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uma
ESPOSA
É proibida a distribuição total ou parcial dessa obra sem a prévia
autorização da autora.
Todos os direitos pertencem a Josiane Biancon da Veiga
ISBN: 9781973240563
Sinopse
Estados Unidos, 1900.
Poucas pessoas representavam tão bem sua alcunha como Mônica Bruce. Solitária e
insignificante, ela acabou por ver seu destino em Nova York manchado por uma trama diabólica de um
homem cruel.
Sem saída, guiada por um anúncio de jornal, aceitou tornar-se esposa de um homem do Texas,
desconhecido e misterioso, mas que poderia salvá-la de uma vida corrompida.
Mas nada a preparou para o viúvo Dasan Taylor. Sério, gentil e comprometido na educação de
sua pequena filha, o rancheiro descendente dos apaches poderia ter a mulher que quisesse. Sua busca
por uma desconhecida trazia dúvidas a Mônica, mas viu-se a aceitar o novo marido com natural ternura.
Parecia que a vida estava, pela primeira vez, a sorrir para a jovem. Não sabia ela, mas era
questão de tempo para seu paraíso tornar-se um inferno.
Sumário
Dedicatória:
Nota da Autora:
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
DEMAIS LIVROS DA AUTORA
Dedicatória:
Lembro-me com paixão do meu primeiro western. “Meu ódio será sua
herança”. De cara, a cena chocante de crianças torturando animais. A
constatação de que a raça humana é corrompida desde seus primeiros dias.
Esse pensamento me guiou em todos os meus livros, e graças a ele nasceu
muitas obras, destacando-se a saga medieval dos Reinos e a cruzada de
Kinshi na Karada pela Segunda Grande Guerra.
É chover no molhado dizer que eu amo qualquer coisa relacionada a
“bang bang”. Já escrevi um livro com o tema, bem sério, como eram os
antigos filmes, na cruzada de uma mulher violada, buscando vingança. Após
o romance “A Canção de Outrora” dediquei-me a minha saga de Reinos e
deixei essa história (que estava programada já tem algum tempo), para
depois.
Mesmo tendo lançado o 5º Livro dos Reinos “O Pecador” em menos de
uma semana (sim, estou escrevendo esse livro ao exato dia 06/11/2017, às 10
horas e cinquenta e sete minutos), eu decidi deixar a dor de lado, fingir que
não estou exausta, e registrar logo a história desse apache de bom coração
que se apaixona por uma mocinha que tem apenas a solidão como amiga.
Importante: Sabem o homem da capa? É o mesmo modelo de “O
Vilão”. O nome dele é Brad, e sinceramente acho que nenhum outro poderia
ser mais o protagonista que ele. Ele representa cada pedaço do que imaginei
para nosso Dasan.
Enfim, mais uma obra. Estamos nos aproximando de trinta lançadas. É
com orgulho e amor que lhes deixo agora com “Procura-se uma esposa”.
Capítulo 01
Mônica
O que no fundo era uma sorte. Não que gostasse da jovem, ou tivesse
por ela qualquer preocupação, mas perder uma empregada tão prestativa e
que reconhecia seu lugar não era fácil.
Bem sabia que as mulheres que serviam suas amigas não eram assim
tão submissas. Muitas exigiam boas condições de trabalho, e um salário além
das sobras que as madames provinham.
Porém, pouco depois da órfã tornar-se moça e sangrar, ele pareceu vê-
la sobre uma nova expectativa, não mais um fardo que o irritava.
Lambia os lábios sempre que estava por perto, escorregava a mão em
seu traseiro quando ela servia café em seu escritório, e sempre tentava
espreitá-la na cozinha.
Mesmo o alívio de ele não ter atingido seu intento não trouxe-lhe
contentamento. Naquela noite quente, pela primeira vez em sua vida, Mônica
dormiu sem teto, num beco que cheirava a urina e vômito, sentindo o corpo
tremer e agarrando-se a sua única trouxa de roupa, único bem que tinha,
tentando compreender o que seria de sua vida dali em diante.
Capítulo 02
Dasan
Histórias de amor existem. Nem sempre tem finais felizes, mas existem
e isso é um alento num mundo tão terrível e mundano.
Dasan Taylor era fruto de uma dessas histórias de conquista e paixão.
Seu pedido de casamento aos Hart, cujo patriarca era o dono de uma
loja de armas, foi bem recebido.
Na primavera, casaram-se. Em menos de um ano, Emilie deu a luz a
uma linda menininha de cabelos negros como os do pai, e olhos azuis, como
os da mãe.
Chamaram-lhe de Julie, e Dasan a amou muito desde o primeiro
instante que a viu.
Todavia, Emilie logo percebeu que a vida de casada não era um sonho
como costumava imaginar ao ler romances na pequena biblioteca da cidade.
A começar por ser mãe. A criança só comia e cagava. E, por Deus,
como chorava. Ganhou repugnância. Não só da pequena, mas também do
marido enfadonho, sem grandes atrativos, que só queria viver dignamente,
trabalhar e ir à missa, e que não lhe provinha nenhuma emoção.
Um dia o circo chegou à cidade, e Emilie levou a filha, que já tinha três
anos. Um dos mágicos lhe chamou a atenção, e ela passou a ir ao circo todos
os dias.
Na mesma época, Julie parou de falar, e aquilo trouxe grande tristeza a
Dasan. A voz da filha era algo de extrema importância para ele. Quis levá-la
ao médico, mas Emilie estava sempre ocupada com seja lá o que fosse.
Numa tarde chuvosa, ao chegar em casa, Dasan encontrou a filha
sozinha, sentada diante da mesa, de fronte a um papel escrito de forma
descuidada.
As palavras ele jamais esqueceria, apesar de ter rasgado a carta e
chorado como uma criança diante dela.
Emilie partira com o circo. Estava apaixonada, e queria viver aquele
amor. Mais, não queria Julie, detestava sua mudez, sua deficiência, odiava
tudo na filha. E, quanto a Dasan, fora muito bom enquanto havia durado.
Naquele dia, ao encarar a pequena criança, Dasan entendeu que jamais
seria como o próprio pai. Julie ali, com seus enormes olhos assustados,
parecia indagar mais do que ele poderia responder.
Mas, havia uma resposta que era certa: ele nunca a abandonaria.
Tão logo isso foi decidido, precisou pensar no que dizer as pessoas de
Esperanza sobre sua irresponsável esposa.
A família Hart ficaria arrasada e, pior, o quão mal falada se tornaria
Julie, filha de uma despudorada, capaz de abandonar a família para viver uma
aventura no circo.
Foi então que ele decidiu mentir.
Não era incomum gangues de bandoleiros e índios roubarem mulheres
naquela área. Partiu para a cidade, e avisou ao xerife.
Alguns meses depois, deram as buscas por encerradas, e Emilie foi
declarada morta.
Afinal de contas, mais comum que os raptos, era o descarte das moças
no deserto após devido uso.
Emilie tornou-se um amargo passado, mas a vida tinha que seguir para
ele e para Julie.
— É mesmo?
— Será esposa do doutor Gregory. Ele publicou um anúncio em um
jornal do leste, e a moça apareceu. É viúva, sem filhos... Perdeu o marido na
guerra. Parece boa gente.
Dasan absorveu a indireta com nítido interesse. Depois de Emilie, ele
não se imaginava casado com outra mulher. A traição que sofreu havia
minado suas forças. Contudo, uma esposa que pudesse ajudá-lo a cuidar de
Julie seria de grande valia.
O homem saía de manhã e voltava próximo da noite. A filha precisava
ficar na casa de uma vizinha e, por própria experiência, Dasan sabia que uma
criança nunca era bem vinda à casa de outros por tempo demasiado.
Uma mulher... Talvez uma solteirona ou uma viúva, que pudesse ficar
em casa cuidando da sua menina... Aquilo era uma oferta praticamente
irrecusável.
— Se tornou uma prática comum. Há muitas mulheres no leste
querendo um casamento, e há poucas no oeste disponíveis.
— Mas, que mulher do leste se casaria com um apache?
— Você não precisa dizer isso no anúncio.
Começar uma relação à base de mentira não era o ideal. Contudo, caso
a mulher aceitasse vir para Esperanza, poderia provar a ela que não era um
bárbaro. Talvez até cortejá-la.
Não precisava ser bonita, contanto que fosse bem disposta e boa
pessoa. Ele não buscava amor. Já tinha idade para saber que sentimentos
românticos eram apenas fogo de palha.
O ANÚNCIO
Aquela pensão no subúrbio não era o local ideal para uma jovem digna
como Mônica. Lar de prostitutas, cafetões e carteis, foi o único ambiente que
encontrou no qual pudesse acomodar-se até conseguir um novo emprego.
O que não estava sendo fácil. Lisa Dylan havia espalhado aos quatro
ventos sobre sua infame personalidade, e em todas as portas que bateu,
recebeu a negativa em retorno.
Até então, mantinha-se com trabalhos braçais que pagavam pouco, mas
que serviam para que ela pudesse pagar o quarto alugado e comer ao menos
uma vez por dia.
Fazia o que aparecia. Pegava roupas para lavar, limpava banheiros em
fábricas, e faxinava bordeis durante o dia.
Porém, o que a destruía era a falta de esperança. Como poderia
sobreviver durante anos fazendo aquilo? O que seria dela quando as forças
começassem a falhar?
— Você é moça virgem, não é? — sua senhoria lhe indagou, quando a
viu chegar depois de um dia estafante de trabalho. — Ou foi expulsa de casa
porque abriu as pernas por aí?
— Abrir as pernas?
A outra deu os ombros, como se compreendesse imediatamente a moral
que regia aquela mulher de aparência recatada e simples.
— Quando veio para cá, me disse que teve que sair de casa porque seu
patrão a atacou.
— Foi isso, sim senhora.
— Mas ele não conseguiu se enfiar em você?
A jovem negou.
— Aqui não é lugar para uma moça como você, Mônica — ela disse,
depois de uma breve avaliação. — Os cafetões já estão de olho, imaginando
por quanto te venderiam em noites de saraus.
— Me... vender?
— Você sabe, não é? Uma virgem, mesmo não muito bonita ou jovem,
sempre tem seu valor.
Mônica baixou a fronte, tentando absorver aquela informação. Se
procedia, ela precisava sair da pensão o mais rápido possível. Não queria
sofrer novo ataque.
— É difícil te achar um casamento aqui nessa cidade, porque tem essa
aparência sofrida e as mãos calejadas, mas sabe... no jornal tem alguns
anúncios de homens no oeste procurando esposa.
— Esposa? — havia espanto em sua voz.
— Ora, uma mulher deve se casar — a outra retrucou. — É bom ter um
homem.
Homens, até então, haviam apenas trazido medo a ela. Eram maiores,
mais fortes, e pareciam prontos a submetê-las.
Dasan assentiu.
— Combina com ela. Afinal, foi isso que a tal Mônica deu a entender.
Sozinha no mundo, órfã, trabalhava em uma casa como empregada, mas
perdeu o emprego há pouco tempo. Também disse que queria reconstruir a
vida e que estava disposta a ser mãe de Julie.
— De todas as cartas que recebeu, essa foi a que mais o agradou?
Naquele final de tarde, diante da mercearia onde a diligência
costumava parar para trazer as pessoas que vinham para Esperanza, Dasan
pareceu pensar no tom das palavras.
— Foi a única a deixar explícito que desejava conhecer Julie. Todas as
outras pareciam ansiosas pelo casamento, por ter um marido, terem filhos,
mas nenhuma pareceu se atentar que eu tinha uma filha e que ela era
importante para mim.
— Eu entendo. — O sacerdote lhe bateu no ombro. — É um bom pai,
Dasan. Espero que a moça também seja uma boa mãe. Julie merece.
— Temo qual será sua reação quando me ver — foi sincero. — É uma
mulher do leste. Não sabe que tenho sangue apache. E, mais, quando souber
que Julie não fala...
— Não crie fantasmas antes de falar com a moça.
O veículo guiado por cavalos surgiu no horizonte formando uma
nuvem grossa de poeira atrás de si. Desde que recebera a resposta de Mônica,
até aquele momento, já havia se passado três meses.
Na segunda carta, ela deixara claro que não tinha dinheiro para ir até
ele. Dasan lhe enviou a passagem. E então aguardou.
Obviamente, estava nervoso. Queria que aquele enlace desse certo.
Queria ter uma esposa para dividir as refeições, o banco na igreja, e os
prazeres da vida. Mas, ao mesmo tempo, já havia sido machucado pela dor de
uma traição e temia que Mônica pudesse não ser exatamente como a
imaginava.
Foi um alívio, de várias formas. A vida no rancho não era fácil, cuidar
de Julie não era fácil, nada do que a esperava poderia ser designado como
uma vida de felicidade.
Então, sabê-la uma mulher já acostumada a dificuldade fê-lo sorrir.
Quando casou-se com Emilie, sabia que a jovem era mimada e mantida
com certo conforto em casa. Ao se mudar para o rancho, perdera as regalias,
as tardes de chás com as amigas, e as idas até a cidade vizinha, para o teatro.
Muito do fracasso do antigo casamento dera-se por causa disso. Mas, agora...
Agora era outra mulher. Completamente oposta à outra. Cabelos escuros,
olhos mais inquietos, presença mais discreta.
CASAMENTO
— Minha filha não fala — avisou. — Não sei se ouve bem, nunca dá
muitos sinais de que entende ou se importa com o que estou falando. Mesmo
assim, não admito qualquer maldade contra ela. É uma criança doce e já
passou por coisas ruins, não quero submetê-la a nada que possa piorar seu
estado.
Mônica assentiu, compreensiva.
— Quem o criou?
— Aqui e acolá, as pessoas do vilarejo me deram teto e trabalho.
Depois que tive idade, fui para a casa que pertenceu ao meu pai e tomei posse
dela. Casei-me, mas minha antiga esposa faleceu há alguns anos. Desde
então, eu não havia pensado em me casar novamente, até me ater ao fato de
que Julie precisa de uma figura feminina e materna para ajudá-la.
— Quando irei conhecê-la?
— Primeiro preciso saber se quer se casar comigo.
— Viajei metade do país para isso — ela sorriu.
— Sim, mas não sabia que eu tenho sangue apache nem que minha
filha possui uma deficiência. Preciso de sua resposta franca e sincera, bem
pensada, para que não haja arrependimentos no futuro.
— Olá, amor — murmurou para ela, querendo deixar claro que, o que
quer que fosse que a menina temia, teria em Mônica sua proteção. — Você é
muito linda, sabia?
O olhar abrandou. Mônica encarou Dasan que pareceu feliz por não
ter-se criado nenhuma animosidade.
— Mônica irá morar conosco no rancho, Julie — ele disse, e a cabeça
da menina voltou-se para ele. — Está tudo bem para você?
Novamente, o olhar infantil a encarou. Mônica esperou com paciência
e respeito pela resposta. Sorriu quando a menina assentiu com a fronte.
— Obrigada — disse, segurando as pequenas mãos entre as suas. —
Muito obrigada. Nunca se arrependerá por me dar uma chance.
Mais tarde, enquanto Dasan conversava com o padre, Mônica
observava Julie desenhando no banco de madeira da igreja. Subitamente, viu-
a levar até ela uma folha branca, onde uma figura que lembrava uma mulher
parecia segurar uma mala.
— Sou eu? — indagou.
A criança negou.
— É outra moça? Partindo?
Julie concordou.
— Teme que eu vá embora?
Não soube por que havia perguntado aquilo, mas a conexão automática
que surgiu entre elas logo lhe remeteu a indagação.
Era o início de uma nova vida para aqueles dois jovens sofridos.
Naquele recanto remoto do país não era costume parar-se a vida para
festejar o que quer que fosse. Um dia de trabalho era sempre uma perda
importante para as famílias. Mas, naquele domingo, após a missa, as pessoas
de Esperanza não voltaram para suas casas. Queriam, de alguma maneira,
demonstrar a Dasan o quanto estavam felizes por ele, e por sua nova esposa.
— É um jovem muito honrado. — Eric Hart disse a Mônica, na saída
da igreja, logo após a cerimônia. — Foi meu genro, é o pai de minha neta.
Minha filha não poderia ter casado com um homem melhor.
— Dasan me comentou que é viúvo. Sinto muito por sua filha.
A PRIMEIRA NOITE
Era uma rotina simples, aquela após o jantar. Dasan ajudava a guardar
a louça, depois levava Julie para a cama, contava para ela histórias de
guerreiros índios antigos, e assim que a menina pegava no sono, ele fazia
uma volta em torno da casa para verificar se tudo estava seguro.
Sabia atirar desde que se conhecia por gente. Precisava caçar para
conseguir comida, e um dos vizinhos havia lhe dado um rifle há algum
tempo. Era bom nisso. Bom em brigas, também. Aconteceram algumas
durante os anos, apesar de ele ser completamente pacífico. Contudo, sempre
algum viajante que cruzava Esperanza tentava denegri-lo por ser índio e
Dasan usava os punhos para se proteger.
— Para que se sinta mais segura, irei ensiná-la a atirar — contou,
depois.
— A atirar? — Com certeza, era algo que ela jamais pensou em fazer.
— Te garanto que homem nenhum tenta forçar uma mulher com uma
arma na mão.
— Sei que foi um dia cansativo. Quero que saiba que nessa noite
pretendo dormir no chão da sala.
O que era aquela sensação? Surpresa? Decepção?
— Quero um casamento real, mas não quero que fique preocupada com
o que está por vir. Então, durma descansada, as coisas se encaminharam da
maneira certa, sem pressa.
Era tão gentil que ela sentiu-se imediatamente tranquila e feliz por ter
desposado aquele homem. Concordou imediatamente e volveu em direção ao
quarto.
Nunca, até então, teve uma noite de sono tão serena quando a daquela
noite.
A própria nunca havia frequentado uma escola, sabia ler muito mal,
aprendeu com uma antiga empregada dos Dylan que era devota a algum santo
que Mônica não se lembrava mais, e que achava uma blasfêmia a menina não
conhecer a Bíblia.
Agora, entendia que Julie teria outro destino e se orgulhava por ela.
Diziam em alguns lugares que algumas mulheres não estavam mais apenas
cuidando das casas e dos filhos, e sim seguindo profissões que, outrora, eram
apenas dos homens.
Tão logo a aula começou, Mônica afastou-se. Subiu na charrete e
voltou em direção à estrada que dava para o rancho do marido.
Enquanto o cavalo corria pela estrada de terra, ela observou a beleza do
lugar. Os arbustos baixos, as montanhas ao longe, o céu de um azul sublime.
Sorriu.
Tudo estava perfeito. Ela adorou a nova vida. Julie e seu jeito gentil de
se comunicar, o rancho que, apesar de simples, era bem cuidado e
preservado, e o marido, Dasan, que brotava nela algo estranho e
irreconhecível.
Ao se aproximar do rancho, o viu ao longe. Estava ao lado de uma
vaca, e parecia concentrado em algo. Mesmo sem convite, foi até ele.
Dasan sorriu ao percebê-la.
— Está prenha — disse, mostrando a vaca. — Acho que ainda essa
semana teremos um novo bezerro.
Aquele era um mundo novo para Mônica, e ela sentiu vontade de
experimentá-lo de todas as formas.
— Venha — o homem pareceu entender sua intenção. — É mansa.
Toque sua barriga.
Mônica aproximou-se, pousando a mão na pele avantajada. Sorriu.
— Eu nunca tinha visto uma vaca de tão perto.
A SEGUNDA NOITE
— Ele conseguiu?
— Pela graça de Nosso Senhor Jesus, não...
Assentiu.
— Mônica — adentrou seus olhos com seu próprio olhar. — Sei que
você não tem uma boa imagem do que pode acontecer entre um homem e
uma mulher, mas eu te afirmo que quando existe respeito e carinho entre
ambos, o ato pode ser muito bonito.
Ela acreditou nas palavras. Não porque queria desesperadamente
agarrar-se a qualquer esperança, mas porque, desde que o conhecera, aquele
era o melhor homem com quem cruzara.
Subitamente, como se ouvissem uma ordem divina, abraçaram-se
rapidamente, apertando tão forte o corpo um do outro quanto possível.
Era mais que um simples abraço. Era uma troca de afeto e
cumplicidade. Era amizade. Mesmo que nunca viessem a se amar como
homem e mulher, ainda teriam um ao outro como amigos. Aquilo era mais do
que uma órfã como ela poderia sonhar.
Eles ficaram naquele abraço cúmplice por alguns segundos, num
balanço gentil. Contudo, depois, Dasan afastou-se e deitou-se na cama.
Mônica levou alguns segundos antes de decidir acompanhá-lo. No entanto,
assim que achegou-se ao seu lado, foi recebida por mais um beijo.
O primeiro, delicado, foi apenas uma prévia do seguinte, generoso e
caloroso. O corpo de Mônica começou a formigar em várias partes e, sem
sentir, ele grudou em Dasan, que a acariciava com as mãos e com o próprio
corpo.
E então veio o calor. Como se o sol forte do Texas estivesse a brilhar,
ali, naquele quarto. Dasan afastou-se brevemente, a fim de apagar as luzes e
tirar a roupa.
Ela não o via completamente, mas era capaz de desvendar com as mãos
seus músculos firmes. Ele era tão homem, tão másculo, que sua boca mal
conseguia segurar um gemido.
A camisola saiu pela sua cabeça. Seus seios grandes logo foram
tomados pelas mãos gentis, e depois pela boca, pela língua, que circulou um
mamilo antes de chupá-lo com força.
Mônica cobriu a boca, impedindo um grito. Não entendia a reação do
seu corpo, não entendia o que exatamente vivia ali, mas sabia que queria
mais, muito mais, tudo que Dasan poderia dar a ela.
Sentiu a parte baixa dele dura, firme, a tocá-la. Sabia que ele a queria.
Pelos céus, ela o queria tanto, também. Então, entregou-se.
Deixou que a boca sedenta de Dasan deslizasse por sua pele arrepiada,
causando um frenesi sem controle. E quando os dedos longos e bonitos de
Dasan entraram nela, mordeu os lábios, segurando um gemido de dor.
— Você é tão linda... — ouviu Dasan sussurrar.
Nunca havia ouvido aquilo. Era sempre destacada como razoável ou
simpática. Linda? Linda nunca. Mas, como negar a veracidade daquelas
palavras quando aquela necessidade dolorosa a tomava de tal maneira que
viu-se arrebatada completamente?
ROTINA
Julie não percebeu o olhar enrubescido da madrasta enquanto ela lhe
servia o café, naquela manhã abafada.
De relance, o casal trocava olhares, como se o que havia se passado na
noite anterior houvesse rompido uma barreira entre eles.
Era tão estranho sair campo aberto sendo guiada pelas mãos firmes
daquele homem maravilhoso. Como um sonho, e Mônica sempre sentia-se a
mais felizarda mulher. Todavia, em algum recanto de sua alma havia uma voz
dizendo-lhe que uma vida feliz daquelas não era para uma mulher tão sem
graça quanto ela.
Era uma sensação que não morria. Até quando viveria aquela
felicidade?
O dia ensolarado parecia perfeito para aquela aula. Mônica aguardou
que Dasan arrumasse os alvos e depois voltasse até ela.
— Foco. Aponte apenas para aquilo que pretende atingir — ele avisou.
Suas palavras, apesar de óbvias, deviam ser levadas a sério. Mônica
sabia que armas de fogo não eram brinquedos e precisavam ser usadas com
responsabilidade.
— O ideal era apoiar as costas em uma árvore para que não sinta muito
o repuxo — ele murmurou atrás dela. Seu hálito suave fê-la estremecer. —
Mas, como não temos nenhuma por aqui, irei apoiá-la, está certo?
Sentiu as mãos másculas segurarem sua cintura. Cada parte do corpo
feminino era sensível a presença de Dasan. A noite anterior voltou a sua
memória e ela enrubesceu.
— Assim... — ele ajudou-a a apontar para a lata ao longe. — Tenha
calma e respire fundo. Não precise temer nada, pois estou atrás de você.
Aquele tom baixo, másculo, fez as pernas dela bambearem. O que era
aquela sensação poderosa?
— Atire.
O repuxo novamente a impulsionou para trás, mas dessa vez Dasan a
manteve de pé e segura. A bala não cruzara nem perto da lata, mas ela havia
dado um tiro correto. Foi uma experiência única.
— Eu consegui?
MÃE
Mônica já havia banhado Julie quando Dasan chegou em casa, após seu
dia de afazeres na fazenda.
Logo o homem estranhou o silêncio. Desde o casamento, Mônica
estava sempre a sua espera, com um sorriso nos lábios, lhe indagando se
gostaria de se banhar antes do jantar.
A lembrança de Emilie saindo de sua vida logo o tomou. Aquele
silêncio em muito lembrava a fuga da antiga esposa. Porém, como a filha
também estava ausente, viu-se a andar pela casa, em busca das duas.
Encontrou-as no quarto de Julie. A criança deitada, rubra, era tratada
pela madrasta que, sentada ao seu lado, tentava refrescá-la com uma toalha
molhada.
— Nunca cuidei de uma criança com febre — Mônica disse, tão logo o
viu. O desespero em sua voz era palpável. — Não sei porque adoeceu, não
consigo fazer a temperatura baixar.
Mais acostumado a situações assim, Dasan se aproximou da cama.
Já eram amigos. Isso era um fato. Ele confiava nela, e sabia que ela
também confiava nele. Contudo... amor?
Mesmo ciente de que tais sensações eram coisas de jovens iludidos,
repentinamente, imaginou-se jurando amor a aquela mulher.
Enquanto Mônica ninava Julie, ele viu-se a buscar um banco e sentar
próximo da cama. Assistir aquele ritual feminino de amor maternal era algo
tão bonito que se comoveu.
Como teria sido sua mãe? Será que como uma gentil e doce mulher
indígena, ela também lhe apertaria contra os seios e o ninaria quando se
sentisse doente.
A HERANÇA
— Um dólar pelos pensamentos da linda dama.
Emilie Taylor gargalhou diante do requintado senhor de vasta idade
que surgiu ao seu lado no bar daquele bonito hotel em Fort Dodge.
Taylor...
O sobrenome arrepiou Emilie.
— É o pai de Dasan? Mas, nunca quis nada com o filho. Abandonou-o
e nunca o procurou...
— Bem, o velho soube que tem uma neta de cor clara. E, digamos,
preparou um testamento que deixará tudo para a menina.
O dinheiro e a menina apareceram na mente perturbada da mulher.
— Céus, detesto aquela fedelha.
— Depois de tomar a tutela dela, poderá colocá-la num internato.
— Mas, e o pai?
— A gente se livra desse índio...
Era um excelente plano. Contudo, era mais fácil pensar que fazer.
— Não conhece Dasan. Ele não é um homem fácil de enfrentar.
— Eu roubei a sua esposa debaixo de suas fuças. Acha mesmo que eu o
temo?
Todas as noites...
Enrubesceu diante dos pensamentos descomedidos. Mas, era
simplesmente impossível não ser imensamente grata a Deus pela chance de
uma vida em família. Apesar de simples e cheia de dificuldades, a
experiência era de uma alegria sem igual. Ter alguém com quem contar, e
uma criança para sonhar com um futuro era mais do que ela considerava
merecer.
— Ah, minha Emilie amava esses festivais... — o som da voz de Eric
Hart a tirou dos devaneios.
O marido havia ido buscar um refresco e ela estava sentada num banco
perto da banda.
— Me espere... mamãe.
Capítulo 10
AMIZADE
Dasan não queria desacreditar, mas a verdade é que Mônica estava tão
encantada por ter uma criança, que sua mente poderia lhe estar pregando uma
peça.
— Mesmo que ela não dissesse, eu sei que é o que ela sente — apontou
o homem, confortando-a.
Mônica o encarou. Depois, assentiu, orgulhosa. No momento que o
olhar dela volveu para frente, em direção à criança, ele pareceu surpreso ao
constatar o quão óbvia parecia sua necessidade em vê-la feliz.
Seria... Seria por que a amava?
A frase montou-se em sua mente e ele quase perdeu o ar diante dela.
Lembrou-se de Emilie. O casamento feito apenas porque era digno um
jovem e uma moça se casarem. Lembrou-se da primeira noite deles, do
quanto foi desajeitado, do quanto ela pareceu sofrer. Depois, pensou no
quanto ela o irritava pela falta de cuidados com Julie, e no quanto ele se
sentia desgostoso por tê-la como esposa.
O contraste do que vivia agora era nítido.
Ele era um garoto mal preparado quando desposou Emilie, mas era um
homem seguro do que queria quando jurou fidelidade a Mônica. E, a cada dia
que passava, mais a convivência com ela o animava.
Mônica já era a sua melhor amiga. A sua amante. Agora, era também
seu amor?
— Por que está sorrindo? — a pergunta dela interrompeu seus
pensamentos.
Ele respirou fundo.
— Sabe, existe uma lenda xamã que narra que dois jovens guerreiros
de Lakota estavam caçando na floresta, quando apareceu diante deles uma
jovem muito bela. Um deles percebeu ser um ser sagrado e a respeitou,
prostrou-se diante dela, e mantendo sua dignidade. O outro caçador, todavia,
a olhou com luxúria, e a quis forçar. Porém, ao se aproximar da mulher, uma
nuvem de poeira surgiu e ele tornou-se apenas ossos.
Pausa. Os dedos de Dasan seguraram os da esposa.
— Existem muitos significados para essa lenda, cada tribo tem a sua.
Mas, eu vejo isso como algo além. Se um homem encontra em sua vida uma
mulher especial, ele deve ser digno dela, amá-la e adorá-la, cuidar dela, para
que seja feliz. Se tudo que ele quer dela é seu corpo, sua vida se tornará
apenas ossos secos.
Ele respirou fundo, e prosseguiu.
— Você é a minha mulher especial — declarou, fazendo Mônica
lacrimejar. — Espero sempre ser digno de ser seu marido.
— O que querem?
O tom era grosseiro porque precisava deixar claro que desconhecidos
não eram bem vindos. Ele tinha uma esposa e uma filha em casa. Riscos
precisavam ser evitados a qualquer custo.
— Só queremos saber se há algum lugar por aqui para dormir.
Observou melhor os homens. Não pareciam bandoleiros. No máximo
peões voltando de uma entrega de gado.
— Há uma hospedagem na cidade — avisou. — Naquela direção.
Um dos cavaleiros apertou a aba do chapéu em sinal de gratidão e
partiu a galope. Os demais o seguiram.
Tão logo fechou a porta, Dasan notou a esposa as suas costas. Ele sabia
que Mônica havia se assustado com a presença daqueles homens, mas seu
olhar confiante denotava o quão acreditava nele para protegê-la.
— Vamos para o quarto? — ela o convidou, pela primeira vez.
Uma oferta que ele jamais recusaria.
Capítulo 11
OAMOR
O sexo oral de Dasan havia destruído suas forças. Dessa forma, ele
precisou ajudá-la a acomodá-lo dentro de si.
— Assim não vou conseguir meter... – Dasan murmurou a si mesmo,
diante da posição um tanto desconfortável.
Mônica riu. Quem o mandou fazer aquilo antes, com a boca? Agora ela
estava cansada o suficiente para não ajudá-lo em nada no leito.
A MENTIRA
— E assim disse Jesus — o padre moveu uma página de sua velha
Bíblia —: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue, não andará em
trevas, mas terá a luz da vida.”
— Emilie!
Era mais que uma exclamação. O nome dito com força denotava o
quanto de dor aquele homem suportou durante todos aqueles anos.
Mônica o viu correndo em direção à porta e abraçando uma jovem loira
de aparência belíssima.
Eve Paul não era somente a dona da mercearia como mantinha em sua
grande casa uma pousada para viajantes.
Tendo em vista que lá era um amplo lugar para uma conversa
necessária, as pessoas envolvidas no retorno de Emilie Taylor se
encontravam em sua sala requintada com móveis trazidos pelo falecido
marido da Inglaterra.
Era como um pesadelo. Mônica sentou-se no sofá, Julie em seu colo, o
olhar assustado, as pequenas mãos agarradas em sua blusa. Dasan estava em
pé, caminhando de um lado para o outro. O padre e o xerife mantinham-se de
canto e Eric Hart abraçava a filha.
— Depois que fui raptada, passei muito tempo nas mãos do grupo que
me levou. Algumas semanas atrás, consegui fugir.
As palavras explicativas dela ao pai fizeram o estômago de Dasan
embrulhar.
— Como?
— Eu falarei com o bispo. Vou explicar a situação. Alguém há de
acreditar em minha palavra. Além disso, Emilie trouxe o amante consigo.
Tentarei provas da infidelidade dela.
Mônica negou com a face.
— Diga-me, Dasan: casou-se comigo sabendo-a viva?
O silêncio culpado foi sua resposta.
— Você mentiu para mim? — exigiu, revoltada, as lágrimas invadindo
seus olhos sem controle. — Mentiu para mim! — repetiu, em afirmação. —
Fez-me cruzar o país, acreditar em sua amizade, em seu amor, deixou-me
apegar a sua filha, e agora sou obrigada a suportar tudo sendo arrancado de
mim sem piedade?
— Nunca pensei que Emilie fosse voltar — se defendeu.
— Essa não é a questão! — ela gritou. — Eu me doei a você de corpo e
alma. Tudo que eu queria em retorno era sua sinceridade!
— Mônica... — tentou se aproximar.
Recebeu um tapa na face em resposta àquela tentativa.
— Não ouviu o padre? Não somos casados! Não me toque, estou
enojada! — os soluços invadiram sua garganta. — Sinto-me suja, uma
mundana, uma meretriz que viveu na casa de um homem cuja esposa estava
viva...
A DOR
Afastou as ideias. Emilie saberia o que fazer! Julie havia nascido de si,
era parte da loira. Foi Mônica a usurpadora do papel de mãe. Agora, devia se
recolher a sua insignificante vida.
Seu sonho idílico havia acabado.
Dasan apareceu todas as manhãs na pensão da senhora Eve. E, em
todas às vezes, Mônica recusou-se a falar com ele.
Mesmo assim, não desistiu. Vinha trazer leite, trazer carne, e dinheiro.
Também deixava sempre mensagens de alento que Eve as transmitia com
certa relutância.
A comunidade em si havia perdido a fé naquele homem.
Mas, para Mônica, havia restado o respeito. Sabiam-na tão vítima
quanto a pobre Emilie, abandonada por aquele que jurou amá-la diante de
Deus.
— Então pensa em ir embora? — Peter interceptou Mônica na rua,
durante um passeio matinal.
— Estou verificando ofertas de emprego — explicou ao xerife.
— Por que não fica e casa-se novamente? Existem muitos homens
solteiros em Esperanza que gostariam e de desposar uma mulher digna como
você.
Mônica quase riu diante da descabida ideia.
— Trabalhei toda a vida — explicou a ele. — Não será difícil retornar
a condição de serva. Sou boa cuidando de uma casa.
O homem assentiu. Depois, disse-lhe que precisava ir até algum lugar
que Mônica não conhecia e se afastou.
Ao volver o corpo para voltar à pensão, percebeu Emilie do outro lado
da rua, andando despreocupadamente. Julie, ao seu lado, mantinha os olhos
fixos em Mônica.
Não resistiu. Caminhou até elas e as cumprimentou.
— Bom dia.
Emilie a observou de cima a baixo, como se a medisse. Sorriu, diante
da constatação de que a outra em nada se comparava a ela.
Mas, não era com Emilie que Mônica preocupava-se. Seu olhar pousou
em Julie e a percebeu mais abatida e magra. Havia um desânimo e uma dor
na criança que fez o coração da outra sangrar.
A DECISÃO
— Estava na cidade e a professora disse que viu Julie indo até você.
A explicação dele foi simples, e ela assentiu diante das palavras.
— Sua esposa não me deixa vê-la.
— Minha esposa é você!
— Não é o que dizem os papeis. Já soube que o padre encaminhou a
anulação à arquidiocese.
— Então deve saber que eu também marquei um encontro com o bispo,
para explicar a situação.
Mônica suspirou.
— É um caminho sem volta, Dasan.
— Você sabe que eu te amo... — ele retrucou.
— Sei que disse a verdade sobre sua esposa — esclareceu. — Sobre
seu adultério.
— E você me ama também — ele completou, firme. De súbito, deu-se
conta das palavras dela. — Sabe que Emilie me traiu?
— Sim. Mas, isso não anula o fato de que mentiu para mim.
— E você é incapaz de perdoar uma mentira feita num momento de
desespero? — ele indagou. — Mônica...
— É claro que eu sou capaz de perdoar uma falta, Dasan. Sou humana,
também suscetível a falhas. Contudo, de que adianta meu perdão? Nada muda
o fato de que Emilie é sua esposa, e de que você precisa estar com ela. Se não
conseguir provar que ela foi infiel, não haverá solução para nós.
— E não pode me dar esperanças?
— Esperanças? — a palavra foi gaguejada com descrédito. — Nunca
tive nada, Dasan. Esperança é algo caro demais para quem se permitiu sonhar
e viu seus sonhos sendo jogados no lixo.
A FUGA
Mônica decidiu pegar com a senhora Eve o dinheiro que Dasan deixava
na pousada. Depois de algum pestanejar, ela saiu pela cidade em busca de
uma charrete que parecesse boa o suficiente para cruzar o deserto até a cidade
vizinha.
Encontrou uma um tanto velha, mas ainda firme. Comprou-a e
começou a preparação para o rapto de Julie.
Arrumou as roupas em sacos de estopa, e os levou a charrete durante a
madrugada, para que ninguém suspeitasse de que se preparava para partir.
Depois, levou o veículo até a saída da cidade e o camuflou entre
arbustos. O cavalo ela conseguiu emprestado com o xerife, depois de uma
conversa sobre cavalgar por Esperanza.
Mônica jurava que o homem estava de olho nela. Aquilo não lhe
incomodou. Usaria um pouco de seus dotes femininos por uma boa causa.
Seu foco agora era ter a pequena filha de Dasan consigo.
A PRISÃO
— Você é Mônica?
A comunicação por telefone não era comum naquela região, mas
Mônica soube que Peter havia conseguido contato com aquele xerife tão logo
o homem a mediu de cima a baixo, e então encarou Julie.
— Acompanhe-me, senhora – parecia um pedido, mas era uma ordem.
— Sim, ela fala por demais, até — riu. — Eu não posso entregá-la a
Emilie, Dasan. Quando você resolver tudo, voltarei com ela, mas, por favor...
— Confie em mim! — repetiu, enérgico. — Emilie já fez muito mal a
Julie, eu não permitirei que a prejudique mais. E quanto a nós, vou conseguir
revalidar nosso casamento. Você é minha esposa, Mônica, muito mais do que
pelas leis de Deus ou dos homens. O é porque meu coração diz isso desde a
primeira vez que a vi.
Diante de tais palavras, restou à mulher aceitar retornar a Esperanza e
rezar pelo milagre.
A VERDADE
— Cadela!
Sentiu o estrondo chocando-se contra suas pernas. Caiu no chão, a
ardência e o sangue na coxa fizeram-na gritar.
Ethan aproximou-se. Agarrou seus cabelos. O soco forte chocou-se
contra sua face delicada. Ao longe, pessoas se aproximavam e viam a surra,
mas ninguém se envolvia.
Porque era assim: Se uma mulher se deitava com um homem – ainda
mais não sendo sua esposa – que ela se resolvesse com ele.
E tinha um além. Ethan mantinha a pistola na cintura. Ninguém
arriscaria a própria vida por conta de uma infiel.
Subitamente, contudo, outro tiro fez-se ouvir.
PARA SEMPRE
EUA, 1865
A Guerra de Secessão levou de Rose seu único amor, e lhe devolveu seu maior inimigo.
Damien e Drew são gêmeos idênticos, mas possuem características distintas. Enquanto um é artista, doce e gentil, o outro é
sádico e torturador. Quando o Sul declara independência e a guerra se inicia, o pai, um poderoso fazendeiro texano separatista,
não pestaneja em enviar seus filhos à luta, contudo, apenas um volta de lá.
Rose Davis é filha de arrendatários e desde cedo sofre nas mãos do padrasto. Espancada, molestada e destruída, ela encontra em
Damien Hill o amor que a salva da destruição. Contudo, quando a guerra irrompe o Texas, e ela vê seu amado partir, sabe que
com ele vai seu coração. Ao saber que Damien morre em combate, ela foge, grávida, em um território hostil e perigoso, buscando
um canto de paz para criar seu filho.
Anos depois, a morte a faz ficar face a face com Drew, um dos homens que mais lhe fez mal. Porém, agora, aquele rapaz estava
mudado e lhe lembrava muito seu grande amor. Como resistir aos encantos, quando tudo nela exalava saudade e paixão?
DEMAIS LIVROS DA AUTORA