos foram comparados por meio do teste de Kruskal-
Wallis. Um nível de significância de 0,05 foi utilizado para determinar a significância
estatística. As taxas de sobrevivência e eclosão foram comparadas usando o teste log-
rank (Mantel-Cox). Para analisar as malformações, foi realizada uma ANOVA de dois
fatores tendo “malformações” e “grupos” como fatores, seguida do teste post hoc de
Dunnett para comparar os grupos com o controle negativo. O teste do qui-quadrado
foi utilizado para avaliar a resposta optomotora, determinando se os grupos seguiam
os movimentos das listras.

Resultados e Discussões

3. Resultados

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3.1 endpoints de letalidade e taxa de eclosão


O Reteno foi avaliado quanto à sua toxicidade aguda e ao seu impacto na taxa de
eclosão de embriões de peixe-zebra, conforme representado na Figura 2. Os valores de
LC50 obtidos para os três compostos sob investigação exibiram padrões distintos em
termos dos seus efeitos letais. A taxa de sobrevivência apresentou efeitos letais
mínimos, conforme indicado pelos valores de CL50 superiores a 1000 μg/mL (Figura
2a). As taxas de eclosão de embriões expostos às cinco diferentes concentrações de
reteno não demonstraram impacto significativo quando comparadas ao grupo controle
(Figura 2b). Os resultados da análise ANOVA two-way revelaram que a interação entre
grupos e tempo não foi estatisticamente significativa, com p=0,1502. Em média, os
embriões eclodiram 72 horas após a fertilização (hpf). Embriões de zebrafish do tipo
selvagem foram submetidos a diferentes concentrações de RET começando em 3 hpf,
e sua taxa de sobrevivência (a) e taxa de eclosão (b) foram monitoradas até 120 hpf. O
experimento foi conduzido duas vezes, utilizando lotes distintos de embriões obtidos
de diferentes linhagens parentais. Cada grupo de tratamento consistiu em N = 20
embriões por experiência replicada. 3.2 endpoints de desenvolvimento
A avaliação dos endpoints de desenvolvimento foi realizada até 120 horas pós-
fertilização (hpf). Os resultados relativos a várias anomalias fenotípicas e à sua
gravidade estão resumidos na figura 3 e na figura 4. A exposição ao Retene resultou
num aumento significativo nas anomalias morfológicas em comparação com o grupo
de controlo (p = xxxx). Entre as larvas anormais expostas ao Reteno. a alteração mais
prevalente observada foi o edema. Notavelmente, as larvas expostas a uma
concentração de 1000 μg/ de Retene exibiram a maior incidência de malformações
gerais.
4. Discussão
Estudos anteriores relataram que o RET é o PAH mais prevalente na queima de
celulose em incêndios florestais mas está presente em outras fontes, tais como os
escapamentos de veículos, processos industriais e tabagismo. O Reteno já demonstrou
em trabalhos anteriores diferentes efeitos tóxicos, como alterações nos processos de
estresse oxidativo, mutagenicidade, deformidades embrionárias, alterações nas vias
metabólicas e cardiotoxicidade. No entanto, existem poucos estudos sobre os efeitos
tóxicos deste composto em modelos de sistemas biológicos, especialmente em
zebrafish, de modo que a sua utilização para responder questões sobre os efeitos
toxicológicos do RET foi imprescindível. Apesar do RET não alterar significativamente a
taxa de sobrevivência para nenhum grupo analisado, nossos resultados mostram que o
tratamento com todas as cinco concentrações de RET induziu defeitos morfológicos
significativos. As mudanças de comportamento induzidas notadas pela proporção de
peixes que seguiram o movimento das listras ser significativamente diferente entre os
grupos, sugere uma neurotoxicidade. Tal neurotoxicidade, assim como discutido por

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F.C. da Silva Junior et al, provavelmente surge de um desequilíbrio no estado de


estresse oxidativo e de alterações nos perfis transcricionais das vias colinérgica,
serotonérgica e GABAérgica. Os resultados obtidos nesse trabalho corroboram para a
identificação do RET como de fato um poluente ambiental com efeitos biológicos
significativos.

Conclusão

Em resumo, os resultados obtidos nesse trabalho, juntamente com os achados na


literatura que suportam essa toxicidade causada pelo RET, revelam a necessidade e
importância de buscar concentrações ambientais seguras desse PAH não prioritário.
Além disso, à medida que o RET tende a se acumular no ambiente aquático, levanta
um alerta sobre a bioacumulação em peixes e outros organismos. Potenciais estudos
necessitam centrar-se mais profundamente em características moleculares e genéticas
do RET em modelos animais para fornecer uma ideia mais refinada dos efeitos tóxicos
dos PAHs.

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NISHIMURA, Y. et al. Using zebrafish in systems toxicology for developmental toxicity


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Anexos

Figura 1. Resposta optomotora, as listras moveram-se a uma velocidade ascendente


constante por 1 min e velocidade descendente por 1 min, 10 vezes.

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Figura 2. Taxa de sobrevivência e eclosão

Figura 3. Diagrama das malformações

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Figura 4. Fotografias das malformações

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Figura 5. Desenho experimental

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CÓDIGO: SB0662

AUTOR: FERNANDA KAROLINE OLIVEIRA DA SILVA

COAUTOR: AMANDA DOMINGUES FONSECA

ORIENTADOR: DANIELLE BARBOSA MORAIS

TÍTULO: Parâmetros físico-químicos do sêmen de pacientes em tratamento de


reprodução assistida após contaminação pelo SARS-Cov-2

Resumo

Embora estudos realizados já apontem que o SARS-CoV-2 possui tropismo pelas células
de Leydig, Sertoli e espermatogônias, isto é, células da linhagem germinativa do
homem, ainda paira uma incerteza sobre se esse agente viral possui correlação com
quadros de infertilidade masculina. Nesse viés, esse trabalho teve como objetivo
avaliar os parâmetros seminais de homens em tratamento de reprodução humana
assistida, tendo sido conduzido no Centro de Reprodução Humana na Maternidade
Escola Januário Cicco. Após aprovação pelo comitê de ética da instituição e também
consentimento dos pacientes que apresentaram diagnóstico positivo para COVID-19,
foram analisados os dados relativos aos prontuários e espermogramas. Para avaliar a
associação entre a infecção pelo SARS-CoV-2 e alterações nos parâmetros seminais, foi
utilizado um design de caso-controle, no qual os dados do grupo controle foram de
acordo com o manual de laboratório da OMS, 6ª ed., para o exame e processamento
de sêmen humano. Pode-se concluir que a exposição ao SARS-CoV-2 pode afetar os
parâmetros seminais reduzindo os valores esperados para homens normospérmicos,
especialmente a motilidade dos espermatozoides. A existência de patologias
anteriores não parece influenciar a gravidade da condição. Portanto, este estudo
reforça a importância da avaliação seminal pós-COVID-19, com o objetivo de aumentar
as taxas de gravidez em pacientes inférteis ou com infertilidade conjugal.

Palavras-chave: Infertilidade. Fertilidade Masculina. Reprodução humana

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TITLE: Physicochemical parameters of semen from patients undergoing


assisted reproduction treatment after SARS-Cov-2 contamination

Abstract

Although studies have already shown that SARS-CoV-2 has tropism for Leydig, Sertoli
and spermatogonial cells, that is, cells of the male germ line, there is still uncertainty
as to whether this viral agent has a correlation with male infertility. In this perspective,
this work aimed to evaluate the seminal parameters of men undergoing assisted
human reproduction treatment, having been conducted at the Human Reproduction
Center at the Januário Cicco Maternity School. After approval by the institution's ethics
committee and also consent from patients who had a positive diagnosis for COVID-19,
data from medical records and spermograms were analyzed. To evaluate the
association between SARS-CoV-2 infection and changes in seminal parameters, a case-
control design was used, in which the data of the control group were performed
according to the WHO laboratory manual, 6th ed. for the examination and processing
of human semen. It can be concluded that exposure to SARS-CoV-2 can affect seminal
parameters by reducing the expected values for normospermic men, especially sperm
motility. The existence of previous pathologies does not seem to influence the severity
of the condition. Therefore, this study reinforces the importance of post-COVID-19
seminal evaluation, with the aim of increasing pregnancy rates in infertile patients or
those with marital infertility.

Keywords: Infertility. Male Fertility. Human reproduction

Introdução

Ao final do ano de 2019, e especialmente no início do ano de 2020, o mundo foi


alarmado pela pandemia da COVID-19 (Corona Virus Disease -19), uma doença
causada pelo vírus SARS-Cov-2, e que desde então vem trazendo uma crise sanitária,
econômica e ambiental sem precedentes (Sharma et al., 2021). Já se havia
preocupação por parte da comunidade científica e sanitarista quanto ao grau de
danificação ao trato respiratório que esse patógeno incitava, tendo em vista os
quadros graves de pneumonia desencadeados nos indivíduos que a ele foram
expostos.

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Destaca-se, porém, que ainda há uma lacuna quanto ao conhecimento acerca dos
impactos da COVID-19 sobre o homem, sendo importante ressaltar que o SARS-CoV-2
também causa distúrbios silenciosos.
Um desses impactos “silenciosos” está relacionado ao sistema reprodutor masculino.
Em 2006, em um estudo conduzido através da autópsia de pacientes que faleceram
em decorrência de Síndrome Respiratória Aguda (representada pela sigla em inglês
SAR), verificou-se que todos os pacientes apresentavam as células testiculares com
alto grau de destruição, com poucos espermatozóides visualizados no lúmen dos
túbulos seminíferos. Apesar do estudo envolver uma variante do SARS-CoV-2, o SARS-
CoV, o resultado possui grande relevância nos dias atuais devido ao fato de que ambas
as formas apresentam 78% de similaridade em sua sequência genômica, bem como
seu mecanismo de infecção às células hospedeiras (Agolli A, et al., 2021).
Estudos mais recentes, por sua vez, demonstram que há uma alta expressão de
receptores de ECA2 nas células testiculares: células de Leydig, células de Sertoli e nas
espermatogônias. Isso justifica a detecção da proteína do SARS-CoV-2 no interior
dessas células, conforme demonstrado em diversos estudos (Yakass et al., 2020;
Selvaraj et al., 2021; Paoli et al., 2021). Dada a importância dessas células para o
processo de maturação dos espermatozóides, é provável que haja uma interferência
do SARS-CoV-2 na fertilidade masculina. Isto porque essas células estão diretamente
relacionadas com a espermatogênese e a produção hormonal, sobretudo de
testosterona (Zhou et al., 2019).
Nessa instância, os resultados de análises pontuais têm evidenciado que os indivíduos
acometidos pela COVID-19 demonstraram diminuição na produção de
espermatozoides, bem como de testosterona, as duas principais funções dos testículos
(Meirinhos et al., 2022; Corona et al., 2020). Entretanto, apesar de muitos destes
estudos ainda estarem em andamento, ainda não há certezas se esses possíveis
impactos do SARS-CoV-2 são transitórios ou permanentes nos indivíduos; bem como,
se há presença de material genético do vírus nos espermatozoides.
Além disso, vale-se salientar que os homens, com o passar do tempo, têm sua
capacidade reprodutiva afetada, com diminuição tanto na quantidade quanto da
qualidade dos espermatozoides produzidos, além de distúrbios hormonais, mas
também por fatores ambientais. Assim, muitos homens em idade fértil podem ser
atingidos por uma infertilidade precoce em virtude de fatores não usuais e pouco
conhecidos, tais como a pandemia da COVID-19. Este quadro pode ser agravado ainda
devido ao fato de que, historicamente, exames quanto à fertilidade masculina são
negligenciados, sendo um quadro de infertilidade do casal usualmente atribuído às
mulheres (Batista et al., 2016).

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eCICT 2023

A reprodução assistida pode vir como uma alternativa para auxiliar estes indivíduos no
desejo de terem filhos. Ressalta-se, no entanto, que as estratégias usadas nos
tratamentos de reprodução assistida necessitam de dados científicos para embasar o
diagnóstico e a definição do melhor tratamento para cada indivíduo, bem como,
embasar medidas preventivas. Sob essa perspectiva, neste estudo buscou-se o
entendimento acerca dos impactos da COVID-19 sobre a fertilidade do homem, que
possam subsidiar pesquisas futuras e a escolha do tratamento adequado ao paciente.

Metodologia

Foi realizado um estudo observacional descritivo, retrospectivo e prospectivo, a partir


da coleta de dados secundários no Centro de Reprodução Assistida (CRA) da
Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), localizado no município de Natal – RN.
Foram tomados como população de estudo os prontuários dos pacientes que
atenderem aos critérios de elegibilidade para tratamento no CRA/MEJC, entre os anos
de 2022 e 2023. Todas as atividades previstas tiveram início apenas após aprovação
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP Central) da UFRN.
Os pacientes foram contactados por e-mail e/ou por telefone, a partir das informações
de contato fornecidas para o CRA, para que lhes fosse apresentado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).. Neste termo, foi solicitado o acesso aos
dados de seus prontuários, referentes ao atendimento recebido no CRA/MEJC. Foram
convidados a participar do homens que relataram terem recebido diagnóstico positivo
para a COVID-19, seja antes ou após terem iniciado o tratamento no CRA. Realizamos
até 3 tentativas de contato, separadas por um intervalo de tempo de 10 dias entre
cada uma.
Os prontuários foram analisados a fim de coletar dados relevantes à pesquisa, tais
como:
1. Perfil socioeconômico dos pacientes atendidos (Ex.: raça, idade, escolaridade, peso,
etilismo e tabagismo);
2. Características físicas do sêmen (Ex.: cor, volume, viscosidade, pH, motilidade,
vitalidade, tempo de liquefação, morfologia e concentração);
3. Alterações encontradas no espermograma (Ex.: azoospermia, oligospermia,
teratospermia, necrospermia).

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eCICT 2023

As atividades propostas nesse projeto ofereceram um mínimo de risco aos indivíduos


envolvidos na pesquisa, já que o estudo foi conduzido utilizando-se apenas dados de
prontuário, não havendo qualquer tipo de interferência no tratamento recebido pelos
pacientes no CRA/MEJC, nem contato direto entre os pesquisadores e estes pacientes.
Deste modo, os riscos associados à realização deste estudo foram a divulgação
indevida dos dados e perda de confidencialidade, e os participantes negarem o acesso
aos seus prontuários.
Como forma de minimizar estes riscos, garantimos aos pacientes do sigilo que assegura
a sua privacidade e anonimato, de modo que a os prontuários foram manipulados
exclusivamente pelos envolvidos na pesquisa, minimizando assim o risco de exposição
dos pacientes.
Quanto aos benefícios, o desenvolvimento desta pesquisa teve como objetivo
primordial enriquecer o conhecimento acerca dos impactos da COVID-19 sobre a
fertilidade, tanto dos pacientes que aceitaram participar do estudo, quanto de outros
homens.
A análise de dados usou um estudo de caso-controle, no qual os dados do grupo de
controle foram realizados de acordo com o manual de laboratório da OMS, 6ª edição,
para o exame e processamento de sêmen humano.

Resultados e Discussões

Um total de 50 pacientes foram incluídos com idade média ± DP (intervalo) de 36,7 ±


8,94 (29-50) anos. Entre eles, 64% (32/50) praticavam atividade física uma ou mais
vezes por semana. No início do tratamento, 80% não tinham filhos e 20% tinham um
ou mais filhos. Com relação aos parâmetros espermáticos (Tabela 1), 52% (26/50)
apresentaram tempo médio de liquefação de 20 minutos, 10% (5/50) com tempo
médio de 40 minutos, 2% (1/50) com 45 minutos e 36% (18/50) com tempo médio de
60 minutos (Gráfico 1).
De acordo com a OMS, esse processo geralmente ocorre até 20 minutos e termina até
60 minutos após a coleta do sêmen. O volume médio do sêmen foi de 2,9 ml, sendo
que 36% (18/50) das amostras apresentaram volume entre 0,5 e 1,5 ml e 16% (8/50)
apresentaram volume acima de 5,0 ml. Segundo o manual de laboratório da OMS, 1,5
ml é o valor mínimo aceitável para normospermia, enquanto valores acima de 5 ml
caracterizam hiperespermia. O valor médio esperado tem como limite mínimo 1,5 ml e
limite máximo 7,6 ml.

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A presença de leucócitos (10^6/ml) foi em média de 0,1% para as 50 amostras,


estando dentro do valor esperado. O valor da motilidade linear progressiva (LPM) foi
em média 19%, a motilidade não linear progressiva (NLPM) apresentou valor médio de
20% e a motilidade não progressiva (NPM) apresentou valor médio de 4,9%. De acordo
com a OMS, um valor acima de 32% de LPM + NLPM e acima de 40% de PM + NPM é
preferível para fertilidade normal. Neste estudo, respectivamente, 52% (26/50) e 56%
(28/50) dos pacientes apresentaram motilidade espermática abaixo dos valores
esperados para a soma de LPM + NLPM ou PM + NPM, caracterizando
astenozoospermia. A questão da motilidade é essencial ao se pensar na fecundação do
óvulo, ou seja, baixas motilidades significam menos chances de haver fecundação.
O valor de espermatozoides imóveis foi em média 21%. Quanto à morfologia, 22%
(11/50) dos espermatozoides tinham menos de 4% da morfologia normal. De acordo
com a OMS, o limite inferior de referência é de 4%. Desses, 65% (33/50) não tinham
outras doenças associadas e 35% (17/50) tinham doenças associadas, sendo a
varicocele a mais comum (8/17).

Conclusão

Pode-se concluir que a exposição ao SARS-CoV-2 pode afetar os parâmetros seminais


reduzindo os valores esperados para homens normospérmicos, especialmente a
motilidade dos espermatozoides. A existência de patologias anteriores não parece
influenciar a gravidade da condição. Portanto, este estudo reforça a importância da
avaliação seminal pós-COVID-19, com o objetivo de aumentar as taxas de gravidez em
pacientes inférteis ou com infertilidade conjugal.
Deste modo, o estudo contribuiu para um maior entendimento acerca dos efeitos do
SARS-CoV-2 sobre a espermatogênese e poderá subsidiar o desenvolvimento de
estudos, protocolos e tratamentos futuros, que visem preservar a saúde reprodutiva
do homem.
Sendo os efeitos da COVID-19 sobre a fertilidade ainda pouco elucidados, e sendo o
CRA/MEJC uma referência na região Nordeste para o tratamento da infertilidade, estas
informações são importantes tanto para os profissionais da área conhecerem mais
acerca dos impactos desta doença sobre a reprodução masculina, quanto para a
comunidade acadêmica, uma vez que pode permitir a feitura de novos estudos na
área, sobretudo os efeitos dos impactos a longo prazo ou mesmo estudos
retrospectivos entre homens que foram atendidos anteriormente a pandemia no
CRA/MEJC e seus parâmetros antes e após a COVID-19.

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eCICT 2023

Referências

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

WHO laboratory manual for the examination and processing of human semen, sixth
edition. Geneva: World Health Organization; 2021. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.

Anexos

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Tabela 1 - Dados socioeconômicos e parâmetros espermáticos dos pacientes

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Gráfico 1 - Tempo de liquefação das amostras seminais

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CÓDIGO: SB0672

AUTOR: MARCOS VINICIUS DE CARVALHO SOUSA ROSADO

COAUTOR: VLADIMIR GALDINO SABINO

COAUTOR: SILVANO DA CUNHA DIONIZIO

ORIENTADOR: CARLOS AUGUSTO GALVAO BARBOZA

TÍTULO: Efeitos da fotobiomodulação em células pré-osteoblásticas cultivadas


em arcabouços poliméricos.

Resumo

A engenharia de tecidos é uma abordagem promissora para tratar defeitos ósseos.


Dois biomateriais que têm se destacado para criação de arcabouços ósseos são o ácido
polilático (PLA) e a quitosana. A fotobiomodulação com laser de baixa intensidade (LBI)
também tem se destacado na engenharia tecidual. Este estudo focou em células pré-
osteoblásticas MC3T3-E1 cultivadas em arcabouços de quitosana e PLA, investigando
os efeitos do LBI. Os filmes de quitosana e PLA foram caracterizados quanto à
rugosidade e molhabilidade. A quitosana mostrou alta hidrofilicidade com aumento de
peso superior a 100% em 0,5 hora. O PLA apresentou moderada hidrofilicidade. A
irradiação a laser aumentou a proliferação celular nos filmes de quitosana e PLA. A
análise de viabilidade celular demonstrou maior viabilidade nas células irradiadas. A
microscopia eletrônica de varredura (MEV) revelou maior densidade celular e
projeções celulares proeminentes nos grupos irradiados. Os resultados sugerem
efeitos positivos da LBI nas células pré-osteoblásticas cultivadas em arcabouços de
quitosana e PLA.

Palavras-chave: Engenharia de Tecidos; Arcabouços Ósseos;


Fotobiomodulação.

TITLE: Effects of photobiomodulation on pre-osteoblastic cells cultured in


polymeric scaffolds.

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Abstract

Tissue engineering is a promising approach for treating bone defects. Two biomaterials
that have stood out for creating bone scaffolds are polylactic acid (PLA) and chitosan.
Low-level laser therapy (LLLT), also known as photobiomodulation, has also gained
prominence in tissue engineering. This study focused on MC3T3-E1 pre-osteoblastic
cells cultured on chitosan and PLA scaffolds, investigating the effects of LLLT. The
chitosan and PLA films were characterized for roughness and wettability. Chitosan
exhibited high hydrophilicity with a weight gain of over 100% in 0.5 hours. PLA showed
moderate hydrophilicity. Laser irradiation increased cell proliferation on chitosan and
PLA films. Cell viability analysis demonstrated higher viability in irradiated cells.
Scanning electron microscopy (SEM) revealed higher cell density and prominent cell
projections in the irradiated groups. The results suggest positive effects of LLLT on pre-
osteoblastic cells cultured on chitosan and PLA scaffolds.

Keywords: Tissue Engineering; Bone Scaffolds; Photobiomodulation.

Introdução

A engenharia de tecidos é uma área multidisciplinar fundamentada na aplicação de


uma fonte celular, que tenha a capacidade de formar o tipo de tecido desejado,
associada a um arcabouço, que assemelha-se à matriz extracelular desse tecido, bem
como a fatores de crescimento, compostos químicos ou estímulos mecânicos, que
induzam à proliferação celular (MURPHY et al., 2013). Nesse contexto, a engenharia
tecidual se mostra como uma alternativa no tratamento de defeitos ósseos, devido à
quantidade limitada de tecidos autólogos e aos riscos associados à rejeição de
aloenxertos (NG J., SPILLER K., BERNHARD J., VUNJAK-NOVAKOVIC G., 2017).
Na busca por avanços na área, dois biomateriais têm se destacado significativamente
na produção de arcabouços ósseos: o ácido polilático (SAINI et al., 2016; WANG et al.,
2010) e a quitosana (ORYAN et al., 2014; SUKPAITA et al. 2021). O ácido polilático
(PLA), um polímero biodegradável derivado da fermentação do amido de milho e cana
de açúcar, apresenta biocompatibilidade e biodegradação em produtos não tóxicos,
podendo ser usado em associação a outros polímeros, aumentado sua aplicação na
construção de arcabouços temporários para a regeneração tecidual (Singhvi et al.,
2019). Já a quitosana, obtida a partir de exoesqueletos de crustáceos, apresenta
características antimicrobianas, biocompatíveis, com a capacidade de permitir a
adesão e proliferação celular, bem como a biodegradação e afinidade por fatores de

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crescimento, permitindo uma modulação precisa dos processos celulares (Guo et al.,
2007).
A fotobiomodulação (PBM) com laser de baixa intensidade (LBI) é outra ferramenta
que tem sido utilizada na engenharia tecidual (Bikmulina et al., 2022). Consiste na
aplicação de laser nos comprimentos de onda entre 600 nm a 700 nm, no espectro
vermelho, ou de 780 nm a 1100 nm, no infravermelho, quando a penetração no tecido
é máxima, com efeito biológico a depender da densidade de energia e potência (DE
FREITAS et al., 2016). Tem papel na estimulação da proliferação celular e aumento da
viabilidade pela influência em processos oxidativos, aumento de ATP, entre outros
relacionados ao metabolismo mitocondrial (Migliario et al., 2014).
Um método empregado para investigar a regulação do metabolismo ósseo envolve a
utilização das células MC3T3-E1. Estas células representam uma linhagem de pré-
osteoblastos originados da calvária de camundongos e são amplamente empregadas
na investigação de processos biológicos do tecido ósseo em ambiente de cultura in
vitro, (ADDISON et al., 2015) sendo a escolha dessa linhagem apropriada para o
presente estudo. Dessa forma, essa pesquisa visa avaliar os efeitos da
fotobiomodulação, a partir da aplicação de laser de baixa intensidade, em células
MC3T3-E1 cultivadas em arcabouços de quitosana e PLA.

Metodologia

Preparação e caracterização dos filmes de quitosana e PLA


Filmes de quitosana foram preparados adaptando o protocolo de Campos et al. (2015).
Inicialmente, dissolveu-se 2 g de quitosana (Polymar, Brasil) em 100 mL de ácido
acético (Dinâmica, Brasil) a 2,0% (p/p) durante 24 horas. D-Sorbitol (Sigma, EUA) foi
adicionado na proporção de 0,2 g por 20 mL à solução de quitosana, agitada por 2
horas. Em seguida, 30 mL da mistura foram distribuídos em placas de Petri de 90 mm e
secos a 40ºC até formar uma película. Para neutralização, empregou-se hidróxido de
sódio a 2% (m/v) por 30 minutos, seguido por lavagem para neutralizar o pH. O
material foi estendido e seco em temperatura ambiente.
Filmes de PLA foram fabricados seguindo o procedimento delineado por Liang et al.
(2008). Inicialmente, 6 g de pellets de PLA foram dissolvidos em 600 mL de clorofórmio
a 60 °C durante 90 minutos com agitação intensa. Depois disso, 30 mL da solução
foram alocados em placas de Petri de 90 mm e mantidos à temperatura ambiente até
que o clorofórmio evaporasse completamente, resultando na formação de filmes finos.

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A caracterização dos arcabouços foi feita levando-se em consideração a molhabilidade


e a rugosidade. A quitosana utilizada nos filmes apresentou massa molecular de 3,99 x
105 g/mol, sendo a sua rugosidade analisada por microscópio de força atômica (AFM),
modelo SPM 9700 (Shimadzu, Japão) e hidrofilicidade por meio de ensaio de
intumescimento. Quanto ao PLA, apresentou massa molecular de 93,156 g/mol e
análise nanotopográfica feita utilizando AFM, modelo SPM 9600 (Shimadzu, Japão).
Além disso, a molhabilidade foi analisada a partir da medição do ângulo de contato de
uma gota de água a partir do uso de goniômetro (Ramé-Hart Instrument Co., EUA)
conforme os parâmetros estabelecidos por Kota, Kwon e Tuteja (2004), de forma que,
um material é considerado super-hidrofílico quando o ângulo de contato (θ) é
aproximadamente 0°, classifica-se como hidrofílico quando θ é inferior a 90° e é
considerado hidrofóbico quando θ é superior a 90°.
Obtenção das células
Foi empregada a linhagem de células MC3T3-E1 pré-osteoblásticas, originárias de
calvárias de camundongos e fornecidas pela ATCC (American Type Culture Collection,
EUA). As células foram cultivadas em frascos de cultura de 75 cm² (TPP, Suíça),
utilizando meio α-MEM suplementado com 10% de soro fetal bovino e 1% de
antibiótico e antimicótico. O cultivo ocorreu a 37°C, com trocas de meio a cada três
dias e ambiente contendo 5% de CO2. Quando atingiram 75% de confluência, as
células foram subcultivadas usando tripsina-EDTA (Gibco, EUA) e transferidas para
novos frascos com meio fresco.
Irradiação
Para cada arcabouço, foram constituídos três grupos para os experimentos com LBI,
um grupo experimental em que se foi aplicado o laser no biomaterial (Quitosana
Laser/ PLA Laser), e dois grupos controle, um contendo o polímero não irradiado
(Quitosana Controle/ PLA Controle) e o outro sendo o plástico regular das placas de
cultivo, também sem irradiação (Plástico Controle).
A irradiação foi realizada com um dispositivo de Laser diodo (modelo Bio Wave LLLT
Dual, Kondortech, São Carlos, Brasil), com características como comprimento de onda
de 660 nm, potência de 30 mW, densidade de energia de 4 J/cm², diâmetro da ponta
de 0,01 cm² e duração de irradiação de 2 minutos e 13 segundos, operando em modo
contínuo.
Ensaio de proliferação celular
A proliferação celular foi avaliada por meio do ensaio Alamar Blue (Invitrogen, EUA). As
células foram dispostas com densidade de 5 x 10³ por poço, em placas de 96 poços. Os
intervalos de análise foram de 24, 48 e 72 horas. Em cada intervalo, uma solução
contendo o reagente misturado com meio de cultivo foi adicionada aos poços e

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incubada por 4 horas. Posteriormente, as soluções foram lidas quanto à sua


absorbância, através da retirada de alíquotas dos poços analisados. Esse processo foi
conduzido utilizando um espectrofotômetro (Epoch, EUA), registrando as leituras nos
comprimentos de onda de 570 nm e 600 nm. Os dados obtidos foram analisados sob o
uso de testes não paramétricos de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney, com um nível de
significância de 5% (p<0.05).
Ensaios de viabilidade celular
Foi empregado o ensaio FITC Annexin V/Dead Cell Apoptosis (Invitrogen, EUA) para
avaliar a viabilidade das células após irradiação. No caso das células cultivadas em
filmes de PLA, o experimento consistiu em cultivos em placas de 6 poços com
densidade de 2 x 105 células por poço. Após 72 horas da irradiação a laser, o meio de
cultura foi coletado, os poços lavados com PBS e tratados com tripsina para liberar
células aderentes. Anexina V e iodeto de propídeo foram adicionados, seguido de
incubação no escuro. O citômetro de fluxo (FACSCanto II, BD Biosciences, EUA) avaliou
emissões a 520 nm e 600 nm. Para células em filmes de quitosana, o cultivo foi em
placas de 6 poços com densidade de 1x10⁵ por poço, e a análise ocorreu nos
comprimentos de onda de 530 nm e 575 nm.
Análise morfológica
Para analisar as interações entre células e biomateriais, bem como a distribuição das
células nos arcabouços poliméricos, foi conduzida a microscopia eletrônica de
varredura (MEV) após 72 horas. Nesse sentido, os arcabouços foram lavados com PBS
para remover células não aderidas e fixados com glutaraldeído a 2,5%. As amostras
foram preparadas e posteriormente, examinadas utilizando a MEV (TM300, Hitachi,
Japão) para a obtenção de eletromicrografias.

Resultados e Discussões

Caracterização dos arcabouços


A morfologia da membrana de quitosana exibiu uma altura máxima de perfil de
rugosidade de 285,27 nm (Figura 1) observada por microscopia de força atômica
(AFM). Durante a avaliação do intumescimento da membrana de quitosana, foi notado
que houve um aumento superior a 100% em seu peso inicial nas primeiras 0,5 hora
(Figura 2), evidenciando a hidrofilicidade do filme de quitosana.
Quanto ao PLA, a análise nanotopográfica por AFM revelou uma rugosidade média de
21,43 nm, altura máxima de perfil de rugosidade de 183,94 nm, altura máxima de pico
de 67,71 nm e um espaçamento médio entre picos de 0,36 nm (Figura 3). a

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molhabilidade da superfície foi considerada hidrofílica com um ângulo de contato de


83,79° (Figura 4).
Ensaio do Alamar Blue
Ao examinar os filmes de quitosana, nas primeiras 24 horas (Figura 5), os resultados
indicaram que o grupo Quitosana Controle apresentou médias inferiores à média do
grupo Plástico Controle, que representa a condição de referência para o crescimento
celular. Em contrapartida, o grupo Quitosana Laser exibiu a maior média de redução
do Alamar Blue e observou-se, ainda, um aumento de proliferação celular quando
comparada ao grupo Quitosana Controle. No intervalo de 48 horas (Figura 6),
entretanto, o grupo irradiado não apresentou um aumento na proliferação celular
comparado ao grupo não irradiado de quitosana. Após 72 horas (Figura 7), o grupo
Quitosana Laser apresentou uma média superior ao grupo Quitosana, sem diferenças
estatísticas (p>0,05) em relação ao grupo Controle.
No contexto dos arcabouços de PLA, os resultados do ensaio Alamar Blue
evidenciaram um aumento considerável na proliferação celular do grupo PLA
submetido a irradiação (Figura 8). Esse grupo exibiu uma redução significativamente
maior do Alamar Blue, particularmente nos intervalos de 48 e 72 horas (p<0,01). Por
outro lado, não foram identificadas diferenças significativas (p>0,05) na proliferação
celular entre os grupos do Plástico Controle e PLA Controle ao longo do experimento.
Ensaio de viabilidade anexina V/PI
A análise da morte celular e apoptose por meio da marcação de Anexina V/PI via
citometria de fluxo indicou que as células mantiveram viabilidade ao serem cultivadas
em membranas de quitosana, independentemente da fotobiomodulação (Figura 9).
Nos grupos cultivados com quitosana revelou-se que as células irradiadas
apresentaram maior viabilidade (85,2%) em comparação com o grupo não irradiado
(82,1%). O grupo Plástico Controle exibiu a mais alta taxa de viabilidade (89,2%).
No caso dos filmes de PLA, o grupo irradiado registrou a maior porcentagem de células
viáveis (94%), em comparação com os grupos PLA não irradiados (90,7%) e Plástico
Controle (92,8%) (Figura 10). Ademais, o grupo tratado a laser demonstrou uma
porcentagem menor de células avançando para eventos de apoptose celular,
identificados nos quadrantes Q2 e Q3, indicando que o laser não provocou dano
celular.
Características morfológicas (MEV)
A análise realizada por microscopia eletrônica de varredura (MEV) nos filmes de
quitosana revelou que no grupo não irradiado, as células apresentaram um padrão
mais isolado, com formato arredondado e poucas projeções celulares (Figura 11-A).

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Em contraste, no grupo irradiado, as células mostraram projeções mais proeminentes


e formaram aglomerados celulares (Figura 11-B).
No contexto dos filmes de PLA, o grupo submetido à irradiação demonstrou uma maior
densidade celular na superfície do filme, com as células assumindo uma morfologia
arredondada (Figura 12 - B,D). Enquanto isso, as células do grupo não irradiado
mantiveram uma morfologia alongada em forma de fuso (Figura 12 - A,C).
Discussão
O ensaio do Alamar Blue se baseia na capacidade das células metabolicamente ativas
de converterem o reagente em uma forma reduzida, emitindo fluorescência. O
reagente, a resazurina, é adicionado ao meio de cultivo contendo as células e, ao longo
do tempo, sua cor vai se alterando conforme a conversão em resorufina ocorre, sendo
a mudança na cor diretamente proporcional à atividade metabólica das células, que
está relacionada à sua proliferação (Rampersad, 2012). A análise dos resultados da
redução do Alamar Blue, revela que as células cultivadas em arcabouços poliméricos e
expostas à fotobiomodulação por meio de laser de baixa intensidade apresentaram
uma amplificação na sua proliferação celular em comparação aos grupos não
irradiados. Especificamente para as células cultivadas em arcabouços de ácido
polilático (PLA) e sujeitas à irradiação, o aumento da proliferação celular foi, inclusive,
superior ao do grupo do Plástico Controle, representado pelo substrato de cultivo
celular padrão. As células cultivadas em filmes de quitosana, quando submetidas à
irradiação, não demonstraram divergências significativas em relação ao grupo
controle, sugerindo que a associação entre arcabouço e a fotobiomodulação é viável
para a proliferação celular (Choi et al., 2013).
Para o ensaio da anexina V/PI, O emprego do marcador FITC Annexin e do Iodeto de
propídeo proporciona a discriminação entre células em apoptose e aquelas que
apresentam perda de viabilidade, possibilitando, simultaneamente, a diferenciação das
células que mantêm um estado viável (Kumar et al., 2021). No ensaio, foi demonstrado
que os grupos irradiados tiveram uma viabilidade superior aos grupos não tratados,
evidenciando que a laserterapia apresenta medidas protetivas a apoptose celular nos
parâmetros estudados, quando ajustado a doses baixas e comprimento de onda no
espectro visível vermelho (Alghamdi et al., 2012). Além disso, diversos outros fatores
podem estar associados ao aumento da viabilidade e proliferação celular como
aumento na produção de ATP e atividade mitocondrial (Ginani et al., 2015), bem como
a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) nas vias de sinalização intracelular
que controlam a proliferação celular, diferenciação e apoptose (Migliario et al., 2014).
É reconhecido que a rugosidade de um arcabouço tem efeito na capacidade de
proliferação das células. Superfícies com maior rugosidade apresentam espaços de
maior interação intercelular, com uma maior superfície de contato e

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consequentemente adsorção de moléculas, afetando a adesão celular e proliferação


(Han et al, 2022). Os achados de rugosidade para quitosana indicaram um perfil
máximo de 285,27 nm, que quando comparado a estudos prévios (Trakoolwannachai
et al., 2019; Divya et al., 2019) indicam uma tendência a arcabouços puros de
quitosana apresentarem rugosidade baixa e, além disso, propriedades mecânicas
inadequadas, podendo ser melhorados com a associação da quitosana a outros
materiais (Sukpaita et al., 2021). De forma semelhante, o PLA apresentou pico de
rugosidade de 183,94, com média de 21,43 nm, valor próximo ao encontrado em Jiao
et al. (2012), 22,32 nm, e em Dadashi et al. (2014), 34,00 nm. No entanto, o PLA
apresenta melhores propriedades mecânicas. (Ye, Bao, Zhang, et al., 2020)
Na avaliação da afinidade com a água, foram conduzidos dois testes distintos. No teste
de intumescimento da quitosana, ocorreu um aumento superior a 100% em relação ao
seu peso original em apenas 0,5 hora, evidenciando uma característica de alta
hidrofilicidade do arcabouço, corroborada por estudos prévios na literatura (Britta et
al., 2018; Divya et al., 2019; Gatto et al., 2019; Nagarpita et al., 2017;
Trakoolwannachai et al., 2019; Younes et al., 2015). Quanto aos filmes de PLA, o
ângulo de contato de 83,79 graus encontra-se no limite entre hidrofílico (θ < 90 graus)
e hidrofóbico (θ > 90 graus), indicando uma hidrofilicidade moderada em seu estado
puro (Saini et al., 2016). Apesar disso, como demonstrado no ensaio do Alamar Blue, o
arcabouço de PLA demonstrou uma maior capacidade de proliferação celular, inclusive
quando não irradiado, em comparação com o grupo Plástico Controle.
Finalmente, no contexto dos aspectos morfológicos, a Microscopia Eletrônica de
Varredura (MEV) revelou um incremento na densidade celular e no número de
projeções celulares em ambos os tipos de arcabouços quando submetidos à
fotobiomodulação por laser de baixa intensidade. Além disso, no grupo que utilizou o
PLA como substrato e foi submetido à irradiação, foi observada uma alteração na
morfologia celular padrão, o que pode sugerir a ocorrência de mudanças fenotípicas
induzidas pelo tratamento de fotobiomodulação, como demonstrado em Ginani et al.
(2018), em que células-tronco obtidas da polpa do dente decíduo (SHEDs) tiveram
efeitos positivos na sobrevivência e diferenciação osteogênica dental quando tratadas
com laser de baixa intensidade.
Considerando os resultados deste estudo, é válido concluir que a terapia com laser de
baixa intensidade pode ter efeitos favoráveis em células pré-osteoblásticas cultivadas
em filmes de quitosana e PLA. No entanto, é essencial continuar investigando as
respostas resultantes de outros efeitos da LBI no comportamento de células
osteoblásticas cultivadas em arcabouços, realizando experimentos de maior duração
para avaliar a influência dos fatores osteogênicos, bem como a melhoria dos aspectos
físico-químicos dos arcabouços.

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Conclusão

Para o presente estudo, o laser aplicado na potência de 30mW, no espectro vermelho


(λ = 660 nm) e com uma dose aplicada de 4 J/cm², promoveu o aumento da
proliferação e viabilidade celular nos filmes de quitosana e PLA. Dessa forma, o estudo
apresenta contribuição na busca por estratégias da engenharia tecidual e regeneração
óssea, com implicações para o desenvolvimento de estudos futuros.

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Anexos

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Figura 1 - Rugosidade da superfície de quitosana.

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Figura 2 - Percentual de intumescimento da membrana de quitosana.

Figura 3 - Rugosidade da superfície de PLA.

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Figura 4 - Representação do ângulo de contato de uma gota de água para o PLA.

Figura 5 - Ensaio do Alamar Blue, quitosana 24h.

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eCICT 2023

Figura 6 - Ensaio do Alamar Blue, quitosana 48h.

Figura 7 - Ensaio do Alamar Blue, quitosana 72h.

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Figura 8 - Ensaio do Alamar Blue, PLA, 24, 48 e 72h.

Figura 9 - Ensaio da Anexin V/PI, quitosana.

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Figura 10 - Ensaio da Anexin V/PI, PLA.

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Figura 11 - Microscopia eletrônica de varredura, quitosana.

Figura 12 - Microscopia eletrônica de varredura, PLA.

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CÓDIGO: SB0677

AUTOR: ANA LUIZI BARACHO DA SILVA

ORIENTADOR: JANINE INEZ ROSSATO

TÍTULO: O papel da proteína PKMzeta na reconsolidação da memória espacial

Resumo

A memória espacial serve para lembrar a localização de itens e locais, bem


como a posição dos mesmos no espaço. Para persistir, as memórias espaciais
precisam passar por um processo de estabilização conhecido como
consolidação. Ainda que estáveis, as memórias consolidadas não são fixas,
senão que podem ser desestabilizadas quando evocadas e reestabilizadas
através de reconsolidação. Esse ciclo de desestabilização/reconsolidação
serve para adicionar nova informação às memórias evocadas. A PKMzeta é
uma isoforma constitutivamente ativa da família das proteínas cinases C
atípicas necessária para o armazenamento duradouro de memórias, porém
pouco se sabe acerca do seu envolvimento na reconsolidação da memória
espacial. Para elucidar esse assunto, utilizamos ratos Wistar machos adultos (3
meses de idade, 300-350g) implantados bilateralmente com cânulas de infusão
na região CA1 do hipocampo dorsal, que foram treinados na versão espacial do
Labirinto Aquático de Morris (LAM) e, a distintos tempos pós-treino, receberam
infusões de veículo, do inibidor específico da PKMzeta, ZIP (1 nmol/μl), ou do
seu análogo inativo, scZIP (1 nmol/μl). A retenção da memória em questão
avaliou-se 24 ou 48 horas mais tarde. Encontramos que a PKMzeta está
diretamente ligada ao processo de reconsolidação da memória espacial,
relacionada com a região CA1 do hipocampo dorsal.

Palavras-chave: Memória espacial.Labirinto Aquático de


Morris.Reconsolidação.PKMeta.

TITLE: The role of the protein PKMzeta in the reconsolidation of spatial


memory.

Abstract

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Spatial memory serves to recall the location of items. To persist, spatial


memories need to undergo a stabilization process known as consolidation.
Even though stable, consolidated memories are not fixed but can be
destabilized when recalled and restabilized through reconsolidation. This cycle
of destabilization/reconsolidation serves to add new information to the evoked
memories. PKMzeta is a constitutively active isoform of the atypical protein
kinase C family necessary for the long-term storage of memories, but little is
known about its involvement in the reconsolidation of spatial memory. To
elucidate this matter, we used adult male Wistar rats (3 months old, 300-350g)
bilaterally implanted with infusion cannulas in the CA1 region of the dorsal
hippocampus, which were trained in the spatial version of the Morris Water
Maze (MWM) and, at different times post-training, received infusions of vehicle,
the specific PKMzeta inhibitor, ZIP (1 nmol/μl), or its inactive analog, scZIP (1
nmol/μl). Memory retention was assessed 24 or 48 hours later. We found that
PKMzeta is directly linked to the reconsolidation process of spatial memory,
related to the CA1 region of the dorsal hippocampus.

Keywords: Spatial memory. Morris Water Maze. Reconsolidation. PKMzeta.

Introdução

A memória é o mecanismo fisiológico que envolve a aquisição, armazenamento


e evocação de informações. As memórias podem ser classificadas em
memórias de curta duração (MCD) ou de longa duração (MLD), referentes ao
tempo. As memórias de longa duração são classificadas como declarativas
(aprendizagem consciente) e não declarativas (aprendizagem inconsciente).
Dentre as memórias declarativas destaca-se a memória espacial, que se
caracteriza pela codificação e a recuperação de informações sobre o ambiente
e objetos com o intuito de orientação espacial de um indivíduo, sendo essencial
para lembrar de localizações e planejar rotas futuras (KANDEL et al., 2014;
MCGAUGH, 2000, SQUIRE; ZOLA, 1996). Déficits significativos nesse tipo de
memória podem estar associados ao envelhecimento ou a doenças
neurodegenerativas como a doença de Alzheimer (LIU, 1991; MOFFAT, 2009,
COUGHLAN, 2018). Dois processos são imprescindíveis para o
armazenamento de MLD espacial, a consolidação e a reconsolidação.
(NADER, EINARSSON, 2010, MILNER; SQUIRE; KANDEL, 1998).
A consolidação é um processo de estabilização de informações para o
armazenamento, dependente da expressão gênica e síntese proteica (DUDAI,
2004; MCGAUGH, 2000). Após o processo de consolidação, as memórias
podem sofrer alterações e tornarem-se instáveis a intervenções farmacológicas
ou comportamentais, esse processo de manutenção é chamado de

934
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eCICT 2023

reconsolidação. Durante o processo de reconsolidação, uma memória


anteriormente armazenada pode ser modificada e/ou fortalecida através da
aquisição de novas informações (SARA, 2000; HUPBACH et al., 2007;
ROSSATO et al., 2007). Apesar de ser um processo amplamente estudado, a
reconsolidação da memória espacial ainda não é completamente
compreendida. O estudo da reconsolidação desse tipo de memória requer a
utilização de uma tarefa que permita a análise comportamental precisa. Um dos
principais protocolos comportamentais que pode oferecer esse tipo de
investigação é a versão espacial do Labirinto Aquático de Morris (LAM)
(ROSSATO, 2006).
Em ratos, a evocação da memória espacial no LAM, na presença de
novidades, induz a reconsolidação, envolvendo síntese proteica e expressão
gênica na região CA1 do hipocampo dorsal. A reconsolidação pode adicionar
novas informações e modificar a memória de longa duração (MLD) reativada.
(ROSSATO et al.,2006; MORRIS et al., 2006).
Entre as proteínas envolvidas no processo de formação e manutenção da
memória de longa duração temos a família das proteínas quinases C (PKC),
com uma estrutura que permite seu processo de auto regulação e se apresenta
constitutivamente inativa (VIANNA et al., 2000). A proteína quinase do tipo zeta
(PKMzeta) é uma proteína pertencente a esta família, participando do subgrupo
das isoformas atípicas, que permanece, diferentemente das PKCs
convencionais, constitutivamente ativa (PATEL; ZAMANI, 2020). Anteriormente,
foi demonstrado que ao administrar o peptídeo inibidor da PKMzeta (ZIP), após
a reativação associada a reconsolidação da memória de reconhecimento de
objetos, foi observado um comportamento amnésico, sugerindo essa quinase
medeia a reconsolidação de outros tipos de memória (KWAPIS;
HELMSTETER, 2014; ROSSATO et al., 2019). Entretanto, ainda existem
lacunas na compreensão do mecanismo de ação da PKMzeta no processo de
reconsolidação da memória espacial. Portanto, faz-se necessário a realização
de estudos que busquem desvendar o papel da modulação farmacológica do
estado de ativação relativa dessa proteína bem como investigar suas
repercussões comportamentais relacionadas à memória espacial, a fim de
contribuir no desenvolvimento de possíveis futuras estratégias terapêuticas
para o tratamento do déficit cognitivo na navegação espacial associado à
senescência ou a doenças neurodegenerativas. Assim, este estudo tem como
objetivo investigar o papel da proteína PKMzeta no processo de reconsolidação
da memória espacial, utilizando o paradigma de aprendizagem do LAM.

Metodologia

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eCICT 2023

Foram utilizados ratos Wistar machos, de 3 meses de idade, pesando entre


280-330 g, fornecidos pelo Biotério Setorial do Instituto do Cérebro-BISIC da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os animais serão
tratados conforme a Lei número 6638 de 8/5/79 que regulamenta o uso de
animais para prática didático-científica. O protocolo experimental será
desenvolvido de acordo com as diretrizes da Lei AROUCA (Lei número 11.794,
de 08 de 10 de 2008), que estabelece procedimentos para uso científico de
animais, sendo aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais/UFRN
sob o número 313.054/2022. Foram realizadas cirurgias estereotáxicas de
implante de cânulas para infusão na região CA1 do hipocampo dorsal
(coordenadas estereotáxicas, em mm: anteroposterior, -4,2; mediolateral, ±3,0;
dorsoventral, -3,0 (PAXINOS, WATSON, 2006). Os animais foram
anestesiados com ketamina (80 mg/kg) e xilazina (10 mg/kg). Após a cirurgia,
foi administrado profilaticamente analgésicos (meloxicam). Os experimentos
comportamentais ocorreram após 7 dias de recuperação.
Para o estudo da reconsolidação da memória espacial foi utilizado a versão
espacial do labirinto aquático de Morris (LAM). Esse labirinto consiste em uma
piscina circular preta com 200 cm de diâmetro, dividida em quatro quadrantes
imaginários idênticos. Posicionamos uma plataforma de escape com um
diâmetro de 12 cm, escondida a dois centímetros abaixo da superfície da água
turva (mantida a temperatura de 21-23°C), fora da vista dos ratos. O LAM está
situado em uma sala ampla e bem iluminada, com 3 dicas visuais de
localização espacial distribuídas nas paredes (Figura 1). Antes do treinamento,
manipulamos brevemente os animais e os introduzimos na piscina por um
minuto para que se acostumassem ao ambiente. O treinamento ocorreu ao
longo de sete dias, com uma sessão diária composta por oito tentativas
consecutivas. Durante essas tentativas, mantivemos a plataforma submersa
em uma posição fixa. Cada tentativa teve uma duração de 60 segundos
máxima, com um intervalo de 30 segundos entre elas, durante o qual os
animais permanecem sobre a plataforma submersa. Ao longo do treino
medimos e analisamos a latência de cada animal para alcançar a plataforma de
escape submersa.
Avaliamos a retenção da memória espacial em um ou dois testes (dependendo
do grupo experimental) de retenção da memóriacom duração de 60 segundos,
realizados 24h ou 48h após a última sessão de treinamento. Durante o teste, a
plataforma foi mantida ou retirada da piscina, e foi avaliado o tempo que o
animal nadou no quadrante onde a plataforma estava originalmente localizada
durante o treino; b) o tempo que o animal demorou para atravessar a posição
onde a plataforma esteve durante a sessão de treinamento. Foram
administradas microinjeções bilaterais de ZIP (1 nmol/µl/hemisfério), que é um
inibidor da proteína PKMzeta, através de cânulas posicionadas na região CA1
do hipocampo. Para os grupos controle foram injetados cloreto de sódio 0,9%

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(1 µl/hemisfério) ou scrambled ZIP (scZIP - peptídeo ZIP inativo) (1


nmol/µl/hemisfério). A infusão da droga/veículo foi realizada por meio de uma
agulha gengival conectada a uma microseringa Hamilton (Hamilton Company®,
USA). A agulha gengival foi acoplada à cânula de infusão permitindo que a
droga/veículo seja administrada na região de estudo. Foi realizada a análise
estatística dos resultados simultaneamente com a realização dos experimentos
comportamentais e moleculares, utilizando o software GraphPad Prism. Os
dados foram analisados por meio de ANOVA de medidas repetidas e/ou teste t
de Student para comparação entre os dois grupos.
Para demonstrar o perfil não neurotóxico do ZIP, os mesmos animais foram
submetidos a outros paradigmas de aprendizagem, o Reconhecimento de
Objetivos (RO) e a Esquiva Inibitória (EI). No RO os animais foram habituados
por 4 dias em uma caixa de campo aberto, no 5º dia foram colocados dois
objetos iguais, para que os animais explorem de forma equivalente ambos os
objetos, é medida o tempo de exploração de cada animal para cada objeto. No
6º dia é apresentado um objeto novo, a tendência é que se os animais lembram
do objeto antigo e eles explorem mais o novo, fazendo com que o índice de
discriminação seja maior.
No caso da EI, no primeiro dia os animais foram colocados na plataforma e foi
medida a latência de descida do animal da plataforma para a grade, quando ele
desce é dado um choque de 0,4 mA por 2s, no dia do teste caso o animal
reative a memória do choque a latência tende a aumentar, provavelmente o
animal nem desça da plataforma, caso ele não desça em até 600s, o animal é
conduzido para a grade.

Resultados e Discussões

O papel da PKMzeta na reconsolidação ainda não é claro, pois pode variar em


diferentes regiões do cérebro e tipos de memórias distintas (PATEL; ZAMANI,
2020). Por isso, delimitamos nosso estudo à região do hipocampo e à memória
espacial. Para investigar o impacto da inibição da PKMzeta no processo de
reconsolidação da memória espacial, empregamos o paradigma de
aprendizado do LAM e foram conduzidos quatro experimentos. O Experimento
1 (Figura 2) envolveu um treinamento de sete dias, seguido por um teste (teste
1) no dia 8, onde a plataforma foi retirada com o objetivo de induzir a reativação
da memória espacial associada com processo de reconsolidação decorrente da
presença da novidade (ausência da plataforma). Adicionalmente, realizamos a
infusão de ZIP, ZIPsc ou VEH imediatamente após o primeiro teste. Um novo
teste (teste 2) foi realizado sem a plataforma 24 depois (dia 9) (Figura 2.A).

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Durante os dias de treinamento, monitoramos a latência que cada animal


levava para alcançar a plataforma, e o gráfico resultante evidenciou uma
redução do tempo de latência ao longo dos sete dias, indicando uma curva de
aprendizagem e com diferença significativa entre o primeiro dia e todos os
seguintes (Figura 2.B: p<0,0001 em uma ANOVA de medidas repetidas). Nos
testes, observamos que em relação ao tempo que os animais levavam para
chegar à antiga localização da plataforma, aqueles que receberam ZIP
apresentaram uma latência significativamente maior. Enquanto isso, os grupos
que receberam VEH ou ZIPsc não demonstraram diferenças significativas no
tempo durante os dois testes (Figura 2.C: p<0,01 para um teste t de student).
Além disso, considerando o gráfico de tempo de permanência no quadrante
onde a plataforma costumava estar (quadrante alvo), os animais que
receberam ZIP mostraram uma redução significativa no tempo de permanência,
enquanto ambos os grupos de controle mantiveram tempos semelhantes,
indicando que a memória da localização original da plataforma foi preservada
(Figura 2.D: p<0,01 em um teste t de amostra única para 25% e para teste t de
student).
Para corroborar a relação da PKMzeta com o processo de reconsolidação, foi
realizado um segundo experimento (Figura 3) projetado sem a indução da
reconsolidação através da ausência da reativação. Todos os animais passaram
por um treinamento de 7 dias, também resultando em uma redução na latência
para encontrar a plataforma e diferença significativa entre o primeiro dia e
todos os seguintes (Figura 3. A: p<0,0001 em uma ANOVA de medidas
repetidas). No 8º dia, apenas a infusão de ZIP ou VEH ocorreu. No dia 9
realizamosum teste, sem a plataforma, 24 horas após a infusão. O gráfico que
representa a latência em relação à plataforma no dia do teste (Figura 3.C)
revela que o tempo que os animais levam para alcançar o local onde estava a
plataforma é comparável, independentemente da substância injetada. Da
mesma forma, em relação ao tempo de permanência no quadrante alvo (Figura
3.D), também não se observaram diferenças significativas entre os dois grupos.
Esse resultado corrobora com os achados do experimento 1(Figura 2),
mostrando que a PKMzeta apenas interfere na formação da memória espacial
se houver uma reativação associada a reconsolidação, assim como ocorre com
outros tipos de memória como a de reconhecimento de objetos (KWAPIS;
HELMSTETER,2014; ROSSATO et al., 2019).
No Experimento 3 (Figura 4), não se induziu o processo de reconsolidação nos
animais, mas diferente do experimento 2 (Figura 3) foram realizados dois
testes, entretanto no primeiro a plataforma permaneceu na piscina, semelhante
aos dias de treino (Figura 4.A). Inicialmente os animais passaram por 7 dias de
treino e ocorreu a redução da latência para chegar até a plataforma, com
diferença significativa entre o primeiro dia e os seguintes (Figura 4.B: p<0,0001
em uma ANOVA de medidas repetidas). Após o primeiro teste, os animais

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receberam ZIP ou VEH, após 24h ocorreu o segundo teste e a plataforma foi
retirada. No que se refere ao tempo que os animais levam para chegar à
localização da plataforma, tanto com a plataforma presente (Teste 1) quanto na
sua ausência (Teste 2), não se observaram diferenças significativas entre o
grupo com a infusão de ZIP e o grupo controle (Figura 4.C). Adicionalmente,
em relação ao tempo de permanência no quadrante-alvo, avaliado apenas no
Teste 2, também não se constatou uma diferença significativa entre os grupos
(Figura 4.D). Esse resultado corrobora com os achados anteriores de que a
PKMzeta não participa do do processo de consolidação inicial da memória
espacial relacionada ao LAM, e sim outras isoformas atípicas da PKC, como é
o caso da PKCiota/lambda, que quando inibida, afeta a consolidação desse tipo
de memória (WANG et.al, 2016).
No Experimento 4 (Figura 5), realizamos uma análise para garantir que a
infusão de ZIP não afetou a formação da memória devido algum possível efeito
de indução de morte neuronal. Para isso, submetemos os animais a outros
paradigmas de aprendizado 48 horas após a administração de ZIP ou
substâncias de controle. Foi utilizado o Reconhecimento de Objetos (RO) e a
Esquiva Inibitória (EI) (Figura 5.A).No teste de RO um dos objetos usados
durante o treinamento foi substituído por um novo objeto. Os resultados
revelaram que, independentemente do grupo ter recebido VEH, ZIPsc ou ZIP, o
índice de discriminação dos objetos não apresentou diferença significativa
(Figura 5.B esquerdo), indicando que a memória em relação ao objeto antigo
permaneceu e que a infusão de ZIP não foi prejudicial. No que diz respeito ao
teste de Esquiva Inibitória, durante o dia de treinamento, é medida a latência
que os animais levaram para descer da plataforma para a grade, onde
receberam um choque. No dia do teste, esperávamos que os animais
apresentassem uma maior latência ao descerem, indicando uma memória da
aversão ao choque. Os animais demoram mais para descer e ao analisar o
intervalo de tempo, não observamos diferença significativa entre os grupos que
receberam ZIP, ZIPsc ou VEH (Figura 5.B direito). Isso sugere que a infusão de
ZIP não afetou adversamente a formação da memória da aversão ao choque
nesse paradigma. Trabalhos anteriores sugeriram a possibilidade de que o uso
do ZIP pudesse prejudicar a formação da memória, resultando em déficits na
evocação da memória devido à neurotoxicidade desse fármaco (PATEL;
ZAMANI, 2020; SERRANO, 2018). No entanto, de acordo com os resultados
apresentados no quarto experimento, os animais não parecem perder sua
capacidade de aprendizado após a administração do ZIP, pois continuam a
desempenhar um comportamento de aprendizagem nas tarefas.

Conclusão

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Com base na análise dos resultados dos experimentos realizados com o


propósito de investigar o papel da PKMzeta na reconsolidação da memória
espacial, podemos inferir que esta proteína desempenha, de fato, um papel
crucial neste processo. Isso se torna evidente já no primeiro experimento
(Figura 2), no qual o grupo com a inibição da PKMzeta (por meio da infusão de
ZIP) apresentou um impacto significativo na reconsolidação. Neste grupo de
animais, observou-se uma latência maior para atravessar a região onde a
plataforma estava originalmente localizada durante o teste, em comparação
aos grupos de controle (VEH e ZIPsc). Além disso, o tempo de permanência no
quadrante alvo foi consideravelmente reduzido nos animais tratados com ZIP,
indicando que a inibição da PKMzeta influenciou a retenção da memória
espacial.
No Experimento 2 (Figura 3), quando a reconsolidação não foi induzida, não
observamos diferenças significativas entre os grupos que receberam ZIP e
VEH em relação à latência para encontrar a plataforma ou ao tempo de
permanência no quadrante alvo. Isso sugere que a inibição da PKMzeta não
afetou a formação da memória espacial sem que ocorre-se a reativação com a
presença de novidade. No Experimento 3 (Figura 4), que também não envolveu
a indução da reconsolidação, mas ocorreu a reativação envolvida com o
processo de consolidação, não encontramos diferenças significativas entre os
grupos em relação à latência para encontrar a plataforma ou ao tempo de
permanência no quadrante alvo. Isso sugere mais uma vez que a inibição da
PKMzeta não afetou a formação da memória espacial quando não havia
necessidade de reconsolidação.
No Experimento 4 (Figura 5), examinamos se a infusão de ZIP afetaria
negativamente a formação de memória em outros paradigmas de aprendizado,
como o Reconhecimento de Objetos (RO) e a Esquiva Inibitória (EI). Não
encontramos diferenças significativas ao analisar os teste, entre os grupos em
ambos os paradigmas, indicando que a inibição da PKMzeta não prejudicou a
formação da memória nessas tarefas.
Em resumo, nossos resultados sugerem que a PKMzeta desempenha um
papel crucial no processo de reconsolidação da memória espacial. A inibição
da PKMzeta afetou negativamente a retenção da memória espacial quando a
reconsolidação foi induzida, mas não prejudicou a formação da memória em
situações em que a reconsolidação não era necessária. Além disso, não houve
efeitos adversos da inibição da PKMzeta na formação da memória em outros
paradigmas de aprendizado. Essas descobertas contribuem para nossa
compreensão dos mecanismos subjacentes à memória espacial e à
reconsolidação, destacando o papel da PKMzeta nesses processos.

Referências

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%2FS2211124716309482%3Fshowall%3Dtrue

Anexos

Figura1.Protocolo de treino na versão espacial do LAM. Desenho esquemático da


disposição das dicas espaciais na piscina seguido do protocolo de 7 dias de treino e
dois dias de teste no LAM.

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Figura 2. PKMzeta é necessária para a reconsolidação da memória espacial associada a


sua reativação com novidade.

Figura 3. A ausência de reativação não induz a reconsolidação e portanto não necessita


da PKMzeta hipocampal.

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Figura 4. A reativação reforçada não induz a reconsolidação da memória espacial e


portanto não requer da PKMzeta hipocampal.

Figura 5: O ZIP não afeta aprendizados futuros dependentes do hipocampo.

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CÓDIGO: SB0682

AUTOR: ANA CLÁUDIA DA SILVA GOMES

ORIENTADOR: EDUARDO LUIZ VOIGT

TÍTULO: Utilização das reservas de nitrogênio e ativação de enzimas


hidrolíticas durante a germinação da semente em Ceiba pentandra

Resumo

Tendo em vista que a transição maturação-germinação em sementes ocorre por meio


de alterações em programas do desenvolvimento, a reativação do metabolismo e do
crescimento depende do turnover proteico. Assim, este trabalho almeja caracterizar a
utilização de aminoácidos, a mobilização das proteínas reserva e a ativação de enzimas
hidrolíticas durante a germinação em C. pentandra, uma espécie pioneira de florestas
tropicais recomendada para a recuperação de áreas degradadas. Para tanto, sementes
de C. pentandra foram desinfetadas, semeadas entre folhas de papel e incubadas sob
condições controladas por cerca de 48 h. Amostras foram coletadas aleatoriamente ao
longo do experimento e foram determinados os conteúdos de aminoácidos livres e
proteínas solúveis e as atividades de invertases ácidas e neutras, amilases e proteases
ácidas. Aminoácidos livres foram acumulados no início (das 0 às 8 h) e principalmente
no final da germinação (das 40 às 48 h). Em paralelo, as proteínas de reservas foram
parcialmente mobilizadas, especialmente entre 4 e 40 h. Não foi possível mensurar a
atividade de invertases ácidas e neutras, assim como não foram verificadas alterações
significativas na atividade de amilases ao longo do experimento. A atividade de
proteases ácidas aumentou das 0 às 16 h, precedendo a mobilização parcial das
proteínas de reserva. Assim, a disponibilidade de aminoácidos livres está associada à
ativação das proteases ácidas, mas não à atividade de invertases e amilases.

Palavras-chave: aminoácidos livres, Ceiba pentandra, germinação, proteínas


de reserva

TITLE: Utilization of nitrogenous reserves and activation of hydrolytic enzymes


during seed germination in Ceiba pentandra

Abstract

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Considering that the maturation-germination transition in seeds takes place by


alterations in developmental programmes, metabolism and growth reactivation
depends on protein turnover. Hence, this work aims to characterize the utilization of
amino acids, the mobilization of storage proteins, and the activation of hydrolytic
enzymes during germination in C. pentandra, a pioneer species found in tropical
forests that is recommended to the restoration of degraded areas. In this way, C.
pentandra seeds were disinfected, sown between paper sheets, and incubated under
controlled conditions for 48 h. Samples were randomly collected along the experiment,
and the contents of free amino acids and soluble proteins as well as the activities of
acid and neutral invertases, amylases, and acid proteases were determined. Free
amino acids were accumulated at the beginning (from 0 to 8 h) and mainly the end of
germination (from 40 to 48 h). In parallel, storage proteins were partially mobilized,
especially from 4 to 40 h. It was not possible to measure the activity of acid and
neutral invertases, and no significant changes were verified in the activity of amylases
during the experiment. The activity of acid proteases increased from 0 to 16 h,
preceding the partial mobilization of storage proteins. Thus, the availability of free
amino acids is associated with acid protease activation, but not the activity of
invertases and amylases.

Keywords: free amino acids, Ceiba pentandra, germination, storage proteins

Introdução

A maioria das árvores utiliza a semente como principal forma de propagação (IRALU et
al., 2019). Uma semente apresenta, minimamente, um embrião gerado por
fecundação e um tegumento oriundo da planta mãe; pode, também, conter um tecido
de reserva extraembrionário, como o endosperma ou o perisperma (BEWLEY et al.,
2013). Nas sementes ortodoxas, o desenvolvimento termina com a desidratação,
muitas vezes aliada à dormência, propiciando um lapso temporal para a dispersão e a
permanência no ambiente (BAREKE, 2018).
Sob condições favoráveis, a dormência é superada e a germinação é iniciada pela
reidratação da semente, seguida pela reativação do metabolismo. Após o reparo de
estruturas celulares, o crescimento é reiniciado, culminando com a perfuração do
tegumento pelo embrião, geralmente pela radícula (ROSENTAL et al., 2014).
Considerando que a transição maturação-germinação envolve mudanças em
programas do desenvolvimento, a reativação do metabolismo e o consequente reinício
do crescimento dependem do turnover proteico (RAJJOU et al., 2012). Estudos
pioneiros com leguminosas cultivadas revelam que as proteases depositadas nos
vacúolos de armazenamento durante a maturação, bem como aquelas sintetizadas de
novo após a reidratação, agem coordenadamente para iniciar a mobilização das

947
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eCICT 2023

proteínas de reserva e manter o pool de aminoácidos durante a germinação


(SCHLERETH et al. 2000; MÜNTZ et al. 2001).
O turnover proteico é fundamental para desativar o programa de maturação e acionar
o programa de germinação, o qual envolve a reativação da respiração e da biossíntese.
Para tanto, as reservas de carbono devem ser mobilizadas concomitantemente com as
reservas de nitrogênio para fornecer combustíveis e precursores (BEWLEY et al., 2013).
Entende-se que as reservas minoritárias de açúcares não redutores devem ser as
primeiras a serem consumidas durante a germinação, porque são solúveis, ocorrem no
citosol e requerem poucas clivagens hidrolíticas (ROSENTAL et al., 2014). Desta forma,
considera-se que a mobilização das reservas majoritárias de polissacarídeos, lipídios e
proteínas é um processo pós-germinativo (BEWLEY et al., 2013). No entanto, este
entendimento está baseado em pesquisas realizadas com espécies cultivadas e há
evidências de que a mobilização das reservas majoritárias pode ser necessária ainda
durante a germinação em espécies não domesticadas (ZHAO et al., 2018).
Em um plano de trabalho anterior, a utilização de carboidratos não estruturais foi
investigada durante a germinação em Ceiba pentandra, uma árvore família Malvaceae.
Esta espécie foi selecionada como modelo de estudo porque atua como pioneira em
florestas tropicais, pode ser usada na recuperação de áreas degradadas (BOCANEGRA-
GONZÁLEZ et al., 2018) e apresenta potencial medicinal (ABOUELEL et al., 2020). Neste
trabalho, pretende-se verificar se a utilização de aminoácidos está atrelada ao início da
mobilização das proteínas ainda durante a germinação e se estes processos estão
relacionados à ativação de enzimas hidrolíticas. Os resultados a serem obtidos por este
plano de trabalho podem ampliar o conhecimento vigente sobre a reativação do
metabolismo durante a germinação e contribuir para a compreensão das estratégias
bioquímicas usadas por espécies não domesticadas para colonizar o ambiente.

Metodologia

Frutos maduros de C. pentandra foram colhidos de plantas mães no Campus


Universitário Lagoa Nova da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O
beneficiamento foi realizado manualmente e as sementes foram embaladas em
plásticos semipermeáveis e mantidas sob refrigeração. As sementes foram lavadas
com detergente neutro 1:500 (v/v), o qual foi removido com água de torneira. Logo
depois, as sementes foram tratadas com etanol 70% (v/v) por 30 s, seguido de
hipoclorito de sódio 0,5% (m/v) por 3 min. Após enxágue com água destilada estéril, as
sementes foram organizadas em sistema de rolo entre folhas de papel para
germinação, as quais foram hidratadas com água destilada estéril (2,5 mL para cada 1
g). Os sistemas foram dispostos em sacos plásticos transparentes desinfetados,

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fechados com tira de borracha e incubados na vertical sob condições controladas (80
µmol/m2/s, fotoperíodo de 12 h e 27±2 °C) por aproximadamente 2 dias. As coletas
foram efetuadas no decorrer do experimento.
Os aminoácidos livres totais foram extraídos com etanol 80% (v/v) a 65 graus Celsius e
o seu conteúdo foi determinado pelo método da ninidrina, usando L-glutamina como
um padrão (YEMM; COOKING, 1955). Uma fração enriquecida em proteínas de reserva
foi extraída com tampão Tris-HCl 100 mM pH 7,0 contendo NaCl 500 mM e 2-
mercaptoetanol 2 mM a 4 graus Celsius e o conteúdo de proteínas solúveis foi
mensurado pelo método do Azul Brilhante de Coomassie, empregando uma curva-
padrão de albumina sérica bovina (BRADFORD, 1976).
As invertases foram extraídas com tampão fosfato de potássio 50 mM pH 7,5
adicionado de sulfato de manganês 5 mM e 2-mercaptoethanol 1 mM, enquanto as
amilases foram extraídas com tampão acetato de potássio 100 mM pH 5,5 contendo
cloreto de cálcio 5 mM. A extração das proteases ácidas foi realizada com tampão Tris-
HCl 50 mM pH 7,2 contendo 2-mercaptoetanol 2 mM. Todos os extratos enzimáticos
foram obtidos a 4 graus Celsius.
A atividade de invertases ácidas e neutras foi estimada pela liberação de açúcares
redutores a partir da sacarose (OLIVEIRA et al., 2006) e a atividade de amilases foi
quantificada pela liberação de açúcares redutores a partir do amido solúvel (ELARBI et
al., 2009). Os açúcares redutores presentes no meio de reação foram determinados
pelo método do 3,5-dinitro-salicilato, usando D-glicose como um padrão (MILLER,
1959). A atividade de proteases ácidas sobre a hidrólise de caseína (BEEVERS, 1968) foi
mensurada pela liberação de aminoácidos, os quais foram quantificados pelo reagente
da ninidrina (YEMM; COOKING, 1955).
Amostras contendo três sementes foram coletadas ao acaso para as determinações
bioquímicas. Foram usadas cinco replicatas por coleta. Os resultados obtidos foram
analisados por regressão polinomial e apenas os modelos significativos (P < 0,05 e R2≥
0,70) foram utilizados.

Resultados e Discussões

O conteúdo de aminoácidos livres totais aumentou cerca de 60% durante as primeiras


8 h após o início da embebição. Das 8 às 24 h de experimento, o conteúdo destes
metabólitos permaneceu inalterado e, entre 40 e 48 h, ocorreu um aumento de
aproximadamente 260 %. Em paralelo, o conteúdo de proteínas solúveis se manteve
estável durante as primeiras 4 h após o início do experimento, mas reduziu cerca de
37% entre 4 e 40 h. Inesperadamente, o conteúdo de proteínas solúveis aumentou
56% a partir das 40 h até a última coleta.

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De acordo com estes resultados, é possível estabelecer uma relação entre a


acumulação de aminoácidos livres totais e a utilização das proteínas solúveis. De fato,
o aumento do conteúdo de aminoácidos livres totais das 0,5 às 8 h está associado ao
início da mobilização das proteínas de reserva. Entre 8 e 40 h, a manutenção do
conteúdo de aminoácidos livres totais coincide com a diminuição do conteúdo de
proteínas solúveis, indicando que os aminoácidos liberados podem ter sido
consumidos neste período (BEWLEY et al., 2013). Das 40 até às 48 h, a acumulação de
aminoácidos livres totais pode estar vinculada ao reinício do crescimento, uma vez que
as sementes já tinham germinado. Resultado similar foi constatado em embriões de
Euphorbia heterophylla (SUDA; GIORGINI, 2000).
O método usado para estimar a atividade de invertases não permitiu a identificação de
atividade mensurável. Embora tenha sido possível mensurar a atividade de amilases,
não foi verificada variação significativa durante todo o experimento. Considerando que
parte das proteínas de reserva é mobilizada ainda durante a germinação, não há
relação clara entre a disponibilidade de aminoácidos livres e a ativação das invertases
e amilases.
Diferente das invertases e amilases, a atividade de proteases ácidas aumentou
aproximadamente 130% desde a primeira coleta até as 16 h e se manteve
praticamente inalterada das 24 h até o final do experimento. Sabe-se que estas
enzimas são responsáveis por iniciar a mobilização das proteínas de reserva nos
vacúolos de estocagem (ZIENKIEWICZ et al., 2011). Os aminoácidos liberados por estas
reações podem ser consumidos na síntese de novo de proteínas ou no metabolismo
respiratório da semente (BEWLEY et al., 2013). Como o aumento da atividade de
proteases ácidas entre 4 e 16 h ocorreu antes da diminuição do conteúdo de proteínas
solúveis, estas enzimas devem estar associadas à mobilização parcial das proteínas de
reserva. Alterações na atividade de proteases ácidas também são verificadas durante a
embebição em eixos embrionários de algodão (VIGIL; FANG, 1995) e após a embebição
em sementes de moringa (FURTADO, 2014).

Conclusão

Os resultados apresentados permitem concluir que há mobilização parcial das


proteínas de reserva ainda durante a germinação em sementes de C. pentandra. O
aumento da disponibilidade de aminoácidos livres apresenta relação clara com a
ativação das proteases ácidas, mas não está vinculada com atividade mensurável de
invertases ou com alterações significativas na atividade de amilases.

Referências

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CÓDIGO: SB0686

AUTOR: LEONARDO ALVES FERNANDES

ORIENTADOR: NICOLE LEITE GALVAO COELHO

TÍTULO: Avaliação do risco de suicídio em universitários com depressão maior


em tratamento farmacológico associado a terapias complementares

Resumo

INTRODUÇÃO: O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é uma condição prevalente que


afeta milhões de pessoas no mundo, incluindo um número crescente de estudantes
universitários. Além dos sintomas depressivos, o TDM também está fortemente
associada ao risco de suicídio. Este estudo buscou avaliar se o exercício físico, de forma
complementar ao tratamento farmacológico, apresenta um maior impacto positivo na
redução do risco de ideação suicida. METODOLOGIA: Desenvolveu-se um estudo com
47 participantes, divididos em 2 grupos terapêuticos - tratamento farmacológico
exclusivo e tratamento farmacológico associado a exercício físico. Foram aplicadas as
escalas PHQ9 e BSI ao longo de 12 semanas. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os sintomas
depressivos de modo geral, mensurados pela escala PHQ-9, apresentaram redução
significativa ao longo do tratamento. Em relação à ideação suicida, avaliada através da
Q.9 da PHQ-9, notou-se que existe uma redução ao longo do tratamento,
independente do grupo. Em relação à BSI, não existiu número amostral suficiente para
realizar a análise. Os resultados sugerem que o tratamento com exercício físico pode
ser particularmente benéfico na redução da ideação suicida. CONCLUSÕES: a inclusão
do exercício físico como parte integrante do plano terapêutico pode proporcionar
benefícios substanciais, alargando assim o leque de opções disponíveis para o
tratamento do TDM e proporcionando uma abordagem mais abrangente para o
manejo de indivíduos com risco para suicídio.

Palavras-chave: Depressão; Suicídio; Exercício Físico.

TITLE: Assessment of Suicide Risk in University Students with Major


Depression Undergoing Pharmacological Treatment Combined with
Complementary Therapies

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Abstract

INTRODUCTION: Major Depressive Disorder (MDD) is a prevalent condition affecting


millions of people worldwide, including a growing number of university students. In
addition to depressive symptoms, MDD is also strongly associated with the risk of
suicide. This study aimed to assess whether physical exercise, as a complementary
treatment, has a greater positive impact on reducing suicidal ideation risk.
METHODOLOGY: A study was conducted with 47 participants, divided into two
therapeutic groups - exclusive pharmacological treatment and pharmacological
treatment combined with physical exercise. The PHQ-9 and BSI scales were
administered over a period of 12 weeks. RESULTS AND DISCUSSION: Depressive
symptoms, as measured by the PHQ-9 scale, showed a significant reduction
throughout the treatment. Regarding suicidal ideation, evaluated through Question 9
of the PHQ-9, it was observed that there is a reduction during treatment, regardless of
the group. As for the BSI, there was not a sufficient sample size to conduct the analysis.
The results suggest that exercise treatment can be particularly beneficial in reducing
suicidal ideation. CONCLUSIONS: The inclusion of physical exercise as an integral part
of the therapeutic plan can provide substantial benefits, thus expanding the range of
options available for MDD treatment and offering a more comprehensive approach to
managing individuals at risk of suicide.

Keywords: Depression; Suicide; Physical Exercise.

Introdução

O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é a desordem mais prevalente dos transtornos


depressivos e acomete aproximadamente 350 milhões de pessoas no mundo, sendo
nos adultos três vezes mais frequente no sexo feminino (World Health Organization
2017). Apesar de a maior parte dos estudos com TDM referir-se à população adulta, a
incidência de episódios depressivos em adolescentes aumentou consideravelmente na
última década, atingindo 14% do público jovem masculino e cerca de 30% das
adolescentes com idades próximas aos 17 anos (Hankin 2006, Breslau et al. 2017).
Nessa população, a taxa de recorrência é de aproximadamente 40% em 3-5 anos após
o primeiro episódio (Hankin 2006). No âmbito das universidades, observa-se também,
no mundo inteiro, o aumento da incidência de estudantes relatando sintomas
depressivos, tanto no nível de graduação quanto de pós-graduação (Eisenberg et al.
2007; Licayan 2009; Gewin 2012; Das e Sahoo, 2012; Blanco et al. 2014). Como
consequência de apresentar um estado depressivo, os estudantes não conseguem lidar
satisfatoriamente com os desafios propostos pelos programas de seus cursos,

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eCICT 2023

apresentando um baixo rendimento acadêmico e intensificando o estado patológico


(Licayan 2009).
De acordo com o DSM–5, o TDM é diagnosticado pela presença de humor deprimido
e/ou perda de interesse ou prazer (anedonia), por pelo menos duas semanas, e pela
presença de no mínimo mais de 5 dos seguintes sintomas; dificuldade de pensar,
concentração ou tomada de decisões; baixa autoestima ou culpa inapropriada; perda
ou ganho de peso considerável; insônia ou hipersônia; fadiga ou diminuição da
energia; agitação ou retardo psicomotor; pensamentos de morte, ideação ou
tentativas de suicídio (Associação Americana de Psiquiatria 2014).
Pesquisas atuais descrevem o comportamento suicida como resultado de uma
interação entre fatores de vulnerabilidade e eventos estressantes (Oquendo et al.,
2004). Os transtornos mentais são os fatores de vulnerabilidade mais notórios ao
comportamento suicida, incluindo tentativas e suicídios consumados entre adultos
(Chestney et al., 2014) e população jovem e adolescente (Margalida et al., 2019). Mais
especificamente, a depressão é o principal fator de risco associado ao suicídio
(Cavanagh et al., 2003; Li et al., 2011). A terapia medicamentosa à base de
antidepressivos e a psicoterapia são formas enfatizadas de tratamento inicial no TDM
(Sadock, 2007). Segundo Lima, Sougey e Vallada-Filho (2004), os antidepressivos têm
influenciado na redução da morbidade e na melhoria do desfecho clínico da doença,
de modo que eles têm sido considerados efetivos no tratamento da depressão.
(Akerblad, 2007; Fleck & cols., 2003; Marques, 2000).
Diante disso, estudos têm mostrado que as terapias complementares no tratamento
do TDM são extremamente benéficas, sendo o exercício físico, por exemplo, uma
opção de baixo custo e acessível para todos (Viera et al. 2007). Essa forma de
tratamento não farmacológico possui ação anti-inflamatória (Teixeira et al. 2016), e
preventiva, o que promove uma melhora nas esferas física, mental e social (Oliveira et
al. 2011), de maneira que pode haver redução das respostas emocionais frente ao
estresse e comportamentos neuróticos, apresentando impactos positivos no indivíduo
(RAMELO, 2021) e em possíveis comportamentos suicidas, uma vez que reduz fatores
de vulnerabilidade e eventos estressantes.
Entretanto, mais estudos são necessários a fim de se avaliar se essas terapias
complementares também auxiliam na redução do pensamento suicida. Nesse sentido,
a partir da análise do risco de suicídio em diferentes grupos de pacientes – que estão
em tratamento medicamentoso exclusivo ou associado ao exercício físico –, poder-se-à
avaliar se tal tratamento complementar apresenta um maior impacto positivo na
redução do risco de ideação e comportamento suicida.

Metodologia

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Desenvolveu-se um estudo clínico aberto, randomizado, longitudinal, realizado na


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal-RN, com público de 47
sujeitos, estudantes da UFRN, de ambos os sexos, com idade acima de 18 anos, com
depressão maior, que foram distribuídos em 2 grupos terapêuticos - tratamento
farmacológico exclusivo e tratamento farmacológico associado a exercício físico. O
recrutamento de participantes se deu por meio de divulgação em cartaz, boletim
eletrônico da UFRN, mídias sociais e fórum dos cursos via SIGAA, eventualmente, em
programas de rádio e da televisão aberta local. Todos os voluntários assinaram um
termo de consentimento e livre esclarecimento (TCLE), que lhes forneceu informações
sobre o estudo, por meio do aplicativo do Programa de Enfrentamento à Tristeza. Foi
assegurada ao sujeito total liberdade de deixar de participar do estudo sem que isso
lhe trouxesse qualquer prejuízo. Os voluntários atenderam aos seguintes critérios,
para participarem do estudo: Critérios de inclusão: a) Presença de episódio depressivo
atual; b) Idade maior que 18 anos; c) Ser estudante da UFRN; d) Ter disponibilidade de
acesso à internet para a utilização do aplicativo do programa em um smartphone.
Critérios de exclusão: a) Satisfazer critérios diagnósticos para presença de outro
transtorno mental, além da depressão maior; b) Utilizar medicamentos psiquiátricos,
neurológicos ou com efeitos sobre a cognição, humor e funções neurovegetativas, com
a exceção de antidepressivos, que possam ser trocados pelo fármaco do estudo, e se
essa troca for favorável, e ansiolíticos que possam ser retirados sem prejuízos ao
paciente; c) Apresentar sintomas fóbicos específicos de injeção-sangue-ferimentos; d)
Gravidez e lactação; e) Alguma desabilidade física ou mental que impossibilite a
aplicação das terapias complementares.
Para a inclusão no Programa, os voluntários passaram pelo processo de triagem - o
qual se deu por meio do aplicativo do Programa de Enfrentamento à Tristeza - e
responderam a algumas perguntas e questionários que auxiliam no atendimento dos
critérios de inclusão e exclusão, como o Questionário de Saúde do Paciente 2 (Patient
Health Questionnaire 2: PHQ-2). Uma vez atingindo a pontuação de corte do PHQ-2
(4), os possíveis voluntários foram direcionados para o agendamento, via aplicativo, de
uma consulta médica com a equipe de psiquiatria do estudo, por meio da qual foi
fornecido o diagnóstico - realizado por meio da SCID-5 (Entrevista Clínica Estruturada
para os Transtornos do DSM-5) e da da MADRS (Montgomery e Asberg 1979), usada
também para classificar a intensidade da depressão. Concluída a triagem e a inclusão
no estudo, os pacientes foram aleatoriamente distribuídos nos 2 grupos de
tratamentos: grupo farmacológico exclusivo (n=25) e grupo farmacológico associado
ao exercício físico (n=22). Logo após, iniciaram o tratamento com duração de 12
semanas. Ao longo do tratamento, os pacientes responderam semanalmente, alguns
questionários para aferir os sintomas depressivos: Questionário de Saúde do Paciente

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9 (Patient Health Questionnaire 9: PHQ-9), assim como a existência de ideação e


comportamento suicidas por meio do inventário Beck de ideação suicida (BSI), todos
através de formulário on-line.

 Questionário sobre a saúde do paciente 9 (PHQ-9): O PHQ-9 é um instrumento


autoaplicado, aberto e validado no Brasil, constituído por nove itens baseados
nos critérios diagnósticos para depressão maior do DSM-IV. Cada item varia de
0 (nenhuma vez) a 3 (quase todos os dias), com o escore total podendo variar
de 0 a 27, podendo desta forma mensurar a gravidade dos sintomas
depressivos (Santos et al. 2013). O item 9 da PHQ-9 investiga a ideação suicida
e autoextermínio pelo questionamento: “Durante as últimas 2 semanas, com
que frequência você foi incomodado pelo problema: Pensar em se ferir de
alguma maneira ou que seria melhor estar morto/a?”, avaliado pelos escores::
“0 = Nenhuma vez / 1 = Vários dias / 2 = Mais da metade dos dias / 3 = Quase
todos os dias”. A pergunta 9, especificamente, retrata acerca da ideação suicida
e autoextermínio. Caso a pontuação na Q9 fosse 2, o participante respondia ao
Inventário Beck de Ideação Suicida.

 Inventário Beck de Ideação Suicida (BSI): Avalia a existência e a intensidade do


desejo de viver e de morrer do paciente; a relação entre as razões para viver e
para morrer; a existência e a intensidade do desejo de autoextermínio; a
atitude do paciente em uma situação de risco de vida; a presença e quantidade
de tentativas prévias de suicídio.
O grupo farmacológico exclusivo foi tratado com antidepressivo do grupo inibidores de
recaptação de serotonina (ISRS), o escitalopram, por um período de 12 semanas. A
dose do fármaco foi estabelecida - e pôde ser ajustada de 10mg para 15mg, por
exemplo, conforme a necessidade - pela equipe de profissionais especializados,
composta e residentes médicos do programa de psiquiatria da Unidade de Atenção
Psicossocial (UNAPS) do HUOL. O grupo farmacológico associado ao exercício físico
participou de aulas síncronas e assíncronas, 4 vezes por semana, coordenadas por um
pesquisador com formação na área. Ao longo das 12 semanas, foram realizadas 2h
semanais de intervenção.
Neste estudo foram consideradas como variáveis dependentes a resposta
antidepressiva (escore da escala PHQ-9; escore da pergunta 9 da escala PHQ-9) e a
existência de ideação e comportamento suicida (escore da escala BSI), e os grupos e as
semanas de tratamento como variáveis independentes. Para verificar a associação
entre o tipo de tratamento e as escalas aplicadas ao longo do tempo de observação,
foi realizado o teste de Análise de Variância (ANOVA) de medidas repetidas, com pós-
teste de Holm. O nível de significância estatística foi considerado como p<0.05.

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Resultados e Discussões

A pesquisa contou com 47 participantes, estudantes e servidores da Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, em sua maior parte do sexo feminino (74.4%). Dentro
da amostra, todos os participantes apresentavam idade superior a 18 anos.
Os participantes foram pareados quanto ao sexo, idade, renda e escolaridade. E, de
forma randomizada, os pacientes foram distribuídos em 2 grupos terapêuticos: terapia
farmacológica exclusiva (n=25) e terapia farmacológica combinada ao exercício físico
(n=22). Todos os participantes – na semana inicial, na quinta semana e na décima
segunda semana – responderam as escalas supracitadas para avaliação e
acompanhamento da sintomatologia depressiva, bem como de ideação e
planejamento suicida.
Os sintomas depressivos de modo geral, mensurados pela escala PHQ-9, apresentaram
redução significativa ao longo do tratamento (F=14.104, p<0.001), contudo, tornou-se
perceptível que tais grupos responderam de forma diferente, notando-se a interação
entre semana e grupo de tratamento (F=3.146, p = 0.05). O grupo que associou
tratamento farmacológico e exercício apresentou redução entre S0❋S5 (t=5.136,
p<0.001) e entre S0❋S12 (t=4.705, p<0.001), mas não apresentou diferença entre
S5❋S12 (t= -0.431, p=1.000). Já no grupo da terapia farmacológica exclusiva, não foi
observada redução significativa ao longo do tratamento (S0❋S5: t=1.901, p=0.455;
S0❋S12: t=1.377, p=0.860; S5❋S12: t= 0.525, p=1.000). Sendo assim, apenas o grupo
exercício diminui a PHQ-9 (Figura 1A).
Quando avaliou-se a Questão 9 da PHQ-9, que expressa a ideação suicida, ficou claro
que existe uma redução ao longo do tratamento (F = 13.374, p <0.001), independente
do grupo (F = 0.675, p = 0.512), no qual o início do tratamento difere da S5 e da S12,
mas não há diferença entre a S5 e S12 (S0❋S5: t=4.091, p<0.001; S0 ❋S12: t=4.786,
p<0.001; S5❋S12 t= 0.695, p=0.489) (Figura 1B).
Em relação à BSI, não existiu número amostral suficiente para realizar a análise (S0: F =
6, E+F = 3; S5: F = 3, E+F = 1; S12: F = 3, E+F = 0). No entanto, foi possível notar que no
grupo que associa o tratamento ao exercício, não houve recorrência em pontuação na
BSI, enquanto no grupo de terapia farmacológica exclusiva, foi possível notar
comportamentos como redução (na S5) seguida de aumento (na S12) e aumento (na
S5) seguido de redução (na S12), além de voluntários que não apresentaram
recorrência na pontuação (Figura 2).
Ademais, a inexistência de número amostral suficiente para realizar a análise pode ser
atribuída à complexidade, especificidade e abrangência da BSI quanto à avaliação do
risco de suicídio. Tal escala se torna mais significativa para os casos de depressão

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eCICT 2023

grave, o que não corresponde à maioria dos participantes do estudo em questão.


Assim, a PHQ-9 se destacou como uma ferramenta mais sensível para a população
estudada, tornando mais evidente o impacto do exercício na redução a ideação
suicida.
Os resultados também sugerem que o tratamento com exercícios físicos pode ser
particularmente benéfico na redução da ideação suicida. Este achado está em
consonância com pesquisas anteriores que indicam uma relação inversa entre a prática
regular de exercícios físicos e o risco de suicídio. De acordo com Grasdalsmoen et al.
(2020), a prática regular de exercícios físicos está associada a uma diminuição da
incidência de problemas de saúde mental e tentativas de suicídio em estudantes
universitários, sugerindo que quanto mais frequente e intensamente os estudantes se
exercitam, menor é a ocorrência desses problemas.
Além disso, um estudo conduzido por Hoare et al. (2016), que investigou a relação
entre comportamento sedentário e saúde mental em adolescentes, observou que o
aumento do tempo dedicado à prática de exercícios físicos estava relacionado a uma
redução nos pensamentos suicidas. Este estudo destaca a importância de
compreender como o aumento da atividade física pode estar ligado a uma melhora no
bem-estar emocional.
Esses achados ressaltam a relevância de considerar intervenções que incluam o
exercício físico como parte integrante do tratamento de indivíduos com depressão
maior e risco de suicídio, oferecendo uma abordagem multifacetada e promissora no
manejo dessa condição.

Conclusão

Dessa forma, os resultados obtidos no âmbito deste estudo corroboram a viabilidade


de opções complementares de tratamento para indivíduos que receberam o
diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior. Especificamente, as abordagens
terapêuticas focadas na melhoria do estilo de vida, com destaque para a incorporação
do exercício físico, são alternativas promissoras que podem ser integradas às terapias
de primeira linha já existentes, que majoritariamente se baseiam em intervenções
farmacológicas. O exercício físico, nesse contexto, evidenciou um efeito terapêutico
complementar à farmacoterapia, uma vez que demonstrou ter a capacidade de
produzir um impacto substancial do que o observado apenas com a abordagem
medicamentosa. Esse efeito se torna evidente não somente na atenuação dos
sintomas depressivos, mas também de maneira específica na redução da ideação e do
planejamento suicida. Vale ressaltar que durante todo o período de acompanhamento,
todos os participantes com indícios de risco suicida foram adequadamente

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gerenciados, culminando na ausência de qualquer tentativa de suicídio. Estes achados


sugerem que a inclusão do exercício físico como parte integrante do plano terapêutico
pode proporcionar benefícios substanciais, alargando assim o leque de opções
disponíveis para o tratamento do TDM e proporcionando uma abordagem mais
abrangente para o manejo de indivíduos com risco para suicídio.

Referências

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disorders: a longitudinal epidemiological study of young adults. Biol Psychiatry, 39
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Anexos

Figura 1. Escore geral (A) e Questão 9 (B) da PHQ-9 ao longo do tratamento, por grupo.

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Figura 2. Evolução da BSI ao longo do tratamento, por grupo.

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CÓDIGO: SB0697

AUTOR: JOEL VICTOR BOA MORTE GOMES

ORIENTADOR: JANEUSA TRINDADE DE SOUTO

TÍTULO: Efeito do tratamento com caulerpina em modelo murino de inflamação


induzida por ácido acético

Resumo

Há vários anos, as algas marinhas do gênero Caulerpa têm despertado


interesse na comunidade científica. Estudos anteriores de nosso grupo
mostraram atividade antinflamatória de extratos de Caulerpa racemosa e do
alcaloide caulerpina em diferentes modelos murinos de inflamação. O objetivo
deste trabalho foi avaliar o efeito da caulerpina (CLP), na permeabilidade
vascular peritoneal, em modelo murino, induzida por ácido acético. Para isso,
camundongos Swiss machos foram tratados com a CLP, nas doses de 4, 2 e 1
mg/kg, ou com dexametasona (1 mg/kg). Uma hora após o tratamento, os
animais receberam injeção intravenosa de azul de Evans (50 mg/kg) na veia
lateral da cauda, seguida de inoculação intraperitoneal de ácido acético (AC)
0,6% (0,1 ml por 10 g de peso corporal). Para a coleta do exsudato peritoneal
(EP), foi feita a eutanásia por dose letal de anestésicos (cetamina e xilazina),
20 minutos após o estímulo com AC, com o intuito de averiguar o
extravasamento do corante por espectrofotometria a 620 nm. Os dados obtidos
mostraram que no EP dos animais que receberam apenas AC, sem nenhum
tratamento, havia alta concentração de azul de Evans, quando comparados
com os animais que não foram estimulados com AC. Por outro lado, o
tratamento com a CLP reduziu significativamente a concentração de azul de
Evans no EP, de forma semelhante à dexametasona, demonstrando a
capacidade do composto em modular o processo de permeabilidade vascular.

Palavras-chave: Caulerpina. Inflamação. Permeabilidade. Azul de Evans.

TITLE: Effect of caulerpin treatment in a murine model of inflammation induced


by acetic acid

Abstract

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For several years, marine algae of the genus Caulerpa have aroused interest in
the scientific community. Previous studies by our group have shown anti-
inflammatory activity of Caulerpa racemosa extracts and the alkaloid caulerpin
in different murine models of inflammation. The aim of this study was to
evaluate the effect of caulerpin (CLP) on peritoneal vascular permeability, in a
murine model, induced by acetic acid. For this, male Swiss mice were treated
with CLP, at doses of 4, 2 and 1 mg/kg, or with dexamethasone (1 mg/kg). One
hour after treatment, the animals received an intravenous injection of Evans
blue dye (50 mg/kg) into the lateral tail vein, followed by intraperitoneal
inoculation of 0.6% acetic acid (AC) (0.1 ml per 10 g body weight). For the
collection of peritoneal exudate (PE), euthanasia was performed by a lethal
dose of anesthetics (ketamine and xylazine), 20 minutes after stimulation with
AC, with the aim of investigating dye extravasation by spectrophotometry at 620
nm. The obtained data showed that in the PE of animals that received only AC,
without any treatment, there were high concentration of Evans blue dye, when
compared to animals that were not stimulated with AC. On the other hand,
treatment with CLP significantly reduced the concentration of Evans blue dye in
the PE, similarly to dexamethasone, demonstrating the ability of the compound
to modulate the process of vascular permeability.

Keywords: Caulerpine. Inflammation. Permeability. Evans blue.

Introdução

A permeabilidade vascular é a capacidade do endotélio dos vasos sanguíneos


de permitir a passagem seletiva de substâncias, como moléculas solúveis e
células, entre o sangue e os tecidos circundantes. Sendo um mecanismo
fundamental no contexto da fisiologia e resposta imunológica do hospedeiro,
desempenhando um papel de destaque na interação entre o sistema
circulatório e o sistema imunológico. A regulação adequada da permeabilidade
vascular é essencial para o funcionamento normal dos órgãos e da resposta
imunológica (1).
Esse equilíbrio homeostático da permeabilidade vascular é regulado por um
conjunto de mecanismos moleculares e celulares, que respondem a uma série
de estímulos e condições, as citocinas e os mediadores inflamatórios, tais
como histamina, serotonina e bradicinina. Um verdadeiro arsenal microscópico
capaz de desencadear uma cascata de reações físicas e químicas que
culminam na manifestação dos sinais cardinais da inflamação: rubor
(vermelhidão), calor, dor, tumor e perda de função (1, 2).
Todavia, a complexidade do processo inflamatório vai muito além desses
aspectos anteriormente citados. A resposta inflamatória é altamente adaptada,

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podendo responder a diferentes tipos de agressões, desde infecções até


lesões teciduais. Estas respostas ocorrem por meio de diferentes fases com
mecanismos específicos, dentre elas, as diretamente ligadas a permeabilidade
do endotélio dos vasos, induzem manifestações como: vasodilatação local e
aumento da permeabilidade capilar na fase transitória aguda e a infiltração de
células fagocíticas e outros leucócitos na fase subaguda tardia (2, 3).
Desse modo, com a abertura das junções intercelulares do endotélio, proteínas
retidas dentro dos vasos migram para a espaço intersticial, processo este que
pode ser replicado artificialmente por meio do modelo murino de inflamação
induzida por ácido acético. A inoculação intraperitoneal de ácido acético em
camundongos, ocasiona a liberação de diversos mediadores inflamatórios,
além dos já mencionados temos os leucotrienos e as prostaglandinas, os quais
também impactam na vasodilatação e no aumento da permeabilidade vascular,
causando edema na cavidade peritoneal (4, 5, 6).
A partir disso, o modelo murino de inflamação induzida por ácido acético se
torna uma ótima oportunidade para avaliar a eficácia de novas terapias na
modulação da permeabilidade vascular, utilizando como comparativo drogas já
comercializadas.
Nosso grupo de pesquisa, há alguns anos, utiliza extratos de algas marinhas
do gênero Caulerpa (Figura 1). A Caulerpina é um alcaloide bisindólico de
baixa toxidade, obtido da alga verde Caulerpa racemosa (Figura 2), o composto
está presente em 80% das algas do gênero, mas também pode ser encontrado
em outros gêneros (7, 8). A utilização da caulerpina como tratamento em
experimentos anteriores do nosso grupo evidenciou em diversos modelos
murinos de inflamação, dados promissores. Já foram datadas atividades
biológicas: anti-inflamatórias com diminuição de edema de orelha induzido por
xilol em camundongos, redução da migração de células e produção de
citocinas na cavidade peritoneal de camundongos estimulados com zimosan,
além da atenuação do dano tecidual observado no intestino de animais
submetidos ao modelo de colite ulcerativa (9, 10).
Diante disso, o projeto ao qual este relatório se refere possui como objetivo
avaliar o efeito do alcaloide caulerpina, extraído da alga marinha Caulerpa
racemosa, na permeabilidade vascular peritoneal em modelo murino de
inflamação induzida por ácido acético.

Metodologia

Animais de experimentação. Todos os procedimentos realizados foram


aprovados pelo Comitê de Ética de Animais Experimentais da UFRN (CEUA

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007/2019). Para a realização do modelo experimental de inflamação induzida


por ácido acético foram utilizados camundongos machos da linhagem Swiss,
obtidos do Biotério Central do Centro de Biociências da UFRN. Com peso
médio de 31,4g e com idades entre seis e oito semanas, os animais foram
mantidos com livre acesso a água e ração em ambiente climatizado 24h (22 ±
2ºC) com mudança entre claro e escuro a cada 12 horas, no Biotério do
Departamento de Biofísica e Farmacologia (DBF) do Centro de Biociências da
UFRN.
Caulerpina (CLP). A CLP foi obtida a partir de algas da espécie Caulerpa
racemosa, coletadas nos recifes localizados na Praia de Pirambúzios no
município de Nísia Floresta-RN. Após a coleta, as algas foram lavadas
exaustivamente para limpeza e retirada do excesso de sal, pesadas e
colocadas para secar em estufa seca a 70°C durante 48 h. Após a completa
desidratação, o material seco foi pesado, para comparação com dos pesos das
algas hidratadas e desidratadas e em seguida acondicionadas em sacos
plásticos. Esse material seco foi enviado para o grupo da Prof.ª Bárbara
Viviana de Oliveira Santos, do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da
Universidade Federal da Paraíba, que gentilmente fez o isolamento da
caulerpina, por meio do método de extração a frio com etanol. A caulerpina foi
pesada e diluída em uma solução de goma arábica a 5% com auxílio de q.s.p.
do tensoativo Tween 80® com o objetivo de formar a suspensão de tratamento.
Teste de permeabilidade. O teste de permeabilidade foi realizado de acordo
com Cruz e colaboradores (2016) e Zhang e colaboradores (2016). Para isso,
camundongos foram anestesiados com cetamina e xilazina e tratados com
diferentes doses da CLP (4, 2, e 1 mg/ kg) por via oral ou com dexametasona
(1 mg/kg) por via intraperitoneal. Uma hora após os tratamentos, cada animal
recebeu intravenosamente, pela veia da cauda, uma solução de azul de Evans
(50 mg/kg), seguida de uma injeção intraperitoneal de ácido acético a 0,6%,
sendo administrado 0,1 mL por 10g de peso corporal. Vinte minutos após o
estímulo inflamatório, foi realizada a eutanásia por inoculação de dose letal de
anestésicos – cetamina (300 mg/kg) e xilazina (30 mg/kg). Após isso, 3 mL de
soro fisiológico foram injetados na cavidade peritoneal para coleta do exsudato
peritoneal. Os exsudatos peritoneais coletados foram centrifugados por 10
minutos a 1400 rpm. O conteúdo de azul de Evans foi calculado usando uma
curva padrão de azul de Evans, e a absorbância de cada amostra foi medida
através de espectrofotometria a 620 nm.
Análise estatística. Devido à distribuição paramétrica dos dados constatada
pelo teste de Shapiro-Wilk, o teste de análise de variância (ANOVA) one-way
foi utilizado para verificar diferenças estatísticas entre as variáveis. O valor de p
calculado pelo ANOVA foi p <0,0001 com coeficiente R² = 0,9074. Para
analisar diferenças estatísticas entre os diferentes tratamentos, foi utilizado o

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teste de Tukey. Um p valor menor ou igual a 0,05 foi considerado significante.


O software GraphPad Prism versão 8.0.1 (Windows) foi utilizado para estas
análises e elaboração do gráfico.

Resultados e Discussões

A fim de investigar o efeito da caulerpina após a inoculação intraperitoneal de


ácido acético, os exsudatos peritoneais foram submetidos à espectrofotometria
para quantificar a proporção de azul de Evans. Com base nos gráficos da figura
3, os camundongos do grupo controle positivo, que não receberam nenhum
tratamento, apresentaram altas concentrações de azul de Evans, em
contrapartida os grupos tratados com a caulerpina, apresentaram uma redução
significante, o que demonstra a capacidade do composto em modular a
permeabilidade vascular, similar àquela observada ao da dexametasona.
O potencial terapêutico da caulerpina é promissor, apesar do seu mecanismo
de ação ainda não ser totalmente compreendido, sua efetividade é inegável.
Trabalhos como DZOYEM et al. (2017) e YIN et al. (2016), expõem de forma
clara os processos inflamatórios mediados através da influência de agentes
irritantes como ácido acético e os impactos positivos de tratamentos a base de
extratos naturais. Observar tais inibições da resposta inflamatória em nosso
experimento, onde todos os grupos tratados com caulerpina tiveram redução
do edema similar a dexametasona, é alavancar ainda mais o reservatório
literário a respeito da caulerpina. Essas novas informações enfatizam a
importância de produtos de origem marinha envolvidos nessa fração da
resposta inflamatória. Nesse contexto, mais pesquisas desempenhariam um
papel fundamental em acelerar a total compreensão das aplicações da
caulerpina em modelos de inflamação.

Conclusão

Com base nos resultados do experimento e nas análises apresentadas nos


gráficos, fica visível que a caulerpina exerce uma influência significativa sobre o
extravasamento vascular no modelo murino em questão. A partir dos dados
obtidos, é explicita a capacidade da caulerpina em modular a resposta vascular
nesse contexto de inflamação induzida por inoculação intraperitoneal de ácido
acético.

Referências

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Anexos

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Figura 1. Caulerpa racemosa Fonte: Wikimedia Commons (2021) Disponível em:


https://commons.m.wikimedia.org/wiki/File:Caulerpa_racemosa_Sea_grapes.jpg

Figura 2. Estrutura química da caulerpina Fonte: Lucena et al., 2018.

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Figura 3. ** p <0,0001, quando comparados com os grupos de tratamento ** p <


0,0001, quando comparado com o controle negativo e os grupos de tratamento CLP 4
e 2 mg/kg; * p ≤ 0,001, quando comparado com o grupo de tratamento CLP 1 mg/kg e
Dexa.

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CÓDIGO: SB0723

AUTOR: IGOR NASSAU DE ANDRADE CALIXTA

ORIENTADOR: RAIMUNDO FERNANDES DE ARAUJO JUNIOR

TÍTULO: Estudo da efetividade de exossomos obtidos de macrófagos anti-


tumorais como carreadores da oxaliplatina em cânceres metastáticos do câncer
peritoneal.

Resumo

Na atualidade, as vesículas extracelulares (VEs) são alvos da nanomedicina,


principalmente em cânceres agressivos, como o câncer colorretal. Diante disso, as VEs
de macrófagos M1 (M1VEs) foram usadas como nanocarreadores de oxaliplatina
(M1VE1) combinada com ácido retinóico (M1VE2), Libidia ferrea (M1VE3), ácido
retinóico e L. ferrea (M1VE4) para avaliar o seu potencial antiproliferativo e
imunomodulador in vitro, com as linhagens: MC38 e CT-26, e in vivo, em modelo
murino. Os tumores foram avaliados por qRT-PCR e por imunohistoquímica. O perfil de
morte celular e a transição epitélio-mesênquima (TEM) foram estudados in vitro em
linhagens celulares de câncer. Fez-se a polarização de macrófagos murinos (células
RAW264.7) para obter as VEs. M1VE2 e M1VE3 usadas isoladas ou juntas (M1VE4)
reduziram a progressão tumoral através da imunomodulação da TEM, levando a uma
diminuição do tamanho do tumor primário e das metástases. STAT3, NF-kB e AKT,
genes principais desregulados por M1VEs. Os macrófagos associados ao tumor (MAT)
mudaram o fenótipo M2 (CD163) para M1 (CD68) (p < 0,001), redução de IL-10, TGF-B
e CCL22. Assim, células malignas expressaram mais FADD, APAF-1, caspase-3 e E-
caderina, e menos MDR-1, survivina, vimentina, CXCR4 e PD-L1 após ação de M1VEs.
Assim, prova-se que as VEs de macrófagos M1 carream fármacos e aumentam a
imunomodulação e efeito antitumoral, por ativação ou bloqueio de vias da
proliferação, migração, sobrevivência e resistência celular aos fármacos.

Palavras-chave: VE's; macrófagos 1; STAT3, AKT; NF-kB; metástase; câncer


colorretal.

TITLE: Extracellular vesicles from macrophages 1 combined with oxaliplatin,


retinoic acid, and L. ferrea modify the tumorigenic course by down-regulating

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M2-TAM via STAT3/NF-kB/AKT in colorectal cancer.

Abstract

Currently, extracellular vesicles (EVs) are targets for nanomedicine, especially in


aggressive cancers such as colorectal cancer. Therefore, M1 macrophage EVs (M1EVs)
were used as nanocarriers of oxaliplatin (M1EV1) combined with retinoic acid
(M1EV2), Libidia ferrea (M1EV3), retinoic acid and L. ferrea (M1EV4) to evaluate their
antiproliferative and immunomodulatory potential in vitro, with the MC38 and CT-26
cell lines, and in vivo, in a murine model. Tumors were evaluated by qRT-PCR and
immunohistochemistry. The cell death profile and the epithelial-mesenchymal
transition (EMT) were studied in vitro in cancer cell lines. Murine macrophages
(RAW264.7 cells) were polarized to obtain EVs. M1EV2 and M1EV3 used alone or
together (M1EV4) reduced tumor progression by immunomodulating EMT, leading to a
decrease in the size of the primary tumor and metastases. STAT3, NF-kB and AKT, key
genes deregulated by M1EVs. Tumor-associated macrophages (TAM) changed
phenotype from M2 (CD163) to M1 (CD68) (p < 0.001), reduced IL-10, TGF-B and
CCL22. Thus, malignant cells expressed more FADD, APAF-1, caspase-3 and E-cadherin,
and less MDR-1, survivin, vimentin, CXCR4 and PD-L1 after the action of M1EVs. Thus,
it has been shown that M1 macrophage EVs upregulate drugs and increase
immunomodulation and antitumor effects by activating or blocking proliferation,
migration, survival and drug resistance pathways.

Keywords: EVs; Macrophages 1; STAT3, AKT; NF-kB; metastasis; colorectal


cancer.

Introdução

O câncer colorretal (CCR) encontra-se entre os três principais cancros com maior
incidência e taxa de mortalidade a nível mundial(1-3). Isto deve-se principalmente ao
fato de o tratamento predominante do câncer focar em inibir crescimento do tumor,
com pouca ênfase nas metástases(4). A fim de combater tal realidade, a terapia-alvo
parece ser uma nova opção que tem prolongado com sucesso a sobrevivência global
dos doentes com CRC(6). Mediante materiais biocompatíveis, um que merece especial
atenção são as VEs. Nanoestruturas as quais possuem muitas características desejáveis
de um sistema ideal de administração de fármacos, como meia de circulação longa,
capacidade intrínseca de atingir os tecidos, a biocompatibilidade, a biodegradabilidade
e problemas de toxicidade mínima ou inexistente(7-9). Diante disso, VEs podem
transportar fármacos quimioterapêuticos convencionais, aumentar a
biodisponibilidade e a concentração em torno dos tecidos tumorais e melhorar o seu
perfil de libertação(10). Ademais, têm-se utilizado, eficazmente, como

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nanocarreadores e sistemas de administração de fármacos específicos para tecidos-


alvo com os agentes antitumorais(11,12). As VEs derivadas de células imunitárias
podem ativar o sistema imune ao expor antígenos tumorais ou moléculas que o
reforçam e podem ainda ser modificadas para intensificar ou redirecionar os seus
efeitos antitumorais, um conceito inovador conhecido como "vacinas tumorais"(13-
15). Para além das suas vantagens biomédicas e propriedades imunomoduladoras,
algumas VEs demonstraram atividade antitumoral intrínseca, devido a moléculas
específicas e agentes supressores de tumores(12,13,16). Como componente
importante da imunidade inata e adaptativa, os macrófagos podem polarizar-se em
diferentes fenótipos funcionais, como o M1 classicamente ativado e os macrófagos M2
alternativamente ativados (M2-MAT), dependendo do estímulo externo(17). No
contexto do cancro, os macrófagos M1 estão alegadamente associados a atividades
anti-tumorais(18-20). Cada vez mais evidências sugerem que os macrófagos M2
podem desempenhar funções imunossupressoras e promover a progressão e a
metástase do tumor(19). Com base em descobertas científicas, os macrófagos M1 são
alvos importantes na imunoterapia tumoral, especialmente para potenciar a resposta
antitumoral no MAT por meio do bloqueio das vias de sinalização STAT3/NF-κB
estimuladas por M2MAT(10,21-24). Neste contexto, torna-se urgente encontrar
estratégias que ultrapassem o estado da arte no tratamento do cancro. Há relatos de
que o ácido retinóico (AR) gerado a partir do retinol derivado da vitamina A atua na
imunidade inata ligando-se a receptores intracelulares de células imunes (25), inibindo
a polarização M2-macrófago(26,27). Nosso grupo demonstrou que os polifenóis, ácido
elágico e ácido gálico, presentes na Libidia Ferrea (LF) uma espécie nativa e endêmica
do Brasil, promove atividade antiproliferativa com indução de apoptose intrínseca em
células de câncer colorretal, além de atuar na diminuição de espécies reativas ao
oxigênio e citocinas pró-inflamatórias(28,29). Além disso, o ácido elágico reduz a
expressão de citocinas imunossupressoras através da regulação negativa de NF-κB e
STAT3 (30,31) em hepatocarcinoma. No presente trabalho, analisamos a combinação
de OXA com VEs de macrófagos M1 carregados com AR e LF para compreender as suas
propriedades antitumorais associadas aos modelos de câncer colorretal. Conforme
esse víes, as VEs foram utilizadas como nanocarreadores para OXA, RA e LF sob intuito
de avaliar o efeito antitumoral na progressão do câncer colorretal.

Metodologia

Anticorpos e reagentes Usou-se oxaliplatina (50 mg de pó liofilizado injetável LIBBS);


ácido retinóico da Sigma. Os extratos brutos dos frutos da Libidibia ferrea (LF)
utilizando etanol como solvente a 60%. 1,65g de ácido elágico (AE) e 0,66g de ácido
gálico quantificados por Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC). As VEs

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foram obtidos e fornecidos pelo Departamento de Nanobiomateriais e Imagiologia do


Centro Médico da Universidade de Leiden. Cultura celular de linhagens neoplásicas O
cultivo de células indiferenciadas de carcinoma do cólon murino (CT-26 e MC-38) e de
macrófagos (RAW 264.7) foram obtidas da American Type Culture Collection. Cultivou-
se em meio de Eagle modificado de Dulbecco (DMEM) suplementado com 1% de
antibióticos (penicilina/estreptomicina) e 10% de soro fetal bovino (SFB). Dosagem,
administração e distribuição de VEs A quantificação das proteínas M1VE no nanodrop
(µg de proteína por mL) in vitro. Para a concentração de proteínas do M1VE com AR e
L. ferrea sem OXA, usou-se 20µg/mL. A concentração de OXA nos M1VEs foi
confirmada por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC). Para as experiências in
vivo, padronizou-se a concentração de 2mg/kg de oxaliplatina. M1VE+OXA, M1VE2:
M1VE+OXA+RA, M1VE3: M1VE+OXA+LF, e M1VE4: M1VE+OXA+RA+LF. Para os ensaios
in vitro, as linhas celulares foram tratadas com M1VEs com OXA (M1VE1; M1VE2 e
M1VE3) e sem OXA (M1VE+RA: M1VERA; M1VE+LF: M1VELF e M1VE+RA+LF=
M1VERALF). Preparação do carregamento de VE e OXA A preparação das VEs partiu da
da polarização para um fenótipo M1 antitumoral. Células RAW 264.7 semeadas em
DMEM sem SFB suplementado com lipopolissacarídeos 1μg/mL + interferão-gama
(IFN-γ) 0,1μg/mL durante 48h. As células foram lavadas e incubadas durante 48 horas
adicionais com meio sem soro para M1VEs, 100 μg/mL de RA, 75 μg/mL de L.F. ou
ambos (RA + L.F.). As VEs foram recolhidos e purificados conforme protocolo de
centrifugação diferencial a fim de obtê-las monodispersas enriquecidas em VEs
nanométricos de cerca de 120 nm. Um PS lipofílico foi incorporado por incubação
direta para promover a sua inclusão na membrana dos VEs. Usou-se isolamento
alternativo numa única etapa, como esferas magnéticas, microfluídica ou reagentes de
precipitação, visando rapidez e escalabilidade. análise quantitativa de oxaliplatina
incorporada nos VEs por HPLC. A fração de VE obtida foi caracterizada, para incorporar
OXA, VEs recém-isolados (M1) foram incubados com uma solução mM de OXA em
Dimetilsulfóxido (DMSO) a 100%, numa proporção de 2:8, a 4°C durante 1 hora as VEs
foram centrifugados tal como descrito por Jorquera-Cordero, e armazenados a -80°C.
Caracterização das VEs Para o processo de caracterização das VEs, uma alíquota de VEs
foi diluída em 1mL em água esterilizada. Posteriormente, analisou-se em NanoSight
NS300 (Malvern), morfologia vista por um microscópio eletrônico de transmissão
(MET). Assim, 20μl de VEs colocadas numa grelha de cobre de 200 malhas e incubados
à durante 1 min. Em seguida, ocorreu a fixação com paraformaldeído a 2% durante 5
minutos, corou-se com acetato de uranilo a 2% durante 15 minutos. Imagens
registadas com uma ampliação de 18 000 × (tamanho de pixel de 1,2 nm), utilizando o
microscópio a 120 kV. A concentração de OXA é avaliada pelo sobrenadante após o
processo de lise da membrana nos exossomas. As análises cromatográficas foram
realizadas por Prominence UFLC-XR (Shimadzu®). Dados coletados pelo software LC-
Solution® da Shimadzu. Concentrações de 0,3, 0,6, 0,9, 1,2, 2,4 e 3,0 μg/mL-1. Para a

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análise da absorção conforme o fabricante, as VEs foram marcados com um kit verde
fluorescente Vybrant™ Multicolor Cell-Labeling Kit e as células foram semeadas a
5x103 células/poço. Modelo in vivo Para avaliar o potencial inibitório do crescimento
tumoral pelos M1VEs no modelo animal alográfico do câncer colorretal, as células CT-
26 (1x106/camundongo) inoculadas por via subcutânea no flanco direito de
camundongos Balb/c machos. Ao atingir volume de tumor 3-4 mm, animais foram
organizados em sete grupos: Salina, M1VE, OXA, M1VE1, M1VE2, M1VE3 e M1VE4
com cinco animais cada e tratados intratumoralmente. Os tratamentos repetiram-se
cada 5 dias (3 tratamentos em 15 dias). O volume do tumor avaliado pela equação
mm3 = (largura × comprimento2)×0,52. Ao final, os animais foram submetidos à
eutanásia (80mg/kg, I.P.) tiopental 2% (Cristália, São Paulo, Brasil), e o tumor
subcutâneo foi coletado, metade do tumor foi armazenado a -80°C para análise de
qPCR e a outra parte foi colocada em paraformaldeído 10% para análise
histopatológica. Todos os protocolos com animais foram realizados de acordo com o
Guia para o Cuidado e Uso de Animais de Laboratório, conforme adotado pelos
Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, e foram aprovados pelo nosso Comitê
Institucional de Ética no Uso de Animais CEUA N. 222.011/2020. Vale ressaltar sobre
Imunofluorescência de MMP2, PD-L1 e IL-10, análise imunohistoquímica de AKT-1,
PI3K, E-caderina, AKT, CD163, CXCL12 e NF-kB, análise dos fragmentos do fígado e dos
pulmões do modelo de peritoneal e análise da expressão genética por qRT-PCR para os
fragmentos de tumor. Análise estatística Para a análise estatística, os experimentos in
vitro foram realizados em triplicata. Ademais, os experimentos in vitro foram
realizados conforme a quantidade ideal para respeitar tanto os preceitos éticos da
CEUA como a proporção da malignidade da doença na população. Os resultados foram
avaliados estatisticamente por ANOVA e pós-teste de Bonferroni, com valores de
p<0,05 significativos.

Resultados e Discussões

A caracterização das VEs RAW 264.7 polarizadas por M1 foram usadas para estudar a
morfologia e a concentração de proteínas. As imagens obtidas das vesículas evidenciou
forma redonda bem definida, com um intervalo de tamanho de 100-120nm, obtidas
numa concentração de cerca de 0,5 a 1,2×108 partículas. O caráter quantitativo do
fármaco por HPLC indicou que a concentração de OXA corresponde a 1-2mg/mL.
Avaliação da polarização de MATs por M1VEs Fez-se em macrófagos RAW 264.7 em
direção a M2-MATs na presença de IL-4 por 48 h e na ausência ou presença de M1VE
sem OXA, mas com RA (M1VERA), LF (M1VELF) e RA+LF (M1VERALF) (Fig. 2A-D). A
análise da citometria de fluxo evidenciou que a expressão do marcador CD68,
relacionado a M1, era de 58,1% em MATs polarizados para M2 (Fig. 2 A) e a expressão

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foi intensa para 81,9%, 73,7%, 84,7% e 85,6% após a adição de M1VE, M1VERA,
M1VELF e M1VERALF após a polarização M2, respetivamente (Fig. 2 A). Mas, o
marcador M2 CD163 foi bastante maior nas células RAW 264.7 de controle
estimuladas com IL-4 (59,5%), demonstrando que a IL-4 induz com êxito a alteração de
macrófagos clássicos para MATs polarizados para M2 (Fig. 2B). Após o tratamento com
M1VE, M1VERA, M1VELF e M1VERALF após a polarização M2, a expressão diminuiu
significativamente para 52,9%, 43,3%, 53,4% e 48,7%, respectivamente (Fig. 2 B). Para
estudar se as células cancerígenas podem atuar na polarização de RAW 264.7 para M2-
MAT e se este mecanismo poderia ser inibido por M1VE, M1VERA, M1VELF e
M1VERALF, as M2-MAT foram, indiretamente, co-cultivadas com células CT-26 e
tratadas com M1VE, M1VERA, M1VELF e M1VERALF em sistema Transwell. Após 24 h,
a expressão de CD163 e CD68 foi analisada nas células M2-MAT por citometria de fluxo
(Fig. 2 C and D). A interpretação do resultado revela que as células CT-26 tratadas com
M1VE (77%), M1VERA (76,3%), M1VELF (85,3%) e M1VERALF (84,6%) aumentaram a
expressão de CD68 em M2-MAT (66,8%), enquanto a expressão de CD163 foi reduzida
para 33,1%, 31,4%, 23,1% e 29,7%, respetivamente, ao comparada com M2-MAT
(62,6%). O efeito anti-inflamatório da citocina IL-10 foi também avaliado 48h após o
tratamento de M2-MAT com M1VE, M1VERA, M1VELF e M1VERALF. Os sobrenadantes
foram recolhidos e os níveis de IL-10 murina foram determinados (Fig. 2 E). RAW 264.7
tratados com IL-4 (M2-MAT) apresentaram níveis aumentados de IL-10 (p < 0,001)
quando comparados com o grupo RAW (Fig. 2 E). Tal perspectiva confere que a
polarização para M2-MAT foi bem sucedida. Contudo, apenas os M2-MAT tratados
com M1VERALF apresentaram um nível de IL-10 semelhante ao dos RAW 264.7, o que
significava uma redução da secreção de IL-10 pelos M2-MAT. Diminuição da viabilidade
celular e aumento de apoptose por M1VEs Viabilidade celular e a apoptose foram
medidas pelo ensaio MTS e citometria de fluxo em 24 e 48 h, respectivamente. Neste
ensaio, as células CT-26 foram tratadas com M1VEs contendo OXA (M1VE1), OXA+RA
(M1VE2) e OXA+LF (M1VE3) nas concentrações de 12,5 µg/mL, 25 µg/mL e 50 µg/mL
para OXA e 5µg/mL, 10µg/mL e 20µg/mL para M1VE+OXA+RA ou + LF ou +RALF. As
células tratadas com 10µg/mL e 20µg/mL de M1VE (p<0,001), 5 µg/mL, 10 µg/mL e 20
µg/mL de M1VE1 (p<0,0001), 20 µg/mL de M1VE2 (p<0,0001) e M1VE3 (0<0,05)
diminuíram a viabilidade celular em 24 horas. Em 48 horas, as concentrações testadas
reduziram a viabilidade celular (p<0,0001). O tratamento com 20 µg/mL de M1VE3
aumentou em 41,2% a apoptose total em 24 horas ao comparado às células de
controle negativo. Conforme isso, as células tratadas com M1VE3 apresentaram um
resultado consistente ao serem analisadas após 48h, sendo 56,32% de indução de
apoptose celular total. Mediante os resultados vistos pelos ensaios de viabilidade
celular e de citometria de fluxo, decidimos adicionar o grupo M1VE4
(M1VE+OXA+RA+LF) para as próximas experiências. Regulação positiva da E-caderina e
da regulação negativa da Vimentina por M1VEs Os sistemas M1VE modulam a TEM

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através da regulação positiva da E-caderina e da regulação negativa da Vimentina. Para


analisar a TEM nas células CT-26 após o tratamento com sistemas M1VE, a expressão
de E-caderina e Vimentina foi analisada. Por isso, usou-se M1VEs sem OXA, mas com
RA, LA e RA+LF. Todas as células tratadas foram comparadas com as células de
controle CT-26 sem tratamento. Relativamente à E-Caderina, verificou-se um aumento
estatisticamente significativo da expressão para os grupos de células com tratamento:
M1VERA e M1RALF (p<0,0001) ao comparadas às células CT-26 sem tratamento. Por
outro lado, as células tratadas com M1VELF (p<0,01) e M1VERALF (p<0,001) reduziram
a expressão de vimentina. Análise da expressão gênica de células CT26 e MC38 qRT-
PCR após tratamento com sistemas M1VE. Quanto aos efeitos antitumorais dos
sistemas M1VE sem OXA, mas com RA, LF e RA+LF nas células colorretais CT26 e MC38
sob a influência direta de M2-MAT num ensaio de co-cultura, analisou-se a expressão
genética de NF-kB, FAAD, APAF-1, MDR1, survivina, STAT3, vimentina e E-caderina por
qPCR. Para este ensaio, comparamos as células cancerígenas em contacto com RAW
264.7+IL-4 tratadas com células cancerígenas em contacto com RAW 264.7+IL-4 sem
tratamento. Para os marcadores de apoptose extrínseca e intrínseca, FAAD e Apaf-1,
respetivamente, os resultados indicaram um aumento da regulação em ambas as
linhas celulares para os tratamentos com M1VELF quando comparados com as células
CT-26 em co-cultura com RAW 264.7+IL-4, indicando uma estimulação da apoptose
celular na ausência de oxaliplatina. Todavia, a expressão de FAAD foi maior nas células
MC38 quando estas foram tratadas com M1VERA, M1VELF e M1VERALF (p<0,0001,
p<0,00,1 e p<0,0001, respetivamente). Por outro lado, as células CT-26 mostraram
uma maior expressão de APAF-1 do que a linha celular MC38 quando tratadas com
M1VERA, M1VELF e M1VERALF (todos, p<0,0001). A expressão gênica de survivina, um
membro da família de inibidores de apoptose, e a expressão de MDR1, um alvo
responsável pelo processo de resistência a medicamentos (MDR1), foram analisadas.
As células MC38 apresentaram menor expressão de survivina quando tratadas com
M1VERALF (p < 0,05), enquanto a expressão de MDR1 foi regulada negativamente em
tratamentos com M1VERA e M1VELF (ambos, p < 0,0001) em células CT-26. A
expressão gênica de TEM pela análise de e-caderina e vimentina também foi
observada em nosso estudo. Em ambas as linhas celulares, M1VERA, M1VELF e
M1VERALF foram capazes de diminuir a expressão de vimentina (todos, p<0,0001). Da
mesma forma, a expressão de E-Caderina foi significativamente aumentada em ambas
as linhas celulares quando tratadas com M1VERA, M1VELF e M1VERALF (células CT-26:
p<0,05, p<0,001 e p<0,0001 e células MC38: p<0,0001 e p<0,001, respectivamente).
Assim, como importantes orquestradores da progressão tumoral, a expressão genética
das vias de sinalização STAT3 e NF-kB também foi estudada. A expressão de NF-kB foi
regulada negativamente nas linhas celulares CT-26 e MC38 após o tratamento com
M1VERA, M1VELF e M1VERALF (todos, p<0,0001). Mas, apenas as células CT-26
apresentaram uma expressão reduzida de STAT3 após o tratamento com M1VERA,

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M1VELF e M1VERALF (todos, p<0,001), sendo possível ver o efeito antitumoral do


M1VE com OXA, RA e LF in vivo. Efeito antitumoral do M1VE com OXA, RA e LF in vivo
Quanto ao modelo de câncer colorretal alográfico, a fim de avaliar os efeitos
antitumorais e imunomoduladores do M1VE com OXA, RA, LF e RA+LF nos animais,
usou-se os tumores alográficos. As fotomicrografias dos tumores mostraram que a
curva de crescimento tumoral em todos os grupos foi afetada pelos tratamentos. Os
grupos tratados com M1VE (p<0,05), M1VE1 (p<0,0001) e M1VE4 (p<0,0001) tiveram
uma maior inibição do crescimento tumoral quando comparados com o grupo salina. O
peso do tumor mostrou um resultado semelhante à curva de crescimento tumoral
relacionada aos grupos M1VE (p<0,05), M1VE1 (p<0,0001) e M1VE4 (p<0,0001). Os
sistemas M1VE carregados com OXA e combinados com RA, LF e/ou RA+LF modularam
a progressão tumoral no MAT de tumores primários. Análise da expressão proteica da
progressão tumoral. M1VEs carreadores de OXA com RA ou com LF ou com RA+LF
modularam a progressão tumoral em MAT de tumores primários. A imunossupressão e
a invasão do tumor foram avaliadas e analisadas através da expressão proteica de IL-
10, PD-L1 e MMP2 por imunofluorescência. Para a análise da imunossupressão, a
expressão de PD-L1 foi super expressa no grupo tratado com OXA. Contudo, os
sistemas M1VE contendo OXA (M1VE1, p<0,01), AR (M1VE2, p<0,05) e AR + LF
(M1VE4, p<0,0001) reduziram a expressão de PD-L1 quando comparados ao grupo
salina. Mas, a IL-10 foi regulada positivamente no grupo OXA (p<0,01) e M1VE (P<0,05)
e negativamente nos grupos M1VE1, M1VE2, M1VE3 e M1VE4, mesmo sem
significância estatística. Quanto à invasão tumoral, o tratamento com M1VE1, M1VE2
e M1VE4 (todos, p<0,0001) foi capaz de regular negativamente a expressão de MMP2.
Fez-se uma análise da regulação do ciclo celular pela via de sinalização PI3K/AKT e da
TEM no MAT. Provou-se que nos grupos tratados com M1VE1, M1VE2, M1VE3 e
M1VE4, houve uma diminuição significativa na expressão de AKT e PI3K, ao
comparados com o grupo salina (ambos, p<0,0001). O grupo tratado com M1VE4
(p<0,0001) apresentou bastante aumento na expressão de E-Caderina. Análise da
expressão genética da progressão tumoral por qRT-PCR do MAT em tumores primários
Mediante análise da expressão de genes da progressão tumoral por qRT-PCR do MAT
em tumores primários: a expressão de genes que codificam fatores de transcrição (NF-
kB e STAT3), bem como TEM (SNAIL), apoptose (FAAD e APAF-1) e imunocompetência
(CD8 e CD68), no MAT foi avaliada por meio da expressão de genes em fragmentos de
tumor. Foi observada uma regulação positiva da expressão de FAAD nos grupos
tratados com OXA (p<0,01), M1VE1, M1VE2, M1VE3 e M1VE4 (todos, p<0,001) quando
comparados com o grupo salina. Assim, a expressão de APAF-1 aumentou nos grupos
tratados com OXA (p<0,05), M1VE1, M1VE2, M1VE3 e M1VE4 (todos, p<0,0001). Mais
interessante, M1VE1, M1VE2, M1VE3 e M1VE4 (todos, p<0,001) aumentaram
significativamente a expressão de FAAD e APF-1 quando comparados com OXA. A
expressão do gene NF-kB foi reduzida em todos os grupos tratados (p<0,0001).

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Ademais, a expressão do gene STAT3 foi regulada negativamente em todos os


tratamentos (p<0,0001), exceto em M1VE1 e M1VE3. A eficácia da resposta imune
antitumoral foi estudada pela análise da expressão do gene CD8, e os resultados
indicaram uma regulação positiva desse gene após o tratamento com M1VE e M1VE4
(p < 0,0001), M1VE2 (p < 0,05) e M1VE3 (p < 0,01). Para o gene marcador de
macrófagos do tipo M1, a expressão do gene CD68 fora elevada para o grupo tratado
com M1VE (p < 0,0001) e M1VE, M1VE2 e M1VE3 (p < 0,001). A expressão do gene
SNAIL, um fator de transcrição envolvido na TEM, foi reduzida ao tratada com M1VE1
(p < 0,01). Efeito antitumoral do M1VE4 nas metástases peritoneais do câncer
colorretal Os resultados apresentados anteriormente indicaram que o M1VE4
apresentou um efeito antitumoral superior ao do M1VE1, M1VE2 e M1VE3 em
tumores alográficos. Por isso, o M1VE4 foi testado para estudar o seu efeito
antitumoral num modelo animal metastático. Outrossim, resultados provam como os
tumores peritoneais foram afetados pelos tratamentos com OXA, M1VE1 e M1VE4,
posto que os houve diminuição de peso após o tratamento com OXA, M1VE1 e M1VE4
(todos, p<0,0001) quando comparados com o grupo salino. Estes tratamentos foram
capazes de reduzir o número de tumores nos animais. No entanto, a eficácia do
M1VE4 na redução do peso do tumor (p<0,001) e do número de tumores (p<0,001) foi
superior à do OXA. Além disso, os critérios histopatológicos foram avaliados para
estudar o benefício antitumoral do nosso tratamento. Resultados apontaram que o
M1VE4 teve um maior efeito antitumoral, diminuindo as células anaplásicas (p < 0,01),
bem como aumentando o infiltrado linfocítico (p < 0,001) no MAT metastático. Perfil
de expressão de proteínas e genes em tumores peritoneais A fim de compreender o
perfil imunossupressor do tumor através de AKT/NF-kB/STAT3 em metástases
peritoneais de câncer do cólon, as expressões proteicas e genéticas de AKT, NF-kB,
STAT3, CXCL12, CXCR4, CD163 e PD-L1 foram analisadas em tumores peritoneais após
o tratamento com OXA, M1VE1 e M1VE4 (Fig. 10 A-W). A expressão proteica de AKT e
NF-kB diminuiu em todos os grupos tratados, especialmente em M1VE4 (p<0,0001)
quando comparada com o grupo salino (Fig. 10 A-H). Diante disso, a expressão proteica
de CXCL12 e CD163 teve uma redução maior em M1VE4 (ambos, p<0,0001). Contudo,
a expressão dos genes STAT3, CXCR4 e PD-L1 não mostrou uma diferença
estatisticamente significativa quando o grupo salino foi comparado com o grupo
M1VE4. Mas, a sua expressão registou uma redução considerável. Curiosamente, o
grupo OXA apontou uma maior expressão de STAT3 , CXCR4 e PD-L1 do que o grupo
salina (p<0,05, p<0,0001 e p<0,001, respectivamente), M1VE1 (p<0,05, p<0,01 e
p<0,05, respetivamente) e M1VE4 (p<0,05, p<0,0001 e p<0,001, respectivamente). A
análise histopatológica do fígado mostrou a presença de células tumorais infiltradas
por todo o órgão, em todos os grupos testados (pontas de seta; Fig 11 A-D). Contudo,
o número e o diâmetro dos nichos metastáticos parecem ser menores quando tratados
com M1VE1 (p<0,001) e M1VE4 (p<0,0001), do que com a solução salina (Fig. 11 A-D e

980
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I). Também foram encontrados nichos metastáticos maciços nos pulmões de animais
tratados com solução salina (Fig 11-E). Embora M1VE1 e M1VE4 (ambos, p<0,01)
reduziram menos as metástases nos pulmões (Fig 11 E-H e J). Discussão: A relação de
importantes vias de sinalização, especialmente entre o STAT3 e o NF-KB, tem sido
implicada nas características do câncer, tais como a resistência à apoptose e aos
medicamentos, a TEM e a imunossupressão (23,24,27). Neste estudo, demonstrou-se
que as vesículas extracelulares revestidas com OXA de macrófagos 1 (M1VEs),
combinadas com ácido retinóico e extrato de L. Ferrea, modulam a progressão tumoral
do câncer colorretal. Assim, os perfis genéticos e proteicos correlacionados com a
progressão tumoral foram significativamente alterados. Os estudos e seus resultados
evidenciaram que o NF-KB, STAT3 e AKT foram as vias de sinalização mais importantes,
devido ao seu papel crucial na interação entre as células malignas e as células
imunitárias associadas ao tumor. Neste prisma, a interação entre o estroma e as
células neoplásicas no MAT primário é fundamental para compreender os fatores
associados à metástase (27). Os M2-MATs são células ativadas alternativamente por IL-
4 e IL-13, que ativam via JAK/STAT-3 para induzir a produção de citocinas
imunossupressoras como IL-10 e PD-L1, favorecendo a resistência à apoptose, a
fármacos e à invasão (24). Ademais, a via NF-kB inibida pela via PI3K-AKT em M2-TAMs
ativa uma sequência transcricional imunossupressora no curso inflamatório da
progressão tumoral (24,27). Assim, o curso de polarização dos TAMs em direção a M2,
interrompido pela regulação negativa de NF-κB, STAT3 e AKT mediada por M1VEs,
desencadeou a expressão reduzida de PD-L1 e IL-10, quimiocinas liberadas por MATs
polarizados para M2. A expressão de PD-L1 e IL-10 dos M2-TAMs regula positivamente
as vias AKT/NF-kB nas células tumorais, resultando na transição epitelial-mesenquimal
(27), bem como regulação negativa das células T CD8+ por meio da regulação positiva
da expressão de STAT3 no MAT (27). Neste estudo, a fim de ativar o sistema imune e
reduzir a progressão tumoral do câncer colorretal, usou-se as VEs, vesículas
extracelulares de macrófagos 1, transportadoras de fármacos semelhantes a
exossomos (32,33). Estudos demonstram as VEs ou exossomas podem carregar
diferentes fármacos, como a doxorrubicina(10), o paclitaxel(33). As VEs de diferentes
células, especialmente as células imunológicas e cancerígenas, podem regular o MAT
ao expor antígenos celulares ou receptores de reforço imunitário, promovendo efeitos
como "vacinas tumorais" (13,15). Estudos exibem que as VEs são endocitadas nas
células por meio de fusão e/ou endocitose mediada por receptor (9,32). Provou-se que
as células CT-26 internalizaram M1VEs em 24 horas após a exposição, corroborando
com outros estudos de captação de VEs na literatura (10). Este resultado reforça a
hipótese de que as VEs são um veículo importante para a libertação de fármacos no
interior das células devido à sua biocompatibilidade (9). Resultados in vitro e in vivo
sugerem que diferentes sistemas de M1VEs tiveram um forte efeito apoptótico,
corroborando outros estudos que utilizaram VEs como transportadores de fármacos

981
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(10). Todavia, o efeito apoptótico em ambas as vias de sinalização, intrínseca e


extrínseca, foi maior quando os M1VEs foram carregados com OXA, RA e LF (M1VE4).
Quando CT-26 e MC38 foram co-cultivadas com M2-TAM e tratadas com M1VEs sem
OXA, mas carregados com RA e LF, a expressão do gene da glicoproteína P (MDR1) e
Survivin foram significativamente reduzidas, sendo o MDR1 localizada na membrana
plasmática de células cancerígenas resistentes a vários fármacos antitumorais, como:
doxorrubicina, oxaliplatina, paclitaxel (10,33). Em suma, provou-se que os M1VEs com
ou sem OXA, mas carregados com AR e LF, tiveram um efeito significativo na regulação
negativa da resistência ao fármaco e à apoptose. No MAT primário de tumores
alográficos de câncer colorretal em camundongos, um ciclo modulatório de citocinas
imunossupressoras é alimentado pela interação entre células estromais,
especificamente M2-TAM, e células cancerígenas, gerando escape imunitário e TEM
(24,27). Assim, investigamos a expressão de diferentes marcadores de
imunossupressão (PD-L1 e IL-10), imunocompetência (CD8 e CD68) e TEM (E-caderina,
SNAIL e MMP-2). M1VEs carregados com OXA, RA e LF mostraram eficiência na
redução da imunossupressão e da TEM. Concluiu-se que M1VE4, que carregava todos
os compostos, tinha um efeito antitumoral superior ao comparado com outras M1VEs.
A priori, os ensaios in vitro demonstraram que a expressão proteica e genética da E-
caderina aumentou e a Vimentina reduziu nas linhas de células cancerígenas após o
tratamento com M1VEs sem OXA, mas carregados com AR e LF, especialmente quando
o AR e o LF foram combinados. Conforme resultados de tumores primários descritos
anteriormente, investigou-se a expressão de diferentes características de metástases
no câncer peritoneal in vivo e, mais importante ainda, testamos o efeito antitumoral
de M1VE4. Vários estudos referiram que a progressão tumoral e as metástases são
reguladas por vários fatores relacionados com o M2-MAT, citocinas
imunossupressoras, reguladores metastáticos e fatores de transcrição desregulados no
MAT (24,27). A regulação positiva das vias de sinalização STAT3, NF-kB e AKT estimula
o eixo CXCL12/CXCR4 que promove a progressão tumoral e a metástase, regula o
recrutamento de M2-TAM e a imunossupressão(24,27). A expressão de genes
associados a (STAT3), como regulador metastásico (CXCR4) e imunossupressão (PD-L1)
no MAT reduziu-se pelo M1VE4 carregado com OXA, RA e LF em tumores peritoneais.
Destarte, a expressão proteica de fatores de transcrição (AKT e NF-kB), fatores
metastáticos (CXCL12) e imunossupressão M2-MAT (CD163) também foi reduzida após
o tratamento com M1VE4. Clinicamente, o M1VE4 reduziu os nichos metastáticos no
peritônio, fígado e pulmões nos animais tratados durante duas semanas. Este estudo
propõe uma engenharia sofisticada de vesículas extracelulares como transportadores
de fármacos para controlar tumores primários e metastáticas.

Conclusão

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A compreensão dos processos que ocorrem no microambiente tumoral e nas vias de


sinalização envolvidas no CCR fornece vários alvos potenciais para a intervenção
medicamentosa em doenças agressivas, como é o caso do CCR. Assim, a atenção deve
centrar-se na inibição simultânea do crescimento do câncer e da metástase, o que
produziria resultados terapêuticos clinicamente eficazes. O que reflete a necessidade
dos ensaios clínicos serem encorajados a fim de incorporar parâmetros correlativos
nos seus estudos para identificar biomarcadores exatos de resposta à terapia com
retinóides. Mediante evidências de que as VEs de macrófagos M1 aumentam a
atividade antitumoral no MAT por transportar moléculas imunomoduladoras e
favorecer a biodisponibilidade da oxaliplatina em doses menores e/ou estimular a
ativação ou bloquearem as vias de sinalização envolvidas nos processos de
proliferação, migração e sobrevivência celular essa nanopartícula possui potencial para
inovar a oncoterapia.. Portanto, a ideia central deste projeto foi combinar as
propriedades anti-cancerígenas da L. ferrea com a capacidade de imunomodulação do
ácido retinóico em doses baixas de oxaliplatina encapsulada em vesículas
extracelulares cuja membrana provém de macrófagos M1 antitumorais.

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Anexos

Fig 2. M1VE, M1VERA, M1VELF e M1EVEALF diminuem a polarização M2-TAM. (A-B)


Perfil representativo de citometria de fluxo da expressão de CD68 e CD163 em células
de controlo RAW 264.7 e após tratamento com IL-4, ou IL-4 e M1VE, M1VERA, M1VELF
e M1VERALF

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Fig 10. Avaliação da imunossupressão e da via de sinalização AKT/NF-κB/STAT3 nas


metástases peritoneais do câncer de cólon. Os tumores extraídos dos BALB/c
previamente tratados foram analisados por imunohistoquímica (A-T) e expressão
gênica relativa

Fig 11. Avaliação de nichos metastáticos. A avaliação da migração de células tumorais


para locais secundários foi observada no fígado (A-D, 100× e 400×) e no pulmão (E-H,
100× e 400×).

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CÓDIGO: SB0734

AUTOR: MARIA CECILIA ALVES DE MEDEIROS

ORIENTADOR: ANA CAROLINA LUCHIARI

TÍTULO: ORIGENS DO DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DESAMPARADO


EM ZEBRAFISH: INFLUÊNCIA DO ESTRESSE PRECOCE

Resumo

A fase inicial do desenvolvimento é um período de grande vulnerabilidade dos


organismos, uma vez que distúrbios ocorridos durante esse período podem acarretar
em danos permanentes para a vida do indivíduo. Neste estudo, avaliamos o
comportamento de desamparo derivado da imposição a estressores no início do
desenvolvimento ontogenético em zebrafish. Utilizamos o protocolo de exposição
embrionária ao álcool aplicado em 24 horas pós fertilização (hpf) e o protocolo de
estresse crônico imprevisível aos 16 dias pós fertilização (dpf). Para avaliar o estado
desamparado, utilizamos o teste de imobilização caudal, e de evitação ativa de choque
elétrico, aos 30 dias dpf. No teste de evitação ativa ao choque, os animais do grupo
controle apresentaram número de escapes maior do que os animais expostos ao
álcool, também indicou que os animais que passaram pelo protocolo de ECI
apresentaram número de escapes maior do que os animais expostos ao álcool. Os
animais do grupo controle apresentaram menor latência do que os animais expostos
ao álcool. No teste de sonda, os grupos estressados escaparam bem menos se
comparados ao controle. No teste de imobilização caudal, o grupo controle apresentou
maior tempo de movimentação e maior tentativas de fuga em comparação ao grupo
de ECI. Nossos resultados confirmam as hipóteses de que a exposição a eventos
aversivos no início da vida pode contribuir para o desenvolvimento do estado
desamparado.

Palavras-chave: FASD, ECI, zebrafish, desamparo aprendido.

TITLE: ORIGINS OF THE DEVELOPMENT OF THE HELPLESS STATE IN


ZEBRAFISH: INFLUENCE OF EARLY STRESS

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Abstract

The initial phase of development is a period of great vulnerability for organisms, since
disturbances that occur during this period can result in permanent damage to the
individual's life. In this study, we evaluated the helplessness behavior derived from the
imposition of stressors in early ontogenetic development in zebrafish. We used the
embryonic alcohol exposure protocol applied at 24 hours post fertilization (hpf) and
the unpredictable chronic stress protocol at 16 days post fertilization (dpf). To assess
the helpless state, we used the caudal immobilization test, and the active avoidance of
electric shock, up to 30 days dpf. In the active shock avoidance test, the animals in the
control group had a greater number of escapes than the animals exposed to alcohol,
also indicating that the animals that followed the chronic stress protocol had a greater
number of escapes than the animals exposed to alcohol. The animals in the control
group had lower latency than the animals exposed to alcohol. In the probe test, the
stressed groups escaped much less compared to the control. In the caudal
immobilization test, the control group had a longer movement time and more escape
attempts compared to the chronic stress group. Our results confirm the hypotheses
that exposure to aversive events early in life may contribute to the development of the
helpless state.

Keywords: FASD, chronic stress, zebrafish, learned helplessness

Introdução

O zebrafish (Danio rerio) é um modelo animal amplamente empregado em pesquisas


científicas, com ênfase em estudos comportamentais, genéticos, toxicológicos e
investigação de mecanismos de diversas doenças humanas (Piato et al., 2011; Fonseka
et al., 2016; Demin et al., 2020). Ele se destaca de outros modelos animais por ser
econômico em sua criação, altamente prolífico, rápida reprodução, transparência
embrionária, facilidade de manipulação genética e uma elevada sensibilidade aos
medicamentos psicotrópicos (Otte et al., 2017; Grunwald e Eisen, 2002).

O zebrafish tem sido amplamente utilizado como modelo animal para o estudo de
psicopatologias. A depressão é uma das formas mais prevalentes de transtornos
neuropsiquiátricos. Sintomas caracterizam clinicamente a depressão como o baixo
humor, estado deprimido, baixa energia ou fadiga, além de distúrbios do sono,
pessimismo, sentimento de culpa, baixa autoestima e tendências suicidas (Wong e

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Licinio, 2001; Kanter et al., 2008). Os sintomas observados em zebrafish submetidos a


estresse crônico tem paralelo com os sintomas de depressão observados na clínica
medica. Dentro dos sintomas de depressão, o desamparo é uma condição psicológica
caracterizada por sentimentos de impotência e falta de controle diante de eventos
estressantes ou adversidades (Song e Vilares, 2021). Estudos indicam que o desamparo
está relacionado com a diminuição da atividade cerebral em áreas que são
responsáveis pela motivação e pelo planejamento (Shumake, e Gonzalez-Lima 2003;
Maier e Seligman, 2016).

Experiências traumáticas, como abuso emocional ou físico, podem contribuir para a


condição de desamparo, no entanto, o estresse enfrentado durante o inicio do
desenvolvimento parece ter papel importante no estabelecimento da condição de
depressão e desamparo (Juruena, 2014; Lupien et al., 2009; Miragaia et al., 2018;
Cryan e Holmes, 2005; Edwards et al., 2003; Heim et al., 2008). Estudos têm apontado
que a exposição a estressores no período pós natal desencadeia diversas
consequências ao longo de toda a ontogenia, como maior suscetibilidade ao
desenvolvimento de distúrbios neuropsiquiátricos (Hanson, 2015; Holubova et al.,
2018), disfunções neuroendócrinas (Lai e Huang, 2011), e cognitivas (Holubova et al.,
2018). Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o comportamento de desamparo
derivado da imposição a estressores não evitáveis ou previsíveis impostos no início do
desenvolvimento ontogenético.

Utilizamos como estressores a exposição alcoólica embrionária, a fim de simular


condição de distúrbios do espectro alcoólico fetal (DEAF), e o estresse crônico
imprevisível (ECI), para mimetizar o enfrentamento a diferentes estressores
ambientais. Um dos maiores problemas associados ao álcool é sua ingestão durante a
gravidez, o que causa diversas alterações no neurodesenvolvimento, com maior
incidência de distúrbios psicológicos e psiquiátricos nos indivíduos. Pessoas com DEAF
podem desenvolver depressão como resultado de problemas de saúde mental ou
emocionais associados à condição. No entanto, não é apenas a exposição precoce ao
álcool que pode causar distúrbios ao longo do desenvolvimento. Estressores diversos,
quando impostos de forma crônica aos indivíduos, podem causar depressão, doença
cardiovascular, disfunção cognitiva, distúrbios metabólicos, doença neurovascular
degenerativa e distúrbios do sono (Chrousos, 2009; Lupien et al., 2009). Quando o
estresse acontece no início da vida, a suscetibilidade ao desenvolvimento de distúrbios
neuropsiquiátricos pode aumentar drasticamente (Lai e Huang, 2011), já que o sistema
nervoso ainda não está completamente formado.

Desse modo, testamos os efeitos do estresse no início da ontogenia em


comportamentos indicadores de desamparo em zebrafish. A validação do zebrafish

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como modelo para o estudo desta condição contribui para o avanço das pesquisas
sobre as origens do estado desamparado e permite o uso do modelo para avaliação de
tratamentos mais adequados e eficazes.

Metodologia

ANIMAIS
Zebrafish adultos (Danio rerio–linhagem selvagem) foram colocados para reproduzir
com o objetivo de obter ovos para esse estudo. Os peixes foram alimentados com
náuplios de Artemia sp. e ração comercial diariamente, duas vezes ao dia. Mantidos
em aquários equipados com filtros e sondas que foram capazes de manter o pH da
água em 7,5m, a temperatura em 27,5°C e a condutividade em 500uS. Os animais
foram mantidos em um ambiente com ciclo de luz que obedece um fotoperíodo de 14
h luz/10h escuro.
Os animais foram colocados em tanques de reprodução de 2L na proporção de 2
machos/1 fêmea. 2h antes do início do ciclo escuro, machos e fêmeas foram separados
por uma barreira de acrílico que impedia contato entre os animais, exceto o visual e o
químico. Para que o processo de reprodução fosse iniciado, a barreira foi retirada na
primeira hora do início do ciclo claro, no dia seguinte. Utilizamos mais de um grupo de
animais que foram destinados à reprodução para obtenção de ovos geneticamente
heterogêneos, de forma que a variedade de grupos utilizados pudesse nos dar uma
melhor representação da população natural (Parras et al., 2009; Speedie e Gerlai,
2008). A reprodução durou em média 1 hora, e ao final desse processo os ovos foram
coletados e divididos de acordo com o tipo de estressor a ser aplicado. Os animais
foram alimentados e mantidos em seus tanques até os 30 dpf.
EXPOSIÇÃO AO ÁLCOOL
Às 24 horas pós-fertilização (hpf), os embriões de zebrafish foram expostos ao etanol
(0,5% e 1%), por duas horas. Um grupo controle (sem exposição ao álcool) também foi
formado. Os embriões foram transferidos para bandejas plásticas de 30x20x10 cm,
com uma coluna de água de 2,5 cm, e alimentados com paramécio e ração moída a
partir dos 5 dias pós- fertilização (dpf).
ESTRESSE CRÔNICO IMPREVISÍVEL (ECI)
Após a reprodução, os ovos foram coletados e mantidos nas condições previamente
descritas até os 16 dpf (dias pós fertilização). Ao chegarem aos 16 dpf, foram
separados em 2 grupos de peixes. um grupo foi exposto ao protocolo de ECI, de acordo
com Fontana et al. (2021), por 7 dias, esse estresse foi feito duas vezes ao dia, de
acordo com a tabela I, e o outro grupo permaneceu livre de estresse (controle). Ao
final de cada sessão de estresse os animais retornaram para seus tanques de origem.

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TESTE DE EVITAÇÃO ATIVA AO CHOQUE


O teste foi adaptado do protocolo usado em Lee et al., (2010), e foi realizado quando
os animais dos tratamentos de estresse (álcool e ECI) completarem 30 dias. Utilizamos
o n=28 para o grupo controle, e n=14 para o restante dos grupos experimentais. O
procedimento foi realizado em um tanque transparente de medidas 10x5x8 cm
preenchido com aproximadamente 400 ml de água. Cada lado de maior comprimento
do tanque foi forrado com duas placas de eletrodo que têm o objetivo de gerar choque
elétrico leve (0,6 V) em cada lado do tanque. Cada placa mede 4 cm, de forma que o
centro do aquário, se torne uma região onde o choque elétrico não chegue. Além
disso, o tanque de testes possuia uma luz de LED vermelha montada em cada uma de
suas extremidades (figura 2).
Inicialmente, os animais foram individualmente colocados no tanque e submetidos a
um período de habituação de 10 minutos. Posteriormente, cada animal passou por um
treinamento pareado, que consiste em submetê-los a 5 segundos de exposição à luz,
seguido de choque elétrico (0,6V 1.8mA 12.6W) por 3 segundos. Esse procedimento foi
repetido por 30 vezes consecutivas, com intervalo de 20 segundos entre cada um. O
estimulo luminoso – EC (estimulo condicionado) e o choque – ENC (estimulo não
condicionado) sempre foram apresentados do lado do aquário em que o animal se
encontra. Ao final dos 30 choques elétricos de treinamento, um teste de sonda foi
realizado para avaliar a capacidade de aprendizagem do zebrafish. Nesse teste os
animais foram expostos a 5 segundos de estimulo luminoso sem choque elétrico
subsequente para avaliar a influência dos estressores na capacidade do zebrafish de
aprender a escapar de um estimulo aversivo. O estado desamparado foi avaliado em
zebrafish através das tentativas de escapar de choques elétricos (10 últimos choques
elétricos e teste de sonda) e pela latência, que mediu a quantidade de tempo, em
segundos, que os animais levaram para escapar do local do aquário que recebia o
estimulo aversivo.
TESTE DE IMOBILIZAÇÃO CAUDAL
O teste foi realizado quando os animais dos tratamentos de estresse (álcool e ECI)
completarem 30 dias. Utilizamos o n=30 para o grupo controle, e n=15 para o restante
dos grupos experimentais. Seguindo o protocolo de imobilidade pela cauda (Demin et
al., 2020), a metade distal da cauda dos peixes foi presa em uma esponja molhada
(8x4x5cm). A esponja foi posicionada no topo de um béquer, a parte cranial do corpo
do peixe ficou livre e pendurada verticalmente (Figura3). O teste foi feito
individualmente e os peixes foram observados por 5 minutos. O estado de desamparo
foi avaliado através do tempo que animal se manteve em movimento e a quantidade
de vezes que o animal iniciou uma tentativa de fuga.
ANÁLISE ESTÁTISTICA
O teste de normalidade foi realizado em todos os grupos atraves do teste de

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normalidade de Shapiro-Wilk. Para a análise estatística das tentativas de escape no


teste de evitação ativa ao choque elétrico, utilizamos os 10 ultimos choques eletricos e
o teste de sonda para observarmos a capacidade de escape dos animais e a latência de
fuga, utilizou-se ANOVA One-Way, seguido do teste post hoc de Tukey para
comparações múltiplas. Já para verificar diferenças significativas no teste de sonda
entre os grupos no protocolo de evitação ativa ao choque elétrico, utilizou- se um
teste de qui-quadrado de independência. No teste de imobilização caudal, utilizamos o
número de tentativas de fuga e o tempo de movimento dos animais. ANOVA One-Way
também foi utilizado para testar diferenças significância estatística p < 0,05.

Resultados e Discussões

TESTE DE EVITAÇÃO ATIVA AO CHOQUE


O número de tentativas de escape nos 10 choques finais é apresentado na figura
4. One-Way ANOVA mostrou significância estatística (F(3,66) = 6,331; p < 0,000771)
entre os tratamentos. O teste post hoc de Tukey indicou que os animais do grupo
controle apresentaram número de escapes significativamente maior do que os animais
expostos ao álcool na fase inicial do desenvolvimento (1,0%), além disso, também
indicou que os animais que passaram pelo protocolo de ECI apresentaram número de
escapes significativamente maior do que os animais expostos ao álcool (1%) (p < 0,05).
A latência, em segundos, é apresentada na figura 5. One-Way ANOVA mostrou efeito
significativo (F(3,66) = 5,902; p = 0,0001). O teste post hoc mostrou que os animais do
grupo controle apresentaram menor latência do que os animais expostos ao álcool na
fase inicial do desenvolvimento (1,0% e 0,5%) (p < 0,05).
No teste de sonda, usado para avaliar a capacidade de aprendizagem dos animais no
protocolo de evitação ativa ao choque, um teste de qui-quadrado de independência foi
realizado para avaliar a influência dos estressores na capacidade do zebrafish de
aprender a escapar de um estimulo aversivo (Figura 6), e mostrou um resultado
significativo (X² (3,53) = 14,07; p = 0,0028), os grupos estressados escaparam bem
menos se comparados ao controle.
TESTE DE IMOBILIZAÇÃO CAUDAL
Para o tempo em movimento no teste de imobilização caudal, o teste One-Way
ANOVA indicou significância estatística (F(3,71) = 2,982; p = 0,037) (Fig. 7). O post hoc
de Tukey mostrou que o grupo controle apresentou tempo de movimentação maior do
que os animais expostos ao protocolo de ECI (p < 0,05).

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Por fim, o número de tentativas de fuga no teste de imobilização caudal é apresentado


na figura 8. One-Way ANOVA indicou significância estatística (F(3,71) = 4,801; p =
0,004). O post hoc de Tukey mostrou que o grupo controle apresentou uma
quantidade de tentativas de fuga maior do que os animais expostos ao protocolo de
ECI (p < 0,05).
DISCUSSÃO
O estresse no início do desenvolvimento pode afetar padrões neuroquímicos e
comportamentais que levam a problemas comportamentais na vida adulta (Menezes
et al., 2020). Sabe-se que os estressores utilizados nesse estudo (álcool e ECI) são
prejudiciais ao neurodesenvolvimento e são utilizados em estudos sobre doenças
mentais (Marques et al., 2021; Pinheiro-da-Silva et al., 2020; Moore e Xia, 2022;
Burton et al., 2017). O uso do álcool é uma das substâncias que mais se destacam
como possível causadora de distúrbios do neurodesenvolvimento (OMS, 2018). Além
disso, o consumo excessivo de álcool está ligado ao risco de desenvolvimento de
diversos problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, distúrbios
comportamentais e mentais, e alguns tipos de câncer. Quando feita por mulheres
gravidas, a ingestão de álcool pode levar a desordens do espectro alcoólico fetal (FASD,
do inglês Fetal Alcohol Spectrum Disorders), esse termo agrupa os diversos problemas
de saúde relacionados à exposição fetal ao álcool (Roozen et al., 2016). Indivíduos
diagnosticados neste espectro apresentam elevada ansiedade, prejuízos em vários
domínios do comportamento social, problemas físicos e mentais, déficits sensoriais e
déficits na aprendizagem (Pinheiro-da-Silva et al., 2020; Stratton et al., 1996; Seguin e
Gerlai, 2018). Diversos estudos utilizaram o zebrafish em pesquisas relacionadas aos
efeitos causados pela FASD, e sabe-se que as concentrações utilizadas nesses estudos
(1% e 0,5%) tem a capacidade de causar o aumento do comportamento do tipo
ansioso e maiores chances de desenvolver o estado depressivo (Pinheiro-da-silva et al.,
2020; Parker et al., 2014; Burton et al., 2017; Pinheiro-da-silva e Luchiari, 2021).
Porém, apesar de usarmos concentrações iguais a usadas em outros estudos (Pinheiro-
da-silva et al., 2020), nenhuma outra pesquisa teve o objetivo de avaliar a relação da
exposição alcoólica fetal com o estado desamparado em zebrafish. Embora existam
pesquisas que focam nas consequências da exposição a baixas concentrações de álcool
nos distúrbios do neurodesenvolvimento (Pinheiro-da-silva et al., 2020; Baggio et al.,
2018; Moore e Xia, 2022) nenhuma outra pesquisa teve o foco em avaliar os efeitos da
exposição a baixas concentrações de álcool (0,5 e 1 %) na capacidade de aprendizado
de escape de choque ou na capacidade de escape em situação de contenção usando
um protocolo de desamparo aprendido. Assim como outros estudos envolvendo a
FASD, nossa pesquisa busca contribuir para que as desordens sejam identificadas de
forma precoce, auxiliando no desenvolvimento de tratamentos eficazes.

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Além da FASD, expusemos os animais ao protocolo de ECI, um protocolo já validado e


que também é utilizado em pesquisas envolvendo depressão e ansiedade (Fontana et
al., 2021; Marcon et al., 2016). A exposição crônica a eventos adversos pode contribuir
para o desenvolvimento de uma série de efeitos na saúde, incluindo doenças mentais
(Fontana et al., 2021; Piato et al., 2011). Embora muitos estudos utilizem o protocolo
de ECI em zebrafish, (Piato et al., 2011; Fontana et al., 2021) a grande maioria utiliza
animais adultos e poucos focaram nas consequências que esse protocolo pode causar
quando utilizado em animais que estão na fase inicial do desenvolvimento, diferente
do que acontece nesse estudo. Assim como Fontana et al., (2021), nosso protocolo é
realizado com animais jovens (16 dpf), e nossos objetivos se diferem de outras
pesquisas envolvendo o ECI. Apesar do modelo de estresse crônico imprevisível ser
amplamente utilizado em estudos sobre transtornos mentais, como a depressão e a
ansiedade (Marques et al., 2021; Marcon et al., 2016), nenhuma outra pesquisa
utilizou o protocolo em larvas de zebrafish com o objetivo de analisar os efeitos do ECI
induzido precocemente no desamparo
Sabe-se que a exposição a eventos aversivos e incontroláveis leva os animais a se
sentirem impotentes e com falta de controle diante de eventos aversivos futuros, em
uma condição que é conhecida como desamparo aprendido (Song e Vilares, 2021).
Nesse sentido, o desamparo aprendido é uma condição psicológica em que um
indivíduo perde o controle diante de uma situação adversa, mesmo quando essa
situação é controlável e evitável (Maier e Seligman, 1976; Song e Vilares, 2021). Além
disso, é possível observar que indivíduos nessa condição apresentam passividade geral
e falta de reatividade emocional, sugerindo que a exposição prévia a eventos aversivos
causa um déficit emocional, falhas em iniciar uma reação nas tarefas de fuga/esquiva,
caracterizando um déficit motivacional, e déficit associativo (Overmier e Wielkiewicz,
1983). A sensação de desamparo é um dos principais sintomas da depressão clínica
(Yao et al., 2019), por esse motivo a área vem ganhando muitos estudos com
diferentes modelos animais (Nascimento et al., 2016; Song e Vilares, 2021; Lee et al.,
2010; Yao et al., 2019).
Os comportamentos observados nos animais que passaram por um ambiente de
incontrolabilidade e aversividade corroboram com comportamentos característicos do
transtorno depressivo e do estado desamparado, indicando que nossos resultados
fornecem evidencias para o estabelecimento de um modelo depressivo utilizando o
zebrafish. Assim como visto em Nascimento et al. (2016) e Lee et al. (2010), que
utilizam um protocolo semelhante ao usado nesse estudo, a alta latência de fuga, o
baixo número de escapes nos últimos 10 choques elétricos e no teste de sondagem
apontam que os animais expostos ao FASD (0,5 e 1 %) apresentaram déficits de
aprendizagem no teste comportamental de desamparo aprendido com choque,
caracterizado pela dificuldade em aprender a escapar dos choques elétricos. Além

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disso, de acordo com Seligman (1972) a exposição prévia a choques eletricos


incontrolaveis provoca um deficit na aprendizagem dos animais.
No protocolo de imobilização caudal, observamos comportamentos de passividade
geral, falta de reatividade emocional, e falhas em iniciar uma reação nas tarefas de
fuga. Os animais que passaram pelo protocolo de ECI apresentaram menor tempo de
movimento e menos tentativas de fuga quando comparados com o grupo controle. Os
resultados comportamentais encontrados nesse teste corroboram com as
consequencias advindas da exposição a eventos aversivos e incontrolaveis, pois os
animais apresentaram déficits emocionais e motivacionais (Maier e Seligman, 1976;
Overmier e Wielkiewicz, 1983) O protocolo de imobilização caudal foi proposto por
Denim et al., (2020), e pode ser modelado em paradigmas de estado desamparado
derivados da exposição de animais a estressores incontroláveis (Denim et al., 2020).
Esse protocolo é inovador e assemelha-se ao teste de suspensão pela cauda usado em
roedores. Diante da escassez de protocolos envolvendo o desamparo aprendido em
zebrafish, o protocolo de imobilização caudal traz uma nova ferramenta para o estudo
do desamparo aprendido. Nossos resultados também se assemelham aos obtidos no
capitulo 1 desse texto. O teste de escape em hipóxia mostrou que os animais
submetidos a situação inescapável com estressores apresentaram resposta
comportamental de escape de hipoxia significativamente menor. Fazendo um paralelo
com os testes utilizados nesse trabalho, obtivemos resultados parecidos ao observar
que os animais expostos ao mesmo protocolo de ECI tiveram a motivação para escape
de situação de contenção afetada, além de apresentarem aspectos de comportamento
depressivo e desamparado
Os grupos mostraram diferença no desempenho nos dois testes aqui propostos,
indicando que a exposição alcoólica leva a um quadro de perda cognitiva, podendo
gerar aspectos de comportamento depressivo e desamparado, ao passo que o estresse
crônico afeta principalmente a motivação para escape de situação de contenção, mas
parece não alterar a capacidade de aprendizado de escape de choque nos animais.

Conclusão

Por fim, nosso estudo traz resultados que indicam a ligação da exposição fetal alcoólica
e do ECI com o desenvolvimento do estado desamparado em zebrafish. Além disso, os
resultados confirmam as hipóteses de que eventos aversivos no início da vida podem
contribuir para o desenvolvimento de distúrbios no futuro, mostrando que é possível
estudar características comportamentais relacionadas à depressão utilizando o modelo
de desamparo aprendido. O zebrafish tem recebido grande atenção na área
neurológica e psicológica, e nossos testes indicam o potencial uso desse animal

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modelo para triagem de drogas que possam melhorar a condição psicológica dos
indivíduos. Além disso, nosso estudo dá suporte a teoria do DOHAD (origens do
desenvolvimento da saúde e da doença, do inglês Developmental Origins of Health and
Disease) e mostra que eventos iniciais perduram em seus efeitos na vida dos
indivíduos e devem ser considerados com mais atenção no campo da psicologia e da
medicina.

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1000
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Psychoneuroendocrinology, 33(6), 693-710.

Anexos

Figura 1: Grupos que serão usados no experimento envolvendo a exposição fetal ao


álcool

Tabela 1. Protocolo de estresse crônico imprevisível em zebrafish

1001
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eCICT 2023

Figura 3: Aparato que foi usado no teste de desamparo aprendido com choque,
formado por um aquário forrado por duas placas de eletrodo em cada uma das partes
de maior comprimento, além de ter duas lâmpadas de LED acopladas em cada uma das
suas extremidade

Figura 5: Os peixes foram analisados quanto a capacidade de fuga/esquiva nos últimos


10 choques elétricos. Aqui, comparamos a latência, em segundos, nas últimas 10
tentativas de escape entre os grupos. A latência começou a ser mensurada quando o
estimulo

1002
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eCICT 2023

Figura 6: Os peixes foram analisados quanto a capacidade de fuga/esquiva no teste de


sonda. Aqui, avaliamos a aprendizagem dos animais depois da aplicação dos 30
choques elétricos. Esse teste teve o objetivo de analisar a capacidade de aprender a
escapar

Figura 8: As tentativas de fuga no teste de imobilização caudal foram contabilizadas.


Uma tentativa de fuga foi contabilizada todas as vezes que os animais iniciavam
movimentos e paravam. As caixas compreendem o limite superior e o limite inferior

1003
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eCICT 2023

Figura 4: Os peixes foram analisados quanto a capacidade de fuga/esquiva nos últimos


10 choques elétricos. Aqui, comparamos as médias das últimas 10 tentativas de escape
entre os grupos. As caixas compreendem o limite superior e o limite inferior

Figura 7: O tempo de movimento dos animais foi analisado. O tempo de movimento foi
contabilizado sempre que o animal iniciava movimentos na tentativa de fuga, e parava
quando os animais demonstravam passividade. As caixas compreendem o limite
superior

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CÓDIGO: SB0750

AUTOR: LUÍS FELIPE COSTA GATIS

ORIENTADOR: KATIA CASTANHO SCORTECCI

TÍTULO: Prospecção das atividades biológicas de plantas de chia após o


tratamento por microgravidade

Resumo

A microgravidade induzida em plantas se tornou um tópico importante de


pesquisa tendo em vista a alteração da produção dos compostos advindos do
metabolismo secundário. A Salvia hispanica, uma planta da família Lemiaceae,
possui importância médica e nutricional tanto para humanos, quanto para
animais. Nesse estudo, plantas de Salvia hispanica foram submetidas a
microgravidade simulada a partir do Clinostato 2D. O experimento envolveu
duas rotações (35 rpm e 50 rpm) por quatro horas, e o grupo controle sem
rotação. Com este material foi realizado uma análise morfológica durante as
quatro semanas seguintes ao tratamento. E foram realizados também análises
bioquímicas como dosagem de proteínas totais, quantidade de compostos
fenólicos totais e capacidade antioxidante total nos extratos aquoso e
hidroetanólico obtidos a partir do caule, folha e flor da planta. O estudo revelou
que a microgravidade afetou significativamente ambos os extratos de Salvia
hispanica nas duas rotações trabalhadas. Porém, não houveram alterações
significativas nas dosagens de proteínas totais envolvendo o extrato
hidroetanólico. Além disso, foi observado mudanças morfológicas nas plantas
submetidas a rotação de 50 rpm nas três primeiras semanas. Desta forma,
esse trabalho traz um melhor entendimento sobre como a alteração da
gravidade pode alterar o metabolismo e crescimento da Salvia hispanica.

Palavras-chave: microgravidade simulada; clinostato; antioxidante; salvia


hispanica.

TITLE: Prospection of biological activities in chia plants after microgravity


treatment.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Abstract

Induced microgravity in plants has become an important research field due to


the change in compounds produced by its second metabolism. Salvia
hispanica, a plant from the Leminacea family, has been used in different
research fields because of its medical and nutritional importance for both
humans and animals. In this study, plants of Salvia hispanica were exposed to
simulated microgravity using a 2D clinostat. The experiment involved two
rotations (35 rpm and 50 rpm) for four hours, alongside a control group (0 rpm).
After that, these plants were evaluated by morphological analysis for four weeks
and it was measured some biochemical parameters, such as protein levels,
total phenolic components from two extracts, and overall antioxidant capacity
from the aqueous and hydroethanolic extracts obtained from the plant’s stalk,
leaves and flower. The study revealed that microgravity changed values
obtained for both extracts of Salvia hispanica in both rotations. However, for the
hydroethanolic extract it was not observed any protein variation when it was
compared the clinostat rotation. In relation to plant development, it was verified
morphological changes in plants treated with 50 rpm. Therefore, this research
provides a better understanding about how gravity variations can modify Salvia
hispanica metabolism and growth.

Keywords: simulated microgravity; Salvia hispanica clinostat; antioxidant.

Introdução

O uso de plantas no tratamentode doenças tem sido feito por diversos povos
durante muito tempo na história da humanidade (WHO, 2023; HWANG et al.,
2021; ULBRICHT et al., 2009). Com o avanço da tecnologia, foi descoberto que
as plantas produzem biomoléculas ativas capazes de promover ação
antioxidante, anti-inflamatória e antitumoral (ULLAH et al., 2020). Além disso,
sabe-se que, diferente dos compostos de metabolismo primário - necessários
para o crescimento da planta - esses compostos advém do metabolismo
secundário da planta e são influenciados por diversas condições ambientais,
colaborando para as defesas contra os agentes externos e na regulação do
crescimento da planta (ERB et al. 2020).
Com o avanço das pesquisas, foi visto que a mudança da gravidade também
influencia no crescimento e desenvolvimento das plantas, assim como na
produção de compostos de seu metabolismo secundário (SANTOS, 2022).
Para auxiliar nos estudos sobre os efeitos da variação gravitacional sobre as

1006
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eCICT 2023

plantas, nem sempre é possível utilizar as condições reais como voos de


foguete de sondagem ou a estação espacial internacional, com isso condições
simuladas podem ser utilizadas com o aparelho denominado clinostato. O seu
funcionamento está atrelado à rotação da amostra em um ou mais eixos, com o
fim de simular uma alteração da gravidade (KISS et al., 2019).
A Salvia hispanica, também conhecida como “chia”, é uma planta nativa de
regiões do México e Guatemala (SILVA et al., 2021), cultivada pela antiga
civilização asteca e usada como fonte de alimento e para fins medicinais.
DIWAKAR et al. (2014) e MARINELLI et al. (2015) mencionaram que as
sementes da chia possuem propriedades antioxidantes e são ricas em ômega 3
e 6. Dessa forma, podem ser usadas como componentes nutracêuticos, pois
trazem benefícios à saúde cardiovascular humana, e como ração para animais.
Estudos posteriores mostraram que as folhas da Salvia hispanica também
possuem alta capacidade antioxidante, e seus extratos possuem potencial anti-
helmíntico e atividade antiproliferativa em células HeLa e ASG (RIBEIRO,
2019).
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo verificar como a microgravidade
simulada pelo Clinostato 2D irá atuar na atividade biológica e farmacológica da
planta de chia, a partir da avaliação morfológica da planta e da avaliação da
capacidade antioxidante de seus extratos.

Metodologia

As plantas de chia foram cultivadas em sala de crescimento, com temperatura


controlada em 26 ± 2 °C, e ciclo dia/noite de 12 horas. As sementes foram
plantadas em copos de plástico de 300 mL furados e posicionados em
bandejas, para proporcionar a umidificação do solo contido dentro dos
recipientes. O solo foi preparado na proporção de 4:3 de solo e vermiculita, e
foi posteriormente autoclavado por 30 min.
Após a germinação das sementes, as plantas de três semanas de vida foram
submetidas ao Clinostato 2D nas rotações de 35 e 50 rpm por 4 horas, e
posteriormente foram retornadas aos copos.
Para submeter as plantas ao Clinostato, elas foram retiradas dos copos,
retirada a vermiculita e enroladas em papel toalha úmido para reduzir possíveis
estresses. Durante o período em que ficaram no equipamento, a porção do
papel toalha contendo suas raízes foi periodicamente umedecida. Após o
tratamento, estas foram transferidas agora para copos com terra. O grupo
controle foi realizado com as plantas que foram submetidas ao mesmo

1007
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

procedimento com exceção de serem colocadas no Clinostato, estas ficaram


na bancada.
O acompanhamento morfológico das plantas foi feito nas quatro semanas
seguintes, sendo analisado com auxílio de régua a distância entre nós,
quantidade de gemas axilares, comprimento da folha, diâmetro da folha,
comprimento do caule e diâmetro do caule. Na quinta semana, o caule, flor e
folhas das plantas foram seccionados e armazenados em freezer -80 C° para a
posterior obtenção dos extratos. Além disso, ainda nessa etapa, uma amostra
de cada tecido foi armazenada em solução FAA para análise posterior da
morfologia em microscópio.
Os extratos foram obtidos a partir da maceração dos tecidos armazenados,
utilizando pistilo e almofariz, acomodação das amostras em tubos cônico de 50
mL, extração dos compostos das amostras usando a proporção de um grama
de amostra para um ml de água destilada e solução de etanol 70% (para os
extratos aquoso e hidroetanólico), agitação em mesa agitadora por 48 horas,
filtração das soluções obtidas, armazenamento em freezer -20 C°.
Para o preparo das soluções de 10 mg/mL, foi necessário liofilizar os extratos
anteriormente congelados para que houvesse a obtenção de um pó/pasta, que
foi posteriormente pesado e solubilizado em água destilada.
Após a obtenção dos extratos, foram realizados testes para medir a quantidade
de compostos fenólicos totais, quantidade de proteínas totais e capacidade
antioxidante total (CAT). Para isso, foi utilizado o espectrofotômetro (Biotek
Epoch Microplate, California, USA) presente no Laboratório de Biopolímeros
(DBQ) da UFRN, sob a coordenação do prof. Dr. Hugo Alexandre Oliveira
Rocha.
A dosagem de compostos fenólicos totais foi feita seguindo o método de Folin-
Ciocalteau (WONG-PAZ et al., 2014). Já a dosagem de proteínas totais foi feita
pelo método de Bradford (1976), enquanto o teste de capacidade antioxidante
total (CAT) foi feito pelo método de Prieto, Pineda e Aguilar (1999).
A análise estatística foi feita através do programa Graphpad Prism 8.0.1
(Graphpad Software Inc, San Diego, CA, EUA), e o teste de Tukey foi utilizado
para comparar as diferenças na análise dos dados morfológicos e da
quantificação dos compostos analisados a partir dos extratos. As diferenças
foram consideradas significativas quando p > 0,05.

Resultados e Discussões

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eCICT 2023

Tendo em vista que a microgravidade induzida pelo Clinostato 2D pode alterar


a morfologia da planta (SANTOS, 2022), esse efeito foi investigado durante o
período de observação de quatro semanas após a submissão das plântulas de
Salvia hispanica ao equipamento.
Quanto aos parâmetros analisados, foi observado que as plantas submetidas à
rotação de 50 rpm no Clinostato tiveram alterações significativas até a terceira
semana - havendo mudanças no diâmetro do caule e na distância entre nós na
primeira semana, no diâmetro do caule na segunda semana, e no diâmetro da
folha na terceira semana.
Plantas de L aequinoctialis, W. globosa e Arabidopsis thaliana já foram também
submetidas a microgravidade por pesquisas anteriores. Nelas, foi visto também
a variação morfológica nos caules, raízes e frondes das plantas (LINK et al.,
2014; YUAN & XU, 2017).
Não foram observadas mudanças significativas na morfologia da planta após o
período de três semanas e no grupo de 35 rpm. Além disso, não foram
observadas alterações significativas no comprimento de folha e na quantidade
de gemas axilares durante todo o período de medição (Figura 1).
Apesar disso, é importante mencionar que, durante o período de preparo dos
tecidos para a histologia e armazenamento em freezer -80 °C, foi observado o
crescimento de gemas axilares, que antes não tinham sido observadas, entre
as ramificações da planta. Dessa forma, é possível que a quantidade de gemas
tenha variado significativamente entre as plantas submetidas ao equipamento e
as plantas controle, mas observações ainda são necessárias para verificar
esse fenômeno. Esse parâmetro é importante pois, como mencionado por
AUBRY-HIVET et al. (2013), o fitohormônio auxina pode sofrer variações na
planta num ambiente de microgravidade. Assim, como este fitohormônio auxina
é um dos hormônios responsáveis por regular o crescimento da planta (PARK
et al., 2017), a quantidade alterada de gemas poderia ser um indicador para a
variação do transporte ou produção desse hormônio na planta. Entretanto, será
importante medir este composto nos diferentes tecidos para comprovarmos se
nas nossas condições tivemos alterações deste.
Em relação aos compostos fenólicos totais, foram vistas alterações em ambos
os extratos - aquoso e hidroetanólico - em ambas as rotações (Tabela 1). No
extrato aquoso, foi observado uma diminuição e um aumento significativos,
respectivamente, nos extratos da folha de 35 rpm e 50 rpm. Além disso, foi
verificado um aumento desses compostos no extrato da flor, e uma diminuição
no caule em 50 rpm de rotação. Já no extrato hidroetanólico, foi observado um
aumento e diminuição significativa, respectivamente, nos extratos da folha de
35 rpm e 50 rpm.

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eCICT 2023

Em relação a dosagem de proteínas totais, foram verificadas alterações apenas


no extrato aquoso, onde houve um aumento e uma diminuição no extrato da
flor de 35 rpm e do caule de 50 rpm, respectivamente (Tabela 2). Estudos
anteriores também verificaram que esse tipo de resposta pode variar de acordo
com a espécie da planta, tendo em vista que foi observado um aumento em
plantas de Lemna aequinoctialis e diminuição em plantas de Arabidopsis
(SANTOS, 2022; Link et al., 2014)
Por fim, foi verificado que, no teste de capacidade antioxidante total, ambos os
extratos apresentaram variação. No extrato aquoso, houve uma diminuição
significativa da capacidade antioxidante dos extratos da folha e caule de 35
rpm, e um aumento significativo na flor e caule de 50 rpm. Enquanto isso, no
extrato hidroetanólico foi visualizado uma diminuição significativa apenas na
folha de 50 rpm (Tabela 3). Assim, esses resultados diferem dos encontrados
por XU et al (2014), tendo em vista que a quantidade de CAT variou
dependendo da rotação e da parte da planta analisada e não aumentou na
planta como um todo.

Conclusão

Pode-se concluir, portanto, que a microgravidade induzida na Salvia hispanica


pelo Clinostato 2D alterou a morfologia das plantas submetidas a rotação de 50
rpm durante as três primeiras semanas. Além disso, essa condição também foi
capaz de alterar a quantidade de proteínas, compostos fenólicos e capacidade
antioxidante total das plantas em ambas as rotações de 35 rpm e 50 rpm. Com
o objetivo de compreendermos melhor outras análises serão realizadas como a
medição do fitohormonio auxina e análise histológica deste material.

Referências

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Anexos

1012
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 1 -

Tabela 1 - Dosagem de compostos fenólicos totais

1013
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Tabela 2 - Dosagem de proteínas totais

Tabela 3 - Capacidade antioxidante total

1014
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0767

AUTOR: RAISSA VITORIA PEIXOTO PEREIRA

ORIENTADOR: GERLANE COELHO BERNARDO GUERRA

TÍTULO: TIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DOS EXTRATOS DE Bryophyllum


pinnatum (Lam) Pers. E Kalanchoe laciniata (L.) DC. ENRIQUECIDOS COM
FLAVONOIDES EM MODELO DE INFLAMAÇÃO INTESTINAL

Resumo

A doença inflamatória intestinal (DII) é um termo utilizado para descrever distúrbios


que envolvem inflamações crônicas que afetam o trato gastrointestinal, sendo a
doença de Crohn (DC) e a colite ulcerativa (CU) as principais formas clínicas da doença.
A terapia farmacológica padrão utilizada da DII, se mostra ineficaz no controle da
recidiva, provocando efeitos colaterais que limitam seu uso contínuo, sendo necessário
a busca por novos agentes terapêuticos eficazes no tratamento da inflamação
intestinal, em especial no controle da recidiva, sem provocar efeitos colaterais. Sendo
assim, este projeto está sendo desenvolvido com o objetivo de avaliar a atividade anti-
inflamatória intestinal do extrato de Bryophyllum pinnatum enriquecida com
flavonoides em camundongos com colite aguda e crônica com recidiva, induzida pelo
ácido 2,4-dinitrobenzeno sulfônico (DNBS).

Palavras-chave: Doença inflamatória intestinal, colite, flavonoides, resposta


celular.

TITLE: ANTI-INFLAMMATORY ACTIVITY OF Bryophyllum pinnatum (Lam.)


Pers. extract. ENRICHED WITH FLAVONOIDS IN A MODEL OF ACUTE AND
CHRONIC INTESTINAL INFLAMMATION WITH RECURRENCE IN MICE

Abstract

Inflammatory bowel disease (IBD) is a term used to describe disorders involving


chronic inflammation that affect the gastrointestinal tract, with Crohn's disease (CD)
and ulcerative colitis (UC) being the main clinical forms of the disease. The standard
pharmacological therapy used for IBD is ineffective in controlling recurrence, causing

1015
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

side effects that limit its continuous use, requiring the search for new effective
therapeutic agents in the treatment of intestinal inflammation, especially in the
control of recurrence, without causing side effects.Thus, this project is being
developed with the objective of evaluating the intestinal anti-inflammatory activity of
Bryophyllum pinnatum extract enriched with flavonoids in mice with acute and chronic
colitis with recurrence, induced by 2,4-dinitrobenzene sulfonic acid (DNBS).

Keywords: Inflammatory bowel disease, colitis, flavonoids, cellular response.

Introdução

A doença inflamatória intestinal (DII) representa uma condição inflamatória crônica,


remitente e recidivante, que afeta o trato gastrointestinal, resultando em sintomas de
diarreia com ou sem sangramento, perda de peso e dor abdominal, entre outros
sintomas (MORAMPUDI et al., 2014; PERLER et al., 2019). A colite ulcerativa (CU) e a
doença de Crohn (DC) são as principais formas clínicas da DII. Ambas são
caracterizadas pelo influxo de neutrófilos, macrófagos e outras células imunológicas na
mucosa intestinal, levando a uma produção anormal de citocinas, enzimas proteolíticas
e radicais livres que resultam em inflamação crônica e ulceração do tecido (GUAN;
ZHANG, 2017). A DC pode acometer todas as camadas teciduais intestinais, causando a
inflamação em qualquer parte do trato gastrintestinal, da boca até o ânus, afetando
principalmente a parte inferior do intestino delgado, o íleo (GIRARDELLI et al., 2018),
enquanto a CU causa inflamação contínua da mucosa que se estende do reto ao cólon
(DANESE; FIORINO; PEYRIN-BIROULET, 2020).
Apesar da etiologia e a patogênese da DII ainda serem desconhecidas, estudos
apontam que seu surgimento é multifatorial, a iniciação e progressão da inflamação
intestinal pode se dar pela predisposição genética, estímulos ambientais, desregulação
imunológica intestinal e disbiose (LODDO; ROMANO, 2015; NISHIDA et al., 2018;
ZHANG et al., 2017). O crescimento e perpetuação da cascata inflamatória na DII está
ligada a uma resposta imunológica exacerbada, dominada por células T CD4 +
intestinais e pelo aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias, incluindo fator
de necrose tumoral alfa (TNF-α), interferon gama (INF-γ), interleucina (IL)-1β, IL-6, IL-
12, IL-13 e IL-17 (GEREMIA et al., 2014; GUAN, 2019).
Na DC a inflamação é impulsionada por respostas imunes Th1 e Th17, enquanto que na
CU é mediada por respostas Th2 e Th17 (OGINO et al., 2020). As células Th1 são
induzidas pela IL-12 e produzem citocinas pró-inflamatórias, como IFN-γ, TNF-α e IL-12,
enquanto as células Th2, sob estimulação da IL-4, produzem IL-4, IL-5 e IL-13. As
células Th17, induzidas por IL-6, IL-23 e fator de crescimento transformante beta (TGF-
β), secretam IL-17A, IL-17F, IL-21, IL-22 e IL-23 (GUAN, 2019; OGINO et al., 2020;
TINDEMANS; JOOSSE; SAMSOM, 2020).

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eCICT 2023

Atualmente, não há tratamento casual específico disponível para o tratamento da DII.


As estratégias terapêuticas envolvem o uso de várias classes de fármacos destinados a
suprimir a cascata inflamatória e neutralizar a resposta imune exacerbada para induzir
e manter a remissão da inflamação (TERDIMAN et al., 2013; VEZZA et al., 2016).
Contudo, a terapia farmacológica se mostra ineficaz para evitar que ocorra recidivas
(BERENDS et al., 2019). O uso de alguns medicamentos precisam ser limitados já que a
longo prazo os efeitos colaterais são potencialmente graves (GREVENITIS; THOMAS;
LODHIA, 2015; MATEUS et al., 2021; SIEGEL, 2011). Sendo assim, diversas pesquisas
estão sendo realizadas em busca de novos tratamentos para DII, principalmente
estratégias utilizando o uso de produtos naturais.
Várias plantas medicinais são utilizadas na prevenção e tratamento de doenças
inflamatórias crônicas, essas plantas são alvo de pesquisas na busca por compostos
bioativos com potencialidade para o tratamento de inflamação intestinal. Dessa
maneira, as plantas que possuem uma composição elevada de flavonoides são as de
maior interesse e que mais se destacam, já que tem um grande potencial na
inflamação intestinal (SALARITABAR et al., 2017).

Metodologia

2.1 MATERIAL VEGETAL E PREPARAÇÃO DO EXTRATO


As folhas de Bryophyllum pinnatum foram coletadas na Escola Agrícola de Jundiaí da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na cidade de Macaíba, estado do
Rio Grande do Norte, Brasil. Estas espécies vegetais foram catalogadas e identificadas
pela Profa Dra. Maria Iracema Bezerra Loyola, e as exsicatas depositadas no Herbário
do Centro de Biociências da UFRN, sob registros UFRN 5468 (B. pinnatum) e UFRN
57335 (K. laciniata). A nomenclatura foi confirmada em The Plant List
(www.theplantlist.org) e Tropicos® (www.tropicos.org).
A atividade de acesso ao Patrimônio Genético, foi cadastrada no Sistema Nacional de
Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen),
número do processo: A7EA798, em atendimento ao previsto na Lei nº 13.123/2015 e
seus regulamentos. A coleta do material vegetal foi realizada sob autorização do
Sistema Brasileiro de Informações sobre Autorização e Biodiversidade (SISBIO),
número do processo 35017.
Aproximadamente 9,7 kg do material vegetal coletado (as folhas frescas de B.
pinnatum) foram processadas por turbo-extração em liquidificador industrial por 5
minutos com álcool etílico PA 50%, na proporção 1:1, p/v (droga vegetal:solvente). Os
extratos obtidos foram filtrados e posteriormente liofilizado, depois submetidos à

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evaporação da fase orgânica, sob pressão reduzida, em rotaevaporador (modelo V-


700, Buchi) a temperatura não superior a 45°C e depois liofilizado. No processo de
liofilização, as amostras foram previamente congeladas em freezer a -80°C, calculou-se
o rendimento total dos extratos, de acordo com a fórmula: Re = (Pext /Pfolhas) x 100.
Onde: Re = Rendimento do extrato (%); Pext = Peso do extrato seco (g); Pfolhas = Peso
das folhas frescas (g).
2.1.1 Extratos de B. pinnatum enriquecidos em flavonoides (EEFBP e EEFKL) e análise
quantitativa por CDD
Para obtenção da fração enriquecida em flavonoides, foi feita a Cromatografia em
Camada Clássica (CC), com adsorvente Amberlite XAD-4, uma resina de polímero não-
iônico composta por cadeias de poliestireno reticuladas com divinilbenzeno, que
adsorve compostos poliaromáticos com relativo baixo peso molecular (KU; LEE, 2000),
Na fase móvel foi adicionado água e, posteriormente, etanol 98%. Primeiramente, o
extrato foi diluído em 1L de água e filtrado em papel filtro. O filtrado foi eluído pela
coluna empacotada com 300 mL de XAD-4 e eluído com água e etanol a 98%.
Foram obtidas duas frações, uma aquosa e uma etanólica rica em flavonoides. Essas
frações foram submetidas à evaporação da fase orgânica, sob pressão reduzida em
evaporador rotatório (Büchi®) à temperatura não superior a 40 ºC. Em seguida, as
frações foram analisadas por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) para identificar
flavonoides no extrato bruto e em suas frações. Como fase estacionária, foi utilizado
cromatoplacas revestidas com Gel de Sílica 60 F254 Merck®. A fase móvel empregada
foi composta por acetato de etila: ácido fórmico: metanol: água em duas proporções
(10:0,5:0,6:0,2, v/v/v/v e 10:1,5:1,6:0,5, v/v/v/v). As placas foram pulverizadas com
agente cromogênico específico para detecção de flavonoides, o reagente natural do
produto A – NP-Reagent (difenilboriloxietilamina 1,0% em metanol; SigmaAldrich, St.
Louis, MI, EUA) e vanilina sulfúrica. As cromatoplacas foram visualizadas sob UV-340
nm.
O extrato enriquecido com flavonóides foi liofilizados e será analisado por
cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a detector de arranjo de diodos
(CLAE-DAD) (Shimadzu Modelo LC-20AD, com detector DAD modelo SPD-M20A),
conforme previamente descrito por Andrade et al. (2020). As amostras serão
ressuspensas em metanol: água (1:1 v/v) e a concentração final para os extratos será
de 2 mg/mL. Será usada uma coluna Phenomenex Kinetex Core-Shell RP-18 (150 x 4,6
mm, tamanho de partícula de 2,6 mm) equipada com uma coluna de proteção de
segurança Phenomenex (4,0 x 2,0 mm ID). Os eluentes serão: (A) ácido trifluoroacético
0,3% e (B) acetonitrilo. O seguinte gradiente (v/v) será aplicado: 7–15% B, 0–3 min;
15–20% B, 3–12 min; 20–22% B, 12–30 min; com tempo de análise total de 30 min. O
fluxo de eluição será de 0,7 ml/min. O detector UV-DAD será programado para

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comprimento de onda de 200–500 nm e o cromatograma será plotado em 254 nm e


340 nm.

Resultados e Discussões

3.1 RENDIMENTO
Na obtenção do extrato de B. pinnatum foram obtidos 286 g de extrato liofilizado, a
partir de 9,7 kg de folhas frescas (2,95% de rendimento).
O fracionamento por XAD-4 realizado no extrato hidroetanólico de B. pinnatum para
obtenção de uma fração enriquecida em flavonoides é bastante eficiente, pois o XAD-4
é uma resina de alta afinidade para derivados fenólicos, apresentando bons
rendimentos (KU; LEE, 2000). Do extrato hidroetanólico liofilizado de B. pinnatum,
duas frações foram obtidas a partir do fracionamento por XAD-4, uma fração aquosa e
outra etanólica (etanol a 98%), está última sendo a fração enriquecida com
flavonoides, que após processo de liofilização, a quantidade de extrato enriquecido
obtido foi de aproximadamente 177 g (1,83% de rendimento), com relação às folhas
frescas. O extrato enriquecido se apresenta como um pó amorfo de coloração
amarelada.
Com relação ao seu rendimento, este pode variar conforme aplicação de métodos de
secagem no vegetal e da polaridade dos solventes utilizados (HAMROUNI-SELLAMI et
al., 2013). Sendo que para frações etanólicas, o etanol a 98% é o solvente que fornece
melhor rendimento para flavonoides nessa espécie (FERNANDES, 2019). Além disso,
segundo os autores, esse rendimento pode variar no vegetal em função dos aspectos
sazonais.
3.2 ANÁLISE CROMATOGRÁFICA PRELIMINAR
A partir dos cromatogramas obtidos por CCD feito com o extrato bruto e as duas
frações do extrato hidroetanólico liofilizado de B. pinnatum reveladas com vanilina
sulfúrica e reagente natural do produto A (figura 1), e por meio de comparação com a
literatura (WAGNER; BLADT, 1996), é possível notar a presença marcante de vários
pontos correspondentes a compostos fenólicos na fração etanólica que foram
visualizadas na CCD sob luz visível e UV, alguns deles de coloração amarela após
pulverização com valina sulfúrica, considerados metabólitos majoritários nesta
espécie. Além disso, é possível sugerir a presença de outros tipos de metabólitos. Essa
análise foi realizada para caracterização do perfil químico, após o fracionamento do
extrato.
Figura 1 - CCDs das frações do extrato hidroetanólico de B. pinnatum

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3.3 RELATÓRIO FITOQUÍMICO


Estudos anteriores realizados por nosso grupo de pesquisa, para essa espécie vegetal,
mostraram que o extrato hidroetanólico das folhas, obtido nas mesmas condições, é
rico em compostos fenólicos, especialmente em flavonoides derivados de quercetina e
Kaempferol.
3.4 PREPARAÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS CONTENDO A FRAÇÃO ENRIQUECIDA COM
FLAVONOIDES
As nanopartículas (NP) para incorporação da fração enriquecida com flavonoides de B.
pinnatum foram preparadas pelo método de nanoprecipitação com evaporação do
solvente, conforme procedimento otimizado por (Santo-Silva et al., 2017). A fração
enriquecida com flavonoides foi solubilizada em álcool etílico (EtOH), o qual compõe a
fase orgânica juntamente com o polímero ácido poli lático (PLA) nas razões de
fração/polímero de 1:20 e 1:10, correspondendo respectivamente a 5% e 10% (p/v) da
fração enriquecida com flavonoides. A fase orgânica (6 mL) foi injetada na fase aquosa
(14 mL) mantendo a razão volumétrica em uma proporção de 30:70, em um fluxo
contínuo de 1 mL/20 segundos, sob agitação magnética a 720 rpm a 25°C. As duas
fases orgânica e aquosa foram previamente filtrados com membranas de 0,45 μm. A
obtenção das nanopartículas foi possível a partir da remoção completa dos solventes
orgânicos em um sistema hermeticamente fechado a 25 ºC sob agitação magnética a
720 rpm, overnight.
3.5 ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO
O projeto de pesquisa seguirá o protocolo experimental segundo as recomendações
éticas do National Institute of Health Bethesda (Bethesda, USA), no que diz respeito
aos cuidados com os animais. Todos os experimentos serão conduzidos de acordo com
o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal do Brasil (CONCEA). O
presente projeto de pesquisa foi submetido e aprovação pelo Comité de Ética para Uso
de Animais (CEUA) do Centro de Biociências da UFRN (protocolo n° 031/2021).
Para este estudo, serão utilizadas camundongos machos da espécie Mus musculus, da
linhagem Balb/C, com 6 a 8 semanas de idade e pesos médios de aproximadamente 25
± 5 g, provenientes do biotério do Centro de Ciências da Saúde da UFRN. Durante o
experimento os animais serão mantidos no biotério do departamento de biofísica e
farmacologia do Centro de Biociências da UFRN em condições laboratoriais padrão:
Gaiolas de polipropileno (30 x 20 cm), temperatura de 22 ± 3ºC, umidade relativa entre
50 e 55%, ciclo claro/escuro de 12/12 h (luzes acesas das 6h às 18h h) e livre acesso à
água potável e a ração durante todo o procedimento experimental.
3.6 INDUÇÃO DA COLITE EXPERIMENTAL COM DNBS

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Os animais foram distribuídos aleatoriamente em cinco grupos experimentais (n = 8


animais / grupo): grupo controle negativo (saudável); controle colítico (DNBS); grupo
tratado com a fração enriquecida com flavonoides de B. pinnatum na dose de 100
mg/kg (BP 100); e dois grupos tratados com nanopartículas contendo a fração
enriquecida com flavonoides nas doses de 5 e 10 mg/kg (NPBP 5 e NPBP 10). Os
tratamentos com salina (grupos controle), fração e nanoparticulas foram realizados,
via oral (gavagem), durante 2 dias antes da indução da colite e continuado por mais 3
dias após a indução.
No dia 3 (72 horas após o início dos tratamentos), sob anestesia com associação de
cetamina (50 mg/kg) e xilazina (5 mg/kg) administrados por via intraperitoneal e em
jejum de 12 horas, a colite foi induzida nos animais através da administração
intracolônica de DNBS (Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA). Em resumo, 2,5 mg de
DNBS foram dissolvidos em 250 μL de etanol a 50% (v/v). A administração foi realizada
com um cateter de polietileno (diâmetro de 1,5 mm) introduzido no ânus do animal
até uma distância de 4 cm, mantendo o animal de cabeça para baixo por 90 segundos
após a aplicação, a fim de evitar a perda do DNBS (Morampudi et al., 2014). Os animais
do grupo controle negativo (saudável) receberam administração intracolônica de
solução salina 0,9% em substituição ao DNBS.
Após o período de administração (6º dia do experimento), os animais de todos os
grupos foram eutanasiados por exsanguinação cardíaca, após anestesia geral com
associação de cetamina (100 mg/kg) e xilasina (10 mg/kg). O sangue total coletado por
punção cardíaca foi centrifugado a 3500 × g a 4 °C por 10 minutos para obtenção do
soro e posterior determinação dos níveis de citocinas. Segmentos colônicos foram
subsequentemente abertos longitudinalmente após a eutanásia. Amostras colônicas
foram congeladas a -80°C e usadas para determinar a atividade da mieloperoxidase
(MPO), teor de malonaldialdeído (MDA), níveis de citocinas e para análise da
expressão genica por reação em cadeia da polimerase quantitativa por transcrição
reversa (RT-qPCR).
3.7 AVALIAÇÃO DO DANO COLÔNICO
Diariamente, após a indução da colite (nos Dias 4 e 5), os animais foram avaliados
quanto à perda de peso corporal, consistência das fezes e presença de sangue na
região perianal e/ou nas fezes. A perda de peso foi calculada como a diferença
percentual entre o peso corporal antes da indução da colite (100%) e o peso corporal
diário registrado após a indução da colite. Para cada um desses parâmetros será
atribuída uma pontuação variando de 0 a 4, de acordo com a gravidade. Isso permite
determinar o Índice de Atividade da Doença (IAD) que será calculado, individualmente
para cada animal, por meio da média da pontuação desses três parâmetros (Cooper et
al., 1993).

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Uma vez eutanasiados, o cólon de cada animal foi removido, lavado com solução
salina, e seu peso e comprimento foram aferidos para determinação da relação
peso/comprimento (g/cm). Em seguida, o cólon foi aberto longitudinalmente e o dano
macroscópico determinado com base na escala de pontuação descrita por Chin et al.
(1994), que leva em consideração características que refletem a inflamação, como
hiperemia, espessamento da mucosa colônica e a extensão da ulceração. Os critérios
para avaliar o dano macroscópico foram pontuados da seguinte forma: 0, cólon
normal, sem danos; 1, hiperemia local, sem úlcera; 2, hiperemia e espessamento da
parede do intestino, sem úlceras; 3, ulceração e inflamação em apenas um local; 4,
dois locais de ulceração ou inflamação; 5, mais de dois locais de ulceração ou
inflamação, ou um local de ulceração que se estende por mais de 0,5 cm; 6, zonas de
dano tecidual com extensão de pelo menos 1 cm, com a pontuação aumentando em 1
para cada 0,5 cm adicional de envolvimento.
3.8 ATIVIDADE DA MIELOPEROXIDASE
O ensaio da atividade Mieloperoxidase (MPO) foi realizado utilizando o método
descrito por Krawisz e colaboradores (1984). A técnica tem como princípio a liberação
da enzima MPO dos grânulos intracelulares presentes nos neutrófilos, através da
homogeneização da amostra (fragmentos do cólon) em tampão fosfato com brometo
hexadeciltrimetilamonia, com posterior medição de um cromóforo, formado através
da reação entre a mieloperoxidase e o reativo cromogênico (o-dianisidina, peróxido de
hidrogênio e tampão fosfato), que será quantificado em leitor de placa de ELISA pelo
comprimento de onda de 450 nm.
3.9 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS DE MALONDIALDEÍDO
A análise do nível de Malondialdeído (MDA), um produto secundário da peroxidação
lipídica e um importante marcador de estresse oxidativo, será realizada pelo método
descrito por Esterbauer e Cheeseman (1990). A técnica se baseia na reação do MDA
com o reativo cromogênico (composto por 1-metil-2-fenilindol em acetonitrila) e o
ácido clorídrico (HCl), gerando um cromóforo estável, cuja intensidade é determinada
por espectrofotometria, mediante uma curva-padrão.
3.10 DETERMINAÇÃO DAS CITOCINAS IL-1β, TNF-α e IL-10 NO SORO
Os níveis de citocinas no soro de camundongos foram determinados por ensaio
imunoenzimático (ELISA), de acordo com as instruções dos kits comerciais
colorimétricos (Sigma-Aldrich, São Paulo, Brasil), através da utilização de anticorpos
padrão de captura e detecção para as citocinas IL-1β, TNF-α e IL-10. A absorbância foi
medida a 490 nm e os resultados foram expressos em pg/ml para as amostras de soro.
ANÁLISE ESTATÍSTICA

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Os resultados obtidos foram inicialmente testados quanto à normalidade usando o


teste de Kolmogorov-Smirnov. Os dados paramétricos foram expressos como média ±
desvio padrão (DP) e média ± erro padrão da média (EPM). A diferença estatística
entre os grupos foi avaliada por one-way ANOVA, seguida pelo teste de múltiplas
comparações de Tukey e por two-way ANOVA, seguido pelo teste de múltiplas
comparações de Sidak. Valores de p ≤ 0,05 foram considerados estatisticamente
significativos e de p ≤ 0,001 como altamente significativos. Todos os dados foram
analisados e plotados para representação gráfica pelo programa estatístico: Software
GraphPad Prism 7.0 (Graph-Pad Software Inc., La Jolla, Califórnia, EUA).
RESULTADOS
Índice de atividade da doença e alteração no peso corporal
O modelo de colite em camundongos foi estabelecido pela administração intrarretal de
DNBS/etanol para avaliar o efeito da fração enriquecida em flavonoides de B.
pinnatum na inflamação intestinal. Os resultados indicaram que o modelo de colite
induzido por DNBS foi estabelecido com sucesso, causando inflamação intestinal,
caracterizado por perda de peso corporal, diarréia e sangramento retal. Nos dias 4 e 5
após a indução da colite, todos os camundongos exibiram perda de peso corporal
significativa quando comparado ao grupo controle saudável. No entanto, 48 horas
após a indução da colite, os grupos BP 100 e NPBP 5 diminuíram significativamente a
perda de peso corporal em comparação com o grupo controle DNBS (p < 0,05). Para o
grupo NPBP 10, nenhuma mudança significativa foi observada. Os resultados são
apresentados na Figura 2A.
Figura 2 – Evolução percentual do peso corporal (A) e Índice de atividade da doença (B)
de camundongos com colite induzida por DNBS durante o tratamento.
Com relação a pontuação do DAI (Figura 2B), que foi utilizado para avaliar a evolução
da inflamação intestinal, os animais do grupo controle DNBS exibiram uma pontuação
do DAI significativamente elevada (p < 0,0001), em comparação ao grupo controle
saudável, após indução da colite com DNBS nos dias 4 e 5 do experimento. As
pontuações do DAI para todos os grupos tratamentos diminuíram significativamente (p
< 0,05) em comparação ao grupo controle DNBS.
Avaliação macroscópica de danos no cólon
Após a eutanásia dos animais, o cólon foi extraído e avaliado quanto aos sinais de
danos macroscópicos. A relação peso/comprimento do cólon dos camundongos do
grupo controle DNBS foi significativamente aumentada (p < 0,0001) em relação ao
grupo controle saudável. Ao correlacionar os grupos tratamento (BP 100 e NPBP 5 e
10) com o grupo controle DNBS, verificou-se uma diferença altamente significativa na
relação peso/comprimento do cólon nos grupos experimentais que receberam a

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administração oral de BP 100 mg/Kg e NPBP nas doses de 5 e 10 mg/kg (p < 0,001)
(Figura 3A).
Figura 3 – Avaliação da relação peso/comprimento (A) e do escore de dano
macroscópico (B) do cólon de camundongos com colite induzida por DNBS
Conforme apresentado na Figura 3B, a avaliação macroscópica do cólon dos
camundongos do grupo controle DNBS revelou que o escore médio de dano
macroscópico foi de 9,60 ± 0,55 e significativamente maior do que o do grupo controle
saudável (p < 0,0001), caracterizado pela presença de extensa área de inflamação,
ulceração e espessamento da parede intestinal. A administração oral de BP na dose de
100 mg/kg (p < 0,001) e, especialmente, de NPBP nas doses de 5 e 10 mg/kg (p <
0,0001) atenuaram o dano macroscópico do cólon, induzido pela administração
intrarretal de DNBS, a qual foi evidenciada pela melhora altamente significativa dos
escores de danos macroscópicos (BP 100 = 6,60 ± 0,59; NPNB 5 = 5,33 ± 0,57; NPBP 10
= 5,43 ± 0,55), quando comparadas ao grupo controle DNBS.
Níveis de citocinas no soro
Os níveis séricos do fator de necrose tumoral α (TNF-α) e interleucina-1β (IL-1β),
citocinas inflamatórias, do grupo controle DNBS foram significativamente aumentados
após a indução da colite (p < 0,001), em comparação ao grupo controle saudável,
enquanto o nível de interleucina-IL10 (IL-10), uma citocina anti-inflamatória, foi
significativamente reduzida no grupo controle DNBS (p < 0,05), quando comparada ao
grupo controle saudável. Em comparação com o grupo controle DNBS, os níveis séricos
de TNF-α (Figura 4A) e IL-1β (Figura 4B) dos camundongos do grupo BP 100 (p < 0,05, p
< 0,01) e dos dois grupos NPBP (p < 0,01, p < 0,001) foram significativamente
reduzidos. Os níveis de IL-10 (Figura 4C) em todos os grupos tratamentos foram
significativamente maiores do que no grupo modelo (p < 0,05).
Figura 4 – Níveis séricos de fator de necrose tumoral α (TNF-α) (A), interleucina-1β (IL-
1β) (B) e interleucina-IL10 (IL-10) (C).
Avaliação da atividade da mieloperoxidase (MPO) e conteúdo de malondialdeido
(MDA)
A inflamação intestinal induzida pela administração intracolônica de DNBS também foi
associada por um aumento da atividade de Mieloperoxidase (MPO), um importante
marcador da infiltração de neutrófilos e da inflamação. Nos camundongos colíticos não
tratados (grupo controle DNBS) a atividade de MPO foi significativamente aumentada
quando comparado com o grupo controle não-colítico (p < 0,001). Por sua vez, o efeito
anti-inflamatório de BP 100 (p < 0,01) e NPBP 5 e 10 (p < 0,05, p < 0,001) foi
evidenciado por uma redução significativa na atividade da MPO colônica, quando
comparada ao controle DNBS (Figura 6A).

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Figura 6 – Atividade da Mieloperoxidase (MPO) (A) e conteúdo de Malondialdeído


(MDA) (B) do cólon de camundongos com colite induzida por DNBS.
Em relação a avaliação do conteúdo de MDA do tecido colônico (Figura 6B), os
camundongos do grupo controle DNBS exibiram aumentos significativos dos níveis de
MDA em comparação com os camundongos saudáveis do grupo controle não-colítico
(p < 0,001). No entanto, os níveis de MDA no tecido do cólon dos camundongos dos
grupos tratados com BP 100 mg/Kg (p < 0,001) e NPBP nas doses de 5 e 10 mg/Kg (p <
0,001) foram significantemente menores do que os dos camundongos do grupo
controle colítico, refletindo assim uma diminuição no processo de peroxidação lipídica
nestes grupos e, consequentemente, o potencial antioxidante da fração rica em
flavonoides.

Conclusão

Foi realizada a indução da colite pela administração intrarretal de DNBS/etanol e


realizado o tratamento com a fração enriquecida em flavonoides de B. pinnatum para
avaliar o efeito na inflamação intestinal. Como citado anteriormente o modelo de
colite induzido por DNBS foi um sucesso, os animais tiveram perda de peso corporal,
diarréia e sangramento retal após 4 a 5 dias da indução. Após 48h do início do
tratamento com o extrato, observamos que os grupos BP100 e NPBP 5 dos grupos
BP100 e NPBP 5 tiveram resultados positivos diminuindo os sintomas de perda de peso
corporal em comparação com o grupo de controle DNBS. O grupo NPBP 10 não teve
nenhuma mudança significativa.
Após a eutanasia, retirada do cólon e avaliação da lesão, foi comparado os grupos
controle DNBS e os grupos tratamento ( BP100 e NPBP 5 e 10), observamos um
resultado altamente positivo na relação peso/comprimento nos animais que
receberam a administração oral em todos os grupos que receberam o tratamento.
A atividade de Mieloperoxidase (MPO) é um importante marcador de infiltração de
neutrófilos e da inflamação, e foi observado um efeito anti- inflamatório nos grupos BP
100 (p < 0,01) e NPBP 5 e 10 (p < 0,05, p < 0,001) havendo uma redução na atividade
MPO colônica, quando comparada ao controle DNBS.
Diante dos resultados acima, podemos concluir que a fração de B. pinnatum
enriquecida com flavonóides vem apresentando uma alta atividade inflamatória,
trazendo bons resultados no tratamento em camundongos.

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Referências

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l.], v. 145, n. 6, p. 1459–1463, 2013. DOI: 10.1053/j.gastro.2013.10.047. Disponível em:
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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

BERENDS, Sophie E.; STRIK, Anne S.; LÖWENBERG, Mark; D’HAENS, Geert R.; MATHÔT,
Ron A. A. Clinical Pharmacokinetic and Pharmacodynamic Considerations in the
Treatment of Ulcerative Colitis. Clinical pharmacokinetics, [S. l.], v. 58, n. 1, p. 15–37,
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SALARITABAR, Ali; DARVISHI, Behrad; HADJIAKHOONDI, Farzaneh; MANAYI, Azadeh;
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WAGNER, H.; BLADT, S. Plant drugs analysis: A thin layer chromatography atlas. 2 ed.
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Anexos

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Legenda: Fase móvel: (A) acetato de etila: ácido fórmico: MeOH: H2O ; (B) acetato de
etila: ácido fórmico: MeOH: H2O; Adsorvente: gel de sílica 60 F254;

Grupo controle saudável (n = 8), Grupo controle DNBS (n = 8), Grupo BP 100 (Extrato
rico em flavonoides 100 mg/kg; n = 8), Grupo NPBP 5 (nanopartículas 5 mg/kg;n = 8),
Grupo NPBP 10 (nanopartículas 10 mg/kg; n = 8).

Grupo controle saudável (n = 8), Grupo controle DNBS (n = 8), Grupo BP 100 (Extrato
rico em flavonoides 100 mg/kg; n = 8), Grupo NPBP 5 (nanopartículas 5 mg/kg;n = 8),
Grupo NPBP 10 (nanopartículas 10 mg/kg; n = 8).

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Grupo controle saudável (n = 8), Grupo controle DNBS (n = 8), Grupo BP 100 (Extrato
rico em flavonoides 100 mg/kg; n = 8), Grupo NPBP 5 (nanopartículas 5 mg/kg;n = 8),
Grupo NPBP 10 (nanopartículas 10 mg/kg; n = 8).

Grupo controle saudável (n = 8), Grupo controle DNBS (n = 8), Grupo BP 100 (Extrato
rico em flavonoides 100 mg/kg; n = 8), Grupo NPBP 5 (nanopartículas 5 mg/kg;n = 8),
Grupo NPBP 10 (nanopartículas 10 mg/kg; n = 8).

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CÓDIGO: SB0778

AUTOR: EMILLY VITÓRIA SENA DE ANDRADE

ORIENTADOR: FULVIO AURELIO DE MORAIS FREIRE

TÍTULO: Invasão do camarão exótico P. vannamei na costa atlântica das


Américas: Uma avaliação de risco em cenários de mudanças climáticas

Resumo

Os camarões peneídeos, que fazem parte da família Penaeidae, representam um dos


recursos pesqueiros mais economicamente lucrativos do mundo no âmbito dos
crustáceos. O Penaeus vannamei é uma das espécies de camarões marinhos mais
cultivadas no mundo graças às suas características altamente desejáveis para o
processo de produção. atualmente a exploração desta espécie para fins de cultivo tem
resultado na sua introdução e estabelecimento em ecossistemas marinhos que estão
consideravelmente afastados de sua área geográfica de origem. O objetivo deste
trabalho foi estudar os riscos da possível invasão do camarão vannamei na costa da na
costa atlântica das Américas em cenários de mudanças climáticas como o aquecimento
global através do método de modelagem de nicho.

Palavras-chave: camarões invasores, modelagem, bioinformática, aquecimento


global.

TITLE: Invasion of the exotic shrimp P. vannamei on the Atlantic coast of the
Americas: A risk assessment in climate change scenarios

Abstract

Peneid shrimp, which are part of the Penaeidae family, represent one of the most
economically profitable fishing resources in the world in terms of crustaceans. Penaeus
vannamei is one of the most cultivated marine shrimp species in the world thanks to
its highly desirable characteristics for the production process. currently the
exploitation of this species for cultivation purposes has resulted in its introduction and
establishment in marine ecosystems that are considerably distant from its

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geographical area of origin. The objective of this work was to study the risks of the
possible invasion of the vannamei shrimp on the Atlantic coast of the Americas in
climate change scenarios such as global warming through the niche modeling method.

Keywords: invasive shrimp, modeling, bioinformatics, global warming.

Introdução

Os camarões peneídeos, que fazem parte da família Penaeidae, representam um dos


recursos pesqueiros mais economicamente lucrativos do mundo no âmbito dos
crustáceos. Além da atividade de pesca, esses organismos são amplamente explorados
comercialmente por meio da criação em larga escala de diversas espécies, tais como
Penaeus monodon Fabricius, 1798, P. vannamei Boone, 1931 e P. stylirostris Stimpson,
1871. Essa prática movimenta anualmente bilhões de dólares em todo o mundo
(Briggs et al., 2004; Emerenciano et al., 2022; Senanan et al., 2007). O Penaeus
vannamei é uma das espécies de camarões marinhos mais cultivadas no mundo graças
às suas características altamente desejáveis para o processo de produção. Isso inclui
sua notável capacidade de adaptação, taxas de crescimento favoráveis, eficiência na
conversão alimentar e habilidade robusta de sobreviver em condições ambientais
desafiadoras (Funge-Smith e Briggs, 2005).
O P. vannamei é uma espécie nativa do oceano Pacífico Americano, apresentando uma
distribuição natural que se estende desde Sonora, no México, até Tumbes, no Peru
(NEMESIS, 2021). Entretanto, atualmente a exploração desta espécie para fins de
cultivo tem resultado na sua introdução e estabelecimento em ecossistemas marinhos
que estão consideravelmente afastados de sua área geográfica de origem.
Internacionalmente, o P. vannamei foi registrado em diversas nações das Américas,
bem como nas regiões do sudeste e sudoeste asiático (Panutrakul e Senanan, 2021).
Inclusive, no Brasil, especialistas em carcinicultura do Camarão Branco do Pacífico
sustentam que caso a espécie escape dos viveiros, sua capacidade de sobrevivência no
ambiente marinho e de reprodução seria extremamente limitada (Madrigal et al.,
2020; Santos e Coelho, 2002). Porém, apesar desses argumentos, pesquisas recentes já
indicam a detecção da espécie em águas naturais do país (Barbieri e Melo, 2006;
Loebmann et al., 2010; Pereira e Netto, 2007; Santos e Coelho, 2002).
Devido ao seu desempenho excepcional no cultivo, essa espécie ganhou considerável
popularidade e se disseminou entre produtores em todo o mundo, evoluindo para se
tornar um importante commodity global nos dias atuais (Funge-Smith & Briggs, 2005;
Panutrakul & Senanan, 2021; FAO, 2022). Embora relatos de P. vannamei em
ecossistemas naturais tenham sido registrados em diversas partes do mundo desde a

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década de 1990, o entendimento dos impactos da fuga desse camarão exótico sobre as
espécies nativas de qualquer região ainda está em estágio inicial (Panutrakul &
Senanan, 2021; Moraes & Freire, 2022). No entanto sabe-se que as avaliações de risco
ecológico elaboradas sugerem fortemente que a espécie não só pode sobreviver em
diferentes condições ambientais, como também, pode competir por espaço e por
comida com espécies de camarão nativas se tornando uma ameaça a biodiversidade
local (Chavanich et al., 2016; Panutrakul et al., 2010; Senanan et al., 2010).
Métodos chamados de modelagem de distribuição de espécies, modelagem de
habitat, modelagem de distribuição espacial ou modelagem de nicho ecológico têm
recebido uma atenção muito maior nos últimos anos, sobretudo nas avaliações sobre
invasões biológicas (Giannini et al., 2012; Siqueira et al., 2009; Hulme, 2017). Esse
método leva em consideração variáveis ambientais com o intuito de prever a
adequabilidade da espécie a esses fatores. Sendo assim o objetivo deste trabalho foi
estudar os riscos da possível invasão do camarão vannamei na costa da na costa
atlântica das Américas em cenários de mudanças climáticas como o aquecimento
global.

Metodologia

Para a montagem do modelo precisamos de dados dos pontos de ocorrência, esse


levantamento foi feito a partir das seguintes bases de dados: (1) o Global Biodiversity
Information Facility e instituições relacionadas (GBIF.org, 2020); (2) Coleção de
Zoologia de invertebrados do Smithsonian National Museum of Natural History
(NMNH; https://collections.nmnh.si.edu/search/iz/); (3) registro de literatura,
incluindo literatura cinza; (4) Coleção de Invertebrados da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
Neste estudo, foram adotadas duas regiões geográficas distintas para o
desenvolvimento dos modelos, sendo essas regiões nomeadas de acordo com a
distribuição natural do Penaeus vannamei nas Américas: a região nativa e a região
exótica. A região nativa abrange toda a área costeira do Oceano Pacífico, conforme
descrito por Pérez-Farfante em 1988. Por outro lado, a região exótica compreende a
área que é prevista para possíveis incursões da espécie (previsão de invasão),
abrangendo a zona costeira do Oceano Atlântico.
As análises foram realizadas no RSTUDIO, a partir do script feito por Moraes, 2022;
seguindo as mesmas orientações que ele usou em sua tese. Inicialmente, os modelos
que avaliam a adequabilidade do habitat foram ajustados e suas previsões foram
realizadas dentro da região nativa (Oceano Pacífico), referentes ao período atual. Em

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uma etapa subsequente, esses modelos ajustados foram aplicados na região exótica
(Oceano Atlântico). Além disso, esses mesmos modelos, que foram calibrados usando
dados atuais, foram empregados para projetar a adequabilidade do habitat em
diferentes cenários climáticos previstos para o médio prazo (2050) e o longo prazo
(2100).
Para alcançar essas projeções, foram adotados os cenários climáticos delineados no 5º
Relatório de Avaliação do IPCC. Esses cenários se baseiam nos Caminhos
Representativos de Concentração (RCPs, da sigla em inglês "Representative
Concentration Pathways") para modelar as possíveis trajetórias de concentração de
gases de efeito estufa e, por consequência, o clima futuro. Os RCPs representam
possíveis caminhos para os principais agentes propulsores das mudanças climáticas,
assim como também indicam as tendências sobre a temperatura global.

Resultados e Discussões

Os resultados obtidos para as análises do modelo consensual desenvolvido para P.


vannamei, que foi calibrado na região nativa e depois aplicado à área de previsão de
invasão (ou seja, a região exótica), revelou um nível moderado de capacidade de
transferir corretamente áreas ambientalmente adequadas. No contexto da projeção
de invasão, a extensão das áreas classificadas como "ótimas" diminui
consideravelmente, e a cobertura de áreas potencialmente adequadas também é
menor em comparação com a região nativa. Sendo possível interpretar que as análises
tiveram resultados pouco menos eficientes do que o esperado.
As áreas identificadas como ambientalmente adequadas formam concentrações no sul
dos Estados Unidos, especialmente na área do Golfo do México, bem como ao longo
da costa de Cuba, na região sudeste do México, entre Nicarágua e Panamá, e em
pontos intermitentes e espaçados entre a Guiana Francesa e o nordeste do Brasil, até
o norte do estado da Bahia.
Os resultados derivados dos cenários de mudanças climáticas futuras, tanto para a
região nativa quanto para a região exótica, exibiram, em linhas gerais, um padrão de
distribuição de adequabilidade semelhante ao observado no cenário atual. Esses
resultados sugerem que são esperadas poucas mudanças significativas tanto a médio
quanto a longo prazo, independentemente dos diferentes cenários climáticos
projetados. observa-se esse padrão nas figuras 1 e 2 de Moraes, 2022.
Figura 1 – Foram observadas mudanças nas áreas de adequação futura projetadas para
Penaeus vannamei dentro de sua região nativa, considerando diversos cenários dos
Caminhos Representativos de Concentração (RCP). Nas representações A, C e E, as

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mudanças projetadas são destinadas ao médio prazo (2050), enquanto nas


representações B, D e F, as mudanças previstas são para o longo prazo (2100). As cores
utilizadas indicam as variações potenciais nas áreas de adequação. Além disso, as setas
denotam predominantemente a direção e a temperatura média das correntes
marinhas.
Figura 2 - Alterações nas áreas projetadas de adequação futura para Penaeus
vannamei, na região considerada para a possível invasão, sob diferentes cenários dos
Caminhos Representativos de Concentração (RCP). As representações A, C e E retratam
as mudanças previstas a médio prazo (2050), enquanto as representações B, D e F
mostram as mudanças projetadas para o longo prazo (2100). As cores empregadas
indicam as variações potenciais nas áreas de adequação. Além disso, as setas indicam
predominantemente a direção e a temperatura média das correntes marinhas.

Conclusão

Esse tipo de estudo é de especial relevância, pois viabiliza a antecipação das


tendências em termos de orientação e magnitude das mudanças que poderiam
impactar diretamente a colonização, permanência e disseminação de populações não
indígenas. Essas considerações são feitas com base nos diversos cenários climáticos
projetados para o futuro. Esse conhecimento prospectivo possibilita orientar
estrategicamente os esforços destinados à identificação, monitoramento e redução
dos efeitos associados ao processo de invasão (Hulme, 2017).
Os resultados obtidos foram satisfatórios, as expectativas formuladas em relação ao
potencial de invasão do P. vannamei partem do pressuposto de que o nicho climático
dos indivíduos introduzidos assemelha-se ao que é observado nas populações
presentes em sua área nativa. Entretanto, ao examinarmos o espectro climático das
ocorrências não nativas do P. vannamei que já foram documentadas no oceano
Atlântico, surgem evidências que indicam possíveis alterações no nicho ecológico dos
exemplares da região introduzida (Moraes & Freire, 2022).
Essa evidência pode representar um desafio adicional para a previsão do potencial de
invasão, uma vez que a distribuição não nativa não está em equilíbrio com as
condições climáticas da região invadida. Isso sugere que a expansão da espécie
naquela área pode ocorrer independentemente das mudanças climáticas, indicando
que seu estabelecimento na região tem potencial para aumentar. Os resultados deste
trabalho são importantes para compreender e acompanhar um possível processo de
invasão pela espécie, induzido por atividades antropogênicas e com atuação das
mudanças climáticas.

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Referências

REFERÊNCIA
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Loebmann, D., Mai, A.C.G., Lee, J.T., 2010. The invasion of five alien species in the
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Madrigal, R.F. de A.G., Silva, U. de A.T. da, Ballester, E.L.C., 2020. Zootechnical
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Penaeus vannamei Boone, 1931 reared under laboratory conditions. Lat. Am. J. Aquat.
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MORAES, Alex Barbosa de. Potencial de invasibilidade de Penaeus vannamei Boone,
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Fúlvio Aurélio de Morais Freire. 2022. 204f. Tese (Doutorado em Ecologia) - Centro de
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NEMESIS, S. E. R. C. N. E. and M. E. S. I. S. (2021). Invasion history of Penaeus
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Pereira, T. J., & Netto, S. A. (2007). Ocorrência do camarão exótico Litopenaeus
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Santos, M. do C.F., Coelho, P.A., 2002. Espécies exóticas de camarões marinhos
(Penaeus monodom Fabricius, 1798 e Litopenaeus vannamei Boone, 1931) nos
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Senanan, W., Tangkrock-Olan, N., Panutrakul, S., Barnette, P., Wongwiwatanawute, C.,
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Siqueira, T., Padial, A.A., Bini, L.M., 2009. Mudanças climáticas e seus efeitos sobre a
biodiversidade: um panorama sobre as atividades de pesquisa. Megadiversidade 5, 17–
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Anexos

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Figura 1 – Foram observadas mudanças nas áreas de adequação futura projetadas para
Penaeus vannamei dentro de sua região nativa, considerando diversos cenários dos
Caminhos Representativos de Concentração (RCP). Nas representações A, C e E, as
mudanças pr

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Figura 2 - Alterações nas áreas projetadas de adequação futura para Penaeus


vannamei, na região considerada para a possível invasão, sob diferentes cenários dos
Caminhos Representativos de Concentração (RCP). As representações A, C e E retratam
as mudança

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CÓDIGO: SB0779

AUTOR: HANNAH DA SILVA VIEIRA

COAUTOR: JULIANA LUIZA ROCHA DE LIMA

ORIENTADOR: BRUNO TOMIO GOTO

TÍTULO: FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES COLOLIZANDO


DIFERENTES FOLHAS EM DECOMPOSIÇÃO NA SERAPILHEIRA

Resumo

Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA) estabelecem associação obrigatória


com a maioria das raízes de plantas terrestres e aquáticas. Entretanto, estudos
reportam colonização também em folhas da serapilheira em decomposição.
Diante disso, o objetivo foi investigar a colonização na serapilheira por FMA em
fragmento de Mata Atlântica, Nísia Floresta, RN. Para isso, 30 folhas de
Trichilia hirta e 30 de Hirtella sp. foram coletadas. Em laboratório, as folhas
foram cortadas em pedaços retangulares e clarificadas em KOH a 15% e H2O2
a 35%. Em seguida, foram tingidas em azul de tripano a 0,05% para análise em
microscópio óptico. Foi detectada a ocorrência de hifas e esporos
característicos de FMA colonizando folhas de T. hirta com colonização de
15,6% para os períodos de dois e três meses das folhas em decomposição,
enquanto Hirtella sp. apresentou colonização correspondente a 25,4% e 53,6%
em dois e três meses, respectivamente. A PERMANOVA demonstrou que o
período de decomposição das folhas influencia a variação nas taxas de
colonização da serapilheira por FMA (F=2.131, p=0.02) e a SIMPER mostrou
que folhas que estavam com três meses de decomposição possuem influência
maior na colonização. Esporos semelhantes ao gênero Rhizoglomus foram
encontrados em folhas de Hirtella sp. Esses resultados indicam que a
serapilheira pode ser um potencial ambiente para explorar a biodiversidade e
função ecológica dos FMA, tendo em vista que não são fungos
decompositores.

Palavras-chave: Colonização, Glomeromycota, Sapróbio.

TITLE: Arbuscular Mycorrhizal Fungi colonizing decomposing leaves in an


Atlantic Forest fragment, RN, Brazil.

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Abstract

Arbuscular Mycorrhizal Fungi (AMF) establish obligatory associations with the


majority of terrestrial and aquatic plant roots. However, studies also report
colonization on decomposing leaf litter. In light of this, the objective was to
investigate AMF colonization on leaf litter within a fragment of the Atlantic
Forest in Nísia Floresta, RN. To achieve this, 30 leaves of Trichilia hirta and 30
leaves of Hirtella sp. were collected. In the laboratory, the leaves were cut into
rectangular pieces, clarified with 15% KOH and 35% H2O2, and subsequently
stained with 0.05% trypan blue for analysis under an optical microscope. The
occurrence of AMF-specific hyphae and spores colonizing T. hirta leaves was
detected, with colonization rates of 15.6% for two and three months of
decomposing leaves. In comparison, Hirtella sp. exhibited colonization rates of
25.4% and 53.6% for two and three months, respectively. PERMANOVA
analysis demonstrated that the leaf decomposition period influences the
variation in AMF colonization rates on leaf litter (F=2.131, p=0.02), and SIMPER
analysis indicated a greater influence of leaves in the three-month
decomposition stage. Spores resembling the genus Rhizoglomus were found in
Hirtella sp. leaves. These results suggest that leaf litter could serve as a
potential environment to explore the biodiversity and ecological function of AMF,
especially considering that they are not decomposing fungi.

Keywords: Colonization, Glomeromycota, Saprobic

Introdução

Os Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA) estão inseridos no filo


Glomeromycota (Schübler et al., 2001; Wijayawardene et al., 2020) e
estabelecem uma associação simbiótica com a maioria das raízes de plantas
terrestres e aquáticas. Nessa associação, os FMA beneficiam as plantas com
fósforo e nitrogênio disponíveis no solo e são beneficiados pelas plantas com
fotossintatos produzidos por elas (Cavalcante et al. 2008). Devido sua natureza
simbiótica obrigatória com raízes vegetais, os FMA não possuem a capacidade
de completar seu ciclo de vida sem estar associado à raiz de um hospedeiro
vegetal (Koide & Mosse, 2004). Entretanto, no final da década de 1970, Went &
Stark (1968) investigaram a serapilheira de fragmentos da Amazônia peruana e
brasileira e documentaram a presença de hifas de fungos endotróficos
similares aos que vivem com raízes, colonizando folhas em decomposição. A
partir disso, desenvolveram a teoria da “ciclagem direta de nutrientes”, na qual
esses fungos endomicorrízicos poderiam translocar os nutrientes minerais da
serapilheira para o solo, atuando de forma semelhante aos microrganismos
decompositores. Posteriormente, estudos com microcosmos demonstraram

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que os FMA podem ser capazes de translocar nutrientes que estão


organicamente ligados na serapilheira para o solo, como o nitrogênio e a partir
disso aceleram as taxas de decomposição (Hodge et al, 2001; Herman et al.,
2012; Nuccio et al., 2013). Dessa forma, pesquisadores começaram a
especular se os FMA poderiam ter algum papel na ciclagem de nutrientes e na
decomposição da matéria orgânica vegetal.
Outros estudos detectaram colonização de estruturas típicas de FMA, como
hifas, vesículas e esporos na serapilheira em diferentes regiões climáticas
(Rivera & Guerrero, 1998; Aristizábal et al., 2004; Posada et al. 2012; Bunn et
al., 2019; Diaz-Ariza et al., 2021; Crescio et al., 2023). No Brasil, três estudos
foram desenvolvidos e detectaram ocorrência de FMA em folhas em
decomposição. O primeiro estudo foi o de Went & Stark (1968), desenvolvido
na Amazônia, o de Kemmelmeier et al. (2022) desenvolvido em fragmento de
Mata Atlântica no sul do Brasil e mais recentemente Lima et al. (2023) analisou
a serapilheira de três fragmentos florestais inseridos na Mata Atlântica do Rio
Grande do Norte.
Os trabalhos com FMA desenvolvidos na serapilheira construíram uma linha de
pesquisa pautada em investigar a ocorrência de FMA em folhas e em
substratos de matéria orgânica, bem como sua colonização na serapilheira.
Apesar de recentemente o número de trabalhos na área estarem aumentando,
ainda existe uma grande lacuna de conhecimento de extensão mundial sobre
esse fenômeno No Brasil, a Mata Atlântica é um ecossistema alvo para o
desenvolvimento dessas pesquisas, uma vez que é um bioma tropical e é
considerada um hotspot mundial de biodiversidade (Myers et al., 2000; Pinto et
al., 2006). Além disso, ainda não se sabe quais são espécies de FMA
colonizam esse ambiente, muito menos quais fatores dirigem essa colonização
na serapilheira.
Conhecer a comunidade endomicorrízica da serapilheira e os fatores que
movem esse fenômeno pode ajudar a resolver problemas taxonômicos e
filogenéticos, à medida que novas espécies são descritas, bem como novas
descobertas sobre o potencial químico e ecológico desses fungos podem ser
revelados. Além disso, os FMA na serapilheira podem ajudar na fertilização do
solo, bem como na restauração de áreas degradadas, já que podem ser
usados como inóculo para sistemas agroecológicos como demonstrado por
Medeiros et al. 2021. Dessa forma, esse estudo objetivou avaliar a ocorrência
de FMA na serapilheira e caracterizar morfologicamente a colonização nas
folhas em decomposição de duas espécies vegetais em um fragmento de Mata
Atlântica no Rio Grande do Norte.

Metodologia

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Área de estudo
As coletas das folhas foram realizadas em fragmento preservado de Mata
Atlântica, Fazenda Sapé, no estado do Rio Grande do Norte, pertencente à
Área de Proteção Ambiental (APA) Bonfim-Guaraíra, no município de Nísia
Floresta (Figura 1). A área possui fitofisionomia de floresta estacional
semidecidual e vegetação diversa ocorrência das famílias vegetais:
Anacardiaceae, Arecaceae, Bignoniaceae, Fabaceae, Meliaceae,
Rhamnaceae, Chrysobalanaceae, entre outras.
Coleta de amostras
As folhas de Trichilia hirta L. (Meliaceae) e Hirtella sp. (Chrysobalanaceae)
foram coletadas no segundo semestre de 2022, no mês de setembro e
recolhidas nos meses de novembro e dezembro. Primeiramente, coletores
como bacias foram amarrados aos galhos das árvores das espécies escolhidas
para que as folhas caíssem naturalmente. Esses coletores permaneceram
amarrados às árvores durante uma semana. Essa etapa foi realizada para
garantir que as folhas selecionadas ainda não tivessem tido contato com a
comunidade decompositora da serapilheira antes do estudo. Após esse
período, as folhas caídas nos coletores foram colocadas em litter bagsde malha
fina 15cm x 15cm. Dessa forma, cinco folhas iguais de cada espécie vegetal
foram inseridas em um litter bag, totalizando seis litter bags por espécie
vegetal. Três litter bags foram dispostos na superfície da serapilheira em um
transecto de três metros ao redor da árvore escolhida (cada litter bag ficou a
uma distância de um metro do outro), e no lado oposto ao primeiro transecto,
outros três litter bags foram posicionados na mesma configuração da mesma
espécie arbórea, como demonstrado na Figura 2. Assim, 30 folhas foram
obtidas para cada espécie e 60 no total (5 folhas x 6 litter bags = 30 x 2
espécies vegetais = 60 folhas).
As folhas foram deixadas para se decompor às condições naturais na
superfície da serapilheira por um período de até três meses. Dessa forma, com
dois meses que os litter bags ficaram dispostos na serapilheira, metade dos
litter bags de cada espécie vegetal foi retirada para análise e, após um mês,
contabilizando três meses em decomposição, a outra metade dos litter bags foi
removida.
T. hirta e Hirtella sp. foram as espécies selecionadas por serem nativas da
Mata Atlântica e com folhas abundantes na camada de serapilheira da área.
Além disso, essas espécies possuem ocorrência comum em outras áreas
brasileiras de Mata Atlântica (Franke et al., 2005).
Clarificação das folhas

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A metodologia de clarificação e tingimento das folhas foi adaptada de Bunn et


al. (2019), modificando a concentração dos reagentes utilizados (Figura 3). As
folhas retiradas dos litter bags foram cortadas em fragmentos retangulares e
clarificadas em KOH a 15% por aproximadamente 24 horas. Após isso, foram
colocadas em solução de H2O2 a 35% por aproximadamente mais 24 horas
para que fosse possível uma maior despigmentação da folha. Quando
translúcidas, as folhas foram pigmentadas em azul de tripan e lactoglicerol a
0,05% por aproximadamente 1 hora (podendo variar de acordo com a folha).
Posteriormente, cada fragmento de folha foi montado em lâminas, utilizando
glicerol e seladas com esmalte incolor para visualização e identificação em
microscopia óptica.
Taxa de colonização
A taxa de colonização foi calculada utilizando o método de linha e grade
adaptado de Tennant (1975). Utilizando papel quadriculado, cada fragmento de
folha na lâmina foi dividido em oito seções ou interseções. Cada seção
observada com estruturas de FMA recebeu um valor de 12,5%, totalizando
100% de colonização quando presentes estruturas de FMA nas oito seções.
Para determinar a colonização total de FMA, as taxas de colonização
individuais de cada fragmento foliar foram somadas e divididas pelo número
total de lâminas colonizadas. Isso permitiu estimar a colonização total pelas
estruturas de FMA de cada espécie de planta em diferentes períodos de
decomposição, bem como calcular a colonização individuais das estruturas,
hifas e esporos, que ocorreram de forma independente. Para o cálculo, foi
considerada a presença de estruturas de FMA nas folhas, como hifas com
septos irregulares ou ausentes, e esporos globosos, sub-globosos, elipsóides
e/ou irregulares em que era possível observar pelo menos uma camada do
esporo.
Análise estatística
A Análise de Variância Multivariada Permutacional (PERMANOVA) utilizando o
índice de Bray-Curtis foi feita para verificar a existência de influência dos
períodos da decomposição das folhas na variação das taxas de colonização da
serapilheira por FMA. Além disso, a análise de Análise de Porcentagem de
Similaridade (SIMPER) foi realizada para verificar diferenças entre os meses de
decomposição e qual iria deferir mais. Utilizou-se o software PAST versão 4.13.

Resultados e Discussões

As espécies vegetais apresentaram diferenças nas taxas de colonização. Trichilia hirta


não teve variação nas taxas de colonização entre os períodos de dois e três meses,

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apresentando taxa de colonização de 15,6%, enquanto Hirtella sp. apresentou taxas de


colonização distintas para os períodos de dois e três meses, sendo 25,4% e 53%,
respectivamente. A taxa de colonização em T. hirta pode demonstrar que o tempo de
decomposição das folhas entre o período de dois e três meses não acarretou variações
significativas nessa espécie. Na tabela 1 são demonstrados os valores de colonização
total e por estruturas individuais de FMA.
As taxas de colonização para as duas espécies analisadas demonstraram variar de
acordo com o período de decomposição (dois e três meses). Com a PERMANOVA foi
possível verificar que o tempo de decomposição influenciou significativamente o
percentual de colonização da serapilheira por FMA (F= 2,131, p= 0,0243) e a SIMPER
mostrou que folhas que estavam com três meses de decomposição possuem uma
contribuição maior (60%) na colonização da serapilheira por FMA do que as folhas que
ficaram em dois meses (40%) em decomposição. Dessa forma, a colonização por FMA
foi maior em folhas com três meses de decomposição.
Em folhas de Hirtella sp., foi encontrado um padrão de colonização semelhante ao
desenvolvido pelo gênero Rhizoglomus. Devido às condições de visualização das
lâminas de T. hirta, só foi possível identificar as estruturas encontradas à nível de filo,
reconhecendo que os esporos e hifas encontrados pertencem ao filo Glomeromycota
(Figura 4). Tabela 01: Porcentagem de colonização por estruturas de Fungos
Micorrízicos Arbusculares nas folhas em decomposição de Trichilia hirta e Hirtella sp.
Crescio et al. (2023) identificou esporos de Rhizoglomus intraradices (N.C. Schenck &
G.S. Sm.) Sieverd., G.A. Silva & Oehl no interior do tecido vegetal em decomposição,
indicando que algumas espécies de Rhizoglomus sejam mais adaptadas a este tipo de
ambiente e condição, tendo em vista a maior número de registro nos estudos.
Sabe-se que Rhizoglomus faz parte da ordem Glomerales, a mais representativa do filo
Glomeromycota (Sieverding et al., 2015). Outras pesquisas atrelam esse táxon a uma
grande adaptabilidade, pois R. intraradices é capaz de esporular sem estar associada a
uma raiz vegetal (Hildebrandt et al. 2006). As espécies desse gênero também são
conhecidas por possuir rápida esporulação e capacidade de produzir esporos e hifas no
solo em curto intervalo de tempo, sendo essas características compartilhadas pelos
representantes da família Glomeraceae (Sieverding et al., 2015). A partir de sua
capacidade consistente de esporulação, abundância e capacidade de esporular
independentemente de raízes, como demonstrado por Tanaka et al. (2022). esses fatos
agregam à hipótese de que esse gênero esteja associado à colonização de material
orgânico.
Alguns estudos especulam os fatores podem estar influenciando a ocorrência dos FMA
na serapilheira (Rivera & Guerrero, 1998; Aristizábal et al., 2004; Posada et al. 2012;
Bahnmann et al. 2018; Bunn et al. 2019; Díaz-Ariza et al., 2021, Crescio et al., 2023;

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Lima et al., 2023). Bunn et al. (2019) e Posada et al. (2012) sugerem que os FMA
podem ter atividade sapróbia, ou seja, a capacidade de decompor material orgânico a
partir de algum aparato enzimático (Bunn et al., 2019; Posada et al. 2012). Essa
hipótese se fortalece à medida que experimentos mostram que os FMA foram capazes
de acelerar taxas de decomposição de detritos orgânicos (Atul-Nayar et al., 2009;
Hodge et al., 2001; Herman et al., 2012). Além disso, um estudo analisando o genoma
de uma espécie de FMA, Rhizoglomus proliferus (Dalpé & Declerck) Sieverd., G.A. Silva
& Oehl, encontrou sequências de genes que transcrevem esterases, grupo de enzimas
capazes de degradar material orgânico, relacionadas a fungos sapróbios (Singh et al.,
2022).
Outra hipótese para explicar essas ocorrências parte do pressuposto de que os FMA
não são decompositores, como previamente estabelecido para o grupo, mas são
capazes de translocar via hifas, nutrientes minerais que vão sendo liberados dos
detritos orgânicos pelos organismos decompositores (Rivera & Guerrero, 1998). Nesse
sentido, os FMA podem estar colonizando a serapilheira para captar nutrientes
estocados e transferi-los via micélio (hifas) para suas plantas hospedeiras,
principalmente quando o solo florestal é escasso de nutrientes, o que se encaixa na
teoria da ciclagem de nutrientes discutida por Went & Stark (1968).
Segundo Verbruggen et al. (2015), os FMA são capazes de estimular a ação de outros
microrganismos decompositores, como fungos sapróbios e bactérias, em um processo
de recrutamento em que os FMA protagonizam sobre a microbiota decompositora da
serapilheira denominado "priming microbiano”. Essa interação complexa entre
microrganismos no solo pode ter um efeito profundo na decomposição de detritos
orgânicos e no ciclo de nutrientes (Verbruggen et al., 2015). Além disso, há a hipótese
de que os FMA podem captar o excesso de nutrientes disponibilizados por outros
microrganismos sapróbios no processo de decomposição da matéria orgânica (Jansa et
al., 2013). Essas teorias reforçam que os níveis de estoque de nutrientes minerais
dentro das folhas mortas são um dos fatores que estimulam o processo de colonização
por micorrizas arbusculares.
Devido ao número reduzido de estudos sobre o tema, ainda existem várias lacunas que
precisam ser entendidas em relação a colonização de FMA na serapilheira. Entretanto,
alguns fatores podem influenciar esse fenômeno, como a qualidade da serapilheira e
características ambientais, como clima, solo, radiação solar, pluviosidade e a própria
biota decompositora (Gui et al., 2017; Hou et al., 2005). Folhas em decomposição
possuem em sua composição principalmente macromoléculas de lignina, celulose e
hemicelulose, formadas em sua maioria por átomos de carbono, consideradas
recalcitrantes (Bitar et al., 2002). É a partir desse balanço de carbono (C), nitrogênio
(N) e fósforo (P) se determina o índice de qualidade da serapilheira e a sua taxa de
decomposição (Gallardo & Merino, 1993). Razões estequiométricas altas de C:N e C:P

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significam um detrito de difícil e lenta decomposição, e o contrário, de fácil e rápida


decomposição (Parthasarathi et al, 2014). Aqui, a qualidade da serapilheira não foi
medida, entretanto, esse é um fator apontado como de influência na taxa de
colonização da serapilheira por FMA e precisa ser investigado.

Conclusão

Os achados dessa pesquisa tornam-se mais uma evidência para se somar às


ocorrências da colonização da serapilheira por FMA, com destaque especial
para o Brasil e bioma Mata Atlântica. Além disso, o estudo da colonização de
FMA em diferentes substratos orgânicos, não apenas a serapilheira, são
capazes de fornecer novas informações sobre o potencial de funcionamento
desses fungos nos ecossistemas. Essa pesquisa também é uma das poucas
que traz informação sobre a identificação de alguns táxons de FMA ocorrendo
na serapilheira, com o gênero Rhizoglomus. Ainda assim, pesquisas futuras
são necessárias para melhorar a compreensão sobre a colonização da
serapilheira, acerca dos modos de colonização pelas micorrizas, assim como é
necessário novas pesquisas avaliando o potencial da serapilheira colonizada
por FMA para uso em áreas de restauração.

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Anexos

Figura 1: Localização da área de estudo, Fazenda Sapé, remanescente de Mata


Atlântica em Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil. Autoria: Dourado, K. B. (2023).

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Figura 2: Esquema ilustrando a disposição dos litter bags na serapilheira.

Figura 3: Etapas da metodologia de clarificação e pigmentação das folhas. A: Corte das


folhas; B: Clarificação com KOH; C: Clarificação com H2O2; D: Tingimento em azul de
tripano; E: Montagem da lâmina com lactoglicerol; F: Visualização em microscópio.

Tabela 1: Taxas de colonização das folhas de Trichilia hirta e Hirtella sp.

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Figura 4: Esporos e hifas de Fungos Micorrízicos Arbusculares colonizando folhas de


Hirtella sp. A: Esporo semelhante a Rhizoglomus sp.; B: Esporo semelhante a
Rhizoglomus sp.; Esporos e hifas semelhantes a Rhizoglomus sp.; D: Hifas semelhantes
às de FMA

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CÓDIGO: SB0788

AUTOR: ANA BEATRIZ MENDES DA COSTA

ORIENTADOR: IURI GOULART BASEIA

TÍTULO: Taxonomia de macrofungos lamelados (Agaricales, Basidiomycota)


em áreas do semiárido do estado do Rio Grande do Norte e adjacências

Resumo

Os cogumelos lamelados em sua maioria pertencem à ordem Agaricales e são


amplamente conhecidos como “cogumelos”. Esses fungos possuem basidiomas com a
forma de um píleo apoiado por um estipe, e apresentam uma camada reprodutiva
(himenóforo) composta por lamelas. O himenóforo é a região nos basidiomicetos onde
ocorre a produção das suas estruturas reprodutivas, conhecidas como basidiósporos.
O objetivo principal do trabalho consiste na análise de espécimes de macrofungos
coletados nas áreas semiáridas do estado do Rio Grande do Norte e áreas adjacentes,
buscando aprofundar o entendimento da taxonomia e classificação desses espécimes
por meio de análises morfológicas através de microscopia. Diante disso, foram
examinados três exsicatas do herbário UFRN-Fungos, os quais representam distintos
gêneros, além de outros dois exemplares obtidos por meio de coletas a campo. Dentre
esses materiais, destaca-se a espécie Crinipellis sapindacearum Singer, uma potencial
adição aos registros taxonômicos brasileiros, bem como ao Gymnopilus
purpuroesquamulosus Høiland, sendo esse, um novo dadopara o estado do Rio Grande
do Norte.

Palavras-chave: Palavras-chaves: Diversidade. Cogumelos. Novos registros

TITLE: Taxonomy of lamellate macrofungi (Agaricales, Basiodiomycota) in


semi-arid areas of the state of Rio Grande do Norte and adjacent areas

Abstract

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Most lamellate mushrooms belong to the order Agaricales and are widely known as
"mushrooms". These fungi have basidiomata in the shape of a pileus supported by a
stipe, and have a reproductive layer (hymenophore) made up of lamellae. The
hymenophore is the region in basidiomycetes where their reproductive structures,
known as basidiospores, are produced. The main objective of this work is to analyze
specimens of macrofungi collected in the semi-arid areas of the state of Rio Grande do
Norte and adjacent areas, seeking to deepen the understanding of the taxonomy and
classification of these specimens through morphological analysis using microscopy.
Three exsiccates from the UFRN-Fungos herbarium were examined, representing
different genera, as well as two other specimens obtained from field collections.
Among these materials, the species Crinipellis sapindacearum Singer stands out as a
potential addition to Brazilian taxonomic records, as well as Gymnopilus
purpuroesquamulosus Høiland, which is new data for the state of Rio Grande do Norte.

Keywords: Keywords: Diversity. Mushrooms. New records

Introdução

Os fungos lamelados, grande parte pertencentes à ordem Agaricales, são popularmente


conhecidos como “cogumelos”. Esses fungos possuem basidiomas pileados-estipitados,
apresentando himênio com lamelas. O himênio é a região do basidiomiceto onde são
produzidas as suas estruturas reprodutivas, os basidiósporos. Agaricales forma um
agrupamento monofilético em vários estudos filogenéticos e com esses trabalhos a
sistemática molecular tem avançado significativamente. A exemplo, Binder et al (2010)
que analisou a evolução dos grupos basais pertencentes à ordem Agaricales. Porém os
“Agaricoides” não possuem uma sinapomorfia clara que distingue o grupo, por possuir
uma ampla diversidade morfológica, até mesmo basidiomas gasteroides (Hibbet et al.,
2014). Singer (1986), baseado somente em análises morfológicas, não estabeleceu uma
caracterização em comum a toda a ordem, definindo o grupo com base na ausência de
características existentes em outros grupos de fungos formadores de cogumelos
(Agaricomycetes). O livro “Agaricales na taxonomia moderna” de Singer (1986) foi um
marco na classificação do grupo, delimitando diversos táxons que mesmo na atualidade
são reconhecidos em trabalhos de sistemática molecular. Ademais, ainda hoje é uma
obra fundamental para classificação dos táxons considerados “agaricoides”.
Em todo o planeta são encontradas mais de 20 mil espécies e 650 gêneros dentro da
ordem Agaricales (Catalogue of life, 2023). No Brasil, as regiões Sul e Sudeste são as
que apresentam as mais elevadas incidências de registros da ordem Agaricales. Nessas
regiões, foram catalogadas aproximadamente mil espécies, distribuídas em 200 gêneros,
abrangendo todo o território brasileiro (Flora e Funga Brasil, 2023). Mesmo com os
fungos desempenhando um papel de grande relevância ecológica para a preservação e
conservação ecológica, possuindo um notável valor econômico, principalmente em

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indústrias farmacêuticas e alimentícias (Mendoza et al, 2018). As estimativas atuais de


diversidade de fungos, apesar dos esforços dos pesquisadores, mostram-se insuficientes
para demonstrar a real diversidade de fungos Agaricales para todos os biomas do país.
Assim como, a formação e capacitação de novos taxonomistas na área são fundamentais
para o avanço dos estudos nos diferentes grupos da ordem Agaricales. Desse modo, o
conhecimento acerca da diversidade desses fungos para o semiárido brasileiro é crucial
para o desenvolvimento de novas pesquisas, que envolvem a utilidade prática para a
melhoria do bem-estar humano, além de ajudar nas iniciativas de conservação e estudos
ecológicos.

Metodologia

Foi conduzida uma pesquisa utilizando o banco de dados digital Specieslink


(Specieslink, 2023), com ênfase em materiais provenientes das regiões semiáridas do
Rio Grande do Norte e áreas adjacentes que estivessem disponíveis no herbário UFRN-
Fungos. Após a identificação dos materiais e a solicitação de empréstimo, foi executada
uma etapa de seleção para avaliar a qualidade dos materiais. Posteriormente a essa
verificação, deram-se início às análises.
A análise macroscópica foi conduzida utilizando as observações registradas pelos
coletores do espécime, as quais incluíram anotações referentes às características do
material em estado fresco. Adicionalmente, foram utilizadas análises das propriedades
de cor, dimensão e outras características visíveis no espécime desidratado. A carta de
cores utilizada foi a de Kornerup & Wanscher (1978). Para a descrição dos caracteres
microscópicos, foi realizado de cortes à mão livre dos basidiomas, seguida da
preparação de lâminas. Durante esse processo, utilizou-se soluções de KOH 5%, a qual
atua como agente hidratante, aprimorando a observação das estruturas e reações
químicas, em microscópios ópticos dos corantes: Azul de cresil, Vermelho Congo e
Melzer. As observações das estruturas foram realizadas através do microscópio
estereoscópico Leica EZ4 (Leica Camera, Alemanha), e em microscópio óptico Nikon
Eclipse Ni-U, equipado com câmera DS-R1 (Nikon Corporation, Japão). As medições
dos esporos foram anotadas da seguinte maneira: menor comprimento - maior
comprimento x menor largura - maior largura, em micrômetros (μm). As abreviações Q
e Qm se referem respectivamente à razão entre o comprimento/largura dos esporos e a
média dessas razões. Singer (1986), Largent (1986), Largent et al. (1977) foram as
terminologias gerais que foram utilizadas para a identificação taxonômica a nível de
gênero dos macrofungos. Os materiais descritos e identificados, agora identificados a
nível de espécie, serão depositados na coleção de fungos da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN-Fungos).

Resultados e Discussões

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Como desdobramento do projeto, foram examinados três exsicatas do herbário UFRN-


Fungos, além de outros dois exemplares obtidos por meio de coletas a campo. As áreas
de coleta foram no município de Messias Targino-RN em área de semiárido e na Mata
dos Saguis, UFRN, Natal-RN, em área de Mata Atlântica. Dentre esses materiais,
destaca-se a espécie Crinipellis sapindacearum Singer, um novo registro para o Brasil,
bem como Gymnopilus purpuroesquamulosus Høiland, novo registro para o estado do
Rio Grande do Norte.
Tratamento taxonômico
Cantharellus protectus Wartchow & Pinheiro, Sydowia 65(1): 28 (2012) (Imagem 1)
Descrição:
Análise macroscópica baseada em material seco. Píleo 21-25mm, infundibuliforme,
marrom claro (5D6KW). Lamelas decurrentes arqueadas, bifurcadas na região próxima
à margem. Estipe 38-44mm, cilíndrico, central,sólido,concolor ao píleo, base levemente
bulbosa.
Basidiósporos (5.9) 6.5-7.6 (8.6) × (3.5) 4.5-5.7 (7.3 × 4.7) µm,esporos elípticos a
subelípticos, com paredes moderadamente grossas, apêndice hilar proeminente. Basídio
56.9-57.5 × 5.6-8.6 µm, longos e cilíndricos,entre 4-6 esterigmas; basidíoloscom forma
semelhante aos basídios. Cistídios himeniais ausentes. Trama da lamela irregular, hifas
cilíndricas, hialinas e de parede fina. Trama do píleo composta por hifas cilíndricas,
hialinas de paredes finas. Trama do estipe formada por uma cútis de hifas paralelas,
paredes finas e abundantemente septadas, com grampos de conexão. Pileipellis cútis
entrelaçada, irregular, com paredes finas. Grampos de conexão abundantes em todo o
basidioma.
Habitat: Soloarenoso, em brejos de altitude.
Distribuição no Brasil: Mata do pau ferro, Areia- PB (este estudo).
Material examinados: UFRN-FUNGOS 1763
Data de coleta: VII/2012
Coletor: Sulzbacher, M.A; Wartchow, F.
Notas: Segundo Pinheiro & Watchow (2013), essa espécie é caracterizada por possuir
basidiomas com lamelas com margens bifurcadas e uma coloração amarelo-alaranjado.
Nesse caso, a percepção da coloração mais alaranjada não pôde ser observada devido à
análise ter sido realizada em um espécime desidratado, mas características como
lamelas decurrentes arqueadas, estipe central e sólido ainda prevalecem. Ademais, a
observação das medições dos tamanhos dos basidiósporos, que são alongados e
semelhantes, juntamente com a morfologia dos esporos sendo eles elípticos a
subelípticos, apresentando um apêndice hilar proeminente, e a presença das hifas

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terminais, que são finas, com mensuração de no máximo 0,5 µm de espessura, são
características distintivas que identificam claramente esse espécime como C. protectus.
Crinipellis sapindacearum Singer, Fl. Neotrop., Monogr. 17: 39 (1976) (Imagem 2)
Descrição:
Análise macroscópica baseada nas notas do coletor de Sulzbacher, M.A. Píleo (4) 6-12
mm de diâmetro, cônico-campanulado a campanulado na maturidade, superfície com
pêlos (5E8 a 4D7), papila central presente; em KOH 5% apresenta uma forte reação
enegrecida mas com fundo esverdeado méleo. Lamelas adnexas (4B3), com diferentes
tamanhos de lamélulas. Estipe central 21 (25-34) × 1-2 mm, (5D8-5E7)
longitudinalmente estriado e com pêlos ao longo de todo o estipe.
Basidiósporos (6,1) 7-8 (8,9) × (2,7) 3-3,8 (4,4) µm,oblongos, subfusiformes a
lacrimoides, alguns com apêndice hilar proeminente, paredes finas, hialinos,
inamiloides e congófilos. Basídios 36 × 6.1 µm,tetrasporados. Basidíolos
abundantes,cilíndricos e com ápices fusoides. Subhimênio do tiporamoso.
Pleurocistidios 29,8 - 45 × 5,3 - 7,4 µm, fortemente clavados, abundantes, paredes finas
a levemente grossas, levemente amarelado. Queilocistidios 24 - 38 × 3 - 6 µmclavados,
com apêndices apicais semelhantes a dedos, entre 2-4 apêndices. Trama da lamela
irregular, hifas cilíndricas, paredes finas, hialinas. Trama do píleo hifas de paredes finas
a levemente espessas, cilíndricas, 2.9-14.4 µmhialinas. Trama do estipe composta por
hifas cilíndricas, paralelas, paredes finas a levemente grossas, hialinas; cobertura do
estipe composta de cabelos de parede grossa, cor dourada, semelhantes à superfície do
píleo. Pileipellis cabelos do píleo com paredes espessas (2,3-3 µm de espessura), septos
secundáriospresentes, com as pontas arredondadas a levemente afinadas em direção ao
ápice, lisas, levemente dourados e esverdeados. Grampos de conexão presentes.
Habitat: Sobre solo, em brejos de altitude
Distribuição no Brasil: Parque Estadual Mata do Pau-Ferro, Areia- PB
Material examinado: UFRN-FUNGOS 2538
Data de coleta: 11/III/2013
Coletor: Sulzbacher, M.A
Notas: De acordo com as análises realizadas por Singer (1976), a espécie é caracterizada
por um píleo de coloração acastanhada, que apresenta uma papila central e é coberto
com pelos que reagem em KOH 5%. Essa reação resulta em uma coloração esverdeada
na porção superior e uma tonalidade escura, sendo um verde-meleo no centro. Estas
observações puderam ser feitas por meio de análises macroscópicas da espécie em
estudo. Outras características, sendo essas em análises microscópicas, incluíram
medições relacionadas aos esporos, que apresentaram uma forma oblonga, alguns
exibindo apêndices hilares visíveis, hialinos e lisos. Os numerosos cistídios também
foram observados, sendo eles clavados a subclavados com variadas projeções

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semelhantes a dedos. As medições de estruturas microscópicas foram similares às


descritas por Singer (1976).
Gymnopilus sp. P. Karst., Bidr. Känn. Finl. Nat. Folk 32: XXI (1879) (Imagem 3)
Descrição:
Análise macroscópica baseada em material seco. Píleo 28-20 mm, com superfície
esquamulosa, com coloração no centro marrom escuro (7F8) e na margem marrom claro
(7E5) . Lamelas adnexas com lamelulas, com coloração amarronzada (6E8) Estipe
central concolor ao píleo, levemente estriado, sem anel visível.
Basidiósporos 6,8-8,9 × 3,2-5,2 µm, Q = 1,4 - 2,2, Qm = 1,7, elipsóides, ornamentados
verrucosos. Basídios 23-28 x 7.8-9 µm clavados e inflados mais largos que comprido,
tetrasporado. Basidíolos com morfologia semelhante aos basídios, paredes finas e
hialinos. Pleurocistidios não observado. Queilocistidios 20.7-25.9 × 5.9-8 µm um, em
formato de balão, ventricosos, alguns lageniformes. Trama da lamela regular a
subregular, com abundantes elementos condutores refringentes. Trama do píleo
composta porhifas cilíndricas, hialinas com elementos condutores refringentes, com
conteúdo oleaginoso que pode ser amarelado a fortemente alaranjado. Trama do estipe
hifas cilíndricas paralelas, paredes finas, hialinas . Pileipellis cutis com elementos
terminais inflados, paredes finas, com pigmentação alaranjada. Grampos de conexão
não observados.
Habitat: solo úmido em madeira podre.
Distribuição no Brasil: Estação Ecológica do Seridó-Serra Negra, Rn, Brasil
Material examinado: UFRN-FUNGOS 1305
Data de coleta: 20/II/2007
Coletor: Silva, B. D. B; Oliveira, J. J. S; Fazolino, E. P
Notas: Segundo Singer (1986) as principais características presentes no gênero incluem
sua coloração frequentemente de cores vivas, sendo a superfície do píleo marcada por
serem secas ou higrofronas, como tambem esquamulosa a escamoso, lamelas adnexas a
decurrentes. Sob observação microscópica, é possível identificar esporos com
ornamentações e parede dupla, elipsóides, sem poro germinativo e exibindo uma
coloração de marrom-ferrugínea.
Material extra coletado em áreas adjacentes
Gymnopilus purpuroesquamulosus (Høiland 1998:82) (Imagem 5)
Descrição:
Pileo 4-2,5 cm convexo quando imaturo a plano quando maturo, amarelo claro (4A5),
orbicular na vista superior, margem irregular, hifas associadas ao píleo squamulosa
(9D4), odor e sabor não observados. Lamelas adnatas, lanceoladas, ventricosa, com

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lamelullas cor de laranja claro (5A4) no material fresco marrom alaranjado (6C7)
material seco. ESTIPE 2,5cm central, terete, fibroso, consistência fibrosa, vel presente
colado ao estipe.
Basidiósporos 8,32-9,29 x 5,0-5,13 µm Q=7,29-9,67 Qm=1,62 elipsoide a
amigdaliforme, paredes moderadamente grossas, coloração ferrugínea, dextrinoide.
Basídio 25,7-26,11 x 7,5-6,7µm clavado, Basidiolo com paredes finas sendo alguns
amarelados em KOH 5% Queilocistidios 19,97-28,68 x 4,8-8,8 com ápice inflado,
subcaptado e captado, na base ventricoso, paredes finas, hialinas, ápice fortemente
congofilo. Trama do Píleo subregular, finas, amareladas em KOH, com a presença de
elementos condutores refringentes.Trama do estipe longitudinal e paralelas. Grampos de
conexão presentes.
Habitat: Tronco em decomposição
Distribuição no Brasil: Mata do Sagui-Natal, RN, Brasil
Material examinado: COSTA, A. B. M.
Data: 10/III/2023
Notas: O seguinte basidioma possui coloração viva, nos tons amarelo claro, quando
fresco, basidiósporos elipsóides a amigdaliforme, com coloração ferrugínea marcante e
ornamentações, bem característico do gênero Gymnopilus. De acordo com Guzmán-
Dávalos (2008), as principais características distintivas da espécie Gymnopilus
purpuroesquamulosus englobam escamas arroxeadas no píleo, subhimenio elementos
condutores inflados, sendo essas características presentes no espécime analisado. Além
do mais, muitos elementos do gênero Gymnopilus que apresentam escamas de
tonalidade arroxeada no píleo demonstram uma coloração esverdeada ou azulada na
superfície tanto do píleo quanto do estipe ou no contexto. No caso deste basidioma, tal
característica não pôde ser observada.

Conclusão

A região nordeste demonstra uma ampla diversidade biológica de fungos lamelados.


As análises realizadas neste trabalho demonstram um potencial considerável para a
documentação de novos registros para esses fungos, solidificando, assim, a importância
de dar sequência a análise dos espécimes a fim de determinar suas classificações em
níveis taxonômicos mais específicos. A formação de novos taxonomistas no estudo
desses fungos é de tremenda importância para a documentação desta diversidade,
muitos dos registros já realizados por importantes taxonomistas não foram coletados e
descritos novamente em uma nova perspectiva nos dias de hoje. A continuidade da

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pesquisa mostra um aumento significativo para a taxonomia e biodiversidade da ordem


Agaricales.

Referências

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MENDOZA, Anita Yris Garcia et al. Diversidade de basidiomycota na Reserva Natural
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Anexos

Cantharellus protectus (Imagem 1) A. Basídio com esporos no ápice. Escala = 5 µm

Crinipellis sapindacearum (Imagem 2) A. Esporo, B. Basídio e cistídio, C. Cabelos do


píleo, D. Queilocistidios. Escala = 5 µm

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Gymnopilus sp. (Imagem 3) A. Basidiolos B. Esporos. Escala = 5 µm

Amanita aff. silvifuga (Imagem 4) A. Trama da lamela B. Elementos refringentes. Escala


= 5 µm

Gymnopilus purpuroesquamulosus (Imagem 5) A. Basidio, esterigma B. esporos. Escala


= 5 µm

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CÓDIGO: SB0790

AUTOR: MARIA LUIZA GREGORIO ALVES

ORIENTADOR: RIVA DE PAULA OLIVEIRA

TÍTULO: Análise da toxicidade do reteno no organismo modelo Caenorhabditis


elegans

Resumo

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 90% da população está exposta a


concentrações de poluentes acima dos limites recomendados, condição essa que causa
cerca de 7 milhões de mortes por ano. Desse total, cerca de 3,8 milhões de óbitos são
atribuídos a inalação de fumaça produzida pela queima de biomassa. O material
particulado (MP), presente na queima da madeira e outros resíduos orgânicos, é capaz
de transportar hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) pelo ar e, dentre eles o
reteno, capaz de provocar danos ao DNA e morte celular. Na busca de alternativas que
possam atenuar esses riscos para as populações mais afetadas, os HPAs vem sendo
exaustivamente estudados devido ao seu potencial mutagênico e carcinogênico. No
presente estudo, a utilização do modelo animal Caenorhabditis elegans mostra-se
como uma alternativa promissora e de grande funcionalidade para explicar os
mecanismos moleculares envolvidos nas interações entre essa substância e o
organismo das populações expostas.

Palavras-chave: Reteno, Caenorhabditis elegans, biomassa, poluente, morte


celular.

TITLE: Toxicity analysis of retene in the model organism Caenorhabditis


elegans.

Abstract

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According to the World Health Organization, 90% of the population is exposed to


pollutant concentrations above recommended limits, a condition that causes around 7
million deaths per year. Out of this total, approximately 3.8 million deaths are
attributed to the inhalation of smoke produced by biomass burning. Particulate matter
(PM), present in the burning of wood and other organic residues, is capable of carrying
polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs) through the air, including retene, which can
cause damage to DNA and cell death. In the search for alternatives that can mitigate
these risks for the most affected populations, PAHs have been extensively studied due
to their mutagenic and carcinogenic potential. In the present study, the use of the
Caenorhabditis elegans animal model proves to be a promising and highly functional
alternative for explaining the molecular mechanisms involved in the interactions
between this substance and the bodies of the exposed populations.

Keywords: Retene, Caenorhabditis elegans, biomass, pollutant, cell death.

Introdução

A poluição do ar é definida como uma mistura tóxica de gases e materiais particulados


(MP) compostos por produtos químicos orgânicos, dentre eles os hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (HPAs), metais, agentes biológicos e minerais presentes no
ambiente aéreo (Traboulsi et al., 2017; Jurewicz et al., 2018). Podendo ser de origem
natural ou antropogênica, as fontes de poluentes naturais são fenômenos onde a
natureza descarrega substâncias nocivas ou efeitos nocivos para o ambiente, tais como
erupções vulcânicas e incêndios florestais. As fontes de origem antropogênica são
emitidas pela queima de combustíveis, descargas de processos de produção industrial
e dos meios de transporte (Bai et al., 2018).
Atualmente, a poluição é a maior causa ambiental de doenças cardiorrespiratórias,
câncer e morte prematura no mundo. Aproximadamente 3 bilhões de pessoas no
mundo estão expostas à poluição do ar causada pela queima de biomassa, originada
do uso de madeira ou carvão como combustível para cozinhar em fogões simples,
aquecimento doméstico, desmatamento e práticas agrícolas (Alves et al., 2017).
O MP presente na queima de biomassa é de particular interesse, pois pode transportar
múltiplos elementos pelo ar, como os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs)
(Jurewicz et al., 2018). Os HPAs são compostos formados pela queima do material
orgânico através da combustão incompleta ou pirólise de materiais, sendo uma classe
de compostos exaustivamente estudados, devido principalmente ao seu potencial
carcinogênico e mutagênico (Bernardo et al., 2016), que ocorre no ambiente por
fontes naturais, incluindo incêndios florestais, vulcões e como componente do

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petróleo bruto, apesar de sua fonte primária ser predominantemente antropogênica


(Allison et al., 2015).
Os HPAs são numerosos, entretanto apenas 16 foram classificados como compostos
cancerígenos e mutagênicos prioritários pela US-EPA (United States Enviromental
Protection Agency) (Hussar et al., 2012). Vários desses compostos são de natureza
genotóxica, mutagênica, carcinogênica e/ou teratogênica com longo alcance de
transporte no organismo (Adenji; OKOH; OKOH, 2019), dentre os não prioritários está
o reteno (RET), um HPA presente no material particulado de 10 µm (MP10) capaz de
causar danos ao DNA e morte celular (Peixoto et al., 2019). Em um estudo, as
concentrações de MP10 observadas durante a queima de biomassa na Amazônia
foram suficientes para induzir efeitos adversos graves nas células pulmonares
humanas (Alves et al., 2017).
O Caenorhabditis elegans é um nematodo de vida livre que habita ambientes de solo e
folhedo em muitas partes do mundo (Hope, 1999) e se alimenta de microrganismos,
principalmente bactérias. Tal organismo é um modelo emergente em estudos de
neurobiologia, biologia do desenvolvimento e genética. O uso do Caenorhabditis
elegans como modelo animal se dá devido à complexidade de modelos mamíferos e
suas diversas limitações, como por exemplo: alto custo e manutenção, tempo de vida
longo e difícil criação de animais transgênicos. Modelos invertebrados, em especial o
C. elegans, têm sido usados nas últimas décadas para explicar mecanismos
moleculares que ainda não estão esclarecidos.
Entre as várias características notáveis do C. elegans estão: a abundância de recursos
genômicos incluindo o genoma completamente sequenciado (The C. elegans
Sequencing Consortium, 1998), um banco de dados de bioinformática facilmente
acessível (Chen et al., 2005), microarranjos de DNA (Reinke, 2002), um consórcio de
construção de mutantes “knock-out”, e a capacidade para análise de perda de função
por interferência de RNA (RNAi) de maneira rápida e em larga escala (Sugimoto, 2004).
No presente estudo foi feita a análise da toxicidade do reteno no C. elegans durante as
diferentes fases de desenvolvimento do animal a fim de elucidar os mecanismos
através dos quais esse HPA é capaz de causar danos ao DNA e morte celular.

Metodologia

Todas as cepas de C. elegans utilizadas neste trabalho já foram adquiridas através do


Caenorhabditis Genetic Center (CGC). As cepas são mantidas a 20°C em meio sólido
NGM (Nematode Growth Medium) semeadas com Escherichia coli (OP50) como fonte
de alimento (Brenner, 1974).

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Os experimentos são realizados com animais em idade sincronizada que são obtidos
através do tratamento de hemafroditas adultas grávidas com solução de lise (50% de
hipoclorito de sódio; 2,5 mM hidróxido de sódio).
O tratamento do C. elegans com reteno foi feito primeiro misturando a cultura de E.
coli OP50 com 5 diferentes concentrações do composto (1, 5, 10, 25 e 50 μg/mL) antes
de semear no NGM.
Os animais foram expostos ao tratamento desde o estágio L1 até a idade de adulto ou
por todo o seu tempo de vida dependendo do experimento a 20 °C.
Para verificar se o tratamento com reteno interfere na fertilidade e desenvolvimento
embrionário do C. elegans foi quantificado a porcentagem de ovos que eclodem e o
tamanho da prole.

 10 animais de cada tratamento são transferidos para placas individuais


diariamente.
 Cada animal é transferido para novas placas diariamente até o final do período
de reprodução (por volta de 6 dias). Após os ovos eclodirem, o número de
larvas será contado.
Para verificar se o tratamento com reteno interfere na motilidade do C. elegans foi
feito o experimento de Body Bending, onde utiliza-se uma população sincronizada de
animais N2 (tipo selvagem), nas condições de tratamento desde o estádio L1 até o L4,
a 20 °C.

 10 animais de cada tratamento são transferidos para lâminas de vidro


contendo 20 microlitros de solução M9, de 2 a 3 minutos antes da análise.
 As contagens são obtidas através de três intervalos de 20 segundos por animal.
 Movimentos de dobradura corporal de 90º ou mais são considerados como
duas curvaturas seguidas para o mesmo lado.
Para verificar se o tratamento com reteno interfere no tamanho corporal do C. elegans
foi feito o experimento de Body Size, onde utiliza-se uma população sincronizada de
animais N2 (tipo selvagem), nas condições de tratamento desde o estádio L1 até o L4,
a 20 °C.

 Após o período de 48h os animais são lavados das placas com solução M9,
colocados em microtubos e levados à geladeira.
 A análise no microscópio é realizada 24h após submeter os animais a
temperaturas mais baixas.
 Para cada condição experimental são analisados 30 animais através de fotos
para cada animal, no aumento de 10X.
 A análise é realizada através de medições feitas individualmente com o
programa gratuito ImageJ, através da ferramenta de traços segmentados.

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Resultados e Discussões

A fim de testar as possíveis interferências consequentes da exposição ao reteno, foram


feitos experimentos que acompanhassem as diferentes fases da vida do C. elegans.
Em primeiro lugar foi feito o experimento de eclosão, visando testar se a exposição ao
tratamento afeta o desenvolvimento embrionário dos animais. Como resultado foram
observadas diferenças estatísticas na porcentagem de embriões eclodidos ao final do
período de oviposição, para as concentrações de 5 μg/mL (quinto dia) e 1, 20, 25 e 50
μg/mL (sexto dia).
Dando continuidade foi feito o experimento de tamanho da prole , onde os animais
foram observados ao longo dos seis dias do período de oviposição. Foi visto que o
número total de embriões ovopostos por animal não apresentou diferença estatística
em nenhuma das concentrações do reteno a que os animais foram expostos. No
entanto, houveram diferenças estatísticas na média de embriões colocados no terceiro
dia, para as concentrações 1 e 50 μg/mL.
Em seguida foi analisado o tamanho corporal dos animais, a fim de saber se o reteno
interfere diretamente no seu crescimento. No experimento não foi observada
nenhuma diferença estatística em nenhuma das concentrações.
Como último parâmetro até então observado foi feito o experimento de locomoção,
com o objetivo de testar se o tratamento tem influência direta nos dobramentos
corporais do C. elegans. Como resultado, foram vistas diferenças estatísticas para as
concentrações de 10, 25 e 50 μg/mL.
Em virtude dos resultados no experimento de dobramentos corporais terem se
mostrado significativos, serão feitos a seguir experimentos usando uma cepa com
expressão de GFP em todos os neurônios colinérgicos, para avaliar a degeneração
neuronal dos animais.

Conclusão

No presente estudo foi concluído que as concentrações de reteno testadas no C.


elegansapresentaram uma baixa toxicidade embrionária, tendo causado apenas uma
pequena diferença na eclosão dos ovos no quinto e no sexto dia, o que pode ser
justificado, talvez, por já se tratar do final do período de oviposição. Vale a pena
lembrar que as concentrações usadas no nematodoé bem maior que em células devido
a cutícula que ele possui.

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Avaliando a fertilidade, foi concluído que a exposição ao tratamento também não


interferiu no tamanho da prole, visto que não houveram alterações no número total
de ovos colocados por animal. Já analisando o crescimento dos animais, também foi
concluído que o reteno não foi capaz de interferir no tamanho corporal. Contudo, para
o parâmetro de movimentação corporal foi concluído que as concentrações testadas
foram capazes de interferir nos dobramentos corporais dos animais expostos as suas
maiores concentrações.
São necessários ainda novos experimentos a fim de elucidar os possíveis mecanismos
de interação que causam interferência na motilidade do C. elegans. Tendo em vista
que o reteno causou uma alteração neuromuscular, os próximos experimentos irão
analisar se a exposição ao reteno causa neurodegeneração nos animais.

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Anexos

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Média de dobramentos corporais por concentração

Tamanho corporal em micrometros

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Média de embriões ovipostos

Média de embriões eclodidos

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CÓDIGO: SB0799

AUTOR: JOÃO VINÍCIUS SOARES ROCHA

ORIENTADOR: ELIZEU ANTUNES DOS SANTOS

TÍTULO: Caracterização bioquímica e Análise das atividades biológicas do


cogumelo Bovista sp. presente no Parque das Dunas

Resumo

O uso de macrofungos como método terapêutico é bastante antigo e foi iniciado de


forma empírica. Atualmente esses organismos têm-se tornado alvos de pesquisas a fim
de buscar novas aplicações biotecnológicas. Partindo dessa premissa, este trabalho
busca caracterizar o extrato bruto aquoso do basidiomiceto Bovista sp., quantificando
macromoléculas de origem primária (proteínas e carboidratos) e secundária
(compostos fenólicos e flavonoides). Buscando avaliar os seus efeitos, as atividades
hemaglutinante, hemolítica, anticoagulante (PT e APTT), inibidora de proteases
(quimotripsina e tripsina) e capacidade antioxidante total foram testadas. O perfil
proteico foi avaliado através de SDS-PAGE. O extrato apresentou quantidades
significativas de proteínas e carboidratos, e quantidades baixas de metabólitos
secundários, que podem ter sido subestimados devido ao método de extração,
influenciando também no valor do CAT. Na concentração de 0,1 mg/mL, o extrato
provocou redução no tempo de APTT, e não provocou hemólise em eritrócitos
humanos na concentração máxima de 10 mg/mL. Na ausência de íons o extrato não
conseguiu hemaglutinar os eritrócitos, demonstrando a necessidade de testes
posteriores. Quanto à inibição de proteases, o extrato bruto reduziu a atividade da
quimotripsina, e causou acréscimo da atividade enzimática de tripsina. Experimentos
futuros para desvendar mecanismos e caracterização do extrato mais aprofundados
podem reforçar a importância biotecnológica desse cogumelo.

Palavras-chave: Basidiomycota; carboidrato; proteína; coagulação; inibidor de


protease

TITLE: Biochemical characterization and analysis of the biological activities of


the Bovista sp. mushroom found in Parque das Dunas

Abstract

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The use of macrofungi as a therapeutic method is quite old and began empirically.
Currently, these organisms have become subjects of research in order to explore new
biotechnological applications. Building on this premise, this study aims to characterize
the crude aqueous extract of the basidiomycete Bovista sp., quantifying primary origin
macromolecules (proteins and carbohydrates) as well as secondary compounds
(phenolics and flavonoids). To evaluate its heterologous hemagglutination, hemolysis,
anticoagulant (PT and APTT), protease inhibition (chymotrypsin and trypsin), and total
antioxidant activities were tested. The protein profile was evaluated using SDS-PAGE.
The extract presented significant amounts of proteins and carbohydrates, and low
quantities of secondary metabolites, which might have been underestimated due to
the extraction method, also influencing the total antioxidant capacity value. At the
concentration of 0.1 mg/mL, the extract caused a reduction in APTT time and did not
induce hemolysis in human erythrocytes at a maximum concentration of 10 mg/mL. In
the absence of ions, the extract was unable to agglutinate the erythrocytes,
demonstrating the need for further tests. Regarding protease inhibition, the crude
extract reduced chymotrypsin activity and increased trypsin enzymatic activity. Future
experiments aimed at deeper elucidation of extract characterization and its activities
could further underscore the biotechnological importance of this mushroom.

Keywords: Basidiomycota; carbohydrate; protein; coagulation; protease


inhibitor.

Introdução

Por muitos anos, os macrofungos foram fontes de agentes terapêuticos na medicina


tradicional chinesa, e atualmente, ao se integrar com a medicina moderna, despertou
o interesse dos pesquisadores na procura por novos fármacos e/ou aplicações
biotecnológicas (VALVERDE et al., 2015; HYDE et al., 2019). No Brasil, registros
históricos relatam o uso de fungos, em especial basidiomicetos, por indígenas Tupi-
Guaranis para tratar hemorragias e problemas uterinos (FIDALGO, 1967). Com base em
métodos moleculares, é estimada uma riqueza de diversidade em 5,1 milhões de
espécies de fungos, dos quais somente cerca de 98 mil são conhecidas pela ciência, o
que equivale a apenas 1,9% da biodiversidade fúngica total (HIBBETT et al., 2007). A
diversidade, extensão e conservação de fungos vêm recebendo a atenção da ciência
nas duas últimas décadas, mais do que em qualquer outro período da história
(HAWKSWORTH et al., 2014; VOLCÃO et al., 2021). Os fungos são organismos de
extrema importância na natureza, mantendo o equilíbrio dos ecossistemas através da
decomposição e reciclagem de metabólitos (ABREU et al., 2015). Essa característica é
alcançada pela produção e secreção de uma variedade de biomoléculas, que difere das
encontradas em outros seres vivos, e graças aos estudos contemporâneos foi possível

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apoiar seus efeitos medicinais bem descritos na medicina oriental (PATEL et al., 2021).
As propriedades nutricionais dos macrofungos comestíveis – ricos em carboidratos,
proteínas e vitaminas – e o potencial terapêutico para os fungos medicinais nas mais
diversas atividades também são bem descritas na literatura (PANDA et al., 2020;
CERLETTI et al., 2021). São reconhecidas inúmeras aplicações biológicas relacionadas a
extratos de corpos de frutificação, incluindo efeitos antimicrobianos (TEHRANI et al.,
2012; SOKOVIC et al., 2014; BACH et al., 2019), antitumorais (ZIED et al., 2017;
HETLAND et al., 2020), antiparasitários (VALVERDE et al., 2015; LENZI et al., 2018) e
antioxidantes (KOSANI et al., 2016; FUKUSHIMA-SAKUNO et al., 2020). Dentre as
biomoléculas presentes nos extratos fúngicos supracitados estão carboidratos,
metabólitos secundários (ênfase em compostos fenólicos), ergosteróis e diversas
classes de proteínas, como enzimas, inibidores de protease e lectinas (MÉRILLON et al.,
2017; SINGH et al., 2020). Este trabalho visa estudar o repertório de moléculas
fúngicas como proteínas, carboidratos, compostos fenólicos e flavonoides com
possíveis aplicações na biotecnologia, através da pesquisa dos efeitos anticoagulante,
hemaglutinante, hemolítica e antioxidantes do cogumelo conhecido como “puff ball”
denominado Bovista sp. - encontrado no Parque Estadual Dunas do Natal no estado do
Rio Grande do Norte.

Metodologia

EXTRAÇÃO AQUOSA: O cogumelo Bovista sp. foi triturado e então solubilizado em


água destilada na proporção 1:10 (p/v). Permaneceu em banho de gelo em processo
de agitação por 4 horas e, em seguida, centrifugado a 8000 x g por 30 minutos a 4 ̊C
para descarte do precipitado. Após esse processo, o sobrenadante (frações solúveis)
foi designado como Extrato Bruto (EB). QUANTIFICAÇÃO DE BIOMOLÉCULAS: A
concentração de proteínas foi determinada pelo método colorimétrico de Bradford
(BRADFORD, 1976), adaptado para leitura em microplacas, utilizando albumina sérica
bovina como proteína padrão para curva de quantificação. As leituras foram
verificadas à absorbância a 595 nm em um leitor de microplacas. Para carboidratos, a
quantificação foi feita pelo método de Dubois (DUBOIS et al., 1956) em tubos de
ensaio, utilizando D-glicose como carboidrato padrão para análise da curva, e as
amostras foram lidas por espectrometria em absorbância a 490 nm. Através do
método de Folin-Ciocalteu (SINGLETON V L & ROSSI J A JR., 1965), 200 μL do extrato
fúngico teve seu conteúdo de compostos fenólicos determinado, utilizando como
curva padrão o ácido gálico em diferentes concentrações. A quantificação de
flavonoides foi feita com base em Ramos et al. (2017) com modificações. A
complexação de flavonoides com AlCl3 solubilizado em etanol permite a mudança
colorimétrica avaliada por espectrofotômetro. Uma curva padrão de quercetina foi

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utilizada e os resultados foram expressos em equivalente de quercetina (EQ) por peso


seco (μg/μg). CAPACIDADE ANTIOXIDANTE TOTAL: Em 200 μL de amostra foi
adicionada a solução reagente, composta por 0,6 M de ácido sulfúrico, 0,028 M de
fosfato de sódio e 4 mM de molibdato de amônio. Após isso, as amostras foram
mantidas a 100 °C por 90 minutos e depois resfriadas à temperatura ambiente. Em
seguida, foram realizadas as leituras a 695 nm (PRIETO; PINEDA; AGUILAR, 1999). Para
confecção da curva padrão, foi usado ácido ascórbico em diferentes concentrações. O
resultado foi expresso através da relação de peso seco das amostras por μg ácido
ascórbico encontrado na curva (equivalentes de ácido ascórbico - EAA). HEMÓLISE: Em
tubos de 1,5 mL, 100 µL de suspensão de hemácias 1% foram incubadas com 100 µL do
extrato fúngico por 1 hora à temperatura ambiente. Além das amostras, a suspensão
de hemácias (100 µL) foi incubada, separadamente, com 100 µL de Triton X-100 1%
(v/v) (controle positivo de hemólise), e 100 µL do tampão PBS (controle negativo).
Após a incubação, os tubos foram centrifugados a 8000 x g por 3 minutos e alíquotas
de 100 µL dos sobrenadantes foram transferidos para placas de microtitulação de 96
poços e analisados a 405 nm em leitor de microplaca. ENSAIO DE HEMAGLUTINAÇÃO:
Os testes de hemaglutinação foram realizados por meio de diluição seriada das
amostras em placas de 96 poços com fundo em “V”. No primeiro poço foram
adicionados 25 µL da amostra e, do segundo poço em diante, foi realizada sua diluição
seriada em NaCl 0,9%. Posteriormente, 25 µL da suspensão de eritrócitos a 4% (tratada
e não-tratada enzimaticamente), foram adicionados a cada poço. Após isso, a
microplaca foi incubada por 1 hora, à temperatura ambiente. O grau de aglutinação foi
determinado visualmente e o título expresso em unidades de hemaglutinação (U.H.),
que foi definido como inverso da maior diluição da amostra que tenha apresentado
nítida aglutinação (MOREIRA; PERRONE, 1977). ENSAIO DE INIBIÇÃO DE ATIVIDADE
ENZIMÁTICA: Inibição de proteases como tripsina e quimotripsina foi avaliada pela
metodologia de Xavier-Filho (1989) utilizando azocaseína 1% como substrato.
Alíquotas de solução de tripsina bovina (0,3 mg/mL em tampão Tris-HCl 50 mM, pH
7,5) foram pré-incubadas por 15 minutos a 37 ºC, com 120 µL de HCl 2,5 mM, 320 µL
de tampão Tris-HCl 50mM, pH 7,5 e 50 µL das amostras. Para a reação com
quimotripsina, alíquotas de solução de quimotripsina bovina (0,2 mg/mL), em tampão
Tris-HCl 50 mM, pH 7,5, contendo CaCl2 20 mM, foram pré-incubadas com 50 µL das
amostras (no mesmo tampão) por 15 minutos a 37 ºC. Após esse período, em ambos
testes, a reação foi iniciada adicionando 200 µL de azocaseína 1%. A reação prosseguiu
por mais 30 minutos nas mesmas condições de incubação, sendo interrompida pela
adição de 300µL de TCA 20%. A mistura de reação foi centrifugada a 12000 x g por 10
minutos e o sobrenadante, alcalinizado com NaOH 2 M, na proporção de 1:1. A
absorbância foi medida em espectrofotômetro a 440 nm. Os resultados foram
expressos em UI (unidade de inibição)/mg de proteína e em percentual de inibição.
ATIVIDADE ANTICOAGULANTE: Os testes de atividades anticoagulantes do extrato

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fúngico foram realizados por meio de kits comerciais (Wiener lab.) de tempo de
protrombina (PT) e o tempo de ativação parcial de tromboplastina (aPTT). O tempo de
formação do coágulo foi aferido com um coagulômetro automático (CLOTimer),
segundo a metodologia descrita por OSONIYI e ONAJOBI (2003). Para a determinação
do PT, 10 µL de cada amostra foram incubados por 3 minutos a 37 ºC, em cubetas
sobre o sistema do coagulômetro, com 90 µL de plasma humano e adicionados de 100
µL de cefalina. Após a incubação, foram adicionados cloreto de cálcio 25 mM e a
contagem de tempo de coagulação iniciada. Já no aPTT, após 3 minutos de incubação
somente das amostras e do plasma, são adicionados 200 µL de tromboplastina cálcica
– previamente incubada por 5 minutos a 37 C̊ – e o tempo de coagulação foi
mensurado. SDS-PAGE: Com o intuito de avaliar o perfil protéico da amostra, o extrato
foi submetido à eletroforese em gel de poliacrilamida (10 x 14 cm, com espaçadores de
1 mm) a 12% em presença de SDS, de acordo com a metodologia descrita por
LAEMMLI, (1970). O gel foi corado em solução de Coomassie Blue R-250 a 1%, metanol
40% e ácido acético 10 % em água destilada. ANÁLISES ESTATÍSTICAS: Os dados foram
analisados através do programa GraphPad Prism® versão 3.00 para Windows, Software
GraphPad®, San Diego Califórnia USA.

Resultados e Discussões

A partir do extrato bruto (EB) do cogumelo Bovista sp. foram quantificadas


macromoléculas como proteínas e carboidratos, além de metabólitos secundários
como os compostos fenólicos e os flavonoides. Foi avaliada também a Capacidade
Antioxidante Total - CAT do extrato aquoso, como mostra a Tabela 1.
De acordo com a tabela é possível notar a presença considerável de proteínas, seguida
de carboidratos e uma baixa presença de compostos fenólicos e flavonoides. Além
disso, a análise da capacidade antioxidante total do extrato apresentou baixa,
provavelmente devido à pouca presença de metabólitos secundários como os
quantificados neste trabalho, uma vez que a presença destes têm apresentado
atividade antioxidante em diversos trabalhos na literatura: Sofiane; Seridi (2021) e
Ndiaye et al. (2021), incluindo trabalhos com extratos de fungos (Caicedo, 2019;
Bungtongdee et al., 2019 e Sharaf et al., 2022).
Importante ressaltar que metabólitos secundários apresentam maior solubilidade em
solventes orgânicos como clorofórmio, metanol, acetona e DMSO, fato que pode ser
levado em consideração em extrações futuras, visando obter um maior rendimento
dessas biomoléculas para avaliar sua posterior atividade antioxidante, tanto pelo
método já utilizado (CAT) bem como por outros métodos já estabelecidos: teste de
quelação de cobre e de ferro; poder redutor; sequestro de radical hidroxila etc.

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Testou-se a atividade hemolítica do extrato aquoso do cogumelo em diferentes


concentrações, que comparado com o controle positivo não apresentou hemólise em
hemácias humanas (Figura 1). Esse resultado sugere que a amostra não é tóxica para
células humanas e pode ser utilizada com segurança, diferente de alguns trabalhos que
utilizaram extratos fúngicos e verificaram a presença de hemólise, como observado no
trabalho de Regalado & Ramirez (2019) no qual todos os extratos obtidos hemolisaram
eritrócitos de camundongos.
Quanto à atividade hemaglutinante (ensaio utilizado para avaliar e quantificar a
presença de lectinas em amostras) do EB de Bovista sp., os resultados obtidos foram
inconclusivos para determinar sua atividade em unidades hemaglutinantes (UH). Um
ponto que deve ser levado em consideração é que algumas lectinas são íons-
dependentes, o que pode justificar a baixa e/ou até mesmo ausência de
hemaglutinação. Dessa forma, cabe a estudos futuros investigar essa possível atividade
do extrato, realizando o ensaio de hemaglutinação com a presença de íons, como
cálcio, magnésio e manganês.
No ensaio de inibição enzimática, o EB de Bovista sp. mostrou diferentes resultados
para as serino-proteases tripsina e quimotripsina. A Figura 2 ilustra a porcentagem (%)
de atividade enzimática, considerando a atividade das enzimas sem a adição do
extrato, que representa a porcentagem total de 100%, e a porcentagem atividade
enzimática das enzimas com a adição do extrato.
Dessa forma, foi observado um acréscimo da atividade enzimática da tripsina quando
associada ao extrato bruto do cogumelo Bovista sp, uma vez que, na presença do
extrato, a enzima teve sua atividade aumentada na lise do substrato, a azocaseína.
Diante do exposto, para entender melhor os efeitos do extrato aquoso estudado, seria
necessário observar o comportamento do EB de Bovista sp. de maneira isolada, ou
seja, investigar uma possível atividade proteolítica do próprio extrato.
Paralelo a isso, quando observado o extrato na presença da enzima quimotripsina, é
notável a redução da atividade enzimática desta serinoprotease. Na presença do EB de
Bovista sp. a quimotripsina teve sua ação inibida quase que 50%. Em outros trabalhos,
como no de Ribeiro (2020), que também analisou um fungo basidiomiceto, a Clavulina
coralloides, ao associar o extrato fúngico com a quimotripsina houve inibição da
atividade enzimática de 67%.
Avaliou-se a atividade anticoagulante do extrato, para ambas as concentrações usadas
e em ambos os testes, Tempo de Protrombina (PT) e Tempo de Tromboplastina Parcial
Ativada (APTT), o EB de Bovista sp. provocou redução dos tempo de coagulação. De
todos os resultados obtidos, o único com significância com o controle negativo (PBS)
foi o teste de APTT na concentração de 0,1 mg/mL do extrato (Figura 3).

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Estudos anteriores feitos com extratos de plantas mostraram redução no tempo de


ativação das vias da cascata de coagulação (Alberton, B., R. 2019), significando, assim
como neste presente trabalho, a ausência de atividade anticoagulante. No entanto, ao
analisarmos o efeito de extratos brutos estamos observando a ação de uma mistura de
substâncias e macromoléculas, e a forma usada para se obter esse extrato pode
favorecer, ou não, as substâncias envolvidas em determinadas atividades biológicas.
Os metabólitos secundários (flavonoides, taninos e triterpenos) podem exercer ação
inibitória da cascata de coagulação sanguínea (Costa, 2015; Al-Snafi, 2017). Bem como
ocorreu com o resultado encontrado no CAT, o mesmo pode ter ocorrido nos testes de
tempo de coagulação das vias intrínseca e extrínseca, tendo em vista que a extração
aquosa pode ser um fator que subestima a verdadeira ação. desses metabólitos
secundários.
Os polissacarídeos de basidiomicetos são a maioria nos estudos de compostos fúngicos
isolados com tempo de coagulação prolongado (Telles et al., 2011; Ochoa et al., 2017).
Os inibidores de serino proteases também são capazes de causar efeitos
anticoagulantes, incluindo na via extrínseca ( Tang et al., 2018; Swedberg et al., 2019).
A eletroforese feita para determinar o perfil proteico do extrato bruto de Bovista sp.
mostrou bandas proteicas de variados pesos moleculares, como visto na Figura 4,
dando ênfase às bandas de aproximadamente 38 kDa (altura no gel semelhante à
proteína do marcador de mesmo peso molecular) e àquelas que ficaram entre as
proteínas do marcador de 31 e 24 kDa. O marcador usado, Amersham™ ECL™
Rainbow™ Marker - Low range, foi um marcador de intervalo baixo e com proteínas de
baixo peso molecular.
No trabalho de Dabhade et al., foi determinado o peso molecular de um inibidor de
protease da Lawsonia inermis, através de uma SDS-PAGE encontraram uma única
banda de 19 kDa de peso molecular, ou seja, se trata de uma proteína relativamente
pequena, e comparado ao resultado obtido neste trabalho, caberia mais estudos a fim
de um possível isolamento e determinação de atividade biológica das proteínas
reveladas através da corrida eletroforética.

Conclusão

A amostra fúngica do Bovista sp. apresentou quantidades significativas de proteínas e


carboidratos e mostrou que mesmo sem as melhores condições para a extração dos
metabólitos secundários, estes estão presentes no extrato bruto.

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O extrato não causou hemólise mesmo na maior concentração testada (10 mg/mL),
sugerindo assim, a possibilidade de continuidade dos estudos para determinação de
aplicações futuras.
O extrato mostrou a capacidade de inibir parcialmente a ação da enzima
quimotripsina, onde houve um decaimento de aproximadamente 45% na performance
da sua ação, quando associada ao extrato de Bovista sp.
O extrato fúngico não apresentou hemaglutinação aparente sem a adição de íons.
Exceto na concentração de 0,1 mg/mL, onde a APTT teve redução significativa, o
extrato de Bovista sp não apresentou atividade anticoagulante (PT ou APTT)
significativa.
São necessárias pesquisas futuras para compreender melhor as moléculas que
compõem esse extrato, direcionando a busca para moléculas com atividades já
conhecidas, a fim de confirmar ou descartar a sua presença no extrato.

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Anexos

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Tabela 1

Figura 1

Figura 2

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Figura 3

Figura 4

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CÓDIGO: SB0803

AUTOR: WINICIUS MATEUS MAGALHAES COSTA

ORIENTADOR: ADRIAN ANTONIO GARDA

TÍTULO: Levantamento e monitoramento da fauna de Anfíbios da Floresta


Nacional de Nísia Floresta

Resumo

A Mata Atlântica é um bioma rico em biodiversidade. No entanto, restam


apenas cerca de 24% da sua cobertura vegetal em função do desmatamento.
O Centro de Endemismo de Pernambuco, que ocupa a porção da floresta que
está ao norte do Rio São Francisco, é a região menos estudada e mais
desmatada. Portanto, torna-se fundamental a implementação de medidas que
conservem os fragmentos remanescentes. O estudo foi desenvolvido em uma
área de proteção ambiental do Rio Grande do Norte. A Floresta Nacional de
Nísia Floresta compreende uma extensão de 175 hectares,na qual abriga
abriga uma herpetofauna diversa. A elaboração de um levantamento de
espécies contribui para a conservação desses organismos. Diante disso,
produzimos uma lista de anfíbios dessa região. Empregamos uma abordagem
que inclui o uso de armadilhas de interceptação e queda (pitfall-traps), além de
buscas ativas para complementar a amostragem. Instalamos 21 conjuntos de
armadilhas, cada um composto por quatro baldes de 30 litros, posicionados em
formato de Y, com uma distância de 5 metros entre os baldes. Registramos 385
espécimes de anfíbios, pertencentes a quatro famílias, sendo a família
Leptodactylidae a mais abundante, com 357 registros. Identificamos 3 espécies
de anfíbios mais abundantes: Physalaemus cuvieri (91 indivíduos), Pleurodema
diplolister (82 indivíduos) e Pseudopaludicola mystacalis (71 indivíduos).
Espécies como Rhinella diptycha e Leptodactylus natalensis tiveram poucos
registros.

Palavras-chave: Mata Atlântica.Nísia Floresta.Herpetofauna.Lista de espécies.

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TITLE: Survey and monitoring of the amphibian fauna of the Nísia Floresta
National Forest

Abstract

The Atlantic Forest is a biodiverse biome. However, only about 24% of its
vegetation remains due to deforestation. The Pernambuco Endemism Center,
encompassing the portion of the forest located north of the São Francisco River,
is the least studied and most deforested region. Therefore, the implementation
of measures to conserve the remaining fragments is essential. The study was
conducted in an environmental protection area in Rio Grande do Norte. Nísia
Floresta National Forest covers an area of 175 hectares, harboring a high
diversity of amphibians. Creating a species survey contributes to the
conservation of these organisms. As such, we compiled a list of amphibians
from this region. We employed an approach that included the use of pitfall traps,
as well as active searches to complement the sampling. We installed 21 trap
sets, each composed of four 30-liter buckets, arranged in a Y-shape, with a
distance of 5 meters between the buckets. We recorded 385 amphibian
specimens, belonging to four families, with the Leptodactylidae family being the
most abundant, with 357 records. We identified three species of most abundant
amphibians: Physalaemus cuvieri (91 individuals), Pleurodema diplolister (82
individuals), and Pseudopaludicola mystacalis (71 individuals). Species like
Rhinella diptycha and Leptodactylus natalensis had few records.

Keywords: Atlantic Forest.Nísia Floresta.Herpetofauna.List of species.

Introdução

A Floresta Atlântica é um bioma de importância biológica, caracterizado por


conter uma grande riqueza de espécies endêmicas e ser fortemente
ameaçado, sendo considerado um hotspot (Mittermeier et al., 2004). A sua
vegetação sob a influência da variação latitudinal, longitudinal, altitudinal e
fatores históricos (Ribeiro et al., 2009; Silva & Casteleti., 2005; Carnaval et al.,
2014), permite um ambiente heterogêneo que contribui para essa rica
biodiversidade, apesar da constante fragmentação do seu território.
A partir dessa problematização, surge a necessidade de estudos relacionados
à conservação dos organismos pertencentes a Mata Atlântica, em especial
aqueles que ocorrem na faixa que está ao norte do Rio São Francisco, uma vez
que poucos levantamentos de espécies foram feitos, sobretudo da

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herpetofauna (Santana et al., 2008; Roberto et al., 2017; Oitaven et al., 2021;
Mesquita et al.,2018; Melo et al., 2018; Oliveira et al., 2021; Filho et al., 2021;
Lima et al., 2021).
O Centro de Endemismo de Pernambuco (CEP) é o perímetro mais
desmatado, menos estudado e com menor número de áreas de proteção
ambiental quando comparado com outros setores (Vale et al., 2018). Ele
representa somente 4% da abrangência total do bioma, situando-se entre os
estados de Alagoas e Rio Grande do Norte. Trata-se de uma região que abriga,
aproximadamente, 97 espécies de anfíbios e 139 espécies de répteis (França
et al., 2023).
A Flona de Nísia Floresta, localizada no CEP, pertence ao município de Nísia
Floresta, distante 40 km da capital do Rio Grande do Norte. Ela possui
aproximadamente 175 hectares, conservando um remanescente de Mata
Atlântica desse estado. Dentro das categorias das áreas de proteção
ambiental, foi definida como uma Floresta Nacional. Portanto, seu plano de
manejo cria diretrizes com base em pesquisas científicas que possibilitem a
conservação e utilização sustentável dos seus recursos naturais (Pinto et al.,
2012), tendo em vista que esse perímetro sofreu impactos da ação antrópica
(Lins-e-Silva et al., 2021). Em consonância com as perspectivas elaboradas por
esse documento, é fundamental a realização de um levantamento da riqueza
das espécies desse local, pois essa informação é um aspecto que deve ser
levado em consideração.
Isto posto, o presente trabalho tem como objetivo produzir uma lista das
espécies de anfíbios da Flona de Nísia Floresta, utilizando armadilhas de
queda e encontros visuais. A partir desses dados, serão geradas curvas de
coletor de modo a estimar a riqueza desses organismos ao longo das três
paisagens dessa região, a saber: restinga, área de mata e área de transição.

Metodologia

A amostragem de anfíbios foi feita por meio da utilização de armadilhas de


interceptação e queda (Cechin & Martins., 2000), bem como buscas ativas com
encontros visuais. Foram instalados 21 conjuntos de armadilhas contendo
quatro baldes de plástico de 30 litros em cada conjunto. Esses pontos foram
escolhidos de forma proporcional ao tamanho das três fisionomias que compõe
a Flona: restinga, floresta atlântica e áreas em regeneração. Os pontos onde os
conjuntos de pitfalls foram instalados foram selecionados com uma busca
aleatória constrangida no programa ArcGis. Essa escolha limitou a busca
aleatória indicando que os pontos deveriam estar há pelo menos 50 metros de

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distância um do outro e há no máximo 100 metros de uma das vias de acesso


da Unidade. Nesses pontos, os baldes foram enterrados até a boca nivelar com
o solo, sendo dispostos em formato de Y, contemplando um balde central e os
outros três em cada ponta, interligados por lonas plásticas ou telas fixadas em
estacas de madeira. As armadilhas expostas ao sol foram cobertas com o
auxílio da tampa dos baldes ligados às estacas para evitar a incidência solar
direta nos animais armadilhados. Pequenos pedaços de isopor foram
colocados dentro de cada pitfall trap para que o animal possa boiar utilizando
ele como suporte caso o recipiente encha de água em função de alguma
precipitação.
As buscas ativas realizaram-se estabelecendo transectos com um grupo fixo
de pesquisadores que percorreram sítios reprodutivos fazendo o
reconhecimento visual e auditivo a partir de um tempo determinado,com o
objetivo de ampliar a amostragem identificando organismos mais difíceis de
serem capturados,como anfíbios arborícolas.
Durante esses encontros visuais, além da contagem dos organismos, variáveis
como o ambiente que eles estavam (no solo, na água, próximo a um riacho) e
sua atividade no momento que ele foi observado (cantando, pulando, parado)
foram registradas. Informações estas que formam uma base de dados acerca
da riqueza e abundância desses indivíduos ao longo do período de
monitoramento.
A abertura dos baldes ocorreu desde junho de 2022 até julho de 2023, com
exceção do mês de julho de 2022, durante uma semana de cada mês. Após o
término da expedição mensal, as armadilhas de queda foram fechadas com
auxílio de pedras, galhos e areia para que os animais não entrem nelas fora do
período de supervisão. Os organismos capturados que não eram objetos de
estudo do trabalho, tais como mamíferos e invertebrados, foram retirados e
colocados a uma distância de 10 metros do local.
A partir dos dados obtidos, foram gerados gráficos que demonstram a riqueza
e abundância dos anfíbios da Floresta Nacional de Nísia Floresta, bem como
uma curva de coletor ,mostrando a relação entre a diversidade de espécies e o
número de indivíduos.

Resultados e Discussões

No total, foram registradas 14 espécies de anfíbios anuros (gráfico 1)


pertencentes a quatro famílias (gráfico 2): Leptodactylidae (11 spp), Bufonidae
(1 spp), Microhylidae (1 spp) e Craugastoridae (1 spp). A maior riqueza da
família Leptodactylidae se deve ao fato de que ela representa, juntamente com

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a família Hylidae, 68% da riqueza de anfíbios do Centro de Endemismo de


Pernambuco (Vieira et al., 2023). A ocorrência de espécies como Pristimantis
ramagii, que são típicas da Mata Atlântica, mas são encontradas na caatinga,
ilustram a característica do PEC enquanto uma área de transição entre esses
dois domínios morfoclimáticos, conferindo uma composição faunística distinta
de outras regiões da Mata Atlântica (Vasconcelos et al., 2014).
A maior riqueza e abundância dos anfíbios em tempos chuvosos (gráfico 3 e
gráfico 4) é uma tendência observada tanto para as espécies da mata atlântica
(Pereira et al., 2016) quanto para outros ecossistemas brasileiros (Oda et al.,
2009; França et al., 2017). Essa associação pode ser atribuída ao fato de que
os anfíbios dependem de ambientes úmidos para a realização de processos
fisiológicos e reprodutivos (Hatano et al.,2002). Organismos de reprodução
explosiva, como Rhinella diptycha, foram amostrados quase exclusivamente
durante esse período de maior precipitação, uma vez que sincronizam suas
atividades biológicas com essas condições ambientais (Venâncio et al., 2014).
A abundância dos anfíbios ao longo das três paisagens da Flona (gráfico 5),
demonstra uma ocorrência elevada da espécie Physalaemus Cuvieri tanto na
mata nativa quanto na mata em regeneração. Sendo um organismo
ecologicamente generalista (Oda et al., 2009), essa espécie pode colonizar
áreas que sofreram o impacto da ação antrópica (Moraes et al., 2007). O
registro de espécies tipicamente de áreas abertas,como Pleurodema diplolister,
em regiões de mata, indica que os fragmentos florestais desempenham um
papel tão crucial quanto as poças de reprodução na conservação dessas
populações (Conte & Rossa-Feres, 2006).
A curva do coletor (Gráfico 6) apresenta a relação entre a diversidade de
espécies e o número de indivíduos, na qual o eixo Y descreve a primeira
variável mencionada e o eixo X, a segunda. O gráfico demonstra o aumento na
diversidade de espécies à medida que mais indivíduos foram sendo coletados,
culminando em uma tendência de estabilização em 14 espécies, o qual
representou o número de espécies registradas durante o período de
amostragem. Através da extrapolação, observa-se que a curva permanece
estabilizada em 14 espécies, apresentando uma margem de erro reduzida no
intervalo de aproximadamente 13 a 15 espécies. Por conseguinte, isso sugere
que o gráfico atingiu a assíntota, ou seja, o número máximo de espécies
daquela região.

Conclusão

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Com base nos dados recolhidos, é possível inferir que a Floresta Nacional de
Nísia possui uma notável diversidade de anfíbios ao longo das suas três
distintas paisagens. A despeito do período amostral deste trabalho ter sido
mais duradouro em comparação com outros estudos envolvendo lista de
espécies,conduzidos em diferentes regiões, emerge a necessidade de
continuar este monitoramento a longo prazo, visando a aquisição de dados
mais robustos concernentes à diversidade da área em questão. Ademais, há
margem para a realização de uma pesquisa adicional que envolva a marcação
individual dos organismos, almejando efetuar um estudo populacional destes
seres.

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Anexos

Gráfico 1- Número de indivíduos de cada espécie.

Gráfico 2- Número de indivíduos de cada família.

Gráfico 3- Riqueza de espécies ao longo dos meses.

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Gráfico 4- Abundância de espécies ao longo dos meses.

Gráfico 5- Abundância de espécies ao longo das três paisagens da Flona.

Gráfico 6- Curva de coletor.

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CÓDIGO: SB0809

AUTOR: WESLEY VIEIRA CORINGA

ORIENTADOR: JANEUSA TRINDADE DE SOUTO

TÍTULO: Pesquisa do perfil de expressão de marcadores da resposta


imunológica adaptativa nos leucócitos do sangue de pacientes grávidas e não
grávidas diagnosticados com sífilis.

Resumo

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível, de caráter crônico, causada pelo


Treponema pallidum, cuja incidência tem aumentado nos últimos anos. A partir disso,
o presente estudo tem como objetivo buscar marcadores da imunidade adaptativa
presentes em leucócitos do sangue periférico em mulheres grávidas e não-grávidas
sifilíticas. Para isso, o sangue das pacientes enquadradas nos grupos do projeto foi
coletado e devidamente processado para a obtenção dos leucócitos totais. Após isso,
foi realizada a extração e purificação do RNA obtido a partir dessas células e a
realização de uma RT-qPCR para a pesquisa das moléculas marcadoras. No entanto,
devido se tratar de amostras humanas, a técnica para verificar a expressão gênica e a
presença dos marcadores ainda está em processo de padronização. Com isso, o
experimento relacionado à procura desses marcadores não foi exitoso. Desse modo,
faz-se necessário a realização de novos testes e a repetição destes, bem como a
padronização das técnicas ligadas a essa questão para que o objeto de estudo do
projeto seja identificado e, assim, as análises estatísticas e as possíveis comparações
entre os grupos possam ser realizadas de forma eficiente.

Palavras-chave: Sífilis. Imunidade adaptativa. Mulheres grávidas.

TITLE: Analysis on the expression profile of adaptive immune response


markers in the blood leukocytes of pregnant and non-pregnant patients
diagnosed with syphilis.

Abstract

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Syphilis is a chronic sexually transmitted infection caused by Treponema pallidum,


whose incidence has increased in recent years. From this, the present study aims to
seek markers of adaptive immunity present in peripheral blood leukocytes in syphilitic
pregnant and non-pregnant womenFor this, the blood of the patients included in the
project groups was collected and properly processed to obtain total leukocytes. After
that, the RNA obtained from these cells was extracted and purified and an RT-qPCR
was performed to search for marker molecules. However, since these are human
samples, the technique to verify gene expression and the presence of markers is still in
the process of being standardized. As a result, the experiment related to the search for
these markers was not successful. Thus, it is necessary to carry out new tests and
repeat them, as well as to standardize the techniques related to this issue so that the
aim of study of the project is identified and, thus, the statistical analyzes and possible
comparisons between the groups can be carried out efficiently.

Keywords: Syphilis. Adaptive Immunity. Pregnant women.

Introdução

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) com caráter crônico, causada
pelo Treponema pallidum, subespécie pallidum, pertencente à ordem Spirochaetales,
caracterizada pela morfologia helicoidal com corpo celular em forma de onda. Esse
patógeno, apesar de muito estudado, permanece inviável para o cultivo in vitro
(AVELLEIRA & BOTTINO, 2006). Apesar de se caracterizar como uma IST, a sífilis pode
ser transmitida via transplacentária para o feto, por meio da contaminação do recém-
nascido durante a passagem pelo canal de parto (SANTOS e ANJOS, 2009). Além disso,
o contato com lesões na pele com alta carga do patógeno torna possível a infecção
(SARANECI, 2005).
O Treponema pallidum é altamente invasivo e é capaz de se disseminar
sistemicamente em questões de horas. Esse processo apresenta natureza multifatorial,
envolvendo mecanismos de adesão e de motilidade, em virtude da natureza
diferenciada da bactéria (HOUSTON et al, 2012). Inicialmente, o patógeno adere às
células epiteliais e aos componentes da matriz extracelular, estabelecendo a infecção
no organismo (LAFOND & LUKEHART, 2006). Isso ocorre mediante a utilização de
proteínas presentes na membrana externa, dentre as quais pode-se destacar a TP0155
e a TP0483, que se ligam aos componentes de matriz, e a TP0751, responsável pela
degradação de laminina, fibrinogênio e colágeno (PARKER et al., 2016; THOMAS et al
1988). Após esse processo, o patógeno se multiplica e se dissemina pelo sistema
linfático, buscando invadir profundamente os tecidos (OHBAYASHI et al 2011).
Apesar da escassez de padrões moleculares associados a patógenos na membrana
externa do T. pallidum, a resposta imunológica ocorre. Nesse processo, há a detecção

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dos PAMPs pelos macrófagos teciduais e células dendríticas, ativação de linfócitos T


virgens, os quais auxiliarão na ativação de células B, formando um repertório de
respostas imune inata e adaptativa contra o T. pallidum (HAWLEY, 2017). É importante
salientar que os principais PAMPs presentes no T. pallidum são as lipoproteínas, as
quais, dependendo do tipo de espiroqueta, podem estar relacionadas com a evasão ou
ativação do sistema imune, por meio da interação via receptores Toll tipo 2 (TRL2) na
presença de CD14, ativando a via NF-κB (LIEN et al 1999). Além disso, ocorre a ativação
de outros mecanismos imunológicos, como os receptores do tipo NOD, o
inflamassoma e a produção de citocinas pró-inflamatórias como interleucina (IL) -
1beta, IL-18 e IL-33 (LIN et al., 2018a), IL-2 e IFN-gama (LIN et al., 2018a). Assim, as
estratégias de evasão do T. pallidum são responsáveis pelo sucesso de sua colonização
no hospedeiro, como também favorecem a invasão desses patógenos nas barreiras
epiteliais, placentária e hematoencefálica.
Nas grávidas, a placenta é o ponto central de transmissão do T. pallidum ao feto, visto
que nesse ambiente ocorre a produção de TGF-beta, IL-10 e IL-4 que ativam a
diferenciação celular, morte celular programada, nutrição e angiogênese, protegendo
o feto contra inflamação sistêmica ou local ao inibirem uma resposta celular citotóxica.
Logo, esse ambiente de tolerância imunológica da mãe com o feto o protege de ser
expulso e consequentemente uma resposta imunológica montada contra o T. pallidum
nesse microambiente tolerogênico poderá não ser suficiente para eliminá-lo da
interface materno-fetal (WICHER, 2001; LUKEHART, 1992).
Diante do exposto, há necessidade de um melhor entendimento desse perfil de
resposta imunológica adaptativa em mulheres grávidas e não grávidas com sífilis,
buscando entender e delimitar o padrão de resposta acionado nesses grupos de
mulheres, visando responder se ocorre alguma diferença no padrão de expressão dos
marcadores da resposta imunológica adaptativa à bactéria nas mulheres grávidas e
não grávidas com sífilis, visto que isso foi muito pouco descrito na literatura e pode
orientar em uma melhor terapêutica.

Metodologia

1) Amostras de sangue das pacientes: as amostras de sangue das pacientes (8 ml),


foram coletadas em vacutainers de 4 ml com anticoagulante (Becton Dickinson, Cedex,
França) e depois centrifugadas por 10 minutos a 400 × g à temperatura ambiente. O
plasma foi retirado e as células incubadas com tampão de lise de hemácias por 15
minutos à temperatura ambiente, no escuro. Após esse período, as amostras foram
centrifugadas a 400 x g, à temperatura ambiente, o sobrenadante foi desprezado e os

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leucócitos diluídos em solução salina estéril, livre de RNAse, para retirada de tampão
de lise residual.
2) Obtenção do RNA: as amostras contendo os leucócitos totais foram incubadas com
o reagente Trizol, para isolamento do RNA. A extração e purificação do mRNA foram
realizadas a partir da adição de 0,2 ml de clorofórmio nos tubos contendo os leucócitos
e o trizol. Após isso, os tubos passaram pelo vórtex e depois foram centrifugados,
durante 15 min, a 13.000 × g, a 4°C. Em seguida, coletou-se a fase aquosa, obtida
devido ao processo de separação desta das demais estruturas, como, proteínas e DNA,
e foi adicionada em tubos eppendorfs, RNAse/DNAse free, novos. Nestes tubos,
adicionou-se o mesmo volume de isopropanol, que foram incubados a -20°C, durante
15 min. Decorrido esse intervalo de tempo, os tubos foram centrifugados a 13.000 × g,
a 4° C, durante 15 min. Depois disso, o sobrenadante foi descartado e foram
adicionados 0,5 ml de álcool etílico PA ao pellet de RNA, sendo esse material passado
em vortex. Os tubos contendo esses compostos foram novamente centrifugados a
13.000 × g, a 4° C, durante 15 min. Ao término dessa etapa, o sobrenadante foi
descartado e os tubos foram invertidos sobre papel filtro, a fim de secar o excesso de
álcool da amostra de RNA obtido. Logo em seguida, o RNA foi ressuspendido a partir
da adição de 50 microlitros de água MilliQ. Então, o RNA obtido foi armazenado a uma
temperatura de -80°C. Posteriormente, a concentração e a qualidade dos mRNAs
extraídos foram avaliadas utilizando Qubit® 3.0 Fluorometer (Life Technologies). O
mRNA foi utilizado para avaliar a expressão de marcadores da adaptativa envolvidos
por PCR em temporeal.
3) Obtenção de de DNA complementar (cDNA): para a obtenção do DNA foi utilizado o
kit Promega (Promega corporation), a partir do qual utilizou-se os primers oligo-DT e a
água nuclease free, os quais foram colocados em tubos, junto às amostras de RNA
purificadas, formando o pré-mix da reação de transcrição reversa. Após isso, os tubos
foram colocados no termociclador por 5 min, a 70°C. Ao término desse processo, os
tubos foram colocados imediatamente no banho de gelo por 5 min e, em seguida,
centrifugados para que a parte que estivesse na tampa do tubo retornasse ao fundo
daquele. Após essa etapa, foi preparado o mix da reação de transcrição reversa, no
qual foi combinado componentes, como o Buffer (GoScript™), o magnésio, o mix de
nucleotídeos, um inibidor de ribonucleases e a transcriptase reversa. Depois de
pronto, os componentes da transcrição reversa foram combinados com 5 microlitros
do pré-mix obtido na primeira etapa desse processo. Após isso, os tubos foram levados
para o termociclador e as etapas (cíclicas) foram divididas, sendo a primeira a fase de
anelamento, na qual os tubos foram incubados a 25° C durante 5 min; a segunda, de
extensão, em que os tubos foram incubados a uma temperatura de 42°C durante uma
hora e a terceira que consistiu na fase de inativação da enzima transcriptase reversa,
em que os tubos passaram a ser incubados a uma temperatura de 70°C durante 15

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minutos. Ao término desse processo, as moléculas de cDNA foram armazenadas no


freezer e, posteriormente, foram diluídas para que pudessem ser utilizadas na etapa
de verificação da expressão gênica.
4) Reações de RT-PCR em tempo real: a análise da expressão quantitativa dos genes
das citocinas (TNF-alfa, IL-4, IL6, IL-10, IL-17, IFN-gama e TGF-beta) e dos fatores de
transcrição (Tbet, FoxP3, GATA3 e RORgT) foi realizado por meio da qRT-PCR utilizando
o sistema SYBR Green no termociclador 7500 Fast Real time (Applied Biosystems,
Warrington, USA). As reações foram realizadas em placas de 96 poços (MicroAmp®,
Applied Biosystems, USA), para isso, foi adicionado o Master Mix composto por 0,7 uL
de cada primer direto e reverso específicos para cada gene alvo, 5 uL de FAST Sybr®
Green (Applied Biosystems, USA), 1,6 uL de água livre de endonucleases e 2 uL do
cDNA. As condições de termociclagem foram de 2 minutos a 50ºC, 10 minuto a 95ºC, e
40 ciclos de 15s a 95ºC e 1 minuto a 56ºC, com um ciclo final de 20 minutos com
temperatura crescente de 60 a 95°C para a obtenção da curva de dissociação dos
produtos da reação, utilizada para a análise de especificidade de amplificação. Após a
obtenção dos valores de CT de cada amostra, foi empregado uma fórmula para
adquirir o valor da expressão gênica relativa de cada amostra. Os dados e resultados
foram obtidos por meio da utilização do programa Microsoft Excel(2013).

Resultados e Discussões

As amostras de sangue de mulheres grávidas e não-grávidas com sífilis foram


processadas e o RNA obtido foi submetido ao processo de RT-qPCR (reação em cadeia
da polimerase em tempo real - a partir de transcrição reversa) para verificação da
presença de marcadores da imunidade adaptativa nos grupos citados. Entretanto,
devido se tratar de pesquisas em humanos, o protocolo para a realização da técnica
citada anteriormente nesse tipo de amostra ainda está em processo de padronização.
Devido a isso, não foi possível obter resultados que permitissem a inferência acerca
dos marcadores da imunidade adaptativa presentes nas amostras dos indivíduos que
compunham os grupos estudados, visto que os experimentos não foram exitosos e não
permitiram a identificação das moléculas que estavam sendo pesquisadas neste
estudo.

Conclusão

A Sífilis é uma doença que necessita de um olhar abrangente acerca de suas


características, principalmente, as relacionadas com o sistema imunológico e às

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moléculas produzidas no processo de combate aos diferentes tipos de patógenos.


Dessa forma, a pesquisa dos marcadores da resposta imune adaptativa é crucial para
elucidar alguns questionamentos relacionados a essa patologia, permitindo, assim, a
compreensão das diferentes respostas que cada organismo apresenta frente ao
patógeno causador dessa infecção. Partindo desse pressuposto, há a necessidade de
padronização dos testes moleculares a fim de favorecer a busca de marcadores ligados
a essa enfermidade, no intuito de ofertar ferramentas futuras que possam auxiliar no
diagnóstico e no prognóstico dessa enfermidade. Além disso, em virtude dos
experimentos do referido projeto não terem sido exitosos, faz-se necessário a
repetição dos testes em busca das biomoléculas desejadas, como também a proposta
de padronizar as técnicas atreladas a essa questão, as quais já se encontram como
perspectivas futuras do presente estudo.

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Anexos

Fluxograma da Metodologia utilizada no estudo.

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CÓDIGO: SB0818

AUTOR: JAINE DIELLY DE LEMOS MOURA

COAUTOR: MARCOS ANDRÉ DA SILVA

ORIENTADOR: VIVIANE SOUZA DO AMARAL

TÍTULO: Metilação do DNA e perfil dietético de crianças com fendas


labiopalatinas não-sindrômica

Resumo

As fendas labiopalatinas não sindrômicas (FL/PNS) são defeitos congênitos advindos de


causas ambientais e genéticas. Estudos recentes têm associado os fatores
epigenéticos, como a metilação do DNA, à hereditabilidade dessa malformação
complexa. Sabe-se que a nutrição é um fator ambiental fortemente associado as
alterações no padrão de metilação do DNA, portanto, o objetivo desse trabalho foi
analisar o padrão de metilação global do DNA e do promotor do BRCA1 das crianças
com FL/PNS. Também foi investigado o padrão dietético dessas crianças, discutindo-se
a associação entre esses fatores e o risco de desenvolver doenças crônicas. Esse
estudo foi conduzido com crianças atendidas no Hospital de Pediatria Heriberto
Ferreira Bezerra (HOSPED), em Natal/RN, e suas respectivas mães. Apesar do grupo
controle ter apresentado perfil semelhante, aliado a isso, as crianças com fendas
mostraram uma baixa metilação global, em comparação ao controle. Portanto, faz-se
necessário aprimorar e investir nos guias de saúde a longo prazo desses indivíduos a
fim de prevenir outras doenças metabólicas crônicas e reduzir a penetrância desse
fenótipo às outras gerações descendentes.

Palavras-chave: fenda labiopalatina; epigenética; DNA.

TITLE: DNA methylation and dietary profile of children with non-syndromic cleft
lip and palate

Abstract

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Non-syndromic cleft lip and palate (CL/PNS) are birth defects arising from
environmental and genetic causes. Recent studies have associated epigenetic factors,
such as DNA methylation, with the heritability of this complex malformation. It is
known that nutrition is an environmental factor strongly associated with changes in
the DNA methylation pattern, therefore, the objective of this work was to analyze the
global methylation pattern of DNA and the BRCA1 promoter of children with CL/PNS.
The dietary pattern of these children was also investigated, discussing the association
between these factors and the risk of developing chronic diseases. This study was
conducted with children treated at the Hospital de Pediatria Heriberto Ferreira Bezerra
(HOSPED), in Natal/RN, and their respective mothers. Although the control group had a
similar profile, in addition to this, children with clefts showed a lower overall
methylation compared to the control group. Therefore, it is necessary to improve and
invest in the long-term health guidelines of these individuals in order to prevent other
chronic metabolic diseases and reduce the penetrance of this phenotype to other
descendant generations.

Keywords: cleft lip and palate; epigenetic;DNA.

Introdução

A principal causa de mortalidade antes do nascimento e até quatro semanas após o


nascimento em países industrializados em desenvolvimento são as anormalidades
congênitas, as quais provêm de condições diversas como a saúde debilitada das mães,
com status nutricional inadequado no momento da concepção, gestações seguidas
sem intervalo adequado e falta de cuidados durante a gravidez. Dentre os problemas
ao nascimento, as fendas orofaciais destacam-se como um dos defeitos mais comuns,
com taxa de prevalência variável entre populações, sexo e localização geográfica
(WHO, 2006; CDC, 2016; AGARWAL, 2011).
As fendas orofaciais caracterizam-se como defeitos congênitos de etiologia
multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais, que podem se manifestar de
maneira não sindrômica, que acometem 70% dos casos, ou como fenótipo clínico
dentro de uma síndrome, sendo sindrômica, nos demais casos. Os tipos de fendas
incluem as de lábios, as de palato e as de lábio e palato ao mesmo tempo
(NAKAMURA, 2017; DIXON et al., 2011; WEHBY; MURRAY, 2010). Elas resultam de uma
falha no desenvolvimento normal de estruturas craniofaciais do complexo
maxilomandibular do embrião e podem ocorrer unilateralmente, quando somente de
um lado da face ou bilateral, quando em ambos os lados (JUGESSUR, 2009).

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O desenvolvimento fetal dos lábios se completa entre a quinta e a sexta semana


gestacional, já o palato, próximo da décima semana de gestação. As fendas orofaciais
não sindrômicas ocorrem quando há o encontro entre os fatores ambientais e a
susceptibilidade genética durante o início do primeiro trimestre de gestação. A
susceptibilidade genética pode ser caracterizada pela ocorrência de polimorfismos de
um único nucleotídeo em genes primordiais para o desenvolvimento adequado do feto
durante a gestação, como por exemplo, as proteínas transportadoras ABC, que são
expressas na placenta e tem o importante papel de promover o efluxo de drogas e
toxinas que as mães consomem e se expõem durante o período gestacional e que
podem correr a circulação chegando até o bebê. Essa exposição aos xenobióticos,
quando não controlada, pode levar ao risco aumentado de desordens genéticas e
defeitos do nascimento, como as fendas labiopalatinas não sindrômicas, é o que supõe
os autores Omoumi etal. (2013).
Aproximadamente 40% dos gêmeos monozigóticos são discordantes para o fenótipo
das fendas. O fornecimento de sangue placentário desproporcional e as mutações
genéticas somáticas no embrião precoce podem ter implicações significativas no
processo de geminação e para o fenótipo dos gêmeos. Se a lesão ocorre antes da
geminação e a alocação das células com a lesão prevalecem apenas para um embrião,
isso pode explicar os fenótipos discordantes entre os irmãos (BRITO etal., 2012; ZHU;
KARTIKO; FINNELL, 2009; KIMANI etal., 2009).
Em geral, a metilação do DNA é considerada uma marca repressiva, que ocorre em
dinucleotídeos CpG, os quais estão contidos principalmente em elementos de
repetição no genoma (PELIZZOLA; ECKER, 2011; LUO; LU; XIE, 2014). A metilação das
citosinas no DNA é uma característica do genoma fundamental para a diferenciação
celular e o controle da transcrição. Ela se modifica durante o desenvolvimento dos
mamíferos, começando com uma onda de desmetilação durante a clivagem e
consequente metilação “de novo” em todo o genoma depois da implantação. A
desmetilação é um processo ativo que se dá no genoma masculino em questões de
horas após a fertilização. No entanto, no feminino, isto se dá de maneira diferente, ele
é desmetilado passivamente durante as subsequentes divisões do embrião. A
metilação “de novo” passa a se estabelecer intensamente na gastrulação do embrião,
e é reduzida em tecidos específicos durante a diferenciação celular (JAENISCH; BIRD,
2003; CUTFIELD etal., 2007; SEISENBERGER, 2013; MIGICOVSKY; KOVALCHUK, 2011;
LUO; LU; XIE, 2014).

Metodologia

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Este trabalho consistiu em um estudo do tipo caso-controle não pareado, no qual


foram recrutadas crianças com até 13 anos de idade para compor o grupo de
participantes que apresentavam fenda labiopalatina não sindrômica e crianças ditas
saudáveis, ou seja, sem o fenótipo das fissuras ou outra doença, com o mesmo
requisito da idade, para completar o grupo controle, provenientes de 2 escolas
municipais da cidade de Natal, Rio Grande do Norte. Além disso, também foram
incluídas na pesquisa as mães das crianças de ambos os grupos.
O diagnóstico dos pacientes afetados pelas fendas foi baseado em critérios clínicos
utilizados pela Equipe do Programa de Atendimento aos Pacientes Fissurados do
Hospital de Pediatria Professor Heriberto Ferreira Bezerra (HOSPED-UFRN), a qual é
composta por fonoaudióloga, enfermeiros, médicos, cirurgiões, odontólogo, pediatra,
nutricionista, farmacêutico e geneticista.
Os participantes foram convidados a se voluntariar por meio de um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e Termo de Assentimento Livre e Esclarecido
(TALE), os quais apresentavam dados sobre a pesquisa, assim como os riscos e
benefícios. Aqueles que cumpriram os critérios clínicos, de inclusão e exclusão e
assinaram o termo, estavam aptos a participar da pesquisa.
O questionário foi aplicado às mães das crianças envolvidas na pesquisa. Os dados
coletados incluiram informações sobre as crianças, como idade, sexo e tipo de fenda,
no caso dos indivíduos afetados, frequência do uso de antibióticos desde o
nascimento, uso atual de medicamentos e suplementos, nível de estresse, problemas
de saúde mais recorrentes, tempo de amamentação exclusiva e perfil alimentar atual;
e, informações sobre as mães, como idade da mãe no momento do parto, ocupação,
uso de medicamentos, fumo, bebida alcóolica e anticoncepcionais na gestação,
ocorrência de aborto, semana gestacional em que descobriu a gravidez e uso de
suplemento de ferro e ácido fólico, intercorrências, fumo passivo, existência de
parentes com fendas e doenças crônicas na família.
Todos os dados foram tabulados no programa IBM SPSS Statistics Versão 20. Foram
criadas categorias para cada informação que abrangia uma maior possibilidade de
respostas e scores para quantificar a pontuação total de cada participante dentro de
cada categoria. Por exemplo, na categoria “Derivados de farinha de trigo refinada”
cada alimento citado foi equivalente a 1 ponto para cada indivíduo, e o score foi o
valor total com todos os alimentos mencionados pelo participante. Esse raciocínio foi
aplicado a todos os conjuntos de dados sobre cada informação coletada das crianças
participantes.
O DNA dos participantes foi obtido a partir de células da mucosa oral, coletadas por
citologia esfoliativa e raspagem com swab estéril. A extração das amostras foi feita a
partir do protocolo estabelecido pelo kit comercial QIAamp DNA Blood mini Kit

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(Qiagen®, Alemanha) e a integridade do DNA foi avaliada por eletroforese, em gel de


agarose a 0,8%, com tampão TBE pH 8,0, sendo corado com GelRedTM (Biotium) e
foto-documentado no sistema de captura de imagem Gel DocTM XR+ (Bio-Rad).
O DNA, após extraído, foi quantificado por espectrofotometria a 260nm no aparelho
espectrofotômetro NanoDrop (Thermo, Delaware, USA), sendo sua pureza
determinada pela relação A260/280.
A distribuição das variáveis contínuas foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk. A
comparação das frequências das variáveis investigadas no questionário influenciando o
fenótipo das fendas foram analisadas pelo teste do Qui-quadrado. Foi feito também o
teste de razão de chance (OR) para algumas variáveis. A diferença das variáveis
epigenéticas entre os grupos foi verificada utilizando-se do teste de Mann-Whitney.
Foram considerados estatisticamente significativos os resultados com valores de p <
0,05. O programa SPSS 20 (SPSS, Chicago, IL, USA) foi utilizado para a descrição e
análise dos dados.

Resultados e Discussões

Dentre as informações geradas sobre as mães dos participantes da pesquisa, a idade


no momento do parto variou de 15 até 43 anos, no entanto, 28 anos foi a média de
idade das mães do grupo de fendas e 25, das mães do grupo controle. Na Tabela 4 a
seguir estão distribuídas em porcentagem a quantidade de mães de cada grupo,
adolescentes (Até 19 anos), entre 19 e 35 anos e grupo de risco (acima de 35 anos). No
grupo de fissurados, a idade com o número maior de representantes foi a de 39 anos
(n=4) e, no grupo controle, 19 anos (n=7). Existiu diferença muito próxima de
significativa entre as mães dos dois grupos e as idades no momento do parto em Até
19 anos e Acima ou igual a 35 anos (p = 0,057), ou seja, as gestantes “adolescentes”
foram mais comuns no grupo Controle e as gestantes no “grupo de risco” foram mais
comum no grupo de Fenda, como visto pelo teste de qui-quadrado.
Por fim, foi questionado às mães das crianças sobre a existência de parentes que
também tenham fendas labiopalatinas e, sobre a presença de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) na família. O teste de qui-quadrado para o histórico familiar
mostrou existir diferença significativa entre os dois grupos, de modo que mais casos de
parente na família do que o esperado foi visto no grupo de mães das crianças com
fenda em comparação ao grupo controle (p = 0,041). Com relação a ocorrência de
DCNT nas famílias dos participantes da pesquisa, foram questionadas 22 mães do
grupo de fenda dentre as 33 totais e, 31 do grupo controle dentre as 49 totais. O teste
de qui-quadrado também acusou diferença significativa entre os dois grupos avaliados

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e a ocorrência de DCNT na família, o número de casos no grupo FL/PNS foi maior que o
esperado (p = 0,048).
Os participantes recrutados na pesquisa foram distribuídos em 49 pertencentes ao
grupo controle, sendo 28 (57,1%) do sexo masculino e 21 (42,9%) do sexo feminino, e
33 ao grupo fissurado, com 18 (54,5%) do sexo masculino e 15 (45,5%) do sexo
feminino. Os tipos de fendas apresentados foram subdivididos em labial, labiopalatina
e palatina (Figura 4), e dentre os indivíduos recrutados, 5 (15,2%) possuíam fenda
labial, 14 (42,4%) labiopalatina e 14 palatina (42,4%). Com relação ao sexo, prevaleceu
o masculino apenas nas fendas labiopalatinas, nas labiais e palatinas, foi maioria o sexo
feminino.
Mais de 50% dos dois grupos foram considerados estressados e/ou agitados por suas
mães, quando questionadas sobre o nível de estresse de seus filhos. E, comparando os
dois grupos, as crianças controle foram consideradas ainda mais estressadas que as
crianças do grupo fissurados.
Dentre os problemas de saúde mais recorrentes nos dois grupos, foram citados
predominantemente inflamação, irritação e infecção das vias aéreas superiores.
Quanto ao perfil alimentar das crianças participantes da pesquisa, foram criados
grupos de alimentos que deram origem a um score total sobre o consumo, sendo cada
alimento do grupo equivalente a 1 ponto a ser contabilizado no score total. Dentre os
grupos estavam: Laticínios, Ultraprocessados, Derivados de farinha de trigo refinada,
Gorduras vegetais processadas, Carboidratos simples, Alimentos integrais e Derivado
de animal.
É de extrema necessidade compreender a etiologia das fendas a partir de fatores de
exposição que aumentam o risco e que são modificáveis, podendo ser eliminados ou
reduzidos e, assim, resultando na prevenção dessa má formação nas gerações futuras
(KRAPELS etal., 2006).
As altas taxas de morte e morbidade, na gravidez, estão associadas a condições
médicas pré-existentes. A hiperglicemia, por exemplo, é uma característica possível
entre os indivíduos e a sua ocorrência durante a gravidez pode aumentar o risco de
malformações no bebê, portanto existe uma constante necessidade de que o
aconselhamento apropriado antes e durante a gestação seja eficiente, podendo
controlar os níveis de glicose, assim como ajustar outros problemas de saúde
existentes, a fim de evitar possíveis consequências aos descendentes (CORREA et al.,
2008; GABBAY-BENZIV et al., 2015; MILLS, 2010; MOLLER etal., 2017; ORNOY et al.,
2015).
Para os autores Mossey, Davies e Little, (2007), o desafio da prevenção de
malformações como essa está no aconselhamento pré-natal e na programação da
gestação, a fim de reduzir ou eliminar todos os fatores já reconhecidos e estudados

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como possivelmente ou potencialmente passíveis de contribuir para a ocorrência das


FL/PNS, consumo de álcool, cigarros, uso de suplementos, uso de outras drogas, entre
outros. Em seu estudo caso-controle populacional, esses mesmos pesquisadores
investigaram a gravidez planejada na etiologia das fendas, e foi visto uma redução
substancial do risco como resultado do planejamento gestacional entre as
participantes.
Segundo dados de uma meta-análise sobre a influência da idade no risco dessa
malformação, mães com mais de 35 anos têm um aumento significativo no risco de ter
crianças com fendas labiopalatinas (HERKRATH etal., 2012). Nesta pesquisa, em torno
de metade das mães de crianças com fenda tiveram seus filhos entre 19 e 35 anos, não
estando mais na adolescência nem no grupo de risco. Porém, quando comparado com
o grupo controle às mães que estavam no grupo de risco (>35 anos), houve um
número maior de mães pertencentes ao grupo afetado (p = 0,057). O estudo de Silva
etal. (2018) encontrou distribuição das idades semelhantes, com maior número de
mães entre 19 e 35 anos e, número maior com acima de 35 anos em relação a idade
considerada adolescente, até 19 anos. A idade aumentada, em geral, é um fator de
risco para anormalidades cromossômicas, porém, os dados na literatura ainda são
controversos, existindo estudos mostrando associação positiva e outros mostrando
inconsistência da relação (XU etal., 2018a; BILLE etal., 2005; FUCHS et al., 2018). Assim,
torna-se plausível considerar a saúde do corpo materno, além de meramente a idade,
na tentativa de correlacionar essas duas variáveis.
Os processos epigenéticos são conhecidos por provocarem mudanças na expressão de
genes sem que a sequência do DNA seja alterada. A metilação do DNA, um exemplo
deles, funciona a partir da adição de grupamentos metil às citosinas presentes em
sequências CpG em regiões promotoras dos genes, e pode regular genes tecido-
específicos importantes durante a embriogênese. Essas marcas podem ser herdadas e,
quando ocorrem em períodos críticos do desenvolvimento fetal, podem gerar
consequências ao longo da vida nas próximas duas gerações não expostas, o que é
conhecido como herança transgeracional (LAIRD, 2003; VAN DER WEIJDEN; FLÖTER;
ULBRICH, 2018; KIM; FRISO; CHOI, 2009; NICULESCU; ZEISEL, 2002). A exposição
ambiental a condições adversas, como a dieta inadequada, fumo, álcool, diabetes
gestacional, dentre outras, são situações capazes de provocar perturbações
epigenéticas, gerando consequências à prole (BARUA; JUNAID, 2015).
Desse modo, sugere-se que a utilização prolongada dos anticoncepcionais possa gerar
consequências no padrão de metilação do DNA das mulheres, de modo que essa
característica, atrelada a outros fatores contribuintes, predisposição genética e
ambientais, poderia ser herdada pelos seus filhos e determinante para a etiologia das
FL/PNS. São necessários mais estudos prospectivos para investigar em detalhes o
tempo de uso desse medicamento, o perfil de metilação e o impacto no status de

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nutrientes importantes a esse processo epigenético em mulheres com histórico de


malformação na família, para compreender seu papel na etiologia de defeitos
congênitos não-sindrômicos.
Na presente pesquisa, foram citadas intercorrências na população de mães das
crianças com fendas que são associadas, em diversos estudos, ao aumento do risco da
malformação, como excesso de peso, hipertensão arterial e infecções bacterianas e
risco de aborto, no entanto, nenhuma delas mostrou diferença significativa quando
comparado a sua ocorrência com o grupo controle (LEITE; KOIFMAN, 2009; PERSSON
et al., 2017; KUTBI et al., 2017; XU et al., 2018a; CEDERGREN; KÄLLÉN, 2005).
Com isso, além de todos esses fatores anteriormente discutidos sobre o envolvimento
na etiologia das FL/PNS, estudos têm-se direcionado às próprias crianças afetadas para
compreender modificações em suas estruturas e no seu metabolismo celular, além de
aspectos genéticos, a fim de elucidar as causas e consequências das fendas.
Sabe-se que as fendas labiais e labiopalatinas são mais frequentes no sexo masculino e
se relacionam na sua origem, no entanto, a fenda de palato isolada é mais comum no
sexo feminino, sendo menos comum à sua ocorrência em quadros não sindrômicos
(O'RAHILLY; MULLER, 2005; MARTELLI etal., 2012; HONEIN etal., 2007; LI etal., 2016;
ALFWARESS etal., 2017). No presente trabalho, encontrou-se resultados que
corroboram com esse fato e, inclusive, com estudos anteriores desenvolvidos no
mesmo Estado e no país (SOUZA; RASKIN, 2013; SILVA etal., 2018; CARDOSO etal.,
2013), em sua maioria foram registrados afetados do sexo masculino e a prevalência
de fendas de lábio e palato foi maior nesse grupo.
Na avaliação dos scores de pontuação criados, o grupo de carne animal e laticínios
teve maior destaque na população com fendas, que é representada por mais de 50%
com crianças de até dois anos de idade. Já os alimentos ultraprocessados, derivados de
trigo refinado, embutidos e alimentos integrais tiveram maior destaque no grupo
controle, apesar de todos terem se apresentado nos dois grupos estudados. A idade
entre os participantes pode ter relação com o tipo de alimento consumido. O grupo
das fendas apresentou crianças com menos idade em relação ao controle, apesar da
heterogeneidade dessa característica. Menos de um terço das crianças consumiam
fórmula infantil no grupo de fendas e nenhuma do controle. E dentre todas elas, 45,5%
das fendas consumiam pelo menos 2 tipos de laticínios e 65,3% do controle, sem
diferença estatística entre o consumo dos dois grupos.
A nutrição e outros fatores ambientais, que se estendem ao longo da vida dessas
crianças, devem ser levados em consideração quando estamos diante de uma
malformação congênita que vem sendo associada a uma maior fragilidade em reparar
os danos ao genoma e a um padrão global de baixa metilação do DNA, sinalizando para

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um quadro de instabilidade genômica (KOBAYASHIet al., 2013; XAVIER et al., 2017;


SHARP et al., 2017; ALVIZI et al., 2017; SALES; PELEGRINI; GOERSCH, 2014).

Conclusão

A partir dos resultados encontrados nesta pesquisa, pode-se concluir que um dos
grandes fatores de risco ao desenvolvimento das fendas, incluindo outras
anormalidades congênitas, se dá pela não programação da gestação entre as mulheres
e, consequentemente, a descoberta tardia da gestação, associada à exposição aos
fatores estressores durante as primeiras semanas gestacionais que culminam no
favorecimento à predisposição genética.
Também pode-se concluir que as crianças que nascem com a malformação, e inclusive
as crianças de modo geral abordadas nesse estudo, tem uma baixa qualidade dietética,
com um alto consumo de alimentos industrializados, rico em açúcar e calorias e pobres
em nutrientes essenciais, e baixo consumo de vegetais, frutas, alimentos integrais,
fitonutrientes e fibras, importantes na manutenção da maquinaria molecular e
genética, que, de maneira orquestrada, desenvolvem o processo saúde-doença dos
individuos.
Além disso, com as análises moleculares foi visto que existe uma baixa metilação
global no genoma das crianças com FL/PNS em comparação ao grupo controle e que
esse fator, associado ao perfil alimentar identificado nessa pesquisa, pode favorecer ao
desenvolvimento de câncer e outras doenças crônicas, tendo em vista a vasta
literatura associando a dieta e estilo de vida ao perfil de metilação, estresse oxidativo,
inflamação crônica e a origem das doenças na fase adulta.
Ainda são necessárias investigações mais apuradas do tipo coorte, e que possam
elucidar o envolvimento do padrão de metilação dos pais e das crianças na etiologia e
prognóstico de saúde dos indivíduos acometidos pelas FL/PNS. Os estudos em
epigenética das fendas são muito recentes e ainda não foi possível compreender se o
padrão de metilação das crianças afetadas é desenhado antes ou depois da
malformação.

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CÓDIGO: SB0821

AUTOR: HILDEFRAN FONTES CAVALCANTE

ORIENTADOR: RAQUEL CORDEIRO THEODORO

TÍTULO: AVALIAÇÃO IN VITRO DE FATORES DE VIRULÊNCIA EM


CRYPTOCOCCUS NEORFORMANS E CRYPTOCOCCUS GATTII E SUA
POSSÍVEL RELAÇÃO COM A DISTRIBUIÇÃO DE INTRONS NO GENOMA
MITOCONDRIAL

Resumo

A criptococose é uma doença infecciosa causada por fungos dos complexos de


espécies Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, afetando o sistema nervoso
central. Esses fungos possuem diversos fatores de virulência, tais como produção de
cápsula, melanina, urease e outros. Ademais, sabe-se que a função mitocondrial
influencia a expressão desses fatores e que a presença de íntrons do grupo I no mtDNA
pode estar associada ao seu funcionamento pleno. Assim, objetivou-se avaliar a
relação entre fatores de virulência, especialmente o locus mating type e a produção de
melanina de isolados de Cryptococcus, com a presença de íntrons em seu
mitogenoma. O locus mating type varia entre tipo A e tipo alfa, sendo definido por PCR
convencional seguido por eletroforese. Observou-se que quase todas as cepas
pertenciam ao tipo mating-alfa, não permitindo nenhuma associação com a
quantidade de íntrons. Quanto à produção de melanina, foi realizada em meio indutor
L-DOPA e definida de forma qualitativa através da comparação de tonalidade das
colônias após 72h. Observando-se um aparente padrão de menor produção para os
isolados com mais íntrons (6 a 10), enquanto aqueles com 1-5 apresentaram as
maiores pontuações, contudo, mais isolados serão incluídos para uma análise
estatística robusta. Fatores como resistência a estresse oxidativo e nitrosativo,
produção de urease e lacase, previstas no plano de trabalho original, serão avaliados
em função da abundância de íntrons na continuação deste pro

Palavras-chave: Criptococose; íntrons do grupo I; mating-type; produção de


melanina.

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TITLE: IN VITRO EVALUATION OF VIRULENCE FACTORS IN


CRYPTOCOCCUS NEOFORMANS AND CRYPTOCOCCUS GATTII AND
THEIR POTENTIAL RELATIONSHIP WITH THE DISTRIBUTION OF INTRONS
IN THE MITOCHONDRIAL GENOME

Abstract

Cryptococcosis is an infectious disease caused by fungi from the Cryptococcus


neoformans and Cryptococcus gattii species complexes, affecting the central nervous
system. These fungi have various virulence factors, such as capsule production,
melanin, urease, and others. Moreover, it is known that mitochondrial function
influences the expression of these factors and that the presence of group I introns in
mtDNA may be associated with their functioning. Thus, the objective was to evaluate
the relationship between virulence factors, especially the mating type locus and
melanin production of Cryptococcus isolates, with the presence of introns in their
mitogenome. The mating type locus varies between type A and type alpha, defined by
conventional PCR followed by electrophoresis. It was observed that almost all strains
belonged to the alpha-mating type, without allowing any association with the quantity
of introns. Regarding melanin production, it was performed in an inducing L-DOPA
medium and qualitatively defined by comparing the colony coloration after 72h. An
apparent pattern of lower production was observed for isolates with more introns (6
to 10), while those with 1-5 introns showed the highest scores. However, more isolates
will be included for a robust statistical analysis. Factors such as resistance to oxidative
and nitrosative stress, urease and laccase production, as outlined in the original work
plan, will be evaluated based on the abundance of introns in the future.

Keywords: Cryptococcosis; Group I introns; mating-type; melanin production.

Introdução

A Criptococose é uma micose sistêmica causada por fungos dos complexos de espécies
Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, sendo responsável por
aproximadamente 152 mil casos de meningite criptocócica anualmente (Rajasingham
et al., 2022). Inicialmente, a infecção se dá pela inalação de esporos fúngicos
encontrados em solos, árvores e excretas de pássaros e, após alcançar os pulmões,
estes fungos, em especial C. neoformans, possuem um neurotropismo, apresentando
quadros de meningoencefalite (Zhao et al., 2023). O complexo C. gattii está mais
relacionado ao acometimento de pacientes imunocompetentes, em contraste com o C.
neoformans, o qual costuma infectar pessoas com o sistema imunológico
comprometido (Howard-Jones et al., 2022).

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Diversos fatores de virulência são responsáveis por garantir sua sobrevivência destes
patógenos no hospedeiro, como termotolerância, mating-type, resistência ao estresse
oxidativo e nitrosativo, produção de urease, lacase e melanina (Zaragoza et al., 2019).
Dentre os fatores citados, a urease é essencial para a invasão tecidual (Singh et al.,
2013), enquanto a lacase participa da via de síntese da melanina, a qual protege o
fungo contra os macrófagos, estando relacionada a resistência ao estresse térmico e
oxidativo, permitindo a sobrevivência do Cryptococcus em condições diversas do corpo
humano(Lee et al., 2019). Quanto ao sistema de tipagem sexual (Mating-type), existem
2 classes em Cryptococcus, MATa e MATα, sendo o MATα associado a maiores fatores
de virulência (Lin; Nielsen; Patel; Heitman, 2008).
Quanto a resistência a estresses oxidativos e nitrosativos, agentes comuns no interior
de macrófagos, sabe-se que o fungo pode responder a esses estresses com mudanças
na morfologia mitocondrial, especialmente no padrão de fissão e fusão. Essas
alterações possuem relação direta com o aumento da virulência no complexo de
espécie Cryptococcus gattii por conta da sua morfologia tubular produzida após
sucessivas fusões (Voelz et al., 2014). E provavelmente algo similar ocorre em C.
neoformans, para o qual a deleção de genes responsáveis pela fusão mitocondrial
expôs as cepas a uma maior suscetibilidade ao estresse oxidativo e nitrosativo (Chang
e Doering, 2018). Além disso, a interação entre os genes mitocondriais e nucleares,
através da ativação de vias de sinalização e regulação de outras organelas celulares
está diretamente associada à termotolerância (Verma et al. 2018).
Tendo em vista que i) o genoma mitocondrial destes fungos possui intron
autocatalíticos, cuja frequência varia em diferentes isolados destes complexos de
espécies (Gomes et al., 2023), que ii) estes íntrons, em especial nos genes COX1 e COB,
em S. cerevisiae já foram associados a fusão mitocondrial (na ausência e íntrons) e
fissão mitocondrial (na presença de íntrons), bem como a taxa de transcrição dos
genes hospedeiros (a presença de íntrons diminui a expressão do gene no qual ele
ocorre) (Rudan et al., 2018) e que iii) a função mitocondrial é essencial para a
expressão de fatores de virulência (Verma et al. 2018), temos como hipótese central
deste plano de trabalho a existência de alguma relação entre a distribuição de introns
de genomas mitocondriais de isolados já genotipados no nosso laboratório, com a
capacidade de produção de fatores de virulência mediante avaliações in vitro.
Esperamos que cepas com menos íntrons sejam mais virulentas.

Metodologia

Produção de Melanina de isolados de Cryptococcus

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Os 30 isolados utilizados nos experimentos dos fatores de virulência são aqueles


disponibilizados pela micoteca do Laboratório de Micologia Médica do Instituto de
Medicina Tropical (LAMIM - IMT). No ensaio de produção de melanina, foram
empregados 17 fungos do complexo C. neoformans e 13 fungos do complexo C. gattii.
O crescimento desses isolados ocorreu no meio YPD ágar (2% de dextrose, 1% de
peptona, 2% de ágar e 0,5% de extrato de levedura) a 35º C por 48h.
Após o crescimento das culturas, os inóculos foram preparados ressuspendendo-se as
colônias em tubos de 5 ml de salina estéril até atingir a escala 0,5 de McFarland. Em
seguida, uma nova diluição de 1:50 foi realizada pondo-se 100 µL desse inóculo em
980µl de salina. A partir disso, 5 µl do inóculo fúngico foi pipetado em uma placa de
petri com meio composto por base de nitrogênio de levedura, ágar, dextrose, glicina,
fosfato monopotásico (KH2PO4), sulfato de magnésio (MgSO4), tiamina, biotina e L-
DOPA (para indução de melanina). Um controle negativo foi feito com meio sem L-
DOPA, conforme descrito porBrilhante et al. (2017).
Para a aferição da produção de melanina, foi dada pontuações entre 0-4 a cada fungo
após 72h, de acordo com a sua coloração, a fim de definir um método qualitativo de
avaliação. O score 0 foi dado para colônias de cor creme, sem evidente produção de
melanina, enquanto o score 4 foi dado para as colônias de coloração marrom muito
escura, scores 2 e 3 seriam os intermediários.
Determinação do Mating-Type
A determinação do locus Mating-Type foi realizada através da amplificação gênica por
meio de PCR (Polymerase Chain Reaction) convencional utilizando primers específicos
para cada loci (KWON-CHUNG; EDMAN; WICKES, 1992). em 75 amostras de fungos
representantes dos genótipos VNI, VGII, VNIV, VNII, VNIII, VGI, VGIII e VGIV. Sendo
concluídos os PCR'S de, respectivamente, 39, 19, 5, 4, 3, 2, 2 e 1 as amostras de cada
genótipo.
Para os PCR’s foi utilizado um mix de PCR com a enzima GoTaq DNA Polymerase
(Promega Corporation) por meio das seguintes condições de termociclagem:
desnaturação inicial a 94°C por 5 minutos, 35 ciclos de desnaturação a 94°C por 30
segundos, 58°C para anelamento por 1 minuto, 72°C de extensão por 30 segundos e
72°C por 10 minutos para finalização. O amplicom (um pouco menor do que 200 pb
para cada mating type) foi visualizado através de eletroforese em gel de Agarose a 1%.
PCRs diferentes e separados foram feitos para a amplificação do mating-type A e do
alfa.

Resultados e Discussões

Determinação do Mating-Type

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Até o presente momento, há 79 amostras de Cryptococcus no Laboratório de Micologia


do Instituto de Medicina Tropical, local onde foi realizado esse estudo (a listagem
completa destes isolados pode ser encontrada no trabalho de Gomes et al., 2023). Nesse
sentido, o estudo tem como objetivo depreender a associação entre a distribuição de
íntrons no genoma mitocondrial e o seu respectivo tipo sexual em cada cepa.
A partir disso, dentre os 79 isolados disponibilizados, foi possível realizar com sucesso
a tipagem sexual de 74 amostras. Destas, apenas 2 amostras (BT28 e BT10) pertencem
ao tipo sexual MATa, (foram amplificadas pelos primers MAT-a) enquanto as demais
72 amostras são do MATα (foram amplificadas pelos primers MAT-α).
Produção de Melanina de isolados de Cryptococcus
Para a avaliação da produção de melanina, foram selecionados e cultivados 26 isolados
com diferentes quantidades de introns em seu mitogenoma. Os scores dados para cada
isolado quanto a produção de melanina estão listados na tabela do anexo 01 e os scores
médios por grupos de isolados (com 0, 1-5 e 6-10 introns) estão representados no
gráfico do anexo 02.
Para as análises, os isolados de fungos foram divididos em categorias de acordo com a
quantidade de íntrons e por complexo de espécies. A primeira categoria são aqueles com
ausência de íntrons, na segunda categoria estão aqueles com 1-5 íntrons e, por último,
aqueles com 6-10 íntrons. O número de íntrons em questão se refere à soma de íntrons
nos genes LSU, COX1 e COB, como previamente definido em planos de trabalho
anteriores (Gomes et al., 2018 e Gomes et al., 2023).
Para as amostras que atingiram a pontuação máxima, os isolados BT11 (0 íntrons),
BT15 (1 íntrons), HT13 (1 íntrons) e BT29 (7 íntrons) demonstraram os maiores valores
de produtividade de melanina.
Quando analisado pelo complexo de espécies C. neoformans, os isolados sem íntrons
demonstraram um perfil de produção de melanina curioso tendo em vista que o BT11
alcançou a nota máxima, 4 pontos, enquanto o BT22 obteve uma baixa pontuação de
zero pontos. Para aqueles possuindo um perfil intrônico entre 1 a 5, a média de score foi
2,7142. Enquanto isolados com 6 a 10 íntrons, tiveram um score médio de 1,5. Quanto
às amostras de Cryptococcus gattii, foi alcançada a média de 2,4 pontos para as
amostras com 1 a 5 íntrons, enquanto para cepas com 6-10 introns o score médio foi de
0,6666.
Ademais, também foi realizada uma segunda análise com a média de acordo com a
quantidade de íntrons, entretanto sem a distinção por complexo de espécies. Nessas
análises, a categoria ausente de íntrons apresentou o mesmo resultado considerando que
não há representantes em C. gattii com 0 íntrons em nossa micoteca. Para aqueles com o
perfil entre 1 e 5 íntrons, a média ainda permaneceu a mais alta entre todas as categorias
com uma pontuação de 2,52. Por fim, os isolados com 6 a 10 íntrons de ambos os
complexos foram agregados e atingiram a média de 1,14 pontos.

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Determinação do Mating-Type
Importante ressaltar que tínhamos como objetivo determinar o tipo sexual desses
isolados a fim de associar a distribuição e abundância de íntrons nos genes
mitocondriais. Tendo em vista as propriedades mais virulentas associadas ao Mating-
Type α (HEITMAN, 2008), a hipótese central para esse experimento seria que as cepas
mais virulentas seriam também aquelas com menos introns. Entretanto, a partir dos
resultados obtidos dos PCR’s dos primers, não foi possível comprovar nenhuma relação
direta com introns considerando que o MATα está presente em quase todas as cepas de
fungo da micoteca. Junto a isso, na literatura, o MATα trata-se da tipagem sexual mais
comum entre o genótipo VNI (LIN et al., 2008), dessa forma esse resultado reforça essa
ideia tendo em vista que dos 38 isolados testados desse genótipo, apenas 1 era do tipo
sexual MATa.
Produção de Melanina de isolados de Cryptococcus
Dada a hipótese de que elementos como os íntrons do Grupo I servem como
moduladores da expressão gênica, a presença e a distribuição desses elementos em
certos genes podem ser responsáveis com a capacidade de produção de fatores de
virulência. Mediante isso, nossos dados preliminares reforçam a ideia de que os isolados
com mais de 6 íntrons, tanto aqueles separados por complexo de espécies quanto sem
essa distinção, apresentaram uma menor produção de melanina frente aqueles com
menor quantidade de íntrons.
Além disso, foi também perceptível um aparente padrão de maior produção para os
isolados com menos íntrons, 1 a 5, corroborando com a ideia de que os íntrons
influenciam de alguma maneira a produção de fatores de virulência. Quando
comparados os resultados por complexos, ambas as categorias de Cryptococcus gattii
apresentaram uma menor produção deste produto. Tal resultado diverge dos
anteriormente vistos por (Trilles et al., 2012 e Gomes et al., 2018) no sentido de ser um
complexo de espécies mais virulentas, os quais analisaram respostas de ambos os
complexos em testes de antifúngicos.
Por fim, para uma análise mais fidedigna, é necessário um número amostral maior a fim
de garantir uma melhor confiabilidade para esse estudo e demais análises. Com essa
finalidade, é previsto que esse experimento seja realizado novamente adicionando
outras amostras da micoteca e os isolados que não apresentaram crescimento a fim de
aumentar o número amostral de dados.

Conclusão

Não foi encontrada nenhuma associação entre mating type e presença/ abundância de
íntrons nos genes mitocondriais COX1, COB e LSU.

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- Aparentemente alta frequência de íntrons nos genes mitocondriais COX1, COB e LSU
está associada a menor produção de melanina, contudo mais cepas deverão ser
analisadas para então se realizar uma análise estatística dos dados.
- Avaliação de Fatores como lacase, urease, termotolerância e resistência a estresses
oxidativo e nitrosativo ainda está pendente e deverá ser realizada em próximo plano
de trabalho.

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Media SA. http://dx.doi.org/10.3389/fmicb.2018.00086.

Anexos

1123
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Anexo 1. Tabela contendo os isolados, quantidade de íntrons e seu respectivo score.

Anexo 2. Gráficos contendo as pontuações médias por complexos e independentes do


complexo.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0823

AUTOR: MARTHA GIOVANNA DE MACÊDO COSTA

ORIENTADOR: DANIELLE BARBOSA MORAIS

TÍTULO: Identificação dos principais gêneros bacterianos associados a


endometrite - Uma revisão de literatura

Resumo

A endometrite é uma doença caracterizada pela inflamação persistente do


endométrio, camada mais interna do útero. O microbioma uterino normal é bastante
diversificado, mas há escassez de estudos quanto às bactérias presentes no ambiente
uterino em casos positivos de endometrite crônica. Com isso, essa revisão teve por
objetivo identificar os gêneros de bactérias mais mencionados na literatura
relacionados à condição de endometrite crônica. Para isso, foram feitas buscas nas
bases de dados da PUBMED e Web Of Science utilizando termos de busca. Após isso,
foi feita uma triagem com critérios de inclusão e exclusão para selecionar artigos que
descrevessem a microbiota uterina, dando ênfase aos gêneros bacterianos associados
à endometrite. Os resultados obtidos permitiram a observação de que os gêneros de
bactérias mais presentes nos casos da doença foram Chlamydia sp. e Ureaplasma sp.
Com relação a queixa mais presente entre as pacientes com infecções pelos gêneros
mencionados, está a infertilidade inexplicada, onde ambos os gêneros estiveram
presentes nos casos. Conclui-se então que os gêneros bacterianos mais presentes em
casos de endometrite crônica foram Chlamydia sp. e Ureaplasma sp. e que eles estão
intimamente ligados à infertilidade inexplicada das pacientes em questão.

Palavras-chave: infertilidade, Chlamydia sp., Ureaplasma sp., microbiota


uterina.

TITLE: Identification of the main bacterial genera associated with endometritis -


A literature review

Abstract

Endometritis is a disease described by persistent inflammation of the endometrium,


the innermost layer of the uterus. The normal uterine microbiome is quite diverse, but

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

there are few studies on the bacteria present in the uterine environment in positive
cases of chronic endometritis. Thus, this review aimed to identify the most referenced
bacterial genera in the literature related to chronic endometritis. For this, searches
were carried out in the PUBMED and Web Of Science databases using search terms.
After that, a screening was performed with inclusion and exclusion criteria to select
articles that described the uterine microbiota, emphasizing the bacterial genera
associated with endometritis. The results obtained allowed us to observe that the
genera of bacteria most present in cases of the disease were Chlamydia sp. and
Ureaplasma sp. With regard to the most common complaint among patients with
infection by the mentioned genders, it is unexplained infertility, where both genders
were present in the cases. Therefore, it is concluded that the most common bacterial
genera in cases of chronic endometritis were Chlamydia sp. and Ureaplasma sp. and
which are closely linked to the unexplained infertility of the patients in question.

Keywords: infertility, Chlamydia sp., Ureaplasma sp., uterine microbiota.

Introdução

As revisões de literatura são componentes essenciais e fundamentais para o


desenvolvimento da pesquisa científica em geral. Elas desempenham um papel crucial
em várias etapas do processo de investigação e são consideradas a base do
conhecimento científico, uma vez que reúnem os dados mais relevantes já existentes
em um determinado campo de estudo para discutir seus resultados, estratégias e
metodologias utilizadas com o objetivo de dar ao leitor uma visão geral do que já foi
desbravado e publicado sobre o assunto (Walter Moreira, 2004). Esse tipo de estudo é
de suma importância científica, pois possibilita uma contextualização do conteúdo,
além de identificar lacunas na literatura científica, de modo a propiciar novos
direcionamentos para que seja possível o desenvolvimento de novos estudos. .
Para muitos assuntos, ainda se tem uma grande escassez de estudo na literatura
e a endometrite é uma das doenças negligenciadas pela comunidade científica. A
endometrite se trata de uma inflamação, geralmente ocasionada por bactérias, que é
descrita pela presença de plasmócitos na camada mais interna do útero, chamada de
endométrio, podendo acarretar problemas de fertilidade devido a dificuldade do
embrião se implantar no estroma endometrial lesionado (Leisa Beatriz Grando, 2020).
A endometrite pode ser subdividida em dois tipos: aguda e crônica. A endometrite
aguda geralmente é acompanhada de sintomas que não são específicos, tendo uma
inflamação por invasão de neutrófilos no endométrio superficial, enquanto a crônica
geralmente se apresenta na forma assintomática, sendo identificada, na maioria das
vezes, por investigação de outros problemas, como infertilidade inexplicada e abortos
recorrentes (Neeta Singh & Ankita Sethi, 2022). Como mencionado, essa doença ainda
é pouco investigada e, na literatura, os estudos que desbravam essa patologia ainda

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

são muito recentes, abordando principalmente seus sintomas, causas, consequências e


tratamento. Por ser uma doença negligenciada, se faz necessário que cada vez mais
estudiosos se interessem em desbravar todos os seus âmbitos, pois é uma condição
que, na maioria das vezes, como dito, vem de forma assintomática, não tendo sido
motivo de preocupação para a comunidade médica por muito tempo devido a isso.
Quando vem acompanhada de sintomas, não são específicos dessa patologia, como
dor pélvica, sangramento vaginal anormal, dor na relação sexual, febre e até mesmo
constipação, mas o principal sintoma que atraiu a atenção para ela foi a infertilidade
inexplicada. Os principais sintomas dessa doença podem fazer com que haja suspeita
de endometriose, por exemplo, que é uma condição mais conhecida. Devido a esses
sintomas não característico da patologia, há dificuldade de diagnóstico devido a
confusão com outras doenças e o pouco material disponível sobre o assunto (Juan J.
Espinós et al., 2021).
Diante do exposto, esta revisão de literatura teve como objetivo reunir os
principais gêneros de bactérias associados à endometrite já descritos na literatura para
que a população fique ciente de quais delas já estão presentes normalmente no
organismo e quais podem ser adquiridas e por quais meios.

Metodologia

Para o presente estudo, foi realizada uma busca de documentos datados até 24
de janeiro de 2023 disponíveis nas bases PUBMED e Web Of Science (WOS) sem
restrição de idiomas. Foram utilizados alguns termos para busca, como: endometritis
women OR endometritis female OR "Pelvic Inflammatory Disease" AND bacteria* OR
uterine microbiome. Ao todo, foram encontrados 2.139 artigos, seguindo os critérios
de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão se limitaram a artigos que falavam de
bactérias no endométrio; doença inflamatória pélvica (PID); vaginite bacteriana e
microbioma; estudos com mulheres; microbioma endometrial; estudos primários,
enquanto os de exclusão foram estudos duplicados; títulos dos artigos sem citar os
termos chaves (bactérias no endométrio, Doença Inflamatória Pélvica (DIP), vaginose
bacteriana e microbioma); microbioma vaginal e estudos conduzido em animais não
humanos. Desse total de estudos encontrados, 1.800 foram da base Web Of Science e
339 do PUBMED. Ao todo, na base da PUBMED, foram excluídos 68 artigos por
duplicidade e 2 por não estarem disponíveis na íntegra, 217 em que não foi possível a
identificação do termo “endometritis” por meio da leitura do resumo ou artigos
conduzidos em animais não humanos e 44 após a leitura completa do artigo e
observação de que eles não respondiam a pergunta do estudo. Com relação à base de

1127
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

dados da Web Of Science, foram eliminados 18 artigos não disponíveis e 1 capítulo de


livro, 1.724 por não possuírem o termo principal citado ou por serem conduzidos em
animais não humanos e 26 após a leitura na íntegra mostrar que o texto não responde
a pergunta do estudo. No total, 39 estudos foram incluídos para esta revisão.

Resultados e Discussões

Foram encontrados artigos referentes ao tema datados desde 1985 até 2022,
onde, dentro desse intervalo de tempo, o ano de 2018 apresentou mais estudos sobre
o tema, com 4 artigos publicados. Com relação a localização desses estudos, 15 países
desbravaram o assunto e publicaram seus artigos nos diversos anos mencionados, mas
os Estados Unidos apresentou maior número de conteúdo, somando um total de 19
publicações ao todo. Desses estudos, a maioria foram do tipo prospectivo, presente
em 8 artigos, e retrospectivo, presente em 6.
As pacientes estavam na faixa etária de 14 a 69 anos, onde a média das idades de
todas as mulheres que aceitaram participar do estudo foi de 29,14 anos, tendo mais
voluntárias entre 20 e 30 anos. Dessas, os sintomas mais comuns na endometrite
crônica foram infertilidade, dor abdominal/pélvica e sangramento anormal. Além
disso, alguns fatores de risco foram associados a endometrite crônica, como múltiplos
parceiros sexuais, relação sexual na última menstruação, uso de ducha higiênica, uso
de anticoncepcional e histórico de DIP.
Tabela 1. Números de publicações em que sintomas associados à endometrite são
detectados.
Para o método de detecção, as principais técnicas utilizadas foram meio de
cultura, presente em 22 artigos, e PCR, somando 15 aparições, identificando os
gêneros bacterianos descritos na tabela abaixo, onde a Chlamydia sp. foi o gênero mais
recorrente, seguida do gênero Ureaplasma sp.
Tabela 2. Números de publicações em que gêneros bacterianos associados à
endometrite são detectados.
A endometrite crônica é a causa de 30% de infertilidade e abortos recorrentes
(Nilo Frantz, 2019). Nos 37 anos de estudo sobre a doença e os gêneros de bactérias
relacionados, a infertilidade inexplicada esteve como principal motivo de levar as
mulheres a procurar ajuda. Grande parte dos estudos publicados reafirmam que a
infertilidade e a dor abdominal/pélvica são os principais sintomas em pacientes
acometidas com a doença. Além disso, a Chlamydia sp. e a Ureaplasma sp. se
mostraram os gêneros mais presentes dentre os encontrados em diagnósticos
positivos de endometrite crônica e foram os gêneros mais encontrados em mulheres
que relataram esses sintomas, concordando com dados já encontrados anteriormente
na literatura.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Ao todo, foram incluídos 39 artigos que tratavam da investigação das principais


bactérias nessa condição, sendo um número relativamente baixo levando em
consideração que a endometrite crônica é responsável por cerca de aproximadamente
1/3 dos casos de infertilidade e abortos recorrentes. As publicações de estudos sobre o
tema começaram a surgir de forma mais frequente no ano de 2018, mas tiveram um
decaimento desde então, com apenas 2 artigos publicados em 2022, o ano mais
recente relatado. Esse negligenciamento pode ser explicado pela falta de
conscientização sobre a condição e também devido a falta de sintomas claros ou
confusões com outras doenças, como DIP e endometriose.
O maior interesse de estudo se concentrou nos Estados Unidos, onde o incentivo
a pesquisa e maiores informações estão disponíveis. A média de idade das voluntárias
que concordaram em participar do estudo foi de 29,14 anos, um grupo com pacientes
relativamente jovens, mostrando que a essa patologia não é uma condição apenas de
mulheres mais maduras, pois um dos principais precedentes relatados foi o histórico
de DIP, uma doença predominantemente sexualmente transmissível e que também é
um dos fatores de risco para o desenvolvimento da patologia em questão, ou seja, de
forma geral, as IST's são causas principais da endometrite crônica (Geraldo Duarte et
al, 2005), entrando em consenso com dados já apresentados na literatura.

Conclusão

Os resultados apresentados permitem a conclusão de que a grande maioria das


infecções são causadas pelos gêneros de bactérias Chlamydia sp. e Ureaplasma sp.,
presentes também na maioria dos casos de infertilidade inexplicada, que é o principal
sintoma relacionado ao diagnóstico da endometrite crônica. Além disso, o histórico de
mulheres com DIP foi apresentado como principal fator de risco para a doença. Não
negligenciar os sintomas por alguns serem “comuns” é um precedente importante
para diagnóstico rápido e melhor tratamento, pois sem a atenção adequada, a
endometrite crônica pode evoluir para um quadro mais grave, como o de infecção
generalizada, e levar à morte da paciente (Drauzio Varella, 2022). Contudo, devido ao
interesse relativamente recente na endometrite crônica, mais estudos devem ser
feitos acerca dos dados encontrados, principalmente focando nas principais bactérias
encontradas nos casos positivos de endometrite apenas em países mais pobres, onde
o acesso à informação e cuidados básicos com a saúde/higiene são mais precários.

Referências

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Disponível em: https://www.nilofrantz.com.br/endometrite-cronica-diagnostico-e-
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https://drauziovarella.uol.com.br/mulher/voce-sabe-o-que-e-endometrite/
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%20óbito”%2C%20destaca. Acesso em: 19 de agosto de 2023
Endometrite. Art Medicina Reprodutiva. Disponível em:
https://artmedicina.com.br/endometrite/. Acesso em: 15 de agosto de 2023.

Anexos

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eCICT 2023

Tabela 1. Números de publicações em que sintomas associados à endometrite são


detectados.

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eCICT 2023

Tabela 2. Números de publicações em que gêneros bacterianos associados à


endometrite são detectados.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0832

AUTOR: LÍVIA MARIA CARNEIRO SOARES

COAUTOR: MARTIN PABLO CAMMAROTA

COAUTOR: RAQUEL LÚCIA SOUTO DE ARAÚJO

COAUTOR: ELIS BRISA DOS SANTOS

ORIENTADOR: JANINE INEZ ROSSATO

TÍTULO: Papel da PKA cortical na formação da memória de reconhecimento de


objetos em machos e fêmeas.

Resumo

A memória é um mecanismo adaptativo fundamental que promove a


sobrevivência dos indivíduos. A memória declarativa suporta a capacidade de
recordar fatos e eventos. A memória de reconhecimento é um componente
central das memórias declarativas, e falhas no seu processamento acarretam
consequências devastadoras, caracterizando os sintomas nos pacientes com
declínio cognitivo. O teste de reconhecimento de objeto novo é utilizado para
avaliar os mecanismos moleculares envolvidos no processamento de memória
de reconhecimento. Diferentes regiões do cérebro são necessárias para
discriminar objetos. O córtex pré-frontal medial desempenha várias funções,
entre elas, o julgamento de quando os objetos foram vistos e sua familiaridade.
A esse respeito, sabe-se que a dopamina tem uma função importante na
detecção de novidade e sua sinalização é mediada pela proteína kinase
ativada por AMPc, PKA. O entendimento da importância da atividade da PKA
no processamento da memória de reconhecimento, entretanto, permanece
inconclusivo. Usando ratos wistar nossos resultados indicam que a atividade
cortical da PKA tanto em machos como em fêmeas têm um papel fundamental
na consolidação das memórias de reconhecimento.

Palavras-chave: Memória. Córtex pré-frontal medial. Reconhecimento de


objetos.

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eCICT 2023

TITLE: Role of cortical PKA in the formation of object recognition memory in


males and females.

Abstract

Memory is a fundamental adaptive mechanism that promotes individuals'


survival. Declarative memory supports the ability to recall facts and events.
Recognition memory is a central component of declarative memories, and
failures in its processing lead to devastating consequences, characterizing
symptoms in patients with cognitive decline. The novel object recognition test is
employed to assess the molecular mechanisms involved in recognition memory
processing. Different brain regions are required to discriminate objects. The
medial prefrontal cortex plays various functions, including judging when objects
were seen and their familiarity. In this regard, it is known that dopamine plays a
significant role in novelty detection, and its signaling is mediated by the cAMP-
activated protein kinase, PKA. However, the understanding of the importance of
PKA activity in recognition memory processing remains inconclusive. Using
Wistar rats, our results indicate that cortical PKA activity in both males and
females plays a fundamental role in the consolidation of recognition memory.

Keywords: Memory. Medial prefrontal cortex. Object recognition.

Introdução

Ao longo da vida, os animais vivenciam diversos episódios associados a


informações importantes sobre alimentação, abrigo, perigo, entre outros.
Assim, precisam recordar esses eventos específicos e modificar
adequadamente seu comportamento para sobreviver. A codificação, integração
e recuperação de informações experimentadas é definida como memória
(DUDAI et al., 2015; SQUIRE, 2009). A memória expressa a capacidade do
Sistema Nervoso Central (SNC) de armazenar informações. A habilidade de
fixar experiências cotidianas e recuperar essas memórias mais tarde depende
de dois processos. Primeiramente, o cérebro forma uma representação inicial
da nova experiência durante o aprendizado e, em seguida, ele consolida essa
representação para lembrá-la posteriormente (PRESTON e EICHENBAUM,
2013).
A memória pode ser classificada de acordo com diferentes princípios. Acerca
da memória de longo prazo, uma forma declarativa e uma não declarativa
podem ser distinguidas. Ao passo que a memória declarativa fornece um

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

registro conscientemente acessível de experiências anteriores individuais, a


não declarativa inclui habilidades motoras, procedimentos perceptivos e
reações condicionadas simples.
Um dos exemplos mais amplamente estudados de memória declarativa é o
reconhecimento — a capacidade de julgar um item como conhecido ou não. A
Memória de Reconhecimento (MR) é composta por dois componentes
principais: a lembrança, a capacidade de recordar os detalhes contextuais
associados aos estímulos, e a familiaridade, a percepção de encontro prévio
com estímulos já conhecidos (BARENSE et al., 2011; WAITE et al., 2021; WAN
et al., 1999).
A tarefa de reconhecimento de objetos foi desenvolvida para acessar a MR em
roedores, de forma análoga aos testes psicológicos realizados em humanos
(REED e SQUIRE, 1997). O aprendizado ocorre de maneira incidental, sem
reforços negativos e positivos, e se baseia na atração natural dos animais pela
novidade (ENNACEUR e DELACOUR, 1988).
Diferentes regiões do cérebro são necessárias para discriminar objetos. De
particular importância, o Córtex Pré-frontal medial (CPFm) é fundamental para
a capacidade de julgar quando os objetos foram vistos e se são familiares
(AKIRAV e MAROUN, 2006, BARKER et al., 2007; FORTRESS et al., 2013).
Previamente, nosso laboratório demonstrou que a influência dopaminérgica na
MR difere em distintas áreas cerebrais. Verificamos que a infusão do
antagonista seletivo para receptores D1/D5 (SCH 23390) no CPFm impede a
formação da memória de reconhecimento de objetos (ROSSATO et al., 2013).
Esse resultado sugere que a dopamina tem um papel específico na formação
da MR e que sua ação pode variar de acordo com a região cerebral envolvida.
A ativação dos receptores de dopamina desencadeia a sinalização via proteína
G estimulatória (Gs) induzindo um aumento do AMPc (adenosina 3',5'-
monofosfato cíclico) e a subsequente ativação da proteína cinase A – PKA.
A PKA tem um papel crucial nos processos de plasticidade neuronal ao ativar
CREB, fator de transcrição que estimula a produção do fator neurotrófico
derivado do cérebro — BDNF. A importância da atividade dessa cinase na
transmissão de sinais relacionados à novidade modulados pela dopamina,
entretanto, permanece pouco estudada e compreendida. No mais, os poucos
estudos existentes focam apenas em ratos machos, desconsiderando as
possíveis diferenças de sexo.
O estudo da atividade da PKA nas memórias de reconhecimento pode
fundamentar o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para transtornos
psíquicos, os quais em sua grande maioria têm um componente associado a
memórias.
Avaliamos o papel da PKA cortical na formação da memória de
reconhecimento de objetos em machos e fêmeas adultas comparando se existe
diferença entre os sexos na cognição.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Metodologia

Utilizamos ratos Wistar adultos de 3 meses (machos 300-350 g e fêmeas 230-


270 g). Todos os experimentos com fêmeas foram conduzidos com ciclos
naturais. Os animais foram fornecidos pelo Biotério Setorial do Instituto do
Cérebro-BISIC da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Eles
receberam comida e água ad libitum e permaneceram em ciclo de 12h
claro/escuro, tendo a temperatura controlada (21-23°C). Foram mantidos 5
animais por caixas mini-isoladas (padrão de polissulfonada 49cmx34cmx16cm),
com 60 trocas de ar por minuto (Alesco®, Ltda Monte Mor - São Paulo - Brasil).
O protocolo experimental foi desenvolvido de acordo com as diretrizes da Lei
AROUCA (Lei número 11.794, de 08 de 10 de 2008), que estabelece
procedimentos para uso científico de animais e foi aprovado pela Comissão de
Ética no Uso de Animais/UFRN, protocolo número 341.022/2023.
Os animais foram submetidos à cirurgia estereotáxica, seguindo as
coordenadas do atlas Paxinos e Watson (2007) para implantação de cânulas
guia de 0,2 mm de calibre, posicionadas 1,0 cm acima da região de interesse
(CFPm):
- Machos: AP +3.2, ML ±0.8, DV -3.0;
- Fêmeas: AP +3.2, ML ±0.7, DV -2.5;
A cirurgia de implantação de cânulas foi realizada em animais com anestesia
(cetamina 80 mg/kg e xilazina 10 mg/kg) administrada por via intraperitoneal. A
combinação dos anestésicos ofereceu efeito leve a moderado. As cirurgias
duraram cerca de 30-35 minutos. Os animais receberam meloxicam (2 mg/kg,
s.c.) como analgésico imediatamente antes da cirurgia e nos três dias
seguintes. Os experimentos começaram entre 7 e 10 dias após a cirurgia.
Nos experimentos farmacológicos/comportamentais, os animais receberam
microinjeções bilaterais por meio de cânulas após cirurgia estereotáxica na
região alvo. As substâncias foram administradas em 1 uL/lado, com doses
baseadas em estudos anteriores. As drogas foram previamente preparadas e
armazenadas a -80°C, diluídas antes dos experimentos e infundidas usando
uma agulha gengival conectada a uma microseringa Hamilton. A infusão
controlada ocorreu com uma bomba Insight a 0,25 uL/min, mantendo a agulha
no local por 30 segundos após cada infusão para evitar refluxo. O fármaco
utilizado neste trabalho foi o PKI 14-22 (Myr) (5 nmol/ul) - Peptídeo inibidor da
PKA permeável à célula.
Em experimentos de reconhecimento de objetos, roedores tendem a explorar
mais um objeto novo do que um objeto familiar. Isso é utilizado na Tarefa de
Reconhecimento do Objeto Novo (TRON), amplamente empregada para
estudar memórias declarativas. O ambiente consiste em um espaço aberto (60

1136
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

x 60 x 60 cm) com baixa luminosidade e isolamento acústico, equipado com


câmeras de vídeo de alta resolução conectadas a um computador para
detecção automática da exploração dos objetos e do deslocamento dos
animais.
Os roedores foram habituados ao aparato por 4 dias (20 minutos/dia) sem
objetos. Em seguida, passaram por duas sessões comportamentais espaçadas
no tempo: uma sessão de treinamento (TR), onde foram expostos a dois
objetos diferentes (A e B) por 5 minutos, e uma sessão de teste (TESTE), onde
foram reexpostos a um objeto familiar e um novo (A e C). Os objetos utilizados
foram de metal, vidro ou cerâmica, previamente testados para garantir que não
houvesse preferência. A exploração foi definida como tocar ou cheirar os
objetos com o focinho ou patas dianteiras, excluindo permanecer ao redor ou
sentar-se no objeto. O tempo de exploração de cada objeto foi registrado pelo
software Topscan Behavior, e um índice de discriminação (ID) foi calculado
com base no tempo de exploração do objeto novo e familiar em relação ao
tempo total de exploração. Os animais que não atingiram o critério mínimo de
exploração (10 segundos para cada objeto) foram excluídos das análises
estatísticas.
Além disso, foi realizado o teste de Esquiva Inibitória para avaliar um
aprendizado dependente de CPFm após o efeito amnésico de PKI na TRON. A
avaliação implica em expor o animal ao dispositivo, posicionando-o sobre uma
plataforma e examinando o tempo que o mesmo demora para descer na
mesma até as grades (CAMMAROTA et al., 2003). O aumento do tempo na
plataforma indica aprendizado, enquanto que a diminuição da latência indica
não aprendizado.
Os dados da TRON foram tabulados como média e erro padrão da média e
avaliados de acordo com a normalidade comparando as médias por teste T de
Student e comparando as médias com uma média teórica igual a zero por um
teste T de amostra única. Para o teste de esquiva foi utilizado ANOVA não
paramétrica e os dados tabulados como mediana e intervalo interquartil.

Resultados e Discussões

Para investigar detalhadamente o possível envolvimento da PKA cortical na


formação da memória de reconhecimento de objetos foram implantadas
cânulas de infusão no córtex pré-frontal medial (CPFm) de ratos Wistar machos
e fêmeas adultos. Esses ratos foram treinados em uma tarefa de
reconhecimento do objeto novo (TRON) utilizando dois objetos distintos
denominados A e B.
Cinco minutos após o treinamento, os ratos receberam injeções bilaterais (1 µl)
de um veículo (VEH; solução salina estéril) ou de um peptídeo inibidor de PKA

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

permeável às células, PKI14-22 (5 nmol/µl). Em seguida, foram reexpostos ao


objeto familiar A juntamente com o objeto novo C (Fig. 1A). Os ratos que
receberam o veículo (VEH) foram capazes de distinguir entre o novo objeto C
do objeto familiar A durante a sessão de teste. Em contrapartida, os ratos que
receberam PKI 5 minutos após o treinamento apresentaram incapacidade de
discriminar entre os objetos A e C durante um teste realizado 1 dia após a
sessão de treinamento (Fig 1B: t(22) = 3.487, p = 0.0021). O mapa de calor
representado na figura 1C, fabricado a partir da soma de das trajetórias dos
animais durante o teste, indica que os animais tratados com veículo passam
mais tempo explorando o objeto novo, enquanto que os animais tratados com
PKI exploram os objetos de maneira similar.
A administração de PKI não modificou a exploração total aos objetos (Fig. 1D,
esquerda), tampouco o número total de eventos exploratórios (Fig. 1D, centro),
nem a distância percorrida durante a sessão de teste (Fig. 1D, direita).
Fêmeas adultas são frequentemente descritas como deficientes ou incapazes
de formar alguns tipos de memória, particularmente aquelas que, como a MRO,
requerem a aquisição de novas informações episódicas (BECEGATO e SILVA,
2022; CANATELLI-MALLAT et al., 2022; GÁMIZ e GALLO, 2012). Para tanto,
avaliamos se a inibição da PKA cortical produz amnésia assim como em ratos
machos.
Observamos que a inibição da PKA no CPFm de fêmeas adultas
imediatamente após o treino impede a formação da memória de
reconhecimento de objetos, o que é evidenciado pela exploração semelhante
ao objeto familiar e ao objeto novo (Fig 2B: t(19) = 3.792, p = 0.012). O mapa
de calor mostrado na Figura 2C, indica que as fêmeas tratadas com PKI
exploram os dois objetos igualmente enquanto que as tratadas com veículo
preferem o objeto novo. A administração do PKI não modificou a exploração
total (Fig. 2D, esquerda), tampouco o número total de eventos exploratórios
(Fig. 2D, centro), nem a distância percorrida durante a sessão de teste (Fig.
2D, direita).
Para avaliar se a amnésia induzida pela infusão de PKI não se deveu a um
problema de lesão cortical, treinamos os animais um dia depois do teste da
TRON na tarefa de esquiva inibitória, que depende da integridade do CPFm.
Observamos que independente do sexo, os animais que receberam VEH ou
PKI foram capazes de formar uma nova memória de evitação (Fig. 3B).
Nossos resultados sinalizam que a PKA cortical desempenha um papel na
consolidação das memórias de reconhecimento de objetos. Além disso, essas
memórias necessitam de ativação antecipada de PKA no CPFm após o
treinamento. Essa proposição tem sua base na observação de que a
administração intra-CPFm de PKI prejudicou a memória de longo prazo, sem
impactar os comportamentos exploratórios e de deslocamento dos animais ao
longo da sessão de avaliação. Esses achados, em conjunto com os resultados
que sugerem que os animais com amnésia devido à infusão de PKI puderam

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aprender uma resposta de evitamento, apontam para o fato de que a amnésia


resultante da PKI não surgiu de uma influência adversa na performance,
exploração ou níveis de ansiedade, tampouco de um comprometimento não
específico da função do CPFm. Nosso trabalho mostrou que a ativação da via
AMPc-PKA é um passo necessário para a formação das memórias de longa
duração.
Com frequência, as fêmeas adultas são categorizadas como tendo dificuldades
ou incapacidades para desenvolver certos tipos de memória, especialmente
aquelas que exigem a assimilação de novas informações episódicas
(BECEGATO e SILVA, 2022; CANATELLI-MALLAT et al., 2022; GÁMIZ e
GALLO, 2012). Adicionalmente, alguns relatos sugerem que os hormônios
sexuais podem prejudicar o processamento da memória de reconhecimento
(BETTIS e JACOBS, 2012; CANATELLI-MALLAT et al., 2022; CRUZ-
SANCHEZ et al., 2021; FAN et al., 2010; PLATANO et al., 2008). Contrariando
essa percepção, nossos resultados demonstram que fêmeas adultas têm a
capacidade de consolidar a MRO de forma similar a ratos machos adultos, e
esse processo exige a atividade da PKA no CPFm imediatamente após o
treinamento na TRON.

Conclusão

Nossa pesquisa contribui para um entendimento mais aprofundado dos


mecanismos subjacentes à formação de memórias duradouras e ressalta a
importância da PKA cortical no processo. Mais ainda, mostramos que não
existem diferenças de aprendizado entre machos e fêmeas. Ambos os sexos
aprendem igualmente e possíveis diferenças encontradas por outros grupos
podem ser devidas a replicação de experimentos, o que muitas duplica
resultados que mostram a mesma resposta, mas usam tamanhos amostrais
diferentes.

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Anexos

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Figura 1 - A inibição da PKA no CPFm logo após o treino impediu a formação da


memória de reconhecimento de objetos de longa duração, em machos adultos.

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Figura 2 - A atividade da PKA no CPFm foi necessária para a consolidação da MRO em


fêmeas.

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Figura 3 - A inibição da PKA no CPFm não afetou o aprendizado futuro na EI.

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CÓDIGO: SB0870

AUTOR: JULIANA RAYSSA BARROS FELIX

COAUTOR: JULIANA LUIZA ROCHA DE LIMA

ORIENTADOR: BRUNO TOMIO GOTO

TÍTULO: Fungos Micorrízicos Arbusculares em cultivos de Arroz-vermelho e


negro, no semiárido paraibano do município de Sousa/PB

Resumo

Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA) estabelecem associação simbiótica com a


maioria das raízes vegetais terrestres e aquáticas. O arroz-vermelho e arroz-negro,
ambos ecótipos de Oryza sativa, são macrófitas de alta importância econômica. O
conhecimento da associação e biodiversidade desses fungos com os ecótipos é pouco
estudado, principalmente em condições de cultivo comercial no semiárido. Dessa
forma,este estudo objetivou comparar e inventariar as espécies de FMA associadas aos
arrozes em Sousa, Paraíba. Foram coletadas 20 amostras de sedimento rizosférico e
raízes, sendo 10 amostras de cada para ambos ecótipos. Foram recuperadas 35 espécies
de FMA, das quais 18 ocorreram exclusivamente no arroz-vermelho, cinco do arroz-
negro e 12 espécies com ocorrência em ambos ecótipos. Acaulospora e Glomus foram
os gêneros mais abundantes, com A. longula e A. minuta sendo dominantes. Ambos
ecótipos mostraram colonização, entretanto o arroz-vermelho teve 24,6% de
colonização por FMA, enquanto o arroz-negro apenas 10%. Essa baixa colonização em
ambas variações pode ser devido à interação estar nos estágios iniciais, explicando a
presença de hifopódios pelas raízes. As espécies de FMA da Caatinga conseguiram se
associar com variações de arroz não-nativas, fornecendo nutrição em condições
estressantes. Entretanto, ainda são necessários estudos futuros para entender a
manutenção da associação nas raízes e mudanças na comunidade micorrízica em outros
fenológicos desses ecótipos.

Palavras-chave: Caatinga, micorríza, Oryza sativa, orizocultura, taxonomia.

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TITLE: Arbuscular Mycorrhizal Fungi in Red and Black Rice crops in the semi-
arid Paraiba municipality of Sousa/PB

Abstract

Arbuscular mycorrhizal fungi (AMF) establish a symbiotic association with most


terrestrial and aquatic plant roots. Red rice and black rice, both ecotypes of Oryza
sativa, are macrophytes of high economic importance. Knowledge of the association
and biodiversity of these fungi with ecotypes is poorly studied, especially under
commercial cultivation conditions in the semi-arid region. Therefore, this study aimed
to compare and inventory the AMF species associated with rices in Sousa, Paraíba.
Twenty samples of rhizospheric sediment and roots were collected, 10 of each for both
ecotypes. Thirty-five species of AMF were recovered, of which 18 occurred exclusively
on red rice, five on black rice and 12 species occurred on both ecotypes. Acaulospora
and Glomus were the most abundant genera, with A. longula and A. minuta being
dominant. Both ecotypes showed colonization, but red rice had 24.6% colonization by
AMF, while black rice had only 10%. This low colonization in both variations may be
due to the interaction being in the early stages, explaining the presence of hyphopodia
on the roots. AMF species from the Caatinga were able to associate with non-native rice
varieties, providing nutrition under stressful conditions. However, future studies are still
needed to understand the maintenance of the association in the roots and changes in the
mycorrhizal community in other phenotypes of these ecotypes.

Keywords: Caatinga, mycorrhiza, Oryza sativa, orizocultura, taxonomy.

Introdução

O arroz (Oryza sativa L.), pertencente à família Poaceae, é um dos maiores cultivos
comerciais no mundo, contando com grande importância econômica e cultural (Mbodj
et al, 2018). A espécie possui variações chamadas de ecótipos, dentre elas o arroz-negro
e arroz-vermelho são encontrados, denominadas assim pela cor do pericarpo dos grãos.
O ecótipo arroz-negro é uma variação comercialmente valorizada na gastronomia
mundial, enquanto o arroz-vermelho é em grande maioria considerado como planta
daninha em plantações de arroz-branco. Essas plantas têm como principal característica
o tipo de sistema de plantação, ocorrendo principalmente em áreas alagadas, tendo em
vista que é uma planta que demanda considerável quantidade de água durante o
crescimento e o estresse hídrico pode afetar seu desenvolvimento e produção dos grãos
(Pringgohandoko, 2004; Naharia et al., 2005). Como alternativa para resistir a essas
condições adversas, há a formação da interação simbiótica com os Fungos Micorrízicos
Arbusculares (FMA). Essa relação pode desempenhar um papel crucial no aporte de

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nutrientes essenciais para o crescimento vegetal, onde o fungo fornece nutrientes como
P, N, K, Ca, Mg, Cu, Mn, Zn (Watanarojanaporn, 2013), e em troca recebem
fotossintatos energéticos, como açúcares ou carboidratos produzidos pelas plantas.
Os FMA pertencem ao filo Glomeromycota (Tedersoo et al., 2018), conhecidos
principalmente pela sua importância ecológica e simbiótica com raízes vegetais.
Atualmente existem três classes, cinco ordens, 17 famílias, 52 gêneros e 338 espécies
(Wijayarwardene et al., 2022). A relação entre os FMA e raízes vegetais é uma das
simbioses mais importantes e antigas. A descoberta do fóssil de uma planta vascular, a
Nothia aphylla, mostrou estruturas de fungos endofíticos, os quais estariam relacionados
diretamente aos atuais FMA (Pirozynski & Malloch, 1975) e com isso levantou a
hipótese de que as plantas somente conseguiram colonizar o ambiente terrestre a partir
da associação com as micorrizas arbusculares, há 400 milhões (Bonfante, 2008;
Tisserant et al, 2013). A manutenção dessa relação simbiótica ainda é documentada em
quase 90% das famílias vegetais terrestres, incluindo a família Poaceae (Smith & Read,
2008).
Os estudos iniciais com FMA associados aos arrozes apenas relacionam à presença ou
ausência de colonização, com a primeira ocorrência detectada por Ammani et al. (1985).
Atualmente, o conhecimento sobre essa relação é mais documentado para aplicações
comerciais, como biofertilizantes em ecótipos de arroz-branco. Além disso, muitos
desses estudos são limitados para climas, ecossistemas, biomas e ecótipos diferentes dos
encontrados nos cultivos brasileiros, principalmente levando em conta condições
ambientais adaptadas para cultivo comercial dos ecótipos arroz-vermelho e arroz-negro.
Esses estudos foram realizados na Caatinga, na qual os organismos têm influência do
clima semiárido e baixo regime de chuvas.
A interação entre os FMA e os arroz-vermelho e arroz-negro pode representar um
aspecto fundamental na adaptação dessas plantas às condições adversas da Caatinga.
Dessa forma, inventários taxonômicos são fundamentais para conhecer quais são as
comunidades de FMA que estão presentes nesse ambiente, principalmente para
esclarecimento da dinâmica entre esses dois organismos. A partir desses estudos, é que
novas descobertas de espécies e registros para o bioma e país são encontrados. Além
disso, também é importante para investigar quais são os fatores ambientais que podem
influenciar essa simbiose no semiárido.

Metodologia

2.1. Área de Estudo


O estudo foi conduzido em uma plantação comercial de arrozes orgânicos, localizada no
município de Sousa (6°47'44.4"S 38°08'59.5"W), Paraíba, Brasil (Figura 1). A área é
caracterizada pelo clima tropical quente e úmido Köppen–Geiger (1928) com chuvas de

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verão-outono e precipitação média anual de 790,5mm. O solo da área é do tipo


Argissolo Vermelho Amarelo com textura argilosa cascalhenta (PVAe) (Francisco,
2010). O cultivo situado na área em que antes possuia fitofisionomia característica do
bioma Caatinga, atualmente foi alagado artificialmente para plantação dos ecótipos de
arroz-vermelho e negro.
2.2. Amostragem
Foram coletadas 20 amostras de sedimentos rizosféricos e raízes, 10 de cada ecótipo,
distribuídas em quatro lotes de plantação com cinco amostras para cada lote. A coleta
foi realizada seguindo um gradiente do perímetro (borda) em direção ao centro (meio),
com o objetivo de aumentar o esforço amostral e capturar a diversidade da área (Figura
2).
2.3. Extração dos Glomerosporos
O sedimento associado às raízes foi acondicionado em sacos plásticos ziplock e
posteriormente submetidos à secagem para extração dos glomerosporos. Os
glomerosporos foram extraídos utilizando a técnica de peneiramento úmido
(Gerdemann & Nicolson, 1963) e centrifugação em água e sacarose a 70%, adaptado de
Jenkins (1964). Para isso, foram utilizados 50 g de sedimento para cada amostra. Em
seguida, os glomerosporos de FMA foram separados manualmente através de
estereomicroscópios, sendo agrupados por morfotipos semelhantes (similaridade de
tamanho, coloração e forma), e montados em lâminas permanentes com PVLG e PVLG
+ Melzer (1:1) para identificação morfológica dos táxons (Figura 3) .
2.4. Colonização das raízes
As raízes coletadas foram lavadas em água corrente para retirada dos sedimentos e
armazenadas em álcool 70%. Em seguida, foram cortadas em fragmentos de
aproximadamente 1 cm para a clarificação. Nesta etapa, os fragmentos de raízes foram
imersos em KOH (15%), por um período de aproximadamente 2 semanas, ou até as
estruturas obterem translucidez. Após isso, os fragmentos foram tingidos com azul de
tripan (5%) e em seguida mergulhados em lactoglicerol para uma melhor fixação e
manutenção das condições do tecido vegetal (Vierheilig et al., 1998) (Figura 4).
Posteriormente, foram lavadas em água destilada para posterior montagem das lâminas.
Foram montadas 100 lâminas de cada ecótipo, com 10 lâminas para cada amostra,
contendo 10 fragmentos de raiz por lâmina.
A porcentagem de colonização radicular foi calculada pela média das dez amostras de
cada ecótipo, sendo determinada pela seguinte fórmula:
PCol.rad (%) =Nº segmentos colonizados por FMANº segmentos observados * 100
2.5. Análises Taxonômicas
A identificação morfológica das espécies foi realizada com o auxílio de artigos de
descrição de espécies, revisões e chaves dicotômicas (Blaszkowski, 2012), seguindo a

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classificação proposta por Oehl et al. (2011) e Wijayardene et al. (2022).


Os caracteres utilizados para identificar as espécies de FMA foram o morfotipo dos
esporos, número de paredes de esporos, características histoquímicas de cada camada da
parede dos esporos, reação de Melzer da camada da parede dos esporos, cor e espessura
das camadas da parede dos esporos e cor e formato dos glomerosporos, conforme
sugerido por Medeiros et al., (2021).
2.6. Análises ecológicas
A riqueza de FMA foi determinada pelo número total de espécies identificadas para
cada ecótipo e a diversidade calculada pelo índice de Shannon-Weaver, no Rstudio
versão 4.2.3, usando o pacote Vegan (Oksanen et al., 2017).

Resultados e Discussões

3.1. Análise taxonômica dos glomerosporos do sedimento


Foram recuperados 1222 glomerosporos do arroz-vermelho, classificados em 35 táxons,
sendo 19 à nível de espécie, 12 a nível de gênero e um à nível de filo. Desse total, foi
identificada uma provável espécie nova. Os gêneros de FMA Acaulospora, Cetrospora,
Diversispora, Entrophospora, Funneliformis, Glomus, Paraglomus, Polonospora,
Rhizoglomus, Sclerocystis e Septoglomus foram encontrados nos sedimentos
rizosféricos do arroz-vermelho, enquanto para o arroz-negro foram recuperados 820
esporos, compondo 17 táxons, distribuidos em 9 gêneros: Acaulospora, Diversispora,
Entrophospora, Funneliformis, Glomus, Paraglomus, Polonospora, Rhizoglomus e
Sclerocystis.
Em ambos os ecótipos, 13 táxons foram comuns: Acaulospora colombiana, A. longula,
A. minuta, A. sp. 2 (aff. delicata), Diversispora sp., Entrophospora infrequens, E.
etunicata, Funneliformis mosseae, Glomus sp. 1 (aff. trufemii), G. viscosum,
Paraglomus occultum, Polonospora sp. (aff. polonica) e Sclerocystis sinuosa. Dentre
esses gêneros, Acaulospora (11) e Glomus (8) foram os mais abundantes.
No arroz-vermelho, as espécies mais abundantes foram A. longula (286), A. minuta
(419) e P. occultum (306). Para o arroz-negro as espécies A. longula (105), A. minuta
(579) e F. mosseae (35) foram as mais abundantes. Com isso, A. longula e A. minuta
podem ser entendidas espécies generalistas, tendo em vista que em ambos os ecótipos
apresentaram um alto grau de esporulação. Em concordância com o que é apresentado
nos estudos de Watanarojanaporn et al. (2013), Wang et al. (2015) e Sarkodee-Addo et
al. (2020) com a família Glomeraceae sendo a mais abundante, nossos dados também
mostram Glomeraceae como a mais representativa. Isso pode ser explicado por ser a
família com maior número de representantes no filo e também possuir uma ampla
distribuição mundial (Davison et al., 2015; Oehl et al., 2017). Além disso, também tem

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a capacidade de adaptação a diferentes condições ambientais, como crescimento em


ambientes pobres em nutrientes.
A predominância de táxons de FMA pode variar de acordo com o estado fenológico da
planta (Oehl et al. 2017), como em ambos os ecótipos foram coletados em estado
vegetativo, é possível correlacionar que a composição da comunidade micorrízica
naquele momento pode estar atrelada às necessidades nutricionais da plantação. Além
disso, por mais que alguns estudos indiquem que os FMA podem ter tanto baixa como
alta especificidade de hospedeiro (Johansenet al. 2015; Turrini et al. 2016), foi possível
observar maior seletividade para o ecótipo vermelho, em que houve maior diversidade
de FMA nos sedimentos e intensidade de colonização das raízes, por mais que tenha
tido menor tempo de exposição pós-plantil que o arroz-negro.
Além disso, a partir análise de diversidade de Shannon, foi possível observar que a
diversidade de FMA amostradas está abaixo do potencial máximo de diversidade local
para ambos os ecótipos: arroz-vermelho (2.601; máximo = 5) e negro (1.674; máximo =
4.08), ou seja, a distribuição de abundância entre as espécies não é equilibrada, devido a
presença de espécies mais abundantes do que outras.
3.2. Colonização das raízes
Os dois ecótipos apresentaram colonização por espécies de FMA. Dentre as estruturas
observadas nas raízes, hifas, vesículas, esporos e arbúsculos, foi percebido um alto
número de hifopódios (Figura 6), indicando que apesar de em alguns fragmentos de
raízes a simbiose já estivesse estabelecida, a interação ainda estava nos estágios iniciais.
Isso foi percebido devido a presença de hifopódios, que são estruturas formadas no
primeiro momento de interação do fungo com a superfície da raiz e são responsáveis
pela penetração e crescimento da hifa fúngica no tecido vegetal (Vergara et al. 2019).
Foram analisados 2000 fragmentos de raízes (1000 → arroz-negro + 1000 → arroz-
vermelho) sob microscópio óptico para busca e contabilização das estruturas de FMA,
como hifas, vesiculas, esporos e arbúsculos. No arroz-vermelho, as taxas de colonização
variaram entre 6% a 46%, contabilizando 246/1000 fragmentos, ou seja, em média
24,6% apresentaram estruturas de FMA colonizando os fragmentos de raízes. Enquanto
o arroz-negro apresentou menores taxas variando de 0% a 24%. Apenas 100 fragmentos
estavam colonizados, ou seja, em média somente 10% de colonização para o ecótipo.
Num geral, era esperado que houvesse maiores taxas de colonização para ambos
ecótipos, uma vez que de acordo com Souza et al. (2011), os FMA possuem elevada
capacidade de se associarem às raízes de arrozes. Entretanto, nossos resultados não se
mostraram análogos. Apesar das baixas taxas de colonização, foi possível perceber
diferenças em relação à interação dos FMA com cada ecótipo, assim como é observado
em diversos trabalhos com variações do arroz-branco (Lumini et al., 2011; Bernaola et
al., 2018; Parvin et al., 2021; Wang et al., 2021), entretanto a diferença de intensidade
da colonização não foi tão significativa quando comparada aos outros estudos com
arroz. Alguns trabalhos demonstram que a colonização por FMA em arroz-branco, é

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intensificada no intervalo de 4 a 5 semanas pós-plantio (Dhillion, 1992; Secilia &


Bagyaraj, 1994). Isso pode explicar a relativa baixa taxa de colonização em ambos
ecótipos deste estudo, uma vez que no momento de coleta, os arrozes-vermelho e negro
tinha, respectivamemente, 30 dias e 45 dias pós-plantil, contribuindo para a presença de
inúmeros fragmentos de raízes com hifopódios em ambos os ecótipos.
O ecótipo vermelho teve menor tempo de pós-plantil e consequente exposição aos
FMA, no entanto apresentou maior taxa de colonização do que o negro. Alguns fatores
abióticos como pH, temperatura, oxigenação e salinidade podem ter influenciado o
sucesso dessa interação (Clayton & Bagyaraj, 1984; Wigand et al., 1998; Bohrer et al.,
2004; Zhang et al., 2014; Baar et al., 2011; Queiroz et al., 2022), entretanto é importante
investigar quais são os fatores bióticos que também pode estar influenciando essa
associação, como a presença de outros microrganismos e até mesmo a dependência
micotrófica e genotípica da planta hospedeira, que no caso em variedades do arroz-
branco, é observado que a variação genética influencia na seleção da comunidade
micorrízica e intensidade da colonização (Parvins et al. 2021).
Em concordância com os dados deste estudo, Kalamulla et al., (2022) ressaltam que em
alguns trabalhos de experimentos em campo de cultivos alagados, a colonização por
FMA é quase que rara, devido às condições anóxicas dos sedimentos e a natureza
aeróbica desses fungos (Wigand et al. 1998; Zhang et al. 2014). Em resposta a essa
condição, para a colonização em arrozes de ambientes alagados pode ocorrer a partir da
adaptação nas raízes. Nesse processo, as raízes iniciam um maior desenvolvimento do
tecido aerenquimatoso para que os FMA consigam obter O2 Dessa forma, os FMA são
capazes de manter a associação (Watanarojanaporn et al. 2013).
Ainda que essa interação seja rara para o sistema de cultivos alagados, a associação é
encontrada na natureza e pode ocorrer principalmente em ambientes que são propensos
a condições de estresse para o hospedeiro vegetal (Lumini et al 2011), como nos
ecossistemas de semiárido na Caatinga. A exposição a condições estressantes, como
altas temperaturas e estresse hídrico, exigem maior cooperação entre os microrganismos
para sobreviver. Dessa forma, o arroz fica mais receptível a estabelecer simbiose com os
FMA principalmente quando está em maior estado de maturação, como período
reprodutivo ou de frutificação (Wang et al. 2015).

Conclusão

O estudo revelou alta diversidade de espécies de FMA com os gêneros Acaulospora e


Glomus sendo os mais abundantes em ambos os ecótipos, indicando adaptação a
ambientes com condições adversas, como a Caatinga. Apesar da baixa taxa de
colonização, ambos os ecótipos mostraram-se colonizados por FMA, e a partir disso foi
possível confirmar que o início da simbiose para esses ecótipos também acontece entre

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a 4º e 5º semana, como no arroz-branco. Essas descobertas ressaltam a complexidade da


interação das micorrizas arbusculares com diferentes tipos de plantas. Além disso, o
estudo também contribuiu para entender a ecologia das micorrizas arbusculares na
Caatinga. Entretanto, são necessários estudos para investigar a manutenção da
associação nas raízes para verificar se há alteração na comunidade micorrízica em
outros estágios do ciclo de vida desses ecótipos.

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Anexos

Figura 1: Mapa da localização da área de coleta do arroz-vermelho e negro, no bioma


Caatinga, em Sousa, Paraíba, Brasil.

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Figura 2: Esquema da amostragem em lotes por quadrantes da plantação dos arrozes.


A1 - 5 : Amostras 1 a 5; Q1 - 2 : Quadrante 1 e 2

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Figura 3: Esquema metodológico de extração de glomerosporos e identificação das


espécies de FMA.

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Figura 4: Esquema metodológico de análise de colonização das raízes.

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Figura 5: Infográfico comparativo de táxons presentes nos sedimentos dos ecótipos.

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Figura 6: Estruturas de Fungos Micorrízicos Arbusculares colonizando raízes dos


arrozes vermelho (A, B) e negro (C, D). A: Hifopódio, B: Esporos e vesícula, C: Hifas,
esporos e vesículas, D: Arbúsculo.

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CÓDIGO: SB0874

AUTOR: LUIS VICTOR SILVA DE LOIOLA

COAUTOR: MARIANNA BARROS SILVA

ORIENTADOR: GIULIANNA PAIVA VIANA DE ANDRADE SOUZA

TÍTULO: EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO DE UM CONDROITIM OBTIDO DE


VÍSCERAS DE TILÁPIA (Oreochromis niloticus).

Resumo

A crescente busca por biomoléculas naturais de valor biológico e farmacológico é


impulsionada pela biotecnologia, destacando os glicosaminoglicanos (GAGs). Esses
polissacarídeos têm sido alvos de investigações intensivas devido às suas propriedades
bioativas que possuem um potencial promissor no tratamento de diversas
doenças.Dentre os GAGs, o condroitim sulfato (CS) ganha destaque ao desempenhar
múltiplos papéis biológicos e farmacológicos. Nesse contexto, a exploração de novas
fontes desse polissacarídeo é de suma importância. A tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus) emerge como uma potencial fonte de CS. Este estudo revelou, por meio de
análises eletroforéticas, a purificação de um CS a partir das vísceras da tilápia. contudo,
para uma compreensão mais abrangente, a análise estrutural detalhada é necessario a
realização de novos testes.

Palavras-chave: Resíduos biológicos; polissacarídeo sulfatado;


glicosaminoglicano.

TITLE: Extraction and Purification of Chondroitin Obtained from Viscera of


Tilapia (Oreochromis niloticus)

Abstract

The increasing pursuit of natural biomolecules with biological and pharmacological


value is driven by biotechnology, with a focus on glycosaminoglycans (GAGs). These

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polysaccharides have been subject to intensive investigation due to their bioactive


properties, which hold promising potential for treating various diseases. Among GAGs,
chondroitin sulfate (CS) stands out for its multiple biological and pharmacological
roles. In this context, the exploration of new sources of this polysaccharide is of
paramount importance. The Nile tilapia (Oreochromis niloticus) emerges as a potential
source of CS. This study revealed, through electrophoretic analyses, the purification of
CS from Nile tilapia viscera. However, for a more comprehensive understanding,
detailed structural analysis requires further testing.

Keywords: Biological residues; sulfated polysaccharide; glycosaminoglycan.

Introdução

A biotecnologia impulsiona a busca por biomoléculas naturais com aplicações


biológicas e farmacológicas, destacando os glicosaminoglicanos (GAGs).
Polissacarídeos têm sido alvo de estudos devido a suas propriedades bioativas,
aplicadas no tratamento de doenças (SILVA et al., 2021; YE et al., 2021; AROKIARAJAN
et al., 2022; PEYDAYESH et al., 2023). Entre eles, os GAGs, como heparan sulfato
(HS)/heparina (HEP), queratam sulfato (QS), dermatam sulfato (DS), condroitim sulfato
(CS) e ácido hialurônico (HA), são notáveis. Suas variações estruturais conferem
diferentes funções fisiológicas, patológicas e farmacológicas (MORLA, 2019). Esse
polissacarídeos, exceto HA, podem formar proteoglicanos (PGs) que desempenham
papéis cruciais na organização de tecidos, crescimento celular e interações diversas
(BERNFIELD et al., 1999; MERRY et al., 2022).
Dentre os GAGs, o condroitim sulfato (CS) se destaca por suas propriedades
antioxidantes e anti-inflamatórias (Campo et al., 2006; Bobula et al., 2018; Zhu et al.,
2018; Medeiros et al., 2020; Silva et al., 2023). Presente na matriz extracelular de
tecidos conjuntivos, como cartilagens, pele e cérebro, o CS é constituído por ácido D-
glucurônico ligado a N-acetil-D-galactosamina (Souich et al., 2009; Uyama, 2007).
Diferentes padrões de sulfatação em suas cadeias conferem variações nos efeitos
farmacológicos (Properzi, 2003; Flangea et al., 2009). CS desempenha funções
estruturais em cartilagens, regulação do crescimento neural, regeneração axonal e
adesão celular (Egea et al., 2010; Zhu et al., 2018). Além disso, atua como antioxidante,
neutralizando espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (Herotin et al., 2010; Bobula
et al., 2018).
A análise comparativa entre CS de diferentes fontes revela suas propriedades
benéficas e adaptações estruturais (Maccari et al., 2010; Zhu et al., 2018). O CS emerge
como um promissor alvo farmacológico devido às suas múltiplas funcionalidades,
incluindo seu papel nas cartilagens e sua influência no sistema nervoso. Portanto, os

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GAGs, notadamente o CS, representam moléculas com potencial terapêutico e bioativo


a serem exploradas no campo da biotecnologia.

Metodologia

Extração dos glicosaminoglicanos da Oreochromis niloticus.


Inicialmente, foram utilizados 7 kg de vísceras frescas de tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus), as quais foram homogeneizadas em uma solução de NaCl (0,5 M) com pH
8,0 e submetidas a um processo de proteólise enzimática utilizando a protease
PROLAV 750 (da Prozyn Indústria e Comércio Ltda) por aproximadamente 40 horas a
60°C. Após a etapa de proteólise, a mistura foi filtrada para remover resíduos de tecido
e, em seguida, passou por um processo de complexação com glicosaminoglicanos
usando a resina de troca iônica Lewatit. Durante um período de 24 horas à
temperatura ambiente, o material foi agitado continuamente na presença de uma fina
camada de tolueno na superfície para evitar o crescimento bacteriano (ANDRADE et
al., 2013a). Após esse período, a resina foi recuperada por meio de filtração e eluída
sob agitação com concentrações crescentes de NaCl (0,5 M; 0,6 M; 1,0 M e 3,0 M) à
temperatura ambiente. Cada eluato resultante foi precipitado com 2 volumes de
metanol por 24 horas a 4°C. O precipitado contendo o extrato bruto de GAGs foi
separado por centrifugação a 8000 g durante 20 minutos. A fração selecionada para os
procedimentos subsequentes foi eluída com NaCl 3,0 M, visto que continha a maior
quantidade de GAGs, conforme relatado por Pinto (2015). As demais frações (0,5 M a
1,0 M), contendo mais contaminantes, foram descartadas. Essa eluição resultou em
um extrato bruto de GAG denominado F-3,0M (figura 1), o qual passou por etapas
adicionais de purificação. A eficácia do procedimento foi avaliada por meio de
precipitação com ácido tricloroacético (TCA) antes e após a complexação, além de
eletroforese em gel de agarose, comparando os resultados com o padrão de Heparina
(HEP), conforme descrito anteriormente (ANDRADE et al., 2013a).
Fracionamento com acetona.
Para a purificação, a fração F-3,0M foi primeiramente submetida a um processo de
fracionamento com acetona. Foi adicionada uma proporção de 0,5:1 (v/v) de acetona,
e o precipitado foi recolhido após 18 horas a 4°C e subsequente centrifugação,
resultando na fração 0,5VA. O sobrenadante passou por repetições do processo com
proporções crescentes de acetona (0,6:1, 0,7:1, 0,8:1, 0,9:1 e 1,0:1 v/v), gerando as
frações 0,6VA, 0,7VA, 0,8VA, 0,9VA e 1,0VA. As amostras foram então submetidas à
análise por eletroforese em gel de agarose (figura 2) em um tampão contendo PDA
(1,3 diaminopropano acetato) (Andrade et al., 2013). É importante notar que o

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processo de purificação resulta em perdas de massa devido à remoção de


contaminantes e à metodologia empregada.
Cromatografia de troca iônica.
Com o objetivo de isolar o CS, a fração de interesse 0,8VA passou por centrifugação
(8000 g por 20 minutos) para remover os componentes insolúveis e, posteriormente,
foi submetida à cromatografia de troca iônica com resina DEAE-Sephacel (figura 3). As
frações eluídas com concentrações crescentes de NaCl (0,5 M, 0,8 M e 1,0 M)
receberam as designações F:0,8VA-0,5M, F:0,8VA-0,8M e F:0,8VA-1,0M. Os eluatos
foram monitorados por meio de um ensaio de ácido urônico utilizando o protocolo de
Dische (1947) com espectrofotometria a 525 nm, tendo o ácido D-glucurônico como
padrão.
A eletroforese em gel de agarose é utilizada para distinguir diferentes tipos de GAGs
com base em suas mobilidades eletroforéticas. A identificação dos GAGs nas etapas de
obtenção e purificação foi realizada por meio de eletroforese em gel de agarose a 0,6%
em tampão PDA (1,3 diaminopropano acetato), comparando o perfil de migração das
moléculas obtidas com uma mistura padrão contendo condroitim sulfato, dermatam
sulfato e heparam sulfato. Após a eletroforese, o gel foi fixado em solução de brometo
de cetiltrimetilamônio a 0,1% (CTV) e corado com azul de toluidina, seguido por
descoloração.
Ressonância magnética nuclear
O condrotim sulfato purificado foi submetido a análises bidimensional 1H/13C HSQC
de Ressonância magnética nuclear para a caracterização estrutural usando o
Espectrômetro Bruker AVANCE III 600 MHz em parceria com a Universidade Federal do
Parana (UFPR).

Resultados e Discussões

A maior parte da massa das vísceras da tilápia, aproximadamente 85%, é constituída


por água presente no corpo do peixe, resultando em 6 kg de líquido eliminado e 1,05
kg de massa seca, conforme relatado por Medeiros (2020) e Silva (2023). Após passar
por etapas como proteólise, complexação e descomplexação por meio de eluição com
NaCl 3 M, foi obtido uma quantidade de 814 mg da fração F3M, correspondendo a
0,08% do peso seco das vísceras, também documentado por Silva (2023). Por meio da
análise de eletroforese em gel de agarose, foram identificadas duas bandas
eletroforéticas: uma com o perfil eletroforético parecido com os padrões de
heparina/heparam (HEP/HS), e outra banda mais concentrada e cuja migração se

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assemelha aos padrões de dermatam sulfato (DS) e condroitim sulfato (CS). Com base
nesses resultados, a fração F3M passou por um processo adicional de purificação para
isolar o CS.
Após essa etapa F3M foi submetida ao fracionamento com acetona, apresentado as
seguintes frações: F:0,5VA; F:0,6VA; F:0,7VA; F:0,8VA, F:1,0VA e F:2,0VA.Nota-se que a
distribuição da massa de material não foi uniforme entre as frações, sendo que as
frações F:0,7VA e F:0,8VA representaram a maior parte do material.
As amostras foram desidratadas, convertidas em soluções de concentrações
conhecidas e submetidas à eletroforese. A Figura 2 ilustra os padrões eletroforéticos
dos compostos subsequentes ao processo de fracionamento utilizando acetona. É
perceptível que os elementos presentes nas frações cetônicas não exibem
características eletroforéticas uniformes. Frações obtidas com menores proporções de
acetona (F:0,5VA e F:0,6VA) apresentam, no mínimo, dois componentes
eletroforéticos com migração semelhante à F3M. A fração F:0,7VA revela uma faixa
predominante com migração semelhante à do DS. Na fração F:0,8VA, surge uma faixa
difusa cuja migração coincide com DS e CS. A fração F:1,0VA exibe apenas uma única
faixa, porém com coloração muito discreta.
A fração F:0,8VA, com o rendimento mais alto e cujo principal componente foi
identificado como CS, passou por um passo adicional de refinamento mediante
cromatografia de troca iônica utilizando a resina DEAE-sephacel. Diferentes
concentrações de NaCl (0,5 M, 0,8 M e 1,0 M) foram empregadas para eluir as frações,
resultando em F:0,8VA-0,5M, F:0,8VA-0,8M e F:0,8VA-1,0M. A quantidade de material
obtida nesses segmentos totalizou cerca de 90 mg, exibindo uma distribuição distinta,
com F:0,8VA-0,8M emergindo como a fração predominante, constituindo
aproximadamente 77% do material precipitado.
Os padrões eletroforéticos dos elementos presentes em F:0,8VA estão ilustrados na
Figura 3, que apresenta a migração eletroforética das frações em relação aos padrões
de CS. A fração F:0,8VA-0,8M foi a eleita para experimentos subsequentes, revelando-
se como composta por CS. Esta parcela foi designada como CST (condroitim sulfato de
tilápia).
Análises estruturais foram realizadas utilizando degradação com enzimas específicas
para o condroitim sulfato e ressonância nuclear magnética. As análises e degradação
enzimática evidenciaram a presença da sulfatação no carbono 4. Esse mesmo
resultado foi confirmado a partir das análises de ressonância nuclear magnética
bidimensional (HSQC H1/C13), como mostrado na figura 4.

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Conclusão

Concluindo, os resultados indicam com sucesso a obtenção e purificação de uma


molécula que, a partir das análises eletroforéticas e estruturais foi possível identificar
uma molécula com estrutura semelhante ao condroitim 4-sulfato.

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et al., 2018; Zhu et al., 2018; Medeiros et al., 2020; Silva et al., 2023; Souich et al.,
2009; Uyama, 2007; Properzi, 2003; Flangea et al., 2009; Egea et al., 2010; Zhu et al.,
2018; Herotin et al., 2010; Bobula et al., 2018; Maccari et al., 2010; ANDRADE et al.,
2013a; Andrade et al., 2013; Medeiros, 2020; Silva, 2023.

Anexos

Figura 1

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eCICT 2023

Figura 2

Figura 3

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Figura 4

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CÓDIGO: SB0879

AUTOR: ISABELA SOARES DE SOUSA CARNEIRO

ORIENTADOR: RAQUEL CORDEIRO THEODORO

TÍTULO: CONSTRUÇÃO DE UM PLASMÍDEO CRISPR/CAS9 PARA A


DELEÇÃO DO INTEIN PRP8 DO GENOMA DE CRYPTOCOCCUS
NEOFORMANS

Resumo

Os inteins são elementos genéticos inseridos em genes codificadores que sofrem um


auto-splicing proteico após a tradução, permitindo assim a correta funcionalidade da
proteína hospedeira. Esse elemento está ausente no genoma humano, porém presente
principalmente no de fungos patogênicos, dentre eles, o Cryptococcus neoformans, um
basidiomiceto causador da micose sistêmica criptococose, responsável pela morte de até
180.000 indivíduos por ano em todo o mundo. O gene PRP8 em C. neoformans, quando
funcional após a autocatálise do intein PRP8, forma o complexo spliceossomo, o qual
realiza o splicing dos íntrons de pré-mRNAs. A influência do intein PRP8 no
metabolismo do C. neoformans ainda é pouco conhecida. Portanto, a construção de um
plasmídeo CRISPR-Cas9 capaz de realizar a sua deleção será o primeiro passo para
descobrir se esse elemento possui alguma ação regulatória no fungo hospedeiro. A partir
do seu nocaute, análises comparativas entre cepas mutantes e selvagens podem ser
utilizadas a fim de evidenciar as supostas diferenças causadas pela ausência do intein
PRP8.

Palavras-chave: Cryptococcus.Criptococose.CRISPR/Cas9.Intein PRP8.DNA


recombinante.

TITLE: CONSTRUCTION OF A CRISPR/CAS9 PLASMID FOR DELETION OF


THE PRP8 INTEIN FROM THE CRYPTOCOCCUS NEOFORMANS GENOME

Abstract

Inteins are genetic elements inserted into coding genes that undergo protein self-splicing
after translation, resulting in the functionality of their host protein. This element is
absent in the human genome, but is mainly present in that of pathogenic fungi,

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including Cryptococcus neoformans, a basidiomycete that causes the systemic mycosis


cryptococcosis, responsible for the deaths of up to 180,000 individuals a year
worldwide. The PRP8 gene in C. neoformans, when functional after the autocatalysis of
the PRP8 intein, forms the spliceosome complex, which performs the splicing of pre-
mRNA introns. The influence of the PRP8 intein on the metabolism of C. neoformans is
still poorly understood. Therefore, the construction of a CRISPR-Cas9 plasmid, capable
of carrying out its deletion, will be the first step in discovering whether this element has
any regulatory action in the host fungus. Based on its knockout, comparative analyses
between mutant and wild strains can be used to highlight the supposed differences
caused by the absence of the PRP8 intein.

Keywords: Cryptococcus.Cryptococcosis.CRISPR/Cas9.PRP8
intein.Recombinant DNA.

Introdução

A criptococose é uma micose classificada como sistêmica, de distribuição mundial,


causada pela inalação de leveduras dos complexos de espécies Cryptococcus
neoformans e Cryptococcus gattii. Enquanto o primeiro tende a infectar principalmente
indivíduos imunocomprometidos, o segundo possui a capacidade de infectar até mesmo
pessoas imunocompetentes (Yoon et al., 2020). A taxa de mortalidade da criptococose é
extremamente alta, especialmente em pacientes imunossuprimidos infectados pelo HIV,
os quais apresentam cerca de 60% de morte (Zhao et al., 2023). Apesar da infecção
iniciar no trato respiratório, as espécies do gênero Cryptococcus apresentam um
tropismo por áreas do tecido nervoso, o que pode causar meningoencefalite (Chen et al.,
2022).

Os tratamentos recomendados para infecções fúngicas humanas são limitados aos


agentes antifúngicos poliênicos, a flucitosina, as equinocandinas e os azólicos (Zhao et
al., 2023), entretanto, devido à semelhança entre as células animais e fúngicas, esses
medicamentos são considerados, também, citotóxicos para humanos. Desse modo,
torna-se indispensável o investimento em pesquisas de novos potenciais alvos
terapêuticos alternativos e mais específicos aos patógenos, como os inteins, a fim de
favorecer a eficácia do tratamento e reduzir os danos nos seres humanos.

Inteins (INternal ProTEINS) são elementos genéticos invasivos que estão inseridos em
genes codificadores, que após a transcrição e tradução do gene hospedeiro, sofrem um
auto-splicing proteico tornando a proteína hospedeira funcional (Fernandes et al., 2022).
O gene PRP8 do C. neoformans, por sua vez, abriga o intein PRP8 (PRP8int), uma
sequência de nucleotídeos que é transcrita, traduzida e posteriormente excisada,
permitindo que essa proteína realize a sua função de formar o complexo

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ribonucleoproteico spliceossomo. Esse complexo é responsável por realizar o splicing,


um mecanismo caracterizado pela retirada dos íntrons de pré-mRNAs em seres
eucariotos (Green et al., 2019). Pesquisas acerca do funcionamento e da importância do
PRP8int são essenciais para o entendimento da influência desse elemento na regulação
do metabolismo do fungo e a sua possível manipulação como um promissor alvo
terapêutico de doenças fúngicas, uma vez que este elemento está ausente no genoma
humano.

A criação do sistema de edição gênica CRISPR/Cas9 (Clustered Regularly Interspaced


Short Palindromic Repeats/CRISPR-associated protein 9) permitiu aos seres humanos
modificar o genoma de organismos de maneira simples e eficiente (Wang et al., 2018),
via: reconhecimento, clivagem e reparo. Para isso, inicialmente, o sgRNA projetado irá
reconhecer a sequência alvo do gene a partir da complementaridade de bases e guiará a
enzima Cas9, endonuclease responsável por clivar a dupla fita, até a região alvo. Por
fim ocorre o reparo, podendo ser por junção de pontas não-homólogas ou por inserção
de um molde de DNA homólogo à região afetada contendo a alteração necessária
(Misganaw et al., 2021).

Tomando como base as informações anteriores, o atual plano de trabalho objetiva,


portanto, a construção de um plasmídeo pGKB-CRISPR/Cas9 que tenha a capacidade
de realizar o nocaute da sequência que codifica o PRP8int do genoma do C. neoformans
sem que ocorra prejuízo à proteína hospedeira. Com isso será possível compreender,
futuramente, se esse elemento genético possui ação regulatória no metabolismo do
fungo a partir de análises comparativas entre as cepas mutantes e selvagens, além de
avaliar o seu potencial como um promissor alvo terapêutico. Para isso, os insertos serão
amplificados em vetores de plasmídeos pJETs por DNA recombinante e subclonados
em um plasmídeo final pGKB/CRISPR responsável por realizar a deleção do PRP8int
do genoma da cepa FC2 da levedura.

Metodologia

Em linhas gerais, para a construção de um plasmídeo CRISPR/Cas9, inicialmente é


preciso realizar a extração dos DNAs alvos, os quais serão moldes para obtenção dos
insertos por reações de PCR para serem ligados em um plasmídeo de clonagem. Os
plasmídeos recombinantes são inseridos em bactérias competentes, por transformação,
permitindo inúmeras cópias do plasmídeo a partir divisão celular bacteriana.
Posteriormente é feita a extração dos plasmídeos clonados por uma técnica conhecida

1171
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eCICT 2023

por miniprep. Em seguida é realizada a digestão enzimática dos minipreps a fim de


separar os fragmentos de interesse do restante do plasmídeo, preparando-os para a
subsequente subclonagem no plasmídeo final de expressão. Esse plasmídeo
CRISPR/Cas9 é então sequenciado e, se estiver correto, será introduzido no fungo
hospedeiro por meio de eletroporação para a edição gênica.

O presente estudo utiliza a cepa de referência FC2 do C. neoformans cedida pela


FioCruz. Esse isolado é mantido em ágar YPD a 37°C no Laboratório de Micologia
Médica (LAMIM) do Instituto de Medicina Tropical do Rio Grande do Norte
(IMT/UFRN).

O gene da Cas9 foi amplificado junto com os sinais de localização nuclear (SV40 e
nucleoplasmina) e o terminador bGHpA, e requer uma associação com o promotor
endógeno da actina ACT1 para sua expressão na célula fúngica. Por outro lado, no caso
dos sgRNAs, que foram projetados utilizando o software sgRNAcas9 V3.0 (Xie et al.,
2014) e baseados no genoma da cepa de C. neoformans JEC21, a construção envolveu a
realização de PCR de overlap. Esse PCR foi realizado entre as regiões do promotor
endógeno U6, que é responsável pela expressão dos sgRNAs no fungo, e as regiões
scaffolds, objetivando a correta estrutura dos sgRNAs.

O nocaute do PRP8int é seguido por reparo dirigido por homologia (HDR) utilizando
um molde PRP8Δint obtido do PCR de overlap entre as regiões N e C-terminal do gene
PRP8, evitando mutações indesejadas e garantindo que não haja danos à proteína
hospedeira. Ademais, visando averiguar o sistema de edição gênica, o gene ADE2 do
fungo também sofrerá um nocaute e será reparado, por HDR, utilizando um molde
ADE2wt, que em um plano de trabalho futuro, sofrerá mutações sinônimas capazes de
alterar o fenótipo da levedura, confirmando a funcionalidade do sistema CRISPR/Cas9
macroscopicamente. Tal fenótipo será revertido para que a única alteração seja a
ausência do intein.

 Extração de DNA
A extração do DNA da cepa FC2 do C. neoformans foi realizada seguindo o protocolo
do Fungi/Yeast Genomic DNA Isolation Kit da empresa Norgen Biotek Corp.

 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)


Foram realizadas reações de PCR com distintas finalidades, sendo elas: o isolamento
das regiões de interesse, a construção dos sgRNAs e do molde PRP8Δint por meio de

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eCICT 2023

PCRs de overlaps e para a conferência tanto das colônias transformadas quanto dos
minipreps.
O gene que codifica a enzima Cas 9 e as regiões scaffolds dos sgRNAs, foram
amplificados por a partir do plasmídeo pX330 à 50 ng/uL (Addgene plasmid #42230)
(Cong et al., 2013), enquanto as regiões promotoras (U6 e ACT1) e os moldes para a
recombinação homóloga (molde PRP8Δint e molde ADE2wt) foram amplificados a
partir da cepa FC2 de C. neoformans.
Todas as reações de PCR foram executadas com a enzima Phusion DNA Polymerase
High Fidelity, segundo instruções do fabricante e foi realizada uma padronização com
diferentes temperaturas de anelamento dos primers a fim de encontrar as condições de
maior eficiência de amplificação. Todos os primers, DNAs, termociclagens e tamanhos
do amplicons estão descritos no anexo 01 e as sequências dos primers no anexo 02.
As reações de PCR foram feitas com 0,2 mM de dNTP, 0,2 uM de cada primer, 1x
Buffer CG, 3% de DMSO e 0,02 U/uL de Phusion Polymerase.

 Purificação dos amplicons


Os produtos de PCR foram confirmados por eletroforese em gel de agarose 1% e
purificados com o kit GFX PCR DNA da GEHealthcare conforme instruções do
fabricante. Posteriormente os amplicons foram quantificados no Nanodrop.

 Clonagem do inserto no plasmídeo


Para a ligação dos insertos no plasmídeo utilizou-se o CloneJET PCR Cloning Kit da
Thermo Fisher para ligar insertos ao plasmídeo pJET1.2 blunt, de 2.974 pb que contém
um gene de resistência à ampicilina.
A clonagem seguiu as instruções do fabricante, empregando o PCR purificado da Cas9,
do promotor ACT1, dos diferentes tipos de sgRNAs (OL-1 ao OL-8), do molde ADE2wt
e do molde PRP8Δint. A proporção ideal foi 3:1 inserto/plasmídeo em concentrações de
0,15 pmol e 0,05 pmol, respectivamente.

 Transformação bacteriana
As transformações foram feitas com a bactéria Escherichia coli competente de linhagem
DH5α (Invitrogen®), a partir do método de transformação por choque térmico segundo
as instruções do kit Subcloning Efficiency DH5α Competent Cells. O grupo controle foi
o plasmídeo pX330 e os produtos transformados foram os diferentes plasmídeos pJETs
+ insertos (Cas9, OL-1, OL-2, OL-3, OL-4, OL-5, OL-6, OL-7, OL-8, OL-PRP8, ACT1
e ADE2) nas placas de LB + ampicilina e o pGKB na placa de LB + canamicina, ambos
à 50ug/mL.

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eCICT 2023

 Miniprep
Após o crescimento das bactérias transformadas é necessário a confirmação da
clonagem. Para isso, foi feita a extração dos plasmídeos (miniprep) das bactérias
transformadas a partir do protocolo do GeneJET Plasmid Miniprep Kit da Thermo
Fisher Scientific, seguidos de PCR e eletroforese para a confirmação.

Resultados e Discussões

RESULTADOS

 Reação em cadeia da Polimerase (PCR)


Todos os PCRs, com exceção do PCR de overlap do molde PRP8Δint, funcionaram.
Esse molde apresentou dificuldade na sua montagem uma vez que, ao ser analisado em
gel de agarose a 1%, estavam apresentando duas bandas com tamanhos distintos.

 Clonagem e transformação em DH5 alfa


Nessa etapa, não houve crescimento bacteriano nas placas de ágar LB + ampicilina
denominadas de controle pX330, pJOL-1, pJOL-8 e pJOL-PRP8. As outras placas
obtiveram um bom crescimento e puderam seguir para o próximo passo de extração dos
plasmídeos.

 Miniprep dos plasmídeos em bactérias transformadas


Das placas que possuíram crescimento bacteriano (pJCas9, pJOL-2, pJOL-3, pJOL-4,
pJOL-5, pJOL-6, pJOL-7, pJACT, pJADE e pGKB), foi feita a extração dos plasmídeos
a partir do GeneJET Plasmid Miniprep Kit da Thermo Fisher Scientific. Após a
extração, foi feita a confirmação da clonagem a partir da técnica de PCR dos minipreps
e das colônias transformadas. O esquema do andamento dos minipreps realizados estão
descritos no anexo 03.

DISCUSSÃO

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Os três métodos mais comuns de edição gênica que utilizam nucleases responsáveis pela
quebra da dupla fita do DNA de eucariotos são os Zinc Finger Nucleases (ZFNs),
Transcription Activator-Like Effector Nucleases (TALENs) e o sistema de edição
gênica Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats/CRISPR-associated
protein 9, mais conhecido como CRISPR/Cas9 (Shamshirgaran et al., 2022). Enquanto
as duas primeiras técnicas são mais antigas e complexas, o mecanismo de
reconhecimento do gene alvo baseado em sgRNA pelo sistema CRISPR/Cas9 torna a
edição de genes mais fácil, eficiente e barata em comparação às outras técnicas. Isso
ocorre uma vez que esse método propicia aos pesquisadores a produção de uma única
proteína Cas9 capaz de atuar com diferentes sgRNAs, permitindo uma edição
combinatória do genoma (Tschaharganeh et al., 2016), ou seja, diferentes regiões do
genoma conseguem ser modificadas com a construção de apenas um vetor
recombinante, barateando os custos laboratoriais e sem os obstáculos dos efeitos off-
targets geralmente encontrados no TALENs e nas ZFNs.

Uma cepa do C. neoformans sem o intein PRP8 já foi desenvolvida em estudos


anteriores por Green et al (2019) a partir da clonagem de um gene PRP8Δintsintético no
vetor Cne Safe Haven pSDMA25.79. No entanto, esse gene exógeno foi introduzido em
um local do genoma que não era no mesmo do gene PRP8wt que havia sido nocauteado,
podendo influenciar na expressão dos genes localizados próximos à região de inserção,
possibilitando, ainda, uma possível alteração no metabolismo dessa cepa sem que seja
necessariamente pela ausência do intein PRP8.

No âmbito do nosso projeto, entretanto, queremos empregar um método de alta precisão


e especificidade para remover o intein de um gene que é essencial à sobrevivência do C.
neoformans, como o PRP8. Nesse contexto, optamos pelo sistema CRISPR/Cas9,
aplicando o mecanismo de reparo dirigido por homologia (HDR), visando modificar
exclusivamente a presença do PRP8int no genoma do C. neoformans, sem acarretar
danos à integridade da proteína hospedeira.

A nossa teoria sugere que a regulação do processo de splicing do Prp8int desempenha


um papel na modulação do metabolismo celular da levedura, permitindo ao fungo os
ajustes necessários às condições desafiadoras do novo ambiente durante o período de
parasitismo. Portanto, realizar a deleção do intein do gene PRP8 é o primeiro passo para
estudar, em estudos futuros, a influência desse elemento genético no Cryptococcus
neoformans em que a única alteração será a ausência do intein nas cepas mutantes, a
partir da análise comparativa dos fatores de virulência com as cepas selvagens.

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Devido ao não crescimento das colônias pJOL-1, pJOL-8 e do pJOL-PRP8 na etapa de


transformação, foi necessário a repetição dos procedimentos dos PCRs de overlaps, no
entanto, somente os dois primeiros obtiveram sucesso enquanto que terceiro continuou
indicando na eletroforese a presença de duas bandas distintas. Dessa forma, as regiões N
e C - terminal do gene PRP8 que sofrem o overlap para a construção do molde sem o
intein, serão amplificadas isoladamente a fim de identificar alguma possível
contaminação para, posteriormente, repetir o PCR de overlap do OL-PRP8. Seguidos os
procedimentos citados, esses 3 insertos serão clonados no pJET1.2 blunt e
transformados nas bactérias competentes para, então, os plasmídeos recombinantes
serem extraídos por miniprep.

Além das mencionadas acima, algumas etapas desse plano de trabalho ainda não foram
finalizadas, sendo elas: a clonagem, a transformação e o miniprep dos 3 insertos
restantes, a digestão de todos os minipreps com enzimas de restrição, a subclonagem
dos cassetes no plasmídeo pGKB e, por fim, o sequenciamento, como indicam no anexo
04. Tais procedimentos serão realizados em um próximo plano de trabalho a fim de
criar as diferentes cepas do pGKB/CRISPR e realizar a deleção do intein PRP8 do
isolado FC2 do Cryptococcus neoformans.

Conclusão

Não foi possível finalizar esse plano de trabalho devido a algumas intercorrências e
dificuldades encontradas no desenvolvimento desse projeto, as quais foram
demonstradas no tópico da discussão.
Pretende-se finalizar o PCR, as clonagens, as transformações, os minipreps, as digestões
enzimática, a subclonagem dos cassetes no plasmídeo pGKB e seu sequenciamento em
um futuro plano de trabalho. Após essas construções, o plasmídeo CRISPR/Cas9 será
transfectado para a levedura por meio de eletroporação e serão realizadas avaliações dos
fatores de virulência e da patogenicidade desse fungo mutante. Serão analisados o
comportamento metabólico fúngico em situações como estresse oxidativo, nitrosativo e
térmico, bem como ensaios de susceptibilidade a antifúngicos e respostas em caso de
infecção em organismos invertebrados.

Referências

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Mediated Genome Editing. Biologics : Targets & Therapy, v. 15, n. 15, p. 353–361, 21

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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CHEN, Y. et al. Cryptococcus neoformans Infection in the Central Nervous System:


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SHAMSHIRGARAN, Y. et al. Tools for Efficient Genome Editing; ZFN, TALEN, and
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TSCHAHARGANEH, D. F. et al. Using CRISPR/Cas to study gene function and model


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WANG, P. Two Distinct Approaches for CRISPR-Cas9-Mediated Gene Editing in


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YOON, H. A. et al. Cryptococcus neoformans infection in Human Immunodeficiency


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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

ZHAO, Y. et al. Cryptococcus neoformans, a global threat to human health. Infectious


Diseases of Poverty, v. 12, n. 1, 17 mar. 2023.

Anexos

Anexo 01. Na tabela acima está representado o esquema dos PCRs.

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Anexo 02. Primers representados em letras minúsculas. As letras maiúsculas sem


sombreado representam regiões de overlap. Em negrito está representado o
terminador 6-T. As letras com sombreado colorido representam os sítios de restrição
para as enzimas.

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Anexo 03. O "sim" indica os minipreps já realizados e os "não" aos que ainda estão em
andamento.

Anexo 04. Na tabela acima, o “sim” corresponde aos experimentos finalizados e o


“não” aos que ainda não foram realizados.

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CÓDIGO: SB0903

AUTOR: MARIA ELOISA GOMES TEIXEIRA PEIXOTO

COAUTOR: KEZMY HUGO ALVES GUILHERME

COAUTOR: ITALO SERGIO DE OLIVEIRA COSTA

ORIENTADOR: ANAMARIA DAL MOLIN

TÍTULO: CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO DA ENTOMOFAUNA


DA FLORESTA NACIONAL DE NÍSIA FLORESTA, RIO GRANDE DO NORTE

Resumo

Atualmente são conhecidas mais de um milhão de espécies de insetos, distribuídas em


todos os continentes e habitats, com exceção do ambiente marinho. Assim, qualquer
levantamento de biodiversidade deve incluir um componente voltado a esses
organismos. As florestas tropicais estão entre os biomas de maior biodiversidade do
planeta e também entre os mais ameaçados pela perda de habitat causada por atividade
antrópica, enfatizando-se a necessidade de conhecer as espécies que ali ocorrem. As
armadilhas Malaise estão entre os instrumentos mais importantes para coletar insetos de
voo diurno, de forma que estão entre a primeira escolha para pesquisas da área de ATBI
(Inventário da Biodiversidade de Todos os Táxons), pois, com uma amostragem
planejada em um período de semanas ou meses se obtém uma boa amostragem dos
insetos presentes, principalmente os voadores. O presente trabalho contribui para a
construção do conhecimento sobre a entomofauna do Rio Grande do Norte, com a
caracterização de amostras obtidas da Floresta Nacional (FLONA) de Nísia Floresta
com armadilhas Malaise durante os meses de abril a dezembro de 2022.

Palavras-chave: Insetos. Mata Atlântica. Biodiversidade. Análise faunística.

TITLE: CONTRIBUTION TO THE KNOWLEDGE OF THE ENTOMOFAUNA OF


THE NATIONAL FOREST OF NÍSIA FLORESTA, RIO GRANDE DO NORTE

Abstract

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Over a million species of insects are known today from every continent and habitat,
with the single exception of the oceans. Thus, any complete biodiversity survey should
include a component to inventory such organisms. Tropical forests are among the most
biodiverse biomes on Earth, and also among the most threatened due to habitat loss
caused by anthropic activities, which increases the need to know and describe these
species. Malaise traps are among the most important instruments to collect flying
insects, and as such are one of the first choices for ATBI research projects (All Taxa
Biodiversity Inventories), since a well designed sampling project could allow for a good
sampling of insects within weeks or months. This project aimed to contribute to the
knowledge of the insect fauna of the state of Rio Grande do Norte, Brazil,
characterizing its faunistic composition from samples obtained from Nisia Floresta
National Forest with Malaise traps between April and December 2022.

Keywords: Insects. Atlantic Forest. Biodiversity. Faunistics.

Introdução

O impacto das pressões antrópicas, a conservação das florestas, suas espécies associadas
e funções ecossistêmicas tem se tornado um importante foco de pesquisa e política
(Nakamura et al., 2017). Os insetos representam o grupo mais diverso dos animais
terrestres, desempenhando várias funções ecológicas-chave, tais como polinização,
decomposição, predação, entre outros. No entanto, há uma série de evidências sobre um
declínio global de insetos, como potenciais impactos sobre os ecossistemas planetários
(CARDOSO et al., 2020; WAGNER, 2020; WAGNER et al., 2021). Ainda assim, não
se sabe ao certo as causas exatas destes declínios.
Há evidências de que o processo de antropização tem um impacto negativo na
diversidade da entomofauna (Thomanzini & Thomanzini, 2002). A crescente
urbanização tem influenciado padrões de diversidade e abundância de vertebrados e
invertebrados, com impactos para o funcionamento, estabilidade e provisão de serviços
ecossistêmicos considerados fundamentais para o bem-estar das sociedades humanas
(PIANO et al., 2019). O projeto Lifeplan, ao qual esta pesquisa está vinculada, visa
construir a primeira base de dados global com ampla cobertura, tanto espacial como
temporal, para avaliar como processos locais e regionais ligados à urbanização
influenciam padrões de abundância e diversidade numa escala planetária. O presente
trabalho contribui para a construção desta base de dados, com a caracterização da
entomofauna da Floresta Nacional (FLONA) de Nísia Floresta.
Atualmente são conhecidas mais de um milhão de espécies de insetos, distribuídas em
todos os continentes e habitats, com exceção do ambiente marinho (STORK, 2018).
Assim, qualquer levantamento de biodiversidade deve incluir um componente voltado a
esses organismos; no entanto, sua enorme diversidade implica no fato de que são
necessários múltiplos métodos de coleta a fim de se ter uma boa amostragem dos insetos
representados em uma localidade (CAMARGO et al., 2015). Porém, existe uma

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convergência nos protocolos estabelecidos em levantamentos de fauna sobre o uso de


armadilhas de interceptação de insetos voadores como sendo um dos mais abrangentes
em termos de captura (KITCHING et al., 2001). Este tipo de amostragem massal é
comprovadamente eficiente para conhecimento da fauna de insetos de vôo rápido
(KARLSSON et al. 2020a, b), como moscas, mosquitos (Diptera), abelhas e vespas
(Hymenoptera). As armadilhas Malaise estão entre os instrumentos mais importantes
para coletar insetos de voo diurno, de forma que estão entre a primeira escolha para
pesquisas da área de ATBI (Inventário da Biodiversidade de Todos os Táxons), pois,
com uma amostragem planejada em um período de semanas ou meses se obtém uma
boa amostragem dos insetos presentes, principalmente os voadores. (VAN
ACHTERBERG, 2009).
As florestas tropicais estão entre os biomas de maior biodiversidade do planeta e
também entre os mais ameaçados pela perda de habitat causada por atividades
comerciais (AMORIM et al., 2022). Esse é o caso da floresta Atlântica. Tal processo
traz consequências para a floresta como efeitos de borda causando alterações na
composição florística, estrutural e, consequentemente, na entomofauna reguladora dos
ecossistemas (SILVA, 2012), evidenciando a urgência de inventariamento da sua
biodiversidade. A entomofauna no Rio Grande do Norte, apesar do crescente histórico
de pesquisas, ainda é pouco documentada: no Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil
(Rafael et al., 2023 - http://fauna.jbrj.gov.br), o estado apresenta 507 registros formais
de espécies, em comparação com cerca de 7.832 para a Região Nordeste e 89.300 para o
Brasil. Desta maneira, este trabalho apresenta uma contribuição pioneira para o
levantamento da fauna de insetos do Rio Grande do Norte, particularmente para a parte
Norte do bioma da Mata Atlântica, com a caracterização em nível de ordem da
entomofauna amostrada com armadilhas tipo Malaise na Floresta Nacional de Nísia
Floresta.

Metodologia

Os estudos foram conduzidos na Floresta Nacional de Nísia Floresta, município de


Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil, em área de mata atlântica, com clima
Tropical tipo Aw (Koeppen), (6°5’S, 35°12’W). O tempo de amostragem se estendeu
por nove meses com visitas semanais, de abril a dezembro de 2022, compreendendo a
estação chuvosa e parte da estação seca no estado do Rio Grande do Norte.
Foram usadas duas armadilhas do tipo Malaise, sendo uma delas com o topo na cor
branca, instalada no mês de abril/2022, e uma segunda com topo na cor preta, instalada
no mês de maio/2022. As armadilhas foram instaladas a cerca de 15 metros uma da
outra, com o frasco de álcool direcionado para o Norte, e sempre com a parte coletora
mais elevada que a armadilha, conforme protocolo (Lifeplan, 2022), localizadas em
áreas planas cercadas por vegetação alta, característica de uma floresta ombrófila

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(RADAMBRASIL, 1981), e grande quantidade de serrapilheira. As amostras foram


recolhidas semanalmente, sendo que o material amostrado foi recolhido em álcool
etílico 95% e levado ao laboratório, onde foram armazenados sob refrigeração (4°C a -
20°C).
Para a triagem e obtenção de dados, foi necessário seguir duas abordagens: a triagem
regular com observação e contagem direta sob microscópio estereoscópico, e no caso da
malaise de topo branco, devido a restrições de protocolo do projeto global, a triagem foi
realizada a partir de fotografia em alta resolução (Canon EOS Rebel T6i, 24
megapixels) com foco estendido e auxílio de software de processamento de imagens.
Em ambos os casos, os espécimes foram classificados taxonomicamente até o nível de
ordem. Os espécimes físicos foram triados de acordo e realocados para tubos de
centrífuga tipo “falcon” e eppendorf.
Os dados foram planilhados através de Google Sheets e Excel, e as tabelas e gráficos
plotados de acordo com os seguintes índices faunísticos e dados de coleta:
 Média por coleta mensal: mC=ni/nC, sendo ni é o número de indivíduos naquele
mês e nC o número de coletas no respectivo mês.
 Abundância relativa: proporção de indivíduos em relação ao valor total da
amostra (Ricklefs, 2011), sendo calculado por pi = ni/N, em que ni é o número
de indivíduos da Ordem i e N é o total de indivíduos da amostra (Silveira Neto et
al., 1976).
 Constância: C = p x 100/N, em que p é o número de coletas com a Ordem e N é
o número total de amostras tomadas (Silveira Neto et al., 1976). As ordens são
classificadas como constantes, quando estão presentes em mais de 50% das
amostras; acessórias, quando presentes em 25-50% das amostras; e acidentais,
quando presentes em menos de 25% das amostras (Azevedo et al., 2011).
 Dominância: Demonstra que uma, ou mais ordens, apresenta uma abundância
relativa superior às demais, ou seja, uma desuniformidade na distribuição total
do número de indivíduos (MAGURRAN,2011). Aqui caracterizamos uma
Ordem dominante quando a mesma apresenta abundância relativa superior a
50%.
Os dados foram plotados em dois gráficos para visualização da flutuação ao longo dos
meses e comparação da abundância entre ordens: um gráfico com a flutuação total do
número de indivíduos e um gráfico com ordens de classificação constante, ambos em
escala logarítmica.
O material coletado será depositado ao final na Coleção Entomológica da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, a Coleção Entomológica Adalberto Antônio Varela-
Freire – Departamento de Microbiologia e Parasitologia (CE-AAVF DMP/UFRN).

Resultados e Discussões

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Foram realizadas um total de 71 coletas de armadilhas Malaises, no período de abril a


dezembro de 2022, sendo 33 da malaise com parte superior preta e 38 da malaise com
parte superior branca. Foram coletados 70.629 indivíduos, distribuídos em 18 ordens de
Insecta (Figura 2), além de outros táxons: Anura (2), Arachnida (523), Collembola
(11.731) e Isopoda (4) (Tabela 1).
Houve uma perda de material da malaise de teto preto, referente ao período de 16 a 23
de setembro, ocasionada por problemas durante o transporte da amostra. Por isso foram
consideradas na contagem 32 das 33 amostras possíveis da armadilha, restando 70
amostras no total.
Os meses com um maior número de indivíduos foram: agosto/22, representando 24,75%
da abundância total (14.656 indivíduos), julho/22, representando 14,34% (10.131
indivíduos) e dezembro/22, representando 13,32% (9.412 indivíduos) (Tabela 2; Figura
1). Entretanto, com a perda de uma das coletas referente ao mês de setembro, houve um
desbalanço da flutuação da abundância mensal, considerando que havia uma maior
média do número de indivíduos por coleta (1.246 indivíduos), se comparado ao mês de
dezembro (1176 indivíduos) (Tabela 2).
As Ordens de Insecta que apresentaram constância por coleta semanais (38 coletas)
foram: Blattodea (76,31%), Coleoptera (100%), Diptera (100%), Embioptera (63,15%),
Hemiptera (100%), Hymenoptera (100%), Lepidoptera (100%), Orthoptera (100%) e
Psocodea (83,21%) (Figura 3 e Tabela 3). Todas as outras ordens foram consideradas
acidentais, com exceção de Thysanoptera (26,31%- 12 indivíduos), sendo considerada
uma ordem acessória (Tabela 3).
Independente do ambiente, nem todas as espécies são igualmente comuns. Entretanto,
nota-se que algumas são mais abundantes, algumas moderadamente comuns e a maioria,
frequentemente, são raras. É comum também se equiparar a alta diversidade com uma
alta uniformidade naquele comunidade, ou seja uma abundância semelhante entre os
táxons (MAGURRAN, 2011). Podemos evidenciar uma dominância na FLONA de
Nísia, independente da época do ano, de dípteros (pi=62,81%) (Tabela 3) com uma alta
presença da família Cecidomyiidae, um táxon globalmente hiperdiverso e com
abundância dominante nas comunidades, um resultado que acompanha o padrão
descrito por SRIVATHSAN, et al. (2023).
Como consequência da sua dominância, Diptera acaba por influenciar todo o padrão de
distribuição mensal proposto (Figura 1). Entretanto, outras ordens seguem padrões
semelhantes; por exemplo, a distribuição de Orthoptera (Figura 3). Vale ressaltar
também que, apesar do número considerável de espécimes coletados de Orthoptera (522
indivíduos), assim como em Coleoptera (966 indivíduos), armadilhas do tipo Malaise
não são o tipo mais comumente indicado para captura desses táxons (Camargo, 2015).

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Hemiptera, Hymenoptera, Lepidoptera e Psocodea também seguiram padrões de


distribuição semelhantes (Figura 3), com um aumento gradativo do número de
espécimes coletados ao longo dos meses. Blattodea (68 indivíduos) e Embioptera (44
indivíduos) mantiveram um padrão de pouca variação (Figura 3); porém, esses táxons
apresentaram um baixo n amostral.
A presença de Embioptera nas coletas (44 indivíduos) determina um novo marco para o
estado do Rio Grande do Norte, considerando que o mesmo não possui registros
(PINTO, 2020). Não há dados cadastrados para a região no GBIF (www.gbif.org) ou no
Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil (Rafael et al., 2023). Outro resultado não
esperado foi o número extremamente alto de indivíduos da classe Collembola (11.731
indivíduos) (Tabela 1), em sua maioria pertencentes a ordem Entomobryomorpha.

Conclusão

Este trabalho oferece uma primeira aproximação sobre a ocorrência de diversos táxons
na FLONA de Nísia Floresta, alguns dos quais inclusive não se encontravam
formalmente registrados na literatura. Os grupos melhor amostrados foram Diptera,
Hymenoptera e Lepidoptera, respectivamente, seguindo o padrão geralmente indicado
de que a eficácia de armadilhas do tipo Malaise que são eficientes na captura de insetos
voadores. Os meses com maior abundância e média do número de indivíduos por coleta
foram, respectivamente, agosto e julho. Contudo, é necessário o inventário de um
período mais longo de tempo a fim de melhor caracterizar padrões temporais de
flutuação.
Porém, esse tipo de amostragem é sabidamente incompleto dada a abrangência de
hábitos da entomofauna, pois não é eficiente para ordens que tendem a “cair” após
choque com intercepção de voo (ex. Coleoptera) ou que são mais comumente
associadas ao nível do solo (Blattodea, Orthoptera). Vale também ressaltar que
diferentes estratos da vegetação podem apresentar diferentes ocorrências de fauna que o
presente estudo não pode mostrar; segundo Amorim et al. (2022), levantamentos de
entomofauna precisam também ser realizados em diferentes estratos da vegetação para
contornar esse problema. Ainda assim, o presente estudo contribui para um
levantamento faunístico inicial da região, mostrando dados de abundância de Ordens da
Floresta Nacional de Nísia floresta, reafirmando uma necessidade de estudos mais
aprofundados.

Referências

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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Anexos

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Tabela 1 - 0001

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Tabela 1 - 0002

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Tabela 2

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Tabela 3

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Figura 1

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Figura 2

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Figura 3

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CÓDIGO: SB0926

AUTOR: ANA CLARA DE FRANÇA GAMA

COAUTOR: WIGINIO GABRIEL DE LIRA BANDEIRA

ORIENTADOR: EXPEDITO SILVA DO NASCIMENTO JUNIOR

TÍTULO: Análise macroscópica da face lateral do encéfalo do Macaco-prego


(Sapajus libidinosus).

Resumo

O presente projeto estudou a macroscopia da face lateral dos encéfalos de macacos-


prego da espécie Sapajus libidinosus, conhecida por sua inteligência e elevado
desenvolvimento motor. Foram utilizados sete animais, oriundos do CETAS (IBAMA),
que foram eutanasiados e tiveram seus encéfalos coletados e fixados para posterior
estudo. Pouco abordada na literatura científica, a anatomia macroscópica desses
primatas foi aqui investigada em detalhes, através da mensuração de parâmetros como
peso, dimensões dos hemisférios e dos sulcos cerebrais. Os resultados obtidos revelam
que o hemisfério direito tende a apresentar médias maiores que o esquerdo, indicando
uma possível dominância inter-hemisférica e correlacionando-se com preferências de
uso da mão esquerda para manejo de ferramentas. A análise dos sulcos cerebrais
demonstrou variações complexas nas medidas, sinuosidades e inclinações, refletindo a
riqueza morfológica dos encéfalos dos macacos-prego. Além disso, variações de junção
entre os sulcos longitudinal superior e vertical foram observadas, adicionando à
compreensão da complexidade cerebral dessa espécie. Essas descobertas não apenas
preenchem uma lacuna da literatura científica, mas também têm implicações para
estudos futuros. Em suma, este estudo contribui para uma compreensão mais profunda
da estrutura cerebral macroscópica dos macacos-prego, embasando estudos futuros.

Palavras-chave: Neuroanatomia. Macaco-prego. Macroscopia. Córtex.

TITLE: Macroscopic analysis of the Lateral Brain Surface in Capuchin Monkeys


(Sapajus libidinosus).

Abstract

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This project studied the macroscopy of the lateral surface of the brains of capuchin
monkeys of the Sapajus libidinosus species, known for their intelligence and high motor
development. We used seven animals from CETAS (IBAMA), which were euthanized
and had their brains collected and fixed for later study. The macroscopic anatomy of
these primates was investigated in detail by measuring parameters such as weight,
dimensions of the hemispheres and cerebral sulci. The results show that the right
hemisphere tends to have larger averages than the left, indicating a possible inter-
hemispheric dominance and correlating with preferences for using the left hand to
handle tools. Analysis of the cerebral sulci showed complex variations in
measurements, sinuosities and inclinations, reflecting the morphological richness of
capuchin monkeys' brains. In addition, variations in the junction between the superior
longitudinal and vertical sulci were observed, adding to the understanding of the
cerebral complexity of this species. These findings not only fill a gap in the scientific
literature, but also have implications for future studies. In summary, this study
contributes to a deeper understanding of the macroscopic brain structure of capuchin
monkeys, providing a foundation for future research.

Keywords: Neuroanatomy. Macroscopy. Cortex. Capuchin Monkey.

Introdução

Os macacos-prego da espécie Sapajus libidinosus são conhecidos como os macacos


mais robustos e inteligentes do Novo Mundo (Diniz, 1997). Dentre as espécies
neotropicais, é a que apresenta maior distribuição geográfica (Diniz, 1997) e exibe
características como memória, cognição, comportamento social e uso de ferramentas
semelhantes aos chimpanzés, bem como alto desenvolvimento motor (Abreu, 2021).
Philips e Sherwood (2005), observaram uma possibilidade da relação entre as variações
comportamentais lateralizadas e assimetrias neuroanatômicas entre várias espécies de
primatas tendo como um dos sujeitos o Sapajus. De forma análoga ao que ocorre com
outros primatas do Velho Mundo, foram observadas para o Sapajus a assimetria cortical
morfológica e funcional (Abreu, 2021). Sob esse viés, os primatas do Novo Mundo
configuram-se como referência em estudos no campo da neuroanatomia, em pesquisas
biomédicas e comportamentais, sendo alvo recente de diversos estudos.
Apesar do crescente interesse na utilização do clado como modelo para pesquisas no
campo da neuroanatomia, são escassos os estudos que descrevam, de forma detalhada e
precisa, a anatomia macroscópica desses primatas, sendo um desses representantes a
espécie que utilizamos no presente estudo, o Macaco-prego.
Com a realização de uma busca na literatura, foi identificada uma lacuna quanto à
produção científica voltada ao mapeamento, identificação e mensuração dos sulcos e
giros da face lateral do macaco-prego. A partir disso, foi observada a possibilidade de
desenvolver um estudo nessa área, sobretudo devido a importância desses dados no

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desenvolvimento das futuras atividades do projeto, na prática da cirurgia estereotáxica,


depósito de traçadores e embasamento de diversos estudos nessa área.
Assim, no presente estudo, nosso objetivo foi estudar, identificar e mapear a
macroscopia da face lateral dos encéfalos dos macacos-prego, pretendendo obter dados
essenciais morfológicos e morfométricos para que as futuras atividades do projeto
possam ser concretizadas de forma precisa. Além disso, este trabalho visa
complementar informações encontradas na literatura, comparando os elementos
encontrados nos espécimes que temos ao descrito pela literatura, de modo a contribuir
para a construção e consolidação desses dados, como também garantir sua acurácia.

Metodologia

Este trabalho foi aprovado pela CEUA (126/2016) da Universidade Federal de Campina
Grande e conta, também, com a aprovação do IBAMA (54310/2016 – SISBIO), sendo
isento de aprovação pela CEUA-UFRN. Nele, foram utilizados sete animais da espécie
Sapajus libidinosus, oriundos do CETAS (IBAMA). Os animais foram eutanasiados
através de perfusão transcardíaca, tendo seus encéfalos coletados e fixados para
posterior estudo.
Inicialmente, realizou-se um busca na literatura voltada ao mapeamento da anatomia
macroscópica dos encéfalos utilizados no estudo, sendo identificados os sulcos e giros
presentes em sua face lateral, servindo como base para as etapas subsequentes (Figura
1). Em seguida, uma vez determinados os avaliadores e realizada a calibração,
iniciaram-se as mensurações, utilizando-se da metodologia duplo-cego. Os parâmetros
aferidos foram: comprimento máximo do hemisfério cerebral (do polo frontal ao
occipital), altura máxima do hemisfério (superior-inferior), largura máxima do
hemisfério (latero-medial), peso e medidas reta e sinuosa dos principais sulcos da face
lateral, sendo eles: sulco central, sulco interparietal, sulco longitudinal superior e sulco
vertical. Os materiais utilizados para obtenção das medidas de interesse foram:
paquímetro da marca X (precisão de 0,01mm), alfinetes, barbante inextensível, pinça e
balança de precisão. Os dados foram coletados em planilhas independentes, após a
tabulação dos dados foram calculados também o grau de sinuosidade e do grau de
inclinação do sulco central.
A medida reta dos sulcos foi obtida com auxílio do paquímetro, a partir do seu
posicionamento rente a origem do sulco até sua porção terminal. Para a mensuração
sinuosa, uma das extremidades do barbante foi fixada a um alfinete que era posicionado
na porção inicial do sulco e em seguida, disposto de modo que acompanhasse todas as
circunvoluções do sulco, até atingir sua porção terminal, sendo marcado pela pinça
neste ponto. Após ser pinçado o barbante foi retirado do encéfalo e disposto sobre uma

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superfície plana para que então fosse medido com o paquímetro, fornecendo assim a
medida sinuosa do sulco. (Figura 2)
Para mensuração do grau de sinuosidade, foi realizada a divisão entre as medidas reta e
sinuosa do sulco de interesse, de modo que:
Grau de sinuosidade = medida retamedida sinuosa medida reta/sinuosa
Enquanto a mensuração do grau de inclinação do sulco central foi obtida a partir da
diferença das subtrações realizadas entre as extremidades do sulco central e suas
distâncias até a linha perpendicular a distância máxima do ponto aos polos frontal e
occipital, obtendo-se, então a seguinte equação:
(Inf. ao Occip. - Sup. ao Occip.) - ( Sup. ao Front. - Inf. ao Front.)
Em que:
Inf. = Extremidade inferior
Sup. = Extremidade superior
Occip. = Polo occipital
Front. = Polo frontal
Em seguida, todas as mensurações foram tabuladas e compiladas em uma planilha
única, buscando estabelecer relações entre sexo, peso, idade, possíveis variações
anatômicas, média e dominância das características observadas. Também foram
determinadas as médias gerais (MG), médias do hemisfério direito (MD) e médias do
hemisfério esquerdo (ME) de cada um dos parâmetros mensurados. Subsequentemente,
finalizada a macroscopia, os dados coletados foram analisados, sendo observados
padrões relevantes.

Resultados e Discussões

A partir disso, com a finalização da etapa de mensuração, os resultados foram


organizados em duas tabelas principais para facilitar a compreensão do conteúdo
abordado. A primeira tabela contém medidas gerais (Tabela 1), enquanto a segunda
tabela apresenta dados específicos relacionados a cada sulco de interesse (Tabela 2).
Os encéfalos pesavam em média 57,81g (+/- 7,19). Quanto à distância máxima do polo
frontal ao occipital, foi obtida uma média geral de 59,67mm (+/- 1,85), sendo observado
maior comprimento no hemisfério direito (59,94mm +/- 1,80) em relação ao esquerdo
(59,38mm +/- 2,01). Esse padrão de superioridade foi observado também em outros
parâmetros, como: altura (MG: 34,94mm +/- 2,08 - MD: 35,67mm +/- 2,10 - ME:
34,88mm +/- 2,18) e largura do hemisfério cerebral (MG: 23,11mm +/- 1,48 - MD:
23,43mm +/- 1,14 – ME: 23,07mm +/- 1,83).

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O sulco central, apresentou média geral reta de 20,92mm +/- 2,13 (MD: 20,59mm +/-
2,20 – ME: 21,25mm +/- 2,22) e sinuosa de 24,57mm +/- 2,29 (MD: 24,36mm +/- 2,64
– ME: 24,60mm +/- 2,70), com 0,85 +/- 0,05 de grau de sinuosidade (MD: -0,37mm +/-
2,73 – ME: 0,40mm +/- 2,16) e 0,04 +/- 2,39 de grau de inclinação (MD: -0,37 +/- 2,73
– ME: 0,40 +/- 2,16). O sulco interparietal, por sua vez, possui medida reta de 16,62mm
+/- 1,17 (MD: 17,20mm +/- 1,41 – ME: 16,10mm +/- 0,74) e sinuosa de 20,38mm +/-
1,63 (MD: 21,29mm +/- 1,02 – ME: 19,60mm +/- 1,64), com grau de sinuosidade
correspondente a 0,82 (MD: 0,79mm +/- 0,06 – ME: 0,84mm +/- 0,05). Já o sulco
longitudinal superior possui medida reta de 10,03mm +/- 3,10 (MD: 8,96mm +/- 2,67 –
ME: 10,50mm +/- 3,63) e sinuosa de 11,67mm +/- 3,13 (D: 11,02mm +/- 2,27 – E:
11,98mm +/- 3,97), com grau de sinuosidade equivalente a 0,86 +/- 0,09 (MD: 0,88mm
+/- 0,12 – ME: 0,88mm +/- 0,04). O sulco vertical possui média de 9,27mm +/- 2,12 de
medida reta (MD: 9,76mm +/- 2,35 – ME: 9,84mm +/- 3,63) e 11,38mm +/- 2,57 de
sinuosa (MD: 12,28mm +/- 2,91 – ME: 9,84mm 2,31), com grau de sinuosidade
equivalente a 0,82 +/- 0,05 (MD: 0,80mm +/- 0,05 – ME: 0,83mm +/- 0,04).
Outro aspecto analisado no estudo diz respeito à forma de junção dos sulcos
longitudinal superior e vertical. Durante a mensuração dos sulcos, foram observadas
variações na anatomia macroscópica da região, sendo uma das mais recorrentes a
mudança no local em que o sulco vertical (SV) encontra o longitudinal superior (LS).
Notou-se a manifestação de três consistentes formatos: em T (o SV encontra-se com a
porção média do LS, formando um T); em arco(o SV encontra-se com a porção final do
LS, formando um arco; e ângulado, (o SV encontra o LS também na porção final, mas
há a formação de um ângulo de quase 90°) (Figura 3).

Conclusão

O hemisfério direito tende a apresentar dimensões médias maiores quando comparado


ao esquerdo. Esse padrão de assimetria inter-hemisférica é um forte indicativo de uma
possível dominância inter-hemisférica. Esse achado reforça resultados obtidos em
estudos associados à dominância do lado esquerdo do corpo, como a preferência da mão
esquerda no uso de ferramentas nessa espécie (Phillips, K.A.; Thompson, C.R, 2013).
A análise dos sulcos cerebrais revelou variações nas medidas retas e sinuosas, assim
como nos graus de sinuosidade e inclinação. A alta incidência de variações anatômicas
aponta para a complexidade da anatomia cerebral dessa espécie e destaca a diversidade
morfológica presente nos encéfalos de macacos-prego.
Este estudo preenche uma lacuna na literatura científica ao oferecer uma descrição
detalhada da neuroanatomia macroscópica dos macacos-prego e os resultados têm
implicações significativas para a compreensão da neuroanatomia dessa espécie,
podendo servir como base para estudos futuros que explorem mais a fundo as

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correlações entre a morfologia cerebral e funções cognitivas e motoras específicas nos


macacos-prego.

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Capuchin Monkeys (Cebus apella) Is Associated With Asymmetry of the Primary
Motor Cortex. American journal of primatology, v. 75, n. 5, p. 435-440, 2013.

Anexos

Tabela 1. Dados referentes às médias gerais dos hemisférios cerebrais.

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Tabela 2. Dados referentes às médias da mensuração dos principais sulcos da face


superolateral do encéfalo do macaco-prego.

Figura 1. Face lateral de hemisfério cerebral esquerdo do macaco prego, enfatizando


os principais sulcos em A e giros em B. Escala (1mm).

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Figura 2. Representação do método de obtenção das medidas reta (linha reta) e


sinuosa (linha tracejada) de mensuração dos sulcos da face lateral do hemisfério
cerebral esquerdo do macaco prego. Escala (1mm).

Figura 3. Variações do formato de encontro dos sulcos vertical e longitudinal superior.


(a) em T; (b) em arco; e (c) angulado. Escala (1mm).

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CÓDIGO: SB0933

AUTOR: MARIA CLARA GALVAO PEREIRA

COAUTOR: JOÃO PAULO MEDEIROS MAMEDE

COAUTOR: HELOYSA ARAÚJO SILVA

COAUTOR: FABIANO PERES MENEZES

COAUTOR: MARIA ELISA LEITE FERREIRA

ORIENTADOR: ANA CAROLINA LUCHIARI

TÍTULO: Filho de peixe, peixinho é: Consistência comportamental


transgeracional em peixe zebra (Danio rerio)

Resumo

A variação comportamental entre os indivíduos está relacionada à biologia da espécie


e à história de vida de cada indivíduo. Apesar da ousadia ser o enfoque
comportamental mais estudado em animais, as avaliações da consistência
comportamental ao longo do tempo e entre contextos, bem como quais diferenças são
relevantes para separar os perfis, ainda são objeto de debate. Aqui, dividimos peixes
zebra (Danio rerio) em perfis bold e shy, aplicando um teste emergencial três vezes
com a mesma população de peixes. Em seguida, cruzamos indivíduos bold e shy para
obter a primeira geração (F1) dos perfis. Testamos eles em quatro diferentes testes
comportamentais: tanque novo, campo aberto, sociabilidade e agressividade, todos
realizados 3 vezes, com um intervalo de 15 dias. Os animais bold mostraram maior
comportamento agressivo do que os animais shy, característica considerada o principal
fator observado nos filhotes ousados e tímidos. Após os testes, cruzamos os animais da
geração F1 para obter a segunda geração (F2), na qual realizamos o teste de tanque
novo em 2 tentativas com intervalo de 15 dias com eles. Para esses animais o
comportamento ansioso se mostrou diferente entre os perfis, sendo os animais shy
mais ansiosos, sugerindo uma base genética para a característica. Além disso, a
consistência pareceu depender do contexto. As diferenças individuais observadas
permitiram compreender como esse animal se comporta diante de desafios
ambientais em diferentes situações.

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Palavras-chave: Diferenças individuais. Consistência. Perfil. Peixe zebra.


Ontogenia.

TITLE: Like father, like son: Transgenerational behavioral consistency in


zebrafish (Danio rerio)

Abstract

Behavioral variation between individuals is related to the biology of the species and
the life history of each individual. Although boldness is the most widely studied
behavioral approach in animals, assessments of behavioral consistency over time and
between contexts, as well as which differences are relevant to separating profiles, are
still the subject of debate. Here, we divided zebrafish (Danio rerio) into bold and shy
profiles, applying an emergency test three times with the same population of fish. We
then crossed bold and shy individuals to obtain the first generation (F1) of the profiles.
We tested them in four different behavioral tests: new tank, open field, sociability and
aggressiveness, all performed three times, 15 days apart. The bold animals showed
more aggressive behavior than the shy animals, a characteristic considered to be the
main factor observed in bold and shy offspring. After the tests, we crossed the animals
from the F1 generation to obtain the second generation (F2), in which we carried out
the novel tank test in two attempts with an interval of 15 days with them. For these
animals, anxious behavior proved to be different between the profiles, with the shy
animals being more anxious, suggesting a genetic basis for the trait. In addition,
consistency seemed to depend on the context. The individual differences observed
allowed us to understand how these animals behave when faced with environmental
challenges in different situations.

Keywords: Individual differences. Consistency. Profile. Zebrafish. Ontogeny.

Introdução

Diversas espécies apresentam variações individuais nas respostas a situações similares


(Budaev et al., 1999), como tomadas de risco, encontros com predadores, exploração
de ambientes desconhecidos e interações sociais. Tais diferenças foram ignoradas por
muito tempo na ciência, sendo consideradas apenas como ruído no comportamento
do grupo, e indivíduos que se destacavam da média eram desconsiderados. Nas
últimas décadas as diferenças individuais têm recebido mais atenção e passaram a ser
estudadas para descrever as características que variam no comportamento de cada
animal (Leite-Ferreira et al., 2019; Toms et al., 2010).

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A diversidade de comportamentos observada na maioria dos seres vivos desempenha


um papel crucial na sobrevivência dos indivíduos. Essas diferenças individuais podem
persistir em uma população por um longo período, dependendo da sua vantagem
adaptativa. Portanto, a variação entre os indivíduos de uma população é altamente
valiosa e importante para a evolução, uma vez que a seleção natural age sobre essas
diferenças (Araujo-Silva et al., 2020; Koolhaas, de Boer, et al., 2010).
Quando as diferenças individuais de comportamento são estudadas, cinco eixos ou
contínuos de comportamento são usualmente considerados: ousadia, sociabilidade,
agressividade, exploração e atividade (Réale et al., 2007). O continuum bold-shy
(ousadia), um dos eixos mais estudados, refere-se à propensão de um animal a correr
riscos (Roy & Bhat, 2018; Sloan Wilson et al., 1994; Araújo-Silva et al., 2018), a
sociabilidade avalia a reação de um indivíduo a co-específicos (Moss et al., 2015), a
exploração refere-se à reação individual a novos estímulos ou situações (Réale et al.,
2007), a atividade diz respeito à locomoção do animal no espaço (Beckmann & Biro,
2013), e a agressividade indica como o indivíduo reage aos outros em termos de
comportamento agonístico (Réale et al., 2007; Careau & Garland, 2012; McEvoy et al.,
2015). A classificação para as diferenças individuais mais estudada (Sloan Wilson et al.,
1994) e a escolhida neste trabalho como objeto de estudo é a da dimensão bold-shy
(Gosling & John, 1999).
A classificação bold e shy em animais diz respeito aos modos de enfrentamento dos
indivíduos às situações de risco, que envolvem novidade, ansiedade e estresse (Sloan
Wilson et al., 1994). Enquanto um animal bold, quando colocado em uma situação de
risco, tende a apresentar resposta comportamental menos ansiosa, mais exploradora e
agressiva, o indivíduo shy se expõe menos aos riscos, é menos agressivo, apresenta
mais episódios de fuga e prefere ficar mais próximo do seu grupo, além de demonstrar
de forma excessiva um comportamento do tipo ansioso (Koolhaas, Boer, et al., 2010;
Leite-Ferreira et al., 2019; Sloan Wilson et al., 1994)
Essa classificação leva em consideração, de forma muito contundente, a consistência
e/ou a estabilidade desses comportamentos (Gosling, 2001; Gosling et al., 2003; Sih et
al., 2004). Por mais que a classificação dos perfis comportamentais bold-shy sejam
bem estabelecidas, a literatura carece de estudos que tragam uma boa validação da
consistência e/ou estabilidade referentes a esses comportamentos ao longo do tempo
e em diferentes contextos, mas também entre gerações. Oswald et al. (2012)
concluíram que os comportamentos ligados ao eixo bold-shy possuem uma alta
herdabilidade.
O peixe zebra é um modelo animal muito consolidado e bem estabelecido há décadas
(Trigueiro et al., 2020). Segundo Norton & Bally-Cuif (2012), estudos com esse modelo
podem gerar excelentes maneiras de se explicar causas próximas e últimas dos perfis
comportamentais. Cada vez mais trabalhos validam a sua utilização em estudos das

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diferenças individuais em populações (Alfonso et al., 2020; Araujo-Silva et al., 2018).


Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a consistência das diferenças
comportamentais individuais do peixe zebra dentro da dimensão bold-shy ao longo de
gerações e em diferentes contextos e ao longo do tempo.

Metodologia

Neste trabalho foram utilizados peixes zebra adultos (n = 30) e juvenis (n = 20), da
linhagem selvagem (WT) mantidos no biotério de peixes da UFRN. O ambiente foi
mantido em ciclo de 14C:10E (claro: escuro), e a água a 28ºC e pH 7. Os animais foram
alimentados duas vezes ao dia com ração flocada (Alcon®) e náuplios de Artemia sp.
A geração parental (F0) foi separada em bold e shy através de uma série de testes
emergenciais pelo protocolo descrito por Tudorache et al. (2013), o qual testa a
tendência natural do peixe de preferir ambientes mais escuros e permanecer próximo
ao cardume (para detalhes ver Mamede, 2022). O teste foi realizado três vezes para a
mesma população de peixes, com um intervalo de uma semana entre cada, visando
obter os peixes bold e shy. Esses animais foram utilizados para obter os descendentes
(F1) utilizados no presente estudo.
Para a reprodução, foram utilizados quatro aquários (Tecniplast®), cada um contendo a
proporção de uma fêmea para dois machos. As fêmeas eram colocadas de um lado do
aquário e os machos do outro, sendo os sexos separados por uma barreira
transparente, e todos os peixes separados dos ovos por outra barreira (Figura 1, em
anexo). Os animais eram colocados juntos às 17h, ficando até as 7h do outro dia
separados, quando a barreira era retirada para a fertilização natural. Após 1h, houve a
coleta e contagem dos ovos.
Posteriormente, os ovos foram postos em bandejas (Figura 2, em anexo), para que 24h
após a fertilização fosse verificada a quantidade de ovos fertilizados e coagulados (que
eram removidos). Os animais foram mantidos até 90 dias pós fertilização, quando
foram realizados os testes: campo aberto, sociabilidade, tanque novo e agressividade,
em três tentativas com intervalo de 15 dias entre cada uma. Todos os testes
comportamentais foram registrados em vídeo e posteriormente analisados no
software ANY-maze (Stoelting Co., EUA).
O teste de campo aberto avalia o comportamento natatório, a locomoção, e a
exploração do peixe em ambiente novo, bem como o tempo de permanência na
periferia (tigmotaxia) e no centro do tanque. Durante o teste de campo aberto, cada
animal era colocado no aquário de 40 cm x 40 cm (Figura 3, em anexo), com uma
coluna d’água de 5 cm de água filtrada, com a câmera posicionada acima do aquário.

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As paredes são cobertas de brancas, impedindo qualquer pista visual externa. O peixe
foi e deixado explorando o ambiente por 20 minutos. Nas análises, o aquário foi
virtualmente dividido em duas áreas: borda e centro, e os parâmetros utilizados foram
a velocidade em movimento (cm/s) e o índice de tigmotaxia (tempo na borda dividido
pelo tempo no centro).
O teste de sociabilidade visa analisar a preferência social do peixe através da pista
visual do cardume (Gerlai et al., 2000). Durante esse teste, são utilizados três aquários,
dois deles de 1 L (10 cm x 10 cm x 15 cm) e outro de 2.5 L (20 cm x 12 cm x 15 cm), e
duas barreiras opacas (Figura 4, em anexo). O animal é colocado no aquário central (2
L), tendo em um lado o aquário contendo apenas água e do outro um aquário
contendo 5 peixes de tamanho e idade semelhantes, esses dois lados sendo alternados
a cada animal. O aquário focal ficava visualmente isolado por barreiras opacas em suas
laterais. O peixe é deixado no aquário aclimatando por 1 min, as barreiras são retiradas
e o peixe é deixado explorando o aquário por mais 6 minutos. A câmera era
posicionada de frente ao aquário central. O aquário foi dividido em três áreas verticais
e os parâmetros analisados foram o tempo próximo ao cardume (%) e a distância
média do cardume (cm).
O teste de tanque novo é utilizado para avaliar o comportamento tipo ansioso no peixe
zebra através da sua tendência de quando introduzido a um ambiente novo, buscar
proteção e diminuir sua atividade exploratória (Stefanello et al., 2019). Usamos um
aquário de 2.5 L (20 cm x 12 cm x 15 cm) preenchido com 2 L de água e posicionado
em frente à câmera (Figura 5, em anexo). O animal é colocado no aquário e filmado
durante 6 min, sem aclimatação. O aquário foi virtualmente dividido em três áreas
horizontais: topo, meio e fundo, para análise da distância do fundo (cm), latência para
o topo (s), freezing (s) e velocidade em movimento (cm/s).
O teste de agressividade analisa o comportamento agressivo contra co-específicos. É
utilizado um aquário de 2.5 L (20 cm x 12 cm x 15 cm) preenchido com 2 L de água, um
espelho e uma barreira opaca (Figura 6, em anexo). O animal é colocado no aquário
com uma de suas laterais, a qual contém o espelho, visualmente isolada pela barreira,
de acordo com o protocolo adaptado de Norton et al. (2011) e Menezes et al. (2020). A
câmera é posicionada de frente ao aquário, e o animal é deixado aclimatando por 6
min, em seguida, a barreira é removida e o peixe tem acesso ao espelho. A filmagem
dura 5 minutos, e para a análise o aquário foi virtualmente dividido em três áreas
verticais. Os parâmetros verificados foram o número de ataques ao espelho e a
distância do espelho (cm).
Os animais F1 bold e shy foram também reproduzidos, conforme acima descrito, para
obtenção dos animais bold e shy F2. Com 5 meses de idade, esses animais foram
submetidos ao teste de tanque novo, realizado em duas tentativas com intervalo de 15

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dias entre elas. O teste foi realizado seguindo as mesmas diretrizes do feito com a
geração F1.
Os dados comportamentais foram analisados no software Jamovi. Foi feita uma RM
Two-Way ANOVA para cada parâmetro da geração F1 e um teste t para os dados de
tanque novo da geração F2.

Resultados e Discussões

Para a geração F1, foram realizados quatro testes e aqui serão descritos os resultados
separados por teste, cada um com seus parâmetros.
No teste de campo aberto, a velocidade em movimento não foi estatisticamente
significativa entre perfis (F₁,₁₂ = 1.36; p = 0.267), nem no tempo (F₂,₂₄ = 1.88; p = 0.175)
nem na interação dos perfis com o tempo (F₂,₂₄ = 2.96; p = 0.071). Já o índice de
tigmotaxia, obtido divindo o tempo que o animal passou na borda pelo tempo no
centro, foi estatisticamente significativo entre perfis (F₁,₁₃ = 6.92; p = 0.021) e no tempo
(F₁,₁₈ = 17.45; p < 0.001) mas não na interação dos perfis com o tempo (F₁₀,₃ = 3.44; p =
0.080).
No teste de sociabilidade, a distância do cardume foi estatisticamente significativa no
tempo (F₂,₁₆ = 32.03; p < 0.001), mas não entre perfis (F₁,₈ = 0.06 ; p = 0.812) nem na
interação dos perfis com o tempo (F₂,₁₆ = 0.37; p = 0.691). O tempo próximo ao
cardume não foi estatisticamente significativo entre perfis (F₁,₈ = 2.19; p = 0.177), no
tempo (F₂,₁₆ = 0.707; p = 0.508), nem na interação dos perfis com o tempo (F₂,₁₆ =
0.616; p = 0.552).
No teste de tanque novo, a distância do fundo foi estatisticamente significativa no
tempo (F₂,₂₈ = 4.778; p = 0.016), mas não entre perfis (F₁,₁₄ = 2.586; p = 0.13) nem na
interação dos perfis com o tempo (F₂,₂₈ = 0.079; p = 0.446). Já freezing, que também
foi significativo no tempo (F₂,₂₈ = 6.68; p = 0.004), também foi estatisticamente
significativo na interação dos perfis com o tempo (F₂,₂₈ = 8.41; p = 0.001), mas não
entre perfis (F₁,₁₄ = 2.93; p = 0.109). A latência para o topo não foi estatisticamente
significativa entre perfis (F₁,₁₄ = 0.881; p = 0.364), no tempo (F₂,₂₈ = 1.245; p = 0.303)
nem na interação dos perfis com o tempo (F₂,₂₈ = 2.74; p = 0.082). Por fim, a
velocidade em movimento não foi estatisticamente significativa entre os perfis (F₁,₁₄ =
0.376; p = 0.550), mas foi no tempo (F₂,₂₈ = 4.125; p = 0.027) e na interação dos perfis
com o tempo (F₂,₂₈ = 3.958; p = 0.031).
No teste de agressividade, a distância do espelho não foi estatisticamente significativa
entre perfis (F₁,₁₂ = 2.432; p = 0.145), no tempo (F₂,₂₄ = 0.983; p = 0.389), nem na

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interação dos perfis com o tempo (F₂,₂₄ = 0.248; p = 0.783). O número de ataques ao
espelho foi estatisticamente significativa entre os perfis (F₁,₁₂ = 11.185; p = 0.006) mas
não no tempo (F₂,₂₄ = 0.872; p = 0.431) nem na interação dos perfis com o tempo (F₂,₂₄
= 2.17; p = 0.135).
Para a geração F2, na qual foi realizado apenas o teste de tanque novo, na primeira
tentativa os parâmetros de velocidade em movimento (t = 1.315; gl = 18; p = 0.205),
latência para o topo (t = -1.434; gl = 12; p = 0.177), distância do fundo (t = 0.478; gl =
18; p = 0.638) e freezing (t = -1.478; gl = 18; p = 0.157) não foram estatisticamente
significativos, contudo, na segunda tentativa, a latência para o topo foi marginalmente
significativa (t = -2.083; gl = 12; p = 0.059), enquanto a velocidade em movimento (t =
1.272; gl = 16; p = 0.222), freezing (t = -0.241; gl = 16; p = 0.813) e distância do fundo (t
= -0.353; gl = 16; p = 0.729) não foram significativos.
Nós observamos que os perfis bold e shy das gerações F1 e F2 apresentam alguns
padrões comportamentais que se mantêm indicativos de personalidade. No entanto,
há perda da intensidade do comportamento ao longo das gerações, principalmente
para o parâmetro de ansiedade.
Na geração F1 observamos a manutenção do padrão de agressividade aumentada nos
animais bold (Figura 7, em anexo), mas os demais comportamentos não apresentam
padrão condizente com aqueles de F0 utilizados em Mamede, 2022. Acreditamos que
na segunda tentativa dos testes ocorreu uma perturbação ambiental que afetou a
ansiedade mas não a agressividade, pois durante essa tentativa todos os testes
realizados que avaliaram parâmetros de ansiedade e sociabilidade (testes de tanque
novo, campo aberto e sociabilidade) tiveram seus resultados divergentes das demais
tentativas (Figuras 8, 9 e 10, em anexo) e bastante destoantes do esperado e mostrado
na literatura, fazendo com que esses dados não fossem um bom indicador dos perfis.
Isso mostra que o padrão comportamental é tanto contexto dependente quanto
afetado pelas variáveis ambientais.
Na geração F2, embora tenham sido coletados apenas dados comportamentais do
teste de tanque novo, observamos a manutenção do padrão ansioso, corroborando a
hipótese de base genética do comportamento (Norton; Bally-Cuif, 2010). Nesse teste,
foi observado que os animais shy demoraram mais tempo do que os bold para ir à
parte superior do aquário (Figura 11, em anexo), comportamento que indica
diminuição da atividade exploratória e é relacionado com a ansiedade (Wong et al.,
2010).
Mamede (2022) afirmou que o comportamento tipo ansioso e a agressividade são os
principais aspectos para caracterizar os perfis bold e shy e, no presente trabalho,
encontramos na geração F1 uma diferença no comportamento agressivo dos animais
bold e shy, onde os peixes bold tiveram um maior número de ataques ao espelho, e

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uma vez que peixes não se reconhecem no reflexo e atacam como se fosse um co-
específico (Rowland, 1999) isso indica que esses animais buscaram mais conflito contra
outro indivíduo e portanto exibiram maior comportamento agressivo. Ao passo que na
geração F2, os animais shy demoraram mais tempo que os bold para ir até a parte
superior do aquário, comportamento o qual evidencia maior ansiedade neles (Wong et
al., 2010; Egan et al., 2009). Oswald et al. (2012) mostraram que os comportamentos
têm uma herdabilidade significativa e são geneticamente correlacionados, e nosso
trabalho ratifica essa tese, uma vez que, os animais F1 mantiveram o padrão de
agressividade visto nos parentais e, apesar de terem ocorrido perdas no padrão
comportamental da ansiedade, os animais F2 retiveram comportamento ansioso
consistente com seus ancestrais.
Um ponto a ser levantado quando se considera a geração F2 é o baixo número de
animais testados e a realização de apenas duas tentativas no teste de tanque novo,
além de só ter sido realizado esse teste comportamental que avalia parâmetros de
ansiedade. Hipotetizamos que caso outros testes fossem realizados, como o teste de
agressividade, os resultados seriam análogos aos encontrados para a geração F1. Em
se tratando de base genética, também é importante ressaltar que neste trabalho
utilizamos peixes zebra da linhagem selvagem (WT), a qual é regularmente utilizada
para estudos comportamentais (Vignet et al., 2013) e possuem uma maior
variabilidade genética (Audira et al., 2020), que dificulta uma especificação maior dos
genes relacionados aos perfis e pode ter acarretado oscilações na consistência
comportamental entre as gerações F0, F1 e F2. Contudo, apesar de terem melhorias a
serem feitas e mais parâmetros que poderiam ter sido testados, os resultados de
nosso trabalho corroboram com os de outros autores, como Araújo-Silva (2018),
Montiglio et al. (2010) e Gerlai (2000).
Por fim, podemos compreender que há consistência temporal e comportamental
transgeracional no peixe zebra, contudo essa consistência é dependente do contexto e
o comportamento ansioso pode ser alterado com desordens ocorridas antes do teste.
Confirmando o explicitado por Mamede (2022), a ansiedade e agressividade são os
traços comportamentais que mais diferem entre os peixes zebra bold e shy e podem
ser utilizados para separá-los em dois grupos de acordo com seu perfil. Trabalhos
como esse são importantes visto que ajudam a compreender os perfis
comportamentais dos animais e de que forma eles podem se comportar em diversos
contextos em seus ambientes naturais.

Conclusão

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Nosso trabalho corrobora com a hipótese de base genética do comportamento e valida


a principal diferença entre peixes zebra bold e shy como sendo os traços
comportamentais de agressividade e ansiedade. O comportamento agressivo dos
parentais foi percebido nos seus descendentes mantendo arquétipo entre bold, mais
agressivo, e shy, menos agressivo, bem como o comportamento tipo ansioso, que
apesar de não ter divergido de forma significativa entre peixes bold e shy na geração
F1, foi marginalmente significativo para os animais F2. Além disso, foi observado que
fatores ambientais podem afetar o comportamento ansioso dos animais. Concluímos
que houve estabilidade comportamental e temporal no peixe zebra, sendo ela
dependente do contexto.

Referências

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https://doi.org/10.1016/j.bbr.2009.12.023.

Anexos

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Aquário de reprodução (Tecniplast®).

Bandejas cujos ovos fertilizados foram colocados após a reprodução. Em A, temos os


ovos na bandeja para a checagem da fertilização. Em B, a disposição das bandejas com
ovos e larvas.

Aquário utilizado para filmagem do teste de campo aberto.

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Distribuição dos aquários para filmagem do teste de sociabilidade.

Filmagem do teste de tanque novo.

Disposição do aparato para filmagem do teste de agressividade.

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Gráfico referente ao número de ataques ao espelho do teste de agressividade


comparando os perfis bold e shy em três momentos.

Gráfico referente ao índice de tigmotaxia (tempo na periferia/tempo no centro) obtido


no teste de campo aberto comparando os perfis bold e shy em três momentos.

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Gráfico referente à distância do cardume observada no teste de sociabilidade


comparando os perfis bold e shy em três momentos.

Tempo de freezing obtido no teste de tanque novo comparando os perfis bold e shy
em três momentos.

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Latência para o topo do teste de tanque novo comparando os perfis bold e shy em dois
momentos.

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CÓDIGO: SB0934

AUTOR: LAVINIA MARCELINO DA SILVA

COAUTOR: ALEX BARBOSA DE MORAES

ORIENTADOR: FULVIO AURELIO DE MORAIS FREIRE

TÍTULO: Invasão do camarão exótico Penaeus monodon Fabricius, 1798 na


costa atlântica das Américas: Uma avaliação de risco em cenários de
mudanças climáticas

Resumo

A espécie Penaeus monodon é nativa do Indo-Pacífico, mas considerada invasora em


outras regiões, incluindo o Brasil. Embora tenha sido usada para cultivo aqui na década
de 1970, foi substituída pela Penaeus vannamei nos anos 1980. O P. monodon tem se
estabelecido em ecossistemas marinhos ao longo das Américas, graças à sua
capacidade de completar seu ciclo de vida em novas áreas devido às condições
ambientais. No entanto, sua presença pode causar impactos adversos na fauna e flora
locais. O seguinte trabalho tem como objetivo prever o potencial invasivo do P.
monodon, considerando cenários futuros de mudanças climáticas. Isso foi feito através
de modelagem de nicho potencial, usando dados climáticos atuais e futuros baseados
nas projeções do IPCC. Esses modelos ajudam a identificar áreas propensas à invasão,
permitindo ações preventivas. Compreender como as mudanças climáticas podem
influenciar a distribuição de espécies invasoras é crucial para o manejo e conservação
de ecossistemas. Sua abordagem é valiosa para antecipar possíveis impactos e tomar
medidas para preservar os ecossistemas locais.

Palavras-chave: IPCC.modelagem de nicho potencial.distribuição de


espécies.Invasão.

TITLE: Invasion of the exotic shrimp Penaeus monodon Fabricius, 1798 on the
Atlantic coast of the Americas: A risk assessment in climate change scenarios

Abstract

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The species Penaeus monodon, originally native to the Indo-Pacific, has been
recognized as an invasive species in various regions, including Brazil. Despite its initial
cultivation in Brazil during the 1970s, it was subsequently replaced by Penaeus
vannamei in the 1980s. Exploiting the adaptability of its life cycle to new environments
based on prevailing conditions, P. monodon has established itself within marine
ecosystems across the Americas. However, its presence has been associated with
adverse impacts on local fauna and flora. This study endeavors to predict the invasive
potential of P. monodon, accounting for prospective scenarios of climate change. This
prediction is achieved through potential niche modeling, utilizing contemporary and
projected climatic data from the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC).
The resultant models serve to pinpoint susceptible areas to invasion, thereby
facilitating preemptive measures. Recognizing the transformative impact of climate
change on the distribution of invasive species assumes critical importance for
ecosystem conservation and management. The approach adopted herein holds
significant value in foreseeing potential repercussions and guiding proactive strategies
for the preservation of local ecosystems.

Keywords: IPCC.potential niche modeling.species distribution.Invasion.

Introdução

A espécie Penaeus monodon Fabricius, 1798, conhecido popularmente como camarão


tigre gigante, é um decapoda da família Penaeidae Rafinesque, 1815 do gênero
Penaeus. Este Espécime é nativo do oceano Indo-Pacífico, uma região biogeográfica
oceânica que compreende o Oceano Índico e a porção ocidental e tropical do Oceano
Pacífico, habitando as costas da Austrália, Sudeste Asiático, Sul da Ásia e África
Oriental (WoRMS, 2022). Os adultos são frequentemente encontrados sobre areia
lamacenta ou fundos arenosos a 20-50 m de profundidade em águas offshore (FAO,
2023).
A área da carcinicultura tem sido exercida há mais de um século para alimentação e
sustento de populações costeiras em alguns países asiáticos, como Indonésia, Filipinas,
Taiwan (província da China), Tailândia e Vietnã. Ainda que possua grande importância
socioeconômica, a utilização do Penaeus monodon na carcinicultura tem ocasionado a
sua introdução e presença em ecossistemas marinhos distantes de sua distribuição
geográfica nativa. O que tem gerado aumento nos registros de ocorrência desta
espécie em áreas como na costa atlântica das Américas. Em virtude da rápida
expansão e da crescente conscientização sobre os impactos negativos das práticas de
cultivo de camarão exóticos no meio ambiente e em sua própria produção, diversos
países produtores de camarão na Ásia, principalmente na Tailândia, cumpriram o

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eCICT 2023

conceito de aquicultura responsável do Artigo 9 do Código de Conduta da FAO (FAO,


2023).
Atualmente, tem sido utilizado multimodelos e modelos consensuais de distribuição de
espécies para prever a distribuição futura, caracterizando as condições ambientais
adequadas para estas espécies e identificando onde os ambientes adequados estão
distribuídos no espaço. Este trabalho é uma avaliação da modelagem de nicho
potencial de espécie para prever invasões biológicas. Sabendo-se que, um modelo
representa uma aproximação do nicho ecológico da espécie apenas nas dimensões das
camadas ambientais utilizadas, ou seja, é utilizado um subespaço do nicho ecológico
na realização desta modelagem. Neste modelo de modelagem não entram fatores
históricos de ocupação, barreiras geográficas, interação entre espécies (competição,
predação, doenças, mutualismo etc). Essa espécie tem sido considerada invasora no
Brasil e em outros países (WoRMS, 2022). Portanto, os resultados da modelagem
correspondem a uma previsão, baseada em dados de parte do nicho realizado, que se
aproxima do nicho fundamental da espécie, mas não o é. A área projetada representa
a distribuição potencial da espécie baseada nas camadas ambientais utilizadas na
modelagem (Dalapicolla, 2015).
Este estudo se concentrou nas invasões biológicas, pois diversos fatores determinam o
êxito do estabelecimento de espécies em novos locais. Entre eles, as pré-adaptações
às condições ambientais disponíveis em áreas potencialmente exóticas e a capacidade
de se ajustar após a colonização inicial produz um grande impacto da espécie no
decorrer da ocupação em novas áreas. À vista disso, de forma aplicada, os modelos de
habitat podem ser utilizados para avaliar as implicações das mudanças climáticas sobre
processos de estabelecimento de populações não-nativas, avaliando a resposta desses
organismos aos parâmetros ambientais (Moraes, 2022). O procedimento consiste na
análise das alterações das áreas de adequabilidade das espécies, seja em relação a
ampliação ou redução da colonização em certas áreas. São utilizados em uma série de
estudos que visam prever a provável resposta de espécies invasoras sob os cenários
para as quais as variáveis ambientais têm sido perturbadas, refletindo as mudanças
projetadas sobre os próximos anos (Moraes, 2022).

Metodologia

O método de invasão é caracterizado por três estágios distintos, mas não discretos:
introdução, naturalização e disseminação. A naturalização é definida como a
capacidade de estabelecer populações autossustentáveis após a introdução em uma
nova faixa, ao mesmo tempo que a invasão só é alcançada por um subconjunto de
espécies naturalizadas que se espalham das populações fundadoras para se tornarem

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eCICT 2023

difundidas e abundantes. As espécies avançam nesses estágios superando uma série


de barreiras abióticas e bióticas, e a adequação do clima na faixa introduzida é citada
como uma das principais barreiras abióticas ao estabelecimento de espécies invasoras
(Rachael V. Gallagher, Linda J. Beaumont, et al.).
3.1 Áreas de estudo: No presente trabalho foram consideradas duas faixas geográficas
para a distribuição do Penaeus monodon: nativa e invasor. A faixa nativa reúne toda a
área de distribuição natural da espécie no Oceano Indo-Pacífico. Em contrapartida, a
faixa invasora compreende a área de introdução no Oceano Atlântico (WoRMS, 2022).
Como uma forma de limitar a área de extensão dos modelos apenas a áreas
biologicamente relevantes, a extensão de estudo foi limitada ao nível batimétrico
entre 0 a 100m (FAO, 2023).
3.2 Dados de ocorrência: Selecionamos nossa espécie-alvo de uma lista global que
relata organismos que estabeleceram populações fora de sua área nativa, baixamos os
dados das ocorrências no Global Biodiversity Information Facility - GBIF
(www.gbif.org). Também foram obtidos dados através de revisão bibliográfica em
artigos científicos especializados. Para tanto, utilizamos o Google Acadêmico e
Periódico CAPES usando o nome científico da espécie-alvo “Penaeus monodon” mais
as palavras “modelagem de nicho”, e “aquecimento global” como palavras-chave.
Agregamos as ocorrências da espécie em um único banco de dados e foi feita uma
apuração preliminar, realizada para eliminar erros evidentes de georreferenciamento.
Em seguida, removemos os registros duplicados (REYES et al, 2022).
Foram realizadas subamostragens espaciais aleatórias nas ocorrências, com o critério
de manter apenas registros distantes pelo menos 10 km entre si. A matriz biótica
resultante dessa etapa de seleção foi então utilizada para construir e avaliar os
modelos gerados (Moraes, 2022).
3.3 Cenários dos modelos: Em primeiro lugar, os modelos de adequabilidade de
habitat foram calibrados e previstos na faixa nativa (Oceano Indo-Pacífico) para o
tempo presente e, posteriormente, projetado para a faixa invasor (Oceano Atlântico).
Posteriormente, os modelos calibrados no tempo presente foram projetados para
diferentes cenários climáticos futuros previstos para médio prazo (2050). Para tanto,
utilizamos os cenários climáticos projetados pelo Quinto Relatório de Avaliação do
IPCC (IPCC, 2014), baseados nos Caminhos Representativos de Concentração para
modelagem do clima, o qual, engloba as mudanças de distribuição que estão sendo
avaliadas sob diferentes cenários, conhecidos como RCPs (Representative
Concentration Pathways), que representam diferentes trajetórias de concentração de
gases de efeito estufa na atmosfera. Os RCPs representam possíveis caminhos para os
principais agentes propulsores das mudanças climáticas, assim como também indicam
as tendências sobre a temperatura global. O valor do RCP indica valor de forçante
radioativa ou fluxo de radiação, sendo expresso em Watts por metro quadrado (W m-
2). Esse valor traduz a tendência de concentração de gases do efeito estufa e uso do

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eCICT 2023

solo até o final do século, com valores baixos representando cenários mais otimistas
(menor efeito estufa) e valores mais altos, cenários mais extremos (maior efeito
estufa). É previsto um aumento de até 1,7℃ na temperatura média do planeta no
cenário mais otimista e de até 4,8℃ no cenário mais extremo, ambos comparados ao
nível pré-industrial (Stocker et al., 2013). Dentro das opções disponíveis, optamos por
utilizar as camadas de dados correspondentes aos cenários ambientais futuros RCP 4,5,
RCP 6,0 e RCP 8,5. Dentro deste conjunto, os cenários RCP 4,5 e RCP 6,0 são
classificados como intermediários, caracterizados por uma estabilização das emissões
de gases de efeito estufa até o final do século, com concentração constante a partir de
2150. Em contraste, o cenário RCP 8,5 é considerado mais pessimista e extremo,
prevendo um aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa ao longo do
tempo. Para possibilitar uma comparação precisa entre as projeções, tanto os modelos
de nicho desenvolvidos para as condições climáticas atuais quanto os modelos
projetados para os cenários futuros utilizaram exatamente as mesmas variáveis e
seguiram os mesmos procedimentos de recorte. Isso assegura que as diferenças nas
projeções são atribuíveis às variações nos cenários climáticos e não a diferenças nos
métodos de modelagem (Moraes, 2022).
3.4 Variáveis ambientais: Foi elaborado um conjunto de 14 camadas de dados
preditivos climáticos, abrangendo ambientes marinhos em escala global, visando
modelar a distribuição do camarão-tigre. Foram selecionadas camadas relevantes à
biologia da espécie, a partir de 12 camadas de variáveis bioclimáticas adaptadas para
cenários RCP, provenientes da base de dados Bio-ORACLE (Assis et al., 2018).
Acrescentaram-se duas camadas topográficas estáticas das bases Bio-ORACLE v.1.0-2.0
(Assis et al., 2018) e MARSPEC (Sbrocco & Barber, 2013), resolução de 5 arcminutos.
Utilizou-se o pacote 'sdmpredictors' (Bosch, 2020) para obtenção das camadas,
seguida de padronização (Zuur et al., 2010). Para evitar multicolinearidade, aplicou-se
análises de correlação de Pearson usando 'ENMTools' (Warren & Dinnage, 2020) e
fator de inflação de variância (VIF) com 'usdm' (Naimi et al., 2014). Selecionaram-se
cinco variáveis climáticas, considerando critérios de correlação (r ≥ 0,7), VIF (≤ 4) e
relevância biológica, como preditores nos modelos.

Resultados e Discussões

Os resultados apontam que o mapa de adequabilidade previsto pelo modelo de


consenso demonstrou uma notável consistência em relação aos registros de
ocorrência presentes na base de dados da espécie. Isso sugere que o modelo de
consenso utilizado para projetar o mapa teve uma alta concordância com as áreas
onde a espécie foi registrada. As áreas indicadas pelo modelo como sendo apropriadas

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eCICT 2023

para a espécie se alinharam de maneira significativa com as áreas reais de ocorrência


da espécie, destacando a eficácia do modelo em prever essas áreas potenciais.
Previsões concordantes provenientes dos modelos de adequação, foram ajustados
com base na sua distribuição nativa, estão sendo aplicadas para prever sua possível
expansão para novas áreas (invasor). A representação cartográfica utiliza cores para
denotar categorias distintas de adequação do habitat. Além disso, as setas são
empregadas para ilustrar a direção predominante das correntes marinhas, bem como
a temperatura média associada a essas correntes (quentes e frias).
A projeção atual das previsões foram obtidas por meio de um modelo consensual, está
em concordância com os registros de ocorrência presentes na base de dados. As áreas
previstas para a ocorrência dessa espécie estão predominantemente ao longo das
regiões costeiras do Sul Asiático e da África. Especificamente, há uma maior
concentração de ocorrência na baía ou golfo de Bengala, que é reconhecida como a
maior baía do mundo e está situada no nordeste do oceano Índico. A distribuição
natural do Penaeus monodon engloba as zonas costeiras de várias nações, incluindo,
mas não se limitando a Índia, Sri Lanka, Bangladesh, Myanmar, Tailândia, Malásia,
Singapura, Vietnã, Hainan (uma província da China), Filipinas e também áreas costeiras
da Indonésia, Ilha de Bornéu e noroeste da Austrália (Figura 1).
O modelo consensual de P. monodon calibrado na faixa nativa e projetado para a faixa
de previsão de invasão (faixa invasor) mostrou moderado poder de transferibilidade de
áreas adequadas ambientalmente. As regiões identificadas como propícias à invasão
abrange as américas, essas áreas incluem, o sul e sudeste dos Estados Unidos, com
destaque para a região do Golfo do México, bem como as zonas costeiras de locais
como Cuba, sudeste do México, sudeste de Belize, Bahamas, Haiti, República
Dominicana, Porto Rico, Venezuela, Suriname e Guiana Francesa. No continente sul-
americano, as áreas adequadas estendem-se pelo norte do Brasil, com uma presença
mais tênue no sudeste e uma forte presença no sul do Brasil. Essa distribuição se
estende também ao Uruguai, incluindo suas regiões sudeste e sul, e alcança o sudeste
da Argentina (Figura 2).
O modelo de nicho potencial para o camarão Penaeus monodon revelou as áreas
geográficas onde se espera que a espécie possa ocorrer com maior probabilidade. Na
faixa nativa, a análise da distribuição do camarão Penaeus monodon sob diferentes
cenários climáticos, apresentou mudanças significativas em algumas regiões
específicas comparando-as ao cenário atual. No sudeste da África, com base no
presente, observamos um aumento no potencial de distribuição entre os cenários
RCPs 4,5 e 6,0, seguido por um declínio nos cenários RCPs 6,0 para 8,5. Resultados
semelhantes foram observados no sul da Índia e em toda a região costeira do Sri
Lanka, onde o potencial de distribuição também diminuiu entre os cenários RCPs 6,0 e
8,5. Por outro lado, nas áreas da baía de Bengala, sul de Bangladesh e sudoeste de
Myanmar, verificamos um aumento gradual no potencial de distribuição do Penaeus

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monodon nos cenários RCPs 4,5, 6,0 e 8,5. Esses locais apresentaram uma
concentração maior de ocorrências, destacando um possível deslocamento e expansão
da distribuição dessa espécie em resposta às mudanças climáticas. No entanto, em
outras regiões nativas do camarão P. monodon, as mudanças de distribuição não se
mostraram significativas de acordo com os resultados da modelagem de nicho. Esses
achados ressaltam a complexidade das respostas das espécies às mudanças climáticas
e apontam para a necessidade de estratégias de manejo e conservação adaptativas,
especialmente em áreas onde há alterações evidentes na distribuição do Penaeus
monodon (Figura 3, 5, e 7).
Analisando a expansão do Penaeus monodon em diferentes cenários de mudanças
climáticas, observamos algumas tendências interessantes nas regiões da América do
Norte e do Sul. Na América do Norte, comparando os resultados futuros com o cenário
atual, notamos que o camarão tigre está se adequando para novas áreas,
especialmente ao redor do Golfo do México. Isso acontece mais nos lugares do sul e
sudeste dos Estados Unidos. O aumento é mais significativo quando olhamos para os
cenários de mudança climática intermediários (RCPs 4,5 e 6,0), mas depois vemos uma
pequena redução nas áreas ocupadas quando consideramos o cenário mais extremo
(RCP 8,5). Na América do Sul, o panorama é um pouco diferente. Há um aumento na
presença do camarão à medida que o clima muda, especialmente quando
comparamos os cenários RCPs 4,5 e 6,0. Entretanto, entre o cenário RCP 6,0 e o mais
intenso, o RCP 8,5, há uma pequena diminuição na região norte do Brasil. Em áreas ao
sul do Brasil, sudeste do Uruguai e Argentina, o habitat do camarão se mantém
relativamente estável, com poucas variações entre os diferentes cenários de mudança
climática. De maneira geral, foi projetado para as regiões ao norte e ao sul da América
do Sul, acima da linha do equador e abaixo do estado do Rio Grande do Sul (no Brasil),
serão os principais pontos onde o habitat do camarão se manterá estável nas próximas
situações climáticas. As demais regiões do oceano atlântico não se mostraram
significativas de acordo com os resultados da modelagem de nicho (Figura 4, 6, e 8).
Os resultados da avaliação de nicho de Penaeus monodon auxiliam na compreensão
de como o nicho climático de um camarão marinho não-nativo pode ser uma
característica importante na avaliação de seu potencial invasivo em uma grande escala
espacial. A modelagem de nicho potencial também identificou "hotspots" de
distribuição, ou seja, áreas onde as condições ambientais são particularmente
adequadas para a espécie. Esses hotspots podem ser locais de maior concentração do
camarões tigre e são de interesse para a gestão e conservação da espécie.

Conclusão

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A análise detalhada da distribuição potencial do camarão Penaeus monodon em


diferentes cenários climáticos oferece insights cruciais sobre os efeitos complexos das
mudanças ambientais na ecologia da espécie. A variação observada nas respostas
geográficas da distribuição destaca a sensibilidade do camarão às alterações climáticas
e a importância de considerar múltiplos cenários ao planejar estratégias de manejo e
conservação.
A identificação de "hotspots" de distribuição, onde as condições climáticas são
particularmente adequadas, apresenta oportunidades e desafios para a gestão
eficiente da espécie. Esses hotspots podem servir como pontos focais para a
implementação de medidas de conservação, monitoramento, a exigência de restrições
na pesca e aquicultura, além das decisões relacionadas às zonas de preservação
ambiental, visando evitar possíveis impactos negativos na ecologia local.
Os resultados também demonstram a necessidade de abordagens adaptativas e
flexíveis para enfrentar as mudanças climáticas e seus efeitos sobre as espécies
marinhas. Regiões que demonstraram estabilidade em suas condições climáticas
ecológicas como na costa atlântica das Américas, podem servir como refúgios para a
espécie em um cenário de mudanças mais amplo.
Em resumo, a combinação da modelagem de nicho potencial com a compreensão da
biologia e ecologia da espécie permite um melhor planejamento para a conservação e
gestão do camarão Penaeus monodon. Esses esforços são fundamentais para garantir
a integridade dos ecossistemas marinhos e a sustentabilidade das comunidades que
dependem desses recursos, além de servirem como um exemplo valioso de como a
pesquisa científica pode orientar ações eficazes diante dos desafios ambientais em
constante evolução.

Referências

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Anexos

Figura 1 - Demonstração da extensão geográfica que serviu como background


ambiental para a modelagem do camarão Penaeus Monodon na faixa de origem nativa
no Oceano Indo-Pacífico.

Figura 2 - Demonstração da extensão geográfica que serviu como background


ambiental para a modelagem do camarão Penaeus Monodon na faixa invasor do
Oceano Atlântico.

Figura 3 - Adequabilidade futura prevista para Penaeus monodon, em sua faixa nativa,
sob diferentes cenários de Caminhos Representativos de Concentração (RCP).
Mudanças previstas a médio-prazo (2050) com RCP 4,5.

Figura 4 - Adequabilidade futura prevista para Penaeus monodon, em sua faixa


invasor, sob diferentes cenários de Caminhos Representativos de Concentração (RCP).
Mudanças previstas a médio-prazo (2050) com RCP 4,5.

Figura 5 - Mudanças nas áreas de adequabilidade futura prevista para Penaeus


monodon, em sua faixa nativa, sob diferentes cenários de Caminhos Representativos
de Concentração (RCP). Mudanças previstas a médio-prazo (2050) com RCP 6,0.

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Figura 6 - Adequabilidade futura prevista para Penaeus monodon, em sua faixa


invasor, sob diferentes cenários de Caminhos Representativos de Concentração (RCP).
Mudanças previstas a médio-prazo (2050) com RCP 6,0.

Figura 7 - Adequabilidade futura prevista para Penaeus monodon, em sua faixa nativa,
sob diferentes cenários de Caminhos Representativos de Concentração (RCP).
Mudanças previstas a médio-prazo (2050) com RCP 8,5.

Figura 8 - Adequabilidade futura prevista para Penaeus monodon, em sua faixa


invasor, sob diferentes cenários de Caminhos Representativos de Concentração (RCP).
Mudanças previstas a médio-prazo (2050) com RCP 8,5.

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CÓDIGO: SB0935

AUTOR: GUILHERME MOISES ALVES FERNANDES

COAUTOR: MARIA GABRIELA FERREIRA ROCHA SILVA

ORIENTADOR: DENISE MORAIS LOPES GALENO

TÍTULO: ESTUDO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL E NUTRICIONAL DE


ZEBRAFISH OBESO INDUZIDO POR DIETA

Resumo

O zebrafish é um ótimo modelo de pesquisa para realizar análises e estudos na área da saúde
devido sua semelhança fisiológica com o Homo sapiens. Este estudo teve como objetivo
estabelecer uma Dieta de Indução de Obesidade (DIO) nos peixes zebra. Assim, os zebrafish
foram separados em 2 grupos. O Grupo com Obesidade Induzida por Ração (GOR), animais
superalimentados por ração (0,180 mg de peso seco/dia/peixe) um alimento rico em proteínas
com uma quantia de gordura significativa e o Grupo Controle Artêmia (GCA), no qual os
animais foram alimentados com náuplios de artêmia (30 mg de peso seco/dia/peixe).

O experimento durou 8 semanas, os dados obtidos nesta pesquisa mostraram que a DIO foi
suficiente, pois o GOR teve aumento considerável dos valores antropométricos, diferente do
GCA, o qual manteve-se normal. Observou-se um ganho ponderal expressivo a partir da 2ª - 5ª
medições. As médias encontradas, no GCA e GOR, respectivamente:

Peso: Medição 2: 81,1±30,8 vs 121,7±55,7 (p=0,00); Medição 3: 87,6± 31,2 vs 148,8±58,1


(p=0,00); Medição 4: 102,5±32,6 vs 190,2±65,4 (p=0,00); Medição 5: 127,8±32,1 vs 216,8±67,2
(p=0,00).

Comprimento: Medição 2: 23,2±2,6 vs 24,8±3,2 (p=0,14); Medição 3: 24,4±3,1 vs 26,8±2,8


(p=0,45); Medição 4: 25,0±3,09 vs 28,1±2,55 (p=0,18); Medição 5: 27,0±2,3 vs 29,5±2,5
(p=0,43).

IMC: Medição 2: 14,5±3,4 vs 18,6±4,1 (p=0,21); Medição 3: 15,7±9,7 vs 19,6±4,4 (p=0,00);


Medição 4: 15,7±2,4 vs 23,3±5,0 (p=0,00); Medição 5: 17,2±2,5 vs 24,2±4,6 (p=0,00).

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Palavras-chave: Peixe zebra. Obesidade. Artêmia. Gordura. Ração.

TITLE: STUDY OF THE BODY COMPOSITION AND NUTRITION OF DIET-


INDUCED OBESE ZEBRAFISH

Abstract

The zebrafish is a great research model to carry out analyzes and studies in the health area due
to its physiological similarity with Homo sapiens. This study aimed to establish an Obesity
Induction Diet (OID) in zebrafish. Thus, zebrafish were separated into 2 groups. The Rage-
Induced Obesity Group (GOR), animals overfed on chow (220 mg dry weight/day/fish) a protein-
rich food with a significant amount of fat, and the Artemia Control Group (GCA), in which the
animals were fed brine shrimp nauplii (30 mg dry weight/day/fish).

The experiment lasted 8 weeks, the data obtained in this research showed that the DIO was
sufficient, as the GOR had a considerable increase in anthropometric values, different from the
GCA, which remained normal. An expressive weight gain was observed from the 2nd - 5th
measurements. The averages found, in the GCA and GOR, respectively:

Weight: Measurement 2: 81.1±30.8 vs 121.7±55.7 (p=0.00); Measurement 3: 87.6±31.2 vs


148.8±58.1 (p=0.00); Measurement 4: 102.5±32.6 vs 190.2±65.4 (p=0.00); Measurement 5:
127.8±32.1 vs 216.8±67.2 (p=0.00).

Length: Measurement 2: 23.2±2.6 vs 24.8±3.2 (p=0.14); Measurement 3: 24.4±3.1 vs 26.8±2.8


(p=0.45); Measurement 4: 25.0±3.09 vs 28.1±2.55 (p=0.18); Measurement 5: 27.0±2.3 vs
29.5±2.5 (p=0.43).

BMI: Measurement 2: 14.5±3.4 vs 18.6±4.1 (p=0.21); Measurement 3: 15.7±9.7 vs 19.6±4.4


(p=0.00); Measurement 4: 15.7±2.4 vs 23.3±5.0 (p=0.00); Measurement 5: 17.2±2.5 vs
24.2±4.6 (p=0.00).

Keywords: Zebrafish. Obesity. Artemia. Fat. Portion.

Introdução

A obesidade é uma epidemia mundial, é considerada um óbice de saúde pública, é uma


doença crônica de causa multifatorial, que leva ao acúmulo excessivo de gordura corporal
(Who, 2020). Estudos sobre obesidade envolvendo modelos animais têm sido os pilares para a
descoberta de novos medicamentos. Há décadas o modelo do zebrafish tem sido usado para
estudar o desenvolvimento e a fisiopatologia de muitas doenças humanas, pois compartilham
uma fisiologia e anatomia muito semelhante com os mamíferos (Gut et al., 2017).

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O modelo com zebrafish tem ajudado a superar deficiências metodológicas comuns com
modelos de roedores e pode preencher algumas lacunas na experimentação animal atual.
Estudos com roedores tiveram apenas 30% de sucesso translacional e apenas 10% levaram a
um medicamento comercializado (Van der Worp et al., 2010).

O zebrafish como modelo animal na pesquisa biomédica mostra ser de alta relevância
científica, pois alguns dos primeiros medicamentos descobertos estão agora em ensaios
clínicos, ressaltando ainda mais o impacto translacional desse modelo. Ultimamente vem sendo
caracterizado como excelente modelo de doenças metabólicas, pois possui órgãos importantes
na regulação do metabolismo energético, incluindo órgãos digestivos, tecido adiposo e músculo
esquelético. O metabolismo lipídico do zebrafish é muito semelhante ao do ser humano em
termos de absorção intestinal com o auxílio da bile produzida no fígado, transporte de gordura
e colesterol por lipoproteínas, β-oxidação armazenamento como triacilgliceróis em depósitos de
adipócitos viscerais, subcutâneos e intramusculares (Kalueff; Stewart; Gerlai, 2014; Stoletov et
al., 2009).

Dados recentes mostram que, quando o zebrafish é exposto a excesso de nutrientes, gera
consequências como aumento de níveis de triglicérides no plasma e esteatose hepática (Zang;
Maddison; Chen, 2018). Essa espécie apresenta cerca de 70% de similaridade genética com
os humanos, baixo custo de manutenção diária, pequeno tamanho, versatilidade, rápida
reprodução comparado aos modelos usuais de roedores, (Jones et al., 2008; Zang; Maddison;
Chen, 2018), rápido desenvolvimento anatômico, principalmente dos sistemas cardíacos e
órgãos metabólicos (2 a 3 meses) e alças de feedback neuronais, hormonais e parácrinas que
são essenciais para a homeostase nos estágios iniciais do desenvolvimento (Kalueff; Stewart;
Gerlai, 2014, Jurczyk et al., 2011). Assim, o peixe-zebra tem sido cada vez mais usado como
modelo de doenças humanas e na pesquisa do metabolismo lipídico incluindo aterosclerose
induzida por dietas ricas em colesterol e obesidade (Stoletov et al., 2009). Esse estudo trata-se
de uma pesquisa preliminar onde em um futuro próximo, se pretende estudar bioativos
oriundos de fontes naturais no tratamento de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT),
como a D.M. tipo 2, doenças cardiovasculares, como a H.A.S. e a síndrome metabólica. O
presente estudo tem por objetivo induzir a obesidade experimental utilizando o zebrafish como
modelo. Estudar o metabolismo energético do zebrafish é um desafio técnico, sendo
necessário um controle rígido, pois muitos aspectos afetam o crescimento, a taxa metabólica e
a composição da gordura corporal neste animal poiquilotérmico (Little, Seebacher, 2014).

Essa pesquisa parte de uma parceria com o grupo de pesquisa do Programa de pós-graduação
em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPgNut) na linha de Nutrição e
Substâncias Bioativas para Saúde (NutriSBioativoS). Esse grupo tem realizado estudos in vitro
e in vivo verificando a ação do extrato bruto de carotenóides do melão Cantaloupe (Cucumis
melo L. var cantalupensis) nanoencapsulado em gelatina suína e estudos com inibidores de
tripsina presentes nas sementes de tamarindo (Tamarindus Indica L.). Esse estudo é pioneiro
na Universidade e tem como perspectiva estudar novas abordagens farmacológicas no
tratamento de doenças crônicas utilizando o peixe zebra como modelo experimental.

Metodologia

Foram utilizados animais de ambos os sexos da espécie Danio rerio (tipo selvagem, 3-6 meses
de idade) provenientes do FishLab-UFRN, local onde todos os procedimentos experimentais
foram conduzidos. Os animais foram estocados no Biotério de Peixes, Departamento de
Fisiologia – UFRN em um sistema de rack (ZebTEC Active Blue Stand Alone - Tecniplast®),

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mantidos a temperatura de 28°C e fotoperíodo de 14h/10h claro/escuro. Oxigênio e pH foram


monitorados semanalmente. As condições da água de qualidade ambiental serão mantidas de
acordo com Westerfield (2007). Foi feito um estudo comparativo e avaliados os efeitos da
obesidade induzida por dieta (DIO) em Zebrafish (Danio rerio) de acordo com protocolos já
estabelecidos (Hasumura et al.,2012; Baek et al., 2012; Oka et al., 2010; Landgraf et al., 2017).

Os animais foram divididos em dois grupos (n=100) com cinquenta peixes por tanque (2
tanques de 8 L cada), totalizando 50 animais por grupo, a saber: Grupo Controle Artêmia
(GCA): Este grupo foi alimentado com artêmias (15 e 30 mg de peso seco/dia/peixe). Os
animais de ambos os grupos foram alimentados 3 vezes ao dia, com um intervalo de até 3h
entre cada oferta alimentar. O Grupo com Obesidade Induzida por Ração (GOR): este grupo
alimentou-se com ração flocada (Umidade (máx) 120 g/kg, proteína bruta (máx) 350 g/kg,
extrato etéreo (mín) 40 g/kg, matéria fibrosa (máx) 30 g/kg, matéria mineral (máx) 130g/kg,
cálcio (máx) 35 g/kg, cálcio (mín) 9 g/kg, fósforo (mín) 5.000 mg/kg).

O Grupo Controle foi alimentado no primeiro mês com 15 mg de artêmia e teve seu valor
dobrado no segundo mês, mantendo o valor de 30 mg de artêmia até o final da pesquisa. Já o
grupo DIO foi alimentado com uma dieta rica em gordura, os animais foram alimentados 3
vezes ao dia, com intervalo de até 3h entre cada oferta alimentar (n = 50 animais adultos por
tanque em cada grupo), no qual a cada 15 quinze dias a porcentagem da quantidade de oferta
alimentar aumentava mediante o desenvolvimento da obesidade nos peixes utilizando o
parâmetro de 5% do peso corporal dos animais para aumentar a quantia alimentar, onde
realiza a seguinte equação: 5% do peso da média do grupo → o resultado multiplica-se por 50
→ o terceiro resultado multiplica-se por 3 (número de ofertas diárias), exemplo (Figura 2):

. Os grupos de indução da obesidade e controle supracitados foram submetidos a um regime


de alimentação por 8 semanas. A qualidade da água foi garantida por um sistema de filtragem
e renovação constante oferecido pelo sistema de manutenção Active Blue Stand Alone da
Tecniplast.

A porcentagem de artêmia consumida foi estimada pela contagem de artêmia antes da


alimentação (quantia esperada de artêmias contidas em 1 mL de solução concentrada de
artêmias). Nos momentos de oferta alimentar, o sistema de recirculação de água será
desligado para que não ocorra perda de alimento pelo fluxo. Uma estimativa posterior a fim de
verificar a sobra de alimento foi feita pela análise de 1 mL de água coletado do tanque de 8 L
onde os animais serão mantidos. O número de artêmias foi contado três vezes para determinar
a média. Essa estimativa foi feita após 15 minutos da oferta do alimento.

Para estimar a quantidade de calorias ingeridas, é considerada a informação de que 1 mg de


artemia contém aproximadamente 5 calorias (Oka et al., 2010). A ingestão de alimentos em
cada tanque foi monitorada por 7 dias consecutivos, a cada semana durante o período
experimental. A quantidade consumida foi pontuada visualmente em uma escala de 0% a 100%
(todos os alimentos restantes) a 1,0 (sem alimentos restantes) por participantes do projeto
treinados. A cada 2 semanas até o final do experimento de alimentação, o peso corporal, o
comprimento dos peixes e o índice de massa corporal (IMC) foram registrados. O comprimento
dos peixes foi medido da boca até a extremidade do corpo por meio do aplicativo mobile
ImageMeter. O IMC foi calculado de acordo com Oka et al. (2020), como apresentado a seguir:
IMC = peso corporal (g) / quadrado do comprimento corporal (cm²). Ao final do período
experimental, os peixes foram eutanasiados por meio da submersão em água gelada (0-4ºC)
até sua completa imobilização (Guidelines for Use of Zebrafish in the NIH Intramural Research
Program, 2016) seguida da imersão em óleo de cravo (40 ml/L).

Todos os protocolos experimentais estão de acordo com a legislação para experimentação


animal estabelecida pelo Conselho Nacional de Experimentação Animal do Brasil (CONCEA).

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O projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Protocolo n. 035/2022). Os dados nos gráficos
são apresentados como média ± erro padrão. As diferenças estatísticas entre os grupos foram
avaliadas por ANOVA de uma via. O teste t de Student foi usado para analisar as diferenças
entre as médias de 2 grupos. P < 0,05 foi usado como limiar de significância. Todas as análises
foram conduzidas com auxílio do programa GraphPad Prism 7.01. Diferenças foram
consideradas significativas com p < 0,05.

Resultados e Discussões

Nesta pesquisa foi induzida a obesidade em peixes zebra por meio de uma dieta hipercalórica
de ração flocada. Foram realizadas análises comparativas e analisados os parâmetros
biométricos na indução de obesidade no peixe zebra entre o Grupo Controle Artêmia e o Grupo
com Obesidade Induzida por Ração (Tainaka e colaboradores, 2011), foi constatado que a
partir da segunda medição até a quinta medição foram notórias as diferenças estatísticas
significativas no peso, comprimento e, consequentemente, no Índice de Massa Corporal entre
os grupos observados, conforme expressos na Figura 1.

A partir desses dados obtidos, compreende-se que o peixe zebra poderá ser utilizado como um
modelo experimental passível de proporcionar o desenvolvimento de fármacos que possam
tratar a obesidade humana, bem como tratar as problemáticas que são desencadeadas por
intermédio dela, tais quais: hiperlipidemia, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica entre
outras.

Nessa perspectiva é válido destacar que a utilização da DIO, neste estudo, consistiu em ofertar
uma alta quantia de ração flocada aos animais, a qual passava por alterações mediante a
alteração da média ponderada do peso corporal do grupo ração, isso se dá por meio da
multiplicação entre a porcentagem de 5% e a média ponderada do peso do grupo expressos na
Figura 2. Nesse viés, foi constatada na primeira medição uma média corporal do zebrafish
pertencente ao grupo ração de aproximadamente 0,9 mg e na última medição a média do peso
concentrou-se em 0,217 mg com uma quantia média ofertada de 127,6 mg de ração nas 5
medições, sabendo que as quantias ofertadas foram: 75 mg, 101 mg, 124 mg, 158 mg e 180
mg nas medições 1, 2, 3, 4 e 5.

Foi possível evidenciar a porcentagem de consumo da ração pelos animais por meio dos
resultados obtidos pelo checklist realizado após a observação do tanque dos peixes passados
15 minutos da administração alimentar, após cada uma das 3 ofertas diárias era necessário
responder a um checklist informando a porcentagem de consumo da ração pelos peixes. Com
as respostas do checklist foram obtidos os seguintes resultados da quantia estimada de
consumo da oferta alimentar em valores percentuais: Em 40% e de 50% a 99% foram
registrados consumos de ração pelos animais.

Partindo disso, foi obtida uma média de ± 73% de consumo da ração flocada, indicando boa
aceitação por parte dos peixes zebra, corroborando com o fato dos animais terem alcançado a
obesidade.

Em concordância com os dados obtidos na Figura 1, foi percebido que medição após medição
os animais do Grupo DIO apresentaram ganho de peso e crescimento mais significativo em
comparação ao Grupo Controle, levando em conta que a quantidade, assim como o tipo de
alimento ofertados aos animais, ração e artêmia respectivamente, divergiam completamente,
consequentemente o valor calórico dos alimentos eram maiores para o Grupo DIO e menores

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para o Grupo Artêmia. Conforme Rankinen e cooperantes (2005), a gordura apresenta um


índice menor de saciedade, por outro lado, a proteína apresenta maior saciedade. No entanto,
neste estudo foi aplicada a ideia oposta ao apontado pela pesquisa supracitada, na qual os
peixes zebra tiveram a obesidade induzida por meio de uma alta quantia de oferta alimentar por
ração flocada, alimento rico em proteínas, o qual em excesso torna-se capaz de desenvolver
obesidade, como foi comprovado nesta pesquisa, onde foi ultrapassada a quantia calórica
alimentar dita como ideal para suprir as necessidades energéticas, a qual é centrada em cerca
de 30 cal, consoante Pannevis et al. (1994).

É válido pontuar que além das alterações antropométricas causadas nos peixes por meio de
uma dieta de indução de obesidade efetiva, bem como Banerjee e colaboradores (2022),
mudanças corporais dos animais eram perceptíveis, de modo que muitos peixes apresentavam
corpo com excesso de gordura (Figura 6), entretanto, um número menor de animais
apresentavam mudanças corporais menores, apontando ao fato de que possivelmente alguns
animais alimentavam-se mais do que outros, o que de um lado corrobora com a indução da
obesidade em alguns peixes, aqueles com instinto de sobrevivência mais aguçado
alimentavam-se mais, enquanto que do outro lado os outros peixes com déficit nesse instinto
alimentavam-se menos.

Já o grupo controle, como esperado, conseguiu se manter praticamente constante em suas


medidas antropométricas ao longo das semanas de experimento, mantendo-se no valor de
normalidade em suas medidas (Ayres e colaboradores, 2016), evidenciando ser um modelo útil
e significativo ao atingir a função esperada do grupo controle.

Com o amparo do programa GraphPad Prism 7.01, e a análise do ANOVA de uma via, com o
fito de encontrar a existência de diferenças estatísticas presentes entre o GCA e o GOR,
somado a isso para realizar a análise das diferenças presentes nas médias dos grupos
supracitados foi realizado o Teste t de Student. Desta feita, tornou-se possível analisar as três
medidas antropométricas obtidas dos dois grupos estudados nesta pesquisa: peso,
comprimento e índice de massa corporal. Cada grupo iniciou a pesquisa com n=50 e ambos
finalizaram com n=48, em decorrência de fatores adversos.

No tangível aos dados antropométricos, variância e valor de “p” do Grupo Controle Artêmia vs
Grupo Indução de Obesidade por Ração, foi evidenciado que, consoante as Figuras 3, 4 e 5,
ocorreu um ganho ponderal significativo a partir da 2ª até a 5ª medição na indução da
obesidade. As médias encontradas, no GCA e GOR, respectivamente:

Peso:

Medição 2: 81,1±30,8 vs 121,7±55,7 (p=0,00);

Medição 3: 87,6± 31,2 vs 148,8±58,1 (p=0,00);

Medição 4: 102,5±32,6 vs 190,2±65,4 (p=0,00);

Medição 5: 127,8±32,1 vs 216,8±67,2 (p=0,00).

Comprimento:

Medição 2: 23,2±2,6 vs 24,8±3,2 (p=0,14);

Medição 3: 24,4±3,1 vs 26,8±2,8 (p=0,45);

Medição 4: 25,0±3,0 vs 28,1±2,5 (p=0,18);

Medição 5: 27,0±2,3 vs 29,5±2,5 (p=0,43).

IMC:

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eCICT 2023

Medição 2: 14,5±3,4 vs 18,6±4,1 (p=0,21);

Medição 3: 15,7±9,7 vs 19,6±4,4 (p=0,00);

Medição 4: 15,7±2,4 vs 23,3±5,0 (p=0,00);

Medição 5: 17,2±2,5 vs 24,2±4,6 (p=0,00).

Consoante os valores estatísticos supracitados, é notória uma variação significativa entre os


valores dos grupos Controle e Ração, variação essa constatada por intermédio de valores
significativos indicados pela análise de P < 0,05 nas segunda, terceira, quarta e quinta
medições respectivamente, como pode ser evidenciado pelas Figuras 3, 4 e 5.

Indicando que os valores antropométricos apresentaram diferenças pertinentes no GOR, com


destaque para os dados do “Peso” o qual na medição 1 este grupo de DIO iniciou com ± 90,46
chegando a ± 216,83 na medição 5, ou seja, mais do que dobrou o valor do peso.

Em comparação ao GCA que iniciou com ± 87,74 e alcançou ± 127,81, na medição 1 e


medição 5 respectivamente, não alçando nem o dobro do seu valor.

Nesse contexto, foi possível evidenciar que uma dieta controlada é suficientemente qualificada
para manter os dados antropométricos dos animais estáveis (Figura 1), permitindo que eles
tenham um desenvolvimento normal, assim como uma dieta hipercalórica é capaz de promover
a obesidade em peixes (Figura 7), alterando parâmetros relacionados aos animais como o
peso, por exemplo (Figura 3), ocasionando em um desenvolvimento não saudável. Este
presente estudo ressalta a importância dos zebrafish na continuidade das pesquisas voltadas
para o imbróglio da epidemia da obesidade, e demonstra que a ingestão calórica excessiva
ocasiona em sobrepeso e consequentemente no acúmulo de gordura corporal.

Como perspectiva futura é sugerido que ocorra a implementação de um novo grupo com o fito
de expandir as pesquisas nesse âmbito e alcançar novos dados e traçar novas perspectivas
para o cenário de estudos em obesidade. Alguns objetivos propostos inicialmente neste estudo,
bem como dados obtidos referentes às consequências glicêmicas, análises de índices
triglicérides e lipídicos, hepatotoxicidade, análises histológicas entre outras não serão
disponibilizados para o presente trabalho em decorrência do sigilo de pesquisa com os
discentes do grupo de pesquisa do Programa de pós-graduação em Nutrição da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.

Conclusão

Concluímos nesta pesquisa que o objetivo de indução de obesidade por meio de ração em
peixes zebra foi alcançado, considerando-se que foi possível induzir aumentos significativos
nos índices antropométricos analisados dos peixes. Deste caso, levando em consideração que
o zebrafish é um excelente modelo de pesquisa animal e a relevância da temática da
obesidade na hodiernidade, se faz necessário dar continuidade às pesquisas nessa temática.
Dados concernentes à análises tanto dos Grupo Ração e Grupo Controle não serão publicados
neste trabalho em decorrência do sigilo de pesquisa. Espera-se que em pesquisas futuras seja
possível desenvolver e ampliar os estudos pertinentes a essa temática, tendo como fito
corroborar com novos conhecimentos e dados para somar com estudos nesse arcabouço
temático no âmbito científico.

Referências

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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Anexos

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Figura 1 - Gráficos comparativos de medidas antropométricas entre Grupo DIO Ração e


Grupo Controle Artêmia em 5 medições.

Figura 2 - Dados quantitativos da média após cada medição de peso (mg) do Grupo
DIO Ração.

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Figura 3 - Dados de peso (mg) e variância, “n”, e valor de “p” do Grupo Controle
Artêmia vs Grupo Indução de Obesidade por Ração após 5 medições obtidos pelo
Teste t de Student.

Figura 4 - Dados de comprimento (mm) e variância, “n”, e valor de “p” do Grupo


Controle Artêmia vs Grupo Indução de Obesidade por Ração após 5 medições obtidos
pelo Teste t de Student.

Figura 5 - Dados de Índice de Massa Corporal e variância, “n”, e valor de “p” do Grupo
Controle Artêmia vs Grupo Indução de Obesidade por Ração após 5 medições obtidos
pelo Teste t de Student.

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eCICT 2023

Figura 6 - Peixes com obesidade induzida por ração, porém o peixe nº 29 apresenta
menos gordura corporal que o peixe de nº 22.

Figura 7 - Peixe nº 11 pertencente ao Grupo Controle Artêmia e peixe nº 22


pertencente ao Grupo Obesidade Induzida por Ração.

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CÓDIGO: SB0961

AUTOR: VINÍCIUS SILVA DE MORAIS

ORIENTADOR: IURI GOULART BASEIA

TÍTULO: Estudo taxonômico de fungos puffballs (Agaricaceae; Basidiomycota)


em áreas de mata atlântica e semiárido no Estado do Rio Grande do Norte,
Brasil

Resumo

Puffballs são fungos gasteroides que liberam esporos através de ostíolos ou fissuras. A
ornamentação dos esporos, a composição do exoperídio, bem como a presença de
capilício são características distintivas para o grupo. Dados moleculares recentes nos
deram uma nova compreensão sobre a classificação interna do grupo, ressaltando a
importância da taxonomia integrativa. A diversidade do grupo é bastante significativa,
nos últimos seis anos foram descritas onze novas espécies apenas para região
Nordeste do país (Crous et al., 2017; 2018, 2019, 2020, 2021; Alfredo e Baseia, 2014;
Alfredo et al., 2017; Gurgel et al., 2017; Barbosa et al., 2023). Por conseguinte, o
presente trabalho tem como objetivo descrever, caracterizar e identificar espécimes
de puffballs em regiões contrastantes de Mata Atlântica e Semiárido do Estado do Rio
Grande do Norte. O processo de coleta e herborização dos basidiomas foi
fundamentado pela metodologia descrita por Baseia et al. (2014), para descrição
estatística das medidas microscópicas foi utilizada a metodologia empregada por Bates
(2004). A partir do estudo taxonômico dos puffballs, foi possível estabelecer conexões
entre características macro e micromorfológicas, habitats, bem como alguns dados
ecológicos e os históricos associados aos gêneros. Ao todo, foram analisadas 11
exsicatas, das quais foram descritas 4 espécies de 3 gêneros diferentes: Bovista cf.
cunninghamii, Bovista delicata, Calvatia caatinguensis e Lycoperdon arenicola.

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Palavras-chave: Diversidade. Ecologia. Conservação. Gasteroides. Filogenia.

TITLE: Taxonomic study of puffball fungi (Agaricaceae; Basidiomycota) in


Atlantic forest and semi-arid areas in the state of Rio Grande do Norte, Brazil

Abstract

Puffballs are gasteroid fungi that release spores through ostioles or fissures. The
ornamentation of the spores, the composition of the exoperidium, as well as the
presence of capillitium are distinctive characteristics for the group. Recent molecular
data has given us a new understanding of the internal classification of the group,
highlighting the importance of integrative taxonomy. The diversity of the group is quite
significant, in the last six years eleven new species have been described for the
Northeast region of the country alone (Crous et al. 2017; 2018, 2019, 2020, 2021;
Alfredo and Baseia 2014; Alfredo et al. 2017; Gurgel et al. 2017; Barbosa et al. 2023).
Therefore, this work aims to describe, characterize and identify specimens of puffballs
in contrasting regions of the Atlantic Forest and Semiarid Region of the State of Rio
Grande do Norte. The process of collecting and herborizing the basidiomes was based
on the methodology described by Baseia et al. (2014), and the statistical description of
the microscopic measurements used the methodology employed by Bates (2004).
From the taxonomic study of the puffballs, it was possible to establish connections
between macro and micromorphological characteristics, habitats, as well as some
ecological and historical data associated with the genera. A total of 11 exsiccates were
analyzed, from which 4 species described: Bovista cf. cunninghamii, Bovista delicata,
Calvatia caatinguensis and Lycoperdon arenicola

Keywords: Diversity. Ecology. Conservation. Gasteromycetes. Phylogeny.

Introdução

Os puffballs constituem um grupo de fungos gasteroides epígeos que produzem


basidiomas de formato esférico à piriforme. Na maturidade, uma massa pulverulenta
de esporos são liberados no ambiente através de um ostíolo ou de fissuras (Miller e
Miller, 1998; Calonge, 1998). A maioria de seus representantes possui esporos
ornamentados, podendo ser característica diagnóstica para identificação de espécies,
assim como a presença/ausência de capilício e paracapilício na gleba, ornamentação
do exoperídio e presença de subgleba. As espécies do grupo são cosmopolitas,
colonizando biomas distintos e desenvolvendo-se bem onde há matéria orgânica
disponível (Bates, 2004).

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eCICT 2023

Tradicionalmente, os puffballs foram incluídos na família Lycoperdaceae (Lloyd, 1902;


Fischer, 1933; Dring, 1964; Ainsworth et al., 1973; Alexopoulos e Mims, 1985; Pegler et
al., 1995; Miller e Miller, 1998). Atualmente, considerando os dados moleculares (He
et al., 2019; Wijayawardene et al., 2022), os puffballs compõem um grupo polifilético,
surgindo em diversos clados distintos na filogenia. Alguns gêneros que anteriormente
estavam alocados em Lycoperdaceae foram realocados na família Agaricaceae, ambos
pertencentes à ordem Agaricales. Outros gêneros, como Morganella e Vascellum,
foram re-classificados como subgêneros. Os gêneros mais representativos do grupo
são: Calvatia, Bovista e Lycoperdon.
Os Puffballs possuem uma diversidade bastante representativa, sendo 163 espécies
reconhecidas para os gêneros citados (Wijayawardene et al., 2022). Apenas para a
região Nordeste, nos últimos seis anos, foram descritas onze novas espécies (Crous et
al., 2017, 2018, 2019, 2020, 2021; Alfredo e Baseia, 2014; Alfredo et al., 2017; Gurgel
et al., 2017; Barbosa et al., 2023). Essa região é conhecida por apresentar dois biomas
contrastantes como principais representantes de diversidade. A Caatinga é o bioma
que compõem a maior parte da região semiárida do Rio Grande do Norte, árvores
baixas e arbustos espinhosos de coloração esbranquiçada (Prado, 2003; Leal et al.,
2005), assim como baixo índice pluviométrico concentrado em poucos meses do ano,
fazem parte da paisagem natural. A Mata Atlântica é composta por florestas abertas,
densas e semidecíduas, com clima predominantemente tropical úmido (Cardoso,
2016).
A compilação desses dados sustenta que o conhecimento da diversidade desse grupo
de fungos em determinadas áreas é necessário para se traçar planos de manejos
ambientais e estratégias para preservação, este estudo objetiva ampliar o
conhecimento morfológico sobre as espécies de puffballs (Agaricaceae e
Lycoperdaceae) ocorrentes em áreas de Mata Atlântica e semiárido no Estado do Rio
Grande do Norte, Brasil.

Metodologia

Coleta, processamento e herborização: Os espécimes foram coletados durante a


estação chuvosa, no período entre Maio a Julho. A metodologia adotada para a coleta
e preservação dos basidiomas foi a de Baseia et al. (2014). Trilhas pré existentes foram
percorridas a fim de verificar os locais onde normalmente fungos gasteroides se
desenvolvem (solo, serapilheira, madeira em decomposição e esterco). Os espécimes
encontrados foram fotografados, em seguida foram removidos do substrato com o
auxílio de canivete. Também foi feita uma varredura no substrato, verificando se há
estruturas como rizomorfa e basidiomas imaturos. Os basidiomas foram

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acondicionados em recipientes compartimentados e etiquetados. Nas etiquetas


constam informações como: coletor, local de coleta, data, características do substrato,
hábito de crescimento, coloração e dimensões do basidioma. O material foi levado
para o laboratório de Biologia de Fungos, localizado no Departamento de Botânica e
Zoologia (DBEZ) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), colocado em
um desidratador a aproximadamente 40°C por até 48 horas e, posteriormente,
colocado em envelopes etiquetados. Após as análises, o material identificado recebeu
números de registro e foram depositados na Coleção de Fungos da UFRN. Toda a
coleção possui seus dados inseridos em um banco de dados (BRAHMS) que está sendo
periodicamente enviado ao Centro de Referências em Informação Ambiental (CRIA).

Análise laboratorial e identificação dos espécimes: Os basidiomas foram inicialmente


analisados quanto às suas características macromorfológicas como dimensões do
basidioma completo, da parte fértil, do perídio (cor, textura e presença de
incrustações), da rizomorfa, forma e propriedades da gleba. Para a identificação das
cores utilizou-se o guia de cores segundo Kornerup & Wanscher (1978). Em seguida
foram analisadas as estruturas micromorfológicas, tais como ornamentação,
dimensões e coloração adquirida em reagentes químicos ou corantes. Algumas dessas
estruturas são: hifas do perídio e da rizomorfa, ornamentação e forma dos
basidiósporos, capilício e paracapilício. As análises foram feitas utilizando microscópio
óptico e estereoscópico. As lâminas das estruturas foram montadas e cortadas à mão
livre com o auxílio de lâminas de aço. Todas as estruturas foram hidratadas com KOH
5%. As mensurações estatísticas dos basidiósporos foram feitas de acordo com a
metodologia descrita por Bates (2004) em que n = número de basidiósporos incluindo
ornamentação, x = média ± o desvio padrão do diâmetro e da altura dos esporos e Qm
= quociente entre a altura e o diâmetro dos esporos.

Resultados e Discussões

Como resultado do projeto, foram coletados e analisados basidiomas de 3 gêneros


diferentes, configurando, ao todo, 11 exsicatas e 4 espécies descritas. A partir do
estudo taxonômico dos 3 gêneros de puffballs, foi possível estabelecer conexões entre
características macro e micromorfológicas, habitats, bem como alguns dados
ecológicos e os históricos associados aos gêneros. Isso proporcionou uma
compreensão de uma pequena parte da grande diversidade de espécies, apesar da
carência e necessidade de mais coletas nas áreas estudadas.

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DOS GÊNEROS DE PUFFBALLS

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Bovista sp. Pers., Neues Mag. Bot. 1: 86 (1794)

Basidioma epígeo, liso, verrucoso ou craquelado, frágil e, muitas vezes, desfazendo-se


em escamas ou placas quando maduro. Perídio composto por três camadas;
Exoperídio fino e efêmero, verrucoso, espinhoso ou craquelado, em basidiomas
maturos pode estar “fundido” junto ao mesoperídio. Mesoperídio membránaceo,
podendo se desprender do exoperídio ou ficar aderido ao endoperídio. Endoperídio
resistente, flexível e espesso. Gleba pulverulenta, esbranquiçada quando imaturo e na
marrom-esverdeada quando atinge maturidade, deiscência por um poro apical regular.
Subgleba ausente na maioria das espécies, quando presente, é compacta. Paracapilício
ausente. Basidiósporos podem ser globosos, subglobosos, elípticos ou ovoides, hialinos
a castanho, lisos e com presença de pedicelos.

Descrição dos materiais analisados:

Bovista cf. cunninghamii Kreisel 1967.

Material examinado: BRASIL. Rio Grande do Norte. Messias Targino (Junior, F. A. A. M.


003) e (Junior, F. A. A. M. 004).

Basidioma expandido de 15-17 mm de diâmetro x 10-13 mm de altura, globoso a


piriforme. Rizomorfa ausente. Exoperídio fino, granuloso a escamoso, branco a
branco-amarelado (KW 3A1 a 3A2). Hifas quebradiças e irregulares, hialinas, 3,2-4,8
μm de diâmetro, paredes < 1,01 μm de espessura. Endoperídio, liso, papiráceo, com
deiscência por um poro apical, hifas filamentosas e hialinas em KOH 5%, 2,9-3,8 μm de
diâmetro. Gleba pulverulenta a felpuda. Subgleba ausente. Basidiósporos 3,52-4,54
μm [Qm = 1,03 n = 30], globosos, lisos a levemente rugoso, amarelado em KOH 5%;
Capilício do tipo intermediário, hifas 2,61-4,37 μm de diâmetro, parede lisa, hialinos a
levemente amarelados em KOH 5%, paredes < 0,9 μm de espessura. Paracapilício
ausente.

Notas: Bovista cunninghamii é caracterizada por apresentar hifas


pseudoparenquimatosas e elementos hifálicos e capilícios intermediários. B.
dermoxantha destingui-se de B. cunninghamii por não apresentar subgleba.

Bovista delicata Berk. & M. A. Curtis 1860.

Material examinado: BRASIL. Rio Grande do Norte. Serra Negra do Norte, Estação
Ecológica do Seridó (UFRN-Fungos 1023), (UFRN-Fungos 1074). Rio Grande do Norte.

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Caicó, Serra da Formiga (UFRN-Fungos 1952).

Basidioma expandido de 14-17 mm de diâmetro x 7 mm de altura, globoso a


subgloboso. Rizomorfa ausente. Exoperídio granuloso, marrom claro (KW 6D4 a 6D7).
Hifas pseudoparenquimatosas, globosas e ovóides, 10,9-21,7 μm de diâmetro x 7,4-
13,4 μm de comprimento, paredes < 0,9 μm de espessura. Endoperídio compacto,
aderido ao exoperídio. Gleba pulverulenta a felpuda. Subgleba ausente. Basidiósporos
s 3,6-5,2 μm [Qm = 1,05 n = 30], globosos, lisos a levemente rugosos, amarelado em
KOH 5%; Paracapilício ausente. Capilício do tipo Lycoperdon, hifas 3,7-7,9 μm de
diâmetro, parede lisa, hialinos a levemente amarelados em KOH 5%.

Notas: Bovista delicata se assemelha morfologicamente com B. grunni e B. gracialis, a


principal característica destoante é a morfologia dos basidiósporos. B. grunni
apresenta pedicelos longos, enquanto os de B. delicata não apresentam. B. gracialis
possui o exoperídio composto por elementos hifálicos e pseudoparenquimatosos,
além de basidiósporos fortemente ornamentados.

Calvatia sp. Fr., Summa veg. Scand., Sectio Post. (Stockholm): 442 (1849)

Basidioma globoso a subgloboso, piriforme, podendo conter incrustações de areia e


solo. Superfície cinza, amarelo, laranja, castanho ou violeta e pulverulentos. Perídio
composto por três camadas,fino, quebradiço e deiscência irregular. Exoperídio fino,
efêmero, sem ornamentações, liso ou levemente tomentoso. Em basidiomas antigos
dificilmente há presença de exoperídio. Mesoperídio membránaceo, podendo se
desprender do exoperídio ou ficar aderido ao endoperídio. Endoperídio resistente ,
flexível e espesso. Gleba lanosa a pulverulenta, variando entre marrom, verde e roxo.
Subgleba presente, podendo ser reduzida, desenvolvida e bem desenvolvida.
Paracapilício ausente. Capilício hialino a castanho. Basidiósporos podem ser globosos,
subglobosos, elípticos ou ovoides, hialinos a castanho, ornamentados ou lisos.
Rizomorfa incrustada de areia e solo, não encontrada em basidiomas maturos.

Descrição dos materiais analisados:

Calvatia caatinguensis R.L. Oliveira, R.J. Ferreira, B.D.B. Silva, M.P. Martín & Baseia
2018.

Material examinado: BRASIL. Rio Grande do Norte. Messias Targino (Junior, F. A. A. M.


002). Rio Grande do Norte, João Câmara, Serra do Torreão (UFRN-Fungos 3253),
(UFRN-Fungos 3040) e (UFRN-Fungos 3041).

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Basidioma expandido de 43-60 mm de diâmetro no ápice e 28-32 na base x 32 mm de


altura, piriforme. Rizomorfa ausente. Exoperídio fino, efêmero e sem ornamentação,
pouco incrustado, hifas longas 2,9-4,3 μm de largura, septadas, paredes < 0,8 μm de
espessura, hialinas em KOH 5%. Endoperídio com hifas de 2,5-5,2 μm de espessura,
retas e ramificadas, paredes < 1,2 μm de espessura, marrom em KOH 5%. Gleba lanosa
a pulverulenta (KW 6E4 a 6F4). Basidiósporos globosos a subgloboso, 4,32-5,43 μm
[Qm = 1,03 n = 30], hialinos a castanho, ornamentado. Paracapilício ausente. Capilício
tipo Calvatia, hifas 1,9–6,3 μm de diâmetro, hialinos a levemente amarelados em KOH
5%, paredes < 1,5 μm de espessura.

Notas: Calvatia caatingaensis é morfologicamente próxima de C. fragilis e C. lilacina. A


principal diferença entre C. caatingaensis e C. lilacina é a ornamentação e tamanho dos
basidiósporos, espinhosos a verrucosos. Em C. fragilis não é relatada a presença de
subgleba. ]

Lycoperdon sp. Pers., Ann. Bot. (Usteri) 15: 4 (1794)

Basidioma globoso, subgloboso, piriforme ou irregular, epígeos e lignícolas; raramente


lisos ou rugosos. Espinhoso a verrucoso. Pedicelo presente em algumas espécies,
esbranquiçados e pouco desenvolvidos. Perídio com três camadas, deiscência regular
através de um poro apical ou irregular pela fragmentação do perídio apical a partir de
um ponto apical em direção a base, em placas ou fragmentos de diferentes formas e
tamanho. Exoperídio fino, efêmero ou persistente, papiráceo. Exoperídio fino,
efêmero, sem ornamentações, liso ou levemente tomentoso. Em basidiomas antigos
dificilmente há presença de exoperídio. Mesoperídio membranaceo, pode se
desprender juntamente com o exoperídio ou ficar aderido ao endoperídio.
Endoperídio é mais resistente que as demais camadas, flexível e espesso. Gleba lanosa
a pulverulenta, varia entre marrom, verde e roxo. Subgleba presente, podendo ser
reduzida, desenvolvida e bem desenvolvida. Paracapilício presente em algumas
espécies. Capilício hialino a castanho. Basidiósporos podem ser globosos, subglobosos,
elípticos ou ovoides, hialinos a castanho, ornamentados ou lisos. Rizomorfa incrustada
de areia, solo ou madeira, não encontrada em basidiomas maturos.

Descrição dos materiais analisados:

Lycoperdon arenicola (Alfredo & Baseia) Baseia, Alfredo & M. P. Martín 2017. Material
examinado: BRASIL. Rio Grande do Norte. Natal, Parque Estadual Dunas de Natal

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(UFRN-Fungos 2581). Rio Grande do Norte, Baía Formosa, RPPN Mata Estrela (UFRN-
Fungos 1360).

Basidioma expandido de 23-25 mm de diâmetro x 39 mm de altura, piriforme a


turbinado. Rizomorfa ausente. Exoperídio espinhoso a verrugoso, incrustado com
grãos de areia, amarelo escuro a marrom (KW 5D4 a 5E4). Células
pseudoparenquimatosas, globosas, ovóides e elípticas, 10,21-33,19 μm de diâmetro x
7,74-20,22 μm de comprimento, paredes < 1,5 μm de espessura. Endoperídio liso,
elástico, com deiscência por um poro apical, hifas irregulares 2,8-7,1 μm de diâmetro.
Gleba pulverulenta a felpuda. Subgleba ausente. Basidiósporos 3,42-3,98 μm [Qm =
1,04 n = 30], globosos, lisos a levemente rugosos sob MO, hialinos a amarelo em KOH
5%, paredes < 0,5 μm de espessura. Paracapilício 1,7-5,1 μm de diâmetro,
incrustações hialinas. Capilício do tipo Lycoperdon, hifas 1,9-3,9 μm de diâmetro, com
ramificações, hialinos a levemente amarelados em KOH 5%, paredes < 1,2 μm de
espessura.

Notas: Lycoperdon arenicola foi inicialmente descrito no extinto gênero Morganella


Zeller., pode ser confundido morfologicamente com L. compacto. Diferencia-se de L.
compacto por exibir exoperídio granuloso que cai do ápice até a base, deiscência por
um poro apical regular e endoperídio liso; L. compacto possui exoperídio espinhoso e
endoperídio reticulado.

Conclusão

A partir da visualização dos resultados considerados acima, é plausível afirmar que o


grupo dos Puffballs, apesar da necessidade de estudos, possui um amplo potencial
para pesquisas futuras; além de podermos constatar que as áreas de Mata Atlântica e
semiárido do estado do Rio Grande do Norte são campos férteis para o
desenvolvimento de estudos na biologia de fungos, implicando na necessidade de
incentivo em mais coletas e trabalhos mais aplicados que levem benefícios de forma
direta à sociedade. Vale destacar que o recente histórico de reorganização da
classificação dos puffballs, embasa a importância da taxonomia integrativa para que se
obtenha estudos mais abrangentes e impactantes no campo da sistemática de fungos.

Referências

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Anexos

Fig. 1. Lycoperdon arenicola (UFRN-Fungos 2581). A. Composição do perídio. B. Hifas


do exoperídio. C. Capilício e Paracapilício (corado em vermelho). A = 10 mm, B, C = 10
μm.

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Fig. 2. Calvatia caatinguensis (Junior, F. A. A. M. 002). A. Basidioma imaturo. B.


Basidioma na maturidade. C. HIfas pseudoparenquimatosas. A, B = 10 mm, C = 10 μm.

Fig. 3. Bovista cf. cunninghamii (Junior, F. A. A. M. 003) e (Junior, F. A. A. M. 004). A.


Composição do perídio. B. Basidioma imaturo. C. Paracapilícios do tipo intermediário.
A = 1 mm, B = 10 mm, C = 10 μm.

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CÓDIGO: SB0966

AUTOR: BRUNA RIBEIRO DE FARIAS

ORIENTADOR: KATIA CASTANHO SCORTECCI

TÍTULO: ANÁLISE DOS EFEITOS DA MICROGRAVIDADE SIMULADA


ATRAVÉS DO CLINOSTATO 2D SOBRE A ESPÉCIE PLUKENETIA
VOLUBILIS L. (EUPHORBIACEAE)

Resumo

Os metabólitos intermediários são componentes produzidos pelas plantas de


grande interesse para a indústria farmacêutica. Fatores bióticos e abióticos
estressores são estímulos que fazem com que as plantas produzam esses
fitoquímicos, e verifica-se que mudanças na força da gravidade podem alterar
os níveis desses compostos nas plantas.Desta forma, nosso objetivo neste
trabalho foi verificar como as plantas respondem a condições de
microgravidade simulada, e para isto foi utilizado um equipamento chamado de
clinostato 2D que simula estas condições. A espécie alvo do nosso estudo é a
Plukenetia volubilis, o amendoim inca, que já vem sendo avaliada pelo nosso
grupo de pesquisa e possui reconhecimento pelo alto teor de ômega 3 e 6 e
proteínas em suas sementes. As plantas foram tratadas no clinostato em três
velocidades, com 35, 50 e 75 RPM. Após o tratamento, estas foram
transferidas para vasos com terra e o desenvolvimento foi observado. Este
material foi sempre comparado com plantas controle que não foram submetidas
a estas condições. Verificamos que a única alteração morfológica observada foi
o crescimento inicial mais acelerado para o grupo tratado a 50 RPM. Tecidos
como folha, caule e raiz foram coletados para futuras análises histológicas.
Extratos etanólicos e aquoso foram produzidos com o intuito de quantificar os
níveis de capacidade antioxidante total, compostos fenólicos totais e proteínas.

Palavras-chave: amendoim inca. microgravidade simulada. extrato. folhas.


sementes.

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TITLE: ANALYSIS OF THE EFFECTS OF MICROGRAVITY SIMULATED


THROUGH THE 2D CLINOSTAT ABOUT THE PLUKENETIA VOLUBILIS L.
(EUPHORBIACEAE) SPECIE

Abstract

Intermediate metabolites are components produced by plants that are of great


interest to the pharmaceutical industry. Biotic and abiotic stressors are stimuli
that cause plants to produce these phytochemicals, and it has been found that
changes in the force of gravity can alter the levels of these compounds in
plants. Thus, our goal in this work was to see how plants respond to simulated
microgravity conditions, using a device called a 2D clinostat that simulates
these conditions. The target species of our study is Plukenetia volubilis, the Inca
peanut, which has already been evaluated by our research group and is
recognized for the high content of omega 3 and 6 and proteins in its seeds. The
plants were treated in the clinostat at three speeds, 35, 50 and 75 RPM. After
treatment, they were transferred to pots filled with soil and their development
was observed. This material was always compared with control plants which
were not subjected to these conditions. We verified that the only morphological
change observed was faster initial growth for the group treated at 50 RPM.
Leaf, stem and root tissues were collected for future histological analysis.
Ethanolic and aqueous extracts were produced in order to quantify the levels of
total antioxidant capacity, total phenolic compounds and proteins.

Keywords: inca peanut. simulated microgravity. extract. leaves. seeds.

Introdução

Os primeiros registros escritos sobre plantas medicinais encontrados possuem


mais de 4000 anos e foram descobertos na Índia. China, Grécia, Egito e tantos
outros lugares do mundo também possuem os seus respectivos documentos
relatando o uso de plantas com fins terapêuticos, indicando que esse tipo de
uso das plantas não foi um caso isolado dentro da história da humanidade.
Aliando os saberes milenares e os avanços na ciência, os pesquisadores
passaram a buscar quais são os componentes, e sua dosagem segura, que
fazem com que determinadas plantas detenham propriedades terapêuticas,
encontrando nos metabólitos intermediários (MI) compostos promissores para a
indústria farmacêutica (Raskin et al., 2002; Staniek et al., 2014; Hussein, El-
Anssary, 2018; Rahman et al., 2018; Inoue, Hayashi, Craker, 2019; Süntar,
2019).
Os MI das plantas são produzidos e atuam nas defesas destas em resposta
aos estresses bióticos e abióticos, agindo com funções microbicidas, protetivas

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contra patógenos e herbívoros, antifúngicas e etc (Hussein, El-Anssary, 2018).


Para os seres humanos, esses fitoquímicos são a chave para a manipulação
de novos medicamentos e tratamentos (Isah, 2019). Dentro dos fitoquímicos,
há uma grande importância nos compostos fenólicos que apresentam algumas
atividades farmacológicas que podem ser utilizados como antiinflamatórios e
microbicidas, carotenóides que possuem atividades anticancerígenas,
compostos antimaláricos, entre outras funções (Verpoorte, Memelink, 2002;
Yuan, 2016; Thakur, Singh, Khedkar, 2020).
A produção desses fitoquímicos se dá a partir de estímulos estressores
abióticos e bióticos (Isah, 2019), e um desses fatores percebidos pelas plantas
é a gravidade. As plantas percebem a gravidade graças às estruturas celulares
denominadas estatólitos, que contém amiloplastos que permanecem
sedimentados na parte inferior das células (Kiss, 2000), assim como mudanças
no padrão de organização do citoesqueleto e no fluxo do fito-hormônio auxina
(Morita, 2010). Os efeitos das mudanças de gravidade nas plantas já vêm
sendo analisados há mais de 200 anos, com o primeiro estudo tendo sido com
mudas de aveia, realizado por Knight (1806). Considerando que nem sempre é
possível submeter plantas a condições de microgravidade real como os voo
parabólicos, torres de queda livre ou a utilização de foguetes de sondagem,
mas podemos simular condições de microgravidade, isto é, um ambiente de
baixa gravidade, utilizando um aparelho denominado de clinostato. Com isso, é
possível observar como as plantas respondem de maneira simulada a estas
condições, comparando morfologicamente e bioquimicamente, aos padrões
encontrados em condições de gravidade normal (Malarvizhi et al., 2020; Baba
et al., 2022).
Para esse estudo, a espécie que está sendo avaliada em condições de
microgravidade simulada é a Plukenetia volubilis, descrita por Linneo,
conhecida popularmente como amendoim inca. Pertencente à família
Euphorbiaceae, essa espécie é uma trepadeira nativa da Amazônia Peruana, e
registros de frutos e vinhas em vasos indicam que ela foi cultivada pelos povos
Incas há 3000-5000 anos (Kodahl, 2020). Constata-se desde a década de 90,
num estudo sobre o perfil proteico e lipídico realizado por Hamaker et al.,
(1992), que suas sementes possuem um alto teor de ômega 3 e 6 e bom nível
de proteínas. Estudos anteriores do nosso grupo de pesquisa verificou-se
algumas atividades farmacológicas de interesse, como atividades cicatrizantes,
antiproliferativas e antioxidantes em extratos obtidos a partir das folhas
(Nascimento et al., 2013; Nascimento et al., 2017). Assim, nosso estudo
apresentado aqui objetiva analisar se quando as plantas são submetidas às
condições de microgravidade simulada através do clinostato 2D, há uma
modificação dos níveis de compostos fenólicos totais, além dos níveis de
proteínas e a atividade antioxidante em relação às atividades farmacológicas
encontradas anteriormente (Nascimento et al., 2013; Nascimento et al., 2017).

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Metodologia

As sementes utilizadas para esse experimento foram obtidas a partir de um


espécime de Plukenetia volubilis L. cultivado no município de Parnamirim, Rio
Grande do Norte.
Para germinação, as sementes foram colocadas em bandejas com vermiculita
como substrato, sendo regadas a cada 2 dias, deixando-as bastante úmidas.
Ao atingir o tamanho de 10 a 15 cm de altura, as plântulas são retiradas das
bandejas e enroladas em papel toalha umedecido para serem submetidas à
simulação de microgravidade (Figura 1).
Utilizando um clinostato 2D (Figura 2), aplicamos o estresse de microgravidade
simulada às plântulas, que foram divididas em grupos para experimentar 3
diferentes velocidades de rotação por minuto, 35, 50 e 75 RPM, durante o
período de 4 horas. O grupo controle não passou pelo tratamento utilizando o
equipamento, sendo apenas retirado e enrolado em toalhas umedecidas. Desta
forma, este grupo foi utilizado para comparar o padrão morfológico a ser
comparado posteriormente.
Após o tratamento com a microgravidade, as plântulas, incluindo o grupo
controle, foram colocadas em vasos contendo terra vegetal e vermiculita em
proporções iguais (1:1), e por 2 semanas deixadas no local mais sombreado da
Casa de Vegetação do Centro de Biociências - UFRN, sendo regadas a cada
dois dias ou a depender da necessidade. Passado o período inicial do
crescimento, as plantas foram transferidas para uma área com maior incidência
de luz, e durante o período de desenvolvimento os dados morfológicos foram
coletados com o auxílio de trena e paquímetro, além da observação e anotação
de quaisquer modificação do padrão de desenvolvimento quando comparado
com o grupo controle (Figura 3).
Durante 24 semanas de crescimento, os dados morfológicos foram coletados
em semanas intercaladas, e os parâmetros observados foram a altura da
planta e a espessura do caule, além de quaisquer alterações observáveis,
como mudanças na cor ou enrugamento das folhas. Ao final desse período
observamos o número de eixos e, antes da coleta das folhas, o tamanho da
quinta folha do principal eixo de crescimento (a partir da gema apical em
direção à raiz), na intenção de escolher folhas com estágio de desenvolvimento
similar entre si. No decorrer do crescimento, utilizamos os fertilizantes foliares
das marcas Dimy, de composição 8% nitrogênio, 8% fósforo e 8% potássio, e
Forth, que contém 3% enxofre, 7% cobre e 3% cálcio, a cada duas semanas.
Análise histológica e hormonal

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Partes da planta - diferentes frações do caule e algumas folhas - foram


coletadas e fixadas com solução FAA (formaldeído, ácido acético e álcool
etílico) e mantidas em álcool 70% para posterior avaliação histológica, em
busca de observar possíveis modificações a nível de tecido e célula. Além
disso, algumas folhas extremamente enrugadas foram congeladas e mantidas
em freezer -80 ºC para avaliação hormonal mais adiante.
Obtenção dos extratos
Para obtenção dos extratos, as folhas foram coletadas, lavadas com água
destilada e trituradas manualmente, descartando a nervura central. Esse
material foi mergulhado em água destilada como solvente, na proporção 1:10
(10 mL de água destilada para cada 1 g de material vegetal), para obtenção do
extrato aquoso. O material foi agitado por 24 horas em mesa agitadora a uma
velocidade de 150 rpm. Decorrido este tempo, o extrato foi então filtrado,
primeiramente com o auxílio de filtro de café e logo depois filtrado utilizando
após um papel de filtro Whatman nº1.
Após o procedimento de filtração, o extrato foi armazenado em tubos cônicos
de 50 mL. Para a secagem, foi utilizado o rota-evaporador a 40 ºC, e
posteriormente a secagem foi finalizada no liofilizador (Figura 4). Para o
armazenamento, 10 mg do material seco foi colocado em tubos de centrífuga
de 1,5 mL, resuspendido utilizando 1 mL de água destilada e mantido em
freezer -80 °C.
As folhas das plantas tratadas que não foram utilizadas para a confecção dos
extratos foram pesadas e estão sendo mantidas no freezer a -80 ºC para
possíveis usos mais adiante.
Ensaios bioquímicos
Depois de obter os extratos aquosos a partir dos grupos de plantas tratadas
com o estresse de microgravidade (35, 50 e 75 RPM), estão programados três
ensaios bioquímicos a fim de quantificar os compostos fenólicos totais pelo
método Folin-Ciocalteau, níveis de proteínas pelo método Bradford (1976) e
avaliar a capacidade antioxidante total (CAT) pelo método de Prieto, Pineda e
Aguilar (1999) . As leituras serão realizadas pelo espectrofotômetro (Biotek
Epoch Microplate, California, USA) e os testes serão feitos em triplicatas
biológicas e técnicas. Os resultados serão comparados com os números dos
extratos aquosos feitos a partir de plantas não tratadas, encontrados
anteriormente pelo nosso grupo (Nascimento et al., 2013; Nascimento et al.,
2017).
Alguns outros ensaios in vitro e in vivo com os extratos obtidos a partir de
plantas tratadas com a microgravidadeestão nas perspectivas futuras, a fim de
avaliar citotoxicidade, capacidade cicatrizante, atividades antiinflamatória e

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antiproliferativa, com culturas de células, larvas de Tenebrio molitor e


leishmania.

Resultados e Discussões

Os grupos de plantas tratados com o estresse de microgravidade a 35 e 50


RPM já atingiram as 24 semanas de idade, e foi obtidos o extrato aquoso a
partir das folhas dessas plantas, enquanto o grupo tratado a 75 RPM está
dentro do período de desenvolvimento e o extrato aquoso a partir destas
plantas serão obtidos posteriormente. Portanto, os ensaios bioquímicos a fim
de avaliar a capacidade antioxidante total, quantificar compostos fenólicos e
proteínas ainda serão realizados. Não foi encontrada literatura sobre extratos
obtidos a partir de folhas de plantas tratadas com o estresse de microgravidade
para essa espécie, mas um estudo realizado por Al-Awaida et al. (2020) com
plantas de trigo (Triticum aestivum L.) submetidas a microgravidade
demonstraram aumento dos compostos fenólicos totais, flavonóides e vitamina
C (ácido ascórbico) nos extratos etanólicos. Xu, Guo e Liu (2013) constataram
um aumento dos níveis de proteínas em plântulas de tomate (Lycopersicon
esculentum Mill.) e um estudo realizado com a espécie Lemna aequinoctialis
Welw. por nosso grupo (Santos et al., 2022) também verificou aumento da
concentração proteica em plantas submetidas ao estresse de microgravidade.
Morfologicamente, poucas mudanças foram observadas entre os diferentes
grupos tratados quando comparados com o grupo controle considerando o
padrão de desenvolvimento e altura das plantas. Foi observado que o grupo
tratado a 50 RPM apresentou um crescimento inicial mais acelerado em
comparação aos grupos controle e grupo tratado a 35 RPM, porém, esse
crescimento ao final das 24 semanas de coleta de dados, se mostrou com uma
média similar aos demais grupos, onde o grupo controle apresentou média de
altura de 75,16 cm, o grupo tratado a 35 RPM média de 81,12 cm e o grupo
tratado a 50 RPM observou-se uma média de 86,45 cm. Essa diferença de
aproximadamente 11 cm entre o grupo controle e o grupo tratado a 50 RPM
pode se dar pelo fato termos menos plantas dentro do grupo controle, devido
ao baixo sucesso inicial na germinação das sementes. A baixa taxa de
germinação pode se dar pelo fato das sementes utilizadas terem sido postas
para germinar em uma temperatura abaixo do adequado de acordo com
Cardoso (2015), que seria em torno de 30 ºC, enquanto a temperatura da
estufa no laboratório estava em aproximadamente 24 ºC. Somente após esses
primeiros grupos de sementes não germinarem é que colocamos as bandejas
na Casa de Vegetação do Centro de Biociências - UFRN, onde a temperatura é
mais próxima do ideal.

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É interessante apresentar que observamos algumas alterações morfológicas


nas folhas. Foi observado que as plantas de todos os grupos, incluindo o grupo
controle, apresentaram enrugamento (Figura 5), sendo o grupo tratado a 35
RPM o grupo que mais apresentou essa modificação nas folhas, constatando
visualmente. Para confirmar se essa alteração nas folhas foi realmente
causada pelo estresse de microgravidade a 35 RPM, iremos contar a
quantidade total de folhas e verificar a porcentagem de folhas modificadas para
todos os grupos, incluindo o controle, para estabelecer um padrão a ser
comparado. Esse fenômeno pode ser indicativo de alterações hormonais nos
níveis do fito-hormônio auxina. Nakamura, Nishimura e Morita (2010)
verificaram que a microgravidade pode promover uma alteração no padrão de
distribuição desse fito-hormônio, visto que a sedimentação dos amiloplastos
gera um sinal químico que influencia na regulação do transporte direcional da
auxina. Xu, Guo e Liu (2013) indicaram que a microgravidade possivelmente
poderia danificar a membrana plasmática, aumentando a permeabilidade da
membrana. Algumas folhas modificadas (enrugadas) foram separadas e
congeladas no freezer a -80 ºC para medirmos o nível desse fito-hormônio no
futuro, assim como foram fixadas em FAA para análises histológicas e
verificação de possíveis danos na parede celular e membrana plasmática.
Uma alteração que não havia sido encontrada anteriormente no nosso estudo
sobre os efeitos da microgravidade nessa espécie, foram pontos de coloração
azulada nas raízes das plântulas após o estresse gerado pelo clinostato (Figura
6). Isso ocorreu em algumas poucas plantas, mas foi registrado e fixaremos
amostras dessas regiões para avaliação histológica.
Em relação a análise histológica, estamos buscando quais corantes são
melhores para serem utilizados e que nos permita uma melhor visualização
dessas possíveis modificações. Esta metodologia está sendo realizada em
colaboração com a Ms Helaine C. Silva do Departamento de Morfologia
(DMOR) para dar continuidade a pesquisa.
Com a obtenção dos extratos de plantas não tratadas, já realizamos um
primeiro ensaio para verificar qual o efeito do extrato hidro-etanólico utilizando
um modelo animal, larvas de Tenebrio molitor. Este experimentofoi realizado
com o extrato hidro-etanólico obtido anteriormente pelo nosso grupo, produzido
a partir do solvente álcool 70%, na proporção de 10 ml de álcool 70% para
cada 1 g de folhas. Os animais foram observados por 10 dias e não foi
constatado níveis significativos de citotoxicidade tanto para a concentração de
100 ug/mL, quanto para a de 250 ug/mL. Ensaios in vivo realizados com
animais modelo são de extrema importância para a farmacologia pois podemos
investigar a imunopatologia de vírus e seus modos e velocidade de
transmissão (Louz et al., 2012), as vias bioquímicas atuantes no
desenvolvimento e controle do câncer (Cekanova, Rothore, 2014), testar e

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desenvolver diversos medicamentos e produtos químicos para tratar doenças e


agentes infecciosos como Jota Baptista, Faustino-Rocha e Oliveira (2021) bem
elucidam em sua revisão sobre o uso de animais modelo.
Com o baixo sucesso de germinação dessas sementes que estavam
guardadas, nós coletamos novos frutos e deixamos secar para germinar mais
plantas. Atualmente, temos 14 plantas para os três grupos tratados com a
microgravidade, nas velocidades 35, 50 e 75 RPM pelo período de 4 horas.
Nosso objetivo, além de avaliar os efeitos da microgravidade com essas
velocidades e período, é acrescentar à pesquisa o período de 8 horas sob esse
estresse, obtendo dados para os grupos controle, grupos tratados a 35, 50 e 75
RPM pelo período de 4 horas e 35, 50 e 75 RPM pelo período de 8 horas. A
avaliação morfológica agora está sendo realizada semanalmente durante 2
meses, e os dados coletados são a altura da planta, diâmetro do caule,
tamanho das primeiras folhas após os cotilédones e se há perda de dominância
apical (desenvolvimento das gemas laterais), além disso, também são
observadas se existem mudanças na coloração ou na morfologia das folhas.
Dados de estudos anteriores realizados pelo nosso grupo (Nascimento et al.,
2013; Nascimento et al., 2017) relataram variedade na composição fitoquímica
das folhas da espécie Plukenetia volubilis, como a presença de compostos
fenólicos e flavonóides, além de atividade antioxidante e antiproliferativa em
diferentes extratos testados. Unindo esse conhecimento prévio aos resultados
encontrados por Al-Awaida et al. (2020) com o aumento dos compostos
fenólicos totais e flavonóides em plantas de trigo submetidas a microgravidade,
e ação antidiabética potencializada nos extratos produzidos a partir destas
plantas estressadas, com os resultados de Xu, Guo e Liu (2013) no aumento
dos níveis de proteína em plantas de tomate sob o mesmo estresse, aos bons
níveis de ácidos graxos poliinsaturados e proteínas verificados por Hamaker et
al. (1992) e Dairiki et al. (2018), além do possível uso do óleo produzido a partir
das suas sementes para tratamento de TDAH (Transtorno do déficit de atenção
com hiperatividade) e artrite (Hanssen, Schmitz-Hubsch, 2011), é esperado que
o estresse da microgravidade altere positivamente a composição bioquímica
dessas plantas, levando-as a produzir um maior teor de compostos úteis para a
farmacologia, bem como um aumento no nível de proteínas que atraiam
atenção para essa espécie a fim de ser utilizada mais amplamente na
alimentação.

Conclusão

Até esse ponto da nossa investigação dos efeitos da microgravidade sobre


essa espécie, podemos sugerir que não existem alterações morfológicas

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significativas, mas necessitamos dos resultados que serão obtidos em breve,


com a mesma quantidade de plantas para cada grupo de tratamento e grupo
controle, para inferir com maior precisão tal afirmação. Alterações a nível
celular e de tecido, além dos níveis do fito-hormônio auxina também serão
analisados. Os extratos hidro-etanólicos feitos a partir de plantas não tratadas
não demonstraram citotoxicidade para larvas de Tenebrio molitor, e essa
resposta será utilizada como comparativo quando testarmos os extratos que
serão obtidos a partir das plantas tratadas.
Levando em conta a literatura consultada e os resultados obtidos anteriormente
pelo nosso grupo, esperamos conseguir resultados positivos quanto ao
melhoramento da capacidade antioxidante total e níveis de compostos
fenólicos e proteínas avaliados nos extratos aquosos e hidro-etanólicos que
serão produzidos e submetidos aos ensaios bioquímicos. Com os resultados
destes ensaios, tomaremos a decisão de seguir adiante com somente o
período de 4 horas para cada rotação, ou de acrescentar o período de 8 horas
de estresse.
O potencial dessa espécie para a indústria alimentícia e farmacêutica não deve
ser subestimado, e nossa pesquisa visa buscar o melhoramento desses
fitoquímicos e níveis de proteínas através da aplicação do estresse de
microgravidade simulada pelo clinostato 2D, uma técnica viável e de baixo
custo para replicação.

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Anexos

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Figura 1 - Medição e preparação das plântulas para serem submetidas ao clinostato


2D.

Figura 2 - Clinostato 2D. Imagem retirada da rede social facebook do Centro Nacional
De Alta Tecnologia da Costa Rica.

Figura 3 - Medição da altura, diâmetro do caule e da raiz.

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Figura 4 - Algumas etapas do processo de obtenção dos extratos.

Figura 5 - Folhas do grupo tratado a 50 RPM fixadas para avaliação histológica.


Verifica-se algum nível de enrugamento para a maioria.

Figura 6 - Pontos de coloração azulada nas raízes das plântulas após o estresse gerado
pelo clinostato.

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CÓDIGO: SB0985

AUTOR: GUILHERME CAVALCANTI FARIAS

ORIENTADOR: LUCYMARA FASSARELLA AGNEZ LIMA

TÍTULO: Identificação de novos alvos e funções da proteína XPC

Resumo

O grupo XPC é defeituoso no xeroderma pigmentoso (XP), levando a predisposição ao


câncer. Pacientes XPC têm fenótipos mais leves que outras deficiências XP, como
ausência de neurodegeneração. A proteína XPC é crucial no reconhecimento de danos
no DNA, estimulando reparo via enzimas OGG1 e APE1 na via BER. A deficiência XPC
prejudica reparo, mas células XPC são resistentes ao estresse oxidativo. Além do
reparo DNA, proteínas NER também agem na transcrição, atuando em promotores
gênicos sem dano ao DNA e influenciando desenvolvimento embrionário e
desmetilação da cromatina. Neste estudo, analisou-se transcriptoma de fibroblastos
XPC sob estresse oxidativo e validou-se linhagens XP4PA e XP4PA/XPC. Usando
ferramentas bioinformáticas no Galaxy, mRNA foi sequenciado e analisado. FASTQC e
MultiQC mostraram boa qualidade, porém baixo mapeamento. Ensaios confirmaram
sensibilidade das células XP4PA ao UV-C. qPCR sugeriu que XPC inibe citocinas pró-
inflamatórias e regula sinalização celular, incluindo ATM. Em síntese, XPC mantém
sobrevivência celular após exposição a UV-C, inclusive doses menores, e regula
inflamação e sinalização. Futuros estudos aprofundarão análises transcriptômicas e
proteicas, contribuindo à compreensão dos fenótipos XP.

Palavras-chave: Reparo de DNA. Xeroderma Pigmentosum. Inflamação.


Estresse oxidativo.

TITLE: Identification of new targets and functions of the XPC protein

Abstract

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The XPC group is defective in xeroderma pigmentosum (XP), leading to a predisposition


to cancer. XPC patients have milder phenotypes than other XP deficiencies, such as an
absence of neurodegeneration. The XPC protein is crucial in recognizing DNA damage,
stimulating repair via OGG1 and APE1 enzymes in the BER pathway. XPC deficiency
impairs repair, but XPC cells are resistant to oxidative stress. In addition to DNA repair,
NER proteins also act on transcription, acting on gene promoters without DNA damage
and influencing embryonic development and chromatin demethylation. In this study,
the transcriptome of XPC fibroblasts under oxidative stress was analyzed and XP4PA
and XP4PA/XPC cell lines were validated. Using bioinformatics tools in Galaxy, mRNA
was sequenced and analyzed. FASTQC and MultiQC showed good quality, but low
mapping. Assays confirmed sensitivity of XP4PA cells to UV-C. qPCR suggested that XPC
inhibits pro-inflammatory cytokines and regulates cell signaling, including ATM. In
summary, XPC maintains cell survival after exposure to UV-C, including lower doses,
and regulates inflammation and signaling. Future studies will deepen transcriptomic
and protein analyses, contributing to the understanding of XP phenotypes.

Keywords: DNA repair. Xeroderma Pigmentosum. Inflammation. Oxidative


stress.

Introdução

O genoma humano está constantemente exposto a ameaças exógenas, como os raios


ultravioleta, e a fontes endógenas, como o estresse oxidativo, resultando em até 105
lesões no DNA por célula diariamente (HOEIJMAKERS, 2009).
O estresse oxidativo é instigado pela presença de espécies reativas de oxigênio (ROS),
tais como peróxido de hidrogênio (H2O2), radicais hidroxila (•OH), oxigênio singleto
(1O2) e radicais superóxido (O2•−) (PIZZINO et al., 2017). ROS podem se originar
endogenamente e, quando sua produção excede a capacidade antioxidante do
organismo, esses excessos podem provocar danos estruturais notáveis, especialmente
no cérebro, culminando em doenças degenerativas graves, como Alzheimer (CIOFFI;
ADAM; BROERSEN, 2019).
O estresse oxidativo resulta em alterações significativas nos tecidos e biomoléculas.
ROS podem corromper o material genético celular, sobretudo resíduos de guanina,
formando uma lesão frequentemente observada: 7,8-diidro-8-oxodesoxiguanina (8-
oxoG) (DE MELO et al., 2016).
A persistência desses danos no DNA pode ocasionar mutações e carcinogênese.
Entretanto, células de mamíferos dispõem de mecanismos de reparo eficazes que
corrigem tais erros. Esses mecanismos são altamente especializados para cada tipo de
lesão. A via de reparo por excisão de base (BER) atua na remoção de modificações de

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bases e sítios abásicos, enquanto a via de reparo por excisão de nucleotídeos (NER) é
responsável pela remoção de lesões volumosas no DNA, como dímeros de pirimidina.
A NER apresenta subvias distintas, Global Genome-NER (GG-NER) e Transcription
Coupled-NER (TC-NER), que divergem na proteína que inicia o reconhecimento da
lesão: XPC no GG-NER e CSB no TC-NER. Além disso, há indícios de cooperação entre
NER e BER na reparação de DNA oxidado (DE MELO et al., 2016; D’ERRICO et al., 2006).
A enfermidade xeroderma pigmentoso (XP) emerge de falhas em proteínas da via NER,
compreendendo oito genes (XPA a XPG e XPV). Caracterizada por uma herança
autossômica recessiva, XP predispõe ao câncer e, ocasionalmente, à
neurodegeneração. A ausência da proteína XPC, por exemplo, está associada à XP
desde a descoberta por CLEAVER, 1968, destacando a relevância da via NER no reparo
de DNA (FONG et al., 2011; LE MAY et al., 2010).
Além do reparo do DNA, proteínas NER influenciam a transcrição, mesmo sem danos
ao DNA (APOSTOLOU et al., 2019; LE MAY et al., 2010). XPC integra um complexo
transcricional com Oct4, Sox2 e NANOg, fundamental no desenvolvimento
embrionário e controle da expressão gênica em células-tronco (CATTOGLIO et al.,
2015). Surpreendentemente, pacientes XPC manifestam fenótipos mais brandos, como
ausência de neurodegeneração, em comparação com outras deficiências NER, apesar
do papel crucial de XPC no desenvolvimento (FONG et al., 2011; LE MAY et al., 2010).
Em trabalhos prévios, observou-se que fibroblastos deficientes em XPC exibem
resistência ao estresse oxidativo, contrastando com linhagens deficientes em XPA e
CSB. Além disso, acumulam danos no DNA e apresentam atividade reduzida das
proteínas APE1 e OGG1, componentes da via BER. Interessantemente, a co-
imunoprecipitação revelou interação entre XPC e APE1. Considerando a deficiência em
NER e BER, a resistência ao estresse oxidativo nessas células é intrigante.
Para compreender as consequências do estresse oxidativo em células deficientes em
XPC, nosso estudo analisou transcriptomas de células XP4PA e XP4PA/XPC,
comparando suas respostas ao estresse oxidativo. Essa análise revelou processos
biológicos distintamente expressos e genes regulados positiva e negativamente, além
de sugerir mecanismos e proteínas subjacentes às funções de XPC.
Dando sequência aos estudos anteriores, analisamos a sobrevivência das células
XP4PA e XP4PA/XPC, conduzimos novo RNA-seq e validamos a presença/ausência de
XPC. Essa investigação permite compreender os mecanismos subjacentes aos
fenótipos na deficiência de XPC, explorando variações comparativas.

Metodologia

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3.1. Cultura de células


A cultura celular foi realizada com duas linhagens de fibroblastos, fibroblastos
humanos imortalizados SV-40 e deficientes na proteína XPC (XPAPA), fibroblastos
humanos corrigidos com o gene XPC (XP4P4/XPC) usando vetores derivados de
lentivírus recombinantes pLV[Exp]-Puro-CMV>hXPC (gentilmente cedido por Dr. Carlos
Frederico Martins Menck, Laboratório de reparo de DNA, Instituto de Ciências
Biomédicas, Universidade de São Paulo) (QUINTERO-RUIZ et al., 2022).
Tiveram dois grupos de células XPAPA e XP4P4/XPC. O primeiro grupo passou por
tratamentos contra levedura (Anfotericina B) e contra micoplasma (Plasmocin) devido
uma contaminação. O segundo grupo não precisou passar pelo tratamento.
Estas células são cultivadas em meio adequado – DMEM com 10% de FBS (soro fetal
bovino) e 1% de antibiótico – em frascos próprios para cultura de células. Essas células
foram cultivadas para analisar seus padrões de expressão característicos.
3.2 Plaqueamento e teste de sensibilidade a raios UV-C
No intuito de verificar o fenótipo descrito na literatura, em que as células XP4PA
apresentam maior sensibilidade aos raios UV-C (DE MELO, 2014), as células XP4PA
assim como o controle XP4PA/XPC foram expostas a diferentes níveis de energia de
raios UV-C. Para a indução aos raios UV-C, 106 células foram plaqueadas em placas de
Petri de 100 mm e para a adesão das células foi necessário cultivo por 24h. Em
seguida, XP4PA e XP4PA/XPC foram submetidos a diferentes tempos de exposição à luz
UV, sendo 0 segundos (0 J/m2), 50 segundos (1 J/m2) e 1 minuto e 40 segundos (2
J/m2). Para o momento da exposição à luz UV, os meios de cultivo foram retirados e
foi adicional tampão PBS. Quando retiradas da cabine, os meios foram adicionados
novamente e as células foram incubadas. Após 24h do experimento, as células foram
contadas e sua taxa de sobrevivência medida.
3.3 Indução de estresse oxidativo para a extração
Visando avaliar o padrão de expressão gênica e proteica das células sob estresse
oxidativo, o tratamento foi feito com a introdução de H2O2 nas linhagens XP4PA e
XP4PA/XPC. Para a indução do estresse oxidativo com H2O2, 106 células foram
plaqueadas em placas de Petri de 100 mm. Após a adesão, XP4PA e X4PA/XPC foram
incubadas com meio de cultura DMEM sem enriquecimento nem antibióticos
contendo 500 μM de H2O2 por 20 minutos e posteriormente lavados com PBS. Após o
tratamento, as células foram incubadas em meio de cultura padrão por 30 minutos.
Após a incubação, as células são raspadas e levadas para a extração.
3.4 Extração de DNA, RNA e proteínas

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A partir das células tratadas e não tratadas, foram realizadas extrações de DNA, RNA e
proteínas. O RNA total dos diferentes tratamentos celulares foi extraído com o kit
illustra triplePrep (HE Healthcare) seguindo o protocolo fornecido pelo fabricante.
3.5 RNA-seq e análise bioinformática pelo Galaxy
As células usadas para o transcriptoma foram as que passaram pelo tratamento com
Anfotericina B e com Plasmocin e depois do tratamento teve a indução ao H2O2. O
mRNA das duas linhagens foi extraído e sequenciado no Ion Torrent. A análise
transcriptômica em fibroblastos proficientes e deficientes em XPC que foram
submetidas ao estresse oxidativo foi realizada para identificar genes e processos
afetados pela deficiência de XPC. O resultado dos mRNAs analisados foram obtidos
usando ferramentas de bioinformática.
Os dados brutos extraídos do transcriptoma foram analisados pela ferramenta online
Galaxy e suas ferramentas de FastQC para analisar dados brutos de arquivos FASTQ e
verificar a qualidade desssas sequências e MultiQC para analisar os scores de
alinhamento das sequências obtidas no sequenciamento.
3.6 Determinação do perfil proteico por Western-blot
Para se ter uma noção semi-quantitativa da expressão proteica, foi realizada a
extração das proteínas solúveis totais seguindo a metodologia descrita acima e a
análise por Western-blot (TOWBIN; STAEHELIN; GORDON, 1992). Para realizar a
metodologia, foi feito um gel de eletroforese SDS-PAGE (U K LAEMMLI, 1970; WEBER;
OSBORN, 1969) para separar as proteínas por peso molecular e então obter um perfil
de expressão. Em seguida, as proteínas foram transferidas para a membrana de PVDF
e logo após a incubação da membrana com os anticorpos específicos para proteína
produto dos genes selecionados pela análise bioinformática. Uma vez concluída a
incubação, a reação antígeno-anticorpo foi revelada usando a solução de
desenvolvimento Clarity™ e Clarity Max™ Western ECL Blotting Substrates (Bio-Rad).
Para o controle constitutivo da expressão proteica foi utilizada a β-actina.
3.7 Análise da expressão gênica por RT-qPCR
Para a análise por qPCR em tempo real, O RNA extraído na etapa anterior será tratado
com DNAse antes de ser utilizado no Kit High-Capacity cDNA Reverse Trascription
(Aplplied Biosystems) e seguirá o protocolo fornecido pelo frabricante. A análise da
expressão gênica será realizada por meio da metodologia de qPCR em tempo real
usando o SybrGreen PCR Master Mix e o TaqMan Universal PCR Master Mix (Applied
Biosystems) que necessitará dos primers e de uma sonda. Os primers e a sonda serão
obtidos no site da Integrated DNA technologies.

Resultados e Discussões

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RESULTADOS
Teste de sensibilidade a UV
Primeiro teste de sobrevivência foi feito com as duas linhagens XP4PA e XP4PA/XPC do
primeiro grupo, as que passaram por tratamentos contra levedura (Anfotericina B) e
contra micoplasma (Plasmocin). Obteve-se os seguintes resultados do teste de
sensibilidade à UV-C: XP4PA quando exposta à 1 J/m2: 39,69% das células
sobreviveram enquanto que com 2 J/m2 apenas 28,71% das células sobreviveram. As
células da linhagem XP4PA/XPC tiveram sobrevivência de 39,35% e 32,04% quando
expostas a 1 J/m2 e 2 J/m2. A curva de sobrevivência dessas células está representada
abaixo na Imagem 1a.
As células XP4PA e XP4PA/XPC do segundo grupo, que não passaram pelos
tratamentos como as anteriores, foram expostas às mesmas quantidades de energia
de raios UV-C e obtivemos a curva de sobrevivência apresentada na imagem 1b.
XP4PA teve uma taxa de sobrevivência a 1 J/m2 de 51,0 e 50,37% e de 48,0 e 37.1%
quando expostas a 2 J/m2. As XP4PA/XPC tiveram uma taxa de sobrevivência de 84,2 e
80,85% 1 J/m2 e 68,4 e 55,31% a 2 J/m2. Ambas comparadas aos seus controles não
expostos aos raios UV.
RNA-seq e análise no Galaxy
As células usadas para o transcriptoma foram as do primeiro grupo. Na imagem 2
mostra a qualidade das sequências que foram obtidas do sequenciamento após o
trimming. A qualidade encontrada pelo FASTQC se encontrou na posição verde, acima
do threshold amarelo.
Quando as sequências das células foram passadas no MultiQC para verificar o
alinhamento com os bancos de dados pelo STAR, os scores de alinhamento em
porcentagem de sequências mapeadas unicamente em XP4PA não tratada (NT) foram
de 30,5% quando tratada (T) de 17,8% e a porcentagem das que foram mapeadas
unicamente em XP4PA/XPC NT e T foi de 24,8% e 22% respectivamente (Imagem 3).
Nas células XP4PA NT, 53,5% das sequências não foram mapeadas por serem muito
pequenas e 68.1% das sequências em XP4PA T não foram mapeadas pelo menos
motivo. XP4PA/XPC NT apresentou 52,9% não mapeadas por também serem
sequências muito curtas e 46% das sequências de XP4PA/XPC T também não foram
mapeadas pelo mesmo motivo.
Na imagem 3 que mostra os scores de alinhamento das sequências, também mostra o
dado de que as sequências podem ser mapeadas, porém em múltiplos loci. Para XP4PA

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NT, a quantidade foi de 11,7% e para a T de 10,6%. Para a linhagem XP4PA/XPC NT,
16,2% foram mapeadas em vários loci e 23,5% em XP4PA/XPC T.
Perfil da expressão de ATM, OGG1 e citocinas IL-6, IL-10 e TNFα
De acordo os dados obtidos pelo transcriptoma feito em trabalhos anteriores pelo
nosso grupo de pesquisa, citocinas pró-inflamatórias se mostravam alteradas entre as
células XP4PA/XPC e as XP4PA. Foram realizados testes de qPCR para validar na
bancada o que estava sendo predito na análise bioinformática. Foi encontrado que na
presença de XPC a expressão de IL6 se encontrava com fold change (FC) de -3,7 e na
ausência de XPC o FC foi de -0,39 (Imagem 4a). Quanto a expressão de IL10 na
presença de XPC o FC foi de -10,78 e na ausência de XPC apresentou um FC de 0,45
(Imagem 4b). A expressão de TNFα pelas células XP4PA/XPC teve um FC de -3,5 e nas
células XP4PA foi de 1,3 (Imagem 4c).
Além das citocinas, foi analisada a expressão de ATM e de OGG1. Em relação à ATM,
foi encontrado um FC de -4,9 na presença da proteína XPC, enquanto que na ausência
de XPC na linhagem XP4PA, o FC encontrado foi de 2,0 (Imagem 4d). Já a expressão de
OGG1, encontrou-se que na presença de XPC o FC foi de -1,17 e na presença foi de
0,63 (Imagem 4e).
DISCUSSÃO
Primeiro teste de sobrevivência foi feito com as duas linhagens XP4PA e XP4PA/XPC do
primeiro grupo, as que passaram por tratamentos contra levedura (Anfotericina B) e
contra micoplasma (Plasmocin) (Imagem 1a) apresentaram uma curva de
sobrevivência bem diferente da encontrada nas células do segundo grupo que não
passaram pelos tratamentos como as anteriores. A curva encontrada na Imagem 1a
mostra que a curva de sobrevivência de proficiente em XPC foi sobreposta, o mesmo
padrão de curva que a célula deficiente, enquanto que as células XPC proficiente que
não passaram pelo tratamento contra levedura e contra micoplasma tiveram uma
sobrevivência superior as das células deficiente, resultado esperado para uma célula
que apresenta XPC (BLESSING et al., 2022; HOOGSTRATEN et al., 2008).
Devido ao estresse causado pelos agentes contaminantes na cultura das células do
primeiro grupo, pela curva de sobrevivência das células proficientes ter se mostrado
idêntica à encontrada das células deficientes e pelo longo período de cultura enquanto
se fazia o tratamento, imagina-se que esses fatores tenham criado uma instabilidade
genômica ou danos ao DNA onde a correção do gene XPC não foi mantida pela célula e
voltaram a apresentar versões truncadas e as mesmas características que a deficiente
em XPC. Assim como encontrado em MAXWELL et al., 2020, que a correção feita por
CRISPR-Cas9 pode ser revertida quando expõe a célula a um agente estressante. A
linhagem XP4PA/XPC pode ter perdido sua correção, como exposto no estudo de
MAXWELL et al., 2020, mas em RAYAPROLU et al., 2013, mostra que as transfecções de

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genes por vetores virais apresentam pouca ou nenhuma perda de acordo com o
tempo.
Outro motivo para uma curva inesperada mostrada na Imagem 1a é uma
contaminação entre as linhagens celulares. Os resultados, porém, mostram que não há
uma sobrevivência média entre as sobrevivências esperadas para as duas linhagens,
apenas uma sobreposição da sobrevivência da célula deficiente. Além de que
comparando com os resultados do segundo grupo de células, os quais são resultados
esperados e presentes na literatura, esse resultado é mais parecido com a
sobrevivência da célula XP4PA, a deficiente em XPC, portanto não havendo
sobrevivência intermediária que indicaria mistura das linhagens como a Imagem 1c
representa.
Um transcriptoma foi feito usando como base um anterior analisado pelo nosso grupo
de pesquisa, porém esse novo se mostrou necessário visto que a linhagem da célula
corrigida com o gene XPC é diferente da precedente. As células usadas para o
transcriptoma foram as do primeiro grupo.
As sequências que foram obtidas do sequenciamento após o trimming apresentaram
boa qualidade se encontrando acima do threshold amarelo, que representa uma
qualidade intermediária.
As sequências das células foram para a ferramenta MultiQC para verificar o
alinhamento com os bancos de dados e, no geral, teve uma baixa porcentagem das
sequências se alinharam, onde a maioria das sequências analisadas, para as duas
linhagens submetidas ao tratamento e o controle, não apresentaram alinhamento
preciso com o banco de dados por terem sequências muito curtas e não ser possível o
mapeamento ou ter uma sequência onde o mapeamento é possível em múltiplos loci.
Alguns motivos para as sequências de RNA terem se apresentado muito curtas pode
ter sido a fragmentação excessiva durante o preparo da biblioteca ou o processamento
inadequado dos dados no Galaxy. A fragmentação excessiva durante o preparo da
biblioteca pode ser possível uma vez que a qualidade do RNA total foi medida antes do
transcriptoma e estava boa. Visto que o processamento dos dados o sequenciamento
anterior feito pelo grupo, que foi feito com outra metodologia, apresentou
alinhamentos e foi possível fazer análises, pode ser que tenha havido um
processamento inadequado dos dados no Galaxy.
Um novo sequenciamento foi feito com as linhagens do segundo grupo que
apresentaram um fenótipo esperado no teste de sobrevivência celular frente aos raios
UV-C, porém não apresentou um resultado satisfatório e analisável, pois os kits
utilizados para o transcriptoma no Ion Torrent apresentavam-se vencidos.

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A análise realizada dos dados do transcriptoma, juntamente com os subsequentes


testes de qPCR, revelou resultados de grande interesse quanto à expressão de
citocinas pró-inflamatórias e genes correlatos na presença e ausência de XPC.
Inicialmente, destacou-se que as citocinas IL6, IL10 e TNFα apresentaram alterações
altamente significativas em sua expressão, ao serem comparadas entre as células
XP4PA/XPC e as XP4PA. A expressão de IL6 manifestou um fold change (FC) de -3,7 na
presença de XPC, enquanto que, na ausência de XPC, o FC atingiu -0,39. Um padrão
similar foi observado no caso da IL10, com um FC de -10,78 na presença de XPC e um
FC de 0,45 na sua ausência. Relativo ao TNFα, constatou-se supressão da expressão
nas células XP4PA/XPC, evidenciada pelo FC de -3,5, enquanto nas células XP4PA
houve um aumento com FC de 1,3.
Com base nos resultados obtidos através da análise de expressão gênica por
transcriptoma e validados por qPCR, fica evidente que o XPC desempenha um papel
crucial na modulação da expressão de genes relacionados a citocinas pró-inflamatórias
e reparo do DNA. Os genes IL6, IL10 e TNFα, que desempenham papéis significativos
na resposta inflamatória e imunomodulação, apresentaram alterações de expressão
notáveis na presença e ausência do XPC. A diminuição da expressão de IL6, IL10 e TNFα
nas células XP4PA/XPC, quando comparadas com as células XP4PA, sugere um possível
papel regulador do XPC nesses genes.
Além disso, investigou-se a expressão de dois genes, ATM e OGG1. ATM apresentava
uma grande alteração nos dados gerados pela bioinformática, porém OGG1 não
apresentava grandes alterações, assim como mostrado em DE MELO et al., 2016. Em
relação à presença de XPC. Os resultados revelaram um FC de -4,9 para ATM na
presença de XPC, em contraste com o FC de 2,0 observado na ausência de XPC. Quanto
a OGG1, a expressão mostrou um FC de -1,17 na presença de XPC e um FC de 0,63 na
ausência de XPC corroborando os achados em DE MELO et al., 2016.
A relação observada entre XPC e ATM também destaca a influência do XPC no reparo
do DNA. A expressão reduzida de ATM na presença de XPC indica uma possível
interação entre essas proteínas, mesmo que indiretamente devido sua localização
celular, onde XPC esta no núcleo envolvido na sinalização de danos ao DNA e na
ativação de vias de reparo. Por outro lado, a expressão de OGG1, uma enzima
envolvida na reparação de danos oxidados ao DNA (DE MELO et al., 2016), também
mostrou variações em resposta à presença de XPC, porém alterações que não foram
consideradas significativas.
No entanto, os resultados obtidos podem parecer contraditórios com algumas
descobertas do artigo de SCHRECK et al., 2016. Em SCHRECK foi observada uma
modulação positiva de IL6 na presença de XPC, enquanto que na ausência de XPC a
liberação de IL-6 em resposta à exposição a CDDP (Cisplatina) foi reduzida em
camundongos com knockout de XPC, demonstrando a relevância do XPC na liberação

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de IL-6 induzida por danos ao DNA in vivo. É importante considerar que as diferenças
experimentais, como as condições específicas dos ensaios, tipos celulares e métodos,
podem levar a discrepâncias nos resultados.
Comparando os resultados obtidos na qPCR e no transcriptoma, foi possível observar
uma sinergia nos padrões das citocinas (Imagem 4a, b, c e d), em que a proteína XPC
pode estar atuando como moduladora negativa para a expressão desses genes. Apesar
do padrão, os resultados da qPCR apresentam uma FC menor da expressão de IL6 e
IL10 na presença de XPC (Imagem 4a, c) enquanto que na ausência de XPC a alteração
não se mostra significativa entre o resultado da qPCR e do RNAseq (Imagem 5), pois
não passa do nível de corte (2 ou -2) do FC.
Quando comparado os resultados do RNAseq e da qPCR referentes ao gene de ATM,
houve uma inversão na variável na linhagem sem XPC, em que no RNAseq a expressão
de ATM foi menor do que a apresentada na qPCR (Imagem 5e, f), onde houve um
aumento com FC significativo de 2,0.
Em resultados anteriores do nosso grupo de pesquisa, foi-se observado uma
diminuição na expressão γH2AX na ausência de XPC e em BIAN et al., 2020 é mostrado
a correlação entre γH2AX, onde ATM desempenha um papel crucial na fosforilação e
ativação de efetores essenciais na via de reparo de recombinação homóloga (HR),
incluindo γ-H2AX. O γ-H2AX é um marcador de dano ao DNA que desempenha um
papel fundamental na sinalização de danos ao DNA e na atração de proteínas de
reparo para o local danificado (BIAN et al., 2020). A redução na expressão de ATM na
linhagem sem XPC, como indicada pelo RNAseq (Imagem 5), pode resultar em uma
menor fosforilação e ativação de γ-H2AX em resposta a danos ao DNA.
Por outro lado, os resultados da qPCR mostrando upregulação de ATM podem ser o
resultado de respostas compensatórias ou modulações específicas ocorrendo no
contexto experimental das células em que o RNA foi extraído. Pode ser que a célula
tente ajustar a expressão de ATM devido a mudanças em outros componentes da via
de sinalização.

Conclusão

As linhagens do primeiro grupo apresentaram uma característica fenotípica anormal,


no que se refere a sobrevivência aos raios UV-C quando comparadas às células que
não precisaram passar pelo mesmo estresse para a retirada da contaminação na
cultura e aos dados encontrados na literatura.

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Os resultados do RNA-seq mostraram que as sequências de RNA analisadas eram


muito pequenas para serem mapeadas e poucas foram alinhadas com o banco de
dados, apesar de terem apresentado uma boa qualidade no teste do FASTQC. Desse
modo as análises não foram adiante para que fosse possível comparar a expressão dos
genes e identificar os processos celulares que possam estar regulados positiva ou
negativamente em cada célula.
Em virtude da obtenção de um fenótipo coerente no teste de sobrevivência celular
frente aos raios UV-C por parte das linhagens pertencentes ao segundo grupo, optou-
se por realizar um novo sequenciamento. No entanto, lamentavelmente, a obtenção
de resultados satisfatórios e passíveis de análise foi inviabilizada, uma vez que os kits
empregados para a realização do transcriptoma, por meio da plataforma Ion Torrent,
encontravam-se vencidos. Planeja-se o prosseguimento do transcriptoma por outra
metologia de sequenciamento, pelo sequenciador da Illumina.
Os resultados obtidos no qPCR ressaltam a importância do XPC na modulação da
expressão gênica envolvida tanto na resposta inflamatória quanto no reparo do DNA.
As relações complexas entre o XPC e os genes testados sugerem uma interconexão
entre vias de sinalização de reparo do DNA e regulação da resposta inflamatória. Por
outro lado, os resultados da qPCR mostrando upregulação de ATM podem ser o
resultado de respostas compensatórias ou modulações específicas ocorrendo no
contexto experimental das células. Pode ser que a célula tente ajustar a expressão de
ATM devido a mudanças em outros componentes da via de sinalização.
Futuras investigações detalhadas são necessárias para esclarecer os mecanismos
precisos envolvidos nessas interações entre XPC e ATM e para entender como o XPC
influencia a expressão gênica em diferentes contextos celulares e condições
experimentais.

Referências

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Anexos

Imagem 1 – Curva de sobrevivência das células expostas à radiação do tipo UV-C. a)


células do primeiro grupo. b) células do segundo grupo

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Imagem 2 – Qualidade das sequências de RNA obtidas no RNA-seq pelo FASTQC.

Imagem 3 – STAR: Scores de alinhamento das sequências.

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Imagem 4 – Expressão das citocinas pró-inflamatórias em XP4PA/XPC e XP4/PA

1281
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Imagem 5 – Expressão das citocinas pró-inflamatórias (IL6 e IL10) e ATM por qPCR em
XP4PA/XPC e XP4/PA em comparação as suas expressões no RNAseq.

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CÓDIGO: SB0986

AUTOR: JOAO PAULO DE MENDONCA FREITAS

COAUTOR: OSCAR BEZERRA DANTAS

COAUTOR: MARIA BEATRIZ MESQUITA CANSANCAO FELIPE

COAUTOR: GABRIELLE GERMEK COELHO SANTOS

ORIENTADOR: SILVIA REGINA BATISTUZZO DE MEDEIROS

TÍTULO: Viroma Natal: identificação e caracterização de vírus com genoma de


RNA circulante na região metropolitana de Natal/RN

Resumo

Os transportes públicos são os principais meios de deslocamento da maioria da


população e serve como reservatório de diversos microrganismos que podem ser
prejudiciais à saúde humana, como os vírus. A caracterização do viroma desse
ambiente construído é uma ferramenta útil na prevenção de possíveis surtos
epidemiológicos, haja vista que o transporte de massa pode facilitar infecções. Assim,
o objetivo deste estudo foi identificar a comunidade viral com genoma de RNA
presente nos ônibus da região metropolitana de Natal (Rio Grande do Norte, Brasil)
durante o verão, a partir do sequenciamento profundo metagenômico e análise por
bioinformática. Os resultados da análise de rendimento do RNA extraído dos swabs das
superfícies internas dos ônibus, mostraram baixas concentrações e pureza, o que
impossibilitou o prosseguimento das análises para identificação viral.

Palavras-chave: Metagenoma; Vírus; RNA; Transporte Público; Ambiente


Construído.

TITLE: Viroma Natal: identification and characterization of viruses with


circulating RNA genome in the metropolitan region of Natal/RN

Abstract

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Public transport is the main means of transportation for the majority of the population
and serves as a reservoir of various microorganisms that can be harmful to human
health, such as viruses. The virome characterization of this built environment is a
useful tool in preventing possible epidemiological outbreaks, given that mass transport
can facilitate infections. Thus, the aim of this study was to identify the viral community
with RNA genome present on buses in the metropolitan region of Natal (Rio Grande do
Norte, Brazil) during the summer, based on metagenomic deep sequencing and
bioinformatics analysis. The results of the RNA yield analysis extracted from the swabs
of the inner surfaces of the buses showed low concentrations and purity, which made
it impossible to continue the analyzes for viral identification.

Keywords: Metagenome; Virus; RNA; Public transportation; Built Environment.

Introdução

Constantemente, os indivíduos estão em contato direto com milhares de


microrganismos presentes no ambiente, como bactérias, vírus e fungos (Zolfo et al,
2018), componentes essenciais do microbioma ambiental. Dessa forma, o estudo dos
ambientes construídos, do inglês, Built Environments(BE), área de socialização dos
seres humanos, permitem compreender a dinâmica de interação homem-vírus(Prussin
et al., 2019) e a diversidade do viroma local.
Mediante a isto, os transportes coletivos, como ônibus e metrôs, permitem o fluxo e a
troca de micróbios (Danko et al., 2021), patogênicos ou não, entre o meio e seus
usuários, seja pelo contato com as superfícies ou pela inalação de aerossóis em
suspensão no ar (Moreno et al., 2021), de forma a impactar positiva ou negativamente
a saúde do ser humano. Assim, a análise da composição microbiana em transportes
públicos se tornou um importante instrumento de vigilância epidemiológica, e diversos
esforços têm sido realizados ao redor do mundo, a exemplo do Consórcio
Metagenomics and Metadesign of Subways and Urban Biomes (MetaSUB, Danko et al.,
2021) e outros estudos independentes (Prussin et al., 2019; Hsu et al., 2016; Vargas-
Robles et al., 2020; Gohli et al., 2019), a fim de compreender a composição microbiana
e suas interações, especialmente de bactérias nos metrôs de grandes metrópoles ao
redor do mundo, no entanto, poucos estudos são voltados para compreensão do
viroma nos BE.
Em dezembro de 2019, um surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foi
notificado na cidade de Wuhan, na China, de modo que a elevada disseminação do
vírus por diversos países e o imenso número de mortes, levou a Organização Mundial
de Saúde (OMS), em março de 2020, a decretar estado de Pandemia (Wang et al.,
2021). Assim, o SARS-CoV-2, um vírus de RNA, detectado como agente etiológico da
COVID-19, capaz de ser transmitido por gotículas respiratórias, aerossóis em

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suspensão e em contato em superfícies contaminadas (Moreno et al., 2021). Os


esforços pelo distanciamento social, o uso de máscaras e a vacinação culminaram, em
meados de 2023, no decreto do fim do estado pandêmico, por parte da OMS (OPAS,
2023).
Dessa forma, apesar do isolamento necessário durante a pandemia, milhares de
pessoas necessitavam sair para trabalhar, tendo como único meio de locomoção os
ônibus ou os metrôs, o que gerou grandes aglomerações e transmissão do vírus,
mesmo com a aplicação de medidas preventivas de biossegurança, por exemplo, o uso
de máscaras e assepsia de mãos. No Brasil, até 2023, foram notificados mais de 37
milhões de casos confirmados, dos quais, 705.170 mil evoluíram para óbito (DATASUS,
2023).
Com isso, com a pandemia de COVID-19, emergiu a maior necessidade da aplicação de
metodologias de vigilância sanitária na identificação de microrganismos
potencialmente patogênicos à saúde humana em locais que facilitem sua transmissão.
Assim, os avanços na biologia molecular e na bioinformática, possibilitaram a aplicação
das ciências ômicas, a exemplo da metagenômica (Zolfo et al., 2018), uma poderosa
ferramenta de sequenciamento profundo, capaz de identificar, por exemplo, bactérias
não cultiváveis em meios de cultura artificiais, e outros, em amostras de matriz
biológica ou não.
Na região metropolitana de Natal (Rio Grande do Norte, Brasil), o principal meio de
transporte coletivo são os ônibus, com cerca de 100.000 usuários diários (STTU, 2021).
A vista disso, o objetivo deste estudo, o primeiro a ser relatado na literatura, foi
identificar vírus com genoma de RNA nas superfícies dos ônibus que compõem a frota
de transporte público da região metropolitana da cidade de Natal/RN durante o
período de verão.

Metodologia

2 Metodologia
2.1 Local, Coleta e armazenamento de amostras
Entre 23 de dezembro de 2022 e 20 de março de 2023, período determinado como
verão, foram realizadas dez coletas no transporte público de Natal, Rio Grande do
Norte (Brasil), englobando diferentes rotas, a fim de abranger todo o território
metropolitano (imagem 1).
Com isso, tendo como base o protocolo aplicado no Consórcio MetaSUB
(https://metasub.org/), a amostragem dos ônibus foi realizada utilizando Swabs com

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ponta de Rayon (Swab para Coleta de Amostras Haste Plástica e Ponta em Rayon -
FIRSTLAB e Labor Import), embebidos em RNALater® (RNALater, Thermo Fisher, 3 mL),
em todas as superfícies de contato e de ventilação (imagem 2), exceto o piso, durante
3 minutos. A esquematização de amostragem foi protocolada em duplicata técnica, de
modo que, o espaço interno de cada ônibus foi dividido em dois lados (imagem 3), A,
representando o lado proximal às portas de saída, e B, área contrária. Entretanto, para
as duas partes, a amostragem dos corrimãos das portas e da cabine do motorista
foram comuns.
Assim, ao término de cada tempo de 3 minutos, os swabs foram armazenados em
tubos cônicos tipo Falcon de 15 ou 50 mL, protegidos no gelo, e ao final das coletas do
dia, imediatamente enviados ao laboratório para estocagem em Freezer -20ºC até o
momento do processamento das amostras.

2.2 Processamento, extração e rendimento de RNA


Após o período de coletas no verão, todos os tubos contendo amostras, após o
completo descongelamento do material, foram vortetizados vigorosamente por 1
minuto, a fim de que todo material biológico preso à ponta do swab pudesse se
desprender e cair na solução. Em seguida, foi criado um pool do RNALater® de todos
os tubos de ambos os lados A e B, os quais foram submetidos à centrifugação a 1.500 x
g por 10 minutos.
Seguido da centrifugação, uma alíquota de 3 mL do sobrenadante de cada lado foi
transferida para um novo tubo o qual foi utilizado para extração de RNA viral, por meio
do Kit QIAamp Viral RNA Mini Kit (QIAGEN, Venlo, Netherlands), seguindo as instruções
do fabricante.
Seguidamente, o RNA extraído foi avaliado quanto à concentração e pureza através do
NanoDrop One (Thermo Scientific), um espectrofotômetro UV-vis de microvolume, de
modo que seus resultados de concentração de RNA ou DNA são expressos em ng/µL e
a qualidade da amostra nas frações de comprimento de onda de A260/280 e
A260/230, respectivamente, referentes às razões de pureza do ácido nucleico avaliado
em relação proteínas e outros contaminantes, como guanidina e fenol.

2.3 Preparação das bibliotecas genômicas de RNA


Uma biblioteca genômica refere-se ao agrupamento de fragmentos de ácido nucleico
que formam, quando complementados, o genoma de um determinado organismo.
Dessa forma, antes do preparo das bibliotecas genômicas, foi realizado a quantificação
de RNA de entrada (input) presentes nas amostras, utilizando-se o Qubit 2.0

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(Invitrogen) com preparo através do kit dsDNA HS (Thermo Fisher), e assim poder
comparar os resultados antes e depois da preparação da biblioteca genômica de RNA.
Adiante, iniciou-se a preparação das bibliotecas com o kit Illumina Stranded Total RNA
Prep, Ligation with Ribo-Zero Plus. Em resumo, a preparação das bibliotecas, seguindo
as instruções do fabricante, resumem-se a, depleção do rRNA por digestão enzimática,
de modo que sondas de DNA se ligam ao rRNA, de modo que as enzimas presentes no
meio realizam a digestão desses componentes; fragmentação e desnaturação do RNA
puro; síntese das fitas de cDNA, uma de cada vez; adenilação das extremidades 3’ do
cDNA, ou seja, adição de nucleotídeos de Adenina, a fim de evitar que essas se unam;
ligação das âncoras pré-index as extremidades do cDNA; limpeza de fragmentos, que
resume-se a usar beads magnéticas, a fim de remover possíveis impurezas presentes
no meio; amplificação através de Reações em Cadeia da Polimerase (PCR), a fim de
aumentar o número de cópias de cada fragmento de cDNA; por fim, a limpeza das
bibliotecas, também com beads magnéticas, retirando, assim as impurezas.
Ao final da construção das bibliotecas de RNA viral, como no início, foram realizadas a
quantificação da concentração de cDNA obtido, através do Qubit 2.0 e com o
BioAnalyzer 2100, por meio do kit High Sensitivity DNA.

Resultados e Discussões

A compreensão acerca do microbioma ao nosso redor é de extrema importância para


prevenir e evitar surtos epidemiológicos. Diversos trabalhos na literatura aplicaram a
metagenômica como instrumento de caracterização da comunidade microbiana no
ambiente construído, em especial em ambiente aquático (Rusiñol et al., 2020; Zheng et
al., 2021), edifícios (escolas, home care e bla bla bla (Prussin et al., 2019), sistemas de
transportes (Gohli et al., 2019; Hsu et al., 2016; Danko et al., 2021; Moreno et al.,
2021), no entanto, com maior enfoque em bactérias. Aqui visamos perfilar a
comunidade viral presente no transporte público coletivo da cidade de Natal/RN
durante o verão.

3.1 Rendimento do RNA viral extraído


Após as etapas de extração, o rendimento do RNA viral extraído do pool das duplicatas
foi avaliado quali e quantitativamente a partir do NanoDrop one, no qual resultou em
valores abaixo do esperado (Tabela 1), com razões de pureza (A260/280, A260/230),
apesar de homogêneas, fora do padrão convencionado pelo fabricante do
equipamento, que estabelece um RNA livre de contaminantes aquele que obtiver as
razões A260/280 igual ou próximo de 2.0, e A260/230 entre 1.8 e 2.2 (Thermo

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Scientific, 2016). Ainda, antes do preparo da biblioteca genômica, o rendimento das


amostras foram inferidas a partir do Qubit, que detecta valores de massa do ácido
nucleico entre 0,1 e 120 ng, para determinar o input de cada pool de duplicata (Tabela
1). Entre os pools, apenas a amostra de “RNA Virus II Verão A” apresentou
concentração suficiente detectável, de modo que as demais amostras não poderiam
ser utilizadas no prosseguimento da preparação da biblioteca genômica.
A baixa concentração de RNA extraída e detectada nas quantificações do NanoDrop
One e do Qubit podem ser explicadas a partir de três hipóteses, a saber, o tipo de
swab utilizado na coleta, uma vez que swabs porosos podem reter as partículas virais
(DANKO et al., 2021) no seu interior, dificultando a liberação para o meio; quantidade
inferior de partículas virais presente no transporte público, comparativamente com
estudos anteriores realizados em grandes metrópoles, haja vista que nestes, o
quantitativo diário de passageiros nos transportes públicos ultrapassam milhões de
pessoas (DANKO et al., 2021; Klimenko et al., 2020; ROBLES et al., 2020), enquanto na
cidade do Natal/RN, esse valor chega a 100.000 mil (STTU, 2021); a instabilidade do
RNA exposto no meio, combinada com instabilidade viral presente no meio, inclusive
levando em consideração a temperatura ambiente (Prussin et al., 2019).

3.2 Biblioteca genômica viral


A amostra “RNA vírus II verão A” foi a única com concentração suficiente para preparo
da biblioteca genômica, seguindo o kit específico e o protocolo do fabricante. Ao final
do protocolo de preparação, a biblioteca da amostra foi novamente submetida à
análise quantitativa no Qubit, no qual apresentou resultados demonstrados na tabela
2.
No Qubit, os resultados apresentaram valores abaixo do esperado, então, a biblioteca
foi analisada no Bioanalyzer (Agilent), um equipamento que realiza uma eletroforese
de amostras de biblioteca a fim de avaliar tamanho, concentração, pureza e
molaridade. No entanto, os resultados obtidos do Bioanalyzer mostraram que a
amostra apresentava um perfil inesperado (imagem 4). A fim de contornar a situação,
a mesma amostra foi novamente analisada no Bioanalyzer pareada com controles
sabidamente bons, entretanto, acabaram por apresentar o mesmo perfil.
Com isso, o prosseguimento das etapas não puderam ser continuadas, como
sequenciamento e análise in silico por ferramentas de bioinformática, uma vez que a
amostra não apresentou as características necessárias para prosseguimento, logo, a
identificação da comunidade viral com genoma de RNA ficou prejudicada.

Conclusão

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eCICT 2023

A identificação da comunidade viral por metagenoma é um importante instrumento


para presumir possíveis casos de surtos virais em uma área, levando em consideração,
por exemplo, uma estação do ano, aqui, o verão. Apesar do objetivo principal do
trabalho não ter sido alcançado, sabe-se que os transportes públicos de massa, como
os ônibus da cidade do Natal, responsável pelo deslocamento de milhares de pessoas
todos os dias, é um ambiente construído propício para adquirir ou transmitir infecções
de caráter viral. Por fim, recomenda-se a continuação do estudo, com o mesmo
objetivo, mas voltado para identificação bacteriana.

Referências

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metagenomic sequencing data. Biology direct, v. 13, n. 1, p. 1-13, 2018.
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Organização Pan-Anemericana da Saúde. OMS declara fim da Emergência de Saúde
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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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revealed by metagenomics without prior virion separation. Environmental
Microbiology, v. 23, n. 2, p. 728-743, 2021.

Anexos

Figura 1. Mapa de Natal e rotas de ônibus cujas superfícies foram amostradas durante
o verão. Os detalhes do mapa podem ser visualizados em:
https://www.google.com/maps/d/u/0/edit?
mid=1cPzowky1yORV1VfMQ_av4qwsNtngFvI&usp=sharing Fonte: Autor (2023).

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eCICT 2023

Figura 2. Superfícies de contato no interior dos ônibus amostradas com swab durante
coletas. Corrimãos, barras de apoio verticais e horizontais, alças suspensas, catraca,
sistemas de sinalização de parada, bancos, janelas, e saída de ar. Fonte – Autor (2

Figura 3. Esquematização da duplicata técnica de coleta, com a divisão do espaço


interno do ônibus em dois lados iguais. Fonte – Autor (2023).

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Imagem 4. Padrão dos pool de amostras analisados no Bioanalyzer, no qual foi


detectado um perfil insatisfatório, que não possibilitou o prosseguimento da
identificação viral. Fonte: Autor (2023).

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Tabela 1: Avaliação quali e quantitativa dos pools de RNA extraídos. Fonte: Autor
(2023).

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CÓDIGO: SB0987

AUTOR: PEDRO HENRIQUE SOARES FONSECA

COAUTOR: ANDERSON GABRIEL DO NASCIMENTO CRUZ

ORIENTADOR: BRUNO LOBAO SOARES

TÍTULO: EXPLORANDO OS EFEITOS DA EXPOSIÇÃO CRÔNICA À


HARMINA EM PEIXES PAULISTINHAS (Danio rerio)

Resumo

A Ayahuasca é produzida por meio da combinação das plantas Banisteriopsis caapi e


Psychotria viridis. A primeira planta contém compostos como a harmina, que é um
inibidor da enzima monoamina oxidase (MAOi), enquanto a segunda planta é rica em
N,N-dimetiltriptamina (DMT). Recentemente, a Ayahuasca tem atraído considerável
atenção como uma possível abordagem terapêutica para tratar déficits de memória
relacionados à depressão (Osório et al., 2015). Adicionalmente, estudos têm mostrado
que a administração singular da Ayahuasca pode resultar em efeitos comportamentais
de longa duração. Neste estudo, nossa investigação centra-se na avaliação do
potencial farmacológico de compostos associados ao chá de ayahuasca quando
administrado de forma crônica, com foco na memória de longo prazo. (Fortunato et
al., 2010).

Este estudo investigou os efeitos da Ayahuasca, especificamente a harmina, na


memória de curto prazo em zebrafish (Danio rerio). A Ayahuasca tem atraído atenção
como potencial tratamento para déficits de memória associados à depressão.
Utilizando um modelo animal de memória e motilidade em peixes paulistinhas, o
estudo avaliou os efeitos de doses crescentes de harmina em tarefas comportamentais
associadas à depressão, ansiedade e memória. Os peixes foram expostos a três
concentrações diferentes de harmina e submetidos à tarefa de Aversão Condicionada
ao Local (CPA). Os parâmetros comportamentais analisados incluíram velocidade de
natação, distância percorrida e tempo parado.

Palavras-chave: Ayahuasca. Harmina. Zebrafish. Memória

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TITLE: Exploring the effects of chronic exposure to harmine in zebrafish (Danio


rerio)

Abstract

Ayahuasca is produced by combining the Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis


plants. The first plant contains compounds such as harmine, which is a monoamine
oxidase inhibitor (MAOi), while the second plant is rich in N,N-dimethyltryptamine
(DMT). Recently, Ayahuasca has garnered considerable attention as a potential
therapeutic approach to address memory deficits associated with depression (Osório
et al., 2015). Additionally, studies have shown that the singular administration of
Ayahuasca can result in long-lasting behavioral effects. In this study, our investigation
focuses on evaluating the pharmacological potential of compounds associated with
Ayahuasca when administered chronically, with an emphasis on long-term memory
(Fortunato et al., 2010).

This study examined the effects of Ayahuasca, specifically harmine, on short-term


memory in zebrafish (Danio rerio). Ayahuasca has gained attention as a potential
treatment for memory deficits associated with depression. Using an animal model of
memory and motility in zebrafish, the study assessed the effects of increasing doses of
harmine on behavioral tasks related to depression, anxiety, and memory. The fish were
exposed to three different concentrations of harmine and subjected to the
Conditioned Place Aversion (CPA) task. The analyzed behavioral parameters included
swimming speed, distance traveled, and stationary time.

Keywords: Ayahuasca. Harmine. Zebrafish. Memory

Introdução

Déficits de memória, particularmente de memória de curto prazo, estão se tornando


problemas clínicos cada vez mais prevalentes, afetando um grande número de
indivíduos em todo o mundo. Essas questões estão frequentemente associadas ao
estresse crônico, um problema cada vez mais comum em nossa sociedade acelerada.
Para elucidar a fisiopatologia subjacente a esses distúrbios, várias hipóteses foram
sugeridas. Entre as mais notáveis estão a teoria da neuroplasticidade reduzida, que
postula que o estresse crônico pode causar danos estruturais e funcionais nas áreas do
cérebro envolvidas na memória, como o hipocampo, e a teoria da disfunção do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que se refere à resposta ao estresse prejudicada
(Guest et al., 2012).

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eCICT 2023

Apesar do avanço significativo na pesquisa e no desenvolvimento de intervenções


terapêuticas, os tratamentos atuais para déficits de memória de curto prazo
apresentam eficácia limitada. As intervenções farmacológicas e comportamentais
existentes podem levar tempo para produzir efeitos desejáveis, e uma porção
substancial de pacientes não responde aos tratamentos atuais. Portanto, um esforço
significativo tem sido dedicado à identificação e validação de novos alvos terapêuticos,
com o objetivo de desenvolver estratégias de tratamento mais eficazes e
personalizadas. A expectativa é que, através de uma melhor compreensão dos
mecanismos pelos quais o estresse crônico impacta a memória, seremos capazes de
desenvolver intervenções mais precisas que possam mitigar esses efeitos e melhorar a
qualidade de vida desses indivíduos."
Uma classe de drogas com ação agonista serotoninérgica fundamental, conhecidas
como psicodélicos, tem se mostrado uma alternativa promissora de tratamento para
para os déficits cognitivos exibidos por pacientes depressivos críticos. Um psicodélico
em particular, conhecido como Ayahuasca, que é feito a partir da infusão combinada
de caule de Banisteriopsis caapi rico em inibidores da monoamina oxidase (MAOi),
como Harmina e outras Beta-Carbolinas, e folhas de Psychotria viridis, ricas em N, N-
dimetiltriptamina (DMT), tem se destacado particularmente como um novo
tratamento para depressão e transtornos de ansiedade. Para os propósitos deste
estudo, avaliamos os efeitos de doses crescentes de um dos principais compostos
ativos encontrados na Ayahuasca em perfis comportamentais associados a modelos de
Zebrafish (Danio rerio) de depressão e ansiedade e déficits cognitivos de memória
(Osório et al., 2015). O peixe-zebra adulto foi exposto a 3 concentrações diferentes de
Harmina.
Especificamente para esse plano de trabalho, foi realizado o estudo da memória de
curto prazo usando um dos componentes da ayahuasca que é a harmina (dose menor:
0.02 mg/L). Serão utilizados grupos com doses maiores de harmina e os dois controles
(DMSO + água e água). Para determinar os efeitos terapêuticos dos alcalóides na
memória de curto prazo, os parâmetros comportamentais do peixe-zebra serão
avaliados com a tarefa de Aversão Condicionada ao Local (CPA). As variáveis
comportamentais analisadas para este estudo foram : velocidade média de natação,
velocidade máxima, distância total percorrida, tempo parado. Esperamos que o
tratamento crônico com um dos principais compostos ativos da ayahuasca exerça um
papel terapêutico em tarefas que modelam a ansiedade e a memória de curto prazo.
Nesse plano de trabalho, focamos nos testes de memória de curto prazo, com o uso de
vários grupos, dentre controles (DMSO + água e água) e testes (Harmina 0.02, 0.2 e 2.0
mg/L ).

Metodologia

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A Harmina foi adquirida da Sigma-Aldrich (St. Louis, MO) e utilizada como fonte de
alcalóides. Os peixes-zebra adultos, provenientes de um criadouro local em Natal,
Brasil, serão a espécie alvo deste estudo. Eles serão mantidos em tanques de alta
densidade no biotério do Laboratório de Peixes do Departamento de Fisiologia e
Comportamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O biotério
contará com quatro tanques de 50 litros, configurados em um sistema de recirculação
com filtragem em múltiplos estágios, incluindo filtros mecânicos, biológicos, de carvão
ativado e uma unidade de esterilização por luz ultravioleta. Os parâmetros ambientais,
como temperatura (28°C), pH (7,0) e fotoperíodo (12L:12D), serão mantidos
constantes para garantir condições estáveis para os peixes-zebra.
A alimentação será composta por artêmia e ração comercial, fornecida duas vezes ao
dia. Após aclimatação por uma semana em tanques de vidro de 15 litros, os peixes-
zebra serão divididos em grupos experimentais e de controle. Os grupos experimentais
foram expostos a diferentes doses de Harmina: 0,02 mg/dL, 0,2 mg/dL, 2,0 mg/dL Os
grupos de controle serão expostos a água pura no primeiro grupo e a uma solução de
dimetilsulfóxido (DMSO) e água no segundo grupo. Durante um período de 10 dias de
exposição, com intervalos de dois dias de descanso entre as exposições, os peixes-
zebra serão submetidos a sessões de exposição aos alcalóides. A sessão de exposição
ocorrerá aproximadamente às 14h00 a cada dia de exposição. Além disso, os peixes-
zebra serão submetidos a uma tarefa de Aversão Condicionada ao Local (CPA), que
envolve condicionar os peixes a evitar um ambiente associado à exposição de
alcalóides. Além disso, avaliamos comportamentos de memória de curto prazo e
ansiedade usando um modelo de aquário de dois compartimentos. Os registros
comportamentais dos peixes durante as filmagens da tarefa CPA serão rastreados
usando o software Zebtrack, desenvolvido no MatLab. Variáveis comportamentais,
como velocidade média de natação, congelamento, tempo gasto em cada lado do
tanque e outras, serão analisadas para avaliar os efeitos da exposição aos alcalóides.

Resultados e Discussões

Nossos estudos exploraram os efeitos da Harmina em parâmetros comportamentais


relevantes, incluindo memória de curto prazo, motilidade e reações de medo
condicionado. Ao analisar os resultados relacionados à memória de curto prazo,
observamos que a Harmina não induziu alterações significativas nos parâmetros de
memória de curto prazo avaliados. Comparando os grupos controle (água e DMSO)
com os grupos tratados com diferentes doses crescentes de Harmina (0,02 mg/dL, 0,2
mg/dL, 2,0 mg/dL), não encontramos variações estatisticamente significativas no

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eCICT 2023

tempo ou no número de entradas no lado xadrez do paradigma de Condicionamento


de Preferência por Local (CPA).
Além disso, detectamos diferenças significativas na motilidade dos animais, com um
valor de P<0,05 para todos os grupos tratados com doses crescentes de Harmina em
comparação com os grupos controle. Isso sugere que a Harmina afetou a motilidade
dos animais.
Uma observação foi a significativa diminuição no parâmetro de tempo parado,
sugerindo um menor tempo de congelamento, uma resposta associada ao medo
condicionado. Essa diminuição foi especialmente proeminente nos grupos que
receberam doses de Harmina, em comparação com os grupos controle (água e DMSO).
Esses achados indicam que a administração de Harmina está relacionada a um menor
índice de congelamento, o que pode sugerir uma modificação nas respostas de medo e
ansiedade no zebrafish.
A hipótese de Deakin/Graeff, que considera o papel da serotonina em diferentes
regiões cerebrais, lança luz sobre nossos resultados. Quando a serotonina atua na
amígdala, localizada no lóbulo temporal, ela é descrita como ansiogênica e panicolítica,
aumentando a ansiedade, mas reduzindo o pânico e o medo. No entanto, ao atuar na
Substância Periaquedutal Cinzenta (PAG), localizada no mesencéfalo, a serotonina é
considerada panicogênica e ansiolítica, aumentando o pânico e inibindo a ansiedade.
Essa teoria fornece uma perspectiva intrigante sobre as diferentes interações da
serotonina no cérebro.
Ao relacionar as estruturas amígdala e PAG com aquelas presentes no Zebrafish,
reconhecemos a importância de considerar as analogias funcionais entre as espécies.
Embora as estruturas não sejam diretamente homólogas, suas funções convergentes
em respostas emocionais e comportamentais destacam a relevância dessas regiões no
estudo do comportamento animal.
Os resultados deste estudo fornecem uma visão intrigante dos efeitos da Harmina no
zebrafish, com implicações significativas para nossa compreensão da regulação da
ansiedade e medo. A ausência de alterações nos parâmetros de memória de curto
prazo pode indicar uma especificidade dos efeitos da Harmina ou a necessidade de
investigações mais abrangentes. A influência sobre a motilidade sugere que a Harmina
pode ter um impacto geral no comportamento dos peixes-zebra.
A diminuição no tempo parado observada nos grupos tratados com Harmina levanta
questões interessantes sobre o papel da serotonina na modulação das respostas de
medo e ansiedade. A hipótese de Deakin/Graeff fornece um contexto valioso para
interpretar esses resultados, destacando a complexidade das interações
serotoninérgicas em diferentes regiões cerebrais.

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eCICT 2023

Em resumo, este estudo amplia nossa compreensão sobre os efeitos da Harmina nos
zebrafish, explorando diferentes parâmetros comportamentais. Os resultados sugerem
um papel complexo da serotonina na modulação das respostas de medo e ansiedade,
e destacam a importância de considerar as estruturas cerebrais em uma perspectiva
comparativa.

Conclusão

Em um contexto de déficits de memória de curto prazo em humanos, ligados ao


estresse crônico, nosso estudo examinou os efeitos da harmina em parâmetros
comportamentais relevantes para memória, motilidade e respostas condicionadas ao
medo no peixe paulistinha (Danio rerio). Diferentes doses de harmina não resultaram
em mudanças significativas nos parâmetros de memória de curto prazo avaliados pelo
paradigma de Condicionamento de Preferência por Local (CPA), em comparação com
grupos-controle.
O tratamento com harmina aumentou a motilidade dos peixes-paulistinhas,
possivelmente indicando ansiedade pela exposição. Contudo, essa interpretação
requer cautela devido à não especificidade do teste CPA para ansiedade. Observamos
também diminuição do tempo parado, sugerindo redução do congelamento e
modulação das respostas de medo condicionado. Essa redução foi mais marcante nos
grupos harmina, indicando possível influência da substância nas respostas de
ansiedade e medo em peixes paulistinha.
Relacionamos nossos achados com a hipótese de Deakin/Graeff, que descreve a
serotonina como ansiogênica e panicolítica na amígdala, mas panicogênica e ansiolítica
na Substância Periaquedutal Cinzenta (PAG) (Deakin e Graeff, 1991). A resposta à
exposição à harmina, com aumento da motilidade, possivelmente associado à
ansiedade, e redução do comportamento de imobilidade, possivelmente ligado ao
congelamento, sugere uma resposta ao medo incondicionado potencialmente
relacionada à ativação de estruturas mesencefálicas. A ação agonista dos receptores
serotoninérgicos da Harmina, elevando os níveis de DMT no cérebro (Mckenna et al.,
1998; Callaway et al., 1999; Riba et al., 2003; Santos, 2007a), ressalta a complexidade
das interações serotoninérgicas em diferentes regiões cerebrais, enfatizando as
distintas influências da serotonina nas respostas comportamentais.
Ao considerar as estruturas cerebrais do peixe paulistinha em relação à amígdala e
PAG, é essencial compreender as analogias funcionais entre espécies. A amígdala em
mamíferos, relacionada ao processamento de emoções, tem equivalentes em peixes,
como o "núcleo posterior do telencéfalo" ou "área dorsomedial do telencéfalo" (RICO

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

et al., 2011). A PAG em mamíferos, associada à modulação da dor e respostas


defensivas, encontra correspondência em áreas do mesencéfalo de peixes, embora a
organização possa variar (CHANDROO et al., 2004).
Apesar das diferenças anatômicas, essas estruturas têm funções convergentes na
regulação de comportamentos emocionais. Nosso estudo sobre os efeitos da harmina
no peixe paulistinha revela modulação comportamental, sugere ansiedade e medo.
Embora a memória de curto prazo não seja afetada, a influência da harmina na
motilidade e respostas ao medo apresenta complexidade. Resultados enfatizam
pesquisa contínua de compostos psicoativos em modelos animais, como o peixe
paulisitnha, para avançar na compreensão de distúrbios emocionais e cognitivos.

Referências

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB0990

AUTOR: THAYANE ALVES DA SILVA

ORIENTADOR: MARIA CELESTE NUNES DE MELO

TÍTULO: IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NO PERFIL DE


RESISTÊNCIA BACTERIANA EM UM HOSPITAL DA CIDADE DO NATAL-RN

Resumo

A Pandemia da COVID-19 aumentou o uso empírico de antimicrobianos, como


prevenção de possíveis infecções bacterianas secundárias à infecção viral em pacientes
de UTIs. O estudo objetiva avaliar o impacto da pandemia da COVID-19 no perfil de
resistência bacteriana em um hospital da rede privada de Natal-RN. Este estudo
transversal descritivo de natureza retrospectiva, avaliou o perfil de resistência de
isolados bacterianos provenientes de pacientes internados entre 2019 e 2021
(períodos de pré-pandemia e pandemia). As planilhas de notificação do Serviço de
Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) apontam um total de 4.238 culturas positivas
para bactérias nesse período. A distribuição amostral foi igual entre pacientes do sexo
feminino e masculino. A prevalência foi em hemoculturas (31,6%), uroculturas (30%) e
amostras de UTIs (41,9%). Dos pacientes COVID-19, 12,1% tiveram coinfecção
bacteriana. Prevaleceram Staphylococcus spp. (27,6%), Klebsiella spp. (25,6%),
Pseudomonas spp. (22,4%) e Escherichia coli (11,6%). 63,9% das bactérias
apresentaram multirresistência: Acinetobacter spp. (86,8%), Pseudomonas spp.
(69,1%), Staphylococcus spp. (81,8%) e Klebsiella spp. (58,3%). Há associação
estatística significante (p<0,001) da multirresistência bacteriana com o período de
pandemia (2020-2021) e pacientes COVID-19 (p=0,001) quando comparado ao período
pré-pandemia (2019). Conclui-se, que a pandemia de COVID-19 aumentou a
prevalência de bactérias multirresistentes no hospital estudado.

Palavras-chave: RESISTÊNCIA BACTERIANA; COVID-19;


ANTIMICROBIANOS; COINFECÇÃO.

TITLE: Impact of the COVID-19 pandemic on bacterial resistance profile in a


hospital in the city of Natal-RN.

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Abstract

The COVID-19 pandemic has increased the empirical use of antimicrobials as a


preventive measure against potential bacterial infections secondary to viral infection in
ICU patients. The study aims to assess the impact of the pandemic on bacterial
resistance profile at a private hospital in Natal-RN. This descriptive cross-sectional
retrospective study evaluated the resistance profile of bacterial isolates from patients
hospitalized between 2019 and 2021 (pre-pandemic and pandemic periods). The data
from the Hospital Infection Control Service (HICS) notification spreadsheets indicate a
total of 4,238 positive bacterial cultures during this period. The sample distribution
was equal between female and male patients. The prevalence was observed in blood
cultures (31.6%), urine cultures (30%), and ICU samples (41.9%). Among COVID-19
patients, 12.1% had bacterial coinfection. The prevailing species were Staphylococcus
spp. (27.6%), Klebsiella spp. (25.6%), Pseudomonas spp. (22.4%), and E. coli (11.6%).
63.9% of the bacteria exhibited multidrug resistance: Acinetobacter spp. (86.8%),
Pseudomonas spp. (69.1%), Staphylococcus spp. (81.8%), and Klebsiella spp. (58.3%).
There is a statistically significant association (p < 0.001) between bacterial multidrug
resistance and the pandemic period, as well as with COVID-19 patients (p = 0.001),
when compared to the pre-pandemic period (2019). In conclusion, the COVID-19
pandemic has heightened the prevalence of multidrug-resistant bacteria.

Keywords: BACTERIAL RESISTANCE; COVID-19; ANTIMICROBIALS;


COINFECTION.

Introdução

Os níveis de resistência bacteriana encontram-se alarmantes em todo o mundo, e a


resistência antimicrobiana (RAM) tratada como um perigo global, ameaçando tanto a
saúde quanto a economia. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as
bactérias multirresistentes são responsáveis por causarem, 700.000 mortes por ano no
mundo, e é previsto que até 2050, esse número passe para 10 milhões (OMS, 2019).
O uso exacerbado de antimicrobianos, particularmente em unidades de terapia
intensiva, tem contribuído para o surgimento e seleção de novos mecanismos de
resistência bacteriana (FIGUEIREDO-MENDES et al., 2005). Dentre os patógenos
bacterianos multirresistentes, os bacilos Gram-negativos são cada vez mais
prevalentes em ambientes hospitalares (BOUCHER et al., 2009; PFALLER et al., 2006).
As Enterobactérias, espécies Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii
estão entre os principais patógenos causadores de Infecções relacionadas à assistência
à saúde (IRAS) (FREITAS et al., 2002). Todavia, as bactérias Gram-positivas como os
Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), Streptococcus pneumoniae não

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susceptível à penicilina (PNSSP) e Enterococcus spp. resistentes à vancomicina (VRE),


também têm se disseminado (PRINCIOTTO et al., 2021).
Em 2008, uma iniciativa conjunta dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças,
Americano e Europeu, estabeleceu uma nomenclatura padrão para os bacilos Gram-
negativos que apresentam diferentes graus de resistência. Dessa forma, bactérias
classificadas como MDR (do inglês: Multidrugs Resistant), são resistentes a pelo
menos, uma droga de três classes diferentes de antimicrobianos, as XDR (do inglês:
Extensive Drugs Resistant), são resistentes a quase todos os antimicrobianos
disponíveis e finalmente as PDR (do inglês: Pandrugs Resistant), não respondem a
nenhum antimicrobiano disponível (MAGIORAKOS et al., 2012).
A COVID-19 atinge pessoas de diversas idades e a maioria desenvolve sintomas desde
os mais leves a moderados, porém parte dos infectados acabam desenvolvendo a
doença respiratória grave e sendo então internados em Unidades de Terapias
Intensivas (UTI) com uso de ventilação mecânica (FREIRES & RODRIGUES, 2022).
Pacientes hospitalizados com COVID-19 apresentam risco aumentado de desenvolver
infecções secundárias causadas por microrganismos, que na maioria das vezes
apresentam multirresistência (SILVA et al., 2022; DE OLIVEIRA et al., 2021). Além disso,
verificou-se que a administração de antimicrobianos com amplo espectro causam
perturbações significativas na microbiota de alguns indivíduos, trazendo mais
malefícios que benefícios ao paciente. O consumo destas drogas foi atrelado de forma
equivocada, como uma forma de prevenção da doença, trazendo consigo ainda mais
riscos associados à pandemia de SARS-CoV-2 (DE OLIVEIRA et al., 2021; SILVA et al.,
2022).
Desse modo, é importante levar em consideração as consequências, que as infecções
por COVID-19 podem exercer sobre o uso de antimicrobianos de forma empírica para
tratar a doença e prevenir infecções secundárias no pacientes (DE OLIVEIRA et al.,
2021), uma vez que a Organização Mundial da Saúde (OMS), em um documento
publicado em 2020, não recomenda o uso de antimicrobianos como forma de
profilaxia ou terapia em casos suspeitos ou confirmados de infecção por SARS-CoV-2,
sugerindo que a prescrição deste tipo de medicamento ocorra somente em casos de
suspeitas de coinfecção por bactérias.
Diante do exposto, a presente pesquisa objetivou avaliar o impacto da pandemia de
COVID-19 no perfil de resistência bacteriana em um hospital de rede privada da cidade
do Natal-RN, e analisar a influência nos resultados de culturas positivas para bactérias
em pacientes internados.

Metodologia

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Tipo de estudo
Trata-se de um estudo transversal de natureza retrospectiva, no qual foi determinado
o perfil de resistência das bactérias isoladas de pacientes adultos internados no
período de 2019 a 2021 em um hospital privado, localizado na cidade do Natal do
estado do Rio Grande do Norte, sendo o período analisado correspondente a antes e
durante a pandemia da COVID-19.
Coleta de dados
Os dados foram extraídos a partir de relatórios físicos que são elaborados
rotineiramente pelo Laboratório de Microbiologia do hospital no período de 2019 a
2021, os quais são encaminhados à Comissão de Controle de IRAS (CCIH) para análise
epidemiológica. Para esse estudo, foram pesquisadas informações sobre idade, sexo,
setor de internação, espécime clínico, microrganismo isolado e perfil de sensibilidade,
os exames foram realizados de forma automatizadas utilizando o aparelho VETIK 2 da
Biomérieux e de forma manual através de disco difusão e Agar Mueller Hinton. Todos
os dados foram tabelados e organizados com auxílio do Microsoft® Office® Excel.
Análise estatística
Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial. Para verificar
associação entre as variáveis independentes e dependentes foi utilizado teste do Qui-
quadrado de Pearson. Para tabulação e análise dos dados foi utilizado o programa
estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 20.0, sendo
considerado nível de significância de 5% em todos os testes.

Resultados e Discussões

RESULTADOS
Segundo os relatórios do Laboratório de Microbiologia do hospital estudado, foram
processadas 32.489 culturas, das quais 4.691 (14,4%) foram positivas para bactérias e
fungos. Destas, 4.238 (84,9%) foram positivas para crescimento bacteriano, sendo que
1.261 (29,7%) foram registradas em 2019, 1.457 (34,5%) em 2020 e 1.520 (35,8%) em
2021, mostrando uma variação dos valores, no período de 2019 para 2021.
De acordo com os dados analisados, 2.137 (50,1%) das culturas positivas para
crescimento bacteriano eram provenientes de pacientes do sexo feminino e 2.101
(49,9%), de pacientes do sexo masculino, não apresentando associação significativa em
relação ao sexo. Foi observado ainda que a idade dos pacientes variou de 1 ano até
104 anos, apresentando uma média de 63 anos (Desvio-padrão=24,7), com maior

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prevalência de infecções nos pacientes na faixa etária acima de 63 anos (n=2.524,


58,3%).
Em relação ao espécime clínico, a maioria das culturas positivas era proveniente de
hemoculturas (n=1.342, 31,6%), seguida de uroculturas (n=1.272, 30%), secreção
traqueal (n=670, 15,8%), ponta de cateter (n=167, 4,0%), secreção de ferida (n=129,
3,0%) e outros materiais (marca-passo, prótese de perna, tendão, valva cardíaca,
trombo, tela abdominal, septo atrial e fragmento ósseo; n=658, 15,5%).
Os setores de internação que apresentaram maior número de culturas bacterianas
positivas nos três anos analisados foram UTI (41,9%, n=1.777), enfermaria (27,2%,
n=1.154), pronto atendimento (22%, n=933), transplante de medula óssea-TMO (6,7
%, n=285) e centro cirúrgico (2,1%, n=89).
Com relação à coinfecção (COVID-19 e infecção bacteriana), nos anos de 2020 e 2021,
das 3.069 culturas positivas para bactérias, 12,1% (n=371) eram provenientes de
pacientes diagnosticados com COVID-19.
Na Tabela 1, encontram-se os valores absolutos e percentuais das variáveis sexo, setor
de internação, coinfecção (COVID-19 e infecção bacteriana) e ainda a média de idade
com relação aos anos analisados. Na Tabela, observa-se que em 2019 os pacientes do
sexo feminino apresentaram uma maior prevalência em culturas positivas quando
comparado ao sexo masculino, porém, com a emergência da pandemia, houve um
aumento nos casos de infecções no sexo masculino devido a COVID-19.
No ano de 2021, observou-se um aumento de culturas positivas em todos os setores
de internação, como também nos espécimes clínicos, quando comparado 2019 com os
anos de 2020 e 2021, destacando-se um aumento de culturas positivas notificadas no
setor de TMO em 2021 e no centro cirúrgico em 2020. Observa-se ainda um aumento
da prevalência de coinfecção de 2020 para o ano de 2021, no qual houve um aumento
de 42,6% para 57,4%, respectivamente.
Os isolados bacterianos notificados durante os anos de 2019, 2020 e 2021, estavam
presentes predominantemente em uroculturas, hemoculturas e secreções traqueais.
Nesse cenário, observou-se que as espécies Klebsiella spp. (n= 1.095, 25,6%) e E. coli
(n= 491, 11,6%) estavam relacionadas às infecções do trato urinário, os Staphylococcus
spp. (n=1.169, 27,6%) às bacteremias, enquanto as Pseudomonas spp. (n=950, 22,4%)
e Acinetobacter spp. (n=125, 3,0%) apresentavam-se envolvidas com as infecções do
trato respiratório.
Na figura 1, encontra-se a prevalência dos isolados bacterianos com relação ao ano de
isolamento. Pode-se observar uma predominância de bactérias Gram negativas no
período estudado, no qual Klebsiella spp. apresentou um aumento nos anos de 2020 e
2021, quando comparados a 2019, assim como a espécie P. aeruginosa que também
teve sua prevalência aumentada de 2019 para 2020. Diferentemente, a espécie E. coli
apresentou uma diminuição da sua prevalência ao longo dos anos estudados.
Considerando a multirresistência como a resistência a três ou mais classes de drogas,

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observou-se um elevado número de espécies bacterianas com esse perfil, sobretudo


em bactérias Gram-negativas. Na tabela 2, observa-se que das 4.238 culturas positivas
para bactérias, 2.767 (63,9%) foram multirresistentes e 1.563 (36,1%) não
apresentaram multirresistência. As bactérias mais comumente isoladas na rotina
laboratorial que apresentaram multirresistência foram Acinetobacter spp. (n=110;
86,8%), Pseudomonas spp. (n=657; 69,1%), Staphylococcus spp. (n=955; 81,8%),
Klebsiella spp. (n=642; 58,3%), Enterobacter spp. (n=41; 42,7%), Enterococcus spp.
(n=34; 44,1%) e E. coli (n=134; 26,6%).
Na Tabela 3, descreve-se as prevalências dos isolados bacterianos multirresistentes
com relação ao ano de isolamento. Observa-se que todos as bactérias apresentaram
um aumento na prevalência da multirresistência quando considerado o ano de 2019
(período pré-pandemia) com os anos de 2020-2021 (período da pandemia). Para
algumas bactérias como Klebsiella spp., Escherichia coli, Burkholderia spp.,
Pseudomonas spp., o aumento observado entre 2019 e 2021 foi acima de 100%.
Dentre as bactérias Gram-negativas que apresentaram multirresistência, foi observado
que a maioria era portadora de mecanismos de resistência enzimáticos como β-
lactamase de espectro estendido (ESBL), carbapenemase do tipo KPC ou metalo- β-
lactamase (MBL) e algumas espécies apresentaram mais de um desses mecanismos
associados através de testes fenotípicos como, por exemplo, ESBL + KPC e KPC + MBL.
Quando a multirresistência bacteriana foi avaliada em relação aos períodos pré-
pandemia e pandemia da COVID-19, observou-se uma associação estatística
significativa (P<0,001) da presença de bactérias multirresistentes com o período da
pandemia da COVID-19 (Tabela 4).

DISCUSSÃO
O surgimento da pandemia da COVID-19, gerou uma tensão ainda maior sobre os
sistemas de manejo de antimicrobianos, fato explicado pelo uso indevido da terapia
antibacteriana empírica para tratar possíveis infecções bacterianas secundárias em
pacientes graves internados nas UTIs (BENGOECHEA; BAMFORD, 2020; ALHAZZANI et
al., 2021). Há uma grande preocupação com o uso empírico de antimicrobianos,
principalmente na atenção primária ou na admissão hospitalar de pacientes com
COVID-19, que não apresentem suspeita clínica de infecção bacteriana, tendo em vista
que o uso extensivo e inadequado de antimicrobianos pode resultar em sérios riscos
para saúde pública em todo o mundo (BASKARAN et al., 2021; VAUGHN et al., 2021).
A prevalência de culturas positivas quando comparada ao valor total referente aos 3
anos, descrita nessa pesquisa, foi similar a prevalência relatada no estudo de
Figueiredo e colaboradores em 2013, no qual avaliou a epidemiologia de infecções
bacterianas em 244 pacientes em um hospital de João Pessoa (PB), no qual descreve a
frequência de infecções bacterianas em 23,4%. Em outro estudo, Finger Jardim et al.,
(2011) descreveram uma prevalência de 27%, avaliando culturas de 16 UTIs de

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hospitais diferentes. Embora, nesse mesmo estudo, tenha sido descrito uma
prevalência menor, quando a análise foi realizada em cada hospital isoladamente. O
aumento da prevalência de culturas bacterianas positivas observado, no presente
estudo, para ano de 2021 em comparação ao ano de 2019, pode estar relacionado à
emergência da pandemia de COVID-19 em 2020. Nesse período, houve um aumento
de internações prolongadas em unidades de terapia intensiva em muitos hospitais em
todo o mundo, fato que expõe os pacientes a situações de risco para a aquisição de
infecções bacterianas no ambiente hospitalar (CAMPOS, et al., 2020).
Embora não tenha sido verificado diferença nas prevalências entre os sexos masculinos
e femininos, uma análise realizada por ano de isolamento das culturas positivas,
notou-se um aumento dos números de casos positivos no sexo masculino nos anos de
2020 e 2021, quando comparado ao ano de 2019. Esse fato pode estar relacionado a
uma busca maior de homens por atendimento médico, devido a pandemia da COVID-
19 em 2020. Alguns estudos mostram ainda que o sexo masculino apresenta maior
expressão da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE 2), principal receptor utilizado
pelo vírus SARS-CoV-2 para entrar na célula do indivíduo, acarretando agravamento no
quadro clínico do paciente e aumento na taxa de mortalidade dos indivíduos
(AGRAWAL et al., 2020; BEYERSTEDT et al., 2021).
A média de idade dos pacientes relatada nessa pesquisa foi alta e não houve diferença
quando avaliada por ano isoladamente, demonstrando que no período do estudo, a
maioria das culturas eram provenientes de idosos. Em seu estudo, Buehler, et al.,
(2021) também fez essa observação, registrando uma média de 60 anos de idade nos
pacientes avaliados.
Com relação aos espécimes clínicos positivos para crescimento bacteriano, a maior
prevalência foi para as hemoculturas e uroculturas. Na pesquisa realizada por
Rodrigues et al. (2021), foram encontradas 127 culturas positivas, com maior
prevalência em hemoculturas e secreções traqueias. Por outro lado, na pesquisa
realizada por D’Humières e colaboradores (2021) a prevalência relatada foi maior nas
secreções traqueais, seguida de hemoculturas.
Quando se analisou o setor de internação nos três anos, a UTI foi o setor que mais
apresentou culturas positivas, similar ao estudo de Moura et al. (2007), o qual
relataram 61% de positividade nas culturas provenientes do setor UTI, seguida pela
enfermaria. A maior prevalência nesses dois setores encontrada no presente estudo,
foi vista também no estudo de Moura et al. (2007). Nesses setores, os pacientes
permanecem um período maior de tempo, contudo observou-se que em 2020 ocorreu
uma queda na frequência de culturas positivas no setor da UTI e um aumento na
enfermaria, podendo estar relacionado ao início da pandemia em 2020 no Brasil. É
possível que o hospital não se encontrasse preparado para o volume de internação
que ocorreu nesse período, com a necessidade de remanejar pacientes para outros
setores como, por exemplo, a enfermaria. É possível ainda, que esses pacientes

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possam ter tido agravamento do seu quadro clínico e necessitaram permanecer por
um período prolongado nesses setores, contribuindo para o aumento de infecções
bacterianas em setores que não eram comuns. De forma incomum, esse estudo
mostrou um aumento de culturas positivas considerável em 2020 (período da
pandemia da COVID-19), no setor do centro cirúrgico. Fato possivelmente relacionado
a um maior número de realização de traqueostomia cirúrgica nos pacientes que
necessitaram de suporte ventilatório prolongado. No estudo de Aguilar-Garduño et al.
(2021), o qual avaliou 42 pacientes do setor “COVID” que precisaram passar por
cirurgias, demonstrou que a maioria das indicações para tratamento cirúrgico foi para
intubação prolongada com impossibilidade de retirada do suporte ventilatório
mecânico em 38% desses pacientes. Demonstrou ainda que a cirurgia mais realizada
foi a traqueostomia. No setor de transplante de medula óssea, observou-se uma queda
em 2020 em relação as culturas positivas, podendo estar relacionado a grande tensão
que a COVID-19 causou no ano de 2020 nesse setor no hospital estudado, fazendo com
que diminuíssem os transplantes, devido aos altos risco que poderiam acarretar aos
pacientes que passariam por uma imunossupressão para realização de tal
procedimento. Em 2021 obteve-se um aumento considerável, um ano após pico da
pandemia, possivelmente devido a estabilização do hospital estudado diante a
situação da pandemia, retornando os procedimentos realizados no setor.
Segundo vários autores, a taxa de coinfecção bacteriana e COVID-19 são consideradas
baixas. Em um estudo retrospectivo de Sharifipour et al. (2020) envolvendo 836
pacientes com infecção por SARS-CoV-2, apenas 6,1% tiveram coinfecção. Li et al.
(2020) também relataram em seu estudo que 6,8% dos pacientes hospitalizados com
COVID-19 em Wuhan na China, adquiriram infecção bacteriana secundária durante a
hospitalização. Similarmente, Lai et al., (2021), relataram 8% de coinfecção bacteriana.
Contudo, prevalências maiores foram registradas por Silva e Nogueira (2021), os quais
descreveram em sua pesquisa que 15% dos infectados pelo SARS-CoV-2
desenvolveram coinfecção bacteriana e Contou et al. (2020) que relataram que 28% de
92 pacientes adultos positivos para COVID-19 apresentaram coinfecção bacteriana. No
presente estudo, foi demostrado uma baixa prevalência de coinfecção bacteriana e
COVID-19 no hospital estudado, demonstrando similaridade com os estudos acima.
Com relação aos isolados bacterianos, as espécies mais isoladas em rotina laboratorial
que apresentaram maiores prevalências foram Staphylococcus spp.; Klebsiella spp.; E.
coli; Pseudomonas spp.; e Acinetobacter spp. Como demonstrado na figura 1, é
possível ver que em 2019 a prevalência maior era de Staphylococcus spp. Porém,
quando comparado ao período de pandemia, ocorreu um aumento significativo de
bactérias Gram-negativas, principalmente Klebsiella spp. e Pseudomonas spp.. A
prevalência elevada de P. aeruginosa e A. baumannii podem estar relacionadas a seu
caráter oportunista e capacidade de produzirem biofilme, o qual capacita sua
colonização no ambiente hospitalar. A capacidade de produzir biofilmes também é

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descrita na literatura como um fator de virulência em K. pneumoniae e E. coli,


podendo também contribuir para o estabelecimento destas no ambiente hospitalar.
Estudos relatam a presença dessas bactérias em infecções do trato urinário de
pacientes que fazem uso da sonda de alívio (PIRES et al., 2009; BRISSE et al., 2009) e,
no presente estudo, as uroculturas foram um dos espécimes clínicos mais prevalentes.
Pacientes que desenvolvem a forma grave da COVID-19 enfrentam um risco maior de
adquirir pneumonia associada à ventilação mecânica, para os quais as principais
bactérias envolvidas são S. aureus, as pertencentes à ordem Enterobacterales e as
bactérias não fermentadoras de carboidratos como P. aeruginosa. Foi observado em
UTIs no Reino Unido, uma maior prevalência das espécies K. pneumoniae e K.
aerogenes em pacientes com COVID-19 (LIVERMORE, 2021). Na pesquisa de Meawed
et al. (2021) também se observou uma maior prevalência de K. pneumoniae e de
bactérias não fermentadoras envolvidas nessas infecções. O presente estudo
demonstrou que no período da pandemia a maior frequência de cepas resistentes era
para os gêneros Staphylococcus spp.; Klebsiella spp.; Pseudomonas spp. e
Acinetobacter spp. Porém, os gêneros bacterianos que apresentaram diferença
considerável com relação a prevalência de cepas resistentes, quando avaliado com o
período da pandemia e pré-pandemia, foram as espécies de Klebsiella spp., seguida
pelas Pseudomonas spp. que apresentaram um aumento de mais de 100% quando
comparado 2019 e 2020-2021. Alguns estudos como o realizado por Cantón et al.
(2020) observaram que as espécies P. aeruginosa e A. baumannii apresentaram uma
maior prevalência de multirresistência com a predominância dos mecanismos de ESBL
e carbapenemases. Relataram ainda, uma resistência aumentada para E. coli e K.
pneumoniae. No estudo de Acosta et al., (2018), os principais mecanismos de
resistência observados foram as enzimas de largo espectro que degradam os
antimicrobianos e alterações bacterianas que interferem na interação do fármaco. Os
resultados dessa pesquisa aqui apresentada, demonstram que os mecanismos de
resistência observados foram as ESBLs, Carbapenemase do tipo KPC e as MBLs, nas
espécies bacterianas K. pneumoniae, P. aeruginosa, E. coli e A. baumannii, sendo o
mecanismo ESBL o mais prevalente (Dados não mostrados). Em relação a outras
bactérias menos comumente isoladas na rotina laboratorial como Burkholderia spp. e
Stenotrophomonas spp., observou-se um aumento na frequência dessas bactérias no
ano de 2021. Esse aumento atingiu valores em torno de 300% quando comparado ao
período pré-pandemia (2019). São bactérias bastante relevantes pelo caráter de
multirresistência e elevado envolvimento com infecções hospitalares. A frequência
elevada dessas bactérias observadas em 2021 pode representar uma tendência no
aumento da circulação dessas cepas como um dos impactos da pandemia da COVID-
19. No estudo de Zlosnik et al., (2010), no qual avaliou a virulência da espécie
Burkholderia cepacia envolvidas em infecções hospitalares, descreveu que estas, são
bactérias oportunistas, que apresentam alta resistência aos antimicrobianos e

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encontram-se envolvidas principalmente em infecções hospitalares graves, causando


infecções do trato respiratório e como consequência ocasionando diminuição da
função pulmonar e septicemia, geralmente associada a uma alta taxa de mortalidade.
Avaliando a associação de bactérias multirresistentes com o período pré-pandemia
(2019) e pandemia (2020-2021), percebeu-se uma relação estatística significativa
(p<0,001) entre a frequência de multirresistência e o período de pandemia. As
bactérias apresentaram uma frequência 45% maior de multirresistência no período da
pandemia (2020-2021). Da mesma forma, foi demonstrado que a associação de cepas
multirresistentes com os pacientes que estavam com COVID-19 foi significativa
(p<0,001). Esses resultados mostram que a COVID-19 está relacionada ao aumento da
circulação de cepas bacterianas mais resistentes no hospital estudado. Resultados
similares foram observados em um estudo realizado por Gaspar et al., (2021), os quais
avaliaram o perfil de resistência antimicrobiana em 466 amostras positivas no período
pré pandemia e pós pandemia em um hospital em São Paulo, no qual é observado um
aumento significativo de microrganismos multirresistentes em unidades de terapia
intensiva para pacientes com COVID-19, principalmente em K. pneumoniae. Na
pesquisa de Silva e Nogueira (2021), no qual avaliou o impacto do uso indiscriminado
de antimicrobianos no período da pandemia da COVID-19, relataram que os
mecanismos de resistência bacteriana se intensificaram durante a pandemia da COVID-
19. Apenas 15% dos infectados pelo SARS-CoV-2 desenvolverem uma coinfecção
bacteriana que justifica o uso da antibioticoterapia. No qual, afirmam que os
antimicrobianos foram prescritos em cerca de 59% dos casos de internação por COVID-
19, independentemente da presença de infecção bacteriana, o que, mediante a
capacidade de adaptação e produção de mecanismos de resistência destes
microrganismos, embasa a preocupação dos profissionais de saúde quanto ao
aumento da ameaça de uma nova pandemia, desta vez causada por bactérias
panresistentes, ou seja, resistentes a todas as classes de antimicrobianos disponíveis
no mercado. Em relação aos impactos que o ambiente e a sociedade podem causar no
desenvolvimento de bactérias resistentes, Toro-Alzate et al., (2021) avaliaram
questões relacionadas ao ambiente, COVID-19 e resistência bacteriana. Os resultados
enfatizam que mudanças no comportamento de prescrição de antibióticos,
desinformação, sistemas de saúde sobrecarregados, dificuldades financeiras, impacto
ambiental e lacunas na governança podem aumentar o acesso e uso indevidos de
antibióticos durante a pandemia de COVID-19, aumentando a resistência bacteriana a
antimicrobianos. A resistência bacteriana apresenta um risco iminente à saúde pública
mundial. Essa temática é bastante preocupante, porque existe uma tendência para
uma não disponibilidade de antimicrobianos para tratar pacientes infectados por
bactérias Panresistentes, acarretando aumento no número de leitos, óbitos,
transmissibilidade e alto custo em internações, impactando não só para os pacientes
com COVID-19, como também para toda a população.

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eCICT 2023

Conclusão

Pelos resultados obtidos nessa pesquisa conclui-se que houve uma prevalência
aumentada de bactérias multirresistentes e uma associação das bactérias
multirresistentes com o período da pandemia (2020-2021) assim como, com a
presença da doença COVID-19. Com base nos resultados apresentados, pode-se ainda
inferir que haverá um possível aumento da frequência de bactérias resistentes aos
antimicrobianos no hospital estudado, nos anos que se seguem, uma vez que as
bactérias multirresistentes costumam se estabelecer nos ambientes hospitalares
demonstrando grandes dificuldades no controle de infecções por essas bactérias.
Os resultados obtidos nessa pesquisa podem alertar sobre uma tendencia no aumento
de bactérias multirresistentes nos próximos anos, principalmente em decorrência de
alguns fatores que colaboram com a disseminação dessas cepas resistentes, através de
internações prolongadas em unidades de terapia intensiva, bem como o uso de
dispositivos hospitalares (Ventilação mecânica), além do uso indiscriminado de
antimicrobianos. É necessário, investimento em pesquisas que avaliem a
epidemiologia das coinfecções em pacientes com COVID-19, em nível nacional e
mundial, com vistas a entender melhor o impacto que a COVID-19 poderá afetar a
resistência bacteriana, com o intuito de desenvolver soluções práticas e eficazes, junto
a implementação de protocolos mais rígidos e robusto de vigilância, diagnóstico e
tratamento. Nitidamente observa-se uma necessidade de grandes investimentos na
área de pesquisa e na saúde pública, para reduzir tais impactos na saúde.

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Anexos

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Tabela 1 – Média e desvio-padrão da idade e valores absolutos e percentuais relativos


ao sexo, setor de internação, espécime clínico, coinfecção (COVID-19 e infecção
bacteriana) nos anos de 2019, 2020 e 2021.

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Figura 1 – Prevalência dos isolados bacterianos com relação ao ano isolamento

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Tabela 2 – Valores absolutos e percentuais dos isolados bacterianos considerados


multirresistentes ao longo do período estudado

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Tabela 3 – Prevalência dos isolados bacterianos multirresistentes de acordo com o ano


de isolamento.

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Tabela 4 – Associação entre a multirresistência bacteriana e os períodos pré-pandemia


(2019) e pandemia da COVID-19 (2020-2021).

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Tabela 5 – Associação entre a multirresistência bacteriana e a presença e ausência da


COVID-19.

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CÓDIGO: SB1005

AUTOR: SAMUEL FELIPE DE ALCÂNTARA VALENTIM

COAUTOR: JÚLIA FIRME FREITAS

ORIENTADOR: LUCYMARA FASSARELLA AGNEZ LIMA

TÍTULO: Leitelho: Resíduo da indústria alimentícia como insumo alternativo


para meio de cultivo bacteriano

Resumo

O projeto buscou mitigar desafios associados à geração de resíduos poluentes pela


indústria alimentícia e à dificuldade no escalonamento da produção de biomassa
microbiana. O projeto propôs o uso do leitelho, um subproduto da produção de
manteiga, como alternativa ao extrato de levedura, insumo oneroso em meios de cultivo.
Através de quantificações de proteínas, usando o teste de Bradford, verificou-se que o
leitelho possui metade do conteúdo protéico do extrato de levedura. A avaliação do
crescimento bacteriano se deu por meio da curva de Unidades Formadoras de Colônias
(UFC) e demonstrou resultados próximos ao meio comercial IRAP, indicando potencial,
mas com necessidade de ajustes no tempo de cultivo para equiparar parâmetros. Este
estudo oferece uma solução de baixo custo para a produção de biomassa microbiana,
promovendo a economia circular ao valorizar resíduos industriais, como o leitelho, e
contribuindo para a sustentabilidade.

Palavras-chave: Microrganismos. Biotecnologia. Resíduos. Meio de cultivo.


Leitelho.

TITLE: Buttermilk: Residue from the food industry as an alternative input for
bacterial culture medium

Abstract

This project aimed to address challenges associated with the generation of


polluting waste by the food industry and the difficulty in scaling up microbial biomass
production. The project proposed the use of buttermilk, a byproduct of butter
production, as an alternative to yeast extract, an expensive input in culture media.
Protein quantification using the Bradford assay revealed that buttermilk contains half

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the protein content of yeast extract. Bacterial growth evaluation was conducted through
the Colony-Forming Units (CFU) curve, showing results comparable to the commercial
medium IRAP, indicating potential, but requiring adjustments in cultivation time to
match parameters. This study offers a cost-effective solution for microbial biomass
production, promoting circular economy principles by valorizing industrial waste like
buttermilk and contributing to sustainability.

Keywords: Microorganisms. Biotechnology. Waste. Culture medium. Buttermilk.

Introdução

De acordo com projeções recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), a


população mundial alcançará o marco de 9.7 bilhões de pessoas até o ano de 2050
(ONU, 2022) [1]. Essa alta expectativa populacional, acarreta em um aumento de escala
na produção alimentícia. Apesar da necessidade de aumento na produção de alimentos,
a indústria alimentícia enfrenta desafios quanto à geração de resíduos advindos de sua
cadeia produtiva (AQUARONE et al., 1990) [2].
Um agravante a esta problemática é o descarte inadequado destes resíduos, resultando
em impactos significativos ao meio ambiente (BENAISSA et al., 2017) [3]. Ademais, o
descarte destes subprodutos gerados, desperdiça recursos valiosos, os quais podem
apresentar um potencial comercial e biotecnológico (TAMANINI & HAULY, 2004;
ATAIDES et al., 2021; ALVES et al., 2020; SOUZA et al., 2021) [4]; [5]; [6]; [7];
ainda não explorados e integrados à cadeia de produção.
A exploração destes recursos, pode fomentar uma economia circular e a bioeconomia
(FARIA & PIRES, 2020) [8], a qual foge do conceito tradicional da indústria “produzir,
usar e descartar”. Buscando assim, uma redução do desperdício e a promoção do uso
eficiente dos recursos. Podendo, portanto, expandir os horizontes tecnológicos e
comerciais sem perder de vista a sustentabilidade (FARIA & PIRES, 2020) [8].
Um campo de pesquisa promissor, é o uso de resíduos da indústria alimentícia como
meio de cultura para o cultivo de microrganismos (CERDEIRA et al., 2019; GARG et
al., 2007) [9]; [10];. Os microrganismos desempenham papéis essenciais na
biotecnologia, desde a produção de bioplásticos (AKASH et al., 2023; SAMADHIYA
et al., 2022) [11]; [12]; e enzimas (TÉLESSY, 2019) [13], até a produção de
biocombustíveis (AKASH et al., 2023) [11] e a biorremediação de resíduos (IJOMA et
al., 2019; PINHEIRO et al., 2022) [14]; [15];. Entretanto, os insumos para os meios de
cultura convencionais podem ser onerosos, limitando a viabilidade financeira de
processos industriais que envolvam microrganismos.
Diante deste cenário, pode-se notar uma complementaridade entre as problemáticas
levantadas, visto que o uso de resíduos industriais em meios de cultura, pode reduzir o
custo da produção de biomassa para inúmeras aplicações biotecnológicas. Gerando,
portanto, uma nova cadeia produtiva de exploração dos recursos gerados, além de

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eCICT 2023

contribuir no avanço do alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)


da ONU.
Nosso grupo de pesquisa, apresenta experiência no desenvolvimento de soluções
economicamente sustentáveis e ambientalmente amigáveis, para o tratamento de
resíduos oleosos através da formulação de biorremediadores customizados para o
mercado gerador de resíduos oleosos. Os resultados dessas pesquisas geraram a
submissão de duas patentes e a criação de uma startup, a Microciclo Biotecnologia
LTDA, a qual está incubada pela BioInova da UFRN. O primeiro protótipo
biorremediador (depósito de patente: BR 10 2021 024254 0) alcançou o TRL
(technology readiness level) 5 e está sendo validado com indústrias geradoras de
resíduos oleosos. O tratamento com o consórcio bacteriano protótipo da Microciclo,
promove autonomia para a empresa que passa a tratar os próprios efluentes oleosos,
responsabilidade no consumo de água e proteção da vida terrestre e aquática ao eliminar
o risco com transporte do resíduo e gera uma economia circular com a reutilização da
água tratada.
O custo de produção dos biorremediadores é um dos grandes desafios para o sucesso da
biorremediação, visto que a mesma demanda meios de cultura, alguns dos quais ainda
onerosos. Portanto, visando obter alternativas de cultivo com alto rendimento e menor
custo de produção, foi de interesse do presente trabalho testar resíduos de indústrias
alimentícias como meios de cultivo de microrganismos biorremediadores, o que pode
acarretar não só na redução dos custos de produção, como também promover uma
economia circular agregando valor a resíduos industriais.

Metodologia

 Rastreamento das indústria alimentícias e levantamento bibliográfico:


Foi realizado um levantamento das indústrias presentes em nossa região (Natal - RN)
cujos resíduos gerados em sua cadeia de produção são passíveis de aplicação
biotecnológica. Subsequentemente, foi realizada uma análise da literatura acerca dos
resíduos da indústria alimentícia com uso relatado como componentes alternativos no
cultivo de microrganismos. A partir da análise dos resultados das pesquisas, o leitelho,
subproduto da cadeia de produção da manteiga, foi selecionado como resíduo a ser
estudado devido ao fato de atualmente ser descartado pela indústria sem aproveitamento
de seu potencial biotecnológico, além de sua composição rica em lipídios e proteínas
(MACHADO et al., 2022) [16]. O resíduo foi gentilmente cedido a nós pela CLAN,
como matéria prima para a formulação de um novo meio de cultivo.
 Quantificação de proteínas:

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Tendo em vista a redução de custos do meio de cultivo comercial, foi avaliada a


necessidade de substituição do extrato de levedura, insumo mais oneroso do meio IRAP
(protocolo em anexo) mas principal fonte de nitrogênio do meio. Para isso, foi realizado
um ensaio de quantificação de proteínas a partir do teste de Bradford (BRADFORD,
1976) [18], para que fosse possível uma substituição proporcional do extrato pelo
resíduo mais barato, o leitelho.
O ensaio de Bradford, teste colorimétrico para a quantificação de proteínas, foi
realizado no extrato de levedura, na amostra de leitelho coletada e no leitelho filtrado
(pois a autoclavagem do soro estava causando uma precipitação das proteínas dispersas,
portanto, buscou-se formas alternativas de esterilização do soro). Utilizou-se o reagente
concentrado de Bradford da “BioAgency” diluído na proporção de 1:4 em água ultra
pura Milli-Q.
Em uma microplaca de 96 poços de fundo chato, foram distribuídos, em triplicata, 10 µl
do volume do extrato de levedura, leitelho e leitelho filtrado. Logo após, foi adicionado
200 µl do reagente em ambiente com pouca luz, devido a sua fotossensibilidade. Como
controle negativo, foi utilizado a água ultra pura Milli-Q e, como controle positivo, foi
feita uma diluição da solução estoque de albumina bovina sérica (BSA) [1 mg/ml] para
as concentrações finais de 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 µg / 100 µl. Após 10
min da reação, a placa foi levada ao espectrofotômetro para a leitura da absorbância em
595 nm.
 Sonicação:
A sonicação foi realizada a partir do protocolo de Jambrak, et. al., 2017 [19] com o
propósito de fragmentar as proteínas precipitadas por meio da cavitação gerada pelas
ondas de ultrassom, aumentando a solubilização das proteínas dispersas no meio. O
experimento se deu em duas condições: em sonicador por sonda vertical com frequência
de 20 kHz por 10 min e em sonicador por banho maria com frequência de 40 kHz por
15 min. Ambas as condições foram testadas em frasco Schott com volume de 500 e 100
ml, utilizando 60% de sua capacidade. As amostras testadas foram autoclavadas antes e
depois do tratamento.
 Isolados:
Este estudo avalia o crescimento de 3 cepas, Enterobacter (CB13), Klebsiella (24) e
Acinetobacter (E7). Estes isolados, foram obtidos de diferentes amostras de reservatório
de petróleo, advindas de trabalhos prévios desenvolvidos no Laboratório de Biologia
Molecular e Genômica (LBMG) da UFRN. Todos os isolados foram inoculados em
meio de cultura Luria Bertani (LB) (protocolo em anexo) por 16h a 18h (overnight) em
37 °C e agitação de 180 RPM em shaker.
 Curva de UFC:
O teste de curva de UFC (unidade formadora de colônia) compreende em analisar a
relação entre DO (densidade óptica) e UFC. Para isto, as cepas foram inoculadas em

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triplicata biológica em meio de cultura rico Luria Bertani (LB) por 16 h a 18 h


(overnight) em 37 °C e agitação de 180 RPM em shaker. Na sequência, a bactéria foi
inoculada em 50 ml do meio a ser testado com DO600nm ajustada para 0,05.
A fim de entender em qual diluição a cepa atinge a quantidade de UFC ideal para a
contagem (30 a 300 colônias), foi feito um teste de diluição. Para isso, a cada 1 h a
DO600nm foi lida e 10 µl de cada diluição foi plaqueado em LB-ágar, em triplicata,
contando a partir da hora 0 e totalizando 5 h de crescimento. As placas foram dispostas
em uma estufa a 37 °C por 24 horas e avaliadas visualmente quanto ao número de
colônias formadas.
A curva de UFC, consistiu na leitura da DO600nm a cada 30 minutos e a cada uma hora
100 µl da cultura foi plaqueado, em triplicata, em LB-ágar, contando a partir da hora 0 e
totalizando 5 h de crescimento. As placas foram dispostas em uma estufa a 37 °C por 24
horas. Após esse tempo, as unidades formadoras de colônia (UFC) foram contadas com
o auxílio do contador de colônias para realizar a relação DO600nm e UFC. O teste teve
como controle positivo o meio IRAP, já utilizado no cultivo destas bactérias, servindo
como parâmetro de comparação entre as variações de substituição do extrato pelo
leitelho.

Resultados e Discussões

 Quantificação de proteínas:
A partir da análise dos resultados foi possível obter uma curva padrão das absorbâncias
correspondentes às concentrações de BSA conhecidas. Em seguida, foi feita uma análise
comparativaentre as médias das absorbâncias obtidas com as substâncias teste e os
valores obtidos com o controle positivo.
Como demonstrado na Figura 1 em anexo, o leitelho apresentou uma absorbância
correspondente ao valor de 20 µg / 100 µl de proteína. O leitelho filtrado correspondeu
a 10 µg / 100 µl, demonstrando uma diminuição no valor protéico além da necessidade
de um processo laborioso para sua obtenção. Já o extrato de levedura, apresentou uma
absorbância correspondente ao valor de 40 µg / 100 µl, o dobro do valor protéico do
leitelho.
 Sonicação:
Ambas as metodologias de sonicação testadas, foram eficazes na diminuição da
coagulação das proteínas solubilizadas, quando testadas em 60 ml. Entretanto, a
sonicação por banho maria a 40 kHz por 15 min teve uma capacidade de fragmentação
menor do que a sonicação por sonda vertical a 20 kHz por 10 min. Ademais, ao
aumentar o volume testado para 300 ml, a eficácia do tratamento, avaliada visualmente
apenas, reduziu significativamente como demonstrado na Figura 2 anexa.

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 Curva de UFC:
Ao substituir proporcionalmente no IRAP, quanto às proteínas, o extrato de levedura
pelo leitelho, foi feita uma curva de UFC preliminar, até o momento somente para o
isolado bacteriano CB13. Como controle positivo, foram utilizados os valores do
crescimento do isolado em IRAP (DO600nm e UFC). Ao comparar os valores obtidos
com o meio alternativo, demonstrados na tabela 1 em anexo, pôde-se notar um
crescimento bacteriano com valores aproximados ao meio comercial mas, ainda assim,
com crescimento inferior.

Conclusão

Os resultados preliminares da curva de UFC para a cepa CB13, indicam que mesmo
com a substituição proporcional da quantidade de proteínas do extrato de levedura pelo
leitelho, o extrato possivelmente possui algum ou alguns componentes necessários ao
crescimento bacteriano, ausentes no leitelho. Outra possibilidade para a diminuição do
crescimento bacteriano, seja um aumento no tempo da fase lag do crescimento, visto
que a bactéria adaptada ao extrato de levedura como fonte primária de nitrogênio
necessite de um maior tempo de adaptação ao novo meio.
Em perspectivas para trabalhos futuros, serão feitas curvas de UFC, seguindo os
mesmos padrões da curva realizada com o isolado CB13, para os isolados bacterianos
E7 e 24. Posteriormente, serão feitos os ajustes ao meio alternativo (suplementações
nutricionais, por exemplo) ou ao tempo de cultivo, a fim de atender as necessidades do
microrganismo cultivado, levando sempre em consideração as análises de custo em
comparação ao meio convencional.
Uma vez compreendidos os parâmetros necessários para a produção de biomassa igual
ou superior ao IRAP com o meio caseiro, serão realizados testes funcionais para a
degradação de hidrocarbonetos e produção de biossurfactantes. Os resultados serão
comparados aos resultados obtidos com os isolados cultivados em IRAP, a fim de
compreender se o meio de cultura caseiro interfere negativamente ou positivamente na
aplicação biotecnológica destes isolados.

Referências

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Anexos

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Protocolo de produção do meio IRAP

Protocolo de produção do meio LB

Tabela 1 - Tabela descritiva dos valores da curva de UFC indicativa do crescimento do


isolado bacteriano CB13.

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Figura 1 - Comparação das absorbâncias das amostras com os valores de absorbância


da curva padrão de BSA

Figura 2 - A) Redução dos coágulos formados a partir da sonicação por sonda vertical a
20 kHz por 10 min. (Frasco à direita sem tratamento) B) Redução na eficácia do
tratamento com o aumento de volume do teste. (Frasco à direita sem tratamento)

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CÓDIGO: SB1010

AUTOR: CLARA MEDEIROS MIDENA

COAUTOR: MILENA SOARES LUSTOSA

COAUTOR: ANA JÚLIA PATRÍCIO DA SILVA

COAUTOR: EXPEDITO SILVA DO NASCIMENTO JUNIOR

COAUTOR: DIOGO VILAR DA FONSECA

COAUTOR: WIGINIO GABRIEL DE LIRA BANDEIRA

ORIENTADOR: MELQUISEDEC ABIARE DANTAS DE SANTANA

TÍTULO: O uso da 4-hidroxicumarina no tratamento da dor orofacial em


camundongos

Resumo

A dor é uma experiência subjetiva e multissensorial que engloba aspectos cognitivos e


afetivos, sendo reconhecida como um problema de saúde pública. Destacam-se as
dores provenientes da região orofacial devido aos diversos prejuízos que afetam as
esferas clínica, econômica e social, dentre exemplos distúrbios alimentares e tempo de
trabalho perdido. Atualmente, os fármacos disponíveis para as síndromes dolorosas
possuem baixa eficácia e/ou graves efeitos colaterais, assim a 4-hidroxicumarina (4-
HC) surge como uma possível alternativa devido ao seu potencial terapêutico
satisfatório descrito na literatura, contudo ainda não há evidências de sua eficácia na
dor orofacial em camundongos. Nesse sentido, o propósito deste trabalho é investigar
os efeitos da 4-HC, especificamente no córtex cingulado (CC) e na substância cinzenta
periaquedutal (PAG), no tratamento da dor orofacial em camundongos. Os
camundongos foram divididos em quatro grupos: o primeiro administrado apenas
formalina no lábio superior, o segundo administrado a 4-HC via intraperitoneal e
formalina no lábio superior, o terceiro administrado morfina via intraperitoneal e
formalina no lábio superior e no quarto administrado apenas salina no lábio superior.
Portanto, este projeto visa caracterizar a ação da 4-HC como novo alvo terapêutico

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para o tratamento das síndromes álgicas orofaciais, tendo em vista a importância de se


buscar novas terapias farmacológicas que sejam eficazes e apresentem mínimos
efeitos colaterais.

Palavras-chave: Dor. Região orofacial. 4-hidroxicumarina. Camundongos. PAG.


CC.

TITLE: The use of 4-hydroxycoumarin in the treatment of orofacial pain in mice

Abstract

Pain is a subjective and multisensory experience that encompasses cognitive and


affective aspects, being recognized as a public health problem. Pain from the orofacial
region stands out due to the various damages that affect the clinical, economic and
social spheres, among examples eating disorders and lost work time. Currently, drugs
available for pain syndromes have low efficacy and/or severe side effects, so 4-
hydroxycoumarin (4-HC) appears as a possible alternative due to its satisfactory
therapeutic potential described in the literature, however there is still no evidence of
its effectiveness in orofacial pain in mice. In this sense, the purpose of this work is to
investigate the effects of 4-HC, specifically in the cingulate cortex and in the
periaqueductal gray matter, in the treatment of orofacial pain in mice. The mice were
divided into four groups: the first administered only formalin in the upper lip, the
second administered 4-HC intraperitoneally and formalin in the upper lip, the third
administered morphine intraperitoneally and formalin in the upper lip, and the fourth
administered only saline in the upper lip. Therefore, this project aims to characterize
the action of 4-HC as a new therapeutic target for the treatment of orofacial pain
syndromes, considering the importance of seeking new pharmacological therapies that
are effective and have minimal side effects.

Keywords: Pain. Orofacial region. 4-hydroxycoumarin. Mice. PAG. CC.

Introdução

A inflamação pode ser caracterizada como uma cascata complexa de eventos


fisiológicos que promovem a proteção aos tecidos e órgãos do corpo. Tal
acontecimento é descrito por sucessivas reações orgânicas desencadeadas por
complexas modificações sequenciais em resposta a estímulos exógenos ou endógenos,

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mediante a participação de mediadores pré e pró-inflamatório e células especializadas


que atuam restringindo os danos no local da agressão, embora possa ter efeitos
deletérios quando ocorre de forma exacerbada (BILATE, 2007).
Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor, essa é definida como “uma
experiência sensorial e emocional desagradável associada com dano real ou potencial
ao tecido”. Vale ressaltar que os mecanismos envolvidos nas redes que controlam as
emoções e a cognição não são bem compreendidos (MITSI; ZACHARIOU, 2016).
O processamento da dor se inicia a partir da conversão de um estímulo na periferia
das fibras sensoriais nociceptivas em um potencial de ação. A sensação de dor,
conhecido pelo termo “nocicepção”, é feita por meio de numerosos mensageiros intra
e extramoleculares que são ativados. Os nociceptores, receptores sensoriais
especializados, distribuídos em quase todo o organismo, são ativados quando há um
estímulo que causa dano tecidual. Entre as substâncias envolvidas pode-se mencionar
a globulina, proteína quinase, ácido araquidônico e a histamina (DINAKAR; STILLMAN,
2016).
No local da lesão, mediadores inflamatórios são secretados a fim de excitar os
nociceptores ou diminuir seu limiar de ativação, como consequência haverá a
transmissão de sinais aferentes para o corno dorsal da medula espinal. Dentre
exemplos, os peptídeos (bradicinina), neurotransmissores (serotonina),
prostaglandinas, neurotrofinas, entre outros. (DINAKAR; STILLMAN, 2016).
As áreas de interesse do estudo são o córtex cingulado e a substância cinzenta
periaquedutal. O córtex cingulado destaca-se pelo seu papel integrador nos processos
emocionais e cognitivos, especificamente a nocicepção é atribuída a sua porção média.
Já a substância cinzenta periaquedutal destaca-se como o principal núcleo de controle
das grandes vias modulatórias descendentes, assim como também é responsável pela
percepção, distribuição e modulação da dor (HARTMANN; ALEGRE, 2014; VOGT;
BERGER; DERBYSHIRE, 2003; REIS, R. DE A., 2015).
A região orofacial é densamente inervada pelo nervo trigêmeo e, muitas vezes, é sítio
frequente de dores referida e crônica. Alterações clínicas no território trigeminal,
como aumento de sensibilidade cutânea e hiperalgesia, observadas em cefaleias
primárias e dores orofaciais, em geral, são muito sugestivas de anormalidades no
sistema nociceptivo trigeminal. No modelo nociceptivo trigeminal, o teste da formalina
é um dos mais relevantes e o mais preditivo, em termos de aplicabilidade clínica,
quando se estudam dores agudas (PERLA, 2007).
A busca pré-clínica de fármacos que produzam menos efeitos adversos e sejam mais
eficazes que os analgésicos atualmente comercializados estimulam a realização de
pesquisas no mercado terapêutico, tendo em vista o contexto de tratamento para as
síndromes álgicas orofaciais. Dessa forma, é utilizada a 4-hidroxicumarina (4-HC),

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metabólito natural presente em diversas plantas medicinais, que apresenta diversas


atividades biológicas, como, por exemplo, propriedades anti-inflamatórias,
antioxidantes, anticarcinogênicas, dentre outras, descritas na literatura de acordo com
a sua conformação estrutural (SIM et al., 2015; ADBEL et al., 2016; YIN et al., 2018).
Nessa perspectiva, a 4-HC surge como uma possível alternativa devido ao seu
potencial terapêutico satisfatório descrito na literatura. Entretanto, ainda não há
evidências de sua eficácia em síndromes dolorosas orofaciais. Portanto, este trabalho
propõe investigar o efeito da 4-HC no tratamento da dor orofacial em camundongos.

Metodologia

Será utilizada a 4-HC para avaliar a sua ação antinociceptiva nas áreas do córtex
cingulado e da substância cinzenta periaquedutal. Os experimentos foram conduzidos
segundo as diretrizes éticas estabelecidas pela Comissão de Ética no Uso de Animais
(CEUA) da UFRN - protocolo 041/2022. Foram utilizados 24 camundongos (Mus
musculus) Swiss, machos, com três meses de vida e peso entre 25-35g, provenientes
do Biotério Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Campus
Natal. Os animais foram mantidos no biotério do Departamento de Microbiologia e
Parasitologia, sob condições constantes de temperatura equivalente a 21 ± 1 °C, com
livre acesso à ração e água e submetidos a um ciclo claro/escuro de 12 horas. Para fins
de se reduzir o estresse sofrido pelos animais foram utilizados papéis e rolinhos de
papel higiênico, devidamente esterilizados, como enriquecimento ambiental.
No dia do experimento, as gaiolas de polipropileno foram transferidas para a sala de
experimentação, localizada no Laboratório de Comportamento de Roedores do
Departamento de Morfologia, a fim de serem feitos os testes farmacológicos. Devido à
expressão do gene c-Fos, descrito como de ativação imediata, os camundongos foram
submetidos a manipulações contabilizadas entre 10 a 15 minutos nos dias da semana
em que eram feitas as manutenções a fim de minimizar possíveis alterações
comportamentais no experimento (PRADO; BEL, 1998).
O teste de nocicepção induzida pela formalina é um dos mais relevantes em termos
de aplicabilidade experimental e clínica, quando se estuda dores agudas (PERLA, 2007).
É feita a avaliação da nocicepção trigeminal por meio da administração de 20 µl de
uma solução de formalina a 2% na região orofacial do camundongo, o que induz às
estimulações dos nociceptores (LUCCARIN et al., 2006). As principais respostas
comportamentais que caracterizam a dor e são observadas neste modelo experimental
são: reflexos de autolimpeza (“grooming”) dirigidos ao local da injeção de formalina e
o ao ato de lamber as patas dianteiras e proteger vigorosamente a face (PERLA, 2007).

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No experimento realizado, a primeira fase do teste (5 minutos) ocorre normalmente


após a injeção de formalina, caracterizada pela resposta neurogênica, em seguida há
uma interfase (10 minutos), caracterizada por mecanismos inibitórios da dor, e por fim
a segunda fase (15-40 minutos) em que ocorre a geração da resposta inflamatória.
Nesse sentido, os camundongos foram divididos em quatro grupos: no primeiro grupo
(7 animais) injetou-se 20 µl de uma solução de formalina a 2% no lábio superior direito
próximo às vibrissas e veículo “tween”; no segundo grupo (7 animais) administrou-se a
4-hidroxicumarina por via intraperitoneal e após 20 minutos injetou-se 20 µl de uma
solução de formalina a 2% no lábio superior direito próximo às vibrissas; no terceiro
grupo (7 animais) administrou-se morfina (5 mg/kg) via intraperitoneal e após 20
minutos injetou-se 20 µl de uma solução de formalina a 2% no lábio superior direito
próximo às vibrissas e no quarto grupo (3 animais) injetou-se solução de salina a 2% no
lábio superior direito próximo às vibrissas e veículo “tween”.
Após feito os testes farmacológicos, os animais foram perfundidos a fim de extrair os
encéfalos, imersos em tampão sacarose - função crioprotetora - para serem utilizados
posteriormente na imuno-histoquímica. A perfusão constituiu-se da perfuração do
ventrículo esquerdo e rompimento do átrio direito com a infusão de solução salina e
EDTA (agente quelante específico para o íon cálcio). Posteriormente, segue-se a
infusão de paraformaldeído no corpo do animal via uma bomba de perfusão.
Após a obtenção dos encéfalos dos 24 camundongos, estes foram cortados no
criostato, em um processo conhecido como microtomia, seccionadas em 40 μm de
espessura. Os cortes dos cérebros foram montados em lâminas, em solução
montagem, para ser realizada a coloração de Nissl: técnica histológica responsável pela
evidenciação da citoarquitetura do cérebro. Nesse sentido, essa técnica auxilia na
construção de um atlas, baseado no atlas Paxinos e Watson (1977), que servirá como
guia para a montagem dos outros cortes na imuno-histoquímica.
O cérebro extraído por meio do procedimento da perfusão foi utilizado no protocolo
de imuno-histoquímica para proteína Fos: técnica utilizada para gerar uma ligação
antígeno-anticorpo-cromógeno. Neste trabalho utilizou-se o gene c-Fos (antígeno) e o
anticorpo primário (anti-Fos-coelho - calbiochem) e secundário (biotinilado:
camundongo anti-coelho - SIGMA) e o cromógeno DAB/NAS. Em suma, no primeiro dia
é feita a lavagem dos cortes, seguido do pré-tratamento desses cortes com água-
oxigenada, incubação do bloqueio com albumina bovina sérica e do anticorpo
primário. No segundo dia foi feita a lavagem dos cortes, em uma placa agitadora,
incubação do anticorpo secundário e do kit ABC (complexo avidina-biotina), seguida de
revelação dos cortes, evidenciada pela coloração marrom, mediante DAB misturada
com tampão fosfato, NAS e peróxido de hidrogênio. Posteriormente os cortes foram
montados em lâminas conforme a ordem rostral-caudal.

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Por fim, os dados coletados serão analisados mediante análise estatística consoante a
característica do experimento, isto é se os dados apresentarem uma distribuição
normal será utilizado o teste ANOVA (medida paramétrica) seguida pelo teste de
Dunnett (medida pós-teste) e caso apresentem uma distribuição não normal será
utilizado o teste de Kruskal-Wallis (medida não paramétrica) seguido do teste de Dunn
(medida pós-teste). Os valores obtidos serão expressos em média ± erro padrão da
média (e.p.m), sendo os resultados considerados significativos quando p < 0,05.

Resultados e Discussões

Ainda não foram obtidos resultados até o momento, visto que os procedimentos de
imuno-histoquímicas (IHQ) não resultaram na obtenção de dados, representados pela
visualização de neurônios ativados pelo gene c-Fos. Embora a IHQ seja uma técnica
poderosa, ela enfrenta uma série de desafios que podem afetar a precisão e a
reprodutibilidade dos resultados obtidos. Neste contexto, é essencial identificar e
abordar os possíveis desafios que podem ter influenciado na ausência de detecção da
interação entre o anticorpo primário e a proteína alvo nos nossos resultados:
Seleção de Anticorpos Adequados
Um dos principais desafios da IHQ reside na seleção de anticorpos adequados para a
detecção de proteínas específicas. A especificidade dos anticorpos é crucial para evitar
reações cruzadas e garantir resultados confiáveis. No entanto, muitos anticorpos
comerciais podem exibir reatividade não específica, levando a resultados falsos
positivos ou negativos. A falta de validação de anticorpos por parte dos fabricantes ou
a ausência de informações detalhadas sobre sua especificidade podem complicar ainda
mais essa seleção.
Variação na Expressão de Antígenos
A IHQ frequentemente lida com variações na expressão de antígenos entre diferentes
amostras e indivíduos. Fatores como a heterogeneidade tecidual, o estágio do
desenvolvimento e o estado de saúde podem afetar a quantidade e distribuição das
proteínas-alvo. Essa variação pode levar a resultados inconsistentes e dificultar a
comparação entre diferentes grupos experimentais.
Reprodutibilidade e Padronização
A reprodutibilidade é um desafio central na IHQ. Pequenas variações nos protocolos
de fixação, permeabilização, titulação de anticorpos e condições de coloração podem
afetar significativamente os resultados. A falta de padronização entre laboratórios e

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experimentadores pode dificultar a comparação e replicação de estudos, prejudicando


a confiabilidade dos dados obtidos.
Para contornar esses problemas, estamos realizando uma otimização cuidadosa do
protocolo de IHQ, incluindo a validação dos anticorpos, o controle das condições de
fixação, permeabilização e detecção. Além disso, a colaboração com especialistas na
área ajudará a resolver problemas específicos e aprimorar a técnica de IHQ para obter
resultados confiáveis e significativos.

Conclusão

Para examinar a ação antinociceptiva da 4-hidroxicumarina (4-HC) em modelos de dor


orofacial, realizamos uma série de experimentos com 24 camundongos, Swiss, machos
mediante a utilização da substância 4-HC, formalina, salina e morfina. Inicialmente
foram feitos testes farmacológicos, realizados na sala de experimentação do
Laboratório de Comportamento de Roedores, por meio da injeção de salina, formalina,
cumarina e morfina nos quatro grupos e posteriormente realizou-se a perfusão,
extração dos encéfalos, microtomia, obtenção de cortes de 40 μm de espessura,
coloração de Nissl, técnica histológica utilizada para demarcar a citoarquitetura do
cérebro, e o procedimento de imuno-histoquímica, reação entre um antígeno e o seu
anticorpo.
Embora não tenham sido obtidos dados na imuno-histoquímica, todas as etapas da
pesquisa foram de extrema relevância para o meu aprendizado e conhecimento,
agradeço a UFRN, UNIVASF e ao CNPQ pela oportunidade de vivenciar e experimentar
o processo científico de perto.

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CÓDIGO: SB1012

AUTOR: DAVI MARCELO BARRA BARBOSA

COAUTOR: PATRÍCIA BATISTA BARRA

ORIENTADOR: MARIA DE FATIMA FREIRE DE MELO XIMENES

TÍTULO: NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE INSETOS VETORES E


RISCOS À SAÚDE HUMANA EM UMA AMOSTRA POPULACIONAL NOS
MUNICÍPIOS DE NATAL E MOSSORÓ, ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE - BRASIL

Resumo

As mudanças ambientais e climáticas devem impulsionar a expansão geográfica e


elevar as taxas de transmissão das doenças transmitidas por vetores. Atualmente, os
principais vetores são insetos dípteros hematófagos, que se beneficiam de condições
precárias de urbanização. Dessa forma, junto a uma melhor oferta dos serviços
básicos, a participação popular tem sido considerada fundamental no controle desses
vetores. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo verificar o nível de
conhecimento de uma amostra populacional obtida nos municípios de Mossoró e
Natal, RN, sobre os principais dípteros vetores. A coleta de dados foi realizada
utilizando um questionário semiestruturado. A amostragem por conveniência
contemplou 384 participantes e os dados foram analisados utilizando estatística
descritiva. Os resultados obtidos indicam um bom reconhecimento dos insetos como
vetores, especialmente o Aedes, entretanto ainda há um desconhecimento sobre o
desenvolvimento desse inseto, especialmente das formas jovens encontradas nos
criadouros. Além disso, o nível de conhecimento acerca do Culex quinquefasciatus e,
especialmente, do Lutzomya sp foi considerado insatisfatório na população geral e
agravado pelos menores índices de escolaridade. Os dados obtidos confirmam a
necessidade e podem ser utilizados para direcionar a produção de materiais e ações
educativas, visando a mitigação de riscos endêmicos e epidêmicos das enfermidades
transmitidas.

Palavras-chave: Culicídeos. Doenças transmitidas por vetores. Flebotomíneos.

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TITLE: LEVEL OF KNOWLEDGE OF THE RESIDENT POPULATION IN THE


MUNICIPALITIES OF NATAL AND MOSSORÓ, STATE OF RIO GRANDE DO
NORTE - BRAZIL, REGARDING VECTOR INSECTS

Abstract

The environmental and climatic changes are expected to boost geographical expansion
and increase transmission rates of vector-borne diseases. Currently, the main vectors
are hematophagous dipteran insects, which thrive in poor urbanization conditions.
Therefore, along with improved access to basic services, community involvement has
been deemed crucial to vector control. In this regard, the present study aimed to
assess the level of knowledge among a population sample from the municipalities of
Mossoró and Natal, RN, regarding the main dipteran vector. Data collection was
carried out using a semi-structured questionnaire. Convenience sampling
encompassed 384 participants, and the data were analyzed using descriptive statistics.
The results obtained indicate good recognition of insects as vectors, particularly Aedes
mosquitoes. However, there is still a lack of understanding about the development of
these insects, especially about their immature forms found in breeding sites.
Moreover, the knowledge level about Culex quinquefasciatus and, particularly,
Lutzomya sp. was considered unsatisfactory in the general population and made worse
by lower levels of education. The acquired data reaffirm the need and can be used to
direct the production of educational material and actions that can be utilized to
mitigate the endemic and epidemic risks of these transmitted diseases.

Keywords: Culicids. vector-borne diseases. Phlebotomine sandflies.

Introdução

Vetores são organismos que podem transmitir agentes infecciosos entre humanos ou
de animais para humanos. Geralmente são artrópodes sugadores de sangue, os quais
ingerem patógenos durante uma refeição em um hospedeiro infectado e depois os
injetam em um novo, num próximo repasto (WHO, 2014).
As doenças transmitidas por vetores (DTV) contribuem significativamente para a carga
global de doenças, representando 17% de todas as enfermidades infecciosas. Cerca de
80% da população mundial está sob o risco de alguma dessas enfermidades e mais de
50% vive em áreas onde duas ou mais estão presentes. Diversas dessas são também
classificadas como doenças tropicais negligenciadas, por afetarem
desproporcionalmente as populações mais pobres, que padecem com a falta de
investimentos nos serviços básicos (WILSON et al., 2020).
É na classe Insecta, especialmente na família Culicidae, da ordem Diptera, que estão os

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principais sugadores de sangue de importância médica, os mosquitos dos gêneros


Aedes, Culex e Anopheles, responsáveis pela transmissão das principais DTV, tais como
chikungunya, dengue, febre amarela, Zika, filariose linfática, febre do Nilo Ocidental e
malária. (MARCONDES & XIMENES, 2015; WILKE, et al., 2019). Embora ainda
represente um grave problema de saúde pública no Brasil, a grande maioria dos casos
de malária estão concentrados na região Amazônica (BEZERRA et al., 2020).
Outra família que merece destaque é a Psychodidae, subfamília Phlebotominae, na
qual se encontram os vetores das leishmanioses tegumentares (LT) e da visceral (LV). A
LV é a forma mais grave, pois apresenta elevada letalidade na ausência de tratamento
e o Lutzomyia longipalpis é o seu principal vetor nas Américas, estando associado com
a atual disseminação e urbanização da doença no Brasil (WILKE, et al., 2019,
SALOMÃO, 2020).
Um dos efeitos dos processos de urbanização é a homogeneização biótica, que
consiste na diminuição do número de espécies de vetores, seguida de um aumento na
abundância das que são capazes de prosperar nos ambientes urbanos, num processo
não aleatório de perda de biodiversidade, com aumento do contato entre os vetores e
hospedeiros (WILKE, et al., 2019).
Além da urbanização, a distribuição das DTVs envolve um complexo dinâmico de
outros fatores sociais e ambientais, dentre os quais o intenso intercâmbio de pessoas e
as mudanças no meio ambiente, incluindo as mudanças climáticas. Aumentos de
temperatura podem impulsionar a expansão geográfica de espécies invasoras, reduzir
o período de incubação dos patógenos e acelerar o ciclo de vida dos insetos, elevando
as taxas de transmissão. O aumento do número e intensidade de catástrofes naturais
devido ao aquecimento global também deve ser considerado. Furacões e tempestades
tropicais estão se tornando mais comuns e intensos, oportunizando a dispersão para
novas áreas com oferta de novos criadouros (SEMENZA & SUK, 2018WILKE, et al.,
2019).
Várias dessas doenças não possuem tratamento eficaz e vacina ou, quando possuem,
não estão disponíveis para utilização em massa, tornando o controle vetorial, por meio
da eliminação ou redução do contato hospedeiro-vetor, essencial para limitar a
transmissão dos patógenos (WILSON et al., 2020). Há uma ampla gama de ferramentas
de controle de vetores, todavia o controle químico ainda é o método mais utilizado,
embora a eficiência possa ser limitada pelos contínuos relatos de resistência. Mas os
programas de controle também reconhecem a importância da participação popular na
atuação integrada, exigindo ações de educação, sensibilização e mobilização contínuas
e eficazes, já que criadouros são frequentes nos ambientes domésticos (WHO, 2017).
Nesse contexto, o estudo pretende verificar o nível de conhecimento da população de
dois municípios do estado do Rio Grande do Norte acerca dos principais insetos
vetores, para produção futura de materiais e ações educativas direcionadas, visando
reduzir o risco de epidemias por patógenos já disseminados ou emergentes.

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Metodologia

O protocolo foi submetido e aprovado (CAAE: 64745222.8.1001.5294) pelo Comitê de


Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - CEP-UERN.
A pesquisa foi realizada em dois municípios do Estado do Rio Grande do Norte,
escolhidos por serem os maiores e mais populosos e, portanto, mais sujeitos às
implicações dos processos de urbanização (Figura 1). Natal é a capital do Estado,
localizada na Mesorregião Leste Potiguar, com uma área territorial de 167,401 km²,
população de 751.300 pessoas e um Índice de desenvolvimento humano municipal
(IDHM) de 0,763. Mossoró dista da capital 275 km, estando localizada na Mesorregião
Oeste Potiguar, com uma área territorial de 2.099,334 km², população de 264.577
pessoas e IDHM de 0,720 (IBGE, 2023)
O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário produzido pelos
autores para essa pesquisa, dividido em três partes: a) perfil socioeconômico; b)
conhecimento sobre os principais aspectos da biologia, controle dos vetores e
prevenção das picadas; c) identificação dos principais dípteros vetores. Para a última
etapa, o reconhecimento dos insetos foi verificado de três modos: descrição
espontânea de características morfológicas; identificação por múltiplas escolhas
utilizando imagens impressas e utilizando exemplares reais de adultos (armazenados
em tubos de vidro transparentes) de Aedes aegypti, Culex quinquefasciatus e
Lutzomyia longipalpis (outros dípteros, tais como, Anopheles darlingi e Musca
domestica)também foram utilizados para compor as demais alternativas.
Adicionalmente, larvas e pupas de Aedes aegypti, conservadas em álcool 70%, também
foram utilizadas para verificar a capacidade de reconhecimento das formas jovens
desse inseto.
Para garantir a confiança da informação, durante as entrevistas foi utilizada a
nomenclatura vulgar dos insetos. O Aedes sp, foi denominado de Aedes e/ou mosquito
da dengue, conforme reconhecimento do entrevistado. O Culex quinquefasciatus foi
denominado de muriçoca, e para o Lutzomya, utilizou-se as nomenclaturas mosquito
palha, flebótomo e mosquito do calazar.
Foram aplicados um total de 384 questionários, sendo 96 no município de Mossoró e
288 no município de Natal. O tamanho da amostra foi calculado utilizando um nível de
confiança de 95%, uma margem de erro de 5% e uma homogeneidade 50:50.
Considerando os parâmetros de segurança e viabilidade orçamentária, optou-se por
uma amostragem por conveniência, buscando locais com circulação de pessoas em
horários diurnos, tais como unidades de saúde, feiras e praças. Mesmo se tratando de

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uma técnica não probabilística, foram realizadas coletas em todas as zonas dos dois
municípios para que fosse obtida uma maior representação. Foram incluídos no estudo
indivíduos de todas as idades, desde que superior a 18 anos, sem distinção de sexo ou
escolaridade, desde que residentes nos municípios selecionados.
Ao final de cada entrevista, os participantes receberam um panfleto produzido para
essa pesquisa, com informações básicas sobre a biologia e controle dos insetos
mencionados. Foi dada, também, a oportunidade de esclarecimento de dúvidas,
inclusive sobre as questões feitas durante o questionário, e, especialmente, sobre o
reconhecimento dos insetos, numa forma de retribuição ao participante pela
participação voluntária.
Os dados foram agrupados e analisados utilizando medidas de estatística básica. Para
comparação do nível de conhecimento entre os diferentes vetores, um escore (0 a 5)
foi estabelecido por meio da pontuação dos acertos sobre enfermidades transmitidas,
tipos de criadouros, formas de combate e identificação, sendo classificado como
insatisfatório (0-1 ponto), regular (2-3 pontos) e satisfatório (4-5 pontos).

Resultados e Discussões

Conforme pode ser observado na Tabela 1, a amostra populacional obtida com os


questionários aplicados no município de Mossoró e Natal, apresentou uma distribuição
semelhante com relação a idade, sexo e escolaridade. Houve um predomínio da
população entre 26 e 59 alunos, do sexo feminino e com formação médio/técnico. A
maior participação do sexo feminino pode ser explicada pela maior procura desse
público por serviços que contemplem saúde (BOTTON; CÚNICO; STREY, 2017), tendo
sido esse um dos principais locais de coleta, bem como a maior receptividade em
aceitar participar da pesquisa.
Com relação ao local de residência, no município de Mossoró, a amostra contemplou
moradores de 23 (76,67%) dos 30 bairros existentes, com predomínio da zona Norte
(32,2%), sendo essa a região mais populosa, abrigando cerca de 38% dos moradores
(IBGE, 2010). Por sua vez, no município de Natal, contemplou-se 28 (77,78%) dos 36
dos bairros, com um maior número de entrevistados na zona Sul (39,58%).
Pode-se constatar que um percentual elevado da amostra (99,22%) reconhece o
mosquito Aedes como vetor e 80,47% dos entrevistados conseguiram correlacioná-lo
com pelo menos uma enfermidade transmitidas ou sintomas específicos dessas
enfermidades, sendo a dengue a mais citada (258 vezes), seguida da chikungunya (164
vezes), febre Zika (90 vezes) e febre amarela (29 vezes). A procriação em reservatórios
com água é também uma informação assimilada por um expressivo (92,71%)

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contingente, contribuindo com a compreensão de formas de prevenção, embora


39,84% tenham afirmado que não realizam medidas efetivas para evitar as picadas
(Tabela 2).
Quanto ao reconhecimento do inseto, verificou-se um maior percentual de acertos
(79,69%) por meio da imagem do que com o inseto in vivo (63,02%). Todavia torna-se
nítido uma redução desses percentuais no que se refere às formas jovens, como larvas
e, especialmente as pupas, que foram reconhecidas como formas jovens do Aedes por
59,90% e 29,43% dos entrevistados, respectivamente (Tabela 2). Falhas no
reconhecimento do inseto, em especial das formas juvenis que se desenvolvem no
ambiente aquático, pode ser um entrave para o efetivo envolvimento da população na
identificação e eliminação dos criadouros domésticos. Esse desconhecimento
correlaciona-se com o elevado percentual de participantes que não souberam afirmar
sobre o papel dessas formas na transmissão das enfermidades. Pesquisas anteriores
também constataram que a população de Mossoró apresenta um conhecimento
satisfatório sobre diversos aspectos da dengue, mas de regular a insatisfatório sobre o
A. aegypti, sendo a maior deficiência no reconhecimento visual do inseto vetor,
especialmente de suas formas aquáticas (SOUZA et al., 2016, GURGEL et al., 2016).
Quando perguntados onde obtiveram informações para reconhecer o Aedes, o
principal meio de comunicação citado foi a TV (42,71%), superior aos que afirmaram
escola (21,53%) e serviços de saúde (17,71%). Dessa forma, o conhecimento dos
adultos em detrimentos das formas jovens pode ser atribuído à contribuição das
campanhas educativas midiáticas, nas quais predominam a utilização de imagens e
representações apenas das formas adultas. A massiva divulgação de informações pode
resultar na memorização de termos e ideias sem assegurar o entendimento adequado,
percebido nas falas que confundem vetor e enfermidade, na falta de compreensão da
transmissão e, também, na indicação do cuidado com água parada como meio de
combate por parte de entrevistados que afirmaram que desconheciam quais eram os
locais de procriação (SOUZA et al., 2018).
Quando questionados sobre de quem é a responsabilidade no combate do Aedes,
55,73%, disseram que era das pessoas, 31,77% disseram que era de todos (poder
público + população), 10,94% disseram que era do poder público e 1,56% disseram que
não sabiam. Apesar de a assimilação de informações adequadas ser fundamental para
uma participação efetiva da população no controle do inseto por meio da identificação
e prevenção dos criadouros domésticos, corre-se o risco de que a ênfase da promoção
recaia na responsabilização da população, em detrimento de medidas que modifiquem
as condições socioambientais favoráveis à reprodução do mosquito. Criadouros são
abundantes no ambiente peridomiciliar em decorrência de precário sistema de
abastecimento de água, esgoto e coleta de resíduos sólidos, entre outros,
impossibilitando o combate ao vetor sem medidas estruturais que resultem na

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melhora da qualidade de vida e oferta de serviços básicos efetivos (SOUZA et al., 2018,
SALES et al., 2018).
Ademais, o conhecimento efetivo só se materializa nas condições adequadas, exigindo
a relação teoria e prática. Em pesquisa realizada com mulheres donas de casa no
Maranhão, Pinheiro et al. (2013) verificaram que mais de 80% conseguiram descrever
corretamente a transmissão da doença e reconhecer a importância dos recipientes
cheios de água estagnada para a proliferação do A. aegypti, no entanto, 97% relataram
ter recipientes para armazenamento de água em suas casas. No presente trabalho,
40,36% dos entrevistados afirmam já terem encontrado inseto em sua residência e,
quando questionados quanto ao que foi feito, 46,96% disseram que não fizeram nada
ou somente tentaram matar os adultos, 36,52% disseram que procuraram/eliminaram
criadouros e apenas 5,22% disseram que comunicaram à prefeitura ou serviços de
saúde.
Mesmo que um percentual expressivo da população já tenha ouvido falar sobre
calazar/leishmaniose (97,14%), tendo alguns já conhecido uma pessoa (18,49%) e,
principalmente, algum animal infectado (49,22%), 44,79% dos entrevistados
informaram desconhecer que a transmissão do patógeno ocorre por meio da picada de
um inseto, sendo que apenas nove entrevistados souberam dizer qual é o inseto vetor.
No mesmo sentido, constatou-se um baixo percentual de acertos no que diz respeito
ao reconhecimento visual do inseto (1,30%) e das informações sobre criadouros
(5,99%). A maioria dos entrevistados (78,65%) afirmou que desconhecia onde a
procriação ocorre e a segunda resposta mais frequente é a de que ela ocorre na água
(10,94%), numa provável associação ao comportamento do Aedes sp. No que diz
respeito às formas combate, apenas 8,59% informaram saber e foram capazes de
indicar alguma medida eficaz (Tabela 2).
Esses dados são preocupantes, pois os municípios analisados são considerados áreas
endêmicas e o Nordeste ainda concentra o maior número de notificações da
enfermidade (BRASIL, 2022), tendo sido a região brasileira onde, no final da década de
1980, foi constatado o início da invasão do ambiente urbano (principalmente na
periferia das grandes cidades)pela espécie, (RANGEL E VILELA, 2008) a partir da qual
tem se expandido geograficamente, mesmo que de forma heterogênea, em diferentes
cenários urbanos, também favorecido pela urbanização crescente e precária
(WERNECK, 2008).
No que diz respeito ao conhecimento sobre o vetor e a leishmaniose visceral, os dados
são conflitantes. No município de Bauru, São Paulo, 99,3% dos moradores
aleatoriamente selecionados, residentes em diferentes bairros, afirmaram já terem
ouvido falar da doença, 77,1% responderam que a infecção ocorre por picada de
flebotomíneos (mosquito palha, tatuquiras, birigui), 59,6% reconheciam as medidas
preventivas e 27,1% tinham conhecimento sobre o principal período do dia em que o

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inseto vetor atua (ANVERSA, L., MONTANHOLI, R. J. D., & SABINO, D. L., 2016). Na
cidade de Uberlândia, Minas Gerais, onde o primeiro caso autóctone foi descrito em
2008, 73,7% dos participantes já tinham ouvido falar da doença, mas o modo de
transmissão era desconhecido por 61,2% dos participantes e 80,7% não souberam
indicar formas de prevenção (LIMONGI, et al., 2021). No município de Buriticupu,
Maranhão, área endêmica da doença, 53% dos entrevistados não souberam opinar
sobre quem transmite a doença, 28% apontam o cachorro como o principal
transmissor da LV, 10% o mosquito, sendo que apenas 1% reconheceu o mosquito
fêmea como o responsável.
No que diz respeito ao Culex quinquefasciatus, a maioria dos entrevistados
desconhece o papel dele como vetor (52,08%), e, mesmo entre aqueles que afirmaram
o contrário, apenas dois foram capazes de mencionar uma doença ou sintoma
específico de uma enfermidade transmitida.
Reconhecido como o principal perturbador do sono noturno, a importância na saúde
pública desse inseto reside principalmente no fato de ser o principal vetor da
Wuchereria bancrofti (BHATTACHARYA & BASU, 2014). Ressalta-se que os esforços
realizados com fins de alcançar a erradicação da filariose linfática no Brasil e no
mundo, por meio do diagnóstico e eliminação do parasito no hospedeiro vertebrado
(que é exclusivamente o ser humano), mostraram-se capazes de obter êxito mesmo
sem o controle efetivo do vetor, que permanece adaptado e amplamente beneficiado
por condições de saneamento precárias, observadas com mais frequência nas áreas
menos assistidas e mais periféricas dos centros urbanos (ARAUJO et al., 2023). O
último caso de filariose linfática no Brasil foi registrado em 2017 e a área endêmica
residual é constituída por apenas quatro municípios da região metropolitana de Recife,
no estado do Pernambuco: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista (BRASIL,
2021). Todavia a identificação do parasito no país em imigrantes (SILVA, et al., 2017) e
a recente identificação de insetos naturalmente infectados na cidade de São Luiz, no
Maranhão, trazem à tona o olhar atento sobre esse inseto (ARAUJO et al., 2023).
Ademais, sabe-se que o Culex também pode atuar como vetor de outras
enfermidades, entre elas a febre do Nilo Ocidental, que foi descrito pela primeira vez
no país em 2009, mas com importante disseminação em território nacional,
evidenciada por meio dos registros de acometimento de pacientes humanos no Piauí e
de cavalos com sintomas neurológicos em São Paulo e Ceará (SILVA, et al., 2021).
No comparativo geral do nível de conhecimento sobre os principais aspectos da
biologia e importância médica dos três principais dípteros vetores em ambiente
urbano, confirma-se o destaque do Aedes sp, para o qual apenas 3,13% dos
entrevistados tiveram um nível de informação considerada insatisfatória. Em
contraste, para o Culex e Lutzomya, esse percentual foi de 55,21% e 87,85% (Figura 2,

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Tabela 3). Esses valores apresentaram comportamento semelhante na análise por


município (Figura 3, A, Tabela 3).
Com relação à escolaridade, a elevação desse índice resultou numa perceptível
redução no percentual dos indivíduos classificados com conhecimento insatisfatório.
Na comparação entre ensino fundamental e superior, os valores reduziram de 11,30%
para 2,90%, para o Aedes sp, 92,41% para 82,61% para Lutzomya, e de 59,49% para
50% para o Culex (Figura 3B, Tabela 3). A elevação da escolaridade tem sido associada
não apenas com a obtenção do conhecimento, mas também em uma relação direta
com índices de contágio (LOPES et al., 2019).
Quanto à idade, no comparativo entre a faixa de 18 a 25 anos e mais de 60 anos, os
dados variaram conforme o inseto analisado. Enquanto para o Aedes houve um
aumento de 3,03% para 13,21% nos percentuais dos considerados insatisfatórios, para
o Culex, houve uma redução de 60,61% para 49,06% e para o Lutzomya, esse
percentual teve pouca variação, permanecendo elevado com valores de 86,36% (18 a
25 anos), 86,29% (26 a 40 anos), 89,36% (41 a 59 anos) e 84,91% na faixa de mais de
60 anos (Figura 3C, Tabela 3).
Quando perguntados se conheciam algum outro inseto transmissor de doenças,
apenas 39,06% conseguiram informar uma resposta correta. Dentre esses, o inseto
mais frequentemente mencionado foi o barbeiro (73 vezes), seguido por vetores
mecânicos de doenças: Mosca (59 vezes) e barata (22 vezes). Foi observado também
que um grande número de pessoas responderam animais que não são insetos, como
carrapato (28 vezes), escorpião (25 vezes), rato (18 vezes), aranha (7 vezes), cobra e
morcego (ambos 3 vezes), evidenciando, assim, uma fragilidade no conhecimento do
que é um inseto e quais organismos constituem esse grupo.

Conclusão

Os resultados obtidos junto a população dos municípios de Mossoró e Natal indicam


um bom conhecimento sobre o papel dos mosquitos na transmissão de enfermidade,
especialmente do Aedes sp., justificado pelo seu papel como vetor de diversas
enfermidades de transmissão endêmica e epidêmica a nível local e nacional, tais como
dengue, febre Zika e chikungunya, que desencadearam diversificadas campanhas
educativas e midiáticas. Todavia o nível de conhecimento sobre o Culex
quinquefasciatus e o Lutzomya sp. foi considerado deficiente. Esse contexto dificulta a
compreensão da dinâmica de transmissão das enfermidades e o engajamento popular
como partícipe no controle desses vetores.

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Considerando o cenário atual da urbanização da leishmaniose visceral no nordeste, o


elevado número de cães parasitados, a dificuldade no tratamento e a recente
expansão das notificações para outras regiões, associados aos dados obtidos, que
revelam um conhecimento insatisfatório em ambas as cidades, em todas as faixas
etárias analisadas e até mesmo com a elevação da escolaridade, constata-se a urgência
para o direcionamento de ações de educação formal e informal, tendo por foco o
Lutzomya sp.
Tais informações devem destacar a importância médico-veterinária como vetor das
leishmanioses (auxiliando na disseminação de informações sobre essa enfermidade), e
pontos relevantes do desenvolvimento do vetor que permitam a compreensão e
execução de medidas de controle e prevenção das picadas em nível individual e
comunitário.

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Anexos

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Figura 1. Representação da área do estudo. A. Localização do estado do Rio Grande do


Norte, Brasil. B. Localização dos municípios de Mossoró e Natal, Rio Grande do Norte,
Brasil.

Tabela 1. Perfil socioeconômico da amostra populacional entrevistada nos municípios


de Mossoró e Natal, RN, Brasil.

Tabela 2. Respostas obtidas em uma amostra populacional dos municípios de Mossoró


e Natal, RN, Brasil, sobre mosquitos vetores de importância médica em áreas urbanas.

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Figura 2. Distribuição da amostra populacional obtida nos municípios de Mossoró e


Natal, RN, Brasil, em relação ao nível de conhecimento sobre os mosquitos vetores de
importância médica em áreas urbanas.

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Figura 3. Distribuição da amostra populacional obtida nos municípios de Mossoró e


Natal, RN, Brasil, em relação ao nível de conhecimento sobre os mosquitos vetores,
conforme as variáveis analisadas. A. Cidade; B. Escolaridade; C. Faixa etária.

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Tabela 3. Média e desvio padrão dos escores (0 a 5) do nível de conhecimento de


populações dos municípios de Mossoró e Natal, RN, Brasil, sobre mosquitos vetores de
importância médica em áreas urbanas.

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CÓDIGO: SB1036

AUTOR: ANDERSON GABRIEL DO NASCIMENTO CRUZ

COAUTOR: PEDRO HENRIQUE SOARES FONSECA

ORIENTADOR: BRUNO LOBAO SOARES

TÍTULO: Iniciação Cientifica em estudo de Ansiedade e Depressão em Peixes


paulistinha (Zebrafish) com o uso dos componentes ativos da ayahuasca

Resumo

A Ayahuasca é produzida por meio da combinação das plantas Banisteriopsis caapi e


Psychotria viridis. A primeira planta contém compostos como a harmina, que é um
inibidor da enzima monoamina oxidase (MAOi), enquanto a segunda planta é rica em
N,N-dimetiltriptamina (DMT). Recentemente, a Ayahuasca tem atraído considerável
atenção como uma possível abordagem terapêutica para tratar déficits de memória
relacionados à depressão (Osório et al., 2015). Adicionalmente, estudos têm mostrado
que a administração singular da Ayahuasca pode resultar em efeitos comportamentais
de longa duração. Neste estudo, nossa investigação centra-se no potencial
farmacológico de compostos associados ao chá de ayahuasca quando administrado de
forma crônica, com foco na memória de longo prazo. (Fortunato et al., 2010) Este
estudo investigou os efeitos da Ayahuasca, especificamente o componente DMT, na
memória de curto prazo em zebrafish (Danio rerio). A Ayahuasca tem atraído atenção
como potencial tratamento para déficits de memória associados à depressão.
Utilizando um modelo animal de memória e motilidade em peixes paulistinhas, o
estudo avaliou os efeitos de doses crescentes de DMT em tarefas comportamentais
associadas à depressão, ansiedade e memória. Os peixes foram expostos a três
concentrações diferentes de DMT e submetidos à tarefa de Aversão Condicionada ao
Local (CPA). Os parâmetros comportamentais analisados incluíram velocidade de
natação, distância percorrida e tempo parado.

Palavras-chave: Ayahuasca, DMT, Zebrafish, Memória

TITLE: Exploring the Effects of Chronic Exposure to N,N-Dimethyltryptamine


(DMT) in Zebrafish (Danio rerio)

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Abstract

The Ayahuasca infusion, derived from the combination of Banisteriopsis caapi and
Psychotria viridis plants, contains compounds like harmine, a monoamine oxidase
enzyme inhibitor (MAOi), and N,N-dimethyltryptamine (DMT) in the latter plant.
Ayahuasca has recently gained considerable attention as a potential therapeutic
approach to address memory deficits associated with depression (Osório et al., 2015).
Additionally, studies have indicated long-lasting behavioral effects following single
administrations of Ayahuasca. This study focuses on the pharmacological potential of
compounds within Ayahuasca when chronically administered, specifically targeting
long-term memory (Fortunato et al., 2010). The investigation herein delved into the
effects of Ayahuasca, particularly its DMT component, on short-term memory in
zebrafish (Danio rerio). Ayahuasca has garnered interest as a potential remedy for
memory deficits linked to depression. Employing an animal model that evaluated
memory and motility in zebrafish, the study assessed the impacts of increasing doses
of DMT on behaviors associated with depression, anxiety, and memory. Fish were
subjected to three distinct concentrations of DMT and exposed to the Conditioned
Place Aversion (CPA) task. Analyzed behavioral parameters included swimming speed,
distance covered, and immobility duration.

Keywords: Ayahuasca, DMT, Zebrafish, Memory

Introdução

Déficits de memória, particularmente de memória de curto prazo, estão se tornando


problemas clínicos cada vez mais prevalentes, afetando um grande número de
indivíduos em todo o mundo. Essas questões estão frequentemente associadas ao
estresse crônico, um problema cada vez mais comum em nossa sociedade acelerada.
Para elucidar a fisiopatologia subjacente a esses distúrbios, várias hipóteses foram
sugeridas. Entre as mais notáveis estão a teoria da neuroplasticidade reduzida, que
postula que o estresse crônico pode causar danos estruturais e funcionais nas áreas do
cérebro envolvidas na memória, como o hipocampo, e a teoria da disfunção do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que se refere à resposta ao estresse prejudicada
(Guest et al., 2012). Apesar do avanço significativo na pesquisa e no desenvolvimento
de intervenções terapêuticas, os tratamentos atuais para déficits de memória de curto
prazo apresentam eficácia limitada. As intervenções farmacológicas e
comportamentais existentes podem levar tempo para produzir efeitos desejáveis, e
uma porção substancial de pacientes não responde aos tratamentos atuais. Portanto,
um esforço significativo tem sido dedicado à identificação e validação de novos alvos
terapêuticos, com o objetivo de desenvolver estratégias de tratamento mais eficazes e
personalizadas. A expectativa é que, através de uma melhor compreensão dos

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mecanismos pelos quais o estresse crônico impacta a memória, seremos capazes de


desenvolver intervenções mais precisas que possam mitigar esses efeitos e melhorar a
qualidade de vida desses indivíduos." Uma classe de drogas com ação agonista
serotoninérgica fundamental, conhecidas como psicodélicos, tem se mostrado uma
alternativa promissora de tratamento para para os déficits cognitivos exibidos por
pacientes depressivos críticos. Um psicodélico em particular, conhecido como
Ayahuasca, que é feito a partir da infusão combinada de caule de Banisteriopsis caapi
rico em inibidores da monoamina oxidase (MAOi), como Harmina e outras Beta-
Carbolinas, e folhas de Psychotria viridis, ricas em N, N-dimetiltriptamina (DMT), tem
se destacado particularmente como um novo tratamento para depressão e
transtornos de ansiedade. Para os propósitos deste estudo, avaliamos os efeitos de
doses crescentes de um dos principais compostos ativos encontrados na Ayahuasca
em perfis comportamentais associados a modelos de Zebrafish (Danio rerio) de
depressão e ansiedade e déficits cognitivos de memória. O peixe-zebra adulto foi
exposto a 3 concentrações diferentes de DMT e a 1 concentração de DMT e harmina.
Especificamente para esse plano de trabalho, foi realizado o estudo da memória de
curto prazo usando um dos componentes da ayahuasca que é o DMT (dose menor:
0.0038 mg/L). Serão utilizados grupos com doses maiores de harmina e os dois
controles (DMSO + água e água). Para determinar os efeitos terapêuticos dos
alcalóides na memória de curto prazo, os parâmetros comportamentais do peixe-zebra
serão avaliados com a tarefa de Aversão Condicionada ao Local (CPA). As variáveis
comportamentais analisadas para este estudo foram : velocidade média de natação,
velocidade máxima, distância total percorrida, tempo parado. Esperamos que o
tratamento crônico com um dos principais compostos ativos da ayahuasca exerça um
papel terapêutico em tarefas que modelam a ansiedade e a memória de curto prazo.
Nesse plano de trabalho, focamos nos testes de memória de curto prazo, com o uso de
vários grupos, dentre controles (DMSO + água e água) e testes (DMT 0,0038, 0,038 e
0,38 mg/L) (DMT 0,0038 mg/L e harmina 0,02 mg/L combinados).

Metodologia

A Harmina foi adquirida da Sigma-Aldrich (St. Louis, MO) e utilizada como fonte de
alcalóides. Os peixes-zebra adultos, provenientes de um criadouro local em Natal,
Brasil, serão a espécie alvo deste estudo. Eles serão mantidos em tanques de alta
densidade no biotério do Laboratório de Peixes do Departamento de Fisiologia e
Comportamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O biotério
contará com quatro tanques de 50 litros, configurados em um sistema de recirculação
com filtragem em múltiplos estágios, incluindo filtros mecânicos, biológicos, de carvão
ativado e uma unidade de esterilização por luz ultravioleta. Os parâmetros ambientais,

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como temperatura (28°C), pH (7,0) e fotoperíodo (12L:12D), serão mantidos


constantes para garantir condições estáveis para os peixes-zebra. A alimentação será
composta por artêmia e ração comercial, fornecida duas vezes ao dia. Após
aclimatação por uma semana em tanques de vidro de 15 litros, os peixes-zebra serão
divididos em grupos experimentais e de controle. Os grupos experimentais foram
expostos a diferentes doses de DMT: 0,0038 mg/dL, 0,038 mg/dL, 0,38 mg/dL e a uma
dose de DMT (0,0038 mg/L) combinado com Harmina (0,02 mg/L). Os grupos de
controle serão expostos a água pura no primeiro grupo e a uma solução de
dimetilsulfóxido (DMSO) e água no segundo grupo. Durante um período de 10 dias de
exposição, com intervalos de dois dias de descanso entre as exposições, os peixes-
zebra serão submetidos a sessões de exposição aos alcalóides. A sessão de exposição
ocorrerá aproximadamente às 14h00 a cada dia de exposição. Além disso, os peixes-
zebra serão submetidos a uma tarefa de Aversão Condicionada ao Local (CPA), que
envolve condicionar os peixes a evitar um ambiente associado à exposição de
alcalóides. Além disso, avaliamos comportamentos de memória de curto prazo e
ansiedade usando um modelo de aquário de dois compartimentos. Os registros
comportamentais dos peixes durante as filmagens da tarefa CPA serão rastreados
usando o software Zebtrack, desenvolvido no MatLab. Variáveis comportamentais,
como velocidade média de natação, congelamento, tempo gasto em cada lado do
tanque e outras, serão analisadas para avaliar os efeitos da exposição aos alcalóides.

Resultados e Discussões

Nossos estudos exploraram os efeitos do DMT em parâmetros comportamentais


relevantes, incluindo memória de curto prazo, motilidade e reações de medo
condicionado. Ao analisar os resultados relacionados à memória de curto prazo,
observamos que o DMT não induziu alterações significativas nos parâmetros de
memória de curto prazo avaliados. Comparando os grupos controle (água e DMSO)
com os grupos tratados com diferentes doses crescentes de DMT (0,0038 mg/dL, 0,038
mg/dL, 0,38 mg/dL) e uma dose de DMT (0,0038 mg/L) combinado com Harmina (0,02
mg/L), não encontramos variações estatisticamente significativas no tempo ou no
número de entradas no lado xadrez do paradigma de Condicionamento de Preferência
por Local (CPA). Além disso, detectamos diferenças significativas na motilidade dos
animais, com um valor de P<0,05 para todos os grupos tratados com doses crescentes
de DMT em comparação com os grupos controle. Isso sugere que o DMT afetou a
motilidade dos animais. Uma observação foi a significativa diminuição no parâmetro
de tempo parado, sugerindo um menor tempo de congelamento, uma resposta
associada ao medo condicionado. Essa diminuição foi especialmente proeminente nos
grupos que receberam doses de DMT, em comparação com os grupos controle (água e

1362
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eCICT 2023

DMSO). Esses achados indicam que a administração de DMT está relacionada a um


menor índice de congelamento, o que pode sugerir uma modificação nas respostas de
medo e ansiedade no zebrafish. A hipótese de Deakin/Graeff, que considera o papel da
serotonina em diferentes regiões cerebrais, lança luz sobre nossos resultados. Quando
a serotonina atua na amígdala, localizada no lóbulo temporal, ela é descrita como
ansiogênica e panicolítica, aumentando a ansiedade, mas reduzindo o pânico e o
medo. No entanto, ao atuar na Substância Periaquedutal Cinzenta (PAG), localizada no
mesencéfalo, a serotonina é considerada panicogênica e ansiolítica, aumentando o
pânico e inibindo a ansiedade. Essa teoria fornece uma perspectiva intrigante sobre as
diferentes interações da serotonina no cérebro. Ao relacionar as estruturas amígdala e
PAG com aquelas presentes no Zebrafish, reconhecemos a importância de considerar
as analogias funcionais entre as espécies. Embora as estruturas não sejam diretamente
homólogas, suas funções convergentes em respostas emocionais e comportamentais
destacam a relevância dessas regiões no estudo do comportamento animal. Os
resultados deste estudo fornecem uma visão intrigante dos efeitos do DMT no
zebrafish, com implicações significativas para nossa compreensão da regulação da
ansiedade e medo. A ausência de alterações nos parâmetros de memória de curto
prazo pode indicar uma especificidade dos efeitos do DMT ou a necessidade de
investigações mais abrangentes. A influência sobre a motilidade sugere que o DMT
pode ter um impacto geral no comportamento dos peixes-zebra. A diminuição no
tempo parado observada nos grupos tratados com DMT levanta questões
interessantes sobre o papel da serotonina na modulação das respostas de medo e
ansiedade. A hipótese de Deakin/Graeff fornece um contexto valioso para interpretar
esses resultados, destacando a complexidade das interações serotoninérgicas em
diferentes regiões cerebrais. Em resumo, este estudo amplia nossa compreensão sobre
os efeitos do DMT nos zebrafish, explorando diferentes parâmetros comportamentais.
Os resultados sugerem um papel complexo da serotonina na modulação das respostas
de medo e ansiedade, e destacam a importância de considerar as estruturas cerebrais
em uma perspectiva comparativa.

Conclusão

Em um cenário onde déficits de memória de curto prazo em humanos têm se tornado


problemas clínicos crescentes, em grande parte relacionados ao estresse crônico,
nossa pesquisa explorou os efeitos do DMT em parâmetros comportamentais
relevantes para a memória, motilidade e reações de medo condicionado no modelo de
zebrafish. A administração de diferentes doses de DMT não resultou em alterações
significativas nos parâmetros de memória de curto prazo avaliados pelo paradigma de
Condicionamento de Preferência por Local (CPA), quando comparados aos grupos

1363
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controle. Além disso, notamos que doses variadas de DMT não afetaram a memória de
curto prazo avaliada pelo Condicionamento de Preferência por Local (CPA).
Observamos um aumento significativo na motilidade dos peixes-paulistinhas tratados
com DMT, possivelmente ligado à ansiedade, embora o teste CPA não seja específico
para ansiedade. A diminuição do tempo de imobilidade, mais notável nos grupos DMT,
sugere uma possível alteração nas respostas de ansiedade e medo nos peixes-zebra.
Relacionamos nossos achados à hipótese de Deakin/Graeff, que descreve a serotonina
como ansiogênica e panicolítica na amígdala, mas panicogênica e ansiolítica na
Substância Periaquedutal Cinzenta (PAG) (Deakin e Graeff, 1991). A exposição ao DMT
aumentou a motilidade, possivelmente relacionada à ansiedade, e diminuiu a
imobilidade, possivelmente ligada ao congelamento, sugerindo respostas ao medo
incondicionado vinculadas à ativação de estruturas mesencefálicas. A ação agonista da
Harmina em receptores serotoninérgicos, elevando os níveis de DMT no cérebro
(Mckenna et al., 1998; Callaway et al., 1999; Riba et al., 2003; Santos, 2007a), destaca
a complexidade das interações serotoninérgicas em diferentes regiões cerebrais. Ao
considerar as estruturas cerebrais do Zebrafish em relação à amígdala e à PAG,
compreendemos a importância das analogias funcionais entre as espécies. A amígdala
mamífera, processadora de emoções, possui equivalente análogo nos peixes,
denominado "núcleo posterior do telencéfalo" ou "área dorsomedial do telencéfalo"
(RICO et al., 2011). A PAG, reguladora da dor e comportamento, tem homólogos nos
peixes, embora a correspondência precise de estudo (CHANDROO et al., 2004). Apesar
das diferenças anatômicas, essas estruturas desempenham funções convergentes na
regulação de comportamentos emocionais, fornecendo uma base sólida para
investigações futuras. Em suma, nosso estudo revela efeitos do DMT em zebrafish,
com sugestões de modulação de comportamento de motilidade e imobilidade
relacionadas a ansiedade e medo. Apesar da memória de curto prazo não ser afetada,
a influência do DMT na motilidade e medo sugere complexidade comportamental. A
pesquisa contínua de compostos psicoativos em modelos animais, como o Zebrafish, é
crucial para entender distúrbios emocionais e cognitivos.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB1045

AUTOR: CAMILA ADRIANNI SILVA OLIVEIRA

ORIENTADOR: RENATA SANTORO DE SOUSA LIMA

TÍTULO: PADRÕES ACÚSTICOS DA BALEIA FIN (Balaenoptera physalus)NO


ENTORNO DO ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Resumo

Sabe-se que os machos da baleia fin (Balaenoptera physalus, Linnaeus,


1758) emitem chamados acústicos, relacionados com a reprodução. O
monitoramento acústico passivo é um método não invasivo, utilizado para
detectar a presença dessa espécie, assim como de mensurar a sua
distribuição e ocorrência espaço-temporal. Desse modo, esta pesquisa
objetivou detectar, nos dados de gravações acústicas do projeto
Sentinelas da Amazônia Azul, sons produzidos por baleias fin no entorno
do Arquipélago São Pedro e São Paulo, mensurar a atividade vocal dessa
espécie ao longo do período de coleta e produzir uma série temporal que
demonstre se há sazonalidade na presença acústica desses animais na
área de estudo. Em decorrência da sazonalidade da espécie, no período de
julho e agosto de 2022 não foram obtidas detecções. Isso pode
demonstrar que o período do ano investigado não é propício para a
estadia da baleia fin no arquipélago. Logo, visando a continuidade das
pesquisas nessa área, sugere-se que novas pesquisas sejam desenvolvidas
em outras épocas do ano.

Palavras-chave: Baleia fin. Arquipelágo de São Pedro e São Paulo.


Vocalização.

TITLE: ACOUSTIC PATTERNS OF THE FIN WHALE (Balaenoptera physalus)


AROUND OF SAINT PETER AND SAINT PAUL ARCHIPELAGO

Abstract

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

It is known that male fin whales (Balaenoptera physalus, Linnaeus, 1758)


emit acoustic calls related to reproduction. Passive acoustic monitoring is
a non-invasive method used to detect the presence of this species, as well
as to measure its spatial-temporal distribution and occurrence. Thus, this
research aimed to detect, in the data from acoustic recordings of the
Sentinelas da Amazônia Azul project, sounds produced by fin whales in the
surroundings of the Saint Peter and Saint Paul Archipelago, to measure
the vocal activity of this species throughout the collection period and to
produce a time series that demonstrates whether there is seasonality in
the acoustic presence of these animals in the study area. Due to the
seasonality of the species, in the period of July and August 2022, no
detections were obtained. This may demonstrate that the investigated
period of the year is not conducive for fin whales to stay in the
archipelago. Therefore, aiming at the continuity of research in this area, it
is suggested that further research be carried out at other times of the
year.

Keywords: Fin whale. Saint Peter and Saint Paul Archipelago. Vocalization.

Introdução

A baleia fin ou baleia comum (Balaenoptera physalus, Linnaeus, 1758) é


classificada como vulnerável de acordo com a avaliação mais recente da
lista vermelha da IUCN (DUENGEN et al., 2022). Esse misticeto ocorre em
todos os oceanos do mundo, sendo considerada uma espécie cosmopolita.
Entretanto, são encontradas em maiores densidades em águas frias e
temperadas. Geralmente migram para baixas latitudes no inverno, para
eventos de reprodução, e para altas latitudes no verão, para alimentação
(EDWARDS et al., 2015). No entanto, algumas populações são
geneticamente isoladas e outras residem o ano inteiro em pequenas áreas
não apresentando comportamento migratório (CONSTARATAS et al.,
2021).

1367
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Uma das formas de detectar a presença dessa espécie, assim como de


mensurar a sua distribuição e ocorrência espaço-temporal é utilizando
dados de monitoramento acústico passivo (PAM - passive acoustic
monitoring) (DELARUE et al., 2008). Stimpert et al. (2011) aponta que o
monitoramento acústico passivo se tornou um método popular para
estudar cetáceos, principalmente investigações sobre seu comportamento
e distribuição. Ainda afirma que esse método também pode ajudar na
gestão da conservação dessas espécies, porém é necessário compreender
inicialmente o seu comportamento acústico e possuir uma boa descrição
de seu repertório vocal (SIMPERT et al., 2011).

Os machos da baleia fin produzem três principais chamados: notas de alta


frequência, chamados irregulares de alta frequência (20 Hz a 90 Hz) e
chamados de 20 Hz (CONSTARATAS et at, 2021). Esse último chamado
equivale a pulsos de baixa frequência que estão ordenados em uma
sequência regular, são cantos produzidos por machos e possui uma
finalidade reprodutiva (ŠIROVIĆ et al, 2017). “Enquanto as baleias fin
machos são consideradas predominantemente ou exclusivamente
produtoras de canções, as baleias fin também são conhecidas por produzir
non-song calls ou chamadas sem canção, para contato social ou para fins
de forrageamento (CONSTARATAS et at, 2021, p.2). Non-song calls, em
tradução livre, significa chamadas sem canção.

É importante ressaltar que os estudos de comunidades acústicas marinhas


são limitados devido ao custo da pesquisa e aos obstáculos de
identificação das espécies, sobretudo em oceanos profundos, embora haja
um grande interesse em seu estudo (FARINA, 2016). A pesquisa foi
possibilitada devido ao embarque no cruzeiro da Marinha do Brasil (MB),
que faz a rota até o Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP) saindo
do porto de Natal/RN, do qual garante aos pesquisadores a continuidade
de pesquisa científica e, a comunidade como um todo, a manutenção do
arquipélago. A saída do porto potiguar é estratégica, pois é o porto do
Brasil mais próximo da ilha. O Arquipélago de São Pedro e São Paulo está
localizado próximo à dorsal mesoatlântica, a 1.000 km da costa brasileira

1368
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

(Natal/RN), 1.890 km do Senegal na África e 80 km ao norte da linha do


Equador

O Programa Arquipélago São Pedro e São Paulo (PROARQUIPELAGO)


conduz um programa contínuo e sistemático de pesquisas científicas na
região, nas seguintes áreas: geologia e geofísica, biologia, recursos
pesqueiros, oceanografia, meteorologia e sismografia e garante
habitabilidade permanente da remota região do ASPSP, o que propicia ao
país o estabelecimento de uma Zona Econômica Exclusiva de 450.000 Km²
(PSRM, Web).

Esta pesquisa objetivou detectar, nos dados de gravações acústicas do


projeto Sentinelas da Amazônia Azul, sons produzidos por baleias fin no
entorno do Arquipélago São Pedro e São Paulo, assim como mensurar a
atividade vocal dessa espécie ao longo do período de coleta e produzir
uma série temporal que demonstre se há sazonalidade na presença
acústica desses animais na área de estudo. Alinhado à concretização dos
objetivos, foram realizadas buscas na literatura científica existente sobre o
padrão de vocalização da baleia fin.

Metodologia

Os dados foram coletados em idas a campo que são possibilitadas por


meio de embarques nos cruzeiros da Marinha do Brasil (MB), tendo como
foco a manutenção da estação científica estabelecida no Arquipélago São
Pedro e São Paulo. Dessa forma, a MB possibilita a continuidade das
pesquisas científicas que utilizam do arquipélago e as suas formas de vida
como objeto de estudo.

A coleta dos dados se deu através da utilização de um sistema de gravação


: Drifting Acoustic Spar Buoy Recorder (DASBR) que captava os registros
acústicos. O DASBR possui um alvo ideal de profundidade de 100m, mas
que pode variar de 3 a 100 m, a depender das condições ambientais e

1369
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

logísticas do embarque e também das condições oceanográficas


específicas no entorno do ASPSP.

A gravação por meio do sistema DARBR é um dos métodos de


monitoramento acústico passivo (PAM), em que o pesquisador não tem
contato direto com animal de modo que possa intervir em seu
comportamento. Dessa forma, ao chegar na estação científica do
arquipélago, é feita a liberação do DASBR, o qual irá realizar a gravação
durante toda a estadia, que é em média de quatro dias.

Para a análise dos sinais acústicos, utilizou-se o software Raven Pro 1.6.5®
que oferece uma gama de possibilidades de configuração e visualização
dos dados representados. Para a pesquisa foram investigados sons de
baixa frequência (porção abaixo de 20 Hz) que é a faixa de emissão de
vocalização da baleia fin. Ao identificar o som biológico emitido, pode-se
fazer marcações na ferramenta e utilizá-las para estabelecer um padrão
de vocalização e para a demarcação de uma sequência temporal de
vocalizações.

Ao ouvir as gravações e analisar o espectrograma no software Raven Pro


1.6.5® na faixa de frequência de vocalização da baleia, buscou-se detectar
a sua presença no ASPSP no período da coleta dos dados. Nesse sentido,
investigou-se o seu aparecimento por meio de sons acústicos emitidos em
pulsos de 20 Hz, ou seja, 0,02 kHz. Estes pulsos podem ser encontrados
em baixa frequência e baixa intensidade, chamados de backbeat ou
contratempo (CONSTARATAS et al., 2021).

É importante ressaltar que essa frequência não pode ser ouvida por
humanos, então é possível acelerar o tempo de reprodução do arquivo.
Assim, o som é aumentado, para uma faixa audível, e o tempo é
comprimido, o software Raven Pro 1.6.5® oferece todas as configurações
necessárias. Relevante evidenciar também que esses sons produzidos são
emitidos por machos da baleia fin, mais comumente quando estão
viajando lentamente, em profundidades de 10 a 15 metros
(CONSTARATAS et al., 2021).

1370
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

O tempo de gravação equivale aos quatro dias de estadia no ASPSP,


registrando em tempo real e sem interrupções toda a paisagem acústica
do entorno do arquipélago. Previamente à análise, os dados acústicos no
formato .wav são decimados no objetivo de reduzir o seu tamanho, pois
são arquivos extensos. Ao total foram analisados 67 arquivos de áudio,
cada arquivo já decimado e contendo 10 minutos de gravação, totalizando
670 minutos de gravação acústica.

Atrelado as análises acústicas, foram realizadas buscas na literatura


científica existente. O Portal de Periódicos da CAPES foi o principal meio
de obtenção dos artigos, pois reúne e disponibiliza conteúdo científico a
instituições de pesquisa e ensino no Brasil. As buscas foram realizadas por
meio de palavras-chave, do qual foram escolhidos os termos mais
recorrentes quando se estuda a baleia fin e sua análise acústica, além de
buscas também referentes ao arquipélago.

Ao total foram selecionados dez artigos para a construção do relatório e


os critérios de seleção foram a baleia fin ser o foco principal da pesquisa, a
exposição de espectrogramas que contém as vocalizações da fin, o ano de
publicação, que foi importante porém não foi excludente e, para os
demais artigos sobre o ASPSP o critério de seleção conter a discussão
acerca do arquipélago e a sua localização geográfica.

As buscas foram realizadas no período de maio de 2023 a agosto de 2023,


no Portal de Periódicos da CAPES, por meio das seguintes palavras-chave e
respectivo número de artigos selecionados para cada uma: fin whale
acoustic (2), passive acoustic monitoring (1), fin whale (3); season acoustic
(2); Saint Peter and Saint Paul Archipelago (2), totalizando dez artigos
científicos. Os dados acústicos coletados referem-se ao embarque
realizado no ano de 2022 ao ASPSP, nos meses de julho e outubro, e
totalizaram 66 horas de gravação. Esses dados foram examinados no
período de novembro de 2022 a abril de 2023.

Resultados e Discussões

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Os machos da baleia fin produzem sons com objetivos reprodutivos e


alimentares e a espécie, como um todo, pode ser encontrada em todos os
oceanos do mundo. Sabe-se que algumas populações migram durante
eventos de alimentação e retornam para reproduzir. Considerando esses
eventos que levam a episódios migratórios, buscou-se detectar a presença
de Balaenoptera physalus no Arquipélago São Pedro e São Paulo e
produzir uma série temporal com os sons padrão da espécie.

Os espectrogramas dos seguintes artigos foram utilizados para


demonstrar as vocalizações da baleias: “Fin whale song variability in
southern California and the Gulf of California” (ŠIROVIĆ et al, 2017, p.1).
“Geographic variation in Northwest Atlantic fin whale (Balaenoptera
physalus) song: Implications for stock structure assessment” (DELARUE et
al., 2008) e “Fin whale acoustic populations present in New Zealand
waters: Description of song types, occurrence and seasonality using
passive acoustic monitoring” (CONSTARATAS et al., 2021).

No período de julho e agosto de 2022 não foram obtidas detecções. Isso


pode demonstrar que o período do ano investigado não é propício para a
estadia da baleia fin no arquipélago.

Ademais, o método de monitoramento acústico passivo utilizado não


prevê a mobilidade do equipamento, assim a não captação pode estar
atrelada à distância da baleia fin do equipamento e as condições sonoras
do ambiente. Logo, para a detecção do som acústico, a baleia fin teria que
estar a uma distância determinada para que houvesse boa captação, sem
a presença de ruídos. Atrelado à condição citada, existem as condições
logísticas do embarque, das quais não prevêem o deslocamento do
cruzeiro no intuito de acompanhar a espécie e as condições ambientais
singulares do arquipélago no período do ano investigado.

Após a análise dos arquivos de áudio, não foi identificada a presença


acústica da baleia fin no ASPSP, entre julho e outubro de 2022.
Provavelmente, isso se deve ao fato de que este é um animal migratório,

1372
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

com ocorrência sazonal no oceano Atlântico equatorial. Entretanto, não


podemos afirmar que a baleia fin não possui ocorrência no entorno do
ASPSP durante o mês de julho, pois esses animais podem ter passado pela
área sem apresentaram comportamento vocal, não sendo possível a sua
detecção.

Considerando que outras espécies de misticetos já foram avistados e


detectados por meio do PAM no ASPSP, acredita-se que a Balaenoptera
physalus também possa apresentar ocorrência na área. Desse modo,
propõem-se a continuidade de pesquisas com o objetivo de detectar a
presença da baleia fin no entorno do Arquipélago de São Pedro e São
Paulo, utilizando o método de monitoramento acústico passivo, realizando
coleta de dados durante todas as épocas do ano.

Conclusão

Esses dados e suas análises configuram uma importante ferramenta para


o estudo da biologia acústica marinha. Além do mais, o contato com a
literatura existente resulta na proximidade com o tema estudado e
capacita o pesquisador para atuar em pesquisas similares. Por fim, a
pesquisa é concluída possibilitando ao pesquisador o domínio de
ferramenta de análise de dados acústicos e a capacidade de
desenvolvimento de pesquisa científica.

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eCICT 2023

Julien Delarue, Sean K. Todd, Sofie M. Van Parijs, Lucia Di Iorio;


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4

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1047

AUTOR: FRANCISCO AILTON ALVES DE MEDEIROS JUNIOR

ORIENTADOR: IURI GOULART BASEIA

TÍTULO: Taxonomia do gênero Cyathus Haller (Basidiomycota) em áreas de


semiárido e mata atlântica no Estado do Rio Grande do Norte e adjacências

Resumo

O gênero Cyathus pertence ao filo Basidiomycota e é caracterizado por apresentar


pequenos basidiomas em forma de cone ou sino invertido, com ou sem marcações
transversais nas paredes, e estruturas semelhantes a discos presas à parede interna do
basidioma, denominadas peridiolos. Há um potencial significativo para a ocorrência do
gênero Cyathus na região nordeste do Brasil. Entretanto, muitas áreas no Rio Grande
do Norte e regiões vizinhas permanecem inexploradas. Diante disso, o presente estudo
tem como objetivo ampliar as pesquisas sobre o gênero Cyathus no Brasil, com foco
em áreas do semiárido e da Mata Atlântica no estado do Rio Grande do Norte (RN) e
regiões adjacentes. Foram analisados 8 exsicatas da região nordeste, obtidos através
de coletas. As análises foram realizadas utilizando metodologias específicas para o
grupo. Como resultado, foram identificadas quatro espécies: Cyathus earlei Lloyd, C.
aff. triplex Lloyd, C. poeppigii Tul. & C. Tul, e C. morelensis C.L. Gómez & Pérez-Silva.
Dentre essas quatro espécies, duas são novos registros para o estado do Rio Grande do
Norte: Cyathus poeppigii e Cyathus morelensis. Este resultado ressalta o potencial para
descobrir mais sobre a distribuição do grupo nas áreas de estudo do projeto e em
regiões inexploradas do Brasil.

Palavras-chave: Biodiversidade. Fungos ninho de pássaros. Neotrópicos.


Novos registros

TITLE: Taxonomy of the genus Cyathus Haller (Basidiomycota) in semi-arid and


Atlantic Forest areas in the state of Rio Grande do Norte and surrounding areas

Abstract

The Cyathus genus belongs to the Basidiomycota phylum and is characterized by


having small basidiomes in the shape of an inverted cone or bell, with or without

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eCICT 2023

transverse markings on the walls, and disc-like structures similar to disks attached to
the inner wall of the basidiome, referred to as peridioles. There is a significant
potential for the occurrence of the Cyathus genus in the northeastern region of Brazil.
However, many areas in Rio Grande do Norte and surrounding regions remain
unexplored. In light of this, the present study aims to expand research on the Cyathus
genus in Brazil, focusing on semi-arid and Atlantic Forest areas in the state of Rio
Grande do Norte (RN) and adjacent regions. Eight specimens from the northeastern
region were analyzed, obtained through collections. The analyses were conducted
using specific methodologies for the group. As a result, four species were identified:
Cyathus earlei Lloyd, C. aff. triplex Lloyd, C. poeppigii Tul. & C. Tul, and C. morelensis
C.L. Gómez & Pérez-Silva. Among these four species, two are new records for the state
of Rio Grande do Norte: Cyathus poeppigii and Cyathus morelensis. This outcome
underscores the potential for discovering more about the distribution of the group in
the project's study areas and in unexplored regions in Brazil.

Keywords: Biodiversity. Bird's nest fungi. Neotropics. New records.

Introdução

Cyathus Haller é um gênero de fungos gasteroides, estabelecido em 1768 por Haller e


pertencente ao filo Basidiomycota (Brodie, 1975; He et al., 2019). O gênero Cyathus se
encontra na ordem Agaricales Underw, pertencendo a família Nidulariaceae
juntamente com os gêneros Crucibulum Tul. & C. Tul , Nidula V.S. White, Nidularia Fr.
& Nordholm e Mycocalia J.T. Palmer, corroborados por(Cruz et al. 2023), sendo
Cyathus o gênero mais representativo desta família (He et al. 2019). Cyathus é
morfologicamente caracterizado por possuir basidiomas angiocárpicos pequenos,
possuindo um formato de sino ou cone invertido, no endoperídeo (região internado
basidioma) encontrasse pequenas estruturas lenticulares (peridíolos) as quais
englobam os basidiosporos (Brodie, 1975). O agrupamento dos peridíolos dentro do
basidioma assemelham-se a pequenos ovos dentro de um ninho de pássaro,
semelhança que originou o nome popular Bird’s Nest Fungi ou na tradução “ Fungos
ninho de pássaro”. Essas estruturas são dispersas de forma passiva por meio do
“splash cup”, mecanismo que utiliza-se da força do movimento de queda de uma gota
de água para arremessar os peridiolo para fora do basidiomas, compondo uma parte
do ciclo de vida do gênero (Brodie, 1975; Money, 2014). O desenvolvimento dos
basidiomas só é possível por meio de condições ideais de temperatura, umidade, PH,
luminosidade, matéria orgânica, dentre outras condições específicas (Toledo, et al.,
2014). Os representantes de Cyathus desempenham importantes papéis ecológicos,
onde algumas espécies são capazes de degradar material vegetal além de participar da
ciclagem de nutrientes para o solo (Brodie, 1984; Shinnerscarneley et al. 2002; Blenis &
Chow, 2005). Estudos realizados com o gênero detectaram compostos produzidos por

1377
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

algumas espécies que são de interesse médico, como a presença de compostos que
possuem a capacidade de reduzir os efeitos neurodegenerativos como a doença de
Alzheimer (Krzyczkowski et al. 2008; Kou et al. 2018). Recentemente observou-se que
o extrato de Cyathus striatus (Huds.) Willd possui atividade antitumoral, onde induz a
apoptose de células cancerígenas (Sharvit et al. 2021). Em um outro estudo realizado
com a espécie Cyathus hookeri Berk, foi isolado e identificado um novo diterpenóide
ciatano que apresenta atividades anti-inflamatório (Xu et al. 2013). Apesar dos
esforços dos pesquisadores, o gênero Cyathus ainda é pouco estudado, podendo
apresentar uma alta riqueza de espécies, sendo necessário a realização de trabalhos
como esse para contribuir com a ampliação do conhecimento do grupo no Brasil.

Metodologia

O estudo foi realizado com materiais coletados em quatro áreas de conservação na


região Nordeste do Brasil, no estado do Rio Grande do Norte. A primeira área
estudada e coletada foi o Parque Estadual Dunas do Natal, localizado em Natal. A
segunda área foi na Reserva Particular do Patrimônio Natural Mata Estrela, localizada
em Bahia Formosa. A terceira área foi em Nísia Floresta na Flona, e a quarta área foi na
Trilha dos saguis do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. As coletas que possuem datas conhecidas foram realizadas entre junho e agosto
de 2022 (correspondente ao período chuvoso), utilizando a metodologia proposta por
Silva et al. (2014).
Os basidiomas foram inicialmente fotografados em campo e coletados com o auxílio
de uma faca. Nesse momento também foram realizadas anotações com os dados de
coletor, geolocalização, data da coleta, substrato e hábito dos espécimes. Após as
coletas, os espécimes foram desidratados e analisados no Laboratório de Biologia de
Fungos situado no Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. As espécies foram expostas a uma temperatura de 40 ºC por um período de 24-
28 horas em um desidratador elétrico, posteriormente foram colocados em sacos
plásticos do tipo zip lock e envelopados seguido o padrão da Coleção de fungos da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Na análise macroscópica, foi utilizado o microscópio estereoscópio Nikon SMZ1500,
com câmera Nikon DS-Ril acoplada para a realização de fotos das estruturas, foram
realizadas as medições das alturas e larguras do basidioma; comprimento e largura dos
peridíolos; tamanhos dos tomentos na porção superior do basidioma; diâmetro do
embasamento e tamanho do estipe. Adicionalmente foram analisados a forma do
basidioma e peridíolos, ausência ou presença de estrias no exoperídio e endoperídio,

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presença de túnica nos peridíolos, assim como o tipo de superfície do peridíolo e o


número de camadas corticais.
Para distinguir a coloração das estruturas dos basidiomas foi utilizado o guia de cores
Methuen Handbook (Kornerup & Wanscher, 1974). Para a análise microscópica foi
utilizado o microscópio óptico Nikon Eclipse Ni-U, com câmera DS-Ril acoplada para a
realização de fotos das estruturas. A preparação das lâminas foi feita à mão livres. Os
peridíolos foram cortados com o auxílio de lâminas de aço e pinça, posteriormente
macerados em Hidróxido de Potássio (KOH) 5% até se tornar em uma solução
homogênea. Dessa solução, foram analisado 30 basidiósporos, sendo analisado as
características como formato (por meio de medições de largura e comprimento dos
basidiósporos e largura da parede) e quantidade de basidiósporos, presença ou
ausência de apículo e sua coloração. As descrições e identificação das espécies
seguiram referências adequadas ao grupo (Lloyd, 1906) e (Brodie, 1984), a qual foi
corroborada por (Cruz, 2017 e Góis, 2021).

Resultados e Discussões

Foram analisadas 8 exsicatas para o domínio Mata Atlântica, entretanto não foi
possível análise de exsicatas para o semiárido devido a falta de oportunidade para
coletas nesta região. No total, 4 espécies foram identificadas, sendo essas: Cyathus
earlei Lloyd, a espécie mais representativa com 4 exemplares, seguida por C. aff. triplex
Lloyd com 2 exemplares, C. poeppigii Tul. & C. Tul e C.morelensis C.L. Gómez & Pérez-
Silva com 1 exemplar identificado. As espécies Cyathus poeppigii Tul. & C. Tul e
Cyathus morelensis C.L. Gómez & Pérez-Silvasão novos registros para o estado do Rio
Grande do Norte.
Descrição das espécies
Espécie: Cyathus earlei Lloyd (1906).
Número do coletor: Morais, V. S.
Data: 06/06/2022
Material analisado:Brasil. Rio Grande do Norte. Natal. Trilha dos saguis do Centro de
Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Substrato: Madeira em decomposição.
Perídio infundibuliforme, 7,60 – 9,55 mm de altura, 4,75 – 7,26 mm de largura na
porção superior, não expandido na boca nem formando um pedicelo na base.
Embasamento de 3,89 – 4,72 mm, conspícuo, da mesma cor do exoperídio. Exoperídio

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hirsuto, marrom (7F6), com tomentos de 0,34 – 0,55 mm, arranjados em tufos
regulares e flexíveis. Parede externa lisa a inconspícuamente plicada, com 0,48 – 0,68
mm entre as marcações. Boca finamente fimbriada em padrão contínuo, 0,26 – 0,37
mm de altura, da mesma cor do exoperídio. Endoperídio cinza amarronzado (7F3), liso
a inconspícuamente plicado, com 0,36 – 0,66 mm entre as marcações, brilho
perceptível contrastando com o exterior. Epifragma e estipe de 1,16 - 1,88. Peridíolo
marrom avermelhado (6F3), 11 por basidioma, 2,02 – 2,46 × 1,8 – 2,18 mm, de
formato elíptico a levemente irregular nas bordas, superfície lisa, túnica branca, e
córtex duplo, com exo e endocórtex negros, e mesocórtex branco acinzentado de hifas
compactas. Basidiosporos lisos, hialinos, 14,32 – 18,59 × 08,49 – 11,34 µm (L= 16,98
µm; W= 9,74 µm); subgloboso a elíptico (Q= 1,52 –2,04), em média elíptico (Qm=1,75),
apículo presente em alguns e parede do esporo de 1,68 – 3,07 µm.
Comentário:Cyathus earlei é uma espécie amplamente distribuída no Brasil, os
espécime aqui descritos mostraram variações significativas em relação ao material
tipo, demonstrando a possibilidade de um complexo de espécies identificadas como C.
earlei. Os espécimes brasileiros apresentam o córtex duplo durante toda a extensão do
peridíolo, enquanto o material tipo apresenta um córtex duplo subhomogêneo
simples. Cyathus earlei pode ser confundido com o Cyathus triplex pelo tamanho do
tomento, cor do exoperídio e presença de túnica, mas se difere por possuir o
basidioma e peridiolos menores, basidiosporos maiores e parede do basidiosporos
mais fina.
Espécie: Cyathus aff. triplex Lloyd (1906)
Número do coletor: Não informado na amostra.
Data: não informada na amostra.
Material analisado: Material analisado: Brasil. Rio Grande do Norte. Natal. Reserva
Particular do Patrimônio Natural Mata Estrela.
Substrato: Madeira decomposição.
Perídio infundibuliforme, 6,45 - 7,81 mm de altura, 4,47 - 6,53 mm de comprimento na
porção superior do corpo de frutificação, não expandido na boca nem afilado na base,
Pedicelo ausente. Embasamento de 2,66 - 3,61 mm, conspícuo. marrom (6F8).
Exoperídio hirsuto de coloração marrom (6F8), com tomentos de 0,44 - 0,65 mm,
arranjados em tufos regulares orientados para baixo e flexível. Parede externa
inconspicuamente plicada, com 0,44 - 0,66 mm entre as marcações. Boca finamente
fimbriado em padrão contínuo, e medindo 0,17 - 0,24 mm de altura, com coloração de
(6F8). Endoperídio de coloração cinza (6C2-6E2), conspicuamente plicado, com 0,37 -
0,63 mm entre as marcações.Brilho platina, contrastando com o exterior. Estipe de
1.06-1.76 mm, negro (6D4). Epifragma de coloração (6D4)e flexível. Peridiolo (0X0), 13

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por basidioma, 1.56 - 1.97 x 1.57 - 2.04 mm, de formato elíptico, superfície lisa, túnica
presente e de coloração esbranquiçada. Córtex duplo, sendo exocórtex e endocórtex
negro e mesocórtex marrom, hifas do mesocórtex pulverulentas, Basidiósporos
lisos,hialinos, comuns, 16.07 - 18.06 x 8,33 - 12,02 µm (L = 16.35 µm; W = 9.53; n = 30)
elipsoide à cilíndrico (Q= 1.36 - 1.98), em média alongado (Qm= 1.73), apículo presente
em alguns basidiósporos e parede de 1.74 - 3,13 µm.
Comentários: Cyathus triplex é uma espécie amplamente distribuída no Brasil,
normalmente é confundida com Cyathus striatus, entretanto Cyathus triplex possui as
estrias do exoperídio e endoperídio raramente inconspícua a lisa, enquanto que em
Cyathus striatus as estrias do exoperídio e endoperídio são conspicuamente a
inconspicuamente plicadas, outra espécie que é normalmente confundida é Cyathus
pallidus devido ao endeperídio liso, porém se diferenciam no córtex, sendo duplo no C.
triplex, já no C. pallidus simples. Nessa espécie de Cyathus triplex também foi
observado o córtex ondulado.
Espécie: Cyathus poeppigii Tul. & C. Tul (1844).
Número do coletor: Não informado na amostra.
Data: Não informado na amostra.
Material analisado: Brasil. Rio Grande do Norte. Natal. Reserva Particular do
Patrimônio Natural Mata Estrela.
Substrato: Madeira em decomposição.
Perídio infundibuliforme, 7,79 - 9,48 mm de altura, 4,12 - 7,49 mm de largura na
porção superior, não expandido na boca e nem formando pedicelo. Exoperídio hirsuto
de coloração (6F5), arranjados em tufos orientados para fora 0.23 – 0.30 mm. Parede
externa conspicuamente plicada com 0,33 - 0,55 mm entre as marcações, boca
finamente fimbriada em padrão contínuo, 0,18 - 0,23 mm de altura de coloração
marrom escuro (6F5). Endoperídio de coloração (6E2), conspicuamente plicado com
0,30 - 0,47 mm entre as marcações, brilho perceptível e contrastando com o exterior.
estipe de coloração (6F1) e medindo 0,56 - 1,38. Epifragma ausente. Peridiolo liso de
formato liso e medindo 2,02 - 2,40 x 1,80 - 2,06. 9 por basidioma, túnica indistinta,
córtex duplo, exocórtex negro, endocórtex negro e mesocórtex branco. basidiósporos
lisos, hialinos, comuns 17,48 - 41,32 μm x 13,60 - 26,99 μm (L = 33,12 μm; W = 22,71;
n= 30) elipsoide a alongado (Q = 1,02 - 1,85), média elipsoide (Qm = 1.45) apiculo
ausente e parede do basidiósporos de 0,76 - 3,92 μm.
Comentários: Espécie amplamente distribuída para o Brasil, uma de suas principais
características são seus basidiósporos grandes que são raros no Brasil em espécies do
gênero. Cyathus poeppigii se assemelha a Cyathus magnomuralis devido ao tamanho
dos esporos, entretanto se diferencia quanto ao formato, sendo ovóides a levemente

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elípticos em Cyathus magnomuralis, enquanto em Cyathus poeppigii são elipsoides a


alongados.
Espécie: Cyathus morelensis.
Número do coletor: Albuquerque, G. M.
Data: 20/06/22
Material analisado: Brasil. Rio Grande do Norte. Natal. Trilha dos saguis do Centro de
Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Substrato: Madeira em decomposição.
Perídio infundibuliforme, 6.15 - 7.59 mm de altura, 3,84 - 4,29 mm de largura na
porção superior do perídio, não expandido na boca e nem formando pedicelo.
embasamento de 2,64 - 4,10 mm conspícuo, marrom claro (5F4). Exoperídio hisurto,
de coloração marrom (6F4), com tomentos medindo de 0,32 - 0,60 e arranjados em
tufos regulares direcionados para cima e flexíveis. Parede externa conspicuamente
plicada, com 0,46 - 0,57 mm entre as marcações. Boca finamente fimbriada em padrão
contínuo, 0,14 - 0,26 mm de altura, coloração marrom escuro. Endoperídio de
coloração (6F2), conspicuamente plicado com 0,42 - 0,54 mm entre as marcações.
Brilho perceptível não contrastando com o exterior. Estipe de 0,68 - 1,17 mm, marrom.
Epifragma não encontrado. Peridiolo negro, cerca de 12 por basidioma, 1,74 - 2,26 x
1,33 - 2,01 mm, de formato elíptico, superfície levemente enrugada. tunica branca e
córtex duplo subhomogêneo simples. Basidiosporos lisos, hialinos, comuns, 15,45 -
18,9 x 11,63 -16,52 µm (L= 17,25 µm; 13,41 µm; n=30), levemente elíptico à elipsoides
(Q = 1,10 - 1,42), em média levemente elíptico (Qm = 1,29), apículo ausentes e parede
dos basidiósporos de 1,15 - 2,55 µm.
Comentários: É uma espécie rara que foi descrita primeiramente no México por
(Gómez & Pérez-Silva 1988), possui distribuição para o México e Brasil. Essa espécie
inicialmente foi relatada a primeira vez para o Brasil por (Cruz et al. 2012) na Floresta
Amazônica e posteriormente relatada a segunda vez por (NASCIMENTO et al. 2022) em
uma reserva biológica em Alagoas. Essa espécie é bem caracterizada por possuir o
córtex duplo subhomogêneo simples e perda dos tormentos na região superior do
basidioma. Cyathus morelensis se assemelham com C. limbatus, entretanto se
distinguem pela presença do córtex distintamente duplo, basidioma maiores e
basidiósporos levemente maiores em C. limbatus.

Conclusão

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Dentre os países da América Latina, o Brasil é o país com maior registro para o gênero
Cyathus, contudo o conhecimento sobre a diversidade de Cyathus ainda permanece
superficial em regiões às quais quase não possui registro. Referente aos dados
conseguidos com o projeto, é possível observar o potencial de distribuição do gênero
Cyathus nas áreas de Mata Atlântica. Os novos registros para o estado do Rio Grande
do Norte mostram a necessidade de mais esforço amostral de coletas e estudos para o
gênero em novas áreas ainda não exploradas, visto que mesmo em áreas com
frequentes coletas para a Mata Atlântica ainda demonstra potencial de novos registros
e descobertas para o gênero Cyathus. Apesar dos esforços para o estudo do grupo
apresentar resultados promissores sobre a distribuição do gênero Cyathus, ainda
existe uma lacuna nas investidas para o estudo do grupo na região semiárida, sendo
necessário mais investimentos e programas de incentivos para pesquisas nessas
regiões. O presente trabalho contribuiu para evidenciar a diversidade do gênero
Cyathus, podendo fomentar mais pesquisas com o grupo para o Brasil.

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Anexos

Figura 1 - Cyathus earlei. A. Exoperídio hirsuto. B. Peridiolo com superfície lisa. C.


Córtex duplo. D. Basidiosporos elípticos.

Figura 2 - Cyathus aff. triplex. A. Exoperídio hirsuto. B. Peridíolos lisos. C. Basidiosporos


alongados. D. Endoperídio conspicuamente plicado. E. Córtex duplo e ondulado.

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Figura 3 - Cyathus poeppigii. A. Exoperídio hirsuto. B. Peridíolos lisos. C. Basidiosporos


elipsoide. D. Endoperídio conspicuamente plicado. E. Córtex duplo.

Figura 4 - Cyathus morelensis. A. Exoperídio hirsuto. B. Peridíolos com superfície


levemente enrugada. C. Córtex duplo subhomogêneo simples compacto no topo e
base. D. Basidiósporoslevemente elíptico.

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CÓDIGO: SB1065

AUTOR: DALMO MONTEIRO DANTAS JUNIOR

ORIENTADOR: ADRIANA FERREIRA UCHOA

TÍTULO: Alterações morfológicas nas formas promastigotas de Leishmania


infantum após exposição ao extrato aquoso de semente de Tephrosia toxicaria
Pers e suas frações.

Resumo

A Leishmaniose é uma doença tropical negligenciada, considerada emergente e


endêmica em mais de 90 países. É urgente a busca de novas moléculas para o combate
aos parasitas do gênero Leishmania, que tenham menor citotoxicidade e melhor
biodisponibilidade. Plantas são um rico reservatório de compostos com bioatividade,
amplamente usados na produção de novos fármacos e quimioterápicos. As sementes
de Tephrosia toxicaria já são conhecidas como fonte potencial de moléculas
antileishmania, antiplasmodial e inseticida. Em estudos anteriores, nosso grupo
demonstrou a atividade de inibição in vitro de Leishmania infantum por extrato
aquoso de semente de T. toxicaria, e a ação leishmanicida de frações derivadas e
enriquecidas com compostos bioativos. O presente estudo investigou o modo de ação
leishmanicida in vitro, avaliando a inibição de proteases e alterações morfológicas
causadas pela incubação dos parasitas com extratos e frações de T. toxicaria. Foi
determinada a presença de inibidores da atividade proteolítica da papaína, e
alterações na morfologia do flagelo do protozoário sob microscopia óptica. A
leishmania possui proteases papaína-like em sua membrana plasmática, e a inibição
delas pode estar relacionada com a redução da viabilidade celular observada em
estudos anteriores. O flagelo da leishmania também é fundamental para o
desenvolvimento e manutenção da célula, e sua disfunção pode ser resultado ou causa
da ação leishmanicidas das amostras testadas.

Palavras-chave: leishmanicida, Extratos botânicos, flagelo, leishmaniose.

TITLE: Morphological alterations in the promastigotes forms of Leishmania


infantum after exposure to aqueous extract of Tephrosia toxicaria Pers seed
and its fractions.

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Abstract

Leishmaniasis is a neglected tropical disease, considered emerging and endemic in


more than 90 countries. It is urgent to search for new molecules to combat parasites of
the genus Leishmania, which have less cytotoxicity and better bioavailability. Plants are
a rich reservoir of bioactive compounds, widely used in the production of new drugs
and chemotherapy. Tephrosia toxicaria seeds are already known as a potential source
of antileishmania, antiplasmodial and insecticide molecules. In previous studies, our
group demonstrated the in vitro inhibition activity of Leishmania infantum by aqueous
extract of T. toxicaria seed, and the leishmanicidal action of fractions derived and
enriched with bioactive compounds. The present study investigated the in vitro
leishmanicidal mode of action, evaluating the inhibition of proteases and
morphological alterations caused by the incubation of the parasites with extracts and
fractions of T. toxicaria. The presence of papain proteolytic activity inhibitors and
changes in the morphology of the protozoan flagellum under optical microscopy were
determined. Leishmania has papain-like proteases in its plasma membrane, and their
inhibition may be related to the reduction in cell viability observed in previous studies.
The leishmania flagellum is also essential for cell development and maintenance, and
its dysfunction may be the result or cause of the leishmanicidal action of the tested
samples.

Keywords: Antileishmanial, Botanical extracts, bioactive proteins, leishmaniasis

Introdução

A leishmaniose é uma Doença Tropical Negligenciada, causada pela infecção


intramacrofágica por protozoários do gênero Leishmania. Ela é transmitida por insetos
do gênero Phlebotomus, conhecido como mosquito-palha (WHO, 2023). Existem três
principais formas clínicas, a Leishmaniose Cutânea (LC), a Leishmaniose Mucocutânea
(LMC) e a Leishmaniose Visceral (LV) (Akhoundi et al., 2016). Para WHO (2023), a LV,
também conhecida como Calazar.

Segundo dados da WHO (2023), cerca de 1 bilhão de pessoas estão em regiões de risco
para a infecção de leishmaniose e mais de 80 países são endêmicos para LV e LC.
Ainda, cerca de 30.000 mortes são registradas ao ano. Cinco países representam
aproximadamente 90% de todas as mortes, entre eles o Brasil (Kushwaha et al., 2021).

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A leishmaniose é caracterizada por sua dificuldade de tratamento, devido a crescente


resistência, tratamentos caros e com efeitos adversos. Antimônias pentavalentes são
os medicamentos de primeira escolha, que tem um regime clínico prolongado, e são
citotóxicos para rins, fígado e baço (Pradhan et al., 2022). Em casos de resistência, a
droga usada é a Anfotericina B, que tem nefrotoxicidade, e registros de resistência (Al
Balushi et al., 2018; Faral-Tello et al., 2020; Kyriakidis et al., 2017).

Devido ao cenário, diversos grupos têm buscado alternativas para o tratamento, e têm
encontrado nas plantas fontes de moléculas leishmanicidas, com alta
biodisponibilidade e baixa toxicidade (Albuquerque et al., 2020; Darwish et al., 2019;
Clementino et al., 2018 Kauffmann et al., 2017; Khademvatan et al., 2019; Rottini et al.,
2019). Derivados vegetais com atividade leishmanicida já foram relatados, como a
apigenina, com atividade anti L. infantum in vitro e in vivo, bem como outras
derivações (de Paula et al., 2019; Nigatu et al., 2021; Emiliano et al., 2023).

As proteases são moléculas promissoras como alvo para terapia (Bialik et al., 2017;
Boyer et al., 2020; Yamawaki et al., 2019). A GP63, uma protease da leishmania, é um
importante fator de virulência. Ela é fundamental para a capacidade infectiva do
parasita, permitindo escape do sistema imune inato, ser internalizado e inativar a
resposta imune celular (Sreedharan et al., 2023). Inibidores de protease serínicas de
extratos de batata com atividade leishmanicida e pró-inflamatória, promoveram
redução da carga do parasita em ensaio in vivo (Paik et al., 2020).

Moléculas leishmanicidas parecem promover alterações morfológicas em estruturas


celulares desse protozoário. Alcalóides provenientes de plantas alteraram a morfologia
da célula promastigota de Leishmania amazonensis (do Socorro et al., 2022), sendo
observados achados como a duplicação ou formação de protuberâncias em flagelos,
bem como alterações na membrana celular. O extrato de raiz de Physalis angulata
também promoveu alterações em estruturas celulares do parasita, marcas de um ciclo
celular afetado, como a presença de dois núcleos e somente um cinetoplasto (Da Silva
et al., 2018).

O gênero Tephrosia apresenta compostos com atividade antiplasmodial e


antiprotozóario, sendo ele rico em diferentes compostos bioquímicos (Chen et al.,
2014; Juma et al., 2011; Atilaw et al., 2020). A Tephrosia toxicaria é uma planta que já
possui registros de atividade inseticida, leishmanicida, microbicida e antioxidante (Sá
et al., 2023). Anteriormente, foi demonstrado a atividade leishmanicida do extrato

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bruto da semente de T. toxicaria e frações derivadas para a forma promastigota de L.


infantum.

O objetivo desse estudo foi investigar a atividade leishmanicida do extrato bruto e


frações derivadas, buscando moléculas para auxiliar no combate à infecção parasitária.
As amostras foram avaliadas quanto a presença de inibidores de proteases, além da
caracterização parcial do extrato e frações. Buscamos alterações morfológicas
causadas pelas amostras na forma promastigota de L. infantum usando a microscopia
óptica para investigar seu possível modo de ação.

Metodologia

Material biológico
Sementes de T. toxicaria foram coletadas no distrito de São José, município de
Ibiapina, Ceará, Brasil (3°55'31"S 40°53'43"W), em conformidade com o Sistema
Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado
(SisGen n. A3104E7). A confirmação botânica do vegetal está registrada e depositada
(UFRN00022960) no Herbário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Os parasitas (Leishmania infantum) foram obtidos do acervo parasitológico do
Laboratório de Imunogenética do Instituto de Medicina Tropical do RN, da UFRN,
coordenado pela Dra. Selma Maria Bezerra Jerônimo e cedido pela Dra. Daniella
Regina Arantes Martins.

Obtenção dos extratos


As sementes foram secas a 37 °C em ambiente com circulação de ar, durante uma
semana, com posterior trituração em moinho de facas tipo Willye para obtenção de
uma farinha obtida por peneiramento em trama de 40 mesh. A partir desta farinha
foram obtidos extratos aquosos, por extração a frio, empregando relação de
hidromódulo (farinha/água destilada) de 1:5 (p/v). Os extratos permaneceram em
repouso por 24 horas em temperatura ambiente, com posterior centrifugação (10.000
x g, 30 min, 4 °C), filtragem em papel de filtro quantitativo de poro médio, 20 a 25 a
µm (Whatman™) e liofilização.

Fracionamento

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Os extratos foram fracionados em função da solubilidade em diferentes concentrações


de sal empregando o sulfato de amônio como agente precipitante, conforme Scopes
(1994). Foram usadas quatro faixas de saturação de 0 a 100%: 0-25% (p/v), 25-50%
(p/v), 50-75% (p/v) e 75-100% (p/v). O sal foi incorporado lentamente aos extratos sob
agitação magnética constante até sua total dissolução, com posterior repouso
overnight, a 4 °C, por 24 h. Após esse período, cada fração proteica foi centrifugada
(10.000 x g, 30 min, 4 °C), dialisada exaustivamente contra água destilada em
membrana de celulose regenerada com poro de 14 kDa e liofilizada.

Determinação de peso seco e rendimento


O peso seco de cada fração foi determinado pela massa resultante de sua liofilização.
Em triplicata, um volume conhecido de cada fração foi adicionado em tubos de fundo
cônico tipo Falcon cujo peso inicial é conhecido. Em seguida, os tubos contendo as
frações foram postos à liofilização, com posterior pesagem ao fim do processo. A
diferença entre o peso final e inicial do tubo é a massa de extrato ou fração liofilizados.
A quantidade em massa (mg) contida em cada mL será multiplicada pelo volume total
da extração e o resultado compreenderá o peso seco obtido na extração (mg). Já o
rendimento total (expresso em porcentagem), é a relação da massa de farinha
investida na extração e a massa de cada extrato ou fração obtida após a liofilização.

Atividade leishmanicida
Formas promastigotas de L. infantum foram cultivadas em meio RPMI 1640 (Sigma-
Aldrich, EUA) a 27 ± 2 °C por 4 dias até a fase log. Um volume de 160 μL de um inóculo
parasita (10⁶ parasitas/mL) foram adicionadas em uma placa de 96 poços, seguidos do
extrato bruto e frações, em diluições seriadas de 1000 - 1,0 μg/mL, e incubados por 24
horas a 27 ± 2 °C. A viabilidade parasitária foi medida pelo ensaio de redução da
resazurina. 20 μL de resazurina (1,0 mM) foram adicionados às placas após cada tempo
de incubação e, em seguida, incubados novamente por 24 horas (CORRAL et al., 2013).
A absorbância foi determinada a 570 nm e 600 nm em leitor de microplacas. A
porcentagem de inibição foi calculada usando a Equação:
Inibição %=100-A570t - A600t × R0A570c - A600c × R0*100
Onde: A570t: Absorbância do tratamento a 570 nm; A600t: Absorbância do
tratamento a 600 nm; A570c: Absorbância do controle a 570 nm; A600c: Absorbância
do controle a 600 nm; R0: Fator de correção da influência do meio na redução da
resazurina, o produto da absorbância do meio a 570 nm pela absorbância do meio a
600 nm.

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Análise Morfológica por Microscopia


Formas promastigotas de L. infantum foram cultivadas em meio RPMI 1640 a 27 ± 2 °C
por 4 dias até a fase log. Um volume de 200 μL de um inóculo de parasita (10⁷
parasitas/mL) foram adicionadas as frações, na concentrações de 1000 μg/mL em
placa de 96 poços, e incubados por 4 horas a 27 ± 2 °C, em triplicata. Após esse
período, uma alíquota de 10 μL /triplicata foi homogeneizada e colocada sobre lâmina
para microscopia e deixado secar à temperatura ambiente em capela de fluxo laminar.
As lâminas foram então fixadas com metanol e coradas com o corante Panótico rápido.
A análise morfológica foi realizada pela observação de alterações das estruturas
celulares em comparação com o controle, quanto à forma e número do flagelo, do
núcleo, e do cinetoplasto, quanto a forma da membrana e da célula, e quanto à
presença de células isoladas ou agrupadas.

Caracterização proteica inicial


Dosagem de proteínas solúveis
Separadamente, 2 mg de cada fração obtida foram solubilizados em 1,0 mL de água
destilada para determinação do teor de proteínas solúveis totais, obtido conforme
método descrito por Bradford (1976). A dosagem foi realizada em microplacas de 96
poços utilizando albumina sérica bovina como padrão (1,0 mg/mL).

Detecção de inibidores de proteases


Os inibidores de protease presentes nas frações da semente de T. toxicaria foram
rastreados de acordo com a metodologia proposta por Xavier-Filho et al. (1989),
utilizando azocaseína 1% como substrato para as enzimas: tripsina (0,3 mg/mL),
quimotripsina (0,2 mg/mL), papaína (0,2 mg/mL) e bromelaína (0,3 mg/mL). A hidrólise
do substrato pelas enzimas foi quantificada em espectrofotômetro em comprimento
de onda de 410 nm.

Análises estatísticas
Os dados foram expressos como média ± desvio padrão de três repetições (n = 3). A
análise de variância (ANOVA) foi realizada utilizando o GraphPad Prism® versão 6.01
(GraphPad Software, San Diego, CA, EUA), com pós-teste de Tukey. Um valor de p <
0,05 será considerado estatisticamente significativo.

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Resultados e Discussões

Determinação de peso seco e rendimento


O fracionamento foi feito usando o método de Scopes, de precipitação com (NH₄)₂SO₄,
nas faixas de saturação: 0-25% (F1), 25-50% (F2), 50-75% (F3) e 75-100 % (F4), que
compreende as 4 frações que foram usadas como amostras. Na Tabela 1 podemos ver
os resultados de peso seco e rendimento do processo.

A F1 obteve um peso seco de 0,031 g, com rendimento de 0,124%. A F2 obteve 0,1159


g de peso, e rendimento de 0,464% em relação à massa investida. A fração F3 obteve
0,0755 mg de peso seco, com rendimento de 0,302%. A última fração, F4, obteve um
peso seco de 0,04157 g, e rendimento de 0,1663%. O rendimento total, a soma dos
rendimentos de cada fração, foi de 1,056%.

Podemos observar que as frações F2 e F3 obtiveram os melhores resultados, em


termos de rendimento, seguido da F4 e, por último, F1. Isso mostra que o processo de
saturação separa o Extrato Bruto em frações heterogêneas, com diferentes
quantidades de massa, sendo a maior parte na região central da escala de saturação.

Caracterização proteica inicial


Dosagem de proteínas solúveis
As frações apresentaram percentual protéico acima de 20% em relação à massa total
presente, sendo possível inferir que o fracionamento foi capaz de concentrar as
proteínas presentes no extrato aquoso da semente de T. toxicaria, uma vez que o
Extrato Bruto (EB) possui uma concentração de proteínas de 0,03 mg/mL em 1 mg/ml
de massa sendo igual a 2,96% da massa. A fração 0-25 resultou em 0,25 mg/mL de
proteínas em 1mg/ml da amostra, com porcentagem para a massa igual a 24,80%. A
fração 25-50 obteve uma concentração de 0,394 mg/mL e uma porcentagem de
39,39% para 1 mg/ml da amostra. A fração 50-75 obteve uma concentração de 0,35
mg/mL de proteínas em 1mg/ml, com uma porcentagem de 35,40%. A fração 75-100
obteve uma concentração final de proteínas de 0,216 mg/mL para 1 mg/ml de
amostra, equivalente a 21,63%.

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Com esses resultados, podemos observar uma mudança clara nas concentrações de
proteínas nas frações em relação ao Extrato Bruto, mostrando a capacidade do
método de fracionamento de Scopes em precipitar e enriquecer proteínas do extrato
aquoso de T. toxicaria. Com isso, todas frações obtiveram uma concentração mais alta
de proteínas em comparação ao EB, sendo que as frações 25-50 e 50-75 obtiveram os
dois maiores valores, respectivamente.

Detecção de Inibidores de Proteases


A avaliação da presença de inibidores de proteases foi realizada com o uso da enzima
papaína. A atividade enzimática total (100%) foi estimada pela incubação da enzima
(papaína com o substrato inespecífico azocaseína 1%. A inibição da atividade
proteolítica foi avaliada pela incubação da enzima com a amostra, seguida da adição
do substrato. A redução da atividade enzimática sobre o substrato é observada pela
diminuição do produto que é monitorado a 410 nm, indicando a presença de inibidor
da protease. Conforme Tabela 2, as amostras testes promoveram inibição de papaína,
em diferentes níveis. Os valores estão expressos em % de atividade inibitória, sendo a
inibição o resultado da atividade da enzima no controle (100%) subtraída da atividade
residual da enzima incubada com as amostras. A0-25 (F1) foi a amostra que
apresentou a inibição mais elevada, seguido de A25-50 (F2) e por A75-100 (F4). Por
último, temos a fração A50-75 (F3).

Papaína é uma classe de proteases presentes em diversos protozoários, entre eles a


leishmania. Proteases são fundamentais para o processo patológico da leishmania,
influenciando vias de sinalização, impedindo a ativação da célula alvo, e podem ser
alvos para a inibição e redução da virulência desse parasita (Sreedharan et al, 2023). A
presença de inibidores de papaína no extrato e frações derivadas pode ser um fator
importante para a sua ação leishmanicida, impactando na capacidade de sobrevivência
do parasita na forma promastigota.

Atividade leishmanicida
O Ensaio de viabilidade celular foi usado para determinar a atividade leishmanicida das
amostras testadas. A redução da resazurina, lida em espectrofotômetro, foi
empregada para se obter a porcentagem de inibição de crescimento da forma
promastigota de Leishmania infantum, e o resultado está presente no Figura 1.
Observando o gráfico, vemos que o Extrato Bruto e todas as frações apresentaram
atividade inibitória sobre a viabilidade das células de leishmanias.

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O Extrato Bruto (EB) apresentou IC50 de 1,034 mg/mL, enquanto a fração F1


apresentou uma IC50 de 3,967 mg/mL. As frações F2, F3 e F4 mostraram IC50 de 0,044
mg/mL, 0,176 mg/mL e 0,001 mg/mL, respectivamente. Além disso, as frações F2 e F3
promoveram inibição de crescimento de 100% na concentração de 1 mg/mL e 0,01
mg/mL, respectivamente.

Esse efeito na viabilidade das leishmanias pode estar relacionado com a presença de
inibidores de proteases cisteínicas observados e/ou alterações morfológicas na célula
da leishmania que podem resultar na perda da viabilidade celular. Mais estudos são
necessários para determinar como essas moléculas contribuem para a atividade dessas
frações contra a leishmania.

Ensaio de Visualização Microscópica


Na figura 2 podemos observar algumas fotos das lâminas não tratadas com as
amostras (controle negativo). Tanto as análises quanto as fotos foram registradas no
microscópio óptico com aumento de 1000X. Em A podemos observar 4 células de
Leishmania infantum na forma promastigota. O corpo celular delas possui formato
fusiforme, com flagelo na porção posterior, e afinamento na porção anterior. Em C, da
mesma figura, podemos observar uma única célula, também com aparência de acordo
com o esperado para uma célula de leishmania na forma promastigota em cultura.

Na figura 3 observamos células de L. infantum após exposição com Extrato Bruto (EB).
Em A, podemos observar uma alteração marcante encontrada nessas leishmanias, que
se repete ao longo da amostragem: as células de leishmania possuem o flagelo
encurtado. Além disso, em D podemos ver duas células de leishmania, na direita, uma
célula com morfologia regular para comparação, e, na esquerda, uma célula com corpo
celular de tamanho reduzido. Ambos achados podem ter sido causados pela exposição
da leishmania ao EB, e podem estar correlacionadas com a redução da viabilidade
celular observada in vitro, pois alterações no flagelo podem causar redução da
capacidade de percepção de nutrientes do parasita. Os flagelos da leishmania são
fundamentais para a capacidade sensorial de nutrientes no meio, e a perda dessa
capacidade compromete a viabilidade celular do protozoário (Kelly et al, 2021). Os
achados nas lâminas são condizentes com os observados em outro estudo feito com
extratos botânicos (do Socorro et al, 2022).

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Na figura 4 observamos a L. infantum exposta a F2. Em A, as barras pretas mostram


que a célula à direita aparenta ter perda de volume celular, sendo que seu tamanho
todo é equivalente ao corpo celular de uma leishmania em divisão (à esquerda), não
contando com o seu flagelo. Em B podemos observar duas leishmanias juntas,
possivelmente em divisão celular, porém uma das células tem um flagelo de tamanho
reduzido.

Na figura 5 observamos leishmanias após a exposição com a fração F3. Em C, podemos


ver um achado atípico, uma leishmania com dois flagelos, apontado pela seta preta.
Esse achado já foi observado em estudo de outros autores (do Socorro et al, 2022).
Além disso, vemos em B e C células com flagelo de tamanho reduzido, e em A, uma
célula de leishmania com tamanho reduzido, à direita.

Na figura 6 é possível observar o efeito da incubação com a fração F4. Em A


observamos duas células de leishmania, sendo que uma está com o flagelo com
tamanho reduzido. Já em B é possível observar uma leishmania biflagelar, que também
pode ser observada na figura 5.

Conclusão

Considerando os resultados apresentados, podemos observar que o Extrato Bruto e


frações derivadas apresentam atividade leishmanicida, que parece ser enriquecida
após o fracionamento. As amostras investigadas comprometeram a viabilidade celular
e causaram alterações na morfologia da célula da Leishmania infantum. Os achados
são condizentes com outros estudos presentes na literatura, e nos oferecem uma
hipótese quanto ao modo de redução de viabilidade, por meio do comprometimento
estrutural do flagelo. Essas alterações estruturais podem estar relacionadas com a
perda da capacidade de aquisição de nutrientes do meio, seja por redução da
capacidade de locomoção e consequentemente busca de nutrientes, seja por perda de
receptores e de sinalização celular associados ao flagelo.

A inibição da papaína nos possibilita propor a associação da inibição de proteases


papaína-like do protozoário e o mecanismo de má formação do flagelo. O processo de
fracionamento foi capaz de concentrar proteínas do Extrato Bruto nas frações
derivadas, e pode ter concentrado inibidores enzimáticos de origem proteica com
função leishmanicida, nas frações F2, F3 e F4. No entanto, outros modos de ação

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leishmanicida podem estar envolvidos no processo de inibição da L. infantum, não


estando restritos apenas a inibidores enzimáticos.

Por fim, é importante continuar as investigações do EB e frações derivadas quanto à


presença de outras proteínas bioativas. Além disso, avaliar a citotoxicidade das
amostras de Tephrosia toxicaria é um passo importante para determinar a sua
segurança como adjuvante no tratamento dessa protozoose. Testar as amostras com
as drogas comerciais já empregadas no combate ao parasita pode oferecer mais
informações quanto às possibilidades de aplicação desses bioativos, podendo atuar
como potencializador das drogas comercialmente empregadas, contribuindo com a
luta contra as cepas cada vez mais resistentes da L. infantum.

Prosseguindo com os estudos, pretendemos contribuir para a identificação de novas


moléculas candidatas ao desenvolvimento de fármacos e adjuvantes para o
tratamento das diferentes formas de leishmaniose.

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Anexos

1400
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eCICT 2023

Figura1_AtividadeLeishmanicida

Figura2_ControleNegativo

1401
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eCICT 2023

Figura3_EB

Figura4_F2

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Figura5_F3

Figura6_F4

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Tabela1_PesoSeco&Rendimento

Tabela2_papaína

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB1068

AUTOR: INGRID MARIA DA SILVA OLIVEIRA

COAUTOR: ANA CECÍLIA CORREIA SANTOS DAS CHAGAS

COAUTOR: LETICYA SAMARA DE LIMA COSTA

ORIENTADOR: RENATA GONCALVES FERREIRA

TÍTULO: De volta para casa: Personalidade e reabilitação para soltura de


macacos pregos cativos

Resumo

A personalidade animal é estudada na natureza como um fator que influencia em


diversos traços ecológicos, já no cativeiro ela pode auxiliar na escolha de animais para
formação de grupo e reintrodução de animais. Macacos-prego (Sapajus spp.) exibem
grande habilidade manipulativa, incluindo capacidade para o uso de ferramentas,
demonstrando uma alta capacidade cognitiva, sendo o segundo gênero mais comum
em centros de resgate. Os indivíduos resgatados precisam passar por reabilitação para
voltarem à natureza e para reintroduzir animais é necessário prepará-los para que
possam sobreviver no novo ambiente. Neste trabalho tivemos como objetivo avaliar se
a personalidade dos animais influencia no desempenho durante testes de reabilitação
manipulativo-alimentar. Este estudo foi realizado com 32 animais mantidos em 7
grupos no CETAS de Natal-RN. Três observadores confiáveis responderam a um
questionário baseado no Hominoid Personalty Questionary para determinar a
personalidade. Para reabilitação, os animais receberam cocos da família Aracaceae e
tenébrios escondidos em troncos e caixas. Encontramos três eixos de personalidade e
os nomeamos como: Assertividade, Socialidade e Neuroticismo. Confirmamos a
hipótese que personalidade influencia a resposta à reabilitação, com indivíduos mais
assertivos interagindo mais com o enriquecimento ofertado.

Palavras-chave: Personalidade. Reabilitação. Comportamento manipulativo.

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TITLE: Back home: Personality and rehabilitation for the release of captive
capuchin monkeys

Abstract

Animal personality is studied in nature as a factor that influences several ecological


traits, while in captivity it can help in choosing animals for group formation and
reintroduction of animals. Capuchin monkeys (Sapajus spp.) exhibit great manipulative
ability, including the ability to use tools, demonstrating a high cognitive capacity, being
the second most common genus in rescue centers. Rescued individuals need to
undergo rehabilitation to return to nature and to reintroduce animals it is necessary to
prepare them so that they can survive in the new environment. In this work, we aimed
to evaluate whether the animals' personality influences their performance during
manipulative-feeding rehabilitation tests. This study was carried out with 32 animals
kept in 7 groups at CETAS in Natal-RN. Three trusted observers completed a
questionnaire based on the Hominoid Personalty Questionary to determine
personality. For rehabilitation, the animals received coconuts from the Aracaceae
family and mealworms hidden in logs and boxes. We found three personality axes and
named them as: Assertiveness, Sociality and Neuroticism. We confirmed the
hypothesis that personality influences the response to rehabilitation, with more
assertive individuals interacting more with the offered enrichment.

Keywords: Personality. Rehabilitation. Manipulative behavior.

Introdução

A personalidade animal, largamente entendida como diferenças individuais que são


consistentes ao longo do tempo e em diferentes contextos (Réale et al., 2007), é
estudada na natureza como um fator que influencia em diversos traços ecológicos
como dominância, dispersão, sobrevivência e nas respostas fisiológicas ao estresse
social e ambiental (Nunes, 2017). Em cativeiro ela pode auxiliar na escolha de grupo,
medir potenciais traços que aumentam a chance de sobrevivência de animais
reintroduzidos e colaborar com planos de conservação de animais silvestres (Bremner-
Harrison et al., 2004).
Macacos-prego do gênero Sapajus são primatas de tamanho médio que pesam entre
2,5 kg e 4,5 kg e medem cerca de 50 cm, com corpo robusto, crânio com desenvolvida
crista sagital e caninos mais longos adaptados para durofagia (Fragazy, et al., 2004), de
hábito onívoro, realizam forrageio manipulativo destrutivo. Neste forrageio os animais
buscam alimentos entre as folhagens, destroem galhos podres, cupinzeiros e
formigueiros, descascam alimentos difíceis e chegam a fazer uso de pedras como

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instrumentos para quebrar cocos (Fragaszy et al, 2004). Estes animais ainda exibem
alta capacidade cognitiva e repertório comportamental complexo (Fragaszy, et al.,
2004).
Estudos recentes apontam que macacos-prego apresentam comportamentos similares
a traços de personalidade encontrados no modelo “Big-Five” em humanos (Morton et
al., 2013; Uher et al., 2013; Ferreira et al., 2016). Nesta abordagem descrevem-se cinco
fortes e recorrentes traços de personalidade que variam de acordo com a espécie
estudada, em outros primatas são descritos os traços: Sociabilidade, Dominância,
Agressividade, Brincadeira, Assertividade, Excitabilidade, Abertura para experiências,
Atividade, Atenciosidade, Medo, Neuroticismo e Irritabilidade (Freeman & Gosling,
2010; Morton et al., 2013).
Foi instituída pela ONU a década da restauração dos ecossistemas (2021-2030) com a
intenção, dentre outros objetivos, de deter a perda da biodiversidade. Uma forma de
contribuir com essa meta é reintroduzindo animais que foram retirados de seu habitat,
o que além de permitir o retorno dos indivíduos ao seu ambiente natural, fortalece as
populações que sofreram declínios (Cubas et al., 2014). Ainda que a posse de animais
silvestres em cativeiro seja ilegal no Brasil (Lei Federal nº 9.605 / 1998), essa prática
ainda ocorre em todo o território nacional. Macacos-prego (Sapajus spp.) são
demasiadamente encontrados nos Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) e
em zoológicos no Brasil (Levacov et al., 2011). Os CETAS são instituições oficiais do
IBAMA cuja função é receber animais silvestres através de entrega voluntária, resgate
ou oriundos de apreensão, identificar, triar, avaliar, recuperar, reabilitar e realocar os
animais na natureza.
Para reintroduzir animais é necessário prepará-los para que possam sobreviver no
novo ambiente, evitando predadores e adquirindo recursos (WAZA, 2015). Nos CETAS
em geral há pouca intervenção voltada ao treino das habilidades manipulativas, por
isso, desenvolver técnicas de reabilitação manipulativo-alimentar é de vital
importância, proporcionando estímulos que auxiliarão a desenvolverem habilidades
necessárias à vida livre (Jacobsen et al., 2010). No entanto, nem sempre as atividades
manipulativas funcionam como o esperado e um dos motivos pode ser a variação
intraespecífica nas respostas comportamentais, que refletiria as diferenças de
personalidade (Dall, 2004; Sih et al., 2004; Rèale et al., 2007).
Assim, iremos analisar se animais com traços de personalidade diferentes irão
apresentar diferenças no processo de reabilitação manipulativo-alimentar e dessa
forma, refinar métodos de reabilitação comportamental dos indivíduos de forma que
estejam aptos para soltura.

Metodologia

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O trabalho foi realizado no Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), localizado


no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) na cidade de Natal, no Estado do Rio
Grande do Norte. Os macacos-prego que são mantidos no CETAS/ RN, estão alocados
em 7 recintos com enriquecimento ambiental que medem 5m x 2m x 2,80m a 5m x 4m
x 2,80m; os animais recebem alimentação diária composta por frutas, legumes,
verduras, ovos, ração e sementes, também possuem água ad libitum.
Participaram deste estudo 16 macacos-prego (Sapajus spp.) (quadro 1 em Anexos),
sendo 9 machos e 7 fêmeas, distribuídos em grupos de 3 a 5 indivíduos. Os dados de
faixa etária são baseados em tamanho corpóreo, pois por serem animais de apreensão
não se tem conhecimento das suas idades. Mas ao todo 32 macacos-prego
participaram das sessões de reabilitação.
A observação comportamental foi realizada em todos os grupos por 20 min, 4 dias por
semana, com comportamentos registrados a cada 2 min, através do método de
Varredura. Durante os 20 min de observação também são registradas todas as
ocorrências de comportamento social e comportamentos indicativos de estresse. A
coleta dos dados foi realizada através do software Prim8, previamente instalado em
celulares Android. Todos os dados foram transcritos em planilhas de Excel. O etograma
utilizado possui 15 macrocategorias sendo elas: Autodirigido, Alimentar, Estereotipia,
Subordinação, Agressão, Social Positivo, Locomoção, Brincar Solitário, Manipular
Ambiente, Sexual, Aprender, Interação Humana, Outros, Vigilância e Observar,
baseadas no etograma em Ferreira et al. (2016).
Para determinar a personalidade dos indivíduos utilizamos o Hominoid Personalty
Questionary criado por Weiss et al. (2009) e utilizado por Morton et al. (2013) com
Macacos-prego (Sapajus apella). O questionário utilizado foi traduzido e adaptado por
Nunes (2017), com alterações em alguns adjetivos no presente trabalho (Quadros 2 e 3
em Anexos). O questionário possui 54 adjetivos onde cada indivíduo recebe uma
pontuação em uma escala de 1 até 7. Sendo que 1 indica que a característica é pouco
presente no indivíduo e 7 que aquela característica é muito presente. O questionário
foi aplicado em67 macacos-prego e respondido por 3 observadores com no mínimo
três meses de contato com os indivíduos.
Utilizamos a análise de coeficiente de correlação intraclasse (ICC) para avaliar a
concordância das respostas entre os observadores e a consistência do adjetivo
individualmente . O critério de confiabilidade escolhido foi usar somente os adjetivos
que apresentassem valor de p < 0,05, totalizando 41 adjetivos confiáveis( Quadros 3 e
4 em Anexos).
Uma análise fatorial de componentes principais (PCA) foi utilizada para gerar os eixos
de personalidade com os adjetivos que apresentaram confiabilidade. Para isso foi

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utilizada a média por indivíduo amostral da resposta dos observadores para cada
adjetivo que apresentou concordância no ICC.
As observações da reabilitação dos animais foram realizadas por 30 minutos com scans
a cada 30 segundos, com os animais recebendo alimentação rotineira. Realizamos 2
protocolos para a reabilitação, o protocolo 1 incluiu treinamento com caixas com
tenébrios, que consistia em colocar tenébrios em uma caixa de papelão e cobri-los
com folhiço e o 2 incluiu o treinamento de quebra de cocos, pertencentes à família
Aracaceae (Palmae), como Acrocomia aculeata, popularmente conhecida por
macaúba, além de Syagrus cearensis (Catolé) e Syagrus romanzoffiana (Jerivá), com
pedras.
Os registros foram realizados por áudio e posteriormente transcritos em planilhas de
Excel, os comportamentos registrados foram: manipula enriquecimento, descasca
enriquecimento, esfrega enriquecimento, brinca com enriquecimento, arremessa
enriquecimento, bater 0 (bate coco no chão), bater 1 (bate o coco com a pedra), bater
2 (apoiar o coco em uma bigorna e batê-lo com a pedra), êxito, come enriquecimento,
locomoção enquanto come o enriquecimento, locomoção bípede com o
enriquecimento, locomoção com enriquecimento, aproximação com hesitação,
aproximação , cheira enriquecimento, lambe enriquecimento, morde enriquecimento,
guardar enriquecimento, observa indivíduo, scrounge (surrupiar), tolera scrounge,
afastamento por desinteresse, afastamento por ameaça, ameaça, briga, afasta e vigia
indivíduo.
Utilizamos o programa R para construir modelos de regressão linear utilizando
manipulação, êxito, locomoção, interação boca-enriquecimento, agonismo e surrupio
como variáveis resposta e sexo e personalidade como variáveis preditoras.

Resultados e Discussões

Encontramos três eixos de personalidade em nossas análises, em ordem de


componentes 1 a 3 do Quadro 5: Assertividade (explicou 40,116% da variância);
Socialidade (explicou 22,170% da variância); e Neuroticismo (explicou 7,391% da
variância).
Verificamos que dimensão Assertividade correlacionou positivamente com os
comportamentos: manipulação-êxito (B= 0.50809 T= 1.885 P= 0.0741) (Gráfico 1),
interação boca-enriquecimento (B= 0.0038246 T= 2.810 P= 0.0108) (Gráfico 2) e
surrupiar (B= 0.0024108 T= 1.985 P= 0.0611) (Gráfico 3) durante os testes de
reabilitação. Essa dimensão do questionário é formada por características como
Agressivo e Dominante, como também já visto em outros estudos com macacos-prego

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(Morton, 2013). A agressividade foi discutida como uma característica oposta à


reações de medo e cautela, ou seja, indivíduos mais agressivos tendem a ser menos
medrosos e cautelosos, em alguns trabalhos essa reação de cautela envolveu interagir
menos frequentemente com objeto ou alimento novo (Gosling, 2001), isso explicaria
porque nossos animais considerados mais assertivos interagiram mais com o
enriquecimento. Também é possível que por serem mais dominantes eles tivessem
maior liberdade para ficar próximo ao enriquecimento, manipula-lo e comê-lo. Além
disso, indivíduos mais assertivos são mais persistentes e provavelmente por isso
obtiveram mais êxitos durante as sessões de reabilitação.
Os outros eixos encontrados (Socialidade e Neuroticismo) não correlacionaram com
nenhuma categoria de comportamento.
Quanto ao sexo dos animais, constatamos que as fêmeas correlacionaram
positivamente com surrupiar (B= 0.0052001 T= 1.867 P= 0.0766) (Gráfico 4), isso quer
dizer que as fêmeas realizam mais scrounge que os machos. Os machos no geral são
maiores e mais fortes que as fêmeas e capazes de obter recursos não disponíveis para
fêmeas e imaturos (Robinson, 1986). Dessa forma, as fêmeas podem estar se
alimentando do esforço dos machos, comendo os restos de comida e economizando a
energia que gastariam se usassem elas mesmas as ferramentas (A Moura et al, 2010).

Conclusão

Concluimos então que a personalidade e o sexo são fatores que influenciam o


desempenho durante a oferta de alimentos para reabilitação, visto que as fêmeas e os
animais mais assertivos realizaram mais scrounge, além disso, os animais mais
assertivos também interagiram mais com o enriquecimento e obtiveram mais êxitos.
Seria de extrema importância realizar esse tipo de trabalho com mais animais e em
mais locais para que consigamos um dia montar protocolos de reabilitação e soltura
ideais para macacos-prego levando em consideração suas personalidades.

Referências

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Anexos

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Quadro 1: Indivíduos e testes realizados por eles

Quadro 2: Adjetivos e descrições traduzidos do Hominoid Personalty Questionary.


Parte 1

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eCICT 2023

Quadro 3: Adjetivos e descrições traduzidos do Hominoid Personalty Quetionary. Parte


2

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eCICT 2023

Quadro 4 - Análise de ICC, de cada adjetivo com a confiabilidade das avaliações


individuais, concordância entre observadores e significância (p). Parte 1

1415
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eCICT 2023

Quadro 5 - Análise de ICC, de cada adjetivo com a confiabilidade das avaliações


individuais, concordância entre observadores e significância (p). Parte 2

Quadro 6: Eixos de personalidade encontrados e seus respectivos adjetivos.

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eCICT 2023

Gráfico 1: Correlação entre Assertividade e Manipulação + Êxito

1417
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eCICT 2023

Gráfico 2: Correlação entre Assertividade e Interação boca + enriquecimento

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eCICT 2023

Gráfico 3: Correlação entre Assertividade e Surrupio

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eCICT 2023

Gráfico 4: Diferença entre machos e fêmeas na realização de surrupio

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CÓDIGO: SB1069

AUTOR: ITALO SERGIO DE OLIVEIRA COSTA

COAUTOR: KEZMY HUGO ALVES GUILHERME

COAUTOR: MARIA ELOISA GOMES TEIXEIRA PEIXOTO

COAUTOR: ANAMARIA DAL MOLIN

ORIENTADOR: ANDROS TAROUCO GIANUCA

TÍTULO: CONTRIBUIÇÃO PARA UMA SÉRIE TEMPORAL VISANDO


AVALIAR O IMPACTO DA URBANIZAÇÃO SOBRE A BIODIVERSIDADE
GLOBAL: AMOSTRAGENS PARA INVENTÁRIOS DA BIODIVERSIDADE DE
INSETOS

Resumo

A crescente urbanização tem influenciado padrões de diversidade e abundância de


vertebrados e invertebrados, com impactos para o funcionamento, estabilidade e
provisão de serviços ecossistêmicos considerados fundamentais para o bem-estar das
sociedades humanas. Uma das maneiras de compreender melhor os efeitos da
urbanização é conduzir inventários da biodiversidade representada em áreas de
vegetação próximas a influência antrópica, em comparação a áreas bem conservadas ou
"naturais". Para tais levantamentos, há alguma convergência nos protocolos
estabelecidos em levantamentos de entomofauna sobre o uso de armadilhas de
interceptação de insetos voadores como sendo um dos mais abrangentes em termos de
captura. Um dos modelos dessas é a armadilha Malaise. Existem já algumas variações
de modelos desta armadilha, sendo uma delas a coloração de sua parte superior, que
pode ser branca ou preta. Neste trabalho, tivemos como objetivo contribuir para o
conhecimento de métodos otimizados para levantamentos faunísticos, testando as
diferenças de desempenho de captura entre armadilhas Malaise confeccionadas com o
topo na cor branca e na cor preta, colocadas na Floresta Nacional de Nísia Floresta, RN.

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Palavras-chave: insetos. Inventários de biodiversidade. Coleta passiva. Mata


Atlântica

TITLE: CONTRIBUTION TO A TIME SERIES TO ASSESS THE IMPACT OF


URBANIZATION ON GLOBAL BIODIVERSITY: SAMPLING FOR INSECT
BIODIVERSITY INVENTORIES

Abstract

The growing urbanization has influenced patterns of diversity and abundance of both
vertebrates and invertebrates, impacting functions, stability and provision of ecosystem
services considered essential for the well-being of human societies. One of the strategies
to better understand the effects of anthropization is to conduct biodiversity inventories
of forested areas that are next to anthropic influence, and compare them to those next to
preserved areas (“natural”). In such surveys, there is some convergence as to the
methods used to sample insect fauna, in that it is necessary to use flight interception
traps. One of such traps is the Malaise trap, which itself already presents a few variants,
including changing the color of the upper portion of the trap, which can be white (most
common) or black. This study aimed to contribute to the knowledge of optimized
methods for faunistic surveys, comparing the performance of Malaise traps with white
and with black tops, placed at the Nisia Floresta National Forest, RN, Brazil.

Keywords: insecta. biodiversity surveys. insect traps. atlantic forest.

Introdução

A crescente urbanização tem influenciado padrões de diversidade e abundância de


vertebrados e invertebrados, com impactos para o funcionamento, estabilidade e
provisão de serviços ecossistêmicos considerados fundamentais para o bem-estar das
sociedades humanas (MERCKX et al., 2018, PIANO et al., 2019, SOL et al., 2020). Por
outro lado, a urbanização também pode influenciar a biodiversidade através de efeitos
regionais, afetando, por exemplo, a conectividade entre as manchas de habitat na escala
da paisagem (GIANUCA et al. 2018). Enquanto a maior parte dos estudos sobre os
impactos da urbanização tem sido realizada em escalas locais e regionais, pouco se sabe
sobre como estes impactos variam em escalas macroecológicas. O projeto Lifeplan, ao
qual este projeto esteve vinculado, visa construir a primeira base de dados global com
ampla cobertura, tanto espacial como temporal, para avaliar como processos locais e
regionais ligados à urbanização influenciam padrões de abundância e diversidade numa
escala planetária.
Nos levantamentos realizados, há alguma convergência nos protocolos estabelecidos em
levantamentos de fauna sobre o uso de armadilhas de interceptação de insetos voadores
como sendo um dos mais abrangentes em termos de captura (KITCHING et al., 2001).

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A armadilha do tipo Malaise foi desenvolvida pelo entomólogo sueco René Malaise
(1892-1978). Enquanto observava os insetos que ficavam presos em sua barraca de
acampamento, percebeu a existência de uma tendência a buscar o alto da tenda ao invés
da saída, que permanecia livremente aberta (VARDAL, TAEGER, 2011). A armadilha
consiste de um tecido (tela) instalado como uma tenda, e um outro dividindo
verticalmente o interior. Os organismos são interceptados em voo pelo tecido do meio e
tendem a subir em direção ao topo da armadilha, onde encontraram uma abertura para
um frasco com álcool. Atualmente esta armadilha tem diversas variações, tanto
comerciais, como artesanais, em dimensões, malha de tecido utilizada, e
posicionamento. A variação mais comum da armadilha Malaise utiliza o topo com
coloração branca, e tradicionalmente é posicionada em campo de forma que o tecido,
juntamente com a claridade solar, comporte-se como um atrativo para que os insetos
interceptados subam em direção ao frasco (STEYSKAL et al. 1981). Este método tem
uma alta taxa de captura de dípteros e himenópteros, principalmente quando associado a
cores (CAMPOS W, PEREIRA D,SCHOEREDER J, 2000).
Diversos autores, como Campbell e Hanula (2007), sugerem que a cor da armadilha
poderia influenciar na modulação das ordens coletadas. Considerando-se também uma
alegação popular comum, segundo a qual cores escuras "tenderiam a atrair mais insetos
devido a segurar mais calor", em oposição ao empiricamente observado que a
luminosidade, especialmente UV, funciona como atrativo para alguns táxons;
juntamente a um recente trabalho comparativo entre diferentes modelos de armadilha
malaise (UHLER et al. 2022). Propomos aqui testar as diferenças de eficiência de
captura entre armadilhas Malaise confeccionadas com o topo na cor branca e na cor
preta. Além disso, devido à grande quantidade de mão-de-obra necessária para a
curadoria e identificação especializada, e devido a restrições de protocolo para parte dos
espécimes, propomos testar se a identificação inicial poderia ser viabilizada a partir da
captura de imagens de alta resolução, tecnologia que tem sido utilizada em inventários
de museus de história natural (p. ex. MANTLE et al., 2012; SHORT et al., 2018), para
níveis de ordem.

Metodologia

Os estudos foram conduzidos na Floresta Nacional de Nísia Floresta, município de


Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil, em área de mata atlântica, com clima
Tropical tipo Aw (Koeppen), (6°5’S, 35°12’W). As amostras foram recolhidas
semanalmente, sendo que os dados aqui utilizados correspondem ao período de junho
até dezembro de 2022, época que compreende o final da estação chuvosa e início da
estação seca no estado do Rio Grande do Norte.
Foram usados dois equipamentos que se distinguem pela coloração do tecido em seu
topo, sendo uma delas de cor branca (Malaise 1) e a outra na cor preta (Malaise 2). As

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armadilhas foram instaladas a cerca de 15 metros uma da outra, a fim de evitar impacto
de captura entre elas. Ambas as armadilhas foram colocadas em áreas planas cercadas
por vegetação alta, característica de uma floresta ombrófila (RADAMBRASIL, 1981), e
grande quantidade de serrapilheira. As armadilhas foram colocadas no centro da parcela
principal, com o frasco de álcool direcionado para o Norte, e sempre com a parte
coletora mais elevada que a armadilha, conforme protocolo (Lifeplan, 2022). O material
foi recolhido semanalmente em álcool etílico 95% e levado ao laboratório, onde foi
armazenado sob refrigeração (4°C a -20°C).
Os espécimes foram identificados ao nível taxonômico de Ordem. Parte do material
coletado foi reservado para sequenciamento genético (metabarcoding) conforme
protocolo do projeto-matriz (LifePlan, 2022). Para esses casos, em que não seria
possível a triagem a partir de espécimes físicos (Malaise 1 - topo branco), as amostras
foram fotografadas em alta resolução utilizando uma câmera Canon EOS Rebel T6i, 24
megapixels. Devido a estratificação de camadas focais produzidas pela quantidade de
amostras nas coletas, foi necessário usar outro artifício do software, o empilhamento de
foco. Este consiste em fazer várias fotos, cada uma captando uma camada diferente, da
mais superficial à mais profunda e unir todas para gerar uma única imagem com todos
os artrópodes visíveis em foco, possibilitando seu reconhecimento e identificação. A
triagem do material baseada em imagens foi realizada utilizando o software Adobe
Photoshop 2022 (versão 23.1.1) , através da ferramenta “Contagem”, que insere
marcadores de numeração sequencial de objetos em determinada imagem. A partir
destas, foram criadas pastas para cada possível ordem de artrópodes identificadas por
cores diferentes, permitindo a diferenciação dos marcadores.
A quantidade de insetos por grupo taxonômico foi tabulada e, ao final, realizados testes
estatísticos comparativos para testar se houve diferenças significativas de abundância
total de artrópodes coletados entre os tratamentos, ou seja, entre as armadilhas brancas e
pretas, utilizamos análise de variância (ANOVA) univariada permutacional, através da
função “lmp” do pacote lmPerm no software estatístico R (versão 4.2.1). Para tanto,
utilizamos o logaritmo das abundâncias como variável dependente e o tratamento
(brancas ou pretas) como fator. Também usamos esta mesma análise (ANOVA) para
testar se houve diferenças significativas de diversidade de ordens de artrópodes entre os
tratamentos. Para isso, utilizamos o índice de Shannon como variável dependente e o
tratamento (brancas ou pretas) como um fator. O material coletado será depositado ao
final dos experimentos na Coleção Entomológica da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (CE-AAVF DMP/UFRN).

Resultados e Discussões

Os resultados brutos com total de indivíduos por mês para cada uma das armadilhas
Malaise são apresentados nas tabelas 1 (topo branco) e 2 (topo preto). As comparações

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de desempenho realizadas são apresentadas nas figuras 1 e 2, mostrando a diferença da


abundância coletada por cada armadilha e a diversidade de ordens, respectivamente.
Foram coletados 6.332 indivíduos pela Malaise branca em discrepância dos 61.502
coletados pela preta, com as maiores quantidades tendo sido capturadas nos meses de
julho pela preta (11.114 indivíduos) e dezembro pela branca (1.077 indivíduos).
Encontramos uma forte e significativa diferença na abundância total de artrópodes
coletadas pelas armadilhas (adjR2 = 0.86, p < 0.001). Especificamente, as armadilhas
pretas coletaram um número consideravelmente maior de artrópodes do que as
armadilhas brancas (Fig. 1). Estes resultados não eram intuitivamente esperados, com
base na observação empírica da preferência visual dos insetos; isto é, esperava-se que o
topo branco tivesse atratividade maior. Uhler et al. (2022), comparando o desempenho
de diferentes modelos da armadilha Malaise na Alemanha, obtiveram resultados
diferentes, em que de fato houve uma coleta maior em biomassa nas armadilhas com
topo branco, e foi possível demonstrar a modulação da composição das espécies
amostradas, sendo os insetos visitantes florais mais presentes nas amostras; naquele
caso, comparativamente, a Malaise de topo preto coletou uma biomassa 23% menor que
a de topo branco. Uhler et al. (2022) também compararam modelos diferentes e
obtiveram diferenças de abundância apenas com relação ao tamanho da armadilha,
variando entre 20% e 55% da biomassa coletada.
No presente trabalho, ficou evidente que a Malaise de topo preto coletou quantidades
muito maiores em número de indivíduos em relação à de topo branco. Não foi possível
localizar uma possível explicação não-ambígua na literatura a respeito dessa diferença;
é possível que esse resultado tenha sido influenciado pela grande fração da amostra
representada por Diptera, alguns dos quais podem de fato ser atraídos pela coloração
preta.
Por outro lado, em relação à diversidade, a diferença significativa em artrópodes
amostrados (adjR2 = 0.40, p < 0.005) mostrou que a armadilha de topo branco resultou
na coleta de uma maior diversidade de ordens coletadas em relação às armadilhas pretas
(Fig. 2). Desta forma, a armadilha de topo branco, apesar de coletar menos indivíduos,
parece ter melhor desempenho para a caracterização da diversidade no ambiente em que
foi aplicada.
Com relação às Ordens amostradas, ambas as armadilhas exibiram um padrão similar,
que corrobora os resultados de Campbell e Hanula (2007) em relação à maior captura de
insetos visitantes florais, como no nosso caso as ordens Diptera, Hymenoptera e
Lepidoptera. Um resultado possivelmente espúrio foi a grande quantidade de indivíduos
da Classe Collembola capturados pelas duas armadilhas.
Finalmente, com relação ao uso de imagens para acelerar o processo de triagem e em
substituição à triagem mecânica, observamos que apesar desse método ser
potencialmente mais rápido quando a contagem é automatizada, os possíveis artefatos
(na imagem e na contagem) acabam exigindo um re-exame dos resultados que pode

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potencialmente aproximar o tempo necessário àquele da triagem regular sob


estereomicroscópio. Em particular, dificuldades foram encontradas com relação a 1)
espécimes que se sobrepõem (não sendo possível, devido a restrições de protocolo, a
sua manipulação), 2) mudanças de opacidade do líquido de preservação (mesmo sendo
álcool etílico), possivelmente devido a substâncias desnaturantes, e 3) limitações da
própria imagem capturada, uma vez que uma fotografia em posição única pode não ser
suficiente para permitir a identificação de um espécime, por exemplo, devido a
posicionamento ou outro fator que não possa ser controlado pelo fotógrafo. Contudo,
em um protocolo menos restritivo, é possível dispor os espécimes evitando a
sobreposição, também a utilização de uma boa iluminação e um bom ângulo para
fotografar se torna mais viável a triagem por imagem.

Conclusão

Analisando os dados apresentados nas tabelas 1 e 2, é possível notar apenas pelos dados
quantitativos totais brutos que a coleta comparada entre as duas armadilhas é bem
discrepante, tendo sido a Malaise de topo preto a que mais coletou indivíduos no geral.
A figura 1 corroborou estatisticamente essa conclusão, que não correspondeu a uma das
nossas hipóteses iniciais, de que a Malaise de topo branco coletaria uma maior
quantidade de amostras devido à fototaxia da maioria dos insetos. Entretanto,
observando os dados por um viés qualitativo, o teste de ANOVA nos mostra que a
Malaise de topo branco de fato amostrou melhor em diversidade de ordens em relação a
de topo preto.
Vale enfatizar que o esforço de triagem das amostras da armadilha branca foi
desempenhado através de fotografias de alta definição. Apesar desse método ser viável,
existem algumas condições necessárias para realizá-lo. Uma dificuldade enfrentada é a
estratificação dos indivíduos devido ao tamanho. Esse fator, dentre outros, pode
impossibilitar a identificação do material em táxons menores que Ordem.
O presente trabalho é um dos poucos que analisou e mostrou o desempenho diferencial
de armadilhas Malaise do tipo Townes com cores diferentes, oferecendo um novo
panorama para questionar qual o melhor modelo e cor para o tipo de levantamento
desejado: enquanto uma armadilha preta coleta um alto número de indivíduos, é
possível modelar a coleta para otimizar a captura de um grupo-alvo auxiliando no
esforço de triagem posterior.

Referências

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Anexos

TABELA 1

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TABELA 2

FIGURA 1

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FIGURA 2

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CÓDIGO: SB1076

AUTOR: BIANCA POSTERLI FIRMINO

COAUTOR: ELYELTON BESERRA DE CARVALHO

COAUTOR: KALLYNE REBECA DA COSTA DANTAS

ORIENTADOR: LILIAN GIOTTO ZAROS DE MEDEIROS

TÍTULO: Identificação de parasitos intestinais em crianças em idade pré-


escolar.

Resumo

As enteroparasitoses são um grande problema de saúde pública, por estarem


presentes mundialmente e por serem nocivas, podendo afetar o desenvolvimento
físico e cognitivo de crianças em idade escolar. Partindo desse pressuposto, o presente
estudo objetivou identificar a frequência de parasitos intestinais de crianças em idade
pré-escolar de um Centro de Ensino Infantil do Município (CMEI) de Natal-RN. O
estudo englobou um público de 44 crianças, cujos pais ou responsáveis autorizaram
fazer parte da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Foram coletadas amostras de fezes e conteúdo subungueal, que foram
processadas através dos métodos de rotina em Parasitologia Os resultados mostraram
que 61% das crianças estavam parasitadas, sendo Ascaris lumbricoides o parasito mais
frequente, seguido de Ancilostomídeo, Entamoeba coli, Enterobius vermicularis,
Entamoeba histolytica/dispar, Endolimax nana, Strongyloides stercoralis, Hymenolepis
diminuta e Giardia lamblia. Além disso, foi observado que 40% das crianças estavam
parasitadas por mais de dois parasitos, sendo a associação mais frequente entre A.
lumbricoides com E. coli. Desse modo foi possível identificar a frequência de parasitos
intestinais em crianças do CMEI e pode-se compreender a importância de mais estudos
como este, uma vez que ainda há pouco conhecimento sobre a epidemiologia de
parasitoses em indivíduos entre 0 e 6 anos.

Palavras-chave: helmintos. protozoários. frequência

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TITLE: Identification of intestinal parasites in preschool-aged children.

Abstract

Intestinal parasites are a major public health concern due to their global presence and
harmful effects, which can impact the physical and cognitive development of school-
aged children. Based on this assumption, the present study aimed to identify the
frequency of intestinal parasites in preschool-aged children from a Child Education
Center (CMEI) in Natal, RN. The study included a sample of 44 children whose parents
or guardians authorized their participation by signing an Informed Consent Form. Stool
and subungual content samples were collected and processed using routine
Parasitology methods. The results showed that 61% of the children were parasitized,
with Ascaris lumbricoides being the most prevalent parasite, followed by
Ancilostomídeo, Entamoeba coli, Enterobius vermicularis, Entamoeba
histolytica/dispar, Endolimax nana, Strongyloides stercoralis, Hymenolepis diminuta,
and Giardia lamblia. Furthermore, it was observed that 40% of the children were
parasitized by more than two parasites, with the most frequent association being
between A. lumbricoides and E. coli. Thus, it was possible to identify the frequency of
intestinal parasites in the CMEI children, highlighting the importance of further studies
like this, as there is still limited knowledge on the epidemiology of parasitic infections
in individuals aged 0 to 6 years.

Keywords: helminths. protozoa. frequency

Introdução

As parasitoses intestinais são um grande problema de saúde pública devido à


incidência global, alta taxa de prevalência e, em alguns casos, morbidade e
mortalidade significativas, questões essas que são agravadas em países em
desenvolvimento, principalmente em locais com escassez de saneamento básico,
sendo as crianças o principal grupo atingido por tais infecções (CDC, 2022). Essas
doenças são ocasionadas por helmintos pertencentes aos gêneros Ascaris,
Ancylostoma, Enterobius, Hymenolepis, Necator, Schistosoma, Strongyloides, Taenia,
Trichuris, como também por protozoários dos gêneros Entamoeba, Isospora, Giardia,
Cryptosporidium, Balantidium, dentre outros (SILVA, 2018).
Entre as frequentes morbidades causadas pelas enteroparasitoses, destaca-se a
desnutrição, uma vez que tem o potencial de prejudicar o funcionamento do
organismo como um todo e atingir grande parte dos indivíduos sintomáticos que são

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acometidos por essas infecções. Entretanto, o grupo em que essa complicação


demonstra mais nocividade são as crianças de idade escolar e pré-escolar, pois,
diferente das demais faixas etárias, além da preocupação com funcionamento do
organismo de maneira geral, deve-se atentar para suas consequências no
desenvolvimento físico e cognitivo, como evidenciado por Giallouro et al.(2023), fator
que se agrava por ser o público que possui muitos hábitos que contribuem para a alta
prevalência, como por exemplo, levar as mãos sujas à boca, que é algo comum em
crianças de até 12 anos de idade (DA SILVA MUNARETO et al, 2021).
Apesar de diversos estudos registrarem dados epidemiológicos relacionados à
incidência de infecções parasitárias em crianças, a faixa etária mais estudada é de 6 à
12 anos, havendo escassas referências em crianças de idade pré-escolar (entre 0 e 6
anos), como observado por Araújo (2021). Os poucos estudos feitos com esse grupo
demonstraram alta porcentagem de infecções, em torno de 65% em crianças de 3 a 5
anos matriculadas em uma creche da cidade de Maceió-AL,. Nas amostras positivas,
foram identificados os gêneros (do mais para o menos frequente) Ascaris, Giardia,
Entamoeba, Trichuris, Schistosoma e Hymenolepis. Da mesma forma, Cardoso (2020),
identificou a presença de infecções por protozoários em 39,2% das crianças que
participaram de um estudo em Terezina-PI. JARDIM-BOTELHO et al. (2008) sugerem
que a infecção por parasitos intestinais em crianças, e a consequente falta de
tratamento, podem gerar problemas cognitivos como dificuldade em formar relações
perceptivas e analogias, diminuição de atenção auditiva e memória de curto prazo,
dificuldade em aprender novas tarefas que envolvam combinação de símbolos e
números em um intervalo de tempo.
Desse modo, ações de diagnóstico, tratamento e prevenção em crianças de idade pré-
escolar, se fazem necessárias para amenizar este cenário, evitando maiores danos e
agravamento das consequências ao longo do tempo. Foi pensando nesses fatores que
o presente estudo se desenvolveu objetivando identificar os parasitos intestinais e sua
frequência em crianças em idade pré-escolar do Centro Municipal de Ensino Infantil
(CMEI) Professora Maria Cleonice Alves Ponte, localizado no Município de Natal, RN.

Metodologia

1- Tipo de estudo
O estudo trata de uma pesquisa com finalidade aplicada, cuja forma de abordagem é
quali-quantitativa, a fim de identificar os principais parasitos intestinais em crianças
em idade escolar.
2-Local do estudo e aspectos éticos

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O estudo foi realizado no Centro Municipal de Ensino Infantil Professora Maria


Cleonice Alves Ponte, localizado no Município de Natal-RN. Trata-se de uma instituição
pública, administrada pela Secretaria Municipal da Educação de Natal.
O espaço que antes era uma creche, onde as crianças eram deixadas para que os pais
pudessem trabalhar, se tornou, desde 2009, um Centro Municipal de Ensino Infantil. O
centro apresenta uma infraestrutura padrão, possuindo 4 salas, pátio (descoberto),
playground, cozinha, diretoria, banheiros. Tem capacidade para acolher 88 alunos,
somando os alunos da creche e pré-escola (Figura 1).
A escolha do local de estudo baseou-se no fato deste centro acolher alunos de diversos
bairros, o que significa ter uma amostra representativa para toda região. Além disso, o
contato das crianças com o solo (no playground) favorece uma possível infecção por
helmintos, fazendo com que o estudo retrate o cenário mais real possível.
O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa – CEP – da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e imputado na Plataforma Brasil
com protocolo número 59703022.7.0000.5537. Os pesquisadores se comprometeram
a honrar os princípios éticos e legais que regem a pesquisa ética e científica com seres
humanos, bem como explicar detalhadamente o procedimento a ser realizado.
3-População de estudo e critério de inclusão
A população do estudo foi composta por crianças em idade pré-escolar do CMEI
Professora Maria Cleonice Alves Ponte. Foram parte da amostra os alunos que
apresentaram os seguintes critérios de inclusão: 1- Crianças devidamente matriculadas
no Centro de Ensino; 2- Crianças com idade igual ou inferior a 6 anos; 3- Crianças dos
sexos feminino ou masculino;
4- Crianças cujos pais ou responsável permitam a participação e preencham o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) disponibilizado no momento da
apresentação da pesquisa (Anexo I).
4- Procedimento de coleta dos dados
A primeira abordagem às crianças foi feita pela equipe responsável pela pesquisa e só
aconteceu quando o aluno atendeu a todos os critérios de inclusão. Após a verificação
desses critérios, foi feita a coleta de amostras biológicas.
4.1- Coleta das amostras biológicas (fezes e conteúdo subungueal).
Para a identificação de parasitos, foi coletado o conteúdo subungueal (debaixo das
unhas) das crianças utilizando hastes de madeiras individuais e dispostas em um
recipiente devidamente identificado contendo o conservante MIF (Merthiolate-Iodo-
Formol).

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Para a coleta de fezes, os pais ou responsáveis receberam gratuitamente os potes


coletores (Figura 2), e orientações para realizar a coleta da maneira correta e segura, e,
se ainda tivessem dúvidas, foi disponibilizado o contato de um dos pesquisadores para
esclarecimentos via WhatsApp. Para as crianças que utilizavam fraldas, as amostras
poderiam ser coletadas no mesmo dia, caso estas defecassem no CMEI. Essa coleta
seria feita pela equipe responsável pelo estudo, juntamente aos profissionais que
resguardam estas crianças, isto é, professores e auxiliares, porém nenhum caso desse
foi registrado.
Os potes coletores de fezes foram devidamente identificados com uma numeração
única para cada participante, assim como a lâmina para Graham que também foi
disponibilizado, sendo a mesma que esteve presente nos recipientes contendo o
conteúdo subungueal.
4.2- Análises parasitológicas
Para a determinação da presença de parasitos nas fezes foi utilizado o método de
sedimentação espontânea de Hoffman, Pons & Janer (HOFFMAN, PONS e JANER,
1934), em função de sua eficiência na detecção de um maior número de formas
parasitárias, como ovos, larvas e cistos, sendo também de execução simples e baixo
custo. Também foram realizados os métodos de Willis-Mollay, conhecido como
método de flutuação, utilizado para pesquisa de ovos leves, principalmente os de
ancilostomídeos e cistos de protozoários (WILLIS, 1921) e o método de Henriksen &
Pohlenz (derivado de Ziehl-Neelsen), utilizado para diagnosticar oocistos de
protozoários intestinais, como Cryptosporidium parvum e Isospora belli (Henriksen &
Pohlenz, 1981; NEVES, 2016). Para identificar espécies de Enterobius vermiculares, foi
realizado o método de Graham (GRAHAM, 1941). O conteúdo subungueal foi analisado
por meio dos métodos de Hoffman, Pons e Janer (1934) (HPJ) e Ritchie (1948).
Para aumentar a sensibilidade de todos esses métodos, para cada amostra analisada,
foram confeccionadas três lâminas de cada técnica.
5-Emissão dos resultados
Os resultados foram visualizados em um laudo laboratorial assinado pela professora
responsáveL ou por um dos pesquisadores envolvidos no projeto (Biomédicos e
Biólogos) (Anexo II) e entregue à gestão da escola que destinou aos responsáveis dos
devidos participantes. As crianças que tiveram resultados positivos foram
encaminhadas para orientação de tratamento pela equipe médica participante da
pesquisa.
Vale ressaltar que não houve divulgação de dados pessoais e que todo sigilo e
confidencialidade foram preservados.
7- Análise dos dados

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Os dados coletados foram digitados no programa Microsoft Excel, no qual foram


tabulados, analisados e apresentados sob a forma de tabelas e quadros.

Resultados e Discussões

As análises dos exames parasitológicos de fezes realizadas mostraram que 61% (27)
das crianças participantes do estudo testaram positivo para um ou mais parasitos e,
desse modo, 39% (17) foram negativos. Em relação à frequência, em ordem de maior à
menor ocorrência, foram encontrados Ascaris lumbricoides (n=12),
Ancilostomídeo(n=9), Entamoeba coli (n=7), Enterobius vermicularis (n=5), Entamoeba
histolytica/dispar (n=3), Endolimax nana (n=2), Strongyloides stercoralis (n=1),
Hymenolepis diminuta (n=1), Giardia lamblia (n=1), como mostra o Quadro 1.
A maior parte das infecções foram ocasionadas por helmintos, que representaram 68%
(28) do total, uma vez que os protozoários representaram apenas 31% (13). Esses
resultados abrem espaço para questionamentos acerca dos hábitos de vida dessas
crianças, uma vez que a infecção por protozoários, em maior parte, se dá por ingestão
de água contaminada. As infecções por helmintos, principalmente Ascaris
lumbricoides, que foi o helminto mais encontrado, se dá pelo consumo de alimentos
contaminados, podendo-se inferir que o fator que contribui para tal prevalência sejam
fatores relacionados à conscientização de medidas profiláticas, que ainda mais
necessárias quando existe a falta de um saneamento básico eficaz.
Do total das amostras positivas, 40% (11) evidenciaram biparasitismo ou
poliparasitismo, sendo 6 casos para 2 parasitos e 5 casos para 3 parasitos. Os parasitos
que foram encontrados em associação mais frequente foram A. lumbricoides com E.
coli representando 45% (5), seguido por A. lumbricoides com Ancilostomídeo em 36%
(4). Essas associações podem ser vistas mais detalhadamente no Quadro 2.
O poliparasitismo identificado nesse estudo é um fator preocupante, pois a presença
de mais de um parasito no mesmo indivíduo pode agravar o quadro clínico por
potencializar os sintomas das parasitoses presentes, levar a uma resposta inflamatória
exacerbada, gerar uma maior competição por recursos, e até mesmo por abrir espaço
para ainda mais infecções devido a fragilidade causada ao sistema imunológico, além
de dificultar e encarecer o tratamento dessas doenças, que antes, eram fácil e de baixo
custo (ANTUNES et al., 2020). Em alguns casos, a associação de parasitos
assintomáticos, que sozinhos não causam um dano representativo, quando
encontrados com parasitos sintomáticos pode contribuir para o agravamento da
sintomatologia.

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Quando se trata de crianças, isso se torna ainda mais sério devido às implicações no
desenvolvimento físico e cognitivo que as parasitoses isoladas já concebiam. Um
estudo feito por Giallouro et al., 2023, mostra que a infecção apenas por G. lamblia
interfere diretamente no crescimento das crianças uma vez que tem o potencial de
interromper o metabolismo de nutrientes independente do grau de sintomatologia, ou
seja, mesmo que a infecção não seja sintomática, ainda pode trazer consequências a
longo prazo. Essa informação gera preocupações, uma vez que a amostra positiva para
Giardia, também foi positiva para E.nana e ancilostomídeo.
Diferentemente do exame parasitológico de fezes, a análise do conteúdo subungueal
não apresentou relevância no que diz respeito à representatividade do total de
amostras positivas, uma vez que, dentre todas as coletas, apenas uma testou positivo
para um parasito (ovo de Ancilostomídeo)que foi compatível com a positividade
demonstrada através dos EPF para o mesmo número referente à amostra de fezes.
Desse modo, pode-se inferir que a escola não seja o principal local de contágio dessas
enteroparasitoses, pois, caso fosse, seria provável que mais resultados positivos
fossem achados ao analisar o conteúdo subungueal das crianças, uma vez que elas têm
acesso livre a locais como o playground, que possui uma caixa de areia, o que poderia
favorecer a infecção por algumas parasitoses.

Conclusão

Este estudo possibilitou identificar a presença de parasitos intestinais em 61% das


crianças participantes, com destaque para Ascaris lumbricoides, e 40% delas estava
parasitada com mais de um parasito. Estes resultados nos levam a refletir sobre a
importância de pesquisas relacionadas ao tema do presente estudo, não somente para
contribuir com dados epidemiológicos, mas também para servir de parâmetro para
pesquisas posteriores, uma vez que, por se tratar de doenças ainda negligenciadas, .há
pouco conhecimento sobre suas frequências em indivíduos na faixa etárias entre 0 a 6
anos.

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Anexos

Quadro 1 - Número de amostras positivas e frequência (%) de parasitos encontrados


em crianças de 1 a 6 anos matriculadas no Centro Municipal de Ensino Infantil
Professora Maria Cleonice Alves Ponte.

Quadro 2 - Número de amostras e frequência (%) de poliparasitismo encontrados em


crianças de 1 a 6 anos matriculadas no Centro Municipal de Ensino Infantil Professora
Maria Cleonice Alves Ponte.

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Figura 1 - modelo ilustrativo do Centro Municipal de Ensino Infantil Professora Maria


Cleonice Alves Ponte

Figura 2- Foto do kit entregue aos pais, contendo três potes de coleta de fezes e uma
lâmina para Graham, todos com os números identificados.

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Anexo I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE

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Anexo I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE

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Anexo I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE

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Anexo II- Modelo do documento para a entrega dos resultados

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CÓDIGO: SB1089

AUTOR: LEANDRO VITOR SILVA SANTOS

ORIENTADOR: JOHN FONTENELE ARAUJO

TÍTULO: DINÂMICA DA ATIVIDADE NEURAL CORTICAL AO PEDALAR:


MODULAÇÃO POR REALIDADE VIRTUAL

Resumo

Neste estudo, foi investigado como a percepção luminosa afeta a qualidade do sono de
pessoas com deficiência visual em Natal-RN, caracterizada por ser uma região de baixa
latitude. Três grupos foram examinados: indivíduos cegos sem percepção luminosa
(n=8), cegos com percepção luminosa (n=9) e indivíduos com visão normal (n=8). Por
meio de questionários, avaliou-se cronotipo, qualidade do sono, sonolência diurna,
gravidade da insônia e risco de apneia obstrutiva do sono. Ficou constatado que a
maioria tinha um cronotipo matutino e diferentes níveis de sonolência durante o dia.
Diferente do esperado, não encontrou-se diferenças significativas na qualidade do
sono entre os grupos, sugerindo que a percepção luminosa não é o único fator
determinante. Além disso, observou-se que os indivíduos com visão normal
apresentaram mais jet-lag social do que aqueles com percepção luminosa, indicando
influências não visuais na qualidade do sono. Esses resultados reforçam a importância
de adotar um estilo de vida saudável para melhorar o sono, independentemente da
capacidade de percepção luminosa.

Palavras-chave: Qualidade do sono; Percepção luminosa; Pessoas cegas;


Baixa latitude

TITLE: The influence of light perception on the quality of sleep of people


residing in Natal-RN

Abstract

This study investigated how light perception affects the sleep quality of visually
impaired individuals in Natal-RN, characterized as a low-latitude region. Three groups
were examined: blind individuals without light perception (n=8), blind individuals with
light perception (n=9), and individuals with normal vision (n=8). Through

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questionnaires, chronotype, sleep quality, daytime sleepiness, insomnia severity, and


risk of obstructive sleep apnea were evaluated. It was found that the majority had a
morning chronotype and varying levels of daytime sleepiness. Contrary to
expectations, no significant differences in sleep quality were found among the groups,
suggesting that light perception is not the sole determining factor. Additionally, it was
observed that individuals with normal vision experienced more social jet lag than those
with light perception, indicating non-visual influences on sleep quality. These results
reinforce the importance of adopting a healthy lifestyle to improve sleep, regardless of
light perception ability.

Keywords: Sleep quality; Light perception; Blind individuals; Low latitude

Introdução

O sono é uma das funções fisiológicas que se expressam de forma rítmica, alternando
com a fase da vigília ao longo das 24 horas. Tal alternância é sincronizada ao ciclo
claro/escuro ambiental, tornando possível realizarmos nossas atividades durante o dia
e dormirmos à noite. Essa organização temporal interna, que possibilita a otimização
das funções biológicas em determinadas fases do dia/noite, é regulada pelo Sistema de
Temporização Circadiano (STC). Este sistema é composto por órgãos e tecidos que
contém os genes circadianos, sendo os Núcleos Supraquiasmáticos (NSQs) os mestres
da orquestra rítmica.
O arrastamento do STC pelo ciclo claro/escuro ambiental ocorre por meio das células
fotorreceptoras da retina, em especial as células ganglionares contendo melanopsina,
que se projetam para os NSQs através do trato retino hipotalâmico (RHT) (via direta) e
pelo trato geniculohipotalâmico (GHT) (via indireta) (Golombek & Rosenstein, 2010),
sendo a integridade desses componentes fundamental para esta modalidade de
arrastamento (Nelson & Zucker, 1981; Zaidi et al., 2007 Güler et al., 2008). Dada a
importância da sincronização fótica para a regulação do sistema de temporização
circadiano, foram realizadas pesquisas para investigar parâmetros rítmicos em pessoas
cegas com ausência e presença de percepção de luz. Tais pesquisas mostraram a
cegueira, em especial a associada à perda da percepção de luz, como um dos fatores
que podem levar aos distúrbios da ritmicidade circadiana e distúrbios do sono,
prejudicando a qualidade de vida das pessoas que apresentam essa deficiência
(Lockley, et al., 2007; Hartley, et al., 2018).
Perturbações do sono como sono interrompido, aumento da latência do sono, curta
duração do sono e distúrbios do sono, também aparecem como queixa frequente em
pessoas cegas (Miles & Wilson, 1977; Hartley, et al., 2018), sendo estes achados
presentes em países como Inglaterra (Tabandeh et al., 1998), Nova Zelândia (Warman
et al., 2011) e Japão (Tamura et al., 2021). Ademais, o transtorno do ritmo de sono-

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vigília não 24 horas têm sido altamente associado aos indivíduos com deficiências
visuais, especialmente aqueles que são totalmente cegos. Esse transtorno é
caracterizado por episódios de sono insatisfatório, insônia e sonolência diurna
excessiva oriundos da dessincronização do ciclo sono/vigília ao ciclo claro/escuro
(Uchiyama & Lockley, 2015). Demonstrando a relação direta entre a falta de percepção
de luz e a piora na qualidade do sono.
Tais informações têm sido de extrema relevância para guiar diagnósticos e
tratamentos de distúrbios de sono e ritmicidade circadiana em pessoas com
deficiência visual. No entanto, os estudos que temos disponíveis foram realizados em
países de alta latitude, com características climáticas e sócio- culturais distintas em
relação à nossa região, cidade de Natal-RN, localizada a aproximadamente 5 graus
abaixo da linha do Equador. Enquanto os locais afastados da linha do equador
apresentam estações do ano bem demarcadas, com amplas variações de temperatura
e incidência solar ao longo do ano, locais próximos à linha do equador possuem
duração do dia (fotoperíodo) quase constante, tais fatores podem exercer pressão
fenotípica nos organismos, influenciando por exemplo na expressão dos cronotipos
(Hut. et. al., 2013; Leocadio-Miguel et al., 2017; Randler & Rahafar, 2017). Estudos
documentam que a temperatura pode modular parâmetros rítmicos e
comportamentais em outras espécies, como por exemplo roedores e pássaros
(Sweeney & Hastings JW, 1960; Lehmann et al., 2012; Flôres, et al., 2021).
Sendo assim, no presente estudo buscamos investigar o impacto da percepção
luminosa na qualidade do sono de pessoas cegas que residem em região de baixa
latitude, com o intuito de ampliar o arcabouço teórico para fornecer informações que
tornem os tratamentos de distúrbios de sono mais específicos e direcionados à
realidade da população da nossa região.

Metodologia

Aspectos éticos
Os participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e um
documento para autorização de gravação em áudio, que foi assinado por eles. As
entrevistas e questionários foram lidos em voz alta e respondidos, sendo registrados
para análise subsequente. Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Critérios de inclusão e exclusão dos participantes

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Foram convidados a participar do estudo 25 voluntários, homens e mulheres acima de


18 anos, dentro os quais 8 enxergam (G1), 8 com cegueira sem percepção luminosa
(G2) e 9 apresentam cegueira com percepção de luz (G3). O recrutamento dos
voluntários do grupo das pessoas cegas foi realizado através do Instituto de Cegos do
RN (Natal, Rio Grande do Norte) e para as pessoas que enxergam a coleta foi feita na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os participantes foram
classificados entre aqueles com e sem percepção de luz por auto-relato e históricos
médicos. Não foram incluídas na amostra pessoas que apresentaram problemas em
responder os questionários.
Caracterização dos participantes da amostra
Questionário sócio-demográfico contém questões relacionadas à idade, sexo,
escolaridade, atividade laboral, renda, quantas pessoas dividem a residência e uso de
medicamentos, sendo estas perguntas desenvolvidas pelos pesquisadores
responsáveis pelo projeto. Questionário de percepção de luz Foram coletados dados
relacionados às particularidades da perda de visão, incluindo informações como
diagnóstico, quantidade de olhos íntegros ou com próteses, momento de início da
perda visual e velocidade desse processo. Essas perguntas foram elaboradas pelos
pesquisadores do projeto.
Avaliação do sono
Índice de Qualidade de sono de Pittsburgh
A qualidade do sono foi investigada através do Índice de Qualidade de Sono de
Pittsburgh (IQSP), questionário constituído por 19 perguntas organizadas em 7
domínios: Qualidade Subjetiva, Latência, Duração, Eficiência Habitual e Distúrbios do
Sono, Uso de Medicações para Dormir e Disfunção Diurna. Essas perguntas abordam
os padrões de sono do mês anterior (Buysse et al., 1989; validado no Brasil por
Bertolazi et al., 2011). A combinação desses componentes resulta em uma pontuação
global que varia de 0 a 21 pontos. O valor da pontuação é inversamente proporcional à
qualidade do sono percebida.
Questionário de Cronotipo de Munique O Questionário de Cronotipo de Munique
(MCTQ) abrange indagações sobre os padrões de sono e vigília nos dias laborais e de
folga. Seu cálculo é derivado do ponto intermediário do sono, calculado a partir das
respostas sobre o horário de início do sono e despertar. Isso é realizado através da
fórmula: MSFc = MSF - 0,5 * (SDf - (5 * SDw + 2 * SDf) / 7). Aqui, MSFc representa o
ponto intermediário do sono corrigido em dias de folga; MSF se refere ao ponto
intermediário do sono em dias de folga; SDf é a duração do sono em dias de folga; e
SDw é a duração do sono em dias de trabalho. O resultado é expresso em horas,
variando de 0 a 12. Valores mais baixos indicam tendência matutina, enquanto valores
mais elevados indicam tendência vespertina (Roenneberg et al., 2004).

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Escala de Sonolência de Epworth


A Escala de Sonolência de Epworth (ESE) inclui oito situações comuns, nas quais o
indivíduo atribui uma pontuação de 0 a 3, refletindo a probabilidade de adormecer ou
cochilar em cada uma delas (Johns et al., 1991; validado no Brasil por Bertolazi et al.,
2009). A soma das pontuações resulta em um escore total que varia de 0 a 24. Um
escore abaixo de 10 indica pouca sonolência diurna, entre 10 e 15 sugere sonolência
diurna excessiva, e acima de 15 indica um nível elevado de sonolência diurna.
Índice de Gravidade de Insônia
O Índice de Gravidade de Insônia (IGI) é um questionário composto por 7 itens, que os
participantes classificam em escalas Likert de 0 a 4. Esse instrumento visa avaliar a
severidade da insônia nas duas últimas semanas. As categorias de classificação são as
seguintes: 0-7 indica ausência de insônia significativa; 8-14 representa um limite
inferior para a insônia; 15-21 aponta para uma insônia clínica moderada; e 22-28
denota insônia clínica grave (Castro, 2011).
Questionário de Berlim
Este questionário busca identificar sintomas da apneia-hipopneia obstrutiva do sono
por meio de perguntas sobre indicadores associados a essa condição, como ronco,
pressão alta, fadiga, entre outros (Chung et al., 2008; Vaz et al., 2011).
Análise estatística
Foram empregadas técnicas de análise estatística, incluindo métodos paramétricos e
não paramétricos, em conformidade com a verificação da adequação aos pressupostos
de distribuição normal e homogeneidade de variância. Essa avaliação foi conduzida
utilizando testes específicos, como o teste de normalidade de Shapiro-Wilk para
verificar a normalidade dos dados e o teste de Levene para avaliar a homogeneidade
das variâncias entre os grupos. Para avaliar os questionários, foi adotada a abordagem
de considerar a pontuação total e compará-la entre os diferentes grupos: o grupo de
indivíduos videntes (G1), o grupo de pessoas cegas sem percepção de luz (G2) e o
grupo de pessoas cegas com percepção de luz (G3). O processo de inferência
estatística foi conduzido por meio da aplicação de dois métodos distintos, dependendo
da natureza dos dados e da distribuição subjacente. Para os casos em que os
pressupostos foram atendidos, foi empregada a análise de variância de uma via
(ANOVA). Já nos cenários em que os pressupostos não foram satisfeitos, o Teste de
Kruskal-Wallis foi utilizado como uma alternativa não paramétrica.

Resultados e Discussões

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Todos os 25 entrevistados atenderam aos critérios de inclusão e, portanto, entraram


na amostra. Estes ficaram divididos em grupo de indivíduos videntes (G1), o grupo de
pessoas cegas sem percepção de luz (G2) e o grupo de pessoas cegas com percepção
de luz (G3). A média (± DP) de idade foi de 37 ± 16,23 anos para o grupo com visão, 43
± 16,17 anos para o grupo sem percepção luminosa e 46 ± 12,13 anos para o grupo
com percepção luminosa. Foi empregado
o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP) em uma escala percentual para
avaliar o padrão de sono entre os três grupos definidos. O índice foi dividido em três
categorias: "Boa" (IQSP 0-5), "Ruim" (IQSP 6-9) e "Alterações Marcantes" (IQSP ≥10).
No grupo de pessoas sem percepção de luz (N = 8), 25% apresentaram um padrão de
sono "Boa", outros 25% tiveram um padrão "Ruim", e significativos 50% demonstraram
"Alterações Marcantes". Entre os indivíduos com percepção de luz (N = 9), 33,33%
obtiveram um padrão de sono "Boa", nenhum apresentou um padrão "Ruim", e
expressivos 66,67% revelaram "Alterações Marcantes". No grupo com visão normal (N
= 8), 37,5% apresentaram um padrão de sono "Boa", outros 37,5% tiveram um padrão
"Ruim", e 25% demonstraram "Alterações Marcantes". Foi observado, também, que a
maior parte dos participantes dentre a amostra total tem a qualidade de sono
prejudicada em alguma escala, em decorrência de 72% apresentarem classificação
ruim ou com alterações marcantes. Os resultados ainda indicam que não foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos estudados
(F(2,22)= 2.547, p= 0.101). Isso sugere que, com base nas pontuações do IQSP e
considerando a metodologia estatística aplicada, não há evidências estatísticas para
afirmar que os três grupos apresentam padrões de qualidade de sono
significativamente distintos. Isso demonstra que a ausência ou não da percepção da luz
não foi um fator importante para definir uma boa qualidade de sono, outro fator não
considerado nesta análise pode está influenciando nesse resultado como, por
exemplo, os agentes sincronizadores não fóticos: como, rotina de trabalho, atividades
sociais, padrão de alimentação e atividade física. Tal fator pode ser corroborado por
não terem sido encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os demais
parâmetros avaliados pelo IPSQ: Qualidade Subjetiva (H(2)= 7.2912, p= 0.03), Latência
(F(2,22) = 2,998, p= 0.0706), Duração(F(2,22)= 3.256, p= 0.0577), Eficiência
Habitual(H(2)= 0.010101, p= 0.995) e Distúrbios do Sono(H(2)= 5.1916, p= 0.07458),
Uso de Medicações para Dormir(H(2) = 3.078, p= 0.2146) e Disfunção Diurna(H(2)=
0.23005, p= 0.8913).
Para definir o cronotipo dos participantes, foi empregada a escala de Cronotipo
proposta por Horne e Östberg. Os cronotipos foram classificados em cinco categorias,
variando de "Definitivamente Matutino", “Matutino moderado”, “Intermediário”,
“Vespertino moderado” e "Definitivamente Vespertino". No grupo de pessoas sem
percepção de luz (N = 8), 37,5% foi classificado como definitivamente matutino, 50%

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matutino moderado, 12,5% intermediário e 0% para vespertino moderado e


definitivamente vespertino. Já se tratando do grupo de pessoas com percepção de luz
(N = 9), 11,11% é definitivamente matutino, 66,67% matutino moderado, 22,22%
intermediário e 0% para vespertino moderado e definitivamente vespertino. Por fim,
para o grupo de videntes (N = 8), 12,5% é definitivamente matutino, 25% matutino
moderado, 37,5% intermediário, 25% vespertino moderado e 0% definitivamente
vespertino. Sob a perspectivas das análises estatísticas, novamente não foram
encontradas diferenças significativas entre os grupos (F(2,22)= 2.167, p= 0.138). A
escassez de indivíduos nos cronotipos vespertino moderado e definitivamente
vespertino corrobora com os achados de Leocárdio-Miguel et al (2017) em que, em
baixas latitudes, ficou constatado a maior prevalência de pessoas com perfil matutino.
O questionário do Cronotipo de Munique foi utilizado para mensurar o jet lag social
entre os horários de dormir e acordar da semana e finais de semana. Para este
parâmetro foi observada uma diferença estatística significativa entre os grupos (H(2)=
9.9627, p= 0.01) e após a comparação entre pares foi encontrado que o grupo com
pessoas com visão normal apresentam maior jetlag (660 ± 694.82) em relação às
pessoas cegas com percepção de luz (0 ± 13.23).
Para mensurar o grau de sonolência dos participantes, foi aplicada a Escala de
Sonolência de Epworth. Os resultados obtidos foram categorizados em "Sono Normal",
"Média Sonolência" e "Sonolência Anormal", para os três grupos distintos de acordo
com sua pontuação.. No grupo de pessoas sem percepção de luz (N = 8), 37,5 % têm o
sono normal, 12,5% têm média sonolência e 50% apresentam sonolência anormal. Já
no grupo de pessoas com percepção de luz (N = 9), os resultados apontam que 33,33%
têm sono anormal, 11,11% têm média sonolência e 55,55% são indivíduos com
sonolência anormal. No grupo dos indivíduos videntes (N = 8), 37,5% têm sono normal,
25% apresentam média sonolência e 37,5% apresentam sonolência anormal. Observa-
se, portanto, uma prevalência de 64% da amostra total apresenta algum grau de
sonolência (média ou anormal), corroborando com os achados de baixa qualidade do
sono uma vez que indivíduos com má qualidade do sono apresentam sonolência
diurna mais frequentemente. A análise estatística revela que não existem diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos avaliados (F(2,22) = 0.214, p = 0.809).
Quanto a gravidade de insônia de insônia dos participantes, os resultados mostram
que dentro do grupo dos cegos sem percepção luminosa, 75% apresentaram ausência
de insônia significativa, 12,5% se enquadram no limite inferior para insônia, outros
12,5% são considerados como tendo insônia clínica moderada. Se tratando dos cegos
com percepção de luz, 22,22% têm ausência de insônia significativa, 44,44 % estão no
limite inferior para insônia e 33,33% apresentam insônia clínica moderada. Já os
videntes, 50% não têm insônia significativa, 37,5% estão no limite inferior para insônia
e 12,5% demonstram ter insônia clínica moderada. Nenhum participante da amostra

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total apresentou insônia clínica grave. No geral, os participantes não demonstram


sofrer com os sintomas de insônia, sendo poucos que apresentam uma moderada taxa
de insônia. Estatisticamente, não foram encontradas diferenças significantes na
comparação dos 3 grupos (H(2) = 4.2445, p = 0.1198).
Quanto ao Questionário de Berlim, observa-se que a maioria dos indivíduos em todos
os grupos não apresentam risco de apneia obstrutiva do sono. Isso é comprovado
através das altas porcentagem de indivíduos sem risco de distúrbios do sono - 87,5%
para pessoas sem percepção de luz, 88,89% para pessoas com percepção de luz e
100% para os videntes. Dois indivíduos apresentaram o resultado positivo para o risco
de distúrbios do sono, sendo um cego com percepção luminosa e o outro também
cego, porém sem percepção luminosa. A estatística revela, novamente, que não há
diferenças estaticamente relevantes entre os três grupos analisados (H(2)= 0.010101,
p= 0.995).

Conclusão

Com base nos resultados obtidos, é evidente que a maioria dos participantes da
amostra apresenta um cronotipo matutino, indicando uma maior predisposição para
atividades e alerta durante o dia. Além disso, é notável que há níveis variados de
sonolência diurna, oscilando entre médios e anormais, entre os indivíduos analisados.
A análise aponta também que há ausência de apneia obstrutiva do sono na maioria
dos participantes, enquanto uma parcela substancial não manifesta traços
preocupantes de insônia clínica, seja em sua forma grave ou moderada. Para todas
essas métricas, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas quando
feita a comparação entre os três grupos.
Se tratando da avaliação da qualidade do sono, observou-se a ausência de diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos, tanto no que se refere à pontuação
total quanto aos demais parâmetros avaliados pelo Índice de Qualidade do Sono de
Pittsburgh (PSQI). Adicionalmente, dentro da amostra total, aproximadamente 72%
dos indivíduos foram classificados como tendo uma qualidade de sono ruim ou
apresentando perturbações notáveis no padrão de sono. Com isso, vale a pena
observar que a percepção de luz ou sua ausência não se mostrou como um fator
determinante na avaliação da qualidade de sono, contrariando suposições anteriores.
Um outro achado se mostrou interessante: as pessoas com capacidade visual
demonstraram um grau mais acentuado jet-lag social quando comparadas àquelas que
eram cegas com percepção de luz. Esse achado infere que a influência preponderante
de fatores não diretamente ligados à luminosidade, como hábitos de exercício,

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eCICT 2023

padrões alimentares, rotinas de trabalho e interações sociais, age sobre a qualidade de


sono dos indivíduos examinados. Assim, tais descobertas reforçam a importância
crucial de promover um estilo de vida ativo e saudável como estratégia essencial para
otimizar o bem-estar e a qualidade de vida, notavelmente englobando a conquista de
um sono de alta qualidade.

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Anexos

Tabelas e gráficos importantes - arquivo 1

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Tabelas e gráficos importantes - arquivo 2

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Tabelas e gráficos importantes - arquivo 3

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Tabelas e gráficos importantes - arquivo 4

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Tabelas e gráficos importantes - arquivo 6

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Tabelas e gráficos importantes - arquivo 7

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CÓDIGO: SB1098

AUTOR: FELIPE AMARO DA SILVA OLIVEIRA

ORIENTADOR: DANIEL MARQUES DE ALMEIDA PESSOA

TÍTULO: Importância da visão de cores humana na detecção de insetos


crípticos e conspícuos no ambiente natural

Resumo

A percepção das cores está relacionada com atributos básicos como: brilho, matiz, e
saturação. O contraste de cor e fundo favorece os indivíduos tricromatas, e o contraste
de pistas acromáticas e o fundo favorece indivíduos dicromatas. Este trabalho tem
como objetivo criar um banco de imagens capaz de avaliar o desempenho perceptual
dos sujeitos daltônicos e não daltônicos. Uma coleção entomológica foi utilizada para
fotografar os insetos, que foram montados artisticamente na vegetação densa e
fechada da Trilha dos Saguis dentro da UFRN. Para isso foi utilizada uma câmera digital
profissional, junto com um tripé ajustável, além de uma cartela de cores. As fotografias
passaram pelo software da cartela de cores, onde perfis de cores personalizados foram
aplicados a cada uma das fotografias, garantido que a cor das imagens representam as
cores reais do ambiente. Logo em seguida, as imagens foram editadas em um
photoshop, que dimensionou o tamanho dos insetos em alvos pequenos (dois
centímetros) e alvos grandes (cinco centímetros) dentro das fotografias. Por fim, as
imagens foram editadas com uma moldura que as deixou preparadas para o
experimento de percepção visual de insetos por seres humanos, dicromatas e
tricromatas, que serão realizados em experimentos futuros. Realizados todos os
procedimentos de edição, foram obtidos 240 estímulos, formando 60 conjuntos de
imagens, cada conjunto sendo composto por uma imagem com um inseto, e três
imagens com cenário natural sem o inseto.

Palavras-chave: Visão de cores. Banco de imagens. Detecção de insetos.


Imagens editada

TITLE: Construction of a natural scene bank to test perceptual abilities of color-


blind human beings and normal vision.

Abstract

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Color perception is related to basic attributes such as brightness, hue, and saturation.
The color and background contrast favors trichromatic individuals, and the contrast of
achromatic cues and the background favors dichromatic individuals. This work aims to
create an image bank capable of evaluating the perceptual performance of color-blind
and non-color-blind subjects. An entomological collection was used to photograph the
insects, which were artistically assembled in the dense and closed vegetation of the
Trilha dos Saguis inside UFRN. For this, a professional digital camera was used, along
with an adjustable tripod, in addition to a color chart. The photographs were run
through the color chart software, where custom color profiles were applied to each of
the photographs, ensuring that the color in the images represented the actual colors of
the environment. Soon after, the images were edited in photoshop, which scaled the
size of the insects into small targets (two centimeters) and large targets (five
centimeters) within the photographs. Finally, the images were edited with a frame that
prepared them for the experiment on the visual perception of insects by humans,
dichromats and trichromats, which will be carried out in future experiments. After
carrying out all the editing procedures, 240 stimuli were obtained, forming 60 sets of
images, each set being composed of an image with an insect, and three images with
natural scenery without the insect.

Keywords: Color vision. Image Bank. Insect detection. Edited images.

Introdução

A visão de cores surge a partir da quantidade de luz absorvida por pelo menos dois
fotorreceptores retinas, com diferentes espectros de absorção da luz (Jacobs, 2007), a
quantidade de fotorreceptores encontrados na retina está relacionado com a
dimensão da percepção de cores, e irá definir o fenótipo visual do animal, podendo ser
dicromata, tricromata ou tetracromata. A cor pode ser especificada através de
atributos básicos como: brilho, matiz e saturação, e a percepção cor precisa estar
atrelada a outros atributos visuais (ex.: forma, tamanho, e textura), que em condições
naturais não seriam diferenciados por apenas por diferenças de brilho (Dominy et al.,
2001). Investigações sobre as possíveis vantagens evolutivas relacionadas a melhor
visão de cores têm sido relacionadas a contextos sociais, reprodução, predação e na
obtenção de alimento (Dominy & Lucas 2001, Regan et al. 2001, Sumner & Mollon
2003, Waitt et al. 2003, Smith et al. 2005, Bradley & Mundy 2008, Perini et al. 2009). A
maioria dos mamíferos são classificados como dicromatas, por apresentarem dois
tipos de cones. Os primatas se enquadram como uma exceção por apresentar três
tipos de cones, que é o caso dos primatas do Velho Mundo (Catarrhini; eg..Gorilas,
Chimpanzés, e os seres humanos), que apresentam tricromacia uniforme, com machos
e fêmeas tricromatas (Jacobs & Deegan, 1996). Os humanos possuem índice de
deficiência na visão de cores 8% em homens caucasianos (Birch, 2012) e 0,4% em

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mulheres caucasianas (COLE, 2007). A baixa taxa de ocorrência em outras espécies de


outros Catarrinos (cerca de menos de 2%) sugere uma forte seleção dos fenótipos dos
tricromatas em detrimento dos dicromatas (Saito et al, 2005). Por outro lado, existem
os primatas do Novo Mundo (Platyrrhini; e.g.. Macaco-prego, Bugio, Saguis) que
possuem dois cones, o que representa a dicromacia, e apresentam polimorfismo visual
ligado ao sexo, onde machos são obrigatoriamente dicromatas, enquanto fêmeas
podem ser dicromatas ou tricromatas (JACOBS et al., 1996). Os pigmentos dos
tricromatas permitem um maior contraste em alvos cromáticos de alvos amarelo,
laranja e vermelho e o fundo verde das folhagens, favorecendo a detecção e forrageio
de frutos maduros (Melin et al.,2017; Osorio & Vorobyev 1996; Regan et al. 2001, Riba-
Hernandez et al. 2004, Perini et al. 2009). Experimentos em cativeiro demonstraram
uma vantagem dos tricromatas na detecção de estímulos conspícuos (Caine et al.
2003, Smith et al. 2003, Pessoa et al. 2003, 2005a, 2005b, 2005c). Já os dicromatas
podem melhorar sua discriminação de cores e apresentar desempenho semelhante
aos tricromatas em condições de luminosidade intermediária (Pessoa, 2012). Os
dicromatas também podem ser caracterizados pela eficiência na captura de estímulos
crípticos, a partir da codificação de atributos que segregam um alvo do seu fundo, pela
detecção de textura e forma, quebrando a camuflagem (Morgan et al. 1992). Até
agora, a vantagem da dicromacia em condições naturais só foi demonstrada para o
forrageamento de insetos por platirrinos (Melin et al.,2007; Smith, 2012). E o papel da
visão colorida dos primatas na detecção de predadores foi abordado por apenas uma
publicação (Pessoa et al.,2014). Mais estudos a respeito das vantagens perceptuais dos
dicromatas e tricromatas na detecção de alvos, para responder perguntas sobre as
pressões seletivas que envolvem as vantagens seletivas dos fenótipos visuais, a razão
da alta incidência de dicromacia em humanos e a existência de um polimorfismo visual
em primatas não humanos, que ainda estão em debate. Também é preciso ressaltar a
importância da realização de experimentos com cenários naturais, porque alguns
pesquisadores têm pouco acesso a estímulos que representam o ambiente natural,
pelo fato da construção dos estímulos ser um processo muito trabalhoso, então muitos
trabalhos utilizam de estímulos criados em computador.

Metodologia

Objetivo geral: Criar um banco de cenas naturais, contendo insetos e predadores


crípticos e conspícuos, para testes de habilidades perceptuais diferenciais em seres
humanos daltônicos e de visão de cores normal. Objetivo específico: Fotografar
imagens de insetos em cenários naturais; corrigir a coloração das fotografias para que
elas reflitam a coloração real dos insetos; ajustar o tamanho das imagens, para que o
tamanho dos insetos tenham duas dimensões, dois centímetros e cinco centímetros.

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Construção e Apresentação dos estímulos: com uma câmera fotográfica digital


profissional foi possível adquirir uma grande quantidade de fotografias de insetos no
ambiente natural, a partir do ajuste manual dos parâmetros de captação. As
fotografias foram tiradas na Trilha dos Saguis, dentro do campus da UFRN. Os animais
utilizados no experimento foram insetos crípticos (aqueles que utilizam cores
semelhantes ao ambiente natural para se camuflar) e insetos conspícuos (aqueles que
utilizam cores chamativas para quebrar o contorno do corpo e se misturar ao
ambiente). Os insetos foram fornecidos em uma caixa de coleção entomológica pelo
laboratório de Entomologia da UFRN (LABENT), sendo cada um deles identificado
posteriormente. Os insetos foram posicionados manualmente em lugares estratégicos
para poder representar o animal no cenário natural. As fotografias foram registradas a
duas distâncias diferentes, sendo alvos em uma curta distância (inseto ocupando cinco
centímetros na imagem) e alvos em longa distância (inseto ocupando dois centímetros
na imagem). As fotografias foram tiradas junto com uma cartela de cores (Pantone
Color-Checker Passport, X-Rite Inc.). Essa cartela fornece a garantia de que as imagens
representem as cores reais do cenário natural. Além das imagens de insetos, foram
utilizadas imagens de diferentes predadores (Aves de rapina, serpentes e mamíferos)
fornecidas pelo Laboratório de Ecologia Sensorial da UFRN, que foram registradas nos
Parque das Dunas (Natal -RN), Fazendo Água Limpa (Brasília- DF), Mata do Museu da
PUC-MG (Belo Horizonte-MG), e Museu Vivo Répteis da Caatinga (Campina Grande-
PB). Os estímulos foram editados no programa de computador Adobe DNG Converter,
que possibilita converter facilmente arquivos raw específicos de câmeras, das câmeras
suportadas ao formato de arquivo raw DNG mais universal. Após a formatação, as
imagens passaram pelo software da cartela de cores (ColorChecker Camera
Calibration- X-Rite), que corrige as cores das imagens capturadas, padroniza os
estímulos e cria perfis individuais personalizados. As imagens passaram por um
software de edição (Adobe Photoshop CS6) para editar as dimensões dos estímulos, no
qual os insetos pequenos ficaram com dois centímetros de distância dentro da tela do
monitor, e insetos grandes ficaram com cinco centímetros de distância dentro da tela
do monitor. Esse processo é eficaz para simular o inseto a uma distância perto do
observador e de longe do observador. E por fim, as imagens foram editadas com uma
moldura que as deixou preparadas para o experimento. Ao total foram criados 240
estímulos, formando 60 conjuntos de imagens, sendo cada conjunto contendo uma
imagem de cenário natural com o inseto e três imagens do cenário natural sem o
inseto.

Resultados e Discussões

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Após a obtenção das imagens e construção dos estímulos, Ao total foram criados 240
estímulos, formando 60 conjuntos de imagens, sendo cada conjunto contendo uma
imagem de cenário natural com o inseto e três imagens do cenário natural sem o
inseto. Foram fotografados exemplares das seguintes espécies de insetos: Erinnyis ello
(Mariposa); Heraclides thoas brasiliensis (Borboleta-caixão-de-defunto); Anteos
menippe (Ponto-de-laranja); Dirphia moderata (Larva); Macraspis festiva (Besouro-
Verde); Proscopiidae (Mane-mago); Tettigoniidae (Esperança); Periplaneta americana
(Barata); Heliconius erato (Carteiro vermelho). Também foram criados conjuntos de
imagens com as 92 fotografias de predadores (Aves de rapina, serpentes e mamíferos)
fornecidas pelo Laboratório de Ecologia Sensorial da UFRN.

Conclusão

Foi possível gerar 60 conjuntos de imagens a partir de 240 quantidade de fotografias


obtidas em cenários naturais, que poderão ser utilizadas em futuros trabalhos para
testar as diferenças perceptuais de dicromatas e tricromatas, utilizando estímulos
naturais (mais complexos), ao invés de estímulos monocromáticos gerados em
computador (menos complexos). Experimentos de trabalhos futuros podem funcionar
na forma de sessões, no qual os sujeitos devem ficar sentados em frente ao monitor
touchscreen, com o rosto apoiado em um apoiador de queixo e testa a 40 centímetros
de distância da tela. Um software de computador ficará encarregado de apresentar os
estímulos aos sujeitos experimentais, o monitor apresentará um conjunto com quatro
fotografias, três delas sendo estímulos discriminativos negativos (SD-, cenários sem o
animal) e um com o estímulo discriminativo positivo (SD+, cenários com o animal).

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1469
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB1106

AUTOR: MARINA FERREIRA AGUIAR

COAUTOR: TALES MARTINS DE ALENCAR PAIVA

ORIENTADOR: CARLOS ROBERTO SORENSEN DUTRA DA FONSECA

TÍTULO: Análise da produção de pólen de espécies de Asteraceae localizadas


em diferentes gradientes latitudinais.

Resumo

A produção de grãos de pólen de um indivíduo é uma importante característica


ecológica para que se compreenda os mecanismos evolutivos que caminham rumo ao
sucesso reprodutivo de uma espécie. Com o enfoque na família Asteraceae, uma das
maiores e mais diversas famílias de plantas do mundo, será investigado se há uma
diferença quantitativa significativa entre o número de pólen por flor produzido a
depender da variação latitudinal e, portanto, climática. Nesse sentido, o estudo
comparou espécimes coletadas em herbário no Brasil e na Alemanha, a fim de se
medir se a diferença entre o número de pólen é significativa e se pode ter a ver com a
distribuição das populações em climas distintos. A fim de descartar a hipótese que a as
relações filogenéticas entre as espécies pudesse influenciar a produção de pólen,
realizou-se uma ANOVA filogenética, que apresentou uma relação negativa para essa
hipótese.

Palavras-chave: Asteraceae; seleção sexual; gradiente latitudinal; produção de


pólen.

TITLE: Analysis of pollen production of Asteraceae species located in different


latitudinal gradients.

Abstract

The production of an individual's pollen grains is an important ecological characteristic


for understanding the evolutionary mechanisms that lead towards the reproductive

1470
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

success of a species. Focusing on the Asteraceae family, one of the largest and most
diverse plant families in the world, it will be investigated whether there is a significant
quantitative difference between the number of pollen produced per flower depending
on latitudinal variation and, therefore, climate. In this sense, the study compared
specimens collected in herbariums in Brazil and Germany, in order to measure
whether the difference between the number of pollen is significant and whether it
may have something to do with the distribution of populations in different climates. In
order to rule out the hypothesis that the phylogenetic relationships between species
could influence pollen production, a phylogenetic ANOVA was performed, which
showed a negative relationship for this hypothesis.

Keywords: Asteraceae; sexual selection; latitudinal gradient; pollen production.

Introdução

Na família Asteraceae, as inflorescências são tipicamente em capítulos, com flores


geralmente pequenas e que apresentam ovário ínfero, com carpelos fundidos e apenas
um óvulo com um único lóculo. Neste trabalho, foram coletadas espécies de
Asteraceae oriundas do Brasil e da Alemanha e outros países próximos que estão
localizados em um clima temperado, ou seja, espécies provenientes de duas regiões
geográficas distintas. Nosso objetivo geral foi avaliar a variação na produção de pólen
nas espécies coletadas em relação a variação a um gradiente latitudinal, dando o
enfoque nas relações ecológicas que determinam sua interação com os polinizadores.
Nesse sentido, foi testado o número de pólen produzido por cada flor de uma espécie.
A variação da interação entre plantas e polinizadores como um mosaico geográfico de
coevolução é determinada a partir, entre outros fatores, da adaptação local de cada
população a seu ambiente e da coevolução em diferentes direções dessas populações
com outras de outras espécies nas diferentes comunidades em que estão inseridas,
formando mosaicos de seleção. Isso se deve ao fato de que a seleção natural pode
variar geograficamente em qualquer interação amplamente distribuída, de acordo com
fatores bióticos e abióticos específicos de cada local.

Metodologia

Material: as espécies utilizadas para realizar a contagem dos grãos de pólen a


determinar a razão pólen-óvulo são oriundas do Herbário da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) e do herbário da Universidade de Göttingen, na Alemanha

1471
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

.Das espécies coletadas, há representantes de várias regiões do Brasil, no entanto a


maior parte ocorre na região Nordeste. Foram coletados botões florais de
aproximadamente 130 espécies do quais 82 estavam viáveis para fazer a contagem de
acordo com o protocolo estabelecido. Já para as espécies advindas da região
temperada, foram coletados 340 espécies, das quais 188 foram utilizadas para a
realização da contagem. Para a contagem, o botão deve estar completamente
fechado, para que não haja a contaminação de pólen de outras flores e para que a
quantidade de pólen contida no botão esteja preservada. O material coletado foi
colocado em tubos Eppendorfs plásticos e posteriormente armazenados em local
protegido de umidade, luminosidade e perturbação física.
Contagem do pólen: o procedimento de contagem se inicia com: I – dissecação das
flores para a obtenção das anteras; II – maceração das anteras, utilizando um palito de
madeira ou agulha, dentro de um tubo Eppendorf esterilizado; III – adição de 1Ml de
ácido láctico 85%, para que haja a desagregação e dispersão dos conglomerados de
pólen e a separação dos grãos das anteras, ; IV – agitação da suspensão por 3 minutos
no vórtex; V – colocar 0,1Ml da solução em uma lâmina e repetir o procedimento 10
vezes ou até que acabe todo o conteúdo do tubo. VI – realizar a contagem direta no
microscópio ótico de todos os grãos de pólen presentes na lâmina.
Análises estatísticas: para investigar a predominância dos sistemas sexuais das
espécies foram gerados gráficos do tipo ANOVA no programa RStudio (versão
2021.09.2 + 382)

Resultados e Discussões

O resultado obtido, com o valor de P = 0.06, mostrou que a tendência é marginalmente


significativa, ou seja, através da ANOVA foi visto que, as espécies advindas da região de
clima temperado apresentaram maior número de pólen por flor, como evidencia a
figura 1.
Para testar se a produção de pólen por flor de cada espécie coletada tem relação com
as relações filogenéticas estabelecidas entre as espécies, uma ANOVA filogenética foi
feita, com o valor de P=0.429. Observou-se que não houve interferência das relações
filogenéticas na produção de pólen, visto que as espécies estão distribuídas em várias
direções na árvore filogenética, como mostra a figura 2.
Os resultados mostraram que há uma diferença significativa na produção de pólen por
flor entre as duas regiões analisadas, como evidenciado no gráfico 1. Isso porque as
espécies são compostas por populações com certa diferenciação fenotípica ao longo
da sua área de distribuição geográfica. Assim, diferenças morfológicas entre indivíduos

1472
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

de diferentes populações da mesma espécie são comumente encontradas na natureza,


o que pode ser devido à variação espacial das interações bióticas e abióticas que essas
populações mantêm com seu entorno (Pianka et al., 2009).
Desde os estudos realizados por Darwin, na área da botânica, a interação mutualística
entre a diversidade de plantas e de agentes polinização é reconhecida como um bom
sistema de observação e análise da ocorrência da seleção natural e de outros
processos evolutivos relacionados às flores e aos animais polinizadores. Essa
diversidade pode ser explicada como uma adaptação à diversidade dos agentes de
seleção bióticos e abióticos (Dias Netto et al., 2013). No contexto de diversificação
floral, a polinização por animais desempenha um papel fundamental e a produção de
pólen é um indicativo da maneira como essa interrelação é traçada. Dessa forma, essas
interações e o processo de coevolução relacionado a elas são essenciais para a
compreensão de como as comunidades se organizam e dos padrões de biodiversidade.
É comumente aceito que plantas pertencentes a regiões de latitudes mais baixas
sofram com interações bióticas mais intensas, logo, é esperado que a produção de
pólen em regiões com menor diversidade de polinizadores seja maior e esteja
relacionada com os diferentes modos de polinização, como a anemofilia (polinização
realizada pelo vento) e a zoofilia (polinização intermediada por animais). Espécies
polinizadas pelo vento tendem a produzir mais grãos de pólen para compensar a
ineficiência do pólen sendo disperso de maneira aleatória.
Os polinizadores são um dos principais agentes de seleção que se relacionam com os
traços florais, podendo gerar certa variação geográfica nesses traços, de acordo com a
atuação desses animais nas diferentes populações de uma espécie. Isso porque os
traços florais, juntamente aos traços do polinizador, modelam a interação, uma vez
que influenciam na relação entre a quantidade de pólen removida das anteras de um
indivíduo e depositada no estigma de outro, o que ocasiona o melhor desempenho da
espécie no ambiente. Dessa forma, diferenças populacionais nos traços florais podem
ser observadas devido à variação geográfica na composição de polinizadores, que pode
dar origem tanto à seleção direcional contrastante em caracteres individuais quanto à
seleção correlacional divergente nos padrões da estrutura de covariação desses traços.
Por isso, a seleção pode atuar igualmente em um conjunto de traços correlacionados,
uma vez que os atributos florais estão relacionados funcionalmente e o desempenho
está associado à interação entre dois ou mais atributos.

Conclusão

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eCICT 2023

A biologia reprodutiva das Asteraceae se mostrou bastante diversa, incluindo


diferentes tipos de sistemas sexuais com grande variação interespecífica, todavia, o
padrão encontrado nas análises se mostraram contundentes com a hipótese de que há
uma maior produção de pólen nas regiões de clima temperado em detrimento das
regiões tropicais. Os resultados levantados neste estudo apontam para a importância
do acúmulo de conhecimento acerca das características sexuais cruciais na culminação
do sucesso reprodutivo de um indivíduo, especialmente nessa família de angiosperma
que, apesar da grande importância biológica, medicinal e industrial, possui uma
carência de estudos amplos que levem em consideração a magnitude da família, suas
relações filogenéticas e variações fenotípicas. Dessa forma, será possível alcançar uma
maior compreensão do padrão de organização das comunidades de flores e da
biodiversidade do planeta.

Referências

Dias Netto, C. G. (2013). Variabilidade fenótipica e interação com polinizadores ao


longo de um gradiente latitudinal em Zeyheria montana Mart. (Bignoniaceae).

Michalski SG, Durka W. Pollination mode and life form strongly affect the relation
between mating system and pollen to ovule ratios. New Phytol. 2009;183(2):470-479.
doi: 10.1111/j.1469-8137.2009.02861.x. PMID: 19422540.
Pianka, E. R. (1966). Latitudinal Gradients in Species Diversity: A Review of Concepts.
The American Naturalist, 100(910), 33–46. http://www.jstor.org/stable/2459377

Anexos

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Figura 1: Correlação entre número de pólen por flor e latitude

Figura 2: Árvore filogenética com todas as espécies coletadas.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1109

AUTOR: VITÓRIA NATÁLIA FERREIRA DE SENA

ORIENTADOR: KARINA CARLA DE PAULA MEDEIROS

TÍTULO: Avaliação do tecido pulmonar e pancreático de ratos diabéticos


tratados com o extrato etanolico de Spondias tuberalis.

Resumo

Considerando a DM uma doença autoimune, é de suma importância para o melhor


entendimento dessa doença, entretanto ainda existem poucos estudos nesta área. O
uso terapêutico de fármacos para tratar o diabetes é limitado devido aos efeitos
colaterais comuns (WIDYAWATI et al., 2015; SEINO et al., 2017), incluindo insuficiência
cardíaca, doença hepática, desconforto abdominal (WIDYAWATI et al., 2015; MARIN-
PEÑALVER et al., 2016; CHAUDHURY et al. ., 2017) e muitas vezes resistência aos
medicamentos levando a redução da eficácia no tratamento da doença. Membros da
família Anacardiaceae, incluindo o gênero Spondias, têm demonstrado diferentes
atividade farmacológica, com propriedade analgésica, hipoglicemiante, anti-
inflamatória e antidiabética em humanos e animais (OJEWOLE, 2005; FRED-JAIYESIMI
et al., 2009). A Spondias tuberosa Arruda tem sido amplamente utilizada na medicina
tradicional, podendo representar uma fonte de moléculas para novos fármacos.
Entretanto, poucos estudos foram realizados com esta espécie. Mediante os dados
epidemiológicos preocupantes da DM, o fácil acesso desta espécie em nossa região, o
potencial terapêutico da S. tuberosa, e por ela ainda ser pouco explorada
cientificamente, acredita-se que novos estudos desta espécie em modelo experimental
de DM contribuirão para o melhor entendimento da fisiopatologia da DM1 e das
possíveis formas de tratamento.

Palavras-chave: Diabetes, Tratamento, Spondias tuberosa.

TITLE: Assessment of lung and pancreatic tissue in diabetic rats treated with
ethanolic extract of Spondias tuberalis.

Abstract

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eCICT 2023

Considering DM as an autoimmune disease, it is of paramount importance for a better


understanding of this disease, however there are still few studies in this area. The
therapeutic use of drugs to treat diabetes is limited due to common side effects
(WIDYAWATI et al., 2015; SEINO et al., 2017), including heart failure, liver disease,
abdominal discomfort (WIDYAWATI et al., 2015; MARIN -PEÑALVER et al., 2016;
CHAUDHURY et al., 2017) and often drug resistance leading to reduced effectiveness in
treating the disease. Members of the Anacardiaceae family, including the genus
Spondias, have demonstrated different pharmacological activities, with analgesic,
hypoglycemic, anti-inflammatory and antidiabetic properties in humans and animals
(OJEWOLE, 2005; FRED-JAIYESIMI et al., 2009). Spondias tuberosa Arruda has been
widely used in traditional medicine and may represent a source of molecules for new
drugs. However, few studies have been carried out with this species. Given the
worrying epidemiological data of DM, the easy access of this species in our region, the
therapeutic potential of S. tuberosa, and because it is still little scientifically explored, it
is believed that further studies of this species in an experimental model of DM will
contribute to the better understanding of the pathophysiology of DM1 and possible
forms of treatment.

Keywords: Diabetes, Treatment, Spondias tuberosa.

Introdução

O diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico crônico caracterizado pela


hiperglicemia persistente por consequência da deficiência de produção de insulina
pelo pâncreas e/ou na sua ação, ocasionando complicações a longo prazo (SBD, 2019).
A cetoacidose é a primeira manifestação clínica da doença, juntamente com a clássica
tríade clínica, caracterizada por polidipsia, polifagia e poliúria (SBD, 2019). O pulmão é
um dos órgãos alvos relacionados a alterações morfofuncionais do DM (ZHENG et al.,
2017). Dentre as principais alterações histopatológicas encontradas no pulmão
diabético, estudos experimentais observaram presença de fibrose, aumento da
espessura dos septos alveolares, diminuição dos espaços aéreos, infiltração de células
inflamatórias, bem como a presença de edema, hemorragia e congestão (SPADELLA et
al., 2010; ALI, 2014; ZOU et al., 2017; ZHANG et al., 2017; TALAKATTA et al., 2018;
CHEN et al., 2018; FEDOROWICZ et al., 2018; ONK et al., 2018; OZTAY et al., 2018;
MOHAMED et al., 2018). Outro importante órgão alvo na DM é o pâncreas,
considerando o efeito deletérico das células B- da ilhota pancreática, incluindo o
modelo experimental induzido por STZ e outros. É relatado na literatura que ocorre
perda aproximada de 60% da função pancreática associada a hiperglicemia moderada
estabelecida nos animais experimentais da DM induzida por STZ (GHASEMI, KHALIFI, &

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eCICT 2023

JEDI, 2014; MASIELLO ET AL., 1998). Estudos morfológicos com tecido pancreático na
DM demonstram redução do diâmetro das ilhotas, alteração na arquitetura do órgão
(YAGIHASHI2017), e presença de infiltrado inflamatório (DAVISON, 2015)
comprometendo a regulação metabólica nos níveis glicêmicos controlados pelo
pâncreas (WANG et al., 2010) . Os fármacos disponíveis para tratar a diabetes (insulina,
sulfoniluréias, biguanidas, inibidores da α-glicosidase, entre outros) têm sido utilizados
como monoterapia ou em combinação para melhor regular a glicêmica. No entanto,
seu uso terapêutico é limitado devido aos efeitos colaterais comuns (WIDYAWATI et
al., 2015; SEINO et al., 2017), incluindo insuficiência cardíaca, doença hepática e
desconforto abdominal (WIDYAWATI et al., 2015; MARIN-PEÑALVER et al., 2016;
CHAUDHURY et al. ., 2017) e muitas vezes resistência aos medicamento levando a
redução da eficácia no tratamento da doença. Portanto, o manejo do diabetes usando
medicamentos disponíveis comercialmente sem apresentar efeitos colaterais ainda é
um importante desafio clínico. Considerando os motivos já citados, profissionais da
medicina tradicional em todo o mundo têm recomendado produtos naturais e
fitoterápicos como recursos terapêuticos alternativos para o tratamento do DM
(WANG et al., 2013). Membros da família Anacardiaceae, incluindo o gênero Spondias,
têm demonstrado diferentes atividade farmacológica, com propriedade analgésica,
hipoglicemiante, anti-inflamatória e anti diabética em humanos e animais (OJEWOLE,
2005; FRED-JAIYESIMI et al., 2009). Dentre as espécies estudadas, Spondias tuberosa
Arruda (Anacardiaceae), popularmente chamada de umbu, tapereba ou umbuzeiro, é
uma das espécies mais importantes e endêmicas do Brasil. Esta espécie pode ser
encontrada em florestas secas conhecidas como Caatinga (ALBUQUERQUE et al.,
2007). A casca do caule e o fruto são usados na medicina popular para tratar uma
grande variedade de doenças, incluindo diabetes mellitus, infecções, distúrbios
digestivos, diarréia, distúrbios menstruais (ALBUQUERQUE et al., 2007; DA SILVA
SIQUEIRA et al. , 2016). A S. tuberosa tem sido amplamente utilizada na medicina
tradicional, especialmente no nordeste, onde é encontrada, podendo representar uma
fonte de moléculas para novos fármacos. Entretanto, poucos estudos foram realizados
com esta espécie para validar cientificamente seu potencial terapêutico observado na
população que faz uso desta espécie.

Metodologia

Foram utilizados 26 ratos machos (Rattus norvegicus), da linhagem Wistar, com


Diabetes Mellitus 1 (DMI) induzida por estreptozotocina, com 90 dias de idade,
pesando cerca de 250-300g e provenientes do Biotério do Centro de Biociências da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os animais foram separados em 5
grupos: - GC: animais não diabéticos; - DM: animais com diabetes experimental ; - EX:

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eCICT 2023

animais tratados com o extrato de Spondias tuberalis; - DMEX: animais com diabetes
experimental tratados com o extrato de Spondias tuberalis; DMIN: animais com
diabetes experimental tratados com insulina; Os animais permaneceram alojados em
caixas de polipropileno providas de bebedouro e comedouro durante período de
ambientação de uma semana. Alocou-se 4 animais por caixa, mantidas em condições
controladas de temperatura (24±2°C) e de iluminação (ciclo de 12 horas claro/ 12
horas escuro) e receberam ração e água ad libitum. O projeto foi encaminhado ao
comitê de ética no uso de animais da UFRN para apreciação, e aprovado
posteriormente (código: 319.056/2022. A DMI foi induzida, via intraperitoneal, por
meio da estreptozotocina (STZ) (40mg/kg) dissolvida a 10 mmol/L solução citrato de
sódio (pH 4,5) (CARVALHO; CARVALHO; FERREIRA, 2003)32. No quinto dia após a
indução do diabetes, a glicemia de todos os animais experimentais foi mensurada por
meio de um glicosímetro portátil (ONETOUCH, Ultra®) e os animais que apresentaram
glicemia ≥250mg/dl foram considerados diabéticos. Uma semana após a indução do
diabetes deu-se início ao tratamento de 30 dias consecutivos com o extrato liofilizado
da S. tuberosa na dose de 200mg/kg administrados por gavagem (v.o) nos grupos EX e
DMEX, e com insulina (5 unidades) no grupo DMIN . Completados os 30 dias de
tratamento, 24 horas após o último tratamento, os animais foram anestesiados com
isoflurano e eutanasiados para remoção das amostras. Uma amostra de sangue foi
coletada para realização das análises bioquímicas e os órgão foram retirados do animal
após a eutanasia, pesados e em seguida fixado em solução formalina tamponada (10%)
por 24 horas. Após a fixação, as amostras de tecido foram desidratadas em uma série
alcoólica de concentração crescente (70%, 80%, 90% e três banhos de álcool absoluto)
com duração de 1 hora cada. Em seguida, o material foi diafanizado em xilol e
posteriormente incluído em parafina a 60ºC para a formação dos blocos. Após a
inclusão, os blocos foram cortados em três secções longitudinais de 5 µm de espessura
por meio de um micrótomo de rotação, em seguida os cortes foram alocados em
lâminas histológicas para serem corados por hematoxilina e eosina (HE). As lâminas de
pâncreas, foram avaliadas quanto a morfologia geral, através da varredura das lâminas
em microscópio óptico.

Resultados e Discussões

Os resultados clínicos a respeito do peso dos animais, assim como a polifagia e


polidipsia estão dispostos nas Figuras 1, 2 e 3, respectivamente.

Todos os grupos iniciaram o experimento com a mesma média de peso. mesmo


recebendo a mesma quantidade de alimentação, no decorrer do estudo, os grupos GC,
EX e DMIN obtiveram um aumento de peso. Já o grupo diabético, obteve uma redução

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

de peso, que já é característico desta patologia, e o grupo diabético tratado com


extrato, também observou-se redução do peso, mostrando que o tratamento não foi
eficaz para reverter essa condição. Para observar a polifagia foi quantificado o
consumo de ração no início e final do experimento, todos os grupos, com exceção do
DM e EX, aumentaram o consumo com o tempo, porém houve um aumento muito
pequeno, não sendo suficiente para gerar alguma conclusão quanto a essa condição.
Para a polidipsia, característica muito presente na diabetes, desde o início do
experimento os animais que foram induzidos a diabetes obtiveram um consumo muito
elevado de água, quando comparados aos que não foram induzidos, que perdurou por
todo o experimento, e apenas o tratamento com insulina conseguiu reverter esse
quadro, o tratamento com extrato não obteve a mesma eficácia.

Os dados a respeito das glicemia estão expostos na figura 4 e as demais dosagens


bioquímicas encontradas no sangue dos animais estão dispostas na tabela 1.

A glicemia dos grupos GC, EX, estão dentro dos valores de referência para esse
parâmetro, visto que são animais saudáveis, já os grupos DM, DMEX e DMIN possuem
glicemia bastante elevadas, devido ao desenvolvimento da diabetes experimental.
Quando comparado os valores dos grupos tratados com o grupo não tratado, pode-se
observar que a insulina consegue diminuir consideravelmente essa glicemia, enquanto
o extrato não consegue reduzir a hiperglicemia da diabetes. Nas demais dosagens
bioquímicas, viu-se que para o colesterol total e os triglicerídeos, AST e ALT os níveis
foram maiores nos grupos com diabetes (DM, DMEX e DMIN) em relação aos sem a
indução dessa doença (GC e EX), indicando que a diabetes interfere nesses
parâmetros, porém, os grupos tratados com insulina obtiveram uma melhora mais
considerável do que os tratados com extrato, mostrando-se o tratamento alternativo
menos eficaz para esses marcadores. Nos marcadores hepáticos, AST e ALT, houve
divergências entre os dois quando comparou-se a melhora dos níveis com relação aos
dois tratamentos utilizados. Enquanto no ALT, a insulina foi mais eficaz para a melhora,
no AST, o grupo tratado com extrato teve um nível menor quando comparado ao
grupo tratado com insulina e o grupo não tratado, mostrando que para contornar as
alterações nesse marcador o extrato foi mais eficaz.

As alterações histopatológicas encontradas no pâncreas podem ser vizualizadas na


Figura 5 e 6.

Observando-se as imagens, percebe-se que no grupo controle, assim como no grupo


apenas tratado com extrato a ilhota pancreática mostrada apresenta sua estrutura
normal, grande e circular, com os contornos bem definidos. A diabetes afeta bastante
o pâncreas, por isso, a ilhota representada no grupo DM é totalmente irregular e

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atrofiada. O tratamento com insulina, mostrado na imagem do grupo DMIN, melhorou


parcialmente a ilhota afetada pela diabetes, porém seu contorno ainda é irregular, e
apresenta um aspecto hemorrágico no seu interior. Já no grupo DMEX, tratado com o
extrato, embora ainda apresente-se reduzida, a ilhota teve uma morfologia mais
preservada, com relação ao grupo DM.

Conclusão

Conclui-se que o extrato de S. tuberosa, é um potencial tratamento alternativo para a


diabetes, visto que, mesmo não tendo conseguido reduzir a hiperglicemia, ou outras
dosagens bioquímicas, conseguiu melhorar morfologicamente as alterações das ilhotas
pancreáticas reproduzidas em modelo experimental de diabetes, de forma mais eficaz
que o tratamento padrão da diabetes 1, a insulina. Porém, para melhor elucidar essa
hipótese são necessários mais estudos e avaliações quanto a essa forma de
tratamento.

Referências

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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CÓDIGO: SB1126

AUTOR: EDSON VINICIUS FEITOSA DE OLIVEIRA

COAUTOR: MARIA EDUARDA PESSOA LOPES DANTAS

ORIENTADOR: JOSELIO MARIA GALVAO DE ARAUJO

TÍTULO: Filogenia dos vírus Chikungunya em casos identificados no Estado do


Rio Grande do Norte

Resumo

A febre chikungunya é uma arbovirose que, ao longo dos anos, tem sido responsável
por grandes surtos e epidemias, representando um grave problema de saúde pública
no estado do Rio Grande do Norte. Diante desse contexto, o objetivo deste trabalho
foi realizar uma análise epidemiológica e genômica dos casos de chikungunya
ocorridos no estado durante o ano de 2022. A análise utilizou dados de casos suspeitos
de chikungunya provenientes dos municípios do Rio Grande do Norte, fornecidos pela
Secretaria de Saúde do estado. No total, foram notificados 19.722 casos suspeitos em
todo o estado do Rio Grande do Norte em 2022. Dentre esses casos, 25,1% foram
confirmados, 45,9% foram inconclusivos e 29,2% foram negativos em seguida um total
de 44 amostras positivas para chikungunya foram processadas e sequenciadas, onde
foi constatada a circulação do genótipo do Centro-Leste-Sul-Africanos no estado. Dessa
forma, mediante os resultados desse estudo e a circulação contínua do vírus no
estado, é de extrema importância que se intensifiquem medidas de conscientização,
envolvendo a prevenção e o controle do vetor no Rio Grande do Norte.

Palavras-chave: Vírus; Arboviroses; Chikungunya; Incidência ; Filogenia

TITLE: Phylogeny of Chikungunya viruses in cases identified in the State of Rio


Grande do Norte

Abstract

Chikungunya fever is an arbovirus that, over the years, has been responsible
for large outbreaks and epidemics, representing a serious public health problem
in the state of Rio Grande do Norte. Given this context, the objective of this

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work was to carry out an epidemiological and genomic analysis of chikungunya


cases occurring in the state during the year 2022. The analysis used data on
suspected cases of chikungunya from the municipalities of Rio Grande do
Norte, provided by the Secretariat of State health. In total, 19,722 suspected
cases were reported throughout the state of Rio Grande do Norte in 2022.
Among these cases, 25.1% were confirmed, 45.9% were inconclusive and
29.2% were negative, followed by a total of 44 samples positive for chikungunya
were processed and sequenced, where the Central-East-South-African
genotype was found to be circulating in the state. Therefore, based on the
results of this study and the continued circulation of the virus in the state, it is
extremely important to intensify awareness measures, involving the prevention
and control of the vector in Rio Grande do Norte.

Keywords: Virus; Arboviruses; Chikungunya; Incidence; Phylogeny

Introdução

O Vírus Chikungunya (CHIKV) é uma arbovirose do gênero Alphavirus da


família Togaviridae, tendo como principal vetor o Aedes aegypti no Brasil.
Apresenta um genoma de RNA de fita simples, sentido positivo, com
aproximadamente 11,8 kb [1]. Clinicamente, manifesta-se como uma doença
febril aguda, com possível duração de 2 a 4 dias, caracterizada por febre alta
de início abrupto, mialgia, artrite e artralgia generalizada [2]. Os primeiros
casos autóctones de chikungunya no Brasil ocorreram em 2014, sendo
confirmados em Oiapoque, no estado do Amapá . Uma semana depois,
também foram confirmados casos autóctones em Feira de Santana, na Bahia
[3]. Ao analisar o gene E1 da glicoproteína do envelope foram atribuídas quatro
linhagens do vírus Chikungunya (CHIKV) (ABUBAKAR;SAM, 2007): Oeste
africano, Leste Central Sul Africano (ECSA), Asiático e a linhagem Oceânica
Indiana (IOL) (Powers et al., 2000; 2011; Schuffenecker et al., 2006).
No ano de 2022, o Brasil registrou 174.517 casos prováveis de chikungunya,
com uma taxa de incidência de 81,8 casos por 100 mil habitantes[4]. Neste
contexto, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de analisar os casos
notificados no Rio Grande do Norte no ano de 2022, comparando-os com os
dados de 2021, e também de analisar qual o genótipo circulante e a filogenia
do vírus chikungunya no estado.

Metodologia

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Foi utilizado dados do Sistema de Informação de Agravo de Notificações ,


prontamente disponibilizados pela Secretaria de Saúde do estado. A análise
epidemiológica dos casos baseou-se nas mesorregiões do Rio Grande do
Norte (oeste potiguar, central potiguar, agreste potiguar e leste potiguar). Os
critérios utilizados para a classificação dos casos confirmados como
chikungunya incluíram as que foram feitas por análises laboratoriais (PCR e
sorologia-IgM) e avaliação clínico-epidemiológica. Já para a filogenia e
genotipagem do CHIKV as amostras recebidas para o sequenciamento foram
submetidas à síntese de cDNA e sucessiva reação de PCR utilizando um
conjunto de primers patógeno-específicos para amplificação do genoma viral
completo[5]. Os amplicons obtidos foram utilizados no preparo das bibliotecas
genômicas e posteriormente, submetidos ao sequenciamento de genoma viral
através da tecnologia de sequenciamento por nanoporos utilizando o
sequenciador portátil MinION. Os dados brutos do sequenciamento foram
processados através do software Genome Detective
(https://www.genomedetective.com/) que realiza a montagem dos genomas e a
identificação dos genótipos/linhagens virais (Vilsker M, et al. 2019).

Resultados e Discussões

No ano de 2022 foram notificados 19.722 casos suspeitos de chikungunya,


25,1% foram confirmados, 45,9% foram inconclusivos e 29,2% foram
negativos. Dentre os positivos, a mesorregião central potiguar se destacou com
maior número de casos positivos , registrando 39,8%, o leste potiguar com
29,7%, o agreste com 18,4% e o oeste potiguar 12,1% de casos confirmados.
Também foi possível analisar taxa de incidência dos casos positivos notificados
foi de 149,3 (um aumento de 12,07% em relação a 2021).[6]. As análises
genômicas preliminares de acordo com o relatório sugeriram que a
reemergência do CHIKV no estado do RN foi caracterizada pela circulação do
genótipo ECSA e as análises filogenéticas sugeriram mais de um evento
independente de introdução deste vírus no estado ao longo do tempo(figura 1).

Conclusão

A partir dos dados apresentados foi possível perceber um aumento


considerável dos casos de chikungunya não só no Rio Grande Do Norte mas
também em toda região nordeste. Dessa forma, é de extrema importância que
a população e os órgãos de vigilância epidemiológica intensifiquem as medidas
de conscientização, envolvendo a prevenção e o controle do vetor no Rio

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Grande do Norte. Além disso, é fundamental realizar a vigilância genômica do


CHIKV para compreensão da origem dos diferentes genótipos circulantes no
estado.

Referências

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Anexos

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Figura 1. Análise evolutivas da dispersão do CHIKV no estado do Rio Grande do Norte

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CÓDIGO: SB1168

AUTOR: NICOLAS VINICIUS ARAUJO ALVES LEITE

COAUTOR: WINICIUS MATEUS MAGALHAES COSTA

ORIENTADOR: ADRIAN ANTONIO GARDA

TÍTULO: Levantamento e monitoramento da fauna de lagartos da Floresta


Nacional de Nísia Floresta

Resumo

O bioma da Mata Atlântica possui uma das mais altas taxas de diversidade e endemismo
do mundo. Porém, também é um dos biomas mais degradados com apenas 28% de
cobertura vegetal atualmente. A FLONA de Nísia Floresta contempla um dos
fragmentos pertencentes ao Rio Grande do Norte, com grande diversidade de répteis em
sua fauna. Com o objetivo de estimar sua riqueza e abundância, montamos neste
trabalho a primeira lista para o grupo Squamata do local. Por meio da utilização de
armadilhas de queda e busca ativa, realizamos o monitoramento das espécies da área por
11 meses. Nossos resultados mostraram um total de 414 indivíduos divididos em 19
espécies e 10 famílias de lagartos e cobras. Entre as espécies mais registradas estão o
Kentropyx calcarata (N = 105), Ameivula ocellifera (N = 100) e Dryadosaura nordestina
(N = 49). Os que possuem menos registros são o Salvator merianae (N = 2) e Anolis
ortonii (N = 1). As cobras aparecem em menor número com a espécie mais abundante
sendo a Taeniophallus occipitalis (N = 8) e a menos abundante a Oxyrhopus trigeminus.
A nossa curva de rarefação mostrou-se próxima a assíntota, apenas a atingindo com a
extrapolação estimada pelo gráfico, o que corrobora com estudos em outras áreas e
implica na necessidade de mais monitoramento. Com isso, reforçamos a necessidade de
estudos como esse, com longo prazo de amostragem e monitoramento das espécies que
ocorrem em determinado local para estimar riqueza e abundância ao grupo para sua
conservação.

Palavras-chave: Répteis. Mata Atlântica. Abundância. Riqueza. Fragmentação

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TITLE: Survey and monitoring of the lizard fauna of the Nísia Floresta National
Forest

Abstract

The Atlantic Forest biome has one of the highest rates of diversity and endemism in the
world. However, it is also one of the most degraded biomes with only 28% vegetation
cover today. The Nísia Floresta FLONA is one of the fragments in Rio Grande do Norte
with a great diversity of reptiles in its fauna. In order to estimate their richness and
abundance, we have compiled the first list for the Squamata group in the area. Using
pitfall traps and active searches, we monitored the species in the area for 11 months.
Our results showed a total of 414 individuals divided into 19 species and 10 families of
lizards and snakes. Among the most recorded species are Kentropyx calcarata (N =
105), Ameivula ocellifera (N = 100) and Dryadosaura nordestina (N = 49). The least
recorded are Salvator merianae (N = 2) and Anolis ortonii (N = 1). Snakes appear in
smaller numbers, with the most abundant species being Taeniophallus occipitalis (N =
8) and the least abundant being Oxyrhopus trigeminus. Our rarefaction curve was close
to asymptote, only reaching it with the extrapolation estimated by the graph, which
corroborates studies in other areas and implies the need for more monitoring. This
reinforces the need for studies like this, with long-term sampling and monitoring of the
species that occur in a given location in order to estimate the richness and abundance of
the group for its conservation.

Keywords: Reptiles. Atlantic Forest. Abundance. Richness. Fragmentation

Introdução

A Mata Atlântica se estende por 18 estados na linha costeira do Brasil, o que


corresponde a 17,4% do território brasileiro (Ribeiro et al., 2009). A região foi
classificada em sub-regiões e áreas de transição de acordo com as taxas de endemismo
(Ribeiro et al., 2011). Aspectos como altitude, clima e vegetação compõem uma
heterogeneidade no bioma e influenciam fortemente na riqueza, abundância e
distribuição das espécies (Ferreguetti et al., 2021; Nettesheim et al., 2010, Carvalho et
al., 2021).
Apesar da grande perda histórica de vegetação nativa, estima-se hoje uma cobertura de
28% na extensão da Mata Atlântica (Rezende et al., 2018). Porém, os serviços
ecossistêmicos e a biodiversidade podem sofrer impactos com a composição das árvores
mais jovens em regeneração (Rosa et al., 2021). A forte fragmentação do bioma pode
gerar homogeneização de espécies devido ao isolamento e ao efeito de borda (Ribeiro et
al., 2009; Lôbo et al., 2011).
Mesmo com o alto número de fragmentos pequenos, a diversidade da herpetofauna no
CEP é alta e evidencia a importância de sua preservação, mesmo com os efeitos danosos

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resultantes da fragmentação (Lion et al., 2016). O Nordeste brasileiro contém áreas


protegidas com espécies endêmicas para Squamata que não possuem estimativas de
riqueza e abundância ou não foram feitos levantamentos recentes. A conservação da
biodiversidade é prioridade com os riscos apresentados.
O Centro de Endemismo de Pernambuco (CEP) é uma das regiões que abriga muitas
espécies endêmicas de diferentes grupos (Brown et al., 2020), e está ligado à zona de
transição do Rio São Francisco, com espécies diversas distribuídas ao norte do rio
(Ribeiro et al., 2011). A atuação da fragmentação devido à forte pressão de ações
antrópicas, como plantações de monocultura (Lins-e-Silva et al. 2021) nos demonstra
apenas 4,7% de sua floresta remanescente (Ribeiro et al., 2009).
Ainda há grandes extensões não protegidas dentro desse bioma, inclusive áreas que
apresentam grande diversidade funcional (Silva et al., 2022). E entre sete das BSR’s,
descritas por da Silva e Casteletti (2003), Pernambuco e São Francisco possuem menos
de 3% de sua área de floresta remanescente protegida, que juntas compreendem 860,321
ha (Ribeiro et al., 2009).
Um alto nível de riqueza vem sendo demonstrado para o bioma. Na área protegida de
Matas de Água Azul há registro de 35 gêneros para Squamata, com 18 espécies de
lagartos, e representa 69% dos lagartos da Mata Atlântica do Centro de Endemismo de
Pernambuco (Oliveira et al., 2021). A Mata de Siriji possui registro de 43 espécies de
lagartos e cobras (Lima et al., 2021). Os estudos apontados apresentam levantamentos
de espécies em potenciais classificações de risco de extinção.
O alto número de pequenos fragmentos, configura conservação de répteis no Nordeste
brasileiro por grande diversidade (Ribeiro et al., 2009; Lion et al., 2016). A Floresta
Nacional de Nísia Floresta representa parte da região do estado com 174,95 ha de
extensão, e pertence à Área de Proteção Ambiental (APA) de Bonfim/Guaraíra. O
estabelecimento do Plano de Manejo da Flona tem como objetivo implementar normas
para execução de atividades na área de forma sustentável e promover a conservação da
biodiversidade. Com as informações apresentadas, enfatizamos o valor da conservação
das espécies habitantes dessa área e do monitoramento de sua ocorrência.
Neste estudo iremos apresentar um levantamento das espécies encontradas para o grupo
Squamata na Floresta Nacional de Nísia Floresta através de armadilhas de queda. A fim
de obter valor de conservação para a região e para as espécies encontradas,
especialmente endêmicas. Com isso, vamos estimar a abundância e riqueza de espécies
que ocorrem na FLONA e ver a distribuição da diversidade das espécies de Squamata.

Metodologia

Área de estudo

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A Mata Atlântica se estende por toda costa brasileira, e é uma área que possui forte
fragmentação de seu território devido às fortes pressões de degradação. A Floresta
Nacional de Nísia Floresta (FLONA), localizada no Rio Grande do Norte, é uma parte
dessa floresta protegida que abriga tamanha diversidade do bioma. Nosso estudo foi
realizado nessa porção de floresta com 175 ha de extensão e tipos diferentes de
paisagem: mata fechada, floresta com plantios de exóticas (em regeneração) e restinga.
Nesse estudo optamos pela realização do levantamento da herpetofauna dessa região,
dispondo armadilhas em áreas diferentes de forma aleatória entre os três tipos de
vegetação.
Métodos
Nosso método de captura dos animais foi realizado com armadilhas de interceptação e
queda (pitfalls-traps). Essas armadilhas foram dispostas em 21 conjuntos, com quatro
baldes de 30 litros cada, ordenados em formato de Y, e uma distância de cerca de 5m de
um balde para o outro com lona plástica ou tela estendida do chão. Os dados coletados e
mostrados neste estudo são de um período de 11 meses. A amostragem foi realizada
uma vez no mês por um período de 7 dias consecutivos em que os baldes estavam
abertos, com um intervalo de 24 horas entre uma checagem e outra. Os animais
capturados tinham medidas de comprimento feitas para análise de dados: comprimento
rostro-cloacal, cauda, base da cauda (caso estivesse regenerando ou quebrada) e o peso.
Foi implementado um método de marcação dos indivíduos para coleta de tecidos, o
corte da falange dos répteis para controle da recaptura dos indivíduos. Para algumas
espécies de maior ocorrência realizamos marcação individual e cada indivíduo da
espécie possui um ID.
Análise de dados
Para analisar nossos dados coletados, fizemos uso do programa R studio para
demonstrar as medidas de distribuição, abundância e riqueza das espécies de répteis
para a área protegida de Nísia Floresta. Fizemos gráficos que mostram o número de
indivíduos para cada espécie e família do grupo Squamata registrados nas campanhas,
assim como uma curva de rarefação. Para analisar a abundância foi feito um ranking de
abundância das espécies ao longo dos tipos de vegetação da FLONA de Nísia Floresta.
Além disso, também analisamos a abundância de répteis e cobras, de acordo com a
precipitação pluvial mensal do local por meio de um gráfico que demonstra a
abundância mensal em cada ponto amostrado e a precipitação registrada.

Resultados e Discussões

Um total de 19 espécies foram encontradas, 14 espécies de lagartos e 5 espécies de


cobras, com um número de 414 indivíduos divididos em 10 famílias (Figura 1), isso
equivale a pouco mais da metade da riqueza registrada para na Estação Ecológica de

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Murici, com 22,6% (Dubeux et al., 2022). Os nossos dados demonstram parte da
riqueza encontrada em outras partes do ambiente de Mata Atlântica, representando 30%
dos animais registrados em Guariba (Mesquita et al., 2018). E em outros biomas, como
a Caatinga no Nordeste, encontramos uma riqueza semelhante para Squamata, mas com
um número maior de indivíduos (Calixto et al., 2017).
A família Teiidae mostrou maior abundância em todos os pontos amostrados, com 212
indivíduos (Figura 2), isso se deve pelo alto número de capturas dos lagartos Kentropyx
calcarata e Ameivula ocellifera, que aparecem com mais frequência em vegetações
diferentes, com 105 e 100 indivíduos registrados, respectivamente (Figura 1). Essas
espécies são amplamente distribuídas e abundantes no bioma, e há registros em outros
fragmentos de Mata Atlântica (Melo et al., 2018, Lion et al., 2016, Santana et al., 2008,
Mesquita et al., 2018).
A espécie Dryadosaura nordestina foi a terceira espécie mais registrada (Figura 1), com
41 indivíduos capturados, da família Gymnophtalmidae (Figura 2), a segunda mais
abundante composta também por Micrablepharus maximiliani (N = 20) e Vanzosaura
multicustata (N = 2) (Figura 2). O D. nordestina é encontrado em áreas de Mata
Atlântica na região nordeste, nas áreas costais do estado do Rio Grande do Norte até o
estado de Alagoas, sendo endêmico (Rodrigues et al., 2005, Rodrigues et al., 2014). E
está entre os três lagartos mais abundantes do Rio Grande do Norte (Lion et al., 2016),
afirmando sua alta abundância nos fragmentos do bioma.
A espécie Anolis ortonii (N = 1), da família Dactyloidae, foi a espécie menos
encontrada, seguido do Salvator merianae (N = 2), da família Teiidae (Figura 1). O S.
merianae tem baixa abundância neste estudo provavelmente pelo seu tamanho, o que
pode dificultar sua captura através dos pitfalls. As capturas feitas dessa espécie foram
exclusivamente de animais em fase juvenil. As serpentes tiveram números menores de
capturas de indivíduos e espécies, provavelmente por sua difícil captura nos baldes
também. O maior número de indivíduos encontrados foi da espécie Taeniophallus
occipitalis (N = 8) e Apostolepis longicaudata (N = 4), seguido por menores registros da
Tantilla melanocephala (N = 3) e Oxyrhopus trigeminus (N = 1), todas pertencentes à
família Colubridae (Figura 1 e 2).
O padrão da distribuição das espécies pode ser observado no ranking de abundância por
vegetação (Fig. 3). A Ameivula ocellifera está no topo no ambiente de restinga (Fig. 3),
por ser um dos lagartos mais abundantemente encontrados na FLONA de Nísia Floresta
por esse estudo, seguido pelo Tropidurus hispidus, da terceira família mais abundante
(Tropiduridae), em que nesse estudo é a única espécie encontrada para essa família com
registro de 39 indivíduos (Fig. 2). Assim como, em ambiente de mata e em regeneração,
o K. calcarata está no topo por sua maior abundância, acompanhado por D. nordestina e
Coleodactylus meridionalis (Fig. 3). A espécie C. meridionalis se encontra em maior
abundância em ambiente de mata do que em regeneração com um registro total de 33
indivíduos. Esse lagarto é encontrado em dois ambientes do bioma e seu

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comportamento e presença está associado a serrapilheira, o que pode ser um fator para
sua alta abundância (da Silva et al., 2015).
A maior riqueza e abundância para Squamata pode ser observada nos meses de
setembro, outubro e novembro de 2022 (Fig. 4 e 5), junto com os menores índices de
precipitação no fragmento. Isso pode ter relação com a movimentação maior dos répteis
com altas temperaturas e baixa umidade, já que pode ser observado que no mês de
março, por exemplo, em que é registrado o maior índice pluviométrico, apesar do alto
número de espécies, o número de indivíduos declina. Essa coleta maior de diferentes
espécies pode estar ligado à variedade de vegetação do bioma, logo, muitas espécies
ocorrem em diferentes tipos de ambientes. A A. ocellifera, por exemplo, ocorre em
ambientes de restinga, logo, sua presença em períodos chuvosos é pouco ou não
registrada.
A curva de rarefação nos permite avaliar a acumulação de espécies do local amostrado.
Baseado nisso, a curva de rarefação realizada para Squamata mostra o alcance da
assíntota analisando a diversidade de espécies pelo número de indivíduos amostrados
(Fig. 6). Porém, nossa curva ainda parece estar aumentando, e com a extrapolação
estimada pelo gráfico a assíntota é alcançada. Alguns fatores podem ter corroborado
para esse resultado, como a coleta em menor escala de algumas espécies, necessidade de
mais monitoramento por mais tempo na área, grandes períodos de chuva. Logo,
reforçamos a importância da continuação de levantamento e monitoramento na área,
como o nosso e o realizado em outros locais para o grupo (Cavalcanti et al., 2014;
Garda et al., 2013, Lima et al., 2021).
Enquanto muitos levantamentos realizados na Mata Atlântica trazem dados de
amostragem a curto prazo (Oliveira et al., 2016, Roberto et al., 2017, Almeida-Gomes et
al., 2008, Melo et al., 2018, Santana et al., 2008). O nosso estudo traz um levantamento
feito em um período de longo tempo, o que configura uma maior amostragem do
fragmento. Dessa forma, nós conseguimos ter ampla datação da abundância e
diversidade de répteis para o bioma e conferir conservação para as espécies e seu
hábitat. Assim como, o nosso estudo abre espaço para outras pesquisas dentro dos
grupos estudados.

Conclusão

Esse estudo nos permite obter a primeira lista de espécies de répteis para a FLONA de
Nísia Floresta no Rio Grande do Norte, e entender a distribuição dessas espécies nesse
fragmento de Mata Atlântica. Obtivemos dados de abundância, riqueza, nos tipos de
vegetação, para estimar parte da biodiversidade Squamata da área. Com isso,
reforçamos a importância de estudos como esse para estimar espécies endêmicas ou
não, descrever novas espécies caso forem encontradas, e por fim, entender como estão

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as espécies da Floresta daquele bioma para o grupo, e agregar mais informação e


importância a sua conservação e a da região do estudo.

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Anexos

Figura 1. Número de indivíduos registrados por espécie.

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Figura 2. Número de indivíduos registrados por família.

Figura 3. Ranking de abundância das espécies registradas em cada tipo de vegetação.

Figura 4. Abundância e precipitação registrada em cada mês de coleta.

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Figura 5. Riqueza e precipitação registrada em cada mês de coleta.

Figura 6. Curva de rarefação demonstrando a diversidade de espécies pelo número de


indivíduos.

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CÓDIGO: SB1172

AUTOR: DIANA HERMINIA REGO DO NASCIMENTO

ORIENTADOR: CARLOS ROBERTO SORENSEN DUTRA DA FONSECA

TÍTULO: Relação evolutiva entre o número de flores por capítulo e a produção


de pólen em Asteraceae brasileiras

Resumo

A seleção sexual atua na escolha de atributos vantajosos de um indivíduo em relação


ao outro, garantindo assim, o sucesso reprodutivo. Nas plantas, diferentes estratégias
em alocação de recursos para as estruturas reprodutivas são adaptações a diferentes
fatores limitantes, como a disponibilidade de recursos abióticos e polinizadores, que
influenciam na aptidão dos indivíduos. As Asteraceae são uma família modelo, tendo
em vista o padrão difundido entre as espécies deste grupo, com numerosas flores
distribuídas em capítulos, como estratégia reprodutiva e, assim, contribuindo para
avanços científicos sobre a evolução floral. A partir disso, o presente trabalho testou a
relação evolutiva entre o número de flores por capítulo e a produção de pólen por flor
em Asteraceae brasileira, por meio de um modelo linear e construção de árvore
filogenética das espécies. Utilizamos amostras coletadas no herbário da UFRN,
contamos o número de flores por capítulo e o número de pólen em uma flor. À medida
que as Asteraceae investem em mais flores por capítulo, também produzem mais
pólen por flor. Neste sentido, as plantas dessa família aumentam a probabilidade de
fecundação cruzada, aumentando a chance de ter uma prole diversa geneticamente.

Palavras-chave: alocação de recursos. Asteraceae.evolução floral. seleção


sexual.

TITLE: Evolutionary relationship between the number of flowers per capitulum


and pollen production in Brazilian Asteraceae.

Abstract

In plants, different strategies for allocating resources to reproductive structures are an


adaptation to different limiting factors, such as the availability of abiotic resources and
pollinators, which influence the individual fitness. The Asteraceae are a model family,

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given the widespread pattern among the species of this group, with numerous flowers
distributed in chapters, as a reproductive strategy and thus contributing to scientific
advances in floral evolution. With this in mind, this study tested the evolutionary
relationship between the number of flowers per chapter and pollen production per
flower in Brazilian Asteraceae, using a linear model and constructing a phylogenetic
tree of the species. We used samples collected at the UFRN herbarium and counted
the number of flowers per chapter and the number of pollen in a flower. As the
Asteraceae invest in more flowers per chapter, they also produce more pollen per
flower. In this sense, the plants in this family increase the likelihood of cross
fertilization, increasing the chance of producing genetically-diverse offspring.

Keywords: resource allocation. Asteraceae. floral evolution. sexual selection.

Introdução

A seleção sexual acontece quando há uma competição entre indivíduos por parceiros
sexuais, onde os atributos mais vantajosos de um indivíduo em relação ao outro é
selecionado pelo parceiro, garantindo o sucesso reprodutivo (Toledo et al. 2020).
Inicialmente, os animais eram o foco de muitos estudos, mas a discussão sobre seleção
sexual em plantas cresceu nas últimas décadas. Neste sentido, possibilitou a
compreensão dos seus efeitos para a evolução das características florais, de forma que
a seleção sexual pode moldar traços florais através do sucesso reprodutivo feminino
em flores hermafroditas (Dai & Galloway, 2013), e atua no aumento de parceiros
através de características que promovem a dispersão de pólen (Tonnabel et al, 2019).
Além disso, as mudanças climáticas exercem efeitos diretos na aptidão das plantas
García-Roa et al., 2020), dessa forma,a disponibilidade de alimentos e os fatores
ambientais antropogênicos influenciam a dinâmica de seleção sexual pós cópula
(Morbiato, 2023).
As plantas utilizam recursos presentes em sua estrutura para desempenhar papéis
como reprodução, defesa contra herbívora e crescimento para garantir sua
sobrevivência (Bazzaz et al. 1987). A partir disso, as plantas alocam recursos de
diferentes formas para possibilitar a sua adaptação, como quando expostas a estresses
ambientais (Viana et al., 2005) e visando o sucesso reprodutivo, quando flores maiores
alocam recursos para exportação de pólen e flores menores investem na produção de
sementes (Paterno et al., 2020).
A relação entre o número de pólens e o número de ovários surgiu como indicador dos
sistemas de reprodução das plantas (Cruden, 1977). A razão pólen/óvulo (P/O) é a
divisão do número de pólens por flor pelo número de óvulos por flor. A razão P/O está
relacionada aos sistemas reprodutivos das plantas, de forma que a razão P/O baixa,
está associada a plantas autógamas com menor eficiência na transferência de pólen,

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enquanto plantas que possui uma P/O alta são xenógamas, exportando mais pólens e
necessitando de polinizadores (Cruden, 1977).
Asteraceae é uma das maiores famílias de angiospermas, com distribuição
cosmopolita, contendo 50 tribos com 1.600 gêneros e mais de 24 mil espécies
(Susanna et al., 2020). A família é uma das mais distribuídas e diversificadas no Brasil,
possuindo uma taxa de 66% de espécies endêmicas e com maior presença no Cerrado
(Forzza et al., 2010). No território brasileiro, são registradas 27 tribos com 278 gêneros
e 2.013 espécies (Roque et al., 2017), com destaque para a tribo Eupatorieae que
abrange 85 gêneros (Cancelli, 2008). Várias espécies dentro da família apresentam
importantes usos, desde a produção de óleo vegetal em girassol (Helianthus annuus
L.), a alface (Lactuca sativa L.) na alimentação, além de espécies com propriedades
medicinais como a camomila (Matricaria recutita L.) usada em chás, e a calêndula
(Calendula officinalis L.) usada em pomadas, entre outras utilidades como
aromatizantes, inseticidas e uso ornamental (Teles et al. 2017).
Asteraceae possuem hábitos de ervas, arbustos e subarbustos, com menor frequência
de árvores ou liana. Suas flores são organizadas por inflorescências do tipo capítulo,
constituído de um a centenas de flores sésseis por capítulo, que podem ser bissexuais,
unissexuais, ou estéreis (Roque, 2008). As flores podem ser distribuídas de forma
homogênea ou heterogênea (flores do raio e disco) dentro do capítulo (Roque, 2017).
Cada flor é composta por 5 estames e por um ovário ínfero com um óvulo (Roque,
2020). A partir disso, a Asteraceae é uma família modelo para estudar a evolução e a
seleção sexual em plantas devido a sua morfologia floral com muitas flores em um
único capítulo. Este trabalho testa a relação evolutiva entre o número de flores por
capítulo e a produção de pólen por flor utilizando espécies de Asteraceae brasileira.

Metodologia

Seleção das espécies


Neste trabalho estudamos todas as espécies de Asteraceae presentes na coleção
botânica do herbário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para minimizar
o impacto na coleção, coletamos apenas um capítulo íntegro, porém fechado, de uma
exsicata de cada uma das espécies da coleção.
Número de flores
O número de flores por capítulo foi contado diretamente após dissecção. Em espécies
que não foi possível realizar a contagem das flores por apresentar algum tipo de dano
no capítulo, coletamos a informação no banco de dados da Flora e Funga do Brasil.

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Contagem de pólen
A contagem do pólen foi realizada a partir da contagem direta. Preparamos a amostra
utilizando um Microscópio Estereoscópio Binocular (lupa) para extrair uma flor intacta
do capítulo. Posteriormente, a flor foi colocada em um eppendorf e foi macerada.
Então, adicionamos 1000 μL de ácido lático a 85% e maceramos novamente. Depois a
amostra é colocada no vortex por 5 minutos. Para iniciar a contagem colocamos 100 μL
da amostra em uma lâmina e sobrepomos uma lâminula para colocar no microscópio
óptico e realizamos a contagem direta onde todo o pólen presente na lâmina é
contado. Realizamos 10 contagens diretas de 100 μL da amostra e no final somamos os
valores das 10 contagens que determinou o total de pólen presente em uma flor. Para
estimarmos o número de pólens por capítulo multiplicamos o número de pólens por
flor pelo número de flores do capítulo.
Análises estatísticas
Uma regressão linear foi utilizada para testar o efeito da variável independente
número de flores por capítulo (log10 transformada) na variável dependente número
de pólens produzido por flor (log10 transformada). Além disso, testamos o efeito da
variável independente número de flores por capítulo (log10 transformada) na variável
dependente número de pólens produzido por capítulo (log10 transformada). A análise
estatística foi desenvolvida no software livre R (R Core Team 2023). Além disso,
construímos uma árvore filogenética das espécies presentes nesse estudo, por meio do
pacote “V.PhyloMaker” que utiliza informações filogenéticas da super-árvore
GBOTB.extended.tre..

Resultados e Discussões

As espécies apresentaram uma relação positiva entre o número de flores por capítulo
e o número pólen por flor (Fig. 1). Dessa forma, a medida em que as Asteraceae
investem em mais flores por capítulo, produzem também mais pólen por flor (β = 1.00
± 0.09; n = 109 espécies, t = 10.34; p < 0.001), sendo que o número de flores explicou
50% da variação do número de pólen (R² = 0.50).
As 109 espécies estudadas no herbário da UFRN estão distribuídas em 16 tribos da
família Asteraceae (Fig. 2). As tribos mais representativas foram Vernonieaea (30
espécies), Eupatorieae (24), Heliantheae (17), Astereae (7), Tageteaea (7),
Coreopsideae (5), Gochnatieae (5) e Senecioneae (4), mas foram também estudadas
espécies de Gnaphalieae (2), Inuleae (2), Anthemideae (1), Barnadesieae (1),
Chicorieae (1), Nassauvieae (1), Neurolaeneae (1) e Millerieae (1).
Discussão

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Visando o sucesso reprodutivo, as angiospermas de flores maiores alocam recursos


para exportação de pólen enquanto de flores menores investem na produção de
sementes (Paterno et al. 2020). Nossos resultados mostraram que as espécies de
Asteraceae investiram em mais pólen à medida que possuem mais flores. Portanto,
esta estratégia de alocação de recursos é importante para facilitar a dispersão de
grandes quantidades de grãos de pólen através de polinizadores, maximizando assim,
a variabilidade genética ao fecundar indivíduos diferentes. Além disso, outras
características poderiam contribuir para compreensão acerca da evolução das
estratégias reprodutivas nas Asteraceae, como o investimento no tamanho do capítulo
e da flor.

Conclusão

Asteraceae com mais flores por capítulo oferecem mais pólens aos seus polinizadores,
aumentando a chance de reprodução cruzada.

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do Brasil, 2005. Acesso em: 29 ago. 2023.

Anexos

Figura 1: Modelo linear entre o número de flores por capítulo e o número de grãos de
pólen por capítulo das 109 espécies coletadas, com relação de 1:1 entre duas variáveis.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 3: Filogenia das 109 espécies de Asteraceae incluídas neste estudo, as tribos
foram destacadas com cores diferentes.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1185

AUTOR: MARIA CLARA DOS SANTOS CARNEIRO

ORIENTADOR: WAGNER FRANCO MOLINA

TÍTULO: DESCRIÇÃO CARIOTÍPICA DO PEIXE AGULHÃO-DA-AREIA,


ABLENNES HIANS, E PROCESSOS DE HETEROCROMATIZAÇÃO NA
FAMÍLIA BELONIDAE

Resumo

Ablennes hians (Belonidae), popularmente conhecido como peixes-agulha ou


agulhão-da-areia, constitui uma espécie de peixe marinho que possui corpo
alongado e maxilas compridas e finas e representa um pequeno predador
epipelágico. Poucos dados biológicos são conhecidos para a espécie e, entre
os quais os seus aspectos citogenéticos. Poucas informações também estão
disponíveis aos padrões cariotípicos da família Belonidae. Estudos
citogenéticos prévios têm revelado uma evolução cromossômica dinâmica e
com elevado conteúdo heterocromático. Visando ampliar os dados
citogenéticos para a família Belonidae aqui é descrito pela primeira vez o
cariótipo por meio de coloração pelo Giemsa, bandamento C e a distribuição
dos sítios Ag-RONs da espécie Ablennes hians, presente no entorno do
Arquipélago de São Pedro e São Paulo. A espécie apresentou um valor
diplóide de 2n=48 cromossomos, com cariótipo composto por
8m+8sm+10st+24a (NF=76), e blocos de heterocromatina conspícuos
distribuídos em posição centromérica e pericentromérica da maioria dos pares
cromossômicos. Os dados ampliam o conhecimento citogenético para o grupo
e reforçam uma evolução cariotípica modelada por inversões pericêntricas e
processos de heterocromatinização.

Palavras-chave: Evolução cromossômica; Citogenética de peixes; Rearranjos


cromossômico

TITLE: KARYOTYPIC DESCRIPTION OF THE SAND NEEDLE FISH,


ABLENNES HIANS, AND HETEROCHROMATIZATION PROCESSES IN THE
BELONIDAE FAMILY

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Abstract

Ablennes hians (Belonidae), popularly known as the needlefish or sand


needlefish, is a species of marine fish with an elongated body and long, thin
jaws and is a small epipelagic predator. Few biological data are known for the
species, including its cytogenetic aspects. Little information is also available on
the karyotypic patterns of the Belonidae family. Previous cytogenetic studies
have revealed a dynamic chromosomal evolution with a high heterochromatic
content. In order to expand the cytogenetic data for the Belonidae family, here
we describe for the first time the karyotype using Giemsa staining, C banding
and the distribution of Ag-RON sites of the species Ablennes hians, found
around the São Pedro and São Paulo Archipelago. The species showed a
diploid value of 2n=48 chromosomes, with a karyotype composed of
8m+8sm+10st+24a (NF=76), and conspicuous heterochromatin blocks
distributed in centromeric and pericentromeric positions of most chromosome
pairs. The data expand cytogenetic knowledge of the group and reinforce a
karyotypic evolution modeled on pericentric inversions and
heterochromatinization processes.

Keywords: Chromosome evolution; Fish cytogenetics; Chromosome


rearrangements.

Introdução

Características biológicas e interações econômicas e médicas dos


Belonidae
Linnaeus descreveu em 1761 a primeira espécie reconhecida atualmente como
Belonidae, a Belone belone. A família Belonidae pertencente à ordem
Beloniformes, representa um grupo pouco diverso composto por 48 espécies
distribuídas em dez gêneros. (Ablennes, Belone, Belonion, Petalichthys,
Platybelone, Potamorrhhaphis, Pseudotylosurus, Strongylura, Tylosurus e
Xenentodon) (Froese & Pauly, 2022). Os gêneros Strongylura, Tylosurus e
Ablennes são considerados de evolução mais recente (Collette et al., 1984).
Em geral as espécies apresentam ampla distribuição, sendo comuns em
ambientes marinhos e de água doce, habitando regiões tropicais e subtropicais
dos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico (Collette, 2003a).
Os peixes-agulhas possuem corpos alongados, com maxilares superiores e
inferiores estendidas em bicos longos cheios de dentes afiados (exceto
Belonion neotenico); possuem as narinas anteriores aos olhos, e não

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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apresentam espinhos nas nadadeiras. São peixes pelágicos que vivem na


superfície dos corpos d'água e que apresentam colorido protetor para este
modo de vida, sendo verde ou azul no dorso e branco prateado nas laterais e
na barriga (Froese & Pauly, 2022)
Os belonídeos apresentam as nadadeiras dorsal e anal posicionadas
posteriormente, a nadadeira pélvica com seis raios e as maxilas finas e
compridas, com dentes grandes cônicos. Suas dimensões variam de poucos
centímetros (Belonion apodion – até 5 cm) até dois metros de comprimento
(Tylosurus pacificus). Ovíparos, produzem ovos, grandes e esféricos (entre 2,5
e 4 mm, Figura 1) com vários filamentos, (Collette et al., 1982), que são
liberados no meio antes de serem fertilizados.
Os belonídeos são os únicos peixes pelágicos que apresentam natação
anguiliforme, e por isso apresentam um conjunto diferente de características
morfológicas quando comparado com peixes demersais que apresentam o
mesmo estilo de natação (Liao, 2002).
Ablennes hians (Belonidae)
O peixe agulha-da-areia Ablennes hians, o único membro do gênero Ablennes,
coletado no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (00°55'02''N, 29°20'44''O),
apresenta uma vasta distribuição mundial em águas tropicais e temperadas
quentes. Habita águas neríticas e oceânicas, mas mais frequentemente
encontrado perto de ilhas, também é encontrado em estuários e rios costeiros.
Apresentam de 23-26 raios na nadadeira dorsal e 24-28 na nadadeira anal, e
de 86-93 vértebras.
A citogenética da família Belonidae
As espécies da família Belonidae apresentam poucas informações cariotípicas.
Dentre estas verifica-se a presença de cariótipos com dois números diploides
modais, 2n=48 ou 50 cromossomos, variando desde cariótipos exclusivamente
formados por cromossomos acrocêntricos à diversificadas fórmulas cariotípicas
(Srivastava & Kaura, 1964 ; Rish, 1973; Rishi & Singh 1982)
O conteúdo heterocromático do genoma pode desempenhar um papel na
evolução do genoma (John et al., 1985). Extensos estudos sobre a
organização, natureza e mapeamento físico do DNA repetitivo nos
cromossomos dos peixes têm resultado em um melhor entendimento sobre o
papel dinâmico das sequências repetitivas na evolução cariotípica das
espécies, incluindo reorganizações sintênicas (Araújo et al., 2010; Sczepanski
et al., 2010), diversificação dos cromossomos sexuais e a origem dos
cromossomos B (Vicari et al., 2010).
Diante de conspícuos padrões de heterocromatinização exibidos nos cariótipos
de espécies da família Belonidae, análises filogeneticamente mais extensas e

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

aprofundadas utilizando técnicas citogenéticas permitirão detalhar os principais


mecanismos que atuaram na diversificação cromossômica dessa família.
Nesse contexto, o presente trabalho visou a realizar uma primeira descrição
cariotípica de Ablennes hians, com o objetivo de ampliar o espectro filogenético
correlacionando com os processos de heterocromatinização em Belonidae.

Metodologia

OBJETIVOS
Objetivo Geral
Ampliar as informações citogenéticas para a família Belonidae e contribuir para
o entendimento de processos de heterocromatinização na família, através da
descrição cariotípica da espécie Ablennes hians. Adicionalmente, contribuir
para o conhecimento da citogenética de peixes marinhos, sobretudo aqueles
com distribuição insular no Atlântico.
Objetivos Específicos
Definir o cariótipo da espécie Ablennes hians, utilizando coloração com
Giemsa, bandamento-C e identificação das regiões organizadoras de
nucléolos.
Comparar a estrutura cariotípica da espécie Ablennes hians com a de outros
Belonidae a fim de estimar possíveis tendências citogenéticas da família
Belonidae, através de diversificações numéricas e estruturais dos seus
cromossomos.
MATERIAL E MÉTODOS
Para as análises citogenéticas foram utilizados quatro espécimes de Ablennes
hians. coletados no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (00°55'02''N,
29°20'44''O). Os exemplares foram coletados com auxílio de linha e anzol e
submetidos à estimulação mitótica intraperitoneal com complexos antígenos
fúngicos e bacterianos (Molina et al., 2010). Todos os procedimentos
experimentais no manejo foram aprovados pelo Comitê de Ética para o uso de
Animais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Proc. nº 044/2015).
Os cromossomos mitóticos das espécies foram preparados a partir de
suspensão celular da porção anterior do rim, utilizado a técnica in vitro
preconizada por Gold et al. (1990).
Para determinação do número diploide e aspectos gerais do cariótipo, os
cromossomos foram corados com solução de Giemsa diluída à 5%, em tampão
fosfato pH 6,8. As regiões heterocromáticas foram visualizadas através do

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

bandamento C (Sumner, 1972) e as regiões organizadoras de nucléolos


(RONs) de acordo com a técnica de impregnação por nitrato de prata (Howell &
Black, 1980).
PROCESSAMENTO DAS IMAGENS
As melhores metáfases foram fotografadas em microscópio de epifluorescência
OlympusTM BX50 acoplado a um sistema de captura digital Olympus DP73,
utilizando o software cellSens® (OlympusTM). Os cromossomos foram
definidos em relação à posição do centrômero em metacêntricos (m),
submetacêntricos (sm), subtelocêntricos (st) e acrocêntricos (a) (Levan et al.,
1964).

Resultados e Discussões

A espécie apresentou 2n=48 cromossomos, com cariótipo composto por


8m+8sm+10st+24a (NF=76) (Figura 1). A heterocromatina tem uma distribuição
em blocos centroméricos e pericentroméricos conspícuos em todos os pares
cromossômicos. Em alguns pares, como no primeiro par metacêntrico, e no par
5, as regiões heterocromáticas são maiores e ocupavam todo o braço curto. Os
sítios Ag-RONs, heterocromárticos, estavam localizados em posição terminal
do braço curto do par 5 (sm).
A espécie Ablennes hians demonstra uma notável diversificação
cromossômica, revelando um elevado dinamismo evolutivo, modelado por
inversões pericêntricas e processos de heterocromatinização. As inversões
pericêntricas constituem o principal mecanismo de diferenciação cromossômica
em peixes marinhos (Galetti et al., 2006) e parece ter desempenhado papel
importante na evolução da família Belonidae, que apresenta cariótipos com
ampla representatividade de diferentes tipos cromossômicos (Cipriano et al.,
2008; presente trabalho).
Os dados observados acercam a comprovação deste caso retratando a vasta
diversidade cariotípica particular desse grupo. Em Strongylura timucu, outra
espécie Atlântica da família Belonidae, a presença de um cariótipo com mesmo
número diploide que A. hians (2n=48), mas notáveis diferenciação na fórmula
cariotípica (10m+2sm+36a; NF=60) (Cipriano et al., 2008), reforça o papel das
inversões pericêntricas na evolução cariotípica da família.

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eCICT 2023

Além das variações estruturais do cariótipo, dados provenientes de outras


espécies, como Strongylura microps (2n=50; 50st/a) e Potamorrhaphis cf.
eigenmanni (2n=54; 6m/sm+48st/a) (Pastori et al., 1998), indicam que a
dinâmica evolutiva dos cromossomos deste grupo envolve diferentes processos
de diferenciação, que incluem sobretudo inversões pericêntricas, mas também
eventos de expansão cariotípica por meio de fissões cromossômicas. O padrão
de distribuição da heterocromatina em A. hians revelou grandes blocos
distribuídos nos cromossomos, com destaque para as regiões organizadoras
de nucléolos e no braço curto do maior par metacêntrico.

Conclusão

Diante das informações citogenéticas apresentadas, é possível observar uma


notável evolução cariotípica, demonstrado também por variações nas regiões
de DNA repetitivo, observadas através do bandamento C. De fato, o DNA
repetitivo é constituído por uma fração notável do genoma de muitos
organismos eucarióticos. Composto tanto por sequências funcionais, como os
genes ribossômicos, quanto não codificantes, como é o caso dos elementos
transponíveis, mini/microssatélites e o DNA satélite (Claro, 2013). O
envolvimento destas regiões na diversificação cariotípica do grupo ainda não
está completamente compreendido e merece novas investigações.
Os resultados apresentados ampliam o conhecimento sobre a diversificação
cariotípica dos peixes-agulhas e da diversificação cariotípica no grupo. Análises
subsequentes envolvendo outras espécies e através do mapeamento de
sequências repetitivas nos cromossomos poderão elucidar o papel do DNA
repetitivo na dinâmica evolutiva dos cariótipos e auxiliar na identificação dos
múltiplos processos de diversificação cariotípica da família.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Anexos

Figura 1. Cariótipo da espécie Ablennes hians, sob coloração com Giemsa e


bandamento C. Em destaque, o par portador de sítios Ag-RONs. Barra = 5μm.

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1192

AUTOR: RAFAEL ROCHA DOS SANTOS

ORIENTADOR: VANESSA GRAZIELE STAGGEMEIER

TÍTULO: Como fatores climáticos afetam a fenologia reprodutiva em diferentes


estratos da vegetação da Floresta Nacional de Nísia Floresta/RN?

Resumo

Resumo: (Como fatores climáticos afetam a fenologia reprodutiva em diferentes


estratos da vegetação da Floresta Nacional de Nísia Floresta (RN)?). A compreensão da
fenologia reprodutiva desempenha um papel crucial na análise dos padrões de
reprodução das plantas, permitindo compreender dinâmicas ecológicas essenciais para
a conservação da biodiversidade, em especial a adaptação das espécies às mudanças
climáticas. Entretanto, a maioria dos estudos fenológicos são direcionados a apenas
um hábito de vida, ignorando as interações presentes no ecossistema. Por esta razão,
nosso estudo monitorou quinzenalmente , durante 12 meses, a fenologia reprodutiva
de diferentes estratos da vegetação na Floresta Nacional de Nísia Floresta/RN. Em
cada estrato, o índice de atividade e a intensidade de Fournier foram semelhantes,
contudo a floração e a frutificação apresentaram diferenças entre os estratos. No
estrato arbóreo a antese esteve mais concentrada entre meados de setembro e início
de fevereiro, enquanto que no estrato arbustivo ocorreu de forma mais acentuada no
período de novembro a março. Frutos maduros estavam presentes de maneira mais
acentuada em julho de 2023 no estrato arbustivo, e em dezembro de 2023 no estrato
arbóreo. Foram encontradas correlações significativas entre o clima e as fenofases,
sugerindo que os fatores abióticos afetam a produção de flores e frutos, recursos
importantes para a manutenção da comunidade ecológica.

Palavras-chave: Estratos. Interação. Fatores Abióticos. Fenologia. Recursos.

TITLE: How do climatic factors affect reproductive phenology in different


vegetation strata of the Nísia Floresta National Forest (RN)?

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Abstract

(How do climatic factors affect reproductive phenology in different vegetation strata of


Nísia Floresta National Forest, RN?). Understanding reproductive phenology plays a
pivotal role in analyzing plant reproduction patterns, providing insights crucial for
biodiversity conservation, particularly species' adaptation to climate change. However,
most phenological studies are tailored to a single life form, overlooking ecosystem
interactions. For this reason, our study monitored reproductive phenology across
different vegetation strata in Nísia Floresta National Forest, RN, over a 12-month
period. Within each stratum, activity index and Fournier intensity were similar, yet
flowering and fruiting exhibited disparities among strata. In the tree layer, anthesis
was more concentrated between mid-September and early February, while in the
shrub layer it was more pronounced between November and March. Mature fruits
were more pronounced in July 2023 in the shrub layer and in December 2023 in the
tree layer. Significant correlations between climate and phenophases were observed,
suggesting that abiotic factors influence flower and fruit production, crucial resources
for ecosystem maintenance.

Keywords: Strata. Interaction. Abiotic factors. Phenology. Resources.

Introdução

A fenologia investiga como os eventos biológicos recorrentes se interligam com as


variações sazonais no ambiente biótico e abiótico (Rego et al. 2007). Os estudos
fenológicos auxiliam na compreensão dos eventos biológicos repetitivos e sua conexão
com os fatores climáticos que possuem potencial para impactar as fenofases
vegetativas e reprodutivas das espécies vegetais (Bergamaschi 2007). As variações no
regime de precipitação, temperatura e comprimento do dia que ocorrem ao longo do
ano, além de serem relevantes no estímulo das fenofases, provavelmente têm menor
importância em ambientes fracamente sazonais (Morelatto et al. 1990).
Nos últimos anos ocorreu um aumento significativo no número de estudos fenológicos
(Bencke et al. 2002), contudo, a maior parte dos esforços científicos são voltados para
o estrato arbóreo, com pouca atenção direcionada aos demais estratos (Gajardo &
Morelatto 2003, Gressler 2010). A estratificação vertical expõe as espécies a diferentes
condições climáticas, com maior luminosidade e variação microclimática no estrato
superior, e ambiente mais escuro com menor variação térmica nos estratos inferiores,
o que afeta os ciclos fenológicos (Kato et al. 2008, Marques & Oliveira 2004).
Condições ambientais distintas podem desencadear reações diferentes na fenologia
entre as plantas do dossel e do sub-bosque (Nunes et al. 2022).

1518
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eCICT 2023

O monitoramento da fenologia reprodutiva da flora permite compreender os efeitos


da sazonalidade na disponibilidade de recursos, bem como as interações ecológicas
existentes entre polinizadores e dispersores de sementes, estritamente ligadas com o
sucesso reprodutivo das plantas (Machado 2013, Gressler 2010). Investigar os gatilhos
reprodutivos por estratos vegetacionais possibilita aprofundar o conhecimento sobre a
exploração de nichos, assim como dos animais e plantas que dependem desses
recursos, processo importante para fornecer subsídios a estudos de diversidade e
manutenção das redes ecológicas (dos Santos 2013, Marques & Oliveira 2004, Santos
2017) .
O presente estudo teve como objetivo principal monitorar a fenologia reprodutiva
(produção de flores e frutos) em espécies da Floresta Nacional de Nísia Floresta no Rio
Grande do Norte, identificando os fatores abióticos que afetam a produção de
recursos nos diferentes estratos da vegetação.

Metodologia

O bioma Mata Atlântica, reconhecido pela UNESCO como Reserva da Biosfera, é um


dos 5 hotspots de biodiversidade mais importantes do planeta (ICMBio, 2012; MMA,
2018). Sua cobertura vegetal foi fortemente reduzida, situação agravada na porção
setentrional, onde restam atualmente cerca de 18,8% da cobertura vegetal original,
sendo 40% em fragmentos com menos de 1 hectare (Almeida & Souza 2023). Criada no
ano de 2001, a FLONA de Nísia Floresta apresenta áreas de Floresta Estacional
Semidecidual do bioma Mata Atlântica, evidenciando a importância de estudos na
FLONA em seu contexto regional do Rio Grande do Norte, por ser um dos poucos
fragmentos do bioma ainda existentes (ICMBio, 2012).
O estudo foi realizado em uma área de Mata Atlântica no município de Nísia Floresta,
na unidade de conservação (UC) Floresta Nacional de Nísia Floresta (FNNF). A FNNF é
uma UC federal, gerida pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), possui uma área de
174,95 hectares, limitada na porção sul pela estrada do Timbó, propriedades privadas
a norte e leste, e estrada carroçável a oeste (ICMBio, 2012). O clima é classificado
como Aw (clima tropical com estação seca no inverno) segundo a Köppen e Geiger,
com temperatura média de 25.8 °C e pluviosidade média anual de 907 mm (climate-
data.org, 2023). Foram utilizados os dados climáticos disponibilizados pela Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), da Estação
Telepluviométrica localizada no município de Nísia Floresta (Coord. Geog.
O6°05'28.8"S 35°12'38.3"O), a uma distância aproximada de 3 km da área de estudo.

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eCICT 2023

O monitoramento fenológico foi realizado quinzenalmente, com auxílio de binóculos


Bushnell 8x42, de agosto de 2022 a julho de 2023. Por questões logísticas, na data de
31 de dezembro de 2022, não foi possível realizar o monitoramento, o que implicou
em uma quinzena sem a coleta dos dados. Foram estabelecidas 5 parcelas de tamanho
10 x 10m, denominadas C1 (Coord. Geog. 06°04’56.89”S 35°11’05.44”O), C2 (Coord.
Geog. 06°04’54.08”S 35°11’06.73”O), C3 (Coord. Geog. 06°04’52.18”S 35°11’03.79”O),
C4 (Coord. Geog. 06°04’56.10”S 35°11’02.96”O) e M (Coord. Geog. 06°04’54.85”S
35°11’04.98”O). Os indivíduos vegetais foram marcados com placas de alumínio, até o
limite de 50 indivíduos de uma mesma espécie por unidade amostral. Cada indivíduo
foi classificado de acordo o hábito de vida, seguindo os critérios de Raven (2014) nas
categorias: (i) arbóreo - planta lenhosa perene, geralmente com um único eixo caulinar
(tronco); (ii)arbustivo - planta lenhosa perene, de estatura relativamente baixa,
tipicamente com muitos ramos partindo do solo ou próximo a este; (iii)herbáceo –
planta em que o sistema caulinar apresenta pouco ou nenhum crescimento
secundário.
Foram monitorados 737 indivíduos, destes, 377 foram classificados como arbustos e
226 como árvores. Os indivíduos classificados como arvoreta, grande parte composta
por indivíduos jovens cujas espécies ainda não foram identificadas, bem como as
plantas de estratos herbáceos, que apresentaram pouca representatividade e ausência
de padrões claros de fenologia para o grupo, foram desconsiderados. Assim, a amostra
foi composta por 603 indivíduos, sendo 63% de indivíduos do estrato arbóreo e 37%
do estrato arbustivo. No estrato arbóreo a família mais abundante foi Myrtaceae,
representando 42% dos indivíduos, enquanto no estrato arbustivo 76% dos indivíduos
pertencem à família Rubiaceae. A riqueza de famílias foi maior no estrato arbóreo, o
qual apresentou 22 famílias, quando comparado às 15 famílias identificadas para o
estrato arbustivo.
Em campo, foram registradas as fenofases: botão floral, flor em antese, fruto imaturo
e maduro. A intensidade foi quantificada conforme a metodologia proposta por
Fournier (1974), seguindo uma escala intervalar semi-quantitativa com 5 categorias,
onde o número 0 representa a ausência de fenofase, e os números 1 a 4 representam
a magnitude da fenofase na copa da planta com intervalos de 25% entre as categorias.
O índice de atividade foi calculado com base na porcentagem de indivíduos que
manifestaram determinado evento fenológico (presença ou ausência), sendo um
método qualitativo que permite identificar a sincronia da população (Morellato et al.
1990).
O índice de intensidade foi calculado através da porcentagem de Fournier e representa
a sincronia na produtividade dos indivíduos da comunidade.
Por meio do teste de Shapiro e Wilk foi verificado que os dados não apresentaram
distribuição normal, sendo aplicada a análise de correlação de Spearman (rs) entre os

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dados climáticos do período estudado e os índices de atividade e intensidade das


fenofases para os estratos arbóreo e arbustivo.

Resultados e Discussões

A produção de botões e flores pelas árvores esteve mais concentrada entre meados de
setembro e início de fevereiro, com 5 a 10% dos indivíduos amostrados na comunidade
manifestando essas fenofases. Já a atividade de floração no estrato arbustivo foi mais
tardia, ocorrendo de forma mais acentuada de novembro a março com dois picos
distintos, em meados de dezembro e final de janeiro onde cerca de 40% dos indivíduos
manifestaram botões florais. O pico de atividade da fenofase antese para o estrato
arbóreo ocorreu no início de dezembro, em cerca de 10 % dos indivíduos, e para o
estrato arbustivo ocorreu em meados de de dezembro, onde cerca de 35% dos
indivíduos manifestaram flores.
A fase de frutificação foi contínua durante todo o período para ambos os estratos. No
estrato arbóreo a produção de frutos imaturos apresentou 3 diferentes picos, início de
dezembro, meados de março e início de maio, onde mais de 10% dos indivíduos
apresentaram frutos imaturos. Já no estrato arbustivo a produção de frutos imaturos
esteve concentrada de fevereiro a início de maio, manifestada em cerca de 40% dos
indivíduos.
Os frutos maduros estavam disponíveis sempre em baixa intensidade, sendo que o
pico de atividade ocorreu no início de julho de 2023 em 16% dos indivíduos do estrato
arbustivo, e no início de dezembro de 2023 em 5% dos indivíduos do estrato arbóreo,
quando um número máximo de indivíduos foram registrados ofertando frutos
maduros.
Ao longo do período estudado foi possível identificar que as fenofases reprodutivas em
diferentes estratos se comportaram de maneira distinta, enquanto que, em cada
estrato, os picos de atividade e intensidade apresentaram comportamento
semelhantes. Padrões de comportamento distinto entre estratos e suas interações
com as variáveis climáticas também foram observados por Gressler (2010) em estudos
realizados com espécies de floresta atlântica no sul do bioma.
Nos dois estratos, o comprimento do dia apresentou correlação positiva altamente
significativa com botão floral e antese, demonstrando a relevância do aumento do
fotoperíodo para essas fenofases; e correlação negativa altamente significativa com
fruto maduro. (Tabelas 1 à 4).

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A precipitação apresentou correlação positiva significativa com a fenofase de frutos


imaturos, tanto no estrato arbustivo quanto no estrato arbóreo, indicando que a maior
disponibilidade de recursos hídricos é um estímulo fundamental para essa fenofase.
(Tabelas 1 à 4).
Já a temperatura média apresentou correlação negativa com fruto maduro (Tabelas 1
à 3), o que pode indicar que as plantas oferecem esses recursos em períodos com
menor predação ou ataque de patógenos, pois essas interações costumam ser
afetadas pela temperatura; e correlação significativa positiva com frutos imaturos.
(Tabelas 1 à 4).
As correlações realizadas entre os índices de atividade e intensidade das fenofases
com as variáveis ambientais sugerem que as condições abióticas podem afetar a
fenologia reprodutiva dos diferentes estratos vegetacionais.
Nos dois estratos, os resultados apontam que o aumento do comprimento do dia
parece desencadear os picos de produção das fenofases de botão floral e flor, visto
que, entre as variáveis abióticas testadas, esta foi a que apresentou correlações
positivas mais significativas. A sobreposição entre os picos das fenofases de floração
demonstra que, alocar imediatamente os recursos em um órgão em crescimento
parece ser uma estratégia mais eficiente que armazená-los para transferência
posterior (Marques & Oliveira 2004).
As correlações negativas altamente significativas encontradas no estrato arbóreo,
entre precipitação com botão floral e antese (Tabela 4), sugerem que a fase de
floração responde às alterações entre os períodos seco e chuvoso. Distintas estratégias
de floração, em diferentes estações, desempenham um papel crucial para oferecer
recursos florais que sustentam os animais polinizadores durante todo o ano (Fortunato
& Quirino, 2016).A mudança da estação seca para úmida, com o aumento do
comprimento do dia, temperatura e umidade, podem desencadear a floração,
conforme sugerido por Morellato et al. (1990).
A área de estudo apresenta pouca sazonalidade climática, com a constatação de frutos
durante todo o período, o que sugere condições pouco restritivas para o crescimento e
maturação dos frutos ao longo do ano (Talora & Morellato 2000). A fenofase de fruto
imaturo foi a que apresentou maior duração, o que pode ser explicado pelo tempo
necessário para o amadurecimento dos frutos (Genini et al. 2009). Quanto à escassa
proporção de frutos maduros em comparação com os frutos imaturos, Gajardo et al.
(2003) sugerem que pode ser atribuída à pronta remoção por animais frugívoros,
influenciada pelo intervalo de observação adotado na metodologia, e outra hipótese a
ser considerada é que essas plantas possam estar ajustando sua taxa de
amadurecimento em resposta à frequente remoção de frutos. Além disso, taxas baixas
de conversão entre estágios culminando em baixos valores na produção de frutos

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eCICT 2023

maduros é comum, pois muitas flores e frutos imaturos são abortados ou predados
durante o desenvolvimento das fenofases das plantas.
É fundamental que os estudos considerem a singularidade dos estratos florestais.
Pesquisas demonstram que a estratificação da disponibilidade de frutos impulsiona
parcialmente a diferenciação entre os estratos da floresta, contribuindo na
composição dos grupos alimentares (Schleuning et al. 2011). Para entender melhor os
fatores que controlam as diferentes fases fenológicas em florestas com baixa
sazonalidade, seria necessário realizar estudos que considerem individualmente as
variáveis abióticas em conjunto com informações sobre agentes bióticos (polinizadores
e dispersores de sementes), o que ajudaria a estabelecer conexões de causalidade na
fenologia das plantas (Gajardo & Morelatto 2003).

Conclusão

Os diferentes hábitos de vida das plantas proporcionam respostas fenológicas distintas


às condições abióticas. O comportamento observado nos estratos arbóreo e arbustivo,
com alternância das fenofases de floração e frutificação entre os estratos, afetam a
organização ecológica da comunidade e possibilita uma maior oferta de recursos
durante todo o ano.

Referências

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eCICT 2023

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TALORA, Daniela Custodio; MORELLATO, Patricia C. Fenologia de espécies arbóreas em


floresta de planície litorânea do sudeste do Brasil. Brazilian Journal of Botany, v. 23, p.
13-26, 2000.

Anexos

Diversidade das fenofases reprodutivas

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Percentual de atividade e índice de intensidade de fournier do estrato arbustivo

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Percentual de atividade e intensidade de fournier do estrato arbóre

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Correlação de Spearman individuos em atividade estrato arbustivo

Correlação de Spearman individuos em intensidade estrato arbustivo

Correlação de Spearman individuos em atividade estrato arbóreo

Correlação de Spearman individuos em intensidade estrato arbóreo

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CÓDIGO: SB1228

AUTOR: BRUNA DA SILVA FIGUEREDO

ORIENTADOR: EDILSON DANTAS DA SILVA JUNIOR

TÍTULO: Avaliação da participação dos alfa;1A-adrenoceptores sobre o


comportamento relacionado à ansiedade em camundongos

Resumo

Resumo

É descrito que os adrenoceptores α1 (α1-AR) estão envolvidos na ansiedade em


humanos e modelos animais. No entanto, não se sabe o subtipo de α1-AR envolvido
nesta condição. Considerando que o subtipo α1A-AR é mais abundante no Sistema
Nervoso Central, decidimos avaliar a participação deste receptor, por meio da
utilização da oximetazolina (agonista parcial seletivo dos α1A-AR) em testes animais
que avaliam o comportamento do tipo ansioso. Utilizamos camundongos Swiss
machos, os quais foram tratados intraperitonealmente 60 min antes do teste do
labirinto em cruz elevado, com veículo (controle), diazepam 1 mg/kg ou oximetazolina
nas doses de 0,001 mg/kg, 0,01 mg/kg ou 0,1 mg/kg. Os camundongos submetidos ao
pré-tratamento com oximetazolina 0,001 mg/kg, 0,01 mg/kg ou 0,1 mg/kg não
apresentaram alterações no número de entradas e no tempo gasto nos braços abertos
ou fechados do labirinto em cruz elevado. Desta forma, concluímos que a manipulação
farmacológica do adrenoceptor α1A com o agonista parcial oximetazolina não foi
capaz de promover comportamentos do tipo ansioso e nem ações ansiolíticas no
modelo testado.

Palavras-chave: Palavras-chave: adrenoceptores α1A, ansiedade, modelo


animal.

TITLE: Evaluation of the α1A-adrenoceptors involvement in anxiety-related


behavior in mice

Abstract

1529
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eCICT 2023

Abstract

It is described that α1-adrenoceptors (α1-AR) are involved in anxiety in humans and


animal models. However, the subtype of α1-AR implicated in this condition remains
uncertain. Considering that the α1A-AR subtype is more abundant in the Central
Nervous System, we decided to evaluate the participation of this receptor by
employing oxymetazoline (a selective partial agonist of α1A-AR) in animal tests
assessing anxiety-like behavior. We utilized male Swiss mice, which were
intraperitoneally treated 60 minutes prior to the elevated plus maze test with vehicle
(control), diazepam 1 mg/kg, or oxymetazoline at doses of 0.001 mg/kg, 0.01 mg/kg, or
0.1 mg/kg. Mice subjected to pre-treatment with oxymetazoline at 0.001 mg/kg, 0.01
mg/kg, or 0.1 mg/kg did not exhibit alterations in the number of entries or the time
spent in the open or closed arms of the elevated plus maze. Thus, we conclude that
pharmacological manipulation of the α1A-adrenoceptor using the partial agonist
oxymetazoline failed to induce anxiety-like behaviors or anxiolytic actions in the tested
model.

Keywords: Keywords: α1A-adrenoceptors, anxiety, animal model.

Introdução

INTRODUDUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A ansiedade, assim como a depressão, é um transtorno psicológico de origem
multivariada, caracterizado por um excesso de preocupação e medo em relação à
percepção do perigo pelo paciente. Estas respostas comportamentais são
desproporcionais em relação aos riscos observados, podendo ser respostas de medo
em relação ao perigo percebido ou a uma suposta antecipação frente ao que pode
acontecer (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013; MAYER; CRASKE; NALIBOFF,
2001; REMES et al., 2016). De acordo com a American Psychiatric Association (2013),
os transtornos de ansiedade são divididos em 10 classificações, sendo as mais comuns
o transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno de estresse pós-traumático
(TEPT).
A participação dos adrenoceptores α1 (α1-AR) nos transtornos de ansiedade pode
também ser considerada em virtude da sua expressão em áreas do Sistema Nervoso
Central que regulam as respostas de medo e estresse. Neste sentido, estudos em
humanos demonstraram que o tratamento com o antagonista não seletivos dos α1-AR,
prazosina, promoveu uma melhor diferenciação entre estímulos seguros e não seguros
(HOMAN et al., 2017). Estudos em animais, por sua vez, utilizando Zebrafish (peixes

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eCICT 2023

paulistinhas), observaram que o tratamento com prazosina reduziu o comportamento


do tipo ansioso em peixes submetidos ao protocolo de estresse crônico imprevisível
(O’DANIEL; PETRUNICH-RUTHERFORD, 2020). Embora os α1-AR possam estar
envolvidos na ansiedade, ainda é necessário caracterizar o subtipo específico de α1-AR
envolvido neste transtorno. Considerando que os α1A-AR é o subtipo mais abundante
no Sistema Nervoso Central, é provável que este receptor esteja envolvido nas ações
ansiolíticas do antagonista prazosina. Com a disponibilidade de ligantes seletivos para
os α1A-AR, como a oximetazolina (agonista parcial dos α1A-AR), é possível estudar a
participação deste tipo específico de receptor em testes animais que avaliam o
comportamento do tipo ansioso, preenchendo as lacunas do conhecimento sobre o
sistema receptor adrenérgico nos transtornos de ansiedade.
OBJETIVOS
Objetivo Geral: Avaliar a participação dos adrenoceptores α1A (α1A-AR) sobre o
comportamento relacionado à ansiedade em camundongos
Objetivos específicos: Avaliar os efeitos do tratamento com oximetazolina, um
agonista seletivo para os α1A-AR sobre o comportamento do tipo ansioso em
camundongo por meio do teste do labirinto em cruz elevado

Metodologia

MATERIAIS E MÉTODOS:
Animais: Para desenvolver este estudo, foram utilizados 40 camundongos Swiss
machos (8-10 semanas; 30-40 g) provenientes do Biotério do Central/Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Os animais foram alojados em, no máximo, 10 por
caixa (41 x 34 x 16 cm), com livre acesso a ração e água e serão mantidos em um ciclo
de 12 horas claro-escuro (luzes acesas às 6:00 h) com uma temperatura de 22°C ± 1 °C.
Todos os procedimentos experimentais foram feitos de acordo com as recomendações
da Lei n° 11.794 de 08/10/2008 (Lei Arouca) e foram previamente aprovados pela
Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (Protocolo Nº 003/2023).
Drogas e Tratamentos: A oximetazolina, um agonista parcial seletivo dos
adrenoceptores α1A (HAENISCH et al., 2010) foi administrado por via intraperitoneal,
60 min antes do teste comportamental, nas doses 0,001 mg/kg (n=7), 0,01 mg/kg (n=9)
e 0,1 mg/kg (n=10). O Diazepam, um benzodiazepínico com atividade ansiolítica, foi
administrado, 60 min antes do teste comportamental, por via intraperitoneal na dose
de 1 mg/kg (n=6). A dosagem e via de administração é baseada em estudos prévios

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eCICT 2023

que estudaram a ação do diazepam em testes animais que avaliam o comportamento


do tipo ansioso (HOLANDA et al., 2016). O grupo controle (n=8) recebeu veículo pela
mesma via e volume que os animais tratados.
Teste do labirinto em cruz elevado: O teste do labirinto em cruz elevado foi sugerido
para estudar o medo em camundongos, conforme previsto inicialmente por Pellow et
al. (1985). Este teste se baseia no conflito entre explorar um ambiente novo e aversivo
ou permanecer em um ambiente seguro. O labirinto é um aparato de madeira que
apresenta quatro braços, que formam uma cruz, sendo dois deles abertos e dois
fechados nas laterais com paredes com 15 cm de altura; braços idênticos ficam em
lados opostos um ao outro. Esta estrutura fica a 50 cm do chão e o camundongo é
colocado na plataforma central, entre os braços, olhando na direção de um dos braços
abertos. O espaço foi explorado livremente pelo animal durante 5 minutos e foram
calculadas a porcentagem de tempo nos braços abertos [(tempo ou número de
entradas/300 segundos)*100] e entrada nos braços abertos [(nº de entradas no braço
aberto/nº total de entradas)*100] bem como foi registrado o número de entradas nos
braços fechados. Aumento da exploração dos braços abertos, seguindo os parâmetros
avaliados, pode ser indicativo de comportamento do tipo ansiolítico. Entre os testes,
após retirada do animal, o aparato foi limpo com uma solução de álcool 5%.
Análise estatística: Inicialmente, os dados referentes aos parâmetros comportamentais
foram analisados quanto à normalidade e homogeneidade através do teste Shapiro-
Wilk. Para análises das respostas comportamentais em camundongos serão
comparados os grupos controle e experimentais para cada resposta comportamental
através de teste de ANOVA. Todas as análises foram consideradas estaticamente
significativas quando o valor de significância de p estiver abaixo de 0.05.

Resultados e Discussões

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A figura 1 mostra que os camundongos submetidos ao pré-tratamento com
oximetazolina 0,001 mg/kg, 0,01 mg/kg ou 0,1 mg/kg não apresentaram alterações no
número de entradas e no tempo gasto nos braços abertos ou fechados do labirinto em
cruz elevado. Por outro lado, o diazepam foi capaz de aumentar significativamente o
número de entradas e o tempo gasto pelos camundongos nos braços abertos,
indicando uma ação ansiolítica, a qual já era esperada para este fármaco. Em conjunto,
os dados indicam que a oximetazolina não foi capaz de promover comportamentos do
tipo ansioso e nem ações ansiolíticas no modelo testado.

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Embora estudos em humanos e animais tenham demonstrado que o antagonista não


seletivo dos adrenoceptores α1 prazosina tenha promovido ações ansiolíticas (HOMAN
et al., 2017; O’DANIEL; PETRUNICH-RUTHERFORD, 2020), a oximetazolina, um agonista
parcial do subtipo de adrenoceptor α1A,não foi capaz dealterar o comportamento de
camundongos relacionado a ansiedade. É possível que os subtipos de adrenoceptores
α1B ou α1D estejam associados aos efeitos comportamentais promovidos pelo
antagonista não seletivo prazosina. Mais estudos são necessários a fim de avaliar esta
hipótese.

Conclusão

CONCLUSÃO
Nas nossas condições experimentais, a manipulação farmacológica do adrenoceptor
α1A com o agonista parcial oximetazolina não foi capaz de promover comportamentos
do tipo ansioso e nem ações ansiolíticas no modelo testado.

Referências

REFERÊNCIAS
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eCICT 2023

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REMES, O. et al. A systematic review of reviews on the prevalence of anxiety disorders
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Anexos

Figura 1 – Gráfico

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Legenda

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1245

AUTOR: RHUAMA MARTINS URBANO

ORIENTADOR: VANESSA GRAZIELE STAGGEMEIER

TÍTULO: Morfologia e germinação em espécies de Myrcia (Myrtaceae) da Mata


Atlântica do RN

Resumo

O gênero Myrcia está entre os mais ricos da família Myrtaceae com quase 800
espécies. Embora importante estruturalmente e ecologicamente por dominar as
florestas tropicais, quase não existem estudos sobre a germinação de sementes deste
grupo. Em razão dessa defasagem no conhecimento e da importância de algumas
espécies nas matas de restinga do Rio Grande do Norte, o objetivo deste estudo foi
descrever a morfologia de frutos e sementes e avaliar a germinação das espécies
Myrcia guianensis, M. multiflora e M. sylvatica. A germinação de 100 sementes de
cada espécie foi registrada diariamente sob temperatura de 25±3 °C, com fotoperíodo
de 12 h. Foram calculados a porcentagem de germinação (G%), o tempo médio de
germinação (TMG), dias necessários para que 50% das sementes germinem (T50) e o
índice de velocidade de germinação (IVG). A M. sylvatica mostrou o melhor e mais
rápido desenvolvimento em todas as métricas avaliadas, seguida pela M. guianensis e
M. multiflora.

Palavras-chave: Germitest. Sementes. Recalcitrante. Temperatura.


Conservação.

TITLE: Morphology and germination in species of Myrcia (Myrtaceae) from the


Atlantic Forest of RN

Abstract

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The genus Myrcia is among the richest of the Myrtaceae family with almost 800
species. Although structurally and ecologically important for dominating tropical
forests, there are almost no studies on seed germination in this group. Due to this gap
in knowledge and the importance of some species in the restinga forests of Rio Grande
do Norte, this study aims to describe the morphology of fruits and seeds and to
evaluate the germination of the species Myrcia guianensis, M. multiflora and M.
sylvatica. The germination of 100 seeds for each species was recorded daily at a
temperature of 25±3°C, with a photoperiod of 12 hours. The germination percentage
(G%), average germination time (AGT), the number of days required for 50% of the
seeds to germinate (T50) and germination speed index (GSI) were calculated. M.
sylvatica showed the best and fastest development in all evaluated parameters,
followed by M. guianensis and M. multiflora.

Keywords: Germitest. Seeds. Recalcitrant. Temperature. Conservation.

Introdução

A família Myrtaceae possui elevada riqueza de espécies e abundância de indivíduos


(MORI et al., 1983), tendo importância estrutural nas florestas neotropicais (OLIVEIRA‐
FILHO; FONTES, 2000; TABARELLI; MANTOVANI, 1999) e em especial no hotspot da
Mata Atlântica, onde são encontradas 701 espécies de arbustos e árvores (Flora e
Funga do Brasil 2023). Este grupo possui grande relevância para o equilíbrio das
interações ecológicas e prestação de serviços ecossistêmicos, como a provisão de
recursos via polinização das flores e manutenção da diversidade de abelhas (GRESSLER;
PIZO; MORELLATO, 2006). Os frutos desta família também são utilizados por várias
espécies de animais frugívoros que, consequentemente, contribuem para a dispersão
de sementes (STAGGEMEIER; CAZETTA; MORELLATO, 2017) e também são consumidos
pelas populações humanas, o que agrega um alto valor para a sociobiodiversidade
brasileira (Silva 2022). É também um dos grupos botânicos mais utilizados nas áreas da
indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética, especialmente pelas propriedades de
seus óleos essenciais (CERQUEIRA et al., 2009; MONTEIRO et al., 2014; MORAIS;
CONCEIÇÃO; NASCIMENTO, 2014). Entre as espécies mais conhecidas, destacam-se
popularmente a goiaba (Psidium guajava), jabuticaba (Plinia cauliflora) e pitanga
(Eugenia uniflora).

O gênero Myrcia é pertencente à subtribo Myrciinae (LIMBERGER; SOBRAL;


HENRIQUES, 2004) e possui cerca de 800 espécies, sendo um dos maiores gêneros da
família Myrtaceae (Flora e Funga 2023). Em uma recente revisão bibliográfica a
respeito da germinação de Myrtaceae neotropical, Sales (2022) constatou que o

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gênero Myrcia aparece apenas em 6,9% do total de 44 artigos analisados. Isso ressalta
que ainda existem lacunas sobre o conhecimento das características de seus frutos e
sementes.

A obtenção de informações acerca da germinação de sementes em espécies tropicais,


que englobam aspectos morfológicos, fisiológicos e biofísicos, é de extrema
importância e necessária para dar suporte à implementação de estratégias de
conservação fora do ambiente natural, como os bancos de sementes (RIBEIRO et al.,
2016; TEIXIDO et al., 2017). A ausência desse conhecimento acaba sendo um dos
vários motivos para que esse grupo botânico permaneça sendo negligenciado em
projetos de restauração e manejo com sérias implicações para a manutenção da
diversidade no longo prazo, especialmente devido a sua elevada importância ecológica
ao sustentar uma cadeia ampla de interações com a fauna silvestre (Gressler et al
2006, Staggemeier et al. 2017).

Assim, este trabalho teve como objetivo investigar e descrever a morfologia dos frutos
e sementes e avaliar as características germinativas de três espécies do gênero Myrcia
importantes nas matas ocorrentes no limite norte da Mata Atlântica, no estado do Rio
Grande do Norte. A investigação do processo de germinação tem como finalidade
desenvolver subsídios para que sejam delineadas estratégias de manejo e conservação
dessas espécies, como também apresentar a resposta comportamental da germinação
para servir de comparação com outros estresses térmicos em estudos futuros.

Ainda, os dados morfológicos de frutos e sementes dessas espécies têm o intuito de


auxiliar em sua identificação e também contribuir com informações relevantes para a
elaboração estratégica de projetos para a restauração e conservação dessas espécies
vegetais. Informações detalhadas sobre morfologia de frutos e sementes são de
grande relevância para o auxílio na identificação de espécies (SOARES et al., 2017) e
para distinguir diferenças quando existe uma estreita semelhança entre espécies
aparentadas. Essa tarefa é ainda mais difícil para a família Myrtaceae, cujo número de
espécies é elevado, tornando esse tipo de estudo mais lento (SOARES et al., 2017).

Metodologia

Foram coletadas três espécies da família Myrtaceae abundantes nas matas de restinga
do Rio Grande do Norte: Myrcia guianensis, Myrcia multiflora e Myrcia sylvatica. A
primeira e a segunda foram coletadas na Escola Agrícola de Jundiaí/UFRN e a terceira
foi coletada na Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra, ambas áreas situadas no
estado do Rio Grande do Norte. Após a coleta, os frutos foram manipulados para

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mensuração das variáveis (comprimento e diâmetro dos frutos e sementes, número de


sementes, peso fresco dos frutos e sementes, e o peso seco dos frutos).
De acordo com diversos experimentos, a temperatura ótima para a germinação de
espécies dessa família é de 25°C (DRESCH et al., 2012; GOMES et al., 2016; HERZOG; DE
MATOS MALAVASI; MALAVASI, 2012; LAMARCA; SILVA; BARBEDO, 2011). Nessa
temperatura foi observado que a germinação ocorreu num período de tempo mais
curto. Por essa razão, as sementes das espécies escolhidas para este trabalho foram
submetidas a uma sala controlada, onde a temperatura foi mantida entre 25 e 28°C
com 12 h de fotoperíodo, este também é o valor de variação na temperatura média ao
longo do ano nas localidades de estudo. Esta variação térmica é enquadrada dentro da
faixa ótima de temperatura para espécies tropicais (MWALE et al., 1994; SANTOS;
FERREIRA; ÁQUILA, 2004; STOCKMAN et al., 2007).
Os experimentos consistiram em 4 réplicas de 25 sementes vindas de pelo menos 2
indivíduos distintos. Para evitar a ação de fungos, as sementes de M. guianensis e M.
multiflora foram lavadas em solução de hipoclorito de sódio a 1% (v/v) por 3 min antes
da distribuição das sementes no papel Germitest. M. sylvatica foi lavada em solução de
hipoclorito de sódio 2% (v/v) por 3 min, a fim de que as sementes fossem
desinfestadas de forma mais eficiente. As réplicas foram montadas em papel
Germitest e mantidas dentro de sacos plásticos para a contenção da umidade. Após
três dias do início do experimento, as sementes foram inspecionadas para verificar o
processo de germinação. Os resultados observados foram organizados em tabelas e
planilhas eletrônicas para a análise dos dados. As germinações foram consideradas
bem sucedidas após o hipocótilo atingir tamanho igual ou superior a 0,5 cm. Foram
calculados com os dados da germinação as seguintes variáveis: tempo médio de
germinação (TMG) seguindo Labouriau (1983); índice de velocidade de germinação
(IVG) seguindo Maguire (1962); quantidade de dias necessários para germinar 50% de
todas as sementes (T50), seguindo Farooq et al., 2005; e % total de sementes
germinadas (%G). Estes cálculos estão explicitados nas fórmulas abaixo:
Tempo médio de germinação (TMG):
TMG = (∑ni.ti) /∑ni
Sendo: ni = número de sementes germinadas por dia; ti = intervalo de tempo de
germinação; TMG é calculado em dias.
Índice de velocidade de germinação (IVG):
IVG = G1/N1 + G2/N2 + ... Gn/Nn
Sendo: G1, G2,.. Gn = número de sementes germinadas computadas na primeira,
segunda até a última contagem; N1, N2,.. Nn = número de dias da germinação na
primeira, segunda até a última contagem. Não possui unidade (adimensional).

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Dias necessários para 50% das sementes germinarem (T50):


T50 = ti+(N/2 - ni) (tj- ti) / nj - ni
Sendo: N = número total de sementes germinadas; ni e nj = o número de sementes
conforme a estrutura a seguir: ni< N/2 < nj; (o ti e tj são os dias em que ni e nj
ocorreram); unidade: dias.
Porcentagem de germinação (%G):
G = (N/A) x 100
Sendo: N = número de sementes germinadas; A = número total de sementes de um
experimento (100 sementes por espécie); unidade: %.

Resultados e Discussões

Os frutos de Myrcia guianensis apresentaram em média 7,51 mm de diâmetro e 7,41


mm de comprimento (Tabela 1). O diâmetro médio das sementes maduras foi de 5,27
mm e o comprimento, 7,54 mm. O peso fresco médio dos frutos maduros e imaturos
da M. guianensis foi o segundo maior, tendo a M. multiflora os maiores pesos frescos
dos frutos. O teor de água dos frutos maduros foi 2,6% maior em comparação aos
frutos imaturos da mesma espécie (Tabela 1). Além disso, as sementes imaturas
apresentaram maior quantidade de água em sua composição (57,9%), comparado às
sementes maduras (43,2%).
Não é incomum sementes imaturas apresentarem um desenvolvimento superior,
como é o caso apresentado no maior teor de água nas sementes imaturas da M.
guianensis. Alonso (2018), defendeu que as características fisiológicas de sementes
imaturas muitas vezes podem atingir um desenvolvimento maior em um tempo curto,
sendo um processo dessincronizado à maturação dos frutos. Ainda, em um estudo de
revisão bibliográfica feito por Barbedo (2013), as sementes recalcitrantes são
consideradas “sementes imaturas dispersas”. Isso pode ser explicado por meio da
estratégia de propagação das sementes que podem se dispersar da planta-mãe mesmo
com o ciclo de maturação "incompleta" e ainda sim serem aptas à germinação
(BARBEDO, 2018).
Os frutos de M. guianensis são bagas globulares e apresentam uma coloração variada,
os frutos imaturos possuem uma tonalidade que vai de verde a vermelho escuro,
passando pelo amarelo e os maduros apresentam coloração final atropurpurea, com
um aroma suave (FILHO et al., 2019; VOGADO et al., 2016). O número de sementes por
fruto varia de um a três. M. guianensis tem ganhado atenção nos estudos de
comportamento alelopático de suas substâncias químicas, servindo como potencial

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substituto dos herbicidas sintéticos que são causadores de degradação ambiental


(SOUZA FILHO et al., 2006), além de sua importância na área medicinal (FILHO et al.
2020).
Os frutos maduros da Myrcia multiflora apresentaram um diâmetro médio de 8,6 mm
e comprimento de 7,3 mm. Os frutos imaturos tiveram 9,05 mm de diâmetro, com
8,15 mm de comprimento. Já a média de diâmetro para as sementes imaturas foi
maior (5,03 mm) do que as sementes maduras (4,9 mm) e comprimento menor (4,1
mm) do que as sementes maduras (4,2 mm). Os frutos e sementes maduros tiveram
maior teor de umidade, sendo 66,9% e 50,3%, respectivamente, e o teor de água dos
frutos maduros (66,9%) e imaturos (65,3%) da M. multiflora quase não apresentaram
diferença. Os pesos frescos dos frutos maduros e imaturos dessa espécie foram os
maiores comparados à M. guianensis e M. sylvatica.
Os frutos da M. multiflora também são bagas globosas, a coloração de seus frutos
imaturos varia entre verde, amarela, laranja até um tom amarelo-avermelhado, já os
frutos maduros apresentam cores roxa a negra (DA SILVA et al., 2015) e tem de um a
três sementes por fruto. A M. multiflora, além de ter relevância no uso medicinal
(FERREIRA, 2012), é bastante usada no paisagismo e na produção madeireira
(NAZARENO, 2017).
Os frutos maduros e imaturos da Myrcia sylvatica apresentaram uma diferença maior
no diâmetro médio (2,00 mm) do que no comprimento médio (0,40 mm), as medidas
das sementes dessa espécie não apresentaram grande diferença com a maturação. O
peso fresco das sementes maduras e imaturas da M. sylvatica foi superior ao peso da
M. guianensis e multiflora. Independente da maturação de frutos e sementes, as três
espécies de Myrcia apresentaram elevados teores de água (entre 39% e 66%).
Estas características são um indicativo de que essas espécies são sensíveis à
dessecação e têm um metabolismo ativo, fazendo com que ocorra mais rápido a
germinação ou deterioração de sementes (DELGADO; BARBEDO, 2007), fatos
atribuídos ao comportamento recalcitrante (ALONSO, 2018). Expostas a temperaturas
mais elevadas, tendem a fazer com que o conteúdo de água dessas sementes reduza
consideravelmente, desacelerando ou até inviabilizando (a depender da temperatura)
a germinação. Também tende a não suportar temperaturas muito baixas, o que
encurta um plano de armazenamento de sementes (ANDRADE; FERREIRA, 2000).
Devido a um comportamento similar para diversas espécies de Myrtaceae, as
sementes recalcitrantes são uma das características comuns para esta família (HOSSEL,
2013).
Segundo Silva (2018), a Myrcia sylvatica possui característica antioxidante e
antibacteriana em suas folhas, é também bastante difundida na medicina popular pelo
controle de diabetes, inflamação intestinal etc. Além disso, tem se mostrado eficaz o

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uso do óleo essencial hidrolisado dessa espécie para anestesia e sedação de peixes
como o Tambaqui (Colossoma macropomum) e Matrixã (Brycon amazonicus), servindo
ao manejo desses na prática de aquicultura (SACCOL et al., 2017; SACCOL, 2016).
Após a análise de dados, foi verificado que o sucesso germinativo da Myrcia sylvatica
foi o maior, com 99% de sementes germinadas, seguida por Myrcia guianensis (97%) e
Myrcia multiflora (75%). Tal sucesso germinativo pode ter sido atribuído ao fato de que
a M. sylvatica foi desinfetada com 2% (v/v) de hipoclorito de sódio, podendo ser mais
eficaz contra possíveis ações fúngicas, enquanto que M. guianensis e multiflora foram
lavadas a 1% (v/v) de NaClO.
Apesar de algumas sementes não germinadas de Myrcia multiflora (espécie com
menor % de germinação) não apresentarem danos estruturais externos por fungos, a
razão pelo qual a germinação não ocorreu talvez possa ser relacionada a um embrião
imaturo, inapto para o processo germinativo ou até mesmo a presença de substâncias
internas inibidoras à germinação (FOWLER; BIANCHETTI, 2000). Contudo, não se pode
atribuir diretamente a tipos de dormência, já que apenas algumas espécies de
Myrtaceae possuem essa barreira para que o processo germinativo se inicie
(MUNARO, 2017).
O tempo médio de germinação da M. sylvatica foi o menor (6,3 dias), sendo o mais
rápido em comparação com a M. guianensis (7,6 dias) e M. multiflora (14,2 dias). No
estudo de Alves (2018) a Myrcia macrocalyx apresentouum TMG de 13,5 dias, tempo
próximo ao que foi visto para a Myrcia multiflora neste trabalho, o que indica ser
natural algumas espécies deste gênero levarem mais tempo para que a germinação
aconteça. Saber o TMG das espécies auxilia nas estratégias para formação de mudas, já
que prevê o tempo em que as sementes germinarão.
A respeito do tempo necessário para atingir 50% das sementes germinadas (T50), a M.
sylvatica precisou de 6 dias e teve um índice de velocidade de germinação igual a
0,160. A M. guianensis precisou de 7 dias para atingir 50%, tendo um IVG igual a 0,140,
ambos valores bem próximos aos resultados da M. sylvatica. Entretanto, a M.
multiflora mostrou um comportamento mais lento, visto que levou 15,7 dias para
atingir metade das sementes germinadas e, em decorrência desse processo mais lento,
o seu IVG foi igual a 0,080.

Conclusão

Com a análise morfológica, as espécies estudadas reforçaram o conhecimento sobre o


comportamento recalcitrante já mencionado em diversos estudos sobre a família
Myrtaceae. A faixa de temperatura de 25 ± 3 °C demonstrou influência positiva devido

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à alta porcentagem de germinação (75% a 99%) das Myrcias. A M. sylvatica apresentou


o melhor desempenho em todas as métricas avaliadas sobre a germinação, seguida
por Myrcia guianensis e, por último, Myrcia multiflora cujo desempenho foi o menor e
mais lento entre as três, porém esse comportamento se mostrou normal, visto que
resultados similares foram encontrados na literatura para outra espécie do gênero
Myrcia (ALVES, 2018).
Vale destacar a carência de estudos morfológicos e germinativos para a família
Myrtaceae com destaque mais crítico às espécies de Myrcia, devido aos poucos
estudos científicos desenvolvidos até então. O propósito deste trabalho foi apresentar
características morfológicas dos frutos e sementes a fim de que essas informações
possam auxiliar na identificação correta das espécies, como também servir para um
manejo adequado às necessidades ambientais específicas dessas em relação à
germinação.
Além disso, os resultados dos marcadores usados para avaliar a germinação (G%, TMG,
T50 e IVG), podem servir de comparação para estudos futuros com estresse térmico.
ainda, podem auxiliar em planos de restauração e manejo, visto que trazem
conhecimentos que preveem o comportamento germinativo das espécies em relação
ao tempo médio que germinação, previsão média de quando metade do total de
sementes irá germinar e em que velocidade isso ocorrerá. Sem essas informações, as
identificações das espécies, os planos logísticos de formação e produção de mudas
para restauração e manejo podem ser imprecisos e ineficientes na prática, não
cumprindo com o seu propósito.

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Anexos

Tabela 1. Medidas morfológicas das três espécies do gênero Myrcia.

Figura 1. Porcentagem de germinação de 100 sementes das três espécies de Myrcia no


decorrer dos experimentos (dias). Crédito das fotos: Hercília Cunha (A), Rhuama
Urbano (B) e Vanessa Staggemeier (C).

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CÓDIGO: SB1249

AUTOR: RIAN MENDES DE AMORIM

COAUTOR: PEDRO VITOR VALE BEZERRA

ORIENTADOR: ADRIANA FERREIRA UCHOA

TÍTULO: Bioprospecção de larvicidas contra vetores de arboviroses em


extratos botânicos de sementes dos biomas do Nordeste

Resumo

O manejo de vetores através do uso de inseticidas químicos sintéticos é a principal


forma de combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor de arboviroses como zika,
dengue e chikungunya. Atualmente, métodos alternativos para controle de população
destes vem sendo analisadas e desenvolvidas. Entre estes métodos está a busca por
produtos de origem vegetal com potencial inseticida e de baixo impacto ambiental. A
caatinga tem se mostrado uma importante fonte desses produtos naturais devido sua
diversidade na flora, que possui compostos como inibidores de proteases para defesa
de possíveis predadores. Dessa forma, a pesquisa analisou extratos aquosos de
sementes de quatro espécies de plantas nativas do nordeste, Caesalpinia ferrea,
Genipa americana, Pityrocarpa moniliformis e Bauhinia cheilantha. Larvas L4 de Aedes
aegypti foram acondicionadas no extrato por 24h e 48h afim de verificar a mortalidade
nesse período de tempo. Houve uma alta taxa de mortalidade no grupo em extrato de
Bauhinia cheilantha, sendo calculado uma LC50 média de 0,61% e 0,15% para 24h e
48h respectivamente. E em sua análise bioquímica parcial, apresentou um total de
proteínas solúveis de 0,29 mg/mL. Os demais extratos testados não obtiveram
resultados satisfatórios. Com os dados obtidos da B. cheilantha, podemos assim indicar
que as sementes desta planta possuem um arsenal de moléculas bioativas candidatas
para o desenvolvimento de larvicidas e inseticidas de baixo custo e baixo risco
ambiental.

Palavras-chave: arbovirus, extrato, aedes, larvicida

TITLE: Bioprospecting of larvicides against arbovirus vectors in botanical seed


extracts from Northeast biomes.

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Abstract

Vector management via synthetic insecticides is key against Aedes aegypti,


transmitting Zika, dengue, and chikungunya. Alternatives are explored, like eco-friendly
plant-derived insecticides from diverse caatinga flora, including protease inhibitors.
We studied extracts from seeds of four native northeast plants: Caesalpinia ferrea,
Genipa americana, Pityrocarpa moniliformis, and Bauhinia cheilantha against Aedes
aegypti larvae. Mortality was assessed after 24h and 48h. Bauhinia cheilantha extract
displayed high larval mortality, LC50 of 0.61% (24h) and 0.15% (48h). Biochemical
analysis showed soluble protein content of 0.29 mg/mL. Other extracts yielded
unsatisfactory outcomes. B. cheilantha seeds may harbor bioactive molecules for low-
cost, eco-friendly larvicides and insecticides.

Keywords: arbovirus, extract, Aedes, larvicide

Introdução

As arboviroses, causadas por arbovírus, representam um problema recorrente no


Brasil, com ênfase na dengue, zika, chikungunya e febre amarela transmitidas por
culicídeos do gênero Aedes endêmicos no país, possuindo grande importância
epidemiológica, em destaque para os da espécie A. aegypti e A. albopictus (SERPA et
al., 2021). A presença de um clima adequado e a expansão da urbanização aumentam
a disseminação desses vetores pelo nordeste brasileiro devido ao seu clima quente
favorável ao mosquito. No entanto, foi notificado variantes que adquiriram resistência
ao clima úmido e frio, levando ao aumento de insetos adultos nas épocas chuvosas
(MORITZ et al., 2019).
Atualmente, no Brasil, existem duas vacinas aprovadas para dengue pela Agência
Nacional da Vigilância Sanitária (ANVISA) (FERNANDES et al., 2023). No entanto, estas
vacinas ainda não estão disponibilizadas no PNI, sendo distribuídas apenas nos
sistemas privados de vacinação, o que torna essa prevenção vacinal inviável para a
maioria da população. As infecções por Zika mais preocupantes ocorrem em mulheres
grávidas devido às consequências e associação de microcefalia em recém-nascidos,
ainda não há vacinas contra tal doença (GIRALDO et al., 2023). A febre Chikungunya é
caracterizada por artralgia e mialgia severas que persistem por anos e podem ter
efeitos consideráveis na saúde, qualidade de vida e produtividade do sujeito infectado,
tendo apenas tratamento paliativo dos sintomas com vacinas preventivas próximas de
autorização e comercialização (BARTHOLOMEEUSEN et al., 2023).

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A principal forma de combate contra essas doenças é o manejo de vetores pelo uso de
inseticidas químicos sintéticos, porém, esses trazem prejuízos para a fauna, flora e
para a população urbana. Apesar da indústria de inseticidas químicos utilizar novas
maneiras de tornar essas moléculas mais complexas e acessíveis, a tendência é que o
preço aumente devido à sua maior especificidade e trabalho para produzi-la (SOCIETY
OF CHEMICAL INDUSTRY, 2016). Em contrapartida, o uso de extratos naturais é viável
como método preventivo contra os insetos vetores. As plantas, organismos sésseis,
possuem vários mecanismos de defesa através da produção de metabólitos
secundários e proteínas que intoxicam ou repelem herbívoros e patógenos que as
predam (ISAH, 2019).
Portanto, o estudo de extratos naturais como inseticidas pode fornecer uma
alternativa sustentável para o controle de culicídeos do gênero Aedes, por serem
compostos orgânicos biodegradáveis, menos tóxicos para outros animais e plantas não
alvo. As sementes são dadas como material potencial para obtenção de moléculas
inseticidas pois é nela onde se encontra a maior parte dos inibidores de proteases (IPs)
(SÁ et al., 2023), compreendendo cerca de 10% do total de suas proteínas (NAPOLEÃO,
2018). O potencial larvicida é de maior interesse devido às larvas e pupas se limitarem
a um recipiente com água, facilitando o trabalho da exterminação em um estágio
imaturo, comprometendo a emergência das proles (OMS, 2016).
Entre as espécies vegetais compreendidas na biodiversidade do nordeste, foram
selecionadas quatro para obtenção do extrato e estudo de atividade larvicida: Bauhinia
cheilantha (Bong.) Steud (mororó), Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. (pau-ferro), Genipa
americana (Jenipapo), Pityrocarpa moniliformis (Benth.) (Catanduva). Dados anteriores
já demonstraram que o extrato de folhas frescas de B. cheilantha apresenta uma alta
atividade larvicida, possuindo como principais componentes, nove metabólitos
secundários classificados em quatro classes distintas: oxepinas, triterpenos,
flavonóides e bibenzis, sendo que o último composto citado foi descrito pela primeira
vez no gênero (SILVA, 2018). Deste modo, este trabalho visou investigar o potencial
larvicida dos extratos aquosos das sementes dessas espécies, a fim de contribuir no
arsenal de ferramentas alternativas sustentáveis para controle dos vetores de
arboviroses.

Metodologia

Obtenção das sementes


As sementes das espécies vegetais Bauhinia cheilantha (mororó), Genipa americana
(Genipapo), Caesalpinia ferrea (pau-ferro) e Pityrocarpa moniliformis (Catanduva)

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foram adquiridas através de doação do banco de sementes da Floresta Nacional


(Flona) de Nísia Floresta, Unidade de Conservação (UC) regido pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), localizado no município de Nísia
Floresta, estado do Rio Grande do Norte (RN). O uso do patrimônio genético para a
pesquisa está registrado em conformidade com o Sistema Nacional de Gestão do
Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen n. A3104E7).
Obtenção dos culicídeos
Os insetos utilizados neste trabalho Aedes aegypti e Aedes albopictus compõem a
colônia do Laboratório de Entomologia Médica (LABENT-UFRN), do Centro de
Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para estabelecimento e
renovação da colônia são colocados ovitrampas em diversos pontos no Campus
Universitário da UFRN. Os ovos coletados semanalmente em palhetas são trazidos para
o LABENT e, após a contagem, as palhetas contendo os ovos são submersas em uma
bandeja plástica contendo água limpa e uma mistura de farinha de arroz com levedo
de cerveja (75% e 25%, m/m, respectivamente) (SCHORR et al., 2020) para eclosão e
alimentação das larvas. Após a eclosão, as larvas são monitoradas até a formação das
pupas, as quais são transferidas para gaiolas com base de ferro revestidas com malha
fina para emergência dos adultos. Após identificados como A. aegypti e A. albopictus,
os adultos são transferidos a gaiolas separadas para procriação, alimentados com uma
solução açucarada (10%) e as fêmeas realizam repasto sanguíneo em roedor. Nas
gaiolas são colocadas ovitrampas e semanalmente os ovos são recolhidos e
transferidos para bandeja plástica para eclosão das larvas que serão utilizadas para
ensaios ou manutenção da colônia. O uso dos insetos está em conformidade com o
Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional
Associado (SisGen n. A3104E7).
Extração aquosa
Os cotilédones das sementes livres dos tegumentos foram triturados em moinho
elétrico para obtenção de uma farinha de granulação fina (peneirada em peneira de
malha de 40 mesh). A extração aquosa foi realizada em água destilada na proporção de
1:10 (m/v) sob aquecimento a 80 °C, por 3 h com agitação em intervalos de 30 min,
seguida de centrifugação a 10000 x g por 15 min, a 4 °C. O sedimentado foi submetido
a reextração nas mesmas condições. O sedimentado final foi descartado e os dois
sobrenadantes foram unidos, sendo identificado como Extrato Aquoso (EA). Em
seguida os extratos aquosos foram congelados, uma fração liofilizada para ensaios
bioquímicos posteriores e outra fração armazenada até sua utilização nos bioensaios.
Determinação da concentração das amostras e caracterização bioquímica parcial
Os extratos foram secos e pesados para determinação da massa seca resultante da
extração. Em seguida, as amostras foram solubilizadas em concentrações conhecidas

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(m/v) e suas concentrações em proteínas foram determinadas pelos métodos de


Bradford (1976).
Bioensaios para detecção de atividade larvicida
Os ensaios larvicidas contra o A. aegypti e A. albopictus foram realizados segundo
protocolos estabelecidos em trabalhos de nosso grupo (BARBOSA et al., 2014)
adaptados da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2005). Grupos de vinte larvas em
estágio L4 foram colocados em recipientes plásticos descartáveis com volume final de
20 mL. As larvas do grupo controle foram imersas em água de torneira desclorada,
enquanto os grupos tratados foram imersos em diferentes concentrações do extrato
(1,56%, 3,12%, 6,25%, 12,5%, 25%, 50%), preparadas por diluição em água de torneira
desclorada a partir do extrato bruto líquido. Em 0h e 24h de experimento, em todos os
grupos foi adicionado substrato alimentar composto por uma mistura de farinha de
arroz e levedo de cerveja (75% e 25%, m/m, respectivamente) de modo que a
concentração final da mistura no recipiente seja de 0,5 mg/mL. Os ensaios foram
realizados em quadruplicatas e a mortalidade das larvas foi determinada após 24 h e
48 h de incubação nos extratos em temperatura ambiente. As larvas foram
consideradas mortas pela ausência de respostas a estímulos mecânicos e luminosos.
Parâmetros avaliados nos bioensaios
Doses letais (LC50) e (LC90) foram definidas como as concentrações que diminuem a
sobrevivência das larvas dos insetos a 50% e 10% quando comparadas com o controle.
Análises estatísticas: o software Excel ® 2021 (Microsoft)foi usado para análise
estatística dos dados dos ensaios larvicidas. As doses letais dos extratos (LC50) e (LC90)
sobre as larvas de A. aegypti em 24 h e 48 h foi calculada por análise de regressão do
tipo Probit com intervalo de confiança de 95%. Além destes parâmetros quantitativos,
análises qualitativas foram realizadas durante os bioensaios. Durante as contagens de
n° de mortos após 24h e 48h, comportamentos divergentes das larvas controle foram
registrados. Além disso, alterações morfológicas foram fotografadas em microscópio
estereoscópico com câmera acoplada.

Resultados e Discussões

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização parcial dos extratos
Um total de quatro extratos aquosos (EAQ) foram obtidos das sementes estudadas
(Tabela 1).

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Em relação a quantificação de proteínas solúveis e peso seco, em MO foi observado


um total de 0,29 mg/mL de proteínas solúveis e um peso seco de 14,48 mg, sendo dos
quatro extratos o de valor mais alto para teor proteico e rendimento de massa total
solubilizada. Para o extrato JU foi obtido 0,22 mg/mL de proteínas solúveis e 13,95 mg
de peso seco. Os extratos JE e CA apresentaram os valores mais baixos: 0,06 mg/mL e
0,07 mg/mL de proteínas solúveis e 13,50 mg e 13,87 mg de peso seco,
respectivamente.
Atividade larvicida
Quanto aos ensaios, os extratos JE, JU e CA não apresentaram valores significativos de
mortalidade em concentrações altas de 50% e 25%. Sendo assim, a progressão da
análise em concentrações mais baixas foi interrompida, não sendo possível calcular
uma LC50 de 24h e 48h. Os extratos GE e CA apresentaram um baixo teor proteico, o
que pode estar relacionado à ausência de atividade larvicida, é possível que a extração
aquosa a 80°C não tenha solubilizada satisfatoriamente possíveis moléculas bioativas
das sementes.
Farias e colaboradores (2010) encontraram atividade larvicida para A. aegypti em
extratos aquosos nas sementes de Catanduva com doses letais LC50 e LC90 bastante
promissoras e rico perfil proteico em eletroforese (FARIAS et al., 2010), dados
contrastantes com os resultados obtidos neste trabalho. A diferença nas condições de
extração tempo (4h) e temperatura (4°C) podem ter influenciado tais discrepâncias.
Em relação ao jenipapo, apesar de não ter sido encontrado potencial inseticida para A.
aegypti no JE, a atividade inseticida para insetos praga (Tribolium castaneum e
Cerconota anonella) foi registrada no extrato aquoso da casca de Genipa americana
(LIMA et al., 2020; TAVARES, 2021), gerando novas perspectivas para uso desse tecido
na pesquisa aplicada em A. aegypti.
Sobre o jucá, apesar de ser constatado que sementes de plantas do gênero Caesalpinia
possuem inibidores de tripsina (MARCELO et al., 2002) e o JU ter apresentado o
segundo maior teor proteico, as condições de extração (solvente aquoso; 80°C) podem
não ter favorecido a detecção da atividade biológica desses inibidores e de outras
proteínas. Barbosa et al. (2014) detectaram um perfil semelhante na investigação da
atividade larvicida para A. aegypti, os autores encontraram concentrações letais (LC50)
muito altas para o extrato salino (tampão fosfato de sódio 50 mM, ph=8,0) da semente
de C. ferrea (BARBOSA et al., 2014). Assim, sobre outra ótica, apesar de uma
diversidade de atividades biológicas (anti-inflamatória, cicatrizante, analgésica)
encontradas em moléculas extraídas da semente do jucá (MACEDO et al., 2020) o
conjunto de metabólitos (primários e/ou secundários) da semente de C. ferrea pode
não apresentar um potencial tóxico promissor para o desenvolvimento de um
bioinsetica para A. aegypti. No entanto, mais estudos necessitam ser realizados para
confirmar essa relação.

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O extrato MO foi o mais promissor, suas concentrações letais LC50 para 24h e 48h
foram respectivamente 0,61% e 0,149%, o equivalente a 0,088 mg/mL ou 88 ppm e
0,022 mg/ml ou 22 ppm. Estes dados foram mais promissores que os encontrados por
Barbosa et al. (2014), onde foram encontradas doses letais de 14,6 mg/ml e 0,94
mg/mL para 24h e 48h nos extratos salinos das sementes de B. cheilantha. Estes
resultados demonstram o potencial da atividade larvicida do extrato aquoso da
semente de Mororó para produção de um inseticida botânico, uma vez que as doses
letais abaixo de 50 ppm têm sido consideradas valiosas para produção de um
bioinseticida em escala industrial (PAVELA et al., 2019).
Alterações morfológicas e comportamentais
Um outro aspecto analisado para o MO foi a análise de alterações morfológicas e
comportamentais induzidas nas larvas expostas ao extrato. O encurtamento do
abdôme de larvas em concentrações letais do extrato de Mororó foi considerada a
alteração morfológica mais evidente (Figura 1). Em Kanis e colaboradores (2018),
alterações morfológicas semelhantes foram encontradas em larvas de A. aegypti.
Concentrações letais de extrato de P. ovatum promoveram encurtamento e rigidez do
exoesqueleto (KANIS et al., 2018). Além disso, alterações comportamentais como
tremores e convulsões seguidas de paralisia também foram registradas pelas larvas
expostas ao extrato de Mororó. Sukumaran e Maheswaran (2020) observaram
exatamente as mesmas mudanças comportamentais em larvas expostas às moléculas
do pó da folha de Elytraria acaulis (SUKUMARAN & MAHESWARAN, 2020). Esses
comportamentos podem estar relacionados a atividade neurotóxica, prejudicando o
sistema neuromuscular do inseto (PALANIKUMAR et al., 2017). Diante das alterações
geradas pela exposição ao extrato, torna-se válido a realização de estudos para
investigação dos possíveis modos de ação da atividade larvicida de MO, como a
inibição de proteases digestivas, a inibição de acetilcolinesterase, a disrupção da
membrana peritrófica e mudanças na microbiota intestinal.

Conclusão

CONCLUSÕES:
Os extratos JE, CA e JU não apresentaram resultados significativos de atividade
larvicida para A. aegypti. G. americana e C. ferrea aparentam não compreender em
suas sementes potenciais moléculas para uso do controle vetorial de A. aegypti,
entretanto, G. americana apresenta partes mais interessantes da planta para se
prospectar atividade inseticida, como as cascas do caule. Para Pityrocarpa
moniliformis, mudanças nas condições de extração podem aumentar a solubilização de

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moléculas tóxicas para A. aegypti, como já documentado em outros trabalhos. O


extrato de B. cheilantha MO, por outro lado, apresentou resultados bastante
promissores, incluindo doses letais abaixo de 50 ppm, um parâmetro importante para
o desenvolvimento de um bioinseticida em escala industrial. Assim, o MO representa
um forte candidato para desenvolvimento de um inseticida botânico de baixo custo, já
que se trata de um extrato aquoso com baixas doses letais.
A partir dos resultados encontrados neste trabalho para Mororó (B. cheilantha),
diversos estudos podem ser conduzidos para evoluir no desenvolvimento de um
bioinseticida: atividades inseticidas em outros estágios de vida do A. aegypti (ovo,
pupa, adulto), investigação dos modos de ação constituintes das atividades larvicidas,
análise da atividade de atratibilidade ou repelência para oviposição e determinação da
atividade larvicida em escalas maiores em campo.

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sobre machos e fêmeas desta espécie. Dissertação (mestrado) - programa de pós
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Anexos

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figura comparando as larvas vivas do grupo controle e as tratada com MO

tabela com nome dos extratos

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CÓDIGO: SB1294

AUTOR: MARIA EDUARDA DE OLIVEIRA BARBOSA

ORIENTADOR: GISLENE MARIA DA SILVA GANADE

TÍTULO: APLICAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE NUCLEAÇÃO PARA


RESTAURAÇÃO DE FLORESTAS SAZONALMENTE SECAS

Resumo

Estratégias que diminuam o custo de programas de restauração e aumentam a chance


de sobrevivência das plantas são essenciais, principalmente em ambientes semiáridos.
O objetivo principal deste estudo é testar a aplicação de técnicas de nucleação de
manchas florestais sazonalmente secas, tendo como objetivo específico testar se
diferentes níveis de tratamentos de água influenciam no crescimento da espécie nativa
Libidibia ferrea (jucá) plantadas em manchas de vegetação já estabelecidas. Este
estudo foi conduzido na Floresta Nacional de Açu, RN, Brasil. Em uma área de 1 ha
foram identificadas 20 manchas de vegetação arbórea. Em cada mancha, foram
plantados 3 indivíduos de L. ferrea com zero, 8 L e 16 L de água no momento do
plantio. Em seguida, variáveis como altura, diâmetro da altura do solo (DAS) e número
de folhas foram contabilizadas. Elas foram medidas depois de 2 meses. Para testar se
os diferentes níveis de água influenciam o crescimento das mudas, realizamos uma
análise de variância (ANOVA). Os resultados indicam que, conforme o aumento dos
litros de água fornecidos no momento do plantio, as plantas cresceram menos em
altura, diminuíram em DAS, principalmente no tratamento com 16L, e também tiveram
queda na produção de folhas. A partir disso, o fornecimento de água no momento do
plantio não beneficiou a performance dos indivíduos plantados, indicando que após
serem plantados, competem pelo recurso hídrico com as plantas já estabelecidas.

Palavras-chave: biodiversidade, ecologia, sucessão ecológica, Caatinga,


nucleação

TITLE: APPLICATION OF NUCLEATION STRATEGIES FOR THE


RESTORATION OF SEASONALLY DRY FORESTS

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Abstract

Strategies that reduce the cost of restoration programs and increase the chance of
plant survival are essential, especially in semi-arid environments. The main objective of
this study is to test the application of nucleation techniques to seasonally dry forest
patches, with the specific objective of testing whether different levels of water
treatments influence the growth of the native species Libidibia ferrea (jucá) planted in
established vegetation patches. This study was conducted in the Açu National Forest,
RN, Brazil. In an area of 1 ha, 20 patches of tree vegetation were identified. In each
patch, 3 individuals of L. ferrea were planted with zero, 8 L and 16 L of water at the
time of planting. Variables such as height, diameter at ground height (DAS) and
number of leaves were then counted. They were measured after 2 months. To test
whether the different levels of water influence the growth of the seedlings, we carried
out an analysis of variance (ANOVA). The results indicate that, as the liters of water
supplied at planting increased, the plants grew less in height, decreased in DAS,
especially in the 16L treatment, and also had a drop in leaf production. From this, the
supply of water at the time of planting did not benefit the performance of the planted
individuals, indicating that after being planted, they compete for the water resource
with the already established plants.

Keywords: biodiversity, ecology, ecological succession, Caatinga, nucleation

Introdução

O ritmo de desmatamento em todo o mundo ocorre em taxas alarmantes (FAO; UNEP,


2020), e atualmente é reconhecido como um dos principais componentes das
mudanças globais, ocasionadas pela humanidade (DOBSON et al., 1997; CORBIN; ROLL,
2012). A retirada da cobertura vegetal pode trazer consequências danosas, como a
erosão dos solos, esgotamento de recursos hídricos (BRUIJNZEEL, 2004), alterações
climáticas e a perda de habitat, levando várias espécies à extinção (FOLEY et al., 2005;
LELE; JOSHI, 2009).
Diante do cenário global de degradação ambiental e da necessidade de proteger a
biodiversidade e o bem estar humano, a Organização das Nações Unidas (ONU)
decretou em 2020 - 2030 a década da restauração de ecossistemas, com a meta de
restaurar 350 hectares no mundo. A partir disso, avanços científicos e metodológicos
são necessários, e em muitos aspectos da restauração de ecossistemas, esforços foram
direcionados buscando compreender como a dinâmica de montagem de comunidades

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diversas pode contribuir para a restauração, garantindo assim, que comunidades


plantadas tenham melhor aptidão em manutenção a longo prazo (FAGUNDES et al.,
2018; 2023).
Em tese, a restauração de ambientes desflorestados se baseia em duas técnicas
amplamente utilizadas e contrastantes (BENAYAS; BULLOCK, 2008). A primeira é a
"Restauração Passiva”, que consiste na interrupção do agente de perturbação
(remoção de gado e interrupção de práticas da agricultura), e no manejo da resiliência
dos remanescentes, impulsionando a colonização natural por arbustos, árvores e
sucessão secundária (ARONSON; DURIGAN; BRANCALION, 2011). A segunda técnica é a
“Restauração ativa”, que caracteriza-se pelo plantio direto de mudas, acelerando a
restauração (DESIMONE, 2011). Ambas as técnicas apresentam desafios que limitam o
sucesso da restauração (CORBIN; ROLL, 2012), isso porque, a restauração passiva,
baseada na sucessão natural é muitas vezes lenta, devido a limitações bióticas e
abióticas, podendo levar várias décadas para as comunidades se estabelecerem (JONES
& SCHMITZ, 2009). Por sua vez, na restauração ativa os custos de implementação e
manutenção são fatores limitantes quando se deseja restaurar em grandes áreas
(HOLL; AIDE, 2011).
Outro desafio relacionado à sobrevivência das mudas em campo é a questão da
disponibilidade hídrica (SCHMIDT et al., 2018). Pelo fato da água ser um custo de alto
valor e o seu tempo de manipulação na área do experimento ser restrito, acaba sendo
um fator limitante para a prática das estratégias de restauração, principalmente em
regiões áridas e semiáridas (PATERNO et al., 2016). Logo, há a necessidade do
desenvolvimento de um mecanismo que traga a possibilidade de se utilizar a menor
quantidade de água possível, em função de realizar o estabelecimento e garantir a
sobrevivência de plantas, com o mínimo de custos. (DAMASCENO, 2016).
Sendo assim, sugerimos um método alternativo de restauração que requer um custo
financeiro pequeno e apresenta ótimos resultados em campo, que é o plantio de
árvores em manchas ou ilhas (REIS, BECHARA & TRES 2010). É uma estratégia que tem
como foco os remanescentes de vegetação nativa. Essa técnica de restauração busca
promover a nucleação da floresta, atraindo novas espécies que melhoram de forma
significativa o ecossistema e favorecem a colonização por outras espécies. Nessas ilhas
ocorrem uma rede de interações entre indivíduos da mesma espécie (intraespecífica) e
entre espécies diferentes (interespecífica), como por exemplo a dispersão de sementes
por agentes dispersores, contribuindo para a perpetuação da espécie (BENAYAS &
BULLOCK, 2008; SCHLAWIN & ZAHAWI, 2008).
O objetivo principal deste estudo é testar a aplicação de técnicas de nucleação em
projetos de restauração em florestas sazonalmente secas, tendo como objetivo
específico: Testar se os diferentes níveis de tratamentos de água influenciam no

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crescimento da espécie nativa Libidibia ferrea (jucá) em manchas de vegetação já


estabelecidas.

Metodologia

2.1 Área de Estudo


Este estudo foi conduzido em um Experimento de avanço de técnicas de restauração
da caatinga, na Floresta Nacional de Açu, RN, Brasil (05º35'02,1''S - 36º56'41,9''W).
Esta Unidade de Conservação Federal abrange uma superfície oficial de 215,25 ha,
além de uma área em ampliação de 217,27 ha (ICMBIO, 2019), a mesma integra uma
das maiores Florestas Tropicais Secas Sazonais (STDF) do mundo, conhecida como
Caatinga (Figura 1). O território da Caatinga se estende por cerca de 735.000 km² (LEAL
et al. 2003). Sua vegetação é composta por mais de 3.150 espécies de plantas
(QUEIROZ E FERNANDES, 2017), muitas destas endêmicas (DRYFLOR et al. 2016). A
fisionomia da vegetação varia desde áreas abertas com espécies arbustivas dispersas
até vegetação lenhosa (SILVA et al. 2017). A precipitação anual varia entre 400 e 700
milímetros por ano, entre os meses de dezembro e julho (VELLOSO et al., 2002) e
temperatura média é de 28ºC (ALVARES et al., 2013).
O experimento foi coordenado pelo laboratório de ecologia da restauração - LER, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi implementado em dezembro de
2021 e abrange uma área de aproximadamente 1 ha, em uma área lateral à trilha da
FLONA, há poucos metros da sede (5° 34 '33.62 ''S 36° 56' 35.84"O) (Figura 2). A área
apresenta algumas manchas de vegetação arbórea, e vegetação que inclui ervas,
gramíneas, trepadeiras e pequenos arbustos. O local foi degradado pela produção e
extração de madeira de eucalipto (Eucalyptus globulus Labil) nas últimas décadas,
seguido de abandono.
2.2 Espécie de estudo
A espécie utilizada nas manchas de vegetação foi a leguminosa Libidibia ferrea (MART.
ex TUL.) L.P. Queiroz (Caesalpiniaceae). É uma espécie que tem sua distribuição por
todo o Brasil, sendo encontrada majoritariamente nas regiões norte e nordeste
(LORENZI, 2002). Popularmente conhecida como jucá ou pau-ferro, possui árvores com
altura variando de 5 a 7 m (até 10 m). Em programas de restauração de áreas
degradadas é utilizada, principalmente na primeira fase de restauração florestal.
Devido à queda antecipada de suas folhas ao final do período de chuvas, a espécie
possui potencial para enriquecer o solo por meio da deposição e decomposição de
serapilheira (MACHADO, 2018).

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2.3 Delineamento amostral As sementes foram coletadas na FLONA durante o ano de


2022 e armazenadas em sala fria a 16°C para manter a viabilidade à medida que estas
forem postas para germinar. Colocamos sementes em número suficiente para
germinar até obtermos 60 plântulas estabelecidas de Libidibia ferrea. Na casa de
vegetação da FLONA, transferimos as plântulas germinadas para tubos de PVC de 1
metro de comprimento e 75 milímetros de diâmetro, que cresceram até suas raízes
atingirem 1 metro, técnica desenvolvida por GANADE et al. (dados não publicados).
Este procedimento impede altas taxas de mortalidade por escassez de água, condição
comum da região semiárida. As plantas permaneceram crescendo em casa de
vegetação com irrigação diária por cerca de 6 meses antes do plantio nas manchas de
vegetação. 2.4 Delineamento experimental
Foram alocadas, de maneira aleatória, 20 manchas de vegetação dentro da área onde
foi inserido o experimento de técnicas de restauração, correspondente a 1 hectare. Os
núcleos foram estabelecidos aleatoriamente a 10 m de distância um do outro, com o
auxílio de GPS. Cada núcleo foi implantado com três mudas de Libidibia ferrea,
separadas igualmente formando um triângulo na, área externa da mancha (Figura 3).
As mudas introduzidas foram submetidas a três tratamentos de níveis de água: T0 -
ausência de água (controle); T1 - 8 litros de água na hora do plantio; e T2 - 16 litros de
água na hora do plantio. O monitoramento do experimento foi realizado em períodos
trimestrais, foram coletados dados de crescimento e para observar essa variável,
foram realizadas as seguintes medidas de crescimento: (1) altura em centímetros,
utilizando uma fita métrica, (2) diâmetro na altura do solo (DAS), usando paquímetro
digital, (3) número de folhas, com contador mecânico de folhas.
2.5 Análises estatísticas
As análises estatísticas foram desenvolvidas no R Core Team (2023). Para testar se os
percentuais de crescimento e de sobrevivência da espécie nativa Libidibia ferrea são
influenciados pelos diferentes tratamentos de níveis de água, realizamos uma análise
de variância (ANOVA), onde a variável (Y), contínua é o crescimento e as variáveis
explanatórias (X) são os tratamentos de níveis de água T0: ausência de água (controle);
T1: aplicação de 8 litros de água e T2: aplicação de 16 litros de água.

Resultados e Discussões

3.1 Resposta da relação entre o crescimento em altura (cm) e os tratamento com


níveis de água

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O experimento Avanços em técnicas de restauração da caatinga mostrou que, a altura


das plantas difere entre os tratamentos de água (F = 9.274; g.l. = 1,53; p < 0.00362).
Em média, as plantas cresceram 24.52 centímetros sem adição de baldes de água (T0)
e cresceram menos quando adicionados 8 (T1) e 16 (T2) litros de água, com 9.47
centímetros e 1.47 centímetros, respectivamente (Figura 4).
3.2 Resposta da relação entre o crescimento do DAS e o tratamento dos níveis de água
A variável de diâmetro na altura do solo (DAS) não diferiu significativamente entre os
tratamentos (F = 0.154; g.l = 1,53; P > 0.235). As plantas ficaram, em média, com -0,67
centímetros de espessura do caule na altura do solo, no tratamento controle (T0), com
a adição de 8 litros de água (T1), tiveram -5,29 centímetros de espessura do caule e,
quando adicionados 16 litros de água, tiveram -2,03 centímetros de espessura (Figura
5).
3.3 Resposta da relação entre o número de folhas e o tratamento de níveis de água
Para o número de folhas, não houve diferença significativa entre os tratamentos com
níveis de água (F = 1.441; g.l = 1,53; P > 0.696). O número de folhas variou dependendo
dos tratamentos. De modo mais preciso, as plantas, em média, perderam ou ganharam
folhas ao longo do tempo, com -5,41 ± 24,7 no tratamento T0, no T1 com -16,84 ±
31,74 e no T2 com 4,48 ± 20,86 folhas.
Estudos relatam que a disponibilidade hídrica é um fator limitante para a prática da
restauração (SCHMIDT et al., 2018). A partir disso, a ocorrência de competição por
recursos pode ocorrer entre as plantas vizinhas (MOURA et al., 2023), observado por
meio do desenvolvimento desproporcional que encontramos entre os tratamentos de
fornecimento hídrico. Além disso, com a ajuda dos estudos de REIS, BECHARA & TRES
(2010) e de CORBIN & HOLL (2012) é possível notar que a quantidade de água é um
fator limitante para o crescimento dessa espécie, como em manchas de vegetação já
definidas, uma vez que a presença de outras espécies atraídas pela nucleação da
floresta, melhoram o ecossistema e permitem as interações intra e interespecíficas,
promovendo a sucessão ecológica e assim, favorecendo o estabelecimento natural e o
crescimento das espécies plantadas sem grandes necessidades de água.

Conclusão

O fornecimento de água no momento do plantio, independente da quantidade, não


trouxe benefício para o desempenho dos indivíduos plantados, indicando que após
serem plantados, competem pela água com as plantas já estabelecidas.No entanto,
embora exista essa competição hídrica entre as espécies, isso não vai ser danoso para

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o processo de restauração e adicionar grandes quantidades de água no momento do


plantio, nesse caso, não significa que resultará em maior crescimento das plantas.

Referências

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Anexos

Figura 1: Mapa do do estado do Rio grande do Norte, com destaque no município de


Açu. Fonte: Google Maps.

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Figura 2: Delineamento amostral do experimento Avanços em técnicas de restauração


da caatinga. Fonte: Google Earth.

Figura 3: Design experimental das mudas de árvores nativas de Libidibia ferrea,


plantadas no perímetro da mancha florestal.

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Figura 4: Comparação da resposta da altura (cm) com os tratamentos com níveis de


água T0, T1 e T2. Fonte: R Studio.

Figura 5: Comparação da resposta do DAS com os tratamentos com níveis de água T0,
T1 e T2. Fonte: R Studio.

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Figura 6: Comparação da resposta do número de folhas com os tratamentos com níveis


de água T0, T1 e T2. Fonte: R Studio.

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CÓDIGO: SB1299

AUTOR: INGRYD DAYANE SOARES DE FRANCA

ORIENTADOR: RENATA DE FÁTIMA PANOSSO

TÍTULO: Controle do mosquito Aedes Aegypti utilizando-se extratos de


cianobactérias produtoras de neurotoxinas

Resumo

O mosquito Aedes aegypti é vetor de arboviroses como a dengue, zika e


Chikungunya, que apresentam alta ocorrência no Brasil e outros países. No
contexto do usual controle químico do mosquito, a aplicação de inseticidas
artificiais, resistentes à degradação, gera problemas de resistência do mosquito
e riscos ambientais. Nesse cenário, tem sido promovido o desenvolvimento de
inseticidas de origem natural. Este estudo investigou o potencial efeito ovicida
de um extrato da cianobactéria Sphaerospermopsis torques-reginae, produtora
de anatoxina-a(S) (cianotoxina organofosforada), para avaliar um possível
inseticida natural para controle do A. aegypti. Para isso, uma cepa de S.
torques-reginae foi cultivada, e depois submetida a ciclos de gelo e degelo para
a extração do conteúdo intracelular. Ovos de A. aegypti foram obtidos de uma
colônia de laboratório. Os tratamentos (4 réplicas cada; 10 ovos em cada
réplica) consistiram de soluções (10mL) contendo extrato da cianobactéria ou
água mineral ou meio de cultivo ASM-1 (controles). Os ovos eclodidos foram
monitorados por 24 horas. A média do número de ovos eclodidos foi de 8,5 e
9,7 nos tratamentos e controles, respectivamente. A exposição dos ovos de A.
aegypti ao extrato da cianobactéria ocasionou uma redução média e
estatisticamente significativa de 13% no número de ovos eclodidos, comparado
aos tratamentos. Embora o efeito tenha sido fraco, o extrato da cianobactéria
possui potencial inibitório no desenvolvimento do mosquito.

Palavras-chave: Cianotoxinas. Dengue. Chikungunya. Inseticida natural.


Ovicida.

TITLE: Control of the Aedes Aegypti mosquito using extracts of neurotoxin-


producing cyanobacteria

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Abstract

The Aedes aegypti mosquito is a vector of arboviruses such as dengue, zika


and chikungunya, which are highly prevalent in Brazil and other countries. In the
context of the usual chemical mosquito control, the application of artificial
insecticides, resistant to degradation, generates mosquito resistance problems
and environmental risks. In this scenario, the development of insecticides of
natural origin has been promoted. This study investigated the potential ovicidal
effect of an extract of the cyanobacterium Sphaerospermopsis torques-reginae,
producer of anatoxin-a(S) (organophosphate cyanotoxin), to evaluate a possible
natural insecticide to control A. aegypti. For this, a strain of S. torques-reginae
was cultivated, and then subjected to freeze and thaw cycles to extract the
intracellular content. A. aegypti eggs were obtained from a laboratory colony.
Treatments (4 replicates each; 10 eggs in each replicate) consisted of solutions
(10mL) containing cyanobacterial extract or mineral water or ASM-1 culture
medium (controls). The hatched eggs were monitored for 24 hours. The mean
number of hatched eggs was 8.5 and 9.7 in treatments and controls,
respectively. Exposure of A. aegypti eggs to the cyanobacterial extract caused
an average and statistically significant reduction of 13% in the number of
hatched eggs, compared to the treatments. Although the effect was weak, the
cyanobacterial extract has inhibitory potential on mosquito development.

Keywords: Cyanotoxins. Dengue. Chikungunya. Natural insecticide. Ovicidal.

Introdução

Os mosquitos (Diptera: Culicidae) são vetores de diversas doenças virais


(arboviroses), constituindo um problema relevante para a saúde pública em
áreas de clima tropical e subtropical. Doenças como a dengue, chikungunya,
zika e febre amarela estão em crescente expansão e são predominantemente
propagadas através do mosquito Aedes aegypti (W.H.O, 2019), que possui o
ciclo de vida dividido nas fases de ovo, larva (com quatro estádios), pupa e
adultos (RAI, 1991). Atualmente, não existe uma vacina disponível para a
chikungunya e zika, e para a dengue. Sendo assim, o controle físico e químico
do A. aegypti é o principal recurso para reduzir a ocorrência dessas
enfermidades (FERREIRA et al. 2017), principalmente nas fases larval e adulta.
No Brasil, variados inseticidas sintéticos foram empregados para o
gerenciamento do A. aegypti. Entre eles, destaca-se o Temefós, que pertence
à classe dos organofosforados (BRAGA & VALLE, 2007). O composto obteve
papel como larvicida principal na contenção do A. aegypti nas últimas décadas.
Entretanto, a partir de 1999, começou a ser observada a manifestação de

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populações de larvas resistentes a esse composto, e foi sugerida a suspensão


de sua utilização (OMS, 2012).
Nesse contexto, o Ministério da Saúde em 2014 introduziu o inseticida
piriproxifeno como alternativa, mas não possui tanta eficácia na mortalidade
dos insetos, uma vez que os insetos que sobrevivem após a exposição acabam
produzindo descendentes que apresentam resistência ao composto químico
utilizado. Isso resulta na formação de populações de insetos mais tolerantes e
menos afetadas pelos produtos (SMITH et al. 2016; NICOLAU et al. 2013).
Além disso, inseticidas como os organofosforados sintéticos são resistentes à
degradação, perdurando no ambiente por longos períodos, gerando um risco
potencial de contaminação ambiental, bem como implicações negativas para a
saúde humana (MONTELLA et al. 2007).
A situação presente do controle de mosquitos vetores exige o desenvolvimento
de novos produtos biodegradáveis pela natureza, provenientes de fontes
naturais e que tenham efeitos adversos passíveis de redução para serem
empregados no enfrentamento desses insetos (PIRALI-KHEIRABADI &
TEIXEIRA DA SILVA, 2010). Alguns estudos avaliaram o potencial de
organismos fitoplanctônicos e seus metabólitos para o desenvolvimento e
produção de pesticidas (KIVIRANTA et al. 1993; HARADA et al. 1999; REY et
al. 2009; FARJA et al. 2019;).
As cianobactérias são microrganismos procariontes e fotossintetizantes que
prosperam em uma grande diversidade de ambientes aquáticos. Além disso,
muitas cianobactérias são potenciais produtoras de toxinas (cianotoxinas)
nocivas para a saúde humana quando presentes em água usada para
abastecimento (BORTOLI & PINTO, 2015). Cianotoxinas também afetam
negativamente o desenvolvimento de animais, incluindo invertebrados. A
espécie Sphaerospermopsis torques-reginae (Nostocales, Cyanobacteria) de
origem de água doce é uma produtora de neurotoxina do tipo anatoxina-a(S)
(WERNER et al. 2011). A anatoxina-a(S) é um organofosforado natural
apresentando atividade comparável aos compostos organofosforados e aos
inseticidas carbamatos (BORTOLI & PINTO, 2015). A estrutura química desta
cianotoxina constitui-se de um éster fosfato metil-hidroxiguanidina, e o seu
mecanismo de ação inibe irreversivelmente a enzima acetilcolinesterase
(BORTOLI & PINTO, 2015).
Considerando o potencial inseticida designado à S. torques-reginae, e a
urgência no desenvolvimento de inseticidas naturais para o controle de vetores
de arboviroses, que apresentem menos danos ao meio ambiente por serem
mais facilmente degradados, foram conduzidos ensaios de sensibilidade em
ovos de A. aegypti, empregando extratos provenientes do cultivo de uma cepa
toxigênica da cianobactéria S. torques-reginae. O objetivo é avaliar o efeito do

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extrato de S. torques-reginae no desenvolvimento dos ovos de A. aegypti,


investigando possíveis efeitos inibidores na eclosão dos ovos.

Metodologia

2.1 Cultivo de S. torques-reginae e obtenção do extrato


A cepa da espécie Sphaerospermopsis torques-reginae (ITEP-024) foi isolada
de um reservatório de água doce em Pernambuco (Brasil) e obtida da
Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE). Para o cultivo da
S. torques-reginae, a cepa foi mantida em frascos de erlenmeyer contendo
meio ASM-1 (JACINAVICIUS et al. 2013) sob temperatura entre 22 e 24°C,
iluminação artificial em intensidade de 50 µmol quanta m−2 s−1, fotoperíodo
12:12 claro/escuro e agitação manual periódica para evitar a formação de
aglomerados de filamentos e minimizar o auto sombreamento. Todos os
materiais utilizados no cultivo da cianobactéria, bem como durante o
experimento foram submetidos à esterilização e manipulados com técnicas
assépticas.
Para a obtenção do extrato de S. torques-reginae, inicialmente foi estabelecido
um cultivo, em triplicata, a partir de um inóculo do cultivo estoque da cepa.
Para isso, volumes de 3,75 mL de um cultivo estoque foram diluídos, em
triplicata, em 75 ml de meio ASM-1 alocados em frascos erlenmeyer com
capacidade de volume de 125 mL. Os cultivos foram então incubados nas
condições controladas supracitadas. A partir do cultivo, foram realizadas curvas
de crescimento da cianobactéria para verificar em quanto tempo atingiria a
biomassa máxima do cultivo, avaliada a partir da quantificação das células do
cultivo sob microscopia (400x de magnificação) e utilizando-se câmaras de
Neubauer. Quando a biomassa máxima dos cultivos foi atingida, uma alíquota
de 50 mL foi separada para a extração do conteúdo celular. Para isso o volume
de 50 mL do cultivo foi transferido para um frasco plástico devidamente
higienizado, e armazenado em freezer (-18ºC) para a produção do extrato.
Com isso, a biomassa congelada dos cultivos foi submetida ao processo de
gelo/degelo em três ciclos, sendo que a cada ciclo, foram realizadas inspeções
em subamostras do extrato, sob microscopia óptica e com auxílio de uma
câmara de Neubauer (figura 1), para verificar se as células haviam sofrido lise.
O extrato foi considerado adequado para os ensaios quando não foram mais
observadas células integras, portando conteúdo intracelular (figura 2).
2.2 Obtenção dos ovos
Os ovos usados nos bioensaios foram obtidos da colônia de Aedes aegypti
mantida no insetário do Laboratório de Insetos e Vetores do Departamento de

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Microbiologia e Parasitologia (DMP) da Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. As condições controladas foram de 26°C de temperatura, luz artificial,
fotoperíodo 12:12 claro/escuro e umidificador de ambiente.
2.3 Teste de sensibilidade
Inicialmente, papéis de filtro contendo ovos de A. aegypti foram recortados e
inseridos no fundo de recipientes plásticos etiquetados, com capacidade
máxima de 50 ml, que foram utilizados como unidades experimentais (figura 3).
As soluções testes foram então transferidas para sua respectiva unidade
experimental com auxílio de pipeta de 10 mL. Para isso, todas as soluções
foram transferidas primeiramente para recipientes plásticos, para então serem
transferidos novamente para as unidades experimentais. Esta etapa foi
realizada para que todas as unidades recebessem o mesmo volume das
soluções. Para o tratamento, foi utilizado o extrato da cianobactéria, e para o
controle (1 e 2) foram utilizados água mineral e meio ASM-1. Os tratamentos e
controles contaram com quatro réplicas cada, em cada unidade foram alocados
10 ovos (figura 4). Ademais, todas as unidades experimentais tiveram a adição
de 1 grão de ração de peixe. As unidades experimentais foram monitoradas por
24 horas para a contagem do número de ovos eclodidos realizada com o
auxílio de uma lupa (Figura 5).
2.4 Análise estatística
Os resultados foram tabulados em planilha Excel, onde as médias e os desvios
padrão dos tratamentos e controles foram calculados. Em seguida, o resultado
dos efeitos do extrato da S. torques-reginae no desenvolvimento dos ovos de
A. aegypti, bem como dos controles foram analisados no software R studio (R
CORE TEAM, 2023). Foi tomado como variável dependente o número de ovos
eclodidos. Com isso, houve a verificação da normalidade e homogeneidade
(Shapiro Wilk e Bartlett) como pressupostos para modelos lineares
paramétricos. No entanto, os dados do experimento violaram o pressuposto de
distribuição normal, nem apresentam variância homogênea. Dessa forma, os
dados brutos foram analisados através do teste de Kruskal Wallis (teste não-
paramétrico), através do qual foram testadas as diferenças entre tratamentos e
controles.

Resultados e Discussões

3.1 Cultivo de S. torques-reginae para obtenção do extrato


A partir do primeiro dia de incubação dos cultivos, pode-se notar um
crescimento lento até o 3° dia nas três réplicas, caracterizando-se como fase

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lag de crescimento; na sequência, observa-se um crescimento exponencial


(gráfico 1), atingindo biomassa máxima no 13° dia de incubação com
densidade de cerca de 1.000.000 de células.mL-1. Além disso, todos os
cultivos apresentaram decaimento no crescimento no mesmo período (15° dia
de incubação).
3.2 Teste de extração do conteúdo intracelular de S. torques-reginae
A partir do primeiro ciclo de gelo/degelo, a biomassa congelada apresentou
perda do conteúdo intracelular. No segundo ciclo, o número de células com
presença de parede celular havia decaído bastante, dessa forma, no terceiro
processo, houve perda total do conteúdo intracelular (gráfico 2). Apesar da
cianobactéria S. torques-reginae possuir um amplo conjunto de características
que fornecem aptidão em uma variedade de configurações ambientais (DE
TEZANOS PINTO et al. 2015), foi possível observar que suas células não são
resistentes a temperaturas muito baixas (-18°C).
3.3 Efeito do extrato no desenvolvimento dos ovos de A. aegypti
Nas unidades experimentais com o extrato foi contabilizado e calculado uma
média de 8,5 ovos eclodidos, entretanto, para as unidades experimentais com
água mineral e meio ASM-1 (controles) o valor da média de eclosão foi de 9,75
ovos para ambos (gráfico 3). Houve diferença significativa no número de ovos
eclodidos de A. aegypti entre o tratamento e os controles (p = 0,0344; tabela 1).
Os resultados alcançados neste estudo corroboram a nossa hipótese inicial de
que o extrato proveniente do cultivo da cianobactéria S. torques-reginae
apresenta efeito negativo no desenvolvimento dos ovos do inseto em questão.
Apesar de sutil, observou-se uma inibição no processo de desenvolvimento dos
ovos quando comparados aos grupos de controle. Estudos realizados mostram
que as larvas de insetos tendem a ser sensíveis à exposição de cianotoxinas
(BERRY et al., 2008), com isso, a influência do extrato no desenvolvimento dos
ovos de A. aegypti possivelmente está associada à presença da cianotoxina
produzida pela S. torques-reginae.
A cepa específica de S. torques-reginae empregada neste experimento tem a
capacidade de sintetizar anatoxina-a(S), sendo um dos poucos
organofosforados de origem microbiana conhecidos (CARMICHAEL &
GORHAM, 1978). Ademais, essa substância atua como uma inibidora potente
e irreversível da enzima acetilcolinesterase, agindo de maneira semelhante aos
inseticidas organofosforados convencionais (COOK et al., 1988).
O controle do A. aegypti durante a fase do ovo continua sendo um obstáculo
devido à sua habilidade de entrar em quiescência e desenvolver uma cutícula
de cera após algumas horas de postura. Estas características atribuem aos
ovos uma certa resistência em relação aos inseticidas (REZENDE et al. 2008).
A efetividade do método mais comum de eliminação de mosquitos vetores vem

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diminuindo (SMITH et al. 2016), dessa forma, os potenciais inseticidas naturais


alternativos que ocasionam baixa toxicidade ao meio ambiente e/ou são mais
facilmente degradados, como o extrato da cianobactéria S. torques-reginae, é
uma estratégia que necessita ser mais investigada.

Conclusão

Em suma, o presente estudo demonstrou que o extrato de S. torques-reginae


teve um efeito negativo no desenvolvimento dos ovos de A. aegypti. Embora
sutil, essa inibição no processo de desenvolvimento é significativa,
considerando as características dos ovos que contribuem para sua resistência
a muitos inseticidas convencionais. Com isso, o potencial do extrato de S.
torques-reginae como um inibidor biológico abre caminho para futuras
pesquisas no campo do controle de vetores de arboviroses. É importante
ressaltar que mais estudos são necessários para compreender completamente
os efeitos da cianotoxina da S. torques-reginae sobre o desenvolvimento do A.
aegypti. A investigação aprofundada das propriedades químicas e mecanismos
de ação desse composto pode fornecer percepções promissoras para o
desenvolvimento de métodos de controle mais eficazes e ecologicamente
sustentáveis.

Referências

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Anexos

Figura 1: Câmara de neubauer utilizada para realizar contagem de células.

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Figura 2: Células de S. torques-reginae apresentando perda do conteúdo intracelular, e


ausência de células observadas a partir de alíquota do extrato de S. torques-reginae.
Fotografia realizada sob microscopia em aumento de 20 vezes.

Figura 3: Desenho experimental.

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Figura 4: Imagem real do experimento.

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Figura 5: Ovos de A. aegypti eclodidos e não eclodidos. Fotografia realizada sob lupa.

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Gráfico 1: Média da densidade de células de S. torques-reginae (Cels.ml-1 x104) no


meio de cultivo ASM-1.

Gráfico 2: Média de células de S. torques-reginae que apresentam conteúdo


intracelular após 3 ciclos de gelo/degelo.

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Gráfico 3: Média (± desvio padrão) de eclosão dos ovos de A. aegypti expostos ao


tratamento e controles

Tabela 1: Valores do teste de Kruskal-Wallis para os efeitos do extrato de S. torques-


reginae no desenvolvimento dos ovos de A. aegypti durante o experimento. df = graus
de liberdade.

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CÓDIGO: SB1305

AUTOR: SAMARAH FRANCA DOS SANTOS

ORIENTADOR: JEFERSON DE SOUZA CAVALCANTE

TÍTULO: Avaliação de comportamento do comportamento rítmico de


atividade/repouso de ratos sob efeito da ingestão e Ayahuasca.

Resumo

O sistema de temporização circadiana (STC) é responsável pela geração e sincronização


dos ritmos circadianos que são oscilações endógenas manifestadas pelos seres vivos
para a maioria das funções e comportamentos, com período em torno de 24 horas. O
NSQ tem sido descrito como o principal marca-passo circadiano em diversas espécies
de mamíferos, uma vez que a lesão dessa estrutura deixa o animal arrítmico para um
conjunto de funções homeostáticas circadianas, e o seu transplante pode restabelecer
o ritmo nesses animais lesionados. A “neurociência psicodélica” tem ganhado
destaque importante e crescente em diversas áreas que abordam o sistema nervoso.
Entre essas substâncias podemos destacar a Ayahuasca, uma bebida alucinógena
produzida pela fervura do cipó Banisteriospis caapi com o caule do arbusto Psychotria
viridis. Essa substância é agonista do sistema serotoninérgico, promovendo alterações
nas funções cerebrais. Entre os principais efeitos dessas substâncias se encontram
mudanças na percepção de tempo, de cores, de luminosidade, de realidade e de
memória. Este projeto objetiva avaliar o efeito da ingestão da Ayahuasca sobre a
atividade locomotora, bem como no ritmo atividade/repouso de animais submetidos à
ingestão periódica desta substância. Além disso, será analisada a neuroquímica e
morfologia das células que formam os componentes neurais do sistema de
temporização circadiano com o objetivo de detectarmos algumas mudanças nesses
parâmetros.

Palavras-chave: Psicodélicos, Ritmos Biológicos, Ayahuasca

TITLE: Evaluation of the rhythmic activity/rest behavior of rats under the


influence of Ayahuasca ingestion

Abstract

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The circadian timing system (CTS) is responsible for generating and synchronizing
circadian rhythms, which are endogenous oscillations manifested by living beings for
most functions and behaviors, with a period of around 24 hours. The SCN has been
described as the main circadian pacemaker in several species of mammals, since
damage to this structure leaves the animal arrhythmic for a set of circadian
homeostatic functions, and its transplantation can restore the rhythm of these injured
animals. “Psychedelic neuroscience” has gained important and growing prominence in
several areas that address the nervous system. Among these substances we can
highlight Ayahuasca, a hallucinogenic drink produced by boiling the vine Banisteriospis
caapi with the stem of the Psychotria viridis bush. This substance is an agonist of the
serotonergic system, promoting changes in energy functions. Among the main effects
of these substances are changes in the perception of time, colors, luminosity, reality
and memory. This project aims to evaluate the effect of Ayahuasca ingestion on the
locomotor activity, as well as on the activity/rest rhythm of animals manifested to the
regular ingestion of this substance. In addition, the neurochemistry and morphology of
the cells that form the neural components of the circadian timing system will be
preserved in order to detect some changes in these parameters.

Keywords: Psychedelics, Biological Rhythms, Ayahuasca

Introdução

Os seres vivos são submetidos a influências dos fatores ambientais, principalmente


aqueles que se repetem ciclicamente, como por exemplo o ciclo claro escuro, o mais
influente sobre os organismos. Isso se percebe devido a uma enorme variedade de
comportamentos e processos bioquímicos e fisiológicos oscilando em uma duração de
aproximadamente 24 horas, sendo assim, chamados de ritmos circadianos (Marques e
Menna-Barreto, 2003). Em relação aos animais, todas as espécies são equipadas com
estruturas neurais que os permite antecipar informações sobre mudanças sazonais e
diárias e, dessa forma, organizar sua fisiologia e comportamento, tornando-o um
agente ativo em resposta às transformações ambientais (Marques e Menna-Barreto,
2003). Em mamíferos, essas estruturas fazem parte do sistema de temporização
circadiana, que compreende um conjunto de estruturas neurais diferenciadas (ver
Cavalcante et al., 2006; Morin, 2013). Um crescente interesse da ciência sobre as
propriedades terapêuticas e os efeitos comportamentais das substâncias tidas como
“psicodélicas” tem ganhado um grande destaque na última década (Ver Escobar e
Roazzi, 2010). Entre essas substâncias, podemos destacar a Ayahuasca, uma bebida
alucinógena produzida pela fervura do cipó Banisteriospis caapi com o caule do
arbusto Psychotria viridis (Santos et al., 2016). Essa substância atua como agonista do
sistema serotonérgico, promovendo alterações nas funções cerebrais. Entre os
principais efeitos dessas substâncias se encontram mudanças na percepção de tempo,

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de cores, de luminosidade, de realidade e de memória (Ver Escobar e Roazzi, 2010). O


NSQ é um par de aglomerados de pequenos neurônios situados no hipotálamo
anterior, de cada lado do terceiro ventrículo e logo acima do quiasma óptico (Lydic et
al., 1982; Hasting et al., 2019). A serotonina é uma substância que, no sistema nervoso,
exerce funções de neurotransmissor, e nos sistemas vascular e gastrintestinal atua na
contração muscular. Esse neurotransmissor exerce funções no humor, controle
alimentar, ciclo vigília/sono, regulação da dor, alerta, memória, aprendizagem,
comportamento sexual, termorregulação, processamento sensorial nociceptivo, e
regulação circadiana (Jacobs e Azmitia, 1992; Vertes et al., 1999). A ayahuasca é uma
bebida usada em cerimônias indígenas na América do Sul, principalmente na região
amazônica brasileira, colombiana e peruana (Schultes et al., 1986; Schultes e Hofmann,
1992). A B. caapi é rica em β-carbolinas, assim como a harmina, tetrahydroharmina
(THH) e a harmalina. Já a P. viridis contém o alucinógeno psicoativo dimetiltriptamina
(DMT). A pouco mais de uma década, vários estudos demonstram o efeito da Harmina
como antidepressivo. Estudos com modelos animais e em humanos sugerem o papel
ansiolítico e antidepressivo da ayahuasca e seus alcalóides, provavelmente mediado
por esse conjunto de receptores de serotonina (Silva et al., 2019). A plasticidade neural
também é favorecida pelo uso de doses de alguns alucinógenos. Dados sugerem que
uma única dose de DMT pode mudar a estrutura cerebral, assim como também o
comportamento de roedores (Cameron et al., 2018; Prochazkova et al., 2018).

Metodologia

Para a realização dos experimentos programados neste projeto, serão utilizados ratos
(Rattus novergicus) linhagem Wistar machos com aproximadamente 3 meses de idade
(jovens). Antes das fases experimentais os animais serão alojados em gaiolas plásticas
que serão mantidas em racks ventilados (Alesco) com livre acesso a água e comida, em
um ciclo claro/escuro (LD) de 12 horas (luzes acesas às 6:00 e desligadas às 18:00).
Durante a fase experimental os animais serão alojados em gaiolas plásticas
(32x39x16.5 cm), 4 animais em cada gaiola, quatro gaiolas por experimento em uma
sala de coleta de dados dos ritmos biológicos. Essa sala tem isolamento acústico bem
como controle de luminosidade e temperatura. No total, serão usados 48 animais
machos. Atendendo a legislação vigente, os animais serão utilizados em único ensaio e
eutanasiados por sobredose anestésica seguida de perfusão transcardíaca. Todo
esforço possível será realizado com o intuito de diminuir o número de animais
utilizados, bem como para evitar todo e qualquer sofrimento. Teste de Atividade
Locomotora (Campo Aberto): Esse teste será usado para definirmos o efeito que o
DMT pode apresentar na atividade locomotora dos animais. O paradigma
comportamental do campo aberto é um teste amplamente utilizado para avaliar

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parâmetros como a atividade locomotora, bem como comportamento emocional do


tipo ansioso. Neste aparato, o animal é exposto a situações conflituosas, como, por
exemplo, a exposição ao ambiente novo, onde sua motivação a exploração é testada, e
adicionado a isso, o fato do ambiente ser aberto, cujo conflito ocorre no histórico
comportamental da espécie, a qual evita se expor a ambientes abertos (Prut e Belzung,
2003). O teste é realizado usando um aparato circular de madeira medindo (60x40),
dividido em 2 subáreas (área interna e área externa). Uma câmera colocada acima do
aparato e conectada a um computador contendo um programa de rastreamento de
animais (Anymaze, Stoelting, USA) será usada com a finalidade de registro
comportamental. Assim, os animais serão colocados no centro do aparato, em uma
única sessão de 10 minutos, e os seguintes comportamentos serão avaliados: (1)
distância total percorrida (m), (2) velocidade média (m/s) e (3) tempo de permanência
em cada subárea (s). Cada animal será avaliado separadamente e entre os testes, o
aparato será limpo com álcool 5%. Experimento 1 (claro-escuro): Os animais
experimentais serão submetidos a 4 dosagens do DMT (A1, A2, A3 e A4), que serão
aplicadas nos dias D1, D12, D23 e D34 respectivamente. Nesses mesmos dias de
aplicação, os animais serão submetidos ao teste em campo aberto (descrito acima).
Entre os intervalos dessas dosagens, os animais ficarão em um regime de 12 horas de
claro e 12 horas de escuro durante 10 dias, dentro de uma caixa experimental para
avaliação de seu ritmo de atividade repouso. O mesmo procedimento será feito com
um grupo controle que não receberá a dosagem do veículo experimental, e sim uma
dosagem de salina para mimetizar o procedimento de injeção. Experimento 2
(avaliação do ritmo endógeno): Os animais experimentais serão submetidos a 4
dosagens do DMT (A1, A2, A3 e A4), que serão aplicadas nos dias D1, D12, D23 e D34
respectivamente. Nesses mesmos dias de aplicação, os animais serão submetidos ao
teste em campo aberto (descrito acima), 10 minutos antes da aplicação para a
avaliação basal e duas horas e 10 minutos após e durante 2 horas para avaliar possível
efeito da dosagem. Entre os intervalos das aplicações A2 e A3, A3 e A4 os animais
serão submetidos a um regime de escuro constante durante 10 dias, para avaliação do
efeito do DMT no seu ritmo de atividade/repouso endógeno (em livre-curso).
Experimento 3: (ressincronização): Os animais experimentais serão submetidos a 4
dosagens do chá de ayahuasca (A1, A2, A3 e A4), que serão aplicadas nos dias D1, D12,
D23 e D34 respectivamente. Nesses mesmos dias de aplicação os animais serão
submetidos ao teste em campo aberto (descrito acima), 10 minutos antes da aplicação
para a avaliação basal e duas horas e 10 minutos após e durante 2 horas para avaliar
possível efeito da dosagem. Entre os intervalos de A1 para A2 e A3 para A4, os animais
serão mantidos em um regime de 12/12 claro escuro. Já entre os intervalos de A2 para
A3 e A4 para o fim do experimento, os animais serão submetidos a um regime de
10/14 claro/escuro . Essas mudanças serão feitas para a análise de ressincronização e
atraso de fase dos animais. PERFUSÃO, CRANIOTOMIA E MICROTOMIA Animais

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anestesiados com Cetamina (50mg/kg) e Xilazina (10mg/kg); Perfusão transcardíaca


com impulsão de solução salina 0,9% em tampão fosfato 0,1M (pH 7,4); Em seguida
será impulsionada a solução fixadora de paraformaldeído 4% em tampão fosfato 0,1M
(pH 7,4); Remoção dos cérebros (craniotomia) 24 horas em solução contendo 4% de
paraformaldeído e 30% de sacarose (v/v) em tampão fosfato 0,1M (pH 7,4); Por fim, os
cérebros serão colocados em solução contendo 30% de sacarose diluída em solução
fosfato tamponada 0,1M, pH 7,4 até a criosecção; Serão feitas secções frontais de
50μm distribuídas em 5 poços contendo solução anticongelante à base de etilenoglicol
e tampão fosfato 0,1M (pH 7,4) armazenamento a 4ºC para posterior análise imuno-
histoquímica. IMUNOHISTOQUÍMICA E ANÁLISE MORFOMÉTRICA Analisar a expressão
de BDNF, NPY, e c-FOS no cérebro dos animais; Genes precoces imediatos (IEGs) como
c-FOS influenciam expressão BDNF pode induzir plasticidade a nível celular: funcional
e/ou estrutural; Áreas corticais, NSQ, FIG e NPG; Software ImageJ versão 1.48.

Resultados e Discussões

Resultados esperados Depois da administração de DMT, os animais apresentam


alterações significativas no ritmo de atividade repouso submetido a um regime 12/12
LD, apresentando mudança de fase. A administração periódica de DMT provoque
alterações no ritmo biológico endógeno, representado por um “alargamento” do
período de atividade do animal, o que será observado em livre-curso (DD constante). A
administração periódica de DMT provoque alterações na capacidade de sincronização
e ressincronização o que será demonstrado nas mudanças de regime de fotoperíodo
(12/12 LD para 10/14 LD). Esperamos verificar que o NSQ e o NPG apresentem
alterações no conteúdo neuroquímico que, possivelmente resulte em uma
instabilidade do ritmo circadiano e na sua capacidade de sincronização.

Conclusão

Após a realização deste trabalho, há perspectivas abertas para realizar a análise da


expressão gênica via qPCR real time, para avaliar a influência do DMT no processo de
envelhecimento, além de mensurar a intensidade do estresse oxidativo em diferentes
regiões do corpo quando sob efeito do fármaco, também pode-se abrir portas para
realizar a análise da influência do DMT no sistema límbico e os possíveis impactos
deste efeito e, por fim, averiguar em quais regiões cerebrais é induzida a
neuroplasticidade com o efeito da droga.

Referências

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CÓDIGO: SB1311

AUTOR: DANIEL JERONIMO DO NASCIMENTO

ORIENTADOR: LUCYMARA FASSARELLA AGNEZ LIMA

TÍTULO: Caracterização de isolados bacterianos com potencial biotecnológico


para biorremediação

Resumo

A identificação e caracterização de isolados bacterianos que possuem o potencial de


degradar compostos oleosos, como os hidrocarbonetos, tem sido apontada como uma
excelente abordagem no âmbito do desenvolvimento sustentável e biotecnológico. A
crescente preocupação com a degradação ambiental causada por substancias oleosas,
que na maioria das vezes é proveniente de atividades industriais ou derreamentos
acidentais tem colocado em destaque a importância da biorremediação, que surge
como uma eficiente ferramenta, que utiliza microrganismos para mitigar os impactos
negativos desses contaminantes, reduzindo também os custos do setor industrial,
contribuindo para praticas mais sustentáveis alinhadas com os princípios do
desenvolvimento sustentável, representando um passo crucial em direção a um
ambiente mais limpo e sustentável. O presente estudo visa identificar isolados
bacterianos com características notáveis na degradação de hidrocarbonetos,
identificação quanto ao gênero e espécie, aplicar técnicas avançadas de análises
genéticas e bioquímicas, criar bibliotecas metagenômicas, permitindo uma
compreensão mais abrangente e proporcionando insights valiosos para a aplicação
pratica da biorremediação. Ademais, é relevante ressaltar que esta pesquisa se
relaciona diretamente com diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
definidos na Agenda 2030 da ONU, abrangendo a ODS 6, ODS 8, OSD 9, ODS 12, ODS
13, ODS 14 e ODS 15.

Palavras-chave: Biorremediação, petróleo, sustentabilidade, bactérias,


biotecnologia.

TITLE: Characterization of bacterial isolates with biotechnological potential of


bioremediation.

Abstract

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The identification and characterization of bacterial isolates with the potential to


degrade oily compounds, such as hydrocarbons, have been recognized as an excellent
approach within the scope of sustainable and biotechnological development. The
growing concern about environmental degradation caused by oily substances, often
originating from industrial activities or accidental spills, has highlighted the significance
of bioremediation. Bioremediation emerges as an efficient tool that employs
microorganisms to mitigate the negative impacts of these contaminants,
simultaneously reducing costs within the industrial sector and fostering more
sustainable practices aligned with the principles of sustainable development. This
represents a crucial step towards a cleaner and more sustainable environment.The
current study aims to identify bacterial isolates with notable characteristics in
hydrocarbon degradation, including genus and species identification. It involves the
application of advanced techniques in genetic and biochemical analyses, the creation
of metagenomic libraries, enabling a more comprehensive understanding, and
providing valuable insights for the practical application of bioremediation.
Furthermore, it is pertinent to highlight that this research directly relates to several
Sustainable Development Goals (SDGs) defined in the United Nations' 2030 Agenda,
encompassing SDG 6, SDG 8, SDG 9, SDG 12, SDG 13, SDG 14, and SDG 15.

Keywords: Bioremediation, petroleum, sustainability, bacteria, biotechnology.

Introdução

O petróleo desempenha um papel central como matéria-prima tanto no cotidiano


quanto na indústria, mas é notoriamente reconhecido como a principal fonte de
poluição ambiental, causando contaminação do ar, solo e água. Composto por
milhares de substâncias químicas únicas, cada tipo de óleo apresenta uma composição
singular, o que abre diversas abordagens de tratamento com o auxílio de
microrganismos (Thapa et al., 2012). Anualmente, aproximadamente cinco milhões de
toneladas de petróleo bruto e refinado são despejadas no ambiente devido a ações
humanas (Hinchee e Kitte, 1995). Muitos derramamentos ocorreram nas décadas de
1970 e 1980, época de regulações ambientais mais brandas e possivelmente de
limpezas inadequadas em relação aos padrões atuais (Filler et al., 2008). No Brasil,
entre 2019 e 2020, um extenso vazamento de petróleo ao longo de 2890 km da costa
afetou 11 estados e dez ecossistemas, causando danos graves a manguezais e algas
marinhas (Soares et al., 2022).
Apesar de frequentemente associado à contaminação de solo e água, o petróleo
também é uma fonte de poluição do ar (Berman et al., 2001). A queima de derivados
de petróleo é um contribuinte significativo para o aquecimento global. Compostos
orgânicos voláteis reagem com óxido nítrico sob luz solar, formando ozônio, um

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poluente atmosférico que prejudica a qualidade do ar urbano e a saúde humana na


baixa atmosfera (Chen et al., 2020). Além disso, o dióxido de enxofre, liberado por
refinarias de petróleo, pode causar chuvas ácidas (Petroleum, 2011). Essas questões
impulsionaram o desenvolvimento de técnicas de biorremediação para tratar a
poluição ambiental, incluindo o uso de microrganismos.
A biorremediação emerge como uma alternativa eficaz, aproveitando a atividade
biológica natural para degradar ou neutralizar contaminantes, com métodos acessíveis
e aplicáveis no local (Vidali, 2001). Além de tratar solos contaminados com petróleo, a
biorremediação pode ser empregada para remover gases de efeito estufa da
atmosfera (Atlas e Cerniglia, 1995). A degradação microbiana é facilitada pela
produção de metabólitos secundários, como biossurfactantes, que reduzem a tensão
superficial de líquidos e têm aplicações diversas (Muthusamy et al., 2008). Os
surfactantes microbianos têm ganhado destaque devido à sua versatilidade, produção
escalável e aplicações em fortificação ambiental (Saharan et al., 2011).É relevante
ressaltar que a biorremediação não só atua como uma ferramenta para mitigar os
impactos negativos da poluição oleosa, mas também contribui para uma produção e
consumo mais sustentáveis ao alinhar-se com os princípios dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos na Agenda 2030 da ONU, representando
um passo crucial em direção a um ambiente mais limpo e sustentável.
Esta pesquisa, portanto, com o auxílio de técnicas metagenômicos essenciais para a o
desenvolvimento da biorremediação que permite a caracterização genômica de
comunidades microbianas em diversos ambientes (Devarapalli e Kumavath, 2015) não
apenas busca caracterizar isolados bacterianos com potencial biorremediador, mas
também está intrinsicamente relacionada à busca por soluções alinhadas com os ODS,
aprimorando nossa compreensão e capacidade de lidar com desafios ambientais
complexos.

Metodologia

Isolados
Os isolados deste estudo (Tabela 1), foram obtidos de diferentes amostras de
reservatórios de petróleo, advindas de trabalhos prévios desenvolvidos no Laboratório
de Biologia Molecular e Genômica (LBMG) da UFRN. Todos os isolados foram
inoculados em meio de cultura Luria Bertani (LB) por 16h a 18h (overnight) em 37 °C e
agitação de 180 RPM em shaker a fim de dar início aos testes.
Teste de emulsificação

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Baseado no protocolo estabelecido por Jagtap et al (2010), foram executados testes


para caracterizar a produção de emulsão resultante de metabolitos secundários dos
isolados bacterianos. Com uma proporção de 1:1 e em triplicada, foi adicionado 1 mL
de sobrenadante e 1 mL de querosene em tubos de fundo chato que foram
homogeneizados em vórtex por 2 min. Para o controle positivo foi usado o surfactante
químico SDS a 1% e os meios de cultivo (LB, IRAP e MSM) como controle negativo. A
estabilidade da emulsão foi avaliada após 24h, a coluna de emulsão foi medida a fim
inferir o cálculo do índice de emulsificação IE24(%) pela equação (Sousa, 2008).
Teste de dispersão de óleo
A dispersão do óleo, gerada pelos isolados, foi avaliada a partir do protocolo de
Morikawa et al (2000). Para a execução do teste foram adicionados a placas de petri
de plástico uma película de água destilada de aproximadamente 20 mL e 100 uL de
petróleo leve e pesado, formando uma película. Logo após a formação da película de
óleo foi adicionado 100 uL do sobrenadante livre de células à placa. O aparecimento de
um halo, indica que o microrganismo possui uma capacidade de produzir
biossurfactante. Para o controle positivo foi usado o surfactante químico SDS a 1% e os
meios de cultivo (LB, IRAP e MSM) como controle negativo. Os testes foram
executados em triplicata. A formação do halo, sobre a película de óleo foi medida com
o auxílio do software “Image J”.
Teste de degradação de hidrocarbonetos
A capacidade de degradar os hidrocarbonetos de alguns dos microrganismos foi
avaliada pelo método do indicador redox 2,6-Dichlorophenolindophenol (DCPIP) com
protocolo de Hanson et al. (1993). O teste foi feito em triplicata, observando
diariamente a mudança da coloração, por até 7 dias. Ao final do experimento, o
volume dos tubos foi centrifugado e quantificado segundo a fórmula de Obi et al.
(2016). Os testes tiveram como fonte de carbono a glicose, como controle positivo,
hexacosano, pireno, gasolina comum, gasolina aditivada, diesel, petróleo leve e pesado
como hidrocarbonetos teste, e o ensaio em ausência de fonte de carbono será o
controle negativo. Todos os ensaios serão feitos em triplicatas.
Estimativa de degradação (%) = (1- (absorbância do teste/absorbância do controle sem
cultura)) *100
Identidade nucleotidica media (ANI) e hibridização DNA-DNA digital (dDDH)
Para avaliar a similaridade genômica entre os organismos, foi usado o software GGDC
3.0 (ggdc.dsmz.de/ggdc.php) com a fórmula recomendada 2 (Meier-Kolthoff et al.,
2013). Um valor em torno de 80% de dDDH indica novas subespécies (Meier-Kolthoff
et al., 2013; Pearce et al., 2021). Além do software usado para determina a identidade
média de nucleotídeos ortólogos - OAT: OrthoANI Tool v0.93.1

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(https://www.ezbiocloud.net/tools/orthoani) (Lee et al., 2016). O limite de 98% de ANI


distingue subespécies bacterianas.
Variação do conteúdo genético
Os genomas de referência obtidos do banco de dados NCBI foram selecionados usando
os métodos ANI (identidade média de nucleotídeos) e dDDH (hibridização digital de
DNA-DNA), ambos utilizados para determinar a similaridade genômica entre duas ou
mais espécies bacterianas. As anotações funcionais das proteínas também foram
obtidas do mesmo banco de dados. Em seguida, as anotações funcionais das proteínas
dos genomas selecionados foram analisadas usando o EggNOG Mapper
(http://eggnog-mapper.embl.de/) para estabelecer um agrupamento de proteínas
ortólogas, atribuindo uma identificação "ko" diferente para cada proteína conhecida
fornecida pelo banco de dados de ortologia KEGG. Quando obtidos, os dados tiveram
que passar por um tratamento que extrai informações funcionais e atribui um nome a
cada "ko" pertencente à espécie ou subespécie específica de microorganismo, usando
um script em Python v3.11.3. Para gerar o mapa de calor, foi utilizada a linguagem R
v4.3.0 no ambiente gráfico RStudio v2023.03.1+446, utilizando o pacote pheatmap.

Resultados e Discussões

Índice de emulsificação e dispersão de óleo


A produção da emulsão estável foi testada nos isolados listados na tabela 1. A figura 3
traz os resultados obtidos no teste de emulsificação, onde apenas o isolado BD160 que
se trata de um Bacillus pumilus, apresentou uma coluna de emulsão em querosene de
um pouco mais de 50% do volume total, se aproximando do controle positivo que
mostrou uma coluna de 60% do volume total, característica comum entre cepas desse
gênero e mesma espécie (Maia et al., 2018, Chander et al., 2012). Alguns dos isolados
testados não obtiveram um valor próximo ao controle positivo ou não apresentaram
uma coluna de emulsão, podendo ser o resultado da não liberação de biosurfactante
(BS) ou bioemulsificante (BE), tendo a possibilidade do BS/BE tenha se mantido
aderido à parede celular do microrganismo.
A capacidade dos microrganismos testados em dispersar a película de óleo mostrou-se
positivo para os isolados BD149, BD160 e BD107, principalmente sobre a película de
petróleo pesado, nos períodos de 24 e 48 nos meios de cultura IRAP e MSM. Os
isolados BD149 e DB160 foram identificados como Bacillus pumilus e corroborando
com o resultado de emulsificação, e o isolado BD107 que se trata da espécie
Pseudomonas baleárica também muito comumente associada a produção de BS e BE
(Nejad et al.,2020) A facilidade dos isolados em dispersar a película de petróleo

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pesado, comparado a película de petróleo leve, indica que esses microrganismos


possuem um potencial biorremediador que pode ser explorado com uma ferramenta
biotecnológica. Os testes de dispersão de óleo ainda serão feitos em alguns dos
isolados listados na tabela 1.
Teste de degradação de hidrocarbonetos
No teste de degradação de hidrocarbonetos, o isolado bacteriano que ate então
obteve um destaque em relação aos outros, mostra uma preferencia ao hexadecano
ao invés da glicose, indicando que o isolado BD127 (Achromobacter sp) apresenta um
potencial biorremediador. Este comportamento já foi relatado em microrganismos do
mesmo gênero, onde a degradação de n-alcanos totais atingiu até 96,6% após 10 dias
de incubação para o óleo diesel evaporado. (Deng et al. 2014). Os outros isolados
testados apresentaram uma estimativa de degradação que variou entre 1,27% a
31,56%.
Identidade nucleotidica media (ANI) e hibridização DNA-DNA digital (dDDH)
A obtenção da ANI e do dDDH de isolados obtidos na National Library of Medicine
(NCBI) comparados ao isolados deste estudo, indicou as espécies e subespécies
bacterianas que posteriormente foi confirmada com a filogenia advinda de trabalhos
prévios desenvolvidos no Laboratório de Biologia Molecular e Genômica (LBMG) da
UFRN e pela inferência do Heatmap que mostrou as semelhanças da variação no
conteúdo genético entre os microrganismos. Estudos mostram que um valor em torno
de 80% de dDDH indica novas subespécies (Meier-Kolthoff et al., 2013; Pearce et al.,
2021) e o limite de 98% de ANI distingue subespécies bacterianas (Lee et al., 2016).
Variação do conteúdo gênico
A matriz de correlação genica confirmou as hipóteses dadas nas análises de identidade
nulceotidica média e hibridização DNA-DNA digital, caracterizando o isolado BG1 como
Bacillus velezensis, onde se agrupou a isolados da mesma espécie, o isolado CB13, que
resultou na espécie Enterobacter asburiae, onde houve um agrupamento com cepas
da mesma espécie e o isolado 24, que se assemelhou a subespécie de Klebsiella
pneumoniae subespécie pneumoniae.

Conclusão

Os resultados obtidos neste estudo destacam um potencial promissor para a aplicação


biotecnológica dos isolados bacterianos avaliados. Esses resultados preliminares
fornecem uma base para o desenvolvimento de soluções que visam a reparar danos
causados por desastres ambientais e industriais, mitigando os impactos prejudiciais ao

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meio ambiente. A busca por abordagens sustentáveis e eficazes na redução da


poluição e na recuperação de ecossistemas degradados é cada vez mais urgente, dadas
as crescentes preocupações com a saúde do planeta. É importante ressaltar que,
embora os resultados aqui apresentados sejam promissores, a realização de testes
subsequentes é essencial para uma compreensão mais profunda do potencial de cada
isolado bacteriano, ou até mesmo de sua combinação em um consórcio. O
desenvolvimento de estratégias de biorremediação requer um aprofundamento maior,
considerando a interação complexa entre os microrganismos e o ambiente
contaminado. Portanto, o avanço das pesquisas nesta direção, com a realização de
estudos mais aprofundados, experimentos em escala real e investigações detalhadas
sobre os mecanismos de degradação envolvidos, poderá abrir novos horizontes para a
aplicação prática da biorremediação.

Referências

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Anexos

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Isolados bacterianos usados neste estudo

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Meios de c ultura utilizados nos experimentos

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Crescimentos dos isolados bacterianos em diferentes meios de cultura

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Índice de emulsificação

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Teste de dispersão de óleo

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Identidade nucleotidica media e hibridização DNA-DNA digital

Matriz de correlação do conteúdo genético entre os isolados do LBMG isolados


publicos

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Teste de degradação de hidrocarbonetos pelo método do indicador redox 2,6-


Dichlorophenolindophenol (DCPIP).

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CÓDIGO: SB1312

AUTOR: WIGNA CARLA DA SILVA

COAUTOR: THIAGO AUGUSTO MENDES PINHEIRO

COAUTOR: LUANE MARIA STAMATTO FERREIRA

ORIENTADOR: RENATA SANTORO DE SOUSA LIMA

TÍTULO: ECOLOGIA ACÚSTICA DE AVES: UMA ANÁLISE DO CORO DO


AMANHECER EM DOIS BIOMAS DIFERENTES, CERRADO E MATA
ATLÂNTICA

Resumo

O objetivo deste trabalho foi de analisar o coro do amanhecer da avifauna local (Parque
Estadual Dunas de Natal), Mata Atlântica, e comparar com registros feitos no Parque
Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais (bioma Cerrado), com vistas a caracterizar
a composição de espécies participantes do coro, identificar o início da atividade vocal e
sua intensidade nesses diferentes biomas levando em consideração o tipo de vegetação,
luminosidade e clima. Foram utilizados gravadores autônomos para registrar os coros
das aves nos dois biomas. As gravações foram analisadas utilizando o software Raven
Pro 1.6, caracterizando e contando os sonotipos (tipos vocais). Ao final, foram
contabilizados 21 sonotipos no Parque das Dunas e 8 na Serra da Canastra.

Palavras-chave: acústica. aves. sonotipos. coros

TITLE: ACOUSTIC ECOLOGY OF BIRDS: AN ANALYSIS OF THE DAWN


CHORUS IN TWO DIFFERENT BIOMES, CERRADO AND ATLANTIC
FOREST

Abstract

The aim of this study was to analyse the dawn chorus of local avifauna (Dunas de Natal
State Park), in the Atlantic Forest, and compare it with recordings made in the Serra da

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Canastra National Park, Minas Gerais (Cerrado biome), in order to characterize the
composition of species participating in the chorus, identify the start of vocal activity and
its intensity in these different biomes, taking into account the type of vegetation,
luminosity and climate. Autonomous recorders were used to record the bird choruses in
the two biomes. The recordings were analyzed using Raven Pro 1.6 software,
characterizing and counting the sonotypes (vocal types). In the end, 21 sonotypes were
recorded in Parque das Dunas and 8 in Serra da Canastra.

Keywords: acoustics. birds. sonotypes. choirs.

Introdução

As aves são animais conhecidos pelo amplo uso da comunicação acústica na forma de
chamados simples e cantos elaborados em diferentes contextos comunicativos
relacionados ao reconhecimento específico, defesa de recursos, seleção sexual e
avaliação de predadores (Catchpole, 1992; Kroodsma & Byers, 1991; Sick, 1997;
Slater, 2003; Templeton et al. 2005; Catchpole & Slater, 2008; Wilkins et al. 2013). As
vocalizações das aves são ainda utilizadas em estudos taxonômicos como caracteres
úteis na identificação e descrição de espécies novas (Vielliard, 1989; Silva et al. 2002;
Whitakker, 2002; Whitney et al. 2013) ou redescobertas em áreas onde estiveram por
muito tempo ausentes de registro (Simon & Magnago, 2013).
Os chamados coros do amanhecer e entardecer são picos de atividade vocal das aves
(Sick, 1997) e muitas hipóteses para sua ocorrência já foram propostas no meio
acadêmico (Allen, 1013; Henwood & Fabrick, 1979, Kacelnik & Krebs, 1983, Mace,
1986, 1987; Cuthill & Macdonald, 1990; Pärt, 1991; Kempenaers et al. 1992, 1997;
Otter et al. 1997; Penteriani et al. 2002; Amrhein et al. 2004; Liu, 2004; Amrhein &
Erne, 2006; Poesel et al. 2006; Catchpole & Slater, 2008; Murphy et al. 2008; Schraft et
al. 2017; Dihn et al. 2020). Os coros ocorrem em diversas partes do planeta, porém com
a maioria dos estudos realizados em regiões temperadas (Dias, 2013) onde as estações
do ano são bem delimitadas e evidentes, os efeitos da sazonalidade na atividade vocal
das aves tornam-se mais evidentes e acessíveis a avaliações rotineiras.
Estes picos de atividade vocal são momentos oportunos para realização de trabalhos de
campo em ornitologia (Catchpole & Slater) e, portanto, são ideais para a realização de
gravações de vocalizações de aves. Entretanto, métodos tradicionais de detecção de aves
em campo podem ser deficitários devido à habilidade diferenciada de observadores
(Celis-Murillo et al. 2019), alteração na atividade vocal dos animais devido à presença
humana (Digby et al. 2013) e os custos elevados associados ao maior tempo empregado
em campo (Thomas & Marques, 2012). Neste contexto, o uso de gravadores autônomos
em metodologia de detecção passiva se apresenta como uma prática menos invasiva,
facilitando detecção de espécies crípticas, raras ou ameaçadas (Fitzpatrick et al. 2005;
Digby et al. 2013; Zwart et al. 2014) além de ser mais barata (Charif & Pitzrick, 2008),

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gerar bancos de dados permanentes (Celis-Murillo et al. 2009; Sugai et al. 2019) e
adequada para ambientes desfavoráveis à presença humana (Rogers et al. 2013).
No contexto do uso crescente de metodologias autônomas passivas de avaliação de
biodiversidade, o projeto global Lifeplan, atualmente em curso e liderado pela
Universidade de Helsinki (Finlândia), busca coletar, em ambientes naturais e
urbanizados de vários países, dados relativos à biodiversidade geral por meio de
equipamentos autônomos. Deste modo, o uso de monitoramento acústico passivo em
estudos de avifauna de regiões tropicais como o Brasil, locais até então pouco
amostrados com esta técnica (Dias, 2013), é uma importante oportunidade para o
conhecimento a respeito da ecologia acústica das aves brasileiras. Neste sentido,
registrar vocalizações e comparar diferentes regiões e/ou biomas é um ponto de
interesse na avaliação do comportamento vocal das aves, considerando as diferenças nos
gradientes ambientais com vistas a compreender padrões de atividade que possam
auxiliar no objetivo geral de elaborar metas de conservação viáveis no médio e longo
prazo.

Metodologia

1.1. Área de estudo 1


O trabalho foi feito com dados acústicos obtidos no Parque Nacional da Serra da
Canastra, PNSC, (Minas Gerais, Brasil), Unidade de Conservação localizada no Cerrado
mineiro, durante o mês de fevereiro de 2017. O Cerrado é o segundo bioma de maior
extensão no território brasileiro, ocupando mais de 2 milhões de quilômetros quadrados
localizados na porção central do país (Ratter et al. 1997; Klink & Machado, 2005). O
bioma é classificado como um dos “Hotspots” de biodiversidade do planeta (Myers et
al. 2000) que possui rica avifauna, incluindo endemismos e espécies ameaçadas (Silva,
1995; Klink & Machado, 2005; Gwynne et al. 2010).
1.2. Área de estudo 2
Os dados sonoros foram coletados no Parque Estadual Dunas de Natal, PDD (Rio
Grande do Norte, Brasil) no mês de fevereiro de 2023.Foi a Primeira unidade de
conservação implantada no estado do Rio Grande do Norte e faz parte do componente
de Mata Atlântica (SEMURB,2008). A Mata Atlântica possui o título de um dos 25
hotspots mundiais de biodiversidade. Porém, com a crescente degradação da floresta
surge a problemática da ameaça de extinção de vários indivíduos (THOMAS et al.,
1998; MORELLATO; HADDAD, 2000).
1.3. Desenho de estudo

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Para gravação na Serra da canastra, foi posicionado, em estacas de madeira de 1,4 metro
de altura, um gravador de áudio autônomo modelo Song Meter SM2+ junto a um
microfone omnidirecional à prova d’água SMX-II (ambos Wildlife Acoustics©), que
gerou arquivos de áudio na taxa amostral de 96 kHz e tamanho amostral de 16 bits, em
formato de áudio WAV e com tamanho médio de 659 megabytes cada. O gravador foi
programado para fazer registros contínuos de 60 minutos de duração, no horário de
05:00 às 06:00 horas, correspondendo ao amanhecer. Estes registros de 1 hora de
duração foram feitos todos os dias do mês de fevereiro, porém foram utilizados apenas
10 dias de gravações: os 5 primeiros dias do mês e os 5 últimos. Foi analisado o total de
10 horas de áudio.
Já para o Parque Estadual da Dunas, na parcela escolhida foi colocado um gravador
autônomo modelo AudioMoth (Open Acoustic Devices©),instalado em uma árvore na
altura de 1,4 metros que gerou arquivos de áudio com taxa amostral de 48 kHz, tamanho
amostral de 16bits, em formato de áudio WAV e com tamanho médio de 5 megabytes
cada. O gravador foi programado para fazer registros de 1 minuto a cada 10 minutos, no
mesmo horário de 05:00 às 06:00 horas. Os registros também foram feitos durante o
início e o fim do mês de fevereiro, novamente totalizando 10 horas de áudio analisadas.
1.4. Análise espectrográfica e identificação de sonotipos
Para análise das gravações foi utilizado o software Raven Pro 1.6. (Cornell Bioacoustics
Lab, Ithaca, NY, USA) buscando a detecção visual e contagem de sonotipos
correspondentes a vocalizações de aves. Os parâmetros de visualização dos
espectrogramas no software Raven Pro 1.6 foram, para ambos os pontos, os seguintes:
tamanho de janela (“window size”) em 2500 samples, nível de contraste em 50, brilho
em 50 e esquema de cores em escala de cinza (Figura 3, abaixo).
Para os arquivos do PNSC, que eram de 60 minutos contínuos de duração, foi feita uma
paginação dividindo-os em seis partes de 10 minutos (“Page size” 10 min, “Page
increment” 90% e “Step increment” 10%). Para os arquivos do PDD não foi necessário
o uso de paginação, visto que os mesmos eram de apenas 1 minuto de duração. A
contagem de sonotipos foi feita com as ferramentas “Create Selection Mode” e
“Commit Selections Immediately” ativadas contornos na cor vermelhana figura 3,
acima, permitindo uma contagem sequencial de sonotipos mostrada na interface do
software (figura 4, abaixo).
1.5. Análises estatísticas
As análises estatísticas foram feitas com o software R (R Core Team, 2021).
Inicialmente foram feitos testes de normalidade de Shapiro-Wilk (Royston, 1995) para
avaliar a distribuição dos dados. Por fim, foram feitos testes t de Student para comparar
as medidas dos dois parques.

Resultados e Discussões

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Ao final das detecções visuais no PNSC foram contabilizados 8 sonotipos totais, dos
quais após as identificações, 3 foram identificados como correspondendo a 2 espécies
de aves pertencentes a 2 famílias (Tabela 1), sendo Thraupidae a mais representativa,
com 2 espécies.

Ao final das detecções visuais no PDD foram contabilizados 21 sonotipos totais, dos
quais após as identificações, foram identificados como correspondendo a 18 espécies de
aves pertencentes a 15 famílias (Tabela 1).
O teste de Shapiro-Wilk indicou que os dados eram normais ou muito próximo do
normal, portanto optamos por utilizar o teste T de Student para comparar as amostras
No PDD mais espécies participaram de cada coro do que na Canastra (9.6sp vs 2.3sp, p
= 9.3e-12)
No PDD os coros apresentaram mais cantos do que na Canastra (425.5sp vs 76.8sp, p =
4.4e-12)
Em média cada espécie contribuiu com 44.3-33.4 cantos por coro e esse valor não foi
significativamente diferente entre os locais (p = 0.52)
O coro começa em média 24min e 31min antes do nascer do Sol no PDD e Canastra,
respectivamente
Apesar de não ter sido estatisticamente significativo, essa diferença é na direção
esperada (o local mais aberto começar antes).
Outros parâmetros como a luminosidade entre o bioma cerrado e o bioma mata atlântica
está relacionada principalmente à densidade das árvores e à altura da vegetação nesses
ecossistemas. No cerrado, a vegetação é caracterizada por árvores mais baixas, arbustos
e gramíneas. Isso significa que há menos cobertura vegetal e uma menor densidade de
árvores. Como resultado, o cerrado tende a receber mais luz solar direta, o que leva a
uma maior luminosidade nesse bioma.
Já na mata atlântica, a vegetação é marcada por ser mais densa, com árvores altas e
várias camadas de vegetação. A quantidade de sombra gerada pela cobertura densa
reduz a quantidade de luz solar direta. Isso resulta em uma menor luminosidade no
interior da mata.
Além disso, a principal diferença entre o clima do cerrado e da Mata Atlântica está na
quantidade e distribuição de chuvas ao longo do ano. O cerrado possui uma estação seca
mais acentuada e uma estação chuvosa mais pronunciada, enquanto a Mata Atlântica
possui chuvas mais distribuídas ao longo do ano. As temperaturas também podem
variar, com o cerrado apresentando temperaturas mais altas em comparação com a Mata
Atlântica, contudo, não foram testadas essas variáveis citadas.

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As informações e resultados apresentados neste trabalho são de caráter preliminar,


estudar o comportamento vocal das aves é uma cultura promissora para a compreender
interações ecológicas, e ainda são necessários novos estudos com a acústica de aves, a
fim de comparar o comportamento vocal.

Conclusão

Apesar do parque das dunas apresentar participação maior de espécies no coro do que
na Canastra, a quantidade de vocalizações indica que cada espécie está cantando a
mesma quantidade nos dois locais, mas como tem mais espécies no PDD no total acaba
tendo mais cantos neste local. Além disso, os resultados da pesquisa mostraram que o
coro do amanhecer nos dois parques ocorreram em horários próximos, não havendo
diferença significativa.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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Anexos

Figura 1. Localização da área de estudo.Fonte: Google Earth - Dados cartográficos


©2020.

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Figura 2. Localização da área de estudo.Fonte: Google Earth - Dados cartográficos


©2020.

Figura 3. Parâmetros de visualização dos espectrogramas (contornos amarelos) no


software Raven Pro 1.6 definido na configuração utilizada nas detecções visuais de
sonotipos de aves.

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eCICT 2023

Figura 4. Visualização de espectrograma, no software Raven Pro 1.6, a contagem de 7


repetições de um sonotipo da espécie Vireo chivi (Juruviara) obtida por
monitoramento acústico passivo no Parque Estadual Dunas de Natal (Natal, RN) em
fevereiro de 2023.

Tabela 1. Espécies de aves detectadas no presente trabalho por meio de metodologia


de detecção acústica passiva. Parque Nacional da Serra da Canastra entre o mês de
fevereiro de 2017.

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Tabela 2. Espécies de aves detectadas no presente trabalho por meio de metodologia


de detecção acústica passiva. Parque Estadual das Dunas, entre o mês de fevereiro de
2017.

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CÓDIGO: SB1318

AUTOR: MARIANA XAVIER DEIGA FERREIRA

COAUTOR: WILDNA FERNANDES DO NASCIMENTO

COAUTOR: EDSON APARECIDO VIEIRA FILHO

COAUTOR: ALINE BUENO DA SILVA

ORIENTADOR: GUILHERME ORTIGARA LONGO

TÍTULO: Saúde do coral Siderastrea stellata: influência da temperatura e


intensidade do soterramento

Resumo

Os corais são de enorme importância para a biodiversidade marinha, servindo


como refúgio e proporcionando alimentação a outros seres. Entretanto, em
função do aquecimento global, principalmente, esses animais vêm sendo
impactados negativamente, passando por episódios de branqueamento. Outra
causa conhecida por causar branqueamento é o soterramento, que pode
acontecer de forma natural, ou ser intensificado por ação humana que aumenta
a sedimentação costeira. Aqui no Brasil, a Siderastrea stellata é uma espécie
relevante e bioconstrutora dos recifes rasos, por essa razão, conduzimos um
experimento em laboratório, com o objetivo de investigar a resistência e a
resiliência da S.stellata a eventos de soterramento e ao aumento de
temperatura. Coletamos 42 colônias no parracho do Rio do Fogo, levamos para
o Laboratório de Ecologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, onde ficaram aclimatados por 7 dias, e após isso, foram sorteados para
diferentes tratamentos de temperatura e intensidade de soterramento. Nossos
resultados indicam que a alta temperatura influencia mais na recuperação após
o soterramento, do que no fenômeno de branqueamento, de forma que um
futuro com altas temperaturas prejudicará a recuperação dos corais após
eventos de soterramento.

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Palavras-chave: Branqueamento. Resistência. Aquecimento global.

TITLE: Health of the coral Siderastrea stellata: influence of temperature and


intensity of burial

Abstract

Corals are very important to marine biodiversity, working as a refuge and


providing food for other creatures. However, due mainly to global warming, they
have been negatively impacted, experiencing episodes of bleaching. Another
known cause to bleaching is burial, which can happen naturally or be intensified
by human action that increases coastal sedimentation. Here in Brazil,
Siderastrea stellata is a relevant species and bioconstructor of shallow reefs,
which is why we conducted a laboratory experiment to investigate the
resistance and resilience of S. stellata to burial events and temperature
increases. We collected 42 colonies from the parracho of Rio do Fogo, took
them to the Marine Ecology Laboratory of the Federal University of Rio Grande
do Norte, where they were acclimatized for 7 days, after this, which they were
randomly assigned to different treatments of temperature and burial intensity.
Our results indicate that high temperature influences recovery after burial more
than the bleaching phenomenon, so that a future with high temperatures will
impair coral recovery after burial events.

Keywords: Bleaching. Resistance. Global warming.

Introdução

Os recifes de coral têm como formação uma estrutura rígida composta por
algas e animais que apresentam esqueleto calcário (Leão; Kikuchi; Oliveira,
2008) tais como corais e algas calcárias. Os recifes possuem grande
importância ecológica, econômica e social (Maida; Ferreira, 1997), são
responsáveis pela proteção costeira da ação direta das ondas e influencia a
movimentação das correntes marítimas. Além disso, fornecem alimentação,
abrigo e proteção para diversos animais (Leão; Kikuchi; Oliveira, 2008).
A sobrepesca, o turismo, a ocupação desordenada da zona costeira, a
destruição das florestas, a sedimentação, a exploração por recursos e a
poluição são problemas antrópicos que vêm ameaçando a existência dos
corais (Ferreira; Maida, 2006; Halpern et al., 2015). Outros fatores que também
prejudicam esses animais, são as mudanças climáticas e a intensificação do
soterramento derivado do aumento da sedimentação costeira. Estudos indicam
que os recifes foram o primeiro ecossistema a enfrentar grandes impactos
negativos significativos em função das alterações climáticas globais (Ferreira;

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Maida, 2006). O aquecimento global está fortemente associado aos episódios


de branqueamento. O fenômeno de branqueamento de corais tem como
consequência a expulsão dos dinoflagelados simbióticos, conhecido também
como zooxantelas, deixando o esqueleto exposto, restando apenas o tecido
transparente e a sua cor branca. Essas microalgas também são responsáveis
pela nutrição dos pólipos (Leão et al., 2016). Os corais podem se recuperar do
branqueamento a depender da intensidade do estresse e da duração
(Marangoni et al., 2016). Além do branqueamento, o soterramento também
pode causar a morte dos corais, redução do seu crescimento por conta da
abrasão e a diminuição da taxa fotossintética das microalgas hospedeiras
(Nugues; Roberts, 2003; Roy; Smith, 1971; Philipp; Fabricius, 2003). Segundo
Philipp e Fabricius (2002) a sedimentação é um processo natural, podendo vir
de sedimentos dos rios, do próprio fundo do mar e desgaste de rochas.
Entretanto, a interferência exagerada do homem, provoca uma maior
quantidade de sedimentos nos recifes, ocasionando enormes prejuízos
(Rogers, 1990).
Os recifes de coral apresentam variações ao redor do mundo. Comparando os
recifes coralíneos brasileiros com outros, percebe-se que há um baixo índice
de espécies pétreas, todavia têm uma grande biodiversidade e endemismo. No
Brasil, foram identificadas apenas 16 espécies de corais pétreos
zooxantelados, enquanto no Triângulo de Corais, há uma quantidade de 605
espécies. Além disso, outra característica que diferencia é que os recifes
brasileiros são encontrados em águas com maior turbidez, diferentemente de
outras localidades (Castro; Zilberberg, 2016).
Segundo Mies et al. (2020) os corais brasileiros demonstram uma maior
resistência e resiliência em contraste com ao do Indo-Pacífico e do Caribe.
Entretanto existem poucas análises dos recifes no Brasil, necessitando de mais
investigações para uma maior descoberta das suas respostas às alterações
ambientais. Entender como os corais respondem ao soterramento e a
temperatura é importante, por isso, realizamos um experimento em laboratório
com o coral Siderastrea stellata, de enorme importância para os recifes rasos e
considerada resistente e resiliente às variações do ambiente (Correia, 2020),
sedimentação, turbidez da água e salinidade (Poggio et al., 2009; Leão;
Kikuchi; Testa, 2003).
O objetivo deste trabalho foi investigar a resistência e a resiliência da S.stellata
a eventos de soterramento e a aumento de temperatura, analisando o padrão
de coloração e eficiência fotossintética; e compreender se a proporção de
soterramento influencia na porcentagem de branqueamento e na sua
capacidade de recuperação após o estresse.

Metodologia

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O experimento de soterramento foi realizado no Laboratório de Experimentação


Aquática (LEXA) do Laboratório de Ecologia Marinha, localizado no
Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Para a realização do experimento, a espécie escolhida foi a
Siderastrea stellata. A coleta ocorreu nos Parrachos do Rio do Fogo.
(5°16'36''S, 35°22'45''O), incluídos na Área de Proteção Ambiental dos Recifes
de Corais - APARC (RN). A APARC foi criada em 6 de junho de 2001, por meio
do Decreto Estadual nº. 15.476. É uma área muito importante para a
preservação e conservação da fauna e flora. Sua localização abrange a
plataforma rasa, que conecta os municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e
Touros, na região norte de Natal, capital do estado. A área total da APARC é
de 136.344 hectares, possuindo três parrachos, que são os recifes de corais:
Cioba, Maracajaú e Rio do Fogo. O segundo parracho é o mais famoso e é um
destino turístico popular (Lopes; Soares; Araújo, 2014).
No total foram coletadas 42 colônias, com aproximadamente 2,5 cm de
diâmetro, havendo um distanciamento de pelo menos 10m entre cada coleta
para uma boa amostragem da população e variação genética. Em decorrência
do estresse causado a elas, os corais precisaram passar por um período de
adaptação de 7 dias, em condições apropriadas de temperatura, iluminação,
filtração e aeração para as colônias. O sistema no laboratório é composto por
aquários de recirculação de água; luminárias; chiller, que tem como função o
resfriamento da água; e o aquecedor.
Após finalizado o momento de aclimatação, iniciou-se o experimento. Os corais
foram sorteados para que a sua posição ficassem de forma aleatória nos 14
aquários, no qual cada um ficou contendo 03 corais com cada um em um
recipiente. Metade dos aquários se manteve com a temperatura atual de 27°C
e a outra metade com temperatura prevista para o futuro, 30°C, simulando uma
onda de calor. A temperatura inicial foi de 27°C, sendo elevada gradualmente
até atingir a temperatura de 30°C, seguindo recomendação de Grottoli, (2021).
Os níveis de soterramento também foram diferentes, foram cobertos 75% da
superfície do coral, alta proporção, e 25% da superfície do coral, baixa
proporção.
Dos três corais de cada aquário, cada um foi submetido a um tratamento
diferente de soterramento por 13 dias: alta proporção, baixa proporção e o
controle, no qual não foi soterrado. Ao término dos 7 dias, a temperatura
retornou gradualmente ao seu nível inicial e as colônias foram desenterradas.
No entanto, elas foram mantidas sob observação por 15 dias para avaliar a sua
recuperação. No decorrer do experimento e da recuperação foram feitos
registros fotográficos de cada coral em um outro aquário utilizando um estúdio
iluminado, sendo desenterradas no momento da foto, para uma total

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eCICT 2023

visualização da colônia. Foram realizadas medições de eficiência fotossintética,


a partir do equipamento diving PAM, a cada dois dias, sendo medido tanto o
topo do coral como a borda; e também foi coletado dados dos parâmetros da
água, salinidade, temperatura e pH. A cor do coral foi avaliada pela escala de
cor de saúde dos corais (CoralWatch). O CoralWatch é um quadrado de
plástico simples que funciona como um cartão de cores, utilizado para
identificar a condição de saúde dos corais. Composta por 4 divisões de
diferentes cores, cada uma com 6 níveis de cores. Começando pela cor branca
ou bem pálido e aumentando gradualmente a tons mais escuros, indicando a
cor mais saudável para o coral. Para análise, basta comparar a cor do coral
com as cores presentes na escala e verificar qual se aproxima mais (Marshall;
Kleine; Dean, 2012).

Resultados e Discussões

Relação de soterramento e de temperatura analisando a eficiência


fotossintética

Durante o experimento, foi observado uma média de cerca de 1347 para a


radiação fotossintética ativa (PAR), para o pH da água de 8 e para a salinidade
de 38ppm. As partes das colônias que não estavam soterradas obtiveram uma
boa resposta em relação à atividade fotossintética, como se pode observar na
Figura 1. Já nas bordas, parte onde ambos os tratamentos estavam cobertos, a
taxa fotossintética foi inferior a 0,200, havendo a diminuição da eficiência
fotossintética como apresentou Philipp e Fabricius, (2003). Porém, após o dia
7, início do processo de recuperação, sendo desenterradas, nota-se que a taxa
fotossintética começa a aumentar, mostrando resultados positivos para a
recuperação. Um rápido início de recuperação, com aumento do índice de
eficiência fotossintética, após o soterramento também foi constatada por
Lirman e Manzello (2009) em colônias de S. radians. Além disso, foi percebida
uma recuperação superior, por meio do índice de capacidade fotossintética nos
corais, que estavam na temperatura atual serem maiores.
A eficiência fotossintética do grupo controle, em ambos os tratamentos, se
mantiveram semelhantes ao longo da experiência.
Diferentemente da temperatura atual, em que a parte não enterrada não foi
prejudicada como a parte enterrada (Figura 1), nota-se que a parte do coral
que não se encontrava soterrada das colônias no tratamento de alta proporção
de sedimentos começou a também sofrer (Figura 2), tendo diminuição da
eficiência fotossintética, nos levando a acreditar que a temperatura interferiu de

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forma ainda mais negativa para as colônias que estavam com soterramento de
75%, o que não foi visto no tratamento de temperatura de 27°C, assim como
aconteceu no experimento de Tunala e Colaboradores (2019) que observaram
melhores resultados a temperaturas mais baixas ao trabalharem com
populações da mesma espécie na região de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro
que naturalmente apresenta temperaturas mais baixas (18-23°C) que as do Rio
Grande do Norte (26-28°C).
Ambos os resultados de recuperação vão contra os resultados obtidos em um
dos experimentos realizados por Philipp e Fabricius (2003), no qual soterraram
fragmentos do coral Montipora peltiformis por 36h e não obtiveram
recuperação, diferentemente do nosso experimento, em que ficaram 288h
soterradas e apenas duas colônias das vinte oito, que passaram pelo processo
de soterramento, morreram totalmente como pode-se observar na Figura 3,
afirmando mais uma vez a resistência da Siderastrea (Leão et al. 2003) e
salientando o que já foi mencionado anteriormente sobre como a sedimentação
afeta de diferentes formas as espécies de corais existentes, sendo importante
levar em consideração as particularidades de cada espécie.
Para a mortalidade das colônias, assim como Nascimento (2019), também
consideramos a probabilidade de sobrecrescimento de algas e da coloração
esbranquiçada, similar a cor do esqueleto, apenas com o tecido transparente
do animal.

Relação de soterramento e de temperatura analisando o padrão de coloração

A condição de saúde do coral pode ser visualizada por meio da sua cor, para
isso, utilizamos a cartela Coral Watch, como já foi dito anteriormente.
Mudanças na sua coloração expressa indícios de estresse, podendo ser
causado por diversos fatores, como alteração na temperatura da água,
salinidade e sedimentação (Tunala et al., 2019). Para a avaliação, fomos de
acordo com Nascimento (2019), no qual uma colônia foi apontada como
saudável quando possuía sua tonalidade normal amarronzada; a palidez sendo
a perda da intensidade da coloração, podendo apresentar diferentes tons; e o
branqueamento sendo toda a perda de cor do tecido, por conta da expulsão
das zooxantelas, sendo possível ver o esqueleto do animal.
Em nossos resultados de análise do padrão de coloração, as colônias que
estavam soterradas em alta proporção de soterramento e na temperatura
futura, obtiveram todas as colônias com predominância na cor 1, ao final da
recuperação, assim como ao final do período de recuperação da temperatura
atual, entretanto, comparando o restante, percebe-se que a recuperação foi

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eCICT 2023

melhor na temperatura atual, já que as cores que aparecem possuem


tonalidades mais escuras (Figura 4).
Em relação ao grupo controle, ao comparar os corais no Tempo Inicial, no
Futuro há colônias mais saudáveis do que no Atual. E indo para o Tempo Final
nas duas temperaturas, nota-se que basicamente as colônias no tempo Inicial
Atual foram da cor mais escura para a segunda mais escura, ocorrendo apenas
uma leve palidez, sendo essa a única diferença. Na temperatura Futura, cerca
de 85% dos corais estavam em ótima tonalidade e ao final do experimento, a
quantidade baixou para aproximadamente metade, ocorrendo diminuição da
intensidade da coloração de mais de 50% delas, além disso, também foi
reparado que a colônia que estava na “cor 5” no começo da experiência,
finalizou o experimento na “cor 3”.
Nas colônias que foram soterradas, houve uma separação, como se fosse uma
linha, da parte enterrada da parte não enterrada, como é possível observar na
Figura 7, por conta da diferença de tonalidades, mostrando que a parte que
estava soterrada foi bastante prejudicada. Isso também ocorreu no
experimento de Philipp e Fabricius (2003), quando o coral era desenterrado, a
parte pálida ficava visível.
Houveram algumas mortalidades parciais da parte do coral que estava
soterrada, havendo sobrecrescimento de algas na parte branqueada, indicando
a morte, sendo perceptível na imagem abaixo.

Conclusão

Durante o desenvolvimento do trabalho, percebe-se a resistência e resiliência


da Siderastrea Stellata para eventos de soterramento e, principalmente, a
temperatura. Todavia, é de extrema importância o monitoramento das colônias
para as variações do ambiente e a eventos de soterramento, já que esse último
acontece de forma natural. Os resultados mostraram que a temperatura teve
mais influência na recuperação do que no fenômeno de branqueamento, porém
em eventos combinados de elevação de temperatura e soterramento, o
impacto pode ser ainda mais negativo, pois, como foi visto, os corais que
passaram pela onda de calor tiveram mais dificuldade em se recuperar, visto
que a eficiência fotossintética foi menor quando comparada com os que
estavam na temperatura de 27°C. A realização deste trabalho é importante
devido a essa espécie ser bioconstrutora dos recifes brasileiros e entender o
seu comportamento ajudará para as tomadas de decisões para a sua proteção
bem como para a proteção dos nossos recifes.

Referências

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eCICT 2023

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Anexos

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eCICT 2023

Figura 1: Média e ± erro padrão da taxa de eficiência fotossintética na temperatura


atual (27°C) a diferentes eventos de soterramento e controle. A linha tracejada
representa o desenterramento das colônias.

1635
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eCICT 2023

Figura 2: Média e ± erro padrão da taxa de eficiência fotossintética na temperatura


futura (30°C) a diferentes eventos de soterramento e controle. A linha tracejada
representa o desenterramento das colônias e a vermelha, a diminuição da
temperatura.

Figura 3: Quantidade de colônias vivas pelo período total do experimento. A linha


vermelha representa a diminuição da temperatura de 30°C para 27°C, enquanto a
tracejada representa o desenterramento das colônias.

1636
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eCICT 2023

Figura 4: Porcentagem da coloração das colônias soterradas em alta proporção de


sedimentos, do início ao final do experimento.

Figura 5: Porcentagem da coloração das colônias soterradas em baixa proporção de


sedimentos, do início ao final do experimento.

1637
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eCICT 2023

Figura 6: Porcentagem da coloração das colônias controles, do início ao final do


experimento.

Figura 7: Diferenças de tonalidades em uma mesma colônia devido a parcialidade do


soterramento.

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eCICT 2023

Figura 8: Mortalidade parcial da parte que estava soterrada do coral, havendo


sobrecrescimento de algas.

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CÓDIGO: SB1320

AUTOR: DANTE AMSTALDEN VON ZUBEN

COAUTOR: IARA DANTAS DE SOUZA

ORIENTADOR: RODRIGO JULIANI SIQUEIRA DALMOLIN

TÍTULO: Identificação de polimorfismos em genes transcricionalmente


alterados de pacientes com transtorno depressivo maior

Resumo

O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é um distúrbio psiquiátrico comum que se


caracteriza por um humor deprimido persistente, afetando cerca de 4,4% da
população mundial. Além de impactar a qualidade de vida, a depressão está associada
a condições médicas coexistentes como diabetes, doenças cardiovasculares e um
aumento no risco de suicídio. Fatores biológicos desempenham um papel de destaque,
e diferenças entre os gêneros estão relacionadas a variações anatômicas, hormonais e
neuroquímicas. A pesquisa tem como objetivo analisar a expressão genética e sua
relação com SNPs (Polimorfismos de Nucleotídeo Único) para uma compreensão mais
profunda do TDM. Ao identificar marcadores moleculares específicos para cada
gênero, busca-se desenvolver abordagens terapêuticas personalizadas. Isso tem o
potencial de aprimorar significativamente o tratamento e a compreensão desse
transtorno.

Palavras-chave: Biologia de Sistemas. Depressão. Bioinformática.


Transcriptômica

TITLE: Identification of Polymorphisms in Transcriptionally Altered Genes of


Patients with Major Depressive Disorder

Abstract

1640
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Major Depressive Disorder (MDD) is a common psychiatric disorder characterized by


persistent depressed mood, affecting approximately 4.4% of the global population. In
addition to impacting quality of life, depression is associated with coexisting medical
conditions such as diabetes, cardiovascular diseases, and an increased risk of suicide.
Biological factors play a prominent role, and gender differences are linked to
anatomical, hormonal, and neurochemical variations. The research aims to analyze
gene expression and its relationship with Single Nucleotide Polymorphisms (SNPs) for a
deeper understanding of MDD. By identifying specific molecular markers for each
gender, the goal is to develop personalized therapeutic approaches. This holds the
potential to significantly enhance the treatment and comprehension of this disorder.

Keywords: Systems Biology. Depression. Bioinformatics. Transcriptomic

Introdução

O Transtorno Depressivo Maior (TDM) destaca-se como um dos transtornos


psiquiátricos mais prevalentes na sociedade contemporânea. Este transtorno se
caracteriza por um estado persistente de humor deprimido e perda de interesse ou
prazer, mantendo-se por um período mínimo de duas semanas, constituindo uma
alteração significativa em relação ao funcionamento prévio do indivíduo (1).
A depressão assume um papel de destaque nas estatísticas de incapacidade, ocupando
a quinta posição como causa de limitações funcionais (2). Globalmente, estima-se que
cerca de 4,4% da população seja afetada por essa condição (1). É notável que o Brasil,
em particular São Paulo, apresentou uma prevalência de 12 meses para o transtorno,
atingindo a marca de 10,4% (3).
Além das repercussões previamente abordadas, a depressão impõe um ônus
substancial de sofrimento e está intrinsecamente relacionada ao agravamento do risco
para o desenvolvimento de uma série de comorbidades abrangentes. Entre essas
comorbidades destacam-se diabetes mellitus, patologias cardiovasculares, acidente
vascular cerebral, obesidade e declínio cognitivo, sendo ainda notável sua associação
com enfermidades tão graves quanto Alzheimer e câncer. Ademais, é imperativo
ressaltar a profundidade da preocupante relação entre depressão e o risco de suicídio,
conforme evidenciado na literatura (4,5).
Estudos abordando os fatores causais do TDM evidenciam uma contribuição
determinante de fatores biológicos, influenciando tanto homens quanto mulheres. As
diferenças na fisiopatologia do TDM entre os gêneros podem ser atribuídas a variações
anatômicas, modulações hormonais, respostas imunológicas distintas e, sobretudo,
características neuroquímicas específicas (6,7). Investigações contemporâneas têm se

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empenhado em identificar marcadores moleculares com relevância específica para


cada gênero.
Apesar de alguns estudos já terem explorado as relações entre expressão gênica e o
desenvolvimento do TDM, é crucial observar que uma análise da expressão diferencial
de transcritos em pacientes portadores deste transtorno ainda não foi realizada. Este
vazio na literatura aponta para uma área de pesquisa promissora e necessária, que
poderá proporcionar um entendimento mais profundo das bases biológicas e
moleculares do TDM, bem como contribuir para o desenvolvimento de estratégias
terapêuticas mais personalizadas e eficazes.

Metodologia

O presente estudo se baseará na utilização de dados de transcriptoma de acesso


público obtidos por meio de RNA-seq, com foco no Transtorno Depressivo Maior
(TDM). Serão particularmente exploradas as pesquisas que disponibilizam informações
sobre o sexo de cada indivíduo a partir do qual as amostras foram coletadas. Os
repositórios relevantes que contribuirão com esses dados são o Gene Expression
Omnibus (GEO) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/geo/) e o Sequence Read Archive (SRA)
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/sra), ambas plataformas gratuitas e amplamente
utilizadas para este fim.
Para as etapas de pré-processamento das amostras e análise de expressão gênica,
adotaremos uma abordagem sistemática. Após a obtenção das amostras,
empregaremos algoritmos de alinhamento de sequências a fim de quantificar a
expressão gênica em nível de isoformas de transcrito. Antes do alinhamento,
procederemos com uma avaliação rigorosa da qualidade do sequenciamento
utilizando o software FastQC (8). O alinhamento será realizado utilizando o alinhador
Kallisto (9), seguindo seu protocolo padrão.
O foco da análise será o perfil transcricional do TDM em tecidos cerebrais humanos. A
avaliação transcricional ocorrerá em três níveis distintos: (i) identificação de genes com
expressão diferencial, (ii) detecção de transcritos com expressão diferencial e (iii)
análise de genes com mudanças nas proporções de suas isoformas. Essas alterações
serão consideradas como mudanças transcricionais, e os genes que apresentarem pelo
menos uma dessas alterações serão categorizados como "transcricionalmente
alterados".
A busca por variantes associadas à depressão será conduzida por meio do GWAS
Catalog (10), uma base de dados amplamente reconhecida. Inicialmente,
selecionaremos quatro estudos relevantes que direcionam seus esforços para essa

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finalidade, identificados pelos códigos GCST005839, GCST005902, GCST007342 e


GCST00604. Em seguida, compararemos os genes alvo (GTA) identificados em homens
e mulheres no nosso estudo com genes cujas variantes estejam associadas à condição
depressiva.
Quanto à chamada de variantes a partir dos dados obtidos, seguiremos o protocolo
padrão estabelecido pelo Genome Analysis Toolkit (GATK) (11), uma ferramenta
central para pré-processamento e identificação de variantes em amostras
provenientes de tecnologias de sequenciamento.

Resultados e Discussões

Verificamos se as localizações genômicas dos SNP (Polimorfismos de Nucleotídeo


Único) previamente associados à depressão coincidem com as localizações genômicas
dos TAG (Genes Transcricionalmente Alterados). Dos 481 SNP significativamente
associados à depressão obtidos do Catálogo GWAS, 14 interseccionaram com as
regiões genômicas de 8 TAGs. Os perfis funcionais dos transcritos associados a esses
SNP estão apresentados na Tabela 2. Os SNP predominantemente afetam os
elementos genômicos não codificantes, como variantes de íntron, variantes de exons,
de transcritos não codantes e variantes de região de splice. Adicionalmente, 12 SNP
coincidiram com as regiões genômicas de genes alterados no córtex pré-frontal.

Conclusão

Uma proporção significativa de SNP associados à depressão foi anotada em TAGs em


áreas pré-frontais. Estudos recentes sugerem o impacto de polimorfismos na
expressão gênica em indivíduos com Transtorno Depressivo Maior (MDD) [REF:
https://www.nature.com/articles/s41398-021-01411-w]. Cinquenta e três genes de
risco para depressão foram identificados em um recente estudo de associação
transcricional em larga escala (TWAS), uma abordagem que integra informações de
estudos de associação genômica (GWAS) prévios sobre depressão e técnicas de eQTL
[REF: https://www.nature.com/articles/s41398-021-01411-w]. DDX27, um homólogo
de DDX39B que também está incluído na maquinaria TREX, foi identificado como um
gene de risco. Outro estudo revelou um conjunto de 94 genes de risco para depressão
usando uma estratégia semelhante
[https://www.google.com/url?q=http://sciencedirect.com/science/article/pii/
S0006322320319156&sa=D&source=docs&ust=1693338895185293&usg=AOvVaw2L3

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SqBxLztgXSQtfySryvv]. Ambos os estudos identificaram genes associados à depressão


que já haviam sido relatados em GWAS, bem como novos genes de risco que foram
identificados apenas quando as informações de expressão gênica foram consideradas.
Portanto, esses estudos, juntamente com nossos resultados, lançam luz sobre a
associação entre alterações genômicas e transcricionais no MDD.

Referências

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doi:10.1016/j.psychres.2011.06.006.
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(2013). doi:10.1146/annurev-publhealth-031912-114409.
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Neuropsychopharmacology (2004). doi:10.1038/sj.npp.1300371
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doi:10.1016/j.jpsychires.2013.02.003 doi:10.1126/science.1069492.
8. Andrews, S. FastQC: A Quality Control Tool for High Throughput Sequence Data
[Online] (2010). Available online at:
http://www.bioinformatics.babraham.ac.uk/projects/fastqc/
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Biotechnology 34, 525–527 (2016).
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association studies, targeted arrays and summary statistics 2019” Nucleic Acids
Research, 8;47(D1):D1005-D1012. (2019). doi: 10.1093/nar/gky1120.

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11. DePristo, M.A. et al. A framework for variation discovery and genotyping using
next-generation DNA sequencing data. Nat Genet. May; 43(5): 491–498. (2011). doi:
10.1038/ng.806

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CÓDIGO: SB1322

AUTOR: THALYTA KELLY SOARES DA SILVA

COAUTOR: VALÉRIA COSTA DA SILVA

ORIENTADOR: GERLANE COELHO BERNARDO GUERRA

TÍTULO: Extrato de Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillet, em modelo de


inflamação intestinal

Resumo

A Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillet é uma espécie de planta que pode ser
encontrada nos biomas da amazônia, cerrado e caatinga e possui importantes
metabólitos secundários, dos quais podemos mencionar os flavonoides e compostos
fenólicos, os quais apresentam atividade antioxidante e anti-inflamatória. Esses
metabólitos possuem capacidade imunomodulatória e adicionalmente auxiliam no
combate a várias doenças. Sabendo-se destas propriedades, este trabalho tem por
objetivo avaliar a atividade anti-inflamatória do extrato hidroetanólico das folhas de C.
Leptophloeos no modelo de inflamação intestinal aguda, induzida por dinitrobenzeno
sulfônico (DNBS). Nesta perspectiva, os resultados da análise fitoquímica mostraram
um rico conteúdo de flavonoides e fenólicos totais, o que pode estar relacionado ao
efeito positivo do pré-tratamento com o extrato (doses de 300, 400 e 500 mg/kg) no
modelo de inflamação intestinal. O extrato melhorou de maneira significativa o estado
geral dos animais, com base no peso dos animais e análises bioquímicas. A análise
macroscópica do cólon mostrou redução do dano tecidual induzido pelo DNBS e houve
redução da relação peso/longitude (P<0,05). Adicionalmente, reduziu a atividade da
mieloperoxidase colônica- MPO (P<0,05), corroborando com os resultados anteriores,
que mostraram redução do dano colônico induzido pelo DNBS. Dessa forma, o extrato
hidroetanólico de C. leptophloeos (CL) mostra-se promissor no tratamento da
inflamação intestinal.

Palavras-chave: Imburana. Inflamação intestinal. Colite induzida por DNBS.

TITLE: Commiphora leptophloeos extract (Mart.) J.B. Gillet, in a model of


intestinal inflammation

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Abstract

Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillet is a plant species that can be found in the
Amazon, Cerrado and Caatinga biomes and has important secondary metabolites, of
which we can mention flavonoids and phenolic compounds, which have antioxidant
and anti-inflammatory activity. inflammatory. These metabolites have
immunomodulatory capacity and additionally help in the fight against various diseases.
Knowing these properties, this work aims to evaluate the anti-inflammatory activity of
the hydroethanolic extract of the leaves of C. Leptophloeos in the model of acute
intestinal inflammation, induced by dinitrobenzene sulfonic acid (DNBS). In this
perspective, the results of the phytochemical analysis showed a rich content of
flavonoids and total phenolics, which may be related to the positive effect of pre-
treatment with the extract (doses of 300, 400 and 500 mg/kg) in the intestinal
inflammation model. . The extract significantly improved the general condition of the
animals, based on the animals' weight and biochemical analyses. Macroscopic analysis
of the colon showed a reduction in tissue damage induced by DNBS and a reduction in
the weight/length ratio (P<0.05). Additionally, it reduced the activity of colonic
myeloperoxidase-MPO (P<0.05), corroborating previous results, which showed a
reduction in colonic damage induced by DNBS. Thus, the hydroethanolic extract of C.
leptophloeos (CL) shows promise in the treatment of intestinal inflammation.

Keywords: imburana. Intestinal inflammation. DNBS-induced colitis.

Introdução

As Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) são um grupo de doenças crônicas que


acometem o trato gastrointestinal (TGI). Duas doenças estão compreendidas no grupo
das DIIs, são elas: a doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU). A etiologia
destas doenças não é completamente conhecida. Todavia, sabe-se que a patogênese
das DIIs está relacionada a fatores genéticos, ambientais e alterações na microbiota
intestinal. A doença de Crohn é caracterizada por uma inflamação transmural, níveis
altos do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e destruição da mucosa intestinal,
afetando principalmente a região terminal do íleo, ceco, cólon e região perianal. A CD
não tem cura e os tratamentos tradicionais visam o controle dos sintomas. Neste
contexto, o desenvolvimento de novas estratégias e agentes terapêuticos para
combater as DIIs é essencial. A Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillet, conhecida
popularmente como "Imburana do sertão” sendo predominante nas regiões
subtropicais e tropicais, no Brasil se encontra nos biomas da Amazônia, Cerrado e
Caatinga. A planta possui flavonoides e açúcares redutores com atividade antioxidante
e anti-inflamatória, os quais podem prevenir doenças. Dentro dos compostos
encontrados nessa espécie, podemos citar também compostos fenólicos que entre

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suas propriedades tem função antioxidante, anti-inflamatória, tem a capacidade de


modular a microbiota intestinal, além de conferir uma proteção desse mesmo epitélio,
garantindo as atividades que protegem o organismo e defendem dos radicais livres
originados do metabolismo, por exemplo, além de ser utilizado como auxílio no
combate de diabetes mellitus do tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares, doenças
neurodegenerativas e câncer. A planta tem uso popular em casos inflamações e
infecções através de infusão de chás e xaropes. Essas propriedades estão relacionadas
com a inibição da atividade e síntese dos mediadores inflamatórios. Alguns conhecidos
como citocinas, eicosanóides, proteína-C reativa, moléculas de adesão, óxido nítrico e
também vias de sinalização do fator nuclear kappa-beta e da cicloxigenase-2.
Adicionalmente, o uso de terapias complementares aos tratamentos farmacológicos
disponíveis tem sido assunto de interesse entre os pacientes com doenças crônicas,
visto que são os que mais utilizam esses medicamentos, somando-se a algumas
experiências que tiveram com efeitos colaterais ou uma resposta inadequada aos
tratamentos disponíveis (LANGHORST et al., 2015; SAMSAMIKOR et al., 2016). Neste
contexto, o estudo do extrato hidroetanólico de C. leptophloeos é uma boa estratégia,
levando-se em consideração que possui atividade anti-inflamatória (MEDEIROS et al.,
2021), sendo capaz de reduzir significativamente a resposta de alguns mediadores
inflamatórios como a interleucina TNF-α e MPO. Em suma, esse trabalho tem como
objetivo avaliar o efeito anti-inflamatório intestinal do extrato hidroetanólico das
folhas de C. leptophloeos (CL), por meio de avaliações clínicas e bioquímicas.

Metodologia

Material vegetal

O constituinte vegetal foi coletado no município de Altinho, PE-Brasil. A autorização da


coleta foi obtida pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade
(SISBIO), sob o número de processo 35017 e a Autorização de acesso ao Patrimônio
Genético foi obtida pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético do Ministério do
Meio Ambiente (CGEN/MMA), sob o número de cadastro no SISGEN A618873. Uma
exsicata incluindo folhas de C. leptophloeos foi depositada no Herbário Geraldo Mariz
(UFP) da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), com o número de registro
46.191.
Preparação do extrato hidroetanólico das folhas de C. leptophloeos
As folhas foram secas em estufa de ar circulante (temperatura inferior a 45 ºC), e em
seguida trituradas em moinho de facas. O material obtido após trituração foi
submetido à produção do extrato, pelo método de maceração (48 h), utilizando como
solvente etanol: água (70: 30, v/v) na proporção de 1: 10 de solvente (g/mL). Na

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sequência, o material vegetal, foi submetido a três remacerações de 48 horas, cada.


Em seguida, o extrato passou por processo de filtração, obtendo-se então os extratos
hidroetanólicos 70% das folhas. A fase orgânica foi evaporada sob pressão reduzida
com o auxílio de um evaporador rotatório (Büchi®) com temperatura ≤ 40ºC e por fim
liofilizado e armazenado a -20°C.

Caracterização fitoquímica do extrato hidroetanólico das folhas de C. leptophloeos

Determinação do teor de fenólicos totais

Para a determinação dos compostos fenólicos totais fez-se a realização do teste de


Folin-Ciocalteu. Primeiro, foi feito uma curva padrão de ácido gálico em composto
dimetilsulfóxido (DMSO) em diferentes concentrações variando de 100 µg/mL a 25
µg/mL. Sendo realizado em poços e foram adicionados 25 µL da amostra adicionados
de 125 µL de reagente de Folin-Ciocalteu, além de 100 µL de bicarbonato de sódio a
7,5%(p/v). Os brancos eram constituídos de 25 µL de DMSO e do reagente Folin-
Ciocalteu (125 µL) na ausência das amostras. As placas foram incubadas por 40
minutos, protegidas da luz e em temperatura ambiente. A leitura foi realizada pelo
leitor de ELISA à 765 nm. O método se mostrou linear, apresentando um r2 de 0,9925.
O conteúdo total de compostos fenólicos no extrato foi expresso em miligramas
equivalente do padrão ácido gálico (EAG) por grama de extrato (mg de EAG/g de
extrato). Os resultados foram obtidos em triplicatas.

Determinação do teor de flavonoides totais

A determinação do teor dos flavonoides totais foi realizada através do método do


cloreto de alumínio. Uma curva do padrão de quercetina em DMSO foi construída em
diferentes concentrações (100 µg/mL a 1,25 µg/ mL). Os ensaios foram realizados em
placas de 96 poços, e, em cada poço foram adicionados 50 µL da amostra (extrato ou
quercetina), mais 160 µL de EtOH, 20 µL de AlCl3 a 1,8% (p/v) e 20 µL de acetato de
sódio (820,3 mg em 100 mL de H2O). Os brancos eram constituídos de 50 µL de DMSO
ou AlCl3 na ausência das amostras. As placas foram incubadas por 30 minutos em
temperatura ambiente. A leitura foi realizada pelo leitor de ELISA à 415 nm. O método
se mostrou linear, apresentando um r2 de 0,9903. O conteúdo total de compostos
fenólicos no extrato foi expresso em miligramas equivalente do padrão quercetina
(EQ) por grama de extrato (mg de EQ/g de extrato). Os resultados foram obtidos em
triplicatas (n=3).

Modelo de inflamação intestinal por DNBS e avaliação

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O modelo foi realizado em camundongos da linhagem Balb/c (fêmeas), o qual baseia-


se na indução da inflamação e dano tecidual no cólon, por administração intracolônica
de 4 mg de DNBS dissolvidos em 100 mL de etanol 50% v/v (MORRIS et al., 1989). Ao
final do período de indução do processo inflamatório (3 dias), foi realizada a avaliação
do índice de dano macroscópico, de acordo com Bell; Gall; Wallace (1995).
Avaliação clínica e bioquímica
A avaliação dos pré-tratados com diferentes doses (300,400 e 500 mg/kg) do extrato
hidroetanólico das folhas da C. Leptophloeos (CL) e ainda, com um fármaco padrão de
primeira escolha para doença inflamatória intestinal, a sulfassalazina (SSZ), foram
avaliados por meio da análise de alguns parâmetros como variação do peso, consumo
de ração, escore macroscópico colônico, relação peso/longitude do cólon, glicose,
colesterol total e a atividade da MPO, enzima presente principalmente nos grânulos
azurófilos dos neutrófilos que atua como marcador bioquímico para a infiltração de
neutrófilos e inflamação no tecido danificado.

Ensaio de citotoxicidade

A citotoxicidade do extrato CL, nanopartículas contendo extrato (CL-NP) e


nanopartículas placebo (NP) foi avaliada na célula derivada de macrófago-monócitos
THP-1 (ATCC® TIB-202) usando o CellTiter- Kit de viabilidade celular Glo®. As células
foram cultivadas e propagadas em meio RPMI 1640 suplementado com 10% (v/v) de
soro fetal bovino, 2mM de L-glutamina e 50 mg/mL de estreptomicina, e incubadas
durante 48 h a 37 °C com uma atmosfera umidificada de CO2 (5%). O meio foi
substituído a cada três dias após a centrifugação celular a 1500rpm durante 5 min.
Para cada experiência, as células foram incubadas em placas de 96 poços a uma
densidade de 1x105 células por poço em meio completo. Em seguida, as células foram
expostas a meio fresco contendo diferentes concentrações de extrato livre ou
formulações (250 a 0,195 µg/mL), ou a mesma concentração dos veículos utilizados
para dissolvê-las como nos controles (PBS), e a placa incubada sobre 48h a 37°C em
CO2 (5%). Após o período de incubação, 50µL do reagente CellTiter-Glo® foram
adicionados a cada poço da placa e 10µL do sobrenadante foram removidos e
transferidos para uma microplaca branca e medidos utilizando um luminômetro
(Sirius, Berthold Detection Systems GmbH, Pforzheim, Alemanha). Os resultados de
viabilidade celular foram obtidos como a média de pelo menos três experimentos
independentes.

Resultados e Discussões

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Estudo fitoquímico

Teor de fenólicos e flavonoides totais do extrato hidroetanólico de C. leptophloeos


Os compostos fenólicos, como ácidos fenólicos e flavonoides, são metabólitos
secundários amplamente associados a atividades anti-inflamatória e cicatrizante.
Nossos resultados mostram que o extrato hidroetanólico de C. Leptophloeos possui
teores significativos de compostos fenólicos e flavonoides (Tabela 1 do anexo). Vale
salientar que não há estudos na literatura que avaliam o teor de fenólicos e
flavonoides totais no extrato de C. Leptophloeos.

Avaliação do peso e consumo de ração

A partir do pré-tratamento com o extrato, foi observada uma melhora significativa do


estado geral dos animais tratados com diferentes doses de CL. O extrato conseguiu
levar a uma recuperação do peso dos animais no 6º dia de avaliação, após a indução
da inflamação intestinal (4ª dia), em comparação ao controle positivo (CP), o qual
manteve a perda de peso em decorrência do processo inflamatório. Além disso, o pré-
tratamento com CL foi semelhante ao tratamento com o fármaco padrão, SSZ.

Avaliação bioquímica

A nível bioquímico, se tratando da glicose e colesterol total, os grupos tratados com o


CL demonstram resultados semelhantes aos do grupo SSZ, indicando a eficácia do
tratamento com o extrato de C. Leptophloeos, com a manutenção dos níveis glicose e
de colesterol nos padrões aceitáveis diferindo significativamente do grupo CP.

Avaliação do dano macroscópico e relação peso/longitude colônica

A indução da inflamação intestinal por DNBS é caracterizada por presença de edema,


hiperemia e de lesão necrótica em região terminal do cólon, além de causar um
encurtamento do comprimento colônico. No entanto, obtivemos redução significativa
do escore macroscópico intestinal nos grupos tratados com CL e, da relação
peso/comprimento colônico, que está relacionado ao edema causado durante o
processo inflamatório intestinal. Estes resultados foram semelhantes ao tratamento
com o fármaco padrão, o que significa dizer que houve melhora no processo
inflamatório e do edema.

Avaliação da atividade da Mieloperoxidase


O início do processo inflamatório induzido pelo DNBS envolve um intenso infiltrado
leucocitário, sendo seu controle extremamente importante na atenuação dos sinais

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inflamatórios. Assim, destacamos que o grupo controle positivo apresentou uma alta
atividade da MPO, indicando aumento na infiltração de neutrófilos na mucosa
intestinal. No entanto, o tratamento com CL nas doses de 300, 400, e 500 mg/kg e SSZ
conseguiram reduzir a atividade da MPO. Portanto, com a redução na atividade da
MPO, fica claro o efeito preventivo do extrato frente o processo inflamatório induzido
pelo DNBS.

Ensaio de citotoxicidade

As nanopartículas contendo o extrato foram atóxicos em células THP-1, Isso sugere


que essas nanopartículas não causaram danos significativos às células THP-1 testadas.
A ausência de citotoxicidade é um aspecto positivo, especialmente quando se
considera o potencial uso dessas nanopartículas em aplicações médicas ou
terapêuticas.

Conclusão

A partir da triagem fitoquímica foi possível concluir que o extrato hidroetanólico de C.


Leptophloeos apresenta um perfil rico em compostos fenólicos, como ácidos fenólicos
e flavonoides. Nossos resultados mostram que o extrato possui teores significativos de
compostos fenólicos e flavonoides e rendimento satisfatório, indicando um grande
potencial de atividade antioxidante e anti-inflamatória, capacidade de redução do
dano tecidual colônico, efeito preventivo do processo inflamatório pela diminuição da
atividade da MPO, manutenção do peso e níveis satisfatórios de glicose e colesterol
total. Além disso, após ensaios de citotoxicidade, podemos concluir que a
nanopartícula contendo o extrato foram atóxicos.

Referências

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www.arvoresdobiomacerrado.com.br. Acesso em: 27/09/2021. Dantas-Medeiros et al.


Mass spectrometry characterization of Commiphora leptophloeos leaf extract and
preclinical evaluation of toxicity and anti-inflammatory potential effect. Journal
Ethnopharmacology, v. 264, p. 113229, 2021. GONÇALVES, C. C. M.; HERNANDES, L.;
OLIVEIRA, N. L. B.; NATALI, M. R. M. INFLAMMATORY BOWEL DISEASE PATIENTS.
Arquivos de Gastroenterogia, v. 5, n. (3), p.290, 2018. LANGHORST, J. et al. Systematic
Review of Complementary and Alternative Medicine Treatments in Inflammatory
Bowel Diseases. Journal of Crohn’s and Colitis, v. 9, n. 1, p. 86–106, 2015. MEDEIROS,
R. D. Commiphora leptophloeos (MART.) J.B. Gillett (burseraceae): estudo fitoquímico,
toxicidade e avaliação do potencial anti-inflamatório e antimicrobiano. 2019. 132 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, 2019. MORRIS, G. P. et al. Hapten-Induced Model of Chronic
Inflammation and Ulceration in the Colon Rat. Gastroenterology, v. 96, p. 795–803,
mar, 1989. NÓBREGA et al. THE ONSET OF CLINICAL MANIFESTATIONS IN
SAMSAMIKOR, M. et al. Resveratrol Supplementation and Oxidative/Anti-Oxidative
Status in Patients with Ulcerative Colitis: A Randomized, Double-Blind, Placebo-
controlled Pilot Study. Archives of Medical Research, v. 47, n. 4, p. 304–309, 2016.

Anexos

Figura 1. Curva de calibração do padrão ácido gálico.

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Figura 2. Curva de calibração do padrão quercetina.

Figura 3. Esquema das etapas de realização dos experimentos

Tabela 1.

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Tabela 2.

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Figura 4. Efeito das doses de 300, 400, e 500 do extrato hidroetanólico das folhas de C.
Leptophloeos na variação do peso corporal em camundongos fêmeas, no modelo de
colite induzida por DNBS.

Figura 5. Efeito das doses de 300, 400, e 500 mg/kg do extrato hidroetanólico das
folhas de C. Leptophloeos nos níveis de glicose (A) e colesterol total (B) em
camundongos fêmeas, no modelo de colite induzida por DNBS.

Figura 6. Efeito das doses de 300, 400, e 500 mg/kg do extrato hidroetanólico das
folhas de C. Leptophloeos no Escore macroscópico (A) e medidas da relação

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peso/longitude do cólon (B) em camundongos fêmeas, no modelo de colite induzida


por DNBS.

Figura 7. Efeito das doses de 300, 400, e 500 mg/kg do extrato hidroetanólico das
folhas de C. Leptophloeos na atividade da mieloperoxidase (MPO).

Figura 8. Conforme mostrado na Figura, tanto o extrato livre quanto nanoencapsulado


foram atóxicos nas células THP-1, mesmo na concentração máxima testada, com
valores de CC50 superiores a 250 μg/mL.

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CÓDIGO: SB1341

AUTOR: GABRIEL ESTEVAM FREITAS

ORIENTADOR: RENATA SANTORO DE SOUSA LIMA

TÍTULO: Evolução do canto de baleias jubartes na costa do Maranhão durante


uma estação reprodutiva

Resumo

As baleias jubarte (Megaptera Novaeangliae) apresentam uma alta diversidade em


seus cantos, que são complexos e hierarquicamente constituídos de unidades, frases e
temas. Em uma mesma população as canções são altamente semelhantes dentro da
mesma estação reprodutiva. E em populações diferentes, a canção apresenta padrões
diferentes no mesmo ano. Com isso, foi analisada a canção de machos de baleias
jubarte em duas áreas da costa brasileira, uma ao norte, no Maranhão, e outra mais ao
sul, na costa baiana, em Itacaré, com o intuito de comparar a composição das unidades
do canto para o mesmo ano. As unidades foram analisadas com o intuito de verificar as
diferenças e/ou semelhanças no canto entre essas duas áreas. Com isto foi possível
identificar unidades semelhantes entre os cantos de Itacaré e Barreirinhas, mostrando
que devido o gradual aumento populacional das jubartes, elas estão buscando novas
áreas para reprodução em áreas cada vez mais ao norte do litoral brasileiro.

Palavras-chave: Baleias Jubarte.Cantos.Unidades. Frases. Temas.População.

TITLE: Evolution of humpback whale songs off the coast of Maranhão during a
reproductive season.

Abstract

Humpback whales (Megaptera novaeangliae) show a high diversity in their songs,


which are complex and hierarchically organized into units, phrases and themes. Within
the same population, songs are highly similar in the same reproductive season. And in
different populations, the song shows different patterns in the same year. With this in
mind, we analyzed the songs of male humpback whales in two areas of the Brazilian
coast, one to the north, in Maranhão, and the other further south, on the coast of
Bahia, in Itacaré, in order to compare the composition of the song units for the same

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year. The units were analyzed in order to verify the differences and/or similarities in
the song between these two areas. With this, it was possible to identify similar units
between the songs of Itacaré and Barreirinhas, showing that due to the gradual
increase in the humpback population, they are looking for new breeding areas in the
north of the Brazilian coast.

Keywords: Humpback whales.Chants.Units. Phrases. Themes.Population.

Introdução

Os machos sexualmente maduros da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae)


possuem cantos de alta complexidade, bem estruturados e sequenciados de forma
hierárquica (Choliwiak et al. 2013, Anderberg et al. 2021). As unidades são o nível mais
básico do canto, que juntas formam as frases. Uma sequência repetitiva de frases é
chamada de tema, e os diferentes conjuntos de temas formam o canto completo
desses animais (Payne a McVay, 1971; Zandberg et al. 2021). Os machos da mesma
população aprendem culturalmente o mesmo canto e em uma mesma estação
reprodutiva todos os machos estarão cantando a mesma canção (Cerchio et al. 2001).
Mesmo assim, o canto dos machos pode mudar em alguma parte da hierarquia, seja
ela unidade, frase ou tema (Payne e Payne, 1985), sendo muito recorrente em
períodos de reprodução e também em épocas de migração (Garland et al., 2011; Noad
et al., 2000; Schall et al., 2020, 2021). Dessa forma, ao longo dos anos, o acúmulo
dessas modificações no canto gera o que chamamos de evolução cultural (Garland et
al. 2022). Populações que ocorrem no mesmo oceano apresentam semelhança em
seus cantos, porém, esse grau de similaridade pode mudar com o aumento da
distância e o nível de interação entre essas diferentes populações (Payne, 1983;
Helweg et al. 1998). Em certas circunstâncias, é possível que um canto seja
completamente modificado, como no caso das revoluções do canto, onde um novo
macho migra para uma outra população, fazendo com que os machos residentes
aprendam o novo canto e espalhem por toda a população (Noad et al. 2000). Levando
em consideração essas características no canto de machos de jubarte, foi realizada
uma análise das unidades do canto do ano de 2016 em uma área onde ainda não havia
registro acústico dessa espécie, a bacia de Barreirinhas, no estado do Maranhão. O
objetivo deste estudo foi comparar a composição das unidades, procurando encontrar
diferenças e/ou semelhanças nessas unidades com gravações de Itacaré, Bahia. O
intuito foi verificar se os indivíduos que utilizam essas duas regiões pertencem à
mesma população de jubarte.

Metodologia

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No presente estudo foi feita a análise de gravações de áudio coletadas na Bacia de


Barreirinhas, Maranhão, por hidrofones modelo Aural M2 com taxa de amostragem de
32 kHz. Esse sistema de gravação estava ancorado a 35 metros de profundidade, com
distância de 36 quilômetros de distância do talude, e 35 quilômetros de distância da
costa do Maranhão. O monitoramento acústico passivo ocorreu durante operações de
prospecção sísmica entre janeiro e novembro de 2016. A região de Barreirinhas é
altamente explorada por prospecção sísmica devido ao potencial petrolífero do local.
Mais ao sul, na região do município de Itacaré, Bahia, localizada a 400 km ao norte de
Abrolhos. Foi utilizado o hidrofone de monitoramento portátil HTI de 96 milímetros,
conectado a um gravador eletrônico do modelo Tascam DR-40 com resposta de
frequência de 30 kHz. O hidrofone foi lançado de um veleiro (Mariner Cal 9.2) com
motores desligados em uma profundidade de 5 metros. Os dados em áudio foram
analisados no programa Raven Pro 1.6 onde cada arquivo foi analisado e feito
marcações das unidades de canto das populações tanto de Barreirinhas, quanto de
Itacaré, a fim de analisar as semelhanças e/ou diferenças nas unidades de canto dos
animais nas duas regiões diferentes da costa brasileira. As unidades cantadas pelos
machos em Itacaré no ano de 2016 foram identificadas e marcadas pela pesquisadora
Divna Djokic, como mostra a seguinte imagem (Fig. 1).

Resultados e Discussões

Com a análise comparativa das gravações de Barreirinhas e Itacaré, foram identificadas


as mesmas unidades do canto de jubartes nas duas diferentes regiões da costa
brasileira. As unidades cantadas pelos machos em Itacaré no ano de 2016 foram
identificadas e marcadas como mostra a imagem (Fig. 1). Cada um desses padrões foi
analisado simultaneamente com os arquivos de Barreirinhas, com isso, pode ser visto a
presença de unidades semelhantes como mostrado nas figuras 2 a 7. A semelhança
entre as unidades de canto de machos de jubarte gravados em Itacaré e em
Barreirinhas demonstra que os machos nessas duas regiões pertencem à mesma
população, isto é, fazem parte do Estoque Reprodutivo A. Nesse caso, mesmo com a
distância entre as duas áreas comparadas neste estudo, os machos apresentaram o
mesmo padrão acústico. Como o tamanho populacional das baleias jubarte tem
aumentado, esses animais possivelmente estão aumentando a sua área de ocorrência
no litoral do Brasil.

Conclusão

Como foi visto, Barreirinhas apresentou unidades de canto muito semelhantes aos da
região mais a sul do litoral brasileiro, Itacaré. Com isso, pode-se inferir que, como o

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aumento populacional de baleias jubartes vem sendo cada vez maior, esses animais
estão buscando outras áreas no litoral norte brasileiro para realizar comportamentos
essenciais, como é o comportamento reprodutivo.

Referências

Zandberg, L., Lachlan, R. F., Lamoni, L., & Garland, E. C. (2021). Global
cultural evolutionary model of humpback whale song. Philosophical
Transactions of the Royal Society B, 376(1836), 20200242. -Garland, E. C.,
Garrigue, C., & Noad, M. J. (2022). When does cultural evolution become
cumulative culture? A case study of humpback whale song. Philosophical
Transactions of the Royal Society B, 377(1843), 20200313. Garland, E. C.,
Goldizen, A. W., Rekdahl, M. L. Constantine, R., Garrigue, C., Hauser, N. D.,
Poole, M.M., Robbins, J. & Noad, M. J. (2011). Dynamic Horizontal Cultural
Transmission of Humpback Whale Song at the Ocean Basin Scale. Current
Biology, 21, 687–691 -Payne, K., & Payne, R. (1985). Large scale changes over
19 years in songs of humpback whales in Bermuda. Zeitschrift für
Tierpsychologie, 68(2), 89-114. -Payne, K. (1983). Progressive changes in the
songs of humpback whales Megaptera novaeangliae: A detailed analysis of two
seasons in Hawaii. Communication and behavior of whales, 9-57. -Helweg, D.,
Jenkins, P., Cat, D., McCauley, R., & Garrigue, C. (1998). Geographic variation
in South Pacific humpback whale songs. Behaviour, 135(1), 1-27. -Noad, M. J.,
Cato, D. H., Bryden, M. M., Jenner, M. N., & Jenner, K. C. S. (2000). Cultural
revolution in whale songs. Nature, 408(6812), 537-537. -Garland, E. C., &
McGregor, P. K. (2020). Cultural transmission, evolution, and revolution in vocal
displays: insights from bird and whale song. Frontiers in psychology, 2387.

Anexos

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Fig.1: Unidades do canto de machos de baleia jubarte identificadas em Itacaré no ano


de 2016.

Fig.2: Unidade A1 identificada nas gravações de Barreirinhas.

Fig.3: Unidade 5 identificada nas gravações de Barreirinhas.

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Fig.4: Unidade R identificada nas gravações de Barreirinhas.

Fig.5: Unidade G identificada nas gravações de Barreirinhas;

Fig.6: Unidade D2 identificada nas gravações de Barreirinhas.

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Fig.7: Unidade O (marcação “3”) identificada nas gravações de Barreirinhas.

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CÓDIGO: SB1354

AUTOR: DIEGO MARADONA PAULINO DE OLIVEIRA

COAUTOR: JOAO PAULO PEREIRA DA CAMARA

COAUTOR: ADRIANA QUEIROZ DE LIMA

ORIENTADOR: LEONARDO DE MELO VERSIEUX

TÍTULO: Análise florística da parcela amostral do Lifeplan Natal na FLONA de


Nísia Floresta.

Resumo

Atualmente, aproximadamente 80% das espécies na Terra ainda não foram


descobertas. Em contrapartida, testemunhamos a perda da biodiversidade em um
ritmo acelerado. Portanto, é necessário compreender os padrões e processos que
regem a biodiversidade global. Com o propósito de discutir essa necessidade, o projeto
Lifeplan, iniciado em 2021, tem por objetivo a coleta e o levantamento de informações
sobre o atual estado da biodiversidade mundial. Através de uma abordagem global,
que envolve mais de 100 locais de amostragem por todo o mundo, o Lifeplan está
desenvolvendo técnicas que visam otimizar e padronizar tanto a coleta quanto a
análise de dados. No contexto do Lifeplan Natal, o objetivo está na coleta de dados da
biodiversidade de áreas costeiras da Floresta Atlântica, contribuindo assim com o
projeto global.

Palavras-chave: Biodiversidade. LIFEPLAN. Amostragem. Floresta Atlântica.


Florística.

TITLE: Floristic analysis of the sample plot of Lifeplan Natal at FLONA in Nísia
Floresta

Abstract

Currently, approximately 80% of the species on Earth remain undiscovered. In


contrast, we witness the loss of biodiversity at an accelerated pace. Therefore, it is

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necessary to understand the patterns and processes that govern global biodiversity.
With the purpose of discussing this need, the Lifeplan project, started in 2021, aims to
collect and survey information on the current state of world biodiversity. Through a
global approach, involving more than 100 sampling sites around the world, Lifeplan is
developing techniques that aim to optimize and standardize both data collection and
analysis. In the context of Lifeplan Natal, the objective is to collect biodiversity data
from coastal areas of the Atlantic Forest, thus contributing to the global project.

Keywords: Biodiversity. LIFEPLAN. Sampling. Atlantic Forest. Floristic.

Introdução

Atualmente, aproximadamente 80% das espécies na Terra ainda não foram


descobertas. Paralelamente, presenciamos a rápida degradação da diversidade
biológica no mundo. Portanto, este trabalho é importante para o levantamento de
dados no que se refere às avaliações globais da biodiversidade em áreas urbanas e
naturais. Diante do rápido avanço das comunidades urbanas, grande parte da
diversidade biológica tem sido afetada negativamente, em detrimento do avanço
populacional.
A fim de realizar a criação de um banco de dados global a respeito das espécies nas
mais diversas localidades, surgiu em 2021 o projeto Lifeplan. Em um esforço conjunto
entre pesquisadores por todo o mundo, o projeto conta com mais de 100 locais de
amostragem para o levantamento de dados a respeito da biodiversidade local de
espécies usando métodos semi-automatizados e comparáveis. O Lifeplan Natal
trabalha em conjunto esforço para o levantamento desses dados, mais
especificamente nas áreas costeiras de Floresta Atlântica que se apresenta como uma
das florestas mais ricas em diversidade de vida do planeta. O Lifeplan Natal atua em
conjunto esforço multidisciplinar para o levantamento de dados e padrões da
diversidade de diversos grupos e os efeitos da urbanização sobre a biodiversidade.
No contexto específico do projeto Lifeplan Natal, o objetivo principal foi realizar a
coleta e obtenção de amostras em campo, que seriam posteriormente enviadas ao
projeto global. No que diz respeito à análise da flora, a coleta de amostras na Floresta
Nacional de Nísia Floresta foi encaminhada com o propósito de estimar a diversidade
de espécies nativas, visando a identificação de espécimes vegetais destinadas a serem
incluídas em coleções científicas.
Assim, a coleta e identificação taxonômica dos espécimes vegetais encontrados na
Floresta Nacional de Nísia Floresta desempenham um papel de grande importância na
expansão do conhecimento intrínseco à região. Isso ocorre tanto pelo enriquecimento

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das coleções científicas quanto pela revisão da literatura disponível. Além disso, os
dados coletados também têm relevância para o projeto global, contribuindo para
análises abrangentes da biodiversidade global por meio da incorporação das
informações coletadas.

Metodologia

Selecionada uma área próxima da Mata Atlântica costeira com baixo nível de
urbanização, a FLONA de Nísia Floresta onde, ao longo de 6 anos, foram realizadas
incursões semanais. Essas incursões ocorreram em uma área de 1 hectare que está
subdividida em 5 parcelas com o objetivo de realizar coletas botânicas das espécies
presentes nas parcelas e também coletadas nas expedições que ocorreram nas bordas
dos fragmentos da FLONA de Nísia Floresta. As amostras coletadas serão identificadas,
tombadas e depositadas no Herbário UFRN e em outras coleções científicas. Os dados
resultantes foram analisados para o desenvolvimento de dados estatísticos descritivos
e quantitativos para estimativas da diversidade de espécies existentes na área.

Resultados e Discussões

Foram coletadas amostras de 227 exemplares representando 109 táxons. Os dados


coletados foram analisados para verificação de ocorrências e identificação de possíveis
espécimes ainda não descritas. Essas informações podem aumentar a visibilidade da
unidade de conservação e agregar valor ao bioma Mata Atlântica no nordeste do
Brasil, como é representado pela FLONA de Nísia Floresta.
Dentre os exemplares identificados nas cinco parcelas seccionadas na área de 1
hectare e nas expedições realizadas nas bordas dos fragmentos, foram identificadas 51
famílias.
Tabela 1 - Relação das espécies registradas nas áreas de Mata Atlântica na FLONA de
Nísia Floresta.
_______________________________________________________________________
____
Famílias e Espécies
_______________________________________________________________________
___
Anacardiaceae

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Anacardium occidentale
Tapirira guianensis
Annonaceae
Xylopia laevigata
Apocynaceae
Allamanda sp.
Ditassa crassifolia
Mandevilla moricandiana
Odontadenia lutea
Oxypetalum sp.
Temnadenia odorifera
Araceae
Anthurium affine
Aristolochiaceae
Aristolochia sp.
Bignoniaceae
Amphilophium scabriusculum
Fridericia chica
Lundia longa
Boraginaceae
Cordia superba
Bromeliaceae
Hohenbergia ridleyi
Burseraceae
Protium heptaphyllum
Celastraceae
Monteverdia erythroxyla
Chrysobalanaceae
Chrysobalanus icaco

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Hirtella racemosa
Leptobalanus octandrus
Licania octandra
Combretaceae
Terminalia tetraphylla
Dilleniaceae
Davilla rugosa
Dioscoreaceae
Dioscorea sp.
Eriocaulaceae
Paepalanthus subtilis
Erythroxylaceae
Erythroxylum passerinum
Euphorbiaceae
Pogonophora sp.
Fabaceae
Abarema filamentosa
Abrus precatorius
Andira humilis
Bauhinia cheilantha
Bowdichia virgilioides
Centrosema sp.
Chamaecrista ensiformis
Copaifera arenicola
Hymenaea rubriflora
Inga cylindrica
Machaerium sp.
Paubrasilia echinata
Pityrocarpa moniliformis

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Senna macranthera
Stylosanthes sp.
Humiriaceae
Sacoglottis guianensis
Krameriaceae
Krameria tomentosa
Lamiaceae
Eplingiella fruticosa
Lauraceae
Ocotea canaliculata
Lecythidaceae
Lecythis sp.
Lentibulariaceae
Utricularia sp.
Lycopodiaceae
Palhinhaea cernua
Malpighiaceae
Byrsonima gardneriana
Byrsonima sp.
Stigmaphyllon paralias
Marcgraviaceae
Schwartzia brasiliensis
Melastomataceae
Comolia ovalifolia
Miconia serialis
Meliaceae
Swietenia macrophylla
Moraceae
Brosimum guianense

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Myrtaceae
Eugenia punicifolia
Eugenia sp.
Myrcia bergiana
Myrciaria tenella
Psidium oligospermum
Nyctaginaceae
Guapira pernambucensis
Ochnaceae
Ouratea hexasperma
Sauvagesia erecta
Sauvagesia sprengelii
Orchidaceae
Cyrtopodium flavum
Eltroplectris calcarata
Epidendrum cinnabarinum
Passifloraceae
Passiflora foetida
Peraceae
Pera glabrata
Pogonophora schomburgkiana
Poaceae
Pariana sp.
Polygalaceae
Bredemeyera laurifolia
Caamembeca spectabilis
Polygala trichosperma
Polygonaceae
Coccoloba alnifolia

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Primulaceae
Myrsine sp.
Proteaceae
Roupala sp.
Rubiaceae
Alseis pickelii
Chiococca alba
Chiococca nitida
Cordiera myrciifolia
Eumachia depauperata
Hexasepalum apiculatum
Mitracarpus hirtus
Palicourea hoffmannseggiana
Psychotria bahiensis
Richardia grandiflora
Salzmannia nitida
Tocoyena sellowiana
Tocoyena formosa
Santalaceae
Phoradendron bathyoryctum
Sapindaceae
Allophylus puberulus
Cupania impressinervia
Serjania salzmanniana
Sapotaceae
Pouteria venosa
Schizaeaceae
Actinostachys pennula
Schoepfiaceae

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Schoepfia brasiliensis
Smilacaceae
Smilax cissoides
Solanaceae
Solanum sp.
Turneraceae
Piriqueta guianensis
Piriqueta nanuzae
Urticaceae
Cecropia sp.
Xyridaceae
Xyris jupicai
_______________________________________________________________________
____
Através dos resultados obtidos e por meio da análise da diversidade botânica na Mata
Atlântica, mais especificamente na FLONA de Nísia Floresta, nos mostram uma grande
riqueza biológica e com isso a necessidade de conservação dessa área e
consequentemente desse ecossistema. A diversidade de espécies botânicas
identificadas na FLONA de Nísia Floresta é excepcional, apresentando desde grandes
árvores até plantas de pequeno porte com hábito epífito e isso é um reflexo do
funcionamento desse ecossistema. Tal ecossistema permite a coexistência de uma
grande diversidade de espécies botânicas ocupando diferentes nichos ecológicos, o
que permite uma convivência harmônica que é resultado de diferentes adaptações
que esses indivíduos apresentam.
O bioma Mata Atlântica é uma das regiões com maior biodiversidade do mundo,
considerando fauna e flora, mesmo que tenha tido sua área reduzida
significativamente com a urbanização. Essa diversidade não apenas agrega a
biodiversidade global, mas também proporciona uma grande diversidade de
compostos químicos extraídos das espécies botânicas, compostos estes com potencial
fitoterápico, auxiliando no desenvolvimento de fármacos e fornecendo matéria prima
para novos estudos.
Essa grande variedade de espécies vegetais é resultado de eras de adaptações
evolutivas a diferentes condições e fatores, como luz e temperatura. Além dos fatores
citados anteriormente, há outros fatores biológicos como polinizadores e as relações

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de simbiose, a exemplo das micorrizas e, todos esses fatores atuam em conjunto para
a manutenção e equilíbrio desse ecossistema. Contudo, essa excepcional
biodiversidade enfrenta ameaças das ações antrópicas como o desmatamento e
urbanização que comprometem a sobrevivência dessas espécies, tal situação se torna
ainda pior quando consideramos as espécies endêmicas que ocorrem apenas nessa
região.
A conservação da Mata Atlântica, bem como a importância da FLONA de Nísia Floresta,
não apenas mantém a riqueza da flora, mas também permite a continuidade dos
serviços prestados pela vegetação, como controle da temperatura e proteção do solo.
Devido a isso, há a necessidade da continuidade desses estudos, para melhor
compreensão desse ecossistema, as diferentes capacidades adaptativas desenvolvidas
evolutivamente e com isso, utilizar esse conhecimento para conscientizar a população
sobre a necessidade de conservação dessa biodiversidade e assim promovendo apoio a
preservação.

Conclusão

Perante o exposto, podemos concluir que este trabalho é de grande importância onde
a análise florística realizada pôde contribuir com dados significativos de espécies
presentes na Mata Atlântica costeira situada na unidade de conservação de Nísia
Floresta. Contudo, é necessária a continuidade dessa pesquisa pois não foi possível
explorar toda a área da FLONA de Nísia Floresta, o que implica que há muitas espécies
que não foram descritas no presente trabalho e, os dados e o conhecimento gerado
com essa pesquisa pode contribuir para um melhor entendimento desse ecossistema,
as relações entre as diferentes espécies vegetais e como elas se comportam no meio. A
descrição das espécies aqui citadas corroboram para uma melhor compreensão da
biodiversidade presente na Mata Atlântica e apoiam o projeto Lifeplan contribuindo
com dados e informações a respeito da diversidade vegetal. Entretanto, mesmo com o
presente conjunto de dados, o presente trabalho não é conclusivo quanto à análise
florística na FLONA de Nísia Floresta, sendo necessária a continuidade dessa pesquisa.

Referências

SIQUEIRA, Marinez. Análise florística e ordenação de espécies arbóreas da Mata


Atlântica através de dados binários. Campinas - SP. 1994.

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OLIVEIRA FILHO, A. T. et al.Análise florística do compartimento arbóreo de áreas de


floresta atlântica sensu lato na região das Bacias do Leste (Bahia, Minas Gerais, Espírito
Santo e Rio de Janeiro). Lavras -MG. 2005.
LEITÃO FILHO, Hermógenes. Considerações sobre a florística de florestas tropicais e
subtropicais do Brasil. UNICAMP - Departamento de botânica. Campinas - SP. 1987.

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CÓDIGO: SB1360

AUTOR: GLEYCIANE KATIELLE CORTÊS FERREIRA

ORIENTADOR: SIMONE ALMEIDA GAVILAN

TÍTULO: Avaliação do Sistema nervoso em adultos e filhotes de tartarugas


marinhas

Resumo

Este estudo tem como objetivo avaliar o sistema nervoso de tartarugas marinhas
adultas e recém-nascidas. Apesar de sua ampla distribuição e comportamentos
migratórios notáveis, todas as espécies de tartarugas marinhas brasileiras estão
classificadas como ameaçadas de extinção ou vulneráveis na Lista Vermelha da IUCN
(2021). A pesquisa limitada sobre a neurobiologia dessas espécies se deve ao seu
estado de conservação ameaçado. Superando isso, o estudo examinou indivíduos
encalhados, fornecendo percepções vitais sobre a neuroanatomia das tartarugas
marinhas. A avaliação do sistema dopaminérgico é particularmente significativa, pois
influencia a percepção sensorial, o controle motor, a aprendizagem, a memória e a
motivação em vertebrados. Compreender esse sistema aprimora as perspectivas
ecológicas e estabelece uma base neuroanatômica para futuros estudos funcionais na
motricidade das tartarugas marinhas. A pesquisa foi conduzida ao longo da costa
noroeste do Rio Grande do Norte, cobrindo cerca de 410 km desde Caiçara do Norte -
RN até Icapuí/CE. Os animais eram provenientes de encalhes, e o trabalho colaborativo
em laboratório foi realizado pela UFRN e UERN. Uma análise abrangente da morfologia
cerebral revelou limites distintos e regiões neurais interconectadas, demonstrando a
adaptação neural das tartarugas verdes a ambientes aquáticos. Esta pesquisa incentiva
uma exploração mais aprofundada da morfologia cerebral em outras espécies de
tartarugas marinhas.

Palavras-chave: quelônio; sistema nervoso; neurotransmissores; dopamina.

TITLE: Evaluation of the Nervous System in adult and hatchling sea turtles

Abstract

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eCICT 2023

This study aims to assess the nervous system of both adult and hatchling sea turtles.
Despite their wide distribution and remarkable migratory behaviors, all Brazilian sea
turtle species are classified as endangered or vulnerable by IUCN's Red List (2021).
Limited research on the neurobiology of these species is due to their threatened
conservation status. Overcoming this, the study examined stranded individuals,
providing vital insights into sea turtle neuroanatomy. The assessment of the
dopaminergic system is particularly significant, influencing sensory perception, motor
control, learning, memory, and motivation in vertebrates. Understanding this system
enhances ecological insights and establishes a neuroanatomical foundation for future
functional studies in sea turtle motricity. Research was conducted along the Northwest
coast of Rio Grande do Norte, covering around 410 km from Caiçara do Norte - RN to
Icapuí/CE. Animals were from stranded incidents, and collaborative lab work was done
by UFRN and UERN. Comprehensive brain morphology analysis revealed distinct
boundaries and interconnected neural regions, showcasing green sea turtles' neural
adaptation to aquatic environments. This research encourages further exploration of
cerebral morphology in other sea turtle species.

Keywords: chelonian; nervous system; neurotransmitters; dopamine.

Introdução

Todas as espécies de tartarugas marinhas existentes no Brasil, se encontram


ameaçadas de extinção de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN, 2021). Três espécies, Chelonia mydas, Eretmochelys
imbricata e Caretta caretta, são classificadas como em perigo de extinção, e duas,
Lepidochelys olivacea e Dermochelys coriacea como vulneráveis. Sabe-se que esses
répteis possuem distribuição cosmopolita, realizam grandes migrações entre áreas de
alimentação e reprodução, além disso, possuem uma orientação geográfica que
permite com que as fêmeas desovem na mesma praia do seu nascimento (MEYLAN;
MEYLAN, 1999). Estudos sugerem que o campo magnético da crosta terrestre está
relacionado com o mecanismo de navegação de tartarugas marinhas (SILVA, 2013).
Entretanto, ainda são necessárias mais informações sobre a biologia desses animais,
para esclarecimentos dessas questões. Dentre as áreas de pesquisa em tartarugas
marinhas, no que tange a anatomia do Sistema Nervoso, alguns trabalhos foram
realizados, como Wyneken (2001) que descreve o sistema nervoso central, estando
este arranjado longitudinalmente ao longo da linha média do crânio e o cérebro
alojado em uma caixa craniana.Entretanto, trabalhos que descrevam a citoarquitetura
do encéfalo de tartarugas marinhas são inexistentes.Essa limitação em investigações
neurobiológicas ocorre, segundo J Lohmann, 2012 por se tratar de um animal com
status de conservação classificado como espécie ameaçada, dificultando assim o
acesso à informação. Nesse sentido, o trabalho em questão venceu essa dificuldade,

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eCICT 2023

uma vez que a pesquisa foi desenvolvida com animais provenientes de encalhes sendo
esse quantitativo, para a área a ser estudada, considerado pertinente. Dentre as
inúmeras possibilidades de estudo com o Sistema Nervoso, a avaliação do Sistema
dopaminérgico se faz de suma importância. Esse sistema está presente no SNC de
todos os vertebrados, sendo responsável pela neurotransmissão de dopamina. Nos
vertebrados, as células que sintetizam dopamina são encontradas no bulbo olfatório,
retina, e no diencéfalo. Os neurotransmissores de dopamina agem para modular os
passos iniciais de percepção sensorial no bulbo olfatório e da retina, programação
motora, aprendizado e memória, processos afetivos e motivacionais do cérebro
anterior, o controle da temperatura corporal, a ingestão de alimentos, e várias outras
funções do hipotálamo (YAMAMOTO; VERNIER, 2011). Tais animais realizam grandes
migrações entre áreas de alimentação e reprodução, além disso, possuem uma
orientação geográfica que permite com que as fêmeas desovem na mesma praias do
seu nascimento. Assim, a descrição do Sistema Dopaminérgico auxilia no
entendimento de questões ecológicas e fornece bases neuroanatômicas para futuros
estudos funcionais da motricidade, tanto para adultos quanto para filhotes de
tartarugas marinhas.

Metodologia

Etapa em campo Este plano de trabalho integra um projeto maior, desenvolvido com
recursos provenientes de parceria entre a UFRN e UERN, contando com apoio do
Projeto de Monitoramento de Praias - PMP da Bacia Potiguar Petrobras. A pesquisa foi
realizada em praias do litoral Noroeste do Rio Grande do Norte, entre os municípios de
Caiçara do Norte - RN (5° 4'1.15"S; 36° 4'36.41"O) e Icapuí/CE, (4°38'48.28"S;
37°32'52.08"O), perfazendo uma extensão aproximada de 410 km. Os animais
utilizados no estudo foram provenientes de encalhes animais nas praias da região,
filhotes natimortos e animais que vieram a óbito na base de reabilitação. Ao registrar
uma tartaruga marinha viva, o biólogo acionava a equipe de resgate que translocava o
animal para a Base de Reabilitação de animais marinhos localizada em Areia Branca. O
animal recebeu tratamento adequado à sua patologia, pela equipe médica veterinária
do projeto Cetáceos da Costa Branca com vistas a sua recuperação e posterior soltura.
Em situações em que o quadro clínico do animal não evoluiu, foi realizada a necropsia.
O projeto possui a licença ABIO (Captura, coleta e transporte de material biológico) e
SISBIO. Etapa em laboratório Os procedimentos de necropsia foram realizados no
Laboratório de Monitoramento de Biota Marinha- UERN-Mossoró e no Museu de
Ciências Morfológicas - UFRN. Inicialmente, foi retirado o plastrão do animal para
acessar o sistema cardiovascular. A partir da aorta foi introduzida uma seringa com
fixador (formoaldeído) para o procedimento inicial de fixação do encéfalo do animal.

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eCICT 2023

Posteriormente, foi realizada uma ruptura do crânio do indivíduo e retirado o encéfalo.


O material biológico foi acondicionado em um frasco de vidro e submerso do Formol a
4%.

Resultados e Discussões

Durante o período de 2021 e 2022 foram coletados seis encéfalos de tartarugas


marinhas. Dessas, uma foi classificada como adulta e cinco como juvenis/subadultas.
Cinco vieram a óbito no Centro de Reabilitação do Projeto Cetáceos da Costa Branca e
passaram imediatamente pelo procedimento de retirada do encéfalo. Uma tartaruga
marinha foi registrada já morta durante o monitoramento de praia por um dos
biólogos do PCCB/UERN e devido ao seu estado bem conservado, foi possível
caracterizar a morfologia externa do encéfalo ainda dentro da caixa craniana através
de uma secção sagital do crânio (Quadro 01). Morfologia Externa O encéfalo de
tartaruga-verde juvenil e adulta apresenta-se dividido com delimitações bem
definidas. Em sentido rostral a caudal e em vista dorsal, observa-se nervos e bulbo
olfatório, cérebro, lóbulo óptico, cerebelo e medula. Em visão lateral e ventral é
possível notar os nervos ópticos e oculomotor, assim como outros nervos craniais
(Figuras 22 e 23). Em visão dorsal e sentido rostrocaudal, nota-se o bulbo olfatório
fazendo limite com os hemisférios cerebrais (telencéfalo) e estes, por sua vez, fazendo
limite posteriormente com a borda anterior dos lóbulos ópticos. O cerebelo está em
posição mais caudal, fazendo fronteira com a borda posterior dos lóbulos ópticos. Na
porção ventral e posterior do encéfalo observa-se o tronco encefálico e dando
continuidade, a medula (oblonga e espinal).

Conclusão

O presente estudo, permitiu descrever a morfologia do encéfalo de tartarugas


marinhas de diferentes fases de desenvolvimento. A morfologia externa do encéfalo
dos indivíduos analisados, tanto juvenil quanto adulto, apresenta uma organização
distinta com delimitações claras entre suas principais estruturas. Ao examinar o
encéfalo em vista dorsal, é possível identificar a disposição sequencial das estruturas,
incluindo nervos e bulbo olfatório, cérebro, lóbulo óptico, cerebelo e medula. A
visualização lateral e ventral revela os nervos ópticos e oculomotor, juntamente com
outros nervos cranianos. A análise em diferentes perspectivas confirma a interconexão
das regiões, como o bulbo olfatório que limita os hemisférios cerebrais e o cerebelo
que se estende até a borda posterior dos lóbulos ópticos. O tronco encefálico e a
medula concluem a estrutura na porção ventral e posterior do encéfalo. Essa
segmentação clara das regiões encefálicas ressalta a complexidade da organização

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neural na tartaruga-marinha, evidenciando uma adaptação morfológica notável ao seu


ambiente aquático. Sugere-se o desenvolvimento de novos estudos que dêem
continuidade à descrição morfológica do encéfalo de outras espécies de tartarugas
marinhas.

Referências

IUCN. 2022. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2022-2.
https://www.iucnredlist.org. Accessed on 08.28.2023 LOHMANN, Kenneth J.;
PUTMAN, Nathan F.; LOHMANN, Catherine MF. The magnetic map of hatchling
loggerhead sea turtles. Current Opinion in Neurobiology, v. 22, n. 2, p. 336-342, 2012.
MEYLAN, Anne B.; MEYLAN, Peter A. Introduction to the evolution, life history, and
Biology of sea turtles. IUCN/SSC Marine Turtle Specialist Group Publication, [S.l.], n. 4,
p. 3-5, 1999. SILVA, Guilherme Pereira da. O campo magnético natural terrestre como
parâmetro da movimentação oceânica de tartarugas marinhas. Tese (Doutorado) –
Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em
Oceanografia, 2013. WYNEKEN, Jeanette. The anatomy of sea turtles. National Oceanic
and Atmospheric Administration, U.S. Department of Commerce, NOAA Technical
Memorandum NMFS-SEFSC-470, 2001. YAMAMOTO, Kei; VERNIER, Philippe. The
evolution of dopamine systems in chordates. Frontiers in Neuroanatomy, v. 5, p. 21,
mar. 2011.

Anexos

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Figura 02. Visão para sagital da região cefálica de tartaruga-verde juvenil exibindo a (A)
Morfologia externa do encéfalo e alguns (B) nervos craniais destacados pelas setas.

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Figura 01. Encéfalo de tartaruga verde juvenil. De cima para baixo, são representadas
as faces lateral, dorsal e ventral do encéfalo e da esquerda para direita uma visão
anteroposterior.

Quadro 01. Exemplares de tartaruga-marinha utilizados no estudo, com a descrição do


seu sexo, comprimento x largura (cm) e procedimento em que foi utilizado.

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CÓDIGO: SB1361

AUTOR: YAGO TOMAZ VIEIRA DA SILVA

ORIENTADOR: DANIEL CARLOS FERREIRA LANZA

TÍTULO: Identificação dos vírus HPV e HSV em amostras de sêmen

Resumo

A infecção pelo Human Papillomavirus (HPV) é a principal causa do câncer endocervical


em mulheres. O gênero Alphapapillomaviruses infecta o epitélio mucoso da
endocérvice, sendo os HPV16 e HPV18 os mais presentes em cânceres cervicais. A
detecção e tipagem desses vírus para aplicação clínica ainda é pouco difundida, e os
sistemas de PCR disponíveis são pouco sensíveis e específicos. O objetivo desse
trabalho foi desenvolver um sistema de PCR para detecção dos tipos HPV16 e HPV18
com alta sensibilidade, especificidade e baixo custo, para implementação na rotina
laboratorial. A aplicação de ferramentas de bioinformática e análise de sequências
disponíveis possibilitou determinar regiões no genoma viral propícias ao desenho de
iniciadores adequados à detecção dos HPV16 e HPV18. Esses iniciadores foram
sintetizados, validados em laboratório, e sua sensibilidade e especificidade
identificadas. Após validação, o novo sistema de PCR foi aplicado para identificação do
HPV em 41 amostras endocervicais de pacientes atendidas na Maternidade Escola
Januário Cicco (MEJC). Observou-se que os sistemas de PCR desenvolvidos foram mais
eficientes do que os preconizados pela literatura para detecção do HPV16 e HPV18. Os
resultados foram promissores, e a tecnologia desenvolvida está sendo transferida para
a MEJC, contribuindo para o diagnóstico e triagem precoce do câncer de colo de útero.

Palavras-chave: Papilomavírus humano, câncer cervical, nested PCR

TITLE: Primers design for detection of high-risk HPV virus in endocervical


samples

Abstract

Human Papillomavirus (HPV) infection is the leading cause of endocervical cancer in


women.The genus Alphapapillomaviruses infects the mucosal epithelium of the
endocervix, with HPV16 and HPV18 being the most common in cervical cancers.The

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detection and typing of these viruses for clinical application is still not widespread, and
the available PCR systems are not very sensitive and specific.The objective of this work
was to develop a PCR system for the detection of HPV16 and HPV18 types with high
sensitivity, specificity and low cost, for implementation in the laboratory routine.The
application of bioinformatics tools and analysis of available sequences made it possible
to determine regions in the viral genome conducive to the design of suitable primers
for the detection of HPV16 and HPV18.These primers were synthesized, validated in
the laboratory, and their sensitivity and specificity identified.After validation, the new
PCR system was applied to identify HPV in 41 endocervical samples from patients
treated at Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC).It was observed that the PCR
systems developed were more efficient than those recommended in the literature for
the detection of HPV16 and HPV18.The results were promising, and the developed
technology is being transferred to the MEJC, contributing to the diagnosis and early
screening of cervical cancer.

Keywords: Human papillomavirus, cervical cancer, nested PCR

Introdução

Introdução
O Human papillomavirus (HPV) é um vírus não envelopado, com genótipos
relacionados ao desenvolvimento de câncer do colo do útero. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), o câncer cervical é o quarto câncer mais comum entre
mulheres no mundo, com uma estimativa de 604.000 novos casos e 342.000 óbitos em
2020 [1]. O HPV do gênero filogenético Alphapapillomavirus (18, 16, 31, 33, 35, 39, 45,
51, 52, 56, 58, 59, 66, 68) apresenta tropismo por células do epitélio cervical, incluindo
os que têm capacidade oncogênica [2].
1.1 Ciclo viral do HPV:
O HPV apresenta DNA de dupla fita circular, estrutura icosaédrica e não envelopado. O
genoma do vírus é constituído por aproximadamente 8.000bp, apresentando seis
regiões codificantes de proteínas funcionais e estruturais (E1, E2, E4, E5, E6, E7, L1 e
L2) e uma região reguladora (URR), todas tendo participação no processo infeccioso e
de alterações celulares [2].
As regiões codificantes do vírus são expressas em momentos específicos da infecção,
sendo estabelecido que os genes precoces (E1, E2, E4, E5, E6 e E7) serão expressos no
período de adaptação e regulação do vírus na célula, enquanto os tardios (L1 e L2)
serão expressos para montagem dos capsídeos dos vírions que serão liberados [3, 4].
As proteínas E6 e E7 possuem grande relevância para o desenvolvimento da

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carcinogênese. E6 e E7 atuam diretamente no ciclo de divisão celular, provocando


inativação das proteínas supressoras de tumor p53 e pRb [5].
O HPV tem como principal forma de infecção o contato sexual e com fluidos seminais
[6]. Sobre a profilaxia, existem vacinas contra os genótipos (6, 11, 16, 18, 31, 33, 45,
52, 58) que previnem a infecção pelo HPV [7]. Além de serem mundialmente utilizadas
em campanhas de prevenção primária contra os cinco principais cânceres provocados
pelo vírus: câncer cervical, cabeça e pescoço, anal e peniano [7, 8, 9]. O público-alvo
são meninas e meninos entre 9 e 14 anos de idade podendo a idade variar de acordo
com a epidemiologia de cada país [10, 11].
1.2 Teste de rastreamento e diagnóstico de câncer causado por HPV
O diagnóstico de câncer cervical no Brasil e no mundo é feito por métodos citológicos,
como o Papanicolau, ou moleculares, como PCR e hibridização por sonda tipo
específica [12]. Estudos atuais destacam que a combinação do teste de citologia em
base líquida (CBL) com o teste molecular de HPV é uma abordagem promissora para o
rastreio do câncer cervical, apresentando um maior espectro de detecção dos tipos de
HPV e redução do risco de resultados falso positivo [13, 14].
O teste por esfregaço cervicovaginal (papanicolaou) tem como objetivo detectar
alterações nas células do colo do útero e é feito em mulheres que apresentam vida
sexual ativa, normalmente com idade entre 30 e 49 anos, sendo necessário realizar o
exame no mínimo 3 vezes durante a vida [15]. No entanto, este método não apresenta
tanta sensibilidade e especificidade para identificar precocemente a infecção por HPV,
sendo possível somente quando o vírus provoca lesões no colo do útero [16].
Existem vários métodos moleculares utilizados para detecção e identificação do HPV,
mas poucos têm a capacidade de genotipagem necessária para o rastreio. Além disso,
os padrões ouro GP5+/GP6+ e PGMY09/11 cobrem um vasto espectro de genótipos,
no entanto, são mais utilizados em pesquisas científicas, pois dependem de outras
metodologias moleculares para definir o tipo de HPV presente na amostra coletada
[17,18].
Para suprir esta lacuna, desenvolvemos um ensaio de nested PCR com marcadores
moleculares para específicos para detecção do HPV de alto risco do tipo 16 e 18. A
partir do uso dessa metodologia, o auxílio diagnóstico será potencialmente viável para
identificação dos principais genótipos de HPV de alto risco em rotina laboratorial, com
fácil replicabilidade e de baixo custo.

Metodologia

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2. Metodologia
2.1 Seleção e desenho dos marcadores:
Sequências do genoma completo do Human Papillomavirus do tipo 16 e 18 foram
recuperadas do banco Nucleotide do National Center for Biotechnology Institute - NCBI
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/nuccore), a partir da query (“Human papillomavirus
type 16” AND “complete genome”) e (“Human papilomavírus type 18” AND “complete
genome”), durante o mês de outubro de 2022. Foram selecionadas todas as
sequências com genoma completo do HPV 16 e 18. Como o DNA do HPV é circular,
usamos o software MARS para identificar rotações iguais em cada sequência [19]. Para
o alinhamento das sequências, foi usado o software MAFFT com os parâmetros
padrões [20].
O desenho dos primers foi feito no software Geneious Prime 9.0.5
(https://www.geneious.com), após a etapa de ancoragem e alinhamento,
respectivamente. A especificidade dos primers foi analisada in-silico no Primer-BLAST
(Primer designing tool (nih.gov) para: Homo sampiens (taxid:9606), viruses
(taxid:10239), bacteria (taxid:2), fungi (taxid:4751) e apicomplexans (taxid:5794). O
software AutoDimer foi usado para verificar a formação de dímeros e hairpins nos
primers [21].
2.2 Padronização do protocolo in-vitro:
Para a etapa de validação dos primers desenvolvidos, foi realizado a técnica de Reação
em Cadeia da Polimerase (PCR) com células SiHa e HeLa, que são linhagens celulares
infectadas com HPV do tipo 16 e 18, respectivamente. O objetivo foi confirmar a
especificidade e sensibilidade dos marcadores em células infectadas, assim como foi
apresentado in-silico. Para isso, foi realizada a extração de DNA desses controles
utilizando o kit PureLink™ Genomic DNA Mini Kit (Invitrogen), segundo as
recomendações do fabricante.
A PCR para os primers desenhados foi padronizada para um volume final de 20µL,
contendo 1,5 mM MgCl2, 1 U Ludwigbiotec Taq DNA polimerase, 0,2 mM de cada
dNTP, 1x de Buffer, 1 µl de DNA template e 0,25 µM de cada primer. O ciclo térmico foi
realizado no PCR Thermal Cycler Machine MSLPCR13 (neuvar). As temperaturas de
cada ciclo foram: Desnaturação inicial: 94°C por 2min, desnaturação: a 94°C por 1 min,
extensão a 72°C por 1 min e extensão final a 94°C por 5 min. A temperatura ideal de
anelamento foi definida a partir de um gradiente de temperaturas. Esse processo foi
feito com os parâmetros do termociclador. O DNA amplificado foi observado no gel de
agarose 1.5%.
2.3 Teste de sensibilidade (diluição seriada)

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O objetivo do teste foi avaliar a quantidade mínima de DNA necessária para que
ocorresse o anelamento, dos primers desenvolvidos, na presença do HPV. Para isso, a
concentração das amostras controles (Siha e HeLa) foram usadas para realização da
diluição seriada. O fator de diluição utilizado foi 10. Posteriormente, realizamos uma
PCR com os parâmetros padrão dos primers.
Utilizamos os amplicons do primeiro step mais diluído e ainda visível no gel para o
teste de diluição com os primers do segundo step. A partir deles, foi realizado uma
nova diluição seriada e, posteriormente, utilização dos amplicons como amostras para
o preparo da PCR. Os produtos da reação foram analisados em gel de agarose 1.5%.
2.4 Teste com amostras clínicas:
O projeto proposto foi aprovado pelo comitê de ética (CAAE 30679220.9.0000.5292),
em concordância com as normas de pesquisas que envolvem humanos (Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde).
As amostras foram coletadas da região endocervical, a partir da escova usada no
exame de papanicolau, foram colocadas em tubo falcon de 15mL e posteriormente
armazenadas em -80°C, para conservação do material celular e genético contido nas
amostras.
2.5 Extração de DNA:
As amostras passaram por um processo de lise celular, extração e purificação do
material genético, com uso do kit (Wizard® Genomic DNA Purification Kit), seguindo
todas as orientações contidas no protocolo do produto.
2.6 Quantificação do DNA:
Como etapa da análise da eficiência da extração do DNA genômico, foi feita a
verificação por um espectrofotômetro NanoVue Plus (GE Healthcare, Reino Unido). A
absorbância foi medida nos comprimentos de onda de 260 e 280 nm, e as razões
foram calculadas para estimar a concentração e a pureza relativa do DNA extraído,
utilizando 2μL de cada amostra.
2.7 Teste de integridade do material genético extraído:
Para testar a integridade do DNA genômico extraído, foi realizada uma reação de PCR
com os primers específicos para o gene de actina, de acordo com o protocolo
estabelecido [22]. A reação foi preparada em volume total de 20µL, contendo 1.5µL de
DNA, 0.25µM de cada primer de actina, 1.5mM de MgCl2, 1 U GoTaq® G2 Hot Start
Polymerase (Promega) e 0.2mM de cada dNTPs.
Para o processo de amplificação da reação de PCR, foi utilizado o termociclador (Bioer -
Life Touch) com os seguintes parâmetros para cada ciclo: desnaturação inicial a 94°C
por 2 min, seguido dos 35 ciclos de desnaturação a 94°C por 40 segundos, anelamento

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a 53°C por 40 segundos, extensão a 72°C por 40 segundos e extensão final de 72°C por
3 minutos. Os primers do gene actina apresentam amplicon com 838bp.

Resultados e Discussões

3. Resultados
3.1 Desenho de primers:
Após a busca das sequências genômicas dos HPV de interesse, foram retornadas 634
sequências do HPV do tipo 16 e 146 do tipo 18. Com a análise dessas sequências,
foram escolhidos como alvos os genes E6 e E7 para identificação e genotipagem do
HPV 16 e o gene E1 para o HPV 18, pois esses alvos são mais conservados nesses tipos.
As características dos conjuntos de primers estão dispostas a seguir (Tabela 1): Primer
para HPV 16, step 1: F (GTGTACTGCAAGCAACAGT, Tm: 56.08) R
(TGTCTACGTGTGTGCTTTG, Tm: 56.98) Primer para HPV 16, step 2: F
(ATTAGGTGTATTAACTGTC, Tm: 46.35) R (CTGGACCATCTATTTCAT, Tm: 47.99) Primer
para HPV 18, step 1 F (AACCCAACAATAGCAGAAGG, Tm: 55.62) R
(CCTGTATTTGCTGGTCCAC, Tm:55.89) Primer para HPV 18, step 2: F
(ACCACCAAAATTGCGAAGTAG, Tm: 57.07) R (CATTGCTGTTGCTGTCTGC, Tm: 57.90).
Assim, a presença de bandas no tamanho 590pb e 716pb indica sucesso na
amplificação dos primers 16 e 18 do step 1, respectivamente. Já bandas com 282pb e
242pb indicam amplificação dos primers do segundo step para HPV 16 e 18,
respectivamente (Tabela 1).
Com relação a especificidade dos primers, o teste in-silico no Primer Blast demonstrou
que os oligonucleotídeos desenhados só anelavam em sequências do HPV. Os testes
no software AutoDimer com parâmetros padrões também foram satisfatórios, sem a
formação de dímeros e hairpins.
Padronização do protocolo in-vitro:
A extração do DNA das amostras controle foi realizada adequadamente, havendo
amplificação do gene actina como certificação de integridade genômica (Figura 3 - A) A
testagem inicial dos primers com células controle SiHa e HeLa apresentou bandas de
amplificação condizentes com o tamanho esperado dos amplicons, confirmando os
resultados in-silico (Figura 1).
A temperatura ideal de anelamento foi definida com base em um gradiente de onze
temperaturas (°C): 39.4, 40.4, 42.2, 44.5, 47.4, 50.9, 54.1, 56.4, 58.3, 59.4, 60. A
temperatura de anelamento escolhida foi 52ºC, pois apresentou maior sensibilidade e
especificidade para todos os conjuntos de primers desenhados (Figura 1).

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Teste de sensibilidade
Obtivemos um gradiente com 9 diluições com a finalidade de observarmos a
concentração mínima de DNA necessário para o anelmento dos primers. A amostra
escolhida para diluição seriada para uso na reação com os primers do 2º. Step YTMZ
16-02, foi a segunda amostra mais diluída e visível (10-2) do step 1. Já para a reação
com os primers do 2º. Step YTMZ 18-02 a amostra mais diluída e visível foi a (10-1) do
Step 1.
Teste com amostras clínicas:
Foram coletadas ao todo 41 amostras de pacientes, com média de idade de 35 ± 7,8
anos (Gráfico 1). O rendimento médio do DNA extraído das 41 amostras foi de 76,4 ±
187,05 ng/µL e a proporção da absorbância a 260 e 280 nm variou consistentemente
entre 1,9 e 1,1 com média de 1,58 ± 0,18.
As amostras foram diferenciadas a partir da presença ou ausência de sangue, sendo
considerado também a quantidade. Assim, cada amostra foi avaliada qualitativamente
e categorizada com nenhum, pouco, médio ou muito sangue presente nos espécimes
extraídos. Foram observadas 33 amostras com alguma presença de sangue (pouco = 15
amostras, médio = 7 amostras, muito = 11 amostras), somente 8 amostras foram
classificadas com ausência de sangue. (Boxplot 1).
A qualidade da extração de DNA foi analisada por gel de agarose. A banda de 838 pb
do gene da actina foi amplificada em 100% (41/41) das amostras de DNA (Fig 3 - B). A
maioria delas exibiu um padrão de bandas fortes, apenas 4 apresentaram bandas mais
fracas (amostras 9, 17, 18 e 23), demonstrando ainda mais a qualidade e a pureza do
DNA extraído.
No primeiro passo da nested PCR, nenhuma amostra apresentou amplificação
específica para HPV 16 e 18 (Fig 2 – C e E, respectivamente). No entanto, o segundo
step com os primers 16 resultou na amplificação das amostras 10, 14, 15, 17, 26, 28,
35 e 38 (Fig 3 - D). Já no segundo step com os primers 18, houve amplificação das
amostras 2, 6, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 21, 24, 31, 33, 34, 35, 36, 39 e 40 (Fig 3 – F). A
partir da análise dos resultados, foi possível observar que as amostras 14, 15 e 35
apresentaram estar infectadas pelo HPV 16 e 18. Nesse sentido, 56% das amostras
(23/41) foram positivas para HPV de alto risco.
Esses resultados indicam que o protocolo padronizado neste estudo é eficaz para
detecção do HPV 16 e 18. A ausência de bandas no primeiro step indica que a carga
viral nessas amostras estava baixa, sendo necessária uma segunda etapa de
amplificação para aumentar a sensibilidade do teste e assim, bandas serem
visualizadas.
Discussão

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eCICT 2023

O método padrão ouro para detecção de HPV em amostras endocervicais, conhecido


como GP5+/GP6+, está sendo utilizado com outros marcadores consensos para
aumentar o espectro de identificação dos tipos de HPV [18]. No entanto, a necessidade
de sondas tipo específica para identificação do genótipo torna esse sistema inviável
para uso em rotina laboratorial.
Várias técnicas de amplificação foram descritas para a identificação do HPV. Todavia,
reações de nested PCR têm se mostrado mais sensíveis para a detecção do
papilomavírus do que os métodos baseados em apenas uma reação de amplificação
[23]. Além da alta sensibilidade na detecção, sabe-se que marcadores moleculares
para uso em PCR do tipo nested apresentam maior especificidade que os marcadores
utilizados atualmente para o diagnóstico molecular de HPV de alto risco, tendo em
vista que não há dependência de outros métodos para haver a liberação do laudo [24].
A carga viral é um dos parâmetros que interferem no resultado de testes moleculares,
podendo induzir um falso negativo por conta da baixa sensibilidade de um método de
detecção. Os primers consenso aqui apresentados foram capazes de detectar baixas
concentrações dos tipos de HPV 16 e 18 em células SiHa e HeLa, respectivamente,
diluídas de forma seriada. Isso representa alta sensibilidade de detecção dos
marcadores desenvolvidos.
A garantia de funcionamento da PCR para detecção de HPV em amostras humanas
depende de inúmeras variáveis, desde a extração das amostras, até a preparação da
reação de PCR [25, 26]. Nesse sentido, em relação aos espécimens endocervicais
coletados, a presença de sangue pode resultar em interferência na reação de PCR, pois
compete por componentes químicos da reação necessários para atividade da DNA
polimerase. Como solução, são usados alguns aditivos de PCR, como Albumina de Soro
Bovino (BSA), para diminuir essa interferência, no entanto, esse uso encarece a reação
de PCR e dificulta o uso na rotina laboratorial [27].
O teste de viabilidade e integridade das amostras utilizando primers para amplificação
do gene constitutivo actina foi fundamental para reações de PCR realizadas. Nesse
sentido, observamos que as amostras 9 e 23 apresentaram bandas finas em
comparação as outras. No entanto, a amostra 9 foi positiva para HPV 18 no segundo
step da reação, o que representa boa funcionalidade dos primers mesmo em amostras
pouco integras.
A coinfecção por diferentes tipos de HPV em uma mesma amostra endocervical já foi
notificada em outros estudos [28, 29, 30]. Alguns detalham que não existe uma
correlação representativa de quais tipos específicos apresentam maior taxa de
infectarem uma mesma paciente [30, 31]. Levantamentos epidemiológicos mostram
que a coinfecção está relacionada ao comportamento sexual dos indivíduos, mas

1690
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eCICT 2023

principalmente a idade das pacientes [32]. Desse modo, observa-se que fatores
comportamentais e fisiológicos estão ligados a infecção pelo HPV.
A ocorrência de coinfecção ou múltipla infecção por diferentes genótipos de HPV tem
estado relacionado com o maior grau de lesões cervicais [33]. Desse modo, pacientes
que são vítimas dessa ocorrência, têm maior susceptibilidade para o desenvolvimento
de câncer cervical [34].
Sobre o teste de HPV, o uso deste para triagem do câncer cervical está sendo
implementado por vários programas de saúde do mundo. Estudos evidenciam que
mulheres que tiveram o teste de HPV negativo apresentaram menor risco de avançar à
neoplasia intraepitelial cervical (CIN) 3 quando comparado com mulheres que tiveram
teste de citologia cervical negativo. Demostrando que o teste de HPV possui maior
sensibilidade que o exame citológico isolado [35,36].
Os testes moleculares usados no rastreio do câncer cervical foram desenvolvidos com
metodologias de PCR convencional e do tipo nested. O sistema GP5+/6+ foi criado a
partir da elongação de alguns nucleotídeos adjacentes que estavam conservados nos
primers Forward e Reverse do sistema GP5/6 [37]. Posteriormente foi elaborado o
sistema MY09/11 para aumentar o espectro de detecção dos tipos de HPV não
alcançados pelos marcadores GP+ [38]. Os primers MY e GP+ são usados em PCR
nested, sendo um externo e outro interno, respectivamente [39]. Por último, foi
desenvolvido os primers PGMY09/11, uma versão aprimorada dos primers MY09/11,
que aumenta a sensibilidade após adição de 5 primers forward e 13 reverse [40].
Esses testes apresentam um amplo grau de detecção dos tipos de HPV, mas para
identificação dos genótipos dependem de outras metodologias como a de hibridização
reversa. Nesse sentido, apresentam baixa viabilidade em uso na rotina quando usados
isoladamente. Logo, temos que o uso de primers consenso tipo específico mostra-se
necessário.
Dessa forma, os oligonucleotídeos desenvolvidos neste estudo podem ser otimizados e
aplicados para rastreamento primário do câncer cervical em mulheres, bem como para
outros tipos de neoplasias. Tendo em vista que, o HPV também pode provocar outros
tipos de câncer em diferentes órgãos, incluindo ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe
[41].

Conclusão

Conclusão

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eCICT 2023

Neste estudo, desenvolvemos marcadores moleculares para detecção dos dois


principais tipos de HPV de alto risco a partir da reação de PCR do tipo nested. Partindo
dos resultados, conseguimos elaborar um método de detecção mais específico,
sensível e rápido para o uso na rotina laboratorial. Em vista disso, o desenvolvimento
desses marcadores possibilitará uma melhor triagem dos casos de câncer do colo do
útero.
O HPV é um vírus que apresenta evolução lenta quando comparado a outros vírus
causadores de doenças em humanos. O desafio é ampliar a detecção do HPV de alto e
baixo risco precocemente em mulheres homens, entre a idade jovem e adulta, com o
objetivo de diminuir as taxas de desenvolvimento dos vários tipos de câncer
provocados pela infecção do HPV de alto risco, além das patologias causadas pelos
tipos de baixo risco.
A epidemiologia molecular se mostra eficaz para alcançar esse objetivo, propondo
identificar os tipos de HPV circulantes nos países e suas regiões. Além disso, os dados
resultantes de estudos que aplicam essa metodologia podem servir de controle da
ampliação dos HPV patogênicos, como base para o desenvolvimento tratamentos
profiláticos.
Para alcançar esse nível de acompanhamento genômico do HPV, é necessário a
realização de testes moleculares mais específicos e sensíveis para detecção e
genotipagem dos HPV de interesse clínico. Este trabalho propõe um sistema que é
capaz de realizar esse acompanhamento.

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Anexos

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Tabela 1 - Sequências e parâmetros dos primers usados no estudo

Figura 1 – Teste de anelamento. Escolha da temperatura de anelamento dos primers


em amostras controle (SiHa e HeLa, A, C e B, D respectivamente). As temperaturas
estão dispostas em ordem crescente.

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Figura 2 – Teste de diluição

Figura 3 – Testes de detecção de HPV em amostras cervicais

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Boxplot 1 – Correlação da presença ou ausência de sangue nas amostras cervicais e


razão de absorbância (280260).

Gráfico 1 – Histograma com a frequência de idade

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CÓDIGO: SB1369

AUTOR: ALICE MENDES DO NASCIMENTO

ORIENTADOR: WAGNER FRANCO MOLINA

TÍTULO: Perfil citogenético da espécie pelágica Caranx crysos (Carangidae)

Resumo

Carangidae constitui um importante grupo de peixes marinhos e recurso


pesqueiro largamente utilizado na alimentação. São predadores velozes que se
distribuem em estuários, mar aberto e em zona de recifes, nos oceanos
Atlântico, Índico e Pacífico. Aspectos citogenéticos deste grupo de peixes têm
revelado uma evolução cariotípica principalmente modelada por inversões
pericêntricas. Diante da diversidade de espécies da família, as informações
citogenéticas para o grupo, ainda são reduzidas. Assim, visando contribuir para
o entendimento da evolução cariotípica deste peculiar grupo de peixes
marinhos, aqui são apresentados os padrões cariotípicos da espécie Atlântica,
Caranx chrysos, proveniente do Arquipélado de São Pedro e São Paulo,
analisados por meio de coloração com Giemsa e bandamento-C. A espécie
apresenta 2n=48, com cariótipo formado por 4 submetacêntricos + 44
cromossomos acrocêntricos, com heterocromatinas distribuídas em posição
centromérica dos cromossomos. O padrão cariotípico de C. chrysos revela-se
conservado em relação ao padrão basal para a família, e reforça a hipótese de
relação inversa entre extensão da distribuição geográfica e diversificação
cariotípica na família Carangidae.

Palavras-chave: Peixes pelágicos; evolução cariotípica; inversões pericêntricas

TITLE: Cytogenetic profile of the pelagic species Caranx crysos (Carangidae)

Abstract

The Carangidae family is recognized as a monophyletic group, based on


molecular markers and morphological characters. It comprises 149 species
distributed among 30 genera, including some of great ecological and economic
importance. The carangidae belong to the order Carangiformes, together with

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Nemastistiidae, Coryphaenidae, Rachycentridae, Echeneidae and Menidae.


Representatives of this family are found in pelagic environments and are often
found in estuaries and bays, especially in the surf zone, with the constant
influence of waves, tides and currents. In Brazil, the Carangidae family is made
up of 35 species. The Carangidae family shows karyotypic conservatism in
terms of diploid number (2n=48), although it is more divergent in terms of
chromosome morphology (NF= 46 - 78). Large populations of pelagic fish,
whose life histories include migratory behavior, planktonic larval stages and
widespread spawning, maintain high levels of gene flow between vast oceanic
areas, thus finding fewer opportunities to fix chromosomal rearrangements and,
essentially, maintain a more conservative karyotypic evolution.

Keywords: Pelagic fish; karyotypic evolution; pericentric inversions.

Introdução

A família Carangidae é reconhecida como um grupo monofilético, sob


hipóteses baseadas em marcadores moleculares e caracteres morfológicos
(Genova, 2018). Este grupo engloba 149 espécies distribuídas em 30 gêneros,
entre eles alguns de grande importância ecológica e econômica (Genova,
2018). Os autores descreveram que A família Carangidae juntamente com
Nemastistiidae, Coryphaenidae, Rachycentridae, Echeneidae e Menidae está
inserida na Ordem Carangiformes (Gray, 2009; Betancur et al., 2013).
Representantes desta família estão presentes em ambientes marinhos tropicais
e subtropicais do mundo, e alguns ocorrem em regiões temperadas (Accioly,
2007). Conhecidas popularmente como xaréus, palombetas, guarajuba,
pampos e galos a família Carangidae é um grupo diverso com espécies com
grande importância ecológica e econômica.
No Brasil, a família Carangidae é composta por 35 espécies, sendo 32 com
ocorrência para o estado de São Paulo (Menezes et al., 2003). São capturados
por uma grande diversidade de aparelhos de pesca e possuem importante
valor comercial, sendo algumas espécies alvo de pesca esportiva (Souza et al.,
2016).
Do ponto de vista citogenético, a família Carangidae apresentam
conservadorismo cariotípico quanto ao número diploide (2n=48), embora se
mostre mais divergente quanto à morfologia cromossômica (NF= 46 – 78)
(Accioly, 2007). Outros grupos de Carangiformes, como Echeneidae, que
possuem espécies, como Remora remora, que apresenta número
cromossômico reduzido (2n=42), apoiam uma maior diversificação cariotípica
nesta Ordem e em especial em Carangidae (Accioly et al., 2007), em relação a
outros grupos de Percomorpha, como Sciaenidae e Haemulidae, que revelam

1700
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eCICT 2023

um marcante conservadorismo cromossômico com grande número de espécies


compartilhando um mesmo número diploide basal (2n=48).
Accioly et al. (2007) destacam o emprego da citogenética como ferramenta
citotaxonômica para as espécies da família Carangidae.
São internacionalmente conhecidos em termos populares, por Jacks, no Brasil
as denominações mais populares são xaréus (Caranx), pampos (Trachinotus) e
olhos-de-boi (Seriola). Inúmeras espécies desta família possuem um grande
valor econômico para a aqüicultura, bem como quanto para a pesca comercial
e esportiva (Accioly et al., 2007).
Apesar da importância econômica, apenas 22 espécies dentre as 149 que
constituem a família Carangidae tiveram seus cariótipos analisados, com a
maioria apresentando número cariotípico modal equivalente a 2n=48, com
poucas descrições cariotípicas para espécies do Atlântico Ocidental. Nesta
família verifica-se cariótipos apresentando, em sua maioria com 2n=48
cromossomos, e fórmulas cariotípicas que apresentam tanto cromossomos
subtelo/acrocêntricos como meta/submetacêntricos (Accioly et al., 2007).
A obtenção de dados citogenéticos destas espécies se reveste de dificuldades
logísticas, tanto pelo tamanho dos exemplares, quanto pela forma de captura e
habitat que ocupam (Soares, 2017).
A espécie Caranx crysos, apresenta um corpo de formato alongado e
moderadamente comprimido, coberto com escamas pequenas do tipo cicloide.
A nadadeira dorsal anterior possui 8 espinhos e a posterior com 1 espinho e
cerca de 22-25 raios. Dois espinhos anteriores à nadadeira anal que possui 1
espinho e cerca de 19-21 raios. Porção reta da linha lateral com 46-56
escudos. Coloração do corpo variável de acinzentado a verde azulado
(SANTANA, 2017)
No que se refere à alimentação, esta família é geralmente carnívora eficaz, do
tipo que persegue a presa. Família dividida pela dieta em comedores de peixes
e comedores de plâncton, embora essa classificação seja um tanto
simplificada. Com relação à reprodução, os Carangídeos são gonocoristas, não
existindo nenhuma diferença aparente entre os sexos. Algumas espécies
desovam pelagicamente, visto que outras desovam perto da costa. Os períodos
de desova para a maioria das espécies são razoavelmente longos, geralmente
com picos durante os meses de verão (ACCIOLY, 2007)

Metodologia

Expandir as informações citogenéticas relacionadas à família Carangidae, por


meio da caracterização cariotípica de Caranx crysos, com o intuito de aprimorar
a compreensão do processo de conservadorismo cariotípica no gênero Caranx.

1701
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eCICT 2023

Realizar a caracterização citogenética da espécie Caranx crysos utilizando


técnicas convencionais de citogenética, como a coloração com Giemsa e o
bandamento-C.
Investigar elementos da evolução cromossômica no gênero Caranx, com o
propósito de aprofundar a compreensão de seus padrões de conservação
cromossômica, bem como das divergências cariotípicas presentes.
Para as análises citogenéticas foram utilizados seis indivíduos de Caranx
crysos, coletados no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (00°55'02''N,
29°20'44''O) com auxílio de linha e anzol. Após a coleta, os espécimes foram
mantidos em aquários aerados e submetidos à estimulação mitótica
intraperitoneal com complexos antígenos fúngicos e bacterianos (Molina et al.,
2010). Todos os procedimentos experimentais no manejo foram aprovados
pelo Comitê de Ética para o uso de Animais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (Processo nº 044/2015). Os cromossomos mitóticos das
espécies foram preparados a partir de suspensão celular da porção anterior do
rim, utilizado a técnica de curto termo in vitro preconizada por Gold et al.
(1990).
Para determinação do número diploide e aspectos gerais do cariótipo, os
cromossomos foram corados com solução de Giemsa diluída à 5%, em tampão
fosfato pH 6,8.As melhores metáfases foram fotografadas em microscópio de
epifluorescência OlympusTM BX50 acoplado a um sistema de captura digital
Olympus DP73, utilizando o software cellSens® (OlympusTM). Os
cromossomos foram definidos em relação à posição do centrômero em
submetacêntricos (sm) e acrocêntricos (a) (Levan et al., 1964).

Resultados e Discussões

A espécie apresentou um valor diploide de 2n=48 cromossomos, com cariótipo


composto por 4sm+44a (NF=76), (Figura 1). A heterocromatina é revelou uma
distribuição em blocos centroméricos conspícuos em todos os pares
cromossômicos.
A citogenética representa o ramo da genética relativo ao estudo dos
cromossomos quanto a seus aspectos morfológicos e funcionais, sua variação
e evolução. Nas últimas décadas, a citogenética vem se destacando por uma
abordagem eficiente na caracterização de grupos naturais, utilizando dados
cariotípicos para identificação de espécies (citotaxonomia), (JACOBINA et al.,
2012).

1702
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eCICT 2023

A grande maioria das espécies é cariotipicamente única, diferindo de outras em


relação ao número e a morfologia cromossômica e/ou em relação a
características estruturais dos seus cromossomos (Dias & Giuliano-Caetano,
2002). Características cromossômicas têm sido relacionadas entre os mais
poderosos marcadores genéticos na identificação taxonômica de unidades
evolutivas significativas (Moritz et al., 1996). No que diz respeito aos estudos
em peixes, ela têm fornecido importantes subsídios para o melhor
entendimento das relações evolutivas entre espécies e populações (JACOBINA
et al., 2012).
Um padrão muitas vezes distintivo entre os cariótipos dos peixes reside na
distribuição e qualificação da heterocromatina. Regiões heterocromáticas
compreendem DNA repetitivo, identificados preliminarmente pelo bandamento
C ou por fluorocromos base-específicos (JACOBINA et al., 2012). Os cariótipos
de muitas espécies da família carangidae, tem mostrado uma distribuição da
heterocromatina principalmente nas regiões centroméricas e terminal (Molina,
2007). A afirmativa é observada na figura 1, onde mostra o cariótipo da espécie
Caranx crysos, onde é possível observar a marcação da heterocromatina nas
regiões centroméricas.
Modificações evolutivas do cariótipo resultantes de inversões pericêntricas são
comuns na sua ordem. Na verdade, cromossomos de dois braços foram
encontrados em aproximadamente 30% das espécies de Carangidae
cariotipadas até o momento (Chai et al. 2009). As comparações, entre as
espécies analisadas na pesquisa ”Comparative cytogenetic patterns in
Carangidae fishes in association with their distribution range”, foram feitas por
meio de morfometria geométrica. Em geral, as espécies conservadoras exibem
um número cromossômico marcado (2n=48). Embora apresentem em grande
parte, forma cariotípica diferente, conservam muitas características
cromossômicas típicas da Ordem, pelo elevado número de elementos
monobraquiais, sítios Ag-NORs/18S rDNA e heterocromatina simplesmente
reduzida, preferencialmente centromérica. Os principais mecanismos
envolvidos na diversificação cariotípica são as inversões pericêntricas, com
ação secundária de fusões cêntricas (SOARES; MOTTA-NETO; COSTA;
CIOFFI; BERTOLLO; BERTOLLO, 2021). As espécies, Caranx crysos,
analisada apresentou 2n=48 e grande número de cromossomos acrocêntricos.
O ambiente marinho é extenso e multidimensional devido aos seus variados
padrões ecológicos, proporcionando assim condições evolutivas complexas
que impactam a estrutura genética das espécies (Rocha 2003). A manutenção
de populações amplamente distribuídas é particularmente mais limitada nas
espécies de recife, como exemplificado pela ausência de distribuição
circunglobal em qualquer espécie de Gobiidae , o grupo marinho mais rico em
espécies (Gaither et al. 2016). Por outro lado, em grupos com hábitos pelágicos

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e vastas distribuições oceânicas, os padrões genéticos são estabelecidos pela


migração de adultos, comportamento larval e dispersão sob limites de barreiras
físicas ou ecológicas (Palumbi 1994). No contexto do ambiente marinho,
análises citogenéticas em grupos com ampla distribuição geográfica, como
Carangidae , proporcionam a compreensão do papel das barreiras
biogeográficas e do potencial dispersivo nas alterações cariotípicas (SOARES;
MOTTA-NETO; COSTA; CIOFFI; BERTOLLO; BERTOLLO, 2021).
Tendo em vista a complexidade ambiental a que estão submetidos os grupos
de peixes marinhos, a investigação dos seus padrões de alteração
cromossômica deve considerar amplos modelos taxonômicos, biogeográficos e
diversos modelos biológicos. Os padrões de evolução do seu cariótipo foram
discutidos em relação ao potencial dispersivo estimado pela sua distribuição
geográfica.

Conclusão

Conforme Soares, Motta-Neto, Costa, Cioffi, Bertollo e Bertollo (2021), o


gênero caranx apresenta um conservadorismo em relação ao número de
cromossomos (2n=48) e estrutura (2sm+46a), em comparação a outras
espécies da mesma família, existe uma diferença nos seus cariótipos, no qual é
mostrado por meio das as espécies E. bipinnulata e G. speciosus
compartilhavam cariótipos com 2st+46a ( NF = 50), S. rivoliana tem
2sm+2st+44a ( NF = 52), e T. carolinus tem 4m+4sm+40a ( NF = 56). No
entanto, esta provável constituição basal para a família mostra divergências
evolutivas crescentes entre tribos modeladas principalmente por inversões
pericêntricas (Sola et al. 1997;Rodrigues et al. 2007) na espécie estudada,
Caranx crysos, é possível observar o padrão que todas as espécies desse
gênero seguem (2sm+46a). Rodrigo, apresenta uma justificativa para essa
variação nos cariótipos, seguindo a distribuição geográfica desses peixes. Na
verdade, o conjunto de dados revelou que a probabilidade de variações
cromossômicas diminui à medida que a distribuição geográfica das espécies se
expande. Grandes populações de peixes pelágicos, cujas histórias de vida
incluem comportamento migratório, estágios larvais planctônicos e desova
generalizada, mantêm altos níveis de fluxo gênico entre vastas áreas
oceânicas (Pla e Pujolar 1999;Tripp-Valdez et al. 2010), encontrando assim
menos oportunidades para fixar rearranjos cromossômicos e, essencialmente,
manter uma evolução cariotípica mais conservadora (Molina 2007;Accioly et al.
2012;Soares et al. 2013;Molina et al. 2014;Motta-Neto et al. 2019).

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Anexos

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eCICT 2023

Figura 1. Cariótipo da espécie Caranx crysos, sob coloração com Giemsa e bandamento
C.

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CÓDIGO: SB1383

AUTOR: JECYMARA REGO DA SILVA TINOCO PEREIRA

ORIENTADOR: VALTER FERREIRA DE ANDRADE NETO

TÍTULO: ANÁLISE DA PARASITEMIA DE CAMUNDONGOS BALB/C


SUBMETIDOS A CICLOS DE IMUNIZAÇÃO COM EXTRATO BRUTO DE
Plasmodium berguei ANKA E POSTERIOR DESAFIO EXPERIMENTAL

Resumo

O presente trabalho é fruto da pesquisa desenvolvida na iniciação científica (IC) com


fins a analisar a capacidade de extratos antigênicos reduzirem a parasitemia de
animais infectados com Plasmodium berguei ANKA. Para tanto, foram utilizados 4
distintos grupos experimentais, os quais foram submetidos a ciclos de imunização com
a utilização de extrato bruto de Plasmodium berghei e adjuvantes, com posterior
desafio experimental.

Palavras-chave: Plasmodium berghei; malária; extrato proteíco;


imunogenicidade;

TITLE: PARASITEMIA ANALYSIS OF BALB/c RAT SUBJECTED TO


IMMUNIZATION CYCLES WITH RAW EXTRACT OF Plasmodium berguei
ANKA AND EXPERIMENTAL INFECTION

Abstract

This work is the result of research carried out during scientific initiation (CI) with the
aim of analyzing the ability of antigenic extracts to reduce parasitemia in animals
infected with Plasmodium berghei ANKA. To this end, 4 different experimental groups
were used, which were subjected to immunization cycles using crude Plasmodium
berghei extract and adjuvants, with subsequent experimental challenge.

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Keywords: Plasmodium berghei; malaria; protein extract; immunogenicity;

Introdução

A malária é uma Doença Tropical Negligenciada, sendo um dos principais problemas de


saúde pública mundial e responsável por diversos impactos sociais e econômicos e
provoca grande impacto na morbidade e na mortalidade das populações que residem
nas regiões endêmicas (WHO, 2020). De acordo com a Organização Mundial da Saúde,
só em 2019 foram registrados 229 milhões de casos, dos quais 409 mil foram a óbito,
sendo principalmente crianças africanas menores de cinco anos (WHO, 2020). Além
disso, mais de 3 bilhões de pessoas estão diariamente sob risco de infecção nas áreas
endêmicas (WHO, 2020). A transmissão dessa enfermidade ocorre em 88 países das
regiões tropicais e subtropicais, onde são registrados todo ano 228 milhões de casos
clínicos e 405 mil mortes (WHO, 2020). No Brasil, em 2019 foram registrados 154.287
casos clínicos, 99.65% (154.287) dos quais ocorreram na Região Amazônica (MS/SVS,
2019a). Na Região Extra-Amazônica foram registrados 535 casos em 2019 (MS/SVS,
2019b). Entre os anos de 2008 e 2016 foi registrada uma diminuição significativa no
número de casos, com uma redução aproximada de 56%. Entretanto, entre 2016 e
2018 o número de casos aumentou mais de 28% (MS, 2019).
A doença é provocada por protozoários do gênero Plasmodium e transmitida durante
o repasto sanguíneo da fêmea de mosquitos do gênero Nyssorhynchus (Anopheles).
Existem sete espécies de Plasmodium responsáveis pela doença em humanos, dos
quais P. falciparum e P. vivax são responsáveis por mais de 95% dos casos, sendo o
primeiro o mais virulento e o mais prevalente e o segundo o principal nas Américas e
no Brasil, com a maior distribuição geográfica (GREENWOOD et al., 2008; WHO, 2020).
Nesse contexto, as intensas variações no número de casos ao longo do tempo se
devem principalmente, a oscilações na qualidade e quantidade de intervenções de
controle demonstrando, assim, o a necessidade de estratégias mais eficazes para
conter a doença.
Assim, a obtenção de uma vacina segura e eficaz contra o P. vivax tem se tornado,
gradativamente, um dos principais objetivos para controle e eliminação da malária,
dada a amplitude de sua distribuição geográfica e aos severos impactos.

Metodologia

GRUPOS EXPERIMENTAIS:
Os camundongos manipulados no presente estudo foram dispotos em 3 diferentes
grupos experimentais conforme segue:

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PBS: grupo formado por 5 animais em que foi administrado via subcutânea PBS
desafiados com 1x105 hemácias infectadas com P. berghei ANKA.
EBPb: grupo composto por 5 animais imunizados sem adjuvante e desafiados com
1x105 hemácias infectadas com P. berghei ANKA.
EBPb + Adjuvante de Freund: grupo formado por 5 animais em que foi administrado
via subcutânea EBPb associado ao adjuvante de Freund e desafiados com 1x105
hemácias infectadas com P. berghei ANKA.
EBPb + HA I/T: grupo composto por 5 animais, infectados com 1x105 hemácias
parasitadas, tratados durante 4 dias consecutivos com cloroquina (20mg/kg/peso) e
sulfadiazina (30mg/kg/peso), posteriormente imunizados com EBPb associado ao
hidróxido de alumínio e desafiados com 1x105 hemácias infectadas com P. berghei
ANKA.
INFECÇÃO EXPERIMENTAL:
O procedimento de infecção experimental foi realizado conforme a metodologia
adaptada de Andrade e colaboradores (2000). Inicialmente, foi escolhido um
camundongo previamente infectado BALB/c fêmea entre o 12º e o 14º dia de infecção
para ser o animal doador. A análise da parasitemia dos animais, realizada através da
confecção de esfregaço sanguíneo de camundongos previamente infectados foi
utilizada como base para padronização do inóculo. Para tal, foram produzidas
distensões por meio da obtenção de uma pequena quantidade de sangue total obtido
da veia caudal do animal. As lâminas foram fixadas com metanol, coradas com Giemsa
(proporção de 3 gotas de solução de estoque de Giemsa por 1mL de água tamponada)
e examinadas em microscópio ótico na objetiva de imersão de 1000x. Posterior a
contagem de hemácias infectadas em relação à quantidade de hemácias totais, o valor
foi descrito em forma de percentagem e o animal escolhido apresentava uma
parasitemia de 25%. Nesse ínterim, a padronização do inóculo procedeu-se conforme
segue.
A princípio, o animal doador (mencionado anteriormente) foi eutanasiado através da
administração via intraperitoneal de uma dose letal de Cetamina (300 mg/kg) e
Xilazina (30 mg/kg), conforme as diretrizes da prática de eutanásia do Conselho
Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA). Após a cuidadosa
certificação de que o animal estava sem responsividade e perda de reflexo musculares,
ele foi posicionado em decúbito dorsal, com seus membros superiores e inferiores
fixados. Em seguida, procedeu-se com um corte na região mediana do abdome e a
agulha inserida em seu coração para início da punção cardíaca. Logo depois, 20 μL do
sangue coletado foi acrescentado a 1mL de PBS (Phosfate buffere Saline) 1x e o valor
global de hemácias foi contado. Em seguida, a padronização do inóculo foi realizada
utilizando como base a parasitemia do animal doador (25%) e o valor global de

1712
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hemácias de modo que cada animal recebeu, via intraperitoneal, 1x105 hemácias
parasitadas com Plasmodium berghei ANKA em um volume final de 0,2 mL.
Os animais infectados foram, então, utilizados para Produção de extrato bruto
proteico de Plasmodium berghei ANKA (EBPb).
PRODUÇÃO DE EXTRATO BRUTO PROTEICO DE PLASMODIUM BERGHEI ANKA:
Após o procedimento de infecção experimental, conforme descrito no tópico anterior,
entre o 14º e o 20º dia de infecção, foi realizada a punção cardíaca dos animais com
uso de uma seringa estéril de 1 mL, após prévia contagem de parasitemia (a qual deve
estar superior a 30%). Em seguida, o sangue coletado foi armazenado em epperdorfs
de 2 mL contendo uma pequena fração de anticoagulante. Posteriormente, o sangue
obtido foi centrifugado a 9.000 rpm por 5 minutos à temperatura ambiente (25ºC). Em
seguida, o plasma foi desprezado e o pallet submetido a sucessivas lavagens. Após esse
processo, procedeu-se com a lise dos eritrócitos através da utilização de saponina a
0,2% em proporção volume/volume e incubação durante 20 minutos em estufa a 37
ºC. Em seguida, foram feitas sucessivas lavagens do extrato com PBS 1x e posterior lise
do parasita com a utilização do tampão de lise; O tampão foi retirado e o Extrato Bruto
foi ressuspendido em PBS 1x e armazenado a -20ºC para utilização posterior.
IMUNIZANTES E CICLOS DE IMUNIZAÇÃO:
O EBPb foi associado ao adjuvante de Freund completo e incompleto de acordo com as
seguintes formulações:
Para o primeiro esquema de imunização:
100 µg de EBPb associado ao adjuvante de Freund completo na proporção
volume/volume;
Para os segundo e terceiro esquemas de imunização (1ª e 2ª dose de reforço):
50 µg EBPb associado ao adjuvante de Freund incompleto na proporção
volume/volume para cada ciclo;
A administração do imunizante era realizada através da inoculação subcutânea na área
dorsolateral do pescoço do animal, em que 200 µL do formulado era aplicado e os
ciclos ocorriam a cada 16 dias.
DESAFIO EXPERIMENTAL:
O desafio experimental foi realizando no 30º dia após o terceiro ciclo de imunização e
os camundongos foram infectados imunização inoculando-se via intraperitoneal 1x105
hemácias parasitadas com P. berghei ANKA.
ANÁLISE DA PARASITEMIA:

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Os camundongos foram observados diariamente e nos 5º, 7º, 9º, 11º e 13º dias de
infecção foram confeccionadas distensões sanguíneas a partir de uma gota de sangue
total retirada da veia caudal de cada animal após uma pequena incisão. Em seguida as
lâminas foram fixadas com metanol e coradas com Giemsa (proporção de 3 gotas de
solução de estoque de Giemsa por 1 mL de água tamponada) e examinadas em
microscópio ótico na objetiva de imersão de 1000x e foi realizada a contagem de
parasitemia em duplo cego.

Resultados e Discussões

Após a leitura das lâminas confeccionadas durante o desafio experimental realizado no


presente trabalho, foi constatado que ambos os grupos (PBS, EBPb e EBPb + Adjuvante
de Freund) apresentaram um aumento progressivo para parasitemia durante o 5º ao
7º dia após o desafio. No entanto, a partir do 9º dia de infecção observou-se que o
grupo submetido a infecção e tratamento (com fins a simular uma área endêmica) e
posterior imunização com EBPb associado ao adjuvante de Freund apresentou uma
diferença de parasitemia significativamente estatística quando comparado ao grupo
controle PBS, um exponencial decaimento da quantidade de hemácias parasitadas ao
13º dia infecção.

Conclusão

A associação do Extrato bruto de Plasmodium berghei ANKA, quando associado ao


hidróxido de alumínio, foi responsável por reduzir de maneira significativa os níveis de
parasitemia tanto para camundongos ingênuos à maláriia, quanto para animais
expostos diante de uma infecção prévia;

A produção de anticorpo IgG total, bem como as proteínas relacionadas as respostas


imunológicas induzidas através dos ciclos de imunizações precisam ser
detalhadamente investigados, na perpsectiva de avaliar a imunodominância de cada
uma delas e compreender os níveis de IgG relativamente à imunogenicidade.

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CÓDIGO: SB1417

AUTOR: KATARINA AZEVEDO DE MEDEIROS

ORIENTADOR: JULLIANE TAMARA ARAUJO DE MELO CAMPOS

TÍTULO: Avaliação da Aptidão Motora em Indivíduos com Síndrome de


Berardinelli-Seip (Lipodistrofia Congênita Generalizada) no Estado do Rio
Grande do Norte

Resumo

A Lipodistrofia Congênita Generalizada (LCG), conhecida como síndrome de


Berardinelli-Seip. As características morfofisiológicas já descritas na literatura são:
prognatismo, aparência acromegálica, extremidades alongadas, hipertrofia muscular,
acantosis nigricans, hepatoesplenomegalia, fraqueza da musculatura respiratória,
entre outros. A prevalência da LCG é extremamente elevada no Rio grande do Norte
(RN). Cerca de 90% dos indivíduos com LCG do RN são do tipo 2, apresentando
mutações de perda de função no gene BSCL2, o qual codifica para uma proteína
transmembrana do retículo endoplasmático nomeada de seipina. Esta proteína é
altamente expressa no sistema nervoso, especificamente nas regiões de córtex
cerebral frontal, tronco encefálico, hipotálamo e medula espinal. O presente estudo
visou avaliar a aptidão motora de indivíduos adultos com a LCG através da escala da
Short Physical Perfomance Battery (SPPB).Trata-se de um estudo transversal realizado
na Associação dos Pais e Pessoas com Síndrome de Berardinelli do Rio Grande do
Norte (ASPOSBERN). Onze sujeitos saudáveis e 11 com LCG participaram deste estudo,
os quais foram pareados por sexo e idade. As variáveis categóricas serão analisadas
pelo teste qui-quadrado de Pearson. Será considerado nível de significância 5%
(α=0,05). Os resultados demonstraram que os indivíduos com LCG apresentam
redução da aptidão motora quando comparados com indivíduos saudáveis (p<0,0001).

Palavras-chave: Lipodistrofia Congênita Generalizada, Seipina, Motricidade.

TITLE: Evaluation of the motor aptitude of individuals with Congenital


Generalized Lipodystrophy.

Abstract

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Generalized Congenital Lipodystrophy (CGL), known as Berardinelli-Seip syndrome. The


morphophysiological characteristics already described in the literature are:
prognathism, acromegalic appearance, elongated extremities, muscle hypertrophy,
acanthosis nigricans, hepatosplenomegaly, respiratory muscle weakness, among
others. The prevalence of LCG is extremely high in Rio Grande do Norte (RN). About
90% of individuals with NB LCG are type 2, presenting loss-of-function mutations in the
BSCL2 gene, which codes for a transmembrane protein of the endoplasmic reticulum
called seipin. This protein is highly expressed in the nervous system, specifically in the
frontal cerebral cortex, brainstem, hypothalamus and spinal cord regions. The present
study aimed to evaluate the motor aptitude of adults with LCG using the Short Physical
Performance Battery (SPPB) scale. It is a cross-sectional study carried out at the
Association of Parents and People with Berardinelli Syndrome of Rio Grande do Norte (
ASPOSBERN). Eleven healthy subjects and 11 with LCG participated in this study, who
were matched for sex and age. Categorical variables will be analyzed using Pearson's
chi-square test. A significance level of 5% (α=0.05) will be considered. The results
showed that individuals with LCG have reduced motor skills when compared to healthy
individuals (p<0.0001).

Keywords: Generalized Congenital Lipodystrophy, Seipina, Motricity.

Introdução

A Lipodistrofia Generalizada Congênita é definida como a perda seletiva e patológica


do tecido adiposo. A ausência de adipócitos está associada a manifestações clínicas e
metabólicas. As Lipodistrofia são divididas em parciais ou generalizadas a depender da
magnitude de perda de gordura. Congênitas quando estão diretamente associadas a
mutações genéticas ou adquiridas quando estão relacionadas a fatores ambientais.
(Craveiro Sarmento et al., 2019)
LGC tem alta prevalência no estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil, (3,23
em 100 mil habitantes). Essa Lipodistrofia afeta indivíduos de todas as etnias, e sua
prevalência mundial é estimada de 1 em 12 milhões de pessoas. As prevalências da
LGC em muitos países, como os EUA, Noruega, Líbano, Portugal e Omã, foram
previamente relatadas. Casos desse tipo de Lipodistrofia congênita também foram
relatados na China e no Japão. (Azevedo Medeiros, De et al., 2017)
Descrita pela primeira vez por BERARDINELLI, 1954; Jafri e Zaidi, 1992, Lipodistrofia
Generalizada congênita (LGC) é um conjunto de quatro doenças extremamente raras
caracterizadas pelo comprometimento generalizado do tecido adiposo ao nascer. Com
padrão de herança genética autossômica recessiva, o que significa que sujeitos
homozigotos recessivos expressam as características do fenótipo. Este conjunto é de
acordo com o gene mutado: AGPAT2, BSCL2, CAV1 e CAVIN1. (Araújo de Melo Campos
et al., 2021; Craveiro Sarmento et al., 2019)

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Pacientes com Lipodistrofia congênita generalizada ou LGC apresentam níveis séricos


aumentados de triglicerídeos, níveis reduzidos de lipoproteína de alta densidade
(HDL), leptina e adiponectina. Além disso, apresentam resistência à insulina,
hiperinsulinêmia, Diabetes Mellitus, hepatoesplenomegalia e esteatose hepática que
pode evoluir para cirrose quando não tratada. A nível morfológico, apresentam
musculatura proeminente, prognatismo, protrusão umbilical, acantose nigricante e
flebomegalia. Distúrbios cardiovasculares, respiratórios e musculares são atualmente
descritos em pacientes com LGC. (Araújo de Melo Campos et al., 2021; Craveiro
Sarmento et al., 2019)
A Lipodistrofia Generalizada Congênita (LGC) é extremamente prevalente no Nordeste
do Brasil, especialmente o tipo 2, causada pela mutação c.325dupA
5 (rs786205071) LGC do tipo 2. Este gene se codifica para seipina, uma proteína
localizada na membrana retículo endoplasmático (ER). Atualmente, é bem aceito que
esta proteína desempenha um papel importante na homeostase do tecido adiposo
através da montagem de gotículas de lipídeos (LD). Essas organelas são vizinhas de ER
e a seipina está concentrada nas regiões de comunicação entre elas. Lá, a seipina
permite a transferência de lipídios recém-sintetizados para os LDs nascentes,
auxiliando em sua maturação. Em comparação com o LGC tipo 1, as disfunções seipina
estão associadas a uma perda mais significativa de adipócitos, afetando tanto os
tecidos adiposos metabólicos quanto os mecânicos. (Craveiro Sarmento et al., 2019,
2020)
Diferentes mutações no mesmo gene podem resultar em síndromes distintas com
déficits neuromusculares. Mutações de ganho de função na seipina foram associadas a
doenças que afetam o sistema nervoso central e periférico (seipinopatias), como
síndrome de Silver, neuropatia motora hereditária distal e encefalopatia de Celia
(encefalopatia progressiva com / sem lipodistrofia [PELD]). Já as mutações de perda de
função na seipina são responsáveis pelo desenvolvimento da LGC do tipo 2. (Araújo de
Melo Campos et al., 2021; Magré et al., 2001)

Metodologia

Trata-se de um estudo transversal de caráter longitudinal, com follow-up de 1 ano,


seguindo todas as recomendações do Strengthening the Reporting of Observational
Studies in Epidemiology (STROBE) (30). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e
Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA) da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sob o parecer nº 2.625.625, realizado de
acordo com as orientações do referido CEP e seguindo todos os critérios estabelecidos
na resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional em Saúde
(CNS) referente a pesquisa com seres humanos.

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Sujeitos
A amostragem foi realizada por conveniência, foram recrutados indivíduos com LGC
com idade igual ou superior a 18 anos e sujeitos ausentes de LGC pareados para idade
e sexo.
Critérios de inclusão e exclusão
Para participar do estudo, o sujeito deveria: I) ter diagnóstico clínico e genético da LGC;
II) apresentar-se em bom estado geral de saúde; III) possuir entendimento acerca dos
testes que seriam realizados; IV) e assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A). Foram excluídos da pesquisa, indivíduos que
apresentassem: I) déficit cognitivo que impedia a realização dos testes ou
questionários.
Local do estudo
O recrutamento dos participantes ocorreu no Instituto Federal do Rio Grande do Norte
(IFRN), campus de Currais Novos/RN e na Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade
de Ciências da Saúde do Trairi, campus da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN) em Santa Cruz/RN, entre os meses de dezembro de 2018 e abril de 2019,
e follow-up de 1 ano em dezembro de 2020. Concomitantemente dentro das
atividades do projeto de extensão intitulado: “Atuação multiprofissional frente à
Síndrome de Berardinelli-Seip”, que contou com a participação multiprofissional de
estudantes de biomedicina, nutrição, enfermagem, fisioterapia, medicina e psicologia.
Ao final de cada evento, várias atividades de extensão junto aos pais e pessoas com a
LGC foram realizadas, paralelas às coletas de informações e avaliações pertinentes.
Instrumento de medida e procedimentos para obtenção dos dados
Todos os sujeitos com LGC, que compareceram ao evento anual organizado pela
ASPOSBERN, no dia 01/12/2018, no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN),
campus de Currais Novos/RN e encaixavam-se nos critérios de elegibilidade foram
convidados a participar da pesquisa. Após esclarecer os objetivos da pesquisa, obter a
aceitação dos voluntários e a assinatura do TCLE, os participantes foram conduzidos a
uma sala reservada no mesmo dia e local do evento, para avaliação individual com
duração em cerca de 40 minutos.
Avaliação inicial
Após a assinatura do TCLE, os convidados primeiramente responderam um
questionário para caracterização sociodemográfica aplicado pelo avaliador que
continha: nome, endereço, idade, gênero, altura, peso e Índice de Massa Corporal
(IMC), cor da pele, estado civil, escolaridade, profissão, renda familiar, perguntas
relacionadas aos hábitos de vida, histórico familiar, sinais e sintomas (APÊNDICE B).

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Avaliação do desempenho funcional


Logo em seguida a avaliação inicial, foi realizado a avaliação do desempenho funcional
por meio do SHORT PHISICAL PERFORMANCE BATTERY (Márcia Mariko Nakano, 2007)
(ANEXO A), com orientações sobre o posicionamento no teste e o objetivo naquele
grupo de pessoas, bem como os riscos e benefícios. O teste é dividido em 3 domínios:
equilíbrio, velocidade da marcha e força muscular de MMII. Os 3 testes somados
equivalem a pontuação final variando de 0 a 12 pontos, correspondendo a seguinte
classificação: 0 a 3 pontos considerado como incapacidade ou desempenho ruim, 4 a 6
pontos classificado com baixo desempenho, 7 a 9 pontos classificado como
desempenho moderado e 10 a 12 pontos como bom desempenho.
Para o grupo controle, composto por voluntários sem LGC, foi avaliado nos meses de
fevereiro, março e abril de 2019, na Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade de
Ciências da Saúde do Trairi, campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) em Santa Cruz/RN, os quais passaram pelos mesmos critérios de inclusão III, IV
e V. Ambos os grupos realizaram uma avaliação padronizada. Para o grupo controle, foi
retirada qualquer menção à LGC.
Em 2020, todos os sujeitos com LGC que participaram da pesquisa, compareceram ao
evento anual organizado pela ASPOSBERN, no Instituto Federal do Rio Grande do
Norte (IFRN), campus de Currais Novos/RN, e novamente foram avaliados quanto ao
desempenho funcional por meio do SPPB.

Resultados e Discussões

A amostra foi composta por 22 indivíduos. O grupo LGC, foi composto por 11
indivíduos diagnosticados com lipodistrofia, (4F:7M). A média de idade nesse grupo foi
de 28 ± 7,81 anos. Já o grupo controle (GC) foi composto por 11 indivíduos (4F:7M)
com média de idade de 27,58 ± 7,66 anos.
A tabela 1 descreve a caracterização da amostra de pacientes com lipodistrofia. As
comorbidades mais prevalentes na coleta são diabetes mellitus e hipertensão arterial
sistêmica, herança metabólica presente nos indivíduos com LCG. Os dados genéticos
trazem como maior prevalência o gene BSCL2 correlacionado a prevalência regional
localizada no Rio Grande do Norte, local onde foi realizada a coleta de dados deste
estudo. Apenas 2 indivíduos com LCG do tipo 1 ou BSCL1 cujo gene está descrito como
AGPAT2 codificando proteína 1-AGPAT 2 com características metabólicas semelhantes
ao BSCL2.

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Quanto a performance do SPPB apenas três indivíduos LCG apresentaram boa


performance sendo estes do LGC tipo 2, os demais apresentaram performance
moderada caracterizando assim queda na capacidade funcional desses indivíduos
sendo estes de ambos os tipos de LGC. O resultado do SPPB não trouxe correlação com
o gene, a amostra trouxe resultados com decaimento da capacidade funcional em
ambos os tipos de LGC.
A figura 1 descreve os resultados do escore geral do SPPB e de seus domínios teste de
equilíbrio, velocidade da marcha avaliado pelo teste de caminhada de 3 metros,
domínio de força de membros inferiores avaliado pelo teste de sentar-se e levantar-se
da cadeira em indivíduos com LGC comparando a indivíduos ausentes de LGC
equivalentes. Foram encontrados valores significativos para a pontuação geral do SPPB
(p=0,001) apontando diferenças entre os grupos mediante a capacidade funcional de
ambos os grupos. O grupo LGC foi classificado com desempenho moderado enquanto
o grupo controle apresentou bom desempenho. Na análise dos domínios, diferenças
significativas foram encontradas apenas no domínio de velocidade da marcha
(p=0,001) em que a pontuação do grupo LGC foi inferior ao grupo controle.
Os indivíduos com Lipodistrofia foram analisados de forma isolada para identificar a
homogeneidade da amostra como aponta a figura 2. Os domínios de equilíbrio e
velocidade da marcha foram pouco divergentes, contrariando o resultado do domínio
de membros inferiores, apontando assim diferença de valores entre os indivíduos.
Trazendo implicância estatísticas para o resultado geral do SPPB.
A reavaliação dos indivíduos com Lipodistrofia foi realizada 1 ano após a primeira
avaliação, denominado de follow-up. Foi avaliado a integridade dos resultados obtidos
anteriormente somado a análise intergrupo como mostra a figura 3. Houve diferença
no número de indivíduos avaliados, onde 11 submeteram ao teste inicial, e 8 destes
foram reavaliados posteriormente. Essa quebra de n amostral foi caracterizada por
fatores individuais dos participantes como participação do evento de coleta e
elegibilidade dos critérios de inclusão deste estudo.
Quanto as análises intergrupo houve diferença nos domínios de equilíbrio, velocidade
da marcha e força de membros inferiores essa diferença se deu pela redução da
amostra interferindo no resultado intergrupo sem implicância significativa em
resultado estatístico.
O presente estudo buscou avaliar o desempenho funcional de pessoas com
Lipodistrofia Congênita Generalizada comparando com pessoas ausentes de
Lipodistrofia Congênita Generalizada com equivalência em idade e sexo. Correlacionar
os resultados dos testes equilíbrio, marcha e força dos membros inferiores com as
condições de saúde das pessoas com LGC no Estado do Rio Grande do Norte. Além
disso, analisar de forma específica o perfil sociodemográfico de pessoas com LGC no

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Estado do Rio Grande do Norte. Os principais achados foram: (1) Existe uma alteração
no desempenho funcional de pessoas com Lipodistrofia, mas essa alteração não tem
relevância estatística quando comparadas ao grupo de indivíduos sem Lipodistrofia.
Entretanto o achado é estatisticamente significante pelo fato de não existir estudos
que mostrem essa análise. (2) O grupo de pessoas com Lipodistrofia e ausente de
Lipodistrofia tem a mesma idade e sexo, assim a amostra ficou homogênea nesse
aspecto. Os indivíduos de ambos os grupos tem nível de atividade física, mantem
hábitos de vida saudáveis, não fumantes e não alcoólatras, o que interfere no
resultado já que os testes medem a capacidade funcional. (3) O follow up no intervalo
de um ano não apresentou alterações quando comprados a primeira avaliação,
somente das pessoas com Lipodistrofia. A pontuação total e o teste de equilíbrio
apresentaram valores iguais nesse intervalo de 1 ano. Em contrapartida, os testes de
sentar e levantar da cadeira e velocidade da marcha apresentou resultado inferior,
demonstrando assim redução da capacidade funcional desses indivíduos avaliados.
As alterações no desempenho funcional de pessoas com Lipodistrofia principalmente o
LGC tipo 2 ocorre devido a variantes genéticas no gene BSCL2, localizado no
cromossomo 11q12.3, codificando para o seipin. Esta proteína está localizada na
membrana do retículo endoplasmático tem um papel importante na regulação do
transporte de Triglicerídeos do retículo endoplasmático para lipídios, convertendo
lipídios nascentes em maduros. Seipin também é vital para o desenvolvimento do
tecido adiposo humano pela função coordenada AGPAT2. (ARAÚJO DE MELO CAMPOS
et al., 2021).
A seipinopatia é uma doença neurodegenerativa autossômica dominante causada por
mutações no gene BSCL-2. Enquanto as mutações de perda de função no gene BSCL2
causam lipodistrofia, as mutações heterozigóticas missense, como p.N88S, p.S90L,
p.S90W e p.R96H, foram identificadas como a causa da seipinopatia através do ganho
de uma substância tóxica. Seipinopatia tem vários fenótipos, síndrome de Silver é
caracterizado por amiotrofia dos pequenos músculos da mão e espasticidade dos
membros inferiores. O fenótipo da neuropatia motora hereditária distal tipo V (dHMN-
V) é caracterizado por fraqueza ou amiotrofia, principalmente nos pequenos músculos
da mão e distúrbio da marcha de início tardio. O fenótipo de paraparesia espástica
hereditária é caracterizado por paraparesia espástica nos membros inferiores. O
fenótipo da doença de Charcot-Marie-Tooth (CMT) é caracterizado por fraqueza
muscular distal e amiotrofia dos membros inferiores. Sinais piramidais são vistos
ocasionalmente e, dependendo da presença ou ausência de distúrbio sensorial, o
fenótipo CMT é ainda dividido em CMT espinhal e neuropatia motora e sensorial
hereditária tipo Ⅱ (HMSN-Ⅱ). Por isso, a seipinopatia pode levar a sintomas que
mimetizam a esclerose lateral amiotrófica. De fato, as mutações do gene BSCL2 é
conhecido por causar degeneração do neurônio motor através do estresse do retículo

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endoplasmático. A seipinopatia deve ser considerada em pacientes com envolvimento


do neurônio motor superior e inferior. (MINAMI et al., 2018)
O músculo esquelético é altamente plástico e pode se adaptar a mudanças no estresse
do retículo endoplasmático. Além da função de movimento, o músculo tem uma
importante função metabólica ao capturar aproximadamente 75-90% da glicose
dependente de insulina. O acúmulo intramuscular de lipídios pode levar à disfunção no
metabolismo oxidativo, levando tanto ao déficit funcional quanto ao
comprometimento da função metabólica muscular presente no comprometimento
motor das figuras 1 e 3. Além disso, defeitos na regulação de Ca 2+ podem induzir o
estresse do retículo endoplasmático e desencadear disfunção muscular. (ARAÚJO DE
MELO CAMPOS et al., 2021)
Estudos recentes avaliaram a força muscular respiratória e a capacidade funcional
através do teste de caminhada de 6 minutos onde existe uma fraqueza muscular
respiratória bem como a capacidade funcional dos indivíduos com LGC é afetada pelo
mecanismo metabólico de acumulo de lipídios intramuscular e degeneração do
sistema nervoso central, demonstrando um comprometimento motor que prejudica a
funcionalidade global desses indivíduos, contribuindo aos achados avaliados por meio
do SPPB que avalia capacidade física. (DANTAS DE MEDEIROS et al., 2018, 2022)
Apresentamos como limitação do estudo, o pouco tempo disponível para as avaliações
e as interrupções feitas durante o evento da ASPOSBERN, tendo em vista que é um
encontro anual, que possui diversas atividades programadas. Deste modo, apenas o
SPPB foi realizado. Portanto, novos estudos devem ser realizados para descrever
melhor essas alterações e associar a um plano de treinamento para definir uma forma
de tratamento que melhore a capacidade física dos pacientes com LGC prevenindo
comprometimento motor global e adquirindo capacidade funcional melhorando a
qualidade de vida e longevidade desse grupo.

Conclusão

Indivíduos com a LGC possuem comprometimento na capacidade física quando


comparadas a sujeitos ausentes de LGC. Esse resultado nos impelem a realizar novas
pesquisas no intuito de proporcionar melhor qualidade de vida e evitar possíveis
complicações motoras nessa população.

Referências

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eCICT 2023

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Anexos

Pontuação geral SPPB

Potnuação do SPPB

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Pontuação individual

Tabela identificação

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CÓDIGO: SB1438

AUTOR: JORGE ANDERSON NASCIMENTO DOS SANTOS

ORIENTADOR: ELIZEU ANTUNES DOS SANTOS

TÍTULO: Influência de óleos essenciais na viabilidade celular e proteínas de


Escherichia coli

Resumo

Neste estudo, investigou-se a atividade antimicrobiana de óleos essenciais de Mentha


piperita (hortelã), Lavandula angustifolia (lavanda) e Salvia rosmarinus (alecrim) contra
cepas de Escherichia coli. Os óleos apresentaram atividade significativa, sendo o óleo
de hortelã mais eficaz. As concentrações inibitórias mínimas (CIM) foram
determinadas, sendo 0,195% para hortelã, 0,391% para lavanda e 0,781% para alecrim.
A avaliação da expressão proteica revelou que os óleos afetaram as proteínas
bacterianas, sugerindo inibição da síntese proteica e possíveis danos à membrana. A
eletroforese SDS-PAGE mostrou diferenças nas bandas proteicas entre amostras
tratadas e não tratadas, indicando respostas de estresse das bactérias aos óleos. Estes
resultados contribuem para a compreensão do potencial antimicrobiano dos óleos
essenciais contra E. coli e destacam a necessidade de mais pesquisas para elucidar os
mecanismos de ação e as aplicações terapêuticas. O estudo enfatizou a importância de
desenvolver abordagens inovadoras para controlar infecções em face da crescente
resistência bacteriana.

Palavras-chave: Óleos essenciais, atividade antimicrobiana, Escherichia coli

TITLE: Influence of Essential Oils on Cell Viability and Proteins of Escherichia


coli

Abstract

In this study, the antimicrobial activity of essential oils from Mentha piperita
(peppermint), Lavandula angustifolia (lavender), and Salvia rosmarinus (rosemary)
against Escherichia coli strains was investigated. The oils demonstrated significant
activity, with peppermint oil being the most effective. Minimum inhibitory
concentrations (MICs) were determined as 0.195% for peppermint, 0.391% for

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lavender, and 0.781% for rosemary. Evaluation of protein expression revealed that the
oils impacted bacterial proteins, suggesting inhibition of protein synthesis and
potential membrane damage. SDS-PAGE electrophoresis showed differences in protein
bands between treated and untreated samples, indicating bacterial stress responses to
the oils. These results contribute to understanding the antimicrobial potential of
essential oils against E. coli and underscore the need for further research to elucidate
mechanisms of action and therapeutic applications. The study emphasizes the
importance of developing innovative approaches to infection control in the face of
increasing bacterial resistance.

Keywords: Essential oils, antimicrobial activity, Escherichia coli

Introdução

A maioria das doenças infecciosas são causadas por microrganismos patogênicos,


incluindo vírus, bactérias, parasitas e fungos, e podem se espalhar exponencialmente
entre populações em um período de tempo relativamente curto, ameaçando a saúde
pública (CARLOS et al., 2019). As infecções estão associadas principalmente ao uso de
procedimentos invasivos (cateteres intravenosos, sondas vesicais de demora,
ventilação mecânica etc.), agentes imunossupressores, internações prolongadas,
colonização por microrganismos resistentes a medicamentos, abuso de antibióticos e
consumo de água e/ou comida contaminada, falta de saneamento básico (CARLOS et
al., 2019). Responsável por diversas doenças (como infecções gastrointestinais, no
trato urinário, sepse, escaras, entre outros), a Escherichia coli possui uma grande
capacidade de aderir nos tecidos, o que beneficia na infecção, crescimento celular e
disseminação (DINIZ & SANTOS, 2019; HADDAD&FERNANDES, 2018). Um antibiótico
pode ser conceituado como uma substância produzida biologicamente ou
sinteticamente usada para combater infecções causadas por diferentes tipos de
microrganismos. Desde que Alexander Fleming descobriu o primeiro antibiótico em
1928, o mundo entrou em uma nova era no tratamento de doenças infecciosas (SILVA
et al., 2020). Os antibióticos mais utilizados clinicamente são os β-lactâmicos, como as
penicilinas e as cefalosporinas, que atuam inibindo a síntese das paredes celulares
bacterianas (LIMA et al., 2020). A penicilina é usada principalmente para tratar a febre
reumática e a sífilis (FELIX et al., 2021). Também são amplamente utilizadas as
quinolonas, que são antibióticos que atuam na topoisomerase II e na DNA girase,
impedindo a replicação e transcrição do DNA bacteriano (DHIMAN et al., 2019;
EGOROV; ULYASHOVA; RUBTSOVA, 2018). Embora haja um grande número de
antibióticos disponíveis no mercado, as infecções bacterianas são uma preocupação
para a comunidade médica. Muitas bactérias não podem se tornar resistentes a alguns
antibióticos se pequenas medidas preventivas forem tomadas todos os dias, incluindo
lavar as mãos com água e sabão ou álcool 70%. Este simples gesto evita a infecção

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eCICT 2023

cruzada em ambiente hospitalar, evitando a propagação de bactérias na população e


reduzindo o risco de reinfecção (que muitas vezes é pior que a primeira) (TRONCOSO;
ALENCAR, 2020). A formulação de novos antibióticos que possam superar os
mecanismos de resistência bacteriana não é uma tarefa fácil: requer tempo, extensa
pesquisa e investimento de capital. É vantajoso usar uma variedade de substâncias
para tratar infecções para prevenir a resistência bacteriana. Embora o tratamento com
associação de antibióticos em doses subterapêuticas permita o surgimento de cepas
multirresistentes, se tratadas corretamente, é mais difícil que as bactérias
desenvolvam resistência a duas substâncias com mecanismos diferentes do que a um
único agente (SILVEIRA et al., 2006). A busca por agentes antibacterianos eficazes é
uma estratégia particularmente interessante entre as drogas conhecidas
rotineiramente utilizadas para o manejo de sintomas patológicos de etiologias não
infecciosas e geralmente consideradas "não antibióticas" (LAUDY et al., 2016). Parece
que a característica mais importante das drogas não antibióticas, além de seu uso
terapêutico, é sua capacidade de inibir ou aumentar a atividade de certas bombas de
efluxo em bactérias (LAUDY et al., 2016). Com a crescente infecção e resistência
bacteriana, é vital desenvolver táticas inovadoras e eficazes para controlar infecções,
dada a situação de saúde pública. Nesse sentido, a proposta do projeto de estudar os
efeitos de óleos essenciais de lavanda (Lavandula angustifolia), hortelã (Mentha
piperita) e alecrim (Salvia rosmarinus) na viabilidade celular de cepas de Escherichia
coli - para determinar a concentração inibitória mínimina (CIM) - e as mudanças na
expressão proteica bacteriana mediante a presença dos óleo por eletroforese em SDS-
Page.

Metodologia

1. PREPARO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS PARA OS EXPERIMENTOS


Foram utilizados óleos essenciais de alecrim (Salvia rosmarinus), hortelã (Mentha ×
piperita) e lavanda (Lavandula angustifolia) comerciais; sendo os dois primeiros
fabricados pela Mandala Esotérica e o último, pela Azenka. Para que houvesse uma
diluição dos óleos no meio de cultura (necessário para a próxima etapa), a amostra foi
diluída em DMSO 1% para uma concentração final de 50% (1:1 v/v).
2. CULTIVO DE ESCHERICHIA COLI E DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA
MÍNIMA (CIM) DOS ÓLEOS ESSENCIAIS
Foram utilizadas cepas de Escherichia coli (ATCC 8739) cultivadas em meio LB líquido e
sólido. Este cultivo foi renovado todos os dias para obtenção de gerações bacterianas
novas – sendo feita análise de microscopia e coloração Gram para garantir que não
houve contaminação. Para determinar a CIM, foi colocado as bactérias em contato

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eCICT 2023

com diferentes concentrações de óleos essenciais. A resposta foi determinada


utilizando o ensaio de microdiluição (CLSI, 2015). O resultado foi obtido pelo método
de coloração com 20 μL de resazurina (Costa et al., 2016), observando a mudança de
coloração, nos poços com crescimento bacteriano o meio deve ficar rosa (indicando
viabilidade celular) ou azul, sem crescimento bacteriano (indicando morte celular),
também foi realizada a leitura da placa pelo espectrofotômetro de luz UV em uma
densidade óptica de 450 nm, para confirmar a veracidade dos resultados obtidos pelo
método colorimétrico.
3. EXTRAÇÃO PROTEICA
Para analisar a expressão proteíca, as bactérias foram incubadas em meio de cultura
Miller Hinton (MH) na concentração do sub-CIM. Para cada concentração dos óleos
essenciais no sub-CIM, anteriormente determinada, foram coletados 1,5 mL do inóculo
e centrifugados por 10 min a 10000 rpm a 4 ºC. O sobrenadante foi descartado e o
pellet foi ressuspenso com 1500 μL de solução salina 0,9%. O processo foi repetido por
três vezes. A extração proteica foi realizada seguindo a metodologia de Bhaduri e
Demchick (Bhaduri and Demchick, 1983) a fim de obter a macromolécula com uso da
acetona (método químico). No método obtemos o sobrenadante para ser utilizado nos
próximos ensaios. A dosagem proteica foi realizada pelo método de Bradford
(BRADFORD, 1976) em seguida foi realizada eletroforese por SDS-page 12%. As
concentrações de proteínas escolhidas foram de 10 µL e 15 µL. Para método
comparativo futuro, também foi extraído a proteína bacteriana de cepas cultivadas
apenas em meio de cultura (em ausência da amostra). Desta forma, foram obtidos 4
tipos de crescimento: o não tratado, denominado crescimento padrão (CP) e os trados
com os óleos essenciais de alecrim (CA), de hortelã (CH) e de lavanda (CL).
4. SDS-PAGE PARA ANÁLISE PROTEÔMICA DAS GERAÇÕES BACTERIANAS EM ESTRESSE
COM OS TRÊS ÓLEOS ESSENCIAIS.
As amostras das três gerações de bactérias foram submetidas à eletroforese em gel de
poliacrilamida a 12% em presença de SDS, de acordo com a metodologia descrita por
Laemmli (LAEMMLI, 1970). Após a eletroforese o gel foi corado com solução de
Coomasie Blue R 250 a 1% e em seguida foi realizada a revelação com prata, para
aparição total das bandas do gel.

Resultados e Discussões

Os três óleos essenciais apresentaram atividade antibacteriana significativa reduzindo


a viabilidade celular das cepas de Escherichia coli, como é demonstrado no tabela 01.
O óleo essencial de hortelã apresentou inibição em diluição 1/512 (0,195%) - sendo a

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eCICT 2023

amostra com maior eficiência. A lavanda demonstrou um CIM menor em relação à


amostra anterior – na diluição 1;256 (0,391%); e o alecrim, na diluição 1/128 (0,781%)
– mostrando-se, dentre os três, a amostra com menor eficiência.
De acordo com a literatura, a lavanda, de fato, apresenta comportamento contra
cepas de Escherichia coli (Stankovic et al., 2011; Man et al., 2019; Wye-Hong, Kok-Song
e Swee-Hua, 2021). Porém, há uma diferença no CIM encontrado nos artigos, uma vez
que este óleo já apresentou CIM em concentrações maiores dos resultados deste
projeto – inibiu E. coli em 6,3% (Man et al., 2019) e 1% (Wye-Hong, Kok-Song e Swee-
Hua, 2021). Isso pode ter acontecido devido as cepas possuírem classificação ATCC
diferente – sendo utilizada a Escherichia coli ATCC 25922 na literatura.
A dosagem de proteína – por meio do reagente de Bradford – demonstrou um valor
significativo na extração do polímero de aminoácidos. Revelando um total de 0,638
µg/µL de proteína no CP (apenas bactéria e meio de cultura). A quantidade dessa
macromolécula nos crescimentos tratados com os óleos (meio, bactéria e amostra)
apresentaram 0,555 µg/µL no alecrim, 0,545 µg/µL no hortelã e 0,562 µg/µL na
lavanda. Isso pode ser um indicativo que o mecanismo de ação antibacteriano dos
óleos sejam por inibição da síntese proteica. Outro ponto é a ação de vazamento que
esses óleos podem possuir – causando danos à membrana plasmática e permitindo
que proteínas intracelulares extravasem para o meio extracelular (YAN et al., 2020).
A partir desta dosagem, foi extraído um volume para criar uma alíquota contendo 10
µg e 15 µg de cada crescimento – padrão e tratado com amostra – para realizar a
eletroforese. O resultado do gel (figura 01) demonstrou uma grande diversidade de
proteínas de alto e baixo peso molecular ao comparar as bandas das amostras com as
bandas do marcador (Amersham ECL Full-Range Rainbow Molecular Weight Markers).
Não foi possível visualizar nenhuma banda com o gel com Azul de Comassie, porém, ao
revelar com prata, nota-se as bandas com mais facilidade. Há uma densidade grande
de proteínas na porção superior do gel, o que sugere proteínas de grande peso
molecular.
É possível observar que há uma variação (presença e ausência) nas bandas tratadas
com a amostra (3, 4, 5, 7, 8 e 9) em comparação com as bandas não tratadas (2 e 6). A
presença de bandas nas amostras tratadas (CA, CH, CL) e ausente nas amostras não
tradas (CP) pode ser indicativos de proteínas de estresse – expressadas para combater
o efeito antimicrobiano dos óleos. Enquanto as bandas mais fortes nos tratados –
comparadas aos não tratados – indicam uma maior expressão proteíca relativo a
presença dos óleos. Por fim, as bandas presentes em CA e CH, mas ausentes em CL
sugere a possibilidade de ação de inibição proteica do óleo de lavanda.

Conclusão

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Desta forma, é possível concluir que os óleos de Mentha piperita, Lavandula


angustifolia e Salvia rosmarinus apresentam atividade antimicrobiano, sendo a
primeira com maior eficiência e a última com menor eficiência. Esses resultados
corroboram com os dados encontrados na literatura, tornando-o importante para o
enriquecimento do conhecimento sobre o potencial antimicrobiano dos óleos
essenciais contra E. coli. Porém, é importante desenvolver mais pesquisas nesta área
para melhor compreender quais as moléculas alvo e os mecanismos de ação desses
compostos, a fim de poder investigar as potencialidades na aplicação farmacológica
e/ou terapêutica.

Referências

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Anexos

Tabela 01

1736
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Figura 01

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB1456

AUTOR: VITORIA MORAIS RODRIGUES CAVALCANTI ALVES

ORIENTADOR: VANESSA GRAZIELE STAGGEMEIER

TÍTULO: Fenologia populacional de Psychotria bahiensis DC. (Rubiaceae) na


Floresta Nacional de Nísia Floresta/RN

Resumo

Dados fenológicos são importantes para entender o ciclo reprodutivo das plantas e
produzem informações que podem ajudar na tomada de medidas para auxiliar a
conservação da diversidade. A Psychotria bahiensis DC. é uma espécie neotropical
abundante no subbosque das matas de restinga no nordeste do Brasil. Este trabalho
teve como objetivo registrar, ao longo de 12 meses, dados sobre a fenologia de uma
população de 48 indivíduos de P. bahiensis em uma porção de Mata Atlântica na
Floresta Nacional de Nísia Floresta, e relacioná-los com condições climáticas do local,
para entender qual o período de disponibilidade de seus recursos para a fauna. A
espécie ofertou flores de dezembro a abril com elevada sincronia (80% dos indivíduos)
em botão em meados de janeiro. Frutos maduros foram encontrados de maio a julho
com pico de atividade no início de julho (40% dos indivíduos).

Palavras-chave: floração, frutificação, Mata Atlântica.

TITLE: Population phenology of Psychotria bahiensis DC. (Rubiaceae) in the


National Forest of Nísia Floresta/RN.

Abstract

Phenological data are important to understand the reproduction of plants and to


produce information to support decision makers in the management of actions to
promote the conservation of biodiversity. Psychotria bahiensis DC. is a neotropical
species dominant in the understory of restinga forests in Northeastern Brazil. Here, we
recorded during 12 months, the phenology of a population based on 48 individuals in a
portion of the Atlantic Forest in the municipality of Floresta Nacional de Nísia Floresta
We also correlated the phenology with the climatic conditions to identify potential
triggers acting on the production of resources by P. bahiensis . Flowering occurs from

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December to April with high population synchrony (80% of individuals) in bud in mid-
January. Ripe fruits were found from May to July with activity peaking in early July
(40% of individuals).

Keywords: flowering, fruiting, Atlantic Forest.

Introdução

A oferta de recursos em comunidades vegetais pode variar em função dos fatores


abióticos e bióticos (Staggemeier et al. 2010, Fenner 1998), especialmente em
comunidades tropicais onde a sazonalidade do ambiente é menos marcante (Morellato
et al. 2000). Os padrões reprodutivos dessas comunidades podem ser dirigidos pela
presença de espécies muito abundantes conhecidas como hiper dominantes
(Staggemeier et al. 2017). Este é o caso de comunidades do subbosque da Mata
Atlântica onde predominam espécies da família Rubiaceae.
A família Rubiaceae é a quarta maior família de angiospermas existente, com 13.183
espécies e 611 gêneros, e na Mata Atlântica é uma das 10 famílias mais presentes, com
cerca de 564 espécies encontradas lá, correspondendo a quase 50% de toda sua
variedade dentro dos biomas brasileiros (Davis et al. 2009; BFG 2015). O gênero
Psychotria, um dos mais diversos, possui 2000 espécies no Neotrópico (Carvalho Jr et
al. 2018).
No subbosque das florestas nordestinas, Psychotria bahiensis é um arbusto dominante
e entender a sua fenologia pode ajudar a compreender os padrões reprodutivos em
comunidades no limite norte do bioma Mata Atlântica, região de escassos estudos
fenológicos. Esse conhecimento se faz urgente ao considerar as ameaças de perda de
habitat (Galindo-Leal & Câmara 2005) e potenciais efeitos do aquecimento global na
distribuição de espécies e determinação do padrão reprodutivo em plantas (Ibáñez et
al. 2010).
Assim, esse projeto visou descrever a floração e frutificação de uma população de
Psychotria bahiensis (Rubiaceae) quinzenalmente ao longo de 12 meses em uma área
de Mata Atlântica (Figura 1) no estado do Rio Grande do Norte, na Floresta Nacional
de Nísia Floresta . Testamos se os fatores ambientais (precipitação, temperatura e
comprimento do dia) podem afetar a época e sincronia fenológica da população. Esta é
uma das espécies mais facilmente visualizada nas trilhas de interior de mata da FLONA
devido a sua abundância e por ocupar o estrato arbustivo sombreado da floresta. Os
resultados produzidos nesta iniciação científica são úteis no contexto da ecologia de
populações mas também tem cunho prático para discutir interações ecológicas com a

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comunidade visitante da FLONA de Nísia Floresta e nesse sentido um pequeno folheto


sobre o assunto e com fotos da espécie foi produzido. Este material pode ser útil aos
monitores ambientais da Unidade de Conservação com fins de auxiliar na divulgação
de conceitos relativos às interações ecológicas em ações de educação ambiental junto
aos visitantes da área. Esse trabalho se insere no Projeto de Pesquisa PIA16516-2019
(Título: Pesquisas em unidades de conservação estaduais do Rio Grande do Norte e
subsídios para gestão), gerando conhecimento fenológico sobre espécies das UCs do
estado. Os resultados obtidos são importantes para avaliar a disponibilidade de
recursos (botões florais, flores, frutos e sementes) para a fauna, subsidiando o manejo
e conservação de espécies.

Metodologia

A área onde o estudo foi realizado se localiza em um fragmento de Mata Atlântica


localizado na Floresta Nacional de Nísia Floresta (Figura 2), com as coordenadas 6°04
'54.8 "S 35°11'04.8"O. Quatro estágios fenológicos (flor, botão floral, fruto imaturo,
fruto maduro) foram documentados para os 48 indivíduos marcados de Psychotria
bahiensis (Figura 3) nas 5 parcelas de tamanho 10 x 10m situadas no interior da
floresta. O monitoramento das fenofases dos indivíduos começou em julho de 2022 e
teve fim em julho de 2023, tendo ao todo um total de 26 visitas em campo, que
ocorreram de forma quinzenal ao longo desses 12 meses (exceto em 31/12/22 quando
o campo não foi realizado por razões logísticas. Os estágios fenológicos foram
observados visualmente e todas as suas fenofases fotografadas. A quantificação desses
dados foi realizada através do método proposto por Fournier (1974), onde há 5
categorias, variando de 0 a 4, onde 0 é a ausência de atividade fenológica na copa, 1
representa de 1 a 25% da copa em atividade, 2 de 26 a 50%, 3 de 51 a 75% e 4 de 76 a
100%.
Os dados obtidos foram tabulados e foi calculada a sincronia populacional, sendo
utilizado o índice de atividade (sensu Bencke e Morellato 2002), havendo uma
identificação de presença ou ausência de cada fenofase dos indivíduos em cada
quinzena observada. Os dados fenológicos foram quantificados em termos de
intensidade através do índice de Fournier (1974), considerando o somatório dos
eventos registrados em relação ao total possível (Bencke & Morellato 2002).
Variáveis climáticas de precipitação e temperatura (Figura 4) quinzenais foram obtidas
através da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN) na
estação TELEPLU em Nísia Floresta, com as coordenadas de latitude -6,09132S e
longitude -35,21065 O, dados de comprimento do dia (Figura 5) foram obtidos via
tabela astronômica (Pereira et al. 2001). Variáveis climáticas foram correlacionadas

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com a porcentagem de atividade e intensidade fenológica para identificar tendências


que modelam os potenciais gatilhos à variação na oferta de recursos ao longo do
tempo.

Resultados e Discussões

Botões florais e flores foram ofertados de forma mais concentrada de dezembro a abril
com um pico de 80% dos indivíduos em botão em meados de janeiro e 69% dos
indivíduos em flor em fevereiro (Figura 6). Houve uma correlação positiva da produção
de botões com a temperatura média (Tabela 1). Outros estudos na Mata Atlântica
destacam que neste período de elevadas temperaturas é provável que as espécies de
polinizadores sejam também mais ativas e abundantes facilitando a reprodução
(Morellato et al. 2000, Staggemeier et al. 2010).
Já para a frutificação, houve uma recorrência de frutos verdes durante os meses de
janeiro até setembro. Seu pico ocorreu no dia 22 de abril de 2023, com 81% dos
indivíduos apresentando fruto imaturo, no entanto, entre os meses de março e junho,
foi observado uma alta atividade (entre cerca de 70% - 80%) (Figura 6), mostrando o
longo tempo que leva para a maturação desses frutos. A relação dessa fenofase com o
clima se deu positiva com a temperatura e inversamente proporcional ao
comprimento do dia (Tabela 1).
Frutos maduros estiveram disponíveis em maior concentração durante os meses de
maio a julho com pico de intensidade na quinzena de 01 de julho de 2023,com cerca
de 40% dos indivíduos apresentando fruto maduro (Figura 6). Essa fenofase se
correlacionou negativamente com os dados climáticos de temperatura e comprimento
do dia (Tabela 1). Outros estudos discutem que frutos carnosos, como é o caso desta
espécie, seriam favorecidos nas temperaturas mais frias e dias mais curtos devido a
uma menor chance de ataque por patógenos (van Schaik 1986).

Conclusão

Com o estudo, notou-se que fatores ambientais como temperatura, precipitação e


comprimento do dia, exercem influências significativas nas diferentes fenofases de
Psychotria bahiensis. Também foi perceptível a relação entre a temperatura e o
amadurecimento do fruto, sendo necessário temperaturas mais amenas para maior
intensidade de produção. Faz-se necessário também mais estudos sobre a espécie,
pois são poucos os existentes, para entender melhor o seu comportamento.

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Referências

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Anexos

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Figura 1. Trilha da FLONA de Nísia Floresta. Créditos da foto: Maria Luiza de Souza
Ferreira.

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Figura 2. Pedaço de Mata Atlântica encontrada na Floresta Nacional de Nísia Floresta.


Créditos nas fotos: Isaac Daniel.

Figura 3. Fenofases reprodutivas de Psychotria bahiensis: (A) A seta preta aponta para
a estrutura de um botão e a seta branca para uma flor. (B) Seta preta está apontando
para um fruto imaturo. (C) Estrutura branca caracterizada por ser um fruto maduro.

Figura 4. Dados de precipitação, temperatura média, máxima e mínima para o período


entre 7 de maio de 2022 e 12 de agosto de 2024. Fonte: EMPARN.

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Figura 5. Dados do comprimento do dia. Fonte: Pereira et al. (2001).

Figura 6. Porcentagem de indivíduos em atividade para cada fenofase reprodutiva de


Psychotria bahiensis.

Tabela 1. Correlação de Spearman (Rs) entre a porcentagem de indivíduos de


Psychotria bahiensis em atividade com os dados climáticos de Nísia Floresta (valor de
p: * < 0,05; ** < 0,01).

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CÓDIGO: SB1460

AUTOR: GIOVANNI MAXIMO LIMA DE SOUZA GRILO

ORIENTADOR: VANIA SOUSA ANDRADE

TÍTULO: Bioatividade do óleo essencial proveniente de Lippia grata frente à


fungos dermatófitos.

Resumo

Os dermatófitos, fungos queratinofílicos causadores de micoses cutâneas, afetam 25%


da população mundial. O tratamento ocorre pela utilização de drogas derivadas das
alilaminas e triazóis. Entretanto, mecanismos de resistência, como a geração de
biofilme, vêm sendo cada vez mais relatados na literatura. Diante desse contexto,
percebe-se uma busca incessante por alternativas com potencial antifúngico, como
extratos de origem vegetal com propriedades antimicrobianas já descritas na
literatura. Portanto, este trabalho teve como objetivo avaliar a atividade antifúngica
do óleo essencial da planta Lippia grata Schauer (Verbenaceae) frente a diferentes
espécies de dermatófitos. O óleo essencial foi obtido a partir de hidrodestilação, com
posterior análise de seu teor percentual (%). A bioatividade do óleo foi investigada
sobre 8 amostras fúngicas pelo método de Concentração Inibitória Mínima (CIM) pela
técnica de microdiluição em caldo e Concentração Fungicida Mínima (CFM) utilizando
meio sólido. Quanto a atividade antifúngica, teve CIM média de 146,60 µg/mL e CFM
média de 335,75 µg/mL. Com isso, concluiu-se que o óleo essencial de Lippia grata
apresentou atividade antifúngica frente a dermatófitos.

Palavras-chave: Dermatofitoses; produtos naturais; potencial antimicrobiano.

TITLE: Bioactivity of essential oil from Lippia grata against dermatophyte fungi

Abstract

Dermatophytes, keratinophilic fungi that cause cutaneous mycoses, affect 25% of the
world's population. Treatment involves the use of drugs derived from allylamines and
triazoles. However, resistance mechanisms, such as biofilm generation, have been
increasingly reported in the literature. In this context, there is an incessant search for
alternatives with antifungal potential, such as extracts of plant origin with

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antimicrobial properties already described in the literature. Therefore, this work aimed
to evaluate the antifungal activity of the essential oil of the plant Lippia grata Schauer
(Verbenaceae) against different species of dermatophytes. The essential oil was
obtained from hydrodistillation, with subsequent analysis of its percentage content
(%). The bioactivity of the oil was investigated on 8 fungal samples by the method of
Minimum Inhibitory Concentration (MIC) by the technique of microdilution in broth
and Minimum Fungicide Concentration (MFC) using solid medium. As for antifungal
activity, it had an average MIC of 146.60 µg/mL and an average CFM of 335.75 µg/mL.
Thus, it was concluded that the essential oil of Lippia grata showed antifungal activity
against dermatophytes.

Keywords: Dermatophytosis; natural products; antimicrobial potential.

Introdução

Os dermatófitos, microrganismos capazes de infectar tecidos queratinizados, são


classificados como os principais responsáveis por causar dermatofitoses na pele,
cabelos e unhas, com cerca de 80% a 90% de prevalência no diagnóstico dessas
doenças (BASTOS, 2018). Dentre os principais dermatófitos, encontramos os gêneros
Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton, com cerca de 40 espécies distribuídas
entre eles (JESUS, 2018). Dentre os destacados, o Trichophyton rubrum e Trichophyton
mentagrophytes são as espécies mais encontradas no diagnóstico de dermatofitoses
(ARAÚJO et al., 2012; COSTA et al., 2002).
Geralmente o tratamento de dermatofitoses ocorre pela utilização de drogas derivadas
das alilaminas e triazóis, como a terbinafina, itraconazol e fluconazol (REZAEI-
MATEHKOLAEIR, 2018). No entanto, alguns fungos podem adquirir resistência aos
fármacos, ocasionando recidivas do patógeno quando o tratamento é interrompido
(PERES et al., 2010). A resistência de fungos dermatófitos, por exemplo, já foi relatada
nos gêneros Trichophyton e Microsporum (ARENDRUP, 2021). Ainda com relação à
resistência, já há evidências que dermatófitos são capazes de produzir biofilme, uma
densa matriz exopolissacarídica mais resistente aos fármacos em comparação com as
células planctônicas (BRILHANTE et al., 2015; CORREIA, 2016). Esses biofilmes, por sua
vez, conferem maior resistência quanto à remoção cirúrgica do tecido infectado e
tratamentos convencionais (RAMAGE et al., 2012).
Portanto, é preciso compreender melhor a ação de antifúngicos quanto à formação de
biofilmes por dermatófitos e os demais mecanismos de resistência desses patógenos
frente às atuais e futuras terapias tradicionais. Diante dessas condições, a indústria
farmacêutica tem focado no desenvolvimento de tratamentos alternativos para
minimizar os danos que os antifúngicos convencionais causam aos hospedeiros, bem
como ampliar os mecanismos de ação contra cepas de fungos resistentes (BOUCHARA
et al., 2017).

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Nesse contexto, os produtos naturais derivados de plantas são de grande interesse na


indústria farmacêutica frente ao desenvolvimento de tratamentos alternativos. Os
extratos e óleos essenciais (OE), por exemplo, são compostos por muitas propriedades
químicas farmacológicas, sendo objetos de estudos principalmente por apresentar
bioatividade contra diferentes microorganismos (BAKKALI et al., 2008).
No entanto, ainda não se sabe muito sobre a ação dos extratos hidroalcóolicos da
Lippia grata, visto que grande parte dos estudos são realizados apenas com o óleo
essencial da espécie (COSTA, 2019). Atualmente, muitos estudos tentam elucidar a
atividade antimicrobiana de muitas plantas do semiárido brasileiro, como por
exemplo, a bioatividade das espécies do gênero Lippia. Esse gênero é composto por
mais de 200 espécies, amplamente distribuídas na África e nas Américas Central e do
Sul (FRANÇA; ATKINS, 2009). 83 (59 endêmicas) dessas espécies estão solo brasileiro,
correspondendo a 75% do total de espécies do gênero (JESUS, 2018). Dentro do
gênero, encontra-se a espécie Lippia grata Schauer (Verbenaceae), uma planta
endêmica da região brasileira, ocorrendo principalmente em biomas como a Caatinga,
Cerrado e Campo rupestre (SOUZA; KIILL, 2018).
Dentre os principais constituintes na composição do óleo essencial obtido dessa
planta, encontra-se o limoneno, β-cariofileno, p-cimeno, cânfora, linalol, α-pineno,
timol e carvacrol, sendo o carvacrol e o-cimeno classificados como principais
constituintes (PASCUAL et al., 2001; apud FELIX et al., 2021).
Diante do exposto, o presente trabalho tem o objetivo de avaliar atividade antifúngica,
incluindo a ação antibiofilme do extrato hidroalcoólico, óleo essencial e produto
vegetal da planta Lippia grata sobre cepas de dermatófitos. Espera-se que os
resultados em relação ao potencial antifúngico da Lippia grata, possam contribuir com
a formulação de produtos antissépticos e fornecer subsídios para motivar,
futuramente, novos estudos na área.

Metodologia

1. Obtenção do óleo essencial e caracterização química: O óleo essencial será obtido


no Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Plantas a partir de uma população de
Lippia grata cultivada em área (Latitude 05º 11' 15" S e Longitude 37º 20' 39"W)
localizada no Campus Central da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN) em colaboração com a Profa. Dra. Cynthia Cavalcanti de Albuquerque. Tais
folhas da L. grata serão lavadas, trituradas e misturadas na proporção 1:5 p/v, ou seja
1.000 gramas de folhas para 5 litros de etanol a 70%, armazenados em recipientes de
vidro âmbar sob agitação ocasional. A extração do óleo essencial será realizada
utilizando o método de hidrodestilação, através do sistema Clevenger. A quantidade
de folhas será transferida para um balão de fundo redondo contendo 2L de água, com

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posterior aquecimento durante 2h em manta aquecedora. Após o período, o vapor


gerado sofre condensação, dando origem a um precipitado de água e óleo em funil de
separação. Por fim, seguindo a metodologia de Fernandes et al., (2015), desidrata-se o
óleo usando sulfato de sódio anidro e éter. A identificação dos constituintes dos
produtos vegetais será por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa
(CG/EM), utilizando o cromatográfico gasoso associado à espectrometria de massa
(modelo QP2020 da Shimadzu®) no Instituto de Química (CCET-UFRN) com a
colaboração da Profa. Dra. Renata Mendonça Araújo. 2.Microrganismos e
padronização dos inóculos:As cepas de dermatófitos serão gentilmente cedidas pelas
Coleções de Fungos Filamentosos e de Fungos Patogênicos da Fundação Oswaldo Cruz
(IOC-FIOCRUZ/RJ). A padronização dos inóculos das cepas de dermatófitos será
realizada com base na metodologia estabelecida pelo Brazilian Committee on
Antimicrobial Susceptibility Testing (BrCAST, 2020). A preparação dos inóculos de
dermatófitos, a padronização será realizada a partir de culturas frescas e maduras (2-5
dias) que apresentem esporulação apropriada. Sendo assim, as colônias serão cobertas
com cerca de 5mL de água destilada estéril suplementada com 0,1% de Tween 20. Em
seguida, os conídios serão coletados com swab estéril e colocados em tubos estéreis
para realizar a contagem em uma câmara de Neubauer, possibilitando o ajuste da
suspensão com água destilada estéril para 2-5 x 106 conídios/mL. 3.Determinação da
Concentração Inibitória Mínima (CIM): Para determinar a Concentração Inibitória
Mínima (CIM) do óleo essencial de L. grata será utilizada a técnica de microdiluição em
caldo sobre placas de 96 poços de fundo chato. O teste será realizado em triplicata e
para cada placa, serão incluídos quatro controles: controle de esterilidade (contendo o
meio para dermatófitos), controle de crescimento (contendo meio + inóculo), controle
negativo (contendo o meio e DMSO) e o controle positivo (contendo fluconazol para
dermatófitos). . Para os dermatófitos, serão realizadas diluições seriadas do extrato,
óleo essencial e produto vegetal de L. grata adquirindo concentrações de 25 µg/mL,
12,50 µg/mL, 6,25 µg/mL, 3,12 µg/mL, 1,56 µg/mL, 0,78 µg/mL e 0,39 µg/mL (Kume e
colaboradores, 2021). Os materiais vegetais então serão diluídos em solvente DMSO e
as diluições seriadas acontecerão em todos os poços, com exceção dos que irão conter
os controles. Após agitação em vortex, será feito a inoculação da suspensão de
conídios a 2-5 x 105 UFC/mL em cada poço da placa de microdiluição contendo 100 µL
de meio RPMI 1640 RPMI 1640 com L-glutamina sem Bicarbonato de sódio
(INLAB/Brasil), com cuidado para não tocar o conteúdo dos poços. Em seguida, a
inoculação de 100 µL da suspensão de conídios e 100 µL do meio deve acontecer na
coluna 11 para controle de crescimento. Quanto à coluna 12, será usada para controle
de esterilidade com 100 µL de água estéril utilizada nas etapas anteriores e 100 µL do
meio, controle positivo contendo 100 µL da suspensão somada a fluconazol e negativo
a qual irá conter o meio com o DMSO. Por fim, as placas serão incubadas a 34 a 37 ºC
em ar atmosférico por 48h (ou se for necessário, 72h). Após o período, a leitura será

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feita visualmente, registrando o grau de crescimento fúngico ao adicionar 50 µL do


corante 2,3,5 - Triphenyltetrazolium Chloride em cada poço, facilitando a visualização
das amostras vivas (cor vermelha) das mortas (sem alteração de cor). O MIC será
definido como a concentração dos materiais vegetais mais baixa responsável por inibir
100% do crescimento visível do fungo. 4.Concentração Fungicida Mínima (CFM): A
atividade fungicida do extrato, óleo essencial e produto vegetal será realizada com
base na metodologia de Fontenelle et al. (2007) e Soares et al. (2014) para cepas de
fungos dermatófitos. Portanto, irá ser determinada a partir do subcultivo (pequenos
quadrados sobre o meio de cultura) de 100µL de cada poço do teste de CIM que não
demonstrou crescimento microbiano (sem turbidez), em placas de Petri com meio de
cultura Ágar Sabouraud. Após a semeadura com uso de uma alça de Drigalski, as placas
serão incubadas por 5 dias para dermatófitos a 35ºC. Com o passar do tempo
determinado, a leitura das placas será realizada e determinará a CFM com a menor
concentração de óleo capaz de inibir qualquer crescimento fúngico, calculada pela
média aritmética e desvio padrão das triplicatas. Por último, para a classificação do
perfil fungicida ou fungistático das concentrações do óleo essencial de Lippia grata,
será utilizada a metodologia de Siddiqui et al. (2013), determinando que quando
calcularmos a razão entre CFM/CIM encontramos o caráter de ação.

Resultados e Discussões

3.1. RENDIMENTO E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DE Lippia grata


Foi observado rendimento do óleo essencial de Lippia grata de 2.45%. Após a avaliação
química, constatou-se quatro fitoconstituintes monoterpênicos majoritários,
identificados a partir da cromatografia gasosa associada à espectrometria de massa
(CG/EM), sendo estes o carvacrol (51.4%), timol (15.6%), ρ-cimeno (12.2%) e γ-
terpineno (7.4%), conforme representado na Tabela 1.
No presente estudo, os fitoconstituintes majoritários detectados no óleo essencial de
Lippia grata foram o carvacrol, timol, ρ-cimeno e γ-terpineno. Descrição química
similar foi reportada, cronologicamente ao longos dos anos, nos trabalhos de
Albuquerque e colaboradores (2012), Sarrazin e colaboradores (2012), Menezes e
colaboradores (2016), Martins (2017), Cruz e colaboradores (2018) e Oliveira e
colaboradores (2021). Outras pesquisas relataram que a espécie Lippia grata possui
atividade antimicrobiana prioritariamente devido à presença do carvacrol e do timol,
principais monoterpenos fenólicos identificados no óleo essencial da planta
(ALBUQUERQUE et al., 2006; FERNANDES et al., 2015).
O carvacrol é um fitoconstituinte importante, tendo em vista sua bioatividade como a
apresentação de potencial antimicrobiano, antioxidante, agroquímico e aromatizante

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(PUBCHEM, 2019). O timol (2-isopropril-5-metilfenol) é um monoterpeno


frequentemente identificado nas espécies da família Verbenaceae, possuindo ação
antioxidante, cicatrizante, antimicrobiano, anti-tumoral, anestésico e antinociceptivo
(MARCHESE et al., 2016). Ambos os fitoconstituintes, apresentam atividade antifúngica
relatada na literatura (OLIVEIRA et al., 2021).
Nos achados de Ibrahim e El-Salam (2015), a atividade anti dermatofítica de 26 óleos
essenciais comerciais foi verificada sobre 4 espécies de fungos dermatófitos,
Trichophyton rubrum, Trichophyton mentagrophytes, Microsporum canis e
Epidermophyton floccosum, com CIMs variando nas concentrações entre 0.125 e 0.25
µl/mL, que são concentrações consideradas baixas, assim como verificado no presente
estudo. Kume e colaboradores (2021), analizando a bioatividade dos óleos essenciais in
natura e ozonizados da Canela, Syzygium aromaticum (Cravo-da-índia), Citronela,
Eucalipto glouolus e Eucalipto stageriana apresentaram CIM e CFM in natura que
variaram entre 0.8% e 25% sobre Trichophyton mentagrophytes.
3.2. ATIVIDADE ANTIFÚNGICA
Frente às cepas de dermatófitos, o óleo inibiu 100% das cepas, com variação de
concentração inibitória de 48.82 µg/mL a 390.62 µg/mL (Tabela 2). Foi observado a
CIM do óleo essencial de Lippia grata na concentração de 97.65 µg/mL em três cepas
(37.5%), 48.82 µg/mL em duas (25%), 195.81 µg/mL em duas (25%) e 390.62 µg/mL em
uma cepa (12.5%). Com relação às CIMs do itraconazol, ocorreu variação de 1 µg/mL a
0.06 µg/mL. O fármaco apresentou CIM na concentração de 0.12 µg/mL para três
cepas (37.5%), 0.25 µg/mL para duas (25%) e 0.06 (12.5%), 0.5 µg/mL (12.5%) e 1
µg/mL (12.5%) para uma cepa. Quanto à concentração fungicida mínima, o óleo teve
caráter fungicida em 100% das cepas. A CFM variou de 97.65 µg/mL a 781.25 µg/mL,
sendo a concentração de 390.62 µg/mL (50%) em quatro cepas e 48.82 µg/mL (12.5%),
97.65 µg/mL (12.5%), 195.81 µg/mL (12.5%) e 781.25 µg/mL (12.5%) em uma cepa.
Além dos testes realizados com o óleo essencial de Lippia grata, avaliou-se as CIMs dos
antifúngicos anfotericina B e itraconazol para as espécies de dermatófitos, a fim de
observar a sensibilidade das estirpes aos referidos fármacos. Continuadamente, as
cepas apresentaram CIMs variando entre 0.125 µg/mL a 1 µg/mL para o itraconazol,
no entanto, não é possível estabelecer sensibilidade ou resistência à droga, devido à
ausência de pontos de corte para dermatófitos pelos comitês. Porém, os testes de
sensibilidade são reconhecidos como alternativas para conhecer e comparar o
potencial antifúngico das drogas convencionais como os azólicos, terbinafina,
griseofulvina e demais fármacos frente às cepas isoladas de dermatófitos, ajudando na
conduta terapêutica dos pacientes (MAGAGNIN et al., 2011; ARENDRUP et al., 2021).
Sobre a determinação da concentração fungicida mínima, é possível notar que os
valores de CFMs encontrados neste estudo apresentaram baixa variação. Ou seja, a

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maioria dos valores de CFM encontrados foram iguais aos valores de CIM. No presente
estudo, os resultados em 100% dos testes sugerem ação fungicida, mostrando
coerência com os estudos de Albuquerque e colaboradores (2006), Franco e
colaboradores (2014) e Fernandes e colaboradores (2015). Tais estudos mostraram
que para todas as estirpes fúngicas, o óleo essencial de Lippia grata foi capaz de inibir
100% do crescimento fúngico quando estas foram cultivadas em meio sólido
suplementado com o óleo essencial. Somado a isso, dados reportados por Melo e
colaboradores (2013) e Santos (2018) mostraram também a ação fungicida de
compostos derivados da espécie Lippia grata. Clinicamente, a natureza fungicida de um
composto é considerada mais importante que a fungistática, embora ambas sejam
necessárias, visto que a essência da terapêutica antimicrobiana visa à toxicidade
seletiva, a qual considera inibir ou causar a morte microbiana sem causar danos ao
hospedeiro (MONK; GOFFEAU, 2008; LU et al., 2022). Sendo assim, esse conhecimento
a respeito da natureza da atividade de uma nova substância para a terapia direcionada
é fundamental, principalmente tratando-se de terapias para pacientes do grupo de
risco, como imunossuprimidos.
3.3. CAPACIDADE DE FORMAÇÃO DE BIOFILME
A quantificação de biofilme das cepas de dermatófitos está descrita na Tabela 3. Os
achados mostram que todas as oito cepas (100%) foram capazes de produzir biofilme
in vitro. Levando em consideração a classificação de produção, seis (75%) mostraram-
se fortes produtoras e duas (25%) produtoras moderadas.
Com relação à produção de biofilme, o gênero Trichophyton apresentou duas cepas
moderadas produtoras e três fortes produtoras, enquanto o gênero Microsporum e
Nannizia apresentou uma e duas fortes produtoras, respectivamente. Dentre as cepas
fortes produtoras, a cepa Microsporum canis (CFP00098) foi a que apresentou a maior
densidade óptica (3.809 ± 0.052). Conforme ilustrado no gráfico abaixo (Figura 1),
todas as cepas tiveram significância estatística baixa (p = 0.05).
Nos últimos anos, a formação de biofilme por dermatófitos tem sido relatada com
mais frequência. Nas pesquisas de Costa-Orlandi e colaboradores (2014), Brilhante e
colaboradores (2017) e Danielli e colaboradores (2017), foi consenso a formação de
biofilme em espécies do gênero Trichophyton, Microsporum e Nannizzia. Além disso,
Brilhante e colaboradores (2017), avaliando a formação de biofilme em fungos
dermatófitos, verificaram que 24 cepas (24/26) de dermatófitos foram produtoras de
biofilme, sendo a maioria (16/24) fortes produtoras, similarmente ao observado no
presente estudo.
Em consideração a formação de biofilme por inúmeras espécies de fungos, novas
estratégias terapêuticas são necessárias para atingir as colônias fúngicas em biofilmes
maduros como aumento de concentrações, descoberta de novos compostos com

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potencial antifúngico e associação com fármacos convencionais (LOHSE et al., 2020;


NETT; ANDES, 2020).

Conclusão

Diante dos resultados, tornou-se evidente que os principais constituintes do óleo


essencial de Lippia grata foram os monoterpenos carvacrol, timol, ρ-cimeno e γ-
terpineno, sendo o carvacrol e o timol em maiores quantidades.
Constatou-se, então, que o óleo essencial de Lippia grata apresenta potencial
antifúngico frente a dermatófitos, tendo em vista diferentes gêneros testados na
pesquisa. Além disso, o óleo essencial teve ação fungicida perante todas as cepas
fúngicas testadas.
Por fim, Todas as cepas do presente estudo foram produtoras de biofilme, que é
levantado como um dos possíveis mecanismos de resistência desses fungos frente aos
tratamentos de primeira escolha, entre alilaminas e azóis. Entretando, são necessários
mais estudos para tornar evidente a forma que esses organismos produzem resistência
às drogas amplamente conhecidas, como a terbinafina, para corroborar ainda mais
com o crescimento dos tratamentos alternativos como o feito mediante administração
do óleo essencial de Lippia grata Schauer.

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Anexos

Tabela 1 - Caracterização química do óleo essencial de Lippia grata.

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Tabela 2 - Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Fungicida Mínima


(CFM) do óleo essencial frente cepas de dermatófitos.

Tabela 3 - Quantificação de biofilme das cepas de dermatófitos.

Figura 1 - Gráfico quantitativo da formação de biofilmes das espécies de dermatófitos


expresso pelos valores médios da leitura de absorbância em 570nm do cristal violeta a
0.4%.

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CÓDIGO: SB1461

AUTOR: DARLY DA SILVA FERREIRA

ORIENTADOR: VALTER FERREIRA DE ANDRADE NETO

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA


INFECÇÃO POR Toxoplasma gondii EM GESTANTES DA CIDADE DE
TANGARÁ/RN

Resumo

A toxoplasmose é uma zoonose de ampla distribuição geográfica mundial causada pelo


Toxoplasma gondii. É uma doença de caráter oportunista e estudos revelam que em
algumas cidades e regiões a soropositividade para a toxoplasmose chega a 80% dos
indivíduos. Os casos de doenças com manifestação clínica são menos frequentes,
nestes, a forma mais grave pode ser encontrada em recém-nascidos, sendo
caracterizada por lesões necróticas e inflamatórias que podem levar a sequelas
neurológicas, com altas taxas de morbidade e mortalidade. O presente estudo tem o
objetivo de caracterizar alguns aspectos sobre a epidemiologia da toxoplasmose
congênita na cidade de Tangará/RN. Para isso, foi necessário a participação de 18
gestantes para obtenção dos dados referente a sorologia do primeiro trimestre e se as
participantes tinham ou não algum conhecimento prévio sobre a toxoplasmose
congênita. Após a análise dos dados, foi observado que a maioria das pacientes que
positivaram para toxoplasmose não tinham conhecimento sobre a doença, o que é
considerado um grande fator de impacto, uma vez que algumas medidas profiláticas
como a higienização correta de frutas e verduras, o uso de água filtrada ou fervida e o
conhecimento sobre a participação do gato na propagação dessa doença poderiam ter
reduzido bastante esse número. Em contrapartida, as pacientes que já tinham um
conhecimento sobre a doença apresentaram resultado negativo para a sorologia.

Palavras-chave: Congênita. Prevalência. Profilaxia.

TITLE: CHARACTERIZATION OF THE EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS OF


INFECTION BY Toxoplasma gondii IN PREGNANT WOMEN IN THE CITY OF
TANGARÁ/RN

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Abstract

Toxoplasmosis is a zoonosis with a wide geographical distribution worldwide, caused


by Toxoplasma gondii. It is an opportunistic disease and studies show that in some
cities and regions seropositivity for toxoplasmosis reaches 80% of individuals. Cases of
the disease with clinical manifestations are less frequent, but the most severe form
can be found in newborns and is characterized by necrotic and inflammatory lesions
that can lead to neurological sequelae, with high morbidity and mortality rates. This
study aims to characterize some aspects of the epidemiology of congenital
toxoplasmosis in the city of Tangará/RN. To do this, 18 pregnant women had to take
part in the study in order to obtain data on first trimester serology and whether or not
the participants had any previous knowledge of congenital toxoplasmosis. After
analyzing the data, it was observed that the majority of patients who tested positive
for toxoplasmosis had no knowledge of the disease, which is considered a major
impact factor, since some prophylactic measures such as the correct sanitization of
fruit and vegetables, the use of filtered or boiled water and knowledge about the
participation of cats in the spread of this disease could have greatly reduced this
number. On the other hand, patients who were already aware of the disease tested
negative for serology.

Keywords: Congenital. Prevalence. Prophylaxis.

Introdução

Toxoplasma gondii é um parasita intracelular obrigatório do filo Apicomplexa


amplamente distribuído na natureza. Considerado o agente etiológico da
toxoplasmose, este protozoário é capaz de infectar qualquer animal homeotérmico
(Dubey et al., 2012) e está presente em todo o mundo, afetando cerca de um terço da
população global (Montoya e Liesenfeld, 2004; Petersen, 2007). O T. gondiipossui um
ciclo biológico heteroxênico complexo, sendo os felídeos os hospedeiros definitivos, e
o homem, mamíferos e aves os hospedeiros intermediários (Figueiró-Filho et al.,
2005). A infecção é comum nos países tropicais (Gilot-Fromont, 2012), e a prevalência
varia de região para região, refletindo diferentes estilos de vida e hábitos que
favorecem a exposição às fontes de infecção. O ser humano é infectado
principalmente pelas vias i) oral, que compreende a ingestão de oocistos presentes na
água ou alimentos contaminados com fezes de gatos infectados ou pela ingestão de
cistos tissulares contidos na carne crua ou malcozida e ii) transplacentária (Dubey et
al., 2012; Gilot-Fromont, 2012).
A toxoplasmose adquirida durante a gestação também se constitui uma das formas de
transmissão do parasita e apresenta alta relevância pelos danos causados ao

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desenvolvimento do neonato (Figueiró-Filho et al., 2005). A gestante com infecção


aguda apresenta risco variável de transmissão vertical, sendo o risco de infecção fetal
menor durante as oito primeiras semanas (2%) e maior após a 36° semana de gestação
(81%) - período de alto desenvolvimento da placenta e maior irrigação sanguínea
(Dunn, et al., 1999). O comprometimento fetal é inversamente proporcional a idade
gestacional, sendo a infecção durante o primeiro trimestre incomum, mas se infectada,
pode acarretar lesões mais graves e até mesmo aborto. Já no último trimestre de
gestação, o risco de transmissão materno-fetal é elevado, mas a criança geralmente
nasce assintomática (Montoya e Liesenfeld, 2004).
Na toxoplasmose gestacional, cerca de 15% dos recém-nascidos apresentam lesões
oculares como único sinal clínico, sendo a retinocoroidite a principal lesão observada,
podendo haver outras alterações oculares como catarata, glaucoma e deslocamento
da retina (Diniz, 2006). Além disso, as sequelas da forma grave da doença como
calcificação craniana isolada, hidrocefalia e microcefalia são estipuladas em até 61%
quando a infecção ocorreu até a 13° semana de gestação e 6% após a 36° semana
(Dunn, et al., 1999). As sequelas podem estar relacionadas com o tipo de cepa do
parasito. Na Europa e América do Norte a doença costuma ser mais leve, sendo esse
fator intimamente ligado a linhagem tipo II do T. gondii(Ajzenberg, et al., 2002). Na
América do Sul, é notável o grande número de polimorfismo das cepas, o que
reverbera em uma doença de caráter atípico devido a variabilidade genética do
parasita encontrado nessa região (Carneiro, et al., 2013). No Brasil, a toxoplasmose
congênita tem prevalência 3-20/10.000 (Camargo, et al., 2010; Lago, et al., 2007;
Carvalheiro, et al., 2005; Andrade, 2008; Bahia-Oliveira, et al., 2001; Bichara, et al.,
2012), sendo a retinocoroidite a lesão mais típica (Vasconcelos-Santos et al., 2009).
O diagnóstico da doença por métodos sorológicos e imunoenzimáticos é de suma
importância, pois permite a inclusão de gestantes recém infectadas na terapia, o que
visa minimizar as complicações clínicas decorrentes da passagem transplacentária do
T. gondiiao feto (Remington, 2004). O tratamento da toxoplasmose congênita é
obrigatório e deve ser mantido por todo o primeiro ano de vida da criança, sendo o
esquema terapêutico formado por sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico podendo
ser capaz de reduzir as sequelas oculares e neurológicas (McAuley, 2008; Mets et al.,
1997; McLeod et al., 2009).

Metodologia

O presente estudo foi realizado aleatoriamente com 18 gestantes maiores de idade


que enquanto estavam aguardando sua consulta de pré-natal foram abordadas na sala
de espera pela aluna HosanaMarta, orientanda da Profa. Dra. Débora de A. Aloise

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(FACISA/UFRN) em uma Unidade Básica de Saúde na cidade de Tangará, Rio Grande do


Norte. Nessa abordagem foi apresentado o projeto, e as gestantes que concordaram
em participar, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Com a
participação dessas gestantes foi possível obter dados sobre seus conhecimentos para
com a toxoplasmose e a sorologia para Toxoplasma gondii do primeiro trimestre de
gestação de cada uma. Essas informações foram plotadas em planilha excel para
criação de gráficos.

Resultados e Discussões

Através dos dados obtidos, é possível observar que 66,66% das gestantes não
possuíam conhecimento sobre a doença (Gráfico 1) o que leva a uma tendencia de
maior infecção (Gráfico 3). Os gráficos 2 e 3 mostram a relação
conhecimento/sorologia, onde o gráfico 2 mostra os dados gerais, sem exceções das
pacientes, onde 50% das participantes positivaram e 50% deram não reagente,
enquanto o gráfico 3 mostrou a relação apenas das que conhecem/não reagentes e
não conhecem/reagentes. A relação conhecimento/sorologia do gráfico 3 mostrou que
63,63% das pacientes soropositivas para a toxoplasmose, não sabiam da doença,
corroborando com o fato de que o conhecimento é um dos fatores fundamentais para
a diminuição da infecção. É aconselhável que todas as gestantes recebam orientações
de prevenção primária que se baseiam em medidas higiênicas educativas que deverão
ser aplicadas antes e durante a gestação. Os médicos são a principal fonte de
informação e devem ser sensibilizados quanto ao seu papel primordial para que as
instruções sejam fornecidas de modo repetido e de fácil compreensão durante a
gestação (Breugelmans, et al., 2004; Lago, et al., 2007). Essas informações devem se
consistir em medidas de profilaxia como beber água filtrada ou fervida, não se
alimentar de carnes cruas ou malcozidas, controle sobre a população de gatos, exame
sorológico pré-natal e tratamento de grávidas em fase aguda (Neves, 2016).
Definir a prevalência da toxoplasmose gestacional é de fundamental importância para
o Sistema de Saúde de cada região, para que seja tomada as medidas necessárias para
reduzir a incidência e minimizar as sequelas dos recém-nascidos (Varella, et al., 2003),
uma vez que as diferentes regiões do Brasil requerem medidas diferentes, uma vez
que os hábitos culturais podem impactar na prevalência da doença. Alguns estados da
região sul do país como o Rio Grande do Sul, possui alta prevalência de
soropositividade para a toxoplasmose (74,5), o que é de se esperar e corrobora com os
hábitos culinários daquela região e da predominante agricultura familiar de
subsistência (Varella, et al., 2003). Os programas de prevenção primária devem ser
baseados nas características epidemiológicas e culturais de cada região, bem como
determinar o perfil sorológico da mulher em idade reprodutiva, medidas essas que

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eCICT 2023

poderiam minimizar a transmissão vertical, assim como avaliar os fatores de risco de


cada população e determinar estratégias de promoção a saúde que devem ser
baseados no conhecimento dos fatores que afetam o comportamento das gestantes
(Leão, et al., 2004).
Diante da gravidade da doença congênita, torna-se fundamental o início do pré-natal
no primeiro trimestre da gestação, possibilitando a identificação precoce dos casos
agudos (Margonato, et al., 2007). Na triagem pré-natal a sorologia para toxoplasmose
deve ser realizada antes ou no início da gestação, a não ser que se tenha algum
registro de que a mulher seja previamente imune. Nas gestantes susceptíveis, a
sorologia deve der repetida periodicamente até o final da gestação, visando detectar
uma possível soroconversão (Lago, et al., 2007). Já a triagem neonatal é outro fator
importante no diagnóstico da doença, uma vez que nem todos os recém-nascidos com
a doença apresentam IgManti-T. gondii positiva e alguns casos podem passar
despercebidos. Essa triagem consiste na pesquisa de IgManti-T. gondii, quando
positiva, é feita sorologia confirmatória na mãe e no recém-nascido. É importante que
os resultados dessa triagem sejam acompanhados de uma profunda investigação,
tendo em vista que a IgM pode negativar-se precocemente nos lactentes infectados
muitas vezes antes de um mês e frequentemente antes dos dois meses (Vasconcelos-
Santos, et al., 2005; Guerina, et al., 1994).

Conclusão

Com isso, a promoção da saúde pública no Brasil é hoje, sem dúvida, uma das questões
mais importantes quando se refere às doenças de importância parasitológica. A
situação precária de higiene, saneamento básico, entre outros fatores, é o que acaba
por expor o ser humano a estas doenças. No caso das gestantes, a prevenção por meio
de medidas profiláticas e o acompanhamento pré-natal, seguidos de monitoramento
trimestral correto, certamente reduziriam os casos de infecção congênita pelo T.
gondii e, consequentemente, o aparecimento de sequelas para o recém-nascido no
futuro. Portanto, quanto maior for o incentivo em relação a palestras em escolas e,
inclusive, comunidades carentes, onde se vê a maior porcentagem em relação à
toxoplasmose gestacional, menor será o risco de se adquirir a infecção pelo T. Gondii,
uma vez que a disseminação de informação é um fator importante para a profilaxia da
doença, o que corrobora com alguns resultados apresentado neste trabalho, onde as
pacientes que já tinham um conhecimento prévio sobre a toxoplasmose tiveram
resultado negativo na sorologia para a toxoplasmose.

Referências

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eCICT 2023

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CÓDIGO: SB1465

AUTOR: OSCAR BEZERRA DANTAS

ORIENTADOR: SILVIA REGINA BATISTUZZO DE MEDEIROS

TÍTULO: Estudo genômico de bactérias patogênicas humanas na região


metropolitana de Natal – RN

Resumo

As bactérias são um grupo de organismo significativos que ocupam os mais diversos


habitats, possuindo a capacidade de estabelecer relações transitórias e parasíticas
permanentes. O estudo desses microrganismos, principalmente os patogênicos, capacita
o controle e a prevenção de potenciais surtos com repercussões significativas na saúde
pública. Diante disso, o sistema de transporte público de Natal/RN, foi escolhido como
alvo de pesquisa com o objetivo de identificar e caracterizar bactérias patogênicas
humanas presentes. Dessa forma, foram realizadas coletas de amostras nas superfícies
de 67 ônibus distribuídos nas principais linhas que circulam pela cidade durante o
período de Dezembro de 2022 até Março de 2023. Executou-se a extração do DNA
bacteriano, e a checagem do seu rendimento e pureza no NanoDrop. Foi feita a
bibliotecas genômicas, e seus rendimentos foram analisados no Bioanalyzer. O
sequenciamento foi realizado pelo Illumina NextSeq 1000 e as análises iniciais em
Bioinformática foram efetuadas na plataforma KBase. Como resultado, a estrutura
taxonômica foi construída pelo Kaiju, a classificação alcançou o nível de espécie. As
principais espécies encontradas que reforçam os objetivos do estudo são: Cutibacterium
acnes (2,06%), Moraxella osloensis (0,23%), Micrococcus luteus (0,17%) e Proteus
mirabilis (0,16%). Como perspectivas do estudo, consideramos a exploração da
diversidade, a investigação das interações ecológicas e a patogenicidade em humanos.

Palavras-chave: taxonomia; patógenos; bactérias; ônibus; bioinformática.

TITLE: Genomic study of human pathogenic bacteria in the metropolitan region


of Natal – RN

Abstract

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Bacteria constitute a significant group of organisms that inhabit diverse habitats,


possessing the ability to establish transient and permanent parasitic relationships. The
study of these microorganisms, particularly the pathogenic ones, enables the control and
prevention of potential outbreaks with significant repercussions on public health. In
light of this, the public transportation system of Natal/RN was chosen as the research
target with the aim of identifying and characterizing present human pathogenic bacteria.
Consequently, samples were collected from the surfaces of 67 buses operating on the
main routes throughout the city from December 2022 to March 2023. Bacterial DNA
extraction was performed, and its yield and purity were assessed using the NanoDrop.
Genomic libraries were constructed, and their yields were analyzed on the Bioanalyzer.
Sequencing was carried out using the Illumina NextSeq 1000, and initial bioinformatics
analyses were conducted on the KBase platform. As a result, the taxonomic structure
was established using Kaiju, achieving species-level classification. The main species
found that align with the study objectives are: Cutibacterium acnes (2.06%), Moraxella
osloensis (0.23%), Micrococcus luteus (0.17%) and Proteus mirabilis (0.16%). As
future prospects of the study, we consider exploring diversity, investigating ecological
interactions, and understanding human pathogenicity.

Keywords: taxonomy; pathogens; bacteria; bus; bioinformatics.

Introdução

BACTÉRIAS E PATOGENICIDADE

As bactérias são um grupo de microrganismos muito importante e diversificado;


possuindo a capacidade de realizar interações com diferentes organismos e propriedades
complexas. Elas conseguiram colonizar os mais variados habitats: como o ar, água, solo,
alimentos, organismos vivos, incluindo no corpo humano (D ‘SOUZA, et al., 2018).
A capacidade de estabelecer tanto relações transitórias quanto relações parasíticas
permanentes; permitiu que muitas bactérias apresentassem um potencial
moderadamente não virulento, no entanto, algumas possuem a capacidade de induzir
doenças que constituem ameaças significativas tanto para a vida humana quanto animal,
especialmente aquelas que desenvolvem resistência a antibióticos, o que as torna uma
ameaça em constante crescimento para a saúde global (MURRAY; ROSENTHAL;
PFALLER, 2010; OMS, 2023).
Existe uma ampla diversidade de bactérias, que podem ser classificadas de acordo com
as características de suas membrana celular, após um processo de coloração, sendo
denominadas de Gram-negativas ou Gram-positivas. Entre as bactérias Gram-negativas
mais reconhecidas, estão aquelas pertencentes ao gênero Escherichia, incluindo os
coliformes fecais, com destaque para a espécie Escherichia coli. Esta, é comumente

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encontrada no trato intestinal humano, sendo usada como indicador das condições
higiênico-sanitárias (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Já entre as bactérias Gram-negativas, a espécie Staphylococcus aureus se destaca,
principalmente pela sua capacidade de produzir toxinas que contribuem para a sua
patogenicidade e resistência a antibióticos, como a penicilina, o que o torna o corpo
humano mais suscetível a ser invadido. Ainda, suas toxinas podem causar diversas
patologias, como intoxicação alimentar e síndrome do choque tóxico (TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017).
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma lista de bactérias
patogênicas multirresistentes a antibióticos que desencadeiam infecções adquiridas na
comunidade e em hospitais, intituladas ESKAPE, notificando a necessidade de
desenvolvimento de medicamentos novos; com o objetivo de prevenir os potenciais
perigos à população mundial (OMS, 2017; WU et al., 2021).

TRANSPORTE PÚBLICO E METAGENOMA

Em consequência do aumento contínuo do ambiente urbano e crescimento populacional


nos centros urbanos, os microrganismos que circulam e habitam os espaços que o
compõem se desenvolvem cada vez mais (GOHLI, et al., 2019).
Diante disso, o sistema de transporte público de Natal/RN, por ser o principal meio de
locomoção, com mais de 100 mil pessoas sendo transportadas por toda as regiões da
cidade diariamente (STTU, 2021), favorece as interações e transmissões microbianas,
entre humanos, microrganismos e o próprio meio; demonstrando ser um local adequado
para estudos de identificação e caracterização do microbioma urbano (HSU, et al.,
2016).
O estudo das bactérias patogênicas detém um papel crucial no entendimento das suas
atividades, modos de sobrevivência e formas de disseminação. Isso, por sua vez,
capacita o controle e a prevenção de potenciais surtos, desde aqueles confinados em
regiões específicas até os de escala global. Adquirir conhecimento a respeito dos
organismos que nos rodeiam é de inegável importância para a expansão do
conhecimento científico, com repercussões significativas na saúde pública.
Os avanços recentes na biotecnologia têm revolucionado as várias disciplinas "ômicas",
como genômica, transcriptômica, epigenômica e metagenômica, com o suporte
essencial da bioinformática. Consequentemente, a utilização das informações adquiridas
por meio da análise do genoma bacteriano oferece ferramentas aplicáveis e de
relevância para pesquisas envolvendo a detecção de novas variantes genéticas e sua
influência nas proteínas que constituem o sistema bacteriano. Além disso, essa
abordagem viabiliza a avaliação das implicações dessas modificações na progressão das
doenças em hospedeiros humanos.

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Metodologia

COLETA DAS AMOSTRAS

Foram recolhidas amostras das superfícies internas de ônibus do sistema de transporte


público que serve a região metropolitana de Natal (Rio Grande do Norte, Brasil). As
amostragens foram realizadas nos terminais das rotas de ônibus durante os meses
Dezembro, 2022 e Janeiro, Fevereiro e Março de 2023. Todas as coletas foram
autorizadas pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) da cidade de
Natal, Ofício nº 191/2022 - STTU-GAB/STTU (Anexo A).
Para cada dia de coleta foram obtidas amostras de 3 a 5 ônibus; sendo 16 dias de coleta,
totalizando 67 ônibus, contemplando 14 linhas as quais abrangem todas as zonas da
região metropolitana de Natal (Figura 1).
As amostras coletadas correspondem ao material depositado nas superfícies: barras
horizontais e verticais, botões e cordas de parada, janelas, assentos, apoios de braço,
catraca, corrimão, volante, alavanca de câmbio, saída de ar e alças de apoio.
O procedimento de coleta seguiu o protocolo estabelecido pelo consórcio MetaSUB
(http://metasub.org/). Resumidamente, as amostras de superfície foram recuperadas com
o auxílio de um swab (Swab Haste Plástica Rayon - Labor Import; e FIRSTLAB),
previamente umedecido com solução RNALater® (RNAlater, Thermo Fisher) durante
180 segundos. Posteriormente, foram colocados em conjunto dentro de tubos Falcon de
15 ml, contendo 3 ml de solução RNALater®. Os tubos foram então mantidos em uma
caixa térmica com gelo para serem transportados até o Laboratório de Biologia
Molecular e Genômica (LBMG) mantidas em um freezer a -20°C até o seu
processamento.

EXTRAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO

O DNA bacteriano foi e extraído a partir do protocolo do DNeasy PowerLyzer


PowerSoil Kit (QIAGEN, Venlo, Netherlands), com modificações. (Figura 2)
As amostras, previamente descongeladas, foram centrifugadas (1500x g por 10 minutos)
e o pellet utilizado para os passos seguintes da extração. As etapas de lise celular
química e mecânica e liberação do material genético foram realizadas utilizando as
soluções do kit, assim como para as etapas de precipitação de proteínas e remoção de
contaminantes. Ao final, o material genético extraído foi eluído em água esterilizada
livre de DNAse e RNAse e armazenado em freezer (-80ºC)

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QUANTIFICAÇÃO E PUREZA DO DNA BACTERIANO

A quantificação e pureza do DNA foi realizada utilizando uma alíquota do material


extraído aplicadas em um espectrofotômetro UV-Visível NanoDrop One, (Thermo
Fisher Scientific). Através de uma amostra líquida o equipamento mede a absorção de
luz UV visível.
A determinação da concentração dos ácidos nucleicos é realizada com base na leitura da
absorbância a 260 nm. Além disso, os valores de absorbância a 280 nm e 230 nm
também são utilizados para avaliar a pureza das amostras. No que diz respeito à razão
de pureza A260/280, valores próximos a 1,8 para DNA indicam a presença de ácidos
nucleicos puros. Já a razão A260/230 considera a pureza dentro do intervalo entre 1,8 e
2,2 (NANODROP, 2016).

PREPARAÇÃO DA BIBLIOTECA GENÔMICA

O material genético extraído foi submetido a preparação da biblioteca genômica


utilizando o kit Illumina DNA Prep (Illumina®, Inc,) o ensaio foi conduzido pela
técnica responsável do Laboratório de Biologia Molecular e Genômica (LBMG), que
seguiu o protocolo do fabricante (Figura 3) .
Após a última etapa, em que é feito um pool com as bibliotecas, a qualidade foi
verificada no Qubit™ Fluorometer (Thermo Fisher Scientific) e Bioanalyzer. O
princípio básico do Qubit™ Fluorometer envolve a utilização de corantes fluorescentes
que interagem com o material genético e assim o equipamento mede a intensidade
fluorescência e correlaciona com a concentração de ácidos nucléicos.
O 2100 Bioanalyzer (Agilent Technologies) constitui um sistema de eletroforese
automatizada empregado na avaliação da qualidade das bibliotecas de amostras, com a
capacidade de determinar suas dimensões, concentração, pureza e molaridade,
desempenhando um papel crucial nesse processo.

SEQUENCIAMENTO E ANÁLISES EM BIOINFORMÁTICA

A amplificação da biblioteca foi conduzida usando o Illumina NextSeq 1000, em


conformidade com as orientações do fabricante. A biblioteca foi inserida em uma célula
de fluxo (flowcell) do tipo P1 (capaz de suportar até 100 milhões de leitura),
conduzindo-a ao equipamento. Durante o procedimento de sequenciamento, ocorreu a
amplificação dos agrupamentos (clusters) de fragmentos de DNA, resultando na geração
de inúmeras cópias de DNA de fita simples. O paired-end foi o método empregado para

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eCICT 2023

a realização do sequenciamento, que permite a leitura das duas extremidades das


sequências, inicialmente da fita forward e posteriormente da fita reverse.
A análise dos dados obtidos pelo sequenciamento foi realizada dentro da plataforma
Kbase (https://www.kbase.us/), para a análise dos dados sequenciados, todas as
ferramentas utilizadas estavam contidas na plataforma. Seguindo a pipeline sugerida por
CHIVIA, et al. (2023) o processamento dos dados se deu da seguinte forma:
primeiramente, os dados brutos foram importados para a plataforma; para avaliar as
características de qualidade das bibliotecas utilizou-se o aplicativo FastQC; após, as
leituras de baixa qualidade foram eliminadas através do Trimmomatic; com o objetivo
de uma avaliação adequada da composição microbiana o controle de qualidade e
remoção de leituras contaminante, como DNA humano e espécies comuns associadas ao
microbioma humano, fez-se o uso da pipeline RQCFilter do Instituto de Genomas
Conjuntos; por fim, a taxonomia das leituras metagenômicas foi investigada com o
Kaiju, indicado para avaliar a porção bacteriana e arqueana da amostra.

Resultados e Discussões

QUANTIFICAÇÃO E PUREZA DO MATERIAL GENÉTICO

Foi realizado um pool com todas as amostras de DNA bacteriano extraídas para a
quantificação através do NanoDrop, os resultados obtidos foram apresentados na Tabela
1. Ao analisar os rendimentos após a extração, observa-se que os valores são
consideravelmente baixos quando comparados aos padrões de referência do NanoDrop.
Destaca-se que apesar de uma concentração de 89,5 ng/µL as medidas de pureza
mostraram-se inversamente proporcionais. Isso contrariou as expectativas, dado que a
amostra possuía uma concentração significativa de DNA. Quando as razões de pureza
não se situam dentro dos intervalos aceitáveis, isso indica que os valores de
quantificação podem não ser confiáveis. Embora as faixas alvo para as razões A260/280
e A260/230 estivessem previstas entre aproximadamente 1,8 e 2,2 (NANODROP,
2016), os resultados obtidos para o pool de DNA bacteriano foram apenas de 1,09 e
0,69, respectivamente.

PERFIL DAS BIBLIOTECAS

Ao avaliar os resultados do Bioanalyzer, constatou-se que a biblioteca exibiu


fragmentos com tamanhos situados em torno de 80 pb (Figura 4), o que está dentro da
faixa permitida pelo kit (variando de 50 a 7000 pb). Isso indica que o perfil analisado é
adequado para o processo de sequenciamento.

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O ladder é um electroferograma que contém vários fragmentos de DNA de tamanhos já


conhecidos e serve como referência para as amostras que são submetidas.

ANÁLISE DAS SEQUÊNCIAS

Após a conclusão do processo de sequenciamento, os dados iniciais das sequências de


DNA bacterianos (Figura 5) foram obtidos através do FASTQC. Nele podemos ver
dados mais gerais como o número de reads, a porcentagem de cada par de bases, o
conteúdo GC (%GC), dentre outros.
As sequências foram submetidas ao controle de qualidade, inicialmente realizado
através do FASTQC. A qualidade das sequências, por nucleotídeos, foi então examinada
após a etapa de trimagem executada pelo Trimmomatic. Os resultados dessa avaliação
podem ser observados na Figura 6. Cada gráfico apresenta três níveis distintos que
indicam a qualidade das sequências (sendo a cor vermelha associada a baixa qualidade,
a cor amarela representando qualidade aceitável e a cor verde indicando alta qualidade).
Notavelmente, tanto as sequências provenientes da fita forward quanto da fita reverse se
mantiveram consistentemente no nível de alta qualidade no gráfico, com apenas ligeiras
variações pontuais.
As cinco principais espécies bacterianas identificadas, que apresentaram maior
abundância, foram: Cutibacterium acnes (2,06%), Chroococcidiopsis thermalis
(0,35%), Deinococcus sp. NW-56 (0,26%), Moraxella osloensis (0,23%),
Geodermatophilus obscurus (0,18%).
C. acnes é uma bactéria anaeróbica, não produtora de esporos, que coloniza amplamente
a pele e habita diversas outras regiões do corpo humano. Ela se destaca como o
organismo predominante nos folículos sebáceos da pele (HUDEK et al., 2021). Sua
presença como mais abundante corrobora com seu habitat natural, demonstrando assim
que há contato da pele dos passageiros com as superfícies amostradas e transferência
desses microrganismos.
C. Thermalis é uma cianobactéria que pertence a um conjunto capaz de se adaptar ao
crescimento autotrófico na presença de luz vermelha distante (pouco antes da luz
infravermelha). Isso é possível devido a um conjunto específico de genes e à habilidade
de produzir o pigmento clorofila f, que absorve nessa região espectral do vermelho
extremo (LANGLEY, et al., 2022). De acordo com informações do NCBI
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/), o sequenciamento completo ou parcial do genoma
desta cepa foi ou está sendo determinada no todo ou em parte. No entanto, durante a
pesquisa, encontramos informações limitadas sobre essa espécie.
Os membros pertencentes ao gênero Deinococcus são predominantemente aeróbicos ou
facultativamente aeróbicos, em sua maioria com características Gram-positivas. Eles
apresentam L-ornitina como o di-aminoácido na peptidoglicana da parede celular e não

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eCICT 2023

possuem ácidos teicóicos. A notável característica das várias espécies do gênero reside
na sua capacidade de resistir de forma extrema à radiação gama, à radiação ultravioleta
e à dessecação. (HIRSCH, et al., 2004). Segundo o NCBI
(https://www.ncbi.nlm.nih.gov/), o sequenciamento do genoma desta bactéria está na
mesma situação que o da C. Thermalis.
M. osloensis (0,23%) é um cocobacilo Gram-negativo aeróbico e oxidase-positivo que
pertence à família Moraxellaceae. É reconhecido como um organismo comensal
presente na pele, no trato respiratório e na mucosa de indivíduos saudáveis, causando
infecções apenas em raras ocasiões. A presença de M. osloensis também foi detectada e
documentada em ambientes hospitalares, sugerindo uma possível contribuição para
infecções hospitalares.(KOLERI, et al., 2022; HAN e TARRAND, 2004; SIFRI, et al.,
2008; MINAMI, et al., 2015).
Uma espécie encontrada em menor abundância, e que vale destaque é a Micrococcus
luteus (0,17%). As espécies de Micrococcus são cocos gram-positivos que compõem
parte da flora natural da pele humana e geralmente são considerados inofensivos.
Apesar de serem reconhecidos como contaminantes, foi observado que um grupo
específico de espécies, em particular o Micrococcus luteus, pode causar infecções
graves em indivíduos com sistema imunológico enfraquecido. Essas infecções
englobam casos de pneumonia, artrite séptica, peritonite e abscessos cerebrais.
(IANNIELLO, et al., 2019; HODIAMONT, et al. 2010; KAO, et al., 2014; ERBASAN,
2018; KOLIKONDA, et al., 2017). A ocorrência da espécie reforça o contato e
transmissão de bactéria presente na pele humana com o meio.
A espécie Proteus mirabilis (0,16%), também identificada, é do tipo gram-negativo e
exibe motilidade, sendo positiva para urease (O’HARA, et al., 2000). Essa bactéria tem
a capacidade de causar infecções sintomáticas no trato urinário, tais como cistite e
pielonefrite. Além disso, está associada a casos de bacteriúria assintomática, sendo mais
comum em idosos e pacientes com diabetes tipo 2. Essas infecções têm o potencial de se
tornarem mais graves, podendo progredir para bacteremia e urosepse, condições que
representam risco à vida. Adicionalmente, infecções causadas por P. mirabilis também
podem contribuir para a formação de cálculos urinários, conhecida como urolitíase.
(MATTHEWS e LANCASTER, 2011; PAPAZAFIROPOULOU, et al., 2010).

Conclusão

Ter conhecimento sobre os microrganismos que existem no nosso cotidiano, identificá-


los, juntamente com a compreensão de suas propriedades e interações biológicas, possui

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uma relevância inestimável tanto para o avanço científico quanto para a implementação
de estratégias que promovam a saúde humana. Isso não apenas visa prevenir, mas
também combater possíveis patógenos. Os meios de transporte públicos, especialmente
os ônibus, são amplamente utilizados pela população diariamente, o que pode resultar
na acumulação e possivelmente na disseminação de microrganismos nesses ambientes.
Neste estudo, coletamos e analisamos amostras das superfícies de ônibus que circulam
na região metropolitana do município de Natal, no Rio Grande do Norte, e pudemos
inicialmente compreender o microbioma dos ônibus em Natal e seu papel na
transmissão de bactérias entre os passageiros, o meio e as superfícies. Esse trabalho faz
parte de um um estudo maior, que adota uma abordagem metagenômica para investigar
a diversidade microbiana, e a porção que confere às bactérias patogênicas e parte de
seus resultados estão sendo apresentados, o perfil taxonômico tratado aqui. No contexto
deste estudo, consideramos as perspectivas futuras como a continuação das análises
computacionais, englobando a exploração da diversidade, a investigação das interações
ecológicas entre os diversos grupos identificados e aprofundamento dos conhecimentos
sobre a patogenicidade em humanos. Adicionalmente, pretendemos estabelecer
correlações entre os dados obtidos e as informações relacionadas à temperatura,
umidade e à epidemiologia do período em que as amostras foram coletadas. Isso nos
leva a questionamentos relevantes, como por exemplo, se microrganismos patogênicos,
especialmente aqueles presentes nas vias respiratórias, demonstram maior prevalência
durante determinada estação do ano em relação à outra. À medida que o projeto
progride, nosso objetivo é responder a essas indagações, a fim de compartilhar todo o
conhecimento científico adquirido com a população e as autoridades governamentais.

Referências

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and Protein Samples. High-Resolution Automated Electrophoresis of DNA, RNA, and
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https://jnanobiotechnology.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12951-021-01132-8..
Acesso em: 02 ago. 2023.

Anexos

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Figura 1 - Mapa de Natal-RN com as rotas dos ônibus que foram amostrados. O mapa
pode ser visto com mais detalhes em: https://www.google.com/maps/d/u/0/edit?
mid=1cPzowky1yORV1VfMQ_av4qwsNtngFvI&usp=sharing Mapa feito por João Paulo
(LBMG)

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eCICT 2023

Figura 2: Resumo dos procedimentos de extração do kit DNeasy PowerSoil Kit.


(ADAPTADO). Figura adaptada da QIAGEN por Gabrielle Germek (SANTOS, 2023).

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Figura 3: Workflow do kit de preparação de biblioteca de DNA. Fonte: figura elaborada


pelo autor (2023) a partir do Illumina DNA Prep Reference Guide.

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Tabela 1: Valores da quantificação e concentração das amostras pós-extração -


Natal/RN - 2023. Fonte: elaborado pelo autor (2023).

Figura 4 - Electroferogramas da bibliotecas de DNA bacteriano e um ladder contendo


os tamanhos de referência. Fonte: BIOANALYZER (Agilent Technologies).

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Figura 5 - Estatísticas iniciais do sequenciamento do DNA bacteriano. Fonte: FASTQC


Report; Kbase (https://www.kbase.us/).

Figura 6 - Qualidade das sequências, por nucleotídeos, antes e após trimagem na fita
forward (a) e fita reverse (b). Fonte: FASTQC Report; Kbase (https://www.kbase.us/).

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Figura 7 - Configurações utilizadas no RQCFilter pipeline para remoção de leituras


contaminantes e resultado da varredura. Fonte: RQCFilter pipeline (BBTools v38.22);
Kbase (https://www.kbase.us/).

Figura 8 - Gráfico de barras empilhadas de abundância de linhagem a nível de espécie


das bactérias de DNA presente no transporte público da região metropolitana de
Natal/RN. Fonte: Kaiju; Kbase (https://www.kbase.us/).

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CÓDIGO: SB1466

AUTOR: GLEISON MEDEIROS DE AZEVEDO

ORIENTADOR: RODRIGO JULIANI SIQUEIRA DALMOLIN

TÍTULO: Avaliação da usabilidade pacote em R para geração de e


manipulação de grafos.

Resumo

A estrutura de rede é uma representação valiosa para diversos fenômenos sociais e


naturais, como cadeias alimentares, interações em comunidades sociais e vínculos
entre proteínas. Ao adotar essa abordagem, ampliam-se as perspectivas
interdisciplinares na análise de dados, incorporando metodologias da teoria dos
grafos, inferência estatística e detecção de grupos. Essa visualização de redes
desempenha um papel fundamental ao explorar tais dados, servindo tanto como
ponto de partida para novas descobertas quanto como resultado final após análises
detalhadas. No entanto, o ambiente computacional R carece de ferramentas nativas
que facilitem a visualização e manipulação desses dados de forma intuitiva e
reprodutível. A maioria das opções existentes tende a se concentrar exclusivamente
em abordagens gráficas ou programáticas, negligenciando um equilíbrio entre
facilidade de uso e reprodutibilidade. Para abordar essa lacuna, apresentamos o
pacote "easylayout" em R, destinado a criar visualizações de redes que oferecem tanto
flexibilidade gráfica quanto controle programático, viabilizando análises acessíveis,
intuitivas e passíveis de reprodução.

Palavras-chave: Redes. Análise de rede. Teoria dos grafos. Visualização de


dados.

TITLE: Parameterization and curation of an R package for network creation and


manipulation

Abstract

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Multiple natural and social phenomena can be represented in the form of networks,
like food chains, social communities and protein interaction. This type of
representation often enriches the original information by aggregating interdisciplinary
perspectives to the data analysis, like graph theory, statistical inference and
community detection methodologies. Therefore, we can ascertain that network
visualization becomes indispensable to analyzing that data, since it can correspond
both to an initial step, one that could bring about new insights regarding the original
data, and as a final step, that of presenting an end result. Nevertheless, the R
computational ecosystem is severely lacking in native solutions for visualization of
network data in an intuitive and reproducible manner, with most tools being
dependent on only graphical or only programmatic manipulation, falling on either side
of the spectrum of user friendliness versus reproducibility respectively. Thus, we
present an R package, easylayout, for the creation of network visualizations that allows
for both graphical and programmatic manipulation, as a means to achieve an easy,
intuitive and reproducible analysis.

Keywords: Networks. Network analysis. Graph theory. Data visualization.

Introdução

A interconexão de nós ou vértices através de arestas, característica fundamental das


redes, é uma abordagem central em disciplinas que vão desde a ecologia
(BASCOMPTE, 2007) até a sociologia e biologia (GIRVAN; NEWMAN, 2002). Em muitos
casos, empregar abordagens de rede traz consigo uma série de vantagens, incluindo
maior poder estatístico para identificar componentes cruciais e módulos funcionais
significativos (BARABÁSI, 2016).
No entanto, enfrentamos um desafio notável ao tentar visualizar essas redes a partir
de uma perspectiva puramente matemática ou baseada em matrizes, por exemplo, por
meio de uma matriz de adjacência, especialmente quando nos deparamos com redes
complexas ou extensas (KREMPEL, 2009). Diante dessa complexidade, a necessidade
de criar e manipular representações gráficas de redes torna-se essencial para facilitar
tanto uma análise exploratória inicial quanto a comunicação efetiva dos resultados
finais.
Enquanto diversas ferramentas, como o Cytoscape e o Igraph, estão disponíveis para a
análise e criação de representações gráficas de redes, cada uma apresenta suas
limitações. Embora o Cytoscape permita uma abordagem intuitiva para criação de
visualizações, sua dependência de interações puramente gráficas pode tornar difícil a

1785
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eCICT 2023

descrição detalhada da metodologia, podendo comprometer a reprodutibilidade. Por


outro lado, enquanto o Igraph oferece uma abordagem altamente customizável e
reprodutível, as visualizações geradas tendem a ser estáticas, faltando-lhes
interatividade e flexibilidade nos parâmetros de layout. Para atender a essa lacuna,
apresento a proposta do "easylayout", uma ferramenta desenvolvida no ambiente de
programação R, que visa proporcionar uma solução abrangente e intuitiva para a
geração e manipulação de representações gráficas de redes. Integrando-se ao Igraph,
essa ferramenta oferece uma combinação única de flexibilidade gráfica e controle
programático, promovendo análises acessíveis, intuitivas e reprodutíveis para a
complexa visualização de redes biológicas.

Metodologia

Desenvolvimento dos parâmetros a serem utilizados


Identificação, através de testes iterativos e consultas com usuários, dos parâmetros
necessários para implementação final na ferramenta.

Desenvolvimento da ferramenta
No módulo R da ferramenta, utilizamos dois principais conjuntos de recursos: Igraph
(CSARDI; NEPUSZ, 2006) para a construção e manipulação de grafos, e Shiny (CHANG
et al, 2022) para facilitar a interação entre a manipulação de redes no ambiente R e a
interface gráfica em HTML.
O módulo interativo invocado a partir do módulo R consiste de um widget construído
usando tecnologias web como HTML, CSS e Javascript. Para calcular e exibir a
representação gráfica mais adequada da rede, empregamos a biblioteca Javascript
VivaGraphJS (KASHCHA, 2011). Essa biblioteca se destaca por sua flexibilidade
personalizável e por oferecer melhor desempenho em comparação com bibliotecas
semelhantes.

Resultados e Discussões

Desenvolvemos uma solução em linguagem R que possibilita a criação interativa de


representações visuais para redes através de uma interface gráfica amigável (Figura 1).
Ao empregar a biblioteca VivaGraphJS, garantimos a manipulação de redes complexas
sem comprometer o desempenho ou a eficácia da análise (Figura 3).

1786
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eCICT 2023

Combinando isso a uma API intuitiva, essa abordagem oferece a flexibilidade de


transpor as manipulações gráficas para comandos programáticos, facilitando o
compartilhamento e aumentando as perspectivas de reprodutibilidade. Além disso,
essa ferramenta permite a exportação das manipulações para outros softwares de
imagem (Figura 2), o que amplia significativamente seu potencial de aplicação.
FIGURA 1: Demonstração do funcionamento do pacote em uma sessão R, exibindo o
widget na aba 'Viewer' do RStudio, incluindo o botão 'Get' para transferir o objeto
gráfico de volta para uma estrutura em R.
FIGURA 2: Exemplo de uma rede com layout calculado usando a ferramenta
easylayout.
FIGURA 3: Exibição de uma rede com mais de 5.000 nós e 10.000 arestas na
ferramenta, com diferenças de desempenho desprezíveis em comparação com redes
menores.

Conclusão

Por conseguinte, apresentamos uma ferramenta de manipulação e criação de imagens


de redes, a qual possui performance consistente, garantindo uma boa
reprodutibilidade além de facilitar o fluxo de trabalho no ambiente R. Embora termos
facilitado a análise e representação de redes, o pacote permanece em
desenvolvimento para implementação de interface gráfica e implementação de novos
parâmetros para que o usuário possa manipular sua rede.

Referências

BASCOMPTE, Jordi. Networks in ecology. Basic And Applied Ecology, [S.L.], v. 8, n. 6, p.


485-490, nov. 2007. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.baae.2007.06.003.
GIRVAN, M.; NEWMAN, M. E. J.. Community structure in social and biological
networks. Proceedings Of The National Academy Of Sciences, [S.L.], v. 99, n. 12, p.
7821-7826, 11 jun. 2002. Proceedings of the National Academy of Sciences.
http://dx.doi.org/10.1073/pnas.122653799.
BARABÁSI, Albert-László. Network science. Londres: Cambridge University Press, 2016.
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eCICT 2023

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features for data integration and network visualization. Bioinformatics, [S.L.], v. 27, n.
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CHANG, W; CHENG, J; ALLAIRE, J.J.; SIEVERT, C.; SCHLOERKE B.; XIE Y.; ALLEN. J.;
MCPHERSON, J.; DIPERT, A.; BORGES, B.. shiny: Web Application Framework for R. R
package version 1.7.2.9000, https://shiny.rstudio.com/.
KASHCHA, A.. VivaGraphJS: Graph drawing library for JavaScript. v0.12.0.
https://github.com/anvaka/VivaGraphJS.

Anexos

Diagrama do Easylayout

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Uma rede com mais de 5.000 nós e 10.000 arestas carregada na ferramenta,
apresentando diferenças em performance negligenciáveis quando comparada a uma
rede menor.

O funcionamento do pacote em uma sessão R, observa-se o widget rodando na aba


‘Viewer’ do RStudio, com o botão ‘Get’ possibilitando o retorno do objeto gráfico para
um objeto em R.

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eCICT 2023

Uma rede que possuiu seu layout computado na ferramenta easylayout.

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CÓDIGO: SB1474

AUTOR: JOANA MARIA DE ARAUJO MOURA

ORIENTADOR: DANILO JOSE AYRES DE MENEZES

TÍTULO: Estudo das alterações morfológicas no pulmão de aves silvestres de


cativeiro que vierem a óbito no CETAS de Natal, RN

Resumo

O Brasil possui uma rica biodiversidade de aves, com diversas espécies ainda sendo
descobertas. As aves pertencem ao filo dos chordata, sendo um grupo bastante
diversificado. Com mais de 9.000 espécies, as aves têm características como asas,
penas e bicos adaptados e a maioria de seus representantes possuem a capacidade de
voar. Neste trabalho serão mostradas alterações morfológicas que acometem o trato
respiratório, mais precisamente os pulmões das aves, com o objetivo de contribuir
para a identificação e padronização diagnóstica das patologias nas espécies e entender
agentes, sintomas e disseminação de infecções em aves.

O estudo avaliou alterações morfológicas em 98 aves de várias espécies. A ordem


passeriformes foi a mais representada. Foram identificadas lesões como congestão,
pneumonia, fibrose, necrose, hemorragia, ectasia e edema em diferentes grupos de
aves, mas não em todos. Dez aves apresentaram pneumonia e a congestão foi a
alteração mais comum. As doenças respiratórias em passeriformes são
frequentemente causadas por bactérias e fungos. As hemorragias foram observadas
em 19,39% das aves. Algumas aves não puderam ser avaliadas devido à autólise
avançada. As alterações observadas incluíram tamanho, simetria, cor e consistência do
pulmão.

Palavras-chave: Morfologia; Patologia; Respiratório; Histologia; Ornitologia

TITLE: Study of morphological changes in the lungs of captive wild birds that
have died at the CETAS in Natal, RN.

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Abstract

Brazil has a rich biodiversity of birds, with several species still being discovered. Birds
belong to the phylum Chordata, constituting a highly diverse group. With over 9,000
species, birds possess features such as wings, feathers, and adapted beaks, and the
majority of their members have the ability to fly. This work will showcase
morphological alterations affecting the respiratory tract, specifically the lungs of birds,
with the aim of contributing to the identification and diagnostic standardization of
pathologies within species, as well as understanding agents, symptoms, and the spread
of infections in birds.

The study assessed morphological alterations in 98 birds of various species, with the
order Passeriformes being the most represented. Lesions such as congestion,
pneumonia, fibrosis, necrosis, hemorrhage, ectasia, and edema were identified in
different groups of birds, although not in all of them. Ten birds exhibited pneumonia,
and congestion was the most common alteration. Respiratory diseases in passerines
are often caused by bacteria and fungi. Hemorrhages were observed in 19,39% of the
birds. Some birds couldn't be evaluated due to advanced autolysis. The observed
alterations encompassed the size, symmetry, color, and consistency of the lungs.

Keywords: Morphology; Pathology; Respiratory; Histology; Ornithology.

Introdução

O Brasil possui uma alta biodiversidade de espécies de aves e apresenta o terceiro


maior número do planeta e a cada ano novas espécies vêm sendo descobertas
(ICMBio, 2011). As aves pertencem ao filo chordata e esse nome vem da presença da
notocorda, que é um bastão longitudinal de sustentação estrutural (BLANKENSTEYN,
2010). Esse filo forma um grupo monofilético extremamente diversificado em vários
aspectos, sendo composto pelos cefalocordados, vertebrados e tunicados, estando
presente nos diferentes ambientes (BLANKENSTEYN, 2010).
O grupo Aves é bem diversificado e possui mais de 9.000 espécies conhecidas,
apresentando características como membros anteriores modificados em asas e penas,
porém nem todas as aves possuem a capacidade de voar. Esses animais não possuem
dentes e cada maxila é coberta por uma camada córnea formando o bico (ARAÚJO e
VIEIRA, 2021; HICKMAN, 2016). Outra particularidade das aves é o fato delas serem
animais vertebrados bípedes, pois, em geral, possuem os membros anteriores

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transformados em asas para voar. Assim, possibilitou a esse grupo ocupar o ambiente
terrestre e o meio aéreo. Ao longo da evolução foi se necessário algumas adaptações
para que as aves conseguissem voar, são elas: penas, esqueleto rígido, cerebelo
desenvolvido, ossos pneumáticos, sacos aéreos, esterno com quilha, membrana
nictitante e músculo peitoral desenvolvido (BLANKENSTEYN, 2010).
As Aves possuem o trato respiratório composto por duas narinas, laringe, traquéia,
siringe, brônquios primários, secundários e terciários, pulmões e sacos aéreos
(STEINER e DAVIS, 1985). Dentre essas estruturas que compõem o trato respiratório
desses animais, há duas que facilitam a ocorrência de enfermidades respiratórias,
sendo o aparelho mucociliar, que está por toda a extensão do trato respiratório, não
sendo encontrado nos sacos aéreos, o que provoca uma maior gravidade em caso de
comprometimento patológico destes (STEINER e DAVIS, 1985) e o ducto que interliga
os seios nasais a cavidade oral que apresenta um tamanho estreito, disposto de forma
em que a drenagem natural de secreções é impossibilitada (DYCE et al., 1990).
Há muitas patologias de natureza viral, bacteriana e parasitária que emergem em
animais selvagens que vivem em estado de liberdade, podem revelar-se como
zoonóticas e manifestar-se clinicamente, causando efeitos na população e na
diversidade biológica da região (OMS, 1992; ACHA e SZYFRES, 2003). O estudo das
infecções em aves é amplamente pesquisado para compreender quais agentes estão
envolvidos na invasão dos tecidos, suas reações, sintomas e a capacidade desses
organismos de se espalharem para outras aves, mamíferos e seres humanos (Gargiulo
et al, 2018).
Um estudo realizado por Seyedmousavi e colaboradores (2015), que incluiu animais e
seres humanos, concluiu que, além do papel de hospedeiro que as aves
desempenham, existe uma função de grande importância no contexto das zoonoses.
Elas apresentam perfis de resistência a diferentes tipos de antimicrobianos, o que tem
impactos diretos e indiretos na saúde pública. Bactérias, fungos, vírus e protozoários
são exemplos de agentes que têm capacidade patogênica, podendo causar uma
variedade de doenças em várias espécies de aves, tanto silvestres quanto exóticas.
Prevenir o surgimento e a disseminação dessas doenças é essencial, já que muitas
delas não possuem tratamento. As aves podem ser consideradas reservatórios desses
vetores, mas em alguns casos podem desenvolver a doença e manifestar sintomas
(Gargiulo et al, 2018).
O número de animais tratados em Centros de Reabilitação tem aumentado (ANDERY,
2011; LEITE, 2012) e isso tem permitido a realização de pesquisas na área para
pesquisar as alterações morfológicas que acometem esses animais (ALBANO, 2009;
BRACONARO, 2012). O contato mais próximo entre as aves silvestres mantidas em
cativeiro e os seres humanos torna ainda mais importante a necessidade de entender
mais sobre as patologias relacionadas às aves (ANDERY, 2011).

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Metodologia

Para a realização deste trabalho foi feito um levantamento com as aves silvestres que
morreram no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Natal, CETAS-RN. Os animais
que vieram a óbito de forma natural ou foram eutanasiados devido a lesões extensas,
por decisão do médico veterinário responsável do centro de triagem, tiveram seus
cadáveres doados para esta pesquisa. Os animais que foram encaminhados no mesmo
dia foram necropsiados, e os animais que não puderam ser entregues no mesmo dia
foram congelados. No dia da coleta, foram descongelados à temperatura ambiente e
posteriormente realizada a necropsia. Em todos os casos, os animais foram
necropsiados seguindo procedimentos padrão para necropsia de aves, e os fragmentos
de órgãos foram coletados em formaldeído a 10%.
Posteriormente, será realizado o exame histopatológico com as amostras que foram
coletadas. O procedimento de necropsia ocorreu no Laboratório de Anatomia Animal,
do Departamento de Morfologia (DMOR), da UFRN. Os fragmentos coletados foram
então submetidos a um processamento histológico para inclusão em parafina, de
acordo com Santos (1993), as amostras também passaram por uma série crescente de
álcool para que fossem desidratadas, seguido de diafanização em xilol e inclusão em
parafina. As amostras coletadas em blocos que foram confeccionados, posteriormente
foram cortados em micrótomo para obtenção de cortes com 3um de espessura, os
quais após esse processo passaram a ser corados com Hematoxilina/Eosina, com isso
as lâminas foram confeccionadas para leitura do material e microscópio de luz.
Durante a observação das lâminas foram analisadas as características anatômicas dos
tecidos observados e as alterações histopatológicas que serão descritas para o
diagnóstico complementar da causa da morte das aves e que integraram os resultados
desta pesquisa.

Resultados e Discussões

Foram avaliadas as alterações morfológicas de 98 aves, incluindo exemplares das


ordens passeriformes, psitaciformes, columbiformes, charadriformes, strigiformes,
falconiformes, accipitriformes, gruiformes, caprimulgiformes, cuculiformes, piciformes
e pelecaniformes, com variação entre suas frequências (tabela1). A ordem
passeriformes foi a que teve maior número de representantes (35,71%), consistente
com a literatura que indica que dentre as aves recebidas em CETAS, os passeriformes

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aparecem em primeiro lugar no número de exemplares (FREITAS et al., 2015; SANTOS,


2009; SANTOS et al., 2021).
As lâminas histológicas foram avaliadas e tiveram as suas alterações morfológicas
descritas, sendo identificadas lesões consistentes com congestão, pneumonia, fibrose,
necrose, hemorragia, ectasia e edema distribuídas entre os diferentes grupos de aves,
mas não presentes em todos.
Nas lâminas histológicas de pulmão das aves pertencentes à ordem Cuculiformes não
foi possível identificar alterações devido ao avançado estado de autólise das células.
Um total de 10 aves apresentaram alterações consistentes com quadros de
pneumonia, que representou 10,2% das amostras avaliadas. As lesões consistentes
com pneumonia apresentaram celularidade característica de pneumonia
linfohistiocítica ou pneumonia necrohemorrágica intersticial, afetando exemplares das
ordens Passeriformes, Psitaciformes, Columbiformes, Charadriformes e
Caprimulgiformes.
A alteração mais frequentemente observada foi a congestão, que esteve frequente em
61 exemplares, representando 62,24% do total de pulmões avaliados.
As doenças que atingem o sistema respiratório de passeriformes são frequentemente
causadas por bactérias como Mycobacterium avium, Pasteurella sp., Pseudomonas sp.,
Aeromonas sp., Bordetella avium ou B. bronchiseptica, além de fungos como
Aspergillus sp. (CUBAS; SILVA; CATÃO-DIAS, 2020). No presente trabalho não foram
observadas hifas consistentes com infecções fúngicas, contudo, devido à alta
frequência com que podem afetar as aves, devem ser comumente pesquisadas.
As alterações características de hemorragia foram observadas em 19,39% das aves
avaliadas, enquanto que no estudo de CARLIS et al. (2018), realizado com
psitaciformes, 3,85% apresentaram hemorragia pulmonar.
Do total de 98 aves, 22 não puderam ter sua avaliação histológica realizada devido ao
avançado estado de autólise do pulmão, e demais órgãos, que impossibilitou a
visualização e identificação de lesões.
As alterações observadas durante as necropsias incluíram aspectos como tamanho,
simetria, coloração, aspecto e consistência do pulmão. A frequência das alterações
observadas pode ser vista na tabela 2.
Devido ao hábito de vida livre desses animais, não havia histórico clínico prévio.
Muitos vêm a óbito assim que chegam no centro de triagem de animais silvestres, não
havendo tempo hábil para a realização de exames físicos e outros procedimentos.
Sendo assim, muitas das alterações observadas durante as necropsias são as únicas

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fontes de informação sobre qual sistema orgânico foi afetado em determinada


espécie, o que pode ter sido uma das causas que levaram ao recolhimento ou resgate.
Durante a avaliação macroscópica do pulmão no procedimento de necropsia foram
observadas alterações em relação a coloração, aspecto e consistência. Por outro lado,
não foi encontrado alterações em relação ao tamanho e simetria.

Conclusão

Os dados obtidos demonstram alterações a nível histológico do pulmão de diferentes


espécies de aves, além das alterações macroscópicas identificadas durante a
necropsia, ressaltando assim a importância da avaliação dos tecidos do animal após
seu óbito. O conhecimento sobre as lesões observadas em estudo como esse podem
servir de apoio ao médico veterinário de aves que passam a ter mais informações
sobre as possíveis lesões em determinados grupos e como estas afetam as células do
pulmão.

Referências

CARLIS, Matheus Sousa de Paula. et al. Causas de óbitos de psitacídeos recebidos no


centro de conservação de fauna silvestre (CCFS) em Ilha Solteira. Reunião da Sociedade
Brasileira de Zootecnia. 55ª Reunião. 2018. Disponível em:
http://www.adaltech.com.br/anais/zootecnia2018/resumos/trab-0566.pdf. Acesso
em: 30 de agosto de 2023.
CUBAS, Zalmir Silvino; SILVA, Jean Carlos Ramos; CATÃO-DIAS, José Luiz. Tratado de
animais selvagens: medicina veterinária. 2.ed. São Paulo: Roca, 2020, 1237.
FRAGA, Cibele Floriano. Ocorrência de doenças micóticas em aves silvestres no Brasil:
revisão bibliográfica. 2014. p.9
FREITAS, A.C.P. de; OVIEDO-PASTRANA, M.E.; VILELA, D.A. da R.; PEREIRA, P. L. L.;
LOUREIRO, L.de O.C.; HADDAD, J.P.A.; MARTINS, N.R. da S.; SOARES, D.F. de M.
Diagnóstico de animais ilegais recebidos no centro de triagem de animais silvestres de
Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, no ano de 2011. Ciência Rural, v.45, n.1, p.
163-170. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20131212. Acesso
em: 30 de agosto de 2023.
MARIETTO-GONÇALVES, G. A.; LIMA, E. T.; ANDREATTI FILHO, Raphael Lucio. Doenças
respiratórios em aves atendidas no Laboratório de Ornitopatologia da

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FMVZ-UNESP/Botucatu-SP, Brasil, nos anos de 2005 a 2006. Archives of veterinary


Science, p. 40-45, 2008. p.1
Santos, C. et al. (2021). Quantitative study of wild animals received at the Wild Animals
Triage Centers (CETAS) in Bahia and identification of trafficking routes. Pesquisa
Veterinária Brasileira, v. 41: p. 1-6. 2021. Disponível em:
https://pesquisa.bvsalud.org/bvs-vet/resource/pt/vti-765221. Acesso em: 30 de
agosto de 2023.
SANTOS, Nayadjala Távita Alves dos et al. Estudo retrospectivo das doenças infecciosas
em aves silvestres e exóticas diagnosticadas no hospital veterinário da Universidade
Federal da Paraíba. 2020. p.19
SANTOS, Vanessa Marx. Diagnóstico da Fauna Silvestre Recebida no Centro de Triagem
de Animais Silvestres de Alagoas - CETAS/IBAMA/AL. In: Congresso De Ecologia Do
Brasil, 9., 2009. Anais [...] . São Lourenço, MG, 2009. p. 1-3. Disponível em:
http://www.seb-ecologia.org.br/revistas/indexar/anais/2009/resumos_ixceb/533.pdf.
Acesso em: 30 de agosto 2023.
SILVA, M. S. Ensino de zoologia dos cordados: uma proposta de sequência didática
voltada para o ensino investigativo. 2022. 162 p. Dissertação (mestrado) –
Universidade Federal de Santa Catarina, 2022. p. 22-27
BLANKENSTEYN, Arno. Zoologia de Cordados. Florianópolis. BIOLOGIA/EAD/UFSC,
2010.

Anexos

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Imagens

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Imagens

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CÓDIGO: SB1477

AUTOR: KLAUS AUGUSTUS RAMOS REINIGER

ORIENTADOR: UMBERTO LAINO FULCO

TÍTULO: Análise energética da interação entre uma das cadeias da protease


do HIV-1 e um inibidor recém sintetizado, GRL-004, a partir de métodos
computacionais com química quântica

Resumo

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a síndrome da imunodeficiência


adquirida (AIDS), à qual pode progredir a infecção por aquele, são hoje um
problema de saúde pública à nível global, já que não foi desenvolvida uma cura
e, apesar dos avanços em seu tratamento, continua levando indivíduos à morte
e perda considerável da qualidade de vida. O uso dos inibidores de protease do
HIV (PIs) no tratamento é uma das alternativas mais utilizadas para suprimir os
efeitos patogênicos do vírus. No entanto, o desenvolvimento de PIs é tema de
constante pesquisa, uma vez que o patógeno pode adquirir resistência, o que
leva à necessidade de PIs mais potentes e com maior barreira genética. Aqui
são utilizados modelos computacionais de química quântica baseados na teoria
do funcional de densidade (DFT) e utilizando o método de fracionamento
molecular com capas conjugadas (MFCC) para a análise energética da
interação de um PI recém sintetizado, o GRL-004, com uma cadeia (cadeia
“linha”) da protease do HIV-1, mostrando a contribuição singular dos resíduos
mais relevantes e a importância química da conformação atômica do ligante
para esta ligação. Foram encontradas energias de interação que justificam alta
afinidade à protease e os resultados deram suporte à contribuição energética
em razão de regiões específicas desse ligante. Destaca-se uma nova hipótese
levantada do efeito da interação entre um grupo amino do resíduo LYS45 e um
grupo amino do GRL-004 de reduzir a afinidade da estrutura.

Palavras-chave: HIV. Inibidor da protease. MFCC. DFT. Química quântica.

TITLE: Energy analysis of the interaction between one of the chains of HIV-1
protease and a newly-sinthesized inhibitor, GRL-004, through computational
quantum chemistry methods

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Abstract

Human immunodeficiency virus (HIV) and acquired immunodeficiency


syndrome (AIDS) - a potential outcome for the former - are currently major
public health issues globally, as no cure has yet been developed and, despite
advancements in treatment, remain leading to quality of life reduction and
occasionally death. Employing HIV protease inhibitors (PIs) for its management
is one of the most common approaches in order to suppress viral pathogenic
effects. Nonetheless, the development of PIs is a typical research topic, since
the rise of drug-resistant variants continually demands more potent PIs and with
higher genetic barriers. In the present work, density functional theory(DFT)-
based quantum chemistry computational tools and the molecular fractionation
with conjugated caps (MFCC) method were applied within an energetical
analysis of the interaction between a newly-synthesized PI, GRL-004, and one
of HIV protease’s peptidic chains (referred in literature as chain “line”),
highlighting individual contributions of chosen residues and the chemical
relevance of ligand’s atomic setup. We found some consistent interaction
energies which match high protease affinity and the contribution of specific
regions was shown. In particular, we raised a new hypothesis regarding the
interaction between amino groups from LYS45 and GRL-004 and how it might
reduce the stability of the complex.

Keywords: HIV. Protease inhibitor. MFCC. DFT. Quantum chemistry.

Introdução

A epidemia de vírus da imunodeficiência humana (HIV) permanece com um


alto impacto sobre a qualidade de vida a nível global, com 36.8 milhões de
pessoas vivendo com HIV (PVHIV) em 2019 e aumento anual médio de 2,4%
no período 2010-2019 (1). A infecção causa disfunções no sistema imune do
hospedeiro, infectando principalmente células T-CD4+, macrófagos e células
dendríticas, e pode, assim, aumentar a severidade de infecções oportunistas
(2). Seu tratamento normalmente se dá pela HAART (terapia antiretroviral
altamente ativa), combinando drogas que inibem certas etapas do ciclo viral,
como os inibidores da protease (PIs) (3).
A enzima protease do HIV (PR) cliva a glicoproteína precursora gp160 e a
molécula precursora das proteínas Gag e Pol em seus produtos funcionais (2).
A PR é um homodímero, com 99 aminoácidos cada subunidade, cujo sítio de
ligação possui 8 subsítios (S1 a S4 e S1’ a S4’) com grande especificidade às

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cadeias laterais dos aminoácidos do precursor a ser clivado. Este sítio é


composto pelos resíduos 25-29 de cada uma das cadeias - sendo que o
resíduo Asp25 (e Asp25’) tem maior contribuição à ligação com inibidores e
leva ao estado de transição na hidrólise do substrato (4,5) - e por aminoácidos
em uma região de folhas-beta na região superior do sítio, em que os resíduos
Gly48 e Ile50 (em ambos monômeros) também contribuem para a afinidade
com o ligante5.
Apesar do Darunavir (DRV), inibidor de protease recomendado como primeiro
tratamento para a infecção por HIV-1, possuir uma alta barreira genética e
baixo valor IC50 para variantes resistentes (5), há registros de falha de
tratamento em tempo prolongado (6,7). Mais recentemente, foram
desenvolvidos PIs mais potentes e com maior barreira genética contra o
surgimento de variantes resistentes, promovendo ligações polares, de
hidrogênio, de van der Waals e de halogênio mais efetivas, dificultando tanto a
dimerização da PR quanto sua atividade enzimática (8,9).
Foram sintetizados novos PIs (8,10) tomando como base a estrutura do DRV.
Em particular, o GRL-142 (8) introduziu em sua região P2 um
tetrahidropiranofurano com três anéis fusionados de 6,5 e 5 átomos (Crn-THF);
dois átomos de flúor em posição meta no anel benzênico de P1 (bis-FBz); e um
grupo ciclopropil-amino-benzotiazol em P2’ (Cp-Abt); o que contribuiu
significativamente para o aumento de sua potência contra a PR tipo selvagem
do HIV-1 e mutantes com alta resistência ao DRV, conforme demonstrado
pelos testes antivirais realizados. As relevâncias de alterações em cada uma
dessas regiões foram analisadas comparativamente (10), utilizando ligantes
similares ao GRL-142, mas alterando P1 e/ou P2’.
Estudos in silico são de grande relevância para o desenvolvimento de fármacos
(11) e têm sido vastamente empregados para a análise quantitativa da ligação
entre PIs e a PR (12,13). No entanto, a análise química da interação complexo-
ligante para o GRL-142 focou na observação das ligações intermoleculares e
no cálculo da energia de van der Waals (específica para cada resíduo e total)
utilizando uma simulação de dinâmica molecular (11); e na análise dos outros
ligantes mencionados (10) não houve o uso de técnica de mecânica molecular
ou quântica.
No presente trabalho, foi feita uma análise da interação entre a PR do tipo
selvagem do HIV-1 e o ligante GRL-004 (10) utilizando uma técnica de
mecânica quântica - o que ainda não foi feito na literatura - o fracionamento
molecular com capas conjugadas (MFCC) (14,15) juntamente à teoria do
funcional de densidade (DFT) (16,17), obtendo resultados ab initio das energias
de interação de cada resíduo com o ligante considerando aminoácidos
próximos a esse resíduo e calculando a energia de partições desse sistema
(18). Os resultados são comparados com os achados dos estudos anteriores,

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conferindo maior base quantitativa às propriedades do ligante que justificam a


estabilidade do complexo.

Metodologia

A estrutura tridimensional do complexo PR - GLR-004 por cristalografia de


raios-X foi obtida através do Protein Data Bank (PBD ID: 6OYD, resolução de
1.46 Å) e após isso foi feita a verificação da existência de adjuvantes ou
artefatos na estrutura. Após isso, foi feita a inclusão de átomos na cadeia
lateral dos aminoácidos da PR que não foram obtidas através da cristalografia,
bem como a adição dos átomos de hidrogênio na estrutura, uma vez que sua
observação geralmente não ocorre em resoluções acima de 0.8 Å (19). Após
isso, foi feita a análise da protonação do GRL-004 sob o pH experimental da
cristalografia, 6.5, utilizando o software MarvinSketch 6.2.2, possibilitando o
desenho de um diagrama do ligante (figura 1).
Por sua vez, a análise da protonação dos aminoácidos da PR foi feita utilizando
o programa PROPKA 2.0. Foi utilizado o campo de força CHARMM (Chemisty
at Harvard Molecular Mechanics), com critérios de convergência 10^-5 kcal/mol
para variação de energia e 10^-2 kcal/molÅ para gradiente RMS, para otimizar
as coordenadas atômicas da PR em sua estrutura terciária, i.e. encontrar a
forma menos energética da proteína (20).
Foram considerados diferentes valores para raio de sítio de ligação, iniciando
em r_1 = 2 Å até r_27 = 15 Å, com o intervalo de 0,5 Å entre cada valor de raio.
Para um raio r_i, foram considerados todos os resíduos da PR que se situavam
numa esfera de raio ri a partir do centroide do ligante (mas não se situavam na
esfera correspondente ao raio r_i-1). Para raios superiores a 15 Å, a
contribuição energética dos aminoácidos para a afinidade do complexo não foi
considerada. Foi empregado o método MFCC para preparar os cortes a serem
submetidos ao cálculo de energia total do sistema através do GGA (generalized
gradient approximation).
Conforme o esquema do MFCC (18), para um dado raio, foram construídos
quatro sistemas para cada resíduo a ele pertencente. Para isso, considerando
um resíduo R_i (onde i é a numeração desse resíduo na cadeia proteica, que
inicia da região amino terminal), denominamos os resíduos R_i-1 e R_i+1 como
suas capas: C_i,N e C_i,C, respectivamente. É possível utilizar capas com um
tamanho maior que um único resíduo para aumentar a precisão da descrição
eletrônica do sistema (19). O sistema A_i é composto por R_i-1, R_i e R_i+1,
além do ligante (GRL-004, que aqui será chamado L); o sistema B_i é
composto por L, R_i-1 e R_i+1; o sistema C_i é composto por R_i-1, R_i e

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R_i+1; e o sistema D_i é composto por R_i-1 e R_i+1. Dessa forma, a energia
de interação E_i, correspondente às ligações intermoleculares entre L e R_i é
calculada como E_i = A_i - B_i - C_i + D_i. Vale ressaltar que, quando foi
necessário remover alguma ligação peptídica originalmente presente no
complexo para modelar cada um dos sistemas A_i, B_i, C_i e D_i, as valências
dos átomos de C e N que permaneceram no sistema foram completadas
através de ligação simples com átomos de hidrogênio adicionados. Para o
cálculo das energias dos sistemas supracitados, foi utilizado o código G16 no
cálculo por DFT (teoria do funcional de densidade) e o funcional B97D no GGA.
Como o complexo na forma nativa se encontra solvatado em meio aquoso, é
importante considerar as interações eletrostáticas, isto é, as energias
resultantes das interações do solvente polarizado com o complexo. Uma
análise por dinâmica molecular explicitando todas as moléculas de água
presentes teria um alto custo computacional e o uso de um valor máximo de
distância para o qual interações eletrostáticas são consideradas torna o
resultado impreciso. Portanto é pertinente adotar um modelo eletrostático para
representar as interações com o solvente (22). Alguns desses modelos utilizam
constantes dielétricas para simular o ambiente eletrônico no qual o complexo
está imerso, às quais variam conforme o modelo empregado (23).
Foi desenvolvida uma função para calcular a distribuição da constante
dielétrica na estrutura de um complexo com base na estrutura proteica (24) (ou
de outra macromolécula), demonstrando variações significativas entre este
valor na parte interna da proteína, na camada de água que reveste a sua
superfície e na água externa ao complexo (constante dielétrica crescente
segundo a ordem mencionada das regiões). Neste trabalho, utilizamos a
constante dielétrica , que permite identificar de forma aproximada tanto os
efeitos da polarização do solvente quanto das interações internas apresentadas
pelo peptídeo (14), e o modelo CPCM (Continuous Conductive Polarizable
Model).
A partir da contribuição energética de cada aminoácido nos raios r_1 a r_27
para a afinidade com o ligante, o valor da energia de interação total entre o
GRL-004 e a PR é obtido através da soma das contribuições individuais. Como
critério de convergência, as energias Er_i (soma de todas as energias dos
resíduos no raio r_i) foram somadas, a partir de Er_1 até o ponto em que as
somas restantes induzissem uma variação relativa menor que 10%. A soma de
todas as energias Er_1 + Er_2 + … + Er_i foi então considerada a energia total
da interação complexo-ligante.
Por fim, foram analisadas as contribuições relativas de cada resíduo da PR e
foi feita uma análise qualitativa das ligações entre o ligante e o resíduo
considerado que justifiquem a energia encontrada. Para ligações de hidrogênio
intermoleculares, utilizamos o limite superior de 3.1 Å para ligações efetivas.

1806
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Para avaliar a maior distância para a qual uma ligação de van der Waals é
efetiva, foi utilizada a medida do contato de van der Waals (C = D_a,b / (R_a +
R_b), onde D_a,b é a distância entre os centros dos átomos considerados para
a ligação e Ra e Rb são seus respectivos raios de van der Waals), que é tal
que para ligações efetivas deve-se ter um valor C entre 0.89 e 1.3 (8).

Resultados e Discussões

A estrutura molecular do GRL-004 foi dividida em três regiões (I, II e III) (figura
1), de modo que as regiões P2’, P1 e P2 descritas na literatura estão contidas
aqui, respectivamente, nas regiões I, II e III. O número de resíduos contidos até
o raio 15.0 Å para o sítio de ligação totalizou 79, os quais foram submetidos ao
esquema MFCC e posterior GGA. Diante disso, após calcular a energia da
interação entre o GRL-004 e a PR utilizando o critério de convergência já
mencionado, obtivemos uma representação da energia de interação em função
do raio do sítio de ligação (figura 2). A convergência ocorreu no raio 5.5 Å, mas
consideramos a energia de interação sendo a soma de todas as energias
parciais por raio de r_1 = 2.0 Å até r_17 = 10.0 Å. Foi obtida a energia final de -
35,62 kcal/mol.
Para o PI GRL-142, a energia de van der Walls encontrada para a interação
complexo-ligante, utilizando simulação de MD, foi de -67,5 kcal/mol, enquanto
que para o DRV seu valor correspondente é de 57,8 kcal/mol, relatando alta
afinidade à PR (6). No entanto, devido ao fato de que os dados de cristalografia
para o presente trabalho permitiam avaliar somente a interação do ligante
como um monômero da protease (cadeia que contém os subsítios S1’ a S4’ do
sítio de ligação), a energia total de interação real certamente é menor que -
35,62 kcal/mol. Sendo o desenvolvimento de novos PIs para o HIV-1 um tópico
de bastante enfoque atualmente (10,25), e como geralmente é feito um
enfoque na análise qualitativa das interações intermoleculares (10), um
trabalho mais extensivo comparando estas energias para diferentes ligantes
pode dar uma base mais sólida para as hipóteses de grupos de átomos no
ligante que favorecem a afinidade à PR.
Observa-se um salto energético significativo do raio r_1 = 2.0 Å para o raio r_2
= 2.5 Å, resultado de uma quantidade significativa de resíduos que interagem
com o ligante em r_2 contribuindo para a afinidade com a PR, bem como outro
salto menor, mas também significativo, ocorrendo de r_2 = 2.5 Å para r_3 = 3.0
Å, indicando resíduos importantes para a interação ocorrendo no terceiro raio
considerado. A partir daí, apesar de LEU76 no raio r_4 = 3.5 Å e THR80 no raio
r_5 = 4.0 Å, os resíduos conferem alterações menos significativas na energia

1807
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de ligação e, por isso, a análise dos resultados teve ênfase nos resíduos de r_1
a r_3.
Selecionamos 10 resíduos mais relevantes para o complexo PR - GRL-004 em
estudo (figura 3), seja para a afinidade da interação (energias negativas) ou
para a repulsão (energias negativas). Dentre estes, 7 contribuem para a
afinidade da ligação, os quais estão aqui descritos em ordem decrescente de
relevância: ILE84 (-5,38 kcal/mol), ILE50 (-5,34 kcal/mol), ILE47 (-4,57
kcal/mol), ALA28 (-3,63 kcal/mol), ASP30 (-3,38 kcal/mol), ARG8 (-3,23
kcal/mol) e ASP29 (-2,76 kcal/mol). Vale ressaltar que, apesar de não ter sido
incluído na análise mais detalhada que segue, GLY27 (raio r_3 = 3.0 Å)
também possui contribuição significativa para a estabilidade da ligação, tendo
energia de interação de -1,61 kcal/mol. Apenas outros três resíduos mostraram
contribuição relevante de repulsão ao ligante, os quais também foram
selecionados para uma análise mais detalhada: ASP25 (7,44 kcal/mol), GLY49
(1,17 kcal/mol) e LYS45 (0,82 kcal/mol).
Primeiramente vamos analisar as contribuições dos resíduos ASP25, ALA28,
ALA29 e ASP30, que compõem mais rígida do sítio ativo da PR (resíduos 25-
30). A contribuição de THR26, conforme descreve a literatura4, é
principalmente para estabilizar a estrutura interna do homodímero, sem
contribuição energética direta significativa para o ligante, o que justifica sua
baixa energia encontrada nos cálculos realizados e por isso não foi incluído
nesta análise. A cadeia lateral de ASP25, através do grupamento carboxila,
realiza duas ligações de hidrogênio com II[C13(OH)], sendo uma a 2.22 Å e
outra a 2.72 Å. No entanto, a alta energia resíduo-específica encontrada não é
explicada quimicamente e supõe-se ser advinda de algum erro na preparação,
através de MFCC, dos sistemas A25, B25, C25 e D25 para terem suas
energias calculadas com DFT.
É interessante notar que o resíduo ALA28 tem uma energia de interação
significativamente baixa na interação com o GRL-004, o que é resultado de
uma extensa rede de interações de van der Waals, principalmente de dipolo
induzido, dando ênfase a [II(C11)H], [I(C18)H], [II(C29)H] e [I(C19)H], com
distâncias de ligação variando de 2.5 a 2.9 Å. Outro PI recém sintetizado,
contendo o grupo isopropil-aminobenzotiazol (Ip-Abt), o GRL-044 (25),
demonstrou realizar mais contatos de van der Waals com a ALA28 (no caso, a
ALA28’, que é a que está sendo aqui discutida) do que o DRV, por possuir uma
maior superfície de contato. Foi relatada menor potência anti-PR nas PIs que
continham aminobenzooxazol (Abo), dentre os quais está o GRL-004, em
relação às que continham aminobenzotiazol (Abt) na região P2’, em razão do
maior raio atômico do enxofre que permite maior contato com S2’ (10). Nesse
sentido, um estudo comparativo realizado com o GRL-011 (difere de GRL-004
apenas pelo átomo de enxofre (10)) poderia clarificar essa proposição.

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O resíduo ASP29 também apresenta diversas ligações de van der Waals


estáveis, sendo a maioria com os átomos de hidrogênio [I(C33)H]. Ademais,
este resíduo também realiza ligação de hidrogênio com uma molécula de água,
mas esta não foi incluída para os cálculos energéticos realizados. Apesar da
significativa contribuição do grupamento isopropil para estes contatos de van
der Waals, possivelmente mais favoráveis energeticamente que os contatos
realizados por um grupamento ciclopropil (como é o caso de GRL-011), isto
não necessariamente o favorece comparativamente na potência antiviral, por
não ter uma adaptação tão boa a mudanças conformacionais do sítio de
ligação em variantes resistentes quanto o ciclopropril. Foram observadas
ligações de van der Waals efetivas para o ASP30 (ressaltamos ligações do tipo
dipolo - dipolo induzido com [i(N4)] e [i(N3)]) e também uma ligação de
hidrogênio a 2.7 Å com [i(N4)].
O segundo conjunto de aminoácidos colocado sob análise são os pertencentes
à região de folhas-beta do sítio de ligação, no caso os resíduos 45-50. Aqui
serão analisados LYS45, ILE47, GLY49 e ILE50 (MET46, que pertence ao raio
r_6 = 4.5 Å e tem contribuição menos significativa devido à maior distância, e
GLY48, embora contribua para a afinidade do complexo, não foram
analisados). Dos resultados obtidos (a saber, LYS45: 0,82 kcal/mol; ILE47: -
4,57 kcal/mol; GLY49: 1,17 kcal/mol; ILE50: -5,34 kcal/mol) há dois resíduos
com extrema afinidade ao ligante e dois que estão entre os poucos resíduos da
PR que contribuem para a repulsão daquele.
A energia de interação positiva apresentada pelo LYS45 sugestivamente
resulta da interação próxima entre os grupos amino da cadeia lateral deste
aminoácido e do Ip-Abo, numa conformação que favorece a aproximação de
regiões com carga parcial positiva. Os átomos [I(C28)H] também estão
próximos do grupamento amino (lateral) do LYS45, com os quais realizam
ligações de van der Waals, mas seria necessário uma mapa de distribuição
eletrônica superficial para melhor analisar a contribuição dessa interação para
o valor 0,82 kcal/mol encontrado. Não foi encontrado na literatura a menção da
interação entre os grupos amino acima citada, sendo dada uma maior ênfase
às ligações de vdW realizadas com o grupo isopropil que estabilizam o
complexo. No entanto, os resultados aqui apresentados mostram uma
contribuição energética desfavorável da ligação GRL-004 - LYS45, que
possivelmente também ocorre para outros PIs com o grupo Ip-Abo em P2’.
Também o resíduo GLY49 apresentou energia de interação positiva. No
entanto, através da estrutura obtida a partir da cristalografia com raios-X
verifica-se uma molécula de água interagindo a 2.5 Å do grupo amino do
backbone deste aminoácido com geometria favorável, de modo que é provável
que a real energia de interação entre GLY49 e GRL-004 seja atrativa. Destaca-
se a ligação com [II(O5)], do tipo dipolo - dipolo induzido, e as ligações de

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dipolos induzidos realizadas com [I(C15)H] e [I(C31)H]. Dessa forma, a razão


para a energia positiva encontrada precisa ser justificada através de testes com
ligantes semelhantes.
Já os resíduos ILE47 e ILE50 apresentaram alta contribuição para a
estabilidade do complexo, conforme esperado. ILE47 apresentou diversas
ligações de van der Waals com a porção Ip-Abo, em especial com [I(O7)],
[I(N4)] e [I(C28)H]. Já no caso do ILE50, destacam-se as extensivas ligações
de van der Waals realizadas com a porção Crn-THF, e também uma ligação o
[II(O5)]. Ademais, o ILE50 interage com uma molécula de água localizada entre
este e o GRL-004, contribuindo ainda mais para a afinidade da ligação (notar
que essa contribuição não foi considerada nos cálculos aqui realizados).
Outro resíduo bastante significativo quanto à contribuição energética
encontrado foi o ILE84, com uma surpreendente energia de -5,38 kcal/mol,
sendo o resíduo com maior contribuição para a estabilidade da ligação. Essa
afinidade se dá por ligações de vdW coplanares ao Abo, especificamente com
[I(C18)H] e [I(C19)H], e com [II(C14)H], além de uma dúbia ligação do tipo
cátion-pi com o anel benzênico na região II, em que a presença do átomo de
flúor para-posicionado pode acentuar a polarização do anel. Cálculos com
MM/GSBA (molecular mechanics/generalized Born surface area) e IE
(interaction entropy) demonstraram que as regiões de proximidade aos
resíduos ILE50 e ILE84 (nos dois monômeros da PR) promovem a maior
estabilidade ao complexo PR-ligante com 4 PIs estudadas (26), o que, através
dos resultados aqui obtidos, pode ser também o caso da GRL-004. Por fim, o
resíduo ARG8 mostrou significativa contribuição para a afinidade do complexo
em virtude da ligação formada entre um de seus grupos amino da cadeia lateral
com [III(O1)], a 2.87 Å.

Conclusão

Este trabalho analisou quantitativamente, através de métodos de química


quântica, a interação entre um monômero da protease do HIV (cadeia "linha")
com um inibidor de protease desenvolvido e testado in vitro, o GRL-004,
elaborando uma análise energética tanto global da interação complexo-ligante,
quanto resíduo específica. Nesta, uma análise qualitativa das ligações
intermoleculares presentes, a qual foi possível através dos dados de
cristalografia de raios-X coletados e posicionamento dos átomos de hidrogênio
utilizando dinâmica molecular, confrontada com os resultados apresentados foi
realizada para justificar os resultados energéticos obtidos, que, por sua vez,
são um passo para a solidificação teórica do corpo de conhecimento que se
tem acerca das bases moleculares para alta afinidade e barreira genética de

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um PI à PR. Um estudo mais abrangente, considerando mais PIs


desenvolvidos recentemente (10), incluindo análises com variantes mutadas da
PR, considerando todo o homodímero proteico e levando em conta a interação
explícita das moléculas de água no complexo, pode ser uma alternativa para
isso.
Foi encontrada uma energia total de interação entre o monômero da PR e o
GRL-004 de -35,62 kcal/mol. Dos aminoácidos estudados em detalhe, o ASP25
teve um resultado discrepante com o esperado tanto por análise própria das
interações química quanto da literatura. A análise confirmou os resultados
experimentais da contribuição das porções Crn-THF, Ip-Abo e para-fluoro-
benzil (para-Fbz), localizadas nas regiões III, II e I, respectivamente (figura 1)
para estabilidade do complexo, de modo particular a contribuição de Ip-Abo e
Crn-THF por meio de ligações de van der Waals, de Crn-THF para a formação
de uma ligação de hidrogênio e de para-Fbz para a formação de uma ligação
cátion-pi.
Os resultados aqui obtidos também dão suporte para a hipótese de os resíduos
serem ILE50 e ILE84 (-5,34 e -5,38 kcal/mol, respectivamente), no geral, os
que contribuem mais significativamente para a afinidade com o ligante. Foram
encontrados também dois resíduos para os quais eram esperadas
contribuições para a afinidade com os PIs que seguem o esqueleto do GRL-
142, mas apresentaram energia de interação indicativa de repulsão. Neles se
encontram o GLY49 e o LYS45 (1,17 e 0,82 kcal/mol, respectivamente). Em
particular, é levantada a hipótese de que, devido à distribuição eletrônica do
ligante, o grupo amino da cadeia lateral do LYS interage numa geometria
desfavorável com o grupo amino da porção Ip-Abo.
Através dos resultados encontrados, espera-se contribuir para aprimorar o
conhecimento acerca das contribuições singulares de cada grupamento
atômico na afinidade à PR, permitindo a modelagem de PIs com maior potência
antiviral - contribuindo em particular para o desenvolvimento de PIs baseados
no esqueleto do GRL-142 - ou ainda ligantes para outros complexos que
utilizem grupamentos similares ao dos PIs estudados.

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Anexos

Figura 1 - Estrutura em linhas do ligante GRL-004 com delimitação de regiões I a III.

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Figura 2 - Energia de interação complexo-ligante do GRL-004 com a PR tipo selvagem


do HIV-1 em função do raio do sítio de ligação para a constante dielétrica epsilon = 40.

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Figura 3 - Painel elencando resíduos mais relevantes na interação complexo-ligante da


PR com o GRL-004.

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CÓDIGO: SB1481

AUTOR: SARAH ELISABETH ARAUJO FRANCO

ORIENTADOR: MARIA DE FATIMA FREIRE DE MELO XIMENES

TÍTULO: Flebotomíneos de importância em saúde pública em uma Unidade de


Conservação da Mata Atlântica da região metropolitana de Natal.

Resumo

A expansão urbana facilitou a elevação nas taxas de transmissão de doenças por


vetores. Nesse viés, o presente estudo tem como objetivo elucidar o avanço dos
flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) que transmitem o protozoário parasita que
causa leishmaniose visceral ou tegumentar em humanos e outros hospedeiros animais.
As armadilhas luminosas CDC foram instaladas entre 17 e 6h em três noites na Mata
do Jiqui, em Parnamirim-RN. Foram capturados 60 flebotomíneos, triados, clarificados
e identificados com chave taxonômica até espécie. As duas espécies mais abundantes
são Psychodopygus wellcomei e Evandromyia (Aldamyia) walkeri. P. welcomei é vetor
de Leishmania brazilensis e as duas espécies já foram também encontradas
naturalmente infectadas por Leishmania infantum. As fêmeas foram separadas para
extração de DNA e análise da infecção por Leishmania (resultados não apresentados).
Desse modo, torna-se evidente a importância da manutenção dos achados, com a
finalidade de rastrear a expansão dos vetores para zonas periurbanas de modo a evitar
sua disseminação para outras áreas e surtos da doença, mitigando o impacto da
leishmaniose na saúde pública no Rio Grande do Norte.

Palavras-chave: Flebotomíneos. Leishmanioses. Saúde Pública. Ambiente.

TITLE: Public Health Significant Phlebotomines in a Conservation Unit of the


Atlantic Forest in the Metropolitan Region of Natal.

Abstract

The urban expansion has facilitated the rise in vector-borne disease transmission rates.
In this context, the current study aims to elucidate the advancement of phlebotomine
sandflies (Diptera: Psychodidae), which transmit the parasitic protozoan causing
visceral or cutaneous leishmaniasis in humans and other animal hosts. CDC light traps

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

were deployed between 17:00 and 06:00 hours on three nights in the Jiqui Forest,
Parnamirim-RN. A total of 60 phlebotomines were captured, sorted, clarified, and
identified to species using taxonomic keys. The two most abundant species were
Psychodopygus wellcomei and Evandromyia (Aldamyia) walkeri. P. wellcomei serves as
a vector for Leishmania braziliensis, and both species have been found naturally
infected by Leishmania infantum. Female specimens were isolated for DNA extraction
and Leishmania infection analysis (results not presented here). Thus, the significance
of maintaining these findings becomes evident, with the purpose of tracking the
expansion of vectors into peri-urban zones to prevent their dissemination to other
areas and disease outbreaks, thereby mitigating the impact of leishmaniasis on public
health in Rio Grande do Norte.

Keywords: Phlebotomine sandflies. Leishmaniasis. Public Health. Environment.

Introdução

A leishmaniose é uma doença parasitária por protozoários do gênero Leishmania, os


quais pertencem à subfamília Phlebotominae da família dos dípteros Psychodidae. Essa
enfermidade é transmitida através da picada de insetos hematófagos vetores do
gênero Lutzomyia. Esses insetos são vetores de agentes patogênicos tais como vírus,
bactérias, e os protozoários responsáveis por formas clínicas diferentes de
leishmaniose (Maroli et al, 2015).
São insetos bem pequenos, medindo cerca de três milímetros, se reproduzem no solo
úmido e são cobertos de cerdas claras, por isso conhecidos como mosquito palha.
Possuem voo baixo e quase totalmente silencioso, voam saltitando e ao pousar
mantém suas asas levantadas. (Killick-Kendrick 1999, Maroli et al. 2012, Bowles et al.
2015).
A picada do flebotomíneo fêmea Lutzomyia longipalpis pode infectar pessoas em áreas
urbanas e rurais resultando em uma preocupação significativa em saúde pública em
muitas partes do mundo, onde os flebotomíneos são conhecidos por transmitirem os
agentes de diversas doenças zoonóticas aos seres humanos (Killick-Kendrick, 1999).
Das aproximadamente 800 espécies de flebotomíneos descritas na subfamília
Phlebotominae, cerca de 98 espécies são vetores comprovados ou suspeitos de
leishmaniose humana, incluindo 42 espécies dos gêneros Phlebotomus no Velho
Mundo e 56 espécies de Lutzomyia no novo mundo (Maroli et al., 2012).
Na alimentação, somente as fêmeas são hematófagas, perfuram a pele dos
hospedeiros e absorvem sangue. Algumas espécies são seletivas nos seus hábitos
alimentares, mas outras são mais ecléticas e se alimentam em diferentes animais,
como humanos, cães, raposas e roedores. Elas injetam proteínas salivares e outros

1818
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compostos bioquímicos, como anticoagulantes que promovem o fluxo contínuo de


sangue (Bowles et al. 2015). Os flebotomíneos transmitem L. infantum e L. braziliensis
no Rio Grande do Norte e outros estados da região Nordeste.
O crescimento de cidades em áreas originalmente endêmicas de leishmaniose visceral
americana (LVA) resultou na expansão da doença no Nordeste ao mesmo tempo em
que se evidenciou a adaptação de Lutzomyia longipalpis, o mais importante vetor de
Leishmania (L.) infantum chagasi nas Américas, ao ambiente periurbano (Lainson &
Shaw 1978, Walsh et al. 1993, Sherlock 1996, Lainson & Rangel 2005, Ximenes et al.
2007). Foi relatado, portanto, que tanto a LVA, quanto a leishmaniose tegumentar
americana (LTA), vêm aumentando nos últimos dez anos, com descrição em áreas
urbanas de importantes cidades no Brasil (Ximenes et al. 2022).
A compreensão dos processos ecológicos associados à ocorrência das espécies vetoras
nos diversos ambientes é fundamental para que entendamos a adaptação e
colonização desses insetos nas áreas de ocupação humana e consequentemente a
introdução e veiculação dos patógenos e ocorrência da doença (Jeronimo, 2004;
Macedo, 2014; Nascimento et al 2008; Ximenes, et al., 2000; 2007; 2009; Pinheiro
2013, 2020, 2021; Silva 2020). Nesse sentido, ao longo dos anos, estudos com os
flebotomíneos vetores, hospedeiros silvestres e domésticos das leishmanias nas áreas
de registro de leishmaniose visceral e cutânea vem sendo desenvolvidos no Rio Grande
do Norte. Diante disso, a avaliação da distribuição de insetos vetores em áreas com e
sem casos de doença é de grande importância para a elucidação de sua participação
nos ciclos epidemiológicos da leishmaniose cutânea e visceral no Estado, além de
contribuir por meio do conhecimento produzido, com as ações que visam ao controle
da doença.
O objetivo desse estudo via identificar os habitats e as espécies de flebotomíneos na
Mata do Jiqui, correlacionar a ocorrência das espécies de flebotomíneos com a
vegetação e a infecção dos flebotomíneos por espécies de Leishmania visando, assim,
mitigar o impacto da leishmaniose na saúde pública.

Metodologia

As capturas foram realizadas na Mata do Jiqui em Parnamirim na propriedade da


Empresa de Pesquisa Agropecuária (EMPARN) com pontos amostrais na área de mata
com as seguintes coordenadas: ponto 01 (258327 E / 9344839 N), ponto 2 (258294 E /
9344814 N), ponto 3 (258218 E / 9344792 N) e ponto 4 (258147 E / 9344621 N); as
coordenadas estão no sistema projetado UTM da zona 25 sul e utiliza o datum
SIRGAS2000 como referência.

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eCICT 2023

Para as capturas, são utilizadas armadilhas luminosas do tipo CDC (Center for Disease
Control), que consistem em uma base onde se encontra uma lâmpada e um ventilador
(sugador) ligados a uma bateria de seis volts e instaladas a 1,5 metros do solo e
funcionando por 12 horas ininterruptas (17 h às 5 h do dia seguinte), em períodos
chuvosos, coloca-se uma placa de metal acima da lâmpada para proteger o material.
Acoplada a essa base existe uma gaiola para armazenamento dos insetos,
confeccionada com tecido fino. A armadilha funciona quando os insetos são atraídos
pela luminosidade e sugados pelo ventilador para dentro da gaiola, onde ficam
armazenados até a retirada para triagem.
Após as capturas, as armadilhas foram recolhidas em campo, transportadas até o
Laboratório de Pesquisa em Entomologia Médica (LABENT) da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) são colocados em baixa temperatura (-20° C), para
triagem, montagem e identificação. Em seguida, o material coletado foi triado,
separado por sexo (sexagem), acondicionado em frascos contendo álcool 70% e
etiquetados com a identificação da data e ponto de captura. Posteriormente, o
material triado passou pela fase de processamento, isto é: clarificação, diafanização e
montagem das lâminas.
Após a triagem, flebotomíneos são clarificados por um período de 24 horas em
hidróxido de potássio (KOH), passados em um banho de quinze minutos em ácido
acético (C2H4O2), e dois banhos, também de quinze minutos, em água destilada
(H2O).
Os flebotomíneos são então montados, cada um em uma gota de glicerina branca
especial, entre lâmina e lamínula, para identificação das espécies. A identificação das
espécies de insetos capturados é feita em microscópios ópticos e estereomicroscópio,
por meio de observação de características morfológicas, baseada em chaves
dicotômicas especializadas (Galati, 2017).
Para a extração de DNA, o intestino das fêmeas de flebotomíneos são individualmente
dissecados em lupa. Em seguida, o DNA é extraído de acordo com as instruções do
fabricante pelo QIAamp DNA mini-kit (Qiagen, Hilden, Germany). O DNA é eluído em
volume de 100 μL e então é submetido ao Nanodrop 2000c spectrophotometer
(Thermo Scientific) com o intuito de quantificar e avaliar o grau de pureza da amostra.
A amostra de DNA é armazenada a -20ºC até a realização da qPCR.

Resultados e Discussões

No presente estudo foram capturados 60 flebotomíneos das espécies Psychodopygus


wellcomei, uma unidade de Evandromyia (Aldamyia) evandroi, vinte unidades de

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Evandromyia (Aldamyia) walkeri e uma unidade de Micropygomyia (Micropygomyia)


série Cayennensis.
A espécie L. wellcomei é um importante vetor de Leishmania brasiliensis, agente causal
de leishmaniose tegumentar na região norte do país, no entanto vem sendo capturada
no RN e outros estados do Nordeste. L. walkeri e L. evandroi são comumente
encontradas nas áreas de mata no RN e a primeira espécie recentemente foi
encontrada com infecção por L. brasiliensis.
Embora tenha havido ao longo do tempo uma redução do número de casos de
Leishmaniose visceral na região Nordeste, quando comparado à década de 90, cerca
de 70% destes encontram-se ainda nessa região, enquanto a Leishmaniose tegumentar
é descrita em quatro das cinco regiões do país, com incidências mais elevadas no Norte
e Nordeste do país (Pinheiro 2021; Ximenes et al. 2007; Silva 2020).

Conclusão

Em resumo, os flebotomíneos desempenham um papel crucial na transmissão da


leishmaniose, uma doença séria que afeta muitas comunidades em todo o mundo. A
compreensão da relação entre esses insetos e a doença é fundamental para
implementar estratégias eficazes de prevenção e controle.
Portanto, o achado dessas espécies também em ambientes peridomiciliares sugere
adaptação a ambientes sob ação antrópica – ambientes degradados, modificados,
alterados pelos humanos – e risco potencial de transmissão de espécies de leishmania
e doença, pois com a degradação dos ambientes naturais por eles habitados, há uma
tendência a migrarem para outras áreas e com isso a possibilidade de expansão urbana
da doença.

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Anexos

Figura 1 - Casal de flebotomíneos em estereomicroscópio, aumento de 20x. Por Marcel


Medeiros.

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Figura 2- Vista parcial da cabeça de um Evandromyia walkeri, por Marcel Miranda.

Figura 3 - órgãos reprodutores de fêmea Evandromyia walkeri, por: Marcel Miranda.

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Figura 4 - Criança com leihmaniose visceral, com abdome distendido pelo aumento do
baço e fígado (OPAS).

Figura 5 - Cão sintomático para leishmaniose visceral, com lesão de pele no focinho e
aumento de linfonodo cervical com hemorragia. Imagem feita pelo veterinário
Fernando no Centro de Controle de Zoonoses de Teresina, PI.

Figura 6 - Mão com úlcera, provocada pela leishmaniose tegumentar. Fonte: Centers
for Disease Control and Prevention's Public Health Image Library ID #352.

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Figura 7 - Armadilha luminosa CDC instalada na Mata do Jiqui - EMPARN, foto autoral.

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Figura 8 - Processo de clarificação de flebotomíneos. Foto autoral.

Tabela 1 – Flebotomíneos coletados na Mata do Jiqui entre 18, 19 de agosto e 22 de


dezembro de 2022.

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CÓDIGO: SB1497

AUTOR: CLARA LIERICA ANTUNES SANTIAGO FERREIRA

ORIENTADOR: WAGNER FRANCO MOLINA

TÍTULO: Redução cariotípica no gênero Sparisoma (Scarinae,Labridae) por


meio de fusão robertsoniana

Resumo

Peixes papagaios (Scarinae) são importantes herbívoros marinhos que atuam


na produção de sedimentos e na moldelagem de recifes de corais. Muitos dos
seus aspectos biológicos ainda são pouco conhecidos, entre os quais os seus
padrões citogenéticos. No gênero Sparisoma, a distinção entre espécies
morfologicamente semelhantes pode ser auxiliada por marcadores
citotaxonômicos. A falta de dados citogenéticos em peixes, especialmente em
ambientes insulares, destaca a necessidade de expansão de dados
cromossômicos para entender a evolução cariotípica deste importante grupo de
peixes recifais. Desta forma, análises citogenéticas utilizando métodos
convencionais foram realizadas para Sparisoma frondosum. A espécie
apresentou um cariótipo com 2n=46 (NF=80), regiões heterocromáticas
distribuídas em regiões centroméricas e pericentroméricas de alguns
cromossomos e sítios de Ag-RONs simples, no braço curto do par 3. Este
padrão citogenético é comparável a outras espécies do gênero Sparisoma, mas
comparado revela uma redução cariotípica decorrente de fusões cêntricas ou
robertsonianas em relação à maioria das espécies de Labridae, seu grupo-
irmão. Análises subsequentes utilizando hibridização in situ para mapeamento
de sequências repetitivas poderão trazer novos subsídios, como marcadores
citotaxonômicos e sobre os processos que levaram a divergência do padrão
cariotípico no gênero Sparisoma.

Palavras-chave: Peixes-papagaios; Citogenética de peixes; Fusões cêntricas.

TITLE: Karyotypic reduction in the genus Sparisoma (Scarinae,Labridae)


through Robertsonian fusion

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Abstract

Parrotfish (Scarinae) are important marine herbivores that play a role in


sediment production and coral reef molding. Many of their biological aspects are
still poorly understood, including their cytogenetic patterns. In the genus
Sparisoma, the distinction between morphologically similar species can be
aided by cytotaxonomic markers. The lack of cytogenetic data in fish, especially
in insular environments, highlights the need to expand chromosomal data to
understand the karyotypic evolution of this important group of reef fish. Thus,
cytogenetic analyses using conventional methods were carried out for
Sparisoma frondosum.The species showed a karyotype with 2n=46 (NF=80),
heterochromatic regions distributed in centromeric and pericentromeric regions
of some chromosomes and single Ag-RON sites on the short arm of pair 3. This
cytogenetic pattern is comparable to other species of the genus Sparisoma, but
it reveals a karyotypic reduction due to centric or Robertsonian fusions in
relation to most species of Labridae, its sister group. Subsequent analyses
using in situ hybridization to map repetitive sequences may provide new
information, such as cytotaxonomic markers and the processes that led to the
divergence of the karyotypic pattern in the genus Sparisoma.

Keywords: Parrotfish; Fish cytogenetics; Centric fusions.

Introdução

Como importantes herbívoros marinhos, os budiões ou peixes papagaios


(Scarinae,Labridae) constituem uns dos maiores produtores e transportadores
de sedimento dos recifes, uma vez que porções do substrato são ingeridas
juntamente com as algas, triturados em sua faringe fortificada e eliminados nas
fezes em forma particulada (Bellwood, 1995; Belwood, 1996; Bonaldo et al.,
2006; Belwood et al., 2012; Froese & Pauly, 2012).
Embora algumas espécies de peixes papagaios se alimentem seletivamente,
efetuando mordidas em macroalgas e corais vivos (McAfee & Morgan, 1996),
geralmente esses peixes alimentam-se não seletivamente, efetuando mordidas
em tufos de macroalgas multi específicas ou raspando corais mortos contendo
microalgas endolíticas (McAfee & Morgan, 1996), através de seus fortes dentes
fundidos (Streelman et al., 2002).A maioria das espécies apresenta padrões de
coloração bem distintos entre fase inicial e terminal, e algumas exibem ainda
um padrão de características da fase juvenil (Hawkins & Roberts, 2003).
Apesar da semelhança morfológica, os peixes papagaios são diversificados

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eCICT 2023

(Bellwood & Choat, 1990), apresentando diferentes tipos de uso de habitat e


comportamentos, entre espécies ou ontogeneticamente (MacAfee & Morgan,
1996) no Caribe, e no Brasil, no Atlântico Ocidental (Bonaldo et al., 2006).
Tradicionalmente, os peixes papagaios têm sido classificados como uma
subfamília (Scarinae) pertencente à família Labridae (Schultz, 1958; Bellwood,
1995).Estudos moleculares revelaram que Labridae+Scaridae compõem um
grupo monofilético, e os peixes-papagaio foram realocados como uma
subfamília Scarinae, inserido na família Labridae,(Westneat e Alfaro, 2005). Um
dos gêneros mais representativos de Scarinae é Sparisoma, restritos ou
principalmente encontrados no Atlântico (Bernardi et al., 2000). O gênero
Sparisoma abrange espécies com diferentes padrões de alimentação e de uso
do habitat (Bernardi et al., 2000; Streelman et al., 2002).
De fato, algumas espécies de Scarinae são morfologicamente idênticas, e a
coloração tem sido útil para distingui-las. Sete das 15 espécies de Sparisoma
existem em simpatria ao longo da costa brasileira (S. atomarium, S. amplum, S.
axillare, S. frondosum, S. radians, S. rocha e S. tuiupiranga), incluindo
descrições recentes baseadas em características morfológicas (Moura et al.,
2006; Gasparini et al., 2005; Pinheiro et al., 2010).
A respeito dos peixes marinhos, especialmente os que vivem em ambientes
insulares, é muito comum haver uma carência significativa de dados
citogenéticos, isso acaba limitando a aplicação desses dados em estudos
evolutivos. Os padrões de cores comumente usados para identificações mais
precisas das espécies de Sparisoma são melhor observados apenas em
espécimes frescos, podendo variar de acordo com o sexo e o estado
ontogenético (Bernardi et al., 2000).
Nesse contexto, se faz necessário a ampliação dos dados cromossômicos
para a investigação da diversificação cariotípica em peixes marinhos, utilizando
marcadores genéticos, no qual representam uma ferramenta eficiente e
confiável para identificar essas espécies, independente dos aspectos
morfológicos.
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Ampliar os dados citogenéticos para a subfamília Scarinae (Labridae), através
da descrição cariotípica de Sparisoma frondosum e contribuir para uma melhor
compreensão do processo de redução e diversificação cariotípica no gênero
Sparisoma.
Objetivos Específicos:

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Caracterizar citogeneticamente a espécie Sparisoma frondosum por meio da


citogenética convencional (coloração com Giemsa, bandamento-c e Ag-RONs).
Analisar aspectos da evolução cromossômica do gênero Sparisoma
contribuindo para o entendimento dos seus padrões de divergência
citogenômica.

Metodologia

MATERIAL E MÉTODOS
Para as análises citogenéticas foram utilizados dez espécimes de Sparisoma
frondosum coletados no Arquipélago de Fernando de Noronha (3°51'20"S,
32°25'32"O), com auxílio de redes de mão. Esta espécie está distribuída ao
longo do Atlântico Sudoeste, no Brasil e suas ilhas oceânicas, Arquipélago de
São Pedro e São Paulo, nas ilhas oceânicas de Fernando de Noronha, Atol das
Rocas e Trindade, já no Atlântico Centro-Leste, são encontrados
principalmente no Cabo Verde (Agassiz, 1831), conforme figura 1.
Todos os procedimentos experimentais no manejo foram aprovados pelo
Comitê de Ética para o uso de Animais da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (nº 044/2015).Os indivíduos foram submetidos à estimulação mitótica
intraperitoneal com complexos antígenos fúngicos e bacterianos (Molina et al.,
2010). Os cromossomos mitóticos das espécies foram obtidos a partir de
suspensão celular da porção anterior do rim, utilizado a técnica in vitro
preconizada por Gold et al. (1990).
Para determinação do número diploide e aspectos gerais do cariótipo, os
cromossomos foram corados com solução de Giemsa diluída à 5%, em tampão
fosfato pH 6,8. As regiões heterocromáticas foram visualizadas através do
bandamento C (Sumner, 1972), e as regiões organizadoras de nucléolos
(RONs) de acordo com a técnica de impregnação por nitrato de prata (Howell &
Black, 1980).
PROCESSAMENTO DE IMAGENS
As melhores metáfases foram fotografadas em microscópio de
epifluorescência OlympusTM BX50 acoplado a um sistema de captura digital
Olympus DP73, utilizando o software cellSens® (OlympusTM). Os
cromossomos foram definidos em relação à posição do centrômero em
metacêntricos (m), submetacêntricos (sm), subtelocêntricos (st) e acrocêntricos
(a) (Levan et al., 1964).

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Resultados e Discussões

RESULTADOS
A espécie apresentou um valor diploide de 2n=46 cromossomos, com
cariótipo composto por 2m+16sm+16st+12a (NF=80) (Figura 2). Pequenos
blocos heterocromáticos estavam distribuídos em regiões centroméricas e
pericentroméricas de alguns os cromossomos (Figura 2). Os sítios Ag-RONs
estavam localizados no braço curto do par 3 (sm).
DISCUSSÃO
O arranjo cromossômico de Sparisoma frondosum revela uma redução
cariotípica quando comparado a outras espécies da família Labridae (Tabela
1). A espécie apresenta notáveis divergências citogenéticas refletidas na
quantidade de cromossomos, no número fundamental, e na fórmula
cromossômica. Essa variação sugere uma tendência de redução diploide,
derivada de uma pré-disposição para fusões cêntricas ou robertsonianas.
O cariótipo de S. frondosum apresenta elevado número de braços
cromossômicos similarmente com S. axillare e S. radians (Tabela 1), o que
indica uma possível carioevolução entre os budiões (Galetti et al., 2006),
contudo variam quanto ao NF indicando uma evolução principalmente mediada
por inversões pericêntricas. Além disso, as espécies deste gênero possuem
2n=46, que contrasta com cariótipos com 2n=48, observada em maior número
em outras espécies de Labridae, o que aponta ainda a ocorrência remota de
um evento reducional no cariótipo possivelmente comum para as espécies
deste gênero. De fato, a redução cariotípica junto com variações no número
fundamental de braços cromossômicos evidenciam a ocorrência de uma
evolução dinâmica, onde pelo menos um evento de fusão robertsoniana e
múltiplas inversões pericêntricas modelaram a evolução cromossômica deste
grupo.
A translocação Robertsoniana, também conhecida por fusão cêntrica, é um
tipo de translocação recíproca e balanceada, no qual não há ganho nem perda
de material genético para o indivíduo (Koop et al., 1983). As translocações
Robertsonianas assumem o papel de uma barreira citogenética na reprodução,
uma vez que gradualmente conferem maior heterogeneidade à população
(Wurster & Benirschke, 1968). Isso, por sua vez, pode resultar no surgimento
de incompatibilidades reprodutivas entre indivíduos. Portanto, esse tipo de
rearranjo cromossômico tem o potencial de estimular a especiação,
desempenhando um papel significativo na evolução cromossômica das
espécies.

1833
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Embora ainda possuam lacunas de informações citogenéticas relacionadas à


Sparisoma, estudos envolvendo um número maior de espécies pode contribuir
para inferir possíveis associações da adaptação a habitats específicos e a
especialização dos peixes-papagaio (Bernardi et al., 2000; Robertson et al.,
2006), com a evolução cariotípica deste gênero.

Conclusão

Em conclusão, fica evidente que as análises citogenéticas representam uma


abordagem que pode ser eficaz na melhor identificação de espécies com
grandes semelhanças morfológicas, dentre as quais se caracterizam
frequentemente as espécies de Sparisoma. Este grupo mostra grande dinâmica
cariotípica mediada por inversões pericêntricas e eventos de translocação
robertsoniana. A utilização de técnicas citogenéticas neste grupo, auxilia na
compreensão da sua diversidade cariotípica e se mostra relevante como
ferramenta na taxonomia e dos seus processos evolutivos.

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Anexos

Figura 1. Distribuição da ocorrência das espécimes de Sparisoma frondosum.

1836
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eCICT 2023

Figura 2. Cariótipo da espécie Sparisoma frondosum, sob coloração com Giemsa e


bandamento C. Em destaque o par portador de sítios Ag-RONs. Barra = 5μm

Tabela 1. Dados citogenéticos parciais para espécies Atlânticas da família Labridae.

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CÓDIGO: SB1509

AUTOR: ANA BEATRIZ VIEIRA DE SOUZA

COAUTOR: RAINARA DA SILVA NEVES

ORIENTADOR: GISLENE MARIA DA SILVA GANADE

TÍTULO: INFLUÊNCIA DOS NÍVEIS DE RIQUEZA NA ABUND NCIA E


DISTRIBUIÇÃO DA ESPÉCIE Jatropha mollissimaINFLUÊNCIA DOS NÍVEIS
DE RIQUEZA NA ABUND NCIA E DISTRIBUIÇÃO DA ESPÉCIE Jatropha
mollissima

Resumo

Este estudo tem como objetivo principal investigar o impacto dos níveis de diversidade
de espécies em seis categorias (01, 02, 04, 08, 16 e controle) na quantidade e
distribuição da espécie Jatropha mollissima (pinhão-bravo). A pesquisa busca entender
como a presença de diferentes espécies nas áreas de estudo influencia o crescimento e
disseminação do pinhão-bravo. Ao analisar como a abundância e distribuição dessa
espécie variando em resposta à diversidade de espécies, o estudo oferecerá insights
importantes sobre as interações ecológicas na regeneração da caatinga, além de
auxiliar no desenvolvimento de estratégias para conservar esse ecossistema único.

Palavras-chave: Regeneração, restauração, distribuição populacional.

TITLE: INFLUENCE OF WEALTH LEVELS ON ABUNDANCE AND


DISTRIBUTION OF THE SPECIES Jatropha mollissima

Abstract

The main objective of this study is to investigate the impact of species diversity levels
in six categories (01, 02, 04, 08, 16 and control) on the quantity and distribution of the
species Jatropha mollissima (pine nut). The research seeks to understand how the
presence of different species in the study areas influences the growth and
dissemination of wild pinion. By analyzing how the abundance and distribution of this

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species vary in response to species diversity, the study will offer important insights into
ecological interactions in caatinga regeneration, as well as assisting in the development
of strategies to conserve this unique ecosystem.

Keywords: Regeneration, restoration, population distribution.

Introdução

Ao longo dos últimos anos a comunidade científica apontou a perda de biodiversidade


a fatores como fragmentação e perda de habitats, causadas devido à interferência
humana que acaba afetando o meio ambiente e alterando o equilíbrio dos
ecossistemas, levando à degradação ambiental. Logo, a implementação da restauração
se torna imprescindível para atenuar as consequências ambientais. Especialmente
considerando que estamos na década da restauração como declarado pela ONU em
2021.
A regeneração refere-se ao processo natural pelo qual um ecossistema se recupera e
se restabelece após ter sofrido algum tipo de perturbação como um incêndio florestal.
A regeneração natural é compreendida como o conjunto de progenitores das espécies
arbóreas, situados dentro da faixa de altura de 10 cm, até os limites estabelecidos de
diâmetro. O termo restauração é utilizado para descrever o desafio que visa, por meio
de intervenções cuidadosamente planejadas, reconstruir a configuração original e
estabelecer as diretrizes propícias à retomada dos processos ecológicos naturais
inerentes a cada ecossistema.
Ao passo que a regeneração e a restauração são práticas de suma importância para a
reabilitação de ecossistemas comprometidos revitalizando atributos estruturais e
funcionais constatados em sistemas de referência, isso é realizado com o propósito de
restabelecer os processos ecológicos ligados à estabilidade e resiliência, resgatando
assim os componentes cruciais para o equilíbrio do ecossistema. Logo é possível
perceber que a regeneração natural é uma aliada essencial no processo de
restauração, contribuindo para a biodiversidade, a resiliência e a sustentabilidade dos
ecossistemas recuperados.
A diversidade desempenha um papel significativo na regeneração natural dos
ecossistemas, influenciando diversos aspectos do processo, com isso a presença de
uma variedade de espécies e a composição da comunidade pode afetar a regeneração
de várias formas como: Redução na competitividade e variação genética. O estudo da
regeneração natural fornece a capacidade de formular previsões sobre o
comportamento e a evolução iminente da floresta, pois oferece uma compreensão das
interações e da quantidade de espécies que compõem o seu contingente. Além disso,
esse estudo contempla as dimensões e a disposição espacial dessas espécies na área,

1839
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eCICT 2023

conferindo insights essenciais para avaliar a trajetória futura do ecossistema florestal.


As florestas sazonalmente secas, também conhecidas como florestas decíduas
tropicais, são um tipo de ecossistema que ocorre em regiões de clima tropical com
períodos de pouca chuva e mais seca. Especificamente no contexto do bioma da
caatinga, que é um bioma exclusivamente brasileiro, as florestas sazonalmente secas
representam uma parte significativa desse ambiente .
A caatinga é um bioma caracterizado por apresentar condições climáticas marcadas
por uma estação chuvosa curta e uma estação seca prolongada, o que influencia
diretamente o cultivo e a biodiversidade. Nesse cenário, as florestas sazonais secas da
caatinga apresentam adaptações únicas para sobreviver e prosperar em condições de
estresse hídrico sazonal. A caatinga é adaptada para resistir à escassez de água,
apresentando características como cascatas grossas para proteção contra o calor e a
evaporação, raízes profundas para buscar água no subsolo e uma variedade de
estratégias reprodutivas que permitem a disseminação das espécies durante as
estações mais desenvolvidas.
A regeneração na caatinga desempenha um papel crucial na adaptação das plantas
nativas às condições exigidas desse bioma tropical sazonalmente seco. Com estratégias
adaptativas variadas, as espécies da caatinga germinam rapidamente durante os
períodos de chuva, aproveitando a água e a luz disponíveis. Algumas plantas têm a
capacidade de brotar a partir das raízes após época seca, enquanto outras dependem
da dispersão de sementes por animais ou da presença de um banco de sementes
dorme
nte no solo.

Metodologia

2.1 Área de Estudo


A pesquisa foi conduzida no experimento de Restauração da Caatinga chamado
BrazilDry, localizado na Unidade de Conservação FLONA - Floresta Nacional de Açu,
situada no município de Assu, RN, Brasil (5º 32’ 20’’ S e a 36º 57’ 49’’ W) (Figura 1). O
BrazilDry abrange uma área de 3,3 hectares e constitui um experimento composto por
155 parcelas de 104 m² (8 x 13 m). Cada parcela contém comunidades com 32
indivíduos distribuídos em 06 níveis de riqueza: 01, 02, 04, 08 e 16 espécies, além de 8
parcelas de controle. Este projeto é parte integrante da rede global denominada
TreeDiv que em colaboração com outros 20 países, explora os efeitos da diversidade
de espécies nativas sobre o funcionamento de florestas plantadas.
2.2 Espécie do estudo

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A Jatropha mollissima, uma planta endêmica da caatinga, conhecida popularmente


como pinhão-bravo, é uma planta pertencente à família Euphorbiaceae. Trata-se de
uma planta que apresenta uma altura média que varia entre 1,5 a 5 metros e devido
ao seu porte menor, essas plantas foram categorizadas como arbustos com
ramificações que surgem normalmente entre 50 cm a 1 m acima do solo, lembrando
que se trata da estrutura de uma árvore jovem. Seu tronco apresenta uma
configuração ereta possuindo formato cilíndrico e consistência sublenhosa, lisa, pouco
ramificado sendo revestida por placas que descamam exibindo uma tonalidade verde-
clara. As folhas são alternas, simples, lobadas, possuem venação palminérvea e
consistência membranácea. São notavelmente grandes, podendo medir até 14 cm de
comprimento por 16 cm de largura, apresentando uma superfície dorsal pilosa (Lima,
2011; Maia, 2012).
As flores da espécie podem exibir uma gama variada de cores, incluindo vermelho,
laranja, salmão ou branco avermelhado, estas flores são organizadas em
inflorescências, podendo ser terminais ou axilares, é interessante destacar que flores
masculinas e femininas compartilham a mesma inflorescência. O fruto assume a forma
de uma cápsula, inicialmente verde e que ao amadurecer adquire tons amarronzados.
Com um diâmetro de cerca de 3 cm, o fruto possui um formato globoso, sua dispersão
ocorre por meio de descendência explosiva, um mecanismo conhecido como
autocoria, que libera normalmente três sementes densas. As sementes têm um valor
significativo devido ao alto teor de óleo que possuem, que pode ser utilizado como
matéria prima na produção de biodiesel.
2.3 Delineamento amostral
O delineamento amostral consistiu na avaliação de 155 parcelas dentro do
experimento onde foram coletados dados que incluíam altura, Diâmetro na Altura do
Solo (DAS) e a presença de flores e frutos. Esses dados foram reunidos para investigar
a abundância e a distribuição da Jatropha mollissima com base em diferentes níveis de
riqueza. A medição da altura das plantas foi realizada utilizando uma trena
estendendo-se da altura do solo até o ponto mais alto da planta . O DAS foi medido
com um paquímetro que foi posicionado ao nível do solo. No que diz respeito às flores
e frutos, a observação se limita à presença ou ausência dos mesmos. Além disso, a
identificação das plantas foi assegurada por meio da marcação com fita, com o
objetivo de evitar perdas durante a contagem subsequente.
2.4 Análises estatísticas
Serão empregados Modelos Lineares Mistos Generalizados (GLMM) com o propósito
de examinar de que forma a abundância e a altura das espécies são influenciadas pelos
níveis de riqueza de determinadas espécies, tendo em mente que foi considerado um
fator aleatório para a composição das parcelas. Além disso, serão avaliadas variáveis

1841
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eCICT 2023

indicadoras de restauração, como o Índice de Valor de Importância (IVI) e a


abundância. Dessa forma os resultados esperados, em consonância com a literatura
especializada, têm a expectativa de reafirmar a relevância significativa da restauração,
regeneração e diversidade para uma melhor eficácia na funcionalidade do
ecossistema.

Resultados e Discussões

Partindo da premissa de que interações negativas quanto positivas coexistem e


considerando a complementaridade das funções ecológicas, podemos antecipar que a
espécie Jatropha mollissima (pinhão bravo), apesar de ser nativa da caatinga, pode
demonstrar comportamentos pioneiros e exóticos no contexto do experimento, uma
vez que não foi plantada intencionalmente. Espera-se que ela estabeleça sua presença
em parcelas com menor diversidade, onde a divisão de nicho e a competição são
reduzidas. Por outro lado, o cenário oposto é válido: em parcelas mais diversas, onde
há maior complementaridade e divisão de nicho, é provável que o estabelecimento da
Jatropha mollissima seja limitado.

Conclusão

Não tem conclusão ainda, pois o projeto ainda esta em andamento.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB1518

AUTOR: ISAAC DANIEL DE LIMA LIRA

ORIENTADOR: VANESSA GRAZIELE STAGGEMEIER

TÍTULO: Fenologia populacional de Eumachia depauperata na Floresta


Nacional de Nísia Floresta/RN

Resumo

Na Mata Atlântica, as plantas fornecem recursos para os seres vivos que não produzem
seu próprio alimento como alguns insetos, mamíferos e aves. Nesse processo podem
ter seu pólen e suas sementes sendo dispersas garantindo sua reprodução. Entender
quando esses recursos são ofertados ao longo do ano e quais gatilhos influenciam a
reprodução das plantas são importantes, pois auxiliam no manejo de espécies e na
conservação da Mata Atlântica.
A espécie Eumachia depauperata, da família Rubiaceae,abundante nas florestas do
limite norte da Mata Atlântica, foi utilizada como modelo para entender a dinâmica
dos recursos ofertados pelas plantas. A floração desta espécie foi associada aos dias
mais longos do ano ocorrendo em níveis elevados de sincronia nos meses de dezembro
e janeiro. A frutificação foi associada aos dias menos quentes e mais curtos do ano
ocorrendo de maio a julho. Essas informações podem ser utilizadas na produção de
calendários fenológicos, ações de educação ambiental na área de estudo e manejo e
conservação da espécie.

Palavras-chave: Clima. Fenologia. Subbosque. Reprodução. Gatilhos.


Recursos.

TITLE: Population Phenology of Eumachia depauperata in Nísia Floresta


National Forest/RN

Abstract

At the Atlantic forest, plants provide resources for living beings that do not produce
their own food, such as insects, mammals, and birds. In this process, its pollen and

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

seeds can be dispersed, maintaining its reproduction. Understanding when these


resources are available throughout the year and which triggers affect plant
reproduction is important, because this information supports species management
and the conservation of the forests.Eumachia depauperata, a plant species from the
Rubiaceae family is abundant in the understory of forests at the northern limit of the
Atlantic forest, and it was used as a model to comprehend the dynamics of resources
in this region. The flowering of this species was associated with the longest days of the
year, occurring at high levels of synchrony in the months of December and January.
Fruiting was associated with less hot and shorter days of the year, occurring from May
to July. This information can be used in the production of phenological calendars,
environmental education actions in the study area and also in the management and
conservation of species.

Keywords: Climate, phenology, understory, reproduction, triggers, resources.

Introdução

A Mata Atlântica é um dos cinco maiores hotspots globais devido a elevada riqueza de
espécies, alto nível de endemismo e grande perda de habitat causada pelas ações
antrópicas tais como o desmatamento e a ocupação desordenada da paisagem (Myers,
2000). Estas ações podem aumentar o grau de fragmentação dos remanescentes
florestais prejudicando a manutenção das dinâmicas ecológicas e dos serviços
ecossistêmicos no longo prazo (Joly et al. 2014, Faria et al. 2023), tais como a provisão
de alimento e o abastecimento de água.
No processo de alteração das paisagens a flora muda também, a floresta pode ficar
mais baixa, as árvores mais finas e o dossel mais aberto, tudo isso devido a mudanças
na composição de espécies ao longo do tempo (Faria et al. 2023). A perda de espécies
nos estratos inferiores da floresta afeta de forma acentuada a ciclagem de nutrientes
com efeitos na produção de frutos das espécies remanescentes (Pessoa et al. 2017), os
quais podem ter sua biomassa reduzida mas também sofrer uma redução de qualidade
na produção de lipídeos e proteínas por fruto. Assim, avaliar a provisão de recursos em
remanescentes florestais é importante para monitorar a disponibilidade de alimento e
entender o papel das plantas na manutenção das cadeias ecológicas ao longo do
tempo. Estudos fenológicos, que caracterizam esta oferta de recursos e avaliam os
gatilhos que estimulam a reprodução em plantas são o primeiro passo a percorrer
nessa avaliação, gerando dados que fornecerão subsídios para entender o processo de
regeneração das espécies e produzir planos de manejo e conservação melhor
embasados, atendendo o décimo quinto objetivo de desenvolvimento sustentável
(ODS) que está relacionado com a vida terrestre.

1846
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

As espécies vegetais que habitam o sub-bosque nas florestas tropicais contribuem de


forma diferenciada para a provisão de recursos, isto principalmente devido às
diferenças na abundância. Assim, em geral, as espécies mais comuns, ou seja que
apresentam dominância ecológica, serão representativas do comportamento da
comunidade sendo conhecidas como hiperdominantes (exemplos do conceito em Ter
Steege et al. 2013 e Staggemeier et al. 2017).
Nos fragmentos da Mata Atlântica presente nas florestas tropicais, uma família rica em
espécies hiperdominantes é Rubiaceae, a família do café, ela tem grande importância
por fornecer recursos como folhas, flores e frutos principalmente no estrato do sub-
bosque das florestas (Andrade, 2015).No limite norte da Floresta Atlântica, uma região
pouco estudada na perspectiva de oferta de recursos, a espécie hiperdominante que
caracteriza as comunidades de restinga no nordeste é a Eumachia depauperata
(Müll.Arg.) M.R.Barbosa & M.S.Pereira, tendo sido escolhida como modelo do
presente estudo que visa entender a provisão de flores e frutos em uma espécie
hiperdominante de subbosque na Mata Atlântica. Neste estudo testamos a hipótese
de que a precipitação é o gatilho ambiental mais confiável para a sincronização dos
eventos reprodutivos nesta espécie pois nesta região situada no norte do bioma a
precipitação varia mais ao longo do ano do que a temperatura e o comprimento do dia
que costumam ser fatores desencadeadores da reprodução de espécies no sul do
bioma (Morellato et al. 2000; Staggemeier et al. 2011).

Metodologia

A área de estudo é um fragmento de Mata Atlântica localizado na Floresta Nacional de


Nísia Floresta. Foram observados 115 indivíduos da Eumachia depauperata ao longo de
doze meses de observação, iniciado no dia 29 de julho de 2022 e finalizado em 29 de
julho de 2023 com coletas quinzenais, entretanto na décima segunda quinzena não
houve coleta por fatores logísticos. Quatro estágios fenológicos (flor, botão floral, fruto
imaturo, fruto maduro) foram documentados para todos os indivíduos (Figura 1), em 5
parcelas de 10 x 10m situadas no interior da floresta. Esse monitoramento teve início
em 29 de julho de 2022 e terminou em 29 de julho de 2023. A atividade fenológica foi
monitorada quinzenalmente através da inspeção visual e busca ativa pelas fenofases
Todas as fenofases foram fotografadas. A sincronia populacional na oferta de recursos,
ou índice de atividade da população (sensu Bencke e Morellato 2002), foi estimada
pela porcentagem de atividade (presença ou ausência) de cada fenofase a cada
quinzena. Foram coletadas a presença e ausência de atividade das fenofases através
do método de Fournier. Variáveis climáticas de precipitação e temperatura quinzenais
foram obtidas através das estações climatológicas do estado mais próximas à FLONA,
dados de comprimento do dia foram obtidos via tabela astronômica (Pereira et al.

1847
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eCICT 2023

2001). Variáveis climáticas foram correlacionadas com a porcentagem de atividade e


intensidade fenológica para identificar tendências que associam os potenciais gatilhos
à variação na oferta de recursos ao longo do tempo.
A Eumachia depauperata é uma espécie arbustiva, tolerante a sombra que compõe o
estrato de sub-bosque, nativa e endêmica do Brasil e de grande abundância na Mata
Atlântica principalmente na região nordeste. Ela apresenta folhas opostas com
presença de ráfides, agulhas de oxalato de cálcio que diminui a herbivoria e apesar de
possuir hábito arbustivo, às vezes podem se apresentar como pequenas árvores, as
estípulas interpeciolares ou unidas em volta do caule são uma característica marcante
do gênero. A E. depauperata apresenta flores de corola branca e frutos verdes quando
imaturos e ao amadurecer possui um gradiente de coloração que vai do laranja ao
vermelho, sendo o fruto do tipo carnoso drupóide com dispersão por zoocoria (Camilo,
2021; Taylor, 2017).

Resultados e Discussões

A floração de Eumachia depauperata iniciou em meados de dezembro de 2022 e se


estendeu até março de 2023 sendo a maior atividade de botões registrada no final de
janeiro de 2023, e de floresem meados de dezembro, com mais 70% da população em
atividade indicandouma alta sincronia populacional (Figura 2). Provavelmente a
conversão de botões florais em flores é rápida e por isso pegamos o pico delas em
momentos diferentes no campo, em meados de dezembro registramos flores e
provavelmente perdemos a fase de botão, já em janeiro capturamos a fase de botão
perdendo as flores, isso pois a produção de botões e flores em cada indivíduo ocorre
diversas vezes ao longo de seu período de floração que se estendeu até março. Outras
quinzenas apresentaram aumento na produção de botões e flores mas de forma
menos sincrônica (Fig. 2).Para um registro mais preciso da floração desta espécie
recomendamos em trabalhos futuros com população de E. depauperata um intervalo
de dias menores entre as observações.
A fenofase de fruto imaturo decorreu a floração e teve sua alta atividade entre final de
janeiro e final de julho de 2023, onde mais de 50% dos indivíduos apresentaram frutos
imaturos, significando uma alta sincronia entre os indivíduos. Frutos maduros foram
encontrados a partir de abril de 2023 mas em maior intensidade entre junho e julho de
2023 quando cerca de 30% dos indivíduos manifestaram essa fenofase (Fig. 2) e as
observações cessaram, podendo essa fenofase provavelmente se estender por mais
tempo.

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eCICT 2023

A nossa hipótese inicial de que a precipitação é o mais confiável gatilho para


sincronização dos eventos reprodutivos nesta região não foi corroborada visto que o
fator que se correlacionou com a produção de botões florais foi o comprimento do dia
(Tabela 1). Assim, mesmo em regiões onde essa variável muda pouco ao longo do ano,
uma variação de cerca de 40 minutos nessa latitude, ainda é um bom preditor, sendo
as flores produzidas em maior intensidade nos dias mais longos do ano. Já a produção
de frutos maduros apresentou correlação negativa com temperatura e comprimento
do dia (Tabela 1), indicando que mais frutos são encontrados nos dias mais curtos (em
geral com menos de 12h) e menos quentes do ano (com menos de 26 graus Celsius)
nesta localidade.

Conclusão

A nossa hipótese inicial de que a precipitação é o mais confiável gatilho para


sincronização dos eventos reprodutivos nesta região não foi corroborada visto que o
fator que se correlacionou com a produção de botões florais foi o comprimento do dia
(Tabela 1). Assim, mesmo em regiões onde essa variável muda pouco ao longo do ano,
uma variação de cerca de 40 minutos nessa latitude, ainda é um bom preditor, sendo
as flores produzidas em maior intensidade nos dias mais longos do ano. Já a produção
de frutos maduros apresentou correlação negativa com temperatura e comprimento
do dia (Tabela 1), indicando que mais frutos são encontrados nos dias mais curtos (em
geral com menos de 12h) e menos quentes do ano (com menos de 26 graus Celsius)
nesta localidade.
Rudgeavellerea (Rubiaceae) também apresenta floração desencadeada por dias mais
longos, mas esta não parece ser uma regra em espécies de subbosque da família
Rubiaceae estudadas no sul do bioma (Martin-Gajardo e Morellato, 2013; Almeida e
Alves 2000, Andrade et al. 2020; Oliveira, 2008). A sincronia fenológica alta já foi
relatada em outras espécies de Rubiaceae. O período de floração e frutificação
sobrepõe com as datas de coletas nas respectivas fenofases em indivíduos ocorrentes
da Bahia ao Rio Grande do Norte (dados consultados na plataforma spLink, da base de
dados CRIA; disponível em: https://specieslink.net/search/)

Referências

Andrade, E. R. et al. Effects of habitat loss on taxonomic and phylogenetic diversity of


understory Rubiaceae in Atlantic forest landscapes. Forest Ecology and Management,

1849
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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Anexos

Figura 1. Estágios reprodutivos da Eumachia depauperata: (A) visão geral do arbusto;


(B) botão floral; (C) flor em antese; (D) fruto imaturo; (E) estágios de amadurecimento
e (F) fruto maduro. Fotos: João Câmara e Maria Luiza.

1851
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eCICT 2023

Figura 2. Atividade fenológica e dados de clima de Eumachia depauperata na Floresta


Nacional de Nísia Floresta/RN.

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eCICT 2023

Tabela 1. Correlação de Spearman (Rs) entre a porcentagem de indivíduos de


Eumachia depauperata em atividade e os dados climáticos de Nísia Floresta. Valor de
significância ajustado pela correção de Bonfenari (valor de p: * < 0,01; ** <0,001;
****<0,0000,

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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1520

AUTOR: LUKAS MIKAEL COUTO ARAÚJO

ORIENTADOR: GISLENE MARIA DA SILVA GANADE

TÍTULO: ESTUDOS FENOLÓGICOS DE 16 ESPÉCIES DA CAATINGA EM


UMA FLORESTA RESTAURADA COM DIFERENTES NÍVEIS DE
DIVERSIDADE

Resumo

As espécies facilitadoras tem se mostrado de grande ajuda para projetos de


restauração, principalmente em áreas estressantes. No presente estudo analisamos
dados coletados em monitoramentos anuais de 2017 a 2022, no projeto de
restauração BrazilDry, localizado na Floresta Nacional de Açu, Assu-RN. O Experimento
é composto por 155 parcelas, 8 x 13m cada, o correspondente a 3,3 hectares, e
submetidas a cinco níveis de diversidade: 01, 02, 04, 08 e 16 espécies, além de parcelas
controle. O estudo tem como objetivo principal testar se o potencial de facilitação
influencia o número de indivíduos reprodutivos de Mimosa tenuiflora nos primeiros
seis anos de restauração, assim responder: I - Quantos indivíduos de Mimosa
tenuiflora conseguiram reproduzir desde o início da restauração? II - Se há um efeito
da facilitação sobre a presença ou ausência de padrões de floração e frutificação.
Espera-se que parcelas com mais espécies facilitadoras terão árvores florindo mais
cedo e/ou com maior quantidade de indivíduos reprodutivos de Mimosa tenuiflora.
Para obter tais respostas, utilizamos Modelos Mistos Lineares Generalizados, sendo o
número de indivíduos reprodutivos por parcela a variável resposta (y) e o potencial de
facilitação (RII) variáveis explanatórias (x). As análises foram desenvolvidas no
Software R Studio, utilizando o pacote: LME4. Como resultado, observarmos um efeito
positivo da Facilitação sobre o período de floração. No entanto, não influenciou os
padrões de frutificação.

Palavras-chave: Restauração. Ecologia. Fenologia. Bioma Caatinga. GLMM

TITLE: Testing the effect of facilitation on the flowering and fruiting patterns of
Mimosa tenuiflora.

Abstract

1854
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eCICT 2023

In this study, we analyzed data collected in annual monitoring carried out from 2017 to
2022 in the BrazilDry restoration project, located in the Açu National Forest, Assu-RN.
The experiment consists of 155 plots, 8 x 13 m each, corresponding to 3.3 hectares,
and subjected to five levels of diversity: 01, 02, 04, 08 and 16 species, as well as control
plots. The study's main objective is to test whether the potential for facilitation
influences the number of reproductive individuals of Mimosa tenuiflora in the first six
years of ecological restoration, thus answering: I - How many individuals of Mimosa
tenuiflora have managed to reproduce since the beginning of restoration? II - Whether
there is an effect of facilitation on the presence or absence of flowering and fruiting
patterns. It is expected that plots with more facilitator species will have trees flowering
earlier and/or with a greater number of reproductive individuals of Mimosa tenuiflora.
To obtain these answers, we used Generalized Linear Mixed Models, with the number
of reproductive individuals per plot as the response variable (y) and the facilitation
potential (RII) as explanatory variables (x). The analyses were carried out in the R
Studio software, using the following packages: effects, tidyverse, RColorBrewer and
ggplot2. As a result, we can observe a positive effect of Facilitation on the flowering
period in the six years of restoration. However, facilitation did not influence fruiting
patterns.

Keywords: Restoration. Ecology. Phenology. Caatinga Biome. GLMM.

Introdução

Quando falamos em projetos de restauração nos referimos à restauração de áreas


degradadas e de seus serviços ecossistêmicos. Sabemos que hoje a restauração de
certos biomas como a Caatinga tem se mostrado extremamente difícil de ser
executada, principalmente por causa da exploração da vegetação para produção de
lenha, criação e pastagem de gado, efeito que causou uma grande degradação da
cobertura vegetal de modo que resta aproximadamente apenas 20% em bom estado
(Silva et al. 2004).
Desta forma, existem espécies, que por sua vez, são mais eficientes neste processo de
restauração. Algumas delas podem ser chamadas de plantas facilitadoras ou
enfermeiras como a Mimosa tenuiflora que é uma espécie nativa da Caatinga (Mello
2016).
A Mimosa tenuiflora além de ser uma planta facilitadora, ela contribui para a
biodiversidade de diferentes formas e níveis. Suas folhas, forragem e frutos secos
servem de alimento para diferentes animais principalmente no período seco (Camargo
2011). Ela também possui um maior período de floração predominante na estação

1855
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eCICT 2023

seca, que beneficia diferentes tipos de insetos como as abelhas, besouros, vespas e
outros (Maia-Silva).
As plantas facilitadoras possuem uma interação positiva com as plantas-alvo,
facilitadas, melhorando as condições abióticas, disponibilizando mais recursos para as
mesmas o que é de extrema importância em locais como a caatinga tendo em vista
que plantas facilitadoras muitas vezes trazem umidade, microorganismos e nutrientes
recursos que muitas vezes não estão presentes em solos secos (Paterno 2013; Mello
2016).
O presente estudo tem como objetivo principal Testar se o potencial de facilitação
influencia o número de indivíduos reprodutivos de Mimosa tenuiflora nos primeiros
seis anos de restauração ecológica, assim responder: I - Quantos indivíduos de Mimosa
tenuiflora conseguiram reproduzir desde o início da restauração? II - Se há um efeito
da facilitação sobre a presença ou ausência de padrões de floração e frutificação.
Espera-se que parcelas com mais espécies facilitadoras terão árvores florindo mais
cedo e/ou com maior quantidade de indivíduos reprodutivos de Mimosa tenuiflora,
nos primeiros seis anos de restauração.

Metodologia

Área de estudo
O estudo foi realizado na Floresta Nacional de Açu, Assu-RN, Brasil (5º 32’ 20’’ S e a
36º 57’ 49’’ O), administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade - ICMBio. O clima local é semiárido com precipitação anual que varia
entre 400 e 600mm e temperatura média de 28ºC (ALVAREZ et al., 2013).
Espécie em estudo
A Mimosa tenuiflora, mais conhecida como Jurema-preta, pertence à família Fabaceae.
Apesar de ser uma espécie não endêmica do Brasil, possui ampla ocorrência no Bioma
Caatinga, sendo comum em regiões caracterizadas por secas periódicas. Pode ser
encontrada do Nordeste brasileiro até o Estado de Minas Gerais e Pará, assim como,
em outros países, como Colômbia, El Salvador, Honduras, México e Venezuela. (Flora
do Brasil, 2023) É uma espécie arbórea, de comportamento semidecíduo de mudança
foliar. As árvores maiores atingem cerca de 7 m de altura e 30 cm de DAP (diâmetro à
altura do peito, medido a 1,30 m do solo), na idade adulta. O tronco é reto a
levemente inclinado, com acúleos esparsos. A ramificação é abundante e, em
indivíduos normais, de crescimento sem perturbação, acima da meia-altura. Os ramos
apresentam coloração castanho-avermelhada e são esparsamente aculeados. A casca
mede até 5 mm de espessura, sendo a casca externa ou ritidoma, castanhoescura (às

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eCICT 2023

vezes acinzentada), grosseira, rugosa e fendida longitudinalmente, enquanto a casca


interna é vermelho escuro. Sua folhas são compostas, alternas, bipinadas, com 4 a 7
pares de pinas, medindo de 2 cm a 4 cm de comprimento. Suas inflorescências
apresentam-se em espigas isoladas, com flores brancas, muito pequenas e com cheiro
característico. O Fruto é uma vagem pequena, tardiamente deiscente, pluriarticulada.
(CARVALHO P.E.R, 2010) Quando madura, a casca é muito fina e quebradiça, podendo
conter de 4 a 6 sementes pequenas, de forma oval, achatadas e de coloração
castanho-clara. Sua floração ocorre de julho a fevereiro, em Pernambuco (LIMA, 1996;
SILVA; SALES, 2008) e de setembro a janeiro, no Ceará (MAIA, 2004). A dispersão de
frutos e sementes é autocórica, principalmente barocórica (por gravidade).
Delineamento experimental
O experimento BrazilDry, de Restauração da Caatinga, é composto por 16 espécies
arbóreas da Caatinga, dispostas em 155 parcelas de 104 m² cada (8 x 13 m), o total de
3,3 hectares. Cada parcela possui 32 indivíduos, dispostos em cinco níveis de riqueza:
01, 02, 04, 08 e 16 espécies, além de parcelas controle.
Análise de dados de Monitoramento Anual
Para testar se o potencial de facilitação influencia o número de indivíduos reprodutivos
de Mimosa tenuiflora nos primeiros seis anos de restauração utilizaremos dados
coletados em monitoramentos realizados no BrazilDry, dos anos 2017, 2018, 2019 e
2022. A partir desses dados identificamos quais indivíduos de Mimosa tenuiflora
atingiram a idade reprodutiva ou se estes reproduziram mais cedo em virtude do
efeito da facilitação.
Potencial de Facilitação (RII) - Relative Intensity Index
Para medir o efeito da facilitação utilizamos o RII, este índice mede a intensidade
relativa da interação entre pares de plantas, desenvolvido por Armas (2004): RII = Bw-
Bo/Bw + Bo. Em que Bw: representa a performance da planta-alvo junto a planta
enfermeira e Bo: representa performance de outro indivíduo, da mesma espécie, sem
a presença de nenhuma planta vizinha. Esse índice varia entre -1 e 1, onde valores
maiores que zero representam facilitação e menores que zero representam
competição (Armas et al., 2004).
Neste trabalho, foi utilizada a média ponderada dos valores de RII para medidas de
performance de espécies facilitadoras a partir do experimento realizado por (Fagundes
et al 2018). A partir destas médias, fizemos um ranking das espécies mais e menos
facilitadoras do experimento BrazilDry (Fagundes et al., 2018). Para calcular o
potencial de facilitação da comunidade, que é a unidade amostral deste trabalho,
calculamos a média ponderada do valor de facilitação de cada espécie, considerando o
número de indivíduos presentes em cada plot.

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eCICT 2023

Análises estatísticas
Para testar se o potencial de facilitação influenciou o número de indivíduos
reprodutivos de Mimosa tenuiflora, nos primeiros seis anos de restauração, utilizamos
Modelos Lineares Mistos Generalizados, sendo o número de indivíduos reprodutivos
por parcela a variável resposta (y) e potencial de facilitação (RII) variáveis explanatórias
(x). As análises foram desenvolvidas no Software R Studio, utilizando os pacotes:
effects, tidyverse, RColorBrewer e ggplot2.

Resultados e Discussões

Obtivemos como resultado a correspondente a 236 indivíduos de Mimosa tenuiflora,


florindo e 61, frutificando (Tabela 1). A facilitação influenciou somente o floração,
entre os anos de 2016 a 2022. (Figura 1, Tabela 2). Não tendo nenhum efeito quanto à
frutificação, (Tabela 3). Fizemos as análises para as 16 espécies que compõem o
Experimento, no entanto, para este trabalho, destacou-se somente a espécie Mimosa
tenuiflora, representada por (Mim.Ten) como objeto de estudo.
DISCUSSÃO
Uma das consequências da facilitação sobre as plantas ao seu redor pode ter sido, em
grande parte, uma maior disponibilidade dos recursos abióticos tais como, água,
sombreamento, materiais físico-químicos do solo, e pode ter melhorado também a
associação com microorganismos já que a facilitação pode melhorar o micro clima do
entorno. Desta forma as plantas facilitadas com esta maior disponibilidade de recursos
podem investir em uma maior produção de recursos florais. Podemos observar
também que a facilitação não teve efeito sobre a frutificação como vemos na (Tabela
2).

Conclusão

Conclui-se que, para a Mimosa tenuiflora, mesmo a facilitação não apresentando


efeito sobre a frutificação, a facilitação teve grande importância sobre suas
características florísticas reprodutivas. No contexto de uma espécie da Caatinga, sob
seca sazonal, a facilitação proporciona uma melhor distribuição de recursos e
condições favoráveis, como água e nutrientes para as plantas vizinhas, proporcionando
o investimento em recursos florais para a reprodução.

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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Referências

REFERÊNCIAS
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eCICT 2023

p. 435-448, 2008.

Anexos

Figura 1 - Efeito da facilitação sobre os padrões de floração. Eixo y, quantidade de


espécies florindo e no eixo x, a facilitação.

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eCICT 2023

Figura 2 - As barras representam o número de indivíduos, por espécie, que floresceram


nos anos de 2016 2022, a segunda barra corresponde a Mimosa tenuiflora, Jurema-
preta.

Figura 3 – As barras representam o número de indivíduos, por espécie, que


frutificaram nos anos de 2016 a 2022, a segunda barra corresponde a Mimosa
tenuiflora, Jurema-preta.

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Tabela 1. Quantidade de indivíduos florindo e frutificando no Experimento BrazilDry,


entre os anos de 2016 a 2022. (MATERIAL SUPLEMENTAR) segunda barra corresponde
a Mimosa tenuiflora

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Tabela 2 - A tabela demonstra o efeito da facilitação sobre a floração das 16 espécies


da Caatinga, que compõem o Experimento BrazilDry. Graus de Liberdade: Total 146;
Residual: 144.*

Tabela 3 – A tabela demonstra que não houve efeito da facilitação sobre a frutificação
das 16 espécies da Caatinga, que compõem o Experimento BrazilDry.

1863
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB1545

AUTOR: TAINA MACEDO DE ANDRADE

ORIENTADOR: JULIANA ESPADA LICHSTON

TÍTULO: Germinação de canola sob estresses abióticos

Resumo

A canola (Brassica napus L. var. oleifera) destaca-se como a terceira oleaginosa mais
produzida mundialmente. Ela vem se apresentando como uma possibilidade de
importância socioeconômica para as regiões áridas e semiáridas do nordeste brasileiro.
Nestas regiões, os estresses abióticos, como as altas temperaturas e o déficit hídrico,
são fatores que influenciam desenvolvimento de espécies vegetais. Estes estresses
podem impactar negativamente a agricultura e consequentemente as condições
socioeconômicas da população que vive nessas regiões. Dentro desse cenário, o cultivo
de espécies que possuam valor econômico e que sejam adaptadas a essas condições
edafoclimáticas, constitui-se uma alternativa de grande importância. O presente
trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do déficit hídrico e da temperatura sobre
a germinação de quatro cultivares de canola, visando selecionar a mais adaptada a tais
condições presentes em regiões áridas e semiáridas. A pesquisa visa contribuir para a
introdução da canola no semiárido nordestino. Para atingir os objetivos, experimentos
de germinação em rolo foram realizados com as sementes das cultivares de canola:
Diamond, Hyola 575, Nuola 300 e Hyola 433, em três temperaturas diferentes, onde
cada cultivar estudada foi submetida a quatro tratamentos hídricos (100%, 75%, 50% e
25%). As sementes das quatro cultivares de canola responderam de forma diferenciada
aos estresses relacionados ao déficit hídrico e a temperaturas sendo espécie dependen

Palavras-chave: Brassica napus L.; Semiárido; Germinação; Déficit Hídrico;


Estresse T

TITLE: Canola germination under abiotic stresses

Abstract

1864
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eCICT 2023

Canola (Brassica napus L.) stands out as the third most produced oilseed in the world.
It has been presenting itself as a possibility of socioeconomic importance for the arid
and semi-arid regions of northeastern Brazil. In these regions, abiotic stresses, such as
high temperatures and water deficit, are factors that influence the life of many plant
species. These stresses can negatively impact agriculture and consequently the
socioeconomic conditions of the population living in these regions. Within this
scenario, the cultivation of species that have economic value and that are adapted to
these edaphoclimatic conditions constitutes an alternative of great importance. This
work aimed to evaluate the effect of water deficit and temperature on the germination
of four canola cultivars, aiming to select the most adapted to such conditions present
in arid and semi-arid regions. This research aims to contribute to a future introduction
of canola in the northeastern semi-arid region. To achieve the objectives, experiments
of germination in a roller were carried out with the seeds of the canola cultivars
(Brassica napus L.): Diamond, Hyola 575, Nuola 300 and Hyola 433, in three different
temperatures, where each cultivar studied presented 4 water treatments (100%, 75%,
50% and 25%). The seeds of the four canola cultivars responded differently to stresses
related to water deficit and temperatures, being species dependent. Results showed
that Diamond and Hyola 575 are potential culti

Keywords: Brassica napus L.; semiarid; Germination; Water Deficit; Thermal


Stres

Introdução

A canola (Brassica napus L. var. oleifera) é uma oleaginosa desenvolvida a partir do


melhoramento genético através da hibridação de duas espécies da colza: Brassica
oleraceae e Brassica rapa. CANOLA é uma sigla para CANadian Oil Low Acid, por
possuir teor de ácido erúcico inferior a 2% no óleo e concentração de glucosinolatos
menor que 30 μmols por grama de matéria seca dos grãos. Pertencente à família
Brassicaceae (crucíferas) e ao gênero Brassica (FIGUEIREDO et al., 2003), essa cultura
vem se apresentando como uma possibilidade econômica, destacando-se como a
terceira oleaginosa mais produzida mundialmente (USDA). Uma das causas de sua
expansão se deve à qualidade e conteúdo de óleo dos grãos (34% a 38%),
representando aproximadamente 15% da produção mundial de óleo vegetal para fins
de consumo (TOMM et. al., 2007). É recomendado para o consumo humano devido ao
benefício nutricional, por apresentar uma alta concentração de ácidos graxos
essenciais, como ômega-3 e vitamina E, além de baixo teor de gorduras saturadas
(MELGAREJO et al., 2014; TOMM et al., 2009). O óleo de canola também é utilizado na
produção de biodiesel, em decorrência da sua elevada eficiência energética (ARAUJO
et. al, 2021). Ao mesmo tempo, por possuir um elevado teor proteico (24% a 27%), a

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eCICT 2023

canola pode compor ração animal, podendo ainda ser utilizada como cultura de
rotação e recuperação dos solos.
Originalmente de regiões mais frias, ela tem como principais produtores mundiais a
União Europeia, Canadá e China (USDA, 2019). Já no Brasil, ela começou a ser cultivada
na região Sul na década de 70, apresentando 93,6% de sua produção no Rio Grande do
Sul e Paraná (SANCHES et al., 2014). Posteriormente, pesquisas começaram a ser
desenvolvidas para o cultivo da canola em regiões mais quentes, podendo ser
subdividida em: cultura de inverno e verão, sendo a de inverno predominantemente
utilizada na Europa. No Brasil, diversos estudos foram e estão sendo realizados com a
canola de primavera, para o cultivo em outras regiões, incluindo o Centro-Oeste e
Nordeste. Estudo realizado na Paraíba, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (2008), confirmou a adaptação de alguns dos nove cultivares
pesquisados, reforçando a relevância da introdução da canola, bem como a
importância da consolidação da tropicalização da mesma (GUIMARÃES et. al., 2019). A
canola, portanto, com todo o seu potencial, se apresenta como uma possibilidade
promissora para o cultivo no semiárido nordestino.
O semiárido é um clima caracterizado pelo baixo índice pluviométrico, altas
temperaturas, solo pobre em nutrientes, com altas concentrações em sais, baixa
umidade, baixa amplitude térmica e chuvas concentradas em determinadas épocas do
ano. A aferição dos climas é feita pelo índice de aridez (IA) desenvolvido por
Thornthwaite (1948) e mede a relação entre a precipitação de chuvas e a
evapotranspiração total de uma certa região (SANTOS & LEMOS, 2018). No mundo,
mais de 43% das áreas cultiváveis estão em regiões consideradas áridas e semiáridas
(CHERLET et al., 2018). No Brasil, de acordo com a nova delimitação do Semiárido
(SUDENE, 2021), a região semiárida brasileira, localizada predominantemente na
região Nordeste, possui atualmente uma área de 1.322.680,27 Km2 , abrangendo
1.427 municípios, com população estimada em 31,7 milhões de pessoas. Anualmente,
milhares de hectares de terras degradadas são abandonadas devido ao processo
natural de desertificação que ocorre nessas regiões. Nesse tipo de clima, estresses
abióticos como as altas temperaturas e o déficit hídrico, além de afetarem todo o ciclo
fenológico do vegetal, incluindo desde a germinação até o desenvolvimento vegetativo
das culturas, impactam negativamente na agricultura e consequentemente nas
condições socioeconômicos da população que vive nessas regiões. Dentro desse
cenário, o cultivo de espécies que possuam valor econômico e que sejam adaptadas a
essas condições constituem uma alternativa mitigar impactos.

Metodologia

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eCICT 2023

As sementes de canola , das cultivares Diamond, Hyola 575, Nuola 300 e Hyola 433
utilizadas neste trabalho, foram doadas pela Embrapa Agroenergia e refrigeradas por 3
meses até o início dos experimentos. Os experimentos de germinação foram realizados
durante os meses de fevereiro, março e abril de 2023 no Laboratório de Investigação
de Matrizes Vegetais Energéticas (LIMVE), Departamento de Botânica e Zoologia
(DBEZ), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal – RN (UFRN).
A germinação das sementes das quatro cultivares citadas anteriormente foi conduzida
em sistema de rolo, seguindo o procedimento descrito por Vieira & Carvalho (1994).
Para tanto, as sementes foram selecionadas e desinfestadas com hipoclorito de sódio
(NaClO) 1,25% (m/v) por 3 minutos em movimento constante e circular, e enxaguadas
com água destilada por três vezes, um minuto cada, também em movimento circular
constante. Em seguida permaneceram em embebição em água destilada durante
quatro horas. Posteriormente, as sementes foram distribuídas horizontalmente entre
duas folhas de papel toalha (Germitest® - 280 x 380 mm) em duas fileiras, totalizando
25 sementes sendo este sistema denominado rolo. Assim foram constituídos grupos de
4 rolos, unidos por outra folha de papel Germitest para formar o que foi chamado de
tubete. Os tubetes foram armazenados dentro de sacos plásticos de polietileno de
baixa densidade, previamente desinfestados com álcool 70%, lacrados com elásticos,
colocados em beckers e armazenados em câmara germinadora do tipo BOD modelo
SSGF-210L com fotoperíodo de 12 horas claro e 12 horas escuro, com os diferentes
tratamentos que foram aplicados.
Nas temperaturas analisadas (25 °C, 30 °C e 35 °C) cada cultivar em questão
apresentou quatro tubetes (100%, 75%, 50% e 25% de água destilada). O volume de
água utilizado no tratamento de 100% corresponde a 2,5 vezes o peso do papel
(massa), indicação de umedecimento do papel contido no manual da regra de analise
de sementes RAS de 2009 e os demais tratamentos foram proporcionais a este
parâmetro estabelecido. O mesmo experimento foi repetido nas três temperaturas
escolhidas para o estudo: 25°C, 30°C e 35°C (em temperatura controlada na câmara de
germinação. Após oito dias de incubação, foram contabilizadas as porcentagens de
sementes germinadas total e por dia, aferindo-se a taxa de germinação (TG) e o tempo
médio de germinação (TMG). A contagem das sementes germinadas foi realizada
diariamente, a partir do 2º dia de semeio, sendo considerada germinada a semente
que apresentou ruptura de tegumento e aparecimento da radícula. A percentagem de
germinação foi calculada por meio da fórmula: G = (∑ni . N-1 ) . 100 Onde: ∑ni é o
número total de sementes germinadas em relação ao número de sementes colocadas
para germinar (BORGHETTI & FERREIRA, 2004). O Tempo Médio de Germinação (TMG)
que foi obtido a partir da fórmula: TMG = (N1G1+N2G2+...+NnGn)/ (G1+G2+...+Gn)
Onde: G1,G2,...Gn é o número de sementes germinadas no dia da observação; N1,
N2,..., Nn é o número de dias de observação (LABOURIAU, 1983). O experimento foi
conduzido em delineamento inteiramente casualizado, com esquema multifatorial de

1867
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4 (quatro) tubetes de déficit hídrico (100%; 75%; 50%; 25%) X 3 (três) temperaturas (25
ºC; 30 ºC; 35 ºC) x 4 (quatro) repetições por tubete (rolo). Cada repetição consistiu de
quatro rolos contendo 25 sementes/rolo. 18 Todas as informações foram tabuladas e
em seguida colocadas no programa RStudio e Rproject seguindo uma ANOVA a dois
fatores.

Resultados e Discussões

A germinação é a primeira etapa no desenvolvimento vegetal, sendo definida como a


protrusão de uma das partes do embrião acrescida de algum sinal de crescimento do
vegetal (BORGHETTI & FERREIRA, 2004). Segundo BERLYN (1972), a germinação é uma
sequência de eventos morfogenéticos que resultam na transformação do embrião em
plântula. Diversos estresses ambientais, dentre eles, o déficit hídrico, provocam
potenciais hídricos muito negativos que, segundo Torres et al. (1999), impedem a
absorção de água, inviabilizando a sequência da germinação. Outro estresse abiótico
extremamente danoso é o calor, pois potencializa os danos causados pelo déficit
hídrico, provocando danos ao citoesqueleto, e reduzindo a eficiência enzimática
causando um desbalanceamento metabólico (TAIZ e ZEIGER, 2013). Os efeitos do
déficit hídrico (seca) e de elevadas temperaturas (calor), foram avaliados durante a
germinação de 4 cultivares de canola. O déficit hídrico simulado pelo grau de saturação
(%) da água no substrato (papel germitest) e o calor, simulado por temperaturas
elevadas (30 ºC e 35 ºC), afetam a germinação das sementes das 4 cultivares de canola
para as seguintes variáveis: taxa de germinação (TG) e tempo médio de germinação
(TMG).

1) Tratamento 100% de água


Neste tratamento, as sementes foram expostas à um provimento hídrico constante,
onde não configurou estresse hídrico. Em relação a taxa de germinação (TG),
observou-se que nas condições de 100% saturação em água (controle) e sob
temperatura de 25oC, as taxas de germinação das sementes das cultivares Diamond,
Hyola 575 e Nuola 300 atingiram níveis superiores a 95%, enquanto que a cultivar 19
Hyola 433 apresentou uma TG de 86%. Observou-se que mesmo em situações
favoráveis (100% saturação de água à 25ºC), as cultivares responderam de forma
diferenciada quanto à taxa de germinação. Considerando ainda as sementes das 4
cultivares em 100% de água, a taxa de germinação diminuiu com aumento da
temperatura, notadamente nas cultivares Hyola 433 e Nuola 300 e de forma menos
expressiva nas cultivares Diamond e Hyola 575. Em condições de suprimento hídrico
máximo e com o aumento da temperatura, verificou-se que houve um decréscimo
significativo das TG da cultivar Hyola 433, enquanto que em 30 oC a TG foi de 60% em

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35 oC a TG caiu vertiginosamente para 30%. Na cultivar Nuola 300 a TG foi de 70% em


35 oC. Já nas cultivares Diamond e Hyola 575 as TG se mantiveram superiores a 90%,
tanto sob 30 ºC quanto 35 ºC. Pôde-se observar, o efeito da temperatura na taxa de
germinação da canola e que a resposta ao referido estresse é cultivar dependente. Em
situações de disponibilidade de água 100%, a germinação das sementes das cultivares
Diamond e Hyola 575 não sofreu efeito significativo no aumento de temperatura,
enquanto que as cultivares Nuola 300 e a Hyola 433 apresentaram-se sensíveis à
elevação de desta. No tratamento 100% de água, independente da temperatura, a
Diamond e Hyola 575 apresentaram as maiores taxas de germinação se comparado
com as demais cultivares. Em qualquer temperatura no quesito taxa de germinação, as
duas foram muito semelhantes. Resultados obtidos com outras espécies reforçam que
temperaturas elevadas interferem na germinação (CARVALHO et al, 2017). Esse fato
ocorre, provavelmente por afetar o metabolismo enzimático durante o processo
(OLIVEIRA, 2015).

2) Tratamento 75% de água


Em relação a taxa de germinação (TG), observou-se que na presença de 75% saturação
em água sob temperatura de 25 oC, as taxas de germinação das sementes das
cultivares Diamond, Hyola 575 e Nuola 300 atingiram níveis superiores a 95%,
enquanto que a cultivar Hyola 433 apresentou uma TG de 84%. Portanto, verificou-se
que mesmo em situações favoráveis de temperatura (25 ºC) mas em 75% de água,
novamente houve uma resposta diferenciada em relação às cultivares. Sendo a cultivar
Hyola 433 a mais sensível. Considerando ainda a TG das sementes das 4 cultivares, é
visto que em 75% de água, a taxa de germinação diminuiu com aumento da
temperatura, notadamente na cultivar Hyola 433. Ainda no mesmo suprimento
hídrico, com o aumento da temperatura observou-se que houve um decréscimo
significativo das TG da cultivar Hyola 433, enquanto que em 30 oC a TG foi de 62%, em
35 oC a TG caiu vertiginosamente para 21%. Na cultivar Nuola 300 a TG foi de 86% em
35 oC. Já nas cultivares Diamond e Hyola 575 as taxas de germinação se mantiveram
superiores a 90% tanto em presença de 30 ºC como 35 ºC. Pode-se observar aqui o
efeito da temperatura e da seca na germinação de canola e que a resposta aos
referidos estresses é cultivar dependente. Em situações de 75% de água, a germinação
das sementes das cultivares Diamond e Hyola 575 não sofreu efeito significativo de
aumento de temperatura, enquanto que as cultivares Hyola 433 e Nuola 300
apresentaram-se sensíveis à elevação de temperatura. Embora a Nuola 300
apresentou-se menos sensível quando comparada a Hyola 433. Com relação ao déficit
hídrico, diversos autores relatam que o estresse hídrico provoca nas sementes uma
seca fisiológica, causada pelo baixo potencial osmótico (ULISSES et al., 2000; ZHU,
2001; FLEXAS et al. 2004; ASHRAF & FOOLAD, 2007), o que dificulta a absorção de água
pelas sementes e, consequentemente, retarda os processos germinativos (FANTIN et

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al., 2004). Como discutido nos parágrafos anteriores, a temperatura pode afetar o
metabolismo enzimático durante o processo germinativo.

3) Tratamento 50% de água


Em relação a taxa de germinação (TG), notou-se que em 50% de água sob temperatura
25o C, a taxa de germinação das sementes da cultivar Diamond, sofreu maior redução,
atingindo 80%, enquanto as cultivares Hyola 575 e Nuola 300 apresentaram TG de 99%
e a Hyola 433 obteve uma taxa de germinação de 89%. Portanto, mesmo em situações
favoráveis sob temperatura de 25 ºC, mas em 50% de água, as respostas das cultivares
são distintas. Considerando ainda as TG das sementes das quatro cultivares na
presença 50% saturação em água, e submetidas a temperaturas elevadas, verificou-se
que a taxa de germinação aumentou consideravelmente, na cultivar Diamond, em
ambas temperaturas (30 ºC e 35 ºC) quando comparadas a temperatura de 25 ºC,
atingindo porcentagens superiores a 90%, enquanto as cultivares Hyola 575 e Nuola
300 mantiveram suas TG’s acima de 90% na temperatura de 30 ºC, sem maiores
variações em presença de 35 ºC. Em situação de déficit hídrico acentuado, com o
aumento da temperatura para 35 ºC, é possível notar que houve uma diminuição
significativa na TG da cultivar Nuola 300, atingindo 45%. Observou-se que na condição
hídrica de 50% de água e temperatura de 25 ºC, a cultivar Diamond apresentou-se
mais sensível em relação às demais cultivares mostrando, portanto, um efeito cultivar-
dependente. Mas, a Hyola 433 foi a mais afetada quando verificado os efeitos dos
estresses combinados (50% de água e temperatura 35 ºC).

4) Tratamento 25% de água 25


Em relação a taxa de germinação (TG), constatou-se que em 25% de água, mesmo em
temperatura favorável, sob 25º C, houve uma diminuição significativa na taxa de
germinação das cultivares Diamond e Nuola 300, ambas com TG abaixo de 75%,
diferentemente da cultivar Hyola 575, que apresentou TG de 99% nas mesmas
condições e da Hyola 433 com TG de 87%. Considerando ainda as TG das sementes das
quatro cultivares em 25% de água e em presença de temperaturas elevadas (30 ºC e
35 ºC), a taxa de germinação da cultivar Hyola 433 diminuiu drasticamente passando
de 87% em 25 oC, para 42% em 30 oC, e mantendo-se em 52% em 35 ºC. Já as
cultivares Diamond e Nuola 300 apresentaram um aumento nas TG com a elevação da
temperatura para 30 oC, ambas com suas taxas de germinação acima de 95%.
Entretanto, em 35o C, as taxas de germinação das cultivares Diamond e Nuola 300
diminuíram para 83% e 84% respetivamente. A partir dos resultados obtidos, é possível
perceber que existe um efeito cultivar-dependente à mudança de temperatura e
déficit hídrico, havendo assim, respostas diferenciadas para cada cultivar. Todavia,
desde o início, mesmo em condições favoráveis, a cultivar Hyola 433 se mostrou
menos tolerante ao estresse térmico e combinado. É possível que nessas condições

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(controle 100% saturação de água e 25º C), já existem diferenças genotípicas e


fisiológicas entre as cultivares ou ainda a viabilidade do lote das sementes da cultivar
Hyola 433 possa ter sido afetada. Não se sabe o motivo ao certo, mas é possível
perceber que a Hyola 433 foi mais sensível a variáveis de estresses hídrico e calor. Já a
Hyola 575 apresentou menos variações, inclusive em condições mais severas (menor
concentração de água e maior temperatura).

1) Tratamento 100% de água


Em relação ao tempo médio de germinação (TMG), observou-se que em 100%
saturação em água (controle) e sob temperatura de 25 oC, as sementes das cultivares
Hyola 575 e Diamond, levaram respectivamente em média 1,04 e 1,64 dias para
germinarem, enquanto que a Nuola 300 levou em média 1,85 dias. Já a cultivar Hyola
433 foi a que mais demorou a germinar levando em média 3,4 dias. Aqui, notou-se que
mesmo em situações favoráveis para a germinação (100% saturação de água e 25 ºC),
as cultivares responderam de forma diferenciada, apontando a existência de
diferenças genotípicas entre as cultivares estudadas quanto aos parâmetros
relacionados a geminação, neste caso específico o TMG. Comparando o Tempo médio
de germinação (TMG), em 100% de água (controle) e em temperaturas elevadas (30 °C
e 35 oC) as sementes das cultivares Diamond, Nuola 300 e Hyola 433, anteciparam
seus respectivos TMGs em média 9 horas em relação aos tratamentos controle (100%
saturação de água e 25 ºC). Enquanto a Hyola 575 manteve seu TMG inalterado. Aqui,
observou-se um efeito positivo do tratamento de 30 ºC no TMG de 3 cultivares. Na
presença de 35 ºC, as 4 cultivares tiveram seus TMGs aumentados em relação à
temperatura controle (25 ºC), retardando assim o tempo de germinação. Entretanto, a
Hyola 575 manteve um menor TMG de 1,24 dias.

2) Tratamento 75% de água Em relação ao tempo médio de germinação (TMG),


observou-se que em 75% de água e sob temperatura de 25oC, as sementes das
cultivares Hyola 433 e Diamond, levaram mais tempo para germinar que as cultivares
Nuola 300 e Hyola 575. Enquanto as primeiras levaram respectivamente e em média
3,18 e 3,34 dias para germinarem, as duas últimas levaram respectivamente e em
média 2,47 e 1,14 dias. Aqui, observou-se que mesmo em presença de 75% de
saturação em água, a cultivar Hyola 575 foi a que germinou mais rápido em relação às
demais. Novamente constatou-se que as cultivares respondem de forma diferenciada,
quanto aos parâmetros relacionados a geminação, neste caso específico o TMG.
Considerando o tempo médio de germinação (TMG), em 75% de água e em
temperaturas elevadas (30 oC e 35 oC) verificou-se que em temperaturas de 30 ºC, as
sementes das cultivares Diamond e Nuola 300, anteciparam seus respectivos TMGs em
mais de 15 horas em relação aos tratamentos (75% saturação de água e 25 ºC).
Enquanto a Hyola 575 manteve seu TMG praticamente inalterado e a Hyola 433

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retardou a germinação de suas sementes de aproximadamente 24 horas quando


comparada aos tratamentos (75% saturação de água e 25ºC). Aqui, novamente
observou-se um efeito positivo do tratamento de 30 ºC no TMG das cultivares
Diamond e Nuola 300. Em presença de 35 ºC, Diamond e Nuola 300 tiveram seus
respectivos TMGs menores que os observados em relação à temperatura controle (25
ºC); a Hyola 575 manteve seu TMG praticamente inalterado e a Hyola 433 retardou a
germinação de suas sementes de aproximadamente 24 horas quando comparada ao
TMG obtido na temperatura controle (25ºC).

3) Tratamento 50% de água


Em relação ao tempo médio de germinação (TMG), observou-se que em 50% de água e
sob temperatura de 25oC, as sementes das cultivares Hyola 575 e Nuola 300, levaram
em média 1,48 e 2,86 dias, respectivamente, para germinar. A Hyola 433 apresentou
TMG de 3,77 dias, a cultivar Diamond, levou em média 6,01 dias para germinar,
demorando mais tempo que as outras e indicando também um aumento importante
em comparação com seu TMG na mesma temperatura, porém, em ausência de seca.
Aqui, notou-se que mesmo em situação de temperatura favorável para a germinação
(25 ºC), as cultivares respondem de forma diferenciada. Considerando o tempo médio
de germinação (TMG), em 50% de água em 30 ºC, as sementes das cultivares Diamond,
Nuola 300 e Hyola 433, anteciparam seus TMGs em média 4,68 dias, 1,26 dias e 0,35
dia (8,4 horas) respectivamente em relação à temperatura 25ºC. Enquanto a Hyola 575
retardou em 0,59 dia (14,16 horas) o seu TMG. Aqui, observou-se um efeito positivo
do tratamento de 30 ºC no TMG das 3 primeiras cultivares. Contudo, em presença de
35 ºC, as mesmas cultivares tiveram seus TMGs aumentados em 11,28 horas, 23,28
horas e 23,76 horas respectivamente, se comparado com a temperatura de 30 ºC,
retardando assim o tempo de germinação. Pode-se perceber uma tendência de
aumento do TMG em condições de temperatura de 25 ºC, quando há déficit hídrico e
posterior diminuição em 30°C nas mesmas condições de saturação (% de água),
principalmente nas cultivares Diamond, Nuola 300 e Hyola 433.

4) Tratamento 25% de água


Em relação ao tempo médio de germinação (TMG), observou-se que em 25% de água e
sob temperatura de 25 oC, as sementes das cultivares Diamond, Nuola 300 e Hyola
433 apresentaram TMG de 7,55 dias, 6,68 dias e 4,78 dias respectivamente. Já a Hyola
575 levou em média 4,4 dias para germinar. Considerando o tempo médio de
germinação (TMG), em 25% de água e em temperatura de 30 ºC, observou-se que as
cultivares Diamond, Hyola 575 e Nuola 300 reduziram intensamente seus TMGs 5,8
dias, 22,56 horas e 5,01 dias respectivamente. Posteriormente, quando expostas a 35
ºC, as cultivares Diamond e Nuola 300 aumentaram seus TMGs se comparados com as
respostas obtidas em 30 ºC no mesmo déficit hídrico, contudo, mesmo com esse

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aumento, ainda permaneceram com seus TMGs abaixo dos obtidos em temperatura
de 25 ºC. cultivar Hyola 575 reduziu ainda mais o seu TMG em condições de 25% de
água e temperatura de 35 ºC. Já a cultivar Hyola 433 demonstrou sensibilidade na
temperatura de 30 ºC, passando a germinar em 6,6 dias, entretanto, em 35 ºC, seu
TMG reduziu 9,84 horas em comparação com a temperatura. Com os resultados
observados, foi possível perceber que em condições de maior seca, dentro dos
parâmetros estabelecidos, ficou evidente que o déficit hídrico intensifica o aumento
do TMG em todas as cultivares quando em 25 oC. Além disso, o aumento de
temperatura se mostrou um estímulo positivo nas cultivares Diamond, Hyola 575 e
Nuola 300, reduzindo o tempo médio de germinação.

Conclusão

Considerando as condições estabelecidas para a realização do experimento, as


sementes das quatro cultivares de canola (Brassica napus L.) responderam de forma
diferenciada aos estresses hídrico e térmico. As taxas de germinação e o tempo médio
de germinação são afetadas pela intensidade dos estresses abióticos aplicados.
Enquanto as cultivares Diamond e Hyola 575 apresentaram maior tolerância à seca e
ao calor (sendo a segunda mais estável), a Nuola 300 se mostrou com tolerância
intermediária e a Hyola 433 foi a mais sensível. Portanto, pode-se inferir que o cultivo
de canola é uma possível e promissora alternativa para o semiárido nordestino, pois
apesar de haver diferenças entre as cultivares, observou-se tolerância aos estresses
abióticos.

Referências

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1874
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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1553

AUTOR: GUSTAVO HENRIQUE DA COSTA DANTAS

COAUTOR: DOROTH MIRANDA ALMEIDA SILVA

COAUTOR: INGRID ELAINE RODRIGUES DOMINGOS

ORIENTADOR: KEMAL ALI GER

TÍTULO: Efeito da Salinidade na sobrevivência de Copépodes do gênero


Notodiáptomus.

Resumo

A salinização é um processo natural que ocorre em ecossistemas aquáticos de água


doce. Consiste no aumento da concentração de sais dissolvidos na água. As mudanças
climáticas, juntamente com ações antrópicas, são responsáveis por intensificar cada
vez mais esse processo. Mudanças em fatores abióticos como a salinidade da água
afetam negativamente a biota existente naquele local. Os cópepodes fazem parte do
zooplâncton e desempenham papel fundamental na cadeia alimentar dos corpos de
água doce. Esse trabalho tem como objetivo avaliar a sobrevivência de copépodes do
gênero Notodiaptomus quando expostos a um aumento gradual de salinidade. Para
isso, foi realizado um experimento utilizando 6 tratamentos que foram de 0g/L a 0.9g/L
de NaCl. Cada tratamento teve 2 réplicas por sexo que foram analisados após 24h e
48h para verificar a sobrevivência dos indivíduos. O aumento da salinidade impactou
negativamente a sobrevivência dos copépodes. No entanto, os machos foram mais
afetados do que as fêmeas e as taxas de sobrevivência foram menores após as 48h. Os
machos só sobreviveram até 0.6g/L de NaCl, enquanto as fêmeas sobreviveram até a
salinidade de 0.8g/L. Essa redução da sobrevivência demonstra que o aumento da
salinidade pode afetar de maneira significativa o funcionamento e as relações
ecológicas de um ecossistema de água doce.

Palavras-chave: Sobrevivência. NaCl. Mudanças climáticas. Zooplâncton.


Ecotoxicologia.

1875
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eCICT 2023

TITLE: Effect of salinity on the survival of copepods of the genus


Notodiaptomus

Abstract

Salinization is a natural process that occurs in freshwater aquatic ecosystems. It


consists of an increase in the concentration of dissolved salts in water. Climate change,
together with anthropogenic actions, are responsible for increasingly intensifying this
process. Changes in abiotic factors such as the salinity of the water negatively affect
the biota in the area. Copepods are part of the zooplankton and play a fundamental
role in the food chain of freshwater bodies. The aim of this study was to evaluate the
survival of copepods of the genus Notodiaptomus when exposed to a gradual increase
in salinity. To this end, an experiment was carried out using 6 treatments ranging from
0g/L to 0.9g/L NaCl. Each treatment had 2 replicates per sex which were analyzed after
24h and 48h to verify the survival of the individuals. The increase in salinity had a
negative impact on the survival of the copepods. However, males were more affected
than females and survival rates were lower after 48 hours. Males only survived up to
0.6g/L NaCl, while females survived up to a salinity of 0.8g/L. This reduction in survival
shows that increased salinity can significantly affect the functioning and ecological
relationships of a freshwater ecosystem.

Keywords: Survival. NaCl. Climate changes. Zooplankton. Ecotoxicology.

Introdução

As mudanças climáticas impactam negativamente todo o meio ambiente, alterando


ecossistemas e causando perda da biodiversidade (Brook et al, 2008). Em ecossistemas
aquáticos de água doce, a elevação gradual da temperatura média do planeta aumenta
a evaporação e diminui as precipitações (Giorgi e Lionello, 2008). Além disso, o
aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global permite a entrada de água
salgada em corpos de água doce. Portanto, as mudanças climáticas vêm
impulsionando o processo de salinização de águas continentais (Parry et al, 2007).

A salinização consiste no acúmulo de sais dissolvidos em corpos de água doce


(Cunillera-Montcusí et al, 2022). Esse processo pode ocorrer naturalmente pelo
intemperismo das rochas (Vidal et al, 2021; Nielsen et al, 2003) ou por ações
antrópicas como o aquecimento global, mineração, utilização de sais de degelo em
estradas, entre outros (Schuler et al, 2019). A salinização antrópica vem aumentando

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eCICT 2023

os índices de sais presentes em águas doces muito rapidamente (Herbert et al, 2015) e
os organismos desses ambientes podem não conseguir se adaptar nessa mesma
velocidade.

O aumento na salinidade de águas continentais é uma ameaça para os organismos que


vivem nesses locais, pois as espécies dulcícolas foram adaptadas para sobreviver em
ambientes com baixas concentrações de sais dissolvidos (Hintz et al, 2019). Portanto,
mudanças das condições abióticas num curto espaço de tempo podem afetar a
estrutura e o funcionamento desses ecossistemas (Jeppesen et al, 2015). A diminuição
do crescimento e da reprodução são algumas das possíveis consequências dessa
problemática (Chen et al, 2015).

O zooplâncton desempenha papel fundamental nos ecossistemas aquáticos, sendo


responsável pela ciclagem de nutrientes e transferência de energia entre os
produtores primários e os demais consumidores (Esteves, 1998). Além disso, são
importantes reguladores da transparência e qualidade da água, podendo atuar no
controle da proliferação de algas tóxicas (Declecrk e De Senerpont Domis, 2022). Esse
grupo de animais tem papel significativo na biomassa de peixes por fazerem parte da
alimentação dos mesmos em estágios iniciais de vida (Vanni, 2002).

Os copépodes são crustáceos zooplanctônicos pertencentes à classe dos Maxillipoda.


Estão presentes em grande parte dos ambientes aquáticos e apresentam uma
abundância significativa em relação aos outros grupos. Esses microrganismos se
alimentam do fitoplâncton e são capazes de selecionar nutricionalmente o seu
alimento (Kiørboe, 2011), portanto, são responsáveis pelo controle da composição de
comunidades fitoplanctônicas (Lehman and Sandgren, 1985; Sterner, 2009)

A relação entre o aumento da salinidade e o zooplâncton vem sendo alvo de estudo de


diversos pesquisadores em todo o mundo. (Medeiros et al, 2010; Arupandi et al, 2020;
Chen e Stillman, 2012; Cunillera-Montcusí et al, 2022; Zacaria et al, 2007; Williams,
1998). No entanto, o grupo mais estudado de zooplâncton é o dos cladóceros do
gênero Daphnia, tornando a informação a respeito dos copépodes reduzida (De
Meester et al, 2023). Devido à sua importância em ecossistemas aquáticos, é
necessário tentar entender como os copépodes reagem à salinização.

Desse modo, esse trabalho teve como objetivo avaliar a tolerância de copépodes do
gênero Notodiaptomus quando expostos ao aumento de salinidade. A hipótese é que a
sobrevivência desses copépodes calanóides será reduzida com o aumento da
salinidade. Espera-se ainda que as fêmeas apresentem uma maior tolerância quando
comparadas aos machos.

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eCICT 2023

Metodologia

Manutenção do cultivo
Os cultivos foram mantidos em beckers limpos e cheios de água mineral com uma
quantidade média de 30-40 indivíduos por becker, a uma temperatura de 23°C (±1°C) e
alimentados com 500μg C/L/Dia de Cryptomonas. Limpezas foram realizadas
semanalmente onde a água era trocada e a densidade era controlada garantindo uma
densidade inferior a 50 adultos/L.

Toxicidade aguda
O experimento foi realizado no Laboratório de Ecotoxicologia Aquática (ECOTOX),
localizado no Núcleo de Processamento Primário e Reuso de Água Produzida e
Resíduos (NUPPRAR) localizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Todos os beckers utilizados para o experimento foram previamente
autoclavados e os tratamentos foram gerados a partir da adição de cloreto de sódio
(NaCl) à água mineral. As salinidades foram medidas em gramas por litro e verificadas
utilizando um refratômetro. 24 horas antes do início do experimento os indivíduos
foram isolados dos demais e mantidos em restrição alimentar.

Os copépodes foram expostos a 5 tratamentos de NaCl: 0.5, 0.6, 0.7, 0.8 e 0.9 g/L e um
controle (0 g/L), durante 48 horas. A sobrevivência dos indivíduos foi verificada a cada
24 horas. Para a realização do experimento foram utilizados 24 beckers com
capacidade de 50 mL e preenchidos com 40 mL de meio de cultivo referente ao
respectivo tratamento (Fig. 1). Tanto os tratamentos quanto o controle tiveram 2
réplicas por sexo que foram mantidas a 23°C (±1°C) com aeração constante de 5
bolhas/s e ciclo luminoso de 12:12 horas claro/escuro. Vale ressaltar que foram
utilizadas réplicas no tempo para esse experimento, portanto, o mesmo ocorreu em 2
momentos distintos com 2 réplicas por sexo em cada uma dessas fases.

Análises estatísticas
A sobrevivência dos indivíduos em ambos os experimentos ao serem expostas aos
tratamentos foram analisadas visualmente através de regressões não lineares
realizadas no RStudio (R CORE TEAM, 2022).

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eCICT 2023

Resultados e Discussões

O resultado do experimento demonstrou que, conforme esperado, o aumento da


salinidade diminuiu a sobrevivência dos copépodes do gênero Notodiaptomus. Tanto
os machos quanto as fêmeas tiveram menor taxa de sobrevivência em salinidades
maiores. No entanto, é importante ressaltar que as fêmeas apresentaram uma
resistência maior à salinização. Além disso, a sobrevivência foi maior após 24h do que
após 48h.

A taxa de sobrevivência para machos e fêmeas na salinidade 0.5g/L foi de 75% e 100%,
respectivamente, tanto após 24h quanto após 48h. Na salinidade de 0.6g/L a
sobrevivência após 24h foi de 75% para machos e 100% para fêmeas. Já após 48h
esses valores caíram para 50% e 75%, respectivamente. No tratamento com 0.7g/L de
sal a sobrevivência dos machos foi de 0% em ambos os horários analisados, enquanto
nas fêmeas a sobrevivência se manteve em 100% durante todo o período. Na
salinidade de 0.8g/L 0% dos machos sobreviveram, enquanto as fêmeas tiveram
sobrevivência de 50%. Esses valores se mantiveram nos dois horários analisados. No
tratamento com 0.9g/L de NaCl, a sobrevivência foi de 0% para ambos os sexos nos
dois horários.

Os dados descritos demonstram que Copépodes do gênero Notodiaptomus São


negativamente afetados pelo aumento de salinidade, tendo uma queda significante da
taxa de sobrevivência de acordo com o aumento da concentração de NaCl no meio de
cultura. Os machos apresentaram uma resistência menor à salinidade, tendo todos os
indivíduos mortos a partir de 0.7g/L. Enquanto as fêmeas, apresentaram sobrevivência
até os 0.8g/L onde nenhuma sobreviveu.

Essa maior resistência vista nas fêmeas já foi observada por Matutani (1961a, b),
Kasahara e Akiyama (1976) e Damgaard (1994) quando as mesmas foram submetidas a
aumento de temperatura. Mudanças que favorecem um dos sexos e modificam a
proporção entre machos e fêmeas, pode alterar a taxa de crescimento da população,
afetando negativamente o ecossistema em questão.

Conclusão

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eCICT 2023

Após análise de dados, é possível concluir que os copépodes do gênero


Notodiaptomus foram afetados negativamente pelo aumento de salinidade levando a
uma diminuição da sobrevivência em tratamentos com maior concentração de NaCl.
Além disso, a hipótese de que as fêmeas seriam mais resistentes se mostrou
verdadeira, já que em salinidades mais altas a taxa de sobrevivência das mesmas foi
maior que a dos machos.

Futuramente, podem ser feitos mais experimentos para entender como a salinidade
afeta o desenvolvimento de copépodes. Seria interessante utilizar um gradiente mais
amplo de salinidade e diferentes espécies de copépodes. Além disso, é importante
verificar a reação desses organismos a uma exposição com tempo maior, para avaliar
as possíveis adaptações realizadas pelos mesmos.

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Anexos

Figura 1 - Desenho experimental

1882
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Figura 2 - Experimento em andamento

Figura 3 - Gráfico da sobrevivência após 24h

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Figura 4 - Gráfico após 48h

1884
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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1588

AUTOR: JENNIFER KEFLIN ARRAIS DE SOUZA

COAUTOR: PEDRO VITOR VALE BEZERRA

ORIENTADOR: ADRIANA FERREIRA UCHOA

TÍTULO: Análise in vitro da inibição de proteases digestivas das larvas de


Aedes albopictus porextratos botânicos de espécies encontradas na Caatinga.

Resumo

Dengue, zika e chikungunya são arboviroses de grande relevância epidemiológica na


saúde pública no Brasil, sendo transmitidas principalmente por espécies do gênero
Aedes, incluindo o Aedes albopictus. Atualmente a principal medida para combater as
arboviroses é o controle populacional dos vetores. Nesse cenário, a Caatinga vem
sendo estudada por contemplar espécies vegetais potenciais para desenvolver
bioinseticidas. Trabalhos anteriores detectaram atividade larvicida para A. albopictus
em moléculas extraídas das sementes de 3 espécies de plantas ocorrentes na caatinga:
Amburana cearensis, Erythrina velutina e Anadenanthera colubrina. Esta pesquisa
buscou investigar se os extratos aquosos das sementes dessas 3 plantas são capazes de
promover inibição das proteases digestivas larvais de A. albopictus. Para isso, foram
dissecados intestinos de larvas L4 e produzidos homogenatos intestinais contendo as
enzimas digestivas. Ensaios de atividade enzimática foram desenvolvidos com o
homogenato intestinal larval na ausência (controle) e presença dos extratos das 3
espécies de planta. Todos os extratos apresentaram inibição das proteases do
homogenato, sendo a maior redução na atividade enzimática promovida pelo extrato
de E. velutina (80%), seguida pelo de A. cearensis (67%) e A. colubrina (59%). Os
resultados sugerem que a inibição de proteases em A. albopictus compreende um dos
modos de ação das atividades larvicidas para os extratos das sementes das 3 espécies
vegetais estudadas.

Palavras-chave: Bioinseticida, Mulungu, Arboviroses, Proteínas Bioativas

TITLE: In vitro analysis of the inhibition of digestive proteases in Aedes


albopictus larvae bybotanical extracts of specific Caatinga species.

1885
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eCICT 2023

Abstract

Dengue, zika and chikungunya are arboviruses of great epidemiological relevance in


public health in Brazil, being transmitted mainly by species of the genus Aedes,
including Aedes albopictus. Currently, the main measure to combat arboviruses is
vector population control. In this scenario, the Caatinga has been studied for
contemplating potential plant species to develop bioinsecticides. Previous work
detected larvicidal activity for A. albopictus in molecules extracted from the seeds of 3
plant species occurring in the caatinga: Amburana cearensis, Erythrina velutina and
Anadenanthera colubrina. This research sought to investigate whether the aqueous
extracts of the seeds of these 3 plants are capable of promoting the inhibition of larval
digestive proteases of A. albopictus. For this, intestines of L4 larvae were dissected and
intestinal homogenates containing digestive enzymes were produced. Enzymatic
activity assays were developed with the larval intestinal homogenate in the absence
(control) and presence of the extracts of the 3 plant species. All extracts showed
inhibition of homogenate proteases, with the greatest reduction in enzymatic activity
promoted by E. velutina extract (80%), followed by A. cearensis (67%) and A. colubrina
(59%). The results suggest that the inhibition of proteases in A. albopictus comprises
one of the modes of action of the larvicidal activities for the seed extracts of the 3
plant species studied.

Keywords: Bioinsecticide, Mulungu, Arboviruses, Bioactive Proteins

Introdução

O culícideo Aedes albopictus é um dos principais vetores de transmissão das


arboviroses dengue, zika, chikungunya e febre amarela (BARTHOLOMEEUSSEN et al,
2023; PEREIRA et al, 2019). Segundo o Ministério da Saúde, ocorreu um aumento de
162,5% dos casos de arboviroses até a 52 semana epidemiológica de 2022 em
comparação ao ano de 2021 (BRASIL, 2022). O Brasil possui um clima
predominantemente tropical, compreendendo grandes áreas de ambientes quentes e
úmidos, condições favoráveis para procriação e alimentação de mosquitos como o A.
albopictus (PEREIRA, SILVA & DE MELO, 2020). Nesse cenário, dados recentes
detectaram mais de 150 países/territórios onde o Aedes albopictus predomina,
tornando a situação preocupante no Brasil e no mundo (LETA et al, 2018).
O controle das populações de mosquitos vetores representa a principal estratégia
adotada para o combate dos impactos gerados por arboviroses no Brasil. (BANCROFT
et al., 2022). Dentre os métodos para o controle vetorial, o uso de inseticidas químicos
sintéticos compreende uma das principais ferramentas utilizadas há décadas em
território brasileiro. (ARAÚJO; CARVALHO; CAPURRO, 2021). Entretanto, essa
abordagem vem apresentando desvantagens como a ocorrência de populações de

1886
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eCICT 2023

mosquitos resistentes a inseticidas sintéticos (BELLINATO et al., 2016) e efeitos nocivos


para os ecossistemas onde são aplicados, atingindo organismos não-alvo, incluindo
humanos (SILVÉRIO et al., 2020). Estas desvantagens direcionam ao desenvolvimento
de pesquisas para obtenção de inseticidas menos danosos ao meio ambiente, como os
bioinseticidas derivados de plantas.
Revisões recentes, Sá et al. (2022) e Priya et al. (2023), discutem a importância do
desenvolvimento de bioinseticidas derivados de extratos botânicos para aplicação no
controle de mosquitos vetores. Estes trabalhos destacam a biodegradabilidade e
segurança ambiental como as vantagens mais relevantes desses produtos em relação
aos inseticidas sintéticos (SÁ et al., 2022; PRIYA et al., 2023). Nesse contexto, em outra
revisão atual, Carvalho et al. (2023) destacaram a biodiversidade vegetal ocorrente na
caatinga como uma fonte promissora para desenvolvimento de bioinseticidas para o
controle de Aedes de baixo risco ambiental.
As plantas possuem um grande repertório de moléculas bioativas com atividade
inseticida, selecionado por milhões de anos durante a coevolução com insetos
herbívoros (WAR et al., 2018). Os inibidores de proteases compõem uma fração desse
arsenal bioquímico vegetal, pois são proteínas ou peptídeos capazes de afetar a
digestão de proteínas no inseto e prejudicar sua nutrição e desenvolvimento (DIAS, et
al., 2017). Este mecanismo é interessante no cenário das arboviroses, já que o
desenvolvimento prejudicado pode impedir que a larva do mosquito chegue à fase
adulta, que é capaz de vetorizar os arbovírus. O perfil de proteases intestinais em
larvas de A. albopictus foi descrito em Saboia-Vahia et al. (2013), onde foi observada a
presença majoritária de proteases serínicas. Considerando esse perfil proteolítico no
intestino larval, torna-se válido realizar prospecções em grupos de plantas que
possuam inibidores de proteases serínicas já documentados de potenciais moléculas
aedicidas.
A família Fabaceae possui registro amplo da presença de inibidores de proteases
serínicas, compondo 1% a 10% das proteínas constituintes de suas sementes
(CLEMENTE et al., 2019). Extratos salinos das sementes de diferentes plantas
ocorrentes na Caatinga promoveram atividade larvicida contra Aedes aegypti e inibição
de suas proteases digestivas (BARBOSA et al., 2014). Dentre as espécies estudadas por
Barbosa e colaboradores, esta pesquisa selecionou 3 espécies de fabáceas, a
Anadenanthera colubrina, a Amburana cearensis e a Erythrina velutina, e buscou
investigar a presença de inibidores funcionais para proteases digestivas de A.
albopictus nos extratos aquosos de suas sementes.

Metodologia

Obtenção das sementes e produção do extrato

1887
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eCICT 2023

As sementes de Anadenanthera colubrina, Amburana cearensis (cumaru) e Erythrina


velutina (mulungu) foram doadas pelo Banco de sementes da Flora de Nísia Floresta,
gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio), Rio
Grande do Norte. Todas as amostras empregadas nesse trabalho estão registradas no
cadastro do SISGEN (n. A3104E7). As sementes foram trituradas em moinho elétrico e
tamisadas até a obtenção de um pó com trama de 40 mesh. A extração aquosa foi
realizada na proporção de 1:10 (m/v) sob aquecimento a 80 °C, por 3 horas com
agitação em intervalos de 30 min, seguida de centrifugação (1000 xg, por 15 min, a 4
°C). Em seguida, o sedimentado foi submetido à reextração sob as mesmas condições.
O sedimentado final foi descartado e os sobrenadantes de ambas as extrações foram
unidos, armazenados a frio (–20 °C), liofilizados e denominados como extrato aquoso
(EA).
Dosagem de proteínas solúveis totais
A quantificação das proteínas solúveis totais de todos os extratos foi realizada pelo
método de Bradford (1976) com adaptações para ensaio em microplacas de 96 poços.
Uma curva padrão foi realizada com concentrações conhecidas de albumina sérica
bovina.
Obtenção dos homogenatos intestinais larvais
As larvas de Aedes albopictus foram obtidas da colônia do Laboratório de Entomologia
Médica (Labent-UFRN). Os intestinos foram retirados das larvas e dissecados de acordo
com a metodologia descrita por Barbosa et al. (2014) e armazenados a –20 °C em Tris-
HCL 50 mM, pH 8,0, CaCl2 20 mM e NaCl 100 mM numa proporção de 100 intestinos
para 250 µL de solução tampão. A homogeneização dos intestinos para a obtenção do
homogenato intestinal larval (HIL) foi realizada pela metodologia Almeida Filho et al.,
(2017). Os intestinos coletados foram homogeneizados com a utilização de pistilo para
microcubos, em seguida, os microtubos foram centrifugados (10.000 x g, 4 °C, 10 min),
O sobrenadante foi retirado e identificado como HIL e conservado a –20°C.
Teste in vitro para detecção de inibição das proteases do HIL pelos extratos
Para verificar a capacidade inibitória dos extratos contra as proteases do HIL de A.
albopictus, foi empregado o método adotado por Almeida Filho e colaboradores
(2017), com algumas modificações. Inicialmente, 30 µL de HIL foram individualmente
incubados, durante 15 min a 37 °C, com tampão Tris-HCl 50 mM, pH 8,0, CaCl2 20 mM
(controle negativo) ou com os extratos (200 µg de proteína) solubilizados no mesmo
tampão. Em seguida, foram adicionados 150 µL do substrato azocaseína a 1%. A reação
enzimática foi mantida durante 30 min, sendo interrompida pela adição de 150 µL de
ácido tricloroacético (TCA) a 20%. Os tubos foram centrifugados a 10000 x g a 4 °C,
durante 10 min. Os sobrenadantes resultantes foram transferidos para uma placa de
96 poços e alcalinizados com NaOH 2,0 M na proporção de 1:1 (v/v), com posterior
análise espectrofotométrica a 440 nm. O teste foi realizado em triplicata (n=3) com
controles de interferência da cor (do homogenato e do extrato) na leitura de

1888
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eCICT 2023

absorbância, identificados como “branco” da amostra, em que a azocaseína (1%) foi


adicionada somente após o TCA (20%).
Os dados sobre a inibição foram calculados a partir das seguintes equações: 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
𝑖𝑛𝑖𝑏𝑖𝑡ó𝑟𝑖𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 (%) = 100% − 𝐴tR 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑑𝑢𝑎𝑙 (AtR %) = [ (𝐴𝑎 − 𝐴𝑏𝑎) ∗
100/𝐴𝑒 − 𝐴𝑏𝑒] 𝑈𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐼𝑛𝑖𝑏𝑖𝑡ó𝑟𝑖𝑎 (𝑈𝐼) = [(𝐴𝑒 − 𝐴𝑏𝑒) − (𝐴𝑎 − 𝐴𝑏𝑎)]/0.01 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
𝑖𝑛𝑖𝑏𝑖𝑡ó𝑟𝑖𝑎 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑎 (𝑈𝐼/𝑚𝑔) = 𝑈𝐼/𝑞𝑝 Onde, Ae = Absorbância da atividade
proteolítica total do HIL; Abe = Absorbância do branco da atividade proteolítica total
do HIL; Aa = Absorbância da atividade proteolítica na presença do extrato; Aba =
Absorbância do branco da atividade proteolítica na presença do extrato. qp =
Quantidade de proteína empregada no ensaio.

Resultados e Discussões

Resultados
A inibição das proteases intestinais das larvas de A. albopictus foi detectada em todos
os extratos aquosos (Tabela 1). O extrato de E. velutina se destacou pela redução de
80% da atividade enzimática em relação ao controle, apresentando uma atividade
inibitória específica 210 UI/mg. Os extratos de A. cearensis e A. colubrina reduziram
respectivamente 67% e 59% da atividade enzimática do homogenato intestinal e
apresentaram, em sequência, atividades inibitórias específicas de 176 UI/mg e 157
UI/mg.
Discussão

O controle dos mosquitos vetores de arbovírus representa um desafio constante.


Fatores como mudanças climáticas, tráfego internacional de pessoas, urbanização mal
planejada e competência vetorial tornam a ameaça de emergências e reemergências
de arboviroses um problema multifacetado que demanda abordagens contínuas e
integradas (LWANDE et al., 2020). Estudos recentes discutem a relevância do
desenvolvimento de inseticidas botânicos para um controle vetorial visando menor
impacto ambiental, assim contribuindo no conjunto de ferramentas integradas no
controle de vetores (SÁ et al., 2022; PRIYA et al., 2023). Neste trabalho, foi investigada
a presença de inibidores de proteases intestinais das larvas do vetor Aedes albopictus,
como um possível componente do modo de ação larvicida encontrada previamente
(dados não publicados) em extratos aquosos de sementes de 3 fabáceas ocorrentes na
caatinga, a Anadenanthera colubrina, a Amburana cearensis e a Erythrina velutina.
Entre os extratos, o que promoveu maior inibição das proteases intestinais foi o da
E.velutina (80%), indicando que esse extrato pode apresentar como um dos principais
componentes de seu modo de ação larvicida, os inibidores de proteases. As inibições
de atividade enzimática promovidas pelos extratos de A. cearensis (67%) e A. colubrina

1889
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eCICT 2023

(59%) apresentou-se mais moderada, indicando que a ação dos inibidores deve ser
combinada com outros modos de ação na promoção da mortalidade das larvas de A.
albopictus. Em Barbosa et al. (2014), os autores investigaram a inibição das proteases
intestinais de A. aegypti promovida pelos extratos salinos (tampão fosfato de sódio 50
mM, pH 8,0) das sementes das 3 espécies estudadas nesta presente pesquisa. As
atividades inibitórias específicas encontradas pelos autores para os extratos de A.
colubrina, A. cearensis e E.velutina foram respectivamente 132 UI/mg ,148 UI/mg e
230 UI/mg, enquanto isso, neste trabalho, para as proteases de A. albopictus, em
mesma sequência de espécies vegetais, foram encontradas as seguintes atividades:
157 UI/mg, 176 UI/mg e 210 UI/mg. As inibições dos extratos aquosos em A. albopictus
apresentaram-se próximas ou até maiores em relação aos dados encontrados por
Barbosa e colaboradores. Apesar de não se tratar da mesma espécie de vetor, esses
resultados são promissores para a justificativa do desenvolvimento de inseticidas
botânicos baseados em extratos aquosos, já que viabilizam produtos de maior
facilidade de produção e de menor custo (PAVELA et al., 2019), quando comparado a
extrações tamponadas. Os testes realizados neste trabalho para investigação da
inibição de proteases digestivas em A. albopictus foram realizados in vitro, e, apesar de
ainda ser necessária a confirmação em testes in vivo, os resultados são promissores
para indicar que esse efeito compõe um dos modos de ação da atividade larvicida dos
extratos de A. cearenses, A. colubrina e E. velutina

Conclusão

Nessa pesquisa, as sementes A. cearenses, A. colubrina e E. velutina apresentaram


considerável atividade inibitória contra as proteases digestivas do A. albopictus,
especialmente observada em E. velutina. A continuidade deste estudo em testes in
vivo contribuirá para a confirmação ou refutação da inibição como modo de ação da
atividade larvicida. Desse modo, nosso grupo também espera poder avaliar outros
possíveis efeitos que levem a mortalidade das larvas de A. albopictus. O entendimento
dos modos de ação desses extratos aquosos representa um passo importante para o
desenvolvimento de inseticidas a base de extratos botânicos derivados de plantas
ocorrentes na caatinga, contribuindo para um controle vetorial de menor impacto
ambiental.

Referências

ARAÚJO, H. R. C; CARVALHO, D. O.; CAPURRO, M. L. Aedes aegypti Control


Programmes in Brazil, pp. 339-366. In: HENDRICHS, J.; PEREIRA, R.; VREYSEN, M. J. B.
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XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

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2018.

1891
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

CÓDIGO: SB1590

AUTOR: VINICIUS EDUARDO DA SILVA

COAUTOR: MELISSA FARIAS ALVES DA SILVA

ORIENTADOR: ADRIANA FERREIRA UCHOA

TÍTULO: Avaliação do potencial antifúngico de extratos derivados de Tephrosia


toxicaria Pers. sobre cepas de Candida albicans e Candida parapsilosis

Resumo

Fungos patogênicos estão entre as principais causas de doenças infecciosas


no mundo. Dentre eles, destacam-se espécies do gênero Candida como a C.
albicans e C. parapsilosis, relevantes em quadros de candidíase e infecções
sistêmicas. Esses fungos são capazes de apresentar resistência a tratamentos
medicamentosos primeira escolha, como fluconazol. Graças a capacidade
dessas espécies de formar comunidades resistentes a fatores químicos-
biológicos como biofilmes, expressando níveis de tolerância às drogas
convencionais a indústria farmacêutica e a medicina encontram dificuldades
para seu controle. A busca por novas fontes de princípios ativos para
desenvolvimento de fármacos potencializa a área de pesquisa em bioativos.
Sabendo-se dos mecanismos complexos desempenhados por proteínas, e
outras moléculas bioativas derivadas do metabolismo intermediário dos
vegetais, frente ao combate a microrganismos, e considerando as
potencialidades antimicrobianas da planta Tephrosia Toxicaria, a presente
pesquisa tem por objetivo a obtenção de extratos de caule, folha, raiz e
sementes, e a avaliação do potencial antifúngico dos extratos contra cepas de
C. albicans e C. parapsilosis. Além disso, os fungos tratados com os extratos
serão futuramente analisados quanto às alterações morfológicas por
microscopia óptica. Espera-se que futuramente tenhamos os dados robustos
quanto aos efeitos dos extratos de T. toxicaria contra Candida sp e possamos
investigar os modos de ação desses extratos.

Palavras-chave: Candidíase; Extratos botânicos; resistência fúngica; Timbó.

1892
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

TITLE: Evaluation of the antifungal potential of extracts derived from Tephrosia


toxicaria pers. on Candida albicans and Candida parapsilosis strains.

Abstract

Pathogenic fungi are among the main causes of infectious diseases in the
world. Among them, species of the genus Candida stand out, such as C.
albicans and C. parapsilosis, relevant in cases of candidiasis and systemic
infections. These fungi are capable of showing resistance to first choice drug
treatments, such as fluconazole. Due to the ability of these species to form
communities resistant to chemical-biological factors such as biofilms,
expressing levels of tolerance to conventional drugs, the pharmaceutical
industry and medicine find it difficult to control them. The search for new
sources of active principles for drug development enhances the area of
research in bioactives. Understanding the complex mechanisms performed by
proteins and other bioactive molecules derived from the intermediary
metabolism of plants, in the fight against microorganisms, and considering the
antimicrobial potential of the Tephrosia toxicaria plant, the present research
aims to obtain stem extracts, leaf, root and seed, and the evaluation of the
antifungal potential of the extracts against strains of C. albicans and C.
parapsilosis. In addition, the fungi treated with the extracts will be analyzed in
the future for morphological changes by optical microscopy. It is expected that
in the future we will have robust data regarding the effects of T. toxicaria
extracts against Candida sp and we will be able to investigate the modes of
action of these extracts.

Keywords: Candidiasis; Botanical extracts; fungal resistance; Timbó.

Introdução

Fungos patogênicos têm surgido como significantes causadores de morbidades


infecciosas e mortes em pacientes com condições de imunodeficiências após
quimioterapia, pelo uso de imunossupressores em transplantes ou em
tratamento de doenças neoplásicas (LIONAKIS; DRUMMOND; HOHL, 2023).
As candidíases invasivas causadas por fungos do gênero Candida spp., são o
tipo de infecção fúngica mais comum, afetando pacientes hospitalizados e
transplantados, com taxas de 60%, e contribuindo com cerca de 10% das
infecções hematológicas nosocomiais (DOMINGOS et al., 2022).

1893
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Segundo PRISTOV & GHANNOUM (2019), o aumento da resistência aos azóis


e equinocandinas, classes de drogas utilizadas no tratamento de infecções por
Candida, tem se tornado um problema cada vez mais sério em ambientes
clínicos no mundo. Além da toxicidade associadas às drogas, a resistência
antifúngica é motivo de preocupação e pode limitar a aplicabilidade dos
fármacos atuais. Em especial, o aumento da resistência ao fluconazol em C.
glabrata e C. tropicalis (PRISTOV & GHANNOUM, 2019), e à anfotericina-B em
C. parapsilosis (SILVA; SANCHES, CHASSOT, 2022). Embora haja uma
necessidade de novos antifúngicos, nenhuma nova classe foi estabelecida nos
últimos 20 anos (OSSET-TRÉNOR, 2023).

Outro fator que contribui na virulência e resistência fúngica nos quadros de


candidíase é a formação de biofilmes (WALL et al., 2019). É um processo
coordenado, no qual interações adesivas, conversões morfogenéticas e o
comportamento consorciado se somam significativamente. As células dentro
dos biofilmes são protegidas de estresses ambientais, incluindo as defesas
imunológicas e antifúngica (WALL et al., 2019). Esses mecanismos facilitam a
adesão e colonização pelo fungo (FIRACATIVE, 2020).

Na atualidade, muito vem sendo pesquisado sobre a ação de formulações


derivadas de extratos vegetais e seu potencial para o desenvolvimento de
fármacos contra um amplo espectro de patógenos (NEWMAN & CRAGG,
2020). A busca por novos produtos obtidos de plantas deve-se ao fato dos
extratos serem fontes promissoras de biomoléculas ativas que são conhecidos
por seus complexos modos de ação (SÁ et al., 2023). Raízes e caules das
plantas são os principais órgãos que armazenam componentes ativos com
valor medicinal (LI et al., 2020).

Os principais derivados de espécies vegetais com atividade antifúngica são


compostos fenólicos como ácido gálico e flavonoides, e polifenóis como os
terpenóides (HSU et al., 2021). Além disso, outras classes de moléculas, como
as proteínas, atuam não só na regulação metabólica como em interações
vantajosas contra microrganismos. Dentro da classe das proteínas há os
inibidores de proteases, encontrados em leguminosas, os quais apresentam
funções como agente regulador de proteases endógenas e proteção tecidual
contra proteólise (COLARES et al., 2016), e ainda oferecem defesa contra
infecção patogênica (TONELLI et al., 2015). Ademais, ainda destacam-se as
lectinas, capazes de se ligar especificamente com açúcares da parede celular e
membranas dos patógenos, causando precipitação e aglutinação (CAVADA et
al., 2020).

A Tephrosia toxicaria Pers., popularmente conhecida como “timbó de caiena”, é

1894
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eCICT 2023

uma leguminosa pertencente à família Fabaceae. Ela é caracterizada como


uma espécie perene originária do continente africano, e que se distribuiu por
áreas tropicais, subtropicais e áridas do mundo (ANTONIO-DOMINGUES et al.,
2019). No Brasil, ela está presente na região equatorial amazônica e na região
nordeste (MARTINEZ et al., 2016). Encontram-se várias aplicações
farmacológicas para bioprodutos de T. toxicaria, como ação analgésica,
antibacteriana, anti-inflamatória, antioxidante e nematicida (ANDREI et al.,
2020; DO VAL et al., 2018).

Portanto, considerando os aspectos relacionados às infecções fúngicas


causadas por espécies do gênero Candida e o potencial de T. toxicaria, a
presente pesquisa propõe a obtenção de extratos de T. toxicaria com o objetivo
de investigar seu potencial antifúngico.

Metodologia

Obtenção do material biológico


As raízes, caules, folhas e sementes de T. toxicaria foram coletados no distrito
de São José, município de Ibiapina, Ceará, Brasil (3°55'31"S 40°53'43"W), em
conformidade com o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do
Conhecimento Tradicional Associado (SisGen n. A3104E7). Os espécimes
foram cedidos pelo professor Dr. Francisco José Carvalho Moreira, do
Laboratório de Fitossanidade de Sementes, do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Sobral. A confirmação botânica do
vegetal está registrada e depositada (UFRN00022960) no Herbário da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As leveduras, Candida
albicans ATCC 90029 e Candida parapsilosis ATCC 22019 foram obtidas da
Micoteca do Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical da
UFRN, cedidas pela Dra. Raquel Cordeiro Theodoro.
Processamento do material vegetal e obtenção dos extratos
Os órgãos da T. toxicaria foram secos a 37 °C em ambiente com circulação de
ar, durante uma semana, com posterior trituração em moinho de facas para
obtenção de uma farinha fina, a qual foi peneirada em trama de 40 mesh. Em
separado, a farinha resultante foi homogeneizada em tampão Tris-HCl 50 mM,
pH 7,5 com NaCl 150 mM empregando a relação de hidromódulo
(farinha/solvente) de 1:5 (p/v), permanecendo em repouso por 24 h em
temperatura ambiente. Os extratos resultantes foram centrifugados (5200 x g,
30 min, 4 °C) e os sobrenadantes filtrados em papel de filtro quantitativo, e
posteriormente foram dialisados exaustivamente contra água destilada em
membrana de celulose regenerada com poro de 14 kDa e liofilizados.

1895
XXXIV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN

eCICT 2023

Determinação de peso seco e rendimento


O peso seco de cada extrato foi determinado pela massa resultante de sua
liofilização, expresso em mg. Já o rendimento total (expresso %), corresponde
a relação da massa de farinha investida na extração e a massa de cada extrato
ou fração obtida após a liofilização. O rendimento total, expresso em (%), foi
dado pela massa do material liofilizado × 100 / massa de farinha de sementes
investida na extração.
Dosagem de proteínas solúveis
Em separado, 10 mg de cada extrato foram solubilizados em 1,0 mL de NaCl
0,85% para dosagem dos teores totais de proteínas solúveis. O teor de
proteínas solúveis foi determinado conforme método descrito por Bradford
(1976), utilizando albumina sérica bovina (Sigma-Aldrich, EUA) para obtenção
de uma curva padrão.
Preparação do inóculo
As leveduras Candida albicans e Candida parapsilosis foram mantidas em meio
ASD à temperatura de 16 ºC. As culturas de leveduras foram reativadas
através de 2 repiques em meio ASD por um período de 24 h. Para o preparo do
inóculo, foi obtida uma suspensão das células em solução salina estéril 0,85%,
ajustada de acordo com o tubo 0,5 da escala de McFarland para avaliação da
turvação, equivalente à concentração de 1 a 5 x 10⁶ UFC/mL. A solução
estoque foi diluída em 1:50 e 1:20 em meio RPMI e quando associada às
formulações de T. toxicaria, foi diluída a 1:2, resultando na concentração final
de 5 x 10² a 2,5 x 10³ células/ mL em 200 µL.
Triagem antifúngica
As formulações de T. toxicaria foram submetidas a diluições seriadas (128 - 2
µg/mL) para determinação da CIM (CLSI, 2008; HADACEK; GREGER, 1991),
definida como a menor concentração capaz de inibir visualmente o crescimento
fúngico, em comparação ao controle positivo. As placas contendo os inóculos
confrontados com as formulações de T. toxicaria foram incubadas sob 35 ± 2
°C por 24 h, 48 h e 72 h. A CIM foi determinada através da associação
(checkerboard). Além disso, foi preparado um controle de esterilidade do meio
de cultivo, no qual o inóculo foi substituído por soro fisiológico. Os resultados
obtidos das CIMs foram analisados considerando o intervalo de valores que
representam o maior e o menor limite das CIMs dos produtos testados, para as
diferentes espécies de leveduras testadas. CIM50 e CIM90 também foram
determinadas, definidas como as concentrações inibitórias mínimas das
formulações de T. toxicaria capazes de inibir o crescimento de 50% e 90% das
cepas fúngicas analisadas, respectivamente.

1896
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eCICT 2023

Para a determinação da CFM, alíquotas dos poços cujo crescimento fúngico foi
inibido na determinação da CIM foram transferidas para placas de Petri
contendo ASD sem as formulações de T. toxicaria. As placas foram incubadas
à 37 ºC, durante 24 h. A CFM é definida como a menor concentração das
formulações de T. toxicaria capaz de inibir 100% do crescimento das cepas
testadas.
Análise morfológica dos fungos tratados com extratos de T. toxicaria
Após a triagem antifúngica com os extratos de T. toxicaria, as leveduras foram
lavadas em tampão fosfato de sódio 20 mM, pH 8,0, e as alterações
morfológicas nos fungos foram examinadas visualmente por microscopia óptica
para comparação entre os diferentes tratamentos. Os aspectos macro e
micromorfológicos analisados foram o tamanho e forma das células,
presença/ausência de brotamentos, pseudomicélio, tubo germinativo e de
pseudohifas (FISCHER; COOK, 2001).
Análise estatística
Os dados foram expressos como média ± desvio padrão de três repetições (n =
3). A análise de variância (ANOVA) foi realizada utilizando o GraphPad Prism®
versão 6.01 (GraphPad Software, San Diego, CA, EUA), com pós-teste de
Tukey. Um valor de p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Resultados e Discussões

1 - Análise da atividade antifúngica dos extratos de T. toxicaria


Através do método de associação (checkboard) realizou-se a análise da
atividade antifúngica dos extratos botânicos de T. toxicaria.
A placa contendo os inóculos da Candida albicans foi analisada e constatou-se
que não houve atividade inibitória satisfatória para as concentrações testadas
(128 µg/mL, 64 µg/mL, 32 µg/mL, 16 µg/mL, 8 µg/mL, 4 µg/mL, 2 µg/mL) para
os extratos de caule, semente e folha de T. toxicaria. No entanto, foi observado
inibição de 25% do crescimento fúngico para a concentração 128 µg/mL da
raiz. Possivelmente, essa taxa de inibição esteja relacionada à capacidade das
raízes de plantas em acumular metabólitos que tenham ação antimicrobiana.
Já para ensaio com os inóculos da Candida parapsilosis foi observado que não
houve atividade antifúngica para todas as concentrações de extratos testadas
de raiz e semente, tanto na leitura de 24 horas como na leitura de 48 horas. No
entanto, notou-se inibição de 25% do crescimento para o extrato de caule na
concentração 128 µg/mL, e também 25% de inibição para os extratos de folha
nas concentrações de 128 µg/mL e 64 µg/mL.

1897
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eCICT 2023

Na análise de 48 horas foi observado total crescimento fúngico em todas as


concentrações de todos os extratos para a Candida parapsilosis.
Com base apenas nos resultados obtidos foi dispensado a preparação de
lâminas microscópicas para a observação das leveduras.
2 - Concentração de proteínas solúveis dos extratos
Por meio do ensaio de Bradford foi determinada a concentração de proteínas
solúveis em cada extrato obtido de T. toxicaria. As concentrações de proteínas
solúveis encontradas nos extratos de caule, raiz, folhas e sementes
correspondeu a 1,6 mg/mL, 3,52 mg/mL, 12 mg/mL e 43 mg/mL,
respectivamente.
3 - Rendimento e peso seco dos extratos de T. toxicaria
O peso seco dos extratos foi determinado pela massa resultante de sua
liofilização e expresso em mg. O rendimento total (expresso em %) foi dado
pela massa do material liofilizado × 100 / massa de farinha de sementes
investida na extração.
Os dados obtidos foram estabelecidos na tabela 1 (ver anexo).

Conclusão

A recorrência observada de certa atividade inibitória, embora baixa, de 25% em


algumas concentrações de extratos de caule e raiz, sustenta a hipótese de que
esses órgãos são potenciais reservatórios de compostos que possuam
interações antimicrobianas.
Ainda assim, não é possível afirmar que os extratos de T. toxicaria apresentam
capacidade de desempenhar atividade antifúngica satisfatória contra espécies
de Candida albicans e Candida parapsilosis. Contudo, os extratos podem ter
sua atividade potencializada por fracionamento e ainda possuir atividade
modulatória junto aos fármacos convencionais utilizados nos tratamentos de
infecções fúngicas. Sendo assim, essas condições serão averiguadas
averiguada em estudos futuros.
Mais ensaios são necessários para explorar melhor o potencial dos extratos
botânicos da Tephrosia toxicaria, como a testagem de outras concentrações,
uma vez que os valores inibitórios constatados foram da concentração máxima
testada no experimento 128 µg/mL, considerando que os extratos podem
apresentar uma diversidade de moléculas que interagem entre si, não podemos
descartar o potencial antifúngico dos extratos, sendo necessário novos ensaio
para fracionar os extratos e concentrar compostos com melhor taxa de ação

1898
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eCICT 2023

inibitória. Além disso, a possibilidade de testar concentrações superiores a 128


µg/mL ajudaria a evidenciar o comportamento dos fungos analisados frente
uma faixa de concentração maior dos extratos.
Outros ensaios importantes quanto a caracterização do perfil bioquímico dos
extratos acerca da composição de carboidratos, compostos fenólicos, proteínas
(inibidores de proteases e lectinas) poderão contribuir para a avaliação da
atividade antifúngica dos extratos de tecidos de T. toxicaria.

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Anexos

Tabela 1: Rendimento da extração de tecidos de Tephrosia toxicaria

1901
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Placa de 96 poços contento inóculos incubados com os extratos de T. toxicaria

1902
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Farinha obtida dos diferentes órgãos do Timbó

Semente de Timbó

1903
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Imagem da T. Toxicaria (Timbó).

1904
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CÓDIGO: SB1597

AUTOR: YURI MARTINS DE ALMEIDA

ORIENTADOR: DENISE MORAIS LOPES GALENO

TÍTULO: ZEBRAFISH COMO MODELO PROMISSOR PARA O ESTUDO DA


OBESIDADE HUMANA

Resumo

A obesidade é um problema crescente de saúde pública. O zebrafish (Danio rerio) é um


modelo promissor devido à sua semelhança genética e fisiológica com os humanos. O
objetivo do estudo foi induzir a obesidade no zebrafish. Sua metodologia envolveu a
criação de dois grupos: Grupo Controle(GC) e Grupo Indução(GI). Ambos receberam
dieta com náuplios de artêmia, com porções diferentes. Os parâmetros zoométricos
foram medidos quinzenalmente no período de 8 semanas. Resultados: os dados das
medições inicial(M1) e final(M5) indicaram que a indução de obesidade foi bem
sucedida, evidenciado por significativos aumentos nos índices de peso, comprimento e
IMC no estado inicial vs final dos próprios grupos, quanto em comparação entre os
grupos GC vs GI, que foram expressos nos seguintes dados: Peso: M1: GC: 87,74
mg±36,84(p=0,00) vs GI: 90,62 mg±34,64(p=0,00) vs M5: GC: 127,81 mg±32,14(p=0,00)
vs GI: 266,36 mg±32,84(p=0,00). Comprimento: M1: GC: 22,94 mm±2,93(p=0,00) vs GI:
22,39 mm±2,26(p=0,00). M5: GC: 27,00 mm±2,30(p=0,00) vs GI: 33,36
mm±2,30(p=0,00). IMC: M1: GC: 15,90±4,12(p=0,00) vs GI: 17,45±3,48(p=0,00). M5:
GC:17,25±2,58(p=0,00) vs GI: 24,14±4,18(p=0,00). Com a indução de obesidade foi
bem sucedida, o estudo sugere que o zebrafish pode ser um modelo valioso para
pesquisas relacionadas a doenças metabólicas e obesidade. Perspectivas futuras
sugerem a implementação de novos grupos para estudo do uso de bioativos naturais
no controle dos perfis glicêmicos e lipídicos.

Palavras-chave: Zebrafish. Obesidade. Modelo. Artêmia. Doenças metabólicas.

TITLE: ZEBRAFISH AS A PROMISING MODEL FOR THE STUDY OF HUMAN


OBESITY

Abstract

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Obesity is a growing public health issue. The zebrafish (Danio rerio) is a promising
model due to its genetic and physiological similarity to humans. The aim of the study
was to induce obesity in zebrafish. The methodology involved the creation of two
groups: Control Group (CG) and Induction Group (IG). Both groups were fed with brine
shrimp, with different portions. Zoometric parameters were measured every two
weeks over an 8-week period. Results: Data from the initial (M1) and final (M5)
measurements indicated that obesity induction was successful, as evidenced by
significant increases in weight, length, and BMI indices in the initial vs. final states
within each group, as well as in comparison between CG and IG. This is expressed in
the following data: Weight: M1: CG: 87.74 mg ± 36.84 (p=0.00) vs. IG: 90.62 mg ± 34.64
(p=0.00) vs. M5: CG: 127.81 mg ± 32.14 (p=0.00) vs. IG: 266.36 mg ± 32.84 (p=0.00).
Length: M1: CG: 22.94 mm ± 2.93 (p=0.00) vs. IG: 22.39 mm ± 2.26 (p=0.00). M5: CG:
27.00 mm ± 2.30 (p=0.00) vs. IG: 33.36 mm ± 2.30 (p=0.00). BMI: M1: CG: 15.90 ± 4.12
(p=0.00) vs. IG: 17.45 ± 3.48 (p=0.00). M5: CG: 17.25 ± 2.58 (p=0.00) vs. IG: 24.14 ±
4.18 (p=0.00). With the successful induction of obesity, the study suggests that
zebrafish can be a valuable model for research related to metabolic diseases and
obesity. Future perspectives suggest the implementation of new groups to study the
use of natural bioactives in controlling glycemic and lipid profiles.

Keywords: Zebrafish. Obesity. Experimental model. Artêmia. Metabolic


diseases.

Introdução

Estimativas para 2025 apontam que aproximadamente 2,3 bilhões de adultos estarão
acima do peso e 700 milhões terão um Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30,
destacando o crescente problema da obesidade (ABESO 2020). A obesidade,
caracterizada pelo excesso de peso corporal, é uma preocupação significativa de saúde
pública devido à sua associação com o aumento do risco de diversas doenças crônicas
não transmissíveis (DNTs). Neste contexto, modelos animais têm desempenhado um
papel fundamental na busca por novos tratamentos para a obesidade, e o zebrafish
emerge como um modelo de destaque para pesquisas translacionais (Gut et al., 2017).
O modelo zebrafish tem sido usado para estudar o desenvolvimento e desvendar
mecanismos de doenças humanas como a obesidade e diabetes (Liu et al., 2020;
Montalbano et al., 2018; Zang; Maddison; Chen, 2018), pois compartilham alta
semelhança genética e fisiológica com os mamíferos, possuem vias de transdução de
sinal e órgãos importantes na regulação do metabolismo energético, incluindo órgãos
digestivos, tecido adiposo e músculo esquelético (Jones et al., 2008; Zang, Maddison ,
2018). Quando comparado a outros modelos experimentais, o zebrafish é bastante
vantajoso em relação aos demais vertebrados. A rápida reprodução do zebrafish (um

1906
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par pode colocar cerca de 200 ovos em um único acasalamento), curto tempo para
atingir a idade adulta (60-90 dias), baixo custo de manutenção diária (Kalueff;
Stewart;Gerlai, 2014), bem como o pequeno tamanho, tornam os zebrafish adequados
para uma variedade de ensaios em ambiente de laboratório e reduz os custos
envolvendo a administração de drogas (Gut et al., 2017). O metabolismo lipídico do
zebrafish é semelhante ao dos humanos, tornando-o um modelo promissor para
pesquisas sobre aterosclerose e obesidade (Stoletov et al., 2009). O metabolismo
lipídico do zebrafish é muito semelhante ao do ser humano em termos de absorção
intestinal com o auxílio da bile produzida no fígado, transporte de gordura e colesterol
por lipoproteínas , β-oxidação armazenamento como triacilgliceróis em depósitos de
adipócitos viscerais, subcutâneos e intramusculares. Consequentemente, o peixe-zebra
está sendo cada vez mais usado como modelo de doenças humanas e usado na
pesquisa do metabolismo lipídico incluindo aterosclerose induzida por dietas ricas em
colesterol e obesidade (Stoletov et al., 2009). Além disso, o controle metabólico do
zebrafish assemelha-se ao dos mamíferos, tornando-o responsivo a medicamentos
antidiabéticos e redutores de colesterol (Baek et al., 2012). O zebrafish também tem
sido usado como modelo para validar os efeitos antiobesidade de produtos naturais
(Tainaka et al., 2011; Hasumura et al., 2012).O uso de plantas como produto medicinal
atualmente é bastante difundido, pois fornecem uma grande variedade de compostos
químicos com funções biológicas importantes que vem sendo aplicadas como
medicamentos, suplementos, cosméticos e especiarias, entre outras (LEAL-CARDOSO
et al., 2004). A oportunidade de buscar por plantas medicinais para o tratamento de
doenças metabólicas é um desafio e uma oportunidade de ampliar o conhecimento
científico sobre plantas da região. Diante do exposto, esse estudo tem como objetivo
realizar uma pesquisa de caráter experimental iniciando uma nova era de pesquisas
envolvendo doenças metabólicas utilizando o zebrafish como modelo experimental,
dentro das condições do laboratório Fish Lab pertencente à UFRN. Esse projeto surgiu
como uma parceria com docentes do Programa de Pós-graduação em Nutrição
(PPGnUT), com o objetivo de, em um próximo passo, testar extratos e substâncias
isoladas com potenciais efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e antidiabéticos.
Embora os zebrafish tenham sido usados em experimentos envolvidos na regulação da
homeostase energética ainda são escassos os estudos envolvendo o zebrafish como
modelos potenciais para testar alvos terapêuticos relacionados a doenças metabólicas.

Metodologia

Foi utilizado animais de ambos os sexos da espécie Danio rerio (linhagem TU, 3 meses
de idade, 2 a 3 cm de comprimento e pesando em média 89 mg) provenientes de
reproduções anteriores no Laboratório de Pesquisa Fish Lab da UFRN, local onde todos

1907
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os procedimentos experimentais foram conduzidos. Todos os protocolos de manejo


foram autorizados pelo comitê de ética CEUA sob número de processo 301.035/2022.
Os animais foram mantidos estocados no Biotério de Peixes do Fish Lab em um sistema
de rack (ZebTEC Active Blue Stand Alone - Tecniplast®) com sistema de recirculação, a
uma temperatura de 27ºC com fotoperíodo de 14h/10h claro/escuro. O protocolo
experimental com duração de 8 semanas seguiu a abordagem metodológica de
Hasumura et al., (2012). Os animais foram alocados em 2 grupos, Grupo Controle (GC)
e Grupo Indução (GI), com 50 peixes por aquário de 8 L, totalizando 100 animais. GC
foi alimentado com náuplios de artêmias recém eclodidos, uma presa viva com
aspecto nutricional rico em proteínas (57,6%), carboidratos (12,8%) e lipídios (12,5%)
(Fernandes & Gonçalves, 2016), com quantidade suficiente para satisfazer as suas
necessidades energéticas (15 mg de peso seco/dia/peixe). GI recebeu uma quantidade
maior do mesmo alimento (60 mg de peso seco/dia/peixe) com intuito de induzir
obesidade neste grupo. Nos preparos das porções para oferta, foram utilizados uma
Placa de Petri, peneira de menor poro, Pipeta de Pasteur de 3 mL, Balança de precisão
(Brifit), Tubo de Eppendorf 1,5 mL e Becker 100 mL. 100 mL do concentrado de
náuplios de artêmia eram armazenados no Becker, 3 mL do concentrado era coletado
com a Pipeta de Pasteur e colocados na Peneira (Figura 1), posicionando a Placa de
Petri abaixo da peneira para armazenar a água e náuplios que passavam pela peneira.
A parte mais concentrada contida (não peneirada) era novamente coletada e colocada
no Tubo de Eppendorf sobre a balança, dessa forma descartando o máximo de
interferências possíveis no peso real do concentrado de náuplios a serem ofertados.
Posteriormente, adicionava-se água filtrada ao concentrado já pesado e separado para
oferta, a fim de garantir a sobrevivência dos náuplios bem como para diminuir a
salinidade do concentrado, uma vez que os náuplios eram ambientados em água salina
(Figura 2). Para análise da porcentagem de náuplios de artêmia consumida, utilizou-se
uma Pipeta de Pasteur de 3 mL, Placa de Elisa 24 poços, e uma lupa/lente de aumento
com led. A média foi estimada pela contagem de náuplios de artêmia antes e após a
alimentação. Resumidamente, uma amostra com 3 mL de água foi coletado de 8000
mL de água contendo náuplios artêmia recém eclodidos, cada amostra era dividida em
3 alíquotas de 1 mL nos poços da Placa de Elisa e observadas na lente a quantidade de
náuplios de artêmia presentes (Figura 3). Os números de náuplios de artêmia eclodidos
foram contados três vezes para determinar uma contagem média e, após a contagem,
as amostras foram devolvidas ao tanque. Em seguida, os peixes foram transferidos
para o tanque para alimentação e, após 30 minutos, o número de náuplios de artêmia
foi contado como antes da alimentação. O peso corporal e comprimento foram
medidos quinzenalmente. Para a pesagem, utilizou-se uma Balança de precisão (Brifit),
Becker de vidro de 50 mL, Puçá para aquário, Papel toalha. Com auxílio do puçá, os
peixes eram capturados do aquário e, ainda dentro do puçá, eram rapidamente
colocados algumas vezes sobre um papel toalha para que o máximo de água fosse

1908
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absorvido e houvesse o mínimo de interferência no resultado real do peso do animal.


Após isso, o animal era depositado no becker de vidro, que já encontrava-se sobre a
balança com uma quantidade de água suficiente para abrigar o animal e retirado a tara
para desconsiderar o peso do becker e da água adicionada, e observado quanto ao
resultados correspondente ao peso. Em seguida, o animal seguia para a medição. Para
a medição, foi necessário uma Placa de Petri, Papel Milimetrado e o aplicativo
ImageMeter disponível na Play Store para sistemas operacionais Android. A Placa de
Petri era colocada por cima do Papel Milimetrado e o animal era depositado na Placa
de Petri com uma lâmina de água suficiente para cobri-lo, e uma foto era tirada na
visão vertical (Figura 4). No aplicativo, uma referência de escala é definida para o que
equivale a 10 mm no Papel Milimetrado (Figura 5). Após a adição da referência, é
demarcado uma linha do início da boca até o final da nadadeira caudal, resultando no
comprimento do animal com base na referência inserida (Figura 6). Para estimar a
quantidade de calorias ingeridas, partimos da informação que 1 mg de artêmia contém
aproximadamente 5 calorias (Oka et al., 2010). O índice de massa corporal foi
calculado pela divisão do peso corporal pelo quadrado do comprimento corporal.
Todos os protocolos experimentais estiveram de acordo com a legislação para
experimentação animal estabelecida pelo Conselho Nacional de Experimentação
Animal do Brasil (CONCEA) e todos os protocolos experimentais foram autorizados
pelo comitê de ética CEUA sob número de processo 301.035/2022. Os dados nos
gráficos foram apresentados como média ± desvio padrão e valor de p. As diferenças
estatísticas entre os grupos experimentais foram avaliadas por ANOVA de uma via. O
teste t de Student foi usado para analisar as diferenças entre as médias de 2 grupos. P
< 0,05 foi usado como limiar de significância. A normalidade dos dados foi analisada
pelo teste de Shapiro-wilk. Para dados normais, foi utilizado ANOVA seguido de pós-
teste com múltiplas comparações de Tukey. Para dados não normais, foi utilizado o
teste Kruskal-wallis seguido de pós teste de Dunn's. Todas as análises foram
conduzidas com auxílio do programa GraphPad Prism 7.01. Diferenças foram
consideradas significativas com p < 0,05.

Resultados e Discussões

Parâmetros Zoométricos Neste estudo, foi conduzida uma análise detalhada das
mudanças nos parâmetros zoométricos em peixes ao longo de um período de 8
semanas. Os resultados de peso, comprimento e IMC, obtidos para os grupos de
controle e indução são apresentados a seguir e também são expressos nas tabelas 1, 2
e 3 bem como na figura 7. Grupo controle: Medição 1: Peso médio: 87,74 mg ± 36,84
(p=0,00), Comprimento médio: 22,94 mm ± 2,93 (p=0,00), IMC médio: 15,90 ± 4,12
(p=0,00). Medição 2: Peso médio: 81,10 mg ± 30,83 (p=0,00), Comprimento médio:

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eCICT 2023

23,20 mm ± 2,61 (p=0,00), IMC médio: 14,52 ± 3,46 (p=0,00). Medição 3: Peso médio:
87,64 mg ± 31,22 (p=0,00), Comprimento médio: 24,40 mm ± 3,16 (p=0,00), IMC
médio: 15,74 ± 9,79 (p=0,00). Medição 4: Peso médio: 102,50 mg ± 32,64 (p=0,00),
Comprimento médio: 25,00 mm ± 3,09 (p=0,00), IMC médio: 15,75 ± 2,44 (p=0,00).
Medição 5: Peso médio: 127,81 mg ± 32,14 (p=0,00), Comprimento médio: 27,00 mm ±
2,30 (p=0,00), IMC médio: 17,25 ± 2,58 (p=0,00). Grupo indução: Medição 1: Peso
médio: 90,62 mg ± 34,64 (p=0,00), Comprimento médio: 22,39 mm ± 2,26 (p=0,00),
IMC médio: 17,45 ± 3,48 (p=0,00). Medição 2: Peso médio: 133,08 mg ± 28,91 (p=0,00),
Comprimento médio: 25,72 mm ± 1,80 (p=0,00), IMC médio: 20,14 ± 3,95 (p=0,00).
Medição 3: Peso médio: 152,62 mg ± 28,26 (p=0,00), Comprimento médio: 27,53 mm ±
1,70 (p=0,00), IMC médio: 19,99 ± 2,19 (p=0,00). Medição 4: Peso médio: 208,20 mg ±
33,71 (p=0,00), Comprimento médio: 30,81 mm ± 1,77 (p=0,00), IMC médio: 21,81 ±
2,14 (p=0,00). Medição 5: Peso médio: 266,36 mg ± 32,84 (p=0,00), Comprimento
médio: 33,36 mm ± 2,30 (p=0,00), IMC médio: 24,14 ± 4,18 (p=0,00). Os resultados
indicam claramente que as mudanças nos parâmetros zoométricos dos peixes foram
influenciadas ao longo das semanas e variaram entre os grupos de controle e indução,
bem como evidenciam uma distinção notável entre os mesmos grupos. Enquanto o GC
apresentou aumentos visíveis, sugestivos do crescimento normal, o GI exibiu
aumentos expressivamente maiores. Quando observada a discrepância de peso entre
os grupos nas medições 4 e 5, é possível observar que o GI já apresentava o dobro do
peso do GC (Tabela 1). Essa discrepância clara nos ganhos entre os dois grupos sugere
que os aumentos observados no GC podem ser atribuídos ao crescimento normal
esperado, ao passo que os aumentos no GI são consistentes com a obesidade induzida
com sucesso durante o período de estudo. Quando se observa os dados de
comprimento em relação aos dados de peso, nota-se uma tendência crescente em
ambos os casos. No entanto, é importante observar que, no contexto específico do
estudo, os dados de peso assumem um papel ainda mais significativo (Tabelas 1 e 2). A
razão para isso reside no fato de que o aumento de peso é um indicador crucial da
obesidade em zebrafish. Corroborando o estudo de OKA et al. (2010), no qual foi
aplicada a mesma metodologia para induzir a obesidade em peixes, utilizando 60 mg
de náuplios de artêmia recém eclodidos por peixe por dia para grupo indução de
obesidade, este estudo foi capaz de obter resultados semelhantes aos achados
originais. Na segunda medição do experimento, GC apresentou uma diminuição na
média de peso, o que não pode ser justificado pela oferta dietética, uma vez que o
outro grupo com o mesmo tipo de alimento aumentou consideravelmente sua média
de peso, bem como as alíquotas de de análise pós oferta de alimento não
apresentaram, em sua quase totalidade, nenhum náuplio, caracterizando a total
aceitação da dieta. Nesse sentido, em consonância com o estudo de RIVERO-WENDT et
al. (2021) onde orienta que a demanda de alimentos aumenta conforme
desenvolvimento do zebrafish, a quantidade ofertada na dieta para GC aumentou para

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eCICT 2023

30 mg/peixe/dia condicionando o aumento da ofertada também para GI, passando


para 120 mg/peixe/dia. Dados e análise estatística Através do programa GraphPad
Prism 7.01, foi analisado por ANOVA as diferenças estatísticas entre os grupos deste
experimento, e foi analisada as diferenças entre as médias dos mesmos grupos por
Teste T de Student resultando nos valores de “p” expostos nas tabelas 1, 2 e 3 para
peso, comprimento e IMC entre os grupos respectivamente e expressos na Figura 7.
Levando em consideração que a medição 1 marcou o início do experimento, os
resultados de p indicaram que ambos tinham pesos estatisticamente semelhantes. Os
valores de "p" são muito próximos de zero, o que significa que essas diferenças são,
estatisticamente, altamente significativas. Isso sugere que, nas medições de 2 a 5,
houve um aumento significativo no peso dos peixes no grupo de indução em
comparação com o grupo de controle, podendo ser observado na Figura 7. Em resumo,
os resultados indicaram que, a partir da medição 2 até a medição 5, os peixes no grupo
de indução apresentaram um aumento significativo de peso em relação ao grupo de
controle. Essas diferenças são estatisticamente robustas, como indicado pelos valores
de "p" muito baixos. Portanto, a indução de obesidade teve um impacto significativo
no aumento de peso dos peixes durante esse período. A análise de variância do
estudo, mostrou que todos os valores de “p” para variâncias associados à análise das
variâncias dos pesos entre os grupos de controle e de indução em diferentes medições
foram consistentemente maiores que 0,05. Indicando que não houveram evidências
estatísticas significativas para sugerir que as variâncias dos grupos de controle e de
indução foram diferentes em relação ao peso. Portanto, com base nesses resultados, a
hipótese nula de igualdade de variâncias entre os grupos não seria rejeitada nas
diferentes medições em relação ao peso. Os dados não forneceram evidências
estatísticas para concluir que a variabilidade do peso entre os grupos é
estatisticamente significativa. (Tabela 4) No desvio padrão de ambos os grupos (para a
variável Peso), foi observado uma crescente constante ao longo das medições. No
entanto, uma diminuição nos valores de desvio padrão de peso da medição 4 para 5,
sendo respectivamente ±32,64 para ±32,14 no grupo controle e ±33,71 e ±32,84 para o
grupo indução, demonstra que ambos grupos ainda continuam em crescimento,
porém já apresentavam um aspecto de estabilização na tendência de crescimento do
peso (Tabela 1). Ensaio de volume de alimentação As médias resultantes das análises
de volume de alimentação foram: Grupo controle 1º mês: Aquário vazio 0,66; Após
oferta 0. 2º mês: Aquário vazio 1,33; Após oferta 0. Grupo Indução 1º mês: Aquário
vazio 41,66; Após oferta 0,1. 2º mês: Aquário vazio 59,33; Após oferta 0,0. Ao longo de
todo o período do experimento, foi observado a ocorrência de um único náuplio de
artêmia em uma das amostras após oferta da primeira semana, na semana seguinte
houve o reflexo do mesmo resultado, evidenciando a quase que total aceitação e
consumo das porções dietéticas ofertadas para ambos os grupos. Todas as demais
alíquotas analisadas após oferta não resultaram em presença de náuplio de artêmia.

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eCICT 2023

Conclusão

Ao longo de um período de 8 semanas, realizou-se um estudo detalhado das mudanças


nos parâmetros zoométricos em peixes zebrafish submetidos a diferentes regimes
alimentares. Observou-se que, nos peixes submetidos à indução de obesidade, houve
um aumento significativo de peso em comparação com o grupo controle. Essa
diferença de peso foi estatisticamente robusta e indicou que a indução de obesidade
foi bem sucedida no modelo zebrafish. Os resultados obtidos corroboram estudos
anteriores que utilizaram abordagens semelhantes para induzir a obesidade em peixes
zebrafish, destacando a utilidade deste modelo na pesquisa de doenças metabólicas e
obesidade. Além disso, o zebrafish provou ser um modelo valioso para investigar os
efeitos de produtos naturais e substâncias potencialmente terapêuticas no tratamento
da obesidade. Este estudo representa um passo importante no estabelecimento do
zebrafish como um modelo promissor para pesquisas relacionadas à obesidade e
doenças metabólicas. Futuras investigações podem se concentrar em testar extratos
de plantas medicinais e substâncias isoladas quanto aos seus efeitos anti-
inflamatórios, antioxidantes e antidiabéticos, explorando ainda mais o potencial
terapêutico deste modelo. Além disso, o zebrafish pode ser utilizado para avaliar alvos
terapêuticos relacionados a doenças metabólicas, preenchendo uma lacuna na
pesquisa atual. Os resultados deste estudo fornecem uma base sólida para futuras
pesquisas que buscam entender melhor os mecanismos subjacentes à obesidade e
desenvolver abordagens terapêuticas inovadoras para esta condição de saúde pública
crescente. O zebrafish demonstrou ser um aliado valioso nesse esforço contínuo,
oferecendo uma plataforma versátil e eficaz para investigações translacionais na área
da obesidade. Os resultados deste estudo abrem um horizonte promissor para futuras
investigações no campo da obesidade e doenças metabólicas. Por conseguinte, sugere-
se como perspectivas futuras a implementação de novos grupos de perfil obeso como
modelos para estudos de mecanismos moleculares, terapias medicamentosas e
intervenções, bem como o uso de bioativos naturais no controle dos perfis glicêmicos
e lipídicos que esses animais venham a apresentar. Outras metodologias e testes para
análises histoquímicas, morfológicas, comportamentais, análise de perfil sanguíneo,
RNA foram realizados, no entanto não foram apresentados no presente estudo por
motivo de sigilo de pesquisa. Dados de um novo grupo de hiperlipidemia, com dieta
diferente da proposta neste estudo, foram gerados em paralelo a estes e serão
apresentados em trabalhos futuros, por enquanto seguem restritos em virtude do
mesmo motivo.

Referências

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eCICT 2023

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https://uniciencias.pgsscogna.com.br/uniciencias/article/view/9020. Acesso em: 15
fev. 2023.

Anexos

Figura 1 - Pesagem e preparo de porção dietética de náuplios de artêmia

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Figura 2 - Redução de salinidade de porção dietética de náuplios de artêmia

Figura 3 - Análise de alíquotas amostrais de artêmias

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Figura 4 - Medição de comprimento de Zebrafish, visão vertical

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Figura 5 - Adição de referência de escala em aplicativo ImageMeter

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Figura 6 - Delimitação de comprimento de Zebrafish em aplicativo ImageMeter

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Figura 7 - Gráficos comparativos de medidas zoométricas entre GC e GI.

Tabela 1 - Peso GC vs GI e valor de p para peso entre os grupos

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Tabela 2 - Comprimento GC vs GI e valor de p para comprimento entre os grupos

Tabela 3 - IMC GC vs GI e valor de p para IMC entre os grupos

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Tabela 4 - variância de p para variável peso entre grupos GC e Gi

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CÓDIGO: SB1605

AUTOR: MARIA LUIZA DE SOUZA FERREIRA

ORIENTADOR: ALICE DE MORAES CALVENTE VERSIEUX

TÍTULO: Fenologia reprodutiva das espécies vegetais da Floresta Nacional de


Nísia Floresta, fase 1

Resumo

A fenologia é o campo de estudo que investiga o crescimento vegetativo e


reprodutivo das plantas e o impacto que fatores bióticos e abióticos têm em
cada evento fenológico. Entender a resposta das plantas é fundamental no
contexto de provisão de recursos na floresta. Essa informação é útil para
elaborar calendários fenológicos, manejar espécies e entender as respostas
das plantas aos efeitos das mudanças climáticas. Este estudo foi desenvolvido
no limite norte da Mata Atlântica, na Floresta Nacional de Nísia Floresta, RN.
As fenofases reprodutivas foram observadas quinzenalmente, totalizando 26
quinzenas, durante um ano e investigamos os gatilhos climáticos na oferta de
recursos. A produção de flores teve seu ápice no mês de fevereiro, mas
sempre mantendo um padrão contínuo,e a produção de frutos ocorreu em
maior quantidade durante os meses de novembro e dezembro, tendo alguns
picos no mês de março e no final de junho.A sincronia foi maior nas fenofases
de fruto maduro e imaturo, a qual, à medida em que um teve picos ou quedas,
a outra fenofase acompanhava.As análises correlacionais da fenologia com o
clima apontam quetodas as fenofases obtiveram correlações extremamente
significativas com a variável de temperatura média.

Palavras-chave: Fenologia. Influências climáticas. Mata Atlântica.

TITLE: Reproductive phenology of plant species from the Nísia Floresta


National Forest, phase 1.

Abstract

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Phenology is the field of study that investigates the vegetative and reproductive
growth of plants and the impact that biotic and abiotic factors have on each
phenological event. Understanding plant response is fundamental in the context
of resource provision in the forest. This information is useful for preparing
phenological calendars, managing species and understanding plant responses
to the effects of climate change. This study was carried out on the northern
edge of the Atlantic Forest, in the National Forest of Nísia Floresta, RN. The
reproductive phenophases were observed fortnightly, totaling 26 fortnights,
during one year and we investigated the climatic triggers in the supply of
resources. Flower production reached its peak in February, but always
maintaining a continuous pattern, and fruit production occurred in greater
quantity during November and December, with some peaks in March and at the
end of June. Synchrony was greater in the mature and immature fruit
phenophases, which, as one had peaks or drops, the other phenophase
followed. Correlational analyzes of phenology with climate indicate that all
phenophases obtained extremely significant correlations with the mean
temperature variable.

Keywords: Phenology. climatic influences. Atlantic forest.

Introdução

A fenologia é uma disciplina científica que investiga os eventos biológicos


recorrentes. É um campo de estudo que abrange uma ampla gama de
fenômenos, como comportamento animal durante o forrageamento, migração
de pássaros, crescimento de plantas e reprodução. Consideravelmente, os
padrões de floração e frutificação foram registrados cronologicamente por
várias sociedades humanas devido à exigência de determinar a disponibilidade
de recursos alimentares, identificar os intervalos ideais para semear cada safra
e estabelecer as datas limite para a colheita de cada espécie (Visser 2022).
A compreensão da fenologia facilita a avaliação da acessibilidade dos recursos
ao longo do ano (Morellato 1995). Assim, o conhecimento sobre os períodos de
floração e frutificação nos permite antecipar os ciclos de reprodução das
plantas, os padrões de crescimento e outras características notáveis relevantes
para as práticas de manejo florestal (Fournier 1974; 1976). Essa informação
pode ser empregada em diversos campos, permitindo estabelecer táticas de
coleta de sementes e disponibilidade de frutos, o que impactará a qualidade e a
quantidade da dispersão de sementes (Mariot et al. 2003).
Além disso, compreender a fenologia de diferentes espécies têm imensa
importância na regulação dos movimentos de energia, água e carbono nos
ecossistemas terrestres (Baldocchi et al. 2001). Esse conhecimento é de
grande valor, pois fornece uma medida eficaz da resposta do ecossistema às

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eCICT 2023

condições climáticas em constante mudança (Andrew et al. 2013). Como


indicado em Chuine e Regniere (2017) a investigação da sazonalidade no clima
e seu impacto no crescimento tornou-se um tópico de grande interesse nas
áreas de agronomia, ecologia e ciências ambientais, sendo assim,
pesquisadores dessas áreas estão trabalhando para descobrir e modelar os
fatores ambientais que exercem controle sobre a fenologia, já que esse
momento dos estágios de desenvolvimento é altamente dependente desses
fatores.
O objetivo final desses esforços é prever como a fenologia reagirá às
mudanças no clima, dada a crescente evidência de sua importância
fundamental. Fatores meteorológicos, como precipitação, comprimento do dia,
umidade relativa e temperatura, exibem variabilidade temporal e estão
intrinsecamente ligados às florestas.

Metodologia

Área de estudo
O presente estudo foi conduzido dentro de um fragmento da Mata Atlântica,
situado na Floresta Nacional de Nísia Floresta (Figura 1), que está posicionada
a uma distância de aproximadamente 45 km da capital do Rio Grande do Norte,
Natal. Estendendo-se sob as seguintes coordenadas, latitude: 06º05’12,4’’ e
longitude: 035º11’04,0’’.
Após a identificação do local, cinco parcelas foram estabelecidas em pontos
distintos da floresta, cada uma medindo 10 metros de largura e 10 metros de
comprimento. Placas de alumínio numeradas foram usadas para identificar
cada indivíduo, seja herbáceo, arbustivo ou arbóreo, para ajudar na análise dos
padrões reprodutivos de todas as populações presentes nas parcelas.
Observações fenológicas
Nesta pesquisa, quatro estágios fenológicos foram observados: botão, flor,
fruto maduro e imaturo. Para avaliar a intensidade de cada estágio, foi
empregado o método de Fournier (1974). Esse método envolve categorizar a
distribuição das fenofases na copa da planta em cinco categorias distintas.
Essas categorias são definidas da seguinte forma: 0 representando nenhuma
atividade, 1 representando 1-25% de atividade da fenofase na copa, 2
representando 26-50%, 3 representando 51-75% e 4 representando 76-100%.
Para os indivíduos arbóreos, utilizamos binóculos Bushnell, com aumento de
08x42, para observar as fenofases com precisão. Ao longo de um ano (julho de
2022 a julho de 2023) a cada 15 dias, foram realizadas idas à campo na
FLONA de Nísia Floresta, resultando em um total de 26 quinzenas. A cada ida

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eCICT 2023

eram utilizadas planilhas de campo para a coleta dos dados fenológicos,


anotações sobre a identificação das plantas, e observações. Com esses dados
adquiridos tornou-se possível analisar a influência climática em cada fenofase.

Análise de dados
Os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas sendo organizados em
cada quinzena, e com todas as informações de identificação necessárias.
Dessa forma, foi possível analisar a porcentagem de indivíduos e de Fournier.
No gráfico (Figura 4) é possível observar o número de indivíduos em atividade,
quinzenalmente, exceto no dia 31 de dezembro de 2022, pois por razões
logísticas não houve campo para coleta.
Para verificar a correlação entre as fenofases e as variáveis climáticas foi feito
o uso do software de análise estatística PAST 4.03, com ele foi possível utilizar
o coeficiente de correlação de Spearman (Rs), o qual foi escolhido neste
estudo devido à sua adequação para conjuntos de dados que não apresentam
distribuição normal, conforme sugerido por ZAR (1999). Portanto, analisamos
os seguintes dados meteorológicos: precipitação (mm), comprimento do dia (h)
e temperatura baixa, média e alta (ºC) (Figuras 3A e 3B).
Todos os dados climáticos obtidos foram fornecidos pela Empresa de Pesquisa
Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), coletados diariamente e com
uma média quinzenal, para que houvesse uma maior precisão nas análises
realizadas.

Resultados e Discussões

Durante o período de coleta de dados, a comunidade não exibiu um padrão


síncrono em relação às suas fenofases. Nos meses de novembro e dezembro
de 2022 houve um pico notável de frutos maduros, com quedas subsequentes
entre meados de março e maio de 2023, que coincidiram com a aproximação
do inverno. No gráfico (Figura 3A) é possível observar as datas precisas
desses picos de precipitação, com valores entre 173,00 e 176,00 mm. Os frutos
imaturos conseguiram manter um certo padrão síncrono juntamente com os
frutos maduros, tendo eles alcançado o seu pico também no mês de dezembro.
O processo de floração, caracterizado pelo surgimento de flores nas plantas,
ocorreu de forma consistente, mas exibindo um baixo nível de sincronia. No
entanto, foi durante o mês de fevereiro do ano de 2023 que a fenofase atingiu
seu ápice, apresentando o número máximo de indivíduos com florações
durante todo o ano, sendo em média 4,7% de indivíduos florescendo. Essa

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eCICT 2023

fase específica foi marcada por um dos maiores picos de temperatura média
(27°C) que exerceu uma influência direta e substancial na antese, ou período
de floração, de cada planta.
Ao contrário dos frutos imaturos e maduros, os botões florais exibiam uma
notável falta de sincronia em relação ao período de antese (floração). O seu
pico ocorreu durante o mês de fevereiro, se estendendo até o final de abril. No
entanto, houve um declínio em meados de setembro e novembro do ano de
2022, um intervalo de tempo marcado por um período prolongado de altas
temperaturas, chegando a, em média, 31°C, e uma diminuição concomitante na
precipitação, medindo cerca de 1,80 mm (Figura 3A).
Tendo como ideia principal identificar quais fatores poderiam estimular a oferta
de recursos, a correlação entre as variáveis climáticas e as fenofases nos
mostrou valores significativos em que a temperatura média influenciou de
maneira relevante todas as fenofases, com ênfase para botão floral, que
apresentou um valor-p extremamente significativo (Tabela 1). Dessa forma,
afirmando seu considerável impacto em todas as fases reprodutivas dos
indivíduos analisados, mesmo consciente de que a atividade fenológica não
apresentou variações sazonais significativas.

Conclusão

As variações climáticas podem ter influências diretas na reprodução das


plantas, como visto nos resultados deste estudo. Portanto, é de necessidade
que pesquisas envolvendo as mudanças do clima continuem, para que dessa
forma os estudos fenológicos possam nos ajudar ainda mais a entender como
cada estágio reprodutivo reage diante de qualquer mudança, seja na
temperatura, na precipitação, comprimento do dia, ou qualquer outra.
Os dados coletados e correlacionados nesta pesquisa certamente poderão
servir para estudos futuros, visando a conservação da Mata Atlântica e a
preservação de sua biodiversidade.

Referências

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variabilidade temporal e espacial das densidades de dióxido de carbono, vapor
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Anexos

1927
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Figura 1. Floresta Nacional de Nísia Floresta. Área de estudo escolhida para realização
da pesquisa, na cidade de Nísia Floresta, RN. Foto: Maria Luiza de Souza Ferreira

1928
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eCICT 2023

Figura 2. Dois estágios reprodutivos sendo representados (A) Fruto maduro da


Salzmannia nitida, (B) Flor da S. nitida, (C) Fruto maduro da Psychotria bahiensis, (D)
Flor da P. bahiensis., (E) Fruto maduro da Myrciaria tenella, (F) Flor da M. tenella.

Figura 3. Registro quinzenal da precipitação e da temperatura (A) e comprimento do


dia (B) durante os meses de julho de 2022 a julho de 2023. Floresta Nacional de Nísia
Floresta, RN.

1929
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eCICT 2023

Figura 4. Porcentagem de indivíduos em atividade quinzenalmente, levando em


consideração todas as fenofases.

Tabela 1. Correlação de Spearman (Rs) entre a porcentagem dos indivíduos em


atividade e os dados climáticos de Nísia Floresta. Valor de significância ajustado pela
correção de Bonferroni (valor de p: * < 0,01; ** <0,001).

1930
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eCICT 2023

CÓDIGO: SB1607

AUTOR: ANDRÉIA CARMEM CUNHA OLIVEIRA

ORIENTADOR: JONAS IVAN NOBRE OLIVEIRA

TÍTULO: Análise do Potencial do GRL-002 Como um Novo Inibidor da Protease


do HIV-1.

Resumo

Neste estudo, buscou-se estudar e compreender como é o funcionamento do


GRL-002 como um possível inibidor da protease do vírus HIV-1. Utilizando
metodologias in silico como o Fracionamento de Molecular com Capas
Conjugadas (MFCC), associada a Teoria Funcional da Densidade (DFT). O
método do MFCC tem como objetivo fornecer energias de interação molecular
precisas envolvendo grandes moléculas, como proteínas, por meio de cálculos
quânticos completos da estrutura eletrônica. A AIDS ainda não tem cura,
mesmo depois de 40 anos de sua descoberta. Por isso, o foco foi observar
como o GRL-002 poderia comportar-se de forma a ser um possível potencial
inibidor da protease da HIV-1 e após analisa-lo, de fato, ele desponta como um
excelente inibidor da protease do vírus do HIV-1. É importante destacar que a
escolha do melhor inibidor depende de vários fatores, incluindo a potência,
barreira genética, perfil de resistência a medicamentos e características
individuais do paciente. Estudos adicionais e ensaios clínicos são necessários
para determinar a eficácia e segurança deste inibidor.

Palavras-chave: DFT. MFCC. GRL-002. HIV-1. AIDS. Inibidor de protease.


Vírus.

TITLE: Analysis of the Potential of GRL-002 as a Novel HIV-1 Protease


Inhibitor.

Abstract

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eCICT 2023

In this study, we aimed to investigate and understand the mechanism of action


of GRL-002 as a potential inhibitor of HIV-1 protease. Cutting-edge in silico
methodologies, such as Molecular Fractionation with Conjugate Caps (MFCC),
in conjunction with Density Functional Theory (DFT), were employed. The
MFCC method aims to provide accurate molecular interaction energies
involving large molecules like proteins through comprehensive quantum
calculations of electronic structure. Despite four decades since the discovery of
AIDS, a definitive cure remains elusive. Accordingly, our focus was on
assessing how GRL-002 could potentially act as an inhibitor of HIV-1 protease.
Upon analysis, GRL-002 emerged as an excellent candidate for inhibiting HIV-1
protease. It is crucial to note that the selection of an optimal inhibitor depends
on various factors, including potency, genetic barrier, drug resistance profile,
and individual patient characteristics. Further studies and clinical trials are
needed to determine the efficacy and safety of this inhibitor.

Keywords: DFT. MFCC. GRL-002. HIV-1. AIDS. Protease inhibitor. Virus.

Introdução

A AIDS foi identificada na década de 1980 e rapidamente tornou-se


preocupação global devido à sua taxa de disseminação e à ausência de
tratamentos eficazes. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS),
possui o mesmo agente etiológico da síndrome da imunodeficiência humana, o
retrovírus (HIV) está subdividido em dois grupos, o HIV-1, que é considerado a
cepa primária do vírus, e o HIV-2, que é a cepa menos virulenta e foi
encontrada na África Subsaariana (LEVISON W. 2011), sendo ele uma
mutação do vírus da imunodeficiência símia (SIV, de simian immuodeficiency
virus), (TORTORA G. 2012). Pesquisadores acreditam que o vírus se espalhou
lentamente pelo continente africano, antes que pudesse difundir para o resto do
mundo e tendo o registro dos primeiros casos oficiais no final de 1981 em Los
Angeles nos Estados Unidos (GRMEK, 1989). De acordo com o relatório de
2023 da UNAIDS, em 2022 há atualmente 39 milhões (entre 33,1 milhões e
45,7 milhões) de pessoas vivendo com o HIV a nível global.
O desenvolvimento patológico da AIDS envolve a infecção e destruição das
células do sistema imunológico, como os linfócitos T-CD4+, células
responsáveis pela defesa do organismo. O HIV liga-se as células e inicia seu
processo de replicação, levando a uma diminuição de linfócitos T-CD4+ e
macrófagos. A progressão da doença é caracterizada por 3 fases. Ressalta-se
que durante todas as 3 fases, as complicações severas ocorridas pela
imunossupressão, tornará o organismo do hospedeiro vulnerável as doenças

1932
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eCICT 2023

oportunistas. A sua forma de transmissão se dá através de contato sexual, com


o sangue contaminado ou através da transmissão vertical.
É necessário compreender como ocorre a infecção do HIV para descobrir uma
possível cura. Até o momento, no ano de 2023, não há a cura para a AIDS,
apenas o tratamento que é realizado pela terapia antirretroviral altamente
efetiva (HAART – Higly Active Antiretroviral Therapy), ou também conhecida
como Terapia Antrirretroviral (TARV) e através dos fármacos e suas classes
inibitórias, como por exemplo: mutações de resistência a inibidores da
transcriptase reversa nucleosídeos (ITRN) Tenofovir (TDF) e Lamivudina
(3TC); inibidores de protease (IP) Atazanir (ATV) e Darunavir (DRV). Os
fármacos atuam de diversas formas: interferindo ou interrompendo a produção
de cópias adicionais de HIV pelas enzimas, desabilitando os blocos
construtivos necessários para a replicação viral, ou bloqueando a entrada do
vírus nas células. O Ministério da Saúde iniciou em 2014 a oferta da dose tripla
combinada, o chamado três em um, dos medicamentos Tenofovir (300mg),
Lamivudina (300mg) e Efavirenz (600mg) (Ministério da Saúde, 2014).
Nos estudos in silico, pesquisas são realizadas para o desenvolvimento de
potenciais possíveis fármacos. Neste caso, serão usados os métodos da
Mecânica Quântica (MQ) associado a Teoria Funcional da Densidade (DFT). E
após a realização dos experimentos, poderemos compreender as ligações
entre um potencial novo fármaco com alta eficácia contra o vírus do HIV. Serão
analisadas as ligações entre os inibidores da protease e os ligantes, através de
análise quantitativa existentes entre o ligante inibidor de protease GRL-002
com a protease de uma amostra do HIV do tipo selvagem.
O proposito deste estudo é de analisar as interações energéticas do ligante
GRL-002, que demonstrou ser um ótimo inibidor de protease do HIV
interagindo com o complexo proteína-ligante. Foram analisadas suas ligações
intermoleculares e realizado o cálculo de cada resíduo, pelas técnicas de
Fracionamento de Molecular com Capas Conjugadas (MFCC), associada a
Teoria Funcional da Densidade (DFT), e com o propósito de analisar as
energias de interação com os resíduos ligante e dos aminoácidos. O GRL-002
demonstrou alta barreira genética, impedindo o advento de novas variantes
resistentes, dessa forma, sinalizando como um excelente agente antirretroviral.

Metodologia

A metodologia foi realizada com o propósito de predizer, através de cálculos


computacionais, como se comporta a ligação entre o complexo proteína-ligante

1933
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eCICT 2023

do GRL-002. E para isto, foi preciso adquirir a estrutura cristalográfica por


difração de raios-X da protease do HIV-1 do tipo selvagem em complexo com o
GRL-002, obtida do Researcher Collaboratory for Structural Bioinformatics –
Protein Data Bank (RCSB-PDB). Neste banco de dados, podemos encontrar
proteínas em um arranjo tridimensional, após ser catalogada e tratada ela é
disponibilizada. O cristal que será analisado possui o código de nome 6oyr e
apresenta uma resolução de 1.54 Å.

Posterior a escolha do PI que irá ser trabalhado, foi utilizado o Discovery Studio
® para adicionar os hidrogênios que não estavam presentes em sua forma
original e depois, utilizado o software Marvin Sketch® (Marvin Beans Suite –
ChemAxon), e identificado o estado de protonação do ligante, que possui o pH
fisiológico de 7.4. Depois, o estado de protonação foi analisado pela web
Propka <https://www.ddl.unimi.it/vegaol/propka.htm/> On-line 2.0. A otimização
que foi feita posteriormente utilizando o campo de força clássico do CHARMm
(Chemistry at Harvard Molecular Mechanics), aonde é parametrizado para
moléculas orgânicas (MOMANY, F. A; RONE), <Chemistry at HARvard
Molecular Mechanics (CHARMM) | Karplus group/>.
Com posse dos dados obtidos e registrados no Microsoft Excel®, foi escolhida
a metodologia do MFCC para realizar os estudos, propriamente ditos, onde
serão feitos os cálculos de suas energias de interação com complexo proteína-
ligante da protease do HIV- e o inibidor estudado, o GRL-002, com base nos
cálculos de outra metodologia, a DFT. O método do MFCC, viabiliza a
realização de cálculos completos ou ab initio de natureza quântica sobre a
interação direcionada entre proteínas-inibidores, tornando esse processo viável
e computacionalmente eficaz (ZHANG; ZHANG, 2003). A ideia principal da
abordagem MFCC é dividir uma molécula de proteína em fragmentos de
aminoácidos cortando as ligações covalentes que conectam os aminoácidos.
Um par de capas conjugadas (concaps) é introduzido no local de corte para
saturar as ligações pendentes e também para imitar o ambiente químico local
da proteína original nos fragmentos resultantes do corte (GORDON, MARK
2017).
Após a fragmentação e aplicação das chamadas capas é possível determinar a
energia total do sistema de maneira algébrica, com cada termo da equação
representando as energias de interação relativas às moléculas envolvidas.
Assim, a energia total de ligação pode ser obtida por meio da seguinte fórmula:
EI(L - R_i) = E(L +C_i R_i C_(i+1)) -E(L +C_i C_(i+1)) - E(C_i R_i C_(i+1))
+E(C_i C_(i+1))
Onde temos o primeiro termo , que representa a energia de interação entre o
ligante (L) e o resíduo a ser estudado (Ri), o segundo termo representa a

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energia de interação entre o ligante e o resíduo conjugado com as suas capas


(Ci e Ci+1), o terceiro termo representa a energia de interação entre o ligante e
as capas, o quarto termo representa a energia do resíduo ligado a suas capas
de aminoácido, e o último elemento representa a energia das capas, já que
elas foram removidas entre o terceiro e quarto termos da equação.
Com os resultados obtidos, após os cálculos acima, as energias foram
avaliadas no software Gaussian G09 e foram investigados os dados dos
possíveis potenciais influências existentes entre as cargas ao redor do
complexo proteína-ligante. Estes dados foram analisados na constante de 40 (ε
= 40) - onde ε é a constante dielétrica do meio. Foi avaliada como a energia de
interação se comportará entre o ligante e os aminoácidos, à medida que o seu
raio aumente. Iniciou-se a partir do raio 2.0 Å, e aumentando de 0.5 Å a cada
distância, foi calculado até o raio de 10.0 Å, porém, neste trabalho serão
descritos os aminoácidos de raio 2.0 Å até 3.0 Å. Então, neste momento,
teremos o valor das convergências que são obtidos quando há uma mudança
de energia entre dois intervalos consecutivos e que sejam menores que 10%.
Isto irá identificar a estabilização energética das interações e saberemos quais
serão os aminoácidos mais relevantes na ligação com o ligante.

Resultados e Discussões

Para obtermos os estudos sobre este resíduo, o GRL-002, foi dividido em três
regiões distintas: I, II e III (Fig.1), desta forma, serão analisadas as ligações
que interagem com a protease do vírus do HIV-1 em um pH fisiológico de 7.4.
Através das metodologias do MFCC aliada ao DFT, as interações do complexo
proteína-ligante foram analisadas a fim de obter as energias dos principais
resíduos energéticos (em kcal/mol), com os raios iniciando a partir de 2.0 Å até
10.0 Å. Os cálculos realizados tentaram reproduzir as condições ideias como o
vácuo e o pH fisiológico ideal, para a constante dielétrica de ε = 40.
O GRL-142 possui um tetrahidropiranofuranos policíclicos em sua estrutura no
sítio de ligação P2 e um tetrahidrociclopropilaminobenzotiazol na região P2’,
juntamente ligados ao seu benzeno dois átomos de flúor ligados em cada
posição meta no sítio P1. E por este PI citado, o GRL-002 foi sintetizado e é um
dos sete inibidores não peptídicos da protease do HIV (PIs). Ele é composto
por um átomo de flúor na posição meta na porção fenila P1. O GRL-002
apresentou maior permeabilidade celular e potência anti-HIV-1 extrema em
comparação com o darunavir (DRV), foi demonstrado uma alta barreira
genética para a emergência de variantes resistentes, indicando o seu potencial
como agente antirretroviral eficaz.

1935
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eCICT 2023

Não obstante, a droga darunavir (DRV) é um eficiente inibidor da protease para


o vírus do HIV-1, pois possui baixo valor do IC50 para possíveis variantes
resistentes, existem registros de falhas no tratamento por este fármaco, quando
utilizado em longo termo. Nos últimos anos, existem maciçamente um aumento
nas pesquisas in silico para o aperfeiçoamento de novos inibidores da protease
mais agressivos, que sejam eficazes da forma como seus contemporâneos não
foram (BULUT et al., 2020). A análise revelou que o GRL-002, quando
complexado com a protease do HIV-1, apresentou alterações conformacionais
na região da aba em comparação com a protease tipo selvagem. Foram
identificadas interações do GRL-002 com aminoácidos específicos, como o
M54, incluindo interações enxofre-oxigênio e enxofre-prolina.
Posteriormente, tivemos a análise da energia total de cada raio que obtida pelo
somatório das energias individuais de cada resíduo de aminoácido, e vemos no
gráfico da figura 2 essas energias no gráfico dos raios de 2.0 Å até 10.0 Å. Já
no gráfico da figura 3, vemos as energias dispostas através do gráfico BIRD,
que pelas metodologias da MFCC e DFT, observamos quais são as interações
energéticas do complexo proteína-ligante. Neste caso, a análise foi feita
apenas para a constante dielétrica de ε = 40. As energias em ordem do mais
repulsivo para o mais atrativo foram: Asp 25 (3,0433Kcal/mol), Lys 45
(1,5924Kcal/mol), Pro 81 (-1,8192Kcal/mol), Gly 48 (-2,0820Kcal/mol), Asp 29
(-3,1828Kcal/mol), Ala 28 (-3,3686Kcal/mol), Asp 30 (-3,6325Kcal/mol), Ile 84 (-
3,7812Kcal/mol), Ile 47 (-4,4185Kcal/mol), Ile 50 (-8,4530Kcal/mol). O
aminoácido com maior destaque pela a sua energia de atração foi a Ile50, com
certa diferença para os seguintes, o Ile 47 e o Ile 84; já os aminoácidos que
apresentaram maior repulsão foram o Asp 25 seguido do Lys 45.
Devemos mencionar as características dos aminoácidos analisados,
começando pelo grupo dos ácidos aspárticos, formados por Asp 25, Asp 29,
Asp 30 apresentam cadeias laterais ácidas, ou seja, são grupos ionizáveis,
como grupo carboxila, doadores de prótons (H+), e resultam em uma carga
líquida negativa em pH fisiológico. Este grupo aspártico possui ligações de
hidrogênio, ligações de Van der Waals também. Já a Gly 48 e a Prol 81 são
cadeias laterais apolares, ou seja, são também conhecidos como hidrofóbicos
irão realizar uma nuvem de repulsão nas cadeias de água de seus ligantes
vizinhos. No caso da Pro 81, sendo um aminoácido de características únicas, já
que ele forma um anel fechado com o esqueleto principal, restringindo assim, a
flexibilização da estrutura da proteína. Enquanto a Gly 48 possui apenas um
único átomo de hidrogênio, garantindo a flexibilidade que a Pro 81 não possui.
Continuando a analisar as características de mais aminoácidos de caráter
apolar, de cadeia alifática, a Ala 28, Ile 47 e Ile 84, são também hidrofóbicos
realizando muitas ligações como ligações de hidrogênio, ligações de Van der
Waals, e ligações covalentes. As ligações covalentes existentes podem ser

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eCICT 2023

explicadas através das ligações pelo valor eletronegativo dos átomos, seguindo
a escala de Pauling, que vai de 0,7 o menos eletronegativo, para 3,89 o mais
eletronegativo, o flúor (LEHNINGER, 2014). E o flúor no GRL-002 está na
posição meta da posição fenila P1 que possui papel fundamental em nosso
ligante. Essas interações desempenham um papel crucial na ligação do GRL-
002 à protease do HIV-1 e contribuem para sua potente atividade anti-HIV-1.
O grupo de Isoleucinas são os aminoácidos com a maior taxa de atratividade
para com o ligante, com estruturas bastante ramificadas. Dentre eles se
destaca o Ile 50, como sendo o mais atrativo ao ligante, considerado o melhor
aminoácido para estudo e para potencial desenvolvimento farmacológico (fig.
3). É importante destacar que a escolha do melhor inibidor depende de vários
fatores, incluindo a potência, barreira genética, perfil de resistência a
medicamentos e características individuais do paciente. Estudos adicionais e
ensaios clínicos são necessários para determinar a eficácia e segurança deste
inibidor.

Conclusão

O vírus do HIV é um dos maiores desafios para a comunidade científica, pois


passados 4 décadas ainda não existe uma cura para a AIDS. Esta doença
desafia a ciência por sua forma de infecção e disseminação a nível global.
Como comparativo com uma outra pandemia de larga escala como o COVID-
19, que no ano de 2020 fez o mundo parar e em menos de 2 anos, tínhamos
vacinas com múltiplas doses para o seu tratamento, e o mesmo, mostrou-se
responsivo a vacina. Isto já não ocorre com o vírus do HIV. A AIDS envolve a
infecção e destruição das células do sistema imunológico, como os linfócitos T-
CD4+, células responsáveis pela defesa do organismo. O HIV liga-se as
células e inicia seu processo de replicação, levando a uma diminuição de
linfócitos T-CD4+
O método MFCC foi inicialmente desenvolvido para fornecer um cálculo
eficiente de energia de interação proteína-ligante, escalável de forma linear, a
partir de cálculos ab initio. Após esta fragmentação, são adicionadas capas a
cada terminação. No caso de uma proteína fragmentada, por exemplo, capas
são adicionados a cada extremidade N- e C-Terminal dos aminoácidos, e a
soma das interações individuais seria então uma representação fidedigna da
energia total de interação da molécula em sua totalidade com seu alvo. Desta
forma, o custo computacional é consideravelmente reduzido sem prejuízo de
acurácia nos dados, permitindo análises precisas e mais rápidas.

1937
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Após esta fragmentação, são adicionadas capas a cada terminação. No caso


de uma proteína fragmentada, por exemplo, capas são adicionados a cada
extremidade N- e C-Terminal dos aminoácidos, e a soma das interações
individuais seria então uma representação fidedigna da energia total de
interação da molécula em sua totalidade com seu alvo. Desta forma, o custo
computacional é consideravelmente reduzido sem prejuízo de acurácia nos
dados, permitindo análises precisas e mais rápidas.
A partir da análise dos aminoácidos e encontrarmos o com maior atratividade
para com o ligante, podemos visualizar que o GRL-002 é um excelente para a
inibição da protease do HIV-1. Ou seja, o GRL-002 demonstrou características
promissoras como inibidor da protease do HIV, incluindo maior permeabilidade
celular, potência extrema e adaptação a alterações estruturais na protease.
Essas descobertas destacam o potencial do GRL-002 para desenvolvimento
adicional como um agente antirretroviral eficaz.

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eCICT 2023

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MARINHO, M. M.; SANTOS, R. P. DOS; BEZERRA, E. M.; COSTA, R. F.;
FIGUEIRA, C. S.; MARTINS, A. M. C.; NETO, P. L.; MARILHO, E. S.; FREIRE,
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LEHNINGER, T. M., NELSON, D. L. & COX, M. M. Princípios de Bioquímica.
6ª Edição, 2014. Ed. Artmed. – Porto Alegre.

Anexos

Fig. 1 – O resíduo GRL-002 dividido nas 3 regiões especificadas acima.

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Fig. 2 - Gráfico de convergência dos resíduos na constante dielétrica no valor de ε = 40.

Fig.3 - Gráfico BIRD com os 10 principais resíduos de na constante dielétrica de ε = 40 e


seus respectivos raios.

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CÓDIGO: SB1619

AUTOR: LUISA DE SOUSA FRAZAO

ORIENTADOR: ALIANDA MAIRA CORNELIO DA SILVA

TÍTULO: Desenvolvimento e avaliação in vitro de nanopartículas contendo


Vitamina D

Resumo

A Esclerose Múltipla é uma doença desmielinizante autoimune, isto é, ocorre a


deteriorização da bainha de mielina dos neurônios do Sistema Nervoso Central por parte
do próprio sistema imunológico. A doença afeta indivíduos jovens, entre 20 e 40 anos e
principalmente mulheres, resultando em um grande impacto pessoal, social e
econômico, visto que esse é o período no auge da vida produtiva. Ainda não se sabe a
causa do desenvolvimento da doença, mas diversos estudos buscam entender e,
compreender os motivos e, também, buscar meios de reverter e melhorar dada situação.
Alguns exemplos de estudos voltados a melhoras significativas do estado de inflamação
ao decorrer do agravamento da doença são aqueles que correlacionam a Vitamina D,
assim como a incidência dos raios solares, que podem funcionar como um fator
neuroprotetor durante o processo inflamatório na progressão da EM.

Dessa forma, visa-se realizar uma revisão sistemática acerca desta condição que afeta
milhares de brasileiros na atualidade com o viés de compreender a prevalência, assim
como os fatores pré-existentes que possam levar o indivíduo a desenvolver a Esclerose
Múltipla. Sobretudo, como já visto em estudos acerca da prevalência da EM no Brasil,
pode-se concluir que este é um país com uma baixa prevalência comparada aos países
ao norte do hemisfério, precisando-se de uma análise criteriosa dos fatores responsáveis
para essa apuração.

Palavras-chave: Revisão Sistemática.Brasil.Epidemiologia.Prevalência.Risco


de viés.

TITLE: Development and in vitro evaluation of nanoparticles containing Vitamin


D

Abstract

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Multiple Sclerosis is an autoimmune demyelinating disease, that is, there is


deterioration of the myelin sheath of neurons in the Central Nervous System by the
immune system itself. The disease affects young individuals, between 20 and 40 years
old and mainly women, resulting in a great personal, social and economic impact, since
this is the peak period of productive life. The cause of the development of the disease is
still unknown, but several studies seek to understand and understand the reasons and
also seek ways to reverse and improve the given situation. Some examples of studies
aimed at significant improvements in the state of inflammation as the disease worsens
are those that correlate Vitamin D, as well as the incidence of sunlight, which can
function as a neuroprotective factor during the inflammatory process in the progression
of MS.
Thus, the aim is to carry out a systematic review of this condition that currently affects
thousands of Brazilians with the aim of understanding the prevalence, as well as the pre-
existing factors that may lead the individual to develop Multiple Sclerosis. Above all, as
already seen in studies on the prevalence of MS in Brazil, it can be concluded that this is
a country with a low prevalence compared to countries in the northern hemisphere,
requiring a careful analysis of the factors responsible for this determination.

Keywords: Systematic Review.Brazil.Epidemiology.Prevalence.Risk of bias.

Introdução

Este plano de trabalho teve como objetivo realizar uma Revisão Sistemática acerca da
prevalência de Esclerose Múltipla no Brasil e atualizar os dados já existentes sobre a
temática no país.

Metodologia

Inicialmente, a revisão foi realizada seguindo os padrões PRISMA juntamente com a


estratégia de busca desenvolvida pelo discente, utilizando uma combinação de palavras-
chaves escolhidas (Esclerose Múltipla, Brasil, Prevalência e Epidemiologia) tanto em
inglês como em português acerca da Esclerose Múltipla e da sua prevalência no Brasil,
as quais foram utilizadas na pesquisa feita nas bases de dados eletrônicos, seguindo os
padrões de busca individual de cada banco de dado. Com isso, foram recuperados
artigos nas bases de dados PubMed, Scielo, MEDLINE, Scopus, LILACS e ECTRIMS
(Comitê Europeu de Tratamento e pesquisa em Esclerose Múltipla).
Durante a coleta dos dados da revisão que durou até fevereiro de 2023, não foi
mensurado qualquer restrição de tempo de publicação dos artigos para garantir um

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maior número de dados publicados acerca da prevalência da Esclerose Múltipla no


Brasil. Após essa primeira busca, os artigos selecionados e recuperados das bases de
dados eletrônicos que contemplavam as palavras-chaves exigidas foram importados
para o programa Rayyan, um gerenciador de referências bibliográficas. Nesta nova
etapa verificou-se os artigos que atendiam os seguintes critérios: apresentar as palavras-
chave escolhidas no título ou resumo do texto, trazer dados sobre a prevalência de EM
no Brasil, tratar dados sobre o local de estudo no Brasil, indicar qual a população de
estudo, devia apresentar idioma em inglês ou português, indicar a data de publicação e
uma descrição clara da metodologia utilizada afim de incluir ou excluí-los como
material de estudo da Revisão Sistemática.
Contudo, foram excluídos os artigos com dados epidemiológicos de outros países ou
que se referissem a prevalência de EM de uma macrorregião, assim como aqueles
ausentes de informações da prevalência e dos dados epidemiológicos referentes aos
estudos da esclerose além da ausência das palavras-chaves nos títulos e resumos dos
artigos.
Desta forma, os artigos incluídos foram tabelados na plataforma Excel registrando-se o
título, o autor, o ano de publicação, o ano de estudo, o objetivo do estudo, a região do
estudo, a latitude do local estudado, os critérios clínicos e epidemiológicos avaliados, os
critérios de diagnóstico, a prevalência de Esclerose Múltipla, a população estudada, a
etnia, o EDSS médio, a idade durante a pesquisa e as principais conclusões de cada
artigo tabelado.
Com a seleção dos artigos como material de estudo da revisão e o seu registro no
Excel, realizou-se um novo processo seletivo. Além dos critérios de inclusão e exclusão
já vistos, foi avaliado o risco de viés de cada artigo incluído afim de determinar a
qualidade dos dados apresentados pelos os autores dos artigos e contemplar de forma
eficaz se o material deve ou não ser inserido de forma definitiva no projeto de revisão.

Resultados e Discussões

Ao todo foram selecionados e tabelados 34 artigos, uma vez que todos traziam as
palavras-chave tanto no título como no resumo e as informações contidas no texto
necessárias para a inclusão nesta revisão.

Conclusão

Logo, conclui-se que para as perspectivas futuras serão necessárias análises estatísticas
dos dados obtidos a partir do risco de viés para seja possível prosseguir para a fase de
análise, elaboração de tabelas contendo análises dos resultados e publicação do artigo.

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Referências

https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/sintomas-origem-e-tratamento
https://medsimples.com/o-que-e-esclerose-multipla/

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