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MÓDULO 5

memórias, histórias
e brincadeiras
APRESENTAÇÃO

O
Serviço Social do Comércio - SESC desenvolve o Projeto Era Uma Vez...

Atividades Intergeracionais desde 1993 através do setor Assistência com

o Trabalho Social com Pessoas Idosas – TSI.

O projeto é desenvolvido com a participação de crianças e pessoas idosas,

a partir do convívio entre gerações com o objetivo de aproximá-las, oportuni-

zando o aprendizado mútuo e o respeito enquanto elementos fundantes para

a criação de relações de afetos e solidárias, contribuindo para a construção

de uma cultura de paz.

Diante do contexto pandêmico o SESC reinventou-se, desenvolvendo suas ati-

vidades com uma metodologia própria, adaptando-a para a modalidade remo-

ta, sem perder sua essência no desenvolvimento do trabalho intergeracional,

de acordo com as diretrizes do TSI.

Em 2021, o Projeto foi desenvolvido através da parceria entre as instituições

SESC e a Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do

Ceará – APDMCE. Os/As participantes atendidos/as pelo Projeto Era Uma

Vez, foram crianças do município de Brejo Santo/CE, assistidas pelo Projeto

Eu Sou Cidadão Amigos da Leitura da APDMCE, interagindo com as pessoas

idosas integrantes do TSI no município de Fortaleza.

O tema do ano foi “Memórias, histórias e brincadeiras”, com narrativas da in-

fância das pessoas idosas contadas através de áudios pelo whatsapp, sendo
essas histórias enviadas para as crianças que ouviam e as materializavam

através de desenhos. A partilha das histórias e dos desenhos foi realizada

por meio de reuniões virtuais semanais pela plataforma Google Meet, sendo

esse momento um espaço de interação e convívio entre gerações, mesmo

que de forma remota.

Nesse sentido, o produto desse trabalho foi materializado através deste Ebook

e Audiobook que retratam as narrativas apresentadas pelos participantes.

Desejamos que a leitura e escuta desse material possibilite uma viagem as

suas memórias de infância, revelando que as relações intergeracionais são

estratégias possíveis para a construção de uma sociedade solidária e justa

para todas as idades.


PARTICIPANTES

TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS - SESC

Ana Maria Cruz

Cristiane Silveira Souza

Edna Maria da Silva Lopes

Eleonora Veras C. Gomes

Elizabeth da Silva

Epifânio de Oliveira Filho

Espedita Gonçalves de Moraes Camilo

Francisca Maria Cruz Lopes

Lúcia Helena Nobre Oliveira

Maria Dias dos Santos

Marinete Brito Mendonça

Nicácia Maria de Oliveira Lopes

Oneida Pontes Pinheiro

Vânia Maria Gomes Prudêncio

Equipe técnica do Sesc:

Thais Castro – Supervisora Administrativa

Joseane Soares – Assistente Social

Isadora Catunda – Supervisora de Programas II

Marcia Beatriz Rodrigues Gonzaga - Estagiária de Serviço Social


MUNICÍPIO DE BREJO SANTO

Caio Emanuel Santos Inácio

Carlos Henrique Alves de Souza

Debora Soraya de Sousa Pereira

Francislenio Santana dos Santos

João Arthur Bezerra da Silva

José Mikael Alves de Araújo

Júlio César do Nascimento Santos

Lammark Tavares Leite

Lara Maysa Rodrigues da Silva

Laysa Maria Lima Maia

Maria Clara Bandeira Silva

Maria Clara de Lima Medeiros

Maria Estefane Leandro dos Santos

Maria Isabel Carvalho de Sousa

Maria Jaqueline de Moura

Maria Savana Pinheiro do Nascimento

Maria Yohane Inácio Dias

Nicole Martins Rodrigues

Viviane Silva Alencar de Moura


Equipe técnica do município:

Francisca Sandra de Sousa - Professora

Veridiane Rosa da Silva – Professora

Apoio:

APDMCE

Luciana Marinho
MÓDULO 5

LEMBRANÇAS DE SÃO JOÃO

AS TRÊS CABEÇAS DE OURO

INFÂNCIA NO CENTRO DE FORTALEZA

O CAVALO DESEMBESTADO

TRAQUINAGENS DE CRIANÇA

SÃO JOÃO FEITO A MÃO

BRINCADEIRAS DE SÃO JOÃO

O TREM

O PILÃO DA VOVÓ

BONECAS DE PANO

O BURRO QUE SE CHAMAVA MELÃO

CASA DE BONECA

NINHO DE GALINHAS

JOÃO EVANGELISTA OU APÓSTOLO JOÃO

MAMÃE E PAPAI

SÍTIO DA BISAVÓ

DIA FELIZ

PERNAMBUCO

PASSEIO DE CANOA

O TABLET

PASSEIO A PRAIA

BANHO DE RIO

CASA EM BARBALHA
LEMBRANÇAS DE SÃO JOÃO

E
u tinha apenas 10 anos quando a minha mãe e meus tios sempre faziam uma foguei-

ra na noite de São João e São Pedro. Lá na fogueira, eu, meus avós, meus pais, meus

irmãos, a gente ficava em volta da fogueira e minha mãe e o pessoal adulto botava milho,

batata doce, para ser assado naquelas brasas da fogueira. A gente era criança e não podia

fazer essas coisas porque era muito perigoso queimar.

Ali a gente brincava de roda, brincava uma quadrilha improvisada somente com a família

e os vizinhos. As crianças eram tudo à vontade. Na época, ninguém tinha muita roupa de

quadrilha, essas coisas. A gente improvisava uma saia, uma blusa estampada, os meninos

botavam um chapeuzinho de palha; e aí a gente passava uma parte da noite brincando de

quadrilha improvisada, cantando músicas juninas e comendo as delícias que os adultos fa-

ziam. Era batata doce, era bolo de milho, canjica, milho assado, milho cozido e essas coisas.

Então é uma lembrança maravilhosa que eu tenho da minha infância.

TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


ONEIDA PONTES PINHEIRO

AS TRÊS CABEÇAS DE OURO

O
lá, sou a Oneida Pontes. Graças a Deus a minha infância foi maravilhosa, meus pais

eram muito bons e muito presentes, mas como eram 8 filhos, era muito difícil pra eles.

Então a vovó veio morar com a gente, ela morava em Massapê e veio morar com a gente.

A partir desse dia, tudo mudou pra melhor. Olha, você pense uma vózinha maravilhosa que

fazia drama com a gente, fazia muitas coisas maravilhosas.

Eu me lembro de uma história que ela contava que era “As três cabeças de ouro”. Eu dizia:

“Valha meu Deus, vovó! Três cabeças de ouro?”. Ela disse que um viúvo tinha uma filha e

outra viúva tinha uma filha, então resolveram se casar e ficou morando todo mundo junto.

Só que a madrasta era muito boa para a menina filha do homem quando ele não estava pre-

sente, mas quando ele ia trabalhar, ela batia nela e fazia muitas coisas chatas com a meni-

na, o que não é certo fazer.

Aí um dia ela chegou para o pai dela e disse: “Papai, eu posso ir morar com a minha avó? Por

favor, deixa eu morar com a minha avó.” E ele disse: “Tá certo, minha filha. Mas por quê?”.

Aí ela contou o relato pra ele, então ele ficou morando com a mulher e a filha da mulher e

ela foi embora para a casa da avó. Antes de ela ir embora ele disse assim para a mulher:

“Dê dinheiro a ela, faça tudo o que ela quiser para ela não passar fome no meio da estrada”.

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A madrasta botou dois pães e um litro de água para ela beber, aí quando ela chegou mais

a frente tinha um pé de espinho muito grande que não dava para ela passar e havia um ve-

lhinho sentado. Ela olhou para o velhinho e perguntou: “Você está com fome?”. “Estou” - ele

disse. “Pois então vamos dividir, eu tenho dois pães. Você come um, eu como o outro e di-

vidimos a água.”

Quando ela acabou de comer, ele disse: “Pegue essa varinha para você passar pelos espi-

nhos e não se espinhar”. Aí ela foi e sentou na beira da lagoa a coisa mais linda do mundo.

Ela estava cochilando e ouviu um “PLIM”, então apareceu a cabeça de ouro. Ela disse: “Meu

Deus, o que é isso?”. A cabeça de ouro disse assim: “Princesa, com a sua mão delicada,

penteia meu cabelo e me joga dentro d’água”. Assim ela fez.

A segunda cabeça fez “PLIM”, ela pegou a cabeça que disse: “Princesa, com a sua mão de-

licada, penteia meu cabelo e me joga dentro d’água”. Quando ela estava cochilando de novo,

ouviu o “PLIM” e apareceu a terceira cabeça de ouro que disse: “Princesa, com a sua mão

delicada, penteia meu cabelo e me joga dentro d’água”.

Ela saiu andando e mais a frente ela viu um rapaz muito bom, ela já estava com 17 anos,

quase mocinha e o rapaz se apaixonou por ela. Ela casou e ele era riquíssimo, quase um

príncipe, então ficou bem de vida e morando em uma casa boa. Ela voltou para casa e con-

tou tudo para a madrasta e para o pai. A madrasta com inveja, mandou a filha dela ir tam-

bém fazer a mesma coisa que ela tinha feito. Deu frango, carne biscoito e pudim para a via-

gem que a menina faria e quando chegou lá na frente ela viu o velhinho sentado no chão.

O velhinho perguntou a ela: “Você vai pra onde? Cuidado com esses espinhos”. Ela disse: “Eu

não tenho nada a ver com esses espinhos. Não tô nem aí.” Então ele perguntou: “Você tem

alguma comida para dividir comigo?” Ela respondeu: “não, tenho só para eu mesma comer.”

Ela foi passar pelos espinhos e se espinhou toda. Quando ela chegou na beira do lago

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apareceu a primeira cabeça de ouro. “PLIM” “Princesa, com a sua mão delicada, penteia

meu cabelo e me joga dentro d’água”. Ela pegou a cabeça e a chutou. A segunda cabeça

surgiu. “Princesa, com a sua mão delicada, penteia meu cabelo e me joga dentro d’água”. E

ela disse: “Eu não vou lhe jogar dentro d’água. Você que se vire.” Chegou a terceira cabeça

de ouro e disse: “Princesa, com a sua mão delicada, penteia meu cabelo e me joga dentro

d’água”. Ela disse que não queria conversa e saiu andando.

Ela se perdeu e não soube encontrar nada na vida dela, porque ela tratou mal o velhinho,

não quis escutar o próximo, não quis fazer amizade e dividir o que ela tinha. A outra foi feliz

porque ela soube ouvir o velhinho, recebeu uma varinha de condão para não se furar nos

espinhos. Ela, ao contrário, se furou todinha e voltou para casa chorando e não conseguiu

realizar o sonho dela que era casar e ficar bem de vida igual a irmã de criação dela. Um bei-

jo! Cuidado com as cabeças de ouro, hein?

Desenho de Lammark Tavares Leite enviado para Oneida

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INFÂNCIA NO CENTRO DE FORTALEZA

N
asci e me criei na Praça do Carmo, local maravilhoso cheio de árvores na praça e a

igreja ficava bem no centro. Era uma verdadeira sintonia com Deus, porque a gente es-

tava naquele paraíso, com aquela cena bucólica belíssima na nossa porta da casa. Quando

a gente abria a porta era vendo árvores maravilhosas, era oiti, benjamin, pitanga… e a gen-

te ia para a praça e comia todas essas frutas de graça. A gente brincava de patins, brincava

de corre-corre, subia nas árvores para tirar as frutas. Era um verdadeiro paraíso.

Todo mundo que morava dos nossos lados, os nossos vizinhos, eram como se fosse uma

grande família. Era muito difícil ter uma confusão, porque todos nós éramos uma união mara-

vilhosa, todos nós éramos muito amigos. Eu agradeço a Deus por ter tido uma família muito

maravilhosa que me ensinou a ser honesta, a saber amar o próximo, a dividir o que eu tenho

com o outro. É muito difícil a criação de 8 filhos, meu pai e minha mãe são uns verdadeiros

heróis. Heróis porque nos ensinaram a enfrentar a vida com precisão. Ele, professor, e de-

pois foi crescendo. Papai foi ser vereador e deputado, mas mesmo assim ele nunca abando-

nava seus filhos. Nas férias a gente viajava e passeava. A mamãe, como fez só até o quarto

ano primário, não tinha muita leitura, ela tentou aprender e o papai ensinava ela. Quando a

gente estava aprendendo, ensinava a mamãe também.

A mamãe era uma pessoa que tinha o dom de ver as coisas certas. Ela dizia sempre: “Não

faça isso. Vá por esse caminho que é melhor. ” Era uma verdadeira sabedoria, apesar de

não ter estudo, a mais sábia daquela casa era a minha mãe. Ela era muito amorosa, cari-

nhosa, fazia afago na gente, abraçava a todos. Se ela tinha preferência por algum a gente

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não notava, porque ela amava os oito com o mesmo amor e o mesmo afeto. Graças a Deus eu

cresci com muito amor do meu lado e é por isso que hoje, aos 74 anos, me sinto uma pessoa

forte para vencer qualquer problema. Qualquer obstáculo que chega na minha frente eu seguro

na mão de Deus e resolvo tudo com calma e com paz.

Olha, era tão bom naquela época, porque a gente ficava na pracinha e fazia mil brincadeiras.

Fazia brincadeira de corre-corre, de pula-pula, pulava corda, a gente entrava na igreja e pedia

hóstia ao padre para a gente comer. A gente não podia comungar, porque éramos pequenos e

dizíamos assim: “Monsenhor Gaspar, me dê uma coisinha redonda dessa para eu comer”. Ele

dizia: “Isso não é coisinha redonda, menina. Isso é a hóstia consagrada, mas eu vou lhe dar sem

ser consagrada, porque você não pode comer sem ter a idade”. Aí ele tirava umas dez ou doze

hóstias e dava para a gente comer. Menina, foi o melhor dia da minha vida. Eu dizia que agora

estávamos todos protegidos por Deus, porque o Monsenhor Gaspar havia dado as hóstias e se-

ríamos felizes. Todos saiam gritando “mamãe, eu comi a hóstia” e a mamãe se espantava que o

padre tenha dado as hóstias. Então qualquer coisa era novidade.

A gente ia ao cinema, que naquela época tinha o Cine Rex, tinha o Samburá, tinha o Cine Arte,

tinha o Cine Jangada, tinha o Majestick na Praça do Ferreira e depois foi que inaugurou o São

Luiz. Eu estava presente no dia da inauguração. Como papai era político, papai e mamãe en-

traram para assistir ao filme lá dentro, parece que era Anastácia. E nós oito ficamos lá fora com

a vovó e ela chamou para ficar brincando na praça até terminar o filme. Olha, parecia coisa de

príncipe, os príncipes todos arrumados e as mulheres muito bonitas, muito arrumadas, as auto-

ridades políticas entrando...isso marcou muito a minha vida! Quando eu vim trabalhar no Sesc

como voluntária, um dia nós fomos fazer um evento lá. Eu me senti tão feliz porque podia entrar

naquela festa que o Sesc fez, que era a Semana Social do Envelhecimento. Menina, eu entran-

do, me lembrei rapidamente daquela época e hoje eu sou uma autoridade, sou voluntária e es-

tou aqui para servir todos os idosos. Me senti uma deusa, porque eu estava ali para servir, re-

lembrando o meu passado.

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O CAVALO DESEMBESTADO

Q
uando chegava as férias, a gente viajava, como já relatei para vocês. Na minha épo-

ca, tinha o mês de Julho todinho e tinha o mês de Dezembro um pedaço e emendava

pra Fevereiro. As aulas já começavam no final de janeiro. Era muito bom porque tinha muito

tempo. A gente ia para Massapê, ia para Guedeslândia, que ficava lá pertinho de Jaguaribe.

E a gente ia também para a colônia de férias de Iparana, que era uma maravilha. Só que

dessa vez eu vou relatar um fato muito engraçado lá em Massapê.

Em Massapê sempre tinha um chitão. Tinha o chitão dos pobres e o chitão dos ricos. E as

crianças podiam entrar nas festas de noite. Tinha gente que ia de carro, gente que ia de bi-

cicleta, gente que ia de moto, gente que ia a pé, gente que ia de jumento ou de cavalo para

a festa que era o chitão.

Eu tinha mais ou menos de 12 para 13 anos e eu vi um cavalo lá, o homem botou a corda e

amarrou e eu disse: “Vou já andar nesse cavalo”. Só que a festa era no clube de lá, mas fica-

va também uma cerca que enrolava com arame farpado e cercando as mesas que ficavam

do lado de fora do clube. Eu fui lá para fora, peguei o cavalo e montei. A festa começava às

17 horas e não tinha hora para terminar.

Quando eu montei no cavalo, segurei as rédeas, pois eu já andava de cavalo, mas esse bi-

cho não gostou de mim. Saiu desembestado pelo meio de Massapê subindo a ladeira e eu

dizia: “E agora, meu Deus? O que eu faço”. Agarrava nos cabelos do cavalo segurando. Aí

tinha a cerca e para vocês acreditarem, nós pulamos a cerca. O cavalo pulou e eu segurei

nos cabelos.

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Olha, era tanta palma para mim tanta gente achando “que menina danada. Como ela sabe

andar de cavalo?”. Que sabe que nada! Eu estava era morrendo de medo e gritando e o

pessoal achando que eu gritava era para o cavalo correr mais. Eu queria que parasse. Aí

foi que um senhor que estava lá na outra rua viu o meu desespero, correu, pegou o cavalo

dele e correu atrás de mim e segurou as rédeas do meu cavalo e me parou. Graças a Deus.

Eu disse que nunca mais iria mexer em nada de ninguém, porque fui mexer nesse cavalo e

me lasquei.

Desenho de Francislênio Santana dos Santos


representando a história o cavalo desembestado

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TRAQUINAGENS DE CRIANÇA

E
ra uma vez uma menina muito sapeca que se chamava Oneida. Meu pai e minha mãe

tiveram 8 filhos, só que eu fui a quinta a nascer e passei cinco anos caçula. Então como

depois de cinco anos nasceu a minha irmãzinha e eu não sabia dizer se era felicidade ou se

era tristeza, porque eu ia perder todo o carinho e afeto por ser a mais nova. Quando a ma-

mãe teve a neném, eu fui me esconder arás do guarda-roupa, porque disseram que quando

minha irmãzinha nascesse eu iria ficar no canto. Aí eu pensei que era em um canto atrás de

alguma coisa me escondendo da neném que ia nascer. Depois o pessoal ficou me procuran-

do e não me acharam. Sabe onde eu estava? Escondida atrás do guarda-roupa lá de casa.

Mas mesmo assim eu fiquei tão feliz de ganhar mais uma irmãzinha!

Depois de um ano veio um irmão e depois de outro ano veio outro irmãozinho, então nós fi-

camos oito crianças para brincar juntos. A minha infância foi maravilhosa. Como eu já falei

para vocês, foi no centro de Fortaleza, na Praça do Carmo. Eu era a menorzinha na época

e todo mundo me rejeitava, não queria que eu fosse brincar. Eu disse assim: “Ah é? Estão

querendo me fazer de boba. Eu agora vou fazer uma coisa que não é certa, mas eu vou fa-

zer”. Quando eles compravam pipoca, não compravam para mim. Eu pedia um pouquinho e

ninguém me dava, aí eu batia no saco, derrubava e corria. Então a mamãe brigou comigo e

disse “Minha filha, se você quer comprar pipoca, me peça o dinheiro que eu dou. Mas não

vá fazer traquinagem. Deixe seus irmãos com o dinheiro que dou para comprar pipoca, como

você é pequenininha era para eles comprarem para você também”. Mas eu nem me importava.

Já estava com mais ou menos 10 anos e mastigava chiclete. Eu era muito traquina. Não vão

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fazer o que eu fazia! Eu ia para a missa com a mamãe, tirava o chiclete da boca e colocava

no banco. Quando a pessoa sentava, ficava grudada. Eu era uma menina muito danadinha e

cheia de artimanha, mas hoje eu sou bem-comportada, porque minha mãe me educou bem

direitinho. Não vão fazer o que eu disse, tá certo?

Eu brincava de patinete, de patins, jogava vôlei...eu era muito danadinha, mas sempre gostei

de ter muitos amigos. A minha casa era repleta. Toda sexta-feira a mamãe fazia a hora da

merenda. Chamava todos os meus amigos, botava pão, manteiga, tapioca, café, leite, coa-

lhada, cuscuz, bruaca… Era tanta comida na mesa, mas era só dia de sexta-feira que ela

chamava todo mundo para reunir. Ela também fazia muita excursão. Alugava um ônibus, co-

locava todas as crianças e a gente ia para uma praia longe para se divertir.

A minha infância, graças a Deus, foi maravilhosa. E hoje, na minha velhice, eu faço a mes-

ma coisa com os meus netos, passeio bastante e vivo a minha vida. Porque velhice não é

doença. Velhice é você recordar tudo de bom que você tem na sua vida e viver no mesmo

tempo que todo mundo está vivendo. A idade pode ser diferente, você é uma criança e eu

sou uma idosa, mas o tempo vivido por nós é o mesmo. Temos que aproveitá-lo e ser feliz.

Desenho produzido por Francislenio Santana dos Santos


representando a história “traquinagens de criança”

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SÃO JOÃO FEITO A MÃO

S
empre gostei de brincar bastante desde a minha infância e continuo assim com os meus

netos. Procurei sempre brincadeiras sadias, brincadeiras que eu aprendesse alguma

coisa. Por exemplo, eu sempre gostei de artesanato e, na pracinha em frente de onde eu

morava, eu pegava os palitos de picolé e fazia a fogueirinha de São João, fazia os quadros,

fazia as bandeirinhas de São João, pintava e fazia totalmente a decoração lá em casa. Fazia

uma fogueira grande para botar em cima da mesa e enchia de quitutes. Era muito gostoso.

Todo mundo apreciava muito.

Minha mãe dizia para a gente parar com isso e eu dizia para ela comprar papel crepom para

nós fazermos as bandeirinhas para enfeitar a casa e a praça para fazer uma fogueira de

verdade e chamar todos os amiguinhos para brincar. Eu dizia que ela podia ser madrinha

de fogueira de muitos dos meus amiguinhos. A mamãe achou uma ideia genial e no dia fez

bolo de milho, pé de moleque, bolo de grude, tapioca, canjica, pamonha, milho cozido e as-

sado para todo mundo se fartar. Aquele lugar era um paraíso todo iluminado pelas estrelas,

a fogueira queimando e as faíscas saindo e formando pequenas estrelas ao redor da roda

em que fazíamos a nossa quadrilha. Até o padre vinha para comemorar junto com a gente.

A gente fazia pescaria, pegava a varinha, colocava uma linha na ponta e uma isca lá e ia

pescar os peixinhos que a mamãe fazia dentro da areia. A gente fazia tanta brincadeira de

São João que era maravilhoso. A gente colocava uma bacia com água e ficava pingando

dentro para ver se saía o nosso nome. A gente fazia também outras brincadeiras que era pu-

lar fogueira, só que a gente não pulava essa fogueira grande, a gente pulava uma fogueira

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pequenininha que a mamãe fazia para a gente ser madrinha uns dos outros. Era uma verda-

deira festa de São João. Era tão lindo! Todo mundo parava o carro para olhar a nossa festa

e as nossas brincadeiras. Isso ficou marcado no meu coração.

É muito bom a gente vivenciar a nossa infância. Hoje em dia colocam as crianças para tra-

balhar e eu sou contra isso. Criança não é para trabalhar, criança é para estudar e brincar.

Me contem das suas brincadeiras agora nessa festa de São João que não está sendo co-

memorada por conta da pandemia, mas vocês devem fazer alguma coisa para não deixar

morrer essa tradição. Quando vocês ficarem mais velhos irão relatar para os seus netinhos.

Agradeço muito por estar falando com vocês, porque vocês estão vivenciando um pouco

da minha infância, um pouco da minha alegria, um pouco da minha história que ficou grava-

da no meu coração e que eu sempre passo para os meus netos e para todos aqueles que

querem me escutar. A infância é a base principal para as pessoas terem uma velhice sadia.

Hoje sou feliz porque aproveitei bem a minha infância. Brinquei, pulei, nadei, corri, joguei

bola, brinquei de boneca, brinquei de fazer de conta de cozinhar e hoje sou uma excelente

cozinheira. Adoro porque quando a mamãe fazia as comidas ela dava um pouquinho já feita

para a gente colocar nas panelinhas e a gente ficava comendo lá na cozinha com as nos-

sas panelinhas. Era a coisa mais maravilhosa. Por isso, para ser feliz não é preciso muito

dinheiro, é somente ter muitas ideias e criatividade. Um beijo para todos vocês! Adoro estar

participando com vocês. O que vocês quiserem de mim, eu estarei aqui para servi-los. Eu

sou uma avozinha distante, mas tenho vocês no coração.

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BRINCADEIRAS DE SÃO JOÃO

Q
uando chegava no São João a gente inventava mil adivi-

nhações. Já estava ficando mocinha, tinha uns 10 para 12

anos aí as minhas amigas diziam que queriam namorar. Menina,

tu é muito nova pra namorar, bora só brincar. Uma delas disse

assim: “Pois eu amarrei um lençol e em cada ponta do lençol

botei um coleguinha meu e o que aparecer do lado direito eu

irei me casar quando eu ficar grande” Ave Maria, tu tá pensan-

do nisso? Vamos brincar que é melhor. A outra disse assim: “Eu

gostaria de fazer o que minha irmã mais velha estava fazendo”.

Ela pegou uma bacia, botou água dentro, acendeu uma vela os

pingos da vela formavam a primeira letra de quem ela ia casar.

Vamos fazer isso aí

Eram cinco crianças comigo, eu botei a bacia, peguei a vela e

fiquei pingando, aí aparecia umas coisas que parecia umas le-

tras mesmo. Todas ficaram perto, cada uma olhando. Quando

todo mundo estava com a cabeça bem pertinho da bacia eu lar-

guei a mãe dentro d’água e molhou todo mundo. Eu comecei a

rir e disse: “Vocês estão pensando em casar tão novas, vamos

brincar que é melhor. Tão pensando em negócio de namorar,

eu quero é brincar”.

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Então para dizer a vocês que tem tempo para tudo e para namorar quando a gente é maior.

A gente fica querendo namorar nova e aí não dá certo, porque a gente tem que ficar brin-

cando, estudando, para depois dos 14 anos é que a gente começa a namorar. Então eu fiz

isso e minhas colegas ficaram todas rindo. Eu fazia isso, mas não vão fazer não, viu? Estou

só dizendo que as pessoas querem fazer as coisas para adivinhar com quem vai casar, en-

trega nas mãos de Deus, ele é quem sabe como a gente vai ser futuramente. Não é isso?

No momento de criança, é só brincar, estudar e passear. Um beijo! Adoro vocês. Da próxima

vez conto uma coisa mais engraçada.

Desenho produzido por Maria Clara Lima


representando a história “brincadeiras de são joão”

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O TREM

Q
uando eu era criança fiquei muito feliz pela primeira vez que fui andar de trem, eu pen-

sava que o trem ia era para a frente, sacolejando para a frente, mas não é não! O trem

ele sacode de um lado para o outro, vai jogando a gente para um lado e para o outro. Eu

fiquei tão feliz, aí onde a gente passava, eu fui daqui pra Massapê. Ai dentro do trem tinha

um homem que ficava cobrando os ingressos, sabe?! Aí eu ficava olhando para o homem, o

que esse homem tá fazendo?! Ficava pensando “será que ele vai fazer alguma brincadeira

com a gente?!” A gente era oito irmãos, todos juntos, com o papai e a mamãe faziam dez.

Era tanta gente nesse trem, a minha avó também ia, eram onze pessoas da nossa família

dentro do trem, um vagão. Demorava muito, era tão lindo, passava pelas estradas, a gente

vendo aquelas matas fechadas, o verde, as lagoas, os açudes, as fazendas, vendo o gado

correndo no meio do tempo, dos campos, os passarinhos cantando. Olha, era uma verda-

deira obra de arte da natureza! Eu me sentia tão feliz. E depois de muitos e muitos anos que

eu fui andar de trem novamente, mas eu lhe digo honestamente, as coisas que acontecem

na vida da gente quando criança, elas servem de base para a gente ficar gostando das coi-

sas, porque hoje em dia né, já está muito avançado, hoje em dia tem o metrô, quase não usa

o trem, e ajuda a população porque economiza a gasolina, e também não polui a natureza.

Como o homem é inteligente, porque Deus deu a inteligência a ele.

E voltando como eu fazia dentro do trem. Como era muito longe para a gente ir, a mamãe

levava dentro de uma lata, que era uma lata de mantimento que ela fazia uma galinha, fazia

galinha cabueira, eu não lembro o nome! Ela pegava a farinha e cozinhava a galinha, pegava

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um quilo de farinha e colocava dentro e mexia, fazia refresco e levava nas garrafas, levava

água também nas garrafas. No meio do caminho a gente comia isso, às vezes a gente co-

mia com banana também. Era um passeio muito bom!

Desenho produzido por Maria Yohane Inácio Dias


representando a história “o trem”

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O PILÃO DA VOVÓ

M
e lembro muito de quando a gente ia para Massapé e a minha avó tinha um pilão, tinha a

mão de pilão, aquela madeira que não pega cupim. Ela fazia uma paçoca deliciosa, co-

locava a farinha, até cheia de caroço, colocava a carne do sol e colocava a cebola, só que ela

batia primeiro a carne do sol, bem batida com a farinha, depois ela colocava a cebola.

Então a gente ficava ajudando, sentávamos num pilão, colocava a mão do pilão entre as

pernas e ficava batendo. Olha eu adorei, esse pilão hoje está comigo, lá na minha casa do

Iguape, guardo com a maior recordação do mundo, porque foi uma lembrança maravilhosa,

a gente pilava tudo no pilão, queríamos pilar castanha do caju, para tirar o caju, tudo que a

gente ia fazer para pilar, era no pilão da vovó, tenho esse pilão até hoje, ele tem mais de cem

anos, e me é útil até hoje, lá no Iguape eu uso para fazer paçoca. Então era a coisa mais

gostosa, essa paçoca é feita com aquela cebola vermelha, aquela cebola roxa, uma delícia,

maravilhosa, a carne do sol já vinha escaldada, vinha com pouco sal, não precisava nem

acrescentar. Quando terminava de bater, já estava pronta a paçoca.

Era uma das paçocas melhores que eu comi na minha vida, foi feita pela minha avó, eu guar-

do hoje em dia esse pilão e ainda continuo fazendo, para você ver como é bom as coisas,

que são bem-feitas né! De madeira que não pega cupim, tem mais de cem anos e até hoje

eu faço para os meus netos e meus filhos, um beijo, muita paz e saúde.

Como é bom as coisas do interior, tudo é natural né! Hoje em dia fazem a paçoca diferente,

coloca óleo e não sei o que mais, e a nossa não precisava, era só pilar a farinha junto com

a carne e depois quando ela estava bem pilada colocava a cebola e pilava, a paçoca ficava

pronta, não precisava nem ir ao fogo. Um beijo, muita paz e saúde.


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VÂNIA MARIA GOMES PRUDÊNCIO

BONECAS DE PANO

U
m dia já fui criança como vocês. Nasci bem pequenininha, usava fraldas, mamava no

peito da minha mãe e dormia no meu bercinho. Na minha infância, eu e as outras me-

ninas daquela época, brincávamos mais de bonecas. Eu, meus pais e meus irmãos morá-

vamos em uma fazenda pertinho da cidade de Jaguaribe, no interior do nosso estado do

Ceará. Lá não tinha shopping com lojas pra gente comprar brinquedos, então a minha mãe

fazia bonecas de pano.

Era assim, ela tinha um desenho que chamava de molde, colocava em cima do pano, cortava

e fechava deixando um buraquinho para encher com esponja ou algodão e depois fechava.

Pronto! A boneca já tinha cabeça, corpo, braços e pernas. Aí então desenhava os olhos, as

sobrancelhas, o nariz, a boca, os ouvidos e o cabelo. Minha mãe fazia bonecas diferentes,

umas mais gordas, outras mais magras, umas com cabelos loiros e outras com cabelos pre-

tos, umas riam e outras não, outras eram mais sérias. Ah, fazia roupinhas para as bonecas

e ficavam lindas. Confeccionava as calcinhas, as saias, as blusas, os shorts, os vestidos; e

cada boneca tinha várias peças de roupas. Fazia também os sapatinhos, bolsinhas, e dentro

de cada bolsa ela colocava um espelhinho, um pente, um vidro com perfume bem pequeni-

ninhos para poder caber dentro da bolsa que também era bem pequena.

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Os nossos brinquedos não eram iguais aos das crianças de atualmente. Na verdade, eram

brincadeiras preferidas de todas as meninas daquela época. A gente fazia as casinhas com

tábuas, separava os cômodos, a sala, o quarto, o banheiro, a cozinha. E dentro tinha o sofá,

tinha a mesa, tinha as camas, tinha os armários, que naquela época a gente chamava de

guarda roupa para guardar as roupas das bonecas. Meu pai fazia até uns cabides, que na-

quela época a gente chamava cruzetas, bem pequenininhas. Na cozinha tinha fogão de

brinquedo, panelinhas, pratos, talheres para a gente fazer as comidas das bonecas. Tudo

de brincadeira, é claro! Brincávamos também de esconde-esconde, de amarelinha, de pular

corda, de pedrinhas que a gente achava no açude da fazenda. Que saudade! Hoje já sou

avó e tenho três netos que são meus tesouros.

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O BURRO QUE SE CHAMAVA MELÃO

Quando eu era pequenininha, 3, 4 , 5, 6, 7 , 8 , 9 anos, por aí, eu passei com meus pais numa

Fazenda no interior de Jaguaribe, aqui no Ceará. Nós tínhamos cavalos, burro, jumentos,

vacas, bois, ovelhas, carneiros, bodes, cabras, galinhas, galos e capotes. Perto da minha

casa passava um riacho bem grande e estava bem cheio porque era época de chuvas, até

o açude chegou a sangrar.

Meu pai falou: minha filha, quero que vá deixar este litro de leite na casa do Sr. Lauriston. O

burro tá selado, pode montar que eu lhe entrego o litro de leite.

Eu era boa na montaria, montei no burro que se chamava “Melão” porque o mesmo era meio

amarelinho. E aí me ajeitei na sela, peguei o leite e saí. Melão começou logo a correr, parecia

um burro brabo e quando chegou no riacho ele deu um pulo de uma margem à outra e eu

não caí. Mas os meus pés saíram do estribo e fiquei realmente correndo perigo. Com uma

mão, segurei o leite e com a outra me agarrei na lua da sela. Foi um sufoco.

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O burro foi correndo até a casa e pra parar lá foi uma luta. Tive que gritar e puxar com muita

força o cabresto, até que ele parou. Entreguei o leite, coloquei os pés no estribo e o Melão na

volta fez tudo do mesmo jeito, a única diferença é que eu não estava mais com o litro de lei-

te e pude me segurar melhor.

Quando cheguei em casa contei para meu pai e o mesmo nunca se conformou porque eu

não soltei o leite. Corri o risco de cair, mas não soltei a garrafa, era uma responsabilidade,

tinha que fazer a entrega. Nessa época, eu tinha uns 9 anos e adorava andar a cavalo.

Desenho feito por Francisco Levi representando a história “O burro que se chamava melão”

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CASA DE BONECA

A
minha infância foi em uma fazenda. Lá as casas eram longe umas das outras. Cada

uma tinha seus donos, suas terras, seus açudes, suas plantações, suas criações de

aves e de animais. Nossas brincadeiras, minhas e das minhas irmãs e irmãos, dependiam

somente das nossas criatividades. As meninas fabricavam suas casinhas, seus móveis etc,

com a ajuda dos nossos pais, é claro.

Uma vez aconteceu que fiz a casa das minhas bonequinhas de pano debaixo de uma árvo-

re bem grande. Ela dava muita sombra, mas era uma planta que tinha muitos anos de vida.

De vez em quando, caía um galho que o tronco estava meio oco, mas caiu também muitas

folhas e às vezes alguns frutos. Era uma castanhola enorme. Um belo dia, caiu à noite uma

chuva bem forte e com vento e a castanhola caiu e ficou por cima da minha casa de bone-

cas. O dia amanheceu, tomei meu café e, como sempre, fui até a árvore ver como estava

tudo. Para a minha surpresa, de longe vi a árvore no chão e comecei logo a chorar. Voltei cor-

rendo, falei para a minha mãe, mas ninguém podia fazer nada. Durante uns 10 dias sofri de-

mais lembrando dessa tragédia. Depois, quando meu pai encontrou um tempinho, conseguiu

construir outra casinha em um lugar mais seguro e eu voltei a sorrir e a brincar novamente.

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NINHO DE GALINHAS

Q
uero contar uma historinha da minha infância com o nome “Ninho das galinhas” que

eu gostava muito de ver. Na fazenda dos meus pais, a minha mãe criava galinhas, ca-

potes, patos e peru, além de outros animais. Lembro bem das galinhas, porque eu gostava

de acompanhar o local que as mesmas faziam os ninhos para colocar seus ovos entre tron-

cos de árvores, tocas de pedras, no pé das cercas, das folhas caídas ao chão. Tudo elas

gostavam de fazer os ninhos. Elas gostavam de ter seus ninhos bem escondidinhos para ter

paz, calma, tranquilidade e conforto, ser um local escuro. E o mais importante: um lugar se-

guro para nenhum predador mexer com seus ovos. Por exemplo, as cobras gostavam muito

de ovos e etc.

As galinhas, quando viam vários ovos no ninho, resolviam deitar em cima deles para os mes-

mos ficarem bem quentinhos. A gente dizia que a galinha estava choca, estava chocando os

ovos. A galinha só levantava para comer alguma coisa e beber água, ela só levantava para

isso. Só depois de 21 dias os pintinhos estavam prontos para nascer. Alguns bicavam a cas-

ca do ovo e conseguiam sair, outros não conseguiam. Minha mãe ajudava quebrando um

pedacinho da casca do ovo e eles conseguiam sair A galinha não gostava dessa ajuda, mas

era necessária. Era nessa hora que eu gostava muito de assistir eles saindo da casca dos

ovos e do ninho. É muito engraçado! Cai aqui, cai acolá. Pende para um lado, pende para

o outro. Despenados, molhadinhos, feinhos, mas eles não desistem de acompanhar a mãe.

Diferente das outras aves, eles não dão comida no bico do filho, mas, sim, ela os ensina logo

a procurar a comida e se virarem. Claro que a mãe galinha cuida deles, mas não entrega

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pronto. Ensina como procurar comida indicada para eles e como procurar água para beber.

Afinal, mãe é mãe! Pode ser galinha, pode ser pato ou uma mulher. Elas têm o mesmo amor

para dar. Cuidam, protegem, fazem qualquer coisa para ver seus filhos bem.

Eu tinha mais ou menos 7 ou 8 anos e ficava sempre muito feliz quando eu via todos aque-

les pintinhos se esforçando para viver, correndo atrás da mãe com dificuldade, mas eles não

desistiam. Lembro que à noite a mamãe galinha colocava todos os pintinhos embaixo das

suas asas como forma de fazer carinho oferecendo seu calor materno como forma de pro-

tegê-los. Lindo demais!

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JOÃO EVANGELISTA OU APÓSTOLO JOÃO

Estamos na época de São João e eu vou falar sobre essa festa que é uma alegria e uma co-

memoração tão linda e que todos nós gostamos. Nos divertimos, dançamos quadrilha, solta-

mos balões, fogos ao redor de uma fogueira, realizamos casamento de mentirinha, aquelas

bandeirinhas que a gente confeccionava. Era tão lindo. A casa do meu pai ficava toda alegre

com aquelas bandeirinhas na sala e em todo canto. Era muito legal.

A festa de São João surgiu há muito tempo atrás, eram comemoradas festas para celebrar

as boas colheitas e incorporavam cantos de outras tradições como a indígena, por exemplo;

danças, muita comida e colocaram na brincadeira. Foi um sucesso! Músicas de São João

como as do rei do baião Luiz Gonzaga e outros. A festa de São João é uma das principais

do país, a maior da região nordeste.

Na fazenda do meu pai, quando eu era criança, eu me sentia feliz por poder brincar livre-

mente, ir lá fora, ver a lua, as estrelas, o sol, as nuvens. Casa no interior, em uma fazenda,

como era o meu caso, uma casa solta no meio da natureza. Os vizinhos moravam em ou-

tras casas distantes umas das outras. Pois sim, neste lugar eu sentia uma sensação de li-

berdade, a vida explodia.

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Bastava uma boa chuva para surgirem plantas, flores, rios cheios, açudes sangrando, os

peixes pulando a parede juntamente com a força d’água, pássaros cantando com mais ale-

gria, o coaxar dos sapos, o zumbir das abelhas, o grasnar da araras, o trisul do beija-flor, o

latido do cachorro, o cantar do canário, o relinchar do cavalo, o cigarrear da cigarra, o sibilar

da cobra, o piar da coruja, o cacarejar das galinhas, o chirriar do grilo, o grasnar do pato

e etc.

É tão lindo ouvir e ver cada função, cada propósito de cada ser vivo que habitam ali próxi-

mo da gente. Eu tenho certeza do quanto gerou coisas positivas em mim, vivenciando tudo

o que acontecia ao meu redor. Ajudava minha mãe a fazer pamonhas, canjicas, bolos etc. Na

fogueira, a gente assava o milho e até enterrava nas brasas batata doce para a gente comer.

Mas eu não posso deixar de falar agora sobre São João. Quem era esse homem? João

Evangelista ou apóstolo João foi um dos doze apóstolos de Jesus. Ele era pescador e ocupou

um lugar de primeiro plano entre os apóstolos, o discípulo que Jesus amava. na Santa Ceia,

foi o apóstolo São João que reclinou a cabeça sobre o peito do mestre e foi também quem

se encontrava ao pé da cruz, ao lado da Virgem Santíssima que Jesus disse: “Mulher, eis aí

o teu filho”. João viajava e trabalhava muito para passar a mensagem de Cristo. Escreveu

três epístolas, um evangelho e o livro do apocalipse. Terá falecido em Éfeso de causas na-

turais com 94 anos por volta do ano 103 depois de Cristo.

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Desenho produzido por Débora Soraya de Sousa Pereira
representando a história “João Evangelista ou apóstolo João”

Desenho produzido por Viviane Silva Alencar de Moura


representando a história “João Evangelista ou apóstolo João”

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HISTÓRIAS CONTADAS
PELAS CRIANÇAS

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Caio Emanuel Santos Inácio

MAMÃE E PAPAI

O
lá, eu sou Caio Emanuel, meus pais sempre disseram na

minha infância que eu era uma criança muito alegre e fe-

liz. Minha mãe, sempre me ensinou a chamar “mamãe”, mas eu

sempre chamava “papai”, essa foi a minha primeira palavra, que

eu sempre falei.

Desenho feito por Ana Maria Cruz para Caio Emanuel Santos Inácio

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Carlos Henrique Alves de Souza

SÍTIO DA BISAVÓ

O
i gente, hoje eu vou contar uma história de quando eu era

pequenininho, eu ia lá para o sítio da minha bisavó. Quando

eu chegava lá eu ia brincar com meus primos e primas, andar

de cavalo, ia pegar milho para fazer canjica, ia cozinhar o milho,

era isso, era muito legal mesmo! Eu gostava muito.

Desenho feito por Epifânio de Oliveira Filho para Carlos Henrique

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Debora Soraya de Sousa Pereira

DIA FELIZ

O
lá, meu nome é Debora, o momento que eu mais gostei foi quando eu fui para o

Argos, eu comi batata, conheci um lugar novo, e tinha várias piscinas lá, também

conheci amigos.

Desenho feito por Cristiane Silveira Souza


para Debora Soraya de Sousa

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Júlio César do Nascimento Santos

PERNABUCO

O
lá, meu nome é Júlio Cesar e irei contar sobre o dia em que fui para Pernambuco com

a minha mãe e o meu pai. Era um dia muito bonito e nós fomos para o rio, foi muito

legal, nadamos muito e voltamos para casa.

Desenho feito por Edna Maria da Silva Lopes para Júlio Cesar

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Maria Clara de Lima Medeiros

PASSEIO DE CANOA

O
lá! Meu nome é Maria Clara de Lima Medeiros, vim aqui para contar uma pequena

historia engraçada da minha infância. Lembro-me que a gente estava na casa da mãe

da minha tia, nós íamos andar de canoa, quando chegamos ao rio que a gente foi entrar na

canoa, eu sofri três quedas, quase não consegui sentar no banquinho, a sorte foi o meu tio

que me ajudou.

Então era eu, meu primo, minha tia, o irmão da minha tia e meu tio. Quando o meu tio come-

çou a remar a canoa, eu e meu primo morremos de gritar, era grito pra lá e grito pra cá, até

que chegamos numa parte do rio e tinha um peixinho, a gente chegou à beira rio depois de

remar um pouco mais, então quando a gente chegou à beira do rio, eu obriguei a soltarem

o peixe de volta na água, meu primo também ficou um pouquinho triste por causa do peixi-

nho, então ele ajudou.

É isso, a gente subiu a ladeira de volta para a casa da minha mãe da minha tia, e foi isso a

nossa aventura vivida há poucos dias atrás.

Desenho feito por Maria Dias para Maria Clara

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Maria Izabel Carvalho de Sousa

O TABLET

O
lá, meu nome é Maria Izabel Carvalho de Sousa, hoje vou contar um momento interes-

sante e engraçado da minha vida. Era 10 de outubro, eu ganhei um tablete da minha

tia, depois ele caiu no chão, tava muito cheio porque eu não tinha colocado o antivírus, de-

pois ele foi para o conserto e ficou lá por uns cinco ou sete meses, ele voltou agora em 2021.

Ele bateu na porta do carro, depois caiu no chão e pela terceira vez ele caiu no chão. Acho

que no terceiro ou quarto dia, depois que ele caiu no chão pela terceira vez, ele não tava

prestando porque ele tava ligando só que estava com a tela branca, não era tela branca, era

tela rosa e tava com uns riscos no meio, ele quebrou e tá guardado, eu não tô podendo mais

usar ele, mas é o jeito né!

Desenho de Espedita para Maria Izabel

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Nicole Martins Rodrigues

PASSEIO A PRAIA

O
lá, meu nome é Nicole, hoje eu vim aqui contar uma parte da história da minha infân-

cia. Quando eu era bebê, fui para a praia com minha mãe, meu pai e meus tios. Nós

fomos para a praia de carro, não tinha muitas pessoas lá, quando eu fui tomar banho no mar

eu não quis sair mais porque era muito legal.

Desenho feito por Vera para Nicole

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Viviane Silva Alencar de Moura

BANHO DE RIO

O
lá, meu nome é Viviane, estou aqui para contar uma história que envolve muita água.

Atrás da casa do meu avô passa um rio, tem temporadas que passa bastante água.

Quando chove muito mesmo, acaba alagando a várzea que tem perto, tinha muita, muita

água, eu lembro que estava batendo nas minhas coxas, quase na barriga.

Eu alguns dos meus primos e meu avô, entramos dentro daquela água, com um pouco de

medo de ter algum bicho, alguma coisa, mas a gente foi do mesmo jeito. Eu pisava no mato,

pensava que era alguma coisa e tomava um susto, mas continuava, aquele dia foi muito bom

e me lembro até hoje. Uma prima minha e o marido dela, tinham entrado dentro do rio, eles

nadaram no rio naquele dia. Então foi isso, a minha história

Desenho do senhor Epifânio para Viviane

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Maria Yohane Inácio Dias

CASA EM BARBALHA

Olá! Sou Yohane, vou falar uma história que gostei muito, foi quando eu fui para a casa de

Barbalha, é um lugar bem especifico, a natureza é bem verdinha, tem várias piscinas e eu

me diverti muito.

Desenhos feitos por Oneida para Yohane

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Conteúdos produzidos pelas crianças em
resposta aos vídeos enviados pelos idosos
no início do Projeto.
Carlos Henrique Alves de Souza

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Francislenio Santana dos Santos

Maria Jaqueline de Moura

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João Arthur Bezerra da Silva

Laysa Maria Lima Maia

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Maria Clara de Lima Medeiros

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Maria Isabel Carvalho de Sousa

Nicole Martins Rodrigues

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Viviane Silva Alencar de Moura

Artista desconhecido (auto nominado)

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Maria Jaqueline de Moura

Lammark Tavares Leite

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Maria Isabel Carvalho de Sousa

Debora Soraya de Sousa Pereira

TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS


MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS
TRABALHO SOCIAL COM IDOSOS

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