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MÓDULO 4

memórias, histórias
e brincadeiras
APRESENTAÇÃO

O
Serviço Social do Comércio - SESC desenvolve o Projeto Era Uma Vez...

Atividades Intergeracionais desde 1993 através do setor Assistência com

o Trabalho Social com Pessoas Idosas – TSI.

O projeto é desenvolvido com a participação de crianças e pessoas idosas,

a partir do convívio entre gerações com o objetivo de aproximá-las, oportuni-

zando o aprendizado mútuo e o respeito enquanto elementos fundantes para

a criação de relações de afetos e solidárias, contribuindo para a construção

de uma cultura de paz.

Diante do contexto pandêmico o SESC reinventou-se, desenvolvendo suas ati-

vidades com uma metodologia própria, adaptando-a para a modalidade remo-

ta, sem perder sua essência no desenvolvimento do trabalho intergeracional,

de acordo com as diretrizes do TSI.

Em 2021, o Projeto foi desenvolvido através da parceria entre as instituições

SESC e a Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do

Ceará – APDMCE. Os/As participantes atendidos/as pelo Projeto Era Uma

Vez, foram crianças do município de Brejo Santo/CE, assistidas pelo Projeto

Eu Sou Cidadão Amigos da Leitura da APDMCE, interagindo com as pessoas

idosas integrantes do TSI no município de Fortaleza.

O tema do ano foi “Memórias, histórias e brincadeiras”, com narrativas da in-

fância das pessoas idosas contadas através de áudios pelo whatsapp, sendo
essas histórias enviadas para as crianças que ouviam e as materializavam

através de desenhos. A partilha das histórias e dos desenhos foi realizada

por meio de reuniões virtuais semanais pela plataforma Google Meet, sendo

esse momento um espaço de interação e convívio entre gerações, mesmo

que de forma remota.

Nesse sentido, o produto desse trabalho foi materializado através deste Ebook

e Audiobook que retratam as narrativas apresentadas pelos participantes.

Desejamos que a leitura e escuta desse material possibilite uma viagem as

suas memórias de infância, revelando que as relações intergeracionais são

estratégias possíveis para a construção de uma sociedade solidária e justa

para todas as idades.


PARTICIPANTES

TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS - SESC

Ana Maria Cruz

Cristiane Silveira Souza

Edna Maria da Silva Lopes

Eleonora Veras C. Gomes

Elizabeth da Silva

Epifânio de Oliveira Filho

Espedita Gonçalves de Moraes Camilo

Francisca Maria Cruz Lopes

Lúcia Helena Nobre Oliveira

Maria Dias dos Santos

Marinete Brito Mendonça

Nicácia Maria de Oliveira Lopes

Oneida Pontes Pinheiro

Vânia Maria Gomes Prudêncio

Equipe técnica do Sesc:

Thais Castro – Supervisora Administrativa

Joseane Soares – Assistente Social

Isadora Catunda – Supervisora de Programas II

Marcia Beatriz Rodrigues Gonzaga - Estagiária de Serviço Social


MUNICÍPIO DE BREJO SANTO

Caio Emanuel Santos Inácio

Carlos Henrique Alves de Souza

Debora Soraya de Sousa Pereira

Francislenio Santana dos Santos

João Arthur Bezerra da Silva

José Mikael Alves de Araújo

Júlio César do Nascimento Santos

Lammark Tavares Leite

Lara Maysa Rodrigues da Silva

Laysa Maria Lima Maia

Maria Clara Bandeira Silva

Maria Clara de Lima Medeiros

Maria Estefane Leandro dos Santos

Maria Isabel Carvalho de Sousa

Maria Jaqueline de Moura

Maria Savana Pinheiro do Nascimento

Maria Yohane Inácio Dias

Nicole Martins Rodrigues

Viviane Silva Alencar de Moura


Equipe técnica do município:

Francisca Sandra de Sousa - Professora

Veridiane Rosa da Silva – Professora

Apoio:

APDMCE

Luciana Marinho
MÓDULO 4

PROFESSORA DINALVA

COMPETIÇÃO DO IOIÔ  

CANTO DE BRASILINA

BANHO DE LAGOA

O TIO E SEU VIOLÃO

A BONECA CRISTINA

VISITA DA AVÓ

A FOGUEIRA DE SÃO JOÃO

PULANDO NA AREIA

UMA MANHÃ MUITO GOSTOSA

BANHO DE CHUVA

O GALO VALENTÃO

PALHAÇO CATOLÉ

BRINCANDO DE CIRCO

A VAQUINHA DO TIO MOACIR

A GANGORRA GIRATÓRIA

A LENDA DO BOI

VIAJANDO DE JUMENTO

PESCARIA  

A USINA DE PILAR ARROZ

A SANTA MISSA NO QUINTAL

FÉRIAS EM MOSSORÓ

INFÂNCIA EM MOSSORÓ
PROFESSORA DINALVA

V
ou homenagear a minha primeira professora, ela se chamava Dinalva, era loira, cabe-

los longos, magra e de olhos azuis. Linda e muito boa!

Naquele tempo aprendíamos a ler na base do A de avião, B de bola e depois juntávamos as

letrinhas (B com A, BÁ; B com E, BÉ). Como eu já falei em outra oportunidade, aprendi a

ler muito rápido tendo em vista o meu interesse em ler histórias infantis nos livros da biblio-

teca, no colégio da minha tia Madre Nobre. A minha tia ficou muito orgulhosa com o meu

desempenho.

Naquele tempo, quase 60 anos atrás, a professora Dinalva já usava de técnicas para alfa-

betização através de músicas, desenhos, apresentações contendo historinhas bem legais

das letras do alfabeto, por exemplo, que tinham nos nossos nomes. Como o meu nome era

Lúcia Helena, ela fez o desenho da letra H e de uma harpa, aquele instrumento que a gente

vê muito nos filmes romanos; e da letra L uma lua muito linda. Por ordem alfabética, quando

eram chamados, todos passavam para a parte da frente da sala para mostrar o seu dese-

nho. Quando se apresentava a última letrinha Z, fazíamos uma roda, cantávamos músicas

infantis tipo Ciranda Cirandinha.

Hoje não posso deixar de falar aqui que todas as noites a minha tia Madre Nobre me chamava

na sala das freiras para perguntar o que eu tinha aprendido. Era muito legal esse momento na

sala das freiras, porque eu falava e elas davam risada, era muito bom, muito aconchegante.

Eu fiquei no colégio da minha tia até os 11 anos de idade, quando voltei para o Ceará. Um

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dia, já com 22 anos de idade, casada, morando em Fortaleza, em um intervalo de almoço

do trabalho, eu fui a uma loja chamada Romcy, que era um prédio muito chic em Fortaleza.

Quando estava passeando e resolvendo as coisas no Romcy, adivinha quem eu encontrei?

A minha professora Dinalva com outras pessoas que tinham vindo da Paraíba para passe-

ar em Fortaleza. Mesmo eu estando grávida nesse período, ela me reconheceu e deu um

grito, educado, claro. “Lucinha de Madre Nobre!” Nossa, quanta alegria tivemos, quase que

pulávamos de alegria, mas nós já éramos grandes. Foram vários abraços, não muito aperta-

dos, porque, afinal, eu estava grávida. Ela disse que me reconheceu porque eu estava com

a mesma carinha de quando criança. Foi muito bom. Fiquei muito feliz e foi um dos momen-

tos muito bons da minha vida.

Desenho produzido por Francislenio Santana dos Santos


representando a história “Professora Dinalva”

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COMPETIÇÃO DO IOIÔ

F
alando ainda do colégio de tia Madre Nobre, lembrei-me de um momento muito engra-

çado. No colégio, a calçada era bem alta, na parte da frente tinha até uns degraus para

subirmos, e nas laterais se mantinham bem altas também, vocês sabem o que é ioiô?! É

aquele brinquedo que a gente coloca um cordão para ficar subindo e descendo.

Então fomos treinando, eu e outras colegas do colégio, sempre aumentando o tamanho do

cordão, indo brincar na calçada alto, porque dava certinho, a calçada era alta e o cordão

também, a gente fazia o seguinte, ia aumentando cada vez mais o cordão, cada vez mais,

estávamos já, ficando bem cracks nesta brincadeira. Então chamamos outras colegas que

não moravam no colégio, mas moravam nas redondezas, elas foram também, brincar junto

com a gente.

Um dia inventamos de fazer uma competição, agora isso, escondido das freiras né, claro! E

lá estávamos nós nesta competição, as outras coleguinhas lá na frente, e nós na lateral, es-

condidinhas, eram mais ou menos seis meninas, comigo. Quando uma olhou e disse: “olha

quem vem ali” adivinhem quem!? Tia Madri Nobre, apressou o passo, se aproximou e foi logo

perguntando: “O que vocês que não são do internato estão fazendo aqui? ” Elas responderam

“ estamos fazendo uma competição para ver quem sabe brincar mais de ioiô” aí tia disse: “

e porque não brincam ali onde estão as outras meninas? ” Elas responderam bem ligeirinho

“Lucinha, sua sobrinha disse que a senhora ia brigar com a gente” Aí a tia colocou um olhar

bem bravo para mim, bem sério, como quem ia brigar, fiquei bem paradinha, só aguardan-

do o carão. Ela se aproximou de mim e disse: “me dê este ioiô Lucinha” e eu entreguei, bem

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rapidinho, claro! Sabe o que aconteceu? Tia pediu para gente ensinar a ela a brincar de ioiô,

a gente diminuiu o cordão, e ela foi tentar, tão engraçada ela gordinha, baixinha, tentando

brincar com o ioiô, e eu, vai tia, vai que a senhora acerta, aí as coleguinhas começaram a

gritar também, vai tia que a senhora acerta. As outras que estavam lá em frente ao colégio

escutaram e foram todas, formamos um coral, vai tia que a senhora acerta!!

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CANTO DE BRASILINA

C
ontinuando a abordagem de fatos da minha infância vivida no colégio de tia Madre Nobre.

Hoje vou contar um fato acontecido por ocasião de uma comemoração do dia das mães.

No colégio, tinha uma interna que se chamava Brasilina, ela foi para lá devido ao falecimen-

to de sua mãe, e seu pai ter se casado novamente, essa nova mulher era uma “maldrasta”,

todos conheciam sua triste história. Todos os anos no dia das mães tinha uma festa grande

no colégio, neste ano de 1966 a festa foi maior ainda, cheia de luzes, enfeites e homenagens

às mães, como danças, poesias, rimas e músicas, eu mesma participei de uma das danças.

Brasilina foi participar das músicas, por mais que as freiras discordassem dessa decisão dela,

pois a música que ela escolheu era muito triste e dolorosa, mas ela garantiu que conseguiria

contar sem chorar, nos ensaios bem que conseguia. Chegou o dia e a festa começou, com

muita alegria, a presença de grande parte das pessoas da cidade, entre essas pessoas es-

tavam prefeitos, delegados e outros, tudo com suas respectivas famílias, bem como as alu-

nas que estudavam também no colégio, com seus familiares.

Todos conheciam o motivo pelo qual Brasilina estava no colégio, então chegou a hora, ela

foi cantar. Eu canto pouco e ruim, vou falar um refrãozinho da música “minha mãezinha que-

rida, mãezinha do coração, te adorarei toda a vida, com grande emoção” nesta emoção ela

começou a chorar, toda a plateia se levantou, deram as mãos uns aos outros, começaram

a cantar e a chorar ao mesmo tempo, inclusive tia Madre Nobre que toda vida ocupava lu-

gar de destaque nesses momentos de festa, de repente, todos começaram a aplaudir e gri-

tar “Brasilina, Brasilina, Brasilina” assim tia Madre Nobre foi ao palco e deu por encerrado a

festa. Lembro-me desse momento até hoje com muita emoção.

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Desenho produzido por Viviane Silva Alencar de Moura
representando o conteúdo enviado por Lúcia Helena contando a lenda do Saci

Desenho produzido por Caio Emanuel Santos Inácio


representando o conteúdo enviado por Lúcia Helena contando a lenda da Caipora

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Fotos do acervo pessoal de Lúcia Helena

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MARIA DIAS DOS SANTOS

BANHO DE LAGOA

S
ou Maria Dias, tenho 72 anos e hoje eu venho falar um

pouco da história da minha infância. Fui uma criança mui-

to amada e amava muito meus pais. Sempre fui muito peralta,

juntava-me aos amigos e íamos tomar banho de lagoa. Quando

voltávamos, sempre vínhamos aprontando alguma coisa.

Um dia, encontramos um jumentinho, pegamos o bichinho e fo-

mos andar nele e cada um andava um pouco. Foi muito diverti-

do e engraçado! No outro dia fizemos a mesma coisa, até que

um dia o dono do jumentinho nos pegou e brigou muito com a

gente. Daí saímos todos correndo e acabou a nossa farra. É

só isso um pouquinho da história da minha infância. Até breve!

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O TIO E SEU VIOLÃO

U
ma vez, estávamos todos em casa brincando quando o

meu tio chegou e foi tocar violão. Nossa, foi muito bom!

Nossos amigos fizeram rodinha ao redor do meu tio para ou-

vir as músicas que ele tocava. Foi muito agradável. Uma tarde

mesmo de benções.

Meu tio era uma pessoa muito especial e tocava violão muito

bem. Eu e meus amigos que estávamos brincando de casinha

de boneca, nem pensamos em brincar e ficamos ouvindo a voz

dele e as músicas que ele tocava. Foi muito bom.

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A BONECA CRISTINA

Q
uando eu era pequena, tinha uns 6 para 7 anos, a minha amiga me levou para uma

festinha de boi. Era a apresentação do boi, então eu fiquei muito admirada. Lá no boi

estavam botando no leilão uma boneca de pano bem grande. Ela tinha uns 50cm, era uma

boneca que exatamente brincavam com ela no boi. Eles leiloaram lá e a minha amiga arre-

matou para mim.

Assim que eu peguei a boneca no colo, ela era como se fosse uma criança bem grande. Eu

dei logo o nome da boneca de Cristina, batizei logo a boneca e fui morta de feliz para a mi-

nha casa. No outro dia as minhas amigas chegaram e todo mundo queria pegar a Cristina

e eu não deixava ninguém pegar. Tinha um ciúme horrível da boneca. Para pegar a Cristina

precisava nem lembro de quê.

Era muita adulação para que eu deixasse para que eu desse a Cristina um pedacinho para

as amigas. Nesse ponto eu fui um pouco egoísta, mas não é bom ser egoísta.

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Conteúdo produzido por Maria Clara de Lima Medeiros para Maria Dias

Conteúdo produzido por Nicole Martins Rodrigues para Maria Dias

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VISITA DA AVÓ

D
esde pequena, eu sempre gostei muito de ir para a igreja. Quando minha avó vinha

passar uns dias na nossa casa, ela me levava para a igreja e eu achava maravilhoso.

Mesmo em casa, quando a minha avó chegava era bom demais, porque à noitinha ela nos

contava histórias, sentávamos no alpendre e ficávamos ouvindo a história dela. Ai, que ma-

ravilha! Minha avó era uma pessoa demais. Eu amava muito a minha avó e ainda hoje tenho

muita saudade dela.

Desenho produzido por Maria Clara Lima representando a história “visita da avó”

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A FOGUEIRA DE SÃO JOÃO

N
o período de São João, lá na minha casa, na véspera de São João o meu pai sempre

fazia uma fogueira muito grande. Vinham alguns amigos da minha mãe e era uma brin-

cadeira muito boa. Meu pai tocava violão e, quando coincidia de o meu tio vir também, eles

ficavam fazendo aquelas trocas que acho que chamam de embolado, não sei bem. Eu sei

que ficava um tocando e dizia uma coisa e depois o outro dizia outra. Era muito engraçado.

Eu ficava com os meus amigos, filhos dos amigos da minha mãe, a gente ia brincar ao re-

dor da fogueira, passar a fogueira, chamar de primo, era muito engraçado. No final, quando

a fogueira estava só nas brasas, meu pai pegava uns espetos que ele fazia anteriormente

e assava milho na fogueira. Nossa, gente, era bom demais! São lembranças tão especiais

que eu vou levar até o final dos meus tempos, porque foi muita felicidade. Era muito bom.

Viva São João!!!

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PULANDO NA AREIA

V
ou contar um fato muito interessante que aconteceu na minha infância. Fui para a casa

das minhas amigas Marinete e Fátima e mais as irmãs delas. Lá elas estavam fazendo

uma brincadeira muito doida. Diga o que era? Juntando um monte de areia debaixo de um

pé de cajueiro. Agora diga para quê? Para pular de cima do cajueiro para o monte de areia.

Terminamos de fazer o monte de areia e fomos pular. Fazíamos uma fila e ia cada uma atrás

da outra pulando no monte de areia. Gente, foi uma tarde de brincadeira muito legal, só que

eu passei da hora de ir pra casa e minha mãe veio me buscar e brigou bastante comigo. Eu

saí chorando prometendo que nunca mais saía tarde. Foi muito legal!

Desenho produzido por Francislênio Santana dos Santos


representando a história “Pulando na areia”

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UMA MANHÃ MUITO GOSTOSA

Q
uando a minha avó vinha lá pra casa, como eu já falei pra vocês, a minha avó sem-

pre vinha e ela era maravilhosa. Quando a minha avó chegava, ela sempre nos dava

bastante liberdade, saia pra passear com a gente, levava a gente pra igreja, levava a gente

à praia. Um dia ela nos levou a praia do Icaraí, eu morava a três quilômetros de distancia do

Icaraí, e nessa época não tinha ônibus não, a gente ia a pé mesmo. E ai, minha avó cami-

nhando junto com a gente, eu, minhas três primas e mais duas amigas minhas que foram

com a gente, e a minha avó era só ela de adulto, mas ela era muito rígida, prestava atenção

em tudo, cuidava muito bem da gente. Nós fomos para a praia, foi uma manhã muito gosto-

sa, tomamos bastante banho. Quando voltamos, voltamos pelos morros, apanhando os pés

de murici, apanhando as frutinhas do murici, ôôô gente! Comendo e fazendo aquela alga-

zarra, foi muito bom, essas lembranças de minha avozinha, elas me marcaram para sempre.

Um beijo, até outra hora.

Desenho produzido por Carlos Henrique Alves de Souza


representando a história “uma manhã muito gostosa”

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BANHO DE CHUVA

Estávamos todos em casa brincando, eu e mais algumas amigas, nós brincávamos no al-

pendre, ele era grande e cada um fazia a sua casinha num local, sua casinha de boneca

e a gente ficava brincando de comadre, era muito divertido. Só que nessa tarde, minha foi

dormir, ela disse “fiquem brincando direito que eu vou dormir, não façam bagunça. ” Então a

gente ficou brincando, brincando, quando de repente começou a chover, estava no inverno,

aquela chuva forte e nas biqueiras caindo muita água, aí pronto, a gente correu, cada uma

ficou só de calcinha e corremos, fomos tomar banho.

Tomamos banho, aí como criança não fica quieta, fizemos bastante bagunça, acordamos minha

mãe, ela veio “o que é que vocês estão fazendo tomando banho de chuva uma hora dessas,

quase três horas da tarde, isso não pode, a água tá quente” Aí fez aquela briga, mandou as

meninas pra casa, e me passou pra dentro do banheiro pra tomar banho e trocar de roupa.

A gente ficou um pouco contrariada, mas tinha que obedecer né! Mas foi muito bom. É bom de-

mais tomar banho de chuva, eu sei que vocês já fizeram isso, é muito bom. Então até a próxima.

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O GALO VALENTÃO

N
a minha casa como eu já disse, sempre saber não, ele era muito valente, até que a

iam amigos brincar comigo, muita gente minha mãe resolveu se dispor dele, porque

andava na minha casa. Então a minha mãe ele era muito, muito valente.

tinha uma criação de galinhas, dentre elas ti-


Essa lembrança ela é muito viva na minha men-
nha um galo que era muito valente, um dia,
te, meu amigo nunca mais quis ir para o quintal,
um dos meus amigos saiu de perto da gente,
passou vários dias dodói, todo cheio de bicada do
do alpendre onde nós estávamos brincando,
galo, foi muito interessante, tchau, até a próxima.
e foi lá para o quintal mexer com o galo, nos-

sa, o galo voou, pulou o chiqueiro, e mandou

brasa, bicando o menino, bicando forte mes-

mo, ele começou a gritar ai a gente correu

todo mundo para lá, minha mãe foi, pegou

uma vassoura, espantou o galo.

Daí o menino veio e minha mãe foi cuidar dos

ferimentos dele, o galo deixou bestarado, por-

que ele tinha uns oito anos, por aí assim, oito

ou nove anos, mas era muito danado e foi se

meter com quem logo, esse galo era um sufoco

lá em casa, se ele se soltasse corria atrás de

qualquer pessoa, adulto, criança, não queria


Conteúdos produzidos por Débora Soraya
de Sousa Pereira para Maria Dias

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MARINETE BRITO MENDONÇA

PALHAÇO CATOLÉ

M
eu nome é Marinete, tenho 64 anos e fui professora de infantil. Eu quero compartilhar

com vocês uma parte da minha infância que eu lembro com muito carinho. O nome

da historinha é palhaço Catolé.

Eu nasci em uma cidade no interior do Maranhão, em uma família grande. Por ano, nas-

ciam primos, tios, irmãos e a família era grande. Não precisava nem de amiguinhos, porque

nós mesmos brincávamos no quintal. O quintal era grande, as casas eram vizinhas, a casa

da minha avó com a casa da minha mãe, e o quintal era um só, não tinha parede dividindo.

Então a gente brincava de um tudo nesse quintal e quando aparecia um circo na cidade, a

gente ia muito assistir com os nosso pais. Mas quando esse circo ia embora, a gente fazia

um circo dentro do quintal. E para entrar nesse circo, o dinheiro que prevalecia na época era

papel de cigarro, a carteira de cigarro que a gente abria, dobrava e virava dinheiro pra en-

trada do circo. Então esse circo era feito por nós mesmos, a gente era artista, a gente era

quem construía, a gente era tudo.

Mas um dia, na apresentação, teve as danças, as bailarinas, os trapézios e tudo; e na hora

do palhaço Catolé, ele era o meu irmão e eu era o gancho do palhaço, aquela pessoa que

fala com palhaço e faz as brincadeiras com ele. Uma das brincadeiras era ele teimando com

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o apito e eu chegava e dizia: “Não pode apitar aqui.”. Aí ele afastava um pouquinho e apita-

va. E eu dizia: “não pode.”. Então nos nossos ensaios eu puxava a orelha dele e tirava ele

do canto. Só que nessa brincadeira, a plateia toda assistindo, rindo e tudo das brincadeiras

do meu irmão e da minha, eu puxei na orelha do meu irmão de verdade.

Ele chorou, ele se zangou, acabou o espetáculo, derrubou a entrada do circo, foi pra den-

tro de casa chorando e tirando a pintura do rosto; e acabou a nossa brincadeira nesse dia.

Então isso ficou na história, porque sempre que a gente ia fazer uma brincadeira de apre-

sentação, ele sempre dizia: “Mas tu não vai puxar na minha orelha, né, Neta?”. Ele era pe-

queno ainda e eu sou a mais velha, então eu devo ter puxado na orelha dele um pouco com

força, né? E ficou na história. A gente sempre lembra quando a gente se encontra já depois

de adulta, depois de velha, né, que eu já tenho 64 anos, e a gente se lembra dessa histori-

nha do circo do palhaço Catolé.

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BRINCANDO DE CIRCO

Vou continuar a história daquele circo que eu contei anteriormente. No dia que a gente foi fa-

zer outro espetáculo o quintal estava muito alagado, pois tinha chovido muito, então a gente

resolveu fazer dentro de uma casa vizinha que papai estava reformando e era dentro ainda

do mesmo bloco do quintal.

A gente usou a cozinha para botar as roupas e se arrumar e eu, ao invés de pedir a um adul-

to para ajudar, eu enganchei a cortina em cima da meia parede da cozinha com um tijolo.

Pronto, começou o espetáculo e tudo. A minha prima ia ser a primeira a se apresentar e o

locutor falou lá fora: “Agora com vocês, Shirley de Fátima cantando uma música nova”.

Lá vinha a Shirley com aquela roupa muito linda. A gente fazia as saias que eram só até a

metade da frente e a Shirley puxou a cortina para sair para se apresentar e o tijolo veio e

“puf” na cabeça da Shirley e ela desmaiou. A mãe dela saiu correndo gritando “mataram mi-

nha filha”. Acabou o espetáculo e saiu todo mundo correndo e eu fui logo me esconder, por-

que eu que era a dona da história. Fui logo me esconder lá em casa e o final terminou assim.

Não teve mais espetáculo, porque a gente estava brincando e não pedimos ajuda de adulto.

Quero que fique para vocês uma reflexão e sempre que for fazer alguma coisa que precise

de segurança, peça ajuda a uma pessoa adulta. Sempre a gente pedia, mas nesse dia eu

achei que não iria precisar e coloquei um tijolo para segurar uma parte da cortina.

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A VAQUINHA DO TIO MOACIR

V
ou contar uma historinha que ainda hoje eu lembro com todos os detalhes, porque foi mui-

to interessante. Nasceu uma bezerrinha no curral do tio Moacir e era toda pretinha, mas na

testa tinha uma pinta que parecia uma estrela, uma mancha branquinha, branquinha. Então a

gente se afeiçoou a essa bezerrinha e começamos a chamar de vaquinha do tio Moacir.

Ela ficou mansa, corria com a gente, ela roçava o pescoço na gente, a gente brincava de pega-pega,

acompanhava a gente, brincava mesmo no quintal, na rua. Aí ela cresceu, virou uma novilha, mas

sempre com a gente. A gente sempre chamava a vaquinha do tio Moacir e ela era muito mansinha.

Então ela ficou prenhe e ia ter um bezerrinho e quando chegou o dia de ela ter o bezerri-

nho dela, ela ficou sofrendo sem conseguir parir. Aí o meu avô, minha avó, todo mundo foi

pAra dentro do curral ajudar a vaquinha preta do tio Moacir. Mandaram chamar um vaqueiro

muito bom que tinha lá no sertão. Quando ele chegou, nós todos na cerca, aí a vozinha vi-

rou para nós e disse: “Crianças, todo mundo para casa. Não pode ficar ninguém aqui. Pode

deixar que isso é coisa de adulto”. E a gente sumiu.

A vaquinha mugia, berrava e gemia muito de dor. E a gente escondidinho escutando. Quando,

de repente, ela teve o bebezinho dela e todo nós gritamos de uma vez. Onde estavam as

crianças? Escondidinhas no murão da porteira do curral e, de repente, quando a gente não

se conteve de alegria, eles olharam para trás e viram a gente. Saímos correndo, mas felizes,

porque a vaquinha preta do tio Moacir estava salva e o bezerrinho dela também.

Essa é a história que tenho para contar para vocês. A gente aprende a amar os animais, a

gente se apega e a gente quer ver o animalzinho bem e saudável.

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A GANGORRA GIRATÓRIA

A
gente brincava muito no quintal e era muita criança, porque todos os primos moravam

perto. O vovô cortou um pedaço de galho bem grosso, fez a ponta e fincou no meio do

quintal e a gente aproveitou um tronco de mamoeiro, fizemos um pouquinho a cava dele e

fizemos uma gangorra. Só que essa gangorra não era de levantar e baixar, ela era de rodar.

Então a gente brincava até onde o tronco do mamão aguentava. Sentava um, se agarrava

um em uma ponta e outro na outra ponta e outra criança ficava perto e girando. Ali a brinca-

deira era a seguinte, ficava todo mundo tonto e saía da gangorra e não sabia para onde ia,

vendo estrelinhas, e o menino que estava rodando também. Aí ia ser a parte de mais três,

um em cada ponta agarrado e o outro no centro girando.

Isso a gente brincava até o tronco se roer por conta do peso da gente e caía no pau fincado.

Essa era a nossa brincadeira de gangorra no nosso quintal.

Desenho produzido por Viviane Silva Alencar de Moura


representando a história “A gangorra giratória”

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A LENDA DO BOI

V
ou contar uma passagem da minha infância no São João

lá no interior do Maranhão. Lá no Maranhão se costuma

dançar o boi, então é uma brincadeira muito bonita, uma dan-

ça muito bonita. As pessoas bem enfeitadas, bem fantasiadas,

roupas brilhosas, muita lantejoula. O papai levava a gente para

assistir a dança do boi nesse local que a prefeitura preparava e

que era cheio de fogueiras.

A gente brincava ao redor das fogueiras e quando começava a

apresentação a gente ia ver a história. Tinha uma história muito

bonita do boi que era em uma fazenda que os moradores eram

a Catirina e o Chico. A Catirina estava esperando neném e de-

sejou a língua do boi, então a dança todinha era ao redor dessa

história desse folclore do Maranhão. Ela chorando que queria

comer a língua do boi e o boi muito bonito que tinha na fazendo

do patrão deles e ela vai escondido e mata o boi.

Na minha infância, eu ficava triste nessa hora, porque quando

eles derrubavam o boi para tirar a língua para a Catirina comer,

eu ficava com pena. O meu pai ficava explicando que era só

uma apresentação. Hoje, depois da minha idade, depois que

eu já fui professora de infantil, eu já fiz essas apresentações na

TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


minha salinha na escola que eu trabalhava; então eu vejo que

é um folclore muito rico e muito bonito.

Eu tenho essa lembrança muito linda do boi lá no Maranhão.

A história da Catirina e do Chico foi linda, ficou sempre na mi-

nha mente. Quando eu fiz a reprodução aqui já depois adulta,

nos meus 50 anos ainda, eu não precisei pesquisar nada, por-

que além de ter tido a vivência, ficou muito bem gravado na mi-

nha mente. Então que vocês tenham também uma infância lin-

da como a minha. As minhas lembranças são todas coloridas

como as roupas do pessoal que dança o boi lá no Maranhão.

Desenho de Francislênio Santana dos Santos


representando a história “A lenda do boi”

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VIAJANDO DE JUMENTO

M
inha mãe costumava viajar para um interiorzinho, um povoado lá onde o meu pai nas-

ceu, que chamava Saquinho. Quando era domingo de manhãzinha, ela e a esposa

de um primo do meu pai, que a família também era lá de Saquinho, se reuniam com a garo-

tada, porque cada uma tinha seus filhos de cinco para lá. Elas arrumavam um jumento com

um jacá de cada lado e botava um menino dentro de um jacá, outro menino dentro de outro

jacá, um na cangalha e outro na garupa. Os maiores iam na garupa, então nessa história elas

iam conversando, tocando os jumentos na estrada, uma estrada ampla de carroçal, muito

bonita, muito mato de todos os lados, era uma viagem maravilhosa. A gente amava esse dia!

“Mamãe, vamos pro Saquinho?”

“Vamos.”

Aí a gente já dormia cedo, arrumava as coisas para a gente ir para a casa da tia Maria, que

era o pessoal do meu pai. Lá era muito bom, a gente tinha ela como nossa avó, porque nos-

sa avó morreu muito nova. Então, quando chegava lá tinha frango cozido, era tanta da coisa

debaixo dos pés de laranja, chupamos muita laranja.

Mas no caminho de viagem, nesse dia que eu me lembro, o jumento que ia com os meninos

da Dôra, a amiga da minha mãe, desembestou e saiu correndo e ela segurando no cabresto

e não dava jeito. Esse jumento saiu correndo com essas crianças dentro dos jacás e a gen-

te gritando. Terminou eles se enganchando nuns cipós que tinha lá e virou os jacás, os me-

ninos ficaram todos embaixo dos jacás e a gente correndo pra socorrer.

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Depois a gente ria tanto, porque graças a Deus não machucou ninguém, mas foi uma cena

muito engraçada desse jumento correndo desembestado e essas crianças gritando e as mãe

correndo atrás. Quando terminou era todo mundo descabelado, aí só fizeram ajeitar tudo,

ajeitaram a cangalha, amarraram, botaram os jacás, botaram as crianças dentro de novo e

a gente seguiu viagem.

Chegando lá, era cada um que queria contar uma história, porque cada um ouvia de um ân-

gulo. Os que estavam dentro dos jacás dos meus irmãos não viram direito, mas eu, como

ia na garupa do jumento da minha mãe, eu vi tudo bem direitinho. A minha história é essa.

Desenho produzido por Nicole Martins Rodrigues


representando a história “Viajando de Jumento”

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PESCARIA

A
história de infância que eu tenho para contar hoje é uma pescaria com meu pai, ele jun-

tava os amigos, as famílias e iam para a beira de uma lagoa muito larga, muito grande

que tinha lá perto da nossa cidade. Então eles levavam câmara de ar grande de caminhão,

para ficarem dentro e pescar bem longe na lagoa, e o anzol, eles cavavam um pouquinho lá

na beira da lagoa, numa laminha que tinha, e tiravam minhocas, e faziam a isca.

Então entravam de lagoa adentro, outros usavam tarraxas de pescador, outros usavam a

Arupemba, ela é tipo uma peneira grande trançada de taboca, e eles metem dentro da água

e quando pegam o peixe levantam bem rápido, a água cai e o peixe fica. Ai quando chegava

lá na beira da lagoa, eles faziam uma fornalha, cavavam um buraco no chão, faziam fogo né,

faziam à brasa, quando tava apagando, eles cobriam com a cinza, salgando o peixe, envol-

viam numa folha de bananeira, e botava lá e cobriam com areia, depois com pouco tempo o

peixe já estava bem assadinho, a carne bem molinha, bem gostoso.

Eu gostava muito dessas pescarias porque lá tinha gente tocando violão, lá tinham crianças

brincando, as mães iam pra cuidar, outras mães faziam tipo um fogareiro no chão, levavam

frigideiras, faziam peixe frito de todo jeito era peixe, eles tomando um aperitivozinho, lá na

beira da lagoa, assim a gente passava o dia todo, chegava em casa naquele cansaço feliz

de quem passeou, de quem tomou banho de lagoa, de quem comeu muito peixe, e era mui-

to bom, essa lembrança que eu tenho dessa pescaria, eu imagino bem direitinho, os tipos

de pescaria que eles faziam, os tipos de peixe que eles preparavam pra gente comer, e era

muito bom esse dia, muito feliz!

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A USINA DE PILAR ARROZ

L
á na cidadezinha onde eu nasci e fui criada, tinha uma usina de pilar arroz, o forte de lá,

o comércio de lá era arroz, muitos agricultores plantavam, levavam as sacas, carradas

de arroz lá para essa usina, onde tinham máquinas que descascavam o arroz.

Por trás dessa usina, tinha um cano, bem grosso, bem grande, acima de quarenta metros,

que ficava soltando as palhas do arroz, aí você imagina um morro enorme de palha. O que

as crianças faziam? Iam para lá, saíam escondidas dos pais e iam brincar lá, ficavam pulando lá

de cima, rolando, virando, virando, virando até chegar em baixo.

Então, o meu pai costumava ir lá, ele tomava de conta de um time de futebol, ele costumava ir lá

pegar as cinzas, às vezes eles tocavam fogo porque a palha aumentava muito e não tinha como

comportar-lá dentro da cidadezinha, eles tocavam fogo. Então meu pai ia muito lá pegar as cin-

zas, a gente ajudava ele, para demarcar o campo nos jogos de domingo. Só que a gente era

proibida e a gente não entendia porque a proibição de ir brincar, e a gente ia brincar escondido,

quando a gente voltava a mamãe conhecia, a vozinha conhecia só em colocar a mão na cabeça

da gente, porque ficava a palha do arroz entranhado nos nossos cabelos, quando ia dar banho

e tudo, aí via. A gente ficava brincando, bolando, virando, virando, até chegar em baixo.

Então o perigo, onde estava? A criança não costuma ver isso, mas os adultos sabiam porque proi-

biam. Porque o fogo da palha de arroz ele fica queimando por baixo, né?! Consumindo a palha

por baixo, a gente não vê. Quantas vezes a gente não se queimou?! Mete o pezinho e se queima

lá embaixo, então o perigo era esse. A gente se queimou poucas vezes e era uma brincadeira

muito gostosa, muito boa. A gente descer virando na palha do arroz.

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A SANTA MISSA NO QUINTAL

A
Historinha de hoje é a santa missa no quintal. Assim que terminou as celebrações, na

época que era o padre virando as costas e só o sacristão respondia, a gente não en-

tendia nada, o Vaticano mandou para todo o Brasil, uns folhetos para a gente acompanhar a

missa, como esses jornais que a gente tem agora. Eu já tinha aprendido a ler, então eu levei

um jornalzinho desse lá para casa e me preparei para celebrar a santa missa.

No quintal, os bancos dos fiéis, dos meus irmãos, primos e tias era numas pedras, arrumamos

as pedras, elas eram arredondadas, branquinhas que tinha muito no quintal e o altar era feito

de um tronco de árvore, a toalha do altar era um lençol, os paramentos do padre que era eu

quem celebrava a missa, lendo tudo, tudo, tudo bem direitinho, celebrando a missa todinha.

Os paramentos era um camisolão da minha mãe, e dos coroinhas que eram dois irmãos

meus, era um chambre de dormir, chambre naquela época que a mamãe fazia, era tipo um

camisolão de mangas compridas amarradas atrás, aberto atrás, então eu celebrava a mis-

sa. O vinho era kisuke de uva, colocava o suco no copo para ser o vinho da celebração, e a

hóstia era a bolacha Maria que eu trazia lá do comércio do meu pai.

Então eu celebrava a missa, todo mundo acompanhando, as vezes até os adultos, a minha

avó gostava de ver as brincadeiras no quintal, e a gente brincava muito, fazíamos de tudo.

Essa santa missa que eu celebrava, era de acordo com o que a gente via na igreja, a gen-

te andava muito na igreja, então eu celebrei. Era tão lindo, o padre antigamente tinha uma

rodinha raspada na cabeça, no centro da cabeça, chamava na croa da cabeça, a gente fa-

zia com papel, cortamos o papel redondinho e pregava na cabeça, que eu era o padre né!

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Toda vez que a gente ia celebrar a missa, não conseguia acender as velas, porque era no

quintal e era um vento forte. Aí o que era que a gente fazia? Pegávamos um cordão (isso

era ideia da minha avó), melávamos esse cordão, bem torcidinho na cera da abelha, então

a gente pegava, chamava a abelha tiúba, aquela pretinha, pegava e acendia, aí não tinha

vento que apagasse, a gente pregava assim perto do tronco, né! Longe do lençol, era como

formar um castiçal, assim a gente fazia as velas da celebração.

Cartinha enviada por Maria Savana Pinheiro do Nascimento para Marinete

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NICÁCIA MARIA DE OLIVEIRA LOPES

FÉRIAS EM MOSSORÓ

O
lá, sou a Nicácia. Tenho muitas lembranças boas da mi-

nha infância, uma delas era quando a gente entrava de

férias no meio do ano e final de ano e nossa família ia passar

na praia de Tibau em Mossoró, pois nós morávamos lá nessa

época. É uma parte muito bonita e muito boa da minha vida que

muito me marcou e me fez feliz.

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INFÂNCIA EM MOSSORÓ

E
u sou do Rio Grande do Norte, nasci lá em Mossoró, então minha infância foi muito boa

e muito divertida. Foi aquela infância que a gente podia brincar de bola no terreiro na

rua. Não tinha asfalto, era areia.

A gente brincava de pega-pega, pulava de corda, brincava de roda. Foi muito divertida a mi-

nha infância. Depois que vim da minha cidade, eu vim morar aqui em Fortaleza e eu ainda

era criança.

Aqui já foi mais diferente, porque quando eu cheguei aqui era mais asfalto na rua e a gente

não podia brincar. Mas assim mesmo o meu avô tinha um sítio e a gente brincava muito de

subir nas árvores. Era muito divertido e muito saudável. Esse é um resumo da minha história.

DESENHO PRODUZIDO POR DÉBORA SORAYA


REPRESENTANDO A HISTÓRIA “INFÂNCIA EM MOSSORÓ”

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