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NÚMEROS ÍNDICES

Conceitos e Aplicações

Profa. Ana Lúcia Alves Pereira


Prof. Wanderley Ramalho

Departamento de Estatística da UFMG


Março de 1998

1
Conteúdo

1.Introdução .......................................................................................................... 3

2.Regressão em Séries Temporais .................................................................. 7

2.1. Modelando tendência através de funções polinomiais ...................... 7

2.2. Detectando autocorrelação ................................................................ 14

2.3. Modelando autocorrelações de primeira ordem ............................... 18

ANEXO ............................................................................................................... 26

Referências ......................................................................................................... 26

2
3
NÚMEROS ÍNDICES

1 - CONCEITOS E OBJETIVOS

Os números índices são indicadores que buscam retratar o valor de uma


grandeza em função do valor de outra, tomada como base de comparação. Deste
modo, a relação entre o PIB per capita dos países do Mercosul e o PIB per capita
dos países do NAFTA, no ano 1996, é dada pelo número índice 0,1765, resultante
da razão entre 3.210 e 18.280, respectivamente, valores em dólares norte-
americanos dos PIB’s per capita do MERCOSUL e do NAFTA no ano de 1996.

Podemos usar, também, como base de comparação o valor da própria


grandeza em uma época específica. Neste sentido, o número índice tem por
objetivo captar a variação da grandeza, em relação ao seu valor nesta época
considerada, também chamada época básica ou simplesmente base. Assim, a
relação entre o PIB per capita do Mercosul no ano de 1.996 e o PIB per capita do
mesmo no ano de 1.991 é dada pelo número índice 1,0971 = 3.210 / 2.926.

O conceito de um número índice, de acordo com o primeiro enfoque, é


bastante genérico. Este texto, entretanto, definirá um número índice como um
indicador que tem por objetivo captar a variação de uma grandeza no tempo.

Considerando X t valor da grandeza na época t (época dada ou época a ser

comparada) e X 0 , valor da grandeza na época 0 (época básica ou base),temos o

índice da grandeza X, na época t, com base na época 0, dado pela razão:

Xt
IX 0,t = .
X0

4
Vamos definir, também,

VARIAÇÃO ABSOLUTA = ΔX 0, t = X t − X 0

VARIAÇÃO RELATIVA = δX 0,t =


(X t − X 0 )
X0

É interessante observar que δX 0,t =


(X t − X 0 ) = Xt
− 1 = IX 0,t − 1 .
X0 X0

Assim, se de um NÚMERO ÍNDICE for subtraída a unidade, o que se obtém


é a VARIAÇÃO RELATIVA, ou de forma equivalente, se à VARIAÇÃO RELATIVA for
acrescida uma unidade, chega-se ao valor do índice.

Sendo

Xt 3.210
IX 0,t = = = 1,0971 , então
X0 2.926

Xt
δX 0,t = − 1 = 1,0971 − 1 = 0,0971 ou 9,71% .
X0

Estes resultados nos levam a concluir que o PIB per capita do Mercosul, em
1.996, corresponde a 109,71% do PIB per capita do mesmo, em 1991, ou em
termos de variação que, no período, houve um aumento do PIB per capita de
9,71%.

Iremos nos referir à VARIAÇÃO RELATIVA simplesmente como VARIAÇÃO.

Em Economia, Administração e Ciências Contábeis, estamos normalmente


interessados em acompanhar a evolução de preços, quantidades e valores

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(P,Q,V). Passaremos, então, a nos referir aos ÍNDICES DE PREÇO, QUANTIDADE e
VALOR.
Pt Qt Vt
IP0,t = IQ0,t = IV0,t = .
P0 Q0 V0

É interessante ressaltar que o valor tanto pode representar o dispêndio do


consumidor como o custo ou a receita do empresário. Trata-se, pois, de
quantidades demandadas pelo consumidor, ou adquiridas (insumos nos processos
produtivos) ou vendidas pelos empresários.

Exemplo 1 - Suponhamos que, em MAR/97, determinada empresa vendeu o


produto X a R$12,00 a unidade; em SET do mesmo ano, este produto foi
comercializado a R$14,00 a unidade. O índice de preço em SET/97, com base em
MAR /97 e a variação no mesmo período serão dados por:

PSET / 97 14
IPMAR / 97, SET / 97 = = = 1,1667 ou 116,67%
PMAR / 97 12

δPMAR / 97, SET / 97 = IPMAR / 97, SET / 97 − 1,00 = 1,1667 − 1,0000 = 0,1667 ou 16,67%

Isto significa que o preço do produto X, em SET/97, corresponde a 116,67%


de seu preço em MAR/97 ou que o preço de tal produto, em SET/97, é 16,67%
superior ao preço de MAR/97.

Por outro lado, se nosso interesse for pela obtenção do índice e da variação
tomando como base SET/97, teremos:

P 12
IPSET / 97, MAR / 97 = MAR / 97 = = 0,8571 ou 85,71%
PSET / 97 14

δPSET / 97, MAR / 97 = IPSET / 97, MAR / 97 − 1,00 = 0,8571 − 1,0000 = −0,1429 ou − 14,29%

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Da mesma forma, podemos afirmar que o preço do produto X, em MAR/97,
corresponde a 85,71% de seu preço em SET/97 ou que, em MAR/97, o preço do
produto era 14,29% menor que em SET/97.

Quando consideramos a relação entre os valores das variáveis preço,


quantidade ou valor em duas épocas diferentes, estamos definindo um NÚMERO
ÍNDICE usando o conceito de RELATIVO. Um RELATIVO DE PREÇO é, pois, uma
razão entre o preço de um bem ou serviço na época t e o preço deste mesmo bem
ou serviço na época 0.

Cumpre destacar, no entanto, que vários autores fazem distinção entre


RELATIVOS DE PREÇO, QUANTIDADE e VALOR e ÍNDICES DE PREÇO,
QUANTIDADE e VALOR.

Para eles, a relação entre os preços de um mesmo bem ou serviço, em


épocas diferentes, representa apenas um insumo na construção de um índice de
preço. Neste enfoque, o índice só aparece quando tentamos captar as variações
dos preços dos vários bens ou serviços, em um período, através de uma média de
vários relativos. Em outros termos, a idéia de agregação está implícita neste
conceito de índice, que constitui um indicador com papel semelhante ao da média.

O problema que se apresenta é aquele de como captar, através de um


único número, as variações simultâneas dos vários preços. É evidente que tal
questão não surgiria, se os preços dos diversos bens e serviços variassem na
Pt i
mesma proporção, isto é, se = k para i = 1,2,3,L, n onde i representa um bem
P0i
ou serviço específico. Neste caso, k descreveria o movimento geral dos preços.
Sabemos, contudo, que na prática o ritmo econômico afeta, de modo diferente, os
preços dos diversos bens ou serviços e a escolha de um indicador único que capte
este movimento se faz necessária.

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2 - FÓRMULAS ALTERNATIVAS PARA A ELABORAÇÃO DE UM NÚMERO ÍNDICE

Consideremos os dados da tabela 2.1, para facilitar o entendimento.

Tabela 2.1
PREÇOS QUANTIDADES
PRODUTOS Unidades P0 Pt Q0 Qt
a kg 4,80 6,94 6 4
b l 0,45 0,52 48 38
c dz 2,40 2,88 6 5
TOTAL 7,65 10,34 60 47

Os dados apresentados referem-se a preços e quantidades de três


diferentes produtos a, b e c, em uma época 0 considerada época básica e em uma
época t, época a ser comparada.

Calculando os relativos de preços de a, b e c teremos:

Pt a 6,94
IP0a,t = a
= = 1,4458 → δP0a,t = 1,4458 − 1,0000 = 0,4458 ou 44,58%
P0 4,80

Pt b 0,52
IP0b,t = b
= = 1,1556 → δP0b,t = 1,1556 − 1,0000 = 0,1556 ou 15,56%
P0 0,45

Pt c 2,88
IP = c =
c
0,t = 1,2000 → δP0c,t = 1,2000 − 1,0000 = 0,2000 ou 20,00%
P0 2,40

O preço do produto a, na época t, corresponde a 144,58% do preço deste


mesmo produto na época 0, ou seja, o preço do produto a cresceu 44,58% no
período 0 a t. Analogamente, podemos afirmar que os preços dos produtos b e c
cresceram 15,56% e 20,00% , respectivamente.

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Da mesma maneira, seria possível encontrar os relativos de quantidade dos
produtos a, b e c.

Conforme enfatizamos, o objetivo é identificar um único número que capte


as variações simultâneas dos preços ou das quantidades dos três itens. A solução
pode ser encontrada, basicamente, através de duas diferentes metodologias de
cálculo, que apresentaremos a seguir.

2.1- CONSTRUÇÃO DE ÍNDICES COM A UTILIZAÇÃO DE MÉDIAS SIMPLES DE


RELATIVOS E DE VALORES AGREGADOS SIMPLES

Os índices tipo média simples constituem a forma mais imediata de


construção de índices. A partir dos relativos de preços, IP0,jt , ou de quantidade,

IQ0j,t , de cada bem ou serviço individual, sintetizamos os movimentos dos preços

ou das quantidades de n bens ou serviços, em um dado período, através de uma


média simples.

Já os índices resultantes de valores agregados simples são determinados


pelo quociente entre a soma dos preços ou das quantidades de n itens na época
atual e a soma dos preços ou das quantidades dos mesmos, na época básica.

i) ÍNDICE MÉDIA ARITMÉTICA SIMPLES DE RELATIVOS DE PREÇOS OU ÍNDICE

DE SAUERBECK

Sendo Pt j os preços de n bens na época dada t e P0 j os preços destes

mesmos bens na época básica 0, o ÍNDICE MÉDIA ARITMÉTICA SIMPLES DE


RELATIVOS DE PREÇOS, com base 0 e época atual t, será dado pela expressão:

9
Pt1 Pt 2 Pt n n
Pt i
+
P 1 P02
+ L +
P0n

i =1 P0
i
IP0A,t = 0 =
n n
ou seja,
n i
∑ IP0,t
i =1
IP0A,t =
n

Relativamente aos dados da tabela 2.1, teremos:

1,4458 + 1,1556 + 1,2000 3,8014


IP0A,t = = = 1,2671 ou 126,71%
3 3

ii) ÍNDICE MÉDIA GEOMÉTRICA SIMPLES DE RELATIVOS DE PREÇO

j
Considerando ainda os relativos de preços IP0,t , o ÍNDICE MÉDIA

GEOMÉTRICA SIMPLES DE RELATIVOS DE PREÇOS, com base 0 e época atual t


será obtido pela raiz n-ésima de seu produto.

Pt1 Pt 2 Pt n n
Pt i
IP0G,t = n ×
P01 P02
× L ×
P0n
=n ∏
i =1 P0
i

n
IP0G,t = n ∏ IP0,t
i
i =1

Para os dados apresentados,

IP0G,t = 3 1,4458 × 1,1556 × 1,2000 = 3 2,0049 = 1,2609

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iii) ÍNDICE MÉDIA HARMÔNICA SIMPLES DE PREÇO

A média harmônica simples corresponde ao inverso da média aritmética


dos inversos dos valores considerados. Assim o ÍNDICE MÉDIA HARMÔNICA
SIMPLES DE RELATIVOS DE PREÇO, será dada por

1
IP0H,t =
P01 / P11 + P02 / P12 + L + P0n / P1n
n
n
IP0H,t = n i
∑ IPt ,0
i =1

No exemplo,

3 3
IP0H,t = = = 1,2550
4,80/6,94 + 0,45/0,52 + 2,40/2,88 2,3904

Qualquer que seja o tipo de média utilizada na obtenção de um índice, o


seu significado é sempre o mesmo. IP0A,t = 1,2671 nos informa que os preços dos

produtos a, b e c, na época t, correspondem, em média, a 126,71% de seus

preços, na época 0 ou que, em média, eles aumentaram 26,71% no período. IP0G, t

= 1,2609 e IP0H, t = 1,2550 e as respectivas variações são interpretados de maneira

análoga.

Quando trabalhamos com médias de razões, a aritmética apresenta um


certo viés ascendente, enquanto a harmônica subestima a variação, o que faz com
que consideremos mais adequada a média geométrica. Contudo, por serem de
cálculo menos trabalhoso, os índices média aritmética são os preferidos.

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iv) ÍNDICE AGREGATIVO SIMPLES ou ÍNDICE DE BRADSTREET

Agregando-se os preços na época t e na época 0, encontramos o ÍNDICE


AGREGATIVO SIMPLES DE PREÇO, com base 0 e época atual t, dividindo-se ∑P
t
i

por ∑P i
0 .

P11 + P12 + L + P1n


IAP0, t =
P01 + P02 + L + P0n

i
∑ Pt
IAP0,t = .
i
∑ P0

Ainda com os dados da tabela 2.1,

6,94 + 0,52 + 2,88 10,34


IAP0, t = = = 1,3516 ou 135,16% .
4,80 + 0,45 + 2,40 7,65

A sua interpretação é semelhante à dos relativos, agora com relação ao


grupo de produtos considerados. Na época t, os preços dos produtos a, b e c
correspondem a 135,16% de seus preços na época 0.

Substituindo-se Pti e P0i respectivamente por Qti e Q0i , iremos obter os

índices de quantidades, IQ0A,t , IQ0G,t , Q0H,t e IAQ0, t . Assim,

Qt1 Qt2 Qtn n Qti


+ +L+ ∑
Q01 Q02 Q0n i =1 Q i
IQ0A, t = = 0
n n

12
0,6667 + 0,7919 + 0,8333
IQ0A,t = = 0,7640
3

IQ0G,t = 3 0,6667 × 0,7919 × 0,8333 = 0,6633

3
IP0H,t = = 0,7570
3,9632

4 + 38 + 5
IAQ0,t = = 0,80
6 + 48 + 6

O significado destes índices equivale ao dos índices de preço, naturalmente

com referência à variável quantidade. Considerando, por exemplo IQ0A, t = 0,7640,

este resultado nos informa que as quantidades dos bens a, b e c comercializadas


na época t correspondem a 76,40% das quantidades comercializadas na época 0.
Em termos de variação, podemos concluir que as quantidades em t sofreram um
redução de 23,60% em relação às quantidades em 0.

Os índices simples na prática apresentam sérias limitações. A maior delas


reside no fato de eles não considerarem a importância econômica de cada um dos
vários bens ou serviços que os compõem. No caso dos índices agregativos
simples, ainda há o problema de eles serem afetados por unidades particulares de
medidas, fazendo com que um item de elevado preço unitário exerça uma
influencia maior que outro de menor preço, além de apresentar dificuldades,
quando se trata de somar quantidades não homogêneas.

No exemplo apresentado, o produto a pode não ter um peso significativo no


cômputo geral de todos os produtos, de forma a que mesmo seu preço sofrendo
uma variação muito grande, o fato não provoque um impacto maior no índice; no
entanto, os índices simples não levam em conta essa sua pequena interferência,

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ou seja, os relativos são tratados como se todos tivessem a mesma importância
econômica.

Por outro lado, se compararmos os preços dos produtos a e b, em cada


período, vamos observar que o produto a vai exercer uma influência muito maior
que o produto b no índice agregativo simples, já que seu preço é muitas vezes
superior. Contudo o valor transacionado (P × Q ) , quando consideramos o produto
b, é significativamente maior, já que suas quantidades são bem mais elevadas.
Ainda com relação a este índice, não faz sentido somar kg, litros e dúzias e nem
associar preços a essas medidas desiguais, o que conduziria fatalmente a
distorções.

A questão central passa a ser, portanto, o critério para a fixação dos pesos
relativos de cada um dos bens ou serviços.

2.2 - CONSTRUÇÃO DE ÍNDICES COM A UTILIZAÇÃO DE MÉDIAS PONDERADAS


DE RELATIVOS OU DE VALORES AGREGADOS PONDERADOS

O que se propõe é que a ponderação se faça através da participação de


cada bem ou serviço no valor transacionado total. Em geral, ela se apresenta em
duas modalidades: peso fixo na época básica, ou peso variável na época atual.
Tais considerações dão margem à idéia de agregativo ponderado de preço e de
quantidade. Os mais importantes índices ponderados usados são o ÍNDICE DE
LASPEYRES e o ÍNDICE DE PAASCHE.

i) ÍNDICE DE LASPEYRES ou MÉTODO DA ÉPOCA BÁSICA

O índice de LASPEYRES é uma média aritmética ponderada de relativos,


onde os fatores de ponderação são determinados a partir de preços e de
quantidades da época básica, daí ser chamado, também, de MÉTODO DA ÉPOCA
BÁSICA.

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O peso relativo ou fator de ponderação para o i-ésimo bem é a razão entre
o dispêndio com este bem na época básica e o dispêndio total naquela época,
designado por w0i .

P0i Q0i
w0i =
n i i
∑ P0 Q0
i

Assim, o índice de LASPEYRES DE PREÇO, IP0La


,t será dado por

n ⎡⎛⎜ Pti ⎞⎟ i ⎤
∑ ⎢ w0 ⎥ n i i
i =1 ⎢⎜ P i ⎟ ⎥ ∑ P0 Q0
IP0,Lat = ⎣⎝ 0 ⎠ ⎦ n i
= i =1
, ∑ w0
n i i =1 n i i
∑ w0 ∑ P0 Q0
i =1 i

Substituindo valores e fazendo possíveis simplificações, teremos:


n i i
∑ Pt Q0
n Pti P0i Q0i
IP0,Lat = ∑ , IP0,Lat = i
i =1 i n i i n i i
P0 ∑ P0 Q0 ∑ P0 Q0
i =1 i

Esta última expressão nos mostra que o ÍNDICE DE LASPEYRES DE


PREÇOS corresponde a um índice agregativo, ponderado pelas quantidades da
época básica.

Um ÍNDICE DE LASPEYRES DE PREÇOS nos assegura que o valor das


quantidades dos bens na época básica, aos preços da época atual, corresponde a
IP0La
,t % do valor destas quantidades, aos preços da época básica ou época de

referência. Em termos de variação, este resultado indica que o valor das

15
quantidades do ano básico variou IP0La ( )
, t − 100 % , em decorrência das oscilações

de preço no período.

O ÍNDICE DE LASPEYRES DE QUANTIDADE, IQ0La,t , é obtido quando os

relativos de quantidade são ponderados por w0i , resultando na expressão:

∑Q Pt
i
0
i

IQ0La,t = i
n

∑Q P
i
i
0 0
i

Aqui, o que medimos são as alterações de valor, quando mudam as


quantidades produzidas, vendidas ou consumidas em um período, os preços
permanecendo constantes e iguais àqueles da época básica.

ii) ÍNDICE DE PAASCHE ou MÉTODO DA ÉPOCA ATUAL

Este índice é uma média harmônica ponderada de relativos, com fatores de


ponderação estabelecidos com base nos preços e nas quantidades da época
atual. Também chamado de MÉTODO DA ÉPOCA ATUAL, este índice trabalha com o
fator de ponderação wti , razão entre o dispêndio com o i-ésimo bem na época

atual e o dispêndio total nesta época.

Pti Qti
wti =
n i i
∑ Pt Qt
i

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Considerando-se que a média harmônica é o inverso da média aritmética
dos inversos, o índice de PAASCHE de preço, com base 0 e época de referência t,
corresponde a:
n i
∑ wt
i =1
IP0Pa
,t =

n

i =1
[(P / P )w ]
i
0 t
i i
t

Simplificando, teremos:
n i i
∑ Pt Qt
IP0,Pa
t = n
i
i i
∑ P0 Qt
i

Da mesma forma que no índice de LASPEYRES, a última expressão nos


mostra que O ÍNDICE DE PAASCHE DE PREÇOS equivale a um índice agregativo
ponderado, agora, com fatores de ponderação correspondentes às quantidades da
época atual.

Este índice nos informa que o valor das quantidades dos bens na época

atual, aos preços desta mesma época, corresponde a ( IP0Pa


,t %) do valor de tais

quantidades aos preços da época básica, o que implica em que o valor das

quantidades da época atual variou ( IP0Pa


,t x 100 %), em conseqüência das

alterações de preços no período.

Como os fatores de ponderação são as quantidades na época atual, eles


estarão sendo alterados sempre que for mudada a época a ser comparada, o que
constitui séria restrição pelas dificuldades na estimação de quantidades, quando
elas se referem à época atual.

17
O ÍNDICE DE PAASCHE DE QUANTIDADE, IQ0Pa
,t , é obtido quando os

relativos de quantidade são ponderados por wti , resultando na expressão:

n i i
∑ Qt Pt
IQ0,Pat = i
n i i
∑ Q0 Pt
i

Considerando os dados da tabela 2.1, vamos preencher novas colunas para


determinar os índices de LASPEYRES e de PAASCHE DE PREÇOS.

Tabela .2.2
PREÇOS QUANT.
BENS OU SERV Unid. P0 Pt Q0 Qt (Pt/P0) P0.Q0 w0 (Pt/P0).w0
a kg 4,80 6,94 6 4 1,4458 28,8 0,4444 0,6426
b l 0,45 0,52 48 38 1,1556 21,6 0,3333 0,3852
c dz 2,40 2,88 6 5 1,2000 14,4 0,2222 0,2667
TOTAL 64,8 1 1,2944

IP0La
n i
[(i i
) ]
,t = ∑ Pt / P0 w0 = 0,6426 + 0,3852 + 0,2667 = 1,2944 ou 129,44% .
i =1

Este resultado significa que o valor das quantidades dos bens a, b e c, na


época básica 0, aos preços da época atual t, corresponde a 129,44% do valor
destas mesmas quantidades, aos preços da época básica. Em termos de
variação, que o valor das quantidades da época básica aumentou 29,44%, em
decorrência do aumento de preço no período considerado. Portanto, para se
consumir, na época atual, as mesmas quantidades da época básica, ou seja, para
se manter a mesma estrutura de compra da época básica, aos preços agora
vigentes, o dispêndio total deverá ser 29,44% superior àquele da época básica.

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Os cálculos, para a obtenção do ÍNDICE DE PAASCHE DE PREÇO, estão na
tabela 2.3.

Tabela 2.3
PREÇOS QUANT.
BENS OU SERV. Unid P0 Pt Q0 Qt P0/Pt Pt.Qt wt (P0/Pt).wt
a Kg 4,80 6,94 6 4 0,6916 27,7600 0,4483 0,3101
b I 0,45 0,52 48 38 0,8654 19,7600 0,3191 0,2762
c dz 2,40 2,88 6 5 0,8333 14,4000 0,2326 0,1938
TOTAL 61,9200 1,0000 0,7800

1 1 1
,t =
IP0Pa = = = 1,2821 ou 128,21%.
∑ [(P ) ]
n
i 0,3101 + 0,2762 + 0,1938 0,78
0 / Qti wti
i =1

O resultado encontrado pelo ÍNDICE DE PAASCHE DE PREÇO nos diz que o


valor das quantidades dos bens a, b e c, referentes à época atual, aos preços
desta mesma época, equivale a 128,21% do valor de tais quantidades aos preços
da época básica. Consequentemente, o valor das quantidades dos três bens na
época atual aumentou 28,21%, em função do aumento de preços no período
estabelecido. Estes valores nos informam que teríamos um dispêndio, na época
atual, 28,21% superior ao da época básica se nela tivéssemos consumido as
quantidades atuais.

Naturalmente, os mesmos resultados poderiam ter sido encontrados, se


tivessem sido utilizadas as expressões simplificadas que mostram estes índices
como agregativos ponderados, respectivamente, com quantidades das épocas 0 e
t.

19
n

∑P Qt
i i
0
6,94 × 6 + 0,52 × 48 + 2,88 × 6 23,88
,t =
IP0La = = = 1,2944
i
n
4,80 × 6 + 0,45 × 48 + 2,40 × 6 64,80
∑P Q
i
0
i i
0

∑P Qt
i
t
i

6,94 × 4 + 0,52 × 38 + 2,88 × 5 61,92


,t =
IP0Pa = = = 1,2820
i
n
4,80 × 4 + 0,45 × 38 + 2,40 × 5 48,30
∑P Q
i
0
i
t
i

Como podemos observar, os dois índices revelam valores diferentes,


apesar de terem o mesmo propósito, qual seja, sintetizar as variações sofridas
pelos vários produtos, em um determinado intervalo de tempo, no que diz respeito
a preço e quantidade. Naturalmente isto ocorre, devido aos critérios de construção
que também são diferentes. Estes dois índices medem custos de coleções
distintas, portanto, não há razão para que resultem nos mesmos valores, quando
aplicados aos mesmos dados.

Somente se os preços e as quantidades de todos os itens envolvidos na


construção do índice variassem na mesma proporção é que os resultados seriam
coincidentes. Como na realidade isto não acontece, a relação entre eles será
função da correlação entre suas variações.

É de se esperar que as variações no tempo, dos preços e das quantidades


dos vários produtos, resultem, principalmente, de mudanças nas condições de
oferta, pressupondo, na maioria das vezes, uma correlação negativa entre estas
variáveis. Normalmente, se for observado um acréscimo no preço de determinado
bem, além da média do grupo, haverá uma tendência a se reduzir a quantidade
demandada deste bem, de modo que Qt seja menor que Q0 .

O coeficiente de correlação linear entre os dois índices ajudará a


estabelecer uma relação entre eles.

20
2.3 – RELAÇÃO ENTRE OS ÍNDICES DE LASPEYRES E DE PAASCHE

Sabemos que o coeficiente de correlação linear entre as variáveis X e Y,


denotado rx , y , é uma medida adimensional do relacionamento entre X e Y.

Consideremos n = ∑ ni pares de valores X e Y.

Tabela 2.4
X X1 X2 X3 ... Xk
Y Y1 Y2 Y3 ... Yk
ni n1 n2 n3 ... nk

Esta medida será definida por :

Cov x , y
rx , y = ou rx, y ⋅ s x ⋅ s y = Cov x, y
sx s y

onde Cov x , y é a covariância entre X e Y, dada por

∑ [( y − y )( xi − x )ni ] 1⎡ (∑ xi ni )(∑ yi ni )⎤
Cov x , y = = ⎢ ∑ x i y i ni −
i

n n ⎢⎣ n ⎥⎦

e s x e s y são, respectivamente, os devios-padrão de X e Y.

Como estaremos interessados na dispersão de relativos, faremos

xi = Pt i / P0i e y i = Qti / Q0i

21
ni = P0i Q0i e ∑n i = n = ∑ P0i Q0i

É importante lembrar que, neste caso, s x mede a dispersão dos relativos

de preços, s y mede a dispersão dos relativos de quantidades e rxy mede o grau

de associação entre os relativos de preços e os relativos de quantidades.

Assim, rxy será dado pela expressão:

1 ⎡ Pt i Qti i i 1 ⎛ Pt i i i ⎞⎛ Qti i i ⎞⎤
rxy s x s y = ⎢∑ i i P0 Q0 − ⎜⎜ ∑ i P0 Q0 ⎟⎟⎜⎜ ∑ i P0 Q0 ⎟⎟⎥
∑ P0i Q0i ⎢⎣ P0 Q0 ∑ P0i Q0i ⎝ P0 ⎠⎝ Q0 ⎠⎥⎦

rxy s x s y =
∑P Q t
i
t
i


(∑ P Q )(∑ P Q )
t
i i
0 0
i
t
i

∑P Q 0
i i
0 (∑ P Q ) 0
i i 2
0

∑P Q i i
Vt i
∑ Pt Q = Vt ∑ P Q = V0 = = IV0,t
i i i i t t
Fazendo e teremos
∑P Q
t 0 0 i i
0 0 V0i

Dividindo a expressão anterior por IV0,t resulta em:

rxy s x s y
= 1−
(∑ P Q )(∑ P Q ) × ∑ P Q
t
i i
0 0
i
t
i
0
i i
0

IV0,t (∑ P Q ) ∑P Q 0
i i 2
0 t
i
t
i

rxy s x s y L0,t
= 1−
IV0,t P0,t

IP0La rx , y s x s y
= 1−
,t
A expressão Pa
mostra que os índices de preços de
IP 0 ,t IV0,t

LASPEYRES e PAASCHE só serão iguais se s x = 0 ou s y = 0, ou ainda, se rxy = 0.

22
Normalmente s x > 0 e s y > 0, pois trata-se da dispersão de relativos de

preços e de relativos de quantidades e estes, como vimos, oscilam quando se


considera os vários bens e serviços. Por outro lado, quase sempre rxy < 0, uma

vez que os consumidores tendem a substituir produtos com preços mais elevados.
Uma hipótese de rxy = 0 dificilmente poderia ser sustentada, já que ela implicaria

em acreditar na inexistência de correlação entre o preço de um produto e


quantidade demandada por ele. Conforme enfatizamos, a ciência econômica nos
diz que tal correlação existe e é quase sempre negativa, ou seja, quanto mais
elevados forem os preços de um produto, menor será a procura por ele.

,t > IP0 ,t . Esta desigualdade, onde o ÍNDICE DE LASPEYRES é


Em geral, IP0La Pa

maior que o ÍNDICE DE PAASCHE, se explica naturalmente quando se compara os


fatores de ponderação utilizados. Como foi mostrado antes, P0La
,t considera as

quantidades da época atual iguais às da época básica, pressupondo que


independentemente do aumento de preços o consumo se manteve, enquanto

IP0Pa
, t utiliza as quantidades atuais para ponderar os preços tanto em t quanto em

0. Isto significa que o ÍNDICE DE LASPEYRES DE PREÇO tende a superestimar a

variação real sofrida pelos preços dos vários bens e serviços que o compõem,
enquanto o de PAASCHE converge para um valor que subestima esta variação.

Assim, além de estes índices não refletirem o valor exato da variação no


período, em termos operacionais, o ÍNDICE DE PREÇO DE PAASCHE apresenta
uma considerável dificuldade, que é o fato de necessitarmos das quantidades
referentes a todos os períodos para os quais desejamos calcular o índice, o que
onera de forma significativa a pesquisa para o seu levantamento.
Na tentativa de solucionar esta e outras limitações que ficarão evidentes no
decorrer deste texto, alguns estatísticos propuseram fórmulas alternativas para o
cálculo de índices que são funções dos dois, LASPEYRES e PAASCHE.

23
2.4 - OUTROS ÍNDICES PONDERADOS

FISCHER sugeriu a construção de um índice que correspondesse à média

geométrica entre P0La Pa


,t e P0 ,t .

IP = IP
F La
× IP Pa
=
(∑ P Q ) (∑ P Q )
t
i i
0 t
i
t
i

0 ,t 0 ,t 0 ,t
(∑ P Q ) (∑ P Q )
0
i i
0 0
i
t
i

= 1,2944 × 1,2820 = 1,2882 ou 128,82 %.

Também chamado índice ideal, o ÍNDICE DE FISCHER apresenta vantagens


no que se refere ao atendimento a critérios lógicos matemáticos que, como
adiante veremos, é uma característica que confere ao índice a possibilidade de
uma utilização mais ampla. No entanto, apresenta igualmente suas limitações, já
que por ele depender do ÍNDICE DE PAASCHE, continua a necessidade de se
modificar os pesos a cada época comparada, bem como pela dificuldade em se
evidenciar o que este índice mede.

A proposta de MARSHALL e EDGEWORTH consiste em utilizar como pesos a


média aritmética entre as quantidades consumidas na época básica e na época
atual.

IP0M,t , E =
∑ P [(Q
t
i i
0 ) ] = ∑ P (Q
+ Qti / 2 t
i i
0 )
+ Qti
∑ P [(Q 0
i i
0 + Q ) / 2] ∑ P (Q
t
i
0
i i
0 +Q ) t
i

,E 6,94(6 + 4) + 0,52(48 + 38) + 2,88(6 + 5) 145,8


IP0M = = = 1,2891
,t 4,80(6 + 4) + 0,45(48 + 38) + 2,40(6 + 5) 113,1

24
Como se pode observar, o ÍNDICE DE MARSHALL e EDGEWORTH é obtido
pelo quociente entre a média aritmética dos numeradores das expressões dos
índices de LASPEYRES e PAASCHE. Contudo, os mesmos inconvenientes
apresentados pelo ÍNDICE DE FISCHER persistem.

Na verdade, a metodologia para a construção dos índices econômicos é


bastante extensa. Não há, no entanto, uma fórmula que seja unanimemente
aceita, pelas dificuldades de se pretender captar através de um único número, de
modo exato e inequívoco, as variações de preços e de quantidades de diversos
bens e serviços.

Por outro lado, é possível identificar conveniências e restrições de cada um,


mediante a utilização de testes ou critérios lógicos matemáticos. Um índice é mais,
ou menos, útil dependendo de sua adequação a estes critérios. São eles que
direcionam a escolha de uma metodologia compatível com o interesse das
análises, já que nem todos os índices satisfazem a todos os testes.

3-TESTES DE ADEQUAÇÃO DOS NÚMEROS ÍNDICES

Sua apresentação será feita através dos relativos, não só pela facilidade de
notação, como também porque, para os relativos, estes critérios constituem
propriedades, uma vez que todos atendem a estes testes.

1) Identidade

Quando a época atual t coincide com a época básica 0, o número índice é


igual à unidade.
X0 Xt
IX 0,0 = =1 IX t ,t = =1
X0 Xt

25
Se X 0 = P0 for o preço de um produto no período 0, o seu relativo com

referência a este mesmo período será igual a 1 ou 100%. Daí o fato de a época
básica ser sempre igualada a 100, quando construímos uma série de números
índices.
P0 Pt
IP0, 0 = =1 IPt ,t = =1
P0 Pt

Sejam os preços de um produto a, no período março a junho:

Tabela 3.1
MÊS PREÇOS
MAR 25,00
ABR 30,00
MAI 33,60
JUN 36,96

Os índices com base fixa em março e base fixa em maio correspondem,


respectivamente, aos valores apresentados na tabela a seguir:

Tabela 3.2
IP IP
MÊS MAR=100 MAI=100
MAR 100,00 74,40
ABR 120,00 89,29
MAI 134,40 100,00
JUN 147,84 110,00

2) Inversão no Tempo

26
Ao serem permutados dois períodos, 0 e t, o produto dos índices será igual
à unidade, ou seja, um índice será o inverso do outro.

Xt X
Sendo IX 0,t = e IX t , 0 = 0 , então, IX 0,t ⋅ IX t , 0 = 1 ⇒
X0 Xt

1 1
IX 0,t = ou IX t , 0 = .
IX t , 0 IX 0,t

Se um índice de preço obedecer a este teste, fica evidente que se houver


um acréscimo, no período 0 a t, de por exemplo 35%, será observado um
decréscimo de 26%, no período t a 0.

Considerando δP0,t = 0,35 , teremos IP0,t = 1,00 + 0,35 = 1,35 . A partir deste

1
resultado, IPt ,0 = = 0,74 e δP0,t = IPt ,0 − 1,00 = 0,74 − 1,00 = 0,26 .
1,35

3) Decomposição dos Fatores

Relativamente a um mesmo período, se o produto de um índice de preço


pelo correspondente índice de quantidade for igual ao índice de valor, diz-se que
este índice satisfaz ao critério de decomposição dos fatores.

Pt Qt PQ V
IP0,t ⋅ IQ0,t = ⋅ = t t = t = IVt ,0
P0 Q0 P0 Q0 V0

O atendimento a este critério implica, assim, na possibilidade de o índice de


valor ser decomposto em um índice de preço e um índice de quantidade. Se forem
conhecidas as variações de duas destas variáveis, é possível conhecer a variação
que ocorreu na terceira.

27
Suponhamos que uma empresa queira manter, em um certo período
t, o valor de comercialização gerado pelo produto X, no período 0. Se esperamos

uma redução nas quantidades vendidas da ordem de 15%, é possível determinar


a variação que a variável preço deve sofrer.

Sendo δQ0,t = 0,15 e δV0,t = 0 , então

IQ0,t = 1,00 − 0,15 = 0,85 e IV0,t = 1,00 − 0 = 1,00 .

Partindo do pressuposto de que tais índices obedecem ao critério da


DECOMPOSIÇÃO DAS CAUSAS, podemos garantir que:

IV0,t 1,00
IV0,t = IP0,t × IQ0,t ⇒ IP0,t = = = 1,1765 ou 117,65%
IQ0,t 0,85

Portanto, se a empresa quer manter o valor obtido na comercialização do


produto X, em uma época t, comparativamente a uma época 0, ela deverá
aumentar o preço deste produto em 17,65%.

4) Circular

Quando uma série de números índices apresenta as datas em progressão


aritmética, sendo as datas básicas aquelas imediatamente anteriores, o valor do
índice da última data com base na primeira, será igual ao produto da série.

IX 0,1 ⋅ IX 1, 2 ⋅ IX 2,3 ⋅ L ⋅ IX t −1,t = IX 0,t .

De fato,

X1 X 2 X
IX 0,1 ⋅ IX 1, 2 ⋅ IX 2,3 ⋅ L ⋅ IX t −1,t = × × L × t = IX 0,t .
X 0 X1 X t −1

28
Se o índice atender ao critério de inversão do tempo, verificamos ainda a
equivalência
IX 0,1 ⋅ IX 1, 2 ⋅ IX 2,3 ⋅ L ⋅ IX t −1,t ⋅ IX t , 0 = 1 .

Por este critério, ao considerarmos uma seqüência de índices de preço,


cujas datas estão em progressão aritmética e cujas datas básicas são aquelas
adjacentes, é possível conhecer os acréscimos de preços nas épocas
intermediárias e, consequentemente, o acréscimo de todo o período, sem que seja
necessário retornar aos valores que originaram os cálculos dos elos individuais.

Se em uma empresa, os preços de determinado produto sofreram um


acréscimo de 20% em JUL , com relação a JUN; de 22% em AGO, com relação a
JUL e de 18% em SET, relativamente a AGO; a variação de preço de tal produto no
período JUN - SET é obtida a partir do produto dos índices, cujas datas básicas
correspondem aos meses imediatamente anteriores.

A partir das variações observadas, chegamos aos correspondentes índices:

δPJUN , JUL = 0,20 ⇒ IPJUN , JUL = 1,20

δPJUL, AGO = 0,22 ⇒ IPJUL, AGO = 1,22

δPAGO, SET = 0,18 ⇒ IPAGO, SET = 1,18

Partindo do pressuposto de que estes índices obedecem ao critério circular,

IPJUN , JUL × IPJUL, AGO × IPAGO, SET = IPJUN , SET = 1,20 × 1,22 × 1,18 = 1,7275

Logo, sendo IPJUN , SET = 1,7275 ⇒ δPJUN , SET = 1,7275 − 1,000 = 0,7275 ou

72,75%, indicando que houve um aumento de preço do referido produto, no


período JUN a SET, correspondente a 72,75 %.

29
Cada uma destas comparações em épocas adjacentes constitui o que
chamamos um ELO RELATIVO. Por outro lado, quando, por um processo de
encadeamento segundo o critério circular, se multiplica estes elos individuais,
obtemos um índice de base fixa chamado RELATIVO EM CADEIA. A utilização de
ELOS RELATIVOS no processo de encadeamento tem, como enfatizamos, a
vantagem de facilitar as comparações entre duas épocas consecutivas, sem que
haja a necessidade de se remontar aos dados daquela que foi considerada como
base. Costumamos, pois, de forma indireta, obter comparações de longo prazo por
um processo de encadeamento de comparações binárias.

Os dados apresentados a seguir referem-se aos preços de determinado


produto no período 1985-89.

Tabela 3.3
ANO PREÇO
1985 20,00
1986 25,00
1987 30,00
1988 39,00
1989 50,00

Como os preços de 1985 e de 1989 são conhecidos, podemos calcular


diretamente o índice em 89, com base em 85: IP85,89 = P89 / P85 = 50,00 / 20,00 =
2,50 ou 250%.

Sabemos que os índices usualmente utilizados não se referem a um


produto apenas, mas a um conjunto de produtos ponderados por sua importância
econômica, então quando se trata de comparar épocas muito afastadas no tempo,
torna-se difícil conseguir informações quanto a preços e quantidades dos vários
produtos nestas épocas. É possível, contudo, estabelecer tais comparações,
indiretamente, através do relativo em cadeia, mediante o encadeamento de

30
índices de base móvel, ou seja, considerando como base a época imediatamente
anterior à comparada.
Neste caso, como estamos lidando com relativos, teremos:

IP85,86 = 25/20 = 1,25


IP86,87 = 30/25 = 1,20
IP87,88 = 39/30 = 1,30
IP88,89 = 50/39 = 1,28

Obtendo os índices intermediários e fazendo o encadeamento deles,


chegaremos ao valor de IP85,89 = 2,50, antes encontrado diretamente

IP85,86 = 1,25
IP85,87 = IP85,86 x IP86,67 = 1,25 x 1,20 = 1,50
IP85,88 = IP85,86 x IP86,87 x IP87,88 = 1,25 x 1,20 x 1,30 = 1,95
IP85,89 = IP85,86 x IP86,87 x IP87,88 x IP88,89 = 1,25 x 1.20 x 1,30 x 1,28 =2,50

Naturalmente só foi possível chegarmos a este resultado, porque os


relativos atendem ao critério circular. Portanto, para utilizarmos este recurso é
necessário que o índice, com o qual estamos trabalhando, atenda a este teste.

Uma séria restrição que fazemos aos índices de LASPEYRES e de


PAASCHE diz respeito ao fato de os dois não obedecerem ao critério circular, o que
motivou o surgimento de novas metodologias que solucionassem estas e outras
limitações.

n n

∑ P1i Q0i ∑P Q2
i i
0

,1 =
IP0La ,2 =
IP0La
i i
Sabemos que n
e n

∑P Q
i
0
i i
0 ∑P Q
i
0
i i
0

,1 × IP1, 2 não vamos obter IP0 , 2 .


Fazendo IP0La La La

31
n n n

∑ P1i Q0i ∑ P2i Q1i ∑P Q 2


i i
0

,1 × IP1, 2 =
IP0La × ≠
La i i i
n n n

∑P Q ∑P Q
i
0
i i
0
i
1
i i
1 ∑P Q
i
0
i i
0

Como podemos observar, o fato do ÍNDICE DE LASPEYRES DE PREÇO


apresentar uma ponderação fixa na época básica, leva tal fator a se alterar, ao ser
mudada esta base, fazendo com que o índice não atenda ao critério circular.

Apenas se as quantidades permanecessem as mesmas nas diferentes


épocas de referência isto seria possível. Assumindo que as quantidades em 0 e t,
respectivamente, Q0 e Qt fossem iguais e correspondessem a Qc teríamos:

n n n

∑P Q ∑P Q
1
i i
c 2
i i
c ∑P Q 2
i i
0

,1 × IP1, 2 =
IP0La × = = IP0La
La i i i
n n n ,2

∑P Q ∑P Q
i
0
i i
c
i
1
i i
c ∑P Qi
0
i i
0

É possível observar, ainda, que o ÍNDICE DE LASPEYRES não obedece ao


critério de decomposição das causas. Sabemos que se o produto de um índice de
preço pelo correspondente índice de quantidade resultar no índice de valor ele
satisfaz ao teste de decomposição das causas.

A partir dos dados da tabela 2.1, encontramos IP0La La


,t = 1,2944 e IQ0 ,t =

0,7454. O índice de valor, relativamente àqueles dados, é obtido pelo quociente


entre os preços em t, ponderados pelas quantidades em t, e os preços em 0,
ponderados pelas quantidades em 0

∑ Pt Qt 61,92
IV0,t = = = 0,9556
∑ P0 Q0 64,8

32
Fazendo o produto do ÍNDICE DE LASPEYRES DE PREÇO pelo respectivo
ÍNDICE DE LASPEYRES DE QUANTIDADE não iremos obter o índice de valor
encontrado.

IP0La La
,t × IQ0,t ≠ IV0,t ⇒ 1,2944 × 0,7454 ≠ 0,9074 .

As mesmas considerações podem ser feitas com relação ao INDICE DE


PAASCHE. Ele também não satisfaz a nenhum dos dois critérios. Em virtude de
tais limitações, novamente surgiram propostas de diversos autores, no sentido
encontrar métodos alternativos para a construção de índices que pudessem ser
mais úteis nas análises de interesse.

4- ÍNDICES DE LASPEYRES MODIFICADOS

Uma metodologia para o cálculo de índices que minimiza as


inconveniências daqueles vistos até então, consiste em calcular-se o índice em
cadeia a partir de índices intermediários, obtidos mediante a utilização de médias
aritméticas. Neste caso, é possível trabalhar com pesos fixos na época básica,
independentemente das épocas comparadas, ou seja, adotando-se um sistema de
ponderação fixa em uma época básica fixa, com base de comparação móvel ou
utilizando-se além de uma base de comparação móvel, uma base de ponderação
também móvel. Estes índices são conhecidos como índices de LASPEYRES
modificados e a diferença básica entre eles e o ÍNDICE DE LASREYRES original é
exatamente a questão da divergência entre as bases de comparação e os fatores
de ponderação.

Desta forma, para uma época tF, em relação à época inicial t0, quando
consideramos a primeira alternativa, temos a expressão seguinte para a obtenção
deste índice, que tem base de ponderação fixa e base de comparação móvel:

33
⎡⎛ Pt i ⎞⎤ i P0i Q0i
A(t0 ,t F ) = ∑ ⎢⎜ Fi ⎟⎥ w0 sendo w =
i
⎜ ⎟⎥ 0 n
⎣⎢⎝ Pt0 ⎠⎦ ∑P Q 0
i i
0
i

Contudo, a metodologia de cálculo mais utilizada, hoje, pelos vários


institutos que elaboram índices, tem a ver com a última forma de construção.
Trabalhamos usualmente, com índices que constituem médias aritméticas de
relativos de n bens e serviços, com épocas básicas t0 e épocas a serem
comparadas tF, ponderados com fatores que consideram preços das épocas
imediatamente anteriores e quantidades da época básica. Este índice é conhecido
como o ÍNDICE DE LASPEYRES modificado ou índice do BUREAUX, sendo que,
agora, o grande diferencial é o fato de a cada período os pesos se alterarem, ou
seja, os fatores de ponderação são calculados no período t0 para se usar no
período tF.

Tais fatores, como vimos, correspondem às importâncias econômicas dos


vários bens e cada um deles é obtido pelo quociente entre o dispêndio com o i-
ésimo bem e o dispêndio total, medidos aos preços da época imediatamente
anterior com quantidades da época de referência. Estes fatores vão ponderar
uma média de relativos com datas básicas t0 e datas atuais tF. Assim sendo,

Pti0 Q0i
w i
0, t 0 = n

∑P Q
i
i
t0
i
0

⎡⎛ Pt i ⎞⎤ i
∑ ⎢⎢⎜⎜ PFi ⎟⎟⎥⎥ w0,t 0
⎣⎝ t 0 ⎠⎦
LA( t 0 ,t F ) = com ∑w i
=1
∑ w0i ,t 0
0,t 0

34
A tabela 4.1 apresenta as quantidades (ton.) comercializadas por uma
empresa, em um mês o, relativamente a cinco produtos, acompanhadas de seus
respectivos preços nos meses 0, 1 e 2.

Tabela 4.1

PRODUTOS Q0 P0 P1 P2
A 8 26,60 26,80 27,50
B 4 27,80 31,00 33,00
C 120 1,75 1,75 2,00
D 30 10,50 10,80 14,00
E 6 24,80 26,80 27,20

Vamos construir uma série de índices de preços para o período 0-2,

utilizando-se as metodologias dos ÍNDICES DE LASPEYRES original e modificado.


Para o primeiro, iremos preencher novas colunas na tabela 4.2, obtendo os
relativos IP0,1 , IP0, 2 e o fator de ponderação w0 .

Tabela 4.2

PRODUTOS Q0 P0 P1 P2 P1/P0 P2/P0 P0 Q0 W0


A 8 26,60 26,80 27,50 1,0075 1,0338 212,80 0,2133
B 4 27,80 31,00 33,00 1,1151 1,1871 111,20 0,1114
C 120 1,75 1,75 2,00 1,0000 1,1429 210,00 0,2105
D 30 10,50 10,80 14,00 1,0000 1,3333 315,00 0,3157
E 6 24,80 26,80 27,20 1,0806 1,0968 148,80 0,1491
TOTAL 997,80 1,0000

Continuando na tabela 4.3, são ponderados os relativos IP0,1 e IP0, 2 por w0 .

Os valores 1,0355 e 1,1778 que correspondem, respectivamente, aos índices


La
originais de LASPEYRES, IP0La
,1 e IP0, 2 ou seja:

35
⎛ P1i ⎞ ⎛ P2i ⎞
IP0La
,1 = ∑ ⎜ i ⎟ × w0i = 1,0264 e
⎜P ⎟ IP0La
,2 = ∑ ⎜⎜ P i ⎟ × w0i = 1,1778

⎝ 0⎠ ⎝ 0 ⎠

Tabela 4.3

PRODUTOS P1/P0 P2/P0 w0 (P1/P0)w0 (P2/P0)w0


A 1,0075 1,0338 0,2133 0,2149 0,2205
B 1,1151 1,1871 0,1114 0,1242 0,1322
C 1,0000 1,1429 0,2105 0,2105 0,2406
D 1,0000 1,3333 0,3157 0,3157 0,4209
E 1,0806 1,0968 0,1491 0,1611 0,1635
TOTAL 1,0264 1,1778

Para calcular os índices no período considerado, utilizando a metodologia


do LASPEYRES modificado, devemos obter os relativos de preços IP0i,1 e IP0i, 2 e os

fatores de ponderação w0i ,1−1 e w0i , 2−1 , i = 1,2,3.....n.

Podemos observar, no entanto, que IP0La


,1 e LA0,1 apresentam valores

coincidentes já que:
Pt F P1
= e wt 0 = w0 , para tF=1.
Pt 0 P0

Assim, para obtermos os índices de LASPEYRES modificados, no período 0 -2,

precisamos encontrar apenas IP1,2 , uma vez que já conhecemos IP0,1 . Os cálculos

são mostrados na tabela 4.4.


Tabela 4.4

PRODUTOS Q0 P0 P1 P2 P2/P1 P1 Q 0 w0,1 (P2/P1)w0,1


a 8 26,60 26,80 27,50 1,0261 214,40 0,21 0,2155
b 4 27,80 31,00 33,00 1,0645 124,00 0,12 0,1277

36
c 120 1,75 1,75 2,00 1,1429 210,00 0,20 0,2286
d 30 10,50 10,80 14,00 1,3333 315,00 0,31 0,4133
e 6 24,80 26,80 27,20 1,0149 160,80 0,16 0,1624
TOTAL 1024,20 1,00 1,1475

É usual apresentar as séries em tabelas, com as informações pertinentes.

ÍNDICE DE LASPEYRES original:


Tabela 4.5
L0,t
MÊS Mês 0 = 100
0 100,00
1 102,64
2 117,78

ÍNDICE DE LASPEYRES modificado:


Tabela 4.6
LAt-1,t
MÊS Mês 0 = 100
0 100,00
1 102,64
2 114,75

A metodologia utilizada na construção do índice de LASPEYRES modificado,


apresenta a grande vantagem de resultar em um índice que atende ao critério
circular.

Conforme será discutido mais tarde, quando se trata da elaboração dos


índices econômicos, a fixação dos fatores de ponderação é de responsabilidade
da POF, PESQUISA DE ORÇAMENTO FAMILIAR, desenvolvida por cada instituto,
enquanto na construção de índices que se aplicam ao custo ou à receita de uma
empresa, tais fatores vêm, naturalmente, de pesquisa de sua própria estrutura de
custo e, no caso da receita, do estudo de sua evolução.

37
5 - MUDANÇA DE BASE

Muitas vezes, as análises baseadas em números índices exigem mudanças


na base de comparação da série considerada. Sabemos que para efetuar tais
mudanças teríamos que ter acesso aos dados que geraram os diversos índices ou
poderíamos fazer as transformações através de um processo de encadeamento,
segundo o critério circular. Como a primeira alternativa quase sempre é bastante
trabalhosa, a opção fica com a segunda, ou seja, a nova série é estabelecida
mediante o produto de índices intermediários, naturalmente, desde que o índice
com o qual estamos trabalhando atenda ao critério circular.

Temos visto no decorrer do texto, que quando se constrói uma série de


índices, esta série pode apresentar uma base fixa em determinada época ou pode
considerar como épocas básicas aquelas imediatamente anteriores.

No primeiro caso, estamos diante de um índice base fixa, onde todas as


comparações são feitas com relação à base escolhida. A série a seguir mostra
índices de preço cuja data de referência é o mês de setembro.

Tabela 5.1
MÊS IP (SET = 100)
AGO 98,70
SET 100,00
OUT 114,57
NOV 123,59
DEZ 145,78

Como sabemos, os diversos valores estabelecem a correspondência entre


os preços dos bens e serviços considerados nos vários meses e os preços no mês

38
de setembro. Os preços de novembro, por exemplo, correspondem a 123,59 %
dos preços de setembro ou aumentaram 23,59% com relação a eles.

Enquanto isso, na tabela abaixo, figuram índices cujas comparações são


feitas com base nas datas imediatamente anteriores. Não há mais uma única
base, daí serem chamados índices de base móvel.

Tabela 5.2
MÊS IP
(Base Móvel)
AGO 113,45
SET 123,41
OUT 98,55
NOV 116,34
DEZ 128,90

Os preços de setembro equivalem a 123,41% dos preços de agosto ou são


23,41% superiores; os preços de outubro equivalem a 98,55% dos preços de
setembro ou são 1,45% inferiores e assim por diante.

Dada uma série de índices, quando o objetivo for mudar a sua base de
comparação, podemos ter uma mudança de base fixa para nova base fixa, de
base fixa para base móvel e de base móvel para base fixa.

5.1 - MUDANÇA DE BASE FIXA PARA NOVA BASE FIXA

Para transformar uma série com base fixa a em outra série com base fixa b,
vamos utilizar o critério circular. Ele nos assegura que

IPa,b × IPb, c = IPa, c

39
Como se trata de um conjunto de índices, podemos rescrever a expressão
acima, substituindo c por ti, i=1,2 3...n.

IPa,b × IPb,t i = IPa,t i (1)

A partir da série base fixa, cuja data de referência é o ano de 1986, é


possível obter uma nova série com base fixada em qualquer outro ano da
seqüência.

Tabela 5.3
IP
ANO (1986=100)
1986 100
1987 120
1988 150
1989 180

Escolhendo o ano de 1988 como a nova data de referência, e substituindo


valores na expressão (1) encontraremos os índices na nova base. Assim,
IP86,88 x IP88,86 =IP86,86
1,50 x IP88,86 = 1,00 IP88,86 = 1,00 /1,50 = 0,6667 ou 66,67%

IP86,88 x IP88,87 = IP86,87


1,50 X IP88,87 = 1,20 IP88,87 = 1,20/1,50 = 0,8000 ou 80,00%

IP86,88 X IP88,89 = IP86,89


1,50 X IP88,89 = 1,80 ⇒ IP88,89 = 1,80 / 1,50 = 1,20 ou 120,00%

Uma regra prática, que muitas vezes se utiliza para obter os novos índices,
consiste em se dividir todos os índices na base dada pelo índice correspondente
àquela que será a nova base.

40
Repetindo a tabela 5.3, agora apresentando também os números na base
1988, teremos:

Tabela 5.4
IP IP
ANO (1986=100) (1988=100)
1986 100,00 66,67
1987 120,00 80,00
1988 150,00 100,00
1989 180,00 120,00

5.2 - MUDANÇA DE BASE FIXA PARA BASE MÓVEL

Se o objetivo for sair de uma base fixa para uma base móvel, os
procedimentos devem ser, igualmente, baseados no encadeamento de índices
intermediários.

Seja a tabela 5.5, que contém os índices no período 85-89, com dada base
em1985.
Tabela 5.5
IP
ANO (1985=100)
1985 100,00
1986 89,00
1987 98,00
1988 110,00
1989 120,00

Os correspondentes valores em uma base móvel serão:

41
IP85.86 = 0,89

IP85,86 x IP86,87 = IP85,87 ⇒ IP86,87 = 0,98 / 0,89 = 1,1011

IP85,86 x IP86,87 x IP87,88 = IP85,88 ⇒ IP87,88 = 1,10 / (0,89 x 1,1011) = 1,1224

IP85,86 x IP86,87 x IP87,88 x IP88,89 = IP85,89 ⇒ IP88,89 = 1,20 /(098 x 1,1224) =1,0901

A tabela 5.6 mostra os índices base fixa em 1985 e base móvel no período
considerado. Como não há referências ao ano de 1984, o IP84,85 não pode ser
obtido.
Tabela 5.6
IP IP
ANO (85=100) (Base Móvel)
1985 100,00 -------
1986 89,00 89,00
1987 98,00 110,11
1988 110,00 112,24
1989 120,00 109,01
5.3 - MUDANÇA DE BASE MÓVEL PARA BASE FIXA

Finalmente, o interesse pode ser passar de uma base móvel para uma base
fixa. Consideremos a série base móvel de preço, relativa aos meses JUN-SET.
Tabela 5.7
IP
MÊS (Base Móvel)
JUN 120,40
JUL 122,19
AGO 127,40
SET 127,17

42
Adotando, por exemplo, como época básica o mês de AGO e mais uma vez
fazendo uso dos critérios lógicos matemáticos, chegaremos aos valores da série
base fixa.

Para obter o IPAGO,JUN, lembremos que:

IPJUN,AGO = IPJUN,JUL x IPJUL,AGO ⇒ IPJUN,AGO = 1,2219 x 1,2740 = 1,5567

Logo, sendo:

IPAGO,JUN = 1/ IPJUN,AGO ⇒ IPAGO,JUN = 1/1,5567 = 0,6424

Temos que:

IPAGO,JUL = 1 /IPJUL,AGO = 1 /1,2740 = 0,7849

Naturalmente, IPAGO,AGO = 1,0000 e IPAGO,SET = 1,2717, valor já identificado


na série base móvel. A tabela 5.8 apresenta as duas séries.

Tabela 5.8
IP IP
MÊS Base Móvel AGO=100
JUN 120,90 64,24
JUL 122,19 78,49
AGO 127,40 100,00
SET 127,17 127,17

5.4 - CONJUGAÇÃO DE DUAS SÉRIES DE ÍNDICES

Alterações na composição da cesta de bens e serviços que constituem um


índice, ou mesmo mudança da época básica, promovida pelos instituições que

43
calculam os índices, ocorrem normalmente. Por outro lado, diversos estudos
necessitam de uma série do índice referenciado a uma base única. A questão que
se coloca é então a seguinte: temos inicialmente uma serie do índice em uma
determinada base “a” que se interrompe na época “k”, temos, também, uma
segunda serie deste índice, em uma base “b” iniciada exatamente na época “k”.
Como obter a série completa deste índice na nova base “b”? A tabela abaixo
elucida a questão.

Tabela 5.9

IP IP IP
Mês FEV= 100 MAI=100 MAI=100
FEV 100,00 - ?
MAI 102,40 - ?
ABR 103,94 - ?
MAI 106,33 100,00 ?
JUN - 103,15 ?
JUL - 104,80 ?
AGO - 108,47 ?

Desde que exista uma época comum (neste caso o mês de maio) na qual
os dois índices tenham sido calculados, é possível reconstituir a série completa do
novo índice calculando-o para as épocas em que ele ainda não existia (neste caso
para os meses de fevereiro, março e abril) mediante uma mudança de base.

Como foi anteriormente mostrado se “a” é a velha base e “b” é a nova base
IPa,t
tem-se: IPb,t − onde “t” é a época para qual se quer calcular o índice na nova
IPa,b

base “b”.

Assim:

44
IPFev , Fev 100,00
IPMai , Fev = = = 0,9405
IPFev , Mai 106,33

IPFev , Mar 102 ,40


IPMai , Mar = = = 0,9630
IPFev , Mai 106,33

IPFev , Abr 103,94


IPMai , Abr = = = 0,9775
IPFev , Mai 106,33

Deste modo, a série completa do novo índice com base no mês de maio
será.
Tabela 5.10

IP
Mês (MAI=100)
FEV 94,05
MAR 96,30
ABR 97,75
MAI 100,00
JUN 103,15
JUL 104,80
AGO 108,47

Devemos observar que é também possível reconstituir a serie para a base


do antigo índice, ou seja para FEV. Deixamos a cargo do leitor mostrar que, neste
caso, se encontraria a tabela abaixo:

Tabela 5.11

IP

Mês FEV=100
FEV 100,00

MAR 102,39

ABR 103,93

45
MAI 106,33

JUN 109,68

JUL 111,43

AGO 115,33

6 – DEFLAÇÃO E PODER AQUISITIVO

Uma série de valores monetários, obtidos em diversas épocas, constituem


grandezas não homogêneas quando se considera o seu poder aquisitivo. Uma
série de valores monetários, registrados na época em que ocorreram, é chamada
de série de valores correntes ou nominais. Como esta série é expressa em moeda
de poder aquisitivo de diversas épocas não podemos, de modo inequívoco,
trabalhar com medidas estatísticas desta série de valores. Por exemplo, trabalhar
com a média dos faturamentos mensais correntes de uma empresa, ao longo do
ano, é de pouco valia já que se está tirando uma média de grandezas não
homogêneas entre si. Com o objetivo de se aplicar corretamente as medidas
estatísticas a uma série de valores monetários, é que se busca transformá-los
todos em valores de poder aquisitivo de uma mesma época. O processo de
transformar valores monetários de diversas épocas em valores monetários
referenciados a uma mesma época se chama de deflacionamento. A série obtida
após o deflacionamento dos valores monetários é chamada de série de valores
reais ou série a preços constantes. Nesta nova série, os valores monetários das
diversas épocas estão traduzidos em poder aquisitivo de uma mesma época e
são, portanto, grandezas homogêneas. Assim, pode-se, então, aplicar a esta série
as medidas estatísticas usuais de análise.

Na prática, o deflacionamento consiste simplesmente em dividir os valores


monetários de diversas épocas por um índice de preços de base fixa em
determinada época. O índice de preço utilizado é então chamado de “deflator” e a

46
série resultante é chamada de série de valores a preços constantes de
determinada época, que é justamente a base do deflator.

Para exemplificar a mecânica da deflação, consideremos a tabela a seguir


que fornece o faturamento mensal corrente de uma empresa e um determinado
índice de preços com base no mês de fevereiro.

Tabela 6.1

Faturamento IP

Mês Corrente (R$) FEV=100

ABR 70.000,00 103,93

MAI 75.000,00 106,33

JUN 75.750,00 109,68

Podemos, facilmente, verificar que o faturamento corrente cresceu 7,14%


de abril para maio e 1% de maio para junho. A tabela abaixo mostra a série de
faturamento mensal a preços constantes de fevereiro:

Tabela 6.2

Faturamento IP Faturamento a
Preços Constantes

Mês Corrente (R$) FEV=100 de Fevereiro


ABR 70.000,00 103,93 67.353,03

MAI 75.000,00 106,33 70.535,13

JUN 75.750,00 109,68 69.064,55

47
Os valores da última coluna foram obtidos pela divisão do
faturamento corrente do mês pelo respectivo índice de preço de base fixa em
fevereiro. Observemos que, na série dos faturamentos a preços constantes, o
crescimento do faturamento mensal de abril a maio é de 4,72% e não mais de
7,14%. Observemos, ainda, que de maio para junho a empresa acusou uma
queda de 2,08% em seu faturamento em termos reais, isto é, após eliminado o
efeito de preço.

Do exposto, fica claro que, em termos puramente operacionais, o processo


de deflação é bastante simples pois consiste em, simplesmente, dividir o valor
monetário corrente por um índice de preço. A questão mais complicada, porém,
reside na escolha de deflator adequado em cada caso. Por exemplo, para se
deflacionar o salário devemos tomar como deflator um índice de preços ao
consumidor e não um índice de preços no atacado ou dos preços industriais.
Mesmo assim, não se deve esquecer que o pressuposto, neste caso, é que a
estrutura do índice de preço ao consumidor, utilizado como deflator, retrata a
estrutura de consumo dos trabalhadores assalariados.

Cabe ainda chamar a atenção para a justificativa da operação que consiste


em dividir o valor monetário corrente pelo índice de preço, para a obtenção do
valor monetário a preços constantes. Tal justificativa vem simplesmente da própria
definição de um índice de base fixa. Por exemplo, considere-se o mês de maio
cujo índice de preço com base fixa em fevereiro é, em nosso exemplo, igual a
106,55. Este número significa que R$ 106,33 em maio é equivalente a R$ 100,00
em fevereiro. O que se quer saber é quanto então R$ 75.000,00 em maio vai valer
em fevereiro. Trata-se assim de resolver a seguinte regra de três:

106,33 em maio ⎯
⎯→ 100,00 em fevereiro

75.000,00 em maio ⎯
⎯→ x em fevereiro

48
75.000,00 x 100,00 Faturamento mensal em maio
x= ou
106,33 Indice de preço em maio com base em fevereiro

Deste modo justifica-se a parte mecânica da deflação que, como


enfatizamos anteriormente, é a parte mais simples do processo.

49
Exercícios

1 - O produto X teve seu preço aumentado em 35%, em um dado período, o que


provocou uma retração de 28% em sua demanda. Que aconteceu com o volume
comercializado deste produto, no período considerado?
Utilize a terminologia dos números índices, para justificar sua reposta.

2 - A tabela abaixo fornece um índice de base móvel. Preencha as duas colunas


conforme indicado.

Mês IP IP IP
(Base móvel) (Jan. = 100) (Mar. = 100)
Jan. 110,80
Fev. 112,19
Mar. 117,30
Abr. 117,27

3 - A partir do índice de preço apresentado abaixo, construa outro índice, cuja base
seja móvel.

Ano IP IP
(1988 = 100) (Base móvel)
1985 75
1986 89
1987 98
1988 100
1989 120

50
4 - Os preços de mercado de um certo tipo de produto revelam um aumento de 20%
em Fevereiro com relação a Janeiro; de 25% em Março com relação a Fevereiro; de 22%
em Abril com relação a Março. Qual foi a Variação de preço deste produto, no período de
Janeiro a Abril?

5 - Se as inflações dos meses de Maio e Junho deste ano corresponderem,


respectivamente, a 38% e 40%. Qual deve ser a inflação média nos dois meses
subsequentes, para que a inflação deste quadrimestre seja de 252%?

6 - A tabela abaixo mostra um índice de preço, construído em duas diferentes


épocas básicas.

Ano IP IP
(1989 = 100) (1991 = 100)
1989 100
1990 135
1991 165 100
1992 130
1993 185

Conjugue as duas séries, construindo um índice com base em 1991.

7 - Uma empresa deseja manter, em um período t, o valor de comercialização do


produto X, no período O . Se é previsto uma redução nas quantidades produzidas de 20%,
que variação deve sofrer o preço deste produto?

51
8 - Os valores (US$) apresentados, a seguir, se referem às vendas mensais de
determinado setor de uma loja de departamentos, no período Abril-Setembro de 1992.
Obtenha o faturamento real a cada mês, a preço constantes de Julho de 1992.

Mês Valores de Vendas IPCA


a preços correntes (Mar.92 = 100)
Abr. 9.603 119,92
Mai. 23.000 147,18
Jun. 28.500 176,02
Jul. 28.400 221,90
Ago. 35.000 262,81
Set. 48.876 333,42

9 - Construa um índice que descreva a evolução real do faturamento, na mesma base


considerada na questão 8.

10 - Dadas as variações mensais de um índice de preços, calcular:

A - Variação acumulada até o mês de Dezembro


B - Taxa média de variação mensal

Meses Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun.


Variações +2,0 +3,2 -2,5 +5,1 +10,2 -5,8
mensais %

Meses Jul Ago. Set. Out. Nov. Dez.


Variações -4,3 +1,5 +6,0 +7,1 +8,3 +15,1
mensais %

52
11 - Uma empresa deseja aumentar as vendas (quantidades) em 60%. Qual deve
ser a variação de preço para que o faturamento duplique?

12 - Os dados abaixo referem-se às quantidades produzidas e os preços médios por


quilograma recebidos pelos produtores.

Produtos 1976 1977 1978


P Q P Q P Q
A 5,00 100 6,00 100 10,00 120
B 10,00 50 15,00 60 15,00 70
C 3,50 120 5,80 130 6,60 110
D 4,10 200 6,00 250 7,70 260
E 8,00 180 10,80 200 11,50 200

Calcular:

A - Índice de preços de quantidades fixas (Base 1976)


B - Índice de preços e quantidades de Laspeyres (Base 1976)
C - Índice de preços e quantidades de Paasche (Base 1976)

12 - A inflação acumulada até o mês de Abril (inclusive) de determinado ano foi de


24,74% . Em abril, a taxa de inflação foi de 5,7% sobre março. Se esta taxa mantiver para o
próximos 8 meses, qual será a taxa de inflação do ano?

13 - O governo prefixou a taxa de correção monetária para determinado ano em


50%. Qual deve ser a taxa média mensal para que tal meta seja alcançada?

53
14 - Com base na equação da Renda Nacional simplificada (Y = C + I + X - M ) e
nos dados das tabelas seguintes, calcular a Renda Nacional real e o deflator implícito, com
base no ano de 1970.

Renda Nacional a Preços correntes

Anos 1970 1971 1972


Componentes
C (consumo) 1500 2000 2500
I (investimento) 500 550 800
X (exportação) 200 300 400
M (importação) 100 200 250

Deflator

Índices 1970 1971 1972


Custo de Vida (1970 = 100) 100 130 170
Investimento (1971 = 100) 95 100 150
Exportação (1972 = 100) 60 80 100
Importação (1970 = 100) 100 180 220

54

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