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memórias, histórias
e brincadeiras
APRESENTAÇÃO
O
Serviço Social do Comércio - SESC desenvolve o Projeto Era Uma Vez...
fância das pessoas idosas contadas através de áudios pelo whatsapp, sendo
essas histórias enviadas para as crianças que ouviam e as materializavam
por meio de reuniões virtuais semanais pela plataforma Google Meet, sendo
Nesse sentido, o produto desse trabalho foi materializado através deste Ebook
Elizabeth da Silva
Apoio:
APDMCE
Luciana Marinho
MÓDULO 4
PROFESSORA DINALVA
COMPETIÇÃO DO IOIÔ
CANTO DE BRASILINA
BANHO DE LAGOA
A BONECA CRISTINA
VISITA DA AVÓ
PULANDO NA AREIA
BANHO DE CHUVA
O GALO VALENTÃO
PALHAÇO CATOLÉ
BRINCANDO DE CIRCO
A GANGORRA GIRATÓRIA
A LENDA DO BOI
VIAJANDO DE JUMENTO
PESCARIA
FÉRIAS EM MOSSORÓ
INFÂNCIA EM MOSSORÓ
PROFESSORA DINALVA
V
ou homenagear a minha primeira professora, ela se chamava Dinalva, era loira, cabe-
letrinhas (B com A, BÁ; B com E, BÉ). Como eu já falei em outra oportunidade, aprendi a
ler muito rápido tendo em vista o meu interesse em ler histórias infantis nos livros da biblio-
teca, no colégio da minha tia Madre Nobre. A minha tia ficou muito orgulhosa com o meu
desempenho.
Naquele tempo, quase 60 anos atrás, a professora Dinalva já usava de técnicas para alfa-
das letras do alfabeto, por exemplo, que tinham nos nossos nomes. Como o meu nome era
Lúcia Helena, ela fez o desenho da letra H e de uma harpa, aquele instrumento que a gente
vê muito nos filmes romanos; e da letra L uma lua muito linda. Por ordem alfabética, quando
eram chamados, todos passavam para a parte da frente da sala para mostrar o seu dese-
nho. Quando se apresentava a última letrinha Z, fazíamos uma roda, cantávamos músicas
Hoje não posso deixar de falar aqui que todas as noites a minha tia Madre Nobre me chamava
na sala das freiras para perguntar o que eu tinha aprendido. Era muito legal esse momento na
sala das freiras, porque eu falava e elas davam risada, era muito bom, muito aconchegante.
Eu fiquei no colégio da minha tia até os 11 anos de idade, quando voltei para o Ceará. Um
do trabalho, eu fui a uma loja chamada Romcy, que era um prédio muito chic em Fortaleza.
A minha professora Dinalva com outras pessoas que tinham vindo da Paraíba para passe-
grito, educado, claro. “Lucinha de Madre Nobre!” Nossa, quanta alegria tivemos, quase que
pulávamos de alegria, mas nós já éramos grandes. Foram vários abraços, não muito aperta-
dos, porque, afinal, eu estava grávida. Ela disse que me reconheceu porque eu estava com
a mesma carinha de quando criança. Foi muito bom. Fiquei muito feliz e foi um dos momen-
F
alando ainda do colégio de tia Madre Nobre, lembrei-me de um momento muito engra-
çado. No colégio, a calçada era bem alta, na parte da frente tinha até uns degraus para
subirmos, e nas laterais se mantinham bem altas também, vocês sabem o que é ioiô?! É
aquele brinquedo que a gente coloca um cordão para ficar subindo e descendo.
cordão, indo brincar na calçada alto, porque dava certinho, a calçada era alta e o cordão
também, a gente fazia o seguinte, ia aumentando cada vez mais o cordão, cada vez mais,
estávamos já, ficando bem cracks nesta brincadeira. Então chamamos outras colegas que
não moravam no colégio, mas moravam nas redondezas, elas foram também, brincar junto
com a gente.
Um dia inventamos de fazer uma competição, agora isso, escondido das freiras né, claro! E
lá estávamos nós nesta competição, as outras coleguinhas lá na frente, e nós na lateral, es-
condidinhas, eram mais ou menos seis meninas, comigo. Quando uma olhou e disse: “olha
quem vem ali” adivinhem quem!? Tia Madri Nobre, apressou o passo, se aproximou e foi logo
perguntando: “O que vocês que não são do internato estão fazendo aqui? ” Elas responderam
“ estamos fazendo uma competição para ver quem sabe brincar mais de ioiô” aí tia disse: “
e porque não brincam ali onde estão as outras meninas? ” Elas responderam bem ligeirinho
“Lucinha, sua sobrinha disse que a senhora ia brigar com a gente” Aí a tia colocou um olhar
bem bravo para mim, bem sério, como quem ia brigar, fiquei bem paradinha, só aguardan-
do o carão. Ela se aproximou de mim e disse: “me dê este ioiô Lucinha” e eu entreguei, bem
a gente diminuiu o cordão, e ela foi tentar, tão engraçada ela gordinha, baixinha, tentando
brincar com o ioiô, e eu, vai tia, vai que a senhora acerta, aí as coleguinhas começaram a
gritar também, vai tia que a senhora acerta. As outras que estavam lá em frente ao colégio
escutaram e foram todas, formamos um coral, vai tia que a senhora acerta!!
C
ontinuando a abordagem de fatos da minha infância vivida no colégio de tia Madre Nobre.
Hoje vou contar um fato acontecido por ocasião de uma comemoração do dia das mães.
No colégio, tinha uma interna que se chamava Brasilina, ela foi para lá devido ao falecimen-
to de sua mãe, e seu pai ter se casado novamente, essa nova mulher era uma “maldrasta”,
todos conheciam sua triste história. Todos os anos no dia das mães tinha uma festa grande
no colégio, neste ano de 1966 a festa foi maior ainda, cheia de luzes, enfeites e homenagens
às mães, como danças, poesias, rimas e músicas, eu mesma participei de uma das danças.
Brasilina foi participar das músicas, por mais que as freiras discordassem dessa decisão dela,
pois a música que ela escolheu era muito triste e dolorosa, mas ela garantiu que conseguiria
contar sem chorar, nos ensaios bem que conseguia. Chegou o dia e a festa começou, com
muita alegria, a presença de grande parte das pessoas da cidade, entre essas pessoas es-
tavam prefeitos, delegados e outros, tudo com suas respectivas famílias, bem como as alu-
Todos conheciam o motivo pelo qual Brasilina estava no colégio, então chegou a hora, ela
foi cantar. Eu canto pouco e ruim, vou falar um refrãozinho da música “minha mãezinha que-
rida, mãezinha do coração, te adorarei toda a vida, com grande emoção” nesta emoção ela
começou a chorar, toda a plateia se levantou, deram as mãos uns aos outros, começaram
a cantar e a chorar ao mesmo tempo, inclusive tia Madre Nobre que toda vida ocupava lu-
gar de destaque nesses momentos de festa, de repente, todos começaram a aplaudir e gri-
tar “Brasilina, Brasilina, Brasilina” assim tia Madre Nobre foi ao palco e deu por encerrado a
BANHO DE LAGOA
S
ou Maria Dias, tenho 72 anos e hoje eu venho falar um
U
ma vez, estávamos todos em casa brincando quando o
meu tio chegou e foi tocar violão. Nossa, foi muito bom!
vir as músicas que ele tocava. Foi muito agradável. Uma tarde
mesmo de benções.
Meu tio era uma pessoa muito especial e tocava violão muito
Q
uando eu era pequena, tinha uns 6 para 7 anos, a minha amiga me levou para uma
festinha de boi. Era a apresentação do boi, então eu fiquei muito admirada. Lá no boi
estavam botando no leilão uma boneca de pano bem grande. Ela tinha uns 50cm, era uma
boneca que exatamente brincavam com ela no boi. Eles leiloaram lá e a minha amiga arre-
Assim que eu peguei a boneca no colo, ela era como se fosse uma criança bem grande. Eu
dei logo o nome da boneca de Cristina, batizei logo a boneca e fui morta de feliz para a mi-
nha casa. No outro dia as minhas amigas chegaram e todo mundo queria pegar a Cristina
e eu não deixava ninguém pegar. Tinha um ciúme horrível da boneca. Para pegar a Cristina
Era muita adulação para que eu deixasse para que eu desse a Cristina um pedacinho para
as amigas. Nesse ponto eu fui um pouco egoísta, mas não é bom ser egoísta.
D
esde pequena, eu sempre gostei muito de ir para a igreja. Quando minha avó vinha
passar uns dias na nossa casa, ela me levava para a igreja e eu achava maravilhoso.
Mesmo em casa, quando a minha avó chegava era bom demais, porque à noitinha ela nos
contava histórias, sentávamos no alpendre e ficávamos ouvindo a história dela. Ai, que ma-
ravilha! Minha avó era uma pessoa demais. Eu amava muito a minha avó e ainda hoje tenho
Desenho produzido por Maria Clara Lima representando a história “visita da avó”
N
o período de São João, lá na minha casa, na véspera de São João o meu pai sempre
fazia uma fogueira muito grande. Vinham alguns amigos da minha mãe e era uma brin-
cadeira muito boa. Meu pai tocava violão e, quando coincidia de o meu tio vir também, eles
ficavam fazendo aquelas trocas que acho que chamam de embolado, não sei bem. Eu sei
que ficava um tocando e dizia uma coisa e depois o outro dizia outra. Era muito engraçado.
Eu ficava com os meus amigos, filhos dos amigos da minha mãe, a gente ia brincar ao re-
dor da fogueira, passar a fogueira, chamar de primo, era muito engraçado. No final, quando
a fogueira estava só nas brasas, meu pai pegava uns espetos que ele fazia anteriormente
e assava milho na fogueira. Nossa, gente, era bom demais! São lembranças tão especiais
que eu vou levar até o final dos meus tempos, porque foi muita felicidade. Era muito bom.
V
ou contar um fato muito interessante que aconteceu na minha infância. Fui para a casa
das minhas amigas Marinete e Fátima e mais as irmãs delas. Lá elas estavam fazendo
uma brincadeira muito doida. Diga o que era? Juntando um monte de areia debaixo de um
pé de cajueiro. Agora diga para quê? Para pular de cima do cajueiro para o monte de areia.
Terminamos de fazer o monte de areia e fomos pular. Fazíamos uma fila e ia cada uma atrás
da outra pulando no monte de areia. Gente, foi uma tarde de brincadeira muito legal, só que
eu passei da hora de ir pra casa e minha mãe veio me buscar e brigou bastante comigo. Eu
saí chorando prometendo que nunca mais saía tarde. Foi muito legal!
Q
uando a minha avó vinha lá pra casa, como eu já falei pra vocês, a minha avó sem-
pre vinha e ela era maravilhosa. Quando a minha avó chegava, ela sempre nos dava
bastante liberdade, saia pra passear com a gente, levava a gente pra igreja, levava a gente
à praia. Um dia ela nos levou a praia do Icaraí, eu morava a três quilômetros de distancia do
Icaraí, e nessa época não tinha ônibus não, a gente ia a pé mesmo. E ai, minha avó cami-
nhando junto com a gente, eu, minhas três primas e mais duas amigas minhas que foram
com a gente, e a minha avó era só ela de adulto, mas ela era muito rígida, prestava atenção
em tudo, cuidava muito bem da gente. Nós fomos para a praia, foi uma manhã muito gosto-
sa, tomamos bastante banho. Quando voltamos, voltamos pelos morros, apanhando os pés
de murici, apanhando as frutinhas do murici, ôôô gente! Comendo e fazendo aquela alga-
zarra, foi muito bom, essas lembranças de minha avozinha, elas me marcaram para sempre.
Estávamos todos em casa brincando, eu e mais algumas amigas, nós brincávamos no al-
pendre, ele era grande e cada um fazia a sua casinha num local, sua casinha de boneca
e a gente ficava brincando de comadre, era muito divertido. Só que nessa tarde, minha foi
dormir, ela disse “fiquem brincando direito que eu vou dormir, não façam bagunça. ” Então a
gente ficou brincando, brincando, quando de repente começou a chover, estava no inverno,
aquela chuva forte e nas biqueiras caindo muita água, aí pronto, a gente correu, cada uma
Tomamos banho, aí como criança não fica quieta, fizemos bastante bagunça, acordamos minha
mãe, ela veio “o que é que vocês estão fazendo tomando banho de chuva uma hora dessas,
quase três horas da tarde, isso não pode, a água tá quente” Aí fez aquela briga, mandou as
meninas pra casa, e me passou pra dentro do banheiro pra tomar banho e trocar de roupa.
A gente ficou um pouco contrariada, mas tinha que obedecer né! Mas foi muito bom. É bom de-
mais tomar banho de chuva, eu sei que vocês já fizeram isso, é muito bom. Então até a próxima.
N
a minha casa como eu já disse, sempre saber não, ele era muito valente, até que a
iam amigos brincar comigo, muita gente minha mãe resolveu se dispor dele, porque
andava na minha casa. Então a minha mãe ele era muito, muito valente.
PALHAÇO CATOLÉ
M
eu nome é Marinete, tenho 64 anos e fui professora de infantil. Eu quero compartilhar
com vocês uma parte da minha infância que eu lembro com muito carinho. O nome
Eu nasci em uma cidade no interior do Maranhão, em uma família grande. Por ano, nas-
ciam primos, tios, irmãos e a família era grande. Não precisava nem de amiguinhos, porque
nós mesmos brincávamos no quintal. O quintal era grande, as casas eram vizinhas, a casa
da minha avó com a casa da minha mãe, e o quintal era um só, não tinha parede dividindo.
Então a gente brincava de um tudo nesse quintal e quando aparecia um circo na cidade, a
gente ia muito assistir com os nosso pais. Mas quando esse circo ia embora, a gente fazia
um circo dentro do quintal. E para entrar nesse circo, o dinheiro que prevalecia na época era
papel de cigarro, a carteira de cigarro que a gente abria, dobrava e virava dinheiro pra en-
trada do circo. Então esse circo era feito por nós mesmos, a gente era artista, a gente era
do palhaço Catolé, ele era o meu irmão e eu era o gancho do palhaço, aquela pessoa que
fala com palhaço e faz as brincadeiras com ele. Uma das brincadeiras era ele teimando com
va. E eu dizia: “não pode.”. Então nos nossos ensaios eu puxava a orelha dele e tirava ele
do canto. Só que nessa brincadeira, a plateia toda assistindo, rindo e tudo das brincadeiras
Ele chorou, ele se zangou, acabou o espetáculo, derrubou a entrada do circo, foi pra den-
tro de casa chorando e tirando a pintura do rosto; e acabou a nossa brincadeira nesse dia.
Então isso ficou na história, porque sempre que a gente ia fazer uma brincadeira de apre-
sentação, ele sempre dizia: “Mas tu não vai puxar na minha orelha, né, Neta?”. Ele era pe-
queno ainda e eu sou a mais velha, então eu devo ter puxado na orelha dele um pouco com
força, né? E ficou na história. A gente sempre lembra quando a gente se encontra já depois
de adulta, depois de velha, né, que eu já tenho 64 anos, e a gente se lembra dessa histori-
Vou continuar a história daquele circo que eu contei anteriormente. No dia que a gente foi fa-
zer outro espetáculo o quintal estava muito alagado, pois tinha chovido muito, então a gente
resolveu fazer dentro de uma casa vizinha que papai estava reformando e era dentro ainda
A gente usou a cozinha para botar as roupas e se arrumar e eu, ao invés de pedir a um adul-
to para ajudar, eu enganchei a cortina em cima da meia parede da cozinha com um tijolo.
locutor falou lá fora: “Agora com vocês, Shirley de Fátima cantando uma música nova”.
Lá vinha a Shirley com aquela roupa muito linda. A gente fazia as saias que eram só até a
metade da frente e a Shirley puxou a cortina para sair para se apresentar e o tijolo veio e
“puf” na cabeça da Shirley e ela desmaiou. A mãe dela saiu correndo gritando “mataram mi-
nha filha”. Acabou o espetáculo e saiu todo mundo correndo e eu fui logo me esconder, por-
que eu que era a dona da história. Fui logo me esconder lá em casa e o final terminou assim.
Não teve mais espetáculo, porque a gente estava brincando e não pedimos ajuda de adulto.
Quero que fique para vocês uma reflexão e sempre que for fazer alguma coisa que precise
de segurança, peça ajuda a uma pessoa adulta. Sempre a gente pedia, mas nesse dia eu
achei que não iria precisar e coloquei um tijolo para segurar uma parte da cortina.
V
ou contar uma historinha que ainda hoje eu lembro com todos os detalhes, porque foi mui-
to interessante. Nasceu uma bezerrinha no curral do tio Moacir e era toda pretinha, mas na
testa tinha uma pinta que parecia uma estrela, uma mancha branquinha, branquinha. Então a
Ela ficou mansa, corria com a gente, ela roçava o pescoço na gente, a gente brincava de pega-pega,
acompanhava a gente, brincava mesmo no quintal, na rua. Aí ela cresceu, virou uma novilha, mas
sempre com a gente. A gente sempre chamava a vaquinha do tio Moacir e ela era muito mansinha.
Então ela ficou prenhe e ia ter um bezerrinho e quando chegou o dia de ela ter o bezerri-
nho dela, ela ficou sofrendo sem conseguir parir. Aí o meu avô, minha avó, todo mundo foi
pAra dentro do curral ajudar a vaquinha preta do tio Moacir. Mandaram chamar um vaqueiro
muito bom que tinha lá no sertão. Quando ele chegou, nós todos na cerca, aí a vozinha vi-
rou para nós e disse: “Crianças, todo mundo para casa. Não pode ficar ninguém aqui. Pode
A vaquinha mugia, berrava e gemia muito de dor. E a gente escondidinho escutando. Quando,
de repente, ela teve o bebezinho dela e todo nós gritamos de uma vez. Onde estavam as
se conteve de alegria, eles olharam para trás e viram a gente. Saímos correndo, mas felizes,
porque a vaquinha preta do tio Moacir estava salva e o bezerrinho dela também.
Essa é a história que tenho para contar para vocês. A gente aprende a amar os animais, a
A
gente brincava muito no quintal e era muita criança, porque todos os primos moravam
perto. O vovô cortou um pedaço de galho bem grosso, fez a ponta e fincou no meio do
fizemos uma gangorra. Só que essa gangorra não era de levantar e baixar, ela era de rodar.
Então a gente brincava até onde o tronco do mamão aguentava. Sentava um, se agarrava
um em uma ponta e outro na outra ponta e outra criança ficava perto e girando. Ali a brinca-
deira era a seguinte, ficava todo mundo tonto e saía da gangorra e não sabia para onde ia,
vendo estrelinhas, e o menino que estava rodando também. Aí ia ser a parte de mais três,
Isso a gente brincava até o tronco se roer por conta do peso da gente e caía no pau fincado.
V
ou contar uma passagem da minha infância no São João
que além de ter tido a vivência, ficou muito bem gravado na mi-
nha mente. Então que vocês tenham também uma infância lin-
M
inha mãe costumava viajar para um interiorzinho, um povoado lá onde o meu pai nas-
ceu, que chamava Saquinho. Quando era domingo de manhãzinha, ela e a esposa
de um primo do meu pai, que a família também era lá de Saquinho, se reuniam com a garo-
tada, porque cada uma tinha seus filhos de cinco para lá. Elas arrumavam um jumento com
um jacá de cada lado e botava um menino dentro de um jacá, outro menino dentro de outro
jacá, um na cangalha e outro na garupa. Os maiores iam na garupa, então nessa história elas
iam conversando, tocando os jumentos na estrada, uma estrada ampla de carroçal, muito
bonita, muito mato de todos os lados, era uma viagem maravilhosa. A gente amava esse dia!
“Vamos.”
Aí a gente já dormia cedo, arrumava as coisas para a gente ir para a casa da tia Maria, que
era o pessoal do meu pai. Lá era muito bom, a gente tinha ela como nossa avó, porque nos-
sa avó morreu muito nova. Então, quando chegava lá tinha frango cozido, era tanta da coisa
Mas no caminho de viagem, nesse dia que eu me lembro, o jumento que ia com os meninos
da Dôra, a amiga da minha mãe, desembestou e saiu correndo e ela segurando no cabresto
e não dava jeito. Esse jumento saiu correndo com essas crianças dentro dos jacás e a gen-
te gritando. Terminou eles se enganchando nuns cipós que tinha lá e virou os jacás, os me-
ninos ficaram todos embaixo dos jacás e a gente correndo pra socorrer.
muito engraçada desse jumento correndo desembestado e essas crianças gritando e as mãe
correndo atrás. Quando terminou era todo mundo descabelado, aí só fizeram ajeitar tudo,
Chegando lá, era cada um que queria contar uma história, porque cada um ouvia de um ân-
gulo. Os que estavam dentro dos jacás dos meus irmãos não viram direito, mas eu, como
ia na garupa do jumento da minha mãe, eu vi tudo bem direitinho. A minha história é essa.
A
história de infância que eu tenho para contar hoje é uma pescaria com meu pai, ele jun-
tava os amigos, as famílias e iam para a beira de uma lagoa muito larga, muito grande
que tinha lá perto da nossa cidade. Então eles levavam câmara de ar grande de caminhão,
para ficarem dentro e pescar bem longe na lagoa, e o anzol, eles cavavam um pouquinho lá
na beira da lagoa, numa laminha que tinha, e tiravam minhocas, e faziam a isca.
Então entravam de lagoa adentro, outros usavam tarraxas de pescador, outros usavam a
Arupemba, ela é tipo uma peneira grande trançada de taboca, e eles metem dentro da água
e quando pegam o peixe levantam bem rápido, a água cai e o peixe fica. Ai quando chegava
lá na beira da lagoa, eles faziam uma fornalha, cavavam um buraco no chão, faziam fogo né,
faziam à brasa, quando tava apagando, eles cobriam com a cinza, salgando o peixe, envol-
viam numa folha de bananeira, e botava lá e cobriam com areia, depois com pouco tempo o
Eu gostava muito dessas pescarias porque lá tinha gente tocando violão, lá tinham crianças
brincando, as mães iam pra cuidar, outras mães faziam tipo um fogareiro no chão, levavam
frigideiras, faziam peixe frito de todo jeito era peixe, eles tomando um aperitivozinho, lá na
beira da lagoa, assim a gente passava o dia todo, chegava em casa naquele cansaço feliz
de quem passeou, de quem tomou banho de lagoa, de quem comeu muito peixe, e era mui-
to bom, essa lembrança que eu tenho dessa pescaria, eu imagino bem direitinho, os tipos
de pescaria que eles faziam, os tipos de peixe que eles preparavam pra gente comer, e era
L
á na cidadezinha onde eu nasci e fui criada, tinha uma usina de pilar arroz, o forte de lá,
de arroz lá para essa usina, onde tinham máquinas que descascavam o arroz.
Por trás dessa usina, tinha um cano, bem grosso, bem grande, acima de quarenta metros,
que ficava soltando as palhas do arroz, aí você imagina um morro enorme de palha. O que
as crianças faziam? Iam para lá, saíam escondidas dos pais e iam brincar lá, ficavam pulando lá
Então, o meu pai costumava ir lá, ele tomava de conta de um time de futebol, ele costumava ir lá
pegar as cinzas, às vezes eles tocavam fogo porque a palha aumentava muito e não tinha como
comportar-lá dentro da cidadezinha, eles tocavam fogo. Então meu pai ia muito lá pegar as cin-
zas, a gente ajudava ele, para demarcar o campo nos jogos de domingo. Só que a gente era
proibida e a gente não entendia porque a proibição de ir brincar, e a gente ia brincar escondido,
quando a gente voltava a mamãe conhecia, a vozinha conhecia só em colocar a mão na cabeça
da gente, porque ficava a palha do arroz entranhado nos nossos cabelos, quando ia dar banho
e tudo, aí via. A gente ficava brincando, bolando, virando, virando, até chegar em baixo.
Então o perigo, onde estava? A criança não costuma ver isso, mas os adultos sabiam porque proi-
biam. Porque o fogo da palha de arroz ele fica queimando por baixo, né?! Consumindo a palha
por baixo, a gente não vê. Quantas vezes a gente não se queimou?! Mete o pezinho e se queima
lá embaixo, então o perigo era esse. A gente se queimou poucas vezes e era uma brincadeira
A
Historinha de hoje é a santa missa no quintal. Assim que terminou as celebrações, na
época que era o padre virando as costas e só o sacristão respondia, a gente não en-
tendia nada, o Vaticano mandou para todo o Brasil, uns folhetos para a gente acompanhar a
missa, como esses jornais que a gente tem agora. Eu já tinha aprendido a ler, então eu levei
No quintal, os bancos dos fiéis, dos meus irmãos, primos e tias era numas pedras, arrumamos
as pedras, elas eram arredondadas, branquinhas que tinha muito no quintal e o altar era feito
de um tronco de árvore, a toalha do altar era um lençol, os paramentos do padre que era eu
quem celebrava a missa, lendo tudo, tudo, tudo bem direitinho, celebrando a missa todinha.
Os paramentos era um camisolão da minha mãe, e dos coroinhas que eram dois irmãos
meus, era um chambre de dormir, chambre naquela época que a mamãe fazia, era tipo um
camisolão de mangas compridas amarradas atrás, aberto atrás, então eu celebrava a mis-
sa. O vinho era kisuke de uva, colocava o suco no copo para ser o vinho da celebração, e a
Então eu celebrava a missa, todo mundo acompanhando, as vezes até os adultos, a minha
avó gostava de ver as brincadeiras no quintal, e a gente brincava muito, fazíamos de tudo.
Essa santa missa que eu celebrava, era de acordo com o que a gente via na igreja, a gen-
te andava muito na igreja, então eu celebrei. Era tão lindo, o padre antigamente tinha uma
rodinha raspada na cabeça, no centro da cabeça, chamava na croa da cabeça, a gente fa-
zia com papel, cortamos o papel redondinho e pregava na cabeça, que eu era o padre né!
quintal e era um vento forte. Aí o que era que a gente fazia? Pegávamos um cordão (isso
era ideia da minha avó), melávamos esse cordão, bem torcidinho na cera da abelha, então
a gente pegava, chamava a abelha tiúba, aquela pretinha, pegava e acendia, aí não tinha
vento que apagasse, a gente pregava assim perto do tronco, né! Longe do lençol, era como
FÉRIAS EM MOSSORÓ
O
lá, sou a Nicácia. Tenho muitas lembranças boas da mi-
época. É uma parte muito bonita e muito boa da minha vida que
E
u sou do Rio Grande do Norte, nasci lá em Mossoró, então minha infância foi muito boa
e muito divertida. Foi aquela infância que a gente podia brincar de bola no terreiro na
A gente brincava de pega-pega, pulava de corda, brincava de roda. Foi muito divertida a mi-
nha infância. Depois que vim da minha cidade, eu vim morar aqui em Fortaleza e eu ainda
era criança.
Aqui já foi mais diferente, porque quando eu cheguei aqui era mais asfalto na rua e a gente
não podia brincar. Mas assim mesmo o meu avô tinha um sítio e a gente brincava muito de
subir nas árvores. Era muito divertido e muito saudável. Esse é um resumo da minha história.