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3 A PANDEMIA DA COVID-19 E OS DESAFIOS PARA A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL (Sugestão)

A população mundial, no ano de 2020, foi surpreendida por uma pandemia viral, causada pelo
Coronavírus, mais precisamente pelo COVID-19. Tal pandemia fez com que a população dos 5
continentes tivesse que se readaptar e reaprender a viver de maneira completamente diversa do que
vivera antes.
Essa experiência bastante adversa, que desafiou a comunidade científica, começou em dezembro
de 2019, após casos registrados na China. Surgindo na cidade de Wuhan, a doença rapidamente infectou
mais de 400 pessoas, fazendo com que as autoridades chinesas recomendassem medidas de bloqueio no
país. Estas medidas não frearam o avanço da transmissão do agente causador (até então não se sabia do
quê se tratava), que velozmente se propagou por outras localidades causando internações e mortes.
Com base nos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde (Aqui, é preciso citar a Organização
Munida de Saúde ou a FIOCRUZ. O Ministério da Saúde do Brasil negou a pandemia e não e boa
referência para nada), se tratava de uma grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes
de animais, incluindo camelos, gados, gatos e morcegos. Os primeiros vírus em humanos foram isolados
primeiramente em 1937. No entanto, foi em 1965 que o microorganismo foi descrito com tal nome, em
decorrência do perfil na microscopia, lembrando a forma de uma coroa.
Segundo dados científicos (fonte) raramente o Coronavírus que infecta animais, pode infectar
pessoas, porém um novo agente (rever onde vai colocar isso)
A doença provocada pelo vírus foi chamada de COVID-19, causada especificamente pelo
Coronavírus SARS-COV-2, que gerava no portador um quadro clínico que variava de infecções
assintomáticas a quadros respiratórios graves. Inicialmente tratada como “misteriosa”, causou muitas
mortes no mundo (dizer quantas), e fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarasse
emergência de saúde pública de caráter internacional, no primeiro semestre de 2020, devido as altas
taxas de contaminação. (Está ok, mas precisa de fonte)
Hoje, em 2023, os números de mortes só cresceram (não entendi. Precisa falar das vacinas e da
postura ridícula do Bolsonaro), no Brasil. O número de perdas pela Pandemia apresentou crescimento
acelerado, e segundo o Ministério da Saúde (MDS) chegou a marca de 700 mil mortes, (publicada tal
informação em 28/03/2023) vidas essas que cabe aqui relatar que poderiam ter sido salvas com a
vacinação e não a negação por parte das autoridades responsáveis na época.
Jana, precisamos ampliar essa caracterização inicial, comentando as medidas de proteção e como
foram dois anos dificílimos para nós.

3.1 Capitalismo e Pandemia Precisa ampliar a parte que está acima para justificar a subdivisão Análises
dos autores marxistas que articulam a pandemia com o desenvolvimento capitalista

A pandemia que afetou o Brasil independente de credo, raça, nível social ou condição financeira
deixou marcas profundas. Porém, é fato que as mais profundas atingiram a população mais pauperizada,
pois afetou diretamente a renda destes, dos moradores de favelas e periferias, que já possuíam vínculos
frágeis no mercado de trabalho ou nenhum vínculo.
O Coronavírus não pode ser isoladamente, apontado como autor de todas as mazelas que foram
enfrentadas. Sabe-se que as raízes das desigualdades sociais são muito mais profundas e alicerçadas no
modo de produção do qual que alicerça a sociedade.
A lógica do capital - que através de suas bases calcadas na exploração do trabalho, com a extração
da mais valia; na obtenção de lucros, entre outros mecanismos de expropriação da classe trabalhadora -
causa o desemprego, fome, carência habitacional e muitas outras mazelas sociais devem ser enfrentadas
sob uma ótica mais histórica de sua formação e não de forma separada e individual. A doença só deixou
aparente o quanto se vive em uma sociedade cada vez mais desigual. Diego de Oliveira Souza (Quem é?
Sugiro citar um autor com maior reconhecimento acadêmico antes. Deixa Souza, mas antes traz outra
pessoa) é assertivo ao discorrer sobre o assunto:

Portanto, não é a pandemia da COVID-19 a responsável pela da fome e pela


miséria, por levar à morte os indivíduos pauperizados da classe trabalhadora,
mas o próprio modus operandis do capitalismo, na efetivação diária do seu
caráter destrutivo, sobretudo por possibilitar o acúmulo de riqueza nas mãos de
poucos e a pauperização daqueles que produzem tal riqueza. A pandemia,
então, se constitui enquanto mais um elemento soerguido das bases objetivas
do capital mundializado e que adentra nessa espiral contraditória,
estabelecendo uma relação de determinação recíproca para com as mesmas,
mas estando longe de ser a raiz dos problemas sociais.1 Endireitar a referência

Em seu artigo “Convergência do Terror”, Marildo Menegat defende o argumento de que a


pandemia do coronavírus irá acelerar e tornar mais dramático o aprofundamento da crise do capitalismo.
Assim, se armaria uma convergência do terror, que significa o surgimento de um estado de exceção
definitivo e sem maquiagens com uma economia de guerra sem guerra regular.
Segundo Menegat, é evidente que o mal que foi vivenciado com a pandemia da COVID-19 foi o
resultado da globalização da economia sob a ganância que se faz cega mesmo diante da destruição da
natureza se assim for necessário. O modo de produção capitalista nos mostrou o quanto a vida ideal e o
futuro da humanidade não são compatíveis com esse sistema, que tem seu foco no lucro e não nas
vidas humanas. A massa de miseráveis cresceu no mesmo ritmo que da política de desmonte dos
sistemas públicos de saúde acontece.
Segundo o autor, as vidas de milhares de pessoas que adoeceram todos os dias, não importaram,
nem mereceram nenhuma atenção. A preocupação era de que os corpos não servissem de propagador
do vírus. Deste modo, entre a cegueira do vírus, um agente da natureza – natureza essa que vem sendo
destruída a qualquer custo para produção de mais riquezas, sem a devida importância com as
consequências que possam ser geradas para as próximas gerações - acaba então produzindo uma
convergência para qual todo terror será legitimado. Através desse argumento, mesmo diante de tantas
mortes, a volta imediata da produção foi um preço razoável a ser pago para que o capitalismo não se
desmorone de vez.
Menegat (ano) explicita que, para que possamos compreender essa lógica desumana, devemos
considerar como cada mercadoria individual contém menos valor. Ao conter menor valor, essa
mercadoria é o resultado da produção realizada por um aparato técnico que já não usa, ou usa apenas
marginalmente, o “trabalho vivo”. Dessa forma, se torna a única fonte de produção real de mais-valor,
pelo qual se torna necessário produzir em uma quantidade gigantesca para simular a criação de algum
valor significativo. (Esse texto precisa ser consultado de novo, porque está confusa a ideia. Traga
uma citação do próprio autor para enriquecer a sua explicação)
Assim, se coloca uma das razões entre a crise do capitalismo e o colapso ambiental, através da
qual se tem a inversão da proporção entre quantidade de valor e a matéria-prima usada na produção.
Consequentemente, esse processo a ampliação da extração destrutiva de recursos naturais para
resultados infinitos explicar.
Daqui para baixo, vou ler
O biólogo Rob Wallace também compartilha desse olhar para a pandemia, quanto ela era um mal
já anunciado e o quanto essa crise que enfrentamos não é algo isolado, que o aumento da incidência do
vírus estava estreitamente vinculado a produção de alimentos e a rentabilidade das empresas
multinacionais nos alertando sobre o quão pior pode se tornar, pois a resposta está alicerçada em uma
saúde pública adequada ao que viermos enfrentar.
Wallace explicita o quanto o capital está promovendo a apropriação de terras nas matas
primárias e terras agrícolas, de pequenos proprietários, e assim através desse tipo de investimento o
desmatamento é impulsionado. Essa agricultura controlada pelo capital oferece os meios exatos pelos
quais os patógenos podem evoluir em fenótipos mais virulentos e infeciosos, apresentando situações
ideais para a criação de doenças mortais como ocorreu com a Covid-19, pois a agroindústria estava tão
centrada nos lucros que considera o risco de bilhões de mortes algo que vale a pena enfrentar.
No início do cenário de pandemia apresentado ao mundo, a China era bombardeada como
causadora do desastre mundial que estamos enfrentando, já que o primeiro caso da doença foi

1
A pandemia de COVID-19 para além das Ciências da Saúde: reflexões sobre sua determinação social
(https://orcid.org/0000-0002-1103-5474)
detectado no país, a condenação dos culpados era algo emergencial a se fazer, e não descobrir com
profundidade as origens de todo esse caos. Revelar que a alimentação selvagem mundial era um setor
cada vez mais formalizado, cada vez mais capitalizado não estava na pauta de discussão.
Wallace baseia suas teorias falando que os vírus são gerados em ambientes industriais que
foram totalmente subsumidos dentro da lógica capitalista, e que indiretamente através da expansão e
extração capitalista nas áreas ainda não cultivadas, onde o vírus anteriormente desconhecido estava
habitando, sendo então colhido da fauna selvagem e distribuído ao longo dos circuitos globais do
capital se propaga. E assim, descreve surgimento da epidemia atual.
Wallace menciona que todos esses processos de devastação ecológica que ultimamente
estamos observando reduzem o tipo de complexidade ambiental com a qual a floresta interrompe as
cadeias de transmissões de epidemias. À medida que a acumulação de capital avança ao seu objetivo,
muitas espécies selvagens estão sendo empurradas para áreas antes não conhecidas e assim, entrando
em contato com o homem que acaba tendo o papel de propagação de doenças ainda não existentes ou
manifestadas.
Sendo assim, baseada na teoria de Wallace, a China não foi a causadora isoladamente desse
caos, e sim o lugar onde eclodiu. E faz um alerta, de que o que antes eram disseminações locais a
algum tempo estão se transformando em epidemias que se arrastam através das redes globais de
viagens e comércios.
O economista Michael Roberts afirma em seu artigo (A culpa é do vírus) quanto o capitalismo
parece ser estável até se mostrar instável, e as contradições desse modo de produção. Fazendo refletir o
quanto a pandemia nos mostra que vivemos em tempos de massacre e negacionismo a ciência quando
o governo mencionou a ideia da imunidade de rebanho como uma solução para conter o surto do
coronavírus. Thomas Malthus mencionado no texto foi o mais reacionário dos economistas clássicos
de sua época, que argumentou que por haver muitas pessoas pobres improdutivas no mundo as pragas
e as doenças que assolavam a humanidade eram necessárias e inevitáveis como uma forma de controle
social.
Roberts afirmou que embora algumas pessoas pudessem trabalhar em casa, isso não passou de
uma pequena fração da força de trabalho e complementa dizendo que mesmo que trabalhar em casa
seja uma opção, a interrupção de curto prazo nas rotinas de trabalho provavelmente afetara a
produtividade.
David Rad no livro, Coronavírus e a luta de classes, explicita sobre a classe trabalhadora que
suporta o peso de ser a força de trabalho que corre maior risco de contrair a doença através de seus
empregos ou de ser demitido injustamente por causa da retração econômica imposta pelo vírus. Levando
à tona questões importantes que foi algo polêmico na época, de quem poderia ou não trabalhar em casa,
de quem poderia se isolar ou ficar em casa em quarentena com ou sem remuneração em caso de contato
ou infecção, assim agravando a divisão social.
A Covid-19 foi sim uma pandemia que exibiu todas as características de uma pandemia de
classe, de gênero e de raça como Rad reforça e que, embora os esforços de mitigação estivessem
convenientemente na linha de uma retórica oposta, era a classe trabalhadora que enfrentava a
desagradável escolha de contaminação em nome do cuidado e da manutenção de elementos chaves de
provisão abertos ou do desemprego sem benefícios.
O doutor em economia Pierre Salama menciona em seu artigo que a pandemia é a dupla
punição aos pobres, acabou afirmando também que a crise gerada pela pandemia foi impulsionada pela
globalização, que foi enxertada em um terreno econômico totalmente debilitado. Continua dizendo que
foi um indicador do conjunto das disfunções do capitalismo particularmente na América Latina, e que as
primeiras vítimas foram as mais pobres e que, fruto da liberdade concedida a exploração da mão-de-
obra-barata e da destruição do ambiente explorado pela mesma, a globalização descontrolada acaba
produzindo assim o verdadeiro caos.
O combate a uma pandemia ocorre necessariamente através do aparato estatal e, secundariamente,
através dos serviços de saúde, que para os mais pauperizados se dará através do Sistema Único de Saúde
(SUS), ou, para os que poderão pagar, pelo sistema e iniciativa privadas, incluindo o capital farmacêutico,
instituições de pesquisa, entre outras. Desta maneira, pode-se destacar que o SUS já vinha sofrendo um
grande desmonte neste ponto.
O Estado não pode priorizar o combate à pandemia, pois estava vinculado a outros interesses, que
expressavam os interesses da classe capitalista. Por outro lado, o Coronavirus, de certa forma, forçou o
capitalismo temporariamente a repensar isso.
Segundo o artigo escrito pela professora Tithi Bhattacharya na revista Movimento, traduzido por Maíra
T. Mendes:

Enquanto o capitalismo como sistema só se preocupa com o lucro, sendo o


lucro o sangue e o motor da vida do capital, o sistema tem uma relação de
dependência relutante com processos e instituições de produção da vida. O
sistema depende de trabalhadoras para produzir mercadorias que depois são
vendidas para obter lucros. Assim, o sistema só pode sobreviver se a vida das
trabalhadoras for reproduzida de forma contínua.2

A distribuição desigual de renda facilitou contaminação nas periferias, manter as condições de


isolamento nessas camadas foi quase impossível. Dentre os vários motivos, destaca-se que há muitos
moradores por domicílio e muitas dessas residências não têm acesso sequer à água encanada,
importantíssima no processo de higienização no momento de prevenção. Há insegurança econômica dessa
grande parcela estimulada a sair de casa para obter algum sustento, já que:

Os diferentes impactos que as doenças geram nas classes sociais, sobretudo nos
grupos mais pauperizados. De fato, a mundialização do capital gera ainda mais
pobreza, e isso é reconhecido pelos autores de diversas perspectivas teóricas. As
diferenças de riqueza entre classes ou indivíduos se reflete em indicadores de
saúde, revelando maior gravidade, sobretudo, de certas doenças infecciosas22.
Esse panorama permite refletir sobre a gravidade com a qual a pandemia pode
impactar nas comunidades mais pauperizadas, especialmente nos países de
capitalismo dependente, devido ao baixo acesso à água tratada, saneamento e
estrutura e renda que permita adotar as medidas de prevenção.3

Segundo Marx, o movimento histórico que transformou os camponeses em trabalhadores


assalariados parece, aos olhos de alguns, a libertação da escravidão, mas, ao contrário, os transformam em
vendedores de si mesmo, pois só lhes restou a venda de sua força de trabalho, desencadeando um grande
processo de pauperização dessa nova classe. No Brasil, o pauperismo torna-se evidente com o fim da
escravidão, e posteriormente com o processo de industrialização.
A questão social tão latente em uma sociedade tão desigual como a nossa, que se movimenta
alicerçada no capital para afirmar sua naturalização é convertida em objeto moralizador, culpabilizando as
pessoas que mais sofrem os impactos da violência que o capitalismo traz. José Paulo Netto chama
atenção para o cuidado e o trato com as manifestações da questão social que expressamente desvinculado
de qualquer intervenção a problematizar a essência da ordem econômica-social estabelecida, é querer
combater as manifestações sem tocar na raiz do problema, que se fundamenta no sistema e não na
população marginalizada e excluída. A questão social está elementarmente determinada pela relação
própria e peculiar da relação capital/trabalho que se expressa através da exploração.
Isso aqui tem que aparecer antes, lá no começo, quando fala da evolução da doença. Se não ficam
muitas informações misturadas. A paciente 0 (zero) no Brasil deixa clara a relação vertical que assola os
desassistidos nesta questão. Foi a vida de uma empregada doméstica, que contraiu o vírus por intermédio
de seus patrões que tinham chegado recentemente de uma viagem ao exterior, a primeira a ser perdida.
Deixando evidente a desigualdade gerada por esse sistema. A esta só restou a continuidade do trabalho
enquanto seus patrões infectados já com a doença faziam o isolamento, e ela sem poder fazer uso do
mesmo privilégio. Segundo Nildo Viana:
2
Revista Movimento. 7 de abril de 2020
3
SOUZA, Diego de Oliveira Souza A pandemia de COVID-19 para além das Ciências da Saúde: reflexões sobre sua
determinação social (https://orcid.org/0000-0002-1103-5474)
Os indivíduos das classes superiores repassam o vírus para outros da mesma
classe e também para indivíduos das classes inferiores, como trabalhadoras
domésticas, funcionários de lojas e empresas, etc. Quando a transmissão se torna
local, tende a se expandir para as classes inferiores. Essas, devido às suas
condições financeiras, ambientais, sanitárias, entre outras, são mais frágeis diante
de uma pandemia. E isso é mais grave ainda no caso dos trabalhadores, pois
grande parte deles não serão dispensados ou não podem deixar de trabalhar. Logo,
ficam mais expostos às doenças contagiosas.4

A pandemia chega e escancara as desigualdades sociais brasileiras, o foco que a princípio estava
espalhado pelas elites agora encontra-se mais concentrado na parte carente das periferias e das favelas. A
vida ativa não se pode parar de uma hora para outra, o mundo público é um mundo distante dessa
realidade, pois é um mundo onde o poder estatal não se fez presente de outra forma a não ser sob a de
repressão. Os trabalhadores continuam saindo e voltando para seus trabalhos. O compartilhamento de
alimentos, ou da guarda de crianças continuam na mesma, no mesmo ritmo.
Como falar em distanciamento social, ou medidas de prevenção a uma população que muitas
vezes não tem sequer o básico para se prevenir. A parcela privilegiada faz o isolamento em suas casas, na
tentativa de fazer o mesmo, a outra parte da população vê a ajuda - para que isso aconteça - das entidades
socias e religiosas, ou de outras organizações, como das associações de moradores. As ações se tornam
locais e não centrais. Essa população pauperizada, que só cabem a ela o mercado informal, continua se
movimentando pra obter algum sustento, quem “governa” quando o governo não cumpre seu papel, são
eles próprios.
Quando há uma “permissão” da volta do trabalhador ao seu cotidiano normal, é uma situação de
negação da vida por parte do Estado, empurrando-os para as ruas sem nenhuma prevenção. Restando
somente a força de trabalho, e na grande maioria o trabalho precarizado, muitos trabalhadores estão sendo
forçados a voltar aos seus postos de emprego, sofrendo graves ameaças de perdê-los.

(...) a razão de fundo destas imposições é preservar as melhores condições de


restabelecimento e continuidade do mecanismo de acumulação de capital.
Portanto, não são as vidas que importam. As massas de miseráveis supérfluos que
o capitalismo produz já há muito sabem que, para ele, as suas vidas não valem
nada (...) A sociedade burguesa não se constitui para realizar qualquer finalidade
mais elevada da condição humana, antes, a condição em que esta sociedade dispõe
dos seres humanos é totalmente voltada às necessidades do dinheiro e sua
dominação impessoal.
Quem defende, por outro lado, a volta imediata à produção (mesmo que por hora
calem, é bom lembrar que eles existem e são muitos) está pensando que o cenário
de guerra que vai se formar, com milhões de mortos em todo o mundo, é um preço
razoável a ser pago em sacrifícios para que o capitalismo não desmorone de vez..
As informações que os infernizam não são os números de mortos, mas os dados
quentes do mercado. 5

Assim escreve o Professor Associado do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas de Direitos


Humanos da UFRJ Marildo Menegat, em seu artigo intitulado Convergência do terror.

3.3 Auxílio Emergencial na Pandemia

Após essa análise de como o contexto pandêmico inseriu-se na dinâmica do capitalismo, cabe
conhecer como o governo brasileiro se posicionou e quais ações desenvolveu, no âmbito da política da

4
A Terra é redonda, artigo escrito por Nildo Viana em 14/04/20 https://aterraeredonda.com.br/
5
Marildo Menegat – Convergência do terror
assistência social. Ressalta-se que essa discussão dialoga, diretamente, com as políticas de transferência
de renda, já discutidas no capítulo dois.
Após a eclosão da pandemia do novo Coronavírus, no Brasil, ações de urgência precisavam, à
época, serem efetivadas devido à falta de renda da grande população, decorrente do já caracterizado
distanciamento social. Em função das já comentadas medidas de proteção para reduzir a curva de
contágio, houve, por exemplo, um impacto gigantesco em relação à permanência no trabalho, tendo
ocorrido aumento do índice de desemprego.
Conforme Cainã Domit Vieira, “[...] a população brasileira sofreu privações econômicas
decorrentes da redução do poder aquisitivo dos trabalhadores em geral [...]” (VIEIRA, 2022, p. 83), em
cenário em que houve desrespeito aos direitos trabalhistas, “[...] precarizando as condições de trabalho e
ate mesmo flexibilizando garantias constitucionais como a irredutibilidade salarial.” (VIEIRA, 2022, p.
83). A precarização das condições de trabalho pode ser exemplificada pela suspensão dos vínculos e/ou
redução de renda.
Tendo em vista esse contexto, a situação demandou meios para garantir a subsistência de um
segmento da população, ainda que temporariamente. Assim, a classe trabalhadora – no dizer de Antunes,
“a classe que vive do trabalho” (ANTUNES, 1999, p. 101) - , certamente, sofreu os impactos mais duros
em relação ao momento. Destaca-se aqui a heterogeneidade das adversidades vividas pelos trabalhadores.
Deve-se considerar que há pessoas com situações de vida variadas e cada uma delas sofreu, de forma
diferente, o impacto da pandemia.
Assim, se pode ressaltar as pessoas que auferem renda mais baixa; pessoas que não detinham
nenhuma renda fixa ou que estavam desempregas; pessoas empregadas no mercado informal ou um
segmento da população que vive em situação de pobreza extrema ou miséria. Por esse motivo, a
pandemia teve repercussões muito variadas para a classe trabalhadora.
Segundo Jessica Felski Sokaslki, “[...] o Brasil já possuía alto índice de pessoas vivendo em
situação de miséria, [e] a crise causada pela pandemia aprofundou a pobreza no país” (SOKASLKI, 2021,
p. 71). Mossicleia Mendes Silva concorda com essa análise:

[...] a conjugação da crise sanitária com o desastre social, já promovido pelo


neoliberalismo dos últimos anos e sua radicalização sob o atual governo de
extremam direita, que envolve o país em crises políticas e institucionais,
adensa as desigualdades sociais e aprofunda o hiato entre as diferentes classes
sociais, uma vez que a pandemia não é vivenciada da mesma forma por todos
os sujeitos. Ela é determinada em primeira instancia pela localização dos
sujeitos no âmbito das relações produtivas. (SILVA, 2020, p. s/n)

Sokalski dialoga com Sampaio e outras autoras, caracterizando o cenário nacional nos seguintes
termos:

O número de pessoas, isso mesmo “pessoas”, na pobreza absoluta soma 13,5


milhões (IBGE 2019). A definição disso é contábil, são aqueles que
sobrevivem com R$ 145,00 mensais. Se você está achando isso uma miséria,
com perdão do trocadilho, imagine que o indicador de pobreza do Programa
Bolsa Família, por exemplo, é de R$ 89,00, abaixo do parâmetro de R$ 145,00
utilizado pelo Banco Mundial. O auxílio emergencial do governo segue a
mesma lógica de amesquinhamento da vida. No caso do auxílio emergencial de
R$ 600,00, o critério é que a renda mensal por pessoa não ultrapasse meio
salário mínimo (R$ 522,50), ou se juntar todo
,s da mesma família a renda total seja de até 3 (três) salários mínimos (R$
3.135,00). No Brasil o menor rendimento familiar total soma R$ 3.557,98
(IBGE, 2019). O auxílio emergencial além de repassar uma quantidade
miserável, não atinge sequer a medida da menor renda familiar brasileira
(SAMPAIO et al, 2021, p. 233, apud SOKASLKI, 2021, p. 71)
A Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020 (BRASIL, 2020) alterou a LOAS, dispondo sobre as
medidas para “enfrentamento da emergência de saúde de importância internacional decorrente do
coronavírus” (BRASIL, 2020). Tais alterações foram feitas para dispor sobre parâmetros adicionais de
caracterização da situação de vulnerabilidade social, para fins de elegibilidade ao Benefício de Prestação
Continuada (BPC). Estabeleceu, também, medidas excepcionais de Proteção Social a serem adotadas
durante o período.
Dentre as medidas adotadas pela lei, foi concedido o auxílio emergencial que consistiu na
possibilidade de transferir alguma renda para as pessoas que foram prejudicadas.
Inicialmente, o referido auxílio emergencial seria de R$ 200,00 reais, e através de debates,
embates e negociações foi estabelecido um valor maior de R$ 600,00 reais. Contudo, esse valor também
não seria suficiente para a sobrevivência das pessoas, levando-se em conta os gastos básicos com
alimentação e outras despesas de uma família.
Este valor mensal foi concedido aos trabalhadores que cumprissem os seguintes requisitos:

a) ser maior de 18 anos (com exceção aberta para mães adolescentes);


b) não ter emprego formal ativo;
c) não esteja recebendo benefício previdenciário ou assistencial, ou seguro desemprego ou de forma
de transferência de renda federal (ressalvado o Bolsa família);
d) ter renda familiar mensal de até meio salário mínimo por pessoa ou renda total de até três salários
mínimos (as condições serão verificadas por meio do CadÚnico, para os trabalhadores inscritos e
por meio de autodeclaração, para os não escritos por meio da plataforma digital);
e) não ter recebido rendimentos tributários acima de R$ 28.559,70, em 2018 e;
f) trabalhadores que exerçam atividades como microempreendedor individual (MEI), ou
contribuinte individual do Regime da Previdência Social, ou trabalhadores informais, seja,
autônomo ou desempregado, trabalhadores intermitente inativo ou inscrito no Cadastro Único para
Programas sociais do Governo Federal.

O auxílio emergencial foi limitado a dois membros da mesma família. A lei também previu que tal
auxílio substituiria o benefício “Bolsa Família” nas situações em que fosse mais vantajoso. No caso em
que a mulher fosse provedora em uma família monoparental (ou seja, quando essa exercer a função de
arcar com as responsabilidades de criar o filho, ou os filhos sozinha) pode receber 2 (duas) cotas do
auxílio.
Antes de estudar as repercussões sobre o pagamento do auxílio, é importante lembrar que, logo
que se instalou o quadro da pandemia, essa situação requereu recursos emergenciais, pois, apesar de ter
envolvido a toda a população, a pandemia atingiu, mais fortemente, uma parcela que podemos chamar de
“população invisível”.
Quando comenta-se que essa população é “invisível”, está se fazendo referência ao fato de ser um
segmento da classe trabalhadora que participa do mercado de trabalho por meio de empregos precários e
sem garantias trabalhistas. Sabe-se que o seu trabalho é bastante visto no cotidiano – porque nessa
categoria estão os entregadores, trabalhadoras domésticas sem vínculo, diaristas, camelôs, entre outros -,
mas .....................................................
A fim de ilustrar esse ponto de vista, concorda-se com Jessica Felski Sokalski: “[...] num país com
grande parte da população vivendo na informalidade, estabelecer isolamento social sem criar políticas
compensatórias para minimizar os impactos socioeconômicos, é subalternizar ainda mais a população que
já vive excluída socialmente.” (SOKALSKI, 2021, p. 62). Por essa razão, Daniel Granada analisa que
“Durante a crise provocada pela pandemia de Coronavírus no Brasil, os mais vulneráveis, moradores em
situação de rua ou moradores de favelas, completamente à deriva dos discursos oficiais, se perguntam
como lavar as mãos quando frequentemente não têm sequer água disponível.” ( GRANADA, 2020, p. s/p)
Assim, a necessidade do Auxílio Emergencial trouxe ao foco da discussão essa população já
precarizada, que há anos vive a questão da desigualdade social no país. Com a crise da COVID-19, esse
segmento da classe trabalhadora viveu, também, a desigualdade de acesso a esse direito, pelos fatores que
se4rão discutido.
O Auxílio Emergencial, embora fazendo parte da política de Assistência, foi visto como “ajuda”,
no pensamento de alguns, recolocando-se todos os estigmas históricos relacionados a essa política e a
quem dela tem acesso, já comentados no capítulo 1. A pandemia trouxe, assim, de uma forma muito
inesperada (pela questão da saúde), a visibilidade desses cidadãos mas agora com motivos para serem
“merecedores de direitos”, já que não poderiam circular livremente pela cidade devido ao distanciamento
social, não havia condições de saírem para trabalhar, além de ...................
No bojo desses debates, entrou em foco, contudo, a importância da sobrevivência dessas pessoas,
e, por que não dizer, também a relevância da manutenção da “engrenagem” da economia, que se faz
através do trabalho, ainda que este seja precarizado. Mossicleia Mendes Silva assinalou que o governo de
Jair Bolsonaro colocou em xeque as medidas de isolamento social, desvalorizando, em busca de “[...]
catalisar „um novo normal‟, para que a engrenagem da „economia‟ não [parasse]”. (SILVA, 2020, p. s/n).
“Sob o argumento de que a manutenção das medidas de isolamento e a paralisação das atividades das
atividades consideradas essências atravancam a produção econômica e podem levar o país à quebra.”
(SILVA, 2020, s/n).
Esses “invisíveis” chegam ao debate das mídias sobre o quanto foram esquecidos e agora precisam
ser lembrados novamente. A desigualdade ficou cada vez mais gritante na pandemia, refletida nas
consequências de uma política econômica que privilegiou a concentração de renda.
Em 2020, em plena ocorrência da crise sanitária, mesmo quando as pessoas recebiam algum
benefícios eventuais - como por exemplo, a entrega de cestas básicas – não se pode dizer que o seu
cotidiano era mais tranquilo.
Cabe observar que, embora a PNAS estabeleça padrões gerais, os Estados e municípios brasileiros
apresentam muitas diferenças nas condições de oferecimento das políticas sociais, nos objetivos e gestão
dessas políticas, bem como dos serviços aos quais a população pode ter acesso.

 Dificuldades no acesso ao auxilio emergencial


A implementação do auxílio emergencial traz à tona a visibilidade, ou melhor a funcionalidade, do
Cadastro Único, ou Cadúnico. O cadastro surge como uma ferramenta estratégica de monitoramento das
famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. O mapeamento se fez com dificuldades nesse período
de pandemia sem ele.
Mesmo em se tratando de E A CLASSE? uma população precarizada, e alguns em extrema pobreza,
o auxílio emergencial - que a princípio seria implantado para atender condições para que essa população
pudesse sobreviver em momentos de pandemia - vem nos moldes cada vez mais elitista, por conta da
tecnologia que se faz necessária ter para se fazer a inscrição ao direito. Tal população encontra o dilema
de ter seu perfil enquadrado para o recebimento do benefício, mas sem as condições de acessá-lo, pois
todo o processo se faz através do aplicativo da Caixa Econômica Federal, que necessita de internet para
acesso.
O mecanismo de acesso como forma de cadastramento para os que não estavam no Cadastro Ùnico
era o cadastramento pelo aplicativo que a Caixa Econômica disponibilizou, houve assim um grande
congestionamento pela quantidade de acesso e muitos tiveram que pedir ajuda. Outra dificuldade foi o
acesso à informação; muitas mulheres chefes de família que tinham o direito de receber uma cota dupla
encontraram dificuldades em fazer seus cadastros, por conta de informações dadas pelo sistema em
relação ao CPF dos filhos que estava vinculados a outra composição familiar, e, assim por necessidade
acabaram não fazendo o cadastro corretamente, incluindo seus dependentes e pedindo apenas o benefício
de R$ 600, 00.
Houve a falta de meios para ligar para o número disponibilizado no qual esclareciam-se dúvidas, tal
operação só poderia ser feito por um telefone fixo residencial, e grande parcela da população não possui
um, e mesmo quando se conseguia as informações eram limitadas às perguntas de um atendente
eletrônico. A demora do processo analítico da possibilidade de receber o benefício ou não, gerando um
grande alongamento da concretização do andamento até o pagamento da primeira parcela, ocasionando as
grandes filas nas agências da Caixa em busca de alguma solução.
Com a demora dos pagamentos, ou por erro no sistema que ocasionavam a negação do direito a
alguns mesmo que se enquadrasse, os beneficiários abandonaram o isolamento e se arriscaram para trazer
algum sustento para seus lares. Outro grande problema também observado foi a demora dos pagamentos
que se faziam seguindo o mês de aniversário, e através de dois calendários de recebimento. O primeiro
era por depósito nas contas digitais da Caixa, que não se fazia eficaz, pois, não dava o direito de retirada,
apenas de transferência para uma outra conta, para assim sacar. Porém, alguns não tinham contas em seu
nome e ficavam à espera do segundo calendário para retirada, o que causava grande desespero, já que
muitas famílias não tinham mais como se sustentar sem esse benefício.
E, sendo assim, formaram-se filas gigantescas em meio ao caos de uma população que já vinha
prejudicada, e, com a pandemia se fez ainda mais desprovida de recursos de sobrevivência, e sem
condições tecnológicas de recebimento desse benefício.
As soluções adotadas poderiam ser a universalização e simplicidade das informações em relação aos
mecanismos de acesso ao sistema, a disponibilidade a um telefone de esclarecimento que não fosse
atendido eletronicamente.
É necessário reconhecer (ou expressa, ou registrar) a necessidade do cidadão que se enquadre nos
requisitos da Lei que concede o Auxilio Emergencial. A partir daí, garantir que ele tenha o direito
garantido de recebê-lo na atual situação de Pandemia.
No que se refere ao Auxílio Emergencial, vale reforçar que .......E a grande dificuldade que as
pessoas vejam a si mesmas e às outras pessoas como iguais, e merecedoras dos mesmos direitos.
Auxilio emergencial é visto por muitas pessoas, e surpreendentemente até pela própria população
que necessita dessa contribuição do governo, como uma ajuda ????do Presidente em exercício, e não
como um direito. Direito este que o país necessita em situações de calamidades, direito garantido através
dos impostos pagos pelo cidadão

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