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ÁLVARO BARBACENA

Um paranóico, um teórico da conspiração, um completo doido varrido que perdeu a


sanidade em sua busca pela verdade. Não se sabe o nome verdadeiro de Álvaro Barbacena,
embora as razões de seu novo nome sejam conhecidas.

Repórter investigativo, ele conseguiu construir uma carreira se especializando em


grandes conspirações que envolviam políticos, empresários e o crime organizado. Sua queda
veio quando ele encontrou evidências de um esquema de tráfico de corpos para
universidades envolvidas com experimentos macabros. A origem dos corpos vendidos eram
os hospitais psiquiátricos da cidade mineira de Barbacena.

Barbacena sempre foi conhecida pelo grande número de manicômios de sua região,
uma aposta em como o clima frio deixaria os doentes mentais menos ativos, o que ajudaria
no tratamento. Claro, que os hospícios também cometiam toda sorte de crimes em seus
tratamentos que beiravam o campo da tortura. Tratamento de eletrochoque, câmaras de
água gelada e até o uso da desumana técnica psico cirúrgica conhecida como lobotomia. O
Hospital Colônia de Barbacena, maior deles era praticamente uma penitenciária, um campo
de concentração dos doentes mentais, e dos desajustados e dos apenas diferentes que a
sociedade queria varrer para longe de suas vistas.

A investigação do repórter não demorou para colher provas de que pacientes


poderiam estar sendo assassinados em acidentes forjados para dar vazão ao excesso de
internos e lucrar com a venda dos cadáveres. A direção do Hospital Colônia de Barbacena, a
administração do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, a Universidade de Medicina de
Minas Gerais e até a prefeitura da cidade estariam envolvidas nesse grande esquema.

O repórter estava prestes a denunciar o caso quando sofreu um ataque organizado de


todos os lados. Veio à tona um suposto exame afirmando uma diagnóstico com
esquizofrenia paranóide. Devido a suas reações violentas diante das tentativas de ajudá-lo, o
repórter foi internado rapidamente e agora ele também era um paciente do Hospital Colônia
de Barbacena.

Apesar de ser aprisionado, o repórter foi capaz de resistir aos medicamentos e


tratamentos, e mesmo confinado, continuou sua investigação dentro da instituição. Ele
poderia ter sido quebrado por toda tortura que sofreu, mas graças a outro interno, ele
conseguiu seguir em frente. Este amigo era chamado Álvaro.

Álvaro trouxe mais que dicas de como sobreviver no Hospital Colônia, ele parecia
saber muito sobre a conspiração, conhecendo detalhes que o repórter demorou anos para
descobrir. Álvaro havia sido psiquiatra na instituição e sofreu o mesmo destino do repórter.
Ele revelava que havia mais envolvido em toda aquela trama, que haviam forças ocultas
terríveis por trás do tráfico de cadáveres. Álvaro também dizia que mesmo que os
conspiradores estivessem sendo úteis a alguma coisa antiga e assustadora, eles também
estavam violando o território de outra coisa ainda mais antiga e assustadora, algo que Álvaro
chamava de Monalisa.

Em um dia nublado, quando os pacientes trabalhavam nos odiosos canteiros de


rosas, Álvaro foi levado para uma lobotomia. O repórter e o amigo tentaram lutar contra os
médicos e enfermeiros, mas foi inútil. Depois daquele dia, a única coisa que Álvaro
conseguia dizer era...

“Chama a Monalisa que de noite ela vem”

O repórter foi quebrado, diante do amigo ferido e domado, ele encontrou um


silencioso desespero, de quem se vê ínfimo diante das forças covardes acima dele...

No entanto, mesmo assim, o repórter começou a chamar. Todas as noites. Gritando


por uma Monalisa que ele não sabia quem era ou se existia. Almejando uma vingança
impossível. Mas com o tempo, os outros loucos começaram a gritar junto do repórter. E
todas as noites eles chamavam por Monalisa. Todo o hospício abarrotado de doentes
mentais, e dos desajustados, e dos apenas diferentes que a sociedade queria varrer para
longe de suas vistas, todos chamando por Monalisa numa sinfonia cacofônica que rasgava a
noite, espalhava caos e desafiava a violência dos carcereiros do Hospital Colônia.

Então, numa noite sem estrelas, depois dos loucos terem arrancado até a última rosa
e gritado até as suas últimas forças... Monalisa veio.

A criatura era um fantasma pálido e esguio, dotado de graça de mulher, dentes de


marfim e bestialidade de mil feras. Ela dançava pelos corredores do hospital colônia
desossando homens como frangos, lambendo o piso ensanguentado como uma gata num
pires de leite. O repórter sentiu um misto de sentimentos, como ser lançado ao inferno e
apaixonar-se pelo diabo.

Não restou nenhum médico, nenhum enfermeiro, nenhum torturador. As portas do


manicômio foram abertas e os loucos foram libertados de seu cativeiro. Um recado havia
sido dado, um território havia sido defendido, uma cria havia sido escolhida.

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