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Genética Humana

Introdução à Genética Humana

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Leonardo Martins Silva

Revisão Técnica:
Prof. Dr. Leonardo Martins Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin
Introdução à Genética Humana

• Breve Histórico da Genética;


• Ciclo Celular;
• Bases Genéticas da Hereditariedade;
• Mutações;
• Glossário de Termos em Genética Humana.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Informar acerca dos Conceitos Básicos usados em Genética, das bases fundamentais do
gene, dos cromossomos e da hereditariedade, bem como a genética do câncer.
UNIDADE Introdução à Genética Humana

Breve Histórico da Genética


Você já reparou nos seres vivos ao seu redor? Consegue notar que plantas, animais e
também os seres humanos têm aparências distintas numa mesma espécie?

O fenótipo de um organismo diz respeito à sua aparência externa ou características


observáveis, tais como tamanho, cor, inteligência etc. A partir de 1900, duas grandes
áreas do conhecimento passaram a contribuir com informações relevantes e significati-
vas para explicar a expressão fenotípica: a Genética Clássica e a Bioquímica. Enquanto
a Genética Clássica mostrou que os genes controlam a transmissão do fenótipo de uma
geração para a seguinte, a Bioquímica desvendou que, em uma geração, as proteínas
possuem efeito determinante no fenótipo (Figura 1).

Por muitos anos, no entanto, a relação entre genes e proteínas foi um mistério.

Somente a partir do século XX, com o advento da Biologia Molecular as suposições


moleculares foram esclarecidas e se verificou que os genes contêm instruções codifica-
das que direcionam a síntese de proteínas, ou seja, o DNA tem a informação (ou receita)
para a produção de cada proteína que constitui um tecido ou órgão.

Embora as moléculas associadas à informação genética representem cerca de 2% do


total dos componentes químicos presentes em um ser vivo, a manutenção e a integração
de toda Unidade dele segue sob o controle das informações contidas (ou reguladas) nos
ácidos nucleicos.

Existe um longo e interessante caminho que a informação gênica deve percorrer,


desde o genoma, até a constituição de um organismo.

Leia o Capítulo 3 – O Genoma Humano: Estrutura Genética e Função, do livro THOMPSON, J.;
THOMPSON, M. Genética médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

Entender como esse Código direciona a criação da vida humana é o objetivo de estu-
do e de conhecimento da Genética Humana e Molecular.

Fenótipo

Genética Clássica Bioquímica


(~1900) (~1900)

Genes Proteínas
Genética Molecular
(Biologia Molecular)

Figura 1 – Noções de interação dos conhecimentos da Genética


Clássica, Bioquímica e o surgimento da Genética Molecular

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Os estudos de Gregor Mendel (1822-1884) e outros importantes estudiosos da Gené-
tica Clássica revelaram que os padrões numéricos regulares de herança indicavam que
a passagem de características de uma geração para a seguinte poderia ser explicada
com a suposição de que partículas ou genes hipotéticos estavam contidos em pares nos
organismos adultos, mas transmitidos individualmente à descendência.

A seguir, é possível lembrar dos Princípios da Hereditariedade propostos por Mendel:


• Os filhos herdam os genes dos pais;
• Os genes são transmitidos através dos gametas;
• Cada gameta contém um conjunto completo de genes, específico da espécie;
• Os genes ocorrem aos pares nos indivíduos;
• As versões de cada gene, os alelos, separam-se na formação de gametas.

Como foram os experimentos de Mendel?


Mendel queria estudar os mecanismos que transmitiam as características de um or-
ganismo para sua prole.

Esses mecanismos hereditários não eram compreendidos na época, principalmente,


devido à falta de estudos acerca do DNA e do material genético que só surgiu a partir
do século XX.

Por que Mendel usou ervilhas?


Os estudos que permitiram a Mendel formular as famosas Leis Mendelianas foram
realizadas em um tipo específico de ervilha, a ervilha-de-cheiro (Pisum sativum).

Mendel as utilizou devido às diversas vantagens práticas que esse tipo de plan-
ta apresentava.

Dentre elas, podemos citar:


• Fácil cultivo;
• Ciclo de vida curto;
• Produção abundante de sementes, o que permitiu análise estatística mais confiável;
• Capacidade de autofecundação;
• Características de fácil observação e análise.

Do ponto de vista experimental, Mendel realizou cruzamentos daquilo que consi-


derou "linhagens puras" de ervilhas. Para que Mendel atribuísse “pura” a uma dada
linhagem, era preciso que ela apresentasse as mesmas características, após sucessivos
cruzamentos, mesmo depois de seis gerações.

Essas plantas puras também foram denominadas geração parental, ou simplesmen-


te representadas pela letra “P”.
Para forçar a fecundação cruzada, Mendel retirou o pólen de uma planta considerada
pura e o transferiu para o estigma (área receptiva do pistilo das flores, onde o grão de

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pólen inicia a germinação do tubo polínico e dá início à fecundação) de outra planta


considerada pura, mas que possuía características diferentes da primeira.
Para exemplificar, imagine duas linhagens puras de ervilhas, uma verde e a outra
amarela.
Mendel as cruzou e obteve descendentes diretos desse cruzamento, ao que denomi-
nou primeira geração ou, simplesmente, “F1”.
Na sequência, Mendel realizou uma autofecundação da geração F1, obtendo uma
segunda geração de plantas descendentes, ao que chamou de “F2”.
Ele analisou as características específicas de todos os descendentes das gerações F1
e F2 e comparou às características das linhagens puras.
Mendel analisou as seguintes características: cor da semente, textura da semente, cor
da casca da semente, forma e cor da vagem, posição e altura das flores.
Por meio desse estudo, Mendel postulou o que ficou conhecido como as “Leis de
Mendel (ou Mendelianas)”.

Teste seu conhecimento:


• Faça a interpretação da Figura 1 e as relações estabelecidas entre cada Área do conhe-
cimento destacando a contribuição de cada uma e a inter-relação entre elas.
• Como foram realizados os trabalhos de Mendel e qual a importância dele para a Ge-
nética humana? Qual a maior dificuldade de Mendel na época?
• Quais os Princípios da Hereditariedade propostos por Mendel?
• Por que Mendel utilizou ervilhas?
• O que é “linhagem pura” e qual a relação dela com a denominada “Linhagem parental”?

Anos após os estudos de Mendel e graças aos avanços da Ciência, pesquisadores


decodificaram que as informações (ou a receita) para produzir um novo organismo são
guardadas em sequências do nosso DNA, chamadas de genes.
Aproveitamos, aqui, para introduzir o conceito de alelos, lócus gênico e cromos-
somos homólogos. 
Os alelos são as variantes de um determinado gene e ocupam o mesmo lócus (local)
em cromossomos homólogos. Os alelos são os genes responsáveis por determinar uma
característica específica e suas variantes.
Lócus gênico é a posição (coordenada específica) que o gene ocupa dentro do cro-
mossomo.
Cromossomos homólogos são os cromossomos que possuem os genes que co-
dificam as mesmas informações genéticas, sendo que os genes estão organizados na
mesma ordem e possuem a mesma localização.

Alelos e genes, disponível em: https://bit.ly/37bJ2I6

Em organismos diploides, os cromossomos provêm dos progenitores (geração pa-


rental, P), sendo metade oriundos da mãe e a outra metade do pai.

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Quando analisamos os genes de um indivíduo, podemos perceber que em um de-
terminado cromossomo proveniente da mãe pode haver um gene C para determinada
característica, e no homólogo proveniente do pai, pode ser encontrado um gene c.
Perceba que, apesar de C e c serem o mesmo gene, eles são variantes e podem de-
terminar algumas alterações para a mesma característica. A essa condição, chamamos
de alelos (C e c) de um mesmo gene.

Convencionou-se representar os genes utilizando o alfabeto, sendo que os alelos são


representados pela mesma letra, por exemplo, a letra “C” diferenciada por maiús-
cula e minúscula em sua anotação. Quando um alelo está representado por uma le-
tra minúscula, ele é considerado recessivo, e só deverá expressar sua característica
quando os dois alelos forem iguais, ou seja, dois alelos recessivos (Por exemplo: cc).
Os alelos dominantes expressam suas características mesmo em uma única cópia
(Por exemplo: CC ou Cc).

Importante!
Nas células diploides, os cromossomos estão presentes em pares (pares de homólogos).
Dessa forma, cada característica é resultante da combinação de pelo menos dois genes,
localizados em cada um dos cromossomos homólogos.

Teste seu conhecimento:


• O que são alelos?
• O que são cromossomos homólogos?
• O que é um lócus gênicos?
• Qual a relação entre alelos dominantes e recessivos?

Convidamos você a compreender os princípios da Genética Clássica utilizando como


exemplo o estudo feito com coelhos em um modelo similar ao proposto por Mendel com
as ervilhas.
É importante que você entenda o modo de transmissão das informações responsáveis
pelos diferentes fenótipos (ou características).
Vamos lá?
Os coelhos (Oryctolagus cuniculus), assim como os humanos, são organismos diploi-
des. Na figura a seguir, está esquematizada a transmissão de um gene responsável pela
cor da pelagem, exemplificado pela letra C nas anotações maiúscula e minúscula, ou
seja, dominantes e recessivos, respectivamente.
Note que o C é o alelo dominante em relação ao c na determinação de cor da pelagem.
Na geração parental, o organismo CC (dois alelos dominantes) tem pelagem mar-
rom, enquanto o organismo cc (dois alelos recessivos) tem pelagem branca. Os gametas
gerados por essa geração têm apenas alelos dominantes (C) ou recessivos (c). Logo, a
geração F1 é formada por organismos diploides carregando um alelo dominante e outro
recessivo, sendo um oriundo do pai e outro da mãe.

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Como C é dominante em relação ao alelo c, a cor da pelagem dessa geração é marrom.

Agora, vamos analisar a proporção da coloração da pelagem na geração F2 e note


que é diferente de F1 (F1 = 100% pelagem marrom; F2 = 75% pelagem marrom e 25%
pelagem branca).

Como explicar essa proporção?

Os organismos diploides da geração F1 produziram 50% de gametas contendo o


alelo dominante C e 50% contendo o alelo recessivo c.

Pela análise combinatória da geração F2, vemos que a proporção de coelhos duplo
dominantes e duplo recessivos é 25% cada, enquanto os coelhos que carregam um do-
minante e outro recessivo representa 50% da população.

Observe que, embora o genótipo seja herdado dos pais, o fenótipo não é. Essa é uma
diferença importante entre fenótipo e genótipo.

O fenótipo de um organismo é a soma das características observáveis dele. Dizemos


que o fenótipo é influenciado pelo genótipo, mas não o contrário.

Importante!
Convencionou-se chamar “homozigoto” aos alelos iguais em um mesmo genótipo, se-
jam eles dominantes ou recessivos (Por exemplo: CC ou cc), ao passo que alelos diferen-
tes em um mesmo genótipo são chamados de “heterozigoto” (Por exemplo: Cc).

Figura 2 – Considere que as letras “C” e “c” representam diferentes alelos


de um determinado gene responsável pela coloração da pelagem do animal
Fonte: Acervo do Conteudista

Note que o C é um alelo dominante em relação ao c na determinação de cor da pela-


gem. Note, ainda, que a proporção da coloração da pelagem é diferente entre F1 e F2
(F1 = 100% pelagem escura; F2 = 75% pelagem escura e 25% pelagem clara).

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Importante!
As características provocadas por alterações em genes ou no genoma, que são relaciona-
das a um único gene, são denominadas mendelianas, porque ocorrem em proporções
definidas, quando se considera uma dada geração parental e os descendentes F1 e F2,
assim como Mendel observou em seus estudos com as ervilhas.

Todas as características de um organismo são influenciadas por um único par de alelos?


A resposta definitivamente é não.

Em seres humanos, altura, cor dos olhos e cor do cabelo apresentam muitas varia-
ções, porque são controladas por muitos genes. Esse tipo de herança é chamado poligê-
nico, pois cada par de alelos contribui com uma certa quantidade para o fenótipo total.

A cor dos olhos de um indivíduo tem relação direta com a quantidade de melanina
depositada na íris. Existem muitos genes relacionados à produção, transporte e ma-
nutenção de melanina. Assim, a cor dos olhos em humanos não está sob o controle
de apenas um gene.

Além da informação genética (genótipo), um fenótipo pode ser influenciado por fato-
res externos e/ou ambientais (Por exemplo: estilo de vida). A isso chamamos de modifi-
cações epigenéticas, assunto que será abordado nas próximas Unidades.

Herança poligênica e efeitos ambientais, disponível em: https://bit.ly/3loPgfN

Teste seu conhecimento:


• Na Figura 2, o cruzamento entre os coelhos homozigoto dominante (CC) e homozigoto
recessivo (cc) resultou em uma proporção de 100% pelagem escura (na geração F1)
e 75% pelagem escura e 25% pelagem clara (na geração F2). Qual seria a proporção
esperada em F1 e F2 se os coelhos da geração parental fossem heterozigotos (Cc x Cc)?
• Qual seria a proporção em F1 e F2 se um dos coelhos da geração parental fosse homo-
zigoto dominante (CC) e o outro heterozigoto (Cc)?
• Qual a proporção em F1 e F2 se um dos coelhos da geração parental fosse homozigoto
recessivo (cc) e o outro heterozigoto (Cc)?

A Genética Humana e seus Campos de Atuação


A Genética compreende um grupo muito amplo de Disciplinas quando em termos de
aplicação dos seus conhecimentos.

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A seguir, listamos alguns dos diferentes Campos de Atuação do conhecimento da


Genética Humana.
Quadro 1 – Áreas de Atuação em Genética
Estudo da etiologia, patogênese e história natural das doenças e
Genética médica dos distúrbios cujas origens são, ao menos parcialmente, genéticas.
O diagnóstico, aconselhamento, tratamento e gerenciamento de
Genética clínica caso de condições genéticas.
O estudo de fatores genéticos em distúrbios comportamentais in-
Genética comportamento cluindo distúrbios psiquiátricos e cognitivos, de humor e afeto.
O estudo de reações bioquímicas e os distúrbios destas reações
Genética bioquímica (erros inatos do metabolismo).
O estudo da estrutura e da função dos cromossomos na saúde e
Citogenética na doença.
A genética dos desenvolvimentos normal e anormal, incluindo mal-
Genética do desenvolvimento formações congênitas e teratógenos.
A aplicação da tecnologia e do conhecimento genético para investi-
Genética forense gações médico-legais.
Uma disciplina de cuidado ao paciente que utiliza ambas as ciências
genética e social (psicologia, trabalho social e outras) para fornecer
Aconselhamento genético aconselhamento e apoio aos pacientes com condições genéticas e
seus familiares.
O estudo da variabilidade do DNA e do RNA; o efeito de alterações
Genética molecular na saúde humana.
O estudo das influências genéticas na resposta e no metabolismo
Farmacogenética de medicamentos.
O estudo dos genes dentro das populações, incluindo frequências,
Genética de populações movimentos e tendências.
O estudo dos aspectos genéticos da reprodução, incluindo saúde
Genética da reprodução pré-conceptiva, ciência da pré-implantação, diagnóstico pré-natal
e gerenciamento da gravidez.

Os conhecimentos de Genética Humana também são altamente aplicados em grupos


de doenças consideradas interdisciplinares, isto é, que necessitam de atuação colabora-
tiva e holística de outras Áreas de Conhecimentos e atuação.

Nesse sentido, podemos citar: Genética do câncer, distúrbios relacionados ao tecido


conectivo, distúrbios craniofaciais, fibrose cística, Síndromes (como, por exemplo, a Sín-
drome de Down e a Síndrome Alcoólica Fetal), distúrbios de gênero, distúrbios metabó-
licos, hemoglobinopatias, neurofibromatose, distúrbios neurogenéticos, distúrbios neu-
romusculares (incluindo as distrofias musculares), problemas hereditários relacionados à
audição ou à visão (distúrbios neurossensoriais) e fendas orofaciais (como, por exemplo,
a fenda palatina e o lábio leporino).

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Teste seu conhecimento:
• Analise a Tabela das Áreas de Atuação em Genética. Para cada uma delas, faça ao
menos uma indicação da contribuição do Biomédico para a área. Lembre-se de que,
embora cada uma das Áreas de Atuação tenha certa particularidade, invariavelmente
se tratam de Áreas Multidisciplinares;
• Analise a Tabela das Áreas de Atuação em Genética. Para cada uma delas, indique
os principais conhecimentos necessários para atuação, relacionando-os às Disciplinas
que você estudou até este momento. Por exemplo: os conhecimentos de Biologia Mo-
lecular (DNA, RNA, transcrição e tradução) são importantes para as Áreas de Genética
Molecular, Genética Forense etc. Os conhecimentos obtidos em Biotecnologia são
importantes para as Áreas de Farmacogenética, Genética Molecular, Genética Bioquí-
mica etc.

Ciclo Celular
Mitose e meiose – Divisão celular
Durante todas as fases da vida de um indivíduo, os processos de crescimento e desen-
volvimento celular estão presentes.

Quando há necessidade de produção de novas células, ocorre uma série de sinaliza-


ções para que a célula inicie um novo ciclo celular, seja por mitose, seja por meiose, que
são as duas formas de divisão celular.

As células somáticas humanas se replicam por mitose. Os adipócitos (células de gor-


dura), leucócitos e hemácias (células do sangue), células musculares ou qualquer célula
que constitui o corpo humano e que não seja uma célula sexual são consideradas células
somáticas.

A mitose tem grande importância na manutenção dos mais diferentes tecidos, vez
que faz a substituição das células mortas, células danificadas ou células com curtos pe-
ríodos de vida. No caso da mitose, a divisão celular de uma célula-mãe resulta em duas
células-filhas geneticamente idênticas.

A divisão celular envolvida com a produção de gametas (células sexuais responsá-


veis pela transmissão do material genético em organismos de reprodução sexuada)
chama-se meiose.

Na meiose, a divisão de uma célula-mãe origina quatro células sexuais, cada uma com
metade do número de cromossomos da célula-mãe.

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Veja o esquema a seguir, comparando as duas formas de divisão celular:

Mitose Meiose

replicação

divisão celular

divisão celular

Figura 3 – Esquema da mitose e meiose


Fonte: Adaptada de Getty Images

As células se originam a partir da divisão de outras células. Vale lembrar-se de que


antes de qualquer forma de divisão celular, todo o material genético tem de ser duplica-
do, isto é, uma cópia de toda a informação deve ser realizada e a esse fenômeno que
chamamos de replicação do DNA.

Aproveite para se lembrar do processo de duplicação do DNA por meio do vídeo disponível
no link a seguir (ative a legenda, caso seja necessário):
Disponível em: https://youtu.be/TNKWgcFPHqw
E aproveite, também, para rever os principais conceitos sobre esse tema em:
Disponível em: https://bit.ly/3Ci4Wb0

Durante a mitose, o material genético contido na célula-mãe (2n) é duplicado (4n) e


dividido igualmente entre duas células-filhas (2n), ou seja, cada célula filha recebe um
conjunto completo de informações genéticas.

Já durante a meiose, as gônadas femininas e masculinas produzem gametas (n), que


contêm metade do número de cromossomos das células-mãe (2n) das quais se originam.

Teste seu conhecimento:


• O que é mitose?
• O que é meiose?
• Qual dos tipos de divisão celular tem características reducionais e qual tem caracte-
rísticas equacionais?
• Cite alguns tipos celulares que fazem divisão por mitose ou meiose.

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Mitose
Durante o ciclo celular, as etapas são organizadas de forma cíclica e sincronizada. Po-
demos dividir as fases de divisão das células eucarióticas em duas principais: a interfase
e a fase mitótica (M), propriamente dita.

A interfase pode ser dividida em três etapas: G1, S e G2. Na fase G1, a célula au-
menta o seu metabolismo, aumenta de tamanho e sintetiza todos os elementos molecu-
lares necessários às etapas seguintes.

Na fase S, a célula sintetiza uma cópia completa do seu material genético (DNA) no
interior do núcleo, pelo processo explicado anteriormente (replicação), faz a duplicação
do centrossomo, uma estrutura organizadora dos microtúbulos e que auxiliam na sepa-
ração do DNA ao longo da fase mitótica.

A terceira e última fase da interfase é a G2. Nessa fase, a célula cresce um pouco
mais, sintetiza proteínas, aumenta a quantidade de organelas e retoma a organização de
todo o conteúdo celular, preparando-se para a fase mitótica.

O final da fase G2 representa o início da fase mitótica.

Você Sabia?
O termo interfase faz referência ao fato de essa etapa ser justamente a fase de prepa-
ração para a divisão ocorrer entre uma fase mitótica e a seguinte.

Figura 4 – Esquema sequencial do ciclo celular em que se vê a fase


da interfase (I) e suas etapas (G1, S e G2), além da fase mitótica (M)
Fonte: Adaptada de gratispng.com

Assim como na interfase, podemos dividir a fase mitótica em dois processos: a mi-
tose propriamente dita e a citocinese.

Se prestarmos ainda mais atenção à fase mitótica, veremos que ela também acontece
em etapas: prófase, metáfase, anáfase e telófase.

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Durante a fase mitótica (M) é necessário que todo o material genético (DNA) esteja
condensado em forma de cromossomos visíveis, podendo, assim, ser separados pelo fuso
mitótico. O fuso mitótico é uma estrutura especializada, formada pelos microtúbulos.
Já a etapa final, chamada de citocinese, é considerada a fase de clivagem e separa-
ção do citoplasma, na qual a célula de fato forma duas novas células.

Fases da mitose. Disponível em: https://bit.ly/37gbZm4

O que acontece com às duas "células-filhas" produzidas após um ciclo mitótico completo?
Isso depende do seu tipo celular, de sua localização e de sua função. Alguns tipos de
células dividem-se rapidamente e, nesses casos, as células-filhas podem entrar imediata-
mente em um novo ciclo de divisão celular.
Por exemplo, imagine as células de um jovem embrião, que possui células que se divi-
dem rapidamente, bem como as células em um tumor. Outros tipos de células dividem-se
lentamente ou não se dividem. Essas células podem deixar a fase G1 e entrar em um esta-
do chamado Fase G0, quando a célula não está ativamente se preparando para se dividir.
G0 é um estado permanente para algumas células, enquanto outras, recebendo os
sinais corretos, podem reiniciar a divisão celular.

Importante!
Erroneamente, a fase G0 é chamada de fase de repouso. O fato de a célula não estar se
preparando para dividir, não significa que ela esteja em repouso. Nessa fase, a célula
está em intensa atividade, produzindo proteínas e diversas moléculas características
para desempenhar a sua função específica. Por exemplo, pode estar conduzindo sinais
como um neurônio, armazenando carboidratos como uma célula hepática, produzindo
e secretando colágeno como um fibroblasto ou atuando no Sistema Imunológico de De-
fesa como um leucócito.

Você Sabia?
Em geral, as células gastam cerca de 90% do seu tempo de vida na fase de interfase.
Depois disso, iniciam o processo de replicação do material genético e iniciam a divisão,
quer seja mitótica ou meiótica.

Teste seu conhecimento:


• O que é a interfase?
• O que acontece com a célula no período G0?
• O que acontece com a célula no período G1?
• O que acontece com a célula no período S?
• O que acontece com a célula no período G2?

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Meiose
Agora vejamos o ciclo meiótico. Similar ao que ocorre na mitose, a meiose possui
as etapas: prófase, metáfase, anáfase e telófas. No entanto, ela o faz duas vezes segui-
das, tendo, assim, as fases de meiose I e meiose II, cada uma passando pelas etapas de
prófase, metáfase, anáfase e telófase.

Meiose. Disponível em: https://bit.ly/2VspvR6

Importante!
A meiose possibilita a recombinação genética, uma forma de introduzir novas combi-
nação de genes em uma determinada população, garantindo a diversidade genética.
Ao final do ciclo meiótico, tem-se a produção de quatro células com conteúdo genético
diferentes entre si.

A meiose em humanos tem função importantíssima para a reprodução: a produção


de gametas.
Gametas são as células sexuais e correspondem aos espermatozoides (no sexo masculino)
e aos óvulos (no sexo feminino).
Como se pode imaginar, vez que a junção dos gametas seja responsável pela formação
da célula inicial do desenvolvimento de um ser humano (fertilização), é razoável compreen-
dermos que esses gametas tem de possuir necessariamente a metade do conteúdo genético
original da espécie (haploide “n”). Assim, essa junção garantirá uma célula diploide (2n).
O processo de formação de gametas é chamado de “gametogênese” e se trata de uma
divisão meiótica e, como você verá a seguir, basicamente uma célula diploide (2n) se divide
até o estágio de células haploides (n).
Esse processo é comum em organismos dotados de reprodução sexuada. A gametogêne-
se masculina é chamada de espermatogênese e a feminina de orogênese ou ovulogênese.

Teste seu conhecimento:


• Por que a meiose é importante para a produção de gametas?
• O que é reprodução sexuada?
• Como a meiose possibilita a recombinação Genética?

No homem, a espermatogênese ocorre nas paredes dos túbulos seminíferos pela


diferenciação de células denominadas espermatogônias.  

A partir da puberdade, as espermatogônias começam a se multiplicar por mitose e


a se transformar em espermatócitos primários.

Cada espermatócito passa pela primeira divisão meiótica, dando origem a dois
espermatócitos secundários, que passam pela segunda divisão meiótica, originando
duas espermátides, que se diferenciam em espermatozoides.

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Esses recém-formados espermatozoides se alocam na cavidade interna dos túbulos


seminíferos, deslocando-se através da contração das paredes desses túbulos e do fluxo
gerado pelo líquido em seu interior. Essa etapa final é denominada espermiogênese.

Figura 5
Fonte: Adaptada de BROWDER; ERICKSON; JEFFERY, 1991, p. 25

No ser humano, a espermatogênese demora entre 64 e 74 dias, dos quais cerca de 16 dias
no período de mitoses das espermatogônias, 24 dias na primeira meiose (meiose I), cerca
de 8h na segunda meiose (meiose II) quase 24 dias na espermiogênese (ou fase final).

Espermatogênese. Disponível em: https://bit.ly/3jdMOq3

Você Sabia?
A fase da vida na qual uma pessoa alcança sua total capacidade reprodutora e desen-
volve todas as características próprias daquele determinado sexo quando adulto é cha-
mada de puberdade. No sexo masculino ocorre, em geral, entre 10 e 14 anos. Contudo, é
comum que esse início ocorra dos 9 até os 16 anos. É nessa fase, ainda, que os testículos
aumentam a produção de testosterona, amadurecendo os órgãos reprodutivos, promo-
vendo crescimento da musculatura e dos ossos, além de estar relacionado ao surgimen-
to de pelos faciais e da região pubiana, e também ao engrossamento da voz.  

A ovulogênese é o processo de formação de óvulos no sexo feminino e se inicia,


diferentemente do que acontece no sexo oposto, antes mesmo do nascimento, por volta
do 3º mês de desenvolvimento.

Inicialmente, durante a fase fetal feminina, células chamadas de ovogônias (ou oogô-
nias) se dividem por mitose. Na sequência, encerram as divisões e iniciam sua diferen-
ciação para ovócitos primários (ou oócitos primários).

Uma mulher nasce com aproximadamente 400 mil ovócitos primários. Essas células
estão envoltas em muitas camadas de células foliculares, o que resulta nos chamados
folículos ovarianos.

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Na fase de desenvolvimento desse folículo, o ovócito primário termina a primeira
divisão meiótica, o que resulta na produção de células de diferentes tamanhos: o ovó-
cito secundário (ou oócito secundário), que é uma célula grande e rica em vitelo, e o
corpúsculo polar, célula pequena e que se degenera.
A segunda meiose (meiose II) acontece a partir do ovócito secundário. Contudo,
essa célula fica estacionada na metáfase II desse ciclo meiótico. A ovulação acontece
quando ocorre um contínuo desenvolvimento do folículo, levando a um aumento da
pressão de líquidos no interior dessa célula, causando seu rompimento.
Assim, notamos que o ovócito secundário é, na verdade, a célula comumente chamada
de óvulo e que encerrará a divisão meiótica em caso de fecundação.

Figura 6 – Ciclo meiótico durante a ovulogênese


Fonte: Adaptada de BROWDER; ERICKSON; JEFFERY, 1991, p. 25

Para maior compreensão sobre as divisões celulares, estude a seção “Divisão Celular” do
Capítulo 2 do livro THOMPSON, J.; THOMPSON, M. Genética médica. 7.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008. Atenção especial à seção “Gametogênese Humana e Fertilização”.
Preste atenção, também, à seção em destaque, sobre “Consequências Genéticas da Meiose”.

• Noções básicas do desenvolvimento do ovo. Disponível em: https://bit.ly/3C3w4uh


• Ciclo ovariano. Disponível em: https://bit.ly/3ykeNuz

Teste o seu conhecimento:


• O que é a espermatogênese e quais são as suas etapas?
• O que é a ovulogênese e quais são as suas etapas?
• Quantas são as células viáveis para reprodução ao final da divisão de uma célula
na espermatogênese?
• Quantas são as células viáveis para reprodução ao final da divisão de uma célula
na ovulogênese?

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Mitose x meiose
Veja a Tabela comparativa entre os dois processos de divisão a seguir:

Tabela 1 – Comparação entre os dois processos de divisão


Mitose Meiose
Processo de reprodução Tipo de reprodução celular em que o
assexuada, em que a célula se número de cromossomos é reduzido
Definição divide em duas, produzindo pela metade por meio da separação
uma réplica com um número de cromossomos, produzindo 4
igual de cromossomos células haploides
A célula somática se divide Uma célula reprodutiva se divide
Divisão celular uma vez duas vezes
Tipo de reprodução Assexuada Sexuada
São produzidas 2 células-filhas. São produzidas 4 células-filhas. Cada
Cada célula é diploide (2n), célula é haploide (n), contendo a
Número de células-filhas contendo o mesmo número metade do número de cromossomos
de cromossomos da célula original
As células-filhas resultantes
As células-filas resultantes contêm
Composição genética da mitose são geneticamente
diferentes combinações de genes
idênticas
Fases da divisão 1. Prófase 1. Prófase I
– 2. Metáfase 2. Metáfase I
– 3. Anáfase 3. Anáfase I
– 4. Telófase 4. Telófase I
–  – 5. Prófase II
–  – 6. Metáfase II
–  – 7. Anáfase II
–  – 8. Telófase II
Ocorre em Células somáticas Durante a produção de gametas
Nenhuma recombinação ou Ocorre recombinação Genética pelo
Cruzamento genético crossing-over ocorre processo de crossing-over
Emparelhamento de
Não Sim
homólogos
Crescimento e regeneração de
Diversidade genética por meio
tecidos, cicatrização, divisões
Função do zigoto durante o desenvol-
da reprodução sexual, formação
dos gametas
vimento embrionário
Número de divisões 1 2
Número de cromossomos Continua o mesmo Reduzido pela metade
Os centríolos dividem-se
Divisão dos centríolos durante a anáfase
Durante a anáfase II

Citocinese Ocorre na telófase Ocorre na telófase I e na telófase II

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Reveja o esquema da mitose e da meiose, agora com mais detalhes:

Figura 7
Fonte: Adaptada de BROWDER; ERICKSON; JEFFERY, 1991, p. 25

Na Figura 7, repare que, ao final da mitose, tem-se duas células-filhas, ao passo que,
na meiose, como temos duas fases, ao final da primeira (meiose I), temos duas células-
-filhas, e ao final da meiose II, temos quatro.

Teste seu conhecimento:


• Qual a composição genética das células-filhas resultantes da mitose e da meiose?
• A divisão dos centríolos ocorre em fases correspondentes tanto na mitose quanto
na meiose?
• O número de cromossomos se mantém inalterado em ambos os tipos de divisão
celular? Por quê?
• O que é a citocinese?
• Quantas e quais são as fases da mitose e da meiose?

Bases Genéticas da Hereditariedade


Um conceito muito importante a ser lembrado quando o assunto é Genética é o de
“genoma”, que é o conjunto de toda a informação hereditária contida em um organismo.

O tamanho do genoma é medido em pares de base.

O genoma varia em tamanho de acordo com a espécie. Aqui, vale lembrar-se de


que o tamanho do genoma não está relacionado à complexidade do organismo e
tampouco ao número de genes. Na tabela a seguir, repare que, embora haja tama-
nhos de genoma diferentes, um humano, o camundongo e a planta A. thaliana, eles
contêm, aproximadamente, o mesmo número de genes.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Tabela 2
Organismo Genoma (Pares de bases) Número estimado de genes
Homem (Homo sapiens) 3.2 bilhões 25.000
Camundongo (M. musculus) 2.6 bilhões 25.000
Hera (A. thaliana) 100 milhões 25.000
Verme (C. elegans) 97 milhões 19.000
Mosca das frutas (D. melanogaster) 137 milhões 13.000
Levedura (S. cerevisiae) 12.1 milhões 6.000
Bactéria (E. coli) 4.6 milhões 3.200
Vírus das imunodeficiência Humana (HIV) 9700 9

Aproveite para se aprofundar melhor nos conceitos e nas definições sobre o genoma huma-
no no Capítulo 2 “O Genoma Humano e a Base Cromossômica da Hereditariedade” do livro
THOMPSON, J.; THOMPSON, M. Genética médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008. Atenção especial à “Estrutura do DNA: Uma Breve Revisão”.

Teste seu conhecimento:


• O que é o genoma?
• Qual a relação entre tamanho do genoma e o número de genes?
• Todo o genoma humano está contido no núcleo na célula?

O que são genes e cromossomos?


Por definição, gene é a unidade de DNA que contém informação para sintetizar
uma cadeia polipeptídica ou RNA funcional. Por exemplo, RNA transportador e
RNA ribossômico.

O gene engloba as sequências codificadoras, regiões regulatórias não codificadoras


e os íntrons.

Os genes estão localizados ao longo da fibra cromossômica e um cromossomo pode


conter milhares de genes.

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Figura 8 – Os genes estão localizados nos cromossomos que,
por sua vez, estão contidos no núcleo das células
Fonte: Adaptada de irp.nih.gov

Você sabe a diferença entre genes e alelos?

Alelos e genes. Disponível em: https://bit.ly/3jcBIBr

É importante que alguns pontos sejam fixados. Esses pontos serão mais bem traba-
lhados ao longo das Unidades:
• Os genes estão contidos nos cromossomos;
• Os cromossomos estão localizados no núcleo celular;
• Um cromossomo pode conter de centenas a milhares de genes;
• Cada célula humana contém 23 pares de cromossomos e, portanto, totaliza 46
cromossomos em seu estado normal;
• Em termos de Genética Humana e Médica, a palavra “traço” é referente a alguma
característica geneticamente determinada comumente associada a mais de um gene
(condições poligênicas);

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

• Certos traços são gerados por genes anormais, os quais podem ter sido herdados
ou são o produto de uma nova mutação.

Você Sabia?
É comum encontrar na Literatura uma variação quanto ao número total de genes
humanos. Muitos materiais apresentaram algo entre 25.000 a 30.000 genes. Como
isso pode acontecer? Quase 20 anos após a publicação inicial, ou a apresentação, do
genoma humano, a Ciência ainda não encontrou todos os nossos genes. Assim, a per-
gunta “Quantos genes temos?” permanece sem resposta numérica definida e talvez
continue como uma questão complexa tanto quanto se imaginava quando o Projeto
Genoma Humano (PGH) começou.

Você Sabia?
O Projeto Genoma Humano (PGH) durou de 1990 a 2003 e envolveu vários Centros de Pes-
quisa ao redor do mundo. Dentre os principais objetivos, estava determinar a sequência do
DNA humano e "a localização dos 100.000 genes humanos estimados".
Sim!
Os cientistas da época estimavam haver cerca de 100 mil genes e acreditavam que, vez
que tivéssemos a sequência em mãos, poderíamos rapidamente determinar onde estavam
todos os genes. Como sabemos, a história subsequente provou o contrário: embora a se-
quência e o número de genes codificadores de proteínas tenham sido descobertos gradu-
almente, o número de genes envolvidos em outras funções biológicas cresce a cada dia.

Teste seu conhecimento:


• O que é um gene?
• Onde se localizam os genes?
• O que é um cromossomo?
• Onde se localizam os cromossomos?
• Os cromossomos são visíveis em todas as fases da vida de uma célula?

Reveja alguns conceitos importantes sobre o DNA e o gene nos links a seguir:
• O que é o GENE? Como funciona e quais as suas funções.
Disponível em: https://youtu.be/E6DPIgLqdCo
• DNA e o gene: regiões gênicas. Disponível em: https://youtu.be/vAkPrcFUnBg

Antes de iniciarmos as considerações sobre Genética, vamos fazer uma revisão sobre a
estrutura do DNA? Leia o texto, disponível em: https://bit.ly/3A14EDh

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Os genes possuem tamanhos variados, que podem estar relacionados ao tamanho
das proteínas que eles codificam (lembre-se de que existe o processamento alternativo
de genes).
Os processos de transcrição e a tradução foram vistos em detalhes nas Disciplinas
anteriores e não serão explicados nesta.
Com exceção de algumas células, como, por exemplo, espermatozoides, óvulos e
glóbulos vermelhos, o núcleo de cada célula humana contém 23 pares de cromossomos
(total de 46 cromossomos).
Desses, vinte e dois pares são os cromossomos não sexuais ou, também ditos, autos-
sômicos.
Quando pareados em análises de cariótipo, são idênticos em forma, tamanho, posição
e número de genes.
Os cromossomos sexuais (X e Y) são o par cromossômico de número 23. Mulheres
possuem um par de cromossomos sexuais XX e homens um cromossomo X e um Y,
portanto XY.
Os cariótipos serão estudados em detalhes na próxima Unidade.

Os glóbulos vermelhos são anucleados, ou seja, não possuem DNA.

Figura 9 – A imagem apresenta a análise de cariotipagem espectral


Fonte: Adaptada de ivfgreece.org

Esta abordagem é usada para identificar fragmentos de cromossomos, principalmente


para fins de pesquisa (não clínicos). Nessa técnica, os cientistas pintam artificialmente
cada par de cromossomos humanos com cores de aspectos fluorescentes. Note que é
possível diferenciar os 23 pares dos cromossomos no box da Figura.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Teste seu conhecimento:


• Quantos cromossomos existem em uma célula somática humana?
• Quantos cromossomos existem em um gameta humano?
• Os genes humanos possuem tamanhos iguais ou diferentes?
• Os cromossomos humanos possuem tamanhos iguais ou diferentes?
• Quais são os cromossomos sexuais presentes no homem e na mulher?

Mutações
Uma mudança na sequência de bases de um ácido nucleico é chamada de mutação.

A palavra mutação faz você pensar em ficção científica e monstros ou super-heróis


com superpoderes?

Pense de novo.

Um fato curioso é que todo mundo possui mutações em seu material genético. De
fato, a maioria das pessoas tem dezenas ou mesmo centenas de mutações em seu DNA.
Sem as mutações, podemos dizer que a evolução não teria acontecido. Podemos dizer
que certas mutações podem conferir melhorias a uma dada espécie.

Obviamente, o fato de as mutações gerarem alterações sintomáticas e estarem rela-


cionadas a doenças do organismo é mais bem compreendido. Entretanto, precisamos
esclarecer que nosso material genético carrega uma série de mutações que não têm
efeito no nosso organismo, e que algumas delas podem até ser benéficas.

Causas de Mutação
As mutações ocorrem quando são cometidos erros durante a replicação do DNA e
têm muitas causas possíveis. Algumas mutações parecem ocorrer espontaneamente,
sem nenhuma influência externa, e outras são causadas por fatores ambientais.

Qualquer influência ambiental que possa causar uma mutação é conhecida como
mutagênica ou possui capacidade mutagênica.

Alguns exemplos de mutagênicos são ilustrados na Figura a seguir, e agrupados em


“agentes radioativos”, “agentes químicos” ou “agentes infecciosos”.

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Figura 10 – Exemplos de mutagênicos
Fonte: Acervo do Conteudista

Mutagênicos. Tipos de mutagênicos incluem radiação, produtos químicos e agentes in-


fecciosos. Você conhece outros exemplos de cada tipo de mutagênico mostrado aqui?

Leia o seguinte Artigo de Revisão Principais agentes mutagênicos e carcinogênicos de


exposição humana, disponível em: https://bit.ly/3jioxiq

Teste seu conhecimento:


• O que é uma mutação?
• O que é um agente mutagênico?
• Você conhece outros tipos de agentes mutagênicos além do apresentado na Figura?
Quais são eles e como você os classificaria segundo o apresentado na Figura?

Tipos de mutações
Há variedade de mutações, sendo possível dividi-las em duas categorias principais:
mutações germinativas e mutações somáticas:
• Mutações na linha germinativa ocorrem nos gametas (espermatozoides ou óvu-
los). Essas mutações são especialmente significativas porque, além de poderem ser
transmitidas aos descendentes, todas as células da prole as possuirão;
• Mutações somáticas podem ocorrer em todas as células do corpo, com exceção
dos gametas. Essas mutações podem ter pouco efeito no organismo, porque estão
confinadas a apenas uma célula e suas células-filhas. Mutações somáticas não são
transmitidas aos descendentes.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

As mutações também diferem na maneira como o material genético é alterado.

Mutações podem alterar a estrutura de um cromossomo ou apenas alterar um único


nucleotídeo na sequência do DNA.

Você Sabia?
Consequências da contaminação por radiação na história – Em geral, a radiação
é capaz de alterar o DNA. O desastre de Chernobyl foi um acidente nuclear que ocorreu
em 26 de abril de 1986, na Ucrânia. É considerado o pior acidente de Usina Nuclear da
História. Uma publicação russa concluiu que 985.000 cânceres em excesso ocorreram
entre 1986 e 2004 como resultado da contaminação radioativa. O relatório de 2011 do
Comitê Europeu de Risco de Radiação calculou um total de 1,4 milhão de cânceres como
resultado dessa contaminação.

• Desastre de Chernobyl: o que aconteceu e os impactos a longo prazo.


Disponível em: https://bit.ly/3zWUJys
• O desastre de Chernobyl. Disponível em: https://bit.ly/3fnbFqg

Figura 11 – Reator Nuclear de Chernobyl 4, que explodiu em 1986


Fonte: Getty Images

Teste seu conhecimento:


• O que são mutações germinativas?
• O que são mutações somáticas?
• Você conhece algum outro caso de contaminação por radiação na História da Huma-
nidade? Em caso afirmativo, descreva o ocorrido.
• Por que mutações somáticas não são transmitidas aos descendentes?

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Alterações cromossômicas
Alterações cromossômicas são mutações que alteram a estrutura cromossômica.

Elas ocorrem quando uma seção ou seguimento de um cromossomo é rompido e se


une incorretamente no mesmo cromossomo, em outro ou, ainda, não se une.

As possíveis maneiras pelas quais essas mutações podem ocorrer estão ilustradas na
Figura a seguir:

Figura 12 – Tipos de alterações cromossômicas. Pode haver: deleções, duplicações,


inversões, inserções e até translocações de segmentos cromossômicos
Fonte: Adaptada de pt.khanacademy.org

Alterações cromossômicas são muito graves e, geralmente, resultam na morte do


organismo em que ocorrem.

Se o organismo sobreviver, poderá ser afetado de várias maneiras. Um exemplo de


alteração cromossômica humana é a mutação que causa a Síndrome de Down.

É uma mutação de duplicação na qual o par de cromossomos número 21 recebe uma


cópia adicional e que leva a atrasos no desenvolvimento e outras anormalidades.

Essa condição será retomada no final desta Unidade.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Aneuploidia e rearranjos cromossômicos. Disponível em: https://bit.ly/2WOwh4f

Teste seu conhecimento:


• O que são mutações cromossômicas estruturais?
• Como as alterações estruturais em um cromossomo afetam a expressão gênica?

Mutações pontuais
Uma mutação pontual é uma alteração em um único nucleotídeo na sequência da
molécula de DNA.

Esse tipo de mutação, geralmente, é menos grave do que uma alteração cromossômica.
Podem ocorrer por substituição, inserção ou deleção de bases.

Mutações por substituição ocorrem quando um único nucleotídeo é substituído em


uma sequência de DNA.

Podem ser classificadas como silenciosas, missense ou nonsense, conforme mos-


trado na Tabela a seguir.

Os efeitos das mutações por substituição dependem de como eles alteram o Código
Genético, em que região do genoma ocorrem e quais genes são afetados.

Tabela 3 – Tipos de mutações pontuais e seus efeitos


Tipo Descrição Exemplo Efeito
Códon mutado codifica o
Silenciosa CAA (glutamina) → CAG (glutamina) Nenhum
mesmo aminoácido
Códon mutado codifica um
Missense CAA (glutamina) → CCA (prolina) Variável
aminoácido diferente
Códon mutado forma um códon
Nonsense CAA (glutamina) → UAA (stop) Normalmente sério
de parada prematuro

Já as inserções e as deleções de um ou mais nucleotídeos podem alterar a fase de


leitura de um gene quando ocorrem dentro da sequência codificadora.

São chamadas de mutações de frameshift ou de fase de leitura. As deleções remo-


vem nucleotídeos e as inserções adicionam nucleotídeos. Para exemplificar, considere a
seguinte sequência de bases no RNA após a transcrição:

AUG-AAU-ACG-GCU = start (códon de iniciação) – asparagina – treonina – alanina

Agora, suponha que uma inserção ocorra nesta sequência. Digamos que um nucleo-
tídeo “A” seja inserido após o códon de início AUG:

AUG-AAA-UAC-GGC-U = start (códon de iniciação) – lisina – tirosina – glicina

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Essa inserção fez com que a fase de leitura da sequência codificadora fosse alte-
rada e, consequentemente, os aminoácidos recrutados na tradução, já que os códons
foram modificados.

Agora, veja a ilustração a seguir, que trata de uma mutação frameshift no gene da
beta-globina:

Figura 13
Fonte: Acervo do Conteudista

Mesmo que o restante da sequência permaneça inalterado, a inserção de um único


nucleotídeo altera a fase de leitura e, portanto, todos os códons que se seguem.

Como esse exemplo mostra, uma mutação de frameshift pode mudar drasticamente
a maneira como os códons no RNA mensageiro são lidos. Isso pode ter um efeito drás-
tico no produto proteico.

Veja alguns exemplos do resultado das mutações sobre as proteínas no esquema a seguir:

Figura 14
Fonte: Acervo do Conteudista

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Figura 15
Fonte: Acervo do Conteudista

Nas Figuras anteriores, vemos exemplos de mutações pontuais envolvendo uma


única base.

Aproveite para rever os conceitos da seção “Tradução e código genético” do Capítulo 3 do


livro THOMPSON, J.; THOMPSON, M. Genética médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008.

Teste seu conhecimento:


• O que são mutações pontuais?
• O que são mutações silenciosas?
• Qual a diferença entre uma mutação pontual missence e nonsense?
• O que é uma mutação frameshift?

Mutações espontâneas
Existem cinco tipos comuns de mutações espontâneas, que estão descritos no Qua-
dro a seguir:

Quadro 2 – Mutações espontâneas


Tautomerismo Uma base é alterada pelo reposicionamento de um átomo de hidrogênio

Depurinação Perda de uma base purina (A ou G)

Deaminação Deaminação espontânea de 5-metilcitosina

Transição Uma troca de purina por outra purina

Transversão Uma troca de purina por uma pirimidina, ou vice-versa

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Na imagem a seguir, vemos as possibilidades de trocas de bases na transição e
na transversão:

Figura 16
Fonte: Acervo do Conteudista

Efeitos das mutações


Como brevemente citado, a maioria das mutações não tem efeitos negativos nem posi-
tivos no organismo em que ocorrem. Essas mutações são chamadas mutações neutras.

Exemplos desse tipo são as silenciosas de pontos. Elas são neutras porque não alte-
ram os aminoácidos nas proteínas que codificam e, além disso, muitas outras mutações
não têm efeito no organismo, porque são reparadas antes da síntese proteica. Outras
mutações estão localizadas em regiões que não fazem parte de nenhum gene.

As células têm múltiplos mecanismos de reparo para corrigir mutações no DNA. Se


o DNA de uma célula estiver permanentemente danificado e não puder ser reparado, é
provável que a célula seja impedida de se dividir.

• Veja mecanismos de revisão e reparo de DNA. Disponível em: https://bit.ly/3ildJky


• Aproveite, também, para se aprofundar no tema de danos e reparos ao DNA associados
ao câncer, assistindo ao vídeo, disponível em: https://youtu.be/Z6X4opmzhdI

Teste seu conhecimento:


• Por que algumas mutações simplesmente não causam efeito ao organismo?
• Como ocorre um reparo por excisão de base?
• Como ocorre um reparo por excisão de nucleotídeo?
• Como ocorre um reparo de fita dupla de DNA?

Mutações benéficas
Algumas mutações têm efeito positivo no organismo em que ocorrem, são chamadas
de mutações benéficas e são responsáveis pelo surgimento de novas versões de proteí-
nas que ajudam os organismos a se adaptarem às mudanças em seu ambiente.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Mutações benéficas são essenciais para que a evolução ocorra. Elas aumentam as
chances de sobrevivência ou reprodução de um organismo e, portanto, tendem a se
tornar mais comuns ao longo do tempo.

Existem vários exemplos bem conhecidos de mutações benéficas. Aqui, estão ape-
nas dois:
• Em muitas bactérias, as mutações conferem resistência a esses organismos, permi-
tindo que sobrevivam na presença de antibióticos. Essas mutações são cruciais para
o estabelecimento de certas cepas de bactérias. Vale ressaltar que essas mutações
são benéficas para a bactéria e não para os seres humanos infectados por elas!
• Uma mutação única foi encontrada em um dado gene em pessoas de uma pequena
cidade na Itália. Verificou-se que a mutação os protegia de desenvolver aterosclero-
se, que é o acúmulo perigoso de materiais gordurosos nos vasos sanguíneos. Nesse
caso, foi possível identificar o indivíduo em que a mutação apareceu pela primeira
vez. O gene em questão é o APOA1 e é responsável pela produção da Apolipopro-
teína A-I, uma proteína com função específica no metabolismo de lipídios.  

Mutações prejudiciais
Imagine fazer uma alteração aleatória em uma máquina complicada, como um mo-
tor de um automóvel. A chance de a mudança aleatória melhorar o funcionamento do
carro é muito pequena. É muito mais provável que a mudança resulte em um carro que
não corra bem ou talvez nem corra. Da mesma forma, qualquer alteração aleatória que
ocorra em uma sequência gênica pode resultar em uma proteína que não funcione nor-
malmente, ou até inviabilizar seu funcionamento. Mutações prejudiciais podem causar
diversas doenças genéticas.

Quando falamos em distúrbio genético, estamos falando de uma doença causada


por uma mutação em um ou mais genes.

Em humanos, podemos citar como exemplo a fibrose cística. Uma mutação em um


único gene (neste caso, chamado de CFTR) faz com que o corpo produza muco espesso
e pegajoso, levando à obstrução dos pulmões e ao bloqueio dos ductos em órgãos do
Sistema Digestório.

Você pode saber mais sobre a doença fibrose cística nos dois vídeos disponíveis nos links
a seguir:
• Fibrose Cística | Série Saúde Brasil. Disponível em: https://youtu.be/DrmKBlUYRR4
• Genética: Entenda a Fibrose Cística. Disponível em: https://youtu.be/xgAKTGy1x5I

Outro exemplo de mutação prejudicial é o câncer, no qual as células crescem e se


multiplicam de forma desordenada, formando massas celulares anormais.

Geralmente, isso se deve a mutações em genes que regulam o ciclo celular, permi-
tindo que as células se dividam indefinidamente. As mutações que envolvem o câncer
podem ser causadas por agentes externos e também podem ser herdadas.

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Aproximadamente 5% dos casos têm forte componente hereditário, isto é, ao nascer,
o indivíduo já tem uma alteração que confere risco aumentado de desenvolver o câncer.
Um exemplo são as mulheres que nascem com mutações no gene BRCA1, como o
famoso caso da atriz Angelina Jolie. Mutações nesse gene conferem o risco de até 70%
de desenvolver câncer de mama.
Felizmente, a maior parte dos cânceres não é hereditária, sendo fatores ambientais
como alimentação, obesidade, tabagismo e outros os mais relacionados ao desenvolvi-
mento deles.

Você pode se aprofundar mais sobre o câncer e o ciclo celular nos link:
• Câncer e o ciclo celular. Disponível em: https://bit.ly/3C9RHJa
• Veja também um vídeo sobre câncer. Disponível em: https://youtu.be/THbke1lRiEY

Teste seu conhecimento:


• Quais tipos de cânceres são mais comuns do ponto de vista de herança genética?
• O que são reguladores do ciclo celular? Cite exemplos.

Desordens genéticas
Como comentado, muitos distúrbios genéticos são causados por mutações em um ou
mais genes.
Na tabela a seguir listamos vários distúrbios genéticos causados por mutações em
apenas um único gene, seja em genes localizados em cromossomos autossômicos, como
também em cromossomos sexuais, como nos casos ligados ao cromossomo X.

Tabela 4 – Distúrbios genéticos causados por mutações em um gene


Desordem Genética Efeito Direto da Mutação Sinais e Sintomas da Desordem
Proteína defeituosa no tecido Defeitos cardíacos e ósseos e dedos e membros
Síndrome de Marfan conjuntivo esbeltos e incomumente longos
Glóbulos vermelhos em forma de foice que obs-
Proteína de hemoglobina anor-
Anemia falciforme mal nos glóbulos vermelhos
truem pequenos vasos sanguíneos, causando dor
e danificando órgãos e articulações

Raquitismo Falta de uma substância neces- Ossos macios que facilmente se deformam, le-
sária para os ossos absorverem vando a pernas inclinadas e outras deformidades
hipofosfatêmico minerais esqueléticas
Atividade reduzida de uma pro-
Sangramento interno e externo que ocorre facil-
Hemofilia A teína necessária para a coagula-
mente e é difícil de controlar
ção do sangue

Alelos e desordens genéticas


Poucas desordens genéticas são controladas por alelos dominantes. Quando um alelo
dominante sofre mutação, todos os indivíduos que herdam uma (Cc) ou duas cópias (CC)
são afetados pela expressão do gene mutado.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Caso a expressão cause um distúrbio grave, as pessoas portadoras do alelo dominan-


te podem morrer em idade precoce e/ou possuírem falhas em se reproduzir. Portanto,
é provável que um alelo dominante mutante não seja transmitido às gerações futuras.

Por outro lado, um alelo recessivo mutante não é expresso em pessoas que herdam
apenas uma cópia dele (Cc).

Um exemplo de alelo recessivo é o gene que causa a anemia falciforme. As pessoas


que carregam a mutação em um dos alelos são chamadas de portadoras do traço falciforme.

Embora não apresentem a desordem, podem transmitir aos seus descendentes. Em


outras palavras, um alelo recessivo mutado possui mais chance de ser transmitido às
gerações seguintes.

Figura 17 – Glóbulos vermelhos em forma de foice e normais


Fonte: Getty Images

A anemia falciforme é um distúrbio autossômico recessivo. A mutação que causa o


distúrbio afeta apenas um aminoácido em uma única proteína, mas tem sérias con-
sequências para a pessoa afetada. Esta foto mostra a forma falciforme dos glóbulos
vermelhos em pessoas com anemia falciforme.

Assista, no link a seguir, a uma animação sobre como as cadeias globínicas mutadas da
hemoglobina se comportam na anemia falciforme:
Disponível em: https://youtu.be/FBXcJN1ETa4
Aproveite, também, e se aprofunde mais no tema dessa doença no link a seguir:
Disponível em: https://youtu.be/btoEjcTughA

Teste seu conhecimento:


• Faça uma rápida pesquisa sobre como cada uma das desordens apresentadas na Ta-
bela é transmitida na população e comente qual delas é esperado ser mais comum em
homens do que mulheres.
• Como seria, do ponto de vista de Saúde Pública, se a maioria das desordens genéticas
fossem controladas por alelos dominantes?
• O que é o traço falciforme?
• Como se forma uma hemoglobina mutada na anemia falciforme?

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Genética e câncer
As mutações genéticas relacionadas ao câncer podem acontecer em certos tipos de
genes chamados de proto-oncogenes. Esses genes, em geral, estão inativos em células
normais. Contudo, uma vez ativados, transformam-se em oncogenes, mudando a con-
dição de célula normal para uma célula cancerosa.
Outro grupo importante são os chamados “genes supressores do tumor”, que são
genes que normalmente retardam (ou controlam) a divisão celular, promovem o reparo
de certos danos ao DNA ou, ainda, podem sinalizar quando as células devem morrer.
Por esse motivo, você pode imaginar que uma mutação em um gene supressor de
tumor pode levar ao descontrole do crescimento e da divisão celular, o que, invariavel-
mente, produz uma célula cancerosa e o desenvolvimento do câncer (oncogênese).
A questão mais relevante envolvendo os oncogenes e os genes supressores do tumor
é que os oncogenes derivam da ativação de proto-oncogenes (genes normais), en-
quanto os genes supressores do tumor, quando inativados, levam ao câncer.
Alterações herdadas do gene supressor do tumor podem ser encontradas em algu-
mas síndromes de cânceres hereditários, em determinadas famílias.
Contudo, uma vez mais, a maioria das mutações e/ou alterações em genes supresso-
res do tumor é adquirida por fatores externos (ou ambientais) e, portanto, não herdadas.
Um exemplo é a mutação no gene TP53 (que codifica a proteína p53), que foi encon-
trada em mais de 50% dos casos de câncer esporádico em humanos.
Um câncer é chamado “esporádico” quando não configura Síndrome de Câncer
hereditário e deriva de mutações em células somáticas que se dividem e seguem o
desenvolvimento da doença.

Figura 18 – Os dois grupos de genes envolvidos no processo da oncogênese

Aproveite para se aprofundar no assunto das bases genéticas do câncer, estudando o Capí-
tulo 16 “Genômica e Genética do Câncer” do livro THOMPSON, J.; THOMPSON, M. Genética
médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
A sugestão é estudar todo o Capítulo. Atenha-se, sobretudo, aos textos explicativos das Fi-
guras 16-1, 16-2 e 16-3, as quais são muito ilustrativas ao citar exemplos de oncogenes e
genes supressores de tumor.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Os genes supressores de tumor podem ser classificados em dois grandes grupos: genes
controladores e genes de manutenção. Os genes BRCA1 e BRCA2 podem estar envolvidos
em distúrbios genéticos associados ao câncer familiar de mama e ovário (hereditário), como
também no câncer esporádico de mama ou ovário. Esses genes são considerados genes
supressores de tumor do tipo “de manutenção”, pois, uma vez mutados, o reparo do cro-
mossomo, em resposta à quebra do duplo filamento do DNA, está comprometido. Explore
em detalhes a Tabela 16-3 do Capítulo 16 do livro THOMPSON, J.; THOMPSON, M. Genética
médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Nela, você encontrará exemplos de
genes controladores e de manutenção, bem como os distúrbios genéticos associados a cada
um deles.

Pense a respeito da seguinte questão e proponha, de modo simplificado, uma Teoria: por
que poucos distúrbios de cânceres hereditários são causados por oncogenes ativados, en-
quanto tantas outros ocorrem por mutação de genes supressores de tumor, sobretudo em
gametas (ou células de linhagem germinativa)?

Em geral, o processo de oncogênese pode levar vários anos, vez que acontece len-
tamente. Assim, a proliferação anormal a partir de uma única célula pode levar certo
tempo até que seja um tumor visível ou palpável.

Como vimos, a maioria dos cânceres se desenvolve a partir de fatores não he-
reditários. Assim, podemos considerar o efeito cumulativo da exposição à certos
agentes carcinogênicos.

Em geral, o processo de oncogênese se dá em três estágios: iniciação, promoção


e progressão.

No estágio de iniciação, agentes denominados oncoiniciadores agem de modo a


modificar os genes. Essa alteração genética inicia a célula no processo de oncogênese,
mas não é responsável direta pela proliferação.

Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (HAP), agentes alquilantes de ação direta,


aminas aromáticas e corantes nitrogenados, agentes carcinógenos de ocorrência natu-
ral, nitrosaminas e amidos e amianto, são exemplos de agentes oncoinicadores.

Uma célula iniciada, isto é, geneticamente alterada, pode ser exposta a outros agen-
tes cancerígenos, denominados oncopromotores, que são responsáveis pela transfor-
mação dessas células em células malignas.

Em geral, oncopromotores precisam de um longo e contínuo período de tempo para


atuar. Algumas vezes, a interrupção do contato com tais agentes é capaz de suspender
o processo oncogênico nesse estágio.

Certos agentes químicos presentes na alimentação ou a exposição prolongada a ou-


tros oncopromotores contribui para o processo de malignização das células iniciadas.

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Esse estágio é o denominado promoção. Álcool, tabaco e o uso de certos hormônios
são considerados agentes oncopromotores.

No último estágio, denominado progressão, as células malignizadas proliferam de-


sordenadamente em um processo irreversível.

Geralmente, é nesse estágio que aparecem as primeiras manifestações clínicas do


câncer. Sobre esse estágio, temos a atuação dos agentes chamados oncoaceleradores.

Um potente agente carcinógeno é o tabagismo, considerado um carcinógeno completo,


vez que expõe o indivíduo a componentes atuantes nos três estágios da oncogênese.

Você pode obter mais informações básicas e objetivas que facilitarão o entendimento da
dimensão do câncer, das medidas para o controle da doença e das estratégias de Saúde
Pública relacionadas à doença no Brasil. Disponível em: https://bit.ly/37eaAwe

A seguir, temos um glossário de termos usados em Genética. Consulte sempre que precisar.
Você poderá usá-lo ao longo das quatro Unidades desta Disciplina. Para consulta mais abran-
gente, utilize o glossário ao final do livro THOMPSON, J.; THOMPSON, M. Genética médica.
7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

Teste seu conhecimento:


• O que são genes supressores de tumor e quais os seus tipos?
• Como são ativados os oncogenes?
• Quais são os estágios da oncogênese?
• Como atuam as mutações ativadoras de oncogenes?
• Qual a relação entre determinados tipos de papilomavírus humano e câncer cervical?

Glossário de Termos em Genética Humana


• Alelo: forma alternativa de um gene. Em uma célula humana, diploide, cada gene
terá dois alelos, ocupando a mesma posição (lócus), em cromossomos homólogos,
ou seja, em cromossomos iguais entre si, um herdado da mãe e o outro do pai,
• Alelo nulo: um alelo cujo efeito é a total ausência de um produto gênico normal ou
a total perda da função no nível do fenótipo, ou seja, das manifestações externas
detectáveis na pessoa,
• Alelo silencioso: um gene mutante que não tem efeito detectável no fenótipo
da pessoa,
• Alogênico: geneticamente diferente, porém da mesma espécie,

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

• Amplificação: produção de muitas cópias de DNA a partir de uma região máster


do DNA;
• Aneuploidia: mudança do número normal de cromossomos por aumento (trisso-
mia, tetrassomia, pentassomia etc.) ou por diminuição (monossomia, nulissomia);
• Anticorpo: uma molécula de proteína (imunoglobulina), produzida pelo Sistema
Imunológico, que reconhece determinada substância (antígeno) e se liga a ela;
• Antígeno: uma substância, geralmente uma proteína, que é ligada a um anticorpo
ou receptor de célula T, quando introduzida em um organismo vertebrado;
• Apoptose: fenômeno biológico no qual as células eucarióticas morrem devido a
eventos geneticamente programados dentro delas mesmas;
• Autossomo: todo cromossomo que não é um cromossomo sexual;
• Característica benigna: característica que é variante, mas que não tem signifi-
cado clínico;
• Característica qualitativa: característica que um indivíduo ou não tem;
• Característica quantitativa: característica contínua que varia dependendo de uma
medida quantitativa;
• Carga Genética: conjunto total de alelos deletérios em um genótipo individual;
• Cariótipo: complemento cromossômico inteiro de uma célula, que só pode ser
visto durante a fase da divisão celular (da mitose) denominada metáfase;
• Célula híbrida: célula formada pela fusão de duas células de diferentes origens, na
qual os dois núcleos se fundiram em um. Pode ser clonada, para produzir linhagens
celulares híbridas;
• Célula-tronco: célula que se divide, em geral, assimetricamente, para dar ori-
gem a duas células diferentes da prole. Uma célula da prole é um blastócito,
como a célula parental, e a outra é uma célula que entra em uma via de dife-
renciação. Desse modo, uma célula de propagação contínua pode manter-se e
gerar células diferenciadas; 
• Código genético: conjunto de correspondências entre trincas de pares de nucleo-
tídeos no DNA e aminoácidos na proteína;
• Codominante: se ambos os alelos de um par forem expressos no estado heterozigoto,
então os alelos (ou as características determinadas por ambos) serão codominantes;
• Códon: conjunto de três nucleotídeos adjacentes, em uma molécula de mRNA,
que especifica a incorporação de um aminoácido em uma cadeia polipeptídica ou
que indica o final da síntese de polipeptídios. Os códons com a última função são
chamados de códons finalizadores;
• Códon de término ou finalizador: códon com a última função;
• Consanguíneos: descendentes de um ancestral comum. Identifica pessoas com
parentesco entre elas;
• Consulta genética: procedimento médico para diagnosticar condição genética e/ou
para ajudar os pacientes e os membros da família a entender e lidar com os seus aspectos;

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• Corpúsculo de Barr (cromatina sexual): massa densamente corada que representa
um cromossomo X inativado;
• Cromátides: os dois filamentos paralelos de cromatina, conectados pelo centrô-
mero, que constituem um cromossomo após a Síntese do DNA. Cromátide é uma
das duas cópias de um cromossomo duplicado, formada na fase da divisão celular
em que ocorre a replicação do DNA. As duas cromátides, chamadas de cromátides-
-irmãs, são unidas no centrômero;
• Cromatina: complexo de DNA e proteínas em cromossomos eucarióticos, original-
mente designado assim pela facilidade com que se cora após exposto a determina-
dos corantes;
• Cromossomo: estrutura composta por uma molécula de DNA muito longa e prote-
ínas associadas, contendo informação genética de um organismo. É especialmente
evidente durante a meiose ou a mitose, quando cada cromossomo é condensado,
formando uma estrutura semelhante a um carretel, compacta e visível sob Micros-
cópio óptico;
• Cromossomos autossômicos: nos seres humanos, os cromossomos de 1 a 22,
excluídos os cromossomos gonossômicos ou sexuais X e Y;
• Cromossomos homólogos: cromossomos iguais entre si, sendo um herdado da
mãe e o outro do pai;
• Cromossomo recombinante: cromossomo que resulta na troca de segmentos re-
cíprocos por crossing entre um par homólogo de cromossomos parentais, durante
a meiose;
• Cromossomos filhos: cromossomos produzidos pela disjunção das cromátides na
anáfase da mitose ou na anáfase da meiose II;
• Cromossomos gonossômicos: cromossomos sexuais X e Y;
• Cromossomos homólogos: cromossomos que ocorrem em pares e são, em geral,
semelhantes em tamanho e forma, vindo um do genitor masculino e o outro da
genitora. Os cromossomos contêm a mesma disposição de genes;
• Cromossomos sexuais: cromossomos cuja presença/ausência é correlacionada ao
sexo do portador. Cromossomo que tem papel na determinação do sexo;
• Cromossomos X e Y: o cromossomo X é associado à determinação sexual. Nos
seres humanos, a mulher tem dois cromossomos X. O homem tem apenas um cro-
mossomo X, o cromossomo Y sendo o parceiro do cromossomo X;
• Crossing over: processo no qual os cromossomos trocam material genético por
quebra e posterior reunião de suas moléculas de DNA;
• Deleção: ausência de um segmento cromossômico em um cromossomo;
• Dicêntrico: cromossomo estruturalmente anormal por ter dois centrômeros;
• Diploide: organismo ou célula com dois conjuntos de cromossomos (2n) ou dois
genomas. Os tecidos somáticos dos seres humanos são de constituição cromos-
sômica diploide, ao contrário dos gametas (óvulos e espermatozoides) que são
haploides (monopolizes);

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

• Dismorfismo: duas formas diferentes em um grupo, como as determinadas por


características tais como sexo e tamanho;
• Distúrbio cromossômico: condição clínica causada por uma constituição cromossô-
mica anormal na qual há duplicação, perda ou rearranjo de material cromossômico;
• Distúrbio ecogenético: distúrbio resultante da interação de uma predisposição
genética a uma doença específica com um fator ambiental;
• Distúrbio genético: defeito total ou parcialmente causado por genes;
• Distúrbio monogênico: distúrbio devido a um alelo ou a um par de alelos mutantes
em um só lócus;
• Distúrbio de repetição de trinca, de repetição de trinucleotídeos: doenças causa-
das quando o número de unidades repetidas de um trinucleotídeo em um determinado
gene se expande além de um limiar e interfere na expressão gênica ou funcionamento;
• Divisão reducional: fase da meiose na qual os cromossomos maternos e paternos
do bivalente se separam e as células, para formar gametas, acabam ficando com a
metade dos cromossomos originais;
• DNA (Ácido desoxirribonucleico): material genético portador de informação que
compreende os genes. O DNA é uma macromolécula composta de uma longa fita
ou cadeia de desoxirribonucleotídeos, unidos por ligações fosfodiéster. Cada deso-
xirribonucleotídeo contém um grupo fosfato, o açúcar de 5 carbonos 2-desoxirribo-
se, e uma base contendo nitrogênio;
• DNA mitocondrial (mtDNA): pequeno subgrupo do genoma humano, encontrado
fora do núcleo, nas mitocôndrias, que ficam no citoplasma das células;
• DNA polimerase: enzima que catalisa a síntese de novos filamentos de DNA a
partir de um molde de DNA;
• Dominante: em Genética, refere-se ao membro de um par de alelos, que é expres-
so no fenótipo do organismo, enquanto o outro alelo não é, mesmo quando os dois
alelos estão presentes. Oposto de recessivo;
• Endogamia: Cruzamentos entre indivíduos aparentados, consanguíneos;
• Endonuclease de restrição: enzima que reconhece uma sequência-alvo de nucleo-
tídeos específicos no DNA e quebra a cadeia de DNA nesse ponto;
• Epigenético: termo referente a causas não genéticas de um fenótipo;
• Epistasia: situação na qual a expressão fenotípica diferencial de um genótipo em
um lócus depende do genótipo de outro lócus, uma mutação que exerce sua ex-
pressão enquanto cancela a expressão dos alelos de outro gene;
• Erro inato do metabolismo: distúrbio bioquímico geneticamente determinado, no
qual um defeito proteico específico produz um bloqueio metabólico que pode ter
consequências fenotípicas;
• Eucarionte: organismo que tem núcleos envolvidos por uma membrana dentro de
suas células;
• Eucromatina: região cromossômica menos condensada, contendo a maioria dos
genes de funcionamento normal;

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• Explode: organismo ou célula que tem número cromossômico que é múltiplo exato
do número monopolize (n) ou haploide. Termos usados para identificar níveis dife-
rentes em uma série explode são diploides, triploide, tetraploide etc.;
• Éxon: qualquer trecho não íntron da sequência codificante de um gene. Ao conjun-
to de cerca de 170 mil éxons do genoma humano se dá o nome de exoma;
• Fenótipo: manifestações externas, detectáveis, que são determinadas por um genó-
tipo específico, que não é visível a olho nu;
• Gameta: célula haploide, especializada, do tipo reprodutivo, que se funde com um
gameta do sexo oposto para formar um zigoto diploide. Nos seres humanos, são
denominados ovócito e espermatozoide;
• Gêmeos dizigóticos: gêmeos oriundos de dois zigotos. Gêmeos fraternos, não idênticos;
• Gêmeos monozigóticos: gêmeos idênticos, oriundos da divisão de um só zigoto;
• Gene: a unidade fundamental física e funcional da hereditariedade, que leva infor-
mação de uma geração para a seguinte. Um segmento de DNA composto de uma
região transcrita e uma sequência regulatória que possibilita a transcrição;
• Genes homólogos: genes evolutivamente correlacionados, descendentes de um
gene em um ancestral comum;
• Genoma: informação genética total que pertence a uma célula ou a um organismo.
Em particular, a informação codificada e mantida no DNA;
• Genômica: estudo da estrutura e da função de genomas inteiros;
• Genótipo: constituição genética de uma célula individual ou de um organismo.
Combinação particular de alelos observada em um indivíduo específico;
• Grupo sanguíneo: fenótipo produzido por antígenos geneticamente determinados
em uma hemácia. Os antígenos formados por um conjunto de genes alélicos cons-
tituem um Sistema de Grupo Sanguíneo;
• Haploide: organismo ou célula que tem apenas um conjunto completo (n) de cro-
mossomos ou um genoma;
• Haplótipo: classe genética descrita por uma sequência de DNA ou de genes que
estão juntos no mesmo cromossomo físico;
• Herança complexa: padrão de herança que não é mendeliana. Uma característica
com herança complexa, em geral, resulta de alelos em mais de um lócus interagin-
do com fatores ambientais;
• Herança mitocondrial: herança de uma característica codificada no genoma mi-
tocondrial. Como o genoma mitocondrial é de herança estritamente materna, a
herança mitocondrial ocorre apenas pela linhagem feminina;
• Heterocromatina:  região cromossômica condensada densamente e considerada
geneticamente inerte;
• Heteroplasmia: presença de mais de um tipo de DNA mitocondrial nas mitocôn-
drias de uma única pessoa;
• Heteroploide: qualquer número de cromossomos que não seja o normal;

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

• Heterozigota manifestante: mulher heterozigota para um distúrbio ligado ao X na


qual, devido à inativação não aleatória do X, a característica é expressa clinicamente
com quase o mesmo grau de gravidade que nos homens hemizigotos afetados;
• Heterozigoto: indivíduo que possui dois alelos diferentes para um ou mais genes
específicos (o oposto de homozigoto, que tem os dois alelos idênticos);
• Homólogo: igual, que mantém com outro, que tem a mesma estrutura fundamen-
tal, relação de correspondência;
• Homozigoto: organismo diploide com dois alelos idênticos de um gene específico
(o oposto de heterozigoto, com dois alelos diferentes);
• Influência pelo sexo: característica que não tem um padrão de herança ligado ao
X, mas que se expressa em homens e mulheres de modo diferente, seja em grau,
seja em frequência;
• Interfase: estágio no ciclo celular quando a célula não está se dividindo. Estágio
metabólico durante o qual ocorre a replicação do DNA;
• Íntron: sequências intercalares de bases de DNA dentro de genes eucarióticos e
que não são representadas no RNA final transcrito porque foram removidas do
transcrito primário do RNA;
• Lei de Hardy-Weinberg: princípio importante de Genética de populações que diz
que, em uma grande população de reprodução aleatória não afetada por mutações,
migração ou seleção natural, as frequências alélicas não mudarão e as frequências
genotípicas se estabilizam após uma geração nas proporções p2 (a frequência de
AA), 2 pq (a frequência de Aa) e q2 (a frequência de aa), em que p é igual à frequ-
ência do alelo A e q é igual à frequência do alelo a;
• Letal (gene): gene ou característica geneticamente determinada que leva a não se
reproduzir, embora não necessariamente leve à morte precoce;
• Ligado ao X: padrão de herança de genes encontrados no cromossomo X, mas
não no cromossomo Y;
• Ligado ao Y: padrão de herança de genes encontrados no cromossomo Y, mas não
no cromossomo X (raro);
• Ligado ao sexo: gene localizado em um cromossomo sexual;
• Loco ou lócus: local específico de um cromossomo, onde está situado um gene;
• Mapa genético: em geral, refere-se ao mapa dos cromossomos ou cariótipo, onde
os pares de cromossomos de números 1 a 22 são organizados em ordem decres-
cente de tamanho, incluindo, ao final, os cromossomos sexuais X e Y;
• Meiose: duas divisões nucleares sucessivas (com as correspondentes divisões ce-
lulares) que produzem gametas (ovócitos e espermatozoides), que terminam tendo
a metade do material genético da célula original;
• Metacêntrico: refere-se a um cromossomo eucariótico, com um centrômero cen-
tral, os dois braços sendo de tamanhos iguais;
• Metáfase: estágio intermediário da divisão nuclear, no qual os cromossomos se
condensam e se alinham no plano equatorial da célula;
• Metástase: dispersão de células cancerosas para órgãos previamente não afetados;

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• Mitose: divisão do núcleo de uma célula eucariótica, envolvendo a condensação do
DNA em cromossomos visíveis ao microscópio óptico e a separação dos cromosso-
mos duplicados para formar dois novos conjuntos idênticos de cromossomos;
• Monossomia: ausência de um dos cromossomos de um par de homólogos;
• Mutação: mudança no DNA em um determinado lócus em um organismo. O ter-
mo é usado de modo amplo para incluir mutações de ponto envolvendo um único
gene, bem como uma alteração cromossômica;
• Mutação cromossômica: qualquer tipo de mudança na estrutura ou no número
de cromossomos;
• Mutação de ponto: pequena lesão, geralmente, a inserção ou deleção de um único
par de bases;
• Mutação sem sentido: substituição de um par de nucleotídeos dentro de uma região
codificante de proteína que muda um códon para um aminoácido por um códon
de término;
• Nucleotídeo: molécula composta de uma base nitrogenada, um açúcar e um grupo
fosfato. O bloco estrutural dos ácidos nucleicos;
• Par de bases: dois nucleotídeos em uma molécula de RNA ou DNA que estão em-
parelhados por ligações de hidrogênio. Por exemplo, G com C e A com T;
• Pluripotente: descreve uma célula embrionária que é capaz de originar tipos di-
ferentes de tecidos diferenciados ou estruturas, dependendo de sua localização e
influências ambientais;
• Poligênica: herança envolvendo muitos genes;
• Polimorfismo: ocorrência, em uma população (ou entre populações), de várias for-
mas fenotípicas associadas a alelos de um gene ou a homólogos de um cromossomo;
• Portador: indivíduo que possui alelo mutante, mas não o expressa em seu fenótipo,
devido à presença de um alelo dominante. Assim, um indivíduo com genótipo Aa é
um portador de a, se houver dominância completa de A sobre a;
• Primer: oligonucleotídeo de RNA ou DNA que pode servir como um molde para
a síntese de DNA pela DNA primase quando helicoidizado a uma molécula maior
de DNA;
• Prófase: primeiro estágio da divisão nuclear durante o qual os cromossomos se
condensam e se tornam visíveis ao microscópio óptico;
• Projeto Genoma Humano: esforço internacional para mapear e sequenciar todo
o Genoma Humano;
• Prole: todos os irmãos de uma família;
• Promotor: sequência de nucleotídeos no DNA à qual a RNA-polimerase se liga
para iniciar a transcrição;
• Quimera: organismo inteiro formado a partir de um agregado de duas ou mais
populações de células geneticamente diferentes (dois ou mais genótipos), originadas
de zigotos diferentes;
• Reação em Cadeia da Polimerase (PCR): método  in vitro  para amplificar um
segmento específico de DNA que usa dois primers que se hibridizam com pontas

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

opostas do segmento em polaridade oposta e, durante ciclos sucessivos, iniciam a


replicação exponencial apenas desse segmento;
• Rearranjo: produção de cromossomos anormais pela quebra e pela reunião in-
correta dos segmentos cromossômicos, São exemplos as inversões, as deleções
e as translocações;
• Recessiva: característica expressa apenas em homozigotos ou hemizigotos;
• Recombinação: (1) processo em uma célula diploide ou parcialmente diploide que
gera um novo gene ou combinações cromossômicas não encontradas previamente
nessa célula ou em seus genitores. (2) na meiose, o processo que gera um produto
haploide cujo genótipo é diferente dos dois genótipos haploides que constituem o
diploide original;
• Recombinante: refere-se a um organismo individual ou célula tendo um genótipo
produzido por recombinação;
• RNA (ácido ribonucleico): Um ácido nucleico unifilamentar similar ao DNA, mas
tendo o açúcar ribose, em vez de desoxirribose, e uracil, em vez de timina, como
uma de suas bases;
• Segregação: geneticamente, a produção de dois fenótipos separados, correspon-
dendo a dois alelos de um gene, seja em indivíduos diferentes (segregação meiótica),
seja em tecidos diferentes (segregação mitótica);
• Segregação cromossômica: separação de um cromossomo na divisão celular, de
modo que cada célula-filha recebe um número igual de cromossomos;
• Sequência flanqueadora: região de um gene que precede ou sucede a região transcrita;
• Simplex: em Genética humana, o termo usado para descrever uma história familiar
com apenas um membro afetado por um distúrbio genético;
• Sítio de restrição: sequência de DNA que é clivada por uma enzima de restrição;
• Tecnologia do DNA recombinante: em Engenharia Genética, conjunto de técni-
cas por meio das quais segmentos de DNA de diferentes origens são combinados
para originar um novo DNA, frequentemente chamado de DNA recombinante. A
tecnologia do DNA recombinante é amplamente utilizada na clonagem de genes, na
modificação genética de organismos e na Biologia Molecular, em geral;
• Telófase: estágio final da mitose ou da meiose, no qual as células-filhas se separam;
• Telomerase: enzima que, com o uso de um pequeno RNA especial como molde,
adiciona unidades repetitivas às pontas de cromossomos lineares para evitar o en-
curtamento após a replicação;
• Telômero: a ponta ou o final de um cromossomo;
• Terapia gênica: correção de uma deficiência genética em uma célula pela adição
de um novo DNA e sua inserção no genoma. Técnicas diferentes têm o potencial
de fazer terapia gênica só nos tecidos somáticos ou, alternativamente, corrigir a
deficiência genética no zigoto, corrigindo, assim, toda a linhagem germinativa;
• Transcriptase reversa: enzima que catalisa a síntese de um filamento de DNA a
partir de um molde de RNA;
• Transcrito primário (pré-mRNA): RNA eucariótico antes de ser processado;

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• Translocação: relocação de um segmento cromossômico para uma posição dife-
rente da original;
• Transmissão de homem para homem: padrão de herança de uma característica
do pai para todos os seus filhos homens e nenhuma de suas filhas (também chama-
da de herança holôndrica);
• Triploidia: presença de 3 conjuntos de cromossomos no organismo ao invés de
apenas dois conjuntos (diploidia), como é o normal;
• Trissomia: presença de cópias ou representantes de um mesmo cromossomo, em
vez do par usual, como acontece na Trissomia do 21 (Síndrome de Down) pela
presença de três cromossomos 21.

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UNIDADE Introdução à Genética Humana

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Do genótipo ao fenótipo
https://youtu.be/URPE1RplCoc
Como as ervilhas de Mendel nos auxiliaram a entender a genética – Hortensia Jiménez Díaz
https://youtu.be/Mehz7tCxjSE
De onde vêm os genes? – Carl Zimmer
https://youtu.be/z9HIYjRRaDE
Os meus genes: saber ou não saber quem sou
https://youtu.be/fN25FFFQaBk
DNA replication – 3D
https://youtu.be/TNKWgcFPHqw

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Referências
ARNALDO ZAHA. Biologia Molecular Básica. 5.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2014.

BORGES-OSÓRIO, R.; ROBINSON, W. M. genética humana. 3.ed. São Paulo:


Artmed, 2013.

BROWDER, C. A.; ERICKSON R. J.; WILLIAM R. J. Developmental Biology.


Philadelphia: Saunders College Publishing, 1991.

BROWN, T. A. Genética: um enfoque molecular. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 1999.

BRUCE, A.; JOHNSON, A.; PETER, W. Biologia Molecular da Célula. 5. São Paulo:
Artmed, 2010.

COOPER, G. M. A célula: uma abordagem multidisciplinar. 2 ed. Porto Alegre: Artes


Médicas, 2001.

JORDE. L. B. et al. Genética Médica. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.

OTTO, P. G.; OTTO, P. A.; PESSOA, O. F. Genética Humana e clínica. 2ed. São
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SNUSTAD, P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos de Genética. 2.ed. Rio de Janeiro:


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THOMPSON, J.; THOMPSON, M. Genética médica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2008.

VOGEL, F.; MOTULSKY, A. G. Genética Humana problemas e abordagens. 3.ed.


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WATSON, J.; BAKER, T.; BELL, S. Biologia Molecular do Gene. 5a Ed. São Paulo:
Artmed. 2006.

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Você também pode gostar