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Um sapato de chocolate

Desconfio seriamente que para ter nascido algo correu mal. Poderá ter sido um
criativo embriagado, um funcionário compelido a reformar-se, ou logo após saber que ia
ser despedido. Algo terá sido para ele surgir no tapete, único e tão diferente - tamanho e
cor certos, mas não a forma…
Não lhe serviu nenhuma prata. Quem o descobriu, decidiu consternado, “olha, vai
assim”.
E ele foi.
Quando chegou, foi recebido com igual perturbação. Daria trabalho devolvê-lo.
Esconderam no na montra, rodeado de Pais Natais de variados tamanhos, brilhantes e
coloridos. Era Natal e havia grande procura pelos seus companheiros. Grandes, médios
e pequenos iam saindo da loja. Eram um bocado convencidos e nem entre si falavam.
Talvez por se acharem muito importantes.
No dia 24 de Dezembro foi a razia. A loja foi invadida por clientes desesperados
que queriam prendas. Fizeram-se caixas de papel lustroso a envolverem bombons,
marcharam os Pais Natais, grandes, médios e pequenos. Parecia que um ciclone entrara
pela porta principal e varrera a loja inteira. Não sobrara nada…excepto ele. No seu
canto da montra, mais visível por as figuras em primeiro plano se terem ido, gelado e
solitário, aguardava em silêncio.
Eram quase 17.00 horas, a hora para o fecho antecipado, quando a porta
estremeceu e se abriu para deixar passar um último cliente. Se ainda não estava
desesperado passou a está-lo quando viu prateleiras e balcão vazios.
- Não sobrou nada? Perguntou num fio de voz.
Felícia que planeava sair mais cedo, ia responder-lhe “assim foi senhor, vendemos
tudo”, mas calhou olhar para a montra: “Temos ainda um sapato”
- Um sapato?
- Sim de chocolate, da mesma Fábrica dos Pais-Natais.
- Mas um sapato?
Como grande vendedora, ocorreu-lhe então nomeá-lo:
- É o sapato do Pai Natal!
Assim, embrulhado e baptizado foi orgulhosa e finalmente escolhido.

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