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Edição No.

396 | 9 de outubro de 2020

Apesar dos ganhos, os angolanos mostram-se


insatisfeitos com os esforços do governo no
combate a corrupção
Afrobarometer Edição No. 396 | Carlos Pacatolo e David Boio

Resumo
Em apenas um ano, Angola melhorou da 167ª para 146ª posição no Índice de Percepção
da Corrupção (CPI) da Transparency International (2020), em grande parte devido à força
das reformas anticorrupção introduzidas após a posse do Presidente João Lourenço em
Setembro de 2017 (Jornal de Angola, 2020; O Observador, 2020a).
Embora a pontuação do CPI do país ainda seja inferior à da África Subsaariana e das
médias globais, as investigações aos casos de alegada corrupção continuam a ser feitas,
tendo um tribunal de Luanda ordenado o congelamento dos bens de Isabel dos Santos e
de Irene Neto (filhas dos ex-presidentes José Eduardo dos Santos e Agostinho Neto). Ainda
assim, João Lourenço e o Procurador Geral da República, que têm apelado a sociedade
para se juntar à cruzada nacional de luta contra a corrupção, denunciando os casos, têm-
se mantido em silêncio diante da recente reportagem de uma televisão portuguesa, que
acuso o director de gabinete do presidente de envolvimento em esquemas de corrupção e
de obtenção de vantagens que violam a lei da probidade pública (Voz da América, 2019;
Público, 2020; O Observador, 2020b; TVI24, 2020).
Como os cidadãos percebem os esforços da luta contra a corrupção?
Os resultados do primeiro inquérito do Afrobarometer em Angola mostram que uma
proporção considerável vê a corrupção diminuir, mas uma maioria relativa classifica o
desempenho do governo na luta contra a corrupção como fraco. Em parte, isso pode estar
relacionado com a percepção daqueles que dizem que o presidente está a usar a luta
contra a corrupção como arma política. Além disso, a maioria teme retaliação ou outras
consequências negativas se denunciar casos de corrupção às autoridades.
Apesar destas reservas, a maioria dos angolanos opõe-se a um perdão geral para os casos
de corrupção anteriores a Setembro de 2017 e deseja que o governo recupere todos os
bens financeiros e patrimoniais adquiridos indevidamente.

Inquérito do Afrobarometer
O Afrobarometer é uma rede de pesquisa pan-africana e não-partidária que fornece
dados quantitativos fiáveis sobre a vivência e avaliação dos africanos da democracia, da
governação e da qualidade de vida. Foram realizadas sete rondas de pesquisas de opinião
pública em 38 países, entre 1999 e 2018. A 8ª Ronda está prevista em 35 países africanos,
entre 2019/2020. O Afrobarometer realiza entrevistas face-a-face na língua da escolha do
entrevistado, com uma amostra nacional representativa.
No seu primeiro inquérito de opinião pública em Angola, a equipa do Afrobarometer
liderada pela Ovilongwa – Estudos de Opinião Pública entrevistou 2.400 angolanos adultos,
entre 27 de novembro e 27 de dezembro 2019. Uma amostra deste tamanho produz

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resultados nacionais com uma margem de erro de +/- 2 pontos percentuais e um nível de
confiança de 95%.

Principais resultados

▪ Os angolanos têm uma percepção mista do nível de corrupção no país, pois cerca
de metade (44%) dos angolanos dizem que diminuiu nos 12 meses anteriores a
pesquisa enquanto 33% dizem que aumentou.

▪ Apesar disso, uma maioria (54%) dos angolanos disse que o governo está a ter um
mau desempenho na luta contra a corrupção.

▪ Uma maioria relativa (39%) disse que o Presidente está a usar a luta contra a
corrupção como instrumento de combate político no interior do MPLA.

▪ Cerca de seis (55%) em cada nove angolanos consideram que a denuncia de actos
de corrupção às autoridades acarreta riscos de retaliação ou outras consequências
negativas.

▪ Entre os angolanos que tiveram contacto com os principais serviços públicos durante
o ano anterior a pesquisa, cerca de quatro em cada 10 afirmam ter pago gasosa ou
micha/suborno para obter assistência policial (42%) ou evitar problemas com a
polícia (42%), para obter um documento de identificação do governo (39%), ou
para obter serviços de escola pública (39%).

▪ A Polícia Nacional é mais amplamente percepcionada como corrupta do que


outras instituições públicas importantes. Quatro em cada 10 angolanos (39%) dizem
que “a maioria” ou “todos” os efectivos da polícia são corruptos.

▪ Um pouco mais da metade (51%) dos entrevistados se opõe à ideia de perdoar


todos os envolvidos em casos de corrupção até 2017, e uma grande maioria (58%)
afirma que o governo deve recuperar todos os bens financeiros e patrimoniais
adquiridos por meio da corrupção.

Nível de corrupção e desempenho do governo no combate à corrupção


Existe uma ligeira diferença entre os angolanos quanto a percepção do nível de corrupção
no país, pois 44% dizem que diminuiu “um pouco” ou “muito” no ano passado, enquanto
33% dizem que aumentou ”um pouco” ou “muito” e 14% dizem que permaneceu o mesmo
(Figura 1).
Contudo, apenas um terço (32%)dos angolanos avaliam como “bom” ou “muito bom” o
desempenho do governo angolano na luta contra a corrupção. Entretanto, a maioria (54%)
avalia o mesmo desempenho como sendo “mau” ou “muito mau” (Figura 2). Os residentes
urbanos e os entrevistados com maior escolaridade tendem mais a avaliar de forma positiva
o desempenho do governo, mas também são os mais propensos a ser críticos, enquanto os
entrevistados rurais e com menor escolaridade são mais propensos a dizer que "não sabem".
As regiões1 Norte e Centro-Norte têm menos probabilidade de aprovar o desempenho do
governo em relação à corrupção (22% cada).

1
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística as regiões de Angola agrupam as seguintes províncias:
Norte (Cabinda, Uíge, Zaire), Centro Norte (Bengo, Cuanza Norte, Malange), Centro (Benguela, Bié, Cuanza Sul,
Huambo), Leste (Cuando Cubango, Lunda Sul, Lunda Norte, Moxico), Sul (Cunene, Huíla, Namibe) e Luanda. Os
resultados da província de Cabinda, incluídos na média da Região Norte, também são analisados
separadamente.

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Figura 1: Nível de corrupção no país | Angola | 2019

100%
80%
60% 44%
40% 33%

20% 14% 10%


0%
Aumentou um Permaneceu o Diminuiu um Não sabe/Recusou
pouco/Aumentou mesmo pouco/Diminuiu
muito muito

Pergunta aos entrevistados: Na sua opinião, em relação ao ano passado, o nível de corrupção no país
aumentou, diminuiu, ou permaneceu o mesmo?

Figura 2: Desempenho do governo na luta contra a corrupção | por grupo


socio-demográfico | Angola | 2019

Angola 32% 14% 54%

Homem 34% 11% 55%


Mulher 30% 17% 54%

Urbano 35% 8% 57%


Rural 27% 24% 49%

Ensino universitário 40% 3% 57%


Ensino secundário 34% 6% 59%
Ensino primário 30% 17% 53%
Sem educação formal 28% 24% 48%

66 ou mais anos 30% 20% 50%


56-65 anos 37% 14% 50%
46-55 anos 27% 16% 57%
36-45 anos 36% 13% 51%
26-35 anos 33% 14% 53%
18-25 anos 31% 13% 56%

Região Sul 38% 16% 46%


Região Leste 35% 17% 49%
Região Centro 34% 19% 47%
Província de Luanda 33% 7% 60%
Região Centro Norte 22% 18% 60%
Região Norte 22% 11% 68%

Cabinda só 35% 8% 57%


0% 20% 40% 60% 80% 100%

Bom/Muito bom Não sabe/Recusou Mau/Muito mau

Pergunta aos entrevistados: Até que ponto você acha que o governo está a lidar bem ou mal com as
seguintes matérias, ou você não ouviu o suficiente para ter uma opinião: Combater a corrupção no
governo?

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Quatro (39%) em cada 10 angolanos “concordam” ou “concordam totalmente” que o
presidente está a usar a luta contra a corrupção como instrumento de combate político no
interior do MPLA. Mas três (31%) em cada 10 discordam desta possibilidade, enquanto a
mesma proporção (30%) “não concordam nem discordam” ou “não sabem” ou
“recusaram” (Figura 3).
Esta divisão dos angolanos é relativamente mais notável nos residentes de Luanda, pois
(37%) “concordam” ou “concordam totalmente” com a instrumentalização da luta contra
a corrupção, enquanto (36) “discordam” ou “discordam totalmente”.
Os respondentes sem educação formal têm menos probabilidade de afirmar que o
presidente está a usar a luta contra a corrupção como instrumento de combate político
(34%), assim como os residentes das regiões Norte (27%) e Leste (28%).

Figura 3: Concorda que João Lourenço está usar a luta contra a corrupção para
afastar adversários políticos | por grupo socio-demográfico | Angola | 2019

Angola 39% 30% 31%

Ensino universitário 42% 20% 37%

Ensino secundário 41% 25% 35%

Ensino primário 40% 32% 28%

Sem educação formal 34% 36% 30%

Região Centro 49% 26% 25%

Região Sul 41% 24% 35%

Província de Luanda 37% 27% 36%

Região Centro Norte 32% 43% 25%

Região Leste 28% 43% 29%

Região Norte 27% 36% 37%

Província de Cabinda 38% 38% 23%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Concorda/concorda totalmente
Não concorda nem discorda/Não sabe/Recusou
Discorda/discorda totalmente

Perguntas aos entrevistados: Por favor, diga-me se discorda ou concorda com as seguintes
afirmações: A luta contra a corrupção é um instrumento politico usado pelo Presidente João Lourenço
para afastar adversários políticos dentro do MPLA?

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Denúncia de casos de corrupção
Mais de metade dos angolanos (55%) consideram que as pessoas que denunciam actos de
corrupção às autoridades correm o risco de retaliação ou outras consequências negativas.
Apenas um terço (33%) acredita que pode denunciar casos de corrupção sem medo
(Figura 4).
A percepção do risco de retaliação é comparativamente maior nos angolanos mais
escolarizados (72%), nos residentes da Província de Luanda e da região Leste (66%), da
Província de Cabinda (65%) e da zona urbana (60%).
Figura 4: Liberdade para denunciar casos de corrupção | por grupo socio-
demográfico | Angola | 2019

Angola 55% 13% 33%

Homem 55% 11% 34%


Mulher 54% 14% 32%

Urbano 60% 9% 32%


Rural 45% 20% 35%

Ensino universitário 72% 3% 25%


Ensino secundário 61% 6% 33%
Ensino primário 52% 16% 32%
Sem educação formal 41% 22% 37%

66 ou mais anos 41% 23% 36%


56-65 anos 43% 22% 35%
46-55 anos 55% 17% 29%
36-45 anos 53% 13% 34%
26-35 anos 55% 15% 30%
18-25 anos 57% 8% 35%

Província de Luanda 66% 8% 25%


Região Leste 66% 12% 22%
Região Norte 51% 11% 38%
Região Centro Norte 53% 28% 19%
Região Sul 45% 13% 42%
Região Centro 44% 15% 41%

Província de Cabinda 65% 12% 23%


0% 20% 40% 60% 80% 100%

Risco de retaliação ou outras consequências negativas


Recusou/não sabe
Podem denunciar sem medo

Pergunta aos entrevistados: No país, as pessoas comuns podem denunciar casos de corrupção sem
medo, ou elas correm o risco de retaliação ou outras consequências negativas se elas falarem?

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Os níveis reportados de experiência pessoal com a corrupção, no acesso aos bens e
serviços públicos gratuitos ou tendencialmente gratuitos, são bastante preocupantes, pois
sugerem uma prática sistémica, funcional e institucionalizada no dia-a-dia dos cidadãos
angolanos. Entre os respondentes que tiveram contacto com os principais serviços públicos
durante os últimos 12 meses anteriores a pesquisa, cerca de quatro em cada 10 angolanos
afirmaram ter recorrido à micha ou gasosa “uma ou duas vezes,” “poucas vezes,” ou
“frequentemente” para ter assistência policial (42%) ou evitar problemas com a polícia
(42%), para obter um documento de identificação pessoal (39%), ou para ter acesso aos
serviços da escola pública (39%). Um terço (33%) disse ter pago uma micha ou gasosa para
obter assistência médica ou medicamentosa pública (Figura 5).

Figura 5: Pagar gasosa/micha para obter acesso aos serviços públicos | Angola
| 2019

100%

80%

60%

42% 42%
39% 39%
40%
33%

20%

0%
Para evitar Para obter Para obter Para obter Para obter
problemas com assistência da serviços da documento de assistência
a polícia polícia escola pública identificação médica e
pessoal medicamentosa

Pergunta aos entrevistados: Com que frequência, se alguma vez, você teve de pagar uma gasosa/
micha, dar um presente, ou fazer um favor para obter os serviços públicos que precisava?

Quem é corrupto?
Entre os principais líderes e funcionários públicos, a Polícia Nacional é percepcionada pelos
angolanos como sendo a mais corrupta: quatro em cada 10 angolanos (39%) dizem que “a
maioria” ou “todos” os agentes da polícia são corruptos, além de 30% que dizem “alguns”
deles estão envolvidos em casos de corrupção. A maioria das outras instituições sai-se
ligeiramente melhor, incluindo os funcionários do governo provincial (33% a maioria / todos),
funcionários públicos (32%), deputados à Assembleia Nacional (29%) e juízes (27%). A
Presidência é percepcionada como a menos corrupta entre as instituições-chave, quase no
mesmo nível dos líderes tradicionais e religiosos (Figura 6).

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Figura 6: Quem está envolvida em casos de corrupção | Angola | 2019

Polícia nacional 39% 30% 10% 21%

Membros do governo provincial 33% 32% 10% 25%

Funcionários públicos 32% 35% 9% 24%

Membros da administração municipal 30% 36% 11% 23%

Deputados à Assembleia Nacional 29% 31% 13% 28%

Funcionários da Administração Geral


29% 30% 11% 29%
Tributária

Juízes e procuradores 27% 33% 13% 27%

Líderes religiosos 24% 31% 24% 21%

Autoridades tradicionais 22% 32% 24% 23%

Presidente da República e membros do


22% 29% 22% 27%
seu executivo

0% 20% 40% 60% 80% 100%

A maioria/todos Alguns Nenhum Não sabe/Recusou

Perguntas aos entrevistados: Quantas, das seguintes pessoas, você acha que estão envolvidas em
casos de corrupção, ou você ainda não ouviu falar o suficiente sobre elas para ter uma opinião?

No que diz respeito tanto à polícia quanto aos funcionários públicos, os entrevistados mais
escolarizados e os residentes urbanos são mais propensos do que os cidadãos menos
instruídos e residentes rurais a afirmar que “a maioria” ou “todos” estão envolvidos em casos
de corrupção (Figura 7). Homens e mulheres compartilham a mesma percepção do
envolvimento dos agentes da polícia e funcionários públicos em casos de corrupção,
enquanto os cidadãos idosos são menos propensos do que os mais jovens a considera-los
como corruptos - talvez porque os idosos estejam menos expostos as situações que
propiciam o pagamento de micha ou gasosa. Os residentes das regiões Norte e Centro

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Norte também são menos propensos do que os outras regiões de ver os agentes da polícia
e os funcionários públicos como corruptos.

Figura 7: Percepção do envolvimento da polícia nacional e dos funcionários


públicos em casos de corrupção | por grupo socio-demográfico | Angola | 2019

Angola 39%
32%

Homem 39%
33%
Mulher 38%
32%

Urbano 41%
34%
Rural 34%
29%

Ensino universitário 52%


41%
Ensino secundário 38%
31%
Ensino primário 42%
34%
Sem educação formal 32%
27%

66 ou mais anos 34%


20%
56-65 anos 41%
29%
46-55 anos 38%
34%
36-45 anos 41%
35%
26-35 anos 38%
31%
18-25 anos 39%
32%

Província de Luanda 44%


31%
Região Centro 41%
40%
Região Leste 40%
36%
Região Sul 35%
29%
Região Norte 30%
21%
Região Centro Norte 29%
24%

Província de Cabinda 38%


37%
0% 20% 40% 60% 80% 100%

A maioria/todos agentes da polícia são corruptos


A maioria/todos funcionários públicos são corruptos

Perguntas aos entrevistados: Quantas, das seguintes pessoas, você acha que estão envolvidas em casos
de corrupção, ou você ainda não ouviu falar o suficiente sobre elas para ter uma opinião: Polícia
Nacional? Funcionários públicos? (% que disse “a maioria” ou “todos”)

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Opções na luta contra a corrupção
Os angolanos parecem depositar alguma esperança no futuro da luta contra a corrupção,
pois exortam o governo a trabalhar arduamente na recuperação dos bens financeiros e
patrimoniais roubados do estado e não perdoar as pessoas responsáveis por tais roubos.
Uma maioria (51%) dos entrevistados “discorda” ou “discorda fortemente” da ideia de que
o governo deve perdoar todos os envolvidos em casos de corrupção até Setembro de 2017
(ou seja, sob o regime do anterior presidente, José Eduardo dos Santos). Cerca de três em
cada 10 (30%) apoiam a possibilidade de perdoar os corruptos para garantir a estabilidade
política no país (Figura 8). Os entrevistados com ensino secundário (58%) ou ensino
universitário (64%) e os residentes urbanos (54%) são mais propensos a se opor ao perdão
dos corruptos do que os cidadãos com menor escolaridade (45%) ou que vivem em áreas
rurais (45%) ( não mostrado).

Figura 8: Concorda com o perdão de todos envolvidos em casos de corrupção:


pela estabilidade política | Angola | 2019

19%
Concorda/concorda
30% totalmente

Discorda/discorda
totalmente

Não concorda nem


discorda/Não
sabe/Recusou
51%

Perguntas aos entrevistados: Por favor, diga-me se discorda ou concorda com as seguintes
afirmações: Para garantir a estabilidade política, o governo deve perdoar todas as pessoas
envolvidas em casos de corrupção, antes de 2017?

De igual modo, a maioria dos angolanos (58%) “concorda” ou “concorda totalmente” que
o governo deve recuperar todos os bens financeiros e patrimoniais adquiridos por meio de
actos de corrupção, enquanto um quinto (22%) “discorda” (Figura 9). Mais uma vez, os
entrevistados mais escolarizados (79%) e residentes urbanos (67%) são os mais propensos a
favorecer a recuperação de todos ativos financeiros e patrimoniais do que os cidadãos
menos instruídos e residentes rurais. Mais de dois terços dos inquiridos residentes na Província
de Luanda (71%) concordam com a recuperação, Região Leste (67%) e Região Centro
Norte (67%), bem como na província de Cabinda (78%).
Entre os angolanos que concordam com a recuperação dos activos destacam-se
relativamente os mais escolarizados (79%), residentes de Cabinda (78%), de Luanda (71%),
zona urbana (67%), mais jovens (61%) e os homens (60%).

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Figura 9: Concorda com a recuperação de todos os bens financeiros/patrimoniais
adquiridos por meio da corrupção | por grupo socio-demográfico | Angola | 2019

Angola 58% 20% 22%

Homem 60% 21% 19%


Mulher 56% 19% 24%

Urbano 67% 17% 16%


Rural 41% 27% 32%

Ensino universitário 79% 11% 10%


Ensino secundário 72% 15% 13%
Ensino primário 53% 23% 24%
Sem educação formal 36% 30% 34%

66 ou mais anos 49% 21% 30%


56-65 anos 53% 23% 24%
46-55 anos 48% 23% 29%
36-45 anos 58% 20% 23%
26-35 anos 59% 18% 23%
18-25 anos 61% 21% 18%

Província de Luanda 71% 14% 15%


Região Leste 67% 11% 22%
Região Centro Norte 67% 3% 30%
Região Norte 58% 21% 22%
Região Centro 51% 26% 23%
Região Sul 36% 36% 28%

Província de Cabinda 78% 4% 19%


0% 20% 40% 60% 80% 100%

Concorda/concorda totalmente
Discorda/discorda totalmente
Não concorda nem discorda/Não sabe/Recusou

Perguntas aos entrevistados: Por favor, diga-me se discorda ou concorda com as seguintes
afirmações: O governo deve recuperar todos os bens financeiros/patrimoniais que os cidadãos
adquiriram por meio da corrupção?

Conclusão
Angola registou um crescimento assinalável no índice sobre a percepção da corrupção da
Transparency International. Contudo, ainda está distante das médias quer seja da África
Subsaariana, quer seja mundial. Os dados do Afrobarometer indicam que esta percepção é
também partilhada pelos próprios angolanos. A maioria dos angolanos acha que o governo

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não está a fazer o suficiente para combater a corrupção; que o presidente está a usar a
luta contra a corrupção como instrumento de combate político interno no MPLA; e que o
Estado não tem vontade de proteger os denunciantes.
Mas eles claramente depositam alguma esperança nos órgãos da justiça do país para fazer
face aos casos de corrupção, punindo os corruptos e recuperando os activos financeiros e
patrimoniais adquiridos com recurso aos actos de corrupção.
Para os formuladores de políticas e a sociedade civil, estes resultados apontam também
para a necessidade de se elaborar estratégias para aumentar o sentimento de segurança
pessoal dos cidadãos, sobretudo daqueles que se envolverem em campanhas de denúncia
da corrupção

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www.afrobarometer.org/online-data-analysis.

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Referências
Jornal de Angola. (2020). Angola sobe 19 lugares no ranking contra corrupção. 14 de janeiro.
Negócios. (2020). PGR de Angola apreende mais imóveis do empresário Carlos São Vicente. 25 de
setembro.
O Observador. (2020a). Angola melhorou 19 pontos no índice de perceção da corrupção da
transparency international. 23 de janeiro.
O Observador. (2020b). PGR angolana ordena congelamento de contas e apreensão de bens de Irene
Neto/. 18 de setembro.
Público. (2020). Justiça portuguesa congela contas bancárias de Isabel dos Santos avança o expresso.
11 de fevereiro.
Transparency International. (2020). Corruption Perceptions Index 2019.
TVI24. (2020). Braço direito do presidente angolano arrecada milhões em contratos públicos. 21 de
setembro.
Voz da América. (2019). Tribunal congela finanças e bens de Isabel dos Santos, seu marido e
presidente do banco de fomento. 30 de dezembro.
Voz da América. (2020). Suíça congelou centenas de milhões de dólares de contas controlados por
genro de Agostinho Neto. 30 de agosto.

Carlos Barnabé Upindi Pacatolo é politólogo e Investigador Principal da Ovilongwa – Estudos


de Opinião Pública, parceira angolana do Afrobarometer. Email: pacatolo@yahoo.com.br.
David Joaquim Chinhenga Boio é sociólogo e Investigador Principal da Ovilongwa – Estudos
de Opinião Pública, parceira angolana do Afrobarometer, e Investigador do Centro Sol
Nascente do Huambo. Email: davidboio@gmail.com.
A Afrobarometer, uma corporação sem fins lucrativos com sede no Gana, dirige uma rede
de pesquisa pan-africana e não-partidária. Coordenação regional de parceiros nacionais
em cerca de 35 países é fornecida por Center for Democratic Development (CDD) no
Gana, Institute for Justice and Reconciliation (IJR) na África do Sul, e Institute for
Development Studies (IDS) da University of Nairobi, no Quénia. A Michigan State University
(MSU) e a University of Cape Town (UCT) prestam apoio técnico à rede.
O apoio financeiro à Ronda 8 do Afrobarometer foi prestado pela Swedish International
Development Cooperation Agency (SIDA), Mo Ibrahim Foundation, Open Society
Foundations, William and Flora Hewlett Foundation, e U.S. Agency for International
Development (USAID) através do U.S. Institute of Peace.
As doações ajudam o Projeto Afrobarometer a dar voz aos cidadãos africanos. Por favor,
considere fazer uma contribuição (em www.afrobarometer.org) ou contactar Bruno van Dyk
(bruno.v.dyk@afrobarometer.org) para discutir o financiamento institucional.
Para mais informações, visite www.afrobarometer.org.
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Afrobarometer Edição No. 396 | 9 de outubro de 2020

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