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A Ascenção do

Abysmo

LIVRO DE FANTASIA MEDIEVAL


PRÓLOGO
“H oje será o casamento da princesa Tiela!”
Não parava de repetir um guarda da realeza, que
falava no topo de uma escada na praça central da
cidade. “Todos estão convidados a ir assistir a festa
de casamento! Será na Praça dos Lobos!”
É um dia ensolarado, mas já bem de cheio. Já são
cerca de nove horas, e o comércio estava a todo
vapor. Homens e mulheres montavam e vendiam em
suas barracas nas escadas da praça e por todas as
ruas movimentadas da cidade, e jovens ajudavam a
carregar e vender produtos em troca de algumas
moedas. Além de ser o centro da capital, o
casamento da princesa é no dia seguinte, e isso era
um gancho para esse enorme movimento.
Havia guardas patrulhando o lugar, pois a segurança
foi muito aumentada, ao menos na área rica e média
da cidade. Aqueles que estavam em patrulha na
praça não paravam de secar o suor que escoria pelos
seus rostos. Estava quente, e a quantidade de
pessoas não ajudava a diminuir essa sensação. Para
isso, constantemente tiravam o capacete e passavam
a gola de suas roupas dentro de suas armaduras de
metal no rosto, se distraindo, e uma garota sagaz se
aproveitou disso.
Um homem estava vendendo frutas de inverno, que
eram raras nessa época do ano. Ele era um senhor
gordo, com cabelos já brancos, mas arrumados e
engomados, sem perder sua postura. Era uma
barraca de madeira, e tinha dois ajudantes
adolescentes com roupas brancas meio rasgadas,
provavelmente filhos ajudando para ganhar algumas
moedas. A barraca estava encostada nas construções
da estrada, com somente um pequeno beco próximo.
Ele estava tendo um ótimo lucro, e não parava de
falar aos seus subordinados:
_ Se algum nobre passar aqui, acho que será nosso
dia de sorte – Falava sempre baixo com eles –.
Vamos, seus trapalhões, arrumem tudo não
esqueçam de pôr o dinheiro no lugar!
Enquanto vendiam suas frutas, lá estava ela, uma
garotinha, escondida no estreito beco, próximo a
tenda. Estava com roupas esfarrapadas, entre os
barris que lá estavam. Respirou fundo, e começou a
andar, agachada, e com olhos atentos ao dono e seus
ajudantes, mas olhando também para os sacos de
dinheiro. Havia três bolsas de dinheiro, onde cada
um colocava de suas vendas. Ela encontrou o menos
protegido. Um guarda não saia de perto da tenda,
talvez por achar que lá era um fácil e lucrativo alvo
dentre tantos, ou talvez por amizade ou contrato
para com o dono da tenda.
A garota se prepara, e fica o mais próximo que pode
sem ser notada, agachada atrás do barril mais
próximo, e quando o guarda tira o capacete, e puxa a
gola para secar seu notável suor, ela não perde
tempo. Vai agachada, mas veloz, e como um gato,
passou entre os ajudantes agachada, e saiu
rapidamente. O ajudante agradeceu o homem que
acabara de comprar algumas uvas, e quando foi
guardar o dinheiro...
_ Pai, onde está o saco do dinheiro da minha parte?
Olhando para trás e confuso, o senhor viu aquela
garota, com um saco de couro pesado, da metade do
tamanho dela, entrando no beco numa velocidade
que parecia desconsiderar o peso extra.
Ele arregala os olhos e range os dentes de raiva, e
vira o olhar ao guarda que acabou de recolocar o
capacete.
_ Ei guarda, o que está fazendo!? Aquela pirralha
roubou meu dinheiro, pegue ela!
_ Na verdade foi meu dinheiro, pai.
_ E você fique calado!
O guarda se apressou, e correu aos becos. A garota
já estava muito a frente, mas o guarda não desistiu.
Correndo pelos becos, a garota claramente mostrou-
se mais ágil, enquanto o guarda, de armadura, corria
derrubando barris e tropeçando em tralhas. Quando
finalmente o guarda saiu do beco, deu de cara com
uma rua. Olhou pros lados, e nada encontrou, além
de pessoas andando e olhando com estranheza.
O guarda talvez até pensou em pedir ajuda, porém
ficou com vergonha de dizer que uma garotinha o
despistou.
_ Tsc, que merda!
A garotinha já estava em outro beco mais escuro,
agora andando e resmungando baixo para ela
mesma, até que chegou na metade dele. Secou com
a mão uma gota de suor que lhe descia o rosto, e
olhou para a parede de pedra que estava intacta.
Olhou também para os lados, e não tinha a atenção
de ninguém.
Era uma parede rustica, com relevos das pedras
cinzas que a fizeram. A garota tocou numa pedra
com a mão, e a empurrou, e então, puxou outra.
Aquilo que parecia uma parede se abriu
pesadamente, mas silenciosamente, e revelou uma
pequena escadaria. No mesmo instante que foi
aberta, começou a ouvir-se um barulho. Música era
tocada, pessoas gritavam e conversavam, e o cheiro
de cerveja, vinho e carne subiu ao ar.
Ela entrou, e a porta se fechou sozinha, lentamente.
É uma escadaria de madeira, com as paredes de
pedra cinza escuro, mais escuras do que a porta.
Eram sete degraus, e a cada um que ela descia, o
chão ia rangendo, e a bolsa de dinheiro ia
chacoalhando as moedas, mas o barulho de dentro
mal a deixava ouvir esse detalhe.
Quando desceu a escada, recebeu uma imagem de
uma enorme taverna, movimentada e muito bem
iluminada, com tochas em suportes de ferro nas
rusticas paredes de pedra cinza escuro, que
combinavam com o chão de madeira de pinheiro.
Havia muitas mesas, feitas de madeira carvalho, e
uma bancada, do mesmo material, no lado direito da
taverna, que pegava de ponta a ponta. Um barbudo
anão estava nessa bancada, o que indicava que
dentro da bancada, o chão é mais alto. Havia todo
tipo de bebida, e ele às vezes até quebrava o ditado
sobre não usar a própria mercadoria.
A garota caminhou entre as mesas, desviando das
pessoas que passavam. Estava cheio, sem uma mesa
vazia, e pessoas de todos os tipos estavam lá. Porém,
todas tinham uma coisa em comum: eram todos
criminosos... ou quase. Ladinos profissionais,
mercenários, meros ladrões e guildas inteiras. Por ser
um local grande, escondido no subterrâneo, e com
difícil conhecimento - ao menos de como entrar e de
onde exatamente se localiza -, é um local perfeito
para essas pessoas, embora nem todos sejam
humanos.
Há um notável grupo de tieflings de pele vermelha
na parte esquerda da sala, uma pequena guilda de
ladrões. Também há alguns elfos, anões e um meio-
orc.
E aquele que realmente não tem como não notar,
um elfo bardo, que não parava de tocar seu alaúde.
De estatura normal, tem cabelos negros caídos pelos
lados e bem arrepiados atrás, com suas notáveis
orelhas pontudas passando pelos cabelos. Usa uma
roupa simples, com uma leve armadura de couro e
suas botas de couro élfico. Estava em cima de uma
mesa cantando, e todos em volta da mesa estavam
contentes com sua música, levantando seus copos de
cerveja e aplaudindo-o. Nem todos o entendiam, mas
ele realmente passava o sentimento que queria
passar com a música, seja de alegria ou comoção. O
motivo pelo qual o diferenciava era o mesmo do qual
fazia com que nem todos o entendessem, pois ele
cantava em élfico antigo, e poucos humanos
dominam tão bem essa linguagem complexa o
suficiente para entender o que ele fala.
A garota, com suas roupas esfarrapadas, continuou
caminhando até uma mesa que já tinha olhado desde
que chegou, e parou em frente a ela. Jogou a bolsa
de dinheiro em cima da mesa, e quase derrubou os
copos de cerveja e o porco assado que lá estava. Ao
ver a cena da pequena menina, o bardo acabou sua
música. Ele deu uma risada baixa, e pulou da mesa
onde estava, e se dirigiu até a garota, muito
habilmente, e deixou o grupo pelo qual cantava
gritando de felicidade, mesmo que talvez fosse por
estarem bêbados demais.
_ Eu ainda não acredito que me convenceram a fazer
isso – disse a garota, com a cara emburrada.
_ Hun, nem eu – respondeu a única pessoa da mesa.
Era um homem forte de quase 2 metros, usava uma
armadura de placas de metal douradas com toques
de negro, uma bainha negra para sua espada na
cintura, além de seu dourado capacete que nunca
tirava. Mesmo seu grupo nunca o viu sem capacete.
_ Anda Nikolai, cadê o Takeo? Já era pra ele ter
chegado. E o Dingirsu? Também sumiu?
_ O Takeo foi confirmar alguma coisa com alguns
negociantes. Provavelmente para conseguir vender
aquela lança que achamos. Já o Dingirsu...
_ Pudinzinho! - Enquanto conversavam, o elfo bardo
se aproximou e cortou a conversa – Parece que esse
tamanho te ajudou a se disfarçar! Claro, não que
teve grande diferen-
E sua fala foi cortada com um soco da garota na
lateral de sua barriga.
_ Eu já te disse pra não me chamar assim! – o bardo
curvou seu corpo enquanto deu uma tosse, e a
garota começou estranhamente a crescer, e suas
roupas a mudarem. Se transformou em uma garota
jovem, com seus 19 anos, de estatura mediana de
pouco mais de 1 metro e meio, com orelhas
indicando ser uma meia-elfa. Tem um tom de pele
puxado para o moreno, e possui longos cabelos
prateados, que chegam até a metade de suas costas,
além de olhos de um cinza profundo. Usa uma
armadura e calça de couro batido escuro, junto com
um vestido sem mangas, curto na frente, mas até os
pés atrás, e também carrega seu precioso amuleto
dourado em seu pescoço – Da próxima vai ser no
rosto, Magius.
_ Aí, meu emprego – disse depois de dar outra tosse
–. Bem, de qualquer forma, isso aí que você trouxe
deve pagar o que devemos.
_Com certeza. Mas agora só não podemos fazer
mais estrago aqui. Já demos azar do nosso último
monstro ter algo tão incomum pra venda imediata,
ainda bem que o Takeo é bom em lidar com essas
coisas. Mas Nikolai, onde você disse que o Dingirsu
estava mesmo?
_ Acho que... Oh, céus. Ali – e aponta para o meio da
taverna.
E lá estava ele, disputando um braço de ferro com
um bêbado e chamando atenção na taverna.
_ Ahn? – disse Dingirsu com o braço tremendo e
sorrindo – É só isso que você tem? – Ele é um
homem alto de 2 metros de altura, com notáveis e
inconfundíveis cabelos roxos, nada magro e forte,
mas também nada exagerado para seu tamanho,
junto com sua meia armadura e uma longa e pesada
espada que leva nas costas, com dois terços do seu
próprio tamanho.
_ Olha pro seu braço, idiota, certeza que não tá com
frio? – disse o bêbado, com roupa comum de um
camponês, e com o braço tremendo..., mas sorrindo
de bebida.
A garota colocou a mão no rosto.
_ Que idiota, meu Deus... Ainda bem que vocês dois
sabem se control-
Olhando de novo, notou que o Magius, o bardo, e o
Nikolai, sumiram. E uma música começou a tocar,
enquanto o Magius falava e o Nikolai abria uma
bolsa.
_ Isso mesmo, quem será que ganha essa? Acho que
seria dinheiro fácil, hein? As apostas são aqui com o
cara de armadura!
E diz o Nikolai:
_ E eu sou o cara de armadura!
Então, a garota se senta na mesa e se vira de costas.
“Que bando de idiotas...”, pensou. E começou a
beber uma caneca de cerveja que já estava na mesa.
_ O que vocês querem? – disse ela, ao notar que um
grupo de pessoas com manto negro pararam atrás
dela. Uma dessas pessoas se dirige a uma cadeira, e
se senta. Fazem 1 minuto de silencio. Seu rosto
parece impossível de ser visto por pessoas normais...,
mas ela tem a visão dos elfos. Ela olhou para ele, e
então voltou a olhar pro seu copo de cerveja na
mesa.
_ Senhorita Pudym, a clériga e líder do grupo que
matou o Bharlock em seu próprio terreno. Prazer em
conhece-la.
_ Sabe até demais sobre mim – disse ainda olhando
para baixo com rosto de desinteresse.
_ E é justamente por isso que eu vim falar com você.
Eu tenho um serviço.
_ Não estamos disponíveis no momento, tente
novamente mais tarde.
_ Mas tenho certeza de que se interessa por isso.
Então, mostrou um pergaminho, com um selo de
cera que havia um peculiar símbolo, de uma orelha
pontuda com uma espada cruzada. Ela levanta o
olhar e firma sua voz.
_ O que sabe sobre essa guilda?
_ Saberá o que eu sei a partir do momento que me
recuperar uma carga. E talvez, por que não... ter
acesso a essa carta?
_ Fechado. Qual o serviço?
_ Olha! Isso foi mais rápido do que eu pensava –
disse surpreso.
_ Certas coisas me são prioridade, e prioridade de
alguns do grupo. Agora desembucha e fala o serviço.
_ Direto ao ponto? Pois bem. Há uma carga num
caixote, que preciso que recuperem a mim. Essa
carga sai hoje de um deposito abandonado, às 19
horas. Preciso que recuperem a mim, de preferência
discretamente, e me entreguem da antiga
revendedora de peixes principal abandonada. Preciso
dela até as 17 horas. Devido ao casamento da
princesa, a rua estará cheia de guardas, e será
impossível pegar a encomenda sem chamar atenção
depois desse horário. Não quero que saibam do
conteúdo, de forma nenhuma, e nem que chegue
danificado. É uma caixa com um X cruzado em todos
os lados com cheiro de amônia. Seu grupo tem
muitos elfos, logo, muitos que enxergam no escuro.
Vão precisar.
Ela então se levanta e pega seu saco de dinheiro, e
se dirige ao seu grupo, deixando os encapuzados
para trás. E então, teve a visão de uma mesa rachada
ao meio no chão, o Dingirsu e o bêbado caídos e
respirando forte, e o Nikolai com uma bolsa cheia de
dinheiro sem saber o que fazer.
_ Nikolai, Dingirsu, Magius. Preciso de um favor.
Capítulo 1:
O Começo do Fim
A desordem é uma condição abominável. É
preciso de força para controlar a calamidade da
desunião. Anões ao sul, elfos ao norte, uma ilha de
orcs, sedentos para chegarem ao continente, e tudo
isso fora a quantidade imensurável de monstros. Nós
humanos estávamos no centro disso tudo a 300 anos
atrás.
Deve ser ressaltado que não considero como
humanos o Povo de Gelo, que são governados a eras
pelos piores necromantes que o mundo já viu.
Mas provamos nossa força. Nossa capacidade de
organização. Nossa versatilidade. Nossa bravura.
Formamos o Magistrado, que mais tarde se tornaria
a maior potência militar que o mundo já viu. E, como
em todo império, um líder estava no comando. Mas
esse foi o maior de todos, o homem que mais
mereceu o respeito de todas as raças até hoje. Ele era
Udräzimo, o Fundador e o Primeiro Comandante do
Magistrado.
Unindo suas forças, convencendo e persuadindo as
tribos humanas com coragem e firmeza, expulsaram
os maiores perigos monstruosos do centro do
continente, o que fez o Magistrado prosperar e se
fortificar. Então, ajudou tanto os anões quanto os
elfos, expulsando os perigos dessas regiões com uma
aliança que ficou conhecida até hoje como Os Três
Impérios, com os humanos centrais, anões e elfos.
Negociaram suas independências, formalizaram um
acordo de não agressão entre os nórdicos, e
fecharam a Ilha Orc com um punho de ferro... E com
isso, os humanos iniciaram o que seria o maior reino
e capital do mundo conhecido, formado unicamente
por humanos para manter seu orgulho e origem: O
Magistrado.
Esse foi o nosso eterno rei, que viveu a 300 anos
atrás. O Rei Udräzimo I, o Líder Continental.

_ Ragnar, Comandante Supremo das Tropas do


Magistrado. Trecho retirado de seu livro, “A História
do Continente”.
Parte I
_ B em... Como foi mesmo que eu fui parar aqui?
– disse Takeo, de ponta cabeça amarrado numa
corda.
Ele estava no meio de um beco espaçoso, com 7
metros de largura, a céu aberto e com muitas tralhas
ao redor: barris de lixo, caixotes, e outras
bugigangas. Está amarrado pelos pés a 2 metros do
chão, com a corda amarrada em uma tabua de
madeira que cruzava uma casa a outra. Está quente,
são 11 horas da manhã, mas não havia movimento
no beco, somente nas ruas em que se ligava.
Qualquer um na rua que conseguisse perceber o que
ocorria no beco, simplesmente ignorava, evitando
problemas.
O lugar está vazio, exceto pelo Takeo... E outras 3
pessoas extremamente curiosas: Um anão com
chapéu de mago, uma mulher bêbada com um falcão
no ombro, e um homem de manto negro, que
parecia extremamente aborrecido... com seu próprio
grupo.
_ HAHA! – disse a mulher apontando para o Takeo e
sorrindo – Sabia que esse aí seria fácil. Agora é só
meu falcão ir chamar o Merlin! Vai lá, garoto! – é um
lindo falcão marrom de penas douradas na ponta das
asas, que gritou, bateu as asas e levantou voo.
“Que merda é essa?”, pensou o Takeo. “Quem são
esse bando de idiotas?”
_ Darcrays... – disse o homem de manto negro, com
a cabeça meio inclinada para baixo, o que escondia o
seu olhar.
_ Wa hahaha! Você é nosso, seu ladrão de vinhos! –
disse o anão, que começou a se aproximar dele.
Takeo é um elfo, de cabelos tão negros quanto seus
olhos, lisos e penteados para trás. De estatura média,
usa um manto negro, com calças e bota de um couro
élfico marrom escuro. Dentro de seu manto, era de
coloração vermelha, o que ficou notável por estar de
cabeça para baixo.
_ Oskar... – disse o homem de manto negro, agora
mostrando seu olhar irritado em direção ao anão.
“Qual desses... Será que é o mais louco? Esse zé ruela
que não para de falar o nome dos seus “amigos”,
essa é a mulher com maior cheiro de bebida que eu já
vi, e... que diabos é isso? Um anão mago com uma
foice? Tenho que sair daqui...”
_ Ehh... O que exatamente está acontecendo aqui?
Será que poderiam me desamarrar?
_ Não se finjas de bestas! – Disse o anão parado
apontando o dedo para ele – Nos roubastes e ainda
dizes istos?
_ ... Bando de malucos.
Nesse momento, de cima de alguma casa, uma
adaga é arremessada e corta a corda que o prendia.
“Atrasada”, pensou, como se já soubesse o que iria
acontecer. Após a corda ser cortada, ele pousa no
chão com muita destreza. Oskar, o anão e Darcrays, a
bêbada, fazem uma cara de espanto, e o homem de
preto... some completamente.
“Isso!”, pensou Pudym, de cima de uma casa. “Agora
ele vai conseguir fugir, e então vai poder me ajud...”
Quando começou a se virar para sair do lugar, sentiu
a ponta de uma espada curta no seu pescoço.
Virando seu rosto para o canto, viu que havia alguém
de manto negro atrás dela, e acabou por reconhece-
lo pela voz.
_ Ahh, que saco. Eles não conseguiram nem
perceber alguém como você em cima da casa. Você
não é uma ladina, né? Mesmo tendo uma boa
pontaria, se esconde terrivelmente ruim. O que
quer?
Enquanto conversavam, logo após cair, Takeo
começa a correr em direção a uma casa do seu lado,
e dá um pulo: tinha a intenção de fugir, e seria pelos
telhados. Porém, na mesma hora que pulou, a
Darcrays criou tentáculos de polvo no seu braço, que
cresceram por 6 metros e seguraram o ele no ar,
deixando seus braços livres, mas cobrindo seu torso e
suas armas visíveis.
_ Você não vai fugir! – “Merda, esse ladino é rápido,
não posso bobear se não vou perder ele”, pensou
Darcrays.
“Merda, é uma druida do Sol, não posso achar que
são totalmente idiotas”, pensou Takeo.
Ele levantou sua perna e se esforçou para pegar uma
adaga escondida em sua bota. Então, segurando-a,
levantou o dedo mínimo como um sinal de mão, que
fez com que sua adaga aumentasse sua lâmina, a
tornando uma espada curta, e a cravando num dos
tentáculos. “Tsc!”, Darcrays fechava a cara. “Isso não
é uma expressão de dor”, pensou Takeo. “Será que
ela não sente dor das partes criadas, ou... É por isso
que ela está bêbada?”
Ele cortou uma das pontas dos tentáculos. Isso não
seria o suficiente para alguém comum sair, mas ele
era um ágil ladino, e conseguiu se soltar e cair no
chão. “Ela tem um alcance, pelo o que eu conheço
dos druidas do Sol. E eu duvido que eles corram mais
que eu. Não tem jeito, terei que correr para a rua, e
despista-los lá.” E começou a correr.
_ Oskar, já sabe o que fazer! – gritou a Darcrays.
_ Pode deixar! – e sacou sua foice.
Enquanto isso, em cima da casa, a Pudym
conversava com o ladino misterioso.
_ Deku!? Por que anda com esses dois? E não fui eu
que amarrei um cara numa corda de ponta cabeça
sem motivo.
_ Eu nem ligaria para vocês, e eu nem te conheço.
Além de ladrões, são mentirosos. Se você se mexer,
ótimo, mortos não mentem.
_ Eu nem penso nisso – e soltou um sorriso.
Quando ele entendeu o que estava acontecendo, foi
tarde demais. O colar dela brilhou forte, muito forte,
e essa luz foi passada para o corpo dela, ficando com
uma forte luminosidade amarela, que cegou o ladino
que a imobilizava. Então, ela começou a fugir. Ou
melhor, tentou.
Um vento fortíssimo surgiu do beco pegando todos
de surpresa e sem dar tempo para qualquer reação,
puxando todos para o centro da ventania, incluindo o
Takeo, Darcrays, e quem estava em cima das casas,
além das tralhas do beco. Já o Oskar, bem, ele era o
centro do vento. Ele estava girando sua foice em
cima dele mesmo, criando um vendaval que puxou
tudo e todos para ele num raio de 18 metros de
todos os lados.
Foi um vento tão forte que quando foram puxados
ao anão, desmaiaram no impacto.
Parte II
_o que a gente tem que fazer aqui mesmo?

Perguntou Dingirsu a Nikolai. Os dois estavam numa


área menos movimentada da cidade, perto das
docas, com poucas pessoas perto. É uma área de
comercio, porém, com visitantes nobres de outras
regiões na cidade, o centro era um lugar mais
atrativo para negócios. Enquanto as regiões centrais
e leste (zona da principal entrada da cidade) lotavam,
os demais bairros esvaziavam.
Os dois estavam de braços cruzados, um ao lado do
outro no meio da rua, ambos olhando para um
grande galpão a frente. É um galpão velho de
madeira, mas conservado, com resistentes troncos
em sua composição, placas de aço tampando
quaisquer buracos, e sua única entrada aparente é
um portão de madeira de 7 metros de largura, com 4
metros de altura. Mesmo estando conservado,
parecia um lugar abandonado.
Nikolai olha para Dingirsu, e volta a olhar o galpão.
_ Todo bárbaro é burro assim?
_ Não sou burro, só quero ter certeza do que fazer.
Embora eu não ache que um paladino fracote
consiga me explicar – disse Dingirsu, com a face
serena.
_ Alguém consegue?
E ficam em silencio... Até que se encaram, fecham a
cara, e um segura o outro pela armadura perto do
pescoço com o braço, e falam ao mesmo tempo:
_ Continua me chamando de burro!?
_ Me chamou de fracote!?
E ficaram em silencio por um minuto, um encarando
o outro, aparentemente tentando se intimidar. E
então, Nikolai o solta.
_ Enfim, nós devemos... – e percebeu que os olhos
de Dingirsu estavam brilhando roxo, e concluiu que
ele estava em fúria.
Ao invés de soltar, segurou também com o outro
braço. Sem dar tempo de reação, girou Nikolai uma
vez, e o arremessou por 8 metros de distância, contra
o portão do galpão abandonado, e sua cabeça
quebrou e atravessou o portão. Os estilhaços de
madeira voaram, e um pouco de poeira subiu.
_ Opa, acho que exagerei – disse sorridente,
enquanto seus olhos param de brilhar.
Soltou um suspiro.
Ele anda calmamente em direção ao Nikolai, que
estava de vagar se recuperando, saindo de lá
agachado. “Ei, você tá b-”
Não conseguiu acabar de falar. Nikolai estava
agachado quando ele chegou perto, e aproveitou
para segura-lo pelos pés enquanto em um giro
repentino, e o jogou de lado contra o portão. A
batida foi tão forte, que o fez quebrar e atravessar o
portão, junto com pedaços de madeira estilhaçados e
muita poeira.
Lá dentro era escuro. Muito escuro. Até mais do que
o normal, mesmo para um lugar todo fechado.
Humanos não conseguiriam ver nada.
Dingirsu começa a levantar, se apoiando com os
braços no chão.
_ Que jogo sujo, hein.
_ Bem, agora estamos quites – disse enquanto tirava
a poeira de sua armadura.
Dingirsu se levanta, bate a mão na poeira de sua
armadura, e Nikolai vai ver através do buraco recém
feito, onde somente o lugar onde o bárbaro caiu era
visível, graças à luz de fora. Se encararam, e fizeram
um minuto de silencio, até falarem ao mesmo
tempo:
_ PERA, MAS NÃO ERA PARA SERMOS DISCRETOS?!
Era. Foi tarde demais. Começaram a ouvir passos em
cima do telhado do galpão. Qualquer um que
estivesse lá dentro estaria fugindo, junto com o
pacote que estavam guardando.
_ Já estou me preparando para ouvir um Onda
Trovejante da Pudym – disse Nikolai –. Ela vai dizer
“Tá brincando comigo, né? A missão de vocês era só
vigiar discretamente o galpão enquanto eu e o
Magius não estamos!”
_ Bem, nós não subiremos num telhado desse a
tempo, e aqui está escuro demais para procurarmos
por pistas. O melhor que temos a fazer é procurar
algum elfo para nos ajudar com sua visão no escuro,
de preferência que seja um bom rastreador.
_ Não conheço muitos assim, ao menos não de
confiança. Mas o Merlin parece perfeito pra situação.
_ O problema é que ele não vai ser fácil de
encontrar, e o Magius já foi procurar ele para ajudar
naquele assunto misterioso da Pudym.
_ Então?
Dingirsu pensou um pouco, e disse:
_ Bem tem uma pessoa que eu conheço, uma amiga.
Só não sei se você vai gostar muito dela.
_ Se ela pode nos ajudar, não importa. Mas por
curiosidade, por que eu não gostaria dela?
_ Eu te conto no caminho. Mas bem... Você gosta de
doces?
E então partiram até uma padaria especializada em
doces perto do centro, para encontrar Vilkia, uma
elfa bruxa.
Parte III
_ A hhh, que droga! Como eles esperam que eu
encontre o Merlin no meio da cidade? Acho que seria
mais fácil acha-lo na floresta fazendo absolutamente
nada ou regando uma planta do que num lugar como
esse – disse Magius com voz de cansaço, andando
pela praça central.
Era pouco mais de 11 horas. O centro estava mais
movimentado ainda, de modo que parecia impossível
não esbarrar em alguém hora ou outra. Alguns
comerciantes já partiram do local por ter seu estoque
acabado (ou suas moedas roubadas), mas são
substituídos por outros cheios de esperança de ter o
mesmo destino (ou de não ter). Os únicos locais de
comercio que estavam imóveis e que continuariam
assim são as lojas, inclusive, uma padaria, que atraiu
o aguçado olfato do elfo Magius. “Que delícia! Acho
que posso aproveitar o lugar antes de continuar”,
pensou, deixando de lado a cara de cansado e se
alegrando.
Foi seguindo o cheiro que sentiu de algo especial,
junto do cheiro de pães e doces que ficava mais forte
ao passo que andava. Até que virou uma esquina, e
chegou na frente de uma padaria requintada. Era
extremamente elegante com seus dois andares, uma
porta de madeira das savanas anãs com desenhos de
guloseimas talhados nela, um compacto, mas
colorido jardim nas laterais da porta e com uma
janela em cada lado. Tinha uma parede de pedra
polida, assim como o chão envolta da fachada. Dois
guardas estavam sempre de olho nessa loja
enquanto andavam por perto. Um ambiente assim só
costuma ser visto na área norte (parte mais rica da
cidade, mais perto da moradia da nobreza e do
castelo).
Sem perder tempo, ele abre a porta. É tão
organizada por dentro como por fora, com 10 metros
quadrados de espaço, 7 mesas, e uma bancada com
uma senhora de cabelos grisalhos nos seus 50 anos,
atendendo quem for ao balcão. Atrás dela também
tem algumas prateleiras, expondo os doces e pães lá
vendidos.
O cheiro de doces ia até a esquerda, na bancada.
Então... Magius seguiu reto e parou numa mesa, que
estava ocupada com uma só pessoa.
_ Humm, que cheiroso esse seu falcão, hein. Por
acaso você dá hidromel élfico pra ele?
_ Eu não, mas talvez a dona dele sim. A quanto
tempo, Magius.
_ A quanto tempo, Merlin – Merlin é um elfo druida.
Tem cabelos castanhos que vão até o pescoço, da
mesma cor dos seus olhos, notáveis orelhas
pontudas cortando seu cabelo, e em seu rosto,
passavam 3 listras de corante negro natural. Usava
uma capa marrom escuro, assim como suas luvas, e
tinha uma roupa de um carvalho com tom de verde.
Por mais que parecesse, nada que ele usava era feito
de couro. Qual era seu material? Sempre foi um
mistério.
_ Enfim, eu preciso de você agora. Mas antes disso,
onde conseguiu esse falcão?
_ Bom, é parte de uma história que tenho que
resolver agora, só quis comer algo antes, mas perdi a
fome. Vem comigo, sua ajuda seria bem-vinda. Daí
você explica o que quer comigo no caminho.
_ Ótimo, mas estou com uma fome... O falcão tá a
venda?
Fora da loja, pegaram um caminho em direção à
zona oeste, e saíram do centro.
_ Hum, entendo. Então a Pudym tem um assunto
urgente que envolve ela, a mim, esses tais de Nikolai
e Takeo – resumiu o que lhe foi explicado, enquanto
acariciava o falcão.
_ Exatamente. Nikolai é um paladino que nunca tira
seu capacete dourado, e Takeo é um ladino elfo de
cabelos negros e penteados pra trás. A Pudym você
já conhece.
_ Eu bem que tinha visto um paladino assim
chegando perto da padaria quando saímos, estava
junto com um cara de cabelo roxo. Mas achei que
não era nada, então nem te falei.
_ AHN? Sério? Eu nem notei isso, deve ser o Nikolai
e o Dingirsu.
_ Claro que não notou, você tava babando pra assar
esse falcão.
_ Heh, verdade. O cheiro desse hidromel é muito
bom. Sei que você não come carne por ser druida,
mas um frango assado agora seria ótimo, é quase
meio dia. Mas então, de quem é o falcão? E com o
que quer minha ajuda?
_ O falcão é de uma mulher chamada Darcrays, ela
está junto com um grupo e disse ter capturado o
ladrão que roubou um... vinho especial deles. Foi na
estrada de uma floresta, estavam vindo aqui para a
capital.
_ Você está no grupo deles? Chuto que não, ao
menos até a hora do roubo. Se estivesse junto,
conseguiria ter rastreado, ainda mais se fugiram pela
floresta. Tu que fala com o mato, e tal.
_ Não, não estava e nem estou. Somente devo um
favor a Darcrays, alias, ela também é uma druida. E
eu não falo com o mato, uso magia para me
comunicar com a natureza, sendo animais ou plantas.
_ Tá vendo? Fala com mato.
_ Vai cagar, Magius.
Parte IV
_ A Í, minha cabeça – disse Oskar, abrindo os
olhos após um tempo desmaiado. Estava com a
cabeça doendo, mas conseguia ver tudo a sua frente
com certa clareza. Estava tudo bagunçado, com
caixotes e pedaços de madeira jogados para todos os
lados, e um Sol de 11:30. Perto dele, estavam
também desmaiados o Deku, e... e somente ele.
Darcrays, Pudym e Takeo sumiram –. Ahh, que droga.
Justo quando pegamos o bandido. Dek...
_ Ei – disse Merlin atrás do Oskar, com Magius ao
lado dele.
Oskar arregalou os olhos de surpresa, levantou
totalmente, e se virou.
_ Oi – disse Magius, olhando para o anão com um
rosto curioso.
_ Oi – respondeu.
_ Seu nome?
_ Oskar. Seu nome?
_ Magius.
_ Legal.
_ Legal. Esse bandido... era um elfo?
_ Sim.
_ Cabelos?
_ Negros.
_ Pros lados?
_ Pra trás.
_ Manto?
_ E de couro.
_ Vermelho por dentro?
_ Mano?
_ Ahh, que saco, Oskar. Magius, esse é um dos
integrantes daquele grupo que te falei, Oskar, um
anão mago. O outro tá ali, fingindo que tá dormindo.
Deku, humano ladino.
_ Hm, entendi... Pera, um anão o que?
_ Levanta Deku – então, Merlin pega um pedaço de
madeira no chão, e lança na cabeça encapuzada dele.
_ ... Precisava disso, infeliz? – e vai se levantando,
até que quando em pé, tira o capuz do rosto.
Também tinha cabelos negros, mas curtos e meio
arrepiados, e parecia muito mais jovem do que era,
com a aparência de um adolescente. Usava uma
roupa de couro marrom escuro, e uma capa negra
com capuz.
_ COMO ASSIM FINGINDO!? – disse Oskar,
indignado.
_ Tsc, não grita não, anão.
_ Você – disse Magius –!? Você não é aquele cara
que me passou a perna nas apostas daquela primeira
quebra de braço do Dingirsu e o bêbado?
_ Eh... Eh – Deku fecha os olhos, vira a cara e começa
a espreguiçar.
“Grr”. Magius fica com um rosto furioso.
_ Enfim, o que aconteceu aqui, Deku – perguntou
Merlin –? E você não era só um membro temporário?
Pensei que já teria se separado.
_ Estou aqui ainda porque queria ver se esse ladrão
era algum rico roubável, até porque o vinho era algo
com um bom valor se souber vender. Mas parece
que não, era só outro ladino.
_ Pera, roubaram só vinho daquela carroça? –
perguntou Magius.
_ O que aconteceu foi que pegamos o bandido, mas
uma garota o salvou – começou a explicar Oskar...
Após a explicação acabar, as coisas se esclareceram
para Merlin, e até para o Magius.
_ Entendo. Vocês roubaram um vinho de um
mercador numa estrada secreta na floresta, mas
depois foram roubados por alguém. Então, pediram a
ajuda do Deku e do Merlin para rastreamento, visto
que eles deviam favores. Então, chegaram à
conclusão sem o Merlin de que era o meu amigo
Takeo que furtou vocês, então o prenderam e
chamaram o Merlin, mas acabaram deixando o Takeo
escapar, pois a Pudym os ajudou.
_ Então o nome dele era Takeos... – disse o anão.
_ É Takeo.
_ Mania minha.
_ Bem, o que fará agora, Deku – pergunta Merlin –?
Sua missão já foi feita, mas eu pretendo ajudar até o
fim.
_ Boa pergunta, mas... Não interessa – então, se vira
de costas e começa a andar para fora do beco –.
Adeus, de qualquer modo – disse levantando a mão.
_ Tsc, até hoje consegue ser chato até pra se
despedir. Magius, Oskar, vamos ter que rastrear a
Pudym e a Darcrays.
_ Para prender o bandido?
_ Não, Oskar – responde Magius –. Houve um
engano, não foi meu amigo que te roubou.
_ Vamos então falar isso pra Darcrays e pedir
desculpas para o não-bandido?
_ Também.
_ Tenho minhas dúvidas em relação a muita coisa. O
Deku é triste como pessoa, mas não é idiota – disse o
druida –. Oskar, explique no caminho porque acham
ser aquele elfo ladino.
_ Pode pás!
_ Vamos seguir o rastro deles então – disse Magius.
_ Já tem um rastro?
_ Bem, dessa vez até vai ser fácil – inspirou fundo –.
Esse cheiro de vinho não é lá dos mais fracos.
Parte V
_ V ocês esperam mesmo que eu os ajude assim só
porque vão me pagar uns doces!? – gritou uma elfa,
levantando e batendo as mãos na mesa que estava.
_ Eh... Sim? – disse Dingirsu, com Nikolai ao seu lado.
_ Tudo bem então.
_ Fácil assim? Por essa eu não esperava – disse
Nikolai.
Ela era uma elfa de aproximadamente 1,60 de
altura, com um chapéu pontudo de ponta caída,
como se quisesse mostrar ao mundo ser alguém que
usa magia. Tinha pele clara e olhos roxos, com uma
cicatriz na sobrancelha esquerda que ia até o olho.
Possuía um cabelo roxo azulado até o pescoço, e
usava um vestido curto negro, com mangas longas e
uma cinta, com um cajado nas costas. Sua mesa
estava repleta de doces.
_ Hã?! Tá me chamando de fácil? – bateu na mesa.
_ Que? Como assi... Ah, deixa pra lá. Ó Dingirsu, qual
é o nome dela mesmo?
_ Essa é a Kiazinha.
_ Ei, meu nome é Vilkia! Odeio sua mania de chamar
quem é menor no diminutivo – continuou gritando.
_ Hehe, Nikolaizinho.
_ É por 10 centímetros de diferença, infeliz.
“Grr”. Vilkia voltou sentar-se e cruzou os braços. As
poucas 10 pessoas nesse segundo andar nem sequer
se incomodavam com o barulho, como se já
estivessem acostumadas.
_ Então, vamos? – perguntou Dingirsu.
Ela mudou o tom e expressão, parecendo agora
séria, com um olhar firme e até assustador.
_ Sim, mas vocês me deverão um favor, que não
importa o que, vão cumprir, uma hora ou outra.
Ela e Dingirsu agora se olhavam diretamente nos
olhos.
_ “Vocês” não. Eu devo.
Dingirsu e Nikolai ficaram aliviados ao saírem do
meio da cidade. O centro estava terrivelmente cheio,
ainda mais nesse horário, onde as pessoas procuram
diversos lugares para almoçar.
Estavam a caminho do galpão de antes, quase
chegando. Mas nem todos estavam confortáveis
nessa viagem, ainda mais quem não é acostumado ao
barulho extremo da Vilkia.
_ Trá, lalá lalá, explosão! Explosão!
_ Pelos Céus, cala a boca garota! – indignou-se
Nikolai, com as mãos tentando tampar os ouvidos.
_ Eu avisei que poderia não gostar da ideia, então
aguenta aí – disse Dingirsu.
_ Ahh, vocês dois são muito chatos! Devia ter
deixado esse paladino em casa se ele não gosta de
música.
_ Eu gosto de uma BOA música. Mas não é por
canções horríveis assim que ele me avisou que eu
poderia não gostar da sua ajuda.
_ Hã? Sobre o que é então?
_ É porq...
_ EI! – ela cortou sua fala com um grito –. Minhas
canções não são horríveis, seu porco!
_ É porque você não é maga nem feiticeira, é uma
bruxa – disse Dingirsu.
Um vento forte começou assoviando em seus
ouvidos, ressoando no ar silêncio pairou no ar por
alguns momentos, e cada um voltou o olhar para a
frente com um olhar sério. Viraram num beco para
um atalho, estavam quase chegando. A região estava
vazia.
_ Eu não sou do mal, esse preconceito conosco é
idiota.
_ Não, não é – falou rapidamente Nikolai –. Magos
estudam a magia, feiticeiros possuem afinidade
desde o nascimento. Bruxas pegam emprestado o
poder de alguma entidade.
_ E?
_ Não se faça de tonta. Normalmente divindades
menores já conseguem emprestar poder e firmar um
pacto. E a grande maioria não escolhe bons deuses,
seres, seja lá o que for. O Príncipe do Abismo,
Tiamat, e essas monstruosidades são muito
escolhidas por vocês.
_ Nem todas escolhem seres malignos.
_ Mas a grande maioria escolhe! E sabe o que
acontece depois de um tempo. A alma da pessoa
serve de pagamento. Por isso parece algo tão
atrativo escolherem seres malignos, não tem um
preço a curto prazo, mas a alma da pessoa vai sendo
consumida aos poucos, até que... Bem, você sabe.
Dizem que por isso a maioria dos deuses bons não
aceitam mais serem patronos.
_ Mas ainda emprestam poder a vocês paladinos.
_ Para com isso, Nikolai – interveio Dinsirsu –. Ela
não tem um deus maligno, e é tão confiável para
mim como alguém do nosso grupo.
_ Quem é seu patrono então? – Nikolai questionou
curioso.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, e então
Vilkia olhou para o céu.
_ Vai saber.
Parte VI
“O lha, por essa eu não esperava... De novo”,
pensou Takeo, de cabeça para baixo no lado de fora
do quinto andar de uma estalagem de luxo, sendo
segurado por uma argola magica presa a parede.
Já era 13:00. Apesar das circunstâncias, a vista era
muito agradável. Era a área rica da cidade, as
magnificas muralhas do castelo não estavam longe.
As pessoas que andavam pelas ruas se vestiam muito
bem, e não havia um cidadão que não fosse um
humano. Guardas patrulhavam constantemente,
dificilmente faltando algum a cada rua. Por ser a
região norte, acaba se afastando do centro
comercial, então as aglomerações eram moderadas.
Estavam no grande hotel de luxo da região, Darcrays,
Pudym e Takeo no último andar tentando serem
discretos, só conseguindo por conta da altura.
Darcrays estava com um braço em forma de
tentáculo descendo Takeo até uma janela, mas quase
o deixa cair. A tempo, Pudym o segurou com uma
argola magica que rapidamente conjurou e prendeu
na parede.
As duas começaram a gritar sussurrando:
_ Puta merda Darcrays, quase que você o mata!
_ Óbvio, eu falei que nesse calor do inferno o
tentáculo não é forte!
_ Mas você disse que conseguiria!
_ Mas eu estava bêbada!
_ Você sempre tá bêbada caralh-
Enquanto discutiam, Takeo começou a agir. Ao lado
dele, havia uma janela ornamentada com bordas de
madeira élfica. “Bem, só tenho que ouvir essa
conversa e tentar ver alguma cosia. Só a Pudym
mesmo para querer investigar um grupo que acabou
de contrata-la. Quanta desconfiança. Mas por que
será que a druida se interessou mesmo? Elas
explicaram que eram amigas de infância, embora não
parem de brigar. Enfim”.
No canto superior da janela de vidro, colocou um
olho para espiar, e afinou ao máximo sua audição. Lá
dentro estavam os 5 homens de manto negro que
falaram com a Pudym na taverna, com seus capuzes
fazendo sombra nos seus rostos. Era um quarto que
eles aparentemente estão acostumados a usar. A
decoração era de um local reservado, tendo algumas
prateleiras cheia de livros e baús. Aparência refinada,
claramente um local de reuniões. Mas o que uma
guilda faria justo nesse lugar? Também havia uma
grande mesa retangular, com 8 cadeiras. Um dos
homens de preto sentava na ponta, com um braço
sobre a mesa apoiando o rosto. Aparentemente o
líder, e também foi quem deu a missão a Pudym. Os
demais estavam pelos lados, porém, Takeo
surpreendeu-se ao ver que na outra ponta, a mais
perto de si, estava um dos sargentos do exército do
Magistrado, com sua armadura dourada, capa
branca, espada de aço na cintura, e o elmo em cima
da mesa, onde havia pergaminhos abertos, e um
mapa da... capital dos elfos? Não estava muito visível
para o ladino.
_ Nosso trato não foi esse – disse o sargento –.
Vocês já deveriam ter executado aquele elfo a essa
altura. Podemos ter interferências indesejadas no
casamento.
_ Não se preocupe – começou o líder com um
sorriso cínico no rosto –. Vocês terão a cabeça dele
até o pôr do Sol.
_ Um Sol sangrento – disse um dos membros –.
Sabia que hoje será o grande dia? Hu hun. Dizem que
um pôr de Sol vermelho como o de hoje só acontece
uma vez a cada cem anos.
_ Meu rei sempre disse que a princesa é especial,
então nada mais justo.
_ É, nada mais justo.
O silencio pairou no ar, até que o sargento volta a
falar.
_ Enfim, acho que terminamos por hoj-
_ Sim, você terminaria – interviu o líder –, mas logo
em seguida mandaria um esquadrão de elite atrás de
nós. E não tente mentir para mim, poupe o que resta
do seu tempo. Um espião meu ouviu as ordens de
Ragnar caso não tivéssemos cumprido o acordo.
O sargento se levantou e sacou sua espada. Ao
mesmo tempo, todos os outros, exceto pelo líder,
levantaram e se prepararam. 2 deles sacando uma
arma. O outro somente levantou, virado para o
militar. E o outro rapidamente começou a conjurar
uma magia. Seus olhos brilharam amarelo,
pronunciou algumas palavras inaudíveis em voz
baixa, e então a porta brilhou da mesma cor. Estava
selada por magia.
_ Se quiser, fique à vontade para pular pela janela de
cinco andares – disse o líder, ainda sentado com a
mão no rosto.
“É, a coisa tá feia mesmo, espero que dê tempo de
salvarmos esse cara. Bom, hora do plano B”. Takeo
começou a mexer no seu bolso e pegou um spinovok,
um aparelho que permite com que duas pessoas
conversem a distância. Começou a sussurrar:
_ Ei, Pudym!
_ Sai com esses papos de que universidades são
inúteis pra lá Darc... Takeo? Que foi?
_ Hora do plano B.
_ Que diabo de plano B?
_ A coisa aqui tá bem feia, então só confia em mim.
Lembra daquela vez na estalagem perto de Yrden, da
vez que até o Levianir estava com a gente? Lembra
como fizemos pra acabar com aqueles caçadores?
_ Você tá louco? Não vou fazer isso de novo nunca
mais, muito menos no meio da capital!
_ Confia em mim – e então desligou.
Mas já era tarde demais para salvar o oficial.
_ São cinco contra um, mas não pense que vão sair
ilesos dessa – disse, segurando firmemente a espada
com uma mão enquanto pegava seu capacete na
mesa.
_ Ah, você está errado – disse o líder.
_ Não me subestime, vou ensinar uma lição a vocês
– estava acabando de colocar seu capacete.
_ Não lhe subestimo, mas não se trata de cinco
contra um.
Não percebeu a tempo. Só notou que havia mais
uma pessoa na sala enquanto a mesma já estava
atrás dele, com uma adaga em seu pescoço. Ele
estava invisível na sala, só se mostrando agora, e seu
elemento surpresa acabou com qualquer chance das
habilidades do soldado serem úteis no momento a
adaga abriu sua garganta. Suas mãos vão ao pescoço,
com seus olhos arregalados de dor, mas sem
conseguir sequer gritar. O sangue escorre pela
armadura e espira em cima da mesa. Ele se ajoelha,
até que cai sem vida no chão.
O homem invisível usava tinta roxa nos lábios e ao
redor dos olhos, e tinha uma pele pálida. Sorriu de
maneira psicótica quando o soldado caiu.
“Merda, isso não é brincadeira, tenho que tomar
cuidado. Mas bem, vamos lá.” E o céu começou a
escurecer.

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