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O HERDEIRO Um Bebe para o Bil Yule Travalon
O HERDEIRO Um Bebe para o Bil Yule Travalon
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Romances Yule Travalon
Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
encontrei ali o tipo de personagem que eu queria: um cara ativo, que pratica
esportes e mantém uma vida movimentada. Isso não quer dizer que
pessoas que sofreram esse tipo de lesão são como meu personagem. Cada
pessoa é única. E cada vida é um recorte que vai desde as escolhas que fez
No mais, se há qualquer outra coisa a ser dita, foi dita pelo poeta.
Então usarei sua canção para resumir cada capítulo, cada parágrafo, cada
O que é amar.
(“Sangrando” de Gonzaguinha)
Uma nota importante sobre a ATUALIZAÇÃO
coisa que gosto muito. Pois essa ferramenta me permite atualizar o arquivo,
consertar os erros gramaticais e rever frases e posturas que enquanto autor
tomei.
Dito isso, essa atualização chega ao seu livro com duas mudanças:
então num estudo de personagem, concordei que ele usaria o termo correto
“PcD”.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm).
respostas é algo que eu, como leitor, odeio, decidi atualizar o arquivo para
procuravam.
Calma. Não vou te dar spoilers aqui, caso você esteja lendo pela
primeira vez!
mas isso ficou fora de questão, porque as pessoas teriam de voltar do início
está lendo ainda terá tempo de ter suas perguntas respondidas antes de
terminar e quem vai chegar vai ter acesso a tudo no final da obra.
Ok?
Ok.
Yule Travalon.
P.S.: as atualizações estarão no livro físico. E o livro passará por
nova revisão até lá, para deixar tudo lindo e perfeito para vocês.
QUATRO ANOS ATRÁS
dentro dos bolsos da calça jeans e afundo o corpo no sofá conforme vejo o
homem alto, moreno e de olhos reluzentes se aproximar.
Não cheguei aqui por acaso. Houve um longo tempo entre a proposta
Pesei e julguei tudo o que estava envolvido e percebi que era a coisa
Até pensei que ele havia se esquecido de nosso acordo, já que não me
onde eu estava e enviou um carro luxuoso que me trouxe da Zona Norte até
Pelo caminho eu me distraí com a névoa que cobria desde a copa das
Não consigo.
Não sou de ficar envergonhada, mas agora sinto minha face toda
queimar, ao vê-lo. E meu corpo parece que fica todo gelado quando nossos
olhares se encontram.
é assim. Ele deve ser 10 ou 15 anos mais velho do que eu, sim. Mas está
definitivamente longe da imagem que criei de um homem rico que
— Nunca fez isso o quê? — O timbre forte da voz dele me faz tremer
mente, parece bem mais impactante agora do que quando falamos por
telefone.
— Nunca fez sexo ou vendeu sua virgindade por cem mil reais?
homem de 1,90 diante de mim. Seus braços devem ser do tamanho das
minhas coxas e seu olhar mostra o quanto ele é experiente e sabe lidar com
envelhecido que traz em seu copo redondo e se senta numa poltrona diante
de mim.
A sala da casa desse homem faz parecer que não existe privacidade:
consigo ver pela noite escura e densa lá fora: três carros na garagem ao
lado, uma piscina mais ao fundo e uma miríade de luzes fraquinhas no
encarar uma árvore gigantesca no meio da sala, acho que foi a coisa mais
No início fico em dúvida sobre o que isso significa, mas sua mão
faço.
perto do mar, rescinde contra meu rosto, e ele segura firme em minha mão.
Depois, com um puxão rápido que não me deixa escapar, me coloca em seu
Meu coração que estava quase saindo pela boca, agora está preparado
em mim parecia fora do lugar. E agora parece que ele quer causar a mesma
Fecho e aperto os olhos com força ao sentir suas duas mãos tocarem
me abraçando com uma firmeza que faz com que cada parte de mim
Esse homem tem uma voz forte e potente, mas agora, ao pé do meu
seu ombro.
me causa uma sensação estranha que ainda não tinha experimentado por
toda a vida.
tentação.
— Eu vou cuidar de você… — Seus dedos fortes acariciam meu rosto
Meu coração está prestes a sair pela boca… e parece que para, quando
sinto sua mão invadir a minha calça e massagear sutilmente por cima da
minha calcinha. O senhor Lamarphe me encara no fundo dos olhos, os
— Como sou o seu primeiro, vou fazer de tudo para tornar esse
— Não tem como ser mais especial do que ganhar 100 mil reais —
Com a cabeça ele acena de modo negativo, mas com o olhar me faz
A mão livre dele traz o celular diante do rosto. A tela ilumina suas
pupilas negras que contrastam com o resto do olho cintilante. Não importa o
que está fazendo, não para de me tocar. Consegue, não sei como, afastar a
minha calcinha e massagear uma parte que me faz querer travar as pernas e
me jogar para cima dele, perco o fôlego tão rápido que até me desequilibro.
A princípio não quero olhar, não quero estragar o momento, mas ele
insiste.
Lamarphe.
— Machado de Assis.
me deixou paraplégico.
maldito momento, há dois anos. Não há um dia que passe sem que eu
toque de sua mão em meu braço quando o impacto nos acertou em cheio.
reabrir uma paciente que teve hemorragia interna, após algum descuidado
Dia após dia, há dois anos, eu preciso provar que estou apto
mas nunca me deixam atuar sem que uma equipe gigantesca esteja
momento.
E pensar que um dia fui o nome mais forte para ser o CEO desse
lugar…
Mas dessa vez eu não pude esperar pela assistência médica, só contei
Toda vez que estou à trabalho no centro cirúrgico, uso uma cadeira de
camas e macas do hospital podem ser bem altas e não estarem devidamente
para a minha presença, não sei se é porque estou sem jaleco ou somente
cirúrgico.
submissão. O Viking sempre teve esse efeito sobre os outros, desde quando
e registros sumiram...
seu destino final. Assim que abre, Ayslan me leva para fora e me empurra
da Vice-presidência.
se eu fosse um anão.
Este hospital, como a maioria dos lugares, não foi preparado para
fariam desistir, pedir para voltar a ser docente em tempo integral, quem
gerenciando papelada...
Não.
Meu trabalho é a única coisa que me mantém vivo, o fio que segura
— a secretária informa.
— Agora não, ainda tenho trabalho pelo resto do dia — ele agradece
com a mão. — Tem gente esperando para ter a virgindade de volta lá
— E a doutora Han? — Meu tio olha para nós dois e por fim percebe
— Eu vou morrer.
Aguardo que ele prossiga e diga o restante, mas tudo o que faz é
— Todos nós vamos morrer um dia. Todo ser humano tem duas coisas
A família é muito grande, mas a única pessoa com quem sempre tive
real proximidade foi o meu padrinho. Foi ele quem insistiu que eu deixasse
a Itália e viesse para o Brasil, ser seu braço direito. Ele me ajudou e me
apoiou em todos os momentos, ainda mais após o meu acidente.
nervoso.
salvar vidas sente, ao ouvir ou saber que não pode salvar uma. Ainda mais
uma tão próxima e conectada à sua própria vida... Já passei por isso uma
Então eu vou me casar e vou revelar o meu testamento. E vocês dois, assim
como a doutora Han, estão nele. Então... Compareçam...
relapso e descuidado foi consigo mesmo e agora só diz que quer... Casar?!
formalidade agora.
meu padrinho me deixa imobilizado mais uma vez. — Nunca é tarde para o
amor.
Não sei quantas conversas tivemos nos últimos anos. Mas a minha
Aguardo alguns segundos para dar direito à réplica. Como ela não
vem, dou o assunto por encerrado e dou meia volta para seguir o meu
caminho.
— Rubem Alves.
— Ninguém vai te tratar melhor do que um homem tentando te
comer.
arremessa na bagagem.
para trás e rio em silêncio, ou não sei se choro para expulsar toda essa
frustração.
parece que aprendo mais sobre mim mesma do que sobre eles. E eu
Nas cinco primeiras saídas foi legal. Eu podia ter sido desovada em
disso.
Nas outras dez, parecia que eu conhecia o roteiro muito bem: qual o
“Minha foda, minha vida” ou só dando meus dados para que alguém faça
um cartão da Riachuelo...
de noiva na mala, nosso voo é em três horas! — Patrícia reclama, passa por
por cima do macacão vermelho que usei para sair em mais um desses
Mas sabe o que nunca vou usar de verdade, faça chuva ou faça sol?
reflete pureza. Confiro o busto ornado com pérolas e cristais, a cintura tão
luxo e poder. Ajeito o véu diante do meu rosto e vejo toda a cozinha turva,
Cada vez que saio com um babaca vejo que estou longe de colocar o
especialidade. Há quatro anos, ele abriu o seu próprio ateliê e viveu toda a
fama que merecia, após viver na sombra de estilistas que roubavam seu
Acho que foi nesse momento em que de fato virei adulta, aos 23 anos,
meu irmão mais novo, agora chega tarde em casa, sempre bêbado e gritando
comigo e eu me sinto culpada por ver os negócios da família indo por água
abaixo.
As coisas estavam indo bem... papai parecia saudável e estava feliz
por trabalhar junto comigo no ateliê e me ensinar seu ofício, que sua mãe
lhe ensinou... agora não sobrou mais nada, além de dívidas e algumas
os meus sonhos, para ser o suporte da família, que está em pedaços. Não
mão na cintura e bate o pé. O suspiro parece alto demais, devido ao silêncio
da casa.
grande empresária daqui de São Paulo, mas no fim ficou tão bonito, que ele
frágil e fecho, sem colocar mais nada ali dentro, para que não amasse, nem
Papai vivia muito inspirado nos últimos tempos, por isso produziu
alguns ternos e vestidos e me disse que não os venderia. Não até encontrar o
preço certo. Dizia ele que eram as relíquias da família e que ainda
conseguiríamos ficar ricos com elas.
Bem... desde que papai morreu as coisas não têm sido fáceis. E não é
todo dia que você recebe a ligação de uma grande amiga que revela que vai
Mackenzie.
Planejamos uma linda e gloriosa carreira juntas, até a vida puxar cada
uma de nós para um canto. Helô se formou e foi trabalhar de cara em um
E eu...
Eu, mais do que ninguém, acompanhei toda sua luta e seu esforço
para conquistar cada cliente, cada pequeno espaço, e quando a demanda
apenas eu.
— Ih, minha filha, desencana — ela fala com naturalidade e bate com
um pênis de borracha em cima da mesa. Em seguida liga o vibrador dele e o
voz dele...
— Ih, minha filha, isso aí quem faz pela gente é a nossa mãe. Homem
borracha da mesa e lanço nas mãos dela, toda essa vibração chega a me dar
um nervoso.
botas. E vai se casar para dar golpe no velho. Certa ela, vou chegar nesse
casamento fingindo que sou cupim.
— Cupim?
— A paixão dela tem cor: azul. E tem número: 100. E vem numa
mala, cheia de notas não marcadas... Yasmin, não faz essa cara. Quem gosta
de homem é a mãe deles, que tem a obrigação de aturar. Heloísa gosta é de
dinheiro e está realizando o sonho dela e o meu. Agora se arrume logo que
o maior período que já passei longe dele, vai ser muito difícil ficar sem o
meu pequeno menino e vou sentir muitas saudades.
vai te comprar aquele carrinho que você tanto quer. — Faço um longo
cafuné em sua cabeça e o assisto dormir.
Fico mais alguns minutos para assisti-lo dormir, até ouvir a barulheira
de Patrícia lá embaixo.
Desço as escadas com uma mala de mão pequena, com coisas muito
— Essencial? — Deslizo o rosto para observar bem tudo isso. Não sei
nem se vai caber no uber que vamos chamar. — Uma mala de pirocas é
essencial?
Fernando de Noronha. O povo vai estar tudo doido e eu vou vender prazer
ilimitado. E se eu organizar direitinho, ainda vendo ingresso pra suruba...
— Minhas roupas.
Tem maiô, tem biquini, tem fita isolante e bronzeador para fritar no sol...
tem maquiagem, tem laquê, tem perfume, tem dez tipos de sapato...
outra, Patrícia? — Vou até a mala que está deitada no sofá, aberta.
encostar.
— Perdi nada não. Olha, não conta para a Helô que te contei, mas fui
eu que fiz o trabalho para ela conseguir fisgar o coroa. Se deu certo para
ela, vai dar certo para mim. Quer um para você também?
exaltada.
— Ah, não sei... vai fazer oferenda, tem farofa, tem cachaça, tem até
beterraba e alface, coisa que nunca vi. Não devia ter um frango?
— Renato Russo.
abraçados pelo calor de Recife e eu me senti feliz por não estar usando
Não tivemos que esperar muito para seguir o nosso destino final,
que minha amiga trouxe – e me garantiu que não era qualquer tipo de
trabalho espiritual.
privilegiada nos Dois Irmãos, duas rochas gigantes uma ao lado da outra de
Encaro-a.
enfermeira?
Jurei a mim mesma que quando tivesse dinheiro para tirar férias, iria
para Miami, quem sabe as Bahamas ou até mesmo a Itália…, mas agora,
depois de ter uma vista panorâmica desse patrimônio brasileiro, duvido que
E super entendo o fato de Heloísa ter escolhido aqui para registrar seu
momento de amor, este é um lugar para ficar eternizado na memória.
Patrícia diz toda animada. — Quero sair daqui com um ricaço na coleira e
não é? — Rio.
homem milionário, dar um golpe e ser feliz com toda a experiência que a
amiga que vai se casar. Patrícia sai empurrando o carrinho de qualquer jeito,
animada.
abraço da outra amiga, que a tira do chão e começa a girá-la em seu próprio
eixo.
— Meu Deus, pra quê tanta felicidade? Quem vai casar sou eu!
vencem na vida. — Patrícia agarra a mão que nossa amiga ostenta uma
mesmo!
mensagem. E o abraço que sinto dela me faz sentir que ficamos sem nos
bunda.
mesmo.
— Fazer o quê, né… ser mãe me valorizou pra caramba — dou uma
voltinha.
vão estar todos aqui, família italiana, cada pedaço de mal caminho…
— Ai, amiga, é tão bom te ver! Estou tão feliz por você! Parabéns!
força. — Vamos logo, pois quero experimentar esse vestido e ajustá-lo, para
que depois disso possamos aproveitar cada minuto nessa ilha paradisíaca!
— Sim!
de celebridade. Eu nem estava com fome, mas depois de ver tantas frutas
coloridas, além de pães, caldos, bolos e pescados, me convenci de que
leva para o canto. — Amiga, se você quer me foder, pelo menos me paga
uma cerveja primeiro. Não sou tão exigente não…
É… pensando bem, até que não é tão bonito não. Que lugar cafona…
vontade enquanto estiverem aqui, tudo será pago no cartão do meu marido
— ela minimiza a situação.
naquele estúdio — ela aponta para uma construção que fica um pouco
adiante, após a piscina de ladrilhos cinquenta tons de azul, coqueiros altos e
A minha rotina e obrigações são o elo que tem mantido minha cabeça
no lugar. Não gosto sequer de lembrar da época pós-acidente em que fiquei
meses sob observação, de molho e quase um ano inteiro sem poder voltar a
trabalhar.
em minha fala para enganá-lo e parece que resolve, meu amigo volta a
deitar e aproveitar o sol do fim da tarde.
Ela precisa saber que nem tudo é festa e alguém nessa família é contra
toda essa loucura. Sei que não posso impedir, mas ao menos posso assustá-
la e mostrar que não pode me enganar, sei reconhecer uma aproveitadora
quando vejo.
Está tão distraída vendo sua própria imagem no espelho e parece tão
Verdade seja dita, o maldito do velho Lamarphe tem bom gosto para
mulheres, isso eu nunca duvidei e acho que de certa forma herdei isso dele.
A mulher tem curvas que nem mesmo as ondas do mar ou nuvens cortadas
por caças poderiam produzir. O cabelo negro é longo e cobre quase suas
costas toda, sua pele é morena e parece uma bonequinha com não mais do
Não consigo ver seu rosto e seus olhos, está posicionada de uma
forma diante do espelho em que não tenho acesso a isso, mas a julgar pelo
resto do pacote, deve ser só uma dessas modelos de passarela que acha que
vai ter vida fácil ao se casar com um homem que está prestes a bater as
Não vai.
safanão.
Ainda tenho tempo para vê-la jogar o vestido de noiva para o ar e cair
em cima de mim, o impacto faz com que minha cadeira rode para trás e eu
não consigo pará-la até sentir a parede bater contra minhas costas.
do meu corpo, tomando cuidado redobrado para que não toque o chão,
Papai ficaria orgulhoso de vê-la usando uma de suas obras de arte. Ele
sabia o quanto minhas amigas eram importantes para mim, por serem meu
minha feição no espelho. Fazia tempo que eu não ficava tão feliz
dele ou se salto para fora. Mas as duas mãos dele seguram com firmeza em
meu braço.
Meu cérebro de repente deu uma tela azul, ou melhor, talvez cinza, e
só consigo encarar o olhar raivoso dele. Aparentemente deve ter me
seu pescoço e prendendo a respiração, tenho certeza de que sei quem ele é.
Meu cérebro parece que para e vem uma sensação estranha de frio na
barriga.
enquanto examino o rosto dele. Respiro de uma só vez diante do rosto dele
e tento reagir.
impulso e sair.
grande.
Dou alguns passos para trás, ainda sem cortar o campo visual. Ele
intrigado mesmo.
em silêncio.
alguém?
baixo ventre aquecer. De repente parece que sou nocauteada com o cheiro
— Você não é a noiva? O que pensou, que iria armar todo esse plano
Ou talvez seja apenas uma miragem, meu cérebro deve estar pregando
peças… vi o rosto desse homem em tantos outros, sonhei com ele tantas
vezes, desejei que me tocasse só mais uma vez, mas ao que parece,
Guilhermo Lamarphe só tinha interesse em arrancar a virgindade de uma
vez ser um inferno na terra… a minha não. Ele soube tornar tudo tão
que envelheceu muito bem. Agora sua barba é dividida em tons cinzas e
negros, as marcas ao redor de seus olhos mostram que viveu muitas coisas e
— Então onde está a aproveitadora? Quero ter uma conversa com ela.
— Aproveitadora? — Cruzo os braços. — Do que diabos você está
falando?
Novamente ele ri. Depois olha para o lado e respira fundo, dois
— O meu tio vai se casar com uma maldita aproveitadora que só quer
tirar o dinheiro dele — explica. — Ele tem pouco tempo de vida, perdeu o
juízo e acredita que se casar com uma qualquer vai provar algum ponto para
mim ou para minha família.
Eu juro que tento me concentrar no que ele diz, mas os lábios dele se
mexem de uma forma tão tentadora que uma parte do meu cérebro desliga e
com tanta força que cada vez que seu lábio tocava o meu, ou sua barba
roçava entre as pernas, eu tinha vontade de pular e sair do lugar.
E mesmo após a conversa ter sido encerrada, ele não vai embora.
Continua a me observar em silêncio e eu não saio de onde estou. Cara feia
para mim é fome, e se ele está com fome, posso resolver o problema dele.
Guilhermo, mas o seu tio disse que estava indisposto, então não fomos
apresentados… — ela diz toda educada. — Eu sou Heloísa…
O olhar que ele lança à mão dela, faz parecer que está suja de cocô ou
Balanço os ombros e fico imóvel até que ele esteja fora do estúdio.
vestido e faz o mesmo que eu, minutos antes: corre até o espelho e o coloca
diante ao corpo para ter noção de como vai ficar.
Tento me concentrar no que devo fazer agora, até esqueço onde está
minha bolsa de costura. Só consigo pensar em Guilhermo de cadeira de
rodas.
O que será que aconteceu?
— Como estou?
— Espero que seu pai, lá no céu, esteja feliz por esse vestido ter caído
feito uma luva em mim. Acho que você terá pouco trabalho, ele parece ter
sido feito para mim…
— Sim…
— O Guilhermo?
deslumbrante!
— Não, é que…
disse que eu estava dando um golpe no tio dele… e depois que eu falei que
era a minha amiga que iria se casar com o tio, ele disse que você era… —
evito completar.
— O que foi?
— O que tenho para te contar é segredo — ela diz. — E ninguém
mais pode saber.
Ainda não sei onde ela quer chegar, mas na dúvida, concordo.
— Hum…
— Não me diga que ele quis comprar sua virgindade — cubro a boca.
— Não, sua louca! — Ela ri. — Ele propôs que eu me casasse com
ele. De mentirinha. Para dar uma sacudida no sobrinho e…
— Aham.
— É uma provocação.
Cubro a minha boca com uma mão, a outra segura no braço dela.
— Meu Deus…
— Bem… ele acredita que esse casamento fake pode ser a provocação
perfeita… também é um tiro desesperado, porque a qualquer momento o
Alfredo pode morrer, ele está em estado terminal.
pergunto.
— Entendi, então isso tudo é para fazer ele ter raiva de você e querer
— Cecília Meireles.
Diante da piscina olímpica, solto inúmeros palavrões em italiano. A
minha paciência foi reduzida a zero e não sei porque perdi a cabeça ao
reencontrar Yasmin.
virgindade.
Depois que ela desapareceu por quatro anos, sem me dar notícias,
perdi a esperança de vê-la novamente.
vale à pena porque é único, só ocorre uma vez e por isso precisa ser
especial.
Com ela foi mais do que especial. Ela se entregou completamente a
fazia anualmente. Foi tão especial que ela se tornou mesmo inesquecível.
Tão doce, olhos gentis e rosto redondo… assim como sabe ser
o que custasse.
quanto mais demora, mais raivoso fico, evito chutar[12] os sapatos mocassim
para não ter de catá-los feito um imbecil mais tarde. Depois desabotoo a
— Merda!
Não importa.
confiro que o choque térmico não foi o bastante para enganar meu corpo.
Mesmo que eu seja tão frágil como um bebê da cintura para baixo, percebi
em poucas semanas, após acordar, que minhas ereções não foram afetadas.
Tentei me readaptar a essa nova vida, mas nada estava completo sem minha
rotina sexual.
Eu sempre fui um cara ativo e depois que arranjei uma parceira sexual
fixa, fazíamos todos os dias pelo menos duas vezes, em qualquer lugar, em
ter relações de novo, e ainda assim com muito medo do meu campeão não
funcionar direito… e mesmo depois que percebi que ele ainda estava vivo,
um bom soldado de guerra que foi ferido, mas não abatido, acho que só
Não foi por falta de tesão. E a insegurança foi embora cedo, sou um
médico cirurgião, fui treinado para agir sob pressão, tomar atitudes diante
das situações mais imprevisíveis e o sexo voltou a me causar uma euforia
boa. O que faltava era alguém especial. Alguém que não me visse como um
pobre coitado acorrentado a uma cadeira e sim como o homem que sou.
que a vi, a primeira vez que a desejei e fiz tudo para conseguir tê-la.
sentir a água me cobrir, três segundos depois meu corpo boia. Em outra
quando encaro o céu escuro, sinto como se estivesse voando, livre das
minhas limitações.
ir.
Eu não me lembro da última vez em que não fiz… nada. E não pensei
cintura, mas ao mesmo tempo é bom estar aqui dividido entre sentimentos
de raiva e tesão.
— Meu Deus! — Ouço uma voz feminina aflita, mas deixo para lá.
Preciso relaxar.
— E?
Que merda! Quando ela me toca, meu corpo parece ser vítima de
uma corrente elétrica que me deixa ainda mais aceso. E mesmo que
instintivamente eu queira me afastar, não consigo.
— Sei lá, eu pensei que algo poderia ter acontecido… você podia ter
tido um desmaio e caído… não sei… eu não pensei… eu só vim correndo e
Mas não sei se ela gostaria de ser voluntária para o que eu quero…
— Não vai dizer nada? — Ela arfa, desesperada. Ainda não soltou o
meu braço e a água está nos puxando levemente para a borda.
tanto quanto, quando toca em meu corpo para me afastar e pega exatamente
onde não deveria. E pelo choque, parece que não quer soltar.
Yasmin fica muda. Abre primeiro o olho direito, ainda não sei se
surpresa ou desapontada por não ter sido beijada.
trás também.
— Não, Yasmin. — Acho divertido o fato dela ainda não ter soltado o
volume da minha sunga. Puxo meu corpo com as mãos e a pressiono com
força contra a piscina. — Acho que é você que está em perigo…
quer fugir, mas vai ficar só mais um pouco para ver onde isso vai dar.
agora, sinto uma tensão que lembra quando a vi pela primeira vez.
— Quê?
Pisco os olhos até perceber que falei alto mais para mim mesmo do
— Desculpa. — Ela enfim solta meu pau. — É… eu… não sei o que
dizer… bem…
— O quê?
Quando a chamo pelo nome, parece que vira outra pessoa, ainda
parece não acreditar. Eu também. Até consigo esquecer que ela é amiga de
alguém que quer dar um golpe em minha família e sou transportado para a
primeira vez que a vi… a primeira vez que a desejei… a primeira vez que a
tive.
Mas ela nunca sequer me mandou uma mensagem após aquela noite.
molhada…
— Precisa de ajuda?
costas e ficar ostentando meu campeão querendo sair da sunga, ela já o viu
de cabeça dura?
— Você é médico, sabe muito bem que ninguém gripa por esse
motivo. Gripe é um vírus — ela me corrige.
Ela se lembra?
Mordo o lábio inferior e rio por dentro. Agora me lembrei porque essa
mulher me atiça. Diferente de todas as outras com quem estive, ela parece
não saber seu lugar. É extremamente jovem, teimosa e respondona.
Viro o rosto em sua direção e a vejo abraçada aos joelhos. Parece com
medo, parece excitada, parece até que lembrou como é ser minha.
observando lá de fora.
— Você não deixou de ser safado — ela cruza os braços, ainda de pé.
assisto ir para o lugar onde está hospedada. Em seguida seguro com firmeza
para sair da água e fico sentado, me contorcendo um pouco para vestir a
sunga. Assim que termino, sinto uma toalha ser jogada em meu ombro.
— Seque-se também para não gripar, doutor — ela ri e se senta ao
meu lado.
aqui. E por incrível que pareça, sinto saudade desse momento em que meu
único pensamento era me sentir vivo e ser observado por essa mulher.
— Não.
“A vida acontece num equilíbrio entre a alegria e a dor”.
— Carl Jung.
turvas e se perdendo.
Eu me lembro com riqueza de detalhes do momento em que perdi a
virgindade, mas havia esquecido outras coisas daquele dia. E uma delas foi
para mim.
pouco.
Parecia até a mesma cena, só que dessa vez ao ar livre. E foi gostoso
parecia não ligar para a situação, demorou quanto tempo quis no centro do
filé mignon. — Ela acena com a cabeça para um bando de homens que
parecem fotocópias uns dos outros.
bonita, mas ainda acho que ele é o mais charmoso dentre todos. A barba
que orna seu rosto e seu olhar irritadiço dão um ar de homem caliente e
vivido.
Esse reencontro foi muito inesperado e não sei o que sinto sobre ele.
— Nada…
piscina...
Diz logo o que estava fazendo… disse que ia ajudar a Helô com o vestido,
— Pois é… eu fui ligar para o meu filho e depois fui para a piscina, já
disse…
Patrícia que não é boba nem nada, deve ter juntado ‘um mais um’ e
levanta o olhar para Guilhermo. Ele não é o único que está com vestes
casuais e de sunga, mas certamente é o que mais chama atenção, ainda mais
duas curvadas. — Depois eu te explico! Mas não fiz nada impróprio não…
— Yasmin...
lugar…
rápido.
— Ah…
Patrícia se diverte.
carregado de julgamento.
preoccuparti[18].
Ela me lança um olhar que ignora tudo o que eu disse, dá meia volta e
sei que vai fazer um prato gigantesco de comida. Dizem que mãe é mãe em
querem.
E a minha quer sentir que seu filho que perdeu tudo está bem.
— Não tão cedo, a não ser que aquele velho tente nos arrastar para lá
também.
— Bom, quando quiser, é só me avisar, mando facilitarem as coisas
Europa, como sempre tentando ser útil e tirar um pouco do meu dinheiro.
do céu…
— Você é pior do que eu, Han, não descansa nem aqui. — Massageio
minhas têmporas.
— Depois vai ficar com indigestão e vai dar trabalho para sua mãe!
vez.
mostro para os demais que se afastem e nos deixem a sós. — Não vai parar
com toda essa idiotice?
— Um dia você vai entender minha decisão… até lá, espero que a
respeite e continue ao meu lado.
É muito difícil, mas não posso negar estar com ele, apoiando-o.
Mas por que logo com uma mulher que parece uma aproveitadora?
tudo quando já era tarde demais… entretanto, tudo o que posso fazer agora
é estar ao lado dele e viver cada momento como se fosse o mais importante.
— Você é minha família e não vou te abandonar, não importa as
efervescentes. São como uma bola de fogo que tende a crescer e consumir
tudo por onde passam. E a minha vontade agora é de explodir esse lugar e
Por hora me contenho a dar meia volta e sair do lugar, para respirar a
noite.
Patrícia e Heloísa perceberam que Guilhermo estava próximo e
mudaram o tom da conversa para provocá-lo. Creio que atingiram o
objetivo, ele saiu furioso pela porta, não sem antes fazer uma cara de que
tiraria a mesa e cada uma de nós do lugar com uma única mão.
não parece animado o suficiente para ficar no meio de tanta gente, tanto
barulho…
— E daí?
você queira…
reunir toda a sua família, de um jeito bem rápido e prático. Acho que foi
uma forma inteligente de rever a todos…
Estou incerta sobre o que digo, não devo me meter nos assuntos dos
outros, ainda mais em um tão delicado. Mas ao terminar de dizer,
É claro que não lhe direi que tudo isso é um golpe, para colocá-lo
diante de toda a família e depois forçá-lo, como herdeiro de quase tudo, a
— Eu ouvi que ele tem pouco tempo de vida, está muito doente...
Talvez ele tenha feito isso para dar um último adeus. Normalmente são os
que ficam que se despendem, ele mudou as regras. Antes de ir, quer se
— É... é bem a cara dele fazer isso — Guilhermo diz, no fim até ri,
Fui mal acostumada pelos caras babacas com quem saí por todos
esses anos. Todos sempre tinham elogios, mas depois quebravam o clima
O silêncio dele me assusta, a priori. Dou até uma checada para ver se
ainda está ali ao meu lado ou se sorrateiramente fugiu, sem fazer barulho.
— Eu falo algo sobre mim… você fala algo sobre você… não é assim
que funciona? — Rio.
Meu Deus! Eu estou tão ansiosa e quero ouvir da boca dele o que
ombros.
— Tudo bem. Ficar paraplégico não foi o pior... perdi a minha mulher
e filha...
Cubro a boca e arregalo os olhos. Meu Deus! Era pior do que pensei!
por contar isso, mas também parece mais leve e liberto. Como se tivesse
tirado uma parede de concreto que estava entre nós dois.
— Você sabe que sua mão ainda está gordurosa, não é? — Ele abaixa
o olhar e eu recolho minha mão.
Depois ele começa a rir, o que me deixa menos tensa e me faz rir
também.
— E por que não tem feito isso na sua casa? Lá tem um piscinão, se
brincar, maior que esse. — Volto a comer.
balançar os ombros.
— John Green.
Vejo os cabelos negros dela esparramados pela cama, enquanto
do toque em seu cabelo. Assim como da sua pele macia, quando ela vira o
cama.
Abro os olhos e vejo o Viking bem perto de mim, a primeira coisa que
nela e me dirijo ao banheiro para lavar o rosto e fazer minha rotina matinal
de higiene.
Quando saio do quarto, até me assusto. Vejo Lisa, Ayslan e meu tio
comilona.
— E então, como foi seu primeiro dia dormindo em um lugar que não
mim...
— Não estou com raiva, tio — aceno com a cabeça. —
Decepcionado, talvez, mas não com raiva. Primeiro por seu descuido com a
própria saúde e segundo... por que se casar? Logo você que passou a vida
toda livre...
— Eu sei...
— Sim, eu sei.
— Fiz medicina na Itália por sua causa, vim para o Brasil porque
você tinha...
herança... — lamento.
— Quando descobri que tinha pouco tempo de vida, tudo o que pensei
minhas conquistas...
— Não, Guido.
— Não?
— Da mesma forma que você me admirou a vida toda até aqui, quero
que admire o meu último ato. Nunca é tarde demais. Nem para mim, nem
para você...
tive...
Não sei porque, mas fico todo arrepiado quando ele diz isso.
meus amigos lá fora para que retornem. Me deixa aqui plantado no lugar,
animado.
— Dio... — suspiro.
Meu tio e Lisa Han entram na frente, ansiosos. Eu fico tenso, até ver
Ayslan entrar com uma cadeira preta que parece de praia, só que com pneus
rodas! — Vejo que elas são muito baixas e tento ponderar como vai ser
manobrar na areia.
você.
satisfeito.
Fico tão absorto que as palavras fogem da minha boca. Só quero
xingar e reclamar.
à praia, me sinto conectado comigo, com minha terra, com o meu eu. Você é
da Sicília.
Deve fazer mais de três anos, foi da última vez que pulei de asa delta.
Rio de Janeiro.
ela não gosta de uma boa olhada, ficou se exibindo ainda mais, empinando
a bunda, conforme era observada.
pomposa.
a areia.
Patrícia está babando. Seu rosto está virado na direção em que três
— Sim — respondo, tomando cuidado no tom que vou usar para não
— Ô.
Imediatamente parece que acende um alerta na cabeça dela e eu
sacudo a cabeça.
— Tô disfarçada.
Só sei que noite passada, fui dormir pensando nele. Imaginando como
foi superar o acidente – coisa que aparentemente ele não superou... E
— Dormiu bem?
— Com uma coisa boa — é tudo o que ele diz e faz um gesto rápido
— Bom dia....
até chegar no limite em que a água lambe a areia e depois retorna para o
mar. — Esquece.
— Não posso.
— Não pode?!
— Albert Einstein.
aplicativo, o frio na barriga foi perdendo o sentido... até agora. Cada vez
momento ou como foi viver depois dele... coisa que nem mesmo o pai do
arrepio toda.
à ilha.
mergulho que parece tirar do meu corpo todo o cansaço e má sorte que me
perseguiu por tantos anos. Não sei por que, mas quando minha cabeça sai
água bate nos joelhos do mais alto e quase cobre toda a cadeira anfíbia em
que Guilhermo está. Daqui consigo ouvi-lo resmungar, o que acho muito
engraçado.
pediu”.
toda força.
outro não para de empurrar e eles seguem até que a cadeira toda fique
de vida!
em mãos, diz.
Mesmo com o barulho e o balanço das ondas do mar, além dos outros
— Não, esse lugar vai ficar marcado por ser o lugar em que a
filha sentada nos ombros, levo um susto quando Guilhermo cobre a minha
boca.
Como ele veio parar aqui? Pensei que ele estava junto com o amigo!
Acho que me distraí e não vi a hora que ele mergulhou e veio parar
aqui.
ele desdenha bem próximo ao meu ouvido e dá uma volta ao meu redor,
Não estou com a cabeça submersa, mas parece que perco o fôlego ao
tê-lo tão perto de mim. Seu rosto molhado e os cabelos sem forma, a ponta
— Sério?
peitoral estufado, faz com a cabeça um sinal de que não vê diferença e volta
a me encarar.
Eu fico nervosa quando ele me olha. Já faz tantos anos que não nos
vemos e a sensação que tenho, toda vez que nossos olhares se cruzam, é a
mesma de quando entrei em sua mansão pela primeira vez... quando estive
dele.
— Cala a boca. — Ele bufa e estapeia a água mais uma vez, eu repito
Ficamos nessa situação bem infantil, rindo feito dois idiotas, até ouvir
o grito do Ayslan, amigo dele, que acena a alguns metros de nós.
— Sim, consigo!
— Sobre ontem... não quero que fique com uma impressão ruim de
assim.
vejo o rosto úmido dele, sou nocauteada pela lembrança do beijo que me
deu, agarrado ao meu pescoço, arrancando e me devolvendo o fôlego.
Não sei como, mas meu corpo todo se eriça, só pela lembrança.
Como o mar, cada átomo, cada célula, cada órgão e pedaço meu
deveríamos.
maior.
braços e nada até ficarmos bem próximos do animal, que para a minha
surpresa, acena.
Não sei se estou arrepiada debaixo d’água, só sei que meu corpo todo
estou apreensiva.
Estou presa no lugar, a única coisa que faço prontamente é subir para
Dessa vez, quando sou chamada, nado até Guilhermo com certa
Não sei se teria coragem de tocar nos animais, não sem Guilhermo
aqui, parece que ele sabe o que está fazendo e está no controle da situação.
me faz abraçá-lo por trás. Meu corpo volta a se comprimir quando ele toma
o controle dos meus movimentos, segura em minha mão direita, abre bem
os meus dedos e os estende diante seu corpo.
golfinho em meus dedos, depois sua pele passa pela palma da minha mão,
parece bem escorregadia. O filhote aparentemente se esconde atrás do corpo
do pai ou mãe, que nos observa com uma espécie de sorriso amigável.
Meu coração não para de bater rápido. Não acredito no que acabei de
fazer.
que assisti, não tinha noção de que o animal era tão grande e longo, e
mesmo “sorrindo”, seus dentes afiados pareciam intimidadores.
— Não?!
— Então teve muita sorte. Estranho eles estarem tão perto da praia,
devem ter se perdido. E é melhor não contar a ninguém, essa é uma área em
preservação, não se pode nadar deliberadamente com eles, sem o
acompanhamento de um especialista — ele diz em tom informativo, mas
também se vangloriando.
aproximou.
— Para eles foi só um dia normal... viram uma bella donna e decidiram dar
um oi.
assim que eu me sentia..., mas após perder o meu pai e ter que cuidar de
minha família, fui encolhendo, diminuindo, até me sentir uma anã dentro de
mim mesma.
E sem dizer nem mais uma palavra, ele me beija com tanta paixão e
intensidade que sou transportada exatamente para aquele primeiro momento
em que o vi e senti dentro de mim que ele era o homem certo.
Seus lábios cobrem a minha boca e num estalo se afastam, para cobrir
meu pescoço de beijos e subir rente à minha nuca, respirando tão perto de
minha pele, fazendo-me sentir todas as palavras que guardei para dizer-lhe
quando um dia o reencontrasse.
Agora não me sinto mais boba pelo impulso estúpido que tive agora
há pouco.
Agora foi ele quem sentiu e não se segurou. E esse maldito beijo
desperta em mim, coisas que pensei que estavam guardadas há quatro
longos anos.
sempre.
Será que quando o beijei, minutos antes, ele sentiu o mesmo que eu?
Como seu corpo reagiu quando sentiu o meu novamente?
Porque eu ainda estou confusa, entregue e excitada de uma forma que
não lembrava mais como era. E não se trata só de uma excitação corporal.
— Stai bene? — ele pergunta, diante dos meus lábios, após sugar
meu lábio inferior bem devagar.
vou ter um troço a qualquer momento, vamos voltar para a terra firme.
diz”.
— Albert Camus.
Mesmo sabendo que era pura mentira, as palavras ditas foram lindas.
Ele não disse nada sobre o beijo que lhe dei e eu fiquei ainda mais
confusa quando fui beijada por ele. E as minhas dúvidas agora só cresciam,
minha face.
tempo na praia.
E o fato dele ter me beijado não vai me deixar em paz por dias!
e parece muito mais em paz do que a última vez que tratamos sobre este
— Sério? — o provoco.
Não sei o que deu em mim. A presença dele ainda me causa uma certa
Em minhas memórias ele será sempre o cara alto e viril que tirou a
cadeira de rodas, em sua própria mente. Não parece nem de longe o cara
— Preciso te agradecer.
feição.
lembrar?
brilharem.
— O despacho que eu fiz assim que cheguei, por nós duas. — Ela me
encara com tanta seriedade que começo a achar que ela não estava
mim.
— É sério isso?
para pegar uma cor e receber muita vitamina D, além de fazer algumas
trilhas.
Tentei tornar cada momento útil e único, eu não achava que merecia
O jeito sarcástico dele fez falta. Seu olhar de tédio, sua loucura
obrigado.
Subo as escadas e vou direto para o quarto do meu filho e quando não
o vejo em canto nenhum, parece que me socaram o estômago. Perco o
e me levanta.
um revólver.
— O que é isso? Cadê o meu filho? Por que você está com isso?
— O que aconteceu?
— No quarto dela.
Numa rápida averiguada, percebo que este é o único lugar da casa que
ficou inteiro.
minha amiga.
— Não, por sorte ela tinha levado o PH para sair nesse dia... — Diogo
me encara da mesma forma que sempre me olhou desde a morte de papai:
Onde que eu estava com a cabeça quando decidi viajar e deixar eles
sozinhos?
apostas?
irei pagá-los em até três meses, senão voltam aqui e… — ele engole em
seco.
Essa última parte me aterroriza, mas a informação anterior não me
vezes.
O lugar está vazio, até o computador velho foi levado. A mesa está
— Patrícia, ele tem razão. Olha o que fizeram com a nossa casa… —
Não escondo que perdi as esperanças já. — Quanto você está devendo,
Diogo?
— Quatrocentos.
outro.
— Não. A casa que o nosso pai tanto lutou para comprar, não! — Me
levanto.
Só agora percebo que nós três estamos tremendo. E eu não sei o que
fazer.
acontecia aqui.
Eu sou a responsável.
— Cara de… quem não tem mais forças pra lutar, né amiga?
Mal ela termina de falar, eu a abraço com todas as minhas forças. Não
sei o que seria de mim sem a minha amiga.
— Escuta, nada de mal vai acontecer a você, ao seu filho, sua mãe, ou
esse moleque imbecil e burro! — Patrícia dá um tapa na nuca dele.
— Você tá armado e eu tenho uma pomba gira que tá doida pra girar a
mão na tua cara, seu desgraçado!
— Guilhermo.
— Prometa.
— Eu prometo, padrinho.
— Prometa que vai voltar para casa — ele sorri. — Vai dar
significado à sua vida… não espere que seja tarde demais…
Aceno com a cabeça e vejo sua feição ficar bem mais tranquila.
— Não vale… — Ele respira fundo e tosse. — Não vale à pena viver
sem amor.
Mas fiz tudo o que estava ao meu alcance, desde que ele retornou de
Noronha. Estive sempre ao seu lado, ouvi tudo o que disse e dormi na
cadeira de rodas por dois dias, enquanto estava aqui ao seu lado, dando-lhe
forças.
— Fernando Pessoa.
— Eu estou muito mal! Não sei o que fazer com o meu irmão…, mas
estômago.
relutei. No fim acabou sendo uma manhã bem agradável, nos divertimos
respeito?
momento e não ficar preocupada, para não surtar. — Vender o corpo? Você
acha que me dariam 100 reais por programa? — Tiro a bolsa do ombro e
começo a rodar.
próximo que cheguei disso foi o Dênis, com quem saí umas três vezes no
tinha o meu pai, ele era talentoso, me fazia sentir segura e sabia o que fazer
para ter tudo sob controle em casa.
uma opção? — Heloísa me puxa pelo braço quando um hippie tenta nos
— Fala!
— Eu posso tirar dos meus fundos pessoais para que vocês comprem
— Amiga… você estava tão bonita, agora parece que pegou uma
gripe ou alergia!
atônita e desviando das pessoas, até ela subir uns degraus pretos e passar
por uma porta de madeira maciça que tem três vezes minha altura, em um
dinheiro!
— Não podemos começar sem a viúva! — Um dos dez advogados do
Estou pronto para arrancar cada fio de cabelo meu com uma pinça de
tanto ódio.
chegou perto. Agora, na leitura de seu testamento, o salão está cheio. Vejo
meus primos que estavam em Noronha, uns tios espiando um por cima da
— Espero que ele tenha feito a coisa certa, pelo menos no momento
final da vida — ela reclama e cruza as pernas.
tempo do que todas essas pessoas, parecem mais tristes do que todas elas
juntas.
Meu Deus, por que essa garota está acompanhada de tão péssima
companhia?
do ex-marido.
— Oi.
— Obrigado, Yasmin.
segue, sinto seu abraço apertado e caloroso. Sinto seus dedos me apertarem
nas costas e sua cabeça pousar em meu ombro.
não contenho minhas mãos que sobem devagar e agarram suas costas nuas
no vestido preto. Aperto sua pele macia e ouço um leve gemido em meu
bom humor e ela fica chocada, até se afastar e encarar minha face. — Era
um safado desprezível e que do cristianismo, só gostava dos pecados e do
vinho.
meu telefone.
voz da aproveitadora.
Yasmin é um oásis no meio do deserto que é sua amiga. Mas não a
julgarei pelas péssimas companhias que anda, eu por exemplo tenho Ayslan.
inicia, faz a leitura chata e minuciosa dos dados pessoais do meu tio, seu
endereço e o nome de suas testemunhas na data da assinatura do testamento,
Chegou com as mãos vazias e vai sair da mesma forma. Ela achava
Justo. Imagino que ele passaria a mansão para um filho, mas como
não teve, deixou para os irmãos.
Já imagino as brigas por dividir a mansão, embora ela seja grande o
— Seu amor pela arte e pela cultura me faz crer que cuidará bem de
chão.
— Ele está deixando herança para pessoas que não tinham o sangue
dele? — Minha mãe torce o nariz. — Espero que tenha deixado algo para
nós.
recebo tal herança com alegria. Não vou mentir, não quero nada disso, mas
seria pior se ficasse para a esposa de merda dele.
Guilhermo Lamarphe…
são exatamente três meses — Lisa diz para esclarecer, mas só me deixa de
cabelo em pé.
administra tudo e todas as posses que eram de Alfredo D. Lamarphe até que
Guilhermo cumpra a condição para herdar tudo…
Estou tão chocado que nem sei se estou respirando. Mas estou
ouvindo atentamente.
— Sim.
tudo!
— Charles Bukowski.
certa forma, todos receberam, mesmo não sendo do jeito que queriam…
controle da aproveitadora.
Como ele foi tão estúpido para dar tudo de mãos beijadas para ela?
cara, é exatamente o tipo de coisa que ele faria. Ele gostava de nos
se ele não fosse meu orientador… o cara tinha um senso de humor… — Ele
— Que foi o que, Ayslan, não percebeu a roubada que ele me meteu?
— A roubada que ele te meteu — o outro ri. — Cara… é tão simples.
— Simples?
— Não é simples assim. Não se casa com alguém sem amar. Não se
que está saindo muita fumaça dela e que estou tão vermelho quanto posso.
analisa.
— Do mundo então.
advogados a mais, os melhores do mundo, só para ver até onde essa batalha
judicial vai.
que não dá a mínima. — Em oito… doze anos, talvez… até lá vou ter sido
colecionava.
fim tudo for meu, eu farei como bem entender… — E sai desfilando.
furioso.
com desprezo.
— Guilhermo, me escuta.
— Não. Não quero ouvir. Foi bom te reencontrar, preciso admitir que
ainda senti uma conexão com você, naquele dia. Mas você é igual a ela.
minha vida!
vontade.
— Fala sério!
encarar olho a olho, na mesma altura. — Alfredo era um playboy, mas que
tinha gosto pela vida, pelo mundo, pela cultura. Ele comprou, ganhou e
— Eu sei.
— É…, mas até vencer essa batalha judicial, ela vai ter queimado
metade do patrimônio.
testamento.
— E se eu não quiser?
Ayslan ri.
Minha mão vai tão rápida na gravata dele e o puxa ainda mais rápido
diante de mim, que Ayslan arregala os olhos e tenta se afastar, mas estou tão
furioso que não há força que ele faça que vai se soltar do meu aperto.
— Ok.
— Prometa.
— Eu prometo.
— Promete o quê?
— Que nunca mais vou dizer que eu meteria nela por você. — Ele
— Ninguém.
As pupilas dele lentamente se dilatam. Ayslan vira até o rosto para ver
se observa novamente a morena, mas a essa altura, ela já deve estar muito
longe daqui.
— Cala a boca.
perfeito.
— Que merda.
— Amigo, não faz graça não. Você tem 89 dias para tentar
— Tá.
— E a minha aposentadoria.
Ela não diz nada e eu fico ainda mais aflita. Atravessamos o sinal e
minha feição.
meio avermelhados.
— O que tem?
Eu não sei.
da sua vida?
começar o dia, que quando volte para casa eu sinta que valeu à pena.
— Eu não sei…
— Porque ele não existe, Yasmin! Acorda para a vida! — ela ralha.
— Você tem a síndrome da princesa da Disney, quer encontrar um homem
que traga seu final feliz. Gata, você não vive em um conto de fadas!
— Sim, mas…
hoje de manhã meu maior problema era uma soma alta em dinheiro que
precisava conseguir em três meses, senão meu irmão perde a cabeça e vão
Guilhermo?
— O quê?
Dênis, está criando o filho de vocês sozinha, você diz que quer voltar a
amar e ser amada…, mas quando a oportunidade aparece, foge. Porque está
em negação!
Abaixo a cabeça.
— O quê?
— Amiga, eu escolhi você porque eu sei que não vai ter o filho com
ele. Ele vai perder tudo. E nós duas saímos ganhando…
— Não.
Tudo muda absolutamente quando ela diz que quer envolver Patrícia
nisso. Essa com certeza venceria Guilhermo em um 07x01. Mas o coitado
não merece tanto sofrimento assim…
— Sim.
— Ótimo. Então agora ele tem 89 dias e 23 horas para fazer esse
neném… ou vai perder tudo!
extraordinários”.
— C. S. Lewis.
dia.
Não sei o que me deu mais prazer: poder chefiar a equipe pela
eles o meu falecido tio. E talvez pelos outros médicos estarem fora do
felicidade e todos olhando para mim, tento voltar à expressão séria de antes.
Subo à testa os óculos de lupa que usei para enxergar com detalhes
A sensação é tão única e forte que me marcou para sempre, foi ali que
café e descansem.
antecede a saída.
— Deixe a família vê-la assim que acordar, não deem nada gorduroso
me.
— Sim, senhor.
Assim que saio pela porta, sou abordado por alguns alunos residentes
— Doutor.
Meu Deus, eles não vão me deixar ir embora… preciso pegar o meu
celular e ver se Yasmin me retornou. Tomei a dianteira e enviei uma
Érica.
Restaurante Romano. Às 18h em ponto eu já estava lá, não era tão longe de
onde eu morava.
— Amiga, por favor, eu não sei nem onde enfiar a cara! — Confiro
— Não, não, não. Sem gracinhas hoje, por favor... você e Heloísa me
— Você pelo menos sabe como iniciar o flerte que leva para uma boa
foda, né?
Patrícia de repente me lança um olhar sedutor e eu não seguro a
risada.
não demorar pelo menos isso, nunca mais nos veremos de novo.
— Sim, mas nenhum bebê será feito essa noite! — Insisto. — Quero
me desculpar, ouvi-lo e ver se rola alguma coisa… e Heloísa foi bem clara:
— Obrigada!
Assim que entro e dou o meu nome, o maître me encaminha para uma
mesa no andar de cima. O teto do ambiente é uma representação fidedigna
péssima ideia, pois inalo todo o perfume dele até precisar tatear a mesa para
sentar.
porque…
encara com seus olhos grandes. — Não tenho vivido os meus melhores dias
e foram tantos acontecimentos ruins seguidos, que foi mais fácil descontar
Ih, a água custa 15 reais, melhor dizer que já vim jantada e tá tudo
certo.
— Por quê?
— Três.
por algumas horas — ele pensa. — Não tem com quem deixá-lo? Uma
amiga? Seus pais?
Espera.
Não vai dizer um: “ah, não quero ser pai do filho dos outros”. Ou:
Estranho.
— Já escolheram?
a picanha mal passada — ele diz. — Essa noite não bebo, estou dirigindo.
Uma vida inteira bebendo Cantina da Serra, não vai ser um vinho
barato de restaurante que vai me derrubar.
que vou deixar todo meu dinheiro nesse prato. Espero que valha a pena,
pelo menos.
— Quando o seu pai faleceu?
— Eu sinto muito.
— Não sei se estou pronto para ser pai — ele sorri de um jeito
sincero. — Tantas coisas ocorreram em minha vida que… eu só não quero
Será que aprendeu mesmo? Alguém que não volta para casa, como se
estivesse fugindo de lá, não me parece que aprendeu alguma coisa.
— Eu não tenho uma boa relação com o meu pai. Desde o acidente
nós brigamos e não voltamos a nos ver. Não tive bons exemplos de figuras
paternas…
Suspiro de raiva.
— Eu perdi algumas memórias... foi até por isso que fiquei de molho
no hospital, sem poder exercer minha profissão. Passei um longo período
apenas sendo professor ou supervisionando.
Num aceno negativo com a cabeça, ele ri. Tento insistir um pouco
— E como foi?
isso é o de menos, eu trabalho, vivo bem com o que tenho, não é disso que
estou falando…
— Aham.
— Sim…
— Se tivesse que proteger e cuidar das coisas que seu pai costurava, o
que você faria?
— Tudo.
pai. Eu perdi a minha filha antes mesmo de poder pegá-la no colo, ver seus
olhos, sentir seu cheiro…
— Mas eu sei como gostaria que fosse a minha relação com o meu
pai. Eu saí da Itália e vim para cá, porque ele nunca gostou de mim.
Gostaria que ele me enxergasse como sou e me valorizasse pelo que sou.
Gostaria de ter sua atenção, seu respeito, seu carinho. Não vou negar isso
a um filho meu.
abandonar. Nós seremos para sempre uma família, mesmo que nós dois não
venhamos a dar certo. Eu vou amá-lo, vou respeitá-lo, vou dar a ele tudo o
que não recebi do meu pai, e não irei jamais culpá-lo, bater nele ou
castigá-lo por erros que por ventura eu venha a cometer em meu
trabalho…
Agora ele está falando como se após ouvir tudo isso eu quisesse que
ele fosse pai do meu bebê.
… E eu quero mesmo.
— Vou deixar tudo para o nosso filho. Ele será o herdeiro de tudo,
não preciso do dinheiro, da casa, de nada. Tudo o que quero é manter o
legado dele, o trabalho que ele fez por toda a vida e isso inclui o hospital. É
conversa tomou.
— Rubem Alves.
demarcada por seus músculos, o vão entre os botões deixam sua pele
— Vou cuidar bem de você essa noite, Bella dona — ele diz, enquanto
meu pescoço, depositando um beijo doce e leve, que conforme sobe para
tira do lugar.
dele, agarrada ao seu pescoço. Não paro de me mexer, não sei para onde
mais quero subir, só sei que a fricção no peito dele acende algo em mim e é
muito gostoso.
E cada vez que esse homem me pega pela nuca e faz seus dedos
subirem abertos até o topo da minha cabeça e afaga meus cabelos como se
parece que nos encaixamos, tanto na boca quanto no corpo e isso gera uma
combustão em mim.
tira sua última peça de roupa, chuta com o pé para qualquer canto do quarto
cima do meu, sinto seu pênis pressionar bem forte contra a minha calcinha.
Eu o abraço com força e me sinto tomada pelo cheiro, pelo calor e
Quando sua pele toca na minha sinto que deixa um rastro de fogo. E
quando sua língua desliza pela minha boca eu sinto que flutuo, mesmo
— Meu Deus — eu rebolo debaixo dele quando sinto sua mão descer
por minha virilha e seu polegar encontrar uma parte sensível minha, como
percebi a hora que ele tirou o meu sutiã, agora só sei que ele está me
encarando com muito tesão, enquanto chupa o meu mamilo com calma.
fio de sanidade.
Ainda mais sob os olhos sérios deste homem e sua boca grande que
— Não para.
— Eu não vou parar — ele diz de bom humor. — Não vou a lugar
algum, estou aqui com você — beija o meu mamilo e volta a chupá-lo
devagar.
A língua desse homem em minha pele me causa sensações que nunca
pensei que podia sentir antes. É uma mistura de arrepio com quero ficar
— Sim.
— Quero que se lembre dele — ele ri. — E o fale, sem parar, cada
Então eu devia ter começado a falar sem parar, desde que estávamos
lá embaixo…
calcinha com as duas mãos, ela praticamente desliza por minhas pernas.
A primeira coisa que faço quando meu corpo não está mais coberto
me cobrir.
— Ok.
Faço uma contagem regressiva mentalmente para afastar as mãos,
de joelhos na cama, o pau totalmente ereto. — Não seja má… eu quero ver
você… quero sentir seu cheiro… quero sentir o seu sabor… quero entrar
em você…
— Calma, eu prometi que iria ser gentil. Vamos até onde você
conseguir aguentar. — Ele retorna quase se deitando em cima de mim, mas
Eu prometo.
Sua voz me tranquiliza e a forma como ele suga meu lábio inferior me
pele de um homem que parece queimar quando toca em mim. E agora, com
ele sugando meu clitóris, eu não sei nem ficar parada. Meu corpo parece
— Guilhermo!
permanecer assim.
O grito que solto é abafado dentro da boca dele e minhas mãos vão de
encontro às costas dele, o arranho com toda a força que tenho conforme
entra bem duro e pulsando dentro de mim.
— Guilhermo — choramingo.
— Sim.
— Relaxe as pernas… respire… não precisa se comprimir toda…
— Ok…
— É que é grande…
Agora tudo parece mais estranho, meu corpo parece que sente falta…
que loucura!
brilhantes.
ponto e permanece ali. Seu olhar continua atento ao meu, parece que
examina cada uma das minhas expressões. E suas mãos confortam o meu
corpo, acariciando-o.
Ainda é incômodo, mas estou distraída em outras sensações.
Agora sinto que de fato nos conectamos, não apenas nosso beijo se
encaixa, mas nossos corpos também.
Atualmente
casa.
Empurro o corpo para frente uma, duas, três vezes, até que enfim abro
— Obrigado pelo jantar, foi ótimo poder sair com você. E novamente,
parabéns pelo excelente dia! Que venham mais cirurgias! — Bato palmas
de um jeito desengonçado.
chamar! — Meu Deus! Onde é que eu estou com a cabeça? Por que eu
disse isso?
Estou alegre demais. Acho que minha boca está me traindo e dizendo
em voz alta tudo o que penso.
— Temos que tentar muitas vezes... — Tento corrigir, mas não sai
— Bom… então foi uma ótima noite. Meu primeiro encontro em que
não quero fazer a Rihanna e matar um homem!
excessivamente coisas que não devo. Dou uns tapas na boca e abro a porta
do carro, pronta para sair.
esse desgraçado enfiou a língua em mim de um jeito que ninguém mais fez.
— Durma bem.
ferro”.
— Sigmund Freud.
Quando tento abrir os olhos, fecho-os imediatamente, pois a claridade
dançar!
cara rico. — Coço a região dos olhos por debaixo dos óculos.
puxa de uma vez e entrega uma xícara de café bem forte nas mãos. — Mas
já começo a bambear.
dinheiro urgente.
que parece lavar a alma. Seco os cabelos, visto uma blusa preta e calça
Patrícia joga uma mochila preta grande em minhas mãos. Segura com
Agora vamos, que os vibradores não vão se vender sozinhos! — Ela vai na
frente, decidida.
É a ideia mais louca que ouvi – após ser indicada como barriga de um
herdeiro para obter a herança. Mas se tem uma pessoa que vende areia no
Meia hora depois, em uma parte mais nobre da zona norte, cá está ela
religião!
atiça. Até eu fiquei toda ouriçada e curiosa em saber onde tudo isso vai dar.
eletromagnéticos que acendem sua libido e continua firme e viril até você
encurrala a mulher.
mãe veio ao hospital Rota da Vida. Ela nunca veio ao hospital, não que me
lembre.
pego no armário um terno reserva e jogo por cima da camisa social branca.
Chego à sala da vice presidência o mais rápido que consigo, e ao passar
— Ah! Uma mãe zelosa não pode mais visitar seu filho querido?
— Muito bem. — Ela anda pelo lugar, acho que em algum momento
Ele não disse exatamente “estiver com seu filho”, mas “ter um filho”.
Acho que de tanto ficar na ponte Sicília – São Paulo, ela está engasgando na
própria língua.
Viro o rosto para a janela e tento respirar fundo, mas parece que não
consigo.
— Mas, pai…
quadro, em que tio Alfredo, jovem, está com o Dourado, seu grande amigo
e co-fundador do hospital. — Fazendo idiotices mesmo depois de morto…
isso — proponho.
Ela se nega a sentar, mas joga sua bolsa e seu casaco de pele em cima
da poltrona dele.
CEO para que isso fosse feito, pelo menos até a próxima reunião do
conselho.
— Pois é. — Aceno com a cabeça. — Até lá, tomei por bem cumprir
está dormindo!
— Mamma…
— Você não terá filho com nenhuma mulher! Muito menos uma que
está aqui para dar o golpe da barriga, assim como a outra tentou, com o
casamento!
Fico até sem saber o que dizer. Aparentemente ela já decidiu por
mim.
preciso fazer a minha parte para garantir que tudo ficará bem.
sociedade?
— Eu já fodi ela.
Agora sim lhe desferi um tapa. Ela fica tão vermelha que fica
— Não. Você não disse isso em voz alta e nunca deve repetir!
Ela vem até mim, o barulho dos saltos parece que ocupam toda a sala
vazia.
hospital. Mas eu tenho uma vida lá fora! Eu sou membro da alta sociedade
brasileira! Eu tenho um exemplo a dar!
— Todos tem seu teto de vidro, mas as paredes têm ouvidos! Guarde
os seus segredos para você e nunca os diga em voz alta, nem mesmo para
mim!
Acho curioso ela mencionar isso. Sempre fui muito próximo dele.
Se isso é ser prática, não sei o que estou tentando fazer, então.
paralisada.
Ela ficou parada, meio curvada com a bolsa e o casaco em mãos, mas
Exagerada…
—… E aí, menina, ela que nunca teve sorte no amor, agora vai ser
obrigada a ter um filho com esse cara rico, para que o testamento seja
cumprido e ele assuma as posses do falecido tio. — Patrícia toma um ar só
para beber o suco e encarar a quinta cliente do dia. — Esses biscoitos são d-
i-v-i-n-o-s!
— Ela vende?
— Na verdade, sim…
— Então eu vou querer cinco pacotes! — ela diz animada.
falta uma velha bruxa vir dar uma maçã para ela comer…
— É… — suspiro.
— Obrigada…
— (Autor Desconhecido).
Patrícia passa o caminho inteiro na volta para casa comemorando que
Ela é doida, devo admitir. Mas quando quer uma coisa, não há nada
que a pare.
— Olha só, acho que temos visita. — Ela aponta com a cabeça o
Meu Deus, eu devo ter bebido muito mesmo para não reconhecer o
carro de Guilhermo.
deve se apoiar para entrar e sair. Depois fito seus olhos prateados.
acabei te beijando…
— É.
— Não precisava de todo esse trabalho. Você havia dito ontem que
queria te ver.
Limpo sua testa de suor e confiro sua temperatura, ele parece bem.
Phellippo fita o mais velho de um jeito mais inquieto, tenta espiar por
com mais atenção, não passa despercebido que suas pupilas crescem. No
— Oi, PH!
pedindo aprovação.
mãe chia, põe a mão no peito e praticamente se arrasta até chegar a mim. —
que só me faz dar uma curvada para frente e depois voltar a posição
anterior.
expressão de que estava com muita pressa. Mas agora parece que quer sim
entrar.
— Certo, vou aceitar o convite, porque tenho algo a tratar com você.
— Pode vir!
— Ok.
A porta do motorista dele abre de uma forma diferente das outras, ela
sobe completamente e então o banco dele é projetado para fora e desce por
uma espécie de elevador. Antes disso Guilhermo pega a cadeira de rodas
um jeito rápido.
Não consigo descrever o alívio que sinto por eles terem gostado um
do outro.
lo com curiosidade. Agora presta atenção nos gestos que a criança faz, meu
filho é e sempre foi muito expressivo. Papai dizia que ele falava com as
Peço todas as desculpas possíveis por não haver jeito dele entrar pela
Dizer isso praticamente faz parte da cultura brasileira, mas dessa vez
destruídos.
sala, onde eu abro espaço para que ele fique diante de mim no sofá.
— E pintar… cantar assim: o sapo não lava o pé, não lava porque
não quer — ele se engancha em algumas palavras, mas canta bem alto e
animado, balançando as mãos.
— Sim!
pensando o quão surreal é essa cena. Esperei tanto tempo por um momento
assim, que não sei o que sentir…
Tudo bem que Guilhermo e eu não temos nada. Mas o fato dele não
menosprezar meu filho ou até mesmo fingir que ele não existe, já me faz
sentir bem.
longa história…
minha feição de que seu palpite está certo, fecha o cenho. — O que houve?
polícia?
Ele não é o rei que não aceita a ajuda de ninguém? Então quero que
ele saiba a sensação de como é quando outra pessoa quer ajudar e não
querem aceitar.
Agora que ele perguntou, confesso que dói um pouco. E não bebi
muita água, desde que acordei, mas tomei café em praticamente todas as
casas em que fui vender vibradores.
— Sim — minto.
com maestria em minha direção. — Beba — diz como se fosse uma ordem.
— Devia ter falado disso tudo na noite passada… você chegou bem
tarde, sua mãe devia estar muito preocupada…
enquanto me avalia.
— Sim…
Não sei por que, mas sinto um alívio quando tratamos de uma forma
tão natural sobre esse assunto. Acho que depois de tantos nãos e caras
babacas, estar conversando com um que age de forma digna e adulta, me
deixa surpresa.
copo.
— Pode deixar.
— Não faço ideia se você possui algum acordo com a Heloísa, mas
me adiantei em eu mesmo produzir um acordo.
O arquivo em PDF é gigantesco. E seu título é: Contrato de
Casamento.
fazendo…
Eu que pensava que não podia ficar com o coração mais desregulado,
agora sinto um calor insuportável me subir, coço as orelhas e continuo a
deslizar o dedo pela tela do celular.
esse?
dedicou a vida inteira nisso, não posso permitir que caiam em mãos erradas.
Então tudo o que peço é a parte do hospital, os direitos autorais de sua
produção científica, por qualquer meio, e só. Mansões e dinheiro serão do
nosso filho.
e com o valor que quer. Eu vou transferi-lo imediatamente para sua conta.
— E depois? — O contrato é tão longo que vou precisar consultar
— Depois você se muda para a minha casa. Pode levar a sua família
e… sua amiga. E vai viver como a minha mulher.
— Fernando Pessoa.
Dizia ele, que o pai dele dizia, que quando os antigos navegavam em
direção à guerra, eles queimavam os seus navios – coisa que séculos depois
“Novo Mundo”.
contas, não é vencer a guerra, mas sim, retornar para sua casa, ser
Não perca!
Não se renda!
missão.
Alfredo Lamarphe.
passada?
— Agora o fantasma do velho voltou para me assombrar — rio de
uma forma de garantir que nada fique para a tal Heloísa. Mas me diga, a
em 77 dias?
— Ficou maluco?
dia?
diz tudo.
— Então… é que você sabe que engravidar não é tão fácil, não é? Ela
você descrevê-la tão bem... devo admitir que não acreditava na existência
dela, até você me levar à praia em Noronha e me mostrar que ela era real.
lembrava dela. Não reconhecia os rostos dos meus familiares, também não
levava a ela.
novamente.
jaleco.
— Bem… só espero que ela ligue rápido, pois são 3 meses para
colocar esse neném no forno…, mas são em média 6 dias férteis… o que
rico para fazer uma inseminação. Então boa sorte! — Ele acena com o bip
médico que pisca sem parar. — O dever me chama, amigo! — ele diz e sai
da sala.
Vivi dez dias de completa agonia.
Ela só disse que traí sua confiança e estava roubando sua herança…
Isso me deixou mal nos primeiros dias, mas depois refleti que a
— Eu quero…
ser uma figura masculina boa para o pequeno. Ele deixa bem explícito no
contrato que gostaria que você retornasse à universidade e se formasse,
também coloca que vai ajudar financeiramente a reerguer o ateliê do seu pai
e conseguir bons clientes para as peças…
— Parece que tudo está a meu favor… — Apoio o rosto com as mãos.
adoraria ser mãe novamente, mas quero me conectar com alguém… quero
ter tudo que não tive com o pai do Phellippo!
— Não.
vez que havia ido, fui acometido por vários sentimentos no caminho.
Quando nossos olhares cruzam, ela sorri e dá uma leve inclinada para
descuidada. As poucas folhas que lhe restaram, parecem prestes a cair. Fito
rapidamente seus galhos secos, até sua raiz.
comento alto e volto a encará-la. — Espero que tenha uma resposta para a
minha proposta...
— É óbvio que não — ela sorri do mesmo jeito, jogando seu charme.
Não sei por que cada parte de mim fica em alerta quando a vejo. É
como se sem querer eu saísse do lugar ou se meu estômago se comprimisse
de uma só vez.
— Você tem muitas exigências. Quer que eu volte a estudar, quer que
eu venha morar aqui, quer que eu tenha um filho com você o quanto antes...
— É — meneio a cabeça.
erros do passado, não quero ficar grávida de um cara sem nem saber direito
quem ele é. Isso inclui, é claro, que você aceite a minha ajuda quando for
preciso. Sei que é independente e quer mostrar que consegue fazer as coisas
sozinho..., mas eu sinto que isso cria uma barreira entre nós.
— Justo.
— Não faça essa cara de surpresa, Guilhermo, você sabe muito bem
que sim.
“Sexo é escolha, amor é sorte”
— Rita Lee.
instante que nos vimos. Meu corpo começou a reagir antes de seus toques
ou beijos, apenas um olhar me fez suspirar e suar, perder o controle da
Aprendi tantas coisas naquela noite sobre a vida, corpos e desejo que
—Bella donna.
Uma corrente elétrica percorre meu corpo de imediato, não sei onde
começa, só sei que deixa um rastro quente pela minha espinha e se expande
em meu baixo ventre. Suas duas palavras ficam ecoando em minha cabeça e
antes de estender o pé em sua direção, é como se eu visse a jovem Yasmin
Seu olhar duro e carrancudo não me dava medo, assim como sua
barba bem feita mesclada com fios brancos faziam meus pelos do braço se
eriçarem.
eu pensei por anos que já não era mais possível. No silêncio que precede a
do meu corpo.
Eu sinceramente não sei. Jurei a mim mesma que nunca mais veria
esse homem, desde que me deixara um bilhete que feriu meus sentimentos,
olhos prateados.
suspiro.
Mas refletida nos olhos dele que brilham diante da minha imagem,
aponta para a pequena alavanca, empurro sua cadeira sem cortar nosso
Seguro com firmeza em seu ombro largo e passo uma perna por cima
do colo dele, num impulso sento em sua coxa e massageio devagar com a
maldoso.
Seus olhos descem para meus seios, depois minha cintura. E eu o ergo
contraproposta.
Mas agora que cheguei aqui, não quero sair.
Ainda mais quando sinto sua mão subir pelas minhas costas, puxando
pouco de cócegas, mas também deixa meu corpo aceso. Ainda mais quando
forma me empurra com leveza. Como não nego, ele prossegue no que faz.
Não tenho vergonha de ficar nua diante dele, mas fico apreensiva.
desfrutou.
terminar a frase, quando sinto o beijo quente em minha pele, sua barba de
ele pondera.
— Você é perfeita.
O ser humano é incapaz de inventar rostos enquanto dorme.
Nesse momento a minha memória fica atiçada, pois por muito tempo
eu sonhei com o rosto de Yasmin, mesmo sem lembrar quem ela era. E era
um sonho tão vívido e real que eu lembro dos seus longos cílios piscando
quando sentada em cima de mim, da textura da sua pele macia que
— Ahh!
Suas mãos seguram com firmeza em meus ombros e ela rebola tão
devagar que se torna incômodo sentir o pau latejando dentro da calça, louco
para sair.
alcançar sua boca. Seguro com firmeza no queixo e sinto os seus lábios se
entregarem aos meus com delicadeza e lentidão, fazendo meu coração
tenha de fazer.
Ela subitamente se afasta e levanta, a princípio fico tenso pensando
que vai fugir, mas na verdade ela retira a calça jeans com alguns puxões,
quase caindo para o lado. Se antes era impossível parar de olhar para seu
Eu vou ficar louco, se é que já não estou. E vou sucumbir rápido aos
meus delírios.
— Ei!
Vejo-a chutar a calça para o lado e sair correndo pela casa, rindo
meus braços?
volta.
Destravo a cadeira imediatamente e seguro firme nas rodas, vou em
seu encalço.
Acho que não teria forças e ficaria travado no lugar, se isso ocorresse
Mas é ela.
A mulher dos meus sonhos. O primeiro nome que veio à minha boca
Nunca que ela conseguiria correr mais rápido do que duas rodas e
mais que ela pense que vai se sentar em meu colo, eu a agarro e a jogo por
cima do meu ombro. Estapeio sua bunda com força e escuto o som ecoar
ranger os dentes.
meu corpo quase me fez saltar para fora da cadeira e correr em sua direção,
como se eu pudesse.
E por que eu estou rindo, como se quisesse fazer tudo isso de novo, só
Para garantir que não vai fugir novamente, tomo por bem, segurá-la
no lugar, enquanto meu rosto sobe pela parte inferior de suas coxas, até
chegar na cinta liga, observo que sua calcinha está bem úmida e isso parece
um bom sinal.
Meio segundo facilmente se torna uma hora inteira enquanto me
aproximo dela e consigo lembrar com perfeição dos detalhes da nossa
primeira noite.
Não vejo outra saída além de puxar sua calcinha até o meio das
pernas e afundar meu rosto para me inebriar de uma vez só em sua vagina.
Numa rápida olhada por cima de sua virilha, vejo que está de olhos
fechados e se afundando na poltrona, enquanto eu vou o mais fundo que
consigo, em um leve movimento que contorna primeiro seus lábios, depois
toda a sua boceta e por fim tento ir o mais fundo que consigo.
Afasto-me bastante babado e com o rosto impregnado com o cheiro
dela, acho que não poderia ser melhor do que isso.
Antes que ela diga mais alguma coisa, volto a beijar e lamber
suavemente sua parte mais sensível, seguro e aperto suas coxas, tentando
abrir cada vez mais suas pernas, para chegar o mais fundo que conseguir.
É quase insuportável agora sentir essa maldita ereção. Não tem jeito,
senão abrir o zíper e abaixar a cueca o quanto posso. Sentir o pênis pular
para fora da calça dá uma sensação de alívio e me faz respirar com mais
tranquilidade, mas em seguida sou acometido por outra sensação incômoda:
não estar dentro dela. E é quase tão insuportável quanto o aperto da cueca.
Acho que ainda estou cego pelo tesão, pois quando penso em segurar
De imediato consigo sentir sua entrada, não sei o que vem primeiro, a
— Eu estou tentando...
mãos para a parte de baixo do seu corpo, subo da virilha até o abdômen,
depois alcanço seus seios e a puxo devagar, para que se levante e se sente
em mim.
Ela parece ficar mais confiante quando põe os dois pés no chão e
consegue controlar o quanto sente de mim a cada sentada.
Yasmin joga os cabelos para trás e apoia suas duas mãos em minhas
coxas, desce um pouco mais a cada vez e seu corpo vai se soltando, sua
tensão desaparecendo, enfim parece estar se entregando ao momento.
Parece até que é nocauteada por uma nova sensação que a faz
estremecer. Yasmin deita suas costas em meu peitoral e repousa a cabeça
em meu ombro, agora seus pés estão apoiados na poltrona e ela está me
costas bem de leve e lamber seu pescoço enquanto ela quica com mais força
e não para de gemer.
ficar paraplégico.
sensações que são antigas e ainda assim novas. O que eu achava que era
apenas uma torpe lembrança, agora me atinge feito um nocaute e meu corpo
se sente vivo, como só esteve antes uma vez.
Ela mesma controla seus movimentos que já estão rápidos e bem mais
intensos, famintos, consumindo-me quase por completo. E eu não paro o
que estou fazendo, quero continuar a beijar sua nuca, quero continuar a
beliscar seu seio, quero continuar tocando seu clitóris com toda a dedicação
que ela merece.
— Guilhermo!
Ela diz uma última vez. E explode de prazer, sem parar de rebolar e
mover sua cintura para baixo. Une as pernas quando sente que um líquido
parecido com xixi escorre de si e mal consegue sustentar o corpo agora, já
que suas mãos e coxas tremem.
flores estão sendo plantadas mais longe. Quem desiste não as vê”.
— William Shakespeare.
Deixo a água corrente lavar meu rosto e asseio os cabelos para trás,
diminuo o fluxo de água, mas não o desligo totalmente.
— Preciso ir, tem uma emergência no hospital. Você vai ficar bem?
— Eu já estou terminando...
— Ok...
Fico ansiosa para que ele diga algo sobre a noite passada, mas parece
ser realmente urgente a sua questão, ele fecha a porta e consigo ouvir o
banho.
Eu não devia ter tido tanto medo, a minha primeira vez não foi tão
horripilante.
Na verdade, Guilhermo me deixou muito à vontade e foi muito
conversando coisas triviais, mesmo o meu plano original ter sido vir, fazer o
nada... vou até a mochila e vejo um bilhete. Sorrio ao imaginar o que possa
estar escrito.
“Não consigo encontrar o meu celular. De toda sorte, espero que a noite
parece ser um homem tão interessante, acho que seria incrível poder
assumirá as consequências”
Os meus lábios vão retornando para o estado normal, até formar uma
careta.
Acho que me enganei... pelo visto ele deve ser um babaca, como
Amasso o papel e o jogo para trás, puxo a minha mochila e dou o fora
da casa dele.
ATUALMENTE
— Yasmin...
A única certeza que tenho é de que não dormi em minha cama, ela é
diante de mim.
compridas que o deixa bem engomadinho, uma gravata azul escura e calças
— Quase quatro e meia. Tem certeza de que não quer ficar e dormir?
Acho que fiquei tão impressionada com aquele maldito bilhete que
ele me deixou, que tive um pesadelo com ele. E, por Deus, eu não vou ficar
aqui e passar por tudo aquilo novamente. Prefiro ir embora com ele.
uma camisa branca dele que fica bem larga em meu corpo e está
impregnada com seu cheiro. — Você precisa acordar tão cedo assim para
trabalhar?
Ele acordou cedo por minha causa? Deveria ter descansado um pouco
mais!
— Claro.
móveis estão distantes, dando um espaço bom para que ele transite com a
cadeira de rodas.
camisa.
— Sem problemas.
Corro até o closet dele e me deparo com o que parece uma loja
inteira. Existem tantos ternos, uma joalheria média com relógios, anéis,
cordões... o armário de sapatos cobre uma parede inteira e eu escolho o que
torradas?
Pisco os olhos, sem acreditar. De onde ele tirou tempo para servir a
mesa?
— Não coma tão rápido — ele chia, espiando-me por cima do tablet.
irritada.
bem?
saúde.
Não sei ao certo se acredito nas palavras dele, mas a única coisa que
se passa em minha cabeça é que ele precisa garantir que estou em perfeito
Não que eu tenha a esperança de que ele se apaixone por mim, mas
quero que possamos viver algo legal antes que os meus pés inchem, o
cansaço me abata e eu não consiga mais andar sem sentir dor.
Se essa criança for igual Phellippo, imagino que minha barriga vai
ficar gigante e os chutes não vão parar em certo ponto da gestação. Começo
a duvidar se vou conseguir fazer as coisas simples as quais me propus no
contrato.
fechar o cenho.
— Nada... só estou pensando que o dia hoje vai ser cheio. Tenho
algumas roupas para entregar... produtos eróticos a vender... preciso passar
na faculdade para ver se ainda aceitam que eu retorne...
— E sobre o dinheiro...
retribuo e me levanto logo, senão vou continuar comendo até que não sobre
nada.
— Já terminou?
— Uhum.
Quer ajuda?
banco está descendo, Guilhermo não demora muito para mudar para o
banco.
— Ei... eu não...
Tento ajudá-lo a desmontar a cadeira de rodas, mas não faço ideia de
onde preciso puxar ou mexer para fazer isso.
dos meus olhos. E mesmo vendo passo a passo, não faço ideia de como ele
fez isso. — Coloque o cinto! — ele reclama enquanto o banco do motorista
sobe.
— Prontinho.
Após deixar Yasmin em sua residência, dirijo por uns vinte minutos
quando entro. — Ah, aí está você! Por onde andou? Ficamos preocupados!
Todos os dias dorme no mesmo lugar, quando fui lá ontem, você sumiu.
Não estava aqui, não estava diante do berçário, não estava em canto
algum...
— Estava em casa.
Lisa parece que acordou, está pálida e chocada. Pisca os olhos bem
devagar e se levanta, ainda sonolenta.
— Que milagre!
— Não fiquem com essa cara, eu estou bem, nada aconteceu comigo.
— Engraçado que você está dizendo tudo isso de uma forma menos
rude, parece até que está de bom humor — Ayslan avalia.
— Ele transou. — Lisa até parece que desvenda.
conversar com os parentes do paciente antes da cirurgia, devia ter feito isso
há uma hora, mas estava ocupado.
— José Saramago.
ao ver a mesa de café pronta. Nos últimos tempos eu tenho virado noites
trabalhando e não tenho tido tempo para levar meu filho à escola ou cuidar
isso... — O sorriso dela parece que se estende pelo rosto todo. — Vamos
comer?
cabelos amarrados.
E não demora muito para que Diogo também apareça. Ele não dá bom
dia, não diz nada, só pega algo para comer e se prepara para sair da cozinha.
— Eu quero conversar com você, Diogo, não saia — digo e corto o
escadas da casa.
mover as sobrancelhas e bebe seu café, me olhando com muito orgulho por
detrás da xícara.
arregalados.
minha mãe.
em seu quarto. O olhar mais felino do que o normal, com fones de ouvidos
Dou um tapa tão forte no rosto dele que dói mais em mim do que
E não vou permitir que ele venha com gracinhas para cima de mim.
Eu salvei essa família duas vezes, a primeira da falência e a segunda
noite eu quero tudo aqui. Vou revistar cada vestido, cada terno, cada piroca
Seguro em seu ombro quando ela faz menção de se levantar. — Quero ter
— Tudo bem. — Ela se agarra à xícara de café e acena para nós dois.
— Boa aula!
pela porta.
Há muito tempo não levo meu filho, essa é uma daquelas coisas
simples e bobas da vida, mas que depois de tanto tempo sem fazer, parece
Sinto como se fosse ontem que ele estava em minha barriga, dando
chutes que fazia acreditar que ia ser atacante de futebol. E agora está
— Filho?
todo o caminho à nossa frente, porque agora ele não para de olhar para
— É... pra brincar... pra cuidar... amar... proteger. Você vai ser o irmão
— Hum — Analiso.
— Mamãe?
brinquedos... não jogar a mochila no chão... É ter carinho por você mesmo e
pelas coisas que tem. Além, é claro, das pessoas que ama.
— Hum, então será que você está pronto para ter um irmãozinho ou
irmãzinha?
— Sim!
— Tá bom, mamãe.
tão fácil...
— Mas quem é o papai? O meu papai? Ele vai vir moiar com a gente?
entrega às lágrimas, até parece que tiro sacos de cimento de seus ombros.
— Levi recebeu o novo coração muito bem. Vai demorar um pouco para
mas acho de bom tom que a senhora Simões seja a primeira a vê-lo.
encerrar a conversa.
me pediu que a primeira pessoa que ele queria ver era a esposa? E se algo
desse errado, que eu a abraçasse e a confortasse? Não, isso faria a mãe
resmungar demais com o filho. Prefiro sair como o médico malvado para a
mãe dele.
minha superior desde que voltei a atuar no hospital. Ela é apaixonada pelo
trabalho, assim como eu. E sua família é uma das fundadoras do Rota da
Vida.
hospitalar.
— Obrigado.
— Ouvi dizer... — ela ri, asseia os cabelos e os joga para trás. — Que
vai precisar fazer um filho para receber a herança dele...
bastante aberto. Quando levanta a sobrancelha e seu olhar sorri para mim,
eu arregalo os olhos.
— Está disponível esse final de semana? Bem, estou feliz que não sou
mais sua supervisora, acho que não vai ser de mal tom se sairmos...
lábios.
— Mas eu gosto muito dela. É uma mulher incrível, acho que vai ser
— Não pensei nem por um segundo que poderia ser você, Érica.
— Obrigada — ela anui. — Mas não vejo por que toda essa
Deixo-a muda.
— Como foi alguém que veio pelo SUS, que o Alfredo insistiu para
que déssemos algumas vagas para o sistema na escola hospitalar, estão
desmerecendo o caso.
Não é porque uma pessoa não pagou para estar aqui que deveria ser vítima
de maus tratos.
Ela fica muda, como esperei. Acho que não quer debater comigo.
— Sabe que isso seria, de certa forma, perder tempo, não é? Costurar
alguém não é a coisa mais difícil do mundo.
Mas eu sempre achei que até mesmo Deus, sendo o maior de todos,
tem profundo carinho e amor pelos humanos.
— Sério?
— Sim. Fico feliz que tenha voltado a chefiar a cardiologia e mesmo
— Obrigado.
— Lei de Murphy.
O dia foi bem produtivo – com dinheiro na conta, não teria como não
ser.
Patrícia e eu ficamos bem ansiosas para o retorno de Diogo em casa, à
noite. Ela estava com uma lista dos produtos que foram levados e ia contar
conversa de mais cedo surtiu efeito. Ele ficou prestativo, não bagunçou
nada e ajudou a limpar e arrumar sua caixa de brinquedos, sua cama e seu
material escolar.
Diogo.
— Jura?
— Vou te mostrar, só um minuto — vou até a mochila e trago a prova
do crime.
minhas condições.
fazer tudo!
série da Netflix! — Digo com uma animação que já não tinha há tempos.
— Aham.
— Quais as ocasiões?
— Nadica de nada.
como o outro age quando as coisas não saem como planejado... você precisa
questão da rotina, quando os dias ficarem iguais... será que vai perder o
interesse em mim? Como que deve ser não ter assunto ao lado dele? Vou me
sentir desconfortável?
assinados.
— Quê?
não.
Ah, pronto, agora a minha amiga Bela Gil da macumba perdeu o juízo
de vez.
— Nada de amarração! — Bato o pé.
foto dele, de repente uma calcinha sua, tudo dentro de um pote... hummm...
espiritual?
Nos últimos tempos não pude exercer esse meu passatempo, pois não
esse passo de ter algo que nos conecte pelo resto da vida.
Estou animada com os planos que fiz! E espero que tirá-lo da rotina e
caio para trás imaginando que meus vestidos, ternos e peças sociais estejam
dentro deles.
Que descuido!
— Minhas pirocas! — Patrícia se agarra a uma caixa grande,
— Vamos logo levar isso para dentro, quero ver se está tudo em
para poucas peças, que ele rapidamente vendeu e fez o dinheiro duplicar...
depois triplicar... o ateliê veio em seguida, junto a um corpo competente de
funcionários.
Nunca vi minha mãe e pai tão felizes, enfim ele estava trabalhando
para si e tendo todo o reconhecimento que mereciam.
Agora usei boa parte do dinheiro que Guilhermo me deu para
recuperar tudo. É a história do meu pai, aquilo que ele se dedicou, a prova
viva de que deu a volta por cima... uma verdadeira herança de família!
Rever essas peças é como ver uma foto rara de um momento sublime
que meu pai viveu, e que de certa forma eu o ajudei a conseguir.
da família”.
Não demora muito até ele me enviar uma foto sua, de olhos revirados
Leio o que ele me enviou. Faço uma careta e quando dou conta, estou
rindo da foto ridícula.
casamento!
“Brincadeiras à parte, fico feliz que esteja cuidando da herança que seu
contenho o sorriso.
Ele também tem uma herança a zelar, mas infelizmente só tomará posse
dela quando nosso filho nascer...
reaprendendo alguns sentimentos, sei que vai ser difícil se abrir..., mas eu
também não vou cansar de tentar. Eu vou insistir, até que ele ceda e me
deixe ver seu verdadeiro eu.
Ele responde:
Mesmo que ele não pergunte, envio uma mensagem falando do meu
dia. Quero ver como ele vai reagir a isso. Guilhermo passa a impressão de
que não gosta de tratar sobre coisas bobas do dia a dia. Mas como vou
muito ocupado.
“Fico feliz que esteja dando uma nova chance à faculdade, como pedi.
O direito possui diversos temas, pense em um que você goste muito e
— Ih, ela está rindo do nada agora... — Patrícia tenta espiar por cima
Beijo!
— E quando foi que eu tive, para perder? — ela diz feliz e vai
enfileirando os produtos eróticos. — Está tudo aqui. Pelo visto não vou
E está carregando...
Ai meu Deus...
de seus alunos.
Como ainda estou rindo, entrego o celular nas mãos dela e tento me
recompor.
— Stephen Hawking.
roupa que faltava entregar, Patrícia insistiu para que saíssemos novamente
para vender produtos evangélicos por aí, já que havia sido bem lucrativo; e
lugar.
Ceia, não entendo como a vida poderia me punir e ser tão irônica agora,
Guilhermo. Ele era aluno da mesma faculdade que eu, no curso de medicina
– mas esse detalhe não parece ter chamado muito a minha atenção antes.
Alguns meses depois descobri que estava grávida, quando numa aula
de direito tributário eu vomitei, e olha que nem era uma das cadeiras mais
chatas do curso...
Como ele reagiu?
Fiquei muda, sem saber o que dizer. Mas acho que a minha expressão
de horror falou por mim, principalmente porque sempre fui muito aberta
com ele sobre meu sonho de criar uma família – e ele parecia animado com
Preferi não argumentar com ele. Só corri e chorei. Fui encontrada por
pequeno.
antes ou se apenas era um babaca de merda que não merecia uma lágrima
sequer! Ou tudo isso batido no liquidificador, servido com gin e dois cubos
de gelo.
próprios pensamentos.
Vigio pelas janelas para ver se está sozinho mesmo, o que parece bem
cinto.
E eu me divirto bastante.
vão desde: volta, volta, às vezes um vira à direita, não, esquerda, não, a
minha direita e quase sempre se assusta quando coloco a cabeça para fora
— É — concordo.
quase se alongando.
Mal termina de dizer isso, ele desvia e evita bater em um carro que
para mim.
Não sei por que, mas toda vez que Guilhermo me encara, sou capaz
de sentir algo forte. Agora sinto muita confiança, sinto que alguém vai estar
lá e torcer por mim, isso me deixa animada para superar esse próximo
desafio.
dessas, acho que não deixei muitas possibilidades no ar. — Estamos quase
chegando...
O sol ainda não alcançou o horizonte, mas está quase. E muita gente
está reunida ali, seja andando de bicicleta, passeando com seus cachorros,
correndo, ou até mesmo sentados na grama, aguardando o grande momento.
— Quem mais você convidou? — Guilhermo espia para fora da
janela.
frente da porta dele para ajudá-lo, mas Guilhermo nunca aceita minha
ajuda. Típico dele.
— Banda local?
disso.
rodas para vir para o chão. Agora não tem como, precisa segurar em minha
mão e confiar em mim para se equilibrar e ir ao chão. Sustento o peso de
Tiro da cesta uns morangos bonitos que encontrei na feira, uvas sem
caroço, um brigadeiro que eu mesma fiz, e garanti que Patrícia não
colocasse qualquer tipo de encantamento. Pães de queijo que minha mãe fez
e uma garrafa de vinho. E taças, é claro, que cobri com panos de prato para
não quebrar.
nós.
E meu coração parece que perde o compasso. Não esperava nem que
Meu coração fica quente ao perceber que ele quis incluir Phellippo
nesse momento. Também acho que ele teria adorado, mas...
— Quero passar um tempo com você. Só nós dois. Vamos ter outras
oportunidades para passear com o PH.
fico fitando o céu – sendo que em parte, desse ângulo, também tenho a
visão privilegiada de seu rosto e seus olhos prateados.
alcançar um cacho de uvas, começa a arrancar uma a uma com seus lábios.
E deita o braço direito em cima de mim, seus dedos alisando por cima da
minha camisa.
palavra. E eu me encaixo tão bem em seus braços que parece que encontrei
o meu lugar.
Ele está quieto e pensativo, vejo uma expressão em seus olhos que
não conhecia até então.
algo tão complexo que seria capaz de deixá-lo sem palavras. Só sei que
pelos seus olhos prateados eu consigo ver refletido o céu num tom rosado
que se expande e desce quase que em carmim, por todo o horizonte.
ficar ofuscados. Nenhuma luz elétrica de poste que se acende ou janelas que
se iluminam ao longínquo são capazes de se comparar com o grande
luzeiro, que em seu último ato parece que brilha mais forte, quente, quase
fazendo o céu derreter em novas cores.
A cidade, logo a nossa frente, parece viva diante das luzes artificiais.
observando tudo. Não sei o que é tão engraçado, só sei que estou sorrindo.
Seu braço direito me aperta bem devagarinho, até sua mão estar em minha
cintura.
Sinto o corpo pender para trás e eu vou, sem medo. Quando as costas
alcançam o chão, Guilhermo põe as duas mãos em meu rosto, encarando-
Eu estou aqui pelo momento único que algo assim pode proporcionar.
Estou aqui para descobrir como ele reage à simplicidade, se confia em mim
a ponto de não seguir um GPS ou até mesmo é capaz de entender que não
preciso estar no prédio mais caro desse país para ter um momento que valha
à pena.
— Estou tão preso àquele hospital, que não lembro há quanto tempo
não vejo um pôr do sol... — Sinto o peso da sua mão por cima de mim, seu
parte do meu corpo viva e desejosa dele. Sinto uma conexão que não
precisamos forçar, que simplesmente surge na troca de olhares e que
explode com um beijo.
— Millôr Fernandes.
paz, um calafrio sobe por minhas costas quando estamos tão próximos um
do outro; e eu me sinto envergonhada e até paralisada de todas as coisas que
cedo. O sorriso de quem sabe que vai passar apuros no trânsito porque vai
seguir as orientações de uma maluca.
estamos na pista.
rio.
Quando chegamos a um lugar isolado e que não tem vista para canto
algum, tampouco residências por perto, só as luzes dos postes a certa
distância e as estrelas muito acima de nós, peço para que ele pare.
O que está acontecendo comigo? Por que estou agindo assim? E por
ficar grudada ao banco para me levantar, giro de leve a chave do carro, não
— O que você...?
Não sei o que dizer. Pressiono o indicador contra o nariz dele. Minha
mão direita passa pelo seu cinto de segurança, após retirar o meu e encontra
a alavanca que empurra a poltrona o máximo que ela vai para trás, dando
essa sensação.
Não há nada especial nesse lugar, para falar a verdade... Só ele e eu.
onde sinto o contorno grande em sua calça pressionar contra a minha. Perco
Eu devia me sentir obrigada a dar esse bebê a ele. Fazer sexo só pelo
objetivo final.
Sinto sede de sua boca e não consigo me conter, dou vazão aos meus
impulsos e me entrego aos desejos, pois quando faço o que quero, não fico
em seguida. Minha pele se arrepia ao tocar no pau dele por cima da sunga,
tão duro.
pênis, meu corpo deixa de lado que está esquentando, ele literalmente pega
fogo.
Meu corpo fica eriçado, meus braços até tremem, mas eu continuo. E
gemidos altos. E não preciso de mais que isso para sugar a glande até ela
pulsa em mim.
— Cazzo[23], isso é muito bom — Guilhermo se esparrama na
arranhar suas coxas por cima da calça e engolir cada vez mais fundo, até
senti-lo quase em minha garganta.
Não sei onde esbarro ou aperto na hora de puxar a calça dele, mas a
corpo nu dele.
apetitosa de ser vista. E com a leve subida da camisa que dá, consigo ver
seu abdômen demarcado.
deixando-o cada vez mais firme e pulsante, meu corpo começa a indicar que
vestida, como se tirar cada peça pudesse fazer o corpo respirar e aproveitar
melhor.
pele, do seu sabor, da temperatura que ele emana e que preciso em mim.
em seus peitos, sento em seu colo e sinto suas mãos fortes – uma em minha
— Você já está assim? — Ele passa a ponta do nariz pelo meu rosto.
Vejo seu dedo úmido e acompanho com o olhar ele levar o dedo à
boca e chupar.
dele.
— É o jeito que você me deixa... — meu raciocínio está tão lento que
Não sei se tateio o teto do carro, se me agarro à poltrona ou a ele, só sei que
sinto o corpo imediatamente sentir-se saciado, como a boca que sentia sede,
É como uma chuva que chega e não avisa. Que arrasta as plantações
E eu sei que não posso, é exatamente como a sede. Ela vem, porque é
uma necessidade sem fim. Ela se abranda, mas nunca é vencida. E mesmo
apertando meu corpo a cada novo impulso, a cada estocada que seu pau
dava vindo dentro do meu corpo. O som da água e o cheiro fresco do corpo
ficarem dormentes, senti-o dentro de mim até meu corpo sentir a exaustão e
minha mente exilar todo medo, todas as dúvidas e receios que eu tinha
E não foi por falta de tentativas, pois a minha vida sexual foi de uma
foda a cada encontro mais ou menos para praticamente dia sim, dia não, até
quase se tornar todos os dias.
Guilhermo era tão bom que era capaz de me fazer esquecer tudo: o medo de
estar de volta à faculdade, a apreensão de a qualquer momento esbarrar em
Dênis no hospital ou até mesmo de não estar cumprindo o meu papel nisso
tudo, que era gerar seu herdeiro.
— Yasmin, olha pra mim — ele diz, quando estamos a duas quadras
da minha casa. — Fique tranquila. Temos sempre a última opção da
inseminação...
saíram os exames específicos, ainda assim, algo grave teria sido detectado
nas primeiras análises, não? Estamos seguindo o cronograma, não sei o que
até agora...
— Ok.
Tudo bem que eu já conhecia os amigos de Guilhermo, mas nunca fui
devidamente apresentada, para além da pessoa que deveria ter o filho dele –
sem hospital ou outras coisas, só nós dois. Para nos conhecermos, sabermos
bem o que um precisava do outro e transformar isso em algo mais sólido.
Consegui tirar parte da sua teima em querer fazer tudo sozinho e não
aceitar ajuda. E ele se mostrou muito mais do que um homem inteligente e
Isso gerou um laço de confiança muito forte entre nós dois, mesmo
em pouco tempo.
— Boa noite. — Ele me puxa pela cintura e pressiona seus lábios nos
meus com delicadeza, sua mão ainda arrepia minha pele quando me toca.
— Obrigado.
Saio do carro e ajeito a mochila nas costas. Com a mão tateando os
bolsos, procuro a chave de casa, quando subitamente paro, olhando o chão.
Ele é assim, nunca vacila. Se tem que agir, tomar a frente, fazer algo,
simplesmente vai.
— E o Diogo?
— Meu Deus...
— Você não viu seu celular? Te mandei mensagem, para você não vir,
podia ser perigoso — ela diz aflita.
— Sim... todos bem... só meu irmão que ainda não voltou — digo, o
coração acelerado.
— Martha Medeiros.
Já não estava sendo fácil ter que lidar com o fato de não ficar grávida,
agora eu tinha outra preocupação: esse atentado contra a minha casa; e meu
irmão mais novo, que pelo visto não tinha colocado a cabeça no lugar.
até. Mas o que toma o tempo, de fato, é pegar todo meu material de costura,
falta.
Patrícia nem liga para as roupas. Joga o laptop dentro da mochila, sai
correndo, feito uma maratonista até o carro de Guilhermo, depois volta para
pegar mais.
presente.
Também está com a mochila da escola – aberta – lotada de seus
na cintura.
meio do caminho para e encara a rede de balanço. Segura nela e tenta puxar,
sem entender que para retirá-la precisaria ser bem mais alto.
— Vai — indico com a mão para que ele deixe isso pra lá e siga o
caminho.
Essa sensação de ir embora da casa dos meus pais, mesmo que só por
um tempo, me traz angústia. Lembro que quando bem nova, meus pais se
Foi aqui que construímos a nossa família, foi aqui que vivenciamos
limpo a testa.
— Oi.
da cadeira.
parar de falar.
nem dá sinal de vida. Volto para casa, nem que seja sozinha, para buscá-lo.
Não importa a burrada que tenha feito, não deixarei que nada lhe aconteça.
Guilhermo. Minha mãe a princípio fica tensa, ela tem horror em cogitar
que está nervosa. Seu semblante melhora um pouco quando percebe que é
ele anuncia.
preciso ir.
fundos, junto da churrasqueira, você pode levar suas coisas de trabalho para
escolham e se organizem...
— Ok, obrigada.
— E continue ligando para o seu irmão. Ele deve estar bem, mas
— Tudo bem.
nossa intimidade algo natural. Mas infelizmente falta o ponto chave do que
E mesmo assim ele não me destrata, não mudou comigo e não foi
Ele está cumprindo com todo o contrato que assinamos, e eu... não.
Está estampado em seu rosto que não se sente feliz por ter saído da
casa que um dia chamou de lar. No entanto, ela e eu sabemos que não
conseguiria ficar lá, não depois do que aconteceu essa noite. Nem que
tivéssemos que dormir em um hotel de beira de estrada.
— Parece um palácio. — Ela olha para cima. — O teto é tão alto que
parece que estamos no shopping...
E eu rio.
— Sério?
Claro que ele tem bom gosto. Ele gosta de mim, não é?
Fica encarando ela com estranheza, mesma impressão que eu tive, de achar
um absurdo algo assim no meio da sala.
— Tá seca — conclui.
braços. — Até esses dias estava radiante... tudo bem, não estava nos planos
sair de casa, né?
— Então o que é?
Minha amiga pisca os olhos, como se tentasse entender onde que isso
tivesse brigado comigo. Temos menos de um mês agora... e não tenho mais
escolha, vou começar o tratamento para na próxima fase fértil, eu seja
inseminada...
— Então não é tão ruim assim... mas vocês estavam tentando, não é?!
bebê que nem foi gestado! Ela deve nos odiar, por roubar a herança que ela
queria roubar!
aflita.
A minha mãe tem dias e dias. Dias em que não sai da cama, dias em
que faz questão de levar Phellippo à escola, nem que seja para tomar um sol
e caminhar. Uma coisa é certa: ela raramente sai de casa, senão para fazer o
que está acostumada. Fico tensa só de imaginar como deve ser vir para um
balança os braços. — E vai que ela arranja um coroa rico... pra dar o golpe
da barriga...
— Que bom que conseguiu dar uma passada aqui — Kleber, meu
colega e amigo médico, diz assim que entro na sala. — Te liguei assim que
Aceno positivamente.
um sucesso.
— Ok.
Fico cada vez mais aflito enquanto ele abre a resposta do exame. E
quase salto para fora da cadeira quando a porta se abre e Ayslan entra. Tira
a touca cirúrgica, mostrando seus cabelos em um coque, puxa a cadeira ao
E isso é pior do que qualquer outra coisa que ele possa dizer.
— Tem a possibilidade...?
— Como assim?
Ayslan é mais rápido e os agarra no ar, confere cada coisa ele mesmo
e independente do que fale, eu confio.
ombro. — Você já sentiu isso antes, quando não conseguia nem virar o
tronco para os lados. Ou levar as mãos até as costas. E cá está você, dois
anos depois, entre fisioterapia e acompanhamento psicológico, nadando
feito um atleta.
— Mário Quintana.
cozinhar, lavar uma roupa e limpar a casa. Então parou com a teimosia de
que não queria morar na casa dos outros e veio até nós.
Eu devia estar alegre nesse momento. Esse cenário era tudo o que eu
queria se sentir útil, estava incomodada por estar na casa de favor e sem
farofa, arroz, um salpicão que só ela sabe fazer, e Guilhermo garantiu que o
amigo Ayslan faria o churrasco.
pouco fatigada, mas não. Também era uma preocupação sobre meu humor,
Em outra ocasião, com outro cara, imagino que já teria sido chutada.
colaborar.
— Meus exames saem amanhã. Espero que não tenha nada de errado
comigo...
amigos e PH corre atrás. Meu filho não consegue desgrudar dele, o observa,
morrer do coração.
— Fez o quê?
Feitiço... ebó...
Guilhermo vão reagir ao saber que a herança que eles também vão receber,
É meio libertador.
Vou deixar aqui no jardim, precisa dormir aqui essa noite, depois vou levar
Tá bom, não precisa me ensinar. Se você já fez, imagino que não pode mais
— Tá.
Imediatamente ela vira de costas e empina a bunda, parece até que vai
ri baixinho.
Essa maluca...
— Boa noite! — Ayslan chega até nós, na entrada. — Ah, já nos
— Podemos nos conhecer melhor. — Ela faz uma cara de que não
palmas. — Uma festa! Em família! Não é lindo, Kim? — Vira para a filha.
cabelo cortado tipo em chanel, faz sua cabeça parecer uma tigelinha.
cola. — Sempre faminta... Por que você e o Phellippo não vão brincar?
— Que ótimo. Vamos para a cozinha, tem bebida, tem uns petiscos...
— Guilhermo a interrompe.
— Ok.
Ele jurou que parou com as apostas. E jurou que não teve nada a ver
com o nosso portão, janelas e porta que foram alvejados de balas. Não quis
trazer um peso desnecessário a nossa relação, então fingi que acreditei. Mas
o que mais poderia ter sido? Só ele se metendo com coisa errada, é claro.
Como conto? Não faço ideia. O plano era chegar aqui hoje e dizer: oi
gente, estou grávida! Mas como faço isso agora? Vai soar bem estranho.
— Guilhermo e eu estamos tentando engravidar... — É tudo que sai,
não sei nem como prosseguir, diante da reação dela.
nascimento da criança.
Lisa fica paralisada, o copo vazio em sua mão parece até pesado.
Ayslan continua com o rosto virado para cima, a boca no gargalo da
longneck, não há mais nenhuma cerveja ali. Guilhermo continua com seu
sorriso galante e tranquilizador, com ares de médico que sabe o que está
fazendo.
E eu fico travada no lugar.
balança os ombros.
do campeonato.
papai ou só a surpresa.
— É, mas...
Quase escapa de meus lábios que estou sendo obrigada a ter um bebê.
Não que eu não queira, quero sim. Só Deus sabe como agora quero. E já
tentei dentro do carro, na cama do Guilhermo, dentro da piscina, em cima
— Sim... foi bem gostoso com o Phellippo... e como o pai nunca quis
vai querer que seja a senhora a dar... — Lisa continua afagando o braço da
minha mãe, com um sorriso encantador.
Mamãe me olha de soslaio, quase perguntando se isso vai acontecer.
O que me deixa ainda mais intrigada é que ela sabe do contrato que
me obriga a ter a criança. Ela estava lá, na leitura do testamento e é uma das
beneficiadas. Mas ela tem um tato, um dom humano, que me surpreende.
criança venha.
sabem que podem contar comigo para cuidar da saúde do filho ou filha de
vocês, quando precisarem. — Ela acena gentilmente com a cabeça.
postos.
— O que acham de morar no Brasil? É muito diferente de onde vocês
são?
Eu estou tão chocada que não sei o que estou vendo: minha mãe está
E sinto um alívio que deixa meu corpo leve, por ninguém estar me
olhando e julgando por não estar cumprindo com os acordos estabelecidos...
e minha mãe cozinhar. Queria aprender o que eles sabiam. Adquirir suas
habilidades. E hoje estou aqui, costurando, não tão bem quanto papai, e
ajudando mamãe com o jantar.
Espero seu julgamento. Minha mãe nunca foi uma pessoa de duas
caras. Quando desgosta, mostra na frente das pessoas, sem medo das
consequências. E ver seu semblante tranquilo, me deixa aliviada.
— Só não quero que repita os mesmos erros do passado... ter um filho
com alguém que nem quis conhecer o menino...
crescem as dificuldades”.
— Johann Goethe.
amigo Viking gosta de ser inconveniente e Lisa não fica atrás, fala pelos
inédita essa, parece que a mãe de Yasmin gostou deles e isso já foi meio
em sua mão.
térreo.
no chão, bem longe de si, acho que prevendo que pode tropeçar.
nosso peso.
que se preocupar.
— Mas...
— Eu entro com recurso. Provamos, pelos nossos exames, que
semblante derrotado.
— Não faça essa cara — aperto sua cintura e a puxo para meu
ombro.
perto de seus lábios. Eu, mais do que ninguém, deveria estar tenso por essa
dar um jeito.
— Eu estou.
Não preciso de mais nada, além disso. Acaricio seu rosto com demora
e toco seus lábios da mesma forma. Sinto o fôlego dela invadir a minha
boca, ela se entrega bem devagar e timidamente no beijo, e isso me deixa
excitado.
suavemente por cima da língua dela. Quando Yasmin envolve seus braços
em meu pescoço é bem mais difícil me conter, quando menos percebo estou
Se não fosse por isso, ficaríamos aqui mais alguns minutos e eu não
— A sua mãe adorou a ideia de ter um novo neto. E gostou dos meus
amigos...
Ela sorri, sinto a palma macia de sua mão contornar meu rosto.
eu.
Volto a empurrar a cadeira e paro ao lado das garrafas que ela deixou
no chão. Yasmin as pega, deixa em seu colo e eu nos levo até o elevador.
rosto. É difícil deixá-la sair do meu colo, mas antes que a porta se abra, ela
se levanta e afaga meus cabelos. Diz “obrigada” com os lábios e volta para
a cozinha.
no jardim – um milagre que Kim Han não tenha reclamado de não ter
Sou pego de surpresa ao ver duas mulheres passando por ele: a minha
saltar os olhos.
— Juntas — ressalto.
— Certo.
Depois segue o som e vai parar na cozinha, não sem antes olhar duas
vezes para trás.
Érica e eu não vamos com tanta pressa, mas também não falamos
nada um ao outro.
inquisidor e eu fui. Fui com Ayslan e Lisa, que certamente seriam os meus
braços direitos se um dia eu assumisse o hospital. A conversa foi tão rápida
De toda sorte, quando ela saiu, pude contar algumas coisas da minha
nova vida para meus amigos.
— A futura mãe do meu filho — digo num tom um pouco mais alto,
mas que só ela e Érica escutam.
Só me dou conta do que disse quando sua face fica vermelha e ela
anda, os olhos fixos em Yasmin. Se senta na ponta da mesa e observa todos
com um grau de horror e distância.
— Eles são da família agora — dessa vez falo alto e vou para o outro
lado da mesa.
vou, após conferir que Yasmin está bem e vai conseguir ficar ali.
— Eu já volto — informo.
mãe de Guilhermo.
Meu coração acelera de um jeito que não estava preparada, até perco
o fôlego.
desesperadamente.
pimenta.
— Vai lavar a boca e beber muita água — digo e ele continua o trajeto
— Das duas uma: ou essa criança vai ficar bêbada ou vai ter uma
diarreia homérica...
coisa dessas.
— Nããão.
— Tô com fome!
quando a palavra é:
— Macumba!
um zigue zague, e só para quando não resta mais nada ao prato. Larga-o,
atrás de uma planta volumosa e sai andando naturalmente para dentro da
mansão.
se abanando ainda.
— O jantar está servido! — minha mãe diz, por fim, exultante por ter
finalizado a comida.
escute.
tomate feito na hora? O queijo fresco? Isso é comida que se serve numa
casa italiana?
Bem, acho que já gastamos tempo demais aqui. Devíamos mesmo ter ido a
um restaurante. Um fundo de quintal não nos decepcionaria, como isso aí
— ela diz para Érica.
— É... — ela concorda, mas consigo ver seus olhos brilhando ao ver a
comida na mesa.
anunciando Ayslan com uma tábua de madeira gigante, onde consigo ver
uma fumaça exalando da carne.
e sai.
— Buda.
Quando estou de volta à cozinha, minha mãe já não está lá. Sigo pela
— Como assim?
— Guilhermo, que ideia absurda é essa de trazer essa gente para sua
confraternizar com o inimigo? Será que não entende que está colocando
tudo em risco?
Você não entende... nem mesmo Alfredo entendeu... a herança que ele
recebeu após a morte do pai e a que você recebe agora... é tanto dinheiro,
tanta coisa envolvida... como pode deixar que uma mulher coloque tudo a
perder?
branda.
— Ótimo, concordo nisso. Não estamos nos entendendo — ela acena,
— Mas não pode destratar a minha mulher ou a mãe dela. Não pode
diminui-las ou tentar criar alvoroço porque tem medo de que roubem a
herança.
— Você está cego... não consegue ver que está colocando tudo a
perder...
— Acho que é a senhora que não consegue ver o que está fazendo ou
ouvir o que está dizendo. Então não volte aqui, a não ser que aprenda a
Não sei ao certo como responder essa questão, então permaneço com
o semblante inalterado.
palavras. Acho que até sinto uma dor no joelho ou um mal estar na cintura,
— O que está fazendo aqui fora? Não está frio? — Empurro a cadeira
ele vai junto. Fica contando umas histórias inventadas, que é uma mistura
dizer.
— Minha mamãe biga comigo. — O silêncio indica que está
Sinto até falta de quando era criança e inocente, sem saber das coisas
lentamente a ser dois desconhecidos – e que pior: viviam sob o mesmo teto.
minha!
— Ele ficou diferente após aquela noite... o que acha que foi?
— Espero que não tenha sido culpa do que fiz — Patrícia diz, detrás
— Palhaça.
— Não é que eu não o ame... eu ainda sinto algo muito forte por ele.
Mas é como se tivesse um muro entre nós. Um muro que nós dois
construímos, não é só culpa dele — preciso admitir, embora doa fazer isso.
Bem, está aí: antecipei a minha dor e vivi ela duas vezes – antes de
acontecer e agora. Não sei qual dói mais.
medo. Medo do que ele vai dizer... medo de ouvir que ele desistiu, que não
vê mais esperança na situação.
— Ai, amiga... depois de tentar tantas vezes, talvez ele esteja mal
também, né.
Não sei, tenho a sensação de que os dias lindos que vivi com
que o que a Heloísa planejou foi sacanagem, até eu não consigo apoiá-la.
— Não fale mal da Heloísa. Ela fez a parte dela que foi dar o golpe no
velho. Infelizmente isso respingou em uma amiga..., mas é aquilo... amigos,
— Puxado.
indiferença.
não o machuque.
De nós dois?
— Não sei. — Balança os ombros. — Será que vale à pena todo esse
desgaste e esforço?
Sei que ele está machucado. Por mais que tente esconder, consigo lê-
lo com facilidade. Será que ele não consegue ver que estou machucada
também? Eu me joguei de cabeça nessa aventura! Sem plano B, sem outra
meus dedos.
A porta do elevador já está aberta há algum tempo e ainda não
saímos.
eu vou...
— Obrigado.
Vem à tona a lembrança daquele dia em que vimos o pôr do sol e foi
naquele momento que eu tive absoluta certeza de que eu me sentia à
vontade para ser a mãe do filho de Guilhermo. Não era mais um contrato.
Estávamos conectados, de verdade, e nos apoiaríamos em tudo.
Acho que perder um bebê que sequer foi gerado foi o golpe de
precisava de mais.
“Já passou pela sua cabeça que ela esteja sabotando o plano?
Impedindo a gravidez?”
minha cabeça. E feito uma pequena semente, ela começou a brotar no meio
da terra fértil da minha imaginação.
— Como assim?
— Você está sendo exagerado. Tipo quando dizia que nunca mais
iriam permitir que você entrasse na sala de cirurgia e...
mesa dele.
— Clarice Lispector.
pouco de ciência.
Você sabia que se não der água o suficiente para uma pimenteira, ela
seca? Imagino que sabe disso, pois é o óbvio. Agora, você sabia que se der
sem molhá-la.
casa.
Vida em dez anos? Umas três! E eram todos novos, top de linha, os
melhores!
humanos.
se perguntar.
Eu não sei.
Sempre fui curioso sobre a vida, o quão é frágil, o quão passa rápido,
conseguia abrir mão do meu velho microondas: eles têm histórias. Uma
longínquo.
viver as histórias.
Alfredo Lamarphe.
vozes. Não sei ao certo quanto tempo fiquei apagado. Só sei que comecei a
mão...
retinas, aperto os olhos com força e tento me levantar, mas não sinto
dele...
ouço, feito um murmuro, uma voz adulta ressoar em minha mente e o som
Yasmin?
fico preso no lugar e a pressão cai rápido. Os braços tentam usar toda a
Sei que provavelmente sonhei com ela. Antes de abrir os olhos e estar
consciente, acho que vi seus olhos castanhos bem profundos. Eles tinham
De alguma forma todo o meu corpo ficou eriçado, não sei se pelo ar-
— Yasmin?
mão.
— Três.
— Medicina?
lembro disso?
lugar.
Dentro de mim eu sabia que já a tinha visto ali, alguma vez. Mas
quando?
— Guilhermo?
trás, como se pudesse girar o corpo junto... ainda não estava acostumado
com a cadeira de rodas.
— Mio figlio?
— Eu estou bem.
Minha expressão ainda continuava dura. Sabia quem ela era, mas não
engana!
um pequeno objeto.
Acho que até consigo ver, numa sala mais acima, por um vidro, o cabeludo
me observando trabalhar. E ao meu lado, o velho Alfredo.
Quando o coração bate, meus dedos tremem. A minha mão vibra. Por
meus braços corre um sinal elétrico, meu cérebro parece que vai explodir.
sorrindo. — A vida é frágil como uma pimenteira..., mas tão forte, igual a
pimenta que sai dela — diz.
— Guilhermo? — Ayslan me traz de volta.
Acenam em negação.
Paloma...
Vocês a conheciam?
— Acho que nem você a conhecia direito, cara. Ela só chegou um dia
e disse que estava grávida de você... — Ayslan para de falar quando recebe
um cutucão da outra.
Mesmo as histórias que a minha mãe contou, nenhuma delas pareceu criar
vida quanto segurar o marca-passo.
O engraçado é que lembro de Yasmin. Não sei quando a vi, não sei
onde nos encontramos, mas ela me marcou de um jeito que me sinto
incomodado, como quando você está montando um quebra-cabeças, mas
falta uma peça. Bem lá no meio.
que consigo.
Sinto uma dor aguda que parece vir de dentro dos ossos. Me curvo,
quase sem ar, furioso. O fisioterapeuta encarregado de minha reabilitação,
Jorge Marinho, fica distante quando Ayslan lhe diz:
— Deixa comigo.
— O que foi?
— O que foi? — Rosno. — A porra da minha vida acabou! Não
tenho mais coordenação, mal consigo abrir os braços!
— Guilhermo...
Às vezes posso jurar que sinto meus pés, ou pelo menos, uma dor
neles. Meu fisioterapeuta diz que é uma dor fantasma e que está tudo bem.
Não sei o que é mais fácil de absorver: estar preso nessa maldita
— Então vamos fazer uma cadeira mais alta. Uma cadeira maleável
que te dê mais movimentos. Vamos abaixar as camas... Guilhermo, você é
um dos três melhores cardiologistas desse hospital. Eles não vão abrir mão
de você.
— É... e quando não for o hospital? E quando for lá fora? Acha que o
mundo vai se adaptar a mim?
— Você vai exigir que sim. Se quer mudar algo, precisa ocupar
espaço. E a partir dos espaços que ocupa, você vai mudar partes do mundo.
É pouco a pouco, cara. O mundo não vai se adaptar a você num piscar de
olhos e você também não vai se adaptar a ele na mesma rapidez. Tempo,
Guilhermo, tempo!
Ayslan me devolve os malditos pesos de três quilos.
Três quilos!
pela minha testa e descerem pelo pescoço e costas. Minhas mãos dentro das
luvas puídas seguram firme na barra e eu ergo o corpo todo, tirando-o do
chão, junto com a cadeira de rodas específica para fazer exercício.
muito orgulhoso, embora não seja mais novidade de que eu tenha adquirido
força e flexibilidade para suportar qualquer peso, como antes.
— Pois é.
— Fico feliz que não tenha mais nenhum drama em sua vida.
— O Alfredo?
— É — torço o nariz.
Atualmente
Por que mesmo depois de morto esse velho volta para me atormentar
— Guillermo.
Ele não vai desistir. Vou até a porta e a abro, fito o menino todo
coberto por um pijama branco, os olhos azuis muito profundos me
observam.
Preciso raciocinar um pouco o que ele quis dizer. Não pode ter sido
uma simples pergunta sobre sua vontade.
Ele tem algo melhor do que qualquer argumento: suas próprias regras.
— Muito bem. Agora que está seguro, preciso ir, estou ocupado —
dou meia volta.
— Guillermo?
— Oi, PH.
Não acredito que essa criança vai me fazer contar uma história para
— Um pato.
— Um pato? — pergunto.
lado da boca, como se mais ninguém além de nós dois no amplo quarto
pudesse escutar o cochicho.
— Um cisne — corrijo.
indispensável da felicidade”.
— Bertrand Russel.
Aparentemente tudo voltou ao que era antes: passo boa parte do meu
tempo no hospital Rota da Vida. É aqui que trabalho, descanso e passo meu
tomar o meu café e ficar lendo matérias aleatórias para distrair a mente.
— Está ocupada? — Ouço uma voz feminina, mas não dou tanta
atenção.
— Sobre aquele dia em que apareci em sua casa, sem avisar... de fato
sabe.
Antes que eu pegue o tablet e retorne para minha leitura, Érica volta a
falar:
menina...
—... estar morando com você agora. Na volta para casa ela não
dizer.
Acho que não veio aqui apenas para pedir desculpas, também não
faço ideia se quer tirar algo a limpo. Só sei que devo desistir da ideia de
voltar a ler, então levo o café amargo à boca e a observo por cima da
fumaça da caneca.
— Eu só estou curiosa...
— Uhum.
— É, pois é.
hospital. Ele é mais do que um bem precioso, ele é o suporte de toda uma
comunidade... ele é maior que todos nós. Tento me colocar em seu lugar e...
— Estou.
E ela se diverte muito com o que eu disse. Ainda bem que não soou
hospital.
— Não.
— Hoje era o último dia, se for contar que um bebê leva 9 meses, e...
Eu quase solto um: jura? Mas não vou ser deselegante e despejar
— Estou muito ansioso para ver onde essa conversa vai chegar —
comento e arrasto o tablet pela mesa até levantá-lo diante do meu rosto.
ter um filho com alguém que não conseguiu... ou não quis... não é culpa
sua... você tentou... prova da sua boa disposição foi levá-la para sua casa,
Não posso fugir das minhas responsabilidades, por mais tentador que
não quis ter um filho comigo, eu também sou culpado. Não a conquistei.
Não a fiz se sentir segura em meus braços. Não a convenci de que estava
Fui incapaz de ser a pessoa que sonhei que poderia ser para ela. Ou
Mas sei que Ayslan e Lisa não vão me deixar em paz. E vai ser
doloroso ver Heloísa vencer. Fora isso, o que mais posso fazer? Preciso ter
a hombridade de aceitar a perda e seguir a vida.
— Guilhermo?
comprovar que a mulher lá não quis ter o filho e pronto. Era um jogo
perdido e que foi perda de tempo...
— Érica?
— A minha mãe.
interessante. Não entendo por que ela não foi logo direto ao assunto, teria
poupado o tempo e seria tão mais prazeroso!
tempo. Nem que seja para conseguir outra pessoa... nem que seja para
reiniciar a contagem do tempo, sabe?
que tive com Lisa e Ayslan que me serviu como um tapa na cara.
café.
Casmurro.
por suas próprias paranoias até perder tudo e se apega ao passado em suas
memórias, para tentar encontrar a luz da felicidade.
sobre isso?
— Não. Só penso que se Guilhermo parasse por um segundo e
refletisse o que realmente quer, sem a pressão do testamento, da família e
de nós mesmos, talvez pudesse ouvir seus sentimentos. Coisa que é quase
um tabu para os homens. Por isso é sempre mais fácil ouvir o Dom
Casmurro dentro de si. Mas o fim, amigo... o fim é amargo...
— Se ela acha que não vale à pena ter um filho comigo, eu acho que
não vale à pena ter um filho com mais ninguém. Que o Alfredo me perdoe,
mas eu quero que ele se foda no inferno onde está. Eu estou no meu inferno.
— Não está tudo bem. Ela é a única mulher que me interessa. Ela é a
única que poderia ser a mãe do meu filho. Ela é a única pessoa com quem
sinto que me conectei de verdade na vida, sem precisar fingir ser qualquer
outra coisa, a não ser eu mesmo...
Certamente não é para Érica. Ela é uma pessoa que não me importo,
nem um pouco, então não precisaria dar-lhe satisfações.
Mas não.
— Então dê o fora — falo sério e não tiro os olhos dela até que se
levante e saia a passos largos, para fora do restaurante.
Foi bom que aconteceu agora. Então tenho tempo para superar e
seguir adiante.
seu residente. A maior parte da cirurgia fui eu quem fiz, sob sua orientação.
Leio o nome de toda a equipe médica, algumas anotações sobre o passo a
passo da cirurgia. E lá no fim, encontro o nome do meu paciente:
Amauri Santos do Amor.
“O amor não se deve somente queimar, mas também aquecer”.
— Johann Goethe.
casa – e também não era uma opção ficar pensando que hoje acabava o meu
Acho que a coisa certa, como capitão do navio, era segurar o leme e
construção, ver o horizonte ficar cada vez mais distante ao submergir e por
fim, tomar meu último suspiro e aceitar meu destino: morrer afogado.
ou ela está mesmo ali? A imaginei tantas vezes comigo que ainda não
que temos...
— Eu sei — a interpelo.
— O que deu em mim? O que isso quer dizer? Eu estou tentando ler...
— Você não marcou a inseminação. Não me avisou nada. Está me
ignorando...
alguns passos até mim, para provar que não é apenas o meu pensamento
— Mas que merda você está falando? — Ela põe as mãos na cintura,
indignada. — Ayslan me contou que você achou isso debaixo da sua cama.
todo o estresse.
Não feliz com o tapa que me deu, Yasmin avança com os punhos
fechados e começa a bater em meus ombros. Tento segurá-la, mas está tão
irada que não consigo contê-la.
— Eu quis ter esse filho! — ela diz aos prantos. — Esse era o meu
Agora que está chorando, fica mais fácil controlar seus movimentos.
com você. Eu trabalhei três meses para que não fôssemos completos
aos pedaços!
puxo para meu colo e tento abraçá-la. Mas Yasmin se debate e se afasta de
mim.
— Yasmin... eu...
troco de nada?
— Yasmin, me escute.
— Você acha que eu trairia a sua confiança e sabotaria os nossos
melhores amigas? Não pelo dinheiro. Mas porque discordo dela, achei
errado, queria estar do lado certo! — Ela treme enquanto chora, cobre os
A sensação de vê-la assim faz com que tudo o que pensei e senti, o
em segundo plano.
Não quero vê-la assim. Dói muito mais do que a dor que estou
tentando ignorar.
— Eu sei que errei — admito. Consigo alcançar sua mão e tento fazê-
aceitasse a derrota.
não posso voltar no tempo e corrigir tudo, mas eu também fiquei magoado.
que seja, um descuido, por mais bobo que pareça, coloca em risco tudo.
não fosse com você. E eu estou tão destruído porque eu realmente quis esse
filho. Não só pela herança, não posso negar que ela é muito relevante, mas
porque isso é tudo o que eu sempre quis e tive medo. E você me fez
acreditar que conseguiríamos... juntos.
— Medo de quê?
— Medo de não ser um bom pai e não poder cuidar da minha família.
Tenho minhas dificuldades, às vezes me sinto um super herói porque salvo
vidas, mas quando tudo se apaga e entro nesse quarto, lembro que sou só
um aleijado... Mas é exatamente isso o que eu sempre quis... uma família. E
devagar, até que esteja em meu colo, segura em meus braços, consigo ouvir
seu coração acelerado quando repouso a cabeça em seu peito.
estou disposta que vesti isso — ela sobe o moletom e consigo ver sua
lingerie preta.
— Não está idiota, está linda. — Encaro seus olhos. Deixo meus
sua supervisão para ele visse que eu não estava tentando atrapalhar nossos
planos.
Mas eu fiquei sem reação quando ele disse que queria construir uma
família comigo, independentemente de qualquer coisa. E fiquei ainda mais
mexida quando ele disse que poderia ser tarde para ter esse bebê, mas não
para continuarmos construindo o que estávamos fazendo.
Meu corpo aqueceu, mas não era mais de raiva. A tensão de ódio
para gritar a plenos pulmões para perceber que estava à flor da pele.
Guilhermo tinha essa incrível habilidade de transmutar meus
— Tem certeza?
beijam seu pescoço, descem ao peitoral, e acho que vou ficando cada vez
mais louca enquanto sou tomada por seu cheiro.
O abraço de Guilhermo me envolve e afasta quaisquer dúvidas que eu
poderia ter de que não deveríamos ficar juntos. Encaixamos tão bem como
Sua mão que contorna meu corpo, me abraça firme e faz sentir sua
pegada forte.
seu colo.
que um terremoto está acontecendo, porque a cadeira sacode para todo lado,
temos a sensação de que vamos cair, mas não paramos em nenhum
momento.
Fora de seu colo por alguns segundos, beijo seu abdômen e depois sua
virilha. Minha língua ali parece que causa um calor danado, porque ele joga
o rosto para trás e respira fundo.
acariciar sua cintura e abdômen, vejo o pau dele começar a criar volume,
até ficar completamente duro e pronto para mim.
Eu já estou pronta.
Deus, acho que nasci pronta.
segunda, porque não sabia se iria ser igual, mas agora eu entendo que para
Guilhermo, sempre estive pronta.
Não digo nada, sigo o controle de suas mãos que dominam bem a
situação, me mostrando o caminho a seguir.
Como senti saudades desse corpo. Como senti saudades desse cheiro.
Cada parte dentro de mim parece que pega fogo de uma só vez e eu
pulsando firmemente.
Não tenho tempo para mais nada, eu não preciso de mais nada, além
de senti-lo dentro de mim.
voando.
momento parecer um bobo que mal consegue sair do lugar. Mas tudo
desaparece, o dormitório fica escuro, apenas os olhos de Yasmin me
iluminam e atraem magneticamente minhas mãos.
Cheiro seus cabelos, afasto-os do rosto, deito minha cabeça sobre seu
pescoço. Sinto-me ilimitado.
Tudo o que preciso está aqui. E com minhas mãos e boca, consigo
demonstrar todo o carinho e tesão que explode em mim, que rasgam a
timidez e o medo, afastam minha sensação de estar preso na maldita cadeira
e me faz sentir como se fossemos apenas aqueles dois jovens que se
conheceram lá atrás.
Minha mão é mais lenta que a furtiva saída dela do meu colo. Corre
nua pelo dormitório, como uma deusa, os cabelos pesados balançando
contra o escuro do quarto e nenhum vento para dar-lhe aquele ar selvagem.
— Não tente fugir de mim — semicerro os olhos.
ombro.
— Sua maluca.
mim. Num suspiro alto ela bate as mãos contra minha cama e sente ser
puxada em minha direção. Ri. Feito criança, feito travessa, não sei o que
tem tanta graça, mas também tenho vontade de rir.
Yasmin estica bem o pescoço quando toco seus lábios vaginais com
minha boca e desço a língua úmida e leve por dentro do seu canal.
Que merda, isso é muito bom. E reforça o quanto vale à pena correr
atrás dela e tomá-la de volta.
Não penso duas vezes em molhar quase todo o meu rosto quando
abraço suas coxas, puxo seu corpo contra o meu e me afundo em sua
vagina. Minha boca vai faminta, salivando, desesperada para sentir seu
gosto, cheiro, sua textura.
devagar, deixando um sorriso escapar de meus lábios cada vez que ela
respira pesado e precisa tomar ar com a boca.
— Gosta disso?
sugar e lamber sua vagina e depois deixo o corpo descer, quando passa pelo
meu pau, a glande esfrega com força contra a entrada.
Não tenho como mover a minha cintura para penetrá-la, então uso as
mãos para guiar nosso corpo.
retraem em guiar meu pênis para dentro dela. Escorrega fácil, está tão
molhada e preparada que não encontro qualquer dificuldade nisso.
estou sentindo meus pés. Não importa. Acho que o cérebro só está
processando a sensação de liberdade quando eu deixo cair de meus ombros
todos os medos e receios para viver este momento.
E o peito retumba tão alto que mal posso acreditar que Yasmin é real.
impulso que faz a cadeira rodar para trás e bater firme na parede.
em Fernando de Noronha.
— Sua maluca!
Acho que fiquei maluco também. Fui contaminado por essa mulher.
Cada toque de seus dedos, cada beijo em seus lábios, cada soprada de
ar contra meu rosto parece algo que já aconteceu. E algo novo também.
meu peito.
Meus braços sobem por suas costas, minhas mãos se agarram à suas
clavículas e eu a abraço com força contra meu corpo nu, deixando nossas
Beijo seus cabelos escuros e esfrego meu nariz pela sua orelha, nuca e
pescoço.
“O amor não tem nada a ver com o que você espera receber – apenas
— Katharine Hepburn.
— Parabéns à equipe cirúrgica, o pessoal de apoio e ao doutor
costas.
— Ok.
Lavo as mãos, punhos e pulso com certa demora e tento recobrar o tempo
no meio do caminho.
Estou prestes a tirar a touca quando passo pela porta que separa o
— Ele está bem? Ocorreu tudo bem? O meu pai está vivo?
que dou até um passo para trás, deixo a parte de tirar a touca e a máscara
para depois.
indignada.
encolhido.
deixaremos que o visitem assim que acordar, isso deve levar entre 6 ou 8
horas. Ele não deve passar por estresse, nem grandes emoções nos próximos
impresso. E ele pode ficar internado no hospital por 3 dias, depois o quarto
é cobrado por dia.
Sou acometido por uma sensação estranha quando encaro o fundo dos
seus olhos. De repente a pressa fica para outro momento. E o cansaço
também.
— Muito obrigada por cuidar tão bem do meu pai, doutor! — ela diz
Esperei tanto por esse momento que acho que não estou aproveitando
ou para uma boate super badalada da noite paulista, só para ver a reação
A feição dele de que não faz ideia de onde está me faz rir por dentro.
toda a situação.
E ele fica ainda mais sem graça quando um pessoal jovem passa de
jaleco – nunca entendi por que os alunos de medicina usam jaleco fora do
hospital ou da aula.
suas costas.
feito um leão.
Faço um bico.
Sacudo os ombros.
música.
O meu pequeno ateliê está lucrando algum dinheiro, já posso dar uma
tranquilidade financeira para a minha família e me dar ao luxo de ter
educativamente evangélicos que sou sócia com Patrícia, também está indo
de vento em popa.
Agora sim eu poderia tirar umas férias, sem culpa, mas prefiro tirar só
um dia e dançar um pouco, aproveitar que a vida parece ter voltado aos
eixos.
— Meu Deus, o bar estava cheio! — Patrícia vem, esbaforida, me
entrega um copo com líquido vermelho.
— Ei!!! — Ayslan toma o copo da mão dela, antes que chegue até
mim. O líquido até derrama. — Está maluca? Vai dar álcool para a
grávida?
Ayslan.
Ah... o bebê...
Guilhermo e eu decidimos mentir para seus amigos, para que eles não
pirassem. Inventamos que eu estava grávida e pronto, sem mais perguntas,
sem mais cobranças. E é claro que eles torciam o nariz em ideias como
essa, de eu vir dançar na calourada do meu curso, mas também não me
deixavam sozinha.
— O bebê precisa — faço uma careta e pego meu copo grande, a boca
chega a salivar com o coquetel que pedi que fizessem sem vodca.
— Se a sua mãe não tivesse cuidando das crianças, com certeza
estaria aqui também. — Lisa se diverte mais com a feição de Guilhermo do
derrubar o copo.
área livre do condomínio que possui um lago lindo, patos e outras boas
distrações.
sempre quis.
Só Diogo que não dá o braço a torcer, se sente mal por não estar em
nossa casa, mas ele respeita Guilhermo e eles se dão muito bem. Ele está
longe de se tornar um irmão exemplar, mas parou de fazer as loucuras de
sempre.
bunda.
— Joga fora pra mim, por favor? — Entrego meu copo à Patrícia.
— Ir... onde?
— Vou mostrar do que sou feita, vou mostrar ao mundo a que vim.
Horas depois, cá estava eu pulando, dançando, suando feito uma
louca, como se ainda fosse uma adolescente. Mesmo tão jovem, estou me
— Só vamos...
— Ok. Yasmin e eu estamos saindo, acho que ela ficou velha demais
— Eu até iria, mas há tanto tempo que não vou em uma festa que me
raiva, enquanto ele se torna facilmente a atração da festa, seja entre suas
alunas residentes, alunos do curso de direito ou pessoas que viram um
homem gigante e que parece um Viking tão simpático e descontraído que é
impossível ignorar.
Guilhermo com o rosto e corpo coberto por tintura amarela, rosa e azul
neon.
— Machucou o pé?
— Não...
músicas eletrônicas...
— Não diga besteiras — ele reclama e abre a porta do carro para que
eu entre.
— Que é isso?
— Guilhermo...
— Ahn?
— Eu te trouxe aqui hoje porque queria que esse dia ficasse em sua
memória.
— Todo dia ao seu lado vale à pena estar na memória — ele pisca os
— Sério?
— Sério!!!
reclama.
— Quando soube?
— Há três meses.
— Quê?
Mostro no celular o exame que fiz, para que ele cheque as datas.
— Não...
— Patrícia?
Mas depois eu volto a dançar e você vai continuar com essa cara amarrada.
— Vamos ver.
expectativas.
— Guilhermo?
— Sim, baby.
— Estacione. Preciso vomitar.
“Há duas espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os
— Mário Quintana.
Com a novidade revelada, precisei marcar o pré-natal. Elenquei bons
hospitais que cabiam em meu orçamento, mas fui pega de surpresa com a
vencidos por: “aqui estão os melhores médicos desse país” e “eu pago”.
Bittencourt.
Lembrou-me que tivemos a sorte de conseguir uma vaga para internar papai
em boas mãos — ela tenta me acalmar, mas eu fico tensa e vigiando tudo ao
meu redor.
acompanhar.
— Sim! — PH nem liga mais por ter sido deixado de lado em minha
consulta.
Desde que conheceu Guilhermo, virou a pequena sombra dele. O
lugar tão caro, não sou poupada de ficar esperando o momento de ser
atendida.
— Você parece nervosa... calma, filha, você já passou por tudo isso
uma vez, não precisa ficar preocupada...
— Olha só que família bonita — ela avalia quando nós três nos
— Algumas semanas.
Dou uma cotovelada de leve para que ela guarde isso para outro
momento.
— Não.
Meu Deus! Será que ela acha que Patrícia e eu temos um caso? Rio
de nervoso.
— Então está em boas mãos. Sei que o Guilhermo não tem filhos,
— Sim.
— Tétano?
— Aham.
Minha mãe abre sua bolsa de mil e uma utilidades, vasculha bem lá
imaginando que esqueci isso. Após ela me pesar, aferir minha pressão ela
conclui:
alguma dúvida?
— Hum?
que eu menti que estava grávida antes e que talvez eu não cumpra com a
data prevista para revisão do testamento, evito seu olhar exagerado de
indignação.
— Mas existem casos em que o bebê nasce tipo de oito meses e meio,
— Não.
tempo certo... no tempo dele. Você anotou o primeiro dia do seu último
ciclo menstrual? Podemos calcular aqui agora uma data de previsão para o
— Minha filha, que tipo de pergunta foi aquela? Como assim o bebê
nascer antes? Pra quê essa pressa?
A criança quase chuta meu nariz, deita na mesa e me faz cheirar seu
pezinho.
— Que isso te lembra? O sapo não lava o pé. — Sem preparo e sem
nada ele começa a cantar, animado, batendo palmas.
coisas.
— Guillermo?
— Oi.
— Me pergunta as cores.
— Preto.
— Azul!
— É um menino muito esperto. E essa cor?
— Rosa.
— É o que então?
no chão.
— Manda entrar.
— Sim senhor.
— A Juliana, senhor.
— Certo... ninguém vai levar injeção hoje — digo para seu completo
alívio.
— Ele tem o seu nariz — Dênis me importuna. Odeio que tente criar
alguma proximidade, na vã tentativa de que irei ser menos rigoroso e dar-
olhos azuis até lembram o do meu avô, são grandes, expressivos e brilham
feito duas safiras na luz. Mas são comuns.
bem animado.
— Grande quanto?
— Assim. — Sua mão sobe para muito além de sua altura. — Viu?
contrato — Patrícia pede para que minha mãe siga pelo corredor do sétimo
andar e vai brigando comigo, logo atrás.
— Sabe? Não, você não sabe, gatinha. Eu sou sua advogada. Então
vou usar um termo do mundo do direito com você, ok?
— Ok.
— Você assinou papeis, gatinha. Ele pode usar isso contra você. Não
importa o quanto está gentil e fofo agora, na hora que a situação apertar e a
rola chegar a esse tamanho... — Ela me lembra visualmente, com as mãos.
— Aí você vai ver. Olha o tamanho dessa trosoba, Yasmin. Sabe quanta
piroca e vibrador vamos ter que vender de porta em porta para pagar um
processo desses?
problemas, que resolve qualquer coisa que se meta em seu caminho, sem
pensar duas vezes.
Ele passa por nós e me encara, vejo em seu olhar muitas dúvidas
sobre o que estou fazendo aqui, mas ainda assim sustenta sua feição de que
eu nem devia ter pisado os pés em um lugar como esse.
Eu evito olhar para trás. Não quero vê-lo de novo. Dou graças ao bom
Deus por não ter sido abordada e obrigada a trocar algumas palavras – ou
desaforos – com ele.
— Honoré de Balzac.
estudar ou até ficar de pé. Fiquei deitada no quarto, olhando pela janela a
vista privilegiada de um bosque com um lago bem diante da casa.
de Dênis me ligando.
foi para avisar que iria atrasar a pensão do filho. E o que me deixa mais
angustiada: ele se encontrou com Phellippo. Tudo bem, ele é o pai, um dia
teriam de se ver. Mas esperava no mínimo que fosse pela vontade de um ou
descanse.
Guilhermo põe a mão sobre meu pescoço, depois minha testa para
cabelos.
— Vou falar com a Patrícia para ficar de olho em você — ele diz
antes de sair.
estiver fora!
desconfortável, mas é assim mesmo, não para quieto nem quando está
lendo.
Lendo que no caso é ver as imagens do gibi.
— Não sei. Você disse que ele nunca quis ver nem foto... duvido
me ligar.
— Vai atender?
assunto, não tenho explicações a dar, nada a dizer para essa pessoa.
poderia acontecer, desde que vimos a foto dele numa aula do Guilhermo...
meses...
para mim? Eu sou sua amiga e advogada. Preciso saber de toda a verdade
para me preparar...
existem coisas entre um casal que só eles são capazes de entender. E mesmo
que na visão da minha amiga e advogada eu deveria ter tudo por escrito e
tinha que nascer dentro dos 365 dias? Ou se já tivesse sido gestado, contava
também?
amoleço o coração...
apelido que ela me deu. — Mas de um jeito agridoce. Sem paz, nem nada.
bundão do Dênis...
— Bundão — Phellippo diz em voz alta, me recordando que ainda
— A tia Patíxia...
nenhuma.
Um lado meu ficou curioso para saber o que era tão urgente que ele
precisava tratar, o outro lado ficou temeroso se com isso Dênis acabaria
O que eu fiz bastante foi costurar umas bem bonitas para mim e já
corpo, para a mente e também para o bebê. Só não pode exagerar, senhora
Lamarphe.
começa o procedimento após respirar bem fundo, parece que até ela está
tensa, com medo de fazer feio na frente de Guilhermo.
olhos brilhando.
de gêmeos!
sou acometida por uma sensação de paz e alegria ao saber que está tudo
bem com os bebês.
E como toda boa notícia dura pouco, Alissa avaliou uma possível data
de nascimento, analisando o desenvolvimento dos fetos e os exames: de dez
amarrada, não vou mentir que o meu pensamento foi para Dênis quando
saímos da obstetra, com medo de me deparar com ele. Não sei por que, só
sei que algo em mim tinha criado mais aversão do que de costume.
inquieta.
— ele assegura. — E você não devia se preocupar com mais isso, já está se
estressando com coisas demais.
baixo.
— Não vou mentir. Uma pequena parte de mim está preocupada sobre
o testamento. Mas eu me sinto confortável em saber que você e os bebês
estão bem — ele sorri para mim, ao dizer isso. — O Alfredo queria me
ensinar uma última lição e eu estou aprendendo. Se não vai me dar o prêmio
— Três?
Guilhermo.
E o mais mágico de tudo era sentir que ele não estava excluindo
Phellippo da experiência.
sonho de princesa.
“Nada inspira mais coragem ao medroso do que o medo alheio”.
— Umberto Eco.
mesmo morando boa parte da minha vida nessa cidade, nunca fui assistir
fomos ao Theatro.
não era algo estilo Anitta, parecia algo mais clássico como Elis Regina –
para o meu filho e um vestido branco, além de um xale que brilhava mais
que diamantes, para mim. Tive um surto de fofura ao ver meu neném
era assim comumente, mas parecia que a roupa dava um ar todo especial.
estendidos dentro.
Não me contive e precisei parar alguém para que tirasse muitas fotos
guardar de recordação.
estavam ocupando seus lugares, corri para o banheiro. Cheguei naquela fase
Aquele também.
boca.
— Muito bem — Guilhermo nos mostra a entrada.
Itália, numa época em que não haviam microfones. Então a voz precisaria ir
e voltar na acústica.
colo. Pelo visto ele vai ficar inquieto e vai ter que se sentar no colo do
Guilhermo.
— E você se sente?
— Sim. — Balança a cabeça. — Tem uma magia nesse local...
— Curtindo?
— Nossa...
com esse xale. Além de belíssimo, está esquentando meus braços, pois está
— Na Itália? — rio.
— Não. — Ele segura minha mão. — No Brasil inteiro... um
está por vir. E não tarda até as luzes começarem a se apagar lentamente, o
silêncio vai surgindo, e a banda começa a tocar.
encolho, não sei se assustada ou admirada. Só sei que parece que vou sair
Me embriagando de poesia
Bebendo a claridade
Da luz do dia
E foi como de repente olhar para o mar e ver ele crescer para cima de
Não viajei o Brasil todo. Não conheço tantos lugares assim... só São
Paulo e o meu velho Espírito Santo. Mas se fosse para comparar com algo,
E lamentando sozinho
Não quero ter letargia
rápido em PH.
Bethânia. Agora está declamando um poema, não faço ideia de quem seja o
poeta, mas é muito bonito e parece casar perfeitamente com a música
anterior.
— Vem comigo.
banheiro.
— Está tudo bem, sou pai do filho dela — ele diz em tom de
Sacudo os ombros.
— Seu filho que você nunca nem quis conhecer? — Preciso rir.
problema judicial.
Inacreditável ouvir isso de um cara que nunca quis uma foto do filho,
não deve nem imaginar como ele é, o viu na sala de Guilhermo por acidente
e não deve ter nem reconhecido! Vontade de dar uns socos nele.
Agora sim o tapa veio. Devia ser um murro, mas foi um tapa bem
dado de fazer o rosto virar e ficar naquela posição por alguns segundos e a
— Olha aqui, seu moleque, você não tem direito — aponto o dedo
indicador.
— Tenho direito sim, quando eu banco sua vida com aquela pensão.
Ainda mais agora que você está dormindo com o meu chefe. O que é isso?
Algum tipo de vingança?
— Eu lutei muito para chegar até aqui e não é você quem vai estragar a
minha vida. Cai fora, some da vida do meu chefe e não volta a aparecer
dá licença...
— Termina essa merda, volta pra tua casa e não se mete em meu
caminho. Senão eu tomo o meu filho de você.
Como diria Patrícia, queria perguntar: você fez a chuca com cachaça
e depois fez caipirinha, seu maluco?
— Você não vai destruir meus planos de novo — ele diz num tom
— Victor Hugo.
passava e me sentava.
agitado, correr pelo lugar e se divertir. Creio que nunca ficou tanto tempo
encontrar um bombeiro.
Não ouço bem o que conversam, só sei que a feição do homem fica
um pouco apreensiva.
Em seguida entramos na parte interna do local, que não é destinada ao
Phellippo quer mexer em tudo que vê e sai acenando para as pessoas que
aparecem, meio que distraídas, em seu momento de descanso.
pena conhecer.
— E você fez tudo isso por mim? — Devo admitir que agora sou eu
O lugar não está cheio, acho que pelo show que ocorre acima de nós.
É tão inusitado que mal posso crer que ainda estamos no Theatro
— Eu já vim aqui antes, no Theatro, mas não sabia desse espaço aqui
embaixo...
na primeira vez. Devo admitir que fiquei bem constrangido por não ter um
elevador ou espaço que trouxesse direto..., mas sinto que valeu à pena. E
que essas paredes e teto formam com a mesa, o bar e a piscina de bolinhas.
muito de vir ao show da Bethânia, ela tem uma voz potente, né?
vida.
você pode não saber, mas esteve em momentos tão cruciais da minha vida,
— Às vezes não sei o que fiz para merecer tanto carinho, tanto amor...
é comum que todos queiram as rosas, sem lembrar que elas vêm com
espinhos. E você me faz sentir tão confortável que eu me sinto bem, com os
espinhos que tenho em mim. Os que são meus. E os que colocaram em
mim.
— Que bonito. — Sinto sua mão por cima da minha. — Você mudou
a minha vida, é o que posso dizer. A vida tem sido sombria desde o
— Eu precisava mesmo dar uma chance ao amor. E tive sorte por ser
você. Não tenho ideia de como seria estar preso com alguém que não posso
ser sincero, admirar e me sentir livre. E, claro, ter forças para passar por
Acho que nunca teria ido assistir um show de Maria Bethânia por
— Quer dançar?
desafiador.
girando.
puxar pela cintura, quase dou um grito quando sinto meu corpo ir em
direção ao de Guilhermo. Sento em seu colo, os pés a um dedo do chão.
joia preciosa.
E me cala com seus lábios, tocando nos meus com leveza, puxando o
meu fôlego e tomando a minha língua bem devagar, como uma dança lenta
à meia luz.
causa de Dênis...
colado no meu, enquanto ainda balançamos, as mãos dele indo e vindo com
a cadeira.
Voltamos para o Theatro fazendo todo o percurso que nos levou ali,
Bethânia.
Viver
De ser feliz
A beleza de ser
Um eterno aprendiz
Eu sei, eu sei
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita
A voz da mulher volta a ocupar todo o espaço e minha pele até treme
ao ouvi-la cantar. Phellippo já se agita, fica quase que em pé em cima de
contagiante que até eu me levanto, pego meu filho no colo e ficamos os dois
remexendo em pé.
despedindo do público.
Sempre desejada
Só saúde e sorte
E a pergunta roda
E a cabeça agita
É a vida, é bonita
E é bonita[27]
NO PASSADO
— Tem uma mulher esperando o senhor em sua sala, doutor
— Elizabeth?
inesperada visita.
Elizabeth Boccuti foi a única mulher que amei na vida. E que tive a
vida, mas nenhuma me causou o que seus olhos eram capazes de me causar.
completamente a racionalidade.
Tento me recordar da última vez que a vi. Desde então a vida mudou
tanto... o mundo também mudou. Mas ela me faz sentir como se nada
velho que tenta usar a máscara de quando era mais jovem, de quando era
realmente ingênuo.
— Alfredo, preciso que faça uma coisa por mim. — Ela sorri,
sabendo que pode ter de mim o que quiser com esse sorriso. — Preciso que
A estranheza não vem pela propriedade ter sido passada para o meu
nome, como se eu a tivesse comprado, mas o fato dela dizer a quem devo
deixar a propriedade.
mãos no joelho alto. — E eu jurei para mim mesmo e para você que não
valeria a pena ter filhos, ou me casar com alguém, se não fosse com você...
Dizer isso me faz lembrar das dores do meu eu mais jovem. Mas
devolvo o documento.
cruza as pernas e segura com as mãos no joelho, coberto por seu longo
olhos.
pessoa que fui. E imediatamente lembrei que uma das primeiras coisas que
não age por interesse... mas nós, seres humanos, temos o hábito de
— Aham.
lugar, no entanto.
— E se uma pequena coisa mudasse?
nascer — observo.
— Disse que você ia ter três filhos e se casar com Rodrigo Leão? —
Rio.
Que pergunta esquisita. Mas fico ansioso para ouvir o que ela
nascer. E a mãe dela também. E todas as outras mães antes. Mas como não
somos feitos só de um material genético, precisamos acrescentar os genes
do pai... então o que eu era antes dos meus pais nascerem, Alfredo? O que
eu era antes deles se encontrarem?
Por que ela quer deixar uma propriedade tão grande e tão valiosa para
muitos anos...
sobrancelha.
cama.
meu irmão...
— Mas e ela?
A pergunta vem como um tapa em meu rosto.
Algo que nunca sequer passou em minha cabeça agora era tudo.
mar. Não importa quantas barragens, represas e desvios sejam feitos. Ele
vai continuar correndo, porque ele nasceu para desbocar no mar. E nenhum
— Seu filho, Alfredo — ela diz, resoluta, como se ela mesma tivesse
— Está dizendo que... o meu irmão? Eu? O meu sobrinho? Não. Isso
não pode ser verdade...
e o tráfico de pessoas.
Claro que isso respondia porque meu irmão rejeitou o filho. Não sei
se ele cortou laços comigo, porque eu cortei laços com a família quando
deixei todo o meu mundo para trás e vim aqui, recomeçar, sozinho.
—... Mas uma coisa é certa, Alfredo. Sempre acreditei que quando
um com eles no futuro. Por isso, não permita que Guilhermo cometa os
mesmos erros que você. Tampouco tome o mesmo caminho que você.
Fico com a boca entreaberta, sem saber o que dizer após ouvir tudo
isso. Só agora me dou conta que o café gelou, pois não o bebi em nenhum
instante.
— Aí que você se engana, Elizabeth. Não parei a minha vida por sua
tenha medo de seus erros. Conserte-os. Você ainda tem algum tempo.
assassinada.
— Quero dizer que você precisa ser rápido. Pegar as provas, produzir
uma grande armadilha e distrair a Paola até o tempo que for necessário. Ou
ela vai matar mais algumas pessoas, até chegar à sua herança e...
— Porque o seu rio acha que eu sou o mar — ela sorri docemente. —
E na esperança de que um dia seremos um, você vai sempre correr até mim.
Independentemente do tempo e dos obstáculos..., mas eu preciso ir. E você
precisa se apressar.
Fico paralisado quando sinto suas duas mãos em minha face. E seus
lábios tocam suavemente meu rosto, seu perfume parece o mesmo de
muitos anos atrás e seus olhos ainda carregam aquele jeito voraz de querer
viver a vida.
— Hilda Hist.
mas estou atrasado para uma cirurgia. E por onde quer que eu procure o
meu celular, não o encontro. Ajeito a gravata e abro a porta do banheiro,
— Eu já estou terminando...
— Ok...
camisinhas que usei na noite anterior e noto que ela furou. Só tenho tempo
de pegar caneta e papel, descer o mais rápido que posso as longas escadas, e
no sofá em que está a mochila dela, sento, apoio um livro debaixo da folha
e escrevo um bilhete:
“Não consigo encontrar o meu celular. De toda sorte, espero que a noite
Mas sinto uma energia, uma alegria fluir, de forma que não consigo
explicar.
por uma mensagem sua, para que possamos nos ver novamente. Quem
sabe um jantar? Me ligue quando chegar em casa, para que eu saiba que
apressado.
ATUALMENTE
cabeceira. Tateio meu lado até alcançar o braço da minha cadeira de rodas.
— Não...
provas?
Ah, então acho que já entendi tudo. Está sofrendo por ansiedade ou
fritar. Huuummm...
Esse não foi o primeiro desejo de grávida dela. Primeiro veio uma
alguns queijos como esse podem vir com uma bactéria e fazer mal aos
bebês. A outra vontade era de beber vinho, esse eu nem discuti, só olhei
mandioca de um homem...
deixar com fome, Phellippo vira de lado, fica de costas pra mãe e se agarra
— Será que você pode ir? Acho que não consigo dormir.
— Ir onde?
— Hoje?
algodão, não troco a calça de moletom, nem tiro as meias, vou assim
mesmo.
Me apresso, pois não quero que meu filho nasça com cara de
— O que ela quer comer mesmo? — Diogo olha bem onde estamos,
— Mandioca.
— Como sabe?
— Ela pedia pro meu pai isso, quando ficou grávida do PH. Ah, e
— Do PH ou agora?
— Do PH. — Manobro com o carro para virar uma rua bem íngreme.
— Não curti. Ela nunca disse quem era o pai e o cara nunca apareceu.
Só sei que é um cuzão, largou e a deixou criar a criança sozinha. Sempre
quis saber quem era o idiota, para dar um soco nele, cumprir meu dever de
homem.
Guilhermo, mas aquele pessoal que atirou no portão da casa da minha mãe,
aquilo não tinha nada a ver comigo...
— Quero te pedir desculpas, porque estou há tanto tempo em sua casa... mal
conversamos... só não quero parecer inconveniente. É duro... eu não tenho
— Sempre que tento descolar uma grana, caio numa enrascada. Pelo
eu não...
— Ser cafetão.
— Você devia ser sua cara! — Ele se diverte. — Não, não, eu queria
— De futebol?
— Online. Qualquer jogo. Tem uns muito legais e eu sou bom, passo
horas jogando... seria legal ganhar dinheiro com isso.
dinheiro, um dia chego lá. Quando vocês menos perceberem, viro digital
influencer de games.
trata bem e você ganha um salário bom... vive na nata social brasileira...
assunto:
— Você, como futuro pai... o que espera que seus filhos sejam?
— Isso era ser feliz para ele, Diogo. Do jeito que ele enxergava o
mundo, desejando o melhor para você. Na época dele isso era o vislumbre
da felicidade e da ascensão social: se tornar médico ou advogado.
— Entende?
— Você acha?
— Claro. Além de um pai que tem fortuna, um que também vai tentar
se adequar a um mundo que muda o tempo todo, para que eles alcancem a
felicidade.
— Aquele sinistro?
— Não vai achar aqui. Precisam ser de um lugar específico, senão ela
não come. Não entendo bem de grávida, mas ela conseguia sentir a
diferença no sabor...
— Karl Kraus.
encarando-o.
entraria na justiça.
cólicas, gases ou os bebês agitados. Era uma dor que vinha acompanhada de
muito estresse, palpitação e falta de ar. Mas eu tive sempre a sorte de ter
minha melhor amiga, minha mãe ou o homem que eu amava lá ao meu lado
— Não... é exatamente o que não devo fazer. Dênis não quer que eu
interfira na vida dele, e eu muito menos quero ter algo a ver com isso. Foi
mero acaso que ele ser aluno do Guilhermo, melhor não fazer nada... em
advogados. Aliás, quando isso estourar, não vai ter como ele não saber,
palavra jurídica: eu já tinha mandado uma rola deste tamanho na casa dele,
confiro que estão vestidos como Patrícia e eu: de macacão branco, luvas e
expandir a pequena casa dos fundos para construir mais dois andares, um
para servir de estoque da nossa loja e outro para ser o quarto da minha
amiga.
lo.
A minha médica gostou da ideia, disse que era muito bom que a
eu. Escolhemos tintas à base de água e tomamos todo o cuidado para nos
proteger. As cores que escolhemos foram amarelo e branco, que
animação.
— Tem certeza de que quer fazer isso? Suas costas não vão doer?
cantar e cantar...
cabelos e depois me faz parar o que estou fazendo, para colocar a máscara
quem responde.
— Trabalhando.
então...
Torço o nariz pela justificativa fajuta que dá só por ceder aos
gentil.
tanto tempo...
— Vamos ver como ele se sai fazendo o que acredita que gosta.
Vamos dar essa oportunidade a ele.
meu humor ou o conhecimento prévio que tenho do meu irmão, que gosta
de procrastinar quando o assunto é trabalhar.
entregar uma prévia do TCC. E aí... férias... e depois um semestre com duas
cadeiras e o fim do trabalho de curso — digo aliviada, quase cantarolando
com PH.
— Vamos ter os bebês antes do seu próximo semestre? — Guilhermo
pergunta.
recupero depois...
muito.
— Então já sabe que com dois a caminho, não vai ser muito
diferente...
— Ou duas... — contraponho.
Ainda não sabemos o sexo dos bebês, deixamos para nos surpreender
coração doendo.
Não acredito que Dênis não vai me deixar em paz, sendo que isso é
tudo o que eu queria. Não é pedir demais. Eu só queria que ele continuasse
ausente, longe, ignorando a minha existência, como tem feito nos últimos
anos.
— Vou fazer uma pausa para tomar água e descansar — digo tirando
a máscara.
trabalho está impecável, quase profissional. Claro que parece que cinco
pessoas diferentes, entre elas uma criança, pintaram o cômodo, mas com
mais uma mão de tinta daria pra uniformizar tudo.
inúmeras mensagens:
As dores no centro da barriga são tão fortes que preciso ir até o sofá e
me sentar, apoiar as costas e respirar fundo. Por vezes fecho os olhos
quando uma dor aguda me atinge, uma sensação insuportável como se fosse
uma gastrite nervosa e aguda.
“Dênis, supera e me deixa em paz. Não sou uma ameaça para você, então
siga sua vida e me esqueça. Guilhermo não precisa saber de nada, então
pare de me atormentar”.
Parece até que um alívio me atinge, bebo bastante água e fecho os
olhos para relaxar a mente. Não tenho três segundos de descanso, o celular
Será que ele não é capaz de entender que não temos nada a tratar?
“Não posso permitir que meu filho seja criado por outro homem. Saia da
Agora não sei se está doendo por qualquer outro motivo ou a crise de
gargalhadas que sou acometida.
Tem gente que parece que suga a energia da gente, tira tudo o que há
de bom e nem precisa estar perto pra isso. Numa lida e rápida troca de
Se isso não é chamariz suficiente para que eu o abra, não sei o que
mais seria. Abro e folheio rapidamente, confiro todos os termos jurídicos, a
com isso ficará com toda a fortuna para si. Além de que eu e minha família
teremos que manter distância não só dele, como da criança.
— Guilhermoooooo!
baixo.
elevador até chegar na cozinha. A visão que tive me deixou imóvel por
alguns segundos: Yasmin deitada de barriga para cima e o macacão todo
sujo de sangue.
Confiro a pulsação dela com a minha mão e parece baixa. Não tenho
tempo para muita coisa, então preciso conferir se ela está consciente e
preparar todo mundo para ir ao hospital.
— Não, quando desci para tomar água, ela estava de joelhos, ajudei
ela a deitar... ela pediu que não contasse nada a ninguém...
la, está consciente só que com a pressão baixa. Coloca ela em meu colo,
segura no tronco dela.
Diogo tenta levantar a irmã, mas não consegue. A mãe precisa vir
ajudar e até o pequeno tenta se intrometer.
— Respira pelo nariz, solta pela boca. Não abaixa o pescoço, vamos
Como não tenho toda a agilidade para esperar o passo a passo do meu
carro, Diogo e Patrícia me sentam no banco do motorista e desmontam a
minha cadeira de qualquer jeito. Eu dou a partida e saímos o mais rápido
possível, os outros dois vem logo atrás.
preocupações agora.
realmente é”.
— Nicolau Maquiavel.
Como não pude entrar, fico na sala de espera junto a todo mundo,
fica ao redor dele, enchendo-o de questões. Phellippo quer saber como está
sua mamãe, dona Lúcia está aflita por causa da filha, Patrícia só desata a
falar sem parar e eu fico quieto, conheço meu amigo pelo olhar e
fiquem tranquilos — ele diz firme, olhando com seriedade para a família.
que não podem fazer nada e não prometer o que não pode cumprir.
com as respostas.
Antes de me dizer qualquer coisa, meu amigo segura na cadeira de
vem! Seus bebês tem seis ou sete meses! Não bate com a data que você
— Você mentiu pra mim! — ele diz indignado. — É claro que estou
preocupado com a saúde dos seus bebês, você é um irmão pra mim. Mas
pode ser. E você preocupado com a porra de um carro e umas vinte, trinta
peças de arte?
insuportável no peito!
vai deixar de lado nossa briga, mas tenta ser profissional. — Não
debilitado. Ainda é cedo para dizer que foi um aborto, e ela não tem
— Como assim?
não importava que ela queria se sentir útil e continuar a rotina, precisava
focar só no que pode ser feito, para que a dor não tome conta de mim.
nascer pré-maturos, com um terço do peso, os pulmões não vão ter sido
formados corretamente.
— E a Yasmin?
está causando isso... melhor ela nem voltar para casa e ficar entubada, como
está agora. Senão você terá de escolher entre seus filhos pré-maturos ou sua
mulher.
— Tenho uma cirurgia agora, preciso ir. Mas a Alissa vai cuidar bem
e vem ficar comigo. Segura por cima da minha mão e fica olhando ao redor,
como quem não quer nada.
— Guillermo...
— Hum?
Diogo reaparece com café, água e suco, oferece para todo mundo.
Phellippo pega a garrafinha de suco, mas parece sem apetite, todo tristonho.
— Guilhermo, posso falar contigo? — Diogo fica ao meu lado.
— Uhum.
— Claro.
privacidade.
— Eles não me contam nada — ela reclama, a voz bem fraca, quase
não sai.
— Não. Eles estão bem, tem uma mãe muito forte e que nos deu um
Parece até que ela se acalma, o corpo parece relaxar mais e a mão
esquerda começa a vir em minha direção.
— Guilhermo...
Seguro em sua mão, tomando cuidado para não acabar esbarrando nos
pequenos tubos.
d’água e tento abrir um sorriso para não a preocupar. — Você está bem, está
sendo bem cuidada, vai se recuperar em breve.
—Guilhermo...
barriga grande e acaricio sua mão uma última vez antes de sair.
— Eu te amo.
semana no útero, creio que ela termina a gestação. Isso, é claro, se não
acontecer algo assim novamente.
— Pode deixar.
familiares. É bem mais fácil lidar com toda a euforia, quando você não tem
alguma ligação com a pessoa, a mente até bagunça as informações.
fazem o parto ou se ela tem condições de seguir até o fim da gestação. Por
hora, ela está bem, se recuperando, com certeza amanhã ou depois já
consegue receber visitas.
por quê.
interceptá-lo.
— Você atendeu?
— Não, não, estávamos no meio dessa correria toda que não tive a
um para amá-la”.
A porta da minha sala se abre tão rápido, que preciso segurar Diogo
pelo braço, porque ele já se prepara para levantar e socar a cara do sujeito.
Ainda bem que faço isso, pois quem entra é a doutora Érica Dourado.
precisamos conversar.
quase perdeu os bebês — ela diz apreensiva. Não nos falamos desde sua
Yasmin e deslizo o aparelho por cima da mesa, para que ela leia as
mensagens.
— Guilhermo... — está tão chocada que meu nome quase não sai.
conferindo as mensagens.
— Veja o número.
— Estou vendo...
mãos dela. Érica fica muda e sem expressão. Parece que perde a cor,
da sua ajuda.
— Minha ajuda?
— Sou conhecido no hospital por ser bem minucioso na área de
— Aham.
dentro da paciente.
— Mas não podemos sair impunes. Porque isso cria a ilusão de que
daquele dia, de que você deixou todos saírem e ficaram só Dênis e você
para suturar a senhora Oliveira. E encobriu tudo isso, até agora. Alguém
— E você, demitida.
Érica se engasga.
desse hospital!
— Eu já terminei.
uma pessoa tão perigosa e que causou mal a uma paciente. E agora isso.
Minha cabeça vai explodir de tanta dor. Tudo o que eu queria agora
era gritar e poder resolver tudo, principalmente tirar Yasmin daqui e levá-la
Dênis.
O outro, desnorteado, segura. Não sei nem porque faz isso. E leva um
chute em cheio na cara que preciso virar o rosto de PH pro meu peito, para
apressada.
— Hmmm?
— Já apanhou de um paraplégico?
— Quê?
Ele até para de lamentar quando entende, por fim, o que está
acontecendo.
Se levanta, tentando proteger o rosto manchado de sangue para não
levar outro chute de Diogo.
aviso.
Nisso sou mais gentil que Diogo, não bato em alguém sem avisar
antes.
ao passar ao lado de Diogo. Não tem tempo nem de começar a negar e dizer
que é engano, que estou me confundindo.
— 29...
da sala.
— 27... o que você teria em mente?
Não identifico que tipo de olhar ele lança para Phellippo, mas não
gosto.
— Sabe que ele pode abrir um B.O. contra nós dois por agressão, né?
— pergunto.
— Que ele abra três — Diogo chia e eu sinto que vou cair da cadeira
sem me hidratar e sem me preparar. Cada parte de mim doía e minha cabeça
explodia de dor por causa de uma enxaqueca.
momento. Então promete pra mim que vai repousar em casa, relaxar, não
vai se permitir ter qualquer estresse, Yasmin — Alissa pediu.
Desde que fui internada não lembrava onde tinha deixado meu celular
e depois Diogo disse que não iria devolver, até que eu tivesse as crianças. E
ainda completou com um:
— Eu fui preso.
— Sim. Seu irmão vai precisar fazer serviço comunitário. Não ia, mas
a boca dele é muito grande...
parte só quer rir, porque eu nunca imaginei que meu irmão fosse tão sem
noção.
cruzados.
— Yasmin, você nos deu um grande susto. Poderia muito bem ter
contado tudo, não teria passado por nada disso. Lembre-se que
independente de qualquer coisa você tem a mim, ao seu irmão, sua mãe...
— Sim...
— Outra coisa?
Phellippo, nem os gêmeos que estão para nascer. Eu não vou deixar.
bebês. É por nós, Yasmin. Eu preciso de você para que a nossa família fique
bem.
— Cora Coralina.
Na manhã seguinte recebi uma visita inesperada: o corpo de
O susto foi tão grande que precisei conferir a data para certificar-me
de que o prazo não havia terminado. Faltava menos de um mês para o
as coisas.
sentar, mesmo não estando feliz com a presença de Heloísa. — Por acaso,
isso?
Evito respondê-la.
Dona Lúcia, que é muito educada e hospitaleira, oferece água, suco,
la para que vá ficar com a filha, para que não precise ouvir sobre o contrato
Não como se me desse por vencido, mas com um alívio imenso de termos
sete meses.
certeza definitiva agora, de que perderei tudo o que era de Alfredo para
Heloísa. Entretanto, não posso permitir que Yasmin arrisque sua vida ou a
diz.
morreu. Os bebês e a mãe estão em estado delicado, não vou colocar a vida
— Eu sei.
— Daqui a um mês, ela terá oito meses. Pode estar apta a ter os bebês
quer as coisas vão para Heloísa ou para mim. Alguns outros, poucos, são
ganho.
— Vou entrar com uma ação para que adiem a leitura do testamento.
Tenho certeza de que não era da vontade do meu tio colocar a vida da
minha mulher ou dos meus filhos em risco.
um esforço grande para não ficar curvada para frente, segura com a mão no
a cozinha.
absoluto.
Heloísa não para de me encarar. Quando se senta em uma das
cadeiras, eu vou até a geladeira, pego um pouco de água para mim e retorno
— Quanto tempo...
— Sim..., mas pra mim você ainda parece a mesma. Só está um pouco
— Não, Mila, é claro que não te odeio. Vamos ser sempre amigas.
Para sempre.
— Sete, sim.
— Eu sinto que falhei como mulher. Falhei como esposa, falhei como
futura mãe. Fico me culpando, mesmo que Guilhermo não queira mais falar
do assunto, porque ele já aceitou que não vai receber a herança.
— Tenho medo de que um dia ele acorde e perceba que perdeu tudo
por minha causa. E a partir desse dia nunca mais queira olhar pra mim...
— Que rejeite as crianças, pois elas vão lembrá-lo para sempre tudo o
família sempre terão a mim. E serão cuidados por mim, se necessário for.
Mas seja forte. E faça o que te fizer feliz.
A abraço de volta.
As palavras dela geram um alívio em mim, não porque diz que vai
cuidar de mim, mas porque era tudo o que eu queria ouvir dela nos últimos
onze meses que ficamos afastadas: confiar em meu coração.
Heloísa esteve ao meu lado, junto com Patrícia e papai quando todo
mundo achava que eu tinha destruído a minha vida ao ficar grávida de PH.
— Vou sim...
também.
— É claro — ela diz, passando sua mão pelo meu braço e vai até o
elevador.
responder, mas não diz nada. Seus lábios se fecham e abrem um sorriso de
canto, muito brando.
e... se eu perdesse tudo o que meu pai deixou... eu preferiria morrer. Pois eu
o perderia, para sempre.
redor do jardim.
— Mas e o hospital?
de perto. — Um bilhão de reais não vale uma vida inteira com você e as
nossas crianças. E vamos ser capazes de fazermos o triplo disso juntos,
você e eu.
— Sim.
sei que tenho esperanças para o futuro. E sei que se Guilhermo permanecer
comigo, tudo vai ficar bem.
importa.
Boa parte desse ano que vivi com Guilhermo, a última coisa que
terminar logo minha faculdade, dar à luz a esses bebês e trabalhar duro para
conquistarmos tudo o que quisermos juntos.
ANOS ATRÁS
O posto de saúde fica no meio de um sertão que mal tem poste de luz.
Ao longínquo é possível ver uns casebres, a maioria deles rodeados de
poços, árvores e umas cabras.
posto lotado, uma fila de espera gigantesca. Fico ansioso para encontrá-lo,
mas não me deixam entrar até que ele termine de atender uma senhora que
foi picada por uma cobra.
— Guido! — ele diz animado, limpa o suor da testa com o dorso da
mão e bate em meu ombro. — O que veio fazer aqui?
— Aí mentiu que tiraria férias nos Estados Unidos para vir para cá?
— Não entendo...
entrasse pra máfia, porque dava dinheiro e fama. — Faz uma cara azeda. —
Mas eu sempre fui um intelectual, um homem dos conhecimentos, não das
armas...
felizes”.
— Friedrich Nietzsche.
NO PASSADO
Era um dia quente e abafado, saí cedo do hospital para acompanhar o
— Era um homem bom. Veio para São Paulo realizar seu grande
Desde que cheguei ao local, não consigo tirar os olhos de uma criança
pai. Não sei se é saudade, não sei é a amargura de ter saído da minha terra e
— Vai bem...
licença...
olhos azuis tão chamativos estava só com uma calça preta, a avó a abanava,
“Só três coisas deixam rastros por onde passam: a mentira, o amor e
Seus olhos azuis me hipnotizam que não consigo abrir a boca e dizer
algo.
— Mas ele viveu uma vida boa... correu atrás de tudo o que quis... —
a mulher continuava.
Há uma mancha café com leite nas costas da criança, bem abaixo de
seu ombro. Ela lembra o formato do mapa da Itália, o formato de uma bota.
Tenho uma igual. Meu pai dizia que só nascia nos filhos que tentavam fugir
de lá. Que a terra os chamava e que um dia eles teriam de voltar.
Só uma outra irmã nasceu com essa marca, que simplesmente sumiu
Guilhermo.
nascença.
serenidade.
Amor? — pergunto.
para uma criança dessa idade. — Deve ter puxado da família do pai.
— Certamente.
ATUALMENTE
ele merece.
cruzados.
Foi difícil contar aos meus amigos que perderíamos tudo da herança.
Lisa aceitou bem, o único comentário que fez a respeito de tudo foi:
desconfiança.
— Como pode ficar assim? Não percebe que a mulher perdeu sangue
aguardar.
nos enganar, antes tivesse nos preparado desde o começo, para perder tudo.
Eu não me preparei!
Ayslan diz.
Lisa fica alarmada. Quando sai de mim, parece que não liga.
os ombros.
Respiro fundo e estendo meu celular para Lisa. — Será que ele não podia
— Ele!
— Mas ele está morto, mortos não mandam e-mails. — Ela arqueia a
sobrancelha.
costas.
— Ela tem cara de que vai manter algo? Vai vender a parte dele do
retificou antes da morte, aquilo era antigo, de pelo menos um ou dois anos
atrás.
você está certo, não podemos deixar que essa herança suba à nossa cabeça
e...
— Guillermo.
— Sim, PH?
— Saiu.
como que é?
que posso até o elevador, ele até faz menção de me seguir, mas não
consegue mais caminhar.
— Você é bem alto, não precisa ter medo de ficar entalado — tento
— Quem é flora?
esparrama no chão.
É como uma flecha inesperada que voa tão rápido e atinge o alvo e é
impossível saber de onde veio. Um daqueles momentos da vida que
— Não, isso aqui — passo o dedo com mais força, como se pudesse
apagar a mancha, que permanece onde está. — De onde veio isso?
Fico tão paralisado no momento que a única coisa que consigo fazer é
ver diante dos meus olhos tudo voltando em câmera lenta, tão rápido que
leva menos que um segundo. Começa neste momento e volta para a
espaço, por isso nem box tem, o chuveiro fica no canto oposto em que está a
pia. Entrego o sabão para Phellippo e ligo o chuveiro, sem me importar
Ao limpar toda a espuma que escorre pelo ralo logo abaixo de si, a
mancha não sai.
quanto eu deslize a toalha por suas costas, é algo que está na pele dele, não
vai sair. — Vem cá.
Ignoro as roupas que ele estava e o coloco em meu colo, enrolado na
toalha. Volto para a sala, Ayslan e Lisa estão discutindo fervorosamente
— Ele cagou em você? — Ayslan ri. — Por que você está todo
ensopado?
— Olha! — insisto.
— Mas você não disse que tinha passado por cima do pai dele com a
— Vai ver o cara só achava que era o pai... sei lá... — Ayslan volta a
ficar animado. — Olha bem pra cara dessa criança!
Phellippo vira em direção a ele.
— Bom... ele é mais bonito que você, tem o rosto simétrico da mãe e
— Ah, você também tem! — ela diz surpresa. — Nunca vi isso aí!
— Mas como ele tem a mesma marca? Não entendi — Lisa coça o
queixo com o indicador.
Ayslan provoca.
— Oi, PH. — Mal consigo falar. Tem algo preso em minha garganta,
parece que o coração vai sair pela boca e estou sentindo meu corpo
formigar.
— Você vai fazer cocô? — ele diz, após me observar sem camisa.
falar.
— George R. R. Martin.
— Como isso foi parar aí? — Passo os dedos por cima das costas do
adulto.
significa menstruação — ele avalia em seu tom médico. — O que você acha
forte da criança.
Além de que, tenho quase certeza que Dênis fez de tudo na época,
na boca.
— Entendeu?
O que me confortava era o fato de tudo estar indo bem nessa fase
sempre.
primeira viagem – a maioria deles com o barrigão menor que o meu – com
novo...
percebe que chorou porque a fralda está cheia... percebe que chorou porque
Foi bonito ver como ele era cuidadoso ao dar banho no bonequinho e
— Não olha com essa cara pra mim, já troquei algumas fraldas na
parte e eu me encaixei entre suas pernas, recebi uma boa massagem nas
costas e na barriga. Tiramos um tempo para fazer o que era comum no dia a
fim de tudo.
e não sabia o que fazer, era aterrorizante... agora vai ser bem mais fácil.
calma...
— Vamos nos sair bem, somos uma boa equipe — encosta a cabeça
ele, porque ficam sem graça. E sair dali e passear pelos corredores do
cumprimentá-lo.
maternidade.
cobriam.
todas as gracinhas.
— Lembre-se que vão ser dois... ou duas... vai ser algo novo pra mim
também.
Meu coração parece que vai sair pela boca ao lembrar que estamos
indo buscar o resultado do teste de paternidade dele.
Só de saber que não tenho uma conexão com Dênis, vou lavar a alma.
Fecho os olhos e quando abro uma pequena fresta para espiar, ele está
rindo, de braços cruzados, me encarando.
— Vê você, não sei analisar isso — percebo que ele está com o dedo
em cima do resultado.
Agora sou eu quem quer ver o resultado. Espeto o dedo dele para que
— Como assim?
dois... e tentou impedir que ficássemos juntos, porque estava obstinado para
que eu seguisse seus passos e me tornasse uma versão dele. E era isso o que
eu sempre quis... até te conhecer.
— Mas algo deve ter mudado o coração dele... e ele tentou reverter o
— Eu não entendo...
— Ele queria que eu fosse igual a ele. Bem, eu achei que queria ser
igual a ele... até te conhecer. Até sentir em cada parte do meu corpo que não
podia deixá-la ir. E só lembrar e pensar em você após meu acidente...
Guilhermo afasta o dedo que segura em cima do resultado e vemos
juntos.
Assim que amanheceu corri para sua casa e usei minha chave para
aprender... — suspiro.
de uma tal Yasmin, que com a riqueza de detalhes que descrevia, eu podia
ver diante de meus olhos uma garota descendo as escadas de sua casa,
pegando o bilhete que eu escrevi no passado e partindo, furiosa, sem nem
olhar para trás.
paranoico.
privilegiada para o mar e uma terra extensa e frondosa, onde tudo parecia
ter vida.
acidente.
— Hoje. Agora.
O motivo pelo qual Alfredo quis que eu tivesse mais filhos – ou pelo
Acompanhado a ele dizia que devia ser deixado para minha filha.
— Esquisito.
do senhor Lamarphe.
— Ele deve sentir sim... o calor. Por que está no inferno — fechei a
dor e sofrimento que causei. Apenas direi: mi scusi[28]. Sabendo que seu
perdão é um luxo que provavelmente nunca terei.
Mas na certeza de que ido até a guerra, lutado até suas últimas
forças e prestes a voltar para casa, você jamais se tornará o velho que um
dia fui.
No desejo de que meu exemplo o ensine o que jamais fazer aos seus
filhos,
Scusi.
Alfredo Lamarphe.
“O amor é formado de uma só alma, habitando em dois corpos”.
— Aristóteles.
gestação, mas agora era o frio na barriga que tomava conta de mim.
em quinze minutos e eram muito fortes. Uma dor absurda, bem mais intensa
Essa vai ser uma das experiências mais únicas de toda a minha vida.
anestesiada e após algum tempo, já estava com ele em meu colo. Não sofri
nenhum tipo de abuso médico, mas Alissa me explicou que o descaso e às
convidando os dois para vir viver aqui conosco — ela diz alegre, sua voz
me anima.
médica.
— Vamos trocar sua roupa, te preparar e a hora que eles tiverem que
Guilhermo afaga o pequeno no colo. — Que nome você acha que deveriam
ter?
— É.
— Ah...
para ter os bebês. Phellippo foi passear com a tia Patrícia, mamãe e
— Mas está demorando tanto! Será que tem alguma coisa errada
comigo?
em seu rosto. — Vai ficar tudo bem, eu estou aqui com você. Respira
comigo.
força que consigo, Alissa examina como estou indo ao examinar entre
minhas coxas.
— Exausta!
peito e sinto seu queixo em minha testa. Aperto os olhos com força e tento
primeiro momento que eu te vi, eu sabia que era você. Eu sabia que me
encantaria e me entregaria a você. Que só você poderia ser a mãe dos meus
filhos. Eu não vou sair do seu lado, até que esteja tudo bem.
— E depois?
Cobre meus seios com suas mãos e roça bem devagar o queixo pelo
ritmo de respiração.
mãos pela minha barriga, massageando com a ponta dos dedos pela pele.
Espero que grite comigo, diga que preciso empurrar, ser mais forte ou
Com uma lufada de ar que parece que vai me deixar zonza, ranjo os
dentes até sentir que o bebê saiu. A água morna parece que acalma minha
pele, consigo recuperar fôlego após tanto esforço, mas aí vem a aflição de
não ouvir o choro.
— O que houve? — Não dou nem tempo para Alissa pegar a criança
A criança não chora, mas abre bem os olhos e encara os dois pais
— Oi, minha filha — toco seu rostinho e sinto uma lágrima queimar
em meu rosto.
meus braços.
Queima, acalma
Mata, cria
É o estado de poesia
— Não, ele ainda está nutrindo ela — Alissa diz muito educadamente.
— Deve ter sido ótimo, teve nove — minha mãe se diverte. — E não
Após curtir muito tempo com a minha pequena, fico encucada de não
estar sentindo tanta dor e contração para ter o outro bebê.
dois?
— Ai! — sinto uma pontada tão forte dessa vez, que não tenho
criança.
Abro bem as pernas em cima da cama, um lençol hospitalar cobre por
cima das minhas coxas e Alissa examina debaixo.
animada.
alivia muito.
Eu sei, eu sei
Que eu repita
E é bonita
minha barriga e segura por cima da mão de Guilhermo, que está segurando
minha mão.
Viver
De ser feliz
Um eterno aprendiz
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita
Esse parece bem mais agitado que a irmã, mexe as mãozinhas sem
parar, como se tentasse agarrar o ar. Guilhermo ao encostar o rosto, tem o
Fico emocionada pela homenagem e por ele não ter saído do meu
Esse momento me faz sentir estranha. Por que acabo de me dar conta
de que estou diante daquilo que sempre sonhei. Encaro mamãe, Phellippo e
Guilhermo. Desejei tanto viver o meu sonho de princesa que ainda estou
processando que ele aconteceu de fato.
— Você está bem? — Sinto minha testa ser secada por ele.
prioridade. Vou estar com você para sempre e nós vamos enfrentar todos os
obstáculos juntos. Se passamos por um parto assim e tantas pessoas que
tentaram nos separar, nada pode nos deter.
— E eu amo vocês.
Sem medo de não merecer tal sentimento, abraço-o. Eu lutei por ele.
Vivi o inferno, passei por desafios que testaram cada parte de mim.
Mas sinto que após toda essa tormenta, enfim estou em casa.
— Cora Coralina.
Antes de retornar para casa e levar Yasmin, passo na sala da vice
presidência.
Não sei se fico surpreso ao encontrar minha mãe ali, mas dessa vez
não está inquieta procurando coisas nas gavetas. Está sentada, o olhar vazio
suspiro de lamento.
pasta de trabalho. Vou precisar ficar afastado do hospital por algum tempo
— Imagino que não posso fazer nada para dissuadi-lo de ficar com as
crianças e descartar aquela família e ir embora para a Itália... — sua voz
da mesa, quando toma em suas mãos. Pelo enunciado, percebo de cara que
e encara a sala vazia, como se ainda pudesse ver tio Alfredo por ali.
— Eu estava lá.
— Estava lá onde?
velho foi estúpido... pensei em rasgá-lo, mas não tive tempo. Passei anos
descobrisse tudo.
— Você...?
Ainda bem que estou sentado. Melhor, estou com as costas bem
despencar dela.
Como ela pode ter sido capaz disso tudo? E por que só me disse tudo
isso agora?
— Então você sabia que ele era meu filho desde o início? — Engulo
revoltar, como a Paloma fez... mas eu não pude lhe dar um fim, já que ele
contar tudo o que fez, seus planos mirabolantes e seu passado do qual não
— Você sempre foi tão inocente... como seu pai... — respira fundo.
o bebê.
volte...
— Como assim?
começam a crescer.
Tudo rebobina em câmera lenta: o estilhaço do carro se restitui e a
ter ouvido a verdade da boca dela. A porta do carro bate e eu saio dele,
começando.
a cuidar de Paloma e nosso filho a partir dali. Não a amava. Tínhamos nos
visto apenas uma vez, num acaso que pareceu fortuito e tivemos uma boa
quem seria esse filho. Paloma foi uma dessas mulheres que entrou tão
rápido quanto saiu da minha vida. E assim como ela, dezenas, talvez
exceto...
Não.
Fiquei tão absorto e perdido que tudo o que fiz foi querer sair no meio
do temporal, junto com ela. Paloma já havia dito que ia embora, que não
podia mais sustentar essa mentira e eu não permiti que ela pegasse um táxi
— Não, Paloma. Eu não vou odiá-lo. Ele é meu filho e eu vou cuidar
dele, não se preocupe.
pretexto para encontrar Yasmin só mais uma vez, eu usaria. Mas se ela teve
um filho, por que não me procurou?
— Por quê? — Parece que fiquei horas dentro daquela cena, quando
na verdade não deve ter se passado um segundo ou dois.
revira meu estômago e me enoja saber que fui usado e traído pela minha
própria mãe.
juízo.
descubro isso?
A voz quase some ao dizer meu nome. E fico com uma expressão
congelada no rosto, tentando entender o que isso pode significar.
muito para que você não precisasse viver essa dor. E lutei muito para que
não seguisse a vida que ele teve... mas eu falhei.
— E daí vocês dois criaram tudo isso? Tem noção do quanto foi
difícil?
Tento maneirar no tom duro que uso, pois o semblante dela agora é de
derrota total.
— Vou para a Itália. Talvez eu nunca mais possa sair de lá, talvez não
nos vejamos novamente, caso você não me visite...
crimes?
não retribua.
— Cuide para que seus filhos nunca passem pelo que você passou,
meu menino — lamenta e não consegue me soltar.
desaparece no elevador.
Levo um tempo até me recuperar de tudo que acabei de viver e ouvir,
além de terminar de pegar todas as minhas coisas e sair da sala da vice
presidência.
tempo que eu levei para saber que ele era meu filho. E vamos recuperar
tudo e deixar esse passado triste e doloroso para trás.
— Meu filho — pouso minha mão aberta em sua cabeça. — Você
ainda é pequeno, quem sabe um dia...
será maior do que qualquer outra coisa que encontrará em seu caminho.
mar.
— Amor?
seu colo.
Não sei que mágica era essa, só sei que ao cantar ele fazia com que os
bebês parassem de chorar e ficassem atentos.
concurso de delegata.
Não entendia, mas cada vez que via Ayslan ela pegava cada vez mais
em seu pé.
outras coisas...
— Ah, ótimo! Então porque não faz uma lança dessa árvore aqui —
apontou para a árvore no meio da sala. — E vai caçar uns animais, hein
senhor paleolítico?
Enfim... um dia ainda vão descobrir que todo esse ódio pode ser
facilmente resolvido entre quatro paredes.
de tudo um pouco, de jogos de tiro, até uns de fazendinha que eram muito
fofos.
Mas eu juro, papai, eu vou ficar de olho e dar uns bons cascudos
nele, caso saia da linha!
Acho que foi mais fácil suportar tudo porque eu sabia que era o certo.
Eu não ia desistir. Era mais do que o meu sonho, fazia parte de quem eu era.
E agora posso admitir que sou muito mais feliz do que antes, na
verdade, muito mais feliz do que imaginei que um dia seria.
Com um recomeço.
Com alguém que eu nunca imaginei que retornaria para a minha vida,
mas que quando chegou, alguma parte dentro de mim soube que não podia
deixar ir.
— Não. Creio que tudo o que já tínhamos para resolver, já foi feito...
que há algo guardado ali que ele não se sente preparado para compartilhar
comigo. Eu fico curiosa, anseio para que me diga de uma vez porque fica
tão triste e decepcionado sempre que puxo assunto falando da mãe dele,
mas creio que seja como o caso de Alfredo.
Alguém que ele confiou tanto e dedicou sua vida... que o surpreendeu
negativamente. E o feriu de uma forma que ele mal consegue falar sobre.
pontos de vista. Ainda assim, torcemos uns para os outros. E cuidamos uns
dos outros.
Estou descobrindo a cada dia como é isso. De ser filha, de ser mulher,
de ser mãe.
de ser eu mesma.
dois anos.
O Ateliê do Amor tem feito muito sucesso: muitos clientes na fila de
de noiva.
Mal acreditei quando me dei férias, arrastei todo mundo de casa para
merecido.
— Meu filho, não coma areia! Não tem um gosto muito bom... —
tento impedir Amauri de levar a areia molhada à boca, mesmo assim ele
faz.
mostrando toda a vista da água cristalina, o perfeito céu azul se mescla com
— Não precisa ter medo, filha. É o mar. Olha que bonito e como é
areia, deve ser de tanto espiar a pequena Kim que sempre tem algo para
comer, mas pelo menos nunca come coisas impróprias... a não ser
Quando uma onda vem em nossa direção, assim que estamos prestes a
jeito desengonçado.
mochila, sai correndo furiosa atrás de Phellippo que roubou sua comida e
Patrícia não pode comparecer, suas férias não deram match com as
acalma.
Quem diria que venceríamos? E como é bom estar feliz em ver todas
E que quando sentiam que seu destino e felicidade era cruzar isso tudo, eles
seu rosto, não responde nada, só sorri e tenta se esconder em seus braços.
vida — Gui me encara. — Ainda mais porque foi aqui que eu reencontrei o
deixando-a bater os pés na água. Amauri está sob meus cuidados, preciso
avançar.
— Não podia ser em lugar diferente... — ele tira, não sei de onde,
uma caixinha.
Ayslan vem e pega o meu filho para que eu possa reagir, mas na
Mas esse anel é bafônico e o diamante dele parece querer brilhar mais
do que o sol.
— Ai Guilhermo...
hora em que coloca o anel em meu dedo, com medo de que caia no mar.
casamento.
— Estou louca para ligar para a Patrícia! Ela vai surtar! E vai ser
A vida nunca mais foi a mesma depois do acidente que me tirou tudo.
másculo no espelho, mas não tinha forças para levantar uma simples bola
que cabia em minha mão e esticar o braço para o lado com ela.
Feito o céu que fica mais escuro antes do sol nascer e depois rasga as
E então eu entendi.
Ainda assim tive medo do que ia achar de mim, tive medo de que
tivesse dó e não me enxergasse como o homem que fui. Mas ela viu muito
Entendi que não precisava andar para voltar a ser feliz. Entendi que
podia muito bem reconstruir a vida, mesmo depois de ter perdido tudo. E
entendi que toda a força que eu buscava primeiro tinha que partir de mim,
Pego o meu pequeno no colo e o estico para que coloque mais uma
bola azul na ponta dos galhos.
— É.
— O que houve?
— Tempo.
— Ela tinha água. Ela tinha adubo. Era bem cuidada, recebia sol. E
— Guediente.
— E ele vai em todas as coisas. É tipo a cola do universo. A árvore
— Bonita, meu filho — beijo sua testa. — E a estrela que vai bem lá
— Então vamos chamar sua mamãe e pedir que pegue uma escada.
Ela põe a estrela e aí vai ficar mais bonita. Depois vamos tomar banho e nos
— Oba!!!
É claro que foi uma grande festa quando começaram a falar “Bubu” e
“agaa”, o que quer que isso poderia significar. A euforia também tomou
era mais ativa, travessa, foi a primeira a querer ficar de pé e cair também. E
— Olha só, olha só, vai andar! — Patrícia segura no braço de dona
Lúcia.
procurando.
direção.
O irmão não liga muito, deita as costas no chão e fica se sacodindo
Diz tão alto e de forma chamativa que a criança para e fica espiando
os tios.
— Meu Deus, eles não param nunca — passo os dedos pelo anel de
cada passo.
penhasco para planar e bater as asas em seu primeiro voo, ela larga o sofá e
um dia não pode mais andar, mas sabia que poderia ser livre.
enche de beijos.
quem enviara os e-mails deixados por Alfredo. E que também precisava que
nós descobríssemos sobre a paternidade de Guilhermo a respeito de PH,
Não entendi muito bem o que isso queria dizer. Só sei que encerramos
esse assunto, foi bom abraçá-la e saber que estava indo bem na vida.
então pedi que dirigisse para o melhor podrão da cidade e só fomos embora
após comprar algumas frutas no mercado mais próximo.
mão.
de Maianne.
absurdo do pacote, preciso segurar com as duas mãos para dar a primeira
mordida. — E a cidade é tão linda — espio o show de luzes diante de nós.
Amauri agarra o pedacinho de banana e enfia todo na boca. Baba
mais do que morde. E depois, guloso, pega um morango e faz careta quando
sente o tom mais azedo da fruta.
Próxima quinta?
— Está, sim. Mas eu consigo, nem que seja meia hora, para ir ficar
com vocês...
crianças gargalham com a cara do pai e Phellippo vem lhe dar uns tapinhas
nas costas, para que não engasgue.
— Ah, vamos sim — sorri ironicamente. — É tudo o que as crianças
querem...
— Ah, isso não vai ficar barato! — Rosna. — Segura seus irmãos! —
Diz a Phellippo.
E vem furioso atrás de mim, que saltito com meu lanche na mão,
desviando de Guilhermo.
18 ANOS DEPOIS
— E aí, velhinho.
— E aí, velhinho? — Arqueio a sobrancelha ao encarar Phellippo.
Assisto-o vir até mim, abraçar minha cabeça e afagar meus cabelos
lentamente. Eu dou uma boa olhada em como cresceu e como se parece
comigo. Por mais que ele tente me irritar, chamando-me de “velhinho”, não
tem como ser ranzinza com ele.
— Tá quente, né?
— É só amanhã.
trazê-lo aqui. Tio Ayslan disse que era seu lugar favorito.
— Filho...
— Medo... — desdenho.
— Velhinho...
— Vamos pular?
— Vou me divertir.
ombros. Nem lembro direito do homem, faz tanto tempo que não venho
aqui que era apenas uma mera lembrança e boas histórias de natal.
ansiosa.
Eu, por outro lado, não poderia pedir uma vida ou uma família
diferente.
Christopher Nolan? Tim Burton? Devo estar assistindo algo deles agora.
Goya? Salvador Dalí? Van Gogh? Frida Kahlo? Passo horas olhando e
pesquisando as obras.
psicologia.
Email – yuletravalon@gmail.com
Saber as novidades, receber brindes e me acompanhar por aqui:
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Yule Travalon.
As obras estão elencadas pela ordem de acontecimentos, caso você
queira seguir a leitura por ordem cronológica.
CONTOS
SÉRIE – CONSPIRAÇÃO
COMÉDIA ROMÂNTICA
SÉRIE – IMPÉRIO
carreira ficou ameaçada por seu estilo de vida boêmia. A saída para limpar
sua imagem e reconquistar o respeito da elite é apenas uma: um casamento
por contrato.
recomeçar a vida em outro lugar, com uma nova família. Mas ao chegar aos
Estados Unidos, ela descobre que um triste acidente tirou a vida dos
Hansmann, a família dos gêmeos que estariam aos seus cuidados. Em busca
das crianças em Nova York, ela vai se esbarrar com o seu novo guardião – o
polêmico, infame e extremamente atraente Jacob Parker.
Ele precisa de uma mentira que salve sua carreira e cuidar de seus
sobrinhos.
sombras do passado.
Juntos eles vão descobrir que possuem algo em comum, e talvez isso
emprego em lugar algum. Desde que terminou com Chad Dawnson, sua
vida virou de cabeça para baixo: ele retirou a guarda de seu filho,
infiltrar na vida de Blake Gallagher, alguém que fez parte de seu passado,
é Rowan, sua filha com Síndrome de Down. Quando seu irmão Franklin
Gallagher tenta enfrentá-lo na disputa pelo cargo de CEO, Blake sabe que
os fantasmas de seu passado podem vir à tona, principalmente pelo retorno
passado.
Bella fará tudo o que for necessário para proteger a si e ao filho das
garras de Chad, mesmo que isso signifique destruir o homem que a ajudou
diante da sua única fraqueza. Nessa briga de egos pelo controle um do outro
eles descobrirão que juntos podem ser mais fortes para recomeçar?
Bella e Blake estão prestes a descobrir.
NAS MÃOS DO CEO
cama. A única coisa que ele não conseguiu foi obter sucesso em sua
vingança contra seu tio, o homem que matou seu pai e o sócio, assumindo o
as fraquezas e segredos do alto escalão. Com isso, ele terá em suas mãos a
depressiva que nunca sai da cama e uma irmã mais nova, ela se sente
intimada a manter a família em pé, mesmo que isso contribua para que ela
não tenha tempo para uma vida pessoal: ela cursa Letras e todo o restante
Ela tem contas a pagar; Ele tem uma vingança em rumo. Ela quer
descobrir como é o mundo dos ricos e poderosos; Ele carrega uma série de
Beatriz Rodrigues é uma mineira que foi para Nova York em busca do
sonho americano. O resultado? Tudo o que conseguiu foi ser uma imigrante
para aceitar as propostas indecentes que recebia até Héctor Mitchell lhe
oferecer muito mais do que um Green Card, uma conta gorda e a
do controle quando seu pai, o CEO da Mitchell & Smith entra em coma e
inesperado que a leva aos seus braços. Ao decidir protegê-la, Héctor sabe
que terá de abrir, pela primeira vez, as portas do seu mundo: seus segredos,
sua verdadeira face... e o seu bem mais precioso: Anthony, seu filho
Houveram dias que eu nem saí da cama. Houveram dias que eu nem
Agora agradeço a você. Por ter chego aqui, por ter lido até aqui, por
ser seu primeiro contato com uma obra minha ou mais uma aventura em
minhas loucuras.
vezes no mesmo rio”. Eu, filósofo de coisa alguma, desejo que você não
seja a mesma após ler esse livro. Que ele tenha mudado algo em sua vida,
de alguma forma. Nem que seja pelas piadas bobas, pelas reflexões de
arquivo até o fim para conhecer minha nova história!). Também quero
agradecer a Lorrana Alice pela leitura e comentários, além de ter dito a
melhor frase sobre uma personagem minha: “o diabo trabalha duro, mas
Elizabeth Boccuti trabalha mais”. Hahahahahahaha!
roteiro de nosso próximo livro juntos, G. R. Oliveira, obrigado por ser meu
São Paulo e dividir momentos incríveis comigo. Nana Simons, tudo pra
mim, parceira de karaokê e estilo Kardashian de viver (hahahahaha). Amo
Vocês não sabem, mas enquanto escrevia Show de dia dos Namorados
eu estava no ponto mais crítico de minha ansiedade. Mal saía de casa, mal
fomigas.
Obrigado por seu carinho. Obrigado por ter lido esse livro. Obrigado
Por isso eu desejo que ria. Espante seus fantasmas. Afaste o que te
assola.
o amor.
Obrigado pelo carinho com meu pequeno menino fomiga. Ele manda
os nomes de quem avaliou “Um Show de dia dos Namorados”, meu último
livro, como forma de agradecimento.
Vocês estão aqui há tanto tempo que já fazem parte de casa! Algumas
Ivone Duarte, Lays Cristina, Kelly Chaves, Talita Cerqueira, Paty Nunes,
lindos para os livros físicos, Luciana, Aline e várias outras meninas que
complicados de ansiedade como os que vivi esse ano, releio suas avaliações
Carla Barbosa, Karyna Souza, Yuna, Mônica Guimarães 10, Gracy Carla,
RaiGf, Mari n., Carina timn, Suelen, Luciana, Juliana h.cardamone, Sheila,
Bruna Luiza Queiroz, Consuelo A. Patrocinio, Ana Carla, Andrea Oliveira,
Dana Souza, Crissy, Julia Menezes, MMBB, Maiara Sabino, Sandra, Aline
Marques de Oliveira.
sobre o termo que foi mudado, te agradeço de coração pelo carinho e por
talvez você tenha avaliado e seu nome não esteja aqui. Mas sinta-se
Yule.
Estava em busca de um novilho desgarrado que fugiu das instalações
da velha fazenda, quando um carro me chamou atenção. Passava pela
estrada que dava direto na propriedade da minha família e como a ilha era
quando saiu do carro, tirou os óculos escuros e deu uma olhada panorâmica
no lugar.
Não desci do cavalo. Trotei até chegar diante dele e ajeitei o chapéu
— Quem gostaria? — Fito seus olhos verdes que brilham feito duas
perceber que ele nunca deve ter ouvido falar de mim, digo meu nome
— desço os dedos até a cintura e tiro a espingarda de lá. — O que veio fazer
nas terras da minha família?
terras pertenceram à minha família, até o seu avô Alfredo Lamarphe roubá-
minha família.
Eu não dou a mínima para quem são os pais dele. Atiro no chão, perto
mais alto que eu e parecer bem forte, não me assusta. Desde criança meus
pais me traziam aqui. Devo ter derrubado meu primeiro touro antes de
completar 18.
Ah, então ele sabe! Deve ser mesmo quem diz ser e vir da família que
antes era proprietária das terras. Abaixo a espingarda, mas continuo alerta.
que espera só uma chance para mostrar quem realmente é e dar o fora.
herança — digo.
quero de volta.
mar. Espero que curta morar por aqui até o último dia da sua vida. Mas não
fitando-me.
– O HERDEIRO –
Sua fúria ganha força, feito uma panela de pressão, devido ao meu
silêncio.
proponho.
Tive a quem puxar. Sou mais cabeça dura que o rei e não vou realizar
seu pedido, mesmo que como ordem real: não me casarei com a mulher que
ele escolheu e não me limitarei às regras idiotas desse palácio para garantir
a sucessão do trono.
os dentes.
— Você será rei e dará um herdeiro a essa Casal Real, nem que essa
seja a última coisa que eu faça, após morrer! Volto e te atormento, seu
moleque!
6 MESES DEPOIS
O meio da tarde fria e nublada em São Paulo com fina garoa me faz
De todos os lugares por onde passei desde a minha fuga, o Brasil foi
climas e situações dentro deste país, que a sensação de que viajei o mundo
um lar, o que me fez decidir por encerrar minha jornada em busca de uma
Saí no meio do dia para vender alguns diamantes e ter dinheiro vivo
em mãos, já que usar cartões estava fora de cogitação. Meu país é um dos
— Droga! — Resmungo.
Coloco as mãos dentro do moletom ao encarar em um dos muros da
número...
bom, de todo modo, não valorizava meu perfil, nem mostrava minhas novas
tatuagens.
Ao ver o selo real de minha casa estampado em seus ternos, não tenho
— Alteza?!
— Senhor?!
Corro o mais rápido que consigo para o metrô mais próximo,
Dou graças a Deus por ter alguns reais no bolso para comprar o bilhete,
vagão.
Se essa é a última vez que estarei em São Paulo, vou curtir a noite
Vendi menos diamantes do que queria, mas estou com uma mala
cheia de dinheiro. Planejei toda a minha fuga: posso voltar para Bahia, um
lugar quente e acolhedor. Vou viver velejando e sem dormir, por causa das
festas alternativas. Depois dou um jeito de pedir exílio no Japão, quem sabe
em Dubai...
Prestes a chegar numa das casas noturnas mais caras que a cidade que
não dorme tem a oferecer, vejo os homens de mais cedo. Apresso o passo
para entrar, mas eles me alcançam, tão absortos quanto eu por esse
encontro.
desliguei dos meus deveres reais, mesmo que seu rei não tenha aceitado.
a mim e se curva.
— Não faça isso, não aqui — o levanto. — Não vou voltar e vocês
— Não. Não perco tempo com TV e internet, tem tanta coisa para
viver fora daquele palácio que a última coisa que quero é notícias de minha
pátria!
mesmo!
vem...
as costas.
do trono!
turma a escrever uma linha cronológica que contasse toda nossa trajetória
de vida:
vidas no passado e o que imaginam que pode acontecer daqui para frente!
assim:
Nasci no dia 19 de novembro de 1999, ali pertinho da virada do
século.
aprendi a ler e escrever desde cedo, pulei direto para a primeira série, por
isso sempre convivi com crianças um ou dois anos mais velhas que eu.
A linha do meu conto de fadas que previa o futuro seguia assim: aos
nos casar, com 20, formada, vamos nos mudar para a capital de Minas e aos
Disney.
repete, ao pé do ouvido.
suas vontades.
para me encarar.
— Eu... eu te amo...
O meu silêncio que dura meio segundo e meus olhos dilatados, o faz
estapear meu rosto com força. Gustavo aponta a arma para o teto e atira, só
para me provar que ela está carregada e ele está pronto para acabar com
no chão ou o pai da Bela fica preso numa torre por ter roubado uma rosa da
— Você não existe sem mim — Gustavo empurra meu corpo para
E a carrasca também.
Tudo o que escrevi naquele cartão de uma aula de história aos 12 anos
venenosos.
concretizando.
— Não, ela ainda não merece ser mãe. Tem muito que aprender —
Tudo bem que era sempre em tom de piada para amenizar o peso das
minhas roupas porque achava que eram curtas ou tinham decotes demais.
fama cresceu, gente da alta sociedade começou a vir à clínica que eu montei
no mesmo prédio em que fui estagiária... daí, de uma hora para outra,
webcam. Por que não pegava bem ficar a sós com outro homem dentro de
amigos da faculdade...
Gusmão, ela me disse com quem eram seus problemas conjugais: Gustavo
Ele não tinha só outra vida! Ele tinha uma filha! Uma filha!
O tipo de piada tão idiota e tão cretina que me deixou sem reação, ao
descobrir.
Me fez ligar para os meus pais e cancelar a ida repentina, me fez dizer
– com a arma na cabeça – que tanto trabalho havia acabado com minha
saúde mental e eu precisava me desligar de tudo e todos para me recuperar.
Eu vou fugir.
baby”.
Quase me tornei atriz de tanto fingir que estava bem, de que podia
esquecer tudo, que ainda o amava, como a garota iludida de 12 anos.
grosso e escrito com canetão que contava minha cronologia, feito aos 12
anos. Constava ali, nas seguintes palavras: aos 25 serei mãe de um príncipe.
fugir daí?
— Leon, não quero te incomodar, ainda mais agora que sua vida está
dando certo em Paris...
— Prima, tenho duas coisas para te contar — ele respira fundo: —
Não estou mais em Paris. E não vai ser incomodo nenhum. Você foi uma
das poucas pessoas da família que não virou as costas pra mim e não me
— Em Koioskovo.
chamado Setentrião.
— Prima, se não vier, por favor, promete que vai sair daí e não vai
virar estatística!
— Pode sim. Mas por favor, pense rápido, não quero que aconteça o
pior...
— Você pode trabalhar em minha confeitaria, que tal? Você não havia
me dito que encontrou meu cartão aí em suas coisas e que tinha se formado
em gastronomia? Só vem, Nena, vamos fazer a confeitaria Lessa ser um
sucesso aqui!
nada depois de um ano sem falar com ele só para pedir um favor.
cozinha autoral mineira aqui em BH e pedi umas receitas a ele, para iniciar
a conversa. Mas avançamos bem rápido e eu desabafei tudo antes do tempo.
— Vem, Nena, por favor... se não pode ficar nos seus pais, nem tem
— Então, prima, sai daí. Posso te pagar uma passagem para qualquer
lugar do mundo, mas aqui posso cuidar de você. Pense que não vai precisar
trabalho – ou foi ficar com a esposa –, joguei roupas (dei preferência para
as de frio), diploma e notebook, tudo dentro de uma mala grande, na de mão
Eu ainda tinha que esperar uma hora até embarcar novamente, então
sentei em um banco afastado de todas as pessoas para comer o sanduíche
que trouxe de casa, só haviam outros três homens sentados a uma distância
considerável.
— Para onde você ia, hein, sua vagabunda? Ia correr pra dar pra
outro, é? — segura em meu queixo com agressividade, mas seu semblante
continua límpido.
Ele me abraça contra seu corpo para abafar o barulho e fazer cena
para os transeuntes.
— Você só vai ser feliz comigo — afasta minhas lágrimas. — Eu te
perdoo, tá? — Sela nossos lábios com demora, sinto o gosto salgado invadir
minha boca. — Vamos voltar para nossa casa, dizer para as pessoas que
você teve um colapso nervoso e tudo vai ficar bem.
consigo e me faz sentir sua arma dentro do uniforme. — Agora vamos lá,
voltar para o nosso ninho de amor.
Gustavo fecha a mão em meu punho com muita força e arrasta minha
mala com a outra. Não sei o que parece às vistas das pessoas: um homem
fardado com jeito de bom policial arrastando uma criminosa para longe dali
ou um esposo protetor tentando levar a mulher para casa.
amor. Está assim por que não tivemos um filho? Volta comigo. Isso vai
provar que você merece. Ainda dá tempo, vamos resolver isso...
mim, mostrando sua verdadeira face. — Grita. Grita, sua puta histérica, faz
o teu show, vai. Só vai confirmar para essas pessoas que você perdeu o
juízo. E eu estou tentando te ajudar.
que estou sendo arrastada contra a minha vontade. Assim como nenhum
vizinho nunca ligou para a polícia ou as pessoas se afastavam
discretamente, na garagem, quando viam Gustavo explodindo comigo.
— Vem, porra!
— Ela disse para soltar! — Me arrepio toda ao ouvir uma voz bem
— Mas eu... — nem sei o que dizer, fico dividida entre ver Gustavo
e me dirigi o mais rápido que pude para pegar o avião. A fila da primeira
classe já estava vazia e a executiva ainda tinha duas pessoas, fiquei logo
30 minutos...
além de, é claro, um pequeno televisor nas costas da poltrona diante de mim
de passageiros.
desconhecido, um país nórdico que nunca ouvi falar até uns meses atrás.
— Por favor, Deus, nunca te pedir nada: deixa sua filha fugir desse
Fico dividida entre espiar o longo corredor por cima das poltronas e
voo vem prestativa, logo atrás deles, tenta acalmar os passageiros com as
mãos.
novo plano de fuga e sorrir de um jeito decente para que não suspeitem que
estou prestes a quebrar a janela e pular fora. De toda sorte, evito um contato
visual.
Como diria Freud, em suas famosas sessões: vai ser dedo no cu e
gritaria.
— S-sim? — gaguejo.
receber um valor em dinheiro para cobrir qualquer despesa que tenha — ela
sair desse aeroporto o mais rápido possível e não é para ficar em um hotel.
vestido de modo mais despojado que seus seguranças, usa uma jaqueta de
debaixo de seus óculos. Sua pele muito clara faz o hematoma parecer grave
Sem tirar os olhos de mim, ele estende sua passagem para a aeromoça
que confere:
pense bem. Consideraria então vender o seu lugar por... 10 mil reais? — Ela
olha para os homens que entraram antes, quase que procurando aprovação.
meia. Mas antes que eu ceda à oferta e fale sobre meu ex psicopata que me
aguarda lá fora, percebo que o homem forte e alto de boné, bem diante de
mim, está movendo os lábios sutilmente e fazendo um gesto negativo com a
cabeça.
bela moça só quer viajar, não veem que a estão deixando tensa? — Suspira.
vai ficar.
ombros.
tem cara de estrela do rock. Ele tira os óculos escuros e vejo com nitidez o
machucado logo abaixo de seu olho cor de mel. Vendo-o de tão perto, penso
que ele nunca deve ter pego um sol na vida, assim como nunca deve ter tido
seu corpo e uma tatuagem que parece terminar pelas costas, coxas e até
dentro da cueca vermelha.
desalinhados e fica rindo para o nada, estica bem as pernas longas para
debaixo do assento da frente e se instala por completo.
Não sei o que dizer. Acho que deveria começar por um obrigado.
— Você não tem ideia de que acabou de salvar a minha vida. Muito,
muitíssimo obrigada! Eu devo minha vida a você!
Fico até trêmula e emocionada por fazer essa declaração. Só eu sei a
dor que carreguei no peito e na alma nos últimos anos e mal posso acreditar
— Iovius — sua mão toma a minha por baixo, ele beija o dorso de
Verdade seja dita: nome e hábito estranho. Quem é que beija a mão
Começo a rir, não faço nem ideia do porquê. E no meio disso solto
— De responsabilidade.
Ah, o típico homem que tenho atendido por toda a minha vida. Os
casamentos nunca dão certo, ficam no mesmo emprego para sempre, não
conseguem subir na vida porque não se comprometem, não se
responsabilizam...
— Não me agradeça por fazer o que é certo — diz num tom formal.
Quando espio por uma fresta entre os dedos, confiro que ele só tirou a
pequena cortina da janela oval ao meu lado e está dando uma espiada lá
fora, seus olhos brilham como duas esmeraldas em contato com a luz.
— Gosta do sol?
Essa pergunta me deixa intrigada e me faz sair do cantinho sombrio
no colo.
para chegar logo no Reino Unido, fazer a parada de três horas e depois ir de
encontro ao meu primo no Grande Setentrião.
poltrona.
Iovius está com o pescoço esticado em direção à janela ao meu lado,
seu rosto está iluminado com os raios de sol e seus olhos verdes parecem
ganhar mais vida quando fitam os meus tão de perto. Seu cheiro quente de
café e avelã invade minhas narinas feito um nocaute e as borboletas em meu
estômago se preparam para seu primeiro voo, após uma vida inteira no
casulo.
sentir uma mão enorme cobri-la e segurar com força. O arrepio me obriga a
abrir os olhos e encarar o sujeito.
Sinto a mão dele me apertar com mais incisão. E não retrocede para
seu lugar, continua com o pescoço esticado em direção à luminosidade da
janela, seu cheiro parece irradiar calor, assim como o sol.
Fiquei tão envergonhada com todo o show que dei, que fiquei
HAAKON III
Ao tentar voltar minha atenção para a revista que estava lendo, ouço o
barulho de seu ronco.
Ela ronca mais alto, a boca entreaberta, o nariz faz um barulho como
se fosse uma porquinha.
Durmo também.
RAVENA LESSA
descartável.
— Quer dividir?
— Prove.
Não esperava o gesto e isso abrandou o meu dia de uma forma que
Quis perguntar para onde ia, quem realmente era, como chegou ao
Brasil e o que achou da minha terra. Também quis perguntar se poderia
fazer algo por ele, ainda mais olhando para o hematoma em seu olho a cada
— Meu pai dizia que nada na vida é completo, sem seu contrário.
Então espero que após fugir, chegue onde quer — Iovius se despede de mim
com um beijo no rosto e um abraço que me faz derreter em seus braços.
— Ei...
Iovius desaparece pela porta do avião, não sem antes acenar para mim
– até parece que faz isso para toda a tripulação, que está de pé assistindo-o
ir.
encanto.
— Oi, o rapaz que saiu levou a minha mala por engano... Essa é a
dele! — Mostro o objeto.
Bom... como disse alguma poetisa francesa ou Deus após o sétimo dia
de criação: c’est la vie...
receber os últimos raios solares, porque estava ciente de que eles seriam um
rosto.
muito...
escuto que um dia serei rei, mas para isso meu pai precisaria morrer... —
olho para o teto. — Não parece um dia feliz. Eu não queria perder o meu
— Então coloque-as.
produtos de higiene.
pode sair assim, não está adequado! Se sair desse avião parecendo uma
Concordo com ele. Vou tirando cada peça da mala, examinando com
Seguro uma calcinha bege em minhas mãos. — Quem usa tal tipo de coisa?
capturaram o momento.
Tiro o sobretudo preto e meio felpudo, parece ter sido feito para uma
em palavras.
— Ele conhecia bem o filho que gerou — pisco. — E acho que devo
usar isso ou precisarei aguardar que alguém venha com roupas pretas, em
tão apertada, meus braços parecem ficar o dobro do tamanho nas mangas.
— Quanto tempo vai demorar até que alguém venha até nós e traga
— Uma hora, talvez uma hora e meia... Isso, é claro, só para você ir
HAAKON?! — diz meu nome mais alto no fim, ao perceber que já estou na
seus olhos me sigam quando passo por eles. Os repórteres não param de
fazer perguntas e são tantas luzes e flashs em meu rosto que é difícil manter
Ando de modo firme e ergo a mão para o povo do meu país, que me
Não tarda até que eu entre no carro blindado e Svar vem depois,
— Sério? Não acredito que você fez isso. A Rainha mãe vai nos
matar!
— Bobagem — minimizo. — As pessoas estão aqui em pé, no frio,
não podia deixar que esperassem nem um segundo a mais, seria crueldade.
— Lá vamos nós...
cruzo os braços.
lá fora acaba.
coroa, que se sente até mesmo quando ela não está em sua cabeça.
Nasci para um dia ser responsável por milhões de pessoas. Logo eu...
conhecido como príncipe inconsequente e irresponsável...
— O Príncipe de Drü chegou ao país com uma roupa inusitada — a
moda? — ironiza.
comentarista diz logo em seguida. — Sua Alteza é conhecido por não seguir
escândalos...
— Blanco, não te incomoda ter um futuro rei que não tem cabelos
grandes? — a mulher ri. — É a primeira vez em mil, quem sabe dois mil
anos que um rei do Grande Setentrião é quase careca. Em nossa tradição,
homens que pertencem à realeza e um dia assumirão o trono jamais cortam
seus cabelos, pois é sinal de seu poder e ancestralidade.
atenção.
— O príncipe precisa usar dessa sua boa fama para unificar o país e
afastar qualquer fantasma de uma República. Se tiver sorte, talvez consiga
que guia as ações do rei. Temos um parlamento com duas câmaras, uma de
Lordes – daqueles que estão lá pela linhagem sanguínea – e outra de
Comuns – daqueles que foram eleitos pelo povo. Só não temos primeiro
ministro, o rei ocupa o poder executivo e abaixo dele há os dois líderes das
câmaras.
velório de sua majestade. Vamos partir para Drü em duas horas. Vovó
escolheu 12 princesas, para que você escolha uma e tenha um herdeiro, elas
começam a chegar no final de semana. Serão 15 dias para que escolha sua
consorte, e depois 75 para gerar o bebê real. Seu pai colocou uma condição
Primeiro o baile, depois o herdeiro, então quem sabe você não renuncie
quando sua linhagem estiver assegurada...
que para pessoas comuns não significa nada, mas para mim é tudo.
— Não quero viver essa vida planejada, onde estou sob os olhares de
todos e preciso seguir regras a todo instante. E essas princesas... todas
— Sim.
— Não é o que espero de uma mulher. Não a minha mulher. Quero
que ela me respeite, não porque sou seu rei, mas porque eu sou digno e fiz
por merecer. Sabe o que foi mais incrível de estar no Brasil? Não me
conhecerem. Não saberem que era eu. Me tratavam como uma pessoa
qualquer! Já experimentou isso?
carro, chamando por meu nome. Aqui em meu país, raramente tenho
privacidade e nunca poderia ter a vida que levei nos últimos meses.
Isso significa que não posso ser eu mesmo e isso é tão cruel quanto
colocar um animal selvagem em uma gaiola.
Da última vez que vi um deles empurrar uma pessoa para longe, dei-
lhe um golpe na face que saiu em todos os jornais. Agora não testam mais
os meus limites.
casa Iranovichk, Haakon III! — Sou anunciado pela voz alta e grave do
arauto que fica na entrada, quando entro no palácio.
um país do oriente...
— Que legal.
— E aí o senhor apareceu no Aeroporto Internacional de Guarulhos
— ele me mostra um vídeo em seu tablet. — De boné e óculos. Dando um
Estendo minha mão novamente e ele a beija. Só assim para ele ficar
calado.
Ela vem o mais rápido que pode, batendo sua bengala no chão.
Abraça minha cabeça com ternura e beija o topo de meus cabelos, depois
faz o mesmo com seu outro neto, Svar.
— Seu avô dizia que vemos nós mesmos nos lugares para onde
vamos — ela me dá uns tapinhas no rosto e me chama com o indicador.
— Laios, diga em voz alta nosso roteiro de hoje!
país do eterno verão. Viaja pelo mar quente e cheio de vida. E sua jornada
só acaba quando o novo rei acerta sua flecha de fogo — ela diz enquanto
dispensa os funcionários que trazem bebidas e aperitivos em bandejas.
— Você será coroado, mas não governará — ela diz para meu
completo choque.
— Como assim?
— Um regente.
Minha avó estende a mão para Laios e ele beija seu dorso. Com o
olhar ela me lembra: “só assim para ele ficar calado”.
[1]
Do italiano “vem” ou “venha”.
[2]
Do italiano “mulher bonita” ou “bela mulher”.
[3]
PcD – Pessoa com Deficiência.
[4]
Do italiano “obrigado”.
[5]
Do italiano: “de nada” ou “você é bem-vindo”.
[6]
Do italiano “que porra é essa”.
[7]
Do italiano “não fale comigo sobre amor”.
[8]
Nota do autor: “Macumba” é uma árvore africana e um instrumento musical. O termo costuma ser
usado no Brasil como sinônimo de: 1) Oferenda; Ebó; Despacho; 2) Identificar religiões afro-
brasileiras de modo pejorativo; Aqui e em outras passagens a personagem usa de modo informal e
descontraído com a amiga para identificar o “feitiço” ou “oferenda” que fez.
[9]
Do italiano “puta merda!”.
[10]
“Que porra!”
[11]
Do italiano “mulher infernal”.
[12]
Aqui é uma força de expressão. Guilhermo não possui o movimento das pernas. Em outros
momentos da narrativa ele usará termos semelhantes para descrever sua raiva e frustração.
[13]
“Obrigado”.
[14]
Do italiano “eu nunca disse isso”.
[15]
Do italiano “Deus”.
[16]
“Meu Deus! Olhe só para você!”
[17]
“Mãe, eu estou bem, hum?”
[18]
“Não se preocupe”.
[19]
“Muito bem”.
[20]
“Meu filho!”
[21]
“Mãe”.
[22]
Algumas falas da criança foram transcritas de forma errada propositalmente.
[23]
“Porra”
[24]
NOTA DO AUTOR: Musica: “Salmo” de Maria Bethânia.
[25]
NOTA DO AUTOR: Música: “Fera Ferida”, composição de Erasmo Carlos e Roberto Carlos,
interpretada por Maria Bethânia.
[26]
NOTA DO AUTOR: Música: “Negue”, escrita por Enzo de Almeida Passos e Adelino Moreira,
aqui interpretada por Maria Bethânia.
[27]
NOTA DO AUTOR: Música: “O que é, o que é?”, escrita por Gonzaguinha e aqui interpretada
por Maria Bethânia.
[28]
“Me desculpe”.