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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Letras
Disciplina: Cultura Portuguesa
Professor: André
Aluna: Amanda Queiroz do Rosário
DRE: 120141431

1° AVALIAÇÃO

A LITERATURA COMO ESPAÇO DE REINVENÇÃO CRÍTICA/MÍTICA DO PASSADO


COLETIVO

“O mito é o nada que é tudo.


O mesmo sol que abre os céus
É Um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
“Vivo e desnudo.”

Conforme vamos lendo e adentrando profundamente nas grandes obras literárias “Os
Lusíadas”, de Camões e “Mensagem”, de Fernando Pessoa, percebemos que, em Camões, o
ponto de partida para chegar ao mito é a história. Já em Pessoa, o ponto de partida para
chegar à história é o mito. Isso se dá pelo fato de que a literatura é capaz de suportar essas
duas vertentes (mito e história), relacionando-as, ainda que de modo subjetivo, para tratar de
questões inteiramente humanas, ao mesmo tempo em que põe em jogo questões para além da
compreensão do homem.
A literatura é um campo que exerce grande influência sobre a história, a política, a
linguagem, a cultura e a construção da identidade de um espaço urbano. Antônio Candido vai
dizer que a literatura é todo tipo de criação de toque poético, ficcional ou dramático em todos
os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde que chamamos folclore,
lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes
civilizações (CÂNDIDO, ANTÔNIO p.176).
Conforme o modo de pensar e as ações do homem se modificam, perante o mundo em que
vivem, vão surgindo novos formas de fazer literatura, e é dentro desse espaço literário que o
indivíduo vai ser capaz de criar, inventar, recriar e reinventar tudo aquilo que é material e tudo
aqui que é divino, imaterial. Neste âmbito, ainda na visão de Candido, a literatura se mostra
como manifestação universal de todos os homens, em todos os tempos e se distingue em 3
faces, nas quais dizem respeito a sua função e seu papel na sociedade: (1) ela é uma
construção de objetos autônomos como estrutura e significado; (2) ela é uma forma de
expressão, isto é, manifesta emoções e a visão do mundo dos indivíduos e dos grupos; (3) ela
é uma forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente.
(CANDIDO, ANTONIO p. 179). Dessa forma, de maneira ampla, é plausível entendermos os
resultados da literatura como a junção desses 3 aspectos. Sendo ela, objeto e próprio espaço
de criação.
Voltando para as duas obras mencionadas no início deste trabalho, Pessoa e Camões
tomam o espaço literário para construir um modelo poético que suportará a história de um
determinado povo, de uma determinada nação, em seus fatos cronológicos. Ambos falam da
história de Portugal pela poética, embora uma esteja dentro de uma estrutura mais narrativa e
outra outra dentro de uma estrutura mais metafórica e intrínseca. Esses dois aspectos são
justamente o que fazem da literatura esse espaço de reinvenção e recriação, especificamente
em termos críticos e míticos.
Quando se fala em reinvenção crítica e mítica de um passado coletivo, o que vem à mente
são novos formatos de contar a História. O poeta ou narrador, podem até estar citando um
mesmo personagem mítico, que faz até hoje parte da cultura de um povo, mas os meios
utilizados para abordar os acontecimentos e as características dos personagens, poderão ser
diferentes, se adaptando a época/realidade presente. A ideia de ressignificar um mito, seja na
escrita, em vídeo-arte ou música, faz com que o homem moderno não se sinta tão perdido em
relação ao mundo em que vive e tenha como exemplo, para tomar decisões importantes,
grandes heróis do passado.

“A função do mito não é, primordialmente, explicar a


realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo
assustador. O mito possibilita ao homem um conhecimento
anterior das coisas, que aquilo ao qual ele se empenha já foi
feito por alguém, excluindo toda e qualquer dúvida. “ (Seleprin,
Maiquel José. 2012)

Em “Mensagem”, a pretensão de Fernando Pessoa é que a interpretação dos paradoxos e


das ideias contrárias postas como configuração da história de Portugal (bellum sine bello,
glória e desgraça, apogeu e declínio, morte e vida, ser ou não, ser real e ser mítico) não deve
ser aplicada somente a Portugal, mas a toda a humanidade. Eis sua fórmula de reinvenção
crítica/mítica do passado coletivo, traça um caminho por uma ótica de progresso de Portugal;
aponta sempre para um futuro de conquistas e vitórias, mas sem afirmar, de fato, que essas
vitórias chegaram para Portugal. Mais do que isso, é possível que seja estabelecida uma
consciência de Portugal não independente. Apesar disso, a esperança é a última que morre
para alcançar seus objetivos.

“ A mão sustenta, em que se apoia o rosto.


Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.”

Esse ideal de pessimismo e determinação, em parte gerado pelo mito de reis que saíram
para de suas terras e enfrentaram os mares, é hoje, para quem toma conhecimento sobre tais
obras literárias, forte influência de coragem, esperança e determinação. Apesar desse ideal ser
muito mais antigo do que as grandes navegações, temos de exemplo: Agamenon: comandante
da guerra de Tróia, Édipo: decifrou o enigma da esfinge, Cadmo: que venceu o dragão que
controlava a cidade de Tebas, dentre outros.
Quase como um jornal, porém fictício, o espaço literário deixa o autor livre para expressar
o seu ponto de vista e construir, a seu modo, outros espaços que caibam outras perspectivas de
mundo, que possam de gerar algum tipo de reflexão, trazer questões para uma análise crítica,
tendo em vista que a literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate,
fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. (CANDIDO,
ANTONIO p. 113).

Referências bibliográficas:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/FILOSOFIA/Artigo
s/O_mito_na_sociedade_atual.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4208284/mod_resource/content/1/antonio-candido-o-
direito-a-leitura.pdf
https://culturasantanna.files.wordpress.com/2015/03/a-ideia-de-cultura-terry-eagleton.pdf

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