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INFÂNCIA/ VIDA /FAMILIAR

Fale sobre sua infância ( pontos relevantes – trabalhos – brincadeiras – igreja – religião,
irmãos, condições de vida, atividade profissional dos pais ).

Lembrar da minha infância não significa apenas fazer relatos de acontecimentos e fatos
passados. Implica vasculhar sonhos, trazer a tona sentimentos, reviver emoções, aguçar
sensações de medo e insegurança...
As palavras caminham, tropeçam, vão e vêm. Mexem com o passado, fazem recordar as
brincadeiras com amigos, lugares, cheiros e sabores de tamanha importância que ficaram
tatuados na memória.
Em meados de 1950 eram tempos difíceis meu pai era pedreiro e minha mãe dona de casa.
Morávamos, dentro de um estaleiro, local onde nascemos eu e meu irmão mais velho. Essa
área sustentava uma Associação Náutica Desportiva fundada em 13 de dezembro de 1934
( por coincidência fora fundada no ano em que meu pai nasceu ),situada no Bairro Villa
Assunção, na Zona sul de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Sendo o primeiro clube de
vela em Porto Alegre. Meu pai fora contratado como pedreiro por uma construtora, a qual
anos mais tarde se aposentaria como “Mestre de Obras” ( Aos 50 anos já estava aposentado ).
Homem de caráter, responsável, provedor de sua família, mestre na arte da música, amoroso,
sensível, coração de menino, pai amigo e um olhar imenso de avô. “A hora faz o ladrão”ou
seja, necessitávamos morar dentro desse estaleiro... Tínhamos casa para morar. Concluída as
novas instalações do Veleiro, nos mudamos para um município distante de Porto Alegre.
Chamado de Gravataí /RS. Inicialmente, moramos na rua: Don Feliciano, s/n parada 65 vila
central. Acredito ter permanecido nesse endereço, até aos 4 anos. Nesse ínterim surgiu a
oportunidade de compra de uma casa... acerca de um loteamento que estava se formando.
Minha mãe guerreira como só ela, não se eximiu de comprá-la. Meu pai temeroso, acreditava
não ser possível. Mas, muitos esforços foram feitos, economias, empréstimo pessoal, meu avô
paterno supriu com sua colaboração na compra dessa casa. Flávio Augusto Chagas ), enfim
nosso lar... Sito a rua: Dorival Cândido de Oliveira, nº 530 parada 66 Bairro Vila Branca. Com
um decreto aprovado pelo município em questão, de que nome de rua não poderia ser de
pessoas vivas. O nome de minha rua, onde passei toda a minha infância, adolescência e parte
de minha vida adulta passou a chamar-se: Valmor de Souza ( Taxista assassinado em assalto ).
Nessa casa, cresci, arrisquei a dar os primeiros passos, balbuciei sílabas sem nexo, aprendi o
verdadeiro amor de irmão, de pai e de mãe. Fui uma criança normal. Saudável. Tive problemas
comuns na época, como gripe, catapora, sarampo, dor de ouvido, alergias... enjoava quando
andava de ônibus...
Minha infância foi pobre, com poucas roupas novas e quase nenhum brinquedo. Em contra
partida, tínhamos o espaço a atenção de tios, padrinhos, avós e o amor de nossos pais. Minha
infância foi bordada pela cumplicidade por parte de primos, irmãos e amigos. Éramos uns pes-
tinhas quando agregávamos nossas idéias. Delator, não existia... “Um por todos e todos por
um”. Brinquei, mas também havia tarefas à cumprir. Na minha fala eu como sujeito do
processo em formação, evoco minha memória e a convido a desvelar minhas lembranças, por
meio de uma relação mútua entre mim e o meio. Para poder me definir como ser pensante,
me ampara em: Levy Vygotsky ( Revista – e – Ped – FACOS/ CNEC Osório – vol 2 – nº1 –AG/
2012 – PAG 146 ):
É a aquisição e conhecimento realizada por meio de um elo de interno diário entre o ser
humano e o ambiente. Para Vygotsky, há dois tipos de elementos mediadores: os instrumentos
e os signos – representações mentais que substituem objeto do mundo real. Segundo ele, o
desenvolvimento dessas representações se dá sobretudo pelas interações, que levam ao
aprendizado.
O autor referendado acima sustenta que à relação individuo/sociedade,enfim as características
humanas não estão presentes desde, o nascimento, e nem são resultados das pressões do
meio externo. Mas são resultados das relações homem e sociedade, no momento que esse ser
busca atender suas necessidades básicas, transformando a si mesmo. Para Vygotsky a criança
desenvolve sua aprendizagem bem antes de chegar na escola.
Dou continuidade ao relato com o objetivo de expor ainda aspecto que eu julgo pertinentes
vividos na minha infância. Como já falei aqui minha infância foi pobre, porém recheada de
brincadeiras, criativas,interessantes e imagináveis .Às brincadeiras eram inventadas, criadas a
partir da realidade que vivia, os brinquedos que tive eram objetos aos quais dávamos
significados conforme a brincadeira e a imaginação, Brogere ( 1995, p9 ), “O Brinquedo não
condiciona a ação da criança.”
Nesse ápice, pensei como a infância era gostosa! Com suas brincadeiras e despreocupações...
Víamos as horas passar, sem se preocupar com o tempo perdido. A folha árvore virava cata-
vento, o talo da folha de sabugueiro transformava-se em um canudinho ao
qual fazíamos bolinhas de sabão para flutuar no céu... a casca da melancia se transformava
em uma máscara, e posteriormente ensaiávamos músicas de carnaval... o carrinho de lomba,
construído com rolimãs em cima de um pedaço de madeira, ( meu irmão mais velho o
inventava ). Assim como, trenzinho de lata, feito com as latas de azeite... Jogávamos com
bolinhas de gude, andávamos descalços, os joelhos sempre ralados. Nada disso importava.
Porque o brincar não doía.
”O passado não é o antecedente do presente, é a sua fonte.”
( Bosi aput Soares, pg. 21 )
Lembro-me muito bem de algumas fazes da minha infância, principalmente das brincadeiras
que fazíamos no período contrário ao da escola. Brincar de casinha, com a afilhada de minha
mãe em baixo do pé de limoeiro. Comíamos os limões com sal, e as suas folhas picávamos e
colocávamos em uns pratinhos improvisados com outros materiais que agora me falha a
memória. Enquanto, brincávamos eu e Tânia Regina, conversávamos feito gente grande,
imitávamos nossas genitoras pois ambas eram comadres... Tânia era afilhada de minha mãe.
Ela me confidenciava que quando ela tivesse seu primeiro filho, seria ele meu afilhado.
Crescemos... e nesse crescer as brincadeiras os lugares e as pessoas com quem brinquei
mudaram. Porém, a promessa se fez realidade. Tânia, casou-se e nasceu o seu primeiro filho.
Meu afilhado , Lindomar dos Passos, hoje já um homem, com seus 39 anos.
Penso que religião é um assunto muito íntimo e não requer que impúnhamos regras. Sou
católica, casei no religioso, batizei meus filhos também na Igreja Católica... não sou praticante.
Esporadicamente freqüento a igreja.
Quanto aos cheiros e gostos, preciso deixar registrado aqui: a saudade do “bife” passado na
chapa do fogão a lenha de minha avó materna ( Luiza Souza de Matos ), quando todas as
tardinhas, após o banho tomado íamos visitá-la eu e meus irmãos, o sabor indescritível de seu
“arroz doce”, que ela sempre fazia e quando eu chegava da escola a rapa estava na panela a
me esperar. Ainda nessa couxa de retalhos, acrescentou mais um pedaço de recordação, o
carinho, a proteção e dedicação de minha avó paterna para com seus netos ( Ilsa Malaquias
Chagas ). Dos cheiros, embebidos em meu ser, sinto os dos “ Jasmins”plantados no jardim em
frente a casa de minha tia, irmã mais nova de minha mãe...
Essa foi de uma forma extremamente resumida minha infância. É claro que houveram infinitas
outras diversões e aprendizados, porém se eu resolvesse escrevê-las, levariam alguns dias e
ainda assim seria difícil lembrar todos os detalhes e as enxurradas de emoções vividas durante
a faze mais interessante de uma criança. A sua Infância!!!!!

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