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Mestre Itaoman
Baba Oberefun Si Oko’jumide
(“O Pai que rezava para o Tumbeiro aportar”)
CAPÍTULO I
O JOGO DO IFÁ NO BRASIL :
1.01 - O Ancestral do Futuro
1.02 - A Interpretação de Conceitos
1.03 - O Preconceito Racial
1.04 - O Ifá da África para o Brasil
1.05 - Do Ifá para os Búzios
1.06 - O Declínio do Patriarcado
1.07 - Um Pretenso Ofício de Mulher
1.08 - O Ifá e o Esoterismo de Umbanda
1.09 - Os Versos dos Mitos de Ifá
1.10 - A Versão Sahkala da Divinação Ifá
CAPÍTULO I I
OS INSTRUMENTOS DE IFÁ :
2.01 - Os Instrumentos da Divinação
2.02 - A Esteira-de-Palha
2.03 - A Tigela-Sacrário
2.04 - O Tabuleiro-de-Ifá
2.05 - O Pó-Divinatório
2.06 - A Vareta-Divinatória
2.07 - O Dendê-Consagrado
2.08 - O Círculo-de-Búzios
2.09 - O Vigia-dos-Fundamentos
2.10 - A Corrente-de-Ifá
2.11 - Os Elementos-Símbolos
CAPÍTULO I I I
OS RITUAIS DE IFÁ :
3.01 - A Limpeza Astral
3.02 - A “Quebra” das Folhas de Ifá
3.03 - O Assentamento do Senhor Eshú Oduso
3.04 - A Oferenda ao Senhor Eshú Oduso
3.05 - A Consagração do Vigia-de-Ifá
3.06 - A Oferenda ao Orixá Orunmilá
3.07 - A Consagração dos Instrumentos
CAPÍTULO IV
A VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ :
4.01 - As Muitas Formas do Jogo
4.02 - Mojuba - A Oração da Manhã
4.03 - Opon - O Grande Jogo do Tabuleiro
4.04 - Opele - O Alternativo Jogo da Corrente
4.05 - Owo - O Pequeno Jogo dos Búzios
4.06 - A Tabela Hermética I
CAPÍTULO V
O DESTINO PESSOAL
POR MOMENTO DO NASCIMENTO [KPOLI]
5.01 - A Energia do Ciclo da Vida
5.02 - A Conjunção dos Contrários
5.03 - O Calendário Místico
5.04 - A Rosácea do Destino
5.05 - A Tabela Hermética II
CAPÍTULO I
O JOGO DO IFÁ NO BRASIL :
E assim o fiz porque senti que, em ambos os casos de preconceito espiritual anteriormente relatados ,
separados por quase 30 anos, a fraqueza humana que precisa sentir que o seu “próprio modo” é o “melhor” ou
o “único modo”, paradoxalmente acaba por diminuir o potencial de sua própria “Força Mística”, a qual também
faz parte da Egrégora Universal, porque não “soma” e sim “exclui” a Sabedoria emanada por qualquer outra
“Força Mística” diferente dos que se auto erigem em “Árbitros da Espiritualidade”.
Se eu também me colocasse nessa posição de “árbitro” do que vale a pena ou não na Espiritualidade, nunca
poderia avaliar o trabalho de outros, cuja prática ritual pode honestamente diferir do modo como eu encaro a
“Realidade Paralela”, porque agir desta forma seria o mesmo que condenar erroneamente o Conhecimento e a
Sabedoria de outrem apenas por não serem iguais ou semelhantes aos dos meus próprios parâmetros.
Assim, aumentei o Conhecimento Espiritual sobre mim mesmo e resolvi não ficar “congelado” em minha
Prática Ritual, recusando-me a usar apenas as mesmas experiências passadas dos outros, sem nunca acrescentar
nada de bom ao Porvir. Pois esta posição de “Árbitro da Espiritualidade” me faria parecer, em vez de “navegante”
no “Rio do Conhecimento”, um “náufrago”, não em “águas barrentas”, mas em “águas estagnadas”!
E eis o que o Conhecimento de mim mesmo me ensinou :
- Acredito em Deus : Único, Absoluto, Onipresente e Onisciente, seja qual for o Nome que a Humanidade
Lhe atribua através dos Tempos, Lugares e Linguagens.
- Tenho como minha Verdade que Ele reflete sua Infinita Bondade pelo Universo de sua Criação, através
de Seres Espirituais de sua Origem Divina, aos quais denomino “Orixás Ancestrais”.
- Compreendo o “Mana dos Payés”, a “Bênção dos Padres”, a “Mandinga dos Tata de Inkice” e o “Axé
dos Babalaô” como “Energias Vivificantes, Atuantes e Onipresentes” em nome da Vontade de Deus por todo
o Universo e não como “poderes particulares” deste ou daquele auto erigido “Árbitro da Espiritualidade”!
- Tenho como básico que a Espiritualidade pode se expressar de muitas formas diferentes.
- Aceito que diferentes Grupos Ritualísticos, por diferentes razões, usem “Feixes” diferentes de Energia
Espiritual de maneira diferente da minha, por estarem agindo de modo perfeitamente lógico : simplesmente é o
reconhecimento da realidade e das condições atuantes quando e onde eles praticam as suas convicções.
- Acredito que todas as Entidades Espirituais Superiores entendem a mudança de comportamentos, meios
e palavras em seus rituais que foram impostas aos descendentes de seus antigos fiéis por meios sociais adversos
como conquista, escravidão, colonização e até pelo progresso técnico e cultural, não ficando passivas e
ferreamente agarradas ao Passado como se fossem Seres Humanos.
- Afirmo que “Mudanças” manifestam-se sempre no Eterno Presente aonde voleiam as Entidades
Espirituais de Origem Divina, seja de que forma for que esse “Presente” e essas “Entidades Espirituais” se
afigurem a cada uma das miríades de grupos de Seres Humanos, através do Espaço e do Tempo!
- Decidi que, em vez de enfocar meus esforços nas diferenças de rituais, oferendas e palavras que se me
apresentem, preferirei sempre enfocar o fato de que, se o que se pratica é feito com carinho e devoção, com
caráter e retidão, os resultados desejados serão sempre alcançados!
- Assim, vidas podem ser melhoradas; enfermidade pode tornar-se saúde; pobreza pode dar vez à
abundância; ignorância pode ser mudada em conhecimento. Em última instância, importa aos beneficiários destas
transformações que “palavras” e em que ”língua”, quais “rituais” e “oferendas” realizam essas “benesses”, uma
vez que todas as Entidades Espirituais, fundamentadas na Misercórdia Divina, sempre compreenderão as
palavras de todas as linguagens em que lhe sejam dirigidos louvores sinceros e justas súplicas desesperadas?
Mas, ainda hoje, cada grupo religioso atual tende a rejeitar muita coisa de outros grupos por causa das
diferenças que lhes foram impostas pela realidade do cotidiano, cada um achando que a sua própria maneira é
a “única correta”, e, muito frequentemente, os homens põem em julgamento, não os resultados, mas sim se estes
foram obtidos pelos meios que eles acham os únicos corretos. Se esses meios não refletirem seus próprios modos,
serão capazes de negar que aqueles resultados foram propiciados pelas Entidades Espirituais e dirão do alto de
sua Antiga Sabedoria : pura sorte!!! Fé na Essência da Sabedoria Divina dos Orixás Ancestrais, eu prefiro dizer!
Pois, se nós aprendermos a utilizar e trabalhar com as Energias Viventes da “Realidade Paralela” na “Realidade
Comum” em que hoje nós vivemos, para mim, os Modos Antigos já mudaram : eles já não são mais “Antiga
Sabedoria”, mas sim continuam a ser a “Eterna Sabedoria”.
E, desta forma, conhecendo a mim próprio, resolvi o paradigma de minha crença pessoal :
— “ a Sabedoria dos Orixás Ancestrais não é um Mistério Antigo, congelado e encapsulado no Tempo e
pertencente exclusivamente a uma só “Raça” social. Ela é Eterna e Infinita, sempre pertinente ao Tempo e Condições
em que é aplicada, pois, para mim, como meus Mestres me ensinaram, só há uma Raça : a Humana !!!
Assim, o “Odu” [Fundamento de Tradição] de um “Jogo de Ifá” lançado para um indivíduo nos anos 2000
tem pouquíssima referência com a realidade específica deste mesmo “Odu” há 500 anos passados em uma cultura
totalmente diferente : dele só me resta aceitar a “Essência” de sua Sabedoria.
Ou seja, os “Awon Odu”, viventes e eternamente atuais, devem ser aplicados e interpretados em relação à
CAPÍTULO I - O JOGO DE IFÁ NO BRASIL 8
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
energia de um Ser Humano que vive no Tempo Presente e em relação à Forma Cultural a que ele pertence. O mesmo
se aplica aos seus Rituais, Oferendas e Orações. E isto é saber aplicar a Essência da Sabedoria dos “Awon Odu
Ifa”, quando nos diz no “Odu Ogunda Meji” :
—“ Ifá, eu pergunto : quem é capaz de levar alguém ao Infinito
e estar sempre acompanhando este ente? ”—
E da compreensão desta e outras Essências dos Fundamentos de Tradição de Ifá, adveio-me o auto-
conhecimento que o “Orisa Orunmila Ifa” me concedeu, pois hoje eu sei que quando minha “Ori Orun” [Cabeça-
no-Além] ajoelhou-se perante o Todo Poderoso e Misericordioso “Olorun” [Deus] foi para pedir-Lhe que me
concedesse a honra de poder tornar-me um “Ancestral do Futuro”, por ser um dos Compiladores do Marco
Atual Brasileiro de uma nova maneira atual de sentir, pensar, traduzir e expressar a Sabedoria do Orixá Orunmilá-
Ifá, respeitando toda sua Ancestralidade. E, então, dele recebi minha última “Itefa” :
—“ Fakambi ”—
— “ Aquele nascido por Graça de Ifá “ —
E, ao estender a todos os que lerem este “manuscrito” a oportunidade de se auto-conhecerem através dos
Versos dos Mitos da Tradição Oral do Orixá Orunmilá-Ifá, ensinados, comentados e trazidos para a compreensão
deste povo, neste tempo, neste dia e nesta hora, eu estarei bem cumprindo o meu Destino nesta “Terra-da-Vida”.
Que tu procures bem cumprir o teu, se ele for como o meu, o de estar sempre aprendendo, uma vez que aquele
que só sabe ensinar é porque nunca aprendeu nada!
Mana, Bênção, Mandinga e Aché
Fakambi - Baba Oberefun Si Okojumide - Piron - Itaoman
Mas, a palavra Yoruba “ebo” é quase sempre traduzida e ensinada como “sacrifício”, levando falsamente
a crer que este deva ser sempre “ebo eje” [sacrifício-de-sangue], o que também quase sempre não é
verdadeiro. Pois que a grande maioria dos chamados “ebo” é composta de “iyanle” [oferendas] mais comuns,
chamadas “onje gbigbe” [comidas-secas] compostas de carnes de aves, preás e peixes, por exemplo, sendo
apresentadas aos diversos “idi” [sacrário-assentamento] em pedaços ou em espetos, assadas, grelhadas ou
churrasqueadas. Outras oferendas chamadas “epo ni orojo obe” [o dendê amacia o guisado] são de
“comidas molhadas” [guisados de carnes, ensopados de peixes, pirões de cereais, tubérculos cozidos,
mingaus cozidos, todos servidos em recipientes madeira ou de barro]. São alimentos de consumo habitual
comum, mas preparados ritualisticamente e estes dois tipos de oferendas, “secas” e “molhadas”, não são
sanguinolentas mesmo quando têm por origem elementos do reino animal.
Por exemplo : “eku” [preá], pequeno animal de criação doméstica semelhante ao “porquinho-da-Índia”,
é preparado sem as vísceras e colocado inteiro em espeto de madeira ou bambu. A partir daí, pode ser simples-
mente seco ao sol, salgado, assado ou guisado. Trata-se de um item de alimentação comum entre os Yoruba e
povos vizinhos. A “ori” [cabeça] bem assada, tanto do preá quanto a do peixe, era considerada uma fina iguaria
e, como tal, reservada aos Anciães, aos Chefes, aos mais Ilustres e, por conseguinte, também às Entidades Sobre-
naturais de Origem Divina. Daí serem inúmeras vezes recomendadas como itens integrantes das “iyanle” [ofe-
rendas rituais] e, quando torradas e moídas em pó fino, entram em composições dos “atin” [pós-de-projeção
mágica]. Note-se, também, que em qualquer oferenda, seja qual ela for, normalmente são acrescentados “igbin”
[caracol branco comestível gigante], “obi” [noz de Cola] e “omi” [água potável límpida e fria] que são elementos
que nem de longe não contêm ”eje pupo” [sangue vermelho animal].
Mesmo quando é prescrito o sacrifício real de um animal maior [cabras e bodes], não se deve pensar que
dele se deseja apenas o “eje pupo” [sangue vermelho] e as partes vitais que contém “ase” [poder vital e
sobrenatural] reservados aos Orixás, aos Antepassados e a outros “Irun’mole” [Seres Espirituais de Origem
Divina]. Note-se que o “eje pupo” e as partes que contêm “ase” são imediatamente servidas a quem de direito
ritual em locais apropriados e são, também, aquelas partes do animal que não servem de alimento habitual aos
humanos, exceto em caso de maus hábitos alimentares, miséria ou fome extremas.
Acresce-se que parte da carne de qualquer animal “sacrificado” devia ser oferecida como um repasto
comunal para várias pessoas. Preferencialmente pobres da Comunidade! Sempre! Esta era a finalidade do “ebo”
e o modo para fazê-lo “dun” [doce / agradável] às Entidades Sobrenaturais transformando-o em “comida
ritualística”! É exatamente isto que o “Odu” [Fundamento de Tradição] “Owonrìn Meji” nos diz : ”Então, ele
ofertou uma cabra [ewure kan], dividindo a carne dela com os Anciães [awon Agbagba] da cidade”.
A mal compreendida “matança”, até hoje posta em prática em determinados Cultos de Nação, naquela época
era necessária para que se fizesse a “oferenda”, já que não haviam “açougues especializados” aonde as carnes
pudessem ser compradas peladas, limpas e desossadas, prontas para serem elaboradas e transformadas em
“comida ritualística”. Desta forma, o animal era morto por um especialista - o “Asogun” [Mão-de-Faca] - em
ritual próprio, de maneira limpa, rápida, sem sofrimento desnecessário e, desta forma, ritualisticamente honrosa.
Note-se, também, que muitos dos animais citados como parte integrante das Oferendas não eram sacrificados
e sim agregados aos rebanhos dos Divinadores [awon Awo] como forma de pagamento, igualmente às quantias em
búzios de valor monetário [owo eyo], em moedas [nira] ou em panos para vestimentas [aso].
Acresça-se a esses cuidados, o fato de que se alguém fosse desvalido de recursos imediatos, o sacrifício de
um animal podia ser substituído, a critério do “Babal’awo”, por algo que o representasse, tal qual couro, pele,
crina, pelo, osso, garra, pena ou escama. E se uma pessoa de outro culto religioso recorresse a um Divinador sabendo
que lhe repugnava a “matança” de um animal, a critério deste “Awo”, a “iyanle” seria transformada em um banquete
festivo [Sara], muito comum no Islamismo, a ser oferecido aos pobres e carentes da Comunidade.
Portanto, se não devo e nem posso alterar a Antiga Tradição, pelo menos posso restabelecer seus devidos
parâmetros, alterados que foram na Diáspora Negra pelo desvalimento cultural imposto pela guerra de conquista,
a escravidão e aculturação Islâmica e Cristã Ocidental necessário à sobrevivência dos escravizados.
A Magia de Contágio :
Ao se realizar uma “oferenda”, normalmente a “Trilha-de-Ifá” e/ou “Figura Gráfica do Odu” [Ona Ifa] obtida
no “Jogo” é marcada no “Pó-de-Divinação” [iye-irosun] sobre o “Tabuleiro-de-Ifá” [Opon Ifa]. O ato seguinte
de ajuntar os traços contíguos da figura gráfica [tefa (te = apertar + Ifa)], sacraliza o “Pó-de-Divinação”. Então,
o Divinador recolhe um pouco deste pó de maneira especial e traça um risco/caminho pelo centro de sua cabeça
e/ou do Consulente, isto é, pratica o ato de consagração conhecido por “idabo”.
Como o “Pó-de-Divinação” tem que ser obrigatoriamente incolor, insípido e inodoro, em alguns casos desse
tipo também é posto sobre a língua do Consulente ou é determinado que seja misturada uma pequenina pitada dele
à alguma bebida ou comida para ser ingerida pelo Consulente ou por outros comensais : a isto é o que se chama
de “beber” ou “comer um prato de pó” citado em inúmeros “Fundamentos de Tradição Oral”!
Tratamentos preventivos com as “Folhas-de-Ifá” [Awon Ewé Ifa] :
Os Babalaôs de Ifá também eram e muitas vezes ainda são habilidosos herboristas. É conhecido o fato que
eles eram bem fundamentados nos medicamentos naturais tradicionais, elementares e básicos. No Sistema
Religioso Tradicional Iorubá, todas as plantas, ervas e folhas pertencem à esfera de influência do “Orisa
Orunmila-Ifa” [Orixá Orunmilá], pois que um “Verso” [ese] do Fundamento Obara Duplo [Odu Obara Meji]
da Tradição da Cidade Santa Iorubá [Ile Ife] diz que o “Orixá Ossãe das Folhas Sagradas” [Osa Osanyin] serve
ao Orixá Orunmilá-Ifá e, assim, o conhecimento dos valores espirituais e medicinais das plantas podem ser achados
nos ensinamentos dos Fundamentos de Tradição Oral de Ifá [awon Odu], uma grande parte das quais foi
minuciosamente especificada por Pierre “Fatumbi” Verger em seu maravilhoso tratado “Ewé - O uso das plantas
na Sociedade Iorubá” e por José Flavio Pessoa de Barros e Eduardo Napoleão em seu não menos importante
compêndio “Ewé Òrìsà - Uso Litúrgico e Terapêutico dos Vegetais nas Casas de Jêje-Nagô”.
Assim, em muitas ocasiões, os Babalaôs de Ifá prescrevem “Formulações Místicas” [awon Oogun] nas quais
entram ervas e plantas deles conhecidas e indicadas nos Fundamentos da Tradição Oral de Ifá para uso em chás,
cozimentos e banhos para o equilíbrio do Espírito, da Mente e do Corpo. Estas plantas são inúmeras, mas existem
sessenta e quatro principais que são efetivamente usadas e sua aplicação mística ensinada na Iniciação Sacerdotal
de Ifá. Portanto, limitar-me-ei a citar seus nomes em Iorubá e Português, com a nomenclatura científica e uma ajuda
ao Iniciante sempre que possível, já que a “Versão Sahkala” visa o resgate místico relacionado com todo o conteúdo
da “Divinação Ifá”, mas não se configura em um processo “prêt-à-porter” de seu Sistema Iniciático.
1.03 - O Preconceito Racial
É fato bem conhecido que muitos brasileiros, ao enfrentarem os rigores e reveses que às vezes a vida nos
destina, pelo menos por uma vez já procuraram algum Divinador que, para eles, praticasse um tipo qualquer de
Divinação Esotérica. E, nessa procura, é certo também que, pelo menos por uma vez, tenham ouvido falar de um
Jogo de Divinação - os “Búzios” - praticado em muitos “Cantinhos de Vovó Fulana de Tal” ou “Pai Sicrano de
Algum Lugar” por este Brasil de fora a fora.
E, se algum desses brasileiros, alguma vez foi levado a qualquer tipo de Terreiro, Centro ou Tenda Espírita,
fatalmente também viu ou para si teve “jogadas”, as pequenas cascas calcárias, esbranquiçadas e vazias, dos
moluscos marinhos chamados “cauri” [owo], mas que são mais conhecidos nesse meio como “búzio”.
Na realidade, isto é fato corriqueiro e não desmerece ninguém nos dias atuais; pelo menos, não na ponta
dos que procuram uma solução para as suas aflições quotidianas ou vivenciais. Entretanto, em passado não muito
distante no Brasil, obter uma “consulta espiritual” pelo “Jogo dos Búzios” não era assim tão fácil e só se daria
no interior de uma “Casa-de-Santo” que tivesse um embasamento seguro na Antiga Tradição Africana.
Além disso, os motivos teriam que ser, quase sempre, de ordem religiosa, tais como a determinação de um
“Santo-de-Cabeça”; a necessidade, data ou lugar de uma “Obrigação”; a escolha do ocupante a um determinado
Cargo Espiritual que estivesse vago ou, até, a solução de determinado problema material que estivesse impedindo
um fiel de bem cumprir sua obrigação para com o “Santo”ou, ainda, para saber como reparar uma grave injustiça
ou imoralidade praticada contra o Consulente.
Naqueles tempos estava-se mais perto da Antiga Tradição Africana, na qual o “Jogo dos Búzios”, cuja
verdadeira denominação era “Owo Merindilogun” [Dezesseis Búzios], era manipulado pelos Sacerdotes do
“Imole Obaluaiye“ [o Senhor da Terra da Vida] em cerimônias restritas ao interior dos Cultos Afro-brasileiros,
mas que, por vezes, tinha seu uso também estendido às “Omode Osun” [Filhas-de-Oxum], as únicas que podiam
ser as “Apetebi” [Companheiras Ritualísticas] dos “Baba-ni-Awo” [os Senhores dos Segredos], e, ainda assim,
isto não era privilégio de qualquer “Filha-de-Oxum”, sendo preciso que ela, além do aprendizado formal das
regras e ritos do Jogo dos “Dezesseis Búzios”, também fosse “possuída” da “Iyaba Omi Osun”, a Divindade
Feminina do Rio Oxum, a mais ancestral qualificação de “Iyaba Osun” [Poderosa Senhora Oxum].
Porém, com o passar do tempo, provavelmente desde a data da cisão ocorrida no Candomblé do Engenho
Velho com a morte da veneranda “Iyalorisa Mãe Sussu” e a progressiva ascensão do Matriarcado dentro de
muitos outros Terreiros, iniciou-se em alguns deles uma “era de transformação esotérica” — melhor que digamos
assim — que acabaria por permitir a atuação cada vez maior das Ialorixás [Zeladoras-de-Orixá] em Jogos
Divinatórios, as quais, porém, não tinham o direito de jogar os “Dezesseis Búzios” por não serem “possuídas”
da “Poderosa Senhora das Águas do Rio Oxum”.
Daí o Jogo dos “Dezesseis Búzios” vir a ser utilizado também pelos “Filhos-de-Santo” dessas Ialorixás
no Brasil foi um só passo, igualando-se assim todos eles — as “Apetebi” possuídas da “Iyaba Omi Osun”, as outras
sua Magia que a isso o obriguem, isto é, detalhes corretos que complementam outras fontes mais bem informadas,
mas que desconsideraram tais detalhes como óbvios.
Entretanto, esses detalhes foram registrados e confirmados pelas obras mais recentes de estudiosos e
religiosos africanos, como as de Lijadu [1923], do Rev.Donald Onadele Epega [1931], de Beyioku [1940], de
Ogun-byi [1952] e as de Wande Abimbola [1969], responsáveis pelas três maiores listas de “Itan Ese Ifa” [Textos
Oraculares de Ifá], nos quais estão expressos os verdadeiros “awon Awo” [Segredos], ou sejam, os verdadeiros
Fundamentos de Tradição Oral da Filosofia Religiosa do Credo Iorubá.
E como adiante veremos, se ao contrário dos estudos internacionais, pouco se registrou sobre a existência
e a sobrevivência do culto ao Orixá Orunmilá-Ifá no Brasil, perdendo-se portanto parte do registro histórico do
uso do “Tabuleiro-de-Ifá” e da “Corrente-de-Ifá”, tanto mais importante se tornam as obras literárias acima
citadas para o conhecimento correto do Sistema Ifá, baseadas que são em conhecimentos obtidos em pesquisas
diretamente realizadas em locais ancestrais e que, embora por vezes apenas sócio-culturais, são muitos impor-
tantes para aqueles que quiserem confirmar a Fé pela Razão e comparar os ensinamentos esotéricos, sobreviven-
tes ou novamente revelados, com os autênticos registros do passado. Muitos assim fizeram, incluindo-se neste
rol este autor!
Pois é inegável o quase total desconhecimento da Divinação Sagrada de Ifá no Brasil atual, pois o maior
desvio de seu padrão ancestral ou sua maior perda de valores iniciatórios deu-se aqui mesmo [além do Caribe],
quando um Sistema Divinatório Africano milenar só teve chance de sobrevivência por difundir, no mercado das
ilusões humanas, a corruptela [Owo] de uma simplificação [Merindilogun] do instrumento auxiliar [Opele Ifa] de
seu sistema principal [Opon Ifa], uma vez que o regime de escravidão que quase esmagou o sistema sócio-cultural-
religioso africano no Brasil não admitia que Negros pudessem ter “Alma”, quanto mais serem conhecedores de um
Sistema Divinatório Espiritual milenar, coerente e honesto.
Roger Bastide [1953], estudando a sobrevivência da Divinação Sagrada de Ifá no Brasil, diz-nos : -”Se
ainda não se tornou conhecida ou se é insuficientemente conhecida, foi porque toda a atenção se tem voltado
quase unicamente para o culto público; foi porque o preconceito inconsciente da inferioridade mental do Negro
desviou os pesquisadores do mundo mental da epistemologia Afro-americana.”-
Sim, em suma, por puro preconceito racial! E os reflexos desse preconceito introduziram-se nos próprios
“Cultos-de-Nação” no Brasil, aonde não se deseja admitir que nos Cultos Afro-brasileiros, notadamente em
Umbanda, alguns de seus Iniciados possam ter “ouvido” o “Grito de Chamado” de “Agboniregun” [outro
denominativo para o Orixá Orunmilá-Ifá] em suas “Ori Inu” [“Cabeça Interna” / “Intelecto”].
1.04 - O Ifá da África para o Brasil
Mas, para saber-se como o Sistema Africano de Divinação Sagrada de Ifá aportou no Brasil e aqui, de
simplificação em simplificação, corruptou-se ao nível de um “jogo de adivinhação” praticado em qualquer
“cantinho” dito “esotérico”, primeiramente é preciso conhecer-se o que aconteceu com a Divinação Sagrada de
Ifá em África antes, durante e após mais de duzentos anos de guerras civis intestinas que serviram para abastecer
o Colonialismo Europeu de “braços escravos” para suas colônias de Além-Mar. Em segundo lugar, é preciso
compreender-se em que condições deu-se a transposição dos “Babal’awo” e seus conhecimentos específicos da
África para o Brasil, aonde foram submetidos a um regime da escravidão odiosa e degradante, física e cultural-
mente espoliante, criando-se o preconceito racial.
De pronto, a Antropologia, a Etnologia e a Sociologia demonstram que a Divinação Ifá não foi “impor-
tada” ou “imitada” de qualquer outra civilização. Tão pouco aflorou, na cultura Iorubá, como um sistema estável
e acabado à quase dois mil anos passados : ela elaborou-se gradativa e paralelamente ao surgimento de uma
cultura africana que tem suas origens na Pré-História e, assim sendo, este Sistema de Divinação tem suas raízes
em Jogos de Divinação mais simples como o “Jogo dos Ossos”, o “Jogo do Obi” [Noz de Cola] e o “Jogo da
Lubaça” [Cebola cortada em quatro], ainda hoje existentes e praticados entre os Bantos, os Sudaneses, os
Bosquímanos, os Hotentotes em África e até no Brasil por diversas outras etnias.
Mas, sempre dificultou a compreensão dessa origem o fato de que, no conhecimento ocidental da Histó-
ria da África Negra, há um grande lapso de tempo que vai do século III d.C. até o século XV d.C. quando os
Portugueses iniciaram a construção do Forte de Arquim, nas praias da Guiné Africana. Porém, recorrendo-se às
outras fontes não Ocidentais, sabe-se que desde o anterior século IX d.C. os Árabes Muçulmanos já conheciam
os povos dessas paragens com quem comerciaram por longo tempo antes dos europeus, obtendo ouro, especiarias
e madeiras preciosas em troca de armas de aço temperado, sal, tecidos finos [depois, armas de fogo], antes de
finalmente se lançarem em “Jidah” [Guerra Santa] contra dos Yorubas para conquistá-los e às suas riquezas.
Assim, um dos resultados decorrentes das guerras que povos Negros Islãmicos moveram posteriormente
contra aqueles povos autóctones, foi o fato que grande parte da população conquistada absorveu a Cultura Árabe
de seus vencedores, a qual dava grande importância à Geografia e à História e, assim sendo, quando os histo-
riadores árabes do Séc. XII começaram a divulgar os registros das viagens de seus antigos comerciantes e dos
contatos de seus Marabus [Homens Santos Itinerantes] com as Nações Negras que habitavam aquém e além da
Grande Curva do Rio Níger, relataram a existência de uma Confederação de Cidades-Estados que ali se havia
firmemente estabelecido já no decorrer do século III d.C. e que denominavam a si próprios por “Ulkumy” e, com
este nome, tiveram registro nos primeiros mapas europeus do Sec. XVI como “Ilu Ulkumy” [Terra dos Ulcumi].
Posteriormente, eles ficariam mais conhecidos pelo designativo de “Anago” e, depois, por “Nagô”, nome
conhecido de seus arquiinimigos Daomeanos [Séc. XVII] como o do ancestral grupo étnico que deu origem à
Confederação Ulkumy, mas repassado pelos Daomeanos aos seus aliados Franceses como termo pejorativo
impropriamente significando “Lixo”, bem como, posteriormente, foram também conhecidos como “Yarba” e
“Yariba” pela Administração Colonial Inglesa, que finalmente aceitou o termo “Yoruba” que lhe foi passado
pelos negros islamizados “Peule” e “Haussá” que também travavam “Guerra Santa” contra os “Ulkumy”. Os
Portugueses os conheceram pelo designativo de “Nagô” [Séc.XIX] e os Espanhóis por “Lucumi”, aqueles por
não mais dominarem o tráfico negreiro à época e estes por terem recebido no Caribe os primeiros contigentes
“Ulkumy” escravizados, mas os eruditos que escreveram sobre estes povos no Brasil, adotaram o termo “Iorubá”,
o que eu também farei.
Assim, a leitura das traduções dos textos históricos árabes, hoje considerados clássicos de História
Universal, torna evidente que todas as Cidades-Estados Ulkumy se consideravam ligadas muito mais cultural e
religiosa que politicamente e, todas elas, sem exceção, consideravam suas Dinastias como originárias de uma
única Cidade Santa [Ile-Ife], de onde se cristalizou e se difundiu a Religião dos “Orisa” [Ori = cabeça + Osa =
divindade], as “Divindades Donas das Cabeças”. E, como poderá ler-se no meu anterior livro — “Ifá, o Orixá
do Destino” — era a Divinação Sagrada de Ifá, com os “Babal’awo” e seus registros histórico-religiosos orais,
vazados nos “Ese Itan Ifa” [Versos dos Mitos de Ifá], que dominava a vida dos povos Ulkumy, com um poder
político acima dos seus próprios governantes reais.
Então, os fatos históricos atestam que desde a época da implantação desta Confederação Ulkumy [anterior
ao Séc. III d.C.], a Divinação Ifá, sob a forma do “Tabuleiro-de-Ifá”, ao qual os Versos dos Mitos de Ifá estavam
particularmente ligados, já estava estruturada como um Sistema Divinatório autóctone, estável, coerente, res-
peitado a ponto de exercer este poder político aglutinatório entre povos nem sempre co-irmãos e, sempre, eram
os “Awoni Babal’awo” [Adivinhos do Rei] que exerciam este poder como funcionários altamente qualificados,
quer em nome dos “Oni”, “Oba” e “Alafin”, ou seja, seus “Reis”, quer em nome da sua “Osogboni” [Sociedade
Secreta], a qual detinha o poder de destituir e condenar ao suicídio os governantes políticos que por suas más
ações fossem especialmente temidos ou execrados pelo povo.
E assim Divinação Ifá permaneceu por um largo período de tempo, até o momento em que as pressões
sociais e psicológicas das grandes concentrações humanas destas cidades, alguma delas com mais de 150.000
habitantes já à essa época, fez aparecer simplificações do principal sistema estruturado o “Opon Ifa” [Tabuleiro-
de-Ifá], tais como a “Opele Ifa” [Corrente-de-Ifá] que é um dispositivo manual acelerador do processo principal
baseado em uma variante matemática que exibe o signo de 1 [hum] dos 256 [duzentos e cinqüenta e seis] “Odu”
[Fundamentos-de-Tradição] em um só “Dapele” [Arremesso] da “Corrente-de-Ifá”, e, ainda, como o “Owo
Merindilogun” [Jogo dos Dezesseis Búzios], que introduz uma simplificação reduzindo para 17 [dezessete =
16+1] o número de posições alcançadas em um só arremesso dos “Búzios”, associando cada uma das dezesseis
primeiras posições à um dos 16 [dezesseis] Fundamentos-de-Tradição Principal [Odu Baba / Odu Pai], como
demonstra a análise de lendas que envolvem o Orixá do Destino Orunmilá, a Senhora das Águas Doces Oxum,
o Senhor dos Caminhos Exú e o Senhor da Terra-da-Vida Obaluaiê.
Muitíssimo mais tarde, cerca do século XIV, quando se intensificaram os contatos entre a Confederação
Ulkumy e outros Estados Negros Islamizados, como os Peule e os Haussá, a Divinação Ifá tornou-se, isto sim,
primeiramente modelo e/ou fonte para outros “Jogos de Divinação” por simbiose e adaptação como os Islâmicos
“Derb-El-Raml” [“Riscos-na-areia”] e o “Derb-Er-Ful” [“Corte-com-favas”] e o Malgaxe “Sidiky”, adaptação
realizada pelos “Alufa” [Sacerdotes Negros], os quais haviam-se convertido ao Islamismo, mas que, ainda assim,
mantinham parcelas de sua antiga religião que não conflitassem diretamente com a Lei Islâmica, lei religiosa esta
cuja origem data apenas do Séc.VIII d.C. [Hégira Maometana] e que somente após a conquista da cidade egípcia
de Alexandria pelos Maometanos, conheceu a Geomancia Grega.
Assim, as modificações do Sistema Divinatório de Ifá começaram a se intensificar, ainda em África, cerca
do meado do Séc. XVIII d.C., radicalizando-se quando a expansão da Cultura Islâmica, aportada pelos vitoriosos
Emiratos Negros de Sokoto e Kano, finalmente proibiu a prática do Sistema Ifá aos povos Iorubá conquistados.
Este avanço da cultura Árabe-Islamítica sobre os Iorubá causou desestruturações sociais, culturais e religiosas
muito maiores que os danos políticos e patrimoniais causados pelas paralelas vitórias dos Daomeanos e a colonização
escravagista ocidental contra eles, ocasionando uma tríplice conseqüência :
1] — uma grande parcela da população Iorubá foi dizimada, quer pelos Daomeanos, quer pelos Emiratos
Negros ou quer, ainda, pelos Colonialistas Europeus a eles ainda aliados;
2] — uma menor parcela da população refugiou-se nas vilas dos campos e savanas interioranas, bem dis-
tantes do litoral e da zona de combates;
3] — outra grande parcela, capturada, foi escravizada em terras distantes.
Aquela parcela da população que permaneceu nos antigos territórios Iorubá agora conquistados pelos
Emiratos Negros, primeiramente sofreu um processo de conversão religiosa forçada ao Islamismo, e, em seguida,
quando os Islamitas foram derrotados pelos Colonialistas Europeus, sofreu um adicional processo de aculturação
européia por influência dos Portugueses, Franceses, Ingleses e Holandeses que acabariam por instalar e impor
à África o Sistema de Colonização que perdurou até aos meados do século XX d.C.
Assim, nas regiões Islamizadas, a religião dos “Òrìsà” foi totalmente suplantada, por mal ou por bem, pela
religião do Profeta Maomé, sobretudo porque Allah, o Magnânimo, não se importa com a cor da pele de seus
legítimos fiéis, ao contrário do que ocorria no Catolicismo e no Cristianismo Anglicano. Posteriormente, como
o Islamismo, além de ser uma religião, trazia em seu bojo a bagagem da Lei, da Cultura e da Tradição Árabe,
ele funcionou verdadeiramente como uma “âncora” na tragédia social em que os Iorubá haviam sido lançados
pelas guerras e conquista de seus territórios.
Desta forma, com o advento da nova religião destes primeiros conquistadores, muitos sacerdotes Iorubá
das terras mais afastadas converteram-se ao Islamismo, mas conservaram muitas das tradições religiosas de suas
origens que não conflitassem com as novas normas religiosas, com isso realizando simbioses e adaptações ao
Sistema Ifá que posteriormente induziram a erro muitos pesquisadores europeus sobre a sua verdadeira origem,
atribuindo-a erroneamente à Geomancia Grega aportada pelos Islamitas.
Mas estas simbioses só se tornaram possíveis, em função de várias re-interpretações do Sistema Ifá que
já vinham ocorrendo no seio daquela parcela da população que se havia refugiado nas cidades e vilas dos campos
e savanas, fugindo do recrudescimento das guerras em curso, primeiramente contra seus próprios co-irmãos que
criaram o Estado Separatista do Daomé [1670] por influência francesa e, em seguida, pela guerra civil contra a
sua própria Província de Ilorin, cujo Príncipe Governante, por conveniência política, pseudo converteu-se ao
Islamismo e aliou-se aos Peule e Haussá Islamizados contra seu próprio povo Iorubá, causando a abertura de nova
frente de batalha.
Assim, mesmo entre os Adivinhos Reais que se haviam deslocado para as regiões mais seguras de
“Ishoya”, “Igana” e “Benin” para escaparem da guerra, o peso das severas regras do Sistema Ifá fazia com que
os próprios “Babal’awo” trocassem o dispositivo já simplificador da “Corrente-de-Ifá” por métodos ainda mais
simples e de sanções manipulares menos severas, tendo este novo costume perdurado por tanto tempo que ainda
foi registrado por W. Bascon [1969], que o encontrou até por ocasião dos Festivais Anuais da cidade de Ilê Ifé:
-”...nesses dias, os Babalaôs fazem Divinação, uns para os outros, e, em Meko eles preferem jogar sementes de
Kola, isto porque dizem que os dendês e o Ôpélê requerem sacrifícios mais dispendiosos ...”-
Mas, ao se fugir aos sacrifícios “mais dispendiosos” das regras mais severas, abriu-se caminho para se
dispensar o preparo ritual da Divinação Sagrada de Ifá e, logo a seguir, dispensaram-se os conhecimentos mais
difíceis de serem lembrados, praticados e honrados.
Assim, nessa época de guerras, a cada morte de um “Baba Agba” [Venerando Sacerdote], inevitavelmente
também morria uma parcela inestimável da Antiga Sabedoria Africana, exaurindo-se da memória dos sobrevi-
ventes a lembrança do antigo prestígio e poder daqueles que um dia regeram a sociedade de seus Ancestrais, com
um Poder Espiritual acima do Poder Político e Bélico de seus Reis!
E é assim que se torna patente o fato de que, mesmo em África, começaram a desaparecer do conhecimento
público os “Oluwo” [Senhores-do-Segredo], dignificação à qual pertenciam as três mais altas categorias sacer-
dotais que um “Babal’awo” poderia alcançar fora de Ilê Ifé, a antiga Cidade Santa Iorubá, infelizmente também
esta cidade milenar desaparecida desta qualidade religiosa ancestral no cenário de derrocada sócio-cultural e
religiosa que se seguiu à conquista Muçulmana, ao Protetorado Britânico e ao posterior Socialismo Nigeriano.
E em conseqüência disso, a ação dos “Ojugbona” [Mestres-de-Ensino], capazes de transmitir a verdadeira
“Owo-Ifa” [Mão-de-Ifá], passou a ser muito mais restrita e dissimulada aos certamente muito mais raros “Omo
Awo” [Filhos-do-Segredo] aprendizes.
Mas, mesmo assim, os “Babal’awo” tradicionais restantes continuaram a praticar o Sistema Ifá em relativa
pureza paralelamente a aqueles que já o haviam “mesclado”, conseguindo atravessar as guerras e as mudanças
políticas, pois, nas regiões europeizadas, o Colonialismo Europeu, apesar de vilipendiar a religião dos “Òrìsà”
tachando-a de “Feitiçaria”, salvou-a da mesclagem que acontecia nas regiões islamizadas, pois embora tenha
transformado em títeres dos conquistadores as Casas Reais Africanas sobreviventes, desta forma preservou o
sistema monárquico dos Iorubá.
Isto foi comprovado, em África, através dos resultados de pesquisas históricas, tal como uma das relatadas
por Bascon [1969] : -”Em 1937, em Igana, conhecia-se a existência de cerca de 400 Babalaôs”-
Mas, ainda outra tormenta política viria se abater sobre os “Babal’awo” em África, pois, já antes da década
de 1960, o Socialismo, na então Nigéria, atentou fortemente contra as bases monárquicas da cultura Iorubá, nas
quais assentava-se a representação superior do magistério dos “Awoni Babal’awo” [Adivinhos Reais] que, como
se sabe, tinham que ser pertencentes às 16 Famílias Aristocráticas Fundadoras da Cidade Santa de Ilê Ifé.
E os “Babal’awo” continuaram sobrevivendo à duras penas, mesmo perseguidos e em número cada vez
mais decrescente, já que a mesma pesquisa de Bascon [1969] afirma que na mesma região de Igana : -”Em 1960,
constatou-se somente a existência de 120 Babalaôs.”-
Além disso, a Divinação Sagrada de Ifá permaneceu ativa entre seus fiéis em África, porque uma parcela
deles tinha conhecimento de muitos “Itan Ifa” [Mitos de Ifá], nos quais os consulentes são orientados e até
instruídos à “ki Ifa”, ou seja, à “recitar Ifá”, sem que, por isso, se tornassem em “Divinadores”, tornando-se
entretanto em fiéis graduados capazes de manter e divulgar as tradições específicas do “Orisa Orunmila-Ifa”.
Assim, muitos devotos deste Orixá dedicavam-se a “k’ifa” e ao estudarem com os venerandos “Babal’awo”
sobreviventes, passavam a merecer o título honorífico de “Akisa”, proveniente de [A = aquele + ki = louva + orisa
= Divindade], ou seja, “Aquele que louva às Divindades”. Bascon [1969], em outra pesquisa diz que: -”Em 1938,
estimava-se a existência de 20 Babalaôs contra 300 pessoas consideradas Akisa”-
Pois não é improvável que, por causa das múltiplas perseguições, debaixo do título de “Akisa”, protegidos
pelo sigilo de seus fiéis, tenham sobrevivido vários “Babal’awo”. Além disso, em virtude de todo o conhecimento
e sabedoria sócio-cultural contido nos Textos Oraculares de Ifá, em tempos mais recentes, após a introdução dos
caracteres arábicos na Nação Iorubá, com freqüência, o “Akisa” era denominado reservadamente por “Akoiwe”
[Aquele que escreve livro], porque com o risco de suas próprias vidas, alguns “Akisa” passaram a escrever os
Versos dos Mitos de Ifá em caracteres arábicos, possibilitando assim o posterior registro junto com aqueles que
seriam preservados em caracteres ocidentais.
E, assim, os “Babal’awo” sobreviventes, mais os “Akisa” e os “Akoiwe”, conseguiram salvar uma parte
mais significativa dos 1.096 [mil e noventa e seis] principais “Ese” [Versos] dos Mitos de Ifá, os quais registravam
as Regras, as Oferendas e as Profecias da Divinação Ifá, permitindo que, entre outros, o africano levado para ser
educado em Londres, Rev. Donald Onadele Epega [1931], embora com o intuito de banalizá-los, resgatasse para
os tempos modernos 621 [seiscentos e vinte e um] Versos e, dentre eles, pelo menos 1 [hum] Verso para cada
um dos 240 [duzentos e quarenta] “Omo Odu” [Fundamento-de-Tradição-Compostos].
Como resultado final de tanta perseguição e desgraça, hoje em dia e em África, lamentavelmente, é fato
consumado que a antiga, nobre e digna Organização Estrutural Religiosa dos “Babal’awo”, perdeu seu enca-
denamento direto com seus Ancestrais que foram oficialmente ligados ao Estado. Mas, ainda assim, graças a
“Olorun” [Deus], os “Babal’awo” e os Textos Oraculares de Ifá sobreviveram mesmo em África, a “Ilu Aiye”
[Terra da Vida], já assim não tão “Odara” [Feliz] como dela se lembravam os descendentes daquela grande
terceira parcela dos Ulkumy-Nago-Yoruba que foram escravizados neste Brasil.
Com esta última parcela, o verdadeiro poder do Orixá Orunmilá-Ifá permaneceu presente no coração e na
mente de muitos “Ifatoso Babal’awo” [“Pai-do-Segredo tem o Poder-de-Ifá”] que, no decorrer das guerras,
emigraram para o Brasil, refugiando-se aqui do Islamismo e do Colonialismo, mesmo no seio da Escravidão de
seu Povo, como foi, dentre tantos outros, o caso de “Bànbòsè”, Sacerdote Africano que aqui adotou o nome de
Rodolfo Martins de Andrade e o título de “Obitiko”.
“Obitiko” veio da África quando do retorno de Marcelina da Silva na década de 1840, sendo que esta para
lá fôra com “Iya Nassô”, a nobre dama que havia sido “Senhora” no Culto do “Orisa Sango” [Orixá Xangô]
no Palácio do Alafin [Rei] do Reino de Oyo e que, no Brasil, tornara-se a fundadora do “Ile Iya Omi Axe Aira
Intile”, o Candomblé “Casa Branca do Engenho Velho”, tendo voltado à África justamente a procura de
“Babal’awo” para legitimar tal fundação perante a Tradição Ancestral Patriarcal Africana que ela bem conhecia
e servira em África.
Também outros “Babal’awo” que aqui chegaram em cativeiro e que de algum modo conquistaram suas
alforrias, talvez como “Baba Asika” e “Baba Gogosara”, ensinaram e passaram o “deka” [direito de comando]
para seus filhos, como foi também o caso de muitos “Babaoge” [Sacerdote dos Antepassados] fundadores dos
“Ile-l’ese-egun” [Terreiros-aos-pés-dos-Antepassados] e de outros, como por exemplo, o de “Benzinho”
Destes todos, o próprio precursor deles, Nina Rodrigues [1935], cujas pesquisas e manuscritos, entretanto,
são anteriores a 1896, foi o que menos explicou sobre o assunto: -”Nunca tive ocasião de ver aqui na Bahia o
processo de adivinhação dos Babalaôs, como o descreve Ellis, com uma tábua ou tabuleiro especial e cocos
de dendê. Dizem-me, todavia, que existe. Sei que empregam processos mais simples, como cauris, certas
sementes, etc. Aquele que atribuem a Imá é o de uma corrente de metal em que de espaço a espaço se enfia uma
meia noz de manga seca. O feiticeiro pega a cadeia em certo ponto e a joga de um modo especial. Da posição
que tomam as nozes deduzem o augúrio ou vaticínio.”
Nina Rodrigues, como vemos, apenas citou o seu conhecimento do “Tabuleiro” assim “por ouvir dizer”
e ainda trocou o designativo “Ifá” por “Imá“, a menos que tenha havido um erro tipográfico em sua publicação.
Ainda assim, esta é a 1ª referência histórica, no Brasil, ao “Tabuleiro-de-Ifá” e à “Corrente-de-Ifá”, ainda que
denominados por “tábua ou tabuleiro especial e cocos de dendê” e “uma corrente de metal em que de espaço
a espaço se enfia uma meia noz de manga seca”.
Mas, o “Tabuleiro” e a “Corrente-de-Ifá” existiam em sua plenitude no Brasil e continuaram existindo,
apesar do pouco conhecimento deles por Nina Rodrigues, pois que, Manoel Querinos [1938], que era “homem
de cor” ligado ao meio espiritual dos nossos negros, relatou a nítida divisão entre os diversos processos
divinatórios usados à época de seus manuscritos [1916 a 1922], informando-nos sobre a diferença ainda existente
entre os processos divinatórios da “noz de obi”, o da “semente de orogbo”, o da “pimenta ataare” [processos
divinatórios estes registrados por Nina Rodrigues como os de “certas sementes”] e a “Corrente-de-Ifá”,
diferenciando entre esta e o “Jogo dos Búzios”, acrescentando que as mulheres só podiam manipular este último.
Assim, 42 (quarenta e dois) anos após os primeiros escritos etnográficos afro-brasileiros [1896/1938], já
nem se divulga mais a existência do “Tabuleiro-de-Ifá” e o seu dispositivo auxiliar, o “Opele Ifa”, passou a ser
denominado por “Corrente-de-Ifá”.
Mas, ainda que Manoel Querinos não se tenha referido ao “Tabuleiro-de-Ifá”, os dois instrumentos
originais de Ifá ainda continuavam conhecidos, pois, Artur Ramos, discípulo mais acurado de Nina Rodrigues
e que escreveu de 1932 a 1940, relatou a existência simultânea dos dois dispositivos para a prática específica do
Sistema Ifá — o do “Tabuleiro” e o da “Corrente” — e ainda foi o primeiro, no Brasil, a remarcar a estreita ligação
entre o Orixá “Orumilá-Ifá” e o Senhor “Exú”.
Entretanto, alguns anos mais tarde, eis que Edison Carneiro [1942/48], discípulo de Artur Ramos, apre-
senta testemunho de um processo de adaptação material do Sistema Ifá, ocorrido na Bahia e em determinados
Candomblés, ao descrever uma nova forma adaptada do instrumento que ele ainda denomina corretamente por
“Ôpélê-Ifá”, como sendo formado por: -”... búzios da Costa de forma especial, uns diferentes dos outros, que
agora se chama simplesmente o Ifá.”-
Porém, a seguir, João do Rio [1951], um jornalista esclarecido que privava da confiança do meio religioso
negro do Rio de Janeiro e cujas pesquisas são também bem anteriores à sua publicação, ainda registrou a exis-
tência nesta cidade de uma confraria de “Babalaôs” que não se confundia nem com os “pais-de-santo” e nem com
os “feiticeiros” e, ainda, a existência do uso do “Ôpélê-Ifá”, embora que feito com pedaços hexagonais do casco
de tartaruga, afirmando que isso se dava paralelamente ao uso em separado do “Edílògum” [o Jogo dos Dezesseis
Búzios] que se destinava “exclusivamente às mulheres.”
Ora, com relação à citação de Edison Carneiro, até mesmo Nina Rodrigues já havia registrado que o
material usado no Brasil para substituir as sementes africanas “opele oga oko”, das quais a Corrente-de-Ifá tirava
o seu nome africano [Opele Ifa], haviam sido as meias-cascas secas dos caroços da Manga [fruto da Manjífera
Índica], como vimos anteriormente e no que foi secundado por Manoel Querinos, aliás, o que também era prática
corrente em África, mormente na fase de aprendizado, quando os mestres preparavam simulacros de “Opele Ifa”
para o uso de seus discípulos, como o relata W. Bascon [1969]. Mesmo a informação de João do Rio sobre o
uso de pedaços hexagonais de casco de tartaruga na confecção do “Ôpélê”, encontra ressonância em outros
pesquisadores em África.
Mas todos os pesquisadores em África e mais Nina Rodrigues, Manoel Querinos, Artur Ramos, João do
Rio e, posteriormente, com mais detalhes, René Ribeiro e Roger Bastide no Brasil, são concordes em separar o
instrumento “Opele Ifa” do citado “Jogo dos Búzios”, não entrando, pois, os Búzios na confecção deste
instrumento, nem na África e nem no Brasil até o momento citado por Edison Carneiro e que, portanto, representa
uma nova “adaptação” deste instrumento ocorrido na Bahia.
Além disso, só havia três aplicações secundárias para os Búzios no Sistema Ifá, duas delas relativas ao
“Tabuleiro-de-Ifá” e outra relativa à “Corrente-de-Ifá” :
1] — O “Ajefa” [anel de búzios], isto é, um conjunto formado por vários búzios, perfurados pelo seus centros
e atravessados por um cordel que os reunia estreitamente em forma de círculo fechado, o qual servia exclusivamente
de receptáculo ao “17º ikin” [coco de dendê], chamado “Oduso” [Vigia dos Fundamentos];
2] — A “Penca de 50 búzios”, também reunidos por um cordel, mas desta vez em forma de cacho e que
permanecia atada ao “Tabuleiro-de-Ifá” pelo mesmo cordel, através de um furo transversal praticado na borda
deste. Este cacho ou penca de búzios representava aos “Orisa funfun”, ou seja, aos “Cinqüenta [50] Orixás da
Brancura” e destinava-se a “apagar” os “Oju Opon” [Olhos-do-Tabuleiro], signos-gráficos marcados no Pó Branco-
Consagrado sobre o interior do “Tabuleiro”, porque fazer isto com os seus dedos era interdito e imperdoável aos
“Babal’awo”, exceto em situações magísticas especialíssimas.
3] — Um “único búzio grande”, usado com símbolo de “Afirmativa” nas situações que exigissem uma
resposta alternativa “Sim” ou “Não” ao assunto consultado; também usado como símbolo da abundância ou sua
falta, quando aplicado o sistema das Cinco Boas Sortes [Ire] ou dos Cinco Infortúnios [Osogbo].
O próprio Edison Carneiro, em sua obra anterior “Religiões Negras” [1936], também faz distinção entre
o uso do processo dos “Cauris” [búzios] e a “Corrente-de-Ifá”. Mas, surpreendentemente, alguns anos mais tarde,
em “Candomblés da Bahia” [1942], atesta a existência de uma nova “adaptação” da Corrente-de-Ifá que ele pas-
sa a denominar por “Rosário-de-Ifá” e que marcaria também o declínio da ação pública dos Babalaôs na Bahia,
já agora rebaixados por ele à categoria dos “Èluôs” [Ledores do Futuro], categoria esta inexistente em África:
-”Atirado ao acaso sobre o chão, depois de uma série de rezas mágicas, o ledor do futuro decifrava, pela posi-
ção em que caíssem os búzios do rosário, o destino que esperava o consulente.”-
Mas, embora violasse à severa regra africana de nunca se lançar objetos consagrados ao solo nu, até aqui
a diferença apresentada entre os dois objetos ritualísticos é apenas material — troca das “sementes” por “búzios”
—, mas o sistema de leitura [a posição verso ou anverso de cada búzio na caída da corrente] era o mesmo que
o do autêntico “Opele Ifa”, pois o “Rosário-de-Ifá” assegurava a seqüência da leitura pelo fio de corrente que
mantinha o encadeamento dos búzios.
Então, qual a razão desta minha discordância sobre qual material deveria ou não ser usado na confecção da
“Corrente-de-Ifá / Rosário-de-Ifá”? Porque por detrás do uso deste novo material em específico, o Búzio, veio
a adaptação, ou talvez melhor dizendo, a transposição que causou grandes danos à correta divulgação do Sistema
Ifá no Brasil, pois que Edison Carneiro foi um dos sociólogos “oficiosos” de categoria que ajudaram a dar
respeitabilidade aos Cultos Afro-brasileiros da Bahia, mas que conduziu suas pesquisas sobre os Grupos Sudaneses
quase que exclusivamente nas três instituições co-irmãs : o Candomblé do Engenho Velho, o Gantois e o Axé Opô
Afonjá, recintos aonde encontrou guarida segura contra a perseguição ditatorial do Estado Novo, muito embora
conhecesse e citasse dezenas de outros “Terreiros”!
Entretanto, ele pesquisou este assunto sobretudo no Candomblé do Engenho Velho, aonde se deram dois
fatos marcantes sobre a ação dos “Babalaôs” nos cultos Afro-brasileiros :
1] — o reconhecimento de primazia dos Babalaôs nos cultos, quando “Iya Nasso”, uma de suas
fundadoras, retornou à África e de lá enviou o “Babal’awo Bangbose Obitiko”;
2] — a transposição dos direitos de comando dos Babalaôs para as Matriarcas quando, posteriormente,
após a morte de “Mãe Sussu”, suas “Filhas” graduadas negaram ao “Babalaô Ti’Joaquim” o direito de assumir o
comando deste Candomblé.
Talvez apenas por ser testemunha de sua época, mas muito provavelmente por ter sido “levantado Ogan”
[Graduado] no culto do Terreiro em que assim viu ser “atirado” o já adaptado, mas ainda assim “Ôpélê-Ifá”, como
a princípio ainda o denominava, Edison Carneiro anuncia, com extrema concisão, o momento preciso que esta-
belece corruptela do Sistema Ifá na Bahia: -”O rosário pode ser substituído, sem nenhuma desvantagem, pelos
búzios que o compõem e esta é mesmo a regra, atualmente”-
Ora, a corruptela de uma adaptação material — desfazer um “Rosário-de-Búzios” e usá-los como um
conjunto de elementos isolados — não é o mesmo que a sua simplificação e não deveria estabelecer-se em regra.
Porque, na realidade, não se desfez a “Corrente” de um adaptado “Rosário”, para dele se utilizar isoladamente os
“búzios”: o que realmente aconteceu, foi que se passou a utilizar o já existente “Owo Merindilogun” [Jogo dos
Dezesseis Búzios] como se fora uma reinterpretação simplificada do “Rosário de Ifá”. Mesmo porque, ao se
desfazer um hipotético “Ôpélê de Búzios”, só se obteriam 8 [oito] búzios e não 16 [dezesseis] deles, que é
exatamente o número de “cauris” requerido para o “Jogo dos Búzios”.
Mas, a real diferença era técnica e litúrgica, pois a verdadeira “Corrente-de-Ifá” permite a leitura de 256
[duzentos e cincoenta seis] posições, ou seja, 16 [dezesseis] vezes 16 [dezesseis] posições diferentes e o “Jogo
dos Dezesseis Búzios” é capaz apenas da leitura de 17 [16+1= dezessete] posições diferentes, matematicamente
[n+1] = [16+1] = 17 posições e nada mais!!!
Além disso, mesmo a leitura do “Dapele” [caída] do “Rosário-de-Ifá” ainda era controlada pela “Eto Awon
Ninu Odu Ifa” [Ordem dos muitos Fundamentos em Ifá], e, os Búzios soltos não obedecem a esta ordem até porque
a sua “caída”, por estarem livres de encadeamento no fio de uma corrente, não obedecia à seqüência alguma, exceto
por apresentarem seu lado aberto ou fechado virado para cima. Assim, a diferença técnica é significativamente muito
maior que a diferença de materiais e a diferença litúrgica é incomensurável.
Torna-se claro, pois, que houve uma adaptação de materiais válida, seguida de uma corruptela consciente,
talvez para legitimar o uso posterior dos Búzios por algumas das Matriarcas da Bahia que não eram filhas de
“Iyaba Omi Osun” e que estavam, já de algum tempo a exemplo de outras, assumindo o comando absoluto dos
Cultos de Nação Africana de origem Sudanesa na Bahia.
Na verdade, trata-se de uma perda significativa de valores rituais internos e referentes aos Terreiros no qual
Edison Carneiro havia pesquisado, mas que tendo sido apoiada e divulgada por ele criou “status” entre as outras
Matriarcas e que, também, repercutiu no incipiente meio etnógrafo daquela época, não sendo questionado por
outros pesquisadores, os quais, por outro lado, também não eram numerosos.
Tanto assim foi que Roger Bastide [1961] conhecendo a Bahia em 1944, dá prova disto textualmente :
-”Quando iniciamos nossos estudos sobre o mundo dos candomblés, orientamos logo de saída a pesquisa para
o lado do Babalaô, pois tinham sido negligenciados pelos etnógrafos que nos tinham precedido.”-
E assim, ao contrário de Edison Carneiro [1942] que rebaixou os Babalaôs a uma condição inexistente de
“Èluôs” e os eliminou do âmbito dos Cultos Afro-brasileiros por citar “Ajimudá” [Martiniano Elizeu do Bonfim]
e “Benzinho” [Felisberto Sowzer] como os “últimos Babalaôs”, fazendo tábua rasa da existência de todos os outros
Babalaôs que se sabiam existentes na própria Bahia, mais os de Recife e os do Rio de Janeiro, vem agora nos informar
Roger Bastide [1961] sobre os ainda existentes Babalaôs: —”A princípio, foi simples curiosidade de Africanista
que não quer refazer o que já foi feito, e bem feito, antes dele, mas que deseja desbravar terrenos virgens. Mas
a colheita de dados ia transformar a própria imagem que formávamos do mundo dos candomblés. Em primeiro
lugar, notamos que a luta entre babalorixá e babalaô ainda não estava terminada; os babalaôs, pelo contrário,
tinham o sentimento de sua superioridade.“-
E esta luta entre Babalorixás e Babalaôs foi paradoxal porque o Jogo do “Owo Merindilogun” [Dezesseis
Búzios], antigamente não era praticado nem pelos Babalaôs e nem pelos Babalorixá, mas sim pelos sacerdotes
do “Imole Obaluaiye” que os jogavam até com 36 búzios, embora aos poucos, com o correr dos séculos e a ex-
plosão populacional em África antes das guerras, o seu uso tenha sido estendido às “Filhas-de-Oxum”, as únicas
que podiam ser “Apetebi”, ou seja, as “Companheiras Ritualísticas” dos Babalaôs no rito das “Iyami” [Senhoras
/ Mães Poderosas] e, talvez, tal companheirismo ritualístico possa explicar, em parte, a posterior ascensão
meteórica do Matriarcado na Bahia.
Assim, nas mãos das Matriarcas Negras a isso habilitadas por serem “possuídas” de “Iyaba Omi Osun”,
os 16 Búzios estavam corretamente empregados, desde que usados “como” e/ou “no” Jogo dos Dezesseis
Búzios. Foi apenas algumas delas que, em disputa para obter o poder absoluto dentro dos cultos de origem
Sudanesa no Brasil, não estando habilitadas ao uso litúrgico dos 16 Búzios por não serem “filhas” de “Iyaba Omi
Osun”, passaram a usar os Búzios, não em nome do Senhor “Obaluaiye”, da Senhora “Oxum” e do Senhor “Exú”,
mas em nome de “Orunmilá-Ifá” para poderem se ajustar à Tradição Africana de Patriarcado em que o poder
do comando espiritual estava ligado à Divinação Sagrada de Ifá que era apanágio dos “Ifa Babal’awo”.
Um mito corrente na Bahia, com bem o descrevem Verger / Bastide [1953], mostra-nos claramente como
até as lendas, quanto mais os fatos, podem ser distorcidos para justificarem, à “posteriori”, comportamentos
rituais já distorcidos por necessidade de se justificar fatos mais recentes :
-”Ifá era um pobre pescador muito azarado. Um dia fez um contrato com Elegba, comprometendo-se a
servi-lo fielmente e a ser seu escravo, durante 16 anos. Elegba mandou-o procurar cocos de dendê e ensinou-
lhe a prepará-los e utilizá-los para a adivinhação. Mais tarde Ifá, precisando de uma apetebi, confiou esse ofício
à Oxum. O povo procurava Oxum querendo obrigá-la a fazer também a adivinhação. Então Oxum se queixou
a Ifá, que preparou 16 búzios, pedindo a Elegba que respondesse às perguntas de Oxum sobre o futuro. Elegba
curvou-se de má vontade ao desejo de Ifá mas, em represália, persegue os filhos de Oxum com mais furor que
os outros mortais.”-
E neste “mito” aí está : “Orunmilá-Ifá”, contrariamente a tudo que está expresso nos Mitos de Ifá, de
“Orixá” passa a simples “mortal”, ainda por cima “pobre” e “azarado” e, de mais a mais, a “escravo” de “Exú”
[Elegba], que se torna seu “mestre” quando lhe prepara os coquinhos de Dendê. Em seguida, Ifá torna-se de novo
em “Senhor” e “Mestre” a quem “Elegba”, embora de “má vontade”, “curva-se” em obedecer a responder às
perguntas da “Senhora Oxum”. Mas, como era preciso legitimar os Búzios em mãos de algumas das Ialorixás,
nesta distorção do mito, não é “Elegba” [Senhor Exú] quem os prepara e, sim aquele tal “Ifá” “mortal, pobre e
muito azarado”. Sic!
E, assim, Edison Carneiro [1948], no exato fim de sua obra, sentiu-se tranqüilo para citar duas grandes
mulheres — [longe de mim minimizar aqui os indiscutíveis méritos destas veneráveis Senhoras] — como “èluôs
femininos”: -” Emília de Oxum satisfaz uma grande clientela, na sua pequena loja no Destêrro. E a negra
Cecília, da Estrada da Liberdade, tem uma sólida reputação como ledora do futuro.”-
Entretanto, René Ribeiro [1951/1952] veio a demonstrar que tal “regra” — desfazer um Rosário de Búzios
e usá-los isoladamente — não foi uniformemente aplicada, fora do âmbito de certo Matriarcado Bahiano, ao
reportar uma descrição de “práticas divinatórias” que, entrementes, continuavam a ocorrer na cidade de Recife,
no Estado de Pernambuco, praticadas por Babalaôs. Leve-se também em consideração os relatos de João do Rio
[1951] para o Rio de Janeiro, que confirmam o uso dos “Dezesseis Búzios” em separado da “Corrente-de-Ifá”,
usado por uma Confraria de Babalaôs Nagôs.
Em seguida, confirmando este raciocínio, aparece o trabalho conjunto de Roger Bastide / Pierre Verger
[1953], em que se descreve uma sessão de Divinação Sagrada de Ifá, como a compreendia e praticava o “Babalaô
Bojé” que, pela descrição feita, indubitavelmente se utilizou a verdadeira “Corrente-de-Ifá” sob seu verdadeiro
nome: -”Bojé dispõe sobre a mesa o Ôpélê-Ifá composto de uma cadeia de ferro, que liga 8 pedaços de nozes;
uma das extremidades termina em 4 prolongamentozinhos - é a parte masculina do Rosário; a outra por duas
apenas - é a parte feminina. A parte masculina deve sempre e obrigatoriamente encontrar-se à direita do
babalaô. Se bem que os sinais de masculinidade e feminilidade possam variar conforme os países, o Ôpélê
da Bahia é idêntico ao da África.”-
Corretamente, aí está : “nozes” e não “búzios”, mesmo porque não é possível que Pierre Verger, viajante
experimentado em África, não fosse capaz de reconhecer um “búzio” quando o visse e porque também conhecia
bem as “opele oka oko” que viu, pois afirma a identidade entre os instrumentos usados no Brasil e na África.
Portanto, Edison Carneiro, na verdade, registrou duas coisas diversas :
1] — Uma adaptação material válida do “Opele Ifa”, enquanto o descreve com os 8 [oito] “búzios” encadeados
entre si por uma corrente ou sólidos cordões;
2] — Uma corruptela local do Sistema Ifá, nascida em alguns Candomblés de origem Sudanesa, quando diz que
os “búzios” soltos provêm de um “Rosário” e podem ser “chamados simplesmente por Ifá”.
Roger Bastide [1961] esteve mais perto da verdade quando afirmou, com ressalvas, que: -”O Búzio venceu
o Rosário de Ifá, salvo nova ofensiva e regresso sempre possível.”-
E, mais ainda : -”... na realidade e por razões que teremos que perscrutar, não foi tanto o desaparecimento
de um grupo de sacerdotes e sim o fato de uma forma de adivinhação ter sido substituída por outra. Ou tender
a ser substituída“-
As ressalvas ??? As ressalvas, implícitas e explícitas, são muitas como, por exemplo, a afirmação de que
“o Búzio venceu Rosário de Ifá”; portanto, eram antes entidades distintas e não um a transformação em outro.
Mais ainda : esta derrota pode ter sido circunstancial e temporária com “regresso sempre possível”.
Concordamos! O “regresso sempre possível” dependerá apenas de um novo posicionamento dos atuais
Babalaôs no Brasil que, ao contrário do que constatou Pierre Verger tempos atrás na Bahia, atualmente parecem
tender a gostar de “Mestres” extrangeiros sem a menor ligação com todo o nosso passado histórico-religioso e de
serem “confundidos” com os Babalorixás e Pais-de-Santo. Marcando a diferença entre estes dois sacerdotes, diz-
nos Roger Bastide [1961], referente ao Brasil : -”O babalorixá não se ocupa senão de um único candomblé; o
babalaô tem a seu cargo vários candomblés, e em todos eles nada pode ser feito sem que o babalaô tenha sido
consultado.”-
Diz-nos, muito mais, William Bascon [1969], referente à Àfrica: -”O Babal’awo é o ponto central da
religião Iorubana ... é a autoridade religiosa que deve ter conhecimento acerca de todas as Divindades Yoruba
e não meramente daquela que pessoalmente reverencia, funcionando para massa de fiéis e também para os
outros sacerdotes de Divindades diferentes. Ele ajuda seus clientes a tratar com o amplo espectro de forças
personificadas ou impessoais em que os Yoruba acreditam e a consumarem, através da Divinação Ifá, os
destinos individuais que lhes foram consignados por escolha própria desde o nascimento.”-
As duas declarações acima se completam e claramente fazem a distinção entre as duas categorias de
sacerdotes de Culto Afro-Brasileiro e mostra qual deles tinha realmente por apanágio a prática da Divinação
Sagrada de Ifá! Além disso, não foi apenas um elemento material que substituiu a outro : foi “uma forma de
adivinhação” que tende a substituir à outra e “tender a ser substituída” significa compreender-se bem que o
processo ainda não se concluiu!
E qual a diferença básica de finalidade entre as duas formas de Divinação, ou seja, o “Owo Merindilogun”
e o “Opon Ifa”? Socorre-nos ainda W. Bascon [1969 ]: -”Enquanto Ifá é aberto ao público, no sentido de que
os Babalawo são consultados pelos devotos de qualquer deidade, a divinação com 16 cauris é usualmente
realizada em ocasiões rituais, no seio dos cultos de divindades específicas.”-
Mas o que acontece hoje no Brasil, é uma total inversão desses valores!!!
“Salvo nova ofensiva”??? Talvez seja este o desejo do Orixá “Orunmilá-Ifá” quando, ainda hoje, ele
próprio transforma “Mestres” em “Ifatoxo” [“Aquele-tem-Poder-de-Ifá”], instruindo-os e compelindo-os a se
tornarem “Akoiwe” [“Aquele-escreve-livro”], cujos relatos de idéias e fatos expressados nos seus escritos, se
encampados pelos Babalaôs que sobrevivem, podem vir a renovar o antigo prestígio da Divinação Sagrada de
Ifá a bem de toda coletividade dos fiéis aos Orixás, de forma atual, equilibrada e harmônica com os novos “mo-
dos“ deste século de vertiginosos meios de informação e descobertas científicas, mas também de ressurgimento
do Sentimento Espiritual e Religioso ainda carente de resposta para a pergunta -”quem somos e de onde viemos”-
e, portanto, qual é o nosso verdadeiro “Iwa” [Destino] !!!
Portanto, “perscrutar” [como disse Pierre Verger], analisar e aprender foi o que fiz nestes longos anos de
estudos, prática e convivência com jovens e idosos Babalaôs e, assim, cheguei a compreender como se deu a
adaptação do Sistema Ifá no Brasil e, até, finalmente, veio-me a compreensão de que os atuais Babalaôs e mais
aquele ressurgidos nos Cultos Afro-brasileiros e na Umbanda, querendo ou não os poucos e possíveis radicais
do “Santo-de-Nação”, fazemos parte integrante desse processo mais que milenar de Patriarcado porque o
vivenciamos “por dentro” e, tal e qual o “Akisa” do passado, podemos recitar na “Oração da Manhã” os nomes
de nossos “Ojugbona” [Mestres de Ensino], um por um, em seu recuo no tempo, evitando assim que caiam no
esquecimento, pois somos a ponta atual do imenso “iceberg” que é a história dos Cultos Afro-brasileiros, a qual
tem ainda a sua maior parte mergulhada no espesso “Mar do Esquecimento” da História e dos Méritos dos Povos,
pois nos ensina a História : -“Vae Victis! Ai dos Vencidos!”-
1.06 - O Declínio do Patriarcado
Nas regiões africanas colonizadas pelos europeus, a Catequese Católica e a Evangelização Protestante
relegou o Credo Religioso Iorubá à mais baixa condição de “Feitiçaria” e os sobreviventes fiéis aos “awon Orisa”
que não se “converteram” nem ao Islamismo e nem ao Cristianismo, refugiaram-se nas pequenas aldeias das
longínquas savanas e, sobretudo, no Reino do Benin, que até 1897 permaneceu não só inconquistado e livre dos
europeus, como também impermeável ao Islamismo.
Foi assim que aqueles abnegados fiéis do Brasil que se libertando de alguma forma do jugo da escravidão,
quando viajaram para a África tentando recuperar o conhecimento de seus Patriarcas Ancestrais, apenas
conseguiram trazer de lá para o Brasil poucos “Babal’awo” que certamente não eram aqueles de mais alto grau,
porque estes foram provavelmente os mais perseguidos e aniquilados por pertencerem às mais nobres famílias
aristocráticas Iorubá.
Assim, desde o início de sua transferência da África para o Brasil, a importância desses sacerdotes foi quase
imperceptível ao mundo profano, em virtude da auto-extinção progressiva da importância pública de seu cargo,
embora tenham sido “Babal’awo” africanos que inicialmente ajudaram a rever os ritos religiosos passíveis de
serem aceitos por todos os oriundos africanos e seus descendentes brasileiros ao se fundar os primeiros Can-
domblés Sudaneses, na Bahia, no final do século XVIII.
A Tradição Oral Brasileira guardou a procedência, o nome e o título [oye] desses “Babal’awo” Ancestrais
[Èsà], Africanos e Brasileiros, Fundadores ou Conselheiros dos primeiros “Candomblés-de-Nação Sudanesa”,
sem contudo dar-lhes, em muitos casos, o devido crédito por suas atuações, sendo bem lembrados a saber :
1] — O Africano “Ésà Asika” esteve junto às Senhoras “Danadana”, “Akala” e “Oka” na fundação do Candomblé
“Ìyá Omi Axé Airá Intilé”, a Casa Branca do Engenho Velho.
2] — O Africano “Ésà Obitiko” - também conhecido pelo nome africano de “Bamgbósé” - que veio com
Marcelina da Silva em sua viagem de volta da África e aqui adotou o nome de Rodolfo Martins de Andrade,
ajudando-a no seio deste mesmo Terreiro, a Casa Branca do Engenho Velho.
3] — O Brasileiro “Ésà Oburo” - Joaquim Vieira da Silva, também conhecido pelo título de “Obasàniyá”, que
esteve junto à Ialorixá “Aninha Oba Bììyí” na fundação do Centro Cruz Santa do Asé Opô Afonjá.
4] — E mais os “Ésà Akésan”, “Ésà Adiro”, “Ésà Ajadi”, “Ésà Akayode” que foram também Fundadores ou
Conselheiros das Grandes Mães-de-Santo do Passado : em saudação a eles, com meus dedos, roço o chão
em que piso e depois roço-os minha fronte, em sinal de profundo respeito : -”perante seus feitos, eu não
sou mais que um grão de areia!!!”-
Entretanto, a maioria destes indivíduos masculinos não se tornaram tão conhecidos como fundadores de
Candomblés quanto as posteriores Mães de Santo, a quem ajudaram e por vezes comandaram, em virtude de que
a atenção dos primeiros pesquisadores das religiões Afros nos fins do Séc. XIX, voltou-se, inicialmente, para as
formas exteriores dos cultos que eram comandadas pelas “Mães-de-Santo” e também porque, à época de suas
pesquisas, elas já haviam suplantado as tradições do Patriarcado Africano o qual havia sido dizimado nas insurreições
páginas XV e XVI do Prefácio do livro – “The Sacred Ifa Oracle” – HarperCollins Publishers, N.Y.
Assim, pelos mesmos motivos que os do Babal’awo “Bangbose”, a análise dos resultados apresentados
pelo “Lukin” [“manejo-os-coquinhos”] ou pelo “Dapele” [“arremesso-da-Corrente”] na Versão Sahkala da
Divinação Sagrada de Ifá reduzirá ainda mais os “Caminhos-de-Ifá” [“Ona Ifa”] a 40 [quarenta] deles, ou seja,
os 16 [dezesseis] “Odu Meji” [Caminhos Duplos Principais] e mais outros 24 [vinte e quatro] “Odu Amulumala”
[Caminhos Compostos] que se referem aos 12 [doze] Signos Zodiacais Ascendentes, mais [+] os 12 [doze] Signos
Zodiacais Descendentes, porque todo Ser Humano no seu “Ojo ibi” [dia de nascimento] quando tem que absor-
ver em seus pulmões, o seu primeiro “Ofurufu” [Sopro de Vida], estará sob a influência de um dos Doze Signos
Zodiacais que impere naquele momento dado e, ainda, ele pode vir a esta “Ilu Aiye” [Terra da Vida] com seu
Signo Zodiacal em gozo de “Ire”[Boa Fortuna] ou em conflito consigo mesmo “Osogbo” [Má Fortuna].
E isto tudo não é uma invencionice de um “Elu ninu Ile Ife” [Estrangeiro na Cidade Santa] : é a constatação
dos fatos pelo estudo da “Etnomatemática”, cuja a análise dos elementos matemáticos envolvidos atesta que os
Iorubá tinham perfeita noção da Geometria Terrestre, conheciam os Pontos Cardeais, tinham um Calendário
Lunar e conheciam os Astros Celestes.
Mas, por desconhecer as diretivas de adaptação formuladas por “Bangbose” às peculiaridades do lugar
onde se viam escravizados, hoje históricas, mas que em época posterior à Marcelina da Silva e “Bangbose” fica-
ram restritas à mais alta direção dos Candomblés, que várias Matriarcas Negras tentaram muito mais tarde reatar
os laços com a África distante, sua fonte de origem espiritual, algumas com relativo sucesso pessoal!
Pois que, depois de “Baba Asipa”, um dos fundadores da Casa Branca do Engenho Velho, haviam no
Brasil raríssimos “Babal’awo” africanos de nascimento, forçando uma volta à África, demonstra-nos o fato de
que em aproximadamente 1875, Martiniano Eliseu de Bonfim, aos 16 anos, foi com seu pai “Tio Eliseu”,
sacerdote africano dos Antepassados [Baba Oge], para a antiga cidade de “Onin” [hoje, Lagos] em território
“Ulkumy” [hoje, Nigéria] e de lá voltou aos 27 anos [1886], como o Babalaô “Ajimudá”, adquirindo real prestígio
no meio religioso Bahiano e, em sua frutuosa vida, chegou a ser Presidente Honorário da União das Seitas Afro-
brasileiras da Bahia, instalada em 1937, em Salvador, Bahia.
Depois de “feito-no-Santo”, por ser muito amigo de “Aninha Oba Bììyí” [Eugênia Ana Santos],
“Ajimuda” [Martiniano de Bonfim] pode ajudá-la no seio do “Centro Cruz Santa do Asé Opô Afonjá”, instalado
em 1910, no que foi secundado por Babalaô “Obasanya” [Joaquim Vieira da Silva], porque esses dois Babalaôs
Afro-brasileiros ainda representavam a supremacia do culto dos Orixás no Brasil e daí o seu apoio à “Aninha
Oba Bììyí” quando ela sustentou que o Babalaô “Ti’Joaquim” [outro Afro-brasileiro] deveria suceder à Ialorixá
“Mãe Sussu” na Direção Espiritual do Candomblé do Engenho Velho.
E porque Martiniano Eliseu de Bonfim teve que ir à África para tornar-se “Babal’awo”???
Em primeiro lugar, por que seu pai - africano de nascimento - era “Baba Oge“ [Sacerdote dos
Antepassados] e não um “Ifa Babal’awo” [Sacerdote de Ifá], portanto não poderia nem formá-lo ou consagrá-
lo “Babal’awo” .
Em segundo lugar, porque Roger Bastide [1953] nos dá outra hipótese [não muito provável] : -”Se Mar-
tiniano foi se iniciar na África, esta iniciação não consistiu tanto em interrogar os sacerdotes de lá sobre a vida
das Divindades, mas em tirar seu Ifá pessoal a fim de se tornar Babalaô na Bahia, pois em sua cidade natal
não encontrara ninguém capaz de fazê-lo.”-
No entanto, as pesquisas e os escritos de João do Rio para o Rio de Janeiro e de João José Reis para
Salvador/Bahia, baseados na vivência do primeiro e em farta documentação oficial antiga publicada pelo segun-
do, demonstram a existência de vários “Babal’awos” africanos e “Babalaôs” afro-brasileiros nas décadas que
vão de1830 até décadas quase atuais [de 1840/ “Baba Domingos Sodré” à 1937/ “Baba Ajimudá” e 1940/ “Baba
Benzinho Souwzer”].
Evidencia-se, assim, a existência das primeiras das muitas linhagens posteriores de “Babalaôs” Afro-
brasileiros, descendentes de “awon Babal’awo” africanos, mas nascidos e “feitos-no-Santo” no Brasil, que já
não se ligavam aos “Araba” [o mais graduado Sacerdote de Ifá] africanos, os quais também jamais tomaram
conhecimento da existência dos “Babalaôs Afro-brasileiros” por estarem ocupados em garantir a própria sobre-
vivência frente à derrota de seus exércitos, à desagregação política de seus reinos, à destruição de “Ilè Ifé” [Cidade
Santa de Ifé] no fim do Séc. XIX, à pressão religiosa do Islamismo e da Cristandade e à imersão forçada em um
“caldo cultural” pseudo-europeu! E, assim, a “supremacia” dos “Araba” acabou-se mesmo em África!
Que tal fato realmente aconteceu , percebe-se nos dizeres do africano “E. Bolaji Idowu” em seu trabalho
“Olódùmarè, God in Yoruba Belief” [Longmans, Londres. 1962] no qual expôs o declínio do Culto aos “Orisa”
em África ao escrever : -”No momento que escrevo, o templo de Odùduà, que está especialmente ligado com a
instituição da realeza, é um espetáculo ignominioso e destruído”.
Assim, à partir do Babalaô “Ajimuda”, que implantou o conceito dos “Doze Obás de Xangô” no Terreiro
Ilê Asé Opô Afonjá, os viajantes muito mais tardios, como Maria Estella de Azevedo Santos, também do Terreiro
do Engenho Velho, que foi à Nigéria e ao ex-Daomé; como Balbino Daniel de Paula [Obarain], fundador do
Terreiro “Asé Opô Aganjú”; como Olga Francisca Régis [Olga do Alakêto] do Terreiro “Ilê Maiolaje” e Idérito
do Nascimento Corral, fundador do Terreiro “Ilê Orisanlá Funfun” em São Paulo, pouco puderam acrescentar,
quando de sua volta, à “nova forma brasileira de cultuar” aos Orixás Africanos : o Candomblé-de-Nação. A não
ser pelos acréscimos em seus títulos : o de “Gbogbagunle” para Balbino e o de “Aworo Osalufon” para Idérito.
E esta falta de acréscimo litúrgico ocorreu porque, embora estes viajantes mais tardios já devessem saber
que o Candomblé-de-Nação era a adaptação possível no Brasil das tradições religiosas de seus avós, bisavós e
trisavós, não sabiam que em África não mais encontrariam a antiga organização sacerdotal da “Ilu Aiye” [Terra
da Vida], com cujo nome africano tantos descendentes de escravizados morreram sonhando. Não! Essa antiga
organização sacerdotal não mais existia em África. Não nos lugares aonde eles foram procurar!
Devido às guerras, os tempos e os modos haviam mudado em África, mas não se sabia no Brasil o que
restara da antiga Tradição Espiritual; para os que lá foram, só restava a sobrevivência ocorrida no Brasil e, no
fundo, foi por isso que quase todos os viajantes voltaram sem grandes modificações corretivas a fazer em seus
já originariamente adaptados rituais, como o provam os esclarecimentos prestados por informantes da região da
nova cidade de “Ilê Ifé” a Willian Bascon [1969], nos quais eles lhe diziam que à partir da destruição da antiga
cidade [fins do Séc.XIX], o “Awoni Araba” [Chefe dos Adivinhos Reais], chamado “Lameloye”, do clã dos
“Oketase”, transferiu-se para a cidade de “Isoya”. Seu sucessor transferiu-se para a região de “Oketase”; o
seguinte, para a região de “Atibi”; o próximo, para a de “Iremo” e o subseqüente para a de “Ile Seru”.
Em suma, na “Ile Aiye” [Terra-da-Vida], as “Entidades Donas-da-Cabeça” [“Ori” = Cabeça + “Osa” =
Divindade] haviam feito um longo caminho de volta, indo dos reinos e cidades para as vilas e savanas em uma
volta às próprias origens! E era lá que deviam ser procuradas, mas disso não sabiam aqueles viajantes que daqui
saíram, mesmo porque para atingir essas regiões, àquela época, era preciso atravessar a “terra de ninguém” das
frentes de contínuas batalhas, para poder alcançar o lugar de refúgio, restrito aos cansados de tanta guerra : o
inconquistado “Reino de Benin”!
Mas o Tempo passou-se e, à partir de 1974, o que se viu ocorrer no Brasil [Rio e São Paulo] foi o afluxo
de Professores da Língua Yorubá que vindos ao Brasil para ensiná-la e notando o ávido interesse de seus alunos
na Tradição Ancestral de Ifá, tornam-se mais ávidos ainda que eles e, afoitamente, dispuseram-se a “vender” a
peso de ouro o “Ifá” que não tinham aos incautos aspirantes a “Babal’awo” que nunca o serão!
Mas, vamos aqui admitir a hipótese muito viável de que vários outros “Babal’awo” africanos, até mais
habilitados que os atuais “auto-importados” da Nigéria Socialista e do Caribe Afro-Cubano, aportaram no Brasil
dos séculos XVIII e XIX e aqui tentaram continuar as severas regras do Sistema Ifá : o que teria acontecido? A
primeiríssima conclusão que me vem à mente é que eles “esbarrariam” na severidade de aplicação dessas mesmas
regras, que não mais eram aplicáveis neste Novo Mundo.
Uma das mais rigorosas exigências que o magistério de um “Babal’awo” lhe impunha era que ele transmitisse
a “Owo Ifa” [Mão-de-Ifá] a pelo menos 1 [hum] “Omo-Awo” [Filho-do-Segredo], o que dentro de regras precisas
levaria muitos anos, pois se o próprio Mestre morresse antes disso, a sua “Ori Orun” [Cabeça-no-Além / Duplo
Astral / Espírito ou o que queiram os sincretistas religiosos], não poderia descansar em paz entre os seus
Antepassados até que o aprendiz conseguisse alcançar o “status” de “Babal’awo”, o que num regime de escra-
vidão era muito possível que nunca viesse a alcançar e certamente não foi alcançado em inúmeros casos.
Daí, talvez, o aparecimento dos “Éluôs” [Olhadores], de Edison Carneiro [1948], talvez “Filhos-do-
Segredo” que perderam contato com seus Mestres, pois eu acredito que o termo “Èluô” seja a corruptela fonética
e inversão de sentido do termo africano “Oluwo” [Aquele-tem-Segredo], uma das gradações superiores que um
“Babal’awo” podia alcançar em África, correspondente ao grau de “Ojugbona“ [Mestre de Ensino].
Além disso, a linhagem principal dos “Babal’awo” era sobretudo patrilinear ou, mais tardiamente, de
caráter exclusivamente masculino: oprimidos por um duro sistema escravagista, raros foram os escravos aqui
nascidos que conheceram e/ou conviveram com os seus pais carnais e, muitas vezes, eram ainda separados de
suas mães aos sete anos de idade para iniciarem-se nos trabalhos braçais. Tanto assim era que, embora possa haver
muitos outros, conheço apenas o registro de alguns casos de parentesco de “Babalaôs”, seja em 1º ou 2º grau :
— Banbose era filho de Gogosara.
— Benzinho era neto de Bangbose.
— Ary Sowzer era filho de Benzinho.
— Ajimudá era filho de Tio Eliseu.
— Tio Marcos era filho de Marcos, o Velho.
africana deste termo possa haver quem pense que ele não era um “Babal’awo”, ele era sim um “Babalaô” brasileiro
de respeito, conhecimentos e filiação patriarcal originária da linhagem de “Ti’Joaquim” do Recife e que por muitos
e muitos anos, pesquisou e praticou uma variação dos princípios africanos básicos que regem o Sistema Ifá,
iniciando-me nos “Caminhos de Ifá” com o “Tabuleiro” até mesmo contra a minha vontade, pelo difícil método
do ensino, estudo, erro, dedução, correção : -”Mojubá, Ojúgbona mi Yapacani “-
Por lógica, respeito e conhecimento de causa, também aqui incluirei os nomes de três de meus “Irmãos-de-
Santhé” da T.U.O. : “Mestre Yassuamy” [Mario Tomar] - meu Irmão de Coração, “Mestre Arabayara” [Ovídio]
e “Mestre Arapiaga” [F. Rivas] que são, depois de mim, por ordem cronológica de “feitura”, “Filhos-de-Santo”,
“Mestres-de-Iniciação” e “Babalaôs” mais antigos “feitos” por “Mestre Yapacani” [W.W. da Matta e Silva], cada
um deles de acordo com seus próprios méritos e que um dia responderemos [também eu] , cada um por seus próprios
atos, perante “Olorun” e, por isso, eu os saúdo : -“Ogbedú, àwón Bàbál’awo! Moju’bá, o!“-
Incluirei aqui também os nomes de três [3] de meus “Irmãos-de-Santo” e “Filhos-de-Santo”, dos quais espero
a continuação dos “trabalhos” dessa enorme lista de “Babalaôs” brasileiros anteriormente citados que nada devem
aos “awon Araba” africanos e seus “Missionários Caribenhos”, senão mútuo respeito :
1] — “Mestre Hanamatan” [Diamantino Fernandes Trindade -SP], o Profesor e Historiador pelo qual sempre tive
o mesmo respeito de um “Irmão-de-Santo”;
2] — ¨Mestre Kamatayara” [Alexandre Rossite - SP], que tomou “Jurema” pelas minhas mãos e se tornou no tardio
“Filho-de-Santo” de meu coração espiritual, repositório último daquilo que eu possa deixar de útil;
3] — “Mestre Arashakamá” [José Henrique Motta de Oliveira], Mestre em História Comparada [UFRJ] e
Dirigente da “Cabana de Pai Pescador das Almas”, também por mim levado à “Raiz de Guiné” como
Babal’awo e, agora, é Mestre Maior da “Ordem de Umbanda do Cruzeiro do Sul”- RJ.
Cito, ainda, Davilson Moreira da Costa que ainda percorre um árduo “Caminho”, mas que com a ajuda de
seu “Caboclo Oriaguaçu” tem indicado a Senda das Santas Almas do Cruzeiro Divino, antes mesmo de iniciar sua
própria “caminhada” por ela! Desculpem-me os “Filhos-de-fé” de meu Mestre Yapacani que ainda não demons-
traram ser “Babalaôs” ou, ainda, os “Filhos-de-fé” de outros Mestres que me esqueci de citar ou que não citei por
não conhecê-los : por favor, ensinem-me sobre eles! Assim estarão honrando as suas memórias e preservando os
seus feitos para que seus futuros “netos” não se esqueçam de citá-los a seus “bisnetos” na “Ijo Orunmila” [Oração
da Manhã]!
Mas, aos “filhos” ou “sucessores” daqueles “Babal’awo” Afro-Brasileiros e Brasileiros que aqui citei, faço
meu apelo em prol de que sejam verdadeiros seguidores de seus Mestres Ancestrais : unam-se e divulguem seus
conhecimentos formando novos “Omo Awo”, “Akisa” e “Akoiwe”, pois que, o “Segredo” é sempre a conseqüên-
cia de sua “Essência” e não da “Ocultação” obstinada e patética de fragmentos de “Conhecimentos” da Antiga
Tradição Oral Africana. E, desta forma, disponham-se a apoiar e executar aquele “regresso sempre possível” da
primazia da Divinação Sagrada do Orixá Orunmilá-Ifá, prognosticado por Roger Bastide, para restabelecer o sadio
equilíbrio espiritual existente no passado entre o Patriarcado e o Matriarcado da Religião dos Orixás no Brasil.
1.07 - Um Pretenso Ofício de Mulher
Hoje em dia, o observador imparcial dos cultos de origem Afro-ameríndia e até da maioria daqueles que se
dizem de “Nação Africana” pura, apercebe-se que quase todos os graduados desses cultos arroga-se o título de
“Babalaô”, sem ter a necessária condição total que a esse título estava indelevelmente conotada, ou seja, entre outras,
o conhecimento do processo divinatório do Tabuleiro-de-Ifá e/ou da Corrente-de-Ifá que sempre foram o apanágio
de todos os verdadeiros “awon Babal’awo”. Isto porque quase todos eles aqueles graduados retro-citados só sabem
(sic) manejar o processo divinatório dos “Dezesseis Búzios”.
Sabendo-se disso, compreende-se Roger Bastide [1953] quando diz : -”... não foi tanto o desaparecimento
de um grupo de sacerdotes e sim o fato de uma forma de adivinhação ter sido substituída por outra ...”- o que
causou a derrocada do Sistema Ifá no Brasil.
E foi justamente isto o que aconteceu aos Babalaôs do Brasil : não foi apenas o seu pequeno número que
os relegou ao esquecimento. Da mesma forma que as guerras em África, foram as grandes pressões do sistema
escravagista que levaram os novos Babalaôs a trocar o “Tabuleiro” pelo dispositivo auxiliar da “Corrente/
Rosário” e, depois, pelos “Búzios”, para assim aliviarem seus encargos espirituais por motivos materiais.
Por esses motivos, facilitaram a substituição de um sistema operacional por outro muito mais simples mas,
com este passo, perderam a ligação direta com parte do sistema mágico existente subjacente ao “Tabuleiro”, pois
ainda que seja possível estabelecer-se a ligação da “Corrente-de-Ifá” com os “Versos-dos-Mitos-de-Ifá”, não é
possível realmente estabelecer a ligação de todos os Vesrsos com os Búzios.
E sendo nos “Versos-dos-Mitos-de-Ifá” que estava registrada a Sabedoria Milenar do povo Iorubá e não
sendo todos estes mesmos Versos utilizados no processo auxiliar da “Corrente-de-Ifá” e, muito menos, no processo
simplificado dos “Búzios”, acrescendo-se que estes últimos também não obedecem sequer à Ordem de
Hierarquização entre os Fundamentos ainda obedecida pela “Corrente-de-Ifá”, os Búzios deixavam de obedecer
à regras precisas ancestrais e sendo cada vez mais baseado nos dotes psíquico-espirituais de cada Divinador.
Com esta extrapolação da “interpretação pessoal” do Divinador em detrimento das “Falas-de-Ifá”, perdia-
se o referencial ancestral dos Sacrifícios Propiciatórios [adimu], dos Encantamentos [ofo], da Medicina Mística
[oogun], dos Amuletos de Boa Sorte [awure], das Oferendas a Exú [ru’bo] e da Determinação do Destino Pessoal
[kpoli], uma vez que todos estes atos baseavam-se na Criação [dafa] das Figuras Gráficas [ona ifa] sobre o Pó-
Consagrado [iyerosun] aspergido sobre o Tabuleiro [opon ifa] e, posteriormente, utilizado pelos Babal’awo nas
magias de “comer o pó”, “beber o pó”, “lavar-se com o pó”, “traçar o melhor caminho no pó”, “marcar a pele
com o pó”, “dignificar com o pó” e até “destruir à distância pelo pó”.
Por que de tudo disso? Teria sido só isso o que aconteceu com o magistério dos Babalaôs no Brasil?
Edison Carneiro [1948], em quatro páginas [101/104], descreve bem o que mais se conhecia do magistério
do Babalaô no Brasil : -”Antigamente, fora do candomblé, havia o Babalaô, o adivinho - um sacerdote dedicado
ao culto do deus da adivinhação, Ifá [Nagô] ou Fá [Gêge] -, representado pelo fruto do dendezeiro. As mães
sempre buscavam o conselho dos Babalaôs, para confirmar o Orixá protetor desta ou daquela inicianda, às
vésperas das festas públicas ou em seguida à calamidades que porventura desabem sobre a casa.“-
-”Os babalaôs eram, assim, um elemento de importância excepcional. Eram guias espirituais, uma última
instância, a derradeira palavra em qualquer assunto difícil, que exigisse, não só conhecimentos especiais, como
um contato mais íntimo com as potências ocultas da natureza.”-
-”Os babalaôs eram considerados irmãos das mães e, portanto, tios das filhas, que lhes deviam as
mesmas reverências tributadas à mãe.”-
-”Nos últimos anos, havia apenas dois babalaôs na Bahia - Martiniano do Bonfim e Felisberto Sowzer
[Benzinho] - ambos filhos de africanos de Lagos [Onin, Nigéria] e concorrentes entre si. “-
-”Estes foram os últimos babalaôs.“-
Portanto, em pouco mais de cem anos de história “oficial” dos Candomblés, da presumível data histórica
da fundação do Candomblé do Engenho Velho [1830] à morte de Martiniano do Bonfim [1943], todos temos
conhecimento de que este quadro descrito por Edison Carneiro [1948] se inverteu totalmente. Por que ???
Minha vivência e estudos conduziram-me à uma opinião [e sei que serei polemizado por isso], de que três
foram os fatores básicos que a isso levaram :
1] — a transposição de local de permanência dos Babalaôs;
2] — a escolha entre a “efeminização” ou “rebeldia” imposta aos “filhos-de-santo”, em determinados
Candomblés da Bahia;
3] — a mudança do sistema de “Divinação” para a “Adivinhação” por ganância pecuniária.
Senão, vejamos! E os “grifos” agora serão meus!
No início de sua narrativa Edison Carneiro [1948] diz textualmente: -“Antigamente, fora do Candomblé,
havia o Babalaô ...”-
Depois, nas 4 páginas já citadas, eis o que ele continua a nos dizer : -”Os novos sacerdotes de Ifá se situam
numa categoria inferior - os èluôs - e em geral são elementos de dentro dos candomblés.”-
E eis aí, o primeiro dos fatores básicos citados : a mudança de local de atuação do “Babalaô”, de fora para
dentro do Candomblé, perdendo a sua independência e até a própria supremacia no culto, deixando de cuidar de
vários Candomblés para serem dependentes de uma só “Mãe de Santo”!
E o que era, já à época de Edison Carneiro, o mundo do Candomblé?
Era o novo império do Matriarcado, a “Cidade das Mulheres”, que Ruth Lange [1967] tão bem descreveu.
Mas, para melhor explicar o ponto de vista que enfocamos, vamos continuar baseando-nos apenas em Edison
Carneiro [1948], que nos diz às páginas 97 à 98: -“Este esquema de hierarquia revela, sem sombra de dúvidas,
que as mulheres detêm todas as funções permanentes do candomblé, enquanto aos homens se reservam apenas
as temporárias e as honorárias .”-
-”Com efeito, a chefia espiritual e temporal da casa de culto está entregue a uma mulher [a mãe], que
escolhe para sua assistente imediata, seu braço direito, outra mulher [a mãe pequena], para dirigir a massa
de mulheres [as filhas] que deve contribuir para o melhor entendimento entre os homens e os ôrixás. O cuidado
desses ôrixás está a cargo de mulheres [as filhas], que por sua vez recrutam para auxiliá-las, outras mulheres
[as ékédes]. Outras mulheres, ainda, se encarregam de funções administrativas dentro da comunidade .”-
-”Ocasionalmente, são requisitados os serviços masculinos, ora para o sacrifício de animais [axôgún],
ora para a invocação dos ôrixás nas grandes festas [alabê e tocadores de atabaque], ora para conseguir dinheiro
uma situação particular bahiana : -”Os Candomblés da Bahia não fazem “santo de homem” e, se porventura algum
homem “cai no santo”, não tem licença para dançar.”-
Mas isso não é toda a verdade, porque não existiam na Bahia, à época, apenas os três Terreiros historicamente
interligados [Engenho Velho, Gantois e Axé Opô Afonjá] dos estudos de Edison Carneiro, mas sim muitos outros
como qualquer curioso é capaz de constatar, mesmo hoje em dia, com facilidade. Mesmo em relação ao “Ilê Axé
Opô Afonjá”, resvalou Edison Carneiro, pois que é fácil constatar-se a continuidade da feitura de muitos “Filhos-
de-Santo”: quem quiser conhecer seus nomes, basta ler os nomes registrados ao longo dos anos por Deoscoredes
Maximiliano dos Santos [Alapini Didi ], em seu livro “História de um Terreiro Nàgô” [1994].
E, então, justificou-se a rebeldia e diz-nos o próprio Edison Carneiro [1948 ]: -”Com efeito, Zé Pequeno,
Germina, Idalice, outros pais e mães nunca passaram pelo processo de “fazer o santo”: ninguém lhes pôs a
mão, na cabeça.”-
E qual a reação da Comunidade Nagô a esta rebeldia?
Continua prescrevendo Edison Carneiro [1948]: -”Para estes casos criou-se uma tapeação - os
interessados afirmam que os seus respectivos ôrixás foram “feitos em pé”, ou seja, eram tão evidentes e tão
poderosos que dispensaram a intervenção de terceiros.”-
Bom! Para mim não fica claro de quem foi a “tapeação” e por “intervenção de terceiros” eu leio “algumas
das novas Matriarcas de Candomblé”, pois a verdade é que de mais nada valia ser “Feito-no-Santo” em alguns
Candomblés de Nação, em ser homem. Este teria que se rebelar se quisesse e merecesse ser um “Pai”, no já feminino
universo dos Candomblés Bahianos.
Provas??? Ah! Sim, provas!!!
Edison Carneiro [1948] também pode fornecê-las: -”Substituiu Maria Júlia Figueiredo, na direção do
Engenho velho, mãe Sussu [Ursulina]. Com a sua morte, outra divergência iria cindir novamente as filhas.
Esta divergência seria chefiada por Aninha [Eugênia Ana dos Santos, 1869/1938], filha de Bambuxê e, por
um complicado parentesco espiritual, filha do Engenho Velho. Irmã de Santo de Ti’Joaquim, do Recife, então
na Bahia, Aninha lutou por fazê-lo substituto de Sussu. Venceu, entretanto, o partido da ordem.”-
Mas, perguntamo-nos: de qual “ordem”? E quem era Aninha? Dela nos diz, posteriormente, o próprio
Edison Carneiro [1948] : -”... entre outras coisas porque Aninha foi, incontestavelmente, a figura feminina mais
ilustre dos Candomblés da Bahia.”-
Assim, ilustre por seus próprios méritos, a “Ìyál’òrìsà Aninha Oba-Bìíyí” era sabidamente filha do
“Babal’awo Bángbósé”, um legítimo representante da Orgânica Tradição Patriarcal Africana.
E quem era “Ti’Joaquim”? Era Irmão-de-Santo de “Aninha Oba-Bìíyí” !!! O que comprova que no próprio
Engenho Velho, ao tempo da “feitura-de-santo” de “Aninha Oba-Bìíyí”, ainda não se considerava uma “imora-
lidade” o “Filho-de-Santo”, porque existia um “Babal’awo” em seu comando maior : “Babal’awo Bángbósé”!
Não há registros que “Ti’Joaquim” tivesse “inequívocas tendências para a efeminização”; indubitavelmente
não podia ser apodado de “clandestino”; muito menos, poder-se-ia aplicar a sanção da etnicidade usada contra
os “não-Nàgôs”. Mas tinha ele o grave “defeito” de ser um homem e, além do mais, radicara-se no Recife.
Assim, a menos que tenha havido qualquer outro motivo grave jamais revelado imputável a “Ti’Joaquim”,
criou-se realmente a “tapeação” única : “Venceu o partido da ordem”.
Mas, repetirei, de qual “ordem”? Certamente não era a da “orgânica tradição africana”, pois, além de
outros, um “Babal’awo” de reconhecida e incontestável formação africana, “Ajimudá” [Martiniano Eliseu do
Bonfim], apoiou a decisão de Aninha em fundar um Candomblé independente, o Centro Cruz Santa do Aché do
Apô Afonjá, em 8/11/1936, cujo comando, coerentemente, ela cedeu a “Ti’Joaquim”.
Ele poderia ter sido o restaurador do Patriarcado dentro do Candomblé do Engenho Velho [pois sucederia
à Mãe Sussu], mas acabou por ser derrotado pelo Matriarcado que contra ele se insurgiu por ser ele um homem
e, além disso, já “feito-no-Santo”, pois que nada tinham contra “Aninha Oba-Bììyí”, tanto que ela sucedeu a
“Ti’Joaquim”, quando da morte dele, pontificando no já então Sociedade Cruz Santa do Axé do Opô Afonjá,
no comando do qual faleceu em 3/02/1938, tendo “talvez 40 anos de feita e aproximadamente 20 anos de mãe,
devendo ter feito dezenas de filhas”, como nos ensina o próprio Edison Carneiro [1948].
E, agora, cito eu : eis aí uma verdadeira Matriarca por seus próprios méritos !!!
Mesmo assim, na realidade, contrariamente ao que se possa pensar, a linhagem patriarcal não se acabou
em “Ti’Joaquim”, “Benzinho” e “Ajimuda”, mesmo na Bahia : entre outros, ainda na Nação Ketu, existiu
Procópio de Ôgunjá; na Nação Gêge, avultaram-se Manuel Menez e Manuel Falefá; e, na Nação Ijêxá, elevou-
se Eduardo Mangabeira e tantos outros Pais que lamento profundamente não ter conhecido ou às suas histórias
[excepto a de Falefá], seja por ignorância minha, seja porque os seus seguidores não registraram seus feitos.
E mesmo fora das Nações Nagôs, os Pais continuaram em maioria, pois por ocasião da instalação da União
das Seitas Afro-brasileiras da Bahia [1937], diz-nos o próprio Edison Carneiro [1948]: -”Dos 67 candomblés
matriculados na União, 37 eram dirigidos por pais e 30 por mães.”-
Infelizmente, a sobrevivência dos Patriarcas não foi sinônimo de sobrevivência de “Babal’awo”, pois a
supremacia das Matriarcas no Culto Nagô apenas acirrou a disputa entre os “Babalorixás” e os “Èluôs” pelo direito
de se praticar a Arte da Divinação de Ifá.
Assim, foi parcial Edison Carneiro [1948] ao citar “Ajimudá” e “Felizberto Sower” como os últimos Baba-
laôs da Bahia, pois os Babalaôs continuaram a existir através de seqüênciais Iniciações e, entre outros, além dos
que já citei, registre-se o nome de “Ogum Jubé” [Manoel Cerqueira de Amorim], muito prestigiado na Bahia e
citado pelo “Alapini” Deoscoredes M. dos Santos, nos idos de 1962.
E não podemos nos esquecer que “Babalawo” Africanos e Afro-Brasileiros existiram em outros lugares
como “João Alabá” [africano] no Rio de Janeiro. E de “Cipriano Abedé” [africano], o amigo de “Aninha Oba-
Bììyí” que era do Rio Grande do Sul e “the last, but note the least”, “Santinho” [Agenor Miranda da Rocha].
Portanto, parece-me evidente que o processo de “efeminização” de Filhos-de-Santo e da “não feitura-de-
santo” em homens, inicialmente foi um fenômeno restrito a dois Candomblés interligados — o “Engenho Velho”
e o “Gantois” — que, por reflexos espelhados à época por alguns pesquisadores, quase todos ainda comprome-
tidos com a filosofia de repressão “sanitarista” aos Cultos “Afros”, foi se ampliando e encontrando imediata
simpatia entre outras Matriarcas, as quais entretanto sabiam que, na realidade, o que não tinham era o direito de
instruírem e consagrarem elementos masculinos.
Mas a decadência dos Babalaôs não está ligada somente ao processo de efeminização e/ou rebeldia dos
Filhos-de-Santo. Sobretudo, está ligada à simbiose negativa que os Babalorixás promoveram entre o “Opele Ifa”
[enquanto “Rosário-de-Ifá”] e o “Owo Merindilogun” [os “Dezesseis Búzios”] africano, simbiose esta que veio
a resultar no híbrido “Jogo-dos-Búzios” praticado no Brasil, o qual pouco tem a haver com o método africano
e que, atualmente, cada um joga como quer gerando-se as mais absurdas variações, conforme o grau de
necessidade financeira ou ganância pecuniária de cada moderno “pseudo-divinador”, a ponto do leniente Edison
Carneiro, já em 1948, já falar com severidade e propriedade sobre o virtual desaparecimento do Sacerdócio de
Ifá, muito embora quisesse referir-se aos “Eluôs” : -”A existência desse sacerdócio está em sério perigo,
ameaçado pela concorrência cada vez maior dos pais e mães, que entretanto não possuem o treino especial
requerido para o trato com Ifá.”-
-”Os chefes dos candomblés acendem uma vela sobre a mesa [taramesso], ao lado de um copo com água,
e atiram os seus búzios ... É do taramesso, manejado por mãos desonestas, que sai o feitiço, a “coisa feita”,
o “bozó”; que saem os envenenamentos por vias de “garrafadas” fornecidas aos consulentes; que surgem os
casos de surras, de mortificações, de crimes contra a natureza.”-
E eu me pergunto se as ”mãos desonestas” seriam apenas as masculinas, uma vez que ele fala
expressamente em “búzios” que, como já vimos exaustivamente, não é a mesma coisa que o Sistema Ifá, apanágio
dos Babalaôs. Mas é pinçando-se entre estas frases soltas, que se obtém o quadro preciso da ganância pecuniária
que — “çá va sans dire” — Edison Carneiro atribui mormente a aqueles “Terreiros” que não são de Tradição
Nagô : -”Antigamente, porém, o pagamento recebido por esses serviços não chegaria para enriquecer ninguém.
Os tempos mudaram, a vida encareceu. E não é difícil que se fale em “trabalhos” de conto de réis.”-
E, lapidarmente : -”Há muitos pais e mães enriquecidos com estas consultas.”-
“Pais” e “Mães” que nada têm a haver com o “Babal’awo”, uma vez que ele diz precisamente que são
aqueles que estão pondo em risco o sacerdócio deste último, por não possuírem “o treino especial requerido
para o trato com Ifá.”-
E o próprio Edison Carneiro [1948] termina com uma longa frase que resume muito bem o resultado do
longo processo de diminuição da importância pública do magistério dos Babalaôs iniciado na Bahia : -”Desta
sorte, o mundo do candomblé se restringe ainda mais, dentro de suas próprias fronteiras, pela supressão dos
serviços dos babalaô e do èluôs, enquanto os pais e as mães aumentam o seu poderio espiritual e econômico,
pela solução de problemas individuais e o pagamento recebido em troca das consultas a Ifá.”-
De quem, pois, são as “mãos desonestas”, uma vez que houve a “supressão dos serviços dos babalaôs e
do èluôs”, os únicos que tinham o direito de manusear o “Tabuleiro” e a “Corrente-de-Ifá” nos Candomblés?
Assim sendo, me é lícito questionar se alguma só vez, o Orixá Ôrunmilá-Ifá sequer ouviu as “preces”
desses “pais” e “mães de santo” enriquecidos com o “pagamento recebido em troca das consultas a Ifá “.
Quanta diferença entre estes relatos dessa situação no Brasil, contra o que relata W. Bascon [1969] para
a África e os autênticos “Babal’awo” do passado : -”O montante a ser dado neste momento é deixado
inteiramente para o cliente e os únicos fatores determinantes são o quanto ele, no momento, tem consigo, de
quanto ele pode dispor e quanto a sua posição social requer que ele dê ...”-
E mesmo estas reduzidas quantias livremente ofertadas, algumas vezes não podiam ficar em poder dos
Babalawo, conforme relata ainda Bascon [1969] : -”Alguns versos elucidam que ele não receberá pagamento
algum; outros dizem que ele não pode conservá-lo e precisa passá-lo diante.”-
Assim, no Brasil, embora ainda se soubesse que os “Babalaôs” representavam a “última instância” religiosa,
a “derradeira palavra em qualquer assunto difícil “ e que detinham um “contato mais íntimo com as potências
ocultas da natureza”, eles foram suplantados pelos “Pais e Mães” que, “entretanto não possuem o treino especial
requerido para o trato com Ifá”.
E foi assim que, “um mistério em que somente homens” eram iniciados foi transformado intencionalmente
em um pretenso “ofício de mulher”... ...
1.08 - O Ifá e o Esoterismo de Umbanda
Diz-nos Roger Bastide [1953], em sua análise sobre os Babalaôs : -”... se existiam Babalaôs era, porque
a este grupo sacerdotal correspondia à uma determinada função e tal função continua a ser obrigatoriamente
desempenhada, aconteça o que acontecer.”-
Mas, pergunto eu : por quem é agora exercida a antiga função de “Babal’awo” nos Cultos Afros-brasileiros
que se conhecem? Para o grande público de fiéis destes Cultos, eles parecem existir por toda a parte porque, hoje
em dia, basta fundar civilmente um agrupamento religioso qualquer e seu “chefe”, se for do sexo masculino, logo
se intitula “Babalaô” e pronto : ninguém mais o contesta! Mesmo porque, em nosso meio, restam muito poucos
Iniciados capazes de diferenciar entre o verdadeiro “Babalaô”, o “Babalorixá” e o “Pai-de-Santo” e, mesmo
esses poucos, em sabendo separar o joio do trigo, não mais se interessam em exercer a primazia do Culto : a força
do título permanece, mas o conhecimento e o comportamento não!
Porque se pedirmos àqueles auto-intitulados “Babalaôs” que executem um “Jogo” sobre qualquer assunto
e eles prontamente empunharão os “Búzios”, senão um “Baralho Cigano” e, por vezes, o “Tarot”. Dificilmente
se os verá empunhar os “Dendês” ou a “Corrente-de-Ifá”.
Mesmo aqueles que empunharem os “Búzios”, quase todos os jogarão de uma forma primária e, muitas
vezes, ridícula, aprendida em folhetins ou opúsculos e sem a menor semelhança ou referencial esotérico com o
“Owo Merindilogun”. E, executado o “Jogo”, o seu resultado será de molde a que o “cliente” tenha que patrocinar
um verdadeiro festival de “oferendas”. À “peso de ouro”, naturalmente!
Os resultados disso são, quase sempre, inócuos e a resposta a uma eventual reclamação do “cliente” quanto
à ineficiência do “Jogo” [naturalmente, nunca é ineficiência do “jogador”] estará sempre na ponta da língua : -
”Faltou fé, meu filho; faltou fé !!! ”-
Mas, se os resultados forem catastróficos causando o Mal, quando atingidos pelo “choque de retorno”, ver-
se-á então estes auto-intitulados “Babalaôs” correrem à procura de um verdadeiro Babalaô para se “limparem”.
E como estes auto-intitulados “Babalaôs” reconhecem um verdadeiro Babalaô? Por verem-no empunhar os
“Ikin” [coquinhos de dendê] sobre o Tabuleiro-de-Ifá ou, então, “lançar” a Corrente-de-Ifá; em seguida, pela
severa admoestação que terão que ouvir e, depois, verificar que o “Adimu” [Oferenda Propiciatória] que eles
deverão fazer, referir-se-á sempre, em primeiro lugar, à salva-guarda do “cliente” que foi enganado.
Na verdade, se o grande público não conhece os verdadeiros Babalaôs da Tradição Afro-Brasileira, é
porque eles não mais se expõem, embora continuem a existir quer na Bahia, em Pernambuco, no Espírito Santo,
em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em São Paulo e, também, no Paraná e no Rio Grande do Sul.
Alguns continuam à frente de Candomblés-de-Nação, sobretudo “Gêge”, “Ijêxá” e “Òyó”; outros, só se
contactam através de graduados na Nação Nàgô, pois não participam diretamente do comando dos Terreiros,
sendo conselheiros e assistentes consultados pelas mais sábias Mães, como no passado; alguns outros, estão
agregados aos Cultos Afro-brasileiros, tal como a Umbanda, aonde prestam relevantes serviços na recuperação
de valores tradicionais e iniciatórios ignorados ou perdidos.
Outros estão, digamos assim, na suave obscuridade do meio religioso e, perto de seu ocaso, se importam
muito mais com o estudo, registro e ensino do Sistema Ifá do que com as coisas materiais, até para si próprios:
é muito difícil que executem o “Jogo” para alguém, a não ser para a determinação de um “Santo-de-Cabeça” e,
isto, somente em casos muito complicados [vide Agenor Miranda Rocha].
E é por tudo isso que Roger Bastide [1961] também insinua que ainda pode haver uma “nova ofensiva e
regresso sempre possíveis” por parte dos Babalaôs para recuperar a sua primazia e restabelecer o uso dos
verdadeiros “Opon Ifa” e “Opele Ifa”. Mas, eles não farão tal movimento, até que o meio religioso Afro-
brasileiro, sobretudo os atuais descendentes dos religiosos Negros escravizados, esteja preparado para reconhe-
cer como verdadeiros, belos e atualizáveis os valores culturais, morais e religiosos de seus Antepassados e, então,
pararem de aceitar e repetir o discurso dos Dominantes sobre a religião dos Dominados.
Duas frases de Roger Bastide [1961], resumem a essência do que acima eu disse: -”O próprio negro
CAPÍTULO I - O JOGO DE IFÁ NO BRASIL 34
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
brasileiro, ao estudar as religiões africanas de seu país, aceita o ponto de vista do branco sobre a superioridade
da civilização ocidental. Tende-se inconscientemente a admitir que o candomblé não pode fundamentar ou
postular uma filosofia do universo e uma concepção do homem, diferentes sem dúvidas das nossas, mas tão ri-
cas e complexas quanto estas, a pretexto de que os fiéis de tais religiões pertencem em geral às camadas mais
baixas da população.”-
-”Mas é preciso mostrar ainda que os cultos não são um tecido de superstições que, pelo contrário,
subentendem uma cosmologia, uma psicologia e uma teodicéia; enfim, que o pensamento africano é um
pensamento culto.”-
E é isto que eu procuro fazer, pois quem pode demonstrar a cultura do Ancestral Pensamento Religioso
Africano, paradoxalmente para os Cultos de Nação Africana, somos nós, os “Mestres de Iniciação” da Umbanda
Esotérica que há cerca de 50 anos lutamos para levar ao seio dos cultos Afros, também chamados de Candomblés
de Caboclos, Macumba Urbana, Umbanda Popular que atualmente lutam para se organizarem em muitas
Federações e Confederações, uma “Linha” litúrgica, ritualística e teológica coerente, completa e com raízes
ancestrais que não somente aquelas calcadas na teoria do “selvagem nobre” de Jean Jacques Russeau ou o “negro
domesticado” estereotipado no romance “A Cabana de Pai Tomás”.
Em suma, lutamos para demonstrar a clarividência e a atualidade do Pensamento de “Mestre Yapacani”
[W. W. da Matta e Silva] e outros Mestres, “pensamento” este continuado, ampliado e ensinado por seus “Filhos-
de-Fé”, tais como “Mestre Yassuamy” [Mario Tomar - RJ/ES/SP] e também este que agora lhes fala — “Itaoman”
[Ivan H. Costa - RJ/SP] —, através de obras esclarecedoras pioneiras como “Pemba, a Grafia Sagrada dos
Orixás” [Editora Thesaurus - DF] e “Ifá, o Orixá do Destino” [Editora Ícone - SP], obras estas esgotadas que
seguramente refletem o obrigatório desempenho da função do magistério dos “Babalaôs” e que “Mestre
Hanamatan” [Diamantino F. Trindade - SP] busca agora registrar em suas várias obras, mormente nos livros
“Umbanda e sua História” e “Umbanda Brasileira - Um Século de História”.
E, por coerência e amor à Verdade, não posso abster-me de citar “Mestre Arapiaga” [Rivas Neto - SP],
também “Filho-de-Fé” de “Mestre Yapacani” e autor de várias obras sobre Umbanda Esotérica e Esoterismo,
embora sem grande correlação com o Sistema de Divinatório de Ifá.
Tenho aguda consciência do fato que podemos, sim, ajudar a demonstrar a cultura do Ancestral
Pensamento Religioso Africano acima citado, pois, como já disse, sou de origem Umbandista, embora não esteja
mais ligado só à ela por ter outras Iniciações, mormente a do “Ara Orun Imole Irunmole Orisa Funfun Orunmila
Ifa”! Portanto, sei que posso ser confundido erroneamente com um “Elu ninu Ile Ife” [Estrangeiro na Cidade
Santa] pelos Cultos Afro-brasileiros aos quais busco auxiliar e não estou aqui querendo hostilizar a ninguém
quando digo que, por um lado, não há mais divulgação pública da ação atual de verdadeiros “Babalaôs” no seio
dos Terreiros de Nação Africana [além de Pai Agenor] e, por outro lado, quando digo que só o magistério dos
Babalaôs pode oferecer aos cultos já citados a “estrutura mais forte que a história” citada por Roger Bastide e
que eles tanto se empenham atualmente em estabelecer.
Mas, tenho a férrea certeza de que, após tantos anos de estudos e pesquisas, tanto bibliográficas quanto
de “campo”, à par com intensa “Iniciação” e “Prática Esotérica”, na Umbanda, concedida por um Patriarca, e
também outra Iniciação posterior a mim conferida por um Patriarca da Nação Angola, pois o respeitado e amado
Guia Espiritual que me assiste - “Pai Vicente” - sempre se diz de “Angola” [ao qual continuo a cultuar pelo
“Caminho-de-Bohio”], à par da “Iniciação” nos Mistérios de Ifá “gritada” em minha “Ori Inu” [Cabeça Interna/
Intelecto] por “Orisa Òrunmilá”, sei que sou um “Akisa” convicto e um “Akoiwe” consciencioso.
Pois, conheço o “Awo” [Mistério] de grande parte dos Fundamentos de Tradição da Nação Iorubá; estudei
e convivi com verdadeiros “Babalawo”; já fui “submergido” na “Eerupe” [Lama] e se não me intitulo
“Babal’awo” a torto e a direito é, simplesmente, pelo meu profundo respeito aos “Babal’awo” do Passado, à
sombra dos quais todos nós, no Brasil atual, não passamos de “Omo Ifa” [Filhos-do-Segredo], sendo que alguns
de nós ainda preferem louvar Mestres “importados” do Caribe e da Califórnia que nada têm a haver com a nossa
Tradição Afro-Brasileira como acabei por demonstrar e, também, porque já não mais me atrai o degrau místico
de poder ou de fama que a Divinação Sagrada de Ifá pode, muitas vezes ou até certamente, propiciar aos seus
competentes praticantes e que os Babalaôs mais jovens buscam insensatamente alcançar antes do devido tempo.
No decorrer destes muitos e muitos anos [pois sou feito no “Santo” desde 1963] de convivências, práticas
e estudos com Babalaôs, Babaogês, Babalorixás, Vodunos, Tatás de Inkice, Mestres de Linha, Pais-de-Santo,
Mestres Magístas Tântricos e até com bem intencionados Babalaôs “feitos dos pés para as mãos”, tenho hoje
a plena convicção de que inúmeras vezes, senão todas, sempre esteve presente ao meu lado, ou melhor, em minha
“Ori Inu” [Cabeça Interna], ou ainda, em meu intelecto, o “Oso” [Poder Místico] do Orixá Orunmilá instruindo-
me, guiando-me, aconselhando-me e daí as súbitas clarividências, a ligação de fatos aparentemente díspares, o
conhecimento inesperado com pessoas ligadas à Ifá e os documentos raros postos à minha disposição e, por isso
mesmo, por tal assistência, a compreensão do “incompreensível” para muitos outros e, finalmente, a certeza
mística, pelo “A Da Ifa Fun” [Criação de Ifá para] criado para mim, de que sou um “Babatunde”, ou seja, um
“Pai que retornou” e, por isso mesmo, posso invocar :
-”Ifá jiò, Òrunmilá ó! Si òjú ki orì emi dáadáa!“-
-”Acorda Ifá, Oh, Orunmilá! Fixe seus olhos em mim e olhe-me bem!”-
Como já disse antes, minha origem primeira é Umbandista e hoje, com mais de 40 [quarenta] anos de “Feito”
[1963], como o “Mestre-de-Iniciação” mais antigo em minha “Linha” [T.U.O.] do Santuário de Itacuruçá, ensino
em nosso meio que a Umbanda tem, entre outras, profundas raízes culturais e esotéricas africanas [queiram ou não
os preconceituosos], as quais conheço, acato e respeito profundamente, ao contrário de outros de meus pares na
Umbanda Esotérica que as tratavam pejorativamente por “africanismo”.
Pois, o que são, essencialmente, os “Pretos-Velhos”, os “Caboclos” e as “Crianças” que militam na “Gira
de Umbanda”? São transposições — no Tempo, no Espaço e na Sobrevivência Cultural — do conceito Ancestral
Africano dos “Agba Baba Egun”, dos “Iwin” e dos “Ere”!
E quem eram os quase desaparecidos Sacerdotes dos Ancestrais nas Nações Africanas? Eram os “Baba-
oge” [Pais] dos “Ilé-l’èsé-égun” [Terreiros-aos-pés-dos-Antepassados]. E os Iniciados dos Cultos de Nação
ainda sabem que eles sempre tiveram e têm o direito de “jogar Ifá” pelo “Opele Ifa” [Corrente-de-Ifá]!
E quem são, hoje e no Brasil, os Sacerdotes dos Cultos dos “Antepassados/Pretos-Velhos”? São os
Zeladores de Santo da Umbanda! E por que não teriam eles o direito de “Jogar Ifá” pela “Corrente-de-Ifa”, desde
que aprendam e respeitem a sua liturgia, ritualística e mística de origem patriarcal africana, alcançando assim que
“Agbonerigun” - outro título para “Orunmilá” - os aceite como seus “Eru” [Servos Místicos], “raspando” e
“gritando” em suas “Ori Inu” [cabeça-interna] a necessidade de sua Ancestral Sabedoria ser traduzida para estes
novos tempos e modos para que ninguém duvide que eles são “Awon Babal’awo”:
-“A ki igbon ju eni ti o ma da Ifa fun eni lo”-
-”Ninguém é mais sábio do que aquele que joga Ifá para ele“-
Portanto, não me venham dizer que “não foi assim que minha mãe me ensinou” e que é preciso que alguma
Matriarca lhes “raspe” a cabeça por fora, pois a Iniciação em Ifá ainda é a única Iniciação, dentre todas outras
africanas, que é de caráter eminentemente intelectual e seu “Ase” [Poder Místico] não se transmite só por
“contágio”, mas essencialmente se “raspa por dentro” [fa inu] com estudos, conhecimentos, práticas e lealdade
a um Patriarca de Ifá ou a uma Sociedade Espiritual Patriarcal.
E tendo sido no “chão” da Umbanda [à qual serei sempre grato] que dei meus primeiros passos esotéricos,
foi também em seus “Pontos Cantados” que percebi os ecos de uma longínqua civilização clamando por ser
reconhecida por seus legítimos valores espirituais amortalhados pelo desraizamento, esquecimento e ignorância
de seus “Filhos” que, em 4ª ou 5ª gerações, continuam tão escravizados social e culturalmente quanto seus ascen-
dentes em um sistema social continuamente injusto :
-“Vem de tão longe,
da Aruanda, do além Mar!
Pai Preto, teus filhos chamam
nesta Umbanda e neste Congá!”-
Foi sintonizando-me com esses débeis ecos, ampliando-os e decodificando-os que eu cheguei a ouvir o
chamado do Orixá Orunmilá-Ifá e lentamente me tornei, por escolha dele, tal como “Igi” [Ser Espiritual que
habita na Palmeira Sagrada] em seu “Eru” [Servo Espiritual], talvez por que, em outras eras, tenha sido eu,
alternadamente, o injusto “senhor” e o rebelde “escravo”, pois se convivi e estudei com verdadeiros Babalaôs
com quem aprendi as “ewe Ifa” [ Folhas-de-Ifá], as “oogun” [medicinas místicas], as “ofo” [rezas fortes] e os
“awure” [amuletos de boa-sorte], foi o “Orìsa Orunmila” quem, no recôndito de minha mente, “gritou-me” as
“ipese” [oferendas retaliatórias], as “igede” [maldições] que causam males aos culpados, as “akaraba” [magias
paralisantes] contra os agressivos, os “apeteba” [chamamento dos ausentes], as “awopa” [magias pelo olhar]
que estão nos Versos dos Mitos de Ifá, mas onde quase ninguém mais hoje em dia os reconhecem. Nem mesmo
aqueles que dizem não confundir “Odu” com “Odu”!
E, desta forma, hoje eu também sei que a única forma de perpetuação do Esoterismo de Umbanda, residirá
na sua capacidade de realizar a síntese do que melhor existe em todas as correntes religiosas de que se compõe,
para assim acompanhar a sua contra-partida social que é a “gênese” de uma nova raça - a Brasileira -, a qual
resultará da fusão de todas as raças [as que aqui estavam e mais as que aqui aportaram] não nos importando, desde
já, de que lado das correntes de ferro elas aqui chegaram, mas sim o que de melhor elas nos legaram. Para isso,
não se pode ter preconceitos, muito menos, o racial de “Africanismo”.
Assim, para mim, a realidade é que Candomblés, Nações Africanas, Malês, Mussurumins, Xangôs,
Tambores de Mina, Torés, Babassuês, Catimbós, Candomblés de Caboclos e Umbandistas, depois da tormenta
histórica da escravidão no Brasil, somos todos irremediavelmente “Elu ninu Ile Ife” [estrangeiros na Cidade Santa],
quer queiram ou não os mais reacionários e afoitos membros dos Cultos de Nação Africana que se dizem “os puros”,
porque nenhum deles nasceu na Cidade Santa de Ifé e talvez quase todos não consigam regredir sua filiação espiritual
a mais que três gerações, e, destes, se lerem este manuscrito, quase todos dirão :
-”Não foi assim que minha Mãe me ensinou! “-
Paciência !!! É um direito deles querer permanecer na obscuridade espiritual!!!
E, no entanto, deveríamos todos nós estar procurando nossas melhores raízes, afim de bem intercambiá-
las em prol de todos. E é isto que estou procurando realizar com a Reinterpretação do Sistema Ifá que denominei
de “Versão Sahkala” : o resgate do Sistema Ifá neste novo Tempo e no Brasil atual!
Portanto, o intuito da “Versão Sahkala” não será o de recompor plenamente o culto do Orixá Orunmilá
para restabelecer o uso pleno do “Opon Ifa” e do “Opele Ifa”. Não!!! Não é isso que eu pretendo!!!
Mas, como já citei antes, em alguns dos Versos de Ifá, os consulentes eram orientados e até instruídos à
“Kifa” [recitar Ifá], sem que, por isso, se tornassem em Divinadores. Assim, muitos devotos do Orixá Orunmilá
aprendiam à “Kifa” e ao estudarem com os “Babal’awo” mais idosos, passavam a merecer o título honorífico
de “Akisa” [Aquele que louva a Divindade]. Além disso, em virtude de todo o conhecimento e sabedoria sócio-
cultural contidos nos Textos Oraculares de Ifá, em tempos mais recentes, o “Akisa” era denominado por “Akoiwe”
[Aquele-escreve-livro].
Desta forma, este “Akoiwe” pretende que a “Versão Sahkala” venha a ser uma nova maneira de “Kifa”,
mas que a sua finalidade seja a de se utilizar do máximo de informações corretas sobre o Sistema Ifá, tal como
era praticado em África e assim legitimar a sua sobrevivência no Brasil atual, corrigindo-se com as preciosas
informações ancestrais africanas o conhecimento que deste Sistema Divinatório sobreviveu no Brasil.
Pois, por vezes, esse conhecimento foi inconsciente e até conscientemente adulterado, mas adulteração
esta que também representa o esforço de transição esotérica desesperadamente realizado pelos Babalaôs nascidos
no Brasil, afim de se adaptarem ao novo meio sócio-cultural em que se viram inseridos à força pela escravidão,
depois pelo sub-emprego e, ainda hoje, pela falta de uma instrução maior do que básica.
E sendo a Iniciação em Ifá a única dentre todas as outras formas de iniciação africanas que é intrinse-
camente intelectual, tais informações ancestrais africanas, somadas à vivência esotérica de cada interessado,
indubitavelmente deslocará incorreções, suprirá lacunas e impulsionará os mais habilitados a alcançarem o
máximo possível de eficiência e probidade em prol de seus consulentes, quiçá ajudando a dar descanso à “Ori
Orun” [Cabeça no Além] dos “Olhadores” bem intencionados que nunca ouviram de seus discípulos a fórmula
ritual de filiação esotérica africana :
-”Ori mi gba; Aiya mi gba“-
-”Minha cabeça aceita; Meu peito aceita.”-
A conseqüência da Versão Sahkala, além das inevitáveis controvérsias e acusações à minha pessoa, será
a de reinterpretar o Sistema Ifá perante a atual realidade dos Cultos Ameríndio-ariano-afros, especificamente à
da Corrente Astral de Umbanda, os quais se servem de diversos métodos de Divinação, aleatórios às suas reais
necessidades e que vão desde corruptelas do “Owo Merindilogun” Yoruba ao “I Ching” Chinês, passando pelo
Baralho Cigano Rômi, a Geomancia Greco-Islamita, o Tarot Egípcio e até as Runas Nórdicas.
E note-se bem : a dificuldade de adaptação do Sistema Ifá aos Tempos Atuais, não mais se encontra em
se conhecer e recapitular quase toda a mística, a ritualística e a liturgia referentes ao Orixá Orunmilá-Ifá que se
diziam perdidas, mas já de algum tempo recuperadas, sobretudo por pesquisadores religiosos que se apoiaram
nos estudos de antropólogos, sociólogos e religiosos africanos com formação acadêmica ocidental.
A dificuldade real apresenta-se no fato de que tais mística, ritualística e liturgia são de concepção africana
puramente negra, remontando a quase dois mil anos de existência. Como aplicá-las no Brasil atual, se a concepção
de indivíduo, família, estado, nação, honra e dever para com os Antepassados são outras totalmente diversas,
mesmo quando existem?
Como aplicar-se a severa justiça do Orixá Xangô, num meio sócio-cultural aonde ainda existem e resistem
as injustiças geradas pela escravidão, através de seus subprodutos tais como o subemprego, o analfabetismo, o
racismo bilateral e o “gueto” das favelas???
Como conciliar o desamparo e, até, o repúdio da atual sociedade às crianças “especiais”, aos deficientes
físicos e mentais, com a máxima africana de que estes mesmos Seres Humanos eram os mais bem amados e eleitos
de Deus [Olorun] e, por isso mesmo, deviam ser os mais bem amparados pela Sociedade???
Como preceituar oferendas que, no passado e em África, até os mais pobres poderiam arcar com as despesas,
num novo contexto sócio-cultural onde a mortalidade infantil, por desnutrição, só é suplantada por poucos países
no mundo???
E se a descendência dos Babal’awo era patrilinear, como reatar tantos “elos perdidos” nesses trezentos e
tantos anos de guerra e exploração do Homem pelo Homem, onde o negro adulto de boa conformação física era
separado da família e passava a servir como “macho reprodutor”, indiscriminadamente???
Bastaria somente reunir conhecimentos e aplicá-los sem sabedoria??? Neste novo mundo tecnológico e
apressado, poderíamos reviver as condições ideais de tempo e calma, mesmo dentro dos Cultos Afro-brasileiros,
para a prática plena do “Opon” ou do “Opele Ifa”? Não em muitos deles, aonde o prazo de Iniciação já baixou
até para alguns fins de semanas intercalados???
Como melhor divulgá-lo, no Brasil, se sistemas divinatórios como o I Ching, o Tarot e a Geomancia,
embora sejam de origem, respectivamente, chinesa, rômi-egípcia e Greco-Islamita são considerados esotéricos,
mas o “Owo Merindilogun”, por ser de puríssima origem negra, não o é ? Sim !!! Assim ouvi de um jovem e
“respeitado” editor que recusou manuscritos por não considerar o Sistema Ifá como um sistema esotérico!
Assim, nestas dúvidas angustiantes, mais de uma vez recitei agoniado :
-”Jiò Ifá, Òrunmilá, o !!!“-
-“Acorda Ifá, Oh! Orixá Orunmilá “-
Mas, depois que o “Oso” [Poder Místico] do Orixá Orunmilá “raspou” e “gritou” em minha “cabeça
interna”, apercebi-me de dois fatos importantes e cruciais :
1] — O primeiro é que esta “Versão Sahkala”, embora simplificada, baseia-se em Iniciação e vivências
pessoais, minhas e de terceiros que assim me autorizaram; em estudos sócio-etnográficos antigos e recentes; em
anotações de campo pessoais muitíssimas mais extensas e é rigorosamente correta, histórica e esotericamente,
podendo servir de subsídio ou auxílio àqueles que, por descendência, formação e/ou participação estejam, mes-
mo que paralelamente, alinhados às linhagens patrilineares dos Babalaôs do Passado e, por isso mesmo, possam
querer tentar reviver a prática plena da Divinação de Ifá.
2] — O segundo é que, com a Versão Sahkala, será possível estender uma ponte de aproximação entre a
Divinação Sagrada de Ifá e o Esoterismo de Umbanda do Brasil, por tornar acessível aos Umbandistas, sobretudo,
a base atual, essencial e esotérica para a determinação do “Odu Kpoli” [Destino Pessoal pelo Momento de
Nascimento] e as regras básicas da “Corrente-de-Ifá” para a prática do “Igbo-Igbo” [Procurar o Oculto].
Para isso, respeitei tudo o que foi possível recuperar do referencial ritualístico do Sistema Ifá, mas tra-
zendo-o para nossa época, cultura e espaço físico através de adaptações judiciosas e legítimas, esclarecendo as
corruptelas acontecidas, aproveitando as simplificações corretas e inteligentes que já são de uso e costume,
desmistificando e eliminando as práticas exploratórias e lesivas aos fiéis e consulentes, por meio de uma re-
interpretação esotericamente estruturada que leve os Umbandistas a praticarem, nestes novos tempos, uma versão
correta de uma Divinação Sagrada que, na realidade e “in fine”, a Umbanda ainda não tem!!!
Entretanto, essa reinterpretação esotérica que propomos não é tão nova e, muito menos, tão inventiva como
possamos ter sugerido anteriormente, tendo-se em vista que mesmo em África já existiam processos simplifica-
tórios derivados do Sistema Ifá, tais como o citado “Owo Merindilogun” e, no Brasil, o do Sistema “Bangbose”.
Desta forma, estabelecer analogias, simbioses e reinterpretações entre sistemas divinatórios não será
meu privilégio ao reinterpretar o Sistema Ifá pela Versão Sahkala, pois nada mais repetirei do que a mesma
intenção de tantos outros Alufa, Babalawo, Babalaôs e Eluôs do passado, ou seja : a sobrevivência do Sistema
Ifá em outros Tempos e outras Terras!
E nem serei eu o primeiro, no Brasil, a procurar correlações outras com o Sistema Ifá : também Pierre
Fatumbi Verger apercebeu-se da semelhança entre o grafismo dos dezesseis “Ona Ifa” [Caminhos-de-Ifá] e as
dezesseis figuras gráficas da “Geomancia”, estabelecendo uma correlação gráfica entre eles, mas não a sua correta
correlação esotérica.
Assim sendo, esta minha atitude reinterpretatória nem sequer é nova ou original, sobretudo no Brasil, pois
que, na formação de cultos de origem Ameríndia-ariana-afro, tais sincretismos já se deram inúmeras vezes e o
próprio Candomblé de Nação é um agrupamento de sobrevivência sócio-cultural, aonde os valores espirituais
de áreas culturais africanas diversas se amalgamaram em um só espaço de resistência religiosa à opressão da
escravidão, reunindo também em seu interior elementos de outros cultos de origens não Iorubás.
Que não sejam minhas, mas as de outros consagrados ao estudo da Raça Negra, em África e no Brasil, as
palavras, idéias e constatações que justificam esta minha afirmação, socorrendo-me primeiramente Pierre Verger
[1971], ao afirmar : -” A palavra “Candomblé”, que designa na Bahia as religiões africanas em geral, é de
origem Bantû. É provável que as influências das religiões vindas de regiões da África situadas nas imediações
do Equador não se limitem apenas ao nome das cerimônias, mas tenham dado aos cultos Gêges e Nàgô, na Bahia,
uma forma que os diferencia, em certos pontos, dessas mesmas manifestações na África.”-
Também Roger Bastide [1961], ao tratar do uso da acentuação ortográfica aplicável a termos Iorubás
traduzidos em Língua Portuguesa, diz quase o mesmo que o autor anterior e acrescenta : -”... Mas como tomamos
o candomblé como realidade autônoma, que certamente compreende elementos de diversas origens, mas que não
obstante forma um conjunto coerente que pode ser estudado em si mesmo e como esta realidade é uma realidade
brasileira ...”-
Ou seja : o Candomblé tem origens africanas diversas, mas é uma realização carateristicamente brasileira!
Em seguida, socorre-me Roger Bastide [1971], quando nos relata : -”O banto, passando à América, deixou
atrás de si, além de seu território, os espíritos que o povoavam ... E chegando numa nova terra que estava, ela
também povoada de espíritos, devia ao mesmo tempo que era obrigado a aceitar o novo território em que devia
viver, aceitar também forçosamente o seu duplo sobrenatural. Que as coisas assim se passaram, não quero
por testemunho senão às próprias afirmações dos Negros do Catimbó, que me diziam : -” Agora somos
brasileiros. Devemos adorar os deuses da nova pátria.”-
E, assim, os religiosos africanos exilados pela escravidão abriram mão de seus valores iniciatórios
ancestrais, adaptando-os aos novos lugares e novos costumes, como o permitia suas sacrificadas vidas.
Assim, também no caso específico dos Nàgôs, eles só conseguiram manter o seu conceito de Divindade,
os seus “awon Orisa”, fazendo temporariamente concessões relativas às suas exteriorizações no novo meio
ambiente de seus “senhores”, tal como foi o caso do sincretismo aparente dos Orixás com os Santos Católicos
que jamais ocorreu em África mesmo sob dominação estrangeira e que, mesmo passada a sua utilidade específica
de camuflagem, até hoje perdura na Umbanda Popular, embora já seja rejeitada no seio dos Candomblés.
Mas, como os seus ancestrais e lugares devocionais sagrados haviam ficado para atrás, tiveram que abrir
mão dos “Itan Atowodowo” [Mitos dos Tempos Imemoriais], as suas “Escrituras Sagradas” jamais escritas e
das quais faziam parte integrante os “Itan Ese Ifa” [Versos dos Mitos de Ifá], porque as experiências de seus
Ancestrais não mais lhes serviriam nas novas terras aportadas, uma vez que nada nestes milhares de “Mitos
Exemplificativos” se coadunava com a feroz e degradante escravidão a que então se viram submetidos os sobre-
viventes Nàgôs. E isto foi válido para todos os outros lugares aonde foram escravizados.
Enfim, tiveram que se adaptar ao novo meio, e, assim, o “Opon Ifa” involuíu no “Opele Ifa” e este no “Owo
Merindilogun” para, finalmente, desaguar nos “Búzios”.
Então, o que eu pretendo com a Versão Sahkala não é o regresso à plenitude perdida do Sistema Ifá, mas
sim re-estruturar o que foi possível salvar de tamanha derrocada histórica e cultural, utilizando esse novo
amalgama para revitalizar a Umbanda, pois dizem os críticos que a Umbanda é uma “salada religiosa”. Mas o
que eles nunca compreendem, é que ela foi o repositório seguro dos “retalhos” das “tradições” que cada
coletividade isolada dos povos escravizados e colonizados pode salvar de seu naufrágio particular, ao serem
dispersos por mais de trezentos anos numa diáspora que não se limitou à uma faixa litorânea de duas regiões
[Bahia e Rio] como no caso dos Nàgôs, mas que também dispersou Negros pela imensidão continental do Brasil.
E nessa imensidão continental por muito tempo bravia e inóspita, até hoje adversa aos simples e aos pobres,
só havia um lugar aonde essa parcela rejeitada da Humanidade não era excluída por qualquer fator racial, cultural
ou econômico : o “Chão” das Seitas Ameríndias-Cristãs precursoras que, sincretisadas pelos Bantos, acabaram
por desaguar na Umbanda!
E nesta “salada religiosa” sempre houve e haverá lugar para quem quiser aprender ou ensinar e, nela, nunca
se ouviu um “Preto-Velho” [travestimento brasileiro de “Egun”] perguntar se o consulente é de tal ou qual
“Nação” ou mesmo em que é que ele acredita. A pergunta sempre foi : -”Suncê tá sofrendo, mu’sum fiô? “-
E, isto, mais que qualquer outra similaridade de liturgia, ritualística ou mística entre os “Zeladores de San-
to” da Umbanda e os “Babaoge” que cultuavam os antepassados africanos, é o que mais identifica a essência da
Umbanda com a essência da Divinação Sagrada de Ifá, expressa nos “Ese Odu Obara Meji” [Versos do
Fundamento de Tradição Obara Duplo], quando no ensina :
—”Pobreza não é motivo para brincadeiras!“—
—”Não se debocha do sofrimento alheio! “—
Entretanto, mesmo a perda da maioria dos Textos Oraculares de Ifá, embora seja uma tragédia cultural e
esotérica, não é impeditiva de uma maior compreensão atual do significado essencial da globalidade do Sistema,
graças ao conhecimento dos Versos de Ifá que ainda restaram, sobretudo em África, uma vez que o Reino de Benin
só se rendeu aos exércitos Ingleses em 1924, tornando-se Protetorado Britânico.
E é este resgate da ancestralidade que permitirá a interpretação do Sistema Ifá em uma “nova” Versão, a
“Sahkala”, uma vez que o que dela mais se perdeu no Brasil, foi justamente o significado mais completo de seus
Signos Gráficos, pois que, o manejo do Tabuleiro e da Corrente-de-Ifá ainda é conhecido por vários verdadeiros
Babalaôs, como o prova — para os que sempre exigem provas — o relato de Verger / Bastide [1953] sobre a
sessão de Divinação que eles presenciaram ser realizada pelo “Babalaô Bojé” que, pelo mesmo relato,
demonstrou grande acuidade mental frente à complexidade que sempre se atribuiu aos Mitos de Ifá.
E essa “sensação de complexidade” por parte dos atuais fiéis dos Cultos Afro-brasileiros é natural e deriva
do fato evidente que a maior parte deles desconhece a verdadeira cultura sócio-religiosa de seus Ascendentes
Ulkumy-Nàgô-Yoruba e do que com ela aconteceu no Brasil.
Sim, na realidade, os Versos dos Contos de Ifá quase desapareceram totalmente no Brasil, igualmente em
África, porque os filhos e aprendizes de Babalaô não mais dispunham de tempo para as longas sessões de memo-
rização que eram necessárias ao seu aprendizado, uma vez que a sobrevivência no regime de escravidão tinha
outras prioridades e, também, porque raros eram os escravos que aprenderam a escrever de forma a registrar suas
tradições ancestrais, exceções honrosas porém tardias de uns poucos descendentes de escravizados, como as de
“Benzinho” [Sower] e “Ajimuda” [Martiniano Bonfim] que eram, inclusive, poliglotas.
Sabe-se, porém, que para que um “Omo Awo” [Filho-do-Segredo] começasse a divinar por conta própria,
isto é, para ser um “Babal’awo”, a Confraria de seus Pares achava razoável se ele soubesse, pelo menos, 1 [hum]
Verso para cada um dos 240 [duzentos e quarenta] “Odu Amulumala” [Fundamento de Tradição Composto],
o que seria bastante razoável de ser memorizado em um tempo relativamente curto, isto é, em três ou quatro anos.
Entretanto, mesmo que na teoria fosse necessário que o “Babalawo” iniciante precisasse conhecer estes
240 [duzentos e quarenta] Versos, além de vários Versos dos 16 [dezesseis] “Odu Meji” [Fundamento de
Tradição Duplo], na prática raramente ele recorreria a todos eles, em virtude do que já observara Clarke [1939],
sobre o recurso do “Igbogbo” [Achar o Oculto], que era o recurso de se escolher corretamente entre as alternativas
especificamente apresentadas, quando o Babalaô se utilisava da Corrente-de-Ifá, processo esse que dispensava
a citação de todos os Versos dos Contos de Ifá pelo “Babal’awo”, baseando-se apenas na “Awon Odu Ninu Ifa”
[Ordem dos Odu em Ifá], Hierarquia dos Fundamentos que é a Ordem Seqüencial de Importância que determina
qual “Odu” [Fundamento de Tradição] tem primazia sobre outro na aplicação de seu significado.
Matemáticamente, tal comparação hierárquica fazia com que todos os 240 [duzentos e quarenta] “Odu
Amulumala“ [Fundamento de Tradição Composto] fossem apresentados separados em 2 [dois] dos 16
[dezesseis] “Odu Baba” [Fundamento de Tradição Principal] que os compõem, sendo um deles declarado o
Vencedor Hierárquico e só seus Versos eram recitados!
Assim, o que me parece mais lógico é que um “Babal’awo” experiente precisasse conhecer a maioria dos
Versos para alguns dos 16 [dezesseis] Fundamentos considerados de maior significado determinante e até
conhecer alguns Versos para outros Fundamentos também significativos, pois que, na verdade, para um
“Babal’awo”, o tempo de estudos não terminava ou termina nunca. Mas esta não era a regra geral e, como disse
Delano [1937]: -”O trabalho deles é difícil e precisam possuir uma muito poderosa e retentiva memória. Cada
esfera da vida tem um Fundamento à ela ligado. Na medida em que a ansiedade, a doença e a bondade humana
variam e são sem conta, nunca existiu um só Babalaô que tenha podido cobrir o universo inteiro de Ifa.”-
Daí a existência de uma Confraria restrita de “Babal’awo” em África, a “Osogboni”, a qual se estruturava
em camadas ascendentes, cada uma delas sendo o repositório de conhecimentos específicos sobre determinados
“Odu” [Fundamento de Tradição], confraria esta que não conseguiu sobreviver no Brasil por muito tempo por
sua participação nas revoltas no Século XIX.
E se o “Babal’awo” tinha que ter uma poderosa memória retentiva ou então se socorrer da memória cole-
tiva de sua Confraria, era porque não tinha os meios práticos de manter o registro escrito duradouro dos Mitos
de Ifá. Os tabuleiros de madeira e giz, que serviram muito bem à divulgação do Islamismo, embora práticos, não
eram formas de registro escrito : registravam símbolos geométricos mnemônicos que ligavam-se à Ordem dos
Fundamentos em Ifá e seus conhecimentos religiosos, culturais, sociais, medicinais e artísticos, mas que não
grafavam esses conhecimentos propriamente ditos e que só era praticada no âmbito sacerdotal Iorubá até o
advento dos caracteres árabes e, posteriormente, dos caracteres latinos.
Assim, infelizmente, os Textos Oraculares de Ifá não foram perpetuados pelo registro escrito que tamanha
Tradição Oral merecia. Por isso mesmo, o Rev. Donald Onadele Epega [1931] só conseguiu listar 621 [seiscentos
e vinte e um] versos mas, dentre eles, pelo menos 1 [hum] verso para cada um dos 240 [duzentos e quarenta]
Fundamentos Compostos, justamente o número que os ”Babal’awo Ojugbona” [Mestres de Ensino] consideravam
adequado ao conhecimento de um “Babal’awo” iniciante em África.
Então, porque não considerar também esse conhecimento [e até menos, como adiante veremos], como
adequado aos novos praticantes no Brasil, pois se os 240 [duzentos e quarenta] Fundamentos Compostos são apenas
o resultado combinatório dos 16 [dezesseis] Fundamentos Principais entre si, conhecer os versos destes
Fundamentos Principais não corresponde, resguardadas as devidas proporções, a conhecer a Base Principal do
Sistema Ifá ??? Não foram estes mesmos 16 [dezesseis] Fundamentos Principais que se constituíram na base da
simplificação que gerou o “Owo Merindilogun”, tendo mantido os seus designativos próprios também no que
é denominado simplesmente de “Jogo dos Búzios”?
E não foi um “Babal’awo” Africano [Bàngbósé] o primeiro a fazer isso no Brasil, sendo posteriormente
seguido por inúmeros Babalaôs brasileiros, na tentativa de preservar a Hierarquia dos Fundamentos, que era
importantíssima na prática da Corrente-de-Ifá ???
Assim também fez o Babalaô Bojé que, segundo o próprio título do trabalho conjunto de Bastide/Verger
[1953], era também ele o “último verdadeiro Babalaô” da Bahia. Nesse trabalho, aliás bem acurado, à pg. 97,
a meio da descrição da realização de um “Jogo” pela Corrente-de-Ifá, os autores relatam o que viram e, mais que
isso, o que constataram : -”O Adivinho examina o Odu! Cada lado simboliza a metade de Meji; mas é preciso
consultar a tabela para se verificar que os Odu têm uma ordem.”-
Na verdade, por “metade de meji”, deve-se ler aqui a divisão de um “Odu Amulumala” [Fundamento
Composto], ou seja, a combinação de 2 [dois] Fundamentos Principais diferentes que, separados em sua
apresentação conjunta, mostram justamente os 2 [dois] dos 16 [dezesseis] Fundamentos Principais acima
referidos, podendo-se então aplicar-se a Ordem dos Fundamentos em Ifá para saber qual dos dois prevalecerá.
Portanto, já nesta época, no Brasil, estava consagrada a prática de só se recorrer ao significado dos 16
[dezesseis] Fundamentos Principais que, ao combinarem-se entre si, além de consigo próprios, geram todo o
Sistema Ifá. Note-se que os dois pesquisadores anteriormente citados apreenderam que : -“...é preciso consultar
a tabela para verificar que os Odu têm uma ordem”-
Em África, não eram usadas “tabelas”, pois tudo era memorizado e o que não fosse lembrado naquele
momento, podia ser consultado com cada Mestre, o qual poderia ainda recorrer às graduações superiores de sua
Sociedade [Osogboni]. A prática de usar uma “tabela” é bem brasileira e decorre do fato de se conhecer a escrita
para registrar a Tradição, em virtude de não se ter mais a quem recorrer em instância superior.
Então, na reinterpretação do Sistema Ifá que ora propomos — a “Versão Sahkala” — adotaremos a mesma
atitude acima e, assim, também os estudiosos Umbandistas terão a vantagem de consultar tabelas, gráficos e
correlações adrede preparados, o que não invalida a nova Versão, pois é fato que já ocorre, como vimos acima.
E esta Tabulação Geral, digamos assim, será de extraordinária valia para a Divinação Sagrada de Ifá por
preservá-la, perpetuando-a e colocando ao alcance de muitos, um Saber Ancestral que hoje já pode, inovatoria-
mente também, ser registrado pela escrita da mesma língua dos seus novos fiéis e praticantes.
Talvez que registrar e tabular, ao invés de decorar e recitar, venha a retirar uma parte do mistério,
artificialmente criado no Brasil, em torno dos Mitos de Ifá em vias de desaparecimento. Mas, garanto que não afetará
o verdadeiro “Awo” [Segredo] da Divinação Sagrada e, muito menos, diminuirá o encantamento que ela exerce
sobre os seus praticantes e fiéis, tendo-se em vista que o Sistema Ifá não perduraria por mais de dois milênios e
nem seria considerado sério, honesto e eficiente por seus próprios fiéis e também por consagrados cientistas sociais
de todas as culturas, se a sua base essencial fosse composta somente de treinamentos de memória [memorização
dos Textos Oraculares de Ifá] e fenômenos de acaso [manipulação dos Dendês ou da Corrente para a obtenção
do par ou ímpar].
Não! A Divinação Sagrada de Ifá não é só isso!
Parrinder [1949] cita observadores que alegam que : -”Os Babalaôs praticam a telepatia e têm poderes
de previsão. Há necessidade de cuidadosa investigação em fenômenos de telepatia, previsão e espiritualidade.”-
Não posso concordar “in totum” com este conceito, aliás, por motivos óbvios que passaremos a explicar.
Assim, a constatação da transcendentalidade do poder de observação dos Babalaôs deve-se ao fato comprovado,
do qual Whydam [1919] parece ter sido o primeiro ocidental a observar, de que o consulente : -”... não revela
seu problema ao divinador, de quem se espera que venha a se informar por si próprio, através da Divinação.
Ele [o consulente] coloca uma oferenda de “cauris” [para os quais terá sussurrado suas dificuldades] diante
do Babalaô. Este toma o Opele e o coloca sobre os “cauris” e, então, diz : -” Você, Opele, sabe o que este
homem disse aos cauris. Agora, me conte!“-
Embora como Iniciado e Médium eu saiba que Parrinder, entre erros, pressentiu a verdade sobre os
fenômenos psíquico-espirituais que ocorrem na Divinação Ifá, como Místico amo ainda mais a visão eclética e quase
maravilhada de Delano [1937] : -”É maravilhoso como um Babalaô descobre o embrião da matéria que lhe é
trazida. Os nexos da Vida, as semelhanças na Natureza e o que há de comum a todos na Humanidade, eis o
que ele reúne e donde faz uma dedução correta.”-
É por isso mesmo que, em África, se dizia que um Babalaô “não joga Ifá : ele “a da Ifa fun”, ou seja, ele
“cria Ifá para” cada consulente em cada ocasião específica. Portanto, o Encantamento do Ifá está na sua “criação”,
única e exclusiva, para cada pessoa e para aquele dado momento do tempo dela e não na memorização do
conhecimento de seus signos.
E esta “criação” não é fruto de uma fantasia dos Babalaôs ou sequer baseada em fenômenos telepáticos,
mas em uma “escolha judiciosa” da Espiritualidade na “multidão de fatos categorizados” que “ajudam a
orientar e a desenvolver a existência em questão”, como bem se expressou Juana E. dos Santos [1976].
Quem assim o afirma é o próprio “corpus” da Doutrina Religiosa Iorubá quando nos esclarece sobre a ação
dos Planos Espirituais no “mecanismo” do Sistema Ifá, mas não na forma sugerida por Parrinder [1949]. Mas,
para não ser tentado a estabelecer uma versão própria dos fatos já pesquisados por estudiosos mais sábios, farei
um relato simbiótico e integrado de esclarecimentos de Juana Elbein dos Santos [1976] e Monique Augras
[1983], com referência à ação do Mundo Espiritual sobre o Sistema Ifá :
— Monique Augras : -”A Tradição Yorubana afirma que, no Orun ou mundo espiritual, cada ser tem seu
“duplo” e que cada ser humano, no momento que é criado, escolhe livremente o seu Ori [cabeça-
interna] e seu Iwa [destino]”-
— Elbein dos Santos : -”O Duplo do Ori, residindo no Orun é a existência individualizada de cada
pessoa.”-
— Monique Augras : -”Mas ele esquecerá tudo isso, na hora do nascimento. Será preciso recorrer ao
oráculo para saber quem ele é e como deve conduzir a sua vida.”-
E como poderia o Oráculo transmitir tal conhecimento???
— Elbein dos Santos : -”Se por um lado o Ori Inu do Aiye [plano material] reside no corpo, na cabeça
de cada indivíduo, sua contra parte o Ori Orun ... ele é invocado na cerimônia do Bori [Bo + Ri =
Adorar a cabeça]”-
Portanto, embora a “individualidade terrestre” [ori inu aiye], na ”vivência material” [aiye] esteja
esquecido de quem é e qual o seu “destino” [iwa] livremente escolhido antes de nascer, a sua “matriz original
espiritual” [ori orun] registrou estes dados individuais que podem ser conhecidos, ou “lidos”, se a matriz original
espiritual for invocada corretamente no rito de “adorar à cabeça” [bori].
Há outras maneiras para o mesmo fim e uma delas pertence ao Orixá Ôrunmilá, também chamado de o
“Senhor dos Destinos” e que preside a Divinação Sagrada de Ifá.
Vejamos uma dessas maneiras! Corretamente compreendido o “Imole Esu” [Senhor Exú] está indis-
soluvelmente ligado à Divinação Sagrada de Ifá : é a ele que se destina o “Ipade” [Ritual de Reunião] e é também
ele que, apaziguado por seu “Ebo” [Oferenda], transporta o “Adimu” [Oferenda Propiciatória] destinada a
“Olorun” [Deus], conforme seja especificada nos Versos dos Mitos de Ifá ligados aos Signos Gráficos criados
pelo “Lukin” [Manuseio dos Dendês] ou pelo “Dapele” [Lançamento da Corrente de Ifá].
A prova de tal afirmação é que, no Sistema Ifá, o Senhor Exú é representado pelo décimo sétimo [17º]
coquinho de Dendê, o “Olori Ikin” [Senhor de Cabeça dos Ikin], o qual é colocado sobre o “Aje Ifa” [Dinheiro
de Ifá], que é um círculo de búzios atados juntos, colocado fora do espaço de jogo e numa posição oposta à
posição do “Babal’awo”. Esta posição específica confere ao “Senhor de Cabeça dos Ikin” uma segunda deno-
minação não menos importante, a de “Oduso” [Vigia dos Fundamentos], derivada do verbo “So” [Vigiar],
significando que de sua posição tão privilegiada quanto a do Divinador, o Senhor Exú é o Vigia da interpretação
do “Odu” [Fundamento] que seja “criado” pelo “Babal’awo”,.
A própria forma de elaboração do Vigia dos Fundamentos atesta a ligação do Senhor Exú com a Divinação
Ifá : ele é esculpido em um caroço de dendê ou em osso, de forma a assemelhar-se à sua efígie, com o seu barrete
carateristicamente alongado de forma peculiar, semelhante à glande penniana humana e que representa a sua
posição de Dinamizador e Intercomunicador de todo o Credo Iorubá e, por conseguinte, também do Sistema Ifá.
Sobre esta função do Senhor Exú, diz Juana Elbein dos Santos [1976] : -”Será ele, conseqüentemente, que
“moverá” os búzios para que formem as configurações ou “signos” determinados que darão a resposta e os
caminhos necessários para orientar e resolver as questões feitas pelo consulente.”-
E Juana Elbein dos Santos [1976] continua dando com propriedade o próprio Fundamento Essencial da
Divinação Sagrada de Ifá, que era aonde queríamos finalmente chegar : -”Está claro que não é por acaso que
Exú ordena os “Signos Respostas”, mas segundo o Iwa [Destino] do Ori [Cabeça] que ele acompanha. Ele
escolhe, na multidão de fatos categorizados, os que ajudam a orientar e a desenvolver a existência em questão.”-
Ora, diremos nós agora : se cada Ser Humano tem a sua “existência material individualizada” [ori inu aiye]
livremente pré-determinada antes de nascer e esse pré-determinismo está registrado em sua “Matriz Espiritual”
[ori orun] no “Astral” [orun], a qual pode ser invocada e/ou “lida” em rituais esotéricos como o de “dar de comer
à cabeça” [bori], tendo inclusive um “Manipulador” [Esu Bara] que o acompanha desde o “Astral” [orun], sabendo
“traçar” [ilanon] o “bom caminho” [ona rere] para que o consulente melhor concretize o seu “Destino” [Iwa],
então os dotes espirituais ou paranormais do Babalaô capazes de tudo isso captar, tornam-se da maior importância
e qualquer método de Divinação torna-se tanto melhor quanto maior for a sua capacidade de provocar a catarse
psico-astral entre o Consulente, o Divinador e a Espiritualidade.
Foram esses fatos que Parrinder [1949] intuiu, muito mais do que apercebeu e que condensou em sua
observação “... há necessidade de cuidadosa investigação em fenômenos de telepatia, previsão e espiritualidade.”
Portanto, achamos que Parrinder errou no 1º ponto [telepatia]; remarcou o óbvio no 2º ponto [previsão], mas
acertou em profundidade no 3º ponto [espiritualidade], pois que a Divinação Sagrada de Ifá descarta totalmente
a telepatia [1º]; é obviamente um Sistema Divinatório de Previsão [2º] e seu agente intermediário é um “Ara Orun
Imole”, ou seja, um “Ser Sobrenatural de Origem Divina”, “Esu Osije”, o “Exú Mensageiro Divino” [3º].
Mas não podemos nos esquecer de que o Babalaô, além de seus dotes espirituais e/ou paranormais obtidos
em sua sagração, precisa também ter rápida acuidade de raciocínio obtida em seu treinamento e em sua vivência
diária de Divinador, como bem remarcaram Bastide / Verger [1953] ao relatar o muito bom uso deste dom pelo
Babalaô Bojé : -”Agora compreendemos a verdade de uma afirmação que se ouve com freqüência nos
Candomblés: para ser um bom Babalaô não basta conhecer as regras do jogo; é preciso ter intuição! O que
caracteriza o grande Babalaô é a sua capacidade intuitiva.”-
Em conseqüência, dado que cada Fundamento de Tradição para ser um “Signo-Resposta” se apoia nos
Versos dos Textos Oraculares de Ifá que lhe são correspondentes e que cada um desses Versos contém “dísticos”
ou “provérbios” capazes de avivar a memória do Babalaô, na realidade, após esta análise anterior, podemos
entender que, muito mais que avivar a memória, eles servem para “disparar” a intuição do Babalaô na análise do
caso consultado. Isto significa que esses “dísticos”, esses “provérbios”, essas “essências exemplificativas” são
da maior importância e não o conhecimento integral de todos os versos em si mesmo.
Por isso mesmo, como atualmente foram recuperadas quase todas as “essências exemplificativas” dos 16
[dezesseis] Fundamentos Principais Duplos, os quais na realidade apenas confirmam duplamente seus respec-
tivos significados básicos, e, sabendo-se que estes 16 [dezesseis] Fundamentos Principais Básicos se combinam
entre si para gerar os 256 [duzentos e cincoenta e seis] Fundamentos de Tradição Oral de Ifá [16x16=256], pode-
se também, por análise analógica combinatória, deduzir-se as “essências exemplificativas” daqueles Versos dos
Textos Oraculares que desapareceram da memória dos atuais Babalaôs Brasileiros e/ou Africanos.
Isto seria possível em virtude de que também sobreviveu no Brasil a adaptação, que logo se transformou
em costume, de que tendo-se esquecido os Versos correspondentes a todos os 256 [duzentos e cinqüenta e seis]
Fundamentos, passou-se a se considerar cada lado da Trilha Dupla de Ifá em separado. Passou-se também a
considerar a figura do “lado direito” como a “essencial” e a do “lado esquerdo” como “complementar”, no
sentido de se analisar qual a resposta que o Orixá Ôrunmilá deseja que o consulente conheça.
Assim, apenas a nivel de explicação e a grossíssimo modo, se um Fundamento que significasse “Vitória”
aparecesse à direita de um outro que significasse “Problema”, tornava-se evidente que a mensagem do Orixá
Ôrunmilá predizia ao consulente era a “vitória sobre seus eventuais “problemas”.
Apresentando-se de uma outra forma o acima descrito, podemos dizer que, fora os 16 [dezesseis]
Fundamentos Principais Duplos, os restantes 240 [duzentos e quarenta] Fundamentos são compostos por varia-
ções posicionais dos mesmos 16 [dezesseis] Fundamentos Principais Básicos de que se compõem, variando
apenas a sua Ordem de Apresentação, ora à direita e ora à esquerda na Configuração Combinada.
E assim, do mesmo modo que na leitura de suas nomenclaturas, a leitura de seus significados pode
proceder-se combinatoriamente da direita para a esquerda, sendo portanto o significado do Fundamento da
direita considerado como “essencial” e o significado do Fundamento da esquerda como “complementar”.
Tudo isso é dito, em intenção daqueles mais doutos e mais ousados que vierem após minha pessoa e que
pretenderem reviver a Divinação Sagrada de Ifá em todo o seu antigo esplendor ou na intenção dos “Filhos-de-
Segredo” de porventura existentes Babalaôs que não detenham alguns dos Fundamentos de Tradição que
penosamente revivi neste 21 anos de implorar angustiadamente ao “Orun” [Além] :
— “Ifa Jio, Orunmila o! / Acorda Ifá, oh! Orunmilá” —
Porque, para os “Filhos-do-Segredo”, a leitura atenta deste manuscrito será esotericamente reveladora sem
que “ohun mi” [“recaia sobre mim a maldição”] de haver dito qualquer coisa que possa ferir o “ero” [segredo]
da Iniciação do Orixá Ôrunmilá nos Cultos de Nação Africana, os quais sempre foram ciosos na guarda dos
“segredos” que conseguiram a tanto custo preservar em sua trágica trajetória de derrota-escravidão-liberdade, que
se esqueceram que, apesar das perdas e deturpações, tal saber continuou a existir em África, aberto a todos que
o merecessem e soubessem aonde procurá-lo até, seguramente, o ano de 1897, portanto mais ou menos à época
da abolição da escravatura no Brasil, quando o reino de Benin, nunca totalmente derrotado e sobrevivente à
hecatombe da Confederação Ulkumy-Yoruba-Nagô, tornou-se voluntariamente vassalo da Inglaterra, ajudando
a combater e a derrotar os Povos Peule e Haussa´Islâmicos, e, com plausível certeza, até a data mais recente da
implantação do Socialismo na atual Nigéria na década de 1960 [mil novecentos e sessenta].
Relembramos aqui que W. Bascon [1969], em seus trabalhos, cita que uma pesquisa realizada em África
em 1937, revelou a existência de 400 Babalawos, todos localizáveis na região de Igana [Nigéria atual].
Mas, a todos os outros que não serão tão doutos e ousados, sendo mais simples e prudentes como eu, tenho
o dever de alertar que mesmo todo o conhecimento aqui transmitido não transformará infalivelmente os estudiosos
destes assuntos em “Babal’awo”, mas parafraseando à Monique Augras [1983] “... com o tempo, ocorrerá uma
validação por consenso, quando todos tiverem a oportunidade de verificar a excelência dos resultados obtidos”
por aqueles que, estudando o método manipular correto, conhecendo os significados essenciais dos 16 [dezesseis]
Fundamentos da Tradição, respeitando as Oferendas Rituais e usando os seus dotes psíquico-espirituais, queiram
praticar esta reinterpretação do Sistema Ifá que na, Corrente Astral do Aum-Bhan-Dan [o Esoterismo de Umbanda],
denominamos por “Versão Sahkala”.
Assim, com o conhecimento desta Versão Sahkala da Divinação Sagrada de Ifá e contando com a ajuda
de seus Guias e Protetores Espirituais, esses novos “Akisa” poderão juntar os “nexos da Vida, as semelhanças
na Natureza e o que há de comum à toda a Humanidade”, como disse Delano [1937], para fazer a orientação correta
que venha a auxiliar a decisão final do consulente sobre o melhor meio de consumar seu próprio Destino.
Era-me, pois, necessário ser até prolixo para transmitir todo esses conhecimentos antes que eu pudesse
apresentar a Versão Sahkala do Sistema Ifá a todos aqueles Filhos-de-Fé que, hoje em dia, corajosos e coerentes,
embora respeitosamente, não aceitam mais uma “Feitura-de-Santo” disparatada por parte de “chefes” que, a cada
pergunta mais aprofundada sobre o “Santo”, só sabem responder : —”É mironga!” ou “Perdeu-se a folha!”—
Pois, se assim eu não o fizesse, é muito provável que se me aparecesse um desses “chefes” para me dizer,
sobre a forma de “Jogar”: —”Não foi assim que minha Mãe me ensinou!”—
1.10 - A Versão Sahkala da Divinação Ifá
E até o designativo —”SAHKALA”— desta nova Versão, não é uma palavra inventada ao acaso por mim!
Não! O sempre presente Mentor Espiritual que me iniciou na Senda da Antiga Sabedoria — Mestre Yapacani —
através de seu “aparelho mediúnico”, o Babalaô W. W. Matta e Silva [1917-1988] que seguia o “Caminho de
Bohio”, deu-me certa vez, no final de uma correspondência, da qual guardo até hoje o seu singelo original, datada
de 18 de Abril de 1969, um recado que peço “Ago” [Licença] a sua “Ori Inu” [Individualidade Intelectual], já
no “Orun” [Além], para citá-lo : —”PS. Já estou “botando” o Jogo do Opelê de Ifá. Acho que você tem capacidade
de aprendê-lo rapidamente.”—
Não, meu Pai! Levou muitos anos para que, como Roger Bastide, eu pudesse dizer : “Africanus sum”! Mas,
agora, sentindo-me africano de coração, posso recitar-te mesmo que postumamente a saudação de filiação ritual:
—”Ori mi gba! Aiya mi gba! ”—
—”Minha cabeça aceita! Meu peito aceita! ”—
E, assim, libertar-te da maior obrigação que o magistério de Babalaô te impunha : formar, ao menos em relação
a mim, um outro verdadeiro Babalaô. E, hoje, já posso também dizer, meu Pai Matta e Silva, que também já ouvi
esta mesma fórmula ritual de filiação de mais de um “Omo Awo”, ao ascenderem à condição plena de Babalaô,
estando eu assim já pronto e liberto para o meu “Olojo”, ou seja, o meu “dia certo de partida” desta “Ilu Aiye”
[Terra da Vida], não assim tão “odara” [feliz]. E, como meu presente antecipado de despedida a todos os meus
“Irmãos-de-Fé”, escrevi o que teu “Iwa” [Destino] não te permitiu fazer, apesar de tuas nove obras religiosas-
literárias : A “Sahkala”!
Pois que, em tua obra literária “Sua Eterna Doutrina” [1958], tu escrevestes, num “pós-fácio”, sob o título
“Atenção”, à página que seria a de nº 195, mas que, porém, não está numerada :
—”Atenção! Lançaremos antes de “ÇAKALA” ... ...... Aguardem, portanto! ”—
E, portanto, também eu sempre aguardei, meu Pai! Mas, como o teu “Çakala” nunca veio e tu te foste
para o Além, eu não sabia como iniciar este manuscrito. Então, lembrei-me de teus ensinamentos e como aprendi
contigo que um “Iniciado” é sempre aquele que conhece o “Início”, parti no encalço de saber o que esta palavra
poderia significar, pois quem disser que sabia, naquela época, o que ela significava, realmente estará mentindo, pois
nem tu mesmo o sabias ao certo, não é mesmo, meu Pai?
CAPÍTULO I - O JOGO DE IFÁ NO BRASIL 44
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
E eis que, de estudo em estudo, na monumental obra esotérica do místico francês Saint Yves D’Alveydre
— L’Archeometre — no capítulo da Significação das Palavras, que ensina o significado de inúmeros termos do
“Alfabeto Wattan” ou “Adâmico” que tu tanto citavas por considerá-lo como o mais Antigo, Sagrado e Esotérico
de todos e que me ensinastes ser ele a base gráfica da “Lei de Pemba” da Umbanda, lá encontrei o Início !!!
Pelos ensinamentos de Saint Yves D’Alveydre :
1] o termo “Kala” significa o “Destino”;
2] o termo “Sah” significa o “Poder”.
Desta forma, a anteposição do termo “Sah” ao termo “Kala”, forma a palavra “Sahkala”, significando
“Poder do Destino” que, em língua Iorubá, pode ser corretamente traduzido por “Oso Ifa” [Poder de Ifá], que
é o “Senhor dos Destinos”, o mesmo “Poder” [Oso] que Orixá Orunmilá concede a alguns Iniciados de qualquer
origem, transformando-os em “Ifatoso”, ou seja, mais corretamente ainda, em “a Ifa ti oso”, ou seja, “aquele que
possue o Poder de Ifá” e que se torna, tal como “Igi”, o Ser Espiritual que habita na Palmeira Sagrada, em “Eru”
[Servo Espiritual] do Senhor dos Destinos à serviço de seus Fiéis, o que vem a ser justamente o tema deste
Manuscrito!
Acertei, meu Pai? Já havias acertado tu também? Acertaremos todos nós?
Só o Orixá Orunmilá o sabe!
Eu não sei, meu Pai, quem dentre todos nós mais acertará; mas é alta madrugada do dia 15 de Agosto de
1990 e, não tão estranhamente assim, da minha escrivaninha de trabalho em frente à janela que dá visão para o
imenso maciço rochoso que percorre todo o litoral do Rio de Janeiro até nossa terra da “Pedra da Cruz Sagrada,”
que é o que significa o toponímio “Itacuruçá”, começo a ver a claridade do dia surgir e, ao término desta longa
explicação provisória com que encerro o manuscrito “Shakala”, ouço os galos cantarem sete vezes [contei-as],
exatamente como naquele dia, em 1963, quando pela primeira vez falei com “Pai Guiné”, na Tenda de Umbanda
Oriental [T.U.O.] de Itacuruçá, na humilde sede que ajudei a reconstruir sob a orientação do “Caboclo Juremá”
e que já não mais existe, encerrando-se assim, com a sua lamentável desativação, uma Era de Ouro na Umbanda
e, quiçá, embaralhando demasiados “Iwa” [Destino] de muitos de meus “Irmãos-de-Fé”.
“Saravá”!!! A todos os meus “Irmãos-de-Santo” daquela época querida : Manuel Sardinha, Oswaldo,
Silvio, Mario Tomar [Mestre Yassuami], Tatá Mironga, Ovídio [Mestre Arabaiara], Arlindo, José Vieira, José
Eduardo, Chula, Rodrigues, Gavião, F.Rivas [Mestre Arapiaga], Mãe Lóló, Sallete, Mirian, Nair, Aline, India
Burtiol e tantos outros que foram testemunhas dessa Época de Ouro da Umbanda Esotérica no “Pronto-Socorro
Espiritual”, sempre aberto a todos os humildes, em que se constituia a Tenda de Umbanda Oriental de Itacuruçá.
A todos eles :
— “Kòmakú, kòmarun, kòmasèjó, kòmasòfo, àarin dede wa ! Tó! “
— “Nada de morte, de doenças, de brigas, de perdas entre todos nós! Que assim seja!”—
Salve! Minhas Mães Espirituais, Tia Osmira e Mãe Jaiadevy, ambas já no “Além”!
“Kawo Kabiecile Oba Sango, Oba mi ori inu”! Salve, meu Pai-de-Cabeça Xangô!
Protegei-me, São José, meu Padroeiro Católico, em memória de meu pai carnal, pois que eu finalmente
aprendi o maravilhoso significado de ser pai e avô! E que “Olorun” me permita ser bisavô e conhecer meus bisnetos,
assim como conheci minhas filhas e meus netos!
“Ogum Ieeê, Orisa Ogun Asiwaju!” O “Orixá Ogum que vai na dianteira”, à proteção de quem minha
mãe carnal me entregou quando nasci, embora ela só o conhecesse por São Jorge, o Santo Guerreiro!
“Etiofa”! Meu bom Preto-Velho Pai Vicente de Angola, de quem adotei o título africano de “Oberefun
Si Ok’oju Omide” / “Aquele que rezava para o Tumbeiro aportar” [a qualquer porto, para melhor ou pior].
“Ago”! Ao “Dapele ikin ti Opon Ifa” [a caída dos coquinhos de dendê no Tabuleiro-de-Ifá] que me
contou que eu sou “Bâbátundé” [Pai-que-retornou] para cumprir a missão que em outras eras descurei.
“Ogbedu”! “Ogbemurin”! A todos os “Baba Ojugbona mi” que me ensinaram a “Tefa” [Apertar Ifá].
“Mo ju iba, iba se o”! Ao “Imole Esu Egnubarijo” que me permitiu ser também um “Boca Coletiva”,
através da qual puderam falar os “awon Baba Agba” [os Pais Ancestrais Africanos] que sentiram o “Sanmo”
[Céu Estelar] desabar sobre suas honradas cabeças quando da destruição de sua “Ilu Aiye Odara” [Terra da
Vida Feliz] e, ainda assim, não traíram sua Fé Ancestral.
“Adupè ó, Òrìsà Òrunmilá-Ifa”! Obrigado, Senhor Orixá Ôrunmilá-Ifá, que me honrou ao escolher-me
para ser seu “Eru”/“Servo”, “gritando” a compreensão dos “Odù” em minha “Orí Inu Aiyé / Intelecto”, ensi-
nando-me assim o que é Humildade para que eu pudesse redimir-me de minhas muitas faltas passadas contra
meus semelhantes com a pele de qualquer cor.
Sua Benção, meu Pai Matta e Silva! Descanse agora em paz no “Òrun” [Além]!
E deixe-me agora descansar também, meu Mestre Yapacani, pois :
— “Ko si Oba kan afi Olorun! / Não há outro Senhor, senão Deus!” —
CAPÍTULO I I
OS INSTRUMENTOS DE IFÁ :
2.01 - AS FORMAS DO JOGO
2.03 - A TIGELA-SACRÁRIO
2.04 - O TABULEIRO-DE-IFÁ
2.05 - O PÓ DIVINATÓRIO
2.10 - A CORRENTE-DE-IFÁ
2.11 - OS ELEMENTOS-SÍMBOLOS
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 47
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 48
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
A oportunidade das divisões internas prende-se ao fato de que, dentro desta “Tigela-Sacrário”, deverão ser
guardados os “Dendês Consagrados”, o “Vigia dos Fundamentos”, o “Anel de Búzios”, a “Corrente-de-Ifá”, os
“Elementos-Símbolos”, as “Guias”, as “Pembas Consagradas” e quaisquer outros materiais que possam ser
guardados em seus recipientes próprios, mas colocados nas divisões separadas do interior desta “Tigela”.
Vê-se, assim, que a “Tigela”, após consagrada, passa a se constituir em um verdadeiro “Sacrário-de-Ifá”:
daí o designativo de “Tigela-Sacrário”. Ela deve ser colocada sobre a pequena esteira da mesa ou da plataforma
da sala destinada à prática da Divinação Ifá e onde servirá de ponto de apoio ao Divinador.
Além disso, a “Tigela-Sacrário” poderá prescindir de sua tampa móvel, se for construída de forma a poder
conjugar-se, por encaixe ou superposição, com o próprio “Tabuleiro-de-Ifá”, que passa então a ser sua tampa
removível. Esta conjugação da “Tigela-Tabuleiro” é prática, eficiente e muito ajudará ao uso e transporte de ambos
e de seus complementos. E não é nenhuma inovação : já existia em África à séculos e era conhecida no Brasil.
Temos a notar que a “Tigela” e o “Tabuleiro” eram elaborados no formato circular tradicional por um forte
simbolismo esotérico inerente ao “Círculo”, conotado ao “Todo”, ao “Cosmos” e à “Terra” mas, tardiamente,
existiram “Tabuleiros” de formato retangular ou octogonal, a exemplo daqueles que já foram usados em África,
mormente após e por influência cultural Islâmica, em similaridade com as lousas de escrever à giz, denominadas
por “Apako” pelos Negros Muçulmanos, mas que assim perdem a conotação Esotérica citada.
Este conjunto integrado, ou até separadamente os dois elementos, devem ser os primeiros instrumentos à
serem preparados pelo Divinador que for trabalhar com a “Forma Plena” e a “Forma Alternativa” da Divinação,
porque estes dois instrumentos servirão como recipiente para a guarda dos demais objetos que forem sendo
preparados e consagrados, até a reunião total deles todos em um só e apropriado lugar pelo Divinador.
Desta forma, como todos os demais materiais necessários à prática da Divinação, dos quais estamos tratando,
a “Tigela-Sacrário” deve passar por um processo esotérico de “Limpeza Astral” para retirar dela qualquer possível
vibração astral nefasta ou negativa, passível de ser residual e decorrente do processo de corte, armazenamento,
manufatura da madeira utilizada em sua confecção.
Para proceder a esta “Limpeza Astral”, o praticante deve procurar as instruções pertinentes à ela no Capítulo
III - Os Rituais, aonde estão detalhadamente explicadas.
“Descarregada”, limpa e seca a “Tigela-Sacrário”, entretanto, ela não estará ainda consagrada. Para melhor
efeito geral, ela deverá ser consagrada em conjunto com o “Tabuleiro-de-Ifá”, a “Vareta Divinatória”, os “Dendês
Consagrados”, a “Corrente-de-Ifá” e o “Círculo-de-Búzios” em um só ritual, que descrevemos também no mesmo
capítulo já citado. Mesmo assim e desde do início, a “Tigela” deverá repousar sobre uma pequena, retangular e
finamente trançada esteira em um lugar limpo e passará a ser o receptáculo aonde serão guardados os instrumentos
que forem sendo obtidos, obviamente, todos eles, após terem sido “descarregados” e limpos pelo mesmo processo
de “Limpeza Astral”.
Além disso, mesmo que o “Tabuleiro-de-Ifá” não tenha sido feito para encaixar-se na “Tigela-Sacrário”,
poderá repousar sobre ela, bastando para isso que, pelo menos, a circunferência dele seja um pouco maior do que
a dela e que ela esteja sem tampa; portanto, sugerimos as medidas de 30 cm de diâmetro para a “Tigela” e de 36
cm para o diâmetro do “Tabuleiro”.
2.04 - O Tabuleiro-de-Ifá [Opon Ifa]
O “Tabuleiro-de-Ifá” [opon Ifa] é uma prancha circular de madeira, preferencialmente uma peça inteiriça,
podendo ser o seu diâmetro, em média, 36 cm; sua espessura não precisa ultrapassar a 2,5cm; sua face superior
deve apresentar uma borda externa de 4cm de largura e, portanto, um círculo interno 32cm, que se constituirá
em seu fundo interno, sendo este círculo interno rebaixado em cerca de 5mm, para assim delimitar, por
profundidade, o campo de contenção do “Pó Divinatório” [iye-irosun], sobre o qual deverão ser marcados os
Signos Gráficos das “Trilhas-de-Ifá” dos Fundamentos [awon Odu] pelos dedos do Divinador Iniciado.
Sobre esta borda circular superior, obrigatoriamente, deverá ser entalhada (ou pintada), mesmo que
toscamente, a efígie (somente a cabeça) do “Senhor Eshú” [Imole Esu] sendo que o topo desta deve tangenciar
o limite externo da circunferência. Esta efígie do “Senhor Eshú” , além de seu óbvio simbolismo esotérico, servirá
para indicar a correta posição usual do “Tabuleiro”, que é o “rosto” desta efígie faceando o Divinador, mas em
uma posição diametralmente oposta a ele, através da circunferência, estabelecendo-se assim convencionalmente
os lados direito e esquerdo do “Tabuleiro”, do ponto de vista do Divinador.
Se quiser e se tiver habilidade para tanto, o lado direito e esquerdo da borda poderão ser entalhados com
motivos geométricos: a) o lado esquerdo com losangos - b) o lado direito com triângulos.
Mas, o fundo da circunferência interna deve permanecer sem entalhes e liso; assim, se a madeira usada for
de boa qualidade e de cor medianamente escura, os traços simples e duplos das “Trilhas-de-Ifá” dos Fundamentos,
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 49
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
aparecerão em contraste bem nítidos, quer sejam riscados com a “Pemba” ou quer se use o “Pó Divinatório”.
O “Tabuleiro-de-Ifá” deve receber o mesmo tratamento de “Limpeza Astral” que o referido anteriormente
para “Tigela-Sacrário” e, uma vez “descarregado” e limpo, deverá ir repousar sobre a anteriormente citada “Tigela-
Sacrário”, aguardando o Ritual de Consagração.
2.05 - O Pó Divinatório [Iye-irosun]
O “Pó Divinatório” é aquele sobre o qual, depois de consagrado e espargido sobre o círculo interior do
“Tabuleiro-de-Ifá”, serão marcadas as “Trilhas-de-Ifá” [Ona Ifa] dos Fundamentos de Tradição [Odu] criados
pela “Batida” [lukin] dos “Dendês” [Ikin] ou do “Arremesso” [dapele] da “Corrente-de-Ifá” [Opele Ifa].
É considerado “Pó Divinatório”, o Pó de Pemba Consagrada que resulte do apagamento dos Signos-Gráficos
[oju Opon] das “Trilhas-de-Ifá” dos Fundamentos que forem marcados diretamente com a “Pemba Consagrada”
sobre o “Tabuleiro-de-Ifá” e que venham a ser apagados com a “Vareta Divinatória” [Irofa].
Em África, o “Pó Divinatório” era elaborado a partir de excrementos secos de cupins, obtido por
sacudimento de galhos secos contaminados sobre panos brancos. Já no Brasil, este pó foi substituído por raspas
de um giz mineral branco, insípido e inodoro, a “Pemba”, reduzidas à pó bem seco e fino. Em determinadas situa-
ções “magísticas”, tal como a obtenção de “Pós-de-Projeção” [atin], o “Pó Divinatório” pode ser acrescido por
finíssimas raspas, também secas e reduzidas à pó, de Sete Favas Odoríferas, à saber : Pichurin - Bicuíba - Bejericum
- Emburana - Sucupira - Fava de Xangô - Anis Estrela.
Um ou dois tipos de ervas sagradas podem ainda serem acrescidas à esta mistura, tal como é o caso de folhas
secas, pulverizadas bem finas, de Folha de Gameleira Branca [Iroko], da qual só servem as folhas que forem colhidas
do chão e que tenham caído naturalmente com a sua “página” superior voltada para cima, pois não se molesta uma
árvore sagrada como a Gameleira Branca, colhendo-se folhas em seus ramos.
A anterior mistura de elementos vegetais com o Pó da Pemba Branca acima citada, deve resultar em um
pó razoavelmente fino e predominantemente de cor Branca, onde a maior proporção (90%) será sempre a do pó
de Pemba Branca consagrada. Este pó deve ser preparado com Pembas Brancas, preparadas e consagradas
segundo os Ritos de Purificação e Sagração de cada Nação, Banda ou Linha. Entretanto, também no Capítulo III
- Os Rituais, o praticante encontrará um ritual específico, segundo a concepção do Esoterismo de Umbanda.
Todos os elementos que entram na composição do “Pó Divinatório”, podem ser preparados e misturados
sobre o círculo interior do “Tabuleiro de Ifá” e sobre ele ser exposto à luz e radiação solar para secar bem. Após
bem seca, esta mistura deverá ser novamente bem socada e peneirada, para ficar sem nenhum grumo ou pelota
maior, devendo-se, inclusive, acrescentar mais pó fino de Pemba, se necessário, para torná-la bem branca.
Enquanto isto for sendo feito, o operador deve recitar a seguinte “Reza Forte” [ofo] :
-”Ifa jio, Orunmila o!”-
-”Bi o lo li Oko, ki o wa ile, o!”-
-”Bi o lo li Odo, ki o wa ile, o!”-
-”Bi o lo li Ode, ki o wa ile, o!”-
-”A ki igbon ju eni ti o ma da Ifa fun eni lo!”-
-”Acorda Ifá, Oh! Orunmilá!”-
-”Se vais para a Fazenda: vem para casa, oh!”-
-”Se vais para o Rio: vem para casa, oh!”-
-”Se vais para caça: vem para casa, oh!”-
-”Nenhuma pessoa é mais sábia do que aquela que “cria Ifá” para ela!“-
A seguir, a quantidade de “Pó Divinatório” que for assim consagrado (quantidade esta que baste para durar
algum tempo de uso), deve ser muito bem acondicionada em recipientes que se fechem muito bem, a fim de ser
evitar umidade, contaminação ou desperdício. Pode-se separar uma determinada quantidade para uso imediato,
em um tipo de recipiente compatível, em volume e forma, com o interior fechado da “Tigela-Sacrário”.
Última e importantíssima recomendação : em hipótese alguma, este [Pó Divinatóri] final pode conter
substâncias tóxicas, irritantes ou de cheiro desagradável, pois pode vir a ser utilizado nas “Medicinas Místicas”
[Oogun], para entrar em contato com a pele do Consulente : neste caso, só se usará puro “Pó de Pemba” bem limpo.
2.06 - A Vareta Divinatória [Irofa]
A “Vareta Divinatória” [Irofa], dita como “Chamar-Ifá”, é uma vareta de madeira de lei, com mais ou menos
32cm de comprimento e de mais ou menos 2cm de diâmetro, podendo ter uma ponta afilada num lado e uma pequena
esponja apagadora na outra extremidade, com uma empunhadura central, por onde deverá ser sempre segura.
O ponta afilada servirá para desmanchar, com freqüência, as Marcas Gráficas das “Trilhas-de-Ifá” dos
Fundamentos que forem necessários desmanchar ou apagar, para isso revolvendo-se e alisando-se com cuidado
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 50
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
o “Pó Divinatório”. A ponta com a esponja-apagador servirá para desfazer os traços riscados com a Pemba sólida,
diretamente sobre a superfície interna do “Tabuleiro”, pois isto, ou seja, desfazer as Marcas Gráficas das “Trilhas-
de-Ifá” dos Fundamentos, o Divinador jamais deve fazer com seus próprios dedos, sendo apenas permitido usar
três dedos (polegar, indicador e médio) da mão direita quando for necessário recolher pequenas quantidades do Pó
Consagrado diretamente sobre os traços do Signo Gráfico marcado, em função da feitura de “Medicinas Místicas”
[Oogun] que sejam determinadas pelos Versos dos Mitos de Ifá.
Assim, o Divinador pode manusear livremente a Pemba sólida ou seu Pó Consagrado, mas é-lhe interdito
desmanchar, com os dedos, as marcações das “Trilhas-de-Ifá” que forem mandas “criar” por “Orunmilá Ifá” e
“vigiadas” pelo “Senhor Êshú”, em cumprimento dos Desígnios Divinos de “Olorun” durante o “Jogo”.
A “Vareta Divinatória” também é usada, em dadas ocasiões, para chamar “misticamente” a atenção do
Ôrixá “Ôrunmilá-Ifá” para os problemas do Consulente, em se percutindo-a, discretamente, contra o lado saliente
externo da borda do Tabuleiro, com um ritmo tradicional bem definido :
Tap. (pequena pausa) - Tap, Tap. (pequena pausa)
Tap, Tap. (pequena pausa) - Tap, Tap, Tap, Tap, Tap. (Fim)
Além disso, tocar suavemente a alguém com a “Vareta Divinatória”, equivale à uma Bênção; tocar
bruscamente com ela em alguém, equivale à uma Maldição, mas de duplo alcance : o verdadeiro culpado, até se
for o Divinador, receberá toda a carga da ira liberada.
A “Vareta Divinatória” receberá o mesmo tratamento de “Limpeza Astral” que os materiais precedentes,
e, uma vez “descarregada” e limpa, deve repousar sobre o “Tabuleiro-de-Ifá” ou ao lado da “Tigela-Sacrário”,
sobre a “Esteira menor”. Sua consagração se fará ao mesmo tempo que os dois primeiros objetos citados.
2.07 - Os Dendês Consagrados [Ikin Ifa]
Em sua aparência física, o que denominamos por “Dendê Consagrado”, ou simplesmente “Dendê” é o caroço
rígido e interno do fruto da palmeira de origem africana conhecida por “Dendezeiro” [Igi Ope] (Elaeis Guineensis
var. Idolatrica), fruto de cuja polpa exterior marron-avermenlhada extrai-se o conhecido óleo vegetal “Dendê” [epo
pupo], popularizado no Brasil pela “Comida-de-Santo” da culinária Baiana.
Este caroço tem a forma ovóide, casca duríssima e escurecida quando muito manipulado, com mais ou
menos 25 mm de comprimento. Em conjunto de 16 (dezesseis), eles formam o que é conhecido por “Mão-de-
Ifá” [Owo Ifa] e dos quais um Babalaô deveria ter pelo menos dois conjuntos, recebendo a 1ª “Mão-de-Ifá”
quando de sua liberação por seu “Mestre de Ensino” [Ojugbona] e a outra quando atingisse o “status” de Sa-
cerdote de Segundo Grau [Elegan], mas ambas as “Mão-de-Ifá” também poderiam ser herdadas de seu pai,
uma vez que a Iniciação de Ifá, sempre patriarcal, também poderia ser patrilinear. Isto, no passado !!!
Agora, vejamos como proceder atualmente para obter os cocos de Dendê necessários à Divinação de Ifá
em sua “Forma Plena” de Execução. Obtenha-se algumas dezenas de “coquinhos” de Dendê, tendo-se em mente
que não é difícil obtê-los em Casas de Artigos para os Cultos Afro-Brasileiros ou em mercados populares das
grandes cidades do Norte, Nordeste e Sudeste Brasileiro; se ainda estiverem com a sua polpa externa marron-
avermelhada, descasque-os e deixe os “coquinhos” secar ao sol; se já secos e descascados, remova as últimas
fibras secas a eles ainda aderentes, sempre manualmente!
Examine-os, em sua parte mais ovóide, para observar quantos orifícios naturais ou “olhos” [oju] cada um
tem, dentre eles, escolha somente aqueles que tiverem 3 (três) “olhos” ou mais. De absoluta preferência, mais! Deste
grupo, separe 16 (dezesseis) deles pelo seu maior tamanho e/ou maior número de “olhos” : eles se constituirão em
sua 1ª “Mão-de-Ifá”, nem que ela seja simbólica e não se vá praticar a forma mais completa das três formas de
utilização da Divinação, como adiante se verá!
Escolhidos os 16 (dezesseis) “Coquinhos de Dendê” que constituir-se-ão em sua “Mão-de-Ifá”, proceda
agora ao mesmo ritual de “Descarga” e “Limpeza Astral” já antes referidos para os outros materiais.
Depois, leia as instruções para a execução da consagração desses “Dendês” no Capítulo III - Os Rituais,
sobretudo as do “Ja Ewe Ifa” para “lavar” os “Dendês” de Ifá e as do “Ru Ifa l’Ori” para a sua Consagração.
2.08 - O Anel de Búzios [Ajefa]
O “Anel de Búzios” [Ajefa] é um conjunto de 16 (dezesseis) búzios médios, perfurados pelo centro de seu
lado fechado e então reunidos por um cordão que os atará em formato de circunferência, através de um nó final.
Esta circunferência firmemente fechada de búzios, servirá de base ou contenção ao “Vigia dos Fundamentos”
[Oduso], quando o mesmo for colocado frente ao Tabuleiro de Ifá, do lado diametralmente oposto à posição em
que se colocar o Divinador, o qual deve ter sua face sempre voltada para o Nascente (Leste).
Na verdade, o “Anel de Búzios” deveria fazer parte dos “Elementos-Símbolos” de Ifá, pois ele simboliza
o estado de riqueza, saúde, paz e felicidade que são vigiados pelo Senhor “Eshú dos Caminhos” [Imole Esu l’Onan].
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 51
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
O “Anel de Búzios” não necessita de “Consagração” e sim de “Limpeza Astral”, após o que deve ser
apresentado ao “Senhor Eshú dos Caminhos” e ao Ôrixá “Ôrunmilá-Ifá”, como se lerá no Capítulo III - Os
Rituais.
Deve ser guardado numa das repartições laterais da Tigela-Sacrário, mas não necessariamente junto com
o símbolo do “Vigia dos Fundamentos”.
2.09 - O Vigia dos Fundamentos [Oduso]
Sabe-se que apenas 16 (dezesseis) cocos de “Dendê Consagrados” [Ikin] são manipulados pelo Divinador
na “Forma Plena” de Divinação, como adiante veremos, mas ele precisa ter um 170 (décimo-sétimo) “Dendê” que
coloca de fronte a ele, além do “Tabuleiro-de-Ifá”, repousando sobre um círculo de búzios atados juntos, chamado
“Anel de Búzios” [Ajefa].
Este décimo sétimo coco consagrado de Dendê é conhecido como “Vigia dos Fundamentos” [Oduso] por
representar ao “Senhor Eshú”, o Mensageiro Divino [Imole Esu Ojise] e Executor das Ordens do Ôrixá do Destino
[Ôrunmilá-Ifá] e, por extensão, do próprio “Olorun” [Deus]!
Assim, ele é o “Vigia” de Ôrixá “Ôrunmilá-Ifá” sobre o comportamento e a competência do Divinador.
Durante o jogo, ele repousará sobre o “Anel dos Búzios”, que representa a Riqueza, a Felicidade, a Saúde e a Paz,
porque o “Senhor Eshú” [Imole Esu] é também o “Senhor dos Caminhos” [L’Onan] que conduzem a esses bens,
“Caminhos” esses que ele abre ou fecha aos Humanos, conforme o mérito ou demérito de cada um!
Quando não estiver havendo “Jogo”, ele será guardado na “Tigela-Sacrário” e, nesse caso, ele é também
a “Sentinela de Ifá” [Adelefa], ou seja, “Aquele que vigia a Casa de Ifá.”
Por esta sua importância, é para ele que o Consulente, tomando-o em suas mãos, respeitosamente sussurra
o seu pedido, inaudivelmente a todos, quando não quer enuncia-lo claramente para conhecimento do Divinador.
Ele é, pois, um dos instrumentos mais significativo na Divinação; por isso mesmo pode ser feito de um
coquinho de Dendê, ou então, como uma escolha alternativa, de um pequeno pedaço de osso seco, marfim ou
madeira-de-lei dura, pois é verdade que o coquinho de Dendê apresenta um grau de dureza que torna seu entalhe
manual bastante difícil, mas não impossível.
Escolhido o coco de Dendê maior e mais ovóide possível, ou então um pequeno pedaço de osso seco de
forma ovóide, com uma lima fina bem mordente ou outros quaisquer meios mais modernos, grava-se ou entalha-
se, mesmo que toscamente, a face do “Senhor Eshú’ (olhos, nariz, boca e orelhas) na parte mais esférica do coquinho;
na parte mais alongada, entalha-se o seu penteado ou “gorro” que termina em formato fálico.
Completada esta caracterização, procede-se à “Limpeza Astral” do “Vigia dos Fundamentos”, pois, como
todos os outros Instrumentos, ele deve passar por este processo de preparação ritualística. Entretanto, como ele
representa ao “Senhor Eshú”, a sua consagração requer determinados elementos e obedece à regras diferentes
daquelas a que são submetidos os outros Instrumentos para a prática da Divinação Ifá e de sua Versão Sahkala.
Também para bem consagrar à todos aqueles outros elementos materiais, faz-se necessário, antes de tudo,
um primeiro requisito que pertence diretamente à ligação do “Vigia dos Fundamentos” com o “Senhor Eshú” : em
primeiro lugar (et çá vá sans dire), todo Divinador precisa ter o seu “Assentamento de Eshú” [Idi Esu].
Assim, antes de mais nada, estamos remetendo o leitor ao Capítulo III - Os Rituais, para que ele se intere
de como se estabelece o “Assentamento” [Idi] do “Senhor Eshú”, caso o leitor vise praticar a Divinação em sua
“Forma Plena” e/ou “Forma Alternativa”, já que a “Forma Casual” não requer tais cuidados ritualísticos. Com
atenção e paciência, não será difícil assimilar os ensinamentos ali especificados e, então, realizar os necessários rituais
de “Assentamento”, “Limpeza Astral” e “Consagração”.
À partir daí, o “Vigia dos Fundamentos” estará consagrado e deve-se guardá-lo na “Tigela Sacrário”, de
onde só sairá para repousar ao centro do “Anel de Búzios”, no momento de iniciar-se o Jogo. Jamais deve ser
manuseado por curiosidade e nunca junto com os outros cocos de Dendê.
Note-se que, apesar de ser suporte para “Vigia dos Fundamentos”, o “Anel de Búzios” não é submetido
ao mesmo ritual de “Consagração” que ele, sendo consagrado em conjunto com os outros Instrumentos, como
adiante se verá.
Além disso, sempre que se usar o “Pó Divinatório Consagrado”, a primeira “pitada” deste Pó deve ser
colocada sobre a “cabeça” do “Vigia dos Fundamentos”, pois como diziam os antigos -”ele não deve ficar com
a sua cabeça descoberta como um plebeu”- , o que equivale à uma saudação e dignificação.
2.10 - A Corrente-de-Ifá [Opele Ifa]
A “Corrente-de-Ifá” tem seu uso esotérico mais característico nos casos de perguntas específicas que
admitam uma Resposta Alternativa “Sim” ou “Não”. Este dispositivo divinatório é um instrumento simples,
consistindo da conjugação dos seguintes elementos :
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 52
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
2.10.1) — Uma corrente de metal, preferencialmente de cobre, bronze ou prata, até de ferro, mas nunca de aço,
com elos circulares que se imbriquem à mais ou menos 180º, de comprimento aproximado de mais ou menos
1,20m de ponta à ponta, quando aberta e finalizada;
2.10.2) — 8 (oito) plaquinhas de madeira de lei, de formato quadrangular, com os “cantos” aparados, com 2
centímetros de lado e 2 milímetros de espessura, a serem furadas no topo e na base, para receber os elos
de “Corrente” aonde serão inseridas. Em cada plaquinha deve ser gravada (entalhada, pirogravada ou mesmo
pintada), a marca única [ofu = um só traço = I] de um lado (verso) e a marca dupla [osa = dois traços =
II ] do outro lado (anverso);
2.10.3) — Uma empunhadura central, de formato cilíndrico, composta por uma conta de cerâmica ou de
madeira, de mais ou menos 4 centímetros de comprimento e mais ou menos 2 centímetros de largura;
2.10.4) — Cinco moedas pequenas de cobre ou, então, pequenos pedaços de metal de peso equivalente, a serem
perfurados no seu topo, para compor dois “rabichos” finais que servem para dar peso à “Corrente” e indicar,
pelo seu número “par” ou “ímpar”, quais os lados “esquerdo” (par) e “direito” (ímpar) da “Corrente”, quando
ela for dobrada ao meio e olhada de frente pelo “Divinador”.
Assim, quando dobrada ao meio e segura na empunhadura central pelo “Divinador”, a “Corrente-de-Ifá”,
deve apresentar ao mesmo a seguinte aparência :
Mas, se considerarmos separadamente cada metade da corrente, veremos que temos, na
realidade, 2 (dois) dos 16 (dezesseis) “Fundamentos-Básicos”, um na metade direita e outro na metade
esquerda, além do “Fundamento Combinado” mostrado em conjunto pelas duas metades, sendo pois
muito fácil comparar qualquer um dessas 3 (três) “Trilhas-de-Ifá” estabelecidas pela “Corrente”, com
aqueles expressos na Tabela Hermética I para poder identificá-los e saber quais os seus Significados.
2.10.5) — O “Divinador” deve segurar a “Corrente”, com apenas três dedos da mão direita, pela
empunhadura central, qual sejam :
a) — os dedos indicador e mediano por cima da empunhadura;
b) — o dedo polegar, por baixo, sustentando a empunhadura;
c) — os dedos anelar e mindinho dobrados, sem tocar a empunhadura da “Corrente”.
Empunhada corretamente a “Corrente”, ela deve apresentar-se com as suas duas metades pendendo
paralelas, a extremidade com o “rabicho” ímpar à direita e o “rabicho” par à esquerda, conforme o
ponto de vista frontal do “Divinador”.
As duas extremidades inferiores da “Corrente” devem permanecer à poucos centímetros (4 ou 5 centímetros)
acima da área da “Esteira Pequena” à frente do “Divinador” aonde deverão cair, isto é, na área desta “Esteira”
em frente e próximo a ele e ao lado da borda exterior lateral do “Tabuleiro” ou do “Círculo” formado pelas “Guias”
que deverá ter sido colocado junto ao lado direito do “Divinador”, como adiante se verá.
À partir desta posição, o “Divinador” deve balançar ou, melhor, menear a “Corrente” com dois leves
movimentos, à saber :
d) — rolando levemente a empunhadura central, para frente e para trás alguns milímetros, entre os três dedos já
citados, para fazê-la balançar sobre si mesma.
e) — em dado momento, simultaneamente a esse movimento acima, com um leve impulso para frente, partindo
do punho, o “Divinador” arremessa a empunhadura para frente, em direção contrária à sua posição permitindo
a caída das plaquinhas na “Esteira Pequena”, mais ou menos perto do “Divinador”.
Desta forma, a “Corrente” deve cair com as extremidades inferiores perto do “Divinador” e a empunhadura
numa posição diametralmente oposta, em direção ao Consulente, com as duas metades mais ou menos paralelas
e na mesma posição direita e esquerda indicadas pelo rabicho.
Havendo qualquer distorção desta posição ideal, não há mal em corrigi-la, ajeitando-se a “Corrente” com
os mesmo três dedos da mão direita já citados, desde que respeitada cada posição verso ou anverso em que caírem
as plaquinhas que, estas sim, não podem ser modificadas da posição em que caírem!
As moedinhas ou pesos nas pontas dos rabichos, por seus números par ou ímpar, além de indicarem os lados
direito e esquerdo da “Corrente”, servem para dar peso suficiente aos rabichos para eles não balançarem demais;
mas caso resultem muito leves, elas podem ser trocadas por outras de maior peso, de forma que os dois lados da
“Corrente” fiquem igualmente esticados, porém não muito pesados.
Embora as medidas da “Corrente-de-Ifá” que especificamos acima, baseie-se no número 4 (quatro) ou em
seus múltiplos, não representa medidas padrões e podem ser utilizadas outras medidas ao agrado do praticante,
desde que a “Corrente”, quando dobrada ao meio e empunhada pelo “Divinador”, não fique mais comprida do
que a capacidade dele em erguê-la e manobrá-la, sem que os “rabichos” toquem a superfície da “Esteira Pequena”
no ato de arremessá-la e, isto, quando ele estiver sentado.
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 53
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
O gesto de jogar a “Corrente-de-Ifá”, denominado “Dapele”, deve ser especialmente treinado, quer seja
jogado com o “Divinador” sentado ao chão ou sentado à uma mesa, pois quem executar as duas formas, notará
a ligeira diferença de altura que a posição sentada no chão oferece à mais. Mas, este treino deve visar a que a caída
da “Corrente de Ifá” ofereça a mais ampla possibilidade de ação do “Acaso”, através do comando do Senhor “Eshú”,
sobre a exibição das faces marcadas das plaquetas.
É de se lembrar que a “Corrente” não deve ser lançada sobre o “Tabuleiro”, mas diretamente sobre a “Esteira
Pequena” , quer posta sobre uma Mesa ou quer sobre a “Esteira Maior” do chão. Entretanto, quando o “Praticante
Iniciante” for estabelecer o “Jogo” sobre uma “Mesa” e não dispuser ainda do “Tabuleiro”, poderá estabelecer
“um outro espaço sagrado mais restrito”, através de um “Círculo” formado por “Guias” bem abertas, colocadas
concentricamente, à saber : a “Guia” mais exterior, na cor de “Oxalá”, ou seja “branca”; a “Guia” intermediária,
nas cores de “Ôrunmilá-Ifá” ou seja, contas da cor “verde médio” e da cor “castanho média”, intercaladas; a “Guia
de Eshú”, nas contas da cor “vermelha” e da “preta” intercaladas; e a “Guia” mais interior, com as contas na cor
do “Ôrixá” ou do “Santo de Cabeça” do “Praticante Iniciante” ou “Divinador” que siga o “Caminho-de-Bohio”.
A “Corrente de Ifá” deve receber o mesmo tratamento de “Limpeza Astral” que o “Tabuleiro de Ifá” e os
“Dendês”. Depois, ela deverá ser guardada na “Tigela-Sacrário”, aguardando a sua “Consagração”.
2.11 - Os Elementos Símbolos [Abira]
Denomina-se de “Elementos-Símbolos de Ifá” ao conjunto de objetos usados para simbolizar conceitos à
milênios estabelecidos, tanto para a “Resposta Alternativa Sim ou Não”, como para as “Cinco Boas Sortes” e os
“Cinco Infortúnios” na Divinação Sagrada de Ifá.
2.11.1) — Vejamos quais são estes Símbolos e quais as suas características :
O Caco — A Pedra — O Búzio — O Caracol — O Osso
Para aqueles que não tenham compreendido bem que “objetos simbólicos” são esses, explicamos :
O CACO é um pequeno pedaço de louça ou uma cerâmica partida;
A PEDRA é um pequeno seixo rolado, apanhado ao acaso, num passeio dado com esta finalidade específica;
é comum obtê-lo em uma cachoeira.
O BÚZIO é o invólucro vazio de um molusco marítimo, bem conhecido no Brasil.
O CARACOL é o invólucro vazio branco de um molusco terrestre comestível, conhecido como “igbin” na
África, tendo como similar o “scargot” no Ocidente.
O OSSO é um pequeno osso descarnado, seco e calcinado, quase sempre uma pequena vértebra da coluna
de uma cabra sacrificial, mas não necessariamente.
É necessário frisar-se que a escolha destes materiais não foi feita por acaso, mas é milenar na cultura Iorubá
e obedece à uma simbologia que, embora simples, é profunda dentro dos valores espirituais e culturais :
2.11.2 — O Caco representa :
a) — A Vitória, nas “Cinco Boas Sortes”, porque esta significa a destruição dos inimigos; daí este simbolismo do
Caco, o restante de uma coisa destruída.
b) — A Derrota, nos “Cinco Infortúnios”, porque quando uma peça de cerâmica parte-se em cacos, está
irremediavelmente perdida.
c) — A Cabeça-Material ou Vida Inconsciente, pois esta tem sede no bulbo cerebral, localizado por trás da parte
do osso occipital do crânio (nuca), semelhante à uma “cuia” de cerâmica.
2.11.3 — A Pedra representa :
d) — A Vida Longa, nas “Cinco Boas Sortes”, porque a pedra sempre permanece : não morre nunca.
e) — A Luta, nos “Cinco Infortúnios”, porque é difícil de quebrar.
f) — A Cabeça Espiritual ou a “Vida Consciente”, pois esta tem sede na parte frontal do crânio, semelhante,
quando calvo e velho, a um grande seixo rolado.
2.11.4 — O Búzio representa :
g) — A Riqueza, nas “Cinco Boas Sortes”, porque já serviu grandemente como unidade de troca ou dinheiro.
h) — A Carência, nos “Cinco Infortúnios”, porque a falta de Búzios a acarretava.
i) — O Ôrixá Obaluaiê, porque é deste Ôrixá o “Owo Merindilogun”, o “Jogo dos 16 búzios”.
j) — O “Sim”, porque não há quem não precise possuir dinheiro.
2.11.5 — O Caracol representa :
k) — O Casamento, nas “Cinco Boas Sortes”, porque fazia parte obrigatória dos presentes que simbolizavam
o dote de uma noiva, sua casca vazia simbolizando a desejada moradia particular.
l ) — A Doença, nos “Cinco Infortúnios”, pois quando se esmaga um caracol vivo, tem-se a impressão de sujeira
e imundície.
m) — Os Orixás, porque os Caracóis Brancos gigantes comestíveis [igbin], são sagrados para a grande Divindade
da Brancura, o Ôrixá Oxalá, o Primaz de todos os Orixás da Brancura [Orisa Funfun].
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 54
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 55
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
CAPÍTULO II - OS INSTRUMENTOS 56
GUIA DO DESTINO PESSOAL - VERSÃO SAHKALA DA DIVINAÇÃO IFÁ
CAPÍTULO III
OS RITUAIS DE IFÁ
-”Faz-se uma maceração, em água, das ervas Alevante, Folha da Fortuna, Arierê, Caruru, Folha de
Figueira Brava, Manjericão, Folha de Plátano ou quaisquer outras “folhas” conhecidas ligadas a Êshú,
para que destilem o sumo; filtra-se e reserva-se o líquido resultante. A folhagem que sobra da filtragem
chama-se “macê” e é posta num um alguidar de barro, de forma a forrar a sua superfície interna.
Lava-se a “etá” ou “pedra” de Exú com a maior parte do líquido antes reservado e coloca-se a “etá”
lavada sobre o “macê”, dentro do alguidar, acomodando-a bem.
Em volta da base da “etá”, sobre o “macê”, coloca-se 7 búzios e 7 moedas para que Êshú fique ali
estabelecido. Isto feito, rega-se a “etá” com o óleo de Dendê para que Exú se aquiete, ali permaneça e
não traga malefícios. Depois disso, a “etá” jamais deve receber água sobre si.“-
Estas especificações estão absolutamente fiéis ao relato na obra citada. Acrescento apenas, para quem não
o sabe, que “etá” (conhecemo-la como “otá”), ou seja, a “pedra” preferida pelo “Senhor Êshú” é a Laterita
Vermelha, minério de ferro poroso e desagregativo muito comum em África e no Brasil.
E se esse “Assentamento de Êshú” fosse feito por “discípulo” meu, eu o aconselharia a colocar também
dezesseis “coquinhos de Dendê” e a regá-lo, periodicamente, com azeite de Dendê colocando, de quando em
quando, pedaços de Noz de Cola [obi] no topo da Laterita.
Mas, certamente, “Pai Walter de Logunedé”, a quem aqui saúdo, peço “Agô” e “Aché”, ainda aconselharia
a “assentar” tal obrigação na Lua Crescente, entre 12 e 16 horas e a levar tal “Êshú Assentado” à rua, de 3 em
3 meses, para “despachar” os pedidos dos consulentes e agradecer a ajuda do “Senhor Êshú” ali presente.
3.04 - A Oferenda ao Senhor Êshú Oduso
Tendo-se visto como proceder à uma “Limpeza Astral” e partindo do pressuposto de que já exista o “Assen-
tamento de Êshú” ou que o “Praticante Iniciante” siga o “Caminho-de-Bohio” sabendo onde preceituar em um
deles, vamos apresentar aqui a “Oferenda” [Ru Ebo] para ele, específica da “Versão Sahkala”.
São necessários :
um pequeno alguidar de barro;
alguns pedaços de folha de Bananeira;
um pequeno pote de barro contendo água limpa e fresca;
um Inhame, cozido com casca, cortado ao meio verticalmente, sem quebrar suas duas partes;
um pouco de azeite de Dendê;
uma noz de Cola [obi], avermelhada, partida em quatro pedaços;
uma pequena cuia de barro, contendo farinha de milho;
um copo de barro, contendo aguardente de boa qualidade.
Modo de operar :
3.04.1 - Passam-se levemente as folhas de Bananeira em qualquer tipo de chama: elas ficarão macias e
maleáveis;
3.04.2 - Com estas folhas amaciadas, forra-se o interior do alguidar de barro;
3.04.3 - Sobre elas, coloca-se o Inhame novo, cozido, cortado e aberto em dois pedaços longitudinais;
3.04.4 - Regam-se estes dois pedaços com o azeite de Dendê;
3.04.5 - Colocam-se os pedaços de noz de Cola, em cruzamento, perto e dentro da borda do alguidar.
Este alguidar, assim preparado, juntamente com o pote de água fresca e limpa, mais a cuia de farinha de
milho e o copo de aguardente, devem ser colocados juntos ao “Assentamento de Êshú”, centralizando-se a
disposição desses elementos com o alguidar de barro que contém o Inhame. Esta disposição centralizada e
desimpedida do alguidar, será útil no momento em que se precisar apresentar o “Vigia dos Fundamentos” e os
“Coquinhos de Dendê” ao “Senhor Êshú” em seu “Assentamento”.
Esta “Oferenda” ao “Senhor Êshú” [Ru Ebo], deve ser repetida sempre que o “Praticante Iniciante” ou
Iniciado da “Versão Sahkala” queira agradecer ao mesmo por sua assistência ou, às vezes, em intenção da
realização favorável dos anseios do Consulente e, sempre, à sua própria expensa, quando constatar que o
Consulente das “Formas Plena” e/ou “Alternativa”, por qualquer razão, não pretende fazê-lo.
3.05 - A Consagração do Vigia de Ifá
Tendo-se visto como se procede à “Limpeza Astral” e como “Assentar” corretamente o “Senhor Êshú”,
bem como sabendo-se como preceituá-lo corretamente dentro do contexto da Divinação Ifá, podemos agora
discorrer sobre como se procede para consagrar os “Instrumentos-de-Ifá”, que aqui consideraremos como já
devidamente “limpos” astralmente, começando pelo “Vigia dos Fundamentos”.
Para isso :
3.05.1 - Prepara-se um pequeno alguidar de barro; limpa-se bem e nele faz-se, com Pemba Vermelha
Consagrada, vários pontos fortes, salteando-os por toda a superfície interna e externa.
3.05.2 - Prepara-se uma papa de Inhame novo cozido, sem sal, “pisado” com um pouco de azeite de Dendê
e coloca-se-o no pequeno alguidar acima referido.
3.05.3 - Nessa papa, deverá ser enterrado o “Vigia dos Fundamentos” por vinte quatro horas, sendo o
alguidar colocado frente ao “Assentamento de Êshú” e recoberto com duas tiras de pano, uma de
cor castanha média ou marrom e a outra de cor verde escura, em cruz.
3.05.4 - Após as 24 horas, retira-se o “Vigia dos Fundamentos” dessa massa de Inhame e lava-se-o com
o sumo, diluído em água, das mesmas ervas usadas para o “Assentamento de Êshú”! Dá-se destino
ao alguidar com a papa de Inhame em uma Encruzilhada de Três Caminhos [Orita Meta].
3.05.5 - Em seguida, o “Vigia dos Fundamentos” deve ser apresentado ao “Assentamento de Êshú”, sobre
um prato de barro contendo um Inhame novo, cozido com casca e cortado ao meio verticalmente,
com cuidado para que não se quebre, regado com azeite de Dendê; uma cebola [lubaça], grande
e crua, cortada em quatro pedaços; dezesseis pimentas vermelhas grandes [atare] e 32 sementes
de “zimbro” [Junipero], tudo disposto em progressão intercalada do centro para fora, com o
“Vigia dos Fundamentos” no ponto central.
3.05.6 - Preparado o prato de barro com seus elementos, tendo ao centro o “Vigia dos Fundamentos”,
apresenta-se-o ao “Assentamento de Êshú”, colocando-o no seu lado esquerdo, adotando-se o
ponto de vista de quem o olha de frente, recitando-se a seguinte “Reza Forte” [Ofo] :
-”Omode ile, egba yi a Esu!”-
-”Ire tete, Esu gba!”-
-”Criança da casa, leve isto para o Senhor Êshú!”-
-”Corre depressa, o Senhor Êshú o aceitará!”-
Deixar esta apresentação girar em conjunto com outras que virão à seguir, como veremos, para então retirar
o “Vigia dos Fundamentos”.
3.06 - A Oferenda ao Ôrixá Ôrunmilá Ifá [Bo Ifa]
Junto ao “Assentamento de Êshú” já agora “preparado”, “servido” e “girando”, num espaço à direita do
mesmo, coloca-se sobre o chão uma esteira comum e, sobre ela, a “Esteira Pequena” que será utilizada como
base material que delimitará o “Espaço Sagrado” para a prática da Divinação. Sobre esta última, colocar-se-ão
a “Tigela-Sacrário” (ao centro da Esteira); o “Tabuleiro-de-Ifá” e a “Vareta Divinatória” sobre ele (à direita da
Tigela-Sacrário) e a “Corrente-de-Ifá” (à esquerda da Tigela-Sacrário).
Esta posição geral à direita do “Assentamento” está regida pela disposição dos outros elementos, pois,
lembremo-nos que, ao centro, já deve estar a própria Oferenda ao “Senhor Êshú” e, à esquerda do “Assentamen-
to”, já deve estar a apresentação do “Vigia-dos-Fundamentos” e que aí deverá permanecer até a consagração final
de todos os “Instrumentos”.
Não nos esqueçamos, também, dos 16 (dezesseis) “Coquinhos de Dendê” [Ikin Ifa] que constituir-se-ão
na “Mão de Ifá” [Owo Ifa] e que devem ser colocados sobre o Tabuleiro para também serem consagrados junto
com os outros instrumentos, num só local.
Todos esses elementos assim dispostos, num momento sempre antes do pôr do sol, ilumina-se todo este
conjunto, para então proceder-se à “Oferenda a Ifá” [Bo Ifa] propriamente dita :
3.06.1 - Agora, no lado esquerdo da “Tigela-Sacrário”, coloca-se uma tigela (tamanho médio) de louça
branca, com uma papa grossa de maisena de milho branco; sobrepõe-se à papa, 16 (dezesseis)
belas rodelas medianas de palmito de boa qualidade, regadas com azeite doce de oliva, e, ao lado
da tigela, coloca-se uma cuia com água pura, com uma pitada de sal diluído na água e uma noz
de Cola [obi] inteira em um pires de barro.
3.06.2 - Toma-se a “Tigela Sacrário” e pontilhar-se-á, externamente, com pontos salteados vermelhos,
brancos e pretos, usando Pembas Consagradas dessas cores para isso.
3.06.3 - Procede-se da mesma forma com o “Tabuleiro-de-Ifá”, porém apenas pontilhando-se a sua face
interna e se o coloca sobre a “Tigela-Sacrário”.
3.06.4 - Cuidadosamente, coloca-se a tigela de louça branca em cima do “Tabuleiro-de-Ifá” e, com três
dedos da mão direita (polegar, indicador e mediano), parcialmente se enterra na papa, junto à
borda externa da tigela, os 16 (dezesseis) “Coquinhos de Dendê” [ikin Ifa] que estavam sobre o
“Tabuleiro-de-Ifá”. No espaço restante da tigela, também na papa, enterra-se a “Corrente-de-Ifá”
[Opele Ifa], seguindo-se a circunferência da tigela.
No momento em que assim se proceder, deve-se invocar a proteção do Ôrixá Ôrunmilá-Ifá :
3.07.14 - Com o “Vigia dos Fundamentos” carregado nas duas mãos, volta-se ao local onde estão os
Instrumentos e se o coloca junto, não misturado, aos agora “Coquinhos de Dendê Consagrados”
[Ikin Ifa] dentro da “Tigela-Sacrário”, enquanto se recita a seguinte “Reza Forte” [Ofo] :
-”Baba li Awo o nsuno ndide Adelefa ibi!”-
-”Dorme, Babalaô! Adelefa (o Vigia) está aqui!”-
-”Oro kan so ko si awo ni ile!”-
-”Pois, uma só palavra não afasta um Adivinho de sua casa!”-
Note-se que o “Vigia dos Fundamentos” não foi e nem deve ser lavado com o sumo das “Folhas-de-Ifá”
[Ewe Ifa], como o foram os outros instrumentos.
ORÁCULO NÚMERO 10
FUNDAMENTO OKARAN BABA
Trilha de Ifá É o Decimo Oráculo da Hierarquia relativa à Con-
junção dos Contrários do Sistema Sahkala..
Valor Determinante: Não Tem
Orixá que “Fala”: Orunmilá
Orixá “Tagarela”: Oxossi
Imole “Tagarela”: Odé
Ebura “Tagarela”: Yemanjá, Oiyá
Princípio atuante do Identidade Geomântica
Odu “Okanran” Baba da “Cauda de Dragão”:
Existência [Iwa] = Instinto Destruidor
Indução [Aba] = Discórdia
Trilha Okaran Baba
Realização [Ase] = A Malvada
Provérbio : -”Codorna Macho; Codorna Femea :
Aparentemente, ambos não têm crista na cabeça”-
Significando : Tomar cuidado com Amigos e Inimigos.
Pregando : Muita cautela!
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— este é alguém que não deveria ir à fazenda e nem tocar orvalho com os pés!
— o próprio Ifá está pensando nele e ele deveria estar lhe fazendo Oferenda.
— os seus sacerdotes são os que têm o Fundamento Okaran Baba por Fundamen-
to-de-Nascimento [“Kpoli”] e têm que “trabalhar para Ifá”.
— o número da Grande Mãe Oiyá é o Nove [9].
— a pessoa quer e vai partir em viagem.
— a pessoa deve oferecer acaçás ao Senhor Eshú antes de viajar.
— a pessoa deve fazer Oferenda para que a viagem traga fama e abundância.
— a Oferenda será levada à um caminho de fazenda ou estrada de campo.
— quem tiver este Fundamento criado para si, sempre terá tudo em dobro.
— esta pessoa não está vendo as coisas claramente.
— a pessoa deve conformar-se com o que tem e não desejar o impossível.
— não se deve mexer com quem está quieto.
— esta pessoa deve fazer Oferenda para se afastar da confusão.
— é sempre hora de fazer acordos que ajudem a aliviar problemas.
— a pessoa deve ter suas posses bem documentadas e legalizadas.
— se este Fundamento surge marcado no “Pó do Tabuleiro”, a pessoa tem que
“fazer Ifá” rapidamente para não sofrer com carências em geral.
— poderá ter guerra na família ocasionada por discordâncias religiosas.
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - O Consulente tem a proteção espiritual do Orixá Orunmilá.
1.2 - Os trabalhos intelectuais serão bem sucedidos.
1.3 - O Consulente pode ter tendências a tornar-se um Divinador.
1.4 - O Consulente terá sucesso em suas uniões amorosas.
1.5- Há proteção contra traições injustificadas.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - O Consulente está sujeito à ser enganado com facilidade.
2.2 - Trabalhos braçais ou manuais não tendem a não serem bem sucedidos
3 - Necessidades :
3.1 - Tomar cuidado com amigos e inimigos.
3.2 - Julgar bem todas as transações comerciais oferecidas.
3.3 - Deve considerar a necessidade de Iniciação Espiritual.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni] pela “Corrente-de-Ifá”, os “Encantamentos”
[Oogun], encontráveis pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.2 - Para reverenciar ao Orixá Órunmilá :
Encantamento “Oferenda à Ifá” [Bo Ifa].
5.1 - Afirmar fé no Orixá Órunmilá :
Encantamento “Servir ao seu Eda” [Oogun sin Eda re]
6 - As “Folhas” deste Fundamento são [Ewe Ifa Odu Okaran]
Barba-de-São-Pedro [Seni] / Mamoeiro [Ibepe]
Folha da Cebola [Alubosa ] / Taquaril [Ewe Firiri]
7 - Proibição Ritual [Eewo] às “Crianças-de-Okaran” :
[Elas são as Nascidas de 02/02 à 19/02 [Aquário] e de 20/02 à 24/02 [Peixes]
Ifá diz que as “Crianças-de-Okaran” não devem :
”Comer carne de galo, feijão preto ou vermelho; comer carne vermelha com
muita freqüência; bebida alcoólica, por mais suave que seja, pode lhe trazer ma-
les; possuir gatos.”
Na Corrente-de-Ifá No Tabuleiro-de-Ifá
“Wirin, Wirin” foi o Divinador [Awo] que criou o Oráculo de Ifá para “Semente de Gergelim” [Yanmoti],
quando ela ia à Fazenda bem longe para fazer um ritual que lhe desse direito à posse da terra cultivável, de
forma que ela pudesse sustentar as crianças que ela pudesse vir a gerar. As Divindades [awon Osa] disseram
que ela geraria crianças se ela fizesse uma Oferenda de dois preás [eku meji], dois peixes [eja meji] e vinte
búzios [owo oko], além de 4.000 búzios [egbaji owo eyo].
“Semente de Gergelim” ouviu o conselho e fez a Oferenda. Nada mais precisa ser dito.
Ifá diz que se alguém está menstruando neste momento, deveria fazer a Oferenda mais tarde, pois ela poderá
vir a gerar uma criança.
Verso IV [Tradição Sudoeste Ulkumy] :
“Osunsun-igbo-yi-kosoje, Oburokos’eje” foi o Divinador [Awo] que criou o Oráculo de Ifá para as pessoas
da Cidade de “Owa”. As Divindades [awon Osa] disseram para se fazer uma Oferenda, de forma que um via-
jante fosse elevado à condição de Rei.
Ifá diz que : -”O que quer que o Divinador decida, essa deverá ser a Oferenda!” [“Ohunkohun ti Babalawo
ba fe ni ebo”]. As pessoas da Cidade de “Owa” atenderam a este conselho e fizeram a Oferenda.
O mesmo Divinador criou o Oráculo de Ifá para “Sakoto” quando ele ia para a Cidade de “Owa”. As Divin-
dades disseram lhe aconselharam à oferecer um pombo [eye-ile kan], uma ovelha [aguntan kan] e três bolinhos
de feijão [ewa owo meta]. “Sakoto” atendeu ao conselho e fez a Oferenda. As Divindades avisaram bastante
que o próprio “Sakoto” deveria comer os bolinhos de feijão e, em hipótese alguma, os poderia dar ao Senhor
“Exú” [Imole Esu] pelo caminho.
Quando “Sakoto” partiu em viagem, ele levou os bolinhos de feijão com ele. No início do caminho, ele
encontrou o primeiro mensageiro do Senhor “Exú” e, prontamente, conforme fora ensinado pelos Divinadores,
“Sakoto” disse: -” Se eu lhe desse este bolinho de feijão, você mandaria a chuva para me encharcar até a cidade
de Owa”. Em seguida, ele comeu o primeiro bolinho rapidamente e seguiu seu caminho.
No meio do caminho, ele se encontrou com o segundo mensageiro do Senhor “Exú”. Rapidamente, “Sokoto”
esticou sua mão em direção a ele, tendo nela um bolinho de feijão, mas repetindo o que ele já havia dito ao
primeiro mensageiro, rápido, “Sokoto” comeu o segundo bolinho e continuou a viagem.
Ele fez e disse a mesma coisa com o terceiro mensageiro do Senhor “Exú” que encontrou no caminho. Mas,
enfurecido, este terceiro mensageiro do Senhor “Exú” causou uma chuva para encharcar “Sakoto” pelo resto
da viagem até que ele chegasse a Cidade de “Owa”. Ora, os Divinadores haviam predito às pessoas da Cidade
de “Owa”, que a próxima pessoa a ser sagrada como rei da Cidade chegaria à ela fortemente encharcado pela
chuva. Os habitantes de Cidade de “Owa” viram a confirmação da predição e sagraram o viajante “Sakoto”,
encharcado de chuva, como o seu Rei.
A Oferenda é : quatro pombos [eiyele merin], quatro galinhas [adie merin], um pote de dendê [ape epo kan],
um prato branco [aso funfun ka], três acaçás [eko meta] e vinte moedas [oko nira] de maior valor monetário
[nira oko] para serem oferecidos ao Orixá “Ogum” e o Senhor “Exú”.
Ifá diz que a pessoa vai partir em viagem.
Ifá diz que a pessoa deve oferecer acaçás ao Senhor “Exú” antes de viajar.
Ifá diz que, chegando a seu destino, a pessoa resolverá um problema, o que lhe trará boa sorte.
Ifá diz que quando esta pessoa chegar ao seu destino receberá muitos benefícios.
Ifá diz que a pessoa deve fazer ebo para que a viagem lhe traga fama e abundância.
Verso V [Tradição Sudoeste Ulkumy] :
“Da” e “Mo” foram os Divinadores [awon Awo] que criaram o Oráculo de Ifá para “Aquele-que-possue-a-
Floresta” [Olu Igbo] e seus vassalos “Olu Odan”, “Esusu”, “Wariwa” e “Iyore”, quando “Olu Igbo” decidira
ir seduzir “Ewu”, a esposa do “Fogo” [Ina]. As Divindades aconselharam a “Aquele-que-possue-a-Floresta”
para fazer uma Oferenda de vassouras de galhos de árvores, e também, das apropriadas “folhas-de-Ifá” [ewe
Ifa] partidas e espremidas em muita água [omi], uma galinha [adie kan] e um pano preto [aso dudu kan].
“Olu Igbo” foi o único que executou a Oferenda, pois nem “Olu Odan”, nem “Esusu”, nem “Wariwa” e
nem “Iyore” o quiseram fazer. Um dia, “Ewu”, a esposa de “Fogo”, deixou a casa do marido para ir à casa
de “Olu Odan”. “Fogo” enfureceu-se, preparou-se para a luta e foi para a casa de “Olu Odan” para recuperar
sua esposa. Quando ele chegou lá, gritou o nome de sua esposa: -”Ewu, Ewu, Ewu”. Não tendo tido resposta,
“Fogo” queimou as propriedades de “Olu Odan”, “Esusu”, “Wariwa” e “Iyore”.
Mas, “Ewu” tinha corrido para a casa de “Olu Igbo” que tinha executado a Oferenda. “Fogo” foi lá e gritou:
Proibida a reprodução integral ou parcial destes textos.
Círculo de Estudos Umbandísticos
Ordem do Círculo Cruzado
www.aumbhandan.org.br occ@aumbhandan.org.br
-”Ewu,Ewu,Ewu”. Então, “Aquele-que-possue-a-Floresta” [Olu Igbo] fez conforme havia sido instruído pelos
Divinadores : borrifou a “Formulação Líquida de Ifá”- o líquido das folhas de Ifá maceradas em água - sobre
“Fogo” e ainda bateu três vezes com as vassouras de galhos contra “Fogo”, que assim desapareceu, ficando
“Ewu”, a espôsa de “Fogo”, disponível para “Aquele-que-possue-a-Floresta” [Olu Igbo] e é assim que a pro-
fundeza da Floresta, até hoje, ainda retém a Escuridão.
Ifá diz que aquele que preceitua as Oferendas sempre estará protegido.
Verso VI [Tradição Sudoeste Ulkumy]:
“Oktibirkiti” foi o Divinador [Awo] que criou o Oráculo de Ifá para o Oráculo “Okanran” quando este tinha
só uma “Criança”. As Divindades [awon Osa] lhe aconselharam fazer uma Oferenda de uma ovelha branca
[agutan funfun kan] sem qualquer mancha preta, uma cabra nova [ewure dudu kan] e um bode [obuko kan].
As Divindades asseguraram ao Oráculo “Okanran” que aquela sua única “Criança” se multiplicaria em duas.
Oráculo “Okanran” atendeu ao conselho e fez a Oferenda. Imediatamente, a “Criança” dele se transformou em
duas. Desde então, este Oráculo foi chamado “Okaran”.
Ifá diz que qualquer um para quem este Oráculo seja criado sempre terá tudo em dobro.
Verso VII [Tradição Ijebu] :
“Há-vários-caminhos-para-encontrar-a-Terra-dos-Ancestrais” foi o Divinador [Awo] que criou o Oráculo de
Ifá para o “Rato” [Igbegbe] no dia em que este ia vender preás [awon eku] no Mercado. Ifá aconselhou “Rato”
a fazer Oferenda para poder ver as coisas claramente. “Rato” fez a Oferenda e teve a visão clara.
Ifá diz que esta pessoa não está vendo as coisas claramente.
Ifá diz que esta pessoa deve fazer Oferenda para se afastar da confusão.
A Oferenda é : dois pombos [eiyele meji], três galos [adie meta], um pote de azeite de dendê [ape epo kan],
folhas novas de Dendezeiro [igi ope], cortadas, desfiadas e trançadas [mariwo], um prato branco [awo funfun
kan] e 25 moedas de maior valor [oko marun nira] para oferecer ao Orixá “Ogum” e ao Senhor “Exú”.
Verso VIII [Tradição Gege] :
O Oráculo “Okanran” é aquele que detêm o Poder da Reprodução. Orgulhando-se disso, ele propôs uma
parceria ao Senhor “Exú” em virtude da grande ligação deste com o Orixá “Orunmilá”.
Para isso, o Oráculo “Okanran” lançou as sementes da discórdia entre o Orixá “Orunmilá” e o Senhor “Exú”,
a quem intrigantemente falou : -”Olhe, Exú! Você tem um grande poder sobre Ifá, pois quem traz o Mistério
[awo] para ele é você. E eu, por minha vez, sou forte, bonito e valente. Onde tiver uma briga, lá eu estou.
Juntos, seremos invencíveis.”
E por aí continuou o Oráculo “Okaran” : -”Veja você que a Casa de Ifá vive cheia de gente à procura de
conselhos e revelações, mas ele não dá a você o crédito que você merece. Mas é você que traz do Além [Orun]
esses conselhos e revelações para os humanos.” Então, envaidecido, o Senhor “Exú” disse : -”Ah, é assim?
Eu vou mostrar a ele com quantos paus se faz uma cangalha”-
O Senhor “Exú” pegou 21 grãos de Pimenta Malagueta [oko kan atare eyo], os quais pôs em sua boca e
foi para a Casa de Ifá. Chegando lá, ele tornou-se invisível e passou a modificar o Lançamento [dapele] da
Corrente de Ifá [Opele Ifa] quando o Orixá “Orunmilá” procurava fazer sua Divinação, atrapalhando a leitura
dos Oráculos para os Consulentes de Ifá.
O Senhor “Exú” contou o acontecido ao Oráculo “Okaran”, que foi para a Casa de Ifá. Lá chegando, o
Oráculo “Okaran” sentou-se à frente do Orixá “Orunmilá”, que estava muito triste. O Oráculo “Okaran” foi
dizendo : -”O que está havendo aqui? Sua casa estava sempre cheia de gente e hoje não tem ninguém?”
Estas palavras fizeram o Orixá “Orunmilá-Ifá” desconfiar da curiosidade do Oráculo “Okaran”, o qual tam-
bém não tinha o costume visitá-lo. Então, Orixá “Orunmilá-Ifá” lhe disse : - “Eu já desconfio que alguém é o
responsável por está situação. Mas eu vou dizer : quem fez isto, de hoje em diante, será eternamente escravo
de Senhor “Exú” e vai sofrer muito porque este não estará para brincadeiras, assim como eu não estarei de
brincadeiras para com ele!”
Desde então, o Senhor “Exú” reina no Oráculo “Okaran” e suas melhores Oferendas partem deste Oráculo
de Tradição Oral de Ifá.
Ifá diz que não se deve mexer com quem está quieto.
Verso IX [Tradição Gege] :
O Oráculo “Okaran” tentava de tudo para progredir na vida, mas seus esforços de nada adiantavam; se dava
um passo à frente, imediatamente dava dois para trás. Um dia, resolveu fazer uma Oferenda que lhe assegurasse
algum poder por intermédio do qual pudesse garantir uma vida de fartura e conforto. Feito a Oferenda que lhe
determinara Ifá, resolveu entregar um bode adulto [obuko kan], único bem que lhe restava, aos cuidados do
“Imole Iku” [o Senhor Morte], para que este o criasse em parceria.
Pouco tempo depois, o animal apareceu morto e o Oráculo “Okaran” resolveu exigir que o “Senhor Morte” o
indenizasse, já que o bode fora entregue à sua responsabilidade. O “Senhor Morte” concordou com a exigência
de o Oráculo “Okaran” e perguntou-lhe o que ele queria por sua parte do bode morto. Astucioso, o Oráculo
“Okaran” exigiu, não só a metade do valor do animal, como também a metade de tudo o que ele poderia gerar
durante o tempo em que poderia ainda ter vivido e, ao valor do bode, acrescentou o valor de toda possível
geração de muitas cabra e cabritos.
Diante do valor da indenização exigida, o “Senhor Morte”, assustado, propôs ao Oráculo “Okaran” que
pedisse outra coisa qualquer que estivesse ao seu alcance, pois não tinha como satisfazer o pagamento exigido.
Astutamente, Oráculo “Okaran” exigiu o poder de interferir na missão do “Senhor Morte” sobre a Terra e que
se resume na obrigação de carregar os Seres Humanos [ara aiye] para um dos Nove Além [Mesan Orun].
Sem contestar, o “Senhor Morte” delegou ao Oráculo “Okanran” este poder.
Ifá diz que, deste então, podemos pedir ao Oráculo “Okaran” que interfira junto ao “Senhor Morte”, para
evitar que alguém, por muito mal que esteja, venha a falecer.
Verso X [Tradição Gege] :
O Orixá “Xango” [Orisa Sango] queria ser poderoso e respeitado e para isto consultou o Oráculo de Ifá.
No Jogo surgiu o Oráculo “Okaran”, que determinou uma Oferenda que iria garantir ao Orixá “Xango” tudo o
que este desejava. Feito a Oferenda, todas as vezes que o Orixá “Xango” abria a boca para falar, sua voz saia
possante como um trovão e inúmeras labaredas acompanhavam as suas palavras.
Diante do poder de seu marido, a Mãe Poderosa “Oiá” [Iyami Oya] resolveu consultar o Oráculo com a
finalidade de se tornar tão poderosa quanto o Orixá “Xango”. Na consulta, surgiu o mesmo Oráculo “Okaran”,
que lhe determinou a mesma Oferenda.
Quando Orixá “Xango” descobriu que a Senhora “Oiá”, havia adquirido um poder igual ao seu, ficou furioso
e começou a maldizer Ifá por haver dado tamanho poder à uma simples mulher.
Humilhada, a Senhora “Oiá” recorreu a “Olorun” [Supremo Ser Espiritual] para que desse um fim ao impasse.
Ele determinou então que a partir daquele dia, a voz do Orixá “Xango” soaria como o Trovão e que provocaria
incêndios onde ele bem entendesse, mas para que isto pudesse acontecer, seria necessário que a Senhora “Oiá”
falasse primeiro, para que o “Fogo” [raio] de suas palavras provocassem o surgimento do “Som” [Trovão] das
palavras do Orixá “Xango”, assim como o “Fogo” que elas produzem sobre a Terra [os incêndios provocados
pelos raios].
Ifá diz que antes do ribombar do Trovão, um Raio ilumina o Céu [Sanmo].
Verso XI [Tradição Gege] :
Quando o Orixá “Xango” veio ao Mundo, era um ser pequenino e fraco que só possuía um galo [akiko kan]
que cantava e um cabrito [obuko kan] que berrava. Convencendo-se de que não poderia sobreviver desta forma,
ele resolveu consultar Ifá, em busca de auxílio. E foi “Afeke”, o Divinador [Awo] que criou o Oráculo de Ifá
para ele. Consultado Ifá, “Afeke” encontrou o Oráculo “Okaran”, que exigiu que o Orixá “Xango” oferecesse
uma Oferenda composta de duzentas “pedras-de-raio” [igba ota], uma sacola de palha trançada [oke kan], uma
cabra [ewure kan], cento e cinqüenta moedas [aadorun l´aadotanira nira] de maior e mesmo valor e mais quinze
[marunlaa] de valor diferente.
As moedas foram dadas em pagamento ao Divinador. As “pedras-de-raio” foram colocadas dentro da sacola
e entregues ao Orixá “Xango”, que passariam a representar o seu Poder e a sua Força.
Na verdade, depois que Orixá “Xango” passou a possuir estas “pedras-de-raio”, seus olhos tingiram-se de
vermelho, tornou-se muito poderoso e as pessoas tremem à sua aproximação. Quando encolerizado, enfia a mão
na sacola e lança suas “pedras-de-raio”, tornando-se em “Xango Djakuta” , o “Atirador das Pedras”, destruindo
quem ou que o provoque.
Ifá diz que as “Crianças-do-Xango” devem ser um exemplo de poder e coragem para todos.
Verso XII [Tradição Caribenha] :
Os “ Babal’awo Ancestrais” [awon Agbagba Awo] foram os Divinadores que “criaram” o Jogo de Ifá para
a Poderosa Mãe “Oiá” [Iyami Oya]. As Divindades disseram que todos os Orixás tinham filhos, menos a Se-
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nhora “Oiá” que, apesar de querer muito, não conseguia gerar. Um dia, a Senhora “Oiá” foi consultar Ifá e na
consulta surgiu o Oráculo “Okaran” que lhe determinou, além de uma Oferenda, que ela usasse uma pulseira
[idefa] de contas castanhas e verdes [etutu oponyo] no pulso esquerdo. Seguindo as orientações do Oráculo, a
Senhora “Oiá” conseguiu ter nove filhos.
Ifá diz que o número de Mãe Poderosa “Oiá” é o nove (9) [mesan] e suas “Filhas” devem usar a “pulseira
idefá” em homenagem ao Orixá Orunmilá.
Neste Oráculo nasceu a Palavra Humana, pois “Okan-o-lan” significa : “A primeira palavra é a que vale”.
As “Crianças-de-Okanran” podem se tornar grandes oradores; conseguindo convencer a todos pela palavra.
Este Oráculo de Ifá é de Força e de Artifício. Representa coisas encadeadas, uma sucessão de acontecimentos
a partir de uma ocorrência significativa.
As “Crianças-de-Okanran” não admitem ser mandados por ninguém e acham que sabem tudo melhor que os
outros. São habilidosas e bem falantes. Acham que para elas nada é impossível de ser realizado. As “Crianças-
de-Okanran” não desistem até que consigam o que desejam, nem que para isto tenham que arriscar a própria
vida. Quando alguém lhes faz alguma coisa, por mais simples que seja, não desistem da vingança por nada no
mundo. Por isso, perdem-se por não ouvir conselhos, orientando-se apenas por sua própria cabeça.
O Oráculo “Okaran” é, pois, um Oráculo de Soberba, Descontentamento e de Traições. As “Crianças-de-
Okanran” não sabem o que é agradecimento, são orgulhosas, altaneiras, mas ardilosas e interesseiras. Pensam
que são donas de tudo na Vida, mas perdem-se por suas “cabeças ruins” [ori buruku].
Ifá diz que as “Crianças-de-Okaran” do sexo masculino não reconhecem o bem que Orixá “Orunmilá” lhes
faz e, em relação ao Divinador, agem desta mesma forma.
Mas este Oráculo é também o Caminho do Perdão. É por este “Caminho-de-Ifá” que o “Senhor das Leis”
[Olofin] vem à Terra para nos assegurar invulnerabilidade contra Feitiçarias. Para garantir esta invulnerabilida-
de, pega-se uma folha de “Taioba” [ewe koko] e pinta-se nela a “Trilha-de-Ifá” do Oráculo “Okanran”, lava-se
as mãos, joga-se a água das mãos sobre a folha e deixa-se as mãos secarem sem o uso de toalhas. Deixa-se a
Folha de Taioba nos pés do Assentamento [idi] da Divindade Dupla [Orisa Ibeji] até que seque e depois faz-se
dela um pó que deve ser soprado atrás da porta da rua de sua residência.
Três “folhas” ritualísticas são de grande importância para as “Crianças-de-Okaran”. São elas : “Chapéu
de Couro” [ewe sesere], “Crista-de-Galo” [ewe ogbe akuko agueyi] e “Manjerona” [Origanum majorana L.,
Labiatae].
Ifá diz que quando este Oráculo surge “marcado” [atefa] sobre o Pó Divinatório [Iyerosun] do Tabuleiro , a
pessoa tem que “fazer Ifá” rapidamente para que não venha a adoecer.
Ifá diz que poderá haver guerra na família ocasionada por discordâncias religiosas.
Uma mulher se apaixona por um homem comprometido e isto trará problemas com a Justiça.
Ifá diz que é sempre hora de fazer acordos que ajudem a aliviar problemas.
Ifá diz que a pessoa deve ter suas posses muito bem documentadas e devidamente legalizadas para que, por
“rezas fortes” maléficas [osogbo ofo], não venha a perdê-las.
Ifá diz que a pessoa deve conformar-se com o que tem e não desejar o impossível.
Deve-se cuidar dos Antepassados [Egun], com uma quartinha com água da chuva e outra de água da bica.
Ifá diz que o Divinador deste Oráculo tem jogar no Mar uma corrente do seu tamanho.
As “Crianças-de-Okaran” não podem comer carne de animal de quatro patas, carne de galo, nem feijão preto
ou vermelho com muita freqüência.
Não podem possuir gatos.
Não devem beber nenhum tipo de bebida alcoólica, por mais suave que seja.
Deve criar um pinto até que se transforme num galo e então, oferecê-lo vivo ao Senhor “Exú Elegbara”.
Pega-se o galo, apresenta-se ao Senhor “Exú” e pede-se tudo ao contrário do que se deseja. Faz-se a cerimônia
mas não se sacrifica o galo nem se dá nada. Desta forma, o Senhor “Exú Elegbara” sente-se enganado e faz
com que aconteça tudo ao contrário do que se pediu.
- Ifá diz que não se deve mexer com quem está quieto.
Verso IX [Tradição Gege] :
- Ifá diz que podemos pedir ao Oráculo “Okanran” que interfira junto ao Senhor Morte, para evitar que alguém,
por muito mal que esteja, venha a falecer.
Verso X [Tradição Gege] :
- Ifá diz que antes do ribombar do Trovão, um Raio ilumina o Céu.
Verso XI [Tradição Gege] :
- Ifá diz que as “Crianças-de-Xangô” devem ser um exemplo de poder e coragem para todos.
Verso XIII [Tradição Caribenha] :
- Ifá diz que o número da Senhora “Oiyá” é o nove [9] e suas “Filhas” devem usar a “pulseira de Ifá” em ho-
menagem ao Orixá “Orunmila”.
Verso XII [Tradição Caribenha] :
- Ifá diz que muitos daqueles que têm este “Caminho-de-Ifá” por Oráculo do Momento-de-Nascimento não
reconhecem o Bem que o Orixá “Orunmilá” lhes faz. Assim, agem da mesma forma com o Divinador.
- Ifá diz quem são os seus sacerdotes : aqueles que têm o Oráculo “Okanran” por Oráculo-de-Nascimento têm
que “trabalhar para Ifá”.
- Ifá diz que quando este Oráculo surge marcado no Pó Consagrado do Tabuleiro, a pessoa tem que “fazer Ifá”
rapidamente para que não venha a adoecer.
- Ifá diz que poderá haver guerra na família ocasionada por discordâncias religiosas.
- Ifá diz que é sempre hora de fazer acordos que ajudem a aliviar problemas.
- Ifá diz que a pessoa deve ter suas posses muito bem documentadas e devidamente legalizadas para que, em
situações negativas, não venha a perdê-las.
- Ifá diz que a pessoa deve conformar-se com o que tem e não desejar o impossível.
- Ifá diz que a pessoa está sofrendo com carências de saúde, dinheiro, descendência ou prestígio.
Posição e Caraterísticas Básicas do Oráculo “Okanran-Duplo” :
Na Hierarquia dos Oráculos de Ifá em Conjugação dos Contrários, o Oráculo “Okanran-Duplo” é o Oitavo
(80) da lista dos Dezesseis (16) Oráculos Ancestrais. Ele está relacionado ao Ponto Cardeal Noroeste e ao Signo
de Aquário [Omi] para os nascidos no período de 02/02 à 19/02 (inclusive) e ao Signo de Peixes [Eja] para
os nascidos no período de 20/02 à 24/02 (inclusive). Em Conjugação dos Contrários com o Oráculo “Obara”
(Oráculo 70) relacionado ao Ponto Cardeal Sudeste, cria o Eixo Noroeste / Sudeste da Abóbada Celeste [Sanmo].
Este é o Oráculo da Palavra Humana, pois “Okan o lan” significa : “A primeira palavra é a que vale”. Por
isso que este é um Oráculo pelo qual Ifá chama os que devem ser seus Sacerdotes : os que têm este “Caminho-
de-Ifá” por Oráculo do Momento-de-Nascimento [Kpoli] têm que “trabalhar para Ifá”.
Quando este Oráculo está em Boa Fortuna ou Positividade [Ire], Ifá vê Boa Fortuna e Vida Longa para o
Consulente, o qual pode alcançar uma boa posição na vida, mas deve ter cuidado com detratores, pois é possível
trabalhar-se duro desde cedo e perder-se tudo o que se tem no final da vida. Assim, o Consulente deve ofertar
ao Orixá “Orunmilá-Ifá” para “Não-ver-a-Morte” [aiku], ou seja, prevenir-se contra uma morte súbita.
Quando este Oráculo está em Má Fortuna [oshogbo] significa problemas, sofrimento, más vibrações e casos
de Tribunal para os Consulentes. As “Crianças-de-Okanran”, isto é, aqueles que têm este “Caminho-de-Ifá”
no “Momento-de-Nascimento” [Kpoli] sempre serão contestados por outros, mesmo se estiverem fazendo ou
dizendo o que é precisamente certo.
As “Crianças-de-Okanran” são considerados agressivos e dominantes porque tentam sempre prevalecer
sobre outrem, apesar de todas as desvantagens. Na maioria das situações, eles se rebelarão contra as convenções
da Sociedade em que vivem e criando problemas para si próprios.
As “Crianças-de-Okanran” têm que ter cuidado com a sua saúde para não se tornarem doentes crônicos.
Se este Oráculo é lançado para alguém, Ifá diz que este está sofrendo com carência de saúde, dinheiro,
descendência ou prestígio. Mas, se o Consulente acreditar no Orixá “Orunmilá” e se religar à Espiritualidade,
através das Oferendas, muitos de seus problemas serão solucionados. Para superar a adversidade e ter controle
sobre as dificuldades, o Consulente terá que oferecer Oferendas ao Orixá “Xango” e ao Senhor “Exú”.
Proibição Ritual [Eewo] do Oráculo “Okanran-Duplo”
Àgbò = Carneiros são os animais sacrificatórios para o Orixá “Xangô”; quiabo [ilá] é uma de suas comidas
favoritas. Cachorro [ajá], não é sacrificatório para o Orixá “Xangô” : eles são sagrados para este Orixá!
Àkàsà = Acaçá [Pudim de milho branco enrolado em folha de bananeira] que, além de “comida votiva” para
vários Orixás, serve para representar o corpo humano nas Oferendas.
Àlúbósá = Cebola [Allium Cepa (L.), Liliaceae]. Planta originária da Ásia e, também, encontrável na Índia,
foi difundida por todos os outros Continentes pelos “colonizadores”, em virtude de ser um alimento e tempero
básico na alimentação humana desde a mais remota Antiguidade. Conhecida pelos nomes africanos de “Àlùbósà
gàmbàrí”, “àlùbósà kétá”, “èlúbásà”, “lubaça” é dedicada às Entidades Espirituais Orixá “Oxalá” e Grande Mãe
“Oxum”, sendo utilizada em “Trabalhos” para agradecer à Suprema Entidade Espiritual “Olodumarê”. Usado
também em Jogos Divinatórios, o bulbo da Cebola, cortado em dois e/ou quatro pedaços, é lançado sobre um
prato branco no “Jogo da Lubaça” antes das Oferendas para se saber qual o desejo das Entidades, desta forma,
rivalizando com o “Obi” e o “Orobô” usados também em Jogos Divinatórios. Pertence ao Elemento Água [ewé
omi] / Feminino [ewé apa òsí] / Folha “calmante” [ewé èrò].[Ewé / Verger 1995 : 245, 309, 630] - [Ewé Òrìsà / José F. P.
Barros e Eduardo Napoleão 1999: 79/80].
Criança-de-Okaran = São aqueles que têm este “Caminho-de-Ifá” por Oráculo de Momento-de-Nascimento
[Kpoli] no período de tempo de 02/02 à 24/02 (inclusive), determinado na Cerimônia dos Recém-Nascidos
[Esentayé] posteriormente confirmando no Ritual “Saber a “cabeça” da Criança” [Mimò orí omo] para “ler”
sua “linhagem”, seu “Òrìsà”, seu Tabu [Eewo] e ser ela, ou não, um “Ser voltado a reencarnar” [Yíya Omo].
Égbédógbón owo eyo = 5.000 “búzios monetários”. O ancestral sistema monetário dos Yoruba tinha como
base o búzio [owo], o qual, se em grande quantidade, eram mantidos juntos em cordões de 200 unidades de
búzios furados [braja], como se fora um tipo de “colar” atravessado ao peito, só ostentado pelos muitos ricos.
Epo ní òròjò obè = “O dendê amacia o guisado”. É um tipo de Oferenda [ìyànlé] de “comidas molhadas”
(guisados de carnes, ensopados de peixes, pirões de cereais, tubérculos cozidos, mingais cozidos em recipientes
de barro).
Èwá owó = Bolinhos de feijão pilado [Vigna Unguiculata (L.) Walp., Leguminosae Papilionoideae], são uma
alternativa de Oferenda ao Senhor “Exú”.
Firirí = “Taquaril”, “Taquari” [Merostachys donax L., Gramineae]. Encontrável nas áereas tropicais da Amé-
rica do Sul. Com o nome africano de “Firirí” é dedicada à Grande Mãe “Oiá”, esta erva entra na composição
do “Àgbó” [Banho Riualístico] de fortalecimento espiritual dos “Filhos-de-Oiá”, embora seu uso devesse ser
restrito apenas às “Filhas-de-Iansã” e interdita às pessoas do sexo masculino, mesmo sendo “Filhos-de-Oiá”.
Pertence ao Elemento Ar [ewé afééfé] / Masculino [ewé apa òtún] / Folha “calmante” [ewé èrò]. [Ewé Òrìsà /
José F. P. Barros e Eduardo Napoleão 1999: 216].
Ìbépe = “Mamoeiro”, “Mamão”, “Papaia”, “Mamoeiro-das-Antilhas” [Carica Papaya (L.), Caricaceae]. Co-
nhecida pelos nomes africanos “Ìsígùn”, “Gbègbère”, “Sígù”, esta planta é originária da América Tropical,
onde ocorre espontaneamente em todas as regiões, inclusive no Brasil, embora também seja aqui cultivado.
Dedicada às Entidades Espirituais Orixá “Oxalá” e Grande Mãe “Oiá”, tem utilização ritualística nos Cultos
Afro-Brasileiros : suas folhas são usadas para “rezar a cabeça” contra distúrbios mentais, sobretudo se induzidos
por sugestão malévola. Pertence ao Elemento Ar [ewé afééfé] / Feminino [ewé apa òsí] / Folha “calmante”
[ewé èrò]. [Ewé / Verger 1995 : 187,195,197,411, 644] - [Ewé Òrìsà / José F. P. Barros e Eduardo Napoleão 1999: 260]
Idefá = “Pulseira-de-Ifá”. É uma pulseira de contas de cor verde musgo e de castanho médio, contas essas co-
nhecidas por “etutu ópónyó”, usada por Babalaôs no pulso esquerdo, embora o Oráculo “Ofun” também relate
sua existência como um “colar” [“ka-órun”/ ”ao-redor-do-pescoço”] feito com as mesmas contas.
Ifa ni éni-kan ni-yi kiló si oko = “Ifá diz que esta pessoa não deveria ir para a fazenda” -“Ko si gbódó fi ésé
ré kan eni” = “Não deveria tocar o orvalho dos campos com os seus pés”, tal qual um lavrador faz quando vai
de manhã cedo para a fazenda. O Consulente é aqui “solicitado” a deixar os trabalhos braçais, tipo lavrador, e
dedicar-se ao serviço do Orixá “Orunmilá-Ifá”, pois “Ifá nro éni-kan, ki o ló ma bó Ifa” [“Ifá pensa que esta
pessoa deveria se dedicar a adorar Ifá”]. Isto corresponde a um verdadeiro e direto “Chamado Espiritual”
direto do Orixá “Orunmilá-Ifá” à pessoa em pauta.
Ohunkohun ti Babalawo ba fe ni ebo = “O que quer que o Babalaô decida, essa deverá ser a Oferenda”. Esta
citação nos ensina que não são somente os Textos Oraculares que determinam quais são as Oferendas, mas que
também os Divinadores tinham e tem o poder, baseado no direito de seu “status”, de modificar os elementos e
as condições dessas Oferendas. Outros Versos dos Mitos de Ifá também nos ensinam que eles, os Divinadores,
também podiam reter para si partes de uma Oferenda, tal como animais para seus rebanhos, dinheiro, vesti-
mentos, armas e outros tipos de objetos domésticos e/ou ritualísticos, mas sempre consultando ao Oráculo se
tal fato seria permitido, através de respostas “Sim” ou “Não”.
Onje gbigbe = “Comidas secas” [carnes de aves, peixes, preás e ouros animais de quatro patas] são Oferendas
[àwòn Ìyànlé], apresentadas aos diversos Assentamentos-de-Orixá [ìdí Òrìsà], sendo aves, peixes, preás e pe-
daços de carnes apresentadas enfiadas em espetos e assadas, grelhadas ou churrasqueadas ao fogo.
Òrun = “Além”. A Dimensão das Divindades, dos Duplos Espirituais, dos Antepassados e dos Falecidos. É
todo o Espaço Abstrato paralelo ao Àiyé [Terra]. Compõe-se de nove sub-divisões [méèsàan òrun], a saber :
Ajal’òrun [“Teto do Além”], o Ápice do Poder Espiritual, onde está “Ol’òrun”, justamente “Aquele que” (O)
+ “tem” (li) + “Além” (òrun). Òrun Aféèfé = Espaço Abstrato para Correção de Erros. Òrun Àlàáfíà = Espaço
Abstrato de Paz e Tranquilidade. Òrun Àpáàdì = Espaço Abstrato de Erros Impossíveis de Reparar. Òrun Asálú
= Espaço Abstrato de Julgamento. Òrun Bàbá Eni = Espaço Abstrato dos Seres de Origem Divina. Òrun Burúkú
= Espaço Abstrato para os Maus. Òrùn Rere = Espaço Abstrato para os Bons. Destes oito sub-espaços abstratos
são quatro superiores e quatro inferiores e só se inter-comunicam entre si através do Àiyé [Terra], considerada
o Nono Òrun quando as Entidades Espirituais nela se apresentam, em dois pontos, um de Entrada [Àkàsò] - do
Òrun para o Ilè Àiyé na Reencarnação e outro de Partida [Ilè pá Òrun] - do Ilè Àiyé para o Òrun no Falecimento.
Sangó = Orixá “Xangô”. Nos versos deste Oráculo, está explicitado por que o “Senhor do Trovão” [Xangô]
vive no Além [Òrun], explicando também o comportamento de carneiros durante os temporais. Diz-se também
que o som de Trovão é causado pelo Carneiro, enfrentando o Orixá “Xangô”, pateando o “solo” no Além.
Sení = “Barba-de-São-Pedro”, “Vassourinha-das-Almas”, “Alecrim-de-Santa-Catarina” [Polygala paniculata
L., Polygalaceae]. Esta planta ocorre no México, Antilhas, Peru e Brasil, sobretudo no Nordeste, Sudeste e Sul
do Brasil. Conhecida pelo nome africano de “Okútúrùpà”, é dedicada ao Orixá “Ossãe”, sendo utilizada em
seus “Banhos Purificatórios” e nos “Trabalhos” deste Orixá. Na Umbanda, suas raízes secas fazem parte de
defumações especiais caracterizadas por seu odor pungente [salicilato de metila]. Pertence ao Elemento Terra
[ewé igbó] / Masculino [ewé apa òtún] / Folha “excitante” [ewé gún]. [Ewé / Verger : 1995 : 710] - [Ewé Òrìsà / José F.
P. Barros e Eduardo Napoleão 1999 : 316].
Winrin, Winrin = Soa com “Tlintlin-tlintlin” e corresponde ao soar do tinido que uma pequena corrente de
ferro pode fazer ao ser sacudida.
Yanmoti = “Gergelim”. Por ser o principal “tabu” [eewo] do Senhor “Omulu” [Imole Omulu], o “Senhor da
Varíola”, era proibido plantar gergelim próximo às cidades Yoruba. Também é usado na formulação de um
“encantamento maléfico” [oògùn àbìlú] para causar doenças a um inimigo. Entretanto, por ser também uma
graminêa que produz um número muito grande de sementes, muitas vezes é citada como exemplo de frutificação
e gestação múltipla!
ORÁCULO NÚMERO 11
FUNDAMENTO IKA BABA
Tabuleiro de Ifá É o Décimo-Primeiro Oráculo da Hierarquia da
Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante : Não tem
Orixá “Tagarela” : Ogum e Ibeji
Ebura “Tagarela” : Oxum e Nanã
Imole “Tagarela” : Baba e Xangô
Princípio Atuante do Identidade Geomântica
do “Ika” Baba : de “Donzela” :
Existência [Iwa] = Feminilidade
Indução [Aba] = Fidelidade
Trilha Ika Baba Realização [Ase] = A Donzela
Provérbio : —”Assim como a firmeza do ombro não deixa cair a roupa,
é pela bondade dos Pais que nascemos nesta Terra“—
Significando : A Vida é um Dom de Amor.
Pregando : Ter Amor, Solicitude e Solidariedade
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— há alguém a quem todas as coisas escapam entre os dedos; tem inimigos
ciumentos; sofre com falta de descendência e/ou de angústia financeira.Mas se
fizer as oferendas apropriadas a Ifá e Ogum, ele terá boas oportunidades.
— há alguém que deseja firmemente realizar os seus interesses. Deve ofertar para
que os “Caminhos” se tornem claros para ele, afim de bem trilhá-los. Assim,
ele terá ajuda feminina familiar e, até, extra-familiar, alcançando a vitória final
e longa vida.
— há alguém cujo destino o colocará em uma importante posição, mas a pessoa
que irá ajudá-lo apresentar-se-á subitamente e será alguém que ele nunca
pensou que pudesse ajudá-lo, pois este é um Fundamento de Fertilidade.
— alguém quer realizar algo; então deveria fazer uma Oferenda, de forma que os
“Caminhos se abram para ele”, porque se ele ofertar, poderá fazer tudo que
desejar quer seja um simples trabalho ou algo muito mais importante.
— esta pessoa está demasiado ansiosa e que isso os seus problemas aumentam.
As pessoas querem ajudá-lo, mas que ela as afasta do seu caminho.
— o Praticante deve ensinar ao consulente oferecer também água potável fresca
em todos os “trabalhos rituais” para seus os Orixás e para Orunmilá.
— os seus “afilhados” têm possibilidades de “fazer Ifá” precocemente.
NÚMERO 12
FUNDAMENTO OTURA BABA
Tabuleiro de Ifá É o Décimo-Segundo Oráculo da Hierarquia da
Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante : Não tem
Ebura que “Fala” : Iemanjá e Oxum
Orixá “Tagarela”: Ogum e Xangô
Onile “Tagarela”: Ancestral e Eshú
Princípio Atuante do Identidade Geomântica
Odu “Otura” Baba da “Brancura”
Existência [Iwa] = Espiritualidade
Indução [Aba] = Serenidade
Trilha Otura baba Realização [Ase] = O Puro
Provérbio : —”Aquele que conhece o Segredo do interior do Sacrário
dos Odù é o Chefe dos Divinadores do Rei “—
Significando: Afirmação de Autoridade.
Pregando : Ter Prudência e Moderação.
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— este alguém permanecerá muito tempo entre os melhores e não decaírá tão cedo.
— este alguém deve levar vida devota para receber as bençãos da companhia, de
filhos, da riqueza e da vida longa.
— as “Crianças-de-Otura” devem proceder da mesma forma que este alguém.
— esta pessoa deve fazer um presente ou agrado aos seus companheiros para que
eles não se tornem ciumentos, invejosos e destruidores.
— devemos agradecer o bem que nos fazem e nunca esquecer de quem nos ajudou.
— a pessoa tem que fazer Oferenda para que os obstáculos de seu Caminho
desapareçam. Os problemas serão resolvidos por quem é mais infeliz.
— o cliente tem inimigos que tentam fazê-lo uma pessoa desatenta e desastrada.
— é importante “apasiguar Eshú” freqüentemente para que este neutralize a ação
daqueles que podem trair a confiança do consulente ou que planejarão lançar
discórdia no âmbito de sua família.
— Ifá diz que o consulente poderá tornar-se pobre por traições, mas nunca corre-
rá o risco de perder a esposa e nem terá destruída as suas relações familiares.
— o consulente deveria preceituar aos Orixá Ogum, Senhora Yemanjá e Orixá
Orunmilá, com uma certa brevidade. Se ele fizer isso, poderá conquistar seus
inimigos, adquirir fortuna e, finalmente, manter esposa e descendência.
— a pessoa que tenha encarnado sob este Fundamento é uma “Criança-de-
Oduduwa”, mas que Xangô agirá sempre como se fosse seu verdadeiro pai,
pois este Fundamento assinala uma grande proteção de Xangô.
ORÁCULO NÚMERO 13
FUNDAMENTO IRETE BABA
Tabuleiro de Ifá É o Décimo-Terceiro Oráculo da Hierarquia da
Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante : Tem Valor [VD]
Orixá que “Fala”: Xangô
Orixá “Tagarela”: Oxossi e Obaluaiye
Ebura “Tagarela”: Senhora Nanã
Princípio Atuante do Identidade Geomântica
Odu “Irete” Baba : da “Vermelhidão” :
Existência [Iwa] = Intransigência
Indução [Aba] = Paixão
Trilha Irete Baba Realização [Ase] = O Determinado
Provérbio : -“Aquele que tira àgua é que destroi a casa do peixe”-
-”Aquele que corta madeira é quem destroi a casa do pássaro”-
Significando : Devemos procurar a verdadeira causa de tudo e depois, assumir o
que for de nossa própria responsabilidade.
Pregando : Discernimento e coragem.
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— “A Paciência é o Pai do Caráter”-
— “Aquele que é paciente tornar-se-á um Ancestral!”
— aqueles que são pacientes desfrutarão felizes de Longa Vida.
— o “Iniciado” nos segredos do “Tabuleiro-de-Ifá” jamais morrerá jovem.
— o Consulente deve aprender as “cantigas” de “Òrunmìlá”.
— as “Crianças-de-Irete” têm a proteção incondicional de Oxóssi e de Omolú.
— o Consulente tem que fazer “Santo” ou “Obrigação” no decorrer de um ano
— o Consulente deve fazer Oferenda para ter abundância, filhos e bom caráter.
— se o Consulente quizer comer muito bem, tem que fechar muito bem a porta!
— ”As terríveis conseqüências de temperamentos descontrolados estão sempre
pendentes sobre os Seres Humanos.”
— se o Fundamento Ìrete é “lançado” para um Consulente que está doente, para
a sua rápida recuperação ele deve preceituar as Oferendas corretas a Obaluaiê,
o Senhor-da-Terra-da-Vida e à Senhora Nanã, porque o Fundamento Ìrete de-
fende contra a ação injusta do Senhor “Morte”.
— se o consulente mantiver seu coração puro, os Ancestrais consertarão todas as
coisas erradas.
— ”Tenha paciência e Boa Sorte! E nada mais precisa ser dito!”-
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Abundância de bens materiais vem à caminho.
1.2 - O Consulente poderá ver as coisas com muita clareza.
1.3 - Terá a ajuda de amigos poderosos.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Risco de males, inimigos e morte.
2.2 - Poderá causar males a parentes por fraqueza moral.
2.3 - Derrota por ficar extremamente soberbo.
3 - Necessidades :
3.1 - Ter discernimento e coragem.
3.2 - Dedicar-se aos Orixás com muito respeito e fé.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Contra pensamentos destrutivos :
Encantamento “Servir à Mão-de-Ifá” [Oogun sin owo Ifa]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Irete] :
Fedegoso [Akuko] / Corredeira [Falakala]
Samambaia [Omun] / Pinhão Branco [Olodotuje]
7 - Proibição Ritual [Éewo] às “Crianças-de-Ìrete” :
[Elas são as Nascidas de 28/05 à 19/06 (Gêmeos)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Ìrete” não devem :
- Comer carne-de-galo [akuko eran];
- Carne-de-galinha [adie eran];
- Folhas de Espinafre [efo tete];
- Matar formiga [ashinshinrin];
- Abrir buracos ou atravessá-los;
- Usar um xale para cobrir seu corpo.
- O Divinador que “criou Ifá” para o Consulente
não deve manter para si mais que a quantia de 600 búzios.”
NÚMERO 14
FUNDAMENTO OTURUPON BABA
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Grande proteção espiritual.
1.2 - Facilidade em escapar de perigos.
1.3 - Exerce grande fascínio sobre o sexo oposto.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Constante ameaça de inflências espirituais negativas.
2.2 - Tendência a ser muito violento quando atacado.
2.3 - Quase certo ter “carrego de Eshu”.
3 - Necessidades :
3.1 - Necessidade de aprender com os próprios erros.
3.2 - Dedicar-se aos Orixás com muito respeito e fé.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Contra o poder dos Feitiçeiros :
Encantamento “Chamar-Atingir-Abater” [Oogun Mo a-pe-ta pa]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Òturupon] :
Mamona [Èwe Lara”] / Saião [Òdundun]
Sensitiva [Ápeje] / Aridan [Àridan]
7 - Proibição Ritual [Èewo] às “Crianças-de-Òturupon” :
[Elas são as Nascidas em 26/11 à 18/12 (Sagitário)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Òturupon” não devem :
- Comer Noz-de-Cola [obì] com três (3) gomos;
- Comer mamão [ibepe];
- Galo [akuko];
- Galinha d’angola [etu];
- Frutas de trepadeiras“.
ORÁCULO NÚMERO 15
FUNDAMENTO OSE BABA
Tabuleiro de Ifá É o Décimo-Quinto Oráculo da Hierarquia relativa
à Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante : Não Tem
Orixá que “Fala”: Orunmilá e Xangô
Ebura “Tagarela”: Oxum e Iansã
Imole “Tagarela”: Ossãe e Obaluaiye
Princípio Atuante Identidade Geomântica
do Odu “Ose” Baba de “Ganho”
Existência [Iwa] = Crescimento
Indução [Aba] = Sorte
Trilha Ose Baba
Realização [Ase] = O Vitorioso
Provérbios : —“Cabeçada não quebra Miséria ”—
—”Mesmo quando o Velho se curva, ainda está em pé”—
Significando: Respeito à sabedoria e à experiência dos mais velhos.
Pregando : Ter Pensamento coerente e Humildade no sucesso.
A “FALA DE IFÁ” [IFA NI]
Ifá diz que :
— aquele que envelhecer em cabelos grisalhos a serviço dos Fundamentos de
Tradição Oral de Ifá deve ser chamado “Ancião dos Anciães” [Agbagba].
— o Espírito do Mal não prevalecerá sobre nós.
— Ebura Oxum “chama” esta pessoa para o serviço de seu culto.
— malefícios não incomodarão ao Consulente.
— a pessoa deve fazer Oferenda para receber as Bênçãos dos Ancestrais, mas
deve “despachar” um “Egun” obscuro que a acompanha.
— a Boa Sorte da pessoa está dividida entre a Parte Espiritual e a Parte Humana.
— existe alguém tentando fazer-lhe o mal .
— a pessoa pode ser traída por quem ela mais confia.
— existe rancor relacionado a um problema que já acabou.
— a pessoa para quem este Fundamento foi lançado sempre terá dificuldade em
aceitar a Verdade.
— as pessoas não gostam de perder, mas o Fundamento “Ose” ensina que, as
vezes, é perdendo que se sai ganhando.
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Fortíssima proteção espiritual.
1.2 - Poderá obter grandes amizades.
1.3 - Sucesso em tudo o que empreender.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Perigo de ataques do Baixo Astral.
2.2 - Agravamento de problemas de saúde.
2.3 - Perigo de morte violenta.
3 - Necessidades :
3.1 - Ter Humildade e Solicitude no momento de sucesso.
3.2 - Dedicar-se aos Orixás com muito respeito e fé.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshu [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.15.1 - Contra os Maus Espíritos :
Encantamento “Não ver a Morte” [Oogun A-ri-ku]
6 - As “Folhas” deste Fundamento Ose [Ewe Ifa Odu Ose] :
Maricotinha [Etitere etitare] / Erva-de-Santa Luzia [Ojuoro]
Bambú [Ewe Danko] / Balainho-de-Velho [Ámunimuye]
7 - Proibição Ritual [Eewo] para as “Crianças-de-Ose” :
[Elas são as Nascidas de 12/04 à 20/04 (Àries) e de 21/04 à 04/05 (Touro)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Ose” não devem :
- Comer Noz-de-Kolla de mais de dois gomos e também suas pequenas seções.
- Comer alimento grelhado ou tostado.
- Comer carne de perdizes, galinha d’angola, galo, broto de bambú.
- As “Crianças-de-Ose” não podem ter cargo sacerdotal no culto dos Orixás.
- Sendo mulher não deve cortar os cabelos com frequência;
- Sendo homem não pode tocar em madeira apodrecida; não pode carregar feixes
de lenha sobre a cabeça; não pode usar roupas de três cores.
ORÁCULO NÚMERO 16
FUNDAMENTO OFUN BABA
Tabuleiro de Ifá É o Décimo-Sexto Oráculo da Hierarquia da Con-
junção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Tem Valor [VD]
Orixá que “Fala”: Orunmilá e Oxumarê
Imole “Tagarela”: Eshu Elegbara
Ebura “Tagarela”: Obá, Yemanjá, Iyami-Aje
Princípio Atuante Identidade Geomântica
do Odu “Ofun” Baba de “Perda”
Existência [Iwa] = Carência
Indução [Aba] = Perda Progressiva
Trilha Ofun Baba Realização [Ase] = O Derrotado
Provérbio : -”O Ôlho não consegue ver seu próprio Destino”-
-”Quem não vigia seu pomar, não come as melhores frutas”-
Significando : Perigo de coisas ruins, desgraças e doenças.
Pregando : Ter bom Discernimento, Fé e Coragem.
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— há alguém que veio a este mundo com um destino muito proveitoso e que
ajudará toda a sua família.
— há alguém a quem todos estão insultando e chamando de preguiçoso, inclusive
sua própria famíla. Mas, em futuro próximo, toda a família estará sob suas
ordens e dependência e ele alcançará uma importante posição.
— os “Olhos” de todos tudo veêm; por isso, o Consulente deve adorar o “Senhor
das Vestes Brancas” [Obatala] e fazer Oferenda a Ele para pedir-Lhe abundân-
cia e evitar a cobiça de inimigos e amigos. Assim, aquilo que se pretender fazer
renderá sempre um bom lucro.
— desejando fazer uma viagem e voltar para casa satisfeito, deve-se fazer uma
Oferenda para assegurar que tudo corra bem.
— há perigo de ser traído por amigos, mas a Espiritualidade julgará o mérito da
questão e punirá o culpado.
— perigo de morte ronda as pessoas que prestam falso testemunho ou quebram
juramentos de fidelidade.
— para obter e manter boa prosperidade financeira, as “Crianças-de-Ofun” terão
que preceituar oferendas às Senhoras Poderosas do Feitiço [Iyami-Aje]
— os Divinadores nunca deveriam estar ansiosos por acumular dinheiro. Ao con-
trário, eles deveriam adquirir Sabedoria e Poder em seus tempos de vidas.
NA CORRENTE-DE-IFÁ NO TABULEIRO-DE-IFÁ
causando transtorno na Terra e que então “Olodumarê” deveria mandar buscá-lo e mantê-lo no Além, sem
jamais deixá-lo voltar à Terra da Vida [Ile Aiye].
Quando “Olodumarê” ouviu isto, Ele chamou o Senhor “Exú” [Imole Esu] e lhe perguntou : -”Você é
aquele que eu determinei para vigiar [so] as Quatrocentas Divindades na Terra da Vida! O que você sabe
desta pessoa de quem eles tanto falam mal?” O Senhor “Exú Vigia dos Oráculos” [Imole Esu Oduso] respon-
deu dizendo eles mentiam contra o Orixá “Orunmilá”. O Senhor “Exú” disse que sempre que qualquer um
ficava doente, aquele de quem eles estavam falando mal era o que tinha o “Olhar-para-curar” [to-oju] e se o
Orixá “Orunmilá” recebeu Oferendas, ele só “comeu” [je] os elementos que eram seus de direito.
O Senhor Exú” disse ainda que as Quatrocentas Divindades é que tinham aceito, antes de virem se
apresentar a “Olodumarê”, a Oferenda de ”uma panela de guisado de preá, uma panela de ensopado de peixe
e uma panela de caracóis cozidos, além de um jarro de água fresca e um alguidar de mingau de aveia que
“Orunmilá” lhes tinha oferecido e que eles comeram e beberam antes de eles virem à Sua Presença, oh!
“Olodumarê”-
Quando o “Senhor do Além” ouviu o que o Senhor “Exú” dizia, Ele reuniu todas as Quatrocentas Divin-
dades e as “amarrou no Além” [won mo-ile si orun] e deu ordens para que o Orixá “Orunmilá” e o Senhor
“Exú” voltassem para a Terra. Quando estes dois chegaram na Terra, o Orixá “Orunmilá” estava muito contente
e começou a elogiar os seus Divinadores [awon Awo] com uma canção :
-”A gbe-ori-ile a je-eku o”-
-”A gbe-ori-ile a je-eja o”-
-”A mu-igba odu a je igbin o”-
-”A-se di-owo ile a jo mu”-
-”E gbe-ori-ile e da mi”-
-”A-se di-owo il a jo mu”-
-“Nós viveremos na Terra, nós aceitaremos oferendas de preás, oh!”-
“Nós nos mantemos na Terra, nós comeremos peixe, oh!”-
“Nós beberemos das “cabaças-de-odu”, nós comeremos caracóis, oh!”-
-“Aconteça o que acontecer, manteremos o juramento que fizemos entre nós!”-
-“Você vive em Terra, você não pode quebrar seu juramento a mim!”-
-“Aconteça o que acontecer, respeitaremos o juramento que nós fizemos junto!”-
Ifá diz que nós não deveríamos quebrar um juramento feito a um amigo [a ma da ile ore], afim de não
conhecermos o Senhor “Morte” [Iku], inesperadamente.
Ifá diz que nós nos aborrecemos com alguém que quebrou o juramento que nos fez, mas os Seres do
Além [Ara Orun] é que o julgarão e o castigarão.
Ifá diz que há alguém que está doente, mas ele não morrerá; outra pessoa que nós nem mesmo notamos
mais é o que morrerá.
Ifá diz que todas as coisas que o Orixá “Orunmilá” ofereceu às Quatrocentos Divindades naquele mo-
mento são as coisas que todo o mundo continuará ofertando nos tempos que virão.
Verso IV [Tradição Ilè Ifé] :
“Iku, o Morte, acende um fogo com madeira de “Lixa-vegetal” [Eepin] ; a Doença [Arun], acende um
fogo com madeira de Pitangueira [Ita]; a Poderosa “Senhora do Feitiço” [Iyami-Aje] e o Senhor “Exú”
[Imole Esu] acendem um fogo com madeira de “munrun-munrun” foram os Divinadores [awon Awo] que
criaram o Oráculo de Ifá para [a da Ifa fun] o Orixá “Orunmilá” quando a saúde das “Crianças-de-Orunmilá”
não era boa. As Divindades [Osa] disseram que o Orixá “Orunmilá” deveria fazer a Oferenda de um pombo
[eye-ile kan], um galo [akuko kan], uma galinha [adie kan], seis nozes de Kola [obi mefa] e a quantia de 2.000
búzios [egba owo eyo], de forma que as “Crianças-de-Orunmilá” não viessem a morrer. O Orixá “Orunmilá”
fez a Oferenda : ninguém mais ficará doente!
Verso V [Tradição Ilê Ifé] :
“A Grande-Formiga-de-Cheiro-Ruim” [Ashinshinrin], Divinador de “Aquele-que-causa-mágoa”
[Odaoro]; “Ikandu”, Divinador de “Aquele-que-causa-o-mal” [Oseika] e o Lince raivoso [Eta] que vai
contra Mogan” foram os Divinadores [awon Awo] que criaram o Oráculo de Ifá para [a da Ifa fun] a “Lua-me-
dá-felicidade” [Osu fun mi l’ayo], quando esta ia furiosa para a cidade de Agege. As Divindades [awon Osa]
disseram que ela deveria ofertar sete preás assados [eku meje], sete peixes assados [eja meje] e a quantia de
“Orangunmeji” usar para oferecer à Divindade de sua própria “Cabeça” [Ori] quando ele voltasse para casa.
Ao chegar à casa, deram a “Orangunmeji” o recado de que sua mãe gostaria de vê-lo e aos seus Irmãos
mais velhos na cidade de sua residência. Então, ele não pôde preceituar a Oferenda à sua própria “Cabeça”
[Ori] naquele justo momento. Levando os materiais consigo, ele foi se unir aos seus irmãos mais velhos, de
forma que juntos fossem visitar a mãe deles, conforme o pedido dela. Quando eles chegaram à fronteira, a
autoridade alfandegária lhes pediu que pagassem a costumeira taxa de alfândega.
“Ejiogbe”, que era o líder dos Irmãos, não teve os 180 búzios monetário [ogosan owo] exigidos e ne-
nhum outro dos catorze Irmãos teve dinheiro para pagar. Só “Orangunmeji”, o décimo sexto Irmão, tinha o
dinheiro e ele pagou por todos para que pudessem atravessar para ir para a ciadade onde a mãe os esperava.
Então, quando eles chegaram lá, os outros catorze Irmãos decidiram nomear “Ejiogbe” e “Orangunmeji”
como os chefes da família. Desde aquele dia, nós temos chamado “Ejiogbe” por Oráculo “Ogbe-Duplo” e
“Orangunmeji” por Oráculo “Ofun-Duplo“. Desde aquele dia, temos dito : -“Nenhum Oráculo de Ifá é maior
que Ogbe-Duplo e Ofun-Duplo”-.
Por isto, quando se joga para “Procurar o Oculto” [Igbo-igbo] e se lançam muitos Oráculos na Divinação
de Ifá, se os Oráculos “Ogbe-Duplo” ou “Ofun-Duplo” forem lançados, sempre decidimos que eles são os
vencedores.
Verso XI [Tradição Yjebu] :
“Ogbe, o da Brancura” foi o Divinador [Awo] que “criou Ifá” para o Orixá Maior [Orisanla] no dia em
que este ansiava por abundância. Ifá aconselhou ao Orixá Maior a fazer Oferenda [iyanle]. O Orixá Maior fez
a Oferenda. A partir desse dia, ele teve todas as Bênçãos que precisava, pois aprendeu a Reza para atrair a Boa
Sorte [Kiki ire]:
-”Ogbe funfun kenewen o difa fun Orisanla won ni ko rubo,
Pe gbogbo nkan to n’to ko ni wo, o rubo ojo ti gbogbo nkan to
N’to ko wo mo niyen. Ase! ”-
-”Ogbe, o da Brancura, jogou Ifá para Orisanla a quem disse para fazer Oferenda
para que tudo o que ele fizesse corresse bem; ele fez a Oferenda
e todos os dias recebe as Bênçãos que necessita. Possa assim ser!”-
Ifá diz que esta pessoa deve adorar o “Senhor das Vestes Brancas” [Obatala] e que deve fazer Oferenda
a Ele para pedir-Lhe abundância.
Ifá diz que a Oferenda deve ser feita com a “Reza para obter Bênçãos” [Kiki Ire] deste Oráculo.
Ifá diz que a Oferenda é a Oferenda Propiciatória [Adimu] para o Senhor Obatala.
Verso XII [Tradição Yjebu] :
“Todas-as-coisas-são-como-os-espinhos-que-ferem-os-pés” foi o Divinador [Awo] que “criou Ifá” [a da
ifa fun] para “Elejiorangun” no dia em que este estava cercado por seus inimigos. Ifá aconselhou “Elejiorangun”
a fazer Oferenda [Iyanle] e este assim o fez. A partir daquele dia, “Elejiorangun” derrotou os seus inimigos.
Ifá diz que esta pessoa deve fazer Oferenda [iyanle] para Orixá “Oro” [Orisa Oro].
Ifá diz que Orixá “Oro” ajudará esta pessoa nos seus esforços para derrotar os seus inimigos.
A Oferenda é quatro pombos [eye-ile merin], quatro galinhas [adie merin], um pote de azeite de dendê
[ape epo kan], um prato branco [awo funfun kan], vários acaçás [awon eko] e várias moedas [awon nira], na
quantia determinada pelo Divinador para oferecer ao Orixá “Oro”.
Verso XIII [Tradição Caribenha] :
Como este Oráculo rege homens e mulheres indiscriminadamente, ele ensinou aos homens o segredo e o
manejo dos “Coquinhos-de-Ifá” [Ikin Ifa] para que eles pudessem encontrar os Oráculos de Tradição [awon
Odu Ifa], mas, juntamente com o Oráculo “Osa” e o Oráculo “Irosun”, o Oráculo “Ofun” também rege a
“menstruação feminina”.
Na Natureza, faz com que os frutos e as sementes ácidas germinem e se reproduzam em abundância. Por
isso mesmo, Oráculo “Ofun” reclama, em suas Oferendas, tudo em número de 16 (dezesseis). Ele também
determina que o Divinador não pode guardar o dinheiro ganho em suas atividades ligadas a Ifá, tampouco pode
deixá-lo de herança para seus filhos, devendo usufruir dele da maneira que melhor lhe aprouver.
Quando este Oráculo “Ofun” está em Boa Fortuna ou Positividade [Ire], assinala aquisições, riqueza,
força-da-palavra e vida longa. As “Crianças-de-Ofun”, isto é, as pessoas que têm “Ofun” por Oráculo de Mo-
mento-de-Nascimento [Kpoli], tem garantida uma vida longa e muitas conquistas, as quais serão obtidas so-
mente após de uma certa idade, quando atingem um estágio mais elevado de Espiritualidade e de compreensão
diante dos Mistérios da Vida.
As “Crianças-de-Ofun” são generosas por natureza. Elas podem não ser ricas, mas sempre tendem a
enriquecer em Sabedoria. São bons Conselheiros e não costumam deixar-se levar por sentimentalismo, prefe-
rindo antes agir com a razão. Possuem grande Mediunidade e, quando a utilizam corretamente, têm o Poder de
falar diretamente com os Senhores-da-Terra [Onile] e os Mortos [Egungun], obtendo deles respostas para tudo
o que querem saber. Mas, quando este Oráculo sai para uma pessoa enferma, determina que ela não morrerá,
mas que outro alguém, inesperadamente, irá em seu lugar.
A Tradição afirma que o Senhor-do-Além [Olorun] se comunica com os homens através do Oráculo
“Ofun”. Por isso, as “Crianças-de-Ofun” devem vestir-se exclusivamente de branco.
Vivenciando a Má Fortuna ou Negatividade [Oshogbo] deste Oráculo, as mesmas “Crianças-de-Ofun”
tornam-se caprichosos, intransigentes, implicantes e quando apelam para a violência podem perder o controle
e praticar atos que os levem a caminhos irreversíveis de sofrimento e dor.
Costumam criar grandes problemas quando as coisas não transcorrem de acordo com sua vontade, por
acharem que tudo tem que ser feito do seu jeito. Às vezes, por ódio ou revolta, elas tendem a lançar feitiços em
sua própria família, por isso o Oráculo “Ofun” determina punição para quem fizer juramentos às pessoas na
hora da morte e não os cumprir.
Este Oráculo proíbe às “Crianças-de-Ofun” de soprarem sobre fogo ou brasas, quer seja para apagá-los
que seja para ativá-los. Proíbe, ainda, que elas andem sujas e/ou freqüentem lugares sujos.
Quando o Oráculo “Ofun” surge no “Jogo” pelo “Opele Ifá” [Corrente-de-Ifá] e vem seguido do Orácu-
lo “Kpoli” do Divinador, este não pode fazer nada pela pessoa que se consulta, muito menos “fazer-lhe Ifá”,
pois o Orixá “Orunmilá” está avisando que esta pessoa poderá trazer contrariedade e angústia para ele.
Ifá diz que para obter e manter boa prosperidade financeira, as “Crianças-de-Ofun” terão que preceituar
oferendas às Poderosas Senhoras do Feitiço [Iyami-Aje] ou a “Olokun”, o Orixá Senhor do Mar.
Ifá diz que se o Oráculo “Ofun” é “lançado” para um Consulente que planeja viajar, este pode ser assegu-
rado de que tudo correrá bem na viagem, desde que execute as Oferendas prescritas por Ifá.
INTERPRETAÇÕES BÁSICAS DO ORÁCULO “OFUN-DUPLO” :
AS “FALAS” DE IFÁ DESTE ORÁCULO SÃO :
EM BOA FORTUNA [IRE]
Verso I [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz há alguém para quem “Aquele-que-possue-o-Além” [Olorun] criará um grande “Mercado-de-Destino”
[Oja Iwa] que afetará à toda sua família, da mesma maneira que “Olho” tudo vê para todos.
- Ifá diz que há uma criança pequena, a qual “Aquele-que-possue-o-Além” colocará em uma posição muito
importante; mas os pais dela deveriam fazer uma Oferenda para evitar que ela venha a ter um grande inimigo.
Verso II [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz que aquilo que nós queremos fazer nos renderá eventualmente um bom lucro.
- Ifá diz que uma família se reunirá para servir alguém em um futuro próximo.
Verso III [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz que nós nos aborrecemos com alguém que quebrou o juramento que nos fez, mas os “Seres Espirituais
do Além” [Ara Orun] é que o julgarão e o castigarão.
- Ifá diz que todas as coisas que o Orixá “Orunmilá” ofereceu às Quatrocentas Divindades naquele momento,
são as coisa que todo o mundo continuará ofertando nos tempos que virão.
Verso V [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz que nós deveríamos fazer uma Oferenda por causa de uma pequena viagem que nós pretendemos fazer,
de forma a poder voltar para casa satisfeitos.
Verso VI [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz : “Qualquer mal lançado sobre nós deve desaparecer! Não poderá nos afetar!”-
Verso VII [Tradição do Sudoeste Ulkumy] :
- Ifá diz que a “Senhora-da-Criação” [Iyami Odudua] criou tudo aquilo que existe dentro da “Cabaça Tampa-
da” [Igba Ademu] e nós, os Seres Humanos [Ara Aiye], também vivemos dentro dessa imensa “Cabaça
Tampada” [o Universo / a Terra].
Verso VIII [Tradição do Sudoeste Ulkumy] :
- Ifá diz que os Babalaôs nunca deveriam estar ansiosos por acumular dinheiro. Ao contrário, eles deveriam
adquirir Sabedoria e Poder em seus tempos de vidas.
Verso IX [Tradição do Sudoeste Ulkumy] :
- Ifá diz que é por esse motivo que os Divinadores nunca foram ou serão ricos, a não ser em Sabedoria.
Verso X [Tradição do Sudoeste Ulkumy] :
- Ifá diz que nenhum Oráculo de Ifá é maior que os Oráculo “Ogbe” e Oráculo “Ofun”. Eles serão sempre os
Vencedores.
Verso XI [Tradição Yjebu] :
- Ifá diz que esta pessoa deve adorar o “Senhor das Vestes Brancas” [Obatala] e deve fazer Oferenda [iyanle] a
Ele [Deus] para pedir-Lhe abundância. A Oferenda é a Propiciatória de “Obatala” [Adimu].
- Ifá diz que a Oferenda deve ser feita com a “Reza para obter Bênçãos” [Kiki Ire] deste Oráculo.
Verso XIII [ Tradição Caribenha] :
- Ifá diz que para obter e manter boa prosperidade financeira, as “Crianças-de-Ofun” terão que preceituar
Oferendas às “Poderosas Senhoras do Feitiço” [awon Iyami-Aje] ou ao Senhor do Mar [Olokun].
EM MÁ FORTUNA [OSHOGBO]
Verso II [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz há alguém a quem todas as pessoas de sua família estão insultando e chamando de preguiçoso; mas esta
pessoa virá a possuir todos os bens da família inteira em futuro próximo.
Verso III [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz que nós não deveríamos quebrar um juramento feito a um amigo [a ma da ile ore], afim de não
conhecermos o Senhor “Morte” [Imole Iku], inesperadamente.
- Ifá diz que há alguém doente, mas não morrerá; outra pessoa que nós nem notamos mais é o que morrerá.
Verso IV [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz que em se fazendo a Oferenda ninguém mais ficará doente!
Verso V [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz que nós deveríamos fazer uma Oferenda por causa de uma pequena viagem que nós pretendemos fazer,
de forma a poder voltar para casa satisfeitos.
Verso VI [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz : “Qualquer mal lançado sobre nós deve desaparecer! Não poderá nos afetar!”-
Verso VII [Tradição do Sudoeste Ulkumy] :
- Ifá diz que a “Senhora-da-Criação” [Iyami Odudua] criou tudo aquilo que existe dentro da “Cabaça Tampada”
[Igba Ademu] e nós, os Seres Humanos [Ara Aiye], também vivemos dentro dessa imensa “Cabaça Tampada
[o Universo / a Terra].
Verso XII [Tradição Yjebu] :
- Ifá diz que a pessoa deve fazer Oferenda [iyanle] para o Orixá “Oro” [Orisa Oro].
- Ifá diz que Orixá “Oro” ajudará esta pessoa nos seus esforços para derrotar os seus inimigos.
Verso XIII [Tradição Caribenha] :
- Ifá diz que para obter e manter boa prosperidade financeira, as “Crianças-de-Ofun” terão que preceituar
Oferendas às “Poderosas Senhoras do Feitiço” [awon Iyami-Aje] ou ao Senhor do Mar [Olokun].
- Ifá diz que se o Oráculo “Ofun Duplo” é “lançado” para uma pessoa que planeje viajar, esta pode ser assegu-
rada de que tudo correrá bem na viagem, desde que execute as Oferendas prescritas por Ifá.
POSIÇÃO E CARATERÍSTICAS PRINCIPAIS DO ORÁCULO “OSE-DUPLO” :
Na Hierarquia dos Oráculos de Ifá em Conjugação dos Contrários, o Oráculo “Ofun-Duplo” é o Décimo
Sexto (160) da Ordem dos Dezesseis (16) Oráculos Principais. Ele está relacionado ao Ponto Cardeal Leste-
Nordeste no Signo de Libra [Owo ti o siku], para os nascidos no período de 11/10 à 22/10 (inclusive) e ao Signo
de Escorpião [Akekee] para os nascidos no período de 23/10 a 02/11(inclusive). Em Conjugação dos Contrá-
rios com o Oráculo “Ose-Duplo” (Oráculo 150) que é relacionado ao Ponto Cardeal Oeste-Sudoeste, compõe o
De won mo-ile si orun = “Amarrou-as contra o chão do Além”. Isto explica porque as Quatrocentas Deidades
da Direita ficam até hoje no Além [Orun] e só vêm à ‘Terra [Ile Aiye], através do “chamado” dos tambores, em
seus “Assentamentos“, em seus “Cavalos-de-Santo”, em seus “Ebo” ou quando “falam” através dos “Ese Ìtan
Ifa” na Divinação Sagrada.
Epe = Maldição. É um tipo “magia” que necessita que se tenha um “amuleto” para ser tocado com os lábios,
não havendo a recitação em voz alta de nenhuma “Encantamento” [Ofo].
Eró = Na Língua Yoruba “fun” significa “doar / dar”. “Funfun”, significa “branco” e este Oráculo representa
esta cor, enquanto que “ofu” significa “perda”, “prejuízo”. A palavra “fu” transmite a idéia de “limpar asso-
prando”. Assim, quando um Divinador encontra a “Trilha” deste Oráculo costuma dizer : “Eró” ou “Ló”,
palavras que transmitem a idéia de “proibição”, “pecado” e “mistério”. Em seguida, sopra três vezes sobre as
palmas de suas mãos, como se elas contivessem um pó. Formou-se assim a tradição de que sempre que este
Oráculo aparece numa consulta, deve-se bater a mão espalmada sobre o ventre e, em seguida, estendendo-a,
soprar sobre sua palma, como se estivesse coberta de pó, exclamando: “Hekpa Baba”! Este procedimento visa
espalhar, através do sopro, a energia de vida existente no Oráculo “Ofun-Duplo”.
Hekpa Baba !!! = O Oráculo “Ofun-Duplo” representa um mistério tão grande dentro do Sistema Ifá que,
quando surge no “Jogo”, os Divinadores costumam reverenciá-lo, bradando - “Hekpa Baba !!!” - sendo
“Hekpa” uma expressão de pavor e de respeito diante da grande energia e do enorme poder inerente a este
Oráculo e “Baba” significando “Pai” ou “Senhor”.
Ibi-ku-ibi ti o ba fi ori se mi, ibe ni ki o ku si ki, o ma le ran mi = ”Qualquer mal lançado sobre mim deve
desaparecer! Não poderá me afetar!" Este é um “Encantamento” de Proteção” habitualmente recitado como
uma “reza forte” que dá eficácia às “Trilhas” dos Oráculos feitas na parede para proteção de residências, etc ...
Ide = É um tipo de pulseira de contas verde claras e castanhas escuras, essas contas conhecidas por “etutu
oponyo”, usada por Divinadores no pulso esquerdo, embora o Oráculo “Ofun-Duplo” também relate sua exis-
tência como “ka-orun” [ao-redor-do-pescoço], ou seja, um colar, e, com isso, identifique “okunrin dudu”
[“homem preto”] como “Orunmilá-Ifá”.
Ìdò = “Cana-de-Jardim”, “Ibiri”, “Bananinha-de-Jardim”, “Erva-Conteira” [Canna Indica (L.), Cannaceae].
Com os nomes africanos de “Ewé Ìdò”, “Òdòfin”, “Ìdó dúdú”, “Sawo Áìlà”, esta planta é originária da Amé-
rica Tropical, mas hoje acha-se disseminada na Europa e na África. Dedicada às “Senhora Oxum” e “Senhora
Ewa”. Em muitos “Terreiros” do Sul do Brasil, as folhas da “Bananinha-de-Jardim” são usadas para embrulhar
os “Acaçás” que se ofertam à Grande “Mãe Oxum”. Nos “Terreiros” da Bahia e do Rio, esta planta é usada na
ornamentação dos “Barracões” e é também utilizada em Banhos Purificatórios e Medicinais para as “Filhas-de-
Oxum”. Pertence ao “Elemento Água” [ewé omi] / “Feminino” [ewé apa òsí] / “Folha “calmante” [ewé èrò].
[Ewé / Verger 1995 : 643,131] - [Ewé Òrìsà / José F. P. Barros e Eduardo Napoleão 1999: 170].
Igba-ogoji = Quarenta (40) vezes. Expressão idiomática Yoruba que exprime uma grande quantidade de vezes,
como “inúmeras vezes” ou “várias vezes”.
Igbá-ogota = Sessenta (60) vezes. Expressão idiomática Yoruba que exprime uma grande quantidade de vezes,
como “inúmeras vezes” ou “várias vezes”.
Igede = Maldição. “Magia” que envolve a recitação em voz audível de um “Ofò” [Encantamento] específico.
Ítà = “Crideúva” [Celties canescens H.B.K]. A madeira desta árvore, é um importante presente nupcial para os
parentes da noiva dada em matrimônio.
Jé = Comer. O que Orixá “Ôrunmilá-Ifá” serviu às Quatrocentas Divindades serve de exemplo do porque
caracóis, peixes, preás, mingau de amido de cereais e água fresca são usados em Oferendas até hoje para
“Olorun” e, também, por que Orixá “Orunmilá-Ifá” e o Senhor “Exú” são tão importantes na Terra da Vida.
Kiki ire = Reza para obter as cinco qualidades de Bênçãos : Ire Ori [Boa Sorte], Ire Aiku [Bênção de Vida
Longa], Ire Aje [Bênção de Riqueza], Ire Aya [Bênção de Companheira], Ire Omo [Bênção de Filhos].
Ló = Na Língua Yoruba “fun” significa “doar / dar”. “Funfun”, significa “branco” e este Oráculo representa
esta cor, enquanto que “ofu” significa “perda”, “prejuízo”. A palavra “fu” transmite a idéia de “limpar asso-
prando”. Assim, quando um Divinador encontra a “Trilha” deste Oráculo costuma dizer : “Ló” ou “Eró”,
palavras que transmitem a idéia de “proibição”, “pecado e “mistério. Em seguida, sopra três vezes sobre as
palmas de suas mãos, como se elas contivessem um pó. Formou-se assim a tradição de que sempre que este
Oráculo aparece numa consulta, deve-se bater a mão espalmada sobre o ventre e, em seguida, estendendo-a,
soprar sobre sua palma, como se estivesse coberta de pó, exclamando: “Hekpa Baba”! Este procedimento visa
espalhar, através do sopro, a energia de vida existente no Oráculo “Ofun-Duplo”.
Mu igbá Odù = “Beber da cabaça de Odu”, significando que existem Oferendas nas quais são utilizadas e
servidas ao Consulente, ao Divinador e/ou circunstantes, bebidas de infusão de “folhas-de-Ifá”, chás de ervas
medicinais, suco de frutas e as Oferendas “epo ni orojo obe” [“o dendê amacia o guisado”] que são de “comi-
das molhadas”, entre elas inúmeros tipos de mingaus de amido de cereais cozidos em panelas de barro e
servidos em meias-cabaças [igba]. São alimentos de consumo comum, mas preparados ritualisticamente.
Mu-ilé = “Beber-terra”, significando “fazer juramento”. Na concepção Yoruba, a Terra é a testemunha mais
confiável porque ela estará sempre presente. Assim, o juramento “Ki ilé je éri” [“Que a Terra seja testemunha”]
é uma das mais solenes garantias de fidelidade a um juramento. Então, “fazer um juramento” diz-se que é
“beber-terra” [mu ile] e “quebrar um juramento” diz-se que é “quebrar-terra” [da-ile, dale].
Pápàsan = “Beldroega”, “Portulaca”, “Ora-pro-nobis”, “Beldroegra-Verdadeira” [Portulaca Oleracea (L.),
Portulacaceae]. Conhecida pelo nomes africanos de “Pápàsan”, “Ségunsétè”, “Akórélówó” esta planta é origi-
nária da Ásia e até cultivada no Egito, sendo que hoje em dia esta erva está disseminada por quase todas as
regiões do Mundo, inclusive no Brasil. É dedicada ao Orixá “Oxalá”. Sendo uma erva dedicada a este Orixá,
serve a todos os Orixás da Brancura [awon Orisa Funfun], principalmente em Banhos Purificatórios, pois é
uma “folha fria” e “calmante” que traz um equilíbrio às vezes necessário aos “Trabalhos”. Por isso, na Santeria
Cubana, é utilizada para “contrabalançar os fluídos excitantes” em “Banhos para Boa Sorte” das “Filhas de
Iemanjá”. Pertence ao Elemento Água [ewé omi] / Feminino [ewé apa òsí] / Folha “calmante” [ewé èrò].[Ewé /
Verger 1995 :710] - [Ewé Òrìsà / José F. P. Barros e Eduardo Napoleão 1999: 199].
Patiòba = “Tamba-tajá” [Xanthosoma Atrovirens (Koch.et Bouche.), Appendiculatum, Araceae]. Esta planta é
nativa da América , mas ocorre em todos os outros Continentes, sobretudo em matas húmidas. Constituída em
seu morfologismo por folhas com um apêndice dotado de fototropismo positivo, fez com que a “visão de
mundo” Djêje-Nagô a considerasse como um símbolo da androginia de algumas Entidades de seu Panteão.
Assim, é utilizada torrada e em pó, como um dos componentes em “trabalhos” para separar casais e confundir
parceiros sexuais. É dedicada ao Orixá “Ossaim”. Pertence ao Elemento Água [ewé omi] / Masculino-Femini-
no [ewé apa òtún/òsí] / Folha “neutra” [ewé gún-èrò]. [Barros e La Menza 1987: 232] - [Ewé Òrìsà / José F. P. Barros e
Eduardo Napoleão 1999: 309]
Osàn = “Laranja” [Citrus sp. Rutaceae]. “Nós nos apressamos para colher laranjas [osan], nós caminhamos
atentamente para escolher as melhores frutas; mas, como não temos ninguém tomando conta do lugar onde
elas crescem, nós sempre iremos comer as que ainda não estão tão maduras”.
A frase toda significa, “latu senso”, que “quem não vigia o seu pomar, não come as melhores frutas”.
Oja Iwá = Mercado de Destino. Se for cumprida a Oferenda, Ifá criará grandes oportunidades para que a
pessoa vença na vida, afetando à toda sua família, da mesma maneira que “Olho” tudo vê para todos, pois assim
como ninguém pode ver sem olhos, também não recebe benesses espirituais sem fazer Oferendas Ritualísticas.
Tètèrègún = “Cana-do-Brejo”, “Cana-de-Macaco”, “Sanguelavô”, “Ubacaia” [Costus Spicatus (Sw.),
Zingiberaceae]. Com o nome africano de “Tètèrègún”, “Tètè Ègùn”, “Tètèègúndò”, esta é uma planta nativa do
Brasil, mas já disseminada por todos outros Continentes. Atribuída ao Orixá “Oxalá”, “ewé Tètèrègún” é
indispensável ao “Agbo” [Banho de Iniciação], por ser considerada uma “folha de vida e morte”, e, como tal,
tem seu cântico característico [“Òrin ewé”]. Pertence ao Elemento Ar [ewé afééfé] / Masculino [ewé apa òtún]
/ Folha “calmante” [ewé èrò]. [Ewé Òrìsà / José F. P. Barros e Eduardo Napoleão 1999 : 329,330].
Nome : Encantamento “Obter Grande Destino” [Oogun “De ipo nla kan” ]
Finalidade : Para alcançar importante posição.
Fonte : Oráculo “Ofun-Duplo” / Primeiro Verso
Oráculo :
-”Ti Ol’orun yio mu de ipo nla kan”-
-”Para quem “Olorun” concedeu um grande destino”-
Reza Forte [Ofò]:
-”Ifa ni eni-kan wa ti Ol’orun yio da oja iwa,
nla kan fun ti yio kan gbogbo awon ara ile re”-
-”Ifá diz que há alguém para quem Olorun
concedeu um grande destino,
o qual também beneficiará toda a sua família”-
Elementos :
Um prato de barro [awo] novo e limpíssimo.
Uma pequeno pote de barro [ape] com a boca larga.
Uma pequena quantidade de azeite de Dendê [epo pupa]
Uma pequena quantidade de manteiga de cacau [ori]
Sete folhas da planta “Tamba-tajá”[ewe Patioba meje]
Várias penas de pombo branco [awon iye-eyele funfun]
Um ovo de galinha “in natura” e fresco [eyin-adie]
Modo :
01 - Prepara-se a Oferenda, secando-se, torrando-se e pilando-se as folhas de “Tamba-tajá” e as penas de
pombo, reduzindo-se tudo a um pó fino bem peneirado.
02 - No pequeno pote de barro, coloca-se o conteúdo de um ovo de galinha fresco e mistura-se bem a gema à
clara (sem “bater”).
03 - Dentro do pote, coloca-se a quantidade necessária do pó das folhas e penas calcinadas para que a nova
mistura ganhe uma consistência de pasta mais firme.
04 - Sobre esta mistura derrama-se um pouco de “flor” do azeite de Dendê, de forma a torná-la mais líquida.
05 - Agora, sobre o prato de barro, coloca-se um pouco de manteiga vegetal e, sobre ela, apenas 9 gotas da
pasta mais liquidificada anteriormente obtida. Mistura-se bem este novos elementos no prato.
06 - Em seguida, sobre o Pó-Consagrado do Tabuleiro [iye-irosun], com os dedos indicador e médio da mão
direita, o Divinador marca a Trilha-de-Ifá [ona Ifa] do Oráculo “Ofun-Duplo”, rogando ao Orixá “Orunmilá”
por sua proteção e pedindo Axé [Poder] para a eficácia deste Encantamento.
07 - Com os mesmos dedos e mais o polegar, recolhe a quantidade de Pó-Consagrado que necessite, colhendo-
o de cima e no meio da Trilha-de-Ifá.
08 - Com a quantidade de Pó-Consagrado necessária, polvilha bem a mistura do prato de barro e mexe tudo
com uma colher de pau ou vareta de madeira, recitando agora a Reza Forte correspondente e acima regis-
trada, com respeito, concentração e muita fé.
09 - Depois, com calma e gentileza, toma um pouco desta mistura e com ela esfrega os pés e as mãos do
Consulente, tornando a repetir, nesse momento, a Reza Forte do Encantamento acima registrada.
10 - O que sobrar do conteudo do pote e prato deverá ser despachado em uma Encruzilhada de Três Caminhos
[Orita Meta] no campo.
ORÁCULO NÚMERO 2
FUNDAMENTO OYEKU BABA
Tabuleiro de Ifá É o Segundo Oráculo da Hierarquia relativa à
Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Não Tem
Orixá que “Fala”: Ori
Orixá “Tagarela”: Olokun
Eburá “Tagarela”: Grandes Mães
Princípio atuante do Identidade Geomântica
Odu “Oyeku” Baba : de “Caminho”
Existência [Iwa] = Descontinuidade
Indução [Aba] = Afastamento
Trilha Oyeku Baba Realização [Ase] = O Viajante
Provérbio : -”Você não deu licença! Eu não dei licença!”-
-”Mas não importa : é Ifá quem vai trazer as boas coisas“-
Significando : Afastamento de coisas ruins, desgraças e doenças.
Pregando : Bom discernimento
ORÁCULO NÚMERO 3
FUNDAMENTO IWORI BABA
Tabuleiro de Ifá É o Terceiro Oráculo da Hierarquia relativa à
Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Tem [VD]
Orixá que “Fala”: Orunmilá Ifá
Orixá “Tagarela”: Ogum
Imolé “Tagarela”: Eshú e Obaluaiê
Eburá “Tagarela”: Nanã
Princípio atuante do Identidade Geomântica
Odu “Iwori” Baba : de “Prisão” :
Existência [Iwa] = Isolamento
Trilha Iwori Baba Indução [Aba] = Cilada
Realização [Ase] = O Prisioneiro
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - O “Santo” está protegendo este Consulente contra todo o Mal.
1.2 - Há indicações de que todas as perdas serão passageiras
1.3 - Haverá ajuda final de parentes que, antes, se mostravam antagônicos.
1.4 - Trabalhos acurados e conscienciosos serão recompensados.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Há sério antagonismo entre parentes.
2.2 - Há riscos de vida envolvendo parentes em litígio.
2.3 - Há indicações de conflitos com parentes por causa de herança.
2.4 - Há perigo de perder uma grande tarefa por teimosia em não aceitar
ajuda de terceiros.
2.5 - Há indicações de viagens difíceis ou trabalhosas por falta de informações.
3 - Necessidades :
3.1 - Deve-se perdoar os erros e as ofensas de parente mais novo.
3.2 - Não cultivar rancores e/ou querer desforras.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se
for indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encon-
tráveis pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Para firmar Posição e Autoridade :
Encantamento “Nó Duplo” [Oogun Eji-koko]
5.2 - Para obter Patrimônio :
Encantamento “Magia Muito Poderosa” [Oogun Ohun-kan kuku le]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Iwori] :
Folha da Fortuna [Abamoda] / Embaúba [Agbao]
Erva-Para-Raio [Ewe Mesan] / Peregun [Èwe Peregun]
ORÁCULO NÚMERO 4
FUNDAMENTO ODI BABA
Tabuleiro de Ifá É o Quarto Oráculo da Hierarquia, relativa à Con-
junção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Não Tem
Eburá que “Fala”: Oxum
Orixá “Tagarela”: Ogun e Egum
Imolé “Tagarela”: Eshú e Iroko
Princípio atuante do : Identidade Geomântica
Odu “Odi” Baba : de “Reunião” :
Existência [Iwa] = Instinto Associativo
Indução [Aba] = Junção dos Contrários
Trilha Odi Baba Realização [Ase] = O Sócio
Provérbio : —“Como pode o Camaleão andar,
enquanto está mudando de cor ?“—
Significando : Existência de Obstáculos
Pregando : Paciência e Bom Senso
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— esta é uma pessoa que terá possessões e residências, mas que deveria preceituar
Oferendas completas para que o que eles construírem na “manhã” de suas vidas,
não seja destruído por outros, na “noite” de suas vidas.
— este é alguém que deseja empreender uma viagem. Ele deveria fazer Oferenda
de forma a que obtenha dinheiro, fama e honra aonde ele for e a sua jornada será
de grande benefício.
— deveríamos fazer Oferenda aos Ancestrais [Egun], para que eles concedam
descendência a quem para ele oferendar.
— o nome desta pessoa não desaparecerá e que ela não falhará no assunto para o
qual se “lançou Ifá” para ela, mas que ela antes deveria consultar os Antepas-
sados sobre o assunto que lhe interessa.
— a pessoa para quem este Fundamento foi “lançado”, receberá muitas bênçãos
se uma Oferenda for feita.
— esta pessoa acreditava que a Boa Sorte passaria ao seu lado, mas quando a Boa
Sorte veio até esta pessoa, escapou-se-lhe entre os dedos.
— esta pessoa deve continuar optimista sobre o futuro e oferecer constantes ora-
ções ao Orixá Orunmilá pedindo ajuda para alcançar os seus sonhos. Essas
orações transformarão os sonhos desta pessoa em realidade.
— as Oferendas nos defendem das “pedras” jogadas pela Morte e a Doença.
— isto se aplica igualmente a um indivíduo ou uma família : quando ameaçado
ele tem a obrigação de defender-se.
AS FALAS DENOTAM :
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Forte indício de sucesso em carreira política.
1.2 - Os obstáculos serão atenuados, se houver forte ajuda.
1.3 - Há indicações de que parentes falecidos protegem o Consulente.
1.4 - Há indicações de que se obterá riquezas e possessões.
1.5 - Indica viagens com resultados bem positivos.
1.6 - Prevê boas relações matrimoniais.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Há indicações de inúmeros obstáculos em todas as áreas.
2.2 - Se a ajuda for fraca, os obstáculos serão intransponíveis.
2.3 - Há perigo de vindo de inimigos dissimulados, invejosos de suas posses.
3 - Necessidades :
3.1 - Paciência e Bom Senso.
3.2 - Pode indicar a necessidade de “Feitura no Santo”.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Colocar-se sob a proteção do Babalaô :
Encantamento “Colocar pó Na Cabeça” [Òogun Bu iye re le ori]
5.2 - Atrair riquezas para a família :
Encantamento “Muito Rápido” [Oogun Ranyinranyin]
5.3 - Colocar-se sob a proteção de seus Ancestrais :
Encantamento “Na presença do Ancestral” [Òogun Si odo Egun]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Edí]
Maracujá-Caiano [Abiirumpo] / Erva Guiné [Ewe Ojuusaju]
Leque-Oxum [Abebe Òsun] / Tamarineiro [Àjagbao]
7 - Proibições Rituais [Eewo”] para as “Crianças-de-Edí” :
[Elas são Nascidas de 20/06 à 21/06 (Gêmeos) e de 22/06 à 11/07 (Câncer)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Edí” não devem :
“Comer agrião [awurepepe”]; comer Inhame [Isu] que se parta ao ser
descascado; escavar buracos na entrada da cidade.”
ORÁCULO NÚMERO 5
FUNDAMENTO IROSUN BABA
Tabuleiro de Ifá É o Quinto Oráculo da Hierarquia relativa à Con-
junção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Não Tem
Orixá que “Fala”: Xangô
Orixá “Tagarela”: Ibeji
Eburá “Tagarela”: Oxum
Imolé “Tagarela”: Oxumarê
Princípio atuante do Identidade Geomântica
Odu “Irosun” Baba : de “Fortuna Maior” :
Existência [Iwa] = Persistência
Trilha Irosun Baba Indução [Aba] = Vitória Iminente
Realização [Ase] = O Afortunado
Provérbio : “A Armadilha caíu em cima”
Significando : Uma boa armadilha e habilidade em seu uso,
são bons aliados.
Pregando : Necessidade de coragem e habilidade!
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— quando a Águia está encolerizada, todos os pássaros se escondem.
— a coragem por si só é tão boa quanto a Magia.
— é impossível ter-se dois Destinos em uma só Vida.
— as “Crianças-de-Irosun” sempre acharão a vida difícil .
— a “Crianças-de-Irosun” não deve se desesperar e começar a perder interesse
naquilo que estiver fazendo. Deve conter a precipitação, aprender a ter paci-
ência para esperar que os tempos difíceis desapareçam. Ela deve sempre se
lembrar que nenhuma condição, no mundo, é permanente, porque este Funda-
mento também assinala vitórias pelo próprio esforço e sorte no jogo.
— a pessoa não dá valor ao que tem porque nada foi obtido pelo seu esforço.
— há alguém que está se lamentando por não ter ainda descendência; mas este
alguém gerará uma criança e esta criança será um menino.
— o consulente deve encarar a vida de frente e ir conquistando suas coisas com
coragem e determinação, não precisando baixar a cabeça diante de ninguém.
— o consulente deve precaver-se de problemas com as Autoridades, pois que
pode ser traído pelos próprios amigos.
— esta pessoa deve fazer Oferenda para ser protegido dos seus inimigos.
— as Oferendas devem ser feitas aos Antepassados.
— os Divinadores são os “Olhos do Senhor Deus” e o Praticante que também seja
uma “Criança-de-Irosun” tem que obter Sabedoria porque pessoas dependerão
de seu saber. Para ele não morrer precosemente, tem que adquirir, sempre, no-
vos conhecimentos sobre Ifá.
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Muita proteção do Orixá Xangô.
1.2 - O Consulente terá muitas alegrias com sua descendência.
1.3 - Terá felicidade em sua união amorosa.
1.4 - Será vitorioso em todas as dificuldades.
1.5 - Há um “Chamado” bem claro para a Vida Espiritual.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Há influências negativas do sexo oposto.
2.2 - Poderá ser alvo de intrigas e maledicências.
2.3 - Envolvido em encrenca, dificilmente escapará sem conseqüências.
3 - Necessidades :
3.1 - Deve ouvir conselhos da companheira ou de amigo íntimo.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se
for indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encon-
tráveis pelo “Nome” e “Número” na Tabela Hermética I I :
5.1 - Contra todas as indecisões :
Encantamento “Madrugada Tremeluzente” [Oogun Osan Werewere]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Irosun] :
Aroeira [Ajobi] / Casuarina [Ewe Oya]
Mangueira [Oro o imbo] / Manjericão [E finrin]
7 - Proibição Ritual [Eewo] às “Crianças-de-Irosun” :
[Elas são as Nascidas em 27/08 à 18/09 (Virgem)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Irosun” não devem :
”Não podem criar, maltratar ou comer cobra, macaco ou papagaio; roer ou
chupar ossos de animais; comer banana-da-terra; comer qualquer vegetal
ou fruta de casca vermelha; usar roupas totalmente vermelhas ou alaranjadas;
entrar em cavernas, valas, fossas, cemitérios ou vadearem manguezais”
ORÁCULO NÚMERO 6
FUNDAMENTO OWONRIN BABA
Tabuleiro de Ifá É o Sexto Oráculo da Hierarquia relativa à Conjun-
ção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Não Tem
Imole que “Fala”: Egungun
Ebura “Tagarela”: Oxum
Orixá “Tagarela”: Eledá e Oxossi
Princípio Atuante do Identidade Geomântica
Odu “Owonrin” Baba de “Fortuna Menor”
Existencia [Iwa] = Lassidão
Indução [Aba] = Sucesso Instável
Trilha Owonrin Baba Realização [Ase] = A Imperiosa
Provérbio : —“Onde quer que eles estejam na “Cabeça” do Divinador,
ele vai amarrando-os, vai guardando-os no fundo do rio”—
Significando : Deve-se esperar o momento certo para agir.
Pregando : Ter Calma e Paciência.
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— a “Criança-de-Oworìn” está ligada à Espiritualidade por grande Mediunidade.
— o “Colar” e a “Pulseira” desta “Trilha” têm que ter fios duplos (duas voltas).
— as “Quartinhas” de seus “Santos” não podem ficar sem água.
— para quem este “Ifá” for lançado deve se vestir de azul-marinho.
— o Praticante desta “Trilha” tem que colocar, periodicamente, seu “Ifá” na casa
onde fica “assentado” seu Antepassado protetor.
— há um Antepassado que acompanha e ajuda a pessoa, mas que a mantém soli-
tária. Cuida desta pessoa, mas tem ciúmes de quem se aproxima dela, só per-
mitindo a aproximação quem reconhecer sua ação protetora.
— para quem esta “Trilha” foi “lançada”, conhecerá quem a ajudará em qualquer
coisa para a qual ela estenda a mão, mesmo que nessa mão ela não tiver ne-
nhum dinheiro nesse momento.
— a pessoa tem a cabeça de um líder e deve fazer Oferenda para que obter um
importante título ou posição.
— a pessoa deve assumir a posição de responsabilidade dentro da sua família,
ajudando-a resolver um problema.
— existe a ingratidão de um “amigo” que pode causar “dano” e esta pessoa para
viajar, deve preceituar uma Oferenda contra as “pedradas” [problemas] da Vida.
— quem faz a Oferenda prescrita, atendendo à advertência das Entidades, volta
são e salvo para casa.
— esta pessoa deverá usar a erva Juta Azul em seu banho-de-ervas para atrair
coisas boas enquanto viajar para trazer os frutos de seu trabalho.
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - O Consulente terá sucesso em empreendimentos comerciais.
1.2 - Terá ajuda financeira inesperada.
1.3 - Terá amplo apoio da família.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Poderá sofrer falsas acusações contra sua dignidade.
2.2 - Propensão para arranjar inimigos gratuitos.
2.3 - Poderá sofrer com atuação de espíritos de Antepassados.
3 - Necessidades :
3.1 - Fazer preceito e orações para seus Antepassados.
3.2 - Ter cautela ao emitir opinião sobre terceiros.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Para obter Ajuda da Família :
Encantamento “Despertar Ajuda Familiar” [Oogun A-ji-ke-olu]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Owonrin] :
Akoko [Akoko] / Melão-de-São-Caetano [Ejirin]
Sabugueiro [Atorina] / Crindeuva [Afere]
7 - Proibição Ritual [Eewo] às “Crianças-de-Owonrìn” :
[Elas são as Nascidas em 25/02 à 19/03 (Peixes)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Owonrin” não devem :
”Comer galinha d‘angola [Etu], milho [Agbado] e gergelim [yanmotí]”—
ORÁCULO NÚMERO 7
FUNDAMENTO OBARA BABA
Tabuleiro de Ifá É o Sétimo Oráculo da Hierarquia relativa à
Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Tem valor [VD]
Imolé que “Fala”: Abiku
Orixá “Tagarela”: Ibeji, Oxosse
Eburá “Tagarela”: Oiá
Princípio atuante do Identidade Geomãntica
Odu “Obara” Baba : da “Cabeça do Dragão”:
Existência [Iwa] = Instinto Construtivo
Indução [Aba] = Reflorescimento
Trilha Obara Baba Realização [Ase] = A Criança
Provérbio : -”Pobreza não é motivo para brincadeiras;
não se debocha do sofrimento alheio!”-
-”A vítima de um desastre, só é vantagem para o Urubu!”-
Significando : As mudanças são parte da vida : quem hoje é pequeno, amanhã
poderá ser muito grande.
Pregando : Piedade, Caridade, Prudência.
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— não permitirá que sejamos levados à ruína.
— se a desgraça se aproximar, a Alma Ancestral Guardiã virá em nosso auxílio.
— nossos segredos jamais serão revelados.
— a pessoa para quem este Fundamento foi “lançado” não deve contar nada
sobre o que possue e nem como o conseguiu, senão voltará ao que era.
— para realizar determinado negócio ou trabalho, antes deveríamos realizar uma
Oferenda, afim de ela nos conduza à riqueza.
— este é o momento para o Consulente começar um novo projeto.
— o Consulente está prestes a entrar numa boa relação.
— a pessoa receberá ajuda, bênção e dinheiro de gente muito poderosa.
— a pessoa deve ser aconselhada a “lavar cabeça” e usar “roupas brancas” para
que a “Mão do Babalaô” possa livrá-la do Mal.
— a pessoa deve adorar Ôrunmilá para que sua “Carga Espiritual” seja aliviada.
— a pessoa não deve demorar a fazer o que planeja.
— as dificuldades financeiras serão superadas e os inimigos serão derrotados se
a pessoa concordar em executar as Oferendas prescritas.
— o Consulente precisa ter muita cautela em suas relações amorosas.
— a pessoa é vítima de injúrias e calúnias e que seu próprio cônjuge a engana.
— a pessoa sonha com algo impossível de ser obtido.
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Grande “Proteção Espiritual” à todos os níveis.
1.2 - Evidente “Chamado Espiritual” para “Fazer o Santo”.
1.3 - Grandes benefícios materiais : dinheiro, propriedades, poder e honras.
1.4 - Relações e negócios lucrativos com os Abastados e os Poderosos.
1.5 - Muita descendência.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Dinheiro e Poder despertam inveja e cobiça generalizadas.
2.2 - Brigas por heranças entre irmãos e parentes.
2.3 - Traições amorosas até entre conjugues.
2.4 - Perigo de se tornar prepotente e arrogante e com isso tornar-se um
rapinante da desgraça alheia.
2.5 - Perigo de se endividar e se tornar a vítima das aves de rapina.
3 - Necessidades :
3.1 - Alcançar equilíbrio emocional.
3.2 - Cultivar os princípios morais que são universais.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Contra a perda de riquezas :
Encantamento “Folha que Abre” [Oogun Ewe Ela]
5.2 - Para Reverenciar à Orunmilá :
Encantamento “Ofertar à Ôrunmilá” [Bo Ifa]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Obara]
Espada de Iansã [Ida Oya] / Inhame [Isu]
Batata-doce [Ewe Ku Kundu Kun] / Folha-de-dez-réis [Akaro]
7 - Proibição Ritual [Eewo] às “Crianças-de-Obara” :
[Elas são as Nascidas de 04/08 à 22/08 (Leão) e de 23/08 à 26/08 (Virgem)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Obara” não devem :
“Revelar seus segredos; comer carne de ovelha; comer farinha de milho;
caçar ou engaiolar pássaros pequenos.”
ORÁCULO NÚMERO 8
FUNDAMENTO OSA BABA
Trilha de Ifá É o Oitavo Oráculo de Hierarquia relativa à Con-
junção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante : Não Tem
Orixá que “Fala” : Oxalá e Xangô
Orixá “Tagarela” : Ibeji e Ossãe
Ebura “Tagarela” : Oiá e Iemanjá
Princípio Atuante do Identidade Geomântica
Odu “Osa” Baba : de “Laetitia” :
Existência [Iwa] = Estabilidade
Indução [Aba] = Felicidade
Trilha Osa Baba Realização [Ase] = A Generosa
Provérbio : “Nós expulsaremos a Doença e a Morte
para fora desta casa ainda hoje”
Significando : A Espiritualidade tem o dom de ser generosa.
Pregando : Ter Fé.
A FALA DE IFÁ [IFA NI]
Ifá diz que :
— por desígnio de “Obatala” [o Senhor das Vestes Brancas], este Fundamento
garante Proteção Incondicional à “Criança-de-Osa” .
— há uma pessoa que ajudou muitas outras, mas algumas delas não apreciaram a
ajuda. Aquela pessoa deve ignorá-las e continuar a fazer o Bem.
— o bom trabalho realizado em breve lhe trará bons resultados.
— uma pessoa poderá sofrer um rompimento numa relação religiosa / iniciação.
— a pessoa deve fazer uma Oferenda em nome dos seus Ancestrais.
— há alguém que pretende trabalhar longe de casa : ela deve sim aceitar o traba-
lho que lhe for oferecido.
— para vencer dificuldades, a pessoa deve ir à uma praia levando um ramo de
flores, contar à Senhora Yemanjá suas dificuldades e oferecer-lhe as flores
sem nada pedir. Yemanjá irá ajudá-la.
— é aconselhável para o Consulente casar-se com somente uma mulher e, ainda
sim, terá muitas crianças sob sua dependência.
— se casado, deve ter cuidado para não entrar em lutas desnecessárias, infrutíferas
ou injustas, porque doenças e indisposições poderão afligir à sua família.
— se envolvido desta forma, alguém deveria fazer Oferenda, para que os doentes
em sua casa por terem ofendido aos Orixás, sarem rapidamente aonde estive-
rem. Quem fizer ou ordenar a Oferenda não perderá o que já tem.
— uma pessoa tem muitos inimigos gratuitos, mas que se fizer uma Oferenda
seus inimigos dar-lhe-ão uma chance no seu coração.
— o Consulente para quem este Fundamento é criado não desfrutará de boa saú-
de, física, moral ou espiritual enquanto não realizar uma Oferenda. Dito isso,
nada mais precisa ser dito!
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Forte proteção espiritual.
1.2 - O Consulente obterá sempre a vitória final pela fé.
1.3 - Terá sempre pronto restabelecimento de saúde.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Perigo de doenças e dores.
2.2 - Poderá vir a fazer inimigos poderosos.
2.3 - Poderá ser vítima do medo injustificado.
3 - Necessidades :
3.1 - Ter fé e respeito por seu semelhante.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Contra doenças, provocações e indignidades :
Encantamento “Inutilmente” [Ogun Yewere]
5.2 - Simpatia de Boa Sorte [Ire] :
Para vencer dificuldades, a pessoa deve ir à uma praia, levando um ramo
de flores, para contar à Iemanjá suas dificuldades e oferecer-lhe as flores
sem nada pedir : Iemanjá irá ajudá-la!
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Osa] :
Aguapé [Eja Omode] / Cascavedeira [Ewe Isin]
Jurubeba-roxa [Igba Igun] / Trombeta [Eso Feleje]
7 - Proibição Ritual [Eewo] às “Crianças-de-Osa” :
[Elas são as Nascidas de 10/01 à 20/01 (Capricórnio) e 21/01 à 01/02 (Aquário)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Osa” não devem :
“Comer sopa directamente da panela; imiscuir-se em assuntos dos ou-
tros; viver inventando coisas absurdas; queixar-se à toa, maldizer a sua
sorte. Unir-se à alguém para fazer mal a uma terceira pessoa.“
ORÁCULO NÚMERO 9
FUNDAMENTO OGUNDA BABA
Tabuleiro de Ifá É o Nono Oráculo da Hierarquia relativa à Conjun-
ção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante: Tem Valor [VD]
Orixá que “Fala”: Orinxalá
Orixá “Tagarela”: Ogum e Xangô
Ebura “Tagarela”: Oxum
Princípio Atuante do Identidade Geomântica
Odu “Ogunda” Baba : de “Tristitia” :
Existência : [Iwa] = Instabilidade
Indução : [Aba] = Inquietação
Trilha Ogunda Baba Realização : [Ase] = A Rabugenta
1 - Aspecto Positivo :
1.1 - Há um evidente “chamado” para a prática da Divinação Ifá
1.2 - Forte Ajuda Espiritual.
1.3 - O Consulente terá Vida Longa.
1.4 - Será sempre atacado, quase nunca vencido.
2 - Aspecto Negativo :
2.1 - Perigo de inimizades gratüítas.
2.2 - Graves aborrecimentos com o sexo oposto.
2.3 - Cansaço causado por lutas contínuas.
3 - Necessidades :
3.1 - Ter firmeza moral, prudência e tato social.
4 - Oferenda Obrigatória :
4.1 - Apaziguar Eshú [Pa Esu] na Tabela Hermética I
5 - Oferendas Eventuais :
Neste Fundamento, além da Oferenda Obrigatória, poder-se-á realizar, se for
indicado na “Fala de Ifá” [Ifa ni], os “Encantamentos” [Oogun], encontráveis
pelo “Nome” na Tabela Hermética II :
5.1 - Para calar os maledizentes e os rabuguentos :
Encantamento “Fechar sua Hora” [Òogun enu won sunin-sunin]
6 - As “Folhas” deste Fundamento [Ewe Ifa Odu Ogunda]
Erva-de-São João [Àrun sansan] / Perpétua [Èkelegbara]
Pariparoba [Ewe Ìya] / Mata Pasto [Àgbola]
7 - Proibição Ritual [Eewo] às “Crianças-de-Ògunda” :
[Elas são as Nascidas de 12/07 à 22/07 (Câncer) e de 23/07 à 03/08 (Leão)]
Ifá diz que as “Crianças-de-Ògunda” :
“Comer galo, fruta-pão, inhame; consumir bebidas alcoólicas de alto teor;
manter dentes estragados; matar cobras; carregar dinheiro numa carteira que
tenha sido abençoada para proteção pessoal“—
Na Corrente-de-Ifá No Tabuleiro-de-Ifá
Ifá diz que ajudará alguém a vencer todas as pessoas deste mundo, no assunto para o qual este Oráculo foi
lançado. Ifá diz que não permitirá que vejamos o Mal [Ibi] gerado por nossos inimigos [awon Ota] no assunto
que desejamos alcançar.
Verso III [Tradição Sudoeste Ulkumy] :
“Alagbara-ni-nsokun-Ade” foi o Divinador [Awo] que criou Ifá para o Orixá “Ogum”. As Entidades Es-
pirituais [Osa] aconselharam-no a fazer Oferenda de um alfanje [ada kan], um galo [akiko kan] e um inhame
grande [isu kan] assado. Ifá disse que o alfange seria a chave da prosperidade do Orixá “Ogum”. Ele precisaria
carregá-lo em todas as suas caminhadas. As Entidades Espirituais lhe pediram que comesse o inhame assado
e Orixá “Ogum” fez tudo que lhe haviam pedido. Depois, ele ficou sedento e foi beber água do rio. Quando
vol-tava, ele viu duas pessoas lutando por causa de um peixe que haviam pescado. Ogum aconselhou aos dois
a ter paciência, devendo ir para casa e compartilhar o peixe.
Eles se recusaram a fazer isso. O primeiro homem disse que tinha vindo do leste e o segundo homem disse
que tinha vindo do oeste, portanto não poderiam voltar para casa ao mesmo tempo e partilhar o peixe. Depois
de escutar as desculpas dos dois homens, Orixá “Ogum” empunhou o alfange que lhe tinham aconselhado a ter
sempre consigo e cortou o peixe em dois para eles.
O primeiro homem agradeceu ao Orixá “Ogum”, pedindo-lhe que abrisse uma trilha dali até a vila onde
residia. O homem prometeu enriquecer a vida do Orixá “Ogum” se ele atendesse ao seu desejo. O homem tam-
bém assegurou a este Orixá que ele receberia coisas valiosas que recompensariam a confiança dele. O segundo
homem igualmente agradeceu ao Orixá “Ogum” e também fez um pedido de similar. O Orixá concordou em
fazer como eles haviam pedido. Desde este dia em que ele dividiu um peixe para duas pessoas que estavam
lutando, o Orixá “Ogum” passou a ser chamado por “Ogunda Méjì”.
Verso IV [Tradição Sudoeste Ulkumy] :
“Agogo-owo-koseif’apokosi” foi o Divinador [Awo] que criou Ifá para o Senhor das Leis do Altíssimo Além
[Olofin Ajalorun] quando este estava propenso enviar o Orixá “Ogum”, seu filho, ao mundo para disciplinar o
modo de vida dos Seres Humanos. O Orixá “Ogum” foi advertido que talvez não pudesse realizar a tarefa por
causa da dura oposição que ele encontraria no mundo. Por isso, ele deveria fazer Oferenda para proteger-se
contra a doença e morte súbita : um carneiro [agbo kan] e um único e grande elo de corrente de ferro. Orixá
“Ogum” aceitou o conselho e fez a Oferenda.
Ifá diz que : -”Um único elo isolado jamais causará a quebra da corrente”.
Verso V [Tradição Sudoeste Ulkumy] :
“Okelegbongbo-as’ofun-kilo” foi o Divinador [Awo] que criou Ifá para o Orixá “Ogum”, o qual estava
seguro de que se ele pudesse fazer a Oferenda, nunca morreria. O mundo inteiro sempre lhe pediria que os
ajudasse a consertar o modo de vida deles. Mas ninguém ficou ao lado do Orixá “Ogum” quando ele precisou
solucionar seus próprios problemas.
Ifá diz que devem ser oferecidos quatro carneiros [agbo merin], quatro cabras [ewure merin] e quatro grandes
cuias [igba merin] com tampas como Oferenda. O Orixá “Ogum” aceitou e fez a Oferenda em cada um dos
Quatro Cantos do Mundo.
Verso VI [Tradição Sudoeste Ulkumy] :
“Ikoko-idi-s’akun-bere” foi o Divinador [Awo] que criou Ifá para “Alare”. Foi predito que a esposa deste
daria à luz tantas crianças que ele não conheceria a todas. As Entidades Espirituais Femininas [Osa Ebura] lhe
aconselharam oferecer uma galinha-de-Angola [etu kan] e 2.400 búzios [owo egbejila]. “Alare” ouviu o con-
selho e fez a Oferenda. “Alare” é o primeiro nome do Orixá “Orunmilá”. Ainda hoje, nós ouvimos as pessoas
dizerem que as “Crianças-de-Ifá” são “Omo Alare” [“Filhos-de-Alare”].
Ifá diz que qualquer um para quem este “Ifá” for “lançado” deveria criar muitas crianças.
Verso VII [Tradição Tradição Ijebu] :
“Pó-de-folhas-de-palmeira” foi o Divinador [Awo] que criou Ifá para “Tigre” [Ekun] no dia em que este ia
caçar. Ifá aconselhou “Tigre” a fazer Oferenda para ele pudesse recolher os frutos de suas caçadas. O “Tigre”
estava relutante em fazer o que lhe fora pedido, mas ainda assim ele foi à caça e capturou um veado [agbonrin]
que colocou debaixo de uma palmeira. Quando estava prestes a devorar o veado, o pó das folhas de palmeira
caíram da árvore e tornaram o veado sagrado. O “Tigre” continuou a caçada e capturou um antílope que colocou
perto de um formigueiro. Quando ele ia comer o antílope, a carcaça ficou coberta de formigas.
O”Tigre” voltou ao Divinador e perguntou o que deveria ser feito para recolher os frutos dos seus esforços.
Ifá aconselhou-o a fazer Oferenda. “Tigre” ouviu o conselho e fez a Oferenda. A partir desse dia, ele come toda
a presa que captura em suas caçadas.
A Oferenda é 4 pombos [eiyele merin], 4 galinhas [adie merin], 1 pedaço de couro [awo kan], 1 pote de
óleo de dendê [ape epo], 1 prato branco [awo funfun] e 55 (cincoenta e cinco moedas) [ewadota’wo nira] para
o Orixá “Ogum” e o Orixá “Orunmilá-Ifá”.
Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo for “lançado” deve fazer Oferenda para recolher os frutos do
seu trabalho e levá-los para sua casa.
Ifá diz que nós chegaremos ao fim de nossa “fila” [ese], alcançando nosso objetivo.
Ifá diz que ele ajudará a vencer todo mundo, no assunto para o qual este Oráculo foi lançado.
Ifá diz que não permitirá que vejamos o Mal [Ibi] de nossos inimigos [awon Ota] em nossos assuntos.
Verso VIII [Tradição Ijebu] :
“Eluku-não-tem-Oro-e-nem-Agogo” foi o Divinador [Awo] que criou Ifá para o povo da Cidade de “Idena-
Magbon” no dia em que toda a cidade foi suplicar para ter Boa Sorte. Ifá aconselhou este povo a fazer Oferenda
para que eles pudessem obter Boa Sorte [ori ire] e assim colocar um fim ao seu desespero. O povo desta Cidade
ouviu o conselho e fez a Oferenda. No mesmo dia, o povo de “Idena-Magbon” recebeu a Benção da Boa Sorte.
Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo foi lançado deve fazer Oferenda para se assegurar que a Boa
Sorte venha aos seus caminhos.
Ifá diz que as Bênçãos estão próximas, mas há o risco de se perder se a Oferenda não for feita.
Ifá diz que é Tabu [eewo] para esta pessoa carregar dinheiro numa bolsa ou carteira que tenha sido abençoada
para proteção pessoal.
A Oferenda é de : 2 sinetas duplas de metal [agogo meji], 2 pombos [eiyele meji], 2 galinhas [adie meji], 2
varetas [osunsun meji] usadas para tocar as sinetas e várias moedas [awon nira] na quantia determinada pelo
Divinador. As sinetas serão marcadas com o pó consagrado [iyerosun] do Tabuleiro de Ifá [Opon Ifa].Uma
sineta é para o Divinador e a outra é para a pessoa para quem este Oráculo for lançado.
Verso IX [Tradição Caribenha] :
Este é um Oráculo Masculino que rege a Justiça, a Lei, a Ciência da Guerra, a Ciência da Cirurgia, mas,
também, a Agressividade, as Armas Brancas, os Metais Negros como o Ferro, as Forjas e todas as profissões
relacionadas à extração e beneficiamento destes metais. Por isso mesmo, neste Oráculo “falam” as Entidades
Espirituais “Obatala”, “Ogum”, “Xango” e mais “Oxosse”, “Ibeji”, “Baba Oke”, “Exú Elegbara” e “Egum”.
Quando em Boa Fortuna [Ire], este Oráculo afirma que “a Coroa não cabe direito na Cabeça, porque a Cabeça
é maior que a Coroa que carrega”, pois a pessoa é competente e decidida! Quando em Má Fortuna [Osogbo],
este Oráculo afirma que “a Coroa é maior que a Cabeça em que foi colocada”, pois a pessoa é indecisa!
Os “Filhos-de-Ogum” que tiverem este “Caminho-de-Ifá” por Oráculo do Momento-de-Nascimento [Kpoli],
não podem “trabalhar” com feitiços do Senhor “Egum” [Antepassado], embora possam fazê-lo através do Orixá
“Ossãe”. Também os Divinadores que tenham este “Caminho-de-Ifá” por “Kpoli”, recebem sorte e proteção
do Orixá “Ogum”. Daí o poder desses Divinadores em ensinar aos seus “Afilhados”. Também, neste Oráculo,
a pessoa que o tiver por “Kpoli”, quando chegar o momento, terá que “assentar” o Senhor “Obaluaye” e a
Senhora “Yewa”, que regerão as suas sexualidades [masculina ou feminina] e as possibilidades de proteção
contra as respectivas doenças venéreas.
Neste Oráculo, a Entidade Espiritual “Aroni” e o Orixá “Osanyin” ensinam as virtudes das “Ervas para
Curar Enfermidades” e consagrar os Orixás. Considera-se a “Dracena” [Pèrègún] como a “Erva” principal deste
Oráculo, bem como, de grande importância a “Mirra” [Oríjìn], por suas qualidades afrodisíacas.
Neste Oráculo foram forjadas as “Sete Ferramentas de Ogum”, às quais se oferece um cachorro pequeno [aja
keke kan] e quatro galos [akiko merin]. Mas, por sua vez, este Oráculo proíbe àqueles que o têm no Momento-
de-Nascimento [Kpoli] de portarem armas ou guardá-las embaixo de suas camas.
Proíbe comer carne de galo, fruta-pão e inhame. Proíbe o consumo de bebidas alcoólicas. Proíbe ter dentes
quebrados ou estragados. Proíbe que se mate cobras.
Proíbe os “Filhos-de-Ogum” que tiverem este Oráculo por Signo de Nascimento, de trabalhar com feitiços
de Senhor “Egum” [Senhor Falecido], embora possam fazê-lo através do Orixá “Ossãe”.
Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo for “lançado” possui um Dom que tem que ser desenvolvido
para que evolua material e espiritualmente : seu “Espírito” tem que sobrepor-se à “Matéria” para que a pessoa
possa ser considerada e respeitada pelos demais.
Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo for “lançado” tem dotação para a “Cartomancia” e, quando
se dispuser a “ler cartas”, nunca poderá fazê-lo sem cobrar, para não perder este dom. Quando acabar de ler,
tem que cobrir seu “Baralho Divinatório” com um pano de linho branco até o dia seguinte, para não perder a
acuidade de sua “Visão Divinatória”.
Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo for “lançado” sempre terá muita facilidade para adaptar-se a
qualquer profissão.
Em Má Fortuna [Oshogbo], o Oráculo “Ogunda” é um Oráculo da Força e da Dureza. Muitos de seus “Filhos”
têm o coração duro, não crêem em nada, são egoístas, auto-centrados, gostam de agir nas sombras e de atacar
com armas ou barras de ferro. São marcados pela Justiça por sua tendência de fazerem o que bem entendem,
não confiam em ninguém e têm a capacidade de matar rindo, porque aqui impera a traição e as armadilhas.
Ifá diz que o Oráculo “Ogunda” vence a Morte, mas pessoa tem que cuidar-se contra acidentes e atos de
violência que podem prejudicar sua saúde para sempre.
Aqui, por ordem do “Senhor das Leis” [Olofin], o Orixá “Ogum” confeccionou um “Colar Ritual” [eleke] e
uma “Coroa” [ade] de contas vermelhas, brancas e negras, para premiar o Senhor “Exú-do-Corpo” [Elegbara]
pelos excelentes serviços prestados sobre a Terra.
É o Oráculo da Casa. Se a Casa estiver em mal estado, tem que ser reformada para afastar a Negatividade
[osogbo]. Esfregar a Casa com folhas de “Dracena” [Peregun], “Folha-da-Costa” [Odundun], folhas de “Olhos-
de-Santa Luzia” [ewe Ileke Opolo], “Pára-raio” [ewe Igi Mesen] e Mel de Abelha [oyin]. Espalhar “Amalá” de
milho ao redor da casa para espantar os “feitiços” [araje] que atrapalham os assuntos do Consulente.
Interpretações Básicas do Oráculo Ogunda-Duplo :
As “Falas” de Ifá deste Oráculo são :
Em Boa Fortuna [Ire]
Verso I [Tradição de Ilê Ifé] :
- Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo for “lançado” terá cabelos brancos e vida longa.
- Ifá diz que encontraremos a solução de nossos problemas e alcançaremos o nosso objectivo.
- Ifá diz que qualquer um para quem este Ifá for lançado deveria criar muitas crianças.
- Ifá diz que esta pessoa deve fazer Oferenda para recolher os frutos do seu trabalho.
Verso II [Tradição Ilê Ifé] :
- Ifá diz que ajudará alguém a vencer as todas pessoas, no assunto do “Jogo” deste Oráculo.
- Ifá diz que não permitirá que vejamos o mal de nossos inimigos no assunto que queremos alcançar.
Verso IV [Tradição Sudoeste Ulkumy]
- Ifá diz que um único elo isolado jamais causará a quebra de uma corrente.
Verso V [Tradição Sudoeste Ulkumy]
- Ifá diz que devem ser oferecidos quatro carneiros, quatro cabras e quatro grandes cuias com tampas como
Oferenda a cada um dos quatro cantos do Mundo.
Verso VI [Tradição Sudoeste Ulkumy]
- Ifá diz que qualquer um para quem este Ifá for lançado deveria criar muitas crianças.
Verso VII [Tradição Tradição Ijebu]
- Ifá diz que esta pessoa deve fazer Oferenda para recolher os frutos do seu trabalho.
- Ifá diz que nós chegaremos ao fim de nossa “fila”, alcançando nosso objetivo.
-Ifá diz que ele ajudará alguém a vencer todas as pessoas deste mundo, no assunto consultado neste Oráculo.
- Ifá diz que não permitirá que vejamos o mal feito por inimigos no assunto que desejamos alcançar.
Verso VIII [Tradição Ijebu] :
- Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo for “lançado” terá muita facilidade para adaptar-se a qualquer
profissão.
- Ifá diz que a pessoa para quem este Oráculo foi lançado, deve fazer Oferenda para se assegurar que a Boa
Sorte venha aos seus caminhos.
- Ifá diz que as Bênçãos estão próximas, mas há o risco de serem perdidas se as Oferendas não forem feitas.
Acender uma lamparina com óleo queimado para o Senhor “Egun”, pedindo-lhe trabalho e evolução.
Para afastar a Negatividade de sua Casa, deve esfregá-la com folhas de “Dracena” [Peregun], “Folha-da-
Costa” [Odundun], folhas de “Olhos-de-Santa Luzia” [ewe Ileke Opolo], “Pára-Raio” [ewe Igi Mesen] e Mel de
Abelhas [Oyin]. Espalhar “Amalá” de farinha de milho ao redor da casa para espantar os feitiços [awon araje]
que atrapalham o desenvolvimento dos assuntos do Consulente.
Proibição Ritual [Éèwò] do Oráculo “Ogunda-Duplo” :
Tabus [awon eewo] para a “Criança-de-Ogunda”:
- Carregar dinheiro numa bolsa ou carteira que tenha sido abençoada para proteção pessoal.
- Comer carne de galo, fruta-pão, inhame.
- Consumir bebidas alcoólicas de alto teor.
- Ter dentes quebrados ou estragados.
- Matar cobras.
Obrigação Ritual [Érò] do Oráculo “Ogunda-Duplo” :
O Divinador [Awo] deste Oráculo tem que, periodicamente, colocar seus “Instrumentos-de-Ifá” na casa
onde fica o “Assentamento” de seu Antepassado Protetor [Egun]. Sempre que se fizer uma Oferenda por esta
Trilha de Ifá, na véspera, tem que se fazer “Oferenda à Cabeça” [Bori] e fazer a “Oferenda Propiciatória” [Adi-
mu] para si mesmo para não adquirir a negatividade dos Consulentes.
O Consulente para o qual este Oráculo for “lançado” tem que tomar banhos com as “folhas” [ewe] da
“Gameleira Branca” [Iroko].
“As Divindades” [Osa] que falam no Oráculo Ogunda-Duplo”
- “Os Orixás “Tagarelas” -
Entidade Espiritual que vai “tagarelar” [a ma sé], nós te saudamos! [Ìbà, ó!]
Orixá “Ogum”, que vai “tagarelar”, nós te saudamos!
Orixá “Xangô”, que vai “tagarelar”, nós te saudamos!
Orixá “Oxóssi”, que vai “tagarelar”, nós te saudamos!
Orixá “Ibeji”, que vai “tagarelar”, nós te saudamos!
“Antepassado”, que vai “tagarelar”, nós te saudamos!
“Exú Elegbara”, que vai “tagarelar”, nós te saudamos!
As Principais “Folhas” Agregadas ao Oráculo “Ogunda-Duplo” :
Em muitas ocasiões, os Divinadores de Ifá prescrevem Encantações Mágicas [awon Oogun] nas quais
entram ervas e plantas deles conhecidas e indicadas nos Oráculos da Tradição Oral de Ifá para uso em chás,
cozimentos e banhos para o equilíbrio do Espírito, da Mente e do Corpo. Estas plantas são inúmeras, mas existem
sessenta e quatro principais, sendo quatro por Oráculo e que têm seu uso ensinado na Iniciação.
Relataremos aqui apenas seus nomes e alguns de seus usos ritualísticos mais simples.
As Quatro “Folhas” Principais do Oráculo “Ogunda-Duplo” :
Àrún sánsán = Erva-de-São João [Ageratum conyzoides L, Compositae]
Èkèlegbárà = Perpétua [Gomphrena globosa L., Amaranthaceae]
Ewé Ìyá = Pariparoba [Piper umbellatum L.]
Pèrègún = Dracena [Dracens fragans (L) Ker Gawl., Liliaceae]
Outros Vegetais citados nos Versos do Oráculo Ogunda-Duplo são :
Oríjìn = Mirra [Commiphora africana (A. Rich) Engl., Burseraceae]
Ìrókò = Gameleira Branca [Ficus doliaria M.art., Moraceae]
Èwá igbó = Ervilha-de-Angola / Guando [Cajanus flavus D.C.]
Sèsèkí oko = Sèsèki [Dyschoriste perrottetth (Nees) Kuntze, Acanthaceae]
Àgbólà = Mata Pasto [Cassia obtusifolia, L.]
Òdúndún = Folha-da-Costa [Kalanchoe crenata (Andr.) Haw.]
Ìgbà = Calabaceira [Chasmanthera dependens Hochst., Menispermaceae]
Isu = Inhame-da-costa [Dioscorea rotundata Poir., Dioscoreaceae]
Ìlèkè òpòlò = Folhas de “Olhos-de-Santa Luzia” [Comelina elegans, HPK]
Ewé igí mésàn = Pára-raio [Melia azederath L., Meliaceae]
Modo :
01 - Prepara-se a Oferenda colocando-se o retângulo de pano branco sobre o chão; sobre ele coloca-se as folhas
de Peregun e, por cima destas, as três (3) penas de galo em triangulação (pontas para dentro e folículos
para fora). Sobre as penas, coloca-se o quadrado de pano azul e, nele, as sete (7) Pembas brancas.
02 - Ao lado das Pembas, coloca-se o prato com canjica de milho branco.
03 - Agora, sobre o Pó-Consagrado do Tabuleiro, com os dedos indicador e médio da mão direita, o Divinador
marca a Trilha-de-Ifá do Oráculo “Ogunda-Duplo”, rogando ao Orixá “Orunmilá” por sua proteção e
pedindo “Axé” para a eficácia deste Encantamento.
04 - Com os mesmos dedos e mais o polegar, recolhe a quantidade de Pó-Consagrado que necessite, colhendo-o
de cima e do meio da Trilha-de-Ifá.
05 - Com a quantidade de Pó-Consagrado necessária, polvilha levemente todo o conjunto da Oferenda, de
dentro para fora, recitando agora a Reza Forte correspondente e acima registrada, com respeito, concen-
tração e muita fé.
06 - Agora, segurando o prato da canjica com as duas mãos, ergue-o até o nível de seu próprio rosto e inspira
profundamente para, a seguir, expirar levemente sobre o nível do alimento, exercendo assim o “Axé do
Hálito”.
07 - A Oferenda feita, os elementos devem ser depositados junto ao “Assentamento” de Ifá [idi Ifa] ou dos
Antepassados [idi Egun Agba].
ODU OGBE-OGUNDA — Extraído do Terceiro Verso do Odu Ogbe-Ogunda em Olodu Ifá por Awo Olowasina Kuti
-”Esta é a história da criança gerada por Ajé, mulher de Metonlonfin, chefe de todos os feiticeiros. Em seu nascimento, esta
criança prometida a Olofin - mestre de todas as coisas, dos homens, para servir de intermediador entre eles, recebeu o nome de Fá
Aydegun. Logo depois de haver nascido, apesar da missão a que fora destinado, Fá Aydegun permanecia preso de um mutismo
inexplicável, o que deixava seu pai muitíssimo irritado. Por mais que se insistisse, o menino limitava-se a chorar, sem emitir uma
só palavra.
Certo dia, já bastante irritado pelo enigmático mutismo da criança, Metonlonfin deu-lhe uma pancada com um pedaço de
marfim entalhado que portava no momento e o menino, interrompendo seu pranto permanente, gritou em alta voz :”Ogbe”.
Admirado, Metonlonfim golpeou-o novamente e o menino gritou a palavra “Oyeku”. A um terceiro golpe, foi dito “Iwori” e
recebendo golpes consecutivos, o menino foi falando : “Odi”, “Irosun”, “Owonrin”, “Obara”, “Okanran”, “Ogunda”, “Osá”,
“Iká”, “Oturupon”, “Otura”, “Irete”, “Ose” e “Ofun”.
Depois de pronunciados estes dezesseis nomes , o pai parou de bater no menino Fá Aydegun que então lhe disse : -” Pai, as
palavras que me ouvistes pronunciar, são os nomes de meus dezesseis filhos espirituais ... ...
EQUIVALÊNCIA ENTRE AS TRILHAS DOS ODUS E OS SIGNOS GEOMÂNTICOS
01 03 05 07 09 11 13 15
OGBÈ ÌWÒRÌ ÌROSÙN ÒBÀRÀ ÒGÚNDÁ ÌKÁ IRETE ÒSÉ
Populus Carcer F. Major Caput Drac Tristitia Puella Rubeus Acquisitio
I II I I I II I I
I I I II I I I I I
I I II II I II II I
I II II II II II I II
I I I I I II II I II II
I I I I I I I II II II I
I I I I I I II I I II
I I I I I I I II I
** * ** ** ** * ** **
** ** ** * ** ** ** *
** ** * * ** * * **
** * * * * * ** *
02 04 06 08 10 12 14 16
VIA CONJUNCTIO F.MINOR LAETITIA CAUDA ALBUS PUER AMISSIO
Oyeku Odi Owonrin Osa Okanran Otura Oturupon Ofun
* ** * * * ** * *
* * * ** * * * **
* * ** ** * ** ** *
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A Ordem Hierárquica dos 16 Odu Baba
pela Conjunção Oposicional de suas “Trilha-de-Ifá”
01 03 05 07 09 11 13 15
OGBÈ ÌWÒRÌ ÌROSÙN ÒBÀRÀ ÒGÚNDÁ ÌKÁ IRETE ÒSÉ
I II I I I II I I
I I I II I I I II
I I II II I II II I
I II II II II II I II
02 04 06 08 10 12 14 16
ÒYÈKÙ ÒDÍ ÒWÓNRÌN ÒSA ÒKANRAN ÒTÚRÁ OTURUPON ÒFÚN
I I I I I II II I II II
I I I I I I I II II II I
I I I I I I II I I II
I I I I I I I II I
ORÁCULO NÚMERO 1
FUNDAMENTO OGBE BABA
Tabuleiro de Ifá É o Primeiro Oráculo da Hierarquia relativa à
Conjunção dos Contrários do Sistema Sahkala.
Valor Determinante : Absoluto [VDA]
Orixá que “Fala”: Oxalá
Orixá “Tagarela”: Xangô
Ebura “Tagarela”: Oxum
Princípio Atuante do Identidade Geomântica
Odu “Ogbe” Baba : de “Povo” :
Existência [Iwa] = Instinto Gregário
Indução [Aba] = Reunião Instável
TRILHA OGBE BABA Realização [Ase] = A Multidão
Provérbio : -”Quem carrega Azeite de Dendê, não tem olhos para brigas”-
Significando : Dizer não à Violência e à Briga.
Pregando : Promover a Paz e a Concórdia.