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Copyright © 2024 Delma Cunha

Julissa
Romance Cristão
ISBN: 978-65-00-91886-1

Capa e Ilustrações internas: Canva


Capa: Delma Cunha
Revisão ortográfica: Sônia Regina Moreira

1ª Edição
Esta é uma obra de ficção. Todos os direitos reservados à Delma Cunha.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes (Tangíveis ou Intangíveis), sem a prévia autorização do
autor. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n.º 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
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Instagram:@delmacunhaa
E-mail da autora:
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“Para todos aqueles que desejam viver em comunhão com Deus.”
Sumário
Apresentação
Capítulo 1- Amor à primeira vista
Capítulo 2 - Você é um carnal!
Capítulo 3 - O par de sapatos
Capítulo 4 - Vou estudar Teologia
Capítulo 5 - A festa
Capítulo 6 - Noite de Pizza
Capítulo 7 - Plano de Deus
Capítulo 8- Feridas do passado
Capítulo 9 - Perdão
Capítulo 10 - Esperança
Capítulo 11- Almoço especial
Capítulo 12 - Esperei por este dia
Capítulo 13 - Como você conheceu o papai?
Apresentação
É com imenso prazer e responsabilidade que apresento a você, leitor, uma amiga e irmã em
Cristo, por quem tenho intenso carinho e admiração, Delma Cunha , uma serva de Deus que se
coloca como instrumento a ser usado nas mãos do Criador para nos transmitir, com talento e
dom, grandes ensinamentos sobre fé e intimidade com o Pai Celestial.

Sinto-me privilegiada em apresentar este trabalho, através do qual podemos aprimorar nossa
caminhada na vida cristã. Esta tão edificante leitura, nos leva a refletir sobre a importância de
desenvolver em nós o fruto do Espírito - amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão e domínio próprio - demonstrado através da criação primorosa de cada um
dos personagens; conduta necessária para que os planos de Deus se cumpram em nossas vidas.

Segura e convicta da riqueza do conteúdo desta obra, te convido a fazer uma “viagem”
maravilhosa e agradável pelas páginas deste livro, na certeza de que ela proporcionará um novo
olhar para os desafios do dia a dia trazendo força, fé, esperança, desejo de orar e ter uma
comunhão com Deus. Recomendo para todos os membros do Corpo de Cristo, especialmente
para pais e professores. A você, que é líder de algum departamento em sua igreja, sugiro que
incentive seus liderados a esta leitura, propondo-lhes, posteriormente, uma roda de conversa
onde possam expor seus aprendizados, trocar experiências e certamente constatarão a
preciosidade de tal trabalho.

Que a mão do Senhor Deus te conduza nesta jornada e que você experimente as bênçãos que Ele
tem para você!

Boa e proveitosa leitura!

“EM TODO O TEMPO SEJAM ALVOS OS TEUS VESTIDOS, E NUNCA FALTE O ÓLEO
SOBRE A TUA CABEÇA.” Eclesiastes 9.8

Sônia Regina Moreira


Era final de tarde e o sol ainda estava brilhando, radiante, sobre o bosque. O vento sacudia as
folhas das árvores e balançava as belíssimas rosas cor-de-rosa plantadas no jardim. Alguns
pássaros voavam para lá e para cá e, ao pousarem nos galhos da mangueira, cantavam
alegremente. Embaixo das sombras das árvores, os jovens também cantavam com alegria e
harmonia.
Anualmente, acontecia o acampamento de missões com a juventude. Jovens de todos os
lugares e de diversas instituições religiosas se reuniam para compartilhar suas experiências
missionárias.
Enquanto os jovens batiam palmas, Augusto acompanhava-os tocando seu violão. Além de ser
músico, ele também era o líder da banda da sua igreja. Era a sua primeira vez no acampamento,
então foi convidado para tocar.
— Augusto, vamos fazer uma pausa para ouvir os testemunhos dos jovens que retornaram do
campo missionário — disse o organizador do acampamento.
— Certo! — concordou o jovem.
O organizador do acampamento avisou aos demais:
— Pessoal, vamos ouvir os missionários e depois cantaremos novamente.
Os missionários começaram a testemunhar suas experiências no campo missionário. Augusto
ouvia-os atentamente e, ao mesmo tempo, observava ao seu redor. De repente, o seu olhar
capturou uma linda jovem. Diante do olhar do rapaz, ela se movia em câmera lenta. O vento
agitava os cabelos lisos e longos da moça, jogando-os no rosto. Então, delicadamente, ela
penteava-os com os dedos e os colocava atrás da orelha. Augusto estava fascinado com a beleza
daquela mulher. Hipnotizado, os seus olhos brilhavam e ele não parava de admirá-la.
Naquele momento, o missionário queria cantar uma canção e o convidou para tocar. No
entanto, o jovem estava distraído observando a beleza da moça e não ouvia o missionário o
chamando. Augusto continuava encantado olhando para ela.
Alguém tocou em seu ombro:
— O missionário está te chamando para tocar.
O músico se assustou e olhou para o missionário.
— Desculpe-me! — ele continuava extasiado — qual é a canção? — respondeu ele, ajeitando
o violão no colo.
Enquanto o jovem tocava, desejoso, olhou para a mesma direção em que viu a moça; mas ela
já não estava mais lá. Ele olhou com atenção ao redor e não a encontrou entre as pessoas. Então,
pensou: “Onde ela está? Será que tive uma visão?”
A apresentação dos missionários foi encerrada e os jovens, com palmas e o som do violão,
continuaram a cantar. Augusto tinha a esperança de vê-la outra vez, por isso, ao terminar de
tocar, colocou o violão na capa, depois colocou-o nos ombros e saiu pelo acampamento em
busca da moça misteriosa. Não conseguindo encontrá-la, pensou alto:
— Não era uma visão, tenho certeza! Como vou encontrá-la aqui no meio de tantas pessoas?
Pode ser que, devido ao horário, ela esteja no alojamento — o rapaz olha para o céu — meu
Deus, que mulher linda! Ela atraiu minha atenção e marcou meu coração.
— Quem atraiu a sua atenção e marcou o seu coração, Augusto? — perguntou o pastor João,
aproximando-se dele.
Augusto se assustou e envergonhado, sussurrou:
— Falei alto demais! — ele virou-se e, vendo o pastor, ficou aliviado.
— Oh, pastor é o senhor! Depois eu falo. É mixtério!
O pastor riu.
— Mixtério, hein? Estão te chamando para jantar. Vamos lá!
Ele acompanhou o pastor; entretanto, conforme caminhava, continuava observando ao redor
minunciosamente, procurando a moça.
Após o jantar, ainda sentado à mesa, Augusto chamou o pastor em particular. João, segurando
sua xícara de café, sentou-se ao lado dele e sorrindo, comentou:
— Para me chamar aqui, deve ser algo muito urgente!
— Pastor, existe amor à primeira vista? — Indagou o jovem olhando nos olhos do senhor.
O pastor colocou a xícara de café na mesa e deu risada.
— Pela pergunta, você deve ter se encantado por alguma moça aqui no acampamento.
O jovem deu uma risada meio sem graça.
— Ah, pastor. Não tinha como eu não me encantar. Aquela mulher era diferente, nunca vi
uma jovem assim em toda a minha vida — ele suspira, coloca a mão no peito e faz cara de
apaixonado — ela mexeu com meu coração.
O pastor colocou a mão no ombro dele.
— Qual é o nome dela, filho?
O jovem olhou para a xícara na mesa, apertou os lábios, suspirou, pensou e, voltando seu
olhar ao pastor, respondeu:
— Não sei, pastor. Eu estava encantado olhando para ela, mas o missionário Lyu me chamou
para tocar. Quando olhei novamente, ela não estava mais lá.
O pastor pegou a xícara, deu uma golada no café e disse:
— Paciência, jovem. Se for para ser sua, ela será — ele encara o rapaz — você deve ir
devagar. Vejamos dois pontos importantes. Certo?
— Certo, pastor!
— Primeiro, deve saber o nome dela e, segundo, saber se ela é solteira.
Augusto arregalou os olhos e se calou. O segundo ponto parecia um punhal que perfurava o
seu coração. Ele balançou a cabeça, olhava para os lados e pensou: “E se ela… não!” Depois
virou-se para João e afirmou:
— Que ela seja solteira, pastor!
O pastor deu outra gargalhada e disse:
— Segura sua emoção, rapaz — e continuava rindo.
O jovem sorriu falsamente, pois sentia uma tristeza provocada pela insegurança de sua amada
não estar solteira. Ele desejava ver a moça novamente, a qualquer custo, para perguntar o seu
nome e saber se ela era solteira. Em seu coração, ele tinha quase certeza de que ela era solteira.
Pela manhã, antes de sair do acampamento com os jovens, com a esperança de encontrá-la,
Augusto deu mais uma volta pelo local. O sol estava ardendo, o suor escorria pelo rosto do rapaz.
— Onde você está? — sussurrou ele.
As caravanas foram saindo, os jovens estavam voltando para casa. Já não havia muitas
pessoas no acampamento. Cansado de tanto andar, ele sentou-se na pedra para descansar. O
pastor estava procurando por ele e encontrando-o sentado e triste, especulou:
— Não a encontrou, né? — o jovem não disse nada — Fica assim não, filho.
O rapaz limpava o suor da testa com a manga da camisa. João, tirando os óculos de sol, diz:
— Vamos, filho! Estamos atrasados. Todas as caravanas já foram, só falta a nossa.
O rapaz se levantou, olhou atentamente em sua volta e, frustrado, entrou no ônibus.
Ao longo do caminho, sentado à janela, Augusto contemplava a paisagem e lembrava-se da
moça. O rapaz sentia um grande vazio. Ele encosta sua cabeça na janela e pensa: “ Parece que
meu coração ficou no acampamento.”
No dia seguinte, a rotina de Augusto seguia normalmente. Formado em administração, ele
trabalhava com seu pai na loja de sapatos. Aliás, eles eram os donos da loja “Kemuel Calçados”,
a maior da cidade de Eudome.
Enquanto trabalhava, o rapaz conversava com a equipe de marketing e, repentinamente, seus
pensamentos se concentraram na moça. O mancebo não estava conseguindo se focar no trabalho,
pois não parava de pensar nela.
No horário do almoço, ele se esqueceu dela por um instante; contudo, enquanto estava sentado
à mesa, almoçando com seu pai, ele sentiu o vento no rosto, e lembrou-se novamente da mulher.
Enquanto o vento bagunçava seus cabelos, ela colocava os cabelos atrás da orelha, como se
fosse em câmera lenta . O rapaz cortou o bife no prato e, com o garfo, levou o pedaço à boca,
enquanto mastigava, especulou:
— Qual é o seu nome?
Carlos, pai de Augusto, vendo seu filho tão disperso, não entendeu o que ele perguntou.
— Disse alguma coisa, Agustin?
Percebendo que estava se entregando, o rapaz disfarçou, tossiu e coçando alto a garganta,
respondeu:
— Nada importante, pai.
O pai limpou a boca com o guardanapo, e olhando para o prato do filho, comunicou:
— Eu tenho uma reunião hoje. Vamos comprar novos modelos de sapatos femininos.
Augusto tomou o suco de laranja e passando a língua no canto da boca, especulou:
— Que horas?
O pai levantou-se da mesa e respondeu:
— Agora! Por isso vou sair antes de você — ele tirou o cartão de débito do bolso e entregou-o
ao rapaz — pague o almoço com o cartão da empresa.
Carlos foi embora e Augusto continuou almoçando.
Mais tarde, após o expediente, ele retornou para casa. Dirigiu-se ao banheiro, tomou banho, se
arrumou, pegou sua guitarra e foi para o culto.
Augusto continuava pensando na moça.
O culto decorreu normalmente, exceto pelo fato de o pastor anunciar que um casal de
missionários de outra cidade estava visitando a igreja pela primeira vez.
Quando acabou o culto, Augusto guardou sua guitarra na capa e despediu-se dos amigos:
Lucas, o baixista; Caio, o baterista e Anderson, o tecladista. O pastor estava conversando com o
casal visitante, Augusto se aproximou e interrompeu a conversa:
— Com licença, pastor! Estou indo.
O pastor virou-se para ele:
— Oh, meu filho! Antes de ir, permita-me apresentar o irmão Pedro e a esposa, irmã Ana.
Eles são missionários e, juntamente com seus filhos, congregarão conosco.
Antes de Augusto dar as boas-vindas, o pastor o abraçou e disse:
— Este é o Augusto, uma benção para nós. Ele é o líder da banda.
O jovem sorriu e cumprimentou o casal com um aperto de mão.
— Sejam bem-vindos!
O casal agradeceu e a mulher informou:
— Nosso filho também é músico.
— Sério? Qual instrumento ele toca? — perguntou Augusto, trocando a guitarra de mão e
apoiando-a sobre o pé direito.
Pedro, observando-o, respondeu:
— Ele toca teclado.
O pastor colocou as mãos nos bolsos da calça e sorriu:
— Que benção! Deus mandou mais um músico para nossa igreja.
Augusto sorriu pelos cantos da boca e disse:
— Será um prazer tê-lo em nossa banda. Quando ele vier, pede para me procurar.
Depois, despediu-se deles e retornou para casa.
No dia do próximo culto, Augusto teve que auxiliar a equipe de manutenção no trabalho.
Sabendo que chegaria atrasado na igreja, preferiu não levar a guitarra. Ele chegou no momento
da pregação, o missionário Pedro estava ministrando. O jovem sentou-se na terceira fileira e
ficou de frente para o pregador. Após concluir a pregação, Pedro agradeceu a oportunidade e
entregou o microfone ao pastor. Antes de encerrar o culto com a benção apostólica, João fez uma
observação:
— Eu não posso me esquecer de apresentar a vocês os filhos do irmão Pedro e da irmã Ana:
Nicollas e Julissa. Podem se levantar jovens para que todos conheçam vocês — os jovens se
levantaram — eles irão congregar conosco a partir de hoje.
Nicollas e Julissa estavam sentados no último banco. Augusto olhou para trás para ver quem
eram os novos membros. Depois que viu Nicollas, ele direcionou sua atenção para a moça e,
repentinamente, seus olhos brilharam.
Que surpresa!
Ele podia ouvir seu coração batendo aceleradamente. Com os olhos iluminados de alegria,
pensou: “É ela! Seu nome é Julissa! Ela vai congregar aqui. Não dá para acreditar! Parece um
sonho.”
Eufórico e tentando conter suas emoções, ele virou-se para frente.
A moça e o irmão sorriram para quem olhava para eles, depois sentaram-se novamente. O
pastor finalizou o culto e os membros da igreja foram dar as boas-vindas aos jovens. Augusto
ficou olhando de longe enquanto conversava com Lucas e Caio.
O pastor aproximou-se dos novos membros e, conforme conversava com eles, acenou para
Augusto. Este despediu-se dos amigos e foi até o pastor, ele estava nervoso e ansioso, mas
disfarçou. Olhou discretamente para Julissa e cumprimentou-a com um curto balançar de cabeça.
Ela sorriu. O rapaz pensou: “Ela é ainda mais linda de perto” . E virando-se para Nicollas,
cumprimentou-o com um aperto de mão.
O pastor, abraçando o líder da banda, disse:
— Nicollas tocará na banda, deixo-o com você.
Augusto sorriu e notando que Julissa o encarava, sua mão começou a suar, e para controlar a
tensão, ele disfarçou pegando o celular no bolso e falou para Nicollas.
— Vou passar meu contato para você e combinamos o dia dos ensaios.
Nicollas salvou o contato e Julissa, olhando com atenção para Augusto, perguntou:
— Você não é aquele músico que estava tocando no acampamento?
Ele ficou admirado, e direcionando seu olhar para ela, especulou:
— Você me viu lá?
Ela sorriu e respondeu:
— Sim, ou era alguém parecido com você.
Ele ficou mais encantado com o sorriso dela e devolvendo o sorriso, confirmou:
— Era eu mesmo, em carne e osso.
Todos riram.
Ana chamou seus filhos para irem para casa. Eles se despediram e, pouco tempo depois,
Augusto também saiu.
Enquanto dirigia, ele ria sozinho e falava:
— Você apareceu e ficará perto de mim. Será que é confirmação de Deus? Só pode ser
confirmação de Deus — ele ficou boquiaberto — Ela veio até mim. É confirmação de Deus.
Então, ele se lembrou do quanto ficou tenso.
— Mas por que fiquei tenso daquele jeito? Minha mão suava tanto.
Ele parou no sinal vermelho e olhou para suas mãos.
— Para eu ficar tenso e minhas mãos suarem tanto, deve ser mesmo o amor.
Ele sorriu e, com o semblante alegre, cantarolava o nome dela:
— Julissa, Julissa, Julissa…
Augusto estava confiante e queria ficar ao lado de Julissa para sempre. O sinal ficou verde e
ele acelerou.
Ainda era madrugada, Augusto estava deitado na cama, com as mãos atrás da nuca. Ele não
conseguia dormir, e olhando para o teto do quarto, pensou: “Ainda não acredito que ela vai
congregar na mesma igreja que eu. E ainda me viu no acampamento. Será que ela sente o
mesmo por mim? Seu sorriso é encantador!”
Ele levantou-se rapidamente e sorrindo, disse:
— Ela deve sentir o mesmo que eu. Vou perguntar para o pastor… — ele pensou e decidiu —
melhor ir devagar, não falei para o pastor que Julissa é a moça que vi no acampamento. Vou falar
quando eu estiver namorando Julissa.
E deitou-se novamente, feliz, pensando nela, depois virou-se, ficou de bruços e caiu no sono.
Ao amanhecer, o rapaz acordou e continuava alegre. Seguiu sua rotina, tomou café e foi para
o trabalho. Os funcionários notavam a sua felicidade.
De volta para casa, enquanto estacionava o carro na garagem, ele recebeu uma notificação de
mensagem do WhatsApp, era um número desconhecido:
“A paz, Augusto, sou eu o Nicollas.
Qual será o dia do ensaio da banda?”
— Ah, é o Nicollas. Deixa eu salvar o contato dele e enviar a data do ensaio — comentou ele,
enquanto tirava o cinto de segurança.
Entrando em casa, sua mãe o recebeu com alegria:
— Chegou cedo hoje! Seu pai já saiu. Como ele fará uma viagem de negócios para
representar a empresa, ficou com medo de perder o voo e saiu apressado.
Augusto colocou sua mala em cima da cadeira e tirando sua jaqueta, disse:
— Ah, achei que ia encontrá-lo em casa, por isso cheguei mais cedo.
Ele pegou a mala e colocou a jaqueta no ombro, caminhou até as escadas e subiu para o seu
quarto. Ao abrir a porta, olhou para sua mãe.
— Vou tomar banho, mãe. Estou com fome!
Lucinda sentou-se no sofá da sala e, ao pegar o celular, respondeu:
— O jantar está pronto. Daqui a pouco vou para a reunião de mulheres na igreja.
— Tudo bem! Deixa que eu me viro com a janta! — respondeu ele entrando no quarto.
Após o banho, o jovem desceu para a cozinha, Lucinda não estava mais em casa e deixou um
bilhete em cima da mesa.
“Se a comida estiver fria, esquente-a no micro-ondas.
Beijos,
Mamãe.”
Após ler o bilhete, ele retrucou:
— Que mulher preocupada! Falei para não se preocupar com minha comida.
Em seguida, abriu a panela que estava em cima do fogão, macarrão com almôndegas, seu
prato favorito. Após encher um prato raso, colocou-o na mesa. Depois, pegou um garfo na gaveta
do armário e pensou: “Será que minha esposa se preocupará assim comigo?” Ele estava
pensando em Julissa.
— Ah, Julissa. Será que você será assim também? — indagou ele, olhando para o garfo.
Ele jantou, lavou a louça e subiu novamente para o quarto. Sentou-se em frente ao
computador. Pensativo, pegou o celular e tomou uma decisão.
— Vou pedir a Julissa em namoro! E será hoje mesmo! Não vou deixar essa chance passar.
Ela me viu no acampamento e também deve sentir o mesmo que eu.
Ele entrou no aplicativo de mensagem.
— Vou pedir o contato dela para o Nicollas. Ele está on-line.
Augusto enviou a mensagem:
“ Paz, Nicollas! Boa noite!
Tudo bem?
Pode me passar o contato da Julissa, por favor?”
Nicollas visualizou e respondeu:
“Paz.
Boa noite, tudo e você?
Passo sim.
01 71567899”
Augusto ficou mais animado ao ver o contato da moça. Ele respondeu:
“Estou bem também.
Obrigado!
Vamos nos falando.
Até mais!”
Nicollas curtiu a mensagem e escreveu:
“ Ok.
Até mais!”
Augusto salvou o contato de Julissa. E ofegante andava para lá e para cá no quarto, seu
coração estava mais acelerado do que antes. Sua mão estava quente e transpirava. Ele se jogou na
cama e colocando a mão na testa, pensou: “Que tensão! Augusto, calma! Não perca essa
oportunidade”.
E imediatamente, criou coragem, levantou-se e enviou mensagem para ela:
“Olá, Julissa!
Paz, tudo bem?”
Não demorou muito, ela visualizou e respondeu:
“Paz. Tudo e você?”.
— Ela me respondeu rapidamente. Julissa deve gostar de mim também. — disse ele sorrindo e
digitando eufórico as próximas palavras.
“Estou bem também.”
Ela respondeu:
“Que bom!”
Ele disse para si:
— É agora, manda bala, Augusto!
Sem hesitar, o rapaz se declarou:
“Sabe, eu também te vi no acampamento,
mas depois você sumiu.
Confesso que desde aquele dia
eu não paro de pensar em você.
Você quer namorar comigo?”
Ela visualizou e não respondeu. O rapaz, trêmulo e com o coração na boca, pensou: “Ela deve
estar com vergonha de me dar a resposta por aqui e vai me responder pessoalmente”. Ele
escreveu:
“Se desejar, você pode me responder pessoalmente.”
Julissa continuava visualizando a mensagem e começou a digitar. O jovem permanecia tenso,
sua mão não parava de transpirar. Ele ouvia sua respiração ofegante e o coração batendo forte.
Augusto secou as mãos na camiseta e Julissa respondeu:
“Aff”
Ela continuava digitando. Ele leu e ficou encabulado com a resposta dela.
— Ela digitou tanto para escrever três letras? O que ela quer dizer com “Aff”? — murmurou
ele, sentindo que o coração ia sair pela boca.
Minutos depois, Julissa escreveu:
“Vamos resolver por aqui mesmo.
Eu não me envolvo com músicos.”
O coração do jovem foi estraçalhado. Suas mãos tremiam. Ele respirou profundamente e
perguntou para ela:
“Como assim?”
Ela escreveu em negrito:
“ Os músicos são carnais, não gostam de bíblia e oração.
Não quero me envolver com ninguém que atrapalhe
a minha vida com Deus .”
Augusto ficou desapontado, não tinha mais palavras. Ele fez uma pausa e respondeu:
“Ok”.
O rapaz saiu do WhatsApp, destruído sentimentalmente, colocou o celular em cima da
escrivaninha. Deitou-se na cama, entrelaçou as mãos atrás da nuca e irritado, refletiu:
— Que fora mais humilhante. E ainda fui chamado de carnal — ele apertou os dentes — essa
Julissa está de brincadeira — e, mudando seu semblante, afirmou — amanhã no culto, vou
conversar com ela pessoalmente, quero ver ela me chamar de carnal na minha cara.
O rapaz treinava a sua fala durante todo o dia no trabalho.
— Vai, me chama de carnal na minha cara agora. Você está dando uma de difícil! — ensaiava
ele diante do espelho enquanto escovava os dentes.
Finalmente chegou a hora de ir ao culto e o jovem estacionou o carro na frente da igreja. Ele
respirou fundo e, ajeitando o colarinho da camisa, disse:
— Hoje é o dia da verdade!
Augusto entrou na igreja. Julissa e sua família já estavam lá. Após duas horas, o pastor
terminou o culto, Augusto estava decidido a confrontar Julissa e, ao ver Nicollas, acenou com a
mão. O tecladista vem até ele e o cumprimenta com um aperto de mão.
— Paz, parceiro, tudo bem?
— Tudo, irmão! — ele olha em direção de Julissa — quero falar com sua irmã, pode chamá-
la, por favor.
Nicollas vira-se na direção dela.
— Julissa!
Ela estava mexendo no celular e, ao ouvir seu nome, olhou para o irmão.
— Vem aqui, por favor! — sinalizou ele.
A moça vai até ele, que estava ao lado de Augusto. Como se nada tivesse acontecido, ela
ajeitou a alça da bolsa que escorregava no seu ombro, cumprimentou Augusto com um balançar
de cabeça e, ao olhar para o irmão, indagou:
— Me chamou, Nico?
O irmão apontou com o polegar para Augusto.
— Foi ele!
Cheio de razão, Augusto se aproximou mais de Julissa e olhando nos olhos dela, com uma voz
áspera, especulou:
— Sou carnal? É isso mesmo que você disse ontem?
Nicollas, que ainda não estava por dentro do assunto, arregalou os olhos e colocou as mãos na
boca, cautelosamente, olhou para os lados para ver se alguém estava ouvindo. Eles estavam no
canto da igreja, perto do púlpito. Lucinda, Ana e Pedro conversavam com o pastor próximo à
sala pastoral. Havia um grupo de pessoas que caminhava devagar enquanto se dirigia para a
saída. Então, só podiam ouvir a conversa dos três, Deus e eles mesmos.
A moça, surpresa com a insistência dele, revirou os olhos, suspirou fundo e respondeu:
— Aqui não é lugar para isso!
Ele insistiu e respondeu ironicamente:
— É sim. É o único lugar que posso falar com você pessoalmente. Não seria legal se as
pessoas por aí vissem você conversando com um carnal.
Nicollas ficou de boca aberta. Julissa cruzou os braços, corada e irritada, perguntou:
— Vamos fazer uma prova para confirmar que você é um carnalzão?
— Carnalzão? — espantados, Augusto e Nicollas perguntaram ao mesmo tempo.
— Vixe! — exclamou Nicollas, pasmo, olhando novamente para os lados.
Augusto sorriu pelos cantos da boca com ironia, balançou a cabeça, mordeu o lábio inferior,
respirou fundo e disse:
— Você está me ofendendo, sabia?
Ela também riu com ironia e respondeu:
— Sério? Quer que eu desenhe? Eu não quero me envolver com você e fica insistindo. E hoje
após um culto abençoado, vem tirar a minha paz?
Augusto não queria perder na discussão.
— Eu me declarei para você, mas não precisava me ofender.
A moça olhou para seu irmão e se calou por alguns segundos. Em seguida, olhou fixamente
para Augusto e falou sem rodeios:
— Deixei bem claro que não quero namorar — ela coloca o celular dentro da bolsa — e
vamos fazer o teste para ver se você não é carnal?
— Não sou carnal! — exclamou Augusto, perdendo a paciência.
— Nossa! — exclamou Nicollas fazendo caras e bocas com as respostas deles.
Rapidamente Julissa levantou a mão esquerda e mostrou o dedo polegar e com a mão direita
apontou com o dedo indicador. Olhando furiosamente para Augusto, especulou:
— Vamos fazer a prova?
— Vamos! Me diga por que sou carnal? — respondeu ele asperamente.
Batendo o dedo indicador da mão direita, no polegar da mão esquerda, com uma voz mansa,
ela avisou:
— Vou fazer apenas duas perguntas para você e gostaria que fosse sincero.
Augusto mediu-a de cima a baixo e gabou-se.
— Esta aí uma coisa que eu sou, sincero. Um homem carnal jamais seria sincero.
Ela não se importou com o comentário dele e, apontando para o dedo polegar levantado,
investigou:
— Quando foi a última vez que você orou?
A pergunta parecia boba para o rapaz, ele olhou para Nicollas e depois para os lados e
gaguejou:
— Foi… deixa ver… foi…
Ela zombou dele e disse:
— Sei… está na sua cara a resposta.
Sem dar tempo para resposta, ela levantou o dedo indicador da mão esquerda e continuou
investigando:
— A última pergunta, quando você leu a Bíblia pela última vez?
Ele ficou encabulado com a nova pergunta, colocou a mão no queixo, olhou para o chão e
tentou lembrar o último dia em que leu a Bíblia. A expressão no rosto de Julissa não
demonstrava nenhuma surpresa, o que deixava o rapaz constrangido.
— O último dia que li a Bíblia… — ele riu sem graça— eu nem lembro o que comi ontem,
vou lembrar qual foi o último dia que li a Bíblia.
Ela se aproximou bem de Augusto e olhando nos olhos dele, disse:
— Como posso me envolver com um homem que não é fiel ao meu Senhor ? Se ele falha na
comunhão com Deus, também falhará na comunhão com sua mulher. Aceite, você é um
carnalzão.
Diante de tal afirmação, ele apenas arregalou os olhos e engoliu a saliva. O rapaz ficou sem
respostas. Ela, sentindo-se vitoriosa, virou-se e saiu.
Nicollas, sem saber como confortar Augusto, colocou a mão nas costas dele e expressou:
— Foi mal, parceiro. Minha irmã é muito exigente em relação ao casamento.
Augusto olhou para a guitarra, cabisbaixo, com a voz triste, disse:
— Tudo bem.
O rapaz pegou sua guitarra, se despediu do pessoal e entrou no carro.
Julissa estava encostada no portão da igreja esperando os pais, Nicollas se aproximou dela e
protestou:
— Você pegou pesado com ele, mana. O rapaz é músico, mas tem coração. Não era para
tanto.
Ela olhou para ele de rabo de olho e pegando seu celular na bolsa, respondeu:
— É para ele entender que não estou dando esperanças. Quando somos educadas demais com
homens assim, eles acham que estamos dando corda e ficam dando em cima.
Nicollas balançou a cabeça em sinal de reprovação e foi ao encontro dos pais.
Augusto retornou para sua casa triste e pensativo. Tomou banho, em seguida, se trancou no
quarto. Lucinda achou estranho, o filho não ter descido para jantar. Ela olhou a hora no relógio
de parede e, percebendo que Augusto não ia descer, decidiu levar a comida para ele. Quando
chegou na porta do quarto dele, ela pegou na maçaneta e tentou abri-la, mas estava trancada.
Preocupada, bateu à porta:
— Augusto? Sua comida, filho!
Ele não queria falar com ninguém, então não abriu a porta. Diante do silêncio dele, Lucinda
desistiu e desceu com o prato de comida.
Com a luz apagada, o rapaz refletia sobre o que havia acontecido. As palavras de Julissa foram
como uma espada afiada que feriu profundamente o seu coração. Ele meditava no que ela havia
dito: “Como posso me envolver com um homem que não é fiel ao meu Senhor ? Se ele falha na
comunhão com Deus, também falhará na comunhão com sua mulher. Aceite, você é um
carnalzão.” D e tanto pensar, acabou adormecendo.
Era manhã, ele acordou com sua mãe batendo à porta. Ele se levantou e abriu a porta.
Lucinda, ainda preocupada, olhou minunciosamente para seu filho e especulou:
— Está tudo bem, filho?
Ele, bocejando e arrumando o cabelo, respondeu:
— Está mãe. Vou tomar banho agora e já desço para tomar café.
Ela virou-se e enquanto caminhava, disse:
— Tudo bem! Vou esperá-lo.
O rapaz terminou de se arrumar e desceu. Ele sentou-se à mesa com a mãe para tomar café. A
voz de Julissa não saia de sua cabeça, parecia que ela sussurrava em seu ouvido: “Aceite, você é
um carnalzão.”
— Carnalzão? Minha vó! — resmungou ele.
— O que tem a sua vó, filho? — especulou Lucinda enquanto servia o leite.
Meio irritado, ele mordeu o pão, deu uma golada no leite e respondeu:
— Nada mãe! — ele se levantou — Estou com pressa. Depois nos falamos.
Lucinda não conseguiu entender a pressa dele e, segurando o bule de café, afirmou:
— Ele está estranho hoje!
Ela toma o café da manhã sozinha e Augusto vai trabalhar.
Devido à viagem de Carlos, Augusto ficou responsável pela loja sozinho. Como de costume,
ele estava atendendo os clientes por e-mail, quando o telefone tocou, era o gerente.
— Augusto, tem uma cliente querendo falar com o dono da loja.
O rapaz achou estranho a solicitação e indagou:
— O que seria?
— Então, ela afirma que comprou um par de sapatos aqui e, ao usar pela segunda vez, os
sapatos descolaram. Eu tentei explicar para ela, senhor…
— Estou descendo, pede para a cliente esperar.
Augusto desligou o telefone e quando desceu até a loja, o gerente já o esperava no corredor.
Ele analisou o par de sapatos e disse:
— Os sapatos não são nossos! Achei estranho a reclamação dela, pois nunca tivemos
problemas desse tipo — ele examina o salto do sapato — como isso pode acontecer, não custa
nada olhar.
O gerente, olhando para os sapatos, informou:
— Ela não me deu tempo para explicar e já queria conversar com o dono.
Augusto colocou o par de sapatos dentro da caixa e disse:
— Em casos como este, é bom chamar meu pai ou eu — ele caminha para a sala ao lado —
para não constranger a cliente, acompanhe-a na sala de atendimento ao cliente, estou indo para
lá.
Augusto foi para a sala e colocou o par de sapatos em cima da mesa. Enquanto o gerente
trazia a cliente, ele ficou de costas para a porta, olhando pela janela para a vista da cidade.
Quando a porta se abriu, o gerente entrou primeiro, a cliente entrou logo atrás. Augusto virou-se
para cumprimentar a mulher e, ao ver quem era, ficou surpreso.
— Você?
Ela também ficou surpresa, pois não tinha ideia de que ele era o dono da loja. Julissa fez cara
de paisagem e, com uma voz mansa, disse:
— Até o par de sapatos é o reflexo do dono!
Augusto ficou furioso, mas se conteve na frente do seu funcionário. Este, sem entender o que
estava acontecendo, perguntou:
— Vocês se conhecem?
A mulher, rindo com ironia, respondeu:
— Parece que sim!
Augusto, tentando esconder sua ira, olhou para os sapatos e, mostrando-os para ela, informou:
— Vamos ao que é importante, moça.
Ela sentou-se na cadeira e respondeu educadamente:
— Por favor! Eu não tenho o dia todo.
Augusto mostrou o par de sapatos.
— Não trabalhamos com essa marca, ou seja, os sapatos não são daqui — disse ele de forma
muito clara.
Ela não concordou com a informação, levantou-se, pegou a nota fiscal na bolsa e afirmou:
— Como não? Aqui está a nota.
Augusto pegou a nota, leu-a e, em seguida, devolveu-a. A moça segurou a nota e, com um
tom áspero na voz, ele retrucou:
— Leia com atenção o nome da loja, por favor.
Ela leu:
— Manoel Calçados…
O gerente riu.
Augusto queria pagar com a mesma moeda o constrangimento que passou no dia anterior,
porém não queria fazer isso na frente do seu funcionário para não dar um mau exemplo. Então,
olhou para o gerente e solicitou:
— Lauro, por gentileza, informe à moça qual é o nome da nossa loja.
O gerente sorriu e respondeu:
— Kemuel calçados, senhorita.
Julissa ficou envergonhada, ela queria enfiar a cabeça em algum buraco, para amenizar a
situação, ela disfarçou, pegou os sapatos e colocou a mão na cabeça.
— Nossa, que cabeça! Me confundi com o nome na entrada. Peço desculpas pelo
constrangimento.
Augusto ficou com pena dela, no entanto, não deu o braço a torcer e, para provocá-la,
comentou:
— Coloque sua cabeça no lugar, senhorita!
Depois ergueu a cabeça e com ar de deboche saiu da sala, deixando-a sozinha com o gerente.
— Sem problemas, acontece! — respondeu o gerente enquanto a acompanhava até a saída.
Ao sair da loja, Julissa olhou a nota novamente e conferiu o nome da loja no lado de fora.
Envergonhada, sussurrou:
— Onde eu estava com a cabeça? Entrei na loja errada e ainda paguei mico na frente daquele
carnal. Além disso, ele ficou debochando de mim.
Mais tarde, o trânsito estava caótico, era horário de pico, Augusto estava retornando para casa,
enquanto esperava pacientemente, ele pensava em Julissa: “Fiquei com pena dela, mas ela
precisa prestar mais atenção.” O celular tocou, era notificação de mensagens. O rapaz apenas
olhou para o aparelho. Como o trânsito voltou ao normal, ele acelerou. Quando chegou em casa,
não viu sua mãe, então, foi direto para o quarto e pegando o celular no bolso da calça, entrou no
aplicativo de mensagens. Havia várias mensagens de seus pais e Julissa. Ele preferiu ler a
mensagem da moça primeiro.
“Desculpe-me pelo constrangimento de hoje,
mas você poderia ter sido mais discreto.
Me deixou ainda mais desconfortável.
Está vendo porque você é carnal?”
Augusto ficou irritado e jogou de leve o celular na cama.
— Carnal, carnal, carnal… — ele bufou — ela vai na loja errada e eu sou o carnal? Era só o
que me faltava.
Minutos depois, Augusto leu a mensagem de seus pais e, após respondê-los, leu novamente a
mensagem de Julissa, e tentou enviar uma mensagem para ela.
“Julissa…
— Ela me bloqueou no WhatsApp? Que mulher…
Ele foi para a cozinha e os pais chegaram em casa.
— Boa noite, pai! Como foi a viagem?
— Foi bem, filho. Tenho muitas novidades, depois falamos sobre o assunto, estou cansado.
Vou tomar uma ducha, jantar e dormir.
Lucinda abriu a sacola que recebeu do esposo e mostrou-a ao filho.
— Veja, Augustin, seu pai me trouxe chocolates da Bélgica.
Augusto olhou para a sacola e falou num tom de brincadeira:
— Uhuuu, homem romântico!
Os pais riram.
— Vou tomar um banho, estou só o pó — disse Carlos deixando as malas na sala e indo para
o quarto.
Lucinda foi à cozinha para preparar o jantar e Augusto, encostado na porta, comia uma
banana.
— Você vai ao evento com as mulheres no sábado, filho? — especulou a mãe enquanto
lavava a alface.
Ele jogou a casca da banana no lixo e, direcionando-se aos chocolates que estavam na mesa,
respondeu:
— Não! Terá ensaio da banda, mãe.
Ele desembrulhou o bombom e dando a primeira mordida, comentou:
— Estes bombons são deliciosos! Hum!
Sua mãe virou-se para ele.
— Seu pai é um homem romântico. Ele sabe que amo chocolates.
Saboreando o bombom, Augusto teve uma ideia. Ele procurou seu celular nos bolsos da calça
e se lembrou de ter deixado-o carregando no quarto. Ansioso, foi até lá, tirou o celular e deixou
apenas o carregador conectado na tomada. Ele sentou-se na cama e enviou uma mensagem para
Nicollas.
“Paz, Nico.
Tudo bem?
Que número sua irmã calça?”
Nicollas viu a mensagem e reagiu com o emoji dos olhos arregalados, depois respondeu:
“Paz, companheiro.
Tudo e você?
Ela calça 36.”
Augusto ficou alegre ao descobrir o número que Julissa calçava. Ele escreve:
“Estou bem também.
Obrigado!”
Nicollas reagiu à mensagem com emoji de joinha e escreveu:
“Estamos juntos!
Até!”
No dia seguinte, Augusto olhou nas vitrines da loja e perguntou para o gerente:
— Qual é o sapato feminino mais vendido?
O gerente apresentou um sapato scarpin boneca cor-de-rosa com brilho. Augusto gostou do
modelo e pediu o número 36. Depois, ele mesmo embrulhou para presente e levou para igreja.
Ao final do culto, chamou Nicollas discretamente, e pediu para ele entregar o presente para
Julissa. Nicollas esperou chegar em casa para entregar o presente para a irmã, mas acabou
esquecendo. Quando os pais estavam na cozinha, o jovem lembrou-se do presente e foi até o
quarto da irmã. Ele bateu à porta e ela abriu:
— Oi, Nico!
Ele entregou o presente.
— Toma, para você! Um presente do Augusto.
Ela pegou o presente, fez uma expressão de indiferença e respondeu:
— Ele não aprende! Como fui à loja dele por engano, provavelmente ele acha que fui atrás
dele. Que ridículo!
Nicollas virou as costas.
— Vocês que se entendam. Minha missão era só entregar o presente — ele levantou os braços
— missão cumprida!
Em seu quarto, Augusto comemorava:
— Ah, ela vai amar aquele sapato! — ele olhava para o celular, aguardando uma mensagem
dela — é o sapato feminino mais pedido na loja.
Passaram-se as horas e Julissa não mandou nenhuma mensagem. Ele continuava esperando,
ansioso. Mas, cansado, decidiu dormir. Enquanto pegava no sono, pensou: “ Ela não me enviou
uma mensagem. Quem sabe conversará comigo no culto.”
De manhã, Augusto acordou antes do despertador tocar, com um ar de felicidade, ele se
arrumou e foi direto para o trabalho. O jovem apaixonado subia os degraus cantarolando, ao
adentrar o escritório, seu sorriso murchou, pois o presente que havia dado para Julissa estava em
cima da mesa. Pegou o presente e o olhou atentamente. Descontente, ele murmurou:
— Ela nem sequer abriu o presente.
O rapaz abriu o presente, jogou a embalagem no lixo, desceu até a vitrine e, ao encontrar o
gerente, entregou-lhe o par de sapatos.
— Coloca na vitrine, por favor.
O gerente pegou o par de sapatos e viu o número na caixa. Ele foi até a cliente que estava
atendendo e mostrou-lhes os sapatos. A cliente ficou encantada, provou, gostou e comprou.
No escritório, Augusto estava sentado e digitando no computador. Desapontado com Julissa,
pensou: “Ela não me quer, não quer meus presentes. Essa moça não é fácil mesmo.” As
palavras dela sussurraram novamente em seus ouvidos: “Como posso me envolver com um
homem que não é fiel ao meu Senhor ? Se ele falha na comunhão com Deus, também falhará na
comunhão com sua mulher. Aceite, você é um carnalzão.” Ele apoiou os braços na mesa e
cruzando as mãos, suspirou.
— Não consigo desistir dela. Por quê? Ela já deixou claro que não me quer, porque não oro e
nem leio a Bíblia…
Ele fez uma pausa nos seus questionamentos e refletiu na sua situação atual. Quando
compreendeu o que deveria fazer, disse:
— É isso!
Imediatamente, ele levantou-se e foi até a estante de livros, pegou a Bíblia e, após folheá-la,
afirmou:
— A partir de hoje, serei diferente, vou mostrar para ela que eu não sou carnal.
Ele ergueu a Bíblia para o alto e se comprometeu a estudá-la a partir daquele momento.
Repentinamente, uma luz brilhante surgiu rapidamente e desapareceu daquele Magnífico Livro.
— Oxe! Tive a impressão de ter visto uma luz raiar!
Augusto ficou abrindo e fechando a Bíblia para ver se a luz aparecia. Como a luz não
aparecia, ele levou a Bíblia para casa.
Augusto chegou em casa segurando a garrafa d’água e a Bíblia, ele foi direto para a cozinha e
encontrou sua mãe limpando a mesa.
— Cheguei, mãe.
Lucinda jogou o pano dentro da pia e lavando a mão, virou-se.
— Oi, filho!
— Que cheiro de vinagre! — disse o rapaz, fungando o nariz.
Lucinda secou as mãos no pano de prato e explicou:
— Eu fui temperar o frango com vinagre, a tampa do frasco soltou, então derramou vinagre na
mesa. O cheiro está forte?
— Hum… sim! — respondeu ele colocando a garrafa na pia.
A mãe abriu a geladeira e, pegando os tomates, respondeu:
— Quando eu terminar de preparar o jantar eu passo um pano com álcool perfumado.
O jovem estava saindo e comentou:
— Vou estudar teologia, mãe. O que acha?
— Isso é ótimo, filho. Música e teologia, que excelente combinação! — afirmou a mulher
enquanto picava os tomates na tábua de carne.
Ele sorriu.
— Vou perguntar ao pastor qual é a melhor escola para estudar teologia.
No quarto, sentado na cama, ele estava conversando com o pastor pelo celular.
Pastor: Que benção, filho!
Augusto: Que escola o senhor indica?
Pastor: Filho, você esqueceu que a nossa igreja oferece um excelente curso de Teologia com
duração de três anos.
Augusto: É verdade, pastor! Quando começam as inscrições.
Pastor: Vou te enviar o contato pelo WhatsApp. Agora eles não atendem, só amanhã. Mas
pelo WhatsApp mesmo você faz sua inscrição. Vou adiantar sua carta de recomendação.
Augusto: Obrigado, pastor.
Pastor: Amém, filho. Que essa nova etapa seja uma bênção para você e para a igreja.
Augusto: Será, pastor. Obrigado!
Pastor: Vamos nos falando. Vou enviar o contato. Paz!
Augusto: Certo. Paz!
Ele desligou o celular e pegou a Bíblia. Depois abriu o caderno e se preparou para fazer as
anotações. Pensativo, perguntou:
— Hum… o que vou anotar no caderno?
Augusto folheou o caderno e, voltando à primeira folha, pegou o celular e pesquisou no
YouTube: “Como estudar a Bíblia”. Ele assistiu aos vídeos e anotou as informações que
considerou relevantes. Seguindo as informações anotadas, o mancebo iniciou a leitura bíblica.
Ele desejava ler toda a Bíblia e começou pelo Novo Testamento. No segundo dia de leitura,
decidiu fazer o devocional; mas sentiu falta de alguma coisa.
— O que será? — questionou o rapaz, andando para lá e para cá no quarto.
Sentou-se à escrivaninha e, ao ler o caderno de anotações, lembrou-se do que faltava.
— Oração! — exclamou ele, fechando o caderno — nos vídeos, eles falaram sobre a
importância da oração.
Augusto se ajeita na cadeira, pega o mouse, clica no Google e digita no teclado do
computador: “Como devo orar?” Ele foi clicando, lendo as informações e anotando. Depois
reclamou:
— Augusto, você não sabe nem mesmo orar. Que vergonha! Julissa está certa. Sou um
carnalzão. Um crente que não ora e não lê a Bíblia é, de fato, um carnal — ele sentia remorso —
eu nunca prestei atenção na pregação, nem frequentei as aulas da Escola Bíblica, a não ser
quando era criança.
O rapaz sentia vergonha de si mesmo e com uma profunda tristeza no coração, ajoelhou-se ao
lado da cama e chorou:
— Perdoe-me, meu Deus, fracassei como cristão. Sou um homem carnal. Sinto vergonha de
mim mesmo. Perdoe-me, por favor. A partir de hoje será diferente, ajude-me a ser um
verdadeiro cristão, por favor.
Ele chorou arrependido e, logo depois, levantou-se e deitou-se na cama; mas não conseguia
dormir e passou a noite em claro, refletindo sobre sua identidade cristã.
Na manhã de sábado, quando o alarme do celular tocou, ele levantou-se, orou, leu a Bíblia,
fez o devocional e se sentiu melhor. Em seguida, tomou um banho e seguiu sua rotina.
Após regressar do trabalho, mesmo com sono, Augusto participou do evento com a juventude.
O pregador convidado ficou doente e Julissa pregou no seu lugar. Durante a ministração, ela
pronunciou:
“As pessoas dizem ser cristãs, mas não abrem a sua Bíblia para ouvir a voz de Deus. Quantos
estão em nosso meio e nem sequer falam com Deus.”
Augusto estava sentado na primeira fileira. Ele sabia que Julissa estava jogando uma indireta
para ele. Inusitadamente, o rapaz levantou a mão e exclamou:
— Fala, Senhor. Pode me corrigir!
Julissa o fitou fixamente e, para não se distrair e perder o raciocínio, ela leu novamente o
versículo que pregava. Enquanto isso, algumas pessoas olhavam para o jovem e, achando
engraçado o que ele disse, riram.
O evento foi encerrado, Augusto saiu e seguiu em direção ao seu carro. Ao se desviar de um
grupo de jovens, ele se deparou com Julissa, que fingiu não tê-lo visto e desviou-se para o outro
lado. O jovem aproveitou a ocasião e, audaciosamente, chamou-a:
— Julissa!
Ela fingiu não ouvir e continuou caminhando. O jovem sorriu e bradou para que todos os que
estavam ao seu redor ouvissem.
— Julissa, a ministração foi uma bênção! Deus continue te usando!
Ela não tinha certeza se ele estava sendo sincero ou irônico; mas parou e, virando-se,
respondeu com um ar muito sério:
— Amém!
Com um sorriso sincero, ele encarou-a por alguns segundos. Julissa virou-se novamente e se
uniu ao outro grupo de jovens que estava em frente da igreja.
Augusto foi para o carro e, quando estava colocando o cinto de segurança, ouviu alguém o
chamando, era Nicollas. O tecladita se aproximou e fez um convite:
— Amanhã não haverá atividades na igreja pela manhã, vamos jogar futebol?
Augusto colocou as mãos no volante e pensando, disse:
— Amanhã? Amanhã? Lembrei! Eu estou estudando a Bíblia… quero dizer…
Ele tentou se justificar porque não queria que ninguém soubesse, entretanto, Nicollas o
interrompeu e, sorrindo, disse-lhe palavras de apoio.
— Eu entendi. Isso aí, não desiste da minha irmã. Você será um bom cunhado.
— Han? Não é por ela… — disfarçou Augusto.
— Vamos nos falando. Até! — despede-se Nicollas e sai.
— Até!
Augusto também sai.
Chegou a segunda-feira, Augusto estava ansioso para estudar teologia. Sua inscrição foi feita
com sucesso, sua primeira aula começaria às 20h. Ele foi direto do trabalho para o curso. O rapaz
estacionou o carro em frente à escola, pegou a mochila e foi para a sala. Ao entrar na sala, para
sua surpresa, encontrou Julissa. Ele pensou: “Nossa! Ela está aqui?” A moça estava sentada na
primeira fileira conversando com Rebeca, regente da juventude, e também congregava com eles.
Quando Augusto passou por elas, Julissa olhou para ele e também ficou admirada. Augusto
passou um olhar surpreso pelas moças e, com um semblante sério, apenas as cumprimentou.
— Paz, irmãs!
Julissa abaixou a cabeça e Rebeca respondeu:
— Paz!
E sentou-se no canto, próximo à janela. Julissa levantou-se, se aproximou dele e disse
discretamente:
— Meu irmão te contou que eu estaria estudando aqui e, por isso, você resolveu fingir estudar
para me seguir?
A pergunta de Julissa foi como uma flecha afiada que perfurou o coração do rapaz. Ah, ele
sentiu a dor. Após encará-la por alguns segundos, ele abaixou a cabeça e disse calmamente:
— Irmã, seu irmão não me disse nada. Não o envolva, por favor.
Ela franziu a sobrancelha e cruzando os braços, protestou:
— Vamos fingir que não nos conhecemos — e fala rispidamente — não tente me
impressionar, irmão.
Augusto sentia que a flecha afiada (palavras de Julissa) perfurava mais seu coração. A dor era
intensa. Ele levantou a cabeça, com um semblante triste, olhou nos olhos dela e confirmou
duramente:
— Seu pedido será atendido, irmã!
A moça, satisfeita com a resposta, retornou para seu lugar. O professor entrou na sala e
começou a aula. Quando o professor fez uma pausa, Rebeca cochichou, sorrindo.
— O Augusto é tão bonito, né?
Julissa levantou as sobrancelhas e comentou:
— Beleza não é tudo.
Rebeca argumentou, enquanto folheava o livro.
— Você tem razão, mas ele é um homem trabalhador e amável. As meninas da igreja ficam
disputando quem será que vai se casar com ele. Como o Augusto é reservado e tímido, então ele
não dá corda para elas.
Julissa revirou os olhos e suas expressões faciais, deixavam claro que essas informações sobre
Augusto não eram interessantes para ela, no entanto, Rebeca insistia:
— Acredita que ele preferiu ficar em casa estudando a Bíblia ao invés de jogar futebol com os
meninos?
Julissa arregalou os olhos e fazendo cara de deboche, perguntou:
— O Augusto estudando a Bíblia?
Rebeca virou-se para ela e, sorrindo, confirmou:
— Sim! Meu irmão foi jogar futebol e quando perguntou sobre o Augusto, seu irmão disse
que ele estava estudando a Bíblia.
Julissa abaixou a cabeça e ficou pensativa.
O professor se aproximou da lousa e, apontando com o apagador para o texto, especulou:
— Todos copiaram? Posso apagar?
Rebeca encostou a boca no ouvido de Julissa e sussurrou:
— Ele também é espiritual.
Julissa arregalou os olhos e piscou várias vezes e nada disse.
Augusto estava no seu canto, olhando pela janela. O jovem estava triste com a atitude de
Julissa, mas, por outro lado, estava feliz em estudar Teologia. Depois da última conversa com a
moça, para não criar mais expectativas sobre os seus sentimentos por ela, ele decidiu esquecê-la
e se concentrar nos estudos.
As aulas do curso eram ministradas três vezes por semana, o que significava que os alunos só
podiam comparecer aos cultos nas quintas-feiras, sábados e domingos. Augusto fazia o possível
para não faltar às aulas e aos cultos. Ele também mantinha sua rotina de oração, leitura bíblica e
devocional.
O outono se foi e o inverno chegou. O rapaz estava em casa, sentado à mesa estudando, ele
tomava café quente para se aquecer. Augusto estudava a Bíblia e quando surgiam algumas
dúvidas, com a testa franzida, ele pensava e pesquisava. Para facilitar os estudos, o jovem
perguntou aos amigos do curso no grupo do WhatsApp.
“Paz, pessoal!
Podem me ajudar, por favor?
Como eu posso compreender
melhor os textos bíblicos?”
Minutos depois, alguém respondeu:
“Compra Comentários Bíblicos”
Outro aluno respondeu:
“Dicionário Bíblico também ajuda.”
Em seguida, mandaram as fotos. Augusto anotou as informações e pensou: “Amanhã, após o
trabalho, vou à livraria cristã da cidade para comprar esses materiais.” Ele escreveu:
“Obrigado, amigos!”
Augusto fechou a Bíblia e o caderno, seguidamente, guardou as canetas no estojo e os deixou
em cima da escrivaninha. Pegou a xícara e tomou o restante do café. Depois, foi à cozinha, lavou
a xícara e voltou para o quarto. Escovou os dentes, orou e dormiu.
De acordo com o que havia planejado, terminado o expediente, ele foi à livraria cristã,
conferiu as fotos dos materiais no celular e os procurou nas prateleiras. Augusto encontrou os
materiais e os colocou no cesto. Logo, seguiu pelo corredor, olhando os outros livros nas
prateleiras. Sem querer, esbarrou numa mulher e derrubou o cesto vazio dela no chão. Ele virou-
se para se desculpar e pegar o cesto.
— Descu… você? — disse ele, abismado ao ver Julissa.
Ela se abaixou e pegou o cesto. Sem se pronunciar, a moça saiu apressadamente.
— Paz, né irmã? — resmungou ele, enquanto a olhava mudando de corredor.
O rapaz foi ao caixa, pagou o material, depois desceu ao estacionamento, entrou no carro e
colocou as sacolas no banco de trás. E quando liga o carro, vê Julissa passando. Ele fitou os
olhos nela. A jovem deu sinal para o ônibus que estava passando, o ônibus parou e ela entrou.
— Mulher linda, meu Deus! — ele coloca as mãos na cabeça — tenho que esquecê-la. É a
mulher mais difícil que eu já conheci em toda a minha vida — ele pega no volante — apesar
disso, ainda continuo gostando dela — dá marcha à ré — o homem que casar com ela, será um
campeão.
Chegando em casa, ele entrou apressadamente, deixou o material no quarto, pegou a guitarra e
foi à igreja.
Durante o culto, o pastor João fez um convite especial para os membros da igreja:
— Irmãos, sábado haverá um culto de gratidão na minha casa. Vou comemorar o meu
aniversário e gostaria de compartilhar este momento especial com vocês. Conto com a
participação de todos.
Após a bênção apostólica, Augusto saiu da igreja quando o pastor o chamou.
— Dá para tocar sábado, meu filho?
— No seu aniversário, pastor? — especulou o rapaz, sorrindo.
— Isso! — confirmou o pastor tocando nas costas dele.
— Dá, sim. Será um prazer! — respondeu o músico abraçando o pastor.
Minutos depois, Lucinda se aproximou deles:
— Filho, me leva para casa. Seu pai está com o meu carro porque o carro dele está na oficina.
Ele me trouxe, então preciso voltar para casa.
— Vão lá, vejo vocês no sábado — disse o pastor indo em direção aos pais de Julissa.
No caminho para casa, Lucinda comentou:
— O que você acha daquela moça, a Julissa? Ela é tão bonita.
Augusto olhou de rabo de olho para a mãe e, logo em seguida, diz:
— Sem comentários, mamãe.
Ela abriu a bolsa, pegou uma bala, tirou da embalagem e colocando-a na boca, insistiu:
— Ah, filho! Como não comentar, aquela moça é linda demais, além disso, ela tem um título,
é missionária.
“Lá vem ela!” — pensou ele.
Eles chegaram em casa. Lucinda desceu do carro, fechou a porta e insistiu no assunto.
— Você deveria pensar mais sobre ela, quem sabe aquela moça não pode ser minha nora.
Augusto ignorou o que ela disse, fechou a porta do carro, colocou as chaves no bolso e
acelerou os passos.
— Estou com fome, mamãe! Vou pedir uma pizza.
Ela seguiu atrás dele e reclamou:
— Não mude de assunto, Agustin.
Ele virou-se para ela, com o semblante sério, apelou:
— Mamãe, não vamos mais falar sobre isso, por favor.
Ela arregalou os olhos e sussurrou para si mesma:
— Que rapaz estranho!
Apressadamente, ele foi para o quarto.
Uma hora depois, a pizza chegou, ele colocou duas fatias no prato e sentou-se à mesa com os
pais. Carlos colocou o refrigerante no copo e comentou:
— Essa pizza é a melhor da região. Esta borda de Catupiry é fantástica.
Augusto colocou ketchup na primeira fatia de pizza, deu uma mordida, enquanto mastigava,
respondeu:
— Já comi melhores.
Lucinda cutucou Carlos com o cotovelo e levando a pizza à boca, opinou:
— Podíamos chamar a família dos missionários para comer pizza aqui conosco.
Carlos lambia os dedos e olhava para Augusto para ver a reação dele. Como Augusto
conhecia seus pais, entrou na brincadeira.
— É verdade! Quer que eu mande uma mensagem para o Nicollas para saber se eles estão
disponíveis agora. Se estiverem, peço mais três pizzas.
Lucinda sabia que Augusto não estava falando sério. Ela olhou para o marido e, limpando a
mão com o guardanapo de papel, respondeu:
— Não, menino! Outro dia, agora está tarde.
O jovem olhou a hora no relógio de parede e respondeu ironicamente:
— Dez horas. Está cedo, mamãe.
Ela colocou três cubos de gelo no copo e após colocar o refrigerante, encarou o filho.
— Deixemos para o fim de semana. Eu mesma faço o convite.
O rapaz levantou-se e, pegando o prato com uma fatia de pizza, comentou:
— Vou terminar de comer no quarto. Vou aproveitar para assistir um vídeo que o professor
enviou para fazermos uma redação. Com licença, bom apetite!
E saiu.
Lucinda estava insatisfeita e comentou com Carlos.
— Ele age estranho quando falo da Julissa.
Carlos levantou-se também e, colocando o prato e o copo na pia, respondeu:
— Deixe o rapaz, querida. Ele sabe fazer suas escolhas.
Lucinda se calou e continuou comendo sua pizza, entretanto, estava inconformada com o
comportamento do filho em relação à jovem missionária.
O tão esperado aniversário do pastor chegou, a maioria dos membros estava presente.
Augusto estava tocando violão e cantando com o pessoal e Julissa estava sentada com os pais no
sofá da sala. Logo depois do discurso do pastor, os convidados foram servidos.
Augusto deixou o violão no canto da sala e foi conversar com os jovens que estavam perto da
porta de entrada. Ele olhou para o lado e viu Julissa sentada, ela estava conversando com a
esposa do pastor. O músico ficou encarando-a por alguns minutos. Ela percebeu que ele estava
olhando, mas, apressuradamente, ele disfarçou olhando para outra direção.
Nicollas estava em pé atrás dela conversando com o baixista e o baterista, então Augusto foi
até eles. Ele passou por Julissa e fingiu não vê-la. Julissa vendo-o passar, virou o rosto e também
fingiu não vê-lo.
Lucinda estava de olho neles e pensava em uma maneira de uni-los. Ela se aproximou de Ana
e se sentou ao lado dela no sofá.
— Ana, querida, olha eu aqui novamente — com uma cara de quem quer alguma coisa.
Ana sorriu e comentou:
— A festa está boa, né?
Lucinda pegou o suco de maçã que o pastor estava servindo na bandeja, deu um gole e
respondeu:
— Verdade! É tão bom quando o povo de Deus se une.
Ana mordeu a fatia da torta e colocou a mão na boca cheia para falar:
— Sim — e apontou para a torta — muito bom.
Lucinda aproveitou a ocasião.
— Falando em comunhão, queremos convidar sua família para comer pizza em casa. Vocês
aceitam?
Ana abocanhou o último pedaço da torta e, limpando a boca com os dedos, confirmou:
— Será um prazer, vou falar com meu marido e as crianças.
Lucinda pegou o celular na bolsa.
— Certo! Me passa seu contato e vamos nos falando.
Ela passou o contato dela e ficaram conversando.
Augusto também estava de olho em Lucinda. Ele meditou: “Minha mãe quer me envergonhar
na frente dos pais de Julissa. Já não basta o fora dela na frente do irmão?”
— Hora de cortar o bolo! — exclamou a esposa do pastor.
A irmandade cantou parabéns para o pastor, em seguida, ele cortou o bolo e deu o primeiro
pedaço para sua esposa. Pouco tempo depois, as pessoas foram embora e ficaram na casa do
pastor: Julissa, Pedro, Ana, Augusto e Lucinda. Eles ajudavam o pastor a limpar a casa. Augusto
não trocava uma palavra com a moça. Com receio de que ela o envergonhasse, preferiu lavar
louça com Mirna, a esposa do pastor.
Mirna foi levar o lixo da cozinha no galpão e Augusto ficou lavando a louça sozinho.
— Onde estão as sacolas de lixo? — questionou Julissa, entrando na cozinha, sem se dar
conta de que Augusto estava sozinho.
Ao ouvir a voz dela, o rapaz não respondeu e continuou lavando as louças. A moça
olhou para os lados e, percebendo que ele estava sozinho, interrogou:
— Você não vai me responder?
Ele colocou o prato lavado no escorredor e virou-se para ela.
— Ah, você está falando comigo? — depois pegou os talheres para lavar.
Ela se aproximou e observando-o esfregar os talheres com a esponja cheia de espuma do
detergente, comentou:
— Não sabia que você sabia lavar louça.
Augusto começou a sentir calor e novamente seu coração acelerou, a frequência da respiração
ficou mais forte. Sem saber como agir diante dela, o rapaz sorriu apertando os lábios. A presença
dela mexeu com suas emoções, deixando-o atrapalhado. Parecia que os talheres iam cair de suas
mãos, então ele colocou a esponja ao lado, abriu a torneira para lavá-los e para não deixá-la
falando sozinha, sussurrou:
— Pois é, nem eu sabia!
Lucinda foi à cozinha e, quando viu Julissa perto de Augusto, entrou na conversa.
— Ah, ele lava a louça em casa também, inclusive, limpa o próprio quarto.
Augusto ficou vermelho e Julissa fixou os olhos nele por um momento. Depois olhou para
Lucinda e comentou sorrindo:
— Que bom, pelo menos a senhora fica mais tranquila com as tarefas de casa.
Lucinda aproveitou a oportunidade e, sorrindo com os olhos, confessou:
— Estou preparando meu filho para casar. Um homem que não ajuda a esposa não é
companheiro, não é? — depois riu escandalosamente.
Augusto balançou a cabeça e sentindo-se desconfortável, olhou torto para sua mãe, mas ela
não se importou e continuou rindo. O rapaz continuava sério e, querendo sair dali depressa, lavou
a louça com rapidez, depois se aproximou da mesa. Julissa e Lucinda ficaram olhando. Ele secou
a mão no avental, retirou-o e o colocou na mesa.
— Terminei! Com licença! — e saiu ajeitando a camiseta.
Mirna retornou e viu a louça lavada no escorredor.
— Agustin já lavou a louça? Menino prendado!
Para chamar a atenção de Julissa, Lucinda encheu a boca para falar do filho.
— Não é Mi? Meu filho é um homem trabalhador.
Mirna entendeu a intenção de Lucinda e confirmou:
— Sim, feliz será a mulher que casar com ele.
Julissa sabia que eram indiretas para ela, então mudou de assunto.
— Preciso de sacos para colocar o lixo. Onde posso encontrar?
Mirna abriu a gaveta do armário da pia e, ao pegar a sacola, entregou-a para Julissa.
— Se precisar de mais, pode pegar aqui.
— Certo, obrigada! — responde Julissa ao pegar a sacola.
Ela abriu o saco e saiu.
Lucida sentou-se à mesa.
— Que meu filho se case com essa moça — e apoiou os braços sobre a mesa — ela é tão
linda e feminina.
Mirna limpava a mesa com um pano, e passando o rabo de olho em Lucinda, disse:
— Deixem os jovens se decidirem, mulher!
Lucinda deu risada e levantou os braços para Mirna terminar de limpar a mesa.
Augusto estava ajudando o pastor a limpar a calçada e quando João viu Julissa juntar o lixo
perto da sacada, especulou:
— Você encontrou a moça que estava procurando?
Augusto parou de varrer e olhou desconfiado para o pastor.
— Por que essa pergunta de repente?
O pastor sorriu e, amarrando o saco cheio de lixo, respondeu:
— Ué, como você não me disse mais nada.
Augusto bufou, pegou a vassoura e levando-a para dentro, protestou:
— Estou indo, pastor.
João, estranhando o comportamento do rapaz, resmungou:
— Só porque falei de moça, ele quer ir embora. Antes ficava todo animado falando dela,
agora, quer fugir.
O mancebo bufou novamente, parou e virando-se, contestou:
— Ficou no passado!
O pastor mudou o semblante e, levantando a sobrancelha, argumentou:
— Já? Cadê a perseverança, meu jovem?
Augusto deixou a vassoura encostada no muro.
— Estou indo… fui!
O pastor ficou observando o jovem sair, não entendendo o seu comportamento irritado,
cochichou:
— Ele já desistiu? Sem ao menos saber qual era o nome dela — ele abaixa para pegar o saco
de lixo — esses jovens de hoje.
— Quem já desistiu, pastor?— indagou Julissa se aproximando dele.
Eles foram à varanda e enquanto lavavam as mãos no tanque, João explicou:
— O que vou te contar é segredo — Julissa concordou, balançando a cabeça — no
acampamento de missões, enquanto o missionário testemunhava, Augusto viu uma mulher. Ele
ficou encantado, — Julissa arregalou os olhos — no entanto, quando atendeu ao pedido do
missionário para tocar, ele olhou novamente para o mesmo lugar que viu a moça, mas ela
desapareceu. Então, ansioso, foi procurá-la por todo o acampamento, porém não a encontrou. No
dia em que estávamos saindo de lá, — João secou as mãos na toalha que estava pendurada no
varal — ele não desistiu e procurou por ela até que não havia mais ninguém no acampamento.
O assunto deixou Julissa tímida, ela pegou a toalha da mão do pastor, secou as mãos e a
pendurou no varal. O pastor continuou narrando o que aconteceu no acampamento.
— Por causa disso, o pessoal da caravana ficou bravo com ele porque nossa caravana foi a
última a sair. Augusto estava entusiasmado para saber quem era aquela mulher. Ele tinha certeza
de que ela era o amor da sua vida e que se casaria com ela. O rapaz estava feliz e apaixonado.
João encostou-se no tanque e cruzou os braços.
— Minutos atrás, quando perguntei para ele se já descobriu o nome dela, sabe o que ele me
disse?
Julissa sabia que ela era a mulher e, interessada no assunto, perguntou:
— O quê, pastor?
O pastor ficou sério e respondeu:
— Ele estava irritado e falou: isso ficou no passado.
Julissa sentiu seu coração palpitar e, repentinamente, uma tristeza invadiu seu coração. Ela
estava ficando vermelha. O pastor notou que ela estava ficando rosada.
— Ah, já sei! — afirmou ele.
— É que… — balbuciou Julissa.
— Ele agora está gostando de você e você também gosta dele.
— Han!? — Julissa ficou pasma — nada disso, pastor. Não gosto dele.
Ele olhou para a toalha que balançava no varal ao sopro do vento e opinou:
— Então, ele gosta de você?
Ela franziu a testa e negando com os olhos, murmurou:
— Melhor perguntar para ele, pastor.
Julissa virou as costas e saiu apressadamente.
— Estou indo, pastor. Deus abençoe!
O pastor ajeitou a toalha no varal e, sem entender, preocupado, especulou:
— Ai, ai! O que está acontecendo com esses jovens hoje?
Em sua casa, antes de dormir, Julissa escovava os dentes. Ela ficou pensando no que o pastor
disse. “Augusto estava entusiasmado para saber quem era aquela mulher. Ele tinha certeza de
que ela era o amor da sua vida e que se casaria com ela. O rapaz estava feliz e apaixonado.” O
coração dela estava doendo. A moça ficou se olhando no espelho e colocando a mão no coração,
refletiu: “Não posso ficar pensando nele só porque o pastor me revelou aquilo. Ele é um
músico, não quero me decepcionar novamente. Mas… por que estou triste?”
Sua mãe bate à porta, Julissa abriu:
— Julissa, amanhã vamos ter uma noite de pizza na casa da Lucinda.
Ela cuspiu a pasta no lavatório e especulou:
— Na casa do Augusto?
— Exatamente! — confirmou Ana, ajeitando o tapete na porta do banheiro.
A moça enxaguou a boca e pensou: “Espero que não hajam mais surpresas!”
Lucinda combinou com Ana e sua família que, após o culto, comeriam pizza em sua casa. No
entanto, ela não avisou Augusto porque temia que ele criasse uma desculpa para não participar.
E assim aconteceu, numa noite de sábado, conforme combinado, após o culto os convidados
foram para a casa de Lucinda. Sem saber de nada, Augusto permaneceu na igreja conversando
com os outros músicos. Ele estranhou a ausência de Nicollas, mas, como não viu a família dele,
imaginou que eles tivessem ido embora.
Minutos depois, o rapaz foi para casa. Ao abrir a porta, ele ouviu conversas e foi se
aproximando lentamente e cuidadosamente, para não fazer barulhos, a fim de descobrir quem
eram os convidados. Quando chegou perto da porta de vidro que separava a sala da cozinha,
puxou a cortina e espiou pela pequena brecha. Vendo quem eram os visitantes, pensou: “ Mamãe
não para! Por que o Nicollas não me disse que estariam aqui? Ah, eu mal falei com ele esses
dias.” Ele se virou e, pisando cautelosamente, foi para seu quarto. Julissa estava saindo do
banheiro quando o viu subir as escadas, mas não o chamou.
Enquanto estavam sentados à mesa, Lucinda olhou no relógio de parede e estranhou que
Augusto ainda não havia chegado. Ela comentou:
— Meu filho ainda não chegou, já devia estar aqui.
Julissa tomou um gole de suco e comentou:
— Quando estava saindo do banheiro, ele estava subindo, acho que indo para o quarto dele.
— Estou aqui! — disse Augusto sentando-se ao lado de Nicollas — olhando para todos,
cumprimenta-os — paz, irmãos!
Nicollas espetou a azeitona e levando-a com o garfo a meio caminho da boca, sorriu para
Augusto. Este, colocando duas fatias de pizzas no prato, opinou:
— Nico, aproveitando que você está aqui, vamos para o meu quarto? Preciso te mostrar uma
música nova.
— Opa! Vamos! — respondeu Nicollas levantando-se ligeiramente.
— Ótimo! — exclamou Augusto, enquanto pegava dois guardanapos de papel e colocava
ketchup nas duas fatias de pizza.
— Com licença — dizem eles e dirigem-se ao quarto.
Lucinda e Julissa ficaram olhando para os rapazes. Carlos, Pedro e Ana saboreavam a pizza
sem nenhuma preocupação.
No quarto, os jovens ouviam as músicas e Augusto tocava as canções no violão.
— O que achou? — especulou Augusto colocando o violão em cima da cama e pegando a
fatia de pizza no prato.
—Muito boa! Essa música fará parte do nosso repertório?
— Sim! — respondeu o rapaz comendo a fatia de pizza.
Nicollas reparou o quarto e comentou:
— Seu quarto é espaçoso, você é bem organizado. Minha irmã também é organizada. Se ela
souber que você é organizado, quem sabe ela te dá uma chance?
Limpando as mãos no guardanapo de papel, Augusto falou ironicamente:
— Sua irmã? Só um Milagre! Se ela não fosse cristã, eu diria que ela me odeia.
Nicollas riu.
— Nada, irmão. Ela sofreu muito no passado. Vou te contar, mas fica entre nós.
Augusto ficou interessado.
— Tranquilo, irmão. Ficará aqui.
Nicollas pegou o violão e dedilhando as cordas, respondeu:
— Há dois anos, minha irmã namorou um rapaz que era músico, um tecladista. Na igreja onde
congregávamos tinha uma orquestra, inclusive minha irmã tocava violino.
— Sério? Ela tocava violino na orquestra? — Augusto estava surpreso.
— Sim! Então, ela conheceu esse jovem que também tocava na orquestra. Eles namoraram
por mais de um ano e resolveram se casar. Julissa estava apaixonada por ele. O cara não gostava
de ler a Bíblia e fugia da oração — Augusto arregalou os olhos — o pior aconteceu quando
minha irmã descobriu que o seu noivo traiu-a com uma das irmãs que também tocava violino na
orquestra.
— Nossa! — Augusto ficou indignado.
— Isso acabou com minha irmã. Para completar, o infeliz ainda a difamou. Devido a isso, ela
ficou traumatizada e não quer se envolver com nenhum músico.
Augusto ficou triste por ela e disse:
— Que situação! ela sofreu bastante.
Nicollas colocou o violão ao lado, em cima da cama, e destacou:
— Parece que ela generalizou, afirmando que os músicos são carnais, mas ela bem sabe que
nem todos os músicos são carnais, independentemente do título, nem todos são espirituais. Tente
ver essas exigências dela como um incentivo para você melhorar como cristão — ele colocou a
mão no ombro dele — tenha paciência, se você a ama, não desista dela, irmão.
Augusto se lembrou de como estava evoluindo como cristão por causa de Julissa. Ele estava
satisfeito e disse:
— Seja o que Deus quiser!
O celular de Nicollas tocou, era sua mãe, ele atendeu.
— Estou descendo, mãe.
Ele desligou o celular e estendeu a mão para se despedir de Augusto.
— Estou indo, meus pais estão me esperando.
— Desço com você — sugeriu Augusto pegando o prato.
Pedro e Ana estavam na porta de entrada conversando com Carlos e Lucinda enquanto
esperavam por Nicollas. Julissa ficou esperando no portão. Augusto se despediu deles e Carlos
os levou até o portão.
Em seguida, Augusto deixou o prato na cozinha e foi para seu quarto, ao passo que subia a
escada, sua mãe reclamou:
— Augusto, meu filho, que descaso foi esse?
Augusto virou-se e descendo os degraus devagar, especulou:
— Descaso?
Ele levantou as sobrancelhas e a voz da mãe se alterou.
— Você saiu, deixou as visitas na cozinha e ainda levou Nicollas para o seu quarto. Que
deselegante!
Augusto respirou fundo e respondeu:
— Deselegante, mãe? A senhora convidou os missionários para a nossa casa porque quer me
jogar para cima da Julissa, e nem sequer me avisou que teríamos visitas.
— Porque achei que você não aceitaria. — interrompeu ela.
Carlos entrou e ficou olhando para eles discutindo.
— Não importa, mamãe. Isso não lhe dá o direito de ficar empurrando mulheres para mim. A
senhora deveria ter se preocupado, desde o meu nascimento, em fazer com que eu me tornasse
um homem de oração e um estudante da Palavra de Deus.
Ela se irritou ainda mais e, indignada, argumentou:
— Você foi consagrado na igreja desde criança. Seu pai e eu te levávamos em todos os cultos.
Esqueceu que você participava da Escola Bíblica Dominical, quando era criança?
Ele balançou a cabeça discordando e, olhando para os pais, respondeu:
— E a responsabilidade de pais vocês atribuíram ao pastor e ao Ministério Infantil? — os
olhos dele encheram-se de lágrimas — sabem o que eu me lembro? Quando eu era garoto, a
senhora me dava o celular para eu jogar e assistir desenhos durante o culto.
— Que ingrato! Era para você não ficar correndo dentro da igreja — explicou ela,
aproximando-se da escada.
Ele cruzou o braço e bufando indagou:
— A senhora achou que só me levando para a igreja era essencial?
Lucinda ficou sem palavras. Augusto continuou e aponta para seu corpo.
— Apenas meu corpo estava na igreja — ele aponta para a cabeça— porque minha mente e
atenção estavam no celular, mamãe!
Carlos aproximou-se de sua esposa. Ela perdeu a paciência e esbravejou:
— Como você é ingrato, menino! Você participava da Escola Bíblica todos os domingos de
manhã.
O rapaz estala a língua, demonstrando reprovação, e aponta:
— Escola Bíblica? Na Escola Bíblica, os professores só passavam desenhos para nós
pintarmos. O desenho que mais pintávamos era o de Jonas e a baleia — ele ri ironicamente —
depois de muito tempo, descobri que não era a baleia, mas sim um grande peixe.
Carlos abaixou a cabeça e Lucinda estava com fogo nos olhos. O jovem arrumou sua postura
e ajeitando a manga da blusa, disse:
— Sabem quando eu aprendi a orar sozinho e a ler a Bíblia? Agora, adulto. Quanto tempo
fiquei na igreja sem entender quem de fato era Deus?
— Meu filho, nós… — a mãe tentava se justificar.
Entretanto, Augusto não lhe dava abertura para falar.
— Tive a oportunidade de aprender alguma coisa porque nos mudamos para cá e, na igreja do
pastor João, tem palavra, mãe. Mas só compreendi como ter uma vida cristã que agrada a Deus
quando comecei a orar e ler a Bíblia. Querem saber quem me motivou a isso?
Ele fez uma pausa, abaixou a cabeça e confessou:
— Julissa!
O semblante de Lucinda mudou, no entanto, Carlos continuava do mesmo jeito. Até que uma
lágrima escorreu pelo rosto do rapaz e chamou a atenção do pai. Ele nunca havia visto o filho
chorar. Augusto passou a mão no rosto e secando a lágrima, confessou:
— Fui pedir Julissa em namoro…
Lucinda arregalou os olhos, ficou de boca aberta e olhou para o marido. O rapaz riu de leve e
encarou seus pais.
— Mas sabem o que ela me disse?
Ele fez silêncio e ficou observando a expressão de surpresa nos rostos dos pais. Depois
concluiu:
— Ela disse que não se envolveria com um carnal — ele ri.
Carlos abaixou a cabeça e Lucinda ficou decepcionada com Julissa.
Augusto mudou seu semblante e disse seriamente, gesticulando com as mãos.
— Ela tinha razão, pois eu não orava e não lia a Bíblia — sua voz triste se alterou — sabem o
que foi mais humilhante? Eu tive que pesquisar no YouTube como orar.
Lucinda não conseguia acreditar no que estava ouvindo, sua decepção com a moça lhe trouxe
arrependimento e, naquele momento, sentiu raiva de si mesma por ter tentando unir seu filho
com Julissa. E para confortá-lo, disse:
— Filho, não se preocupe, você é um bom filho, tem de tudo e, logo, encontrará…
Ele interrompeu-a e, suplicando com os olhos, expressou sua opinião:
— A senhora está achando que uma mulher cristã de verdade está preocupada com o dinheiro,
mamãe? Não que seja errado ser rico, mas uma verdadeira mulher cristã quer um homem cristão
ao seu lado, pois, se este homem for fiel a Deus, também será fiel a ela.
Ele se virou e continuou subindo a escada, mas Lucinda insiste em confortá-lo.
— Filho, não fique chateado com isso.
Ele parou no último degrau, se virou novamente e confessou:
— No começo, eu fiquei chateado com ela, no entanto, depois que acordei para a realidade,
fiquei chateado com vocês. Quando me aprofundei mais na Palavra de Deus, compreendi que
“eu” também sou responsável pela minha vida cristã. Então, perdoei a mim mesmo, perdoei
vocês e vamos seguir em frente.
Lucinda começou a chorar e não desistia de encorajá-lo.
— Agustin, você vai encontrar alguém…
Carlos tocou no ombro dela e acenou com a cabeça para que ela parasse de falar. O rapaz
ficou observando os pais e, colocando as mãos nos bolsos da calça, fez uma observação:
— O problema de muitos pais cristãos é que eles não assumem a responsabilidade de “pais
cristãos”, ou seja, não ensinam a Palavra de Deus aos filhos desde a infância e jogam a
responsabilidade nas costas da igreja.
O rapaz entrou no quarto e fechou a porta.
Lucinda abraça seu esposo e chorando, diz:
— Nosso filho, querido. Ele nunca nos falou assim.
Carlos confortando-a, respondeu:
— Calma, querida! — ele adocicou a voz e acrescentou — nosso filho tem razão e você…
causou isso.
A mulher olhou torto para o marido e não se conformou.
— Como assim? Eu causei isso?
Ele sentou-se no sofá e explicou:
— Sobre não ensinar a palavra de Deus para ele desde a infância, nós dois falhamos. Ficamos
tão ocupados com a empresa que não pensamos na vida espiritual do nosso filho. Você criou essa
situação porque não respeitou a decisão dele desde o início. E quando você foi se queixar, foi
apenas um gatilho para ele colocar para fora toda a sua frustração.
Lucinda sentou-se também no sofá e ficou refletindo. Carlos levantou-se, foi até a cozinha,
pegou um copo no armário para colocar água e, ao ligar o filtro, expressou:
— Augusto ficou chateado com a moça, mas caiu na real sobre a sua vida espiritual. Ele está
estudando teologia, se aprofundou no conhecimento bíblico e descobriu que também estamos
envolvidos nisso. Infelizmente, nós falhamos na educação cristã do nosso filho e, por isso, ele
passou por essa situação vergonhosa.
Lucinda se aproximou do marido, pegou um guardanapo de papel em cima da mesa e,
limpando as lágrimas, comentou:
— Vamos pedir perdão ao nosso filho, querido.
Carlos bebeu a água, colocou o copo vazio na mesa e respondeu:
— Vamos fazer isso amanhã. Você também deve se desculpar por se envolver na vida
sentimental dele. Lembre-se de que o nosso filho é um homem e não podemos escolher por ele,
especialmente no casamento. Uma coisa é aconselhamento, outra é escolher a esposa. Quem
viverá com a mulher é ele, portanto, deixe-o escolher.
Ela concordou e subiram para o quarto.
Pela manhã, eles estavam sentados à mesa esperando por Augusto. O jovem desceu para
tomar café e achou estranho ver o pai sentado à mesa, pois ele costuma sair mais cedo.
— Bom dia. Não foi mais cedo hoje, pai?
— Bom dia, filho. Hoje vou sair com você — respondeu Carlos cortando o pão francês.
— Certo — respondeu ele, sentando-se à mesa.
Carlos puxou o assunto.
— Nós queremos falar com você, filho!
O rapaz colocou café com leite na xícara, olhou para os pais, ressabiado, respondeu:
— Podem falar.
Carlos, olhando para a esposa e filho, diz:
— Sobre o que você disse ontem, você tem razão. Falhamos como pais cristãos. Ensinamos
você a ser um homem de respeito, trabalhador, mas esquecemos que você tem uma alma.
Queremos pedir perdão.
Augusto passou manteiga no pão e disse:
— Já os perdoei e me perdoem também por ter sido arisco ontem.
Carlos mordeu o pão e concordou:
— Tudo bem, filho!
Lucinda aproveitou o silêncio para se redimir.
— Filho, perdoe-me por tentar forçar o seu relacionamento com Julissa.
O jovem deu uma golada no café com leite, olhou para ela e respondeu?
— Tudo bem, mãe.
Eles tomaram café, meia hora depois, Carlos olhou a hora no relógio de pulso.
— Temos que ir, Agustin!
Eles se levantaram e foram trabalhar.
Lucinda encheu a xícara de café, pegou seu celular e ligou para o pastor João.
— Pastor, preciso conversar com o senhor, é urgente! O senhor e a Mirna podem almoçar em
minha casa hoje? Certo. Espero vocês aqui.
Ela desligou o celular, tomou o café e murmurou:
— O pastor precisa saber.
Em seguida, a mulher levantou-se, colocou a xícara de café na mesa e, ao mesmo tempo em
que tomava o café, lavava a louça.
João e Mirna chegaram à casa de Lucinda e apertaram a campainha. Lucinda abriu a porta.
— Que bom que vocês chegaram! — disse ela, com um ar de empolgação.
Eles entraram, sentaram-se à mesa, almoçaram e, logo após a sobremesa, Lucinda contou tudo
ao pastor. Este riu da situação e Lucinda, sem entender o motivo da risada, especulou:
— Por que o senhor está rindo diante de uma situação tão séria, pastor?
João colocou a colher dentro da taça de sobremesa e esclareceu:
— Deus tem suas maneiras de trabalhar na vida de seus filhos. O que está acontecendo com
Agustin é plano de Deus, minha filha.
Lucinda fitou Mirna e fazendo cara de paisagem, indagou:
— Plano de Deus?
João gesticulou com a mão esquerda e disse:
— Deus quer ter um encontro real com Agustin e usou Julissa. Veja que isso é tão profundo
que o rapaz mudou completamente — ele abriu o sorriso — até teologia ele está estudando.
Mirna concordou:
— É verdade, Lucinda. Veja como seu filho está se tornando um homem espiritual. Agora
Augusto leva a Bíblia para a igreja, fica no culto para ouvir a palavra e até participa da oração.
Ele mudou muito.
Lucinda tampou a salada de frutas e se queixou do filho.
— Então, por que ele nos culpou?
João a encarou seriamente.
— Porque deveriam ter ensinado, pelo menos, o básico a Agustin.
Lucinda ficou envergonhada.
— Falhamos com nosso filho. Deve ter sido difícil, ter levado aquele fora tão humilhante.
Mirna colocou mais sorvete na taça de sobremesa e argumentou:
— A igreja também falhou. Como os professores podem dar apenas desenhos para as crianças
pintarem?
João pensativo, considerou:
— Deus está falando conosco por meio de tudo isso. Precisamos acompanhar de perto o
departamento infantil da nossa igreja e continuar conscientizando os pais sobre a importância de
ensinar aos seus filhos desde cedo a Palavra de Deus.
Lucinda sentiu-se culpada e, com a voz triste, confessou:
— Verdade, pastor! Eu e Carlos nunca ensinamos o nosso filho a orar e nunca li a Bíblia para
ele.
O pastor balançou a cabeça e pontuou:
— Vocês falharam como pais cristãos, mas Deus é Misericordioso e, como tem um plano na
vida do jovem, usou uma moça para despertá-lo — ele riu — Deus é Perfeito em tudo o que faz.
Depois, virou sua atenção para Mirna.
— Querida, vamos fazer uma reunião com o Departamento Infantil de nossa igreja. Pode me
lembrar de marcar uma data, por favor? Vamos acompanhar o que as crianças estão aprendendo.
Mirna abriu a bolsa que estava ao seu lado, pendurada na cadeira, pegou a agenda e uma
caneta para fazer as anotações.
— Vou marcar aqui também um evento com os pais.
O pastor colocou a taça na mesa, em seguida, fitou Lucinda.
— Irmã, quero pedir algo para a senhora. Posso?
Lucinda levantou-se, pegou a garrafa de café que estava em cima da pia, colocou-a na mesa
e, olhando para o pastor, respondeu:
— Pode falar, pastor!
Ele falou firmemente:
— Não se envolva mais, apenas ore por Augusto e Julissa.
— Nossa, pastor! — respondeu ela ressentida.
— É verdade, amiga! João tem razão. Deixe a Julissa no lugar dela — aconselhou Mirna,
enquanto tomava café.
A mulher, com o coração cheio de ressentimentos, sentou-se novamente e concordou:
— Tudo bem, vou apenas orar.
O pastor levantou-se e empurrou a cadeira.
— Muito bem. Deixemos os nossos jovens nas mãos de Deus — e virou-se para sua esposa —
vamos, querida, temos uma visita para fazer.
— Deixe-me ajudar a Lucinda a lavar a louça, rapidinho! — diz ela, levantando-se
rapidamente.
Lucinda levou as louças para a pia e respondeu:
— Não precisa! Deixa aqui comigo — ela disfarça um sorriso — na próxima, você ajuda.
— Tem certeza? Eu lavo rapidinho — perguntou Mirna, retirando o seu prato e o do marido
da mesa.
— Claro! — afirmou Lucinda, retirando os pratos das mãos dela.
Lucinda os acompanha até a porta da frente, depois retorna para a cozinha para lavar a louça e
limpar o chão. Uma hora depois, pegou o celular e, ao acessar o WhatsApp, enviou uma
mensagem para Julissa.
“Olá, querida! Paz, você está bem?
Posso falar com você?
No domingo, antes do culto?”
Dez minutos depois, Julissa visualizou a mensagem e respondeu:
“Amém!
Ok.
Estarei lá!”
Quando o relógio marcou seis horas da tarde, Lucinda foi à igreja ajudar na limpeza, mas
quando entrou no salão, o pastor e sua esposa a levaram para a sala pastoral. João fechou a porta
e, sentando-se de frente para ela, disse cautelosamente:
— Minha querida irmã, nós a amamos muito, por isso, estamos aqui para conversar com a
senhora.
Lucinda ficou com uma sensação ruim, sentiu um aperto no peito e o seu coração se encheu
de tristeza. Ela colocou sua bolsa no colo e preocupada, perguntou:
— O que aconteceu?
Mirna, tomando a palavra, diz:
— Estávamos com Julissa quando você mandou a mensagem.
Lucinda ficou vermelha e envergonhada, ela sentiu seu rosto queimar.
O pastor apoiou os braços sobre a mesa e suplicou:
— Deixe Julissa e seu filho em paz. Se for para eles ficarem juntos, irão ficar. São eles quem
devem decidir.
Lucinda respirou fundo, segundos depois, levantou a voz:
— Eu não quero mais meu filho com essa menina. Eu combinei de conversar com Julissa
porque eu ia brigar com ela. Fiquei magoada, pois ela chamou meu filho de carnal. Quem ela
pensa que é? — e começa a chorar— se ela não quisesse nada com ele, era só falar que não
queria.
Mirna, sorrindo com apenas um canto da boca, retrucou:
— Você fala como se o Agustin fosse uma criança.
— Ele é meu filho, sinto as dores dele. — exclamou a mulher, passando a mão no nariz.
O pastor enrugou a sobrancelha e, querendo resolver a situação, esclareceu:
— Julissa pegou pesado com Augusto, mas ela sofreu muito com o ex-namorado, que também
era músico.
O pastor contou toda a história para Lucinda, no entanto, ela não ficou comovida e, batendo o
dedo na mesa, esbravejou:
— Pastor, meu filho não é esse ex-namorado dela. Como ela se atreve?
O pastor balançou a cabeça desaprovando a atitude dela e pensou: “Mais difícil do que eu
pensava”.
Mirna tocou no ombro de Lucinda e alertou:
— Amiga irmã, faça uma escolha. Você quer paz ou problemas? Paz ? Deixe-os em paz. Eles
são adultos. Quer problemas? Apenas se envolva.
Lucinda começou a soluçar de tanto chorar e, pegando um lenço na bolsa, justificou:
— Vocês não entendem? Sou apenas uma mãe que luta pelo direito de seu filho.
O pastor coçou a cabeça e mantendo a calma, alertou:
— Chamamos a senhora para conversar porque sabemos até onde a senhora pode ir. Como
pastor e amigo estou aqui para aconselhar, mas a senhora quem decide se quer ou não ouvir.
Contudo, irmã Lucinda, aceite as consequências.
Lucinda se levantou e encarando o pastor com raiva, exclamou:
— O senhor está me ameaçando, pastor João?
Neste exato momento, alguém bateu à porta. Mirna abriu, era Augusto. O rapaz vê sua mãe
com a cara inchada de tanto chorar e pensou: “Ela começou a causar novamente.” Ele entrou na
sala e, descontente, dirigiu a palavra a Lucinda:
— Mãe, a senhora está aqui? O que aconteceu?
Lucinda ficou surpresa em vê-lo naquele horário na igreja.
— Meu filho, você não está trabalhando?
Ele fechou a porta e, passando o olhar de Lucinda para João, respondeu:
— Eu vim conversar com o pastor e que bom que está aqui, é sobre a senhora que quero falar.
A mãe ficou sem entender e sentou-se novamente. O pastor, preocupado com a situação, se
ajeitou na cadeira e ligou o ventilador que estava atrás dele. Mirna sentou-se ao lado de João,
enquanto Augusto puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da mãe. Ele começou a falar devagar e
mansamente.
— O Nicollas me enviou uma mensagem dizendo que a senhora quer conversar com a Julissa.
Todos olharam para Lucinda.
— Vocês estão contra mim? Três contra um? Não é justo! — respondeu ela, virando os olhos.
— Mamãe, com essa atitude? Com todo o respeito, nem Deus está do seu lado. Se Deus não
está, a senhora já sabe quem está!— exclamou o jovem olhando para ela de rabo de olho.
— Filho, não fale assim com sua mãe! — advertiu Lucinda, com voz de choro.
O rapaz ficou irritado com a encenação de Lucinda, então se levantou e, sem se conter,
desabafou:
— Não fale assim? — ele colocou as mãos na cabeça — quantas vezes a senhora pensou em
mim? Quantas vezes invadiu minha vida sem minha autorização? Causando feridas em famílias e
ex-noivas. Lembra?
Lucinda abaixou a cabeça e sussurrou:
— Você está me envergonhando na frente do pastor e da esposa dele.
Augusto riu ironicamente e perguntou:
— A senhora sente vergonha, mãe? Se sente por que quer continuar infernizando a minha
vida, indiretamente? Não basta o que fez no passado?
Lucinda ficou alterada e disse:
— Tudo o que fiz foi porque te amo, meu filho, e não quero vê-lo sofrendo.
O pastor e Mirna arregalaram os olhos e apenas ouviam.
— Que visão de sentimento é essa mamãe? A senhora envergonhou famílias, a ponto delas
terem que se mudar de igreja e bairro. A senhora sente-se envergonhada quando é confrontada?
— ele sentou-se novamente — deixe a Julissa em paz. Ela é livre para escolher com quem ficar.
Se ela não me quis, sigo a minha vida! — ele abaixou a voz e falou pausadamente — se a
senhora continuar com isso, irei embora.
A mulher arregalou os olhos e, com um semblante triste, chorou escandalosamente.
— Você não faria isso com sua mãe?
O coração de Augusto estava ferido com a atitude de Lucinda e não queria fazê-la chorar.
Contudo, ele estava disposto a parar as artimanhas dela.
— Eu faria, mamãe. Vontade nunca me faltou. Quando nos mudamos para esta cidade, fiquei
mais tranquilo. Mas é só aparecer uma mulher no meu caminho que a senhora começa.
— Não, filho, por favor! — implorou a mãe.
O rapaz advertiu:
— Se a senhora falar qualquer palavra sobre o que aconteceu entre nós para Julissa, eu irei
morar sozinho. Assim, a senhora entenderá que deve respeitar minhas decisões.
Lucinda se levantou e, batendo na mesa, gritou:
— Você não pode ir embora! — ela apontou o dedo na cara do rapaz — Sou sua mãe e tenho
o direito de dar palpites na sua vida. E você vai casar com quem eu escolher e aceitar!
Augusto olhou para o pastor.
— Está vendo, pastor? Ela fazia isso onde congregávamos antes.
Lucinda estava revoltada, ela sentou-se novamente. João e Mirna estavam horrorizados em
conhecer o verdadeiro lado da mulher. Augusto aproveitou a ocasião para relatar o que aconteceu
no passado.
— O pastor tinha medo dela porque ela dava um dízimo gordo. Duas famílias sofreram —
Lucinda abaixou a cabeça — eu me relacionei com duas jovens. Joana, minha primeira
namorada, foi esculachada pela minha mãe por ser negra.
João e a esposa ficaram abismados e Lucinda se defendeu:
— Não era por isso, era porque ela tinha um mau cheiro. Não gostava do cheiro dela.
Augusto bufou, e olhando para ela, afirmou:
— Mamãe, a senhora bem sabe que não era o cheiro dela. Não vou mencionar aqui o que
falava dela, não vale a pena. Toda vez que Joana ia em casa, a senhora se trancava no quarto.
Depois falou para ela que eu não gostava dela. A menina ficou chateada comigo e terminou.
Tentei provar o contrário, mas ela não acreditou. Ela sofreu tanto que ela e a família se mudaram
para outra cidade.
Lucinda não conseguia levantar a cabeça, a mulher olhava para o chão e Augusto continuou
revelando as atrocidades dela.
— Um ano depois, comecei a namorar a Juliana. Ela era nova convertida e tinha uma
tatuagem no pescoço. Mamãe cismou com a menina. Deu o maior bafafá na igreja — ele virou-
se para a mãe — a senhora humilhou a Juliana publicamente, chamando-a de marginal. E ainda
pressionou o pastor a expulsá-la juntamente com os seus pais da igreja. Aquele pastor banana
temia a senhora e expulsou Juliana e a família dela da igreja.
Lucinda não falava mais nada, apenas limpava as lágrimas do rosto.
O rapaz colocou os braços sobre a mesa e unindo as mãos, suplicou ao pastor:
— O senhor precisa pará-la antes que aconteça o mesmo aqui.
O pastor inspirou fundo, pensou e, olhando para Lucinda, aconselhou:
— Filha, vamos esquecer o passado e deixar para trás o que aconteceu. Recomece e deixe
que os jovens vivam em paz.
Lucinda continuava de cabeça baixa e nada respondeu.
Ao perceber que ela não se pronunciava mais, o pastor disse:
— Tenho um carinho especial por vocês, mas todos os membros desta igreja são iguais. Não
importa o poder aquisitivo, fama, dinheiro ou títulos. Se a senhora criar algum problema com
Julissa e a família dela, será disciplinada.
Contudo, não era o que Augusto desejava, estava profundamente decepcionado com o
comportamento de Lucinda e não queria que mais ninguém sofresse. Ele comentou:
— Pastor, se for a melhor decisão, que assim seja. Faça o que for melhor para a obra de Deus!
Lucinda lançou um olhar furioso contra o filho e, com a voz embargada, confessou:
— Não esperava isso de você!
Augusto virou-se, tocou nos ombros dela e disse:
— Mamãe, quando eu era criança e não obedecia à senhora, era disciplinado. A senhora é
filha de Deus e, se aprontar, também será disciplinada. Perdoe-me por falar duramente, mas a
senhora precisa parar. Não podemos ferir mais pessoas.
Lucinda não conseguia olhar nos olhos dele e, levantando-se, disse ao pastor com frieza:
— Eu entendi, pastor. Prometo que não vou causar nenhum problema.
— Irmã Lucinda… — Mirna queria que ela entendesse.
O pastor também queria finalizar o assunto, mas Lucinda virou as costas, abriu a porta e saiu.
Augusto estava triste com a situação. Ele fechou a porta e, olhando para o casal, diz:
— Perdoe-nos por causar este problema. Prometo que será a última vez. Eu não quero que
ninguém mais sofra.
O pastor sorriu e tentou disfarçar a sua preocupação com Lucinda.
— Tudo bem, filho. Sua mãe ficou chateada, depois passa.
Mirna dirigiu-se à porta, abriu-a e disse:
— Vou ver se encontro Lucinda.
— Deixe-a refletir um pouco, querida! — opinou o pastor.
— É rapidinho, só vou ficar de olho nela. — Mirna saiu e fechou a porta.
— Vou sair também, pastor. Tenho aula — avisou Augusto, olhando a hora no celular.
O pastor levantou-se e se despediu com um aperto de mão.
— Vai lá, filho. Boa aula!
Enquanto Augusto caminhava para a porta, o pastor especulou:
— Seu pai sabe de tudo isso?
Augusto abaixou a cabeça e depois virou-se para João.
— Não, pastor. Todas as vezes que minha mãe aprontava, meu pai estava viajando. Ele não ia
muito à igreja por causa do trabalho, fora que já tinha os problemas da empresa, então preferi
não falar nada.
O pastor coçou a cabeça, ficou pensativo e disse:
— Entendi.
Depois se aproximou de Augusto e aconselhou:
— Perdoe sua mãe, filho.
Augusto pegou na maçaneta da porta e respondeu:
— Sempre, pastor. Apesar de ser imperfeita, ela é minha mãe. Estou orando por ela todos os
dias.
O pastor acenou com a cabeça, informando que entendeu.
Augusto abriu a porta e deu de cara com Mirna.
— Opa! Já está indo, filho?
— Sim, tenho aula. Viu minha mãe?
Mirna olha para o marido e diz:
— Ela já foi embora!
O pastor ficou preocupado e foi orar; Augusto foi à aula e Mirna ajudou a equipe a limpar a
igreja.
Lucinda chegou à casa, entrou no quarto, jogou-se na cama e chorou muito. Carlos chegou do
trabalho e a encontrou em prantos, preocupado, indagou:
— Lucinda, o que aconteceu?
Ela permanecia deitada e não queria falar o motivo. Ele ficou consternado, ligou para
Augusto; mas ele não atendeu, então ligou para o pastor. Este relatou o ocorrido ao marido
preocupado. O homem sentou-se no sofá, envergonhado pela situação, refletiu sobre: sua vida
cristã, esposo, pai e empresário.
— Minha esposa causando… o que fiz durante todo esse tempo? Que homem banana eu fui
— resmungou ele, colocando as mãos no rosto e apoiando os cotovelos nos joelhos. Ali mesmo,
o homem se ajoelhou.
— Perdoe-me, Senhor, pois me tornei irresponsável com minha família. Olha quantos
escândalos minha esposa causou e eu fui omisso. Perdoe-me. A partir de agora será diferente.
Farei o possível para ser um cristão melhor. Colocarei o Senhor como o primeiro em minha vida.
Ajude-me! Em nome de Jesus. Amém.
Ele se levantou e indo até a esposa, chamou-a:
— Querida, não chores. Vamos recomeçar! Vem, vamos orar e ler a Bíblia juntos. Precisamos
matar a carne para que o Espírito de Deus trabalhe em nós. Venha!
Ela enxugou as lágrimas, ajoelhou-se com ele ao lado da cama. Carlos orava e ela chorava.
Depois, ele cantou uma música da harpa e Lucinda tentava acompanhar. Em seguida, leram um
texto bíblico e, quando terminaram de orar, Carlos abraçou sua mulher e disse:
— Todos os dias, antes do café da manhã, faremos o devocional. Pode ser?
Lucinda, ainda triste, fungou o nariz e concordou, balançando a cabeça.
Pela amanhã, Augusto foi para tomar café e viu seus pais orando juntos. Ele se reuniu com
eles e participou do devocional.
Meses depois, Lucinda sentiu vergonha do que fez e, para se retratar, reuniu em sua casa:
Carlos, Augusto, João e Mirna. Ela leu um versículo bíblico e expressou:
— Reuni vocês para pedir perdão por tudo o que fiz, principalmente ao meu filho. Agradeço a
Deus por ter usado meu esposo, pois, através dos devocionais, tive um encontro verdadeiro com
Deus.
A mulher não conseguiu se conter e chorou. Augusto a abraçou fortemente, beijou a sua testa
e sussurrou:
— Está perdoada, mamãe! Eu te amo!
O pastor tomou a palavra e fez uma observação:
— Deus é bom o tempo todo. Ele está nos ensinando! — ele abre os braços — Nós a
perdoamos, irmã Lucinda!
Mirna a abraçou também e, apertando-a, confessou:
— Amiga, nós te amamos.
A paz e a comunhão estavam presentes naquele lar. A presença de Deus restaurou a
comunhão entre a família e os amigos.
Enquanto tomavam café e comiam bolo de chocolate, Lucinda fez um breve comentário.
— Quando Carlos e eu começamos a orar e ler a Bíblia pela manhã, comecei a ver meus erros
e sentir vergonha de quem eu era. Pedirei perdão a todos que feri pelo caminho.
Carlos pegou a xícara de café e, levando-a à boca, comentou:
— A comunhão com Deus nos lava do pecado.
O pastor, sorridente, bateu palmas de leve e respondeu.
— Verdade, irmão Carlos! Que bom que estamos em paz! Isso é maravilhoso! Podemos dizer
que Deus está aqui.
Eles sentiram a presença de Deus e começaram a cantar. Augusto tocava violão e eles batiam
palmas.
Dias depois, Augusto estava ao volante e Lucinda estava ao seu lado.
— Tem certeza que é por aqui mesmo, mãe?
Lucinda, olhando o endereço no celular, afirmou:
— Sim! Pode ir direto.
Cinco minutos depois, ela tirou o cinto de segurança e olhando para a casa com o muro azul e
o portão branco, disse:
— Pode parar o carro! É nesta casa aqui!
Augusto parou o carro.
— Tem certeza, mãe?
Ela pegou as sacolas com presentes que estavam no banco de trás, abriu a porta do carro e
disse:
— Volto daqui a pouco.
Lucinda ficou em frente à casa e apertou a campainha. Em menos de um minuto, uma senhora
abriu o portão:
— Lucinda? — exclamou a mulher surpresa.
Lucinda abraçou as sacolas e sorriu.
— Quanto tempo, irmã Olga!
Olga escancarou o portão e Lucinda entrou. A senhora a levou para a sala onde estavam todos
os membros da família.
— Todos vocês estão aqui? — questionou a mulher, surpresa.
— Sente-se, irmã Lucinda! — disse Olga, puxando uma cadeira para ela sentar.
Lucinda sentou-se e, colocando as sacolas no colo, disse:
— Não vou demorar. Meu filho está me esperando lá fora.
— O Agustin está lá fora? Pede para ele entrar — sugeriu o marido de Olga.
— Não se preocupem. Serei rápida, não vou demorar. Eu vim aqui… para… — ela conteve a
emoção — para pedir perdão a vocês. — ela fez uma pequena pausa, depois suspirou forte —
quando Joana estava namorando meu filho, eu fui má… quero dizer… eu era má. Perdoem-me
por todo mal que causei a vocês.
Lucinda segurava as lágrimas e, encarando Joana, suplicou:
— Perdoe-me, Joana, por favor! Perdoe-me por ter sido uma sogra cruel.
Joana levantou-se e abraçou Lucinda.
— Fique tranquila, irmã Lucinda. Ficou no passado. Todos nós erramos.
Lucinda sentiu-se aliviada; entretanto, não conseguiu mais conter o choro. Logo depois, ela
limpou as lágrimas com as mãos, abriu as sacolas e entregou os presentes para cada um deles.
— Depois venho visitá-los novamente. Até mais.
Lucinda abraçou eles e saiu de lá com uma profunda sensação de dever cumprido. Ela dirigiu-
se ao carro e, antes de entrar, acenou para Joana e sua família que estavam no portão,
observando-a sair. Augusto abriu a janela do carro e acenou com a mão para eles. Lucinda entrou
no carro, logo em seguida, o rapaz buzinou e acelerou. Joana sorriu e continuou acenando com a
mão até o carro sumir de vista.
Enquanto dirigia para o próximo endereço, Augusto perguntou:
— Deu tudo certo, mãe?
— Deu, filho! Deus foi na minha frente. Que Ele esteja comigo quando eu for visitar a
Juliana.
— Ele já está contigo, mãe.
Eles chegaram ao destino.
Lucinda pegou três sacolas e desceu do carro. Em seguida, Augusto desceu também e apertou
a campainha. A porta da casa se abriu e Juliana apareceu com um bebê no colo.
— Vocês? — exclamou ela, surpresa ao vê-los.
— Seus pais estão? — interrogou Lucinda.
— Sim! Entrem.
A mãe e o filho se olharam e, sem demora, entraram na casa. Os pais de Juliana estavam
sentados no sofá e, apesar de não terem compreendido a visita de Augusto e Lucinda, receberam-
nos com alegria. Após se cumprimentarem, eles se sentaram no sofá. O bebê que estava no colo
de Juliana chamou a atenção de Lucinda. Curiosa, especulou:
— E o bebê? Como ele é fofo, é a sua cara!
Juliana deu um sorriso beatificado, olhou para o bebê e respondeu:
— Meu bebê se chama Mateus e está com três meses.
Lucinda sorriu e, ao ver a aliança na mão esquerda de Juliana, entendeu que ela já havia se
casado. E continuou paparicando o bebê.
— O Mateus é lindo!
Juliana entregou o bebê para a mãe segurar, colocou a fralda de pano no ombro, encarou
Augusto e perguntou:
— Vocês estão bem?
Lucinda, ajeitando-se no sofá, respondeu:
— Estamos graças a Deus e vocês.
Rosa, ninando o neto, disse:
— Também estamos bem, graças a Deus! — e mirou o jovem — você já se casou, Augusto?
Ele deu um sorriso largo e, cruzando as mãos sobre o joelho, respondeu:
— Quem sabe um dia!
Sebastião, pai de Juliana, respondeu:
— Tudo no seu tempo. Na hora certa você vai se casar.
Lucinda olhou para o filho e sentindo-se tensa. Pensou: “Preciso falar o porquê estou aqui.”
Depois disse:
— Verdade! — ela respira fundo — então, viemos aqui… e… digo… — ela aponta o dedo
para si — quero pedir perdão a vocês, magoei muito a Juliana. Por favor, perdoem-me.
Rosa ergueu a mão direita para o alto e confessou:
— Glória a Deus! Eu esperei tanto por este momento. Todos os dias, em minhas orações,
apresento a senhora, o Augusto e o irmão Carlos. Nós já perdoamos a senhora, irmã Lucinda. E
não somente agora — ela estala os dedos — faz tempo. Somos cristãos e a mágoa não ajuda em
nada.
Lucinda passou a mão nos olhos para secar as lágrimas e, logo depois, levantou-se, se
aproximou de cada um, os abraçou e entregou os presentes. No entanto, quando se aproximou de
Juliana, a abraçou com força. Juliana chorou.
— Perdoe-me por tudo, minha filha.
Juliana retribuiu o abraço apertado e disse:
— Está perdoada, irmã Lucinda.
Juliana guardou mágoa de Lucinda por muito tempo; porém, naquele exato momento, o
perdão lavou sua alma e ela estava curada.
Vinte minutos depois, Augusto e Lucinda foram embora.
Quando chegaram em casa, Carlos estava sentado no sofá, esperando por eles.
— Deu tudo certo? — perguntou Carlos, olhando as horas no relógio de pulso.
— Sim, querido, graças a Deus!— respondeu Lucinda, colocando a bolsa no sofá e sentando-
se ao lado dele.
Augusto vai para o quarto e avisa:
— Vou tomar banho e ir para o culto.
Carlos, observando-o subir a escada, disse:
— Eu já estou pronto. Estava esperando vocês.
Lucinda levantou os braços e, após cheirar as axilas, afirmou:
— Estou cheirosa! Vou assim mesmo.
Carlos abraçou a mulher e cheirou os cabelos dela.
— Minha mulher cheirosa!
Ela beijou o rosto dele e, levantando-se, falou com a boca seca:
— Vou tomar água — e caminhou até a cozinha.
E, quando Augusto desceu, a família foi ao culto.
Augusto estava lendo um livro quando o professor entrou na sala e iniciou a aula com uma
oração. Depois, avisou:
— Hoje nós faremos um trabalho diferente, e será em dupla — ele mostra a folha com os
nomes escritos — eu já separei as duplas.
Os alunos ficaram empolgados, o professor Paulo começou a citar os nomes das duplas:
— Mariana e Júlia, Carlos e Maria, João e Rebeca, Paulo e Felipe…
As duplas foram se organizando e sentando-se lado a lado. Os alunos arrastavam as cadeiras,
o professor incomodado com o barulho fez uma pausa e solicitou:
— Sem barulho, pessoal, só trocar de lugar, não precisam arrastar as cadeiras — ele voltou a
fixar os olhos na lista — próxima dupla: Augusto e Julissa.
Augusto ficou atônito ao ouvir que seria o par de Julissa. O seu coração acelerou, as mãos
começaram a suar. Ele pensou: “Justo com ela? Daqui a pouco ela vem bufando, falando que fui
eu quem pediu e… blá, blá, blá…” Ele direcionou seu olhar para ela, mas a moça continuava de
costas e imóvel. Meio ressabiado, cochichou:
— Será que terei que ir lá?
O professor continuava formando as duplas e Augusto decidiu ir até Julissa; mas, quando
estava arrumando o material, Julissa se levantou e foi em sua direção.
— Vamos começar, Augusto? — Indagou ela, puxando a mesa ao lado dele.
— Vamos! — respondeu ele, engolindo a saliva.
Julissa puxou a cadeira e sentou-se ao lado dele. Ela nunca ficou tão perto. O rapaz sentia o
cheiro suave do perfume dela, seu coração batia mais forte. A moça abriu o caderno e após
colocar a caneta ao lado, prendeu o cabelo. A respiração de Augusto ficou mais acelerada e
gotículas de suor começaram a se formar na sua testa. Ele disfarçou e, como se fosse coçar a
testa, passou a manga da camisa para secar o suor. Depois, puxou sua cadeira para se afastar um
pouco dela e abriu a janela para pegar um pouco de ar. Julissa olhou para a janela aberta;
entretanto, não disse nada, apenas continuou escrevendo no caderno.
— Todos estão com seu par? — Indagou o professor, olhando para todos os alunos — farei o
sorteio dos livros para cada dupla fazer a pesquisa. Quero saber quem são os personagens, autor
do livro, ano em que determinado livro foi escrito, por que foi escrito. Vocês devem apresentar
todas as informações necessárias. E finalizando a pesquisa, as duplas irão fazer as apresentações
aqui na frente.
Os alunos concordaram e o professor, com a lista na mão, fez o sorteio.
— Augusto e Julissa, pesquisarão sobre o Evangelho de João.
Julissa e Augusto se olham, ela arregala o olho e colocando a mão na boca, diz:
— Fomos os primeiros! — e anota a informação no caderno.
Augusto apenas balançou a cabeça e também começou a anotar as outras informações que o
professor estava passando.
Julissa olhou para o caderno de Augusto e, ao ver a letra dele, ficou encantada:
— Nossa, sua letra é linda!
Ele sentiu-se lisonjeado, como tinha receio de conversar com ela, apenas sorriu e continuou
escrevendo. Seguidamente, começaram a pesquisar as informações no Comentário Bíblico. O
rapaz lembrou-se do Dicionário que trouxera, como era pesado, deixou no carro. Ele se levantou,
pediu autorização ao professor e foi pegar o material. Depois de trazê-lo, Julissa pesquisava no
Comentário Bíblico, enquanto Augusto pesquisava no Dicionário. Eles discutiam e anotavam as
informações.
As horas foram passando e a aula acabou.
— Já? — indagou Julissa.
O professor, apagando a lousa, avisou:
— Semana que vem terminaremos o trabalho para fazermos as apresentações.
Julissa pegou seu material, colocou-o na bolsa e, virando-se para Augusto, opinou:
— Depois você me envia suas informações para eu digitar e ir montando o trabalho. Pode ser?
Augusto estava arrumando seu material e após ouvi-la, olhou nos olhos dela e balançou a
cabeça.
— Até mais! — Despede-se ela e sai.
Ele ficou observando-a sair, depois se levantou, colocou a mochila nas costas e pensou: “ Ela
estava tão doce hoje. Ah, não posso ter esperança. Ela me tratou assim, por conta do trabalho.”
O jovem caminhou até o carro e, quando estava saindo, recebeu uma notificação de mensagem,
era Julissa. Ele freou para ler a mensagem.
“Paz, Augusto!
Segue o meu e-mail para você
me enviar o conteúdo que pesquisou.
julissa.pereira@daolpa.sol.tr
Até mais.”
Augusto sorriu, colocou o celular no colo e foi para casa. Ao abrir a porta do quarto, ele
recebeu outra notificação de mensagem.
— É ela novamente — comentou ele, lendo a mensagem.
“Ah, se precisar de alguma coisa, conte comigo.”
— Julissa está bem atenciosa hoje! — disse o rapaz digitando uma mensagem..
“Paz, Julissa.
Obrigado.
Daqui a pouco envio minhas informações.
Até mais!”
Depois disso, Augusto digitou a pesquisa que estava no caderno e enviou no e-mail de
Julissa.
— Missão cumprida! — exclamou ele, bocejando e deitando-se na cama.
Ele pegou o celular, mas antes de entrar no aplicativo de mensagens, Julissa enviou uma
mensagem. Ele leu a mensagem com alegria.
“Boa noite, Augusto.
Recebi o e-mail.
Obrigada por enviar”.
— O que será que respondo? Ah, já sei…
“Você…
Ele apagou a mensagem e pensou: “Melhor não. Ela pode me bloquear de novo. Vou
responder somente isso.”
“Boa noite. Ok!”
Ela continuou escrevendo.
“ Depois nós dividimos nossas falas para a apresentação.”
Ele levantou-se e sentando-se na cama, comentou:
— Vou apenas curtir a mensagem para ela não achar que estou dando em cima dela.
Augusto curtiu a mensagem e ela mandou outra:
“Desculpe-me por incomodá-lo, vejo que você não quer conversar”.
O jovem franziu a testa e lendo a mensagem novamente, murmurou:
— Qual é o problema dela? Acha que só ela tem traumas? Ela me dá um fora daquele jeito.
Estou estudando na mesma sala e ela pensou que eu fui atrás dela… ela…
Augusto escreveu:
“Conversamos depois, desculpe-me,
mas estou cansado e vou dormir.
Paz.”
Ele desligou o celular, orou e deitou. No entanto, não conseguia dormir, pois ficou pensativo.
“Será que dei um fora nela com aquela mensagem? ” Ele se remexia e se virava na cama.
“Não, eu não quero problemas, foi melhor assim.” E dormiu.
No outro dia, ele acordou e, após o devocional, foi trabalhar. Quando entrou na loja, pegou o
celular, havia um monte de mensagem de Julissa. O jovem ficou espantado e preocupado. “Será
que ela está brava comigo?” E ntrou no escritório, sentou-se à mesa para ler as mensagens.
Quando terminou de ler, aliviado, cochichou:
— Ah, eram apenas informações da pesquisa.
Ele escreveu:
“Paz.
Ok!”
Em seguida, iniciou seu trabalho. Augusto estava fazendo as trocas dos novos modelos de
sapatos que estavam na vitrine. Ele precisava saber quais modelos deveriam ser trocados, então,
desceu ao primeiro andar para olhar na vitrine. O rapaz encontrou o gerente no caminho e
começou a conversar com ele.
— Então, Lauro, eu preciso… — a atenção dele vai para porta, Julissa estava entrando na loja
— eu… eu…
— O que o senhor precisa? — questionou o gerente, olhando na mesma direção que ele.
— Lembrei que tenho que pegar a lista — o rapaz subiu as escadas correndo.
O gerente ficou confuso e perguntou:
— Será que ele está bem?
Lauro viu Julissa olhando os modelos de sapatos na vitrine e, ao se lembrar dela, se
aproximou:
— Olá, senhorita, seja bem-vinda. O que precisar, estou à disposição.
Julissa vendo-o, se lembrou da situação constrangedora que havia passado na frente dele.
Envergonhada, olhou ao seu redor, como se estivesse procurando por alguém, e disse:
— Obrigada, mas só estou olhando.
O gerente sorri e diz:
— Fique à vontade, se precisar, meu nome é Lauro.
— Certo! — ela começa a andar pela loja.
Enquanto isso, Augusto estava encostado na porta, puxando o fôlego, pois correu as escadas
afoito, colocando a mão no coração, sentou-se na cadeira e cochichou:
— Subi essas escadas… nossa cansei! — e continuava puxando o fôlego.
Minutos depois, se levantou e olhando pela janela, refletiu: “Ela veio aqui na loja. Será que
veio me ver?” . Ele sentou-se e, abrindo as pastas de documentos que estavam na mesa, tentava
não criar expectativas.
— Calma Augusto, aqui é uma loja de sapato. Ela é uma mulher e usa sapatos e veio comprar
sapatos.
Ele apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçou os dedos, e batia-os levemente na boca enquanto
soprava. O rapaz estranhou seu comportamento, colocou as mãos entrelaçadas na nuca e se
perguntou:
— Por que fugi dela? Estou no meu trabalho.
Após se acalmar, ele começou a digitar as informações da pasta no computador e recebeu
outra mensagem de Julissa.
“Paz.
Olha eu de novo. rsrs
Fui à loja Kemuel hoje, mas não te vi.”
As mãos de Augusto começaram a suar, seu coração acelerou. E pensou: “ Ela veio me ver!
Depois se beliscou.
— Ai! É verdade. Mas deixa eu conferir se é o contato da Julissa mesmo.
Ele conferiu o número do contato dela, pois já havia decorado.
— É ela! O que está acontecendo? Será que devo ter esperança?
O rapaz encarou a mensagem dela por alguns segundos e, logo em seguida, respondeu:
“Que bom que você veio.
Eu trabalho no escritório.”
Neste momento, Carlos entrou.
— Filho, vou dar uma saída. Vou levar os fornecedores para tomar um café e de lá, irei para
casa almoçar.
O jovem virou o celular na mesa e deu atenção para o pai.
— Tudo bem, pai. Vai lá. Vou almoçar por aqui mesmo.
O celular vibrou, chegou outra mensagem de Julissa e, rapidamente, Augusto pegou o celular
e olhou para seu pai, mas Carlos já estava saindo. O rapaz leu a mensagem.
“Te vejo na aula. Paz”.
Augusto sorriu e escreveu:
“Paz. Até!”
Seguidamente, colocou o celular na mesa e disse:
— Vou agir naturalmente e viver o momento, o que for para ser, será.
Sem criar expectativas, ele seguiu sua rotina de trabalho.
Era o dia da segunda aula para a pesquisa do trabalho com os alunos do curso de Teologia.
Julissa apresentou sua pasta de pesquisa para Augusto, imediatamente, ela folheou e retirou os
mapas impressos em folhas sulfite e os mostrou para ele.
— Eu trouxe estes mapas para mostrarmos na apresentação. O que acha?
— Que legal! São mapas do Mediterrâneo e Palestina — comentou o rapaz, observando os
visuais.
O professor pediu a atenção dos alunos.
— Na próxima aula será a apresentação de vocês. Cada dupla terá 10 minutos para falar sobre
sua pesquisa. Enviarei para vocês no grupo do WhatsApp todas as informações importantes que
vocês devem apresentar. Vamos começar então pela dupla: Augusto e Julissa.
Os jovens se olharam e arregalando os olhos, riram.
— Novamente, somos os primeiros! — cochichou ela, colocando a mão na boca e olhando
para o professor.
— Pois é! — respondeu ele meio surpreso.
O professor conclui as datas de apresentação e os alunos voltaram a trabalhar em suas
pesquisas.
— Agustin, você me deixa começar a apresentação?
Antes de respondê-la, ele ficou observando-a e pensou: “Agustin?” . Ela, percebendo que ele
estava pensativo, cutuca-o com o cotovelo e sorri:
— Você está com a cabeça na lua, né?
— Han? Ah, sim ! — concordou ele, tentando forçar a risada porque ele não estava
entendendo Julissa e tentava assimilar o que estava acontecendo.
Ao mesmo tempo que Julissa anotava as informações e explicava para Augusto, ele ficava
observando e admirando o seu rosto, os olhos, o nariz, a boca e as expressões faciais. O rapaz
sentia que seu sentimento por ela estava crescendo cada vez mais. Enquanto observava seus
movimentos, pensou: “Essa Julissa está agindo diferente.”
— Augustin? — ele piscou e disfarçou — não vai assinar a lista de chamada? — ela entregou
a folha para ele.
— Ah, sim! — meio desorientado, ele pegou a lista e assinou.
Em seguida, levantou-se e levou a folha para o professor.
— Todos assinaram, Augusto? — perguntou o professor olhando para a lista nas mãos do
rapaz.
Augusto olhou para seus amigos na sala e perguntou:
— Vocês já assinaram a lista?
Todos responderam que sim, então o professor conferiu a lista e, satisfeito, confirmou:
— Parece que todos assinaram. Obrigado, Augusto!
Augusto sorriu e ficou conversando com ele.
Julissa ficou observando-o por um longo tempo. Augusto percebeu e ficou encarando-a
também. Ela sorriu e ele devolveu o sorriso com uma piscada.
O sinal soou finalizando mais uma aula.
O professor se levantou, e apagando a lousa, liberou os alunos:
— Vejo vocês na próxima aula. Caprichem nas apresentações.
Os alunos vão saindo aos poucos, Augusto vai até sua mesa e olhando Julissa arrumar o
material, sentiu-se na liberdade de perguntar:
— Vamos almoçar amanhã… quero dizer…
— Vamos! — confirmou a moça empolgada.
Ele ficou parado olhando para ela e pensou: “Ela aceitou sem hesitar” .
— Te vejo amanhã! — despede-se ela colocando a mochila nas costas.
— Até amanhã — respondeu ele, guardando o caderno e livros dentro da mochila.
Conforme ele caminhava em direção à porta, o professor fechava as janelas e comentou:
— Depois falamos mais sobre as epístolas paulinas, Augusto. Vamos abordar esse tema no
próximo semestre.
Augusto virando-se, concordou.
— Será muito bom, professor!
Paulo caminhou até a mesa e percebendo que Augusto estava com pressa, despediu-se dele.
— Até mais, Augusto.
— Até, professor. — disse ele, virando-se e andando depressa para tentar alcançar Julissa.
E conforme caminhava até seu carro, observava ao seu redor para ver se a encontrava. Logo,
entrou no carro e, ao se sentar, viu-a passar. “ Ela está muito boazinha comigo e ainda aceitou
almoçar comigo” , pensou ele enquanto olhava para ela.
Depois ligou o carro e se conscientizou:
— Não vou criar expectativas, vou aguardar até amanhã.
O dia chegou e eles estavam almoçando juntos. Augusto não conseguia acreditar que estava
almoçando com Julissa. Esta bebeu o suco de laranja e confessou:
— Você deve estar achando estranho almoçar comigo, principalmente porque eu fui dura com
você desde o começo. Perdoe-me por ter sido rude e durona.
Augusto olhou para a mão dela, que segurava o suco, e enquanto ela levava o copo à boca, ele
afirmou:
— Ficou no passado.
A moça colocou o copo na mesa e tocou na mão do rapaz, que estava apoiada na mesa. O
coração dele acelerou novamente e suas mãos transpiravam.
Ela, fitando os olhos nele, confessou:
— E se eu disser que mudei de ideia?
Augusto estava tenso, ele pressionou os lábios e sem fazer rodeios, especulou:
— Como assim?
Ela abaixou a cabeça e tomando outro gole de suco, afirmou:
— Eu não queria você no começo porque você não era um cristão de verdade.
O rapaz dá risada. Ela tentou se explicar:
— Sem querer ofender… é que…
— Eu entendi. Você está certa! — disse ele, esperando ela se declarar logo.
Ela sorriu e colocando alguns fios de cabelos atrás da orelha direita, continuou revelando:
— Mas você demonstrou me amar quando decidiu mudar. Augusto, sua mudança é
perceptível.
O rapaz estava atônito ouvindo cada palavra.
— Ano que vem vamos nos formar. Durante estes dois anos em que estudamos juntos, você
provou ser um homem espiritual. Essa sua versão atual chamou minha atenção. — ele arregalou
os olhos — agora sei que o homem que está na minha frente será um bom homem para mim.
Augusto estava vibrando por dentro. Ele queria abraçá-la, mas se segurou e, sem interrompê-
la, continuou ouvindo sua declaração.
— Quando começamos a fazer as pesquisas do trabalho juntos, percebi o quanto gosto de
você. Quando fui procurar você na loja e não o encontrei, fiquei triste. Estava ansiosa para vê-lo
nos cultos e nas aulas. Eu sentia sua falta.
Augusto ficou sem reação e refletiu: “A mulher que desejei ter ao meu lado, está se
declarando para mim?”
Ele segurou as mãos dela e olhando fundo nos seus olhos, especulou?
— Eu ainda sou carnal?
Ela riu por alguns segundos e depois respondeu:
— Não! Agora você é um homem espiritual.
Ele sorri e pergunta de forma romântica:
— Quer ser minha namorada, noiva e esposa?
Ela abre mais ainda o sorriso.
— Sim, sim e sim.
O telefone dele tocou, era o alarme de fim do almoço. Ele desligou o alarme e, colocando o
celular no bolso, respondeu:
— Eu tenho que ir, meu horário de almoço acabou.
Augusto pagou a conta e, saindo do restaurante, levou Julissa à floricultura que ficava ao lado.
— Escolhe um buquê! Será meu presente para você como início de nosso namoro.
Ela estava encantada, então observou as rosas e, ao ver o buquê de rosas cor-de-rosa, apontou:
— Vou escolher estas rosas. São minhas preferidas.
— Essas rosas são lindas e perfumadas como você. — declarou ele, enquanto lhe entregava o
buquê.
— Obrigada! — agradeceu ela, pegando o buquê.
Depois eles saem da floricultura.
— Eu te mando uma mensagem mais tarde. — disse ele, em frente da loja Kemuel.
— Sim! Até mais! — despede-se ela ajeitando o laço do buquê.
Augusto entrou na loja e Julissa caminhou, cheirando as rosas, até o ponto de ônibus.
O rapaz subiu para o escritório feliz, entusiasmado e alegre, comemorou:
— Que almoço especial! Obrigado, meu Deus!
O celular tocou com uma mensagem de notificação. Ele abriu o aplicativo, era Julissa:
“Obrigada pelo almoço especial.
Amei as rosas!
Estou ansiosa para vê-lo hoje”.
Ele franziu a sobrancelha e pensou: “Ela também gostou do almoço e das flores. E hoje…
hoje… ela quer me ver hoje? Ele exclamou:
— Ela quer me ver hoje?”
Ele escreveu:
“ Hoje não temos aula e nem culto”.
Julissa escreveu:
“ Você precisa falar com meus pais.”

Augusto sentiu um nó na garganta, mas concordou.


“Passo aí mais tarde,
quando estiver saindo,
te aviso.”
Julissa reagiu à mensagem com um emoji coração. Em seguida, escreveu:
“Ok. Até mais. Beijos.”
Augusto sorridente, como se estivesse sonhando, digitou fazendo bico.
“ Até! Beijos.”
O dia parecia não passar para eles. Julissa estava em sua casa, ajudando a mãe na cozinha, ela
não parava de olhar para o relógio de parede e no celular, esperando uma mensagem do amado.
O mesmo acontecia com Augusto, ele estava no escritório olhando no relógio do computador e
não via a hora de finalizar seu expediente. Ambos estavam ansiosos.
Finalmente chegou a hora de Augusto ir à casa de Julissa. A campainha tocou e Julissa
apressadamente atendeu:
— Entre, meus pais e irmão estão na sala.
Augusto, meio tenso, acompanhou Julissa até a sala.
— Paz, Augusto! Que bom vê-lo aqui! Veio falar com o Nicollas? — cumprimentou Pedro.
O rapaz sentou-se no sofá e após cumprimentar a todos, olhou para Nicollas e sorriu:
— Hoje não será assunto com o Nicollas.
Pedro olhou para sua esposa e riu. Sentindo calor, e a garganta seca, o rapaz olhou para a
cozinha e disse:
— Podem me dar um copo d’água, por favor?
Ana se levantou.
— Vem vamos sentar à mesa, assim comemos e conversamos.
Eles sentaram-se à mesa e após tomar um copo cheio de água, Augusto sentiu-se mais à
vontade para falar.
— Irmãos Pedro e Ana, eu vim pedir a mão de Julissa em namoro, noivado e casamento.
Nicollas tentou conter o riso e, discretamente, olhou para a irmã.
Pedro ficou surpreso com o pedido de Augusto e respondeu, questionando Julissa.
— Você quer namorar o Augusto, filha? Ele não quer só namorar, mas quer noivar e casar.
A moça sorriu ainda mais e afirmou, olhando para o seu amado:
— Quero, pai.
Pedro passou o olho na esposa, depois para Augusto e respondeu:
— Estamos congregando com você há dois anos, notamos que você é um bom rapaz.
Espiritual, trabalhador e de boa família. Se minha filha aceitou namorar você, nós apoiamos o
namoro de vocês, assim como o noivado e o casamento.
Augusto respirou aliviado e agradeceu:
— Obrigado. Darei o meu melhor.
Nicollas bateu palmas e comemorou:
— Aehhh! Eu sabia que o Agustin seria meu cunhado.
Julissa olhou para Augusto e ambos riram.
— Seus pais já sabem?— Indagou Ana enquanto cortava o bolo em fatias.
Augusto olhou para sua futura esposa e respondeu:
— Amanhã levo Julissa em casa e falo para eles.
O pai de Julissa pegou um pedaço de bolo e sorrindo, investigou:
— Vocês começaram a namorar quando?
Julissa passou manteiga no pão e disse:
— Hoje, papai. Durante o almoço.
Nicollas adoçava o café e comentou graciosamente:
— Hum, foi um almoço especial.
Todos riram.
Duas horas depois, Augusto recebeu uma ligação de Lucinda.
— Oi, mãe. Chego daqui a pouco.
Ele desligou o celular e levantando-se diz:
— A conversa está boa, mas preciso ir!
Pedro olhou para a filha.
— Leve o rapaz até o portão, Julissa.
Ela se levantou empolgada e acompanha-o até o portão.
— Obrigada por vim. Vamos nos falando.
Ela estendeu a mão para se despedir dele, então, ele baixou a cabeça e beijou as costas da mão
dela. Julissa não esperava por isso e ficou com vergonha. Augusto sorriu e acenando com a mão,
diz:
— Até mais.
Ela se abraçou e disse:
— Quando chegar em casa, me manda mensagem!
— Pode deixar — disse ele, entrando no carro.
Augusto buzinou e foi embora. A moça entrou e foi para o quarto, pegou o celular e mandou
uma mensagem para seu amado.
“Já estou com saudades.”
Dez minutos depois, ele respondeu:
“Cheguei!
Também estou com saudades.”
Ela feliz, comentou:
“Eu te amo”.
Augusto leu a mensagem e sorrindo, respondeu:
“Eu te amo mais”.
Ela enviou emoji de coração, ele reagiu com um coração e depois se despediu..
“Depois conversamos, vou cuidar aqui.
Beijos”.
Após a despedida, Augusto foi orar. Ele ficou uma hora de joelhos agradecendo a Deus por
estar namorando Julissa.
Chegou a vez de Julissa ser apresentada como futura esposa de Augusto aos pais dele. O rapaz
fez uma surpresa aos pais. Ele chegou do trabalho e falou:
— Hoje nós temos visita e vamos pedir pizza, eu pago.
Lucinda estava descascando cebolas, ela virou-se para o filho.
— Perfeito! Vou guardar as coisas na geladeira.
Carlos estava sentado no sofá, lendo um livro. Ele se levantou depressa e enquanto caminhava
até o quarto, comentou:
— Vou tomar um banho.
Lucinda, secando suas mãos no guardanapo, indagou:
— Quem virá, filho?
Ele aproximou-se dela e abraçando-a, respondeu:
— Surpresa, surpresa.
A campainha soou. Augusto correu em direção à porta.
— Chegaram!
Lucinda ficou observando Augusto abrir a porta e o primeiro rosto que viu foi o de Julissa.
Ela se alegrou e foi recepcioná-los.
— Sejam bem-vindos.
Quando Carlos chegou e cumprimentou as visitas, Augusto, empolgado, passou os olhos em
todos e disse:
— Só faltava meu pai, agora que estão todos reunidos…
O rapaz se levantou e segurou a mão de Julissa, em seguida olhou para seus pais. Lucinda já
estava com os olhos encharcados. Então, olhando para os pais, anunciou:
— Mãe e pai, Julissa e eu vamos nos casar! — ele ergueu as mãos dela —nós estamos
namorando.
Lucinda ficou emocionada, e levantando-se, abraçou a moça. Carlos também ficou contente
e felicitou o casal. Logo depois, Lucinda saiu por alguns minutos e, ao retornar, trouxe uma
caixa de presente.
— Esperei por este dia — ela secou as lágrimas com as mãos e olhando para Julissa, fez um
discurso.
— Julissa, você foi usada por Deus para provocar em nossa família uma mudança
extraordinária. Tenho certeza que meu filho será feliz ao seu lado.
A mulher entregou o presente para a moça. Julissa ficou emocionada, pois não imaginava que
sua fidelidade a Deus influenciava os que estavam ao seu redor.
Na semana seguinte, Augusto e Julissa apresentaram o trabalho na escola e, assim, concluíram
mais um semestre do curso.
Em dezembro, eles noivaram e decidiram se casar antes da formatura.
O salão da igreja estava esplêndido, os bancos e mesas estavam adornados com tecido
dourado e o altar estava decorado com rosas cor-de-rosa. Em cada banco estavam pendurados
laços dourados amarrados nos pequenos buquês de rosas cor-de-rosa. No tapete vermelho,
entravam, os pais dos noivos, padrinhos e madrinhas. Os convidados estavam sentados ansiosos
esperando a noiva entrar. A emoção contagiava o local, sem contar que o semblante do noivo
radiava felicidade. Entre todos os presentes, ele era o que estava mais ansioso e desejoso em ver
e receber a noiva.
O som musical para a entrada da noiva tocou, o noivo estremeceu. Ele não sabia se ria ou se
chorava. A noiva entrava lentamente de braço dado com o pai segurando seu buquê de rosas cor-
de-rosas. Feliz, ela sorria para todos os convidados. Augusto admirava o quão linda ela estava.
Os convidados falavam da noiva:
— Olha que vestido de princesa lindo, branco e brilhoso, ela está radiante.
Outra mulher, comentou:
— Ela ficou perfeita neste penteado! Esses cabelos soltos com cachos definidos e ainda
enfeitados com uma coroa de pérola.
Uma criança comentou:
— Olha, mamãe! O véu dela é grande e está arrastando no chão.
O pai da noiva cumprimentou o genro com um abraço. Depois, entregou a mão de sua filha ao
noivo e sussurrou:
— Cuide bem de nossa Julissa.
Augusto segurou a mão da noiva, sorriu e respondeu:
— Cuidarei dela com minha vida!
Ele ofereceu seu braço esquerdo para ela. A noiva sorriu e segurou o braço dele,
seguidamente, eles se viraram para o altar. O pastor João celebrou o casamento e, em seguida,
deu a oportunidade para os noivos discursarem.
Augusto é o primeiro, ele pegou o microfone e olhando nos olhos de sua noiva, diz:
— Quando eu te conheci, eu era um homem carnal…
Nicollas deu risada e exclamou:
— Carnalzão!
Todos dão risada.
Augusto segurou seu riso e continuou:
— Mas decidir buscar em Deus mudança para me tornar um homem espiritual. Você me
encorajou e me ensinou que sozinho não posso cuidar de você. Mas com Deus eu posso, pois um
homem carnal não tem amor à sua alma, tampouco cuidar de quem está ao seu lado. Quando
busquei em Deus para melhorar como cristão, entendi que deveria também melhorar como
homem — as lágrimas rolavam no rosto de Julissa — como filho, empresário, cidadão. Então,
tive a certeza de que você era o que eu queria para toda a minha vida. Julissa, eu te amo.
Os pais dos noivos e alguns convidados, emocionados, choravam. A noiva, emocionada,
pegou o microfone e discursou com poucas palavras.
— Agradeço a Deus pela sua vida e por você demostrar que, através do seu amor pelo Senhor,
será um marido maravilhoso para mim — ela não conseguia conter as suas lágrimas.
Augusto pegou o lenço no bolso e, levemente, secou as lágrimas dela para não borrar a
maquiagem. Ela segurou o choro e olhando nos olhos de seu amado, declarou:
— Eu te amo, Augusto — e entrega o microfone ao pastor.
As pessoas aplaudiram.
Depois que os noivos colocaram as alianças, o pastor disse:
— Eu vos declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.
Os noivos se beijaram e após a celebração do casamento, foram para a lua de mel.
Duas semanas depois, eles se formaram em Teologia. A cerimônia da formatura aconteceu ao
lado do bosque. Julissa colocou um vestido longo cor-de-rosa, ela estava radiante. Quando
terminou a entrega dos canudos, o casal foi para a praça perto do jardim. Enquanto se fitavam,
abraçados, frente a frente, o vento levantava os cabelos de Julissa. Neste momento, Augusto
lembrou-se da primeira vez que a viu.
Ele beijou a testa dela e disse:
— Te amarei de janeiro a janeiro.
Passaram-se sete anos e o casal tinha um filho de seis anos, chamado Antony. Toda manhã ou
noite, eles faziam devocional juntos. Antes de dormir, Julissa e o marido iam para o quarto do
filho, oravam com ele e o colocavam para dormir. Em seguida, iam para o quarto deles, oravam e
dormiam.
Todos os domingos pela manhã, após a Escola Bíblica Dominical, no caminho para casa,
enquanto dirigia, Augusto fazia perguntas ao filho.
— Antony, o que você aprendeu hoje na aula?
— Aprendi que devemos obedecer a Deus — respondeu o garoto, olhando para seu avião de
brinquedo.
Julissa virou-se para o filho e perguntou:
— Como você pode obedecer a Deus?
— Falando a verdade, ajudando a mamãe e o papai… — respondeu o menino com ar de
sabido.
— Que bom que as professoras estão ensinando a Palavra de Deus! — expressou Augusto.
Eles chegaram em casa e foram direto almoçar. Enquanto almoçavam, o menino fixou o olhar
em Julissa e perguntou:
— Mamãe, como você conheceu o papai?
O casal se olhou. Ela piscou para o marido e disse ao filho:
— Sabia que seu pai era um carnalzão?
Augusto caiu na gargalhada.
Antony não entendeu o que sua mãe queria dizer, mas achou engraçado seu pai dar muita
risada. O menino cortava o bife no prato e, analisando a carne, fez uma comparação. Ele espetou
o pedaço de bife com o garfo e, mostrando para a mãe, indagou:
— O papai era um pedação de bife, mamãe?
Eles dão risadas.
Julissa se levantou e abrindo o congelador, diz:
— Vamos tomar sorvete? E enquanto tomamos sorvete, o papai conta como conheceu a
mamãe.
— Eba! — comemorou Antony levantando-se rapidamente.
Enquanto o menino vai para a sala, Augusto abraça sua esposa pela cintura e, olhando nos
olhos dela, pergunta:
— Então, eu era um carnalzão?
Ela sorriu e, colocando o dedo gelado na ponta do nariz dele, respondeu:
— Você era… eu disse que era…
Eles se beijaram e, em seguida, levaram os potes de sorvetes para a sala.
A campainha soou, Augusto abriu a porta.
— Chegaram na hora certa!
Antony correu e abraçou a vó Lucinda.
— Vamos tomar sorvete, vovó.
O pastor João entrou com Mirna e mostrando o pote de sorvete, afirmou:
— Chegou mais sorvete!
Nicollas abraçou o sobrinho e sentando-se ao lado de Ana e Pedro, disse:
— Eu quero sorvete de flocos.
Carlos levantou a mão.
— Eu também.
Assim, a família se reuniu numa tarde quente para tomar sorvete.

É a comunhão com Deus que sustenta e fortalece uma família feliz.


Fim!
Delma Cunha (Idelma Cunha de Assis)

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