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MÓDULO 1

memórias, histórias
e brincadeiras
APRESENTAÇÃO

O
Serviço Social do Comércio - SESC desenvolve o Projeto Era Uma Vez...

Atividades Intergeracionais desde 1993 através do setor Assistência com

o Trabalho Social com Pessoas Idosas – TSI.

O projeto é desenvolvido com a participação de crianças e pessoas idosas,

a partir do convívio entre gerações com o objetivo de aproximá-las, oportuni-

zando o aprendizado mútuo e o respeito enquanto elementos fundantes para

a criação de relações de afetos e solidárias, contribuindo para a construção

de uma cultura de paz.

Diante do contexto pandêmico o SESC reinventou-se, desenvolvendo suas ati-

vidades com uma metodologia própria, adaptando-a para a modalidade remo-

ta, sem perder sua essência no desenvolvimento do trabalho intergeracional,

de acordo com as diretrizes do TSI.

Em 2021, o Projeto foi desenvolvido através da parceria entre as instituições

SESC e a Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do

Ceará – APDMCE. Os/As participantes atendidos/as pelo Projeto Era Uma

Vez, foram crianças do município de Brejo Santo/CE, assistidas pelo Projeto

Eu Sou Cidadão Amigos da Leitura da APDMCE, interagindo com as pessoas

idosas integrantes do TSI no município de Fortaleza.

O tema do ano foi “Memórias, histórias e brincadeiras”, com narrativas da in-

fância das pessoas idosas contadas através de áudios pelo whatsapp, sendo
essas histórias enviadas para as crianças que ouviam e as materializavam

através de desenhos. A partilha das histórias e dos desenhos foi realizada

por meio de reuniões virtuais semanais pela plataforma Google Meet, sendo

esse momento um espaço de interação e convívio entre gerações, mesmo

que de forma remota.

Nesse sentido, o produto desse trabalho foi materializado através deste Ebook

e Audiobook que retratam as narrativas apresentadas pelos participantes.

Desejamos que a leitura e escuta desse material possibilite uma viagem as

suas memórias de infância, revelando que as relações intergeracionais são

estratégias possíveis para a construção de uma sociedade solidária e justa

para todas as idades.


PARTICIPANTES

TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS - SESC

Ana Maria Cruz

Cristiane Silveira Souza

Edna Maria da Silva Lopes

Eleonora Veras C. Gomes

Elizabeth da Silva

Epifânio de Oliveira Filho

Espedita Gonçalves de Moraes Camilo

Francisca Maria Cruz Lopes

Lúcia Helena Nobre Oliveira

Maria Dias dos Santos

Marinete Brito Mendonça

Nicácia Maria de Oliveira Lopes

Oneida Pontes Pinheiro

Vânia Maria Gomes Prudêncio

Equipe técnica do Sesc:

Thais Castro – Supervisora Administrativa

Joseane Soares – Assistente Social

Isadora Catunda – Supervisora de Programas II

Marcia Beatriz Rodrigues Gonzaga - Estagiária de Serviço Social


MUNICÍPIO DE BREJO SANTO

Caio Emanuel Santos Inácio

Carlos Henrique Alves de Souza

Debora Soraya de Sousa Pereira

Francislenio Santana dos Santos

João Arthur Bezerra da Silva

José Mikael Alves de Araújo

Júlio César do Nascimento Santos

Lammark Tavares Leite

Lara Maysa Rodrigues da Silva

Laysa Maria Lima Maia

Maria Clara Bandeira Silva

Maria Clara de Lima Medeiros

Maria Estefane Leandro dos Santos

Maria Isabel Carvalho de Sousa

Maria Jaqueline de Moura

Maria Savana Pinheiro do Nascimento

Maria Yohane Inácio Dias

Nicole Martins Rodrigues

Viviane Silva Alencar de Moura


Equipe técnica do município:

Francisca Sandra de Sousa - Professora

Veridiane Rosa da Silva – Professora

Apoio:

APDMCE

Luciana Marinho
ÍNDICE

MÓDULO 1

ROSA: A METIDA

O SUMIÇO DOS OVOS

CHICO PANTECA

A PORQUINHA JUJU

LOBINHO

A PRIMEIRA VIAGEM DE TREM

SOU BANDEIRANTE

ASSOMBRAÇÃO

CIDADE DA CRIANÇA

BRINCANDO COM BONECAS

BRINCADEIRAS ENTRE IRMÃS

APELIDOS E TRAVESSURAS

SAUDADE DO CARNAVAL

O PÉ DE GOIABA

BRINCADEIRA DE BONECA

PRIMEIRAS LETRAS

FÃ DE MÚSICA

BRINCADEIRAS DE SÃO JOÃO

PARQUE DA CRIANÇA

A FESTA DO PADROEIRO
ANA MARIA CRUZ

ROSA: A METIDA

M
eu nome é Ana Maria Cruz, eu tenho 63 anos e sou professora de matemática já afas-

tada da sala de aula. Vou compartilhar com vocês algumas das histórias vividas du-

rante a minha infância.

Na história de hoje vamos dar o nome de “Rosa: a metida”. Aos cinco anos eu morava em

uma casa pequena com meus pais e quatro irmãos. Apesar de pequena, a casa tinha um

grande quintal e várias árvores frutíferas. Minha mãe gostava de criar bichos, principalmen-

te às aves: capotes, galinhas, patos e perus.

A grande curiosidade é que todos os bichinhos tinham nome e atendiam quando chamados.

Dentre os animais tinha uma franguinha que se destacava e o nome dela era Rosa. Assim

como nos seres humanos existe uma diversidade de pessoas (alegres, tristes, caladas, ta-

garelas etc), no mundo animal também tem essa diversidade. Rosa era o tio metida. Suas

penas eram avermelhadas e brilhosas. Vivia na porta de casa e quando íamos para o quin-

tal era aquela festa, pois corríamos atrás dela e vice-versa. Não podíamos chegar no quintal

com algum alimento na mão que depressinha Rosa nos roubava e lá estávamos nós a gritar:

“Mãe, a Rosa pegou meu pão!”. Às vezes era até engraçado.

Rosa também tinha um lado carinhoso. Quando estávamos sentados no batente do quintal,

ela vinha e se acomodava entre nossas pernas para que acariciássemos sua cabecinha. Era

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muito gostoso! Rosa cresceu, virou uma bela galinha e em um dia de sol brilhante conhe-

ceu um belo galo. Em pouco tempo estava pondo ovos e começou a chocá-los, gerando aí

vários pintinhos. Uma lição que tive desse tempo é que os animais têm muito a nos ensinar,

por isso devemos respeitá-los e tratá-los com muito amor e muito carinho. Um grande beijo!

Desenho de Maria Yohane Inácio Dias representando a história “Rosa: a metida”

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O SUMIÇO DOS OVOS

A
ntigamente, há uns 50 ou 60 anos atrás, era costume das residências ter um grande

caixote. Um caixote onde tinha várias divisórias e que servia para guardar os mantimen-

tos tipo arroz, feijão, farinha e outras coisas que houvesse necessidade. E na minha casa

também tinha um desses depósitos e em um dos compartimentos a minha mãe selecionava

e dedicava para as galinhas.

Ela arrumava e ali seria o ninho das galinhas onde todos os dias elas vinham colocar ovos.

Às vezes duas, três, quatro, não importava quantas galinhas viessem, mas elas já estavam

acostumadas a colocar os ovos naquele local. Eu sempre fui uma criança muito ativa, às ve-

zes um pouco peralta. Então diariamente a minha mãe solicitava um de nós, somos cinco

irmãos, então ela chamava um e pedia para coletar os ovos.

Geralmente, como eu falei, eram quatro ou cinco ovos por dia. E todas as vezes ela começou

a observar que sempre que ela me pedia para ir coletar os ovos, eu voltava sem nenhum.

E eu sempre dizia: “Mãe, não tinha nenhum ovo”. E ela dizia: “Como não tem nenhum ovo?

Somente você volta com as mãos vazias e os outros todos sempre trazem três, quatro, cin-

co ovos e você nunca traz nenhum. O que está acontecendo? ” E eu sempre dizia: “Não sei.

Só cheguei lá e não tinha nenhum ovo. ” Então minha mãe ficou meio encucada com essa

história e começou a me observar.

Então certo dia ela pediu para eu ir pegar os ovos e sem me avisar se escondeu e ficou ob-

servando. De repente, quando ela viu a situação, ela ficou chocada. Ficou paralisada. Eu

pegava os ovos e simplesmente quebrava e bebia. Isso mesmo. Bebia os ovos! Então eu

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adorava, achava muito bom aquele ovo quentinho e bebia. Não importava quantos ovos ti-

nham ali. Se tivessem três ovos, eu bebia os três. Se tivesse quatro ou cinco, eu bebia todos.

Eu tinha mais ou menos uns 7 anos nessa época e aí minha mãe deu aquele flagra, deu

aquela bronca. Não me bateu, mas pediu para eu não fazer mais isso, porque em alguns

momentos o ovo era o nosso único alimento de proteína e se eu bebesse todos iríamos co-

mer somente o básico: arroz e feijão.

Aprendi a lição, mas não deixei de beber ovos. Pegava só um e os outros eu trazia. Hoje eu

lembro dessa história e acho graça, pois naquela época as crianças não gostavam de ovo

cru e depois de adulta não tomei mais, mas posso tomar se tiver uma pitadinha de sal e uma

pitadinha de pimenta. Um grande abraço para vocês!

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CHICO PANTECA

A
historinha é de um homem que marcou a minha infância e o nome da historinha vai ser

“Chico Panteca”. Existem pessoas que passam pela vida da gente somente passam,

outras pessoas passam e deixam suas marcas.

Esse homem de quem eu falei se chamava Francisco Alves da Silva, conhecido como Chico

Panteca e eu o conheci através de minha tia Edite, irmã mais velha de minha mãe. Eles eram

namorados e ele gostava muito de crianças.

Chico Panteca era mestre de obras e trabalhava na construção civil. Era um excelente pe-

dreiro. Segundo as pessoas da época, o apelido de Panteca deu-se ao fato de ele gostar

muito de fazer petecas com as penas das galinhas mortas. Ao invés de as pessoas chama-

rem ele de Chico Peteca, ficou sendo chamado Chico Panteca.

Diariamente minha tia vinha para minha casa ajudar minha mãe nas tarefas do dia-a-dia,

pois a minha mãe ainda tinha criança muito pequena e minha tia vinha para ajudá-la. Dessa

forma, o Chico Panteca também passava todos os dias lá em casa para namorar um pou-

quinho ou às vezes para pegar minha tia para levá-la pra casa e assim ficava.

Ele geralmente vinha para almoçar e eu e meus irmãos esperávamos a chegada dele, pois

ficávamos observando. Ele pegava uma bacia grande e colocava feijão e farinha e mistura-

va. A gente ficava observando isso com água na boca e ele percebia. Então uma das vezes

ele sentou no chão com aquela bacia, nos chamou, sentamos ao redor dele e ele fazia bo-

nequinhos de feijão e colocava na nossa boca. E era aquela farra! Era muito bom.

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Depois ele colocava a gente nas costas dele e fazia cavalinho correndo com a gente por den-

tro de casa e a gente se divertia bastante com ele. A gente era muito apegada a ele. Chico

Panteca tinha um probleminha que era a bebida, mas ele não fazia mal a ninguém, o mal

era apenas para ele mesmo.

Ele casou com a minha tia Edite, tiveram três filhos do sexo masculino e foram casados du-

rante quinze anos. Em 1979, aos 44 anos, Chico foi chamado de volta ao padre espiritual.

Ele foi vítima de uma infecção no intestino e essa infecção deu-se ao fato de ele ter recebido

uma visita em casa e quando essa visita chegou ele sentiu vontade de soltar um pum, mas

prendeu. A visita demorou muito e ele ficou com aquilo preso. Quando a visita foi embora ele

sentiu uma grande dor no estômago e foi levado às pressas para o hospital.

Ele ficou hospitalizado e o médico disse que tinha dado um nó nas tripas dele devido a ele

ter prendido esse pum e infeccionou e ele não resistiu a essa infecção e nos deixou. Foi

muito triste pra gente, porque éramos apegados. Nós choramos muito pela ausência dele,

mas o que ficou na nossa memória é que ele era uma pessoa do bem e nos fez muito bem.

Hoje eu conto isso para vocês e falo quanto a questão do pum. O pum é uma necessidade

fisiológica da gente. A gente não pode tá soltando pum na frente de qualquer pessoa, mas a

gente deve pedir licença pra poder soltar para não

ter problemas com a nossa saúde. Espero que vo-

cês tenham gostado da historinha e até a próxima.

Desenho de Viviane Silva Alencar de Moura


representando a história “Chico Panteca”

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
A PORQUINHA JUJU

H
oje vou contar mais uma historinha e, como já falei para vocês, a minha infância foi

muito ligada aos animais devido ao amor que minha mãe sempre teve por eles. A his-

torinha de hoje eu vou chamar de “A porquinha Juju”.

Em 1965, minha mãe ganhou uma bacurinha. Na época, era assim que se chamava uma

porquinha nova e ela tinha um mês de vida. Quando minha mãe chegou com a bacurinha

foi aquela festa e logo colocamos o nome dela de Juju. Tratávamos Juju como uma criança,

dando mamadeira, dando banho e muitas outras coisas.

Ela passou a ser mais um membro da nossa família. Foi criada com muito amor e muito mimo.

Passava o dia todo dentro de casa brincando conosco. Corria atrás da gente, subíamos na

cadeira e ela tentava nos pegar. Era aquela farra! Ríamos, brincávamos e assim passáva-

mos o dia. Quanta saudade da Juju!

Juju era muito limpinha, tomava dois ou três banhos por dia. Logo que ela fazia suas neces-

sidades fisiológicas, rapidamente limpávamos. Era perfumada, pois gostávamos de perfu-

má-la. Colocávamos o perfume e ficava maravilhosa. Só que Juju cresceu e, como acredito

que vocês saibam, esse tipo de animal, o porquinho, não fica sempre pequenininho. Ele au-

menta muito e chega a ficar muito pesado. Até pra correr e coisas desse tipo fica mais difícil.

Então Juju cresceu e não tinha mais condições de ficar dentro de casa e já não brincava

mais como antes. O que se podia fazer? Como morávamos em uma casa pequena, não ti-

nha muito como acomodá-la. Primeiro minha mãe falou em matar a Juju. Foi aquela tristeza

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e um chorôrô danado dentro de casa e nós não permitimos que a matassem de jeito ne-

nhum. Foi aquela confusão. Então minha mãe resolveu vendê-la e nós só pedimos que ela

não nos falasse o que foi feito com a Juju, pois queríamos guardar os bons momentos com

ela na lembrança. O que eu tenho a dizer para vocês é isso. Vamos cuidar com muito amor

e muito carinho os nossos animais, porque eles também fazem parte da nossa vida. Um

grande beijo e até a próxima!

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
LOBINHO

E
u estudava em uma escola e nós tínhamos um colega cujo nome era Eduardo. O ape-

lido desse coleguinha era Lobinho, porque ele tinha umas orelhas grandes e um rosto

realmente parecido com um lobo, então chamávamos ele de Lobinho. O Lobinho era muito

danado. Gente, pense em um meninozinho danado! Ele gostava de levar para a escola umas

cordinhas e amarrava os colegas sem eles perceberem. Ele amarrava as pernas e às vezes

até o próprio cadarço do sapato ele amarrava na cadeira sem o colega perceber e quando

ia se levantar “PAF” no chão.

O Lobinho adorava fazer isso, ele se divertia fazendo essas coisas. Já tinha tentado fazer

algumas vezes comigo, mas não deu certo. Aquilo foi me irritando e teve um belo dia que

eu fiquei com tanta raiva dele por causa dessas coisas que ele fazia, a gente falava para a

professora e ninguém tomava nenhuma atitude. Então eu e mais dois coleguinhas levamos

umas cordinhas para a escola e teve um dia em que ele estava muito concentrado fazendo

as tarefas e só iria para o intervalo quem entregasse a tarefa.

Sem ele perceber eu amarrei os dois pés dele e depois pedi para um coleguinha levar as

coisas para a professora. A professora saiu antes e ainda deixou alguns alunos na sala. Os

outros alunos saíram e eu fiquei. O Lobinho ainda estava terminando a tarefa dele e a gente

amarrou ele. Eu amarrei também as mãos deles para trás. Eu e meus dois coleguinhas saí-

mos da sala, ele ficou sozinho na sala e deixamos ele lá e fomos para o intervalo. Como na

hora do intervalo é aquela algazarra, muito grito e muita conversa, ele ficou gritando e nin-

guém escutava. Ele ficou o intervalo todinho.

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
Quando terminou o intervalo, eu e os meus dois colegas corremos para a sala para a gen-

te não ser prejudicado. Desamarramos ele e ele não podia mais ir para o intervalo. Ele não

brincou nesse dia, porque quando a professora chegasse na sala ele já estaria desamarra-

do e ele não tinha como provar que a gente tinha amarrado. E assim fizemos, quando aca-

bou o intervalo desamarramos ele. Pegamos as cordinhas dele, picamos e jogamos no lixo.

Falamos para ele que se ele ainda fizesse isso a gente faria pior. A gente ameaçou mesmo.

Não foi certo o que nós fizemos. Na realidade, a gente não deve fazer isso. A gente deve to-

mar uma outra atitude. Quando acontecem essas coisas, a gente deve procurar a direção,

deve procurar um adulto, falar para os nossos pais para ter uma resolução. A gente tinha

falado para a professora, mas como não tinha resolvido nada, a gente resolveu tomar essa

atitude. De qualquer forma, não foi certo o que nós fizemos, não devemos fazer esse tipo de

coisa, mas em compensação nunca mais o Lobinho fez isso com ninguém. Eu acho que ele

aprendeu a lição, mesmo que tenha sido de uma forma brusca, mas ele acabou aprenden-

do a lição e não fez mais nada. Espero que vocês jamais façam isso com seus coleguinhas.

Desenho de Nicole Martins Rodrigues representando a história “Lobinho”

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
A PRIMEIRA VIAGEM DE TREM

C
omo já falei para vocês, eu nasci em Fortaleza, mas minha mãe nasceu em Canindé e

ela veio para Fortaleza muito nova, mais ou menos com 6 anos de idade, por aí. A mi-

nha avó materna costurava e ela sempre ia para Canindé para poder levar as costuras dela

e vender lá por onde ela andava.

Quando a minha mãe cresceu, casou e, uma vez, eu acho que eu tinha mais ou menos 7

anos de idade, chegaram as férias e a minha mãe falou que iríamos para Canindé, para o

sertão. Foi aquela animação!

Na época, só existia o trem para chegar até o sertão e assim mesmo era muito difícil, por-

que a gente tinha que ir para uma outra cidade e lá na estação de trem vinham pessoas lá

do sertão buscar a gente em jumentos que era para levar as coisas da gente e também as

crianças que iam em cima. A maioria ia a pé mesmo, andando. Foi uma coisa esplêndida.

Nós acordamos muito cedo e meu pai levou a gente para deixar lá na estação de trem, que

era a estação João Felipe. Em Fortaleza, a estação João Felipe ficava na praça da estação,

como era chamada e é chamada ainda hoje.

Naquela época, os trens eram considerados maria fumaça, porque eles eram todos movidos a

lenha. Então colocava aquelas lenhas no motor, acho que era motor do trem, e eles soltavam

aquela fumaça danada. O que eu achava mais legal era quando o maquinista puxava uma

cordinha e o trem fazia “PIUÍÍÍÍ”. Eu achava o máximo! Adorava também ir na janela, porque

a gente via as coisas passando mais rápido. A gente via muita coisa, na verdade, naquela

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
época a gente via muito era mato, depois que foram construindo casas.

Para ir para Canindé, a gente tinha que ir para o município de Itapiúna. Quando chegávamos

lá, nós descíamos e pegávamos esse jumento que o pessoal geralmente estava esperando

a gente, porque a gente avisava quando ia. A gente ia em cima dos jumentos e levava as

coisas da gente tudo em cima. Era uma farra! Foi muito bom.

Uma das lembranças que eu tenho e que foi muito gostosa, foi dessa época e, principalmen-

te, da viagem de trem. Viajar de trem pela primeira vez foi uma das coisas mais hilariantes

e gostosas que já tive com meus irmãos.

Desenho de Júlio César do Nascimento Santos


representando a história “A primeira viagem de trem”

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
SOU BANDEIRANTE

O
movimento bandeirante surgiu há muitos anos mesmo e eu tive a oportunidade de fa-

zer parte desse movimento. Em 1968 eu estava com 10 anos de idade e entrei para o

bandeirantismo e justamente no Sesc.

Em Fortaleza, eu acredito que existiam três grupos de bandeirantismo na época, um era no

Sesc, outro acho que na Cidade da Criança e havia outro que não lembro bem onde era,

mas cada um tinha o seu nome. O do Sesc era o grupo Baden Powell e eu entrei no bandei-

rantismo nessa idade e fiquei mais ou menos até os 15 ou 16 anos de idade.

Dentro do bandeirantismo existem os níveis, o primeiro nível chamavam de fadinha e eram

meninas que entravam com 6 ou 7 anos de idade e ficavam até 9 anos. Depois mudavam de

nível, que era o B1, bandeirante nível 1, e ficavam dos 10 anos até mais ou menos 12, nessa

faixa, e então vinha o B2. O B2 era o bandeirante nível 2 que ficava entre 13 e 16 anos de

idade. Havia também o nível 3 que era o preparatório, que eram meninas que tinham 17 ou

18 anos e que se preparavam para ser chefe.

Nossas reuniões eram aos sábados, era mais ou menos de 13h até 17h da tarde, como eram

muitas meninas, eram divididas em grupos e cada grupo tinha uma espécie de coordenado-

ra, que a gente chamava de chefe na época. havia uma chefe que coordenava aquele grupo

e a chefe geral também. Nesses grupos a gente fazia várias atividades, então quando che-

gávamos no Sesc a gente participava de atividades de moral e civismo, nós tínhamos orien-

tações sobre respeito ao idoso, respeito ao jovem, à natureza, aos animais, nós tínhamos

todas essas orientações. Tínhamos também a parte esportiva onde a gente participava de

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
torneios entre esses outros dois grupos de bandeirantismo, então nós tínhamos atletismo,

vôlei, futebol de salão, natação, então eram atividades assim.

Dentre tudo isso, uma das coisas que eu gostava muito era do acampamento. Nós tínhamos

o acampamento dentro do grupo de bandeirantes e o acantonamento, que era quando nós

ficávamos em um sítio e dormíamos dentro da casa, no chão, cada uma tinha seu colchone-

te e levava suas coisinhas. As dormidas eram no chão, mas a gente passava o dia fora da

casa fazendo as atividades ao ar livre. No acampamento nós ficávamos em barracas no mato

e foi muito bom, porque nós tivemos essas orientações de como sobreviver na mata, como

construirmos o nosso banheiro. Tínhamos o banheiro onde fazíamos as nossas necessida-

des fisiológicas e tinha um banheirinho onde você fazia os seus asseios. Tinha uma cozinha

onde a gente aprendia a cozinhar, aprendíamos a fazer nós, amarrações.

Foi um aprendizado muito grande e eu queria passar isso para que vocês pudessem ter a

oportunidade de conhecer o movimento bandeirante que eu acredito que hoje deva ser só

escotismo, eu não sei bem, mas vocês podem procurar na região de vocês esses movimen-

tos, porque é de um grande aprendizado e para mim foi também.

Era isso que eu queria passar para vocês, que vocês tivessem a oportunidade de conhecer

o bandeirantismo e deixar para vocês um grande beijo e até a próxima!

Desenho de Júlio César do Nascimento Santos representando a história “Sou Bandeirante”

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
ASSOMBRAÇÃO

E
stou aqui para contar mais uma historinha da minha infância, a historinha de hoje vou

dar o nome dela de assombração.

Quando chegou as férias, eu tinha mais ou menos de nove para dez anos, eu fui para a casa

de um tio meu, fui passar mais ou menos umas duas semanas por lá, fui eu e meu irmão, tam-

bém tinha um primo meu lá. Então a casa do meu tio era grande, a gente ia pra lá e brincava

bastante, era pega-pega, brincávamos de pega vareta, brincávamos de desafios, era muito

legal, muito legal mesmo, eram muitas brincadeiras durante as férias que a gente brincava.

No período que a gente tava lá, chegou um casal amigo do meu tio que morava no interior

em Limoeiro do Norte. Esse casal chegou com o filho deles que tinha mais ou menos a nos-

sa idade, mas era um menino muito cheio de vontade, então todas as brincadeiras que nós

íamos fazer esse menino só queria do jeito dele, a gente idealizava uma coisa ele ia lá e

desmanchava, que não dava certo, sempre ele queria que prevalecesse a ideia dele, e não

a nossa, então nós fomos ficando chateados com isso, já faziam uns três a quatro dias que

ele estava lá, e a gente já tava “pê da vida” né! Ninguém tava gostando da atitude daquele

menino chato. Aí a gente resolveu aprontar uma.

O meu tio que é professor ele tinha na casa dele um esqueleto, aqueles esqueletos gran-

des que geralmente usam em escolas, para estudar o corpo humano, estudar os ossos do

esqueleto, que na época a gente chamava de caveira, então meu tio tinha um daqueles. O

que é que a gente fez, um dia à noite, o menino foi dormir, nós fingimos que tava dormindo,

quando percebemos que o menino tinha dormido nós nos levantamos, e pegamos aquele

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
esqueleto e colocamos em frente a cama dele, a cama onde ele estava deitado, e pegamos

uma vela e pusemos por trás da cabeça do esqueleto, porque com a vela acessa fica com

os olhos, como não tem olho fica aquele fogo aparecendo e a boca também como se fosse

fogo, porque o quarto tava escuro, as luzes apagadas, e a gente fez isso.

O meu irmão e o meu primo jogaram o lençol por cima deles e também ficou um do lado

e o outro do outro lado da cama do menino, confrontando a cabeça desse menino. Nesse

lençol branco os meninos pegaram um palito de fósforo queimado e deixava só aquela bra-

sinha, quando colocava dentro da boca, também ficava assim vermelho. Eu fiquei por trás

de uma cortina, ai quando tava tudo armado, aí eu comecei “psiiiuuu, psiiiuuu, êêêêiii, acoo-

orda, acooorda” aí fiquei fazendo isso “ psiu, psiu” aí o menino acordou. Quando o menino

acorda, ele deu um grito porque a caveira tava lá, com os olhos vermelhos e a boca, e os

dois, um do lado e outro do outro, “hruuuuuurr, hruuur” esse menino gritou e ficou em cho-

que, nós três corremos e nos escondemos, mas não deu tempo tirar a caveira, aquele es-

queleto, aí quando todo mundo correu, meu tio quando chegou lá, percebeu logo que tinha

alguma armação ali né, e aí o menino ficou em choque mesmo, e graças a Deus que na

época, ele não morreu, porque a gente ficou depois preocupado né, porque o menino ficou

com aqueles olhos arregalados, não conseguia falar nada, mas aí também a gente apren-

deu essa lição, porque o meu tio brigou muito com a gente, e acabou botando eu e meu ir-

mão pra casa, fomos embora por causa da peraltice da gente. Mas isso aí a gente não deve

fazer com ninguém né! É claro que foi um momento daquele de raiva e tudo, mas depois a

gente aprendeu a lição, a gente tem que respeitar os outros e tem que tentar envolver nas

nossas brincadeiras da melhor forma possível. Tá bom?! Então gente, um grande beijo, um

grande abraço e até a próxima.

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
CIDADE DA CRIANÇA

A
historinha de hoje eu vou chamá-la de cidade da criança. Cidade da Criança é um lo-

cal que existe em Fortaleza, atualmente denominado parque das crianças, fica no cen-

tro da cidade, em frente à igreja do Coração de Jesus. A cidade da criança é um local que é

dedicado às crianças, é um local grande, uma quadra. O parque, na minha época, era muito

bem, assim, tinha uma arborização muito grande, tinha um local para as brincadeiras.

Lá também tinha uma escolinha, o nome da escolinha era escola Alba Frota, meus dois ir-

mãos mais velhos, estudaram lá na escolinha da Alba Frota, na cidade da criança. Então

era um local que era muito bem frequentado aos domingos, principalmente pelos pais que

levavam seus filhos para lá, pela segurança que tinha de deixar as crianças bem livres, para

brincar, correr, para extravasar, hoje já não existe mais isso, hoje você não pode mais con-

fiar em deixar uma criança em local aberto, porque é muito perigoso, mas na minha época

de infância, não, era muito bom.

Uma das épocas que que gostava mais, lá da cidade da criança, era em outubro, dia doze

que é consagrado o dia das crianças, era muito bom. A prefeitura de Fortaleza realizava

um evento que tinha de tudo. Às oito horas da manhã já se abria os portões do parque das

crianças e só encerrava às cinco horas da tarde, a gente só ia embora porque tinha que sair

mesmo, né! Mas eram muitas crianças, e lá quando a gente chegava, eram muitas coisas,

muitas brincadeiras, eram jogos, então em todo lugar tinham áreas, tem muitas áreas de la-

zer lá. Então tinham jogos, gincanas, atividades, contação de histórias, shows de palhaços,

músicas e tinha também o parque que eles levavam, tinha uma roda gigante, gangorra, na

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
época não tinha pula-pula, mas era como se fosse uma espécie de pula-pula, tinha todos

esses tipos de brinquedos, eram muitos.

Tinha também as barraquinhas com os lanches, esses lanches geralmente eram cachorro

quente com suco. Mas também tinham barraquinhas de outras coisas, tipo a barraquinha

da pipoca, a barraquinha do algodão doce. Era um dia que nós passávamos lá, era um dia

de lazer, de brincadeiras, de extravasar, foi um dos melhores momentos da minha época de

criança, porque a gente realmente se esbaldava lá, eu e meus irmãos.

Quando chegava ao final do dia que tínhamos que sair, ninguém queria, era aquela loucura.

Mas se vocês tiverem a oportunidade de um dia vir a Fortaleza, vão lá, hoje como chamam

parque das crianças, não sei como está hoje, faz tempo que não ando lá. Acredito que os

cuidados não sejam mais como eram antes, na minha época de infância era muito bem cui-

dado, muito propício para as crianças. Mas se vocês tiverem oportunidade peçam aos pais

de vocês para conhecerem lá, pelo menos para ver como é o parque das crianças, é um lo-

cal muito legal, a minha cidade da criança que eu tenho muita saudade. Um grande beijo,

um grande abraço e até a próxima.

MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
DESENHOS CRIADOS EM RESPOSTA AOS CONTEÚDOS ENVIADOS POR ANA MARIA

DESENHO DE CAIO EMANUEL

DESENHO DE CARLOS HENRIQUE

MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
CRISTIANE SILVEIRA SOUZA

BRINCANDO COM BONECAS

Q
uando eu era criança eu gostava de brincar de boneca, de cozinhar, fazer comida para

as bonecas e andar de bicicleta, tomar banho de piscina no Náutico. Ah, meu tempo

de criança! Como eu tenho saudade! Meu tempo de criança foi assim. Brincava com as bo-

necas, fazia comida para as bonecas, tirava a roupa, botava roupa nas bonecas.

Desenho de Carlos Henrique Alves de Souza


representando a história “Brincadeira de boneca”

MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
BRINCADEIRAS ENTRE IRMÃS

V
ou contar a minha historinha de infância. Quando eu era

criança, pegava as minhas irmãs Lurdinha e Glória e mon-

tava uma barraca na frente da casa.

Nós botávamos as bonecas, fazíamos roupas para as bonecas,

fazíamos comida para as bonecas e pegávamos bombom para

botar para vender. As nossas brincadeiras eram brincar de es-

conde-esconde e de corda também. Era muito bom. Foi muito

boa a minha infância!

Eu brincava de corda com as minhas irmãs, de esconde-escon-

de, de fazer roupa de boneca. Tirava as roupas das bonecas e

mudava, fazia mingau para as bonecas. Até hoje eu tenho sau-

dade da minha infância.

TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


APELIDOS E TRAVESSURAS

Meu irmão me chama pelo apelido de Tubão, ele se acostu-

mou a me chamar assim e até hoje ainda chama. Eu não gos-

tava muito, mas acho engraçado que meus dois irmãos me

chamam de Tubão.

Na minha infância, o meu pai ia para o mercantil, eu entrava

no carro dele escondida e ficava embaixo do banco. Quando

ele chegava no mercantil eu descia, pegava um carrinho, fica-

va rodando e botava as compras dentro do carro. Meu pai se

danava comigo!

MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
SAUDADE
DO CARNAVAL

A
lô garotadas, lindas e maravilhosas, como vocês estão? Eu

vou contar outra historinha da minha infância. Quando eu

era pequena eu brinquei muito carnaval no Náutico, as quadri-

lhas. Meu pai e minha mãe me levavam. Meu pai me levava, a

minha mãe Elisabete me levava, aí ficava com a gente lá, brin-

quei carnaval demais, os carnavais lá do Náutico, carnaval da

saudade, eu me lembro até hoje. Aí que saudade eu tenho da

minha infância, o carnaval da saudade do Náutico que eu brin-

cava, hoje eu sinto até saudade.

MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
O PÉ DE GOIABA

E
u era uma criança muito danada, muito traiçoeira. Então, às vezes eu saía da sala de

aula, e ia para o pé tirar goiaba com meus amigos para comer.

Quando tinha prova no colégio, eu pegava as provas, copiava, jogava debaixo da mesa e

dava para os meus amigos copiarem a prova, eu fazia isso na aula, eu era uma menina mui-

to traiçoeira na aula.

DESENHO PRODUZIDO POR JÚLIO CÉSAR PARA CRISTIANE

MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
EDNA MARIA DA SILVA LOPES

BRINCADEIRA DE BONECA

O
lá, sou Edna, gostaria de compartilhar com vocês uma lembrança muito importante da

minha infância que foi a brincadeira de boneca com as minhas amigas. Brincávamos

todos os dias com as bonecas, mas nós deixávamos os domingos para comemorar o bati-

zado ou aniversário daquela boneca.

Nesse domingo de comemoração, nós fazíamos comida de verdade em panelinhas de barro

e depois de todo o almoço pronto a gente ia comemorar o batizado da boneca das amigas.

Uma era “cumadre” da outra e a gente dava as bonecas para ser afilhadas das amigas e fa-

zia aquela troca. Foi maravilhoso! Uma experiência que a gente não esquece.

Hoje eu vejo que as crianças não brincam mais de bonecas e eu vejo que hoje as crianças

nem querem receber bonecas de presente. Eu fico muito triste, porque era tão importante,

tão gratificante a gente brincar ali com as amigas. Hoje a gente não tem mais essa integra-

ção. Um abraço a todos!

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PRIMEIRAS LETRAS

E
u me chamo Edna Lopes, nasci na cidade de Fortaleza, no

estado do Ceará, tenho 62 anos, sou professora aposentada

da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Gostaria de compartilhar

com vocês um fato muito importante na minha infância.

Antes de eu ir para a escola, minha mãe me ensinou as primei-

ras letras em uma cartilha chamada ABC. Quando completei

sete anos fui para a escola e como minha mãe já tinha me ensi-

nado as primeiras letras, eu logo aprendi a ler e foi maravilhoso

conhecer o mundo mágico da leitura.

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FÃ DE MÚSICA

Q
uero compartilhar com vocês uma lembrança da minha infância que ficou registrada na

memória pro resto da minha vida. Eu tinha entre 9 e 10 anos e tinha em Fortaleza uma

emissora de rádio chamada Rádio Iracema, que ficava na praça José de Alencar, próximo ao

teatro do mesmo nome.

Aos sábados à tarde tinha um programa com o radialista Irapuan Lima que trazia artistas do Rio

de Janeiro e São Paulo para se apresentar no programa. Roberto Carlos, Wanderléa, Martinha,

Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Gretchen e outros. E todos os sábados eu ia

com a minha tia assistir o show.

Era muito emocionante ver todos aqueles artistas bem próximos e jovens no auge do sucesso.

Desde criança eu já gostava de música assim como gosto até hoje. Também gostava de ver as

disputas entre os fã-clubes de Jerry Adriani e Wanderley Cardoso. Eu amo música e principal-

mente MPB!

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
BRINCADEIRAS DE SÃO JOÃO

A
proveitando a chegada de junho, que é podiam nem brincar e nem ficar perto da fo-

o mês junino, queria compartilhar com gueira, pois era muito perigoso. Poderíamos

vocês uma lembrança da minha infância. Nas nos queimar ou causar um acidente pior. Nós

vésperas das datas de Santo Antônio, São obedecíamos muito aos nossos pais, pois sa-

João e São Pedro, os adultos que moravam bíamos que não podia desobedecer por conta

na minha rua e vizinhanças próximas se reu- de risco de acidentes mais graves. Foi uma

niam para comemorar essas datas. época muito boa! Brincávamos muito, nos di-

vertíamos e tudo muito tranquilo.


Os homens se encarregavam de enfeitar a rua

com bandeirinhas, fazer a fogueira e assar

batata doce, milho verde e carne. As mulhe-

res colaboravam fazendo canjica, pamonha,

mugunzá, bolo de milho, batata e macaxeira.

Todos ajudavam e era feito com muito cari-

nho e dedicação.

Também tinha o momento dos nossos pais es-

colherem um casal para apadrinhar os filhos,

então se fazia compadres e comadres. Eram


DESENHO PRODUZIDO POR DÉBORA SORAYA
os afilhados de fogueira e ficava tudo certo REPRESENTANDO A HISTÓRIA “BRINCADEIRAS
DE SÃO JOÃO”
como os batizados da igreja. As crianças não

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
PARQUE DA CRIANÇA

E
u tenho uma tia que morava com a minha família e ela gos-

tava muito de nos levar a lugares muito interessantes e cul-

turais de Fortaleza. Na praça do Coração de Jesus, bem no

centro, tem uma igreja com o mesmo nome e, em frente à en-

trada da igreja, tem até hoje a Cidade da Criança, que é conhe-

cida como Parque da Criança, só que hoje não funciona como

há tempos atrás.

Quando ela foi criada funcionava como um parque de diversões

para as crianças, onde tinha brinquedos variados de todos os

tipos da época. Íamos todos os domingos brincar e passear no

lago em um barco que ia de um lado para o outro. Lá era uma

área muito grande com muitas árvores e muito bonito e brincá-

vamos com todos os brinquedos que existiam lá. Era muito di-

vertido! Lembranças maravilhosas que tenho até hoje.

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
A FESTA DO PADROEIRO

N
o mês de julho, no bairro em que eu morava, tinha a festa do padroeiro da igreja. Essa festa

era comemorada assim, tinhas as quermesses para arrecadar dinheiro para a igreja, tinha

as disputas dos partidos de quem arrecadava mais. Tinha o partido azul e o partido vermelho.

Tinha o leilão com as prendas que os fiéis levavam para as pessoas arrematarem e o dinheiro

arrecadado também ficava para as obras da igreja. As barraquinhas com comidas também. E

toda a arrecadação era feita para fazer obras da igreja e cada vez a igreja ficava mais bonita,

com todas as coisas que eram necessárias.

Na frente da igreja, na praça principal, vinha um parque de diversões que tinha brinquedos

para a gente brincar. Tinha a roda gigante com barquinhos, tinha carrossel de cavalinhos,

pista com carrinho para você dirigir, pescaria onde quem acertava ganhava os brindes. Era

uma festa muito boa. Maravilhosa!

A gente se divertia muito, porque ti-

nha muitos brinquedos para crian-

ças e era aquela animação. A gente

ficava até uma certa hora da noite

participando e era muito legal. Então

essa é uma lembrança boa que eu

tive na minha infância.

Desenho produzido por Laysa Maria


Lima Maia representando a história
“A festa do padroeiro”

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TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS
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