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Meu Amor
Rebelde
Rosemary Hammond
Digitalização: Rita Cunha
Revisão: Cynthia M.
Resumo:
O homem ferido que invadiu a clínica representava um risco muito grande para a
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doutora Jéssica. E não apenas porque devia ser um espião, um inimigo do grupo armado
que cercava a aldeia. O verdadeiro perigo estava no fascínio que exercia sobre ela, com
aquele corpo másculo exalando charme, aqueles cabelos negros e rebeldes como seu
dono. Temerosa de cair nos braços atraentes do estranho, Jéssica resolveu curá-lo o
mais depressa possível e afastá-lo de sua vida antes que fosse tarde demais...
CAPÍTULO I
Naquele fim de tarde Jéssica Carpenter sentia os nervos à flor da pele. Tinha a
impressão de que a guerrilha que ocorria na mata próxima estava prestes a atingir a
aldeia. Vivia há um ano em San Cristobal e o rumor do tiroteio já lhe era familiar, quase
não sendo ouvido dentro de seu consultório. Mas nesse dia tornava-se insuportável.
Embora lhe fosse penoso desistir tão cedo de um projeto, começava a achar boa a
idéia de voltar para sua terra.
Ao se diplomar, após o período de residência num hospital da Virgínia, Jéssica decidira
ir para aquele país pequeno e pobre na América Central, porque nutria grande desejo de
ajudar o povo do lugar. Cheia de ideais, almejava acima de tudo colocar seus
conhecimentos profissionais a serviço de populações carentes c verdadeiramente
necessitadas do seu trabalho. Acreditava que seria mais gratificante do que montar um
bem-sucedido consultório em Washington.
Suspirando, Jéssica abriu a pesada porta de madeira da clínica saiu na pequena
varanda cimentada. O eco do tiroteio ressoou mais alto ainda. Todos os habitantes da
cidadezinha deviam estar trancados em suas casas, a maior parte constituída por
casebres e choupanas muito pobres.
Ao pôr-do-sol, o povo costumava reunir-se na praça. As mulheres ficavam a tagarelar
sentadas nos bancos, os homens bebiam na frente da taverna as crianças brincavam na
rua sem asfalto. Mas naquele dia, como durante toda a semana, a praça estava deserta,
parecendo abandonada.
Jéssica deu um suspiro de tristeza e entrou em casa. Em poucos minutos o sol se poria
e a noite desceria sobre a vila. Fora necessário muito tempo para que ela se acostumasse
à escuridão do lugar. Na cidadezinha protegida pelas montanhas não havia luz nas ruas,
nem neons brilhantes, nem casas ou lojas muito iluminadas. A eletricidade provinha do
gerador de uma plantação de café próxima, onde trabalhava a maioria dos homens que ali
viviam.
Depois de fechar a porta com firmeza, Jéssica dirigiu-se para a enfermaria, no andar de
baixo da casa. Apesar de a batalha estar se realizando ainda longe do vilarejo, já tivera
que socorrer vários soldados feridos, trazidos por alguma mãe aflita ou pelo padre local.
Entretanto, nem mesmo Marshall Bennett, seu amigo na embaixada americana,
acreditava que houvesse ameaça real para ela. Pelo menos por enquanto, pensava
Jéssica, ao mesmo tempo que esterilizava os instrumentos cirúrgicos.
Desde que chegara a San Cristobal, as guerrilhas aconteciam nas montanhas, mas
isso nunca a afetara. Era totalmente apolítica. Na verdade, nem mesmo sabia o porquê
daquela luta. Parecia-lhe, às vezes, que a guerra assemelhava-se mais a um perigoso
passatempo nacional do que a uma batalha em que estivesse em jogo a vida das
pessoas.
Mas a realidade lhe mostrava uma questão de vida ou morte, e isso se tornava mais
claro a cada dia. Uma prova era o crescente número de vítimas que a procuravam. Nem
sabia mais quantos curativos já tivera que fazer em oficiais de ambos os lados, por ser a
única médica da região. Alguns desses feridos eram quase adolescentes, ainda imberbes.
A situação se agravava e ela começava a sentir-se insegura, permanecendo ali.
Após limpar a enfermaria, Jéssica foi para o escritório, no outro lado do corredor,
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chegada a hora de partir. Marshall não era alarmista e não insistiria se não houvesse
perigo real.
"Fiz o que pude", pensou Jéssica, apoiando pesadamente a cabeça nos braços
cruzados sobre a escrivaninha. Fechou os olhos, apreciando a súbita calmaria que se
seguiu aos tiros e estava quase adormecendo ali mesmo, quando percebeu um ruído
perto da casa.
Alarmada, apagou a luminária da escrivaninha e aproximou-se com cuidado da janela.
Ouviu novamente o rumor, um pouco mais alto agora. Abriu uma fresta na cortina para ver
se enxergava alguma coisa, mas, como não havia luar, a escuridão dificultava seu
propósito. Franzindo o sobrecenho, conseguiu entrever, entre os pés de romã, um vulto
disforme. Parecia um homem.
Em pânico, ela não sabia o que fazer. A praça não apresentava sinal de vida. Apenas
do outro lado, perto da taverna, uma sentinela solitária vigiava, andando de lá para cá em
frente à vacilante fogueira do acampamento dos soldados.
— Quem está aí? — perguntou num sussurro.
Ouviu, quase num murmúrio, uma voz de homem lhe pedir:
— Deixe-me entrar. Estou ferido.
O sotaque era de um americano. Seria Marshall?... Teria ele caído em alguma
emboscada e retomado à vila? Fosse quem fosse, obviamente precisava de ajuda.
Colocando a prudência de lado, Jéssica abriu a vidraça, e pôs a cabeça para fora:
— Será que você consegue chegar até a varanda? Está muito escuro e os guardas não
o verão.
O vulto meio encurvado arrastou-se silencioso em direção à entrada. Jéssica correu
para o hall, destrancando a porta sem fazer barulho. Abriu-a e o homem quase
despencou pelo umbral, caindo em seus braços.
Imediatamente ela percebeu que era um desconhecido, bem mais alto do que Marshall,
e de cabelos pretos. Tinha a manga da camisa rasgada e coberta de sangue e segurava o
braço ferido com a mão direita.
Antes de entrar, Jéssica relanceou o olhar pelo acampamento de Varga. Tudo parecia
tranqüilo. A sentinela encostara-se contra a parede da taverna e fumava um cigarro. Não
havia qualquer sinal de atividade entre os homens.
Colocando o braço em volta da cintura do estranho, conseguiu levá-lo para a
enfermaria. Refletindo melhor, porém, resolveu colocá-lo no quarto extra do andar
superior. O capitão Varga estaria por ali durante todo o dia seguinte e talvez até mesmo
no meio da noite, e era óbvio que aquele homem não podia ser visto de jeito nenhum.
— Será que você consegue subir as escadas? — perguntou baixinho.
O homem se inclinava pesadamente sobre ela, cambaleando sobre as pernas, com o
rosto contraído pela dor e o olhar turvo e injetado de sangue.
— Posso tentar — disse ele, e sua voz soou muito fraca. Começaram a subir os
degraus, um após o outro, em lenta agonia. A cada passo o homem parecia ficar mais
fraco, mais pesado, agarrando-se a ela, que já se sentia sem forças. A respiração dele,
difícil e entrecortada, levava-a a temer que os ferimentos fossem mais profundos do que
pareciam à primeira vista.
Antes de acender a luz do quarto, Jéssica deixou-o de pé, apoiado contra a parede, e
certificou-se de que as cortinas estavam bem fechadas. Retirou o pesado cobertor da
cama e colocou-o na janela, de modo a não deixar nenhuma fresta por onde pudesse
passar claridade.
Acendeu ó abajur na cabeceira da cama e voltou-se para observar o desconhecido.
Ele se sentara numa cadeira encostando a cabeça contra o estuque. Ainda apoiava o
braço ferido. Os olhos estavam fechados, e a cor parecia estar voltando ao rosto
queimado de sol.
— Você estará bem em um minuto. Voltarei já. Vou apenas pegar algumas coisas na
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enfermaria.
Os olhos dele vagaram pelo quarto até conseguirem focalizá-la.
— Você é médica?
— Sim. Fique calmo e em silêncio. Não podemos fazer barulho. Há soldados por toda
parte.
Fazendo um sinal de concordância com a cabeça, ele fechou os olhos novamente,
como se fosse muito difícil mantê-los abertos.
Jéssica foi até a enfermaria, pegou lençóis limpos e a maleta de instrumentos e
antibióticos. Ao subir, estendeu o lençol na cama.
— Venha. Eu o ajudarei.
Notando que ele estava completamente extenuado, começou a desabotoar-lhe a
camisa rasgada. O homem tinha um corpo bem proporcionado, de ombros largos,
músculos fortes e atléticos. Estava molhado de suor devido à febre, ao esforço físico e à
infecção causada pelo ferimento.
Ela tirou-lhe as botas pesadas de barro, ajudando-o, por fim, a deitar-se. Como o braço
ferido não estivesse mais sangrando, mas tivesse muito sangue coagulado, precisava
limpar-lhe o local antes de arriscar um diagnóstico,
Dirigiu-se ao banheiro no corredor, onde encheu uma bacia com água quente, pegou
um sabonete e uma toalha.
Sentando-se na beirada da cama estreita, limpou com suavidade o ombro e o braço
machucado, e depois disse:
— Parece ter sido um tiro. Se a bala ainda estiver aí, terei que retirá-la.
— Ela ainda está aí — respondeu o desconhecido com voz rouca.
Jéssica observou-o mais atentamente e estremeceu. Devia estar louca, deixando um
estranho entrar assim em sua casa! Ainda mais um tipo esquisito como aquele, de olhar
tão selvagem e agressivo e uma aparência assustadora. Com os cabelos negros
despenteados, as roupas imundas e a barba espessa, há vários dias por fazer. O homem
mais parecia um marginal, um fora-da-lei, como os que rondavam a montanha assaltando
os viajantes incautos.
—- Quem é você? — indagou ela.
— Sou um cidadão americano, mas pensam que sou um espião.
— Quem pensa que você é um espião?
O ferido deu um sorriso estranho e carregado de ironia antes de responder:
—- Os dois lados. Você pode escolher — e, sem esperar resposta, fechou os olhos,
soltando um gemido de dor. Gotas de suor escorriam por seu rosto.
Jéssica umedeceu a toalha, banhando-lhe a testa. Lembrou-se do que Marshall lhe
dissera sobre dois americanos desaparecidos. Sua situação era muito delicada. Se o
capitão Varga descobrisse que ajudava aquele homem, nada a salvaria... Mas ele estava
machucado, precisando de um socorro que não seria capaz de negar-lhe, deixando que
os soldados o capturassem e o matassem. Decidida, colocou os temores de lado, pondo-
se a trabalhar.
— A primeira coisa a fazer é remover a bala. Vai precisar de uma anestesia — afirmou
Jéssica ao terminar o exame do ferimento.
— Não, por favor, eu não quero anestesia.
— Fique calmo! É apenas um leve sedativo — ela comentou enquanto ajustava a
agulha. — Do contrário não posso retirar a bala. Mas você não ficará inconsciente, se é
isso que o assusta.
Embora não parecesse satisfeito, o estranho estava fraco demais para protestar.
Jéssica aplicou a anestesia e, enquanto esperava pelo efeito, limpou e desinfetou a área
ferida com álcool. Com habilidade e delicadeza, seus dedos percorriam suavemente o
corpo todo, verificando se não havia lesões internas. Admirou-lhe a constituição forte.
Mesmo abatido e machucado, os músculos dele eram rijos, mas flexíveis, o pescoço,
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— É possível, mas já estou acostumada a isso. Além do mais, eles têm necessidade de
mim, e não vão correr o risco de me perder!
O homem acomodou-se melhor na cama antes de continuar.
— Gostaria de tomar um banho. É possível?
— O banheiro fica à direita, no corredor. Há uma ducha e um barbeador, se quiser.
Ele arqueou as sobrancelhas escuras e um sorriso sarcástico surgiu em seus lábios
finos.
— Tudo preparado para os convidados masculinos, ao que parece!
Jéssica sentiu uma onda de raiva tomando conta de seu ser ante o comentário
maldoso. Que sujeito insolente! Cruzou os braços, mirando-o de alto a baixo, com toda a
fúria impressa no olhar.
— Eu não sei quem é você e nem o que faz, mas gostaria de lembrá-lo de que salvei
sua vida esta noite. Posso até me arre- j pender, mas tenho uma formação que me impele
a isso e que não consigo esquecer facilmente.
— Você é muito bondosa! — respondeu ele com a voz carregada de ironia.
— Não se engane. Eu o deixarei ficar aqui até você estar melhor. Mas é só até aí que
vai a minha bondade. E deixe-me lembrá-lo: enquanto estiver sob meus cuidados, deve
seguir as minhas regras e fazer o que lhe digo, certo? Senão, pode partir agora, está
bem? — disse, quase gritando.
Os olhares de ambos se cruzaram: o dela, fuzilante de indignação e raiva; o dele, frio e
avaliador. Então, para espanto de Jéssica, ele deu um amplo sorriso. Um novo brilho
surgiu-lhe no olhar e iluminou aquele rosto frio e sério, tornando-o atraente.
— Você tem razão. Desculpe-me. Fui muito grosseiro. Sei o quanto lhe devo. Você
salvou minha vida e agradeço-lhe. Meu nome é Jason Strong, e juro que não sou um
espião — terminou por fim, amigavelmente.
A médica reconheceu o nome na hora. Era um jornalista famoso e respeitado. Um
correspondente internacional, que escrevia para vários jornais e revistas sobre os grandes
acontecimentos que abalavam o mundo. Lembrava-se de vários artigos dele: sobre a
guerra no Sudeste Asiático, no Oriente Médio, El Salvador, Irlanda do Norte e nos Bálcãs.
Escrevera também alguns livros e sua imagem aparecia sempre na televisão. Mas nunca
poderia associá-lo a esse homem estranho, deitado na cama.
— Já ouvi falar muito em você — disse por fim. — Sou Jéssica Carpenter.
— Dra. Carpenter — repetiu ele, inclinando a cabeça num cumprimento. — Agora, se
fosse possível, eu gostaria realmente de tomar um banho e me arrumar.
Enquanto falava isso, esfregava a mão no rosto barbudo, com um ar de desconforto.
— Mas é claro! Você acha que consegue levantar-se sozinho? Ele jogou as cobertas
para o lado, colocando as pernas para
Cora da cama, com cuidado. Ainda vestia a mesma calça suja de quando chegara, e o
cinto continuava desabotoado. Com o movimento, a calça escorregou pela cintura,
parando nos quadris.
Jéssica sentiu-se perturbada c por um instante ficou com a respiração suspensa.
Recuperou-se logo, mas o olhar de Jason Sirong lhe dizia que havia captado o que se
passara em seu íntimo naquele rápido momento.
Com naturalidade ele levantou a calça e afivelou o cinto. Pôs-se de pé ao lado da
cama, mas parou, de repente, cambaleando, sentindo que as forças lhe fugiam.
Empalideceu e estendeu o braço procurando um apoio.
Jéssica correu para ampará-lo até que a súbita vertigem desaparecesse. Aos poucos,
ele foi melhorando e afastou-se dela dizendo:
— Você tem razão, doutora. Acho que estou mais fraco do que imaginava.
— Não se preocupe, Jason. Logo estará melhor. E bom andar um pouco. Mas vá
devagar e com calma.
Jéssica colocou-lhe um braço em torno da cintura e vagarosamente guiou-o até o
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CAPÍTULO II
Enquanto Jason tomava um banho e fazia a barba, Jéssica procurava, aflita, uma
desculpa que afastasse o capitão dali. Levou algum tempo para conseguir convencê-lo e
quando, por fim, ele se retirou, ela encostou-se na porta, com as pernas trêmulas, em
pânico pelo risco que acabara de correr.
Depois subiu as escadas correndo para tranqüilizar Jason. Encontrou-o deitado, de
olhos fechados, a respiração suave e a cabeça relaxada sobre o travesseiro, parecendo
profundamente adormecido. O esforço feito para tomar banho o deixara exausto.
Não querendo incomodá-lo, Jéssica foi para a cozinha preparar um café. Antes,
recolheu as roupas sujas que estavam espalhadas pelo banheiro e pelo quarto. Teria que
lavá-las na banheira e deixá-las secando nos cabides das toalhas. Riu ao imaginar o ar de
espanto que faria o capitão Varga se a visse ensaboando e esfregando aquelas enormes
calças caqui e a camisa masculina, manchada de sangue e com a manga perfurada por
um tiro.
Enquanto preparava o café da manhã, Jéssica lembrou-se de que o antigo morador da
casa, um tal Dr. Brownlee, havia deixado umas roupas velhas ao partir. Ela as guardara
num armário, pensando em dá-las para alguém e, agora, vinham a calhar. Mesmo que
não estivessem cm bom estado, ou não fossem do tamanho exato, seriam melhor do que
nada.
Rapidamente, Jéssica arrumou numa bandeja ovos mexidos, torradas, suco de laranja
e café. Enquanto levava tudo para o quarto de Jason, sentiu um arrepio percorrer-lhe a
espinha ao pensar na estranha situação em que se encontrava. Aquilo era muito
perigoso... Não apenas pela possibilidade de Varga descobrir que ela ocultava alguém
considerado um espião, pois se Jason Strong permanecesse em silêncio, não haveria
perigo algum. Não... Sentia que o verdadeiro risco era de outra natureza.
Havia algo naquele homem que lhe causava uma sensação esquisita, como uma
vertigem. Aparentava ser uma pessoa controlada, segura de si, capaz de enfrentar os
contratempos sem perder o humor. No entanto, Jéssica pressentia, de uma forma que
não conseguia definir, que ele significava um grande risco para ela.
Que perigo seria esse, ainda não sabia, mas já pudera entrever lampejos do poder e do
magnetismo daquele desconhecido, muito bem escondidos sob uma máscara de frieza e
autocontrole.
Banindo tais pensamentos, Jéssica entrou no quarto. Ele ainda dormia. Colocando a
bandeja sobre a mesinha de cabeceira, pôs-se a contemplá-lo mais detidamente. Era
como se Jason tivesse sofrido uma verdadeira transformação. De banho tomado e com a
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barba feita, ficara outro homem. Seus traços revelavam não uma beleza convencional,
mas uma forte personalidade. Tinha os lábios finos, o nariz aquilino, um queixo largo, a
testa alta e inteligente. As faces ainda estavam macilentas devido à febre e ao desgaste
físico. As sobrancelhas eram pesadas e escuras e os cabelos negros e rebeldes caíam-
lhe pela testa e se enrodilhavam na nuca, como se não fossem cortados há muito tempo.
Apenas os longos cílios espessos, sedosos e negros abrandavam a dureza e o rigor
daquelas feições.
Continuou a observá-lo, admirando os ombros largos e o peito forte e bronzeado.
Daquele corpo emanava força e masculinidade, mesmo em profundo relaxamento.
Repentinamente, Jéssica percebeu que ele havia acordado e a fitava com curiosidade.
Era um olhar quase hipnótico, e ela não conseguia apreender o que havia por trás
daquela expressão impenetrável. Sentindo-se encabulada, e tentando proteger-se,
apontou a bandeja.
— Trouxe-lhe o café da manhã -—declarou meio desajeitada. Assim que ele conseguiu
sentar-se, arrumou os travesseiros em suas costas para que ficasse mais confortável e
colocou-lhe a bandeja sobre o colo.
— Precisa de alguma ajuda? — quis saber Jéssica.
Ele negou com um gesto de cabeça. Pegou o copo de suco e, enquanto bebia, seus
olhos permaneciam fixos nela.
Um pouco intimidada, Jéssica voltou-lhe as costas. Caminhou até o armário e começou
a procurar as roupas velhas. Ao encontrá-las, levou-as para a cama, dizendo:
— Examine essas roupas masculinas. Não sei se estão em bom estado, mas espero
que haja alguma que sirva para você. Pode experimentá-las quando se sentir melhor.
Jason estava comendo devagar, com uma expressão de desprazer.
— Ótimo! Vou experimentá-las daqui a pouco. Terei que partir assim que escurecer, e
não posso sair sem roupa...
Surpresa, Jéssica endireitou o corpo. Colocou as mãos na cintura, aproximando-se da
cama.
— E como você pensa fazer isso?
Jason continuou a comer ignorando por completo a pergunta.
— Conseguiu livrar-se de Varga? — indagou após uma pequena pausa.
— Sim, é claro... Ouça-me! Você mal consegue se mexer. Como espera fugir dos
homens de Varga lá nas montanhas, e, ainda por cima, sozinho? — retrucou ela, irritada.
— Você fica muito bonita quando está zangada! — ele brincou, com um sorriso
zombeteiro.
Jéssica viu-se prestes a proferir um comentário mordaz, quando percebeu que era
exatamente aquilo o que ele queria. Então, acalmando-se, fez um grande esforço para
sorrir.
— E você é um homem teimoso, Jason Strong! — exclamou, encolhendo os ombros.
— Bem, afinal a vida é sua. Faça como quiser. Agora eu tenho que abrir o consultório.
Vou sair para ver uns pacientes, mas estarei de volta à hora do almoço.
E fazendo um rápido aceno com a cabeça, retirou-se, deixando-o sozinho.
Meia hora mais tarde começou a atender os soldados. No meio da manhã, Varga
entrou na enfermaria, parecendo bastante desconfiado.
—A doutora sabia que tem um espião americano solto por aí?
— Não. Eu não ouvi falar sobre isso.
— Pode ser que ele tente vir para cá, doutora.
— E por quê? Ele seria louco de vir até aqui! Se eu fosse um espião, tentaria me
manter o mais longe possível da vila — disse, procurando manter-se calma. Apesar do
medo que sentia, não podia deixar transparecer sua preocupação.
Pode ser — duvidou Varga. — Contudo, se a senhora não w Importar, gostaria de
colocar uma sentinela para vigiar a casa. O homem está ferido e deve precisar de um
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médico.
Faça como quiser, capitão, embora eu ache desnecessário. Mas se o senhor prefere
abrir mão de um soldado, o problema c seu. Agora, vou atender as pessoas da vila.
Amanhã verei seus homens novamente.
Jéssica havia compreendido que, se desse outra resposta, poderia aumentar a
desconfiança do capitão.
Por volta das onze horas, viu-se livre para começar a ronda diária. Trancou a porta com
cuidado, dando duas voltas na chave. Antes, esse tipo de cautela não era necessário,
mas na atual situação... Afirmara a Jason que ele estaria seguro ali. Só lhe restava rezar
para que tivesse razão.
Após examinar o bebê dos Morales, Jéssica apressou-se a voltar, andando pelas ruas
quentes e empoeiradas do vilarejo. Embora o verão já estivesse no fim, o clima em San
Cristobal era muito quente, sem estações definidas.
A sentinela estava postada no muro em frente à casa, sentada, fumando um cigarro e
com o rifle sobre a perna. Jéssica lançou-lhe um sorriso ao passar por ele. O homem
cumprimentou-a, acenando-lhe a distância.
Felizmente a porta da casa continuava trancada e, depois de entrar, Jéssica deu um
suspiro de alívio. Ficara apavorada a manhã toda, pensando que o capitão poderia invadir
o consultório em busca do espião!
Jason dormia quando ela entrou no quarto, mas um sexto sentido pareceu avisá-lo de
sua presença. Assim que voltou da cozinha com o almoço, ele já estava desperto e
sentado na cama.
Jéssica contou-lhe sobre o guarda e, para sua surpresa, ele recebeu a notícia com
aparente tranqüilidade. Apenas franziu a sobrancelha, assumindo uma expressão ausente
e séria, tentando avaliar a situação. Depois de pensar um pouco, olhou para ela e fez um
gesto com os ombros, como se tivesse chegado a uma decisão muito difícil.
— Parece que você vai ter que me agüentar por algum tempo! — Foi seu único
comentário, um tanto ácido.
Jéssica não respondeu. Colocou a bandeja com o almoço perto da cama c, cm silencio,
estendeu-lhe um guardanapo.
— Será que ele não se importará?
— Quem se importará? E com o quê? — perguntou Jéssica, surpresa.
— O homem a quem pertencem estas roupas. O dono do barbeador também, eu
suponho.
— Bem... Essas roupas pertenciam ao médico que morou aqui antes de eu chegar.
Não vejo por que ele se importaria — respondeu, dando uma risadinha divertida.
— Se é assim... tudo bem — disse Jason, dirigindo-lhe um dos seus raros sorrisos que,
aliás, o tornavam muito atraente. E começou a comer.
— Vou almoçar também. Depois quero dar uma olhada no seu braço e trocar os
curativos — disse Jéssica, retirando-se sem esperar resposta.
Já comendo um sanduíche, começou a pensar por que não ficara no quarto,
almoçando com ele.
Bem, fora melhor assim... Era preferível deixar que as coisas ficassem apenas num
plano profissional.
Aquele homem a confundia e perturbava e ela já sentia um certo fascínio pelo perigo
que sua presença lhe provocava. Precisava manter uma distância segura dele.
Mas também, o que isso importava? Assim que os soldados partissem, ambos iriam
embora, cada um para seu lado.
Quando retornou ao quarto, Jason estava terminando de tomar o café. Sentou-se ao
lado dele e começou a remover as ataduras, em silêncio.
— Você é uma mulher de poucas palavras — comentou Jason.
— Aprendi a colocar toda a minha atenção nos pacientes e concentrar-me apenas nos
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amarelo-claro, muito confortável. Os belos cabelos loiros, ainda úmidos, caíam-lhe pelos
ombros, como uma cascata brilhante.
Jason enfeitava a grande travessa de legumes cozidos com fatias de tomates. Sobre a
mesa, num dos únicos pratos de louça que havia na casa e que foram deixados pelo
antigo morador, havia uma salada apetitosa.
Quando ela entrou na cozinha, Jason levantou as sobrancelhas para observá-la melhor
e um brilho momentâneo pairou em seu olhar, desaparecendo no instante seguinte. Como
se nada tivesse acontecido, continuou prosaicamente a cortar os tomates. Colocando a
travessa sobre a mesa, fez um gesto amplo convidando-a á sentar-se.
— Hum, que delícia! Parece estar ótimo! É tão bom quando alguém faz o jantar para a
gente! Eu odeio cozinhar.
— Ah, claro. Afinal, você é uma mulher liberada! — Jason ironizou.
O tom da voz era crítico e Jéssica rebelou-se.
— Eu não sei o que você quer dizer com isso. Saiba que, se não gosto de algumas
tarefas domésticas, é porque meu trabalho ocupa todo meu tempo.
— Calma, calma! Não me interprete mal, por favor! Não estava de forma alguma
tentando desmerecê-la ou querendo fazer algum comentário maldoso — Jason olhou-a
divertido antes de continuar. —- Eu a compreendo. Posso até dizer que sinto o mesmo.
Sendo homem ou mulher, quando se tem um trabalho realmente fascinante, para o qual
voltamos toda a energia o a atenção, é natural que nos dediquemos inteiramente a ele.
Continuaram a comer cm silencio. Quando Jason terminou, recostou-se na cadeira,
dando um suspiro de satisfação.
— Estava ótimo — comentou Jéssica. Apontando para o prato vazio de Jason,
continuou: — Estou contente por ver que o seu apetite voltou.
— Eu também, mas daria tudo por um cigarro — afirmou ele, desolado.
Jéssica riu, achando engraçado ver um homem tão grande e forte desconsolado por
causa de um cigarro.
— Sinto muito. Eu não fumo e o capitão Varga sabe disso. Mesmo que lhe conseguisse
alguns cigarros, você não poderia fumar aqui, pois os soldados logo perceberiam o cheiro.
Varga é um homem muito desconfiado, especialmente no que toca a espiões
americanos... — brincou.
— Falando nisso, já que não sei quando poderei sair daqui, gostaria muitíssimo de
trabalhar um pouco. Você tem papel ou alguma outra coisa para que eu possa escrever?
Qualquer coisa serve. Eu já escrevi várias reportagens nas costas de envelopes usados e
nas margens de jornais velhos, quando não conseguia nada melhor.
— É claro que tenho! — Levantou-se para buscar o que ele pedia.
— Oh, não precisa ser agora. Só penso em começar amanhã. Sente-se. Eu fiz um café
para nós. Vou servi-la.
Jéssica recostou-se na cadeira, encantada, deixando que ele a servisse. Jason era um
homem surpreendente!
— Fale-me um pouco sobre você. O que faz uma bela e jovem médica nesse fim de
mundo, no meio de uma revolução?
— Bem, quando eu resolvi vir para cá, não havia uma revolução. Isso foi há um ano e
hoje em dia não tenho mais certeza dos meus motivos. Eu havia acabado a faculdade e
queria fazer um trabalho em que me sentisse realmente útil. Algo mais gratificante do que
clinicar lucrativamente num consultório qualquer da Virginia, por exemplo.
— Então foi de lá que você veio? Da Virgínia?
— Isso mesmo. Do norte, de uma pequena cidade perto de Washington, quase na
fronteira com Maryland.
— Um belo lugar. Gosto da Virgínia. Eu já sou mais nômade. Mas fico em Washington
quando estou nos Estados Unidos. — Fazendo uma pausa, tomou um gole de café. — E
a sua família? E de lá também?
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nos braços daquele homem. Ele estava tão perto... Um movimento apenas, e se aninharia
no peito másculo e poderoso. Isso era tudo o que queria!...
Foi então que Jéssica teve certeza do desejo que sentia por Jason. Seu corpo ansiava
pelo dele. Seguindo o impulso de entregar-se, poderia ser feliz por um momento. Mas e
depois? Como seriam os outros dias? Jason era um nômade, um viajante. Nunca se
fixaria em lugar algum, com ninguém. E ela queria alguém para dividir seu dia-a-dia. Ante
a idéia de ficar tanto tempo sozinha, a esperá-lo, preferia a solidão à qual já estava
acostumada. Aprendera a não agir impulsivamente na vida. Achava que era preciso
escolher um caminho e permanecer nele, custasse o que custasse. Por isso, com
delicadeza, desembaraçou-se daquele abraço, desviando o olhar para que Jason não
percebesse o quanto lhe doía aquela decisão.
Ele baixou os braços imediatamente, reagindo contra o movimento de recuo por parte
dela. Era um homem determinado, mas nunca se imporia à força para uma mulher.
— Hum! O jantar está cheirando bem!
Jéssica procurava dar um tom de frivolidade à voz. Dirigindo-se para o fogão, ergueu a
tampa de uma das panelas, cheirando a comida com um ar deliciado e voltou-se
novamente para ele.
— Você está me acostumando mal! O que farei quando for embora e eu tiver que fazer
o jantar sozinha?
— Estou certo de que você se sairá muito bem. É uma mulher bastante auto-suficiente
— ele respondeu num tom carregado de tristeza.
Como ela esperava, Jason havia percebido imediatamente o que havia por trás
daquele comentário de aparência inocente. Quisera deixar claro que qualquer tipo de
envolvimento entre ambos resultaria com certeza numa coisa passageira. E a resposta
dele mostrava que havia compreendido e gentilmente concordava com aquela decisão.
Mais tarde, já deitada, Jéssica se perguntava se havia tomado a decisão correta.
Aquele incidente lhe provara que ele sentia a mesma atração por ela.
Ficou imaginando o que teria acontecido se tivesse se atirado nos braços de Jason.
Seria o paraíso, um delírio, ser envolvida por aqueles braços fortes, sentir a delícia
daqueles lábios nos seus, pressionar o corpo contra o dele, tão musculoso, forte e viril.
Mas e depois? Tão logo fosse possível, ele partiria. Embora ela o conhecesse pouco, e
Jason se mantivesse muito discreto sobre o assunto, Jéssica sabia que ele não
permaneceria por muito tempo num mesmo lugar e nem estava interessado em fixar-se
numa vida rotineira.
Tentando evitar a depressão que a dominava, esforçou-se para dormir. Talvez
dormindo conseguisse esquecer as mágoas.
CAPÍTULO III
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Meu Amor Rebelde Rosemay Hammond
Diante daquele olhar que percorria todo o seu corpo, sentiu uma onda de calor envolvê-
la e o sangue acelerar-se nas veias. Tentou voltar para seu quarto.
— É melhor eu ir agora, Jason — avisou, com voz incerta. Jason sentou-se na cama,
completamente desperto. Esticou o braço e tomou-lhe a mão.
— Não. Não vá, Jéssica. Fique comigo — pediu num murmúrio doce e vibrante, a mão
deslizando vagarosamente, numa carícia sensual, até o ombro nu.
Sem conseguir falar nada, Jéssica sentiu-se também incapaz de qualquer movimento.
Seu corpo inteiro tremia.
Dominada por aquele toque macio, quente, acariciante e pelo olhar ávido que ele lhe
lançava, ela se deixou puxar para a cama.
Os dedos masculinos pressionavam seus ombros, não admitindo negativas. Estavam
tão próximos que podia sentir-lhe a respiração quente como uma carícia no rosto.
Deslizando a mão até sua nuca, Jason enfiou os dedos entre seus cabelos, deliciado.
Aquele contato provocou-lhe uma reação por lodo corpo. O coração de Jéssica começou
a bater enlouquecido enquanto ele lhe tocava o rosto, dando pequenos e suaves beijos
cm seus olhos, em suas orelhas, descendo pelo queixo e pescoço.
Nunca sonhara ser acariciada assim. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Era como se
tudo estivesse em suspense e no mundo só existissem os dois e aquele quarto. A
angústia, a tensão e o medo desapareceram como por encanto.
De repente, afastando-se um pouco, Jason segurou-lhe o queixo com dedos firmes,
obrigando-a a encará-lo.
— Jess?...
Ela intuiu o que Jason queria saber. Os olhos azuis, brilhantes e cheios de desejo
estavam inquisidores, mas não suplicantes. A escolha era sua. Poderia recuar se
quisesse, e tudo continuaria como antes.
Mas essa idéia era insuportável. Não queria fugir dele. Algo muito mais poderoso a
detinha. Um impulso irresistível a atraía para aquele homem. Vagarosamente, de forma
quase imperceptível, concordou.
Puxando-a para mais perto de si e envolvendo-a em seus braços fortes, Jason inclinou-
se sobre ela. Antes de fechar os olhos numa entrega total, Jéssica viu o rosto dele
aproximando-se até suas bocas se tocarem. Foi um momento mágico, alucinante. Nunca
havia sido beijada daquele jeito, com suavidade a princípio, num leve toque, numa carícia
úmida e sensual. Trocaram pequenos beijos que a deixaram em brasa, ansiando por
mais.
Então, mais exigente, Jason pressionou com força os lábios contra os dela. Uma
emoção incrível a dominou e o sangue ferveu-lhe nas veias enquanto ele se tornava mais
possessivo. Jéssica entreabriu os lábios, deixando que a língua dele explorasse iodos os
recantos de sua boca num beijo longo e prolongado.
Finalmente, Jason parou. Encostou a testa contra a dela, olhando-a no fundo dos
olhos, com um brilho febril no rosto.
— Como eu a tenho desejado, Jess! — falou suspirando, como se a voz estivesse
estrangulada pela emoção que sentia.
Enquanto ele acariciava-lhe as costas e a nuca, puxando-a para perto de si, Jéssica
sentia que toda a sua resistência havia se dissolvido. Seu corpo estava totalmente dócil,
correspondendo às delícias daquele toque, submisso à paixão que tomava conta dela.
— Todo esse tempo ansiei por você. Meu corpo dói de desejo desde que cheguei aqui.
Você, tão competente, tão séria, tão Inacessível... e tão linda...
As mãos de Jason deslizaram pela pele macia do seu colo, circundaram o decote da
camisola até tocar os seios. Alcançando as finas alças, afastou-as delicadamente de seus
ombros, desnudando-lhe o colo. Com a ponta dos dedos ele fez uma cadeia nos mamilos
rijos de desejo arrancando um gemido de Jéssica.
Embevecido, ficou a contemplar a beleza daqueles seios nus.
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— Você é exatamente como eu imaginava... Uma mulher plena, madura, linda! Como
eu desejo cada pedacinho desse corpo!
Puxou-a para mais perto de si num abraço, passeando os lábios e a língua pela pele
macia, no colo, até alcançar o seio. Começou a mordiscá-lo numa carícia delirante, louca,
deixando-o rijo de excitação.
Jéssica nunca havia sentido tal prazer antes. De olhos fechados, ela gozava aquelas
carícias ardentes que despertavam seu corpo. Era uma intimidade nova e a força das
emoções a atingia com violência. Apertou-se contra ele, o corpo ardendo de desejo.
Jason puxou mais a camisola, fazendo com que deslizasse pelos quadris até cair ao
chão. Depois retirou-lhe a calcinha. Dando um gemido de prazer, beijou-a novamente com
paixão enquanto suas mãos percorriam febrilmente cada polegada do corpo nu.
Sentindo-a preparada para recebê-lo, Jason pôs-se de pé e se despiu. Deitou-se a
seguir enterrando os dedos nos cabelos loiros e macios.
Louca de paixão, Jéssica dava beijos no peito moreno, nos ombros fortes, arrancando
gemidos de prazer, sussurrando coisas sem sentido. Deitados na cama, os corpos
entrelaçados, eles se acariciavam, movimentando-se numa luta feroz e ávida.
— Beije-me, querida.
As pernas longas e musculosas de Jason enrodilhavam-se nas dela. Jéssica podia
perceber, pela pressão daquelas coxas nas suas, o desejo incontrolável e quase animal
que o dominava. Não havia mais dúvidas, não havia mais temores. Ela queria aquele
homem inteirinho para si, queria amá-lo e ser amada por ele. Enlouquecida pela paixão,
sussurrou com voz rouca e urgente:
— Jason! Agora, por favor!
— Sim, pequena, sim!
Ele deslizou as mãos pelas costas delicadas, tocou-lhe ai nádegas redondas e macias
e puxou-a para si. Segurando-a com firmeza pelos quadris, foi penetrando-a lentamente,
pari depois, num movimento sôfrego e numa harmonia perfeita, se amarem numa dança
frenética que os conduziu ao clímax de prazer.
Algum tempo depois, deitada ao lado de Jason sob o macio cobertor, Jéssica sentia-se
tomada por uma grande languidez; estava satisfeita, invadida por uma paz que nunca
pensara existir. Ele ficara abraçado a ela por um longo tempo antes d< soltá-la, até que os
últimos espasmos de êxtase passassem e a respiração se aquietasse. Ainda podia sentir-
lhe o calor do corpo.
Apesar de cansada, Jéssica não tinha sono. Na verdade, queria ficar acordada,
saboreando a sua felicidade e lembrando infinitas vezes a perfeição daquele ato de amor.
Finalmente, encostando-se nela, Jason murmurou ao seu ouvido, num tom meio divertido:
— Você não teve muitas experiências desse tipo, não é, Jess?
— É verdade. Tive apenas uns namoradinhos no colégio, e uma tentativa frustrada de
fazer amor com um deles. Eu era muito ingênua e nem sabia o que esperavam de mim.
Depois, acabei me envolvendo com os estudos e fiquei muito ocupada para pensar em
romances. Então, após uma pequena pausa, voltou o rosto para ele, temerosa de seu
julgamento. — Você está desapontado comigo?
— Claro que não, tolinha! Longe disso. Você é tudo o que eu imaginava: quente, doce,
apaixonada.
Ergueu-se para encará-la, apoiando-se sobre o cotovelo. Com a outra mão corria os
dedos por seu rosto acariciando-lhe o contorno da boca, circundando o queixo, o
pescoço, o vale entre os seios.
Jéssica estremeceu com as sensações provocadas por aquelas carícias. Finalmente,
Jason parou a mão sobre seu quadril.
— E o que você achou desta? Mais uma tentativa frustrada?
— Bem, não vá se sentir mais convencido do que já é, mas você não pode ser
comparado aos meus namorados anteriores — ela brincou.
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Beijou-lhe o ombro, aspirando o perfume suave e intenso que emanava de sua pele.
Ansiava por declarar-lhe seu amor, ensiná-lo a se dar a alguém. Mas sabia que seria
um erro. Se houvesse futuro para aquele amor, seria ele quem colocaria os termos.
CAPÍTULO IV
Ao despertar na manhã seguinte Jéssica percebeu que o tiroteio havia cessado. Tudo o
que se ouvia era o canto dos pássaros e um latido, ao longe.
Desabituada àquele silêncio, levantou-se, vestiu o roupão e desceu correndo as
escadas, abrindo a janela do consultório, de onde tinha uma visão ampla da praça. Estava
surpreendentemente vazia. Os soldados haviam se retirado, deixando apenas, como
lembrança de sua passagem, os restos do acampamento. Nesse momento, avistou, em
frente à igreja, o padre do vilarejo. Era a primeira vez, em duas semanas, que ele
aparecia nas ruas.
Então, pouco a pouco, os moradores foram chegando. Primeiro os homens mais velhos
e, atrás deles, alguns adolescentes mais corajosos. Olhavam desconfiados,
inspecionando o acampamento abandonado, as fogueiras mortas, tentando verificar se
aquilo seria uma retirada efetiva.
De repente um deles deu um grito de alegria e saiu correndo para avisar os amigos. A
praça, então, começou a criar vida! Mães com filhos nos braços, velhos, crianças, todos
corriam para verificar com os próprios olhos que estavam livres. As conversas e os risos
das crianças encheram a praça outra vez.
"Acabara, afinal, pelo menos aquela batalha", pensou Jéssica. Sentia-se em
turbulência. Por um lado estava, sem dúvida, aliviada. Não haveria mais lutas nem mortes
e a vila retomaria o ritmo normal, a rotina costumeira. Os homens retornariam às
plantações de café, e ela não teria mais que fazer curativos nos soldados. Por outro lado,
Jason poderia partir...
Subiu as escadas, revolvendo as emoções em conflito. Não havia nada que pudesse
fazer. Parou à porta do quarto, olhando para o homem deitado na cama, completamente
relaxado.
Talvez não fosse necessário que Jason partisse agora, ela refletiu, com o coração
apertado no peito. Com a retirada dos soldados, não havia mais perigo. Jason poderia
movimentar-se com liberdade, sem ter que ficar preso em casa. Isso o reteria por
mais um tempo. Assim pensando, decidiu não acordá-lo, e só falar-lhe mais tarde. Ele
poderia partir depois. Não havia mais urgência.
Fechou a porta do quarto e aprontou-se para sair. Quando terminou, foi espiá-lo outra
vez. Oh, como temia perdê-lo! A imagem daquele corpo forte em repouso na mesma
posição em que o vira antes devolveu-lhe a segurança. Jason era tão belo! Sem ele a
vida não fazia sentido.
Nesse momento, ouviu o ruído do motor de um carro parando na rua. Desceu correndo
as escadas, abriu a porta da frente, que dava para a varanda. Piscou os olhos, ofuscada
pela luz clara da manhã, e avistou Marshall Bennett saindo do jipe.
— Marshall! — gritou, correndo ao encontro dele. — Então está tudo terminado
mesmo?
Marshall deu-lhe um sorriso de alívio, apertando-a nos braços.
— Céus, como estou feliz por encontrá-la a salvo! Estive terrivelmente preocupado
todos estes dias. Era impossível vir até aqui e eu esperava que os soldados precisassem
tanto de cuidados médicos que não ousassem ameaçá-la — exclamou ele, colocando-lhe
um braço em torno dos ombros e caminhando com ela até a casa.
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Não conseguia discernir o que sentia. Dor? Raiva? Não... Naquele instante apenas um
torpor tomava conta dela, uma espécie de estado de choque. Queria ficar ali, parada...
Afinal, passado algum tempo, Jéssica deitou-se entre os cobertores, fechou os olhos e
deixou que as lágrimas corressem.
Logo caiu num pranto convulsivo que a sacudia toda, molhando o travesseiro.
— Eu amo você, Jason — gritou entre soluços, como se ele pudesse escutá-la.
Sentia-se lesada. Tentara ser paciente, fazer as coisas do jeito dele. Não cobrara ou
pedira nada, nem compromissos, nem promessas. Por que Jason não a esperara para
expor seus planos ou pelo menos se despedir? Sem dúvida não a amava, pois, se a
amasse, não a machucaria tanto!
Por fim, exausta, conseguiu adormecer. Sentia-se vazia, como se estivesse morta, e
não se importava com isso. Talvez fosse melhor morrer mesmo. Jason Strong a havia
despertado para o amor e tinha certeza de que nunca mais se apaixonaria por nenhum
outro homem.
A luz continuava acesa no quarto quando Jéssica acordou. Desorientada, confusa,
procurou por Jason, querendo assegurar-se da presença dele na cama. Ao perceber que
estava só, recordou-se de tudo e sentiu outra vez aquela dor.
Não chorou, contudo. Havia chegado ao fundo do poço na agonia da noite anterior.
Não possuía mais lágrimas e só queria acabar com o sentimento de autopiedade em que
se afundara e sair dali.
Sentou-se na cama, pestanejando. Que horas seriam? Nem sabia se era madrugada
ou se já havia, amanhecido.
Com cuidado removeu o pesado cobertor que havia colocado sobre a cortina, na noite
em que Jason chegara, e olhou pela janela.
O sol nascia. Um galo cantava em algum quintal do vilarejo adormecido e um cachorro
latia ao longe. Jéssica ficou observando a aurora,* que iluminava a praça vazia. Mais uma
vez sentiu-se dominada pela estranha sensação de estar fora de si, analisando as
próprias reações.
Percebeu surpresa que uma imensa raiva crescia a cada minuto e tomava conta dela
uma indignação tão grande contra Jason, que seria capaz de matá-lo.
Pouco a pouco, foi-se acalmando. A raiva fez acordar seu orgulho. Levantou o queixo e
saiu de perto da janela. Sabia o que tinha a fazer agora. Havia sido tola, cega e estúpida,
caindo nos braços do primeiro homem que motivara seu romantismo, sua fantasia. Talvez
essa experiência tivesse sido necessária. Agiria como uma dolorosa vacina para imunizá-
la contra novas paixões.
Com fria determinação pegou o bilhete de Jason, rasgou-o em mil pedacinhos e jogou-
os no lixo. Era o único traço da presença dele na casa, e agindo assim via-se livre de
seus vestígios. Precisava arrancá-lo do pensamento e do coração.
Passou o resto do dia em frenética atividade. A princípio, ficou assustada com a
quantidade de coisas que precisava fazer antes de partir com Marshall na manhã
seguinte. Percebeu então que deveria organizar-se, fazer uma coisa de cada vez, ao
invés de ficar andando de um lado para o outro torcendo as mãos em agonia, sem saber
por onde começar.
Resolveu que, em primeiro lugar, sairia para as rondas diárias. Por sorte, não havia
casos de emergência que precisassem de atenção imediata. Isso colaborava para que
não se sentisse tão culpada por estar abandonando a aldeia.
Não sabia se deveria falar com as pessoas sobre sua partida, apesar de achar que
seria muito duro suportar o descontentamento estampado no rosto daquelas pessoas
queridas e que tinham tanta necessidade dela. Após hesitar algum tempo,percebeu que
não teria outra alternativa senão encarar a situação.
A reação dos moradores foi muito comovente. A Sra. Morales chorou muito e nada do
que Jéssica dizia era capaz de acalmá-la. Recebeu, também, pequenos presentes e
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CAPÍTULO V
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O seu olhar foi atraído, então, pelo título do editorial: "Junta Militar governa em San
Cristobal". Enquanto vivera lá, Jéssica pouco se interessara pela política daquele pobre
país em guerra e nunca entendera por que lutavam. Mas agora queria saber o que estava
acontecendo e como se desenrolava a revolução.
Num sobressalto viu quem assinava a matéria! Jason Strong! Colocou a xícara na
bandeja, com a mão trêmula, o coração batendo dolorosamente no peito. Não conseguiu
mais focalizar as letras do jornal, que pareciam dançar frente a seus olhos. Inclinando a
cabeça sobre a almofada, fechou os olhos. No íntimo, sabia que, mais cedo ou mais
tarde, teria de volta a imagem de Jason. Desde a fuga de San Cristobal, o havia banido
da memória, não se permitindo pensar nele.
A última coisa de que se lembrava era de sua partida, da despedida de Marshall, que
havia conseguido que ela embarcasse após subornar os guardas do aeroporto. Já em
Taunton, ocupara-se com a casa e o novo trabalho e não tivera tempo para pensar nos
incidentes de San Cristobal. Mas agora...
As recordações, contidas até então, afluíam-lhe à memória causando-lhe dor. Por que
aquelas lembranças tinham o poder de machucá-la tanto? O amor rejeitado, a perda de
Jason e a humilhação que sofrerá ainda estavam muito vivos!
Jéssica procurou pela xícara que pusera na bandeja e bebeu p chá gelado sem sentir o
sabor. Olhava fixamente as chamas. Da lareira uma onda de autopiedade a invadia.
Lutando contra esse sentimento, teve ímpetos de destruir alguma coisa, quebrar algo,
cometer qualquer loucura; dominou-se para não atirar a valiosa porcelana contra a
parede.
Como fora tola! O que havia pensado que fosse um amor puro revelara-se apenas
sexo, algo puramente carnal. Se fora traída e usada, a culpa era sua, por se deixar levar
pelas próprias carências.
Levantou-se do sofá e caminhou até a janela. Escurecia depressa e um vento gelado
empurrava as nuvens pesadas de chuva pelo céu sombrio.
— Fui estúpida, sim! — disse em voz alta, para a sala vazia. Mas sob a camada de
objetividade, uma onda de ressentimento crescia contra o homem que a havia magoado
tanto, pois, embora não conseguisse culpá-lo, não podia esquecer que tinha acreditado
num amor correspondido. Jason a enganara apenas para satisfazer seus desejos.
Cerrou os punhos com força enquanto um espasmo de raiva e humilhação a fazia
estremecer. Isso não aconteceria novamente, nunca mais! Jurou para si mesma.
As recordações dolorosas começaram a diminuir com o passar dos dias. Jéssica sentia
ainda o ressentimento apossar-se dela sempre que pensava em Jason, mas sabia que
era inútil insistir nessa tecla. Esperava que o tempo a fizesse esquecer aquela triste
experiência.
Duas semanas mais tarde, num domingo, encontrava-se no jardim, varrendo as folhas
que caíam das altas árvores, quando ouviu o telefone tocar.
Correu para dentro de casa pela porta de trás e, ofegante, pegou a extensão na
cozinha.
— Alô!
— Jéssica? Aqui é Marshall. Marshall Bennett!
— Marshall! Que surpresa! Mas onde é que você está? O que andou fazendo depois
que me colocou naquele avião horrível, em San Cristobal?
— Que escapada dramática! E bem planejada também, não acha?
Jéssica deu uma gargalhada.
— Bem planejada? Que piada! — Mas, me diga, quanto você teve que dar ao guarda
para que eu pudesse embarcar?
— Ora, não seja indiscreta! O fato é que eu consegui tirá-la de lá, e isso basta.
—, Certo, Marshall. Conseguiu e lhe serei eternamente grata. Agora me conte, de onde
você está ligando? Zaire? Afeganistão? Iraque?
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— Washington!
— Que lugar mais burguês! — quer dizer que está de volta?
— Isso mesmo. Depois que fomos expulsos de San Cristobal pela Junta Militar, o
Departamento de Estado requereu minha presença aqui, para me dar uma nova locação.
— E para que agradável lugar estão pensando em mandá-lo desta vez?
— E quem pode saber? Mas, se depender de mim, ficarei aqui para sempre. Já não
sou mais tão jovem para viver de aventuras.
— Está certo, Marshall. Afinal deve estar beirando os trinta e cinco anos, não é? Quase
um ancião...
— Trinta e três, minha cara! Mas já vivi muito para a minha idade. Não estou brincando,
Jéssica. Sinto que aprendi tudo que precisava com esses revolucionários maltrapilhos e
rebeldes! Já é hora de me estabelecer num lugar e começar a pensar em construir um lar,
uma família.
— Marshall, não acredito! E eu aqui pensando em você todo esse tempo como um
aventureiro, um mercenário em busca da fortuna! — ela caçoou.
— Sinto desapontá-la, mas agora só quero sombra e água fresca! Estou até pensando
em comprar um cachorro para mim!
Jéssica sorriu. Marshall parecia mais um pacato fazendeiro do que um aventureiro
qualquer. Era um homem forte, de cabelos loiros e lisos e tranqüilos olhos azuis, com um
jeito plácido e bonachão. Simpático e interessante.
— Bem, acho que estamos pensando de forma semelhante, Marshall. Também estou
mais do que pronta para abandonar a vida aventureira...
— Fico feliz por ouvi-la dizer isso, Jéssica... Bem, o que me levou a ligar para você é o
seguinte: que tal colocar o seu mais elegante e glamouroso vestido e aceitar um convite
para uma festa?
— Uma festa?... Meu Deus, Marshall! Eu não danço desde... Bem, já nem me lembro
mais. E nem tenho uma roupa apropriada!
— Mas você sabe dançar, não sabe?
— Bem, sim, eu sei, mas...
— Há alguma butique aí, nessa sua cidadezinha perdida no mundo?
Jéssica riu.
— Ora, é claro, Marshall!
— Então, qual é o problema? Vamos, Jéssica. Eu gostaria muito que você aceitasse o
meu convite.
— Quando será a festa? E onde?
— Sábado que vem, na embaixada da França. Uma comida soberba e champanhe
jorrando feito água. Posso ir buscá-la em sua casa e depois a levarei de volta. O que
acha?
— Muito obrigada! Sua gentileza me comove! Não deixa de ser um sacrifício perder
meia hora nesse trajeto de Washington até aqui! Mas não se preocupe, Marshall! Eu irei
sozinha, com meu carro.
Combinaram se encontrar na própria embaixada, às oito da noite do sábado, e então
se despediram.
Jéssica tentou analisar os seus sentimentos cm relação a Marshall; pareciam-lhe
contraditórios. Gostava dele e seria divertido ir a um baile de verdade após tanto tempo.
Por outro lado, essa história de ele querer estabelecer se c constituir família não a
agradava. Temia que a tivesse como candidata. A situação era um pouco delicada, pois
não queria nenhum tipo de envolvimento emocional com ele.
Essa certeza até a surpreendia um pouco. Era como se a experiência com Jason lhe
tivesse arrancado um pedaço, deixando-a fria para novos relacionamentos amorosos.
Rejeitava qualquer hipótese de se dedicar a outro homem, não importava quem fosse.
Amar alguém de novo estava fora de cogitação. Após a rejeição que Jason lhe infligira
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artimanhas para se fazer bonita. Mais uma noite não faria diferença!
Passou um pouco de base no rosto e sobre ela uma fina camada de pó-de-arroz. Sobre
os lábios, usou apenas o velho batom, numa tonalidade tosada que combinava muito bem
com a cor de sua pele, e nos olhos uma ligeira camada de sombra, somente para
ressaltar-lhes o tom.
Secou os cabelos, penteando os longos fios até que brilhassem e prendeu-os no alto
da cabeça, passando um pouco de fixador para que o penteado ficasse mais encorpado.
Olhou se então no espelho com olhar crítico.
— Hum, não está mal! Não pareço uma vamp, mas até que estou bastante
apresentável.
Colocou finalmente o vestido e, como enfeite, apenas os brincos de pérola em forma de
gota que haviam sido de sua mãe. Recuou um passo, para observar o efeito, chegando à
conclusão de que as sofisticadas mulheres da alta sociedade poderiam ficar tranqüilas,
pois ela não representava perigo algum! Mas estava bem com aquele vestido de seda, os
cabelos brilhantes e os brincos que faiscavam, dando mais vida a seu rosto.
Após pegar as luvas, a pequena bolsa e um casaquinho preto, Jéssica encaminhou-se
para a garagem. Iria no velho Thunderbird de Charles. Ele era apaixonado pelo carro,
totalmente inútil no trânsito de Washington. Por isso o havia deixado em Taunton.
Dirigiu pelas ruas da cidade, livre e descomprometida, sentindo enorme prazer e
excitação frente à idéia do baile.
Marshall encontrava-se em frente à embaixada, na escadaria da imensa entrada,
parecendo mais alto e elegante no smoking preto. Ao vê-la, acenou um cumprimento,
descendo alguns degraus para recebê-la.
— Pode deixar o automóvel aqui. Um dos ajudantes vai estacionar para você.
Jéssica relanceou um olhar desconfiado à volta. Havia muita gente por ali e tudo
parecia muito seguro e organizado. Saindo do carro, colocou-se ao lado de Marshall na
calçada.
— Espero que você esteja certo. Charles me mataria se alguma coisa acontecesse ao
seu precioso Thunderbird! E eu me sinto como se estivesse guardando as jóias da coroa
inglesa! — retrucou ela com alguma apreensão.
Marshall olhou para o enorme veículo com certo respeito.
— Realmente, é uma valiosa antigüidade. Esse modelo deve custar uma fortuna hoje
em dia. — Após esse comentário, voltou o olhar para Jéssica, fazendo-lhe uma pequena
curvatura e estendendo o braço. — Então, que tal fazermos nossa grande entrada?
— Pois não, meu senhor! — brincou, apoiando-se no braço que ele lhe oferecia.
Subiram os largos degraus. As portas do salão estavam completamente abertas e
ouviam-se os acordes da música tocando lá dentro. Muitos pares transitavam pelas
escadarias, cumprImentando-se em voz alta.
Enquanto caminhavam, Marshall segurou firmemente o braço de Jéssica, olhando-a
com admiração.
— Estou muito contente por vê-la aqui, Jéssica. Você está muito bonita! Que
transformação desde a última vez que nos encontramos!
Marshall estendeu o convite ao funcionário postado na porta e entraram. A música
estava muito mais alta agora e o local superlotado.
— Dê-me o casaco que eu vou guardá-lo para você — disse ele. E, após ajudá-la a
despi-lo, afastou-se.
Jéssica ficou esperando num ângulo que lhe permitia uma visão privilegiada do local.
Sentia-se fascinada por tudo o que via e pelo rumor da festa. As mulheres vestiam-se das
formas mais variadas e exóticas. Havia todos os estilos imagináveis, do mais elegante
longo até curtíssimas minissaias!
Observando a multidão, sentia-se cada vez mais confiante no seu bom-gosto e na
escolha acertada do modelo. A seda era macia e linda e lhe caía muito bem.
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Era curioso como os homens se vestiam de forma muito mais semelhante. Todos
trajavam roupas escuras e formais. Maravilhou-se com aquela constatação. Eles não
tinham que se preocupar com maquilagem, cortes de cabelo ou com a moda. Precisavam
apenas encontrar um bom terno e estavam adequados para qualquer ocasião. Os
homens pareciam muito mais livres!
Como para comprovar essa conclusão seu olhar caiu sobre um casal que acabava de
entrar. Prestou atenção primeiro na mulher, uma ruiva alta, com um vestido verde
esmeralda, muito justo e decotado, e belíssimos diamantes ao redor do pescoço, pulsos e
orelhas.
Era uma mulher atraente, numa roupa bastante sofisticada! Olhou então para o homem
que a acompanhava.
Céus! Era Jason Strong! Não podia acreditar! Olhou nova mente pensando ter se
enganado. Não havia nenhuma dúvida: era o mesmo porte orgulhoso, a face séria, os
olhos misterioso».
Aquele encontro tão inesperado provocou uma sensação de vertigem em Jéssica, que
fechou os olhos sentindo o tinindo gelar, o sangue correr veloz nas veias. Seu coração
bateu enlouquecido. Levou a mão ao peito, procurando um lugar que lhe servisse de
apoio. A visão estava turva e teve medo de desmaiai.
Reunindo toda a força de vontade que possuía, tentou controlar-se antes da volta de
Marshall. Apoiou-se numa coluna. Colocou finalmente o vestido e, como enfeite, apenas
os brincos de pérola em forma de gota que haviam sido de sua mãe. Recuou um passo,
para observar o efeito, chegando à conclusão de que as sofisticadas mulheres da alta
sociedade poderiam ficar tranqüilas, pois ela não representava perigo algum! Mas estava
bem com aquele vestido de seda, os cabelos brilhantes e os brincos que falseavam,
dando mais vida a seu rosto.
Após pegar as luvas, a pequena bolsa e um casaquinho preto, Jéssica encaminhou-se
para a garagem. Iria no velho Thunderbird de Charles. Ele era apaixonado pelo carro,
totalmente inútil no trânsito de Washington. Por isso o havia deixado em Taunton.
Dirigiu pelas ruas da cidade, livre e descomprometida, sentindo enorme prazer e
excitação frente à idéia do baile.
Marshall encontrava-se em frente à embaixada, na escadaria da imensa entrada,
parecendo mais alto e elegante no smoking preto. Ao vê-la, acenou um cumprimento,
descendo alguns degraus para recebê-la.
— Pode deixar o automóvel aqui. Um dos ajudantes vai estacionar para você.
Jéssica relanceou um olhar desconfiado à volta. Havia muita gente por ali e tudo
parecia muito seguro e organizado. Saindo do carro, colocou-se ao lado de Marshall na
calçada.
— Espero que você esteja certo. Charles me mataria se alguma coisa acontecesse ao
seu precioso Thunderbird! E eu me sinto como se estivesse guardando as jóias da coroa
inglesa! — retrucou ela com alguma apreensão.
Marshall olhou para o enorme veículo com certo respeito.
— Realmente, é uma valiosa antigüidade. Esse modelo deve custar uma fortuna hoje
em dia. — Após esse comentário, voltou o olhar para Jéssica, fazendo-lhe uma pequena
curvatura e estendendo o braço. — Então, que tal fazermos nossa grande entrada?
— Pois não, meu senhor! — brincou, apoiando-se no braço que ele lhe oferecia.
Subiram os largos degraus. As portas do salão estavam completamente abertas e
ouviam-se os acordes da música tocando lá dentro. Muitos pares transitavam pelas
escadarias, cumprimentando-se em voz alta.
Enquanto caminhavam, Marshall segurou firmemente o braço de Jéssica, olhando-a
com admiração.
— Estou muito contente por vê-la aqui, Jéssica. Você está mui to bonita! Que
transformação desde a última vez que nos encontramos!
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Meu Amor Rebelde Rosemay Hammond
CAPÍTULO VI
Projeto Revisoras 34
Meu Amor Rebelde Rosemay Hammond
solidão em que vivia. De certa forma, era como se Jason Strong estivesse morto para ela.
Porém, naquela noite, o que conseguira ocultar de si própria durante esse tempo todo
voltava à tona: amor, ódio, raiva, humilhação e, acima de tudo, a necessidade de
compartilhar a vida com alguém.
Jéssica encarou o próprio reflexo no espelho. Como pudera imaginar que nunca mais o
veria? Ele havia dito que morava em Washington e era óbvio que, sendo jornalista político
e correspondente internacional, teria entrada franca em todos os círculos sociais.
Um pouco mais tranqüila, resolveu voltar ao salão. A última coisa que queria era que
Marshall desconfiasse de sua ligação com Jason Strong. Ninguém soubera do que
acontecera entre eles e ainda havia alguma chance de não se encontrarem. Jéssica
estava determinada a fazer com que aquela recordação dolorosa se apagasse para
sempre.
Encontrou o amigo caminhando de um lado para o outro, esperando por ela. A visão
daquela figura alta e reconfortante tranqüilizou-a. Olhou para ele com um sorriso
enquanto se apoiava em seu braço.
— Está se sentindo melhor? — Marshall indagou interessado.
— Foi apenas um mal-estar passageiro. Já estou bem agora e poderemos finalmente
entrar.
— Tenho uma surpresa para você! E bastante agradável, espero — afirmou ele, um
tanto temeroso, enquanto entravam no grande salão de dança.
A pista estava profusamente iluminada e a música vibrava altíssima. As mesas,
entretanto, ficavam numa suave obscuridade, iluminadas apenas pelas luzes dos
candelabros.
Jéssica quis indagar qual seria a surpresa que Marshall lhe preparara, mas havia muito
barulho e foi impossível perguntar-lhe. Esperava que fosse algo realmente agradável!
No trajeto até a mesa Marshall cumprimentou diversas pessoas. Ele conhecia muita
gente, pois seu trabalho na embaixada o levava a todos os lugares do mundo.
Atravessaram o salão superlotado e chegaram a uma mesa reservada para quatro pes-
soas. O canto estava tão escuro que Jéssica mal podia enxergar os outros dois
convidados, já sentados. Surpresa, deparou-se com Charles e Lisa.
O rosto do irmão trazia um ar de patética infelicidade e desconforto, mostrando
claramente o desprazer que sentia por estar ali. Lisa, por sua vez, sorria feliz, como se
estivesse adorando tudo!
— Surpresa! — cumprimentou Lisa acenando para os dois.
— Charles, eu não acredito! Há poucas semanas você afirmou que nunca mais daria o
ar de sua graça em festas de embaixadas... — Jéssica falou olhando-o com fingido
assombro.
— Tenho que agradecer a Lisa por me fazer esquecer essa promessa. No caso de
você ainda não ter percebido, essa capa de comedimento com que Lisa se protege
encobre uma vontade férrea e uma teimosia sem igual! Ai de mim se não fizer o que ela
quer... — Charles brincou, fazendo um gesto com a cabeça em direção à mulher. Jéssica
sorriu para a cunhada, que disse num tom amistoso:
— Sentem-se, sentem-se! Não dêem atenção aos resmungos de Charles. No fundo,
ele adora tudo isso, mas detesta admitir e faz essa cara enjoada para ver se alguém fica
com pena.
— Você deve estar certa, Lisa, já que o conhece tão bem! — caçoou Jéssica.
— Oh, sim! Espere até a segunda taça de champanhe e verá como tenho razão. Seu
irmão até dançará comigo.
Charles fez uma careta e começou a encher o cachimbo. Marshall, que havia se
dirigido a uma outra mesa para cumprimentar uns amigos, estava de volta.
— O que você prefere, Jéssica? Champanhe? Ou quer dançar um pouco antes?
— Champanhe, por favor, Marshall. Não danço há muito tempo e preciso de algo para
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insistente, ele era muito querido. Sentiu uma grande ternura pelo amigo. Qualquer mulher
que quisesse constituir uma família veria nele o par ideal.
— Sim, Marshall, eu me lembro dessa conversa.
— Nós já nos conhecemos há um bom tempo e até vivemos algumas aventuras
juntos... Jéssica, o que estou tentando dizer é que eu gostaria muito que nos
conhecêssemos melhor. Gosto demais de você. Na verdade, estou apaixonado... O que
você acha? Há alguma chance de você se interessar por mim? — indagou ansioso, com o
olhar cheio de expectativa e a voz emocionada.
Jéssica esperou um longo tempo antes de responder. Marshall era um dos homens
mais gentis que conhecia. Além de não querer magoá-lo, também não queria rejeitá-lo
prematuramente, apenas porque ele não lhe causava os efeitos devastadores que...
Afastando a súbita recordação, Jéssica suspirou profundamente.
— Não sei o que dizer, Marshall... Eu não sei se estou pronta para viver qualquer tipo
de envolvimento mais sério, como uma relação amorosa. O último ano foi um caos para
mim e você sabe disso melhor que ninguém. Estou recomeçando minha vida aqui,
tentando me estabilizar e jogando todas as minhas energias no trabalho. No fundo acho
que não conseguiria me apegar a ninguém neste momento — falou com delicadeza.
— Entendo. Mas preciso saber se eu não lhe sou totalmente indiferente e se você
permite que eu gaste o meu tempo tentando conquistá-la.
Jéssica não sabia o que dizer. Não podia encorajá-lo, pois possuía uma certeza interior
de que, por mais que gostasse dele, qualquer envolvimento entre ambos seria impossível.
— Marshall, fico muito feliz com tanta atenção, mas devo lhe dizer que o tipo de
relação que você está buscando nunca será possível para mim... — E dizendo isto, sentiu
uma tristeza enorme dominá-la.
— Você acredita que seja só por enquanto? Ou será para sempre?
— Talvez para sempre. Acho que sou uma pessoa muito fria.
— Não acredito nisso! — ele replicou. — Eu vi a dedicação com que você cuidou do
povo de San Cristobal. Seus sentimentos eram muito verdadeiros. Há muito amor em
você, Jéssica.
— Talvez eu não consiga me envolver com uma só pessoa, mas apenas me entregar
ao meu trabalho e a quem precisa de mim.
"Pelo menos depois de Jason ter entrado em minha vida", pensou Jéssica, e, abrindo a
porta do carro, apressou Marshall para que entrassem na festa. Apesar de saber que ele
não se satisfaria com aquela resposta, era só o que podia dizer no momento.
Ele a seguiu com relutância pelos degraus que levavam ao apartamento e nenhum dos
dois conseguiu dizer mais nenhuma palavra.
Jéssica estava extremamente cansada. Os últimos preparativos para o baile, a dança,
o champanhe, a conversa com Marshall e, principalmente, a visão de Jason haviam-na
atingido violentamente, deixando-a sem energia. Esperava que pudesse relaxar na casa
do irmão.
O apartamento de Lisa e Charles ocupava todo o andar térreo do prédio e tinha uma
entrada privativa cuja porta estava entreaberta. Através dela podia-se ouvir a música e
também o som de risadas e conversas.
Entraram numa pequena área de circulação onde os convidados deixavam os casacos
pendurados num cabide antigo ou espalhados sobre uma mesinha.
Jéssica deixou o casaco no alto da pilha sobre a mesa, dando uma rápida olhada no
espelho de cristal, que ficava ao lado dela. O tempo estava frio e seu cabelo estava um
pouco úmido pelo sereno da madrugada. Enquanto os arrumava, a dona da casa veio
recebê-los.
— Ah, finalmente chegaram! Venham, entrem. Já está todo mundo aqui. Por que
demoraram tanto? — Lisa colocou o braço no de Jéssica, levando-a para dentro. Marshall
seguiu-as logo trás.
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Meu Amor Rebelde Rosemay Hammond
CAPÍTULO VII
Projeto Revisoras 39
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apareceu em seu rosto e ela apertou o copo com tanta força como se dele pudesse extrair
alguma segurança.
Ouvia a voz de Lisa, vindo de muito longe.
— Vocês dois têm muito em comum. Jason esteve em San Cristobal durante a
revolução, na mesma época que você. Imagine, Jéssica, que os revolucionários o
tomaram por um espião! Não é engraçado? Logo ele, um correspondente internacional
famoso, não é mesmo? Certamente você deve ter ouvido falar em seu nome, não,
querida?
Jéssica conseguiu apenas erguer os olhos, enquanto Jason inclinava a cabeça, em sua
direção, num cumprimento.
— Como vai, Dra. Carpenter? Charles e Lisa falaram tanto sobre você, que estou me
sentindo como se já a conhecesse.
Jéssica respirou, aliviada, ao perceber que ele nem sequer havia mencionado que a
conhecia. Ficou um pouco mais tranqüila, procurando recuperar o controle.
— Muito prazer em conhecê-lo, Sr. Strong. Já ouvi palavras muito elogiosas a respeito
do seu trabalho.
— Vocês têm que se encontrar mais vezes para comparar as experiências e conversar
sobre tantas aventuras! E você também, Marshall, que esteve lá esse tempo todo. Não foi
uma grande coincidência os três estarem no mesmo lugar e na mesma época, em meio a
acontecimentos tão palpitantes? — Lisa falou em tom frívolo.
Durante as apresentações, Marshall colocara o braço nos ombros de Jéssica. Apesar
de não lhe agradar a intenção possessiva do gesto, ela se sentiu segura e protegida
contra aquele homem que a perturbava tanto.
— Como vai, Strong? Está voltando do Líbano? -- indagou Marshall, estendendo a mão
para cumprimentar Jason.
— É isso mesmo. Fui para lá assim que deixei San Cristobal e cheguei ontem. Nem
tive tempo de descansar ainda — falou, olhando significativamente para Jéssica.
Os dois homens passaram a conversar sobre a situação política de San Cristobal,
discutindo aspectos técnicos que ela desconhecia. Enquanto conversavam, ela tentava
reconstruir o precário equilíbrio emocional.
Não conseguiu resistir ao desejo de contemplar Jason.
Que transformação! A pessoa que ela conhecera em San Cristobal lhe parecera rude e
grosseira à primeira vista. Chegara mesmo a pensar que fosse um marginal, com as
roupas imundas, manchadas de sangue, a barba por fazer, o olhar selvagem. Só
melhorara um pouco ao usar as velhas roupas que ela lhe arranjara.
Mas, agora, quem estava à sua frente conversando com Marshall era um homem
completamente diferente, polido e educado, tão à vontade naquele salão quanto estivera
enquanto se escondia nas montanhas. Além disso, muito bonito e elegante. G smoking
preto lhe assentava com perfeição e a camisa branca fazia ressaltar a pele queimada de
sol. Jéssica sentiu uma pontada no coração: Jason estava mais fascinante do que nunca!
De súbito, percebeu a presença da ruiva, exuberante num vestido verde-esmeralda,
que acompanhara Jason ao baile. Ela se agarrava ao braço dele, aproveitando o excesso
de gente para encostar-se ao seu corpo. Olhava para Jéssica com um desprezo patente
no rosto, fazendo um muxoxo com a boca.
— Você estava naquele país horrível, também? — perguntou com voz aguda.
A médica devolveu-lhe o olhar com frieza.
— Na verdade, não é um país tão terrível assim. É um lugar pobre, devastado pela
revolução e cheio de problemas. Mas é também muito belo e as pessoas são
maravilhosas e gentis —-concluiu com voz um pouco mais áspera do que pretendia.
Uma expressão divertida apareceu no rosto de Jason, que, voltando-se para a
companheira com um sorriso indulgente, explicou:
— A Dra. Carpenter não estava lá como turista, Dorothy. Estava trabalhando.
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Jéssica não pôde deixar de notar a intimidade com que eles se tratavam. Sentindo uma
ponta de irritação, começou a imaginar quem ela seria e que tipo de relacionamento teria
com Jason. As feições da moça eram familiares mas não conseguia saber de onde a
conhecia. A voz de Lisa interrompeu-lhe os pensamentos:
— Ora, me desculpem. Como fui indelicada! Nem apresentei vocês. Jéssica, essa é
Dorothy Davis. Acho que vocês não se conhecem. Dorothy, esta é minha cunhada,
Jéssica Carpenter.
As duas mulheres murmuraram um cumprimento educado após as apresentações. Ao
ouvir aquele nome, Jéssica o reconheceu imediatamente. Ela era a filha de um destacado
membro do gabinete e a provável herdeira de um vasto campo petrolífero em Oklahoma.
Suas fotos apareciam com freqüência nas colunas sociais dos jornais de Washington.
Perdida nos próprios pensamentos, Jéssica continuou a beber, ouvindo o burburinho
das conversas ao redor. Marshall parecia conhecer bem o pai de Dorothy e ter com ela
assuntos em comum.
Pensava que o pior já havia passado. Haviam se reencontrado como dois estranhos e
esperava não vê-lo nunca mais. Pelo menos era nisso que acreditava naquele momento.
Voltou à realidade quando ouviu Jason perguntando:
— Imagino que já esteja trabalhando por aqui, não?
Ele havia se aproximado sem que ela percebesse e falava num tom mais baixo. Aquela
intimidade assustou-a. Demorou um minuto para responder, temendo que a voz a traísse.
— Sim. Já estou trabalhando.
— Justamente como havia planejado.
— É, exatamente como planejei — respondeu à meia voz. Jason inclinou-se sobre o
balcão procurando um lugar para depositar 0 copo, quase tocando-a ao fazer esse
movimento. Estava tão próximo que ela podia sentir o perfume da colônia que ele usava e
ver os longos cílios que emolduravam os olhos tão queridos, dando-lhes uma expressão
suave e profunda. Um sentimento de perda começou a invadi-la, reacendendo-lhe um de-
sejo soterrado no íntimo.
Teve uma vontade imensa de tocar aquele rosto tão familiar e acariciar as mechas do
cabelo preto e longo que se enrolavam na nuca.
Então, ele se voltou, e ela pôde ver que os olhos estavam muito escuros, quase violeta.
Jéssica sabia que ficavam daquela tonalidade quando estavam sob o impacto de forte
tensão emocional.
— Preciso falar com você, Jess! — pediu ele em voz tão íntima e suave que ela mal
conseguiu ouvi-lo.
Por um momento sentiu-se tentada a ouvir o que ele tinha a dizer, mas a mágoa e a
recordação da dor que havia sofrido não a deixaram aceitar. Seria loucura empolgar-se de
novo por aquele homem. Tinha que mantê-lo distante, para seu próprio bem.
— Eu não acho necessário, Jason. Não temos nada mais a dizer um para o outro —
afirmou, aparentando calma, embora no íntimo ansiasse pelo contrário.
Jason franziu a testa, recuando a cabeça e apertando os lábios. Olhou-a para ver se
dizia a verdade e, aos poucos, para surpresa de Jéssica, a expressão abrandou-se num
sorriso.
— Está com raiva de mim, Jess. Temia que isso acontecesse.
— Ora, Jason, não seja tão pretensioso. Por que razão teria? — perguntou, tentando
dominar-se.
— Só você pode me dizer. Afinal deve saber os motivos melhor do que eu — falou
Jason devolvendo-lhe a pergunta.
Ele lhe preparava uma armadilha. Qualquer resposta seria puramente emocional e
mostraria o quanto ele a dominava ainda. Ao perceber o sorriso maroto no rosto
masculino, respirou fundo e sorriu também.
— Não tenho nada para lhe contar, Jason, e nem tenho tempo. Meu serviço está me
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— Gostaria de lembrá-lo, Jason, de que deu tão pouca importância ao que houve entre
nós que me deixou sem me dizer uma única palavra. O bilhete tocante que me escreveu
poderia ter sido escrito para qualquer um, até para um empregado — falou Jéssica com a
voz trêmula. Horrorizada, percebeu que sua voz começava a falhar e lágrimas quentes lhe
inundavam os olhos. Não queria que ele a visse chorar. Odiava que percebesse sua
fraqueza.
Jason estendeu os braços em sua direção. Imediatamente ela recuou, percebendo o
perigo que isso significava. Sabia que, se não conseguisse vencer o desejo de cair nos
braços dele, o fascínio daquele homem a venceria.
— Não, não chegue perto de mim! Não me toque! Isso não pode acontecer nunca
mais.
Jason parou bem perto, fitando-a. Parecia lutar contra o próprio temperamento
impetuoso. Com um movimento de ombros, deu-lhe as costas, caminhando em direção à
lareira, onde o fogo ainda ardia. Ficou contemplando as chamas e só depois de algum
tempo virou-se para encará-la.
— Está bem, Jess. Será como você quiser. Vou lhe explicar como as coisas
aconteceram, e então, se você ainda quiser que eu vá embora, irei. — Lançou-lhe um
olhar estranho e começou a falar em voz mais baixa. — lembrando de tudo agora, acho
que realmente não agi direito, mas naquele momento me pareceu ser a melhor atitude a
tomar. Já presenciei muitas revoltas internas nos mais diversos países do mundo para
saber que aquela trégua seria apenas temporária, e eu tinha apenas duas coisas na
mente naquele momento: que você pudesse sair sã e salva de lá enquanto o combate
estava paralisado e que eu conseguisse a minha reportagem.
Os reflexos do fogo iluminavam o rosto moreno e de traços longos, acentuando a
selvagem beleza daquele homem. Jéssica se emocionou mas nada disse. Ele então
prosseguiu:
— Temia que, se você soubesse dos meus planos de continuar no país, resolvesse
permanecer também. O que eu podia fazer além de fugir, me diga? Talvez tenha agido
errado, mas o que aconteceria se a tivesse esperado e lhe dito tudo isso? O que você
teria feito? Será que teria partido?
Jéssica ainda não se sentia capaz de falar. Estava completamente dividida em partes
inconciliáveis. Uma desejava atirar-se nos braços de Jason e retomar aquela relação. A
outra, mais cautelosa, dizia-lhe que isso era loucura, um caminho sem retorno, perigoso e
incerto, inclusive ameaçador.
Mas Jason esperava que ela dissesse alguma coisa. Ao vê-la em silêncio, seu olhar foi
se entristecendo.
— Você não acredita em mim — falou baixinho.
Será que realmente ela não acreditava nele? Ah, no fundo, pouco importava. Seu único
desejo era ver-se livre da presença perturbadora de Jason. Se não resistisse ao impulso
de abraçá-lo estaria perdida.
— Isso não importa mais, Jason. Talvez você estivesse mesmo pensando apenas na
minha sobrevivência. Eu até prefiro lhe dar o benefício da dúvida, mas isso não muda
nada — respondeu com tristeza.
Poderia se explicar melhor, Jess?
— Não tenho que lhe dar explicações, Jason. Tenho todo o direito de dizer que não
quero você em minha vida, entende?
— Eu não acredito!
— Acredite no que quiser. Deixei-o entrar em minha casa, ouvi sua versão e até posso
considerá-la verdadeira. Agora quero que vá embora daqui e não volte mais por favor.
Os ombros dele se abaixaram, demonstrando que se sentia derrotado. Jéssica teve um
impulso de abraçá-lo, dizer-lhe que não era verdade, que ainda o amava e queria ficar a
seu lado.
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CAPÍTULO VIII
Jéssica ficou parada no meio da sala, o corpo rígido, os braços caídos, incapaz de
esboçar qualquer reação. Ouviu os passos que se afastavam, a porta do carro abrindo e
fechando e, finalmente, indo embora.
Então jogou-se sobre o sofá, soluçando de mágoa.
Depois de muito tempo acendeu a luz do abajur, procurando pelo chá que ainda não
bebera. Estava gelado! Levantou-se e foi até a cozinha mas, ao invés de esquentá-lo,
derramou-o todo dentro da pia. Tirando uma garrafa de cherry de dentro do armário,
encheu a xícara com o licor e tomou um longo trago. Terminou de beber e voltou a
recostar-se no sofá, tentando pensar sobre o seu encontro com Jason. Sentia um imenso
cansaço.
Não sabia se fizera a coisa mais estúpida ou a mais sensata, expulsando aquele
homem de sua presença. Tinha a cruel consciência de que o desejava mais do que nunca
e de que estava apaixonada.
Haviam ficado esclarecidas as razões que o levaram a escrever aquele bilhete cruel:
ele pensara na sua segurança. Se não tivesse aceitado o auxílio de Marshall, perderia a
oportunidade de deixar o país.
Mas o problema era outro: o tipo de vida que teria de aceitar se permanecessem
juntos.
Não! Jéssica concluiu com certa dureza. Sua escolha fora a única possível. Não havia
esperança de futuro e segurança para aquele amor. Jason viveria sempre em função do
perigo e de aventuras, e quase nunca ao seu lado.
Nos dias que se seguiram ela trabalhou demais e todo esse episódio foi se
desvanecendo em sua memória até o ponto de duvidar que tivesse realmente acontecido.
A princípio havia esperado que ele reaparecesse e insistisse no assunto. Ficara um pouco
desapontada quando isso não acontecera, pois as últimas palavras dele deram-lhe a
impressão de que não desistiria. Mas parecia ter mudado de idéia. Jason não era homem
de desistir assim com facilidade. Talvez não a quisesse tanto, especialmente tendo a seu
lado uma mulher como Dorothy Davis.
Jéssica tinha certeza de que jamais o esqueceria, mas, com o passar dos dias, a
convicção de que acertara ao mandá-lo embora era a cada momento mais forte.
O trabalho na clínica aumentava a olhos vistos, pois o Dr. Weatherby encaminhava-lhe
sempre novos pacientes. Graças a sua competência estava ganhando a confiança de
todos. Procuravam-na também pessoas que não tinham nenhuma ligação com o velho
médico, mas já tinham ouvido falar da sua capacidade.
Mesmo a taciturna enfermeira Schultz a aceitava agora e esse fato fez com que se
sentisse, realmente, em casa. Numa tarde de sexta-feira, Jéssica estava atendendo a
uma das últimas consultas do dia, uma senhora que sofria de artrite e que apresentava
um quadro de anemia profunda muito preocupante. Logo depois, iria embora.
— A senhora deve comer fígado, peixe, carne fresca, Sra. Columbo — recomendava
ela.
A Sra. Columbo fez um muxoxo meneando a cabeça.
— Eu não consigo, doutora. Essas coisas me fazem passar mal!
— Tudo bem. Vou lhe receitar uns comprimidos que contêm ferro e são muito bons.
Vou querer também um novo exame de sangue. A Sra. Schultz fará a coleta.
Jéssica foi até o corredor e chamou a enfermeira, pedindo-lhe para tirar uma amostra
do sangue da velha senhora. Sentia-se cansada. Essa última consulta havia exaurido
suas energias e tudo o que queria era ir embora. Olhou para o relógio. Já eram cinco
horas.
— Ainda há mais algum paciente, Sra. Schultz?
— Apenas mais um e então você poderá descansar. Parece que o rapaz tem um
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Só percebeu como aquela brincadeira era perigosa e insensata quando já estava muito
perto, sentindo o perfume daquele corpo moreno. Viu o brilho provocante nos olhos dele e
uma onda de desejo a dominou, deixando sua pele arrepiada e o coração aos saltos.
Afastou-se rapidamente.
— Parece que está muito bem, Sr. Smith. Não creio que o senhor tenha com que se
preocupar. O seu coração está ótimo!
— Isso nós veremos... — Jason respondeu com um sorriso enigmático, vestindo
finalmente a camisa.
Quando ficou sozinha, Jéssica percebeu a imprudência que estava cometendo. Foi
para o lavabo lavar as mãos e pentear os cabelos. Enquanto se olhava no espelho,
sentia-se dominada por uma estranha emoção.
"Você está louca?", perguntou à sua imagem refletida. "Devo estar, mas ele é tão
atraente!", desculpou-se enquanto penteava os cabelos e passava um pouco de batom
nos lábios.
Vestiu o blaser creme, guardou os objetos pessoais na bolsa e dirigiu-se para a saída
do consultório, apagando as luzes no caminho. Quando chegou à rua, viu o carro
estacionado e sentiu-se trêmula de novo. Começava a escurecer e ela mal podia dis-
tinguir Jason ao volante.
De repente, o rosto dele foi iluminado pela chama do isqueiro. Quando enxergou
aquelas feições viris, atinou que corria um certo risco ao ficar sozinha com ele, em sua
casa. Se tivesse algum juízo, correria no sentido oposto...
Mas não! Ouviria as explicações de Jason e não permitiria que chegasse perto dela.
Gostava muito de sua vidinha tranqüila e estava determinada a defender o pouco de paz
que havia conquistado. Não daria nova chance a Jason Strong apenas para ficar sofrendo
quando ele sumisse.
Ao entrar no carro, falou:
— Espere, Jason, eu mudei de idéia. Não gostaria de ir para casa agora.
— Por quê? Está com medo do que o vizinho possa pensar? — argumentou arqueando
as sobrancelhas.
— É claro que não. Mas me sentiria melhor num lugar público.
Jason freou bruscamente ao ouvir aquele argumento.
— Você quer dizer que se sentiria mais segura, não é isso?
— Não se superestime, Jason. É que não acho prudente, desde que você está tão
envolvido com Dorothy Davis... — afirmou Jéssica, em atitude defensiva, pois a
observação estava muito próxima da verdade, e a incomodava bastante.
Jason lançou-lhe um rápido olhar, manobrando o carro pela rua deserta. Como sempre
acontecia, Jéssica não conseguiu distinguir nada na expressão dele. — Então para onde,
Jess?
Tentou lembrar-se de algum recanto próximo, que fosse aconchegante e onde
pudessem beber alguma coisa e relaxar um pouco. Charles a havia levado, há muito
tempo, a um bar chamado O Salgueiro. Ensinou o trajeto e foram até o local em silêncio.
De tempos em tempos, ela se atrevia a dar uma olhada furtiva para Jason e o via
perdido em pensamentos com uma expressão séria no rosto. Imaginando uma boa
história para lhe contar, desconfiava Jéssica. Mas o que ele ganharia com isso? Afinal,
por que se preocupava tanto com ela?
A proximidade forçada e o silêncio tenso aumentavam seu desconforto. Estava
totalmente distraída quando chegaram ao bar, c acabou saltando do carro antes mesmo
que ele terminasse de estacionar.
Quando entraram no bar, Jéssica sentia-se aflita. Por que ele sempre conseguia
colocá-la na defensiva? Parecia uma garotinha, uma escolar ingênua e não uma mulher
adulta e responsável.
Afinal não fora ele quem a procurara e propusera o encontro? Por que não dizia nada
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então, droga?! Armara todo aquele estratagema para saírem juntos, e agora insistia em
permanecer mudo!
Sentaram-se num canto da sala escura e deserta. Jéssica sentia-se bastante irritada,
cansada, faminta e sem disposição para discutir o passado com um homem que não tinha
nenhum futuro a lhe oferecer. Então, o que fazia lá sentada em frente a ele?
A melhor coisa seria concordar com tudo o que ouvisse e depois pedir que a levasse
para casa.
A garçonete aproximou-se com o cardápio, acendendo o candelabro no centro da
mesa. Jéssica viu que Jason a fixava intensamente, com uma súplica estampada nos
olhos. Estava tenso, como se antecipasse uma batalha de vida ou morte.
— Como eu senti falta de você, Jess!
Essa afirmação, feita quase num sussurro, a deixou de respiração suspensa, os olhos
mergulhados nos dele. Todas as bravas resoluções se desvaneceram num instante e um
imenso amor a invadiu. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, começou a chorar.
— Não chore, Jess! Por favor, não chore. Você é a minha garota forte e querida!
— Eu não estou chorando — negou, dando um pequeno soluço.
Jason limitou-se a sorrir, com os olhos ternos e quase negros de emoção. Tirou um
lenço do bolso da jaqueta, inclinando-se sobre a mesa para limpar-lhe as lágrimas.
— É claro que não está! — disse com carinho. Confusa, Jéssica não sabia o que dizer,
o que pensar.
— Jess, a última coisa que eu queria era magoar você. Deve acreditar em mim. O que
aconteceu entre nós significou muito para mim. Foi errado partir daquele jeito, mas achei
que seria o melhor. Você poderia jurar que teria deixado o país se soubesse que eu
permaneceria lá?
— Não! — respondeu ela num suspiro. — Eu havia planejado que partiríamos juntos ou
eu ficaria com você. E então, quando percebi que você havia me abandonado...
Nesse instante a voz de Jéssica a traiu, impedindo-a de continuar.
— Você partiu... E era justamente isso o que eu queria. A sua segurança — Jason
concluiu com simplicidade.
A garçonete apareceu trazendo as bebidas que haviam pedido. Jéssica sentiu-se grata
por essa interrupção e, enquanto a garota os servia, limpou os olhos e assoou
delicadamente o nariz, tentando pensar com mais clareza.
Queria analisar a expressão de Jason, do outro lado da mesa. Estaria sendo sincero?
Em caso afirmativo, importava-se com ela mais do que podia supor. E pouco ganharia se
estivesse mentindo. Aquilo não fazia sentido! Obviamente, Jason já tivera muitas
mulheres e nenhuma delas devia ter significado muito. Jamais reataria um caso de amor
sem significado.
O enigma continuava. Nunca Jéssica havia conhecido alguém como ele, um homem
determinado, quase sem ética ao perseguir o seu objetivo, totalmente desligado dos
riscos que corria e, por outro lado, tão gentil, ansioso para que compreendessem as
razões de sua atitude.
Jason voltou a cabeça, procurando-lhe os olhos.
— Você acredita em mim, Jess?
O tom da voz denunciava que era importante que ela acreditasse. Jéssica percebeu
que o futuro dependia de sua resposta honesta.
— Sim, Jason, eu acredito!
O olhar dele se tornou mais profundo e uma luz interior pareceu iluminar-lhe as feições
enquanto a contemplava.
Era como se apenas os dois importassem no mundo. Levantou o copo num brinde e,
após um longo trago, perguntou:
— Agora me diga: o que há entre você e Marshall Bennett?
— Por que quer saber, Jason? Será que está com ciúmes? — perguntou Jéssica,
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CAPÍTULO IX
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— Há poucas semanas. Afinal, qual é o problema, Lisa? Jason é uma boa companhia e
um homem muito interessante — Jéssica respondeu, tentando dar um tom frívolo à voz.
— É muito perigoso, minha cara! É um aventureiro, incapaz de se prender a alguém, e
nunca vai se comprometer.
Jéssica sentiu as faces em fogo e respondeu irritada:
— Bem Lisa, será que não posso sair com um homem sem ter planos de me casar com
ele?
Percebia que uma boa parte de seu mau humor era devido ao fato de que a cunhada
estava certa. Jason era, na verdade, perigoso e aventureiro, o que a confundia mais do
que gostava de admitir.
— Claro que pode querida! Mas falo isso apenas porque não quero que você sofra —
disse Lisa num tom mais doce, antes de mudar de assunto. — E o que me diz de Marshall
Bennett?
Jéssica suspirou. Sentia-se muito culpada em relação a Marshall e não precisava que
Lisa lhe recordasse isso. Não haviam se encontrado desde a noite do baile na embaixada,
há mais de um mês. Se Lisa sabia que ela estava se encontrando com Jason, Marshall
também deveria estar a par.
— Nunca houve nada entre nós dois — Jéssica refutou com voz fraca.
— Bem, querida, sei que esse assunto só interessa a você e não gosto de interferir na
sua vida.
Jéssica sorriu com ironia frente àquela afirmação duvidosa, enquanto Lisa continuava
de forma inexorável!
Mas, você está com vinte e oito anos e é tempo de começar a pensar em casar-se e
constituir uma família. Marshall seria o marido ideal e odeio vê-la perdendo tempo com
um homem como Jason Strong, que...
Para seu alívio, a campainha soou e Jéssica sentiu-se salva daquele incômodo
interrogatório.
— Desculpe-me, Lisa, mas estão batendo na porta. Chamo você mais tarde. Um beijo.
— Colocou o fone no gancho, correndo para ver quem chegava.
— Havia chovido o dia todo e naquele momento descia uma garoa fina e gelada. A
temperatura estava muito baixa, caindo ainda mais com a aproximação da noite. Jason
tremia de frio na varanda, sob o pesado sobretudo cinza. Seus cabelos brilhavam
molhados pelas gotas da chuva gelada.
Como acontecia sempre que o via, Jéssica sentiu um arrepio da cabeça aos pés. Jason
trazia um embrulho em papel marrom embaixo do braço. Aproximou-se, beijando-lhe
ligeiramente os lábios.
— Olá, Jess. Trouxe um vinho para nós.
— Entre, Jason. Está muito gelado para ficar parado aí. Desculpe-me por tê-lo deixado
esperando, mas falava com Lisa. Ela me pregou um sermão terrível — disse, ajudando-o
a tirar o casaco.
Jason olhou-a de relance por sobre o ombro.
— É? Por quê?
— Por sua culpa! — respondeu sem pensar, arrependendo-se logo depois. Enquanto
pendurava o sobretudo, as implicações daquele comentário intempestivo começaram a
assustá-la. Não queria de maneira alguma que Jason se sentisse pressionado. Gostaria
que desistisse da vida perigosa que levava, para que pudessem pensar no futuro, mas
essa decisão teria que partir dele, espontaneamente, sem nenhum tipo de pressão.
Ao entrar na sala, fingiu uma calma que não sentia naquele momento.
— Ia acender o fogo quando você chegou. Não quer fazer isso enquanto termino de
preparar o jantar para nós? — pediu, notando a expressão séria no rosto de Jason.
— Está bem — concordou ele, aproximando-se da lareira. Enquanto terminava a
refeição, Jéssica não se perdoava pelo comentário impulsivo que fizera. Que ele não
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havia gostado, era mais do que óbvio. Mas talvez as coisas pudessem ser arranjadas,
pensava enquanto colocava as taças e a garrafa de vinho sobre a bandeja, levando-as
para a sala. Teria de ser mais cuidadosa.
Encontrou Jason parado, pensando, com o braço apoiado no rebordo da lareira,
olhando fixamente o fogo. Mais uma vez, sentiu uma onda de ternura invadi-la. Ele era
essencial em sua vida. Estava tão belo e atraente! Vestia uma elegante calça preta e um
grosso suéter creme, de lã. O cabelo, sempre em desalinho e comprido na nuca, aparecia
sobre a gola da malha. Teve ímpetos de atirar-se em seus braços, acariciar-lhe o
pescoço, enfiar as mãos pelos cachos macios e encaracolados, apertar o corpo contra o
dele e fazer todo o tipo de loucuras que aquele amor lhes permitisse inventar.
Jason voltou a cabeça e seus olhares se encontraram. Foi como se uma onda de
eletricidade tomasse conta de ambos. Ele ergueu a mão, correndo-a pela nuca num gesto
de impaciência, e falou em voz baixa e controlada:
— Jess? Será que o jantar pode esperar um pouco?
— É claro que sim. Vamos beber um pouco de vinho antes? — perguntou ela,
enquanto colocava a bandeja sobre uma pequena mesa.
Em silêncio, Jason serviu o vinho, entregando-lhe a taça. A sua, ele encheu duas vezes
antes de falar.
— Preciso conversar com você.
Jéssica ficou tensa, sentindo-se tomada de enorme pavor. Jason ia abandoná-la
novamente, ela sabia. Certamente já aceitara fazer á cobertura das lutas internas em
algum outro país, Nicarágua, por exemplo. Não havia repórter mais indicado para cobrir
os eventos.
Jason aproximou-se, sentando-se a seu lado, o olhar perdido no vazio. Apoiou os
cotovelos sobre as pernas. Brincou distraidamente com a taça de vinho entre as mãos.
— Estive pensando muito a nosso respeito nesses últimos tempos, Jess.
— E chegou a alguma conclusão? — perguntou ela, sem saber ao certo se queria ou
não saber a resposta. Segurava firme a taça, para impedir que as mãos tremessem.
— Não havia chegado a nenhuma conclusão, até esta noite. — Jason a fitou, com olhar
enigmático. — Mas quando soube que Lisa a estava prevenindo contra mim, as coisas
ficaram claras.
— Jason, eu não quis...
— Sei disso — interrompeu-a. — Mas sou obrigado a admitir que ela tem razão. Isso
me fez compreender como sou idiota e egoísta, e o quanto tenho exigido e esperado de
você.
— Jason... não estou compreendendo...
— Sei que não. — E fez uma ligeira pausa antes de explicar. — Vários jornais querem
que eu faça as reportagens sobre os eventos na Nicarágua.
Então era isso! Confirmava o que ela mais temia. Os pensamentos mais
desencontrados lhe subiram à cabeça. Tentou controlar a súbita onda de desespero que a
invadia. Aquela afirmação significava o fim de tudo, de todos os sonhos! Não queria viver
daquela maneira, sempre amedrontada com o que pudesse acontecer a ele. Embora
sofresse muito, preferia ficar sozinha a uma contínua ansiedade. Seria melhor que
terminassem naquele instante. Num esforço enorme, engolindo em seco, Jéssica tentou
dar um tom calmo à voz.
— E quando você pensa em partir?
Jason correu as mãos distraidamente entre os cabelos. Aquele gesto tão peculiar, por
algum motivo, a feriu mais do que qualquer palavra. Não conseguia imaginar como viveria
sem aquele homem. Ele a encarou antes de continuar:
— Eu não irei. Não vou aceitar nenhuma proposta. Com cuidado, Jéssica colocou a
taça na bandeja, as mãos trêmulas.
— Não vai aceitar nenhuma proposta? — repetiu automaticamente, como se duvidasse
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do que ouvira.
Jason aproximou-se prendendo-a nos braços e acariciando-lhe as costas num carinho
possessivo, e ela encostou a cabeça naquele peito forte e protetor, deixando-se levar pela
emoção.
— Eu amo você, Jess. Nunca pensei que isso aconteceria comigo, mas de repente
percebi que nada no mundo valerá a pena, se com isso correr o risco de perder você.
— Oh, Jason. Eu te amo tanto.
Ele segurou-lhe o queixo, fazendo-a erguer o rosto. Fitou-lhe profundamente os olhos,
brilhantes de emoção.
— Jess, case-se comigo. Não sei se serei um bom marido, nunca pude me imaginar
nesse papel. Ficar parado num lugar, ter esposa e filhos é uma incógnita mais perigosa
que qualquer guerra. Mas você pode me ensinar. Diga que se casa comigo.
Embriagada por uma felicidade imensa, ela apenas conseguiu dizer, num fio de voz:
— A qualquer momento e em qualquer lugar, Jason. Ele a enlaçou, apertando-a contra
si.
— Você sabe o que eu gostaria de fazer agora, não sabe? — perguntou com um
sorriso ambíguo, entre comovido e malicioso, e Jéssica apertou-se mais contra ele, antes
de murmurar:
— Sim, Jason, eu sei. E também quero.
Beijaram-se com ternura e amor, as mãos dele percorrendo-Ihe o corpo em carícias
loucas.
— Querida, vamos esquecer o que aconteceu em San Cristobal e começar tudo de
novo — pediu ele.
Jéssica teve ímpetos de gritar que não queria esquecer San Cristobal, pois tinha se
apaixonado por ele lá, mas parou antes de começar. Jason já lhe tomava os lábios com
paixão, exigindo seu amor.
As semanas que se seguiram foram de inteira felicidade. Jason deixou todas as
decisões sobre a cerimônia de casamento com ela, apenas pedindo que fosse o mais
rápido possível.
A notícia atingira a pequena família de Jéssica como uma bomba! Lisa havia ficado
estarrecida, mas recebera Jason de braços abertos. Mesmo o fleumático Charles
parecera deliciado com a idéia e não conseguira evitar o olhar de surpresa e admiração
ao receber a boa nova. Comentou apenas que jamais imaginara que pudesse existir a
mulher que levaria Jason Strong ao altar.
Ilido parecia correr bem, mas, em diversos momentos, Jéssica surpreendia uma
expressão meio distante e ausente no olhar de Jason. Temia que ele estivesse
arrependido da decisão que tomara, mas não teve coragem de perguntar. Além disso,
sempre que ele se percebia sendo observado, sorria, tomava-a nos braços, fazia carinhos
e Jéssica acabava esquecendo as dúvidas. E isso era tudo o que importava.
Alguns dias após aparecer nos jornais a notícia do noivado, Jéssica recebeu um
telefonema de Marshall. Sua voz soava rude ao telefone.
— Achei que seria conveniente dar-lhe os parabéns.
— Muito obrigada, Marshall. — Jéssica agradeceu com certo desconforto.
— Foi um tanto repentino, não? Vocês se conheceram apenas há um mês.
— Talvez tenha sido mesmo. Afinal Jason é um homem muito persuasivo.
Um silêncio mortal caiu do outro lado da linha, fazendo-a perceber a inconveniência
daquelas palavras.
— Oh, Marshall. Desculpe-me...
— Esqueça, Jéssica. Afinal, você nunca fez nenhuma promessa ou me deu qualquer
esperança. Sei que sou um perdedor. Conheço Jason Strong há muito tempo e gosto
dele, assim como respeito o trabalho que faz, sua habilidade e coragem. Mas você sabe
que não será fácil entendê-lo. Acha que será capaz de tolerar as longas ausências
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mãos em volta do pescoço, sentindo-se sufocada. Aquela opção era um preço muito alto
para ele. Jason continuou:
— Prometi a você que não iria, e juro que cumprirei a promessa. — Jason aproximou-
se dela, abaixando-se ao lado de sua cadeira.
— Perdoe-me, Jess. Perdoe-me. Eu não queria deixá-la preocupada com essa história.
— E abraçou-a com ternura.
Num gesto de desalento, ela ergueu a mão fazendo um carinho naqueles cabelos
pretos. Sentia tanta tristeza que não conseguiu evitar o pranto. Forçá-lo a levar uma vida
doméstica era como colocar um pássaro numa gaiola, e ela o amava demais para isso.
Lembrava-se que fora atraída pelo seu ímpeto aventureiro, sua liberdade.
O que deveria fazer? Casar-se e morar em Taunton, esperando sua volta, sempre com
medo, sem nunca saber se estava vivo ou morto? Ou desistir, deixá-lo fazer seu trabalho,
libertando-o daquela promessa.
Permaneceram por muito tempo sentados, juntos, abraçados, na mesma posição,
respirando no mesmo ritmo. Finalmente, Jéssica viu a resposta com clareza. Jason... —
sussurrou:
— Eu te amo, Jess.
Ela sorriu com tristeza.
— Eu sei. E também te amo. E é por isso que não podemos mais continuar, Jason.
Percebe isso? Parar com seu trabalho o destruiria. Você acabaria me odiando. Não posso
fazer isso com você. É pedir demais.
Jason ia dizer qualquer coisa, protestar, mas interrompeu-se. Levantou-se, dando-lhe
as costas. Somente Jéssica sabia o quanto desejava correr para ele, cair em seus braços,
aceitar qualquer coisa. Mas não poderia fazer aquilo. Seria violentar-se demais. Então
pôs-se em pé.
— Estou indo embora, Jason.
Ele se voltou para ela, com o rosto exprimindo intensa dor.
— Eu realmente te amo. Você sabe disso... Não vou esquecê-la nunca.
Com um adeus, Jéssica saiu depressa da sala.
CAPÍTULO X
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Lembrou de como Jason era cheio de vida, contagiante. A despeito dos perigos que
corria, e talvez até por causa deles, possuía uma aura, um mistério, que não existia nas
outras pessoas com suas vidinhas seguras, normais. Jason possuía um prazer e uma
alegria quase animais, pelo simples fato de estar vivo, fazendo um trabalho importante,
significativo e que adorava.
Saudosa, Jéssica olhou com tristeza a neve que caía e cruzou os braços
estremecendo, enquanto as imagens de San Cristobal dominavam sua mente. Recordou-
se das pessoas, da praça, até mesmo dos soldados, tão jovens, lutando por algo que nem
sabiam o que fosse. Após o último paciente a Sra. Schultz abriu a porta, despedindo-se.
Quando a enfermeira se retirou, Jéssica recolheu suas coisas. Viera a pé para o
consultório naquele dia. Com a neve acumulada nas ruas, era mais rápido e seguro ca-
minhar, apesar do frio intenso.
Percorreu todas as salas do consultório, examinando-as para certificar-se de que se
encontravam em ordem. Era uma atitude desnecessária, por ser tarefa da enfermeira,
mulher extremamente organizada. Cada objeto achava-se em seu devido lugar e os ins-
trumentos cirúrgicos absolutamente limpos e esterilizados.
Bem diferente de San Cristobal, pensou Jéssica. Lá, tudo tinha que ser feito com suas
próprias mãos, e a aparelhagem era bastante precária. Ficava feliz quando o pessoal da
embaixada mandava alguns estoques de seringas descartáveis.
Jéssica sentia-se muito deprimida. Tentando levantar o ânimo, voltou até a sala onde
deixara a bolsa e as botas para neve. Quem diria, pensava, que algum dia pudesse
lembrar-se de San Cristobal com tanto carinho. Engraçado como havia esquecido com
facilidade os sons da batalha, os temores, os constantes tiroteios.
Será que esse súbito acesso de nostalgia era devido ao fato de que fora lá que
conhecera e se apaixonara por Jason? Não, foi obrigada a reconhecer, pois havia sido
feliz ali antes dele. Sentiu novamente os olhos molhados de lágrimas. Quase com raiva,
enxugou-os. Tinha que parar com aquilo, admoestou-se decidida. Tudo o que fazia nos
últimos tempos era chorar. Será que essa dor não passaria nunca?
Vestiu a pesada capa e estava abrindo a porta da frente, quando ouviu o telefone.
Hesitou em atender. Apesar de saber que até sábado de manhã era a médica de plantão,
o que mais queria era chegar em casa, e sentar-se em frente à lareira para ler os jornais.
Há dois dias os artigos de Jason não apareciam nos jornais, e ela estava ansiosa por
verificar se haviam publicado alguma coisa.
O telefone continuou tocando. Jéssica voltou para atender. Caminhou até a mesa da
Sra. Schultz, tirando o fone do gancho.
— É do consultório do Dr. Weatherby.
— Posso falar com a Dra. Carpenter, por favor? — A voz do outro lado da linha era de
uma mulher e soava firme e prática.
— É a Dra. Carpenter — Jéssica respondeu, esperando que não fosse uma
emergência.
— Dra. Carpenter, aqui é Anna Pruett. Lembra-se de mim? Jéssica reconheceu o nome
da diretora da agência que a contratara para o trabalho em San Cristobal.
— Claro, Sra. Pruett — respondeu secamente.
— Desculpe-me por incomodá-la, mas estou desesperada. Marshall Bennett me disse
que lhe contou o nosso problema e que conversaram sobre a possibilidade de sua volta a
San Cristobal.
— Sim, é verdade. E eu lhe disse que não seria possível. Estou me estabelecendo em
Taunton, com um consultório, e não quero sair daqui. A hipótese está fora de questão,
desculpe-me.
— Essa foi a resposta que ele me deu, mas tinha esperança de que você
reconsiderasse. — A Sra. Pruett deu um suspiro de decepção do outro lado da linha,
antes de continuar: — Não posso dizer que a culpo por querer estabelecer-se por aí, mas,
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como lhe disse, estou desesperada e decidi tentar mais uma vez.
— Isso significa que a senhora está tendo dificuldades em encontrar um substituto para
o meu lugar?
— Dificuldade é uma palavra leve. Parece ser uma coisa impossível. Ninguém quer ir
para lá.
— Bem, Sra. Pruett. Fico muito triste com isso, mas, como disse antes, está fora de
cogitação para mim.
— Eu compreendo, Dra. Carpenter, também estou triste, mas posso entender seu
ponto de vista.
— Então, boa sorte em suas buscas, Sra. Pruett. Espero que logo encontre algum
interessado — Jéssica retrucou com poli-dez, tentando ocultar os sentimentos
desencontrados que a dominavam.
Recolocando o fone no gancho, percebeu que estava com as mãos trêmulas e as
pernas bambas. Sentou-se. Era um absurdo ficar tão abalada por causa de um
telefonema. Então eles precisavam desesperadamente de um médico? Por que
procuravam justo por ela? Já havia ficado muito tempo por lá. Por que não a deixavam em
paz?
Assim que chegou em casa Jéssica acendeu a lareira e tirou as roupas úmidas. Havia
nevado durante o trajeto e tudo estava gelado. As chamas a ajudavam a aquecer o corpo,
enquanto procurava por alguma notícia de Jason. Mas não havia nada. Apenas uma
pequena nota afirmando que a guerrilha continuava e o fogo era cerrado. Olhou fixamente
o fogo que crepitava na lareira, tomando um gole de vinho e mastigando, com ar ausente,
algumas torradas. Não fazia uma refeição decente desde que Jason partira. Seu
estômago se rebelava contra qualquer alimento mais substancial que tentasse engolir.
A preocupação estava atingindo limites insuportáveis. Alguma coisa devia ter
acontecido com Jason para que tivesse parado de escrever. Essa certeza fazia com que a
depressão aumentasse a cada minuto e a ansiedade ficasse fora de controle, enquanto
tentava afastar as imagens que teimavam em invadir sua imaginação. Via Jason ferido e
sangrando em alguma montanha perdida e distante, totalmente só, sem ninguém para
ajudá-lo.
— O que devo fazer? — Jéssica perguntou em voz alta como se falasse com alguém.
E apenas ouviu o silêncio como resposta. Cobriu o rosto com as mãos, tomada de
intenso pânico, e soluçou, desesperada.
Aos poucos foi ficando mais calma. Tinha que fazer alguma coisa. Não suportava mais
aquela impotência, à espera de notícias. Mas o que poderia fazer?
Ligaria para Marshall, decidiu finalmente. Ele sabia sempre tudo o que ocorria no
mundo, pois possuía muitos contatos. Poderia dar-lhe alguma pista sobre o paradeiro de
Jason. Com as esperanças renovadas, pegou o telefone.
— Marshall? É Jéssica.
— Jéssica! O que há? Há algo errado? Eu estava saindo e quase não atendi o
telefone...
— Você tem alguma notícia de Jason? — ela perguntou, interrompendo-o com
ansiedade. — Há dias que não aparece nenhum artigo dele nos jornais. Alguma coisa lhe
aconteceu?
Marshall manteve-se em silêncio por longo tempo e ela chegou a pensar que a ligação
tivesse sido interrompida.
— Marshall? Você ainda está ai?
— Sim... Ainda estou na linha. Escute, Jéssica. Eu não posso lhe dizer nada sobre
isso.
— Por que não sabe de nada, ou por que deve manter o sigilo?
— Não é tão simples assim. Apenas ouvi alguns boatos, como sempre, mas nada de
oficial, nem definitivo — continuou cauteloso.
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— Que boatos foram esses, Marshall? Por favor, eu tenho que saber! — Jéssica estava
quase gritando. Mais uma vez sentia o pânico crescendo.
— Tudo o que sei é que, por alguma razão que não conhecemos, ele está
incomunicável. Pode ser por qualquer motivo. A situação na América Central é caótica.
Ferve como uma caldeira. Os sistemas de comunicação estão precários.
— Sei disso tudo. Mas continue, Marshall. Quais são os rumores?
— Tenha calma, Jéssica. Vou falar. Ouvi dizer que ele permaneceu com as forças
guerrilheiras até que... Bem...
A voz de Marshall falhou, e Jéssica percebeu onde ele queria chegar. Até que Jason foi
morto, ela terminou em silêncio, o coração oprimido no peito.
— Oh! Por que você não me diz qual é a sua opinião sincera? Sem mais preâmbulos,
por favor — implorou.
Ele hesitou.
— Está certo, Jéssica. Vou lhe contar tudo. O boato mais persistente, e o que estou
inclinado a aceitar, conhecendo os riscos que o trabalho de Jason implica e a situação na
Nicarágua, é que ele provavelmente foi morto. Posso estar errado, você compreende. Fez
uma pesada pausa antes de continuar: —Ainda não houve nenhum pronunciamento
oficial. Mas o fato é que, se eles o tivessem preso como refém, nós já teríamos alguma
notícia. E se ele estivesse doente ou ferido, teria sido mandado de volta para cuidados
médicos.
Um longo silêncio reinou após aquelas palavras. Jéssica sentia-se paralisada.
Finalmente, conseguiu falar com voz mais calma.
— Entendo... Obrigada, Marshall. Se ouvir qualquer coisa mais definitiva, pode fazer o
favor de me comunicar?
— Naturalmente, Jéssica... Escute. Eu sinto muito... Mas você tem que concordar que
Jason sabia muito bem os riscos que corria, certo?... Você está bem, Jéssica?
— Sim, não se preocupe, eu estou bem.
Desligaram então, e Jéssica caminhou quase desfalecida até a lareira. Deixou-se cair
sobre o sofá, olhando fixamente as chamas até o fogo apagar, horas depois. Mal se
movendo, passou a noite sentada no sofá.
As primeiras luzes da manhã a surpreenderam ainda acordada. Sentia um cansaço
enorme, mais do que em qualquer outro momento de sua vida, como se toda a sua
energia tivesse se exaurido. E, com ela, toda a vontade e toda esperança.
Todo o seu corpo doía. Conseguiu levantar-se, caminhou até a janela e espiou a rua
encoberta pela neve. Não havia nenhum sinal de vida ali. Nem carros, nem gente. Apenas
solidão e desalento.
Eu sei que ele está morto! — repetiu em voz sufocada.
Não encontrou nenhuma notícia nos jornais da segunda e terças-feiras seguintes. Não
adiantava folheá-los. Continuou com a rotina normal em ambos os dias, fazendo as
rondas habituais pela manhã e recebendo os clientes no consultório à tarde. O rigoroso
dia-a-dia ajudava-a a não pensar. No resto do tempo, dormia para não sentir nada.
Parará de nevar no fim de semana, mas desde domingo caía uma garoa constante e
deprimente, aumentando-lhe a melancolia.
Na terça à noite, Jéssica resolveu telefonar para Marshall de novo.
— Não foi feito nenhum comunicado oficial — ele respondeu com cautela. — Mas há
muitos boatos ainda.
— Quais são eles?
— Bem, dizem em determinados círculos diplomáticos que há a possibilidade de
alguma intervenção do governo.
— O que isso significa? — indagou Jéssica.
— Quase nada, exceto que estamos insistindo em obter a evidência concreta sobre o
paradeiro de Jason.
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Duas semanas mais tarde, Jéssica estava de volta a San Cristobal. Um jovem adido da
embaixada foi ao seu encontro no aeroporto, levando-a pelas tortuosas estradas nas
montanhas. O jipe que dirigia devia ser o mesmo que Marshall usara.
Uma trégua prolongada se desenrolava nas linhas de batalha, e todos estavam com
esperanças de que fosse definitiva. Mas nunca se podia ter certeza, afirmou o rapaz.
Os comentários sobre sua volta ao vilarejo haviam se espalhado e, quando o jipe parou
em frente à casa, muitas pessoas se aproximaram rindo e dando-lhe as boas-vindas.
Jéssica sentiu o coração aquecido ante as demonstrações de carinho e afeto. Indicavam
o quanto sua decisão fora correta.
— Já esteve por aqui antes, não?
— Vejo todos contentes com sua volta. Observou o adido, enquanto a ajudava a
carregar sua bagagem.
Jéssica apenas confirmou com um gesto de cabeça.
— Você é uma mulher muito corajosa! E parece ser muito querida também.
— É verdade. Eu acho que sim.
Quando ele se foi, ela tirou seus pertences das malas e desceu para arrumar a
enfermaria. Trabalhava como se nunca tivesse partido e os meses passados na Virgínia
fossem um sonho.
Nas vésperas da partida, hesitava ainda, quando, ao abrir o jornal vira um artigo de
Jason. Ele estava vivo! As entrevistas com os líderes guerrilheiros haviam sido um
instrumento importante para criar um clima amigável nas negociações. Jéssica perguntou-
se na época se não estaria cometendo uma loucura ao desistir da clínica e voltar para um
lugar que oferecia tanto perigo. Jason estava salvo. Havia mais alguma razão para que
ela fosse para San Cristobal?
Havia sim, um motivo muito importante. Toda a população contava apenas com ela.
Taunton era um lugar bem provido de médicos, com um bom atendimento. Mas em San
Cristobal ela era tudo o que eles possuíam. E, além disso, a vida pacata e segura que
levava ficou extremamente tediosa, após o rompimento com Jason. Ele havia marcado
seus dias mais do que pensava.
Na mesma tarde de sua chegada Jéssica ficou observando a praça tão familiar e
ouvindo os gritos dos macacos nas bananeiras. Logo cairia a noite. Uma paz deliciosa
tomava conta dela. Sorria, lembrando-se da última conversa com Charles e Lisa antes de
partir, quando a levaram para o aeroporto naquela mesma manhã.
— Jason está perfeitamente bem querida! Não há necessidade de partir agora —
dissera Lisa, que antes havia recebido a notícia de sua volta a San Cristobal com
bastante tranqüilidade. Sua imaginação romântica fervilhara ao pensar que a cunhada
estava indo ao encontro do homem que amava, apesar de todos os riscos.
Não conseguia compreender, porém, por que ela partia sabendo que Jason estava vivo
e são, fazendo o seu trabalho. Por que não o esperava em casa, tranqüila?
Jéssica tentou explicar seu ponto de vista, enquanto esperavam pelo embarque no
aeroporto.
— Quero partir, Lisa. Eu pertenço àquele lugar. — Charles, diga que me compreende!
— E lançou um olhar suplicante ao irmão.
Charles encarou-a. Soltou então uma baforada do cachimbo, meneando a cabeça.
— Na verdade, não a entendo, Jessie. Mas sei que todos nós devemos seguir o que o
coração mandar. Se você deseja realmente ir, deve ir — terminou abraçando-a e dando-
lhe um beijo no rosto.
Havia muito trabalho esperando por Jéssica. Bastava olhar ao redor, contemplar as
altas montanhas que circundavam a vila, isolando-as das grandes cidades.
Naquela mesma noite, um pouco antes de deitar-se, Jéssica caminhou até a porta do
quarto em que Jason havia ficado. Enquanto observava a cama vazia, mil recordações
afluíram-lhe à mente. Via Jason deitado, ferido e com febre, usando as roupas sujas e
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manchadas de sangue; lembrava-se da noite em que havia acordado com os gritos dele,
quando se amaram pela primeira vez, e todas as outras noites em que estiveram juntos.
Será que ele voltaria? Entenderia como ela se modificara com a separação?
Seria capaz de perceber que o conflito entre eles estava terminado, resolvido? Queria
tanto acreditar que sim...
CAPÍTULO XI
Projeto Revisoras 66
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Enquanto preparava o café podia ouvi-lo movimentando-se pelo quarto. Foi dominada
por uma grande emoção e expectativa. Não tinha idéia se ele ficaria ou não, e nem
mesmo o que sentia, mas a única coisa que importava era que ele estava ali.
Depois do banho, Jason apareceu na cozinha na hora em que Jéssica colocava o café
na mesa. Estava barbeado e com o cabelo ainda úmido. Usava um dos velhos jeans do
armário, estava sem camisa, mostrando o peito nu e bronzeado. Como nas outras vezes
ela sentiu um aperto na garganta e um arrepio de excitação ao vê-lo assim.
— Chegou bem na hora! — exclamou.
Percebia o perfume do sabonete que usara e podia ver as gotas de água que
escorriam-lhe dos cabelos pelos ombros. Teve vontade de correr os dedos por aquelas
gotas, tão indiscretas, e seguir seu trajeto pelo corpo dele. Soltou um suspiro de puro
desejo. Serviu-se de um pouco de café também, sentando-se no canto oposto da mesa,
incapaz de desviai os olhos de sua figura tão querida.
Jason comeu em silêncio por um tempo. Então baixou o garfo, erguendo os olhos para
ela.
— Então, Jess. Por que você voltou?
Jéssica escolheu cuidadosamente as palavras para responder:
— Eu voltei porque queria.
— Isso não é resposta, Jess. Por que você quis voltar? — E seu olhar foi tão
penetrante que a deixou intimidada.
Jason estava muito frio e ela começava a pensar que ele não entenderia seus motivos.
Mas, mesmo sendo assim, tinha que tentar.
— A princípio, talvez, por mero instinto de sobrevivência. Não sabia sequer se você
estava vivo, mas acreditava que, se estivesse por aqui, mais perto de você, pudesse fazer
algo para ajudá-lo. Sei que é bobagem. Não ria, por favor — concluiu ao ver a
incredulidade estampada no rosto dele.
— Não estou rindo, Jess. Continue.
Apoiando os cotovelos sobre a mesa e tomando um gole de café, ela prosseguiu:
— Então, aos poucos, isso foi me parecendo a melhor coisa a fazer, simplesmente
porque eu desejava estar aqui. Esse era o motivo principal, Jason.
— E o que você me diz daquela vidinha tranqüila com que tanto sonhara? Você queria
muito se fixar. Foi por isso que me mandou embora e não quis se casar comigo, lembra?
Jason parecia muito zangado e Jéssica estremeceu. Ele tinha razão de estar furioso!
Talvez fosse tarde demais para recomeçarem. E se ele não quisesse mais?
— É claro que me lembro, Jason! Eu disse que seria incapaz de levar uma vida de
preocupações constantes por sua segurança. Pensei que seria melhor, mais fácil e
seguro para mim se você saísse da minha vida... Mas eu estava errada.
— Você tem certeza disso? — Um lampejo de esperança apareceu no fundo do olhar
dele.
— Absoluta! A minha vida não tem sentido sem você, Jason — respondeu, perdendo
qualquer vestígio de orgulho.
Levantando-se, correu para o lado dele abaixando-se ao lado da cadeira.
— Jéssica, Jéssica — murmurou ele com doçura. Abraçou-a,beijando-lhe os cabelos e
os olhos cheios de lágrimas.
— Oh, Jason, eu pensei que você tivesse morrido... — gemeu. Jason segurou-lhe o
rosto entre as mãos, enxugando as lágrimas com as pontas dos dedos.
— O que você faria então, Jess? Voltaria para aquela vida normal e segura?
— Não! Sem você a vida não tem graça, a segurança não significa nada. Eu havia
decidido vir, não importava o que lhe tivesse acontecido.
— E o que me diz das preocupações com o futuro?
— Pode não haver amanhã... Hoje é o que conta. E hoje você está aqui, comigo.
— Eu te amo, Jess. Quero me casar com você, mas não posso desistir da minha
Projeto Revisoras 67
Meu Amor Rebelde Rosemay Hammond
profissão.
— Eu sei, querido. E nem eu tampouco. O meu trabalho é aqui. O seu, é onde as
coisas estiverem acontecendo. E eu descobri que o amo, não a despeito do que você é,
mas pelo que você é.
Jason envolveu-a num abraço cheio de emoção, encostando o rosto contra o dela.
— Eu te amo tanto, Jess. Diga que também me quer! — pediu.
— Oh, sim, Jason! Você é tudo o que eu quero. Senti tanto a sua falta!
Queria viver apenas aquele momento, sem pensar em mais nada. Apoiou-se nele com
um suspiro de felicidade.
A boca macia e úmida de Jason tocou a sua num beijo suave e sensual.
Aos poucos, o desejo foi crescendo, tornando-se mais imperioso e começaram a se
acariciar com paixão, quase com fúria, num abraço frenético.
Sem trocar uma palavra, num mudo acordo, levantaram-se indo para o quarto que
Jason havia ocupado antes, onde se atiraram nos braços um do outro. Jéssica queria
apenas entregar-se totalmente aos carinhos dele, que explorava seu corpo de forma
possessiva, apaixonada, deslizando as mãos pelos ombros, pelos seios, pela cintura.
Levantando-lhe a saia, Jason deslizou as mãos pelas nádegas redondas e sensuais e
pelos quadris, até tocar-lhe delicadamente o sexo, escondido sob a calcinha de renda
branca. Louca de paixão, Jéssica soltou um gemido, quando ele a acariciou com
intimidade e ternura. Apertou-se de encontro a ele, dando-lhe um beijo ardente. Jason
ergueu-a nos braços, deitando-a na cama. — Oh, Jess, você me enlouquece! Não se
passou um dia em que não pensasse em você, querendo tê-la comigo! — sussurrou-lhe
ao ouvido, com a voz rouca de paixão. Desabotoou e tirou-lhe a blusa, jogando-a num
canto. Livrou-a do sutiã, e beijou-lhe os bicos dos seios com avidez.
— Você é tão linda, como eu bem me lembrava.
Jéssica abriu os braços para ele, num convite mudo.
Arrancando às pressas as últimas peças de roupa, entregaram-se a carícias
enlouquecedoras, entre gemidos de prazer e paixão. Jason ergueu-a sobre seu corpo e a
foi penetrando com delicadeza, num movimento ritmado. Os dois foram então tomados
pelo mesmo fogo, envolvidos numa dança delirante e sensual, até atingirem juntos o
êxtase, envoltos em ondas de prazer.
Mas o desejo que sentiam parecia interminável. Era como se estivessem famintos um
do outro. Pouco depois a paixão tornou a apossar-se deles, querendo ser saciada
novamente. E, mais uma vez, gozaram juntos a mais perfeita expressão daquele amor.
Algum tempo depois Jéssica, deitada ao lado de Jason, observava-lhe o sono. Teria
que levantar-se logo, vestir-se para atender o primeiro paciente daquela manhã.
Ouvindo a respiração ritmada e profunda de seu amado, olhou com doçura para o
corpo esguio e forte, completamente nu sobre a cama.
Uma onda de ternura a envolveu. Não podia prever por quanto tempo Jason ficaria e
nem que tipo de futuro poderiam ter juntos, mas isso não tinha importância. O que
importava era que ele estava ali.
Certamente se casariam, como haviam planejado antes, pensava ela em devaneio.
Talvez até mesmo tivessem filhos... Sorriu: gostava da idéia. O trabalho muitas vezes o
levaria para longe e ela ficaria só, temendo pelo que pudesse acontecer a ele. Mas um
amor forte e belo como aquele sobreviveria, não importava o preço!
Uma história inesquecível de amor!
Projeto Revisoras 68