PRÓLOGO “H oje será o casamento da princesa Tiela!” Não parava de repetir um guarda da realeza, que falava no topo de uma escada na praça central da cidade. “Todos estão convidados a ir assistir a festa de casamento! Será na Praça dos Lobos!” É um dia ensolarado, mas já bem de cheio. Já são cerca de nove horas, e o comércio estava a todo vapor. Homens e mulheres montavam e vendiam em suas barracas nas escadas da praça e por todas as ruas movimentadas da cidade, e jovens ajudavam a carregar e vender produtos em troca de algumas moedas. Além de ser o centro da capital, o casamento da princesa é no dia seguinte, e isso era um gancho para esse enorme movimento. Havia guardas patrulhando o lugar, pois a segurança foi muito aumentada, ao menos na área rica e média da cidade. Aqueles que estavam em patrulha na praça não paravam de secar o suor que escoria pelos seus rostos. Estava quente, e a quantidade de pessoas não ajudava a diminuir essa sensação. Para isso, constantemente tiravam o capacete e passavam a gola de suas roupas dentro de suas armaduras de metal no rosto, se distraindo, e uma garota sagaz se aproveitou disso. Um homem estava vendendo frutas de inverno, que eram raras nessa época do ano. Ele era um senhor gordo, com cabelos já brancos, mas arrumados e engomados, sem perder sua postura. Era uma barraca de madeira, e tinha dois ajudantes adolescentes com roupas brancas meio rasgadas, provavelmente filhos ajudando para ganhar algumas moedas. A barraca estava encostada nas construções da estrada, com somente um pequeno beco próximo. Ele estava tendo um ótimo lucro, e não parava de falar aos seus subordinados: _ Se algum nobre passar aqui, acho que será nosso dia de sorte – Falava sempre baixo com eles –. Vamos, seus trapalhões, arrumem tudo não esqueçam de pôr o dinheiro no lugar! Enquanto vendiam suas frutas, lá estava ela, uma garotinha, escondida no estreito beco, próximo a tenda. Estava com roupas esfarrapadas, entre os barris que lá estavam. Respirou fundo, e começou a andar, agachada, e com olhos atentos ao dono e seus ajudantes, mas olhando também para os sacos de dinheiro. Havia três bolsas de dinheiro, onde cada um colocava de suas vendas. Ela encontrou o menos protegido. Um guarda não saia de perto da tenda, talvez por achar que lá era um fácil e lucrativo alvo dentre tantos, ou talvez por amizade ou contrato para com o dono da tenda. A garota se prepara, e fica o mais próximo que pode sem ser notada, agachada atrás do barril mais próximo, e quando o guarda tira o capacete, e puxa a gola para secar seu notável suor, ela não perde tempo. Vai agachada, mas veloz, e como um gato, passou entre os ajudantes agachada, e saiu rapidamente. O ajudante agradeceu o homem que acabara de comprar algumas uvas, e quando foi guardar o dinheiro... _ Pai, onde está o saco do dinheiro da minha parte? Olhando para trás e confuso, o senhor viu aquela garota, com um saco de couro pesado, da metade do tamanho dela, entrando no beco numa velocidade que parecia desconsiderar o peso extra. Ele arregala os olhos e range os dentes de raiva, e vira o olhar ao guarda que acabou de recolocar o capacete. _ Ei guarda, o que está fazendo!? Aquela pirralha roubou meu dinheiro, pegue ela! _ Na verdade foi meu dinheiro, pai. _ E você fique calado! O guarda se apressou, e correu aos becos. A garota já estava muito a frente, mas o guarda não desistiu. Correndo pelos becos, a garota claramente mostrou- se mais ágil, enquanto o guarda, de armadura, corria derrubando barris e tropeçando em tralhas. Quando finalmente o guarda saiu do beco, deu de cara com uma rua. Olhou pros lados, e nada encontrou, além de pessoas andando e olhando com estranheza. O guarda talvez até pensou em pedir ajuda, porém ficou com vergonha de dizer que uma garotinha o despistou. _ Tsc, que merda! A garotinha já estava em outro beco mais escuro, agora andando e resmungando baixo para ela mesma, até que chegou na metade dele. Secou com a mão uma gota de suor que lhe descia o rosto, e olhou para a parede de pedra que estava intacta. Olhou também para os lados, e não tinha a atenção de ninguém. Era uma parede rustica, com relevos das pedras cinzas que a fizeram. A garota tocou numa pedra com a mão, e a empurrou, e então, puxou outra. Aquilo que parecia uma parede se abriu pesadamente, mas silenciosamente, e revelou uma pequena escadaria. No mesmo instante que foi aberta, começou a ouvir-se um barulho. Música era tocada, pessoas gritavam e conversavam, e o cheiro de cerveja, vinho e carne subiu ao ar. Ela entrou, e a porta se fechou sozinha, lentamente. É uma escadaria de madeira, com as paredes de pedra cinza escuro, mais escuras do que a porta. Eram sete degraus, e a cada um que ela descia, o chão ia rangendo, e a bolsa de dinheiro ia chacoalhando as moedas, mas o barulho de dentro mal a deixava ouvir esse detalhe. Quando desceu a escada, recebeu uma imagem de uma enorme taverna, movimentada e muito bem iluminada, com tochas em suportes de ferro nas rusticas paredes de pedra cinza escuro, que combinavam com o chão de madeira de pinheiro. Havia muitas mesas, feitas de madeira carvalho, e uma bancada, do mesmo material, no lado direito da taverna, que pegava de ponta a ponta. Um barbudo anão estava nessa bancada, o que indicava que dentro da bancada, o chão é mais alto. Havia todo tipo de bebida, e ele às vezes até quebrava o ditado sobre não usar a própria mercadoria. A garota caminhou entre as mesas, desviando das pessoas que passavam. Estava cheio, sem uma mesa vazia, e pessoas de todos os tipos estavam lá. Porém, todas tinham uma coisa em comum: eram todos criminosos... ou quase. Ladinos profissionais, mercenários, meros ladrões e guildas inteiras. Por ser um local grande, escondido no subterrâneo, e com difícil conhecimento - ao menos de como entrar e de onde exatamente se localiza -, é um local perfeito para essas pessoas, embora nem todos sejam humanos. Há um notável grupo de tieflings de pele vermelha na parte esquerda da sala, uma pequena guilda de ladrões. Também há alguns elfos, anões e um meio- orc. E aquele que realmente não tem como não notar, um elfo bardo, que não parava de tocar seu alaúde. De estatura normal, tem cabelos negros caídos pelos lados e bem arrepiados atrás, com suas notáveis orelhas pontudas passando pelos cabelos. Usa uma roupa simples, com uma leve armadura de couro e suas botas de couro élfico. Estava em cima de uma mesa cantando, e todos em volta da mesa estavam contentes com sua música, levantando seus copos de cerveja e aplaudindo-o. Nem todos o entendiam, mas ele realmente passava o sentimento que queria passar com a música, seja de alegria ou comoção. O motivo pelo qual o diferenciava era o mesmo do qual fazia com que nem todos o entendessem, pois ele cantava em élfico antigo, e poucos humanos dominam tão bem essa linguagem complexa o suficiente para entender o que ele fala. A garota, com suas roupas esfarrapadas, continuou caminhando até uma mesa que já tinha olhado desde que chegou, e parou em frente a ela. Jogou a bolsa de dinheiro em cima da mesa, e quase derrubou os copos de cerveja e o porco assado que lá estava. Ao ver a cena da pequena menina, o bardo acabou sua música. Ele deu uma risada baixa, e pulou da mesa onde estava, e se dirigiu até a garota, muito habilmente, e deixou o grupo pelo qual cantava gritando de felicidade, mesmo que talvez fosse por estarem bêbados demais. _ Eu ainda não acredito que me convenceram a fazer isso – disse a garota, com a cara emburrada. _ Hun, nem eu – respondeu a única pessoa da mesa. Era um homem forte de quase 2 metros, usava uma armadura de placas de metal douradas com toques de negro, uma bainha negra para sua espada na cintura, além de seu dourado capacete que nunca tirava. Mesmo seu grupo nunca o viu sem capacete. _ Anda Nikolai, cadê o Takeo? Já era pra ele ter chegado. E o Dingirsu? Também sumiu? _ O Takeo foi confirmar alguma coisa com alguns negociantes. Provavelmente para conseguir vender aquela lança que achamos. Já o Dingirsu... _ Pudinzinho! - Enquanto conversavam, o elfo bardo se aproximou e cortou a conversa – Parece que esse tamanho te ajudou a se disfarçar! Claro, não que teve grande diferen- E sua fala foi cortada com um soco da garota na lateral de sua barriga. _ Eu já te disse pra não me chamar assim! – o bardo curvou seu corpo enquanto deu uma tosse, e a garota começou estranhamente a crescer, e suas roupas a mudarem. Se transformou em uma garota jovem, com seus 19 anos, de estatura mediana de pouco mais de 1 metro e meio, com orelhas indicando ser uma meia-elfa. Tem um tom de pele puxado para o moreno, e possui longos cabelos prateados, que chegam até a metade de suas costas, além de olhos de um cinza profundo. Usa uma armadura e calça de couro batido escuro, junto com um vestido sem mangas, curto na frente, mas até os pés atrás, e também carrega seu precioso amuleto dourado em seu pescoço – Da próxima vai ser no rosto, Magius. _ Aí, meu emprego – disse depois de dar outra tosse –. Bem, de qualquer forma, isso aí que você trouxe deve pagar o que devemos. _Com certeza. Mas agora só não podemos fazer mais estrago aqui. Já demos azar do nosso último monstro ter algo tão incomum pra venda imediata, ainda bem que o Takeo é bom em lidar com essas coisas. Mas Nikolai, onde você disse que o Dingirsu estava mesmo? _ Acho que... Oh, céus. Ali – e aponta para o meio da taverna. E lá estava ele, disputando um braço de ferro com um bêbado e chamando atenção na taverna. _ Ahn? – disse Dingirsu com o braço tremendo e sorrindo – É só isso que você tem? – Ele é um homem alto de 2 metros de altura, com notáveis e inconfundíveis cabelos roxos, nada magro e forte, mas também nada exagerado para seu tamanho, junto com sua meia armadura e uma longa e pesada espada que leva nas costas, com dois terços do seu próprio tamanho. _ Olha pro seu braço, idiota, certeza que não tá com frio? – disse o bêbado, com roupa comum de um camponês, e com o braço tremendo..., mas sorrindo de bebida. A garota colocou a mão no rosto. _ Que idiota, meu Deus... Ainda bem que vocês dois sabem se control- Olhando de novo, notou que o Magius, o bardo, e o Nikolai, sumiram. E uma música começou a tocar, enquanto o Magius falava e o Nikolai abria uma bolsa. _ Isso mesmo, quem será que ganha essa? Acho que seria dinheiro fácil, hein? As apostas são aqui com o cara de armadura! E diz o Nikolai: _ E eu sou o cara de armadura! Então, a garota se senta na mesa e se vira de costas. “Que bando de idiotas...”, pensou. E começou a beber uma caneca de cerveja que já estava na mesa. _ O que vocês querem? – disse ela, ao notar que um grupo de pessoas com manto negro pararam atrás dela. Uma dessas pessoas se dirige a uma cadeira, e se senta. Fazem 1 minuto de silencio. Seu rosto parece impossível de ser visto por pessoas normais..., mas ela tem a visão dos elfos. Ela olhou para ele, e então voltou a olhar pro seu copo de cerveja na mesa. _ Senhorita Pudym, a clériga e líder do grupo que matou o Bharlock em seu próprio terreno. Prazer em conhece-la. _ Sabe até demais sobre mim – disse ainda olhando para baixo com rosto de desinteresse. _ E é justamente por isso que eu vim falar com você. Eu tenho um serviço. _ Não estamos disponíveis no momento, tente novamente mais tarde. _ Mas tenho certeza de que se interessa por isso. Então, mostrou um pergaminho, com um selo de cera que havia um peculiar símbolo, de uma orelha pontuda com uma espada cruzada. Ela levanta o olhar e firma sua voz. _ O que sabe sobre essa guilda? _ Saberá o que eu sei a partir do momento que me recuperar uma carga. E talvez, por que não... ter acesso a essa carta? _ Fechado. Qual o serviço? _ Olha! Isso foi mais rápido do que eu pensava – disse surpreso. _ Certas coisas me são prioridade, e prioridade de alguns do grupo. Agora desembucha e fala o serviço. _ Direto ao ponto? Pois bem. Há uma carga num caixote, que preciso que recuperem a mim. Essa carga sai hoje de um deposito abandonado, às 19 horas. Preciso que recuperem a mim, de preferência discretamente, e me entreguem da antiga revendedora de peixes principal abandonada. Preciso dela até as 17 horas. Devido ao casamento da princesa, a rua estará cheia de guardas, e será impossível pegar a encomenda sem chamar atenção depois desse horário. Não quero que saibam do conteúdo, de forma nenhuma, e nem que chegue danificado. É uma caixa com um X cruzado em todos os lados com cheiro de amônia. Seu grupo tem muitos elfos, logo, muitos que enxergam no escuro. Vão precisar. Ela então se levanta e pega seu saco de dinheiro, e se dirige ao seu grupo, deixando os encapuzados para trás. E então, teve a visão de uma mesa rachada ao meio no chão, o Dingirsu e o bêbado caídos e respirando forte, e o Nikolai com uma bolsa cheia de dinheiro sem saber o que fazer. _ Nikolai, Dingirsu, Magius. Preciso de um favor. Capítulo 1: O Começo do Fim A desordem é uma condição abominável. É preciso de força para controlar a calamidade da desunião. Anões ao sul, elfos ao norte, uma ilha de orcs, sedentos para chegarem ao continente, e tudo isso fora a quantidade imensurável de monstros. Nós humanos estávamos no centro disso tudo a 300 anos atrás. Deve ser ressaltado que não considero como humanos o Povo de Gelo, que são governados a eras pelos piores necromantes que o mundo já viu. Mas provamos nossa força. Nossa capacidade de organização. Nossa versatilidade. Nossa bravura. Formamos o Magistrado, que mais tarde se tornaria a maior potência militar que o mundo já viu. E, como em todo império, um líder estava no comando. Mas esse foi o maior de todos, o homem que mais mereceu o respeito de todas as raças até hoje. Ele era Udräzimo, o Fundador e o Primeiro Comandante do Magistrado. Unindo suas forças, convencendo e persuadindo as tribos humanas com coragem e firmeza, expulsaram os maiores perigos monstruosos do centro do continente, o que fez o Magistrado prosperar e se fortificar. Então, ajudou tanto os anões quanto os elfos, expulsando os perigos dessas regiões com uma aliança que ficou conhecida até hoje como Os Três Impérios, com os humanos centrais, anões e elfos. Negociaram suas independências, formalizaram um acordo de não agressão entre os nórdicos, e fecharam a Ilha Orc com um punho de ferro... E com isso, os humanos iniciaram o que seria o maior reino e capital do mundo conhecido, formado unicamente por humanos para manter seu orgulho e origem: O Magistrado. Esse foi o nosso eterno rei, que viveu a 300 anos atrás. O Rei Udräzimo I, o Líder Continental.
_ Ragnar, Comandante Supremo das Tropas do
Magistrado. Trecho retirado de seu livro, “A História do Continente”. Parte I _ B em... Como foi mesmo que eu fui parar aqui? – disse Takeo, de ponta cabeça amarrado numa corda. Ele estava no meio de um beco espaçoso, com 7 metros de largura, a céu aberto e com muitas tralhas ao redor: barris de lixo, caixotes, e outras bugigangas. Está amarrado pelos pés a 2 metros do chão, com a corda amarrada em uma tabua de madeira que cruzava uma casa a outra. Está quente, são 11 horas da manhã, mas não havia movimento no beco, somente nas ruas em que se ligava. Qualquer um na rua que conseguisse perceber o que ocorria no beco, simplesmente ignorava, evitando problemas. O lugar está vazio, exceto pelo Takeo... E outras 3 pessoas extremamente curiosas: Um anão com chapéu de mago, uma mulher bêbada com um falcão no ombro, e um homem de manto negro, que parecia extremamente aborrecido... com seu próprio grupo. _ HAHA! – disse a mulher apontando para o Takeo e sorrindo – Sabia que esse aí seria fácil. Agora é só meu falcão ir chamar o Merlin! Vai lá, garoto! – é um lindo falcão marrom de penas douradas na ponta das asas, que gritou, bateu as asas e levantou voo. “Que merda é essa?”, pensou o Takeo. “Quem são esse bando de idiotas?” _ Darcrays... – disse o homem de manto negro, com a cabeça meio inclinada para baixo, o que escondia o seu olhar. _ Wa hahaha! Você é nosso, seu ladrão de vinhos! – disse o anão, que começou a se aproximar dele. Takeo é um elfo, de cabelos tão negros quanto seus olhos, lisos e penteados para trás. De estatura média, usa um manto negro, com calças e bota de um couro élfico marrom escuro. Dentro de seu manto, era de coloração vermelha, o que ficou notável por estar de cabeça para baixo. _ Oskar... – disse o homem de manto negro, agora mostrando seu olhar irritado em direção ao anão. “Qual desses... Será que é o mais louco? Esse zé ruela que não para de falar o nome dos seus “amigos”, essa é a mulher com maior cheiro de bebida que eu já vi, e... que diabos é isso? Um anão mago com uma foice? Tenho que sair daqui...” _ Ehh... O que exatamente está acontecendo aqui? Será que poderiam me desamarrar? _ Não se finjas de bestas! – Disse o anão parado apontando o dedo para ele – Nos roubastes e ainda dizes istos? _ ... Bando de malucos. Nesse momento, de cima de alguma casa, uma adaga é arremessada e corta a corda que o prendia. “Atrasada”, pensou, como se já soubesse o que iria acontecer. Após a corda ser cortada, ele pousa no chão com muita destreza. Oskar, o anão e Darcrays, a bêbada, fazem uma cara de espanto, e o homem de preto... some completamente. “Isso!”, pensou Pudym, de cima de uma casa. “Agora ele vai conseguir fugir, e então vai poder me ajud...” Quando começou a se virar para sair do lugar, sentiu a ponta de uma espada curta no seu pescoço. Virando seu rosto para o canto, viu que havia alguém de manto negro atrás dela, e acabou por reconhece- lo pela voz. _ Ahh, que saco. Eles não conseguiram nem perceber alguém como você em cima da casa. Você não é uma ladina, né? Mesmo tendo uma boa pontaria, se esconde terrivelmente ruim. O que quer? Enquanto conversavam, logo após cair, Takeo começa a correr em direção a uma casa do seu lado, e dá um pulo: tinha a intenção de fugir, e seria pelos telhados. Porém, na mesma hora que pulou, a Darcrays criou tentáculos de polvo no seu braço, que cresceram por 6 metros e seguraram o ele no ar, deixando seus braços livres, mas cobrindo seu torso e suas armas visíveis. _ Você não vai fugir! – “Merda, esse ladino é rápido, não posso bobear se não vou perder ele”, pensou Darcrays. “Merda, é uma druida do Sol, não posso achar que são totalmente idiotas”, pensou Takeo. Ele levantou sua perna e se esforçou para pegar uma adaga escondida em sua bota. Então, segurando-a, levantou o dedo mínimo como um sinal de mão, que fez com que sua adaga aumentasse sua lâmina, a tornando uma espada curta, e a cravando num dos tentáculos. “Tsc!”, Darcrays fechava a cara. “Isso não é uma expressão de dor”, pensou Takeo. “Será que ela não sente dor das partes criadas, ou... É por isso que ela está bêbada?” Ele cortou uma das pontas dos tentáculos. Isso não seria o suficiente para alguém comum sair, mas ele era um ágil ladino, e conseguiu se soltar e cair no chão. “Ela tem um alcance, pelo o que eu conheço dos druidas do Sol. E eu duvido que eles corram mais que eu. Não tem jeito, terei que correr para a rua, e despista-los lá.” E começou a correr. _ Oskar, já sabe o que fazer! – gritou a Darcrays. _ Pode deixar! – e sacou sua foice. Enquanto isso, em cima da casa, a Pudym conversava com o ladino misterioso. _ Deku!? Por que anda com esses dois? E não fui eu que amarrei um cara numa corda de ponta cabeça sem motivo. _ Eu nem ligaria para vocês, e eu nem te conheço. Além de ladrões, são mentirosos. Se você se mexer, ótimo, mortos não mentem. _ Eu nem penso nisso – e soltou um sorriso. Quando ele entendeu o que estava acontecendo, foi tarde demais. O colar dela brilhou forte, muito forte, e essa luz foi passada para o corpo dela, ficando com uma forte luminosidade amarela, que cegou o ladino que a imobilizava. Então, ela começou a fugir. Ou melhor, tentou. Um vento fortíssimo surgiu do beco pegando todos de surpresa e sem dar tempo para qualquer reação, puxando todos para o centro da ventania, incluindo o Takeo, Darcrays, e quem estava em cima das casas, além das tralhas do beco. Já o Oskar, bem, ele era o centro do vento. Ele estava girando sua foice em cima dele mesmo, criando um vendaval que puxou tudo e todos para ele num raio de 18 metros de todos os lados. Foi um vento tão forte que quando foram puxados ao anão, desmaiaram no impacto. Parte II _o que a gente tem que fazer aqui mesmo?
Perguntou Dingirsu a Nikolai. Os dois estavam numa
área menos movimentada da cidade, perto das docas, com poucas pessoas perto. É uma área de comercio, porém, com visitantes nobres de outras regiões na cidade, o centro era um lugar mais atrativo para negócios. Enquanto as regiões centrais e leste (zona da principal entrada da cidade) lotavam, os demais bairros esvaziavam. Os dois estavam de braços cruzados, um ao lado do outro no meio da rua, ambos olhando para um grande galpão a frente. É um galpão velho de madeira, mas conservado, com resistentes troncos em sua composição, placas de aço tampando quaisquer buracos, e sua única entrada aparente é um portão de madeira de 7 metros de largura, com 4 metros de altura. Mesmo estando conservado, parecia um lugar abandonado. Nikolai olha para Dingirsu, e volta a olhar o galpão. _ Todo bárbaro é burro assim? _ Não sou burro, só quero ter certeza do que fazer. Embora eu não ache que um paladino fracote consiga me explicar – disse Dingirsu, com a face serena. _ Alguém consegue? E ficam em silencio... Até que se encaram, fecham a cara, e um segura o outro pela armadura perto do pescoço com o braço, e falam ao mesmo tempo: _ Continua me chamando de burro!? _ Me chamou de fracote!? E ficaram em silencio por um minuto, um encarando o outro, aparentemente tentando se intimidar. E então, Nikolai o solta. _ Enfim, nós devemos... – e percebeu que os olhos de Dingirsu estavam brilhando roxo, e concluiu que ele estava em fúria. Ao invés de soltar, segurou também com o outro braço. Sem dar tempo de reação, girou Nikolai uma vez, e o arremessou por 8 metros de distância, contra o portão do galpão abandonado, e sua cabeça quebrou e atravessou o portão. Os estilhaços de madeira voaram, e um pouco de poeira subiu. _ Opa, acho que exagerei – disse sorridente, enquanto seus olhos param de brilhar. Soltou um suspiro. Ele anda calmamente em direção ao Nikolai, que estava de vagar se recuperando, saindo de lá agachado. “Ei, você tá b-” Não conseguiu acabar de falar. Nikolai estava agachado quando ele chegou perto, e aproveitou para segura-lo pelos pés enquanto em um giro repentino, e o jogou de lado contra o portão. A batida foi tão forte, que o fez quebrar e atravessar o portão, junto com pedaços de madeira estilhaçados e muita poeira. Lá dentro era escuro. Muito escuro. Até mais do que o normal, mesmo para um lugar todo fechado. Humanos não conseguiriam ver nada. Dingirsu começa a levantar, se apoiando com os braços no chão. _ Que jogo sujo, hein. _ Bem, agora estamos quites – disse enquanto tirava a poeira de sua armadura. Dingirsu se levanta, bate a mão na poeira de sua armadura, e Nikolai vai ver através do buraco recém feito, onde somente o lugar onde o bárbaro caiu era visível, graças à luz de fora. Se encararam, e fizeram um minuto de silencio, até falarem ao mesmo tempo: _ PERA, MAS NÃO ERA PARA SERMOS DISCRETOS?! Era. Foi tarde demais. Começaram a ouvir passos em cima do telhado do galpão. Qualquer um que estivesse lá dentro estaria fugindo, junto com o pacote que estavam guardando. _ Já estou me preparando para ouvir um Onda Trovejante da Pudym – disse Nikolai –. Ela vai dizer “Tá brincando comigo, né? A missão de vocês era só vigiar discretamente o galpão enquanto eu e o Magius não estamos!” _ Bem, nós não subiremos num telhado desse a tempo, e aqui está escuro demais para procurarmos por pistas. O melhor que temos a fazer é procurar algum elfo para nos ajudar com sua visão no escuro, de preferência que seja um bom rastreador. _ Não conheço muitos assim, ao menos não de confiança. Mas o Merlin parece perfeito pra situação. _ O problema é que ele não vai ser fácil de encontrar, e o Magius já foi procurar ele para ajudar naquele assunto misterioso da Pudym. _ Então? Dingirsu pensou um pouco, e disse: _ Bem tem uma pessoa que eu conheço, uma amiga. Só não sei se você vai gostar muito dela. _ Se ela pode nos ajudar, não importa. Mas por curiosidade, por que eu não gostaria dela? _ Eu te conto no caminho. Mas bem... Você gosta de doces? E então partiram até uma padaria especializada em doces perto do centro, para encontrar Vilkia, uma elfa bruxa. Parte III _ A hhh, que droga! Como eles esperam que eu encontre o Merlin no meio da cidade? Acho que seria mais fácil acha-lo na floresta fazendo absolutamente nada ou regando uma planta do que num lugar como esse – disse Magius com voz de cansaço, andando pela praça central. Era pouco mais de 11 horas. O centro estava mais movimentado ainda, de modo que parecia impossível não esbarrar em alguém hora ou outra. Alguns comerciantes já partiram do local por ter seu estoque acabado (ou suas moedas roubadas), mas são substituídos por outros cheios de esperança de ter o mesmo destino (ou de não ter). Os únicos locais de comercio que estavam imóveis e que continuariam assim são as lojas, inclusive, uma padaria, que atraiu o aguçado olfato do elfo Magius. “Que delícia! Acho que posso aproveitar o lugar antes de continuar”, pensou, deixando de lado a cara de cansado e se alegrando. Foi seguindo o cheiro que sentiu de algo especial, junto do cheiro de pães e doces que ficava mais forte ao passo que andava. Até que virou uma esquina, e chegou na frente de uma padaria requintada. Era extremamente elegante com seus dois andares, uma porta de madeira das savanas anãs com desenhos de guloseimas talhados nela, um compacto, mas colorido jardim nas laterais da porta e com uma janela em cada lado. Tinha uma parede de pedra polida, assim como o chão envolta da fachada. Dois guardas estavam sempre de olho nessa loja enquanto andavam por perto. Um ambiente assim só costuma ser visto na área norte (parte mais rica da cidade, mais perto da moradia da nobreza e do castelo). Sem perder tempo, ele abre a porta. É tão organizada por dentro como por fora, com 10 metros quadrados de espaço, 7 mesas, e uma bancada com uma senhora de cabelos grisalhos nos seus 50 anos, atendendo quem for ao balcão. Atrás dela também tem algumas prateleiras, expondo os doces e pães lá vendidos. O cheiro de doces ia até a esquerda, na bancada. Então... Magius seguiu reto e parou numa mesa, que estava ocupada com uma só pessoa. _ Humm, que cheiroso esse seu falcão, hein. Por acaso você dá hidromel élfico pra ele? _ Eu não, mas talvez a dona dele sim. A quanto tempo, Magius. _ A quanto tempo, Merlin – Merlin é um elfo druida. Tem cabelos castanhos que vão até o pescoço, da mesma cor dos seus olhos, notáveis orelhas pontudas cortando seu cabelo, e em seu rosto, passavam 3 listras de corante negro natural. Usava uma capa marrom escuro, assim como suas luvas, e tinha uma roupa de um carvalho com tom de verde. Por mais que parecesse, nada que ele usava era feito de couro. Qual era seu material? Sempre foi um mistério. _ Enfim, eu preciso de você agora. Mas antes disso, onde conseguiu esse falcão? _ Bom, é parte de uma história que tenho que resolver agora, só quis comer algo antes, mas perdi a fome. Vem comigo, sua ajuda seria bem-vinda. Daí você explica o que quer comigo no caminho. _ Ótimo, mas estou com uma fome... O falcão tá a venda? Fora da loja, pegaram um caminho em direção à zona oeste, e saíram do centro. _ Hum, entendo. Então a Pudym tem um assunto urgente que envolve ela, a mim, esses tais de Nikolai e Takeo – resumiu o que lhe foi explicado, enquanto acariciava o falcão. _ Exatamente. Nikolai é um paladino que nunca tira seu capacete dourado, e Takeo é um ladino elfo de cabelos negros e penteados pra trás. A Pudym você já conhece. _ Eu bem que tinha visto um paladino assim chegando perto da padaria quando saímos, estava junto com um cara de cabelo roxo. Mas achei que não era nada, então nem te falei. _ AHN? Sério? Eu nem notei isso, deve ser o Nikolai e o Dingirsu. _ Claro que não notou, você tava babando pra assar esse falcão. _ Heh, verdade. O cheiro desse hidromel é muito bom. Sei que você não come carne por ser druida, mas um frango assado agora seria ótimo, é quase meio dia. Mas então, de quem é o falcão? E com o que quer minha ajuda? _ O falcão é de uma mulher chamada Darcrays, ela está junto com um grupo e disse ter capturado o ladrão que roubou um... vinho especial deles. Foi na estrada de uma floresta, estavam vindo aqui para a capital. _ Você está no grupo deles? Chuto que não, ao menos até a hora do roubo. Se estivesse junto, conseguiria ter rastreado, ainda mais se fugiram pela floresta. Tu que fala com o mato, e tal. _ Não, não estava e nem estou. Somente devo um favor a Darcrays, alias, ela também é uma druida. E eu não falo com o mato, uso magia para me comunicar com a natureza, sendo animais ou plantas. _ Tá vendo? Fala com mato. _ Vai cagar, Magius. Parte IV _ A Í, minha cabeça – disse Oskar, abrindo os olhos após um tempo desmaiado. Estava com a cabeça doendo, mas conseguia ver tudo a sua frente com certa clareza. Estava tudo bagunçado, com caixotes e pedaços de madeira jogados para todos os lados, e um Sol de 11:30. Perto dele, estavam também desmaiados o Deku, e... e somente ele. Darcrays, Pudym e Takeo sumiram –. Ahh, que droga. Justo quando pegamos o bandido. Dek... _ Ei – disse Merlin atrás do Oskar, com Magius ao lado dele. Oskar arregalou os olhos de surpresa, levantou totalmente, e se virou. _ Oi – disse Magius, olhando para o anão com um rosto curioso. _ Oi – respondeu. _ Seu nome? _ Oskar. Seu nome? _ Magius. _ Legal. _ Legal. Esse bandido... era um elfo? _ Sim. _ Cabelos? _ Negros. _ Pros lados? _ Pra trás. _ Manto? _ E de couro. _ Vermelho por dentro? _ Mano? _ Ahh, que saco, Oskar. Magius, esse é um dos integrantes daquele grupo que te falei, Oskar, um anão mago. O outro tá ali, fingindo que tá dormindo. Deku, humano ladino. _ Hm, entendi... Pera, um anão o que? _ Levanta Deku – então, Merlin pega um pedaço de madeira no chão, e lança na cabeça encapuzada dele. _ ... Precisava disso, infeliz? – e vai se levantando, até que quando em pé, tira o capuz do rosto. Também tinha cabelos negros, mas curtos e meio arrepiados, e parecia muito mais jovem do que era, com a aparência de um adolescente. Usava uma roupa de couro marrom escuro, e uma capa negra com capuz. _ COMO ASSIM FINGINDO!? – disse Oskar, indignado. _ Tsc, não grita não, anão. _ Você – disse Magius –!? Você não é aquele cara que me passou a perna nas apostas daquela primeira quebra de braço do Dingirsu e o bêbado? _ Eh... Eh – Deku fecha os olhos, vira a cara e começa a espreguiçar. “Grr”. Magius fica com um rosto furioso. _ Enfim, o que aconteceu aqui, Deku – perguntou Merlin –? E você não era só um membro temporário? Pensei que já teria se separado. _ Estou aqui ainda porque queria ver se esse ladrão era algum rico roubável, até porque o vinho era algo com um bom valor se souber vender. Mas parece que não, era só outro ladino. _ Pera, roubaram só vinho daquela carroça? – perguntou Magius. _ O que aconteceu foi que pegamos o bandido, mas uma garota o salvou – começou a explicar Oskar... Após a explicação acabar, as coisas se esclareceram para Merlin, e até para o Magius. _ Entendo. Vocês roubaram um vinho de um mercador numa estrada secreta na floresta, mas depois foram roubados por alguém. Então, pediram a ajuda do Deku e do Merlin para rastreamento, visto que eles deviam favores. Então, chegaram à conclusão sem o Merlin de que era o meu amigo Takeo que furtou vocês, então o prenderam e chamaram o Merlin, mas acabaram deixando o Takeo escapar, pois a Pudym os ajudou. _ Então o nome dele era Takeos... – disse o anão. _ É Takeo. _ Mania minha. _ Bem, o que fará agora, Deku – pergunta Merlin –? Sua missão já foi feita, mas eu pretendo ajudar até o fim. _ Boa pergunta, mas... Não interessa – então, se vira de costas e começa a andar para fora do beco –. Adeus, de qualquer modo – disse levantando a mão. _ Tsc, até hoje consegue ser chato até pra se despedir. Magius, Oskar, vamos ter que rastrear a Pudym e a Darcrays. _ Para prender o bandido? _ Não, Oskar – responde Magius –. Houve um engano, não foi meu amigo que te roubou. _ Vamos então falar isso pra Darcrays e pedir desculpas para o não-bandido? _ Também. _ Tenho minhas dúvidas em relação a muita coisa. O Deku é triste como pessoa, mas não é idiota – disse o druida –. Oskar, explique no caminho porque acham ser aquele elfo ladino. _ Pode pás! _ Vamos seguir o rastro deles então – disse Magius. _ Já tem um rastro? _ Bem, dessa vez até vai ser fácil – inspirou fundo –. Esse cheiro de vinho não é lá dos mais fracos. Parte V _ V ocês esperam mesmo que eu os ajude assim só porque vão me pagar uns doces!? – gritou uma elfa, levantando e batendo as mãos na mesa que estava. _ Eh... Sim? – disse Dingirsu, com Nikolai ao seu lado. _ Tudo bem então. _ Fácil assim? Por essa eu não esperava – disse Nikolai. Ela era uma elfa de aproximadamente 1,60 de altura, com um chapéu pontudo de ponta caída, como se quisesse mostrar ao mundo ser alguém que usa magia. Tinha pele clara e olhos roxos, com uma cicatriz na sobrancelha esquerda que ia até o olho. Possuía um cabelo roxo azulado até o pescoço, e usava um vestido curto negro, com mangas longas e uma cinta, com um cajado nas costas. Sua mesa estava repleta de doces. _ Hã?! Tá me chamando de fácil? – bateu na mesa. _ Que? Como assi... Ah, deixa pra lá. Ó Dingirsu, qual é o nome dela mesmo? _ Essa é a Kiazinha. _ Ei, meu nome é Vilkia! Odeio sua mania de chamar quem é menor no diminutivo – continuou gritando. _ Hehe, Nikolaizinho. _ É por 10 centímetros de diferença, infeliz. “Grr”. Vilkia voltou sentar-se e cruzou os braços. As poucas 10 pessoas nesse segundo andar nem sequer se incomodavam com o barulho, como se já estivessem acostumadas. _ Então, vamos? – perguntou Dingirsu. Ela mudou o tom e expressão, parecendo agora séria, com um olhar firme e até assustador. _ Sim, mas vocês me deverão um favor, que não importa o que, vão cumprir, uma hora ou outra. Ela e Dingirsu agora se olhavam diretamente nos olhos. _ “Vocês” não. Eu devo. Dingirsu e Nikolai ficaram aliviados ao saírem do meio da cidade. O centro estava terrivelmente cheio, ainda mais nesse horário, onde as pessoas procuram diversos lugares para almoçar. Estavam a caminho do galpão de antes, quase chegando. Mas nem todos estavam confortáveis nessa viagem, ainda mais quem não é acostumado ao barulho extremo da Vilkia. _ Trá, lalá lalá, explosão! Explosão! _ Pelos Céus, cala a boca garota! – indignou-se Nikolai, com as mãos tentando tampar os ouvidos. _ Eu avisei que poderia não gostar da ideia, então aguenta aí – disse Dingirsu. _ Ahh, vocês dois são muito chatos! Devia ter deixado esse paladino em casa se ele não gosta de música. _ Eu gosto de uma BOA música. Mas não é por canções horríveis assim que ele me avisou que eu poderia não gostar da sua ajuda. _ Hã? Sobre o que é então? _ É porq... _ EI! – ela cortou sua fala com um grito –. Minhas canções não são horríveis, seu porco! _ É porque você não é maga nem feiticeira, é uma bruxa – disse Dingirsu. Um vento forte começou assoviando em seus ouvidos, ressoando no ar silêncio pairou no ar por alguns momentos, e cada um voltou o olhar para a frente com um olhar sério. Viraram num beco para um atalho, estavam quase chegando. A região estava vazia. _ Eu não sou do mal, esse preconceito conosco é idiota. _ Não, não é – falou rapidamente Nikolai –. Magos estudam a magia, feiticeiros possuem afinidade desde o nascimento. Bruxas pegam emprestado o poder de alguma entidade. _ E? _ Não se faça de tonta. Normalmente divindades menores já conseguem emprestar poder e firmar um pacto. E a grande maioria não escolhe bons deuses, seres, seja lá o que for. O Príncipe do Abismo, Tiamat, e essas monstruosidades são muito escolhidas por vocês. _ Nem todas escolhem seres malignos. _ Mas a grande maioria escolhe! E sabe o que acontece depois de um tempo. A alma da pessoa serve de pagamento. Por isso parece algo tão atrativo escolherem seres malignos, não tem um preço a curto prazo, mas a alma da pessoa vai sendo consumida aos poucos, até que... Bem, você sabe. Dizem que por isso a maioria dos deuses bons não aceitam mais serem patronos. _ Mas ainda emprestam poder a vocês paladinos. _ Para com isso, Nikolai – interveio Dinsirsu –. Ela não tem um deus maligno, e é tão confiável para mim como alguém do nosso grupo. _ Quem é seu patrono então? – Nikolai questionou curioso. Ficaram em silêncio por alguns segundos, e então Vilkia olhou para o céu. _ Vai saber. Parte VI “O lha, por essa eu não esperava... De novo”, pensou Takeo, de cabeça para baixo no lado de fora do quinto andar de uma estalagem de luxo, sendo segurado por uma argola magica presa a parede. Já era 13:00. Apesar das circunstâncias, a vista era muito agradável. Era a área rica da cidade, as magnificas muralhas do castelo não estavam longe. As pessoas que andavam pelas ruas se vestiam muito bem, e não havia um cidadão que não fosse um humano. Guardas patrulhavam constantemente, dificilmente faltando algum a cada rua. Por ser a região norte, acaba se afastando do centro comercial, então as aglomerações eram moderadas. Estavam no grande hotel de luxo da região, Darcrays, Pudym e Takeo no último andar tentando serem discretos, só conseguindo por conta da altura. Darcrays estava com um braço em forma de tentáculo descendo Takeo até uma janela, mas quase o deixa cair. A tempo, Pudym o segurou com uma argola magica que rapidamente conjurou e prendeu na parede. As duas começaram a gritar sussurrando: _ Puta merda Darcrays, quase que você o mata! _ Óbvio, eu falei que nesse calor do inferno o tentáculo não é forte! _ Mas você disse que conseguiria! _ Mas eu estava bêbada! _ Você sempre tá bêbada caralh- Enquanto discutiam, Takeo começou a agir. Ao lado dele, havia uma janela ornamentada com bordas de madeira élfica. “Bem, só tenho que ouvir essa conversa e tentar ver alguma cosia. Só a Pudym mesmo para querer investigar um grupo que acabou de contrata-la. Quanta desconfiança. Mas por que será que a druida se interessou mesmo? Elas explicaram que eram amigas de infância, embora não parem de brigar. Enfim”. No canto superior da janela de vidro, colocou um olho para espiar, e afinou ao máximo sua audição. Lá dentro estavam os 5 homens de manto negro que falaram com a Pudym na taverna, com seus capuzes fazendo sombra nos seus rostos. Era um quarto que eles aparentemente estão acostumados a usar. A decoração era de um local reservado, tendo algumas prateleiras cheia de livros e baús. Aparência refinada, claramente um local de reuniões. Mas o que uma guilda faria justo nesse lugar? Também havia uma grande mesa retangular, com 8 cadeiras. Um dos homens de preto sentava na ponta, com um braço sobre a mesa apoiando o rosto. Aparentemente o líder, e também foi quem deu a missão a Pudym. Os demais estavam pelos lados, porém, Takeo surpreendeu-se ao ver que na outra ponta, a mais perto de si, estava um dos sargentos do exército do Magistrado, com sua armadura dourada, capa branca, espada de aço na cintura, e o elmo em cima da mesa, onde havia pergaminhos abertos, e um mapa da... capital dos elfos? Não estava muito visível para o ladino. _ Nosso trato não foi esse – disse o sargento –. Vocês já deveriam ter executado aquele elfo a essa altura. Podemos ter interferências indesejadas no casamento. _ Não se preocupe – começou o líder com um sorriso cínico no rosto –. Vocês terão a cabeça dele até o pôr do Sol. _ Um Sol sangrento – disse um dos membros –. Sabia que hoje será o grande dia? Hu hun. Dizem que um pôr de Sol vermelho como o de hoje só acontece uma vez a cada cem anos. _ Meu rei sempre disse que a princesa é especial, então nada mais justo. _ É, nada mais justo. O silencio pairou no ar, até que o sargento volta a falar. _ Enfim, acho que terminamos por hoj- _ Sim, você terminaria – interviu o líder –, mas logo em seguida mandaria um esquadrão de elite atrás de nós. E não tente mentir para mim, poupe o que resta do seu tempo. Um espião meu ouviu as ordens de Ragnar caso não tivéssemos cumprido o acordo. O sargento se levantou e sacou sua espada. Ao mesmo tempo, todos os outros, exceto pelo líder, levantaram e se prepararam. 2 deles sacando uma arma. O outro somente levantou, virado para o militar. E o outro rapidamente começou a conjurar uma magia. Seus olhos brilharam amarelo, pronunciou algumas palavras inaudíveis em voz baixa, e então a porta brilhou da mesma cor. Estava selada por magia. _ Se quiser, fique à vontade para pular pela janela de cinco andares – disse o líder, ainda sentado com a mão no rosto. “É, a coisa tá feia mesmo, espero que dê tempo de salvarmos esse cara. Bom, hora do plano B”. Takeo começou a mexer no seu bolso e pegou um spinovok, um aparelho que permite com que duas pessoas conversem a distância. Começou a sussurrar: _ Ei, Pudym! _ Sai com esses papos de que universidades são inúteis pra lá Darc... Takeo? Que foi? _ Hora do plano B. _ Que diabo de plano B? _ A coisa aqui tá bem feia, então só confia em mim. Lembra daquela vez na estalagem perto de Yrden, da vez que até o Levianir estava com a gente? Lembra como fizemos pra acabar com aqueles caçadores? _ Você tá louco? Não vou fazer isso de novo nunca mais, muito menos no meio da capital! _ Confia em mim – e então desligou. Mas já era tarde demais para salvar o oficial. _ São cinco contra um, mas não pense que vão sair ilesos dessa – disse, segurando firmemente a espada com uma mão enquanto pegava seu capacete na mesa. _ Ah, você está errado – disse o líder. _ Não me subestime, vou ensinar uma lição a vocês – estava acabando de colocar seu capacete. _ Não lhe subestimo, mas não se trata de cinco contra um. Não percebeu a tempo. Só notou que havia mais uma pessoa na sala enquanto a mesma já estava atrás dele, com uma adaga em seu pescoço. Ele estava invisível na sala, só se mostrando agora, e seu elemento surpresa acabou com qualquer chance das habilidades do soldado serem úteis no momento a adaga abriu sua garganta. Suas mãos vão ao pescoço, com seus olhos arregalados de dor, mas sem conseguir sequer gritar. O sangue escorre pela armadura e espira em cima da mesa. Ele se ajoelha, até que cai sem vida no chão. O homem invisível usava tinta roxa nos lábios e ao redor dos olhos, e tinha uma pele pálida. Sorriu de maneira psicótica quando o soldado caiu. “Merda, isso não é brincadeira, tenho que tomar cuidado. Mas bem, vamos lá.” E o céu começou a escurecer.